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613, DE 1998
Índice
4 EDITORIAL
Christina Roncarati 73 MECANISMOS DE COMBATE À
CORRUPÇÃO NO MERCADO DE
SEGUROS
18 A CONSOLIDAÇÃO DO COMPLIANCE
PARA PLD
Professor Marcos Assi
Marcia Cicarelli
Fabyola Rodrigues
Laura Pelegrini
90
Ludmila Groch
LAVAGEM DE DINHEIRO: COMO O
52 COMPLIANCE ANTI-LAVAGEM DE
DINHEIRO COMO FERRAMENTA DE
GESTÃO DO RISCO REPUTACIONAL
94 PREVENÇÃO À LAVAGEM DE DINHEIRO
NA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA
Dr. Christian K. de Lamboy
Alaim Assad
2
Renata Fonseca de Andrade
119 LEI Nº 9.613, DE 3 DE MARÇO DE 1998
LEI 9.613, DE 1998
Editorial
20 anos da Lei 9.613 de 1998
CHRISTINA RONCARATI
Março de 2018
4
08, 09 e 10 de Maio de 2018
AMCHAM - São Paulo / SP
REALIZAÇÃO
LEI 9.613, DE 1998
Prevenção e Combate à
Lavagem de Dinheiro
bancos nesse esforço. Posteriormente, diversos
outros setores e profissionais, denominados
entidades ou setores obrigados, foram sendo
incluídos como parceiros do Estado nesta luta.
Os setores obrigados passaram a ter que iden-
tificar os clientes com quem realizavam seus
negócios, de maneira a identificar a origem dos
seus recursos e a comunicar às autoridades as
movimentações que considerassem suspeitas.
As Unidades de Inteligência Financeiras (UIFs)
As perspectivas diferentes desses dois atores –
entidades obrigadas e órgãos de aplicação da
lei –, entretanto, geraram algumas dificuldades.
Resumidamente: de um lado, bancos e outras
entidades privadas deixavam de comunicar os
casos menos concretos; de outro, toda comu-
ANTÔNIO GUSTAVO RODRIGUES
nicação de operação suspeita recebida pelas
autoridades competentes era tratada como
uma denúncia-crime, fazendo mover a custosa
Contexto histórico máquina pública. Adicionalmente, as limita-
ções legais das autoridades para intercambiar
Com a internacionalização do crime organi- informações, especialmente com o exterior,
zado, especialmente do tráfico de drogas, em criavam dificuldades no combate a essa moda-
meados da década de 1980 foi percebida a lidade criminosa de caráter transnacional.
necessidade de mudar a forma de combater a
A solução para esses problemas surgiu em
criminalidade: não bastava prender os crimino-
meados da década de 90, quando foram cria-
sos, já que, em uma estrutura organizada, eles
das as chamadas Unidades de Inteligência Fi-
eram rapidamente substituídos por outros na
nanceira (UIFs). Situadas no meio da relação
cadeia de comando da organização. Era, por-
entre aqueles dois grupos de atores principais,
tanto, necessário estrangular as fontes de re-
as UIFs funcionam como interface entre as pes-
cursos dessas organizações, bem como evitar
soas obrigadas e as autoridades competentes.
que as organizações criminosas incorporassem
Como órgão de inteligência, seu papel é rece-
o produto do crime na economia formal. Surge
ber as comunicações dos setores obrigados,
daí o combate à lavagem de dinheiro.
analisá-las agregando informações e dissemi-
Como as autoridades não tinham como iden- nar o produto desta análise (os chamados rela-
tificar esses recursos, foi necessário engajar os tórios de inteligência financeira) às autoridades
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LEI 9.613, DE 1998
Conselho Federal de Economia (COFECON) – comunicadas migrem seus negócios para outra
Resolução 1.902/13; instituição, dificultando seu rastreamento, ou reti-
Departamento de Polícia Federal (DPF) – Por- rem os seus recursos do sistema financeiro.
taria 3.233/12;
Agência Nacional de Sade Suplementar (ANS) COAF – A Unidade de Inteligência
– Resolução Normativa 117/05; Financeira do Brasil
Departamento de Registro Empresarial e Inte-
gração (DREI) – Instrução Normativa 24/14; O COAF é uma Unidade de Inteligência Finan-
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Na- ceira (UIF) do tipo administrativo, vinculada ao
cional (IPHAN) – Portaria 396/16; Ministério da Fazenda. Além das funções típi-
Conselho de Controle de Atividades Finan- cas de uma UIF (receber comunicações, anali-
ceiras (COAF) – Resoluções 6/99; 7/99; 10/01; sar e disseminar às autoridades competentes),
15/07; o COAF regula os setores obrigados que não
21/12; 23/12; 24/13; 25/13; 29/17; Carta-Circu- possuam órgão regulador próprio, tais como
lar 1/14 e Instrução Normativa 4/15. as empresas de fomento comercial – factoring,
do comércio de joias, pedras e metais precio-
sos, de bens de luxo ou de alto valor, etc...
Das comunicações de Operação
ao COAF O COAF é composto por servidores públicos
de reputação ilibada e reconhecida competên-
Um dos pilares do sistema de prevenção à la-
cia, designados em ato do Ministro da Fazenda,
vagem de dinheiro são as chamadas Comu-
dentre os integrantes do quadro de pessoal
nicações de Operações Suspeitas (COS) que
efetivo do Banco Central do Brasil, da Comis-
constituem o núcleo do sistema de prevenção
são de Valores Mobiliários, da Superintendên-
e combate à lavagem de dinheiro e decorrem
cia de Seguros Privados, da Procuradoria-Geral
da obrigação das entidades de “conhecer seus
da Fazenda Nacional, da Secretaria da Receita
clientes”. A obrigação de efetuar as COS está
Federal do Brasil, da Agência Brasileira de Inte-
prevista no Art. 11, II, b da Lei 9.613/98.
ligência, do Departamento de Polícia Federal,
No Brasil existem também as Comunicações do Ministério das Relações Exteriores, do Mi-
de Operações em Espécie (COE), que se carac- nistério da Justiça, da Secretaria de Previdên-
terizam não pela suspeição, mas por ter sido cia Social e do Ministério da Transparência e
ultrapassado um limite definido pelo órgão Controladoria-Geral da União. O Presidente do
regulador. Elas estão previstas no Art. 11, II a da COAF é nomeado pelo Presidente da Repúbli-
Lei 9.613/98. Não importa quem seja o cliente ca, por indicação do Ministro da Fazenda.
ou a situação, se ocorrer uma operação, em
Apesar do seu nome, o COAF não controla os
espécie, dentro dos patamares estabelecidos,
milhões de operações financeiras que aconte-
esta operação deve ser comunicada ao COAF,
cem diariamente no Brasil, não recebe ou anali-
independentemente de suspeição. O critério é,
sa contratos e tampouco tem acesso às contas
portanto, objetivo.
ou investimentos das pessoas. É um órgão de
Uma das exigências da Lei, é que as pessoas inteligência financeira, que recebe comunica-
obrigadas encaminhem suas comunicações ao ções dos setores obrigados, analisa-as, elabora
COAF sem dar conhecimento aos envolvidos e e dissemina relatórios de inteligência financei-
a terceiros (tipping off, em inglês). Isso protege o ra às autoridades competentes para a compe-
comunicante e evita que as pessoas ou empresas tente investigação.
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COAF em Números
Principais resultados do COAF no período 2013-2017
Principais Resultados 2017 2016 2015 2014 2013
Comunicações recebidas dos setores obrigados 1.503.253 1.492.799 1.382.213 1.144.279 1.285.000
Relatórios de Inteligência Financeira (RIF) produzidos 6.608 5.661 4.304 3.178 2.450
Intercâmbio realizado com UIF (Rede de Egmont) 435 424 231 160 170
Advertências aplicadas 2 13 21 17
Fonte: COAF
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LEI 9.613, DE 1998
CroS
Sover
Consulting & Auditing
Lei 9613/98 – O
impacto positivo para
o fortalecimento da
governança corporativa
V
em ocultar ou dissimular a natureza, origem
inte anos atrás, em 1998, era promulgada ou propriedade de bens, direitos ou valores
a Lei 9613 a qual foi atualizada em 2012 pela oriundos direta ou indiretamente de ativida-
Lei 12.683. Ela trata sobre os crimes de lavagem des ilícitas mediante operações financeiras ou
de dinheiro e financiamento ao terrorismo, e comerciais, de forma a viabilizar o uso destes
quando de sua promulgação atendeu ao re- ativos sem atrair a atenção das autoridades
quisito da convenção de Viena na cooperação constituídas.
internacional ao combate de tráfico ilícito de
Logicamente, neste processo, as instituições
entorpecentes do qual o Brasil é signatário.
financeiras têm um papel de extrema impor-
A lei criou o COAF – Conselho de Controle das tância para a prevenção e detecção destes cri-
Atividades Financeiras, órgão do Ministério da mes, uma vez que para a lavagem de dinheiro
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LEI 9.613, DE 1998
V
propomos um texto cujo enfoque é a proble-
inte anos se passaram da promulgação matização da lavagem de dinheiro na atual
e entrada em vigor da Lei número 9.613, de economia nacional e as formas que a autarquia
3 de março de 1998, a qual dispõe sobre os federal reguladora do mercado securitário e
crimes de “lavagem” ou ocultação de bens, ressecuritário brasileiro, a SUSEP (Superinten-
direitos e valores; prevenção da utilização do dência de Seguros Privados), se posicionou,
sistema financeiro para os ilícitos previstos na de maneira regulatória e fiscalizatória, para
própria Lei; além da criação do Conselho de combater e coibir as devastadoras conse-
Controle de Atividades Financeiras – COAF; quências econômicas, de segurança e sociais
e pouco mais de cinco anos de publicação e que tais crimes podem causar tanto para as
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seguradoras e resseguradoras, como para o sua origem ilícita e o risco de haver proces-
mercado econômico nacional e internacional. sos judiciais.” 1 (grifo nosso).
Os países mais desenvolvidos no que se refere Assim sendo, cada regulador dos mercados
ao combate aos crimes de lavagem de dinhei- econômicos relevantes brasileiros incorpo-
ro possuem políticas econômicas tanto para a raram as regras de combate aos crimes de
lavagem de dinheiro estabelecidos pela Lei
iniciativa privada como para os órgãos públi-
9.613/1998 para o seus entes regulados e
cos, com o intuito de preservar o Sistema Eco-
criaram ou ajustaram suas regulamentações
nômico Nacional e coibir o desequilíbrio social
conforme suas necessidades práticas e possibi-
causado pelo crime organizado, o qual se vale lidades de fiscalização.
de operações realizadas pra ocultar ou dissi-
mular a natureza, origem, localização, disposi- Entretanto, ainda que o artigo 9º, parágrafo
único, inciso II, da Lei 9.613 desde o seu texto
ção, movimentação ou propriedade de bens,
original em 1998, tenha sujeitado as segurado-
direitos ou valores provenientes direta ou indi-
ras, as corretoras de seguros e as entidades de
retamente de quaisquer ilícitos. previdência complementar ou de capitaliza-
O Brasil seguiu os princípios internacionais, es- ção, às obrigações legais do combate aos cri-
pecialmente as recomendações das Nações mes de lavagem de dinheiro, apesar da SUSEP
Unidas e definiu por meio de suas legislações ter emitido circulares desde 19992 acerca das
que lavagem de dinheiro é o ato ou conjunto operações e situações que poderiam configu-
rar indícios de ocorrências dos crimes previstos
de atos praticados por determinado agente
na referida lei, foi somente em 2008 com a Cir-
com o objetivo de conferir aparência lícita a
cular SUSEP número 380, de 29 de dezembro3,
bens, direitos ou valores provenientes de qual-
que a autarquia federal brasileira de seguros e
quer infração penal. resseguros associou as regras obrigatórias de
“O processo de lavagem de dinheiro é dinâmi- controles internos dos entes regulados com a
co e pode ocorrer em etapas diferentes que práticas de prevenção e combate aos crimes
visam, em primeiro lugar, o distanciamento de lavagem de dinheiro, além da fiscalização
dos ativos de sua origem, com a sua alocação das operações com pessoas politicamente
expostas.
no mercado econômico de modo a evitar a
associação direta deles com o crime; depois, Vale ressaltar que as alterações realizadas na Lei
dificultar o rastreamento contábil dos recursos 9.613/1998 pela Lei 12.683/2012 foram somen-
ilícitos, o que ocorre por meio de diversas mo- te incorporadas pela SUSEP na Circular emitida
vimentações; e, por fim, a incorporação formal pela referida autarquia federal de número 445,
em 2 de julho de 2012.
dos recursos ao sistema econômico e sua dis-
ponibilização novamente para os criminosos O artigo 5º da Circular SUSEP 445/2012 esta-
após ter sido “limpo”. Nesse sistema, todos os belece que as seguradoras, resseguradoras e
tipos de transações financeiras e serviços fi- corretoras devem “desenvolver e implementar
nanceiros podem ser utilizados com o fim de
legalizar recursos ilícitos.” [...] “Em poucas pa-
1 LEÓN, Gustavo Amado. As práticas de Compliance aplicáveis às
lavras, lavagem de dinheiro é a maneira co- seguradoras e resseguradoras no Brasil. In: Estudos Aplicados de
Direito Empresarial. Coordenação Pamela Romeu Roque. São
mo os infratores escondem a origem de um Paulo: Editora Almedina, 2016. P. 115.
dinheiro ou uma propriedade ilegal, ou seja, 2 Circular SUSEP número 89, de 8 de abril de 1999 foi a primeira
publicação da SUSEP sobre o tema.
a transformação de dinheiro ilegal em di- 3 Atualmente a referida Circular foi revogada pela Circular SU-
nheiro legal, tentando evitar a detecção da SEP número 445, de 2 de julho de 2012.
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LEI 9.613, DE 1998
pre comunicado, no prazo de 24 horas da pro- GARCIA, Sheila Abukater Arkie. Compliance: um ins-
posta ou realização de a) todas as transações trumento de governança corporativa e fomento
em moeda nacional ou estrangeira, títulos e do mercado de capitais. Monografia apresenta-
valores mobiliários, títulos de crédito, metais, ou da ao Programa de L.L.M. em Direito dos Merca-
dos Financeiro e de Capitais da Pós-graduação
qualquer ativo passível de ser convertido em di-
Lato Sensu do INSPER, 2012.
nheiro, que ultrapassar limite fixado pela auto-
ridade competente e nos termos de instruções GUIMARÃES, Antônio Márcio da Cunha. Contratos
internacionais de seguros. São Paulo: Revista
por esta expedidas, acompanhadas da identifi-
dos Tribunais, 2002.
cação dos clientes das pessoas sujeitas ao me-
IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corpora-
canismo de controle conforme artigo 9º da Lei
tiva. Uma década de governance corporativa:
9.613/1998 e manutenção de cadastro atualiza-
história do IBGC, marcos e lições da experiência.
do deles, nos termos de instruções emanadas
São Paulo: Saint Paul, Saraiva, 2006.
das autoridades competentes; e b) as opera-
LEÓN, Gustavo Amado. As práticas de Compliance
ções que, nos termos de instruções emanadas
aplicáveis às seguradoras e resseguradoras no
das autoridades competentes, possam consti- Brasil. In: Estudos Aplicados de Direito Empre-
tuir-se em sérios indícios dos crimes previstos sarial. Coordenação Pamela Romeu Roque. São
na referida lei ou com eles relacionar-se. Paulo: Editora Almedina, 2016.
Por fim, cabe-nos salientar que a lei de combate POLIDO, Walter Antonio. O contrato de seguro em
à lavagem de dinheiro e suas posteriores atua- face da nova perspectiva social e jurídica. 2008.
lizações são extraordinários avanços legais, po- 251 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Facul-
rém ainda restam alguns aspectos práticos que dade de Direito, Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo, São Paulo.
emperram o desenvolvimento do nosso país
quanto ao tema, como a demora no trânsito RIBEIRO, Milton Nassau. Aspectos jurídicos da gover-
em julgado de um processo criminal e a ausên- nança corporativa. São Paulo: Quartier Latin, 2007.
cia de uma política criminal racional dos nossos SOUSA, Letícia Barragan de Oliveira; GONZALES, Ale-
governantes. Ainda há muito que se fazer pa- xandre. Lavagem de dinheiro: Lei nº 9.613/98 atua-
lizada pela Lei nº 12.683/12. Importância e o nível
ra combater os crime de lavagem de dinheiro,
de interesse dos contadores em se manterem
mas a nossa percepção é que o Brasil vive um
atualizados. Redeca, v.1, n. 1. Jan-Jun. 2014. P. 61-78.
momento de transformação e o tema será cada
vez mais debatido nos fóruns cabíveis.
Sites*
http://www.ibccrim.org.br/site/boletim/pdfs/Bole-
tim237.pdf
Referências h t t p : / / w w w. s u s e p. g o v. b r / m e n u / a - s u s e p /
historia-do-seguro
ALVIM, Pedro. O contrato de seguro. 3 ed, Rio de Ja- h t t p : / / w w w. e s c o l a d a a j u r i s . o r g . b r / p h l 8 /
neiro: Forense, 1999. arquivos/803181659576p163-170.pdf
BETTARELLO, Flávio Campestrin. Governança corpo- Circular SUSEP nº 445, de 2 de julho de 2012. Dis-
rativa: fundamentos jurídicos e regulação. São ponível em: http://www2.susep.gov.br/biblioteca-
Paulo: Quartier Latin do Brasil, 2008. web/docOriginal.aspx?tipo=1&codigo=29636.
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LEI 9.613, DE 1998
A consolidação do
compliance para PLD
no início de 2002 muita coisa mudou, e como
sempre precisamos de um evento catastrófi-
co, para que o mundo corporativo inicie a sua
busca por normatizar o problema, digo mini-
mizar o problemas, por meio de regras e le-
gislações, mas no caso do evento do porte do
WTC, percebemos que já havia uma legislação,
só faltava começar a seguir, muitas empresas
iniciaram sua busca por implementar regras de
compliance e prevenção a lavagem de dinhei-
ro, acredito que estávamos em torno de quatro
anos atrasados, mas antes tarde do que nunca,
não é verdade?
Importante lembrar que Lei nº 9.613/98 foi
PROFESSOR MARCOS ASSI editada com o intuito de coibir as ações dos
chamados “lavadores de dinheiro”, responden-
L
do ao clamor das comunidades econômicas e
embro como se fosse hoje, estava a ca- jurídicas internacionais e à necessidade de pre-
minho do Banco ABC Brasil, trabalhava neste servar o Sistema Econômico Nacional dos pos-
banco, quando ocorreu o evento do 11 de se- síveis desequilíbrios causados pelos “lavadores”
tembro no WTC, e todos estavam muito as- de dinheiro, que, com simples operações por
sustados com aquela situação, e toda a mídia meio de seus computadores, transferiam im-
passando informações desencontradas e mui- portâncias consideráveis para paraísos fiscais e
tos não entendiam o que estava acontecendo, também criou o Conselho de Controle de Ati-
mas foi passando as horas e descobrimos que vidades Financeiras – COAF, nossa agencia de
havia ocorrido um ataque terrorista, mas al- inteligência financeira.
gumas pessoas devem estar pensando, “o que
O COAF orienta através de seus normativos a
isto tem a ver com prevenção a lavagem de
existência de mecanismos que são mais uti-
dinheiro?”
lizados no processo de lavagem de dinheiro,
Foi justamente por motivo desde evento que afinal para disfarçar os lucros ilícitos sem com-
os órgãos reguladores no Brasil iniciaram um prometer os envolvidos, a lavagem de dinheiro
processo de mudança nas questões de com- realiza-se por meio de um processo dinâmico
pliance, com base na Lei nº 9.613 de 3 de mar- que requer o distanciamento dos fundos de
ço de 1998, e digo isso sem medo de errar, pois sua origem, evitando uma associação direta
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deles com o crime, o disfarce de suas várias as regras independente da punição, mais pela
movimentações para dificultar o rastreamento conduta e ética.
desses recursos e disponibilização do dinheiro
Com as mudanças será possível apreender
novamente para os criminosos depois de ter si-
bens em nomes de “laranjas” e também vender
do suficientemente movimentado no ciclo de
estes bens apreendidos antes do final do pro-
lavagem e poder ser considerado “limpo”.
cesso, cujos recursos ficarão depositados em
A Lei nº 12.683/12 de 9 de julho de 2012 che- juízo até o final do julgamento, e o patrimônio
gou alterando a Lei nº 9.613, de 3 de março de apreendido poderá ser repassado a estados
1998, justamente para tornar mais eficiente a e municípios, e não apenas à União, mudan-
persecução penal dos crimes de lavagem de ça forte e está sendo aplicada atualmente na
dinheiro, editada com o intuito de coibir as Operação Lava Jato.
ações dos chamados “lavadores de dinheiro”.
