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LEI 9.

613, DE 1998

Índice
4 EDITORIAL
Christina Roncarati 73 MECANISMOS DE COMBATE À
CORRUPÇÃO NO MERCADO DE
SEGUROS

6 PREVENÇÃO E COMBATE À LAVAGEM


DE DINHEIRO
Antônio Gustavo Rodrigues
Camila Calais
Renato Portella
Lucas Guimarães

10 LEI 9613/98 – O IMPACTO POSITIVO


PARA O FORTALECIMENTO DA
GOVERNANÇA CORPORATIVA
78 A LEI DE PREVENÇÃO À LAVAGEM
DE DINHEIRO E O PAPEL DE CADA
CIDADÃO
Eduardo Person Pardini Angelo Calori

12 A INFLUÊNCIA DA LEI DE CRIMES


DE LAVAGEM DE DINHEIRO NAS
REGULAMENTAÇÕES DA SUSEP
81 20 ANOS DA LEI DE LAVAGEM DE
DINHEIRO: IMPORTANTE FERRAMENTA
DE COOPERAÇÃO ENTRE AS AGÊNCIAS
Gustavo Amado León REGULADORAS E IMPACTOS NO
MERCADO SEGURADOR

18 A CONSOLIDAÇÃO DO COMPLIANCE
PARA PLD
Professor Marcos Assi
Marcia Cicarelli
Fabyola Rodrigues
Laura Pelegrini

24 20 ANOS DA LEI 9.613/98 SOBRE OS


CRIMES DE LAVAGEM OU OCULTAÇÃO DE
BENS, DIREITOS E VALORES
85 VINTE ANOS DA LEI Nº 9.613 E O
COMBATE À LAVAGEM DE DINHEIRO
PELO MERCADO DE SEGUROS NO
Alessandro Gratão Marques BRASIL
Juliana Sá de Miranda

26 AFINAL, ESTA LEI “PEGOU”?


Maria Amelia Saraiva
Marcella Hill
Gabriela Paredes Arcentales

30 A LEI Nº 9.613/1998 E SEUS IMPACTOS


REGULATÓRIOS SUSEP 88 20 ANOS DA LEI DA LAVAGEM DE
DINHEIRO
Julio Andrade
Bárbara Bassani

90
Ludmila Groch
LAVAGEM DE DINHEIRO: COMO O

40 A LEI DE LAVAGEM DE DINHEIRO E O MERCADO DE SEGUROS PODE MITIGAR


O RISCO DE ENVOLVIMENTO
COMPLIANCE NO BRASIL
Eduardo Castro
Gabriela Monteiro
Thais de Gobbi
Mariana Villela
Pedro Ricco

52 COMPLIANCE ANTI-LAVAGEM DE
DINHEIRO COMO FERRAMENTA DE
GESTÃO DO RISCO REPUTACIONAL
94 PREVENÇÃO À LAVAGEM DE DINHEIRO
NA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA
Dr. Christian K. de Lamboy
Alaim Assad

58 OS 20 ANOS DA LEI BRASILEIRA SOBRE


“LAVAGEM” DE DINHEIRO
100 EVOLUÇÃO HISTÓRICA E
NORMATIVA DA LAVAGEM DE
DINHEIRO NO BRASIL E NO MUNDO
Phelipe Linhares Adriana Filizzola D’Urso

60 COMBATE À LAVAGEM DE DINHEIRO


NO BRASIL – 20 ANOS DE INTENSA
EVOLUÇÃO 111 SOBRE OS AUTORES

2
Renata Fonseca de Andrade
119 LEI Nº 9.613, DE 3 DE MARÇO DE 1998
LEI 9.613, DE 1998

Editorial
20 anos da Lei 9.613 de 1998

A Lei 9.613, de 3 de março de 1998, completa agora 20 anos. Conhecida como


a Lei de “Lavagem” de Dinheiro, foi assinada por Fernando Henrique Cardoso, Iris Re-
zende, Luiz Felipe Lampreia e Pedro Malan, à época presidente da República e minis-
tros da Justiça, das Relações Exteriores e da Fazenda, respectivamente. Sua vigência
foi imediata, após a publicação no D.O.U., em 4 de março.
No início, essa lei foi importante como fundamento legal para criminalizar a “lava-
gem” de dinheiro oriunda do tráfico de entorpecentes. A principal alteração, ocor-
rida em 2012, pela Lei 12.683, extinguiu o rol taxativo de crimes da lavagem de
dinheiro e passou a considerar qualquer infração penal antecedente, facilitando in-
vestigações de diversos delitos e permitindo que a Polícia Federal e o Ministério Pú-
blico realizassem diversas operações que levaram políticos e empresários à prisão.
Outro destaque em relação à norma foi a mudança relacionada às empresas que
atuam em setores regulados/supervisionados, as quais foram obrigadas a adotar po-
líticas de prevenção à lavagem de dinheiro e comunicar as ocorrências aos órgãos
responsáveis. Termos e siglas como compliance, know your costumer (KYC), know your
employees (KYE), PPE, GAFI e FATCA passaram a fazer parte do vocabulário dos profis-
sionais que se dedicam ao assunto.
Esta justa homenagem à Lei 9.613/1998, ao completar 20 anos, deve-se à sua im-
portância: ao tornar crime a “lavagem” de dinheiro, ela ajuda a combater os atos de
corrupção. Em um país onde a desigualdade social é notória, qualquer iniciativa que
venha a defrontar os danos causados pela corrupção deve ser respeitada e estimu-
lada. Não é a única solução para todos os desvios éticos e criminosos encontrados
atualmente, mas, quando aplicada de forma correta, pode ser instrumento de com-
bate a diversas transgressões.
Agradecemos aos apoiadores e articulistas que dedicaram tempo – o maior ativo da
sociedade contemporânea – ao elaborar excelentes artigos e contribuir com esta pu-
blicação, “20 anos da Lei 9.613, de 1998”.

CHRISTINA RONCARATI
Março de 2018

4
08, 09 e 10 de Maio de 2018
AMCHAM - São Paulo / SP

Para mais informações visite o nosso site:


www.congressodecompliance.com.br

REALIZAÇÃO
LEI 9.613, DE 1998

Prevenção e Combate à
Lavagem de Dinheiro
bancos nesse esforço. Posteriormente, diversos
outros setores e profissionais, denominados
entidades ou setores obrigados, foram sendo
incluídos como parceiros do Estado nesta luta.
Os setores obrigados passaram a ter que iden-
tificar os clientes com quem realizavam seus
negócios, de maneira a identificar a origem dos
seus recursos e a comunicar às autoridades as
movimentações que considerassem suspeitas.
As Unidades de Inteligência Financeiras (UIFs)
As perspectivas diferentes desses dois atores –
entidades obrigadas e órgãos de aplicação da
lei –, entretanto, geraram algumas dificuldades.
Resumidamente: de um lado, bancos e outras
entidades privadas deixavam de comunicar os
casos menos concretos; de outro, toda comu-
ANTÔNIO GUSTAVO RODRIGUES
nicação de operação suspeita recebida pelas
autoridades competentes era tratada como
uma denúncia-crime, fazendo mover a custosa
Contexto histórico máquina pública. Adicionalmente, as limita-
ções legais das autoridades para intercambiar
Com a internacionalização do crime organi- informações, especialmente com o exterior,
zado, especialmente do tráfico de drogas, em criavam dificuldades no combate a essa moda-
meados da década de 1980 foi percebida a lidade criminosa de caráter transnacional.
necessidade de mudar a forma de combater a
A solução para esses problemas surgiu em
criminalidade: não bastava prender os crimino-
meados da década de 90, quando foram cria-
sos, já que, em uma estrutura organizada, eles
das as chamadas Unidades de Inteligência Fi-
eram rapidamente substituídos por outros na
nanceira (UIFs). Situadas no meio da relação
cadeia de comando da organização. Era, por-
entre aqueles dois grupos de atores principais,
tanto, necessário estrangular as fontes de re-
as UIFs funcionam como interface entre as pes-
cursos dessas organizações, bem como evitar
soas obrigadas e as autoridades competentes.
que as organizações criminosas incorporassem
Como órgão de inteligência, seu papel é rece-
o produto do crime na economia formal. Surge
ber as comunicações dos setores obrigados,
daí o combate à lavagem de dinheiro.
analisá-las agregando informações e dissemi-
Como as autoridades não tinham como iden- nar o produto desta análise (os chamados rela-
tificar esses recursos, foi necessário engajar os tórios de inteligência financeira) às autoridades

6
20 Anos

competentes para a devida investigação. De (i) a extinção da lista de crimes antecedentes,


algumas poucas naquela época, hoje são reco- passando a considerar agora qualquer infração
nhecidas 155 pelo Grupo de Egmont, a organi- penal como antecedente da lavagem de di-
zação internacional que as congregam. nheiro; (ii) a inclusão da alienação antecipada
de bens; (iii) a permissão da delação premiada a
qualquer tempo; (iv) inclusão de novos sujeitos

As Entidades Obrigadas obrigados às medidas preventivas, tais como


profissionais que prestem serviços de assesso-
ria, consultoria, auditoria, empresários de atletas
Atualmente, as recomendações internacionais e artistas, comerciantes de bens de luxo, cartó-
abrangem diversos setores como obrigados rios, juntas comerciais, dentre outros; (v) eleva-
a conhecer seus clientes, registrar operações ção do teto das multas, passando de R$ 200 mil
e a comunicar operações suspeitas. Estão in- para R$ 20 milhões; (vi) inclusão da obrigação
cluídas, além dos bancos, todas as demais ins- para que as pessoas físicas ou jurídicas abrangi-
tituições financeiras, cartões de crédito, casas das pela lei reportem ao órgão regulador de sua
de câmbio, empresas de seguros, previdência atividade ou, na sua falta, ao COAF, a não ocor-
privada, mercado de capitais, de mercado- rência de situações passíveis de serem comu-
rias e futuros, empresas imobiliárias, factoring, nicadas. Com essa medida, o Brasil passa a ter
empresas que comercializem bens de luxo ou uma das legislações de prevenção e combate à
de alto valor, joias, pedras e metais preciosos, lavagem de dinheiro mais modernas do mun-
obras de arte, antiguidade, consultorias audi- do, o que representa importante avanço na luta
torias etc.... contra a corrupção e o crime organizado.
Para regulamentar as obrigações decorrentes
da Lei, cada órgão regulador emite normas
A prevenção e o a serem cumpridas pelos respectivos setores
obrigados. O atual arcabouço normativo emiti-
combate à lavagem de do pelos órgãos reguladores, para fins de pre-
dinheiro no brasil venção à lavagem de dinheiro é o seguinte:
Banco Central do Brasil – Circular 3.461/09; Cir-
Lei nº 9.613, de 03 de março de cular 3.654/13;
1998 e normativos decorrentes Comissão de Valores Mobiliários (CVM) – Ins-
trução CVM 301/99 e alterações subsequentes;
A Lei nº 9.613/98 tipificou o crime de lavagem
Conselho Federal de Contabilidade (CFC) – Re-
de dinheiro, definiu o arcabouço legal para o
solução 1.530/17;
seu combate e os mecanismos de prevenção,
Secretaria da Previdência Social – Instrução
relacionou os setores obrigados e suas respec-
18/14;
tivas obrigações e também criou o Conselho
Superintendência de Seguros Privados (SUSEP)
de Controle de Atividades Financeiras (COAF),
– Circular 445/12;
a Unidade de Inteligência Financeira do Brasil.
Conselho Federal de Corretores Imobiliários
Em 9 de julho de 2012, a Lei n.º 12.683 alterou a (COFECI) – Resolução 1.336/14;
citada Lei n.º 9.613/98. Dentre as novidades in- Secretaria de Acompanhamento Econômico
troduzidas pela nova legislação, destacaram-se: (SEAE) – Portaria 537/13;

7
LEI 9.613, DE 1998

Conselho Federal de Economia (COFECON) – comunicadas migrem seus negócios para outra
Resolução 1.902/13; instituição, dificultando seu rastreamento, ou reti-
Departamento de Polícia Federal (DPF) – Por- rem os seus recursos do sistema financeiro.
taria 3.233/12;
Agência Nacional de Sade Suplementar (ANS) COAF – A Unidade de Inteligência
– Resolução Normativa 117/05; Financeira do Brasil
Departamento de Registro Empresarial e Inte-
gração (DREI) – Instrução Normativa 24/14; O COAF é uma Unidade de Inteligência Finan-
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Na- ceira (UIF) do tipo administrativo, vinculada ao
cional (IPHAN) – Portaria 396/16; Ministério da Fazenda. Além das funções típi-
Conselho de Controle de Atividades Finan- cas de uma UIF (receber comunicações, anali-
ceiras (COAF) – Resoluções 6/99; 7/99; 10/01; sar e disseminar às autoridades competentes),
15/07; o COAF regula os setores obrigados que não
21/12; 23/12; 24/13; 25/13; 29/17; Carta-Circu- possuam órgão regulador próprio, tais como
lar 1/14 e Instrução Normativa 4/15. as empresas de fomento comercial – factoring,
do comércio de joias, pedras e metais precio-
sos, de bens de luxo ou de alto valor, etc...
Das comunicações de Operação
ao COAF O COAF é composto por servidores públicos
de reputação ilibada e reconhecida competên-
Um dos pilares do sistema de prevenção à la-
cia, designados em ato do Ministro da Fazenda,
vagem de dinheiro são as chamadas Comu-
dentre os integrantes do quadro de pessoal
nicações de Operações Suspeitas (COS) que
efetivo do Banco Central do Brasil, da Comis-
constituem o núcleo do sistema de prevenção
são de Valores Mobiliários, da Superintendên-
e combate à lavagem de dinheiro e decorrem
cia de Seguros Privados, da Procuradoria-Geral
da obrigação das entidades de “conhecer seus
da Fazenda Nacional, da Secretaria da Receita
clientes”. A obrigação de efetuar as COS está
Federal do Brasil, da Agência Brasileira de Inte-
prevista no Art. 11, II, b da Lei 9.613/98.
ligência, do Departamento de Polícia Federal,
No Brasil existem também as Comunicações do Ministério das Relações Exteriores, do Mi-
de Operações em Espécie (COE), que se carac- nistério da Justiça, da Secretaria de Previdên-
terizam não pela suspeição, mas por ter sido cia Social e do Ministério da Transparência e
ultrapassado um limite definido pelo órgão Controladoria-Geral da União. O Presidente do
regulador. Elas estão previstas no Art. 11, II a da COAF é nomeado pelo Presidente da Repúbli-
Lei 9.613/98. Não importa quem seja o cliente ca, por indicação do Ministro da Fazenda.
ou a situação, se ocorrer uma operação, em
Apesar do seu nome, o COAF não controla os
espécie, dentro dos patamares estabelecidos,
milhões de operações financeiras que aconte-
esta operação deve ser comunicada ao COAF,
cem diariamente no Brasil, não recebe ou anali-
independentemente de suspeição. O critério é,
sa contratos e tampouco tem acesso às contas
portanto, objetivo.
ou investimentos das pessoas. É um órgão de
Uma das exigências da Lei, é que as pessoas inteligência financeira, que recebe comunica-
obrigadas encaminhem suas comunicações ao ções dos setores obrigados, analisa-as, elabora
COAF sem dar conhecimento aos envolvidos e e dissemina relatórios de inteligência financei-
a terceiros (tipping off, em inglês). Isso protege o ra às autoridades competentes para a compe-
comunicante e evita que as pessoas ou empresas tente investigação.

8
20 Anos

COAF em Números
Principais resultados do COAF no período 2013-2017
Principais Resultados 2017 2016 2015 2014 2013

Comunicações recebidas dos setores obrigados 1.503.253 1.492.799 1.382.213 1.144.279 1.285.000

Relatórios de Inteligência Financeira (RIF) produzidos 6.608 5.661 4.304 3.178 2.450

Comunicações relacionadas nos RIF 265.693 172.197 141.879 105.259 108.962

Pessoas Relacionadas nos RIF 249.107 197.793 138.661 77.049 52.812

Intercâmbio com autoridades nacionais 4.910 4.901 4.520 2.971 3.107

Intercâmbio realizado com UIF (Rede de Egmont) 435 424 231 160 170

Bloqueio de Recursos (em R$ milhões) 46 140 56 485 927,5

Procedimentos de Fiscalização concluídos 741 1.422 535 73 27

Cadastramento de pessoas reguladas 3.095 6.053 8.834 1.748 2.685

Processos Administrativos Punitivos instaurados 143 156 50 45 9

Processos Administrativos Punitivos julgados 117 71 39 12 10

Advertências aplicadas 2 13 21 17

Multas aplicadas (em R$ mil) 1.111,9 366,5 853,9 211,1 624,4

Fonte: COAF

9
LEI 9.613, DE 1998

CroS
Sover
Consulting & Auditing

Lei 9613/98 – O
impacto positivo para
o fortalecimento da
governança corporativa

Fazenda, que tem a finalidade de disciplinar,


aplicar penas administrativas, receber, exami-
nar e identificar as ocorrências suspeitas de ati-
vidades ilícitas previstas na lei.
Lavagem de dinheiro foi um termo cunhado
nos Estados Unidos nos anos de 1920 e 1930
devido à máfia; naquela época se utilizar de
lavanderias como empresas de fachada para
transformar dinheiro oriundo de atividades ilí-
citas em dinheiro “limpo”. Oficialmente me pa-
rece que este termo somente foi utilizado no
EDUARDO PERSON PARDINI ano de 1982 na Flórida.
Em resumo, lavagem de dinheiro consiste

V
em ocultar ou dissimular a natureza, origem
inte anos atrás, em 1998, era promulgada ou propriedade de bens, direitos ou valores
a Lei 9613 a qual foi atualizada em 2012 pela oriundos direta ou indiretamente de ativida-
Lei 12.683. Ela trata sobre os crimes de lavagem des ilícitas mediante operações financeiras ou
de dinheiro e financiamento ao terrorismo, e comerciais, de forma a viabilizar o uso destes
quando de sua promulgação atendeu ao re- ativos sem atrair a atenção das autoridades
quisito da convenção de Viena na cooperação constituídas.
internacional ao combate de tráfico ilícito de
Logicamente, neste processo, as instituições
entorpecentes do qual o Brasil é signatário.
financeiras têm um papel de extrema impor-
A lei criou o COAF – Conselho de Controle das tância para a prevenção e detecção destes cri-
Atividades Financeiras, órgão do Ministério da mes, uma vez que para a lavagem de dinheiro

10
20 Anos

se utilizam dos produtos e serviços bancários a guarda da documentação suporte destas


para a inclusão do dinheiro, fruto de operações operações.
ilícitas, na economia formal.
Como esta lei teve um forte impacto na cultu-
Com base nos requisitos da Lei as corporações ra da organização, houve a necessidade de um
atuantes no sistema financeiros nacional tive- processo de treinamento contínuo a todos os
ram que implementar atividades de controle níveis da organização, reforçando com isto a
interno em todo seu processo de gestão para consciência de riscos e de comportamento éti-
prevenção e/ou detecção de operações com co, reforçando positivamente os fundamentos
perfil de transações ilícitas. de governança.
Apesar de não ter sido a intenção da Lei, as ins- A Lei 12.683/12, além de mudanças na tipifica-
tituições financeiras, tiveram sua governança ção do crime, inclui novos sujeitos não finan-
corporativa fortalecida devido aos esforços pa- ceiros no processo de combate e prevenção da
ra estar em conformidade com a Lei e também lavagem de dinheiro que são obrigados a levar
com as resoluções do Banco Central que ver- ao conhecimento das autoridades qualquer
sam sobre a prevenção de lavagem de dinhei- ato de lavagem de dinheiro que for de conhe-
ro. O ambiente interno e por consequência a cimento deles.
cultura corporativa foram impactados positiva-
Tenho visto que para corporações não finan-
mente neste processo.
ceiras, esta Lei tem provocado mudanças posi-
Algumas instituições criaram uma área es- tivas nas estruturas mais eticamente maduras.
pecífica para a implantação da política de As organizações têm fortalecido sua gestão de
prevenção à lavagem de dinheiro, como tam- riscos e conformidade incluindo procedimen-
bém, para o monitoramento das operações. tos de controles internos na prevenção da la-
Sistemas especialistas foram desenvolvidos vagem de dinheiro, em todos os seus ciclos de
para acompanhar a compatibilidade das tran- negócios.
sações financeiras e capacidade financeira dos
Meu entendimento é que esta Lei, desde 1998,
clientes.
tem contribuído para a criação de um mer-
Além disto, a manutenção contínua dos cadas- cado com relações de negócios mais éticos.
tros de clientes permitiu um maior controle so- Estamos engatinhando, mas pelo menos na
bre todos os registros operacionais, bem como, direção certa.

11
LEI 9.613, DE 1998

A In�luência da Lei de Crimes


de Lavagem de Dinheiro nas
Regulamentações da Susep
Uma visão das políticas de compliance das seguradoras e
resseguradoras brasileiras

entrada em vigor da Lei número 12.683, de 9


de julho de 2012, que alterou a referida Lei de
1998, possibilitando a imposição de punições
mais severas para os crimes de lavagem de di-
nheiro, sendo eles, a partir de tais alterações
legislativas, passíveis de serem provenientes
de qualquer origem ilícita; além disso houve
o incremento no valor das multas aplicadas,
ampliação dos tipos de profissionais obriga-
dos a enviar informações sobre operações sus-
peitas ao COAF, possibilidade de apreensão
de bens em nomes de “laranjas”, alienação de
bens apreendidos antes do final do processo
judicial, cujos recursos ficarão depositados em
juízo até o final do julgamento, podendo ser
repassado aos Estados e Municípios, além da
União; e, por fim, dentre os temas que enten-
demos mais relevantes, temos a possibilida-
de de realização de uma “delação premiada” a
GUSTAVO AMADO LEÓN qualquer tempo do processo judicial.
Em comemoração a essas datas legislativas

V
propomos um texto cujo enfoque é a proble-
inte anos se passaram da promulgação matização da lavagem de dinheiro na atual
e entrada em vigor da Lei número 9.613, de economia nacional e as formas que a autarquia
3 de março de 1998, a qual dispõe sobre os federal reguladora do mercado securitário e
crimes de “lavagem” ou ocultação de bens, ressecuritário brasileiro, a SUSEP (Superinten-
direitos e valores; prevenção da utilização do dência de Seguros Privados), se posicionou,
sistema financeiro para os ilícitos previstos na de maneira regulatória e fiscalizatória, para
própria Lei; além da criação do Conselho de combater e coibir as devastadoras conse-
Controle de Atividades Financeiras – COAF; quências econômicas, de segurança e sociais
e pouco mais de cinco anos de publicação e que tais crimes podem causar tanto para as

12
20 Anos

seguradoras e resseguradoras, como para o sua origem ilícita e o risco de haver proces-
mercado econômico nacional e internacional. sos judiciais.” 1 (grifo nosso).

Os países mais desenvolvidos no que se refere Assim sendo, cada regulador dos mercados
ao combate aos crimes de lavagem de dinhei- econômicos relevantes brasileiros incorpo-
ro possuem políticas econômicas tanto para a raram as regras de combate aos crimes de
lavagem de dinheiro estabelecidos pela Lei
iniciativa privada como para os órgãos públi-
9.613/1998 para o seus entes regulados e
cos, com o intuito de preservar o Sistema Eco-
criaram ou ajustaram suas regulamentações
nômico Nacional e coibir o desequilíbrio social
conforme suas necessidades práticas e possibi-
causado pelo crime organizado, o qual se vale lidades de fiscalização.
de operações realizadas pra ocultar ou dissi-
mular a natureza, origem, localização, disposi- Entretanto, ainda que o artigo 9º, parágrafo
único, inciso II, da Lei 9.613 desde o seu texto
ção, movimentação ou propriedade de bens,
original em 1998, tenha sujeitado as segurado-
direitos ou valores provenientes direta ou indi-
ras, as corretoras de seguros e as entidades de
retamente de quaisquer ilícitos. previdência complementar ou de capitaliza-
O Brasil seguiu os princípios internacionais, es- ção, às obrigações legais do combate aos cri-
pecialmente as recomendações das Nações mes de lavagem de dinheiro, apesar da SUSEP
Unidas e definiu por meio de suas legislações ter emitido circulares desde 19992 acerca das
que lavagem de dinheiro é o ato ou conjunto operações e situações que poderiam configu-
rar indícios de ocorrências dos crimes previstos
de atos praticados por determinado agente
na referida lei, foi somente em 2008 com a Cir-
com o objetivo de conferir aparência lícita a
cular SUSEP número 380, de 29 de dezembro3,
bens, direitos ou valores provenientes de qual-
que a autarquia federal brasileira de seguros e
quer infração penal. resseguros associou as regras obrigatórias de
“O processo de lavagem de dinheiro é dinâmi- controles internos dos entes regulados com a
co e pode ocorrer em etapas diferentes que práticas de prevenção e combate aos crimes
visam, em primeiro lugar, o distanciamento de lavagem de dinheiro, além da fiscalização
dos ativos de sua origem, com a sua alocação das operações com pessoas politicamente
expostas.
no mercado econômico de modo a evitar a
associação direta deles com o crime; depois, Vale ressaltar que as alterações realizadas na Lei
dificultar o rastreamento contábil dos recursos 9.613/1998 pela Lei 12.683/2012 foram somen-
ilícitos, o que ocorre por meio de diversas mo- te incorporadas pela SUSEP na Circular emitida
vimentações; e, por fim, a incorporação formal pela referida autarquia federal de número 445,
em 2 de julho de 2012.
dos recursos ao sistema econômico e sua dis-
ponibilização novamente para os criminosos O artigo 5º da Circular SUSEP 445/2012 esta-
após ter sido “limpo”. Nesse sistema, todos os belece que as seguradoras, resseguradoras e
tipos de transações financeiras e serviços fi- corretoras devem “desenvolver e implementar
nanceiros podem ser utilizados com o fim de
legalizar recursos ilícitos.” [...] “Em poucas pa-
1 LEÓN, Gustavo Amado. As práticas de Compliance aplicáveis às
lavras, lavagem de dinheiro é a maneira co- seguradoras e resseguradoras no Brasil. In: Estudos Aplicados de
Direito Empresarial. Coordenação Pamela Romeu Roque. São
mo os infratores escondem a origem de um Paulo: Editora Almedina, 2016. P. 115.
dinheiro ou uma propriedade ilegal, ou seja, 2 Circular SUSEP número 89, de 8 de abril de 1999 foi a primeira
publicação da SUSEP sobre o tema.
a transformação de dinheiro ilegal em di- 3 Atualmente a referida Circular foi revogada pela Circular SU-
nheiro legal, tentando evitar a detecção da SEP número 445, de 2 de julho de 2012.

13
LEI 9.613, DE 1998

procedimentos de controles internos, efetivos reconhecidos e regulados pelo mercado já


e consistentes com a natureza, complexidade existentes.
e riscos das operações realizadas, que con- Assim corrobora Sheila Abukater Arkie Garcia:
templem a identificação, avaliação, controle e
monitoramento dos riscos de serem envolvi- “O bom funcionamento da economia tam-
dos em situações relacionadas à lavagem de bém pressupõe o respeito às normas, que
dinheiro, bem como para prevenir e coibir o confere previsibilidade, maior confiança e se-
financiamento ao terrorismo, com relação aos gurança às transações. A função de complian-
ce pode ser entendida como uma necessidade
produtos comercializados, negociações priva-
decorrente de fatos que exigiram melhorias
das, operações de compra e venda de ativos e
das atividades relacionadas a controle e obri-
demais práticas operacionais.”
gatoriedade de conformidade das instituições
Dessa forma um dos procedimentos de con- às normas expedidas por órgãos reguladores e
troles internos mais importantes para inserção autorreguladores.”4
do tema de lavagem de dinheiro no dia-a-dia
Ademais, transcrevemos abaixo uma entrevis-
dos funcionários dos entes regulados pela SU-
ta realizada pelos autores do artigo Lavagem
SEP foi a obrigatoriedade de estabelecer uma
de dinheiro: Lei nº 9.613/98 atualizada pela Lei nº
política de prevenção e combate à lavagem de
12.683/12. Importância e o nível de interesse dos
dinheiro e ao financiamento ao terrorismo, a
contadores em se manterem atualizados, publica-
qual deve incluir diretrizes sobre avaliação de do pela Revista Eletrônica do Departamento de
riscos na subscrição de operações, na contrata- Ciências Contábeis & Departamento de Atuária e
ção de terceiros ou outras partes relacionadas, Métodos Quantitativos (REDECA) da FEA – PUC/
no desenvolvimento de produtos, nas nego- SP em junho de 20145 com o coordenador res-
ciações privadas e na operações com ativos. ponsável pela área de prevenção à lavagem de
O conceito de controles internos que mencio- dinheiro de uma seguradora brasileira:
namos acima nada mais é que um mecanismo “No dia 19/09/2013 foi realizada uma entrevis-
empresarial formal para descrever as atividades ta com o coordenador responsável pela área
de uma sociedade, visando o tratamento das de prevenção à lavagem de dinheiro (PLD)
boas práticas e condutas éticas esperadas dos de uma das maiores seguradoras do Brasil.
funcionários e relacionamento com stakehol- Essa entrevista teve como objetivo esclarecer
ders; como funciona a estrutura organizacional como acontece o processo de prevenção à
da sociedade; como lidar com informações pri- lavagem de dinheiro dentro de uma grande
vilegiadas, sigilo e confidencialidade; ambiente seguradora. A entrevista foi realizada no lo-
de risco; tecnologia da informação; administra- cal de trabalho do coordenador, constatando
ção de riscos; e auditoria interna. que a segurança é reforçada e o trânsito de
pessoas controlado, existindo acesso apenas
A grande missão da política de lavagem de di-
para pessoas da área ou outras, autorizadas
nheiro das seguradoras e resseguradoras é ser
previamente.
e estar em compliance, ou seja, é assegurar o
fiel cumprimento e funcionamento do sistema
4 GARCIA, Sheila Abukater Arkie. Compliance: um instrumento
de controles internos de uma empresa, bus- de governança corporativa e fomento do mercado de capi-
cando reduzir os riscos conforme o desenvol- tais. Monografia apresentada ao Programa de L.L.M. em Direi-
to dos Mercados Financeiro e de Capitais da Pós-graduação
vimento e complexidade dos seus negócios, Lato Sensu do INSPER, 2012. P. 34.
além de difundir a cultura dos controles inter- 5 SOUSA, Letícia Barragan de Oliveira; GONZALES, Alexan-
dre. Lavagem de dinheiro: Lei nº 9.613/98 atualizada pela Lei nº
nos e externos, cumprindo com as leis, as nor- 12.683/12. Importância e o nível de interesse dos contadores em se
mas, regras institucionais, os usos e costumes manterem atualizados. Redeca, v.1, n. 1. Jan-Jun. 2014. P. 61-78.

14
20 Anos

No decorrer da entrevista o coordenador for- específicos para algumas áreas da companhia,


mado do em Tecnologia da Informação (TI), que principalmente as que trabalham com valores.
tem sua equipe composta por administradores
O entrevistado adicionalmente disponibili-
e advogados, esclarece que a área de prevenção
zou, o “Relatório de Identificação de Situações
à lavagem de dinheiro tem a função de atuar
Suspeitas” utilizado pela instituição quando o
em conformidade com as normas da SUSEP,
sistema capta informações suspeitas e a área
BACEN, ANS, PREVIC, entre outras, todas ligadas
necessita desenvolver um relatório sobre as
ao tema de prevenção à lavagem de dinheiro,
transações do cliente em questão, utilizando-
além de estudar e agir de forma a prevenir os ris-
-se de informações internas da empresa re-
cos, sendo que as atividades desenvolvidas são
ferentes ao cliente e informações externas,
baseadas em critérios de prevenção e análises
como pesquisas na internet. A partir deste
de situações que sejam suspeitas à lavagem de
relatório montado pelos analistas da área, o
dinheiro. A equipe que atua também em novos
coordenador e a gerente decidem se os dados
estudos e treinamentos.
condizem com a suspeita de crime de lava-
A seguradora possui empresas controladas gem de dinheiro. Em caso positivo as informa-
que são indicadas pelo gestor da área de PLD ções são reportadas ao COAF por meio do site.”
como pontos de atenção devido à grande
Vale ainda comentar sobre o COAF que, por
procura dos criminosos, dentre estas áreas
mais que estudiosos de Direito Penal expres-
destacam-se as financeiras e previdência. Po-
sem, na maioria das vezes, opiniões que tal
rém atualmente a empresa não possui um Conselho não é eficaz para os objetivos que foi
grupo de risco, pois a atuação da área de PLD criado6, por determinação legal deve ser sem-
cobre todos os produtos da empresa, cada um
de acordo com as normas de prevenção a la- 6 Lei 9.613/1998: [...] “Art. 14. É criado, no âmbito do Ministério
vagem de dinheiro e de acordo com o proces- da Fazenda, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras
– COAF, com a finalidade de disciplinar, aplicar penas adminis-
so do negócio, comunicando ao COAF todas trativas, receber, examinar e identificar as ocorrências suspei-
as transações na qual há indícios de lavagem tas de atividades ilícitas previstas nesta Lei, sem prejuízo da
competência de outros órgãos e entidades. § 1º As instruções
de dinheiro ou algo suspeito.
referidas no art. 10 destinadas às pessoas mencionadas no art.
9º, para as quais não exista órgão próprio fiscalizador ou regu-
Todos os relatórios desenvolvidos na área de-
lador, serão expedidas pelo COAF, competindo-lhe, para esses
vem ser arquivados, pois a área de PLD é audi- casos, a definição das pessoas abrangidas e a aplicação das
tada uma vez por ano pela auditoria interna, sanções enumeradas no art. 12. § 2º O COAF deverá, ainda,
coordenar e propor mecanismos de cooperação e de troca
podendo ocorrer também a externa. de informações que viabilizem ações rápidas e eficientes no
combate à ocultação ou dissimulação de bens, direitos e va-
Quanto à importância dos profissionais desta lores. § 3º O COAF poderá requerer aos órgãos da Administra-
área em se atualizar com as normas, o coor- ção Pública as informações cadastrais bancárias e financeiras
de pessoas envolvidas em atividades suspeitas.
denador acredita que é de grande importân- Art. 15. O COAF comunicará às autoridades competentes para
cia estar atualizado, pois praticamente todos a instauração dos procedimentos cabíveis, quando concluir
pela existência de crimes previstos nesta Lei, de fundados in-
os trabalhos são baseados nas normas. Desta dícios de sua prática, ou de qualquer outro ilícito.
forma, sempre que algum órgão regulador Art. 16. O Coaf será composto por servidores públicos de re-
cria uma norma ou atualiza, a área é informa- putação ilibada e reconhecida competência, designados em
ato do Ministro de Estado da Fazenda, dentre os integrantes
da e deve agir imediatamente. A área de PLD do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do Brasil, da
participa de cursos disponíveis na intranet da Comissão de Valores Mobiliários, da Superintendência de Se-
guros Privados, da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional,
empresa, além e fazer cursos oferecidos pelo da Secretaria da Receita Federal do Brasil, da Agência Brasi-
mercado, para então elaborar cursos que são leira de Inteligência, do Ministério das Relações Exteriores, do
Ministério da Justiça, do Departamento de Polícia Federal, do
disponibilizados a todos os funcionários por Ministério da Previdência Social e da Controladoria-Geral da
meio da intranet, além de realizar treinamentos União, atendendo à indicação dos respectivos Ministros de

15
LEI 9.613, DE 1998

pre comunicado, no prazo de 24 horas da pro- GARCIA, Sheila Abukater Arkie. Compliance: um ins-
posta ou realização de a) todas as transações trumento de governança corporativa e fomento
em moeda nacional ou estrangeira, títulos e do mercado de capitais. Monografia apresenta-
valores mobiliários, títulos de crédito, metais, ou da ao Programa de L.L.M. em Direito dos Merca-
dos Financeiro e de Capitais da Pós-graduação
qualquer ativo passível de ser convertido em di-
Lato Sensu do INSPER, 2012.
nheiro, que ultrapassar limite fixado pela auto-
ridade competente e nos termos de instruções GUIMARÃES, Antônio Márcio da Cunha. Contratos
internacionais de seguros. São Paulo: Revista
por esta expedidas, acompanhadas da identifi-
dos Tribunais, 2002.
cação dos clientes das pessoas sujeitas ao me-
IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corpora-
canismo de controle conforme artigo 9º da Lei
tiva. Uma década de governance corporativa:
9.613/1998 e manutenção de cadastro atualiza-
história do IBGC, marcos e lições da experiência.
do deles, nos termos de instruções emanadas
São Paulo: Saint Paul, Saraiva, 2006.
das autoridades competentes; e b) as opera-
LEÓN, Gustavo Amado. As práticas de Compliance
ções que, nos termos de instruções emanadas
aplicáveis às seguradoras e resseguradoras no
das autoridades competentes, possam consti- Brasil. In: Estudos Aplicados de Direito Empre-
tuir-se em sérios indícios dos crimes previstos sarial. Coordenação Pamela Romeu Roque. São
na referida lei ou com eles relacionar-se. Paulo: Editora Almedina, 2016.
Por fim, cabe-nos salientar que a lei de combate POLIDO, Walter Antonio. O contrato de seguro em
à lavagem de dinheiro e suas posteriores atua- face da nova perspectiva social e jurídica. 2008.
lizações são extraordinários avanços legais, po- 251 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Facul-
rém ainda restam alguns aspectos práticos que dade de Direito, Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo, São Paulo.
emperram o desenvolvimento do nosso país
quanto ao tema, como a demora no trânsito RIBEIRO, Milton Nassau. Aspectos jurídicos da gover-
em julgado de um processo criminal e a ausên- nança corporativa. São Paulo: Quartier Latin, 2007.
cia de uma política criminal racional dos nossos SOUSA, Letícia Barragan de Oliveira; GONZALES, Ale-
governantes. Ainda há muito que se fazer pa- xandre. Lavagem de dinheiro: Lei nº 9.613/98 atua-
lizada pela Lei nº 12.683/12. Importância e o nível
ra combater os crime de lavagem de dinheiro,
de interesse dos contadores em se manterem
mas a nossa percepção é que o Brasil vive um
atualizados. Redeca, v.1, n. 1. Jan-Jun. 2014. P. 61-78.
momento de transformação e o tema será cada
vez mais debatido nos fóruns cabíveis.
Sites*
http://www.ibccrim.org.br/site/boletim/pdfs/Bole-
tim237.pdf
Referências h t t p : / / w w w. s u s e p. g o v. b r / m e n u / a - s u s e p /
historia-do-seguro
ALVIM, Pedro. O contrato de seguro. 3 ed, Rio de Ja- h t t p : / / w w w. e s c o l a d a a j u r i s . o r g . b r / p h l 8 /
neiro: Forense, 1999. arquivos/803181659576p163-170.pdf
BETTARELLO, Flávio Campestrin. Governança corpo- Circular SUSEP nº 445, de 2 de julho de 2012. Dis-
rativa: fundamentos jurídicos e regulação. São ponível em: http://www2.susep.gov.br/biblioteca-
Paulo: Quartier Latin do Brasil, 2008. web/docOriginal.aspx?tipo=1&codigo=29636.

Estado. § 1º O Presidente do Conselho será nomeado pelo


Presidente da República, por indicação do Ministro de Estado
da Fazenda. § 2º Caberá recurso das decisões do Coaf relativas
às aplicações de penas administrativas ao Conselho de Recur-
sos do Sistema Financeiro Nacional. ______
Art. 17. O COAF terá organização e funcionamento definidos * Todos os meio eletrônicos acessados no dia 14 de fevereiro
em estatuto aprovado por decreto do Poder Executivo.” de 2018.

16
LEI 9.613, DE 1998

A consolidação do
compliance para PLD
no início de 2002 muita coisa mudou, e como
sempre precisamos de um evento catastrófi-
co, para que o mundo corporativo inicie a sua
busca por normatizar o problema, digo mini-
mizar o problemas, por meio de regras e le-
gislações, mas no caso do evento do porte do
WTC, percebemos que já havia uma legislação,
só faltava começar a seguir, muitas empresas
iniciaram sua busca por implementar regras de
compliance e prevenção a lavagem de dinhei-
ro, acredito que estávamos em torno de quatro
anos atrasados, mas antes tarde do que nunca,
não é verdade?
Importante lembrar que Lei nº 9.613/98 foi
PROFESSOR MARCOS ASSI editada com o intuito de coibir as ações dos
chamados “lavadores de dinheiro”, responden-

L
do ao clamor das comunidades econômicas e
embro como se fosse hoje, estava a ca- jurídicas internacionais e à necessidade de pre-
minho do Banco ABC Brasil, trabalhava neste servar o Sistema Econômico Nacional dos pos-
banco, quando ocorreu o evento do 11 de se- síveis desequilíbrios causados pelos “lavadores”
tembro no WTC, e todos estavam muito as- de dinheiro, que, com simples operações por
sustados com aquela situação, e toda a mídia meio de seus computadores, transferiam im-
passando informações desencontradas e mui- portâncias consideráveis para paraísos fiscais e
tos não entendiam o que estava acontecendo, também criou o Conselho de Controle de Ati-
mas foi passando as horas e descobrimos que vidades Financeiras – COAF, nossa agencia de
havia ocorrido um ataque terrorista, mas al- inteligência financeira.
gumas pessoas devem estar pensando, “o que
O COAF orienta através de seus normativos a
isto tem a ver com prevenção a lavagem de
existência de mecanismos que são mais uti-
dinheiro?”
lizados no processo de lavagem de dinheiro,
Foi justamente por motivo desde evento que afinal para disfarçar os lucros ilícitos sem com-
os órgãos reguladores no Brasil iniciaram um prometer os envolvidos, a lavagem de dinheiro
processo de mudança nas questões de com- realiza-se por meio de um processo dinâmico
pliance, com base na Lei nº 9.613 de 3 de mar- que requer o distanciamento dos fundos de
ço de 1998, e digo isso sem medo de errar, pois sua origem, evitando uma associação direta

18
20 Anos

deles com o crime, o disfarce de suas várias as regras independente da punição, mais pela
movimentações para dificultar o rastreamento conduta e ética.
desses recursos e disponibilização do dinheiro
Com as mudanças será possível apreender
novamente para os criminosos depois de ter si-
bens em nomes de “laranjas” e também vender
do suficientemente movimentado no ciclo de
estes bens apreendidos antes do final do pro-
lavagem e poder ser considerado “limpo”.
cesso, cujos recursos ficarão depositados em
A Lei nº 12.683/12 de 9 de julho de 2012 che- juízo até o final do julgamento, e o patrimônio
gou alterando a Lei nº 9.613, de 3 de março de apreendido poderá ser repassado a estados
1998, justamente para tornar mais eficiente a e municípios, e não apenas à União, mudan-
persecução penal dos crimes de lavagem de ça forte e está sendo aplicada atualmente na
dinheiro, editada com o intuito de coibir as Operação Lava Jato.
ações dos chamados “lavadores de dinheiro”.
A primeira, no meu entender, é a mais impor-
Pois a Lei nº 9.613/98 respondeu ao clamor das
tante mudança, pois ampliou o rol dos crimes
comunidades econômicas e jurídicas interna-
de dissimulação, ocultação da origem de bens,
cionais e à necessidade de preservar o Sistema
valores e instrumento de crimes, afinal na re-
Econômico Nacional dos possíveis desequilí-
dação anterior, somente nos crimes de tráfico
brios causados pelos “lavadores de dinheiro”,
ilícito de substâncias entorpecentes ou drogas
que, com simples operações por computa-
afins, de terrorismo, contrabando ou tráfico de
dores, transferem importâncias consideráveis
armas, extorsão mediante sequestro, crimes
para paraísos fiscais e importante salientar que
contra a Administração Pública e contra o sis-
a lei de 1998 criou o Conselho de Controle de
tema financeiro nacional, praticados por orga-
Atividades Financeiras (COAF), nossa agência
nização criminosa e praticados por particular
de inteligência no país.
contra a administração pública estrangeira,
Interessante que a Lei nº 12.683/12 também al- era possível o enquadramento do autor na pe-
terou alguns dispositivos da legislação anterior na de reclusão de três a dez anos entre outras
onde determina que Conselho de Controle de punições.
Atividades Financeiras (COAF), pudesse ampliar
Com a nova redação, a pena poderá ser aplica-
os tipos de profissionais obrigados a enviar in-
da em qualquer crime em que ocorra ocultação,
formações sobre operações suspeitas, alcan-
dissimulação da natureza, origem, localização,
çando doleiros, empresários que negociam
disposição, movimentação ou propriedade de
direitos de atletas, comerciantes de artigos de
bens, direitos ou valores provenientes, direta
luxo, empresas de contabilidade, consultorias,
ou indiretamente, de crime, resumindo se não
assessorias empresariais entre outros.
for possível justificar a fonte e origem do recur-
Outra mudança de impacto foi a elevação do so financeiro, poderá ser tratado como ilícito e
limite da multa a ser aplicada a quem descum- passível de punição pela legislação atual. Vale
prisse as obrigações de envio de informações, a pena evidenciar que a nova lei contemplou a
passando de R$ 200 mil para R$ 20 milhões, tão falada, delação premiada, reduzindo drasti-
afinal enquanto não mexemos nos bolsos, as camente a pena ao delator, podendo até mes-
pessoas não se atentarem em cumprir regras, mo deixar de aplicá-la àqueles que colaborarem
modelo padrão nosso, e por favor estou gene- com a Justiça para o esclarecimento dos crimes
ralizando, pois sei que muitas pessoas seguem de lavagem bens e direitos.

