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Tipos de erro que podem excluir o dolo por excluirem o elemento intelectual:
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Teresa Ramos Ascensão
Erro sobre a factualidade típica – 16º/1 – exclui dolo do tipo (não representa elemento
essencial do tipo do crime). FD: erro de tipo intelectual – a conduta é axiologicamente
neutra – agente não atinge a própria percepção dos factos existentes. Erro pode ser
quanto aos factos (vejo x, mas está lá y), quanto ao direito, ou quanto às proibições.
Este último pode-se confundir com o 17º, que exclui a culpa (erro sobre a ilicitude) –
fronteira nas situações em que o agente não sabe que é crime. Para FD, a diferença é
que no 16º/1 o erro é de tipo intelectual – as condutas são axiologicamente neutras (é
indispensável conhecer a proibição para ter consciência da ilicitude), e no 17º o erro é
de tipo moral – há um indício de desvalor porque as condutas são axiologicamente
relevantes (é possível ter consciência da ilicitude sem que se conheça a proibição).
Aplica-se o 16º/1 (proibições) quando o agente, apesar de ver a sua conduta como ela
é, não sabe que a sua conduta é crime porque não há razão axiológica para saber – é
crime por questão técnica, não é óbvio que há um bem jurídico, só é crime porque a lei
o diz. Aplica-se o 17º quando o agente sabe que aquele comportamento é crime, mas
acha que a sua conduta concreta não corresponde ao comportamento que é crime, dá-
lhe outro significado, valora a situação de forma diferente – aqui há sempre ponderação,
pois é claro que há bem jurídico.
16º/1 – mala prohibita – crimes cuja ilicitude não se presume conhecida de todos os
cidadãos (normas técnicas ou NPB) e não lhes é exigível tal conhecimento – erro sobre
a proibição. 17º - mala in se – crimes cuja ilicitude se presume conhecida de todos,
sendo-lhes exigível esse conhecimento – erro sobre a ilicitude. Se não for censurável
que não conheça, exclui-se a culpa.
Se axiologicamente relevante – 17º. Se neutra – agente vê conduta como ela é, mas não
sabe que a mesma é crime – 16º/1, agente sabe que conduta x é crime, mas não vê a
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sua conduta como correspondente à que está na norma (acha que é y) – 17º. Com
correcção: se devia saber que é crime – 17º (MFP).
Error in persona vel objecto. Erro de representação da pessoa ou objecto do crime. Erro
na formação da vontade, pois está em erro quanto à identidade do objecto/pessoa a
atingir – erro de percepção. Exclui dolo do tipo? Depende: se elemento essencial da
factualidade típica não depende de um objecto concreto, erro é irrelevante e há dolo
(ex. tipo do crime de homicídio exige que se queira matar pessoa, não que se queria
matar pessoa x) – erro irrelevante sobre a identidade, pois a identidade não é elemento
constitutivo do tipo. Mas se erro for sobre qualidade tipicamente relevante/essencial
do objecto atingido, então exclui-se o dolo, sendo o erro-ignorância relevante (ex.
homicídio qualificado exige que agente queira matar pessoa concreta, como por
exemplo, o seu pai – se agente acha que está a matar pessoa qualquer, não tem dolo de
homicídio qualificado, mas simples).
Erro na execução/aberratio ictus vel impetus. Agente tem representação clara, mas há
uma deficiência na execução ou um motivo exterior que o faz perder o controlo da acção
final, há falta de domínio sobre a acção concreta que se vem a realizar. Não provoca
risco que previu, e desencadeia processo que conduz a lesão diferente da que queria
causar – erro na execução que produz resultado distinto do projectado. Alteração da
produção causal/desenvolvimento causal (dentro daquilo que supostamente
dependeria do agente – diferente de uma falha no plano) + alteração do próprio
resultado (tem de haver alteração de ambos!). Exclui dolo do tipo?
FD: teoria da concretização – exclui-se o dolo – só pode ser punido por tentativa ou por
concurso da tentativa com crime negligente. HELENA MORÃO: só se pune pela tentativa.
TERESA BELEZA: se objecto atingido é igual (mesmo bem), é indiferente a
individualidade – assemelha-se a erros de identidade – pune-se pelo crime consumado.