A primeira, no meu entender, é a mais impor-
Pois a Lei nº 9.613/98 respondeu ao clamor das
tante mudança, pois ampliou o rol dos crimes
comunidades econômicas e jurídicas interna-
de dissimulação, ocultação da origem de bens,
cionais e à necessidade de preservar o Sistema
valores e instrumento de crimes, afinal na re-
Econômico Nacional dos possíveis desequilí-
dação anterior, somente nos crimes de tráfico
brios causados pelos “lavadores de dinheiro”,
ilícito de substâncias entorpecentes ou drogas
que, com simples operações por computa-
afins, de terrorismo, contrabando ou tráfico de
dores, transferem importâncias consideráveis
armas, extorsão mediante sequestro, crimes
para paraísos fiscais e importante salientar que
contra a Administração Pública e contra o sis-
a lei de 1998 criou o Conselho de Controle de
tema financeiro nacional, praticados por orga-
Atividades Financeiras (COAF), nossa agência
nização criminosa e praticados por particular
de inteligência no país.
contra a administração pública estrangeira,
Interessante que a Lei nº 12.683/12 também al- era possível o enquadramento do autor na pe-
terou alguns dispositivos da legislação anterior na de reclusão de três a dez anos entre outras
onde determina que Conselho de Controle de punições.
Atividades Financeiras (COAF), pudesse ampliar
Com a nova redação, a pena poderá ser aplica-
os tipos de profissionais obrigados a enviar in-
da em qualquer crime em que ocorra ocultação,
formações sobre operações suspeitas, alcan-
dissimulação da natureza, origem, localização,
çando doleiros, empresários que negociam
disposição, movimentação ou propriedade de
direitos de atletas, comerciantes de artigos de
bens, direitos ou valores provenientes, direta
luxo, empresas de contabilidade, consultorias,
ou indiretamente, de crime, resumindo se não
assessorias empresariais entre outros.
for possível justificar a fonte e origem do recur-
Outra mudança de impacto foi a elevação do so financeiro, poderá ser tratado como ilícito e
limite da multa a ser aplicada a quem descum- passível de punição pela legislação atual. Vale
prisse as obrigações de envio de informações, a pena evidenciar que a nova lei contemplou a
passando de R$ 200 mil para R$ 20 milhões, tão falada, delação premiada, reduzindo drasti-
afinal enquanto não mexemos nos bolsos, as camente a pena ao delator, podendo até mes-
pessoas não se atentarem em cumprir regras, mo deixar de aplicá-la àqueles que colaborarem
modelo padrão nosso, e por favor estou gene- com a Justiça para o esclarecimento dos crimes
ralizando, pois sei que muitas pessoas seguem de lavagem bens e direitos.
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LEI 9.613, DE 1998
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identificação, e este é o grande problema para Não basta publicarmos leis, regras e políticas,
que os mecanismos de identificação possam precisamos cumpri-las e punir adequadamen-
ser eficientes e eficazes no combate à lavagem te quando os desvios acontecerem, nunca será
de dinheiro e corrupção, mas a inclusão de possível demonstrar a importância disso para
operações boas e ruins, de difícil identificação, o nosso país.
se não fossem as delações, seria muito difícil a
A legislação brasileira esta a cada dia evoluindo
identificação das operações de caráter ilícito.
e na busca das melhores práticas internacio-
Segundo o portal da Transparência Internacio- nais de prevenção a lavagem de dinheiro, mas
nal, o Brasil caiu 17 posições em ranking inter- o que ainda nos atrapalha muito, é a tão falada
nacional que mede a percepção da sociedade impunidade, que acaba por minar os proces-
com o combate à corrupção. Em 2017, o País sos de investigação e punição dos culpados.
ficou na 96ª colocação no Índice de Percepção
O COAF tem como diretrizes principais as 40
da Corrupção (IPC), medido pela Transparên-
Recomendações do GAFI que apresentam al-
cia Internacional, ante a posição de número
guns padrões sugestões de como promover
79 que ocupava no ano anterior. Para melhor
uma efetiva implementação de leis, regula-
entendimento, quanto pior a posição do país
mentos e atividades operacionais para comba-
no ranking, maior é a percepção da corrupção
ter a lavagem de dinheiro, ao financiamento do
por seus cidadãos. Em uma escala que vai de
terrorismo, além de outras ameaças à integri-
0 a 100, em que zero significa altamente cor-
dade do sistema financeiro relacionadas a es-
rupto e cem, altamente íntegro, o indicador
ses crimes, que mesmo com todo processo de
brasileiro recuou três pontos, de 40 para 37,
monitoramento ainda aconteceu envolvendo
este indicador é de suma importância para o
instituições financeiras, empresas e políticos.
nosso país, pois precisamos mudar e muito os
nossos processos internos, para que sejamos Sendo o GAFI um elaborador global de pa-
respeitados mundialmente e possamos rece- drões para as medidas que combatem as
ber investimentos e possibilitar o crescimento ameaças por fonte de lavagem de dinheiro
de nosso país. e corrupção, segundo o próprio COAF, estas
medidas são adotadas em mais de 180 países,
A sensação de impunidade é o indicador que
e estas exigências de melhores práticas para
estabelece o humor do mundo corporativo e
que possamos avaliar as situações de alto risco
da população, as mudanças realizadas na le-
e que possam permitir que os países adotem
gislação nos últimos anos, busca um aprimora-
posturas mais objetivas e focadas para mitigar
mento dos processos de prevenção a lavagem
e tratar esses riscos.
de dinheiro e os desvios de dinheiro público, as
instituições financeiras e as empresas não po- As exigências têm como base o fortalecimento
dem descansar na busca de um mercado onde da melhoria das áreas onde existem os maiores
a conduta e ética possam ser reconhecidas por riscos e que devem ser melhoradas, mais ainda
todas as pessoas. precisam ser mais claras, principalmente, com
relação à transparência dos negócios e das re-
Todas as vezes que adquirimos alguma coisa
gras mais rígidas contra a corrupção e o desvio
sem nota, produtos genéricos, produtos rou-
de dinheiro.
bados ou desviados de estoques das empresas,
entre outros produtos, devemos entender que Como pretendemos seguir as Recomenda-
assim contribuímos com o crime organizado. ções do GAFI, precisamos avaliar algumas
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LEI 9.613, DE 1998
mudanças nos padrões governamentais e dos entre grupos financeiros, já estão mais eficien-
negócios, utilizando uma abordagem baseada tes para trocas de informações, rastreamento
em risco, pois devemos entender claramente do dinheiro, bloqueios de contas, confiscos e
quais são e onde estão os riscos da lavagem a repatriação de bens ilegais está funcionan-
de dinheiro que podem afetar e se adaptar aos do, por exemplo a Petrobras em dezembro
sistemas de prevenção e combate de Lavagem de 2017, que desde o início da Operação Lava
de Dinheiro, pois o principal objetivo é tratar a Jato atingiu o montante de R$ 1,5 bilhões, e
natureza desses riscos. que todos os recursos já estavam no caixa da
Outra coisa que precisamos avaliar com muito companhia.
critério é a falta de transparência com relação à Outra coisa importante é o tratamento das
titularidade e de seus representantes no con- questões de corrupção e das Pessoas Politica-
trole de pessoas jurídicas e outras empresas mente Expostas (PPE) que tem aumentado as
do terceiro setor, por exemplo, precisamos de exigências sobre principalmente pessoas poli-
informações confiáveis e que estejam disponí- ticamente expostas, que representam um risco
veis sobre a respeito da propriedade, de seus maior de corrupção devido às posições que
beneficiários e do controle das empresas, dos ocupam. Temos várias exigências cadastrais e
trustes e outras pessoas jurídicas e estrutu- de monitoramento das operações e devemos
ras organizacionais. Podemos citar a IN 1.634 aplicar processos mais eficientes de diligência
da Receita Federal do Brasil (RFB), de maio de a este tipo de pessoa.
2016, que traz algumas alterações sobre as
São vários os agentes reguladores que imple-
questões relacionadas aos beneficiários finais
mentaram normativos sobre as questões de
das empresas, afinal o conhecimento da cadeia
de participação societária é de suma importân- prevenção a Lavagem de Dinheiro nos últimos
cia e a identificação de beneficiários finais de anos, e posso afirmar aqui que o Bacen tem
pessoas jurídicas e de inúmeros arranjos legais, sido o mais efetivo em seus normativos, até
para se ter uma noção é o verdadeiro desafio mesmo por que os maiores riscos estão justa-
para a prevenção e combate à sonegação fis- mente nas atividades bancarias, que suportam
cal, à corrupção e à lavagem de dinheiro em as operações financeiras de muitas empresas,
âmbito mundial. e os outros órgão reguladores se movimentam
geralmente após alguma alteração do Conse-
Importante evidenciar aqui que estas mudan-
lho Monetário Nacional e do Bacen, devemos
ças nos conceitos e nas inovações do processo
salientar que os outros órgão reguladores es-
de prevenção que estão contemplados na IN
tão atualizando suas legislações e realizando
1.634/2016, já foram frutos de vários estudos
cobranças das empresas que são supervisiona-
e debates realizados pelos órgãos federais no
das por eles, podemos citar alguns aqui:
âmbito da Estratégia Nacional de Combate à
Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (ENCCLA), Banco Central do Brasil – BCB
que busca promover a transparência e identifi- Comissão de Valores Mobiliários – CVM
car os reais beneficiários das empresas e recur-
Conselho Federal de Contabilidade – CFC
sos aplicados no país.
Ministério da Previdência Social – PREVIC
A Operação Lava Jato já demonstrou efetiva-
mente que os processos de cooperação in- Superintendência de Seguros Privados
ternacional entre agências governamentais e – SUSEP
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são realizados pagamentos diretamente em Com este e outros exemplos, o Big Data traz
dinheiro e a identificação do seu “cliente” não aos órgãos reguladores e instituições fiscali-
deixa rastros. zadoras de direito, potencial gigantesco de
Os bancos por exemplo possuem sistema bas- auditoria, inspetoria e fiscalização por meio de
tante rigoroso fundamentado em lei do Know monitoramento em massa a partir de dados,
Your Costumer (conheça seu cliente) como contrapondo o antigo modelo de análises AD
atividade vinculada a normatização do pro- HOC a partir de comportamentos suspeitos.
grama Anti Lavagem de Dinheiro ou também O sistema de controle ainda pode obviamen-
conhecido como AML (Anti Money Laundry), te ser otimizado, mas nunca foi tão acessível
neste processo são requeridas diversas infor- entender e percorrer o caminho do dinheiro,
mações que tratam do cadastro e fundamen- pois hoje este dinheiro deixa rastros, entendo,
tação sobre a proveniência e licitude do capital no entanto, que os mecanismos de controle e
investido. fiscalização sobre a lei de Lavagem, pararam no
Nesta mesma linha, após o advento da “Lava tempo e definitivamente ainda não evoluíram
Jato” algumas empresas tem adotado como ao mesmo passo que os fraudadores, e conti-
prática líder processos de due diligence de for- nuamos atuando de forma morosa e detectiva
necedores, prestadores e parceiros mas nem nas atividades de combate e resposta aos cri-
de longe seguindo o mesmo critério e volume mes de lavagem.
necessário para que seja considerada ferra- As diversas notícias que observamos diaria-
menta efetiva de combate à lavagem. mente infelizmente corroboram esta constata-
Estamos em plena era da Transformação Di- ção. Precisamos ter investimentos focados em
gital, ou 4ª revolução industrial onde obser- ferramental (hardwares, servidores, aplicações,
vamos fenômenos como o Big Data, num etc.) e pessoas qualificadas (data scientists, por
ambiente de inúmeras inovações na captura, exemplo) para elevar de forma significativa
armazenamento e transformação de dados nosso poder de monitoramento e fiscalização,
em informações estratégicas para tomada de desequilibrando a percepção sobre a sensação
decisão. de impunidade contra o crime.
A partir de informações de cartões de crédi- Se quisermos ser um país onde a expressão de
tos, declarações de tributárias e financeiras de que “o crime não compensa” definitivamente
empresas (obrigações assessórias), registros de precisamos ter orientação pragmática e von-
cartórios, entre outras, já é possível que nós, tade política e social para nos modernizarmos
pessoas físicas, não precisemos mais preencher e atacarmos o problema de forma inteligente.
os formulários de imposto de renda, mas sim Talvez os 20 anos da lei, assim como o atual
apenas validá-los a partir de uma base previa- momento político seja “janela” importante para
mente coletada, agrupada e processada. avançarmos neste caminho.
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O Brasil, embora não fizesse parte da OCDE, sido editada a Resolução CNSP de nº 330/ 2015
aderiu ao GAFI, em 2.000 até pelas contrapar- que, de forma geral, aborda cada um dos as-
tidas que aquele organismo oferecia: como pectos que as sociedades seguradoras deverão
acesso a mercados, novas tecnologias, linhas observar quanto a constituição, autorização
de financiamento e informações relevantes. para funcionamento, alterações de controle,
Percebe-se, portanto, que já havia um clima reorganizações societárias e condições para o
de preocupação mundial com os “crimes de exercício de cargos em órgãos estatutários ou
colarinho branco” e as melhores formas de contratuais das entidades.
combatê-los.
Os pilares que norteiam a referida regulamen-
No Brasil o movimento por boas práticas mos- tação são: alocação de capital, controles in-
trou-se dinâmico a partir das privatizações e da ternos e supervisão transparente e objetiva e,
abertura do mercado nacional nos anos 1990. ainda, transparência administrativa. Tratam-se
Em 1995, por exemplo, foi criado o Instituto de disposições gerais não estando previstas ex-
Brasileiro de Conselheiros de Administração ceções, nem, tão pouco, normas diferenciadas
(IBCA), que em 1999 passou a ser intitulado em função de complexidade de negócios.
Instituto Brasileiro de Governança Corporativa
Guardando observância à referida norma, cada
(IBGC), com intuito de propagar a adoção de
sociedade seguradora, em razão de sua estru-
práticas transparentes, responsáveis e equâ-
tura de capital, objetivos comerciais e estraté-
nimes na administração das organizações.
gias de negócio, escrevem as melhores práticas
Ainda em 1999 o IBGC lançou seu primeiro
de governança corporativa e compliance.
Código das Melhores Práticas de Governança
Corporativa. Mas, o que sempre se pergunta no Brasil é se
“essa lei de fato pegou”? Vamos aos fatos. Pa-
Foi também da OCDE a iniciativa de criar
recia haver um clima favorável à sua aplicação.
um fórum para tratar especificamente sobre
Em 2003, por exemplo, foi criada a ENCCLA (Es-
o tema: o Business Sector Advisory Group on
tratégia Nacional para o Combate à Corrupção
Corporate Governance. Diretrizes e princípios
e à Lavagem de Dinheiro).
internacionais passaram a ser considerados na
adequação de leis, na atuação de órgãos regu- Mas, a resposta efetiva a tal indagação, veio
latórios e na elaboração de recomendações. com o processo, os debates e a decisão de
uma das ações mais emblemáticas que esse
Nesse ambiente, surgiu a Lei nº 9.613, de 3 de
país já acompanhou: a do “mensalão”, no Su-
março de 1998, que dispôs sobre os crimes de
premo Tribunal Federal. Após a famosa de-
“lavagem” ou ocultação de bens, direitos e valo-
núncia do Deputado Roberto Jefferson, foi
res; a prevenção da utilização do sistema finan-
instaurado em 26 de julho de 2005 o inquérito
ceiro para os ilícitos previstos nesta Lei; criou o
para apuração naquela Corte. Em 30 de março
Conselho de Controle de Atividades Financeiras
de 2006, é apresentada denúncia pela Procu-
– COAF, e indicou outras providências.
radoria Geral da República. Em 24 de agosto
Na indústria do seguro, a SUSEP, órgão regula- de 2007, o Plenário aceita a denúncia contra
mentador e fiscalizador das sociedades segu- 19 acusados, número que foi posteriormente
radoras, também buscou dotar o mercado de ampliado. Em 2 de agosto de 2012 iniciou-se
normativos sobre a matéria. Os principais mar- o julgamento pelo Pleno que foi concluído em
cos regulatórios datam de 2004 e 2008 tendo 14 de março de 2014.
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O importante a destacar é que, por unanimida- provas materiais, mas por um conjunto pro-
de, foram condenados por lavagem de dinhei- batório, ambientado por indícios que levam
ro seis dos réus e, por maioria de votos, mais à inelutável conclusão da prática de crime. Es-
dois acusados. se movimento iniciou-se na década de 1980,
como vimos, e contribuiu fortemente para a
O ambiente continuava a aquecer e a opinião
condenação no “mensalão” e agora tem sido
pública se mostrava inconformada com as no-
aplicado por magistrados mais jovens, mais
tícias de corrupção veiculadas diariamente pe-
arejados, inclusive – claro! – pelo juiz Sérgio
la imprensa. Veio então a Lei nº 12. 846, de 1º
Moro e pela Turma do TFR4. Mas, no Supremo,
de agosto de 2013, que dispôs sobre a respon-
ainda passa longe. A esse propósito, leia-se a
sabilização administrativa e civil de pessoas jurí-
entrevista do Professor da São Francisco, José
dicas pela prática de atos contra a administração
Eduardo Faria “Há uma mudança no conceito
pública, nacional ou estrangeira, e deu outras
de prova, de processo e de delito”, publicada
providências. no Estado de São Paulo, em 6 de fevereiro de
Até então, as empresas ainda não estavam sen- 2018.
do atingidas fortemente. Mas, no ano seguinte, À luz da doutrina romano-germânica, seriam
2014, um tsunami, veio a Lava Jato, que produ- necessárias provas cabais, sem nenhuma mar-
ziu o inacreditável: mandou para a cadeia al- gem a dúvidas. Mas, principalmente os crimes
guns dos empresários mais poderosos do País. do “colarinho branco” são concebidos, desde
Não! Isso não foi pouca coisa! Uma mudança antes da Enron, para não deixar provas, são
de paradigma como há muito não se via. muito mais sofisticados. Não deixam marcas,
Mas, outra mudança está acontecendo e tão digitais, deixam apenas vestígios, indícios, que
importante quanto: a interpretação no Direito precisam ser avaliados adequadamente por
Penal tem evoluído da tradição romano-ger- um conjunto probatório
mânica, para identificar crimes que já não são Portanto, temos avançado muito! As resistên-
os mesmos praticados sob a égide dos princí- cias são imensas! Mas, pela primeira vez neste
pios de direito que temos por fonte o Império País, temos a esperança de ver a aplicação de
Romano. Agora, temos delitos mais sofistica- punições a quem merece, independentemen-
dos e que não podem ser caracterizados por te de quem pratica o crime.
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A Lei nº 9.613/1998
e seus Impactos
Regulatórios SUSEP
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No caso de PEP (s), há determinação expressa c) Para os demais seguros não enquadrados
de que deverá ser identificada a origem dos re- nas alíneas anteriores:
cursos das operações com valores iguais ou su- 1. na devolução de prêmio, por cancelamen-
periores a R$ 10.000,00 (dez mil reais), devendo to, de valor igual ou superior a R$ 10.000,00
o monitoramento ser realizado de forma refor- (dez mil reais); e
çada e contínua, sendo obrigatória a obtenção
2. no pagamento da indenização ou de resgate.
de autorização das alçadas superiores para o
estabelecimento da relação de negócios com d) Para produtos de previdência complemen-
PEP (s) ou para o prosseguimento de relações tar e vida resgatável:
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7 Por meio de seu sítio eletrônico, sem que seja dada ciência
Referida Circular estabelece, ainda, uma sis-
aos envolvidos. temática para comunicação diretamente à
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20 Anos
SUSEP mesmo quando não forem verificadas Parágrafo único. Incorre também na sanção
quaisquer operações acima elencadas duran- prevista neste artigo aquele que não atender
te qualquer mês do ano calendário. Trata-se no prazo ou na forma fixada as solicitações
de uma comunicação negativa, que deverá ser da autarquia, desde que tal conduta não seja
feita à própria SUSEP8 e não por meio do COAF caracterizada como ato ou omissão para difi-
(como é o caso da comunicação positiva), até o cultar ou impedir atividade de investigação ou
dia 20 do mês subsequente ao mês no qual não fiscalização da Susep.
foram verificadas as situações elencadas acima.