19
LEI 9.613, DE 1998

As empresas estão sendo responsabilizadas periódico de prevenção a lavagem de dinheiro


pelas operações “fora do padrão”, não pode- para seus quadros de colaboradores, gestores,
mos julgar antes de avaliar todo processo, e diretores e conselheiros.
além dos mecanismos de controle efetuado
Acredito que a Operação Lava Jato se tornou
pelo Conselho de Controle de Atividades Fi-
um marco nas questões de lavagem de dinhei-
nanceiras (COAF) que coordena a participação
ro e corrupção em nosso país, nunca se falou
brasileira em diversas organizações interna-
tanto em programa de integridade, complian-
cionais para prevenção e combate à lavagem
ce e códigos de conduta e ética, depois desta
de dinheiro e ao financiamento do terrorismo
operação da Polícia Federal e Ministério Públi-
(PLD/FT).
co Federal, vale aqui uma lembrança, em 2006
O Brasil integra, desde 1999, o Grupo de Ação quando estourou o Mensalão que segundo o
Financeira contra a Lavagem de Dinheiro e o site de notícias UOL em seu infográfico – o es-
Financiamento do Terrorismo (GAFI/FATF) e o cândalo do mensalão aponta:
Grupo de Egmont de Unidades de Inteligência
Que segundo o Ministério Público, era o esquema
Financeira, e desde 2000, do Grupo de Ação Fi-
de pagamento de propina a parlamentares pa-
nanceira da América do Sul contra a Lavagem
ra que votassem a favor de projetos do governo,
de Dinheiro e o Financiamento do Terrorismo
após quatro meses e meio de julgamento, o STF
(GAFISUD).
decidiu pela condenação de 25 dos 38 réus do
Importante saber que em 2013, a Polícia Civil, processo. O esquema foi organizado por um nú-
sob a gestão do Laboratório de Tecnologia con- cleo político chefiado por José Dirceu, então mi-
tra a Lavagem de Dinheiro (LAB-LD), celebrou nistro da Casa Civil, e integrantes da alta cúpula
um convênio com o COAF, para que houvesse do PT. O núcleo mineiro Marcos Valério foi apon-
a cooperação e troca de informações entre as tado como operador do mensalão. Com o auxílio
autoridades competentes e o próprio COAF de seus sócios e funcionários, foi condenado pelo
justamente para viabilizar ações com maior ra-
Supremo por utilizar suas empresas de publici-
pidez e eficiência na prevenção e no combate
dade para desviar dinheiro público e repassá-lo
à lavagem de dinheiro e ao financiamento do
a parlamentares. Kátia Rabello, dona do Banco
terrorismo. E o que temos observado é o resul-
Rural e diretores da instituição financeira foram
tado estas análises de inteligência financeira
denunciados por formação de quadrilha, gestão
decorrentes de comunicações recebidas, pelo
fraudulenta e lavagem de dinheiro.
intercâmbio de informações ou de denúncias, é
todas estas informações obtidas tem seu regis- Fiz questão de evidenciar este momento, pois
tro no Relatório de Inteligência Financeira (RIF), na época todos achávamos que tudo mudaria,
importante salientar que o conteúdo deste rela- que os culpados realmente seriam condena-
tório tem proteção do processo de sigilo cons- dos, até para demonstrar que a lei era pra valer
titucional, inclusive com base nos termos da Lei e que os processos de compliance para PLD
Complementar nº 105, de 2001. seriam respeitados por todos, mas pelo que vi-
mos, muita gente saiu sem a devida punição, e
As instituições financeiras no país iniciaram
o que aconteceu com o Petrolão?
seus processos de proteção de suas operações
e clientes há muito tempo com implemen- Vale salientar que tudo ficou muito mais sofisti-
tação de sistemas de validação de cadastro cado, com processos de inteligência e estrutu-
monitoramento de negócios e treinamento ração de operações pelas empresas e de difícil

20
20 Anos

identificação, e este é o grande problema para Não basta publicarmos leis, regras e políticas,
que os mecanismos de identificação possam precisamos cumpri-las e punir adequadamen-
ser eficientes e eficazes no combate à lavagem te quando os desvios acontecerem, nunca será
de dinheiro e corrupção, mas a inclusão de possível demonstrar a importância disso para
operações boas e ruins, de difícil identificação, o nosso país.
se não fossem as delações, seria muito difícil a
A legislação brasileira esta a cada dia evoluindo
identificação das operações de caráter ilícito.
e na busca das melhores práticas internacio-
Segundo o portal da Transparência Internacio- nais de prevenção a lavagem de dinheiro, mas
nal, o Brasil caiu 17 posições em ranking inter- o que ainda nos atrapalha muito, é a tão falada
nacional que mede a percepção da sociedade impunidade, que acaba por minar os proces-
com o combate à corrupção. Em 2017, o País sos de investigação e punição dos culpados.
ficou na 96ª colocação no Índice de Percepção
O COAF tem como diretrizes principais as 40
da Corrupção (IPC), medido pela Transparên-
Recomendações do GAFI que apresentam al-
cia Internacional, ante a posição de número
guns padrões sugestões de como promover
79 que ocupava no ano anterior. Para melhor
uma efetiva implementação de leis, regula-
entendimento, quanto pior a posição do país
mentos e atividades operacionais para comba-
no ranking, maior é a percepção da corrupção
ter a lavagem de dinheiro, ao financiamento do
por seus cidadãos. Em uma escala que vai de
terrorismo, além de outras ameaças à integri-
0 a 100, em que zero significa altamente cor-
dade do sistema financeiro relacionadas a es-
rupto e cem, altamente íntegro, o indicador
ses crimes, que mesmo com todo processo de
brasileiro recuou três pontos, de 40 para 37,
monitoramento ainda aconteceu envolvendo
este indicador é de suma importância para o
instituições financeiras, empresas e políticos.
nosso país, pois precisamos mudar e muito os
nossos processos internos, para que sejamos Sendo o GAFI um elaborador global de pa-
respeitados mundialmente e possamos rece- drões para as medidas que combatem as
ber investimentos e possibilitar o crescimento ameaças por fonte de lavagem de dinheiro
de nosso país. e corrupção, segundo o próprio COAF, estas
medidas são adotadas em mais de 180 países,
A sensação de impunidade é o indicador que
e estas exigências de melhores práticas para
estabelece o humor do mundo corporativo e
que possamos avaliar as situações de alto risco
da população, as mudanças realizadas na le-
e que possam permitir que os países adotem
gislação nos últimos anos, busca um aprimora-
posturas mais objetivas e focadas para mitigar
mento dos processos de prevenção a lavagem
e tratar esses riscos.
de dinheiro e os desvios de dinheiro público, as
instituições financeiras e as empresas não po- As exigências têm como base o fortalecimento
dem descansar na busca de um mercado onde da melhoria das áreas onde existem os maiores
a conduta e ética possam ser reconhecidas por riscos e que devem ser melhoradas, mais ainda
todas as pessoas. precisam ser mais claras, principalmente, com
relação à transparência dos negócios e das re-
Todas as vezes que adquirimos alguma coisa
gras mais rígidas contra a corrupção e o desvio
sem nota, produtos genéricos, produtos rou-
de dinheiro.
bados ou desviados de estoques das empresas,
entre outros produtos, devemos entender que Como pretendemos seguir as Recomenda-
assim contribuímos com o crime organizado. ções do GAFI, precisamos avaliar algumas

21
LEI 9.613, DE 1998

mudanças nos padrões governamentais e dos entre grupos financeiros, já estão mais eficien-
negócios, utilizando uma abordagem baseada tes para trocas de informações, rastreamento
em risco, pois devemos entender claramente do dinheiro, bloqueios de contas, confiscos e
quais são e onde estão os riscos da lavagem a repatriação de bens ilegais está funcionan-
de dinheiro que podem afetar e se adaptar aos do, por exemplo a Petrobras em dezembro
sistemas de prevenção e combate de Lavagem de 2017, que desde o início da Operação Lava
de Dinheiro, pois o principal objetivo é tratar a Jato atingiu o montante de R$ 1,5 bilhões, e
natureza desses riscos. que todos os recursos já estavam no caixa da
Outra coisa que precisamos avaliar com muito companhia.
critério é a falta de transparência com relação à Outra coisa importante é o tratamento das
titularidade e de seus representantes no con- questões de corrupção e das Pessoas Politica-
trole de pessoas jurídicas e outras empresas mente Expostas (PPE) que tem aumentado as
do terceiro setor, por exemplo, precisamos de exigências sobre principalmente pessoas poli-
informações confiáveis e que estejam disponí- ticamente expostas, que representam um risco
veis sobre a respeito da propriedade, de seus maior de corrupção devido às posições que
beneficiários e do controle das empresas, dos ocupam. Temos várias exigências cadastrais e
trustes e outras pessoas jurídicas e estrutu- de monitoramento das operações e devemos
ras organizacionais. Podemos citar a IN 1.634 aplicar processos mais eficientes de diligência
da Receita Federal do Brasil (RFB), de maio de a este tipo de pessoa.
2016, que traz algumas alterações sobre as
São vários os agentes reguladores que imple-
questões relacionadas aos beneficiários finais
mentaram normativos sobre as questões de
das empresas, afinal o conhecimento da cadeia
de participação societária é de suma importân- prevenção a Lavagem de Dinheiro nos últimos
cia e a identificação de beneficiários finais de anos, e posso afirmar aqui que o Bacen tem
pessoas jurídicas e de inúmeros arranjos legais, sido o mais efetivo em seus normativos, até
para se ter uma noção é o verdadeiro desafio mesmo por que os maiores riscos estão justa-
para a prevenção e combate à sonegação fis- mente nas atividades bancarias, que suportam
cal, à corrupção e à lavagem de dinheiro em as operações financeiras de muitas empresas,
âmbito mundial. e os outros órgão reguladores se movimentam
geralmente após alguma alteração do Conse-
Importante evidenciar aqui que estas mudan-
lho Monetário Nacional e do Bacen, devemos
ças nos conceitos e nas inovações do processo
salientar que os outros órgão reguladores es-
de prevenção que estão contemplados na IN
tão atualizando suas legislações e realizando
1.634/2016, já foram frutos de vários estudos
cobranças das empresas que são supervisiona-
e debates realizados pelos órgãos federais no
das por eles, podemos citar alguns aqui:
âmbito da Estratégia Nacional de Combate à
Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (ENCCLA),  Banco Central do Brasil – BCB
que busca promover a transparência e identifi-  Comissão de Valores Mobiliários – CVM
car os reais beneficiários das empresas e recur-
 Conselho Federal de Contabilidade – CFC
sos aplicados no país.
 Ministério da Previdência Social – PREVIC
A Operação Lava Jato já demonstrou efetiva-
mente que os processos de cooperação in-  Superintendência de Seguros Privados
ternacional entre agências governamentais e – SUSEP

22
20 Anos

 Conselho Federal de Corretores Imobiliários não possuem um órgão regulador específico


– COFECI para a sua atividade.
 Secretaria de Acompanhamento Econômi- Gostaria de citar aqui o trabalho realizado pela
co – SEAE ANBIMA com seu Guia de Prevenção à “Lava-
gem de Dinheiro” e ao Financiamento do Terro-
 Conselho Federal de Economia – COFECON
rismo no Mercado de Capitais Brasileiro, abaixo
 Departamento de Polícia Federal – DPF uma citação no guia da ANBIMA:
 Agência Nacional de Saúde Suplementar “Este Guia de PLDFT no Mercado de Capitais foi
– ANS publicado em 06 de outubro de 2014. O objetivo
 Departamento de Registro Empresarial e In- deste Guia é contribuir para o aprimoramento
tegração – DREI das práticas de PLDFT no mercado de capitais
brasileiro e não deve servir como fonte única e
 Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
exclusiva de consulta das principais práticas re-
Nacional – IPHAN
lativas ao PLDFT. Este Guia poderá ser alterado e
Por exemplo o Bacen publicou a Circular nº atualizado de tempos em tempos, contudo, de-
3.461/2009 consolidando várias legislações vem as Instituições sempre consultar a legislação
que criavam regras de prevenção a Lavagem e a regulamentação vigentes.”
de Dinheiro, e em 2012 pós a Lei 12.683, tive-
Podemos citar também a Associação Nacional
mos alterações por meio das circulares de nº
das Instituições de Crédito, Financiamento e
3.583/2012, 3.654/2013 e 3.839/2017, sendo
Investimento (Acrefi), cumprindo um de seus
que a ultima reduziu os valores de movimen-
principais papéis, elaborou também um guia
tação em espécie de R$ 100 mil para R$ 50 mil
de boas práticas de “Prevenção à Lavagem de
e a movimentação precisa ser solicitada com
Dinheiro” em 2012 e a Associação de Brasileira
três dias de antecedência, acredito que seja
de Bancos Internacionais também publicou
um efeito das informações obtidas na Opera-
um guia de Melhores Práticas de PLD em 2005,
ção Lava Jato.
acredito que estas inciativas são sempre vali-
O mais interessante é que além das legislações das para fortalecimento do mercado financeiro
vigentes ainda encontramos as normas do e de capitais no Brasil e para os usuários dos
COAF, justamente para aquelas empresas que serviços por eles prestados.

23
LEI 9.613, DE 1998

20 anos da lei 9.613/98


sobre os crimes de
lavagem ou ocultação de
bens, direitos e valores
O objetivo da previsão legal é caracterizar
como crime as atividades de ocultação, in-
vestimento, substituição, transformação ou
restituição de dinheiro proveniente de atos
ilícitos com a tentativa de torna-lo legal por
meio da vinculação a qualquer tipo de ativida-
de econômica como se sua obtenção tivesse
ocorrida de forma lícita.
Via de regra as operações relacionadas ao cri-
me de lavagem normalmente tratam-se ativi-
dades realizadas por meio de procedimentos
complexos na grande maioria das vezes por
meios econômicos onde a sensação de impu-
nidade é grande e a fiscalização é praticamen-
te inexistente.
Por este o outros motivos o Brasil é conheci-
do como país onde existem leis “que pegam”
ALESSANDRO GRATÃO MARQUES e outras que “não pegam”, essa lógica não é di-
ferente quando falamos da lei relacionada aos
crimes de lavagem, cuja fiscalização e controle

I mpulsionada por preocupações mundiais


com crimes de lavagem, assunto discutido de
hoje são focados preponderantemente em ins-
tituições financeiras.
forma mais ampla pela primeira vez na Con- Digamos que por este caminho estamos bus-
venção de Viena de 1988, desde então a trata- cando pegar os “peixes grandes” e abrimos
tiva sobre o tema foi avançando pelo mundo mão dos “peixes pequenos”, o problema é que
e 10 anos depois, em março de 1998 foi insti- estes peixes pequenos podem ter se agrupado
tuída no Brasil a lei 9.613 abrangendo aspectos e formado um grande cardume atuando em
de lavagem de dinheiro ou ocultação de bens, outras praças como supermercados, postos
direitos e valores. de gasolina e quaisquer outros meios onde

24
20 Anos

são realizados pagamentos diretamente em Com este e outros exemplos, o Big Data traz
dinheiro e a identificação do seu “cliente” não aos órgãos reguladores e instituições fiscali-
deixa rastros. zadoras de direito, potencial gigantesco de
Os bancos por exemplo possuem sistema bas- auditoria, inspetoria e fiscalização por meio de
tante rigoroso fundamentado em lei do Know monitoramento em massa a partir de dados,
Your Costumer (conheça seu cliente) como contrapondo o antigo modelo de análises AD
atividade vinculada a normatização do pro- HOC a partir de comportamentos suspeitos.
grama Anti Lavagem de Dinheiro ou também O sistema de controle ainda pode obviamen-
conhecido como AML (Anti Money Laundry), te ser otimizado, mas nunca foi tão acessível
neste processo são requeridas diversas infor- entender e percorrer o caminho do dinheiro,
mações que tratam do cadastro e fundamen- pois hoje este dinheiro deixa rastros, entendo,
tação sobre a proveniência e licitude do capital no entanto, que os mecanismos de controle e
investido. fiscalização sobre a lei de Lavagem, pararam no
Nesta mesma linha, após o advento da “Lava tempo e definitivamente ainda não evoluíram
Jato” algumas empresas tem adotado como ao mesmo passo que os fraudadores, e conti-
prática líder processos de due diligence de for- nuamos atuando de forma morosa e detectiva
necedores, prestadores e parceiros mas nem nas atividades de combate e resposta aos cri-
de longe seguindo o mesmo critério e volume mes de lavagem.
necessário para que seja considerada ferra- As diversas notícias que observamos diaria-
menta efetiva de combate à lavagem. mente infelizmente corroboram esta constata-
Estamos em plena era da Transformação Di- ção. Precisamos ter investimentos focados em
gital, ou 4ª revolução industrial onde obser- ferramental (hardwares, servidores, aplicações,
vamos fenômenos como o Big Data, num etc.) e pessoas qualificadas (data scientists, por
ambiente de inúmeras inovações na captura, exemplo) para elevar de forma significativa
armazenamento e transformação de dados nosso poder de monitoramento e fiscalização,
em informações estratégicas para tomada de desequilibrando a percepção sobre a sensação
decisão. de impunidade contra o crime.
A partir de informações de cartões de crédi- Se quisermos ser um país onde a expressão de
tos, declarações de tributárias e financeiras de que “o crime não compensa” definitivamente
empresas (obrigações assessórias), registros de precisamos ter orientação pragmática e von-
cartórios, entre outras, já é possível que nós, tade política e social para nos modernizarmos
pessoas físicas, não precisemos mais preencher e atacarmos o problema de forma inteligente.
os formulários de imposto de renda, mas sim Talvez os 20 anos da lei, assim como o atual
apenas validá-los a partir de uma base previa- momento político seja “janela” importante para
mente coletada, agrupada e processada. avançarmos neste caminho.

25
LEI 9.613, DE 1998

A�inal, esta Lei “pegou”?


– Arthur Andersen – viu seus executivos envol-
vidos, por terem sido coniventes, contribuindo
para esconder a real situação.
A reação a esse estado de descontrole veio pe-
la edição da Lei Sarbanes-Oxley de 2002, que
recebeu esse título por ter sido criada pelo Se-
nador democrata Sarbanes e pelo Deputado
republicano Michael G. Oxley. Esse normativo
impôs regras que disciplinaram uma ampla
gama de atividades internas da empresa, bem
como de suas auditorias, prevendo penali-
dades bastante severas. O alcance dessa Lei
– também conhecida como Public Company
Accounting Reformand Investor Protection Ac-
tof 2002 ou simplesmente SOX ou SarBox – ex-
trapolou, por via indireta, os limites territoriais
daquele país por exigir o respeito a seus man-
damentos não só às companhias listadas na
Bolsa de Nova York e Nasdaq, mas também às
empresas que se relacionassem a tais corpora-
MARIA AMELIA SARAIVA ções. Da edição dessa Lei resultou um imenso
destaque para a governança corporativa e para
o compliance.

P ode-se dizer que o combate mais acirra-


do aos chamados “crimes de colarinho bran-
Mesmo antes disso, ainda na década de 80,
os europeus iniciaram debates que tinham
co” iniciou-se a partir da quebra da empresa por objetivo combater o crime organizado
norte-americana Enron. Ela era uma das “que- estrangulando seu poder financeiro, ao invés
ridinhas” do mercado e o preço de suas ações de continuar buscando reprimi-lo à força. Isso
parecia não ter limites, até que se descobriram se aplicava também ao terrorismo. Para tan-
inúmeras irregularidades em suas contas e a to, foi criada, em 1989, uma comissão chama-
SEC (comissão responsável pela fiscalização da  GAFI (Grupo de Ação Financeira,  Financial
do mercado acionário americano) começou a Action Task Force  em inglês)  sediada na OCDE
investigar os resultados da empresa. Chegou- – Organização para a Cooperação e o Desen-
-se à conclusão de que a total desregulamen- volvimento Econômico. Esse grupo mirava a
tação do setor energético tinha propiciado um globalização que já começava a nascer. Criou
quadro totalmente ilusório e a verdade havia uma minuta de legislação penal-econômica
sido mascarada. A própria auditoria externa para os países membros.

26
20 Anos

O Brasil, embora não fizesse parte da OCDE, sido editada a Resolução CNSP de nº 330/ 2015
aderiu ao GAFI, em 2.000 até pelas contrapar- que, de forma geral, aborda cada um dos as-
tidas que aquele organismo oferecia: como pectos que as sociedades seguradoras deverão
acesso a mercados, novas tecnologias, linhas observar quanto a constituição, autorização
de financiamento e informações relevantes. para funcionamento, alterações de controle,
Percebe-se, portanto, que já havia um clima reorganizações societárias e condições para o
de preocupação mundial com os “crimes de exercício de cargos em órgãos estatutários ou
colarinho branco” e as melhores formas de contratuais das entidades.
combatê-los.
Os pilares que norteiam a referida regulamen-
No Brasil o movimento por boas práticas mos- tação são: alocação de capital, controles in-
trou-se dinâmico a partir das privatizações e da ternos e supervisão transparente e objetiva e,
abertura do mercado nacional nos anos 1990. ainda, transparência administrativa. Tratam-se
Em 1995, por exemplo, foi criado o Instituto de disposições gerais não estando previstas ex-
Brasileiro de Conselheiros de Administração ceções, nem, tão pouco, normas diferenciadas
(IBCA), que em 1999 passou a ser intitulado em função de complexidade de negócios.
Instituto Brasileiro de Governança Corporativa
Guardando observância à referida norma, cada
(IBGC), com intuito de propagar a adoção de
sociedade seguradora, em razão de sua estru-
práticas transparentes, responsáveis e equâ-
tura de capital, objetivos comerciais e estraté-
nimes na administração das organizações.
gias de negócio, escrevem as melhores práticas
Ainda em 1999 o IBGC lançou seu primeiro
de governança corporativa e compliance.
Código das Melhores Práticas de Governança
Corporativa. Mas, o que sempre se pergunta no Brasil é se
“essa lei de fato pegou”? Vamos aos fatos. Pa-
Foi também da OCDE a iniciativa de criar
recia haver um clima favorável à sua aplicação.
um fórum para tratar especificamente sobre
Em 2003, por exemplo, foi criada a ENCCLA (Es-
o tema: o Business Sector Advisory Group on
tratégia Nacional para o Combate à Corrupção
Corporate Governance. Diretrizes e princípios
e à Lavagem de Dinheiro).
internacionais passaram a ser considerados na
adequação de leis, na atuação de órgãos regu- Mas, a resposta efetiva a tal indagação, veio
latórios e na elaboração de recomendações. com o processo, os debates e a decisão de
uma das ações mais emblemáticas que esse
Nesse ambiente, surgiu a Lei nº 9.613, de 3 de
país já acompanhou: a do “mensalão”, no Su-
março de 1998, que dispôs sobre os crimes de
premo Tribunal Federal. Após a famosa de-
“lavagem” ou ocultação de bens, direitos e valo-
núncia do Deputado Roberto Jefferson, foi
res; a prevenção da utilização do sistema finan-
instaurado em 26 de julho de 2005 o inquérito
ceiro para os ilícitos previstos nesta Lei; criou o
para apuração naquela Corte. Em 30 de março
Conselho de Controle de Atividades Financeiras
de 2006, é apresentada denúncia pela Procu-
– COAF, e indicou outras providências.
radoria Geral da República. Em 24 de agosto
Na indústria do seguro, a SUSEP, órgão regula- de 2007, o Plenário aceita a denúncia contra
mentador e fiscalizador das sociedades segu- 19 acusados, número que foi posteriormente
radoras, também buscou dotar o mercado de ampliado. Em 2 de agosto de 2012 iniciou-se
normativos sobre a matéria. Os principais mar- o julgamento pelo Pleno que foi concluído em
cos regulatórios datam de 2004 e 2008 tendo 14 de março de 2014.

27
LEI 9.613, DE 1998

O importante a destacar é que, por unanimida- provas materiais, mas por um conjunto pro-
de, foram condenados por lavagem de dinhei- batório, ambientado por indícios que levam
ro seis dos réus e, por maioria de votos, mais à inelutável conclusão da prática de crime. Es-
dois acusados. se movimento iniciou-se na década de 1980,
como vimos, e contribuiu fortemente para a
O ambiente continuava a aquecer e a opinião
condenação no “mensalão” e agora tem sido
pública se mostrava inconformada com as no-
aplicado por magistrados mais jovens, mais
tícias de corrupção veiculadas diariamente pe-
arejados, inclusive – claro! – pelo juiz Sérgio
la imprensa. Veio então a Lei nº 12. 846, de 1º
Moro e pela Turma do TFR4. Mas, no Supremo,
de agosto de 2013, que dispôs sobre a respon-
ainda passa longe. A esse propósito, leia-se a
sabilização administrativa e civil de pessoas jurí-
entrevista do Professor da São Francisco, José
dicas pela prática de atos contra a administração
Eduardo Faria “Há uma mudança no conceito
pública, nacional ou estrangeira, e deu outras
de prova, de processo e de delito”, publicada
providências. no Estado de São Paulo, em 6 de fevereiro de
Até então, as empresas ainda não estavam sen- 2018.
do atingidas fortemente. Mas, no ano seguinte, À luz da doutrina romano-germânica, seriam
2014, um tsunami, veio a Lava Jato, que produ- necessárias provas cabais, sem nenhuma mar-
ziu o inacreditável: mandou para a cadeia al- gem a dúvidas. Mas, principalmente os crimes
guns dos empresários mais poderosos do País. do “colarinho branco” são concebidos, desde
Não! Isso não foi pouca coisa! Uma mudança antes da Enron, para não deixar provas, são
de paradigma como há muito não se via. muito mais sofisticados. Não deixam marcas,
Mas, outra mudança está acontecendo e tão digitais, deixam apenas vestígios, indícios, que
importante quanto: a interpretação no Direito precisam ser avaliados adequadamente por
Penal tem evoluído da tradição romano-ger- um conjunto probatório
mânica, para identificar crimes que já não são Portanto, temos avançado muito! As resistên-
os mesmos praticados sob a égide dos princí- cias são imensas! Mas, pela primeira vez neste
pios de direito que temos por fonte o Império País, temos a esperança de ver a aplicação de
Romano. Agora, temos delitos mais sofistica- punições a quem merece, independentemen-
dos e que não podem ser caracterizados por te de quem pratica o crime.

28
LEI 9.613, DE 1998

A Lei nº 9.613/1998
e seus Impactos
Regulatórios SUSEP

BÁRBARA BASSANI LUDMILA GROCH

I. Lei nº 9.613/1998 Capítulo I: Dos Crimes de Lavagem ou Oculta-


ção de Bens, Direitos e Valores;
Capítulo II: Disposições Processuais Especiais;
Publicada em março de 1998 e amplamente
reformada em julho de 2012, a Lei nº 9.613 dis- Capítulo III: Dos Efeitos da Condenação;
põe sobre os crimes de lavagem ou ocultação Capítulo IV: Dos Bens, Direitos ou Valores
de bens, direitos e valores; a prevenção da utili- Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro;
zação do sistema financeiro para os ilícitos nela Capítulo V: Das Pessoas Sujeitas ao Mecanismo
previstos; além de criar o Conselho de Controle de Controle;
de Atividades Financeiras – COAF, e dar outras Capítulo VI: Da Identificação dos Clientes e Ma-
providências. nutenção de Registros;
É composta por apenas dezoito artigos, dividi- Capítulo VII: Da Comunicação de Operações
dos em dez Capítulos, da seguinte forma: Financeiras;

30
20 Anos

Capítulo VIII: Da Responsabilidade Adminis- Somente para que se possa compreender a


trativa; amplitude a potencialidade da exigência legis-
lativa, o sítio eletrônico do COAF – Conselho
Capítulo IX: Do Conselho de Controle de Ativi-
de Controle de Atividade Financeira (unidade
dades Financeiras;
de inteligência financeira do Brasil) traz um ba-
Capítulo X: Das Disposições Gerais. lanço dos procedimentos fiscalizatório desde
No capítulo V encontram-se definidas as pes- 2004. Se considerarmos o ano de 2012 como
soas juridicamente obrigadas a colaborar com marco inicial da implementação da coopera-
o poder público. Tais entes privados, por opera- ção privada para fins de combate à lavagem de
rem em setores financeiros sensíveis à lavagem dinheiro, temos que os procedimentos admi-
de dinheiro, são considerados gatekeepers (vi- nistrativos punitivos e recursos que discutem
gias dos portões), devendo fiscalizar e identifi- a imposição de penalidade subiram de 30 em
car possíveis operações que tenham aparência 2012 para 249 em 2016!1 É, sem dúvida, um si-
de lavagem de dinheiro. Tal espécie de colabo- nal de que a Lei veio para ficar.
ração privada encontra guarida nas principais
convenções e documentos internacionais de
combate à lavagem de dinheiro, como a Con- II. Aspectos
venção de Palermo, Convenção de Mérida e as
Diretivas do Conselho Europeu. Regulatórios SUSEP
O artigo 9º, por sua vez, é claro ao dispor que
No âmbito regulatório de seguros, a primeira
as seguradoras, as corretoras de seguros e as
norma que tratou do tema foi a Circular da Su-
entidades de previdência complementar ou
perintendência de Seguros Privados (SUSEP) nº
de capitalização estão sujeitas às obrigações
89/1999, que divulgava a relação de operações
referidas nos artigos 10 e 11, os quais tratam,
e situações que podiam configurar indícios
respectivamente, da identificação / cadastro
de ocorrência dos crimes previstos na Lei nº
de clientes e comunicações de operações fi-
9.613/1998.
nanceiras, cabendo aos órgãos reguladores
competentes, o estabelecimento das normas Referida norma foi revogada pela Circular SU-
e condições necessárias ao seu cumprimento. SEP nº 181/2002; na sequência, pela Circular
SUSEP nº 181/2002, que dispunha não apenas
Em termos de sanções, o artigo 12 prevê a
da relação de operações suspeitas como tam-
possibilidade de aplicação de: (i) advertência;
bém de critérios para identificação de clientes
(ii) multa pecuniária variável não superior: a)
e manutenção de registros. Em seguida, vieram
ao dobro do valor da operação; b) ao dobro
as Circulares SUSEP nº 187/2002, nº 200/2002,
do lucro real obtido ou que presumivelmente
nº 327/2006, nº 380/2008, todas já revogadas.
seria obtido pela realização da operação; ou c)
ao valor de R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de A Circular SUSEP nº 445/2012 é a norma atual-
reais); (iii) inabilitação temporária, pelo prazo mente em vigor acerca do tema, dispondo
de até dez anos, para o exercício do cargo de sobre os controles internos específicos para a
administrador das pessoas jurídicas sujeitas ao
seu regramento; (iv) cassação ou suspensão da 1 https://siscoaf.discovery.fazenda.gov.br/coaf/servlet/mstrW
eb?src=mstrWeb.3140&evt=3140&documentID=C1A624EE1
autorização para o exercício de atividade, ope- 1E6EEDFA1A30080EFB51F14&Server=161.148.236.17&Port=0
ração ou funcionamento. &Project=DD-COAF&

31
LEI 9.613, DE 1998

prevenção e combate dos crimes de lavagem procedimentos de controles internos3, efetivos


ou ocultação de bens, direitos e valores, ou os e consistentes com a natureza, complexidade
crimes que com eles possam relacionar-se, o e riscos das operações realizadas, que con-
acompanhamento das operações realizadas e templem a identificação, avaliação, controle e
as propostas de operações com pessoas poli- monitoramento dos riscos de serem envolvi-
ticamente expostas, bem como a prevenção e dos em situações relacionadas à lavagem de
coibição do financiamento ao terrorismo. dinheiro, bem como para prevenir e coibir o
financiamento ao terrorismo, com relação aos
1. Das Pessoas Sujeitas produtos comercializados, negociações priva-
das, operações de compra e venda de ativos e
Estão sujeitas às obrigações previstas na Circu- demais práticas operacionais.
lar SUSEP nº 445/2012 as sociedades segurado-
ras e de capitalização; os resseguradores locais Os procedimentos de controles internos devem
e admitidos; as entidades abertas de previdên- contemplar, no mínimo, os seguintes itens:
cia complementar; as sociedades cooperativas (i) Política de prevenção e combate à lavagem
de que trata o § 3º,2 do art. 2º, da Lei Comple- de dinheiro e ao financiamento ao terroris-
mentar nº 126/2007; as sociedades corretoras mo, que inclua diretrizes sobre avaliação
de resseguro; as sociedades corretoras e os de riscos na subscrição de operações, na
corretores de seguros, de capitalização e de contratação de terceiros ou outras partes
previdência complementar aberta. relacionadas, no desenvolvimento de pro-
A abrangência da norma é bastante ampla, dutos, nas negociações privadas e nas ope-
portanto, sendo inaplicável a poucos players, rações com ativos;
como resseguradores eventuais, por exemplo. (ii) Elaboração de critérios e implementação
Ademais, não é apenas a supervisionada que de procedimentos de identificação de
está sujeita às penalidades acima elencadas, clientes, beneficiários, terceiros e outras
como também a pessoa física, titular de car- partes relacionadas, e de manutenção de
go ou função de presidente, diretor, adminis- registros referentes a produtos e procedi-
trador, conselheiro de administração ou fiscal, mentos expostos ao risco de servirem à la-
contador, atuário, analista, gestor de ativos, vagem de dinheiro e ao financiamento ao
auditor, gerente ou assemelhado, corretor terrorismo;
responsável, bem como qualquer outro que, (iii) Manualização e implementação dos pro-
comprovadamente, concorra para a prática cedimentos de identificação, monitora-
da infração, ou deixe de impedir a sua prática, mento, análise de risco e comunicação de
quando podia agir para evitá-la.

3 A Circular SUSEP nº 249/2004, que dispõe sobre a implanta-


2. Controles Internos ção e implementação de sistema de controles internos nas
sociedades seguradoras, nas sociedades de capitalização e
As supervisionadas sujeitas à Circular SUSEP nº nas entidades abertas de previdência complementar foi o
marco regulatório referente a controle internos, sendo, poste-
445/2012 devem desenvolver e implementar riormente, aperfeiçoada pela Circular SUSEP nº 363/2008 para
ser ainda mais abrangente alcançando resseguradores locais
e admitidos. As regras nela estabelecidas têm como base fun-
2 § 3º  Equipara-se à cedente a sociedade cooperativa autori- damentos estabelecidos pelo Committee of Sponsoring Orga-
zada a operar em seguros privados que contrata operação nizations of the Treadway Commission (COSO) – e no Insurance
de resseguro, desde que a esta sejam aplicadas as condições Core Principles da International Association of Insurance Super-
impostas às seguradoras pelo órgão regulador de seguros. visors (IAIS).

32
20 Anos

operações que possam constituir-se em inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas


indícios de lavagem de dinheiro ou de fi- (CPF/MF); número de identificação, válido
nanciamento ao terrorismo, ou com eles em todo o território nacional, nesse caso
relacionar-se; acompanhado da natureza do documento,
órgão expedidor e data da expedição; ou
(iv) Elaboração e execução de programa de
número do Passaporte, com a identificação
treinamento específico de qualificação dos
do País de expedição;
funcionários para o cumprimento do dis-
posto na Lei nº 9.613/98 e demais regula- c) endereço completo (logradouro, bairro, có-
mentos referentes à lavagem de dinheiro e digo de endereçamento postal – CEP, cida-
à prevenção e combate ao financiamento de, unidade da federação);
ao terrorismo; e d) número de telefone e código de discagem
(v) Elaboração e execução de programa anual direta à distância – DDD, se houver;
de auditoria interna que verifique o cum- e) profissão;
primento dos procedimentos estabele-
f ) patrimônio estimado ou faixa de renda
cidos pelo regulador, em todos os seus
mensal; e
aspectos, podendo tal verificação, a critério
da sociedade, do ressegurador ou do cor- g) o enquadramento na condição de pessoa
retor, ser conduzida pelo seu departamen- politicamente exposta (PEP), isto é, agentes
to de auditoria interna ou por auditores públicos que desempenham ou tenham
independentes. desempenhado, nos 5 (cinco) anos anterio-
res, no Brasil ou em países, territórios e de-
Cumpre notar que, com relação aos correto-
pendências estrangeiras, cargos, empregos
res, aplicam-se obrigatoriamente as disposi-
ou funções públicas relevantes, assim como
ções mencionadas nos itens acima, somente
seus representantes, familiares e outras pes-
quando seu faturamento anual, no exercício
soas de seu relacionamento próximo4.
precedente, ultrapassar R$ 12.000.000,00 (doze
milhões de reais).
4 Para a referida definição, o § 1º, do artigo 4º, da Circular SU-
SEP nº 445/2012, esclarece que são consideradas PEPs: I – os
detentores de mandatos eletivos dos Poderes Executivo e
3. Identificação de Clientes, Legislativo da União; II – os ocupantes de cargo, no Poder
Beneficiários, Terceiros e Outras Executivo da União: a) de ministro de Estado ou equiparado;
b) de natureza especial ou equivalente; c) de presidente, vice-
Partes Relacionadas -presidente e diretor, ou equivalentes, de autarquias, funda-
ções públicas, empresas públicas ou sociedades de economia
Para fins do disposto no inciso I, do art. 10 da mista; e d) do Grupo Direção e Assessoramento Superiores –
Lei nº 9.613/98, a Circular SUSEP nº 445/2012 DAS, nível 6, e equivalentes; III – os membros do Conselho Na-
cional de Justiça, do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais
estabelece que as supervisionadas a ela sujei- Superiores; IV – os membros do Conselho Nacional do Minis-
tas devem realizar e manter atualizada a iden- tério Público, o Procurador-Geral da República, o Vice-Procu-
rador-Geral da República, o Procurador-Geral do Trabalho,
tificação de clientes, beneficiários, terceiros e o Procurador-Geral da Justiça Militar, os Subprocuradores-
outras partes relacionadas, contendo: -Gerais da República e os Procuradores-Gerais de Justiça dos
Estados e do Distrito Federal; V – os membros do Tribunal de
(i) no caso de pessoas físicas: Contas da União e o Procurador-Geral do Ministério Público
junto ao Tribunal de Contas da União; VI – os governadores
de Estado e do Distrito Federal, os presidentes de Tribunal de
a) nome completo;
Justiça, de Assembleia Legislativa e de Câmara Distrital, e os
presidentes de Tribunal e de Conselho de Contas de Estado,
b) número único de identificação, com a se- de Municípios e do Distrito Federal; VII – os prefeitos e presi-
guinte ordem de preferência: número de dentes de Câmara Municipal das capitais de Estado.

33
LEI 9.613, DE 1998

(ii) no caso de pessoas jurídicas: já existentes, quando a pessoa ou operação


a) a denominação ou razão social; passe a se enquadrar nessa qualidade.

b) atividade principal desenvolvida;


4. Atendimento das Exigências
c) o número de identificação no Cadastro quanto à Identificação de Clientes,
Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), ou no Beneficiários, Terceiros e Outras
Cadastro de Empresa Estrangeira/Bacen Partes Relacionadas
(Cademp) para empresas offshore, excetua-
das as universalidades de direitos que, por A realização e manutenção da identificação
disposição legal, sejam dispensadas de re- dos dados cadastrais de clientes, beneficiários
gistro no CNPJ e no Cademp; e outras partes relacionadas deverá ser feita na
forma que segue:
d) endereço completo (logradouro, bairro,
código de endereçamento postal – CEP, a) Para seguros comercializados por bilhete,
cidade, unidade da federação), número de seguro DPVAT, seguros coletivos de apólice
telefone e código de discagem direta à dis- fechada, seguros coletivos de apólice aberta
tância – DDD; pagos por meio de cartões de crédito, segu-
ros coletivos de garantia estendida, segu-
e) nomes dos controladores até o nível de
ros coletivos de apólice aberta com prêmio
pessoas físicas, principais administradores e
mensal inferior a R$ 50,00 (cinquenta reais):
procuradores e seu enquadramento como
PEP; e 1. na devolução de prêmio, por cancelamen-
to, de valor igual ou superior a R$ 10.000,00
f ) informações acerca da situação patrimonial
(dez mil reais), e
e financeira.
2. no pagamento da indenização.
Para fins do disposto no inciso II, do art. 10 da
Lei nº 9.613/98, as sociedades, resseguradores b) Para seguros dos ramos 0775 (Garantia Se-
e corretores devem manter organizados e à gurado – Setor Público) e 0776 (Garantia Se-
disposição da SUSEP, pelo prazo regulamen- gurado – Setor Privado), bem como aqueles
tar, os registros, cadastros, análises de risco e da codificação anterior:
demais documentos, relativos a todas as ope- 1. no ato da contratação, relativa as informa-
rações com clientes, beneficiários, terceiros e ções cadastrais do tomador ou garantido; e
outras partes relacionadas, inclusive aqueles
referentes a todos os pagamentos realizados, 2. no pagamento da indenização, relativo as
com identificação do beneficiário final. informações cadastrais do segurado.

No caso de PEP (s), há determinação expressa c) Para os demais seguros não enquadrados
de que deverá ser identificada a origem dos re- nas alíneas anteriores:
cursos das operações com valores iguais ou su- 1. na devolução de prêmio, por cancelamen-
periores a R$ 10.000,00 (dez mil reais), devendo to, de valor igual ou superior a R$ 10.000,00
o monitoramento ser realizado de forma refor- (dez mil reais); e
çada e contínua, sendo obrigatória a obtenção
2. no pagamento da indenização ou de resgate.
de autorização das alçadas superiores para o
estabelecimento da relação de negócios com d) Para produtos de previdência complemen-
PEP (s) ou para o prosseguimento de relações tar e vida resgatável:

34
20 Anos

1. no pagamento de resgate de valor igual ou 5. Monitoramento e Comunicação


superior a R$ 10.000,00 (dez mil reais); e das Operações
2. no pagamento do benefício. Para fins do disposto no inciso II, do art. 11, da
e) Para títulos de capitalização da modalidade Lei nº 9.613/98, a Circular SUSEP nº 445/2012
popular, o cadastro deve ser efetuado no estabelece a seguinte sistemática:
resgate, envolvendo um ou mais títulos, de (i) Comunicação à SUSEP por meio do COAF5,
valor total igual ou superior a R$ 10.000,00 no prazo de vinte e quatro horas6 conta-
(dez mil reais) e no pagamento de sorteio das da operação ou do conhecimento de
de qualquer valor. condição que se enquadre nos critérios de
f ) Para produtos de capitalização não abran- comunicação as propostas ou a ocorrência
gidos na alínea anterior, o cadastro deve ser das seguintes operações:
efetuado: a) aportes no mês civil ou pagamento único
1. no pagamento de resgate de valor igual ou de PGBL, VGBL ou de título de capitalização
superior a R$ 10.000,00 (dez mil reais); e em valor igual ou superior a R$ 1.000.000,00
(um milhão de reais);
2. no pagamento de sorteios.
b) compra de apólices por pessoas físicas, ex-
g) Para operações realizadas com pagamento
ceto para o seguro DPVAT, com prêmio de
de prêmio, contribuição e/ou aporte em es-
valor igual ou superior a R$ 100.000,00 (cem
pécie fora da rede bancária, independente
mil reais) no mês civil;
do produto.
c) resgate de valor igual ou superior a R$
Em alguns casos, é permitido o atendimento
1.000.000,00 (um milhão de reais) no mês civil;
parcial das exigências acima, sendo dispensa-
da a coleta e o armazenamento da documen- d) pagamento ou proposta de pagamento de
tação comprobatória, como exceção. prêmio, contribuição ou título de capitaliza-
ção fora da rede bancária, em valor igual ou
Igualmente em caráter excepcional, o dire-
superior a R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais),
tor responsável pelo cumprimento da Lei nº
no mês civil;
9.613/1998 perante a SUSEP poderá dispensar
o cumprimento das exigências acima para re- e) resgate de títulos de capitalização da mo-
sidentes no Brasil ou em países que não apre- dalidade popular, cujo somatório seja igual
sentem deficiências estratégicas no combate ou superior a R$ 10.000,00 (dez mil reais) no
à lavagem de dinheiro e ao financiamento do mês civil;
terrorismo, mediante expressa justificativa, ba-
5 Por meio de seu sítio eletrônico, sem que seja dada ciência
seada em estudo de risco, os quais, tanto a jus- aos envolvidos.
tificativa quanto o estudo, ficarão disponíveis 6 Em caráter excepcional, o diretor responsável pelo cumpri-
mento da Lei nº 9.613/1998 perante a SUSEP poderá dis-
para imediata apresentação à SUSEP quando pensar as comunicações em questão mediante expressa
solicitados, o que é menos comum, na prática, justificativa, baseada em estudo de risco, os quais, tanto a
justificativa quanto o estudo, ficarão disponíveis para imedia-
tendo em vista a responsabilidade do diretor ta apresentação à SUSEP quando solicitados. A dispensa de
com relação a tal dispensa. comunicação deverá se materializar em um relatório indivi-
dual, por pessoa física ou jurídica envolvida, discriminado por
negócio realizado, com seus respectivos valores individuais
e seu montante mensal. Novamente, aqui, a situação de dis-
pensa é excepcional e pouco usual, considerando a respon-
sabilidade do diretor.

35
LEI 9.613, DE 1998

f ) sorteio de título de capitalização de valor f ) mudança do titular do negócio ou bem


igual ou superior a R$ 100.000,00 (cem mil imediatamente anterior ao sinistro, sem ra-
reais); zão justificável;
g) resgate, no caso de seguro de vida indivi- g) pagamento de prêmio, fora da rede ban-
dual, cujo valor seja igual ou superior a R$ cária, por meio de cheque ou outro instru-
50.000,00 (cinquenta mil reais); mento, por pessoa física ou jurídica, que
h) devolução de prêmio, com cancelamento não o segurado, sem razão justificável;
ou não de apólice, cujo valor seja igual ou h) transações cujas características peculiares,
superior a R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais); e principalmente no que se refere às partes
i) recebimento, em uma ou mais operações, envolvidas, valores, forma de realização, ins-
em nome próprio, na qualidade de cessio- trumentos utilizados, ou pela falta de fun-
nário de beneficiário, ou em nome de be- damento econômico ou legal, mesmo que
neficiário, na qualidade de mandatário, de tragam vantagem à sociedade, ao ressegu-
indenizações do seguro DPVAT que perfa- rador ou ao corretor, possam caracterizar
çam em um mês valor igual ou superior a R$ indício de lavagem de dinheiro, de financia-
100.000,00 (cem mil reais). mento ao terrorismo, ou de qualquer outro
(ii) Comunicação à SUSEP por meio do COAF7, ilícito;
no prazo de vinte e quatro horas da sua aná- i) utilização desnecessária, pelo ressegurador,
lise e classificação como uma operação sus- de uma rede complexa de corretores para
peita. Para a classificação como tal, devem colocação do risco;
ser consideradas as seguintes possibilidades:
j) utilização desnecessária, pelo ressegurador,
a) resistência em fornecer informações, ou for- de corretor na transação;
necimento de informações incorretas, relati-
k) avisos de sinistros aparentemente legítimos,
vas à identificação ou à operação;
mas com freqüência anormal;
b) contratação por estrangeiro não residente
l) variações relevantes de importância segura-
de serviços prestados pelas pessoas super-
da sem causa aparente; e
visionadas, sem razão justificável;
c) propostas ou operações incompatíveis com m) operações de valores inferiores aos limites
o perfil socioeconômico, capacidade finan- estipulados, que por sua habitualidade e
ceira ou ocupação profissional do clien- forma configurem artifício para a burla de
te, beneficiário, terceiros, e outras partes referidos limites.
relacionadas; As comunicações de boa-fé, conforme previsto
d) propostas ou operações discrepantes das no § 2º, do art. 11, da Lei nº 9.613/98, não acar-
condições normais de mercado; retarão responsabilidade civil, penal ou admi-
nistrativa às supervisionadas sujeitas à Circular
e) pagamento a beneficiário sem aparen-
SUSEP nº 445/2012, seus controladores, admi-
te relação com o segurado, sem razão
nistradores e empregados e devem permane-
justificável;
cer sigilosas

7 Por meio de seu sítio eletrônico, sem que seja dada ciência
Referida Circular estabelece, ainda, uma sis-
aos envolvidos. temática para comunicação diretamente à

36
20 Anos

SUSEP mesmo quando não forem verificadas Parágrafo único. Incorre também na sanção
quaisquer operações acima elencadas duran- prevista neste artigo aquele que não atender
te qualquer mês do ano calendário. Trata-se no prazo ou na forma fixada as solicitações
de uma comunicação negativa, que deverá ser da autarquia, desde que tal conduta não seja
feita à própria SUSEP8 e não por meio do COAF caracterizada como ato ou omissão para difi-
(como é o caso da comunicação positiva), até o cultar ou impedir atividade de investigação ou
dia 20 do mês subsequente ao mês no qual não fiscalização da Susep.
foram verificadas as situações elencadas acima.
Art. 38. Impedir ou dificultar, por qualquer for-
ma, o exercício do poder de polícia administra-
6. Responsabilidade tiva da SUSEP, tais como:
Administrativa
I – não fornecer relatórios, demonstrações fi-
A infração às disposições da Lei e da Circular nanceiras, livros e registros obrigatórios ou
SUSEP nº 445/2012 será punida nos termos do contas estatísticas, quando solicitado;
art. 12, da Lei nº 9.613/98 e da Resolução CNSP
nº 243/2011, que dispõe sobre sanções admi- II – não atender, no prazo e na forma fixada, às
nistrativas no âmbito das atividades de seguro, solicitações da autarquia;
cosseguro, resseguro, retrocessão, capitaliza- III – impedir ao acesso às dependências da
ção, previdência complementar aberta, de cor- fiscalizada.
retagem e auditoria independente; e disciplina
Art. 39. Falsificar quaisquer documentos ou
o inquérito e o processo administrativo sancio-
prestar informação falsa à SUSEP.
nador no âmbito da SUSEP.
Sanção: multa de R$ 50.000,00 (cinqüenta mil
Nos termos da Resolução CNSP nº 243/2011,
reais) a R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais).
a infração aos mecanismos de supervisão pre-
vistas na Circular SUSEP nº 445/2012 e outras Art. 40. Não zelar pela qualidade do sistema de
normas relacionadas, pode sujeitar o infrator à controles internos, relacionada aos seguintes
imposição de penalidade de multa, a depen- elementos:
der do tipo de infração, conforme segue:
I – Ambiente de Controle;
Seção V Das Infrações aos Mecanismos de
II – Avaliação de Riscos;
Supervisão
III – Atividades de Controle;
Art. 36. Omitir ou sonegar informações que
deva comunicar à SUSEP. IV – Processos de Informação e Comunicação;
ou
Sanção: multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a
R$ 500.000,00 (quinhentos mil de reais). V – Monitoração.

