Você está na página 1de 12

Prisões

A restrição da liberdade é medida excepcional na natureza humana. Aqui, a


despeito da existência de “prisões penais” - estudadas pelo direito penal e pela
execução penal - e da “prisão civil” (em caso de dívida de alimentos) -
estudada pelo direito constitucional, pelo direito internacional, e pelo direito civil
- somente se estudará as tipicamente denominadas “prisões processuais”,
decretadas durante a fase investigatória ou judicial.
De acordo com o art. 282, do Código de Processo Penal, as medidas
cautelares previstas no Título IX, do Código de Processo Penal, intitulado “Da
Prisão, das Medidas Cautelares e da Liberdade Provisória”, deverão ser
aplicadas observando-se a necessidade para aplicação da lei penal, para a
investigação ou instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para
evitar a prática de infrações penais (inciso I), bem como a adequação da
medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do
indiciado ou acusado (inciso II).
Deve haver a observância do binômio necessidade/adequação quando da
análise de imposição de prisão processual/medida cautelar diversa da prisão.
Pode ser que, num extremo mais gravoso, a prisão preventiva seja a mais
adequada. Já noutro extremo, mais brando, pode ser que a liberdade provisória
seja palavra de ordem. Qualquer coisa que ficar entre estes dois extremos
pode importar a imposição de medida cautelar de natureza diversa da prisão
processual.

Espécies
São três espécies de prisão cautelar:
a) Prisão em Flagrante;
b) Prisão Temporária;
c) Prisão Preventiva.

Prisão em flagrante

A prisão em flagrante consiste numa medida de autodefesa da sociedade,


caracterizada pela privação da liberdade de locomoção daquele que é
surpreendido em situação de flagrância, independentemente de prévia
autorização judicial. A própria Constituição Federal autoriza a prisão em
flagrante, em seu art. 5º, LXI, o qual afirma que “ninguém será preso senão em
flagrante delito...”
A expressão “flagrante” deriva do latim “flagrare”, que significa “queimar”,
“arder”. Isso serve para demonstrar que o delito em flagrante é o delito que
está “ardendo”, queimando”, “que acaba de acontecer”. Por isso, qualquer do
povo poderá, e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem
quer que seja encontrado em flagrante delito.

Funções da prisão em flagrante


São elas:
A) Evitar a fuga do infrator;
B) Auxiliar na colheita de elementos probatórios;
C) Impedir a consumação ou o exaurimento do delito.

Procedimento do flagrante

O procedimento da prisão em flagrante está essencialmente descrito entre os


art. 304 e 310, do Código de Processo Penal: A) Apresentado o preso à
autoridade competente, ouvirá está o condutor e colherá, desde logo, sua
assinatura, entregando a este cópia do termo e recibo de entrega do preso (art.
304, caput, primeira parte, CPP);
B) Em seguida, procederá a autoridade competente à oitiva das testemunhas
que o acompanharem e ao interrogatório do acusado sobre a imputação que
lhe é feita, colhendo, após cada oitiva, suas respectivas assinaturas, lavrando a
autoridade, ao final, o auto (art. 304, caput, parte final, CPP);
C) A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontrem serão
comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministério Público e à
família do preso ou à pessoa por ele indicada (art. 306, caput, CPP);
D) Resultando das respostas às perguntas feitas ao acusado fundada suspeita
contra o conduzido, a autoridade mandará recolhê-lo à prisão, exceto no caso
de livrar-se solto ou de prestar fiança, e prosseguirá nos atos do processo ou
inquérito se para isso for competente (se não o for, enviará os autos à
autoridade que o seja) (art. 304, §1º, CPP);
E) A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto de prisão em
flagrante, mas, nesse caso, com o condutor deverão assiná-lo ao menos duas
pessoas que tenham testemunhado a apresentação do preso à autoridade (art.
304, §2º, CPP).
Quando o acusado se recusar a assinar, não souber ou não puder fazê-lo, o
auto de prisão em flagrante será assinado por duas testemunhas que tenham
ouvido sua leitura na presença deste (art. 304, §3º, CPP).
Na falta ou no impedimento do escrivão, qualquer pessoa designada pela
autoridade lavrará o auto, depois de prestado o compromisso legal (art. 305,
CPP);
F) Em até vinte e quatro horas após a realização da prisão, será encaminhado
ao juiz competente o auto de prisão em flagrante, e caso o autuado não
informe o nome de seu advogado, será encaminhada cópia integral deste auto
para a Defensoria Pública (art. 306, §1º, CPP);
g) No mesmo prazo de vinte e quatro horas, será entregue ao preso, mediante
recibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da prisão, o
nome do condutor e o das testemunhas (art. 306, §2º, CPP);
h) Ao receber o auto de prisão em flagrante, juntamente com o próprio detido,
haverá a audiência de custódia (Res. 213/2015, CNJ) e, posteriormente, o juiz
deverá fundamentadamente poderá relaxar a prisão ilegal, ou converter a
prisão em flagrante em preventiva (quando presentes os requisitos do art. 312,
do Código de Processo Penal, e quando se revelarem inadequadas as medidas
cautelares diversas da prisão), ou conceder liberdade provisória com ou sem
fiança (art. 310, CPP); i
) Se o juiz verificar pelo auto que o agente praticou o fato em estado de
necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal, ou exercício
regular de um direito (todos previstos no art. 23, do Código Penal), poderá,
fundamentadamente, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante
termo de comparecimento a todos os atos processuais, sob pena de revogação
(art. 310, parágrafo único, CPP).
Não havendo autoridade no lugar em que se tiver efetuado a prisão, o preso
será apresentado à prisão do lugar mais próximo (art. 308, CPP).
Por fim, se o réu se livrar solto, deverá ser posto em liberdade, depois de
lavrado o “APF” (auto de prisão em flagrante) (art. 309, CPP).

