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CRIMES · CRIME CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA · DIREITO PENAL

Crimes praticados por particular contra a Administração Pública

jusbrasil.com.br
24 de Abril de 2023

Crimes praticados por particular


contra a Administração Pública
Publicado por Gabriella Zingaro há 7 anos  10,9K visualizações

Usurpação de Função Pública (Art. 328)

Tutela o dispositivo o interesse relativo ao regular e normal


funcionamento da Administração Pública, lesado com a conduta
de quem, indevidamente, exerce função administrativa sem
estar legalmente habilitado para o desempenho dessas
atividades. Tal conduta compromete a eficiência da
Administração como também ofende o direito exclusivo do
Estado de escolher e nomear os seus funcionários para o
desempenho das atividades estatais. Ainda que dessa conduta
possa eventualmente não resultar dano material, a usurpação de
função pública pelo particular acarreta evidente descrédito para
a Administração.

A conduta típica é usurpar, significa "apossar-se, assumir


indevidamente o exercício, obter com fraude".

Crime doloso (e formal), sendo que a ausência do "animus" de


usurpar desnatura o delito, tanto que já se decidiu, em caso
concreto, pela atipicidade da conduta de uma escrevente judicial
que interrogou e digitalizou o interrogatório do réu em processo
criminal, entendendo-se que no caso teria ela agido com a

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vontade de colaborar com o bom andamento dos serviços
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Crimes praticados por particular


forenses e não com contra a Administração
a intenção Pública função
de usurpar pública (RT no
852/320).

Outrossim, a falsa intitulação para obter vantagem ilícita em


prejuízo alheio pode se constituir simples meio para a obtenção
do crime fim, qual seja, o estelionato. (Ex: indívíduo que se
veste de policial e para carros perguntando pela documentação,
se um parado não tem os documentos, e o indivíduo cobra do
parado para evitar suposta multa, é estelionato)

Sujeito ativo: outrora havia certa divergência doutrinária e


jurisprudencial. Hoje, no entanto, é entendimento dominante
que não só o particular pode praticar o crime, mas também o FP
que usurpa uma outra função pública diversa da sua. Portanto,
por "particular" podemos entender como "todos", englobando,
também, FP. Obs: esse entendimento de que FP também pode
participar, cabe para todos os crimes desse capítulo.

Resistência (Art. 329)

O crime em questão tem como objetividade jurídica a proteção


da autoridade e do prestígio da função pública. (responderá pelo
crime de resistência + responderá pelo crime correspondente à
violência praticada)

Pressuposto essencial é tratar-se de ato legal a ser praticado por


funcionário competente.

A conduta típica vem caracterizada pela oposição ao ato


funcional mediante violência física ou ameaça a funcionário.

Decidiu-se na jurisprudência que empreender fuga a prisão


legal é ato lícito por tratar-se de manobra instintiva de defesa
(todavia, se houver emprego de violência contra o FP para a
obtenção da fuga o delito estará caracterizado). (Se cometeu
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Crimes praticados
crimeporeparticular
é pegocontra
em aflagrante,
Administração Pública
caso fuja, a conduta é lícita,
entretanto, fugir estando em situação lícita configura este crime
ou o de desobediência)

À semelhança do crime de corrupção passiva, o não


cumprimento ou execução do ato de ofício em razão da
desistência caracterizará a forma qualificada do delito,
mudando a pena de detenção para a de reclusão.

Não cumprimento de uma ordem legal mediante violência


ou ameaça.

É lícito ao particular resistir a uma ordem ilegal, como, por


exemplo, recusar cumprimento de mandado judicial na
casa do cidadão durante a noite; recusar-se o gerente do
banco a quebrar o sigilo do cliente em razão de requisição
efetuada pelo delegado polícia, ou promotor de justiça.
(Resistência deve ser moderada)

OAB entende que usar violência após um roubo contra o


policial para garantir sua fuga não configura resistência.
Para o MP configura roubo + resistência

Consumação: Com a efetiva violência ou ameaça, pois se trata


de um crime formal.

Evasão mediante violência contra a pessoa (Art. 352) -


Consumação ou tentativa tem a mesma pena

Quem praticou, responderá pelo crime de Evasão mediante


violência contra a pessoa + responderá pelo crime
correspondente à violência praticada.

