Você está na página 1de 11

AULA Nº 3 Iremos tratar de cada um mais a

frente, mas, para facilitar o aprendizado, irei


TEORIA DO CRIME
conceituá-los desde já:
O crime é um fato social.
1. Fato Típico: é uma conduta humana que se
Basicamente, o crime é a transgressão de uma
encaixa em um ato previsto como crime. Por
norma penal. No entanto, é necessário
exemplo: o ato de matar alguém se adequa ao
compreender o conceito jurídico de crime. A
crime de homicídio previsto no artigo 121 do
doutrina moderna continua a tratar desse tema
CP.
a fim de definir o delito de uma forma jurídica.
2. Ilícito: é o ato contrário às leis. Por exemplo,
A esse respeito, alguns aspectos
o ato de furtar o objeto de um terceiro é
foram desenvolvidos. Iremos trabalhar os mais
proibido legalmente.
importantes para sua prova.
3. Culpável: é a capacidade de uma pessoa
- Aspecto Material do Crime: sob esse aspecto,
responder pelos seus atos.
crime é todo comportamento humano que
viola ou expõe a perigo um bem jurídico de Todos os aspectos constam em nosso
terceiro, que merece ser tutelado penalmente. ordenamento jurídico, porém apenas a teoria
tripartida será adotada. Atente-se ao esquema:
- Aspecto Formal do Crime: conduta definida
em lei como criminosa e que tenha pena de
detenção ou reclusão.

ATENÇÃO!

Veja que o critério é objetivo: a lei


tem que cominar pena de detenção ou
reclusão. Se a lei prevê pena de prisão simples
ou multa, de forma cumulada ou alternativa,
estaremos tratando de uma contravenção
penal, a qual, junto com o crime, são espécies O aspecto analítico é o que nos
do gênero infração penal. Esse é o sistema permitirá estudar os elementos do crime (Fato
dicotômico adotado pelo Brasil. típico, ilícito e culpável). Começaremos pelo
Fato Típico.
- Aspecto Analítico: esse critério divide o crime
em partes a fim de analisa-lo de forma mais FATO TÍPICO E SEUS ELEMENTOS
detida.
O fato típico também possui alguns
São muitas as teorias a respeito elementos, que são:
desse tema, porém apenas uma é adotada. Por
isso, iremos apenas mencionar as principais. - Conduta
- Resultado
Teoria Quadripartida: entende o crime como - Nexo Causal
fato típico, ilícito, culpável e punível. - Tipicidade
Teoria Tripartida: essa é a majoritária e é a que
você deve levar para sua prova. Ela concebe o
crime como um fato típico, ilícito e culpável.

CRIME (Teoria Tripartida)


Fato Típico Ilícito Culpável

Teoria Bipartida: o crime é entendido como


fato típico e ilícito, apenas. A culpabilidade é
considerada mero pressuposto da pena.
CRIME vassoura. Após as agressões, por A ter se
Fato Típico Ilícito/ Culpável excedido, constata-se que B veio a óbito. Nesse
Antijurídico caso, pela teoria finalista, A será
1.Conduta 1.Imputabili responsabilizado por homicídio culposo, pois
(dolosa ou dade não tinha a intenção de matar.
culposa)
2. Resultado 2. Potencial  Teoria Social
Consciência
da Ilicitude Conduta é o comportamento
3. Nexo 3.Exigibilida humano voluntário dirigido a um fim
Causal de de socialmente reprovável.
4. Tipicidade Conduta
Essa teoria é criticada, pois o
Diversa
“socialmente reprovável” não é um conceito
objetivo e também porque ele não é um
1. CONDUTA elemento constitutivo da conduta, mas apenas
uma qualidade que pode ou não estar presente
A conduta é o primeiro elemento do na conduta.
fato típico e é definida por algumas teorias.
Iremos estudar as mais importantes. 1.2 Formas de conduta

1.1 Teoria da Conduta 1.1.1 – Quanto ao modo de execução

 Teoria Causal (Clássica) São duas as formas: ação e omissão.