Espécies/modalidades de flagrante.

Vejamos a classificação feita pela doutrina:


A) Flagrante obrigatório. É aquele que se aplica às autoridades policiais e seus
agentes, que têm o dever de efetuar a prisão em flagrante;
B) Flagrante facultativo. É aquele efetuado por qualquer pessoa do povo,
embora não seja o indivíduo obrigado a prender em flagrante, caso isso
ameace sua segurança e sua integridade;
C) Flagrante próprio (ou flagrante perfeito) (ou flagrante verdadeiro). É aquele
que ocorre se o agente é preso quando está cometendo a infração ou acaba de
cometê-la. Sua previsão está nos incisos I e II, do art. 302, do Código de
Processo Penal;
D) Flagrante impróprio (ou flagrante imperfeito) (ou “quase flagrante”). É aquele
que o ocorre se o agente é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo
ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que se faça presumir ser ele
autor da infração. Sua previsão está no terceiro inciso, do art. 302, do Diploma
Processual Penal.
Vale lembrar que não há um prazo pré-determinado para esta perseguição,
desde que ela seja contínua, ininterrupta. Assim, pode um agente ser
perseguido por vinte e quatro horas após a prática delitiva, p. ex., e ainda
assim ser autuado em flagrante;
E) Flagrante presumido (ou flagrante ficto). É aquele que ocorre se o agente é
encontrado, logo depois do crime, com instrumentos, armas, objetos ou papéis
que façam presumir ser ele o autor da infração. Sua previsão está no art. 302,
IV, CPP;
F) Flagrante preparado (ou “crime de ensaio”) (ou delito putativo por obra do
agente provocador). A autoridade policial instiga o indivíduo a cometer o crime,
apenas para prendê-lo em flagrante.
O entendimento jurisprudencial, contudo, é no sentido de que esta espécie de
flagrante não é válida, por se tratar de crime impossível. Neste sentido, há até
mesmo a Súmula nº 145, do Supremo Tribunal Federal, segundo a qual não há
crime quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua
consumação;
G) Flagrante esperado. Aqui, a autoridade policial sabe que o delito vai
acontecer, independentemente de instigá-lo ou não, e, portanto, se limita a
esperar o início da prática do delito, para efetuar a prisão em flagrante. Trata-
se de modalidade de flagrante perfeitamente válida, apesar de entendimento
minoritário que o considera inválido pelos mesmos motivos do flagrante
preparado;
H) Flagrante forjado (ou flagrante fabricado) (ou flagrante maquiado). É o
flagrante “plantado” pela autoridade policial (ex.: a autoridade policial coloca
drogas nos objetos pessoais do investigado somente para prendê-lo em
flagrante).
I) Flagrante prorrogado (ou “ação controlada”) (ou flagrante protelado). A
autoridade policial retarda sua intervenção, para que o faça no momento mais
oportuno sob o ponto de vista da colheita de provas. Sua legalidade depende
de previsão legal. Atualmente, encontra-se na Lei nº 12.850/13 (“Nova Lei das
Organizações Criminosas”) e na Lei nº 11.343/06 (“Lei de Drogas”).

