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Capa:
Daniele Tavares
Diagramação:
Larissa Chagas
Revisora:
Evelyn Fernandes
Arte:
Mirlla Muniz.
Leitoras Betas:
Evelyn Fernandes | Isabela Hypolito.
Hanna Câmera | Ana Lice
É a máfia italiana.
Em primeiro lugar.
Eu vou dizer tudo que está na minha cabeça.
Estou irritado e cansado.
Da maneira como as coisas têm andado.
(Believer — Imagine Dragons.)
Ela não percebe meu olhar, mas algo muda dentro de mim,
vou tomar medidas para que ela não tenha apenas três reais na
carteira.
Eu só quero ser alguém.
Mergulhar e desaparecer sem deixar rastros.
Eu só quero ser alguém.
Bem, não é o que todos querem?
( Someone to you — Banners)
Juro que eu não queria, não foi por mal, mas a Louisa Clark
habita em mim e eu sou um poço de desastre. Mesmo que eu faça
de tudo para evitar.
Mas não acho que dizer isso vá fazer diferença para a mulher
com o dobro do meu tamanho e ainda de salto que está me
xingando de todos os palavrões possíveis no mundo nesse instante.
Que boca suja, hein? A mãe dela não lhe deu educação, não?
Odeio palavrões.
Embora de vez em quando escape um...
— Desculpe senhora, não quis molhar seu vestido, mas é só
colocar para secar e ele fica novo em folha! — testo a paciência da
mulher, que me encara incrédula pelo comentário e eu me encolho
um pouco.
Tem como secar, né? Eu não entendo essas manias de roupa
de rico, eu lavo tudo do mesmo jeito, e coloco no varal para secar.
Rico tem mania para tudo.
— Olha aqui sua imprestável...
— Por gentileza, Vanessa, gostaria de pedir gentilmente que
saia da empresa, pois o Heitor já lhe pediu isso e você não tem o
direito de ofender nenhum funcionário — nunca vi a voz de Luiz
dura dessa maneira quando interrompe a ofensa que sairia da boca
dessa mulher.
Mas a água está gelada, ela deveria agradecer, com o calor
que está fazendo, me sinto tentada a jogar um copo em cima de
mim também.
Será que se eu pedir para ela fazer isso, ela se sentiria
melhor? Não gosto de deixar as pessoas irritadas.
E olha que ela está assustadora com a maquiagem borrada, do
choro que estava tendo.
O olhar da tal Vanessa se volta fulminante para Luiz, mas ele
continua firme e quando ele faz menção de pegar o celular, seu
queixo empina e ela vira o nariz como se estivesse cheirando merda
e sai andando em direção ao elevador, os sons do salto alto no
mármore fazem eco no andar inteiro e suas costas estão tão eretas
que uma tábua perderia.
Esperamos por dois minutos em completo silêncio, e
finalmente o elevador chega nos livrando de mais dor de cabeça.
Eu me desculpei, então... consciência limpa!
Abuela dizia que não precisávamos do perdão de ninguém
além do de Deus, mas que o ato de pedir perdão era o que
importava, pois demonstra arrependimento, e se a pessoa não
aceitasse, isso ficaria como peso nos ombros dela.
Me viro para Luiz, este tem as mãos no bolso e um brilho
estranho no olhar, quase como prazer ao ver a porta do elevador
fechar.
Notando minha atenção, seu olhar se volta para o meu, e
semicerro os olhos em um claro sinal de repreensão para ele, que é
claramente ignorado e ele solta a risada que estava prendendo
desde o momento em que derrubei acidentalmente a água na
mulher.
— Não ria da desgraça alheia, Luiz! — Minhas mãos vão em
direção a minha cintura, e meus pés batucam o chão, enquanto
encaro o engraçadinho à minha frente que não para de rir.
Ele é tão bonito...
E ri igual a uma hiena.
— Você viu a cara dela? — Ele aponta o dedo em riste para o
elevador. — Em um momento estava chorando cheia de drama e no
outro. — Ele se dobra de rir mais uma vez, me arrancando uma
risada involuntária também. — No outro ela estava horrorizada por
você ter molhado o Valentim dela, aquela cretina mostrou as
prioridades nesse momento. — Ele faz um gesto de negação com a
cabeça. — Já disse que você é minha heroína? — Seus olhos
risonhos cor de ébano fitam os meus em claro divertimento.
— Eu não derrubei água por querer. — Bato o pé no chão com
teimosia, e morrendo de vergonha, porque eu realmente não queria.
— Claro que não, mas as melhores coisas são feitas quando
não pensamos muito. — Ele ainda ri um pouco, mas notando que
estou constrangida pelo que aconteceu, mesmo que tenha sido
engraçado, para de rir e me olha atentamente. — Não fica chateada,
querida, aquela mulher estava merecendo o banho que tomou, ela
fez o Heitor de palhaço — sua voz muda enquanto fala, vai de
mansa ao me consolar a dura ao falar o que a moça fez.
— O que ela fez? Nunca a vi vindo aqui, eles são um casal? —
pergunto, pois nunca a vi aqui, uma vez Duda disse que no meu
horário de almoço, uma mulher tinha vindo aqui para falar com o
senhor Heitor e tinha saído com o rosto corado e a roupa amassada.
Com certeza eles estavam fazendo coisas dentro da sala, mas
isso não é da minha conta. Deve ter sido a Vanessa.
— Eles namoraram por dois anos, mas ela o sacaneou, e não
aceita o término do relacionamento, parece uma psicopata — Luiz
me explica, e eu aceno, a mulher me empurrou sem motivo,
parecendo lembrar disso, Luiz se preocupa — você está bem? Se
machucou na queda? — Seus olhos analisam todo o meu corpo e
eu dispenso o comentário com um gesto de mão.
Uma quedinha daquela? Não é nada comparada às que eu já
tive.
A vida trata de me derrubar todo dia.
— Está tudo bem, mas o senhor Heitor foi para onde? — Volto
para minha cadeira, e sento, pegando mais um donut da caixa, um
com cobertura rosa e dou uma bela mordida, sem me preocupar em
ter plateia. — Ele vai voltar para trabalhar? Tenho que agradecer a
ele.
— Não faça isso, ele vai ficar constrangido. — Luiz senta em
cima da minha mesa e pega um donut, olho para ele de cara feia,
mas apenas ri e come tranquilamente. — Ele não gosta de
agradecimentos, então deixe isso para lá, quanto para onde ele foi,
não faço ideia. — Ele mastiga o donut, meu donut e quando termina,
me olha. — Tá sujinho aqui. — Faz um gesto para o nariz e ri
novamente, entendo que é do meu nariz que estamos falando e toco
ele.
Como que eu o sujei?
Luiz nem se despede, só sai de cima da minha mesinha e vai
em direção a sala do chefe a qual eles dividem, pois Luiz tem uma
mesinha que ele nunca usa no canto da sala, ela é enorme — a sala
— maior que meu apartamento, o que não é uma grande
comparação, aquela espelunca parece um ovo.
Volto novamente a mastigar meu donut e pego a agenda para
trabalhar, mas uma mensagem no meu celular tira minha atenção
novamente.
Olho para a tela, imaginando se eu estou com algum problema
de leitura e olho de novo.
Senhor Heitor: vamos almoçar na minha casa hoje.
Ele nem pede, ele avisa, sem nem perguntar se eu estou
disponível hoje.
Bem, ele pode supor isso, já que eu estou sempre disponível,
mas como sei que a mensagem só pode significar que quer ter
certeza se eu estou comendo bem, meu coração fica agradecido.
Não temos uma relação amigável dentro da empresa, como a
minha e a do Luiz ou a minha e da Duda, ele é o meu chefe, sempre
foi tudo formal, então a mensagem me surpreende, pois nunca
aconteceu antes, mas antes eu ainda estava dando conta das
coisas, agora, eu estava na miséria e parece que ele é o anjo mal-
humorado que vovó enviou para me guardar.
Mas eu já tenho compromisso para hoje, então preciso declinar
o seu “convite”.
Eu: Vou almoçar com a Duda, senhor Heitor, mas obrigada
pelo convite.
Senhor Heitor: Minha mãe vai encher meu saco se eu não a
levar, então você vai comigo.
Rio com outro donut entre os dentes, eu estava mesmo com
fome e respondo a sua mensagem.
Eu: Eu realmente tenho compromisso, mas vou tentar
desmarcar com a Duda.
Ele não responde, já está tudo de acordo com o que ele quer e
ele sabe que nenhum funcionário vai insistir em ficar comigo quando
ele quer minha companhia.
Ele não, a mãe maravilhosa dele.
Com o rostinho doce que ela tem, não parece alguém que
venderia pessoas, foi aí que eu descartei a ideia de máfia.
Balanço a cabeça em negação e volto meus pensamentos
para o trabalho, tenho muita coisa para fazer hoje em
agradecimento pelo café que ele trouxe, e gratidão é algo que tem
de sobra no meu coração.
Mas antes de começar, aviso a Duda que nosso almoço fica
para amanhã, o qual ela responde que já sabia, pois o chefe a
contatou para avisar e eu fico momentaneamente surpresa, mas
como sei pelo tempo que estamos trabalhando, que ele nunca
deixou nada ficar no seu caminho, é óbvio que ele falaria com a
Duda, para não me dar desculpas para não ir a esse almoço.
