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Ação

Problema jurídico: função delimitativa/ seletiva negativa do conceito de ação: nem todos os comportamentos correspondem a ações penalmente relevantes,
que geram responsabilidade penal.

 Atos Reflexos: são reações imediatas em que não intervém a consciência; são atos em que intervêm aspetos periféricos do sistema nervoso, em que o
cérebro apenas superficialmente intervém. É quase como uma reação fisiológica.
- Tendo em conta que a ação penalmente relevante é a ação humana, dominável pela vontade: Nestes casos podemos dizer que não há ações. Toda a
Doutrina aceita que são não ações.

 Automatismos: são um conjunto de atos comandados pela vontade do agente, sem que a consciência atual seja acionada a cada momento. Os automatismos
são atos adquiridos pela experiência e pela repetição, como falar, conduzir, etc.
- Os automatismos n geram sempre ações penalmente relevantes.
- Teoria da ação responsável – MFP – características necessária/ presentes p/ se tratar de uma ação penalmente relevante:
1- a ação tem de ser expressão do comportamento de liberdade bastante e controlo – evitabilidade
2- expressão de ofensa a dtos e interesses verificável intersubjetivamente
3- expressão da violação de deveres legais e interesses protegidos pelo dto
4 – expressão de justiça (oportunidade de motivação pelas normas)
- No caso dos automatismos a característica, da Teoria da ação responsável, em causa é a 1ª:  Temos de verificar, face ao quadro, se os sinais de
perigo eram evitáveis e previsíveis.
- a possibilidade de evitar o automatismo é aferida:
1º- pelo critério padrão da pessoa média
2º- a partir da pessoa concreta, aferindo as características individuais do agente
- se dado os dados da hipótese – o automatismo era inevitável  n há ação
- Roxin – a forma como o agente atuou é uma forma de exteriorização da personalidade do agente e portanto há ação
- Jakobs: admite a existência de ação sempre que se considere a concreta evitabilidade individual do comportamento, ou seja, é preciso avaliar se a
vontade/consciência teve tempo de se deparar com o problema e contrariar a ação

 Sonambulismo: não é considerado uma doença e também não se considera um estado que se consiga provocar. No sonambulismo há uma equiparação entre
os factos que acontecem durante esse estado e os pensamentos. Todavia, segundo a máxima de Ulpiano, nng pode ser punido pelos seus pensamentos.
- Teoria da ação responsável – MFP – características necessária/ presentes p/ se tratar de uma ação penalmente relevante:
- No caso do sonambulismo a característica, da Teoria da ação responsável, em causa é a 4ª – o agente em estado de sonambulismo n tem
oportunidade de se motivar pelas normas
- Jakobs: teoria da evitibilidade individual – este autor considera que o dto penal tem a função de reafirmar as normas, pelo que as ações penalmente
relevantes são as atuações contra normativas. Ora, o agente sob o estado de sonambulismo não pratica atos conscientes, e tendo em conta que para
praticar ações contra normativas é necessária vontade do agente, os atos sonâmbulos n podem ser penalmente relevantes.
- Roxin: com a sua Teoria pessoal da ação – pretende apurar se em cada momento estamos perante comportamentos que representem a
exteriorização da personalidade. Ora, o mm só pode acontecer qnd a pessoa tem o domínio da vontade. Estando sob o estado de hipnose, a pessoa
está a dormir, pelo que esses movimentos, ainda que determinados psiquicamente, n intercedem no mundo real como manifestação da
personalidade.
 Se o agente não quis, intencionalmente, utilizar o sonambulismo, sendo porém previsível que a situação ocorreria, também aí não deixa de existir
uma relação de entendimento entre a atuação final da pessoa e a atuação naquele estado. No entanto, o código penal não integra essas situações no
art 20º/4 como casos em que se verificará ainda a capacidade de culpa do agente - e por isso nesses casos não se verificará uma ação.
 Se o agente, no Estado de sonambulismo, criar a possibilidade, com elevada probabilidade, de realizar uma certa conduta. Nestes casos em que
o código penal não exclui, explicitamente, a capacidade de culpa (art 20º/4) não deixa de existir manifestamente uma ação.

 Vis absoluta: casos em que há uma coação física irresistível.


- Critério utilizado para compreender se estamos perante uma ação penalmente relevante é o seguinte: sempres que se consiga substituir o corpo da
pessoa por qualquer outro objeto e apesar dessa substituição o resultado obtido seria o mesmo, então a pessoa é utilizada como objeto de arremesso
e não há exteriorização da vontade. Há uma falta de relação entre o corpo e a mente, pelo que é pacífico nas diferentes teorias de que n há ação
dominada pela vontade.

 Hipnotismo: Há quem não acredite em estados de hipnose, afirmando que há sempre consciência.
- Jakobs: teoria da evitibilidade individual – este autor considera que o dto penal tem a função de reafirmar as normas, pelo que as ações penalmente
relevantes são as atuações contra normativas. Ora, o agente sob o estado de hipnose n pratica atos conscientes, donde n pode ocorrer a
contramotivação normativa, pelo que n estamos perante ações penalmente relevantes.
- Roxin- teoria pessoal da ação – os movimentos são determinados psiquicamente, e intercedem no mundo real como manifestação da personalidade,
ultrapassndo (ou não) a barreira do caráter. Ora, mm em estado de hipnotismo vai operar a barreira do carater: se a tendência da pessoa é optar pelo
dto, não praticará o crime apesar de estar hipnotizada. Se a tendência da pessoa n é optar pelo dto, então irá praticar o crime sob hipnose.
( quem mata sob estado de hipnose é a autora, quem hipnotiza é a instigadora)
- MFP – Teoria da ação responsável – características necessária/ presentes p/ se tratar de uma ação penalmente relevante:
- No caso de hipnose a característica, da Teoria da ação responsável, em causa é a 4ª – o agente em estado de hipnose n tem oportunidade de se
motivar pelas normas.
A professora considera que nestes casos, o comportamento global do agente n é dirigível, não há uma dirigibilidade consciente (entre o corpo e a
mente). Não se tratam de ações penalmente relevantes.
- Quem hipnotiza seria a autora mediata - discute-se se quem hipnotiza seria a autora mediata ou autora material (se pratica o ato por si mm ou por
meio de outra pessoa).
- Escola de Paris – chegou à conclusão que uma pessoa sob hipnotismo nnc pratica crimes
- Escola de Nancy- chegou a uma conclusão diferente – as pessoas sob hipnotismo recebem um comando p praticar um crime e praticam-no mesmo.
- Se o agente não quis, intencionalmente, utilizar a hipnose, sendo porém previsível que a situação ocorreria, também aí não deixa de existir uma
relação de entendimento entre a atuação final da pessoa e a atuação naquele estado. No entanto, o código penal não integra essas situações no art
20º/4 como casos em que se verificará ainda a capacidade de culpa do agente - e por isso nesses casos não se verificará uma ação.
- A professora acrescenta ainda que só são consideradas ações os comportamentos praticados neste estado de hipnotismo em que o agente
procura utilizar a situação. Nestes casos, em que o código penal não exclui, explicitamente, a capacidade de culpa (art 20º/4) existe manifestamente
uma ação.

 Atos instintivos- atos em que há uma possibilidade, ainda que remota, de controlo. Há um querer primitivo, e uma possibilidade de inibição pelo agente. O
agente pode “treinar” para não reagir de determinada forma. Por exemplo, atos impulsivos motivados pelo desejo sexual – podem claramente ser dominados.
Aqui estamos perante ações humanas dominadas pela vontade, pelo que são penalmente relevantes.
 Omissio libera in causi – o agente com intenção bebe até próximo da inconsciência. Nestes casos o agente pratica uma ação humana, voluntária e dominada
pela vontade, tanto quando bebe, como quando bate (ou outra coisa do género). O problema da actio liberatio causi analisa-se em sede de culpa e leva à
aplicação do art 20º/4, segundo o qual, a imputabilidade não é excluída quando a anomalia psíquica tiver sido provocada pelo agente com intenção de praticar o
facto  não há causa de desculpa.
- smp que há pré-ordenação por parte do agente

 Vis compulsiva – o agente está numa situação de coação psicológica irresistível, é colocado perante um dilema.
- este problema não se coloca em sede de função delimitativa de conceito de ação, mas sim em sede de culpa e vai levar à aplicação da causa de
desculpa- estado de necessidade desculpante – art 35º

 Casos do 295º- alcoólico está em estado de incapacidade por causa do álcool, mas n o faz de propósito para provocar danos noutrem- nestes casos n há pré-
ordenação, uma vez que o agente n se coloca naquela situação de propósito para provocar o resultado. Assim, não se aplica o art 20º/4 (em sede de culpa), mas
sim o art 295º. O agente é punido pela auto-colocação em estado de embriaguez, funcionando como uma condição objetiva de punibilidade.
- é para quem ingere e n quem está em abstinência

Distinção entre Ação e Omissão


Critério que vinga hj:
- Defendido por Statenwerth/FD, radica na lógica do risco. Tem de se avaliar a forma como o risco foi criado no caso concreto:
Se face ao caso concreto- o agente criou ou amentou o perigo – ação
Se existindo um perigo criado – n adotou o comportamento devido para diminuir o perigo – omissão
(empregada que deixa a porta aberta, ela cria o perigo – mas cria-o de forma lícita)

- MFP: a professora parte do pressuposto de que somos competentes pela organização da nossa vida quotidiana, pelo que se atuarmos dentro desse espaço,
temos competência. Caso extravasemos a nossa esfera de liberdades, damos origem a responsabilidade penal. Assim, existe uma indiferenciação entre ação e
omissão nas situações em que se ultrapassem os limites gerais da liberdade no que se refere à configuração exterior do mundo.

MFP – se a própria conduta do agente (p.e. condução) é uma amalgama de muitas ações e omissões. Tendo em conta que o agente está dentro da sua liberdade,
esfera jurídica, pode atuar – apenas quando há extrapolação é que não é válido.
Regra da subsidiariedade (art 29º/4 – principio ne ibis in idem)– determina que os crimes omissivos são subsidiários dos crimes ativos. Sempre que se possa
imputar um crime por ação e por omissão, a omissão será subsidiária. O agente seria sempre punido por um crime comissivo por ação – 137o. Deve preferir-se
pela norma que tutela o bem jurídico de forma mais intensa, pois é possível que para a omissão não seja possível encontrar uma posição de garante.

Resolução de casos de omissão:

- No caso podemos estar perante uma situação que se pode considerar a omissão (impura) da ação imposta pelo art
Assim sendo, cabe-nos analisar o princípio da equiparação da omissão à ação:
Eduardo Correia : considera que o tipo legal de crime já comporta comandos de ação e comandos de omissão. Assim, o art 10º - tem como função, para o autor,
restringir a tipicidade, explicitando requisitos, que só se estiverem preenchidos é que o agente pode ser punido por omissão.
Maria Fernanda Palma Entende que não pode comparar a omissão à ação, pq em termos naturalísticos, fazer e não fazer são realidades diametralmente
distintas.
Assim sendo, o art 10º tem uma função extensiva da tipicidade, na medida em que só quando preenchidos os requisitos do art 10º, é que o agente pode ser
punido em virtude do seu comportamento omissivo.

 Ora, o crime do art é um crime comissivo ou material na medida em que promove um resultado, que é ...
 Tratando-se de um crime comissivo, segundo o art 10º/1, ocorre uma tipicidade objetiva, e podemos equiparar a ação à omissão. Ou seja, crime previsto no
art pode ser punido por omissão.
Todavia, apenas podemos punir por omissão da ação prevista no art caso se encontrem preenchidos os requisitos do art 10º/2.
Assim:
- Em 1º lugar cabe analisar se existe uma possibilidade fáctica, apurada individualmente, de ação pelo agente que evite o resultado.
- Em 2º lugar cabe analisar a existência de uma posição de garante:
- Segundo a teoria formal, apresentam-se como fontes de dever de garante a lei, o contrato, a ingerência e as situações de estreita comunidade de vida e de
perigos.
- Segundo a teoria das funções, os deveres de garantia fundam-se numa função de guarda de um BJ concreto e numa função de vigilância de uma fonte de
perigo.

- Segundo a teoria material- formal do professor FD existem grupos de casos que fazem nascer posições de garante:

 o primeiro grupo são os casos em que existem deveres de proteção e assistência a um bem jurídico carecido de amparo:

1- o garante está vinculado à tutela de do bem jurídico quando esteja perante Relações familiares ou análogas
-implica uma relação de particular proximidade e uma relação de dependência: abarcando cônjuges e quem viva em situação análoga. A comunidade
de vida cé um aspeto fulcral. Há uma unívoca relação de solidariedade natural entre o omitente e o titular do bem jurídico.
2- o garante está vinculado à tutela de do bem jurídico quando esteja perante a Assunção de funções de guarda e assistência.
- assunção fáctica de uma função de proteção baseada numa relação de confiança - exemplos: instrutor de natação, alpinista que se prontifica a
organizar uma excursão à montanha, médico em relação aos seus pacientes;
3- o garante está vinculado à tutela de do bem jurídico quando esteja perante uma Comunidade de vida e de perigos
- tem a sua base em relações de confiança e dependência mutuas
- FD exige, na linha de Stratenwerth,
(1) relações estreitas e efetivas;
(2) que a comunidade de perigos exista realmente;
(3) apenas em questão quando o perigo já pesa sobre a vítima potencial, devendo o agente atuar no sentido de o evitar o diminuir;

 O segundo grupo são os casos em que existem Deveres de vigilância e segurança face a uma fonte de perigos
4- o garante está vinculado ao controlo da fonte de perigos quando há ingerência. Quem cria o perigo que pode afetar terceiros deve cuidar de que ele não
venha a concretizar-se num resultado típico
- o resultado deve ser objetivamente imputável ao incumprimento do dever de garante
- a criação de perigo tem de ter sido ilícita

5- o garante está vinculado ao controlo da fonte de perigos nos casos de Fiscalização de fontes de perigo no âmbito de domínio próprio:
-quem tem uma fonte de perigo dever perante a comunidade de garantir que aquela fonte perigos n vai causar danos a terceiros
- Quando o responsável pela fonte perigo cumpre todas as diligências e a vítima continua a colocar-se em perigo  LOGO N HÁ POSIÇÃO DE
GARANTE
- Doutrina alemã: quem tem fonte de perigo – fica responsável por tudo

6 - o garante apenas está vinculado ao controlo da fonte de perigos nos casos em que há Dever de garante face à atuação de terceiros:
- casos em que o terceiro ou não é responsável ou tem a sua responsabilidade limitada ou diminuída, em relação aos quais propende um dever de vigilância por
outrem;
- ainda, relações de supra e infra ordenação, ou seja, pessoas que atuam no seio de um serviço/atividade organizada - exemplos: elementos das forças armadas
com poderes de direção;

7 - o garante apenas está vinculado ao controlo da fonte de perigos nos casos de Monopólio acidental.
- ver em baixo

MFP – segue o Critério da juridicidade, segundo o qual dentro do sentido possível e previsível das palavras temos de conseguir encontrar alguma dimensão de
juridicidade – só isso nos permite ver se há ou não dever de garante.

