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Direito Penal I – Delito como ação ilícita Fabíola Kocemba

negativo de valor sobre o fato previsto no tipo é tão


1. ILICITUDE
somente indiciário da ilicitude.
 Como elemento essencial do conceito de delito –  Após ter sido constatada a tipicidade, será
ilicitude ou antijuridicidade –, exprime a relação de examinada a ilicitude através de um procedimento
contrariedade objetiva de um fato com toda a negativo, quer dizer, pela averiguação de que não
ordem jurídica, com o Direito positivo em seu concorre (ou está presente) nenhuma causa
conjunto. justificante.
 Dá lugar a um novo plano ou nível de valoração  Todo fato que exclui o injusto excluirá, também, o
incidente agora sobre a conduta típica (= tipo, sendo as causas justificantes características
ação/omissão + tipicidade), denominado “injusto negativas do tipo.
penal genérico”.  Dois aspectos da ilicitude:
 A antijuridicidade é dada pela relação objetiva de a) Formal – contradição entre o comportamento
contradição da vontade do sujeito com o mandado do agente e a norma penal, sendo formalmente
ou a proibição. Em outras palavras: apresenta-se antijurídica em virtude do indício
como violação a uma norma imperativa ou de fundamentador da ação típica;
determinação (mandamento/proibição), e é única b) b) Material – em decorrência da transgressão
para todo o Direito. da norma, acaba por lesar ou pôr em perigo
 A ilicitude deve ser entendida como um juízo de bens jurídicos por ela protegidos. Aliás, afirma-
desvalor objetivo que recai sobre a conduta típica e se que o conteúdo material, na verdade,
se realiza com base em um critério geral: o inexiste, correspondendo a dado constitutivo
ordenamento jurídico. do fato típico, sob o ângulo de ofensa a bens
 Sustenta-se que a ilicitude implica juízo de desvalor jurídicos.
de caráter geral realizado pelo ordenamento  A ilicitude formal significa realização do tipo legal, e
jurídico, mas isso não quer dizer que esse juízo de a material é a conduta típica não justificada.
desvalor deva recair exclusivamente sobre o lado  Por fim, convém aqui distinguir entre as noções de
objetivo ou externo da ação. ilicitude e injusto: a primeira é uma relação de
 O que está em jogo no juízo de ilicitude é a direção oposição da conduta do autor com a ordem jurídica.
externa que é conferida à vontade. Ou seja: é o uso É um predicado, uma qualidade, um atributo de
que fez o sujeito da liberdade externa de sua determinadas formas de ação/omissão. O injusto,
vontade, e não da liberdade interna da vontade, por sua vez, é a própria ação valorada como ilícita.
própria da culpabilidade. Tem cunho substantivo, quer dizer, algo
 Enquanto a subsunção de um fato concreto ao tipo substancial. O conceito de injusto engloba a ação
legal, isto é, o juízo de tipicidade, tem um caráter típica e ilícita. Apenas o injusto é mensurável, em
positivo, o juízo de ilicitude, decorrente da qualidade e quantidade (ex.: homicídio e lesão
verificação da operatividade de uma norma corporal, roubo e furto).
permissiva, como preceito derivado, evidencia um  O injusto penal é específico (como o injusto civil, o
aspecto oposto (de negação). administrativo etc.), ao passo que a ilicitude é
 A realização de toda ação prevista em um tipo de unitária e global, dizendo respeito ao ordenamento
injusto de ação doloso ou culposo será ilícita, jurídico, considerado em sua totalidade.
enquanto não concorrer uma causa de justificação.
Em outras palavras: uma ação ou omissão típica 2. CAUSAS DE JUSTIFICAÇÃO
será ilícita, salvo quando justificada (a conduta  Toda ação compreendida em um tipo de injusto
"continua sendo típica, mas está permitida") . Desse (doloso ou culposo) será ilícita se não estiver
modo, não há ação ou omissão típica indiferente à presente uma causa de justificação. Tem-se, pois,
ordem jurídica, não proibida ou simplesmente que a existência de uma causa justificante faz da
neutra. ação típica uma ação lícita ou permitida.
 O Direito autoriza ou permite que se realize, em
certas hipóteses, um comportamento típico. O juízo
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 As causas de justificação contêm um preceito direito), a necessidade (estado de necessidade e
autorizante ou permissivo independente. Podem legítima defesa) e a falta de interesse
ser definidas como sendo particulares situações (consentimento do ofendido).
diante das quais um fato, que de outro modo seria  O Código Penal brasileiro enumera as principais
delituoso, não o é porque a lei o impõe ou o causas de justificação (art. 23, CP) e o excesso
consente. punível (intensivo ou extensivo), doloso ou culposo,
 Toda ação típica é ilícita, salvo quando justificada. que a todas se aplica (art. 23, parágrafo único, CP).
