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Tipicidade

subjetiva
16/04/2023 18:59

• Tipo de ilícito – corresponde à matéria ou objeto da proibição inerente à norma incriminadora, aos aspetos do facto que identifica essa matéria (no homicídio, o tipo de ilícito será
matar uma pessoa; no furto, a subtração de coisa alheia). Será, em suma, o conjunto dos elementos objetivos e subjetivos do facto que configuram o comportamento proibido. A
estrutura do tipo de ilícito é analisável num tipo objetivo e num tipo subjetivo:
• Tipo Objetivo: Engloba os aspetos que se têm de verificar independentemente da vontade do sujeito, constituindo o objeto da sua representação e vontade, tais como as
características do próprio sujeito, o objeto da ação, as modalidades de execução do facto, o processo causal e o resultado. Levanta problemas diretamente relacionados com a
função e o sentido da tipicidade e sublinha algumas técnicas e procedimentos usados pelo legislador na construção e na arrumação sistemática dos tipos incriminadores
• Tipo Subjetivo: Corresponde aos aspetos de direção da vontade do sujeito que relevam as espécies de dolo ou as especiais intencionalidade exigidas pelo tipo legal de crime

Definição- A Imputação Subjetiva consiste na atribuição da realização de um facto típico à vontade do agente.
• A vontade é o termo utilizado no sentido amplo para exprimir o controlo do comportamento do agente.
• Há uma discussão sobre se a vontade do dano para o DP é uma realidade psicológica/numeral (no sentido de mais individual e representado pelo agente), ou uma realidade
proativa/ mais exterior (Procurando uma interpretação do comportamento do agente que nos permita verificar se o ele o conduziu no sentido da realização do facto típico,
direta ou indiretamente).
○ MFP diria que esta segunda via, com algumas modificações, lhe parece ser a mais adequada
• Ao analisar a tipicidade subjetiva tentamos ver se o resultado é imputável à vontade (V. Comportamento do agente- analisado na imputação subjetiva) do agente

Títulos de responsabilidade – dolo vs. Negligência


• O conteúdo do tipo de ilícito subjetivo tem como elemento essencial (mas não exclusivo) o dolo- ART. 13º
○ O Dolo é o mais relevante por corresponder à forma mais controlável e livre que o comportamento do agente pode tomar
§ A ideia é: quanto mais intencionalidade, mais liberdade e possibilidade de opção-> mais racional e conscientemente o comportamento do agente é contrário ao
direito- tem alternativas e escolhe agir daquela forma- O dolo é mais grave porque está associado a uma maior liberdade de escolha, quem delibera de forma
suficientemente livre ao agir pode ser mais responsável pelo resultado, porque, em princípio, tem uma melhor representação das opções ao comportamento ilícito
○ Mas o estudo do tipo subjetivo de ilícito não se esgota no dolo do topo- temos também de considerar a negligência, embora só possa haver responsabilidade por
negligência em casos especialmente previstos em lei, e elementos subjetivos especiais/ atípicos

Dolo

• O agente age com dolo quando o seu comportamento é intencional, deliberativo, em que o agente tem possibilidades de se motivar alternativamente e não realizar um
comportamento proibido pela norma- exprime uma liberdade comportamental mais intensa do que a negligência
• Artigo 14.º- Dolo
• 1 - Age com dolo quem, representando um facto que preenche um tipo de crime, atuar com intenção de o realizar.
• 2 - Age ainda com dolo quem representar a realização de um facto que preenche um tipo de crime como consequência necessária da sua conduta.
• 3 - Quando a realização de um facto que preenche um tipo de crime for representada como consequência possível da conduta, há dolo se o agente atuar conformando-se
com aquela realização.
Estrutura do Dolo do tipo
• O dolo pode ser definido de acordo com o CP como a consciência/ conhecimento (Elemento intelectual) e vontade (Elemento volitivo) de realizar o tipo objetivo de ilícito
○ MFP- Estes elementos são produto da análise de um conceito sintético e complexo de decisão, por isso não podemos afirmar que o dolo pode ser reduzido meramente a
estes elementos, mas isto é uma forma de simplificar a análise da realidade- analisa-se antes a intencionalidade ou decisão do agente perante as consequências
• A pergunta que fazemos num caso prático deve ser a seguinte: o agente representou (elemento intelectual) e quis (elemento volitivo- exige-se uma determinada posição
afetiva ou emocional perante esse facto) o dolo do tipo?
○ Sempre que o agente não represente ou representa erradamente um dos elementos da factualidade típica, o dolo terá de ser negado= princípio da congruência entre o
tipo objetivo e o tipo subjetivo
○ Não sendo o facto praticado com dolo temos de ver se a negligência está prevista para aquele tipo objetivo de ilícito

• Elemento intelectual/ conhecimento: o agente deve representar corretamente as circunstâncias do facto que preenchem um tipo de ilícito objetivo- deve representar a realização
do facto típico como possível, com consciência atual.
• Função- aferir se, ao atuar, o agente conhecia o necessário e suficiente para orientar corretamente a sua consciência ética para o desvalor jurídico associado à ação intentada.
MFP: este elemento não deve ser apenas compreendido como conhecimento ou representação do facto como uma pura relação entre sujeito do conhecimento e objeto do
conhecimento- O comportamento tem de ser, a um certo nível, reconhecível para o agente como a conduta descrita no tipo legal de crime, de acordo com os seus "arquivos
mentais" e a sua consciência de si, as suas experiências prévias
○ "o necessário e suficiente"- não se exige que o agente tenha refletido e vivido existencialmente a sua ação, mas há um nível de representação indispensável, que separa
dos comportamentos dolosos aqueles em que a compreensão, pelo agente, do sentido da ação, é manifestamente incompleta ou insuficiente, p.e porque, pelo modo de
vivenciar a sua conduta e o comportamento típico, tem a hipótese de preenchimento do facto típico como desrazoável
○ Não é decisivo o conhecimento reflexivo, intenso ou perfeito de uma situação, mas antes a relação de tal conhecimento com a ação
• NIM- Aqui temos de aferir se o agente interpretou corretamente a realidade à sua volta- se não o fizer podemos ter uma situação de erro- nem todos os erros intelectuais/ de
representação são relevantes e dentro dos relevantes nem todos conduzem à mesma solução. Quando são relevantes podem suscitar a aplicação do ART. 16º/1
○ O que se exige, verdadeiramente, não é um conhecimento perfeito de toda a factualidade típica, e uma motivação inquestionável do agente no sentido da realização do
resultado previsto no tipo ilícito de crime- exige-se, sim (MFP), que o agente tenha um nível de conhecimento suficiente para que o agente tenha a oportunidade de se
motivar pela norma que configura um crime doloso. O nível de conhecimento considerado suficiente vai variar de situação para situação, tendo como pontos de
referência não apenas as circunstâncias pessoais do agente, mas também a previsão normativa, e as correspondentes motivações por trás da mesma.

• Exige-se a consciência ou conhecimento do facto descrito na lei penal. Esta exigência é manifestada em 3 etapas:
○ Representação da totalidade da factualidade típica
○ Consciência atual- Vivência psicológica atual
§ Requer-se que o agente represente a totalidade da factualidade típica e a atualize de forma efetiva.
§ É no momento da prática do facto e consequente resultado que se verifica a representação do agente (que para ter dolo tem de representar o que está no tipo
objetivo)
§ Platzgummer- A consciência requerida das circunstâncias do facto será atual do próprio ponto de vista psicológico quando:
§ As circunstâncias são assumidas pelo agente sob a forma de “representação”,
§ As circunstâncias são co-consciencializadas, isto é, assumidas por uma consciência que não é considerada explicitamente, tendo também de ser implicitamente
tomada em conta
§ Quando se trate de elementos formais do tipo, produto de uma escolha do legislador tendo em conta a necessidade prática de traçar uma fronteira na proteção de
um bem jurídico, o conhecimento necessário para configurar dolo não tem de ser refletido e atual no momento da prática do facto- há uma situação de co-
consciência.
□ Ex.4: Quem tem cópula com menor de 15 anos, que há algum tempo namora, abusando da sua inexperiência (ART. 174º), raramente pensará na idade da vítima,
que todavia o agente conhece, portanto, está na sua co-consciência imanente à ação-
□ Ex.5: O mesmo vale para o guarda prisional que, abusando das suas funções mas sem nelas pensar no momento da ação, prática ato sexual de relevo com
pessoa ali internada (ART. 166º); ou para o funcionário público que não pensa nessa sua qualidade no momento em que comente um crime de funcionários –
ART. 375º;
§ Falha quando o agente não representou a factualidade típica no momento da prática do facto, nem se verifica uma situação de co- consciência
□ Ex.1: Se um médico sabe que um medicamento pode produzir um colapso cardíaco sob determinadas circunstâncias e receita posteriormente esse
medicamento sem pensar que aquelas condições estão de novo dadas- ele tem uma representação atualizável no momento das circunstâncias de facto que
integram o tipo objetivo da ofensa à integridade física grave com perigo para a vida- sabe quais são as condições em que a pessoa pode ter o ataque cardíaco
(ART. 144º, al. d)), mas não possui consciência atual das circunstâncias e age, portanto, sem dolo do tipo.
□ Ex.2: Médico esqueceu-se que doente era alérgico a um medicamento quando o administra- falha o elemento intelectual do tipo;
□ Ex.3: A queria matar o B mas não sabia que B tinha ido dar um passeio e sem querer atropelou uma pessoa. Acontece que por acaso era o B, era precisamente
aquilo que queria fazer, mas aconteceu matá-lo mais cedo. É punido por homicídio consumado? Ele queria matar o B, mas no momento em que o atropelou não
representou que o estava a fazer então não tem dolo de homicídio – o facto não foi doloso – a representação e a vontade tem que ser atuais no momento da
prática do facto – o nosso direito penal é um direito penal do facto
® Um ministro diz “ah é verdade que aceitei um pagamento para um ato ilícito, mas não me lembrei que era funcionário” será que não teve dolo por
corrupção passiva? A consciência atual não tem que ser refletida, tem dolo (ele não tem que pensar ele sabe disso)
□ Um médico que dá um medicamento ao paciente e não sabia que tinha uma alergia, neste caso não faz sentido julgar o médico porque ele não tem que saber
tudo mas deveria ter cuidado então há negligência

