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Direito Processual Penal: Medidas cautelares de natureza

pessoal.

Alexandre Zamboni

COMPLEXO DE ENSINO RENATO SARAIVA.


Introdução.

As medidas cautelares, no processo penal,


podem ser de natureza real ou pessoal.

As de natureza pessoal se dividem em prisionais


(prisões cautelares) e não prisionais (medidas
cautelares diversas da prisão).
Prisão, no Brasil, pode ser de natureza penal, civil ou
administrativa.

A prisão penal pode ser prisão pena ou prisão cautelar


(medida cautelar prisional).

Prisão pena: prisão para cumprimento de pena imposta em


sentença, após o trânsito em julgado final (art. 283, CPP);

Prisão cautelar: prisão de quem não possui contra si uma


sentença condenatória com trânsito em julgado final.
Poderá ser temporária ou preventiva.
GENERALIDADES.

As medidas cautelares de natureza pessoal,


prisionais ou não, possuem as seguintes
características: jurisdicionalidade, provisoriedade,
revogabilidade, excepcionalidade, substitutividade
e cumulatividade, sendo esta última aplicável
apenas às medidas cautelares de natureza pessoal
não prisionais (diversas da prisão).
PRINCÍPIOS INFORMADORES.

Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título


deverão ser aplicadas observando-se a: (Redação dada
pela Lei nº 12.403, de 2011).

I.- necessidade para aplicação da lei penal, para a


investigação ou a instrução criminal e, nos casos
expressamente previstos, para evitar a prática de infrações
penais; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
II.- adequação da medida à gravidade do crime,
circunstâncias do fato e condições pessoais do indiciado
ou acusado. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
REQUISITOS:

a) periculum in mora (ou periculum libertatis):


corresponde à efetiva demonstração de que a
liberdade plena do agente (sem qualquer restrição,
obrigação ou condicionamento) poderá colocar em
risco a aplicação da pena que venha a ser imposta, o
resultado concreto do processo ou a própria
segurança social;

b) fumus boni iuris (ou fumus comissi delicti): prova de


existência do crime e de indícios suficientes de autoria.
Legitimidade: somente o JUIZ pode as decretar
(jurisdicionalidade). Atenção, contudo:

a)O Juiz não possui legitimidade para decretar


medidas cautelares ex officio seja na fase
investigatória, seja na fase processual (art. 3º-A, CPP);

b)A proibição de o juiz decretar ex officio medidas


cautelares não implica dizer que não possa ele
converter o flagrante em medidas alternativas ou até
mesmo em prisão preventiva por ocasião de audiência
de custódia (artigo 310, II, CPP);
c)O juiz, no caso de descumprimento de medida
cautelar diversa da prisão imposta no curso das
investigações, PODE, a requerimento de qualquer
dos legitimados, substituí-la por medida distinta,
impor outra em cumulação ou, até mesmo,
decretar a prisão preventiva do investigado;

d)No curso do processo judicial, o juiz poderá


decretar as medidas cautelares, apenas a
requerimento do Ministério Público, do querelante
e do assistente de acusação.
Contraditório (artigo 282, § 3º, CPP).

“Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de


ineficácia da medida, o juiz, ao receber o pedido de
medida cautelar, determinará a intimação da parte
contrária, acompanhada de cópia do requerimento e
das peças necessárias, permanecendo os autos em
juízo”
Recursos e outras vias impugnativas.

Contra a decisão judicial que INDEFERE pedido medida


cautelar de natureza pessoal cabe recurso em sentido
estrito (art. 581, V, CPP);

Contra a decisão judicial que DECRETA pedido medida


cautelar de natureza pessoal cabe habeas corpus;

Observação: caso haja situação onde o descumprimento


de medida cautelar não autoriza decreto prisional
(contravenção, por exemplo), a via impugnaria é o
mandado de segurança.
Detração: o respectivo tempo de prisão provisória
deve ser abatido da pena privativa de liberdade, ex
vi do art. 42 do Código Penal e do art. 387, § 2.º, do
CPP. Inclusive, de acordo com o art. 1.º da Lei
12.736/2012, a detração deverá ser realizada pelo
juiz que profere a sentença condenatória, antes de
fixação do regime de cumprimento da pena.
A prisão preventiva somente poderá ser
determinada quando não for cabível a sua
substituição por outra medida cautelar (art. 282, §
6º, CPP).