As causas justificantes têm implícita uma norma  As chamadas justificantes putativas (v.g., legítima
permissiva ou autorizante de caráter independente defesa putativa; estado de necessidade putativo
que, ao interferir nas normas proibitivas ou etc.) enquadram-se na categoria do erro (arts. 20, §
preceptivas, faz com que a conduta proibida ou a 1.º, e 21, CP).
não realização da conduta ordenada seja lícita ou  "Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o
conforme ao Direito. fato:
 Não basta, para a formação da excludente de I - em estado de necessidade;
ilicitude, a presença dos requisitos objetivos, mas II - em legítima defesa;
requer-se, também, uma atitude anímica no III - em estrito cumprimento de dever legal ou no
sentido da realização da justificante (ação dirigida exercício regular de direito".
ao resultado de salvação), ou seja, o requisito  No parágrafo único, trata do excesso punível: o
subjetivo. agente, em qualquer das hipóteses deste artigo,
 Torna-se indispensável, portanto, nas causas responderá pelo excesso doloso ou culposo.
justificantes, a presença de elementos objetivos e
subjetivos. 2.1 ESTADO DE NECESSIDADE
 O elemento subjetivo deve estar presente, então,
em todas as causas de justificação, sendo 2.1.1 CONCEITO E FUNDAMENTO
necessário que o sujeito atue não só com
 O estado de necessidade é, fundamentalmente,
conhecimento de que ocorram seus elementos
justificante (causa de exclusão de ilicitude). A regra
objetivos, mas, também, com vontade no sentido
geral está estampada nos arts. 23, I, e 24; e, de
da justificante.
modo específico, nos arts. 128, I (aborto
 A falta do elemento subjetivo das causas de
necessário); 146, § 3.º, I (constrangimento ilegal),
justificação inviabiliza a afirmação do valor da
do Código Penal, e no art. 188, II, do Código Civil.
conduta e do consequente valor do resultado,
 Atua em estado de necessidade o agente que, para
indispensáveis à exclusão da ilicitude.
salvar de perigo atual e inevitável, não provocado
 Diante disso, a incidência exclusiva dos elementos
voluntariamente, objeto jurídico próprio ou de
objetivos das causas excludentes de ilicitude (v.g.,
terceiros, obriga-se a lesar outro alheio - definição
agressão injusta, necessidade de defesa - na
legal (art. 24, caput, CP). Não pode alegá-lo quem
legítima defesa) não é o bastante para justificar
tinha o dever legal de enfrentar o perigo (§ 1º). Na
uma ação ou omissão típica, se ausente o elemento
hipótese em que o sacrifício do direito ameaçado
subjetivo respectivo (conhecimento e ãnimo de
seja razoável exigir-se, a pena poderá ser reduzida
defesa).
(§ 2.º).
 A justificação de um comportamento típico
 Pode ser conceituado como "um estado de perigo
depende do conhecimento dos pressupostos
atual, para legítimos interesses, que só pode ser
objetivos e da existência de certa direção da
afastado mediante a lesão de interesses de outrem,
vontade (ex.: estado de necessidade: elementos
também legítimos".
objetivos - perigo atual/direito próprio ou alheio; e
 É a situação na qual se encontra uma pessoa que
elemento subjetivo - conhecimento e vontade de
não pode razoavelmente salvar um bem, interesse
salvamento.
ou direito, senão pela prática de um ato, que fora
 As fontes das causas de justificação são: a lei (estrito
cumprimento de dever legal e exercício regular de
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das circunstâncias em que se encontrava, seria de bens equivalentes (duas vidas humanas), ou de
delituoso. maior valor, exclui o juízo de censura sobre o qual
 O art. 13, § 2.º, do Código Penal, reputa dever legal repousa a culpabilidade, isto é, a conduta será
a omissão relevante em determinados casos. Dever ilícita, mas não reprovável ao agente, por
legal de enfrentar o perigo (ex.: policial, bombeiro), inexigibilidade de conduta diversa (estado de
salvo caso de sacrifício pessoal ou de risco necessidade exculpante).
excessivo.  Exemplo: A mata B, para sobreviver; náufrago que
 As hipóteses de estado de necessidade são se agarra à tábua que afundaria com o peso dos
reunidas basicamente em dois grupos: aqueles em dois.
que os direitos ou bens em conflito são de valor  O Código Penal Militar (arts. 39 e 43) vigente
diferenciado e aqueles em que o conflito ocorre adotou a teoria dualista ou diferenciadora objetiva.