○ Representação do preenchimento do tipo de ilícito como possível- o agente tem de ter consciência de que o comportamento é perigoso para o bem jurídico tutelado (nos
crimes de perigo abstrato) ou tem de representar que os danos são possíveis (crimes de perigo concreto- provocação de dano tem de ser prevista ou equacionada pelo
agente)
§ Basta o agente representar a possibilidade, mesmo a veja como remota, ou mesmo que abra a hipótese de o resultado não acontecer
§ O conhecimento do risco de determinado resultado- Se tais comportamentos ainda fossem enquadráveis na censura dolosa, a responsabilização penal por crimes
dolosos viria a abranger comportamentos de risco por hábito social e sentimento.
◊ A- CASOS DE RISCO EXTREMO | Aqui pouco valor terão os raciocínios segundo os quais se o agente tivesse ponderado o resultado ocorrido não teria agido. Esta
conclusão seria apoiada atendendo à enormidade do risco;
◊ B- CASOS DE RISCO NORMAL OU PEQUENO | O Risco é ofuscado por uma razão de agir que não implica a lesão de bens jurídicos para o agente e que
corresponde, igualmente, a um interesse (do agente) não superior ao de evitar a lesão de bens jurídicos. Trata-te de situações em que está ausente toda a
aceitação do risco inerente à lógica de empresa, lucro ou jogo. O agente atua de modo inconsciente com a avaliação dos interesses que definiu. o Conduz em
excesso de velocidade porque quer chegar mais cedo, mas esse interesse não prevalece, na ponderação lógica que a situação revela, sobre a vida da vítima.
§ Ex.: Mendigos russos que amputavam membros a crianças para mendigar e depois veio-se a provar que algumas delas morreram-
◊ Eles representaram a morte como possível?
◊ O caso dos mendigos russos fez a doutrina olhar melhor para distinção entre dolo (neste caso, eventual) e a negligência consciente. Estes homens foram
punidos por homicídio doloso- ao desmembrarem as crianças, previram a morte da criança e aceitaram esse risco. O dolo, neste caso, seria eventual- o agente
prevê e conforma-se. Na negligência consciente o a agente prevê e não se conforma. O elemento intelectual é exatamente o mesmo. O que é que muda? Para
punir por dolo, temos de provar que se conformou; para punir por negligência, é preciso provar que não se conformou.
◊ Alguém diz que eles estavam em negligência consciente
◊ Pela forma hipotética de MFP- acha que o caso sugere que o agente aceitou com base na sua deliberação o risco que considerou aceitável e que os proveitos
valiam a pena- eles estavam na verdade em dolo eventual
§ Erros-
◊ Sobre o processo causal
◊ Sobre a execução- aberratio ictus vel impetus

• Objeto do dolo- Basicamente, tudo sobre como preencher a exigência de representação da totalidade da factualidade típica
○ Princípio da Congruência entre tipo objetivo e tipo subjetivo- o conhecimento da realização do tipo objetivo de ilícito constitui algo indispensável para se imputar
subjetivamente uma ação a um agente. Assim, é indispensável o agente representar todos os elementos do facto típico para se poder afirmar que o agente detém, ao
nível da sua consciência intencional ou psicológica, o conhecimento necessário para se decidir pela prática do ilícito objetivo, respondendo por essa atitude contrária ou
indiferente para com o bem jurídico lesado pela sua conduta. Também tem expressão no elemento volitivo- A representação e a vontade têm que se dirigir aos
elementos normativos do tipo.
§ O objeto do dolo é o conjunto de elementos do tipo objetivo, que deverão ser considerados pelo agente do ponto de vista do elemento cognitivo e do elemento
volitivo.
§ Vinculação psicológica do agente ao resultado traduzida pelo dolo.
§ o conhecimento da realização do tipo objetivo de ilícito constitui algo indispensável para se imputar subjetivamente uma ação a um agente Roxin - Representação do
agente de tipo subjetivo tem de corresponder ao tipo objetivo - o agente tem de aceder, com a sua representação, ao conteúdo da norma
○ Os elementos constitutivos do facto típico que o agente tem de representar para se poder dizer que agiu com dolo podem ser de facto ou de direito- ART. 16º/1 a
contrario
§ Elementos de facto/ Descritivos- São apreendidos pelos sentidos. Elementos constitutivos do facto típico relativamente aos quais é necessária uma perceção
sensorial efetiva por parte do agente para afirmação do dolo
§ Ex.: “Outra pessoa” – ART. 131º; “Corpo” – ART. 143º; “Mulher” – ART. 168º; “Alimentos ou bebidas” – ART. 220º/1, al. a)
§ Erro excludente do dolo por falta de elementos descritivos exigiria a falta de apreensão exata pelos sentidos.
® Ex.: Pessoa que está a fumar na cama, mas se tivesse a certeza que iria provocar um incêndio pararia- é negligência consciente
® Ex.: Duas pessoas com fome e um deles cozinha o sapato e o B olha para o A e começa a ver uma galinha gigante porque está com mesmo muita fome e
prepara-se para o matar, será que tem dolo de homicídio? A pergunta que devemos fazer é: ele representou e quis o dolo do tipo, no fundo, ele
representou e quis matar a outra pessoa? Não, ele representou que estava a matar uma galinha estão está em erro porque poderia estar a matar para o
tipo objetivo, mas não representou que estava a matar uma pessoa temos um erro sobre o elemento do facto
® Ex.: agente faz sexo com adolescente, mas não tinha reparado que era um adolescente durante o ato- não necessita de saber a idade exata mas possuir um
conhecimento inevitável associado à imagem física da pessoa da idade dela- quando o agente não tem dados suficientes, derivados do contexto social,
sobre a aparência física ou de qualquer outra natureza para saber a idade da vítima e age, não obstante a dúvida, ele tem uma representação bastante da
possibilidade de preenchimento do facto típico de ilícito para configurar o elemento intelectual do dolo- despois discute-se a sua posição volitiva

§ Elementos de direito/ Normativos- Elementos constitutivos do facto típico relativamente aos quais se exige uma representação, por parte do agente, do significado
social do comportamento
§ Ex.: Caráter alheio da coisa em crimes patrimoniais- ART. 203º, ART. 204º, ART. 209º, ART. 212º; Qualidade de “funcionário” nos crimes cometidos no exercício
de funções públicas- ART. 372º ss.; Mãe-Pátria- ART. 308º; Tribunal, testemunha, casamento, posse ou detenção, caso fortuito, etc…
§ Estes elementos só podem ser representados por referência a normas, jurídicas ou não jurídicas. Porém, não se exigirá a “exata subsunção jurídica dos factos na
lei que os prevê”, sob pena de só o jurista (sabedor) poder atuar dolosamente.
§ Valoração Paralela na Esfera dos Leigos- o agente não tem de saber como o CP define o comportamento, mas tem de ter uma imagem social do que o CP prevê.
® Necessário e suficiente para a representação pelo agente dos elementos normativos será a apreensão do sentido ou significado correspondente, no
essencial e segundo o nível próprios das representações do agente, ao resultado daquela subsunção – da valoração respetiva; e não uma exata subsunção
jurídica
® Ex.: Acórdão sobre pessoa que adquiriu imóvel e pensava que bens movéis do recheio tinham sido também transacionados, o que não era verdade.
Tribunal excluiu o dolo pois agente desconhecia que não faziam parte do contrato os móveis. MFP: não tem muita confiança nesta decisão pois não há
contrato de compra e venda anexo. Não utilizou a esfera dos leigos, apenas referiu que era um elemento normativo (caráter alheio da coisa) e que tal era
constitutivo da ação proibida.
® Há objeções a esta conceção e existe uma rejeição mais direta da associação de uma função de perceção e de valoração de acordo com a natureza dos
elementos, admitindo-se que mesmo elementos do tipo normativo podem suscitar um conhecimento factual e não exatamente uma valoração
§ GRAU DE MAIOR Exigência de conhecimento:
® Normas muito técnicas ou de normas penais em branco- não se exige que o agente valore o substrato no sentido da qualificação jurídica, mas deve em
todo o caso requerer-se o grau máximo de conhecimento, impondo-se que o agente conheça os critérios determinantes da qualificação. A sua falta implica
a ausência de comportamento doloso
® Proibições Legais- A ausência de conhecimento sobre uma proibição legal de que depende o ilícito típico esvazia o elemento intelectual do dolo, não
permitindo colocar o agente perante as devidas condições e oportunidades de motivação de acordo com o comando emanado da norma penal.
◊ Isto é contrabalançado com o facto de existir uma espécie de responsabilidade especial do agente pela auto-colocação numa posição de ignorância
perante o facto, tal como acontece nas situações de indiferença perante o resultado típico- Tanto preenche o elemento intelectual do dolo o agente
que representa como possível, embora possa duvidar, que o seu alvo é uma pessoa e não uma peça de casa, não resolvendo a dúvida, como o agente
que representa a necessidade de se informar sobre se a sua atividade viola a lei e não é apenas uma conduta neutra, mas não o faz, não se colocando
em condições de esclarecer o sentido legal da sua atividade.
◊ Também nos casos de atividade profissional, a obtenção de informação sobre a proibição legal é condição do próprio reconhecimento e aceitação
social dessa atividade. Um agente que desconhece uma proibição legal estará, na perspetiva de uma responsabilidade pessoal, i.e., de uma
responsabilidade por culpa, em circunstâncias semelhantes às do agente que representa efetivamente a realização do facto típico, quando seja
evidente que uma atividade regulada possa estar sob o alcance de uma proibição legal.
§ GRAU DE MENOR Exigência:
® Nos casos de pressupostos materiais, em que se exprime imediatamente uma valoração moral, social, cultural ou mesmo jurídica, decisiva para a ilicitude
do facto como um todo (ex: censurável, bons costumes e etc.), para se afirmar que há dolo do tipo basta o conhecimento, pelo agente, desses pressupostos
materiais de valoração (pois tal já orienta suficientemente a sua consciência ética para o desvalor do facto como um todo)
§ Erro excludente do dolo por falha do elemento normativo exigiria a falta de possibilidade de compreensão do significado, numa perspetiva social.