A conduta é um movimento corporal Os crimes que proíbem uma ação são


voluntário apto a produzir modificação no chamados de crimes comissivos. Ex.: o delito
mundo exterior. Não há análise da finalidade, a de homicídio determina que é proibido matar.
qual só é avaliada na culpabilidade.
Já os crimes omissivos serão
Ex.: Imagine que A, no intuito de cometidos quando o agente deixar de fazer o
assustar, dá um gripo no ouvido de B, o qual, que a norma determina (obrigação de fazer).
em ato reflexo, responde com um soco que Ex.: no crime de omissão de socorro o agente
causa grande lesão no rosto de A. Por essa viola a norma mandamental (implícita) de
corrente, temos uma conduta penalmente “prestar o socorro”.
relevante, pois foi o ato de B que provocou a
Os crimes omissivos dividem-se em
lesão em A.
omissivos próprios (ou impuros) e omissivos
 Teoria Finalista - Majoritária impróprios (impuros).

Conduta é um comportamento Nos crimes omissivos próprios o


humano voluntário dirigido a uma finalidade. agente deixa de realizar uma conduta que,
Nesse caso, há o aspecto objetivo (ação ou naquelas circunstâncias, o tipo penal determina
omissão) mais o aspecto subjetivo (vontade). que configurará uma infração.

Observe que a finalidade, que é Ex.: o crime de omissão de socorro,


elemento da conduta, é a que se refere ao estabelecido no artigo 135 do Código Penal.
comportamento que causou o resultado
Art. 135, CP - Deixar de prestar
criminoso, ainda que o objetivo não fosse assistência, quando possível fazê-lo sem
ilícito. Caso o agente quisesse praticar o crime, risco pessoal, à criança abandonada ou
teremos um crime doloso. No entanto, se ele extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao
tinha outra finalidade (ainda que criminosa, desamparo ou em grave e iminente perigo;
mas não a atingida), estaremos diante de um ou não pedir, nesses casos, o socorro da
crime culposo. autoridade pública:
Pena - detenção, de um a seis
Ex.: Suponha que A pretende causar meses, ou multa.
lesões em B e para isso se utiliza de um cabo de
Nestes casos, é irrelevante avaliar se
houve algum resultado, pois a consumação do
delito ocorrerá no momento em que o
indivíduo deixa de cumprir o mandamento Espécies de Culpa
legal. Agente prevê o resultado, mas
acredita que pode evita-lo,
Por outro lado, nos crimes omissivos
Culpa por sua habilidade. (Ex.:
impróprios, ou também chamados de
consciente motorista experiente que,
comissivos por omissão, o agente será confiando em sua habilidade,
responsabilizado quando deixar de agir, quando dirige o veículo em alta
tinha o dever legal fazê-lo, a fim de impedir um velocidade e causa acidente.)
resultado lesivo. Agente não prevê o resultado
que era previsto. (Ex.:
Ressalte-se que esses tipos não são
Culpa indivíduo que atira pela janela
previstos legalmente no Código Penal, mas são inconsciente um objeto e atinge
fruto de uma interpretação específica do art. involuntariamente alguém
13, §2º, CP, o qual estabelece que: que passava por perto no
mesmo instante.)
Relevância da omissão
Agente dar causa ao resultado
por negligência, imprudência
Art. 13, § 2º - A omissão é Culpa ou imperícia. (Ex.: Agente
penalmente relevante quando o omitente própria dirige veículo sem fazer as
devia e podia agir para evitar o resultado. O devidas revisões e causa
dever de agir incumbe a quem: acidente)
a) tenha por lei obrigação de cuidado, Agente imagina uma situação
proteção ou vigilância; que, se verdadeira, tornaria a
b) de outra forma, assumiu a situação legítima. (Ex.: agente
responsabilidade de impedir o resultado; Culpa ouve um barulho em sua casa
c) com seu comportamento anterior, criou o imprópria e dispara contra o vulto,
risco da ocorrência do resultado. acreditando ser um ladrão,
mas acerta no guarda
noturno.)
Ex.: Um policial militar que,
observando a ocorrência de um roubo em uma
loja, deixa de agir, sabendo de seu dever, em (CESPE – 2021) A negligência, como
virtude de problemas pessoais com o dono da modalidade de conduta, é caracterizada
loja. Nesse caso, o policial será quando o agente do delito demonstra
responsabilizado pelo mesmo crime que o inaptidão técnica em profissão ou atividade.
agente ativo.