Art. 38. Impedir ou dificultar, por qualquer for-
ma, o exercício do poder de polícia administra-
6. Responsabilidade tiva da SUSEP, tais como:
Administrativa
I – não fornecer relatórios, demonstrações fi-
A infração às disposições da Lei e da Circular nanceiras, livros e registros obrigatórios ou
SUSEP nº 445/2012 será punida nos termos do contas estatísticas, quando solicitado;
art. 12, da Lei nº 9.613/98 e da Resolução CNSP
nº 243/2011, que dispõe sobre sanções admi- II – não atender, no prazo e na forma fixada, às
nistrativas no âmbito das atividades de seguro, solicitações da autarquia;
cosseguro, resseguro, retrocessão, capitaliza- III – impedir ao acesso às dependências da
ção, previdência complementar aberta, de cor- fiscalizada.
retagem e auditoria independente; e disciplina
Art. 39. Falsificar quaisquer documentos ou
o inquérito e o processo administrativo sancio-
prestar informação falsa à SUSEP.
nador no âmbito da SUSEP.
Sanção: multa de R$ 50.000,00 (cinqüenta mil
Nos termos da Resolução CNSP nº 243/2011,
reais) a R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais).
a infração aos mecanismos de supervisão pre-
vistas na Circular SUSEP nº 445/2012 e outras Art. 40. Não zelar pela qualidade do sistema de
normas relacionadas, pode sujeitar o infrator à controles internos, relacionada aos seguintes
imposição de penalidade de multa, a depen- elementos:
der do tipo de infração, conforme segue:
I – Ambiente de Controle;
Seção V Das Infrações aos Mecanismos de
II – Avaliação de Riscos;
Supervisão
III – Atividades de Controle;
Art. 36. Omitir ou sonegar informações que
deva comunicar à SUSEP. IV – Processos de Informação e Comunicação;
ou
Sanção: multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a
R$ 500.000,00 (quinhentos mil de reais). V – Monitoração.
Art. 37. Encaminhar na forma incorreta ou in- Sanção: multa de R$ 20.000,00 (vinte mil reais)
completa à SUSEP as informações que deve a R$ 100.000,00 (cem mil reais).
prestar, nos termos da legislação. (...)
Sanção: multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a Art. 70. Atuar em desacordo com as normas
R$ 100.000,00 (cem mil reais). legais ou de regulação que disciplinam as
operações e as atividades de previdência com-
8 Por meio do sítio da Susep (http://www.susep.gov.br/). plementar, seguros, resseguros, capitalização,
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VEIRANO ADVOGADOS
A Lei de Lavagem de
Dinheiro e o Compliance
no Brasil
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crescente complexidade das regulações apli- dinheiro no Brasil. A regulação de tais deveres
cáveis aos setores econômicos e aos conflitos especificamente no setor de seguros é tratada
de obrigações impostas por legislações de na Seção 4. Por fim, as seções 5 e 6, respectiva-
diferentes países sobre atividades de cunho mente, contêm as conclusões e as referências
transnacional, tornou imperiosa a adoção e bibliográficas utilizadas neste trabalho.
implementação de políticas empresariais pa-
ra o cumprimento de normas e o estabeleci-
mento de mecanismos para inibir e combater
o branqueamento de capitais, o que tem sido
2. A marcha do Brasil
chamado de compliance para a prevenção de na prevenção e
lavagem de dinheiro (BOTTINI, 2015).
combate à lavagem de
No Brasil, do ponto de vista legislativo, o
combate à lavagem de dinheiro teve como
dinheiro
seu principal marco a publicação da Lei nº
9.613/1998 (Lei de Lavagem de Dinheiro), a A inserção do Brasil no regime internacional
qual, entre outras providências, criminalizou a de combate à lavagem de dinheiro se deu
“lavagem” (ocultação ou dissimulação) de bens, de forma gradativa, especialmente a partir da
direitos e valores de origem ilícita. No entan- década de 1990, quando o Estado brasileiro
to, além de dispositivos de cunho penal e de participou de encontros e assumiu diversos
processo penal, a Lei de Lavagem de Dinhei- compromissos relacionados ao tema. Ansel-
ro também estabeleceu uma série de obriga- mo (2015) resume esse processo em 03 (três)
ções administrativas (os chamados “deveres de iniciativas principais, a partir das quais o Brasil
compliance”) para que empresas e profissionais assumiu “perante a comunidade internacional
de setores considerados sensíveis possam co- o compromisso de implantar um sistema de
laborar com a prevenção e o combate a este prevenção à lavagem de dinheiro, nos moldes
tipo de criminalidade, entre elas os deveres de estabelecidos internacionalmente”:
cadastrar clientes, registrar certas transações e
(i) A internalização da Convenção Contra o
comunicar operações suspeitas.
Tráfico Ilício de Entorpecentes e Substân-
Disto isto, com base na revisão da literatura cia Psicotrópicas (Convenção de Viena de
especializada e com um enforque no setor de 1988) por meio do Decreto nº 154, de 26
seguros, o presente artigo pretende analisar, de junho de 1991, a qual impôs aos países
em linhas gerais, os “deveres de compliance” signatários, pela primeira vez, a obrigação
estabelecidos na Lei de Lavagem de Dinhei- de criminalizar a lavagem de dinheiro pro-
ro, que comemora os seus 20 (vinte) anos em veniente do tráfico de drogas;
2018. Para tanto, este trabalho foi dividido em
(ii) A introdução, no ordenamento jurídico
06 (seis) seções, incluindo a presente introdu-
brasileiro, da Lei de Lavagem de Dinheiro,
ção. Na seção 2, é abordada a marcha do Brasil
considerada a primeira iniciativa legislativa
rumo ao estabelecimento de um arcabouço ju-
no Brasil para disciplinar o tema; e
rídico e de mecanismos voltados à prevenção
e combate à lavagem de dinheiro. A seção 3, (iii) A inserção do Brasil como membro do
por sua vez, trata da disseminação dos “deveres Grupo de Ação Financeira contra a Lava-
de compliance” para a prevenção à lavagem de gem de Dinheiro e o Financiamento ao
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“1) identificar e cadastrar clientes; 2) registrar e coibir a ocorrência do crime em exame, na cha-
operações; 3) prestar informações requisita- mada política de compliance”. Nesse aspecto,
das pelas autoridades financeiras; e, princi- nas palavras de Anselmo (2015), a legislação
palmente, 4) comunicar, independentemente brasileira antilavagem estabelece um verda-
de provocação pelas autoridades, a prática de deiro “compartilhamento de responsabilida-
operações suspeitas de lavagem de dinheiro de” entre o Estado e os setores da economia
ou simplesmente valor elevado” (SAAVEDRA, usualmente utilizados para o branqueamento
2013, p. 19). de capitais. Isso porque, como visto, além de
Posteriormente, a Lei nº 12.683/2012 ampliou dispositivos penais e processuais penais rela-
o rol dos “deveres de compliance” previstos na cionados ao crime em comento, uma terceira
Lei de Lavagem de Dinheiro, passando, ainda, parte da Lei de Lavagem de Dinheiro estabe-
a aumentar o número de atividades (ou rol de lece obrigações administrativas direcionadas
pessoas) sujeitas aos mecanismos legais de à prevenção dessa prática criminosa, especial-
controle e a obrigar expressamente que essas mente por meio da regulação e da submissão
pessoas adotem políticas e procedimentos de ao controle do Estado de determinados seto-
controle interno compatíveis com seu porte e res da economia considerados mais vulnerá-
volume de operações, com o propósito de que veis à ocultação clandestina de valores, bens
possam atender às suas obrigações legais de e direitos de origem ilícita. Habib (2016, p.
conformidade. 457) se refere a essas obrigações administra-
tivas como um “dever de colaboração com o
Dessa forma, na visão de Silveira e Saad-Diniz
Estado” imposto às “pessoas que exercem ati-
(2015, p. 181), “a Lei de Lavagem de Dinheiro
vidades que podem ser meio para a prática da
verdadeiramente inaugurou um certo sistema
de compliance na realidade brasileira”, especifi- lavagem de dinheiro”.
cando determinadas pessoas físicas e jurídicas Além das instituições financeiras, o artigo 9º
que, de um lado, estão obrigadas a identificar da Lei de Lavagem de Dinheiro estabelece um
e cadastrar seus clientes e a manter registros rol com outras pessoas jurídicas e físicas que,
de transações financeiras, e, de outro lado, a por desenvolverem determinadas atividades
comunicar certas operações às autoridades econômicas e estarem sujeitas à sua utilização
reguladoras competentes. Tudo isso com o para a prática de lavagem de dinheiro, estão
propósito de prevenir a ocorrência do crime sujeitas ao regime administrativo, entre elas as
de lavagem de capitais, e também facilitar a seguradoras, as corretoras de seguros e as en-
persecução criminal em um contexto de glo- tidades de previdência complementar ou de
balização econômica e de movimentações em capitalização.
âmbito nacional e internacional, do que decor-
Os “deveres de compliance” estão previstos nos
re a noção de criminal compliance, como apon-
tado por Souza (2013). artigos 10 e 11 da Lei de Lavagem de Dinhei-
ro. Em linhas gerais, além do próprio dever de
adoção de políticas, procedimentos e contro-
3.1. Deveres de compliance na Lei les internos, o referido diploma legal estabele-
de Lavagem de Dinheiro ce obrigações administrativas que podem ser
Baltazar Junior (2014, p. 1.154) explica que divididos em 03 (três) grandes grupos: (i) iden-
“partindo do pressuposto de que o Estado não tificação e manutenção de cadastros de clien-
pode fiscalizar tudo, a lei impõe a particulares tes; (ii) registro de transações; e (iii) prestação
cuja atividade pode servir de meio para a lava- de informações e realização de comunicações
gem de dinheiro obrigações no sentido de evitar às autoridades competentes.
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Pode-se dizer que a previsão legal desses “de- pela SUSEP. Além destes, com vistas a garantir
veres de compliance” decorre, em grande me- efetividade, Bottini (2015) recomenda ainda
dida, dos documentos internacionais dos quais que resoluções do COAF, atos normativos ex-
o Brasil se tornou signatário, como a Conven- pedidos por outras autoridades reguladoras
ção de Palermo, que determina, em seu artigo e recomendações/diretrizes constantes de
7º, “a”, que cada Estado-Parte: documentos internacionais também balizem
a) Instituirá um regime interno completo de a criação e implementação de programas de
regulamentação e controle dos bancos e ins- compliance voltados à prevenção da lavagem
tituições financeiras não bancárias e, quando de dinheiro. Isso porque, segundo o autor, tais
se justifique, de outros organismos especial- atos também sinalizam boas práticas, podem
mente susceptíveis de ser utilizados para a la- embasar interpretações pelo Poder Judiciário
vagem de dinheiro, dentro dos limites da sua e, em determinados setores, regular atividades
competência, a fim de prevenir e detectar que podem ser consideradas muito semelhan-
qualquer forma de lavagem de dinheiro, sen- tes umas com as outras.
do nesse regime enfatizados os requisitos re- Por fim, cumpre esclarecer que, além de re-
lativos à identificação do cliente, ao registro gulamentar a atividade das pessoas físicas e
das operações e à denúncia de operações jurídicas sujeitas aos “deveres de compliance”,
suspeitas; também cabe aos órgãos reguladores e de
Os “deveres de compliance” abrangidos por ca- supervisão impor penalidades administrati-
da um dos grupos acima serão tratados em vas pelo descumprimento de tais obrigações.
linhas gerais nas próximas subseções deste Nesse aspecto, no caso de descumprimento
trabalho. Antes disso, no entanto, cabe obser- das obrigações administrativas, o artigo 12 da
var que a regulamentação desses deveres foi Lei de Lavagem de Dinheiro estabelece que às
distribuída pela Lei de Lavagem de Dinheiro a pessoas físicas e jurídicas elencadas no artigo
diversas instituições nacionais, sendo atribuída 9º e aos seus administradores poderão ser apli-
ao COAF apenas uma competência residual cadas, cumulativamente ou não, as seguintes
para regular, normatizar e fiscalizar as ativida- sanções por meio da instauração de processo
des com relação às quais não há um órgão administrativo: (i) advertência; (ii) multa pecu-
regulador específico. Dessa forma, exemplifi- niária; (iii) inabilitação temporária, pelo prazo
cativamente, no âmbito das atividades de se- de até 10 (dez) anos, para o exercício do cargo
guro e capitalização, a regulação dos referidos de administrador das pessoas jurídicas referi-
deveres cabe à Superintendência de Seguros das no artigo 9º; e (iv) cassação ou suspensão
Privados (SUSEP). da autorização para o exercício de atividade,
operação ou funcionamento.
Dessa distribuição de competências decorre
que, independentemente do modelo e da es- A pena de advertência – a mais leve – está res-
truturação adotados, programas de compliance trita às irregularidades cometidas na identifica-
voltados à prevenção de lavagem de dinheiro ção e manutenção de cadastro atualizado de
devem levar em consideração e estabelecer clientes, ou no registro de transações que ul-
mecanismos para o cumprimento não só dos trapassem os limites fixados pelas autoridades
deveres estabelecidos na Lei 9.613/1998, mas competentes. Já a multa pecuniária pode ser
também em outros diplomas legislativos. As- aplicada às pessoas elencadas no artigo 9º da
sim, no âmbito das atividades de seguro e Lei de Lavagem de Dinheiro (e a seus adminis-
capitalização, por exemplo, a atividade de pre- tradores, quando cabível) que descumprirem
venção à lavagem de dinheiro deverá seguir as quaisquer “deveres de compliance” elencados
circulares e demais atos normativos expedidos nos artigos 10 e 11 do referido diploma legal
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e, ainda, que deixarem de sanar as irregularida- ser ampliado pela autoridade reguladora com-
des objeto de advertência no prazo assinalado petente de cada setor. No Brasil, portanto, as
pela autoridade competente. A inabilitação pessoas físicas e jurídicas elencadas na Lei de
temporária, por sua vez, será aplicada quando Lavagem de Dinheiro estão obrigadas a adotar
forem verificadas infrações graves quanto ao mecanismos de identificação de seus clientes,
cumprimento das obrigações constantes da uma prática conhecida no âmbito corporati-
Lei ou quando ocorrer reincidência específica, vo internacional como política de “know your
devidamente caracterizada em transgressões client” (“conheça o seu cliente”).
anteriormente punidas com multa. Por fim,
Cabe ressaltar que a Lei de Lavagem de Dinhei-
a cassação da autorização será aplicada nos
ro determina que esses cadastros e registros
casos de reincidência específica de infrações
deverão ser conservados durante o período
anteriormente punidas com a pena de inabili-
tação temporária para o exercício do cargo de mínimo de 05 (cinco) anos a partir do encerra-
administrador. mento da conta ou da conclusão da transação.
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Compliance Anti-Lavagem
de Dinheiro como
Ferramenta de Gestão do
Risco Reputacional
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Inicialmente, as pessoas físicas e jurídicas obri- O seu artigo 1º. determina que as instituições
gadas ao seu cumprimento eram notadamen- referidas implantem e implementem contro-
te as instituições pertencentes ao mercado les internos voltados, entre outros itens, para
financeiro. Entretanto, o aperfeiçoamento do assegurar o cumprimento das normas legais
arcabouço legal trazido pela Lei nº 12.683 de e regulamentares a elas aplicáveis. Esse é o
2012 passou a incluir também diversas outras aspecto normativo do Compliance. É óbvia a
entidades, tais como: as pessoas físicas ou ju- obrigação de qualquer instituição cumprir a
rídicas que exerçam atividades de promoção legislação aplicável, seja ela uma norma ge-
imobiliária ou compra e venda de imóveis; as ral, por exemplo a legislação trabalhista; seja
juntas comerciais e os registros públicos; e as uma norma específica do seu setor de atua-
pessoas físicas ou jurídicas que prestem, mes- ção, por exemplo a norma aplicável à regula-
mo que eventualmente, serviços de assessoria, ção de sinistros do mercado segurador. Essa
consultoria, contadoria, auditoria, aconselha- responsabilidade cabe à Diretoria da entidade,
mento ou assistência, de qualquer natureza, conforme disposto no artigo 2º, inciso VI.
em operações; entre outros.
Já o seu artigo 4º. também atribui à Diretoria
O aumento do escopo de abrangência da le- da instituição a responsabilidade de promover
gislação e dos setores empresariais obrigados elevados padrões éticos e de integridade. Esse
a obedecê-lo é claro sinal do aperfeiçoamen- é o segundo aspecto do Compliance: o ético.
to dos mecanismos legais, advindos da expe- Todas as organizações, seja a que mercado per-
riência dos diversos órgãos governamentais na tençam, estão em busca do lucro. Isso é lícito
aplicação da referida Lei. e necessário dentro do sistema capitalista em
A criação do COAF representou avanço sig- que estamos inseridos. Mas a forma como essa
nificativo no desenvolvimento da inteligên- busca pelo lucro se desenvolverá necessita es-
cia financeira brasileira. O nosso país passou tar adequada a padrões de conduta e compor-
a contar com um órgão que, subsidiado por tamento que não firam as melhores práticas e
informações recebidas dos diversos seto- o respeito ao cliente, à livre concorrência, ao
res obrigados, pode apresentar relatórios às Governo e ao mercado em geral.
53
LEI 9.613, DE 1998
O atendimento à legislação e a busca de pa- nos conduzir? O fato de sermos hoje mais ricos
drões éticos e integridade no Brasil não é tarefa de conhecimentos do que o homem selvagem
simples. Basta verificar as manchetes dos jor- terá, porventura, influído na bondade do pró-
nais relativas aos diversos escândalos de cor- prio homem”?
rupção trazidos à luz pela Operação Lava Jato Entretanto, não foi senão pela publicação da
e outras. chamada Lei Anticorrupção, a Lei nº 12.846
A Resolução nº 2.554 do Bacen foi a primeira de 2013 e suas regulamentações, que o Com-
de uma série de outras, como por exemplo pliance se tornou objeto de atenção de todas
a Circular SUSEP nº 249 de 2004, que segue as empresas, de todos os setores de atividade.
a mesma linha da anterior e regulamentou o As altíssimas penalizações, a possibilidade de
Compliance no mercado segurador brasileiro. responsabilização de pessoas físicas envolvidas
em ilícitos além da pessoa jurídica, e os danos
à reputação causados pela publicidade das in-
54
20 Anos
55
LEI 9.613, DE 1998
7. Referências
bibliográficas
BACEN. Resolução 2554 de 1998. Disponível em
<http://www.bcb.gov.br/pre/normativos/
res/1998/pdf/res_2554_v3_P.pdf>. Acesso em
24.fev.2018.
BRASIL. Lei nº 9.613 de 1998. Disponível em <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9613.
htm>. Acesso em 24.fev.2018.
CNSEG. Função de Compliance no Mercado Se-
gurador Brasileiro. Disponível em <http://
cnseg.org.br/data/files/B8/61/97/33/
A4D214107E8578047E88C584/Manual%20
de%20Boas%20Pr%C3%A1ticas%20em%20
Compliance_site.pdf>. Acesso em 24.fev.2018.
Dicionário Houaiss on line. Disponível em https://
www.dicio.com.br/etica/. Acesso em 14.fev.2018
REALE, Miguel. Introdução à Filosofia. 4. Ed. São Pau-
lo: Saraiva, 2014.
SUSEP. Circular nº 249 de 2004. Disponível em
<http://www2.susep.gov.br/bibliotecaweb/do-
cOriginal.aspx?tipo=2&codigo=14777>. Acesso
em 24.fev.2018.