entre bens ou direitos de valor equivalente (v.g., Assim determina, expressamente, o aludido
vida x vida), ou de menor valor. Daí resultam as duas estatuto: "Art. 39. Não é igualmente culpado quem,
principais teorias sobre a matéria: a teoria unitária para proteger direito próprio ou de pessoa a quem
ou monista objetiva e a teoria dualista ou está ligado por estritas relações de parentesco ou
diferenciadora objetiva. afeição, contra perigo certo e atual, que não
 Exemplos: provocou, nem podia de outro modo evitar,
a) A está em um lago afogando-se. Seu amigo B, sacrifica direito alheio, ainda quando superior ao
empunhando um revólver, obriga C, proprietário de protegido, desde que não lhe era razoavelmente
um barco, a lhe entregar a embarcação, que, exigível conduta diversa"
empregada para salvar A, sofre consideráveis  Estado de necessidade justificante (excludente da
danos; ilicitude) e do estado de necessidade exculpante
b) A casa de A incendiou-se. B, para evitar a (excludente de culpabilidade).
propagação do incêndio a uma casa vizinha, de  São exemplos de estado de necessidade justificante
menor dimensão, derruba uma parte da casa em (o bem sacrificado é de menor valor que o salvo):
chamas; a) prestes a afogar-se, um indivíduo utiliza um barco
c) durante uma cerimônia religiosa, anuncia-se no alheio para poder alcançar a margem do rio;
povoado um incêndio. A interrompe a cerimônia b) enclausurado em uma sala de que não pode sair
para avisar aos vizinhos; normalmente, o agente arromba uma porta ou
d) os náufragos A e B agarram-se a um salva-vidas, janela;
insuficiente para os dois. A joga B na água e este c) perdido na floresta, o agente furta lenha para se
morre afogado. aquecer e evitar a morte por congelamento; d) o pai
 Para a teoria unitária ou monista objetiva, o estado para salvar a vida do filho furta alimentos de uma
de necessidade é sempre uma causa de justificação, mercearia (furto famélico);
independentemente da ponderação de bens em e) na iminência de um naufrágio, o capitão do navio
confronto (adotada pelo Código Penal brasileiro, lança ao mar parte da carga transportada.
art. 24). Em sentido diverso, a teoria diferenciadora  O estado de necessidade será uma causa de
objetiva ou dualista distingue entre colisão de bens justificação, sempre que o mal causado seja menor
de igual ou de maior valor, excludente da que o evitado.
culpabilidade, por inexigibilidade de outra conduta  Desse modo, se um cirurgião, por exemplo, extrai
(estado de necessidade exculpante), e o conflito de um rim de uma pessoa sã, sem seu consentimento,
bens desiguais, com sacrifício do bem de menor para que outro colega possa realizar um transplante
valor (quando o mal causado é menor do que o que de órgãos com o fim de salvar a vida de um
se pretende evitar), excludente de ilicitude (estado paciente, o mal causado é menor que o evitado.
de necessidade justificante). Com efeito, produziu-se uma lesão corporal e um
 O ordenamento jurídico faculta a lesão ao bem de atentado à liberdade, mas é indubitável que em
menor valor como único meio de salvar o de maior nosso ordenamento jurídico a vida humana é um
valor (estado de necessidade justificante); e no caso
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bem superior que a integridade corporal e a por motivo de ordem pessoal (amizade,
liberdade. parentesco) ou solidariedade humana. Alcança,
 Se um indivíduo mata outro para salvar várias vidas portanto, todos os bens jurídicos, como na legítima
humanas-por exemplo, se mata o proprietário de defesa. O aspecto da razoável inexigibilidade
uma lancha que se recusa veementemente a salvar implica na ponderação objetiva dos bens e
vários náufragos em perigo-, o mal causado interesses em confronto (o bem posto a salvo deve
também é menor que o evitado. ser superior ao sacrificado). Faz-se necessária uma
 Segundo a doutrina majoritária, todavia, a conduta proporcionalidade entre a gravidade do perigo e a
seria lícita se ocorressem os demais requisitos do lesão produzida (entre o bem que se salva e o que
estado de necessidade. Não é possível considerar se sacrifica). Se o sacrifício do direito ameaçado for
lícitas, porém, essas condutas que implicam grave razoavelmente exigido, a pena pode ser reduzida de