Encaro a caixa de donuts, com mais de quinze ainda e a
sacola de pão que tenho ao lado da cadeira e sorrio.
É incrível quando você não tem certeza se vai comer em um
dia e no outro, tem comida para uma semana.
Sim, pois as dívidas me cobraram tudo que eu tinha, e eu
fiquei sem dinheiro para nada, e saber que tenho donuts e pão, já
são um alívio, pois embora não seja carne, sei que vai encher minha
barriga e eu estou feliz, muito feliz por isso.
E ainda tenho um almoço garantido, o qual vou me
empanturrar de comer.
Eu estava sempre debaixo das asas da minha abuela, ela me
protegia de tudo, inclusive da situação financeira, pois com o meu
salário, eu guardava um pouco para economizar e o resto era para a
casa, não sabia que não era o suficiente.
Minha abuela já era idosa, e tomava muitos remédios por conta
da idade e do câncer, mas estava sempre de bom humor, então
nunca me toquei do que estava acontecendo.
Quando ela morreu, foi um baque na minha vida, tudo
começou a dar errado e eu não tinha ninguém em quem me apoiar,
não consegui me reerguer sozinha, foi tudo por água abaixo, meus
sonhos, minha casa, minha família, tudo foi tirado a força de mim, e
aqui estou eu, graças a Deus com um emprego, mas estava sem
nenhuma felicidade.
Até hoje, até receber uma caixa de donuts como um gesto de
boa fé.
Talvez minha avozinha esteja cuidando de mim de onde quer
que ela esteja.
Com ela.
Toda intenção pura termina quando os bons tempos começam.
Caindo sobre tudo para alcançar a faísca da primeira vez.
Tudo começou sob luzes de neon e depois tudo escureceu.
Eu só sei ir longe demais.
( BAd Habits — Ed Sheeran)
Heitor.
Meu coração parece como uma brasa e está iluminando a escuridão.
Eu vou carregar essas tochas por você,
para que você saiba que eu nunca vou deixar-las cair.
(Memories — Marrom 5)
pegando fogo.
Deitado no silêncio, esperando as sirenes.
Sinais, qualquer sinal que estou vivo ainda.
Eu não quero perdê-lo.
Eu não estou recebendo por isso.
Ei, eu deveria rezar?
Devia rezar a mim mesmo?
A um Deus?
( Train Wreck — James Arthur)
Passar para ver como ficou meu antigo apartamento não foi
uma boa ideia. Ver a destruição que ficou o local me deixou
extremamente triste.
Heitor perguntou se eu gostaria de passar em algum lugar
antes de ir à sua casa e eu disse que gostaria de passar no lugar
que foi minha casa nos últimos meses, e ele atendeu, mesmo que
relutante a esse pedido.
Todo o lugar está só os escombros, mas, segundo ele, irei
receber uma indenização pelo ocorrido, e o dono do lugar também
recebeu uma bela multa pela situação em que o prédio se
encontrava. Não tinha um extintor de incêndio, nem mesmo uma
saída de emergência.
A polícia não gostou de saber disso.
Além disso, Heitor me contou que enquanto ele e Duda, que eu
agradeço muito, estavam resolvendo minha situação, descobriram a
causa do incêndio.
No quinto andar, há uma mulher chamada Kátia, ela é
alcoólatra e eu sentia tanta pena dela, pois ela vivia martirizada
depois que perdeu o filho em um acidente de trabalho, e desde
então ela vivia bebendo.
Minha abuela sempre levava um prato de comida para ela, pois
geralmente ela se esquecia de comer, mas quando vovó morreu,
não pude continuar, eu não tinha nem para mim.
Mas, segundo Heitor, Kátia ligou o fogo para fazer comida e se
sentou no sofá, mas estava alcoolizada demais e acabou
desmaiando.
Só esqueceu de apagar o fogo, pois o incêndio começou lá.
Ainda bem que o vizinho de porta dela, seu Francisco, arrombou a
porta e conseguiu tirar ela de lá ou ela não teria sobrevivido.
Mas o estrago não foi evitado por completo.
Eu vou morar com ele, alguém já percebeu o peso dessa
afirmação?
Pois eu já!
A viagem do hospital até sua casa foi feita em completo
silêncio, nervoso em ambos os casos. Além disso, eu já disse que
não sei como proceder uma conversa com ele, principalmente
agora, que vou ver ele todas as horas do dia.
Bem, não exatamente, já que ele vai trabalhar.
Agora, estamos entrando por um portão enorme, a três
quadras de distância da casa de seus pais.
Assim que o portão se abre, eu não fico nem muito surpresa,
pois assim como a casa dos pais, essa tem um quintal enorme, com
uma área arborizada e a casa é um luxo que só rico pode comprar.
Assim como a casa do seu Enrico, essa também tem um
caminho de pedras que leva até a entrada da casa, onde entramos
em uma garagem lateral, onde está a Lamborghini estacionada em
um lado, já que o carro que eu estou é diferente. Não faço ideia da
marca, mas ele é grande. Espero Heitor dar a volta no carro e vir me
ajudar a descer, pois eu não consigo essa proeza sozinha.
— Passa o seu braço pelo meu pescoço. — Seu rosto está
concentrado, enquanto um braço passa pelas minhas costas e o
outro por debaixo das minhas pernas. Faço o que ele me mandou e
uso o braço bom para me segurar.
Meu corpo logo é retirado do banco e Heitor chuta a porta do
carro, se virando em direção a sua mansão imponente.
Talvez eu esteja achando essa situação um pouco
constrangedora, mas estou amando ao mesmo tempo.
Que cavalheiro da parte dele.
Foco na casa, uma grande casa, embora muito menor que a
de seus pais, de dois andares bem modernos, com portas de correr
francesas e grandes janelas que vão do chão ao teto de vidro.
Que casa linda!
Enquanto a do seu Enrico é em um estilo vitoriano e moderno
ao mesmo tempo, essa mansão é apenas moderna.
— Sua casa é muito bonita — dou voz à minha opinião.
— Obrigado — ele fala sem demonstrar cansaço em me ter
nos braços — Pode segurar um pouco mais forte? Preciso abrir a
porta — ele pede gentilmente e eu me atraco como um carrapato
nele.
Deito minha cabeça em seu ombro, enquanto ele coloca a
chave e abre a porta me segurando apenas com um braço e logo o
seu cheiro me invade. Esse homem é muito cheiroso, nunca pensei
que eu ia gostar tanto de cheirar alguém, mas passaria dias fazendo
isso, se fosse ele.
Misericórdia Manuela!
Meu rosto esquenta e logo o tiro de seu pescoço, constrangida.
Será que ele ouviu a fungada que eu dei? Encaro seu rosto, e um
pequeno sorriso que insiste em aparecer me diz que sim, ele
escutou a fungada.
Palhaçada.
Ele entra comigo dentro da casa, fingindo que não aconteceu
nada e novamente chuta a porta para fechá-la.
— Bem... essa é a sala. — Ele acena com a cabeça, me
mostrando o amplo espaço que é preenchido por cinco sofás, uma
mesa de centro, um tapete peludo enorme no meio dela, e um
painel marrom, moderníssimo com uma televisão que faz meu
queixo ir ao chão, de tão grande que é.
As paredes são pintadas em tons neutros de branco e cinza,
mas há vários quadros nela, de obras de artes e retratos, porém
ainda estou focada na televisão.
— Essa televisão é enorme! — exclamo chocada. — Parece de
cinema. — Volto meus olhos para os seus, seu rosto se volta para o
meu e ele sorri.
— Duvido muito, já viu uma tela de cinema? — ele pergunta
com uma sobrancelha se arqueando, seu hálito de menta chegando
até mim, o que indica que ele estava com bombom e nem me
ofereceu.
Menino mau.
— Não, nunca vi — meu lábio inferior se projeta para a frente,
formando um bico.
Eu sempre quis ir ao cinema, mas nunca tive a oportunidade
de ir e isso me deixa triste.
Todo mundo deveria ir ao cinema um dia. Assim como todo
mundo deveria ir a um circo, ou ler um livro. São coisas simples,
mas a simplicidade muitas vezes não é tão apreciada como deveria,
pois todos procuram o intenso, mas são as coisas simples da vida
que nos causam tanto prazer e felicidade.
— Nunca foi ao cinema? — ele pergunta surpreso, agora com
as duas sobrancelhas erguidas, enquanto me leva em direção a
uma escada que me dá pavor, pois ela é só uma tábua pregada na
parede e não tem nenhuma coluna sustentando-a abaixo.
— Não, ninguém nunca me levou, e Heitor... a gente não vai
cair? Se eu cair eu quebro o outro braço, essa escada não aguenta
nós dois, não — reclamo, olhando para baixo de olhos arregalados,
enquanto ele ri de mim.
Ele riu de mim!
— Essa escada aguenta sim, ragazza, mas se ninguém nunca
te levou ao cinema, por que você não foi sozinha? — Ele pisa no
segundo andar, fazendo um alívio imediato se apossar de mim.