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LEI 9.613, DE 1998
Os 20 anos da Lei
brasileira sobre
“lavagem” de dinheiro
processos e estruturas com objetivo de apa-
rentar algo lícito, proteger os recursos ou evitar
o alcance dos órgãos de repressão e combate
a esses crimes. A utilização do sistema financei-
ro é um dos caminhos utilizados na tentativa
da lavagem ou ocultação de bens, direitos ou
valores resultantes de atividades criminosas. Os
efeitos danosos deste crime para uma socieda-
de são significativos e prolongados exigindo
estratégia, instituições robustas, mecanismos
de controle, aculturamento, celeridade nas
apurações e rigor nas punições.
Dentre as iniciativas internacionais destaca-se
a reunião do G-7 em Paris em 1989 quando foi
estabelecido um marco relevante na criação
PHELIPE LINHARES
de uma força tarefa denominada FATF (Finan-
cial Action Task Force), atualmente denomina-
O
do FATF-GAFI, com o propósito de desenvolver
termo “lavagem de dinheiro” tem per- ações internacionais coordenadas tendo como
meado os diversos veículos de comunicação, resultados de suas primeiras iniciativas uma
fóruns, reuniões e rodas de conversas informais lista de 40 recomendações que governos po-
sobretudo nos últimos anos a partir da instau- deriam aplicar na implementação de progra-
ração da operação da Polícia Federal denomi- mas de prevenção e combate a lavagem de
nada “Lava Jato”. A lavagem de dinheiro é uma dinheiro. Posteriormente, em 2001, houve a
tipificação de crime no Brasil e considerada in- adição de temas ligados ao combate ao finan-
fração penal a partir da publicação da Lei 9.613 ciamento do terrorismo além de outras atua-
de 3 de março de 1998 que completa 20 anos lizações mais recentes. O Brasil é membro do
neste ano de 2018. FATF desde o ano 2000 tendo como compro-
Consta na história a ocorrência de lavagem misso a implementação das recomendações e
de dinheiro em períodos que remontam a colaboração para avaliações periódicas pelo
2000 anos atrás quando mercadores chineses GAFI quanto ao nível destas implementações.
ocultavam seus ganhos com atividades con- A publicação da Lei 9.613/98 foi um marco no
sideradas ilegais na época. Até os dias atuais, Brasil e representa o início de inúmeras ativi-
indivíduos e organizações criminosas atuam dades relevantes tais como a criação do COAF
para disfarçar o resultado econômico de seus (Conselho de Controle de Atividades Financei-
ilícitos por meio de diversos e complexos ras) no âmbito do Ministério da Fazenda e o
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20 Anos
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LEI 9.613, DE 1998
Combate à Lavagem de
Dinheiro no Brasil – 20
anos de intensa evolução
ao sistema econômico financeiro, com a apa-
rência de terem sido obtidos de maneira lícita.
É uma forma de mascaramento da obtenção
ilícita de capitais.
Mesmo se tratando de um fenômeno socioe-
conômico antigo, o crime de lavagem de di-
nheiro cresceu e tomou maiores proporções
no cenário jurídico por conta do tráfico inter-
nacional de drogas, tornando-se, desta forma,
objeto de criminalização pela lei penal ao redor
do mundo. Assim, o Combate à Lavagem de
Dinheiro e ao Financiamento do Terrorismo são
alavancados pelos Acordos e Instrumentos
Internacionais de Cooperação e leis locais.
Com o processo de globalização da econo-
mia e o progresso da informática e da co-
municação, o sistema financeiro mundial
aperfeiçoou-se, tornando o cenário econômi-
co mais propício para a expansão da lavagem
de capitais.
RENATA FONSECA DE ANDRADE Com o avanço da tecnologia, as instituições
financeiras colocaram à disposição de seus
clientes movimentações nacionais e interna-
O combate à lavagem cionais mais impessoais, ágeis e confidenciais,
dificultando o trabalho de investigação das au-
de dinheiro toridades. Desta forma, tornou-se necessária a
adoção obrigatória de políticas de compliance
1. Introdução pelas instituições como forma de cooperação
privada na apuração de tais crimes.
Tradicionalmente se define a lavagem de di-
nheiro como um conjunto de operações por No Brasil, o combate à lavagem de dinheiro e
meio das quais os bens, direitos e valores ob- sua prevenção possui base legal estabeleci-
tidos com a prática de crimes são integrados da na Lei Federal nº 9.613/98, posteriormente
60
20 Anos
alterada pela Lei Federal nº 12.683/12 e, pelo Com o aumento desenfreado do tráfico inter-
Normativo SARB nº 11/13. nacional de drogas ocorrido em meados dos
anos 80, e a falha no combate e prevenção à
Recentemente publicadas, a Lei Anticorrupção
lavagem de dinheiro, o crime ganhou maiores
(Lei nº 12.846/13) e a Lei do Crime Organizado
proporções.
(Lei nº 12.850/13) oferecem dispositivos capa-
zes de aperfeiçoar a prevenção e o combate à Porém, tornou-se claro que a ação individual
lavagem de dinheiro em nosso país. dos países não era suficiente para reprimir
tais condutas, sendo necessárias medidas de
Conta-se a estimativa que cerca de 2% do PIB
cunho internacional.
mundial é composto de dinheiro sujo que tran-
sita na economia. Conceitualmente, a lavagem Em 1988 foi aprovada a Convenção de Viena,
de dinheiro merece atenção por dois principais também conhecida como “Convenção contra
aspectos. Primeiro, porque é crime e permite a o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e de Substân-
traficantes, contrabandistas de armas, terroris- cias Psicotrópicas”, com o propósito de promo-
tas ou funcionários corruptos manterem suas ver a cooperação internacional para repressão
atividades criminosas e obterem lucros ilícitos. do tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.
Segundo, porque a lavagem de dinheiros man- Tal convenção foi o primeiro instrumento ju-
cha as instituições financeiras e minam a con- rídico internacional a definir como crime a
fiança pública em sua integridade. operação de lavagem de dinheiro, obrigando
a seus signatários a tipificação da conduta em
1.1 Breve histórico suas normas penais locais. O Brasil aderiu à
convenção no ano de 1991.
O crime de lavagem de dinheiro remonta aos
anos 20, com a promulgação da Lei Seca pelos Por iniciativa do G-7, foi criado, em 1989, o
Estados Unidos. Na época, os criminosos que Grupo de Ação Financeira (GAFI/FATF), um or-
comercializavam bebidas alcoólicas começa- ganismo intergovernamental que une as uni-
ram a abrir lavanderias de fachada para confe- dades de inteligência financeira de diversos
rir aparência lícita ao dinheiro arrecadado com países e monitora a aplicação efetiva das medi-
a prática do crime. Diante disso, o crime ficou das legais, regulamentares e operacionais para
conhecido como “Money Laundering”, traduzi- o combate à lavagem de dinheiro e ilícitos re-
do para “Lavagem de Dinheiro”. lacionados ao sistema financeiro internacional.
No início dos anos 1970, os Estados Unidos pro- O Compliance no sistema financeiro nasceu
mulgaram sua primeira lei exigindo a comuni- um ano após a formação do Grupo, em abril de
cação obrigatória às autoridades competentes 1990, quando o órgão emitiu um conjunto de
de todas as transações realizadas em espécie 40 recomendações para seus membros, com
em valor superior a US$ 10.000,00 (dez mil dó- objetivo de melhorar os sistemas jurídicos dos
lares) e outras operações suspeitas. A lei foi ig- países membros.
norada pelos americanos, que continuavam Já em 1992, a Alemanha instituiu uma das
depositando enormes quantias de dinheiro, in- primeiras legislações modernas direcionadas
clusive com a ajuda dos bancos, que disponibi- especificamente ao combate à lavagem de di-
lizavam diversas facilidades para os clientes que nheiro. Mesmo com a criação de uma lei severa
chegavam com maletas e caixas de dinheiro, na pelos alemães, isso não foi suficiente para coi-
maioria das vezes, em plena luz do dia. bir a prática de atos ilícitos ligados ao sistema
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LEI 9.613, DE 1998
financeiro, vez que outros países com econo- setembro de 1998, estipulando a data de 31 de
mia avançada não possuíam tais normas, in- dezembro de 1999 como limite para as institui-
fluenciando a alteração da rota do dinheiro, de ções implementarem o sistema de controles
um país com regras severas para ser lavado em internos, voltados para as atividades por elas
outro com regras mais brandas. desenvolvidas, seus sistemas de informações
Em 1997, o Comitê da Basileia divulgou os 25 financeiras, operacionais e gerenciais e o cum-
princípios para uma supervisão bancária eficaz, primento das normas legais e regulamentares
com destaque para o Princípio nº 14: a ela aplicáveis. As principais exigências foram:
(i) Implementação da Estrutura de Controles
Princípio nº 14 Internos em todos os níveis de negócio;
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1 Esquema at <http://www.coaf.fazenda.gov.br/menu/imagens/
estrutura-organica-da-inteligencia-financeira-no-brasil>.
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3ª ETAPA: INTEGRAÇÃO – o dinheiro lavado (iv) Prestar informações requisitadas pelas au-
é adicionado de forma legal, como se fossem toridades financeiras;
67
LEI 9.613, DE 1998
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20 Anos
prazo assinalado pela autoridade competen- São 4 elementos centrais a serem observa-
te; (ii) não cumprirem o disposto nos incisos I dos nas diligências e checagens KYC pelos
a IV do artigo 10; (iii) deixarem de atender, no programas:
prazo estabelecido, a requisição formulada nos
1 – Identificação e validação da identidade do
termos do inciso V do artigo 10; (iv) descum-
cliente
prirem a vedação ou deixarem de fazer a co-
municação a que se refere o artigo 11. 2 – Identificação e validação da identidade do
cliente e vinculação do beneficiario final (pes-
O órgão responsável pelo processo, julgamen-
soa natural) ao cliente;
to e aplicação das sanções administrativas é
o COAF, conforme regulado pelo Decreto no 3 – Compreensão da natureza empresarial e
2.799/98 e, como todo processo administrati- atividade do cliente na relação a ser travada
vo, ‘e assegurado ao acusado direito do contra- com a instituição financeira, baseada na análi-
ditório e ampla defesa. se de risco;
4 – Monitoramento rotineiro e contínio e re-
1.5 Prevenção à Lavagem de porte à Unidade Financeira Central de suspei-
Dinheiro tas, com base na analise de riscos, bem como
a atualização e manutenção do cadastro e
(a) Processo conheça seu cliente
relacionamento do cliente com a instituição
(Know your Client -KYC)
financeira.
O conhecimento dos clientes é um processo
Para beneficiário final o FinCen traz a seguinte
que nos permite conhecer a pessoa jurídica
orientação:
com a qual se inicia uma relação comercial,
auxiliando na identificação de possíveis riscos. Cada indivíduo, que direta ou indiretamen-
te, controla 25% ou mais da propriedade da
O FinCen – Financial Crimes Enforcement Net-
empresa, e o individuo com significativa res-
work, acrescentou um ponto importante ao
ponsabilidade de controle, gerenciamento,
processo de KYC, regra a ser seguida a par-
ou administração direta da empresa, incluin-
tir de maio de 20183 por todas as instituições
financeiras norte-americanas: o Customer do os executivos e diretores, presidente, vice-
Due Diligence Form of Beneficial Ownership -presidente, tesoureiro ou diretor financeiro, ou
Identification and Verification, qual seja, a qualquer individuo que tenha funções simila-
identificação e verificação da pessoa natural, res de controle na empresa. A lista é ilustrativa,
beneficiário final e último proprietário da em- e deve ser verificada a estrutura organizacional
presa diligenciada. da empresa.
O processo KYC deve ser completo e abranger Uma vez o beneficiário final seja identificado
não apenas clientes, mas terceiros, fornecedo- e validado, as checagens e diligências devem
res e parceiros de negócios. procurar identificar além da identidade, a fonte
de riqueza que suporta as atividades daquele
individuo, e manter registros e evidências des-
sas diligências.
3 FinCEN regulations 31 CFR Chapter X (formerly 31 CFR Part
103). <https://www.gpo.gov/fdsys/pkg/FR-2016-05-11/ A analise de risco após a identificação e va-
pdf/2016-10567.pdf>. Guidances at <https://www.ffiec.gov/
bsa_aml_infobase/documents/FAQs_for_CDD_Final_Rule_
lidação do KYC e beneficiários finais, haverá
(7_15_16).pdf>. de seguir com detalhamento da atividade
69
LEI 9.613, DE 1998
empresarial, e os riscos inerentes dessas ativi- pertençam ao mesmo grupo econômico; difi-
dades, e em sendo terceiros, qual a exposição culdade na obtenção e informações a respeito
da empresa a esses riscos. de sua atividade econômica e patrimônio; difi-
culdade na identificação do beneficiário final
Certamente do processo conhecimento do
de transações, devido à utilização de estruturas
cliente ou do terceiro, além da identificação
complexas; clientes/recursos provenientes de
e validação do beneficiário final, a lei antilava-
países considerados de alto risco para lavagem
gem de dinheiro remete à obrigação de nos
de dinheiro e financiamento do terrorismo; e,
determina identificação de PEPs (Pessoas Ex-
recebimento de recursos com imediata realiza-
postas Politicamente): Caso seja identificado
ção de saque em espécie.
que um cliente ou terceiro possui ou é um
PEP, é obrigatório que haja uma avaliação de Critérios para classificação de riscos: localiza-
Compliance, com o Diretor da área e o CEO. São ção geográfica, tipo de atividade, tipo de ser-
consideradas PEPs: viços, PEPs, Private Banking e Investidores não
residentes.
(i) Pessoas físicas ou jurídicas que se encontrem
no rol das pessoas enumeradas pela Lei Antila- Dependendo do risco apresentado pelo clien-
vagem de Dinheiro e Regulamentos do COAF; te ou terceiro, após sua verificação, medidas
adequadas deverão ser tomadas, como por
(ii) Pessoas físicas ou jurídicas envolvidas em
exemplo, a realização de Diligência Devida de in-
alguma operação suspeita, em especial aque-
vestigação de Antecedentes (Due Diligence) ou
las que figurem em alguma das listas consulta-
a realização de reporte aos órgãos competentes.
das pelos Bancos de Dados internacionais;
(iii) Pessoas de integridade ou honestidade
(b) Linhas de defesa
duvidosa ou aquelas que se tenha conheci-
mento ou indícios de vinculação com ativida- As instituições devem organizar o seu negócio
des ilícitas; em três linhas de defesa para prevenir e com-
bater a lavagem de dinheiro, são elas:
(iv) Pessoas jurídicas que se recusem a subme-
ter informações ou documentos ou que apre- 1ª Linha de Defesa – As áreas de negócio e
sentem alguma informação falsa ou de difícil apoio garantem a aderência de compliance em
comprovação; todas as praticas de negócio (cumprimento de
normas);
(v) Contrato celebrado em país sancionado ou
considerado paraíso fiscal, de acordo com a lis- 2ª Linha de Defesa – A área Jurídico Consulti-
ta de países não cooperativos com a legislação va interpreta as normas, assessora os adminis-
Antilavagem de Dinheiro emitida pelo COAF; tradores e colaboradores no cumprimento do
ambiente regulatório e auxilia o Compliance
(vi) Qualquer tipo de ameaça, intenção de su-
no desempenho de suas atividades. Aliado,
borno para que o cliente seja aceito rapida-
a área de Compliance Corporativo formula os
mente ou sem realização de verificações.
princípios e diretrizes do compliance, desenvol-
A regulamentação brasileira determina que ve métodos, processos, ferramentas e difunde
as instituições dispensem especial atenção às a cultura de compliance, enquanto a área de
operações que envolvam: Pessoas Expostas Po- Compliance e Oficiais de Riscos implementam,
liticamente (PEP); abertura de diversas contas executam e difundem as atividades exercidas
em nome de Pessoas Físicas ou Jurídicas que pelo Compliance Corporativo;
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Mecanismos de combate
à corrupção no mercado
de seguros
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20 Anos
A Circular estipulou diversas medidas para a Por exemplo, as entidades sujeitas à Circular
identificação, avaliação, monitoramento e mi- são obrigadas a indicar uma pessoa que ocu-
tigação de riscos de lavagem e para combater pa cargo na diretoria para ser especificamente
o financiamento ao terrorismo no mercado de responsável pela gestão dos riscos e demais
seguros e resseguros. Para isso, ela amplia o rol obrigações previstas na Lei de Lavagem. Para
de empresas sujeitas às medidas de controle tanto, este(a) diretor(a) deverá receber poderes
mencionadas na Lei de Lavagem para incluir, amplos para acessar, imediata e irrestritamen-
além das seguradoras, corretoras de seguros te, o cadastro de dados de identificação dos
e de resseguro, as entidades de previdência clientes, beneficiários, terceiros beneficiados
complementar, as empresas de capitalização, ou partes relacionadas às entidades reguladas.
os resseguradores locais e admitidos, confor-
Importante ressaltar que não é necessário
me previsto pelo artigo 2º da Circular.5
que uma diretoria específica seja criada para o
Diferentemente dos controles previstos pela atendimento à Lei de Lavagem, de modo que
de Lei de Lavagem e regulamentações seto- as funções de controle podem ser acumuladas
riais neste sentido, a adoção de programas de por um(a) diretor(a) já atuante na sociedade.
compliance anticorrupção não é obrigatória
pela legislação brasileira. Contudo, tanto a Lei A ampliação do escopo de atuação da diretoria
Federal nº 12.846/2013 quanto o Decreto nº responsável pela gestão dos riscos de lavagem
8.420/2015 que a regulamenta (Lei Anticor- para cobrir aspectos anticorrupção pode ser,
rupção), fornecem incentivos às empresas en- então, uma medida capaz de garantir o apro-
volvidas em casos de corrupção que tenham veitamento eficiente da estrutura, inteligência
implementado medidas de prevenção efetivas, e recursos humanos capacitados já existentes
como, por exemplo, a redução de eventuais dentro da entidade regulada. Desse modo, é
multas aplicáveis. possível que o(a) diretor(a) indicado(a) para o
atendimento à Circular também acumule as
Pois bem. Uma alternativa válida, pouco cus-
funções de um(a) diretor(a) de compliance.
tosa e eficiente, portanto, é adaptação dos
programas de prevenção à lavagem de di- Outros fatores relevantes para a adaptação
nheiro adotados pelas entidades reguladas da estrutura interna da diretoria para cobrir
aos parâmetros de avaliação de programas de riscos de corrupção são (i) a garantia de que
compliance indicados pela Lei Anticorrupção. esta responda diretamente ao conselho de
Deste modo, seria possível que as estruturas já administração da entidade, (ii) a atribuição
existentes fossem adaptadas e adequadas para de um orçamento próprio e gerido de forma
atender às melhores práticas internacionais pa- autônoma e (iii) a atribuição de poderes para
ra o combate à corrupção. apurar e punir possíveis violações. Agindo as-
sim, aumentam-se as chances de a organiza-
ção conseguir provar, se questionada, o grau
de independência das suas estruturas internas
5 Artigo 2º, caput da Circular: “Sujeitam-se às obrigações previstas de controle e permite que atos eventualmente
nesta Circular as sociedades seguradoras e de capitalização; os
resseguradores locais e admitidos; as entidades abertas de previ- praticados por outros dirigentes também pos-
dência complementar; as sociedades cooperativas de que trata sam ser rapidamente identificados.
o parágrafo 3º do art. 2º da Lei Complementar no 126, de 15 de
janeiro de 2007; as sociedades corretoras de resseguro; as socie-
dades corretoras e os corretores de seguros, de capitalização e de
O aumento da par ticipação ativa dos
previdência complementar aberta.” diretores(as) das entidades reguladas nos seus
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LEI 9.613, DE 1998
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20 Anos
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LEI 9.613, DE 1998
A lei de prevenção à
lavagem de dinheiro e o
papel de cada cidadão
N
de dinheiro. A promulgação da Lei 9.613, cita-
ormas são muito importantes para balizar da acima, colocou o tema na pauta do país e,
os procedimentos e para exigir controles mais desta forma, instituições se viram obrigadas a
adequados de prevenção a todos os agen- implementar seus programas.
tes do mercado visando mitigar e diminuir as
É fundamental destacar a importância do
chances do risco se materializar. Contudo, só a
comportamento de cada cidadão para efetiva
lei não é suficiente.
consolidação da lei 9.613. Se essa lei "pegou",
A lei 9.613/98 e sua reformulação pela lei foi por força de regulamentações e riscos de
12.683/12 trouxeram uma revolução que per- punições que as instituições poderiam sofrer.