Art. 37. Encaminhar na forma incorreta ou in- Sanção: multa de R$ 20.000,00 (vinte mil reais)
completa à SUSEP as informações que deve a R$ 100.000,00 (cem mil reais).
prestar, nos termos da legislação. (...)
Sanção: multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a Art. 70. Atuar em desacordo com as normas
R$ 100.000,00 (cem mil reais). legais ou de regulação que disciplinam as
operações e as atividades de previdência com-
8 Por meio do sítio da Susep (http://www.susep.gov.br/). plementar, seguros, resseguros, capitalização,

37
LEI 9.613, DE 1998

corretagem e auditoria independente, bem mista e respectivas subsidiárias, entidades de


como em relação às atividades dos liquidantes previdência complementar, sociedade de ca-
e dos estipulantes de seguro. pitalização, instituições financeiras, sociedades
seguradoras e resseguradoras, pelo prazo de
Sanção: multa de R$ 15.000,00 (quinze mil
dois a dez anos; e cancelamento de registro de
reais) a R$ 30.000,00 (trinta mil reais), podendo
corretor de seguros, pessoa natural ou jurídica.
ser cumulada com advertência.
Referida sistemática decorre, em parte, da pre-
(...)
visão contida no artigo 108, do Dereto-Lei nº
Art. 73. Não identificar seus clientes ou não 73/19669, recentemente modificado pela Lei
manter cadastro atualizado, nos termos nº 13.195/2015, segundo o qual a infração às
de instruções emanadas pelas autoridades normas referentes às atividades de seguro, cos-
competentes. seguro, resseguro, retrocessão e capitalização,
aplicadas pelo órgão fiscalizador de seguros
Sanção: multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a
sujeita, na forma definida pelo órgão regulador
R$ 200.000,00 (duzentos mil reais)
de seguros, a pessoa natural ou jurídica res-
Parágrafo único. Incorrerá nas mesmas penas ponsável às seguintes penalidades administra-
quem: tivas. Nos termos do § 1º, do referido artigo, na
I – Não manter registro de toda transação em hipótese de a penalidade ser aplicada à pessoa
moeda nacional ou estrangeira, títulos e valo- natural, responderá solidariamente o ressegu-
res mobiliários, títulos de crédito, metais, ou rador ou a sociedade seguradora ou de capita-
qualquer ativo passível de ser convertido em lização, assegurado o direito de regresso.
dinheiro, que ultrapassar limite fixado pela au- Conforme se infere, a SUSEP mantém rígida
toridade competente e nos termos de instru- fiscalização em relação ao combate aos cri-
ções por esta expedidas; mes de lavagem de dinheiro e à ausência de
adoção de medidas para evitá-los, sendo fre-
II – Não atender, no prazo fixado pelo órgão ju-
quente a lavratura de Representações ou até
dicial competente, as requisições formuladas
mesmo a possibilidade de apresentação de
pelo COAF – Conselho de Controle de Ativida-
Planos de Ação para sanar deficiências relacio-
des Financeiras, que se processarão em segre-
nadas ao tema.
do de justiça; e

III – Descumprir a vedação ou deixarem de fa-


zer a comunicação das operações que se sub-
sumam aos critérios definidos pela autoridade
III. Considerações
competente. Finais
É importante mencionar que, além da penali-
dade de multa, a Resolução CNSP nº 243/2011 A Lei nº 9.613/1998, certamente, foi um marco
prevê a aplicação das seguintes sanções: adver- de extrema importância para o combate aos
tência, suspensão do exercício de atividade ou crimes de lavagem de dinheiro e outros ilícitos
profissão abrangida, pelo prazo de trinta dias correlatos.
até cento e oitenta dias; inabilitação para o exer-
9 Dispõe sobre o Sistema Nacional de Seguros Privados, re-
cício de cargo ou função no serviço público ou gula as operações de seguros e resseguros e dá outras
em empresa pública, sociedades de economia providências.

38
20 Anos

No âmbito regulatório de seguros e resseguros, estudar e propor revisão da atual regulamenta-


a preocupação com a adoção de medidas que ção quanto ao tema, estabelecendo prazo para
coíbam tais crimes acompanhou a legislação a conclusão dos trabalhos, o qual já foi prorro-
federal e foi muito mais além, até mesmo para gado por algumas vezes.
se coadunar com os princípios internacionais
Embora a perspectiva de mudança já tenha es-
desse mercado, emanados pela Insurance Core
tado mais veemente em outros momentos, é
Principles da International Association of Insu-
possível que as regras atualmente em vigor se-
rance Supervisors (IAIS), que, além de prevenção
jam aperfeiçoadas no futuro próximo, de forma
de fraude e lavagem de dinheiro, tem diversas
que a prevenção e o combate aos crimes de la-
diretrizes sobre governança corporativa, con-
vagem de dinheiro sejam mais eficazes, o que
troles internos e gestão de riscos, que vem sen-
será bastante louvável, tendo em vista o real
do observadas pela SUSEP.
papel do regulador, qual seja, o de disciplinar e
Apesar da atualização periódica de normas assegurar o cumprimento da gestão de riscos,
(Circulares SUSEP e Resoluções CNSP) e da dos controles internos e da estrutura de gover-
aparente sensação de que há uma publicação nança corporativa, mediante a supervisão que
excessiva das mesmas, pode-se afirmar que, assegure, igualmente, a manutenção e amplia-
neste aspecto, o regulador caminha bem, exer- ção do mercado, sem que os novos ventos sig-
cendo o seu papel com relação aos basilares nifiquem mais uma oneração sem propósito.
internacionais, ao mesmo tempo em que inibe
os potenciais infratores em razão da possibi-
lidade de imposição de penalidades severas,
que podem ser aplicadas às pessoas físicas
inclusive.
Resta-nos certa dúvida com relação à fiscali-
zação e à eficiência das regras em vigor, espe-
cialmente, a Circular SUSEP nº 445/2012, tendo
em vista que, muitas vezes, os critérios ora
objetivos10 e ora subjetivos11 previstos para a
verificação de operações suspeitas revelam-se
insuficientes para o combate aos crimes previs-
tos na Lei nº 9.613/1998. Questiona-se, portan-
to, o quão eficaz são as regras em vigor.
De qualquer modo, o regulador parece es-
tar atento em relação a isso, tanto que, em
19/04/2016, por meio da Portaria SUSEP nº
6.482 constituiu Grupo de Trabalho para

10 Por exemplo, quando a Circular SUSEP nº 445/2012 prevê que


um resgate de a partir de determinado valor deve ser objeti-
vamente comunicado.
11 Por exemplo, quando a Circular SUSEP nº 445/2012 prevê a
comunicação de uma transação suspeita por características
peculiares, deve ser comunicada, deixando grande margem
de interpretação.

39
LEI 9.613, DE 1998

VEIRANO ADVOGADOS

A Lei de Lavagem de
Dinheiro e o Compliance
no Brasil

GABRIELA MONTEIRO MARIANA VILLELA

1. Introdução Nas últimas décadas, as autoridades públicas


nacionais e internacionais vêm se engajando,
cada vez mais, no estabelecimento de siste-
Em linhas gerais, a lavagem de dinheiro po- mas e marcos regulatórios voltados à preven-
de ser definida como a atividade que, reves- ção da prática de lavagem de dinheiro, muitas
tida de um objeto lícito, tem a finalidade de vezes com a participação e colaboração das
transformar recursos financeiros, valores, bens próprias entidades reguladas. Nesse sentido,
e direitos obtidos de forma ilícita em lícitos. A Bottini (2015) aponta que, cada vez mais, se
expressão teve origem na década de 1920, na tem buscado implementar políticas para en-
América do Norte, a partir da criação de lavan- volver as “entidades, profissionais, e instituições
derias pela máfia, com o propósito de se utilizar privadas no combate à reciclagem de capitais,
desse comércio formalmente legalizado para com o intuito de impedir que estes prestem ser-
ocultar a origem criminosa do dinheiro auferi- viços aos agentes do ilícito, ainda que sob uma
do ilicitamente (HABIB, 2016, p. 237). aparência de legalidade”. Esse fato, somado à

40
20 Anos

crescente complexidade das regulações apli- dinheiro no Brasil. A regulação de tais deveres
cáveis aos setores econômicos e aos conflitos especificamente no setor de seguros é tratada
de obrigações impostas por legislações de na Seção 4. Por fim, as seções 5 e 6, respectiva-
diferentes países sobre atividades de cunho mente, contêm as conclusões e as referências
transnacional, tornou imperiosa a adoção e bibliográficas utilizadas neste trabalho.
implementação de políticas empresariais pa-
ra o cumprimento de normas e o estabeleci-
mento de mecanismos para inibir e combater
o branqueamento de capitais, o que tem sido
2. A marcha do Brasil
chamado de compliance para a prevenção de na prevenção e
lavagem de dinheiro (BOTTINI, 2015).
combate à lavagem de
No Brasil, do ponto de vista legislativo, o
combate à lavagem de dinheiro teve como
dinheiro
seu principal marco a publicação da Lei nº
9.613/1998 (Lei de Lavagem de Dinheiro), a A inserção do Brasil no regime internacional
qual, entre outras providências, criminalizou a de combate à lavagem de dinheiro se deu
“lavagem” (ocultação ou dissimulação) de bens, de forma gradativa, especialmente a partir da
direitos e valores de origem ilícita. No entan- década de 1990, quando o Estado brasileiro
to, além de dispositivos de cunho penal e de participou de encontros e assumiu diversos
processo penal, a Lei de Lavagem de Dinhei- compromissos relacionados ao tema. Ansel-
ro também estabeleceu uma série de obriga- mo (2015) resume esse processo em 03 (três)
ções administrativas (os chamados “deveres de iniciativas principais, a partir das quais o Brasil
compliance”) para que empresas e profissionais assumiu “perante a comunidade internacional
de setores considerados sensíveis possam co- o compromisso de implantar um sistema de
laborar com a prevenção e o combate a este prevenção à lavagem de dinheiro, nos moldes
tipo de criminalidade, entre elas os deveres de estabelecidos internacionalmente”:
cadastrar clientes, registrar certas transações e
(i) A internalização da Convenção Contra o
comunicar operações suspeitas.
Tráfico Ilício de Entorpecentes e Substân-
Disto isto, com base na revisão da literatura cia Psicotrópicas (Convenção de Viena de
especializada e com um enforque no setor de 1988) por meio do Decreto nº 154, de 26
seguros, o presente artigo pretende analisar, de junho de 1991, a qual impôs aos países
em linhas gerais, os “deveres de compliance” signatários, pela primeira vez, a obrigação
estabelecidos na Lei de Lavagem de Dinhei- de criminalizar a lavagem de dinheiro pro-
ro, que comemora os seus 20 (vinte) anos em veniente do tráfico de drogas;
2018. Para tanto, este trabalho foi dividido em
(ii) A introdução, no ordenamento jurídico
06 (seis) seções, incluindo a presente introdu-
brasileiro, da Lei de Lavagem de Dinheiro,
ção. Na seção 2, é abordada a marcha do Brasil
considerada a primeira iniciativa legislativa
rumo ao estabelecimento de um arcabouço ju-
no Brasil para disciplinar o tema; e
rídico e de mecanismos voltados à prevenção
e combate à lavagem de dinheiro. A seção 3, (iii) A inserção do Brasil como membro do
por sua vez, trata da disseminação dos “deveres Grupo de Ação Financeira contra a Lava-
de compliance” para a prevenção à lavagem de gem de Dinheiro e o Financiamento ao

41
LEI 9.613, DE 1998

Terrorismo (GAFI/FATF), uma organização Posteriormente à promulgação da Lei de La-


intergovernamental criada em 1989, cujo vagem de Dinheiro e de sua adesão ao GAFI,
propósito é desenvolver e promover políti- o Brasil continuou envolvido em iniciativas in-
cas nacionais e internacionais de combate ternas e internacionais, as quais permitiram o
à lavagem de dinheiro e ao financiamento desenvolvimento de um cenário favorável à
do terrorismo. adoção e implementação de medidas voltadas
para a prevenção e o combate à lavagem de
Conforme compromisso internacional assu-
dinheiro no país.
mido pelo Brasil na Convenção de Viena, a Lei
de Lavagem de Dinheiro, que entrou em vigor No âmbito internacional, o ano 2000 foi mar-
em 1998, estabeleceu uma base para que o cado pela projeção regional do GAFI com a
Brasil pudesse efetivamente estruturar o seu criação do Grupo de Ação Financeira da Amé-
ambiente de prevenção e punição a tal prá- rica do Sul contra a Lavagem de Dinheiro e
tica criminosa. Por meio do referido diploma, o Financiamento do Terrorismo (GAFISUD) a
originariamente uma legislação de “segunda partir da reunião de países da América Latina
geração”1, o Brasil criminalizou a conduta de engajados no tema. O Estado brasileiro ainda
ocultar ou dissimular a origem de produtos tornou-se signatário e internalizou os princi-
de determinados crimes listados no artigo 1º pais instrumentos internacionais que tangen-
do texto legal (tráfico ilícito de substâncias en- ciam a matéria da lavagem de dinheiro, como
torpecentes, terrorismo e seu financiamento, a Convenção das Nações Unidas Contra o Cri-
contrabando de armas e munições, extorsão me Organizado Transnacional (Convenção de
mediante sequestro, delitos contra a Adminis- Palermo de 2000), promulgada pelo Decreto
tração Pública e o sistema financeiro nacional nº 5.015/2004, a Convenção Internacional pa-
e, ainda, crimes praticados por organização ra Supressão do Financiamento do Terrorismo,
criminosa). Além disso, a Lei de Lavagem de incorporada ao ordenamento jurídico pátrio
Dinheiro também criou o Conselho de Contro- por meio do Decreto nº 5.640/2005, e a Con-
le de Atividades Financeiras (COAF), uma Uni- venção das Nações Unidas contra a Corrupção
dade de Inteligência Financeira que tem por (Convenção de Mérida de 2003), promulgada
finalidade o disciplinamento, a aplicação de pelo Decreto nº 5.687/2006. O Brasil também
penas administrativas e o recebimento, exame aderiu à Convenção da Organização dos Es-
e identificação das ocorrências suspeitas de tados Americanos (OEA) contra a corrupção,
atividades lavagem, sem prejuízo da compe- aprovada pelo Decreto Legislativo nº 152/2002
tência de outros órgãos e entidades. e promulgada pelo Decreto Presidencial nº
4.410/2002, bem como aprofundou o seu rela-
cionamento com a Organização para a Coope-
ração e o Desenvolvimento Econômico (OCDE)
1 Habib (2016, p. 432) leciona que existem três gerações de
legislação antilavagem: (i) as leis de “primeira geração”, que
a partir da década de 19902.
trazem somente o crime de tráfico de drogas como infração
penal antecedente; (ii) as leis de “segunda geração”, que pre- No âmbito nacional, o arcabouço normativo
veem um rol das denominadas infrações penais anteceden- interno também foi sendo gradativamente
tes, a partir das quais se pode lavar dinheiro; e (iii) as leis de
“terceira geração”, que admitem qualquer delito como ante-
cedente. Dessa forma, a Lei de Lavagem de Dinheiro brasilei- 2 Informações disponíveis em: <http://www.itamaraty.gov.br/
ra é considerada, em sua origem, como, uma legislação de pt-BR/politica-externa/diplomacia-economica-comercial-e-
“segunda geração”, vez que estabelecia um rol exaustivo das -financeira/15584-o-brasil-e-a-ocde> e <http://www.pcn.fa-
chamadas infrações penais antecedentes, das se poderia la- zenda.gov.br/assuntos/ocde/o-brasil-e-a-ocde>. Acesso em:
var dinheiro. 25 de fevereiro de 2018.

42
20 Anos

fortalecido. A Lei de Lavagem de Dinheiro normas reguladoras de determinado setor” e


passou por diversas alterações legislativas por do “monitoramento constante para assegurar
meio das Leis nº 10.467/2002, 10.701/2003, seu cumprimento”.
10.683/2003 e 12.683/2012. Entre as mais re- Nos últimos anos, a expressão tem ganhado
levantes, estão as alterações operadas pela Lei visibilidade não só na mídia brasileira, mas
nº 12.683/2012. Esta, dentre outras providências, também no meio acadêmico e na prática da
transformou a Lei de Lavagem de Dinheiro em advocacia, principalmente a partir da promul-
uma legislação de “terceira geração” ao revogar o gação da Lei nº 12.843/2013 (Lei Anticorrup-
rol de infrações penais antecedentes e, dessa for- ção), que previu a existência de mecanismos
ma, tornar possível que o branqueamento seja e procedimentos internos de integridade no
feito com o produto de qualquer infração penal. âmbito da pessoa jurídica como um fator a ser
considerado na aplicação de sanções adminis-
trativas pela prática de atos de corrupção pre-
3. Disseminação vistos no referido diploma legal.

dos “deveres de No entanto, foi já a partir do advento da Lei de


Lavagem de Dinheiro que os operadores do di-
compliance” no Brasil e reito pátrio passaram a lidar com o termo “com-
prevenção à lavagem de pliance” com alguma frequência. Afinal, aquele
ato normativo estabeleceu, para certas pes-
dinheiro soas a ele sujeitas, “o dever de criação de siste-
ma de identificação e manutenção dos registros
Giovanni (2014, p. 20) explica que o termo (art. 10) e o dever de comunicação de operações
compliance – sem tradução correspondente à autoridades financeiras (art. 11) e a derivada
para o português – é oriundo do verbo inglês previsão de responsabilidade administrativa pelo
(“to comply”), tendo o significado de “cumprir, descumprimento dos deveres (art. 12)” (SILVEIRA,
satisfazer ou realizar uma ação imposta”. Ainda SAAD-DINIZ, 2015, p. 173).
segundo o autor, a expressão compliance se re- Segundo Anselmo (2017), conquanto a área de
fere “ao cumprimento rigoroso das regras e das compliance venha ganhando, cada vez mais,
leis, quer sejam dentro ou fora das empresas”. um destaque no cenário dos negócios, “a Lei
No âmbito corporativo, portanto, pode-se di- de Lavagem de Dinheiro (Lei 9.613/1998) já cria-
zer que o compliance está relacionado a “estar va um ambiente de obrigações administrativas
em conformidade com as leis e regulamentos a serem seguidas pelos ‘sujeitos obrigados’ a re-
internos e externos à organização”, o que vai portar operações suspeitas/atípicas, gama esta
muito além do simples atendimento à legis- ampliada consideravelmente pela reforma da lei
em 2012 (Lei 12.683)”. No mesmo sentido, con-
lação, e se traduz na busca de consonância
forme observa Saavedra (2013, p. 19), “na verda-
com princípios da empresa, como os de ética e
de, no Brasil, a Lei de Lavagem de Dinheiro é uma
de transparência (GIOVANNI, 2014, p. 20). Para
das leis percussoras, que há mais tempo trata de
além disso, ao conceituar o termo complian- compliance”. Segundo o autor, esses “deveres
ce, Bottini (2015) acrescenta a implementação de compliance” estão basicamente elencados
de procedimentos para assegurar a “aplicação nos artigos 10 e 11 do referido diploma e po-
de sanções disciplinares diante de atos falhos dem ser resumidos e sistematizados nos se-
ou de má-fé”, ao lado do “cumprimento das guintes 4 (quatro) deveres:

43
LEI 9.613, DE 1998

“1) identificar e cadastrar clientes; 2) registrar e coibir a ocorrência do crime em exame, na cha-
operações; 3) prestar informações requisita- mada política de compliance”. Nesse aspecto,
das pelas autoridades financeiras; e, princi- nas palavras de Anselmo (2015), a legislação
palmente, 4) comunicar, independentemente brasileira antilavagem estabelece um verda-
de provocação pelas autoridades, a prática de deiro “compartilhamento de responsabilida-
operações suspeitas de lavagem de dinheiro de” entre o Estado e os setores da economia
ou simplesmente valor elevado” (SAAVEDRA, usualmente utilizados para o branqueamento
2013, p. 19). de capitais. Isso porque, como visto, além de
Posteriormente, a Lei nº 12.683/2012 ampliou dispositivos penais e processuais penais rela-
o rol dos “deveres de compliance” previstos na cionados ao crime em comento, uma terceira
Lei de Lavagem de Dinheiro, passando, ainda, parte da Lei de Lavagem de Dinheiro estabe-
a aumentar o número de atividades (ou rol de lece obrigações administrativas direcionadas
pessoas) sujeitas aos mecanismos legais de à prevenção dessa prática criminosa, especial-
controle e a obrigar expressamente que essas mente por meio da regulação e da submissão
pessoas adotem políticas e procedimentos de ao controle do Estado de determinados seto-
controle interno compatíveis com seu porte e res da economia considerados mais vulnerá-
volume de operações, com o propósito de que veis à ocultação clandestina de valores, bens
possam atender às suas obrigações legais de e direitos de origem ilícita. Habib (2016, p.
conformidade. 457) se refere a essas obrigações administra-
tivas como um “dever de colaboração com o
Dessa forma, na visão de Silveira e Saad-Diniz
Estado” imposto às “pessoas que exercem ati-
(2015, p. 181), “a Lei de Lavagem de Dinheiro
vidades que podem ser meio para a prática da
verdadeiramente inaugurou um certo sistema
de compliance na realidade brasileira”, especifi- lavagem de dinheiro”.
cando determinadas pessoas físicas e jurídicas Além das instituições financeiras, o artigo 9º
que, de um lado, estão obrigadas a identificar da Lei de Lavagem de Dinheiro estabelece um
e cadastrar seus clientes e a manter registros rol com outras pessoas jurídicas e físicas que,
de transações financeiras, e, de outro lado, a por desenvolverem determinadas atividades
comunicar certas operações às autoridades econômicas e estarem sujeitas à sua utilização
reguladoras competentes. Tudo isso com o para a prática de lavagem de dinheiro, estão
propósito de prevenir a ocorrência do crime sujeitas ao regime administrativo, entre elas as
de lavagem de capitais, e também facilitar a seguradoras, as corretoras de seguros e as en-
persecução criminal em um contexto de glo- tidades de previdência complementar ou de
balização econômica e de movimentações em capitalização.
âmbito nacional e internacional, do que decor-
Os “deveres de compliance” estão previstos nos
re a noção de criminal compliance, como apon-
tado por Souza (2013). artigos 10 e 11 da Lei de Lavagem de Dinhei-
ro. Em linhas gerais, além do próprio dever de
adoção de políticas, procedimentos e contro-
3.1. Deveres de compliance na Lei les internos, o referido diploma legal estabele-
de Lavagem de Dinheiro ce obrigações administrativas que podem ser
Baltazar Junior (2014, p. 1.154) explica que divididos em 03 (três) grandes grupos: (i) iden-
“partindo do pressuposto de que o Estado não tificação e manutenção de cadastros de clien-
pode fiscalizar tudo, a lei impõe a particulares tes; (ii) registro de transações; e (iii) prestação
cuja atividade pode servir de meio para a lava- de informações e realização de comunicações
gem de dinheiro obrigações no sentido de evitar às autoridades competentes.

44
20 Anos

Pode-se dizer que a previsão legal desses “de- pela SUSEP. Além destes, com vistas a garantir
veres de compliance” decorre, em grande me- efetividade, Bottini (2015) recomenda ainda
dida, dos documentos internacionais dos quais que resoluções do COAF, atos normativos ex-
o Brasil se tornou signatário, como a Conven- pedidos por outras autoridades reguladoras
ção de Palermo, que determina, em seu artigo e recomendações/diretrizes constantes de
7º, “a”, que cada Estado-Parte: documentos internacionais também balizem
a) Instituirá um regime interno completo de a criação e implementação de programas de
regulamentação e controle dos bancos e ins- compliance voltados à prevenção da lavagem
tituições financeiras não bancárias e, quando de dinheiro. Isso porque, segundo o autor, tais
se justifique, de outros organismos especial- atos também sinalizam boas práticas, podem
mente susceptíveis de ser utilizados para a la- embasar interpretações pelo Poder Judiciário
vagem de dinheiro, dentro dos limites da sua e, em determinados setores, regular atividades
competência, a fim de prevenir e detectar que podem ser consideradas muito semelhan-
qualquer forma de lavagem de dinheiro, sen- tes umas com as outras.
do nesse regime enfatizados os requisitos re- Por fim, cumpre esclarecer que, além de re-
lativos à identificação do cliente, ao registro gulamentar a atividade das pessoas físicas e
das operações e à denúncia de operações jurídicas sujeitas aos “deveres de compliance”,
suspeitas; também cabe aos órgãos reguladores e de
Os “deveres de compliance” abrangidos por ca- supervisão impor penalidades administrati-
da um dos grupos acima serão tratados em vas pelo descumprimento de tais obrigações.
linhas gerais nas próximas subseções deste Nesse aspecto, no caso de descumprimento
trabalho. Antes disso, no entanto, cabe obser- das obrigações administrativas, o artigo 12 da
var que a regulamentação desses deveres foi Lei de Lavagem de Dinheiro estabelece que às
distribuída pela Lei de Lavagem de Dinheiro a pessoas físicas e jurídicas elencadas no artigo
diversas instituições nacionais, sendo atribuída 9º e aos seus administradores poderão ser apli-
ao COAF apenas uma competência residual cadas, cumulativamente ou não, as seguintes
para regular, normatizar e fiscalizar as ativida- sanções por meio da instauração de processo
des com relação às quais não há um órgão administrativo: (i) advertência; (ii) multa pecu-
regulador específico. Dessa forma, exemplifi- niária; (iii) inabilitação temporária, pelo prazo
cativamente, no âmbito das atividades de se- de até 10 (dez) anos, para o exercício do cargo
guro e capitalização, a regulação dos referidos de administrador das pessoas jurídicas referi-
deveres cabe à Superintendência de Seguros das no artigo 9º; e (iv) cassação ou suspensão
Privados (SUSEP). da autorização para o exercício de atividade,
operação ou funcionamento.
Dessa distribuição de competências decorre
que, independentemente do modelo e da es- A pena de advertência – a mais leve – está res-
truturação adotados, programas de compliance trita às irregularidades cometidas na identifica-
voltados à prevenção de lavagem de dinheiro ção e manutenção de cadastro atualizado de
devem levar em consideração e estabelecer clientes, ou no registro de transações que ul-
mecanismos para o cumprimento não só dos trapassem os limites fixados pelas autoridades
deveres estabelecidos na Lei 9.613/1998, mas competentes. Já a multa pecuniária pode ser
também em outros diplomas legislativos. As- aplicada às pessoas elencadas no artigo 9º da
sim, no âmbito das atividades de seguro e Lei de Lavagem de Dinheiro (e a seus adminis-
capitalização, por exemplo, a atividade de pre- tradores, quando cabível) que descumprirem
venção à lavagem de dinheiro deverá seguir as quaisquer “deveres de compliance” elencados
circulares e demais atos normativos expedidos nos artigos 10 e 11 do referido diploma legal

45
LEI 9.613, DE 1998

e, ainda, que deixarem de sanar as irregularida- ser ampliado pela autoridade reguladora com-
des objeto de advertência no prazo assinalado petente de cada setor. No Brasil, portanto, as
pela autoridade competente. A inabilitação pessoas físicas e jurídicas elencadas na Lei de
temporária, por sua vez, será aplicada quando Lavagem de Dinheiro estão obrigadas a adotar
forem verificadas infrações graves quanto ao mecanismos de identificação de seus clientes,
cumprimento das obrigações constantes da uma prática conhecida no âmbito corporati-
Lei ou quando ocorrer reincidência específica, vo internacional como política de “know your
devidamente caracterizada em transgressões client” (“conheça o seu cliente”).
anteriormente punidas com multa. Por fim,
Cabe ressaltar que a Lei de Lavagem de Dinhei-
a cassação da autorização será aplicada nos
ro determina que esses cadastros e registros
casos de reincidência específica de infrações
deverão ser conservados durante o período
anteriormente punidas com a pena de inabili-
tação temporária para o exercício do cargo de mínimo de 05 (cinco) anos a partir do encerra-
administrador. mento da conta ou da conclusão da transação.

Todas essas penalidades, é importante ressal-


tar, são de ordem administrativa, não prevendo 3.1.2. Registro de transações
a Lei de Lavagem de Dinheiro qualquer sanção O artigo 10, II, da Lei de Lavagem de Dinheiro
criminal pelo descumprimento dos “deveres determina que as pessoas obrigadas deverão
de compliance” pela pessoa obrigada. Isso, no manter um registro de transações, em moeda
entanto, se distingue da possibilidade de ha- nacional ou estrangeira, títulos e valores mobi-
ver eventual implicação de responsabilidade liários, títulos de crédito, metais, ou qualquer
de ordem penal à pessoa física pelo não cum- ativo passível de ser convertido em dinheiro,
primento desses deveres. Em outras palavras, que ultrapassar limite fixado nas instruções
não afasta a possibilidade de responsabiliza- expedidas pelas autoridades competentes de
ção a título de lavagem de dinheiro pela falha cada setor. Ainda de acordo com a Lei de Lava-
no cumprimento normativo, o que ainda vem gem de Dinheiro (artigo 10, §3º), esse registro
sendo bastante questionado e discutido na de transações também deverá ser efetuado
doutrina pátria, sobretudo a partir do julga- quando a pessoa física ou jurídica, seus en-
mento da Ação Penal nº 470 pelo Supremo Tri- tes ligados, houver realizado, em um mesmo
bunal Federal (“Mensalão”). mês-calendário, operações com uma mesma
pessoa, conglomerado ou grupo que, em seu
3.1.1. Identificação e manutenção conjunto, ultrapassem o limite fixado pela au-
de cadastros de clientes toridade competente.
No que diz respeito ao primeiro grupo, o artigo
10, I, da Lei de Lavagem de Dinheiro determina 3.1.3. Prestação de informações e
um dever de vigilância voltado para a clientela. realização de comunicações
Assim, estabelece a Lei que as pessoas elenca-
O artigo 10, V, da Lei de Lavagem de Dinheiro
das no seu artigo 9º deverão identificar seus
estabelece que as pessoas físicas e jurídicas
clientes e manter um cadastro atualizado des-
elencadas no artigo 9º deverão atender às re-
tes, conforme as instruções emanadas das au-
quisições formuladas pelo COAF na periodici-
toridades reguladoras competentes. Em sendo
dade, forma e condições por ele estabelecidas.
o cliente uma pessoa jurídica, a sua identifica-
ção deverá abranger também as pessoas físicas Além disso, tais pessoas também deverão co-
autorizadas a representá-lo, bem como os seus municar ao COAF, abstendo-se de dar ciência
proprietários. No entanto, esse prazo poderá de tal ato a qualquer pessoa, inclusive àquela à

46
20 Anos

qual se refira a informação, no prazo de 24 (vin- As informações e comunicações recebidas


te e quatro) horas, a proposta ou realização de: pelo COAF são utilizadas nas suas atividades
(i) Todas as transações que devem ser registra- de inteligência financeira. Além disso, o refe-
das por ultrapassarem os limites fixados pe- rido órgão também repassa tais informações
las autoridades reguladoras competentes, e comunicações às respectivas entidades res-
as chamadas “Comunicações de Operações ponsáveis pela regulação ou fiscalização das
Automáticas” (art. 10, II, “a”). Neste caso, as pessoas obrigadas. É importante destacar que
comunicações devem ser efetuadas pelos as comunicações feitas de boa-fé, ainda que
setores obrigados sem análise de mérito, não confirmadas, não acarretam responsabi-
simplesmente em razão de valores ou si- lidade civil ou administrativa para as pessoas
tuações previamente definidas nas normas que as realizaram. De outra banda, como visto
emitidas pelos órgãos reguladores compe- anteriormente, o descumprimento do dever
tentes; e de comunicação pode resultar na responsabili-
zação administrativa da pessoa obrigada.
(ii) Operações que, nos termos de instruções
emanadas das autoridades competentes,
possam constituir-se em sérios indícios de
crime de lavagem de dinheiro e delitos re-
lacionados, as chamadas “Comunicações de
4. A regulação dos
Operações Suspeitas” (art. 10, II, “b”). Neste “deveres de compliance”
caso, as comunicações devem ser efetua-
das pelos setores obrigados levando-se
no setor de seguros
em conta as partes envolvidas, os valores, o
modo de realização, o meio e forma de pa- Como visto, a SUSEP, enquanto autarquia res-
gamento, além daquelas que, por falta de ponsável pelo controle e fiscalização dos mer-
fundamento econômico ou legal, possam cados de seguro, previdência privada aberta,
configurar sérios indícios da ocorrência de capitalização e resseguro, também é responsá-
crime de lavagem de dinheiro, ou com ele vel por regular e fiscalizar o cumprimento dos
se relacionar. Para tanto, determina a Lei de “deveres de compliance” previstos na Lei de La-
Lavagem de Dinheiro que as autoridades vagem de Dinheiro para o referido setor.
competentes devem elaborar, em suas ins-
Nesse contexto, a SUSEP já emitiu diversos
truções, relação de operações que, por suas
atos normativos relacionados à prevenção e
características, possam configurar os referi-
ao combate da lavagem de dinheiro no setor
dos crimes (art. 11, §1º).
de seguros no Brasil3, sendo que, atualmen-
Tais obrigações de comunicação (ou de sina- te, a matéria está principalmente disciplinada
lização) são corolário do dever de vigilância na Circular nº 445, de 02 de julho de 2012. No
imposto às pessoas com atividades nos seto- âmbito de entidades de seguros, capitalização,
res obrigados. Além dessas comunicações, a resseguro e previdência complementar, esse
Lei de Lavagem de Dinheiro também prevê ato normativo dispõe sobre os controles inter-
que deverão comunicar ao órgão regulador ou nos específicos para a prevenção e combate
fiscalizador de sua atividade (ou, na sua falta, dos crimes de “lavagem” ou ocultação de bens,
ao COAF), a não ocorrência de propostas de direitos e valores, ou os crimes que com eles
transações ou operações passíveis de serem possam relacionar-se, o acompanhamento das
comunicadas (art. 11, III). Tratam-se estas das
chamadas “Comunicações de Não Ocorrência” 3 Nesse sentido, conferir as já revogadas Circulares nº 200/2002,
ou “Declarações Negativas”. 327/2006, 341/2007 e 380/2008.

47
LEI 9.613, DE 1998

operações realizadas e as propostas de ope- funcionários para o cumprimento do disposto


rações com pessoas politicamente expostas, na Lei nº 9.613/98, nesta Circular e demais re-
bem como a prevenção e coibição do financia- gulamentos referentes à lavagem de dinheiro
mento ao terrorismo. e à prevenção e combate ao financiamento ao
terrorismo; e
O artigo 5ª da Circular nº 445/2012 prevê que
as pessoas sujeitas a tal ato normativo devem V – elaboração e execução de programa anual
desenvolver e implementar procedimentos de de auditoria interna que verifique o cumpri-
controles internos, que sejam efetivos e consis- mento dos procedimentos desta Circular, em
tentes com a natureza, complexidade e riscos todos os seus aspectos, podendo tal verifica-
das operações realizadas. Tais procedimentos ção, a critério da sociedade, do ressegurador
devem contemplar a identificação, a avaliação, ou do corretor, ser conduzida pelo seu depar-
o controle e o monitoramento dos riscos de tamento de auditoria interna ou por auditores
serem envolvidos em situações relacionadas à independentes.
lavagem de dinheiro, bem como mecanismo Para fins do cadastro de clientes a que se refere
para prevenir e coibir o financiamento ao ter- o artigo 10, I, da Lei de Lavagem de Dinheiro, a
rorismo, com relação aos produtos comercia- SUSEP exige que as sociedades, os ressegura-
lizados, negociações privadas, operações de dores e os corretores realizem e mantenham
compra e venda de ativos e demais práticas atualizada a identificação de clientes, benefi-
operacionais. Dessa forma, é exigido que o pro- ciários e outras partes diretamente relaciona-
grama de controle interno contenha, no míni- das à operação, devendo tal cadastro conter
mo, os seguintes itens: uma série de informações e documentos com-
I – estabelecimento de uma política de pre- probatórios listados no artigo 7º da Circular nº
venção e combate à lavagem de dinheiro e ao 445/2012, os quais variarão conforme o tipo de
financiamento ao terrorismo, que inclua dire- produto/serviço oferecido, assim como o mo-
trizes sobre avaliação de riscos na subscrição mento de realização de tal cadastro.
de operações, na contratação de terceiros ou Como regra geral, os registros cadastrais e a
outras partes relacionadas, no desenvolvimen- documentação comprobatória podem ser ar-
to de produtos, nas negociações privadas e mazenados sob a forma de documento ele-
nas operações com ativos; trônico ou impresso e devem ser guardados
II – elaboração de critérios e implementação pelos períodos estabelecidos em regulamen-
de procedimentos de identificação de clien- to. A Circular nº 445/2012, no entanto, permite
tes, beneficiários, terceiros e outras partes que o diretor da entidade obrigada respon-
relacionadas, e de manutenção de registros sável pelo cumprimento do disposto na Lei
referentes a produtos e procedimentos expos- nº 9.613/98 e suas regulamentações poderá
tos ao risco de servirem à lavagem de dinheiro dispensar o cumprimento de itens dos cadas-
e ao financiamento ao terrorismo; tro para residentes no Brasil ou em países que
não apresentem deficiências estratégicas no
III – manualização e implementação dos pro-
combate à lavagem de dinheiro e ao financia-
cedimentos de identificação, monitoramento,
mento do terrorismo, desde que tal dispensa
análise de risco e comunicação de operações
ocorra mediante expressa justificativa e seja
que possam constituir-se em indícios de lava-
baseada em estudo de risco, os quais deverão
gem de dinheiro ou de financiamento ao ter-
ficar disponíveis para imediata apresentação à
rorismo, ou com eles relacionar-se;
SUSEP mediante solicitação. Todavia, para as
IV – elaboração e execução de programa de pessoas qualificadas como politicamente ex-
treinamento específico de qualificação dos postas, as exigências de identificação deverão

48
20 Anos

ser cumpridas integralmente, incluindo a co- envolvimento de pessoa politicamente expos-


leta e o armazenamento da documentação ta, se couber; (ii) mencionar o corretor inter-
comprobatória. mediário da operação; e (iii) ser realizadas por
No que diz respeito ao monitoramento de meio da página eletrônica do COAF, sem que
operações e relações de negócios, a Circular seja dada ciência aos envolvidos.
nº 445/2012 estabelece que essa tarefa deverá Finalmente, a Circular nº 445/2012 também
ser realizada de forma reforçada e contínua nos regula as comunicações negativas que devem
casos de relação de negócio mantida com pes- ser feitas à SUSEP pelas sociedades e pelos res-
soa politicamente exposta4 ou relação de ne- seguradores, se durante qualquer mês do ano
gócio que, por suas características, tenha risco calendário não forem verificadas operações de
de estar relacionada a operações de lavagem reporte obrigatório elencadas no referido ato
de dinheiro ou financiamento do terrorismo. normativo. Tal comunicação deve ser realizada
Ademais, também devem ser consideradas de por meio da página eletrônica da própria SU-
risco aquelas operações ou relações de negó- SEP até o dia 20 do mês subsequente ao mês
cios nas quais houver dúvidas sobre a veracida- no qual não foram verificadas as referidas situa-
de e a adequação da identificação do cliente. ções de comunicação obrigatória.
Com relação ao registro de operações exigi-
do pelo artigo 10, II, da Lei de Lavagem de
Dinheiro, a Circular nº 445/2012 exige que as 5. Conclusão
sociedades, resseguradores e corretores man-
tenham organizados e à disposição da SUSEP,
A gradativa inserção do Brasil no sistema inter-
pelo prazo regulamentar, os registros, cadas-
tros, análises de risco e demais documentos, nacional de combate à lavagem de dinheiro
relativos a todas as operações com clientes, se deu principalmente a partir da década de
beneficiários, terceiros e outras partes relacio- 1990. Internamente, do ponto de vista norma-
nadas. Essas pessoas obrigadas são responsá- tivo, a Lei de Lavagem de Dinheiro representou
veis pela exatidão e adequação dos registros um marco relevante na marcha para a preven-
e documentos, ressalvados, no entanto, o dolo ção e repressão ao branqueamento de capi-
e a má-fé por parte das pessoas e a inexatidão tais. Além de tipificar o crime de lavagem de
dos dados cadastrais das bases e/ou outras ori- dinheiro e criar uma Unidade de Inteligência
gens de informações, que não estão em poder Financeira no Brasil (o COAF), em linha com as
da sociedade. recomendações e práticas internacionais, a re-
ferida Lei também estabeleceu a participação e
No que tange às transações de comunicação
colaboração das próprias entidades reguladas
obrigatória, na forma do artigo 11, II, da Lei de
no combate à prática delituosa em comento.
Lavagem de Dinheiro, a Circular nº 445/2012
lista determinadas operações que devem ser Conforme exposto, as obrigações administra-
comunicadas à SUSEP, no prazo de 24 (vinte tivas impostas às pessoas obrigadas elencadas
e quatro) horas, contadas da operação ou do na 9º da Lei de Lavagem de Dinheiro vêm sen-
conhecimento de condição que se enquadre do consideradas pela doutrina especializada
nos critérios de comunicação. Tais comunica- como verdadeiros “deveres de compliance”, que
ções devem: (i) mencionar a participação ou o são corolários do dever de vigilância imposto
àquelas pessoas e se perfazem numa noção
4 No caso de enquadramento na condição de pessoa politica- inicial de criminal compliance com vistas à pre-
mente exposta, deverá ser identificada a origem dos recursos
das operações com valores iguais ou superiores a R$10.000,00
venção da lavagem de dinheiro e facilitação da
(dez mil reais). sua persecução penal.

49
LEI 9.613, DE 1998

Com base na revisão da literatura e legislação


aplicável e com um enfoque no setor de se-
6. Bibliografia
guros, o presente artigo abordou, em linhas
gerais, os referidos “deveres de compliance”, ANSELMO, Marcio Adriano. Compliance e lavagem
que podem ser divididos em 03 (três) grandes de dinheiro: o papel dos novos reguladores.
Revista de Direito Bancário e do Mercado de
grupos: (i) identificação e manutenção de ca-
Capitais, São Paulo, v. 18, n. 69, p. 349 – 378, jul./
dastros de clientes; (ii) registro de transações; e
set. 2015.
(iii) prestação de informações ao COAF e reali-
ANSELMO, Marcio Adriano. Compliance, direito
zação de comunicações às autoridades regula-
penal e investigação criminal: uma análise
doras e fiscalizadoras competentes.
à luz da ISO19600 e 37001. Revista dos Tribu-
Como visto, a regulamentação desses deveres nais, São Paulo, v. 106, n. 979, p. 53 – 67, maio
foi distribuída pela Lei de Lavagem de Dinhei- 2017.
ro a diversas instituições nacionais, restando BALTAZAR JUNIOR, José Paulo. Crime federais. 9ª
ao COAF apenas uma competência residual ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Saraiva, 2014.
nos casos em que não há um órgão regulador BOTTINI, Pierpaolo Cruz. Prevenção à lavagem de
específico. dinheiro: novas perspectivas sob o prisma da lei
e da jurisprudência. Revista de Direito Bancá-
Especificamente no caso do setor de segu-
rio e do Mercado de Capitais, São Paulo, v. 18,
ro, previdência privada aberta, capitalização e
n. 67, p. 163-195, jan./mar. 2015.
resseguro, a regulamentação e fiscalização do
GIOVANINI, Wagner. Compliance: a excelência na
cumprimento dos “deveres de compliance” ca-
prática. São Paulo: 2014.
be à SUSEP, sendo o principal ato normativo
HABIB, Gabriel. Leis Penais Especiais volume úni-
atualmente em vigor nessa matéria a Circular
co: atualizado com os Informativos e Acór-
nº 445/2012. Dessa forma, para que os progra-
dãos do STF e do STJ de 2015. Coordenador
mas de compliance para a prevenção de lava-
Leonardo de Medeiros Garcia. 8ª ed. rev., atual. e
gem de dinheiro adotados por essas entidades
ampl. – Salvador: Juspodivm, 2016.
sejam efetivos, é necessário que sejam levados
SAAVEDRA, Giovani Agostini. Compliance e pre-
em consideração e estabelecidos mecanismos
venção à lavagem de dinheiro. Revista Apó-
para o cumprimento não só dos deveres esta-
lice, São Paulo, v. 18, n. 181, p. 18-19, nov. 2013.
belecidos na Lei 9.613/1998, mas também em
SILVEIRA, Renato de Mello Jorge; SAAD-DINIZ,
outros diplomas legislativos.
Eduardo. Compliance, direito penal e lei anti-
corrupção. São Paulo: Saraiva, 2015.
SOUZA, Luciano Anderson de; FERREIRA, Regina
Cirino Alves. Criminal compliance e as novas
feições do Direito Penal Econômico. Revista
de Direito Bancário e do Mercado de Capitais,
São Paulo, v. 16, n. 59, p. 281-301, jan./mar. 2013.