Se não houver violência ou grave ameaça não é crime


(atípico). Se o preso destrói coisa (serrar grades, abrir
buraco) comete o crime de dano qualificado (Bens da união,
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Crimes praticados estados


por particular contra a Administração Pública
ou municípios)

Desobediência (Art. 330)

Crime doloso, exigindo-se a consciência do agente de que está


descumprindo uma ordem legal e não mero pedido ou
solicitação, logo, é lícito ao particular desobedecer a uma ordem
ilegal, como, por exemplo, recusar cumprimento de mandado
judicial na casa do cidadão durante a noite; recusar- se o
gerente do banco a quebrar o sigilo do cliente em razão de
requisição efetuada pelo delegado polícia, ou promotor de
justiça.

Não cumprimento de uma ordem legal sem violência ou


ameaça

A desobediência deve ser de ordem direta (não pode ser por


intermédio)

Quando houver previsão de outra punição, esta se sobrepõe


ao crime de desobediência (exemplo do CET que pede para
o dono de carro tirar o carro de algum lugar após multá-lo.
Caso o motorista não queria tirar, o CET deve guinchar o
carro, e não prender o motorista por desobediência.

Sujeito ativo: Pode ser qualquer pessoa. Na doutrina discutia-se


a possibilidade de outro FP ser sujeito ativo, admitindo-se hoje
tal possibilidade, como, por exemplo, na hipótese de um
delegado de polícia que se recusa a instaurar Inquérito Policial
determinado por ordem judicial.

Sujeito passivo: O principal é o Estado e, secundariamente, o


autor da ordem, que deve ser o FP legalmente investido no
cargo público criado por lei, ou seja, o FP em sentido estrito.
Consumação: Crime formal, consumando-se com a simples ação
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Crimes praticados por particular


ou omissão contra a Administração Pública
do desobediente.

Desacato (Art. 331)

Trata-se de assegurar o devido respeito, dignidade e decoro


devidos aos agentes da administração pública no exercício de
sua função. (Ex: FP pede que particular retire seu carro de
algum local, o particular retira, mas manda o FP para a PQP. O
particular comete Desacato.)

Sujeito ativo: Pode ser qualquer pessoa inclusive outro FP, tanto
que já se decidiu que em razão do bem jurídico tutelado ser o
prestígio da função pública, nada impede a ocorrência de
desacato praticado, por exemplo, policial militar contra juiz de
direito durante depoimento judicial, ou por escrevente contra
promotor de justiça no exercício da função, ou por um juiz de
direito contra outro, e assim por diante.

Pouco importa que o FP se sinta ou não ofendido, posto que a


lei não protege a sua integridade física ou moral, mas sim a
dignidade e o prestígio do seu cargo ou função. É indispensável
o nexo funcional podendo então ocorrer quando em exercício ou
não o FP, mas desde que a ação se verifique em função da
atividade pública (autoridade ou cargo).

É indispensável a presença do FP, não ocorrendo o crime por


meio de petição (não pode por escrito) Desacatar, em suma,
significa menosprezar, humilhar, tripudiar em evidente
desprezo para com a função ou autoridade - Pode ser verbal ou
gestual (ex: amassar a multa e jogar na cara do policial)

1. O desacato pode ser cometido apenas contra FP em sentido


estrito
2. Qualquer pessoa pode prender o sujeito ativo, mesmo que o
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Crimes praticados FP
por não
particular contra
se sinta a Administração Pública
ofendido

3. Deve ser diretamente para a autoridade, ou para outra


pessoa, mas de jeito que o FP consiga ouvir. - Se for para 3o
e este contar para o FP não configura o crime.

4. Se for por escrito, tipificará injúria qualificada (Art. 141, II)

5. FP aposentado não pode ser desacatado, pois não há mais o


bem jurídico tutelado (tipificaria injúria).

Bibliografia:
1) BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal:
Parte Especial. Volumes 4 e 5. Saraiva.

2) GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte Especial. V.4.


Impetus.

3) MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal: Parte


Especial. V.3. Atlas.

Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/crimes-praticados-por-particular-contra-a-


administracao-publica/259224984

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