• Erros sobre o elemento intelectual


○ Os erros podem ser
§ Erro-ignorância v. Erro-suposição- A interpretação sobre se é de ignorância ou suposição é feita tendo os elementos do tipo objetivo de ilícito como referência

□ Erro- ignorância- ART. 16º/1 e ART. 17º + erro sobre o processo causal- Não representa o elemento essencial à prática do tipo objetivo, descritivo ou normativo,
mas ele verifica-se objetivamente- Assim, não "quer" praticar o crime, porque não representou todos os elementos que o compõem.
® Abrange:
◊ Erro sobre a factualidade típica- ART. 16º/1 (1ª parte). Faltando ao agente a representação da totalidade das circunstâncias, de facto ou de direito,
descritivas ou normativas, ou havendo uma representação errada destes elementos, o dolo do tipo não pode afirmar-se
□ Se o erro não recair sobre elemento essencial, será irrelevante.
□ Ex.: A dispara sobre o B e mata e diz “ah eu pensava que era terça-feira”- este erro não interessa porque ele realiza o tipo objetivo
□ Error in persona vel objeto (não representação da individualidade física ou numérica do objeto)- Sempre que o objeto concretamente atingido
seja tipicamente idêntico ao projetado, o erro sobre o objeto (ou a pessoa) é irrelevante, uma vez que a lei proíbe a lesão não de um determinado
objeto ou indivíduo, mas de todo e qualquer objeto ou pessoa compreendidos no tipo de ilícito. O erro só releva quando verta sobre elementos
essenciais do tipo de ilícito previsto. Exemplos:
– 1- O tipo do crime de homicídio exige que se queira matar uma pessoa, não que se queira matar pessoa X. Se o agente mata A achando que
matava B, o seu erro é irrelevante;
– 2- o agente pensava estar a matar um coelho, mas na verdade tinha disparado sobre A, matando-o; o objeto que ele representou claramente
não é idêntico ao projetado na lei- ele não representou que estava a matar uma pessoa, sendo que o tipo de ilícito de homicídio exige que o
agente represente o elemento humano da morte que provocou. O seu erro será, portanto, relevante, e sendo o dolo excluído da sua atuação
– 3- Mágico trespassa sem querer a sua assistente que estava, sem ele saber, escondida numa das caixas usadas por ele para truques de magia-
erro sobre os elementos de facto do homicídio- erro ignorância sobre a ação de matar.
– 4- A pensa estar a roubar o computador de B, mas na verdade era de C- erro irrelevante, ART. Que prevê o erro exige que o agente
represente ao caráter alheio do bem, não que represente a titularidade do bem por parte de B
– Ex.: agente faz sexo com adolescente, mas não tinha reparado que era um adolescente durante o ato- não necessita de saber a idade exata
mas possuir um conhecimento inevitável associado à imagem física da pessoa da idade dela- quando o agente não tem dados suficientes,
derivados do contexto social, sobre a aparência física ou de qualquer outra natureza para saber a idade da vítima e age, não obstante a
dúvida, ele tem uma representação bastante da possibilidade de preenchimento do facto típico de ilícito para configurar o elemento
intelectual do dolo- despois discute-se a sua posição volitiva
□ Não representação de circunstâncias agravantes qualificativas. P.e O homicídio qualificado, no entanto, exige que se queira matar pessoa
concreta. Se a pessoa matar o pai por engano, quando queria matar um estranho, não representou que estava a matar um parente, elemento
essencial para o preenchimento do tipo de ilícito de homicídio qualificado- erro ignorância sobre a ação de matar parente- o erro torna-se
relevante, considera-se que o agente atuou sem dolo ao praticar o crime de homicídio qualificado- será eventualmente negligente
□ Outros exemplos de erros sobre elementos do tipo de ilícito que não digam diretamente respeito ao objeto ou pessoa
– 1- Mulher não sabe que está grávida, e toma um medicamento que tem efeitos abortivos fora dos prazos e circunstâncias legalmente
previstas- não representou o elemento "grávida", presente no tipo de ilícito de aborto punível (ART. 140º/3 e 142º)- erro- ignorância sobre o
elemento descritivo relevante
– 2- Um aluno chumba a direito penal e queima o código penal, mas não percebe que pegou no código errado e era do colega, será que
praticou um crime de dano previsto no ART. 212º CP? Ele tem dolo, ele representou que está a destruir uma coisa, mas o artigo diz coisa
alheia, não representou que era alheia- temos um erro-ignorância sobre a ação de provocar danos a coisa alheia- sobre o elemento
normativo do tipo relevante;
– 3- Não conhecer o caráter alheio de uma coisa que se guarda na mala. Erro de ignorância sobre a ação de furtar-erro sobre Elemento
normativo relevante
– 4- Para alguém que furta um crucifixo de ouro de uma igreja sem no momento representar que se trata de coisa “afeta ao culto religioso”
(ART. 204º/1, al. c))- erro de subsunção irrelevante, porque ele representa o essencial do conteúdo do tipo de ilícito- ele entra num espaço
religioso e retira algo que socialmente é reconhecido como elemento de culto- aqui vê se a valoração da esfera dos leigos em ação
– 5- Há um senhor que vai a um bar e pede cerveja, o empregado vai anotando o número de cervejas na base do copo e o senhor começa a
apagar os traços para pagar menos. O empregado percebe e acusa-o de falsificação de documentos e o senhor diz “ah eu não sabia que isto
era um documento”- temos de aferir se o agente não poderia, no contexto em que atuou, perceber que riscar um papel que teria valor de
documento (ao mudar os números de uma fatura improvisada de um restaurante) seria adulterar um documento. Neste caso ele não precisa
de saber que é um documento para efeitos jurídicos porque sabia que era um suporte onde estavam sinais que faziam prova de que tinha
consumido e percebeu que estava a alterar isso
– Se o agente conhece o conteúdo do elemento, mas desconhece a sua qualificação normativa, trata-se aí de um erro na subsunção que
deve considerar-se irrelevante para o dolo do tipo.
– 6- Uma grávida conhece a sua gravidez mas considera o medicamento inócuo, sendo que na verdade ele tem efeitos abortivos- não
representou o elemento "aborto"- erro-ignorância sobre a ação "abortar"- erro sobre o elemento normativo relevante.
□ O erro sobre o processo causal/ Erro sobre a terceira exigência para se preencher o elemento normativo do dolo
w O processo causal desencadeado pelo agente conduz ao resultado pretendido, mas por forma diferente em relação à projetada
v. Dolo alternativo ou eventual- eu conformo-me com todos os resultados- p.e enveneno um copo achando ser da valeria, mas sei que a filipa
tmb o pode beber v. meto veneno e ela bebe, mas morre por engasgo
w Vs. Erro de execução- o agente não obteve o resultado que queria
w Há, em nosso modo de ver, que considerar, desde logo e com importância decisiva, o seguinte: muitos dos problemas que tradicionalmente
se colocavam, a este propósito, nesta sede de afirmação ou negação do dolo do tipo encontram hoje já solução – e, na verdade, uma solução
negativa, ou seja, de não conduzirem a qualquer responsabilização do agente- em termos da doutrina da imputação objetiva, nomeadamente
daquilo que aí chamámos a conexão do risco.
w Qualquer divergência entre o risco conscientemente criado pelo agente e aquele do qual deriva efetivamente o resultado deve conduzir a
que o resultado não mais possa ser imputado ao agente? (só podendo, por isso, responder por tentativa):
w 1. Sim. Se o resultado tem lugar por concretização de um risco não previsto não pode afirmar-se a congruência entre o tipo objetivo e o
tipo subjetivo doloso;
w Jakobs: como o resultado tem lugar por concretização de um risco não previsto, não pode afirmar-se a congruência entre o tipo
objetivo e o tipo subjetivo doloso. O resultado concretiza-se por risco não previsto, pelo que o tipo objetivo e o tipo subjetivo
doloso não estão em congruência = exclui o dolo.
w Doutrina tradicional- se o desvio é previsível ou não essencial, não se exclui o dolo; se for essencial, exclui-se. O dolo não reconduz à
previsibilidade, mas sim à previsão efetiva.
w Doutrina maioritária atual- Em princípio não.
w O Desvio essencial normalmente manifesta-se na imputação objetiva, porque impediria a conexão entre risco e resultado. Chegado
aqui, é dificil conceber um excesso que não exclua a imputação objetiva mas exclua o dolo
w Eventual exceção-
w Crimes de execução vinculada, porque só nestes o processo causal constitui um elemento do tipo objetivo de ilícito e, por isso,
uma circunstância do facto para efeito do disposto no ART. 16º/1 CP. Ou o tipo de ilícito é de execução vinculada e então o
erro sobre o processo causal traduz-se em um puro erro sobre a factualidade típica e é claramente relevante;
w Crimes de execução livre- é extremamente difícil configurar uma hipótese em que a imputação objetiva, comandada pela
conexão de risco, deva ser afirmada e, todavia, o dolo do tipo ser negado. Onde e quando tal hipótese possa ser figurada,
todavia, o erro sobre o processo causal não pode deixar de ter-se por relevante no sentido da não afirmação do dolo e o
agente só poderá ser punido a título de tentativa.
w MFP: Questiona inclusive o caráter de erro dos desvios do processo causal. Para este erro ser relevante, é preciso que se encontre
um desvio essencial no processo causal, de tal forma divergente do plano mental que o agente tinha do risco que ele tinha criado
que justifica a exclusão do dolo- ou seja, tendo em conta o comportamento do agente, e os riscos normalmente a eles associados,
se o facto que causar o resultado típico for imprevisível para o agente, não haverá dolo. A questão é, se assim for, nem chegamos à
imputação subjetiva, ficamos logo pelo nexo entre ação e resultado da imputação objetiva. Deve punir-se pela tentativa, por isso
não seria uma situação de erro; passando pelo crivo da imputação objetiva, o resultado é previsível, pelo que não há erro nenhum
da parte do agente- todos os desfechos de uma atividade perigosa possíveis são perfeitamente previsíveis
w Dolus generalis- dissonância entre a ação que provocou o resultado e a atualidade da vontade do agente no sentido de praticar o facto típico
de ilícito
w Trata-se de situações em que o agente executa, sem o saber, o facto típico por um modo diverso do modo projetado ou representado e
em que o resultado se verifica em circunstâncias concretas de tempo, lugar ou modo diversas das representadas. Assim, por exemplo, o
agente pretende matar a vítima por enforcamento e esconder o cadáver atirando-o a um poço, no entanto não causa a morte da vítima
logo que a enforca, mas somente quando a atira ao poço. Inversamente, também pode ocorrer que o agente planeie matar a vítima por
afogamento no rio, mas a mate logo que desfere pancadas na cabeça para a deixar inconsciente e não apenas quando a atira ao rio. Nos
dois casos, o agente realiza o facto típico sem consciência. No primeiro, por erro, pensa que o realiza quando apenas tenta, não
consumando logo o crime nesse momento, e, no segundo, realiza-o, quando, na sua representação, apenas o prepara.
w O agente executa, sem o saber, o facto típico por um modo diverso do projetado ou representado, verificando-se o resultado em
circunstâncias concretas de tempo, lugar ou modo diversas (problema de atualidade do dolo).
w Casos em que o agente erra sobre qual de diversos atos de uma conexão da ação produzirá o resultado almejado.
w Cronologicamente ocorrem em dois tempos:
w 1. Num primeiro momento o agente pensa erroneamente ter produzido, com a sua ação, o resultado típico;
w 2. Num segundo momento, fruto de uma nova atuação do agente (quase sempre com fins de encobrimento), o resultado vem
efetivamente a concretizar-se.
w Em hipóteses deste teor a ação suportada pelo dolo do facto não determina pois ainda (imediatamente) o resultado, enquanto a
ação que causa o resultado não mais é suportada pelo dolo do facto.
w Uma parte significativa da doutrina vê aqui só uma tentativa em concurso com o cometimento negligente do facto,
w Doutrina dominante, embora sob diferentes pressupostos, se pronuncia pela aceitação de um crime consumado.
w FD- Aplica aqui também a doutrina da imputação objetiva: se o risco que se concretiza no resultado pode ainda reconduzir-se ao
quadro dos riscos criados pela (primeira) ação, deve considerar-se o crime como consumado; se o não for a punição só pode ter
lugar a título de tentativa, eventualmente em concurso com um crime negligente consumado. Solução análoga preconiza-se, em
nosso critério, para o caso de inversão temporal dos acontecimentos
w MFP- O tratamento dado por Welzel a estas situações, a partir da análise de casos jurisprudenciais alemães, parece ser o mais adequado.
O problema que este tipo de casos propõe é semelhante ao que é suscitado pelo erro sobre o processo causal. Também aqui o agente
representa o desfecho do seu comportamento – o resultado típico – como sendo realizado por uma ação e por um processo causal
diverso do que foi realizado. No entanto, é ele próprio que conduz pelas suas próprias mãos o processo causal acidental sem o saber e
sem poder sequer controlá-lo.
w A diferenciação de uma ação dolosa tentada e de uma ação negligente, que na prática corresponde à exclusão do dolo da ação que
realiza concretamente o resultado, terá justificação? Welzel entendia que, nos casos em que o agente projetara uma espécie de
homicídio encoberto, teria justificação atribuir-se-lhe o dolo como se fosse adequado caracterizá-lo como uma espécie de dolo
geral. Mas, nos outros casos, em que a decisão de realizar a ação de encobrimento que redunda na morte da vítima não foi
projetada como uma sequência, mas resultou de uma decisão momentânea, posterior à ação, que o agente concebeu como de
consumação da sua decisão criminosa anterior, já a diferenciação entre uma ação dolosa tentada e uma ação negligente
consumada qualificaria mais corretamente o comportamento do agente. A segunda ação que consuma o crime não é, na verdade,
representada pelo agente como tal, verificando-se quanto a ela um erro de perceção sobre o objeto da ação – o agente pensa estar
a atirar ao poço um cadáver – que exclui o dolo.
w A questão que se coloca é então a de saber se o comportamento deve ser qualificado como tentativa de homicídio (doloso) e
homicídio negligente pelo crime consumado ou se, seguindo a lógica de que o dolo apenas tem como objeto o resultado e é um
dolo geral relativamente às circunstâncias concretas em que o resultado ocorre, o comportamento do agente deve ser considerado
simplificadamente como um único homicídio doloso.
w No caso do homicídio encoberto de que dá conta Welzel há uma unidade na sequência das duas ações que justifica observá-las
apenas como a realização de um único facto típico com um desvio não essencial sobre o processo causal. E, à luz do que
anteriormente foi dito para o erro sobre o processo causal, há uma conexão de exclusividade entre a conduta representada e o
concreto processo causal. O reconhecimento da unidade de ação ou da pluralidade de ações, a partir do critério da unidade ou
pluralidade de decisões de ação, seria assim um critério que permitira distinguir a situação de erro não essencial, não excludente do
dolo, do concurso entre uma tentativa de crime (obviamente dolosa) e um crime negligente. Também na perspetiva
simbolicamente designada por caixa de pandora, em que se dá relevo a uma associação intrínseca e exclusiva de perigos, é evidente
a inclusão da situação de homicídio encoberto nos comportamentos dolosos. Porém, no caso de não ter sido projetado
anteriormente o encobrimento do homicídio subsistirá a dúvida sobre se se poderia afirmar que o agente não poderia deixar de
representar a morte da vítima através do seu comportamento. A resposta depende, obviamente, de o agente saber ou não poder
deixar de saber que a vítima ainda estava viva.
w A realização do facto, objetivamente, sem uma direção concreta da ação pela vontade não corresponde, de acordo com a definição
de dolo do artigo 14.º CP, a um comportamento doloso. Ao produzir o resultado, inconscientemente, apenas poderia conceber-se
uma ação negligente, já que o agente sempre poderia prever que a morte da vítima ocorresse daquele modo ou pelo menos não
poderia desconhecer que, se a vítima não tivesse morrido antes, acabaria inevitavelmente por morrer daquela forma.
w Se o agente representou o encobrimento, há unidade na sequência das duas ações, não havendo exclusão do dolo.

