Você está na página 1de 29

TEORIA DO CRIME

PROFESSORA: SEMIRAMYS FERNANDES TOMÉ


2º SEMESTRE – 2022.2
FATO TÍPICO
• FATO TÍPICO CONSISTE NA EXPRESSÃO DE UM FATO
HUMANO QUE SE ENQUADRA NOS ELEMENTOS
DESCRITOS NO TIPO PENAL
• FATO ATÍPICO EM IDEIA ANTAGÔNICA É CONDUTA
QUE NÃO ENCONTRA CORRESPONDÊNCIA EM
NENHUMA CONDUTA TIPIFICADA NA NORMA PENAL
ELEMENTOS DO FATO TÍPICO:
a) CONDUTA
b) RESULTADO NATURALISTICO: MODIFCAÇÃO DO MUNDO EXTERIOR
PROVOCADO PELO COMPORTAMENTO DO AGENTE
c) NEXO CAUSAL (RELAÇÃO DE CAUSALIDADE): RELAÇÃO DE CAUSA E
EFEITO ANTE A PRÁTICA DA CONDUTA
d) TIPICIDADE: SUBSUNÇÃO ENTRE AÇÃO OU OMISSÃO DO AGENTE E O
MODELO PREVISTO NO TIPO PENAL
OBS: TAIS ELEMENTOS ENCONTRAM-SE PRESENTES QUANDO DIANTE DE
UM DELITO DE CUNHO MATERIAL
ELEMENTOS DO FATO TÍPICO NOS DELITOS
FORMAIS, TENTADOS E DE MERA CONDUTA

a)CONDUTA

b)TIPICIDADE
CONDUTA. RELAÇÃO DE CAUSALIDADE.

CONDUTA

 Conceito:

Conduta penalmente relevante é toda ação ou omissão


humana, consciente e voluntária, dolosa ou culposa, voltada a
uma finalidade, que produz ou tenta produzir um resultado
previsto na lei como crime.

Teorias sobre a conduta

a) Teoria naturalista ou causal (Franz von Liszt): Para a teoria causal da ação, pratica fato
típico aquele que pura e simplesmente der causa ao resultado, independente de dolo ou
culpa na conduta do agente, elementos esses que, segundo essa teoria, serão analisados
apenas na fase de averiguação da culpabilidade, ou seja, não pertencem à conduta. Para
saber se o agente praticou fato típico ou não, deve-se apenas analisar se ele foi o causador
do resultado, se praticou a conduta descrita em lei como crime, não se analisa o conteúdo
da conduta, a intenção do agente na ação, trabalha-se com o mero estudo de relação de
causa e efeito. Crime, para essa teoria, é fato típico, antijurídico e culpável, pois o dolo e a
culpa, que são imprescindíveis para a existência do crime, pertencem à culpabilidade, logo
esta deve fazer parte do conceito de crime para os seguidores dessa teoria.
b) Teoria finalista (Hans Welzel): Para a teoria finalista da ação, que
foi a adotada pelo nosso Código Penal, será típico o fato praticado
pelo agente se este atuou com dolo ou culpa na sua conduta, se
ausente tais elementos, não poderá o fato ser considerado típico,
logo sua conduta será atípica. Ou seja, a vontade do agente não
poderá mais cindir-se da sua conduta, ambas estão ligadas entre si,
devendo-se fazer uma análise de imediato no “animus” do agente
para fins de tipicidade.
c) Teoria social (Hans-Heinrich Jescheck): Para os adeptos à teoria social, a
sociabilidade da conduta deve ser observada; não podemos taxar como crime uma conduta que é
perfeitamente aceitável perante a sociedade e que não gera danos consideráveis à mesma; a referida
teoria alega ser inútil punir alguém por um fato que a própria sociedade aceita, ou seja, deve-se
observar um elemento social, que estaria contido implicitamente no tipo penal. Para essa teoria, só
será típico o fato que repercute negativamente na sociedade. Os críticos à teoria social alegam que
esta implica num risco à segurança jurídica, pois caberia ao magistrado decidir se tal conduta é
típica ou não de acordo com os costumes, e , como se sabe, costume não revoga lei, ou seja,
analisando o caso em concreto, se o juiz entender que a ação do agente foi absolutamente sociável,
classificará aquela como atípica, ignorando, assim, o direito positivo. Alegam ainda que o próprio
Código Penal já estabeleceu as excludentes de ilicitude quando uma conduta for, embora típica,
perfeitamente aceitável, como, por exemplo, no caso da legítima defesa. Tal teoria não foi
concebida pela nossa legislação, entretanto, não se deixa de avaliar a sociabilidade da ação,
podendo esta ser utilizada pelo magistrado como critério de fixação da pena base, com fundamento
no artigo 59 do Código Penal.
Elementos da conduta – vontade, finalidade,
exteriorização (inexiste quando enclausurada na mente)
e consciência.