mitiu o combate contínuo da lavagem de di- A lei previu, desde sua primeira versão em
nheiro. Sem ela, procedimentos do sistema 1998, multa de até R$20 milhões como forma
financeiro não teriam sido estabelecidos e, de punir falhas das instituições no combate
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20 Anos
à lavagem de dinheiro. Assim, muitos progra- Qualquer cidadão pode colaborar se começar
mas de prevenção à lavagem de dinheiro fo- a questionar qual seria a origem do bem que
ram estabelecidos com a estratégia de atender está adquirindo e para onde está indo seu di-
apenas aos requerimentos regulatórios e não nheiro. Vamos a outros exemplos:
para uma efetiva gestão de risco, diminuindo A venda de bens com recebimento em es-
as chances de a instituição ser utilizada para a pécie, assim como a venda de joias que ali-
lavagem de dinheiro. Fazemos porque somos mentou o esquema corrupto de desvios de
obrigados a fazer e não porque entendemos recursos do Rio de Janeiro e que deixou o esta-
que é certo fazer e pela importância ética e so- do tão deteriorado a ponto de sofrer interven-
cial deste trabalho. ção. E se o vendedor dessas joias não aceitasse
As comemorações pelos 20 anos da lei 9.613 a operação por questionar a origem dos recur-
devem levantar a discussão para uma necessá- sos que estava recebendo por ela? Não só a
ria mudança de cultura no Brasil quanto à pre- joalheria que tem sua obrigação em controlar
venção à lavagem de dinheiro. Provavelmente e reportar determinadas pelo COAF, mas o pró-
será impossível acabar com a corrupção, mas prio vendedor.
diminuir nossa tolerância a malfeitos é perfei- Isso vale também quando vendemos nosso
tamente viável. imóvel, nosso carro, etc. Não é de se estranhar
Vale lembrar que não haveria dinheiro fruto do que nos dias de hoje com o acesso tão pulve-
tráfico de drogas, se não houvesse quem con- rizado ao sistema bancário, alguém venha até
sumisse esses entorpecentes. Sabendo que você com dinheiro em espécie? Não é de se
está é uma situação polêmica e de difícil com- estranhar e questionar mesmo que silenciosa-
bate, cabe provocar nosso olhar para o que nos mente porque alguém teria certa quantia em
é possível agir e mudar. espécie? Quando nos omitimos em perguntar
a origem dos recursos que recebemos perde-
A sociedade deve se preocupar com delitos mos a oportunidade de colaborar com a pre-
considerados pequenos em primeiro lugar e venção à lavagem de dinheiro.
que, em muitas situações, contam com a cola-
Outro exemplo do dia a dia é o de serviços de
boração direta ou indireta do cidadão comum.
tv por assinatura, assim como jogos, filmes,
Somados, esses crimes acabam ganhando
músicas e softwares, entre outros. Muitos de-
expressividade.
les podem não ser acessíveis a grande parte
Comprar bens de consumo de qualquer natu- da população por diversas razões, mas isso não
reza sem questionar o motivo do preço estar dá o direito de adquirir a versão pirata. No Bra-
abaixo da média de mercado é colaborar, mes- sil a prática de adquirir produtos piratas é tão
mo que por omissão, com o crime. Algumas comum que por uma razão ou outra se con-
vezes, os produtos chegam ao mercado por vencionou a chamar de produto “paralelo”. Is-
meio de violência. No Rio de Janeiro, por exem- so tudo é considerado por muitos ser esperto,
plo, é possível encontrar consumidores ávidos pois afinal adquiriu produtos antes inacessíveis
por produtos roubados ou contrabandeados por um preço muitíssimo baixo, sem perceber
ofertados em feiras montadas a céu aberto – ou se importar – que o dinheiro dado para
como a feira de Acari, assim como em tantas adquirir algo ilícito foi parar nas mãos do cri-
outras com a mesma finalidade espalhadas por me organizado, financiando assim ainda mais
todo o país. violência.
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LEI 9.613, DE 1998
A efetividade da prevenção está também em Por este motivo, é necessário mudar a socieda-
combater a essência. Eliminar ou reduzir sen- de para que não haja espaço e tolerância para
sivelmente a geração de recursos ilícitos das corruptos no país.
organizações criminosas obtidos por meio Acabar com o "jeitinho brasileiro" certamente
dessas atividades. é um grande passo. Acreditar que é possível é
Obviamente, prevenir a lavagem de dinheiro muito mais difícil do que desistir. Negar tam-
exige muito mais esforço. O primeiro passo, bém é muito mais difícil do que aceitar.
contudo, é viável e está ao alcance de todo Por fim, a prevenção à lavagem de dinheiro
e qualquer cidadão brasileiro, que deve mu- iniciada com a Lei 9.613 e constantemente for-
dar a cultura de fazer, aceitar ou conviver com talecida ao longo desses 20 anos terá um im-
malfeitos. O combate aos políticos corruptos é portante salto quando cada cidadão entender
mais do que necessário e urgente, mas não de- e assumir seu papel como agente de mudança.
ve ter um fim a curto prazo. A evolução da prevenção depende de nós!
80
20 Anos
20 anos da Lei de
Lavagem de Dinheiro
Importante ferramenta de cooperação
entre as agências reguladoras e impactos
no mercado segurador
81
LEI 9.613, DE 1998
ingresso de ativos financeiros, papel moeda de sempre que solicitados, esclarecimentos às Au-
forma ilícita, atingindo bolsa de valores, pela toridades Públicas.
liquidez e agilidade das operações, setor imo- Somando a essa atuação integrada em âmbi-
biliário, obras de arte, mercado de luxo, segura- to nacional, a participação do Brasil no cenário
doras e agora cryptomoedas. internacional também tem se mostrado rele-
A atual Lei de Lavagem de Dinheiro trouxe res- vante nos últimos anos, através da cooperação
postas muito mais eficazes no âmbito criminal, entre autoridades, que trouxe resultados ex-
ao tornar o crime independente e classificando pressivos no cumprimento de cautelares pa-
como crime antecedente toda e qualquer in- trimoniais. O Departamento de Recuperação
fração penal, abrangendo, dessa forma, as con- de Ativos, integrante da Secretaria Nacional de
dutas ativas ou omissivas ilícitas. Justiça, do Ministério da Justiça, tem atuado
de forma exemplar como Autoridade Central
Com as mudanças legislativas, podemos afir- na tramitação dos pedidos de cooperação ju-
mar que a regulação contra crimes de lava- rídica internacional. Em matéria penal, o maior
gem de dinheiro atingiu sua “maioridade”, número de cooperações jurídicas internacio-
mostrando-se madura e igualmente eficiente nais está relacionado aos crimes financeiros,
para detectar, punir e atuar de forma bastante lavagem de dinheiro, corrupção e tráfico de
presente em diversos mercados, especialmen- drogas. Em matéria cível, os pedidos estão
te através das agências reguladoras nacionais e relacionados ao direito de família e questões
internacionais. societárias.
O COAF – Conselho de Controle de Atividades Com a atualização legislativa, outros pontos
Financeiras, ao desenvolver o papel de exami- sensíveis e importantes foram modificados, co-
nar e identificar toda e qualquer ocorrência mo, por exemplo, a possibilidade de apreensão
suspeita de atividades ilícitas, é uma das enti- e venda de bens que estejam registrados em
dades mais atuantes no combate à lavagem nome de “laranjas”, antes do fim do processo
de dinheiro, atuando de forma conjunta com criminal. Essa foi a forma encontrada pelo legis-
o Banco Central do Brasil, a Comissão de Valo- lador para minimizar a desvalorização dos bens
res Mobiliários, a Superintendência de Seguros apreendidos até o fim regular do processo.
Privados, a Procuradoria da Fazenda Nacional, Outra ferramenta importante presente no
a Receita Federal, o Poder Executivo, a Polícia combate à Lavagem de Dinheiro está no in-
Federal, o Ministério das Relações Exteriores e a centivo ao réu em apresentar espontanea-
Controladoria-Geral da União. mente fatos e documentos, colaborando com
Em vista disso, a Lei de Lavagem de Dinheiro a investigação, em especial com a identificação
atribuiu responsabilidades às pessoas físicas e de todos os sujeitos ativos, com a finalidade de
jurídicas na identificação dos clientes e manu- obter uma redução na pena, figura jurídica essa
tenção dos registros de todas as operações, de denominada delação premiada.
modo a comunicarem toda e qualquer opera- O resultado dessa conectividade dos órgãos
ção financeira atípica, não havendo o ônus de fiscalizadores e da atribuição de responsabili-
qualquer implicação por uma comunicação er- dade aos administradores pelo conhecimento
rônea, vez que o fazem sem dar qualquer ciên- dos riscos do negócio, traz hoje um resultado
cia aos clientes, que por sua vez, devem prestar, muito positivo para a sociedade. Na medida
82
20 Anos
em que toda circulação de moeda pode ser A regulamentação continuou a ser com-
rastreável e seus agentes intermediadores vi- plementada e atualizada pela SUSEP em di-
rem a ser responsabilizados criminalmente versas normas posteriores: Circulares SUSEP
ou mediante aplicação de multas de até 20 nº 187/2002, nº 200/2002, nº 327/2006 e nº
milhões de reais, podemos afirmar que o país 380/2008, passando esta última a incluir os
caminha em conformidade com as tendências resseguradores entre as sociedades reguladas
mundiais, cumprindo com os Tratados Interna- sujeitas ao cumprimento dos procedimentos
cionais, como o de Viena. elencados.
Considerando esse cenário, passamos a ana- Após tais sucessivas alterações em âmbito re-
lisar os impactos específicos da referida lei no gulamentar para adequação à Lei n° 9.613/98, a
mercado de seguros. SUSEP publicou, em 02 de julho de 2012, a Cir-
cular SUSEP n°445/2012, que expressamente
revogou a Circular SUSEP n° 380/2008, conso-
lidando a necessidade de as sociedades regu-
III – As consequências ladas possuírem controles internos específicos
da Lei nº 9.613/98 no para a prevenção, combate e coibição à lava-
gem de dinheiro, corrupção e financiamento
mercado de seguros: ao terrorismo ou crimes conexos, e registros
histórico e cenário das operações com Pessoas Politicamente Ex-
postas (PPE).
atual
Assim, a Circular SUSEP n° 445/2015 regula-
menta atualmente no mercado de seguros os
A publicação Lei nº 9.613, em 03 de março de
procedimentos necessários para cumprimento
1998, determinou a regulamentação da maté-
das obrigações previstas nos art. 10, 11,12 e 13
ria de forma mais específica no âmbito do mer- da Lei n° 9.613/1998, os quais dispõem sobre a
cado de seguros. necessidade das empresas de qualquer ramo
Já no ano seguinte à promulgação da Lei promover a identificação de seus clientes e
9.613/98, a SUSEP publicou a Circular n° 89/99, manter seus respectivos registros, bem como
que, além de elencar hipóteses de operações e realizar a comunicação de operações financei-
situações que poderiam configurar os crimes ras ao COAF.
previstos na lei, determinou que as segurado- Para tanto, o art. 2° desta norma infra legal re-
ras implementassem procedimentos de con- gulamenta a abrangência de sua aplicação
troles internos específicos para prevenção de para todas as sociedades seguradoras e de
tais ocorrências. capitalização, entidades de previdência com-
Referida norma foi revogada pela Circular SU- plementar aberta, sociedades corretoras e
SEP nº 181/2002 que, de forma mais específica, corretoras de seguros, sociedades cooperati-
passou a tratar do registro de informações sen- vas autorizadas a operar em seguros privados,
síveis com o escopo de evitar a configuração além dos resseguradores locais e admitidos.
dos crimes disciplinados pela Lei nº 9.613/98 e A Circular SUSEP n° 445/2012 exige desses su-
disciplinar detalhadamente a necessidade de jeitos o atendimento dos seguintes principais
informar a SUSEP sobre operações suspeitas. controles internos: (i) estabelecimento de uma
83
LEI 9.613, DE 1998
política interna de prevenção e combate à la- da Circular SUSEP n° 445/2012, demonstra a in-
vagem de dinheiro e terrorismo; (ii) elabora- tegração e compartilhamento de informações
ção de cadastro com identificação de clientes, entre os dois órgãos públicos, de forma alinha-
beneficiários, terceiros e outras partes; (iii) ela- da com o objetivo de coibir a consumação de
boração d e manuais e implementação de pro- crimes de lavagem de dinheiro.
cedimentos de identificação, monitoramento, Referida obrigação de comunicação subsis-
análise e comunicação, bem como (iv) treina- te até mesmo nos casos em que há dúvidas
mento periódico de funcionários e execução quanto à natureza de uma ocorrência, visto
de programa de auditoria interna. que, sendo realizada de boa-fé, ainda que não
Para buscar evitar a ocorrência de ilícitos, a se trate ao final de uma operação suspeita, ine-
SUSEP foca a atividade fiscalizatória em três xistirá responsabilidade administrativa ou cri-
principais pontos: (i) a atualização do cadas- minal da sociedade informante.
tro de clientes, (ii) a identificação de clientes Desse modo, observa-se que o mercado de se-
de operações suspeitas e (iii) a comunicação guros incorporou, de acordo com as peculiari-
de operações suspeitas para a SUSEP/COAF. O dades das atividades desenvolvidas pelo setor,
descumprimento de quaisquer dessas obriga- os comandos trazidos pela Lei nº 9.613/98, ten-
ções, na forma determinada pela norma, pode- do adaptado sua regulação em conformidade
rá resultar na responsabilização administrativa com a evolução e atualização da legislação, em
da seguradora ou outra sociedade regulada e busca de consolidar mecanismos mais eficazes
também das pessoas físicas responsáveis en- que permitam à SUSEP implementar fiscaliza-
volvidas, mediante autuação da SUSEP, sem ção eficaz nesta seara.
excluir as consequências no âmbito criminal.
No que se refere ao cadastro de clientes, o art.
7° da Circular SUSEP n°445/2012 estabelece III – Conclusão
uma série de informações que necessariamen-
te devem ser rotineiramente atualizadas pelos
Pelo exposto acima, conclui-se que a Lei nº
seguradores, resseguradores e corretores, tan-
9.613/98, com as alterações legislativas so-
to para clientes pessoas física ou jurídica.
fridas, e o fortalecimento do COAF têm per-
Nesse ponto, especial atenção é conferida à mitido maior controle e rastreamento das
identificação de operações com Pessoas Poli- operações de circulação de moedas.
ticamente Expostas (PPE), assim classificadas
No mercado de seguros, a regulamentação
pelo art. 4° da Circular n° 445/2012, corres-
setorial das obrigações contidas na referida lei
pondendo, em suma, agentes públicos que
possibilita à SUSEP, enquanto órgão regulador
desempenham ou já desempenharam, nos 5
e fiscalizador do setor, manter controle de in-
anos anteriores ao negócio, no Brasil ou no ex-
formações sensíveis e, com isso, alcançar o ob-
terior, cargos ou funções públicas relevantes.
jetivo primordial de coibir a prática de crimes
Por sua vez, a obrigação comunicação das de lavagem de dinheiro no âmbito do merca-
ocorrências à SUSEP/COAF, conforme o art. 13 do regulado.
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20 Anos
85
LEI 9.613, DE 1998
atividade ilegal em um mecanismo de oculta- tem acesso aos caminhos trilhados pelo capital
ção da sua origem. No segundo estágio, é feita oriunda de infração penal.
a transformação dos valores mediante transa- As regras gerais de colaboração exigem:
ções financeiras com o objetivo de dissimular
a ilicitude dos valores, tornando mais difícil a (i) a criação de registros e a manutenção de ca-
detecção da manobra dissimuladora e do “en- dastros com informações precisas e atualizadas
cobrimento”. Por fim, há a reinserção dos valo- sobre clientes e suas principais operações, polí-
res e bens “limpos” no mercado para que sua tica conhecida como know your cliente;
circulação pareça legitima. Em linhas gerais, a (ii) comunicação às autoridades competentes
lavagem de dinheiro tem como objetivo pro- de atos e transações suspeitas;
porcionar uma aparência legal aos bens, direi-
(iii) o desenvolvimento de políticas de Com-
tos ou valores provenientes do crime.
pliance para a prevenção, identificação e im-
O texto inicial sofreu três alterações significati- plementação de mecanismos de investigação
vas ao longo dos últimos vinte anos de vigên- e controle interno que possibilitem a repressão
cia , na tentativa de acompanhar a evolução de atividades suspeitas.
da complexidade e amplitude da atuação das
Essa necessidade de monitoramento adminis-
organizações criminosas, sumarizados abaixo.
trativo dos setores sensíveis levou à criação de
Embora a Lei nº 12.683/12 tenha aumentado diversas unidades internas de inteligência. No
significativamente o rol de “pessoas sujeitas caso das empresas de seguro, capitalização e
ao mecanismo de controle”, fato é que, des- previdência, a regulamentação é feita pela Su-
de o nascimento a lei, já havia uma preocu- perintendência de Seguros Privados (SUSEP),
pação em obter a cooperação de entidades que, em consonância com a alteração legisla-
ou pessoas do setor privado que operam em tiva de 2012, emitiu a Circular SUSEP nº 445 de
“campos sensíveis à lavagem de dinheiro”. A 2012. Essa regulamentação é um guia para as
essas pessoas, físicas e jurídicas, foi dado o no- entidades supervisionadas pela SUSEP e dis-
me de gatekeepers pois atuam como “vigias” e põe sobre controles internos específicos para
Diploma e data da
Principais alterações Alterações no cenário fático
alteração
A atuação das organizações criminosas começa a
Incluiu crimes praticados contra a administração ultrapassar fronteiras e mostra-se necessário repri-
Lei 10.467/2002 pública estrangeira como antecedentes da lava- mir também a lavagem de capital obtido através
gem de dinheiro do cometimento de crimes contra estados estran-
geiros
Consequências da atuação transnacional das orga-
nizações criminosas e de sua necessidade em “la-
Incluiu o financiamento do terrorismo como ante-
Lei 10.701/2002 var” o capital ilícito e são criados mecanismos de
cedente da lavagem de dinheiro
cooperação entre os Estados para monitoramento
e repressão dos crimes transnacionais.
O setor público percebe a necessidade de contar
com a colaboração do setor privado para comba-
Ampliação do rol de infrações antecedentes e de ter a lavagem. Surge a necessidade de cooperação
Lei 12.683/2012 entes privados obrigados a cooperar com a fiscali- do setor privado para monitoramento e prevenção
zação e repressão da lavagem de capitais dessa espécie de operações, por meio da imple-
mentação de estrutura interna e eficiente de con-
trole e prevenção à lavagem de dinheiro
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20 Anos
87
LEI 9.613, DE 1998
20 anos da Lei da
lavagem de dinheiro
C
A referida lei, foi alterada em 9 de julho de
hegamos ao mês de MARÇO DE 2018. 2.012 pela Lei n0 12.683, para tornar mais efi-
Quantas coincidências este mês nos trás de ciente a persecução penal dos crimes de lava-
lembrança. A começar pelo dia 03 de março gem de dinheiro.
de 2018, exatos duas décadas depois desde
Anteriormente a alteração da lei, somente
que a lei n0 9.613, que dispõe sobre os crimes
havia lavagem de dinheiro se a ocultação ou
de "lavagem de dinheiro" ou ocultação de
dissimulação fosse de bens, direitos ou valo-
bens, direitos e valores e cria o Conselho de
res provenientes de um crime antecedente,
Controle de Atividades Financeiras - COAF, foi
porém com esta alteração, haverá lavagem de
promulgada.
dinheiro se a ocultação ou dissimulação for de
Também neste mesmo mês de março, entra- bens, direitos ou valores provenientes de um
mos no 40 ano da operação “Lava Jato”, sendo crime ou de uma contravenção penal.