- A professora parte de 3 princípios fundamentais - princípio da liberdade, da igualdade e da responsabilidade e faz 2 questões:
 É condição de liberdade ter um poço e ser responsável por tudo o que acontece com o poço (doutrina alemã)  não

 Nós somos competentes dentro da nossa esfera de atuação – o agente saiu da sua esfera de liberdade e foi chocar com a esfera do outro? Não

Casos especiais:
- Problema jurídico: responsabilidade pelo produto
- O produtor é responsável pelas condições e por fiscalizar a todo o tempo a qualidade do produto que se encontra no mercado e garantir que estão
cumpridas as regras de qualidade

- FD: dever de garante surge da fiscalização de fontes de perigo, no âmbito do domínio próprio
- Taipa de Carvalho (que considera como fontes de dever de garante a lei, o contrato, a ingerência, o domínio das fontes de perigo e as fontes de autoridade)
considera que se enquadra nas situações de domínio sobre as causas de perigo.
- MFP: considera que estamos perante um caso de Autovinculação (implícita) do agente na relação social, que aceitou previamente.
 É condição de liberdade fiscalizar a todo o tempo a sua qualidade e retirá-los do mercado se n houver qualidade
- Ao incumprir o seu dever j de retirada dos produtos, o produtor invade a esfera de liberdade do outro e viola o p de igualdade. Extravasa-se a
liberdade de ação e faz nascer a posição de garante
- Para além disso, é previsível p o produtor que tem de fiscalizar o produto a todo o tempo
- Para concretizar a imputação objetiva – seria necessário determinar, em concreto, na hierarquia da empresa, quem é que tomou a decisão de n
retirar o produto do mercado

Casos de monopólio acidental

- FD: considera que nestes casos estamos perante omissões impuras - articula o crime de homicídio com o art 10º para aplicar a situação de monopólio (que faz
nascer um dever de garante.
- Para que nasça um dever de garante:
- o agente estar investido numa posição de domínio fático absoluto e próximo da situação
- o perigo em que incorre o BJ deve ser agudo ou iminente
- o agente deve poder levar a cabo a ação esperada sem ter de incorrer numa situação perigosa ou danosa para si mesmo

- MFP: - não é condição de liberdade passear à beira do rio e promover ações salvadoras.
- Nós somos competentes dentro da nossa esfera de atuação – o agente saiu da sua esfera de liberdade e foi chocar com a esfera do outro? Não. Não há
perturbação da esfera jurídica do outro.
- Para além disso, não é previsível para o agente a responsabilidade de autovinculação.

 MFP, ATC – são contra as situações de monopólio e reconduzem a situação para o art 200º/1

Caso em que o agente atropela e foge:

- Prof Inês Ferreira Leite + Jurisprudência- há imputação do crime de homicídio negligente ou OIF por ação em concurso efetivo real heterogéneo com o crime de
omissão pura de auxílio do art 200º/2.
Ac. TFC 26.05.2009 + TRC 05.04.2017
- É heterogéneo pois estamos a falar de dois tipos de crimes diferentes, há mais que um bem jurídico em causa.
-O concurso é ideal e homogéneo quando estamos a falar do mesmo bem jurídico.

- MFP – n concorda com este tipo de imputação


- considera que estas normas estão numa relação de interferência, nomeadamente numa relação de subsidiariedade, na medida em que as mm normas tentam
proteger o mm bem jurídico de formas diferentes – uma das normas só pode ser aplicada qnd a outra n poder ser – a que tutela o BJ de forma menos intensa só
pode ser aplicada qnd a norma que tutela do BJ n tiver lugar no caso concreto.
MFP - Por força da relação de subsidiariedade – podemos imputar apenas o crime comissivo por ação de homicídio negligente! – 137º e nnc em concurso- graças
ao art 29º/5. O crime de homicídio já engloba a forma mais intensa do bem j
Caso em que atropela por negligência e omite o dever de auxílio com dolo

- há um crime de homicídio por ação negligente


- um crime de omissão de auxílio doloso

- Para além disso as omissões puras são subsidiárias às impuras – por isso, n vamos para o art 200º, por isso vamos imputar um crime de homicídio doloso por
omissão (131º + 10º/1 e 2).
- FD – ingerência
- MFP – perturbação das esferas j haverá um desequilíbrio que impõe corrigir – haverá posição de garante quando extravase a liberdade de ação

Omissões Puras

- ATC – considera que os arts 200º e 284º prevêm crimes de resultado, nomeadamente, considera que quanto à instesidade são crimes de prigo concreto cujo
resultado é o perigo.

- MFP – os art 200º e 284º são tipos de mera atividade, em que n se exige um resultado, apenas se impõe ao agente que promova uma ação de salvamento.
Nestes artigos o perigo é prévio.
- assim para que se proceda à aplicação do art 284º - o auxílio médico tem de ser indispensável e adequado, de acordo com um juízo ex ante.
- se um médico passa por um acidente, n é da sua especialidade, mas a pessoa é salva – n há resultado – n se aplica o 284º pq n sendo
da sua especialidade n ia promover uma ação salvadora adequada – aplica-se o 200º

Casos difíceis indicados por Roxin


- interrupção de um processo causa de cumprimento de uma obrigação legal/tentativa interrompida de cumprimento de uma obrigação legal
- interrupção de um processo causal de salmaneto/interrupção técnica de tratamento

 a interrupção de um processo causal que está no domínio exclusivo de terceiro – ação


 sempre que o agente está a promover uma ação de salvamento e a interrompe e o salvamento ainda n está consomado  logo estamos perante uma
omissão
 Se o processo de salvação já estivesse consomado (lançou a boia, a vitima agarrou-se à vitima e o agente puxa de novo e a vitima morre afogada) – pratica
por ação

- MFP – critério de consumação do salvamento

Imputação Objetiva

- crimes de perigo concreto – SÃO CRIMES DE RESULTADO – O RESULTADO É O PERIGO – art 291º/1
- crime de perigo abstrato concreto – 292º/2 - estar a conduzir sobre efeito de estupefacientes + FALTA de APTIDÃO – PERTURBAÇÕES FÍSICAS OU MENTAIS
- SÃO CRIMES DE MERA ATIVIDADE

SE NÃO É UM CRIME DE RESULTADO NÃO HÁ IMPUTAÇÃO OBJETIVA

– nos crimes de mera atividade, a consumação do crime (preenchimento do tipo) dá-se com o comportamento, pelo que temos de analisar se se violaram
os deveres emanados da norma (facto corresponde ao facto típico) e se, no caso de ser crime de perigo concreto, se consubstancia num perigo para o bem.

- Nos casos de crimes de resultado, vamos atribuir um certo resultado lesivo de BJ que estão tutelados numa norma j incriminadora ao comportamento do
agente – e vamos imputar pq o agente estava no controlo do processo causal até ao fim.
Para isso, a doutrina recorre a 3 teorias de imputação:

Teoria da condito sine qua non:


 O juiz deve suprimir mentalmente cada uma das causas e apurando que o resultado não se teria produzido sem uma certa condição, ela seria causal
e relevante para o estabelecimento do nexo de causalidade. Recorre-se à formula da supressão mental
 A conduta do agente foi causa naturalística do resultado

Teoria da adequação causal

- Juízo de prognose póstuma - o juiz vai deslocar mentalmente uma pessoa média para a as circunstâncias de tempo e lugar do agente com os conhecimentos
especiais do mesmo e perguntar se se poderia prever ou não que aquela conduta daria origem aquele resultado do modo como efetivamente se veio a verificar

Teoria do risco
1. O agente cria um perigo que origina um risco proibido para o bem jurídico protegido pelo tipo
2. Esse risco se tenha materializado no resultado típico – conexão de risco
1. De acordo com um juízo ex ante – este perigo criado tem suficiente força lesiva para produzir um resultado como ele
efetivamente se produziu
2. E de acordo com um juízo ex post – toma em linha de conta uma pessoa prudente – verificar se o perigo anterior criado
tipicamente produz o resultado/ tem tipicamente aquele resultado
3. O resultado se encontre dentro do alcance do tipo
1. O perigo que se concretizou no resultado tem de ser um daqueles em vista dos quais a ação foi proibida – corresponda ao fim
de proteção da norma de cuidado
2. Segundo Roxin devem entrar neste enquadramento 3 grupos de casos:
1. Colaboração/Consentimento na autocolocação em risco dolosa ( A e B, por aposta, fazem uma corrida, B em virtude
de erro de condução perde o domínio do veículo e fica gravemente ferido.)-
2. Heterocolocação em perigo livremente aceite (alguém n coloca dolosamente em perigo, mas, com consciência do
perigo, se deixa pôr em risco por outrem- C, a pedido de D, aumenta de forma proibida a velocidade e D fica
gravemente ferido)
3. Imputação a um âmbito de responsabilidade alheio (resultados cujo impedimento caem na área da responsabilidade
de outra pessoa – E provoca incêndio na sua casa e F, bombeiro chamado, sofre queimaduras a tentar salvar outro
habitante)
Casos típicos de estudo:

1. Interrupção do nexo causal/intervenção de 3º no processo causal


- Nestes casos, o agente cria um risco proibido. No entanto, o risco concretizado não é o risco concreto que o agente criou, pois houve uma quebra do nexo
causal.
 Conditio sine qua non – o risco proibido criado pelo agente é causa naturalística do resultado
 Causalidade adequada – não se pode incluir na previsibilidade todas as circunstâncias que podem advir do comportamento. No entanto, pode haver
uma extensão de imputabilidade a riscos tipicamente associados ao risco criado pelo agente.
 Teoria do risco – não há imputação objectiva, pois falta o requisito da conexão de risco: o resultado não é a concretização/materialização do risco
criado pelo agente. Só se pode imputar aquilo que o agente estritamente fez.

- Nota: interrupção do nexo pode ser feita por omissão – ver em baixo – ex. médico não socorre. Nestes casos, é necessário ver se o resultado se deve à acção
inicial ou à omissão. Quanto aos tratamentos médicos pós-acidentes, ROXIN apresenta critério de substituição dos riscos:

  Quando há um comportamento activo do médico:


- Se o comportamento do médico substitui o risco, criando um novo risco originário, será o médico a responder pelo resultado.
- Se comportamento do médico simplesmente não consegue evitar risco inicialmente criado, é o agente originário que responde.

 Quando há um comportamento omissivo do médico:

- Se existe negligência grosseira (não leve) do médico, havendo uma intensificação do risco não atribuível ao agente originário, será o médico a responder, pois
há uma interrupção da cadeia de eventos.
- Se não há negligência grosseira, responde o agente originário, salvo se houver interposição de um risco novo – nesse caso, pune-se ambos a título negligente.

 ver erro sobre existência do processo causal

2. Causas Cumulativas

Casos em que o evento típico tem mais do que uma causa e cada uma delas, só por si, seria insuficiente para produzir o resultado. O resultado deve-se à
conjugação dos comportamentos.

Fora dos casos de comparticipação criminosa – eles n sabem

 Conditio sine qua non – o risco proibido criado pelo agente é causa naturalística do resultado
o Não resolve estes problemas de forma satisfatória, sem ser nos casos de comparticipação criminosa
 Causalidade adequada – não há imputação objectiva, pois o resultado não é previsível para um agente que só faz x.
o MFP, acrescenta à versão pura desta teoria o requisito da conexão de previsibilidade. Assim, se for previsível para cada um dos agente a
causa cumulativa que deriva do comportamento dos outros agentes e se a violação do devre de cuidado abranger a potenciação causal do
comportamento do outro agente, que se materializa no resultado – então teremos imputação objetiva  só acontece nos casos de
comparticipação
 Teoria do risco – nestes casos, a responsabilidade dos dois agentes deve ser analisada individualmente. Cada um deles criou um risco proibido, mas
de ofensa à integridade física – resultado verificado (morte) não é a concretização do risco que cada um deles criou (de ofensa á integridade física).
Resultado é, na verdade, a concretização dos risco conjugado dos dois comportamentos. Assim, falha a conexão de risco, pelo que se vai punir pela
tentativa de homicídio (se agente tinha dolo de homicídio – caso de tentativa impossível de homicídio) ou por ofensa à integridade física (que
aconteceu, mas houve um resultado a mais não controlável pelo agente). Solução que se baseia no princípio da confiança: cada pessoa age confiando
que os outros não vão violar normas – repartição da responsabilidade.

 Será um caso diferente se B viu A a põr a dose não mortal e foi lá acrescentar outra dose por si não mortal. Neste caso, é necessário avaliar a razoável
previsibilidade pelo agente de uma causa cumulativa do comportamente ilícito de 3.o - aí, há conexão de previsibilidade, havendo uma potenciação ou controlo
do efeito de um outro comportamento alheio, pelo que há imputação objetiva. Ver teoria MFP

3. Causas alternativas/paralelas

Casos em que o evento típico tem mais do que uma causa, mas cada uma delas, só por si, seria suficiente/idónea para produzir o resultado.

