Você está na página 1de 14

1 Resumo Direito Processual Penal II - Vivian Estella Jacob

1. PRISÕES CAUTELARES

1.1 - Prisão temporária

A prisão temporária (Lei 7.960/89, rol taxativo) é uma espécie de prisão


cautelar, com prazo certo, decretada pelo juiz durante o inquérito policial, contra
suspeito de crime especialmente grave, cuja finalidade é cooperar com a persecução
extrajudicial.

Não é de ofício, precisa de requerimento do MP ou policial, exclusiva da faze


de inquérito.

Prazo:

➢ Crimes comuns - 5 dias, prorrogáveis por mais 5 se fundamentado o pedido,


não é automático.
➢ Crimes hediondos (art. 2 §4º, Lei 8.072/90) - 30 dias, prorrogáveis por mais 30
dias.

(TTT) - Terrorismo, tráfico e tortura e equiparados.

São requisitos para sua aplicação:

1. quando imprescindível para as investigações nó inquérito policial;


2. quando indiciado não tiver residência fixa, ou não fornecer elementos
necessários ao esclarecimento de sua identidade;
3. quando houver fundadas razoes, de acordo com qualquer prova admitida na
legislação penal, de autoria ou participação de indiciado nos seguintes:

a) Homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2º); b) Sequestro ou cárcere


privado (art. 148, caput, e seus §§ 1º e 2º); c) Roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1º,
2º e 3º); d) Extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1º e 2º); e) Extorsão mediante
sequestro (art. 159, caput, e seus §§ 1º, 2º e 3º); f) Estupro (art. 213, caput, e sua
combinação com o art. 223, caput, e parágrafo único); g) Epidemia com
resultado de morte (art. 267, § 1º); h) Envenenamento de água potável ou
substância alimentícia ou medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput,
combinado com art. 285); i) Quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código
Penal; j) Genocídio (arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 2.889 de 1956), em qualquer de
suas formas típicas; k) Tráfico de drogas (art. 12 da Lei nº 6.368, de 21 de
outubro de 1976); l) Crimes contra o sistema financeiro (Lei nº 7.492, de 16 de
junho de 1986). m) Crimes previstos na Lei de Terrorismo.
2 Resumo Direito Processual Penal II - Vivian Estella Jacob

Obs.:

Mais de 61 dias se caracteriza ilegalidade e pode ser requerido o relaxamento da


prisão.

Quando é o delegado quem pede, o Juiz deve ouvir o MP antes de permitir.

1.2 - Prisão em flagrante

A prisão em flagrante (Art. 302 CPP inc. 1 e 2) acontece quando há uma


situação de flagrante delito. Ou seja, alguém encontrou um indivíduo praticando um
crime ou logo após praticá-lo. Então, nesses casos, qualquer pessoa pode dar voz de
prisão ao indivíduo que está infringindo a lei. Exige apenas a presença de tipicidade,
sem necessidade de valoração de ilicitude ou culpabilidade.

Definição por Renato Brasileiro: “Pode-se definir a prisão em


flagrante como uma medida de autodefesa da sociedade,
consubstanciada na privação de liberdade de locomoção
daquele que é surpreendido em situação de flagrância, a ser
executada independentemente de previa autorização judicial
(CF, art. 5º, LXI).”

Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:

I - está cometendo a infração penal;

II - acaba de cometê-la;

III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou


por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da
infração;

IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas,


objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração.

Funções: evitar a fuga do infrator; auxiliar na colheita de elementos


informativos: percussões penais deflagradas a partir de um auto de prisão em
flagrante costumam ter mais êxito; impedir a consumação do delito ou de seu
exaurimento; preservar a integridade física do preso, evitando possível linchamento.