— Por que estragaria a experiência, né? Não teria graça ir
sozinha. — Também não tinha como eu ir. Como eu disse, a abuela
era uma mulher tradicional e pensava que essas idas ao cinema
eram para namorar escondida, e depois ela estava muito doente
para ir comigo. Mas quando melhorou, não tivemos tempo de ir
juntas.
Heitor me leva em direção a uma porta, que está fechada, e
por alguns segundos, seus olhos se voltam para os meus.
Seus olhos, seus intensos olhos âmbar.
Me seguro mais forte nele novamente, para que consiga abrir a
porta e assim que abre, ele vai comigo em direção a grande cama
de casal que tem no centro do lugar, me deixando acomodada em
cima dela. Como estou com a perna e o braço quebrado, não
consigo andar ainda, pois não posso apoiar muito peso e nem
conseguiria andar de muletas. Minhas costelas fraturadas me
impedem até de respirar direito.
Se eu já sou desastrada com todas as partes do corpo boas,
imagina com duas delas quebradas.
Seria um desastre.
— Você tá certa, é melhor ter companhia. — Ele fica em pé, no
meio do quarto, olhando para mim e depois para o restante do
quarto e eu faço a mesma coisa, como a curiosa que eu sou.
O quarto é pintado em cores neutras de branco e cinza
também, toda a casa é assim, do lado esquerdo do quarto tem uma
porta e do lado direito tem um closet aberto enorme, que me
entristece imediatamente.
Eu vou colocar o que ali? As decepções da vida? Se for, o
closet deveria ser maior, não vai caber não, hein.
— Bem, o banheiro é aqui. — Ele aponta para a porta da
esquerda. — Sempre que precisar de algo, pode me chamar, vou
trabalhar de casa, no escritório que tenho lá embaixo, enquanto
você não melhora.
De repente, como uma avalanche, a sensação inconveniente
de que estou sendo um estorvo me pega.
Ele vai trabalhar aqui? Eu sei que a editora é dele e que ele
pode fazer o que quiser, mas isso não me faz sentir melhor.
Ele vê isso em meu olhar, porque vem em minha direção e
senta ao meu lado.
— Não quero que se preocupe com nada, viu? Eu vou cuidar
de você, ragazza, não está mais sozinha — com essas palavras,
outro salto é dado em meu coração e uma vontade enorme de
abraçá-lo e voltar ao aconchego que são seus braços me
consomem, mas nem isso eu consigo.
— Obrigada — digo com a voz embargada. Não sei dizer o
porquê, mas confio em sua promessa.
— De nada. — Sua mão pega a minha e seu polegar acaricia
minha palma, enquanto seus olhos avaliam o meu rosto.
Sou sugada novamente para sua intensidade, mas um ronco
alto é ouvido e eu percebo constrangida que é a minha barriga.
Heitor ri e o som é tão estranho aos meus ouvidos, posso
contar nos dedos de uma mão quantas vezes isso aconteceu
comigo presente.
Ele tem uma risada grave e sensual. Como um chamado.
Um chamado para pecar, Manuela.
Mas um pecado muito bom...
— Vou pedir para entregarem comida, tudo na geladeira está
congelado e demoraria demais e…
— Oi, família! — grito de susto, olhando para a porta que é
preenchida por uma figura de bermuda branca, e blusa azul clara,
com os primeiros... não, apenas um botão está fechado, mas de
algum jeito, consegue cobrir todo o peito de Vincenzo, que irrompe
porta a dentro e senta do meu outro lado, com várias sacolas que
joga em cima da cama.
— O que está fazendo aqui? — Heitor questiona, com a voz
mais grave e baixa, pegando as sacolas e vendo o que há dentro.
— Luiz ligou, disse que você não poderia almoçar conosco, e
me disse o motivo. — Vincenzo é um homem muito bonito, de olhos
castanhos e o cabelo em um tom de mel escuro são parte da
presença marcante dele. Além da barba cerrada definindo seu
maxilar e um corpo que é um pecado. Ele me encara com um
sorriso e se deita, com toda a intimidade que eu não dei para ele.
Isso me arranca um sorriso. — Ah, e de nada por salvar seu rabo da
Mamma.
Heitor solta um gemido sofrido, mas tira das sacolas algumas
roupas femininas.
— Acho que é para você. — Ele encara seu irmão em uma
pergunta silenciosa ao me entregar as roupas e eu só olho para
aquilo.
Tem blusas do meu tamanho, bermudas, calças e vestidos.
Muitas coisas.
— É pra mim? — pergunto, olhando para o folgado do meu
lado.
Ele assente, ainda sorrindo.
— Eu sou estilista, ragazza, não podia deixar você continuar
vestindo aquelas roupas, era um atentado a moda. — Um som
estrangulado sai da minha garganta, que era para ser um obrigado,
mas não saiu assim e ele vem em minha direção, me dando um
beijinho na testa. — Não chore, sorria, você está na casa do meu
fratello agora, eu sou o menor dos seus problemas.
Outro gemido sofrido sai da garganta de Heitor, mas ele
apenas pega as sacolas restantes, vendo várias marmitas de
comida e as colocando em cima da cama.
Um pensamento toma conta da minha mente.
Quando na vida que eu ia ter dois italianos me alimentando?
Eles estão, viu. Na boquinha ainda!
E quando você sorri, o mundo inteiro para e fica olhando por um tempo.
Pois, garota, você é incrível.
Exatamente como você é.
(Just the Way you are — Bruno Mars)
Mãos macias massageiam meu cabelo com tanto carinho que quase
ronrono. Abro os olhos devagar, sentindo uma pele sedosa de encontro ao
meu rosto e dando de cara com seios, com bicos marrons avermelhados na
altura da minha boca.
Dormi agarrado a Manuela, mas ao invés de ela dormir no meu peito,
eu que me aconcheguei ao dela, e ela não parece reclamar, já que suas
mãos continuam massageando meu couro cabeludo.
Suspiro, lembrando da noite de ontem, de como terminou o casamento
para nós, de como eu desabei quando chegamos em casa e Manuela me
confortou, simplesmente sendo ela.
— Você está bem? — ele pergunta, sua voz rouca, sonolenta.
Movimento meu rosto, me esfregando como um gatinho nela, e depois
me apoio nos cotovelos para respondê-la.
— Não — sou sincero, encarando seu rosto. Seus cachos se espalham
como uma cortina no travesseiro, seu céu analisa cada parte do meu rosto,
com a maquiagem borrada, deixando um sombreado abaixo dos olhos.
Linda.
— Quer conversar? — Tiro um dos cachos que sempre insistem em
cobrir seu rosto, para o deixar livre para os meus olhos.
— Depois — sussurro. Um medo absurdo de não ser o bastante para
ela me consome. De pedir algo que ela pode não querer.
— Tudo bem — sua voz é doce, calmante e ela fecha os olhos
novamente.
Não demora, ela cochila.
Ela passou a noite acordada, pelos seus olhos vermelhos, sei que não
dormiu bem, então a deixo descansar.
Saio da cama, indo ao banheiro para fazer minha higiene pessoal,
encarando no espelho o reflexo de tudo que eu sou e tudo que eu não posso
ser.
Um homem que sofre até hoje com as consequências de algo que
nunca teve culpa.
Um homem que sente dor, receio, e medo de não conseguir preencher
o vazio que ficou anos atrás.
Um homem completamente fodido que está com uma ragazza doze
anos mais nova, funcionária, que depende dele e que pode muito bem pedir
algo que ele não possa dar.
Um completo fracassado.
É isso o que enxergo ao olhar no espelho, é esse o homem que vejo e
ele não é nem de longe, bom o suficiente para a mulher que agora dorme em
sua cama, mas que é egoísta o suficiente para pedir para ela ficar quando
tudo dentro dele grita que ela vai abandoná-lo.
Manuela é uma mulher que com certeza quer formar uma família, que
com certeza quer ter filhos, e isso não vai acontecer se ela estiver comigo.
É por isso que eu fiquei na minha, até não conseguir ficar longe. Até ela
se tornar importante demais na minha vida para eu simplesmente saber que
é ela. Desde o começo.
Desço as escadas, para preparar um café da manhã para ela, mas
estanco ao chegar na sala e encontrar um bêbado, jogado no chão.
Três garrafas de vinho estão jogadas no canto da sala e Luiz está
desmaiado apenas de cueca. Corro em sua direção para conferir se está
morto, mas assim que chego perto, vejo seu peito se movendo para cima e
para baixo e respiro fundo. Cazzo! Um dia ainda posso infartar se Manuela e
Luiz continuarem fazendo coisas que fogem do meu controle assim.
Meu assistente e melhor amigo tem a chave da minha casa, assim
como meus fratelli, mas ele dificilmente a usa e isso é o suficiente para me
ajoelhar ao seu lado e tentar acordá-lo.
Ele não deve estar bem.
— Luiz? Acorda! — Chacoalho levemente seus ombros e ele resmunga
palavras desconexas. — Luiz, que porra aconteceu com você? — falo mais
alto e ele se senta de uma vez, tacando a testa na minha.
— Ai cacete! — Ele cai, deitando novamente, com a mão na testa e
choramingando, enquanto eu faço a mesma coisa, mas sentado.