50
20 Anos

CONGRESSO BRASILEIRO São Paulo, 15 e 16


XII DE DIREITO DE SEGURO
de março de 2018
(Quinta e Sexta-feira)
E PREVIDÊNCIA
AASP - Associação dos Advogados de São Paulo

O XII Congresso Brasileiro de Direito de Seguro e Previdência tem como


objetivo fomentar estudos, reflexões e debates sobre a dimensão
jurídica dos institutos de seguro, resseguro e previdência privada,
de forma a possibilitar a ampliação e divulgação de conhecimentos
técnicos e jurídicos próprios dessas espécies contratuais.

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LEI 9.613, DE 1998

Compliance Anti-Lavagem
de Dinheiro como
Ferramenta de Gestão do
Risco Reputacional

A segunda é a Resolução nº 2.554 do Banco


Central, que dispõe sobre a implantação e
implementação de sistema de controles in-
ternos pelas instituições financeiras e demais
instituições autorizadas a funcionar por aquele
regulador.
Ambas legislações provocaram sensível mu-
ALAIM ASSAD dança na gestão das empresas, inicialmente do
mercado financeiro, e mais tarde se expandi-
ram para empresas de todos os ramos de ativi-
1. Introdução dade. A sua combinação gerou um novo ramo
do Compliance, o Compliance Anti-lavagem
de Dinheiro, de importância cada vez maior
Em 2018 comemora-se vinte anos de duas le-
para a gestão dos riscos de reputação, financei-
gislações muito importantes, que obtiveram
ros e mesmo de perenidade das organizações.
grande repercussão nos últimos anos, princi-
palmente devido a diversas operações do Mi-
nistério Público e da Polícia Federal, sendo a
Lava Jato a mais importante delas. 2. A Lei 9.613 de 1998
A primeira é a Lei nº 9.613 de 1998, que dispõe
sobre os crimes de “lavagem” ou ocultação de Um dos benefícios desta legislação, posterior-
bens, direitos e valores; a prevenção da utiliza- mente alterada pela Lei nº 12.683 de 2012, foi
ção do sistema financeiro para os ilícitos pre- apresentar uma definição para o crime de lava-
vistos nesta Lei; cria o Conselho de Controle gem de dinheiro. Assim, a lavagem de dinhei-
de Atividades Financeiras – COAF, e dá outras ro passa a ser definida como sendo “ocultar
providências. ou dissimular a natureza, origem, localização,

52
20 Anos

disposição, movimentação ou propriedade de autoridades competentes, encarregadas de


bens, direitos ou valores provenientes, direta sua investigação, responsabilização judicial e,
ou indiretamente, de infração penal”. se aplicável, penalização.
A natureza ilícita da origem do dinheiro, objeto
dessa movimentação, é portanto explícita. Ela
abrange ilícitos como: caixa dois, doações po- 3. A Resolução BACEN
líticas irregulares, contrabando e descaminho
de diversos tipos, entre outros. nº 2.554 de 1998
Ela abrange não somente os autores desses ilí-
citos, mas também quem coopera nas ativida- Embora o seu escopo seja a implantação de
des para dissimulação e movimentação desses um sistema de controles internos pelos bancos
valores; impondo a ambos penalidades e mul- e demais entidades supervisionadas pelo Ban-
tas, consoante a sua culpabilidade nas transa- co Central, ela já trazia o âmago de um Progra-
ções ilícitas. ma de Compliance.

Inicialmente, as pessoas físicas e jurídicas obri- O seu artigo 1º. determina que as instituições
gadas ao seu cumprimento eram notadamen- referidas implantem e implementem contro-
te as instituições pertencentes ao mercado les internos voltados, entre outros itens, para
financeiro. Entretanto, o aperfeiçoamento do assegurar o cumprimento das normas legais
arcabouço legal trazido pela Lei nº 12.683 de e regulamentares a elas aplicáveis. Esse é o
2012 passou a incluir também diversas outras aspecto normativo do Compliance. É óbvia a
entidades, tais como: as pessoas físicas ou ju- obrigação de qualquer instituição cumprir a
rídicas que exerçam atividades de promoção legislação aplicável, seja ela uma norma ge-
imobiliária ou compra e venda de imóveis; as ral, por exemplo a legislação trabalhista; seja
juntas comerciais e os registros públicos; e as uma norma específica do seu setor de atua-
pessoas físicas ou jurídicas que prestem, mes- ção, por exemplo a norma aplicável à regula-
mo que eventualmente, serviços de assessoria, ção de sinistros do mercado segurador. Essa
consultoria, contadoria, auditoria, aconselha- responsabilidade cabe à Diretoria da entidade,
mento ou assistência, de qualquer natureza, conforme disposto no artigo 2º, inciso VI.
em operações; entre outros.
Já o seu artigo 4º. também atribui à Diretoria
O aumento do escopo de abrangência da le- da instituição a responsabilidade de promover
gislação e dos setores empresariais obrigados elevados padrões éticos e de integridade. Esse
a obedecê-lo é claro sinal do aperfeiçoamen- é o segundo aspecto do Compliance: o ético.
to dos mecanismos legais, advindos da expe- Todas as organizações, seja a que mercado per-
riência dos diversos órgãos governamentais na tençam, estão em busca do lucro. Isso é lícito
aplicação da referida Lei. e necessário dentro do sistema capitalista em
A criação do COAF representou avanço sig- que estamos inseridos. Mas a forma como essa
nificativo no desenvolvimento da inteligên- busca pelo lucro se desenvolverá necessita es-
cia financeira brasileira. O nosso país passou tar adequada a padrões de conduta e compor-
a contar com um órgão que, subsidiado por tamento que não firam as melhores práticas e
informações recebidas dos diversos seto- o respeito ao cliente, à livre concorrência, ao
res obrigados, pode apresentar relatórios às Governo e ao mercado em geral.

53
LEI 9.613, DE 1998

O atendimento à legislação e a busca de pa- nos conduzir? O fato de sermos hoje mais ricos
drões éticos e integridade no Brasil não é tarefa de conhecimentos do que o homem selvagem
simples. Basta verificar as manchetes dos jor- terá, porventura, influído na bondade do pró-
nais relativas aos diversos escândalos de cor- prio homem”?
rupção trazidos à luz pela Operação Lava Jato Entretanto, não foi senão pela publicação da
e outras. chamada Lei Anticorrupção, a Lei nº 12.846
A Resolução nº 2.554 do Bacen foi a primeira de 2013 e suas regulamentações, que o Com-
de uma série de outras, como por exemplo pliance se tornou objeto de atenção de todas
a Circular SUSEP nº 249 de 2004, que segue as empresas, de todos os setores de atividade.
a mesma linha da anterior e regulamentou o As altíssimas penalizações, a possibilidade de
Compliance no mercado segurador brasileiro. responsabilização de pessoas físicas envolvidas
em ilícitos além da pessoa jurídica, e os danos
à reputação causados pela publicidade das in-

4. A popularização do vestigações e condenações judiciais; fizeram


com que o empresariado em geral passasse a
compliance prestar atenção a esse tema.
Paralelamente, o próprio Compliance foi se
Até recentemente, Compliance era assunto de aperfeiçoando, inclusive assumindo caracte-
preocupação de empresas multinacionais, de- rísticas específicas de determinados setores
vido às legislações dos seus países de origem; de atuação, como por exemplo o Compliance
e de empresas do mercado financeiro, devido farmacêutico; como também de certas legis-
às legislações nacionais incidentes sobre esse lações específicas, como por exemplo o Com-
setor altamente regulado da economia. pliance Antilavagem de Dinheiro.
O desenvolvimento do arcabouço legal bra- O Compliance, portanto, muito mais do que o
sileiro aliado à modernização da economia atendimento à legislação, ainda que isso seja
possivelmente impulsionou novos desenvolvi- fundamental para a boa Governança de qual-
mentos regulatórios. A título de exemplo, um quer empresa; tornou-se ferramenta de pro-
deles foi o Código de Defesa do Consumidor, teção para as empresas. Essa proteção visa a
parte hipossuficiente da relação comercial, mitigar os seus riscos de penalização financei-
cujos direitos foram formalizados legalmente ra – recorde-se que as penalizações, especial-
em 1990, através da Lei nº 8.078. mente as relacionadas a lavagem de dinheiro,
De fato, a implementação de princípios éticos são muito altas – mas também à sua própria
e de integridade apresenta dificuldades a co- reputação e perenidade dos seus negócios.
meçar pela própria definição do que seja ética. É mister observar que muitas das empresas e
Segundo o dicionário Houaiss on line, ética é o pessoas físicas acusadas ou condenadas no
“segmento da filosofia que se dedica à análise âmbito da Operação Lava Jato, sofreram, entre
das razões que ocasionam, alteram ou orien- outras, penalizações pelo crime de lavagem
tam a maneira de agir do ser humano, geral- de dinheiro. Em consequência, muitas das
mente tendo em conta seus valores morais”. empresas tiveram que promover alterações
Reale (2014:28) apresenta-nos algumas per- significativas nos seus quadros executivos e so-
guntas: “Que devemos fazer? Como devemos freram danos à sua reputação. Some-se a isso

54
20 Anos

as penalizações, algumas vezes oriundas de


acordos de leniência com os órgãos governa-
6. Os benefícios do
mentais, e tem-se um quadro de ameaça real à compliance antilavagem
continuação dos seus negócios.
de dinheiro
O Compliance Antilavagem de Dinheiro, cons-
5. O compliance titui-se em importante ferramenta mitigadora
antilavagem de de riscos. Nesse sentido ele mitiga os riscos de
penalidades regulatórias; de gastos jurídicos
dinheiro para uma eventual defesa; evita a redução na
carteira de clientes, uma vez que alguns deles
Faz-se necessário, portanto, o estabelecimento podem não querer continuar trabalhando com
de um programa eficaz de Compliance Antila- empresas condenadas por este crime; entre
vagem de dinheiro, com o objetivo de preve- outros.
nir que a empresa adote ou seja envolvida em Mais do que isso, um Programa de Compliance
atos ilícitos originados. Antilavagem de Dinheiro também é uma fer-
No que tange mais especificamente ao merca- ramenta para o desenvolvimento de negócios,
do segurador brasileiro, alguns dos principais uma vez que empresas éticas, com bons con-
componentes desse programa específico de troles internos e boa Governança terão a sua
Compliance são: reputação preservada, alavancando a realiza-
ção dos seus projetos. Isso torna-se uma verda-
• Implementar normas e políticas de preven-
deira vantagem competitiva, no mercado em
ção à lavagem de dinheiro – periodicamen-
geral, e especialmente quando realizando ne-
te atualizáveis conforme os seus produtos,
gócios com entidades governamentais.
os riscos das suas atividades e que sejam co-
municadas através de treinamentos a todos Os danos à reputação de uma empresa são
os funcionários; alguns dos mais importantes, seja qual for o
• Implementar procedimentos de identifi- ramo de atividade, mas especialmente para as
cação dos clientes – com especial moni- instituições do mercado financeiro, como ban-
toramento das operações efetuadas por cos, seguradoras, entre outras. Recuperar uma
pessoas expostas politicamente (PEP); reputação manchada é tarefa hercúlea e muito
difícil de se alcançar. A prevenção a lavagem
• Monitorar, analisar, se aplicável e comunicar
de dinheiro, através de um programa de Com-
ao COAF as operações suspeitas – a Circular
pliance profissional é, desta forma, importante
SUSEP nº 445 de 2012 apresenta a lista des-
ferramenta empresarial para a gestão dos ris-
sas operações, bem como a forma e perio-
cos empresariais.
dicidade de seu reporte ao COAF;
• Desenvolver um programa anual de Audito-
ria Interna – para verificar a eficácia do Pro-
grama de Compliance;
• Registrar os controles e análises efetua-
dos – conforme o prazo determinado na
legislação.

55
LEI 9.613, DE 1998

7. Referências
bibliográficas
BACEN. Resolução 2554 de 1998. Disponível em
<http://www.bcb.gov.br/pre/normativos/
res/1998/pdf/res_2554_v3_P.pdf>. Acesso em
24.fev.2018.
BRASIL. Lei nº 9.613 de 1998. Disponível em <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9613.
htm>. Acesso em 24.fev.2018.
CNSEG. Função de Compliance no Mercado Se-
gurador Brasileiro. Disponível em <http://
cnseg.org.br/data/files/B8/61/97/33/
A4D214107E8578047E88C584/Manual%20
de%20Boas%20Pr%C3%A1ticas%20em%20
Compliance_site.pdf>. Acesso em 24.fev.2018.
Dicionário Houaiss on line. Disponível em https://
www.dicio.com.br/etica/. Acesso em 14.fev.2018
REALE, Miguel. Introdução à Filosofia. 4. Ed. São Pau-
lo: Saraiva, 2014.
SUSEP. Circular nº 249 de 2004. Disponível em
<http://www2.susep.gov.br/bibliotecaweb/do-
cOriginal.aspx?tipo=2&codigo=14777>. Acesso
em 24.fev.2018.

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LEI 9.613, DE 1998

Os 20 anos da Lei
brasileira sobre
“lavagem” de dinheiro
processos e estruturas com objetivo de apa-
rentar algo lícito, proteger os recursos ou evitar
o alcance dos órgãos de repressão e combate
a esses crimes. A utilização do sistema financei-
ro é um dos caminhos utilizados na tentativa
da lavagem ou ocultação de bens, direitos ou
valores resultantes de atividades criminosas. Os
efeitos danosos deste crime para uma socieda-
de são significativos e prolongados exigindo
estratégia, instituições robustas, mecanismos
de controle, aculturamento, celeridade nas
apurações e rigor nas punições.
Dentre as iniciativas internacionais destaca-se
a reunião do G-7 em Paris em 1989 quando foi
estabelecido um marco relevante na criação
PHELIPE LINHARES
de uma força tarefa denominada FATF (Finan-
cial Action Task Force), atualmente denomina-

O
do FATF-GAFI, com o propósito de desenvolver
termo “lavagem de dinheiro” tem per- ações internacionais coordenadas tendo como
meado os diversos veículos de comunicação, resultados de suas primeiras iniciativas uma
fóruns, reuniões e rodas de conversas informais lista de 40 recomendações que governos po-
sobretudo nos últimos anos a partir da instau- deriam aplicar na implementação de progra-
ração da operação da Polícia Federal denomi- mas de prevenção e combate a lavagem de
nada “Lava Jato”. A lavagem de dinheiro é uma dinheiro. Posteriormente, em 2001, houve a
tipificação de crime no Brasil e considerada in- adição de temas ligados ao combate ao finan-
fração penal a partir da publicação da Lei 9.613 ciamento do terrorismo além de outras atua-
de 3 de março de 1998 que completa 20 anos lizações mais recentes. O Brasil é membro do
neste ano de 2018. FATF desde o ano 2000 tendo como compro-
Consta na história a ocorrência de lavagem misso a implementação das recomendações e
de dinheiro em períodos que remontam a colaboração para avaliações periódicas pelo
2000 anos atrás quando mercadores chineses GAFI quanto ao nível destas implementações.
ocultavam seus ganhos com atividades con- A publicação da Lei 9.613/98 foi um marco no
sideradas ilegais na época. Até os dias atuais, Brasil e representa o início de inúmeras ativi-
indivíduos e organizações criminosas atuam dades relevantes tais como a criação do COAF
para disfarçar o resultado econômico de seus (Conselho de Controle de Atividades Financei-
ilícitos por meio de diversos e complexos ras) no âmbito do Ministério da Fazenda e o

58
20 Anos

envolvimento de instituições participantes dos • Criar instrumentos para dar publicidade às


mercados financeiro e segurador requeridas a notas fiscais emitidas para órgãos e entida-
desenvolver mecanismos de identificação, con- des de todos os poderes na administração
trole e registro de transações de clientes, assim pública em todos os entes da federação
como a comunicação de indícios dos crimes • Elaborar propostas de medidas voltadas ao
previstos na Lei. Em 2012 foi promulgada a im- combate à corrupção privada
portante Lei 12.683 que fortaleceu a Lei 9.613 • Consolidar a estratégia para fortalecer a Pre-
trazendo mais rigor no enquadramento do cri- venção Primária da Corrupção
me, punições mais severas e ampliação na exi- • Implementar medidas de restrição e contro-
gência de remessas de informações ao COAF. le do uso de dinheiro em espécie
Em 2003 foi instituída no âmbito do Ministério • Aprofundar os estudos sobre a utilização de
da Justiça a Estratégia Nacional de Combate à moedas virtuais para fins de lavagem de di-
Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (ENCCLA) nheiro e eventualmente apresentar propos-
que é formada por mais de 70 órgãos, dentre tas para regulamentação ou adequações
eles os reguladores e supervisores de institui- legislativas
ções financeiras (CVM, SUSEP, Banco Central do • Preparar os sistemas de extração de dados
Brasil, COAF e SPC) além de representantes dos estruturados para a geração de dados esta-
três poderes da República, Ministério Público e tísticos para a Avaliação Nacional de Risco
sociedade civil. A articulação e implementação (ANR) e para as avaliações de organismos
da ENCCLA está a cargo do Departamento de internacionais
Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica • Fortalecer os marcos normativos da atua-
Internacional (DRCI/SNJ). Destaca-se ainda o ção da PREVIC e da SPREV no que se refere
Laboratório de Tecnologia Contra Lavagem de a entidades fechadas de previdência com-
Dinheiro (LAB-LD) criado em 2007 para análises plementar (EFPC) e a Regimes Próprios de
em grandes volumes de informações e para di- Previdência Social (RPPS)
fusão de estudos. O LAB-LD também gerencia • Aperfeiçoar a atuação das Polícias Civis
a REDE-LAB que é composta por 58 laborató- na investigação de crimes de lavagem de
rios espalhados dentre Ministérios Públicos es- dinheiro.
taduais, Secretarias de Segurança Pública dos Constata-se nos últimos anos a relevância das
Estados, Polícias Civis, dentre outros. ações, os esforços de integração, inteligência
A atuação anual da ENCCLA é baseada em e novas leis e regulações para aprimoramento
ações definidas anualmente em reunião ple- no combate ao crime de lavagem de dinheiro
nária e que têm por objetivo o aprimoramento e financiamento ao terrorismo no Brasil consi-
da estratégia e dos mecanismos de prevenção derando ainda o atendimento de alguns tópi-
e combate a lavagem de dinheiro e financia- cos de não conformidade identificados pelo
mento ao terrorismo. Para 2018 foram defini- GAFI no último relatório de revisão de 2010.
das as seguintes ações: Contudo, a sofisticação das ações criminosas
• Elaborar e aprovar Plano Nacional de Com- requer permanente evolução nos mecanismos
bate à Corrupção de prevenção e combate, políticas públicas,
• Aprimoramento na gestão de bens apreen- integração de dados, punição, tramitação das
didos no processo penal e nas ações de im- ações judiciais, cooperação internacional e
probidade administrativa recuperação dos ativos. Ou seja, é um estado
• Elaborar diagnóstico e propor medidas vi- permanente de atenção e preocupação e com
sando fortalecer o combate às fraudes nos necessidade de investimento relevante e con-
contratos de gestão da saúde pública tínuo em recursos humanos e materiais.

59
LEI 9.613, DE 1998

Combate à Lavagem de
Dinheiro no Brasil – 20
anos de intensa evolução
ao sistema econômico financeiro, com a apa-
rência de terem sido obtidos de maneira lícita.
É uma forma de mascaramento da obtenção
ilícita de capitais.
Mesmo se tratando de um fenômeno socioe-
conômico antigo, o crime de lavagem de di-
nheiro cresceu e tomou maiores proporções
no cenário jurídico por conta do tráfico inter-
nacional de drogas, tornando-se, desta forma,
objeto de criminalização pela lei penal ao redor
do mundo. Assim, o Combate à Lavagem de
Dinheiro e ao Financiamento do Terrorismo são
alavancados pelos Acordos e Instrumentos
Internacionais de Cooperação e leis locais.
Com o processo de globalização da econo-
mia e o progresso da informática e da co-
municação, o sistema financeiro mundial
aperfeiçoou-se, tornando o cenário econômi-
co mais propício para a expansão da lavagem
de capitais.
RENATA FONSECA DE ANDRADE Com o avanço da tecnologia, as instituições
financeiras colocaram à disposição de seus
clientes movimentações nacionais e interna-
O combate à lavagem cionais mais impessoais, ágeis e confidenciais,
dificultando o trabalho de investigação das au-
de dinheiro toridades. Desta forma, tornou-se necessária a
adoção obrigatória de políticas de compliance
1. Introdução pelas instituições como forma de cooperação
privada na apuração de tais crimes.
Tradicionalmente se define a lavagem de di-
nheiro como um conjunto de operações por No Brasil, o combate à lavagem de dinheiro e
meio das quais os bens, direitos e valores ob- sua prevenção possui base legal estabeleci-
tidos com a prática de crimes são integrados da na Lei Federal nº 9.613/98, posteriormente

60
20 Anos

alterada pela Lei Federal nº 12.683/12 e, pelo Com o aumento desenfreado do tráfico inter-
Normativo SARB nº 11/13. nacional de drogas ocorrido em meados dos
anos 80, e a falha no combate e prevenção à
Recentemente publicadas, a Lei Anticorrupção
lavagem de dinheiro, o crime ganhou maiores
(Lei nº 12.846/13) e a Lei do Crime Organizado
proporções.
(Lei nº 12.850/13) oferecem dispositivos capa-
zes de aperfeiçoar a prevenção e o combate à Porém, tornou-se claro que a ação individual
lavagem de dinheiro em nosso país. dos países não era suficiente para reprimir
tais condutas, sendo necessárias medidas de
Conta-se a estimativa que cerca de 2% do PIB
cunho internacional.
mundial é composto de dinheiro sujo que tran-
sita na economia. Conceitualmente, a lavagem Em 1988 foi aprovada a Convenção de Viena,
de dinheiro merece atenção por dois principais também conhecida como “Convenção contra
aspectos. Primeiro, porque é crime e permite a o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e de Substân-
traficantes, contrabandistas de armas, terroris- cias Psicotrópicas”, com o propósito de promo-
tas ou funcionários corruptos manterem suas ver a cooperação internacional para repressão
atividades criminosas e obterem lucros ilícitos. do tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.
Segundo, porque a lavagem de dinheiros man- Tal convenção foi o primeiro instrumento ju-
cha as instituições financeiras e minam a con- rídico internacional a definir como crime a
fiança pública em sua integridade. operação de lavagem de dinheiro, obrigando
a seus signatários a tipificação da conduta em
1.1 Breve histórico suas normas penais locais. O Brasil aderiu à
convenção no ano de 1991.
O crime de lavagem de dinheiro remonta aos
anos 20, com a promulgação da Lei Seca pelos Por iniciativa do G-7, foi criado, em 1989, o
Estados Unidos. Na época, os criminosos que Grupo de Ação Financeira (GAFI/FATF), um or-
comercializavam bebidas alcoólicas começa- ganismo intergovernamental que une as uni-
ram a abrir lavanderias de fachada para confe- dades de inteligência financeira de diversos
rir aparência lícita ao dinheiro arrecadado com países e monitora a aplicação efetiva das medi-
a prática do crime. Diante disso, o crime ficou das legais, regulamentares e operacionais para
conhecido como “Money Laundering”, traduzi- o combate à lavagem de dinheiro e ilícitos re-
do para “Lavagem de Dinheiro”. lacionados ao sistema financeiro internacional.

No início dos anos 1970, os Estados Unidos pro- O Compliance no sistema financeiro nasceu
mulgaram sua primeira lei exigindo a comuni- um ano após a formação do Grupo, em abril de
cação obrigatória às autoridades competentes 1990, quando o órgão emitiu um conjunto de
de todas as transações realizadas em espécie 40 recomendações para seus membros, com
em valor superior a US$ 10.000,00 (dez mil dó- objetivo de melhorar os sistemas jurídicos dos
lares) e outras operações suspeitas. A lei foi ig- países membros.
norada pelos americanos, que continuavam Já em 1992, a Alemanha instituiu uma das
depositando enormes quantias de dinheiro, in- primeiras legislações modernas direcionadas
clusive com a ajuda dos bancos, que disponibi- especificamente ao combate à lavagem de di-
lizavam diversas facilidades para os clientes que nheiro. Mesmo com a criação de uma lei severa
chegavam com maletas e caixas de dinheiro, na pelos alemães, isso não foi suficiente para coi-
maioria das vezes, em plena luz do dia. bir a prática de atos ilícitos ligados ao sistema

61
LEI 9.613, DE 1998

financeiro, vez que outros países com econo- setembro de 1998, estipulando a data de 31 de
mia avançada não possuíam tais normas, in- dezembro de 1999 como limite para as institui-
fluenciando a alteração da rota do dinheiro, de ções implementarem o sistema de controles
um país com regras severas para ser lavado em internos, voltados para as atividades por elas
outro com regras mais brandas. desenvolvidas, seus sistemas de informações
Em 1997, o Comitê da Basileia divulgou os 25 financeiras, operacionais e gerenciais e o cum-
princípios para uma supervisão bancária eficaz, primento das normas legais e regulamentares
com destaque para o Princípio nº 14: a ela aplicáveis. As principais exigências foram:
(i) Implementação da Estrutura de Controles
Princípio nº 14 Internos em todos os níveis de negócio;

• Os supervisores da atividade bancária de- (ii) Formalização dos objetivos e procedimentos;


vem certificar-se de que os bancos tenham (iii) Cumprimento das normas legais, regula-
controles internos adequados para a natu- mentares e políticas da organização;
reza e escala de seus negócios, sendo:
(iv) Avaliação dos Controles Internos;
• Arranjos claros de delegação de autoridade
(vi) Relatórios Semestrais – Conselho de
e responsabilidade (segregação de funções,
Administração
reconciliação de processos, distribuição de
seus recursos, contabilização e salvaguarda Apenas um ano após a publicação da Lei nº
de seus ativos); 9.613/98, o COAF iniciou seu funcionamento.

• Funções apropriadas e independentes de Em 2003, o GAFI realizou a quarta atualização


auditoria interna e externa e de Complian- das recomendações, introduzindo práticas
ce para testar a adesão a estes controles, sobre a identificação dos clientes (Know your
bem como as leis e regulamentos aplicáveis. Client) e a necessidade de diligências, a comuni-
cação de operações suspeitas realizadas pelos
Um ano após a divulgação dos princípios, o Bra-
bancos às autoridades e a facilitação do con-
sil, em atendimento aos compromissos interna-
gelamento de recursos disponíveis no sistema
cionais firmados em 1991, tipificou o crime de
financeiro, depositados por suspeitos ou con-
lavagem de dinheiro (Lei Federal nº 9.613/98,
denados. Com esta atualização, construiu-se a
conhecida como Lei de Lavagem de Dinheiro),
base do compliance no sistema financeiro atual.
conferindo maior responsabilidade a interme-
diários econômicos e financeiros e, ainda, criou Em 2004, foi firmado o Acordo de Basiléia II que
o Conselho de Controle de Atividades Financei- introduziu a exigência de Capital mínimo e o
ras (COAF) no âmbito do Ministério da Fazenda. processo de revisão, supervisão e disciplina de
mercado.
A Lei nº 9.613/98 dispõe sobre os crimes de
”lavagem” ou ocultação de bens, direitos e va- Em 2010, o Brasil ainda era considerado país de
lores, a prevenção da utilização do sistema fi- alto risco ou não cooperante, sendo considera-
nanceiro para os ilícitos nela previstos, além de do um destino dos recursos ilegais de financia-
prever expressamente quem são as “Pessoas mento ao terrorismo.
Obrigadas” a ela sujeitas. No ano de 2012, foi publicada a Lei Federal nº
Ainda em 1998, o Conselho Monetário Nacio- 12.683 que alterou diversas previsões na Lei nº
nal (CMN) publicou a Resolução 2.554 de 24 de 9.613/98, tornando-a mais rigorosa.

62
20 Anos

Com as grandes manifestações populares encaminhar as relevantes para que os órgãos


ocorridas em 2013 no Brasil, foram editadas a competentes façam a investigação.
Lei Anticorrupção (Lei nº 12.846/13) e a Lei do As Unidades Financeiras de inteligência (FIU)
Crime Organizado (Lei nº 12.850/13), a fim de são as agências centrais (No Brasil, o COAF),
fortalecer o Compliance nas instituições brasi- responsáveis pela análise e distribuição às au-
leiras e punir crimes de lavagem de dinheiro de toridades das denúncias sobre as informações
forma mais severa e eficiente. financeiras, com respeito a procedimentos su-
Apenas em 2016 o Brasil ganhou uma lei que postamente criminosos, para impedir a lava-
regula o crime de financiamento ao terrorismo gem de dinheiro.
(Lei Federal nº 13.260/16). O Brasil optou por esse modelo, estabelecendo
mecanismos de prevenção e controle do deli-
1.2 Órgãos responsáveis to da lavagem de dinheiro, através da proteção
dos setores financeiros e comerciais passíveis
Estrutura Pública de Prevenção e Combate aos
de serem utilizados em manobras ilegais.
Crimes de Lavagem de Dinheiro e Corrupção:
A cooperação entre as FIU dos países agiliza o
mecanismo de intercâmbio de informação.
(a) Âmbito Internacional
Tal órgão possui as seguintes prerrogativas:
GAFI/FATF
(i) Coordenar e propor mecanismos de coope-
Tem como objetivo principal padronizar os
ração que viabilizem ações rápidas e eficien-
procedimentos para controle da lavagem de
tes no combate à ocultação e dissimulação de
dinheiro utilizados pelos países. O GAFI/FATF
bens, direitos e valores;
conta com representantes de 26 governos,
incluindo os maiores centros financeiros do (ii) Receber, examinar e identificar as ocorrên-
mundo. cias suspeitas de atividades ilícitas de lavagem
de dinheiro;

(b) Âmbito Nacional (iii) Disciplinar e aplicar penas administrativas,


sem prejuízo da competência de outros órgãos
COAF – Conselho de Controle de e entidades.
Atividades Financeiras (UIF)
Órgão central encarregado de receber infor- MTFC – Ministério da
mações sobre operações suspeitas, analisar es- Transparência, Fiscalização e
sas informações, encaminhar os casos em que Controle
realmente existam indícios da prática de crime,
A antiga CGU (Controladoria Geral da União),
para que sejam investigados pela Polícia e pelo
atual Ministério da Transparência, Fiscalização
Ministério Público, além de trocar informações
e Controle (“MTFC”), é o órgão do Governo Fe-
com Unidades de Inteligência Financeira de
deral responsável por assistir direta e imediata-
outros países e aplicar penas administrativas,
mente ao Presidente da República quanto aos
sem prejuízo da competência de outros órgãos
assuntos que, no âmbito do Poder Executivo,
e entidades.
sejam relativos à defesa do patrimônio público
O COAF não tem papel de investigação, pois se e ao incremento da transparência da gestão,
limita a analisar as informações que possui e a por meio das atividades de controle interno,

63
LEI 9.613, DE 1998

auditoria pública, correição, prevenção e com- extradição, de transferência de pessoas conde-


bate à corrupção e ouvidoria. nadas e de transferência da execução da pena;
O MTFC também exerce a supervisão técni- (v) exercer a função de autoridade central para
ca dos órgãos que compõem o Sistema de o trâmite dos pedidos de cooperação jurídica
Controle Interno e o Sistema de Correição e internacional, inclusive em assuntos de extra-
das unidades de ouvidoria do Poder Executi- dição, de transferência de pessoas condenadas
vo Federal, prestando a orientação normativa e de execução de penas, coordenando e ins-
necessária. truindo pedidos ativos e passivos;
O órgão está estruturado em quatro unidades (vi) promover a articulação dos órgãos dos
finalísticas, que atuam de forma articulada, em Poderes Executivo e Judiciário e do Ministério
ações organizadas entre si, são elas: Secretaria Público no que se refere à entrega e à transfe-
de Transparência e Prevenção da Corrupção rência de pessoas condenadas; e,
(STPC), Secretaria Federal de Controle Interno
(vii) atuar nos procedimentos relacionados à
(SFC), Corregedoria-Geral da União (CRG) e Ou-
ação de indisponibilidade de bens, de direitos
vidoria-Geral da União (OGU).
ou de valores em decorrência de resolução do
As competências do MTFC foram definidas pe- Conselho de Segurança das Nações Unidas.
la Lei n° 10.683/03, pelo Decreto nº 8.109/13 e
Suas competências foram definidas pelo De-
pela Medida Provisória nº 726/16.
creto nº 8.668, de 11 de fevereiro de 2016, Ane-
xo I.
DRCI – Departamento de
Recuperação de Ativos e
DECIC – Departamento de
Cooperação Jurídica Internacional
Combate a Ilícitos Cambiais e
do Ministério da Justiça
Financeiros do BACEN
O Departamento faz parte da estrutura do Mi-
Sucessor do Departamento de Combate a Ilíci-
nistério da Justiça, sendo competente para:
tos Cambiais e Financeiros – DECIF, o DECIC foi
(i) articular a implementação da ENCCLA, coor- criado em 1999 com a finalidade de, no âmbito
denar, articular, integrar e propor ações entre de atuação do BACEN, formar com unidades
os órgãos dos Poderes Executivo, Legislativo e congêneres de outros órgãos, uma rede de
Judiciário e o Ministério Público no enfrenta- prevenção e de combate a ilícitos financeiros,
mento da corrupção, da lavagem de dinheiro e entre os quais a lavagem de dinheiro.
do crime organizado transnacional;
Suas principais atribuições são:
(ii) coordenar a Rede Nacional de Laboratórios
(i) avaliação dos controles internos e conformi-
de Tecnologia Contra Lavagem de Dinheiro
dade para prevenção à lavagem de dinheiro;
– Rede-Lab;
(ii) monitoramento diário das operações reali-
(iii) estruturar, implementar e monitorar ações
zadas no mercado de câmbio;
de governo na cooperação jurídica internacio-
nal, inclusive em assuntos de extradição; e na (iii) controle cambial das exportações e das
recuperação de ativos; importações;
(iv) negociar acordos de cooperação jurídi- (iv) supervisão dos capitais estrangeiros no
ca internacional, inclusive em assuntos de Brasil e dos capitais brasileiros no exterior; e,

64
20 Anos

(v) instauração de Processos Administrativos promulgação de leis importantes para o país,


Punitivos. tais como a Lei 12.683/12, que modernizou a
Lei de Lavagem de Dinheiro.
ENCCLA – Estratégia Nacional de
Combate à Corrupção e à Lavagem Polícia Federal, Ministério
de Dinheiro Público da União e dos Estados e
Varas especializadas em crimes
Instituída em 2003, sob a coordenação do Mi-
financeiros e lavagem de dinheiro
nistério da Justiça e Cidadania, a Estratégia Na-
cional de Combate à Corrupção e à Lavagem Força e órgãos responsáveis pelas investiga-
de Dinheiro (ENCCLA) é formada por mais de ções, conduções, prisões, processamento e de-
sessenta órgãos, dos três poderes da Repúbli- cisões de suspeitas e crimes praticados contra
ca, Ministérios Públicos e da sociedade civil o sistema financeiro no Brasil.
que atuam, direta ou indiretamente, na pre-
venção e combate à corrupção e à lavagem de 1.3 O crime de lavagem de
dinheiro. A Estratégia intensifica a prevenção a dinheiro
esses crimes porque soma a expertise de diver-
(a) A Lei 9.613/98 e as alterações
sos parceiros em prol do Estado brasileiro.
trazidas pela Lei 12.683/12
Anualmente, os órgãos participantes se reú-
O crime de lavagem de dinheiro foi tipificado
nem em plenária para, a partir de consenso,
no Brasil como infração penal através da Lei n°
traçar as ações que serão executadas no ano
9.613/98.
seguinte. Os órgãos são divididos em grupos
de trabalho que coordenam, ao longo do ano, Com pena podendo variar de três a dez anos
a execução de cada uma das ações elegidas. reclusão e pagamento de multa, a Lei dispõe
sobre os crimes de lavagem ou ocultação de
O Departamento de Recuperação de Ativos
bens, direitos e valores e sobre a prevenção da
e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI/
utilização do sistema financeiro, além de criar o
SNJ) tem por competência articular a imple-
COAF e dar outras providências.
mentação da ENCCLA e a Secretaria Nacional
de Justiça e Cidadania coordena a Estraté- A Lei de prevenção à lavagem de dinheiro (Lei
gia, em parceria com os demais órgãos que a nº 9.613/98) foi alterada pela Lei nº 12.683, em
compõem. 9 de julho de 2012, com o objetivo principal de
aproximar a lei nacional às recomendações in-
Destacam-se, dentre os resultados alcançados ternacionais sobre o tema.
pela ENCCLA, o Programa Nacional de Capa-
citação e Treinamento no Combate à Corrup- Dentre diversas alterações relevantes, a nova
ção e à Lavagem de Dinheiro (PNLD); a Rede Lei ampliou o rol de destinatários, incluindo
Nacional de Laboratórios contra Lavagem de uma extensa gama de profissionais, tais como
Dinheiro (Rede-LAB); o Sistema de Movimenta- consultores, contadores, gestores de recursos,
ção Bancária (SIMBA); a iniciativa de padroniza- dentre outros.
ção do layout para quebra de sigilo bancário e Sua atual redação prevê em seu artigo primei-
a posterior criação do Cadastro Único de Cor- ro o crime de lavagem de dinheiro. Tal crime
rentistas do Sistema Financeiro Nacional (CCS); se dá ao ocultar ou dissimular a natureza, ori-
e a proposição legislativa que resultou na gem, localização, disposição, movimentação

65
LEI 9.613, DE 1998

ou propriedade de bens, direitos ou valores I – os converte em ativos lícitos;


provenientes, direta ou indiretamente, de in- II – os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou rece-
fração penal. be em garantia, guarda, tem em depósito, movi-
Qualquer pessoa pode tornar-se sujeito ativo menta ou transfere;
do tipo penal, inclusive aquele que concorreu III – importa ou exporta bens com valores não
para a infração. correspondentes aos verdadeiros.
Quando de sua criação, a Lei, ao tipificar o cri- § 2º Incorre, ainda, na mesma pena quem:
me de lavagem ou ocultação de bens, diretos e I – utiliza, na atividade econômica ou financeira,
valores, atrelava a ele um rol taxativo de crimes bens, direitos ou valores provenientes de infração
antecedentes, a alteração também eliminou penal; (Lei n° 12.683/2012 suprimiu o termo que
este rol. Com a nova redação, quaisquer crimes sabe serem provenientes)
ou até mesmo contravenções penais podem
II – participa de grupo, associação ou escritório
configurar crime antecedente de lavagem de tendo conhecimento de que sua atividade prin-
dinheiro e também culminou no aumento da cipal ou secundária é dirigida à prática de crimes
multa máxima de R$ 20 mil para R$ 20 milhões. previstos nesta Lei.
§ 1º Incorre na mesma pena quem, para ocultar Esquema da estrutura orgânica da inteligência
ou dissimular a utilização de bens, direitos ou va- financeira da Lei 9.613/98, com as alterações da
lores provenientes de infração penal: lei 12.683/20121:

1 Esquema at <http://www.coaf.fazenda.gov.br/menu/imagens/
estrutura-organica-da-inteligencia-financeira-no-brasil>.

66
20 Anos

(c) Etapas e Técnicas de Lavagem investimentos. O objeto da lavagem é integra-


de Dinheiro do no sistema como se lícito fosse.
O processo de lavagem de dinheiro, em regra, Os ativos são incorporados formalmente ao sis-
possui três etapas de evolução, veja: tema econômico. As organizações criminosas
1ª ETAPA: COLOCAÇÃO – onde o dinheiro é buscam investir em empreendimentos que fa-
inserido no negócio de fachada através de pe- cilitem suas atividades, podendo tais socieda-
quenos depósitos e compras de ativos, distan- des prestar serviços entre si. Uma vez formada
ciando, desta forma, o bem, direito ou valor de a cadeia, torna-se cada vez mais fácil legitimar
sua origem ilícita. A lavagem de dinheiro pode o dinheiro ilegal.
ser realizada em qualquer lugar, geralmente Casos hipotéticos: Utilização do produto do
em países com regras mais permissivas e siste- resgate ou amortização na compra de novos
ma financeira mais liberal, onde as leis são ou bens e aplicações. Nesta hipótese, o gestor de
inexistentes ou flexíveis, ou ainda, onde os es- recursos seria o agente mais indicado para de-
forços de controle não são fortes ou inexisten-
tectar o ilícito.
tes (paraísos fiscais ou centros offshore).
Alguns autores, porém, consideram que a lava-
Casos hipotéticos: Compra de um terreno, em-
gem de dinheiro possui apenas duas etapas – a
preendimento, sociedade, crédito, ou direito
de ocultação e a de dissimulação.
creditório de propriedade do cotista.
Em qualquer das hipóteses, o núcleo das con-
Aquisição de Seguro (em nome próprio ou
dutas elencadas consiste (a) no fato de ocultar
outrem), e após pagamento do prêmio, solici-
tação de endossos ou cancelamentos com de- ou dissimular, utilizar ou participar e (b) no ob-
volução de prêmio em nome de outrem. jetivo de ocultar ou dissimular.

2ª ETAPA: OCULTAÇÃO OU CAMUFLAGEM


– quando o dinheiro é transferido entre várias 1.4 Os deveres de Compliance e as
contas para que seja despistado, de difícil las- Pessoas Obrigadas
treamento ou rastreamento contábil. Mediante As “pessoas obrigadas” têm o chamado “dever
fraude o objeto ou origem do dinheiro, ficam de compliance” que estão elencados basica-
camuflados, com a quebra da cadeia de evi- mente nos artigos 10 e 11 da Lei e Capítulo VI
dências e da lavagem, torna-se lícito. do Sarb 11/2013, são eles:
Em meio a diversas atividades aparentemente (i) Desenvolver e implementar políticas e pro-
lícitas e legitimas do dia a dia, o infrator vai pou- cedimentos específicos (“Conheça seu Cliente,
co a pouco se afastando do objeto do ilícito, e Funcionário, Fornecedor, Parceiro”, Avaliação
trazendo os recursos de volta por meio lícitos,
de Novos Produtos e Serviços);
gerando lucro contábil na atividade lícita (p.ex.
operações em bolsas de valores, contratos e (ii) Identificar e manter atualizados os dados
operações sem fundamentos econômicos). cadastrais dos clientes;

Casos hipotéticos: Resgates, Amortizações e (iii) Manutenção do registro e monitoramento


Rendimentos. das operações;

3ª ETAPA: INTEGRAÇÃO – o dinheiro lavado (iv) Prestar informações requisitadas pelas au-
é adicionado de forma legal, como se fossem toridades financeiras;

67
LEI 9.613, DE 1998

(v) Comunicar a prática de operações sus- interno e na situação patrimonial e financeira


peitas ou simplesmente de valor/eventos de seus clientes.
(comunicações automáticas) para os órgãos Em regra, são considerados clientes de risco
competentes; aqueles que tem o poder de influenciar na ges-
(vi) Treinamentos; e, tão da carteira, como: gestão compartilhada
com investidor, co-gestão, fundos exclusivos,
(vii) Auditoria.
wealth management, investidores não residen-
De acordo com a Lei, deverão ser reportadas as tes e PEPs (Pessoas Expostas Politicamente).
autoridades competentes operações suspeitas
A Resolução nº 29, de 7 de dezembro de 2016,
e, portanto, aquelas realizadas de boa-fé, não
dispõe sobre os procedimentos a serem obser-
acarretarão responsabilidade civil ou adminis-
vados pelas pessoas reguladas pelo COAF, na
trativa. Diversos órgãos reguladores estabe- forma do § 1° do artigo 14 da Lei n° 9.613, de 3
leceram características para o que podemos de março de 1998, relativamente a pessoas ex-
chamar de operações financeiras, porém ob- postas politicamente (PEP), bem como atualiza
jetivamente falando, consideram-se operações o rol das pessoas expostas politicamente2.
com valor igual ou superior a R$ 10.000,00. Al-
O descumprimento dos deveres de complian-
guns dos critérios subjetivos, aliados ao valor
ce previstos na Lei de combate a lavagem de
da movimentação estão elencados no item 1.5
dinheiro podem gerar sanções administrativas
(a), pois se tratam dos mesmos itens analisados
ao responsável pelo descumprimento. O arti-
no processo de checagens e diligenciamentos
go 12 da Lei 9613/98 prevê: (i) multa; (ii) multa
como Know Your Client, Know Your Suppliers,
pecuniária variável não superior ao dobro do
Partners, Third Parties, etc.
valor da operação, ou ao dobro do lucro real
As “pessoas obrigadas” estão dispostas em um obtido ou presumivelmente obtido pela reali-
amplo rol taxativo presente no artigo 9º da zação da operação, ou não superior ao valor de
Lei. Com as alterações introduzidas pela Lei nº vinte milhões de reais; (iii) inabilitação tempo-
12.683/12, introduziram inclusive as Pessoas rária, pelo prazo de até dez anos, para o exercí-
Físicas, que anteriormente estavam excluídas cio do cargo de administrador das instituições
do rol. financeiras; e (iv) cessação ou suspensão da
autorização para o exercício de atividade, ope-
Em junho de 2013, entrou em vigor a Instrução
ração ou funcionamento.
CVM 354, para atualização da Instrução CVM
301, adequando-a as mudanças da Lei em A Lei ainda preve que a pena de advertência
2012, ampliando o rol de “Pessoas Obrigadas” será aplicada a instituição financeira por irre-
pela CVM. Foram incluídos: intermediários, cus- gularidade no cumprimento das obrigações
todiantes, distribuidores, administradores de estabelecidas nos incisos I e II do artigo 10 e,
carteiras, administradores de fundos, consulto- a pena de multa, devera ser aplicada as pes-
res e auditores independentes do mercado de soas obrigadas aos deveres de compliance, por
valores mobiliários. culpa ou dolo, quando: (i) deixarem de sanar
as irregularidades objeto de advertência, no
A CVM não indica um valor mínimo às transa-
ções passíveis de comunicação. Cabe as ins-
2 Resolução COAF 29/2017 at <http://www.coaf.fazen-
tituições fazer as comunicações automáticas
da.gov.br/menu/legislacao-e-normas/normas-do-coaf/
com base em seus procedimentos de controle resolucao-coaf-no-29-de-7-de-dezembro-de-2017>.

