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Plano de Aula – Prof.

ª Carolina Salazar

ANTIJURIDICIDADE (OU ILICITUDE)

É a relação de contrariedade/oposição do fato típico com o ordenamento jurídico, considerado em sua


integralidade.

Instituto tem o condão de uniformizar e compatibilizar os vários setores que compõem o direito o
ordenamento jurídico deve ser uno e coerente.

Juízo de ilicitude posterior ao de tipicidade, sendo indispensável que a avaliação ocorra sobre o fato
típico. Tipicidade é pressuposto.

Trata-se de um juízo de desvalor, de caráter geral, realizado pelo ordenamento jurídico sobre a conduta
típica.

Ilicitude situa-se fora do tipo penal (ausência de uma de exclusão). Não se encontra dentro do tipo
penal.

Conduta e resultado passam a não mais serem considerados negativos, porque o Direito autoriza ou
permite que aquela conduta típica se realize.

Por ser a tipicidade indício (ratio cognoscendi) da ilicitude, presume-se o caráter ilícito das condutas
típicas; trata-se, entretanto, de presunção relativa (juris tantum), de modo que, se presente uma causa 1

excludente da ilicitude, o agente estará acobertado pelo Direito.

Toda ação típica será antijurídica enquanto não se verificar uma causa de sua exclusão. Por isso, o
estudo da antijuridicidade consiste na avaliação da presença das causas de sua exclusão.

Análise da ilicitude se trata de um procedimento negativo de verificação da presença de uma causa


justificante.

Causas de exclusão da ilicitude (ou causas de justificação – normas permissivas)

Tratam-se de preceitos autorizantes (ou permissivos) da conduta típica.

Podem ser genéricos (gerais), previstos no Código Penal, aplicáveis a toda espécie de crime; ou
específicos (especiais), previstos na parte especial do código ou em leis penais extravagantes,
aplicáveis exclusivamente a determinados crimes (art. 128 – aborto; art.142 – injúria e difamação; art.
146, §3º, I – constrangimento ilegal; art. 150, §3º, I e II – violação de domicilio).

Entendimento de que o rol de causas excludentes da ilicitude previstas no Código Penal não é taxativo;
e sim exemplificativo, com a possibilidade de detecção de causas supralegais de exclusão da ilicitude.
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Este Plano de Aula não pretende abranger todo o assunto tratado em sala de aula; presta-se, tão somente, como
roteiro de aula e de estudo.
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Fontes das causas de justificação:

1) Lei: estrito cumprimento do dever legal e exercício regular do direito


2) Necessidade: estado de necessidade e legítima defesa
3) Falta de interesse: consentimento do ofendido (causa supralegal)
Exclusão de ilicitude (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:
I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.

Excesso punível (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)


Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou
culposo.(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

01) EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO

O exercício de um direito, desde que regular, não pode ser, ao mesmo tempo, proibido pela ordem
jurídica. Regular será o exercício que se contiver nos limites objetivos e subjetivos, formais e materiais
impostos pelos próprios fins do Direito.

Ex: As intervenções médicas e cirúrgicas eletivas, consentidas pelo paciente; violência esportiva,
quando o esporte é exercido nos estritos termos da disciplina que o regulamenta;

02) ESTRITO CUMPRIMENTO DE DEVER LEGAL

Quem pratica uma ação em cumprimento de um dever imposto por lei não comete crime.

Trata-se de um DEVER que, se não cumprido, pode implicar em responsabilizações do agente que se
nega a cumprir esse dever.

Requisitos:

a) Estrito cumprimento: somente os atos rigorosamente necessários justificam o comportamento


permitido – dentro dos exatos termos daquela ordem;

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b) Dever legal — é indispensável que decorra de lei, não o caracterizando obrigações de natureza
social, moral ou religiosa. A norma da qual emana o dever tem de ser jurídica, e de caráter
geral: lei, decreto, regulamento, etc. Se a norma tiver caráter particular, de cunho
administrativo, poderá, eventualmente, configurar a obediência hierárquica (art. 22, 2ª parte,
do CP), mas não o dever legal.

Ex: carcereiro que encarcera o criminoso sob o amparo de ordem judicial; o policial que prende o
infrator em flagrante delito; oficial de justiça que cumpre ordem de penhora de bens, etc.

Atenção!!! Agente de segurança que, eventualmente, mata ou lesiona outrem no exercício de sua
função JAMAIS será abarcado pelo estrito cumprimento de dever legal (proibição da pena de morte,
quiçá da execução sumária). Este agente PODERÁ ser abarcado pela legítima defesa.

03) LEGÍTIMA DEFESA

Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios


necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
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Possui como fundamento a defesa de bens jurídicos diante de uma agressão injusta; e à defesa do
ordenamento jurídico, que se vê afetado por essa agressão injusta.

Forma abreviada de realização da justiça penal e da sua sumária execução.

Limitação pela ponderação de interesses, razoabilidade, proporcionalidade e valoração de deveres.

