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Introdução
Compreender o conceito de crime implica conhecer mais profundamente
os elementos que o compõem. Crime, sob uma perspectiva formal,
pode ser descrito como qualquer conduta colidente com a lei penal
editada pelo Estado. Assim, se a lei proíbe o homicídio, quem cometê-
-lo e não estiver amparado por alguma causa de exclusão da ilicitude é
considerado criminoso.
Sob uma perspectiva material, crime pode ser descrito como a
conduta violadora dos bens jurídicos eleitos pelo Estado como os mais
relevantes, como a vida, a integridade física, etc. No entanto, sob uma
perspectiva mais detalhada, ou seja, do ponto de vista analítico, crime
pode ser compreendido como fato típico, ilícito e culpável.
Neste capítulo, você vai estudar a tipicidade, a ilicitude e a culpabili-
dade, elementos da teoria do crime que são de relevância ímpar para a
construção do Direito Penal.
O fato típico
Fato típico é o fato concreto ou material que se amolda perfeitamente aos
elementos constantes na lei penal, como afirma Capez (2010). O fato típico é
composto de quatro elementos: a conduta, o resultado, o nexo de causalidade
e a tipicidade, ou adequação típica.
Figura 1. Conceito analítico de crime com base na teoria tripartida: tipicidade, ilicitude e
culpabilidade.
A conduta
Na doutrina do Direito Penal, desenvolveram-se várias teorias para explicar
a ação humana da qual resulta o crime. Estudaremos quatro teorias, descritas
a seguir.
A teoria da actio libera in causa: se a ação de ingerir bebidas alcoólica ou outras subs-
tâncias que turvem a consciência foi voluntária, o agente responde pelos seus atos
delitivos, conforme afirma Greco (2014, p. 160), com base no art. 28, CP, in verbis:
A tipicidade
Inicialmente, cumpre definir o que vem a ser tipo penal. De acordo com Greco
(2014), tipo penal é o modelo, ou o padrão, de conduta, previsto em lei penal,
pelo Estado, com a finalidade de impedir que tal conduta seja praticada; é a
descrição precisa do comportamento humano, feita pela lei penal; ou ainda, é o
instrumento legal que tem como objetivo individualizar as condutas humanas
penalmente relevantes.
Diante disso, tipicidade é a subsunção do fato da vida à norma jurídica
penal, ainda conforme Greco (2014, p. 164): “A adequação da conduta do
agente ao modelo abstrato previsto na lei penal (tipo) faz surgir a tipicidade
formal ou legal. Essa adequação deve ser perfeita, pois, caso contrário, o fato
será considerado formalmente atípico”.
Todavia, a tipicidade não deve apenas se fixar na mera subsunção do fato à
norma. Com o passar dos anos, com as atrocidades cometidas nas duas Grandes
Guerras e, especificamente, no regime nazista, verificou-se a necessidade de
valorar o conteúdo da norma, atentando para o bem jurídico a ser tutelado pelo
Crime ou contravenção?
O art. 1º do Decreto-Lei nº. 3.914, de 9 de dezembro de 1941, denominado Lei de
introdução do Código Penal e da Lei das Contravenções Penais, dispõe que:
Causas legais: previstas em lei, tais como: legítima defesa, estado de neces-
sidade, exercício regular de direito e estrito cumprimento de dever legal.
Causas supralegais: extraídas do sistema jurídico por meio de analogia
(lacunas de normas não incriminadoras podem ser supridas por analogia
in bonam partem). Dizem respeito a condutas aceitas pela sociedade,
consideradas como justas, mas que não constam nas causas legais de
exclusão. Por exemplo, o consentimento do ofendido.
Exclusão de ilicitude
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:
I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito
(BRASIL, 1940, documento on-line).
Causas legais
(Continua)
(Continuação)
Causa supralegal
O excesso
Em todas as excludentes (legais ou supralegais), será observada a forma como se
portou o agente. Se ocorrer desajustes na escolha dos meios ou na intensidade da ação
empregados, conforme Nucci (2012, p. 175), o agente deverá responder pelo abuso.
Consequências das causas excludentes de antijuridicidade: quando estiver presente
alguma das excludentes de antijuridicidade, conforme Jesus (2017, p. 402), “[...] o fato
permanece típico, mas não há crime: excluindo-se a ilicitude, e sendo ela requisito do
crime, fica excluído o próprio delito. Em consequência, o sujeito deve ser absolvido”.
Teorias da culpabilidade
Não há como se falar de culpabilidade sem que antes se tenha esclarecido
algumas outras definições da teoria do crime. A primeira delas vem a ser a
imputabilidade. Imputabilidade é a capacidade de compreender o caráter ilícito
do fato e determinar-se de acordo com essa compreensão, conforme afirma
Colnago (2010). Essa capacidade é aferida avaliando-se fatores biopsicológicos
do agente, como se pode depreender da leitura dos arts. 26 e 27, do CP:
(Continua)
(Continuação)
Fonte: Adaptado de Colnago (2010, p. 120-121), Capez (2010, p. 328-331) e Jesus (2010, p. 503-510).
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BRASIL. Lei nº 13.964, de 24 de dezembro de 2019. Aperfeiçoa a legislação penal e
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2022/2019/lei/L13964.htm. Acesso em: 15 dez. 2021.
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stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=
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JESUS, D. Direito penal: parte geral. 36. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. v. 1.
NUCCI, G. S. Direito penal: parte geral. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012
Leitura recomendada
GOMES, L. F.; BIANCHINI, A.; DAHER, F. Princípios constitucionais penais: à luz da cons-
tituição e dos tratados internacionais. LivroeNet, 2015.