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Ange ou Démon

Capítulo 1 - Indomada

Sentada na grama olhando para margem do rio e a minha vida


dependendo de um traço do beta. E o meu coração batia mais que tambor de
carimbó. Lágrimas brotavam como olho d’água. A dualidade da escolha entre a
alegria de um bebê ou um relacionamento complicado. As aulas acontecendo
naquela manhã na UFPa e eu vagando em pensamentos querendo acender um
cigarro. Em segundos a confirmação da gravidez logo arremessei longe o vício
com a mão esquerda. Queria ser a certinha, mudar o mundo e acabo de
descobrir a tremenda decepção que sou. Depois do vestibular esse parecia ser
um desafio muito maior. Ser mãe. Fingia ser adulta, universitária intelectual e
revolucionária. A pior mentira é querer me enganar sabendo que no fundo sou
uma adolescente dependente de pai e mãe, então como posso colocar um filho
no mundo? Nem sei se amo aquele escroto e se ele realmente é o pai.

Deitei sobre a úmida grama, ainda cedo sentia a brisa da manhã arejando
a mente envergonhada. O rio agora era um redemoinho me sugando sob nuvens
cinzentas como queria ser levada para longe, assim arrastando aquela dúvida
da rejeição dos meus pais, pois me faltava coragem para enfrentar a bagunça
que fiz. Para quem eu contaria primeiro? Enfrentar o meu pai ou enfrentaria o
pai da criança. Quem ficaria feliz? Nem eu estava, talvez por causa do susto
como se avistasse uma onça a um metro de distância. Quantas vezes critiquei
mães solteiras como dizem “pimenta no olho dos outros é refresco”. Agora era
eu queimando a língua. Minutos sentada sob os pesos do sim e do não na
balança fizeram a chuva que se aproximava em uma tempestade mental.
Decidida me levantei, sacudi os longos cabelos negros, limpei a blusa branca de
renda, a calça jeans, peguei os cadernos e a bolsa. Olhei novamente ao infinito
das águas barrentas do Guamá, pensei “foda-se”, joguei no fundo do Guamá o
beta e afoguei meus sonhos, mesmo assim, sorri. Voltei à sala quando iniciava
a aula de Física III.
No fim da tarde ainda na universidade encontrei o meu namorado dentro
do carro quando caminhava à saída da universidade. Nos cumprimentamos e
logo disse:

_ Beto, vais ser pai e vamos nos casar.

O caboco ficou anêmico, suspirou e respondeu:

_ tá dizendo, então tá Ritinha.

A reação dele não foi inspiradora, do tipo pouco se importava. Nos


abraçamos e combinamos de conversar com a família. Ele me deu carona até
em casa e comentou que não teve aula e estava rodando por lá. Percebi que ele
hesitou o que pôde, mas no trajeto desconfortado me acusou da gravidez.
Criticou-me do descuido com anticoncepcional. Não estava preparado para ser
pai, o foco dele eram os estudos. A raiva aumentou quando ele vomitou asneira
que eu não era revolucionária, sim uma burguesa e me mandou no médico tirar
o filho. Não me contive e discutimos dentro do carro. Bati com a mão no painel
gritando o que rolou foi consensual e ele irado batia no volante:

_ Você disse que podia ser sem camisinha.

_ És um pecador, não vou matar meu filho por causa da porra da


camisinha...minha cabeça fervia.

