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Direito Penal I – 1º semestre – 2º Ano

14.12.2020 & 15.12.2020

Problemas da tipicidade

o No que toca à ilicitude, pode ser:

 um crime de ação
 um crime de mera atividade
 ou um crime de resultado, sendo que o resultado pode ser a destruição total ou parcial do bem jurídico

o No que toca à conduta do agente, existem:

 Tipos legais de crime cometidos por ação ou omissão


 Crimes de realização livre ou execução vinculada.

o Considerando como o bem jurídico é afetado, temos os seguintes tipos legais de crime:

 Crimes de dano- o bem jurídico é destruído no todo ou em parte


 Crimes de perigo concreto- art.º 138 do CP (a condução perigosa coloca em perigo os outros)
 Crime de perigo abstrato- não temos o bem jurídico em perigo, mas sim uma presunção de perigo.

O perigo é o elemento objetivo ou descrito do tipo legal de crime. Quanto ao crime de perigo abstrato, o
legislador não coloca no tipo legal de crime o elemento perigo. O legislador assume que há́ perigo, não sendo
necessário explicitar.

Artigo.º 292 do CP

Crime de perigo abstrato- o juiz condena o agente desta prática, mesmo que a sua conduta não tenha
colocado em perigo nenhum bem jurídico.

Artigo.º 291 do CP

Crime de perigo concreto- o próprio artigo menciona o perigo.

Crimes simples- que protegem apenas um bem jurídico, e os crimes complexos, que protegem vários bens
jurídicos.

Artigo.º 204, nº1, alínea d do CP

Alguém furta outra pessoa, aproveitando-se de debilidades alheias, isto é um exemplo de tipo legal de crime
complexo.

Crimes individuais- titular do bem jurídico (honra, vida, etc.)

Crimes supra individuais- meio ambiente, crimes financeiros, etc.


Crimes específicos puros- opõem-se aos crimes comuns. Regra geral, o crime de perigo comum não identifica
o agente, na medida em que pode ser qualquer um de nós. O crime específico puro só pode ser praticado por
algumas pessoas, como a recusa de medico, peculato, etc.

Crimes específicos impuros- a qualidade do agente, aqui, não fundamenta o tipo, mas agrava a punição desse
mesmo agente. Exemplo: um colega deixa o computador à minha guarda e eu vendo o computador, sem
autorização. Este é um crime de abuso de confiança, que pode ser cometido por qualquer um de nós, desde
que receba uma coisa para guardar. Este crime está previsto no art.º 205 do CP – a pena para este crime
agrava-se em casos específicos, dependendo da qualidade do agente que o cometeu, por exemplo, por causa
da profissão do agente em questão.

→ Há crimes que só podem ser praticados por pessoas em via de insolvência, que é o devedor – art.º 227 do CP.
→ É uma característica especial da pessoa que fundamenta o tipo legal de crime, como ser médico ou ser
funcionário público.
→ No crime de peculato é um crime específico próprio. O abuso de confiança é um crime específico impróprio.
→ Crimes de execução instantânea (homicídio) e crimes de execução continuada (sequestro).
→ Os crimes podem partir do tipo legal fundamental e, depois, serem qualificados/agravos ou atenuados.
→ O tipo legal de crime tem como função proteger bens jurídicos com dignidade penal.
→ Crimes de perigo concreto também são crimes de resultado, uma vez que ligam o resultado à conduta.
→ No tipo legal de crime, uma vez verificados todos os elementos, podemos dizer que estamos a caminho de o
agente puder ser condenado pela prática do crime. Quando criamos um tipo legal de crime, fazemos um
confronto entre a ação e a omissão que está presente no tipo legal de crime. O positivismo veio trazer um rigor
muito grande ao direito penal.
o Exemplo: A mata B. Começam as investigações e A já tinha sido julgado pelo homicídio de B, mas passados
3 meses veio a autópsia, que veio mostrar que a vítima tinha morrido 10 minutos antes de A disparar, ou
seja, esta conduta é atípica, para efeitos de homicídio. Neste caso, o direito penal, apesar da pessoa não ter
sido morta pelo tiro, funciona como se o cadáver fosse ainda pessoa, só ficciona este tipo de casos até a um
determinado ponto. A não foi condenado pela morte de B.
→ No fundo, temos de saber qual é o bem jurídico protegido, para ver se encaixa no tipo legal de crime que é
iniciado.
o Exemplo: Artigo 217º CP (Burla) – temos três elementos:
 1º - Elemento objetivo, que é o sujeito;
 2º - Elemento subjetivo, que é o facto;
 3º - Elemento que nos diz que o agente vai primeiro colocar outra pessoa em estado de erro com o
objetivo que a outra pessoa entregue ao agente qualquer coisa que lhe vá causar dano patrimonial.