1.1.2 – Quanto a voluntariedade do agente c) Crime preterdoloso: o agente produz um


resultado diferente e mais grave do que o que
São três as formas: dolosa, culposa e queria com a conduta. Nesse caso, haverá
preterdolosa. “dolo no antecedente e culpa no consequente”.
a) Crime doloso (art. 18, I, CP): ocorre quando o Ex.: o Latrocínio, no qual o agente tem dolo no
agente quer o resultado (dolo direto) ou roubo, e culpa no homicídio
assume o risco (dolo eventual) de produzi-lo. 2. RESULTADO
b) Crime culposo (art. 18, II, CP): ocorre quando
Art. 13. O resultado, de que
o agente produz um resultado não querido, depende a existência do crime, somente é
nem aceito, que foi por ele previsto ou era imputável a quem lhe deu causa. (. . .)
previsível e que poderia ser evitado se agisse Como consequência da conduta,
com o devido cuidado. teremos o resultado, o qual poderá ser
naturalístico ou normativo.
Resultado naturalístico: aquele que será considerado para a configuração dos
produz uma modificação no mundo exterior. crimes formais e de mera conduta.
Ex.: o resultado naturalístico do furto é a
O Código Penal adota, como regra, a
subtração do objeto de seu dono.
TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DOS
Não são todos os crimes que irão ANTECEDENTES CAUSAIS (ou conditio sine qua
exigir o resultado naturalístico. Os crimes são non) para configurar o nexo de causalidade.
classificados em materiais, formais e de mera Essa teoria diz que será considerada causa do
conduta. crime todo evento sem o qual o resultado não
teria ocorrido.
Crimes materiais exigem a ocorrência
do resultado naturalístico para que possa ser Para essa teoria, tudo o que tiver
consumado. Ex.: Homicídio (Art. 121, CP) contribuído para o resultado será considerado
causa. Por exemplo, o fabricante da arma
Crimes formais preveem que a
utilizada em um homicídio poderá responder,
conduta pode gerar o resultado, mas a
pois sem a sua conduta de produzir o
consumação ocorre com a conduta. Ex.:
armamento o resultado não teria sido
Extorsão (Art. 158, CP)
produzido. É óbvio que esse raciocínio gera
Crimes de mera conduta não diversos absurdos.
preveem o resultado naturalístico,
Por esse motivo, para que se evite o
contentando-se apenas com a conduta. Ex.:
regresso ao infinito, foi criado um novo critério:
Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido
a conduta do agente deverá ser motivada por
(Art. 14 da Lei 10.826/03). O tipo descreve
dolo ou culpa para que ele possa ser
apenas a conduta, não vinculando-a à efetiva
responsabilizado penalmente. Assim, só será
realização de algum resultado, como a morte
considerado causa a conduta indispensável à
de alguém.
produção do resultado e que foi querida pelo
Resultado normativo: ocorre com a agente. Em nosso exemplo, o fabricante da
lesão ou o perigo de lesão ao bem jurídico arma não teve relação dolosa ou culposa
protegido. Todos os crimes possuem. alguma com o resultado do homicídio e por isso
não poderá ser responsabilizado pelo crime.
Classifica-se em crimes de dano e
crimes de perigo. CAUSA: conduta indispensável ao resultado
+ motivada por dolo ou culpa
Crimes de dano são aqueles em que
dever haver efetivamente a lesão ao bem
jurídico. Ex.: Roubo (Art. 157, CP) E quando mais de uma causa
concorrer para a produção do resultado?
Crimes de perigo são aqueles que Nesses casos, estaremos diante das
são consumados com a mera exposição do bem CONCAUSAS.
jurídico a perigo. Ex.: Tráfico de drogas (Art. 33
da Lei 11.343/06) 3.1 Concausas

3. NEXO DE CAUSALIDADE Concausa Absolutamente Independentes

Art. 13. (...) Considera-se causa a Nesses casos, a conduta do agente


ação ou omissão sem a qual o resultado não não possui relação de causa e efeito com o
teria ocorrido. resultado.