68
20 Anos

prazo assinalado pela autoridade competen- São 4 elementos centrais a serem observa-
te; (ii) não cumprirem o disposto nos incisos I dos nas diligências e checagens KYC pelos
a IV do artigo 10; (iii) deixarem de atender, no programas:
prazo estabelecido, a requisição formulada nos
1 – Identificação e validação da identidade do
termos do inciso V do artigo 10; (iv) descum-
cliente
prirem a vedação ou deixarem de fazer a co-
municação a que se refere o artigo 11. 2 – Identificação e validação da identidade do
cliente e vinculação do beneficiario final (pes-
O órgão responsável pelo processo, julgamen-
soa natural) ao cliente;
to e aplicação das sanções administrativas é
o COAF, conforme regulado pelo Decreto no 3 – Compreensão da natureza empresarial e
2.799/98 e, como todo processo administrati- atividade do cliente na relação a ser travada
vo, ‘e assegurado ao acusado direito do contra- com a instituição financeira, baseada na análi-
ditório e ampla defesa. se de risco;
4 – Monitoramento rotineiro e contínio e re-
1.5 Prevenção à Lavagem de porte à Unidade Financeira Central de suspei-
Dinheiro tas, com base na analise de riscos, bem como
a atualização e manutenção do cadastro e
(a) Processo conheça seu cliente
relacionamento do cliente com a instituição
(Know your Client -KYC)
financeira.
O conhecimento dos clientes é um processo
Para beneficiário final o FinCen traz a seguinte
que nos permite conhecer a pessoa jurídica
orientação:
com a qual se inicia uma relação comercial,
auxiliando na identificação de possíveis riscos. Cada indivíduo, que direta ou indiretamen-
te, controla 25% ou mais da propriedade da
O FinCen – Financial Crimes Enforcement Net-
empresa, e o individuo com significativa res-
work, acrescentou um ponto importante ao
ponsabilidade de controle, gerenciamento,
processo de KYC, regra a ser seguida a par-
ou administração direta da empresa, incluin-
tir de maio de 20183 por todas as instituições
financeiras norte-americanas: o Customer do os executivos e diretores, presidente, vice-
Due Diligence Form of Beneficial Ownership -presidente, tesoureiro ou diretor financeiro, ou
Identification and Verification, qual seja, a qualquer individuo que tenha funções simila-
identificação e verificação da pessoa natural, res de controle na empresa. A lista é ilustrativa,
beneficiário final e último proprietário da em- e deve ser verificada a estrutura organizacional
presa diligenciada. da empresa.

O processo KYC deve ser completo e abranger Uma vez o beneficiário final seja identificado
não apenas clientes, mas terceiros, fornecedo- e validado, as checagens e diligências devem
res e parceiros de negócios. procurar identificar além da identidade, a fonte
de riqueza que suporta as atividades daquele
individuo, e manter registros e evidências des-
sas diligências.
3 FinCEN regulations 31 CFR Chapter X (formerly 31 CFR Part
103). <https://www.gpo.gov/fdsys/pkg/FR-2016-05-11/ A analise de risco após a identificação e va-
pdf/2016-10567.pdf>. Guidances at <https://www.ffiec.gov/
bsa_aml_infobase/documents/FAQs_for_CDD_Final_Rule_
lidação do KYC e beneficiários finais, haverá
(7_15_16).pdf>. de seguir com detalhamento da atividade

69
LEI 9.613, DE 1998

empresarial, e os riscos inerentes dessas ativi- pertençam ao mesmo grupo econômico; difi-
dades, e em sendo terceiros, qual a exposição culdade na obtenção e informações a respeito
da empresa a esses riscos. de sua atividade econômica e patrimônio; difi-
culdade na identificação do beneficiário final
Certamente do processo conhecimento do
de transações, devido à utilização de estruturas
cliente ou do terceiro, além da identificação
complexas; clientes/recursos provenientes de
e validação do beneficiário final, a lei antilava-
países considerados de alto risco para lavagem
gem de dinheiro remete à obrigação de nos
de dinheiro e financiamento do terrorismo; e,
determina identificação de PEPs (Pessoas Ex-
recebimento de recursos com imediata realiza-
postas Politicamente): Caso seja identificado
ção de saque em espécie.
que um cliente ou terceiro possui ou é um
PEP, é obrigatório que haja uma avaliação de Critérios para classificação de riscos: localiza-
Compliance, com o Diretor da área e o CEO. São ção geográfica, tipo de atividade, tipo de ser-
consideradas PEPs: viços, PEPs, Private Banking e Investidores não
residentes.
(i) Pessoas físicas ou jurídicas que se encontrem
no rol das pessoas enumeradas pela Lei Antila- Dependendo do risco apresentado pelo clien-
vagem de Dinheiro e Regulamentos do COAF; te ou terceiro, após sua verificação, medidas
adequadas deverão ser tomadas, como por
(ii) Pessoas físicas ou jurídicas envolvidas em
exemplo, a realização de Diligência Devida de in-
alguma operação suspeita, em especial aque-
vestigação de Antecedentes (Due Diligence) ou
las que figurem em alguma das listas consulta-
a realização de reporte aos órgãos competentes.
das pelos Bancos de Dados internacionais;
(iii) Pessoas de integridade ou honestidade
(b) Linhas de defesa
duvidosa ou aquelas que se tenha conheci-
mento ou indícios de vinculação com ativida- As instituições devem organizar o seu negócio
des ilícitas; em três linhas de defesa para prevenir e com-
bater a lavagem de dinheiro, são elas:
(iv) Pessoas jurídicas que se recusem a subme-
ter informações ou documentos ou que apre- 1ª Linha de Defesa – As áreas de negócio e
sentem alguma informação falsa ou de difícil apoio garantem a aderência de compliance em
comprovação; todas as praticas de negócio (cumprimento de
normas);
(v) Contrato celebrado em país sancionado ou
considerado paraíso fiscal, de acordo com a lis- 2ª Linha de Defesa – A área Jurídico Consulti-
ta de países não cooperativos com a legislação va interpreta as normas, assessora os adminis-
Antilavagem de Dinheiro emitida pelo COAF; tradores e colaboradores no cumprimento do
ambiente regulatório e auxilia o Compliance
(vi) Qualquer tipo de ameaça, intenção de su-
no desempenho de suas atividades. Aliado,
borno para que o cliente seja aceito rapida-
a área de Compliance Corporativo formula os
mente ou sem realização de verificações.
princípios e diretrizes do compliance, desenvol-
A regulamentação brasileira determina que ve métodos, processos, ferramentas e difunde
as instituições dispensem especial atenção às a cultura de compliance, enquanto a área de
operações que envolvam: Pessoas Expostas Po- Compliance e Oficiais de Riscos implementam,
liticamente (PEP); abertura de diversas contas executam e difundem as atividades exercidas
em nome de Pessoas Físicas ou Jurídicas que pelo Compliance Corporativo;

70
20 Anos

3ª Linha de Defesa – A área de auditoria avalia • Desenha e Comunica as políticas adotadas;


periodicamente os riscos de compliance e a efi- • Desenha e Monitora os procedimentos ado-
cácia das atividades de compliance corporativo tados à execução das políticas;
dos Oficiais de Riscos.
• Ministra os treinamentos e os registros de
eventuais quebras de políticas;
(c) Governança, Gestão de Risco e
Compliance integrados: • Reavalia os riscos e os procedimentos para a
melhoria contínua dos processos e mitiga-
(i) Alta Administração ção dos riscos e quebras de políticas;
• Elabora as estratégias do negócio; • Representa a empresa perante os órgãos re-
• Define as diretrizes (políticas) e os limites de guladores e fiscalizadores.
exposição a riscos;
• Fornece recursos necessários;
• Responsável final pelo adequado funciona- Referências
mento do ambiente de controles. bibliográficas
(ii) Áreas de Negócio
• Executa as ações; 1. Utilizadas
• Monitora as operações no dia a dia (tomada ANDRADE, Renata Fonseca. Ethics and Complian-
de decisão); ce Programs in a Global and Brazilian Con-
text: The 6 Principles of Compliance. USA,
• Implementa controles definidos.
2015,
(iii) Auditoria Interna h t t p : / / c o r p o r a te c o m p l i a n c e i n s i g h t s. c o m /
• Realiza trabalhos de revisão de aspectos ethics-and-compliance-programs-in-a-glo-
operacionais e financeiros, auxiliando na bal-and-brazilian-context-the-6-principles-of-
-compliance/
melhoria de processos;
CARDOSO, Debora Motta. Criminal Compliance
• Fornece uma avaliação independen- na perspectiva da lei de lavagem de dinhei-
te do ambiente de controles internos e ro. São Paulo: Editoria LiberArs, 2015, 1 ª ed.
Compliance. GONSALES, Alessandra. Compliance. A Nova Re-
(iv) Gestão de Riscos e Compliance gra do Jogo. São Paulo:
SILVEIRA, Renato de Melo Jorge. SAAD-DINIZ, Eduar-
• Auxilia a organização no monitoramento dos
do. Compliance, Direto Penal e Lei Anticor-
riscos e melhoria do ambiente de controle;
rupção. São Paulo: Saraiva, 2015.
• Mensura exposição e assegura a conformi- VILARDI, Celso Sanchez. “O crime de lavagem de di-
dade das normas externas e internas; nheiro e o início de sua execução”. In Doutrinas
Essenciais Direito Penal. São Paulo: Editora Re-
• Comunica os resultados para a Alta
vista dos Tribunais, 2010, vol. 8, p. 1071.
Administração;
PRADO, Luiz Regis. “Delito de lavagem de capitais:
• Auxilia a Alta Administração no estudo de um estudo introdutório”. In Doutrinas Essen-
viabilidade regulatória e de riscos das medi- ciais Direito Penal. São Paulo: Editora Revista
das que quer implantar; dos Tribunais, 2010, vol. 8, p. 1149.

71
LEI 9.613, DE 1998

2. Eletrônicas Decreto nº 8.506 (2015) – Promulga o Acordo Inter-


governamental entre Brasil e EUA para Melhoria
ANDRADE, Renata Fonseca. Ethics and Com- da Observância Tributária Internacional e imple-
pliance Programs in a Global and Brazilian mentação do FATCA.
Context: The 6 Principles of Compliance. Instrução Normativa RFB 1.571 de 02 de julho de
USA, 2015, 2015 – que dispõe sobre o FATCA. Esta instrução,
<http://corporatecomplianceinsights.com/ na verdade, criou a “e-financeira”.
ethics-and-compliance-programs-in-a-glo- Lei n. 9.613/1998 e suas alterações posteriores – lei
bal-and-brazilian-context-the-6-principles-of- de lavagem de dinheiro
-compliance/>. Acesso em: 24/08/2016. Lei n. 12.846/2013 – anticorrupção no Brasil
<http://www.coaf.fazenda.gov.br/menu/pld-ft/ FATCA – Archive. www.treasury.gov.
sobre-a-lavagem-de-dinheiro>. Acesso em:
Foreign Account Tax Compliance Act. www.irs.gov.
24/08/2016.
<http://www.anbima.com.br/data/files/0E/A2/9D/
<http://www.justica.gov.br/sua-protecao/lavagem- DB/5D2085106351AF7569A80AC2/Atualiza-
-de-dinheiro/enccla>. Acesso em: 24/08/2016. coes-do-FATCA-ANBIMA_1_.pdf>.
<http://www.bcb.gov.br/Pre/bcUniversidade/Pa-
lestras/bc%20e%20universidade%2019.8.2005. GATCA
pdf >. Acesso em: 24/08/2016.
- Portal OCDE e Biblioteca;
<http://www.cgu.gov.br/sobre/institucional>.
Acesso em 29/08/2016 <https://www.oecd.org/tax/automatic-exchange/
common-reporting-standard/>.
<http://www.oecd-ilibrary.org/taxation/standard-
3. Legislativas
-for-automatic-exchange-of-financial-account-
Decreto nº 8.668/16 -information-for-tax-matters_9789264216525-
Lei nº 12.836/12 -en>.
Lei nº 9.613/98 Status Global da Convenção Multilateral para Assis-
Lei nº 6.385/76 tência Administrativa: <https://www.oecd.org/
Normativo SARB 11/2013 tax/exchange-of-tax-information/Status_of_
Lei nº 12.850/13 convention.pdf>.
Lei nº 12.846/13
Status Global da Convenção Multilateral para Tro-
Resolução BACEN 2.554 /98
ca Automática de Informações: <https://www.
Lei n° 10.683/
oecd.org/tax/automatic-exchange/internatio-
Decreto nº 8.109/13
nal-framework-for-the-crs/MCAA-Signatories.
Instrução CVM 354
pdf>. <http://idg.receita.fazenda.gov.br/noti-
Instrução CVM 301
cias/ascom/acordos-internacionais-receita-fe-
deral-regulamenta-declaracoes>.
FACTA Instrução Normativa RFB 1.680 de 2016, disciplina
FACTA – Foreign Account Tax Compliance Act os CRS no Brasil.
(2010). Instrução Normativa RFB 1.571/2015, contém parâ-
Decreto nº 8.003 (2013) – Acordo de cooperação metros para reporte com base no CRS.
entre Brasil e EUA para o intercâmbio de infor- Instrução Normativa RFB 1.634 de 2016, contém re-
mações tributárias (TIEA – Tax Information Ex- gras para identificação de beneficiário final de
change Agreement entre Brasil e EUA). entidades com CNPJ.

72
20 Anos

Mecanismos de combate
à corrupção no mercado
de seguros

CAMILA CALAIS RENATO PORTELLA LUCAS GUIMARÃES

O debate sobre o combate à lavagem de


dinheiro está presente na realidade brasileira
esquemas de lavagem de capitais extrema-
mente complexos, utilizados para a dissimula-
há pelo menos 30 anos, desde a ratificação da ção dos frutos das condutas corruptas.
Convenção de Viena, passando pela publica-
A corrupção e a lavagem de dinheiro estão mui-
ção da Lei nº 9.613/1998 (Lei de Lavagem)1 e
tas vezes associadas entre si, visto que crime de
pelas iniciativas de regulação implementadas
corrupção geralmente envolve o trânsito ilegal
pelo Banco Central do Brasil (BACEN) e pelo
de bens e valores, pagos a título de propina,
Conselho de Controle de Atividades Financei-
que buscam alternativas de formalização ou
ras – COAF. Mais recentemente, contudo, com
“lavagem”, para que os agentes criminosos con-
a deflagração de importantes operações de
sigam usufruir o produto dos seus atos ilícitos.
combate à corrupção, foi possível identificar
A legislação brasileira tem sofrido diversas al-
terações nos últimos anos para compartilhar
1 A menção à Lei nº 12.683/2012 também é relevante, visto que as responsabilidades pelo combate à prática
esta, dentre outras medidas, ampliou o rol das possíveis con-
dutas antecedentes para prever que o crime de lavagem se
de lavagem entre agentes públicos e priva-
configura a partir da ocultação ou dissimulação da “natureza, dos. No que se refere às sociedades empre-
origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade
de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente,
sárias, tem-se visto que estas estão cada vez
de infração penal” (artigo 2º). mais expostas à atuação estatal com foco na

73
LEI 9.613, DE 1998

regulamentação e incentivo da criação de me- aumento pode trazer insegurança jurídica e


canismos, controles e procedimentos internos comercial ao mercado de seguros.
capazes de prevenir e identificar indícios da
Entidades do mercado securitário têm bus-
prática de lavagem de capitais. Contudo, isto
cado adotar medidas para evitar o seu envol-
pode não mais ser o bastante.
vimento e eventuais prejuízos com casos de
Desde a deflagração da Operação Lava Jato, corrupção. Dentre estas medidas, destacam-se
em 2014, a exposição recorrente de casos de a inclusão de cláusulas de exclusão de cober-
corrupção tem impactado diretamente a po- tura nos casos de corrupção e fraude e a esti-
lítica e a economia brasileira. Assim, é possível pulação de franquias mais elevadas.
identificar efeitos decorrentes da corrupção
até mesmo em setores que, em teoria, não te- Além das medidas de proteção para o risco
riam um alto grau de exposição a riscos desta comercial ou operacional, é indicado que se-
natureza, como a indústria de seguros.2 jam adotadas proteções adicionais, capazes
de garantir a prevenção e identificação rápidas
Dentre os efeitos sentidos no mercado securi-
de condutas ilícitas envolvendo a própria se-
tário, pode-se destacar, por exemplo, as altera-
guradora, como, por exemplo, um programa
ções percebidas na negociação de seguros de
de integridade efetivo, focado na prevenção e
D&O. De acordo com informações divulgadas
combate a atos de corrupção.
pela SUSEP, a contratação de apólices de D&O
aumentou cerca de 60% entre 2014 (início da O fortalecimento de controles anticorrupção
Operação Lava-Jato) e 2016.3 capazes auxiliar o gerenciamento adequado
Além disso, o alto número de apólices acio- dos riscos aos quais o mercado de seguros está
nadas demonstra que sinistros relacionados exposto já vem sendo praticado por segura-
ao envolvimento de segurados em atos de doras e representa uma potencial tendência
corrupção tem se tornado cada vez mais rele- mundial. Ainda, autoridades internacionais de
vantes para a definição de carteiras das segu- fiscalização e/ou regulação também já demos-
radoras – as previsões de especialistas indicam traram que vão atuar para garantir que esta
um aumento de mais de 450% nos pedidos de tendência se consolide.
indenização em 2014 em comparação ao ano Além disso, a criação de mecanismos de crimi-
anterior.4 Sendo um efeito isolado ou não, este
nal compliance não é nenhuma novidade para
as empresas reguladas do setor securitário, que
2 A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Eco-
nómico ou Econômico (OCDE) analisou os casos de corrup- já devem cumprir com diversas obrigações
ção internacional no período de 1999 a 2014 e indicou que
previstas para a criação de mecanismos de pre-
o setor de atividades financeiras e de seguros (Financial and
insurance activities) foi responsável por apenas 1% do total de venção à lavagem de dinheiro.
propinas pagas. Informação disponível em http://www.oecd-
-ilibrary.org/docserver/download/2814011e.pdf?expires=151 Neste contexto, a principal regulamentação
9423307&id=id&accname=guest&checksum=BCD5ED6B7CF
5DE3EBCB967542404B63B. setorial é a Circular SUSEP nº 445/2012 (Circu-
3 Fonte: “Seguro contra erro de executivo tem novas regras após lar” publicada pela SUSEP. Focada na criação
Lava Jato”, Estadão. Disponível em http://economia.estadao.
com.br/noticias/governanca,seguro-contra-erro-de-executi- de controles específicos para o combate dos
vo-tem-novas-regras-apos-lava-jato,70001841945. crimes de lavagem e ocultação, a Circular foi vi-
4 Fonte: “Lava Jato faz disparar procura por seguros para patrimô-
nio de executivos”, Folha de São Paulo. Disponível em http:// sivelmente influenciada pelas previsões criadas
www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/06/1890105-lava-
-jato-faz-disparar-procura-por-seguros-para-patrimonio-de-
pela Lei de Lavagem e pelos regulamentos de
-executivos.shtml. controle já aplicáveis às instituições financeiras.

74
20 Anos

A Circular estipulou diversas medidas para a Por exemplo, as entidades sujeitas à Circular
identificação, avaliação, monitoramento e mi- são obrigadas a indicar uma pessoa que ocu-
tigação de riscos de lavagem e para combater pa cargo na diretoria para ser especificamente
o financiamento ao terrorismo no mercado de responsável pela gestão dos riscos e demais
seguros e resseguros. Para isso, ela amplia o rol obrigações previstas na Lei de Lavagem. Para
de empresas sujeitas às medidas de controle tanto, este(a) diretor(a) deverá receber poderes
mencionadas na Lei de Lavagem para incluir, amplos para acessar, imediata e irrestritamen-
além das seguradoras, corretoras de seguros te, o cadastro de dados de identificação dos
e de resseguro, as entidades de previdência clientes, beneficiários, terceiros beneficiados
complementar, as empresas de capitalização, ou partes relacionadas às entidades reguladas.
os resseguradores locais e admitidos, confor-
Importante ressaltar que não é necessário
me previsto pelo artigo 2º da Circular.5
que uma diretoria específica seja criada para o
Diferentemente dos controles previstos pela atendimento à Lei de Lavagem, de modo que
de Lei de Lavagem e regulamentações seto- as funções de controle podem ser acumuladas
riais neste sentido, a adoção de programas de por um(a) diretor(a) já atuante na sociedade.
compliance anticorrupção não é obrigatória
pela legislação brasileira. Contudo, tanto a Lei A ampliação do escopo de atuação da diretoria
Federal nº 12.846/2013 quanto o Decreto nº responsável pela gestão dos riscos de lavagem
8.420/2015 que a regulamenta (Lei Anticor- para cobrir aspectos anticorrupção pode ser,
rupção), fornecem incentivos às empresas en- então, uma medida capaz de garantir o apro-
volvidas em casos de corrupção que tenham veitamento eficiente da estrutura, inteligência
implementado medidas de prevenção efetivas, e recursos humanos capacitados já existentes
como, por exemplo, a redução de eventuais dentro da entidade regulada. Desse modo, é
multas aplicáveis. possível que o(a) diretor(a) indicado(a) para o
atendimento à Circular também acumule as
Pois bem. Uma alternativa válida, pouco cus-
funções de um(a) diretor(a) de compliance.
tosa e eficiente, portanto, é adaptação dos
programas de prevenção à lavagem de di- Outros fatores relevantes para a adaptação
nheiro adotados pelas entidades reguladas da estrutura interna da diretoria para cobrir
aos parâmetros de avaliação de programas de riscos de corrupção são (i) a garantia de que
compliance indicados pela Lei Anticorrupção. esta responda diretamente ao conselho de
Deste modo, seria possível que as estruturas já administração da entidade, (ii) a atribuição
existentes fossem adaptadas e adequadas para de um orçamento próprio e gerido de forma
atender às melhores práticas internacionais pa- autônoma e (iii) a atribuição de poderes para
ra o combate à corrupção. apurar e punir possíveis violações. Agindo as-
sim, aumentam-se as chances de a organiza-
ção conseguir provar, se questionada, o grau
de independência das suas estruturas internas
5 Artigo 2º, caput da Circular: “Sujeitam-se às obrigações previstas de controle e permite que atos eventualmente
nesta Circular as sociedades seguradoras e de capitalização; os
resseguradores locais e admitidos; as entidades abertas de previ- praticados por outros dirigentes também pos-
dência complementar; as sociedades cooperativas de que trata sam ser rapidamente identificados.
o parágrafo 3º do art. 2º da Lei Complementar no 126, de 15 de
janeiro de 2007; as sociedades corretoras de resseguro; as socie-
dades corretoras e os corretores de seguros, de capitalização e de
O aumento da par ticipação ativa dos
previdência complementar aberta.” diretores(as) das entidades reguladas nos seus

75
LEI 9.613, DE 1998

controles internos antilavagem/anticorrup- os aspectos relevantes da Lei Anticorrupção,


ção ainda pode servir como comprovação do bem como da Lei de Improbidade Administra-
“apoio da alta administração” para a criação do tiva e do Código Penal brasileiro, pode ser um
ambiente corporativo ético, um dos principais mais método possível e pouco custoso às enti-
parâmetros utilizados pela Lei Anticorrupção dades interessadas em adotar medidas efetivas
como critério para aferição da efetividade de contra atos ilícitos.
um programa de compliance.
De acordo com a Lei Anticorrupção, as socie-
A Circular também prevê que as entidades re- dades são solidariamente responsáveis por
guladas devam implementar uma Política de atos praticados por terceiros em seu interesse
Prevenção e Combate à Lavagem de Dinheiro ou benefício. Em função desta exposição, é in-
e ao Financiamento ao Terrorismo que regu- dicado que o oferecimento de treinamentos
le a avaliação e o tratamento da exposição da específicos também seja estendido a terceiros
sociedade a estas condutas. Paralelamente, a potencialmente relevantes para as atividades
Lei Anticorrupção prevê que políticas de com- comerciais das entidades reguladas, como, por
pliance anticorrupção devam ser criadas com exemplo, corretores e agentes que atuem na
foco no tratamento dos principais riscos aos distribuição de seguros.
quais a sociedade está exposta e que possam
Igualmente importantes são as obrigações
prever regras para a interação com agentes
de know your client e know your partner im-
governamentais, para o oferecimento e recebi-
postas às entidades reguladas tanto pela Cir-
mento de brindes, presentes e hospitalidades
cular quanto pela Lei de Lavagem. Logo, se
e para a realização de doações políticas, entre
faz necessária a manutenção de um cadas-
outras proteções.
tro atualizado contendo informações sobre a
Deste modo, é possível que seja criado um sis- identidade, contatos e patrimônios de todos
tema de políticas que compatibilizem as exi- clientes, parceiros, e partes relacionadas de
gências tanto da Lei de Lavagem quanto da modo a verificar a veracidade e compatibili-
Lei Anticorrupção, de modo a tratar, de forma dades das informações relacionadas a deter-
mais eficiente e completa, da avaliação e tra- minado negócio para assim identificar e evitar
tamento dos riscos decorrentes dos negócios relações comerciais com partes envolvidas em
de seguros. atividades ilícitas.
Outro requisito previsto pela Circular é o ofe- Em paralelo, a Lei Anticorrupção também su-
recimento de treinamentos aos colaboradores gere a realização de due diligences de integri-
das entidades reguladas com o foco no cum- dade prévias à celebração de contratos com
primento e conformidade com os aspectos terceiros e parceiros comerciais, em especial
previstos pela Lei de Lavagem. fornecedores. Portanto, o recomendado é que
o processo de coleta e avaliação das infor-
Nota-se ainda que existência de treinamentos
mações, no âmbito de prevenção à lavagem,
específicos também é um dos principais cri-
também seja adaptado para identificar adicio-
térios utilizados pelas autoridades brasileiras
nalmente aspectos relevantes sob uma pers-
para avaliação de programas de compliance
pectiva de combate à corrupção.
anticorrupção. Assim, a simples extensão do
conteúdo programático das sessões de treina- Além de prever obrigações de cadastro de
mento contra lavagem de dinheiro para cobrir clientes, a Circular ainda reforçou o dever das

76
20 Anos

entidades reguladas de manter registros e do- necessário conscientizar os agentes do merca-


cumentação suporte de todas as operações do de seguros da sua exposição residual a ris-
relevantes que possam ensejar algum risco de cos de corrupção para além das preocupações
lavagem de dinheiro. Neste âmbito, as ope- com atos de lavagem de dinheiro.
rações envolvendo pessoas politicamente
É imprescindível, portanto, que governo, agên-
expostas6 também ganharam destaque na Cir-
cias reguladoras e entes regulados trabalhem
cular, sendo que o monitoramento destas de-
juntos para a segmentação de práticas de
verá ser feito de maneira reforçada e contínua.
conformidade. Contudo, cabe às sociedades
Tais esforços de monitoramento e controle de empresárias que desejam se adiantar às de-
documentos podem tanto servir para garantir mandas e requisitos impostos pela regulação
que os registros financeiros da entidade re- adotar mecanismos capazes de proteger a si, a
gulada reflitam de forma precisa a totalidade seus clientes e controladores.
das suas operações quanto ajudar na possível
identificação de vínculos ocultos entre segura-
dos/beneficiários e agentes públicos.
Por fim, as atividades de controle promovidas
pela entidade regulada para o atendimento
às obrigações da Circular deverão ser avalia-
das por meio de auditoria anual, que poderá
ser conduzida pela própria entidade ou por
auditores independentes. Sugere-se, portanto,
que o plano de auditoria da entidade regulada
também preveja a avaliação conjunta dos pro-
cessos destinados à prevenção e detecção de
fraudes e atos de corrupção, de modo a garan-
tir a manutenção da efetividade de seus con-
troles internos, a atualização e monitoramento
de novos riscos aos quais a sociedade poderá
estar exposta e o desenvolvimento de pontos
falhos da sua capacidade de reação a crises.
O cenário atual brasileiro tem cristalizado o
combate à corrupção como um processo cada
vez mais natural e inevitável em todas de rela-
ções comerciais. De uma forma geral, se torna

6 A definição utilizada pela Circular indica que pessoas politica-


mente expostas são os agentes públicos que desempenham
ou tenham desempenhado recentemente cargos, empregos
ou funções públicas relevantes, assim como pessoas a eles
relacionadas. À título de referência, são listados que os presi-
dentes, vice-presidentes, ministros, membros do Congresso
Nacional, executivos de entidades da administração indireta,
prefeitos, governadores, presidentes de tribunais e das Assem-
bleias Legislativas e demais servidores públicos do nível DAS-6
são pessoas politicamente expostas para os fins da Circular.

77
LEI 9.613, DE 1998

A lei de prevenção à
lavagem de dinheiro e o
papel de cada cidadão

tampouco, sistemas de inteligência, como o


COAF, e o combate pela polícia federal teriam
essa fundamentação técnica para atuação.
Em tempos de Lava Jato, nos deparamos com
o fato de que, em 2018, a norma que dispõe
sobre a prevenção à lavagem de dinheiro, a Lei
9.613/1998, completa 20 anos.
Na década de 90, apenas poucas instituições
no Brasil, normalmente as instituições globais,
ANGELO CALORI possuíam departamento de Compliance e liga-
do a ele, o programa de prevenção à lavagem

N
de dinheiro. A promulgação da Lei 9.613, cita-
ormas são muito importantes para balizar da acima, colocou o tema na pauta do país e,
os procedimentos e para exigir controles mais desta forma, instituições se viram obrigadas a
adequados de prevenção a todos os agen- implementar seus programas.
tes do mercado visando mitigar e diminuir as
É fundamental destacar a importância do
chances do risco se materializar. Contudo, só a
comportamento de cada cidadão para efetiva
lei não é suficiente.
consolidação da lei 9.613. Se essa lei "pegou",
A lei 9.613/98 e sua reformulação pela lei foi por força de regulamentações e riscos de
12.683/12 trouxeram uma revolução que per- punições que as instituições poderiam sofrer.
mitiu o combate contínuo da lavagem de di- A lei previu, desde sua primeira versão em
nheiro. Sem ela, procedimentos do sistema 1998, multa de até R$20 milhões como forma
financeiro não teriam sido estabelecidos e, de punir falhas das instituições no combate

78
20 Anos

à lavagem de dinheiro. Assim, muitos progra- Qualquer cidadão pode colaborar se começar
mas de prevenção à lavagem de dinheiro fo- a questionar qual seria a origem do bem que
ram estabelecidos com a estratégia de atender está adquirindo e para onde está indo seu di-
apenas aos requerimentos regulatórios e não nheiro. Vamos a outros exemplos:
para uma efetiva gestão de risco, diminuindo A venda de bens com recebimento em es-
as chances de a instituição ser utilizada para a pécie, assim como a venda de joias que ali-
lavagem de dinheiro. Fazemos porque somos mentou o esquema corrupto de desvios de
obrigados a fazer e não porque entendemos recursos do Rio de Janeiro e que deixou o esta-
que é certo fazer e pela importância ética e so- do tão deteriorado a ponto de sofrer interven-
cial deste trabalho. ção. E se o vendedor dessas joias não aceitasse
As comemorações pelos 20 anos da lei 9.613 a operação por questionar a origem dos recur-
devem levantar a discussão para uma necessá- sos que estava recebendo por ela? Não só a
ria mudança de cultura no Brasil quanto à pre- joalheria que tem sua obrigação em controlar
venção à lavagem de dinheiro. Provavelmente e reportar determinadas pelo COAF, mas o pró-
será impossível acabar com a corrupção, mas prio vendedor.
diminuir nossa tolerância a malfeitos é perfei- Isso vale também quando vendemos nosso
tamente viável. imóvel, nosso carro, etc. Não é de se estranhar
Vale lembrar que não haveria dinheiro fruto do que nos dias de hoje com o acesso tão pulve-
tráfico de drogas, se não houvesse quem con- rizado ao sistema bancário, alguém venha até
sumisse esses entorpecentes. Sabendo que você com dinheiro em espécie? Não é de se
está é uma situação polêmica e de difícil com- estranhar e questionar mesmo que silenciosa-
bate, cabe provocar nosso olhar para o que nos mente porque alguém teria certa quantia em
é possível agir e mudar. espécie? Quando nos omitimos em perguntar
a origem dos recursos que recebemos perde-
A sociedade deve se preocupar com delitos mos a oportunidade de colaborar com a pre-
considerados pequenos em primeiro lugar e venção à lavagem de dinheiro.
que, em muitas situações, contam com a cola-
Outro exemplo do dia a dia é o de serviços de
boração direta ou indireta do cidadão comum.
tv por assinatura, assim como jogos, filmes,
Somados, esses crimes acabam ganhando
músicas e softwares, entre outros. Muitos de-
expressividade.
les podem não ser acessíveis a grande parte
Comprar bens de consumo de qualquer natu- da população por diversas razões, mas isso não
reza sem questionar o motivo do preço estar dá o direito de adquirir a versão pirata. No Bra-
abaixo da média de mercado é colaborar, mes- sil a prática de adquirir produtos piratas é tão
mo que por omissão, com o crime. Algumas comum que por uma razão ou outra se con-
vezes, os produtos chegam ao mercado por vencionou a chamar de produto “paralelo”. Is-
meio de violência. No Rio de Janeiro, por exem- so tudo é considerado por muitos ser esperto,
plo, é possível encontrar consumidores ávidos pois afinal adquiriu produtos antes inacessíveis
por produtos roubados ou contrabandeados por um preço muitíssimo baixo, sem perceber
ofertados em feiras montadas a céu aberto – ou se importar – que o dinheiro dado para
como a feira de Acari, assim como em tantas adquirir algo ilícito foi parar nas mãos do cri-
outras com a mesma finalidade espalhadas por me organizado, financiando assim ainda mais
todo o país. violência.

79
LEI 9.613, DE 1998

A efetividade da prevenção está também em Por este motivo, é necessário mudar a socieda-
combater a essência. Eliminar ou reduzir sen- de para que não haja espaço e tolerância para
sivelmente a geração de recursos ilícitos das corruptos no país.
organizações criminosas obtidos por meio Acabar com o "jeitinho brasileiro" certamente
dessas atividades. é um grande passo. Acreditar que é possível é
Obviamente, prevenir a lavagem de dinheiro muito mais difícil do que desistir. Negar tam-
exige muito mais esforço. O primeiro passo, bém é muito mais difícil do que aceitar.
contudo, é viável e está ao alcance de todo Por fim, a prevenção à lavagem de dinheiro
e qualquer cidadão brasileiro, que deve mu- iniciada com a Lei 9.613 e constantemente for-
dar a cultura de fazer, aceitar ou conviver com talecida ao longo desses 20 anos terá um im-
malfeitos. O combate aos políticos corruptos é portante salto quando cada cidadão entender
mais do que necessário e urgente, mas não de- e assumir seu papel como agente de mudança.
ve ter um fim a curto prazo. A evolução da prevenção depende de nós!

80
20 Anos

20 anos da Lei de
Lavagem de Dinheiro
Importante ferramenta de cooperação
entre as agências reguladoras e impactos
no mercado segurador

MARCIA CICARELLI FABYOLA RODRIGUES LAURA PELEGRINI

I – Introdução II – A evolução da Lei nº


9.613/98
A Lei nº 9.613, que dispõe sobre os crimes de
lavagem ou ocultação de bens, direitos e va-
A conectividade presente na sociedade atual
lores, acerca da prevenção da utilização do sis-
trouxe uma importante conscientização do
tema financeiro para os ilícitos previstos, além
papel de cada autoridade e agente regulador
de criar o Conselho de Controle de Atividades
atuante na fiscalização e controle do sistema
Financeiras (“COAF”), completa no dia 03 de
financeiro nacional.
março do presente ano 20 (vinte) anos de sua
publicação, tendo passado por importantes al- A técnica legislativa avançou buscando trazer
terações com Lei 12.683/2012. ao segundo crime mais antigo do mundo – la-
vagem de dinheiro – uma posição de destaque
Considerando este marco relevante de vigên-
nas apurações tanto nas esferas federais quan-
cia da lei e seus desdobramentos em áreas
to municipais.
específicas, cabe fazer uma reflexão acerca de
suas consequências no ordenamento e socie- Cenário atual e futuro, os sujeitos ativos da la-
dade brasileira e seus reflexos no mercado de vagem de dinheiro procuram criar mecanis-
seguros. mos cada vez mais sofisticados de dissimilar o

81
LEI 9.613, DE 1998

ingresso de ativos financeiros, papel moeda de sempre que solicitados, esclarecimentos às Au-
forma ilícita, atingindo bolsa de valores, pela toridades Públicas.
liquidez e agilidade das operações, setor imo- Somando a essa atuação integrada em âmbi-
biliário, obras de arte, mercado de luxo, segura- to nacional, a participação do Brasil no cenário
doras e agora cryptomoedas. internacional também tem se mostrado rele-
A atual Lei de Lavagem de Dinheiro trouxe res- vante nos últimos anos, através da cooperação
postas muito mais eficazes no âmbito criminal, entre autoridades, que trouxe resultados ex-
ao tornar o crime independente e classificando pressivos no cumprimento de cautelares pa-
como crime antecedente toda e qualquer in- trimoniais. O Departamento de Recuperação
fração penal, abrangendo, dessa forma, as con- de Ativos, integrante da Secretaria Nacional de
dutas ativas ou omissivas ilícitas. Justiça, do Ministério da Justiça, tem atuado
de forma exemplar como Autoridade Central
Com as mudanças legislativas, podemos afir- na tramitação dos pedidos de cooperação ju-
mar que a regulação contra crimes de lava- rídica internacional. Em matéria penal, o maior
gem de dinheiro atingiu sua “maioridade”, número de cooperações jurídicas internacio-
mostrando-se madura e igualmente eficiente nais está relacionado aos crimes financeiros,
para detectar, punir e atuar de forma bastante lavagem de dinheiro, corrupção e tráfico de
presente em diversos mercados, especialmen- drogas. Em matéria cível, os pedidos estão
te através das agências reguladoras nacionais e relacionados ao direito de família e questões
internacionais. societárias.
O COAF – Conselho de Controle de Atividades Com a atualização legislativa, outros pontos
Financeiras, ao desenvolver o papel de exami- sensíveis e importantes foram modificados, co-
nar e identificar toda e qualquer ocorrência mo, por exemplo, a possibilidade de apreensão
suspeita de atividades ilícitas, é uma das enti- e venda de bens que estejam registrados em
dades mais atuantes no combate à lavagem nome de “laranjas”, antes do fim do processo
de dinheiro, atuando de forma conjunta com criminal. Essa foi a forma encontrada pelo legis-
o Banco Central do Brasil, a Comissão de Valo- lador para minimizar a desvalorização dos bens
res Mobiliários, a Superintendência de Seguros apreendidos até o fim regular do processo.
Privados, a Procuradoria da Fazenda Nacional, Outra ferramenta importante presente no
a Receita Federal, o Poder Executivo, a Polícia combate à Lavagem de Dinheiro está no in-
Federal, o Ministério das Relações Exteriores e a centivo ao réu em apresentar espontanea-
Controladoria-Geral da União. mente fatos e documentos, colaborando com
Em vista disso, a Lei de Lavagem de Dinheiro a investigação, em especial com a identificação
atribuiu responsabilidades às pessoas físicas e de todos os sujeitos ativos, com a finalidade de
jurídicas na identificação dos clientes e manu- obter uma redução na pena, figura jurídica essa
tenção dos registros de todas as operações, de denominada delação premiada.
modo a comunicarem toda e qualquer opera- O resultado dessa conectividade dos órgãos
ção financeira atípica, não havendo o ônus de fiscalizadores e da atribuição de responsabili-
qualquer implicação por uma comunicação er- dade aos administradores pelo conhecimento
rônea, vez que o fazem sem dar qualquer ciên- dos riscos do negócio, traz hoje um resultado
cia aos clientes, que por sua vez, devem prestar, muito positivo para a sociedade. Na medida

82
20 Anos

em que toda circulação de moeda pode ser A regulamentação continuou a ser com-
rastreável e seus agentes intermediadores vi- plementada e atualizada pela SUSEP em di-
rem a ser responsabilizados criminalmente versas normas posteriores: Circulares SUSEP
ou mediante aplicação de multas de até 20 nº 187/2002, nº 200/2002, nº 327/2006 e nº
milhões de reais, podemos afirmar que o país 380/2008, passando esta última a incluir os
caminha em conformidade com as tendências resseguradores entre as sociedades reguladas
mundiais, cumprindo com os Tratados Interna- sujeitas ao cumprimento dos procedimentos
cionais, como o de Viena. elencados.

Considerando esse cenário, passamos a ana- Após tais sucessivas alterações em âmbito re-
lisar os impactos específicos da referida lei no gulamentar para adequação à Lei n° 9.613/98, a
mercado de seguros. SUSEP publicou, em 02 de julho de 2012, a Cir-
cular SUSEP n°445/2012, que expressamente
revogou a Circular SUSEP n° 380/2008, conso-
lidando a necessidade de as sociedades regu-
III – As consequências ladas possuírem controles internos específicos
da Lei nº 9.613/98 no para a prevenção, combate e coibição à lava-
gem de dinheiro, corrupção e financiamento
mercado de seguros: ao terrorismo ou crimes conexos, e registros
histórico e cenário das operações com Pessoas Politicamente Ex-
postas (PPE).
atual
Assim, a Circular SUSEP n° 445/2015 regula-
menta atualmente no mercado de seguros os
A publicação Lei nº 9.613, em 03 de março de
procedimentos necessários para cumprimento
1998, determinou a regulamentação da maté-
das obrigações previstas nos art. 10, 11,12 e 13
ria de forma mais específica no âmbito do mer- da Lei n° 9.613/1998, os quais dispõem sobre a
cado de seguros. necessidade das empresas de qualquer ramo
Já no ano seguinte à promulgação da Lei promover a identificação de seus clientes e
9.613/98, a SUSEP publicou a Circular n° 89/99, manter seus respectivos registros, bem como
que, além de elencar hipóteses de operações e realizar a comunicação de operações financei-
situações que poderiam configurar os crimes ras ao COAF.
previstos na lei, determinou que as segurado- Para tanto, o art. 2° desta norma infra legal re-
ras implementassem procedimentos de con- gulamenta a abrangência de sua aplicação
troles internos específicos para prevenção de para todas as sociedades seguradoras e de
tais ocorrências. capitalização, entidades de previdência com-
Referida norma foi revogada pela Circular SU- plementar aberta, sociedades corretoras e
SEP nº 181/2002 que, de forma mais específica, corretoras de seguros, sociedades cooperati-
passou a tratar do registro de informações sen- vas autorizadas a operar em seguros privados,
síveis com o escopo de evitar a configuração além dos resseguradores locais e admitidos.
dos crimes disciplinados pela Lei nº 9.613/98 e A Circular SUSEP n° 445/2012 exige desses su-
disciplinar detalhadamente a necessidade de jeitos o atendimento dos seguintes principais
informar a SUSEP sobre operações suspeitas. controles internos: (i) estabelecimento de uma

83
LEI 9.613, DE 1998

política interna de prevenção e combate à la- da Circular SUSEP n° 445/2012, demonstra a in-
vagem de dinheiro e terrorismo; (ii) elabora- tegração e compartilhamento de informações
ção de cadastro com identificação de clientes, entre os dois órgãos públicos, de forma alinha-
beneficiários, terceiros e outras partes; (iii) ela- da com o objetivo de coibir a consumação de
boração d e manuais e implementação de pro- crimes de lavagem de dinheiro.
cedimentos de identificação, monitoramento, Referida obrigação de comunicação subsis-
análise e comunicação, bem como (iv) treina- te até mesmo nos casos em que há dúvidas
mento periódico de funcionários e execução quanto à natureza de uma ocorrência, visto
de programa de auditoria interna. que, sendo realizada de boa-fé, ainda que não
Para buscar evitar a ocorrência de ilícitos, a se trate ao final de uma operação suspeita, ine-
SUSEP foca a atividade fiscalizatória em três xistirá responsabilidade administrativa ou cri-
principais pontos: (i) a atualização do cadas- minal da sociedade informante.
tro de clientes, (ii) a identificação de clientes Desse modo, observa-se que o mercado de se-
de operações suspeitas e (iii) a comunicação guros incorporou, de acordo com as peculiari-
de operações suspeitas para a SUSEP/COAF. O dades das atividades desenvolvidas pelo setor,
descumprimento de quaisquer dessas obriga- os comandos trazidos pela Lei nº 9.613/98, ten-
ções, na forma determinada pela norma, pode- do adaptado sua regulação em conformidade
rá resultar na responsabilização administrativa com a evolução e atualização da legislação, em
da seguradora ou outra sociedade regulada e busca de consolidar mecanismos mais eficazes
também das pessoas físicas responsáveis en- que permitam à SUSEP implementar fiscaliza-
volvidas, mediante autuação da SUSEP, sem ção eficaz nesta seara.
excluir as consequências no âmbito criminal.
No que se refere ao cadastro de clientes, o art.
7° da Circular SUSEP n°445/2012 estabelece III – Conclusão
uma série de informações que necessariamen-
te devem ser rotineiramente atualizadas pelos
Pelo exposto acima, conclui-se que a Lei nº
seguradores, resseguradores e corretores, tan-
9.613/98, com as alterações legislativas so-
to para clientes pessoas física ou jurídica.
fridas, e o fortalecimento do COAF têm per-
Nesse ponto, especial atenção é conferida à mitido maior controle e rastreamento das
identificação de operações com Pessoas Poli- operações de circulação de moedas.
ticamente Expostas (PPE), assim classificadas
No mercado de seguros, a regulamentação
pelo art. 4° da Circular n° 445/2012, corres-
setorial das obrigações contidas na referida lei
pondendo, em suma, agentes públicos que
possibilita à SUSEP, enquanto órgão regulador
desempenham ou já desempenharam, nos 5
e fiscalizador do setor, manter controle de in-
anos anteriores ao negócio, no Brasil ou no ex-
formações sensíveis e, com isso, alcançar o ob-
terior, cargos ou funções públicas relevantes.
jetivo primordial de coibir a prática de crimes
Por sua vez, a obrigação comunicação das de lavagem de dinheiro no âmbito do merca-
ocorrências à SUSEP/COAF, conforme o art. 13 do regulado.