Exemplo: Imaginemos que o agente faz uma troca de notas falsificadas, pelo que a sua intenção era uma
intenção de gozar com a vítima e não de a prejudicar. Nesta conduta, mesmo que a vítima lhe tivesse
entregado as notas, era uma conduta atípica.
→ A ilicitude, no fundo, corresponde à contrariedade da conduta jurídica penal.
 Se a conduta é atípica, a atipicidade é igual à ilicitude?
Não. A ilicitude vai para além de se saber se a conduta é atípica ou não.
Exemplo: O Pedro dá uma chapada na Maria por ela ter desmaiado, de modo a acordá-la, ou seja, não vai
ser punido, pois foi com o intuito de ajudar. O consentimento afasta a ilicitude.
No fundo, o que queremos ver na ilicitude é se há elementos que são negados.
Os tipos legais de crime protegem bens jurídicos com dignidade penal e a norma incriminatória funciona em
concreto. É proibido a analogia, logo eu tenho de interpretar a norma da forma mais restrita possível.
→ As causas de exclusão da ilicitude são gerais e abstratas.
Artigo 31º do CP

Existem várias exclusões de ilicitude que não estão presentes no CP e podem vir de qualquer outro ramo de
direito, podendo servir para justificar a passagem da ilicitude para a licitude de qualquer conduta. O Direito Penal
é um direito de última rácio, na medida em que nós não temos fundamento para não o julgar.
Legítima defesa
 O que o agente tem de fazer para invocar a legítima defesa?
Se eu bater em alguém, tenho de estar a ser alvo de uma conduta ilícita por parte de outra pessoa. Por exemplo,
se alguém estiver a mexer no nosso telemóvel, a legítima defesa não vai proteger se eu der um tiro à outra
pessoa, pois o ato que ela praticou não é motivo suficiente.
Os pressupostos vão ser objetivos.
Os pressupostos podem ser:
o Objetivos (referente ao agente)
o Subjetivos (referentes ao facto)
Exemplo: Imaginemos que a pessoa que me tenta tirar o telemóvel das mãos para fazer uma chamada, era
alguém com quem tinha um desentendimento e já estava farta das atitudes dela, ela ao aproximar-se de mim e
mesmo sem saber que ela me ia tirar o telemóvel, eu bato-lhe na mão.

 Neste caso, estão preenchidos os pressupostos?


Sim, vão estar preenchidos os pressupostos objetivos. O problema que está aqui em causa é que a intenção de
defesa não existiu, porque eu não sabia que ele me ia tirar o telemóvel.

 Vou continuar a ter defesa?


Quando bato no outro, tenho desvalor de intenção e ação, o que acontece quando se verifica os pressupostos (é
que aquilo que era mau torna-se bom).
O meu mal foi o desvalor de intenção e de ação, pois eu agi sem saber o que a outra pessoa ia fazer, se eu não o
tivesse feito eu ia ter um desvalor de resultado e aí sim, tinha sido protegido pela legítima defesa.
Se tivesse sido por legítima defesa, não havia, em certa parte, problema de eu ter violado a norma, pois como era
para me defender, a ilicitude acabava por ser “apagada”.
Para que eu invoque a legítima defesa, é preciso que estejam verificados os pressupostos objetivos e, sobre o
ponto de vista do agente, é preciso que o agente saiba que está a ser protegido por uma causa de desvalor de
resultado.

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