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DOS CRIMES PRATICADOS POR

PARTICULAR CONTRA A
ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
Usurpação de função pública-Art. 328
Resistência Art. 329

Professor Rogério B. Gabbelini


Usurpação de função pública
Art. 328 - Usurpar o exercício de função pública:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.
Aumento de pena
Parágrafo único - Se do fato o agente aufere vantagem:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
USURPAR
• Usurpar significa alcançar sem direito ou com fraude.
• O objeto de proteção é a função pública. Função pública é o conjunto de
atribuições inerentes ao serviço público, que não correspondem a um cargo ou
emprego

Nas lições de GALDINO SIQUEIRA: “É de toda evidência que não haveria ordem social
se a qualquer fosse dado investir-se de cargo público, sem observância das formas e
condições legais. Além da perturbação da ordem, haveria ofensa ao direito do
Estado de escolher seus próprios funcionários.
SUJEITOS ATIVO E PASSIVO

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive o funcionário


público, quando atue completamente fora da sua área de atribuições.
Consumação
Trata-se de crime formal (delito que não exige resultado naturalístico,
consistente em efetivo prejuízo para a Administração);

Comissivo: “usurpar” implica ação.


FIGURA QUALIFICADA DO PARÁGRAFO ÚNICO

Caso o agente, usurpando função pública, consiga obter alguma


vantagem (ganho ou lucro, benefício ou privilégio), a pena será
consideravelmente aumentada, de detenção para reclusão e com
faixa variando de 2 a 5 anos, com multa
JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

“Se o réu se apresenta em Batalhão da Polícia Militar envergando uniforme preto


assemelhado ao dos integrantes do BOPE, com a tarja de Coronel e crachá da
Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, com o intuito
deliberado de comandar operação policial militar (blitz) sem possuir autoridade para
tanto, sua conduta se amolda à usurpação da função de policial militar ou civil do
Estado, e não à de oficial do Exército, já que o policiamento preventivo ou repressivo
nas ruas cabe a tais policiais” (CC 120493/RJ, 3.ª S., rel. Reynaldo Soares da Fonseca,
10.06.2015, v.u.).
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL 3º REGIÃO

A imputação delitiva no caso concreto, de apreensão de produtos ilegais (300


CDs piratas) mediante a ostentação da condição de Policial Federal perante
comerciantes ambulantes, corresponde justamente à obtenção de vantagem
mediante usurpação de função inerente à atuação policial. 3. Existência de
prova material de que o acusado portava uma cópia da carteira funcional da
Polícia Federal aparentemente falsa e distintivo, corroborada por prova oral
consistente no sentido de evidenciar que o acusado empregara tais
documentos para empreender com êxito a expropriação de mercadorias
supostamente ilegais (TRF-3 - APELAÇÃO CRIMINAL: ApCrim
172728820084036181 SP)
RESISTÊNCIA
Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência
Caput ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem
Consumação lhe esteja prestando auxílio:
formal
Pena - detenção, de dois meses a dois anos.
Exaurida
Consumação § 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa:
material Pena - reclusão, de um a três anos.

Concurso § 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das


material correspondentes à violência.
obrigatório
RESISTÊNCIA

• Conhecida como “desobediência belicosa”.

• Nas lições de Francesco Carrara: “É a luta dos particulares contra


os agentes da força pública, com a finalidade de impedir um ato
de justiça.”

• Trata-se de um ato de violência contra um ato da autoridade, isto


é, um antagonismo entre duas forças físicas: a da autoridade
pública e a do particular.

Ex.: ameaçar de morte o oficial de justiça, que leva o mandado judicial para uma
ordem de despejo.
OBJETIVIDADE JURÍDICA

• O bem jurídico penalmente tutelado é a Administração Pública,


relativamente à sua autoridade e ao seu prestígio, fundamentais
para o regular exercício da atividade administrativa.
• Trata-se de crime pluriofensivo

TUTELA JURÍDICA BIFACIAL


• A proteção jurídica recai sobre o poder de atuação do funcionário
público na execução de atos legais, bem como, a integridade física e
moral do particular que lhe presta auxílio. Esta é a razão pela qual se
fala em “tutela jurídica bifacial” no crime de resistência.
OBJETO MATERIAL

• É o funcionário público competente para a execução do ato


legal ou o particular que lhe presta auxílio.