— Porra, precisa levantar assim? — minha voz sai irritada pela dor de
cabeça que me acomete.
— Precisa gritar? — ele retruca, gemendo. O bafo de álcool chega forte
até mim.
— Preciso, você estava jogado no meu tapete com três garrafas vazias
de vinho, quer me explicar o que aconteceu? — Me levanto, indo em direção
a cozinha e pegando um copo de água e remédio para ressaca na dispensa.
Assim que volto, ele já está sentado e toma de bom grado a pílula,
ainda massageando a testa.
Seus olhos castanhos estão vermelhos, imitando os meus e ele repara.
— O que aconteceu? — Ele se levanta com o cenho franzido, mas
balanço a cabeça em negação.
— Perguntei primeiro. — Indico o sofá e ele se acomoda, se jogando de
uma vez.
Ele faz um bico de choro, olhando para os lados, tentando disfarçar as
lágrimas que querem sair e meu peito aperta pelo meu amigo. Sento ao seu
lado, puxando-o para um abraço, pois seja o que for, ele está arrasado. Seus
ombros tremem quando um choro é iniciado e eu sei que ele se machucou,
porque se as bebidas não foram indício o suficiente, seu choro dolorido é.
— Carlos me traiu. — Travo o maxilar ao ouvir isso.
Qual o problema das pessoas hoje em dia? Se quer ficar com outra
pessoa, termina, cazzo!
— E você descobriu como?
— Fui visitá-lo na sua casa, mas ele estava beijando um homem ruivo
no portão, se despedindo e eu nem tive a coragem de chegar mais perto e
perguntar o que estava acontecendo. — Ele passa a mão no rosto, que
escorre lágrimas e suspira. — Quando voltei para casa, mandei mensagem
para ele, perguntando o porquê, mas ele ficou falando que era coisa da
minha cabeça e se fazendo de vítima, eu quase acreditei que estava ficando
louco, sabe? — Assinto com a cabeça e ele continua. — Mas então me
lembrei de você e Vanessa e vi o que chegou depois dela, talvez tenha uma
Manuela para mim em algum lugar. — Ele dá de ombros, sem me olhar.
— Como você sabe que aconteceu algo entre mim e ela?
— Pietro me falou, temos um grupo no whats, só com o propósito de
descobrir quando ia acontecer. — Ele me lança um sorriso sacana, mesmo
que seus olhos estejam tristes. Abraço ele ainda mais forte.
— Vocês terminaram? Eu nem sabia que estavam namorando. — Meu
peito se aperta em culpa. Será que eu fiquei tão focado em Manu mesmo
antes de beijá-la que esqueci de quem estava ao meu redor?
Luiz está comigo há cinco anos, é meu melhor amigo e mesmo assim,
eu não sabia que o caso que ele tinha com o Carlos, meu funcionário, tinha
evoluído ao ponto de se tornar namoro.
Mas é hipocrisia minha falar sobre o fato de eles já estarem namorando,
eu e Manuela só começamos com isso na quinta e hoje é domingo.
O fato é que ela e eu tivemos muito mais antes de tentar, e o que temos
é só consequência do que construímos desde que ela veio à minha casa.
— Estávamos, pedi ele em namoro semana passada, mas não te contei
porque queria contar primeiro à minha mãe, agora não vou contar mais. —
Ele esconde o rosto e deixa cair um choro silencioso. Ele realmente gostava
dele.
— Como veio parar na minha casa?
— Sua adega de mafioso italiano é cheia, é óbvio que eu viria me
embebedar aqui. — Ele apoia os cotovelos no joelho e encara o chão.
— Se tivesse me esperado, eu teria bebido com você — comento, seria
uma boa ter enchido a cara depois do que aconteceu ontem, mas tenho
certeza que beber não chegaria nem perto de ser tão bom quanto o abraço
de Manuela.
Falando nela, passos na escada são ouvidos e tanto eu quanto Luiz
encaramos a ragazza que desce vestida com minha camisa social que eu
usava ontem, chegando aos joelhos de tão pequena que ela é, os cabelos
amarrados em um coque, o rosto já limpo da maquiagem e uma beleza
assustadora.
Por que eu não reparei que ela é tão linda assim antes?
Porque eu não queria que ela perdesse tanto ao estar comigo…
— Por que você está chorando? — Ela se aproxima rapidamente de
nós, se ajoelhando na frente de Luiz e pergunta com sua voz doce. — Quem
fez você chorar, querido?
Luiz conta novamente o que aconteceu, enquanto ela faz carinho em
seu cabelo. Seus olhos vez ou outra se desviam em minha direção, como se
quisesse checar que eu estou bem e levanta Luiz, levando-o para o andar de
cima, me pedindo para fazer um café.
Eu já estava com esse plano na minha cabeça, mas agora não sou eu
que preciso de conforto. É ele.
Então deixo a conversa que eu preciso ter com ela de lado, por
enquanto, e me ocupo em cuidar do meu amigo.
Mas isso é novo para mim, isso é novo para você.
Inicialmente, eu não queria me apaixonar por você.
( Location — Kalid)
Faz alguns minutos que Luiz foi embora e Heitor está no andar de cima,
tomando um banho, enquanto eu estou deitada no sofá, esperando que ele
faça algo para o jantar.
Não conversamos a respeito de ter uma mulher grávida dele e como
isso vai afetar no que começamos a ter. Estamos nos envolvendo há apenas
três dias, embora pareçam mais, já que moramos juntos, e desejamos um ao
outro há um bom tempo. A única diferença de antes para agora, é que
deixamos o receio de nos envolvermos e agarramos a oportunidade de ser
mais.
Mas eu não sei o que vai ser daqui para a frente.
Ontem, minha cabeça estava cheia de dúvidas sobre o que nós éramos,
então, dentro de um banheiro de um casamento, onde estávamos
comemorando a felicidade de um casal, ele pediu o meu coração, pediu para
me entregar o seu coração. Foi ali que nosso futuro se entrelaçou quando ele
sanou minhas dúvidas assumindo o que negou por tanto tempo.
Que quer ficar comigo, pois não se pede o coração de alguém que
queira só por uma noite.
Mas hoje, tudo que aconteceu ontem foi posto à prova novamente, uma
criança, uma criança que não é minha, é dele, com outra mulher.
Ele me pediu para não aceitar o que ele me oferecia ainda, porque tinha
algo sobre ele que eu precisava saber antes de mergulhar fundo na nossa
relação. Fico me perguntando se não é isso. Será que o que ele queria tanto
me contar era que sabia que Vanessa estava grávida e que teria um filho?
Se for isso, ele não precisa temer.
Se ele me quer, eu vou ajudar, vou ajudá-lo com isso, com a criança,
com o futuro.
Eu vou até gostar, vou tratar a criança como se fosse minha, nunca
tentarei tomar o lugar da mãe, mas vou estar aqui para quando ela precisar.
Porque é uma parte de Heitor, de quem ele é, do homem que estava comigo
esse tempo todo, do homem que me estendeu a mão quando eu mais
precisava e me ajudou a me reerguer. Porque quando uma porta é aberta
para você, você abre para os outros também.
E acima de tudo, porque é uma criança, e crianças são inocentes,
devem ser amadas, respeitadas, cuidadas. O filho dele vai ter tudo isso de
mim.
Mas embora a empatia preencha meu corpo todo agora, meu coração
está sendo esmagado por isso da mesma forma. Eu não tenho esse direito,
foi antes de nós, foi quando eles namoravam. Porém, acima de todos os
sonhos que eu tenho, aquele que eu nunca conto para ninguém é o de ser
mãe.
Eu já perdi muito, eu já perdi todos aqueles que eu tinha um laço de
sangue. É pouco para as pessoas, mas eu quero para mim. Quero acima de
tudo formar uma família, pois eu tenho a de Heitor, mas é dele, eu quero a
minha, eu quero a nossa. E eu queria que formássemos a nossa juntos.
O fato de vir primeiro de outra mulher me dói, não a criança, nunca ela.
Minha cabeça ronda por pensamentos demais, hipóteses demais,
decisões demais. A única certeza que eu tenho nesse momento, é a certeza
de que eu sempre vou escolher Heitor.
Passos vindos da escada denunciam que ele vem em minha direção,
assim como o cheiro que chega a mim antes dele e entorpece os meus
sentidos.
— Ei… o que você quer jantar? — Encaro o homem que apoia os
cotovelos no encosto do sofá e me encara por cima dele.
Analiso cada parte do seu rosto, tentando encontrar algo que eu nem
sei o que é, mas ele está calmo, seus olhos âmbar me analisam também,
desde o rosto, ao pijama de zebra que visto hoje.
— Alguma coisa depois que a gente conversar — chuto o balde, posso
fugir das conversas que me deixam com vergonha do que fiz, mas essa
precisamos ter. Ele respira fundo e fecha os olhos, passando uma mão no
cabelo, enquanto eu me sento e bato ao meu lado para ele se sentar.
Ele dá a volta no sofá e se senta, com uma perna dobrada e virado para
mim.
Imito sua posição, e apoio um cotovelo no encosto para apoiar a cabeça
e ele sorri, imitando o gesto.