Prisão preventiva

Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a


prisão preventiva decretada pelo juiz, a requerimento do Ministério Público, do
querelante ou do assistente, ou por representação da autoridade policial. (art.
311, CPP).
De antemão já se pode observar que à autoridade judicial é vedada a
decretação de prisão preventiva de ofício na fase do inquérito policial (isso é
novidade da Lei nº 12.403, já que antes desta previa-se legalmente a
possibilidade de decretar o juiz prisão preventiva de ofício também durante as
investigações, o que era bastante criticado pela doutrina garantista, uma vez
que agindo assim poderia deixar de ser imparcial no momento de julgar a
ação).
Assim, no nosso regime democrático, as funções são distintas e bem definidas:
um acusa, outro defende e o terceiro julga. Pressupostos da prisão preventiva
Há se distinguir os “pressupostos” dos “motivos ensejadores” da prisão. São
pressupostos:
A) Prova da existência do crime. É o chamado “fumus comissi delicti”;
B) Indícios suficientes de autoria.
É o chamado “periculum libertatis”. Chama-se a atenção, preliminarmente, que
o processualismo penal exige “prova da existência do crime”, mas se contenta
com “indícios suficientes de autoria”. Desta maneira, desde que haja um
contexto probatório maciço acerca dos fatos, dispensa- -se a certeza acerca da
autoria, mesmo porque, em termos práticos, caso fique realmente comprovada,
a autoria só o ficará, de fato, quando de um eventual decreto condenatório
definitivo.
No mais, há se ter em mente que, para que se decrete a prisão preventiva de
alguém, basta um dos motivos ensejadores da prisão preventiva, mas os dois
pressupostos devem estar necessariamente previstos cumulativamente. Então,
sempre deve haver, obrigatoriamente, os dois pressupostos (existência do
crime e indícios de autoria), mais ao menos um motivo ensejador (ou a garantia
da ordem pública, ou a garantia da ordem econômica, ou o asseguramento da
aplicação da lei penal, ou a conveniência da instrução criminal, ou o
descumprimento de qualquer das medidas cautelares diversas da prisão).
Motivos da prisão preventiva Eles estão no art. 312, do Código de Processo
Penal, e devem ser conjugadas com a prova da existência do crime e indício
suficiente de autoria. A saber:
A) Para garantia da ordem pública. É o risco considerável de reiteração de
ações delituosas, em virtude da periculosidade do agente. Necessidade de
afastamento do convívio social. O “clamor social” causado pelo delito autoriza à
decretação de prisão preventiva por “garantia da ordem pública”? Prevalece
que sim, pois, do contrário, se o indivíduo for mantido solto, há risco de caírem
as autoridades judiciais e policiais em descrédito para com a sociedade;
B) Para garantia da ordem econômica. Trata-se do risco de reiteração
delituosa, porém relacionado com crimes contra a ordem econômica. A
inserção deste motivo (na verdade, uma espécie da garantia da ordem pública)
se deu pelo art. 84, da Lei nº 8.884/94 (“Lei Antitruste”);
C) Por conveniência da instrução criminal. Visa-se impedir que o agente
perturbe a livre produção probatória. O objetivo, pois, é proteger o processo, as
provas a que o Estado persecutor ainda não teve acesso, e os agentes (como
testemunhas, p. ex.) que podem auxiliar no deslinde da lide;
D) Para assegurar a aplicação da lei penal. Se ficar demonstrado
concretamente que o acusado pretende fugir, p. ex., inviabilizando futura e
eventual execução da pena, impõe-se a prisão preventiva por este motivo;
E) Em caso de descumprimento de qualquer das medidas cautelares diversas
da prisão. As “medidas cautelares diversas da prisão” são novidade no
processo penal, e foram trazidas pela Lei nº 12.403/2011.
F) Em caso de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado, veio com a
Lei 13.964/2019.