w Dolus generalis invertido – o agente realiza o facto típico durante os atos de preparação. A maioria da doutrina pune por crime
consumado, pois quando se produz o resultado já há atos de execução, justificando-se a extensão do dolo.
w O dolo configurado inicialmente abrange o facto 1 e o fato 2. ➢ Maioria da doutrina pune por crime consumado, pois no momento
em que se produz o resultado há prática de atos de execução. ➢ Estende-se o dolo.

◊ Erro sobre normas


– O conhecimento da punibilidade do facto é
1. Necessário: se o agente sabe que o seu facto é extremamente imoral, ou sabe que é um ilícito civil, mas supõe que não e punível com
sanção criminal, está em erro sobre a ilicitude penal; não se confunda isto com a questão da punibilidade propriamente dita, a qual tem
de ser resolvida segundo um critério de estrita legalidade.
2. Suficiente: existe nomeadamente quando o agente sabe que o facto é punível segundo a lei positiva aplicável, mas discorda do juízo
ético que subjaz à norma incriminadora
– Não abrange, por isso, erros de subsunção, erros de valoração, ou erros relativamente ao quantum da sanção prevista na lei
– Erro sobre a punibilidade/ Ilicitude Criminal- ART. 16º/1 (2ª parte)- Erro sobre proibições cujo conhecimento for razoavelmente indispensável
para que o agente possa tomar consciência da ilicitude do facto, exclui o dolo
w O agente, apesar de ver a sua conduta como ela é, não sabe que a mesma é crime. Estamos perante uma deficiência da consciência
psicológica, imputável a uma falta de informação ou de esclarecimento sobre informações razoavelmente indispensáveis para que se
possa afirmar que o agente representou corretamente a factualidade típica e desenvolveu a sua vontade no sentido de produção do
resultado típico- não age, por isso, com dolo.
w Esta falta de informação, quando censurável, revela uma atitude interna de descuido ou leviandade perante o dever ser jurídico penal
suscetível de justificar o tipo específico da culpa negligente, caso ele seja previsto para o crime- ART. 16º/3
w Quando pode ser aplicado? Nem todos os crimes podem levar a aplicação deste artigo- apenas os crimes cujo conhecimento seja
razoavelmente indispensável para que o agente…. Le o artigo. Como é que sabemos quais são esses crimes?
w FD- só cabem aqui os chamados delitos meramente proibidos (v. crimes em si- naturais; desde sempre são vistos como tao graves
que sempre justificaram a intervenção do DP, intrinsecamente tao graves que ninguem ficará surpreendido por serem
criminalizados, independentemente de a pessoa alguma vez ter visto o codigo a frente)- crimes artificiais. São crimes cuja ilicitude
não se presume conhecida de todos os cidadãos e não lhes é exigível tal conhecimento; p.e crimes de perigo abstrato, em que se
criminaliza condutas que ainda não provocaram dano, são punidos pelo mero perigo; novas criminalizações, p.e crimes de maus
tratos a animais de companhia, quando a ideia ainda estava a ser divulgada (Agora não é tão inconcebível), crimes ambientais,
antigas contraordenações que agora são crimes- tem pouca visibilidade, são dificilmente apreendidos como graves, etc., seria dificil
para o agente saber que ele seria punido pelo crime- ele não sabia, de forma não censurável, que cometia um crime. Nestes casos,
o agente não age com dolo do tipo, será punido eventualmente por negligência- para o FD, o caso parava aqui e o agente agia sem
culpa, podia ser punido por negligencia. Mas mesmo assim podia não haver culpa. Se nem por negligência puder ser punido, não se
vai a categoria da culpa
w MFP- Concorda em tudo, mas faz ressalvas- a interpretação do FD carece de uma restrição e de uma ampliação:
w a. Restrição: se o agente tinha um dever especial de conhecer aquela proibição, ainda que ela consubstancie um crime
artificial. p.e As pessoas que exercem estavelmente uma determinada atividade (função, profissão, etc.) têm um dever
reforçado de conhecer as normas jurídicas que regulam essa atividade. Não podem por isso, quando as desconheçam, ser
equiparadas aos restantes cidadãos sob o regime muito benévolo deste artigo. Deve ser-lhes aplicado o regime mais severo do
artigo 17.º CP- para a MFP era obvio que o caso caía aqui. Não tem acesso a este erro, porque não pode opor o
desconhecimento de um crime que pela função que exercia tinha o dever de conhecer. Teremos, de ver se o 17 lhe exclui a
culpa, mas por este artigo ele não é desresponsabilizado.
w b. Ampliação:
w Em caso de incriminação nova, deve-se conceder o regime do artigo 16.º CP, sem distinção entre crimes em si ou
meramente proibidos, por todo o período que seja necessário para conhecer a nova norma. Isto independentemente da
vacatio legis formal, que pode ser – entre nós está a ser – muito insuficiente. A amplificação deve valer também para
normas aplicáveis a atividades específicas, embora neste caso o período de tolerância deva ser mais reduzido do que para
o cidadão comum que é subitamente sujeito a uma nova norma.
w Esta solução deve ser aplicada analogicamente ao desconhecimento de normas jurídicas que devam ser combinadas com o preceito
legal incriminador para obter a norma incriminadora completa- normas penais em branco (isto segundo José António Veloso).
w O mesmo, parece-nos, deve ainda valer para o desconhecimento de normas jurídicas que devam ser combinadas com a norma de
causa de exclusão de ilicitude, e cujo sentido seja favorável à afirmação da ilicitude- por exemplo?
– ART. 17º- Erro sobre a ilicitude;
w FD- este erro é moral. v. Erro do 16º- erro intelectual
w MFP-
w Para Kindhäuser a ideia de que a fronteira entre os erros não depende de uma qualidade do sujeito ou de uma motivação ou
posição prévia perante os valores do Direito, mas do modo de ser do erro, na perspetiva de alternativas de comportamento do
agente. É, de facto, a natureza do erro que suscita um impedimento ou uma falta de oportunidade de motivação pela norma ou, em
alternativa, apenas revela a falta de correto processo de motivação que, todavia, seria possível.
w A correspondência da qualificação da conduta à realidade depende, aqui, de um entendimento prévio das condições de sentido. Se
esse entendimento existisse o agente teria condições para decidir se violaria ou não o Direito. É claro que não poderemos, sem esse
conhecimento do sentido do comportamento, concluir que o agente atuaria ou não atuaria de outro modo. Tal falta de
oportunidade para decidir de acordo com o Direito resulta, neste caso, de um erro sobre as condições de compreensão do sentido
que o agente não obteve.
w a distinção entre o erro que exclui o dolo e o erro que apenas pode, em certas circunstâncias, excluir a censura de culpa não
depende de aspetos constitutivos do sujeito, nomeadamente da sua fidelidade ao Direito em conjunto com as qualidades de uma
pessoa média. Depende, tanto no plano da perceção como ao nível da compreensão de sentido das condições efetivas, factuais, de
oportunidade para decidir segundo uma livre escolha entre a conduta típica e a ação lícita
w Apenas estará em causa a compreensão da valoração dos factos, que o agente não questiona estarem presentes, documentando um
desfasamento das valorações subjetivas do agente relativamente às do legislador
w O agente sabe que aquele comportamento é crime, mas acha erradamente que a sua conduta concreta não corresponde ao
comportamento que é crime, dá-lhe outra valoração. Crimes cuja ilicitude se presume conhecida de todos.
w Teresa Beleza: critério sectorial – se já está na atividade deve saber, a menos que se trate de uma proibição nova.
w MFP: perigosidade potencial – inserção profissional; evidência das regras; perigosidade previsível (representação inevitável da
conduta em causa).
w O artigo 17.º CP refere-se aos crimes cuja punibilidade se pode presumir conhecida, e não é desculpável que não seja conhecida, de
todos os cidadãos normalmente socializados. Daí o regime mais severo- abrange os chamados crimes naturais

