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DIREITO PENAL

2023
INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL

1. CONCEITO
É a atividade que consiste em extrair da norma penal seu exato alcance e real significado.
2. NATUREZA
A interpretação deve buscar a vontade da lei, desconsiderando a de quem a fez. A lei determina
independente de seu passado, importando apenas o que está contido em seus preceitos.
TEORIA DO CRIME

1. CONCEITO DE CRIME

O crime pode ser conceituado sob três aspectos.

a) Conceito formal: formalmente, crime é o fato definido em lei como tal, pouco importando seu
conteúdo.
b) Conceito material: é aquele que busca estabelecer a essência do conceito, ou seja, o porquê da
conduta ser considerada criminosa. Sob o aspecto material, o crime é qualquer conduta que por
ação ou omissão lesar o bem jurídico resguardado.
c) Conceito analítico: busca sob o prisma jurídico estabelecer os elementos estruturais do crime. Do
aspecto analítico, surgem algumas teorias; conforme a teoria bipartida, crime é fato típico e ilícito
que tem a culpabilidade como pressuposto para a aplicação da pena; já a teoria tripartida
considera o crime como fato típico, ilícito e culpável, e é a teoria mais aceita atualmente; a teoria
quadripartida traz o crime como fato típico, ilícito, culpável e punível.

 Teoria bipartida: crime é fato típico e ilícito. (antijurídico). É a corrente adotada por Fernando
Capez, pois segundo o doutrinador, a culpabilidade é elemento externo ao crime e não
interessa ao conceito do crime.
 Teoria tripartida: crime é fato típico, ilícito e culpável.
 Teoria quadripartida: crime é fato típico, ilícito, culpável e punível.
 Teoria dos elementos negativos do tipo penal: crime é fato típico e culpável. A ilicitude se
encontra inserida no próprio tipo penal, enquanto elemento negativo. Conforme Miguel Reale
Junior, a antijuridicidade seria a constatação de que a ação é típica pela ausência de causas de
justificação, ou seja, o que já se contém na compreensão de fato típico, pois só é típico o que
for lesiva de um valor. Ainda, o delito se compõe da ação típica, em suas fases positiva e
negativa, e da culpabilidade.

2. FATO TÍPICO
É o fato material que se amolda perfeitamente aos elementos constantes do modelo previsto na lei penal.
Possui quatro elementos.

a) Conduta: é a ação ou omissão humana, consciente e voluntária que se dirige a uma finalidade. No
entanto, o direito penal não se preocupa com questões que não poderiam ser evitadas, como caso
fortuito ou de força maior, nem com a conduta que ocorre mediante coação física. Assim, na seara
penal, as condutas devem advir de vontade e poderiam ter sido evitadas. Quando da conduta surge
resultado diverso do esperado, ela se denomina culposa; se atingida a finalidade buscada pela
conduta que resulta da vontade do agente, é uma conduta dolosa.
 Conduta: conduta penalmente relevante é toda ação ou omissão humana, consciente e
voluntária, dolosa ou culposa, voltada a uma finalidade, típica ou não, mas que produz ou
tenta produzir um resultado previsto em lei penal como crime. Possui duas formas; ação ou
omissão.
 Elementos da conduta: são quatro. Vontade, finalidade, exteriorização e consciência.
 A ausência de voluntariedade acarreta a ausência de conduta, uma vez que é um de seus
elementos essenciais. A coação moral irresistível não exclui a conduta, no entanto a torna
viciada. Na vis compulsiva, o coacto pratica conduta criminosa, contudo não há
culpabilidade. Em caso de coação física (vis absoluta), a conduta é excluída pela absoluta
falta de vontade e nesse caso o fato será atípico.
Vis compulsiva: coação moral irresistível > fato típico sem culpabilidade
Vis absoluta: coação física > fato atípico
 Caso fortuito e força maior: o caso fortuito é definido como o que se mostra imprevisível,
quando não inevitável. Ocorre por força estranha à vontade do homem e não pode ser
impedido, enquanto a força maior é um evento externo ao agente (ex.: coação física), cujo
acontecimento também é inevitável.
Ambos excluem dolo e culpa e consequentemente a conduta, portanto não há crime.
Excluindo-se a conduta, exclui-se também a tipicidade do fato, e se o fato é atípico, não há
crime.
b) Resultado (nos crimes materiais): é a modificação causada pela conduta (ex.: perda patrimonial no
furto e no roubo; morte no homicídio, etc). conforme a teoria naturalística, nem todo crime possui
resultado naturalístico, uma vez que existem infrações penais que não produzem qualquer alteração.
Assim, os crimes tipificados podem ser categorizados como materiais e formais.
 Crime material: é aquele cuja consumação só ocorre com a produção do resultado
naturalístico (ex.: homicídio se consuma na morte, caso contrário apresentará a forma
tentada).
 Crime formal: o resultado naturalístico é até possível, mas irrelevante. A consumação ocorre
antes e independentemente do resultado (ex.: extorsão mediante sequestro, a consumação se
dá com o sequestro da vítima, independente se da conduta o agente receber ou não o resgate.)
 Crime de mera conduta: dele não ocorre nenhum resultado naturalístico (ex.: desobediência)