Se divide em quatro momentos:

1. Captura – resguarda a ordem pública.


3 Resumo Direito Processual Penal II - Vivian Estella Jacob

2. Condução coercitiva – dirigido a autoridade policial para


procedimentos legais.
3. Lavratura do auto de prisão em flagrante – auxilia na manutenção dos
elementos de prova infração que se acabou de cometer.
4. Recolhimento à prisão – manutenção do agente em cárcere.
Não realizada em situações de infrações penais cuja pena
privativa de liberdade máxima não seja superior há 4 anos (CPP, art. 322), ou seja,
aplicada a fiança.

Existem sete tipos de prisão em flagrante:

1. Próprio, perfeito, real ou verdadeiro: o agente é surpreendido


cometendo uma infração penal ou quando acaba de comete-la, absoluta
imediatidade, não se afastou ainda da vitima ou do lugar do delito.
2. Impróprio, imperfeito, irreal ou quase-flagrante: o sujeito é
perseguido logo após infração penal, em situação que faça presumir se ele o autor do
fato ilícito.
3. Presumido, ficto ou assimilado: o agente é preso logo após cometer o
ato de infração com instrumentos, armas, objetos ou papeis que façam presumir ser
ele o autor da infração.
4. Preparado, provocado, crime de ensaio, delito de experiência ou
delito putativo por obra do agente provocador: ocorre quando alguém, particular ou
autoridade, de forme insidiosa, instiga o agente à prática do delito com objetivo de
prendê-lo em flagrante, ao mesmo tempo em que adota todas as providências para
que o delito não se consume. Obs.: não permitido pela jurisprudência (súmula 145 do
STF). Em caso de tráfico, já é crime por si s, exceção.
5. Esperado: sem atividade de induzimento, instigação ou provocação, a
autoridade se limita a aguardar o momento do cometimento do delito para efetuar a
prisão em flagrante, respondendo o agente pelo crime praticado na modalidade
consumada, dependendo do caso, tentada. Flagrante totalmente legal, não tem
relaxamento de prisão.
6. Prorrogado, protelado retardado ou diferido: ação controlada e
entrega vigiada: retardamento da intervenção penal, que deve ocorrer no momento
mais oportuno do ponto de vista de investigação criminal ou da colheita de provas.
7. Forjado, fabricado, maquinado ou urdido: criação de um crime
inexiste, a fim de “legitimar” (falsamente) uma prisão em flagrante.

1.3 - Prisão preventiva

Cuida-se de espécie da prisão cautelar decretada pela autoridade judiciária


competente, mediante representação da autoridade policial ou requerimento do MP,
4 Resumo Direito Processual Penal II - Vivian Estella Jacob

do querelante ou assistente, em qualquer fase das investigações ou do processo


criminal, sempre que estiverem preenchidos os requisitos legais (CPP, art. 313) e
ocorrem os motivos autorizados do art. 312 do CPP, fumus comissi delicti, desde que
se mostrem inadequadas ou insuficiente as medidas cautelares diversas da prisão
(CPP, art. 319).

“Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como


garantia da ordem pública, da ordem econômica, por
conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação
da lei penal, quando houver prova da existência do crime e
indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de
liberdade do imputado.

§ 1º A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso


de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por
força de outras medidas cautelares (art. 282, § 4o).

§ 2º A decisão que decretar a prisão preventiva deve ser


motivada e fundamentada em receio de perigo e existência
concreta de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a
aplicação da medida adotada.”

Então, além de uma prova de existência do crime, deve ser levado em conta o
periculum libertatis, ou seja, a presença e um perigo gerado pelo estado de liberdade
do imputado, fatos que justifiquem a aplicação da medida adotada.

Poderá ser decretada em relação aos crimes listados no art. 313 do CPP:

Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a
decretação da prisão preventiva:

I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade


máxima superior a 4 (quatro) anos;

II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença


transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput
do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 -
Código Penal;

III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a


mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com
deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de
urgência;
5 Resumo Direito Processual Penal II - Vivian Estella Jacob

IV - (revogado).