Como regra, o descumprimento de medida cautelar


diversa da prisão autoriza a conversão desta em
prisão preventiva (art. 282, § 4º, CPP).
Prazo de duração: inexiste, exceto no caso de
prisão temporária. Contudo, em se tratando de
prisão preventiva, esta deve ser realizada a cada 90
dias (art. 316, p. único, CPP)

As espécies de medidas cautelares diversas da


prisão estão listadas nos artigos 319 e 320 do CPP.

Observação: a fiança está prevista como sendo uma


espécie de medida cautelar diversa da prisão (art.
319, VIII, CPP).
Mandamento constitucional quanto à prisão de pessoa
(art. 5º, LXI, CF/88):

“ninguém será preso senão em flagrante delito ou por


ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária
competente, salvo nos casos de transgressão militar ou
crime propriamente militar, definidos em lei”
Atenção: a prisão por força de flagrante não é considerada
prisão cautelar, mas sim pré-cautelar.

Dispõe o art. 283, § 2.º, do CPP que a prisão poderá ser


efetuada em qualquer dia e a qualquer hora, respeitadas as
restrições constitucionais quanto à inviolabilidade do
domicílio.
Cuidado: se o executor do mandado verificar, com
segurança, que o réu entrou ou se encontra em alguma
casa, o morador será intimado a entregá-lo, à vista da
ordem de prisão. Se não for obedecido imediatamente, o
executor convocará duas testemunhas e, sendo dia, entrará
à força na casa, arrombando as portas, se preciso; sendo
noite, o executor, depois da intimação ao morador, se não
for atendido, fará guardar todas as saídas, tornando a casa
incomunicável, e, logo que amanheça, arrombará as portas
e efetuará a prisão (art. 293, CPP).
-O particular pode prender em flagrante (art. 301,
CPP), mas não pode executar ordem judicial
prisional.

-A falta de mandado não obsta a prisão, caso seja


caso de crime inafiançável (art. 287, CPP).

-Mandado de prisão dirigido a pessoa que reside em


localidade distinta da competência do Juiz emissor
deverá ser cumprido mediante carta precatória,
exceto se houver perseguição (art. 290, CPP).
- Local de cumprimento de prisão preventiva:
presídio, como regra, domicílio ou prisão especial,
exceções.
PRISÃO EM FLAGRANTE.

- É uma prisão precautelar.

-O FLAGRANTE é um conjunto de atos: voz de


prisão, condução à presença da autoridade e
lavratura de auto de prisão em flagrante.
- CASO o flagrante seja lavrado, o autuado será apresentado a um juiz, em audiência de
custódia e, neste caso, observar-se-á o artigo 310 do CPP:

Art. 310. Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz deverá


fundamentadamente: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

I.- relaxar a prisão ilegal; ou (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). - isso foi cobrado no
XXV exame
II.- converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos
constantes do art. 312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as
medidas cautelares diversas da prisão; ou (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
III.- conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. (Incluído pela Lei nº 12.403,
de 2011).