Conforme a teoria jurídica ou normativa, conduta é toda lesão ou ameaça de lesão a um interesse
penalmente relevante. Todo crime tem resultado jurídico pois sempre agride um bem jurídico tutelado.
Quando não há resultado jurídico, não há crime.

c) Nexo causal (nos crimes materiais): é o elo concreto, físico, material e natural que se estabelece entre
a conduta do agente e o resultado naturalístico. Assim, é possível dizer se a conduta deu ou não causa
ao resultado.
Causa > efeito
Tudo o que retirado da cadeia de causa e efeito provocar a exclusão da conduta, é considerado sua
causa.
Ex.: para o crime de homicídio, uma série de fatos ocorreram: (i) a indústria produziu a arma; (ii) o
comerciante adquiriu a arma; (iii) o agente comprou a arma; (iv) agente pratica a emboscada; (v)
agente dispara os projéteis; (vi) morte da vítima. > se qualquer um desses fatos fosse retirado da
sequencia de causa e efeito, o resultado não teria sido alcançado. No entanto, caso antes de praticar a
emboscada, o agente tivesse almoçado, tal ato poderia ser excluído que não afetaria a cadeia de causa
e efeito.
 Espécies de causas: causa dependente é aquela que se origina da conduta e insere-se na linha
normal de desdobramento causal da conduta e contem dois fatores, origina-se da conduta,
sem a qual não existiria e atua como absoluta dependência da causa anterior da qual resulta
como consequência natural e esperada. Já a causa independente é aquela que por si só produz
resultado. A causa absolutamente independente não se origina da conduta enquanto a
relativamente independente tem a conduta como origem.
d) Tipicidade: o tipo legal é um dos postulados básicos do principio da reserva legal. “não há crime sem
lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. Nesse sentido, fica outorgada à lei
a tarefa de definir e descrever o que é crime.
A lei penal não pode proibir genericamente os delitos, devendo descrever qual a conduta criminosa e
sua penalidade. Se fosse genérica, não resguardaria o direito de liberdade.
O conceito de tipo, em suma, é o modelo descritivo das condutas humanas criminosas, criado pela lei
penal, com a função de garantia do direito de liberdade.
Ele é formado pelo núcleo, que é designado por um verbo (ex.: matar, ofender, constranger, subtrair,
expor, etc); pelas referências a certas qualidades exigidas, acontece somente em alguns casos (ex.:
funcionário público, mãe, etc); pelas referências ao sujeito passivo (ex.: alguém, recém nascido, etc);
pelo objeto material (ex.: coisa alheia móvel, documento) que em alguns casos, como o homicídio,
por exemplo, também pode ser o sujeito passivo; pelas referências ao lugar, tempo, ocasião, modo de
execução, meios empregados e, em alguns casos, ao fim especial designado pelo agente.
 Espécies de tipo: permissivos ou justificadores são aqueles que não descrevem fatos
criminosos, são tipos que permitem a prática de condutas descritas como criminosas.
Descrevem as causas de excludente de ilicitude, conforme o art. 23 do CP e subsequentes,
como é o caso da legítima defesa 9 (art. 25). Já os incriminadores são os tipos que descrevem
as condutas proibidas. A priori, todos fato enquadráveis como do tipo incriminador, serão
ilícitos, salvo se enquadrar em algum tipo permissivo.

3. O TIPO PENAL NOS CRIMES DOLOSOS

Dolo se caracteriza como a vontade e a consciência de realizar os elementos constantes do tipo penal. Em
um sentido mais amplo, é a vontade manifestada pela pessoa humana de realizar a conduta. Dolo é o
elemento psicológico da conduta e a conduta é um dos elementos do fato típico, portanto é correto afirmar
que dolo também é um elemento do fato típico.

 Dolo: elemento do fato típico.

3.1 – ELEMENTOS DO DOLO


a) Consciência: conhecimento do fato que constitui a ação típica
b) Vontade: elemento volitivo de realizar o fato

Alguns doutrinadores incluem como elemento do dolo a consciência de ilicitude do comportamento


do agente. Porém, conforme a teoria finalista que é adotada pelo Código Penal, o dolo pertence à
ação final típica, constituindo seu aspecto subjetivo, ao passo que a consciência de ilicitude estrutura
a culpabilidade, como um dos elementos necessários à formulação do juízo de reprovação.