A responsabilidade dos 2 agentes deve ser analisada individualmente. Cada um dos agentes criou um risco previsível de se concretizar no resultado que ocorreu.
O resultado é explicado pelo comportamento concreto do agente individual. Há um outro comportamento que reforça o efeito, mas para explicar a ocorrência
do resultado, esse outro comportamento não seria necessário. Assim, haverá imputação objectiva quanto a ambos os comportamentos e ambos os agentes irão
responder pelo crime em causa.

4. Causas virtuais/hipotéticas

Nestes casos, o bem jurídico em questão já iria ser lesado por uma outra causa, mesmo que o comportamento do agente não se tivesse verificado.

Teoria da adequação:
- MFP – esta teoria tem dificuldade em resolver os casos de causa virtual – pq parte da teoria da conditio sine quo non

- Figueiredo dias – esta teoria é um patama.r independente que n comunica com a conditio sine quo non e portanto resolve o problema
Independentemente do que aconteceria, o risco proibido criado pelo agente concretizou-se no resultado típico, pelo que foi a causa real do mesmo. A causa
virtual não justifica a não responsabilização do agente, pois que os requisitos da teoria do risco estão preenchidos apesar disso. O bem jurídico em causa não
deixa de merecer tutela por estar duplamente em risco e por ter uma duração limitada. Estamos diante Direito Penal do facto – temos de analisar o
comportamento que efectivamente levou ao resultado. Assim, há imputação objectiva.

KAUFMANN discorda desta orientação: se no caso concreto o processo causal da causa virtual já está num estádio de evolução absolutamente irreversível, isso
significa que o objeto da ação já está condenado; assim, o desvalor do resultado da conduta da causa real, desapareceu. Assim, não se pode imputar o resultado
à conduta do agente. Resta o desvalor da ação. Mas para haver desvalor de ação punível, é necessário estarmos perante um caso de dolo, tem de haver uma
decisão. Este desvalor da ação só poderá ser punido por tentativa.

ROXIN: critica
- médico que está a fazer operação a doente moribundo – por negligência grosseira ele acaba por morrer (mas já ia morrer de qualquer forma) – n há desvalor
de resultado
- a tentativa de homicídio só dá para crimes doloso – logo n há desvalor da ação

5. Causalidade alternativa incerta

Nestes casos, o bem jurídico esteve exposto a dois riscos diferentes e não se sabe ao certo qual desses riscos levou em concreto ao resultado.

Não se sabendo qual dos riscos levou ao resultado tipico, não se deve imputar o resultado a nenhum dos comportamentos, pois a conexão não é certa. Trata-se
de Direito Penal do facto – é preciso ter-se a certeza que agente provocou o facto, não se pode punir apenas pelo risco. Mesmo para a teoria da causalidade
adequada, a causalidade falha, pois não se sabe qual foi a causa do efeito. Nem se passa para o critério da previsibilidade porque falha logo na causa, não se
sabe sequer se houve conexão.

MARIA FERNANDA PALMA: na dúvida, não se imputa, graças ao princípio in dubio pro reo + princípio da legalidade (tem que haver conexão de risco) + Direito
Penal do facto. Caso contrário, estaríamos a transformar todos os crimes de resultado em crimes de perigo (e não de dano).

Faltanto a conexão, pode-se analisar se cada um dos agentes é responsável prlo crime na forma tentada.

ROXIN, STRATENWERTH e FIGUEIREDO DIAS discordam: há imputação objectiva. Não se deve paralisar a eficácia da norma. Teoria do incremento do risco  ver
isto

6. Comportamento lícito alternativo

Casos em que, mesmo que se agente tivesse cumprido a norma, o resultado ter-se-ia verificado à mesma – o resultado era inevitável para o agente. O agente
criou um risco proibido, mas se comportamento fosse lícito, teria criado risco permitido que levaria ao mesmo resultado.

- FD: imputar seria impor um dever cuja observância seria inútil, que não evitaria em concreto aquele resultado. No caso em concreto, a norma (e a sua
observância) era ineficaz/ inútil, pois a sua observância não protegeria o bem jurídico, pelo que perde a sua função. Houve desvalor da acção mas não houve
desvalor do resultado.

- MFP: não há conexão de risco, pois que não é o risco proibido que explica o resultado, pois o permitido levaria ao mesmo resultado. Assim, resultado não é a
materialização do carácter proibido do risco, mas de uma fatalidade – resultado não se explica pela conduta do agente.

- ATC- o prof adere à teoria da adequação que adapta e intitula de teoria da conexão normativo típica. Segundo esta, para que haja imputação objetiva, em
primeiro lugar tem de existir desvalor da ação, a conduta do agente tem de lesar ou piorar o bem jurídico  aqui a ação é desvaliosa. Em 2º lugar tem de existir
conexão entre a conduta e o resultado. O prof propõe uma interpretação teleológica das normas – nos casos de comp li alt – qnd a conduta que cumprisse o
dever n evitasse a prodição do resultado com certeza ou elevado grau de probabilidade – n há imputação

- ROXIN apresenta a teoria da elevação/ incremento do risco:

- nos casos em que há a certeza que mesmo desenvolvendo o processo causal dentro do risco permitido, o resultado se iria verificar na mesma– n há imputação
– pq redundaria na violação do princípio da igualdade

- Nos casos em que há dúvida – o agente nestes casos aumentou o perigo, pelo que é o incremento do perigo que explica as consequências que daí advêm
nomeadamente DEVE HAVER IMPUTAÇÃO

- crítica da jurisprudência alemã – Roxin estaria a transformar um crime de resultado em crime de perigo

- Distinção entre causa virtual e comportamento lícito alternativo:

Nos casos de comportamento lícito alternativo, não faz diferença o comportamento do agente, nas causas virtuais faz (mesmo que por breves momentos) – a
norma é eficaz.

O que os distingue é o princípio da legalidade e o princípio da culpa – na causa virtual, os comportamentos de terceiros não devem influenciar a motivação do
agente pela norma, no comp lícito alt, o agente que se motive pela norma produziria resultado à mesma.

 No entanto, ser era apenas provável (e não certo) que o resultado se verificasse à mesma caso a norma tivesse sido cumprida, a doutrina diverge quanto à
solução a dar:
  MARIA FERNANDA PALMA e HERZERBERG – na dúvida, não se imputa. Há hipótese de que a norma tenha sido inútil, pelo que se deve valorar essa
hipótese em benefício do agente. Há um Problema probatório (de matéria de facto), porque nos casos de in dubio pro reo, há dúvida razoável – não
se pode valorar a dúvida contra o arguido. Não se prova a potenciação do risco pelo comportamento do agente. Caso se prove, comportamento lícitio
alternativo é irrelevante e haverá imputação – princípio da potenciação do risco de STRATENWERTH.
  FIGUEIREDO DIAS e ROXIN – teoria do aumento do risco – há imputação objectiva.  ver em cima

7. Esfera de proteção da norma (de cuidado)

Nestes casos, o agente viola a norma, mas o resultado não é o resultado que a norma pretende evitar/prevenir. A norma não visa evitar o risco que foi criado
pelo agente. O perigo que se concretizou no resultado tem de ser um dos em vista dos quais a ação foi proibida.

- Nestes casos n se imputa

- caso de velocidade elevada e depois deixa ter de excesso de velocidade e atropela. Ciclista que n ilumina a bicicleta da frente e o choque acontece com a da
frente.

8. Diminuição do risco

Casos em que a conduta do agente melhora a situação do bem em perigo. A lesão que se efectivou é mal menor relativamente à que teria ocorrido se o agente
não tivesse intervindo.

Teoria da conditio sine quo non + da adequação na sua versão pura – n resolvem o problema

 Conditio sine qua non – o risco proibido criado pelo agente é causa naturalística do resultado
 Causalidade adequada – há imputação objectiva, pois o agente podia prever que a sua conduta ía levar àquele resultado.
 Teoria do risco – não há imputação objectiva, pois o comportamento do agente diminui o risco, não o criou, nem o potencia (falha logo o 1º patamar
da teoria do risco). Deve-se olhar para o significado social da acção (que é de salvamento, não de ofensa à integridade física). O comportamento foi
conforme à tutela do bem. (ROXIN ressalva que é diferente de casos de substituição (e não diminnuição) do risco – aí, imputa-se.)

- MFP defende que nestes casos (como nos casos de risco permitido), a teoria da adequação deve ser objeto de uma correção. A teoria da causalidade adequada
resolve estas situações, se à mesma for introduzida a correção segundo a qual, nas situações em que há diminuição do risco, n há imputação objetiva.

- ATC defende a teoria da conexão normativo típica, que apresenta 2 requisitos, sendo o primeiro a ideia de que só há imputação quando consigamos identificar
no caso desvalor da ação. Ora, nas situações de diminuição do risco, a conduta é valiosa, pelo que n deve haver imputação objetiva.

- Na opinião de HELENA MORAÃO e PAULO SOUSA MENDES, o comportamento do agente diminui o risco para a vida, mas cria risco para a integridade física.
Deste modo, deve haver imputação e a questão será tratada em sede de causa de justificação. Houve uma ofensa à integridade física e dolo directo para tal – a
conduta é típica (apesar de não ser ilícita porque quis evitar morte). Afirma-se o desvalor objectivo da conduta, remetendo a ponderação entre lesão ocorrida e
lesão potencial para a análise da justificação. Só se sabe que há diminuição ex post, e requisito é ex ante.

9. Risco permitido

Nestes casos, o resultado é produzido por uma acção que não ultrapassou o limite do risco juridicamente permitido. Exemplo: A conduz em respeito por todas
as normas, mas há dilúvio e perde o controlo do carro, atropelando B. Pela teoria da codnitio sine qua non, o risco criado pelo agente é causa naturalística do
resultado. Mas para a teoria do risco, não há imputação: o agente não criou nem aumentou um risco proibido, mas sim um risco normal e permitido.

10. Omissão/ comportamento doloso de outrem (que interrompe salvamento)

WELSEL – não é possível falar de imputação objectiva nas omissões.

FIGUEIREDO DIAS – não há dever de agir apenas quando é certo que se vai evitar dano – comportamento só tem de ser idóneo em abstracto para tentar obstar à
verificação do resultado para que se impute, não tem de ser certo que vá evitar o resultado.

STRATENWERTH – tem de se comprovar que o comportamento diminuiria risco, não a certeza de não verificação do resultado – probabilidade.

ROXIN – se por juízo ex ante comprova-se que acção teria determinado a diminuição do risco, imputa-se, a menos que por juízo ex post se comprove que
diminuição não se teria verificado. Se se comprova num juízo ex post que o comportamento lícito alternativo de nada teria servido, não se imputa.

 Se há imputação objectiva da omissão – homicídio por omissão. Vai-se analisar o anterior – acção em relação à morte – não se imputa porque houve
interrupção do nexo por causa da omissão. Analisa-se acção como ofensa à integridade física ou tentativa de homicídio.
 Se não há imputação objectiva – vai-se analisar a omissão pura. Pode haver ou não imputação objectiva quanto à omissão pura. Depois, vai-se ver
acção – pode haver imputação objectiva por homicídio.

11. Sociedade de risco

Casos de criminalidade de massas (ambiental, responsabilidade pelo produto, corrupção). Possível imputar a condutas extremamente distanciadas no tempo e
espaço e que singularmente consideradas são irrelevantes? Sim, se previsível e provável que outros agentes pratiquem a mesma conduta – tipos aditivos ou
acumulativos. MARIA FERNANDA PALMA: tendencialmente, há incapacidade de ressonância do Direito Penal à acumulação.
Imputação Subjetiva

- Na imputação subjetiva procede analisar se o resultado é imputável à vontade do agente, se existe uma vinculação psicológica do agente ao resultado.

- Elemento Intelectual – o agente tem de ter conhecimento (necessário para ter uma correta orientação da consciência) da factualidade típica atual (no
momento em que realiza o facto). MFP: trata-se de um reconhecimento de si próprio, da sua racionalidade e experiência anterior.

- WELZEL: uma finalidade inconsciente demonstra que  comportamentos automáticos n deixam de ser intencionais, qnd correspondem à adaptação
a uma situação em que a atuação do agente é solicitada, de acordo com a sua experiência anterior.

 Tipos de Erro que podem excluir dolo por excluírem o elemento intelectual do mesmo:

1. Erro sobre a factualidade típica

Para que o elemento intelectual esteja preenchido – isso implica que o agente tenha conhecimento de todos os elementos constitutivos do tipo objetivo.

- Relativamente aos elementos descritivos, estes são os elementos constitutivos do facto típico relativamente aos quais seria necessária uma percepção
sensorial. Assim, não há dolo se falta de apreensão exacta pelos sentidos. (ex. conduta subtrair)

- Relativamente aos elementos normativos, estes são os elementos constitutivos do facto típico que são conhecidos por qualquer elemento da sociedade,
fazendo parte da linguagem comum e que para serem compreendidos e representados basta a valoração de qualquer leigo, não sendo necessária uma
valoração técnica. (ex. ser coisa alheia)

Assim, não há dolo se falta a possibilidade de compreensão do significado, numa perspectiva social. Através das regras da experiência comum e do significado
social, interpretamos se o agente tinha ou não conhecimento.

Quando o agente não representa os elementos descritivos e normativos do facto típico, há uma exclusão automática do dolo, nos termos do art 16º/1.

 - No entanto, ressalva-se a punibilidade nos termos do art 16º/3. Assim, o agente será punido por negligência se:
- houver tipo negligente
- se n tiver atuado de acordo com um devre objetivo de cuidado, que tem por referência o princípio da confiança. Há que analisar se a pessoa média, na mesma
situação teria agido da mm forma.