Parágrafo único. Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o agente praticou
o fato nas condições constantes dos incisos I a III do caput do art. 23 do Decreto-Lei no
2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, poderá, fundamentadamente, conceder ao
acusado liberdade provisória, mediante termo de comparecimento a todos os atos
processuais, sob pena de revogação. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
Audiência de custódia.
Espécies de prisão em flagrante:

a)Quanto a quem efetua a voz de prisão: obrigatório e


facultativo (art. 301, CPP);
b)Quanto ao momento da voz de prisão: quando o
agente está cometendo o crime ou acabou de cometê-lo
(art. 302, I e II, CPP). Denomina-se impróprio, quando é
perseguido, logo após, pela polícia, vítima ou terceiros,
em situação que faça presumir ser autor do delito (art.
302, III, CPP). Presumido, quando o agente é achado,
logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou
papéis que façam presumir ser ele o autor do crime (art.
302, IV, CPP). - isso foi cobrado no IX exame
Atenção: crimes permanentes admitem a prisão em
flagrante a qualquer momento (art. 303, CPP).

Atenção: flagrante preparado x esperado x forjado x


retardado.
- Não existe restrição quanto a quem pode receber voz de
prisão e ser conduzido à presença da autoridade. Quanto à
lavratura, esta é proibida nas seguintes hipóteses:

a)infrações penais de menor potencial ofensivo, como regra;


b)crimes culposos, caso seja ele infração de menor potencial
ofensivo;
c)condutor de veículo, nos casos de acidentes de trânsito de
que resulte vítima, se prestar pronto e integral socorro àquela
(art. 301, CTB);
d) artigo 28 da lei de drogas.
e) menor de 18 anos;
f) Presidente da República;
g)Magistrados e membros do MP, salvo se for por
crime inafiançável;
h) Membros do Congresso Nacional;
i) Diplomatas estrangeiros;
j)Indivíduo que se apresenta espontaneamente à
autoridade;
k)Advogados, se o crime tiver a ver com sua função e
se inafiançável;
A quem compete a lavratura?

Regra: DELEGADO.
Exceção: JUIZ (art. 307, CPP).

A lavratura dá início a inquérito policial (art. 304, § 1º, CPP).

Lavrado o auto, deverão ser comunicados, em até 24 horas,


Juiz (caso não houver sido o auto por ele presidido), MP e
Defensoria Pública. No mesmo prazo, será entregue nota
de culpa ao preso.
PRISÃO PREVENTIVA.

Considerações gerais:

- É uma prisão cautelar.


-É cabível seja na fase de investigação, seja na fase
processual.
- A decretação ex officio jamais será permitida.
- Na fase de investigação o Juiz apenas pode
decretar se houver representação do Delegado ou
requerimento do Ministério Público (exceto nos
casos de conversão, onde o juiz pode converter de
ofício).
- Na fase processual o Juiz pode decretar a
requerimento do MP, do assistente de acusação ou
do querelante.
- A cada 90 dias do decreto, deve o juiz analisar sua
necessidade.
Para que uma prisão preventiva possa ser decretada
o Juiz precisa, nesta ordem:

1) verificar se é admissível (art. 313, CPP)


2) verificar se estão presentes os dois pressupostos
3)verificar se está presente ao menos um dos
quatro fundamentos.
Requisitos de admissibilidade:

Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida
a decretação da prisão preventiva: (Redação dada pela
Lei nº 12.403, de 2011).
I.- nos crimes dolosos punidos com pena privativa de
liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos; (Redação
dada pela Lei nº 12.403, de 2011). - isso foi cobrado no XX
exame.
II.- se tiver sido condenado por outro crime doloso, em
sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no
inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 - Código Penal; (Redação dada
pela Lei nº 12.403, de 2011).
III.- se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a
mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com
deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas
de urgência; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

IV.- (revogado). (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011).

Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva


quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou
quando esta não fornecer elementos suficientes para
esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente em
liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese
recomendar a manutenção da medida. (Incluído pela Lei
nº 12.403, de 2011).
Pressupostos: indícios suficientes de autoria e
prova de existência do crime (fumus comissi delicti)

Fundamentos (periculum libertatis): garantia da


ordem pública, garantia da ordem econômica,
conveniência da instrução criminal e segurança da
aplicação da lei penal.
Atenção: a prisão domiciliar (artigos 317 e 318 do
CPP) não é medida cautelar autônoma, mas sim
forma de cumprimento da prisão preventiva.
Art. 317. A prisão domiciliar consiste no
recolhimento do indiciado ou acusado em sua
residência, só podendo dela ausentar-se com
autorização judicial. (Redação dada pela Lei nº
12.403, de 2011).
Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva
pela domiciliar quando o agente for: (Redação dada
pela Lei nº 12.403, de 2011).