Diferença entre ato e conduta

Formas de conduta – ação: comportamento positivo,


movimentação corpórea; omissão: comportamento
negativo, abstenção de movimento.

Ausência de conduta
RELAÇÃO DE CAUSALIDADE

Nexo de causalidade (nexo causal): é o elo físico


que se estabelece entre a conduta do agente e o
resultado.

Teoria da equivalência dos antecedentes: conhecida


como teoria da conditio sine qua non, segundo a qual
causa é toda ação ou omissão anterior que contribui
para a produção do resultado.

Art. 13, caput, CP: “o resultado de que depende a


existência do crime, somente é imputável a quem lhe
deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem
a qual o resultado não teria ocorrido”.
Damásio de Jesus:

“Suponha-se que ‘A’ tenha matado ‘B’. A conduta típica do homicídio possui
uma série de fatos, alguns antecedentes, dentre os quais sugerem-se os
seguintes: 1) a produção do revólver pela indústria; 2) aquisição da arma pelo
comerciante; 3) compra do revólver pelo agente; 4) refeição feita pelo
homicida; 5) emboscada; 6) disparo dos projéteis na vítima; 7) resultado
morte. Dentro dessa cadeia, excluindo-se os fatos sob os números 1 a 3, 5 e 6,
o resultado não teria ocorrido. Logo, são considerados causa. Excluindo-se o
fato sob o número 4, ainda assim o resultado teria ocorrido. Logo, a refeição
feita pelo sujeito não é considerada causa”. A esse sistema, preconizado por
Thyrén, de aferição, dá-se o nome de “procedimento hipotético de
eliminação”.
Superveniência causal: o art. 13, § 1º do CP, dispõe que a
superveniência de causa relativamente independente exclui a
imputação quando, por si só, produziu o resultado.
Causa – é toda condição que atua paralelamente à conduta,
interferindo no processo causal.
Causa dependente – é aquela que, originando-se da conduta,
insere-se dentro da linha normal de desdobramento causal da
conduta.
Causa independente – é aquela que refoge ao desdobramento
causal da conduta, produzindo por si só, o resultado.
Causas absolutamente independentes: são aquelas que têm
origem totalmente diversa da conduta. O advérbio de modo
“absolutamente” serve para designar que a causa não partiu
da conduta, mas de forma totalmente distinta.

Espécies de causas absolutamente independentes:

a) preexistentes: atuam antes da conduta. Ex: “A” atira em


“B” e este não morre em conseqüência dos tiros, mas de um
envenenamento provocado por “C” no dia anterior.
• b) concomitantes: atuam no mesmo tempo da conduta. Ex:
“A” e “B”, um desconhecendo a conduta do outro, atiram
ao mesmo tempo em “C”, tendo este morrido em
conseqüência dos tiros de “B”.
• b) supervenientes: atuam após a conduta. Ex: “A”
envenena “B”, que morre posteriormente assassinado a
facadas. O fato posterior não tem qualquer relação com a
conduta de “A”.

Conseqüência das causas absolutamente independentes –


rompem totalmente o nexo causal, e o agente só responde
até então praticados. Nos três exemplos, “A” responderá
por tentativa de homicídio.
Causas relativamente independentes: como são causas
independentes, produzem por si só o resultado, não se
situando dentro da linha de desdobramento causal da
conduta.

Espécies de causas relativamente independentes

• a) preexistentes: atuam antes da conduta. Ex: “A” desfere um


golpe de faca na vítima, que é hemofílica e vem a morrer em
face da conduta, somada à contribuição de seu peculiar
• b) concomitantes: atuam no mesmo tempo da conduta. Ex: “A” atira
na vítima que, assustada, sofre um ataque cardíaco e morre.

• b)supervenientes: atuam após a conduta. Ex: a vítima sofre um


atentado e, levada ao hospital, sofre um acidente no trajeto, vindo, por
esse motivo, falecer.