1.2 Erro sobre os pressupostos fácticos do dever de agir


Mãe vê o filho a afogar-se ao longe mas acha que é o filho dos amigos
- O agente não representa corretamente a realidade, não conhece especificamente a espécie do objeto. Não tem toda a informação para orientar a sua
consciência ética para a ilicitude, não representando o elemento fático e material da identidade da vítima. O agente não tem oportunidade de se motivar pela
norma.
Assim, sendo o erro sobre os pressupostos fácticos do dever de agir leva à exclusão automática do dolo, nos termos do art 16º/1, 1ª parte
- 16º/3- Se a agente representar corretamente a realidade, mas considerar que a obrigação pertence ao nadador salvador – supor que não tem o dever jurídico
de atuar  Erro sobre o dever jurídico de garante – 17o (erro sobre a ilicitude) – é um erro de valoração

2. Error in persona vel objecto

- O agente está em erro quanto à identidade do objeto/pessoa a atingir. Há um erro de perceção. O agente tem de representar o género do elemento objetivo
do tipo e não a sua espécie.

- se o elemento essencial da factualidade típica não depende de um objecto concreto - o erro é irrelevante e há dolo. No caso o erro sobre a identidade é
irrelevante, pois a identidade não é elemento constitutivo do tipo.  representou o objeto do elemento do tipo e agiu com vontade de dolo/ negligência ...

-No entanto, há casos em que o legislador representa o género e a espécie se o erro for sobre qualidade tipicamente relevante/essencial do objecto atingido,
então exclui-se o dolo, tratando-se de erro-ignorância relevante

- se quer cometer crime qualificado, mas existe um erro sobre a identidade e pratica apenas crime simples- há quem considere que nestes casos o agente
pode ser punido por concurso entre tentativa de homicídio qualificado e homicídio simples doloso.

- MFP considera, no entanto, que nestes casos o bem jurídico do pai (p.e.) não chega a ser colocado em perigo – pune por homicídio simples
consomado

3. Erro na execução/ aberratio ictus vel impetus


- o agente representa realmente a realidade e domina o processo causal, mas no momento da execução há um desvio no golpe que se pode dever a falta de
capacidade psíquico física do agente, ou a fatores externos.
- Requisitos:
(i) alteração da produção causal/desenvolvimento causal (dentro daquilo que dependeria do agente)
(ii) alteração do próprio resultado
– TERESA BELEZA: Teoria da equivalência: o erro de trajetória assemelha-se ao erro sobre a identidade, logo se o objeto atingido é tipicamente equivalente (o
bem é tipicamente equivalente) é irrelevante a individualidade; o agente é punido pelo crime consumado (dolo do tipo); Caso os objetos n fossem tipicamente
equivalentes, punia-se por tentativa do crime projetado em concurso real heterogéneo com o crime consumado negligente.

- MFP – teoria da concretização – há uma razão de ordem jurídica e factual que nos leva a concluir que olhando para a matéria de facto, o que vemos
verdadeiramente são duas ações, uma que cria perigo e outra que lesa bem jurídico. Para além disso, há outra razão normativa e teleológica, que nos leva a
concluir por esta teoria, nomeadamente, o merecimento penal destes casos é diferente do que nos casos do erro sobre a identidade – o agente criar perigo
efetivo para um bem jurídico e por outro lado lesa efetivamente outro bem jurídico. Assim, a prof defende q se pune por tentativa do crime projetado em
concurso real heterogéneo com o crime consumado negligente.

- o art 16º/1 n regula de modo próprio os casos de aberratio ictus

- dizer qual o tipo de dolo e qual o tipo de negligência.

- Os crimes contra o património não têm forma negligente!!!

4. Dolo Alternativo/dolus alternativus

- Há dolo em relação a dois resultados diferentes, mas só um se vai consumir.

Solução apresentada relativamente ao elemento cognitivo/ intelectual


HELENA MOURÃO + IFL – defendem que é uma situação de aberratio ictus particular em que há um objeto alternativo. Segundo estas, o perigo criado só podia
evoluir para a lesão de um único bem jurídico efetivo, logo seria paradoxal ver aqui dois crimes e levaria à valoração por mais de uma vez da conduta do agente,
algo que viola o pricipio de ibis in. Imputamos, então, ao agente o crime mais grave para conseguirmos valorar o maior perigo criado.
Solução apresentada relativamente ao elemento volitivo
MFP – para o agente era indiferente qual dos bens jurídicos ia lesar efetivamente. A decisão criminosa tem capacidade de abarcar qualquer uma das metas
interiorizadas pelo agente. A decisão é bivalente, na medida em que comporta duas ações que criam perigo para dois bens jurídicos diferenciados. As condições
de segurança dos dois bens j estão perdidas. Para a professora há dolo direto relativamente aos dois crimes, pelo que se deve punir o agente por crime tentado
em concurso (30º/1) com o crime doloso consumado.

5. Erro sobre a existência do processo causal

- O processo causal representado pelo agente é diferente do processo causal concreto, mas resultado é o mesmo (o representado).

- HELENA MORÃO:
- se erro o sobre o processo causal concreto/desvio era imprevisível/acidental, nem há imputação objectiva porque não há conexão de risco – deve-se punir por
tentativa.

- Se o desvio era previsível, mas é essencial, exclui-se o dolo pelo art 16º/1

- Se o desvio era previsível mas irrelevante – há uma alteração do processo que surge como consequência imediata e normal da acção, o processo cabe na área
de risco da Acão e, portanto, há dolo.

- MFP: se estamos perante um processo com risco intenso e consequências incontroláveis, não há erro – agente representa simultaneamente a verificação de
múltiplos riscos, sendo esses perigos concretização do risco inicialmente criado.

- FD: nos casos de risco intenso e imprevisível, a actuação do agente absorve o risco do desvio – não se exclui o dolo, porque dolo abrange o processo causal.

- ROXIN: basta que o agente represente os elementos da imputação objectiva – criação do risco proibido e resultado como concretização desse risco – para que
o crime seja imputável a título doloso.

6. Erro sobre a eficácia do processo causal

- Cronologicamente, o resultado corre em dois tempos: (i) atraso do resultado do processo causal/ resultado retardado (casos típicos de encobrimento); (ii)
antecipação do resultado do processo causal/ resultado antecipado

Casos de resultado retardado:

-JAKOBS + Curado Neves – qnd há discrepância entre a decisão criminosa do agente que antecipava a produção do resultado e o modo como o resultado se vem
a produzir – o principio da congruência entre o tipo objetivo e subjetivo surge ferido – esta discrepância leva nesta posição à solução do concurso efetivo – deve
ser punido por tentativa de homicídio em concurso efetivo com homicídio negligente. Homicídio negligente, porque o agente está subjetivamente em erro
sobre o elemento de facto – exclusão automática de dolo, pelo art 16º/1

-MFP- considera que o critério relevante é determinar se há unidade de resolução criminosa. Há unidade de ação smp que o agente tem um plano gizado que
abarca a totalidade de factos efetivamente verificados – tudo estava planeado.

 Se o ato subsequente de encobrimento tiver sido inicialmente previsto, então todos os riscos criados pelo agente cabem num dolo geral – abraça a solução
do dolus generalis. Assim, há um dolo único geral que se estende e ficciona relativamente à 2ª ação  pune-se por homicídio doloso

 Se o encobrimento n foi projetado anteriormente, então não há unidade de ações, mas sim uma pluralidade de ações, pelo que se pune por tentativa dolosa
em concurso efetivo com crime consumado negligente (não há dolus generalis)
 Se sabia ou não podia deixar de saber que a vítima estava viva e mm assim promove encobrimento posterior – há homicídio consumado doloso se podia
representar a morte por esse encobrimento.
Casos de resultado antecipado
- Segundo a professora MFP, o problema nestes casos está em saber se o segundo ato não se chega a verificar.
- Se o resultado se verifica ainda no âmbito dos atos preparatórios – art 21º- então só podemos imputar o crime na forma negligente.
- Se o resultado se verifica já no âmbito dos atos de execução – art 22º- então imputamos o crime doloso consumado

7. Dolus antecedens

- A conformação com um resultado típico que já aconteceu não é um dolo do tipo. Se há crime negligente e quando se apercebe do crime aceita/conforma- se,
não se deixa de punir por crime meramente negligente. Dolo prévio à realização típica não é ainda dolo do tipo

8. Crimes agravados pelo resultado

- A conduta do agente tem um desvalor da ação e um desvalor do resultado com uma ilicitude mais intensa, na medida em que com a sua conduta o agente
atinge uma lesão num bem jurídico, para além do outro bem jurídico que queria atingir.

- Nestes casos há a articulação do art 18º (em que o legislador impede a responsabilidade penal pela imputação objetiva do risco) com uma norma da parte
especial (147º - OIF, 285º- crimes de ambiente, patrimoniais e do médico, 158º/2- suicídio da vitima depois de sequestro, 210º/3 - roubo)

- Os crimes agravados pelo resultado podem resultar da combinação de:


- dolo relativamente à OIF + negligência relativamente à morte
- negligência relativamente à OIF + negligência relativamente à morte

 Sobre este tema existe uma divergência doutrinária, nomeadamente, a prof MFP considera que, nos termos do art 18º, a produção do resultado mais grave
pode ser imputado pelo menos a título de negligência grosseira, enquanto que o prof FD considera que pode ser pelo menos a título de dolo eventual.

- Nestes casos temos de promover um duplo nexo de imputação objetiva e um duplo nexo de imputação subjetiva.

- Imputação Objetiva:
- 1ª imputação entre a ação e o resultado OIF – 143º
- 2ª- imputação entre a conduta típica (do crime fundamental doloso – 143º) e a qualificação pelo resultado (morte) – 147º/1

- Imputação Subjetiva:
- 1ª imputação entre a ação e o resultado OIF – dolo: 143º+ 13º+ 14º
- 2ª imputação entre a conduta típica (do crime fundamental doloso – 143º) e a qualificação pelo resultado (morte) – 147º/1 + 18º + 13º + 15º

Elemento volitivo do dolo

- Dolo Direto – o agente representou e quis/desejou produzir o resultado, tendo orientado a sua ação nesse sentido. – 14º/1
- Dolo Necessário – o agente representou o resultado como consequência necessária da sua conduta e agiu à mesma, apesar de não ter orientado a sua conduta
para produzir aquele facto. – 14º/2
- Dolo Eventual- o agente representou o resultado como consequência da usa ação e conformou-se com essa possibilidade.- 14º/3
- Negligência Consciente- o agente representou a possibilidade de realização do tipo objetivo (há elemento intelectual) mas n se conformou com a mesma. -
15º a)
- Negligência Inconsciente- o agente nem verificou a realização do tipo objetivo. - 15º b)

Caso especial de roubo + matar o proprietário


 IMP: o dolo direto comporta exercícios de finalidade mas também comporta exercícios de meio/ fim. Quando a realização de um facto típico é um meio para
atingir um fim, ou seja, é um pressuposto ou estado médio para lograr um fim que tem a jusante  o agente atua com dolo direto.
- Tipicidade subjetiva:
o 131o+132o/1e2al.g)–14o/1
o 210o/1 e 2 al. b) (204o/2 al. f) – 14o/1
Punibilidade:
- maioria da doutrina + jurisprudência – pune pelo crime de homicídio qualificado + crime de roubo - 131º/132p/1 e 2 al g) + 210º/2 al b)
- IFL - face aos dados da hipótese o agente ao subtrair a coisa está a bulir com o BJ vida – se já estamos a valorar o BJ vida no crime de homicídio, n podemos
fazê-lo novamente no roubo, pq isso resultaria numa valoração dupla do mm facto. A prof propõe deixar-se cair o roubo e valorar-se um crime que valora a
questão patrimonial, nomeadamente, o crime de furto (qualificado, no caso): - 132º/1 e 2 g) + 204º/2 al f)

Distinção entre dolo eventual e negligência consciente


- Em ambas as figuras está presente o elemento cognitivo intelectual – o agente representa um facto que preenche um tipo de crime
- MFP segue a conceção extrovertida da vontade, apresentando critérios de distinção das duas figuras:
- o 1º passo é olhar para a base da decisão:
- para haver racionalidade e o agente agir com dolo ventual, é necessário que na base da decisão o agente pondere todos os factos e todos os riscos.
Ponderando e estando ciente de de todas as alternativas de ação, o agente atua como sendo um homem de negócios, conhecendo os riscos e conformando-se
com eles.
- nos casos de negligência consciente, na base da decisão o agente menospreza os perigos e n pondera todas as alternativas de ação. Atua como um jogador não
profissional, cedendo à tentação de lograr um certo intento. O que o motiva não é a racionalidade, na medida em que n considera verdadeiramente os riscos
- o 2º patamar passa por olhar para o sentido comunicacional da conduta do agente. Poder ler no modo como o agente atuou o significado objetivo do risco. Um
observador externo tem de ser capaz de interpretar os comportamentos e identificar o dolo
- Para o agente ser punido por negligência – para FD têm de existir 3 momentos:
1- produção de um resultado
2- objetiva violação de um dever de cuidado que recaía sobre o agente (contrariedade ao dever)- pode resultar de uma norma legal,
estatutárias, advir do padrão da pessoa média, violação do princípio da confiança (confia que as outras pessoas que tão na estrada tbm
vão cumprir com as regras,e tbm na medicina)
3- resultado previsível e evitável para uma pessoa média