Assim, o dolo e a potencial consciência de ilicitude são elementos que não se devem confundir e não
se fundem em um só, visto que cada um pertence a uma estrutura diferente.

3.2 – ABRANGÊNCIA DO DOLO

A consciência do autor deve fazer referência a todos os componentes do tipo, prevendo os dados
essenciais dos elementos típicos futuros, em especial o resultado e o processo causal. A vontade
consiste em optar por executar a ação típica, estendendo-se a todos os elementos objetivos
conhecidos pelo autor que servem de base à sua decisão de praticá-la.

Obs.: o dolo abrange também os meios empregados e as consequências secundárias de sua atuação.

3.2.1 – FASES DA CONDUTA


 Fase interna: opera-se na mente do autor. Caso não passe disso, é indiferente ao direito penal.
 Fase externa: consiste em exteriorizar a conduta, caso o sujeito pratique a conduta nessas
condições, age com dolo e a ele podem ser atribuídos o fato e as consequências deste.
3.2.2 – TEORIAS DO DOLO
a) Teoria da vontade: dolo é a vontade de realizar a conduta e produzir o ato.
b) Teoria da representação: dolo é a vontade de realizar a conduta, prevendo a possibilidade de o
resultado ocorrer, porém sem desejar tal resultado. Denomina-se como teoria da representação
pois basta o agente representar (prever) a possibilidade de o resultado para qualificar a
conduta como dolosa.
c) Teoria do consentimento ou assentimento: dolo é o consentimento do resultado, ou seja, a
previsão do resultado com a aceitação dos riscos para de produzi-lo. Não basta somente
representar, é preciso aceitar como indiferente a produção do resultado.
Obs.: conforme o art. 18 do código penal, não se adota a teoria da representação. Portanto,
para a aplicação da lei penal, dolo é a vontade consciente de realizar o resultado ou a
aceitação dos riscos de produzi-lo.

3.3 – ESPÉCIES DE DOLO


3.3.1 – DOLO NATURAL

É o dolo concebido como um elemento puramente psicológico, desprovido de qualquer juízo de


valor. Trata-se de um simples querer, independentemente de o objeto da vontade ser lícito ou não.
Esse dolo é formado tão somente da consciência e vontade, sem a necessidade de que o agente
tenha a consciência de que o fato praticado é lícito ou ilícito, certo ou errado, justo ou injusto.

Foi concebido pela teoria finalista. Segundo ela, integra a conduta e consequentemente o fato
típico. Não é elemento de culpabilidade, nem tem a consciência de ilicitude como seu
componente.

3.3.2 – DOLO NORMATIVO

É o dolo da teoria clássica (teoria naturalista ou causal). Ao invés de constituir elemento da


conduta, é considerado elemento da culpabilidade e possui três elementos: a consciência, a
vontade e a consciência de que ela é ilícita, injusta e errada. Acrescentou-se um elemento
normativo ao dolo, que depende do juízo de valor, ou seja, a consciência de ilicitude. Portanto, só
há dolo quando, além da consciência e da vontade de praticar a conduta, o agente tenha
consciência de que esteja praticando algo censurável.

O dolo normativo não é um simples querer, mas traz a ideia romana de dolus malus. Deixa de ser
um elemento puramente psicológico para se tornar um fenômeno normativo que exige juízo de
valoração.

Obs.: para Fernando Capez, a teoria do dolo normativo está ultrapassada. Segundo o autor, o dolo
é o natural.
3.3.3 – DOLO DIRETO OU DETERMINADO

É a vontade de realizar a conduta e produzir o resultado (teoria da vontade). Ocorre quando o


agente que diretamente o resultado.

 Sujeito diz “eu quero”.

3.3.4 DOLO INDIRETO OU INDETERMINADO

O agente não quer diretamente o resultado, mas aceita a possibilidade de produzi-lo (dolo
eventual = fodeu), ou então não se importa em produzir este ou aquele resultado (dolo alternativo
= foda-se).

3.3.5 – DOLO DE DANO

É a vontade de produzir lesão efetiva a um bem jurídico.

3.3.6 – DOLO DE PERIGO

Mera vontade de expor o bem a um perigo de lesão.

3.3.7 – DOLO GENÉRICO

É a vontade de realizar conduta sem um fim especial, ou seja, a mera vontade de praticar o núcleo
da ação típica (o verbo do tipo), sem qualquer finalidade específica.

Nos tipos que não têm elemento subjetivo é suficiente o dolo genérico.

3.3.8 – DOLO ESPECÍFICO

É a vontade de realizar conduta visando um fim especial previsto no tipo.

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