Namorávamos há dois anos. Carlos Alberto, Beto, moreno criado com


açaí todo dia, cabelos enrolados, meio gordinho e usava óculos. Somos vizinhos
desde os doze anos de idade. Ele esperou meus quinze anos para se declarar,
mas ignorei no início, nem pensava em namorar. Caboco foi insistente e aos
dezessete no aniversário dele nos beijamos pela primeira vez. O namoro foi
devagar, sem pressa por causa da minha família. Um dia os hormônios nos
atentam e quase perdi a virgindade no carro dele, ele foi afoito e me estressei.
Decidimos transar quando eu completasse dezoito anos. Transamos três vezes
de lá para cá. Teve uma semana que brigamos feio pela primeira vez. Então
houve uma sexta-feira à noite após as aulas, escutei de longe na direção do rio
os preparativos do forró, ao ar livre, na universidade. Passei lá para ver se me
animava. Conversei com os amigos e fiquei feliz. Tinha um motivo para
comemorar. Completei naquele dia dezenove anos em março de 1990. Por isso
dancei bastante de escorrer o suor. Entre um arrasta pé e outro. A minha cabeça
com álcool além do limite, cruzamos os olhares na dança, os olhos dele negros
como caroços de açaí e espelhava os meus. Então cedi aos abraços, cheiros,
logo vieram os beijos e excitação era recíproca. Saímos de fininho das vistas, na
escuridão do Campus básico, transamos em pé. Eu encostada na parede de fora
de uma sala. Inconsequente. Arrependida nunca mais vi o sujeito. No outro dia
a noite sai com o Beto fomos para Icoaraci. Tomamos água de coco, lanchamos
na orla. Ele parou o Opalão preto embaixo de uma mangueira em uma rua
deserta. No frenesi rolou uns amassos e na volta paramos em um motel. Espero
ter engravidado nessa última. Estava confusa na tabelinha. Por volta das 22h me
deixou em casa no bairro do Marco.

Passado semanas da confirmação do beta, contei ao meu pai, Sr. Ozório.


Ele ouviu mudo, atento, apenas perguntou se queria a criança e se estava feliz.
Respondi que sim, então me apoiou, mas achou desnecessário o casório, disse-
me que ajudaria na criação da criança mesmo sem a presença do genitor.
Quanto a minha mãe, Dona Maria do Socorro:

_ Maria Rita! Não terás esse filho solteira, chama o teu namorado aqui,
ele vai ouvir umas boas verdades. Vais entrar na igreja de cinta e vais casar com
a benção do Padre Bené.

_ Ozório te coça, vai ter festa sim senhor! Minha única filha vai ser capa
no jornal. A noiva mais bela da cidade.

_ Mary Help deixa dos teus chiliques.

*o apelido que o pai dava à mãe, derrubava a moral, desmoralizava a


velha, desconcertava a rigidez. (deixar implícito)

Casamos três meses depois na igreja da Trindade em Belém com poucos


convidados somente os familiares e alguns amigos.

Barriga crescendo dentro da sala da universidade. Cada mexida, cada


chute me lembrava das provas do fim do semestre.
Amigas curtiam as festas dos anos 90 enquanto sofria com a gestação. A
cada semana uma transformação interior. Naturalmente a vida me dando vida.
Semanas depois a criança nasceu prematura, tentei que o parto fosse normal,
mas a médica conduziu uma cesárea alegando que o cordão laçou o bebê.

Toda a minha infelicidade e despreparo devem ter passado ao feto.


Devido a cesariana de risco, o menino foi incubado. Ficou dez dias na
incubadora, a médica liberou, pude vê-lo, pegá-lo, cheirá-lo, beijá-lo, amamentá-
lo e o chamei de Bruno. Naquele instante do seu sorriso escorrendo leite em
meus braços tive a certeza de ter escolhido “sim” naquela manhã sentada na
universidade. Meu coração foi tocado, massageado, pulsava forte e me fez sorri
espontaneamente que nem me lembrava mais daquela sensação, talvez quando
criança. Ainda assim eu nem sabia o que era ser mãe, tinha muito a aprender.
Principalmente, sobre o amor. Dei conta que as minhas experiências amorosas
foram paixões nada comparado a responsabilidade de cuidar de alguém por toda
a minha existência.