Ilicitude
- A ilicitude consubstancia uma contrariedade à oj, e revela o desvalor do comportamento do agente:
- desvalor da ação – o facto praticado pelo agente viola uma norma de proibição ou devia ter praticado uma ação e na verdade omitiu-a.
- desvalor do resultado – contrariedade à oj qnd haja a lesão efetiva de um BJ ou a criação de perigo para um BJ protegido por uma norma penal
- Causas de justificação: – vai tornar lícito o que à partida é ilícito.
- normas permissivas - faz apelo à ideia da prova da legitima defesa – mostra se uma causa de justificação é operante para considerar que a ação é
valiosa. A prova definitiva resulta do facto de contra essa causa de justificação em concreto n podermos contrapor contra essa pessoa mais nenhuma
outra causa de justificação
- contra justificação n há justificação
- os crimes negligentes n comportam desvalor da ação, apenas o desvalor do resultadso  qnd chegamos à ilicitude – n se exige o elemento subjetivo – atua
uma causa de justificação sem ir ao 38º/4
1. Legítima Defesa
 MFP: a legítima defesa é um problema de colisão de direitos, partindo da premissa de uma ordem de bens jurídicos de valor diferenciado, o que significa
que o defendente só pode atuar sobre os bens jurídicos do agressor, já que só o agressor está a atacar o defendente. O defendente nunca atua em legítima
defesa contra um terceiro que nada tem a ver com a violação do direito.
Pressupostos:
1. Agressão de interesses juridicamente protegidos do agente ou de terceiro
1.1- a agressão deve derivar de um comportamento humano a um bem juridicamente protegido.
- ficam excluídas as atuações de animais, bem como as agressões decorrentes de coisas inanimadas, exceto qnd exercida contra animais utilizados por alguém
como instrumento de agressão, ou quando envolvidos animais, nos casos de omissões impuras.
1.2- a agressão tem de advir de uma conduta humana voluntária - não havendo lugar a LD quando a seja agressão cometida em estado de inconsciência ou em
que a vontade esteja completamente ausente.
1.3. Como agressão deve considerar-se tanto o comportamento ativo, como o comportamento omissivo
- FD – omissões puras ou impuras há legitima defesa – pq há um comportamento devido que n é cumprido
- MFP – entende que só pode haver ato de defesa contra uma conduta humana se no caso o agente estiver a repelir uma omissão impura – só nessas do ponto
de vista valorativo conseguimos fazer equiparar ações e omissões do ponto de vista do art 10º  só pode ser direito de necessidade – art 34º

2. Atualidade da Agressão
- FD e ROXIN: A agressão é actual quando iminente. A agressão é iminente quando o bem jurídico se encontra já imediatamente ameaçado.
- MFP e ATC: A agressão é atual quando já tenham ocorrido atos de execução, nos termos do art 22º

-Casos de Legítima Defesa Preventiva - em que a agressão não é ainda sequer iminente, mas já se sabe antecipadamente, com certeza ou elevado grau de
segurança, que ela vai ter lugar.
- Alguns autores, p permitir exclusão de ilicitude por LD, defendem que a agressão seria já atual no momento em que se sabe que ela vai ter lugar se
o adiamento da reação para o momento em que ela fosse iminente tornasse a resposta impossível, ou se ela só fosse possível mediante um grave
endurecimento dos meios.
- FD, ROXIN, TC, MFP –A legítima defesa deve ser negada nestes casos –seria legitimar formas privadas de defesa em substituição da actuação das
autoridades competentes.
- FD: no máximo, analogia com direito de necessidade defensivo (se verificados os requisitos)
- MFP: só pode haver analogia com figura da provocação de LD. A defesa preventiva não chega a ser excesso, porque não se desenvolve a partir de
uma situação verificada de Legítima Defesa. A reconhecer-se a Defesa Preventiva como Causa de Justificação supra- legal, deverá introduzir-se um
novo critério de ponderação diverso do que caracteriza a Legítima Defesa propriamente dita: admitir-se-á apenas a lesão de bens jurídicos ou
interesses de valor igual ou inferior aos do defendente preventivo.

- Casos de Preparação Antecipada da Defesa: através de aparelhos automáticos – dispositivos que disparem por si mesmos quando houver uma intromissão na
propriedade – relativamente a uma agressão eventual. o Doutrina Maioritária | Reputa tal tipo de defesa como legítimo.o Figueiredo Dias | Este ponto de vista
só pode ser aceite desde que se verifiquem os pressupostos da Legítima Defesa, nomeadamente: 1 O de que no momento da defesa a agressão seja atual; 2 O
da necessidade da defesa; 3O de que a defesa esteja preparada para atingir apenas o agressor.
- Término da Atualidade da Agressão: O Momento Relevante neste aspeto = É o momento até ao qual a defesa é suscetível de pôr fim à agressão – até esse
último momento a agressão deve ser considerada como atual.
Furto: - contactatio- assim que toca – está consumado
- amotio - basta a remoção da coisa do lugar em que se encontra
- ablatio – cessação ou ablação do poder de facto sobre a coisa – transferência para fora da esfera do domínio da vítima
- ilatio – conservação em lugar seguro

3. Ilicitude da Agressão  Natureza dolosa ou negligente da agressão: -Doutrina Maioritária | Tanto as agressões dolosas, como negligentes podem dar lugar a
uma resposta em Legítima Defesa.
 Culpa: A situação de Legítima Defesa pressupõe a ilicitude da agressão, mas não a culpa do agressor. Podem ser repelidas em LD agressões de inimputáveis,
crianças, doentes mentais, em geral de quem atue sem culpa. Pode determinar é uma modificação dos limites da necessidade da ação de defesa.

Requisitos da ação de defesa:


- se tivesse visto o polícia – discutir necessidade de defesa
- se n tivesse visto – discutir necessidade do meio
1. Necessidade de Defesa- Há necessidade de defesa nos casos em que a não defesa é insuportável e não há alternativa –tem mesmo de recorrer a meios de
defesa
- Fernanda Palma - Princípio da insuportabilidade da não defesa- Qualquer restrição da defesa, quando está em causa um aspeto nuclear da autonomia e
dignidade da pessoa, seria insuportável pois poria em causa a ordem de valores constitucional. Invocação do art 2º/2 al a) da CEDH- Direito à vida, para
fundamentar a ideia de que a defesa irrestrita é possível mas tem limites. Está aqui presente o principio da insuportabilidade da não defesa.
- Agressões não culposas + Casos em que o agressor atua com a culpa sensivelemente diminuída (embriaguez ou sobre ilicitude n censurável) –quanto menos
censurável for o agressor (ex. inimputável ou age em erro), mais restritos os limites da necessidade da defesa. - A defesa agressiva não é necessária se o
agredido pode esquivar-se à agressão - Figueiredo Dias – é incontestável que em casos como este se introduz na Legítima Defesa uma ideia de
proporcionalidade entre a agressão e o dano.
- Agressões provocadas –é o agredido que cria o confronto –provoca de forma pré-ordenada a situação de LD para poder agir em LD.
- A necessidade de defesa deve ser negada quando esteja em causa uma agressão pré- ordenadamente provocada.
- Nos casos em que a agressão atual e ilícita não tenha sido pré-ordenadamente provocada, a maioria da doutrina não nega a necessidade da defesa, mas
introduz-lhe fortes limitações, quando:
1-Na provocação, se trate de um facto ilícito ofensivo de um bem jurídico do provocado;
2-Não bastará um qualquer menoscabo ou ofensa moral ou socialmente censurável;
3- Exige-se da provocação uma estreita conexão temporal e uma adequada proporção com a agressão que provoca.
- Se o terceiro não sabe disto e intervém em defesa alheia do defendente provocador, este terceiro já detém elemento subjetivo de causa de exclusão da
ilicitude porque ele está a impedir que haja agressão do (falso) defendente.
- Crassa desproporção entre a agressão e a defesa
- FD: Não pode ser legítima a defesa que se revela notoriamente excessiva face aos bens agredidos e que, nessa medida, representa um abuso do direito de
legítima defesa.
- Fernanda Palma - Parece suscitar uma Ideia de proporcionalidade dos bens jurídicos em conflito como condição de legitimidade da defesa

2. Necessidade do Meio
1-  O meio será necessário se for idóneo para deter a agressão;
2-  Caso sejam vários os meios adequados à disposição do defendente, o meio será necessário se for o menos gravoso para os bens do agressor.
O juízo de necessidade reporta-se ao momento da agressão, tem natureza ex ante e nele deve ser avaliada objetivamente toda a dinâmica do acontecimento,
merecendo especial atenção:
1-  As características pessoais do agressor – idade, compleição física, perigosidade.
2-  Os instrumentos de que dispõe;
3-  A intensidade e surpresa do ataque.
Em contraposição com:
1-  As características pessoais do defendente – o porte físico, a experiência em situações de confronto;
2-  E os instrumentos de defesa de que poderia lançar mão.

Efetivamente, o recurso às autoridades policiais será por via de regra o meio de resposta menos gravoso para o agressor.
 Fernanda Palma | Se a autoridade pública nada faz, pode haver legítima defesa, pois a inoperabilidade da autoridade pública dá legitimidade à legítima
defesa, devido à insuportabilidade da agressão.
- A possibilidade de fuga pode constituir em certos casos um meio idóneo para evitar a agressão e aquele que certamente menos prejuízos causa ao agressor.
Todavia, não deve ser imposta como meio de defesa.
- O defendente não está obrigado a tentar afastar a agressão através de um meio mais leve, se for incerta a eficácia dessa forma de defesa menos gravosa e
não for despiciendo o risco que sobre ele se abaterá em caso de insucesso desse meio.
3. Conhecimento da situação defensiva
4. Não exige animus salvandi - n se exige que a pessoa atue apenas e só para repelir aquele perigo sem segundas intenções

Direito de Necessidade

Pressupostos:
1. Perigo Atual
-Basta que ao não agir se potencie o perigo, mesmo que este não seja ainda iminente. Não é necessário que já haja interferência, mas se não atuar
haverá essa interferência.
- NOTA: ainda assim, FD sustenta que a partir daqui não se pode construir a figura do estado de necessidade preventivo.
2. Perigo que ameace interesses juridicamente protegidos do agente ou de terceiro
- O bem a salvaguardar tem de estar objetivamente em perigo. Há probabilidade de verificação de dano.
- Suscetibilidade de se cobrirem pelo EM bens jurídicos da comunidade:
3. Modo de criação do perigo (artigo 34º alínea a)) – o perigo não pode ter sido o perigo provocado voluntariamente pelo agente, salvo se se tratar de
proteger interesses de 3º -aí, ainda há EN (casos de arrependimento)

Requisitos:
1. Princípio do interesse preponderante (art 34º al b)
- Só tem lugar a justificação por Direito de Necessidade se houver “sensível superioridade do interesse a salvaguardar relativamente ao interesse sacrificado”.
MFP - a sensível superioridade dos interesses não implica uma comparação em abstrato e que esteja fixada através de critérios padrão (não se trata de uma
verificação/comparação quantitativa). Entende que a ponderação é feita caso a caso e com os contornos do mesmo. Podemos estar perante dois bens jurídicos
iguais e um ser superior no caso concreto;
- Não se trata, mais uma vez, de hierarquizar bens ou mesmo interesses jurídicos, mas selecionar “fatores de ponderação” que são de “normal
sensibilidade aos valores (cultural e socialmente determinada)”.

FD- Por isso, é relevante, desde logo, a Hierarquia dos bens jurídicos em confronto

Índices de Hierarquia
1- Molduras penais
2- Intensidade previsível da lesão do bem jurídico – nomeadamente, quanto a saber se está em causa o aniquilamento completo do interesse ou só uma sua
lesão parcial ou passageira

3- Grau de Perigo - O Grau do Perigo que é afastado ou criado com a ação de salvamento tem um papel fundamental quando a violação do bem jurídico não
surge como absolutamente segura, mas sim como mais ou menos provável.
- Conduzir veículo com uma taxa de álcool no sangue de 1,2 g/l ou superior (Artigo 292o/1) pode ser uma conduta justificada se ela traduzir o meio
único de transportar em tempo um doente grave ao hospital.
4- A Autonomia pessoal do lesado / Cláusula da limitação pela dignidade humana
- para Figueiredo Dias o princípio do interesse preponderante e a sensível superioridade do interesse salvaguardado são duas faces da mesma moeda,
pelo que o que está vertido neste último índice é o critério da alínea c) do art 34º.
- Figueiredo Dias tem por inadmissível a invocação da violação da autonomia pessoal do sacrificado nos casos em que o bem jurídico salvaguardado seja de
caráter eminentemente pessoal, se se verificar um pequeno peso e a ausência de perigo da intervenção.

- A possibilidade de impor sacrifício ao lesado significa que o lesado não pode estar numa posição que é insuportável. (i) Se fosse insuportável, este poderia
exercer defesa. (ii) Tem de haver uma diferença entre os interesses. (iii) Só é razoável impor ao lesado se tal não colidir com a dignidade da pessoa.

 Figueiredo Dias :Há certas pessoas que em virtude da sua posição/ estatuto/ profissão, podem seguramente ter de: 1. Suportar perigos acrescidos em nome
da função ou do cargo que desempenham; 2. Ou de utilizar apenas certos meios – meios “adequados” – o salvaguarde de interesses próprios.
3- Sacrifício razoável - cláusula de razoabilidade (al. c))
- MFP - Na al. c), temos uma cláusula de limitação pela dignidade humana. Se o bem ofendido é de carácter eminentemente pessoal, EN é admissível,
mesmo que o perigo/dano seja mínimo. Princípio da insuportabilidade da defesa  O núcleo duro da dignidade humana (vida, integridade física na aceção mais
grave e certas esferas de liberdade fazem parte deste núcleo duro) nunca pode ser posto em causa, sob pena de estarmos a instrumentalizar a pessoa.
Invocação do art 2º/2 al a) da CEDH- Direito à vida, para fundamentar a ideia de que a defesa irrestrita é possível mas tem limites. Está aqui presente o principio
da insuportabilidade da não defesa.
– há interesse em que nng seja utilizado como meio ao serviço de outros finsinteresse da ordem jurídica em salvaguardar a proteção da dignidade da pessoa
humana.

4. Adequação do Meio - O facto está coberto por Direito de Necessidade se o agente utilizar um meio segundo a experiência comum e uma consideração
objetiva, é idóneo, para salvaguardar um interesse ameaçado.

5. Conhecimento da situação perigosa - só estão verdadeiramente preenchidos todoos os requisitos qnd o agente tenha conhecimento da situação perigosa que
está a praticar

Não exige animus salvandi - n se exige que a pessoa atue apenas e só para repelir aquele perigo sem segundas intenções

Casos vida contra vida – falha a alínea b) - admitir uma causa de justificação é o mm que dizer que prepondera o mais forte – o que é inaceitável
 Estão subjacentes 2 sentimentos contraditórios sobre o que é racional
- Por um lado, não se pode quebrar, em caso algum, o princípio de que todas as vidas têm igual valor. Por outro, seria irracional deixar perecer certas vidas, sem
que isso possa contribuir para salvaguardar outras – quando, no entanto, à custa dessas outras vidas as primeiras se poderiam salvar.