Mas, nos casos de erro sobre o objecto, como há erro desde o início, só um bem esteve
em perigo. Aqui não, dois bens estiveram em perigo, mas só um se realizou. MFP: exclui-
se dolo e pune-se por tentativa – agente pratica acção controlada pela vontade, mas
não a consegue consumar e consuma outra não controlada finalisticamente. Há
pluralidade de acções – autonomia da decisão de agir inicial relativamente à acção
concretizada – uma acção dolosa e outra negligente, com objectos diferentes.
- Se erro implica facto típico da mesma espécie (identidade típica de objectos) – TERESA
BELEZA: teoria da equivalência – assemelha-se a erro sobre a identidade, sendo
irrelevante a individualidade – pune-se pelo consumado doloso; MFP: 16º/1 exclui o
dolo – pune-se por tentativa de crime projectado + consumado negligente (mesmo que
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MFP: concurso efectivo de crime tentado e crime doloso consumado – acção é bivalente
– encerrava em si, em alternativa, a possibilidade de atingir qualquer um e era
sustentada na decisão de atingir qualquer uma delas – ambas as vítimas foram objecto
da acção e os seus concretos bens jurídicos (vida de cada uma) foram ambos postos em
perigo – acção prejudica duas esferas (só no caso de haver perigo concreto para o que
não foi atingido). Solução criticada, porque na verdade trata-se de um só dolo com um
objecto alternativo – não se conforma com possibilidade de acertar nos dois, mas de
acertar num deles. Punir por dois crimes é ficcionar duas acções dolosas quando só
houve uma, violando o princípio non bis in idem (não valorar o mesmo conteúdo de
ilícito mais do que uma vez). FD: punir pelo crime doloso consumado – uma só acção,
uma só decisão (quer matar ou um ou outro) – conforma-se com a alternatividade (há
desvalor da acção e do resultado – não necessário inventar crime). HELENA MORÃO e
AUGUSTO SILVA DIAS: pune-se pelo mais grave – punir pelo desvalor da acção que
agente revela (o mais grave) – se o consumado é o crime pior, pune-se por esse; se for
o tentado, pune-se pela tentativa (dolo do mais grave > desvalor do resultado do menos
grave).
Ex. Se B quer matar A e aceita possibilidade de acertar no seu cavalo – se não atingir em
nenhum, FD pune por tentativa de homicídio, se acertar no cavalo é punido por crime
de dano; HM e ASD puniriam, caso acertasse no cavalo por tentativa de homicídio à
mesma – não se deve punir menos gravemente no caso de ter conseguido consumir um
dos crimes. Diferente do erro na execução, porque agente no dolo alternativo ainda se
conforma, mesmo que a nível mínimo, com possibilidade de atingir outro objecto.
Erro sobre o processo causal. Processo causal representado pelo agente é diferente do
processo causal concreto, mas resultado é o mesmo (o representado). Resultado não
deixa de ser por consequência da actuação do agente, mas diferente da prevista. Atinge
o resultado almejado (diferença da aberratio ictus). É necessário conhecimento da
conexão entre acção e resultado para haver dolo? Exclui dolo do tipo? Ou há extensão
do dolo, abarcando este o concreto processo causal?
JAKOBS: resultado concretiza-se por risco não previsto, pelo que tipo objectivo e tipo
subjectivo doloso não estão em congruência – exclui dolo.
Doutrina tradicional – se desvio previsível/não essencial, dolo não se exclui; se essencial,
exclui-se dolo. Apesar da intuitiva razoabilidade desta construção, importa lembrar que
o dolo não se reconduz a previsibilidade, mas sim a previsão efectiva. Para haver dolo,
o agente tem de, pelo menos, prever como possível a verificação do resultado. Impõe-
se, aqui, uma previsão efectiva, uma acção “dirigida” à produção desse resultado. Por
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esse motivo, refere PUPPE que quando o processo causal se desenvolve de forma
completamente imprevisível, não haverá, desde logo, imputação objectiva, pelo que o
erro sobre o processo causal seria um problema de tipicidade objectiva e não de
imputação subjectiva.
MFP e EDUARDO CORREIA: erro é irrelevante, excepto nos crimes de execução vinculada
– aí, processo causal é elemento do tipo objectivo de ilícito.
Maioria da doutrina exclui dolo quando o tipo de ilícito é de execução livre, pois
alteração do modo concreto de produção do resultado não controlado pelo agente e
que não corresponde à sua decisão traduz-se num resultado já não correspondente à
acção do agente.
MFP, HELENA MORÃO: se erro/processo causal concreto/desvio era
imprevisível/acidental, nem há imputação objectiva porque não há conexão de risco –
deve-se punir por tentativa. Se era previsível, mas desvio é essencial, não há dolo.