I.- maior de 80 (oitenta) anos; (Incluído pela Lei nº


12.403, de 2011).
II.- extremamente debilitado por motivo de doença
grave; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
III.- imprescindível aos cuidados especiais de
pessoa menor de 6 (seis) anos de idade ou com
deficiência; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
IV.- gestante; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de
2016)
V.- mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade
incompletos; (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
VI.- homem, caso seja o único responsável pelos
cuidados do filho de até 12 (doze) anos de idade
incompletos. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

Parágrafo único. Para a substituição, o juiz exigirá


prova idônea dos requisitos estabelecidos neste
artigo. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
Art. 318-A. A prisão preventiva imposta à mulher gestante ou
que for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com
deficiência será substituída por prisão domiciliar, desde que:
(Incluído pela Lei nº 13.769, de 2018).

I.- não tenha cometido crime com violência ou grave ameaça a


pessoa; (Incluído pela Lei nº 13.769, de 2018).
II.- não tenha cometido o crime contra seu filho ou dependente.
(Incluído pela Lei nº 13.769, de 2018).

Art. 318-B. A substituição de que tratam os arts. 318 e 318-A


poderá ser efetuada sem prejuízo da aplicação concomitante
das medidas alternativas previstas no art. 319 deste
Código. (Incluído pela Lei nº 13.769, de 2018).
PRISÃO TEMPORÁRIA.

A prisão temporária está regulamentada na Lei 7.960/1989, a qual, no art. 1.º,


prevê as seguintes hipóteses de cabimento:

I.– Quando imprescindível para as investigações do inquérito policial;


II.– Quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos
necessários ao
esclarecimento de sua identidade;
III.– Quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova
admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado, nos
crimes de homicídio doloso, sequestro ou cárcere privado, roubo, extorsão,
extorsão mediante sequestro, estupro, epidemia com resultado de morte,
envenenamento de água potável ou alimentos ou medicamentos com
resultado morte, associação criminosa (art. 288 do CP, com a alteração
determinada pela Lei 12.850/2013), genocídio, tráfico de drogas, crimes
contra o sistema financeiro e crimes previstos na Lei do Terrorismo.
Prazo da prisão temporária:

Crime não hediondo ou equiparado: 5 dias,


prorrogável.

Crime hediondo ou a ele equiparado: 30 dias,


prorrogável.

Isso foi cobrado no XXVI exame.


Liberdade provisória x relaxamento x revogação.
isso foi cobrado nos XXVII e XXV exames.
No que tange à liberdade provisória, ela pode ser
obrigatória, permitida ou vedada.

Será obrigatória nos seguintes casos:

a)Infrações de menor potencial ofensivo (art. 69,


parágrafo único, da Lei 9.099/1995);
b)Porte de drogas para consumo pessoal (art. 48, § 2.º, da
Lei 11.343/2006);
c)Acidentes de trânsito de que resultem vítimas, havendo
prestação de socorro (art. 301 da Lei 9.503/1997).
Será permitida nos seguintes casos:

a)Quando houver indicativos de que o agente


praticou a infração penal abrigado por excludentes
de ilicitude (art. 310, parágrafo único, do CPP);
b)Quando, embora afiançável o crime, não possui o
flagrado condições econômicas para pagar a fiança
(art. 350 do CPP;
c)Quando ausentes os fundamentos da prisão
preventiva (art. 321 do CPP).
Será vedada quando o agente é reincidente ou que
integra organização criminosa armada ou milícia, ou
que porta arma de fogo de uso restrito (art. 310, § 2º,
CPP).

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