- No contexto complexo da situação global, será possível descortinar casos em que o interesse na preservação de uma ou mais vidas prepondera sobre o
sacrifício de outra ou outras?
- Parte da Doutrina | Considera que se pode dar resposta afirmativa nos casos de Comunidade de Perigo = quando, havendo várias pessoas todas
elas colocadas numa situação comum de perigo para a vida, se sacrifica uma ou alguma delas como única e adequada forma de impedir que outra ou
outras pereçam.
- FD: nestes casos , deve assentar-se o princípio da imponderabilidade da vida para efeito do estado de necessidade justificante.
Não é juridicamente admissível que alguém se arrogue o direito de escolher quem deva morrer e quem deva sobreviver; Não é absolutamente seguro
o que aconteceria em caso contrário.Nem o facto de matar algumas vidas se pode considerar adequado à salvação das restantes.
CONCLUI: O que pode ficar em aberto é uma exclusão da culpa.
António Brito Neves: considera que não haveria causa de ustificação por Direito de Necessidade – o direito não atribui prorrogativas a determinados
sujeitos que visem escolher quem deve morrer. Parece que se trata aqui de um caso de conflitos de deveres desculpante em que o agente optou
pelo dever que para a Ordem Jurídica era o menos valioso.

Conflito de Deveres – art 36º


Pressupostos
1. Conflito de deveres jurídicos ou ordens legítimas
-Condição Essencial da Justificação  A impossibilidade fática de ser exigível a realização simultânea dos dois deveres de igual valor – é condição
essencial de justificação.

2. Os valores a salvaguardar serem de valor igual ou superior ao que se sacrifica


- critérios de preferência pelos quais se deve guiar o agente:
1- imponderabilidade do bj vida – o dever de salvar uma vida n deve ceder perante qualquer outro
2- bens pessoais prevalecem sobre os outros de carácter patrimonial. Porque a Constituição se baseia na dignidade da pessoa humana e os direitos patrimoniais
estão ao serviço dos direitos pessoais.
3- O dever jurídico‐penal prevalece, em princípio, sobre os restantes deveres.
4- O dever de garante prevalecerá, à partida, sobre um dever concorrente.
5- Maior número de deveres de garante de um lado do que do outro - Havendo dois deveres de garante de um lado e apenas um do outro, para a Ordem
Jurídica será, à partida, mais valiosa a opção que atende os dois deveres, obtendo assim a máxima realização possível.
6- A gravidade do dano e o grau de perigo que ameaça cada bj
7- importância individual do dano evitado e do dano causado – entram em consideração as circunstâncias individuais de cada um

- No conflito de deveres, o resultado da ponderação – igualdade, superioridade ou inferioridade do dever cumprido – não deve resultar simplesmente da
hierarquia dos bens jurídicos em colisão, mas da ponderação concreta dos interesses em conflito no quadro da situação global.

No caso de igualdade dos deveres


 O agente escolherá livremente o dever a cumprir e à Ordem Jurídica não interessam os motivos da sua decisão. – defendido por António Brito Neves
- Pode chocar a sensibilidade humana o facto de o agente usar critérios racistas ou motivos de ódio ou preconceito contra o afetado - mas o direito
não pode intervir onde a OJ já não apresenta critérios de escolha para o agente.
Requisitos:
1. Opera qnd estejam em causa 2 ou mais deveres da mesma natureza e o agente opte por um deles:
2 ações ou 2 omissões
2. Não opera qnd estejamos perante 1 dever de ação e 1 dever de omissão, sendo que o último prevalece
- o dever de omissão prevalece smp sobre a omissão pq temos um dever de não ingerência na esfera dos outros
- O que sucede é que um dever de ação entra em contradição com o dever (geral) de não ingerência em bens jurídicos alheios, pelo que o que
verdadeiramente e no fundo se verifica é uma colisão de interesses que deve ser decidida segundo o Artigo 34o, CP e a teoria do Estado de
Necessidade Justificante.
3. Conhecimento da situação
- Os motivos do agente para ter recusado a opção mais valiosa para o Direito poderão ser atendidos apenas a nível de culpa.

Consentimento do Ofendido – art 38º

- Relativamente ao consentimento em Dto Penal, podemos seguir:


- Uma perspetiva monista do consentimento (defendida por Augusto Silva Dias), segundo a qual o consentimento vinga apenas e só como causa de justificação,
desde que estejam preenchidos os requisitos do art 38º. Atribui valor único ao consentimento, operando apenas como causa de exclusão da ilicitude. Isto
porque (ASD e os profs que seguem esta teoria) entendiam que pensar numa linha de continuação entre o bem jurídico e a autodeterminação seria artificial.

- Todavia, a posição dominante na doutrina é a tese dualista, do duplo enquadramento (defendida por Costa Andrade). Segundo esta tese, podemos ter
consentimento com um duplo de valor:
- Há acordo quando o conflito entre a autonomia de consentir e a lesão do bem e o seu valor para o sistema jurídico-penal é resolvido pelo legislador
na descrição do tipo legal. A menção ao acordo está na lei, e esta figura n precisa de verificar os pressupostos e requisitos do consentimento, sendo
uma figura autónoma. No caso dos arts 156º (cirurgias), 158º(sequestro), 164º(violação), 190º(violação de domicílio),203º (furto) e 208º (furto de uso
de veículo), a doutrina identifica a lógica do acordo. O acordo gera a atipicidade.
- Se n houver acordo, claramente há dissentimento e aí já há tipicidade

- Há consentimento quando o conflito entre a autonomia de consentir a lesão do bem e o seu valor para o sistema jurídico- penal não está resolvido
pelo legislador na descrição do tipo legal. O consentimento gera a justificação do facto, com a consequente exclusão da ilicitude.

Pressupostos:
1.Estarem em causa interesses jurídicos livremente disponíveis
- tem de se tratar de um bem jurídico pessoal (tem de haver titular individualizável que se possa auto-realizar, x bens colectivos) e disponível (x
vida ou dignidade).

2. Não ofender os bons costumes


- O Artigo 38o + 149º/2, a propósito das ofensas corporais, estabelece a exigência de que o facto consentido n ofenda os bons costumes
- Descortina-se, assim, uma conjugação de critérios não exaustivos, em que releva a orientação da ação + identidade subjetiva e social da ação + o
modo de execução (meios empregados) + intensidade previsível da lesão
-FD + MFP-uma aceitação da lesão irreversível da integridade física pode violar os bons costumes, cabendo ao Direito proteger como bens
indisponíveis subjacentes à dignidade da pessoa.

Requisitos:
1. Consentimento expresso por meio que traduza uma vontade séria, livre e esclarecida (38º/2)
2. Prestado por pessoa maior de 16 anos com discernimento para avaliar o seu sentido e alcance – capacidade de consentir (38º/3)
3. Conhecimento da situação (38º/4)

Consentimento Presumido – art 39º

No Consentimento Presumido, o ofendido n manifesta expressa e atualmente a vontade de permitir a lesão dos bens jurídicos de que pode dispor, por se
encontrar numa situação de incapacidade para tal. Apesar disso, o seu verdadeiro interesse e a sua vontade estariam em causa se não fosse realizada a
intervenção na sua esfera de bens.

Requisitos:
1-  Requisitos Situacionais | Referentes à ausência de efetiva possibilidade de manifestação da vontade; 2-  Requisitos de Reconstrução da Vontade | Através
de um juízo hipotético sobre a vontade do ofendido, há uma Suposição razoável de que o mesmo consentiria.
o Suposição Razoável não pode atender apenas à perspetiva de uma qualquer pessoa na situação do titular do interesse, mas sobretudo à inferência
lógica que qualquer pessoa retiraria sobre os indícios existentes acerca da vontade real do ofendido, entendida como vontade esclarecida

- Tese dualista do duplo enquadramento, nos casos de consentimento presumido:


- Costa Andrade – no caso não há um acordo expresso – mas a doutrina tem vindo a aceitar que os acordos podem ser tácitos e até presumidos se a
racionalidade do contexto nos permitirem inferir que o titular do bem jurídico dissentiria ali. Há um enquadramento possível na figura do acordo
presumido.

- Assim, há acordo quando o conflito entre a autonomia de consentir e a lesão do bem e o seu valor para o sistema jurídico-penal é resolvido pelo
legislador na descrição do tipo legal. A menção ao acordo está na lei, e esta figura n precisa de verificar os pressupostos e requisitos do
consentimento, sendo uma figura autónoma. No caso dos arts 156º (cirurgias), 158º(sequestro), 164º(violação), 190º(violação de domicílio),203º
(furto) e 208º (furto de uso de veículo), a doutrina identifica a lógica do acordo. O acordo gera a atipicidade.

ERROS
 Quando faltarem requisitos – causa de justificação correspondente

 Causa de justificação objetiva


1. Pressupostos da causa de justificação estão preenchidos
2. Requisitos da causa de justificação estão verificados, exceto o conhecimento da situação
- Regime Legal: procede-se à aplicação do art 38º/4, procedendo a uma analogia in bonam partem (é permitida na medida em que a norma penal é favorável ao
agente).
- cabe então questionar se, de acordo com o art 38º/4 o agente vai ser punido por tentativa (situação em que seria sempre punido), ou se o agente
deve ser punido de acordo com o regime da tentativa. Ora, a prof MFP considera que o legislador faz apelo ao regime da tentativa, pelo que cabe
analisar se no caso concreto o mesmo vai ser punido.

 Causa de justificação putativa (falha de informação)


1. Pressupostos da causa de justificação não se verificam
2. Requisitos da causa de justificação estão verificados
 Há um erro sobre um estado de coisas, que a existir excluiria a ilicitude do facto
Regime Legal: há aplicação do art 16º/2+3 – há erro suposição sobre os pressupostos de facto de uma causa de exclusão da ilicitude, sendo este um
problema jurídico analisado em sede de culpa (apesar de existir divergência):
- Teoria limitada do dolo (defendida por Eduardo Correia) defende que num caso como este podíamos também excluir o dolo do tipo, isto só n
aconteceria quando houvesse hostilidade ao direito.
- Teorias da culpa –FD na base da sua construção faz uma analogia entre a situações do art 16º/1 e do art 16º/2. Se o problema é estruturalmente o
mesmo, a solução também, pelo que há exclusão automática do dolo. O professor exclui a culpa dolosa, mas nos termos do 16º/3 (ver em baixo)
 Erro sobre os pressupostos de facto de uma causa de desculpa (e n de justificação pq falta algum dos requisitos)
Há um erro sobre um estado de coisas, que a existir excluiria a culpa do facto
Regime Legal: há aplicação do art 16º/2+3 – há erro suposição sobre os pressupostos de facto de uma causa de desculpa, sendo este um problema jurídico
analisado em sede de culpa
- Teorias da culpa –FD na base da sua construção faz uma analogia entre as situações do art 16º/1 e do art 16º/2. Se o problema é estruturalmente o mesmo, a
solução também, pelo que há exclusão automática do dolo. O professor exclui a culpa dolosa, mas ressalva a aplicação do 16º/3 se:
- houver tipo negligente
- e se o erro lhe for censurável. Assim, cabe avaliar se há culpa negligente no caso concreto, e se houve um dever subjetivo de cuidado. Olhando para as
concretas capacidades e conhecimentos do agente, o mm atuou com descuido e leviandade.

 Erros sobre a ilicitude, art 17º (falha na valoração)


- erro sobre a ilicitude de ação – desconhece que aquele facto era ilícito
- erro sobre a existência de um dever jurídico de garante na omissão- o agente desconhece a própria posição de garante
- erro sobre a existência/limites de uma causa de justificação ou de exclusão da culpa
- erro sobre a validade da norma

 O agente conhece a realidade e tem todas as informações sobre a situação real, mas valora-a mal– diverge do sentido do legislador

 O art 17º exclui a culpa, apenas se o erro n for censurável ao agente


- FD: para saber se o erro é censurável ao agente- critério da retitude da consciência errónea, questionar se há insensibilidade/daltonismo da consciência ética ou
existe fidelidade ao direito.
Requisitos: (i) tratar-se de um caso em que a ilicitude correta é discutida e controvertida; (ii) a solução dada pelo agente corresponde a um ponto de vista de
valor jurídico reconhecido, manifesta uma atitude global de fidelidade ao dto e uma correta consciência; (iii) o propósito do agente corresponde a um ponto
de vista jurídica/ relevante (esforço continuado de corresponder às exigências do dto).

- MFP- As situações do artigo 17.o revelam características de erro moral. Apela a uma ética de cuidado/ética das emoções- n devemos olhar apenas e só para o
quadro abstrato mas olhar para o projeto de vida do agente e as emoções que o motivaram. Pode haver uma decisão tendo em conta a sua linha preponderante
de valores.

 Se for censurável ao agente, etm aplicação o 17º/2 - - 17º/2 – tese de atenuação especial (extraordinária) facultativa – arts 72º e 73º - qnd o comportamento
do agente revelar uma completa hostilidade ao dto – n há atenuação

 Erro sobre a proibição – art 16º/1 parte final


FD - O erro é de tipo intelectual, ou seja, há um erro sobre a proibição (mala mera prohibita).
– Estamos perante crimes cuja ilicitude não se presume conhecida de todos os cidadãos, são proibições não absolutamente estabelecidas no OJ, ou então
normas principalmente de direito penal secundário, em que o agente ignora a proibição. O que significa que o agente, apesar de ver a sua conduta como ela é,
não sabe que a sua conduta é crime porque não há razão axiológica para saber – é crime por questão técnica. As condutas são axiologicamente neutras (é
indispensável conhecer a proibição para ter consciência da ilicitude).