□ Erro- suposição- O elemento descritivo ou normativo previsto na norma não se verificou objetivamente, mas o agente erradamente assumiu que ele se
encontrava presente
® Ex.: Penso que está um dinossauro que não está na verdade ali - erro de suposição sobre a existência de um dinossauro; acho que estou a furtar um livro
mas engano-me e agarro no meu
® Erro sobre a factualidade típica- Esta hipótese não está prevista nas disposições sobre erro do Código Penal – nem no artigo 16.º, nem no artigo 17.º CP. É
abrangida pelo regime da tentativa.
□ Casos particulares
□ Error in persona vel objeto (Suposição errónea da individualidade física ou numérica do objeto)- a individualidade do objeto não é elemento do
tipo, mas o agente pensa erradamente que é- se há o conhecimento básico das suas qualidades típicas, há dolo do facto praticado. Ex.: ele mata A
achando que matava B- o crime de homicídio pune quem mate alguém, não quem mata B, pelo que o erro é irrelevante
□ ii. Suposição errónea de circunstâncias agravantes qualificativas (elementos agravantes do tipo qualificado): as agravantes supostas são imputadas
ao agente na forma de tentativa impossível do crime agravado correspondente. Ex.: o agente supõe que está a matar o pai (parente- circunstância
agravante para o crime de homicídio (ART. 142º/2, al. a)), mas está a matar A.
® Erro sobre normas
□ Erro sobre a punibilidade da conduta do agente- não está expressamente regulado no Código. É a suposição de que um facto é punível, não estando
realmente incluído no catálogo de crimes da ordem jurídica. A doutrina chama a esta hipótese crime putativo, ou crime imaginário. O facto praticado
com suposição errónea de punibilidade não é punível, ainda que pudesse conceber-se alguma aplicação analógica do regime da tentativa
□ Erro sobre causas de justificação- ART. 16º/2. O agente supõe a existência de um estado de coisas que, a existir, excluiria o dolo da conduta do agente.
Teremos sempre de ver, nestes casos, se o agente pode ser punido por negligência- ART. 16º/3.
□ No caso de legitima defesa- o agente assume erradamente que está protegido pelo 31º
□ FD e MFP- exclui o dolo, mas que dolo? No 16º/1 exclui-se o dolo do tipo, a pessoa não tem vontade de praticar o comportamento proibido. Aqui,
exclui-se o dolo da culpa- exclui-se censura da vontade de praticar o comportamento.
□ Ver em detalhe na legítima defesa putativa

§ Erro de perceção (todos os acima) v. erro de execução


□ Erro de execução/ aberratio ictus vel impetus
® Trata-se de uma deficiência na execução ou um motivo exterior faz com que o agente perca o controlo da ação que se vem a realizar.
® A maioria da doutrina resolve o problema com a teoria da concretização:
◊ O agente pratica 2 atos, um controlado e falhado, outro sem controlo e consumado.
} A ação falha o seu alvo e apresenta por isso a estrutura da tentativa- o tipo objetivo falha porque não há concretização no resultado- falta
imputação objetiva- mas o tipo subjetivo está preenchido
} A produção do outro resultado, que tanto podia não ter lugar como ser de outra gravidade, só pode eventualmente conformar um crime
negligente- tipo objetivo está preenchido, mas o tipo subjetivo não está realizado
◊ Há dois bens jurídicos postos em perigo com desvalores de ação diferentes, então há dolo relativamente às duas situações
◊ A punição deve por isso ter lugar só por tentativa ou por concurso desta com um crime negligente, mesmo quando haja coincidência entre o tipo de
ilícito projetado e o consumado
◊ Esta teoria vê dois crimes separados – concurso efetivo ideal
◊ Exclui-se o dolo.
® Helena Morão – só se pune pela tentativa.
® Eduardo Correia e Teresa Beleza- Teoria da equivalência
◊ Defende que a solução deve ser a mesma que a do erro sobre o objeto ou identidade, ou seja, a identidade é irrelevante então ele quer matar uma
pessoa e matou uma pessoa.
◊ Se o objeto atingido é igual, é indiferente a individualidade (assemelha-se a erros de identidade), punindo-se pelo crime consumado.
◊ Crítica de MFP e FD- imaginemos uma sub-hipótese em que o A quis matar o B porque o B queria matá-lo e foi para se defender mas acabou por
acertar e matar C, como é que resolvia isto com o erro sobre a identidade? Não era justo, não haveria solução. Com a posição da professora já faria
sentido porque pune por concurso então temos uma tentativa de homicídio justificada pela legítima defesa (podia disparar sobre B) mas o homicídio
negligente já não tem justificação e seria punido
® A queria matar o B e ele vê que é o B mas falha a pontaria e a bala acerta no C – desvio do golpe temos um caso de aberratio ictus (falha na execução):
◊ Não chegou sequer a se conformar com a possibilidade de acertar no C.
} Pela teoria da concretização- Temos dois momentos diferentes então temos um crime contra a pessoa que queria acertar (o tipo objetivo falha
porque não há concretização no resultado- falta imputação objetiva- mas o tipo subjetivo está preenchido= tentativa de homicídio) e um outro
crime pela pessoa que acertou (tipo objetivo está preenchido, mas o tipo subjetivo não está realizado= homicídio negligente).
◊ Agora conformou-se com a possibilidade de matar o C – tem dolo eventual em relação a ele. Tem dolo em relação aos dois a B e a C
} Dolo alternativo – é uma ideia de tanto faz, a solução para a prof. MFP é a seguinte: vamos punir pela tentativa de homicídio e por homicídio
doloso consumado para quem acertou
} FD- não concorda e entende que devemos apenas punir por homicídio doloso consumado, porque se punirmos pelos dois podíamos estar a violar
o princípio ni bis in idem porque só tem um desvalor de ação doloso, no sentido em que só quis matar uma pessoa
□ Se o A atira uma bomba para uma sala e mata todas isto não é dolo alternativo, ele tem dolo de matar todas. São homicídios dolosos consumados com dolo
direto
□ A manda um bolo envenenado ao B e engana-se na morada – MFP diz que isto não é bem como disparar uma bala, o agente tem que poder contar com o risco
de desvio – homicídio doloso consumado. O meio é perigoso
□ Vs. Erro sobre o processo causal- o resultado ao qual se referia a vontade de realização do facto não se verifica, mas sim um outro, da mesma espécie ou de
espécie diferente. No erro causal o resultado verifica-se efetivamente

• Elemento volitivo- O dolo do tipo não se basta com o conhecimento, exige ainda que a prática do facto seja presidida por uma vontade dirigida à sua realização.
• A vontade, aqui num sentido mais estrito, tem a ver com aspetos de caráter emocional, relacionados com estados mentais – no fundo, é um controlo emocional
• Esta vontade constitui o elemento volitivo do dolo e pode assumir matizes diferentes, permitindo a formação de diferentes classificações de dolo-
• Tipos de dolo
• Direto/intencional- ART. 14/1º CP-
§ O agente orienta o seu comportamento para a realização do facto típico;
• Necessário – o resultado é consequência necessária de um outro comportamento que é o desejado 14/2º CP
§ O agente não dirige a sua atuação diretamente para a verificação do facto, mas aceita-o como consequência necessária da sua conduta;
• Eventual – existe uma representação possível do comportamento típico e a realização do facto típico e conformação do agente com a situação ex.: o A abriga-se na casa e
alguém tenta atear fogo para ter o seguro, mas não tem a certeza que está lá uma pessoa, ou seja, é meramente possível, mas não deixaria de agir se estivesse lá a
pessoa ART. 14/3º CP
§ A realização do tipo objetivo é representada apenas como consequência possível da sua conduta e conforma-se.
§ O fim da sua ação não é a realização do facto típico mas o agente representa tal como possível e mesmo assim não deixa de realizar a ação. Ex: mesmo agente dos
seguros, mas não sabendo que ali está a dormir alguém; mas sabe que pode estar.
§ Agente prevê como possível a realização do facto típico (elemento intelectual) e tem uma posição volitiva ao conformar-se com aquela realização.
□ MFP: … a compreensão da posição volitiva do agente que se torna o cerne da caracterização como dolo.
• Dolus antecedens – conformação com um resultado típico que já aconteceu não é um dolo do tipo.
• Dolo alternativo – há dolo em relação a 2 resultados diferentes. MFP: concurso efetivo de crime tentado e crime doloso consumado (a ação é bivalente). Ambas as vítimas
foram objeto da ação e os seus bens jurídicos foram ambos postos em perigo. É uma solução criticada, porque se trata de um só dolo com objeto alternativo: punir por 2
crimes seria ficcionar 2 ações dolosas quando só houve uma, violando o princípio non bis in idem. FD: punir pelo crime doloso consumado – uma só ação e uma só decisão.
Helena Morão e Augusto Silva Dias: pune-se pelo mais grave – se o consumado é o mais grave, pune-se por esse; se for o tentado, pune-se pela tentativa.
Preterintencionalidade – o resultado ultrapassa a intenção do agente. Deve ser imputado pelo menos a titulo negligente (pelo mais será negligência grosseira, segundo MFP e
dolo segundo FD). Duplo nexo de imputação: entre a ação e o resultado; entre o resultado típico e a qualificação pelo resultado.