— Sobre o que você quer conversar primeiro? — ele pergunta, tirando
um cacho da frente do meu rosto e eu ajeito os óculos.
Penso por um instante, como assim conversar primeiro? Estava
torcendo para o que queria me contar e a gravidez de Vanessa ser a mesma
coisa.
— Vanessa — murmuro e ele assente, desviando os olhos para a
cozinha e massageando o queixo coberto pela sua barba bem aparada. Seu
rosto se contrai por uns segundos e fico admirando o fato de todas as
expressões dele fazerem um rebuliço no meu estômago.
— Se quer saber a verdade, não é meu — ele diz na lata e eu respiro
fundo.
Um peso que eu nem sabia carregar sai das minhas costas e o aperto
no meu peito alivia. Mas só por alguns instantes, já que Vanessa deixou claro
que era dele e ele não pode ter tanta certeza assim de um dia para o outro.
— Como você sabe? — Ele solta uma risada amarga, uma que eu
nunca escutei saindo da sua boca e que me causa arrepios.
— Porque eu nunca, nunca transei sem camisinha com ela. — Contorço
a cara em uma careta com a imagem que eu não pedi deles fazendo sexo
que invade minha mente. — Além disso, ela esqueceu que mesmo antes de
terminarmos, não dormíamos juntos porque ela passou um mês viajando
para uma campanha de uma marca internacional e quando chegou, não
fizemos nada, pois ela estava ocupada demais, o que eu descobri depois
que era com o amante dela. — Assinto, pedindo para ele continuar, e ele o
faz. — Liguei hoje mais cedo para o pai dela e ele disse que ela está de
quase seis meses, nós até estávamos juntos, mas não fazíamos sexo, não
tem como ser meu ragazza… — É impressão minha ou os olhos dele estão
marejando? Ele queria?
Engulo em seco, raciocinando tudo que ele falou e o sentimento de
perda que vejo nos olhos dele, e mordo o lábio inferior.
— Tudo bem, mas você tem que tirar essa história a limpo, porque ela
está crente que é seu — falo e encaro minhas perninhas.
— Mas não é…, isso nos leva a outro assunto, o que eu queria que
soubesse sobre mim. — Levanto os olhos, franzindo o cenho, tentando saber
que relação um tem com o outro.
— Sobre o que você disse que tinha para me falar antes que eu… —
coro de vergonha, e ele sorri.
— Antes que você escolhesse me dar seu coração. — Assinto
novamente, fazendo seu sorriso se abrir mais, mas logo ele o desfaz.
Por alguns minutos ele desvia o olhar do meu e encara minha mão. A
sua vem em direção a ela e o contato quente e imediato me conforta, ele a
leva até a boca e deposita um beijo gentil, acalmando ainda mais o meu
coração.
Eu amo essa parte dele, a parte que cuida de mim, a parte que me
conforta e que me faz sentir paz. Também amo a parte dele que me irrita, a
parte que me faz sorrir e a parte que me excita. Cada parte dele é única e
especial para mim.
Abuela dizia que temos que amar cada parte da pessoa que está
conosco, porque se uma não te agrada, logo você vai encontrar outras que
vão te desagradar e você vai começar a olhar mais os defeitos do que as
qualidades da pessoa.
Ela me dizia:
Se algum dia amar alguém, hija, que ame os seus defeitos e aprecie
suas qualidades, pois assim amará ele com todas as forças.
Eu prometi que no dia que amasse alguém, seria assim.
— Heitor? — pergunto, quando ele passa algum tempo encarando o
nada e preciso chamar sua atenção de volta ao presente.
— Eu sei que eu demorei a assumir o que eu queria com você, porque
eu a quero desde antes do acidente — ele engole em seco, mirando suas
orbes nas minhas e a intensidade da verdade que vejo nelas, não me
assusta, mas me faz sorrir. Se ele soubesse que eu também… — Mas então,
então tudo aconteceu, e você veio morar comigo. Você não sabe o quanto eu
fiquei apavorado, Manuela, quando eu liguei a televisão naquele dia e vi o
incêndio. — Seu rosto se contorce em dor e eu lhe dou um selinho.
Lembrar daquele dia ainda dói, porque os sonhos me acompanham,
mas como eu disse para Heitor, eu tenho que seguir em frente, porque se for
olhar para trás, só vou lembrar do que perdi e não valorizar o que ganhei, e
eu ganhei muito, ganhei Vince, ganhei Pietro, Gah. Ganhei amigos
verdadeiros e ficou mais forte as amizades que eu já tinha com Luiz e Duda.
Mas, mesmo eu perdendo tudo que eu tinha e ficando no fundo do poço, eu
aceitei o que aconteceu.
Eu e a vida temos altos e baixos, mas agora eu agradeço, agradeço
que ela me fez forte, me fez ver o que eu perdi, para amar o que ganhei, me
fez passar fome, para que agora eu possa comer bem, me fez sofrer, para
que agora, eu tenha todos os motivos do mundo para sorrir.
E o maior desses motivos está na minha frente.
Nós temos que passar por baixo, para valorizar a vista de cima.
Solto sua boca do selinho, quando ele pensa em aprofundar e com os
olhos, peço para que continue. Ele assente.
— Então você veio morar comigo e ficou dependente de mim e eu não
estou reclamando, eu gosto de cuidar de você, de mimar você, mas isso me
deixou com a questão moral, como eu poderia me envolver com alguém que
depende de mim? — Ele balança a cabeça em negação. — Isso, e o fato de
você ser minha funcionária me impediram de fazer o que eu mais queria, que
era provar o gosto da sua boca. — Outro selinho, esse iniciado por ele. —
Sabe, eu te via no trabalho como uma bambina que ia chegar longe, te
passei trabalhos que você não precisava fazer para te treinar, te promover a
editora. — Arquejo.
Isso era o que eu queria ao entrar na editora, eu queria esse cargo,
queria ser mais, pois o sonho de publicar um livro era mais particular, meu
sonho profissional era ser editora e ele…
Lhe dou um beijo agora, não um selinho, mais um de verdade, com
minha língua atacando a sua.
Suas mãos me puxam e logo estou sentada em cima do seu colo,
provando o melhor gosto, mas não dura muito, porque ele o interrompe, e
com os olhos me avisa que tem mais a falar.
No entanto, não saio do seu colo.
— O fato de você ser doze anos mais nova que eu, não me incentivou.
— Ele ri, e eu tombo a cabeça para o lado. — Me senti um velho pervertido
toda vez que me pegava pensando em você, com pensamentos que não
deveria ter com alguém tão nova. — Ele fica sério, suas mãos fazendo
círculos no meu quadril, enquanto me encara firme. — Mas você tem mais
poder sobre mim do que imagina, ragazza, eu não tive escolha, eu só adiei o
que era inevitável, porque o destino fez você para mim, e mesmo que eu
tentasse sair dele, ele fazia algo para te trazer e te firmar aqui. — Sua mão
pega a minha e a leva até o seu peito que bate fortemente, fazendo par com
o meu. — Ele se entregou a você, antes mesmo de eu perceber. Eu sou um
homem que foi criado sob velhos costumes, amore mio, não saio por aí
trepando com quem me der vontade, eu formo relacionamentos, eu respeito
a mulher que está comigo, e por isso que quando eu a beijei pela primeira
vez, eu sabia que não queria algo de uma noite e por mais que eu tenha tido
alguns relacionamentos fracassados, eu sabia que com você seria diferente,
porque por anos eu não entreguei meu coração a ninguém, mas ele é seu,
Manuela, ele é seu. — Lágrimas descem pelos meus olhos e pelos dele e
novamente nossas bocas estão uma na outra, famintas, necessitadas,
desesperadas.
Ele não disse com todas as letras, mas sei que isso é mais forte do que
tudo.
— Mas, antes que me entregue o seu, eu quero que saiba de algo, algo
que você vai abrir mão se me escolher. — Fico automaticamente nervosa e
ele encara minha boca, roubando mais um beijo, como se sentisse medo, e
isso me deixa mais ansiosa ainda. — Se ficar comigo, eu posso te fazer feliz,
ser o suficiente, eu darei e serei todo seu, mas vai ser isso Manuela — ele
engole em seco — só nós, nós dois. — Franzo o cenho, confusa com o que
ele fala, ele pensa o quê? Que eu vou querer outra pessoa? — Nós dois,
sem filhos.
Ah, ah.
Meu coração galopa em alta velocidade, um peso enorme se faz em
meu estômago e eu prendo a respiração.
— Você não quer ter filhos? — sussurro, assustada. Eu sei que tem
homens que não querem ser pais, assim como mulheres que não querem ser
mães, mas… — Posso perguntar por quê?
Seu rosto se contorce em uma careta de dor, dor nua e crua, uma dor
tão profunda que fico com vergonha por ter perguntado.
Meu pobre coração está se estilhaçando agora, por que eu tenho que
escolher entre ficar com ele e ter filhos no futuro? Ele tem certeza absoluta
de que o de Vanessa não é seu filho, foi por isso aquela dor ontem? Por que
não queria filhos? Por que pensou que era seu? Ele teve bastante tempo
para pensar sobre, e acho que por isso percebeu que o filho não era dele.
Mas, e quando não tinha essa certeza? Uma criança seria tão horrível
assim? Não seria um presente?
