Você está na página 1de 3

TEORIA GERAL DO DELITO

Conceito formal: previsão em norma penal incriminadora, sob ameaça de pena. Conceito material:
comportamento humano causador de ofensa ou perigo de ofensa ao bem jurídico penal tutelado pela
norma. Conceito analítico: Fato Típico + Ilícito (antijurídico) + Culpável.

FATO TÍPICO: Conduta + Nexo de Causalidade + Resultado + Adequação Típica.

Conduta: Para o melhor estudo da conduta penal, cumpre percorrer os pensamentos doutrinários que
fundamenta(ra)m o Direito Penal moderno.

(1) Teoria Causalista (naturalista ou mecanicista): Idealizada pelos alemães Ernest von Beling e
Franz von Liszt, trata a conduta como um movimento corporal voluntário que produz uma
modificação no mundo exterior perceptível pelos sentidos. Baseia-se em uma relação natural de
causa-efeito.
Assim, a conduta causalista é composta por um aspecto externo (movimento corporal do agente) e
por um aspecto interno (simples vontade de agir ou omitir). Importante: essa vontade é mero
movimento corporal, não estando relacionada à finalidade do agente, elemento analisado somente
na culpabilidade (dolosa ou culposa).
Ex.: Ao dirigir tranquilamente o seu Porsche pela BR-116, Rubens é surpreendido pelo ato desesperado de
Airton que, querendo se suicidar, pula na frente do automóvel e morre instantaneamente. Ao analisar tal fato
pela lógica naturalista, pouco importa se Rubens quis ou não atropelar Airton para aferição da tipicidade. O que
deve ser analisado é se aquele foi o responsável pelo atropelamento e morte deste. Desse modo, a conduta de
Rubens será típica e, não havendo excludente de ilicitude, também antijurídica. Finalmente, ao adentrar o exame
da culpabilidade (no qual estão inseridos os elementos subjetivos do dolo e da culpa), chega-se à conclusão de que
a conduta de Rubens não era culpável, justamente pela ausência de dolo (querer matar) ou culpa (imprudência,
negligência ou imperícia) no atropelamento.

(2) Teoria Finalista: Criada por Hans Welzel, concebe a conduta como comportamento humano voluntário
psiquicamente dirigido a um fim. A finalidade, assim, é o traço primordial da teoria. A conduta se transforma num ato
de vontade com conteúdo, ao partir da premissa de que todo fazer ou não-fazer é orientado por um querer.

Desse modo, a grande mudança na estrutura do crime se opera realmente no campo da


culpabilidade, uma vez que tanto o dolo quanto a culpa migram para dentro do fato típico. Por sua
vez, a tipicidade passa a possuir duas dimensões: a objetiva (conduta, resultado, nexo e adequação
típica) e a subjetiva, representada pelo dolo ou pela culpa.
Ex.: Aos olhos finalistas, a conclusão do exemplo anterior do “atropelamento do suicida” é totalmente diferente.
Nesse caso, a conduta de Rubens sequer poderá ser considerada como típica, porque, ao ser analisado o dolo e a
culpa (que no finalismo compõem a própria tipicidade), verifica-se que Rubens não teve a intenção de matar
Airton, tampouco houve culpa na condução do veículo automotor. Enfim, não havia qualquer finalidade
criminosa. Veja-se que a teoria finalista é aceita pela maioria da doutrina brasileira, que entende ser
esta adotada pelo Código Penal. 1

(3) Teoria Social: Desenvolvida por Johannes Wessels e por Hans-Heinrich Jescheck, a teoria social
da ação almeja não substituir os modelos causalistas ou finalistas, mas sim trazer uma nova
dimensão: a relevância social (análise do comportamento humano com o mundo circundante).
Logo, a reprovabilidade social passa a integrar o conceito da conduta, na condição de elemento
implícito do tipo penal (comportamentos aceitos socialmente não seriam típicos)

Elementos da Conduta (movimento humano voluntário dominável pela vontade):