a) Concausa preexistente absolutamente


O nexo de causalidade, ou nexo independente em relação à conduta do agente
causal, é a ligação que há entre a conduta do
Nesses casos, a causa que produziu o
agente e o resultado naturalístico produzido.
resultado existia antes da conduta do agente.
Por esse motivo, ele é relevante
Ex.: “A” e “B” querem matar “C”.
apenas nos crimes materiais, enquanto que não
Para tanto, “A” ministra veneno na bebida de
“C”. Após isso, “B” desfere golpes de faca em Ex.: Com a intenção de matar, “A”
“C”. Por fim, “C” vem a falecer em virtude dos atinge “B”, que é hemofílico, com diversas
efeitos do veneno que foi ingerido. Pergunta: facadas. Os ataques, isoladamente
“B” responderá pelo homicídio de “C”? considerados, não gerariam a morte, porém,
Resposta: apenas pela tentativa, pois, se devido sua dificuldade em estancar o sangue,
eliminarmos seu comportamento, a vítima “B” falece. “A” responderá por homicídio
ainda morreria envenenada. E “A” será consumado, tendo em vista que seu
responsabilizado pelo homicídio consumado. comportamento foi apto a produzir o resultado
e se ele (o comportamento) fosse retirado da
b) Concausa concomitante absolutamente
linha do acontecimento, “B” não morreria.
independente em relação à conduta do agente
b) Concausa concomitante relativamente
A causa que produziu o resultado
independente à conduta do agente
ocorre no mesmo momento da conduta do
agente. A causa efetiva ocorre
simultaneamente à outra causa.
Ex.: “A”, com a intenção de matar,
dispara contra “C”, que morre em virtude dos Ex.: Marcelo, com a intenção de
disparos de arma de fogo dados por “B”, que matar Antônio, desfere diversos disparos de
não conhecia a intenção de “A”. Nessa arma de fogo contra seu desafeto, dos quais,
situação, “A” não responderá pelo resultado nenhum atinge a vítima. Entretanto, em virtude
morte, mas sim por tentativa de homicídio ou do susto, Antônio sofre um ataque cardíaco e
lesão corporal, a depender de sua intenção. E morre. Marcelo responderá pelo homicídio
“B” responderá pelo homicídio consumado. consumado, pois sem seus disparos a vítima
não teria sofrido o colapso e falecido.
c) Concausa superveniente absolutamente
independente em relação à conduta do agente c) Concausa superveniente relativamente
independente à conduta do agente
A causa que produz o resultado
surge após a conduta do agente. A causa efetiva ocorre após a causa
concorrente.
Ex.: “A”, com intenção de matar,
ministra veneno na refeição de “B”, o qual vem Agora a coisa complica um pouco,
a falecer logo após a ingestão do alimento em portanto, preste atenção! No caso das
virtude de um atropelamento que em nada concausas supervenientes relativamente
teve relação com a conduta de “A”. Dessa independentes, pode ocorrer duas hipóteses:
forma, “A” responderá por tentativa de
1. A causa superveniente produzir sozinha o
homicídio.
resultado;
Concausa Relativamente Independente
2. A causa superveniente se juntar às
Duas causas relacionadas servirão à consequências da conduta do agente e
produção do resultado (a causa produzida pelo contribuir para a produção do resultado.
agente + a causa não produzida por ele).
Apesar de não servir sozinho para o
atingimento do resultado, o agente contribui  Concausa superveniente relativamente
para ele com sua conduta e por isso responderá independente que não por si só
pelo resultado atingido, salvo na hipótese do produz o resultado
art. 13, §1º, CP. Em outras palavras, as causas A causa efetiva, que vem após a
se unem para produzir o resultado. conduta do agente, se encontra na mesma
a) Concausa preexistente relativamente linha de desdobramento da causa concorrente.
independente à conduta do agente Ex.: Carlos, com a intenção de matar,
A causa efetiva é anterior à causa dispara 3 vezes contra seu chefe, Gustavo.
concorrente. Levado ao hospital às pressas, Gustavo é
submetido a uma cirurgia de emergência e vem
a falecer em virtude de complicações um disparo de arma de fogo. Note, ainda, que a
decorrentes de erro médico. Pergunta: há nexo causa superveniente produz sozinha o
causal entre a conduta de Carlos e o resultado resultado, mas ela não é absolutamente
morte? Sim, pois o agravamento gerado pelo independente, pois se não houvesse a conduta
erro médico foi somado aos ferimentos anterior de Carlos o acidente sequer teria
causados pelo disparo de Carlos. Portanto, ocorrido. Nessa situação, Carlos responderá por
Carlos responderá por homicídio consumado e tentativa de homicídio.
o médico, conforme o caso concreto, por
Aqui nós estamos falando da TEORIA
homicídio culposo.
CAUSALIDADE ADEQUADA, a qual foi adotada
ATENÇÃO!!! na hipótese do art. 13, §1º do Código Penal.
Essa teoria determina que será considerada
Observem que até aqui a análise dos
causa o evento que, além de praticar um
casos é baseada na causalidade simples (art.
antecedente indispensável à produção do
13, caput do CP) e a imputação do resultado é
resultado, realize uma atividade adequada à
determinada de acordo com a intenção do
sua concretização. Ressalto que essa teoria é
autor (seu dolo). Entretanto, o contexto muda
aplicada única e exclusivamente aos casos de
quando falamos em concausas supervenientes
concausas supervenientes relativamente
relativamente independentes à conduta do
independentes à conduta do agente e que por
agente e que por si só produzem o resultado.
si só produzem o resultado.

TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA – Essa


 Concausa superveniente relativamente teoria é mais nova que as já mencionadas e
independente que por si só produz o objetiva tratar de forma mais completa o tema
resultado “Nexo de Causalidade”.

Nessa situação, a linha do Para ela, não basta que a imputação


desdobramento causal é quebrada por um fato de um crime ocorra apenas quando o agente
imprevisível e inicia-se um novo curso causal, der causa ao fato (causalidade material), mas,
direcionando o acontecimento a uma outra ao mesmo tempo, deve preencher alguns
direção. requisitos de causalidade normativa. Desse
modo, a conduta deve:
Ex.: Suponha que quando Gustavo,
chefe de Carlos, estava sendo socorrido para o a) Criar ou aumentar um risco não permitido:
hospital a ambulância em que se encontrava se sem isso, não há delito. Ex.: João, querendo
envolveu em um grave acidente e a vítima veio matar Antônio, paga uma passagem para que o
a falecer em virtude de traumatismo craniano mesmo viaje para um lugar extremamente
causado pelas pancadas do acidente. perigoso. Nesse caso, o risco criado por João
não é proibido. Portanto, não há causa.
E agora? Carlos responde pelo
homicídio consumado? Não, responde por b) O risco se realizar no resultado concreto:
tentativa. Mas por qual razão? Porque sua isso ocorre quando há um desdobramento
conduta não foi a causa primária do resultado. normal da conduta do agente. Ex.: quando
No entanto, se retirarmos a conduta de Carlos, Carlos dispara contra Antônio e este vem a
o resultado ainda teria ocorrido? Não, pois falecer em uma mesa de cirurgia devido aos
Gustavo estava na ambulância devido a ação de ferimentos do disparo, o risco criado por Carlos
Carlos. Mas Carlos teve intenção de matar. se realiza no resultado concreto.
Então por que ele não responde pelo c) O resultado se encontra dentro do alcance
resultado? do tipo: Imagine que Antônio, após sofrer os
Porque o Código Penal adotou a disparos efetuados por Carlos, está sendo
teoria da Causalidade Adequada. Perceba que levado ao hospital em uma ambulância e que
a causa superveniente (acidente) produziu por antes de chegar ao hospital o condutor se
si só o resultado, tendo em vista que o acidente envolve em um acidente, que causa a morte de
de trânsito não é o desdobramento comum de Antônio. Pergunta: o resultado se encontra
dentro do alcance do tipo que será imputado a em vista que não feriu gravemente o bem
Carlos? Não. Pois o crime de homicídio descrito jurídico protegido (o patrimônio da papelaria).
no Código Penal tem a finalidade de vedar
CAUSAS DE EXCLUSÃO DO FATO TÍPICO
crimes de homicídio e não mortes causadas por
acidentes. O Fato Típico estará excluído quando
um de seus elementos estiver ausente. Entre as
principais causas, teremos:
4. TIPICIDADE
1. Coação Física Irresistível ou força maior
Conforme já trabalhamos em sala, a irresistível: força física externa que impede que
tipicidade pode ser formal e material. o agente pratique movimentos por sua vontade
(Ex.: A empurra B em cima de C, que se
A tipicidade formal é a mera
machuca gravemente. Não é possível dizer que
adequação da conduta ao tipo previsto pela
B praticou a ação, pois ele não tinha vontade.)
norma. Por exemplo, a conduta de “matar
alguém” é formalmente típica, pois no artigo 2. Movimentos Reflexos: é uma reação
121 do Código Penal há essa previsão. involuntária a um estímulo exterior. (Ex.: A
assusta B, que reage com um espasmo corporal