Aquele parto causou sequelas no Bruno como raciocínio lento, pescoço


caído, dificuldade na fala e com uma parte da boca desalinhada. Foram meses
de fisioterapia. Muito estresse e muita despesa. Por não ter nascido perfeito,
Beto o rejeitou, parecia sentir que o filho não era dele. Como era muito cedo não
dava para saber com quem a criança parecia. Pela cor da pele se notava que
não parecia comigo, eu era branca e o Bruno nasceu bem moreno e com
bastante cabelos negros. Minha dúvida aumentou e o arrependimento consolado
em orações aos pés de Nossa Senhora de Nazaré.

O irresponsável do Beto não aguentou a pressão e me largou. Sumiu no


beco. Deve ter ido ao quinto dos infernos. Mas Beto tinha seus motivos,
principalmente, pela minha intolerância. Muitas discussões e imaturidade.
Analisando friamente depois, ele suportou o que pôde, não era o momento dele
ser pai, forcei aquela gravidez, além da raiva que sentiu motivado à separação.

Bruno cresceu calado, tímido, sem opinião e cercado de caprichos.


Medo de se entregar no relacionamento, palpitações, ansiedade,
desconfiança, insegurança devido os relacionamentos anteriores (ex-
maridos, ex-namorados), não deixa ninguém se aproximar para não
perder o controle

No 2º casamento depois de 7 anos de casada, o marasmo, a rotina


esfriou o relacionamento, perdeu o tesão, filho adolescente dando
trabalho, então buscou fantasias, fletes, sentia-se valorizada,
revigorada, mais bonita...
Ela procurou imóveis buscando uma saída, um plano b, em uma das
visitas durante sua procura por apartamento, conheceu um corretor de
imóveis interessante, fisicamente não era o tipo dela, mas ela
percebeu que ele a flertou. Ela não ficou interessada naquele imóvel,
então querendo revê-la agendou em um outro. Na terceira visita
trocaram sorrisos, a vista era romântica, ventilada, por do sol se
enquadrava naquela sacada. Quando ela estava suspirando no
parapeito, ele se aproximou no pescoço dela discretamente e sentiu
seu perfume forte e adocicado. Ela sentiu a presença dele e quando
virou se beijaram involuntariamente. Ele a apertou ao seu corpo em
poucos segundos estavam se despindo e transando em um entardecer
alaranjado. Assim toda semana transavam em outros apartamentos.
Talvez aquela fantasia tenha sido carência, solidão, de qualquer lhe
provocou saindo de sua zona de conforto. Ele logo se apaixonou, mas
era possesivo, dominador...
Depois de 3 meses aquelas escapadas se tornaram arriscadas e
perigosas pelo risco de exposição em público. O perigo me causava
fortes palpitações. Certa noite, quase desmaio quando eu vi um
conhecido em um bar. Ele insistia na minha separação.
Sem ela saber ele começou a seguir querendo saber mais detalhes da
minha vida. Sabia onde meu filho estudava a hora que o pegava na
escola. Seguiu meu marido.

Pensar no crime policial (amor e ódio)


Violência doméstica, opressão psicológica, gritos com esposa, filho
 Definir suspeitos: Beto, Ritinha ...
 Caso novelinho: psica, afundar no rio com tambor concretado

 um jovem identificado como Salazar Leal Batista Junior, de 20 anos,


foi assassinado com um tiro na cabeça na tarde desta quarta-feira
(11). O crime aconteceu na praça Dom Pedro II, na avenida 16 de
Novembro, em frente à Prefeitura de Belém, no bairro Cidade Velha,
em Belém. De acordo com informações de testemunhas, que não
quiseram se identificar, dois homens chegaram em uma motocicleta
e efetuaram os disparos. A vítima morreu no local. Um familiar da
vítima contou que ele tinha acabado de sair de uma audiência no
Tribunal de Justiça, quando foi assassinado. Muitos curiosos se
aglomeraram próximo ao corpo. O Instituto Médico Legal (IML) foi
acionado para remover o corpo. A Divisão de Homicídios ficará
responsável por investigar o crime.

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