MFP – critério potencial da ilicitude


- tem de se apreciar as condições efetivas de oportunidade de motivação pela norma penal tendo em conta 3 aspetos:
1) evidência das regras;
2)perigosidade previsível da conduta;
3) nível de inserção profissional
- se for caso em que, mesmo que neutra, era exigível ao agente ter conhecimento da sua proibição (agente especialmente responsável atendendo à função que
desempenha, ou agente que decide tomar parte de relação especialmente regulada), então não se exclui dolo do tipo – aplicar 17º.
- Problema que se coloca no âmbito da imputação subjetiva, pelo que se exclui automaticamente o dolo do tipo.
- No entanto, ressalva-se a punibilidade nos termos do art 16º/3. Assim, o agente será punido por negligência se:
- houver tipo negligente
- se n tiver atuado de acordo com um devre objetivo de cuidado, que tem por referência o princípio da confiança. Há que analisar se a pessoa média, na mesma
situação teria agido da mm forma.

- exigência de licença para deter armas – a evidência das regras n é obscura – art 17º
- quando é uma norma específica mas conhecida de todos – art 17º - normas que já estão absolutamente estabelecidas no OJ

 Excesso de Legítima Defesa – art 33º


Excesso extensivo de defesa – a defesa exerce-se para além dos limites inerentes à verificação do pressuposto da LD, num momento em que já n se verifica
agressão ilícita atual.
- A agressão não é atual, na medida em que o agente persegue o agressor ou continua a agressão desnecessariamente.
Excesso Intensivo de Defesa - a defesa exerce-se para além dos limites inerentes à verificação dos requisitos da LD, nomeadamente a necessidade do meio e da
defesa.
Excesso asténico – situações de medo, susto
Excesso esténico – estados de irritação, cólera ou ódio

 O art 33º/1 prevê que em casos de excesso intensivo dos meios empregados a pena pode ser:
- especialmente atenuada se se tratar de um excesso asténico censurável
- pena não será especialmente atenuada se se tratar de excesso esténico (apesar de n se dever fechar a porta)
 Relativamente, aos casos de excesso extensivo e ao excesso intensivo de defesa, o art 33º/1 não prevê estas situações, mas não está vedade uma analogia in
bonam partem.

Excesso de Legítima Defesa Desculpante


- Nos termos do art 33º/2 a desculpa ocorrerá quando:
- Estivermos perante um excesso de LD intensivo de meios asténico não censurável. Quanto à questão de ser não censurável  Ver 1.2 da culpa
 Relativamente, aos casos de excesso extensivo e ao excesso intensivo de defesa, o art 33º/2 não prevê estas situações, mas não está vedada uma analogia in
bonam partem

Excesso de Legítima Defesa Putativa


 Se a causa do excesso é o próprio erro:
- O estado de coisas imaginado pelo agente, a existir, excluiria a ilicitude, pois n haveria excesso de LD – porque o excesso só existe em virtude do erro – é uma
das situações de aplicação direta do Artigo 16o, no2, 1a parte– erro que exclui automaticamente o dolo da culpa.
Exclui-se a culpa dolosa, mas ressalva-se a aplicação do 16º/3 se:
- houver tipo negligente
- e se o erro lhe for censurável. Assim, cabe avaliar se há culpa negligente no caso concreto, e se houve um dever subjetivo de cuidado. Olhando para as
concretas capacidades e conhecimentos do agente, o mm atuou com descuido e leviandade.
 Se a causa do excesso não é o erro:
- Nestes casos mesmo que o erro fosse real, o agente estaria sempre em excesso.
- Assim, o agente poderá ser punido em termos análogos ao do excesso previsto no art 33º/1 e 2.
 O art 33º/1e 2 prevê que em casos de excesso intensivo dos meios empregados (ou nos restantes casos por analogia) a pena pode ser:
- especialmente atenuada se se tratar de um excesso asténico censurável (33º/1)
- n é especialmente atenuada sequer se se tratar de excesso esténico (33º/1)
- excluída, ou seja, a não punibilidade nos casos de excesso asténico não censurável (33º/2)

- Se o excesso não for punível, o que só aconteceria por analogia com o Artigo 33o, no2, subsistiria ainda assim a hipótese de o agente ser punível por Crime
Negligente– Artigo 16o, no3, CP se (ver em cima).

CULPA
Conceção de Culpa de Figueiredo Dias
1.1. Conceito Material de Culpa
Segue um conceito de culpa da pessoa (ou da personalidade). Toda a culpa é materialmente o ter que responder pelas qualidades juridicamente desvaliosas da
personalidade que fundamentam um facto ilícito-típico e nele se exprimem.
Tese dominante para valiar se uma conduta é censurável
- A censurabilidade é aferida numa lógica de inexigibilidade, e portanto há que atender à pessoa dotada de uma resistência espiritual normal.
Temos de olhar para o caso concreto e perceber se a generalidade das pessoas “honestas” ou “normalmente fiéis ao direito” teriam provavelmente atuado da
mesma maneira.

Princípio da desculpa- MFP


A professora adere a um critério ético afetivo, assente em 3 liberdades: de vontade, de se ser quem é e de alternativas. Considera que a inexigibilidade é o
desfecho, sendo necessário encontrar um princípio fundamentador a montante. A professora apela ao princípio da oportunidade de motivação pela norma. Em
primeiro, há que avaliar a base causal factual e verificar como é que no caso concreto o agente atuou, apurar a tensão subjetiva que levou o agente a atuar
dessa forma. Num segundo momento, apela-se ao princípio da justiça e a uma limitação objetiva. Esta construção tem sempre por base a falibilidade humana. O
agente não apresenta uma atitude hostil ao direito, mas resolve o dilema tendo em conta o seu código oculto. Assim, o princípio da desculpa só irá operar se
descortinarmos no agente um código oculto muito próprio pelo qual o agente se regeu, e que exprime a sua vivência e convicções mais profundas. Temos
sempre de ver se a decisão n pode ser censurável do ponto de vista moral e se as emoções que movem o agente são eticamente nobres.

Casos de exigibilidade intensificada


- Trata-se nomeadamente do exercício de determinadas profissões ou de certas posições sociais a que se liga o dever de suportar perigos acrescidos ou perigos
especiais. Não pode aqui aceitar-se a intervenção da Cláusula de Inexigibilidade se a ameaça se mantém dentro da área típica de perigos que o agente tem o
dever de correr e suportar.
- Nos casos chamados de exigibilidade intensificada quando sobre o agente recai um especial dever de suportar riscos acrescidos – não pode, em princípio,
desculpar-se, em nome da exigibilidade de um comportamento adequado ao direito.
- MFP – critério ético afetivo – há pessoas por força da função profissional que adotaram têm deveres especiais têm uma exigibilidade de suportabilidade da
situação mais elevada. No entanto, em situações extremas, há que apelar à lógica da falibilidade humana, pelo que não é por a pessoa ter um dever especial que
deixa de haver desculpa

Estado de Necessidade Desculpante – art 35º/1


 Uma exclusão da culpa em nome de um estado de necessidade desculpante só entrará em questão quando não esteja em causa a salvaguarda de bens
jurídicos claramente preponderantes mas, bem ao contrário, quando se salvaguardam bens inferiores, iguais ou no máximo não sensivelmente superiores ao
bem jurídico sacrificado.

Requisitos:
1. Perigo atual não insignificante e n removível de outro modo (utilizado meio adequado menos oneroso)
2. A exclusão da culpa só ocorre qnd se trata de preservar os BJ: a vida (intrauterina tbm), a integridade física, a honra ou a liberdade.
3. A cláusula de inexigibilidade - não seja razoável exigir ao agente, segundo as circunstâncias do caso, comportamento diferente. (escrever o 1.2)
4. A desculpabilidade releva também ao nível da probabilidade de produção da lesão da vida, integridade física, honra ou liberdade.
5. Elemento Subjetivo - O facto só pode excluir a culpa quando o agente tenha, com ele, prosseguido a finalidade de salvação do bem jurídico ameaçado.
Agente a causar voluntariamente o perigo
-Se o perigo é intencionalmente provocado pelo agente, nomeadamente, visando mais tarde reivindicar-se de uma desculpa por estado de necessidade, esta
deve em definitivo ser negada.
- Em todas as hipóteses restantes não vê razão para que se negue a priori a possibilidade de exclusão da culpa: tudo dependerá da questão da inexigibilidade.

Situações de Crassa Deproporção


Figueiredo Dias | Uma recusa de princípio de exclusão da culpa só deve ter lugar em caso de crassa desproporção dos bens em jogo, devendo todos os restantes
casos ser decididos em função da cláusula da inexigibilidade na situação.

 Se todos os requistos estiverem preenchidos – o art 35º/1 exclui a culpa do agente


 Se o perigo ameaçar interesses jurídicos diferentes, mas os restantes requisitos estiverem preenchidos – art 35º/2- Neste caso, a culpa persiste, ainda que
possa ser especialmente atenuada. Em suma, este preceito não refere uma causa de diminuição ou de exclusão da culpa, e portanto um problema de culpa.
Refere uma causa de diminuição ou de exclusão da pena excecionalmente – portanto, um problema de carência de pena.

Conflito de Deveres Desculpante


- Trata-se de uma figura não prevista na lei, mas aceite pela generalidade da doutrina e que se funda nos princípios constitucionais que fundamentam e
norteiam a culpa. MFP + ATC consideram que podemos aplicar analogicamente o art 35º/1 aos casos de conflitos de deveres, sem termos no entanto de fincar
restringidos pelos bens jurídicos presentes no art.
1 Situação em que o agente cumpre o dever menos valioso
2 Situação em que o agente não cumpre nenhum dos deveres
- Apelar aos critérios de causa de inexigibilidade e princípio da desculpa.

TENTATIVA

2. Atos Preparatórios - Também a preparação da execução de um tipo de ilícito e os atos em que se traduza não são, salvo disposição em contrário, puníveis –
Artigo 21o.
No entanto, existem tipos de ilícito que abrangem logo a preparação de tais violações ou ataques, criando deste modo tipos (de perigo abstrato, em princípio)
de atos materialmente preparatórios, mas formalmente transformados em crimes autónomos -Artigo 262º (contrafação de moeda)
A lei prevê em certos casos, também excecionais, a punição dos atos preparatórios, não como crimes autónomos, mas como atos preparatórios enquanto tais: -
Artigos 271º (contrafações) e 274º (incêndios), por exemplo.

Os elementos da Tentativa

Nos termos do Artigo 22o no1 e no2, são elementos da tentativa:


1.  A Decisão de cometer um crime;

-  Dolo dirigido à realização objetiva (dolo do tipo);


- Eventualmente, especiais elementos subjetivos que a lei requeira no caso.

2.  A prática de atos de execução de um crime que não chega a consumar-se.

Concretização do art 22º/2


Alínea a): atos de execução “os que preenchem um elemento constitutivo de um tipo de crime” – critério formal objetivo – tipos de execução vinculada - burla
Alínea b): atos de execução “os que forem idóneos para produzir o resultado típico = isto é, adequados, segundo a doutrina da adequação, nomeadamente de
acordo com um  juízo ex ante de prognose póstuma -critério material objetivo
Alínea c): ato de execução os que – assumindo as exigências de “normalidade social” requeridas pela alínea c) – antecede imediatamente, o ato cabido nas
alíneas a) ou b). – critério formal objetivo. – pressupõe imediação do ponto de vista da adequação e da previsibilidade de um ato que logo a seguir se refere às
alíneas anteriores- em segundo lugar é necessário que estejamos a bulir com a esfera da vítima.
Conexão de perigo típica - FD

Tentativa qualificada - é de exigir a verificação de atos de execução da qualificação se esta se segue ao início da execução do tipo fundamental, como pode
acontecer com o homicídio ou as ofensas à integridade física qualificadas por tortura ou atos de crueldade segundo os Artigos 132o/2 e 146o; e de atos de
execução do tipo fundamental se a qualificação já preexistir – artigos 204o/2/e) + 214o/1, tratando-se neste último caso da ameaça que precede a danificação.

Delimitação da Tentativa Punível- art 23º


- ver 23º/1  e depois  Sendo punível a Tentativa, a pena que lhe cabe é, nos termos do Artigo 23o, no2, “a pena aplicável ao crime consumado,
especialmente atenuada”. Deparamos aqui com uma atenuação especial da pena (Artigo 73o) obrigatória.

-Tentativa Impossível - ver 23º/3 - A Tentativa levada a cabo: 1-  Com meios inaptos; 2-  Ou sobre objeto essencial inexistente.

Punível?
- Teoria da impressão (FD) – temos de fazer um juízo ex ante de prognose póstuma. Temos de deslocar um observador externo para o momento e circunstâncias
especiais em que o agente atua. A tentativa impossível será punível se é suficiente para abalar a confiança comunitária na vigência e validade da norma de
comportamento.

- Teoria MFP – atenta ao princípio da ofensividade dos bens jurídicos e da legalidade. Temos de olhar para os mkundos possíveis e ver se no campo das
possibilidades é possível apurar se numa realidade paralela alguma vez era possível que aquele meio fosse apto ou aqule objeto da ação fosse atingido. Nas
tentativas relativamente imp. a inaptidão do meio só se verificaria naquele caso, mas não um mundo paralelo. Tentativas absolutamente impossíveis – num
mundo paralelo nnc podiam ter evoluído para a execução ou lesão de bens jurídicos efetivos –p estes casos ou fazemos uma revogação do art 23º/3 quando
permitir a imputação ou fazemos uma interpretação restritiva, na parte em que a menção ao manifesto permita considerar a tentativa impossível como punível

Saber se a impossibilidade deve ainda considerar-se manifesta quando as representações do agente, embora contrárias às representações da generalidade
das pessoas “de são entendimento” são ainda partilhadas pela maioria ou pela grande parte das pessoas pertencentes ao círculo local e cultural do agente -
Figueiredo Dias | Responde afirmativamente a esta questão, no sentido de dever concluir-se pela não punibilidade da Tentativa Impossível nestes casos sempre
que, segundo o modelo da adequação, o meio seja inidóneo ou o objeto inexistente

Tentativa Irreal ou Supersticiosa |É aquela tentativa em que o agente tenta alcançar a sua finalidade delituosa através de meios sobrenaturais Nestes casos, a
inaptidão do meio é absolutamente manifesta e, logo a Tentativa não é punível, sem que o pelo às representações do agente possa abalar esta conclusão
(apesar de existir dolo, apesar de haver casos em que falha logo o dolo, pq o agente quer um mero desejo/ milagre). N existe qualquer impressão de perigo e
não se verificam, portanto, razões de punibilidade ligadas à confiança nas normas ou fundadas na estabilização contrafática das expectativas comunitárias na
validade daquelas.

