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Copyright © 2022 Mirlla Muniz

É proibida a reprodução total e parcial desta obra de qualquer forma


ou quaisquer meios eletrônicos, mecânico e processo xerográfico,
sem a permissão da autora. (Lei 9.610/98)
Essa é uma obra de ficção. Os nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos na obra são produtos da imaginação da
autora. Qualquer semelhança com nomes e acontecimentos reais é
mera coincidência.

Capa:
Daniele Tavares

Diagramação:
Larissa Chagas

Revisora:
Evelyn Fernandes

Arte:
Mirlla Muniz.

Leitoras Betas:
Evelyn Fernandes | Isabela Hypolito.
Hanna Câmera | Ana Lice

MINHA DOCE RAGAZZA [recurso digital] / Mirlla Muniz – 1º


Edição, 2022.
Sinopse
Nota da autora
Playlist
Os Mancini
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Epílogo
Agradecimentos.
Pode uma pessoa perder tudo e ainda ter esperanças na vida?
Pode uma pessoa sofrer tanto e não quebrar?
Ele é sério.
Ela é doce.
Ele é centrado.
Ela é desastrada.
Duas pessoas que sofreram perdas, duas pessoas que mesmo
em meio a dor, encontram motivos para sorrir.
Manuela Martínez e Heitor Mancini, convivem no mesmo
ambiente há nove meses, ele é o CEO da editora da família Mancini,
e Manuela é sua secretária, mas, embora trabalhem juntos, nunca
houve mais do que cordialidade entre eles, embora sua beleza
sempre tenha chamado a atenção de Manuela, e sua voz doce
sempre tenha chamado a atenção de Heitor.
Depois de um terrível acontecimento, Manuela sofre um
acidente e isso faz com os laços entre os dois se estreitem. Onde
antes havia apenas respeito mútuo, agora existe desejo.
Mas será que em meio ao caos que Manuela irá enfrentar com
a família do seu chefe, surgirá uma chama que é impossível de
apagar?
Heitor não consegue decifrar seus sentimentos. Uma coisa é o
desejo, outra diferente é ficar com uma menina doze anos mais
nova, funcionária, virgem e que apresenta grande perigo ao seu
coração.
Mas Manuela, embora tímida e inocente, de burra não tem
nada, e ela não vai desperdiçar a sua oportunidade de ser feliz.
Olá leitores e leitoras, como vocês estão?
Bem, é óbvio que vocês não irão responder, né? “sons de riso”.
Alguns de vocês já me conhecem do meu primeiro lançamento
que foi “Rebeldia”, e alguns podem querer me matar por não lançar
logo os livros das demais joias, mas não me matem, se vocês
fizerem isso, eu não lanço mais nada. “Enfim a sem senso de
humor.”
Mas, já que você não pulou a nota da autora, devo te
parabenizar por ser uma pessoa sensata, pessoas sensatas leem
notas das autoras e autores, sabe por quê? É aqui onde colocamos
um pouco mais sobre nós, um pouco mais sobre a obra e avisamos
os gatilhos que vocês podem encontrar no livro.
Bacana, né?
Vamos para a parte que interessa!
Manuela é uma mocinha que é doce e ingênua, sua
personalidade foi um misto de personalidades que encheram a
minha cabeça, principalmente porque essa história começou de
outro jeito, mas como eu sempre digo, não me culpem por algo que
eu não tenho controle, é a história deles, não a minha, eu só coloco
no papel.
Manuela herdou a personalidade desastrada de mim, logo
deixando claro, pois se eu e ela estivermos juntas em algum lugar,
só Jesus na causa.
A família Mancini me conquistou com sua garra, lealdade e
amor antes mesmo de ir para o papel. E já adianto, terão livro dos
irmãos.
Esse é um livro que eu escrevi com todo o amor e carinho, que
valoriza a amizade, a família, e o amor. É um romance, óbvio que
tem que haver amor.
Nesse livro, você vai encontrar alguns assuntos sensíveis, e
que antes de você ler, você precisará saber, posso enumerar?
1. Fome.
2. Pobreza.
3. Dor.
4. Incêndio.
5. Luto.
6. Câncer.
7. Assuntos relacionados a paternidade e maternidade.
8. Linguagem adulta.
9. Cenas de sexo explícito.
10. Diferença de idade.
Esses são alguns dos assuntos que estarão no livro, e posso
deixar claro que é para maiores de dezoito anos, né?
Além disso, temos menções a homofobia. Apenas menções e
se você não se sentir confortável com esse tipo de leitura, não a
faça, acima de tudo, sempre preserve sua saúde mental.
Bem, já deixei tudo claro, então espero que para você que
continuará comigo, em busca de conhecer a história de Manuela e
Heitor, espero que faça uma boa leitura e se divirta com as
trapalhadas de Manu e o senso responsável de Heitor.
Com amor, Mirlla.
Acompanhe a playlist de
“MINHA DOCE RAGAZZA” no Spotify.
Dedico esse livro a minha mãe, não
preciso de motivos para ser você,
simplesmente é, mas se você quer
um, saiba que de todas as inspirações
que eu tenho, você é a maior.
A vida, embora possa ser apenas um acúmulo de
angústia, é importante para mim e eu a defenderei.
— Mary Shelley
E é tudo diversão e jogos.
Até que alguém se apaixone.
Mas você já comprou um ingresso.
E não há como voltar atrás agora.
CAROUSEL — Melanie Martinez
Fui deixado por conta própria.
Muitos dias se passaram sem nada para mostrar.
E as paredes continuaram a desmoronar.
(Pompeii — Bastille)

Normalmente, quando acordamos, temos uma pequena


sensação de desorientação e paz, mesmo que por pouco tempo,
aquela em que você ainda está leve, sonolento, saindo do mundo
dos sonhos.
Antes de tudo, você ainda está tentando se adaptar ao novo
dia que começa, demora um pouco para você realmente se
localizar.
Então você olha para o teto, fica divagando e sua cabeça
começa a fazer planos para as próximas horas, se perguntando o
que tem na geladeira para o café, pensando no que você tem que
fazer ao levantar da cama, se vai tomar banho, se vai correr, se vai
dormir mais um pouco, ou como vai ser o seu dia de trabalho, de
estudo ou de lazer, ou seja, você vai pensar na vida.
Mas eu? Quem me dera fosse assim, em outro dia, talvez. Mas
não hoje.
O barulho do celular tocando alto ao meu lado me desperta do
mundo dos sonhos, o único lugar em que eu tenho um pouco de paz
ultimamente, e sou obrigada a abrir os olhos, piscando com a
claridade que quase me cega.
Droga, dormi com a janela aberta.
De novo.
Mas o que eu posso fazer quando faz um calor dos infernos e
eu não tenho um ventilador para me dar um momento de prazer?
Tateio a mesinha artesanal, feita por mim, ao lado da minha
cama, procurando o celular e assim que o toco, pego para saber o
motivo de tanto alarde.
— Merda! — Meus olhos só faltam saltar para fora das órbitas
quando vejo que já passam das 07:50 da manhã, e sinto eles
lacrimejando pela luz do dia querendo queimar o resto de visão que
me sobrou.
Faltam exatamente, cerca de dez minutos para eu estar
sentada na minha mesa, trabalhando.
Pulo da cama — ou melhor — tento, pois o cobertor embola
em meus pés e só tenho tempo de proteger o rosto ao cair no chão.
Antes os dedos, que os dentes.
Que droga! Bufando de irritação, tento me levantar tirando o
cobertor de cima dos meus pés.
Estou atrasada.
Meu chefe não suporta atrasos, ele sempre chega no horário,
sendo exemplar e acha irresponsabilidade as pessoas chegarem
atrasadas no trabalho, por isso o horário de entrada é às oito horas,
e todos tem tempo de se prepararem sem acordar cedo demais e
perder o sono, já que, segundo ele, uma pessoa cansada não
trabalha direito.
Moro a uma distância de vinte minutos do trabalho e sempre
vou andando. Estão vendo o problema?
Sou a secretária do CEO da empresa onde trabalho, então
sempre tento chegar mais cedo para preparar os assuntos do dia,
uma vez que ele é muito exigente, tento fazer meu trabalho o melhor
possível, para não haver reclamações suas.
E hoje, parece que não só chegarei atrasada, como também
chegarei com o rabo entre as pernas dentro daquela empresa.
Entro no banheiro que não fica distante da cama, dado que
minha humilde residência tem apenas um cômodo que é sala,
cozinha, quarto e escritório pessoal, e faço minha higiene matinal
apressadamente, tomo um banho na velocidade da luz, e mudo de
roupa mais rápido ainda.
Como uso um modelo de roupa que está longe do padrão de
moda atual, o jeito que me vesti hoje não fará muita diferença.
Coloco o suéter fofo e dez números maiores que o meu de um
tom mostarda, visto a calça comprida, também uns centímetros
maiores, e coloco o cinto para segurá-la no local.
O peso que eu perdi nesses últimos meses, não ajuda muito a
manter as roupas que eu tenho.
Por fim, calço minhas sapatilhas velhas e as únicas que eu
tenho, pego a bolsa e saio o mais depressa possível de casa.
Ainda não tomei café, meu estômago está roncando, e tudo
porque resolvi tentar a sorte e ler um livro até as 02:00 da manhã.
E de quem é a culpa? Minha.
Sabe a cilada que todo leitor cai? Eu caí feito um patinho, e sei
que muita gente cai também.
“Só mais um capítulo”
Só mais um capítulo uma ova, quando vi, já tinha lido quase
metade do livro, e olha que ele tem quase novecentas páginas.
Por ser de uma autora nacional, é bem divertido entender as
referências.
Não ando em direção a empresa, eu literalmente saio
correndo. As pessoas me encaram julgadoras e fico
momentaneamente com vergonha. Mas não dou muita atenção.
Ora, sou eu que estou a um fio de perder o emprego aqui!
Observo a rua lotada de pessoas indo em direção aos seus
próprios empregos, todas com suas próprias responsabilidades para
lidar, e fico com o coração apertado quando vejo um casal de
velhinhos sentados em uma mesa, um de frente para o outro se
alimentando em uma padaria.
Há pouco mais de seis meses, perdi minha avó, ela foi a
mulher que cuidou de mim a vida inteira e agora eu estou sozinha.
Não quero chorar logo essa manhã, como faço todas as vezes
que lembro da minha avozinha, então desvio os olhos para focar em
meu destino.
Mas, como eu sou uma pessoa de sorte quando volto meu
olhar para o caminho, o poste de energia está bem à minha frente e
não consigo parar a tempo. Sinto o impacto na força do ódio,
querendo gritar com todo mundo, e olha que eu sou bem calminha.
Mas que merda de dia! E ele está só começando.
Esfrego a testa e sinto o calombo se formar.
Ótimo!
Talvez se eu chegar de unicórnio na frente do meu chefe, ele
tenha pena de mim. Todo mundo gosta de unicórnio, né?
Pego o elástico que estava em meu pulso e faço um coque
solto no alto da cabeça. Alguns cachos escaparam para o meio da
testa, mas deixo ali para dar um charme.
Bufo.
Eu? Charmosa?
Posso até ser bonita, mas escondo tudo que sou, embaixo de
roupas folgadas que não tenho a opção de mudar.
Meus dedos vão em direção ao rosto, em uma mania de
cutucar meus óculos, mas não sinto nada.
Meus óculos, esqueci a porcaria dos óculos!
Graças a Deus não tenho muita dificuldade na visão, no
entanto, ler hoje vai me dar uma baita dor de cabeça.
Isso se eu ainda tiver emprego.
Olho o celular e vejo que já são 8:05, e corro mais rápido. Vejo
a fachada da empresa mais à frente, e saio em disparada.
Tadinha da minha sapatilha, não sobrou um pingo de sola
depois disso, agora vou ter que aguentar o restante do dia e torcer
para não acontecer mais nenhuma merda.
Eu amo o lugar onde trabalho, de verdade, mas não gosto
muito do meu chefe.
A Editora Page é uma das melhores editoras do Brasil, e eu
trabalho nela, o que mais me fascina, é o fato de ela publicar todos
os livros que viralizam no mundo, já que eles buscam agradar os
leitores e publicar apenas aquilo que o povo realmente quer.
Há pessoas que ficam encarregadas de ver quais livros
importados estão fazendo mais sucesso nas redes sociais, e quais
são os mais lidos da Amazon para poderem comprar os direitos de
publicação.
A editora é incrível, meu sonho é sair do cargo de secretária e
me tornar editora, ou se eu tiver sorte, publicar meus próprios livros.
Ah, eu a amo.
Mas o meu chefe? É um pé no saco.
Ele chega na empresa e já começa dando ordens, não dá um
bom dia e ainda erra meu nome.
O homem em questão é um pecado em forma de gente, posso
não gostar muito dele, mas ele faz muito bem o papel de mocinho
em vários dos livros que eu já escrevi.
Ridículo, eu sei, mas fazer o quê?
Ele é alto e tem um corpo cheio de músculos que são
escondidos pelos ternos, incrivelmente caros que usa, sua barba é
cerrada definindo o maxilar e ele tem cabelos e olhos castanhos.
Seu rosto tem traços firmes e rígidos, que sempre o deixam com
uma aparência séria e imponente.
Felizmente, eu não preciso me comunicar com ele fora da
empresa.
Assim que entro no salão tentando recuperar o fôlego, já noto
todos de olhos arregalados me encarando. A coisa tá feia!
Continuo correndo em direção ao elevador e Duda — minha
melhor amiga — me segue.
— Luiz disse que ele está virado no cão hoje, amiga, o que
houve para você se atrasar? Geralmente chega mais cedo do que
todos nós! — a voz de Duda me alcança antes de suas pernas
conseguirem entrar no elevador.
Luiz é o assistente pessoal do senhor Heitor, no entanto, sou
eu que fico com todos os assuntos relacionados à editora, enquanto
ele fica apenas com os pessoais, e se ele está dizendo que o patrão
está estressado, é porque ele está!
— Fiquei acordada até altas horas ontem e não escutei o meu
despertador tocar no horário certo, quando vi, ele estava tocando
pela décima vez, estava lendo aquele livro que você me indicou,
ainda não terminei porque é muito grande, mas estou apaixonada
pelos Príncipes do diamante! — tentei mudar de assunto, porque eu
já estou ansiosa, e remoer a questão até chegar no meio de
Chernobyl vai me fazer infartar.
Passo a mão pelos cabelos ao olhar para Duda. Como ela está
sempre arrumada e é uma mulher digna de capa de revista, fico um
pouco incomodada em ficar perto dela, me sinto um ratinho de
esgoto, eu não tenho dinheiro nem para comprar comida e a mulher
é a elegância em pessoa.
Ela é linda, uma loira de um metro e setenta que é muito,
comparado aos meus um metro e cinquenta e oito. Seus olhos são
verdes e ela tem um rosto bastante expressivo, já vi vários homens
da empresa tentando algo com ela, mas ela os dispensa com uma
facilidade assustadora.
— Te juro amor em silêncio é incrível mesmo, que pena que já
publicaram, mas o Luiz falou…
Ela não termina de falar, já que nesse momento a porta do
elevador abre e eu dou de cara com meu chefe.
Ele estava me esperando?
Seus olhos encaram os meus por uma eternidade, mil
pensamentos rolando na minha cabeça — como uma demissão
precoce — e não consigo decifrar nada da sua expressão.
Meus olhos arregalados encaram os seus, e vejo seu olhar
descer por meu corpo e sua testa se franzir.
Pelo visto, não gostou do meu lookinho do dia!
Não é hora para piada, Manuela!
— Atrasada hoje, Mariana? Dormiu demais? — Meus olhos
quase saltam das órbitas com a verdade que sai da sua boca e ele
percebe isso, seus olhos rapidamente, se enchem de um misto
entre curiosidade e irritação. — E-mails, relatórios de finanças dos
últimos dois meses e um café na minha mesa em cinco minutos. —
Malditas ordens!
Assim que termina, ele vira e sai afundando suas passadas no
chão de tanta força que faz e vai pelo corredor em direção a sua
sala.
Engulo em seco e lanço um olhar apavorado para Duda, ela
apenas franze o cenho e me encara.
— Seu nome não é Manuela? — questiona um pouco confusa
e com um pouco de culpa nublando seus olhos.
Solto um suspiro cansado.
Tentei fazer ele me chamar pelo nome certo uma vez, e isso
fez ele me dar trabalho extra para o fim de semana.
Agora ele jura de pé junto que meu nome é Mariana, me
acostumei tanto com esse nome que até me confundo.
Filho de uma pão com ovo!
Não posso sair xingando a mãe dos outros, né?
— É sim, mas isso é assunto para outro dia — assim que
terminei de falar, acenei com a cabeça me despedindo e saí
correndo em direção a cozinha para preparar o café do baba… Ops,
chefinho lindo!
Como sou acostumada a trabalhar sob pressão, porque ele
insiste em me mandar fazer coisas impossíveis em tempo que nem
o flash conseguiria, faço tudo o que ele mandou rapidamente.
Direciono os e-mails importantes da empresa para o dele pelo
celular, enquanto o café está sendo feito, e aproveito para colocar
os relatórios financeiros para imprimir, uma vez que consegui
separar tudo ontem à noite, antes de tentar a sorte na leitura.
Quando o café está pronto, pego e saio da cozinha, passando
pela minha mesa para pegar minha agenda e com os relatórios na
mão, bato na porta com o pé — ou chuto, tanto faz — e quando Luiz
abre, eu entro, depositando o café na mesa do patrão.
Seus olhos se voltam para o relógio percebendo que ainda
falta um minuto para os cinco que ele pediu, e se está surpreso, não
deixa transparecer, apenas pega a pasta de arquivos e manda eu
falar os compromissos do dia!
Um obrigado cairia bem!
Depois de falar dos compromissos, Luiz me faz algumas
perguntas em relação aos eventos da empresa para essa semana,
enquanto o chefe fica olhando os relatórios. Mas tem algo diferente,
ele está mais tenso que o normal, seus lábios estão crispados e o
vejo bufar mais de uma vez.
Quando percebe que está sendo observado, seu olhar se volta
para o meu e ele ergue uma sobrancelha indagadora. Porcaria!
Desvio meus olhos rapidamente dele, completamente
constrangida por ser pega no flagra e encaro meus pés.
Três minutos depois, Luiz para de falar e me dispensa.
Saio da sala em seguida e me acomodo na cadeira, não,
corrigindo... me jogo na cadeira e encaro a minha mesinha. Nela
tem um retrato com a foto da minha abuela.
Sinto tanta saudade dela, tanta falta que às vezes me dói
respirar.
Quando se perde a única pessoa que você tem no mundo é
difícil continuar nele, sabendo que está sozinha.
Me forço a voltar meus pensamentos para o trabalho, e desvio
os olhos do retrato, tentando focar no dia cheio que eu terei hoje.
Não tomei café, não dormi muito, não estou com os meus
óculos e o meu chefe está irritadiço.
Meu dia vai ser ótimo!

O relógio marca 12:00 horas, o que significa: horário de


almoço.
Com tristeza, saio da minha mesa e ando em direção ao
elevador.
Ainda não comi nada, pois o senhor Heitor me encheu de
trabalho, visto que houveram muitos contratos fechados no fim de
semana, mas não posso culpá-lo, tenho certeza que se soubesse
que eu não me alimentei, me mandaria dar uma pausa e fazer a
refeição. Eu gostaria de fazer, não jantei ontem.
Nem almocei…
Estou esgotada e ainda são meio-dia.
Lembrar disso, me faz ficar ainda mais esgotada, mas dessa
vez, mentalmente.
Hoje está fazendo mais calor do que ontem, e por isso, estou
muito arrependida de ter colocado esse suéter enorme, já que tem
suor escorrendo em mim. Eu costumo vestir blusas grandes, mas de
mangas curtas, o suéter foi por conta da pressa.
Eu vejo muita gente me olhando torto desde que entrei na
editora, porém eu não sei o que fazer, não tenho outro tipo de roupa
e embora ache bonitas as roupas que muitas mulheres usam aqui
dentro e lá fora da empresa, também não tenho dinheiro para
comprar nada novo.
Isso não significa que eu não queira. Eu só não posso comprar.
Desde nova, minha avó me disse que eu deveria usar essas
roupas mais soltas, porque não chamaria a atenção dos homens e
eu não perderia a virgindade antes do casamento.
Ela era uma mulher muito tradicional.
Minha avó era de Porto Rico, e eu costumava chamá-la de
abuela, mas agora só me resta saudade no peito.
Meus pais morreram quando eu ainda era muito nova para
lembrar, em um acidente de carro, e desde então, cresci com minha
avozinha, apenas eu e ela, já que meu avô também já se foi.
Dona Carmem era uma mulher muito tradicional, nunca se
casou novamente e me criou do mesmo jeito, embora eu tenha
descoberto muitas coisas com os livros, eu ainda sou inocente para
outras.
Inocente sim, burra não.
Nunca tive namorado, pois para a minha avó, mulher não podia
ter amigos e pior ainda, namorado antes de se formar.
Ela encarnou a avó da Jane, daquela série Jane a Virgem, e eu
sempre tive medo de decepcioná-la. Só tinha ela na vida, sem
outros parentes, e tive muito medo de algum dia magoá-la a ponto
de ela não querer mais ficar comigo.
Agora eu sei que isso nunca aconteceria, ela não me deixou
porque quis, mas o destino foi pior, o câncer a levou de mim.
Quando o elevador chega, eu entro e aperto o botão do térreo.
Olho em meus bolsos para ver se trouxe algum dinheiro, mas
não encontro nada. Meu estômago se revira.
Assim que pego o celular para verificar a capinha, alguém
impede a porta do elevador de fechar.
Olho para cima vendo a maleta preta de documentos do meu
chefe, entre a porta do elevador, e logo que ela volta a abrir, ele
entra.
Sozinho.
Tento olhar atrás dele para ver se Luiz vem também, porém,
vejo ele entrar no escritório novamente e fechar a porta.
Traidor.
Meu coração acelera no peito com a aproximação do meu
chefe e olho para os cantos do elevador, verificando se há alguma
câmera de vigilância, porque, bem... vai que ele decide me matar,
nunca se sabe.
Posicionado ao meu lado, ele fica imóvel. Apenas o barulho da
sua respiração é ouvido.
Pigarreio e desvio o olhar que estava fixo no seu reflexo no
espelho do elevador, para o meu celular novamente, em busca de
me distrair da tensão que está tomando conta do ambiente, e
procuro dinheiro para o almoço. Por incrível que pareça, eu
encontro.
Três reais! Minha vida se resume a três reais!
Esse foi todo o dinheiro que eu achei na capinha.
Olho a nota de dois reais velhinha e a moeda de um real, e
meu rosto desmorona. Isso não dá para comprar um prato de
comida.
Bem, dá para comprar pão, talvez seja um sinal que eu deveria
tomar café antes de almoçar, né?
Depois que abuela morreu, eu tive que arcar com todas as
dívidas que ficaram, conta de luz, os empréstimos que pedimos para
lidar com o tratamento do câncer, a conta de água, e o funeral.
Já não tínhamos muito dinheiro, depois que ela se foi, eu fiquei
zerada, sem um real, todo o salário e dinheiro guardado foram para
as contas e ainda estamos no começo do mês, ainda falta muito
para o salário cair na minha conta e pelo visto, vou ter que trazer
almoço de casa.
Como se eu tivesse algum para trazer.
Pego a nota de dois reais e a moedinha, agradecendo por ter
pelo menos isso e coloco meu celular no bolso.
É nessas horas que a vontade de chorar vem com força.
Tenho 22 anos, sou formada em Letras e também sou
secretária do CEO da empresa. Não era para eu estar bem
financeiramente?
Cruzo os braços e olho para frente, vendo os olhos do senhor
Heitor fixos em mim pelo espelho do elevador.
Meu rosto esquenta com o constrangimento, mas meu coração
dá um salto com sua atenção.
Decidiu me matar! Sabia!
Tinha certeza que ele era da máfia, ele e sua família italiana.
Eu e Duda pensamos nessa possibilidade depois de ler alguns
romances duvidosos com a máfia italiana, agora todo italiano para
mim pertence à máfia.
Loucura, eu sei, mas diz isso para minha cabeça.
Seus olhos descem para minha mão que está segurando a
miséria de dinheiro que eu tenho, e depois se voltam para os meus
de novo, cheios de sentimentos os quais não consigo identificar, eu
nunca consigo.
A vergonha me abate com ainda mais força quando percebo
que ele me viu contando o dinheiro do almoço, não quero a pena
dele.
Desvio os olhos para os meus pés, que causam ainda mais
vergonha. Minha sapatilha está só o bagaço da corrida que eu dei
hoje.
Olho para o espelho do elevador novamente, ainda sentindo
seus olhos em mim e vejo que minha testa tem uma marca roxa, de
onde eu bati no poste hoje de manhã.
Levo meus dedos ao calombo, tocando o caroço e quando
forço mais um pouco, sinto a dorzinha que acompanha. Mas já
estou acostumada, já levei tanto tombo que se eu não me bater em
nada por um dia inteiro, é porque eu estou morta, até na cama eu
dou um jeito de fazer merda.
O celular que o diga, já caiu tantas vezes na minha cara, que
ela já está dormente.
Minha aparência está toda uma merda, olheiras profundas,
cabelos bagunçados em um coque no alto da cabeça, que em
muitas pessoas pareceria estiloso, e em mim parece um ninho de
rato, roupas acabadas e um corpo que há uns meses atras, tinha
sido mais curvilíneo, e hoje está só o coro e osso.
Não é apenas a falta de uma boa alimentação que mexe
comigo.
A mente de uma pessoa é o que decide se todo o resto vai
bem ou mal.
Assim que as portas se abrem, saio do elevador quase
correndo, vendo que a maioria das pessoas já saíram e caminho
para a porta que vai para o estacionamento, lembro imediatamente
que atrás dele, tem uma padaria que tem os melhores pãezinhos
que eu já comi, é a padaria da dona Flor e ela sempre é legal
comigo, muitas vezes me oferecendo pão a mais, pois sabe da
minha situação, ela e abuela eram amigas.
Enquanto continuo andando entre os carros, sinto a presença
do meu chefe atrás de mim e isso faz um arrepio gelado passar pela
minha espinha.
Sei que ele precisa vir ao estacionamento, já que seu carro
está aqui e ele sempre sai para comer em algum lugar caro, mas
isso me deixa nervosa, se ele for da máfia italiana, será que vai
querer vender minha virgindade? Tráfico de mulher tá aí para isso.
— Mariana — sua voz grave me chama, e eu travo. Será que
eu estou assim de sorte? Vamos lá Manuela, você tem três
escolhas:
1. Tráfico de mulher.
2. Morte.
3. Trabalho.
Fácil como tirar leite de vaca prenha.
— Posso comprar um pão antes? Não tomei café senhor, mas
depois que eu comprar algo para comer, eu subo e faço o que o
senhor mandar. — Peço, logo vendo seu cenho se franzir em
confusão no começo da frase, e a sobrancelha se ergue no final
dela.
Ele me encara por alguns segundos e finalmente diz.
— Do que você está falando? — indagou com o semblante se
tornando confuso.
— Do trabalho, senhor, eu só preciso...
— Não vou lhe dar trabalho na hora do almoço, ragazza,
alguma vez já lhe pedi isso? — me interrompe e seu rosto se fecha,
ofendido. Porcaria!
— Desculpa, o que o senhor deseja? — respondo, mais
confusa que ele, mas sempre com educação. Minha abuela ensinou
assim.
— Entre no carro — manda, e noto que estamos ao lado do
Lamborghini dele, e eu só sei que é dessa marca porque eu ouvi as
pessoas comentando. Principalmente os homens, nunca vi gente
com mais tara com carro do que eles.
Ele tem dois, mas eu só sei o nome desse.
Olho para ele e para o carro, e percebo com pavor que sim, ele
vai me leiloar, seria mais vantajoso, né? Vender minha virgindade?
Sabia que ele era da máfia!
Eu sei, sou paranoica. Mas a paranoia é a garantia de vida do
pobre.
— Senhor? — indago nervosa.
— Entre no carro — sua voz grave manda novamente, e eu
corro para o banco do passageiro. Se a vítima colaborar, talvez ele
deixe que eu escolha o destino menos trágico.
Assim que ele entra no carro, liga e sai do estacionamento,
deixando meu coração acelerado no peito. Não faço a mínima ideia
do que estou fazendo aqui.
Ao mesmo tempo, uma empolgação me banha por estar dentro
desse carro, não é todo dia que entramos em uma Lamborghini.
— Aonde estamos indo? — pergunto.
— Almoçar — responde curto e grosso.
Meus olhos se abrem tanto que eu não sei como não quicaram
para fora.
— Co… como assim?
— Comida Mariana, sabe o que é isso? — faz piada, mas noto
um pouco de raiva na sua voz, e meu nervosismo é substituído pela
raiva também.
Por que ele está com raiva?
ELE ME SEQUESTROU!
— É Manuela! — falo entredentes.
Talvez devesse ficar calada e não falar assim com meu chefe,
e por que diabos ele está me levando para almoçar? Nunca fez isso
antes!
— Quem é Manuela? — questiona e sua boca forma uma linha
fina.
— Eu sou Manuela. — Encaro seu rosto, incrédula da cara de
pau que ele tem.
Acho que essa é a conversa mais longa que já tivemos.
— Prefiro Mariana. — Suas mãos apertam o volante quando
ele vira em uma esquina e entramos em uma rua residencial.
— E eu prefiro que o senhor diga o porquê está me levando
para almoçar — respondo, mas no meu interior, uma parte minha
fica comovida pelo gesto e muito grata, pois ele não seria pão-duro
de me mandar pagar o meu almoço, né? Tô com fome, poxa. — E
por que a gente está entrando aqui?
— Você pergunta demais — quando percebe que vou insistir,
bufa e responde. — Estamos indo na casa de meus pais, e vamos
almoçar, porque você tem muito trabalho para a tarde e não quero
que desmaie de fome porque comeu só um pãozinho — responde
entredentes, e eu fico quietinha no banco. Já ouviu aquele ditado de
não cutucar a onça com vara curta? Eu é que não vou testar.
Ele dirige em silêncio e depois de alguns minutos, ele se dirige
a um portão enorme e chique e em seguida entramos em um
paraíso no meio de São Paulo!
O terreno é cheio de árvores que ladeiam uma estreita estrada
de pedras, e mais a frente, vejo uma casa tão grande, que tenho
certeza que Dom Pedro I morou aqui. A casa é enorme, de dois
andares e parece muito aquelas casas retratadas em romances de
época ou em filmes dos anos 2000.
Meu coração ainda está aos pulos, pois não sei exatamente
porque ele me trouxe a sua casa e principalmente, porque não
acredito que tenha dito que me trouxe apenas para que eu possa
trabalhar de barriga cheia.

É a máfia italiana.
Em primeiro lugar.
Eu vou dizer tudo que está na minha cabeça.
Estou irritado e cansado.
Da maneira como as coisas têm andado.
(Believer — Imagine Dragons.)