§ 1º Também será admitida a prisão preventiva quando houver


dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não
fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o
preso ser colocado imediatamente em liberdade após a
identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção
da medida. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

§ 2º Não será admitida a decretação da prisão preventiva com a


finalidade de antecipação de cumprimento de pena ou como
decorrência imediata de investigação criminal ou da
apresentação ou recebimento de denúncia.

2. RELAXAMENTO

O Art. 310, I do Código de Processo Penal, tratou de prever o cabimento do


Relaxamento de Prisão nos seguintes termos:

"Art. 310. Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz deverá


fundamentadamente:

I - relaxar a prisão ilegal."

Ou seja, se trata de um pedido que é cabível diante de qualquer ilegalidade


da prisão em flagrante ou preventiva (Art. 5º, LXV da CF). Dessa maneira, o
relaxamento está diretamente relacionado com a ilegalidade.

3. LIBERDADE PROVISÓRIA

Já o Pedido de Liberdade Provisória, previsto no Art. 310 do Código de


Processo Penal, por sua vez, é cabível após a prisão em flagrante e antes da prisão
preventiva, uma vez que ele procura impedir a conversão em prisão cautelar
(preventiva):

"Art. 310. Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz deverá


fundamentadamente:

I - relaxar a prisão ilegal; ou

II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando


presentes os requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se
6 Resumo Direito Processual Penal II - Vivian Estella Jacob

revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares


diversas da prisão; ou

III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança."

Assim, após a conversão em prisão preventiva pelo juiz, se houver o


desaparecimento do suporte acautelatório (periculum libertatis — perigo da
liberdade), o que cabe é o pedido de Revogação da Prisão.

A diferença do pedido de Revogação da Prisão e do Pedido de Liberdade


Provisória é o momento do pedido, uma vez que enquanto o Pedido de Liberdade
Provisória é cabível antes da análise do juiz pela decretação ou não da prisão
preventiva, o pedido de Revogação ocorre enquanto já decretada a prisão
preventiva.

Dessa maneira, é possível realizar o Pedido de Liberdade Provisória sempre


que a ausência do periculum libertatis for constatada antes da prisão preventiva ser
decretada. É preciso que o advogado se lembre, ainda, que em qualquer momento,
se houver ilegalidade, cabe o Relaxamento de Prisão.

3.1 - Cabimento do pedido de liberdade provisória:

Desde que a Lei nº 12.403/11 entrou em vigor a liberdade provisória é cabível


em face de qualquer espécie de prisão cautelar. Antes da referida norma essa medida
funcionava apenas e exclusivamente como medida de contracautela substitutiva de
anterior prisão em flagrante.

A natureza jurídica da liberdade provisória é a medida de contracautela, em


que se sub-roga o carcer ad custodiam decorrente da prisão cautelar, assim como a
medida cautelar autônoma, que pode ser aplicada com a imposição das medidas
cautelares diferentes da prisão, seja uma ou mais medidas.

Nesse sentido, o art. 321 do CPP expõe que sempre que os requisitos que
autorizam a decretação da prisão preventiva não estiverem presentes, o magistrado
deve conceder a liberdade provisória.

De maneira geral, podemos dizer que a aplicação da liberdade provisória, de


acordo com a Lei nº 12.403/11, se dá da seguinte maneira:

o magistrado pode condicionar a manutenção da liberdade do réu ao


cumprimento de uma das medidas elencadas no art. 319, sob pena de decretar a
prisão preventiva;

o magistrado pode fazer a substituição da prisão em flagrante, temporária ou


preventiva em uma medida menos gravosa (prevista no art. 319), como uma
possibilidade a fim de evitar a medida extrema que só é justificada perante
constatação de que essa medida é igualmente idônea e eficaz para atingir os mesmos
7 Resumo Direito Processual Penal II - Vivian Estella Jacob

objetivos, mas com menor custo para a esfera de liberdade do indivíduo, nos casos
em que o acusado estiver preso.