Ligada à lógica da reação e da defesa (autotutela).

REQUISITOS (cumulativos)

• OBJETIVOS
1) Agressão injusta, atual ou iminente.

Agressão. É a conduta humana (exclusivamente) lesiva ou que põe perigo um interesse ou bem jurídico
tutelado.

Injusta. Desnecessário que seja um ilícito penal; basta que seja contrária ao Direito (dolosa ou culposa)
– ilícito em sentido amplo. Basta que o agredido não esteja obrigado a suportar a injusta agressão.

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Atual é a agressão que está ocorrendo e que ainda não foi concluída.

Iminente é a agressão que está prestes a ocorrer; que não admite demora para sucesso da repulsa. Se
tornará atual no futuro imediato.

A reação deve ser imediata, pois a demora descaracteriza a legítima defesa; inclusive, se for após a
finalização da agressão, caracteriza vingança, que é punida pelo Direito Penal.

A agressão futura remota e a passada (ou pretérita) não autorizam a legítima defesa.

2) Direito próprio ou alheio.

Qualquer bem jurídico pode ser defendido: pertencente àquele que se defende (próprio) ou pertencente
a terceiro alheio ao defensor.

Obs: na defesa de bem disponível de terceiro deve se observar se não houve um anterior consentimento.

Obs: possibilidade de proteção de bem jurídico de terceiro.

3) Meios necessários, utilizados moderadamente (proporcionalidade) 4

Limites da proporcionalidade e moderação.

Intimamente ligada à intensidade e gravidade da agressão injusta.

Dificuldades para quem está emocionalmente envolvido (flexibilidade para não se exigir um
porcionamento mecânico).

Meios necessários suficientes e indispensáveis (e à disposição) para repelir a agressão. Se for


desnecessário: excesso.

Uso moderado. Utilização na medida suficiente para afastar a agressão; uma vez afastada a agressão,
a continuação da reação configurará excesso. Exigência da proporcionalidade entre os bens jurídicos
(atingido e protegido). Bem protegido de igual ou inferior valor ao atingido pela reação; caso contrário:
excesso.

• SUBJETIVO: ANIMUS DEFENDENDI

Legítima defesa deve ser objetivamente necessária e subjetivamente motivada.

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É a reação realizada com o propósito de defesa de uma injusta agressão.

Legítima defesa sucessiva.

É a legítima defesa do excesso da legítima defesa: possível.

Ex: força física contra agressões verbais.

Legítima defesa recíproca

Legítima defesa da legítima defesa: impossível, pois indispensável a injusta agressão; alguém precisa
proferir a agressão injusta. Se me defendo sem excesso, a minha agressão é justa e quem a recebe deve
suportá-la.

Legítima defesa X Estado de necessidade

LD: EN:
agressão apenas de ser humano; perigo pode decorrer de animais ou de força da
natureza. 5

sacrifício de bem jurídico da pessoa autora da agressão injusta sacrifício de bem de terceiro alheio à geração do perigo.
Conflito de interesse lícito de um lado e ilícito do outro: Conflito de interesses lícitos (legítimos): sobrevivência
agressão é ilícita e reação é lícita. de um significa o perecimento do outro.
Reação Ação

Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se


também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de
agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)

Assunto de trabalho dos alunos! Resenha de artigo...

04) ESTADO DE NECESSIDADE

Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo
atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou
alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.

§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o
perigo. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
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§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser
reduzida de um a dois terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Caracterizado pela colisão de bens jurídicos (conflito de interesses lícitos), devendo um deles ser
sacrificado em prol da preservação do outro.

REQUISITOS (cumulativos)

• OBJETIVOS
• Fato necessitado X situação de necessidade

1) Situação de necessidade
a) Perigo atual e inevitável

Exposição de interesse jurídico a um perigo real e concreto (efetivo): no exato momento em que a ação
necessitada deve ser realizada.

Omissão do CP com relação ao perigo iminente, mas a atualidade do perigo engloba a iminência do 6
dano (probabilidade de dano).

Perigo iminente propriamente dito é afastado

Exposição do bem jurídico a uma situação de probabilidade de dano.

A origem pode ser de fatos da natureza, de animais irracionais ou até mesmo do próprio agente
culposamente (ex: pessoa que ao se jogar no mar e começar a se afogar, subtrai embarcação alheia
para não morrer afogado).

Apenas não poderá configurar uma reação contra o agressor (LD).

b) Perigo provocado não voluntariamente pelo agente

Negação do EN aquele que voluntariamente provocou o perigo. Ausência de dolo.

Perigo causado dolosamente impede a alegação do EN. O perigo gerado pela culpa autoriza o EN (ex.
motorista em excesso de velocidade que, ao ver a possibilidade de atropelar e matar pedestre puxa o
carro colidindo com carro de terceiro).

Quem: a pessoa que alega o EN.