Hipóteses em que se admite prisão preventiva São elas, de acordo com o art.
312, CPP:
A) Nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima
superior a 4 (quatro) anos (inciso I);
B) Se o agente tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença
transitada em julgado, ressalvado o disposto no art. 64, I, do Código Penal
(configuração do período depurador) (inciso II);
C) Se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança,
adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a
execução das medidas protetivas de urgência (inciso III);
D) Quando houver dúvidas sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta
não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la (neste caso, o preso deve
imediatamente ser posto em liberdade após a identificação, salvo de outra
hipótese recomendar a manutenção da medida) (parágrafo único).
Revogação da prisão preventiva.
Isso é possível se, no transcorrer do processo, verificar a autoridade judicial a
falta de motivo para que subsista a prisão preventiva.
Assim, em sentido contrário, também poder decretá-la se sobrevierem razões
que a justifiquem. De toda forma, a decisão que decretar, substituir ou denegar
a prisão preventiva será sempre motivada e fundamentada, nos termos dos
parágrafos dos artigos 315, CPP.

Medidas cautelares diversas da prisão


Antes do advento da Lei nº 12.403/11, as únicas opções cabíveis na seara
processual eram o aprisionamento cautelar do acusado ou a concessão de
liberdade provisória, em dois extremos antagonicamente opostos que
desconsideravam hipóteses em que nem a liberdade e nem o aprisionamento
cautelar eram as medidas mais adequadas.
Em razão disso, após o advento da “Nova Lei de Prisões”, inúmeras opções
são conferidas no vácuo deixado entre o claustro e a liberdade, opções estas
conhecidas por “medidas cautelares diversas da prisão”. Os requisitos para
fixação das medidas cautelares estão previstos no art. 282 do CPP, sendo
estes: - Necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a
instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática
de infrações penais; - Adequação da medida à gravidade do crime,
circunstâncias do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado.

Medidas cautelares diversas da prisão em espécie

Elas estão no art. 319, do CPP, e são inovação trazida pela Lei nº 12.403/2011
São elas:
A) Comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo
juiz, para informar e justificar atividades (inciso I);
B) Proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por
circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer
distante destes locais para evitar o risco de novas infrações (inciso II);
C) Proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por
circunstâncias relacionadas ao fato, dela o indiciado ou acusado deva
permanecer distante (inciso III);
D) Proibição de ausentar-se da Comarca, quando a permanência seja
conveniente ou necessária para a investigação/instrução (inciso IV);
E) Recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o
investigado ou acusado tenha residência e trabalhos fixos (inciso V);
F) Suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza
econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a
prática de infrações penais (inciso VI);
G) Internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com
violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou
semi-imputável e houver risco de reiteração (inciso VII);
H) Fiança, nas infrações penais que a admitem, para assegurar o
comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução de seu andamento ou
em caso de resistência injustificada à ordem judicial (inciso VIII);
I) Monitoração eletrônica (inciso IX).

Tal medida já havia sido trazida para o âmbito da execução penal, pela Lei nº
12.258/10, e, agora, também o foi para o prisma processual. O art. 310, II,
CPP, fornece um “norte” para a aplicação de medidas cautelares diversas da
prisão. De acordo com tal dispositivo, o juiz, ao receber o auto de prisão em
flagrante, deverá converter esta prisão em preventiva, se presentes os
requisitos do art. 312, CPP, e se revelarem inadequadas as medidas cautelares
diversas da prisão.
Isso somente demonstra que, seguindo tendência iniciada na execução penal,
de aprisionamento corporal via pena privativa de liberdade somente quando
estritamente necessário, também assim passa a acontecer no ambiente
processual, o que retira da prisão preventiva grande poder de atuação ao se
prevê-la, apenas, em último caso.
Assim, atualmente, primeiro o juiz verifica se é caso de liberdade provisória
pura e simples; depois, se é caso de liberdade provisória com medida cautelar
diversa da prisão; depois, se é caso de liberdade provisória mais a cumulação
de medidas cautelares diversas da prisão; e, apenas por último, se é caso de
aprisionamento processual. Assim, toda e qualquer decisão exarada pela
autoridade judicial quanto ao tema “prisões processuais” deve ser
fundamentada.
Neste diapasão, outra questão que merece ser analisada diz respeito à
possibilidade de cumulação de medidas cautelares diversas da prisão. Ora,
pode ser que, num determinado caso concreto, apenas uma medida cautelar
não surta efeito, e, ainda assim, não seja o caso de se impor prisão processual
ao acusado. Nesta hipótese, é perfeitamente passível de se decretar mais de
uma medida cautelar diversa da prisão. É o caso da proibição de acesso a
determinados lugares (art. 319, II) e a determinação de comparecimento
periódico em juízo (art. 319, I), como exemplo, ou da suspensão do exercício
da função pública (art. 319, VI) e da proibição de ausentar-se da Comarca (art.
319, IV), como outro exemplo, ou da monitoração eletrônica (art. 319, IX) e da
fiança (art. 319, VIII), como último exemplo. Tudo depende, insiste-se, da
necessidade da medida, e da devida fundamentação feita pela autoridade
policial.