Abro a porta do carro e olho para a mocinha assustada ainda


dentro dele olhando para todos os lugares, mas a única coisa que
deveria fazer não faz, que é sair desse maldito carro!
Estou puto!
Eu já tenho um temperamento forte em dias comuns e hoje ele
piorou drasticamente.
Tudo começou com uma ligação da minha ex, que não bastou
me fazer de besta, ainda pensa que eu sou idiota.
Chegar à editora e ver que a ragazza não estava na sua mesa
me deixou estressado, pois eu não gosto de atrasos. Ninguém
gosta.
Mas assim que ela chegou e olhei em seus olhos abatidos, não
consegui brigar com ela e tudo piorou quando a vi procurando
dinheiro na capa do celular quebrado que ela tem e achando apenas
três reais.
Luiz essa manhã, disse que ela estava passando por um
período de dificuldade e luto, então, no lugar de pagar um almoço
decente para ela, eu tive a brilhante ideia de trazê-la para a casa de
meus pais, como qualquer pessoa normal faria.
Onde eu estava com a cabeça?
Enfiada no rabo.
Ver que só tinha três reais para almoçar hoje me deixou com
raiva, raiva não dela, mas das circunstâncias que a fizeram estar
como está.
— Quer ajuda para sair, ragazza? — falo sarcástico, mas no
fundo um pouco irritado, pois eu já estou prevendo a balbúrdia que
vai haver dentro daquela casa, principalmente porque todas as
pestes almoçam juntas.
— Tô saindo. — Ela se atrapalha ao abrir a porta e eu dou a
volta no carro para abrir para ela.
Assim que ela sai do carro, me viro e vou em direção a porta
que já está sendo aberta pela mulher mais doce, linda e intrometida
do mundo, que diz ser minha mãe.
— Ragazzo mio, perché sei in ritardo? tutti stanno
aspettando... Que coisinha é essa atrás de você? — Minha mãe
arregala os olhos verdes brilhantes e um sorriso se abre em seu
rosto quando percebe a presença da ragazza atrás de mim.
Engraçado como ela vai do italiano para o português com uma
habilidade impressionante.
Olho para trás e vejo que minha secretária está se escondendo
atrás de mim, como um animalzinho medroso.
— Minha secretária, Mamma, veio almoçar aqui — digo,
enquanto sigo meus passos e chego onde minha mãe está, lhe dou
um beijo na testa e não sou retribuído com nada, já que ela parece
não notar minha existência.
— Olá, belíssima, sou Antonella, e você? — dona Antonella
pega as duas mãos de Manuela nas suas e sorri com gentileza, mas
só quem não a conhece não vê o brilho de astúcia em seus olhos.
— É... Manuela, dona — a ragazza responde e pigarreio
tentando chamar a atenção delas, para não haver mais do que o
cumprimento rápido.
— Certo, apresentação feita, podemos...
— Está com fome, querida? Gosta de churrasco? Essa
semana é a semana da comida brasileira nessa casa, então o
almoço é churrasco, porque na semana passada foi comida
japonesa e hunf, não suporto sushi, mas... — Mamma me
interrompe e sai andando para a cozinha com Manuela a tira colo,
me deixando parado no mesmo lugar.
Não sou eu o filho?
Pressiono meus lábios e reflito na péssima ideia que tive de
trazê-la aqui, mas ela me olha por sobre o ombro, dá um sorriso
contido e continua andando. Acho que ela prefere minha mãe a
mim.
Quem não prefere?
Sigo elas em direção a cozinha ouvindo minha mãe tagarelar
sobre como enjoou de sushi e se existe fogão, para que comer
peixe cru, mas não dou muita importância para isso, pois logo
chegamos ao nosso destino e todos na mesa se calam, apenas
mamãe continua falando.
Gael, o segundo mais velho me fita com um questionamento
no meio da testa, assim como todos que estão na mesa, meu pai,
meu irmão caçula, Pietro e meu irmão do meio, Vincenzo.
— Boa tarde — cumprimento, indo em direção ao velho, que
sim, me dá atenção e vira a bochecha, que deixo um beijo e logo me
sento no meu lugar, pois sei que minha secretária está muito bem,
visto que minha mãe não larga do pé dela, coisa que não faz o
menor sentido, já que nunca mais trarei ela à esta casa.
Foi apenas hoje, porque ela não ia almoçar pão, cazzo!
— Saiu mais tarde do trabalho? Costuma chegar mais cedo,
ragazzo — meu pai pergunta, com a voz mansa, seus olhos me
sondam e depois sondam a ragazza.
Não estranho sua pergunta, pois como almoçamos juntos,
sempre tenho que sair antes do horário de almoço.
Aqui é assim, todos só comem quando todos estiverem na
mesa.
— Desculpa, tive que sair mais tarde, como não trabalhei no
final de semana e houve alguns atrasos hoje de manhã, tive que me
atrasar um pouco para colocar os assuntos da empresa em dia —
respondo a papai, e semicerro os olhos para ele em um claro sinal
de que não quero falar sobre o porquê trouxe ela.
Nem eu sei.
Meu pai é um velho bonito, ele e Mamma decidiram aceitar os
cabelos brancos que demos a eles e para acelerar o processo,
pintaram, mas embora a cabeleira e a barba seja branca, pai está
com tudo em cima, Mamma também, são duas pessoas que quando
estão sozinhos se comportam como adolescentes.
Já com a gente...
Volto minha atenção para o que vamos almoçar hoje.
Minha mãe é muito aventureira, assim que papai saiu da
presidência da empresa para deixá-la nas mãos dos filhos, eles dois
tiraram um ano sabático e viajaram por muitos países. Dona
Antonella gostou tanto da diversidade cultural que toda semana
temos um prato típico de algum país ou cidade para o almoço. Não
acredito que ela tenha gostado muito da comida japonesa, ela odiou
o sushi.
Mas, enquanto olho para a comida, noto que Vincenzo chega
mais perto de Manuela com um olhar curioso para suas roupas. Não
sei em que loja ela vai, mas deveria comprar roupas que fossem do
seu número, não do meu.
— Quantos anos tem, ragazza? — Mamma questiona,
pegando um prato e colocando várias misturas, prato que tenho
certeza que é pra minha secretária.
Aproveito e pego um prato também, assim como todos na
mesa que são tão curiosos e intrometidos, que não se importam
muito com o que estão colocando no prato, já que não tiram o olho
da mulher.
— Vinte e dois, dona — ela responde e seus olhos semicerram
para minha mãe, ela é muito desconfiada, na sua cabecinha deve
estar passando muitas coisas agora.
Olho bem em seu rosto, ela é uma menina ainda, apenas dois
anos a mais que meu irmão caçula, que eu considero uma criança,
embora seja o mais safado de nós. Seu rosto é doce e seus cabelos
cacheados escapando do penteado ficam à frente do seu rosto. Ela
é bonita, e esse é o único comentário que deixo minha mente fazer,
pois não posso reparar em uma menina novinha assim, muito
menos em uma funcionária.
— Ah, tão novinha! Você trabalha com meu filho há muito
tempo, Manuela? — questiona dona Antonella, ao entregar o prato
de comida para ela.
Começo a comer a minha comida e fico prestando atenção na
conversa das duas, pois além de não saber há quanto tempo ela
trabalha comigo, também não quero que minha mãe faça perguntas
demais, ela só veio almoçar!
— Há nove meses, senhora — sua voz tímida me chama
atenção, sempre me chama, assim como a de Vincenzo, que come
e olha para ela, que mesmo com todo esse saco de batatas em
volta do corpo, ainda é muito atraente.
— E como meu filho é? Ouvi dizer que trabalhar com ele é pior
que trabalhar com o diabo — meu pai entra na conversa com um
sorriso contido e eu escuto a ragazza começar a tossir. Quando vejo
que não está passando, me levanto para ajudar, mas Vince já está
ao lado dela, tentando fazer ela desengasgar com tapinhas nas
costas.
Não funciona, o rosto dela está ficando roxo e meu corpo
começa a se mover em direção ao seu, meus braços
automaticamente envolvendo seu corpo por trás.
Faço a manobra de Heimlich a apertando algumas vezes, até
que ela cuspa o pedaço de carne, e todos na mesa veem o trajeto
que ele faz, caindo em cima do balcão da cozinha.
Viro a ragazza para mim e olho em seus olhos, a sensação de
alívio me atinge de imediato ao saber que ela está bem e escuto ela
murmurando baixinho.
— Sabia que queriam me matar…
— Como? — pergunto sem entender.
— Na… nada não, senhor Heitor — ela responde, com a voz
fraca e seus olhos azuis lacrimejando.
A direciono para a mesa novamente e puxo a cadeira para ela,
enquanto todos a olham e perguntam se ela está bem, se quer
água, se quer outro tipo de comida, e eu só ando em direção ao
meu lugar, tendo como companhia o olhar de papai que não sai de
mim.
Não sei o que está acontecendo, mas desde que olhei nos
olhos dessa menina hoje, algo em mim acordou, algo que eu quero
muito deixar dormindo.
Algo que eu escondi há muito tempo, depois de tudo que
aconteceu.
Balanço a cabeça me livrando desses pensamentos.
Depois que todos voltam aos seus lugares e os ânimos se
acalmam, Manuela olha meu pai intensamente, depois vira seus
olhos para mim.
— O senhor é o pai dele? — pergunta ao meu pai que a
encara, enquanto termina de mastigar rapidamente o pedaço de
toscana que tem na boca e quando engole, responde à pergunta.
— Mas que falta de educação, sim, sim, eu sou o pai desse
traste, me chamo Enrico, e esses são os meus outros filhos, Gael,
Vincenzo e Pietro — papai apresenta cada um, que acenam com a
cabeça. Gael sem dar muita atenção, já que não tira os olhos de
mim, Vince dando atenção até demais e Pietro rindo às minhas
custas. — E minha linda esposa você já conheceu. — Seu olhar
apaixonado se volta para minha mãe que lhe dá um sorriso lindo em
resposta.
Quando eu era mais novo, sempre idealizei ter um
relacionamento como o deles, mas depois que fui amadurecendo e
tendo apenas relacionamentos fracassados com mulheres que só
queriam o meu dinheiro, parei de procurar por uma, principalmente
porque minha ex é uma dessas.
Há três meses terminei um relacionamento que eu tive por dois
anos. Um dia antes de a pedir em casamento, peguei ela me traindo
com o personal trainer dela, a descarada ainda teve a cara de pau
de dizer que estava carente e que precisava de mais atenção.
Porra, quando o relacionamento está com algum problema as
pessoas tem que conversar, não se jogar no colo de outra pessoa.
Meu dia de hoje já começou mal porque recebi uma ligação
dela antes de ir para empresa, ela não parou de ligar desde que
terminamos, mas se ela pensa que eu sou corno manso, ela está
muito enganada. Ela disse que vai fazer o que for para me ter de
volta — ou o dinheiro que pagava tudo que a mimadisse dela pedia
— mas ela pode tirar o cavalinho da chuva.
— São todos irmãos? — Ela arregala os olhinhos olhando para
todos nós que acenamos em concordância e depois foca sua
atenção em Gael. — Você é o vice-presidente, né? — pergunta
hesitante.
— Sou — ele concorda e ela sorri.
Não é muito difícil perceber que somos fratelli. Todos temos
cabelos castanhos, embora os meus sejam os mais escuros, mas
nossa fisionomia é muito parecida, apenas Gael e Pietro que
puxaram os olhos mais claros de Mamma.
— Obrigada por me receber senhor Enrico, mesmo que o
senhor não tenha tido muita escolha — a ragazza fala e meu pai ri,
encantado com sua boa educação.
Coisa que eu percebi, pois a maioria das secretárias que eu
tive me mandaram ir tomar no cu em menos de uma semana. Eu
posso cobrar essa ragazza o quanto for, mesmo que eu tenha
motivos, mas ela nunca fala nada.
— Você não me respondeu querida, como é meu filho no
trabalho? — Ela fica calada enquanto come, com muito entusiasmo
e percebo que já está ficando mais à vontade.
— Exigente, mas eu sei que é para o melhor da empresa —
ela fala entredentes, como se a resposta que quisesse dar fosse
outra.
— Ele exige muito, né? Mas você gosta de trabalhar para ele,
querida? — ele continua pressionando, e eu sei que ela está
mentindo quando responde.
— Claro, ele é um ótimo chefe. — Ela sorri e meus fratelli
bufam.
— Não precisa puxar o saco dele, ragazza, pode nos dizer a
verdade — Vincenzo se intromete na conversa e eu bebo um copo
de água para não falar nada, não quero jogar o copo de água na
cara dele e ele sabe disso, já que mamãe tem uma mão pesada.
Podemos brigar com os outros, nunca entre a gente.
Mas não deixam a garota comer em paz, porra!
— É do meu chefe que estamos falando, não importa se ele é
bom ou ruim, ele merece o meu respeito, nunca falaria mal dele
para outra pessoa — ela é firme ao responder, a verdade saindo
precisa em suas palavras, por algum motivo, ela parece ser o tipo
de pessoa que não xinga ninguém verbalmente, nem fala mal,
mesmo que queira jogar alguém na frente de um caminhão.
Fixo meus olhos nela e ela sentindo meu olhar, vira os seus
olhos para mim. Seu rosto ganha um tom mais vermelho, um tom
que mexe comigo.
Respiro fundo, tentando tirar essa sensação de mim e desvio o
olhar.
Vincenzo está envergonhado, percebi ao olhar seu rosto
vermelho por ter recebido uma pequena lição de moral, mesmo que
não tenha sido a intenção da ragazza. Meu pai parece mais
encantado com ela e isso me deixa desconfortável, porque ele pode
estar pensando algo que nunca vai acontecer.
Mesmo que eu me sentisse atraído por ela — coisa que eu não
sinto — eu não investiria por diversos motivos. Ela está em uma
situação vulnerável, e isso deixa as pessoas abaladas e ela pode
pensar que eu me aproveitei disso, ela é minha funcionária e isso
seria assédio e ela só tem a porra de 22 anos.
Eu tenho 34 anos, sou doze anos mais velho que ela, muito
mais experiente e gosto de pegar pesado na cama, ela ainda é uma
menina, precisa de rapazes da idade dela, e mesmo que eu não
esteja procurando um relacionamento no momento, se eu fosse
querer, seria com uma mulher, próxima da minha idade ou até mais
velha para variar.
Meu pai continua comendo calado e ninguém faz mais
nenhuma pergunta à ragazza pelo resto da refeição, meus fratelli
conversam assuntos aleatórios e Pietro dá a notícia de que acabou
de passar para a faculdade que ele tanto queria ir.
É uma pena que ele não queira cursar nenhuma faculdade
aqui no Brasil, mas acho que ele vai ter muito sucesso na LCU.
Enquanto o parabenizamos, com um olhar de canto, vejo
Manuela colocar mais comida no seu prato e comendo rapidamente,
enquanto ninguém está olhando, pois todos se levantaram para
abraçar meu irmão.

Ela não percebe meu olhar, mas algo muda dentro de mim,

por alguma razão, não posso deixar isso acontecer novamente. E

vou tomar medidas para que ela não tenha apenas três reais na

carteira.
Eu só quero ser alguém.
Mergulhar e desaparecer sem deixar rastros.
Eu só quero ser alguém.
Bem, não é o que todos querem?
( Someone to you — Banners)

Acordo sonolenta com o celular vibrando embaixo do meu


rosto e pego para saber as horas.
Ainda são apenas 06:45, o horário que eu acordo todos os dias
de segunda a sexta, fielmente para começar a me arrumar para ir ao
trabalho.
Com exceção de ontem, obviamente.
Ainda estou com muito sono, mas me obrigo a me levantar
para começar o dia.
Ontem, após sair da casa dos pais do meu chefe — que são as
pessoas mais gentis que eu conheci — voltamos para a empresa
em silêncio absoluto, nem eu, nem ele, queríamos conversar e
mesmo se quiséssemos, não é como se tivéssemos coisas em
comum para discutir além da empresa, e se ele quiser discutir sobre
trabalho, que faça no horário de trabalho.
Então, com o rosto coberto de vergonha e com a barriga cheia,
entrei na empresa ao lado do senhor Heitor e passei a tarde fazendo
o meu trabalho com o maior sorriso de todos, pois assim que ele
chegou, precisou sair para uma reunião e eu fiquei encarregada de
olhar alguns documentos sobre direitos legais de obras para a
publicação, mas fiz com um sorriso, pois estava em paz, com a
barriga cheia e com a certeza de que meu chefe não é da máfia
italiana.
Bem, dizer que eu tenho certeza é forçar a barra.
Meu celular volta a vibrar, mas dessa vez não é o despertador
e sim Duda.
— Bom dia, dorminhoca, te liguei para não se atrasar hoje de
novo. — Sorrio com a preocupação dela comigo, mesmo que não
nos conheçamos há muito tempo, Duda é o mais próximo que eu
tenho de família.
Meu peito se aperta um pouco com essa constatação.
— Bom dia, mi amor, obrigada pela preocupação, mas já
acordei, não vou cometer o erro de ler até duas horas da manhã
novamente. — Sua risada grave ecoou do outro lado, ela tem uma
risada que parece de alguém que acabou de sair de uma noite de
amor. Por falta de uma palavra melhor.
Ou decente.
E talvez tenha mesmo tido uma noite agitada.
— Que bom, mas hoje você vai almoçar comigo e me contar
por que você saiu para almoçar com o chefe! Eu pago — sua voz
demonstra muita animação para essa hora da manhã.
Gemo internamente ao pensar no interrogatório. Mas não
posso negar comida gratuita.
— Pode ser, eu te espero no saguão na hora do almoço e a
gente conversa, mas não teve nada demais e tenho quase certeza
de que ele não é da máfia italiana — argumento, pois adivinha quem
me fez ler esses romances mafiosos e pecadores da máfia? Duda
lindinha.
Que pouca vergonha.
Mas no off eu adoro.
Escuto a risada de Duda se tornar mais alta do outro lado da
linha e escuto o som de um porquinho.
Espera...
Uma gargalhada explode em mim quando percebo que esse
som esquisito saiu da risada dela, coisa que eu nunca imaginaria na
vida e escuto ela soltar mais sons assim sem conseguir parar.
Ela tinha uma risada tão sexy há pouco tempo.
— Pelo amor de Deus, Duda, você tá bem? — indago
prendendo a risada.
Ainda são 6:50 da manhã e nós parecemos duas loucas.
— Estou sim — ela toma fôlego do outro lado e eu faço o
mesmo — mas vou precisar desligar lindinha, te vejo na hora do
almoço e nós conversamos sobre o que aconteceu com o não
mafioso — digo um tchau fraquinho por conta da risada e ela
desliga.
Olho para o teto do quarto e faço exatamente o que eu disse
que todos gostam de fazer, encaro fixamente o teto e penso no que
tenho para fazer no dia.
Ontem, após chegar do trabalho, olhei para o quarto vazio que
é minha casa há três meses e lembrei da antiga.
Tínhamos uma casa bonita, não era grande coisa, mas era
nossa, mas infelizmente, tive que colocar ela para alugar, com o
aluguel que eu recebo dela, pago a conta de luz, o aluguel do meu
quarto, a conta de água, que ninguém paga, mas eu sou uma das
sortudas que tem que pagar e também me ajuda com as contas que
a vovó deixou em alguns mercados.
Eu poderia estar morando lá, mas é mais despesa do que eu
tenho dinheiro para pagar.
Depois que a lembrança veio à mente, deitei-me na cama e
dormi sem jantar, não é como se eu tivesse muita comida na
geladeira.
Agora, minha barriga ronca e me levanto de vez, tentando
colocar ânimo no meu corpo com o grande banho de água gelada.
Eu gosto, a água gelada faz bem para a saúde e não posso me dar
ao luxo de ficar doente agora.
Entro no banheiro minúsculo que não tem box e depois de tirar
a roupa, entro embaixo do chuveiro deixando a água lavar cada
tristeza, agonia e desespero que tentam criar raízes na minha
cabeça e me fazer desistir de tudo.
Não da minha vida, nunca dela, mas às vezes, tenho vontade
de só me deitar na cama e passar o resto dos meus dias chorando
em silêncio e sozinha.
Sucumbindo à dor de estar no mundo sozinha, sem ninguém
para se preocupar se eu vou ou não ser enterrada perto da minha
avó, da minha família.
Sem nada a não ser dívidas deixadas ao mundo.
Felizmente, eu me forço a seguir em frente, algumas pessoas
aceitam a morte como algo natural, eu não, eu tenho medo dela e
por isso, saio todos os dias de casa para trabalhar e tentar colocar
comida na minha mesa.
Sou uma garota de sonhos, uma garota que pode não ter
experiência com os homens, mas tem experiência com a vida o
suficiente para saber que eles não são a parte mais importante da
vida de uma mulher.
Saio do banheiro com mais disposição do que quando entrei e
pego minhas já conhecidas roupas folgadas, uma blusa que era da
minha avó, verde musgo, cheia de contas, de manga curta que vai
até abaixo da bunda, mas muito confortável, pego a mesma calça
que vesti ontem, às mesmas sapatilhas e penteio os meus cabelos
cacheados com os dedos.
Como decidi molhar ele de manhã, tenho que tentar
desembaraçar o ninho que se forma toda vez que eu durmo. Olho o
pote de creme Skala com apenas uma sobra no fundo e passo no
meu cabelo.
Não demora muito e já estou saindo de casa, como eu disse,
gosto de chegar antes do meu patrão para agilizar as coisas e vou
aproveitar para comprar pão com o real que eu tenho no bolso e
aproveitar também que tem café na empresa.
Depois de cinco minutos andando, pego a bolsa de crochê
velha que carrego no ombro e o celular para verificar as horas,
ainda bem que não esqueci de pegar os óculos hoje, ontem me deu
uma pequena enxaqueca para ler todos aqueles documentos legais.
Não sou advogada, mas já aprendi a ver propostas interessantes,
então só passo para meu chefe as que são beneficiárias para a
empresa.
São 07:30, como a padaria é atrás do estacionamento, tenho
tempo para comprar um pãozinho.
Com apenas quinze minutos faltando para o início do meu
expediente, vejo a fachada da empresa. A editora é grande e fica no
centro de São Paulo, o prédio tem quinze andares e por fora é todo
chique, cheio de janelas de vidro, as paredes são cor de areia e o
nome da empresa é feito em uma letra bem delineada com o logo
em cima e passo direto para o estacionamento para sair por trás,
não vou dar a volta na rua se eu posso ir por aqui.
Se tem uma coisa que eu tenho, tanto quanto a determinação,
é a preguiça, mas ela fica reservada para esses momentos.
Entro na padaria pequena, pintada em cores pastéis, tão
aconchegante que parece um pedacinho de paraíso da dona Flor
que assim que me vê, abre um sorriso que poderia iluminar o
mundo.
— Você está cada dia mais bonita, minha flor. — Seus braços
me esmagam em um abraço de tirar o fôlego, literalmente.
— E a senhora está cada dia mais forte — sussurro em seus
braços, a voz saindo sem fôlego, mas ela me aperta mais um pouco
antes de me soltar de vez.
— Você está tão magrinha, querida, já tomou café? — Seus
olhos pretos como a noite me sondam em busca de uma resposta e
só a encaro com um sorriso forçado.
Dona Flor tem mais de setenta anos, mas tem a energia de
alguém de trinta, tem um corpo curvilíneo e cheinho, sinal de que
come muito bem e me lembro do tempo em que eu me parecia com
ela.
Infelizmente, ela tem razão, estou magra, depois de todo o
sufoco que eu passei depois da morte da vovó e da falta de comida
constante, meu corpo perdeu toda a gordurinha extra que eu tanto
amava, eu não estou magrinha, eu estou desnutrida. É diferente.
— Vou tomar assim que chegar na empresa dona Flor, quero
comprar pão, apenas para o meu café, ontem cheguei atrasada e
não quero cometer o mesmo erro de novo. — Seus olhos
investigadores sondam meu rosto para saber se eu estou mentindo
ou não, e se eu estivesse, ela saberia.
Essa mulher fareja mentira a quilômetros de distância, como
um tubarão sente o cheiro de sangue.
— E posso saber o motivo de ter chegado atrasada? —
enquanto fala, vejo seu vestido rodado azul balançando enquanto
ela vai para trás do balcão pegar o pão que eu pedi. Sua pele no
mesmo tom castanho que o meu, brilha com o sol que atravessa as
vidraças.
Dona Flor é um poço de bondade, sempre sorrindo, sempre
gentil e muito, muito mandona.
— Fiquei lendo, mas não vai mais acontecer — digo a verdade,
pois como eu disse, tubarão.
Seu cenho franze e eu rio internamente, ela não entende o que
tanto a gente faz olhando para o livro, mas não fala nada a respeito.
— Pois trate de não fazer de novo, florzinha, não pode perder
seu emprego. — Ela me entrega a sacolinha com oito pães, como
sempre me dá o dobro do que eu peço, mas não reclamo e tento
pagar. — Não precisa, esse é por conta da casa. — Ela me dá um
beijo na testa e eu agradeço.
— Obrigada minha querida, que Deus lhe dê em dobro — me
despeço e saio da padaria.
Como eu disse, ela é muito gentil e eu não sou besta.
Algumas pessoas têm orgulho demais, querem pagar, não
aceitam a ajuda de ninguém para se sentirem mais fortes, eu admiro
essas pessoas, de verdade, mas eu tenho um instinto de
sobrevivência, e se estão me oferecendo ajuda, por que eu negaria?
Estaria sendo egoísta comigo mesma, me fazendo passar
necessidade à toa.
Quando alguém quer ajudar, eu aceito. Eu só não aceito
quando sentem pena de mim.
Dona flor não sente, ela me entende e se preocupa, não é
pena.
Vou logo em direção ao estacionamento e entro na editora,
com a esperança de que meu dia seja melhor hoje, às portas de
vidro já estão abertas e entro no grande hall de entrada, com as
paredes brancas, cheias de enfeites relacionados a livros, frases de
livros e uma estátua de livro. Mas tudo é aconchegante, o piso de
mármore branco, as paredes cor de areia, e os sofás com uma
tonalidade de cinza escuro que se eu tivesse permissão, dormiria
em cima de tão confortáveis.
Dou bom dia para Karen, a nossa recepcionista há mais de dez
anos, a qual não tive tempo de cumprimentar ontem e vou em
direção aos elevadores.
Espero por um tempo e logo ele chega, me levando para o
meu local de trabalho aqui dentro. Olho o celular e vejo que faltam
cinco minutos para o meu horário de expediente, e assim que o
elevador abre, vou em direção a minha mesa para começar a
organizar tudo para quando o senhor Heitor chegar.
Fico tão ocupada com os assuntos do dia que esqueço de
preparar o meu café, mas assim que faço menção de ir à cozinha do
andar, o elevador se abre e meu queridinho chefe entra.
Sento minha bunda na mesa novamente, vendo Heitor e Luiz
logo atrás dele, saindo do elevador e indo em direção a sua sala.
Em uma mão ele traz uma caixa e na outra um copo de café, assim
que para em frente à minha mesa, solta a caixa e me oferece o café,
me deixando momentaneamente confusa, o qual pego sem muita
reação, e ele deixa a caixa em cima da mesa.
Assim que faço menção de abrir a boca, ele é mais rápido.
— Relatórios dos direitos legais que lhe pedi ontem, senhorita
Manuela. — Fecho e abro a boca, mas apenas passo a pasta com
os relatórios para suas mãos e encaro Luiz, que esconde um sorriso
e um olhar de divertimento para a cara de bocó que eu estou
fazendo.
— Aqui senhor, mas...
— Sim, é para você, mas pare de fazer perguntas para as
quais já sabe a resposta e depois que terminar, faça o seu trabalho
— sua voz grave e com um pouco de ansiedade fala e observo ele
indo em direção a sua sala.
Olho dentro da caixa para saber o que meu chefe me deu e um
sorriso se abre em meu rosto e meus olhos marejam quando vejo
donuts de todas as cores dentro, minha barriga ronca em resposta e
eu pego o de chocolate, metendo o dente antes de pensar no que
estou fazendo.
Meu chefe trouxe meu café da manhã.
Sorrio ainda mais com a boca cheia e olho para a porta
fechada da sua sala.
Ele não é tão ruim assim.
Eu estava com medo, tive que deixar para lá,
porque a falta de perdão os mantém no controle.
Eu vim com boas intenções.
Então eu deixei ir, e agora eu realmente quero saber
( Monster — Shawn Mendes e Justin bieber)

Entro em minha sala depois de deixar os donuts para minha secretária,


sem interesse algum em ficar e ver sua reação.
A noite de ontem foi um martírio de merda, e bastou passar a noite
inteira imaginando e me revirando na cama pensando se ela iria jantar ou se
dormiria com fome para me deixar com uma dor de cabeça do caralho.
Minha mãe foi a causadora desse martírio.
Falando nela, mal entro na sala e meu celular já toca com uma
chamada sua. Atendo logo, porque se deixar tocar demais...
— Bom dia — resmungo ao sentar em minha cadeira, pensando em
que besteira dona Antonella vai falar agora, já que passou a noite falando
comigo e me enchendo de besteiras na cabeça com relação a minha
secretária e sua condição financeira.
Situação essa que ela mandou investigar assim que ela saiu comigo da
casa de papai ontem, já que pelas roupas e a fome, mamãe ficou com o
coração “doendo” segundo ela e pediu para o detetive da família procurar a
respeito de Manuela, coisa que eu só soube depois da ligação. Ela disse que
a vida da garota está indo de mal a pior.
Por isso a noite de merda.
— Quanta animação para falar com sua mãe, Dio mio, onde foi que eu
errei na criação desse menino? — Dio mio digo eu, já revirando os olhos.
Quanto drama!
Bufo estressado, sabendo que vou pagar mais tarde por essa falta de
educação, mas, meu senhor, até parece que ela não passou a noite me
azucrinando.
Quem tem animação quando tem uma noite mal dormida?
Eu respondo, ninguém!
— Mamma, desculpa, mas acabei de chegar ao trabalho e não tenho
muito tempo. — Escuto o seu bufar idêntico ao meu do outro lado da linha.
Engraçado como ela mete o cacete em mim se eu bufo perto dela, mas
está sempre bufando e arrebitando o nariz quando eu falo algo que a
desagrada.
Se ela fala algo que me desagrada, eu tenho o direito de bufar também,
não?
Não.
— Como está a bambina? Você levou café para ela? — Os sons de
portas batendo se fazem presentes e denunciam que ela está na cozinha, e
se eu conheço bem essa mulher, se ela perguntou sobre comida é porque
pretende fazer.
Deus me livre, ela vir aqui na empresa agora.
Me recosto na cadeira e massageio a têmpora esquerda que está
latejando. Faço um sinal para Luiz que sabe imediatamente do que eu
preciso e sai da sala em busca de algum remédio na enfermaria do prédio.
É uma editora, remédios para dor de cabeça nunca faltam.
— Sim, Mamma, trouxe uma caixa lotada de donuts, tem mais de vinte
ali dentro, tenho certeza que ela vai ter para hoje e amanhã também. —
Escuto ela tomando fôlego para falar, mas interrompo — eu também trouxe
café e pedi que Luiz fizesse um reajuste salarial para ela, dobrando-o —
termino de falar, com o dedo coçando para desligar a ligação, pois não gosto
de me meter em vida de funcionário e fofocar com minha mãe não é a coisa
mais digna que estou fazendo, esse trabalho eu deixo para Pietro.
— Ah meu bambino, sabe o tanto que eu tenho orgulho de te chamar de
filho? — sua voz alegre do outro lado me deixa saber que eu estou no
caminho certo, mas não me impede de notar a hipocrisia da frase.
Há pouco tempo estava falando que não sabia onde tinha errado na
minha criação.
Bufo novamente.
— Para de bufar ou eu arranco esse seu pulmão fora, cazzo! — Merda,
sabia que não deveria arriscar bufar mais de uma vez.
— Certo, era só isso que queria saber? Nada de “bom dia meu filho,
dormiu bem?” ou “já tomou café, meu querido?”. — Eu sou um homem
ciumento, não importa com o quê.
— Ah, deixa de drama, não te criei assim! — Escuto sua bufada
característica e se eu tivesse na sua frente, tenho certeza que veria seu nariz
arrebitado.
Olha só quem fala.
Como minha paciência — que é inexistente — já está acabando, decido
não prolongar assunto algum com Mamma, ou é capaz da minha cabeça
explodir.
— Olha Mamma, tenho trabalho a fazer, a gente se fala no almoço,
pode ser? — nem espero ela responder, pois sei que me mandará levar a
ragazza e desligo o telefone, sabendo que vou pagar por isso também.
Um.
Dois.
Meu celular vibra com uma mensagem em caixa alta, dela.
MAMMA: COMO OUSA? EU NÃO PASSEI NOVE MESES TE
CARREGANDO NA BARRIGA, PESANDO MAIS QUE UMA
MELÂNCIA, E ME FAZENDO GRITAR DE DOR PARA TE COLOCAR
NO MUNDO, PARA QUANDO CHEGAR NA FASE ADULTA TER
ESSE TIPO DE EDUCAÇÃO. EU NÃO MEREÇO ESSE DESCASO!
SEU PAI VAI SABER DISSO. E TRAGA A RAGAZZA PARA O
ALMOÇO!
Merda, como ela conseguiu escrever isso tudo em dez segundos?
Talvez se eu fingir que não vi a mensagem...
MAMMA: E eu sei que você leu!
Bufo, apenas por ter a certeza que ela não pode ver e olho para minha
mesa, pensando em qual desculpa usar quando chegar na casa dela sem a
ragazza, o que provavelmente é perda de tempo, pois já sei o que fazer.
Enquanto minha cabeça se perde em pensamentos, fazendo a dor
piorar, Luiz abre a porta e me traz o bendito remédio.
— Obrigado — agradeço a Luiz que está comigo há muito tempo e toda
vez que eu agradeço, é por ter me aguentado todos esses anos.
Com um grande gole de água, engulo a pílula e pego a pasta com os
relatórios de direitos legais e tento me concentrar.
Coisa que não funciona, pois a cabeça ainda palpita.
— Acho melhor você me passar esses relatórios e eu explico para você,
com a dor de cabeça que você tá, não é aconselhável ler — meu assistente
pessoal há quatro anos e um de meus amigos mais próximos, fala.
Olho seu rosto que tem a testa franzida e um olhar de advertência e
decido acatar seu conselho.
— Temos algum compromisso hoje? — Entrego a pasta para ele que se
acomoda no sofá que há no canto da minha sala. Um sofá bem confortável
que ele vai ganhar de presente, pois não aguento mais olhar para ele e
lembrar que já transei com Vanessa em cima dele. Coisa que não aconteceu
muito nos últimos meses de relacionamento.
É óbvio que eu mandei limpar, mas não quero lembranças do passado
consumindo minha mente, não esse passado.
Infelizmente ainda há o que se tornou meu passado, presente e futuro.
— Não, mas amanhã você tem o jantar de noivado da dona Célia com
Antônio, e lembrando disso, ela não estava casada há dois meses? — Seu
tornozelo se acomoda em seu joelho, enquanto ele encosta no sofá, ficando
mais confortável e sua sobrancelha arqueia em um questionamento.
Luiz é jovem, tem apenas 25 anos, e tem uma aparência que poderia
estampar capa de revistas. Moreno, alto com os cabelos meio
encaracolados, embora ultimamente tenha cortado mais baixo, olhos
castanhos e só isso que eu sei definir, começou a trabalhar como meu
assistente quando era um ano mais novo que Manuela, depois de ser
demitido de uma agência de modelos, por ser pego em uma cena
“inadequada” com outro modelo.
Ele apenas escolheu um parceiro que não ia de acordo com o “padrão”
e o jogaram fora como se ele estivesse errado.
Errado ele estava por se envolver com alguém do trabalho, mas isso
ninguém mais julga hoje em dia, mas a demissão ocorreu por “quem” ele
escolheu se envolver.
Desde então, ele está comigo, quer dizer..., não comigo, mas...
Bufo novamente, o que faz a outra sobrancelha dele se erguer.
Hoje o meu foco foi enfiado no rabo.
— Célia usa o casamento como pretexto para sexo, pois não se envolve
sexualmente com alguém fora do casamento — respondo sua pergunta,
fazendo com que sua risada ecoe pela sala.
Célia é uma mulher de cinquenta e cinco anos que já se casou mais de
dez vezes, ela é uma velha safada, diga-se de passagem, mas como
também é italiana, ela segue a tradição ultrapassada de não ter relações
antes do casamento.
Ela só não levou a sério os votos de ficar com o marido para o resto da
vida.
Mas ninguém pode dizer que aproveitou a vida mais do que ela. Está
quase concorrendo com a Gretchen.
— Essa mulher é visionária. — Luiz continua rindo, o que me arranca
um sorriso involuntário.
Não posso negar.
Nesse momento, enquanto volto meus olhos para o chão em frente a
porta, escuto batidinhas nela e assim que autorizo a entrada, Manuela entra
acuada na sala, com os cabelos soltos e molhados, uma blusa que ficaria
frouxa em mim, e olha que tenho mais de noventa quilos, e óculos de grau
escondendo o mar que habita em seus olhos de mim.
— Diga — falo a encarando e peço internamente a Dio que ela não
tenha vindo me agradecer pelo café da manhã, pois eu não sei o que dizer
se ela fizer isso.
Seus olhos voltam para o chão, mas rapidamente voltam a fitar os
meus, com seu rosto ganhando um leve tom rosado e ela responde.
— Tem uma mulher que diz que o senhor está esperando-a, eu não
tenho anotado na minha agenda, mas ela insiste em falar com o senhor —
sua voz sai quase sussurrada e eu tenho quase certeza que é de vergonha.
— Ela se chama Vanessa. — Sua boca faz um movimento fofo ao terminar,
mas a paciência que eu disse que estava acabando, se foi de vez ao saber
quem está lá fora.
Dio, revogo meu pedido, que ela me agradeça mil vezes pelo maldito
café.
— Cazzo! — Bato na mesa, e a mocinha se assusta — desculpa — falo
automaticamente e escuto um arquejo vindo do sofá que Luiz está sentado.
— Mande-a embora e se ela não for, pode chamar o segurança... — antes de
terminar, Manuela é empurrada da frente da porta, o que faz com que
tropece em absolutamente nada e caia de quatro no chão.
Tinha necessidade desse empurrão, Vanessa?
Dou a volta na mesa em direção a ragazza e direciono um olhar que
abateria mil carneirinhos para minha ex, que invadiu minha sala e tem um
olhar de arrependimento fingindo no rosto.
— Eu não queria derrubá-la — mentirosa — mas ouvi você mandando-a
chamar o segurança para me tirar e nós precisamos conversar, Heitor!
Minhas mãos se encaixam na cintura da minha secretária e ela respira
fundo, murmurando baixinho algo que eu não consigo ouvir e suas mãos
cobrem as minhas, enquanto a levanto do chão.
Tão leve, não pesa mais que uma pena.
— Como nós conversamos no nosso relacionamento, para resolver a
porra dos nossos problemas? Como nós conversamos quando você estava
transando com seu personal trainer? — rosno para Vanessa que se encolhe
e viro a ragazza, já em pé, para mim. — Se machucou? — pergunto, com a
voz mais baixa.
— Está tudo bem, senhor Heitor, eu vou voltar para minha mesa. —
Praticamente correndo, ela sai da minha sala e fecha a porta.
Merda.
— Não temos nada para conversar, Vanessa. — Volto para minha
cadeira e me sento, já com a cabeça que não tinha parado de doer ainda,
jogando fora os efeitos do remédio.
— Claro que temos, eu não sou esse tipo de pessoa, Heitor, só tive um
momento de fraqueza, prometo que não acontecerá mais — ela fala, sem se
importar com a plateia, plateia essa que está prendendo um riso com a mão.
— Você não pode jogar todo nosso relacionamento fora como se não valesse
nada, tenha consideração!
— Ela tá de brincadeira, né? — Todo o humor fugiu do rosto de Luiz.
— Consideração? — Onde ela compra o óleo que passa nessa cara de
pau dela? Tô precisando comprar para passar nas janelas da minha casa. —
Como você tem coragem de entrar na minha empresa, invadir meu ambiente
de trabalho e me falar de consideração? Consideração que você nunca teve
e não tem nem o direito de exigir de alguém. — Seus olhos se arregalam
com minha grosseria, mas se ela queria conversar, ela já falou, agora ela vai
ouvir. — Eu te dei tudo que você queria, não venha me falar que estava
carente, pois eu sempre lhe levei para sair, nunca neguei fogo dentro de um
quarto, inclusive fui atrás muitas vezes, as quais você disse que estava
cansada e negou, eu respeitei você, sempre te tratei bem, sempre atendia
aos seus pedidos, mesmo quando estava trabalhando e você pedia para sair
e ir a algum lugar, eu saía da porra do meu trabalho para ir até você, então
não venha me falar que teve um momento de fraqueza, pois se você achava
que o nosso relacionamento não estava sendo o suficiente para você,
deveria vir a mim e falar, pois é isso que um casal deve fazer, conversar. Mas
você pegou a saída mais fácil e eu não quero continuar com isso, Vanessa
— termino de falar já em pé, com uma Vanessa aos prantos, e eu não me
sinto mal, pois ela não tem esse direito. — Acabou, Vanessa.
Olho uma última vez para a mulher que eu jurei que seria minha
esposa, com seu corpo esguio, seu rosto lindo, que está coberto de lágrimas,
borrando a maquiagem e seus cabelos loiros que eu massageava depois de
uma noite de foda.
Como sei que ela não vai sair da sala, abro a porta e saio eu, com ela
gritando o meu nome atrás de mim. Dou de cara com os olhos arregalados
de Manuela, e minha cara fechada logo se desfaz.
Aceno com a cabeça rapidamente, vendo-a se levantar da cadeira com
um copo de água na mão, prestes a falar algo, mas passo direto para fugir
de Vanessa.
Caminho em direção ao elevador e olho rapidamente para trás, vendo
minha secretária derrubar o copo de água acidentalmente no vestido de
Vanessa, o que a distrai o suficiente para eu conseguir entrar no elevador e
sair dessa merda.
Não estou com cabeça para trabalhar essa manhã, então volto no turno
da tarde, afinal, eu sou o CEO dessa maldita empresa, isso tem que servir de
algo, né?
Olho para onde minha secretária está, recebendo os gritos de Vanessa.
Tão diferentes.
Fisicamente e mentalmente.
Dou um leve aceno para Luiz que olha com um prazer doentio para
Vanessa, chamando sua atenção e ele anda em direção as duas, pois já
basta ter feito Manuela cair, se ela fizer minha secretária chorar, aí eu deixo o
resto de consideração que tenho e mando os seguranças a levarem daqui a
força.
Assisto Luiz tentando amenizar o estrago, enquanto as portas se
fecham e logo em seguida fecho meus olhos. Desejo com tudo dentro de
mim que o fim desse dia chegue logo e outro se inicie.