Tentativa Impossível e Crime Putativo (casos em que o agente quer cometer o crime, mas na verdade n comete)

Tentativa Impossível - Quem parte erroneamente, no seu comportamento, de circunstâncias que, se fossem verdadeiras, preencheriam um tipo de crime,
comete uma Tentativa Impossível
- Acha que a criança tem 13, mas ela na verdade tem 15
- é punível se a inaptidão do meio e a falta de objeto fossem manifestas
Crime Putativo- Quem representa corretamente todos os elementos constitutivos do facto, mas aceita erroneamente que eles integram um tipo de crime (mas
n integram) comete um crime putativo.
- Sabe que tem 15 anos e acha que isso é crime. Atos de adultério, de homossexualidade ou de incesto como tais, radicados na convicção da existência na ordem
jurídica de tipos de crime que, na realidade, não existem. Caso há causa de justificação, mas o agente pensa não haver.
O Crime Putativo não é punível. Não poderia ser porque, de um ponto de vista jurídico-substancial, segundo um juízo ex post, faltaria qualquer perigo de
violação de um bem jurídico-penal suscetível de abalar a confiança da comunidade nas normas jurídicas de tutela (que no caso não existem). Além disso, falta na
lei a descrição típica do crime consumado respetivo e a sanção que lhe fosse aplicável – nullum crimen, nulla poena sine lege.
Tentativa por Autor Inidóneo - crimes em que, para a realização do facto típico, o autor tem que ter uma certa qualidade típica (por exemplo ser funcionário
público) - mas não a tem, embora tanto o agente, como os outros possam pensar que tem essa qualidade típica.
MFP- Considerar-se que nesses casos há uma tentativa impossível por autor inidóneo, que não é manifestamente inidóneo, é algo que não cabe no artigo 23o,
nem no 22o, defende a Professora, na medida em que só caberão no art 22º as tentativas impossíveis puníveis nos termos do art 23º/3 ( e neste só cabe a
inaptidão dos meios e a inexistência de objeto essencial).
FD- o artigo 23o/3 parte da punibilidade de toda a tentativa impossível, salvo se a ineptidão do meio ou carência do objeto forem manifestas. O problema é
saber se é possível analogia permitida, favore reum, aos casos de erro sobre idoneidade do sujeito. E se serão casos de crime putativo ou de tentativa
impossível, punível se a idoneidade do sujeito n for manifesta.
- Se o autor desconhece a circunstância (fáctica ou jurídica) das quais aquela qualificação depende – estamos perante um erro inverso sobre a factualidade típica
– é tentativa impossível, eventualmente punível.
- Se o autor conhece exatamente todas as circunstâncias , mas perceciona erroneamente o seu significado para a qualificação – erro inverso sobre o ilícito –
crime putativo, não punível

DISTINÇÃO
Para proceder à distinção entre Acabada e Inacabada, é unânime na doutrina que se torna indispensável:
- Atentar ao plano do agente: recorrer às representações do agente sobre o estádio alcançado da realização dos factos
- tentativa Inacabada – o agente no momento em que abandona o facto, parte de que o resultado se não verificará
- tentativa inacabada torna-se acabada se o agente começou por pensar que a sua atuação anterior não poderia produzir o resultado, e chega
posteriormente à convicção de que esse será possivelmente o caso.
- se o agente não sabe se terá ou n lugar a consumação – tentativa acabada
- se o agente n tomar posição sobre o que irá acontecer depois de dar por terminada a atuação e n há consumação – depende da situação objetiva e
da gravidade e concludência dos atos praticados.

Desistência Voluntária da Tentativa

Inacabada
- A tentativa deixa de ser punível quando o agente voluntariamente desista de prosseguir na execução do crime, nos termos do art 24º/1, 1ª parte.
- Um abandono existirá sempre que o agente tenha renunciado à prática de atos que, no momento da renúncia, ele ainda considerava necessários para a
consumação.

Acabada
- Na tentativa acabada a execução foi levada até ao limite, pelo que para que a tentativa não seja punível nos ternos do art 24º/1, 2ª parte, ao agente não basta
o abandono do plano, mas tem o mesmo de voluntariamente impedir a consumação através de uma atividade própria, eventualmente com auxílio de 3º. O
desistente deve ter posto em movimento uma nova cadeia causal dirigida a impedir a consumação do facto e esperar que esta não venha a ter lugar, praticando
atos idóneos a evitar a consumação e que esta efetivamente não tenha sobrevindo.

 Se propondo-se o agente a impedir a consumação, esta venha a ser impedida não por força da sua atividade, mas por facto independente da sua conduta –
nos termos do art 24º/2, o agente não é punível se ele se tiver esforçado seriamente por evitar a consumação. Com esforços entende-se que o agente criou
oportunidade de salvação do BJ. Para avaliar se os esforços são sérios vale a ideia da melhor contribuição séria segundo a convicção do agente

 Se a consumação for impedida dolosamente pela vítima – deverá haver lugar a uma aplicação analógica do art 24º/2

Tentativa Falhada ou Fracassada | São hipóteses em que o agente renuncia à execução do facto porque crê que a consumação já não pode ser alcançada.
FD: pode haver tentativa fracassada por razões objetivas e subjetivas
Fernanda Palma | Considera as tentativas fracassadas por razões subjetivas do agente configurando um caso de Tentativa Impossível. Entende a Professora que
a Tentativa impossível aproxima-se da Tentativa Falhada pelo agente, apenas se distinguindo daquela na medida em que um facto exterior veio obstar à
consumação.

 Nos casos de tentativa fracassada a realização típica intentada não é mais possível, pelo que o agente n chega a desistir. Assim sendo, o agente não chega a
desistir. Não faz sentido falar em desistência nestes casos pelo que o agente vai ser punido por tentativa.

Desistência parcial
O agente, já na fase de execução, renuncia voluntariamente à consumação de uma circunstância qualificadora, mas consuma, não obstante, o delito
fundamental.

Em qualquer caso, a desistência só afasta a punição quando for voluntária (art 24º)
 FD - A desistência é voluntária sempre que seja reconduzível a uma motivação autónoma ou auto imposta. O que pressupõe que o agente seja ainda senhor
da sua decisão e não esteja submetido a uma pressão de razoável da situação exógena sobre o cumprimento das suas intenções próprias.

- ver que tipo de ato de execução está em causa. Dizer qual o tipo de tentativa

COMPARTICIPAÇÃO
- Neste caso, 2 ou mais pessoas concorrem para a prática de um facto penalmente relevante
- Em primeiro lugar cabe analisar os títulos comparticipativos de cada agente:
Autor Imediato – nos termos do art 26º 1ª proposição trata-se do autor material, é quem executa diretamente o facto, pelas suas próprias mãos. Preenche na
sua pessoa a totalidade dos elementos objetivos e subjetivos do ilícito típico. Tem o domínio da ação.

Autor Mediato- nos termos do art 26º 2ª proposição é aquele que executa o facto por meio de outrem. É a pessoa de trás que domina a vontade da pessoa da
frente, que é o executor, intermediário ou instrumento (que n tem liberdade de ação). Todo o acontecimento seja obra do homem de trás, em especial, da sua
vontade responsável. O autor mediato domina o facto através do domínio da vontade do executor.
- como é que domina a vontade do executor:
1- indução em erro relevante- pessoa da frente está em erro sobre os elementos de facto – art 16º/1 - - n representa que está a representar a
conduta nem o processo causal– erro sobre os pressupostos de facto
2- casos em que se dominam vontades débeis – crianças – inimputável em razão da idade
3- coação moral
4- (doutrina alemã) controlo de um aparelho organizado de poder (iliba soldados da IIGM, máfia, cartéis). Há centros organizados e estruturados
hierarquicamente em que os homens- da-frente reagem quase automaticamente à instrução do chefe e obedecem às suas ordens. O executor do
crime surge como fungível, mesmo quando atue com culpa dolosa, pois o verdadeiro domínio do facto é do homem-de-trás.
- Princípio da auto-responsabilidade (a autoria mediata termina e começa a instigação)- no âmbito da autoria mediata, são excluídas todas as situações em que
entre a conduta do homem-de-trás e o delito se interponha a atuação de um homem da frente plenamente responsável, isto é, que atue a título de culpa
dolosa, atua n sendo instrumentalizado. O critério é que o homem-de-trás tenha domínio do facto, fundado no domínio da vontade do executor (por coação ou
engano) Nos casos em que isto não se verifica o executor é responsável e do dolo e não existirá autoria mediata

- Início da Tentativa do autor mediato – solução global MFP – n é preciso fazer coincidir o inicio da tentativa do autor mediato com a pratica de atos de
execução do autor imediato. O modo como o agente instruiu de alguma forma o agente já se revela na execução do crime.- art 22º/2 al c)

Casos nos quais o facto foi cometido pelo homem-de-trás pelo intermédio de outrem e conduz à sua consideração como autor mediato?
1. O instrumento (homem-da-frente) atua Atipicamente
-Por não praticar uma ação – casos em que o instrumento não chega a levar a cabo uma ação em sentido jurídico-penal, mas é apenas utilizado por outrem
como puro corpo ou forma de ação (projétil).
- Não cabe na autoria mediata.
- Nestes casos, quem se serve de uma pessoa é quem pratica a ação, sendo autor imediato.
i. MFP: hipnotizar alguém pode ser realizar por si mesmo, pois o hipnotizado não tem vontade; pode ser o mesmo de quem o usa o corpo de outrem
como projétil.

- Por ser a própria vítima – casos em que o instrumento é a própria vítima da ação, não sendo a ação típica quando cometida por ela. - Se a vítima age não
detendo o domínio do facto, mas por força, por exemplo, de coação ou de erro provocados ou explorados pelo homem-de-trás, a autoria mediata parece dever
ser afirmada.

5. O instrumento atua de forma plenamente responsável - A ideia mestra da autoria mediata é que ela só se pode verificar quando, por força da atuação do
homem-de-trás, o homem-da-frente realiza o tipo de ilícito de forma não (totalmente, dolosamente) responsável.

Se esta condição básica não se verificar, a qualificação dada ao homem-de-trás é a de INSTIGADOR e não a de Autor Mediato.

Transportamos da pessoa da frente para a pessoa de trás os crimes


Quando houver coação (crime de execução vinculada9 – fazer outra imputação subjetiva – 154º/1/ imputação subjetiva: 13º + 14º/1
Tipicidade Objetiva: autor mediato 26º, 2ª proposição + crime da parte especial praticado pelo auotr imediato. Se n houver consumação: é punido por tentativa
(ver início da tentativa), portanto para além do crime da parte especial + 22º al ...
Tipicidade Subjetiva: 13+ 14º /1
Ilicitude: desvalor da ação e desvalor do resultado
Culpa: Há capacidade de culpa (19º+20º), n há causas de desculpa
Punibilidade: se for por tentativa ir para o 23º/1 e 2+ 72º e 73º

- Instigador tem DOMÍNIO DA DECISÃO do instigado


 A possibilidade de verdadeira determinação não é excluída pela circunstância de o instigado se mostrar decidido a cometer crimes de certa espécie, basta que
a decisão pelo facto concreto seja criada ou produzida pelo instigador. Só quem já está determinado à realização de um facto concreto (omnímodo facturus) é
insuscetível de ser instigado.

- Alargamento da Determinação
Alguém já está decidido quanto à prática de certo facto e é instigado a uma forma mais grave e mais ampla do comportamento.  Princípio analítico da
separação: responsabilidade do instigador reduz-se à parte do facto relativamente ao qual funcionou a determinação e se tal não preencher (por si mesma) um
tipo legal de crime, só poderá existir cumplicidade. Orientação sintética: afirma-se instigação relativamente ao delito “modificado” ou “alargado”

Exigências:

 Teoria da Acessoriedade Limitada- o facto praticado pelo autor tem de ser no mínimo típica e ilícita – para podermos responsabilizar os participantes
(instigador e cúmplice).
A “instigação em cadeia” - FD: o que se tem de analisar é se relativamente à conduta de cada um dos elos da cadeia se pode afirmar que ele determinou o
executor à prática do facto ilícito-típico, tendo este dado início à execução. O que importa é que se consiga descortinar o Domínio da Decisão que o instigador
tem sobre o autor imediato. Se não possuírem tal domínio e assumirem-se como meros transmissores ou intermediários do propósito do instigador não serão
autores e apenas podem ser considerados cúmplices.

Tipicidade objetiva: instigador – 26º 4ª proposição + crime da parte especial praticado pelo autor imediato. A acessoriedade quantitativa ou externa verificada,
porque o autor mediato praticou atos de execução art 22º/2 al ... (se n tivesse praticado, o instigador n era punido)
Tipicidade Subjetiva, há demanda dos participantes de duplo dolo: Art. 26o exige expressamente que a determinação da instigação seja dolosa. Não se deve
excluir à partida qualquer modalidade do dolo (admitindo uma instigação por dolo direto, necessário ou eventual). Há dolo quanto há determinação da vontade
do autor material – 13º + 14º/1, e tbm há dolo quanto à prática efetiva pelo autor material do crime da parte especial
Ilicitude: n há desvalor da ação nem do resultado e n há causas de justificação
Culpa: É imputável, há capacidade de culpa (19º+20º), e n há causas de desculpa
Punibilidade

Crime de detenção de arma proibida (artigo 86o, n.o 1 alínea c), da Lei n.o 5/2006, de 23 de fevereiro):
• Neste sentido, assumindo que A não detém licença para deter a arma de fogo em causa, estaríamos ainda perante um crime de detenção de arma proibida,
praticado com dolo direto (artigo 14.o, n.o 1, do Código Penal).

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