Liberdade provisória, com ou sem fiança


Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão preventiva ou de
medida(s) cautelar(es) diversa(s) da prisão, o juiz deverá conceder ao acusado
liberdade provisória.
Trata-se de garantia assegurada constitucionalmente, no art. 5º, LXVI, da
Constituição Federal, segundo o qual ninguém será levado à prisão ou nela
mantido quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança.
São, tradicionalmente, três as espécies de liberdade provisória, a saber, a
obrigatória, a permitida, e a vedada.
A) Liberdade provisória obrigatória. O entendimento prevalente na doutrina,
atualmente, é o de que a liberdade provisória concedida ao acusado que “se
livra solto” foi revogada pela Lei nº 12.403/11, já que, após tal conjunto
normativo, não mais é a liberdade provisória mera medida de contracautela à
imposição de prisão preventiva, podendo ser o caso atualmente, portanto, de
liberdade provisória juntamente ou não com medida cautelar diversa da prisão.
Mesmo porque, o art. 321, CPP, que previa esta hipótese em que o acusado
“se livrava solto” foi revogado, tendo sido substituído por redação
absolutamente diferente da anterior. Assim, conforme entendimento doutrinário
prevalente, a “liberdade provisória obrigatória” foi suprimida pelo advento da Lei
nº 12.403/11;
B) Liberdade provisória permitida. Se não for o caso da conversão da prisão
em flagrante em preventiva por estarem presentes os requisitos de tal prisão
processual (art. 310, II, CPP), ou, se não houver hipótese que enseje a
determinação de prisão preventiva por si só (art. 321, CPP), ou se o juiz
verificar que o indivíduo praticou o fato em excludente de licitude/culpabilidade
(art. 310, parágrafo único, CPP), é permitido à autoridade judicial a concessão
de liberdade provisória, cumulada ou não com as medidas cautelares diversas
da prisão;
C) Liberdade provisória vedada. O entendimento prevalente da doutrina e da
jurisprudência, mesmo antes da Lei nº 12.403/11, é o de que a liberdade
provisória não pode ser vedada, admita ou não o delito fiança, e, ainda,
independentemente do que diz o diploma legal.
Isto ficou ainda mais clarividente com a “Nova Lei de Prisões”, de maneira que,
atualmente, é possível liberdade provisória com fiança, liberdade provisória
sem fiança, liberdade provisória com a cumulação de medida cautelar,
liberdade provisória sem a cumulação de medida cautelar, liberdade provisória
mediante o cumprimento de obrigações, e liberdade provisória sem o
cumprimento de obrigações.

Fiança
A fiança é instituto que teve seu âmbito de aplicação reforçado e ampliado pela
Lei nº 12.403/11, seja através de sua permissão para delitos que antes não a
permitiam, seja através de sua existência como medida cautelar diversa da
prisão, seja como condicionante ou não da concessão de liberdade provisória.
Em regra, a fiança é requerida à autoridade judicial, que decidirá em quarenta e
oito horas (art. 322, parágrafo único, do Código de Processo Penal).
A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos casos de infração
cuja pena privativa de liberdade máxima não seja superior a quatro anos (art.
322, caput, CPP).
De acordo com os arts. 323 e 324, do Código de Processo Penal, não será
concedida fiança:
A) Nos crimes de racismo (art. 323, inciso I). Segue-se, aqui, o art. 5º, XLII, da
Constituição Federal;
B) Nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins,
terrorismo e nos definidos como crimes hediondos (art. 323, inciso II). Segue-
se, aqui, o art. 5º, XLIII, da Constituição Federal;
C) Nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou militares, contra a
ordem constitucional e o Estado Democrático (art. 323, inciso III). Segue-se,
aqui, o art. 5º, XLIV, da Constituição Federal;
D) Aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança anteriormente
concedida ou infringido, sem motivo justo, qualquer das obrigações a que se
referem os arts. 327 e 328 do Código de Processo Penal (art. 324, inciso I);
E) Em caso de prisão civil ou militar (art. 324, inciso II);
F) Quando presentes os motivos que autorizam a decretação da prisão
preventiva (art. 312) (art. 324, inciso III); G) Art. 3º, da Lei nº 9.613/98 (“Lei de
Lavagem de Capitais”). Tal dispositivo preceitua que os crimes previstos na
“Lei de Lavagem de Capitais” são insuscetíveis de fiança;
H) Art. 31, da Lei nº 7.492/86 (“Lei de Crimes contra o Sistema Financeiro”). Tal
dispositivo afirma que os crimes previstos nesta lei, e apenados com reclusão,
não serão passíveis de fiança se presentes os motivos ensejadores da prisão
preventiva.

