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28 de abril de 2022

Hoje acordei fui fazer exame de sangue, o bom que não estava com muita fome. Cheguei na clinica,
enquanto esperava ser atendida. Fiquei reparando nas pessoas. Tinha uma criança apreensiva pois
escutava o choro de uma garotinha que havia entrado. Um casal, a mulher já com os documentos e
o pedidos em mãos e o homem com as pernas abertas encurvado mexendo no celular. Uma senhora
com uma aparência de cansaço mas tambem com olhar de ternura ajudando um senhor com
dificuldade para andar. Suponho ser seu pai. Finalmente chegou a minha vez, a recepcionista
perguntou se estava em jejum. Pensei: o tempo que fiquei aguardando, já estou quase falecendo.
Mas respondi, sim! Entregou o papel para retirada do resultado. A enfermeira me chama para
realização do exame. Engraçado nós mulheres vemos sangue todo mês. No momento da coleta não
queremos olhar para a seringa. Pois dá uma gastura, uma mistura de sensação de um buraco negro
na barriga, uma tensão e uma vontade de sair logo dali.

Ainda bem que tem uma padaria próxima, compro uma coca e uma coxinha, como prêmio de
consolação. Enquanto comia pensava, tenho que mudar meus hábitos alimentares. Mas segunda
começo a dieta, o som do lacre da bebida abrindo parecia uma música para meus ouvidos. Estava
bem gelada. Lembrei de quando saia com meu pai. Era tradição depois do médico ir na lanchonete.

Quando somos crianças, pequenas coisas nos enche de alegria, meu pai contava os sonho dele de ter
uma casa com quintal grande, um espaço para uma churrasqueira e tambem piscina. Eu
acrescentava a ideia de ter um cachorro. Ele dava risada sua mãe vai ficar louca acho que ela não vai
gostar da ideia de ter um bichinho de estimação. Gostava de ouvir a risada dele, quando sorria
aparecia as covinhas.

30 de abril 2022

Ontem não escrevi, difícil ter consistência e manter um habito, ainda mais quando e benéfico para
minha saúde, mas incrível como permito com facilidade me maltratar parece quando não existe uma
turbulência, ou drama fico fadigada. O caos parece pôr em movimento a bagunça posso arrumar já a
organização não consigo manter. Um vazio me invade. Me pergunto se algum dia essas angustias me
deixarão viver mais livremente. Espero que não demore. Tento imaginar como seria esse dia, mas o
esforço é vão.

Então me ponho a escrever não porque tenho talento para isso, mas para a minha sobrevivência,
desde menina costumava nomear meus brinquedos. Pois experimentava na pele a dor de não ser
valorizada. Cuidar dos meus ursinhos de pelúcia, de certa forma me trazia conforto. Hoje olhando
como uma adulta. Vejo que gostaria o afeto dos meus pais. Eles viviam brigando, meu pai sonhador
irreparável, quando não estava bêbado era amoroso e me dava esperança de uma vida melhor, mas
esses momentos eram raros. Minha mãe era severa, ou seja, dava os pés, o meu pai as asas.

Porém as asas estão pesadas, preciso alçar voo contudo não sei voar, meus pés já estão desgastados
e cansados. Me sinto sobrecarregada tenho um filho para criar e um marido para suportar. Às vezes
me pergunto porque ainda mantenho essa mentira de família. Você não pode deixar seu filho com
esse louco, para de ficar pensando besteira. Chega de interromper seus pensamentos deixa fluir
naturalmente grita uma voz em minha cabeça, respondo Ok! Vou escrever tudo que está em minha
cabeça, quero pensar em algo que seja único, útil e emocionante; mas tudo soa como repetitivo,
clichê e sem graça. Expressar nas linhas minhas dores, contudo elas estão ainda em sintomas de
cefaleia somente.
Não sei o que colocar no papel talvez de tanto tentar pode aparecer algo sublime que fuja das
neuroses de uma aspirante a escritora, sinto bloqueada e apática.

Talvez minha caneta esteja depressiva, ou embotada. Ou realmente não tenho que escrever além de
uma tentativa medíocre de ver o meu mundo interno. Sei lá, será melhor desistir? Logo minha
criança interior grita: Sua covarde! vai desistir do nosso sonho ser escritora.