88
20 Anos
Desta forma, entende-se que a lavagem de di- a demora no trânsito em julgado das decisões
nheiro continuará sendo um crime derivado, finais em processos penais.
mas agora ampliando para dependente de Devemos também acreditar que alguns fatores
uma infração penal antecedente, que pode ser ainda possam ser implantados, para eficiên-
um crime ou uma contravenção penal. cia no combate deste ilícito, como a exemplo:
Outro importante avanço se dá na incorpora- i) Tornar todos os partidos políticos, pessoas
ção de institutos jurídicos modernos, como a sujeitas ao mecanismo de controle (pessoas
delação premiada, a inversão do ônus da pro- obrigadas) à lei e ii) Introdução de retorno por
va, a inclusão das hipóteses de alienação an- parte do COAF, quanto as comunicações feitas
tecipada e outras medidas assecuratórias que pelas pessoas obrigadas, das operações con-
garantam que os bens não sofram desvaloriza- sideradas suspeitas de crimes de lavagem de
ção ou deterioração; a inclusão de novos sujei- dinheiro, se possuem ou não indícios de lava-
tos obrigados tais como cartórios, profissionais gem de dinheiro, para que a instituição que
que exerçam atividades de assessoria ou con- fez a comunicação, possa tomar providências
sultoria financeira, representantes de atletas e de encerramento ou não de negócios com o
artistas (audiência publica do COAF 01/2018), cliente.
feiras, dentre outros e o aumento do valor má- Por outro lado, temos que nos orgulhar, da
ximo da multa para R$ 20 milhões. modernização do COAF e dos acordos de Coo-
Ainda teremos muitos desafios pela frente pa- peração Técnica para Intercâmbio de Informa-
ra minimizar a prática do crime de lavagem de ções com a outras unidades de inteligência
dinheiro. Elenco alguns destes fatores: i) A mu- espalhadas pelo mundo.
tação e a modernização das praticas exercidas Sempre fui muito otimista quanto ao meca-
pelo crime organizado, ii) introdução na eco- nismo de combate aos crimes de lavagem de
nomia de moedas virtuais (criptomoedas) sem dinheiro, que de toda sorte, num futuro próxi-
qualquer regulação ou garantias, onde se utili- mo, acredito que verei o sistema obrigar o cri-
zam da tecnologia de blockchain e da cripto- minoso ficar sentado sob o seu dinheiro sujo,
grafia para assegurar a validade das transações impedindo-o de introduzir recursos ilícitos na
e a criação de novas unidades da moeda, e iii) economia sem que seja detectado.
89
LEI 9.613, DE 1998
Lavagem de dinheiro:
como o mercado de
seguros pode mitigar o
risco de envolvimento
90
20 Anos
ilegais2. Assim, se no caso concreto ficar com- e 8° da Circular SUSEP n° 445/12); (ii) registrar
provada a participação intencional (dolo) de as operações efetuadas pelos clientes que ul-
representante da instituição que intermediar trapassem o limite imposto pela autoridade
a operação de lavagem, tal pessoa também competente (para o mercado em análise, se-
poderá ser considerada coautora ou partícipe gundo os valores previstos no inciso I do arti-
do crime3. go 13, acrescidos dos critérios do inciso II do
A Lei de Lavagem de Dinheiro igualmente re- mesmo artigo da Circular SUSEP n° 445/12); (iii)
gula aspectos processuais da persecução cri- monitorar as operações e dispensar especial
minal, bem como lista em seu artigo 9° uma atenção àquelas que possam constituir-se em
série de pessoas (“Pessoas Obrigadas”) que, sérios indícios dos crimes previstos na Lei de
por exercerem atividades em setores comu- Lavagem de Dinheiro, nos termos de instru-
mente envolvidos no mascaramento de bens ções emanadas pela autoridade competente
de origem ilícita, devem (i) manter registros (no caso, conforme art. 10 c/c inciso II do artigo
(atualizados) de clientes (know your client) e 13 da Circular SUSEP n° 445/12); (iv) comunicar
de operações, além de monitorá-las; e (ii) co- à autoridade competente qualquer operação
municar atividades suspeitas às autoridades ou proposta de operação que se enquadre nos
competentes. critérios de comunicação previstos na regu-
lamentação aplicável (no caso, conforme art.
De uma forma geral, as pessoas arroladas no
14 da Circular SUSEP nº 445/12) e (v) adotar
art. 9° são os agentes econômico-financeiros
políticas, procedimentos e controles internos
visados no processo de lavagem de dinheiro,
compatíveis com o porte e volume de suas
que ocasionalmente podem ser envolvidos
operações, que lhes permitam atender ao dis-
nas operações financeiras ou comercias que
posto na lei e regulamentação aplicáveis.
buscam incorporar na economia os bens, di-
reitos ou valores que se originam ou estão liga- O descumprimento, pela Pessoa Obrigada, das
dos a atos ilícitos. Além disso, por operarem em obrigações impostas pela Lei de Lavagem de
áreas sensíveis ao crime de lavagem de dinhei- Dinheiro e normativos que a disciplinam, po-
ro e terem rápido acesso ao itinerário percorri- de representar sua responsabilização adminis-
do pelos recursos decorrentes de tal infração trativa, bem como de seus administradores,
penal, tais pessoas também são consideradas conforme os critérios indicados no artigo 12
gatekeepers, devendo auxiliar no processo de da mesma lei (advertência, multa, inabilitação
fiscalização realizado constantemente pelas temporária de pessoas físicas e cassação ou
autoridades públicas. suspensão da autorização da pessoa jurídica),
As obrigações impostas às Pessoas Obrigadas além de contribuir para eventual responsabi-
estão indicadas nos artigos 10 e 11 da mesma lização criminal dos agentes (pessoas físicas)
lei, sendo cinco delas as mais importantes: (i) das Pessoas.
identificar e manter registros atualizados dos Além do sistema financeiro, que, pela natureza
clientes (no caso do mercado segurador, con- das atividades desenvolvidas por seus mem-
forme os critérios estabelecidos nos artigos 7° bros, está naturalmente mais exposto a tais
tipos de ilícitos, participantes do mercado de
2 BARROS, Marco Antonio de. Lavagem de capitais e obriga- seguros (tais como seguradoras, entidades de
ções civis correlatas. 4 ed. rev. ampl. São Paulo: Editora Revis-
tas dos Tribunais, 2013. p. 59.
capitalização e previdência, corretoras e res-
3 BARROS, Marco Antonio de. Idem. seguradoras) também podem ser envolvidos
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LEI 9.613, DE 1998
92
20 Anos
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LEI 9.613, DE 1998
Prevenção à lavagem de
dinheiro na indústria
automobilística
acordo com a instrução, as seguintes operações
deverão ser analisadas com especial atenção:
I – aquisição ou proposta de aquisição de veí-
culo automotor na “modalidade frotista” por
pessoa física;
II – aquisição ou proposta de aquisição de veí-
culo automotor na “modalidade frotista” por
pessoa jurídica constituída recentemente ou
sem declarada experiência nesse mercado ou
ainda, cuja atividade econômica não tenha
relação com a utilização de frota de veículos
automotores;
III – proposta ou aquisição de veículo auto-
DR. CHRISTIAN K. DE LAMBOY motor na “modalidade frotista”, cujo valor seja
incompatível com o patrimônio ou com a ca-
pacidade financeira presumida do comprador
1. Ambiente Regulatório ou proponente; ou
IV – proposta ou aquisição de veículo automo-
Desde 01 de março de 2013, entrou em vigor tor com pagamento efetuado por terceiro, sem
a Resolução 25/2013 do Conselho de Controle justificativa, mesmo quando autorizado pelo
das Atividades Financeiras (COAF), que dispõe cliente.
sobre os procedimentos a serem adotados
Toda empresa capaz de realizar a venda, com-
pelas pessoas físicas ou jurídicas que comer-
pra ou até intermediação de bens, acima de
cializem bens de luxo, de alto valor ou que fa-
R$ 10 mil, estão enquadrados na Resolução
çam intermediação da sua comercialização. As
25/2013, porém, só há a obrigatoriedade da
montadoras, concessionários e importadoras
comunicação ao COAF valores acima de R$ 30
de veículos estão incluídos no rol de empre-
mil, pagos em espécie. Apesar da venda com
sas que deverão realizar cadastro ou notificar o
valor inferior a R$ 30 mil não obrigar a comu-
COAF, de acordo com as transações realizadas.
nicação, é necessário manter um cadastro da
A instrução normativa 4/2015 divulga instruções transação. É de grande importância de o de-
complementares às pessoas jurídicas que comer- partamento financeiro da concessionária estar
cializem veículos automotores. Sendo assim, de atento na hora do pagamento, entretanto, se o
94
20 Anos
95
LEI 9.613, DE 1998
antecedentes criminais junto aos órgãos pú- 1. Analisar áreas de risco: no início devem ser
blicos para funcionários recém-contratados. analisadas as áreas de risco individuais de
• define rotina para proporcionar o contato uma empresa, ou seja, o Oficial de PLD exa-
dos funcionários: Se um funcionário sus- mina de perto todas as partes sensíveis à la-
peitar ou não tiver certeza sobre um aspec- vagem de dinheiro nas vendas de veículos,
to de possível lavagem de dinheiro de seu por exemplo, clientes, estrutura de negó-
trabalho, ele deve sempre poder entrar em cios, processos internos de negócios e port-
contato com o Oficial de PLD e obter assis- fólio de produtos.
tência especializada.
2. Documentar e avaliar resultados.
• informa regularmente à alta administração
as questões da PLD. 3. Desenvolver medidas: com base na ava-
liação do potencial de risco, o Oficial de
Externamente o Oficial de PLD é:
PLD prepara medidas para minimizar esses
• responsável pela documentação das me- potenciais.
didas relativas aos relatórios de transações
4. Integrar medidas: as medidas são inte-
suspeitas: Deve documentar completamen-
gradas nos processos internos. Isso pode
te todas as medidas tomadas para cumprir as
acontecer através do uso de sistemas infor-
obrigações de PLD. Ele deve manter a docu-
matizados, formulários específicos, notas or-
mentação por pelo menos cinco anos a partir
ganizacionais ou avisos.
do final do respectivo ano fiscal. A autoridade
de supervisão tem um direito abrangente de 5. Monitorar as medidas: após a instalação
inspecionar esta documentação. O arquivo bem-sucedida, as medidas são monito-
precisa estar acessível sob demanda. radas, onde são verificados os processos
• pessoa de contato para autoridades de su- quanto à aplicação das instruções definidas.
pervisão: É o primeiro ponto de contato
para as autoridades responsáveis pela apli- 3.2. O conteúdo da análise
cação da lei ou de supervisão em todos os de risco
assuntos relacionados com PLD. As possí-
Além da introdução usual e a descrição da
veis comunicações com estes, incluem con-
empresa, as áreas de risco individuais devem
sultas de aplicação da lei em relatórios de
ser consideradas em detalhes. As áreas de ris-
transações suspeitas relatadas e pedidos de
co são a estrutura da empresa, os produtos, os
informações da autoridade reguladora, bem
clientes, os processos e os funcionários, bem
como viabilização de possíveis verificações
como os fatos incomuns.
locais a serem realizadas pelas autoridades.
96
20 Anos
lavagem de dinheiro, utilizando para isto, pro- • uma comparação de clientes estrangeiros
cedimentos específicos e reportes realizados com listas de embargo.
de forma transparente para toda a organização. Adicionalmente, deve-se atentar para os re-
vendedores de veículos usados, por exemplo,
3.2.2. Produtos lojas multimarcas, etc., que pelo fato de terem
A área de risco mais importante no comércio como uma das características do negócio a
automotivo são os produtos. Em primeiro lu- compra e revenda rápida, são particularmente
gar, deve haver a diferenciação entre veículos vulneráveis à lavagem de dinheiro.
novos, veículos usados, oficinas, peças e, quan-
do aplicável, o comércio de carros clássicos. 3.2.4. Processos
Outro fator importante é a necessidade de Os processos na empresa representam uma
atentar-se para marcas e modelos específicos porta de entrada para rotinas de lavagem de
vendidos pelas concessionárias. Nem todos os dinheiro. Para este tipo de risco, todo o proces-
veículos são igualmente adequados para lava- so de vendas de veículos é aplicável, desde o
gem de dinheiro, portanto, o risco é menor em início do processo até a entrega final do veícu-
um carro pequeno do que em um carro espor- lo para o cliente. Sendo assim, para este caso,
tivo e caro. A melhor maneira de definir cate- deve-se responder as seguintes perguntas:
gorias de acordo com os valores do veículo é • Quando e como um cliente é identificado?
dividir os veículos em diferentes classes de risco. • Como seus dados são verificados?
As medidas apropriadas são atribuídas a essas • Onde estão armazenados os documentos?
classes de risco. Assim, deve não só identificar • Como é determinado o beneficiário?
os compradores na categoria com o maior ris- • Como é gerenciada a troca de informações?
co, mas também sempre compará-los com lis- • Como o relacionamento comercial é
tas de pessoas expostas politicamente (PEP) e monitorado?
listas de terroristas através de portais on-line • Como os processos de fluxo de caixa funcio-
ou aplicativos. nam na empresa, como são administrados?
Novamente, devem ser derivadas medidas
3.2.3. Clientes dessas descobertas, por exemplo, usa bancos
de dados para verificar dados de clientes ou
Na área de risco dos clientes, os números de-
identificar o proprietário efetivo ou instruções
vem ser determinados. Por exemplo:
de trabalho que mostram aos funcionários co-
• o número de clientes; mo realizar o processo. Mesmo os processos
• a divisão em clientes privados, comerciais e que não afetam o cliente, como processos de
de frotas; relatórios, devem ser analisados. Assim, deve
• a proporção de clientes do exterior, diferen- ser definido quem recebe informações e quem
ciados por país; toma decisões.
• a parte dos clientes regulares, etc.
As medidas que podem ser derivadas disso são: 3.2.5. Empregados
• uma revisão regular de todos os clientes co- Considere também os próprios funcionários.
merciais e de frotas ou Não para acusá-los de possível envolvimento
97
LEI 9.613, DE 1998
98
20 Anos
•
culo para outra pessoa.
Um aprendiz adquire um carro esporte (de
4. Comunicação de
alto custo). Transações
• Uma empresa estrangeira, desconhecida,
adquire um veículo, transfere o preço de Quando uma transação suspeita deve ser en-
compra e envia representantes para retira- viada ao COAF? Um comunicado de transação
rem o veículo. suspeita deve ocorrer sempre que um vende-
• O cliente exige anonimato / tenta evitar dor de automóveis perceber que a venda ou
contato pessoal sem motivo aparente. compra de veículos pode ser usada para lavar
• O cliente tenta disfarçar sua verdadeira dinheiro de crimes.
identidade.
Os requisitos legais interligam-se aqui como
• O cliente fornece informações falsas ou en-
engrenagens. Portanto, podem ser acusados
ganosas / se recusa em fornecer as informa-
os concessionários que ignorarem os requisi-
ções ou documentos usuais do negócio.
tos necessários à capacidade de detecção de
• O cliente tenta estabelecer uma relação de
um caso suspeito, devido à falta de medidas
confiança que vá além do nível normal.
preventivas.
• O cliente não tem consciência de custos.
• O cliente que mora em outra região, solici- Em caso de compras/vendas suspeitas sem
ta um serviço sem poder dar uma explica- comunicação para COAF, multas e outras pu-
ção aceitável (por exemplo, conhecimento nições podem ser aplicadas. Caso tenha sido
especializado) do motivo de não utilizar o feita uma comunicação sem ter um caso de
concessionário local. lavagem de dinheiro nada acontece. O COAF
• O cliente compra veículos de difícil venda vai fechar o caso internamente depois de uma
ou que apresentem defeitos, a um preço ex- averiguação e o cliente não terá informações
cepcionalmente alto. sobre o fato que foi comunicado. A transação
• O cliente está envolvido em uma transação vai ser feita de qualquer forma. O COAF vai dar
que é incomum para ele, que não tem rela- uma resposta com uma avaliação da qualidade
ção com sua atividade profissional / comer- da comunicação, ajudando assim no direciona-
cial ou que seja desproporcional a ela, sem mento para melhoria de comunicações futu-
que possa fornecer uma explicação com- ras. Além disto, também é possível solicitar um
preensível à parte obrigada. parecer por telefone ou e-mail.
Deve-se observar que o importante nestes ca- Desta forma vale aqui um ditado ajustado na
sos é o comportamento do fraudador que mira Alemanha: “Fala é ouro, silêncio é prata”.
99
LEI 9.613, DE 1998
Evolução Histórica e
Normativa da Lavagem
de Dinheiro no Brasil e
no Mundo
prática dos delitos econômicos, o que culmina
na inclusão, em seus ordenamentos jurídicos,
do crime de lavagem de dinheiro.
A cada dia, mais de dois trilhões de dólares são
movimentados no mundo e milhões de dóla-
res podem cruzar o planeta em 1/15 de segun-
do. “Assim sendo, o dinheiro gerado a partir das
drogas fabricadas na América do Sul pode viajar
de uma ilha do Caribe até Londres, passando por
Nova York e pela Áustria, antes que você termine
de ler este parágrafo”1.
A prática da lavagem de dinheiro, praticamen-
te desconhecida, como veremos, até o final
dos anos oitenta, se torna algo muito comum
nos tempos atuais, de maneira que o número
de casos de lavagem se multiplica a cada ano
por todo o mundo2.
Além de sua importância, o tema da lavagem
de dinheiro se mostra muito atual diante do
incremento da criminalidade organizada e da
ADRIANA FILIZZOLA D’URSO maneira elaborada com que estes delitos são
praticados. A gigantesca quantidade de di-
nheiro movimentada de maneira ilegal através
1. Introdução de operações de lavagem de dinheiro afeta
100
20 Anos
101
LEI 9.613, DE 1998
Já no século XX, diversos autores explicam que estratégias para superar a crise da criminali-
a origem da expressão money laundering (lava- dade organizada nos Estados Unidos, com a
gem de dinheiro, em inglês) vem de Alphonse divisão do mercado nacional entre as organiza-
(Al) Capone e suas organizações mafiosas nos ções criminosas mais poderosas (cartelização),
Estados Unidos, que com o dinheiro prove- a ampliação dos laços com a política, o incre-
niente do contrabando de bebidas e cigarros, mento da corrupção de servidores e agentes
adquiriu, no final da década de 1920, em Chi- públicos, a exploração intensiva do jogo e do
cago, uma rede de lavanderias para poder rea- tráfico de entorpecentes como novos nichos
lizar depósitos bancários de pequenos valores de lucratividade do mercado ilegal, a criação
resultantes de suas atividades criminosas (co- de novas táticas de lavagem de dinheiro, in-
mércio ilegal de bebidas, exploração do jogo clusive com a utilização de contas numeradas
ilegal e prostituição), mas compatíveis com a na Suíça, e a intensificação da penetração nos
atividade das lavanderias, com o objetivo de negócios lícitos.9
encobrir sua origem. Al Capone terminou pre-
so por sonegação fiscal em 1931. Seu insólito
destino alertou os demais criminosos para a
importância do desenvolvimento de novas
3. Evolução Normativa
técnicas de lavagem de dinheiro.7 Internacional
Também é importante mencionar a figura
de Meyer Lansky, cujo nome verdadeiro era Diante deste contexto, não é surpreendente
Suchowliński Majer, um bielo-russo que fazia que a primeira ação mundial de natureza re-
parte da máfia de Nova York, estando man- pressiva contra a lavagem de dinheiro tenha
comunado com Luck Luciano. Na década de ocorrido nos Estados Unidos, por uma lei edi-
1930, ele mandava para bancos europeus tada em 1970, que tornava obrigatório o regis-
significativos valores monetários, que eram tro diário dos depósitos bancários superiores
provenientes dos jogos de cassinos, para mas- a US$10.000,00 (dez mil dólares). A lei não foi
carar sua verdadeira origem. Posteriormente, muito eficaz no combate à lavagem de dinhei-
na década de 1940, Meyer Lansky investiu seu ro, pois, a partir de sua entrada em vigor, os
dinheiro sujo em negócios de hotéis em Las criminosos, para burlar este registro, passaram
Vegas para desvincular o dinheiro de sua ori- a efetuar depósitos em diversos bancos até o
gem ilícita.8 limite de US$9.999,00 (nove mil novecentos e
noventa e nove dólares).10
Por ter sido o responsável por ocultar os seus
lucros ilícitos em bancos suíços a partir de Assim, apesar de já ser um problema antigo,
1932, Meyer Lansky é apontado por muitos como pudemos observar, a questão da lava-
estudiosos como figura central para o estudo gem de dinheiro surge ao final dos anos oi-
da lavagem de dinheiro. Além do mais, foi ele tenta como um problema social de caráter
o responsável pela elaboração das principais
102
20 Anos
internacional. Seu impulso inicial se viu moti- origem criminal no circuito econômico, foi a
vado pelas consequências dos lucros do tráfico primeira reação formal conhecida no âmbito
de drogas. da Comunidade Europeia.13
Praticamente desconhecido até o final dos
anos oitenta, o crime de lavagem de dinhei- 3.2.Declaração de Princípios do
ro foi se incorporando aos ordenamentos ju- Comitê de Regras e Práticas de
rídicos dos países. O interesse dos países em Controle de Operações Bancárias
criminalizar esta nova forma de delinquência (Declaração da Basiléia) do G-10,
vem juntamente com a assinatura de diversos de 12 de dezembro de 1988
tratados internacionais que pretendiam har- Passados alguns anos, é importante destacar a
monizar as diferentes legislações nacionais so- chamada ‘Declaração de Princípios do Comitê
bre o tema.11 de Regras e Práticas de Controle de Operações
É, portanto, nesta época que se iniciam as Bancárias do G-10’ – as dez maiores potências
ações internacionais mais veementes contra industriais do mundo14 – sobre prevenção da
a lavagem de dinheiro, que estudaremos mais utilização do sistema bancário para a lavagem
profundamente a seguir. de fundos de origem criminosa, conhecida co-
mo ‘Declaração de Princípios da Basiléia’ e fir-
mada na Suíça, em 12 de dezembro de 1988.