ATENÇÃO!!!
que lesiona A. B não teve vontade, portanto,
Por vezes, serão necessárias normas não praticou a ação.)
acessórias a fim de enquadrar uma conduta em
3. Involuntariedade: quando o agente não tem
um tipo penal. Por exemplo, no caso do
capacidade de dirigir sua ação a uma finalidade.
homicídio tentado, o artigo 121 não prevê a
(Ex.: sonambulismo ou hipnose)
modalidade tentada. Por esse motivo, a
conduta de tentar matar alguém seria atípica. 4. Erro de tipo inevitável: nesse caso, o agente
No entanto, o artigo 14 do Código Penal prevê incorre em erro sobre algum dos elementos do
a hipótese de crime tentado. A partir daí, tipo. Quando o erro for inevitável (qualquer um
somente com a conjugação do artigo 121 do CP cometeria aquele erro) será afastado o dolo ou
e o artigo 14 do mesmo código é que alguém a culpa e o agente não responderá por nenhum
pode ser condenado pela tentativa de crime. (Ex.: Gabriel pega a carteira de Lucas.
homicídio. acreditando ser sua, e vai para casa. Nesse
caso, Gabriel cometeu o crime de furto, mas
A isso dá-se o nome de ADEQUAÇÃO
incorreu em erro sobre o elemento “coisa
TÍPICA INDIRETA (MEDIATA), que ocorre
alheia”, pois acreditava estar com seus
quando a conduta do agente não se amolda
pertences. Por esse motivo, não responderá
perfeitamente a um tipo penal e por isso
por nenhum crime.
necessita de uma norma de extensão.
5. Insignificância ou Adequação Social da
Quando a conduta se amolda
conduta: em ambas as hipóteses, é excluída a
perfeitamente a um tipo penal chamamos de
tipicidade material do fato. Por isso, exclui-se o
ADEQUAÇÃO TÍPICA DIRETA (IMEDIATA).
fato típico.
Finalmente, chegamos à tipicidade
Agora é hora de praticar o foi estudado!
material, a qual ocorre somente quando há
ofensa (lesão ou ameaça de lesão) a um bem 1. (IBFC – 2022) No que se refere à teoria do
juridicamente protegido. crime, assinale a alternativa incorreta.
a) O agente que, voluntariamente, desiste de
Ela será excluída, por exemplo, nos prosseguir na execução ou impede que o
casos dos crimes em que é aplicado o princípio resultado se produza, responde por tentativa
da insignificância ou bagatela. de crime
b) O resultado, de que depende a existência do
Ex.: Carlos vai a uma papelaria e
crime, somente é imputável a quem lhe deu
furta um clipe. Sua conduta é formalmente
causa. Considera-se causa a ação ou omissão
típica, porém não é materialmente típica, tendo sem a qual o resultado não teria ocorrido
c) Não se pune a tentativa quando, por
ineficácia absoluta do meio ou por absoluta d) Nos crimes cometidos sem violência ou grave
impropriedade do objeto, é impossível ameaça à pessoa, reparado o dano ou
consumar-se o crime restituída a coisa, até o recebimento da
d) A omissão é penalmente relevante quando o denúncia ou da queixa, por ato voluntário do
omitente devia e podia agir para evitar o agente, a pena será reduzida de um a
resultado dois terços.
e) Salvo disposição em contrário, pune-se a
tentativa com a pena correspondente ao crime e) Nos crimes e nas contravenções, reparado o
consumado, diminuída de um a dois terços dano ou restituída a coisa, até o recebimento
da denúncia ou da queixa, por ato voluntário
2. (IBFC – 2017) Os itens abaixo dizem respeito do agente, a pena será reduzida de um a dois
à figura da tentativa em Direito Penal. Analise terços.
as afirmativas abaixo e assinale a alternativa 4. (IBFC – 2014) Em relação ao dolo o Código
correta. Penal adota as teorias:

I. Tentativa branca é aquela que ocorre quando a) Da vontade e do assentimento.


o agente, embora tendo empregado os meios b) Da vontade e da cognição.
ao seu alcance, não consegue atingir a coisa ou c) Da representação e do assentimento.
a pessoa. d) Da probabilidade e da cognição.

II. Nos crimes preterdolosos não se admite a 5. (IBFC – 2013) Com relação à tentativa,
tentativa. assinale a alternativa INCORRETA:

III. A pena por crimes tentados é a mesma do a) Tentativa branca é aquela em que o objeto
consumado, mas diminuída em ¼ (um quarto). material não é atingido pela conduta criminosa.

Assinale a alternativa correta. b) Tentativa vermelha é aquela em que o


objeto material é atingido pela atuação
a) Apenas I e II estão corretos criminosa.
b) Apenas I e III estão corretos
c) Tentativa perfeita é aquela em que o agente,
c) Apenas o item I está correto
mesmo esgotando os meios executórios
d) Apenas o item II e III estão corretos disponíveis, não consuma o crime, por
e) Apenas o item II está correto circunstâncias alheias à sua vontade.

3. (IBFC – 2013) Assinale a alternativa d) Tentativa imperfeita é aquela em que o


CORRETA: agente inicia a execução sem, contudo, utilizar
dos meios que tinha à sua disposição, não se
a)Nos crimes cometidos contra o patrimônio, consumando o crime, por circunstâncias alheias
indistintamente, reparado o dano ou restituída à sua vontade.
a coisa até o recebimento da denúncia ou da
queixa, por ato voluntário do agente, a pena e) Tentativa imperfeita é aquela em que o
será reduzida de um a dois terços. agente, mesmo esgotando os meios
executórios disponíveis, não consuma o crime,
b) Nos crimes cometidos sem violência ou grave por circunstâncias alheias à sua vontade.
ameaça à pessoa, reparado o dano ou
restituída a coisa, até o recebimento da 6. (CESPE – 2019) A teoria finalista de Hans
denúncia ou da queixa, por ato voluntário do Welzel define que a ação consiste no mero
agente, a pena será reduzida de metade. movimento corporal capaz de alterar o mundo
exterior, independentemente da intenção do
c) Nos crimes cometidos sem violência ou grave agente.
ameaça à pessoa, reparado o dano ou
restituída a coisa, até o oferecimento da 7. (INÉDITA) A teoria tripartida do crime afirma
denúncia ou da queixa, por ato voluntário do que o crime é um fato típico, ilícito e punível.
agente, a pena será reduzida de um a dois
terços. 8. (ITAME – 2019) Marque a alternativa correta:
d) Erro de tipo inevitável e exercício regular do
a) As contravenções penais ancoradas no direito
Código Penal, aplicam-se tanto nas
contravenções praticadas no Brasil, quanto 14. (CESPE – 2018) Crime doloso é aquele em
àquelas cometidas no exterior. que o sujeito passivo age com imprudência,
negligência ou imperícia.
b) O crime classificado como culposo é aquele
cujo agente desejou o resultado ou assumiu o 15. (INÉDITA) Dolo direto é aquele no qual o
risco de produzi-lo. agente quer ou assume o risco de produzir o
resultado.
c) Segundo o Código Penal é considerado
sujeito ativo aquele que pratica a infração 16. (CESPE – 2017 – PMAL) Situação hipotética:
penal, podendo ser qualquer pessoa, Joana contratou Antônia para servir de
independente da idade. curadora de sua mãe, uma pessoa idosa. Certo
dia, enquanto Antônia dormia, a mãe de Joana,
d) A infração penal se subdivide em duas ao caminhar pela sala, caiu e fraturou o fêmur
espécies: crime e contravenção penal. As da perna esquerda. Assertiva: Nessa situação,
contravenções penais são sempre de ação Antônia não será responsabilizada pela lesão
penal pública incondicionada sofrida pela mãe de Joana: a conduta omissiva
de Antônia é penalmente irrelevante.