Eu nem sei o que falar agora, estou em choque. Eu quero formar uma
família, uma minha, uma com ele. Mas ainda sou nova, tenho apenas vinte e
dois anos, não era algo que eu planejava ter tão cedo, embora eu
entendesse que a partir do momento em que eu tivesse uma vida sexual
ativa, a gravidez pudesse vir mesmo sem planejamento, afinal eu sei que os
métodos não são 100% seguros.
Saio do seu colo quando não tenho uma resposta sua, deixando claro
que não, não posso saber o porquê, ou não agora e me sento no sofá.
Encaro a minha frente sem realmente ver nada, sentindo Heitor se encostar
no sofá, e de esguelha o vejo puxando os cabelos.
E agora? Será que eu estou pronta para isso? Estamos começando a
ter algo, e foi certo da parte dele me avisar sobre algo assim. É melhor ser
sincero no começo do relacionamento do que descobrir coisas que não te
agradem no meio deles quando você já está completamente entregue.
Isso pode ser verdade para muita gente, mas e para quem já era
apegada antes de tudo? Antes do primeiro beijo?
Suspiro. Eu quero Heitor, mas ficar com ele significa abrir mão de um
futuro que eu desejo.
Mas o futuro é incerto, nunca temos certeza do que vai acontecer.
Eu já fui alguém que sonhou demais, que pensou no futuro demais, que
esqueceu de viver o presente.
O que eu não daria para ter mais um minuto com a minha abuela? Com
meu avô, com meus pais que eu nem cheguei a conhecer direito, pois não
tenho nenhuma lembrança?
Li em um livro nacional “Promete me esperar?”, algo que marcou muito
minha vida.
Dizia que o futuro é algo que lutamos muito para alcançar, mas estamos
lutando por algo que nem existe, pois a única coisa que existe é o passado e
o presente, já que quando o futuro chega, ele se torna o nosso hoje.
Então, por que eu vou esperar algo de um futuro que nem existe?
Respiro fundo, é muita coisa para pensar, mas ao meu lado está o
homem que eu quero para mim, o homem que eu escolhi me apaixonar…
É isso, e todo o sentimento que eu guardo dentro de mim que me faz
virar meus olhos para Heitor, que tem no rosto, o reflexo de um homem
perdido e falo.
— Tudo bem — a tudo que ele falou, aceitando-o e só ele, abrindo mão
de algo por nós, com a voz rouca, eu repito. — Tudo bem.
Seus olhos parecem não acreditar, mas assim que minhas palavras
assentam em sua cabeça e ele processa a informação, seu corpo cobre o
meu no sofá e sua boca encontra a minha.
Abro as pernas para recebê-lo, e ele se encaixa no meio delas. Sua
boca não é faminta, é reverenciadora, exploradora. Sua língua procura a
minha em busca de algo que eu dou. Seu gosto é de ternura, de carinho e de
cuidado. Seu gosto é de mais, muito mais.
Não sei o que aconteceu, mas meu coração me diz que aconteceu
alguma coisa que o fez não querer ter filhos, mas não estou em busca de
encontrar justificativas, mas a sua dor, a sua dor foi verdadeira. Eu vi em
seus olhos quando perguntei o porquê. Ele não está pronto para falar, mas
quando estiver, eu vou ouvir.
Seria engraçado se não fosse triste.
A sua dor me pede para fazer algo que causa dor em mim. Isso não é
justo, mas ele não sabe.
Não tem como você curar a dor de alguém se não sabe que a pessoa
está sentindo dor.
No entanto, a dele é por alguma coisa que aconteceu, a minha é por
algo que não poderei ter. Porém, como eu disse, eu ganhei um presente, não
vou perdê-lo também.
E essa é a última coisa que eu perco. Não vou perder mais nada daqui
para a frente, vou fazer tudo que estiver ao meu alcance para isso, e mais.
Semanas depois…
Semanas depois…
— Você já escolheu o seu padrinho? — Sentada no colo de Heitor, no
sofá, assistindo Como eu era antes de você, com uma caixa de donuts nas
pernas, faço a pergunta do século. — Porque você sabe, se for um dos
irmãos, tem que saber que é bem capaz do outro estragar nosso casamento
só de birra.
E é verdade, nas últimas semanas desde que anunciamos que iríamos
nos casar, os três desocupados não arredam o pé da nossa casa, todos
estão interessado em quem vai ser o padrinho, Heitor queria colocar os três,
mas precisam de pares, e eu só tenho a Dudinha para ser minha madrinha,
então é óbvio que está tendo uma pequena competição para saber quem
Heitor vai escolher.
Duda ficou eufórica quando contei sobre o casamento, todo mundo da
editora já está sabendo, e como Heitor é um homem respeitado e sempre fui
muito eficiente no meu cargo, ninguém falou quando me tornei editora.
Promoção grande a que eu ganhei, mas eu mereci, é o velho ditado,
você colhe o que você planta.
Luiz poderia ser o padrinho, mas ele disse que não queria tirar esse
lugar de um dos irmãos, pois eles literalmente ameaçaram Luiz.
Eu que não me meto nessa briga, embora eles achem que eu tenho
esse poder de decisão, porque se antes eles já me mimavam, agora só
faltam limpar minha bunda. Só não o fazem porque tenho um ciumento como
noivo.
— Sinceramente? Vince já está responsável por fazer seu vestido, ele já
está tendo essa honra, e Pietro vai ficar flertando com você toda hora. Vou
escolher Gah, acredito que a nossa ligação é um pouco mais forte, pois
nascemos primeiro, quero que seja ele ao meu lado no melhor dia da minha
vida. — Me abraça, enfiando o rosto no meu pescoço e dando um cheiro.
Ele sabe que sou sensível nessa parte, e por isso que o faz. Meu corpo
todo se arqueia com o contato.
— Também vai ser o da minha, se quer saber. — Lhe dou um selinho.
Boca gostosa.
Principalmente quando explora cada parte do meu corpo.
Venho me acostumando com seu tamanho, ardeu um pouco nas
primeiras vezes, mas depois veio um prazer que eu ansiava todas as vezes
que ele fazia amor comigo.
Como ele é grande, Heitor se controla o máximo para não me fazer
sentir dor, mas depois das primeiras, agora só sinto prazer, embora tenha
uma garrafa pet tentando me alargar.
Vinte e um centímetros! E ainda é grosso.
Pensei que nunca ia me acostumar, e ainda não me acostumei, mas
agradeço por isso, ele se encaixa perfeitamente em mim do jeito que é.
Porém, ainda preciso ver o outro lado de Heitor, eu anseio por esse
lado, o lado animal dele, o lado que não se controla, o lado que além dos
tapas gostosos que me dá, também puxe meu cabelo.
Talvez eu tenha lido um livro nacional de máfia ultimamente que me
deixou muito curiosa a esse respeito. Não que seja ruim o que nós temos,
longe disso, mas estudei um pouco através dos livros sensuais o que poderia
acontecer na cama. Quero dar prazer ao meu noivo, assim como ele me dá.
E puta merda, o piercing…
Preciso sentir ele novamente no meu ponto mais sensível.
É noite, já confirmei que nenhum dos irmãos viriam aqui para nos pegar
de surpresa e Heitor precisa urgentemente trocar as fechaduras dessa casa,
ninguém merece.
— Vai ser o da nossa — responde, falando do dia do nosso casamento.
Me viro completamente para frente em seu colo, passando minhas
pernas por cima das suas e ficando encaixadinha em cima dele e ele
espalma as mãos em minha cintura, com seu sorriso safado já tomando
conta do seu rosto ao me esfregar nele.
Que isso, hein, chefinho? Safadeza toda hora!
Eu gosto.
Agarro seus ombros, deixando um selinho no canto da sua boca, sem
reclamar nenhum pouquinho da sua ereção me cutucando e beijo seu
maxilar, gemendo baixinho ao sentir mais intensidade nas suas mãos.
Sei muito bem que entendeu quando eu sentei em seu colo o que eu
queria, principalmente estando de vestido, sentindo o contato do moletom
com a minha calcinha. Como todas as vezes, ofego baixinho quando sua
mão firma a pegada na minha bunda, apertando e subindo um pouquinho,
para estragar mais uma das minhas calcinhas com seus puxões.
— Sabe, você poderia parar de arrancar as coitadas assim, poderia só
pedir para eu levantar, sabia? — resmungo, mesmo sabendo que do jeito que
eu tô com tesão, minha reclamação não valha de nada.
— E qual seria a graça? — pergunta divertido, ao puxar meu vestido
para cima e me deixar nua na sua frente.
— Não vejo graça nenhuma em você destruir minhas calcinhas. —
Massageio seu peitoral lisinho, levando minha boca até eles e deixando
pequenos beijinhos molhados que fazem o homem abaixo de mim se
contorcer e seu membro pulsar de encontro a mim, embora o moletom ainda
atrapalhe. Fico de joelhos, pedindo com os olhos que tire seu moletom e ele
me encara cheio de luxúria e um olhar que promete muita coisa, ao retirar o
moletom do seu corpo.