• Dolo eventual v. negligência consciente- ambos têm o elemento intelectual, mas à última falta o elemento volitivo.
• Problema é como este dolo se distingue concretamente da negligência consciente, que é figura próxima deste tipo de dolo e onde se supõe, também, a representação da
realização típica como consequência possível da conduta (ART. 15º, al. a))
§ Há uma sobreposição inevitável ao nível do plano do elemento intelectual. No dolo eventual tem de haver uma ideia de conformação efetiva e não basta a
indiferença (apesar de Eduardo Correia admitir que não é preciso confiança positiva e basta a indiferença).
§ MFP: critica a ideia de Eduardo Correia pois podia haver zona fora do direito em que agente não se conformou. O espaço entre a afirmação positiva da conformação
e a não conformação levaria a não punir. Se entendermos que o agente não se conformou (porque era indiferente), não pode ser incluído no ART. 14º e tem de ser
incluído no ART. 15º, al. a).
□ Isto devido à proibição da analogia e o princípio da legalidade.
§ No conformar-se não pode estar contida a mera indiferença, em que agente não pensou muito nisso- Esses casos de indiferença caem no ART. 15º
• Teorias Intelectualistas/ Teoria da Probabilidade: distinção tem de ser feita num plano cognitivo (do elemento intelectual).
• Problema resolvido com base no elemento intelectual e da probabilidade.
• Para o dolo eventual exige-se uma representação qualificada- não basta a mera representação da possibilidade mas requer-se que essa representação assuma a
forma de probabilidade.
• Acentuam elemento intelectual do dolo apenas como indício objetivo e suscetivel de prova de uma realidade afetiva ou volitiva relativamente ao ato (pelo que
não se diferencia necessariamente das teorias volitivas)- Agente tem dolo eventual quando a realização típica surgir aos seus olhos como provável.
• Dificuldades de fazer assentar toda a construção somente na probabilidade:
○ 1. Determinação com um mínimo de exatidão do grau de possibilidade/probabilidade de verificação do facto necessário à afirmação do dolo do tipo.
○ 2. Agente, apesar da improbabilidade de realização do tipo, poder tomar a firme decisão de a alcançar- a intensidade do elemento volitivo é tal que não
deve tornar a realização típica subjetivamente imputável a mera negligência.
• Formulações mais recentes procuram ancorar o dolo numa especial qualidade da representação da realização típica como possível: exige-se que agente tome a
realização como concretamente possível, que não a considere improvável segundo juízo fundado, sobretudo, que parta de um ponto de vista pessoalmente
vinculante- Faz com que se aproxime da terceira teoria.

• Teorias da Aceitação: distinção é no facto de saber se o agente, apesar da representação da realização típica como possível, aceitou intimamente a sua verificação, ou,
pelo menos, revelou a sua indiferença perante ela (dolo eventual); ou se, pelo contrário, a repudiou intimamente, esperando que ela não se verificasse (negligência
consciente). Releva se agente decidiu com indiferença pelo Direito ou contra o Direito.
§ CASO LACMANN: A aposta com B que é capaz de quebrar com um tiro um copo que C segura na mão sem a atingir; acaba por ferir C
□ Mesmo que A sinta como um mal a realização típica, ele estando consciente de que pode errar o tiro, espera que não aconteça e considera essa possibilidade
como um mal menor, de que de todo o modo se dispõe a aceitar (dolo do tipo contra a norma de comportamento) – jurisprudência alemã referiu-se a aceitação
em sentido jurídico nestes casos em que o agente se resigna com a possibilidade de que a sua ação venha a ter o efeito indesejado.
§ Crítica: a partir do momento em que se aceita a produção do resultado há dolo direto.

• Teorias da Conformação: conceção dominante- ART. 14º/3. Parte da ideia de que o dolo pressupõe algo mais do que o conhecimento do perigo de realização típica.
§ O agente pode, apesar de tal conhecimento, confiar, embora levianamente, que o preenchimento do tipo se não verificará- age então só com negligência
(consciente).
□ Por isso Eduardo Correia avançava como critério do dolo eventual o facto de o agente atuar não confiando em que o resultado se verificará.
□ FD discorda: dupla negação não permite perceber com clareza o elemento positivo que deve arvorar-se como critério do dolo eventual; conotação
extremamente psicologista da confiança pode conduzir a privilegiar infundadamente o otimista impenitente (que confia que tudo correrá pelo melhor) face ao
pessimista depressivo.
§ Como se entende a conformação?
□ Tribunais têm recorrido às FÓRMULAS DE FRANK
® Formula hipotética segundo a qual haveria dolo eventual se se pudesse provar que o agente teria atuado ainda que soubesse, com toda a certeza, que o
resultado típico se verificaria.
◊ Método de interpretação dos factos a partir do significado que eles permitem apreender – método de conhecimento que não impede que se configure
o objeto como uma volição do agente.
◊ Conceção extrovertida da vontade- as fórmulas devem permitir reconhecer quando é que, no sentido comunicacional da interação social, estamos
perante um poder de direção e controlo da ação originadora do facto típico. Se o agente sobrevalorizou o seu interesse em fazer o que quer
relativamente à proteção do bem jurídico, há dolo.
® Fórmulas
◊ Hipotética- "mesmo que soubesse que uma das consequencias da sua ação era o resultado típico, atuava na mesma?"- Se for positiva há dolo, se não,
não há.
} Se tivesse representado o resultado típico como necessário, teria agido à mesma?;
} Contradiz a ideia de dolo eventual- ele agiu com a confiança de que o resultado não se verificaria
◊ Positiva- "Haja o que houver eu atuo". Pregunta- o agente confiou que não ia obter aquele resultado?
} Em relação ao facto que tem em mente, o que acontece a mais é negligente
} Aceitação íntima do resultado (haja o que houver, atua?).
} Sim- ele tinha consciência do risco, e aceitou-o, assumindo que ele não se iria produzir
} Há condutas com um risco tão intenso que nem precisamos de questionar se ele sabia do risco- mesmo que a pessoa deixe de intelectualizar os
perigos- mesmo que ele não tenha pensado nisso, jurídicamente pensou nisso- sintese entre teorias de probabilidade e fórmulas
} MFP- A fórmula positiva orienta-se pela comprovação de uma aceitação íntima de um resultado pelo agente e, deste modo, acentua menos o
processo indiciário de conhecimento e mais o objeto substancial do conhecimento- é uma posição de vontade
® Indícios: probabilidade de produção do resultado; atuação do agente na redução do risco; contexto motivacional.
® Críticas- FD + MFP:
◊ A primeira aprecia a personalidade do agente (contra o DP do facto), ou seja, aspetos exteriores ao facto- Está-se a admitir uma espécie de juízo sobre
a personalidade do agente como critério à pergunta que se faz – como é que podemos saber se o agente faria ou não?
} E é um método que prescinde da deteção da vivência pelo agente de um estado efetivo de vontade.
} Podemos chegar a uma conclusão pela coerência e racionalidade do agente e do seu exercício deliberativo // decidia sobre matéria de facto e
violava o princípio da legalidade
} MFP: é problemática pois não se trabalha com matéria de facto e remete-se para um plano de conjeturas que assentam em compreensões da
personalidade do agente.
w Abre a porta a um direito penal da atitude e não ao direito penal do facto.
w Fronteira passa a ser a atitude do agente perante o direito.
w Não pode ser a atitude que estabelece a fronteira entre o dolo e a negligência, o que não é uma base segura.
w MFP: Elemento emocional pode explicar o comportamento mas já tem de haver base racional.
◊ A segunda é de prova difícil.
◊ Critérios germânicos têm vindo no sentido de serem expressão de métodos de interpretação linguística do sentido dos atos, embora pareçam referir-
se a uma realidade interior, não definida, apreensível na comunicação por uma fórmula de identificação de comportamentos.

® Caso de dois amigos que vão a uma festa numa feira em que há uma barraca de tiros e fazem uma aposta e fere a mão de uma menina, mas não era isso
que era suposto – MFP não vê dolo eventual é negligencia consciente tenho que olhar para o ambiente (ele só queria se divertir e era uma brincadeira)
temos que ver as motivações do agente

® Caso das correntes de ouro – dois assaltantes entram numa casa e utilizam vários métodos, mas o homem é demasiado forte e usam umas correntes de
ouro e apertam até a vítima ficar inconsciente eles não queriam matar, mas acaba por acontecer – MFP não vê dolo eventual
◊ Neste caso, mostra-se que a morte de D não era em definitivo desejada pelos ladrões; todavia, não até um ponto que os conduzisse a omitir a
aplicação da correia de couro, que eles representam seriamente como produtora possível de um risco de morte. Logo nessa base o dolo eventual de
homicídio deve ser afirmado, na base de que os agentes se conformaram com a realização típica.

□ Teoria ROXIN = FD
® Critério da seriedade do risco – há dolo se o agente toma a sério o risco da possível lesão e decide agir.
® Conceção Introvertida | A identificação dos estados mentais seria um problema concetual, linguístico e comunicacional e não um problema de
comprovação científica da verificação de uma realidade mental e da sua expressão com a expressão física.
® O desenvolvimento desta perspetiva a propósito do Dolo Eventual leva-nos a procurar a interconexão entre o conceito de comportamento intencional e a
procurar a sua racionalidade implícita.
◊ Para Anscombe, a intenção é um comportamento justificável em termos de uma resposta à pergunta “porquê”- sendo esta razão entendida como um
fim.
◊ Para Hintikka a intencionalidade é criativa e pressupõe uma elevada liberdade de escolha entre alternativas de ação, relevando, igualmente, uma
determinada consistência racional.
® Assim:
◊ Temos um comportamento marcadamente voluntário quando há intenção;
◊ O comportamento intencional é aquele que pode ser explicado através dos motivos do agente;
◊ Há vontade, ainda que não tenha havido consciência refletida do agente.
® Deste modo, o Dolo Eventual moldar-se-á, ainda, sobre a racionalidade do comportamento intencional. Ora, conseguimos assim construir uma
estruturação racional:
◊ A- Possibilidade não certa de satisfazer uma necessidade;
◊ B- Dessa possibilidade decorrem implicações de meios, os quais se ligam à premissa da ação;
◊ C- Ação Final – decisão de levar a cabo o comportamento final.
} Certo é que esta ação não está numa posição de “necessidade lógica” com as premissas, podendo ser anulável, não estando o agente numa
posição de ausência de alternativas de ação.
® O relevante é que o agente tome a sério o risco de (possível- a lesão tem de ser manifestamente provável) lesão do bem jurídico, que entre com ele em
contas e que, não obstante, se decida pela realização do facto.
◊ Assim:
} 1- Toma a sério risco de possível lesão de bem jurídico;
} 2- Decide pela realização do facto típico.
® Avulta-se o normativamente essencial da "confiança"- o indício de que a afirmação do dolo do tipo confere de existência de uma culpa dolosa
◊ O propósito que move a atuação do agente vale, aos seus olhos, o preço da realização do tipo, ficando deste modo indiciado que o agente está
intimamente disposto a arcar com o seu desvalor.
◊ O agente, em vista da autêntica finalidade da sua ação, conforma-se ou resigna-se com a verificação das consequências típicas
® O agente revela uma absoluta indiferença pela violação do bem jurídico, apesar de ter representado a consequência como possível e a ter tomado a sério,
sobrepõe de forma clara a satisfação do seu interesse ao desvalor do ilícito e por isso decide-se pelo sério risco contido na conduta e, nesta aceção,
conforma-se com a realização do tipo objetivo.
◊ Roxin- quando a verificação de um resultado como possível é completamente indiferente, então tanto está bem a sua verificação como a sua não
verificação; perante uma tal posição, uma decisão pela violação possível do bem jurídico existe já.
◊ Indiferença é critério relevante mas não é determinante- só funciona num sentido.
} Sendo indiferente, tem dolo eventual, à partida.
} Não sendo indiferente, não quer dizer que não tenha dolo eventual.
® Ex.: Correntes de outro, caso Lacmann, mendigos russos
◊ No caso das correias de couro deve afirmar-se dolo eventual de homicídio na base de que os agentes se conformaram com a realização típica, pois
representaram seriamente como possível a morte da vítima.