Assim, quando falamos em liberdade provisória, há, de maneira obrigatória, a


necessidade de imposição de vínculos. Nos casos em que um dos referidos vínculos é
descumprido, não é possível haver a restauração da prisão em flagrante. Nesse caso,
o que se pode fazer é decretar a prisão preventiva como medida de última ratio.

3.2 - Requisitos para a concessão:

De acordo com o art. 5º, LXVI: "ninguém será levado à prisão ou nela mantido,
quando a lei admitir liberdade provisória, com ou sem fiança". Assim, existem
determinados requisitos para a sua concessão.

No caso da Liberdade Provisória Obrigatória, ela deve ser concedida, de


acordo com o artigo 321 do CPP, nas seguintes hipóteses:

• em caso de infração não cominada em pena privativa de liberdade;


• quando o máximo da pena privativa de liberdade não for maior do que 3
meses.

Já as hipóteses de liberdade provisória permitida sem fiança, o procedimento


deve ser adotado quando o magistrado observar, pelo auto de prisão em flagrante, a
inocorrência de qualquer das hipóteses que autorizam a prisão preventiva.

A liberdade provisória com fiança, por sua vez, é concebida em determinados


casos, são eles:

• para os crimes punidos com detenção;


• para as contravenções penais que não estejam abrangidas pelo artigo 69, da
Lei 9.099/95;
• aos crimes punidos com reclusão cuja pena mínima seja igual ou inferior a dois
anos.

É válido ressaltar, ainda, que a liberdade provisória não pode ser concedida,
de acordo com o artigo 7º da Lei 9.034/95, àqueles que contém uma efetiva e intensa
participação em organização criminosa.

4. REVOGAÇÃO DA PRISÃO

Revogação da prisão é o pedido cabível diante da insubsistência dos requisitos


à manutenção da prisão cautelar, e como tal, foi previsto no Art. 316 do Código de
Processo Penal:
8 Resumo Direito Processual Penal II - Vivian Estella Jacob

"Art. 316. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no correr


do processo, verificar a falta de motivo para que subsista, bem
como de novo decretá-la, se sobrevierem razões que a
justifiquem."

Isso quer dizer que a prisão preventiva deve ser mantida somente enquanto
estiverem presentes os requisitos para a prisão cautelar e não for cabível a sua
substituição por outra medida cautelar, de acordo redação do Art. 282, §6 do CPP.
Assim, o pedido de Revogação é cabível em virtude de a prisão ser desnecessária, à
falta dos pressupostos do artigo 312 do CPP.

Dessa maneira, a revogação de prisão deve ser solicitada quando houver a


ausência do periculum libertatis depois da prisão preventiva ser decretada.

5. CITAÇÃO, INTIMAÇÃO E NOTIFICAÇÃO

5.1 - Citação

A citação é o chamamento do réu a juízo; é o momento que se dá ciência a


esse de que existe e está tramitando um processo penal e que lhe é imputado um
crime, bem como lhe oferece a chance e prazo para efetivar uma defesa sumária e
técnica através de um advogado ou defensor público.

Vamos lembrar que quando o réu for citado, fases processuais já


aconteceram. Já houve apresentação de denúncia e aceitação/recebimento da
mesma, determinando o juízo a citação do ora réu para defender-se.

Portanto, pode-se dizer que a citação é um misto de contraditório e ampla


defesa, pois, ao mesmo tempo em que o réu agora vem ao processo, ele pode desde
já questionar a imputação contra si do crime e iniciar sua defesa com requerimentos
de provas e arrolamento de testemunhas. Assim, a citação no processo de
conhecimento penal dá-se uma vez somente, ficando esse vinculado ao feito, como
regra geral.

A exceção se dá com a pena de multa, nos termos do artigo 164 da LEP, lá na


fase de execução, tendo então o acusado sendo novamente citado para pagar ou
nomear bens a penhora.