Merda, ainda tem o almoço!


E se eu pudesse somente tirar o seu fôlego.
Eu não ligo se não tem muito o que dizer.
Às vezes o silêncio guia sua mente.
E te move para um lugar tão distante.
( Sweater Weather — Neighbourhood)

Juro que eu não queria, não foi por mal, mas a Louisa Clark
habita em mim e eu sou um poço de desastre. Mesmo que eu faça
de tudo para evitar.
Mas não acho que dizer isso vá fazer diferença para a mulher
com o dobro do meu tamanho e ainda de salto que está me
xingando de todos os palavrões possíveis no mundo nesse instante.
Que boca suja, hein? A mãe dela não lhe deu educação, não?
Odeio palavrões.
Embora de vez em quando escape um...
— Desculpe senhora, não quis molhar seu vestido, mas é só
colocar para secar e ele fica novo em folha! — testo a paciência da
mulher, que me encara incrédula pelo comentário e eu me encolho
um pouco.
Tem como secar, né? Eu não entendo essas manias de roupa
de rico, eu lavo tudo do mesmo jeito, e coloco no varal para secar.
Rico tem mania para tudo.
— Olha aqui sua imprestável...
— Por gentileza, Vanessa, gostaria de pedir gentilmente que
saia da empresa, pois o Heitor já lhe pediu isso e você não tem o
direito de ofender nenhum funcionário — nunca vi a voz de Luiz
dura dessa maneira quando interrompe a ofensa que sairia da boca
dessa mulher.
Mas a água está gelada, ela deveria agradecer, com o calor
que está fazendo, me sinto tentada a jogar um copo em cima de
mim também.
Será que se eu pedir para ela fazer isso, ela se sentiria
melhor? Não gosto de deixar as pessoas irritadas.
E olha que ela está assustadora com a maquiagem borrada, do
choro que estava tendo.
O olhar da tal Vanessa se volta fulminante para Luiz, mas ele
continua firme e quando ele faz menção de pegar o celular, seu
queixo empina e ela vira o nariz como se estivesse cheirando merda
e sai andando em direção ao elevador, os sons do salto alto no
mármore fazem eco no andar inteiro e suas costas estão tão eretas
que uma tábua perderia.
Esperamos por dois minutos em completo silêncio, e
finalmente o elevador chega nos livrando de mais dor de cabeça.
Eu me desculpei, então... consciência limpa!
Abuela dizia que não precisávamos do perdão de ninguém
além do de Deus, mas que o ato de pedir perdão era o que
importava, pois demonstra arrependimento, e se a pessoa não
aceitasse, isso ficaria como peso nos ombros dela.
Me viro para Luiz, este tem as mãos no bolso e um brilho
estranho no olhar, quase como prazer ao ver a porta do elevador
fechar.
Notando minha atenção, seu olhar se volta para o meu, e
semicerro os olhos em um claro sinal de repreensão para ele, que é
claramente ignorado e ele solta a risada que estava prendendo
desde o momento em que derrubei acidentalmente a água na
mulher.
— Não ria da desgraça alheia, Luiz! — Minhas mãos vão em
direção a minha cintura, e meus pés batucam o chão, enquanto
encaro o engraçadinho à minha frente que não para de rir.
Ele é tão bonito...
E ri igual a uma hiena.
— Você viu a cara dela? — Ele aponta o dedo em riste para o
elevador. — Em um momento estava chorando cheia de drama e no
outro. — Ele se dobra de rir mais uma vez, me arrancando uma
risada involuntária também. — No outro ela estava horrorizada por
você ter molhado o Valentim dela, aquela cretina mostrou as
prioridades nesse momento. — Ele faz um gesto de negação com a
cabeça. — Já disse que você é minha heroína? — Seus olhos
risonhos cor de ébano fitam os meus em claro divertimento.
— Eu não derrubei água por querer. — Bato o pé no chão com
teimosia, e morrendo de vergonha, porque eu realmente não queria.
— Claro que não, mas as melhores coisas são feitas quando
não pensamos muito. — Ele ainda ri um pouco, mas notando que
estou constrangida pelo que aconteceu, mesmo que tenha sido
engraçado, para de rir e me olha atentamente. — Não fica chateada,
querida, aquela mulher estava merecendo o banho que tomou, ela
fez o Heitor de palhaço — sua voz muda enquanto fala, vai de
mansa ao me consolar a dura ao falar o que a moça fez.
— O que ela fez? Nunca a vi vindo aqui, eles são um casal? —
pergunto, pois nunca a vi aqui, uma vez Duda disse que no meu
horário de almoço, uma mulher tinha vindo aqui para falar com o
senhor Heitor e tinha saído com o rosto corado e a roupa amassada.
Com certeza eles estavam fazendo coisas dentro da sala, mas
isso não é da minha conta. Deve ter sido a Vanessa.
— Eles namoraram por dois anos, mas ela o sacaneou, e não
aceita o término do relacionamento, parece uma psicopata — Luiz
me explica, e eu aceno, a mulher me empurrou sem motivo,
parecendo lembrar disso, Luiz se preocupa — você está bem? Se
machucou na queda? — Seus olhos analisam todo o meu corpo e
eu dispenso o comentário com um gesto de mão.
Uma quedinha daquela? Não é nada comparada às que eu já
tive.
A vida trata de me derrubar todo dia.
— Está tudo bem, mas o senhor Heitor foi para onde? — Volto
para minha cadeira, e sento, pegando mais um donut da caixa, um
com cobertura rosa e dou uma bela mordida, sem me preocupar em
ter plateia. — Ele vai voltar para trabalhar? Tenho que agradecer a
ele.
— Não faça isso, ele vai ficar constrangido. — Luiz senta em
cima da minha mesa e pega um donut, olho para ele de cara feia,
mas apenas ri e come tranquilamente. — Ele não gosta de
agradecimentos, então deixe isso para lá, quanto para onde ele foi,
não faço ideia. — Ele mastiga o donut, meu donut e quando termina,
me olha. — Tá sujinho aqui. — Faz um gesto para o nariz e ri
novamente, entendo que é do meu nariz que estamos falando e toco
ele.
Como que eu o sujei?
Luiz nem se despede, só sai de cima da minha mesinha e vai
em direção a sala do chefe a qual eles dividem, pois Luiz tem uma
mesinha que ele nunca usa no canto da sala, ela é enorme — a sala
— maior que meu apartamento, o que não é uma grande
comparação, aquela espelunca parece um ovo.
Volto novamente a mastigar meu donut e pego a agenda para
trabalhar, mas uma mensagem no meu celular tira minha atenção
novamente.
Olho para a tela, imaginando se eu estou com algum problema
de leitura e olho de novo.
Senhor Heitor: vamos almoçar na minha casa hoje.
Ele nem pede, ele avisa, sem nem perguntar se eu estou
disponível hoje.
Bem, ele pode supor isso, já que eu estou sempre disponível,
mas como sei que a mensagem só pode significar que quer ter
certeza se eu estou comendo bem, meu coração fica agradecido.
Não temos uma relação amigável dentro da empresa, como a
minha e a do Luiz ou a minha e da Duda, ele é o meu chefe, sempre
foi tudo formal, então a mensagem me surpreende, pois nunca
aconteceu antes, mas antes eu ainda estava dando conta das
coisas, agora, eu estava na miséria e parece que ele é o anjo mal-
humorado que vovó enviou para me guardar.
Mas eu já tenho compromisso para hoje, então preciso declinar
o seu “convite”.
Eu: Vou almoçar com a Duda, senhor Heitor, mas obrigada
pelo convite.
Senhor Heitor: Minha mãe vai encher meu saco se eu não a
levar, então você vai comigo.
Rio com outro donut entre os dentes, eu estava mesmo com
fome e respondo a sua mensagem.
Eu: Eu realmente tenho compromisso, mas vou tentar
desmarcar com a Duda.
Ele não responde, já está tudo de acordo com o que ele quer e
ele sabe que nenhum funcionário vai insistir em ficar comigo quando
ele quer minha companhia.
Ele não, a mãe maravilhosa dele.
Com o rostinho doce que ela tem, não parece alguém que
venderia pessoas, foi aí que eu descartei a ideia de máfia.
Balanço a cabeça em negação e volto meus pensamentos
para o trabalho, tenho muita coisa para fazer hoje em
agradecimento pelo café que ele trouxe, e gratidão é algo que tem
de sobra no meu coração.
Mas antes de começar, aviso a Duda que nosso almoço fica
para amanhã, o qual ela responde que já sabia, pois o chefe a
contatou para avisar e eu fico momentaneamente surpresa, mas
como sei pelo tempo que estamos trabalhando, que ele nunca
deixou nada ficar no seu caminho, é óbvio que ele falaria com a
Duda, para não me dar desculpas para não ir a esse almoço.
Encaro a caixa de donuts, com mais de quinze ainda e a
sacola de pão que tenho ao lado da cadeira e sorrio.
É incrível quando você não tem certeza se vai comer em um
dia e no outro, tem comida para uma semana.
Sim, pois as dívidas me cobraram tudo que eu tinha, e eu
fiquei sem dinheiro para nada, e saber que tenho donuts e pão, já
são um alívio, pois embora não seja carne, sei que vai encher minha
barriga e eu estou feliz, muito feliz por isso.
E ainda tenho um almoço garantido, o qual vou me
empanturrar de comer.
Eu estava sempre debaixo das asas da minha abuela, ela me
protegia de tudo, inclusive da situação financeira, pois com o meu
salário, eu guardava um pouco para economizar e o resto era para a
casa, não sabia que não era o suficiente.
Minha abuela já era idosa, e tomava muitos remédios por conta
da idade e do câncer, mas estava sempre de bom humor, então
nunca me toquei do que estava acontecendo.
Quando ela morreu, foi um baque na minha vida, tudo
começou a dar errado e eu não tinha ninguém em quem me apoiar,
não consegui me reerguer sozinha, foi tudo por água abaixo, meus
sonhos, minha casa, minha família, tudo foi tirado a força de mim, e
aqui estou eu, graças a Deus com um emprego, mas estava sem
nenhuma felicidade.
Até hoje, até receber uma caixa de donuts como um gesto de
boa fé.
Talvez minha avozinha esteja cuidando de mim de onde quer
que ela esteja.

Às 11:00 horas, meu celular toca com uma mensagem do


senhor Heitor me pedindo para descer, pois já está no horário de
almoço. No dele, no caso.
Arrumo minhas coisas na minha bolsinha de crochê e pego
meus donuts e o pão, indo em direção a cozinha do andar para
guardar nos armários.
A sorte é que tem chave, então guardo o pão e a caixa de
donuts eu coloco na geladeira. E daí se o pão ficar duro? Se deixar
fora pode dar formiga, lá em casa sempre enche delas.
Vou em direção ao elevador e desço um pouco nervosa
novamente por estar saindo para almoçar com o senhor Heitor, na
sua casa, como eu disse, não temos muita intimidade e fica
esquisito. Odeio ficar nervosa.
Assim que os elevadores abrem, vou em direção ao
estacionamento onde o chefe está esperando e o vejo encostado no
carro com a atenção fixa no celular.
Ele não está mais com o terno que vestia hoje de manhã.
Depois que saiu da empresa, ele passou alguns comandos para
Luiz por uma ligação e não voltou para trabalhar, talvez o assunto
da ex tenha realmente estressado ele.
— Senhor Heitor — anuncio minha chegada, para que ele não
se assuste, pois se fosse eu, já teria derrubado o celular no chão, no
entanto, ele apenas ergue os olhos castanhos intensos e lindos para
mim e abre a porta do passageiro.
Gentil da parte dele.
— Manuela — ele cumprimenta e segue para o banco do
motorista.
Aprendeu meu nome, criatura? Até que enfim.
Assim que ele entra, dá partida no carro e saímos em direção à
avenida.
Hoje o trânsito está pior, ontem ele também estava ruim, mas
estava tão apavorada com a ideia de máfia que não notei, mas hoje
está um caos.
Mas, a casa fica bem perto da empresa, para falar a verdade,
as duas ficam localizadas no bairro Brooklin, um bairro parcialmente
novo, mas que virou cartão postal da cidade por ser linda e de área
nobre. O bairro é um luxo e acredito que seja por essa razão que a
casa é nele.
Mas como eu disse, trânsito.
Assim que chegamos no primeiro sinal, avistamos um
caminhão no meio da pista, muito à frente de nós, mas não parece
ter acontecido nenhum acidente, está mais para problema mecânico
quando olho pela janela.
— Era só o que me faltava — o resmungo do senhor Heitor é
ouvido por mim e volto meus olhos para ele.
A roupa que ele está vestindo agora é uma camisa de botões e
mangas brancas, que tem os primeiros botões abertos mostrando o
início do seu peitoral e uma calça social preta, ele está
completamente elegante, não apenas as roupas, mas o jeito como
se porta passa essa impressão, assim como o carro, o relógio caro
e os sapatos também caros que vem no conjunto, deixando-o como
uma presença marcante por onde passa.
Meu chefe é o verdadeiro pecado em pessoa, só quem não
tem olhos, não enxerga o tanto que ele é lindo.
E seu chefe, Manuela.
— O que lhe faltava, senhor Heitor? — pergunto, levando
esses pensamentos para longe de mim.
Quando não se tem muitas experiências, ou no meu caso
nenhuma com homens, fica difícil ter o que falar.
— Nada ragazza — ele concentra seus olhos profundos em
mim e pergunta, com apenas uma mão no volante e a outra na
janela. — Você está bem? Você sabe..., a Vanessa... — Noto como
fica desconfortável ao falar da sua ex e trato de interrompê-lo.
— Está tudo bem, senhor, eu estou acostumada a cair. —
Sorrio, tentando tranquilizá-lo, mas parece que só o deixei mais
preocupado, pois seu cenho se franze e eu trato de esclarecer. —
Eu sou muito distraída, então quando a mulher me empurrou, não
foi muito forte, mas como eu sou desastrada, tropecei nos próprios
pés e caí, mas não precisa se preocupar, não foi nada demais —
digo, pois, a mulher pode até ter sido mal-educada em me empurrar,
mas não acho que ela queria me derrubar.
A vida não deixaria, pois ela teria concorrência.
Enquanto ele pondera minhas palavras, escuto os sons de
buzinas e grito de motoristas estressados, pois o sinal está aberto,
mas ninguém se move.
— Me desculpe mesmo assim, aquilo foi muito feio e não vai
voltar a acontecer — sua voz é séria e nesse momento o vento
muda, trazendo seu perfume para mim.
Seu cheiro é de homem, meio amadeirado, mas não tanto, não
tem muito perfume, é mais o cheiro dele e isso é impressionante,
pois como está um calor de 35º, ele também tem um pouco de suor,
mas até o cheiro do seu suor é bom.
— Tá desculpado. — Sorrio, prendendo a respiração e um
pouco constrangida por esta situação da minha cabeça.
Desde quando o suor cheira bem?
Não posso ficar pensando em como ele é bonito, em como ele
cheira bem e em como ele tem uma cara de safado que esconde
por trás dessa máscara de frieza e profissionalismo.
Se o cara faz aquelas coisas no trabalho, ele é safado sim.
É seu chefe, Manuela.
Jesus Amado!
— Você sempre almoça com a senhorita Eduarda? — por um
momento me perco na sua pergunta, mas logo meus pensamentos
clareiam quando percebo que está falando de Duda.
— Não, apenas uma ou duas vezes por semana, na maioria
das vezes ela come na casa dos pais também — respondo voltando
minha atenção para frente, pois os carros começaram a se
movimentar e o caminhão está sendo rebocado.
Ele também olha para frente e coloca o carro em movimento, e
eu espero que esse seja o único engarrafamento pesado assim no
caminho. Não sei como proceder em uma conversa com ele.
— E com quem você almoça? — sua curiosidade é genuína,
embora ele disfarce muito bem, fingindo que é uma pergunta
qualquer.
— Sozinha, só tenho Duda e Luiz como amigos dentro da
empresa, sou um pouco tímida, então não converso com muita
gente — confesso. — E Luiz sempre sai com o senhor. — Dou de
ombros, a solidão tem sido minha companhia nos últimos meses,
ela já é da família.
Ele me encara novamente, seus olhos transmitem um
sentimento que eu não consigo identificar e se concentram na
estrada novamente, mas à frente, vira a esquina e entramos na rua
residencial, cheia de terrenos e casas lindas. Fico admirando a
paisagem e ele pigarreia chamando minha atenção.
— Não vou trabalhar essa tarde, então não faz sentido você ir
para a empresa, vou trabalhar de casa — ele fala na maior
tranquilidade, suas mãos firmes segurando o volante, mãos muito
bonitas.
Foco Manuela.
— O senhor não vai trabalhar? — pergunto confusa, ele não
falta um dia de trabalho, ele está bem? — O senhor está bem? —
dou voz ao pensamento e ele solta uma risada grave e baixa que
faz todos os pelos do meu corpo se arrepiarem.
— Eu vou trabalhar, mas em minha casa. — Ele ri de novo. —
E sim, estou bem, senhorita — quando ele fala senhorita, penso que
estou dentro de um romance de época, é tão engraçado, pois ele é
a única pessoa no mundo que me chama assim.
Mas ele chama todas as funcionárias assim.
— Ah — duas letras, é o som inteligente que sai da minha
boca, pois ainda estou reagindo a sua risada grave e sensual e o
efeito de cambalhota no estômago que ela me deu.
Acho que já deixei claro o quanto o acho bonito.
Entramos no terreno da casa de seus pais novamente e fico
ansiosa de novo. Não aquela ansiedade por algo que você quer
muito, mas aquela que te deixa com um embrulho no estômago e
vontade de vomitar.
— Tudo bem? — ele pergunta ao estacionar em frente a
mansão e seus dedos tiram um cacho que caiu em meu rosto.
Quando percebe o que fez, e como meu corpo enrijeceu com o
toque, sua mão se afasta imediatamente como se eu estivesse
pegando fogo.
E talvez eu esteja.
Baixo meus olhos para o colo e sinto o rosto esquentar, sem
saber o que falar e o que ele está sentindo agora.
Não achei o toque ruim, mas é a primeira vez que alguém faz
isso.
Como eu disse, a abuela não me deixava me aproximar de
meninos e isso fez com que eu respeitasse o desejo dela, embora
tenha feito alguns colegas na faculdade, eles falavam comigo
normalmente, mas não me tocavam com esses gestos, apenas
normais.
Esse... foi diferente.
Fez uma corrente elétrica passar por meu corpo.
— Desculpe, isso foi completamente inadequado — ele
murmura rouco e logo em seguida sai do carro, sem me dar tempo
de responder.
Minha porta é aberta e eu saio, seguindo-o em direção a porta,
onde dona Antonella já está esperando.

Sorrio, tentando tirar toda a estranheza da situação e vou

em sua direção. Mas os pensamentos ainda estão confusos na


minha cabeça, pois essa é a primeira vez que sinto algo diferente

por alguém, e não sei se isso é certo.


Lábios vermelhos e bochechas rosadas.
Diga que irá me ver de novo.
Mesmo que seja apenas em seus sonhos mais loucos.
Sonhos mais loucos, oh.
( Wildest dreams — Taylor Swift)

O almoço de ontem foi no mínimo estranho, mamãe não avisou


a ninguém que eu levaria a ragazza, então todos trataram de me
encarar como se eu tivesse com três cabeças grudadas no pescoço,
como se eu tivesse tido alguma escolha de levar ou não a bambina.
Não tive, caralho.
Embora não tenha feito muita coisa para evitar.
Óbvio que o mais impressionado foi papai, uma vez que não é
normal eu levar alguém para casa e nem mesmo quando eu ainda
namorava Vanessa, nunca a levei em um almoço de família, então
levar Manuela dois dias seguidos foi um choque para todos.
Principalmente para mim.
Vanessa e mamãe não tinham uma boa relação desde o
momento em que colocaram os olhos uma na outra, Mamma disse
que ela tinha uma energia ruim, já que depois que visitou uma aldeia
onde a cultura popular acreditava nessas coisas, ela decidiu que
tinha um dom para isso e sabia a energia de todo mundo.
Isso aconteceu dois anos atrás, hoje ela já deixou essa mania
irritante de lado, mas ela com certeza tinha um dom, se eu tivesse
acreditado nela, não teria desperdiçado dois anos da minha vida
com alguém que não valia a pena.
Hoje a ragazza não pôde almoçar conosco, pois deixou claro
para minha mãe que tinha compromisso, o que provocou um brilho
de decepção nos olhos da velha por um breve segundo.
Contudo, quando Manuela disse que o compromisso era com
uma amiga, minha mãe voltou a ficar radiante.
Não gostei disso.
Porra, não gostei mesmo.
Mentiroso.
Quando cheguei na empresa, Manuela estava com alguns dos
donuts que sobraram de ontem na caixa ainda, embora estivesse
com um de chocolate entre os dentes.
Assim que notou minha presença, me encarou com um sorriso
que me tirou do eixo, e eu acabei dando um sorriso involuntário, já
que a imagem dela com o donut na boca e tentando sorrir foi uma
cena memorável.
Segui para minha sala, desejando um bom dia e feliz por ela
ter tomado café da manhã, mesmo que seja com essas bombas
calóricas.
Culpado.
O restante do dia foi de trabalho duro, já que sou o chefe da
empresa justamente por não deixar nada me abalar no trabalho,
embora tenha trabalhado em casa ontem, culpa da visita da
Vanessa, pois eu já não estava bem, e ver ela não me deixou
melhor.
Agora estou sentado no meu sofá, encarando a televisão, pois
hoje é quarta, e quarta-feira é dia de jogo.
Levo a cerveja à boca, vendo meu time dar uma surra no
Corinthians de 2x0, enquanto o terceiro está a caminho, visto que
Bruno Henrique está uma fera nos últimos jogos e nesse momento
está com a bola e indo em direção ao gol. Não demora para o meu
pensamento se concretizar.
— Pega, caralho! — Pulo do sofá, comemorando o terceiro gol,
porque... PORRA! É com o Corinthians que estamos jogando e a
vitória tem um gosto doce na minha boca.
Levo a cerveja novamente aos lábios, vendo que já está para
acabar o segundo tempo do jogo, faltando apenas alguns segundos
do acréscimo e sento novamente.
Um pensamento fugaz me vem à mente.
Será que ela torce para o flamengo também, ou é corintiana?
Me assusto em como a curiosidade em saber a resposta dessa
pergunta me consome, uma coisa tão simples, mas esse não é o
ponto, o ponto é eu estar pensando nela.
Caralho, não gosto disso.
O jogo acaba com a vitória do flamengo, mas ainda estou
pensando na ragazza.
Uma vontade incontrolável de ligar para ela e saber se está
bem me perturba, até eu perceber que meu celular já está em
minhas mãos e o número dela está na discagem.
Bloqueio o celular novamente, pois não posso continuar com
isso, minha razão implora para eu soltar o celular.
Mas ela não tem ninguém...
E isso não é da minha conta. PORRA!
Desbloqueio o celular novamente, como um maldito idiota e
acabo caindo na tentação.
— Senhor? — ela atende no quarto toque e sua voz rouca e
hesitante preenche meus ouvidos, enviando muitas sensações para
o meu corpo, que são devidamente ignoradas pelo meu cérebro.
— Boa noite — pigarreio, notando que minha voz também está
rouca e olho para o relógio. — Te acordei? — São nove horas, não
são muitas as pessoas que dormem cedo, mas muitas gostam de
ter o sono regulado, em vista dos compromissos do dia posterior.
Eu sou um desses, acordo todos os dias às seis horas da
manhã e saio para correr por uma hora, depois faço uma refeição
rica em proteínas, fibras e carboidratos, para me manter reforçado
até a hora do almoço, e justamente por acordar às seis horas, tenho
que dormir religiosamente às dez horas da noite e ter um sono
regulado de oito horas por dia.
Não quebro essa regra, só faço algumas exceções quando não
preciso acordar cedo no outro dia, o que ocorre apenas em fins de
semana ou quando eu estou em algum evento.
— Sim, senhor, mas do que precisa? — a voz ainda rouca e
hesitante pergunta do outro lado da linha, o que faz outra maldita
corrente elétrica passar pelo meu corpo.
Qual é o meu problema, porra?
— Pode voltar a dormir, não era nada demais. — O
arrependimento me bate por ter feito essa ligação, eu deveria ter
dado ouvidos a razão e não ter ligado, assim não teria interrompido
o sono dela.
Mas não deixo de notar em como ela não mentiu, apenas falou
a verdade e perguntou o motivo da ligação. Muitos poderiam dizer
que estavam apenas deitados, como Gael gosta de fazer, mas ela é
sincera.
Gael é um mentiroso de carteirinha, aquele vagabundo.
— Já que eu estou acordada, pode falar. — Escuto o barulho
de lençóis e de uma cama que faz tanto barulho que não sei como
ela consegue dormir, e isso porque eu sei que ela está apenas se
mexendo, imagina se estivesse fodendo.
Um gosto amargo passa pela minha garganta com esse último
pensamento.
Não posso deixar de lembrar da nossa pequena interação
ontem no carro quando inconscientemente, levei meus dedos para
tirar o lindo cacho que estava me atrapalhando de ver seus olhos, e
o modo como ela ficou rígida e corou furiosamente na minha frente.
Aquilo foi bastante inadequado e essa minha reação com ela
me deixou ainda mais incomodado.
Ela é só uma menina...
E está vulnerável...
Não posso ter nenhum pensamento pervertido com ela, não
posso nem cogitar pensar nisso, é completamente inadequado, eu
nunca me aproveitaria dela e ela é minha funcionária, cacete!
É óbvio que a volta para a empresa foi feita em completo
silêncio.
De novo.
Contudo, não sei se ela ficou constrangida, ou se não gostou
do meu toque e a falta de informação me deixou inquieto pelo resto
do dia que passei em casa.
Não se engane, ainda estou querendo saber o que ela achou,
mas não vou submetê-la a esse constrangimento e...
— Senhor? Ainda está aí? — sua voz preenche meus ouvidos
novamente. — Porcaria, sabia que esse celular ia pifar uma hora ou
outra — a escuto resmungar do outro lado e solto uma risada,
respondendo antes que desligue por engano.
— Desculpa, me distraí.
— Ah, pensei que tinha sido meu celular. — Eu sei. — Mas o
senhor está enrolando, não vai dizer o que quer? Eu posso fazer. —
Não pode, não. — Mas o senhor tem que falar logo, porque eu estou
com muito sono, senhor. — Escuto um bocejo dela e naturalmente
bocejo também.
Droga, eu nem estou com sono.
— Você é flamenguista? — a pergunta sai da minha boca
apressada.
— Como? — o modo como a voz dela saiu, me faz ter certeza
de que está pensando que eu perdi a cabeça.
Eu também.
— É uma pergunta simples, torce para o time do flamengo? —
pergunto mais uma vez, minha voz gentil até demais, quantas
cervejas eu bebi?
De repente me lembro que a maioria das mulheres não gostam
de futebol e torço internamente para que ela não seja assim.
— Não senhor, sou corinthiana. — Não... por que ela gosta de
futebol?
Solto uma risada.
— Seu time acabou de apanhar do meu. — Meu sorriso dobra
de tamanho quando ela choraminga do outro lado.
— O senhor me ligou para jogar isso na minha cara? — ela se
irrita, o que me deixa ainda mais feliz, uma parte minha se pergunta
o que diabos eu estou fazendo, mas deixo essa parte de lado.
— Não, mas não pude perder a oportunidade de ofender esse
seu timezinho de merda. — Bebo o restante da cerveja escutando o
seu gritinho indignado do outro lado, mas muito satisfeito comigo
mesmo.
— Pelo menos meu time não foi cantando vitória no mundial e
voltou com o rabo entre as pernas. — Meu rosto se fecha na mesma
hora.
— Essa foi muito baixa, senhorita — rosno, não gosto de falar
desse assunto, eu fui naquela maldita final só para ter raiva!
— O senhor que começou — ela diz, e consigo escutar a
risadinha discreta que ela dá.
Levanto do sofá e subo as escadas em direção ao quarto,
depois de desligar a televisão e jogar a cerveja no lixo.
— Justo — falo ao me deitar na minha cama, sentindo
imediatamente a maciez do meu colchão e o conforto e lembrando
imediatamente do conforto dela.
— Certo. — Ela ainda sorri, mesmo que eu não veja, eu sei. —
Senhor? — ela chama.
— Hum? — Abraço um travesseiro, e logo outro pensamento
invasivo, invade minha mente.
Como seria abraçar ela?
— Eu posso dormir? — ela pergunta hesitante.
— Se eu me recordo, falei para você fazer exatamente isso,
senhorita. — Mando o pensamento sobre o abraço para a parte
mais escura da minha mente.
— Boa noite, senhor — esse senhor…
— Boa noite, senhorita. — Boa noite, Manuela…
A chamada é encerrada e meus olhos desviam para o teto.
O que está acontecendo comigo?
É inegável que eu estou ficando atraído por ela, ela é linda.
Mas é só uma menina, doze anos mais nova que eu, com sonhos
para a vida que talvez eu não possa realizá-los, e vulnerável.
E minha funcionária.
Não posso esquecer disso, mas vários pensamentos invadem
minha mente, enquanto olho para o teto e fecho meus olhos
tentando me concentrar em outra coisa que não seja ela e seus
olhos doces.
Não funciona...
Me remexo na cama, com pensamentos nada respeitáveis
rondando minha cabeça e acabo dormindo, e por incrível que
pareça, sonhando.

