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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


DEPARTAMENTO DE DIREITO
DISCIPLINA: TEORIA GERAL DO DIREITO PENAL (T01) – 2023.1
Prof.ª Dr.ª Daniela Carvalho Almeida da Costa
Mestranda: Raphaela Maria Nascimento Lima

ESTADO DE NECESSIDADE

- Art. 24/CP;
- Colisão de bens jurídicos de “distinto valor”, devendo um deles ser sacrificado em prol
da preservação daquele que é reputado como mais valioso;
- Ponderação de bens - razoabilidade do sacrifício;
- A ação dirige-se, em regra, contra um bem jurídico pertencente a terceiro inocente;
- No estado de necessidade há ação;
- Teoria unitária: a colisão de bens jurídicos pode acontecer também entre bens de iguais
valores;
1 Estado de necessidade justificante: quando o bem ou interesse sacrificado for
de menor valor a ação será considerada lícita/justificada. Entretanto, a doutrina brasileira,
também admite o estado de necessidade justificante quando se tratar de bens ou interesses
em conflito de iguais valores;
2 Estado de necessidade exculpante: quando o bem ou interesse sacrificado for
de valor superior ao que se salva. Deixa-se de excluir o caráter ilícito.

* ATENÇÃO!
Mas e se o bem sacrificado for de valor maior que o bem protegido?
- Quando o bem ou interesse sacrificado for de maior valor, pela desproporcionalidade
entre valor preservado e valor sacrificado, de acordo com o Código Penal, a ação não está
abrigada pela previsão do estado de necessidade;
- O indivíduo responderá pelo crime, mas sua pena poderá, a depender das circunstâncias,
ser reduzida pelo Juiz (art. 24, § 2º/CP);
- Requisitos: ação de salvaguarda necessária, para fazer frente a um perigo atual, não
provocado pelo titular do bem jurídico preservado;

1 A situação de perigo deve:


- Não ter sido criada voluntariamente pelo agente, ou seja, se foi ele mesmo quem deu
causa, não poderá sacrificar o direito de um terceiro. Além disso, é indiferente que a
situação de perigo tenha sido causada por conduta humana ou decorra de fato natural;
- O perigo deve estar ocorrendo;
- A situação de perigo deve estar expondo a risco de lesão um bem jurídico do próprio
agente ou de um terceiro;
- O agente não pode ter o dever jurídico enfrentar o perigo. Ex.: policial, bombeiro,
segurança (a exigência de sacrifício não pode atingir o nível de heroísmo);
- O agente deve saber que está agindo em estado de necessidade;

2 Quanto à conduta do agente, ela deve ser:


- Inevitável: Não havia outra forma de salvar o bem jurídico;
- Proporcional: O agente deve sacrificar apenas bens jurídicos de menor ou igual valor ao
que pretende proteger;

3 O estado de necessidade pode ser:


- Agressivo: Quando para salvar o bem jurídico o agente sacrifica bem jurídico de um
terceiro que não provocou a situação de perigo;
- Defensivo: Quando o agente sacrifica um bem jurídico de quem ocasionou a situação
de perigo;
- Real: Quando a situação justificante de fato existe;
- Putativo: Quando a situação justificante existe apenas na imaginação do agente.
LEGÍTIMA DEFESA

- Art. 25/CP;
- É a defesa necessária empreendida contra agressão injusta, atual ou iminente, contra
direito próprio ou de terceiro, usando, para tanto, moderadamente, os meios necessários
(CAPEZ, 2023, p. 411);
- Exige-se a presença simultânea dos seguintes requisitos:
1 Agressão injusta, atual ou iminente: a agressão deve estar acontecendo ou prestes a
acontecer
2 Bem jurídico próprio ou alheio;
3 Meios necessários usados moderadamente: reação proporcional - o agente deve fazer
uso dos meios necessários para afastar a agressão injusta, mas deve fazer uso moderado
de tais meios (eventual excesso será punido);
4 Elemento subjetivo: animus defendendi - o agente deve saber que está agindo em
legítima defesa, ou seja, deve conhecer a situação justificante e agir com intenção de
defesa;

- A legítima defesa pode ser:


1 Agressiva: o agente pratica um fato previsto como infração penal;
2 Defensiva: o agente se limita a se defender, não atacando nenhum bem jurídico do
agressor;
3 Própria: o agente defende um bem jurídico próprio;
4 De terceiro: o agente defende bem jurídico pertencente a outra pessoa. Quando o bem
do terceiro que está sendo lesado é um bem disponível, o terceiro deve concordar com
que o agente atue em seu favor. Entretanto, caso o bem do terceiro seja indisponível (ex.:
vida), o agente poderá repelir a agressão injusta ainda que o terceiro não concorde com
esta atitude;
5 Real: quando a situação justificante existe, de fato, no mundo real;
6 Putativa: quando a situação justificante não existe no mundo real. Ou seja, o agente
pensa que a agressão está prestes a ocorrer, mas, na verdade, trata-se de fruto da sua
imaginação;

ATENÇÃO!
- Legítima defesa sucessiva: É aquela na qual o agredido injustamente acaba por se
exceder nos meios para repelir a agressão. Logo, aquele que primeiramente agrediu, agora
poderá agir em legítima defesa. Ex.: José agride Pedro, com socos e pontapés. Pedro, para
se defender, dá um soco em José e o imobiliza (legítima defesa). Já estando José
imobilizado e sem oferecer qualquer risco, Pedro continua a agredir José (excesso), por
estar com muita raiva. José, então, o agressor inicial, poderá agora repelir essa injusta
agressão de Pedro (legítima defesa sucessiva).

ATENÇÃO!
Cabe legítima defesa real em face de legítima defesa putativa?
- Sim. Ex.: Se Mévio pensa estar sendo ameaçado por Tício e o agride (legítima defesa
putativa), Tício poderá agir em legítima defesa real;
- A atitude de Mévio não é justa, logo, é uma agressão injusta, de forma que Tício poderá
se valer da legítima defesa;

ATENÇÃO!
- Quando uma pessoa é atacada por um animal, em regra não age em legítima defesa, mas
em estado de necessidade. Porém, se o animal estiver sendo utilizado como instrumento
de um crime (dono determina ao cão bravo ataque a vítima), o agente poderá agir em
legítima defesa. Neste caso, a legítima defesa estará ocorrendo em face da agressão do
dono, e não em face do animal.

ESTRITO CUMPRIMENTO DE DEVER LEGAL

- Art. 23, III/CP;


- Há situações em que a lei impõe determinada conduta e, em face da qual, embora típica,
não será ilícita;
- Requisitos:
- Estrito cumprimento: somente os atos necessários justificam o comportamento
permitido;
- Dever legal: é indispensável que o dever decorra de lei. A norma da qual emana o dever
tem de ser jurídica, e de caráter geral: lei, decreto, etc.;
- O limite do lícito termina necessariamente onde começa o abuso;
- Apesar de os destinatários naturais dessa excludente de criminalidade serem os agentes
públicos, nada impede que possa ser aplicada ao cidadão comum, quando atuar, claro,
sob a imposição de um dever legal.

EXERCÍCIO REGULAR DO DIREITO


- Art. 23, III/CP;
- É o desempenho de uma atividade ou a prática de uma conduta autorizada por lei, que
torna lícito um fato típico;
- O agente age no legítimo exercício de um direito seu;
- A conduta é considerada um direito da pessoa;
- O termo direito deve ser interpretado de modo amplo e não estrito;
- O limite do lícito termina necessariamente onde começa o abuso;
- Ex.: correção disciplinar dos pais aos filhos menores, quando moderada; direito de greve
sem violência; o tratamento médico e a intervenção cirúrgica, quando admitidas em lei.

ATENÇÃO!
Estrito cumprimento do dever legal x Exercício regular de direito:
a) a primeira excludente é de natureza compulsória, irrecusável, enquanto a segunda é
facultativa;
b) na primeira, o agente deve limitar-se a atender ao comando existente em lei, enquanto
na segunda detém ele o poder de agir, legitimado pela norma;
c) na primeira, o dever de agir somente pode ter origem em lei, enquanto na segunda o
direito pode surgir de qualquer fonte do direito.

BIBLIOGRAFIA

BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Geral (arts. 1º a 120). 29
ed. São Paulo: SaraivaJur, 2023.

CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal - Parte Geral. v. 1. 27 ed. São Paulo:
SaraivaJur, 2023.

NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal: parte geral - arts. 1º a 120 do
código penal. 7 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2023.

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