Valor da fiança

Para determinar o valor da fiança, a autoridade terá em consideração a


natureza da infração, as condições pessoais de fortuna e vida pregressa do
acusado, as circunstâncias indicativas de sua periculosidade, bem como a
importância provável das custas do processo, até final julgamento (art. 326,
CPP).
Neste diapasão, de acordo com o art. 325, da Lei Processual Penal, o valor da
fiança será fixado pela autoridade que a conceder nos seguintes limites:
A) De um a cem salários mínimos, quando se tratar de infração cuja pena
privativa de liberdade, no grau máximo, não for superior a quatro anos (inciso
I);
B) De dez a duzentos salários mínimos, quando o máximo da pena privativa de
liberdade cominada for superior a quatro anos (inciso II).
Vale lembrar que, de acordo com o art. 330, do Código de Processo Penal, a
fiança será sempre definitiva, e consistirá em depósito de dinheiro, pedras,
objetos ou metais preciosos, títulos da dívida pública (federal, estadual ou
municipal), ou em hipoteca inscrita em primeiro lugar.
A avaliação de imóvel ou de pedras/objetos/metais preciosos será feita por
perito nomeado pela autoridade.
Quando a fiança consistir em caução de títulos da dívida pública, o valor será
determinado pela sua cotação em Bolsa.

Dispensa/redução/aumento da fiança

Se assim recomendar a situação econômica do preso, a fiança poderá ser


(primeiro parágrafo, do art. 325, CPP):
A) Dispensada, na forma do art. 350 deste Código (inciso I). Neste caso, o juiz
analisa a capacidade econômica do acusado e, verificando ser esta baixa,
concede-lhe a liberdade provisória e o sujeita às condições dos arts. 327 e 328,
CPP. Vale lembrar que essa “prova de capacidade econômica” pode ser feita
de qualquer maneira, e, uma vez demonstrada, prevalece não ser mera
discricionariedade do magistrado concedê-la, mas sim direito subjetivo do
beneficiário;
B) Reduzida até o máximo de dois terços (inciso II);
C) Aumentada em até mil vezes (inciso III). Destinação da Fiança
Assim que paga o valor arbitrado pela fiança o juiz irá tomar as seguintes
providências:
A) Pagamento de custas;
B) Indenização do dano;
C) Pagamento de prestação pecuniária;
D) Pagamento de multa;
E) Remanescente será devolvido.
Objeto da Fiança

A) Depósito em dinheiro;
B) Pedras, objetos ou metais preciosos;
C) Títulos da dívida pública;
D) Hipoteca de imóvel.

Perda da fiança

Se o acusado, condenado, não comparecer para o início do cumprimento da


pena privativa de liberdade definitivamente imposta, independentemente do
regime, a fiança será dada por perdida.
Neste caso, consoante o art. 345, da Lei Processual, o seu valor, deduzidas as
custas e demais encargos a que o acusado estiver obrigado, será recolhido ao
fundo penitenciário.

Cassação da fiança

A fiança a ser cassada, como regra, é aquela concedida equivocadamente (ex.:


foi concedida fiança ao réu mesmo tendo ele praticado crime hediondo).
Apenas o Poder Judiciário pode determinar a cassação, de ofício ou a
requerimento da parte. Ademais, caso haja inovação na tipificação delitiva, e o
novo tipo vede fiança outrora concedida, também é caso de sua cassação.

Reforço da fiança

Trata-se de um implemento à fiança outrora prestada, seja porque o foi de


maneira insuficiente, seja porque ocorreu nova tipificação do delito fazendo-se
mister a elevação de seu valor, seja porque ocorreu o perecimento de bens
hipotecados, seja porque ocorreu a depreciação de pedras/metais/objetos
preciosos. Se tal reforço não for realizado, a fiança será julgada sem efeito
(fiança inidônea).

Você também pode gostar