84
20 Anos

Vinte anos da Lei nº 9.613


e o Combate à Lavagem de
Dinheiro pelo Mercado de
Seguros no Brasil

JULIANA SÁ DE MIRANDA MARCELLA HILL GABRIELA PAREDES


ARCENTALES

D urante as décadas de 80 e 90, a lavagem


de capitais passou a ser objeto de atenção
ocultação ou dissimulação de bens, valores
ou direitos provenientes de crimes. A grande
após se tornarem notórias a força e a capa- inovação da lei, na época, era punir exatamen-
cidade de articulação do crime organizado, te a atividade de “mascarar” valores ilícitos e
especialmente relacionado ao tráfico de dro- reinseri-los no mercado “licitamente”, dividindo
gas, que acumulavam capital suficiente para a conduta em três estágios: ocultação, dissimu-
retroalimentar o sistema criminoso através da lação e reintegração.
“lavagem”. O primeiro estágio consiste na separação física
Nesse contexto, em 1998 foi promulgada a entre o indivíduo e os valores ilícitos, trata-se
Lei nº 9.613, que criminalizou a conduta de da colocação dos recursos derivados de uma

85
LEI 9.613, DE 1998

atividade ilegal em um mecanismo de oculta- tem acesso aos caminhos trilhados pelo capital
ção da sua origem. No segundo estágio, é feita oriunda de infração penal.
a transformação dos valores mediante transa- As regras gerais de colaboração exigem:
ções financeiras com o objetivo de dissimular
a ilicitude dos valores, tornando mais difícil a (i) a criação de registros e a manutenção de ca-
detecção da manobra dissimuladora e do “en- dastros com informações precisas e atualizadas
cobrimento”. Por fim, há a reinserção dos valo- sobre clientes e suas principais operações, polí-
res e bens “limpos” no mercado para que sua tica conhecida como know your cliente;
circulação pareça legitima. Em linhas gerais, a (ii) comunicação às autoridades competentes
lavagem de dinheiro tem como objetivo pro- de atos e transações suspeitas;
porcionar uma aparência legal aos bens, direi-
(iii) o desenvolvimento de políticas de Com-
tos ou valores provenientes do crime.
pliance para a prevenção, identificação e im-
O texto inicial sofreu três alterações significati- plementação de mecanismos de investigação
vas ao longo dos últimos vinte anos de vigên- e controle interno que possibilitem a repressão
cia , na tentativa de acompanhar a evolução de atividades suspeitas.
da complexidade e amplitude da atuação das
Essa necessidade de monitoramento adminis-
organizações criminosas, sumarizados abaixo.
trativo dos setores sensíveis levou à criação de
Embora a Lei nº 12.683/12 tenha aumentado diversas unidades internas de inteligência. No
significativamente o rol de “pessoas sujeitas caso das empresas de seguro, capitalização e
ao mecanismo de controle”, fato é que, des- previdência, a regulamentação é feita pela Su-
de o nascimento a lei, já havia uma preocu- perintendência de Seguros Privados (SUSEP),
pação em obter a cooperação de entidades que, em consonância com a alteração legisla-
ou pessoas do setor privado que operam em tiva de 2012, emitiu a Circular SUSEP nº 445 de
“campos sensíveis à lavagem de dinheiro”. A 2012. Essa regulamentação é um guia para as
essas pessoas, físicas e jurídicas, foi dado o no- entidades supervisionadas pela SUSEP e dis-
me de gatekeepers pois atuam como “vigias” e põe sobre controles internos específicos para

Diploma e data da
Principais alterações Alterações no cenário fático
alteração
A atuação das organizações criminosas começa a
Incluiu crimes praticados contra a administração ultrapassar fronteiras e mostra-se necessário repri-
Lei 10.467/2002 pública estrangeira como antecedentes da lava- mir também a lavagem de capital obtido através
gem de dinheiro do cometimento de crimes contra estados estran-
geiros
Consequências da atuação transnacional das orga-
nizações criminosas e de sua necessidade em “la-
Incluiu o financiamento do terrorismo como ante-
Lei 10.701/2002 var” o capital ilícito e são criados mecanismos de
cedente da lavagem de dinheiro
cooperação entre os Estados para monitoramento
e repressão dos crimes transnacionais.
O setor público percebe a necessidade de contar
com a colaboração do setor privado para comba-
Ampliação do rol de infrações antecedentes e de ter a lavagem. Surge a necessidade de cooperação
Lei 12.683/2012 entes privados obrigados a cooperar com a fiscali- do setor privado para monitoramento e prevenção
zação e repressão da lavagem de capitais dessa espécie de operações, por meio da imple-
mentação de estrutura interna e eficiente de con-
trole e prevenção à lavagem de dinheiro

86
20 Anos

prevenção e combate aos crimes de lavagem de manter registro de operações financeiras,


de dinheiro ou outros que a ele possam se comunicações ao COAF dentro de prazos esti-
relacionar. pulados pela lei.
O Capítulo III da circular é específico e expres- A exigência da implementação de instrumen-
so ao exigir que as entidades supervisionadas tos de controle e prevenção, eficientes, por
pela SUSEP estabeleçam uma política de pre- parte de instituições do “setor sensível” é um
venção e combate à lavagem de dinheiro e claro indicativo de que em 2012 uma nova
ao financiamento ao terrorismo (Anti-money- fase se iniciou no combate à lavagem de di-
laundering Policy) e de identificação de clientes nheiro. Essa fase afeta diretamente instituições
(know your client policy), além de treinamento financeiras e de seguro pois não há mais ape-
e qualificação específica dos funcionários pa- nas a exigência na comunicação de ativida-
ra identificação, monitoramento e análise de des suspeitas mas também um exigência de
risco e comunicação de operações suspeitas. implementação de uma estrutura interna de
Exige-se, ainda, a “elaboração e execução de prevenção. Exige-se que essa estrutura seja
um programa anual de auditoria interna que efetiva e não apenas pro forma de modo que o
verifique o cumprimento dos procedimentos” descumprimento de tais deveres de prevenção
da circular. podem acarretar consequências jurídicas e re-
A Resolução CNSP nº 243 de 2011 estabelece putacionais para as entidades supervisionadas
o processo administrativo sancionador e pe- pela SUSEP e seus executivos, incluindo a pos-
nalidades aplicáveis às entidades supervisiona- sibilidade de responder por processos admi-
das pela SUSEP que venham a descumprir tais nistrativos sancionadores e aplicação de multa
obrigações de identificação de seus clientes, pela SUSEP.

87
LEI 9.613, DE 1998

20 anos da Lei da
lavagem de dinheiro

um marco histórico para o Brasil, no combate


a epidêmica cultura de corrupção generaliza-
da. Como também, não poderíamos deixar de
falar dos 30 anos desde que a Convenção de
Viena ocorreu (1.988), onde foram os primeiros
passos de ações internacionais de combate a
Lavagem de Dinheiro no Brasil.
Quantos avanços nos mecanismos de comba-
JULIO ANDRADE te ao crime de lavagem de dinheiro, podemos
contabilizar nestes 20 anos que se passaram.

C
A referida lei, foi alterada em 9 de julho de
hegamos ao mês de MARÇO DE 2018. 2.012 pela Lei n0 12.683, para tornar mais efi-
Quantas coincidências este mês nos trás de ciente a persecução penal dos crimes de lava-
lembrança. A começar pelo dia 03 de março gem de dinheiro.
de 2018, exatos duas décadas depois desde
Anteriormente a alteração da lei, somente
que a lei n0 9.613, que dispõe sobre os crimes
havia lavagem de dinheiro se a ocultação ou
de "lavagem de dinheiro" ou ocultação de
dissimulação fosse de bens, direitos ou valo-
bens, direitos e valores e cria o Conselho de
res provenientes de um crime antecedente,
Controle de Atividades Financeiras - COAF, foi
porém com esta alteração, haverá lavagem de
promulgada.
dinheiro se a ocultação ou dissimulação for de
Também neste mesmo mês de março, entra- bens, direitos ou valores provenientes de um
mos no 40 ano da operação “Lava Jato”, sendo crime ou de uma contravenção penal.

88
20 Anos

Desta forma, entende-se que a lavagem de di- a demora no trânsito em julgado das decisões
nheiro continuará sendo um crime derivado, finais em processos penais.
mas agora ampliando para dependente de Devemos também acreditar que alguns fatores
uma infração penal antecedente, que pode ser ainda possam ser implantados, para eficiên-
um crime ou uma contravenção penal. cia no combate deste ilícito, como a exemplo:
Outro importante avanço se dá na incorpora- i) Tornar todos os partidos políticos, pessoas
ção de institutos jurídicos modernos, como a sujeitas ao mecanismo de controle (pessoas
delação premiada, a inversão do ônus da pro- obrigadas) à lei e ii) Introdução de retorno por
va, a inclusão das hipóteses de alienação an- parte do COAF, quanto as comunicações feitas
tecipada e outras medidas assecuratórias que pelas pessoas obrigadas, das operações con-
garantam que os bens não sofram desvaloriza- sideradas suspeitas de crimes de lavagem de
ção ou deterioração; a inclusão de novos sujei- dinheiro, se possuem ou não indícios de lava-
tos obrigados tais como cartórios, profissionais gem de dinheiro, para que a instituição que
que exerçam atividades de assessoria ou con- fez a comunicação, possa tomar providências
sultoria financeira, representantes de atletas e de encerramento ou não de negócios com o
artistas (audiência publica do COAF 01/2018), cliente.
feiras, dentre outros e o aumento do valor má- Por outro lado, temos que nos orgulhar, da
ximo da multa para R$ 20 milhões. modernização do COAF e dos acordos de Coo-
Ainda teremos muitos desafios pela frente pa- peração Técnica para Intercâmbio de Informa-
ra minimizar a prática do crime de lavagem de ções com a outras unidades de inteligência
dinheiro. Elenco alguns destes fatores: i) A mu- espalhadas pelo mundo.
tação e a modernização das praticas exercidas Sempre fui muito otimista quanto ao meca-
pelo crime organizado, ii) introdução na eco- nismo de combate aos crimes de lavagem de
nomia de moedas virtuais (criptomoedas) sem dinheiro, que de toda sorte, num futuro próxi-
qualquer regulação ou garantias, onde se utili- mo, acredito que verei o sistema obrigar o cri-
zam da tecnologia de blockchain e da cripto- minoso ficar sentado sob o seu dinheiro sujo,
grafia para assegurar a validade das transações impedindo-o de introduzir recursos ilícitos na
e a criação de novas unidades da moeda, e iii) economia sem que seja detectado.

89
LEI 9.613, DE 1998

Lavagem de dinheiro:
como o mercado de
seguros pode mitigar o
risco de envolvimento

EDUARDO CASTRO THAIS DE GOBBI PEDRO RICCO

A lei n° 9.613 de 3 de março de 1998 (“Lei


de Lavagem de Dinheiro” ou “Lei n° 9.613/98”)
qualquer pessoa que, ciente da origem ilícita
dos ativos e, por sua vontade, oculta ou dis-
tipifica como crime o ato de “ocultar ou dis- simula a natureza, origem, localização, dis-
simular a natureza, origem, localização, dispo- posição, movimentação ou propriedade de
sição, movimentação ou propriedade de bens, tais ativos, incorre no crime de lavagem de
direitos ou valores provenientes, direta ou indire- dinheiro.
tamente, de infração penal” (art. 1°). O citado delito de lavagem também permite
Podem ser sujeitos do crime de lavagem coautoria e participação. Por exemplo, existem
qualquer pessoa física que, dolosamente,1 fi- operações realizadas por instituições que, não
gure como agente lavador de capitais. Isto é, obstante atuarem num ramo de negócios legí-
timo, também podem ser utilizadas, ainda que
1 Há precedente judicial que admite o dolo eventual (quando involuntariamente, na lavagem de recursos
o agente assume o risco de produzir o crime) como elemento
subjetivo do tipo penal de lavagem de dinheiro, o que am-
plia sobremaneira as pessoas que podem ser enquadradas aprofundaremos a análise sobre esse debate. Por outro lado,
em tal crime. Tal tese é alvo de várias discussões doutrinárias ressaltamos que a lei n° 9.613/98 não tipificou a modalidade
e ainda não existe entendimento jurisprudencial pacificado culposa (imprudência, negligência e imperícia) do delito de
sobre o tema. Em razão do escopo do presente artigo, não lavagem de dinheiro.

90
20 Anos

ilegais2. Assim, se no caso concreto ficar com- e 8° da Circular SUSEP n° 445/12); (ii) registrar
provada a participação intencional (dolo) de as operações efetuadas pelos clientes que ul-
representante da instituição que intermediar trapassem o limite imposto pela autoridade
a operação de lavagem, tal pessoa também competente (para o mercado em análise, se-
poderá ser considerada coautora ou partícipe gundo os valores previstos no inciso I do arti-
do crime3. go 13, acrescidos dos critérios do inciso II do
A Lei de Lavagem de Dinheiro igualmente re- mesmo artigo da Circular SUSEP n° 445/12); (iii)
gula aspectos processuais da persecução cri- monitorar as operações e dispensar especial
minal, bem como lista em seu artigo 9° uma atenção àquelas que possam constituir-se em
série de pessoas (“Pessoas Obrigadas”) que, sérios indícios dos crimes previstos na Lei de
por exercerem atividades em setores comu- Lavagem de Dinheiro, nos termos de instru-
mente envolvidos no mascaramento de bens ções emanadas pela autoridade competente
de origem ilícita, devem (i) manter registros (no caso, conforme art. 10 c/c inciso II do artigo
(atualizados) de clientes (know your client) e 13 da Circular SUSEP n° 445/12); (iv) comunicar
de operações, além de monitorá-las; e (ii) co- à autoridade competente qualquer operação
municar atividades suspeitas às autoridades ou proposta de operação que se enquadre nos
competentes. critérios de comunicação previstos na regu-
lamentação aplicável (no caso, conforme art.
De uma forma geral, as pessoas arroladas no
14 da Circular SUSEP nº 445/12) e (v) adotar
art. 9° são os agentes econômico-financeiros
políticas, procedimentos e controles internos
visados no processo de lavagem de dinheiro,
compatíveis com o porte e volume de suas
que ocasionalmente podem ser envolvidos
operações, que lhes permitam atender ao dis-
nas operações financeiras ou comercias que
posto na lei e regulamentação aplicáveis.
buscam incorporar na economia os bens, di-
reitos ou valores que se originam ou estão liga- O descumprimento, pela Pessoa Obrigada, das
dos a atos ilícitos. Além disso, por operarem em obrigações impostas pela Lei de Lavagem de
áreas sensíveis ao crime de lavagem de dinhei- Dinheiro e normativos que a disciplinam, po-
ro e terem rápido acesso ao itinerário percorri- de representar sua responsabilização adminis-
do pelos recursos decorrentes de tal infração trativa, bem como de seus administradores,
penal, tais pessoas também são consideradas conforme os critérios indicados no artigo 12
gatekeepers, devendo auxiliar no processo de da mesma lei (advertência, multa, inabilitação
fiscalização realizado constantemente pelas temporária de pessoas físicas e cassação ou
autoridades públicas. suspensão da autorização da pessoa jurídica),
As obrigações impostas às Pessoas Obrigadas além de contribuir para eventual responsabi-
estão indicadas nos artigos 10 e 11 da mesma lização criminal dos agentes (pessoas físicas)
lei, sendo cinco delas as mais importantes: (i) das Pessoas.
identificar e manter registros atualizados dos Além do sistema financeiro, que, pela natureza
clientes (no caso do mercado segurador, con- das atividades desenvolvidas por seus mem-
forme os critérios estabelecidos nos artigos 7° bros, está naturalmente mais exposto a tais
tipos de ilícitos, participantes do mercado de
2 BARROS, Marco Antonio de. Lavagem de capitais e obriga- seguros (tais como seguradoras, entidades de
ções civis correlatas. 4 ed. rev. ampl. São Paulo: Editora Revis-
tas dos Tribunais, 2013. p. 59.
capitalização e previdência, corretoras e res-
3 BARROS, Marco Antonio de. Idem. seguradoras) também podem ser envolvidos

91
LEI 9.613, DE 1998

em episódios de lavagem de dinheiro. E são de compliance que garanta que a instituição


inúmeras as formas como esses players podem tomará todas as precauções necessárias para
ser manipulados por criminosos, por exemplo: evitar o envolvimento de sua estrutura com
(i) contratação de cobertura no exterior e re- práticas delitivas, de forma a implementar pa-
cebimento de indenização do exterior por re- drões de conduta que reduzam o risco da ocor-
sidente no Brasil, e vice-versa; (ii) contratação rência de um ilícito a um mínimo tolerável.5
de cobertura securitária para bens adquiridos
Com relação ao cadastro de clientes, além de
com fundos ilícitos; (iii) pagamento “acidental”,
manter as informações previstas na regula-
mas de forma reiterada de valores acima do
mentação aplicável (nome, número do CPF/
que era efetivamente devido a título de prê-
MF, endereço, número do registro de identi-
mio, a fim de obter reembolso; (iv) pagamento
ficação, patrimônio estimado etc.) precisas e
de prêmio em dinheiro e/ou por terceiros, fora
devidamente atualizadas (e comprovadas!), a
da rede bancária; (vi) cancelamento de apóli-
Sociedade deve, antes de tudo, ser capaz de
ces com devolução de prêmio; (vii) aquisição
analisar as informações coletadas e o perfil de
de produtos de vida com renda imediata me-
cada cliente (inclusive utilizando-se de infor-
diante pagamento de prêmio único; (viii) asso-
mações publicamente disponíveis). Por exem-
ciação do criminoso com terceiros legítimos,
plo, para que seja possível identificar aqueles
de modo que o criminoso seja indicado como
clientes que são “pessoas politicamente expos-
beneficiário dos seguros; (ix) a realização de
tas” (e seus familiares e representantes), cujas
fraudes em sinistros; (x) a colusão entre clien-
operações exigirão especial cuidado ou até
tes, intermediários e/ou seguradoras etc4.
mesmo para criar uma classificação de risco
Considerando o cenário jurídico acima expos- atrelada a determinados grupos de clientes.
to, passaremos então a analisar, sucintamen-
Já a respeito do monitoramento de operações
te, quais medidas os integrantes do mercado
(ou propostas) por seus clientes, as Socieda-
segurador, conforme citados pela Circular n°
des devem adotar procedimentos e controles
445/12 (“Sociedades”), podem adotar para mi-
efetivos (inclusive por meio de sistemas au-
tigar eventual risco de serem considerados fa-
tomatizados), com parametrização objetiva e
cilitadores ou participantes em eventual ilícito
adequada, levando em consideração o porte
de lavagem de dinheiro.
da sociedade e o volume de suas operações.
Para se proteger de eventuais questiona- Em caso de um alerta eletrônico do sistema,
mentos, as Sociedades devem instituir pro- deve ser realizada uma análise manual da ope-
cedimentos, políticas e controles internos ração (ou proposta de operação), ampla e con-
adequados, que possibilitem o efetivo cadastro textualizada, inclusive das respectivas partes
de clientes, o monitoramento das operações e envolvidas (principalmente os beneficiários fi-
viabilizem o reporte tempestivo às autoridades nais), mantendo-se os respectivos registros de
competentes sobre os atos e transações sus- tal análise.
peitas de lavagem de dinheiro. Nesse sentido,
Constatadas suspeitas ou indícios de lavagem
com o fim de garantir o cumprimento das nor-
de dinheiro pela Sociedade, os reportes às au-
mas de prevenção à lavagem de dinheiro, as
toridades competentes devem ser realizados,
Sociedades devem implementar um programa
5 BADARÓ, Gustavo H. e BOTTINI, Pierpaolo C. Lavagem de Di-
4 Money Laudering & Terrorist Financing Typologies 2004-2005. nheiro. 2ª ed. rev. ampl. São Paulo: Editora Revistas dos Tribu-
FATF/GAFI. nais, 2013. p. 54 e 55.

92
20 Anos

de maneira precisa e tempestiva, a fim de que administrativa da Sociedade e administrativa e


não se corra nenhum risco de determinada criminal de seus representantes, por irregulari-
operação ou cliente, que deveria ser reporta- dades regulatórias ou por crime de lavagem de
do, não o ser6. dinheiro estaria, ao menos em tese, adequada-
mente mitigado.
Além disso, as Sociedades devem buscar ca-
pacitar e treinar de maneira apropriada os seus É sabido que controles e procedimentos de
empregados (para que tenham, por exemplo, prevenção à lavagem de dinheiro não são infa-
conhecimento da legislação e saibam reco- líveis e as autoridades regulatórias e criminais,
nhecer e identificar operações suspeitas), ela- via de regra, levam tal aspecto em consideração
borar normas e regulamentos internos (como na fiscalização das Sociedades. O que as Socie-
códigos de condutas e de boas práticas) para dades não podem e não devem se dar ao luxo
prevenir comportamentos indesejados, bem é de não adotarem todos os procedimentos
como implementar instrumentos de efetiva recomendáveis e ao seu alcance para prevenir
apuração e investigação internas, para impe- que ela e sua estrutura sejam envolvidos em
dir ou reprimir operações direta ou indireta- lavagem de dinheiro, pois daí sim é que elas es-
mente ligadas à reciclagem de capitais. Ainda, tarão correndo risco desnecessário e desmedi-
é altamente recomendável que a Sociedade do – juntamente com seus representantes – de
estruture setores próprios de compliance e de instauração de processos punitivos.7
auditoria, independentes e autônomos dos
demais setores da instituição, a fim de se evitar
eventuais conflitos no funcionamento prático
e rotineiro dos procedimentos de controle e
fiscalização da efetividade destes.
Agindo dessa forma, eventuais riscos pode-
rão ser identificados e administrados de forma
adequada por cada instituição – inclusive, com
a rejeição de clientes, transações e reportes
para as autoridades competentes. As análises
empregadas deverão possibilitar a produção
de robustos conjuntos informacionais sobre as
operações e os clientes (incluindo beneficiá-
rios, terceiros e outras partes relacionadas), de 7 Também por esse prisma é o entendimento da doutrina
acerca da participação no crime de lavagem de dinheiro.
modo que a instituição possa demonstrar sua Segundo Gustavo H. Badaró e Pierpaolo C. Bottini: “...se um
diligência e perícia em sua análise, no caso de gerente do banco movimenta valores entre contas correntes
a pedido de cliente, sem afrontar qualquer regra normativa
eventuais questionamentos regulatórios. ou técnica, não será autor ou cúmplice de lavagem, ainda
que aqueles bens sejam provenientes de infração penal. (...)
Assim, com pelo menos esse aparato mínimo Assim, o gerente do banco, o leiloeiro, o corretor de imóveis,
de compliance implementado de maneira ade- ao exercerem suas atividades profissionais dentro das regras
vigentes para o âmbito profissional no qual atuam, não po-
quada e oportuna, o risco de responsabilização dem ser responsabilizados por lavagem de dinheiro, mesmo
que contribuam casualmente para a dissimulação.” Ainda,
complementam os doutrinadores que apenas haverá par-
6 Não raro, controles inadequados nessa ponta final do proces- ticipação punível “se constatado que a lavagem de dinheiro
so (que via de regra é manual) acabam por macular todo um somente ocorreu por conta da extrapolação do dever de
bom trabalho realizado nas fases iniciais de verificação e aná- cuidado...”. BADARÓ, Gustavo H. e BOTTINI, Pierpaolo C. Idem.
lise de clientes e operações. p. 127 e 131.

93
LEI 9.613, DE 1998

Prevenção à lavagem de
dinheiro na indústria
automobilística
acordo com a instrução, as seguintes operações
deverão ser analisadas com especial atenção:
I – aquisição ou proposta de aquisição de veí-
culo automotor na “modalidade frotista” por
pessoa física;
II – aquisição ou proposta de aquisição de veí-
culo automotor na “modalidade frotista” por
pessoa jurídica constituída recentemente ou
sem declarada experiência nesse mercado ou
ainda, cuja atividade econômica não tenha
relação com a utilização de frota de veículos
automotores;
III – proposta ou aquisição de veículo auto-
DR. CHRISTIAN K. DE LAMBOY motor na “modalidade frotista”, cujo valor seja
incompatível com o patrimônio ou com a ca-
pacidade financeira presumida do comprador
1. Ambiente Regulatório ou proponente; ou
IV – proposta ou aquisição de veículo automo-
Desde 01 de março de 2013, entrou em vigor tor com pagamento efetuado por terceiro, sem
a Resolução 25/2013 do Conselho de Controle justificativa, mesmo quando autorizado pelo
das Atividades Financeiras (COAF), que dispõe cliente.
sobre os procedimentos a serem adotados
Toda empresa capaz de realizar a venda, com-
pelas pessoas físicas ou jurídicas que comer-
pra ou até intermediação de bens, acima de
cializem bens de luxo, de alto valor ou que fa-
R$ 10 mil, estão enquadrados na Resolução
çam intermediação da sua comercialização. As
25/2013, porém, só há a obrigatoriedade da
montadoras, concessionários e importadoras
comunicação ao COAF valores acima de R$ 30
de veículos estão incluídos no rol de empre-
mil, pagos em espécie. Apesar da venda com
sas que deverão realizar cadastro ou notificar o
valor inferior a R$ 30 mil não obrigar a comu-
COAF, de acordo com as transações realizadas.
nicação, é necessário manter um cadastro da
A instrução normativa 4/2015 divulga instruções transação. É de grande importância de o de-
complementares às pessoas jurídicas que comer- partamento financeiro da concessionária estar
cializem veículos automotores. Sendo assim, de atento na hora do pagamento, entretanto, se o

94
20 Anos

cliente fizer o pagamento do bem adquirido,


por meio do banco, é este que deve informar
2. O responsável para
ao COAF a transação. O concessionário deve prevenção à lavagem de
ficar atento no ato da compra, pois o cliente dinheiro
pode ser mal-intencionado e querer utilizar um
cheque roubado ou dinheiro falso.
Todo concessionário deve nomear um respon-
Para deixar isso claro, comprar um bem à vista sável para PLD (Oficial de PLD), o qual, assume
com uma mala de dinheiro, não é ilegal, mas uma posição especial na empresa. Torna-se o
o dinheiro não é rastreável. Já os pagamentos ponto de contato central para todas as ques-
realizados por transferência bancaria, correm tões de PLD – interna e externamente.
dentro do sistema financeiro, portanto, são
Internamente, o Oficial de PLD nomeado, deve
rastreáveis, e se acontece um pagamento com
implementar e monitorar as medidas preventi-
um valor alto para a conta da empresa, quem
vas legalmente exigidas em relação aos riscos
deve tomar as precauções e se responsabilizar
de lavagem de dinheiro ou financiamento do
em informar ao COAF é o banco.
terrorismo. Para isto:
O concessionário não deixará de fazer o negó-
• como tarefa central, cria a análise de risco
cio, tanto em espécie quanto no caso de algu-
específica da empresa, preparando e man-
ma suspeita, porém, deve comunicar o fato ao
tendo continuamente atualizada a análise
COAF, sem avisar ao cliente. O concessionário
de ameaças para sua empresa. A análise
estará cumprindo a norma legal e isso não sig-
de risco pela primeira vez é desafiadora, ela
nifica que esteja suspeitando da honestidade
considera sua operação, incluindo todos os
do cliente. Ele apenas estará se protegendo pa-
aspectos de lavagem de dinheiro das vendas
ra que, se a operação for feita por alguém que de veículos (por exemplo, cliente, estrutura
esteja fazendo lavagem de dinheiro. Estará ab- de negócios, processos de negócios internos
solutamente coberto na sua ação legítima por e portfólio de produtos). Com base em sua
ter feito a comunicação ao COAF. própria avaliação e ponderação do potencial
O não cumprimento do cadastro no COAF, a de risco relevante, as medidas para minimi-
não informação, bem como o não cumprimen- zar esses potenciais poderão ser implemen-
to das demais obrigações previstas na legisla- tadas usando um sistema de semáforos.
ção, sujeita a empresa às penas previstas no • treina todos os funcionários em atividades
Art. 12 da Lei 9.613/1998: de lavagem de dinheiro sensíveis e deve
compartilhar regularmente seus conheci-
• multa;
mentos de PLD com os funcionários para
• inabilitação temporária para exercício de car-
que eles possam identificar problemas em
go de administrador de pessoas jurídicas e
seus negócios diários. Os funcionários preci-
• cassação ou suspensão para exercício da
sam desenvolver a percepção aos sinais de
atividade, operação ou funcionamento.
tais eventos. Os treinamentos devem alcan-
Em relação ao tamanho da indústria e ao eleva- çar todos os funcionários afetados, incluin-
do número de pessoas sujeitas à PLD (prevenção do a alta administração.
à lavagem de dinheiro) na indústria automotiva, • verifica a confiabilidade dos funcioná-
parece haver um grande campo obscuro. rios: Exigir por exemplo, certificados de

95
LEI 9.613, DE 1998

antecedentes criminais junto aos órgãos pú- 1. Analisar áreas de risco: no início devem ser
blicos para funcionários recém-contratados. analisadas as áreas de risco individuais de
• define rotina para proporcionar o contato uma empresa, ou seja, o Oficial de PLD exa-
dos funcionários: Se um funcionário sus- mina de perto todas as partes sensíveis à la-
peitar ou não tiver certeza sobre um aspec- vagem de dinheiro nas vendas de veículos,
to de possível lavagem de dinheiro de seu por exemplo, clientes, estrutura de negó-
trabalho, ele deve sempre poder entrar em cios, processos internos de negócios e port-
contato com o Oficial de PLD e obter assis- fólio de produtos.
tência especializada.
2. Documentar e avaliar resultados.
• informa regularmente à alta administração
as questões da PLD. 3. Desenvolver medidas: com base na ava-
liação do potencial de risco, o Oficial de
Externamente o Oficial de PLD é:
PLD prepara medidas para minimizar esses
• responsável pela documentação das me- potenciais.
didas relativas aos relatórios de transações
4. Integrar medidas: as medidas são inte-
suspeitas: Deve documentar completamen-
gradas nos processos internos. Isso pode
te todas as medidas tomadas para cumprir as
acontecer através do uso de sistemas infor-
obrigações de PLD. Ele deve manter a docu-
matizados, formulários específicos, notas or-
mentação por pelo menos cinco anos a partir
ganizacionais ou avisos.
do final do respectivo ano fiscal. A autoridade
de supervisão tem um direito abrangente de 5. Monitorar as medidas: após a instalação
inspecionar esta documentação. O arquivo bem-sucedida, as medidas são monito-
precisa estar acessível sob demanda. radas, onde são verificados os processos
• pessoa de contato para autoridades de su- quanto à aplicação das instruções definidas.
pervisão: É o primeiro ponto de contato
para as autoridades responsáveis pela apli- 3.2. O conteúdo da análise
cação da lei ou de supervisão em todos os de risco
assuntos relacionados com PLD. As possí-
Além da introdução usual e a descrição da
veis comunicações com estes, incluem con-
empresa, as áreas de risco individuais devem
sultas de aplicação da lei em relatórios de
ser consideradas em detalhes. As áreas de ris-
transações suspeitas relatadas e pedidos de
co são a estrutura da empresa, os produtos, os
informações da autoridade reguladora, bem
clientes, os processos e os funcionários, bem
como viabilização de possíveis verificações
como os fatos incomuns.
locais a serem realizadas pelas autoridades.

3.2.1. Estrutura da empresa


3. A análise de risco: o A estrutura da empresa trará riscos se, por
instrumento central da PLD exemplo, houver o conceito de matriz e filiais
ou subsidiárias. Os grandes grupos comerciais,
geralmente se organizam sob a forma de es-
3.1. Processo da análise de risco truturas similares em suas filiais ou subsidiárias.
A análise de risco pode ser executada em cin- Tal estratégia, tem como objetivo principal, coi-
co etapas. bir diferenças que podem esconder casos de

96
20 Anos

lavagem de dinheiro, utilizando para isto, pro- • uma comparação de clientes estrangeiros
cedimentos específicos e reportes realizados com listas de embargo.
de forma transparente para toda a organização. Adicionalmente, deve-se atentar para os re-
vendedores de veículos usados, por exemplo,
3.2.2. Produtos lojas multimarcas, etc., que pelo fato de terem
A área de risco mais importante no comércio como uma das características do negócio a
automotivo são os produtos. Em primeiro lu- compra e revenda rápida, são particularmente
gar, deve haver a diferenciação entre veículos vulneráveis à lavagem de dinheiro.
novos, veículos usados, oficinas, peças e, quan-
do aplicável, o comércio de carros clássicos. 3.2.4. Processos
Outro fator importante é a necessidade de Os processos na empresa representam uma
atentar-se para marcas e modelos específicos porta de entrada para rotinas de lavagem de
vendidos pelas concessionárias. Nem todos os dinheiro. Para este tipo de risco, todo o proces-
veículos são igualmente adequados para lava- so de vendas de veículos é aplicável, desde o
gem de dinheiro, portanto, o risco é menor em início do processo até a entrega final do veícu-
um carro pequeno do que em um carro espor- lo para o cliente. Sendo assim, para este caso,
tivo e caro. A melhor maneira de definir cate- deve-se responder as seguintes perguntas:
gorias de acordo com os valores do veículo é • Quando e como um cliente é identificado?
dividir os veículos em diferentes classes de risco. • Como seus dados são verificados?
As medidas apropriadas são atribuídas a essas • Onde estão armazenados os documentos?
classes de risco. Assim, deve não só identificar • Como é determinado o beneficiário?
os compradores na categoria com o maior ris- • Como é gerenciada a troca de informações?
co, mas também sempre compará-los com lis- • Como o relacionamento comercial é
tas de pessoas expostas politicamente (PEP) e monitorado?
listas de terroristas através de portais on-line • Como os processos de fluxo de caixa funcio-
ou aplicativos. nam na empresa, como são administrados?
Novamente, devem ser derivadas medidas
3.2.3. Clientes dessas descobertas, por exemplo, usa bancos
de dados para verificar dados de clientes ou
Na área de risco dos clientes, os números de-
identificar o proprietário efetivo ou instruções
vem ser determinados. Por exemplo:
de trabalho que mostram aos funcionários co-
• o número de clientes; mo realizar o processo. Mesmo os processos
• a divisão em clientes privados, comerciais e que não afetam o cliente, como processos de
de frotas; relatórios, devem ser analisados. Assim, deve
• a proporção de clientes do exterior, diferen- ser definido quem recebe informações e quem
ciados por país; toma decisões.
• a parte dos clientes regulares, etc.
As medidas que podem ser derivadas disso são: 3.2.5. Empregados
• uma revisão regular de todos os clientes co- Considere também os próprios funcionários.
merciais e de frotas ou Não para acusá-los de possível envolvimento

97
LEI 9.613, DE 1998

em atividades de lavagem de dinheiro, mas fatos incomuns, entendendo efetivamente os


pelo menos, para que não sejam ignorantes detalhes da negociação de forma a não haver
quanto ao tema (se não reconhecem ativida- dúvidas sobre idoneidade ou falta de transpa-
des de lavagem de dinheiro, não agem corre- rência e utilizarem até o “instinto” como forma
tamente e então o risco aumenta). de se protegerem.
As medidas derivadas da análise de risco devem De forma muito útil, há documentos de re-
também se concentrar nos treinamentos e che- ferência e casos registrados pelo COAF. Eles
cagem de confiabilidade dos funcionários. fornecem exemplos de comportamentos cri-
minosos conhecidos. A desvantagem é que
3.2.6. Fatos incomuns sempre é fornecido o exemplo após o fato e
além disto, os criminosos são inteligentes e
Muitos comerciantes de automóveis perce- adaptam suas ações muito rapidamente.
bem os riscos de serem utilizados para lava-
gem de dinheiro apenas em transações em Sendo assim, recomenda-se um cuidado espe-
dinheiro. Falta a atenção a fatos duvidosos e cial para as seguintes situações:
incomuns. Tais comerciantes, por vezes, não • transferências recebidas para várias contas;
atentam para o fato de que podem ser questio- • pagamentos em contas múltiplas da mes-
nados pelas partes envolvidas na negociação, ma empresa;
visto ser necessário o monitoramento e avalia- • recebimento de dinheiro (ou pagamentos
ção de riscos na relação comercial. por outros meios, por exemplo, transferên-
Imagine a seguinte situação: um cliente, por cia bancária) de terceiros que, obviamente,
qualquer motivo, torna-se o foco de uma in- não estão relacionados à transação;
vestigação policial. Por esta razão os órgãos • pagamentos por cheque ou transferên-
públicos analisam o comerciante e solicitam as cia bancária não desenhados na conta do
informações da venda. De forma adequada, o comprador;
comerciante manteve registros do processo do • laranjas / mensageiros para esconder a
ponto de vista de PLD e pôde fornecer tais in- identidade do real interessado.
formações. O investigador pergunta com que Os seguintes exemplos, mostram fatos que de-
frequência em sua concessionária ocorrem tais vem iniciar uma suspeita:
eventos. Sinceramente responde: “nunca”. O
• Um comprador adquire um veículo no valor
investigador pergunta se isso não parece es-
de R$ 80 mil através da sua plataforma de
tranho. Novamente responde: “Sim, isso foi um
internet. Ele envia uma cópia digitalizada do
pouco estranho”. A partir deste ponto, o tom
passaporte de um país estrangeiro. É acor-
dos investigadores será mais nítido. Pergunta-
dado que o comprador transfira R$ 40 mil
rão por que não enviou um comunicado para
do preço de compra e paga o restante ao
COAF. Muitas vezes, esta omissão é o motivo de
retirar o veículo em dinheiro. Os R$ 40 mil
uma multa pela autoridade de supervisão, que
restantes são pagos por três contas diferen-
é informada pela policia.
tes de diferentes proprietários.
A instrução normativa 4/2015 divulga opera- • Um cliente adquire um veículo. Pouco
ções que deverão ser analisadas com especial tempo depois da compra, ele quer can-
atenção, porém, de forma abrangente. Cabe, celar o contrato devido a vários defeitos
portanto, aos comerciantes ficarem atentos a alegados ou sem razão nenhuma e pede

98
20 Anos

transferência do preço de compra menos as exatamente nas interfaces neurálgicas na con-


taxas de processamento para outra conta. cessionária: a comunicação entre vendas / cai-
• Uma pessoa jovem e bem vestida compra xa / contabilidade e possivelmente, disposição.
um veículo, não está de modo algum in- Os lavadores de dinheiro dependem do fato de
teressado em equipamentos ou detalhes que muitos revendedores de automóveis, após
técnicos e não negocia o preço. Ele paga a venda e recebimento de dinheiro, são indife-
o veículo. Antes da entrega do veículo, ela rentes, de onde e de que forma o preço foi pago.
pede para mudar o contrato de venda para
uma terceira pessoa ou para cadastrar o veí-


culo para outra pessoa.
Um aprendiz adquire um carro esporte (de
4. Comunicação de
alto custo). Transações
• Uma empresa estrangeira, desconhecida,
adquire um veículo, transfere o preço de Quando uma transação suspeita deve ser en-
compra e envia representantes para retira- viada ao COAF? Um comunicado de transação
rem o veículo. suspeita deve ocorrer sempre que um vende-
• O cliente exige anonimato / tenta evitar dor de automóveis perceber que a venda ou
contato pessoal sem motivo aparente. compra de veículos pode ser usada para lavar
• O cliente tenta disfarçar sua verdadeira dinheiro de crimes.
identidade.
Os requisitos legais interligam-se aqui como
• O cliente fornece informações falsas ou en-
engrenagens. Portanto, podem ser acusados
ganosas / se recusa em fornecer as informa-
os concessionários que ignorarem os requisi-
ções ou documentos usuais do negócio.
tos necessários à capacidade de detecção de
• O cliente tenta estabelecer uma relação de
um caso suspeito, devido à falta de medidas
confiança que vá além do nível normal.
preventivas.
• O cliente não tem consciência de custos.
• O cliente que mora em outra região, solici- Em caso de compras/vendas suspeitas sem
ta um serviço sem poder dar uma explica- comunicação para COAF, multas e outras pu-
ção aceitável (por exemplo, conhecimento nições podem ser aplicadas. Caso tenha sido
especializado) do motivo de não utilizar o feita uma comunicação sem ter um caso de
concessionário local. lavagem de dinheiro nada acontece. O COAF
• O cliente compra veículos de difícil venda vai fechar o caso internamente depois de uma
ou que apresentem defeitos, a um preço ex- averiguação e o cliente não terá informações
cepcionalmente alto. sobre o fato que foi comunicado. A transação
• O cliente está envolvido em uma transação vai ser feita de qualquer forma. O COAF vai dar
que é incomum para ele, que não tem rela- uma resposta com uma avaliação da qualidade
ção com sua atividade profissional / comer- da comunicação, ajudando assim no direciona-
cial ou que seja desproporcional a ela, sem mento para melhoria de comunicações futu-
que possa fornecer uma explicação com- ras. Além disto, também é possível solicitar um
preensível à parte obrigada. parecer por telefone ou e-mail.
Deve-se observar que o importante nestes ca- Desta forma vale aqui um ditado ajustado na
sos é o comportamento do fraudador que mira Alemanha: “Fala é ouro, silêncio é prata”.

99
LEI 9.613, DE 1998

Evolução Histórica e
Normativa da Lavagem
de Dinheiro no Brasil e
no Mundo
prática dos delitos econômicos, o que culmina
na inclusão, em seus ordenamentos jurídicos,
do crime de lavagem de dinheiro.
A cada dia, mais de dois trilhões de dólares são
movimentados no mundo e milhões de dóla-
res podem cruzar o planeta em 1/15 de segun-
do. “Assim sendo, o dinheiro gerado a partir das
drogas fabricadas na América do Sul pode viajar
de uma ilha do Caribe até Londres, passando por
Nova York e pela Áustria, antes que você termine
de ler este parágrafo”1.
A prática da lavagem de dinheiro, praticamen-
te desconhecida, como veremos, até o final
dos anos oitenta, se torna algo muito comum
nos tempos atuais, de maneira que o número
de casos de lavagem se multiplica a cada ano
por todo o mundo2.
Além de sua importância, o tema da lavagem
de dinheiro se mostra muito atual diante do
incremento da criminalidade organizada e da
ADRIANA FILIZZOLA D’URSO maneira elaborada com que estes delitos são
praticados. A gigantesca quantidade de di-
nheiro movimentada de maneira ilegal através
1. Introdução de operações de lavagem de dinheiro afeta

1 LILLEY, Peter. “Lavagem de Dinheiro”. Trad.: Eduardo Lasserre.


O desenvolvimento da sociedade moderna e
Editora Futura, São Paulo, 2001, p. 15.
globalizada, com o crescente fluxo monetá- 2 O artigo destaca que os casos perseguidos pela Polícia e
Guarda Civil na Espanha crescem 50% em um ano. Dados
rio, que gera o incremento e a consequente disponíveis no jornal ‘El País’ de 16/08/2011. HERNÁNDEZ,
dificuldade de punição desta nova criminali- José Antonio. “El blanqueo de capitales se dispara”. In: http://
www.elpais.com/articulo/espana/blanqueo/capitales/dispa-
dade, obriga aos Estados a reforçar os meca- ra/elpepiesp/20110816elpepinac_3/Tes – Data de consulta:
nismos de repressão, prevenção e luta contra a 16/08/2011.

100
20 Anos

significativamente os sistemas econômicos de tais frutos pelas autoridades, levaria à des-


dos países, fazendo com que se busquem ma- coberta dos crimes que os originaram.4
neiras de combater esta prática.
Não podemos negar, então, que a lavagem de
Por esta razão, o crime de lavagem de dinheiro dinheiro surge como consequência da inteli-
é um tema muito debatido, que, de uns tem- gência humana e habitualmente é planejada
pos para cá, desperta grande interesse por em todo o mundo. É um costume milenar, por
parte dos estudiosos do Direito e do público parte dos criminosos, o emprego dos mais
em geral. Porém, não é possível sua devida diferentes mecanismos para legitimar o patri-
compreensão sem que, primeiro, se estude um mônio constituído por bens e capitais obtidos
pouco de sua história e evolução normativa. É através de atividades delitivas.5
o que faremos, de maneira sucinta, no presen-
Alguns autores mencionam que os primei-
te artigo.
ros indícios históricos da lavagem de dinhei-
ro se deram no século XVII, com a pirataria,
uma vez que, para conservar as embarcações,
2. Surgimento e manter a tripulação sempre bem alimentada,
armada e com munição, os piratas roubavam
desenvolvimento da e saqueavam outras embarcações e portos.
Lavagem de Dinheiro Depois destas ações, diferentemente do que
contam as lendas, os piratas não enterravam
seus tesouros, pois necessitavam de dinheiro
Os principais impulsores da atividade delitiva
para prosseguir com suas viagens e ativida-
são o poder, a cobiça e a avareza. Com a fina-
des. Assim, através de mercadores america-
lização da primeira etapa da atividade crimi-
nos de reputação, trocavam ouro, moedas e
nosa, ou seja, depois de praticados os crimes
todas as mercadorias roubadas e saqueadas
que concretizam os objetivos do delinquen-
por uma quantidade menor de moedas, ou
te, a meta principal do criminoso é o usufru-
moedas mais caras, com o objetivo de regu-
to com segurança e tranquilidade dos lucros
larizar a origem daqueles valores. Não era ne-
provenientes de sua atividade delitiva, a fim
cessário o emprego de meios fraudulentos ou
de legitimá-los. Assim, verificamos que a prá-
simulações para reinvestir os valores no cená-
tica da lavagem de dinheiro é muito antiga,
rio econômico da época, pois os piratas ope-
pois está diretamente vinculada com a origem
ravam abertamente e suas mercadorias eram
da prática dos delitos em geral, e as tentativas
facilmente aceitas e trocadas. A integração dos
de sua repressão existem desde a Antiguidade
valores obtidos através da atividade criminosa
Clássica.3
(roubos e saques), no sistema econômico, era
Neste sentido, verifica-se que a lavagem de di- relevante principalmente quando o pirata se
nheiro e de bens, provenientes de atividades aposentava.6
ilícitas, não é um fenômeno novo. Em toda a
história, os criminosos sempre tentaram ocul- 4 CALLEGARI, André Luís. “El Delito de Blanqueo de Capitales en
tar os frutos de suas atividades criminosas, pois España y Brasil”. Universidad Externado de Colombia, Bogotá,
2003, p. 69.
acreditavam que, logicamente, a descoberta 5 BARROS, Marco Antonio de. “Lavagem de Capitais e Obrigações
Civis Correlatas. 2ª ed. Editora Revista dos Tribunais, São Paulo,
2007, p. 40.
3 TIGRE MAIA, Rodolfo. “Lavagem de Dinheiro”. 2ª ed. Malheiros 6 CONSERINO, Cassio Roberto. “Lavagem de Dinheiro”. Editora
Editores, São Paulo, 2007, p. 21. Atlas, São Paulo, 2011, p. 1-2.