Com ela.
Toda intenção pura termina quando os bons tempos começam.
Caindo sobre tudo para alcançar a faísca da primeira vez.
Tudo começou sob luzes de neon e depois tudo escureceu.
Eu só sei ir longe demais.
( BAd Habits — Ed Sheeran)

Infelizmente, Duda teve um compromisso urgente com a


família ontem e precisou cancelar o nosso almoço, não contei ao
senhor Heitor, porque já estou me sentindo desconfortável em ir
todos os dias à sua casa, já que fui dois dias seguidos com ele.
Então, decidi ficar na editora e acabei almoçando pão, uma vez
que eu tinha comprado um dia antes e ainda tinham muitos.
Não estou reclamando, longe de mim fazer algo assim, sei que
eu não tenho muita comida na geladeira de casa, mas estou feliz
que eu tenha tido o que comer atualmente, com a minha situação
financeira precária, eu tenho é que agradecer em ter esses
alimentos na minha mesa.
Não sou sonsa, não vou me fazer de vítima quando eu sei que
tem pessoas piores que eu, embora não precise comparar nada,
acho injusto da minha parte não agradecer todos os dias pelo que
tenho quando tem muitos que não tem um teto sobre a cabeça.
Bem...
Duda cancelou o almoço de ontem, então combinamos de
almoçar hoje e o senhor Heitor deve ter ficado sabendo do fato, pois
não me convidou para ir almoçar e ainda me desejou um bom
almoço e para mandar os cumprimentos para minha amiga.
Vou admitir que fiquei surpresa, pois ele não é do tipo
comunicativo, mas acatei seu pedido, pois se ele pediu, eu tenho
que dar o cumprimento, eu sou uma boa pessoa.
— Então, o que está acontecendo com você e o chefinho que
não sabia nem o seu nome e agora te leva para almoçar e
cumprimenta seus amigos? — A faca na mão da minha amiga está
apontada para mim, e seus olhos me encaram suspeitos e
indagadores.
Estamos no restaurante Lua Blanca, um lugar muito legal que
fica localizado na Av. Santo Amaro e que serve uma carne assada
maravilhosa.
Isso me faz lembrar que essa semana é a semana do
churrasco na casa do senhor Heitor e um sorriso involuntário se
abre em meu rosto.
— Ahá, tá acontecendo algo, né? Me conta, Manuela! — Oh
merda, não estava nem pensando na pergunta.
— Não queridinha, pirou? O senhor Heitor é muito profissional
e para de apontar essa faca pra mim, tá parecendo uma psicopata
— sussurro a última parte para Duda que ainda apontava a faca
para mim.
Minha abuela dizia que não devemos apontar a faca para
ninguém, pois dá azar, Deus me livre de ter mais azar do que eu já
tenho agora.
A loira à minha frente abaixou a faca e cruzou os braços, me
encarando como se eu fosse uma pecinha de um quebra cabeça,
daqueles que ela ama montar, já que tem vários estocados na sua
sala e querendo saber onde eu me encaixo.
Ou tentando encaixar tudo o que está acontecendo para
realmente saber o que eu tenho com o senhor Heitor.
Eu sei o que ela vai descobrir.
Absolutamente nada.
— Vai esconder as coisas de mim agora? — Ela semicerra os
olhos e faz um biquinho de choro. — É assim mesmo, a gente cria
uma amizade e cuida com todo carinho, para a pessoa deixar…
— Ah, pronto… começou. — Bufo, enfiando uma colher cheia
de farofa de banana na boca, porque tanto me livra da conversa, ou
atrasa... Tanto porque essa farofa é maravilhosa.
— Sério? Nadinha? — Ela ainda me encara em dúvida, suas
sobrancelhas alcançando o couro cabeludo de tão altas que sobem,
mas como sabe que eu não sou uma mentirosa, e meu rosto é um
livro aberto, apenas bufa e volta a cortar com elegância o filé no seu
prato e junto com ele, leva um pedaço de batata cozida e da salada
à boca.
Eduarda é uma mulher que tem muito problema com a comida,
então tenta ter uma alimentação saudável sempre que pode.
Não quero entrar em muitos detalhes com ela, sobre mim e o
senhor Heitor, pois posso não ser uma mentirosa, mas nem por isso
preciso falar da minha situação para todo mundo que conheço. Nem
para o senhor Heitor eu contei, mas acho que ele desconfia, ao
contrário de Duda, que nem imagina que se não fosse por ela, eu
estaria comendo mais pão.
Pão é bom, mas não serve para almoço.
Não contei que estou lotada de dívidas que não tenho dinheiro
para pagar, nos conhecemos assim que eu entrei na empresa e até
hoje ela é a pessoa mais próxima a mim ali dentro, e fora também,
mas ela já tem problemas pessoais o bastante para ter que se
preocupar com os meus.
E eu sei que ela iria se preocupar, ela é uma ótima amiga.
Foi engraçado ver a confusão e a culpa no seu rosto quando
pensou que meu nome fosse Mariana quando o chefe me chamou
assim três dias atrás. Aposto que pensou que vinha me chamando
pelo nome errado todo esse tempo.
— Bem, pode não estar acontecendo nada, ainda. — Ela dá
ênfase à última palavra, balançando as sobrancelhas em um gesto
sugestivo, mas finjo não escutar.
O Senhor Heitor é um dos homens mais bonitos que eu
conheci, mas acho que é um pouco velho para mim. Abuela dizia
que eu tinha que casar com alguém da minha idade, pois todos os
objetivos estariam alinhados.
Ou talvez não…
Talvez alguém mais velho possa…
— Para de colocar minhocas na minha cabeça, Duda! —
Balançando a cabeça em negação para expulsar esses
pensamentos da mente, semicerro os olhos e aponto a colher para
ela, que ri e coloca mais comida na boca.
Duda pode até comer alimentos saudáveis, mas come um boi
inteiro se deixar.
— Mas não minta, não é estranho ele te levar para conhecer a
família assim do nada? — pergunta e olha para o vestido azul de
gola alta que está vestindo, o qual deixou cair um pouco do molho
do filé em cima dos peitos dela. — Merda.
— Ele não me levou para conhecer a família, me levou para
almoçar, e isso foi muito gentil da parte dele. — Entrego alguns
guardanapos para ajudar a tirar a sujeira do vestido, porque ele é
muito lindo para ficar assim e ela pega da minha mão, mas ao
limpar, faz mais bagunça e desiste voltando a comer.
Tadinho do vestido, tratado com tanto desrespeito.
Volto a comer também, e como comi demais, acabo tendo que
beber água para a comida descer.
— Tudo bem, se não quer falar sobre isso, beleza, mas me diz,
como são os irmãos dele? Gael trabalha na empresa também, mas
quase nunca é visto, eu pelo menos nunca vi, são uma família bem
reservada, né? — Duda indaga e eu coloco o copo de água
novamente na mesa.
— Eu sabia que Gael trabalhava na empresa, mas nunca tinha
visto ele, ele é bem bonito, são todos parecidos, coisas de irmãos,
mas a diferença entre eles mais marcante são os olhos, dois deles
têm olhos mais claros. — Projeto o lábio inferior para frente e aceno
com a cabeça, perdida em lembranças do almoço. — Tem outro, o
Vincenzo, ele gosta muito de falar, e o Pietro, pelo que eu entendi é
o caçula, ele é mais novo que eu e vai fazer faculdade fora, ele e
Gael são os que têm olhos claros. Mas todos são tão bonitos que dá
até vergonha ficar no mesmo ambiente que eles. — Afasto o prato
vazio ao terminar de comer para o meio da mesa ao mesmo tempo
que a loira à minha frente, e ela me encara curiosa.
— Como assim, vergonha? — Apoia os cotovelos na mesa e
acena para o garçom, pedindo a conta. Olha o celular e me mostra a
hora, em claro sinal. Estamos no fim do horário de almoço.
— Gente bonita daquele jeito, parece até famoso, e eu fico
encarando eles o tempo todo para saber se são reais — murmuro
baixinho e com vergonha. Porque eles são bonitos demais para o
próprio bem e eles sabem muito bem disso. Tenho certeza.
Duda ri, balançando a cabeça. Mas é verdade.
Eles me pegaram encarando algumas vezes, e eu fiquei bem
constrangida, menos o senhor Heitor, ele não me pegou encarando-
o, mas eu já o peguei me encarando algumas vezes no almoço.
O que me deixou ainda mais envergonhada.
— Tira foto e me mostra na próxima visita, quero ver esses
projetos de Adônis — a loira fala e paga a conta para o garçom.
Se tiver outra visita...
— Vou tentar…, mas tenho uma novidade — essa novidade
pode me dar um sossego nos próximos dias.
— Diga. — Nos levantamos da mesa e nos dirigimos à saída.
— Vendi a casa e consegui pagar todos os empréstimos que
vovó deixou, até os juros. — Sorrio largamente, porque eu estou
muito, muito feliz em ter tomado essa decisão, eu tenho um
apartamento, e mesmo que aquela casa seja o único lugar que eu
possa ter chamado de lar, quando precisamos, temos que tomar
medidas drásticas para sobreviver.
Eu gostaria de algum dia voltar para ela, mas sei que precisava
fazer isso, eu tenho um apartamento e com o pagamento do
empréstimo, vou conseguir arcar só com as contas normais, como
aluguel, energia, água e mercado. E mesmo que esse mês ainda
seja péssimo, sei que no próximo vai melhorar, estou muito
esperançosa.
— Meu Deus amiga, você não queria voltar a morar lá um dia?
— Duda se preocupa, e eu sorrio tristemente.
— Queria, mas fiz o que tinha que ser feito, não é como se eu
não tivesse um teto sobre a cabeça — forço uma piada e Duda para
na frente do restaurante e me encara séria, sondando cada parte da
minha expressão.
— Se foi o que decidiu, espero que não se arrependa, lindinha.
E fico muito feliz por você e orgulhosa também — ela me abraça
apertado e depois pega minha mão e me leva para onde seu carro
está. — Mas agora vamos, ou vamos chegar atrasadas.

Vinte minutos depois, estamos entrando na editora e seguindo


para nossas salas. No meu caso, para a minha mesa.
Assim que sento em minha cadeira, noto que a sala do chefe
tá fechada, mas que uma luz passa pela fresta da porta indicando
que ele já chegou do almoço. Apenas me sento e começo o meu
trabalho checando os e-mails da editora, porém, uma caixinha
pequena em cima da mesa chama a minha atenção, pois não
lembro de ter deixado nenhuma aqui.
Ela é do tamanho de uma caixa de sapato e quando a pego,
vejo o bilhete que tem em cima.
Para a senhorita, Manuela.
Espero que não chore de vergonha quando ver o que tem
dentro, pois eu não tenho culpa se você fez uma escolha errada.
Não tem assinatura, mas só se eu fosse idiota não saberia que
a única pessoa que me chama de senhorita é meu chefe.
Com o coração galopando, abro a caixa lentamente, com medo
do seu conteúdo, mas assim que meus olhos se fixam no que tem
dentro, meu peito explode em uma gargalhada alta.
Dou risada como não tenho dado há muito tempo, ao pegar um
pequeno cupcake com a cobertura do emblema do flamengo. E são
cinco, cinco doces com o emblema do flamengo em cima e eu
gargalho ainda mais alto, fazendo a porta do senhor Heitor abrir, e
ele em pessoa sair de dentro para saber o motivo da minha histeria.
Não sei de onde ele tirou tanto senso de humor.
Direciono o meu maior sorriso para ele ao dar uma enorme
mordida no doce, ainda sentindo a gargalhada no peito e ele levanta
uma sobrancelha ao andar em minha direção, com um sorriso gentil.
— Gostou? — pergunta ao parar na minha frente.
Aceno com a cabeça, terminando de engolir o pedaço, para
poder responder.
— Viu essa mordida? Vou acabar com esse cupcake, como
meu timão vai acabar com o seu no próximo jogo. — Sorrio
oferecendo o bolinho para o chefinho que me encara de olhos
semicerrados.
— Sabe, sonhar acordado é um privilégio que poucos têm —
ele diz, com um sorriso contido no rosto e apoia as mãos na mesa,
vindo em direção ao bolinho e dando uma bela mordida.
Meus olhos se fixam na sua boca, vendo-o mastigar
lentamente, limpando com a língua um pouco de cobertura que ficou
no canto da boca, e encaro um pouco mais do que o adequado.
Quando percebo o que estou fazendo, sinto meu rosto esquentar e
baixo os olhos para a mesa.
Uma mordida não deveria ser tão sexy assim.
— Não sei porque o senhor está tão feliz, pode até ter
ganhado, mas o meu Corinthians ainda está acima do seu na tabela.
— Volto meus olhos para seu rosto novamente, tentando afastar a
vergonha, mas me pego encarando seus olhos âmbar, profundos e
fixos em mim também.
— Heitor — ele diz.
— Ham? — indago confusa, ainda perdida em seu olhar... nele.
Ajeito os óculos no rosto, mesmo que estejam certinhos.
— Me chame de Heitor — ele murmura, baixando os olhos
para os meus lábios.
— Sim, senhor Heitor.
— Apenas Heitor.
— Sim, senhor apenas Hei... porcaria. — Balanço a cabeça,
tentando colocar os pensamentos em ordem, mas é um pouco difícil
quando ele fica olhando para a minha boca.
Ele ri e balança a cabeça, se levantando e olhando para os
lados, meio atordoado.
— Espero que tenha gostado do cupcake, e... tem cobertura
fazendo um bigodinho fofo em você — ele diz com olhos divertidos.
— Droga... — Levo a mão rapidamente para limpar, tirando
uma boa quantidade de cobertura preta e vermelha, subo mais um
pouco a mão e vejo que tenho no nariz também.
Ah merda, pareço criança.
Ainda bem que ele não me viu chupando manga.
Ele ri e volta para a sua sala, me deixando com vergonha e
com um friozinho de ansiedade na barriga.
Então era por isso que ele estava olhando para a minha boca?
E eu pensando que estava seduzindo!
Que seduzindo o quê, Manuela, ele é seu chefe!
Bato a testa uma, duas, três vezes na mesa, para tentar botar
juízo, mas tenho certeza que meu juízo ainda vai por água abaixo, e
quem vai afundar ele vai ser o senhor Heitor.
Senhor Heitor.
Apenas Heitor.

Heitor.
Meu coração parece como uma brasa e está iluminando a escuridão.
Eu vou carregar essas tochas por você,
para que você saiba que eu nunca vou deixar-las cair.
(Memories — Marrom 5)

A sexta-feira chegou mais rápido do que eu esperava, mas


como tenho andado meio aéreo ultimamente, deve ser por isso que
não notei.
Hoje eu e meus fratelli, inclusive o caçula, vamos nos
encontrar na minha casa para beber um pouco e conversar.
Somos muito unidos, e além de sermos fratelli, também somos
melhores amigos, nem mesmo Pietro que é o mais novo e o mais
distante em idade de todos fica para trás.
Mamãe e papai passaram um tempo sem ter filhos depois que
eu, Gael e Vincenzo tínhamos nascido. Ela estava traumatizada por
ter três pestes como nós dentro de casa e não tinha pretensão de
ter mais nenhum bambino. Porém, o destino quis que oito anos
depois que Vincenzo nascesse, ela engravidasse de novo.
Eu tenho trinta e quatro anos, Gael tem trinta e um e Vince tem
vinte e nove, mas sempre fizemos de tudo para que Pietro não se
sentisse sozinho por ser o mais novo, já que ainda tem vinte anos,
mas ele é pior que eu e meus fratelli, então sabemos que podemos
comentar qualquer coisa com ele, o vagabundo nasceu e aprendeu
tudo o que sabe com os três fratelli mais velhos.
Ele também é o único que escapa dos tapas de dona
Antonella, já que vive para fofocar com ela e a deixa feliz.
Encaro a mesa do meu escritório, guardando tudo dentro da
pasta que vou levar para casa e o que não vou precisar mexer no
final de semana, eu coloco nas gavetas, enquanto encaro o celular
que marca seis horas.
— Você quer carona? — pergunto a Luiz, que é um folgado e
já está com tudo guardado, mexendo no celular e jogado no sofá
que eu já o mandei levar dessa sala, mas ele continua negando,
uma vez que se acostumou com ele, e pode não ser tão confortável
o novo que eu preciso comprar.
Como se ele não fosse ficar melhor na casa dele, ele poderia
presentear a mãe, já que ainda mora com ela.
— Não, vou sair com o Carlos, do TI, sabe quem é? — Ele
balança as sobrancelhas sugestivas e eu bufo, batendo os
documentos para alinhar e colocar dentro da pasta.
— É claro que sei, ele trabalha para mim — alfineto e meu
assistente abusado ri.
— Ei, você não pode falar nada, pensa que não vejo o seu
olhar para cima da pobre garota? — Ele ergue a sobrancelha e um
sorriso malicioso se forma em seu rosto.
Se eu não gostasse dele, lhe daria um murro agora.
Abusado.
— Não sei do que está falando. — Levanto da cadeira e dou a
volta na mesa, pegando o celular e olhando as mensagens que
chegaram dos meus fratelli.
Gah: Será que se eu almoçar antes de ir para o almoço na
segunda, Mamma irá ficar chateada se eu não comer muito? Não
curto comida árabe.
Vince: É só essa semana, não testa a sorte, que a Mamma é
parente dela.
Pietro: Mamma disse que você vai ter que comer dobrado
segunda.
Gah: Você já foi falar?
Vince: Burro foi você, que mandou mensagem para o
fofoqueiro ver.
Heitor: Se lascou.
— Não se faça de idiota, Heitor, não adianta negar, aquela
gatinha está conquistando você, né? — Fecho a cara para o meu
assistente, que ri alto e finjo que não ouvi a verdade em suas
palavras.
Apenas ando em direção a porta e abro, dando de cara com o
assunto da conversa sentadinha na sua mesa, como a boa menina
que é, com os olhos vidrados no computador, mas assim que nota
minha presença se aproximando, levanta os olhos lentamente até
mim, como se não quisesse tirar os olhos da tela.
— Já está na hora de sair? — pergunta baixinho, mexendo nos
óculos de aro transparente que ficam lindos nela.
— Já sim, desce conosco? — pergunto, meu rosto já mais
gentil, escutando a risadinha nada discreta de Luiz, que acaba
recebendo uma pancada “acidental” da minha pasta de documentos.
— Ai! — ele resmunga dramaticamente, massageando o
braço.
— Claro, deixa eu só desligar o computador e pegar minhas
coisas, acho que é o tempo do elevador chegar — ela comenta
divertida e eu me dirijo ao elevador.
— Não sabe do que estou falando, hein? — a voz divertida fala
ao meu lado, depois de um momento.
— Vai tomar no...
— Chegou — Manuela interrompe meu xingamento de
propósito, me lançando um olhar feio de repreensão e eu reviro os
olhos, voltando um olhar mais feio para meu assistente.
Por que eu estou sendo repreendido? Ele é o engraçadinho
aqui.
As portas do elevador se abrem e entramos os três.
— O que você vai fazer esse final de semana, Manuela? —
Luiz pergunta e eu me viro, ficando de frente para ela, que quando
nota a atenção, encara os pés com vergonha.
Porra, como ela é fofa.
Depois do sonho que eu tive na quarta-feira com ela, tive medo
de ficar desconfortável na sua presença, pois no meu sonho, ela
estava deitada na minha cama, sem nenhuma roupa, com meu
corpo se movendo sobre o dela, mas tentei esquecer ele com todas
as forças que tive, e ainda tento jogar essa lembrança — que não é
lembrança — para o fundo da minha mente, mas pelo contrário, não
fiquei desconfortável, só quis ficar ainda mais próximo dela, e isso
ficou claro quando quase pensei em avançar e beijá-la ontem,
depois que ela chegou do almoço.
A boca meladinha com a cobertura do cupcake estava
atrapalhando muito o meu julgamento.
Tem algo nela que me cativa, uma vontade esmagadora de
cuidar dela, de protegê-la, de tê-la, mesmo sabendo que não posso,
só torna tudo ainda mais tentador.
Mas tento esconder esse meu lado também.
— Vou arrumar algumas coisas, sábado é dia de faxina —
Manuela responde se virando e lançando um sorriso radiante para
Luiz.
— Está ocupada a noite? Podemos ir tomar um sorvete, Carlos
vai estar ocupado amanhã e eu não quero ficar em casa — Luiz
convida, passando o braço no ombro dela, ou o cotovelo, já que ela
é bem baixinha e fico surpreso com o gesto.
— Pode ser — ela concorda se aconchegando.
— Por que está com essa cara feia? — Luiz pergunta, me
olhando com divertimento e eu alivio o aperto no maxilar, que já
estava doendo.
Os olhos brilhantes da ragazza se viram para mim novamente
e ela torce a boca para o lado em um bico fofo e deita a cabeça,
como se tivesse tentando entender o que está acontecendo, mas eu
apenas me viro novamente para a frente quando as portas se abrem
e saio do elevador.
— Só estou cansado — desvio do assunto.
— Ahã... — Luiz zomba e dá um beijo no topo da cabeça de
Manuela ao saírem do elevador e ele se despede — Carlos está ali,
já vou indo, boa noite para vocês. — Ele passa por mim, dando
tapinhas nas minhas costas. — Dá carona para ela — ele sussurra
baixinho e vai em direção ao seu encontro.
Olho para onde a bambina está, atrás de mim.
Não faz mal levar ela para casa, né? Ela não precisa me
convidar.
Mas se ela convidar...
Você não vai aceitar.
Funcionária, mais nova, funcionária, vulnerável, funcionária...
repito o mantra na cabeça.
— Quer carona? — pergunto mesmo assim, pois não sei como
ela volta para casa e já se passavam das seis horas, o sol já sumiu
e as ruas já estão iluminadas com as luzes dos postes de energia e
faróis de carro.
— Ah, não precisa...
—Vou levar você — decido e encaro seus olhos duvidosos, e a
mordidinha que ela dá no lábio inferior, porra.
Por quê?
— Tudo bem, então — ela sorri lindamente, para mim, não
para o Luiz.
Para mim.
Que caralhos está acontecendo comigo?
Isso é muito inadequado.
Como se eu estivesse ligando para essa porra, agora.
Balanço a cabeça, afastando esses pensamentos e me dirijo
ao estacionamento do prédio, com ela a reboque.
Cinco minutos depois, estamos nas ruas da grande São Paulo,
enfrentando o trânsito e o caos de uma sexta-feira à noite, saindo do
Brooklin novo e indo em direção...
— Onde você mora?
— Vila Olímpia.
Em direção a Vila Olímpia então.
O bairro do Brooklin é subdividido em duas partes: o Brooklin
velho, onde fica a parte mais residencial, e o lugar onde eu moro e
meus pais também, e o Brooklin novo, onde fica a editora, pois é a
área que fica localizada os grandes prédios e as sedes.
Então, está muito movimentado, mas assim que eu coloco uma
música para tocar, o tempo passa mais rápido, pois Manuela
cantarola baixinho e mesmo ao som das buzinas, ainda me acalmo
com sua voz me guiando no caminho até sua casa. A voz doce de
Manuela sempre me chamou atenção.
Não falamos muito, o carro ficou em um silêncio confortável e
acredito que seja algo que adquirimos nos últimos dias, e não
demora muito para eu estacionar na frente de um condomínio muito
merda.
— Você mora aqui? — meu maxilar está tão trincado, que me
admiro por não ter quebrado um dente.
— Sim. — Ela semicerra os olhos para mim. — Por que?
Sua expressão me diz que eu não devo responder com a
verdade, que esse condomínio está caindo aos pedaços, que é
perigoso para ela vir andando, e que eu tenho vontade de trancá-la
dentro desse carro e levá-la para o mais longe daqui possível.
— Nada — resmungo ao invés disso.
Ela concorda e ainda me encara um pouco, mas abre a porta e
sai do carro.
— Boa noite se... Heitor. — Ela ri sozinha e acaba arrancando
um sorriso meu.
Merda.
Será que eu perco a razão quando estou com ela?
Funcionária...
Doze anos mais nova...
E...
Porra nenhuma.
— Boa noite, Manuela — me despeço, tentando sair o mais
rápido dali, antes de fazer uma besteira.
Observo ela entrando no pequeno edifício e logo que vejo que
já está segura dentro dele, meto o pé no acelerador e vou em
direção a minha casa.
Não me escapa que não a chamei de senhorita, mas não me
arrependo.

O barulho vindo da minha casa, denuncia que há três cretinos


que não valem nada lá dentro, assim que estacionei meu carro.
Sim, são meus fratelli, mas são meus, eu posso xingar à
vontade.
Desde que não esteja na frente da mamãe ou corro o risco de
levar um tapa na nuca e puta merda, pensa em um tapa que dói.
Se for mais grave que um xingamento, ela puxa a orelha e aí
meu amigo, a coisa tá feia.
Saio do carro e entro na minha residência, encontrando os
marmanjos folgados em cima do meu sofá, tomando a minha
cerveja.
— Demorou, hein... estava fodendo alguém? — Vince
questiona sem tirar os olhos da televisão que transmite um jogo do
Real Madrid e nem tem o respeito de olhar na minha cara.
— Já deixou o celibato de lado? — Gael questiona, esse sim
me olhando com expectativa.
— Foi com a ragazza que trabalha para você? — Pietro
emenda e agora sou o centro da atenção de todo mundo.
Esse pessoal não tem mais o que fazer do que tentar cuidar da
minha vida sexual, não?
Eu respondo, não.
Mas tinha que meter a ragazza no meio?
Depois de terminar com a Vanessa, entrei em modo celibato,
focando só no trabalho e não tive tempo de ir atrás de alguém
disposta a ter uma noite comigo, já que não quero um
relacionamento tão cedo, depois de tudo que aconteceu com os que
eu tive, mas não tenho tanta paciência como antigamente, de
conquistar alguém, levar ela para a cama e no outro dia cada um
seguir para o seu lado. Então, não me importei em ficar uns meses
sem sexo.
Estou com as bolas roxas? Estou, e quando surgir a
oportunidade eu vou aproveitar.
Mas não vai passar disso com ninguém, não quando Vanessa
foi minha última tentativa.
— Meu Deus, boa noite para vocês também — resmungo, indo
em direção ao meu quarto para tomar banho, mas um bando de
urubus vem atrás.
— Diz logo, foi com ela? — Vince pergunta curioso, seus olhos
da cor dos meus, brilhando, enquanto senta-se na minha cama.
Pietro, como o folgado que é, se joga nela e Gael se encosta
no batente da porta.
— Meu Deus, não, não foi com ninguém, vocês não têm mais o
que fazer, não? — Começo a tirar a roupa, estressado por terem
metido a ragazza nessa conversa, não tem nada acontecendo.
Mas…
— Não — eles respondem em uníssono.
Bufo, indo em direção ao banheiro, mas sinto a presença dos
meus fratelli me seguindo e me viro para eles.
— Vão lavar meu pau também, porra? — Eles param no
mesmo instante e se voltam para a cama, se jogando em cima dela.
Os três.
Não valem nada.
— Cara, ele está estressadinho, é óbvio que não gozou —
Pietro comenta, fazendo um cafuné no cabelo de Gael.
— Eu disse para chamarmos uma garota de programa, mas
vocês não concordaram — resmunga Vince, enquanto entro no
banheiro e depois de tirar o restante da roupa, ligo o chuveiro, com
a água gelada, do jeito que eu gosto para lavar tudo o que
aconteceu no dia.
Mesmo assim, ainda escuto a conversa dos imbecis.
— Eu acho que ele está com problema de disfunção erétil,
deve ter chegado à menopausa dele — Pietro fala e eu travo.
Como é que é? Disfunção erétil é minha rol…
— Menopausa não é só com mulher? — Vince pergunta e
fecho meus olhos passando a mão no rosto.
Jesus!
— É andropausa, seu animal, e está muito cedo para ele estar
com ela. — Escuto um tapa estalado, que tenho certeza que é na
cabeça de Pietro, enquanto Gael continua falando, e solto uma
risada, mesmo sem querer.
Eu amo meus fratelli.
Mesmo quando me dá vontade de vender os órgãos deles.

Três horas depois, meus fratelli estão jogados no chão da


minha sala, jogando banco imobiliário, enquanto eu estou na
cozinha fazendo algo para comermos, já que esses bandidos me
apunhalaram e eu fiquei sem nenhum real para comprar nada.
Enquanto eles se divertem, eu sou obrigado a alimentá-los. Na
minha casa.
Poderia pedir uma pizza, mas a diva disse que queria comer a
minha lasanha, e ficou insistindo a noite toda, e como o idiota que
eu sou, aqui estou eu, fazendo o que Vince quer.
Sempre faço o que meus irmãos querem.
— Cuida Heitor, eu tô com fome! — o grito de Vince preenche
meus ouvidos.
— Tá achando demorado, vem fazer — grito de volta,
escutando a risada de Pietro.
Preparo tudo certinho e coloco no forno, esperando ficar pronto
e volto para a sala.
Gael me olha pidão e levanto a sobrancelha para ele.
— Que foi? — indago.
— Meu dinheiro está acabando, maninho. — Projeta o lábio
inferior para a frente e encara as propriedades que adquiriu.
Quem vê, pensa que não tem trinta e um anos no couro.
— Eu acho é pouco quando foi minha vez, ficou rindo da minha
cara — resmungo, bebendo um pouco de água, já que não estou
bebendo nada alcoólico essa noite.
— Você é mal, é por isso que saiu do jogo — ele faz drama,
mas jogando uma direta que me deixa ainda mais emburrado.
Estou emburrado mesmo. Não gosto de perder.
Pego o controle e tento procurar por algo interessante, já que o
filme que estávamos assistindo acabou, então fico um tempo
passando os canais e quando já estou desistindo, decido apertar no
da Globo.
Um plantão de notícias está ao vivo, cobrindo um
acontecimento de agora.
Meus olhos se arregalam à medida que assimilam o que está
acontecendo na minha frente, e na paisagem que passa atrás da
repórter, anunciando algo que faz meu coração bater galopando tão
rápido, que pode chegar à linha de chegada e parar.
— Heitor? Tudo bem? — Gael pergunta, mas olha para a
televisão, enquanto eu estou sem reação. — Puta merda.
Quando a ficha cai, corro em disparada para a cozinha,
desligando o forno e saio de casa logo em seguida, escutando os
gritos dos meus fratelli chamando meu nome, mas não consigo
pensar em nada. Apenas vou em direção ao carro.
Mas antes que possa chegar nele, um corpo aparece na minha
frente me impedindo de passar.
— Que porra, aonde você vai, fratello? — Gael pergunta,
preocupação estampada em seu rosto, sem entender porra
nenhuma, mas empurro ele para o lado e vou em direção ao carro
novamente.
Mas sou puxado pelo braço e porra.
— Me deixa ir, cacete — grito, assustando meus irmãos.
— Então vamos com você. — Eles simplesmente me seguem e
entram no carro, eu estou sem blusa, eles também, estamos apenas
de calça de moletom e mesmo assim, eles só entraram no carro.
Lealdade acima de tudo.
Mas eu não dou muita atenção para isso, não agora que estou
com vontade de chorar.
Saio com o carro de casa e vou em disparada pela rua.
— Heitor... — Gael fala hesitante, olhando para o painel de
velocidade, mas minha cabeça não raciocina nada nesse momento,
só o coração que dói com uma perda que ainda não tenho, mas que
nunca quero ter.