Anseia ser aclamada, mas não senta e estuda. Enxerga o mundo através de uma visão fantasiosa,
não quer trilhar as duras pedras marcada por conflitos de uma mulher amedrontada, querendo
silenciar sua menina que tenta dizer umas meias verdades, contudo ligo o som, pois é mais fácil e
acolhedor ouvir as músicas de sucessos do que olhar para sua infelicidade, seus fracassos e seus
desajustes como humana.

01 de maio de 2022

Feriado mais deprimente, acordei com os berros do meu marido, reclamando que precisava sair não
achava camiseta do Corinthians, a droga estava na pilha de roupa, jogada em cima da cadeira.
Entreguei, resmungou que estava amassada. Respondi talvez se dobrasse não estaria assim. Para
que falei isso, tenho que aprender controlar minha língua. Levantei minhas mãos aos céus quando
aquele ogro saiu. Bem que um carro poderia passar por cima, Sofia para com esses pensamentos.
Perdoa Deus. Não consigo mais olhar ele com afeto. Não lembro a última vez que tivemos um
momento sem ofensas. Bom me recordo de quando o conheci, ele estava uma serie acima que a
minha, todas as meninas era afim dele. Alto, os olhos que dizia perigo, seus cabelos lisos e um
sorriso que quebrava qualquer defesas. Cheguei na escola atrasada, ele estava no corredor da
diretoria, foi pego fumando. Dizia que estavam inventando, mas enquanto falava sentia se o cheiro
de menta misturado com cigarro. Olhei timidamente, ele me comia com olhos. Eu estava
envergonhada ao mesmo tempo extasiada. Ao entrar na sala de aula imediatamente relatei ocorrido
para minha amiga. Rio de nervoso, sinceramente eu era muito burra nessa época e minha amiga
compartilhava o mesmo neurônio. Ela alimentava minhas fantasias já começamos a escrever a lista
de músicas para o casamento. Quando somos adolescentes queremos aventurar, única coisa que
consigo pensar para ter me interessado por um sujeito tão distinto de mim. Eu era mediana em
tudo, esse era meu problema. Não era destacada em nada. Nem a mais bela muito menos a mais
inteligente. Me esforçava para ser diferente, tentei acompanhar as meninas mais populares mas não
tinha paciência em acordar cedo e me produzir. Eu de manhã tinha que esperar a alma voltar para
corpo. Busquei me destacar no conhecimento, não tive problemas sérios em aprendizagem mas
tambem não era gênio. Mas aprendi com meus pais amor aos livros. Meu pai era muito ambicioso
amava ler livros de autoajuda, já minha mãe tinha gostos mais refinados, como a bíblia e livros da
literatura brasileira, ela era professora de língua portuguesa e meu pai vendedor de um sebo. Cresci
cercada livro, amava sentar no banquinho e folhear os livros. Lembro quando queria ler um livro
escondia para ninguém comprar. Um dia meu pai flagrou. Ficou furioso. Seus olhos pareciam me
fuzilar não precisou dizer nada, sabia que em casa levaria uma pisa. Era divertido ver os clientes,
criava historias tinha gente de tudo quanto é jeito, algumas pareciam sair de livro de mistério
entravam com roupas discretas, cara fechada e os olhos bem desconfiado, na minha cabeça certeza
que curte Agatha Christie, algumas garotas parecia sair de livros de romances, suspirando. As vezes
era cansativo ficar no sebo meu pai vivia comprando raspadinha, cartela de jogos ele tinha certeza
que ficaríamos ricos. Mas os boletos não esperava o sonho do meu pai concretizar, uma vez ouvi
que rosto conta a história do sujeito, o semblante da minha mãe era carregado de sofrimento, suas
linhas de expressão eram pegadas de uma viajante no deserto sedenta e em busca de um refúgio.