atentado à dignidade da pessoa humana. Em ambos um a dois terços (art. 24, § 2.º, CP);
os casos, o ser humano é utilizado como um mero c) perigo não provocado pela vontade do agente -
instrumento para a consecução de outros fins, e evidencia-se que o agente não pode, por vontade
isso implica grave atentado contra sua dignidade. própria, ou de modo intencional, causar a situação
 É aconselhável restringir o campo de abrangência de perigo. Isso quer dizer: se agiu com dolo, não
do estado de necessidade justificante: este será poderá alegar estado de necessidade. Porém, deve
uma causa de justificação quando o mal causado for ser ressalvada a conduta culposa (exemplo do
menor que o evitado, desde que a conduta incêndio causado em um edifício por culpa do
realizada não implique uma infração grave do agente, que, para fugir do fogo, produz lesões
respeito devido à dignidade da pessoa humana. corporais ou danos);
 Em resumo: sempre que o mal causado for menor d) inexistência do dever de enfrentar o perigo - o
que o evitado, mas tenha sido praticada uma grave dever de enfrentar o perigo, dever de
violação ao respeito devido à dignidade da pessoa autossacrifício, de arriscar-se, é obrigação
humana, a conduta será ilícita e caberá invocar a exclusivamente legal, não compreendendo o dever
legítima defesa. O estado de necessidade só poderá contratual, ético ou social, inerente a algumas
ter, em casos como esse, a natureza de uma causa atividades ou profissões (v.g., capitão de navio,
de exclusão da culpabilidade. bombeiro, policial-art. 24, § l.º, CP). Saliente-se que
é possível a existência de estado de necessidade
2.1.2 REQUISITOS contra estado de necessidade, pois, aqui há conflito
lícito de bens (ex.: tábua de salvação);
 São requisitos do estado de necessidade:
 2. Subjetivo: ciência da situação de fato, vontade ou
1. Objetivos:
ânimo de salvar o bem ou direito em perigo (animus
a) perigo atual e inevitável - significa perigo
salvationis). O agente, além do conhecimento dos
concreto, presente, imediato, com real
elementos objetivos da justificante, deve atuar com
probabilidade de dano (insuficiente a mera
o fim, com a vontade de salvamento. Esse requisito
possibilidade), e que ainda seja dotado de certeza e
subjetivo é indispensável em ambas as espécies de
objetividade. Pode originar-se de ação humana ou
estado de necessidade (justificante e exculpante).
de acontecimento natural negativo (v.g.,
inundação, investida de cão bravo etc.). Deve ser 2.2 LEGÍTIMA DEFESA
também não evitável por outro modo, quer dizer,
sem o sacrifício do direito, interesse ou bem de
2.2.1 CONCEITO E FUNDAMENTO
outrem. Não se verifica o estado de necessidade se
o perigo puder ser arrostado sem ofensa a direito  Encontra-se em legítima defesa quem repele
alheio; injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou
b) direito próprio ou alheio, cujo sacrifício não era de terceiro, usando moderadamente dos meios de
razoável exigir-se - o direito que se pretende salvar que dispõe (art. 25, CP).
pode ser próprio ou de outrem (socorro a terceiro),
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 A legítima defesa vem a ser "a repulsa ou o estado de necessidade (art. 24, CP). A agressão
impedimento da agressão ilegítima, atual ou deve ser atual ou iminente e injusta. Atual, como já
iminente, pelo agredido ou terceira pessoa, contra observado, designa a agressão presente, que já
o agressor, sem ultrapassar a necessidade de começou e ainda não está concluída; e iminente
defesa e dentro da racional proporção dos meios designa a agressão que está prestes a acontecer.
empregados para impedi-la ou repeli-la". É a Injusta significa ilícita, antijurídica, sem amparo da
situação em que o agente repele agressão atual e ordem jurídica (não só da lei penal), ainda que não
ilícita a direito seu ou de outrem. Faz-se valer a obrigatoriamente punível. Assim, não há legítima
máxima de que o Direito não tem que ceder ante o defesa contra legítima defesa ou contra qualquer
ilícito. Trata-se da mais saliente e antiga causa de outra causa de exclusão de ilicitude. Não se indaga
justificação, que transforma uma ação típica em se o ataque era ou não evitável, ou previsível, sendo
lícita, amparada pela ordem jurídica. indiferente a possibilidade de fuga do agredido.