3.1.Recomendação R (80) 10, de
27 de junho de 1980, do Comitê É considerada a primeira codificação de regras
de Ministros do Conselho da aplicáveis pelas entidades financeiras para a
Europa aos Estados Membros prevenção da lavagem de dinheiro. Por meio
de suas regras, se buscava prevenir e impedir o
Primeiramente, é importante mencionar a ‘Re-
uso das transações bancárias nos processos de
comendação R (80) 10, do Comitê de Ministros
lavagem de dinheiro.15
do Conselho da Europa aos Estados Membros’,
de 27 de junho de 1980, relativa a medidas O Comitê de Regras e Práticas de Controle de
contra a transferência e custódia de fundos de Operações Bancárias, composto por represen-
origem criminosa. tantes de bancos centrais e autoridades de su-
pervisão bancárias dos países que compõem
A ‘Recomendação R (80) 10, do Comitê de Mi-
o G-10, promoveu o desenvolvimento de um
nistros do Conselho da Europa aos Estados
código de conduta sobre regras e práticas de
Membros’ adotou medidas contra a transfe-
controle de operações bancárias, que consti-
rência e a ocultação de capitais de origem
tuía um guia de ação, por parte das instituições
criminosa, e é apontada como o primeiro ins-
trumento do direito internacional sobre a lava-
gem de dinheiro.12
Tal normativa é um marco real, porque, mes- 13 CERVINI, Raúl; OLIVEIRA, Willian Terra de; GOMES, Luiz Flávio.
mo se limitando a constatar o enorme perigo “Lei de Lavagem de Capitais”. Editora Revista dos Tribunais, São
Paulo, 1998, p. 110-111.
representado pela introdução do capital de 14 A organização dos G-10 era composta, em princípio, por re-
presentantes dos Bancos Centrais dos dez países mais indus-
trializados do mundo. Atualmente, engloba os 13 países mais
11 ARÁNGUEZ SÁNCHEZ, Carlos. “El Delito de Blanqueo de Capita- desenvolvidos: Alemanha, Bélgica, Canadá, Espanha, França,
les”. Marcial Pons, Madrid, 2000, p. 17. Itália, Japão, Luxemburgo, Países Baixos, Reino Unido, Suécia,
12 DE SANCTIS, Fausto Martin. “Combate à Lavagem de Dinheiro – Suíça, Estados Unidos.
Teoria e Prática”. Millennium Editora, Campinas, 2008, p. 2. 15 CONSERINO, Cassio Roberto. “Lavagem de Dinheiro”, cit., p. 5.
103
LEI 9.613, DE 1998
e autoridades financeiras dos diversos países, países e inspirou a legislação interna de cada
diante do problema da lavagem de dinheiro.16 um deles.18
Enfim, a denominada ‘Declaração da Basiléia’ foi O dinheiro proveniente do tráfico ilícito de dro-
uma resposta, adotada em dezembro de 1988, gas foi a força motriz da ‘Convenção de Viena’,
à utilização massiva que se vinha fazendo das mas este diploma legal foi instituído também
entidades bancárias, com a finalidade de dar por conta do problema urgente da lavagem de
uma aparência de legalidade aos capitais de dinheiro resultante do tráfico de drogas. Para o
origem delitiva. Tratava-se de um código deon- autor, indiscutivelmente, a Convenção de Vie-
tológico, uma declaração de princípios, de ca- na apoiou o processo de tipificação do delito
ráter não vinculante, baseada na ideia de que de lavagem de dinheiro que se transmitiu aos
a primeira e mais importante proteção contra ordenamentos jurídicos internos dos países
a lavagem de dinheiro é a integridade dos res- que a subscreveram.19
ponsáveis dos bancos, assim como sua firme
Na ‘Convenção de Viena’ a repressão à lavagem
determinação de evitar que sua instituição se
de dinheiro estava vinculada unicamente ao
associe a delinquentes ou seja utilizada como
tráfico de drogas, mesmo assim esta Conven-
meio para a lavagem de dinheiro.17
ção significou o marco inicial do debate e de
uma análise político-criminal do crime de lava-
3.3.Convenção das Nações gem de dinheiro.20
Unidas contra o Tráfico ilícito Por fim, é importante mencionar que o Brasil
de Entorpecentes e Substâncias firmou a ‘Convenção de Viena’ em março de
Psicotrópicas (Convenção de 1988 e, depois de sua ratificação pelo Decreto
Viena), de 20 de dezembro de 1988
nº 154, de 26 de junho de 1991, introduziu em
Também seguindo a ideia do combate à la- seu ordenamento jurídico, em 1998, um tipo
vagem de dinheiro, importante papel teve a penal que punia a lavagem de bens, direitos ou
‘Convenção de Viena’ das Nações Unidas, con- valores provenientes do tráfico de drogas, além
cluída praticamente uma semana depois da de outros crimes.21
‘Declaração da Basiléia’, em 20 de dezembro de
1988, que fez com que a maioria dos países cri-
3.4.Recomendações adotadas
minalizasse, por meio de seus ordenamentos
pelo Grupo de Ação Financeira
jurídicos, a lavagem de dinheiro.
Internacional (GAFI/FATF) na
A Conferência das Nações Unidas, de 20 de reunião celebrada em Paris em
dezembro de 1988, ficou encarregada de ela- 7 de fevereiro de 1990, sobre a
borar uma Convenção contra o tráfico ilícito de Lavagem de Dinheiro
entorpecentes e substâncias psicotrópicas, e
Também é fundamental mencionar as Re-
apresentou em Viena um novo texto, que, em
comendações sobre a Lavagem de Dinheiro
matéria de lavagem de dinheiro e confisco, ia
além dos acordos precedentes. Tal Convenção
foi ratificada oportunamente pela maioria dos 18 CERVINI, Raúl; OLIVEIRA, Willian Terra de; GOMES, Luiz Flávio.
“Lei de Lavagem de Capitais”, cit., p. 113-114.
19 CONSERINO, Cassio Roberto. “Lavagem de Dinheiro”, cit., p. 5.
16 ARÁNGUEZ SÁNCHEZ, Carlos. “El Delito de Blanqueo de Capita- 20 DE SANCTIS, Fausto Martin. “Combate à Lavagem de Dinheiro –
les”, cit., p. 109-110 Teoria e Prática”, cit., p. 2-3.
17 PALMA HERRERA, José Manuel. “Los Delitos de Blanqueo de Ca- 21 DE SANCTIS, Fausto Martin. “Combate à Lavagem de Dinheiro –
pitales”. Edersa, Madrid, 2000, p. 32-33. Teoria e Prática”, cit., p. 3.
104
20 Anos
adotadas pelo Grupo de Ação Financeira Inter- de dinheiro. “Em outubro de 2001, por conta dos
nacional (GAFI/FATF) – um dos instrumentos atentados às Torres Gêmeas em New York (World
internacionais mais importantes do mundo –, Trade Center), o GAFI editou mais oito recomen-
em reunião ocorrida em Paris, em 7 de feverei- dações especiais relacionadas com o financia-
ro de 1990. mento do terrorismo. Em julho de 2005, foi criada
a nona recomendação especial atinente a com-
Sobre o tema, se destaca a grande relevân-
bate ao financiamento de atos e de organizações
cia do Grupo de Ação Financeira Internacio-
terroristas”.26 Em 2012, com a identificação de
nal (GAFI), organismo internacional criado em
novas ameaças ao sistema financeiro interna-
1989 pelo grupo dos sete países mais indus-
cional, as 40 Recomendações sobre lavagem
trializados (G-7)22, para combater a lavagem de
de dinheiro e as 9 Recomendações Especiais
dinheiro, e que, em abril de 1990, com a ade-
relativas ao combate ao financiamento do
são de outros Estados, criou 40 Recomenda-
terrorismo foram incorporadas em 40 novas
ções que regulam questões penais, financeiras
Recomendações que, além daqueles temas,
e de cooperação internacional.23
passaram a abranger o combate à utilização do
Salienta-se que estas Recomendações não pos- sistema financeiro para a proliferação de armas
suem caráter obrigatório, coercitivo, fato que de destruição em massa.
não lhes retira força e respeitabilidade, pois se
trata de um instrumento modelo para ações
3.5.Convênio do Conselho
internacionais, sendo pretensão do GAFI que
da Europa sobre a lavagem,
todos os países se espelhem em seus termos.24
identificação, embargo e
Sobre a dinâmica dos trabalhos, importante confisco dos produtos do delito
explicar que, para facilitar as tarefas, e aprovei- (Convenção de Estrasburgo), de 8
tar a capacidade e experiência dos especialis- de novembro de 1990
tas participantes da reunião, foram criados três
Ainda no âmbito internacional, buscando o
grupos de trabalho. O primeiro se dedicou à
combate à lavagem de dinheiro, foi aprovada
análise da extensão e métodos da lavagem de
em 1990, em Estrasburgo, pelo Conselho da
dinheiro, o segundo a questões jurídicas e judi-
Europa, a chamada ‘Convenção de Estrasbur-
ciais, e o terceiro à cooperação administrativa
go’, que estabelece medidas legais de perda
e financeira.25
permanente dos bens obtidos ilicitamente e
Tais Recomendações, que já foram adotadas privação aos acusados de todos os benefícios
por mais de 190 países, foram revistas em 1996, econômicos dos produtos de delitos.27
para se adaptar às novas formas de lavagem
A Convenção do Conselho da Europa relativa
à lavagem de dinheiro, rastreamento, apreen-
22 Os países que compõem o G-7 são: Estados Unidos, Japão, são e confisco dos produtos do crime, também
Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá. Atualmente,
o grupo conta com a participação da Rússia e forma o G-8.
conhecida como ‘Convenção de Estrasburgo’,
23 MOUGENOT BONFIM, Marcia Monassi; MOUGENOT BONFIM, foi aprovada em setembro de 1990 e entrou
Edilson. “Lavagem de Dinheiro”. 2ª ed. Malheiros Editores, São
Paulo, 2008, p. 19.
em vigor somente em 1º de setembro de
24 MOUGENOT BONFIM, Marcia Monassi; MOUGENOT BONFIM, 1993, em razão de problemas com o número
Edilson. “Lavagem de Dinheiro”, cit., p. 19; CONSERINO, Cassio
Roberto. “Lavagem de Dinheiro”, cit., p. 5-6.
25 ALVAREZ PASTOR, Daniel; EGUIDAZU PALACIOS, Fernando. “La
Prevención del Blanqueo de Capitales”. Editorial Aranzadi, Na- 26 CONSERINO, Cassio Roberto. “Lavagem de Dinheiro”, cit., p. 5-6.
varra, 1998, p. 68-69. 27 CONSERINO, Cassio Roberto. “Lavagem de Dinheiro”, cit., p. 7.
105
LEI 9.613, DE 1998
106
20 Anos
financeiro para a lavagem de dinheiro obrigava as medidas necessárias para colocar em vigor
os Estados membros da Comunidade Europeia uma legislação penal que permita cumprir
a harmonizar sua legislação nacional com o com as obrigações impostas pelo Conselho
conteúdo da Diretiva antes de 1 de janeiro de da Europa (1980) e pela Convenção de Viena
1993. Desta forma, se inicia uma ação coorde- (1988), proibindo a lavagem de dinheiro resul-
nada em escala comunitária contra a lavagem tante do tráfico de drogas e, de forma faculta-
de dinheiro, derivada, fundamentalmente, da tiva, de qualquer outro delito, de acordo com a
preocupação sentida em toda a Comunidade vontade dos Estados membros.38
Europeia com o crime organizado e o tráfico
Por fim, é importante ressaltar que a Diretiva
de drogas.34
conseguiu introduzir modificações nas diver-
Diferentemente da ‘Declaração de Princípios sas legislações dos países da Comunidade Eu-
da Basiléia’ e das ‘Recomendações do GAFI’, a ropeia, tanto no aspecto preventivo – onde a
Diretiva 91/308/CE é de cumprimento obriga- harmonização é maior –, como no repressivo,
tório para todos os Estados membros35 e seu evidentemente pela necessidade e eficiência
objetivo foi harmonizar as legislações euro- de sua normativa. De fato, mesmo que obriga-
peias em relação a medidas mínimas de pre- tória somente no âmbito da Comunidade Eu-
venção da lavagem de dinheiro36, ou seja, se ropeia, as determinações desta Diretiva foram
buscava estabelecer um marco para o desen- parcialmente trasladadas a outros países, sen-
volvimento de políticas antilavagem pelos di- do digno de se destacar sua inclusão no orde-
ferentes países que integravam a Comunidade namento jurídico brasileiro.39
Europeia, e mesmo que seja qualificada como
uma ‘Diretiva sobre lavagem’, se propõe a um 3.7.Convenção das Nações Unidas
objetivo mais amplo, que é estabelecer uma contra a delinquência organizada
efetiva e adequada disciplina parcial do exer- transnacional (Convenção de
cício da atividade econômica e financeira, para Palermo), de dezembro de 2000
evitar sua utilização com fins ilícitos.37
Finalmente, nos incumbe apontar a ‘Conven-
Deste modo, temos que a Diretiva 91/308/ ção das Nações Unidas contra a Delinquência
CE (também chamada de 1ª Diretiva), foi ela- Organizada Transnacional’, a chamada ‘Con-
borada, em 1991, pelo Conselho de Ministros venção de Palermo’, de dezembro de 2000, que
(composto por um Ministro de cada Estado tinha como propósito “promover a cooperação
membro, designado por seu respectivo Go- para prevenir e combater mais eficazmente a de-
verno) da Comunidade Econômica Europeia linquência organizada transnacional” (art. 1º) e
(denominada Comunidade Europeia até 1993, continha disposições relativas à criminalização
pelo Tratado de Maastricht, posteriormente, da lavagem de dinheiro, em seu artigo 6º, e im-
União Europeia). Nela consta que os Estados portantes medidas para combater a lavagem
membros devem comprometer-se a adotar de dinheiro, em seu artigo 7º.40
107
LEI 9.613, DE 1998
Buscando a criminalização das condutas de verificamos que, desde os anos oitenta até os
lavagem de dinheiro, a Convenção previu a dias atuais, inúmeras foram as iniciativas, por
ampliação do conceito de crime antecedente, parte dos grupos e organismos internacionais,
com a finalidade de abarcar a mais ampla ga- para regular e combater o delito de lavagem
ma possível de infrações penais, especialmen- de dinheiro. Neste sentido, as legislações na-
te aquelas consideradas graves.41 cionais dos países representam, cada vez mais,
um reflexo das regras das normas internacio-
O Brasil incorporou, em 2004, ao seu sistema
nais, como ocorre no Brasil.
jurídico interno, as regras estabelecidas na
‘Convenção de Palermo’, pelo Decreto nº 5015. Seguindo a tendência internacional, o Bra-
sil, depois de firmar a Convenção de Viena de
Além das importantes disposições internacio-
1988, e ratificá-la pelo Decreto nº 154, de 26
nais já citadas e estudadas, é primordial men-
de junho de 1991, introduziu em seu ordena-
cionar a ‘Convenção das Nações Unidas contra
mento jurídico uma lei especial de combate
a Corrupção’, também conhecida como ‘Con-
à lavagem de dinheiro, a Lei nº 9.613, de 3 de
venção de Mérida’, firmada em 9 de dezem-
março de 1998.
bro de 2003, na cidade mexicana de Mérida,
que trouxe importantes mecanismos de luta Como se verifica, passados quase sete anos da
contra a lavagem de dinheiro, principalmente ratificação da Convenção, foi editada no Brasil
em seus artigos 14, 31, e 52 a 57. 42 Ademais, a Lei nº 9.613/98, “que além de tipificar os crimes
também se destaca o ‘Convênio do Conselho de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valo-
da Europa relativo a Lavagem de Dinheiro, Ras- res, estabeleceu medidas de prevenção da utiliza-
treamento, Apreensão e Confisco dos Produtos ção do sistema financeiro para os ilícitos previstos
do Delito’, chamado de ‘Convenção de Varsó- na lei, bem como criou o Conselho de Controle de
via’, que foi firmado em 16 de maio de 2005, em Atividades Financeiras-COAF, órgão que tem por
Varsóvia, e foi responsável pela elaboração de finalidade ‘disciplinar, aplicar penas administrati-
uma vasta lista de crimes antecedentes.43 vas, receber, examinar e identificar as ocorrências
suspeitas de atividades ilícitas’ (artigo 14, caput,
da Lei n. 9.613/1998), fiscalizando, pois, as ativi-
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Sobre os autores
ADRIANA FILIZZOLA D’URSO – Advogada criminalista no escritório D’Urso e Borges Advo-
gados Associados, mestre e doutoranda em Direito Penal pela Universidade de Salaman-
ca (Espanha), pós-graduada em Direito Penal Econômico e Europeu pela Universidade de
Coimbra (Portugal), e em Ciências Criminais e Dogmática Penal Alemã na Universidade
Georg-August-Universität Göttingen (Alemanha), integra o Comitê de Estudos sobre Cri-
minal Compliance da OAB/SP, membro da Comunidade de Juristas de Língua Portuguesa,
e também da Associação Brasileira das Mulheres de Carreiras Jurídicas.
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114
20 Anos
JULIO ANDRADE – Sócio da RSM Brasil. Responsável pela Prevenção à Lavagem de Di-
nheiro em instituições financeiras e seguradoras Possui mais de 30 anos de experiência
em consultoria neste tema no Brasil e no exterior, membro da Comissão de Anticorrup-
ção e Compliance da OAB/Pinheiros, convidado a lecionar no curso de MBA de Com-
pliance da FECAP na especialidade de Prevenção à Lavagem de Dinheiro.
115
LEI 9.613, DE 1998
MARCELLA HILL – Sócia do Campos Mello Advogados, que lidera a área de Seguros e
Resseguros, com base em São Paulo. Ela possui mais de uma década de experiência, ad-
quiridas em escritórios de advocacia nacionais e internacionais. Ela é especialista na área
de seguros e resseguros e assessora clientes em todos aspectos deste ramo empresarial
no Brasil e na Europa.
MARCIA CICARELLI – Bacharel em Direito pela Universidade de São Paulo em 1996, Már-
cia possui 22 anos de experiência na área de Seguros e Resseguros. Especializou-se em
Direito Securitário e Ressecuritário pela Fundação Getúlio Vargas em 2002 e concluiu o
Mestrado em Direito Civil pela Universidade de São Paulo em 2011 com a dissertação
“O Interesse Segurável”. É responsável por casos de alta complexidade em todos os ra-
mos de Seguro, consultora em contratos, operações, desenvolvimento de produtos e
regulação de sinistro, além de advogada atuante em Tribunais e Câmaras de Arbitragem.