— É onde ela mora, Gael. É onde Manuela mora que está

pegando fogo.
Deitado no silêncio, esperando as sirenes.
Sinais, qualquer sinal que estou vivo ainda.
Eu não quero perdê-lo.
Eu não estou recebendo por isso.
Ei, eu deveria rezar?
Devia rezar a mim mesmo?
A um Deus?
( Train Wreck — James Arthur)

— A senhora quer um copo de água, abuela? — pergunto,


olhando com admiração a mulher da minha vida, deitada na cama
hospitalar e sorrindo para mim.
— Não querida, mas preciso... — ela tosse, colocando a mão
na boca, a fim de cobrir o que sai de dentro dela.
— Sim? — Meus olhos se enchem de água, ao ver que sangue
sai da sua boca, mas algo está estranho.
— Eu pre… preciso — outro acesso de tosse e eu corro em
seu socorro, pegando um copo de água e levando em sua direção,
mas ela me impede e me olha desesperada. A mudança brusca de
expressão me abala e eu tento dar a água, mas ela não aceita.
— Abuela, por favor… — choro desesperada.
— Eu preciso que você acorde, pequena — ela pede e eu não
entendo o seu pedido.
— Abuela…
— Agora, mi amor. — Ela me chacoalha em desespero e eu
fico ainda mais confusa.
— Eu não entendo…
— AGORA.
Sento na cama assustada, com o coração a mil batendo em
meu peito, olhando ao redor e tentando entender porque me sinto
desesperada.
Por um momento fico completamente desestabilizada e
confusa. Então lembro do sonho, ou do pesadelo que tive com
abuela e sinto meu rosto molhado com lágrimas que eu derramei
enquanto dormia. Descanso o rosto entre as mãos e tento limpá-las
Abuela… eu sinto tanta a sua falta.
Me levanto e vou em direção a janela, para abrir, pois está
fazendo mais calor que o normal e me desoriento por um momento
escutando gritos vindo do corredor, muitos gritos.
Abro a janela, para pegar um ar, pois estou me sentindo
sufocada pelo sonho e sinto um cheiro enorme de fumaça assim
que abro.
Coloco a cabeça para fora, para saber de onde vem, já que eu
moro no terceiro andar e esse lugar tem cinco, e olho para fora, não
vendo nenhum lugar queimando, mas assim que olho para cima,
vejo o que motivou os gritos no corredor, e noto o alarme de
incêndio soando, coisa que minha mente só teve tempo de
raciocinar agora.
Meu coração que já estava em disparada, para.
Olho para o meu apartamento…
Não, não, não, não… não pode ser…
Olho novamente, para ver se é verdade, pedindo a Deus e as
santinhas da minha abuela que nada disso seja real, que seja
apenas mais um pesadelo o qual eu vou acordar, mas vejo os dois
primeiros andares sendo consumidos em chamas e me desespero.
Não, por favor não…
Corro pelo apartamento, tentando achar as coisas da minha
vó, o pequeno baú que eu não me desfiz, que contém todos os
álbuns de fotografia, e lembranças que eu não quero deixar para
trás.
Que eu não posso deixar para trás.
São as únicas coisas importantes que eu tenho.
Afasto a cama do lugar, sentindo a fumaça inundar o meu
apartamento, e começar a encher meus pulmões.
Por favor…
Tateio o chão em busca da lajota solta, uma que eu achei
assim que me mudei para essa porcaria, onde está escondido meus
bens mais preciosos. Minhas mãos vasculham em uma busca
frenética.
Não posso perder, não posso perder…
E se eu esquecer a cor dos olhos dela? Que tom de azul é?
Claro, escuro, cinzento.
E se eu esquecer a aparência dos meus pais? Eu nunca tive a
oportunidade de ver seus sorrisos pessoalmente quando eu era
grandinha o suficiente, para gravar na memória, eu só tenho fotos,
só tenho gravado em fotos os seus sorrisos, os olhos escuros de
meu pai e os cabelos cacheados de minha mãe, de como eles
estavam felizes quando eu vim ao mundo, de como eles se amavam
e me olhavam com admiração, dentro de um berço.
Não me tire isso, por favor…
E se eu não lembrar do doce sorriso do meu avô, o que ele
deu de orgulho quando eu venci o concurso de poesia na quarta
série? O último sorriso que me deu, um sorriso tão brilhante, um
sorriso tão feliz, que está registrado, antes de ter um infarto no dia
seguinte e morrer?
Por quê? Eu sempre fui uma boa menina.
Choro alto, encontrando a lajota e abrindo, puxando de dentro
o baú e levando para o meio do quarto, olhando as caixas que tem
minhas coisas pessoais e procurando o colar que minha mãe me
deu quando eu nasci, por favor…
A fumaça está em todo o quarto, dificultando a visão, mas não
me importo, mesmo que meu pulmão esteja ardendo, mesmo que
as tosses comecem a ser constantes, eu preciso achar.
Tem meu nome nele, minha mãe que me deu.
Por favor…
Jogo tudo dentro da caixa de papelão para fora, vendo pela
janela que o fogo já chegou no meu apartamento e não irá demorar
para consumir tudo.
Por quê?
Minha mente me lembra imediatamente de tudo que eu vivi,
dizem que quando você está perto da morte, sua vida passa em
frente aos seus olhos.
Não existe frase mais verdadeira.
Lembro de quando fui para a escola pela primeira vez, no
jardim de infância e via os pais deixando as outras crianças e eu
estava apavorada. Lembro que chorei o primeiro dia inteiro, todas as
crianças fazem isso, não é? Não estão acostumadas a sair debaixo
das asas dos pais, de sair do conforto do lar e entrar em um lugar
desconhecido. Lembro que abuela dizia que eu seria uma ótima
aluna, e que era o que ela tinha de mais precioso no mundo.
Lembro de na quarta série, estar nervosa, eu sempre amei
escrever, mas eu não tinha fé em mim, mas meu avô dizia que eu
tinha muito talento, e que eu conseguiria, então eu coloquei minhas
poesias na competição, e quando ganhei, pulei de alegria nos
braços de vovô, meu pai, o único que eu consegui conhecer, mas
que em nenhum momento me fez esquecer que eu amava os que
eu não tive oportunidade de conhecer também.
Ele me deu um sorriso orgulhoso e disse que eu nasci para
brilhar, e eu acreditei...
Meu brilho se apagou no dia seguinte.
Ele era meu sol, e meu sol se foi…
Lembro que abuela estava boa, que disseram que ela estava
fora de perigo, que não precisávamos mais nos preocupar, lembro
que eu me formei na faculdade e ela estava na primeira fila me
aplaudindo, pulando, saudável, lembro que comemos e dançamos
em casa, só eu e ela, só nós duas. Mas felizes.
Lembro de conseguir um emprego logo em seguida, lembro
dela preparando um bolo em comemoração.
Lembro que três meses depois ela foi dormir, e quando eu a
chamei para tomar café, ela não respondeu.
Ela era a minha lua, a minha lua deixou de me iluminar. Só
restou escuridão.
Lembro de contar a Duda que vendi a nossa casa, aquela que
eu tinha crescido, que foi meu lar, lembro que estava triste, mas ao
mesmo tempo feliz por ter me livrado das contas, lembro de sentir
esperança…
Por quê?
Eu sempre tirei boas notas, eu nunca desobedeci, eu nunca
maltratei ninguém, eu sempre fui gentil.
Eu perdi tudo.
Eu sempre dei tudo de mim.
Eu estou me perdendo…
Não consigo respirar. O que está acontecendo? O ar não entra
mais…
Olho para o resto do apartamento, ele está pegando fogo.
Acho o colar e vou cambaleando em direção ao baú. Onde ele
está? Por que eu não enxergo nada? Por que está tudo embaçado?
O fogo...
Caio de frente para o baú tossindo, os meus pulmões para
fora, não consigo respirar.
Pego o baú e me arrasto, tentando gritar por socorro, mas
nada sai.
Tento abrir a porta do apartamento, pois não ouço mais
nenhum grito, e assim que a porta se abre, tento me arrastar sem
fôlego para fora, mas nem se eu quisesse, eu conseguiria descer
três lances de escada.
Mas eu tento.
A tontura me abate, não tenho mais forças para arrastar o baú.
E continuo perguntando, por quê?
Chego às escadas, todo o corredor está cheio de fumaça, mas
o fogo consome os apartamentos.
Tomo uma lufada de ar, tentando, mas só entra fumaça e caio
perto das escadas.
Por favor… eu não quero morrer.
Eu tenho medo, tanto medo.
Tusso mais, não enxergando o caminho, ainda arrastando o
baú.
Tropeço nas escadas e desço. Não era assim que eu queria
descer, mas tudo dói. Meu pé está virado em um ângulo estranho,
mas não sinto nada, não consigo respirar, minha vista é consumida
de pontos pretos, o baú está em cima de mim e droga, como ele é
pesado. Mas não posso soltar, é tudo que eu tenho.
Talvez se eu tentar mais um pouco... me arrasto, sem enxergar,
buscando uma saída, sentindo tanta dor, mas acabo rolando em
outro lance de escadas e deixando um grito de dor escapar, eu não
consigo mais… meu rosto está banhado em lágrimas, dor, tanta dor,
e eu preciso de ar, por favor…
Socorro… é uma palavra que não consegue sair da minha
boca.
Engraçado como são as pessoas sonhadoras, eu sou assim,
mas sempre pensei… por que não amanhã?
Eu gostaria de dançar… não danço desde que abuela morreu,
não sou boa, mas gosto da liberdade.
Eu gostaria de vestir outras roupas, umas que fossem do meu
tamanho.
Eu gostaria de ir ao cinema…
Eu gostaria de fazer tantas coisas…
Eu gostaria de ser beijada.
Vai haver um amanhã para mim?
Mais um pouco… só mais um pouco. Por que ninguém me
ajuda? Por favor... eu tô com medo.
Tento uma última vez, eu vejo o fogo me seguindo, ele está
atrás de mim, e está tão quente…
Rolo mais um lance de escadas, mas nesse eu não consigo
gritar, eu nem consigo ver, não tenho mais ar e tudo escurece.
Será que meu baú está comigo?
Eu não tenho mais nada...
Talvez nem a vida.
Eles te puxam pra sentir seus batimentos cardíacos.
Você pode me ouvir gritando, por favor não me deixe?
Segure firme, eu ainda quero você.
Volte, ainda preciso de você.
(Hold On — Chord Overstreet)

Ultrapasso todos os carros, sabendo que muitas multas serão


adicionadas na minha conta, mas sem me importar nem um pouco,
meus fratelli também não se importam, estão tão preocupados
quanto eu.
Manuela tem esse jeito, de nos fazer querer cuidar dela, de
querer protegê-la, mas meu coração falta saltar do peito em
desespero, e se eu não conseguir protegê-la? E se ela estiver...
Balanço a cabeça, tentando tirar os pensamentos ruins e à
frente, avisto seu prédio em caos, todo consumido pelo fogo.
Estaciono de qualquer jeito no meio da rua, e saio correndo do
carro, deixando a chave e porra, se quiserem levar essa merda, que
levem. Sou seguido por meus irmãos, vendo uma multidão formada
em frente, e os bombeiros chegando, apenas agora, mas vasculho a
multidão atrás do único rosto que me importa, procurando entre os
moradores, mas não a vejo.
Um arrepio gelado passa pelo meu corpo ao não notar sua
presença.
— MANUELA — grito alto, assustando as pessoas que não
tem nada a ver com isso e que estão ao redor, mas não me importo,
e meus fratelli também não, já que gritam também.
Vou em direção ao prédio, se ela não está aqui, onde ela está?
Corro, mas sou parado por um policial.
— Por favor senhor, atrás da linha — sua voz autoritária me
avisa.
— Saia da minha frente — rosno furioso, amedrontado. — Tem
alguém que eu conheço aí dentro. — Aponto para o prédio.
Ele me encara mais sério.
— Vou ignorar o desacato, porque eu sei o que pode estar
sentindo, mas todos já saíram — ele fala firme.
— O senhor não está entendendo... — antes que eu termine
de falar, vejo na porta que fica em frente às escadas, um corpo cair.
Meu estômago gela.
Reconheço imediatamente os cabelos cacheados jogados no
chão e o corpo que não se mexe mais.
— PUTA QUE PARIU! — Empurro o policial da minha frente e
saio correndo em direção a Manuela, sem ligar para o grito que
Vince deu ao ver a mesma cena que eu, mas meu estômago está
embrulhado em medo. Pavor.
Por favor…
Corro até ela, sentindo algumas presenças atrás de mim, o que
me diz que meus fratelli não me deixaram sozinho e assim que
chego à porta, uma explosão é ouvida.
Todo o primeiro e segundo andar começam a desmoronar e
pego Manuela desesperado, vendo seu pé e seu braço em um
ângulo nada normal, desesperado para tirá-la dali.
Pietro pega um baú que estava com ela e juntos saímos
correndo, bem a tempo, pois o prédio começa a desmoronar e os
gritos das pessoas ao meu redor aumentam.
Paramédicos vêm em minha direção, tentando tirar Manuela de
mim, mas o medo me faz agarrá-la mais forte.
Seu corpo está inerte.
Não sei se ela respira.
— Senhor, ela está entre a vida e a morte, precisamos levá-la
agora — um homem fala e eu a entrego em suas mãos, seguindo de
perto, e entrando na ambulância junto.
Ninguém questiona. Ela não tem ninguém, porra.
— Vamos seguir a ambulância — Gael fala, seus olhos
encarando Manuela, cheios de compaixão.
Olho para meus fratelli, e ao longe, vejo Eduarda e Luiz
correndo em direção a ambulância, mas os paramédicos fecham as
portas apenas comigo dentro e começam a fazer os primeiros
socorros nela.
Passo a mão nos cabelos, puxando-os, sem conseguir parar
de olhar para todo o corpo dela, tem sangue, tem marcas roxas se
formando. Tenho certeza que ela caiu no último lance de escadas e
isso não faz nada bem para o meu nervosismo.
— Senhor, precisa vestir uma camisa, ou não entrará no
hospital — uma enfermeira avisa, sem me olhar, colocando um
nebulizador nela. Mas não dou muita atenção.
Um enfermeiro pega algo dentro de uma bolsa e joga para
mim.
— Não sei se vai servir, mas é melhor que nada.
Olho para o tecido em minhas mãos e dou um aceno
agradecido. Não consigo falar em cima do nó que há em minha
garganta.
Visto a camisa que fica apertada, mas não me preocupo,
apenas pego a mão que não está quebrada e encaro Manuela.
Tão doce Manuela.
Ela é a pessoa que menos merece passar por isso no mundo.
Podemos não ser muito íntimos, mas depois da semana que
passamos, ela se tornou muito mais que uma funcionária para mim.
Os paramédicos checam o pulso dela e começam a falar
rapidamente, me empurrando para o canto da ambulância, todos
estão em cima de Manuela.
— Cuidado — minha voz falha. O que está acontecendo?
Mas eles não me dão atenção e começam a fazer massagem
cardíaca nela.
Tento ver o que está acontecendo, mas está muito apertado e
tenho medo de atrapalhar. Os paramédicos começam a falar mais
alto, sobre pulsação, sobre entubar, mas não estou conseguindo
entender nada, pois meus olhos estão nela.
O seu rosto que antes era meigo, agora está todo deformado,
o olho inchado, lábios cortados, mas o mais aterrorizante. Ela não
está respirando.
Assim que chegamos ao hospital, levam-na direto para a sala
de cirurgia, sem me deixar entrar, me deixando louco.
— Senhor, vai precisar assinar alguns papéis — uma
enfermeira baixinha, e idosa me avisa e eu a encaro incrédulo. Será
que ela não percebe que eu não tenho cabeça para isso?
— Deixa que eu assino — uma voz feminina fala ao meu lado,
me assustando e eu encaro o rosto molhado em lágrimas de
Eduarda.
Logo atrás dela, vem Luiz e meus irmãos que vem vestindo
blusas esquisitas, mas não dou muita atenção. Só me sento e
descanso minha cabeça nas mãos.
— Onde ela está? — Vince pergunta, sentando ao meu lado,
tão preocupado quanto eu.
— Levaram ela para a sala de cirurgia, ela não estava
respirando — minha voz falha na última palavra e isso faz Eduarda
se espatifar no choro, sendo amparada por Luiz.
— Cazzo — Pietro murmura, sentando-se ao meu outro lado e
Gael só olha para mim.
— Ela vai ficar bem, Manuela é a pessoa mais forte que eu
conheço — Luiz comenta, tentando acalentar Eduarda, seus olhos
também cheios de lágrimas não derramadas e sei que eles dois são
os que mais sofrerão se algo acontecer, pois eles são amigos, estão
com ela há mais tempo.
Apenas abaixo a cabeça e peço a Deus, que faça com que ela
supere isso.
Por favor.
Três horas depois, ainda estou sentado na sala de espera, já
passa da meia-noite e ainda não tivemos notícias de Manuela.
Eduarda já deixou de chorar, agora ela devora um sanduíche, como
se a vida dela dependesse disso e Luiz a encara assustado.
Pietro precisou ir para casa, pois Mamma ligou e assim que
soube da notícia, desmaiou. Ela é uma mulher que se preocupa
demais com as pessoas, e mesmo só vendo Manuela duas vezes,
ela já conquistou todo o afeto de minha mãe.
Agora estamos, Gael, Vince, Luiz, Eduarda e eu, sentados e
esperando notícias. Todos preocupados. Por que ninguém fala
nada, porra?
— Eles já não deveriam ter vindo dar alguma notícia? — Vince
pergunta, sua perna batucando o chão em sinal de ansiedade, e eu
coloco a mão em seu joelho. Fazendo um carinho, tentando me
acalmar e acalmar ele.
— Depende do caso — Gael suspira, cansado. Andando de
um lado ao outro, no corredor. O álcool já deve ter saído do sangue
deles.
— Vão pra casa, não precisam ficar aqui — Eduarda fala, com
a boca cheia, e em todo o tempo em que ela esteve na empresa,
nunca vi essa mulher ser nada menos que a elegância em pessoa.
Ela deve estar muito abalada.
Assim como eu.
— Só saio daqui, quando...
— Quem é Eduarda? — Um médico alto, negro e mais velho
me interrompe e todos nos levantamos, ansiosos por notícias.
Boas. Que sejam boas.
— Sou eu. — Ela larga o sanduíche e encara o médico.
Como foi ela que assinou os documentos e preencheu a ficha,
seu nome está diretamente ligado ao de Manuela.
— A paciente... — ele olha a ficha — Manuela Martínez está
estável, infelizmente teve o tornozelo quebrado, o braço também, e
três costelas fraturadas, além de ter inalado muita fumaça, seus
pulmões quase não resistiram e por isso, ela está sedada.
Precisamos fazer uma cirurgia nela, mas correu tudo muito bem. Ela
passará alguns dias internada no hospital, pois precisa de ajuda
para respirar, mas está longe do perigo. — O suspiro de alívio é
coletivo. Sento novamente, com as pernas sem equilíbrio e solto o
ar que eu estava prendendo. Ela é a ragazza mais forte que eu já
conheci.
— Graças a Deus! — Eduarda começa a chorar de novo, e
Luiz novamente a ampara.
Escuto Gael fazer algumas perguntas, mas só uma me importa
agora.
— Quando posso vê-la? — interrompo a conversa dos dois.
— O senhor é o que dá senhorita Manuela? — o médico
questiona.
— É... — Não sei o que falar — amigo — é o que sai, chefe
seria pior.
— Está aberto só para os parentes, senhor.
— Ela só tem a nós, senhor — Eduarda se manifesta. — Ela
não tem mais parentes. Só amigos.
Por um instante, o rosto do médico se contorce em tristeza,
mas logo sua máscara profissional retorna.
— Aconselho a irem para a casa, se acalmarem e amanhã, eu
deixo tudo pronto para a visita. Infelizmente ela vai continuar
sedada, então vai demorar para acordar — ele fala e se vira, indo na
mesma direção que veio.
Nos encaramos por algum tempo, mas todos sentamos nossa
bunda novamente nas cadeiras e esperamos o dia amanhecer.
Nestes tempos loucos, espero encontrar algo em que eu possa me agarrar.
Porque eu preciso de um pouco de substância na minha vida.
Algo real, algo que pareça verdadeiro.
(I Drink Wine — Adele)

Uma melodia calma, preenche meus ouvidos, uma melodia


leve e passageira, como se estivesse flutuando, mas só eu a escuto.
Tão baixa e distante, mas tão marcante e potente, como se
estivesse me chamando.
Tento alcançá-la, mas não consigo, só sinto a escuridão me
levando para longe.

Passos, passos de um lado para o outro, como se estivessem


afundando o chão, é o que eu escuto, quem anda com tanta raiva?
Eu conheço alguém assim, mas não consigo me lembrar quem.
De novo, não... só mais um pouco...
Mas a escuridão me leva para longe novamente.

Por que tem gente rindo? Isso é a Duda?


Duda! Tento gritar, mas minha voz não sai. Duda lindinha, me
tira daqui... está muito escuro.
Mas Duda não me escuta. Não posso culpá-la.

— Você correu, minha pequena, você conseguiu — a voz de


minha abuela me acalma, enquanto ela acaricia meus cabelos.
Estou deitada em suas pernas, assistindo A Usurpadora pela
terceira vez.
— Consegui? — Estou leve, tão leve.
— Sim, mi amor. Você conseguiu. — Seus olhos lacrimejam e
eu não entendo porque ela chora, se eu consegui, era para ela estar
feliz, né?
— Por que está chorando, abuela? — Limpo seus olhos,
minhas mãos passeando por sua pele macia, para tirar essa coisa
que entristece seu rosto, o rosto mais lindo da minha vida.
— Eu estou feliz, querida. — Não sei o que está acontecendo,
nem porque eu sinto que isso não é real, mas algo me puxa
novamente. — Mas eu vou pedir de novo, querida. Acorde.
— Mas eu estou acordada…
— Acorde para viver, mi amor — sua voz se torna um sussurro
distante e embora eu corra atrás dela novamente, não a encontro,
ela se foi…

Um clarão forte me cega e tenho que fechar meus olhos


novamente, resmungando baixinho, mas isso faz meu peito doer e
começo a tossir.
— Manuela? Ah meu Deus, ela acordou, MÉÉÉÉDICO! —
Escuto o grito de Duda e me encolho na cama, precisava gritar? Até
parece que eu tô morrendo.
Espera, aí.
Como assim, médico?
Os acontecimentos de ontem, ou de hoje, não sei, voltam a
rondar minha cabeça, e as lembranças dolorosas fazem meu peito
doer, junto com a vontade que vem de chorar.
Meu apartamento, minha casa, minhas roupas, tudo que eu
tinha, foi tudo queimado.
Mas não consigo chorar, a tosse não deixa, e quase mando
meus pulmões para fora, quando os médicos chegam e colocam um
nebulizador no meu rosto.
Tento erguer o braço para tirar esse negócio que me dá
claustrofobia, mas só consigo levantar um braço engessado, e meus
olhos arregalaram.
Entro em pânico ao olhar para minha perna e ver a esquerda
engessada também.
— Calma senhorita, precisamos que fique calma — uma
senhora baixinha, tenta me acalmar, mas ela não consegue. Eu não
gosto desse negócio na minha cara, não gosto, me traz uma
sensação de pavor. Abuela vivia com um desse.
Me sacudo na cama, ou tento, pois uma dor enorme atravessa
minhas costelas e um grito estrangulado sai da minha boca. Tento
puxar o ar, mas não entra.
Não sinto o momento, presa em meu pânico, mas instantes
depois, a escuridão me reivindica novamente.

Pisco os olhos, tomando a noção de onde eu estou


lentamente, e olho ao meu redor.
Estou em um quarto de hospital, com uma máquina apitando
ao meu lado e um negócio entrando no meu nariz.
Olho para o meu corpo, vendo braço e perna em um estado
indesejável e levo a mão que está livre até o nariz, tocando em
pequenos tubinhos que entram por ele, igual ao da Hazel Grace de
“A culpa é das estrelas”.
Olho para o lado, vendo Duda sentada em uma poltrona,
cochilando e escuto um ronco baixinho sair da sua boca semiaberta.
Tenho vontade de sorrir, mas ao fazer isso, sinto uma dorzinha
incômoda no lábio inferior, levo novamente a mão ao rosto para ter a
certeza, e sim, meu lábio está cortado.
Meus olhos se enchem de lágrimas ao lembrar o que
aconteceu, mas não entro em pânico. Não mais.
Depois de já ter perdido tanto, achei que pela primeira vez na
vida, conseguiria seguir em frente sem mais perdas.
Mas aqui vai um segredo.
Não há nada ruim na vida que não possa piorar.
Minha casa foi vendida e meu apartamento incendiado.
Eu caí três lances de escadas e eu já disse, gratidão é algo
que todos deveriam ter, é algo que nunca faltou no meu coração,
mas isso não impede de me sentir miserável.
Puta merda hein! Eu não sou de falar palavrão, meu
vocabulário é muito limitado, mas gostaria de gritar vários
impropérios agora.
Eu sempre fui uma boa menina, não fui? Eu sempre fui legal,
gentil, nunca usei drogas, porque se eu não tenho certeza que
posso parar de fazer algo, eu nem começo. Eu também nunca bebi,
sempre respeitei os mais velhos, mas não adianta, tudo na minha
vida dá errado.
Eu não sei o que eu fiz para merecer isso, não sei mesmo, e
talvez eu nem mereça.
Talvez seja a vida brincando de ser injusta comigo.
Eu perdi tudo, sabe o que é tudo?
De repente, uma lembrança volta.
Onde está o meu baú? Será que alguém pegou? Por favor, que
alguém tenha achado, que eu não tenha me arriscado à toa. Por
favor…
— Oi... você acordou — a voz de Duda próxima a mim, me
assusta.
Sua poltrona fica ao lado da minha cama e ela só precisou se
jogar para a frente e passar um braço a minha volta para estarmos
as duas chorando.
— A vida ainda tem muito o que aprontar comigo, para me
deixar ir assim tão cedo — tento forçar uma piada, com a voz rouca,
a garganta seca e uma vontade enorme de beber água, com um
braço em volta de Duda, mas ela se afasta e me encara severa.
— Não brinque com isso Manuela, você quase me matou do
coração — ela diz, com uma lágrima escapando. Mas eu não gosto
desse clima de enterro que esteve em toda a minha vida e tento
mudá-lo.
— Para de chorar e me dá um copo de água — resmungo,
tentando limpar as lágrimas.
Ela se levanta na velocidade da luz e faz o que eu estou
pedindo, pegando uma garrafinha de água e colocando um pouco
em um copo, trazendo em seguida até mim.
Bebo rapidamente e logo tenho outro copo cheio, que se vai
tão rápido quanto o primeiro.
Minha nossa, parece que eu passei meses no deserto ao
relento.
— Sedezinha hein, minha filha — ela fala com a voz divertida,
já tirando a careta de choro.
Rio um pouco, bem pouco, porque sinto um puxão nas
costelas e logo faço uma careta.
Duda percebe e vai até a porta chamar alguém, enquanto olho
para a janela, percebendo que é dia.
— Dormi por muito tempo? — questiono Duda, que volta com
uma enfermeira mais velha e gentil, que tem um rosto vagamente
familiar.
— Dormir é um eufemismo — Duda resmunga, cruzando os
braços e encarando a velhinha.
— Tanto tempo assim? — Olho a enfermeira que mede a
minha pressão, me lança um sorriso gentil, e recebe um igual.
— Você passou quatro dias em coma induzido quando acordou
teve um ataque de pânico, precisou ser sedada novamente, e ficou
apagada por mais um dia. Quase nos fez cair duros de infarto. —
Ela me olha com tristeza e ternura e meus olhos enchem de
lágrimas novamente.
Coma induzido, só esse termo faz um arrepio gelado descer
pela minha espinha. E se eu não acordasse mais? Eu tenho tanto
medo de morrer, a vida já deixou tanto estrago, que só falta eu, e
isso me apavora. Parece agouro ruim.
Olho novamente para Duda e…
— O que você quer dizer com “nós”? — questiono confusa,
enquanto a enfermeira checa agora a minha pulsação e depois
coloca um remédio no soro que eu estou tomando.
— Luiz, Heitor e eu — ela diz, como se fosse óbvio.
HEITOR?
— O chefe? — Minhas sobrancelhas sobem tanto na minha
testa que podem se fundir ao cabelo.
— Sim, Manuela, o chefe, aquele que te levou para almoçar. —
Ela balança as sobrancelhas divertidas que ficam bem
engraçadinhas em contraste com seus olhos inchados e eu
semicerro os olhos para ela, que coisa, fica de palhaçada em um
momento assim, não se lança uma notícia dessa e fica de gracinha.
— Ele que trouxe você, ficou os dois primeiros dias, mas achou que
era muito invasivo e inadequado estar aqui com você e voltou para o
trabalho, mas na hora do almoço, ele sempre passa aqui para ver
como você está.
Ele que me trouxe? Como assim? Ele foi até a minha casa?
Um sentimento estranho aflora em meu peito, e sinto meu
corpo em completa gratidão.
Ele vem me ver? Por quê?
Porque ele é seu chefe, Manuela, você é a secretária dele, é
óbvio que ele vai te visitar, ele não é um sem coração, tira esse
cavalo da chuva!
E eu tiro mesmo, o bichinho pode pegar uma pneumonia e já
basta eu estar inválida, o coitado não precisa…
— Ai, moça! Avisa — dou um gritinho de susto olhando para a
injeção que a velha mandou para minhas veias e encaro seus olhos
gentis com ressentimento.
Escuto uma risada alta e olho para Duda, que ri às minhas
custas, e lhe lanço um olhar feio. O que faz ela rir ainda mais.
— Tá rindo porque não é em você — falo e ela balança a
cabeça em negação.
— Desculpa, você estava tão imóvel, que foi natural — a
enfermeira fala, mas não tem nada de desculpas no seu rosto. Seu
olhar gentil? Que nada, a senhorinha é uma sádica.
Resmungo palavras ininteligíveis e depois pergunto.
— Quando eu posso sair daqui?
— Segundo os médicos, como acabou de sair de um coma
induzido, vai passar mais dois dias no hospital e depois pode ir para
casa — a velhinha fala e depois pega suas coisas e sai do quarto.
Meu rosto desmorona de novo.
Que casa?
E meu trabalho? Se está com cinco dias que eu estou aqui,
significa que já faltei, deixa eu pensar... sexta foi o dia... dois dias dá
domingo, três dias dá quarta... três dias de falta no trabalho.
Confuso eu sei.
A tristeza aumenta, pois não posso perder o emprego, não
agora.
— Quem está fazendo o meu trabalho? E para onde eu vou?
— minha voz falha ao falar com Duda, eu estou uma miríade de
emoções, até tento, mas aí tudo volta e cai em cima de mim
novamente.
— Luiz está cuidando de tudo até você voltar, e você pode ficar
comigo — Duda oferece. E por um instante, tenho esperança.
— Eu não vou atrapalhar a sua promiscuidade? — pergunto,
desconfiada.
Duda é uma mulher livre, ela é muito aberta com a sua
sexualidade e curte uns negócios esquisitos.
Acredita que ela me falou que gosta de levar palmadas?
Daquelas que deixam a marca por cinco dias seguidos. E isso nem
é tudo, a mulher disse que gosta de ser algemada e de apanhar de
chicote. Só em lembrar dessa conversa, meu rosto já esquenta.
Ela ri, ela ri muito alto.
— Ah meu Deus — ela ainda ri, mas para assim que a porta é
aberta e um homem muito grande, e bonito entra por ela.
— Heitor — falo envergonhada e ele me olha atentamente.
Como se estivesse vendo uma miragem.
Eu tô com esse negócio de deserto na cabeça, hein?
Ele veste uma blusa social azul clara, com os primeiros botões
abertos, a barba bem aparada e uma calça social preta que modela
suas coxas musculosas.
— Manuela — ele diz com um sorriso contido e aliviado. —
Vejo que acordou, posso saber o motivo da risada? — Ele olha para
Duda rapidamente, acenando e depois se aproxima da cama.
— Manuela perguntou se não atrapalha minha promiscuidade,
indo morar comigo. — Ela volta a rir, e como eu disse, ela é bem
aberta, mas vejo uma camaradagem diferente entre eles.
Heitor volta seus olhos profundos para os meus, e eu encaro
sua barba, para fugir desse olhar intenso.
— Acredito que a não ser que você esteja no quarto, não creio
que atrapalhará alguma coisa. — Ele sorri. Mas preciso de foco
aqui.
— Eu gostaria de continuar trabalhando, Heitor — falo
baixinho.
— Como disse? — ele pergunta.
— Eu sei que não posso ir à empresa, mas eu ainda posso ler,
consigo fazer muitas coisas só lendo, posso trabalhar de casa. —
Não quero perder meu emprego, e mesmo que eu saiba que ele não
faria isso, o pavor de perder mais alguma coisa me corrói. Quando
se perde tanto, você começa a zelar pelo que tem, ou fica sem
nada.
— Não precisa trabalhar, seu salário vai cair em sua conta e
quando estiver em condições, voltará para seu cargo — ele diz, e
volto a encarar seus olhos, percebendo emoções que não consigo
decifrar ali.
— Mas o Luiz...
— O Luiz dará conta até você voltar — ele fala irredutível e eu
aceito. Não tem como negar mesmo. — Você está bem? — a
pergunta sai rapidamente da sua boca, como se ele estivesse se
contendo há muito tempo.
— Estou sim, a enfermeira disse que eu já posso ter alta em
dois dias — respondo, enquanto Duda vai até uma bolsa térmica no
chão e tira algo de dentro.
— Que bom, eu estou indo almoçar, quer que eu traga alguma
coisa na volta? — sua voz é ansiosa e escuto uma tosse de onde
Duda está.
— Donuts? — pergunto esperançosa.
— Você vai comer sopa! — Duda intervém, virando a cabeça
tão rápido para mim que seu pescoço estala. — Você nem pode
comer doce, agora. — Ela levanta com um recipiente vindo em
minha direção.
— Quem disse? — resmungo, com a intenção de cruzar os
braços, mas não consigo, já que um está quebrado.
Que merda, hein!
— Os médicos. Mas se quiser, pode tomar um suco — ela
oferece ao ver minha cara emburrada.
Suco! Como se fosse a mesma coisa.
Meu estômago ronca alto ao sentir o cheiro de sopa e não está
mais aqui a cara emburrada.
Eu sei que a fome é uma amiga indesejada, mas agora ela
está sofrendo.
Heitor e Duda riem e eu esqueço meus problemas, apenas por
um momento, enquanto Duda me alimenta e Heitor se despede e
vai embora.

Ah, como é bom estar viva.


Mas você nunca ficará sozinha.
Ficarei com você do anoitecer até o amanhecer.
Ficarei com você do anoitecer até o amanhecer.
Amor, estou bem aqui.
(Dusk till dawn — Zayn feat Sia)

Arrumo as coisas no meu escritório, tentando organizar todos


os documentos, relatórios financeiros e tentando separar e-mails
enviados à editora, mas isso é mais difícil do que eu pensei.
Não que eu não consiga fazer, mas quando se tem contratos
para fechar, parcerias para fazer, livros para publicar, fica difícil
ainda ter tempo para fazer outras coisas.
Manuela faz falta nesse escritório, muita falta.
Olho para o folgado do meu assistente que está sentado na
porra do sofá que eu decidi queimar esse final de semana, mexendo
no tablet e não me ajudando em absolutamente nada e tenho uma
vontade enorme de jogá-lo do alto da janela.
Faz uma semana que Manuela não vem trabalhar, a mesma
semana que ela passa no hospital se recuperando do acidente e
fazendo falta. Como ela não pode trabalhar, eu não quis contratar
nenhuma substituta, achando que o belo ali conseguiria fazer o
trabalho dela.
Mas ele não sabe nada sobre relatórios financeiros, nada
sobre documentos de direitos autorais e não sabe separar os e-
mails que realmente interessam a editora Page e isso deixou todo o
trabalho para mim, que não posso culpá-lo, já que o contratei como
assistente pessoal, não secretário.
Mas isso não me impede de sentir vontade de jogá-lo da
maldita janela.
— Você está me olhando com aquele olhar de assassino de
novo — o infeliz fala, descruzando as pernas e deixando o tablet de
lado.
— Se você me ajudasse, talvez saíssemos a tempo de pegar
Manuela ainda no hospital — falo irritado, jogando as pastas dentro
da gaveta e abrindo os e-mails da editora.
Malditos e-mails, por que tem tantos?
— Ah, é por isso que está irritadinho? Quer ver a Manuzinha —
ele diz, sorrindo e com uma sobrancelha erguida. Forço um olhar
indiferente, aquele que eu reservo para as reuniões de negócios,
mas ele me conhece e ri.
Figlio di puttana!
Hoje é o dia que Manuela vai ter alta, passou uma semana
desde o incêndio e o acidente e isso eu descobri por meio de
Eduarda, que me falou tudo que aconteceu naquele dia, já que
Manuela a deixou ciente de tudo.
Manuela, em uma tentativa de salvar a própria vida e não ser
consumida pelo fogo, despencou por três lances de escada, visto
que não tinha fôlego o suficiente para descer.
Isso me perturbou de uma maneira incomum, me fez ter
pesadelos nas últimas duas noites.
Como alguém tão doce sofreu tanto e ainda continua igual?
Sem se tornar amargo, ou insensível? Ou sem ficar se martirizando
em um canto?
Sei que não devemos medir dor, mas quando foi a minha vez,
eu não consegui ser tão forte quanto ela.
Não quando eu perdi tanto…
E ela perdeu tanto, e mesmo assim, ontem eu a visitei e ela me
lançou um sorriso. Dá para ver que ela está triste, mas mesmo
assim, ela ainda não desistiu de viver.
Manuela é uma mulher sonhadora. Algum dia encontrará
alguém que realize todos os sonhos dela.
Melhor ainda. Irá se erguer e ser capaz de realizar todos os
seus sonhos, por ela mesma.
— Você fala demais e trabalha de menos. — Olho o relógio no
pulso, para verificar as horas, ignorando meu assistente stronzo.
Volto meus olhos para a tela do computador e desligo, como já
são dez e meia, o horário que Eduarda falou que estaria indo para o
hospital, guardo o restante dos documentos sem ter feito muito
progresso, só para poder ir também.
Manuela é minha funcionária, eu posso não ter muita
intimidade com todos os integrantes da empresa, mas sempre visito
quando um está no hospital, eu sei o que é estar dentro de um e o
quanto é importante ter apoio e muitos deles não tem.
Além disso, Manuela é diferente, por algum motivo, ela é
diferente, somos... amigos?
Não tenho muitos, então ela é o mais próximo que eu tenho de
uma amiga.
E também, porque onze horas eu tenho que estar na casa de
papai, para o almoço.
— Já está indo? — Luiz para de rir e me olha surpreso, logo
pegando o celular e checando as horas. — Ah, você quer pegar a
gatinha. — Ele volta seus olhos divertidos para mim, que dou a volta
na mesa e vou em direção a porta.
— Essa frase foi completamente inadequada. — Desabotoei os
primeiros botões da minha camisa social ao abrir a porta, pois está
fazendo muito calor aqui fora e saio andando para o elevador,
jogando a frase sobre pegar a gatinha para o fundo da minha mente,
o mesmo lugar onde está o sonho.
— Vou me corrigir, você está com saudade da Manuzinha. —
Ele me segue, sua voz cheia de presunção, e que vontade de dar
um murro em alguém.
O trabalho tem sido muito estressante e Luiz não está
ajudando.
— Eu vou demitir você — decido, enquanto aperto o botão
para abrir as portas, que graças a Dio, não demora.
— Demita. — Entramos no elevador e me viro em sua direção,
ficando face a face.
Ele está sorrindo.
— Eu vou mesmo. — Cruzo os braços e ameaço.
— Fique à vontade. — Ele cruza os dele e continua sorrindo.
— Está demitido — falo, minha boca dando um sorriso
pequeno.
Ele gargalha. O stronzo gargalha.
Cadê minha moral?
— Estou fora? Que bom, isso me dá liberdade de chamar você
de idiota e burro, pois só você para não perceber que está
interessado na Manuela e não faz nada com essa informação. —
Fecho minha cara novamente e engulo em seco, me virando para a
porta do elevador.
É claro que eu estou interessado. Manuela conquista todo
mundo que se aproxima o suficiente para ver quem ela é de
verdade, mas Luiz está certo, eu não vou fazer nada com essa
informação.
— Isso é errado de diversas maneiras — é o que respondo.
— Errado em quê, Heitor? — ele resmunga, rapidamente
frustrado.
— Ela é doze anos mais nova, Luiz — minha voz sai mais
irritada do que eu gostaria.
— E? Existe algo chamado sugar daddy hoje em dia.
— Ah, Vaffanculo. — Sério que ele soltou uma dessa para
cima de mim?
— Traduz — pede, confuso. Com prazer.
— Vai se foder. — Nesse momento, as portas do elevador se
abrem e uma velhinha, que se eu não me engano, é uma de nossas
parceiras, autora de romance, arqueja com o meu xingamento,
fazendo Luiz ter uma crise de riso.
Inferno!
— Scusa — peço, cortês, e ela me dá um sorriso derretido,
entrando em seguida no elevador, falando algumas coisas que eu
não dou muita atenção e logo estou no estacionamento, pensando
em passar por cima de Luiz com o meu carro.
— Vou pegar carona com você e de lá, vou seguir com
Manuela e Duda, e iremos passar a tarde fazendo skincare. — Entro
no carro, já pensando em dar a partida, mas Luiz é mais rápido e
antes que eu consiga, já está sentado no banco passageiro.
— Você tem trabalho para fazer à tarde — aviso.
— Eu estou desempregado — ele fala orgulhoso, como se
fosse motivo de orgulho.
— Deixa de ser idiota — resmungo, seguindo em direção ao
hospital.
— Não estou? Ah, então estou me dando folga — sua voz
convencida me irrita.
Luiz está comigo há muito tempo e sabe que eu nunca o
demitiria, ele além de ser um funcionário eficiente no seu cargo,
embora preguiçoso, também é meu amigo, e não é a primeira vez
que eu digo que vou demiti-lo. E toda vez ele se dá essa maldita
folga.