Seu pau salta para fora, cheio de veias e com a cabeça vermelha
inchada e o pego. Meus dedos não conseguem se fechar ao seu redor, é
muito grosso, e é tão lindo, nunca pensei que acharia um pênis lindo, mas
vendo o dele, não tem como não achar. Ele tem a cabeça vermelha e grande
também, e todo grosso, com veias pulsantes desenhando ao seu redor.
Minha respiração começa a ficar ofegante só com essa visão. Decido fazer
algo para que ele perca o controle, assim como eu perco sempre.
— Quero você na minha boca, hoje — peço toda fofa, com o tom de voz
que sempre uso quando quero algo e ele balança a cabeça em negação,
mordendo o lábio inferior. Isso o deixa ainda mais sexy.
— Conheço esse olhar, ragazza, sabe que eu não resisto — ele
responde já rouco, desviando o olhar para minha intimidade e levanto um
dedo até ela, mas antes que consiga, o impeço, pegando sua mão e ele me
encara com o semblante sério.
Heitor não gosta de ter seu prato preferido negado.
— Não, hoje não, hoje é sobre você — repito o que ele me falou quando
tirou minha virgindade e seus olhos brilham em reconhecimento.
— Sempre é sobre nós, amore mio — sussurra com a voz grave ao me
ver descer do seu colo e ajoelhar no chão, ficando cara a cara com o que eu
pretendo transformar em novo pirulito.
Vince está certo, Heitor me corrompeu.
Pego meus cabelos, fazendo um coque no alto da cabeça e o encaro,
avisando o que vou fazer com o olhar, e os seus estão tão intensos e focados
em cada movimento meu, que me sinto ainda mais molhada. Esse negócio
de ficar molhada com apenas um olhar, eu achei que era mentira, mas não é
não, eu fico mesmo.
Pego seu membro duro com a mão, escutando um pequeno arfar vindo
da sua boca e sorrio, ganhando um pouco de confiança em fazer algo que
nunca fizemos. Levo a boca até a cabeça inchada e com a língua, dou uma
lambida na gotinha que sai dele.
— Porra — ele geme, encostando no sofá e jogando a cabeça para trás
em prazer. Uma parte bem feminina minha fica orgulhosa com essa reação e
como prêmio, coloco toda a glande dentro da boca chupando como se
realmente fosse um pirulito.
Um gemido sai da minha boca ao sentir seu gosto. Ele mesmo não tem
um gosto, é mais a lubrificação que eu lambi que faz ele ter um sabor.
— Manuela — ele rosna, gemendo e agarrando meus cabelos e faço de
novo, chupando e passando minha língua por toda a extensão, como eu li.
Ele gosta, percebo isso, seus quadris involuntariamente se erguem, pedindo
mais e com o olhar, peço que me guie. — Por que não me mata logo, né
amor? — murmura, mas faz o que eu pedi.
Ele pega seu membro com uma mão e apoio as minhas em suas
pernas, e com sua outra em meus cabelos, guia minha boca em sua direção,
mas ao invés de enfiar o negócio em mim, ele pincela a cabeça nos meus
lábios, olhando nos meus olhos e depois enfia a cabeça.
— Que boca gostosa, Manuela, sabia que era, mas no meu pau é uma
delícia… — ele geme quando chupo novamente e ele puxa minha cabeça,
tirando com um barulho molhado. — Faz de novo — ordena, pincelando
novamente os meus lábios e depois enfiando a cabeça. Chupo como ele
mandou, e sua mão no meu cabelo me deixa parada. Permaneço com a boca
aberta, gostando de cada parte disso e sentindo minha lubrificação escorrer
pelas pernas, mas abro mais a boca quando ele começa a fazer pequenos
movimentos com o quadril de encontro a mim, ele não mete tudo, nem
consigo enfiar metade dele na boca, mas ele não reclama, ele geme, geme
alto.
Chupo seu pau, deixando a língua trabalhar nele, e tenho muito cuidado
com os dentes, pois sei que é sensível e que pode machucar, mas quando
levo uma mão até suas bolas, ele sai da minha boca e me puxa para o seu
colo, me encaixando em cima dele.
— Cazzo, Manuela, sua boca é maravilhosa, mas preciso gozar dentro
de você. — Assinto com a cabeça, lambendo os lábios, não reclamando, pois
quero tanto quanto ele e ele me levanta, se encaixando na minha entrada e
me penetrando lentamente, entrando até o fundo.
Nós dois gememos com o contato de pele com pele.
— Tão molhada que deslizei facinho para dentro de você, amor, olha
isso — murmura — Sua boceta apertada engoliu tudo, ragazza, todo o seu
homem.
Solto o fôlego que estava prendendo, e jogo a cabeça para trás em
prazer, mas sua mão puxa meu rosto em direção ao seu, me beijando
profundamente e sua outra mão espalma em minha bunda, me puxando
ainda mais contra ele. Se for mais fundo que isso, querido, vai me empalar.
— Cavalga no seu homem amor — pede, e solta meu rosto para levar a
sua mão ao mesmo destino da outra.
Apoio as mãos em seus ombros, me erguendo lentamente, para depois
afundar nele, faço de novo com a ajuda das suas mãos, gemendo a cada
descida e o beijo. Colo meus seios ao seu corpo, abraçando seu pescoço e
enfio a mão em seus cabelos.
Heitor murmura algo em italiano que eu não entendo, e continuo
fazendo os movimentos de desce e sobe, mas não tenho muita coordenação
em cavalgar, fiz isso poucas vezes e vou dizer, ficar por cima cansa.
Contudo, uma das melhores partes de ficar por cima é algo que fica no
início do seu pênis. Desço, gemendo alto, com todo o seu tamanho dentro de
mim e quando chego a base, encostando nele, suas mãos empurram minha
bunda de encontro ao piercing gelado.
— Ah, nossa, isso é bom… — gemi em sua boca e Heitor abre um
sorriso malicioso.
Ele me esfrega de encontro ao seu piercing, arrancando suspiros de
mim.
— Quero que goze para mim querida, para que eu possa fazer o que eu
quiser com você. — Quase arranco seus cabelos quando ele sussurra essas
palavras no meu ouvido e ao invés de subir e descer, ele me esfrega nele.
Seu pau dentro de mim, suas mãos no meu corpo, sua boca na minha e
o piercing acariciando meu ponto de prazer me fazem explodir em um clímax,
arrancando um gemido mudo da minha boca.
— Isso, amore mio, goza no pau do seu homem — ele geme na minha
boca, passando suas mãos por todo o meu corpo.
— Heitor… — sussurro, com o rosto corado pelo o que eu vou pedir
para ele fazer agora.
— Diga, amore mio. — Morde meu queixo, passeando com as mãos em
minha cintura e bunda.
— Quero que me… foda — peço, Heitor sabe que perco completamente
o filtro quando estou com ele em um momento íntimo, mas mesmo assim,
fico com vergonha.
Ele levanta o rosto e encara meus olhos, fome tomando conta das
esferas cor de chocolate, e um sorriso pecaminoso toma conta dos seus
lábios.
— Quer que eu te foda, ragazza? — pergunta, com a voz grave e baixa.
Arrepios correm por todo o meu corpo, quando eu o sinto latejar dentro de
mim.
Respiro fundo.
— Quero — respondo.
Ele me encara por mais alguns segundos, mas seus olhos logo ficam
mais escuros pelas pupilas dilatadas. Não adianta correr, agora, eu pedi por
isso.
Sorrio.
Heitor morde os lábios e me tira de cima dele, gentilmente, me fazendo
estranhar.
— De joelhos no sofá — ordena, com sua voz tomada por desejo.
Faço o que pede, e fico de joelhos, com a bunda virada para fora do
sofá.
Ele se levanta, parando atrás de mim, e pegando minhas mãos. Elas
logo são apoiadas no encosto do sofá, e Heitor passa um braço em volta do
meu quadril, me deixando empinada para ele.
— Quero essa bunda gostosa empinada para mim, entendeu? —
sussurra no meu ouvido e eu aceno com a cabeça, o coração galopando sem
parar desde o orgasmo. E tenho certeza que não vai acalmar tão cedo.
Um tapa forte é dado na minha polpa direita, me fazendo arquear as
costas com o ardor, ao mesmo tempo que minha vagina baba por ele.
— Ai, Heitor — gemi.
— Você entendeu? — pergunta de novo, massageando o lugar que
ganhou um tapa.
— Sim, entendi — respondo com a voz rouca.
— Ah, Manuela, se eu te machucar, me diga, ok? — Aceno. — Se
quiser que eu pare, diga também, porque se não disser, meu pau só sai de
dentro de você quando eu não aguentar mais, entendeu?
— Tô contando com isso — provoco, e recebo outro tapa, e sem
esperar, Heitor entra de uma vez em mim, me arrancando o fôlego, e agarro
o encosto com força com a surpresa que foi esse impulso repentino. —
Ahhhhhh.
— Você vai aprender a não me provocar, ragazza, fui muito bonzinho
com você. — Estoca fundo dentro de mim, largando outro tapa na minha
bunda, e eu sinceramente não sei se eu choro ou se eu grito de prazer.
Talvez os dois.