Consequência das causas relativamente independentes – nenhuma


causa relativamente independente tem o condão de romper o nexo
causal.
Relevância causal da omissão (art. 13, § 2º). O dever de agir
incumbe a quem:

a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância. Ex:


dever de proteção e assistência para com os filhos. A imposição
resulta da lei civil.
b) de outra forma assumiu a responsabilidade de impedir o
resultado: pode resultar de relação contratual, profissão ou
quando, por qualquer outra forma, assumiu a pessoa a posição de
garantidora (garante) de que o resultado não ocorreria.
c) com o seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do
resultado: Ex: aquele que, por brincadeira, joga uma pessoa na
piscina e, posteriormente, percebe-se que esta não sabe nadar tem o
dever de salvá-la. Se não fizer, responde pelo crime.
CRIME CONSUMADO (ART. 14, I):
 Conceito: diz-
se consumado o crime quando nele se reúnem
todos os elementos de sua definição legal. No
homicídio, por exemplo, o tipo penal consiste
em "matar alguém" (artigo 121 do CP), assim
o crime restará consumado com a morte da
vítima.
•Iter criminis – é o caminho do crime, as
etapas que ocorrem até a consumação do
delito. São quatro as etapas do crime:
cogitação, preparação, execução e
consumação.
a) Cogitação (fase interna): Na cogitação não existe ainda a
preparação do crime, o autor apenas mentaliza, planeja em sua
mente como vai ele praticar o delito, nesta etapa não existe a
punição do agente, pois o fato dele pensar em fazer o crime não
configura ainda um fato típico e antijurídico pela lei, sendo
irrelevante para o direito penal. Enquanto encarcerada nas
profundezas da mente humana, a conduta é um nada, totalmente
irrelevante para o direito penal. Somente quando se rompe o
claustro psíquico que a aprisiona, e materializa-se concretamente a
ação, é que se pode falar em fato típico (CAPEZ, 2008, p.241).
•b) Preparação (fase externa): Segundo o ilustre Fernando Capez (2008, p.241), é a
pratica dos atos imprescindíveis à execução do crime. Nesta fase ainda não se iniciou a
agressão ao bem jurídico, o agente não começou a realizar o verbo constante da
definição legal (núcleo do tipo), logo o crime ainda não pode ser punido. É a
preparação da ação delituosa que constitui os chamados atos preparatórios, os quais
são externo ao agente, que passa da cogitação à ação objetiva; arma-se dos
instrumentos necessários à pratica da infração penal, procura o local mais adequado ou
a hora mais favorável para a realização do crime (BITENCOURT, 2012, p.523). O
agente na preparação ele usa dos meios indispensáveis para a prática da infração penal,
municiando-se dos meios necessários para se chegar a concretização do ilícito penal. É
o caso por exemplo do agente comprar uma arma de fogo, para a prática futura de um
crime de homicídio.
• OBS: Conforme esclarece Cleber Masson (2015, p.357), em
casos excepcionais, é possível a punição de atos preparatórios
nas hipóteses em que a lei optou por incriminá-los de forma
autônoma. São os chamados crimes-obstáculo. É o que se dá
com os crimes de fabrico, fornecimento, aquisição, posse ou
transporte de explosivos ou gás toxico, ou asfixiante (CP, art.
253), incitação ao crime (CP, art.286), associação criminosa
(CP, art. 288) e petrechos para a falsificação de moeda (CP,
art. 291), entre outros.
c) Execução: Segundo o autor Cezar Roberto Bitencourt (2012, p.523), dos atos preparatórios passa-se,
naturalmente, aos atos executórios. Atos de execução são aqueles que se dirigem diretamente à prática do
crime, isto é, a realização concreta dos elementos constitutivos do tipo penal. Nos dizeres de Cleber Masson
(2015, p.357), a fase da execução, ou dos atos executórios, é aquela em que se inicia a agressão ao bem
jurídico, por meio da realização do núcleo do tipo penal. O agente começa a realizar o verbo (núcleo do
tipo) constante da definição legal, tornando o fato punível. Segundo o autor o ato da execução deve ser
idôneo e inequívoco. O ato idôneo é o que se reveste de capacidade suficiente para lesar o bem jurídico
penalmente tutelado e o ato inequívoco é o que se direciona ao ataque do bem jurídico, almejado a
consumação da infração penal e fornecendo certeza acerca da vontade ilícita, tendo como exemplo um
disparo de arma de fogo efetuado na direção da vítima é unívoco para a pratica de um homicídio, diferente
de um disparo efetuado para o alto. É no ato executório que se inicia a ofensa ao bem jurídico penalmente
protegido pelo direito penal, nesta etapa, o agente ele age com o dolo de agressão ao bem da vítima,
realizando a conduta do núcleo do verbo, ou seja, praticando o fato típico e antijurídico do crime, momento
este que a sua conduta passa a ser reprovado pela lei e com isto, tendo a sua punição.
OBS: FRONTEIRA ENTRE O FIM DA
PREPARAÇÃO E O INÍCIO DA EXECUÇÃO
• De acordo com o entendimento de Fernando Capez (2008, p.242) é muito tênue a linha divisória entre o
término da preparação e a realização do primeiro ato executório.
• Torna-se, assim, bastante difícil saber quando o agente ainda está preparando ou já está executando um
crime. O melhor critério para tal distinção é o que entende que a execução se inicia com a prática do
primeiro ato idôneo e inequívoco para a consumação do delito.
• Enquanto os atos realizado não forem aptos à consumação ou quando ainda não estiverem
inequivocamente vinculado a ela, o crime permanece em sua fase de preparação.
• Desse modo, no momento em que o agente aguarda a passagem da vítima, escondido atrás de uma árvore,
ainda não praticou nenhum ato idôneo para causar a morte daquela, nem se pode estabelecer induvidosa
ligação entre esse fato e o homicídio a ser praticado.
• Poressa razão, somente há execução quando praticado o primeiro ato capaz de levar ao resultado
consumativo e não houver nenhuma dúvida de que tal ato destina-se à consumação.
d) Consumação: De acordo com a manifestação do autor Guilherme de Souza Nucci
(2008, p.175), a consumação é o momento de conclusão do delito, reunindo todos os
elementos do tipo penal. A consumação se dá quando o agente pratica todas as elementares
que compõe o crime. Exemplo: no crime de homicídio o crime se consuma quando a vítima
morre devida a provocação de outra pessoa. Conforme esclarece Cristiano Rodrigues
(2012, p.120), a consumação dá-se quando o crime se completa, quando o gente realizou e
alcançou tudo que o legislador considerou proibido e para o qual se estabeleceu a sanção
em abstrato, sendo que isto ocorre da seguinte formas: com a concreta produção do
resultado naturalístico, previsto na lei, ou seja, quando se materializa uma lesão no mundo
real (crimes materiais), com a completa realização da conduta formalmente proibida,
independentemente da materialização, produção do resultado naturalístico que está previsto
(crimes formais). Exemplo: CP, art. 159 (extorsão mediante sequestro). Com a completa
realização da mera conduta proibida, já que não há sequer a previsão de um resultado
naturalístico (resultado natural, concreto). Exemplo: CP, art.330 (crime de desobediência).
OBS: EXAURIMENTO