Bato na porta do quarto de Manuela, vinte minutos depois, já


mais calmo, escutando sua voz permitindo a entrada e coloco minha
cabeça e em seguida meu corpo para dentro, vendo que a
enfermeira está tirando o soro, e o médico que a atendeu desde o
primeiro dia ao seu lado, lhe dando algumas recomendações.
Mas meus olhos são direcionados diretamente para ela, que
ainda está com algumas partes do seu rosto roxas, o lábio ainda
com um ferimento de corte e um olho com uma mancha amarelada
ao redor. Mesmo sendo uma visão que não me agrada nem um
pouco e embrulha meu estômago, ainda é melhor do que antes.
Muito melhor.
Mas não deixa de ser aterrorizante.
— Bom dia para quem vai receber alta hoje! — Luiz fala, indo
em direção a cama, atrapalhando o médico e dando um beijo na
testa dela.
Ela lhe oferece um sorriso gentil e animado e depois vira seu
céu particular para mim.
— Seu Flamengo perdeu ontem, que eu vi. — Ela sorri
largamente e eu semicerro meus olhos para ela. Talvez, só talvez,
um pouco da minha irritação essa amanhã seja por esse bendito
jogo.
— Não sabia que tinha televisão nesse quarto. — Olho em
volta, não notando nenhuma e volto meus olhos novamente para
ela.
— Eu vi no celular da Duda — ela diz orgulhosa, embora seus
olhos tenham um pouco de tristeza.
Queria poder apagar essa tristeza.
— Então era você que estava agourando meu time? Que coisa
feia, bambina — repreendo, balançando a cabeça e ela ri.
Mas antes que ela tenha tempo de responder, uma Duda de
cara fechada entra no quarto.
— Bom dia — ela fala, me cumprimentando com um aceno
cortês e dando um abraço em Luiz. — Amiga, meu apartamento
está com problemas de encanamento e não tem um pingo d’água —
ela fala, com a voz torturada e o rosto de Manuela desmorona.
— Você vai voltar para a casa dos seus pais? — Algo que eu
ainda não entendi se passa nos olhos delas, e a voz de Manuela sai
em forma de consolo.
— É o jeito, falei com mamãe hoje de manhã, e... bem. — Ela
coça a cabeça e olha para Luiz, pedindo socorro.
— Eu entendo — Manuela fala e o médico já completamente
esquecido se encosta na parede e minha secretária se deita
novamente, com o rosto se contorcendo em uma careta de choro.
— Você pode ficar comigo — Luiz oferece, mas ele mora com
os pais ainda, em uma casa humilde, já que todo o salário dele vai
para uma poupança e ele dorme em uma cama de solteiro, pois
segundo ele, com uma cama de casal, seria muita tentação e ele
respeita os pais demais para levar alguém para transar lá.
O que eu não entendi ainda é o porquê de Eduarda estar com
a cara tão torturada.
E porque eu sinto que ela não pode levar Manuela para a casa
de seus pais
— Ela pode ficar comigo — antes que eu tenha chance de
pensar, minha boca toma o controle e eu me repreendo
mentalmente.
Péssima ideia, péssima ideia.
Três cabeças se viraram em minha direção em choque.
No caso de Luiz, também é misturada com vitória.
— Não precisa… — Manuela tenta falar, mas como já falei, não
vou voltar atrás com a palavra.
A Palavra é algo sagrado para mim, se eu der ela para alguém
a pessoa pode confiar.
— Você tem para onde ir? — sei que a pergunta pode ter sido
um pouco cruel, mas é necessária.
Eduarda volta seus olhos já esperançosos para ela e Luiz
também.
— Bem, Luiz disse…
— Eu durmo em uma cama de solteiro, gatinha, se for
necessário, eu te levo, mas como você tem mais opções de ficar
confortável, eu acho que deveria aceitar — Luiz fala rápido, me
lançando olhares que ignoro.
— Mas…
— Está decidido — digo, é o melhor para ela, eu tenho um
quarto de hóspedes, tenho como dar conforto, ela não tem para
onde ir e acredito que todo o seu círculo de pessoas mais próximas
está dentro desse quarto, e eu sou a melhor opção.
Isso vai ser difícil... funcionária mais nova... vulnerável.
Esse último me impede de fazer qualquer coisa. Manuela está
em uma situação completamente vulnerável e se eu tentasse
alguma aproximação, ela poderia confundir gratidão com outra coisa
e eu nunca me perdoaria se de alguma forma ela pensasse que eu
poderia estar me aproveitando.
Miro seus olhos intensamente, vendo um brilho indecifrável
neles e ela olha para Luiz e Duda em busca de confirmação.
— Já que você insiste — ela faz piada e eu lhe dou em
resposta um sorriso sincero.
Mesmo que isso esteja fugindo do meu controle, por alguma
razão, sinto que tomei a melhor decisão.
Bem, se minha mãe não ficar sabendo.

Passar para ver como ficou meu antigo apartamento não foi
uma boa ideia. Ver a destruição que ficou o local me deixou
extremamente triste.
Heitor perguntou se eu gostaria de passar em algum lugar
antes de ir à sua casa e eu disse que gostaria de passar no lugar
que foi minha casa nos últimos meses, e ele atendeu, mesmo que
relutante a esse pedido.
Todo o lugar está só os escombros, mas, segundo ele, irei
receber uma indenização pelo ocorrido, e o dono do lugar também
recebeu uma bela multa pela situação em que o prédio se
encontrava. Não tinha um extintor de incêndio, nem mesmo uma
saída de emergência.
A polícia não gostou de saber disso.
Além disso, Heitor me contou que enquanto ele e Duda, que eu
agradeço muito, estavam resolvendo minha situação, descobriram a
causa do incêndio.
No quinto andar, há uma mulher chamada Kátia, ela é
alcoólatra e eu sentia tanta pena dela, pois ela vivia martirizada
depois que perdeu o filho em um acidente de trabalho, e desde
então ela vivia bebendo.
Minha abuela sempre levava um prato de comida para ela, pois
geralmente ela se esquecia de comer, mas quando vovó morreu,
não pude continuar, eu não tinha nem para mim.
Mas, segundo Heitor, Kátia ligou o fogo para fazer comida e se
sentou no sofá, mas estava alcoolizada demais e acabou
desmaiando.
Só esqueceu de apagar o fogo, pois o incêndio começou lá.
Ainda bem que o vizinho de porta dela, seu Francisco, arrombou a
porta e conseguiu tirar ela de lá ou ela não teria sobrevivido.
Mas o estrago não foi evitado por completo.
Eu vou morar com ele, alguém já percebeu o peso dessa
afirmação?
Pois eu já!
A viagem do hospital até sua casa foi feita em completo
silêncio, nervoso em ambos os casos. Além disso, eu já disse que
não sei como proceder uma conversa com ele, principalmente
agora, que vou ver ele todas as horas do dia.
Bem, não exatamente, já que ele vai trabalhar.
Agora, estamos entrando por um portão enorme, a três
quadras de distância da casa de seus pais.
Assim que o portão se abre, eu não fico nem muito surpresa,
pois assim como a casa dos pais, essa tem um quintal enorme, com
uma área arborizada e a casa é um luxo que só rico pode comprar.
Assim como a casa do seu Enrico, essa também tem um
caminho de pedras que leva até a entrada da casa, onde entramos
em uma garagem lateral, onde está a Lamborghini estacionada em
um lado, já que o carro que eu estou é diferente. Não faço ideia da
marca, mas ele é grande. Espero Heitor dar a volta no carro e vir me
ajudar a descer, pois eu não consigo essa proeza sozinha.
— Passa o seu braço pelo meu pescoço. — Seu rosto está
concentrado, enquanto um braço passa pelas minhas costas e o
outro por debaixo das minhas pernas. Faço o que ele me mandou e
uso o braço bom para me segurar.
Meu corpo logo é retirado do banco e Heitor chuta a porta do
carro, se virando em direção a sua mansão imponente.
Talvez eu esteja achando essa situação um pouco
constrangedora, mas estou amando ao mesmo tempo.
Que cavalheiro da parte dele.
Foco na casa, uma grande casa, embora muito menor que a
de seus pais, de dois andares bem modernos, com portas de correr
francesas e grandes janelas que vão do chão ao teto de vidro.
Que casa linda!
Enquanto a do seu Enrico é em um estilo vitoriano e moderno
ao mesmo tempo, essa mansão é apenas moderna.
— Sua casa é muito bonita — dou voz à minha opinião.
— Obrigado — ele fala sem demonstrar cansaço em me ter
nos braços — Pode segurar um pouco mais forte? Preciso abrir a
porta — ele pede gentilmente e eu me atraco como um carrapato
nele.
Deito minha cabeça em seu ombro, enquanto ele coloca a
chave e abre a porta me segurando apenas com um braço e logo o
seu cheiro me invade. Esse homem é muito cheiroso, nunca pensei
que eu ia gostar tanto de cheirar alguém, mas passaria dias fazendo
isso, se fosse ele.
Misericórdia Manuela!
Meu rosto esquenta e logo o tiro de seu pescoço, constrangida.
Será que ele ouviu a fungada que eu dei? Encaro seu rosto, e um
pequeno sorriso que insiste em aparecer me diz que sim, ele
escutou a fungada.
Palhaçada.
Ele entra comigo dentro da casa, fingindo que não aconteceu
nada e novamente chuta a porta para fechá-la.
— Bem... essa é a sala. — Ele acena com a cabeça, me
mostrando o amplo espaço que é preenchido por cinco sofás, uma
mesa de centro, um tapete peludo enorme no meio dela, e um
painel marrom, moderníssimo com uma televisão que faz meu
queixo ir ao chão, de tão grande que é.
As paredes são pintadas em tons neutros de branco e cinza,
mas há vários quadros nela, de obras de artes e retratos, porém
ainda estou focada na televisão.
— Essa televisão é enorme! — exclamo chocada. — Parece de
cinema. — Volto meus olhos para os seus, seu rosto se volta para o
meu e ele sorri.
— Duvido muito, já viu uma tela de cinema? — ele pergunta
com uma sobrancelha se arqueando, seu hálito de menta chegando
até mim, o que indica que ele estava com bombom e nem me
ofereceu.
Menino mau.
— Não, nunca vi — meu lábio inferior se projeta para a frente,
formando um bico.
Eu sempre quis ir ao cinema, mas nunca tive a oportunidade
de ir e isso me deixa triste.
Todo mundo deveria ir ao cinema um dia. Assim como todo
mundo deveria ir a um circo, ou ler um livro. São coisas simples,
mas a simplicidade muitas vezes não é tão apreciada como deveria,
pois todos procuram o intenso, mas são as coisas simples da vida
que nos causam tanto prazer e felicidade.
— Nunca foi ao cinema? — ele pergunta surpreso, agora com
as duas sobrancelhas erguidas, enquanto me leva em direção a
uma escada que me dá pavor, pois ela é só uma tábua pregada na
parede e não tem nenhuma coluna sustentando-a abaixo.
— Não, ninguém nunca me levou, e Heitor... a gente não vai
cair? Se eu cair eu quebro o outro braço, essa escada não aguenta
nós dois, não — reclamo, olhando para baixo de olhos arregalados,
enquanto ele ri de mim.
Ele riu de mim!
— Essa escada aguenta sim, ragazza, mas se ninguém nunca
te levou ao cinema, por que você não foi sozinha? — Ele pisa no
segundo andar, fazendo um alívio imediato se apossar de mim.
— Por que estragaria a experiência, né? Não teria graça ir
sozinha. — Também não tinha como eu ir. Como eu disse, a abuela
era uma mulher tradicional e pensava que essas idas ao cinema
eram para namorar escondida, e depois ela estava muito doente
para ir comigo. Mas quando melhorou, não tivemos tempo de ir
juntas.
Heitor me leva em direção a uma porta, que está fechada, e
por alguns segundos, seus olhos se voltam para os meus.
Seus olhos, seus intensos olhos âmbar.
Me seguro mais forte nele novamente, para que consiga abrir a
porta e assim que abre, ele vai comigo em direção a grande cama
de casal que tem no centro do lugar, me deixando acomodada em
cima dela. Como estou com a perna e o braço quebrado, não
consigo andar ainda, pois não posso apoiar muito peso e nem
conseguiria andar de muletas. Minhas costelas fraturadas me
impedem até de respirar direito.
Se eu já sou desastrada com todas as partes do corpo boas,
imagina com duas delas quebradas.
Seria um desastre.
— Você tá certa, é melhor ter companhia. — Ele fica em pé, no
meio do quarto, olhando para mim e depois para o restante do
quarto e eu faço a mesma coisa, como a curiosa que eu sou.
O quarto é pintado em cores neutras de branco e cinza
também, toda a casa é assim, do lado esquerdo do quarto tem uma
porta e do lado direito tem um closet aberto enorme, que me
entristece imediatamente.
Eu vou colocar o que ali? As decepções da vida? Se for, o
closet deveria ser maior, não vai caber não, hein.
— Bem, o banheiro é aqui. — Ele aponta para a porta da
esquerda. — Sempre que precisar de algo, pode me chamar, vou
trabalhar de casa, no escritório que tenho lá embaixo, enquanto
você não melhora.
De repente, como uma avalanche, a sensação inconveniente
de que estou sendo um estorvo me pega.
Ele vai trabalhar aqui? Eu sei que a editora é dele e que ele
pode fazer o que quiser, mas isso não me faz sentir melhor.
Ele vê isso em meu olhar, porque vem em minha direção e
senta ao meu lado.
— Não quero que se preocupe com nada, viu? Eu vou cuidar
de você, ragazza, não está mais sozinha — com essas palavras,
outro salto é dado em meu coração e uma vontade enorme de
abraçá-lo e voltar ao aconchego que são seus braços me
consomem, mas nem isso eu consigo.
— Obrigada — digo com a voz embargada. Não sei dizer o
porquê, mas confio em sua promessa.
— De nada. — Sua mão pega a minha e seu polegar acaricia
minha palma, enquanto seus olhos avaliam o meu rosto.
Sou sugada novamente para sua intensidade, mas um ronco
alto é ouvido e eu percebo constrangida que é a minha barriga.
Heitor ri e o som é tão estranho aos meus ouvidos, posso
contar nos dedos de uma mão quantas vezes isso aconteceu
comigo presente.
Ele tem uma risada grave e sensual. Como um chamado.
Um chamado para pecar, Manuela.
Mas um pecado muito bom...
— Vou pedir para entregarem comida, tudo na geladeira está
congelado e demoraria demais e…
— Oi, família! — grito de susto, olhando para a porta que é
preenchida por uma figura de bermuda branca, e blusa azul clara,
com os primeiros... não, apenas um botão está fechado, mas de
algum jeito, consegue cobrir todo o peito de Vincenzo, que irrompe
porta a dentro e senta do meu outro lado, com várias sacolas que
joga em cima da cama.
— O que está fazendo aqui? — Heitor questiona, com a voz
mais grave e baixa, pegando as sacolas e vendo o que há dentro.
— Luiz ligou, disse que você não poderia almoçar conosco, e
me disse o motivo. — Vincenzo é um homem muito bonito, de olhos
castanhos e o cabelo em um tom de mel escuro são parte da
presença marcante dele. Além da barba cerrada definindo seu
maxilar e um corpo que é um pecado. Ele me encara com um
sorriso e se deita, com toda a intimidade que eu não dei para ele.
Isso me arranca um sorriso. — Ah, e de nada por salvar seu rabo da
Mamma.
Heitor solta um gemido sofrido, mas tira das sacolas algumas
roupas femininas.
— Acho que é para você. — Ele encara seu irmão em uma
pergunta silenciosa ao me entregar as roupas e eu só olho para
aquilo.
Tem blusas do meu tamanho, bermudas, calças e vestidos.
Muitas coisas.
— É pra mim? — pergunto, olhando para o folgado do meu
lado.
Ele assente, ainda sorrindo.
— Eu sou estilista, ragazza, não podia deixar você continuar
vestindo aquelas roupas, era um atentado a moda. — Um som
estrangulado sai da minha garganta, que era para ser um obrigado,
mas não saiu assim e ele vem em minha direção, me dando um
beijinho na testa. — Não chore, sorria, você está na casa do meu
fratello agora, eu sou o menor dos seus problemas.
Outro gemido sofrido sai da garganta de Heitor, mas ele
apenas pega as sacolas restantes, vendo várias marmitas de
comida e as colocando em cima da cama.
Um pensamento toma conta da minha mente.
Quando na vida que eu ia ter dois italianos me alimentando?
Eles estão, viu. Na boquinha ainda!
E quando você sorri, o mundo inteiro para e fica olhando por um tempo.
Pois, garota, você é incrível.
Exatamente como você é.
(Just the Way you are — Bruno Mars)

Faz cinco dias que Manuela está hospedada em minha casa,


cinco dias em que eu não tenho um mísero dia de sossego.
E isso é por conta de um carrapato que não larga do pé da
ragazza!
Todos os dias minha casa é invadida por Vince, que traz
comida, doces e algumas peças de roupa que Manuela não vai usar
tão cedo, já que não consegue ficar de pé.
Cinco dias em que vou dormir estressado com as piadinhas
infantis vindas de meu fratello, e das suas ameaças constantes.
Sempre que algo me desagrada e eu falo alguma coisa, o
desgraçado me ameaça a contar para Mamma, que há uma mulher
morando na minha casa.
E se ela souber...
Já levou um tapa na nuca? Ou um puxão de orelha que faz
você sentir que ela foi arrancada por dias seguidos?
Eu já. Essa porra dói!
Vanessa vinha a minha casa, dormia comigo por muitos dias
na semana, mas ela nunca veio morar comigo. Mamma não acha
isso certo e ouse desobedecer para ver o que acontece.
Eu vou ver, mas estou adiando isso o máximo que consigo.
Mas aquela mulher não é deste mundo, e isso me deixa em
constante estado de alerta esperando invadir minha casa como a
avalanche que ela é.
E ela vai.
Enquanto isso, a ragazza continua comigo.
Manuela não gostou de se sentir “inválida” segundo ela, e
pediu para que fizesse algo sobre o trabalho, enquanto estava na
cama, eu neguei, é claro, mas ela encheu a minha paciência até que
eu a deixasse fazer algo.
Óbvio que eu tive que mandar Luiz providenciar outros óculos
para ela, pois ela está apenas verificando e-mails, e relatórios, os
quais ela precisa apenas ler e fazer o que sabe fazer, ela está com o
meu notebook trabalhando lá em cima, enquanto eu trabalho aqui
embaixo, mas enquanto os óculos não chegam, ela fica com um
pouco de dor de cabeça, porém, quando eu insisto em tomar o
notebook, ela vira uma pequena oncinha.
Muito fofa, mas feroz.
Olho o Rolex em meu pulso, verificando as horas, faz dias que
não vou à empresa, mas Gael tem feito um bom trabalho em meu
lugar, ele não é o vice-presidente de lá à toa. Porém, mesmo
estando no comando por alguns dias, me mantém por dentro de
tudo e eu faço todo o meu trabalho, embora fora da empresa.
Meu escritório em casa serve do mesmo modo, assim como o
de Gael, já que ele trabalhava sempre em casa, ou em outros
países.
Gael é o responsável por todos os direitos internacionais de
publicação que adquirimos, e ele tem um olho bom para isso, porra,
o desgraçado só traz para nossa empresa os melhores lançamentos
e ultimamente, tudo que lançamos é sucesso.
Manuela é responsável por boa parte dos lançamentos
nacionais, já que todos esses documentos passam para mim por
meio dela, ela também tem um olho bom, todos os livros que ela me
manda para olhar são publicados, eu confio nela, sempre confiei,
Manuela é eficiente, e é por isso que eu sempre exigi tudo dela,
desde o primeiro momento, e tenho certeza que por isso ela não era
muito risonha na empresa, acredito que me achava irritante.
Mas eu gosto de extrair o máximo das pessoas, eu gosto de
revelar o seu verdadeiro potencial e é por isso que todas as
propostas que chegam à minha mesa passam por ela.
Manuela vai ser editora muito em breve, mas eu estava
receoso em ter que procurar outra secretária. Enquanto isso, eu sigo
treinando, com coisas que nenhuma secretária precisa fazer, mas
que uma editora da minha empresa precisa saber, e ela faz isso
muito bem.
Verifico novamente as horas e decido encerrar meu dia, o sol
já se foi e eu preciso fazer uma ligação e comprar algum doce para
Manuela. Ela está bem estressadinha ultimamente e segundo
Pietro, que veio fofocar comigo, outro que não arreda o pé da minha
casa, ela está de TPM.
Sabe o que significa TPM?
Tempo para matar.
E a oncinha está nesse tempo.
Saio do escritório em direção ao andar de cima, direto para o
quarto dela.
Tenho mantido distância dela, não consigo definir o que eu
comecei a sentir há alguns dias atrás, mas esse sentimento foi
deixado de lado, pois eu não poderia continuar com isso. Não podia
insistir em algo que não tem futuro.
Mas isso não impede meus fratelli, Eduarda e Luiz, de
invadirem minha casa sempre que quiserem ver a ragazza e me
encher a paciência.
Bufo ao chegar na porta de seu quarto.
Seu… Isso está ficando tão natural agora.
— Ei... — digo depois de bater e escutar um “entre”.
Manuela está com a cara enfiada no notebook, mas seu rosto
doce se vira para mim quando eu entro e um sorriso se abre
automaticamente.
— Ei, está na hora do jantar? — Ela abre bem seus olhos
brilhantes para mim e eu sorrio involuntariamente.
Temos uma relação amigável, mas não muito íntima, já que eu
evito ficar muito próximo, para não cometer uma besteira, Luiz e
Eduarda têm cuidado dela em meu lugar, pois ela ainda está com
gesso no braço e na perna, e puta que pariu, ela precisa de ajuda
para tomar banho, por isso Eduarda virou sua enfermeira pessoal.
— Sim, está, quer comer o quê? — questiono ao sentar ao seu
lado e olhar o que ela tanto vê nesse notebook.
— Donuts? — pergunta esperançosa.
— Ninguém janta donuts, Manuela — repreendo, nunca vi
alguém tão viciada nisso quanto ela, de vez em quando, eu saio
para comprar, mas isso é a única coisa que ela pede, nada mais.
Lembro que quando Vince tinha cinco anos, ele ficou fascinado
pela cor verde, tudo que ele tinha, Mamma teve que comprar de
novo, já que ele queria tudo na cor verde, roupas, brinquedos,
comida…, quando ele se fascina por algo, ele só quer aquilo.
Manuela é do mesmo jeito, se fascinou por donuts e só quer comer
isso agora.
— Quem disse? — ergue a sobrancelha, já mostrando um
pouquinho de irritação.
Tempo para matar.
— Eu disse, ragazza, pizza? — Dou um peteleco no seu nariz,
enquanto ela apenas murcha por não conseguir o que quer.
Falei que ela está sendo mimada todos os dias? Não?
Pois agora já sabem.
Eu falei sério quando disse que cuidaria dela, mas eu não
sabia que não era apenas eu, como também Gael, Vince, Pietro,
Luiz e Eduarda.
Embora Gael e Eduarda não tenham uma relação muito boa, já
que se odeiam, e olha que se conheceram há duas semanas. Só
que ninguém sabe o motivo e eles não dizem também.
— Eu gosto. — Ela coloca o notebook de lado e me encara
com seus olhos de coruja, que guardam um céu particular.
— Sabor?
— Suor…
— Como? — questiono confuso, enquanto ela arregala os
olhos e balança a cabeça.
— Queijo, eu disse queijo.
Encaro seu rosto, semicerrando os olhos, mas acabo pedindo
uma pizza de quatro queijos e calabresa.
— Vou tomar um banho, se precisar de algo, grita. — Levanto
e ando em direção a porta.
— Heitor. — Me viro ao som da sua voz.
— Sim?
— A gente pode assistir a um filme? Na sua televisão de
cinema? — Seu sorriso travesso, um que eu estou me acostumando
a ver se mostra em seu rosto.
— Podemos, vai escolhendo enquanto isso. — Saio logo do
quarto.
É inegável que eu sou atraído por ela, mas isso é errado. Ela
mora comigo porque não tem um lugar para ir, e se eu tentar algo e
não der em nada, vai dar merda, além dela ser mais nova.
Doze anos.
Melhor não.
Vou em direção ao meu quarto que é ao lado, e já ligo em uma
padaria que é aberta aos domingos, pedindo para entregarem uma
caixa de donuts.
Não sou louco.
Quarenta minutos depois estamos os dois sentados no sofá da
sala, de barriga cheia e assistindo “Como eu era antes de você”.
De novo.
— Você não cansa não? — resmungo, acariciando o gesso da
perna dela, enquanto ela se deita.
— Cansada eu tô desse gesso, quando você acha que eu
posso tirar? — pergunta com o cenho franzido, encarando o braço.
Ainda bem que as costelas já estão melhores e seu rosto
voltou a ser meigo, sem nenhum inchaço.
Mas a irritação dela me faz rir.
Menina fofa, cacete.
— Daqui a quatro semanas temos o retorno no hospital —
respondo, olhando uma Louisa Clark igualzinha à ragazza que está
ao meu lado, começando a conquistar o carinho do cara.
Mas nada me tira da cabeça que essa é a mesma mulher que
faz a Mãe dos Dragões.
— Isso tudo?
— Sim, se quiser ficar boa, é sim, o indicado é de seis a oito
semanas, então não reclama. — Já passa das sete horas da noite,
mas ainda é cedo demais, então temos tempo para assistir e mais
um pouco.
Ela apenas resmunga irritadinha e volta a encarar a televisão.
Meus olhos se voltam para ela de vez em quando, e noto todos
os detalhes que eu evito olhar quando estamos acompanhados.
E porra, eu sei que eu deveria estar feliz e tudo mais, e estou,
mas faz mais de quatro meses que eu não transo com ninguém e
um homem tem suas necessidades.
Mas não posso chamar ninguém aqui e muito menos sair, mas
isso não me impede de pensar no sonho que eu tive com a ragazza.
Do seu corpo abaixo do meu, dos toques imaginários, dos beijos
que eu nunca dei.
Porra, ainda bem que é a perna com o gesso que está em
cima do meu pau.
Deito a cabeça no encosto do sofá, tentando esfriar o sangue e
não ter pensamentos pecaminosos com ela e eu sei, no fundo do
meu coração, que não vai ser nada fácil ter ela aqui e não poder
fazer nada.
— Estou escutando seus pensamentos — sua voz doce me
chama de volta ao presente.
— Ah, é? Em que eu estou pensando? — Sorrio, coisa que eu
faço muito perto dela. Não tenho outra reação.
— Eu disse que estava escutando, não entendendo. — Ela ri.
Palhaça.
Seus cabelos estão espalhados no encosto do sofá e ela veste
um pijama de algodão cinza, que Vince trouxe para ela. Esse é do
seu tamanho e mesmo sabendo que ela está bem magrinha, é
impossível não reparar nas curvas do seu corpo, embora ela tenha
ganhado peso ultimamente, pois fica comendo doce direto.
— Tava pensando que Louisa Clark foi inspirada em você. —
Seus olhos brilhantes encaram os meus e ela semicerra eles.
— Acho que é você quem lê pensamentos, eu penso a mesma
coisa. — Seus olhos se voltam novamente para a televisão e depois
de alguns momentos, volta a falar. —Você não tem uma namorada
que vai ficar irritada de me ter aqui, não? — sua pergunta me pega
desprevenido.
— Não, não namoro há quase quatro meses — respondo.
— E não tem ninguém? Se eu estiver atrapalhando, saiba que
eu fico quietinha no meu quarto, sem fazer barulho. — Ela não me
olha ao falar isso, me deixando curioso com o seu interesse.
Do nada ela vem com esse assunto.
— Você tem alguém, Manuela? — a pergunta se obriga a sair
da minha boca, deixando um gosto amargo na minha garganta e
uma ansiedade que embrulha meu estômago.
Se ela tem alguém, porque esse covarde não estava lá para
ela?
— Não, não tenho — sua voz sai baixa quando ela fala, ainda
sem me olhar e eu sinto o alívio inundando meu corpo.
Cazzo! Que merda tá acontecendo comigo?
— Mas está interessada em alguém?
Seus olhos se voltam para os meus que não deixaram o rosto
dela e por uma fração de segundos, um sentimento cruza seu céu
particular, mas eu não consigo decifrar a tempo.
— É… — seu rosto ganha um tom vermelho e ela novamente
vira seus olhos para Louisa Clark. — Não.
Um aperto no meu peito se faz presente, mas volto minha
atenção para o filme e a casa fica em completo silêncio, apenas a
televisão é ouvida.
Eu preciso sair. Eu preciso foder urgentemente, e olhar para
esse rostinho doce é uma tentação sem tamanho.
Mas algo me diz que a tentação ainda não está nem perto de
começar.
Eu passei pela porta ao seu lado.
O ar estava frio, mas algo sobre isso.
Me fez sentir em casa.
(All Too Well — Taylor Swift)

Algumas semanas depois…

Hoje é o dia em que eu vou tirar esse bendito gesso, e minha


nossa, eu não estava aguentando mais.
Essa porcaria coça, todo dia tenho que enfiar palito de
churrasco para aliviar e esse gesso dificulta na hora do banho e eu
nem consigo andar.
Então, quando Heitor avisou que hoje iríamos ao hospital, eu
quase saí pulando. Mas não daria certo por motivos óbvios.
Já se passou um mês que eu vim morar com o Heitor e foi um
mês em que eu me senti muito feliz.
Duda vem me visitar todos os dias a pedido de Heitor e porque
não para de se preocupar comigo, e ela é quem estava me
ajudando com as minhas necessidades. Luiz, vez ou outra aparecia
também, principalmente na primeira semana que Heitor trabalhou
em casa, para não me deixar sozinha.
Mas, depois que Vince praticamente se mudou para a casa de
Heitor, já que ia todos os dias que não estava viajando para desfiles
de moda, Heitor decidiu voltar a trabalhar, embora eu ainda
ajudasse como podia de casa, apenas com o notebook.
Ainda não recebi a indenização do apartamento, mas recebi o
meu salário e no dia que caiu na minha conta, eu quase morri do
coração.
Heitor dobrou o meu salário, é claro que isso gerou uma
discussão, mas ele disse que fez isso antes do incêndio, então eu
pedi para ele me dar um abraço e passei o dia chorando.
O salário está na minha conta, já que eu não paguei aluguel,
água, luz ou qualquer outra coisa no mês que se passou e
principalmente o empréstimo, já que eu paguei com a venda da
casa.
O meu peito se encheu de esperança quando eu vi o dinheiro,
mas ainda me entristeceu, pois eu poderia me mudar, mas não teria
nada para pôr dentro da casa.
Além disso, me acostumei a ficar na casa do meu chefe.
Embora não veja nenhuma mulher entrando, fizemos um pacto
silencioso de não conversar sobre isso.
Eu tenho um grande carinho por ele, muito grande mesmo e eu
entendo que homens têm suas necessidades, mas Heitor me
respeita de um jeito, que não trouxe uma mulher para dentro dessa
casa enquanto eu estou aqui, mas ele já saiu com umas duas
mulheres, segundo Pietro, o fofoqueiro. Não posso culpá-lo.
Vince se tornou o meu melhor amigo, nunca veio de segundas
intenções e parece mais um irmão mais velho para mim.
Ele veio fofocar comigo e quando eu perguntei porque ele
gostava tanto de mim, ele disse que Heitor e Gael tinham uma
ligação especial, e Pietro tinha uma ligação especial com dona
Antonella. O pai dele amava todos igualmente e ele só queria
alguém que fosse só dele. Alguém para ter uma ligação especial
também.
Desse dia em diante, prometi para ele que seria sua melhor
amiga, e ele disse que eu era sua irmãzinha caçula. Eu gostei disso.
Você consegue conhecer muito de uma pessoa em um mês,
principalmente se vocês se encontram todos os dias.
— Chegamos — a voz de Heitor me faz voltar para o presente,
onde o carro está estacionado em frente ao hospital.
— Vamos logo — falo para Heitor, ansiosa, e ele dá a volta no
carro para me ajudar a descer.
Ele quis comprar uma cadeira de rodas, mas nem a pau eu
ando em uma, prefiro ficar sendo carregada nos braços dele para
cima e para baixo, cheirando o seu perfume maravilhoso.
— Já falei que você é muito mimada? — ele resmunga, mas
um sorriso se forma em seu rosto.
— Já, mas eu não tenho culpa se vocês ficam fazendo tudo
que eu peço. — Dou língua, enquanto ele me arrasta para dentro do
hospital.
Ele já falou que eu sou mimada, mas como eu disse, se eu
peço um copo de água, já tem um exército para trazer ele para mim,
nunca pensei que seria tão bem cuidada.
Isso às vezes me machuca, às vezes eu tenho a sensação de
que estou traindo minha família, pois esse mês, mesmo acidentada
eu passei feliz, eu penso que é algo que suja a memória deles. Eles
não estão mais aqui, não estão mais vivos e fico lembrando do
incêndio e pensando se não era para ter ficado lá.
São pensamentos ruins que invadem minha cabeça, me
fazendo chorar muitas vezes à noite, principalmente quando vejo os
quatro irmãos juntos e lembro que não tenho ninguém com quem
compartilhar essa intimidade camarada que adquirimos ao longo
dos anos.
Todas as pessoas próximas a mim, foram pessoas que
surgiram para mim esse ano. Faz dez meses que eu conheci Duda,
dez meses que eu conheci Luiz, e dez meses que eu conheci Heitor,
embora só tenha obtido mais acesso a ele há menos de dois meses.
Eu gostei desse tempo, eu gostei da pessoa que eu vi quando vim
morar com ele.
— Você tem razão, vou mandar todo mundo embora, preciso
de privacidade na minha casa, e preciso educar novamente uma
formiguinha que tá muito mimada. — Ele tem um sorriso travesso no
rosto ao se referir a mim como formiguinha, pelo meu gosto por
doce e eu dou risada.
Ele não vai mandar ninguém embora.