22 de abril de 2022

Extremamente desnecessário o feriado cair em um domingo, parece olhos azuis em gente feia.
Levanto já pensando na hora de voltar a dormir. Preparo o café e pego pão de forma e a margarina.
Tomo meu desjejum. Acordo Luís para ir à escola, vou me arrumar para ir trabalhar. Quando estava
pronta vejo o menino ainda estava na cama. Esqueci tudo que li a respeito de educação de filhos.
Gritei para aquele moleque levantar. Isso de ficar berrando me quebra por dentro, pois com filhos
da patroa suporto as birras. Mais uma vez meu filho chegou atrasado, ainda bem que ele é
inteligente principalmente quando se trata de escrever redações. Mas péssimo em interagir com as
pessoas, me vejo nele quando ele está sozinho escrevendo. Pois assim como eu tenta de todas as
maneiras se encaixar na sociedade. A escrita nada mais é do que arrancar as pedras do nosso
coração.

Dor de cabeça, penso demais, e me paraliso parece que há um general gritando com uma menina na
minha mente e ele diz coisas terríveis ao meu respeito. Me sinto desconfortável com as palavras tais
como “você nunca será nada na vida”, “ desista ninguém vai te amar, não tem escapatória, a morte é
único jeito de você ser alguém, pois a vida daqueles que te cercam ficará mais fácil, pois essa parte
vergonhosa da história da família será apagada, talvez seja isso que devo fazer. Me salva! Me salva!
Alguém me ajuda! Grita desesperadamente a garotinha. Os berros fazem minha cabeça latejar de
tanta dor, tomo um medicamento e parece diminuir as vozes. Queria me deitar mas não podia o
dever me chamava.

Ouvi a conversa da Marina com a Duda sua colega. Elas falavam dos professores, e que um deles
ficava de gracinha com as meninas. Ele achando que estava arrasando. Mas foi apelidado de mingau
de aveia e sugar dady. Ainda se tivesse o físico do professor de educação física, Duda falava. Eu não
contive a risada estava arrumando a mesa do almoço.

As meninas chamaram minha atenção por ouvir as conversas delas, mas logo me inseriram no papo,
Duda contou o que aconteceu na festa de aniversário do Enzo, ela conheceu um dos amigos do
aniversariante e deu seu primeiro beijo, ela relatava que o som da vozes sumiram, naquele instante
só existiam eles dois. Enquanto falava seus olhos brilhavam.

O almoço tornou uma noite do pijama compartilhei a primeira vez que fui ao ataque, que deixei o
medo de lado quando estava diante do meu desejo, não podia deixar escorrer pelos meus dedos,
senti meu coração acelerado. Ao passo que queria devorar, não consegui sair totalmente do papel
de boa menina.

Fingi despedir e beijei no canto de seus lábios, sorrateiramente dei o bote. Ele se deixou envenenar.
Sai desse encontro me sentindo mais forte. Diferente de outros que tive.

Demos boas risadas. Lembrei de como era gostoso conversar com minhas amigas, mas muitas delas
perdi o contato.

23 de abril 2022
As madrugadas são mais difíceis para mim, talvez pelo seu silencio que me consome e parece
acordar os medos e as ansiedades.

Aproveito que todos estão dormindo e pego meu diário, já me perguntaram pelo meu interesse em
redigir, disse que não sabia ao certo, possivelmente seja que me sinto mais honesta e ousada, ou
quiçá minha voz emudeceu. Ou pela liberdade de colocar minhas dores e alegrias nos meus
personagens, na esperança de meus leitores se identificarem comigo, dizer minha opinião que tenho
guardada as setes chaves, para não ser taxada de insana.

Minhas personagens carregam meu fardo, elas me ajudam a ver minha realidade de outra maneira
em uma visão mais civilizada.

Criar histórias é como sonhar, um mundo distante que posso ser quem eu desejo ser sem censura e
tambem ter diversas profissões, como imaginava na minha infância. Me recordo que seria uma
estrela do cinema, saberia dançar, cantar e falaria vários idiomas. Viajaria ao universo, conheceria
diversos lugares, teria todos os tipos de cachorro. Sinto falta dessa garotinha, mas minha realidade é
triste, não sinto amor pelo meu corpo, e minha vida. Sinto carregar uma cortina de ferro em meus
ombros de tão pesados que estão. Meu olhar não tem brilho, as vezes sinto oca meu sorriso parece
aprisionar minha alma. As lagrimas estão cada vez mais presente, elas me servem como lembrete
que sou humana e não um robô.