MARCOS ASSI – Professor e Comendador MSc. Marcos Assi, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor
da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa,
Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segu-
rança da Informação e Auditoria Interna. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela
PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria
Interna e Pericia pela FECAP, Certificação Internacional pelo ISACA – CRISC – Certified in
Risk and Information Systems Control e Certificação pela Exin – ISFS – Information Secu-
rity Foundation. Professor do curso de MBA da FECAP, da Saint Paul Escola de Negócios,
do Centro Paula Sousa – FATEC, da SUSTENTARE Escola de Negócios de Joinville-SC, da
FIA (Labfin), da UNIMAR – Universidade de Marilia – SP, da FADISMA – Faculdade de Di-
reito de Santa Maria – RS, da BSSP Centro Educacional – GO, da REGES – Rede Gonzaga
de Ensino Superior de Dracena, da Universidade de São Caetano do Sul – USCS, da Tre-
visan Escola de Negócios e Faculdade La Salle em Lucas do Rio Verde – MT. Instrutor de
Controles Internos da CNF Brasilia – Confederação Nacional da Instituições Financeira.
116
20 Anos
MARIANA VILLELA – Doutora em Direito Comercial pela Universidade de São Paulo. Só-
cia do Veirano Advogados, com atuação nas áreas de Direito Concorrencial e Antitruste,
de Integridade Corporativa (Anticorrupção e Compliance).
PHELIPE LINHARES – Sócio da área de Accounting & Financial Risk da KPMG no Brasil.
Possui 20 anos de experiência em consultoria e auditoria para o mercado financeiro bra-
sileiro incluindo seguradoras, bancos e entidades fechadas de previdência complemen-
tar. Linhares tem assessorado diversas instituições com foco na avaliação, transformação
e implementação de estruturas e processos de governança, riscos e compliance. Sua
ampla experiência inclui temas como regulação local e internacional para os setores de
seguros e bancos sobretudo nas áreas operacional e tecnológica de monitoramento e
prevenção a lavagem de dinheiro, KYC, on boarding e processos de screening. Formado
em Ciências Contábeis com MBA em Gestão Empresarial e diversas especializações co-
mo Tesouraria & Riscos, Mercado de Derivativos, Options Volatility Trading. Suas certifica-
ções incluem CRC, CNAI-CVM, CNAI-BACEN/SUSEP.
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20 Anos
LEI Nº 9.613, DE 3 DE
MARÇO DE 1998
Dispõe sobre os crimes de "lavagem" ou ocultação de bens, direitos e valo-
res; a prevenção da utilização do sistema financeiro para os ilícitos previstos
nesta Lei; cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras – COAF, e
dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que Pena: reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e
o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a multa. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de
seguinte Lei: 2012)
CAPÍTULO I § 1º Incorre na mesma pena quem, para ocul-
Dos Crimes de "Lavagem" ou Ocultação de tar ou dissimular a utilização de bens, direitos
Bens, Direitos e Valores ou valores provenientes de infração penal: (Re-
Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, ori- dação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
gem, localização, disposição, movimentação I – os converte em ativos lícitos;
ou propriedade de bens, direitos ou valores
II – os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou
provenientes, direta ou indiretamente, de in-
recebe em garantia, guarda, tem em depósito,
fração penal. (Redação dada pela Lei nº 12.683,
movimenta ou transfere;
de 2012)
III – importa ou exporta bens com valores não
I – (revogado); (Redação dada pela Lei nº
correspondentes aos verdadeiros.
12.683, de 2012)
§ 2º Incorre, ainda, na mesma pena quem: (Re-
II – (revogado); (Redação dada pela Lei nº
dação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
12.683, de 2012)
I – utiliza, na atividade econômica ou financei-
III – (revogado); (Redação dada pela Lei nº
ra, bens, direitos ou valores provenientes de in-
12.683, de 2012)
fração penal; (Redação dada pela Lei nº 12.683,
IV – (revogado); (Redação dada pela Lei nº de 2012)
12.683, de 2012)
II – participa de grupo, associação ou escritó-
V – (revogado); (Redação dada pela Lei nº rio tendo conhecimento de que sua atividade
12.683, de 2012) principal ou secundária é dirigida à prática de
VI – (revogado); (Redação dada pela Lei nº crimes previstos nesta Lei.
12.683, de 2012) § 3º A tentativa é punida nos termos do pará-
VII – (revogado); (Redação dada pela Lei nº grafo único do art. 14 do Código Penal.
12.683, de 2012) § 4º A pena será aumentada de um a dois ter-
VIII – (revogado). (Redação dada pela Lei nº ços, se os crimes definidos nesta Lei forem co-
12.683, de 2012) metidos de forma reiterada ou por intermédio
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LEI 9.613, DE 1998
de organização criminosa. (Redação dada pela antecedente, sendo puníveis os fatos previstos
Lei nº 12.683, de 2012) nesta Lei, ainda que desconhecido ou isento
§ 5º A pena poderá ser reduzida de um a dois de pena o autor, ou extinta a punibilidade da
terços e ser cumprida em regime aberto ou infração penal antecedente. (Redação dada pe-
semiaberto, facultando-se ao juiz deixar de la Lei nº 12.683, de 2012)
aplicá-la ou substituí-la, a qualquer tempo, por § 2º No processo por crime previsto nesta Lei,
pena restritiva de direitos, se o autor, coautor não se aplica o disposto no art. 366 do Decre-
ou partícipe colaborar espontaneamente com to-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Có-
as autoridades, prestando esclarecimentos que digo de Processo Penal), devendo o acusado
conduzam à apuração das infrações penais, à que não comparecer nem constituir advogado
identificação dos autores, coautores e partíci- ser citado por edital, prosseguindo o feito até o
pes, ou à localização dos bens, direitos ou valo- julgamento, com a nomeação de defensor da-
res objeto do crime. (Redação dada pela Lei nº tivo. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
12.683, de 2012)
Art. 3º (Revogado pela Lei nº 12.683, de 2012)
CAPÍTULO II
Art. 4º O juiz, de ofício, a requerimento do Mi-
Disposições Processuais Especiais
nistério Público ou mediante representação
Art. 2º O processo e julgamento dos crimes do delegado de polícia, ouvido o Ministério
previstos nesta Lei: Público em 24 (vinte e quatro) horas, havendo
I – obedecem às disposições relativas ao pro- indícios suficientes de infração penal, poderá
cedimento comum dos crimes punidos com decretar medidas assecuratórias de bens, direi-
reclusão, da competência do juiz singular; tos ou valores do investigado ou acusado, ou
existentes em nome de interpostas pessoas,
II – independem do processo e julgamento
que sejam instrumento, produto ou proveito
das infrações penais antecedentes, ainda que
dos crimes previstos nesta Lei ou das infrações
praticados em outro país, cabendo ao juiz
penais antecedentes. (Redação dada pela Lei
competente para os crimes previstos nesta Lei
nº 12.683, de 2012)
a decisão sobre a unidade de processo e julga-
mento; (Redação dada pela Lei nº 12.683, de § 1º Proceder-se-á à alienação antecipada pa-
2012) ra preservação do valor dos bens sempre que
estiverem sujeitos a qualquer grau de deterio-
III – são da competência da Justiça Federal:
ração ou depreciação, ou quando houver difi-
a) quando praticados contra o sistema finan- culdade para sua manutenção. (Redação dada
ceiro e a ordem econômico-financeira, ou em pela Lei nº 12.683, de 2012)
detrimento de bens, serviços ou interesses da
União, ou de suas entidades autárquicas ou § 2º O juiz determinará a liberação total ou par-
empresas públicas; cial dos bens, direitos e valores quando com-
provada a licitude de sua origem, mantendo-se
b) quando a infração penal antecedente for de a constrição dos bens, direitos e valores neces-
competência da Justiça Federal. (Redação da- sários e suficientes à reparação dos danos e ao
da pela Lei nº 12.683, de 2012) pagamento de prestações pecuniárias, multas
§ 1º A denúncia será instruída com indícios e custas decorrentes da infração penal. (Reda-
suficientes da existência da infração penal ção dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
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II – prestará, por determinação judicial, infor- § 2º Os instrumentos do crime sem valor eco-
mações periódicas da situação dos bens sob nômico cuja perda em favor da União ou do
sua administração, bem como explicações e Estado for decretada serão inutilizados ou doa-
detalhamentos sobre investimentos e reinves- dos a museu criminal ou a entidade pública, se
timentos realizados. houver interesse na sua conservação. (Incluído
Parágrafo único. Os atos relativos à administra- pela Lei nº 12.683, de 2012)
ção dos bens sujeitos a medidas assecuratórias CAPÍTULO IV
serão levados ao conhecimento do Ministério Dos Bens, Direitos ou Valores Oriundos de
Público, que requererá o que entender cabível. Crimes Praticados no Estrangeiro
(Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
Art. 8º O juiz determinará, na hipótese de exis-
CAPÍTULO III tência de tratado ou convenção internacional
Dos Efeitos da Condenação e por solicitação de autoridade estrangeira
Art. 7º São efeitos da condenação, além dos competente, medidas assecuratórias sobre
previstos no Código Penal: bens, direitos ou valores oriundos de crimes
descritos no art. 1º praticados no estrangeiro.
I – a perda, em favor da União – e dos Estados,
nos casos de competência da Justiça Estadual (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
–, de todos os bens, direitos e valores relacio- § 1º Aplica-se o disposto neste artigo, inde-
nados, direta ou indiretamente, à prática dos pendentemente de tratado ou convenção
crimes previstos nesta Lei, inclusive aqueles internacional, quando o governo do país da
utilizados para prestar a fiança, ressalvado o di- autoridade solicitante prometer reciprocidade
reito do lesado ou de terceiro de boa-fé; (Reda- ao Brasil.
ção dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
§ 2º Na falta de tratado ou convenção, os bens,
II – a interdição do exercício de cargo ou fun- direitos ou valores privados sujeitos a medidas
ção pública de qualquer natureza e de diretor, assecuratórias por solicitação de autoridade
de membro de conselho de administração ou estrangeira competente ou os recursos prove-
de gerência das pessoas jurídicas referidas no nientes da sua alienação serão repartidos entre
art. 9º, pelo dobro do tempo da pena privativa o Estado requerente e o Brasil, na proporção de
de liberdade aplicada. metade, ressalvado o direito do lesado ou de
§ 1º A União e os Estados, no âmbito de suas terceiro de boa-fé. (Redação dada pela Lei nº
competências, regulamentarão a forma de 12.683, de 2012)
destinação dos bens, direitos e valores cuja
CAPÍTULO V
perda houver sido declarada, assegurada,
Das Pessoas Sujeitas ao Mecanismo de Controle
quanto aos processos de competência da Jus-
(Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
tiça Federal, a sua utilização pelos órgãos fede-
rais encarregados da prevenção, do combate, Art. 9º Sujeitam-se às obrigações referidas nos
da ação penal e do julgamento dos crimes arts. 10 e 11 as pessoas físicas e jurídicas que
previstos nesta Lei, e, quanto aos processos de tenham, em caráter permanente ou eventual,
competência da Justiça Estadual, a preferência como atividade principal ou acessória, cumu-
dos órgãos locais com idêntica função. (Incluí- lativamente ou não: (Redação dada pela Lei nº
do pela Lei nº 12.683, de 2012) 12.683, de 2012)
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como de seus procuradores. (Incluído pela Lei § 3º O Coaf disponibilizará as comunicações re-
nº 10.701, de 2003) cebidas com base no inciso II do caput aos res-
pectivos órgãos responsáveis pela regulação
CAPÍTULO VII
ou fiscalização das pessoas a que se refere o art.
Da Comunicação de Operações Financeiras
9º. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
Art. 11. As pessoas referidas no art. 9º:
Art. 11-A. As transferências internacionais e os
I – dispensarão especial atenção às operações saques em espécie deverão ser previamente
que, nos termos de instruções emanadas das comunicados à instituição financeira, nos ter-
autoridades competentes, possam constituir- mos, limites, prazos e condições fixados pelo
-se em sérios indícios dos crimes previstos nes- Banco Central do Brasil. (Incluído pela Lei nº
ta Lei, ou com eles relacionar-se; 12.683, de 2012)
II – deverão comunicar ao Coaf, abstendo-se CAPÍTULO VIII
de dar ciência de tal ato a qualquer pessoa, Da Responsabilidade Administrativa
inclusive àquela à qual se refira a informação,
Art. 12. Às pessoas referidas no art. 9º, bem co-
no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, a pro-
posta ou realização: (Redação dada pela Lei nº mo aos administradores das pessoas jurídicas,
12.683, de 2012) que deixem de cumprir as obrigações previstas
nos arts. 10 e 11 serão aplicadas, cumulativa-
a) de todas as transações referidas no inciso II mente ou não, pelas autoridades competentes,
do art. 10, acompanhadas da identificação de as seguintes sanções:
que trata o inciso I do mencionado artigo; e
(Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012) I – advertência;
b) das operações referidas no inciso I; (Redação II – multa pecuniária variável não superior: (Re-
dada pela Lei nº 12.683, de 2012) dação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
III – deverão comunicar ao órgão regulador ou a) ao dobro do valor da operação; (Incluída pe-
fiscalizador da sua atividade ou, na sua falta, ao la Lei nº 12.683, de 2012)
Coaf, na periodicidade, forma e condições por b) ao dobro do lucro real obtido ou que presu-
eles estabelecidas, a não ocorrência de pro- mivelmente seria obtido pela realização da ope-
postas, transações ou operações passíveis de ração; ou (Incluída pela Lei nº 12.683, de 2012)
serem comunicadas nos termos do inciso II.
c) ao valor de R$ 20.000.000,00 (vinte milhões
(Incluído pela Lei nº 12.683, de 2012)
de reais); (Incluída pela Lei nº 12.683, de 2012)
§ 1º As autoridades competentes, nas ins-
III – inabilitação temporária, pelo prazo de até
truções referidas no inciso I deste artigo, ela-
dez anos, para o exercício do cargo de adminis-
borarão relação de operações que, por suas
trador das pessoas jurídicas referidas no art. 9º;
características, no que se refere às partes en-
volvidas, valores, forma de realização, instru- IV – cassação ou suspensão da autorização pa-
mentos utilizados, ou pela falta de fundamento ra o exercício de atividade, operação ou fun-
econômico ou legal, possam configurar a hipó- cionamento. (Redação dada pela Lei nº 12.683,
tese nele prevista. de 2012)
§ 2º As comunicações de boa-fé, feitas na for- § 1º A pena de advertência será aplicada por
ma prevista neste artigo, não acarretarão res- irregularidade no cumprimento das instruções
ponsabilidade civil ou administrativa. referidas nos incisos I e II do art. 10.
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20 Anos
§ 2º A multa será aplicada sempre que as pes- § 1º As instruções referidas no art. 10 destina-
soas referidas no art. 9º, por culpa ou dolo: (Re- das às pessoas mencionadas no art. 9º, para as
dação dada pela Lei nº 12.683, de 2012) quais não exista órgão próprio fiscalizador ou
I – deixarem de sanar as irregularidades objeto regulador, serão expedidas pelo COAF, com-
de advertência, no prazo assinalado pela auto- petindo-lhe, para esses casos, a definição das
ridade competente; pessoas abrangidas e a aplicação das sanções
enumeradas no art. 12.
II – não cumprirem o disposto nos incisos I a
IV do art. 10; (Redação dada pela Lei nº 12.683, § 2º O COAF deverá, ainda, coordenar e pro-
de 2012) por mecanismos de cooperação e de troca de
informações que viabilizem ações rápidas e
III – deixarem de atender, no prazo estabele- eficientes no combate à ocultação ou dissimu-
cido, a requisição formulada nos termos do lação de bens, direitos e valores.
inciso V do art. 10; (Redação dada pela Lei nº
12.683, de 2012) § 3º O COAF poderá requerer aos órgãos da
Administração Pública as informações cadas-
IV – descumprirem a vedação ou deixarem de
trais bancárias e financeiras de pessoas envolvi-
fazer a comunicação a que se refere o art. 11.
das em atividades suspeitas. (Incluído pela Lei
§ 3º A inabilitação temporária será aplicada nº 10.701, de 2003)
quando forem verificadas infrações graves quan-
Art. 15. O COAF comunicará às autoridades com-
to ao cumprimento das obrigações constantes
petentes para a instauração dos procedimentos
desta Lei ou quando ocorrer reincidência espe-
cabíveis, quando concluir pela existência de cri-
cífica, devidamente caracterizada em transgres-
mes previstos nesta Lei, de fundados indícios de
sões anteriormente punidas com multa.
sua prática, ou de qualquer outro ilícito.
§ 4º A cassação da autorização será aplicada
Art. 16. O Coaf será composto por servidores
nos casos de reincidência específica de infra-
públicos de reputação ilibada e reconhecida
ções anteriormente punidas com a pena pre-
competência, designados em ato do Ministro
vista no inciso III do caput deste artigo.
de Estado da Fazenda, dentre os integrantes
Art. 13. O procedimento para a aplicação das do quadro de pessoal efetivo do Banco Central
sanções previstas neste Capítulo será regulado do Brasil, da Comissão de Valores Mobiliários,
por decreto, assegurados o contraditório e a da Superintendência de Seguros Privados, da
ampla defesa. Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, da Se-
CAPÍTULO IX cretaria da Receita Federal do Brasil, da Agência
Do Conselho de Controle de Brasileira de Inteligência, do Ministério das Re-
Atividades Financeiras lações Exteriores, do Ministério da Justiça, do
Departamento de Polícia Federal, do Ministério
Art. 14. É criado, no âmbito do Ministério da Fa-
da Previdência Social e da Controladoria-Geral
zenda, o Conselho de Controle de Atividades
da União, atendendo à indicação dos respec-
Financeiras – COAF, com a finalidade de dis-
tivos Ministros de Estado. (Redação dada pela
ciplinar, aplicar penas administrativas, receber,
Lei nº 12.683, de 2012)
examinar e identificar as ocorrências suspeitas
de atividades ilícitas previstas nesta Lei, sem § 1º O Presidente do Conselho será nomeado
prejuízo da competência de outros órgãos e pelo Presidente da República, por indicação do
entidades. Ministro de Estado da Fazenda.
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LEI 9.613, DE 1998
§ 2º Caberá recurso das decisões do Coaf rela- ordens judiciais de quebra ou transferência
tivas às aplicações de penas administrativas ao de sigilo deverão ser, sempre que determina-
Conselho de Recursos do Sistema Financeiro do, em meio informático, e apresentados em
Nacional. (Redação dada pela Lei nº 13.506, de arquivos que possibilitem a migração de in-
2017) formações para os autos do processo sem re-
Art. 17. O COAF terá organização e funciona- digitação. (Incluído pela Lei nº 12.683, de 2012)
mento definidos em estatuto aprovado por Art. 17-D. Em caso de indiciamento de servidor
decreto do Poder Executivo. público, este será afastado, sem prejuízo de re-
CAPÍTULO X muneração e demais direitos previstos em lei,
Disposições Gerais até que o juiz competente autorize, em deci-
(Incluído pela Lei nº 12.683, de 2012) são fundamentada, o seu retorno. (Incluído pe-
Art. 17-A. Aplicam-se, subsidiariamente, as dis- la Lei nº 12.683, de 2012)
posições do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de ou- Art. 17-E. A Secretaria da Receita Federal do
tubro de 1941 (Código de Processo Penal), no Brasil conservará os dados fiscais dos contri-
que não forem incompatíveis com esta Lei. (In- buintes pelo prazo mínimo de 5 (cinco) anos,
cluído pela Lei nº 12.683, de 2012) contado a partir do início do exercício seguin-
Art. 17-B. A autoridade policial e o Ministério te ao da declaração de renda respectiva ou ao
Público terão acesso, exclusivamente, aos da- do pagamento do tributo. (Incluído pela Lei nº
dos cadastrais do investigado que informam 12.683, de 2012)
qualificação pessoal, filiação e endereço, in- Art. 18. Esta Lei entra em vigor na data de sua
dependentemente de autorização judicial,
publicação.
mantidos pela Justiça Eleitoral, pelas empresas
telefônicas, pelas instituições financeiras, pelos Brasília, 3 de março de 1998; 177º da
provedores de internet e pelas administrado- Independência e 110º da República.
ras de cartão de crédito. (Incluído pela Lei nº FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
12.683, de 2012) Iris Rezende
Art. 17-C. Os encaminhamentos das institui- Luiz Felipe Lampreia
ções financeiras e tributárias em resposta às Pedro Malan
__________
Este texto não substitui o publicado no DOU de 4.3.1998
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