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Obs: divergência.

c) Ameaça a direito próprio ou de terceiro

Interpretação ampla do termo “direito”: qualquer bem ou interesse juridicamente protegido.

d) Ausência de dever legal de enfrentar o perigo (§1º)

Não pode alegar EN quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo.

Necessidade de suportar os riscos inerentes a sua função.

Interpretação cautelosa (não é absoluto - razoabilidade): não se pode exigir ações heroicas ou sacrifício
de direitos básicos à condição humana.

O dever deve decorrer DE LEI (interpretação restritiva). Não se confunde como dever jurídico do
garantidor, que é mais amplo. Alguns entendem que o dever pode decorrer também de relação
contratual, como médicos, salva-vidas, seguranças, etc.

Obs: se limita ao tempo que a pessoa estiver em serviço, 7

2) Fato necessitado: é o fato típico praticado pelo agente em face do perigo ao bem jurídico
(requisitos):

a) Inevitabilidade do perigo por outros modos

Fato necessitado deve ser absolutamente imprescindível para evitar a lesão ao bem jurídico.

A existência de outro meio menos gravoso para evitar o perigo gera o excesso (meio mais grave e
desnecessário gera o excesso).

Diretamente ligado à moderação no uso do meio lesivo para eliminar o perigo (razoável).

Inevitável é a lesão necessária para salvar o bem ameaçado.

Agente deve escolher sempre o meio que produza menor dano.

Obs: consideração das circunstâncias fáticas e situação emocional do agente.

A possibilidade de fuga pode afastar o EN.

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b) Inexigibilidade de sacrifício do bem ameaçado (proporcionalidade)

Ponderação de bens (razoabilidade e proporcionalidade).

Sacrifício do bem, nas circunstâncias, não era razoável exigir.

Obs: CP não fez considerações acerca da qualidade e natureza dos bens em conflito (teoria unitária ou
monista objetiva).

*** bem salvaguardado de igual valor ou valor superior ao bem jurídico sacrificado.

Não adotamos a teoria diferenciadora (ou dualista objetiva), em que se diferencia o EN exculpante
(resguardo do bem jurídico igual ou superior) do EN justificante (resguardo do bem jurídico inferior).

Possibilidade de adoção do estado de necessidade exculpante por inexigibilidade de conduta diversa


(causa supralegal), caso o bem jurídico salvaguardado seja de valor inferior ao bem jurídico
sacrificado (que é, portanto, de valor superior).

Atenção: o Brasil adota a teoria diferenciadora no Código Penal Militar (art. 39), mas não no CP.

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Causa de diminuição de pena (1 a 2/3): sacrifício do bem de maior valor. Persiste o crime, salvo se
consiga encaixar na causa supralegal de exclusão da culpabilidade (inexigibilidade de conduta
diversa).

• SUBJETIVO: finalidade de salvar o bem jurídico do perigo

Objetivamente necessária e subjetivamente conduzida pela vontade de salvamento.

Finalidade específica de salvaguardar um bem próprio ou alheio.

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Estado de necessidade recíproco: admissível

Quando mais de uma pessoa, simultaneamente, estão em estado de necessidade umas contra as outras.

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CONSENTIMENTO DO OFENDIDO

Causa supralegal de exclusão da ilicitude.

Justifica-se pela falta de interesse na proteção jurídica do Estado pelo titular do bem jurídico.

REQUISITOS:

1) Bem jurídico disponível


2) Único titular do bem jurídico é a pessoa que aquiesce (consente) e que pode livremente dele
dispor (patrimônio, honra, liberdade individual, integridade física).
Não aplicável a bens jurídicos do Estado ou metaindividuais.
3) Consentimento expresso (não tácito) e prévio à consumação da infração penal (nunca
posterior).
4) Livre de coações (física ou moral) (não pode ser mediante paga? - divergência);
5) Plena capacidade para consentir (18 anos e sem nenhum tipo de condição que reduza ou retire
a capacidade de discernir);

EXCESSO PUNÍVEL

Corresponde à desnecessária intensificação na causa de justificação.

Ocorre o desrespeito aos limites previstos para as excludentes de ilicitude.

Responsabilização pelo excesso culposo ou doloso.

Doloso: voluntário e proposital (sabe ou deveria saber que está se excedendo, mas prossegue
na execução).

Culposo: inconsciente (resultante da negligência, imprudência ou imperícia)

Obs: possibilidade do excesso fortuito (ou acidental) – penalmente irrelevante. Quando


imprevisível e inevitável.

EN: “nem podia de outro modo evitar” (meios dispensáveis).

LD: emprego de meios desnecessários ou utilização desmoderada desses meios.

ECDL: não observância dos limites determinados pela lei que impõe ao agente a prática de um
fato típico.

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ERD: exercício abusivo do direito consagrado no ordenamento jurídico

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• Offendículas

São as defesas predispostas → PATRIMÔNIO.

Necessária advertência (jamais podem estar ocultas, sob pena de excesso).

Legítima defesa (preordenada) X exercício regular de um direito

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