A citação, como regra geral, pode ser realizada em qualquer dia e hora,
qualquer turno, o que se tem de verificar é a questão da inviolabilidade do domicílio,
se for à noite e isto deve estar deferido pelo juízo com expressa ressalva de exceção,
por ferir a CF/88.
9 Resumo Direito Processual Penal II - Vivian Estella Jacob

Deve o patrono verificar se a citação realmente ocorreu no processo penal. Se


essa não aconteceu, causa nulidade absoluta, nos termos do artigo 564, III e 570,
ambos do CPP.

E quais as consequências da citação, ou seja, se o acusado não atender ao


chamamento do processo? O feito seguirá sem a presença do acusado, porém, ela
também efetivará a suspensão do curso do prazo da prescrição.

São quatro as modalidades de citação previstas no Código de Processo Penal,


a saber:

1) citação pessoal (art. 351 e ss.): na qual o acusado é citado pessoalmente, in


facien, constituindo-se a forma ideal de chamamento, por importar em uma
presunção absoluta (juris et de jure) de que ele tem pleno conhecimento do
processo;

2) citação por requisição (art. 358): feita ao militar por meio de seu superior
hierárquico;

3) citação por edital (art. 361): quando não encontrado o acusado, faz-se
expedir edital pelo qual se presume a tomada de conhecimento do processo. Trata-
se de uma ficção, pois se ignora que o réu, assim chamado a juízo, tomou
efetivamente conhecimento do processo. Aliás, jamais se soube que alguém tenha
comparecido a juízo a partir de consulta ao diário oficial ou órgão de imprensa, razão
pela qual essa modalidade é conhecida também como citação ficta;

4) citação por hora certa (art. 362): cabível quando houver suspeita de que o
réu se oculta para evitar a citação

5.2 - Intimação

Já a intimação é a comunicação de um ato processual realizado, já praticado.


Lembremos que o réu já foi citado, é passado, ele já está ligado ao processo, a
intimação é meramente o canal de aviso ou ciência de que determinado ato já foi
praticado.

5.3 - Notificação

A notificação diz respeito à ciência para uma pessoa de que há uma


determinação do juízo impondo o cumprimento de uma providência, uma conduta
a ser exercida ou sobrestada. É bom lembrar que o CPP faz confusão quanto à
notificação e intimação, muitas vezes as usando como sinônimos.
10 Resumo Direito Processual Penal II - Vivian Estella Jacob

Porém, a diferença crucial reside no fato de que a notificação é algo futuro,


deverá ser feito pela pessoa, enquanto que na intimação já ocorreu o ato, estando
apenas a lhe cientificar do acontecido.

6. PROCESSO E PROCEDIMENTO

Em sede processual penal, pode-se dizer que o procedimento é composto de


quatro fases distintas:

a) Postulatória: a primeira fase do procedimento abrange não apenas a


acusação em si, oferecida pelo MP ou pelo querelante, mas também atos de
reação defensiva d acusado (defesa preliminar). A fase preliminar de
investigação, apuração, recolhimento de provas, e tal, não fazem parte do
processo, não está incluída nessa unidade procedimental.
b) Instrutória: é a fase na qual são produzidas as provas requeridas pelas partes
ou determinadas subsidiariamente pelo juiz. A instrução e julgamento não se
resume à audiência uma de instrução e julgamento, quando são ouvidos o
ofendido, as testemunhas, os peritos e o acusado. Na verdade, desde a fase
postulatória, a acusação e defesa já trazem aos autos elementos informativos
e provas, que se somaram posteriormente, à prova produzida em juízo;
c) Decisória: nesta fase, objetivando formar convicção da entidade julgadora no
sentido da condenação ou absolvição do acusado, a partes terão
oportunidade de se pronunciar quanto ao material probatório constante nos
autos do processo, na sequência, proferido pelo juiz a sentença, ato que
constitui o resultado final em 1ª instância.
d) Recursal: às partes o ordenamento jurídico outorga instrumentos para
impugnação de decisões judiciais contrárias aos seus interesses, em fiel
observância ao principio do duplo grau de jurisdição, previsto expressamente
na Convenção Americana sobre Direitos Humanos.