□ Prof- DISCUSSÃO relevante porque há crimes que não são punidos por negligencia,,
® Podemos associar a existência de dolo eventual à probabilidade de verificação do resultado- o agente tem no mínimo dolo eventual, terá mais se a intenção
for visível. No eventual, há uma vontade diluida, uma vontade secundária da principal,, que não é produzir o resultado mais grave. A vontade surge na
produção do segundo resultado de forma tao diluida que já nem é vontade, mas sim conformaçao, aceitação do risco. Objetificação do tipo subjetivo
□ MFP- esta discussão está mal colocada, assume que o dolo pressupõe vontade, como ??
® A vontade tambem se manifesta como mera decorrência da decisão de agir, porque esta normalmente equivale à vontade psicológica
® Sobrevalorização do interesse do agente de obter algo que não o resultado típico, face à tutela do bem jurídico- desconsidera os riscos da sua conduta
® Podemos ter dolo eventual sem elemento intelectual
® Há ponderação de 2 interesses: interesse do agente em fazer o que quer e a proteção do bem jurídico em concreto, que pode ser lesada pela atuação do
agente.
® Variáveis a analisar:
◊ Qual a intensidade do risco? Quanto mais intenso, mais difícil fica negar o dolo eventual
◊ O agente relativizou o risco? Da conduta dele temos de perceber se ele detetou o risco e o desconsiderou ou não. Se sim, porque? Razão atendível,
juridicamente valiosa- p.e acórdão very light, embora hoje a valoração social de lançar foguetes tenha mudado um bocado- ou motivos
egoístas/levianos
◊ O agente, no caso concreto, tomou alguma providência para impedir o risco? Se sim, não há dolo eventual
® O critério é saber se agente achou mais importante fazer o que queria ou não lesar o bem jurídico- No dolo eventual, o agente conformou-se com o perigo
de realização do facto típico quando, perante um dilema, decide realizar a ação- Portanto, o interesse na realização da conduta é superior a um eventual
interesse de não lesão do bem jurídico.
◊ Tem de haver, também, congruência entre as raízes de agir e o resultado típico- Produção do resultado típico tem de decorrer da concretização da
sobrevalorização do seu interesse pessoal.
◊ A existência de Interesse empresarial é um indício de dolo eventual- lógica de negócio ou de grande ganho
} Caso dos Mendigos Russos – há interesse empresarial e ainda se justifica fazer aquilo mesmo que algumas crianças morram- Sobrevalorizam o
interesse lucrativo, daí que tenham dolo eventual.
◊ Quando há Interesse Lúdico, há partida, é Negligência Consciente- Nestas situações, a pessoa não está tão consciente dos riscos pois está embrenhada
no contexto que impede a pessoa de se conformar.
} Caso Lacmann – o que a pessoa quer é acertar no copo e nem se conforma com a possibilidade de acertar na pessoa pois tem a confiança que não
o vai fazer. Ele tem tanta confiança que até aposta temos negligência consciente-.
} A não ser que, pelos dados da situação concreta, se pudesse concluir que a fundamental motivação do agente seria o próprio "prazer do risco", e
não ganhar a aposta
} Caso very light
® Precisamos de compreender verdadeiramente qual é a substância, o objeto que a fórmula de conhecimento pretende atingir – qual é o conteúdo do dolo. •
Nega-se uma causalidade de tipo naturalístico entre os estados mentais e a ação – critica-se uma perspetiva segundo a qual existe um impulso para a ação
e cuja identificação seria crucial para a afirmação da voluntariedade do ato ou da sua intencionalidade. o A filosofia da ação contemporânea entende a
realidade como uma unidade incindível entre ação exterior e um processo mental, ou seja, estados mentais e os comportamentos exteriores que os
evidenciam seriam incindíveis, não relacionáveis causalmente ou deriváveis pela indução um do outro, nas expressões de significado comunicacional aos
diversos comportamentos.
® Identificação de estados mentais seria um problema concetual, linguístico e comunicacional e não um problema de comprovação científica da verificação
de uma realidade mental e da sua conexão com a expressão física. o Continua a ter sentido referências a intenções, desejos e emoções mas estas não
seriam entidades físico-voluntarísticas nem pelo menos causais-naturalísticas, mas sim modos de compreensão e atribuição de significado aos atos.
§ F. Indícios Quando há dúvida se estamos perante dolo eventual ou negligência consciente vamos verificar os elementos objetivos, que não são tão dependentes de
uma interpretação subjetiva, e ver ser eles suportam as conclusões tiradas.
□ 1º indício: elevada probabilidade de produção de resultado (típico) – ideia de intensidade do risco. Se for muito elevado é quase impossível que o agente não se
tenha conformado.
□ 2º indício: atuação do agente na redução do risco – se agente procurar evitar produção do resultado é indício de negligência (pois o grau de conformação é
menor – ele não está a conformar com possível resultado); tomada de medidas de precaução
□ 3º indício: contexto motivacional – faz-se apelo ao critério MFP e se agente sobrevalorizou o seu interesse face à proteção do bem jurídico no contexto em que
se insere. Não tem necessariamente de se aplicar.
§ Erro sobre a motivação
□ Os motivos (fins mediatos) e os fatores emocionais impulsionadores da vontade (desespero, artigo 133.º CP; ódio racial, artigo 132.º CP) aparecem na aplicação
da lei penal em dois enquadramentos: Como elementos do tipo de ilícito, designadamente de tipos qualificados ou privilegiados; e è Genericamente, no
âmbito do juízo de culpa, em que se faz uma apreciação tão completa e individualizada quanto possível dos aspetos psíquicos do facto.
□ A ocorrência de um erro, seja de desconhecimento, seja de suposição, pode ter influência nos motivos e nos fatores emocionais que impelem a vontade. Esta
influência será tanto mais intensa quanto mais peso tiver a componente cognitiva na economia do motivo. Põe-se então o problema de saber se e em que
medida a relevância jurídica do motivo é modificada pelo erro que o determinou. O tratamento de problemas deste género só pode ser feito adequadamente
numa perspetiva casuística, a propósito de cada tipo da Parte Especial. Por vezes, a formulação adotada na Parte Especial oferece já um critério de solução. (É o
que acontece, por exemplo, no artigo 133.º CP). Feita esta ressalva, apenas se pode chamar aqui a atenção para algumas linhas fundamentais. A regra é que o
Direito Penal toma os motivos e os fatores emocionais impulsionadores da vontade tal como de facto existem na psique do agente, independentemente do
correto ou incorreto conhecimento da realidade que porventura os tenha determinado. Isto vale igualmente tanto para o desconhecimento como para a
suposição errónea.
□ Assim:
® 1. Se houver um motivo ou outro fator psíquico de efeito atenuante, em princípio o ilícito ou a culpa serão atenuados no sentido e medida
correspondentes, ainda que o agente esteja em erro-suposição da circunstância de facto relevante. Por outro lado, se esse motivo ou fator psíquico não
ocorrerem devido a desconhecimento da situação, o efeito atenuatório não se produz. A Parte Geral oferece um modelo de argumentação que pode ser
utilizado no tratamento destes problemas de combinação de erro-suposição e motivação atenuante: a doutrina das causas de justificação e exculpação
putativas do artigo 16.º, n.º2 CP. Parece possível argumentar que, se este preceito confere à suposição errónea de causas de justificação ou exculpação
relevância exculpatória plena (quando o erro não seja culposo), alguma analogia justificará que se diga que o efeito atenuatório de um motivo privilegiante
não deve ser prejudicado pelo facto de ser determinado por suposição errónea, pelo menos quando o erro não for culposo, ou até, indo mais longe,
quando não for grosseiramente culposo. De qualquer modo, ainda que se entenda que esta linha de argumentação não é pertinente, a solução não oferece
dúvidas, por resultar claramente de ideias e princípios gerais. E a situação inversa, de erro-desconhecimento? Alguém, por exemplo, foi agredido, mas não
o sabe, e posteriormente agrido por sua vez o agressor. Neste caso, não existe provocação, porque o agente não foi determinado, no seu facto, pela
agressão anterior de que não teve conhecimento. O erro que causa o motivo em nada modifica esta análise: para alguém beneficiar de um motivo ou fator
psíquico atenuante, tem de existir na sua psíque esse motivo ou fator. Se o motivo ou fator não existem, não há fundamento de atenuação, e nada importa
que hipoteticamente esses fatores pudessem ter existido se o agente se houvesse apercebido dos aspetos da situação que desconheceu.
® 2. Reciprocamente, se houve um motivo ou outro fator psíquico de efeito agravante, em princípio o ilícito ou a culpa serão agravados no sentido e medida
correspondentes, ainda que o agente esteja em erro-suposição da circunstância de facto relevante. Por outro lado, se esse motivo ou fator psíquico não
ocorrerem devido a desconhecimento da situação, o efeito agravatório não se produz. O artigo 132.º, n.º2 CP – homicídio qualificado – fornece exemplos
de motivos que podem ser determinados por um erro-suposição de circunstâncias inexistentes. É intuitivo que aquele que pratica um crime com um motivo
destes, embora determinado por erro, pode merecer pena tão severa como aquele que o pratica, sem erro, pelo mesmo motivo. A presença do motivo,
como dado psíquico, é o que interessa para ajuizar do conteúdo subjetivo do facto do agente. Haverá, pois lugar, em todos estes casos, À aplicação do tipo
qualificado de homicídio. O mesmo vale para os motivos ou fatores psíquicos que não são elementos de tipos. O erro-desconhecimento (que nestes casos é
difícil distinguir utilmente do erro-suposição) terá o mesmo tratamento. Se o motivo ou outro fator ocorrem de facto na psique do agente, nada importa
que eles tenham sido determinados por um desconhecimento da realidade. A malignidade da decisão criminosa determinada por erro não é inferior à da
decisão determinada por um conhecimento exato da realidade. A malignidade da decisão criminosa determinada por erro não é inferior à da decisão
determinada por um conhecimento exato da realidade. Não há qualquer razão de ética ou de política criminal que leve a modificar o juízo de ilicitude ou de
culpa.
® 3. É assim num primeiro nível de análise. Há, porém, um segundo nível em que os resultados da análise podem sofrer alguma modificação. O Direito não
considera os fenómenos psíquicos como factos puros ou brutos, insuscetíveis de valoração: eles são valorados como quaisquer outros factos, e constituem
objeto do juízo de culpa, porque o agente não responde eticamente apenas pelos factos externos, mas também pelos próprios fenómenos psíquicos, e
designadamente pelas suas motivações. É que o Direito pressupõe que é dado ao homem algum poder de controle sobre os seus fenómenos psíquicos, ou
pelo menos sobre os seus fenómenos psíquicos, ou pelo menos sobre os mecanismos pelos quais esses fenómenos influenciam as suas decisões. Temos
pois, num segundo nível de análise, de apreciar eticamente o próprio complexo das motivações, e neste nível o erro pode assumir uma relevância especial.
O erro pode ser culpável ou desculpável, e o efeito atenuante do motivo só se produzirá plenamente se o erro que o determinou for desculpável. Se o erro
for indesculpável, o efeito atenuante do motivo pode ficar diminuído ou até ser por completo anulado. Não haverá então lugar à atenuação especial, mas
apenas a uma atenuação comum, ou nenhuma, consoante a importância que a culpa no erro venha a assumir na economia global da culpa do agente.
Quanto a esta repercussão do erro no juízo de culpa, o tratamento é linear. Problemático é saber se, quando haja culpa no erro, se pode bloquear também
a relevância atenuante dos próprios motivos que são elementos do tipo de ilícito, isto é, deixar de aplicar a norma de um tipo privilegiado e regressar à do
tipo base.