• Por exemplo, oficial de justiça responsável pelo despejo e o


particular representado pelo chaveiro que irá abrir a porta do
imóvel.
Resistência espécies:
vis corporalis ou vis compulsiva
vis civilis
ESPÉCIES DE RESISTÊNCIA
Resistência ativa (vis corporalis ou vis compulsiva) é a que se caracteriza pelo
emprego de violência ou ameaça ao funcionário público ou ao particular que
lhe presta auxílio, com o propósito de impedir a execução de ato legal.
Resistência passiva (vis civilis), por sua vez, é a oposição à execução de ato legal
sem a utilização de violência ou ameaça ao funcionário público ou a quem lhe
auxilia, motivo pelo qual é também chamada de “atitude ghândica”.
Nas lições de Nelson Hungria:

A simples desobediência ou resistência passiva (vis civilis) poderá


constituir outra figura criminal (art. 330), sujeita a penalidade
sensivelmente inferior. Se não há emprego de violência (vis physica, vis
corporalis) ou de ameaça (vis compulsiva), capaz de incutir medo a um
homem de tipo normal, limitando-se o indivíduo à inação, à atitude
ghândica, à fuga ou tentativa de fuga, à oposição branca, à manifestação
oral de um propósito de recalcitrância, à simples imprecação de males
(pragas), não se integra a resistência. Não a comete, por exemplo, o
indivíduo que se recusa a abrir a porta de sua casa ao policial que o vai
prender, ou se agarra a um tronco de árvore ou atira-se ao chão para não
se deixar conduzir ao local da prisão (Comentários ao Código Penal).
VIOLÊNCIA CONTRA O FUNCIONÁRIO COMPETENTE
É preciso que tanto a violência quanto a ameaça sejam dirigidas contra a
pessoa do funcionário, e não contra coisas. ex.: se alguém, ao ser preso,
chutar a viatura policial, não haverá crime de resistência e sim delito de
dano – art. 163, parágrafo único, III.
Não basta que a vítima seja funcionário público, pois exige o tipo penal
tenha ele competência para executar o ato.
Exemplo: oficial de justiça vinculado a uma Vara Criminal pretende
efetuar uma penhora, referente a mandado de Vara Cível, é evidente que
não é “competente” para o ato. Pode, pois, o particular recusar-se a
atendê-lo.
ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO
O elemento normativo é representado pela expressão “ato legal”.
A legalidade do ato deve ser analisada em dois planos distintos:
(a)Formal, relativamente à competência de quem o executa e à forma da sua
emissão;
(b) material ou substancial, vinculado ao seu conteúdo.

“A garantia constitucional do inciso XI do artigo 5.º da Carta da República, a


preservar a inviolabilidade do domicílio durante o período noturno, alcança
também ordem judicial, não cabendo cogitar de crime de resistência).RE
460.880/RS, rel. Min. Marco Aurélio, 1.ª Turma, j. 25.09.2007”.
Sujeito passivo
É o Estado e, secundariamente, o funcionário público competente para execução do
ato legal ou o terceiro (particular) que lhe esteja prestando auxílio.
A assistência pode ser prestada mediante requisição ou requerimento do agente
público, ou espontaneamente, desde que com o consentimento deste.

Em qualquer hipótese, de acompanhamento é imprescindível o efetivo


acompanhamento do particular pelo funcionário público competente para a
execução do ato legal, ou então a atuação em seu nome.