6.1- Classificação do procedimento comum:

Leva em consideração a quantidade de pena cominada em abstrato ao delito,


independentemente de sua natureza. Sua classificação se dá em:

Art. 394. O procedimento será comum ou especial.

§ 1o O procedimento comum será ordinário, sumário ou


sumaríssimo:

I - ordinário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima


cominada for igual ou superior a 4 (quatro) anos de pena
privativa de liberdade;
11 Resumo Direito Processual Penal II - Vivian Estella Jacob

II - sumário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima


cominada seja inferior a 4 (quatro) anos de pena privativa de
liberdade;

III - sumaríssimo, para as infrações penais de menor potencial


ofensivo, na forma da lei.

Portanto, se determinada infração penal não estiver sujeita a algum


procedimento especial, seu procedimento será comum ordinário, sumário ou
sumaríssimo, a depender do quantum de pena.

Temos exceções com certas infrações penais que não estão sujeitas a tais
critérios, mesmo não estado submetidas a procedimentos especiais:

a) Infrações penais praticadas com violência domestica e familiar contra


mulher: determinado na lei Maria da Penha, será julgado em juízo comum
ou se houver, em Vara especializada de violência Domestica e Familiar,
sendo determinado o procedimento ordinário ou sumário a partir do
quantum;
b) Crimes falimentares: a Lei 11.101/05 sendo determinado o rito comum
sumário, ainda que a pena cominada será igual ou superior a quatro anos;
c) Crimes previstos na nova Lei das Organizações Criminosas e infrações
conexas: a lei 12.850/13 dispõe expressamente que os crimes previstos ela
serão apurados mediante procedimento ordinário, independente do
quantum de pena;

6.2 - Procedimento ordinário

Procedimento será ordinário quando a pena máxima em abstrato do crime


cometido for maior ou igual a 4 anos.

Este procedimento se inicia com a denúncia do réu (ação penal pública), ou


com a queixa-crime (ação penal privada). Neste procedimento as partes poderão
arrolar até 8 testemunhas. Após oferecida a denúncia ou a queixa-crime, os autos irão
para conclusão e o juiz poderá tomar uma de duas decisões:

1. Receber a denúncia/queixa-crime
2. Este recebimento se dará apenas se a peça inicial cumprir com
os requisitos do artigo 41, ou seja, houver indícios de autoria e
materialidade do crime.
3. Para esta decisão não cabe recurso, porém poderá haver
eventual Habeas Corpus.
4. Rejeição (395)
12 Resumo Direito Processual Penal II - Vivian Estella Jacob

5. O juiz rejeitará a peça inicial caso esta seja inepta, falte condição
ou pressuposto processual ou haja falta de justa causa.
6. Para esta decisão cabe Recurso em sentido estrito.

Desconsideremos a rejeição por hora. Recebida a denúncia/queixa, o réu será


citado no mesmo despacho em que o juiz realiza e comunica o recebimento. Após
citado, o réu irá dispor de 10 dias para apresentar a sua resposta à acusação.

A resposta a acusação é uma "prima" da contestação do processo cível, é a


oportunidade que a defesa tem de apresentar todas as teses pertinentes à defesa do
acusado. Na resposta a acusação o advogado poderá levantar três tipos de teses, que
levaram a três tipos diferentes de pedidos, quais sejam:

1. preliminar – levantam-se questões de nulidade processual.


2. mérito – tese que tentará convencer o juiz a conceder a
absolvição sumária do réu (art. 397 – julgamento antecipado da
lide a favor do réu)
3. tese subsidiária – Se, eventualmente, o juiz recusar as duas
primeiras teses, poderá o advogado, sem prejuízo, alegar
circunstâncias que visem melhorar a condição do réu caso este
venha a ser condenado.