101
LEI 9.613, DE 1998

Já no século XX, diversos autores explicam que estratégias para superar a crise da criminali-
a origem da expressão money laundering (lava- dade organizada nos Estados Unidos, com a
gem de dinheiro, em inglês) vem de Alphonse divisão do mercado nacional entre as organiza-
(Al) Capone e suas organizações mafiosas nos ções criminosas mais poderosas (cartelização),
Estados Unidos, que com o dinheiro prove- a ampliação dos laços com a política, o incre-
niente do contrabando de bebidas e cigarros, mento da corrupção de servidores e agentes
adquiriu, no final da década de 1920, em Chi- públicos, a exploração intensiva do jogo e do
cago, uma rede de lavanderias para poder rea- tráfico de entorpecentes como novos nichos
lizar depósitos bancários de pequenos valores de lucratividade do mercado ilegal, a criação
resultantes de suas atividades criminosas (co- de novas táticas de lavagem de dinheiro, in-
mércio ilegal de bebidas, exploração do jogo clusive com a utilização de contas numeradas
ilegal e prostituição), mas compatíveis com a na Suíça, e a intensificação da penetração nos
atividade das lavanderias, com o objetivo de negócios lícitos.9
encobrir sua origem. Al Capone terminou pre-
so por sonegação fiscal em 1931. Seu insólito
destino alertou os demais criminosos para a
importância do desenvolvimento de novas
3. Evolução Normativa
técnicas de lavagem de dinheiro.7 Internacional
Também é importante mencionar a figura
de Meyer Lansky, cujo nome verdadeiro era Diante deste contexto, não é surpreendente
Suchowliński Majer, um bielo-russo que fazia que a primeira ação mundial de natureza re-
parte da máfia de Nova York, estando man- pressiva contra a lavagem de dinheiro tenha
comunado com Luck Luciano. Na década de ocorrido nos Estados Unidos, por uma lei edi-
1930, ele mandava para bancos europeus tada em 1970, que tornava obrigatório o regis-
significativos valores monetários, que eram tro diário dos depósitos bancários superiores
provenientes dos jogos de cassinos, para mas- a US$10.000,00 (dez mil dólares). A lei não foi
carar sua verdadeira origem. Posteriormente, muito eficaz no combate à lavagem de dinhei-
na década de 1940, Meyer Lansky investiu seu ro, pois, a partir de sua entrada em vigor, os
dinheiro sujo em negócios de hotéis em Las criminosos, para burlar este registro, passaram
Vegas para desvincular o dinheiro de sua ori- a efetuar depósitos em diversos bancos até o
gem ilícita.8 limite de US$9.999,00 (nove mil novecentos e
noventa e nove dólares).10
Por ter sido o responsável por ocultar os seus
lucros ilícitos em bancos suíços a partir de Assim, apesar de já ser um problema antigo,
1932, Meyer Lansky é apontado por muitos como pudemos observar, a questão da lava-
estudiosos como figura central para o estudo gem de dinheiro surge ao final dos anos oi-
da lavagem de dinheiro. Além do mais, foi ele tenta como um problema social de caráter
o responsável pela elaboração das principais

7 CONSERINO, Cassio Roberto. “Lavagem de Dinheiro”, cit., p. 2;


BLANCO CORDERO, Isidoro. “El Delito de Blanqueo de Capitales”. 9 BARROS, Marco Antonio de. “Lavagem de Capitais e Obrigações
2ª ed. Editorial Aranzadi, Navarra, 2002, p. 86; BARROS, Marco Civis Correlatas”, cit., p. 40; TIGRE MAIA, Rodolfo. “Lavagem de
Antonio de. “Lavagem de Capitais e Obrigações Civis Correlatas”, Dinheiro”, cit., p. 29.
cit., p. 40; TIGRE MAIA, Rodolfo. “Lavagem de Dinheiro”, cit., p. 28. 10 BARROS, Marco Antonio de. “Lavagem de Capitais e Obrigações
8 CONSERINO, Cassio Roberto. “Lavagem de Dinheiro”, cit., p. 2. Civis Correlatas”, cit., p. 41.

102
20 Anos

internacional. Seu impulso inicial se viu moti- origem criminal no circuito econômico, foi a
vado pelas consequências dos lucros do tráfico primeira reação formal conhecida no âmbito
de drogas. da Comunidade Europeia.13
Praticamente desconhecido até o final dos
anos oitenta, o crime de lavagem de dinhei- 3.2.Declaração de Princípios do
ro foi se incorporando aos ordenamentos ju- Comitê de Regras e Práticas de
rídicos dos países. O interesse dos países em Controle de Operações Bancárias
criminalizar esta nova forma de delinquência (Declaração da Basiléia) do G-10,
vem juntamente com a assinatura de diversos de 12 de dezembro de 1988
tratados internacionais que pretendiam har- Passados alguns anos, é importante destacar a
monizar as diferentes legislações nacionais so- chamada ‘Declaração de Princípios do Comitê
bre o tema.11 de Regras e Práticas de Controle de Operações
É, portanto, nesta época que se iniciam as Bancárias do G-10’ – as dez maiores potências
ações internacionais mais veementes contra industriais do mundo14 – sobre prevenção da
a lavagem de dinheiro, que estudaremos mais utilização do sistema bancário para a lavagem
profundamente a seguir. de fundos de origem criminosa, conhecida co-
mo ‘Declaração de Princípios da Basiléia’ e fir-
mada na Suíça, em 12 de dezembro de 1988.
3.1.Recomendação R (80) 10, de
27 de junho de 1980, do Comitê É considerada a primeira codificação de regras
de Ministros do Conselho da aplicáveis pelas entidades financeiras para a
Europa aos Estados Membros prevenção da lavagem de dinheiro. Por meio
de suas regras, se buscava prevenir e impedir o
Primeiramente, é importante mencionar a ‘Re-
uso das transações bancárias nos processos de
comendação R (80) 10, do Comitê de Ministros
lavagem de dinheiro.15
do Conselho da Europa aos Estados Membros’,
de 27 de junho de 1980, relativa a medidas O Comitê de Regras e Práticas de Controle de
contra a transferência e custódia de fundos de Operações Bancárias, composto por represen-
origem criminosa. tantes de bancos centrais e autoridades de su-
pervisão bancárias dos países que compõem
A ‘Recomendação R (80) 10, do Comitê de Mi-
o G-10, promoveu o desenvolvimento de um
nistros do Conselho da Europa aos Estados
código de conduta sobre regras e práticas de
Membros’ adotou medidas contra a transfe-
controle de operações bancárias, que consti-
rência e a ocultação de capitais de origem
tuía um guia de ação, por parte das instituições
criminosa, e é apontada como o primeiro ins-
trumento do direito internacional sobre a lava-
gem de dinheiro.12
Tal normativa é um marco real, porque, mes- 13 CERVINI, Raúl; OLIVEIRA, Willian Terra de; GOMES, Luiz Flávio.
mo se limitando a constatar o enorme perigo “Lei de Lavagem de Capitais”. Editora Revista dos Tribunais, São
Paulo, 1998, p. 110-111.
representado pela introdução do capital de 14 A organização dos G-10 era composta, em princípio, por re-
presentantes dos Bancos Centrais dos dez países mais indus-
trializados do mundo. Atualmente, engloba os 13 países mais
11 ARÁNGUEZ SÁNCHEZ, Carlos. “El Delito de Blanqueo de Capita- desenvolvidos: Alemanha, Bélgica, Canadá, Espanha, França,
les”. Marcial Pons, Madrid, 2000, p. 17. Itália, Japão, Luxemburgo, Países Baixos, Reino Unido, Suécia,
12 DE SANCTIS, Fausto Martin. “Combate à Lavagem de Dinheiro – Suíça, Estados Unidos.
Teoria e Prática”. Millennium Editora, Campinas, 2008, p. 2. 15 CONSERINO, Cassio Roberto. “Lavagem de Dinheiro”, cit., p. 5.

103
LEI 9.613, DE 1998

e autoridades financeiras dos diversos países, países e inspirou a legislação interna de cada
diante do problema da lavagem de dinheiro.16 um deles.18
Enfim, a denominada ‘Declaração da Basiléia’ foi O dinheiro proveniente do tráfico ilícito de dro-
uma resposta, adotada em dezembro de 1988, gas foi a força motriz da ‘Convenção de Viena’,
à utilização massiva que se vinha fazendo das mas este diploma legal foi instituído também
entidades bancárias, com a finalidade de dar por conta do problema urgente da lavagem de
uma aparência de legalidade aos capitais de dinheiro resultante do tráfico de drogas. Para o
origem delitiva. Tratava-se de um código deon- autor, indiscutivelmente, a Convenção de Vie-
tológico, uma declaração de princípios, de ca- na apoiou o processo de tipificação do delito
ráter não vinculante, baseada na ideia de que de lavagem de dinheiro que se transmitiu aos
a primeira e mais importante proteção contra ordenamentos jurídicos internos dos países
a lavagem de dinheiro é a integridade dos res- que a subscreveram.19
ponsáveis dos bancos, assim como sua firme
Na ‘Convenção de Viena’ a repressão à lavagem
determinação de evitar que sua instituição se
de dinheiro estava vinculada unicamente ao
associe a delinquentes ou seja utilizada como
tráfico de drogas, mesmo assim esta Conven-
meio para a lavagem de dinheiro.17
ção significou o marco inicial do debate e de
uma análise político-criminal do crime de lava-
3.3.Convenção das Nações gem de dinheiro.20
Unidas contra o Tráfico ilícito Por fim, é importante mencionar que o Brasil
de Entorpecentes e Substâncias firmou a ‘Convenção de Viena’ em março de
Psicotrópicas (Convenção de 1988 e, depois de sua ratificação pelo Decreto
Viena), de 20 de dezembro de 1988
nº 154, de 26 de junho de 1991, introduziu em
Também seguindo a ideia do combate à la- seu ordenamento jurídico, em 1998, um tipo
vagem de dinheiro, importante papel teve a penal que punia a lavagem de bens, direitos ou
‘Convenção de Viena’ das Nações Unidas, con- valores provenientes do tráfico de drogas, além
cluída praticamente uma semana depois da de outros crimes.21
‘Declaração da Basiléia’, em 20 de dezembro de
1988, que fez com que a maioria dos países cri-
3.4.Recomendações adotadas
minalizasse, por meio de seus ordenamentos
pelo Grupo de Ação Financeira
jurídicos, a lavagem de dinheiro.
Internacional (GAFI/FATF) na
A Conferência das Nações Unidas, de 20 de reunião celebrada em Paris em
dezembro de 1988, ficou encarregada de ela- 7 de fevereiro de 1990, sobre a
borar uma Convenção contra o tráfico ilícito de Lavagem de Dinheiro
entorpecentes e substâncias psicotrópicas, e
Também é fundamental mencionar as Re-
apresentou em Viena um novo texto, que, em
comendações sobre a Lavagem de Dinheiro
matéria de lavagem de dinheiro e confisco, ia
além dos acordos precedentes. Tal Convenção
foi ratificada oportunamente pela maioria dos 18 CERVINI, Raúl; OLIVEIRA, Willian Terra de; GOMES, Luiz Flávio.
“Lei de Lavagem de Capitais”, cit., p. 113-114.
19 CONSERINO, Cassio Roberto. “Lavagem de Dinheiro”, cit., p. 5.
16 ARÁNGUEZ SÁNCHEZ, Carlos. “El Delito de Blanqueo de Capita- 20 DE SANCTIS, Fausto Martin. “Combate à Lavagem de Dinheiro –
les”, cit., p. 109-110 Teoria e Prática”, cit., p. 2-3.
17 PALMA HERRERA, José Manuel. “Los Delitos de Blanqueo de Ca- 21 DE SANCTIS, Fausto Martin. “Combate à Lavagem de Dinheiro –
pitales”. Edersa, Madrid, 2000, p. 32-33. Teoria e Prática”, cit., p. 3.

104
20 Anos

adotadas pelo Grupo de Ação Financeira Inter- de dinheiro. “Em outubro de 2001, por conta dos
nacional (GAFI/FATF) – um dos instrumentos atentados às Torres Gêmeas em New York (World
internacionais mais importantes do mundo –, Trade Center), o GAFI editou mais oito recomen-
em reunião ocorrida em Paris, em 7 de feverei- dações especiais relacionadas com o financia-
ro de 1990. mento do terrorismo. Em julho de 2005, foi criada
a nona recomendação especial atinente a com-
Sobre o tema, se destaca a grande relevân-
bate ao financiamento de atos e de organizações
cia do Grupo de Ação Financeira Internacio-
terroristas”.26 Em 2012, com a identificação de
nal (GAFI), organismo internacional criado em
novas ameaças ao sistema financeiro interna-
1989 pelo grupo dos sete países mais indus-
cional, as 40 Recomendações sobre lavagem
trializados (G-7)22, para combater a lavagem de
de dinheiro e as 9 Recomendações Especiais
dinheiro, e que, em abril de 1990, com a ade-
relativas ao combate ao financiamento do
são de outros Estados, criou 40 Recomenda-
terrorismo foram incorporadas em 40 novas
ções que regulam questões penais, financeiras
Recomendações que, além daqueles temas,
e de cooperação internacional.23
passaram a abranger o combate à utilização do
Salienta-se que estas Recomendações não pos- sistema financeiro para a proliferação de armas
suem caráter obrigatório, coercitivo, fato que de destruição em massa.
não lhes retira força e respeitabilidade, pois se
trata de um instrumento modelo para ações
3.5.Convênio do Conselho
internacionais, sendo pretensão do GAFI que
da Europa sobre a lavagem,
todos os países se espelhem em seus termos.24
identificação, embargo e
Sobre a dinâmica dos trabalhos, importante confisco dos produtos do delito
explicar que, para facilitar as tarefas, e aprovei- (Convenção de Estrasburgo), de 8
tar a capacidade e experiência dos especialis- de novembro de 1990
tas participantes da reunião, foram criados três
Ainda no âmbito internacional, buscando o
grupos de trabalho. O primeiro se dedicou à
combate à lavagem de dinheiro, foi aprovada
análise da extensão e métodos da lavagem de
em 1990, em Estrasburgo, pelo Conselho da
dinheiro, o segundo a questões jurídicas e judi-
Europa, a chamada ‘Convenção de Estrasbur-
ciais, e o terceiro à cooperação administrativa
go’, que estabelece medidas legais de perda
e financeira.25
permanente dos bens obtidos ilicitamente e
Tais Recomendações, que já foram adotadas privação aos acusados de todos os benefícios
por mais de 190 países, foram revistas em 1996, econômicos dos produtos de delitos.27
para se adaptar às novas formas de lavagem
A Convenção do Conselho da Europa relativa
à lavagem de dinheiro, rastreamento, apreen-
22 Os países que compõem o G-7 são: Estados Unidos, Japão, são e confisco dos produtos do crime, também
Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá. Atualmente,
o grupo conta com a participação da Rússia e forma o G-8.
conhecida como ‘Convenção de Estrasburgo’,
23 MOUGENOT BONFIM, Marcia Monassi; MOUGENOT BONFIM, foi aprovada em setembro de 1990 e entrou
Edilson. “Lavagem de Dinheiro”. 2ª ed. Malheiros Editores, São
Paulo, 2008, p. 19.
em vigor somente em 1º de setembro de
24 MOUGENOT BONFIM, Marcia Monassi; MOUGENOT BONFIM, 1993, em razão de problemas com o número
Edilson. “Lavagem de Dinheiro”, cit., p. 19; CONSERINO, Cassio
Roberto. “Lavagem de Dinheiro”, cit., p. 5-6.
25 ALVAREZ PASTOR, Daniel; EGUIDAZU PALACIOS, Fernando. “La
Prevención del Blanqueo de Capitales”. Editorial Aranzadi, Na- 26 CONSERINO, Cassio Roberto. “Lavagem de Dinheiro”, cit., p. 5-6.
varra, 1998, p. 68-69. 27 CONSERINO, Cassio Roberto. “Lavagem de Dinheiro”, cit., p. 7.

105
LEI 9.613, DE 1998

de ratificações. A relevância desta Convenção considerando, para a lavagem de dinheiro,


se dá tanto pelas novidades que introduziu qualquer vantagem econômica resultante de
– como, por exemplo, a ampliação do rol de infrações penais.30
delitos antecedentes da lavagem de dinheiro
–, como pela irrenunciável preocupação por 3.6.Diretiva 91/308/CEE, de 10
impor, com o emprego de métodos eficazes de junho de 1991, do Conselho
e efetivos, a perda do produto do crime, sa- das Comunidades Europeias,
bidamente um dos mais importantes e efica- sobre prevenção da utilização do
zes instrumentos de combate a estes tipos de sistema financeiro para a lavagem
conduta.28 de dinheiro
A Convenção, aprovada pelo Conselho da Eu- Igualmente importante foi a Diretiva 91/308/
ropa em novembro de 1990, se dedica especifi- CE das Comunidades Europeias, de 1991, que
camente à lavagem de dinheiro, determinando incentivou as instituições financeiras e os Esta-
a extinção do segredo bancário, como forma dos a colaborar com a prevenção da lavagem
de proporcionar maior eficácia às autoridades de dinheiro31, estabelecendo medidas para
responsáveis pela investigação (artigo 4º, in- prevenir e dificultar a utilização do sistema fi-
ciso 1º), e considerando qualquer delito como nanceiro na lavagem de dinheiro.32
crime antecedente da lavagem de dinheiro, na
medida em que considera que o produto do A ausência de normas no âmbito da Comuni-
crime é ‘qualquer vantagem econômica resul- dade Europeia sobre a luta contra o fenôme-
tante de infrações penais’ (artigo 6º, item 1º).29 no da lavagem de dinheiro gerava o temor de
que os Estados membros adotassem medidas
Por fim, se destaca a relevância da ‘Conven- incompatíveis com a plena implantação de
ção de Estrasburgo’, que, juntamente com a um mercado único. Foi, então, inevitável uma
‘Convenção de Viena’, é uma das iniciativas in- intervenção comunitária com a finalidade de
ternacionais mais fundamentais tomadas em impedir que os traficantes se servissem e se
matéria de lavagem de dinheiro, com duas beneficiassem da liberdade de circulação de
diferenças principais entre os dois diplomas in- capitais e a livre prestação de serviços para a
ternacionais. A primeira reside no fato de que a obtenção de seus fins ilícitos. Neste contexto,
‘Convenção de Estrasburgo’ contém um desen- muitas das Recomendações do GAFI, em cujos
volvimento tecnicamente mais perfeito que o trabalhos haviam participado os integrantes da
da ‘Convenção de Viena’, predominando um Comunidade, foram recolhidas na Proposta de
conteúdo eminentemente processualista na Diretiva da Comunidade Europeia.33
cooperação internacional. A segunda diferen-
ça ocorre porque a ‘Convenção de Estrasburgo’ Aprovada pelo Conselho das Comunidades
não se limita exclusivamente a tratar sobre o Europeias, em 10 de junho de 1991, a Direti-
tráfico de drogas, objeto destacado da ‘Con- va sobre prevenção da utilização do sistema
venção de Viena’, ampliando a lista de infrações
penais que podem gerar produtos de delitos, 30 ALVAREZ PASTOR, Daniel; EGUIDAZU PALACIOS, Fernando. “La
Prevención del Blanqueo de Capitales”, cit., p. 66; CONSERINO,
Cassio Roberto. “Lavagem de Dinheiro”, cit., p. 7.
31 CONSERINO, Cassio Roberto. “Lavagem de Dinheiro”, cit., p. 7-8.
28 MOUGENOT BONFIM, Marcia Monassi; MOUGENOT BONFIM, 32 MOUGENOT BONFIM, Marcia Monassi; MOUGENOT BONFIM,
Edilson. “Lavagem de Dinheiro”, cit., p. 21. Edilson. “Lavagem de Dinheiro”, cit., p. 22.
29 DE SANCTIS, Fausto Martin. “Combate à Lavagem de Dinheiro – 33 CERVINI, Raúl; OLIVEIRA, Willian Terra de; GOMES, Luiz Flávio.
Teoria e Prática”, cit., p. 7-8. “Lei de Lavagem de Capitais”, cit., p. 118.

106
20 Anos

financeiro para a lavagem de dinheiro obrigava as medidas necessárias para colocar em vigor
os Estados membros da Comunidade Europeia uma legislação penal que permita cumprir
a harmonizar sua legislação nacional com o com as obrigações impostas pelo Conselho
conteúdo da Diretiva antes de 1 de janeiro de da Europa (1980) e pela Convenção de Viena
1993. Desta forma, se inicia uma ação coorde- (1988), proibindo a lavagem de dinheiro resul-
nada em escala comunitária contra a lavagem tante do tráfico de drogas e, de forma faculta-
de dinheiro, derivada, fundamentalmente, da tiva, de qualquer outro delito, de acordo com a
preocupação sentida em toda a Comunidade vontade dos Estados membros.38
Europeia com o crime organizado e o tráfico
Por fim, é importante ressaltar que a Diretiva
de drogas.34
conseguiu introduzir modificações nas diver-
Diferentemente da ‘Declaração de Princípios sas legislações dos países da Comunidade Eu-
da Basiléia’ e das ‘Recomendações do GAFI’, a ropeia, tanto no aspecto preventivo – onde a
Diretiva 91/308/CE é de cumprimento obriga- harmonização é maior –, como no repressivo,
tório para todos os Estados membros35 e seu evidentemente pela necessidade e eficiência
objetivo foi harmonizar as legislações euro- de sua normativa. De fato, mesmo que obriga-
peias em relação a medidas mínimas de pre- tória somente no âmbito da Comunidade Eu-
venção da lavagem de dinheiro36, ou seja, se ropeia, as determinações desta Diretiva foram
buscava estabelecer um marco para o desen- parcialmente trasladadas a outros países, sen-
volvimento de políticas antilavagem pelos di- do digno de se destacar sua inclusão no orde-
ferentes países que integravam a Comunidade namento jurídico brasileiro.39
Europeia, e mesmo que seja qualificada como
uma ‘Diretiva sobre lavagem’, se propõe a um 3.7.Convenção das Nações Unidas
objetivo mais amplo, que é estabelecer uma contra a delinquência organizada
efetiva e adequada disciplina parcial do exer- transnacional (Convenção de
cício da atividade econômica e financeira, para Palermo), de dezembro de 2000
evitar sua utilização com fins ilícitos.37
Finalmente, nos incumbe apontar a ‘Conven-
Deste modo, temos que a Diretiva 91/308/ ção das Nações Unidas contra a Delinquência
CE (também chamada de 1ª Diretiva), foi ela- Organizada Transnacional’, a chamada ‘Con-
borada, em 1991, pelo Conselho de Ministros venção de Palermo’, de dezembro de 2000, que
(composto por um Ministro de cada Estado tinha como propósito “promover a cooperação
membro, designado por seu respectivo Go- para prevenir e combater mais eficazmente a de-
verno) da Comunidade Econômica Europeia linquência organizada transnacional” (art. 1º) e
(denominada Comunidade Europeia até 1993, continha disposições relativas à criminalização
pelo Tratado de Maastricht, posteriormente, da lavagem de dinheiro, em seu artigo 6º, e im-
União Europeia). Nela consta que os Estados portantes medidas para combater a lavagem
membros devem comprometer-se a adotar de dinheiro, em seu artigo 7º.40

34 BLANCO CORDERO, Isidoro. “El Delito de Blanqueo de Capita-


les”, cit., p. 114-115. 38 DE SANCTIS, Fausto Martin. “Combate à Lavagem de Dinheiro –
35 MOUGENOT BONFIM, Marcia Monassi; MOUGENOT BONFIM, Teoria e Prática”, cit., p. 8.
Edilson. “Lavagem de Dinheiro”, cit., p. 27-28. 39 MOUGENOT BONFIM, Marcia Monassi; MOUGENOT BONFIM,
36 ARÁNGUEZ SÁNCHEZ, Carlos. “El Delito de Blanqueo de Capita- Edilson. “Lavagem de Dinheiro”, cit., p. 22-23.
les”, cit., p. 113. 40 BLANCO CORDERO, Isidoro. “El Delito de Blanqueo de Capita-
37 PALMA HERRERA, José Manuel. “Los Delitos de Blanqueo de Ca- les”, cit., p. 152; CONSERINO, Cassio Roberto. “Lavagem de Di-
pitales”, cit., p. 47. nheiro”, cit., p. 8.

107
LEI 9.613, DE 1998

Buscando a criminalização das condutas de verificamos que, desde os anos oitenta até os
lavagem de dinheiro, a Convenção previu a dias atuais, inúmeras foram as iniciativas, por
ampliação do conceito de crime antecedente, parte dos grupos e organismos internacionais,
com a finalidade de abarcar a mais ampla ga- para regular e combater o delito de lavagem
ma possível de infrações penais, especialmen- de dinheiro. Neste sentido, as legislações na-
te aquelas consideradas graves.41 cionais dos países representam, cada vez mais,
um reflexo das regras das normas internacio-
O Brasil incorporou, em 2004, ao seu sistema
nais, como ocorre no Brasil.
jurídico interno, as regras estabelecidas na
‘Convenção de Palermo’, pelo Decreto nº 5015. Seguindo a tendência internacional, o Bra-
sil, depois de firmar a Convenção de Viena de
Além das importantes disposições internacio-
1988, e ratificá-la pelo Decreto nº 154, de 26
nais já citadas e estudadas, é primordial men-
de junho de 1991, introduziu em seu ordena-
cionar a ‘Convenção das Nações Unidas contra
mento jurídico uma lei especial de combate
a Corrupção’, também conhecida como ‘Con-
à lavagem de dinheiro, a Lei nº 9.613, de 3 de
venção de Mérida’, firmada em 9 de dezem-
março de 1998.
bro de 2003, na cidade mexicana de Mérida,
que trouxe importantes mecanismos de luta Como se verifica, passados quase sete anos da
contra a lavagem de dinheiro, principalmente ratificação da Convenção, foi editada no Brasil
em seus artigos 14, 31, e 52 a 57. 42 Ademais, a Lei nº 9.613/98, “que além de tipificar os crimes
também se destaca o ‘Convênio do Conselho de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valo-
da Europa relativo a Lavagem de Dinheiro, Ras- res, estabeleceu medidas de prevenção da utiliza-
treamento, Apreensão e Confisco dos Produtos ção do sistema financeiro para os ilícitos previstos
do Delito’, chamado de ‘Convenção de Varsó- na lei, bem como criou o Conselho de Controle de
via’, que foi firmado em 16 de maio de 2005, em Atividades Financeiras-COAF, órgão que tem por
Varsóvia, e foi responsável pela elaboração de finalidade ‘disciplinar, aplicar penas administrati-
uma vasta lista de crimes antecedentes.43 vas, receber, examinar e identificar as ocorrências
suspeitas de atividades ilícitas’ (artigo 14, caput,
da Lei n. 9.613/1998), fiscalizando, pois, as ativi-

4. A Lavagem de Dinheiro dades financeiras que podem dar ensejo à lava-


gem de dinheiro”.44.
no ordenamento Assim, foi somente em 1998, a partir da edição
jurídico-penal brasileiro da Lei nº 9.613, que o Brasil aderiu de forma

– Evolução Legislativa efetiva aos esforços de outros países, com os


quais passou a trocar informações e a prestar
Nacional auxílio mútuo na prevenção e repressão da la-
vagem de dinheiro.45
Após a análise das principais disposições inter- Assim, temos que o crime de lavagem de di-
nacionais que tratam da lavagem de dinheiro, nheiro, no Brasil, está previsto em uma lei es-
pecial, fora do Código Penal, que prevê, além
41 MOUGENOT BONFIM, Marcia Monassi; MOUGENOT BONFIM,
Edilson. “Lavagem de Dinheiro”, cit., p. 24. 44 MOUGENOT BONFIM, Marcia Monassi; MOUGENOT BONFIM,
42 CONSERINO, Cassio Roberto. “Lavagem de Dinheiro”, cit., p. 8-9. Edilson. “Lavagem de Dinheiro”, cit., p. 26-27.
43 DE SANCTIS, Fausto Martin. “Combate à Lavagem de Dinheiro – 45 BARROS, Marco Antonio de. “Lavagem de Capitais e Obrigações
Teoria e Prática”, cit., p. 12-13. Civis Correlatas”, cit., p. 43.

108
20 Anos

de regras administrativas de prevenção e com- Após, a Lei nº 9.613/98 sofreu, em 9 de julho de


bate à lavagem de dinheiro, as normas penais 2012, uma significativa reforma, por meio da
(artigo 1º da Lei nº 9.613/98). Lei nº 12.683, que mudou o tipo penal principal
da lavagem de dinheiro, excluindo o rol de cri-
Desta forma, o Brasil segue, mais uma vez, sua
mes antecedentes de sua redação, que passou
tendência de inovar a ordem jurídica mediante
a vigorar da seguinte forma: “Art. 1º – Ocultar ou
a criação de figuras penais através de leis espe-
dissimular a natureza, origem, localização, dis-
ciais. Esta técnica legislativa, especialmente no
posição, movimentação ou propriedade de bens,
caso da lavagem de dinheiro, possui um lado
direitos ou valores provenientes, direta ou indire-
positivo e outro negativo. Por um lado, está
tamente, de infração penal”.
a previsão de um texto legal autônomo, que
favorece a criação de um espectro punitivo Com esta reforma, a legislação brasileira pas-
próprio, pretendendo abarcar exaustivamente sou a acompanhar uma tendência mundial,
todo o alcance da matéria, concentrando em como verificado nas normativas internacionais,
um único diploma a resposta penal e os de- de se criminalizar a lavagem de bens, direitos
mais aspectos dela resultantes. Por outro lado, e valores provenientes de qualquer infração
temos a não inclusão do crime na Parte Espe- penal, sem uma previsão específica de crimes
cial do Código Penal, contribuindo para o rom- antecedentes constantes de um rol, como
pimento da harmonia legislativa e do sistema acontecia antes de 2012.
punitivo, afetando o processo de interpretação Verifica-se, portanto, a evolução e aprimora-
da norma (em razão de seu distanciamento to- mento constante das normas, visando o com-
pográfico dos princípios estabelecidos na Parte bate da lavagem de dinheiro, tanto no Brasil,
Geral do Código Penal), produzindo, portanto, onde se comemora, neste ano de 2018, 20
duvidosos efeitos de prevenção geral.46 anos da primeira lei sobre lavagem de dinheiro,
No que diz respeito às mudanças, é relevante como em todo o mundo.
citar que a Lei nº 9.613/98 sofreu, primeiramen- Por fim, é interessante mencionar que o pri-
te, duas pequenas reformas para dar maior efi- meiro caso concreto de lavagem de dinheiro
cácia a suas disposições. A primeira ocorreu julgado no Brasil foi relacionado a uma supos-
por meio da Lei nº 10.467, de 11 de junho de ta atuação de organizações criminosas no Es-
2002, que acrescentou o inciso VIII ao artigo 1º tado do Acre, que seriam responsáveis pela
da lei, ampliando o rol de crimes antecedentes, prática de atos caracterizadores de uma ma-
adicionando os delitos praticados por particu- cro delinquência (tráfico de drogas, lavagem
lares contra a administração pública estrangei- de dinheiro, fraude, corrupção, eliminação fí-
ra. Já a segunda reforma se deu com a Lei nº sica de pessoas, roubo de veículos, caminhões
10.701, de 9 de julho de 2003, que acrescentou e cargas). O caso (MS 23652/DF) foi levado a
o terrorismo e seu financiamento ao rol de cri- julgamento pelo Tribunal Pleno do Supremo
mes antecedentes.47 Tribunal Federal em 22 de novembro de 2000.
Antes desta data, o Supremo Tribunal Federal
46 CERVINI, Raúl; OLIVEIRA, Willian Terra de; GOMES, Luiz Flávio. só havia se pronunciado sobre lavagem de di-
“Lei de Lavagem de Capitais”, cit., p. 316. nheiro em casos de extradição.48 Este foi só o
47 DOS SANTOS, Priscila Pamela. “Apontamentos acerca da Origen
e Evolução Histórica, Terminologia e Evolução Legislativa do In- primeiro caso de muitos que ocorrem até os
justo Penal da Lavagem de Capitais”, p. 105-123. In: SILVA, Lucia- dias de hoje no Brasil.
no Nascimento; BANDEIRA, Gustavo Sopas de Melo (Coord.).
“Lavagem de Dinheiro e Injusto Penal: análise dogmática e dou-
trina comparada luso-brasileira”. Juruá Editora, Curitiba, 2009,
p. 119-120. 48 CONSERINO, Cassio Roberto. “Lavagem de Dinheiro”, cit., p. 2.

109
LEI 9.613, DE 1998

5. Referências DOS SANTOS, Priscila Pamela. “Apontamentos acer-


ca da Origen e Evolução Histórica, Terminologia e
Bibliográficas Evolução Legislativa do Injusto Penal da Lavagem
de Capitais”, p. 105-123. In: SILVA, Luciano Nas-
ALVAREZ PASTOR, Daniel; EGUIDAZU PALACIOS, Fer- cimento; BANDEIRA, Gustavo Sopas de Melo
nando. “La Prevención del Blanqueo de Capitales”. (Coord.). “Lavagem de Dinheiro e Injusto Penal:
Editorial Aranzadi, Navarra, 1998. análise dogmática e doutrina comparada luso-
ARÁNGUEZ SÁNCHEZ, Carlos. “El Delito de Blanqueo -brasileira”. Juruá Editora, Curitiba, 2009.
de Capitales”. Marcial Pons, Madrid, 2000. LILLEY, Peter. “Lavagem de Dinheiro”. Trad.: Eduardo
BARROS, Marco Antonio de. “Lavagem de Capitais e Lasserre. Editora Futura, São Paulo, 2001.
Obrigações Civis Correlatas”, 2ª ed. Editora Revista MOUGENOT BONFIM, Marcia Monassi; MOUGENOT
dos Tribunais, São Paulo, 2007. BONFIM, Edilson. “Lavagem de Dinheiro”, 2ª ed.
BLANCO CORDERO, Isidoro. “El Delito de Blanqueo Malheiros Editores, São Paulo, 2008.
de Capitales”, 2ª ed. Editorial Aranzadi, Navarra, PALMA HERRERA, José Manuel. “Los Delitos de Blan-
2002. queo de Capitales”. Edersa, Madrid, 2000.
CALLEGARI, André Luís. “El Delito de Blanqueo de Ca-
TIGRE MAIA, Rodolfo. “Lavagem de Dinheiro”, 2ª ed.
pitales en España y Brasil”. Universidad Externado
Malheiros Editores, São Paulo, 2007.
de Colombia, Bogotá, 2003.
CERVINI, Raúl; OLIVEIRA, Willian Terra de; GOMES,
Luiz Flávio. “Lei de Lavagem de Capitais”. Editora
Consulta a páginas da internet:
Revista dos Tribunais, São Paulo, 1998. Jornal ‘El País’ de 16/08/2011. HERNÁNDEZ, Jo-
CONSERINO, Cassio Roberto. “Lavagem de Dinheiro”. s é A n t o n i o . “ E l b l a n q u e o d e ca p i t a l e s
Editora Atlas, São Paulo, 2011. se dispara”. In: http://w w w.elpais.com/
DE SANCTIS, Fausto Martin. “Combate à Lavagem de articulo/espana/blanqueo/capitales/dispara/
Dinheiro – Teoria e Prática”. Millennium Editora, elpepiesp/20110816elpepinac_3/Tes – Data de
Campinas, 2008. consulta: 16/08/2011.

110
20 Anos

Sobre os autores
ADRIANA FILIZZOLA D’URSO – Advogada criminalista no escritório D’Urso e Borges Advo-
gados Associados, mestre e doutoranda em Direito Penal pela Universidade de Salaman-
ca (Espanha), pós-graduada em Direito Penal Econômico e Europeu pela Universidade de
Coimbra (Portugal), e em Ciências Criminais e Dogmática Penal Alemã na Universidade
Georg-August-Universität Göttingen (Alemanha), integra o Comitê de Estudos sobre Cri-
minal Compliance da OAB/SP, membro da Comunidade de Juristas de Língua Portuguesa,
e também da Associação Brasileira das Mulheres de Carreiras Jurídicas.

ALAIM ASSAD – Administrador de Empresas pela Universidade Ibero Americana. Possui


MBA em Gestão Empresarial pela FGV e Mestrado em Administração de Empresas pelo
Mackenzie. Alaim é certificado em Gestão de Riscos pela Alarys (Asociación latinoame-
ricana de Administradores de Riesgos y Seguros) e em Controles Internos pela Funen-
seg. Foi Superintendente de Compliance e Riscos da HDI Seguros de 2005 a 2014, onde
foi responsável pela criação da sua área de Compliance, Riscos e Controles Internos.
Desligou-se para assumir a Diretoria de Compliance para a América Latina da Mercer. Es-
tá disponível para atuar como membro de Comitê de Auditoria de Cias. Seguradoras. Foi
membro da Comissão de Controles Internos da CNSEG e Coordenador do manual da CN-
SEG “Função de Compliance no mercado segurador brasileiro”. Participou, junto à SUSEP,
da elaboração e testes de diversas normas, tais como: Risco de Mercado, Base de Perdas
Operacionais e Gestão de Riscos. Alaim é professor da Funenseg desde 2011, na Gradua-
ção, Pós Graduação e MBA nas disciplinas Governança Corporativa, Compliance, Gestão
de Riscos e Controles Internos. É Coordenador Acadêmico do curso de Pós Graduação
em Compliance e Controles Internos e desenvolveu o MBA e-learning destas disciplinas.

ALESSANDRO GRATÃO MARQUES – Possui mais de 20 anos de experiência, sendo 16 na


área de Advisory Services, com especialização em “Gestão de Riscos”, prestando serviços
de consultoria à empresas internacionais e nacionais de médio e grande porte, atual-
mente lidera a unidade de negócios de Auditoria Interna e Financial Advisory da Protiviti
no Brasil. Como consultor e auditor atuou em empresas privadas com grande experiên-
cia nos segmentos de engenharia (civil e naval), ramo hospitalar, industrial (manufatura)
e financeiro. Liderou projetos de certificação de empresas nacionais e estruturação dos
controles internos com base nas exigências da SEC (section 404) visando aderência aos
requisitos da lei Sarbanes-Oxley, projetos de auditoria interna, J-SOX, melhoria de pro-
cessos, assessoria contábil e financeira, FCPA, investigação e aspectos da lei anticorrup-
ção, change management e programas de Compliance às normas e regulamentações
específicas (ex. Resolução BACEN 2.554/98). Áreas de conhecimento especializado: As-
sessoria Contábil e Financeira, Auditoria Interna, Gestão de Riscos Corporativos, Sarba-
nes-Oxley e J-SOX, Controles Internos e Compliance, Auditoria de FCPA, investigação e
aderência à Lei Anticorrupção, Programa anti - fraude lavagem de dinheiro. Formação
Acadêmica: MBA – Auditoria, Controladoria e Gestão Financeira pela Fundação Getúlio
Vargas de São Paulo – Graduado em Ciências Contábeis pela Faculdade São Luis – SP

111
LEI 9.613, DE 1998

ANGELO CALORI – Com 30 anos de experiência, Angelo Calori atua em empresas de


porte global no mercado Financeiro e de Seguros. Em Governança Corporativa desde
2005, possui vasta experiência prática em compliance, controles internos e riscos. Par-
ticipa ativamente como membro de diversos comitês e fóruns de Compliance, assim
como participou das comissões de Compliance e Controles Internos em Federações e
Confederações como Febraban e CNSeg. Membro do comitê que elaborou a DSC - Di-
retrizes para Sistema de Compliance. Voluntário no projeto Caleidoscópio que possui
apoio da ACNUR-ONU, voltado à integração social e laboral de profissionais com sólida
formação acadêmica e relevante experiência corporativa e que se encontram em esta-
do de refúgio no Brasil. É vice-presidente do Instituto dos profissionais de prevenção à
lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo - IPLD e instrutor em cursos de
governança corporativa, além de palestrante em congressos.

ANTÔNIO GUSTAVO RODRIGUES – Formado na Faculdade de Direito da Universidade


Federal do Rio de Janeiro, em 1982, com pós-graduação em Análise de Sistemas no Ins-
tituto Brasileiro de Administração Municipal (1986) e MBA executivo na Harvard Business
School, além de vários cursos de especialização principalmente nas áreas financeira e de
negociação externa. Após trabalhar na Associação de Exportadores do Brasil, na Associa-
ção de Bancos no Estado do Rio de Janeiro e no Banco de Crédito Nacional, ingressou
em 1985, por concurso público, no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social, onde ocupou o cargo de Gerente de Organismos Internacionais no Departa-
mento Financeiro e Internacional. Foi advogado do Banco Mundial, de 1992 a 1995, na
Divisão de América Latina e Caribe do Departamento Jurídico, em Washington, tendo
participado de diversos projetos daquela Instituição no Brasil e na América Latina. Em
Brasília desde 1995, ocupou o cargo de Secretário-Adjunto de Assuntos Internacionais
no Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, até 2000, quando foi transferido
para o Ministério da Fazenda, onde exerceu também o cargo de Secretário-Adjunto de
Assuntos Internacionais. No início de 2004, foi nomeado pelo Presidente da República,
por indicação do Ministro de Estado da Fazenda, para exercer o cargo de Presidente do
Conselho de Controle de Atividades Financeiras – COAF. Desde 2004, é o chefe da De-
legação Brasileira junto ao Grupo de Ação Financeira Contra a Lavagem de Dinheiro e o
Financiamento ao Terrorismo (GAFI/FATF) e junto ao Grupo de Ação Financeira da Amé-
rica do Sul Contra a Lavagem de Dinheiro e o Financiamento ao Terrorismo (GAFISUD)
e o representante titular da Unidade de Inteligência Financeira Brasileira no Grupo de
EGMONT. Exerceu a Presidência do GAFISUD no ano de 2006 e do GAFI em 2008/2009.

BÁRBARA BASSANI – Advogada sênior da área de seguros e resseguros de TozziniFreire


Advogados, com atuação em consultoria, regulatório-SUSEP e contencioso estratégico
(administrativo e judicial). Mestre em Direito Civil pela Universidade de São Paulo - USP,
universidade na qual atualmente cursa o Doutorado, também em Direito Civil. Gradua-
da pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Professora do MBA de Gestão Jurídica
do Seguro e Resseguro da Escola Nacional de Seguros (Funenseg). Autora de diversos
artigos e livros, com destaque para Seguros: Beneficiários e suas Implicações, publica-
do pela Editora Roncarati. Presidente da Comissão do Jovem Advogado da AIDA Brasil,
Secretária do GNT de Processo Civil e Seguro da AIDA Brasil e membro da Comissão de
Direito Securitário da OAB/SP.

112
20 Anos

CAMILA CALAIS – Possui experiência em assessoria jurídica para os mercados de seguros


e resseguros, incluindo constituição de sociedade, operações societárias em geral, ela-
boração e revisão de apólices, estruturação e negociação de contratos de distribuição
de seguros, e questões relacionadas ao cotidiano de tais empresas. Além disso, assessora
clientes em processos administrativos perante a Superintendência de Seguros Privados
(Susep). É membro da Associação Internacional de Direito de Seguros (Aida), leciona na
Fundação Getúlio Vargas (FGV) e na Escola Nacional de Seguros e possui publicações so-
bre direito do seguro. Bacharel em Direito, Instituição Toledo de Ensino. Análise Advoca-
cia 500 – Seguros (2015-2016); IFLR 1000 Financial and Corporate – Notable practitioner
(2018); LACCA Approved – Administrative Law (2016-2018); The Legal 500 – Insurance
(2016); Who’s Who Legal – Insurance & Reinsurance: Brazil.

CHRISTIAN K. DE LAMBOY – Gerente Executivo de Governança, Riscos e Compliance,


de uma empresa automobilística. Antes Diretor do Instituto ARC – Auditoria, Gestão de
Risco e Compliance. Possui graduação em Administração de Empresas com foco em
Gestão e Contabilidade (Goethe Universidade Frankfurt) e Doutorado em Administração
de Empresas (Frankfurt School of Finance & Management) com foco em Compliance e
Regulação. Autor e coordenador de inúmeras publicações.

EDUARDO CASTRO – Sócio do departamento empresarial do escritório, com vasto co-


nhecimento em regulação bancária e securitária, operações financeiras locais e interna-
cionais, securitização de recebíveis, estruturação de fundos de investimento, derivativos
e regulamentação cambial.

EDUARDO PERSON PARDINI – Sócio principal, responsável pelos projetos de governan-


ça, gestão de riscos, controles internos e auditoria interna da Crossover Consulting &
Auditing. É diretor executivo do Internal Control Institute - Chapter Brasil, palestrante e
instrutor do IIA Brasil.

FABYOLA RODRIGUES – Lidera o departamento criminal empresarial e possui mais de


17 anos de experiência. Possui Doutorado em Direito Criminal Empresarial e Mestrado
em Direito Criminal pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Fabíola
possui ainda Especialização em Crime Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Também participou de um curso sobre Lavagem de Dinheiro, a convite do Governo dos
Estados Unidos, e de um projeto com o professor Jérôme Fromageau, da Universidade
Paris-Sud, sobre sanções legais da Lei de Sanções Administrativas na Esfera Ambiental.
Apresentou seminários sobre a responsabilidade civil de gerentes perante os conselhos
de administração de grupos nacionais e multinacionais, e proferiu palestras sobre vários
temas, entre os quais, responsabilidade civil e criminal relativa a assuntos ambientais, lei
de combate à corrupção e compliance. Entre suas atividades profissionais, Fabíola é Vice
Presidente da Comissão de Anticorrupção e Compliance da Ordem dos Advogados do

113
LEI 9.613, DE 1998

Brasil, Subseção de Pinheiros (OAB/SP); Membro do Comitê de Anticorrupção da Ameri-


can Bar Association (ABA); Membro do Comitê de Crimes Transnacionais do International
Bar Association (IBA) e Membro do Comitê de Compliance do Instituto dos Advogados de
São Paulo (IASP). FORMAÇÃO ACADÊMICA: 2013, Doutora em Direito Processual Criminal,
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); 2005, Mestre em Direito Criminal,
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Brasil; 2002, Especialista em Crime
Empresarial, Fundação Getúlio Vargas (FGV), São Paulo, Brasil; 1996, Graduada em Direito
Criminal, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Brasil. RECONHECIMEN-
TOS: Os mais prestigiosos diretórios jurídicos, incluindo a Chambers Latin America e Aná-
lise Advocacia 500, recomendaram Fabíola Rodrigues por sua atuação profissional.