Um particular que, sozinho (desacompanhado do funcionário público),


efetua a prisão em flagrante de um criminoso, ocasião em que tem
contra si dirigida violência para impedir a realização do ato. Há
resistência?
ELEMENTO SUBJETIVO
É o dolo, acompanhado de um especial fim de agir (elemento
subjetivo específico), consistente na intenção de impedir a execução
de ato legal.
Não se admite a modalidade culposa
CONSUMAÇÃO

• A resistência, caput, é crime formal


• Consuma-se com o emprego de violência ou ameaça ao funcionário
público competente para execução do ato legal ou a quem lhe
esteja prestando auxílio, pouco importando se assim agindo o
sujeito vem a impedir a atuação estatal
FIGURA QUALIFICADA: ART. 329, § 1.º
O art. 329, § 1.º, do Código Penal, contempla o exaurimento como qualificadora do
delito, pois em razão da resistência o ato legal não se executa, justificando a
elevação dos limites da pena em abstrato.
O momento consumativo do §1º do crime de Resistência exige o exaurimento,
portanto, trata-se de crime de natureza material.
O tratamento mais severo da resistência tem dois fundamentos:
a) a lei é efetivamente descumprida;
b) a autoridade estatal é ridicularizada, fomentando igual atuação de rebeldia
por outras pessoas.

Exemplo: Fiscal da Prefeitura é agredido pelo dono do estabelecimento e não


consegue interditar a empresa.
CONCURSO MATERIAL OBRIGATÓRIO: ART. 329, § 2.º
• A resistência pode ser cometida mediante o emprego de violência ou
ameaça.
• Quando o crime é praticado com emprego de violência – contra o
funcionário público competente para executar o ato legal ou contra
quem lhe preste auxílio –, o art. 329, § 2.º, do Código Penal, prevê o
concurso material obrigatório
• O agente responde pela resistência (simples ou qualificada) e pelo
crime resultante da violência, que em nenhuma hipótese será
absorvido, qualquer que seja este (lesão corporal leve, grave ou
gravíssima, homicídio etc.).
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO MATO GROSSO DO SUL

TJMS: “Restando comprovado no robusto conjunto probatório que o


réu se opôs, mediante violência, à execução de ato legal, não apenas
ao morder o dedo do policial para evitar a apreensão das porções de
droga que estavam no interior de sua boca, como também ao evadir-
se do local mesmo já imobilizado, configurado está o delito de
resistência previsto no art. 329 do Código Penal” (Ap. 0000741-
43.2014.8.12.0033/MS, 1.ª C. Crim., rel. Romero Osme Dias Lopes,
16.06.2015, v.u.).
Exercício de fixação
1-Por que se diz que o bem jurídico do crime de resistência possui tutela jurídica
bifacial? Explique e justifique de forma fundamentada.

2- - Relativo ao Crime de Resistência apresente os requisitos necessários para ocorrer


o citado delito, bem como, seu momento consumativo.

3-Um particular que, sozinho (desacompanhado do funcionário público), efetua a


prisão em flagrante de um criminoso, ocasião em que tem contra si dirigida violência
para impedir a realização do ato. Há resistência?

4-Analise o seguinte tipo penal: “Resistência. Art. 329 - Opor-se à execução de ato
legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a
quem lhe esteja prestando auxílio: Pena - detenção, de dois meses a dois anos.” Em
relação a figura do “caput” responda de forma fundamentada sobre o momento
consumativo, bem como, se o crime é material ou formal? De exemplos.
4-Analise o seguinte tipo penal: “Resistência. Art. 329 - Opor-se à execução de ato
legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a
quem lhe esteja prestando auxílio: Pena - detenção, de dois meses a dois anos. § 1º -
Se o ato, em razão da resistência, não se executa: Pena - reclusão, de um a três anos”.
Em relação a figura do parágrafo 1º do tipo penal da Resistência, responda de forma
fundamentada, sobre o momento consumativo, bem como, se o crime é material ou
formal? De exemplos.
Referência Bibliográfica

Nucci, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. Rio de Janeiro.


Forense, 2019

Nucci, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. Rio de Janeiro.


Forense, 2019

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