 Comportamento voluntário dirigido a um fim: nos crimes dolosos, a finalidade é a ofensa ao bem
jurídico ou sua exposição ao perigo. Nos delitos culposos, a finalidade abarca somente a causa de
um ato cujo resultado previsível seja capaz de causar lesão ao bem jurídico (não se quer a realização
do resultado).
 Exteriorização da vontade: aspecto corporal mecânico ou neuromuscular, consistente na prática
de uma ação ou omissão capaz de externar o elemento psíquico. Lembre-se, Direito Penal não pune
cogitações/pensamentos!
Causas de excludentes da conduta:

 Caso fortuito ou de força maior: tanto o caso fortuito (origem desconhecida) quanto os casos de
força maior (fatos naturais) são imprevisíveis e inevitáveis, não dominados pela vontade do homem
e, assim, não configuram qualquer conduta penalmente relevante.

 Involuntariedade: ausência da capacidade do sujeito de dirigir sua vontade. Ex.: estado de


inconsciência completa (sonambulismo, hipnose, etc.), atos reflexos (reação motora ou a falta dela
desencadeada de forma imediata por um estímulo diretamente dirigido ao sistema nervoso),
automatismos.

 Coação física irresistível: o sujeito, em face da de forca física externa, é impossibilitado de


determinar seus movimentos de acordo com sua vontade. Há algo exterior que impede o exercício
da liberdade corporal.

Formas de conduta:
 Conduta comissiva: É a realização (ação) de uma conduta desvaliosa proibida pelo tipo penal
incriminador. Viola um tipo proibitivo. Ou seja, é um fazer quando o agente deveria não fazer. Ex.:
matar alguém, subtrair para si coisa alheia móvel.

 Conduta omissiva: É o inverso da conduta comissiva, é a não realização (omissão) de


determinada conduta valiosa (comportamento ideal) a que o agente estava juridicamente obrigado e
que lhe era possível concretizar. Viola um tipo mandamental. Ou seja, é um não fazer quando o
agente deveria fazer. Ex.: deixar de prestar assistência à criança abandonada ou extraviada , deixar o
médico de notificar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória.
Crimes omissivos próprios (puros): A conduta omissiva própria está descrita no próprio tipo penal
incriminador, e, para que se configure, basta a sua desobediência, sendo, em princípio, irrelevante a
ocorrência de resultado naturalístico. Ex.: omissão de socorro (art. 135 do CP).

Crimes omissivos impróprios (comissivo por omissão): Aqui não basta a simples abstenção de
comportamento. O não fazer será penalmente relevante apenas quando o omitente (denominado
“garantidor”) possuir a obrigação de agir para impedir a ocorrência do resultado (dever jurídico de
garantia). Mais do que um dever genérico de agir, o omitetente tem dever jurídico de evitar a
produção do evento.

I – Tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância: Por expressa previsão legal (de
qualquer natureza), o agir está obrigado a agir com a finalidade de garantir a proteção do bem
jurídico tutelado. Ex.: os pais que são obrigados a zelarem por seus filhos (consoante art. 1634 do
Código Civil).
II – De outra forma, assumiu a responsabilidade de evitar o resultado: Geralmente por disposição
contratual, cria-se para uma das partes a obrigação de garantia, de maneira muito particular: o
policial que se obrigado a proteger a população, a enfermeira encarregada de zelar pelo enfermo, o
guia que se obriga a conduzir o alpinista pela subida do Everest, o médico que se obriga a atender
uma emergência.
III – Quem com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado: O sujeito
com seu comportamento antecedente produz o perigo, devendo, portanto, se empenhar para que o
resultado danoso não ocorra. Ex.: acender uma fogueira na floresta gera o dever de controle dos
perigos daí advindos. Por outro lado, aquele que empurra de maneira imprudente um amigo em uma
piscina, com o risco de se afogar, terá o dever de agir para evitar tal resultado, sob pena de
responsabilização por homicídio.

Você também pode gostar