 Exemplos: Diante de uma agressão atual ou iminente, ilícita,
a) o proprietário que, altas horas da madrugada, dolosa, não há fundamento jurídico para impor
percebe rumores em sua casa, arma-se de revólver limites à autonomia pessoal (v.g., dever de fuga,
para constatar os fatos e surpreende o assaltante desvio, solidariedade etc.). Advirta-se, contudo,
dentro de seu automóvel, pronto para sair, ato que isso não equivale a autorizar reações
contínuo, alveja-o em legítima defesa; defensivas desproporcionadas, contra ataques
b) A, agredido fisicamente por B e C, em via pública, insignificantes. Admite-se a legítima defesa, em
reage com disparo de arma de fogo, que portava razão da ilicitude, diante de ataques de
licitamente, e acaba por matar um de seus inimputáveis (doentes mentais, menores de
agressores; dezoito anos); daqueles que estejam sob estado de
c) aquele que se encontra em sua residência intoxicação aguda pelo álcool ou outras drogas; de
durante a noite e, percebendo que alguém tenta à pessoas em situação de erro de proibição
força ingressar no seu interior, dispara contra quem inevitável, e, em geral, diante de todos aqueles que
pretendia invadi-la. agem inculpavelmente. Afirma-se que, nessas
 Fundamento duplo: em primeiro lugar, reside na hipóteses, o fundamento da legítima defesa reside
necessidade de defesa de bens jurídicos e, em na faculdade de autodefesa, o que significa que o
segundo lugar, ao se repelir agressão ilícita, agredido deve se limitar à proteção dos bens
preserva-se o ordenamento jurídico. jurídicos, evitando lesões desnecessárias. No caso
de provocação, tem sido entendido que só obsta a
2.2.2 REQUISITOS legítima defesa se for premeditada ou intencional
(pretextus defensionis) ou revestir-se de uma
 1.Objetivos:
verdadeira agressão;
a) Agressão atual ou iminente e injusta - deve-se
b) Direito próprio ou alheio - todo bem jurídico cujo
entender por agressão, toda ação dirigida à
portador seja o próprio indivíduo ou terceira pessoa
produção de um resultado lesivo a um bem jurídico,
(sentido amplo: integridade física, saúde,
violenta ou não. A mera omissão não dá lugar a uma
patrimônio, honra). Como bem se destaca, "o mais
agressão, pois carece de causalidade e
humilde dos direitos não pode ficar à mercê de
voluntariedade de realização. Nessa hipótese, e
injusto ataque. Todo direito é inviolável e nenhum,
quando o omitente é obrigado a realizar uma ação
portanto, pode ser excluído da área da legítima
que podia realizar, poderia se amparar na eximente
defesa";
do estado de necessidade (art. 24, CP). É
c) Meios necessários, empregados com moderação
indispensável que o ato agressivo seja consciente e
- a defesa legítima deve ser necessária e moderada,
voluntário, com o objetivo de lesar o bem jurídico.
isto é, indispensável à repulsa e sem ultrapassar os
No caso de realização por simples culpa,
limites necessários para afastar a ação agressiva
movimentos corporais em que esteja ausente a
ilícita. Os meios necessários são aqueles suficientes
ação, ou por ataque de animais, cumpre invocar o
para afastar ou fazer cessar a agressão, tendo-se
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em conta o que as circunstâncias permitem, criminoso ou o escrivão que presta informação (art.
conforme dispunha o projeto Sá Pereira (art. 10). 14 2, III, CP); o encarregado da prisão que o
Além disso, é preciso que exista uma certa encarcera.
proporcionalidade entre a agressão e a reação  Aquele que exerce um cargo ou ofício, ao mesmo
defensiva, em relação aos bens e direitos tempo em que cumpre um dever, exercita um
ameaçados. Caso contrário, a reação defensiva será direito. Essa causa de justificação põe em relevo a
ilícita, pois será excessiva, e pode dar lugar à unidade da ordem jurídica, no sentido de não
legítima defesa por parte do inicial agressor admitir contradições. Aquele que atua em estrito
(legítima defesa sucessiva). Esta última não se cumprimento de um dever legal executa uma
confunde com a chamada legítima defesa determinação legal (ordem de lei).
recíproca, em que há impossibilidade de defesa  O fundamento dessa causa de justificação vem a ser
lícita em relação a ambos os contendores (ex.: o princípio do interesse preponderante, salvo
duelo). Não há falar-se aqui em legítima defesa exceção. E isso porque, conforme bem se adverte,
verdadeira. Também, a citada legítima defesa tal princípio revela-se insuficiente em se tratando
subjetiva ou putativa não se constitui na verdade de deveres iguais. Em casos de conflito de deveres
uma legítima defesa, mas sim hipóteses de erro iguais, a conduta será lícita diante do cumprimento
(arts. 20 e 21, CP). de qualquer deles por parte do sujeito. Ademais,
 Pondera-se, na legítima defesa, tanto a gravidade ainda que o sujeito cumpra um dever de categoria
do ataque como a natureza e a relevância do bem superior ou igual, sua conduta será ilícita sempre
jurídico objeto de proteção. que importar um grave atentado à dignidade do ser
 2. Subjetivo: conhecimento da agressão e vontade humano.
de defesa. O agente deve ser portador do elemento
subjetivo, consistente na ciência da agressão e no 2.3.2 COLISÃO DE DEVERES
ânimo ou vontade de atuar em defesa de direito
 O indivíduo que realiza uma ação típica em
seu ou de outrem (animus defendi).