Enquanto escrevo, fui procurar na gaveta uma outra caneta. Havia uma caixa aberta e várias peças
de quebra cabeças espalhados, parecendo reflexo de minha mente, desordenado, com peças
faltando.

Enquanto recolhia e colocava na caixinha, divagava. Tentava recuperar algumas partes da minha
história, sinto perdida e tenho medo de encontrar alguns desses fragmentos.

24 de abril de 2022

Que ódio senti no meu coração, Marina a filha da minha patroa e sua colega, voltava do colégio. As
observavam enquanto varria a calçada, um carro passou buzinando para elas gritando “assim vocês
matam o papai”, era nítido olhares de reprovação das duas de certa forma elas já sabiam as dores de
serem mulheres. Gostaria que elas não passassem por isso.

A primeira vez que ouvi gostosa, foi impactante uma mistura de sentimentos, um repudio mas
tambem uma sensação de orgulho. Hoje mais velha vejo que fui assediada. Era uma garota de
quatorze anos. Essa palavra mexeu no meu íntimo, me senti admirada e tambem culpada de causar
essa reação dos homens. Ao terminar de varrer corri na cozinha para servir o almoço para as
meninas.
Quando solteira, a gente passa por cada situação, ou que está sofrendo por não estar
comprometida. Muitos se acham extremamente originais em suas cantadas, de certa forma me
divirto e busco responder de maneiras distintas a cada um dos contatos, “sonhei com você”, penso
“caramba houve uma sintonia dos inconscientes ou uma epidemia onírica?” Aqueles que de certa
forma posso me beneficiar de rolar alguma coisa, a gente vira roteirista e escritora e mergulhamos
na fantasia, agora quando não há um pingo de interesse, utilizamos de um escrita mais distante,
como talvez sonhar comigo é mais aceitável para você do que sonhar com sua mãe por exemplo. O
sonho tem mais a ver com o sonhador do que com a pessoa sonhada. Engraçado as maneiras
distintas que aprendemos a nos esquivar das situações aprendi com meu pai a ter a buscar o lado
divertido das coisas, mas muitas vezes essas doses de humor, diziam as verdades amargas. O meu
próprio nome soa como anedota Sofia, sabedoria. Não fui planejada, meus pais embora serem
pobres sempre deram valor ao estudo, exceto quando assunto era relacionado aos efervescentes
hormônios na adolescência, de onde surgi. Talvez foi o único momento de lucidez, foi carregar no
ventre a gestação da sebedoria.

25 de abril de 2022

Cheguei na casa da Dona Sonia estava um clima tenso, Marina estava aos berros com a mãe falando
que ela era insensível, que ninguém a entende. Muitas vezes julguei minha patroa, pois ela perdeu
muitas coisas no desenvolvimento da Marina, como a primeira desilusão amorosa, o dez em
matemática. O dia que foi excluída e vítima de fofoca no colégio. Ou Quando foi convidada para sair
com o crush. Mas faço igual, sei mais da vida da filha da minha patroa do que meu filho. Conseguia
entender a dor da menina, mas estava do lado da dona Sônia. Esses amigos eram péssimas
influencias, viviam saindo para festas só chamava Marina, pois ela não enchia cara, era para ela
cuidar dos bêbados.

Fico pensando porque é tão difícil largar relações toxicas? E fácil para outros nos abandonar. Assim
como Marina tambem não entendo o motivo pelo qual me agarro ao que me machuca. Depois da
morte do dr Claudio pai da Marina, a dona sonia teve que arcar com as finanças da casa, o dr era
médico em um hospital de grã- fino. Ele trabalhou no período da pandemia e infelizmente contraiu
o covid.

26 de abril de 2022

Minha mente está pedindo para eu escrever, eu a obedeço o que vai sair disso tudo eu de verdade
não sei, assim como tambem a minha vida, falta imaginação. Já recorri a leitura, a ver serie mas tudo
está embaçado. Não faz nenhum sentido. Olho pela janela, escuto os vizinhos nos seus afazeres, as
buzinas.

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