9. (CESPE – 2015) Sob o prisma formal, crime 17. (CESPE – 2017 – PMAL) Um crime é
corresponde à concepção do direito acerca do classificado como crime culposo quando o
delito, em uma visão legislativa do fenômeno; agente quis o resultado ou assumiu o risco de
sob o prisma material, o conceito de crime é produzi-lo.
pré-jurídico, ou seja, é a concepção da
sociedade a respeito do que pode e deve ser 18. (CESPE – 2017 – PMAL) Situação hipotética:
proibido. No trajeto para a delegacia de polícia, a viatura
policial que transportava um indivíduo preso
10. (CESPE – 2019) A superveniência de causa em flagrante delito sofreu um acidente de
relativamente independente da conduta do trânsito, o que provocou o início de incêndio
agente excluirá a imputação do resultado nos em função do combustível armazenado no
casos em que, por si só, ela tiver produzido o tanque. Com o risco iminente de explosão, o
resultado. policial conseguiu se salvar saindo pela janela.
O indivíduo transportado ficou preso na viatura
11. (CESPE – 2019) A causa superveniente em chamas. Assertiva: Nessa situação, o policial
relativamente independente não exclui a poderá invocar em sua defesa a excludente de
imputação do fato ao agente, ainda que tenha ilicitude do estado de necessidade.
produzido o resultado por si só.
19. (CESPE – 2017) Crime culposo não admite
12. (CESPE – 2019) O crime preterdoloso ocorre tentativa.
quando o agente atua com culpa na conduta
antecedente, mas o resultado agrava a pena 20. (CESPE – 2017) Antônio, renomado
devido a uma conduta dolosa posterior. cientista, ao desenvolver uma atividade
habitual, em razão da pressa para entregar
13. (INÉDITA) São causas excludentes do Fato determinado produto, foi omisso ao não tomar
Típico: todas as precauções no preparo de uma fase do
procedimento laboratorial, o que acabou
a) Legítima defesa e estado de necessidade ocasionando dano à integridade física de uma
pessoa. Acerca dessa situação hipotética, julgue
b) Arrependimento eficaz e desistência o item a seguir. Embora não tenha desejado o
voluntária resultado danoso, Antônio poderá ser punido
devido à imperícia na execução do
c) Coação física irresistível e movimentos procedimento laboratorial.
reflexos
21. (FGV – 2014) Majoritariamente, a doutrina
conceitua crime como sendo um fato típico,
ilícito e culpável. Como elementos do fato
típico estão a conduta, o resultado, o nexo de 24. (CESPE – 2016) As causas concomitantes
causalidade e a tipicidade. absolutamente independentes não possuem
relação de causalidade com a conduta do
Com relação a tais elementos, assinale a sujeito e excluem o nexo causal.
afirmativa correta.
25. (INÉDITA) Para os crimes omissivos
a) Não há crime sem resultado jurídico. impróprios, o estudo do nexo causal é
relevante, pois se tratam de crimes materiais e
b) Na teoria finalista da ação, o dolo e a culpa que, portanto, exigem o resultado naturalístico.
devem ser analisados na antijuridicidade.
26. (INÉDITA) A teoria da equivalência dos
c) A coação moral irresistível, diferentemente antecedentes causais adota alguns critérios de
da resistível, afasta a própria conduta e, assim, ordem normativa para determinar a imputação
a tipicidade. de um fato ao agente. Exemplo de critério
trazido por essa corrente é a necessidade de
d) Para que seja reconhecida a tipicidade que o agente crie um risco proibido.
material, basta a simples adequação da
conduta ao tipo penal. 27. (CESPE – 2016) O CP adota, como regra, a
teoria da causalidade adequada, dada a
e) A superveniência de causa relativamente afirmação nele constante de que “o resultado,
independente que, por si só, produza o de que depende a existência do crime, somente
resultado, faz com que o agente apenas é imputável a quem lhe deu causa; causa é a
responda pelo resultado a título de culpa. ação ou omissão sem a qual o resultado não
teria ocorrido”.
22. (CESPE – 2016) Nos crimes materiais, a
consumação só ocorre ante a produção do 28. (CESPE – 2016) Segundo a teoria da
resultado naturalístico, enquanto que, nos imputação objetiva, cuja finalidade é limitar a
crimes formais, este resultado é dispensável. responsabilidade penal, o resultado não pode
ser atribuído à conduta do agente quando o seu
23. (CESPE – 2016) As causas supervenientes agir decorre da prática de um risco permitido
relativamente independentes possuem relação ou de uma conduta que diminua o risco
de causalidade com conduta do sujeito e não proibido.
excluem a imputação do resultado.
29. (CESPE – 2016) O estudo do nexo causal nos
Considere as regras básicas aplicáveis ao Direito crimes de mera conduta é relevante, uma vez
Penal e ao Direito Processual Penal para que se observa o elo entre a conduta humana
assinalar a alternativa correta sobre as espécies propulsora do crime e o resultado naturalístico.
de infração penal.
30. (INÉDITA) Quando o agente comete uma
a) Crime e contravenção penal são sinônimos conduta criminosa por imaginar uma situação
que, se fosse real, justificaria seu
b) No caso de contravenção penal, admitem-se comportamento ele incorre em culpa:
penas de reclusão e detenção, enquanto que,
para os crimes, admite-se prisão simples a) Própria

c) No caso de crime, admitem-se penas de b) Imprópria


reclusão e detenção, enquanto que, para as
contravenções penais, admite-se prisão simples c) Consciente

d) No caso de contravenção penal, admite-se d) Inconsciente


pena de reclusão, enquanto que, para os
crimes, admite-se detenção 31. (INÉDITA) Um médico que, por não possuir
as habilidades técnicas necessárias, prejudica
e) No caso de contravenção penal, admite-se um paciente durante um procedimento
pena de detenção, enquanto que, para os cirúrgico será responsabilizado por agir com
crimes, admite-se reclusão imperícia.

Você também pode gostar