• Também chamado de crime exaurido ou crime esgotado, é o delito em


que, posteriormente à consumação, subsistem efeitos lesivos derivados
da conduta do autor. É o caso do recebimento do resgate no crime de
extorsão mediante sequestro, desnecessário para fins de tipicidade, eis
que se consuma com a privação da liberdade destinada a ser trocada por
indevida vantagem econômica. No terreno da tipicidade, o exaurimento
não compõe o iter criminis, que se encerra com a consumação.
CRIME TENTADO (ART. 14, II)

• Conceito
• Natureza jurídica da tentativa – trata-se
de norma de extensão cuja finalidade é
propiciar a punição do autor da tentativa
através de uma adequação típica mediata
ou indireta.
CLASSIFICAÇÃO OU FORMAS DE TENTATIVA

a) tentativa imperfeita ou inacabada: Imperfeita/Inacabada: O agente não


consegue utilizar todos os seus meios de execução para a prática delituosa. Ex.:
O agente tem como desferir 5 tiros, mas só consegue 1, pois é preso em
flagrante.

b) tentativa perfeita ou acabada, ou crime falho: Perfeita/Acabada: O agente


utilizou todos os meios que estavam ao seu alcance, e mesmo assim não
consumou o crime. Ex.: O agente lesionou a vítima com socos e disparou 4 tiros
na mesma, mas foi preso em flagrante antes que a vítima pudesse vir à falecer.
c) tentativa branca: Branca/Incruenta: O agente não
conseguiu nem mesmo atingir o objeto pretendido. Ex.:
Ao atirar, as balas se desviaram da vítima.

d) tentativa cruenta: Vermelha/Cruenta: O agente


conseguiu atingir o objeto, mas não conseguiu consumar
o delito. Ex.: A bala somente perfurou o braço da vítima.

Você também pode gostar