Como na denúncia/queixa o MP/querelante podem arrolar suas testemunhas,


este é o momento em que a defesa poderá realizar o arrolamento de suas
testemunha. O processo volta a conclusão para que o juiz aprecie os pedidos,
podendo ocorrer uma de três hipóteses diferentes:

1. - Diante de novo juízo de admissibilidade, com uma nova


cognição poderá rejeitar a denúncia (art. 395 do CPP);
2. - Determinar a absolvição sumária do réu (art. 397 do CPP); ou
3. - Designar a data de audiência de instrução e julgamento
(art. 399 do CPP).

A audiência deverá ocorrer no prazo de 60 dias e, em regra, haverá uma única


audiência.

Há exceções prescritas em lei:

- número de acusados for alto;

- causa complexa; ou

- deferida diligência complementar.

Não ocorrendo qualquer das hipóteses de exceções o juiz ouvirá as alegações


finais de ambas as partes e então julgará o caso.
13 Resumo Direito Processual Penal II - Vivian Estella Jacob

6.3 - Procedimento sumário

Procedimento será sumário quando a pena em abstrato for superior a 2 anos


e inferiores a 4. Aqui podem ser arroladas até 5 testemunhas.

O procedimento sumário ocorrerá da mesma forma que o ordinário,


respeitando as mesmas regras processuais, com exceção do prazo para a realização
da audiência que deverá ocorrer em 30 dias e não em 60, como no ordinário.

6.4 - Procedimento sumaríssimo

Este é o procedimento adotado para o julgamento de infrações penais de


menor potencial ofensivo, ou seja, que quer contravenções penais ou crimes cujas
penas máximas em abstrato não ultrapassem 2 anos e a competência para o
julgamento destes é do Juizado Especial Criminal (JECRIM)

Este procedimento não está previsto no Código de Processo Penal, mas sim
na lei 9099/1995.

Suas diferenças com os outros procedimentos se dão desde antes do


surgimento da ação penal, pois se o sujeito for preso em flagrante será lavrado um
termo circunstanciado, ou se logo após o crime comparecer imediatamente ao
juizado e assinar termo de compromisso informando que irá comparecer em
audiência em data e local marcados, a este não será imposta prisão nem se exigirá
fiança.

Nesta primeira audiência haverá, primeiramente, uma tentativa de conciliação


que poderá ser de duas formar:

- Composição Civil: acordo entre vítima e acusado com a finalidade de se


alcançar a reparação do dano causado.

- Transação Penal: acordo entre o acusado e o MP onde se estabelece alguma


pena alternativa e, se o acusado cumprir o acordo, o MP deixará de propor ação
penal. Porém, caso o acusado não venha a cumprir o acordo, a situação inicial
retornará e o MP irá dar início a ação penal.

Caso seja infrutífera a conciliação será oferecida a denúncia, aqui feita de


forma oral. Neste procedimento o número de testemunhas não está estipulado em
lei, sendo adotado de modo geral até 5 testemunhas e em casos mais complexos
pode vir a ser aceito até 8 testemunhas, há ainda correntes que dizem que por este
ser um procedimento mais célere o número máximo deva ser 3 testemunhas.
14 Resumo Direito Processual Penal II - Vivian Estella Jacob

Oferecida a denúncia será designada audiência de instrução e julgamento,


nesta audiência una a defesa oferecerá sua defesa prévia, neste mesmo momento o
juiz apreciará a defesa, caso rejeite cabe recurso de apelação em 10 dias, se aceita,
haverá a oitiva das testemunhas, interrogatório, debates orais (20 minutos
prorrogáveis por mais 10), neste procedimento não há previsão legal para
substituição dos debates por memoriais.

Dada a audiência o juiz proferirá sentença, recorrível através de recurso de


apelação, prazo de 10 dias, ou poderão ser oferecidos embargos de declaração no
prazo de 5 dias.

Você também pode gostar