GABRIELA MONTEIRO – Mestre em Direito da Regulação pela Fundação Getulio Vargas


e Pós-graduada em Direito Processual Civil pela PUC-Rio. Advogada no Veirano Advoga-
dos, com atuação nas áreas de Direito Concorrencial e Antitruste, de Integridade Corpo-
rativa (Anticorrupção e Compliance) e de Direito Administrativo e Regulatório.

GABRIELA PAREDES ARCENTALES – Advogada com experiência em direito penal eco-


nômico, Compliance e investigações corporativas. Gabriela também possui experiência
em mediação empresarial como resolução alternativa de conflitos.

GUSTAVO AMADO LEÓN – Mestrando em Direito Internacional pela PUC-SP sob


orientação do Professor Doutor Antônio Marcio da Cunha Guimarães; Advogado es-
pecialista em Seguros, Resseguros e Previdência Complementar; Pós-graduado em
Gestão Jurídica do Direito de Seguro e Resseguro pela Escola Nacional de Seguros –
FUNENSEG; Pós-graduado em Direito Empresarial pelo INSPER; Graduado em Direito
pela PUC-SP; Professor Assistente em Direito Internacional na PUC-SP; Colunista sobre
Seguros e Resseguros da Editora Roncarati; Membro do Grupo de Pesquisa Direitos
Fundamentais à Luz da Doutrina Social certificado pelo CNPq atuante na PUC-SP; Mem-
bro da AIDA – Associação Internacional de Direito de Seguros (Grupos de Trabalho de
Reponsabilidade Civil e de Garantia e Crédito); Participante da Comissão de Direito
Internacional e Globalização Econômica da Subseção da OAB-SP/Jabaquara-Saúde;
Coautor do capítulo sobre seguros e resseguros dos livros “Direito Internacional e Glo-
balização Econômica”, 2017, “Estudos Aplicados de Direito Empresarial”, 2016, “Atualida-
des de Direito Internacional – Estudos em Homenagem ao Prof. Dr. Antônio Márcio da
Cunha Guimarães”, 2016 e “Brazilian Commercial Law – A Practical Guide”, 2015, entre
diversos artigos publicados.

114
20 Anos

JULIANA SÁ DE MIRANDA – Sócia do Campos Mello Advogados responsável pelas áreas


de Direito Penal Empresarial, Compliance e Investigação e Privacidade e Segurança da
Informação. Ela representa uma variedade de clientes nacionais e internacionais em
questões complexas, envolvendo crime do “Colarinho Branco”, compliance, e investi-
gações internas em casos de corrupção, fraude, antitruste e violações regulamentares,
financiamento, tributário, crimes ambientais e qualquer outra violação em relação a
atividades corporativas. Juliana possui uma ampla experiência no contencioso e na de-
fesa dos interesses das empresas e de seus representantes em investigações governa-
mentais e ações penais. Ela também regularmente realiza investigações internas para
clientes corporativos, com base em alegações de violações de compliance e aconselha
clientes na implementação e aperfeiçoamento de programas de compliance, políticas
e treinamentos.

JULIO ANDRADE – Sócio da RSM Brasil. Responsável pela Prevenção à Lavagem de Di-
nheiro em instituições financeiras e seguradoras Possui mais de 30 anos de experiência
em consultoria neste tema no Brasil e no exterior, membro da Comissão de Anticorrup-
ção e Compliance da OAB/Pinheiros, convidado a lecionar no curso de MBA de Com-
pliance da FECAP na especialidade de Prevenção à Lavagem de Dinheiro.

LAURA PELEGRINI – Bacharel em Direito pela Faculdade de São Bernardo do Campo em


2009. Especializou-se em Direito Contratual pela Escola Paulista de Direito em 2011. Pós-
-graduada em Direitos Difusos e Coletivos pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC/SP) em 2016. Mestranda em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo (PUC/SP).

LUCAS GUIMARÃES RIBEIRO – Advogado. Possui experiência em consultoria jurídica para


assuntos de integridade corporativa e compliance anti-corrupção e em assessoria a em-
presas na negociação de acordos de leniência, na condução de investigações internas
e due diligences paraM&As e na elaboração de pareceres e memorandos. Bacharel em
Direito, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.

LUDMILA GROCH – Sócia na área de Penal Empresarial de TozziniFreire Advogados, com


ênfase em investigações policiais, processos judiciais e investigações de fraudes corpo-
rativas, tendo atuado em diversas operações da Polícia Federal, além de ter experiência
em questões criminais de meio ambiente, concorrencial, comercial, fiscal, lavagem de
dinheiro, sistema financeiro e mercado de capitais. Mestre em Direito Penal pela Facul-
dade de Direito da Universidade de São Paulo. Graduada pela Faculdade de Direito da
Universidade Presbiteriana Mackenzie. Professora convidada da Universidade Estadual
de Londrina. Participou de um secondment program no escritório Kobre & Kim, em No-
va York. Foi diretora do Instituto de Direito da Defesa. É autora de artigos em diversas
publicações.

115
LEI 9.613, DE 1998

MARCELLA HILL – Sócia do Campos Mello Advogados, que lidera a área de Seguros e
Resseguros, com base em São Paulo. Ela possui mais de uma década de experiência, ad-
quiridas em escritórios de advocacia nacionais e internacionais. Ela é especialista na área
de seguros e resseguros e assessora clientes em todos aspectos deste ramo empresarial
no Brasil e na Europa.

MARCIA CICARELLI – Bacharel em Direito pela Universidade de São Paulo em 1996, Már-
cia possui 22 anos de experiência na área de Seguros e Resseguros. Especializou-se em
Direito Securitário e Ressecuritário pela Fundação Getúlio Vargas em 2002 e concluiu o
Mestrado em Direito Civil pela Universidade de São Paulo em 2011 com a dissertação
“O Interesse Segurável”. É responsável por casos de alta complexidade em todos os ra-
mos de Seguro, consultora em contratos, operações, desenvolvimento de produtos e
regulação de sinistro, além de advogada atuante em Tribunais e Câmaras de Arbitragem.

MARIA AMELIA SARAIVA – Brasileira, advogada formada pela Faculdade de Direito da


USP - Largo São Francisco em 1975, inscrita na Ordem dos Advogados do Brasil - Seção
de São Paulo sob o nº 41.233. Sócia de “SARAIVA - ADVOGADOS ASSOCIADOS” escritó-
rio devidamente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil - Seção São Paulo, sob o
nº 014/022, acumula ampla experiência e capacitação nos diversos campos do Direito
Privado e Público. Atuou como Superintendente Jurídica da Liberty Paulista Seguros de
1991 a 1999. Ocupou a Gerência Jurídica da Manah S/A de 1985 a 1991. Exerceu a fun-
ção de Gerente do Contencioso Tributário do Banco Comércio e Indústria de São Paulo
S/A de 1983 a 1985. Integrou a Comissão de Assuntos Jurídicos da FENASEG – Federa-
ção Nacional das Empresas de Seguros e de Capitalização- de 1992 e 1999. Integra, na
qualidade de convidada, a Comissão de Assuntos Jurídicos da FENASEG -Federação Na-
cional das Empresas de Seguros. Acadêmica da Academia Nacional de Seguros e Previ-
dência. Presidente do Grupo Nacional de Trabalho de Proteção ao Seguro e Compliance
da AIDA.

MARCOS ASSI – Professor e Comendador MSc. Marcos Assi, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor
da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa,
Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segu-
rança da Informação e Auditoria Interna. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela
PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria
Interna e Pericia pela FECAP, Certificação Internacional pelo ISACA – CRISC – Certified in
Risk and Information Systems Control e Certificação pela Exin – ISFS – Information Secu-
rity Foundation. Professor do curso de MBA da FECAP, da Saint Paul Escola de Negócios,
do Centro Paula Sousa – FATEC, da SUSTENTARE Escola de Negócios de Joinville-SC, da
FIA (Labfin), da UNIMAR – Universidade de Marilia – SP, da FADISMA – Faculdade de Di-
reito de Santa Maria – RS, da BSSP Centro Educacional – GO, da REGES – Rede Gonzaga
de Ensino Superior de Dracena, da Universidade de São Caetano do Sul – USCS, da Tre-
visan Escola de Negócios e Faculdade La Salle em Lucas do Rio Verde – MT. Instrutor de
Controles Internos da CNF Brasilia – Confederação Nacional da Instituições Financeira.

116
20 Anos

Instrutor de Controles Internos, Compliance, Auditoria da ABBC – Educação Corporativa.


Instrutor do ICA (International Compliance Association), para Compliance de Prevenção
a Lavagem de Dinheiro. AUTOR DOS LIVROS: “Controles Internos e Cultura Organiza-
cional – Como consolidar a confiança na gestão do negócio” – Saint Paul Editora – 2ª
Edição – 2014. “Gestão de Riscos com Controles Internos – Ferramentas, certificações
e métodos para garantir a eficiência dos negócios” – Saint Paul Editora – 2012. “Gestão
de Compliance e seus desafios – Como implementar controles internos, superar difi-
culdades e manter a eficiência dos negócios”, – Saint Paul Editora – 2013. “Governança,
Riscos e Compliance – Mudando a conduta dos negócios” – Saint Paul Editora – 2017.
“Controles internos e contábeis na gestão de tesouraria – O controle interno representa
em uma organização o conjunto de procedimentos, métodos e rotinas” – NEA – Novas
Edições Acadêmicas – 2015. Academic Advocate do ISACA, associado da ANEFAC – As-
sociação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade e do IIA
Brasil – Instituto dos Auditores Internos do Brasil. Membro do IBGC – Instituto Brasileiro
de Governança Corporativa.

MARIANA VILLELA – Doutora em Direito Comercial pela Universidade de São Paulo. Só-
cia do Veirano Advogados, com atuação nas áreas de Direito Concorrencial e Antitruste,
de Integridade Corporativa (Anticorrupção e Compliance).

PHELIPE LINHARES – Sócio da área de Accounting & Financial Risk da KPMG no Brasil.
Possui 20 anos de experiência em consultoria e auditoria para o mercado financeiro bra-
sileiro incluindo seguradoras, bancos e entidades fechadas de previdência complemen-
tar. Linhares tem assessorado diversas instituições com foco na avaliação, transformação
e implementação de estruturas e processos de governança, riscos e compliance. Sua
ampla experiência inclui temas como regulação local e internacional para os setores de
seguros e bancos sobretudo nas áreas operacional e tecnológica de monitoramento e
prevenção a lavagem de dinheiro, KYC, on boarding e processos de screening. Formado
em Ciências Contábeis com MBA em Gestão Empresarial e diversas especializações co-
mo Tesouraria & Riscos, Mercado de Derivativos, Options Volatility Trading. Suas certifica-
ções incluem CRC, CNAI-CVM, CNAI-BACEN/SUSEP.

PEDRO RICCO – Especialista em direito securitário e bancário, prestando assessoria regu-


latória e societária a instituições financeiras, seguradoras, resseguradoras, corretoras de
seguro e resseguro e entidades de previdência complementar. Atua nos mais diversos
tipos de operações no mercado de seguros e de previdência complementar, incluindo
a constituição de sociedades, operações de fusões e aquisições, aprovação e revisão de
produtos e negociação de contratos complexos, tais como contratos de distribuição,
bancassurance e de resseguro. Também assessora seguradoras e clientes corporativos
em geral na revisão de apólices e na regulação de sinistros, além de representá-los nos
mais variados tipos de disputas, em processos administrativos, judiciais e arbitragens.

117
LEI 9.613, DE 1998

RENATA FONSECA ANDRADE – Presidente da Comissão de Anticorrupção e Compliance


da OAB/SP Pinheiros. Advogada inscrita na OAB/SP (1990) e advogada inscrita no Bar dos
EUA, em Illinois (2008). Especialista em Compliance, realiza Seminários e Treinamentos
ativos sobre o tema, complementados por prestação de serviços específicos e de con-
sultoria nas áreas da Governança e Ética, Compliance, Relações Governamentais, Contra-
tos, Mitigação de Riscos, Implementação de Programas de Compliance em atendimento
à Legislação Anticorrupção (FCPA, UK Anti-Bribery Act e Lei Brasileira 12.846/2013), com
ênfase na revisão e melhoria contínua de programas, sistemas e procedimentos, visando
mitigar riscos legais, regulatórios e reputacionais. Chief Compliance Officer Brazil, Willis
Towers Watson. Diretora do Comitê de Anticorrupção e Vice Presidente do Comitê de Li-
citações e Compras da American Bar Association, International Law Section, Membro da
Comissão Permanente de Estudos de Compliance do IASP (Instituto dos Advogados de
São Paulo) e da Comissão de Estudos de Gestão de Terceiros sob a ótica de Compliance
do ICB (Instituto Compliance Brasil). Mestre em Direito – LLM-MLI pela Universidade de
Wisconsin, School of Law, USA (2006). Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Fa-
culdade de Direito da Universidade Mackenzie (1989) e especialização em Governo pela
Escola de Governo, prof. Fábio Konder Comparato (2000).

RENATO TASTARDI PORTELLA – Assessora clientes em assuntos relacionados a integri-


dade corporativa, compliance anticorrupção e governança corporativa. Sua experiência
inclui a condução de investigações internas, representação de clientes em inquéritos
administrativos e processos sancionadores, representação em negociações de acor-
dos de leniência, desenvolvimento de programas de compliance e treinamentos, due
diligence de compliance anticorrupção e assessoria na avaliação de obrigações con-
tratuais, de governança corporativa e de divulgação de informações ao mercado de
capitais em decorrência de investigações internas ou governamentais e ações gover-
namentais relacionadas. Bacharel em Direito, Universidade de São Paulo (USP); Pós-gra-
duação em Direito Econômico, Fundação Getúlio Vargas (FGV). IFLR 1000 Financial and
Corporate – M&A (2016); The Legal 500 – orporate/M&A (2013;2016); Who’s Who Legal
– Investigations: International.

THAIS DE GOBBI – Especialista em direito bancário e securitário, prestando assessoria a


instituições nacionais e estrangeiras. Atua na área regulatória e nos mais diversos tipos
de operações no mercado financeiro e de seguros, bem como no estabelecimento de
atividades no Brasil, seja por meio da constituição de uma nova sociedade ou da aqui-
sição de participação em sociedades existentes. Atua em operações de financiamento
e reestruturação de dívidas, principalmente representando credores. Na esfera regula-
tória, trata de assuntos ligados à indústria de meios de pagamento e auxilia instituições
financeiras e seguradoras a estruturar novos produtos e a rever contratos utilizados no
desenvolvimento de suas atividades. Na área de seguros, trabalha na constituição de se-
guradoras, planos de saúde e corretoras, em operações de compra e venda de participa-
ção societária (M&A), na elaboração e revisão de contratos de resseguro e na assistência
jurídica a processos de aprovação de produtos perante os órgãos reguladores.

118
20 Anos

LEI Nº 9.613, DE 3 DE
MARÇO DE 1998
Dispõe sobre os crimes de "lavagem" ou ocultação de bens, direitos e valo-
res; a prevenção da utilização do sistema financeiro para os ilícitos previstos
nesta Lei; cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras – COAF, e
dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que Pena: reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e
o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a multa. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de
seguinte Lei: 2012)
CAPÍTULO I § 1º Incorre na mesma pena quem, para ocul-
Dos Crimes de "Lavagem" ou Ocultação de tar ou dissimular a utilização de bens, direitos
Bens, Direitos e Valores ou valores provenientes de infração penal: (Re-
Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, ori- dação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
gem, localização, disposição, movimentação I – os converte em ativos lícitos;
ou propriedade de bens, direitos ou valores
II – os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou
provenientes, direta ou indiretamente, de in-
recebe em garantia, guarda, tem em depósito,
fração penal. (Redação dada pela Lei nº 12.683,
movimenta ou transfere;
de 2012)
III – importa ou exporta bens com valores não
I – (revogado); (Redação dada pela Lei nº
correspondentes aos verdadeiros.
12.683, de 2012)
§ 2º Incorre, ainda, na mesma pena quem: (Re-
II – (revogado); (Redação dada pela Lei nº
dação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
12.683, de 2012)
I – utiliza, na atividade econômica ou financei-
III – (revogado); (Redação dada pela Lei nº
ra, bens, direitos ou valores provenientes de in-
12.683, de 2012)
fração penal; (Redação dada pela Lei nº 12.683,
IV – (revogado); (Redação dada pela Lei nº de 2012)
12.683, de 2012)
II – participa de grupo, associação ou escritó-
V – (revogado); (Redação dada pela Lei nº rio tendo conhecimento de que sua atividade
12.683, de 2012) principal ou secundária é dirigida à prática de
VI – (revogado); (Redação dada pela Lei nº crimes previstos nesta Lei.
12.683, de 2012) § 3º A tentativa é punida nos termos do pará-
VII – (revogado); (Redação dada pela Lei nº grafo único do art. 14 do Código Penal.
12.683, de 2012) § 4º A pena será aumentada de um a dois ter-
VIII – (revogado). (Redação dada pela Lei nº ços, se os crimes definidos nesta Lei forem co-
12.683, de 2012) metidos de forma reiterada ou por intermédio

119
LEI 9.613, DE 1998

de organização criminosa. (Redação dada pela antecedente, sendo puníveis os fatos previstos
Lei nº 12.683, de 2012) nesta Lei, ainda que desconhecido ou isento
§ 5º A pena poderá ser reduzida de um a dois de pena o autor, ou extinta a punibilidade da
terços e ser cumprida em regime aberto ou infração penal antecedente. (Redação dada pe-
semiaberto, facultando-se ao juiz deixar de la Lei nº 12.683, de 2012)
aplicá-la ou substituí-la, a qualquer tempo, por § 2º No processo por crime previsto nesta Lei,
pena restritiva de direitos, se o autor, coautor não se aplica o disposto no art. 366 do Decre-
ou partícipe colaborar espontaneamente com to-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Có-
as autoridades, prestando esclarecimentos que digo de Processo Penal), devendo o acusado
conduzam à apuração das infrações penais, à que não comparecer nem constituir advogado
identificação dos autores, coautores e partíci- ser citado por edital, prosseguindo o feito até o
pes, ou à localização dos bens, direitos ou valo- julgamento, com a nomeação de defensor da-
res objeto do crime. (Redação dada pela Lei nº tivo. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
12.683, de 2012)
Art. 3º (Revogado pela Lei nº 12.683, de 2012)
CAPÍTULO II
Art. 4º O juiz, de ofício, a requerimento do Mi-
Disposições Processuais Especiais
nistério Público ou mediante representação
Art. 2º O processo e julgamento dos crimes do delegado de polícia, ouvido o Ministério
previstos nesta Lei: Público em 24 (vinte e quatro) horas, havendo
I – obedecem às disposições relativas ao pro- indícios suficientes de infração penal, poderá
cedimento comum dos crimes punidos com decretar medidas assecuratórias de bens, direi-
reclusão, da competência do juiz singular; tos ou valores do investigado ou acusado, ou
existentes em nome de interpostas pessoas,
II – independem do processo e julgamento
que sejam instrumento, produto ou proveito
das infrações penais antecedentes, ainda que
dos crimes previstos nesta Lei ou das infrações
praticados em outro país, cabendo ao juiz
penais antecedentes. (Redação dada pela Lei
competente para os crimes previstos nesta Lei
nº 12.683, de 2012)
a decisão sobre a unidade de processo e julga-
mento; (Redação dada pela Lei nº 12.683, de § 1º Proceder-se-á à alienação antecipada pa-
2012) ra preservação do valor dos bens sempre que
estiverem sujeitos a qualquer grau de deterio-
III – são da competência da Justiça Federal:
ração ou depreciação, ou quando houver difi-
a) quando praticados contra o sistema finan- culdade para sua manutenção. (Redação dada
ceiro e a ordem econômico-financeira, ou em pela Lei nº 12.683, de 2012)
detrimento de bens, serviços ou interesses da
União, ou de suas entidades autárquicas ou § 2º O juiz determinará a liberação total ou par-
empresas públicas; cial dos bens, direitos e valores quando com-
provada a licitude de sua origem, mantendo-se
b) quando a infração penal antecedente for de a constrição dos bens, direitos e valores neces-
competência da Justiça Federal. (Redação da- sários e suficientes à reparação dos danos e ao
da pela Lei nº 12.683, de 2012) pagamento de prestações pecuniárias, multas
§ 1º A denúncia será instruída com indícios e custas decorrentes da infração penal. (Reda-
suficientes da existência da infração penal ção dada pela Lei nº 12.683, de 2012)

120
20 Anos

§ 3º Nenhum pedido de liberação será conhe- adotando-se a seguinte disciplina: (Incluído


cido sem o comparecimento pessoal do acu- pela Lei nº 12.683, de 2012)
sado ou de interposta pessoa a que se refere o
I – nos processos de competência da Justiça
caput deste artigo, podendo o juiz determinar
Federal e da Justiça do Distrito Federal: (Incluí-
a prática de atos necessários à conservação
do pela Lei nº 12.683, de 2012)
de bens, direitos ou valores, sem prejuízo do
disposto no § 1º. (Redação dada pela Lei nº a) os depósitos serão efetuados na Caixa Econô-
12.683, de 2012) mica Federal ou em instituição financeira públi-
ca, mediante documento adequado para essa
§ 4º Poderão ser decretadas medidas assecu-
finalidade; (Incluída pela Lei nº 12.683, de 2012)
ratórias sobre bens, direitos ou valores para re-
paração do dano decorrente da infração penal b) os depósitos serão repassados pela Caixa
antecedente ou da prevista nesta Lei ou para pa- Econômica Federal ou por outra instituição fi-
gamento de prestação pecuniária, multa e cus- nanceira pública para a Conta Única do Tesou-
tas. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012) ro Nacional, independentemente de qualquer
Art. 4º-A. A alienação antecipada para preser- formalidade, no prazo de 24 (vinte e quatro)
vação de valor de bens sob constrição será de- horas; e (Incluída pela Lei nº 12.683, de 2012)
cretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do c) os valores devolvidos pela Caixa Econômica
Ministério Público ou por solicitação da parte Federal ou por instituição financeira pública se-
interessada, mediante petição autônoma, que rão debitados à Conta Única do Tesouro Nacio-
será autuada em apartado e cujos autos terão nal, em subconta de restituição; (Incluída pela
tramitação em separado em relação ao processo Lei nº 12.683, de 2012)
principal. (Incluído pela Lei nº 12.683, de 2012)
II – nos processos de competência da Justiça
§ 1º O requerimento de alienação deverá con- dos Estados: (Incluído pela Lei nº 12.683, de
ter a relação de todos os demais bens, com a 2012)
descrição e a especificação de cada um deles, e
informações sobre quem os detém e local on- a) os depósitos serão efetuados em instituição
de se encontram. (Incluído pela Lei nº 12.683, financeira designada em lei, preferencialmente
de 2012) pública, de cada Estado ou, na sua ausência,
em instituição financeira pública da União; (In-
§ 2º O juiz determinará a avaliação dos bens,
cluída pela Lei nº 12.683, de 2012)
nos autos apartados, e intimará o Ministério
Público. (Incluído pela Lei nº 12.683, de 2012) b) os depósitos serão repassados para a conta
única de cada Estado, na forma da respectiva
§ 3º Feita a avaliação e dirimidas eventuais di-
legislação. (Incluída pela Lei nº 12.683, de 2012)
vergências sobre o respectivo laudo, o juiz, por
sentença, homologará o valor atribuído aos § 5º Mediante ordem da autoridade judicial, o
bens e determinará sejam alienados em lei- valor do depósito, após o trânsito em julgado
lão ou pregão, preferencialmente eletrônico, da sentença proferida na ação penal, será: (In-
por valor não inferior a 75% (setenta e cinco cluído pela Lei nº 12.683, de 2012)
por cento) da avaliação. (Incluído pela Lei nº I – em caso de sentença condenatória, nos
12.683, de 2012) processos de competência da Justiça Federal
§ 4º Realizado o leilão, a quantia apurada se- e da Justiça do Distrito Federal, incorporado
rá depositada em conta judicial remunerada, definitivamente ao patrimônio da União, e, nos

121
LEI 9.613, DE 1998

processos de competência da Justiça Estadual, julgado da sentença condenatória, ressalvado


incorporado ao patrimônio do Estado respecti- o direito de lesado ou terceiro de boa-fé. (In-
vo; (Incluído pela Lei nº 12.683, de 2012) cluído pela Lei nº 12.683, de 2012)
II – em caso de sentença absolutória extintiva § 11. Os bens a que se referem os incisos II e III
de punibilidade, colocado à disposição do réu do § 10 deste artigo serão adjudicados ou leva-
pela instituição financeira, acrescido da remu- dos a leilão, depositando-se o saldo na conta
neração da conta judicial. (Incluído pela Lei nº única do respectivo ente. (Incluído pela Lei nº
12.683, de 2012) 12.683, de 2012)
§ 6º A instituição financeira depositária mante- § 12. O juiz determinará ao registro público
rá controle dos valores depositados ou devolvi- competente que emita documento de habili-
dos. (Incluído pela Lei nº 12.683, de 2012) tação à circulação e utilização dos bens coloca-
dos sob o uso e custódia das entidades a que
§ 7º Serão deduzidos da quantia apurada no
se refere o caput deste artigo. (Incluído pela Lei
leilão todos os tributos e multas incidentes so-
nº 12.683, de 2012)
bre o bem alienado, sem prejuízo de iniciativas
que, no âmbito da competência de cada ente § 13. Os recursos decorrentes da alienação an-
da Federação, venham a desonerar bens sob tecipada de bens, direitos e valores oriundos
constrição judicial daqueles ônus. (Incluído pe- do crime de tráfico ilícito de drogas e que te-
la Lei nº 12.683, de 2012) nham sido objeto de dissimulação e ocultação
nos termos desta Lei permanecem submetidos
§ 8º Feito o depósito a que se refere o § 4º des-
à disciplina definida em lei específica. (Incluído
te artigo, os autos da alienação serão apensa-
pela Lei nº 12.683, de 2012)
dos aos do processo principal. (Incluído pela
Lei nº 12.683, de 2012) Art. 4º-B. A ordem de prisão de pessoas ou as
medidas assecuratórias de bens, direitos ou va-
§ 9º Terão apenas efeito devolutivo os recursos
lores poderão ser suspensas pelo juiz, ouvido
interpostos contra as decisões proferidas no
o Ministério Público, quando a sua execução
curso do procedimento previsto neste artigo.
imediata puder comprometer as investigações.
(Incluído pela Lei nº 12.683, de 2012)
(Incluído pela Lei nº 12.683, de 2012)
§ 10. Sobrevindo o trânsito em julgado de sen-
Art. 5º Quando as circunstâncias o aconselha-
tença penal condenatória, o juiz decretará, em
rem, o juiz, ouvido o Ministério Público, no-
favor, conforme o caso, da União ou do Estado:
meará pessoa física ou jurídica qualificada para
(Incluído pela Lei nº 12.683, de 2012)
a administração dos bens, direitos ou valores
I – a perda dos valores depositados na conta sujeitos a medidas assecuratórias, mediante
remunerada e da fiança; (Incluído pela Lei nº termo de compromisso. (Redação dada pela
12.683, de 2012) Lei nº 12.683, de 2012)
II – a perda dos bens não alienados antecipada- Art. 6º A pessoa responsável pela adminis-
mente e daqueles aos quais não foi dada des- tração dos bens: (Redação dada pela Lei nº
tinação prévia; e (Incluído pela Lei nº 12.683, 12.683, de 2012)
de 2012)
I – fará jus a uma remuneração, fixada pelo juiz,
III – a perda dos bens não reclamados no pra- que será satisfeita com o produto dos bens ob-
zo de 90 (noventa) dias após o trânsito em jeto da administração;

122
20 Anos

II – prestará, por determinação judicial, infor- § 2º Os instrumentos do crime sem valor eco-
mações periódicas da situação dos bens sob nômico cuja perda em favor da União ou do
sua administração, bem como explicações e Estado for decretada serão inutilizados ou doa-
detalhamentos sobre investimentos e reinves- dos a museu criminal ou a entidade pública, se
timentos realizados. houver interesse na sua conservação. (Incluído
Parágrafo único. Os atos relativos à administra- pela Lei nº 12.683, de 2012)
ção dos bens sujeitos a medidas assecuratórias CAPÍTULO IV
serão levados ao conhecimento do Ministério Dos Bens, Direitos ou Valores Oriundos de
Público, que requererá o que entender cabível. Crimes Praticados no Estrangeiro
(Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
Art. 8º O juiz determinará, na hipótese de exis-
CAPÍTULO III tência de tratado ou convenção internacional
Dos Efeitos da Condenação e por solicitação de autoridade estrangeira
Art. 7º São efeitos da condenação, além dos competente, medidas assecuratórias sobre
previstos no Código Penal: bens, direitos ou valores oriundos de crimes
descritos no art. 1º praticados no estrangeiro.
I – a perda, em favor da União – e dos Estados,
nos casos de competência da Justiça Estadual (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
–, de todos os bens, direitos e valores relacio- § 1º Aplica-se o disposto neste artigo, inde-
nados, direta ou indiretamente, à prática dos pendentemente de tratado ou convenção
crimes previstos nesta Lei, inclusive aqueles internacional, quando o governo do país da
utilizados para prestar a fiança, ressalvado o di- autoridade solicitante prometer reciprocidade
reito do lesado ou de terceiro de boa-fé; (Reda- ao Brasil.
ção dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
§ 2º Na falta de tratado ou convenção, os bens,
II – a interdição do exercício de cargo ou fun- direitos ou valores privados sujeitos a medidas
ção pública de qualquer natureza e de diretor, assecuratórias por solicitação de autoridade
de membro de conselho de administração ou estrangeira competente ou os recursos prove-
de gerência das pessoas jurídicas referidas no nientes da sua alienação serão repartidos entre
art. 9º, pelo dobro do tempo da pena privativa o Estado requerente e o Brasil, na proporção de
de liberdade aplicada. metade, ressalvado o direito do lesado ou de
§ 1º A União e os Estados, no âmbito de suas terceiro de boa-fé. (Redação dada pela Lei nº
competências, regulamentarão a forma de 12.683, de 2012)
destinação dos bens, direitos e valores cuja
CAPÍTULO V
perda houver sido declarada, assegurada,
Das Pessoas Sujeitas ao Mecanismo de Controle
quanto aos processos de competência da Jus-
(Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
tiça Federal, a sua utilização pelos órgãos fede-
rais encarregados da prevenção, do combate, Art. 9º Sujeitam-se às obrigações referidas nos
da ação penal e do julgamento dos crimes arts. 10 e 11 as pessoas físicas e jurídicas que
previstos nesta Lei, e, quanto aos processos de tenham, em caráter permanente ou eventual,
competência da Justiça Estadual, a preferência como atividade principal ou acessória, cumu-
dos órgãos locais com idêntica função. (Incluí- lativamente ou não: (Redação dada pela Lei nº
do pela Lei nº 12.683, de 2012) 12.683, de 2012)

123
LEI 9.613, DE 1998

I – a captação, intermediação e aplicação de dos mercados financeiro, de câmbio, de capi-


recursos financeiros de terceiros, em moeda tais e de seguros;
nacional ou estrangeira;
IX – as pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou
II – a compra e venda de moeda estrangeira estrangeiras, que operem no Brasil como agen-
ou ouro como ativo financeiro ou instrumento tes, dirigentes, procuradoras, comissionárias ou
cambial; por qualquer forma representem interesses de
III – a custódia, emissão, distribuição, liqüida- ente estrangeiro que exerça qualquer das ativi-
ção, negociação, intermediação ou administra- dades referidas neste artigo;
ção de títulos ou valores mobiliários. X – as pessoas físicas ou jurídicas que exerçam
Parágrafo único. Sujeitam-se às mesmas atividades de promoção imobiliária ou compra
obrigações: e venda de imóveis; (Redação dada pela Lei nº
12.683, de 2012)
I – as bolsas de valores, as bolsas de mercado-
rias ou futuros e os sistemas de negociação do XI – as pessoas físicas ou jurídicas que comer-
mercado de balcão organizado; (Redação dada cializem jóias, pedras e metais preciosos, obje-
pela Lei nº 12.683, de 2012) tos de arte e antigüidades.

II – as seguradoras, as corretoras de seguros e XII – as pessoas físicas ou jurídicas que comer-


as entidades de previdência complementar ou cializem bens de luxo ou de alto valor, inter-
de capitalização; medeiem a sua comercialização ou exerçam
atividades que envolvam grande volume de
III – as administradoras de cartões de creden-
recursos em espécie; (Redação dada pela Lei nº
ciamento ou cartões de crédito, bem como as
administradoras de consórcios para aquisição 12.683, de 2012)
de bens ou serviços; XIII – as juntas comerciais e os registros públi-
IV – as administradoras ou empresas que se uti- cos; (Incluído pela Lei nº 12.683, de 2012)
lizem de cartão ou qualquer outro meio eletrô- XIV – as pessoas físicas ou jurídicas que pres-
nico, magnético ou equivalente, que permita a tem, mesmo que eventualmente, serviços de
transferência de fundos; assessoria, consultoria, contadoria, auditoria,
V – as empresas de arrendamento mercantil aconselhamento ou assistência, de qualquer
(leasing) e as de fomento comercial (factoring); natureza, em operações: (Incluído pela Lei nº
12.683, de 2012)
VI – as sociedades que efetuem distribuição de
dinheiro ou quaisquer bens móveis, imóveis, a) de compra e venda de imóveis, estabeleci-
mercadorias, serviços, ou, ainda, concedam mentos comerciais ou industriais ou participa-
descontos na sua aquisição, mediante sorteio ções societárias de qualquer natureza; (Incluída
ou método assemelhado; pela Lei nº 12.683, de 2012)

VII – as filiais ou representações de entes es- b) de gestão de fundos, valores mobiliários ou


trangeiros que exerçam no Brasil qualquer das outros ativos; (Incluída pela Lei nº 12.683, de
atividades listadas neste artigo, ainda que de 2012)
forma eventual; c) de abertura ou gestão de contas bancárias,
VIII – as demais entidades cujo funcionamento de poupança, investimento ou de valores mo-
dependa de autorização de órgão regulador biliários; (Incluída pela Lei nº 12.683, de 2012)

124
20 Anos

d) de criação, exploração ou gestão de so- autoridade competente e nos termos de ins-


ciedades de qualquer natureza, fundações, truções por esta expedidas;
fundos fiduciários ou estruturas análogas; (In- III – deverão adotar políticas, procedimentos e
cluída pela Lei nº 12.683, de 2012) controles internos, compatíveis com seu por-
e) financeiras, societárias ou imobiliárias; e (In- te e volume de operações, que lhes permitam
cluída pela Lei nº 12.683, de 2012) atender ao disposto neste artigo e no art. 11,
na forma disciplinada pelos órgãos competen-
f ) de alienação ou aquisição de direitos sobre
tes; (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
contratos relacionados a atividades desporti-
vas ou artísticas profissionais; (Incluída pela Lei IV – deverão cadastrar-se e manter seu cadas-
nº 12.683, de 2012) tro atualizado no órgão regulador ou fiscaliza-
dor e, na falta deste, no Conselho de Controle
XV – pessoas físicas ou jurídicas que atuem na
de Atividades Financeiras (Coaf ), na forma e
promoção, intermediação, comercialização, condições por eles estabelecidas; (Incluído pe-
agenciamento ou negociação de direitos de la Lei nº 12.683, de 2012)
transferência de atletas, artistas ou feiras, expo-
sições ou eventos similares; (Incluído pela Lei V – deverão atender às requisições formuladas
pelo Coaf na periodicidade, forma e condições
nº 12.683, de 2012)
por ele estabelecidas, cabendo-lhe preservar,
XVI – as empresas de transporte e guarda de nos termos da lei, o sigilo das informações
valores; (Incluído pela Lei nº 12.683, de 2012) prestadas. (Incluído pela Lei nº 12.683, de 2012)
XVII – as pessoas físicas ou jurídicas que comer- § 1º Na hipótese de o cliente constituir-se em
cializem bens de alto valor de origem rural ou pessoa jurídica, a identificação referida no in-
animal ou intermedeiem a sua comercializa- ciso I deste artigo deverá abranger as pessoas
ção; e (Incluído pela Lei nº 12.683, de 2012) físicas autorizadas a representá-la, bem como
XVIII – as dependências no exterior das entida- seus proprietários.
des mencionadas neste artigo, por meio de sua § 2º Os cadastros e registros referidos nos inci-
matriz no Brasil, relativamente a residentes no sos I e II deste artigo deverão ser conservados
País. (Incluído pela Lei nº 12.683, de 2012) durante o período mínimo de cinco anos a par-
tir do encerramento da conta ou da conclusão
CAPÍTULO VI
da transação, prazo este que poderá ser am-
Da Identificação dos Clientes e
pliado pela autoridade competente.
Manutenção de Registros
§ 3º O registro referido no inciso II deste artigo
Art. 10. As pessoas referidas no art. 9º:
será efetuado também quando a pessoa física
I – identificarão seus clientes e manterão ca- ou jurídica, seus entes ligados, houver realiza-
dastro atualizado, nos termos de instruções do, em um mesmo mês-calendário, operações
emanadas das autoridades competentes; com uma mesma pessoa, conglomerado ou
II – manterão registro de toda transação em grupo que, em seu conjunto, ultrapassem o li-
moeda nacional ou estrangeira, títulos e va- mite fixado pela autoridade competente.
lores mobiliários, títulos de crédito, metais, ou Art. 10A. O Banco Central manterá registro cen-
qualquer ativo passível de ser convertido em tralizado formando o cadastro geral de corren-
dinheiro, que ultrapassar limite fixado pela tistas e clientes de instituições financeiras, bem

125
LEI 9.613, DE 1998

como de seus procuradores. (Incluído pela Lei § 3º O Coaf disponibilizará as comunicações re-
nº 10.701, de 2003) cebidas com base no inciso II do caput aos res-
pectivos órgãos responsáveis pela regulação
CAPÍTULO VII
ou fiscalização das pessoas a que se refere o art.
Da Comunicação de Operações Financeiras
9º. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
Art. 11. As pessoas referidas no art. 9º:
Art. 11-A. As transferências internacionais e os
I – dispensarão especial atenção às operações saques em espécie deverão ser previamente
que, nos termos de instruções emanadas das comunicados à instituição financeira, nos ter-
autoridades competentes, possam constituir- mos, limites, prazos e condições fixados pelo
-se em sérios indícios dos crimes previstos nes- Banco Central do Brasil. (Incluído pela Lei nº
ta Lei, ou com eles relacionar-se; 12.683, de 2012)
II – deverão comunicar ao Coaf, abstendo-se CAPÍTULO VIII
de dar ciência de tal ato a qualquer pessoa, Da Responsabilidade Administrativa
inclusive àquela à qual se refira a informação,
Art. 12. Às pessoas referidas no art. 9º, bem co-
no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, a pro-
posta ou realização: (Redação dada pela Lei nº mo aos administradores das pessoas jurídicas,
12.683, de 2012) que deixem de cumprir as obrigações previstas
nos arts. 10 e 11 serão aplicadas, cumulativa-
a) de todas as transações referidas no inciso II mente ou não, pelas autoridades competentes,
do art. 10, acompanhadas da identificação de as seguintes sanções:
que trata o inciso I do mencionado artigo; e
(Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012) I – advertência;

b) das operações referidas no inciso I; (Redação II – multa pecuniária variável não superior: (Re-
dada pela Lei nº 12.683, de 2012) dação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)

III – deverão comunicar ao órgão regulador ou a) ao dobro do valor da operação; (Incluída pe-
fiscalizador da sua atividade ou, na sua falta, ao la Lei nº 12.683, de 2012)
Coaf, na periodicidade, forma e condições por b) ao dobro do lucro real obtido ou que presu-
eles estabelecidas, a não ocorrência de pro- mivelmente seria obtido pela realização da ope-
postas, transações ou operações passíveis de ração; ou (Incluída pela Lei nº 12.683, de 2012)
serem comunicadas nos termos do inciso II.
c) ao valor de R$ 20.000.000,00 (vinte milhões
(Incluído pela Lei nº 12.683, de 2012)
de reais); (Incluída pela Lei nº 12.683, de 2012)
§ 1º As autoridades competentes, nas ins-
III – inabilitação temporária, pelo prazo de até
truções referidas no inciso I deste artigo, ela-
dez anos, para o exercício do cargo de adminis-
borarão relação de operações que, por suas
trador das pessoas jurídicas referidas no art. 9º;
características, no que se refere às partes en-
volvidas, valores, forma de realização, instru- IV – cassação ou suspensão da autorização pa-
mentos utilizados, ou pela falta de fundamento ra o exercício de atividade, operação ou fun-
econômico ou legal, possam configurar a hipó- cionamento. (Redação dada pela Lei nº 12.683,
tese nele prevista. de 2012)
§ 2º As comunicações de boa-fé, feitas na for- § 1º A pena de advertência será aplicada por
ma prevista neste artigo, não acarretarão res- irregularidade no cumprimento das instruções
ponsabilidade civil ou administrativa. referidas nos incisos I e II do art. 10.

126
20 Anos

§ 2º A multa será aplicada sempre que as pes- § 1º As instruções referidas no art. 10 destina-
soas referidas no art. 9º, por culpa ou dolo: (Re- das às pessoas mencionadas no art. 9º, para as
dação dada pela Lei nº 12.683, de 2012) quais não exista órgão próprio fiscalizador ou
I – deixarem de sanar as irregularidades objeto regulador, serão expedidas pelo COAF, com-
de advertência, no prazo assinalado pela auto- petindo-lhe, para esses casos, a definição das
ridade competente; pessoas abrangidas e a aplicação das sanções
enumeradas no art. 12.
II – não cumprirem o disposto nos incisos I a
IV do art. 10; (Redação dada pela Lei nº 12.683, § 2º O COAF deverá, ainda, coordenar e pro-
de 2012) por mecanismos de cooperação e de troca de
informações que viabilizem ações rápidas e
III – deixarem de atender, no prazo estabele- eficientes no combate à ocultação ou dissimu-
cido, a requisição formulada nos termos do lação de bens, direitos e valores.
inciso V do art. 10; (Redação dada pela Lei nº
12.683, de 2012) § 3º O COAF poderá requerer aos órgãos da
Administração Pública as informações cadas-
IV – descumprirem a vedação ou deixarem de
trais bancárias e financeiras de pessoas envolvi-
fazer a comunicação a que se refere o art. 11.
das em atividades suspeitas. (Incluído pela Lei
§ 3º A inabilitação temporária será aplicada nº 10.701, de 2003)
quando forem verificadas infrações graves quan-
Art. 15. O COAF comunicará às autoridades com-
to ao cumprimento das obrigações constantes
petentes para a instauração dos procedimentos
desta Lei ou quando ocorrer reincidência espe-
cabíveis, quando concluir pela existência de cri-
cífica, devidamente caracterizada em transgres-
mes previstos nesta Lei, de fundados indícios de
sões anteriormente punidas com multa.
sua prática, ou de qualquer outro ilícito.
§ 4º A cassação da autorização será aplicada
Art. 16. O Coaf será composto por servidores
nos casos de reincidência específica de infra-
públicos de reputação ilibada e reconhecida
ções anteriormente punidas com a pena pre-
competência, designados em ato do Ministro
vista no inciso III do caput deste artigo.
de Estado da Fazenda, dentre os integrantes
Art. 13. O procedimento para a aplicação das do quadro de pessoal efetivo do Banco Central
sanções previstas neste Capítulo será regulado do Brasil, da Comissão de Valores Mobiliários,
por decreto, assegurados o contraditório e a da Superintendência de Seguros Privados, da
ampla defesa. Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, da Se-
CAPÍTULO IX cretaria da Receita Federal do Brasil, da Agência
Do Conselho de Controle de Brasileira de Inteligência, do Ministério das Re-
Atividades Financeiras lações Exteriores, do Ministério da Justiça, do
Departamento de Polícia Federal, do Ministério
Art. 14. É criado, no âmbito do Ministério da Fa-
da Previdência Social e da Controladoria-Geral
zenda, o Conselho de Controle de Atividades
da União, atendendo à indicação dos respec-
Financeiras – COAF, com a finalidade de dis-
tivos Ministros de Estado. (Redação dada pela
ciplinar, aplicar penas administrativas, receber,
Lei nº 12.683, de 2012)
examinar e identificar as ocorrências suspeitas
de atividades ilícitas previstas nesta Lei, sem § 1º O Presidente do Conselho será nomeado
prejuízo da competência de outros órgãos e pelo Presidente da República, por indicação do
entidades. Ministro de Estado da Fazenda.

127
LEI 9.613, DE 1998

§ 2º Caberá recurso das decisões do Coaf rela- ordens judiciais de quebra ou transferência
tivas às aplicações de penas administrativas ao de sigilo deverão ser, sempre que determina-
Conselho de Recursos do Sistema Financeiro do, em meio informático, e apresentados em
Nacional. (Redação dada pela Lei nº 13.506, de arquivos que possibilitem a migração de in-
2017) formações para os autos do processo sem re-
Art. 17. O COAF terá organização e funciona- digitação. (Incluído pela Lei nº 12.683, de 2012)
mento definidos em estatuto aprovado por Art. 17-D. Em caso de indiciamento de servidor
decreto do Poder Executivo. público, este será afastado, sem prejuízo de re-
CAPÍTULO X muneração e demais direitos previstos em lei,
Disposições Gerais até que o juiz competente autorize, em deci-
(Incluído pela Lei nº 12.683, de 2012) são fundamentada, o seu retorno. (Incluído pe-
Art. 17-A. Aplicam-se, subsidiariamente, as dis- la Lei nº 12.683, de 2012)
posições do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de ou- Art. 17-E. A Secretaria da Receita Federal do
tubro de 1941 (Código de Processo Penal), no Brasil conservará os dados fiscais dos contri-
que não forem incompatíveis com esta Lei. (In- buintes pelo prazo mínimo de 5 (cinco) anos,
cluído pela Lei nº 12.683, de 2012) contado a partir do início do exercício seguin-
Art. 17-B. A autoridade policial e o Ministério te ao da declaração de renda respectiva ou ao
Público terão acesso, exclusivamente, aos da- do pagamento do tributo. (Incluído pela Lei nº
dos cadastrais do investigado que informam 12.683, de 2012)
qualificação pessoal, filiação e endereço, in- Art. 18. Esta Lei entra em vigor na data de sua
dependentemente de autorização judicial,
publicação.
mantidos pela Justiça Eleitoral, pelas empresas
telefônicas, pelas instituições financeiras, pelos Brasília, 3 de março de 1998; 177º da
provedores de internet e pelas administrado- Independência e 110º da República.
ras de cartão de crédito. (Incluído pela Lei nº FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
12.683, de 2012) Iris Rezende
Art. 17-C. Os encaminhamentos das institui- Luiz Felipe Lampreia
ções financeiras e tributárias em resposta às Pedro Malan

__________
Este texto não substitui o publicado no DOU de 4.3.1998

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