cumprimento de um dever jurídico se encontra em
2.3 ESTRITO CUMPRIMENTO DE DEVER LEGAL uma situação de colisão de deveres.
 O dever de omitir a ação proibida (ou de realizar a
ação ordenada, nos delitos omissivos) entra em
2.3.1 CONCEITO E FUNDAMENTO
conflito com outro dever derivado de outra norma
 O agente que atua em estrito cumprimento de um de qualquer setor do ordenamento jurídico (lei,
dever legal (art. 23, III, 1ª parte, CP) cumpre decreto, portaria etc.).
exatamente o determinado pelo ordenamento  Por exemplo, o policial que tem o dever legal de
jurídico, realizando, assim, uma conduta lícita. intervir para restabelecer a ordem em uma
 Considerar-se ilícito o comportamento realizado manifestação e que, ao fazê-lo, desfere um golpe
por imposição legal, ressalvada a hipótese de em um dos manifestantes, lesando-o, infringe esse
excesso, isto é, cumprimento de um dever legal não dever caso se abstenha de realizar a ação proibida
estrito, fora da delimitação feita pela lei, e, pelos artigos 129 e 146 do Código Penal. De uma
portanto, abusivo e ilegal. É indispensável, para forma ou de outra, o agente acabará por infringir
configurar essa causa de justificação, a rigorosa um dever. A ação típica será, porém, lícita se o
obediência às condições objetivas a que o dever dever cumprido for de nível ou grau superior se
está subordinado. comparado com a omissão da ação proibida.
 Há de ser dever legal, proveniente de disposição  Nas hipóteses de conflito de dois deveres de ação
jurídico-normativa (lei, decreto, portaria, do mesmo nível, a conduta do sujeito que cumpra
regulamento etc.) e não simplesmente moral, qualquer um deles será lícita. Por exemplo: se um
religioso ou social. pai vê que seus dois filhos menores se afogam e, em
 Exemplos: o oficial de justiça que cumpre o razão das circunstâncias do caso, só pode salvar um
mandado de prisão; o policial que detém o deles, agirá de acordo com o Direito se salva
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qualquer um dos dois. O mesmo deve ser dito em autorizada (art. 5.0, II, CF). Não se pode considerar
relação ao médico que só pode salvar um dos dois ilícita a prática de ato justificado ou permitido pela
feridos em um acidente. lei, que se consubstancie em exercício de direito
 Porém, se o conflito se estabelece entre um dever dentro do marco legal, isto é, conforme os limites
de agir e um dever de omitir -dirigidos à proteção nele inseridos, de modo regular e não abusivo. Essa
de interesses iguais ou similares - o dever de omitir conclusão é decorrência lógica do princípio da não
ocupará posição superior. 58 E isso é assim porque contradição: um objeto não pode ser e não ser ao
o dever de agir é mais oneroso que o cumprimento mesmo tempo.
do dever de omitir e, portanto, a infração do dever  Exemplos: penhor forçado (art. 1.470, CC); defesa
de agir é menos grave que a infração do dever de no esbulho possessório (art. 1.210, § 1.0, CC);
omitir (as condutas omissivas são geralmente imunidade judiciária (art. 142, I, CP); direito de
menos graves que as comissivas). crítica (art. 142, II, CP); ofendículo; direito
 Se o dever cumprido for de nível inferior ao correcional; direito de crônica jornalística; direito
infringido, a conduta será ilícita (de acordo com o de crítica profissional; lesões decorrentes de prática
princípio do interesse preponderante). No entanto, desportiva e intervenção cirúrgica normal.
aquele que realiza uma ação típica em  Direito de correção dos pais em relação aos filhos.
cumprimento de um dever jurídico de nível Podem os pais aplicar castigos corporais em seus
superior ou igual ao de omitir a ação proibida ou de filhos. Os maus-tratos que não produzam lesão
realizar a ação ordenada atuará de forma lícita. leve, desde que realizados com anímus corrígendí
 Também na hipótese de cumprimento de um dever (elemento subjetivo dessa causa de justificação),
legal, quando o agente utilizar um ser humano bem como necessários e adequados ao fim
como mero instrumento ou atentar de modo grave correcional, devem ser considerados lícitos, ou seja,
contra sua dignidade não terá sua conduta realizados no exercício regular de um direito. Serão
justificada, ainda que esta tenha sido realizada em ilícitos, porém, a produção de lesão corporal e o
cumprimento de um dever de nível igual ou emprego habitual da violência, ainda que com
superior. ânimo de corrigir.