Uma de suas mãos agarra meu quadril, enquanto a outra agarra meus
cabelos e Heitor começa a se mover dentro de mim. Ao contrário das últimas
vezes, ele não mete devagar, ele mete duro, profundamente dentro de mim.
— Chupa meu pau, Manuela, o engole todo — ordena, estocando com
força enquanto puxa meu cabelo para trás, puxando meu pescoço junto. —
Ofego, gemendo alto com cada arremetida para dentro de mim e ele gruda o
corpo nas minhas costas, agarrando um seio com força. — Gostosa, vai
parar de me provocar, amore mio?
— Nunca — solto entre gemidos.
Heitor abraça meu corpo por trás, levando uma mão até o meu pescoço,
e a outra em direção ao meu ponto de prazer.
Ele ri, malicioso, deixando beijos molhados pela minha nuca, enquanto
pega um mamilo com os dedos. Sua mão trabalha em meu clitóris, com
círculos rápidos, e é tudo incrível, a sensação pele com pele, suas mãos em
mim, tudo é demais.
O som da sua pélvis batendo na minha bunda ecoa pela sala, e o
barulho molhado dos nossos sexos se encontrando é um som tão sexy que
sinto que estou prestes a gozar de novo.
— Heitor… vou gozar — aviso, mas ele aperta meu pescoço com força,
não a ponto de machucar, mas a adrenalina que me toma, me faz ficar ainda
mais molhada. Heitor estoca mais rápido, em arremetidas fortes e profundas,
gemendo no meu ouvido. Sua mão continua trabalhando no meu clitóris e
não tento controlar o que sai de mim. — Heitor…
— Amo meu nome em sua boca quando geme, ragazza, principalmente
gozando com a boceta apertada me esmagando dentro de você, gostosa pra
caralho — ele rosna, mas não para de estocar, não para de me estimular,
mesmo que meu corpo estremeça em suas mãos.
Gemidos guturais saem da sua boca, e ele me solta, me empurrando
contra o sofá com uma mão na minha nuca e estala outro tapa na minha
bunda.
Ele não para, todas as vezes que fizemos isso, ele estava se segurando
e muito, pois as arremetidas dele são mais profundas e fortes e os sons que
saem da sua boca são…
Heitor é como um animal enjaulado, metendo em mim como se o
mundo fosse acabar e isso é gostoso, isso é muito gostoso.
Meu rosto está colado no encosto e o pau dele lateja dentro de mim,
anunciando o orgasmo que está tendo. Sinto sua respiração ofegante
enquanto ainda se movimenta, deixando beijos pela minha coluna e
murmurando em italiano.
As borboletas no meu estômago estão dando uma festa de felicidade
agora.
De repente, ele sai de dentro de mim e me puxa para o seu colo. Passo
as pernas na sua cintura, sentindo o gozo escorrer de dentro de mim, mas
ele me encaixa em cima dele novamente.
Arregalo os olhos para ele, que sorri, um sorrisinho pecaminoso.
— Você já gozou — constato, ofegante do sexo mais intenso que eu já
tive na vida.
Não é como se eu tivesse muitos, já que todos foram com o homem que
lateja dentro de mim.
— Já sim — responde com a voz rouca, andando comigo para o andar
de cima, mas movimentando minha bunda em cima dele. Gemidos saem da
minha boca, seguido por um gutural saindo da dele. — Mas eu disse querida,
meu pau vai foder sua boceta até cansar e isso só vai acontecer de manhã.
Ainda são oito horas da noite, ou era quando começamos, mas pelo
olhar no rosto de Heitor, ele não está brincando.
Sorrio, feliz em ver o homem que eu amo podendo ser ele mesmo
comigo, sem medo de estar me machucando e torço do fundo do coração,
que quando isso acabar, eu ainda consiga andar com minhas próprias
pernas.
Porque eu não quero perder você agora.
Estou olhando bem para a minha outra metade.
O vazio que se instalou em meu coração,
é um espaço que agora você guarda.
(Mirrors — Justin Timberlake)
Manuela está estranha, faz alguns dias que notei que ela não está se
alimentando direito e não gosto disso.
Ela não está mais acordando e me pedindo café, e anda sonolenta, tão
sonolenta que tenho que quase implorar para que acorde e vá trabalhar.
Mas mesmo nas horas de almoço e janta ela está estranha, Manuela é
uma pessoa que aprecia comida, come e come muito, porque gosta, porque
pode, porque quer. Mas não anda fazendo muito isso ultimamente.
Isso me faz voltar às camas de hospitais, sentindo dores estomacais e
sem conseguir comer bem.
Minha preocupação já é grande em tudo a respeito dela e sabendo que
tem algo ruim acontecendo me deixa angustiado. Já conversamos sobre isso,
mas ela me falou que se sentisse alguma coisa, iria me avisar
imediatamente, então isso me deixou mais tranquilo.
Embora não tire minha preocupação, se acontecer qualquer coisa, já
deixamos claro que eu vou levá-la ao hospital
— Vocês já escolheram onde vai ser a cerimônia? — Mamma pergunta,
comendo a carne assada que ela preparou para o almoço de hoje. Voltamos
a semana brasileira, e isso me causa uma nostalgia enorme, pois o primeiro
almoço que Manuela comeu conosco foi esse, quem diria que aquilo ia mudar
completamente o meu mundo?
— Estamos pensando em fazer algo na praia — falo, mas não em uma
praia normal, Manu merece Maldivas e é lá que vamos nos casar, ela só não
sabe ainda.
— Ah, amo casamentos na praia, fui a seis. — Mamma bate palminhas
feliz e sorrio, sabendo exatamente que seis casamentos foram esses.
— Ah, essas mulheres tem muito bom gosto — Minha noiva comenta
sorrindo, mas franze o cenho quando escuta um bufo coletivo.
— Essas não, querida, essa. Foram todos da Célia — Meu pai responde
rindo. Nenhum de nós julga Célia, mas ela bem que poderia parar de casar
só para fazer sexo.
Manuela arregala os olhos e solta uma risada gostosa. Meu peito se
aquece.
— Essa mulher é tudo — comenta.
— É sim, ela só está em busca da felicidade — Mamma fala e olha para
Pietro. — Querido, pegue aquele molho que eu fiz, esqueci dentro do micro-
ondas, ele fica uma delícia com esse assado — pede e Pietro corre na
cozinha, voltando rapidamente com o molho.
Amo os molhos de Mamma, uma italiana pura.
— Você quer? — pergunto ao projeto de Louisa Clark, pensando
seriamente em colocar um pano de prato como babador dessa mulher, pois
se com arroz ela já se mela, imagina molho?
— Quero sim. — Estende o prato e derramo um pouco em cima da sua
carne. — Obrigada. — Sorri e devolvo o sorriso. Mas, quando ela dá a
primeira colherada no molho, seus olhos arregalam.
Não tenho tempo de perguntar o que aconteceu, pois ela sai correndo
em direção a cozinha.
Cazzo!
Meu coração começa a acelerar.
— Será que ficou ruim? — Escuto Mamma perguntar, mas já estou
correndo atrás da minha ragazza, encontrando-a de frente para a pia
vomitando tudo.
Paraliso no lugar por uns segundos, medo puro me tomando e me
levando para oito anos atrás quando nessa mesma casa eu fiz a mesma
coisa. O medo de que aconteça o mesmo com Manuela me tira do transe e
me faz chegar até ela em passadas largas, pegando seu cabelo, enquanto
ela vomita tudo que almoçou na pia.
— Vamos ao Hospital, Manuela — aviso trêmulo, e ela acena com a
cabeça quando para de botar tudo para fora. Se tem uma coisa que Manuela
tem tanto medo quanto eu, é de perdas, e Manuela tem pavor de perder a
vida, por isso não discute, nada relacionado a sua saúde é motivo de
brincadeira para nós.
Seu corpo fica trêmulo e a pego no colo, indo em direção a cozinha.
Vince é o primeiro que vê e arregala os olhos ao ver minha noiva em
meus braços.
— O que…
— O carro, agora — falo, vendo todos na mesa se levantarem
assustados, e Vince correr em direção a porta. Passo por todos, andando
rapidamente, sabendo que estou sendo seguido.
— Não precisa de todo esse escândalo, sabe? — Manuela fala, rouca,
pelo esforço que fez ao vomitar.
— Saúde é algo importante para mim, amore mio, você também sabe —
murmuro gentil, morrendo de preocupação por dentro e a levando em direção
ao carro já ligado do meu irmão e sento com ela no banco traseiro.
— Figlio, o que aconteceu? — Mamma entra junto.
— Manuela vomitou, e ela já está sem comer direito há alguns dias,
preciso saber o que é, Mamma — respondo com o coração apertado, e
Mamma me entende com um olhar.
— Sigam a gente — ela fala para papai e meus fratelli, enquanto Vince
dá partida no carro.
Manuela se encosta em mim, seu corpo ainda trêmulo, e eu sei que é
pelo vômito, essa merda nos deixa fracos, nosso estômago vazio e a
garganta doendo. Fora a dor que sentimos no peito pelo esforço que
fazemos.
No caminho ao hospital, faço uma oração silenciosa para Dio, pedindo
com tudo de mim que não seja nada grave e que depois de tudo que ela já
passou, não tenha que passar também pelo o que eu passei.
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