O art. 14º CP não dá a definição de dolo, nós é que retiramos essa definição das espécies de dolo que ele enuncia:
• Dolo Direto (nº1): situações em que há uma espécie de coincidência entre o fim da ação e a produção do resultado típico, ou seja, a orientação da ação/ o objetivo para o
qual a ação é conduzida é a própria realização do facto típico. Isso não quer dizer que a motivação da ação se confunda com a realização do facto típico, só que a
realização do facto típico é que é o objetivo da ação para o qual se dirige, portanto, tem uma motivação que implica essa mesma direção. O que releva aqui é que há uma
orientação do comportamento imediatamente dirigida à realização do facto.
• Dolo Necessário (nº2): situações em que há uma representação da realização do facto típico, como consequência necessária da ação. O comportamento do agente não é
dirigido diretamente para a realização do facto típico, mas é previsto como consequência necessária e inevitável. Trata-se de situações em que o agente se confronta com
a norma jurídica que pune aquele comportamento e delibera atuar nesse sentido porque é uma consequência que se lhe afigura necessária.
• Dolo Eventual (nº3): Este é o que, tradicionalmente, levanta os problemas mais complicados. É uma previsão da realização do facto típico como meramente possível
(situação que, do ponto de vista intelectual, faz coincidir o nº3 com o nº1) e o agente não deixa de agir, conformando-se com a possível realização do resultado típico. As
situações de Dolo Eventual são problemáticas porque são as situações de fronteira com a negligência consciente que está prevista no art. 15ºCP
○ Art. 15ºCP: Age com negligência quem, por não proceder com o cuidado a que, segundo as circunstâncias, está obrigado e de que é capaz:
§ Representar como possível a realização de um facto que preenche um tipo de crime, mas atuar sem se conformar com essa realização; ou
§ Não chegar sequer a representar a possibilidade de realização do facto.
○ O art. 15º, a) CP, ao utilizar a expressão sem se conformar com essa realização, demonstra que basta que não se tenha verificado uma situação do art. 14ºCP. A ser
assim, ficamos nas mãos com uma interpretação do art. 14º/3 CP muito equívoca em que parece que a norma geral/ o saco onde tudo cabe/ a válvula de escape é o
próprio dolo e deveria ser ao contrário. Isto pode levar a pensar que quando não se consegue demonstrar que não se conformou, então é porque se conformou e
isso não é aceitável - quando não se prova de uma forma cabal o facto negativo, não sobra o facto positivo, portanto, o MP ou a acusação tem que provar
efetivamente que o agente se conformou e não pode provar o facto positivo unicamente por exclusão de partes relativamente ao facto negativo. Aqui, a solução do
CP, das duas uma: ou ainda poderia prever uma figura intermédia ou então teria que ser mais preciso relativamente à própria negligência consciente.
○ Como é que podemos distinguir a conformação positiva da não conformação no comportamento negligente? Quanto a isso, a tradição do pensamento jurídico vem
de R. Frank que, sendo um penalista de grande renome e importância na Alemanha, tentou resolver a questão do dolo, dada a dificuldade da prova do dolo eventual
em tribunal:
§ Fórmula Hipotética: para se saber se um determinado comportamento foi praticado com dolo eventual ou comportamento negligente, o que o juiz deve fazer é,
relativamente à matéria de facto que é apresentada, criar uma hipótese nos termos da qual pergunta que se aquele agente tivesse representado a realização do
facto típico não como consequência possível, mas como consequência necessária, ainda assim ele teria agido – se se chegar à conclusão que, tendo previsto
como certo o resultado lesivo, o agente não atuaria daquela forma, então é porque o agente atuou com negligência consciente; se, pelo contrário, tendo
previsto como certo o resultado lesivo, o agente não tivesse deixado e atuar da forma como atuou, então é porque o agente atuou com dolo eventual.
□ Esta fórmula tem um problema porque parece ter que recorrer à interpretação de aspetos de personalidade do agente (aspetos que não são factuais) e,
portanto, a grande crítica que lhe foi feita é que se afasta do P. da Legalidade e do Direito Penal do Facto porque o juiz vai decidir sobre uma matéria que
não existiu (a tal pergunta da consequência necessária em vez da possível que, essa sim, realmente se verificou) e que só pode imaginar em função da
personalidade do agente
§ Fórmula Positiva: o que está em causa nesta fórmula é que podemos demonstrar que a atitude do agente foi “aconteça o que acontecer eu ajo”, ou seja, há
uma aceitação íntima por parte do agente, há alguma coisa mais perto da conformação relativamente ao resultado
□ Mas como é que se sabe se houve uma aceitação íntima? É de difícil demonstração, portanto, duvida-se da aplicabilidade desta fórmula.

Caso das Correias de Couro: Ladrões entram numa casa para assaltar o cofre da vítima e não a queriam matar, queriam apenas imobilizá-la para retirar o dinheiro. Fazem
várias coisas para imobilizar a vítima (saco de areia na cabeça e etc.), mas ela continua a debater-se, então os ladrões resolvem fazer um “estrangulamento” com cuidado, até
ao ponto de a vítima ficar inconsciente. O que acontece é que esse tipo de “estrangulamento” exige uma técnica muito própria que eles não tinham, pelo que acabam por
matar a vítima. Como este não era o desfecho que desejavam, ainda fizeram esforços de reanimação da vítima, mas sem sucesso.
• Os ladrões ponderaram entre o risco de matar a vítima e o prejuízo de não levar os bens e prevaleceu o quererem os bens, portanto, aceitaram o risco da realização do
resultado.
• MFP acha que neste caso há dolo eventual porque, no fundo, a aceitação do risco é a base da própria realização, ou seja, eles decidem sabendo que há sérias
probabilidades de um facto típico se vir a realizar.

Caso Hackman (?): dois amigos vão a uma feira e, ao chegarem a uma barraca de tiro, fazem uma aposta nos termos da qual um deles conseguiria acertar num berlinde que
uma menina segurava entre os dedos. Um deles acaba, porém, por acertar na mão da menina e aleija-a.
• MFP diz que aqui o motivo é uma brincadeira, uma aposta, um ambiente de diversão e, portanto, há aqui um contexto em que se admite que as pessoas fiquem eufóricas
e minimizem o risco, até porque estão muito confiantes das suas próprias capacidades.
• MFP diria que é um caso de negligência consciente porque se exprime uma não conformação com o resultado e uma confiança de que aquele resultado, apesar de
possível, não vai de certeza acontecer.

Caso do very-light: Numa final de uma Taça de Portugal, um adepto de uma equipa atirou um very-light como celebração do golo da sua equipa. Sucede que o very-light vai
acertar fatalmente num adepto da equipa adversária.
• O Tribunal da Comarca de Oeiras, com uma fundamentação um bocadinho vaga, veio a considerar que não havia dolo.
• MFP fez um comentário ao Acórdão dizendo que este seria um caso de negligência e não de dolo porque, sendo que a equipa estava a ganhar e que se tratava de uma
celebração, não fazia sentido (sendo mesmo irracional) que a celebração do adepto contasse com aquele desfecho. Mesmo que haja incerteza: in dubio pela não
conformação!
• Neste caso falha o elemento volitivo e não o elemento intelectual.

Os casos em que falha o elemento intelectual do dolo são os casos do erro (ex. caçador que anda à caça e, pensando que está a atirar para um veado, acerta numa
pessoa – o agente não representa o objeto da ação).
O art. 16º/1 CP refere-se ainda ao erro sobre proibições cujo conhecimento for razoavelmente indispensável para que o agente possa tomar consciência da ilicitude do
facto. Neste contexto, MFP chama a atenção para o Acórdão TRP de 25/06-/2014 em que o problema surgiu porque a pessoa não conhecia uma determinada
regulamentação, havendo, portanto, nos termos deste artigo, exclusão do dolo.
É necessário fazer uma distinção entre os casos em que a pessoa não tem mesmo condições porque foi mal informada (aqui há lugar à exclusão do dolo) de outros em
que a pessoa nem se importou ou tentou informar (aqui será posta em causa a aplicabilidade do artigo).

Critério – conformação com a realização da atividade típica

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