 A ilicitude de sua conduta não poderá ser excluída,  Os advogados que, para defender seus clientes ou
ainda que o dever de salvar a vida de seu paciente para atuar como assistentes de acusação, fazem
seja superior ao de abster-se de realizar a ação afirmações injuriosas ou difamadoras, com ânimo
proibida. Somente poderá ser atenuada ou excluída de injuriar ou difamar, e com o ânimo de exercer
a culpabilidade do agente, se diminuída ou excluída legitimamente a profissão -desde que as
sua capacidade de agir conforme o Direito, de expressões desonrosas sejam necessárias, numa
forma que não se lhe fosse exigível outra conduta. interpretação exante, para a defesa dos interesses
de seus clientes- também têm excluída a ilicitude de
2.3.3 REQUISITOS sua conduta. Assim, também os jornalistas que, no
desempenho de sua profissão, ao informar ou
 Objetivo: cumprimento estrito, regular, isto é, nos
realizar qualquer tipo de crítica (literária, política,
limites do dever imposto pela norma, sendo punível
artística, esportiva etc.), fazem afirmações que, se
todo excesso ou abuso de direito.
presente o ânimo de injuriar, difamar ou caluniar,
 Subjetivo: conhecimento do dever e vontade de
seriam ilícitas. Quando a informação ou crítica é
cumpri-lo, nos exatos termos da lei.
feita também com anímus ínformandí ou críticandi,
será possível invocar a causa de justificação se, em
2.4 EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO
uma ponderação de interesses, tiver preferência a
liberdade de expressão ou informação sobre o
2.4.1 CONCEITO E FUNDAMENTO direito à honra.
 Aquele que age no exercício regular de direito, quer  Intervenções cirúrgicas: Na hipótese de intervenção
dizer, que exercita uma faculdade de acordo com o cirúrgica ou curativa em que se obtém resultado
direito, está atuando licitamente, de forma favorável, não se pode falar, a rigor, de lesão do
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bem jurídico protegido (a integridade corporal e a Poderá invocar, então, o exercício regular de um
saúde). Entretanto, quando a intervenção cirúrgica direito.
ou a atividade curativa ocasiona resultado  Os meios ou obstáculos instalados para a defesa de
desfavorável, há um menoscabo da integridade bens jurídicos individuais, especialmente da
corporal e da saúde. Porém, se o cirurgião ou o propriedade – ofendículo -, em sentido estrito, que
médico atuam com vontade de curar o paciente, impõem um empecilho ou resistência normal,
falta o dolo (a consciência e a vontade de atentar conhecida e notória, como uma estática
contra a integridade corporal e a saúde), direto ou advertência ( v.g., pregos ou cacos de vidro no
eventual. muro, arame farpado, grades pontiagudas, plantas
 Todavia, a conduta poderá configurar lesão espinhosas), também estão justificados como
corporal culposa, quando o cirurgião ou médico não exercício regular de direito.
tiver observado o cuidado objetivamente devido -  Por outro lado, os instrumentos mecânicos,
seja ao examinar sua própria capacidade, seja ao automáticos ou automatizados ( v.g., cerca,
realizar o diagnóstico, seja ao apreciar a indicação maçaneta ou grades eletrificadas, arma de fogo
da intervenção ou ao praticá-la -e o resultado tenha engatilhada e pronta para disparo, arma
se produzido em razão da inobservância de tal automática anteriormente preparada, explosivos
cuidado. prontos para detonação, cão feroz) e predispostos
 Quando a intervenção se realizar sem fins curativos, que atuam com violência, em reação imediata, e
mas, sim, com fins de experimentação científica ou conforme anterior programação, unicamente
para curar uma terceira pessoa (transfusão de podem ser regulados pelas normas da legítima
sangue, transplantes de órgãos), em relação ao defesa preordenada, se admitida tal espécie de
doador a ação do médico sempre realizará o tipo justificante.
(objetivo e subjetivo) de lesão corporal dolosa. O  Se fundamenta, também, no princípio do interesse
mesmo ocorre, geralmente, com as intervenções preponderante. Em todo caso, conforme destacado
de cirurgia estética. Em todos os casos em que a quando da análise das anteriores justificantes, a
intervenção cirúrgica ou a atividade curativa interpretação dessa causa de justificação - exercício
realizarem o tipo de lesão corporal dolosa, a ação regular de um direito - encontra-se restringida pelo
do médico não será ilícita se ocorre alguma causa princípio do respeito à dignidade da pessoa
de justificação. humana. De conseguinte, mesmo que o sujeito atue
 A prática esportiva também poderá dar lugar a no legítimo exercício de um direito, sua conduta
lesões corporais, ou mesmo à morte de outro será ilícita sempre que atentar gravemente contra
esportista - notadamente em esportes a dignidade humana.
particularmente violentos como o boxe, o futebol
americano, a luta livre, por exemplo. Somente 2.4.2 REQUISITOS
quando presente o dolo (direto ou eventual) -
 1. Objetivo: atuação efetiva no exercício regular de
consciência e vontade de atentar contra a
direitos;
integridade física ou a vida de outrem-o agente
 2. Subjetivo: conhecimento do direito e vontade de
incidirá no tipo legal de lesão corporal ou homicídio
exercitá-lo.
doloso.