Desvio irrelevante – alteração do processo não prevista, mas consequência imediata e
normal da acção, processo que cabe na área de risco da acção – ex. A atira B da ponte
achando que vai morrer do embate na águas, mas B morre logo ao bater em pilar. Se
processo era previsível e decorre em sequência do processo posto em movimento pelo
agente, há dolo. Ex. A dá facada a B, mas B morre de septicémia. MFP: se processo com
risco intenso e consequências incontroláveis, não há erro – agente representa
simultaneamente a verificação de múltiplos riscos, sendo esses perigos concretização
do risco inicialmente criado. FD: nos casos de risco intenso e imprevisível, a actuação do
agente absorve o risco do desvio – não se exclui o dolo, porque dolo abrange o processo
causal.
ROXIN: dolo abarca o plano do agente, havendo dolo quando o resultado ainda se
impute a esse plano. Daqui tende a concluir que o dolo não tem que abarcar o processo
causal, bastando que o agente represente os elementos da imputação objectiva –
criação do risco proibido e resultado como concretização desse risco – para que o crime
seja imputável a título doloso.
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Erro-suposição. Agente tem motivação para praticar o crime, mas está em erro sobre
um elemento do tipo que o impede materialmente de praticar o crime. Supõe qualidade
essencial. Há desvalor da acção, mas não do resultado, pois este não se verifica. Supõe
que praticou o facto típico, mas só não praticou porque estava em erro. Não há
imputação objectiva. Aplica-se tentativa impossível – 23º/3 (ex. por inexistência do
objecto – objecto típico não está lá). 1º - ver se há dolo (se não houver, não punido –
não há tentativas negligentes). 2º - havendo dolo, era uma tentativa possível ou
impossível (objecto inexistente ou meio inapto/inidóneo). Se era possível, punição por
tentativa. 3º - se impossível, ver se é punível – se crime consumado tiver pena > 3 anos
ou previsão expressa; se impossibilidade não for manifesta (não manifesta a inaptidão
dos meios ou a carência do objecto). Pune-se a aparência de perigo. Suposição do que
não existe – supõe que existe elemento do tipo que não existe. Não se aplica nem 16º
nem 17º, mas 23º/3.
Diferente se supõe que existe elemento negativo do tipo, mas que não existe – aí, erro
relevante que exclui dolo.
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5.2. Elemento volitivo – vontade de realizar o tipo objectivo de ilícito. Mesmo que não
deseje o resultado, quer (dolo eventual) – racionalidade do comportamento em
termos da decisão com aceitação de riscos.
A vontade é relevante em 3 momentos: dolo do tipo – agente representou e quis
resultado; dolo da culpa – desvalor da atitude associada à representação; culpa –
facto de agente ter querido é censurável? Na IS – falta de representação – quis e
representou?. Na culpabilidade – porque é que ele acha que é assim – ter querido e
representado aquela conduta é censurável? Se agente não representou/não quis,
não há dolo do tipo. Se representou/quis, mas tinha razão legítima para representar
e querer – não há dolo da culpa. Se não tinha razão para querer e representar, mas
não lhe é censurável que tenha querido – não há culpa.
Distinção de dolo eventual da negligência consciente – ambos têm o elemento
intelectual, mas à última falta o elemento volitivo.
MFP: aspecto nuclear da diferença é a racionalidade da evitabilidade.
Não é tanto uma questão de saber se há um elementos ou os dois, mas
sim como os dois elementos se articulam – no dolo, há uma decisão em
que risco foi considerado e acautelado, ou não poderia deixar de ser –
inclusão do risco na base da decisão. Inevitabilidade da possibilidade do
resultado. Se por ser prudente equaciona riscos mínimos normalmente
desprezados (dolo escrupuloso ou supersticioso) – não tem dolo à
mesma – inevitabilidade implica uma intensidade média do risco.
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FD: há dolo se agente toma a sério o risco da possível lesão e decide agir
à mesma – critério da seriedade do risco – irrelevância da confiança.
Para que tome a sério, tem de ser provável. Conforma-se não com o
resultado, mas com o seu risco. PUPPE é próximo: critério é saber se
risco representado deve ser levado a sério. ROXIN: se confia
normativamente com fundamento razoável na não produção, há
negligência – decide-se pela lesão do bem ou confiança? Atenção que
confiança não é o mesmo que esperança.
Método:
1. Fórmulas de FRANK.
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