Uma hora depois, estamos voltando para a casa de Heitor, e


eu não paro de mexer a minha mão e meu pé, como se fosse uma
coisa nova. Já tinha me acostumado com aquela merda de gesso.
— Será que agora eu vou poder descansar meus braços? — a
voz risonha de Heitor me tira do transe e eu me volto para ele
indignada.
— Não te obriguei a nada, você que quis me levar de um lugar
a outro, mesmo eu falando que não precisava. — Seus olhos âmbar
se voltam para mim com divertimento cravado neles.
— Claro, porque você não é nenhum desastre ambulante.
— Eu sei, convivo comigo por uma vida inteira. Agora me conta
uma novidade — resmungo, mas ainda estou mexendo os dedinhos
como se fossem novos, imagina a sensação do Bucky quando
ganhou um braço de ferro!
— Como você está de bom humor, que tal você fazer aquele
bolo de sorvete que você disse que queria tanto que eu provasse?
— Olho novamente para ele, subitamente animada.
Em uma de nossas conversas diárias, as quais sempre temos,
pois ele gosta de me dar atenção, eu contei que minha abuela era
uma chef para doces e que me ensinou a fazer um bolo de sorvete
que se tornou minha sobremesa favorita, é um bolo muito bom e
estou ansiosa para ter algo para fazer e se isso fizer meu chefinho
feliz, melhor ainda.
Ele não tinha a obrigação de me abrigar em sua casa, e
mesmo assim, por algum motivo o fez.
Tenho todos os motivos para agradecer a ele por tudo que fez
por mim.
— AHHHHHH — grito de empolgação, não apenas por ter a
condição física de fazer o bolo novamente, mas pelo simples fato de
ter condições financeiras para fazer várias receitas que rondam
minha mente e que faz muito tempo que não se tornavam uma
refeição desejada.
Já ficou com muita vontade de fazer algo, mas não pôde? Eu
vivi muito assim.
Assim que o carro estaciona na garagem, me jogo nos braços
do não mafioso e o abraço com força, emocionada
— Obrigada por tudo, Heitor. — Lhe dou um beijo na bochecha
ao agradecer, com a voz um pouco embargada.
Mas, assim que concretizo o ato, Heitor prende a respiração e
seus olhos intensos miram os meus.
Em todo esse tempo, nós temos mantido uma amizade incrível,
ele cumpriu o que prometeu e cuidou de mim.
Mas não tivemos tanto contato físico, ele evitava chegar muito
perto, e eu nunca me atrevi a beijar seu rosto.
Mas como seria beijar a sua boca?
Misericórdia Manuela!
Com esse pensamento rondando minha mente, meus olhos
automaticamente se movem para seus lábios.
Lábios bem delineados, e cheios de um jeito que eu tenho
certeza que seria macio de sentir.
Mas, antes que eu faça qualquer coisa, Heitor fica rígido no
banco e devolve o abraço que ainda estava presente rapidamente e
depois me afasta gentilmente.
— Sabe que não precisa me agradecer por nada — sua voz
está mais distante e eu subitamente me sinto constrangida pela
situação.
Merda Manuela, que merda passa pela sua cabecinha
desastrada?
Depois disso, cada um sai do carro em um clima esquisito, mas
só em estar novamente em pé sobre minhas próprias pernas, o
aperto no meu peito afrouxa um pouco e seguimos em direção a
casa.
— Eu vou só tomar um banho e em seguida, te espero na
cozinha para você me ensinar a receita do bolo milagroso — Heitor
tenta aliviar o clima e eu agradeço por isso.
— Eu vou direto para a cozinha então. — Sorrio, mesmo
sabendo que meu rosto ainda está pegando fogo.
Entramos em casa, e antes que alguém consiga raciocinar, um
bando de desocupados grita.
— SURPRESA! — Pulo, soltando um gritinho.
— Misericórdia gente, vocês não me conhecem, não? — falo
por cima do susto com a mão no peito, massageando um pouquinho
em busca de acalmar os batimentos cardíacos e todos começam a
rir. Menos Heitor.
Olho para ele, e ele apenas acena avisando que vai subir.
Enquanto vejo seus passos subindo a escada esquisita que
realmente não cai, Vince fica de joelhos no chão do outro lado da
sala e Pietro vem para trás de mim.
— O que vocês estão fazendo? — indago confusa.
— Está gravando, Luiz? — Duda questiona, me fazendo ficar
ainda mais tonta e Luiz acena com o celular em minha direção com
a câmera ligada.
São doidos.
— Já — Luiz avisa e Gael ri do outro lado da sala, ganhando
um olhar esquisito de Duda e balançando a cabeça como se
achasse tudo uma grande besteira.
— Vem aqui, Manuzinha, dê os seus primeiros passinhos para
o papai — uma voz infantil sai da boca de Vincenzo e Pietro que é
mais novo que eu, mas mesmo assim é mais alto, coloca as mãos
embaixo das minhas axilas e tenta andar comigo em direção a
Vince.
— Ei! — grito surpresa, quando fico só com as pontinhas do pé
tocando o chão, enquanto todo mundo ri de mim. — Me solta, filhote
de lombriga.
— Calminha, bambina, faz assim oh, um pé depois o outro,
isso… olha Vince, nossa menina está andando — enquanto ele
fala, Vince bate nas pernas me chamando como se eu fosse um
cachorro e Pietro continua andando comigo, movendo meu corpo
como se eu fosse uma marionete.
— Ah, vão ver se eu tô na esquina, bando de desocupados. —
Me sacudo, tentando sair dos braços de Pietro, enquanto uma
gargalhada borbulha em minha garganta.
Olho ao redor, vendo que tem até balão com meu nome escrito
e uma frase abaixo.
"Quem com pernas anda, com pernas faz stripper"
Foi Vince, certeza. Ele é o mais sem noção.
Finalmente abraço todos eles, e fico agradecida por ter
conseguido encontrar pessoas tão legais no momento em que eu
mais precisei de alguém para me apoiar.
De canto de olho, vejo Gael subindo em direção ao quarto do
irmão e meu coração dá um pequeno salto ao pensar nele. E na sua
óbvia rejeição gentil. Mesmo que eu não tenha feito nada, eu
entendi que ele sabia o que eu estava pensando e que ele não
queria isso.
Deixo esse pensamento de lado e volto minha atenção para os
meus amigos.
Minha nova família.
Dizem que amigos são melhores que irmãos. Eu não tenho
com o que comparar, já que não tive nenhum, mas os amigos que
eu fiz são mais especiais do que qualquer coisa no mundo.
Eu perdi minha família, mas não desisti, e em troca, ganhei
uma nova para pertencer.
Esse sentimento é reconfortante.
Estou com minha mente no seu corpo e seu corpo na minha mente.
Quero provar deste fruto, só preciso dar uma mordida.
(Cool for the Summer — Demi Lovato)

Eu não quero esse tipo de gratidão, eu tento evitar isso a todo


custo, mas é óbvio que não deu certo e isso me deixou agitado.
Ficou claro que Manuela não olhou para os meus lábios
apenas por coincidência, eu vi o desejo de me beijar estampado no
seu rosto, e uma porra, que eu não quis que ela me desse esse
beijo.
Tenho tanta vontade dela, e nesse último mês, o desejo só foi
alimentado, mas isso não é motivo para investir em uma bambina
que não está em uma posição de identificar seus sentimentos.
Obrigada por tudo, Heitor.
Gratidão, logo após o “obrigada” ela me encarou daquele jeito.
Eu tentei, tentei com todas as forças fugir desse sentimento que
poderia confundir a cabeça dela, mas ainda assim, ali estava ele.
Não quero que ela confunda a gratidão que sente por mim por
algum desejo que na verdade não existe. E isso, isso me deixou
puto e desconfortável.
Meu quarto está escuro, não acendi nenhuma luz, mas minhas
janelas são de vidro do piso ao teto, então basta eu abrir as cortinas
para ter uma vista espetacular do meu grande terreno e das estrelas
que não aparecem no céu de São Paulo à noite.
Faço isso, abro as cortinas para clarear o quarto e escuto
risadas vindo do andar inferior.
Nossa noite de bolo foi por água abaixo.
Entro no banheiro, já tirando a roupa e assim que ligo o
chuveiro, sinto a água gelada limpando todo o sentimento de hoje,
toda confusão na minha cabeça e me deixando mais disposto a
descer e ver aqueles intrometidos, que com certeza não vão ter
mais a chave da nova fechadura, que eu vou colocar nas minhas
portas.
Termino rapidamente o banho e saio do banheiro, com uma
toalha enrolada na cintura e outra enxugando os cabelos e dou de
cara com Gael sentado em cima da cama, com o rosto pensativo
virado para mim.
De todos nós, Gael é o mais cuidadoso, o mais protetor
conosco e também o mais mentiroso. Mesmo que no nosso caso,
sempre minta por nós e não para nós.
— Tá irritadinho por quê? — pergunta já de cara.
— Quem disse que eu tô irritado? — pergunto seco, enquanto
entro no closet.
— Seu tom de voz diz, fratello. — Ele me segue. — É por
causa da sua ragazza?
— Ela não é minha — resmungo, procurando uma bermuda
confortável para passar o restante da tarde, já que passa das
quatorze horas.
— Exatamente, mas algo me diz que você quer que seja e
Heitor, você sabe que ela não é como a Vanessa, ou Carla, ou até
mesmo a Vitória.
Gelo com o último nome mencionado, meu coração quase
parando com a menção daquela desalmada que destruiu meu sonho
e com ele, quebrou meu coração de um jeito que ainda hoje, sou
incapaz de juntar os cacos e foda-se Gael, ele sabe que não deveria
mencionar esse nome.
— Eu sei, sei que todas elas foram ruins para você, sei que
elas arrancaram um pedacinho de você, a cada novo machucado,
mas Heitor, Manu não é assim, ela não é como as outras mulheres,
mas também é inocente demais para você.
— Eu sei que ela não é como as outras, Gael, ela tem um
coração que realmente bate no peito. — Me visto rapidamente, sem
coragem de olhar para ele, para que não veja o quanto a menção a
Vitória me afetou e eu sei que ele sabe que me afetou, todos
sabem.
Mas ao contrário de mim, eles não fingem que ela não existe,
eles lembram e a odeiam, mas não fingem.
Eu tô bem fingindo, mesmo que não seja saudável, eu estou.
— Sabe que ela é especial, né? — Voltamos para o quarto,
com ele em meu encalço e passo as mãos pelo rosto, frustrado.
— Eu sei, Gah, eu sei — murmuro baixinho.
— E você sabe que ela pode fazer um estrago com o seu
coração, como a Vitória fez?
— Porra, Gah, não compara as duas, cacete, nem mesmo
compare com nenhuma delas. — Rosno irritado.
— Vai me contar o que aconteceu? — sua voz sai hesitante e
eu me viro para ele.
— Ela quase me beijou — falo de uma vez.
Gah arregala os olhos e suas sobrancelhas levantam até o
meio da testa em choque.
— Ela o quê? — pergunta engasgado.
— Bem… — Coço a nuca desconfortável e sento na cama. —
Ela ficou um tempo olhando para minha boca, estávamos com o
rosto muito perto e estava com aquele clima, sabe? Quando você só
espera o tempo certo, mas, sabe que vai acontecer.
— Mas não aconteceu — ele conclui.
— Não, ela só está confusa, estava me agradecendo antes e
depois me olhou diferente — falo, me sentindo péssimo.
— É normal ela se sentir confusa, você estava lá para ela
quando ela mais precisou. — Ele senta ao meu lado e faz um
carinho nas minhas costas.
— Foi exatamente o que eu pensei.
— Posso fazer outra pergunta? — Gah é assim, ele nunca
força, ele sempre está aqui, ele toca em nossos pontos fracos para
nos fazer mais fortes, mas quando sabe que não pode mais, ele não
pressiona.
— Faça.
— Você a quer? — Travo por um instante, pensando em como
responder essa pergunta.
É óbvio que sim, mas não posso, não devo. Ela é proibida para
mim.
Muito inocente, muito nova, muito confusa…
— Não, não a quero — respondo por fim, pois se eu disser que
quero, ele vai me ajudar a conseguir. Mas não posso, não com ela.
Não quando me sinto responsável por seu estado físico e mental,
quando me sinto responsável por ela. — Somos só amigos.
— Certo. — Ele se levanta e vai em direção a porta, mas antes
de sair, se vira para mim com o semblante divertido. — Mas só um
conselho, fratello… não minta para um mentiroso. — E vai embora.
Cazzo!
Não é só o Gah que está assim no meu pé, Luiz e Vince
também estão, mas eles não entendem, não entendem que ela
depende de mim agora, depende de mim para tudo, não entendem
que não posso ter absolutamente nada com ela, enquanto ela
estiver na nossa empresa, e enquanto ela estiver debaixo do meu
teto.
Mesmo que eu queira com todas as forças ficar com ela,
mesmo que a atração tenha aumentado e muito no último mês e
minha maior vontade seja de beijar aquela boca linda e dobrar ela
sobre a minha cama, para descobrir que outros sons saem dela
quando sente prazer.
Não vou fazer isso, não é ético, não quero que ela pense que
tudo que eu fiz foi porque queria algo dela em troca. Meu estômago
pesa com essa possibilidade.
Se depender de mim, vamos continuar assim, Manuela pode
não ter conhecido muitos homens, mas é provável que os que ela
conheceu não sejam como eu, que gosta de algo mais pesado.
Manuela é doce. Um doce que tenta, mas um doce proibido.
Depois de pensar um pouco, decido descer e ver como as
coisas andam no andar abaixo e como a bambina está.
Ainda estou tentando assimilar como vai andar nossa relação,
agora que sei que ela quase me beijou.
O projeto de Louisa Clark é uma incógnita para mim, enquanto
eu penso que estou aprendendo mais sobre ela, ela arruma um jeito
de me surpreender.
Isso fica claro quando eu chego no andar de baixo e vejo todos
sentados no sofá, enquanto a ragazza desfila em um vestido
vermelho rodado e decotado que modelam a cintura estreita e os
seios cheios que são um pecado à mostra.
Paro no pé da escada olhando para ela, que dá uma voltinha
sem notar minha atenção e sorri para a plateia que a assiste e bate
palmas com gritinhos a incentivando a continuar, mas eu não
consigo dar atenção a eles, eu simplesmente não consigo tirar meus
olhos dela.
Sua pele marrom brilha, com a luz que bate, como um farol
nela, focando nela, fazendo ela o centro das atenções. Da minha
atenção.
Seus pés estão descalços, mas o cabelo está solto e uma
cascata de cachos macios e cheios descem pelas suas costas, em
ondas castanhas-escuras, deixando todo o seu rosto meigo em
destaque, sem nenhuma maquiagem, mas que não precisa, já que
ela é linda até usando um saco de batatas.
No mês que se passou, Manuela adquiriu peso, não estava
mais magrinha como antes, todas as suas curvas — o que tem me
tentado muito nas últimas semanas — entraram em destaque no
seu corpo.
Manu tem um corpo espetacular, mas nunca notei pelas roupas
que usava, porém agora, suas coxas à mostra pelo vestido, são um
chamado à tentação, a imagem delas ao redor do meu quadril
preenchem minha mente, assim como a vontade de apertar aquela
bunda cheia e provar seus seios.
Se não fosse a ética que eu sempre tive e que pretendo
manter, que me impede de tentar algo com ela, enquanto ela está
dependendo de mim e por ela ser mais nova, tenho certeza que ela
já estaria na minha cama.
Mesmo com seu jeito meigo, Manu tem cara de menina que
depois que aprende…
Balanço a cabeça, negando cada pensamento que rondou
minha mente e fecho os olhos.
Respiro fundo e volto minha atenção para ela, que vai em
direção à cozinha com Duda, e eu me dirijo ao sofá.
Cinco sofás, é a quantidade que tem em minha sala, mas os
bonitos estão todos em cima de apenas um.
Adivinha onde eu sento?
No meio de Vince e Gah.
— Estava batendo uma, esse tempo todo lá em cima? — Vince
pergunta divertido, enquanto sua mão vai em direção ao meu cabelo
e um cafuné é iniciado.
— Vou já bater na sua cara, se não calar a boca — respondo
friamente e ele ri, meu coração ainda tá a galope pela imagem de
Manuela.
Nunca pensei que a veria em algo que não fosse suas roupas
folgadas ou ultimamente, seus moletons que Vince trouxe para ela,
mesmo ela pedindo que fosse maior que seu número, pois ela se
sentiria mais confortável, algo com a sua abuela, ainda assim, é
melhor que as roupas que ela ia trabalhar. Mas nunca pensei em
como a imagem dela em um vestido ia me impactar tanto.
Porra, como ela ficou linda!
— Lá vem ela. — Escuto a voz de Pietro, e todos olham para a
porta da cozinha, onde Manu vem em uma calça de couro preta
cintura alta e uma blusa, que mais parece um sutiã na cor vinho.
Seus passos hesitantes vêm em direção à sala e seus olhos miram
os meus diretamente.
Se vê-la em um vestido já foi difícil, vê-la nessa roupa com
certeza vai me matar.
Seu rosto ganha uma tonalidade vermelha e ela morde os
lábios envergonhada, enquanto continua andando e puxando o
couro da calça que mais parece uma segunda pele e para à nossa
frente.
Escuto os elogios de todos e assobios, me dando conta de que
este é um desfile de moda muito provavelmente organizado por
Vince, agora que ela consegue andar, mas o desfile deve ser para
me enlouquecer.
A roupa fica incrível nela, suas coxas grossas ficam bem
marcadas e assim que Pietro pede para ela dar uma voltinha, sua
bunda grande fica em destaque, e que Deus me perdoe, por todos
os pensamentos que estão passando pela minha cabeça agora.
Sinto uma almofada sendo colocada em cima do meu colo, e
olho para Gah, que tem um sorriso contido.
Sinto o porquê de ele ter feito isso, esticando minha calça e
engulo em seco.
— Tá linda demais, Manuzinha, ficou gostosa pra cacete com
essa calça, hein! — a voz de Vince me tira do transe e antes que ele
tenha reação, minha mão acerta com força a sua nuca. — Ai
maninho — ele choraminga me olhando — o que foi que eu fiz? —
Ele está se ouvindo? O que foi que ele fez?
Chamou ela de gostosa, cacete, foi isso o que ele fez, e deixou
ela constrangida.
Só por isso, ele levou um tapa, não precisava deixar ela
constrangida.
Manu sai de volta para a cozinha rindo de Vince, e mesmo que
eu veja seu rosto pegando fogo, sei que mesmo com vergonha, não
rejeitou o elogio de Vince.
— Se você ficar calado, fica com todos os dentes na boca —
rosno.
— Tá com ciúmes da ragazza? — Ele arregala os olhos.
— É claro que ele tá, ele só não vai admitir — Luiz, que está
ao lado de Pietro, fala rindo e eu fecho ainda mais a cara.
— Não, não estou, mas você a deixou com vergonha — desvio
do assunto e volto minha atenção para a cozinha, onde Manu e
Eduarda se enfiaram.
— Não precisa ter ciúmes, fratello, ela é a sua ragazza, não a
minha. — Vince me encara sério e eu finjo que não ouvi o “sua
ragazza.”
— Não estou com porra de ciúmes nenhum — falo friamente,
me levantando e indo em direção ao outro sofá de saco cheio,
enquanto meus fratelli se entreolham com Luiz no meio deles e
depois os quatro me olham divertidos.
— Bem, é bom não ter mesmo, porque ela está
experimentando as lingeries agora — Luiz comenta e eu explodo.
— Porra nenhuma que ela vai desfilar só de calcinha na frente
de vocês! — vocifero e me levanto, indo em direção a cozinha, para
ver onde está a inocência e meiguice daquela bambina e onde foi
que ela enfiou a vergonha dela. — Vocês todos, vão embora —
expulso esses marmanjos e eles gargalharam alto, mas se levantam
e saem.
Entro na cozinha, onde Manu conversa com Eduarda, mas a
minha gerente de marketing recebe uma mensagem no celular e se
despede rapidamente de Manu, sorrindo para mim e indo em
direção a sala.
Que saia também.
Volto minha atenção, agora completamente em Manu que está
vestida com a mesma roupa que chegou, e me sinto um idiota
manipulado por vagabundos que não valem nada. Logo eu, o mais
velho deles.
O que ensinou tudo.
— Eduarda disse que precisava ir — ela falou, arrumando
várias roupas dentro de uma sacola e colocando em cima da mesa,
seus olhos me fitam logo depois.
Minha cozinha é grande, em conceito aberto, com um balcão
dividindo a cozinha da sala de jantar, com eletromédicos inox e
assim como toda a casa, ela também é em tons neutros de cinza e
branco.
Mas mesmo com a elegância do local, Manuela chama muito
mais atenção por ser quem é.
Um anjo.
Um pecado em forma de um, pelo menos.
— Os meninos foram embora também — falo, indo em direção
a geladeira e pegando um Danoninho, para escapar da intensidade
do seu céu particular.
— Sério? Eles nem se despediram — resmunga baixinho, mas
alto o suficiente para eu escutar.
— Não sei porque está reclamando, sabe que um deles vai
estar aqui amanhã mesmo — falo seco, pensando em uma regra
para a nossa convivência que preciso colocar, ou vou ficar doido.
— Eu sei, mas isso não me impede de sentir saudades. — Ela
senta na mesa e pega uma banana para comer.
Uma banana.
— Posso te pedir um favor? — começo hesitante, pegando um
pouco do Danoninho com a língua.
— Claro.
— Deixe meus fratelli e Luiz em território proibido, pode ser? —
questiono e ela me olha confusa por um tempo, mas assim que
entende, seus olhos arregalam e ela me encara indignada.
Ótimo.
— Eles já estavam lá, para sua informação, mas que favor
besta. — Ela mete a banana na boca, fazendo um arrepio subir pela
minha espinha e morde um pedaço.
Seus olhos irritadinhos e mesmo assim meigos se voltam para
os meus, enquanto ela enfia aquela banana na boca de novo.
Banana de sorte.
Como o balcão está entre nós, fico aliviado que ela não esteja
vendo o que acontece em meus países baixos.
Pego mais um pouco do Danoninho com a língua, ainda
encarando seus olhos e os dela, descem para a minha boca e tudo
em mim acende.
Cazzo! Porque ela faz isso comigo?
Limpo o potinho de Danone, e não sei os outros, mas eu só
uso a língua quando tomo um desse, enquanto Manuela me tortura
com aquela banana.
E o pior, ela tem desejo nos olhos mirando minha boca.
Limpo a garganta e tento pôr um ponto final nisso. Ela só está
confusa.
— O que você acha de fazer aquele bolo? — pergunto com a
voz rouca e ela sai do transe.
— Claro. — Levanta e vem em minha direção, me encosto no
balcão para que ela não veja nada.
Nesse último mês, saí com duas mulheres, as beijei, rolou
amassos, mas não rolou sexo, com nenhuma das duas, não porque
eu não senti desejo, mas porque eu lembrei de Manu em casa, e em
como ela estava debilitada, é óbvio que o clima esfriou nas duas
vezes.
Bolas roxas é apelido para o que eu tenho agora.
E tenho certeza que não vai ser a última vez que ela vai me
tentar assim, mesmo sem saber. Mas eu sei resistir a tentação, eu
consigo fazer isso por nós dois.
Enquanto a bambina se ocupa em pegar os ingredientes, meu
celular toca com mensagens em meu bolso e retiro para ver o que
chegou.
O grupo que tenho com meus fratelli está lotado de
mensagens.
Vince: Eu e Pietro chegamos em casa e Mamma está
perguntando o que tanto a gente faz na sua casa, Heihei.
Gah: Como ela perguntou?
Vince: Como se já soubesse a resposta.
Heitor: O que você disse?
Vince: Que sentia saudade, acha que vale?
Gah: Stronzo!
Heitor: Vocês acham que ela vai me matar quando souber?
Vince: Deixa a Manuzinha para mim no testamento.
Pietro: Acho melhor ficar comigo, sou mais novo e posso
cuidar dela direitinho.
Heitor: Ela não vai ficar com você, Pietro!
Pietro: Sabe que eu sou o mais indicado, ela gosta de mim,
embora goste de me bater de vez em quando.
Vince: Comigo ela é um amorzinho.
Pietro: Ninguém te perguntou.
Vince: Olha aí Heihei, esse menino está muito mal-educado.
Pietro: Culpa de ser o favorito da mamãe.
Heitor: Você só é o favorito porque vive fofocando com ela!
Pietro: Eu não faço fofoca, eu discuto pontos de vista sobre as
informações que eu recebo!
Vince: Ninguém te perguntou.
Heitor: Vocês não estão ajudando.
Gah: Vou tentar abrir a mente dela para esse assunto.
Heitor: Grazie!
Vince: Enquanto isso… já beijou nossa menina?
Pietro: Nossa menina é inteligente, ela aprende seu jeitinho
bruto rápido.
Heitor: Nossa menina é o caralho, vão cuidar da vida de
vocês.
Gah: Já ou não?
Não respondo essa última mensagem, porque não preciso e
volto minha atenção para Manu, que já está com quase tudo
preparado, e um sorriso no rosto. Lembro de quando ela pediu que
eu fizesse um brigadeiro para ela.
Eu esqueci de mexer e queimou um pouco no fundo, mas ela
sorriu satisfeita e simplesmente comeu o que eu fiz e voltou a
assistir Como eu era antes de você.
De novo.
Se eu não fosse seu chefe, seu anfitrião, e doze anos mais
velho…
Se no passado não tivessem tirado de mim algo tão importante
para o meu futuro. Dói pensar que ela pode querer algo de mim que
eu não possa dar.
Dói saber que meu sonho não pode se tornar real, e eu nunca
a impediria de ter isso.
Fico encarando-a por um tempo, pensando em todas as
minhas conclusões sobre a vida, e em tudo que ela coloca em
discussão, em tudo que ela poderia mudar, mas do que já mudou e
não consigo imaginar que algum dia eu vivi sem a luz que a Manu
irradia ao estar em um aposento.
Ela brilha mesmo a luz do dia, e principalmente em meio a
escuridão.
Dizem-me que sou muito jovem para entender.
Dizem que estou preso em um sonho.
Bem, a vida vai passar por mim se eu não abrir meus olhos
(Wake me up — Avicci)

