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DOS CRIMES NEGLIGENTES

Conceito

Dentro da parte geral do Código Penal, encontramos alguns artigos que se referem a
negligência embora de forma indirecta, a primeira disposição com a qual podemos nos deparar
é o art.11º que estabelece que, só é punível o facto praticado com dolo ou, nos casos
especialmente previstos na lei, com negligência, mas nada diz de especial em relação a
negligência, o art.13º já pretende ter uma verdadeira definição, ao se referir de quando se age
com negligencia, sendo praticado com a falta de cuidado, a que segundo as circunstancias, esta
obrigado e de que é capaz.

Espécies de negligência

Existe a negligência consciente quando o agente, embora representando os perigos da sua


acção, actua porque está convencido que tais riscos não se concretizarão em resultado de lesão
ou de perigo de lesão de determinado bem jurídico. É a espécie de negligencia prevista na
alínea a) do nr.1 do art.13º ao afirmar que, […representar como possível a realização de um
facto que preenche um tipo de crime, mas actuar sem se conformar com essa realização].

Estaremos perante a negligência inconsciente, quando o agente nem sequer representa a


possibilidade de a sua acção vir a traduzir-se na prática de um tipo de ilícito; quando no geral
dos casos, o agente nem sequer representa (pensa) que a sua acção (que contem riscos para
determinado bem jurídico) pode produzir um resultado de lesão ou perigo de lesão de
determinado bem jurídico. Esta espécie está na alínea b) do preceito acima citado que
estabelece […não chegar sequer a representar a possibilidade de realização de um facto que
preenche um tipo de crime.].

Estrutura dos crimes negligentes

2.5.1. Acção

Sendo crime negligente (também um facto voluntario declarado punível pela lei penal, ele
implicara, antes de mais a existência de uma acção, isto é, um comportamento dominável pela
vontade do agente. A capacidade de acção também é pressuposto da responsabilidade
negligente.24

2.5.2. Violação do dever objectivo de cuidado

A violação do dever objectivo de cuidado pressupõe a previsibilidade objectiva do perigo para


determinado bem jurídico e a não observância do cuidado objectivamente adequado a impedir
a ocorrência do resultado típico, isto é, do resultado (de resultado ou de perigo de resultado de
certo bem jurídico) que a experiencia indica que esta conexionado com espécie de acção
praticada. Portanto, o primeiro elemento a analisar para efeitos de afirmação ou negação do
tipo do ilícito negligente, é a previsibilidade objectiva do perigo, so se afirmando este
elemento-pressuposto do ilícito negligente, quando a acção praticada aparecer, à pessoa
consciente e cuidadosa, como susceptível de provocar um resultado desvalioso.

Tipicidade

O que é característico dos crimes negligentes, ao contrário dos crimes dolosos, é justamente a
incongruência entre a situação objectiva e a situação subjectiva. Na negligência a pessoa não
representa uma situação objectiva, ou se a representa como uma possibilidade não se
convence dela, e portanto, essa incongruência, essa contradição entre a realidade objectiva e
representação de uma pessoa é justamente aquilo que é característico dos crimes negligentes;
e por isso talvez não deva falar elemento subjectivo do tipo negligente,

2.5.4. Ilicitude e as causas de exclusão

Também nos crimes negligentes a ilicitude é indiciada pela tipicidade, e portanto será em
princípio afastada apenas se funcionarem as causas de justificação, ou causas de exclusão de
ilicitude. E em princípio, quaisquer causas que funcionam em relação aos crimes dolosos,
funcionam para os crimes negligentes. Mas algumas serão de verificação mais provável ou
possível.

Estado de necessidade

Em situações que alguém pode ser negligente, criando danos com isso, porem querem
salvaguardar um interesse maior, pode a negligência ser justificada. Seria por exemplo o caso
que um médico anda na velocidade alta levando doente ao hospital e cometer crime de dano
porque entrou em choque com outro automóvel. Pode ser negligente por não averiguar a
velocidade mas ele não fazendo de propósito uma vez que estava as pressas devido ao doente
que com ele leva, esta ilicitude é justificada.

Legitima defesa

A legítima defesa também pode em algumas circunstâncias justificar a ilicitude, seria o caso por
exemplo de alguém pretendendo cessar uma agressão eminente, usa arma para assustar o
outro, disparando-a mas sem intenção de o atingir, porem por falta de pontaria ou destreza
acaba o atingindo mesmo, causando o ofensas corporais graves entendemos que preenche-se
assim os requisitos de legitima defesa.

Culpa e as causas de exclusão


Em relação a culpa, o que se passa nos crimes negligentes? Em princípio, também na culpa se
discutirão os mesmos elementos que se discutem nos crimes dolosos, embora com eventuais
especialidades. Em princípio também funcionarão aqui todas as causas de exclusão de culpa
aplicadas no âmbito dos crimes dolosos.

Por outro lado, serão causas de exclusão de culpa a não exigibilidade. E aqui sim, na
negligência, no geral se admite que a não exigibilidade pode funcionar como causa de exclusão
de culpa. Importa salientar que esta questão da não exigibilidade de certo modo funciona como
um estado de necessidade subjectivo.

Inexistência da tentativa

Em relação aos outros elementos da teoria da infracção, já vimos os elementos da tipicidade,


da ilicitude e da culpa. Em relação à tentativa a questão se resolve muito simplesmente: a
tentativa é definida não só teoricamente mas em termos de lei positiva, exclusivamente em
relação aos crimes dolosos. O art.12º parte da exigência fundamental de que haja intenção do
agente, isto é, só faz sentido em falar de tentativa nos crimes dolos e nunca nos crimes
negligentes, não há pois, tentativa negligente.

2.5.8. Inexistência de participação

Para começar, podemos dizer que é autor de um crime negligente a pessoa que viola o dever
de cuidado que lhe é imposto, e com isso provoca um certo resultado ou, nos casos de crime de
mera actividade, como a falsificação de documentos, tem uma certa actuação na medida que
viola esse mesmo dever de cuidado. Para terminar, dizer que não faz sentido se discutir ou se
colocar em questão se nos crimes negligentes existe cumplicidade, co-autoria ou autoria
mediata. Isto porque, para existência dessas figuras, assim como são previstas no Código Penal
em relação aos crimes dolosos, deveriam também ser previstas no âmbito dos crimes
negligentes, coisa que não há.

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