 Ausente o dolo, a ação poderá estar compreendida 2.5 CONSENTIMENTO DO OFENDIDO
no tipo de lesão corporal ou homicídio culposo, se
o resultado foi produzido com inobservância do
cuidado objetivamente devido. 2.5.1 CONCEITO
 Não será ilícita se o esportista observou o cuidado  Embora o Código Penal brasileiro não tenha
objetivamente devido e agiu com ânimo ou vontade incluído o consentimento do ofendido
de exercer o direito à prática do esporte (esportista explicitamente no rol do art. 23, a fonte de
amador) ou da profissão (esportista profissional). inspiração, nessa matéria, foi a legislação italiana,
que estatui: "não é punível quem ofende ou põe em
Direito Penal I – Delito como ação ilícita Fabíola Kocemba
perigo um direito, com o consentimento da pessoa de forma livre. Como justificante, o consentimento
que dele pode validamente dispor”. do ofendido, elemento extrínseco ao tipo, implica
 O consentimento do sujeito passivo pode excluir a renúncia de tutela de bem jurídico disponível,
tipicidade da ação ou da omissão, quando requisito avalizada pelo Direito positivo. Em outras palavras:
intrínseco ao tipo legal, ou, eventualmente, quando se o tipo legal não exige que a ação deva ser dirigida
externo a ele, afastar a ilicitude da conduta. contra a vontade do sujeito passivo, e este outorga
 Em determinados casos, portanto, o sua aquiescência para que se produza o menoscabo
consentimento do sujeito passivo (portador do bem do bem jurídico de sua livre disposição, há exclusão
jurídico individual), anterior ou simultâneo à da ilicitude (consentimento justificante), e não da
conduta, é indispensável para que o agente possa tipicidade.
ser eximido da responsabilidade penal.  O consentimento justificante é aplicável tanto aos
 Adota-se, no consentimento penal, o critério da delitos dolosos como aos culposos, já que não há
capacidade natural de valorar, sendo importante qualquer vedação legal.
apenas verificar "se esse consentimento constitui  Exemplos: arts. 155 (furto), 161 (alteração de
uma expressão da liberdade de decisão da pessoa" limites), 162 (supressão ou alteração de marca em
animais), 164 (introdução ou abandono de animais
2.5.2 FUNÇÕES E FUNDAMENTO em propriedade alheia), todos do CP; cirurgia
estética, transexual, de esterilização, de transplante
 a) Causa de atipicidade da ação (exclusão da
de órgãos.
tipicidade): o consentimento do portador do bem
 O médico tem o dever de informar o paciente sobre
jurídico exclui, em alguns casos, a tipicidade da ação
a indicação do tratamento que se propõe a aplicar,
ou da omissão. O consentimento afasta a tipicidade
suas consequências e seus riscos específicos.
da ação ou da omissão na hipótese de tipos deli ti
 O fundamento dessa causa justificante reside no
vos nos quais se protege, ao lado do bem jurídico, a
princípio da ponderação de valores: isso se verifica
liberdade de disposição do mesmo.
quando "o Direito concede preferência ao valor da
 O consentimento como causa de atipicidade da
liberdade de atuação da vontade frente ao desvalor
conduta se dá, portanto, nos tipos de injusto em
da ação e do resultado da agressão ou lesão ao bem
que aparece como condicionante (expressa ou
jurídico". 74 Essa espécie de excludente é
tácita) que a ação ou a omissão se realizem contra
essencialmente uma "renúncia à proteção jurídica".
ou sem o consentimento do ofendido. Aqui, é
requisito típico que a ação ou omissão se realizem
contra ou sem a vontade do sujeito passivo. Nesse 2.5.3 REQUISITOS
caso, sua concordância exclui a tipicidade. 1. Objetivos: capacidade de consentir; anterioridade
 É ineficaz o consentimento como excludente da do consentimento; atuação nos limites do consentido;
tipicidade quando não é outorgado de forma 2. Subjetivo: ciência do consenso e vontade de atuar
consciente e livre, ou seja, quando é obtido (de acordo com a diretiva do consentimento).
mediante emprego de fraude, violência,
intimidação ou ameaça. É irrelevante a forma do
consentimento-pode ser escrito ou verbal,
expresso ou tácito. O consentimento -que em
matéria penal é sempre revogável-deve ser dado
anterior ou simultaneamente à realização da ação
ou da omissão.
 Exemplos: art. 150 (violação de domicílio), 151
(violação de correspondência), CP
 b) Causa de justificação: o consentimento do
ofendido exclui a ilicitude nos casos em que o titular
do bem jurídico protegido e disponível71 assente

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