Depois de terminar e colocar o bolo de sorvete no freezer,


Heitor e eu começamos a arrumar a cozinha, já que eu deixei uma
bela bagunça e arrumar sozinha não é algo que vai acontecer, pois
é bem capaz de eu quebrar tudo.
Gosto da cumplicidade que a gente adquiriu nos últimos
tempos, mesmo depois do desejo que eu senti por ele hoje e pelo
sentimento borbulhando dentro de mim.
Antes mesmo de vir morar aqui, eu já sentia algo por ele, já
sentia atração, algo que eu nunca senti por ninguém, pode ser difícil
para outras pessoas acreditarem em mim, mas é a verdade, não
vou pela opinião de outras pessoas, se elas quisessem me ver feliz,
me aceitariam como eu sou, então porque eu ligaria se a única coisa
que a sociedade gosta de fazer é nos colocar para baixo?
Heitor me fez ver mais dele nas últimas semanas do que eu vi
em nove meses de trabalho.
Ele é incrível, tem como não se sentir atraída?
Ele é lindo de morrer, e também é bem musculoso e minhas
bochechas coram só de pensar em como ele é gostoso.
Mas a aparência é a última coisa que me fez me sentir atraída
por ele.
O seu jeitinho me conquistou. Embora eu não devesse sentir
nada, eu sinto.
Besta é a pessoa que diz que sentimentos podem ser
controlados, não podem.
Heitor é responsável, protetor e leal. Ele é educado, gentil
comigo e compreensível.
Aposto que as mulheres que já passaram pela sua cama
também têm muito o que falar dele, o que foi aquela lambida no
potinho de Danone?
Aquela visão foi um pecado! Pelas santas da minha abuela! Eu
senti um comichão no estômago e algo lá embaixo.
Posso ser virgem, mas isso não me faz burra, eu sei o que
acontece em um quarto, eu sei as sensações que uma mulher pode
sentir. Eu leio livros e já me excitei lendo várias cenas.
Livros são um manual de como nós queremos ser satisfeitas,
de que homens gostamos e de explorar temas que a sociedade
critica.
Bem, os homens que queremos são relativos quando falamos
de livros.
Ninguém que lê um livro de máfia quer um homem obsessivo,
seguindo e sequestrando-a, enquanto faz ela de escrava sexual.
E eu li uma nota de uma autora que avisava que badboys só
são bonzinhos em livros e ela está certa, as pessoas deveriam ler
as notas das autoras, isso salva a leitura.
Pois bem…
Eu sei todo o ato sexual na teoria, já na prática…
Eu gostaria de ser beijada, é muito pedir isso?
— O que você achou da visita dos intrometidos? — Heitor
pergunta, me fazendo voltar ao presente.
— Você sabe, eu gosto deles, nunca tive amigos antes de
Duda e Luiz. — Seu rosto fica abatido com a minha fala. — O que
foi?
— Me dói fisicamente saber que você estava tão sozinha no
mundo e eu não reparei nisso antes — explica, se irritando com ele
mesmo. — Não é como se eu não a visse todo dia, não é como se
eu não tivesse reparado que você perdeu peso, eu só não quis me
intrometer, deixar o pessoal fora do ambiente de trabalho e você não
sabe o quanto eu me arrependo de não ter feito isso antes. — Ele
não me olha ao terminar de falar, colocando toda a louça que ele
lavou para secar, enquanto eu subo no banquinho e me sento em
cima do balcão.
— Não quero que fique triste, você não tinha responsabilidade
sobre mim — respondo, olhando para minhas pernas, fechadinhas
para não mostrar a calcinha que o vestido que eu fui para o hospital
cobre, não dava para vestir calças com um gesso no caminho.
— É claro que tinha, você é minha funcionária, o bem estar de
todos naquela empresa é minha responsabilidade.
— Você se cobra demais — respondo baixinho. Meus olhos
finalmente encontrando os seus, vendo tudo que ele luta para
esconder.
Heitor é um homem forte, um homem forte internamente. Vejo
tudo isso em seus olhos, toda a responsabilidade, todo o medo de
decepcionar aqueles que ama, toda a vontade de fazer o máximo
possível, por algum motivo. Mas lá no fundo, vejo um sentimento
indecifrável, um que eu não consigo entender, e talvez eu não
precise.
— Eu sou o presidente da editora, eu preciso me cobrar o
máximo se eu quiser exigir o máximo dos outros. Hipócrita é a
pessoa que julga e aponta o dedo, mas suas atitudes não condizem
com suas palavras. Se eu exigir trabalho, tenho que dar o exemplo.
— Ele se aproxima e vejo um homem adulto e decidido que me
enche de orgulho.
Você é tão bom, Heitor, é bom sim.
— Eu sei, mas é bom deixar isso dentro da empresa, fora dela,
somos outras pessoas. — Cutuco as unhas, pequenos tocos que eu
mantenho curtas, já que eu tenho uma mania irritante de me
arranhar sem querer e isso deixa pequenas marquinhas no meu
corpo.
— Somos as mesmas pessoas, Manu, apenas com
posicionamentos diferentes, já que precisamos agir com formalidade
no ambiente de trabalho, e no aconchego do lar podemos agir sem
medo. — Ele se aproxima e agora está à minha frente, com um
sorriso discreto no rosto e me encarando sem piscar.
— Então… queria falar algo com você — começo hesitante,
uma decisão que tomei, enquanto ele estava lambendo o copinho
de Danone, porque eu não posso continuar aqui sentindo isso, se
ele me negar fogo.
— Estou na sua frente — ele responde, seus olhos sondando
meu rosto, em busca de algo.
— Acho que agora que já estou em cima das duas pernas,
posso deixar você em paz. — Ele fecha o rosto e olha para a parede
atrás de mim, um bico do tamanho do mundo se forma em seu
rosto.
Eu te magoei, chefinho? Não queria.
— Você não tira a minha paz, Manu, para falar a verdade,
gosto de ter você aqui — ele fala baixinho, ainda sem me olhar e
ainda com o bico.
— Mas, acho que você precisa da sua privacidade, eu estou
atrapalhando você, né? — pergunto com vergonha e abaixo o rosto.
Isso dói.
— Quem disse isso? — pergunta com raiva.
— Pietro. — Ele bufa. Mas não culpe ele, lindinho, Pietro não
consegue manter a boca fechada.
— É claro que aquele fofoqueiro ia se meter em algo que não é
da conta dele. — Outro bufar. — Vamos fazer assim, você fica aqui
até comprar todos os móveis da sua casa e arrumar um lugar legal
para ficar, pode ser? — Não respondo e ele trinca os dentes. —
Sobre a minha privacidade, se eu quiser transar, Manu, eu não
preciso trazer ninguém para dentro de casa, tem motel, tem hotel,
tem a casa da outra pessoa e quanto a você…, se quiser… — ele
engole em seco e olha para todos os cantos da cozinha, entendo
em seguida o porquê. — Se quiser ficar com alguém antes de se
mudar, me avise antes, que eu te dou privacidade. — Ele está com
os dentes tão trincados, que faço um carinho em seu rosto, em
busca de acalmá-lo.
Isso é ciúmes, mafioso?
— Duvido muito que eu vá me interessar por alguém — você
conta? Sorrio, tentando aliviar o clima. — Então, tudo bem, eu fico.
Ele olha nos meus olhos, e sorri.
— Mas, quando esse bolo sai?
— Só amanhã — respondo rápido e sorrindo.
— Você tá brincando, né? — Ele fecha a cara e fica com
aquela carinha emburrada que eu gosto tanto.
— Tem sorte de eu ter feito hoje, demora quase um dia para
ficar bom, então para de reclamar e espera a hora de comer! —
resmungo, levando as mãos ao cabelo e fazendo um coque. — Mas
se quiser, eu faço um filé bem gostoso para você.
— Ah é? Conte mais. — Minhas pernas se abrem à medida
que Heitor chega mais perto, ficando no meio delas.
— Eu sou chef de cozinha, garotão, sei fazer de tudo —
respondo, sorrindo travessa.
Abuela como já deixei claro, era uma mulher que seguia muitas
tradições ultrapassadas, e nessas tradições, mulheres tinham que
aprender tudo sobre a casa.
Não para agradar um homem, mas para provar que
conseguimos fazer o que quisermos, mas que precisamos aprender
o básico para não morar em um chiqueiro e comer comida boa.
— Você gosta muito da minha comida, se tem um chef aqui,
sou eu — ele brinca ao colocar as mãos em meu quadril e eu dou
risada do convencimento dele.
— Não posso negar, já tá bom para casar — provoco e ele
semicerra os olhos, olhos que estão muito próximos aos meus.
— Eu não cozinho para casar, ragazza, eu cozinho é para não
morrer de fome — responde rindo.
Dizem que a mulher se esconde atrás de uma maquiagem,
mas todos sabem que a barba é a maquiagem natural dos homens.
Oh coisinha que deixa eles uma tentação sem tamanho.
— Vai querer ou não? — indago, observando cada detalhe do
rosto próximo ao meu. Cada traço rígido, mas que está leve nesse
momento, cada linha de expressão, que não se expressa nesse
momento, cada ruga que deveria ter, mas que não é muito
chamativa em seu rosto.
O rosto de um homem de trinta e quatro anos. Trinta e quatro
anos formaram esse homem em um espetáculo.
— Querer o que?
— O filé, homem! — respondo divertida.
— Não, não quero, o que acha de pedir pizza? — Ele pega
com uma mão o celular que estava ao meu lado, enquanto a outra
mão continua no meu quadril.
— Depois fica me chamando de mimada! — Seus olhos se
voltaram surpresos para mim.
— E o que isso tem a ver? — indaga confuso.
— Fica me dando doces, pizzas, bolo, tortas, é óbvio que eu
vou ficar mimada assim — resmungo.
— Você está reclamando? — ele pergunta divertido, com os
olhinhos lindos brilhando e um sorriso no rosto de traços firmes.
— Não, mas estou falando para você não reclamar. — Sua
mão começa a traçar pequenas voltas com o dedão em meu quadril,
sutilmente, e olhando em seus olhos, sei que ele nem percebe o que
está fazendo.
Isso é bom.
— Eu não reclamo.
— Só o tempo todo. — Minhas pernas se abrem mais, fazendo
o vestido subir um pouco e Heitor chegar mais perto.
— Você é uma ragazza muito abusada. — Seus dedos ainda
traçam círculos em meu quadril.
— Não estou mentindo, você sabe… com a idade chegando, a
reclamação vem no pacote. — Seus olhos se arregalam para em
seguida se semicerrarem.
Desde que eu cheguei aqui, ele fala sobre nossa diferença de
idade, então tento deixar esse assunto mais leve.
Vejo o olhar de repreensão em seu rosto, fazendo borboletas
varrerem meu estômago e baixo os olhos para o colo com um
sorriso no rosto.
Eu sei que ele tem 34 anos e isso está longe de ser uma idade
velha, mas nos livros que eu li, quando a mocinha provocava… a
fera saía. Talvez né…
Talvez funcione.
Já falei que eu quero ser beijada?
Não demora para eu sentir os seus dedos em meu queixo
puxando meu rosto para o seu.
— O que foi que você disse? — ele pergunta baixinho, mas
sua voz sai grave.
Será que vai? Pelas santas da minha abuela!
— Você sabe… já está ficando caduco, daqui a uns dias tem
que usar fralda… — sua mão cobre a minha boca, enquanto meu
peito borbulha em uma gargalhada.
— Olha aqui, ragazza, vou perdoar essa sua boca atrevida só
porque tem um bolo na geladeira que é bem capaz de você deixar
Vince comer só porque eu te dei uma bronca. — Ele grunhe
baixinho, com o rosto perto demais do meu.
Nossos olhos ainda estão fixos um no outro e ele tira a mão da
minha boca me dando a chance de falar.
— Você está certo, mas isso não vai calar a minha boca
atrevida. — Misericórdia!
Meu rosto esquenta com esse comentário que saiu sem eu
querer, mas já foi.
— Eu sei outro jeito de calar ela — ele sussurra baixinho, como
se não quisesse falar e as palavras tivessem escapado sem sua
permissão, suas esferas castanhas fixas em minha boca, a qual eu
passo a língua para hidratar o lábio inferior.
As borboletas na minha barriga agora fazem festa e um arrepio
gostoso desce por minha espinha.
Não preciso falar que meu coração está quase parando de tão
rápido que bate.
— Que jeito? — sussurro também, ouvindo minha própria voz
rouca e engulo em seco.
Será que ele vai me beijar?
Ai Senhor, e seu eu não souber beijar? E se ele não gostar?
Por que eu invento essas coisas?
Heitor aproxima o rosto do meu, sua mão em meu quadril já
parou de circular e agora agarra com força.
Eita porra!
Fecho os olhos, esperando sentir o gosto que eu tanto desejo.
A respiração dele já alcança minha boca, apenas mais um
pequeno espaço nos separa do que eu quero.
O clima na cozinha fica quente, fervendo, uma energia
diferente e eletrizante me consome, mas eu sinto quando ela muda,
eu sinto quando toco o braço dele e ele fica rígido.
— Cazzo, Manuela! — Um estrondo é ouvido ao meu lado,
causado pelo soco que Heitor deu na bancada, mas não abro os
olhos, não quero passar por essa vergonha de novo.
Sua testa descansa na minha, sua respiração descontrolada,
fazendo par com a minha.
Eu sei que ele desistiu do beijo, do beijo que eu tanto queria.
Eu só não sei o porquê.
Se ele pensa que eu sou idiota e não vi o desejo estampado
em seus olhos quando estava com a calça de couro, ele está muito
enganado, se pensa que eu vou deixar para lá esse quase beijo, ele
está mais ainda. Eu já disse que se tem algo que eu tenho na vida,
é determinação.
— O que foi, Heitor? — sussurro baixinho, ainda sem coragem
de abrir os olhos.
Eu disse que tinha determinação, não coragem.
— Não posso, Manu, não posso fazer isso com você — ele fala
rouco. Suas duas mãos agora em meus quadris e seus dedos
fazendo círculos reconfortantes.
Fico um tempo sem falar, pensando no que dizer, e enquanto
isso, seu nariz me dá beijinhos de esquimó. Isso é bom.
— Por quê?
— Porque você só está confusa, Manu, não quero que pense
que só porque estou cuidando de você que você me deve algo, que
você me deve isso. — Abro os olhos, vendo os seus sempre tão
profundos, fixos em mim.
— Não é assim…
— É claro que é, você só não se deu conta ainda, e eu não
quero ser um motivo de arrependimento na sua vida, bambina — me
interrompe e suas mãos aconchegam meu rosto agora.
Deito o rosto, recebendo o seu carinho, mesmo que triste por
dentro.
— Não vou insistir, mas saiba que não é como você está
pensando — falo baixinho.
— Pizza? — pergunta, buscando algo em meu rosto.
— Pode ser. — Baixo os olhos novamente e ele me liberta.
Escuto a ligação e saio de cima da bancada.
— E, Manu? — O encaro vendo que ele está quase saindo da
cozinha, mas que parou na porta para me olhar. — Não pense que
eu não te quero, não pense que eu a rejeitei, você é a minha doce
ragazza, eu não nego que quero você, mas não posso tê-la. Eu não
sou o certo e nem sou o que você precisa. — Antes que eu possa
responder essas besteiras que saem da sua boca, ele deixa a
cozinha e vai em direção ao seu quarto.
Mas não foco muito nas outras palavras que ele disse, apenas
em três.
Minha doce ragazza.
Minha.
Dele.
Não seria ruim ser dele.
Seria ruim sim, seria péssimo!
Cretino.
Sabe o que é andar na rua e as mulheres ficarem babando em
cima do homem que está com você? É horrível!
Eu sei que o homem em questão não é nada meu, mas isso
não importa.
Hoje, depois de passar a manhã trabalhando, Heitor me trouxe
em um restaurante para almoçar, pois Antonella e Enrico viajaram
para a Itália, renovando os votos de casamento, apenas eles. É
óbvio que Heitor ainda não avisou que eu moro com ele, ele está
morrendo de medo, o coitado, do que sua mãe pode fazer.
Mas, estamos no restaurante, um bem chique, e uma moça
simplesmente se convidou para almoçar com a gente.
Pela conversa que eu ouvi, ela é advogada de uma editora que
também tem sede aqui em São Paulo, embora o foco dos livros
sejam terror e suspense.
Mas, ela passou pela nossa mesa, e reconheceu Heitor, ele,
como o homem educado que é, a convidou a se sentar e ela
aceitou. Como não iria?
Me diz, quem resiste a um convite desse homem?
Agora, estamos sentados, almoçando um filé de carne, que no
caso está apenas sendo revirado em meu prato, enquanto eu os
escuto falando. Meu chefe está sendo educado, respondendo suas
perguntas, mas ela? Ela está se jogando em cima dele, será que ela
não está me vendo aqui, não? E se eu fosse namorada dele? Odeio
esse negócio de rivalidade feminina, mas tem algo chamado senso.
— Você irá ao evento de lançamento do novo livro do Stephen
King? — ela pergunta, sua voz traz aquela sensualidade que eu
sempre quis ter, mas nunca tive.
Sua boca, em um vermelho profundo, combina perfeitamente
com a sua pele de porcelana e seus cabelos ruivos. Ela é um
mulherão, desde o momento em que passou do nosso lado, eu
percebi. Mas isso não me deixa mal, eu tenho curvas também, sou
bem bonita e as roupas que eu tenho usado para ir trabalhar,
ultimamente, tem valorizado muito o meu corpo, eu sempre quis me
vestir melhor, agora eu tenho a oportunidade.
Mas, o que me incomoda na mulher é a confiança e
sensualidade que ela exala, me incomoda porque ela está deixando
Heitor caidinho.
Ele pode ser dela, mas o fato de estar almoçando comigo e ela
dar em cima dele mesmo assim, é para chatear qualquer um.
— Sim, eu irei, é no sábado, né? — ele responde, levando em
seguida a colher com arroz à boca.
Não é novidade para ninguém a roupa que ele veste hoje,
completamente elegante, em um terno preto sob medida.
A ruiva sorri em resposta e pega a taça de vinho branco que
pediu, tomando um golinho.
— Olha, que ótimo, podemos ir juntos, vai levar… alguém? —
Ela me olha por um instante, mas Heitor não vê, seu rosto está
concentrado no prato ao cortar outro pedaço de filé.
— Não, não irei — ele responde encarando-a novamente e eu
sinto um embrulho no meu estômago.
E eu?
Bem, ele sempre me convidou, mas nunca aceitei, fui a um
apenas, pois foi na editora, mas as pessoas chiques, a comoção e o
ambiente me eram desconfortáveis, então nunca mais aceitei ir, e
ele entendeu, entendeu tanto que parou de me convidar.
Que ódio.
A conversa entre eles continua e eu forço o filé garganta
abaixo, depois do que mais parece uma hora, ele pede a conta e a
ruiva deixa um cartão com ele.
— Caso queira companhia, aposto que a noite acabaria muito
melhor — ela praticamente se joga em seu colo para sussurrar isso
em seu ouvido, mas eu escuto, e Heitor apenas aceita e sorri,
sussurrando algo de volta, esse comentário, eu não ouço.
Que enfie esse cartão no… bolso e esqueça ele lá.
Já no carro, a caminho da editora, ele decide puxar conversa,
mas se tivesse ficado calado, seria melhor para nós dois.
— Quer donuts? — ele pergunta, o cara de pau.
— Não. — Me viro para a janela, focando minha atenção na
paisagem e não nele.
— Tem certeza? — indaga, surpresa banhando sua voz.
— Tenho, eu consigo decidir se quero uma coisa ou não, não
sou uma criança sem opinião própria. — Safado.
— Eita, por que isso? — ele pergunta preocupado. Já passou
duas semanas desde o quase beijo e se ele pensa que eu esqueci
aquela conversa sobre eu não conseguir identificar meus próprios
sentimentos, ele está enganado.
— Por que, o que?
— Vamos brincar, agora? — ele fala irritado. — O que
aconteceu para você ficar irritadinha assim?
— Não estou irritada — respondo, forçando uma calma que
não existe em uma situação que eu não entendo.
— Para de testar minha paciência, ragazza. — Não respondo.
— É por causa da Júlia?
— Por que seria por causa dela? — falo seca.
— Então você está realmente irritada. — Droga.
— Heitor, não estou irritada, não quero donuts e eu queria
muito passar o restante do caminho em silêncio, pode ser? — Me
viro para a janela novamente.
— Quando chegarmos em casa, a gente conversa.
Eu sei que ele não vai deixar barato e vai me encher o saco
em casa, então já preparo minha cabeça para ouvir.

O barulho das batidas na porta do meu quarto, fazem meu


estômago revirar.
Depois do almoço desastroso — para mim, no caso —
voltamos ao trabalho e não conversamos nada, eu estava irritada, e
ele sabia, então entrou na sua sala e não falou mais comigo.
Eu, aproveitando a oportunidade, pedi carona para Duda, para
voltar para casa, podia voltar com ele? Podia, mas estou fugindo da
conversa, essas conversas não são boas.
Conversamos quando chegarmos em casa.
Hunf, besta é quem cai nessa conversa.
Então, como a garota adulta que eu sou, estou me escondendo
do vexame que eu fiz mais cedo dentro do quarto e Heitor está a
meia hora batendo. Tem hora que ele desiste, mas não demora
cinco minutos e ele volta a bater de novo.
Estou com pena dele, mas estou com mais pena de mim.
— Manuela! Abre essa porta, cazzo! — Mais batidas,
pensando bem…
Levanto da cama, vestida no meu pijama de coelha, que Vince
me deu, um short curtinho que tem um rabo fofinho de coelho
branco e um top que não cobre a minha barriga, e ando em direção
a janela de vidro que me dá uma visão ampla do gramado e da
piscina que fica na parte de trás da casa, abro-a e tento olhar
embaixo.
As batidas na porta ficam mais fortes, me dando um susto e
realmente considero a opção de pular. Eu sei nadar, juro que sei,
mas não sei se eu cairia dentro da piscina, se eu pegar impulso
correndo…
— MANUELA! — Pulo no lugar com a mão no coração!
Fecho a janela novamente e vou de mansinho em direção a
porta.
Estou com vergonha por ter tido um pequeno ataque de
ciúmes? Estou, mas quem liga?
Só eu, ele, e a atriz que há em mim e que vai ter que fazer sua
melhor e primeira encenação agora.
Abro a porta rapidamente, tendo que desviar do soco que ele
ia dando na porta novamente e ele arregala os olhos em pavor.
— Meu Deus, Manuela, eu quase acerto você, não sabe abrir
essa porta devagar, não? — ele grunhe.
Isso mesmo, ele grunhe entredentes.
— Você que está feito doido batendo na porta, e eu queria
dormir. — Finjo um bocejo, mas acabo bocejando de verdade e
tirando um bocejo involuntário dele.
Levanto os braços, fingindo me espreguiçar, e fecho os olhos.
— Você não quer dormir, porra nenhuma, não se finja de
sonsa! — fala ainda irritadinho, mas quando abro uma frestinha dos
olhos, vejo que os seus não param no meu rosto, ele fica movendo-
os entre os meus seios e a minha barriga. Vejo quando engole em
seco e volta o olhar para o meu rosto, sendo pego no flagra.
Olho para ele também, que veste apenas uma calça de
moletom cinza, que deixa todos os seus gominhos de fora.
Que pecado!
— Não estou me fingindo, estou realmente com sono. —
Esfrego os olhos e bocejo de novo, fazendo suas esferas âmbar se
fixarem em mim e ele semicerra os olhos.
— Senta — ele manda, apontando para a cama e dou meu
olhar mais fofo para ele, projetando o lábio inferior para fora e ele
apenas aperta o maxilar. — Agora!
Pulo com o tom raivoso dele e vou para a cama, me sentando
e bufando logo em seguida!
Droga.
— Cadê seus pijamas frouxos e enormes, Manuela? Desde
quando você usa… isso? — Ele aponta para meu conjunto branco e
eu me olho de cima a baixo.
— Foi Vince — uso minha defesa que nunca falha e ele trava o
maxilar, mas seus olhos não param de encarar minhas coxas à
mostra, e ele ainda está em pé, no meio do quarto.
Ele deixou a porta aberta, talvez se eu o contornar…
— Nem pense nisso, mocinha. — Ele se volta para a porta e
fecha. Bem, agora a única opção é a janela. — Vou ter uma
conversa muito séria com Vince sobre as roupas que ele traz.
— Mas eu gosto…
— Mas não é você, você gosta de roupas largas.
— Nunca gostei, só usava em consideração a abuela e depois,
porque eu não tinha dinheiro para comprar novas — o interrompo,
mas ele não para.
— Você pediu que Vince trouxesse pijamas alguns números
maiores que o seu! — ele vocifera.
— Por que diabos, estamos discutindo os meus pijamas? — o
encaro incrédula e ele novamente engole em seco.
— Porque você não pode andar por aqui assim!
— Mas você anda! — Aponto para o peito desnudo e pecador
dele, que eu gostaria muito de dar umas bitoquinhas, mas ele cruza
os braços, tampando a minha visão.
Que pena…
— Manuela, é diferente.
— Diferente em quê? — indago, sentada em posição de buda.
— Eu não faço isso para provocar ninguém. — Ele me encara,
buscando algo em meus olhos e eu sorrio.
— Não sei do que você está falando.
Tá, isso não foi ideia minha, liguei para Vince, falando que ia
levar bronca quando chegasse em casa, por estar irritada “sem
motivo” com Heitor, e ele mandou eu vestir esse pijaminha quando a
hora da conversa chegasse, pois aí, ele não ficaria focado.
Heitor disse que não podia ficar comigo, não que não queria.
Me arrasto até a cabeceira da cama, engatinhando, mas antes
de chegar escuto…
— PELO AMOR DE DEUS, MANUELA! ONDE FOI PARAR
SUA VERGONHA? — ele esbraveja e eu me viro para ele, com o
rosto pegando fogo, ao ver que ele olha para o meu rabinho — de
coelho — que cobre minha bunda — ou nem tanto — e sou rápida
em me encostar na cabeceira e pegar o edredom e me cobrir. Eu
gostei desse pijaminha, é bem fofinho.
— NO MESMO LUGAR QUE FOI PARAR A SUA
CONSIDERAÇÃO — grito de volta.
Ele arregala os olhos para mim, surpreso por eu ter gritado e
depois franze o cenho confuso.
— De que diabos você está falando? — ele indaga.
Homens são assim, fazem algo e fingem que nada aconteceu
e quando você fica com raiva, eles ficam com cara de tacho
tentando descobrir o porquê, como se tivéssemos a obrigação de
sair explicando. Se a gente consegue entender eles, eles que se
virem para entender a gente.
Apenas bufo, não querendo falar sobre o fato de ele nem ao
menos considerar me convidar para ir ao evento de lançamento do
novo livro do Stephen King.
E daí que eu sou indecisa? Ele que lide com isso.
— O que você quer, Heitor? — pergunto, doida para essa
conversa sem sentido nenhum terminar.
Ele não insiste, apenas vem e se senta ao meu lado na cama,
encostando as costas na cabeceira.
— Por que você estava irritada? — ele pergunta.
Encolho os meus joelhos e abraço eles.
— Eu não estava…
— Manuela…
— Não importa — resmungo.
— Foi por causa da… Júlia? — ele pergunta, hesitando um
pouco.
— Lá vem você com essa mulher de novo! — Bufo.
— Então foi. — Ele bufa também.
Fico calada, virando meus olhos para a janela e vendo o céu
sem estrelas à vista de São Paulo.
É muito difícil ver uma estrelinha, deve ser incrível a vista do
céu à noite em sítios.
— Acho que precisamos conversar — ele diz baixinho.
— E já não estamos fazendo isso? — Miro meu olhar
novamente nele, mas ele olha para o teto do quarto, com um joelho
levantado e uma mão em cima dele.
— Você estava com ciúmes, Manu? — Meu chefe baixa a
cabeça e foca seus lindos olhos profundos em mim, o qual fujo,
agora olhando para o teto.
— Não — respondo, perguntando se eu tenho um lado atriz
mesmo e se ele está funcionando.
— Tem certeza? — Olho para ele, com cara de poker, mas
acho que não funciona, já que eu nunca joguei e ele balança a
cabeça em negação. — Não aconteceu nada entre nós dois — ele
murmura baixinho.
Minha cabeça já começa a formar mil cenários, onde a minha
presença naquele almoço não acontecia e Heitor o terminaria em
outro lugar.
— Não tem que me dar explicações — resmungo novamente,
meus cachos agora cobrindo meu rosto. — Não temos nada. — Já
tomou açaí sem açúcar? Pois é, o mesmo gosto amargo está
descendo pela minha garganta agora.
— Não, não temos. — Ele fica pensativo por uns minutos,
olhando para o teto também e respira fundo. — Posso pedir para
você não fazer mais isso? — ele pede e eu o encaro confusa. —
Ficar irritada comigo.
— Olha, eu entendi lá na cozinha, ok? Mas também não
precisa esfregar outra mulher na minha cara. — Solto de uma vez e
ele arregala os olhos.
— Mas eu não fiz nada…
— Eu vi que você pegou o telefone dela, Heitor, agora quem
está se fingindo de sonso? — A cara de pau dele é muito grande.
— Eu joguei o maldito papel no lixo — ele se defende e eu
encaro ele surpresa.
— Por quê? — pergunto incrédula.
— Porque você não gostou dela — ele diz como se fosse
óbvio.
— Ah, agora eu tenho que aprovar suas namoradas? Tenha
santa paciência, Heitor! — Me levanto da cama e fico em pé no
meio do quarto olhando para ele, que está parecendo uma barata
tonta.
— Meu Deus, Manuela, não, é óbvio que não! — Ele também
se levanta e vem em minha direção, já irritado de novo.
— Pois é o que está parecendo, se quiser sair por aí pegando
geral, deveria.
Mas não faça isso, você pode pegar alguma doença, chefinho,
ou sapinho, isso não é bom.
— Pois é o que eu vou fazer! — ele grita, ficando cara a cara
comigo, tão perto que sinto sua respiração em meu rosto.
— ÓTIMO — grito de volta.
— ÓTIMO — ele grita de volta, sua boca bem próxima a minha,
mas ele apenas trava o maxilar e esbraveja — QUE PORRA,
MANUELA!
Assim que diz isso, contorna meu corpo e sai do quarto,
batendo a porta com força, me deixando mais irritada do que hoje
cedo, muito confusa e com muita vontade de ser beijada.
— QUEEEBRA, NÃO TEM GELADEIRA EM CASA, NÃO? —
Agora é a porta dele que fecha com força.
Não era eu que deveria ficar com raiva?
E que merda aconteceu aqui?
Talvez, amor, eu esteja enlouquecendo.
Porque isso é um problema, mas parece certo.
Oscilar entre o limite do céu e do inferno.
É uma batalha que não consigo lutar.
(Oh my God — Adele)

Eu até tento, com todas as forças, fazer o que é certo, tento


mesmo, mas ela não colabora.
Me diz, qual é o problema em ficar sentadinha na cama dela,
me esperando para conversar e vestir a porra de um pijama
descente? Ela estava de lingerie, de lingerie, porra! Pois nem a pau
aquela merda era um pijama.
Tirou completamente o meu juízo, a bunda da Manuela de fora,
pois foi isso que aconteceu, a bunda gostosa dela ficou bem visível
para mim, enquanto ela engatinhava em cima da maldita cama e ela
ficou de quatro, de quatro, quando eu gritei, paralisada por uns
segundos.
Sabe como minha noite terminou? Comigo tendo sonhos nada
respeitáveis com a minha hóspede e acordando todo melado de
gozo.
Isso mesmo, como um maldito adolescente.
Eu nunca reprimi tanto tesão na vida, nunca.
Agora, desço as escadas da minha casa, atrasado para o
trabalho e a coelhinha maldita está na sala me esperando.
Vince, arrumou todo o guarda roupa dela para o trabalho, e
mesmo assim, ainda não me acostumei a visão que é ela de vestido
social, colado ao corpo, definindo cada curva deliciosa que ela tem,
pois se tem uma coisa que Manu é, é gostosa, e isso não ajuda em
nada a minha missão de deixá-la longe da minha cama.
Mexo na minha gravata, sufocado com sua visão e penso em
como iniciar uma conversa e dizer que o que aconteceu ontem, não
pode se repetir e que nós dois somos adultos.
Pouco me importa que meu estômago esteja com esse
friozinho gostoso só em vê-la, não importa que meu corpo grite por
ela, minha mente ainda é sensata e eu ainda tenho um pingo de
juízo na cabeça, embora a filhote de tentação não esteja me
ajudando.
— Bom dia! — ela me cumprimenta, sentadinha como uma no
sofá, quem vê, não pensa que estava toda estressadinha ontem.
— Bom dia, pronta pra ir? — pergunto à caminho da porta, a
qual ela me segue rebolando os malditos quadris, com uma sandália
que combina muito com o vestido verde, embora não tenha salto,
esse é o lado bom de ter um estilista como cachorrinho.
— Gostaria de passar na doceria…
— É claro que gostaria — resmungo, abrindo a porta e saindo
em direção à garagem.
— …para comprar donuts — ela termina de falar, já mostrando
a maldita carinha irritada por eu ter a interrompido.
Me diz, onde foi parar aquele docinho de confeitaria que
trabalhava comigo? Gostaria de pegar de volta.
Eu entendo, eu entendo que Manuela já passou por muita
coisa e que está em constante estado de irritação desde o acidente,
e isso eu tenho propriedade de fala, pois ela mora comigo, e de uma
hora para a outra ela fica com raiva, ou então estamos todos rindo,
e ela para e fica olhando para o colar que segundo ela, sua mãe lhe
deu e ela forma uma carinha de choro.
Manu se culpa por ser feliz, se culpa por estar feliz, por ter
alguém a apoiando. Eu já tentei levá-la para a terapia, mas ela disse
que já tem uma, os livros.
Grande terapia, ler os livros da Colleen Hoover. Hunf.
— Tudo bem — falo, abrindo a porta do carro e esperando ela
entrar, antes de ir para o meu lugar.
Tento pensar em como abordar o assunto que preciso falar
com ela, mas nada me vem à mente enquanto dirijo pela avenida da
grande São Paulo. Minutos depois, chegamos na doceria e nada
ainda.
Estaciono o carro na frente da doceria e entro com Manu,
lembrando que eu não corri hoje e não tomei meu café reforçado,
mas como estou com fome, o jeito vai ser comprar algo para comer.
Assim que entramos, vemos vários doces espalhados pela
vitrine e Manu vai direto para a sessão que mostra donuts de todas
as cores.
Não reclamo de ela querer comer essas porcarias todo santo
dia, pois o resultado que está ficando a bunda dela…, a qual desvio
o olhar ao pegar a moça da recepção escondendo um sorriso.
— O que o senhor deseja? — a mulher de mais ou menos 1.58
metros, de cabelo azul e muito bonita me pergunta, com
divertimento.
— Quero algo para tomar café…
— Que tal um bolo? Temos um sem recheio que é ótimo para
tomar café — a mocinha que provavelmente tem a mesma idade da
irritadinha ao meu lado, sugere.
— Pode ser — respondo com um sorriso gentil — você
poderia…
— Manuela? — uma voz masculina e jovem fala atrás de mim
e me viro, juntamente com a formiga doida por doce, que olha com
reconhecimento para o cara negro, e forte que imediatamente sorri
com olhos brilhantes demais para o meu gosto.
— Davi? — ela fala incrédula, e ele se aproxima mais, embora
não faça nenhum movimento para abraçá-la ao me ver ao seu lado.
Garoto inteligente.
— Uau, você… quase não te reconheci — ele fala, meio
engasgado, olhando-a de cima a baixo e minhas mãos se fecham
em punhos.
— Bem… eu mudei um pouco meu estilo — ela sorri
envergonhada e suas bochechas coram, quando ela esconde o
rosto, olhando para os pés.
Que porra?
Pigarreio, chamando sua atenção, e ela me olha confusa e
depois para o garoto.
— Ah, Davi, esse é Heitor, meu chefe — ela me apresenta
para o rapaz que brilha como um vagalume feliz ao ver que ela me
apresentou como chefe. — Heitor, esse é Davi, nós estudamos o
último semestre da faculdade juntos — ela explica, me deixando
surpreso.
— Muito prazer. — Ele estende a mão, o qual quase quebro
seus dedos com a força a qual devolvo o cumprimento, mas ele nem
esboça nenhuma reação, apenas sorri para Manu. — Bem, eu já
estava de saída, mas nós poderíamos conversar, botar o papo em
dia, né? — ele indaga.
— Ah, claro — ela responde ainda corando, e ele lhe dá um
cartãozinho, com seu número e a logo de algo que eu não me
importo em descobrir. — Obrigada — ela diz e ele vai embora.
Obrigada? Obrigada?
— Só uma fatia? — a moça de cabelo azul pergunta, vermelha
de segurar uma risada que eu não entendo e eu resmungo um sim,
com o maxilar trincado.
Ela corta a fatia e embala, depois embala os donuts que
Manuela — que está balançando em cima dos pés — pediu, e assim
que pago, saio da doceria, escutando a smurf explodindo em uma
gargalhada alta e sem sentido lá dentro.
Vou em direção ao carro, em silêncio, abrindo a porta para a
minha secretária entrar e logo em seguida, já estamos na estrada
novamente.
Suas mãos seguram o cartão que ela olha frente e verso, com
curiosidade indisfarçada e um biquinho fofo nos lábios vermelhos.
— Posso ver? — pergunto, inocentemente pedindo o cartão, o
qual ela entrega, virando seu céu particular para mim em
desconfiança.
Uma porra que vai ficar com esse maldito número.
Assim que ele está em minha mão, rasgo o maldito papel e
jogo pela janela.
Manu arqueja ao meu lado, arregalando os olhos quando
continuo dirigindo, tranquilamente ao seu lado.
— Por que você fez isso? — ela grita, indignada.
— Porque você ia ligar para ele. — Respondo com raiva.
— E o que você tem com isso? — ela também responde com
raiva.
O que eu tenho com isso?
— Ele tem cara de safado. — Aperto o volante com força,
ouvindo seu arquejo e as buzinas do maldito trânsito em São Paulo.
— Como você sabe? Você nem o conhece — ela fala, suas
mãos em punhos no colo, e se fosse uma pessoa adepta a
violência, tenho certeza que um já teria acertado meu olho.
— É bem óbvio — falo.
— Ah, um safado reconhece o outro, né? — ela rosna, me
deixando surpreso.
— Não estamos falando sobre mim, aqui — resmungo de volta.
— Qual é o seu problema?
— O meu problema, é que eu acho muita hipocrisia da sua
parte, ficar irritadinha comigo por ter aceitado o cartão de Júlia e
hoje corar suas malditas bochechas para aquele idiota — rosno
irritado com ela, ela não pode ser a única com esse direito aqui.
— Então é alguma vingancinha sem sentido? — ela responde
incrédula e eu olho em seu rosto, que está vermelho de raiva.
— Não, seria vingança se você tivesse pegado o cartão de
Julia e tivesse jogado fora, mas eu fiz isso sozinho. — Volto meus
olhos para a estrada, já vendo a fachada da editora e indo rumo ao
estacionamento.
— Você está com raiva porque eu não joguei — ela afirma, não
pergunta e eu trinco o maxilar, porque eu não sei o porquê diabos
eu estou com raiva.
Estaciono o carro e nenhum de nós dois saímos de dentro.
Respiro fundo, sabendo que precisamos ter a maldita conversa
que nunca termina do jeito certo e solto a respiração.
Olho para o seu perfil, que está virado para a janela, e ela
murmura baixinho.
— Como eu ia ligar? Não tenho nem um celular.
— Porque não quer, já falei que te daria um, mas você quase
pulou no meu pescoço — e é verdade, eu já quis dar um, Vince
também, Duda também, mas ela não aceita, diz que vai comprar
sozinha.
— Não vamos começar com isso, de novo — ela diz, e solta
um suspiro cansado.
Entendo esse suspiro, está muito cansativo ficar assim com
ela, já faz duas semanas desde aquele bolo de sorvete e desde
então estamos assim, uma confusão de emoções.
Raiva.
Ciúmes.
Desejo.
Nenhum de nós dois sabe como agir.
Eu a quero, mas não posso.
Ela me quer, mas não acho que me deseje de verdade, apenas
está confusa com o fato de eu estar com ela todos os dias.
— Somos adultos, Manu… — começo.
— Falou o cara que tomou um cartão de mim e jogou pela
janela — ela resmunga, sarcástica.
Desde quando Manuela é sarcástica? Isso é culpa de Vince.
Tento de novo.
— Somos adultos…
— Sou adulto e trato Manuela como criança… — ela me
interrompe, fazendo uma imitação da minha voz e me diz, como não
a tratar como criança?
Desisto da conversa, porque sinceramente, o que eu diria?
— Não trato você como criança — resmungo irritado.
Todo pensamento que passa pela minha cabeça, não é nada
descente, de criança, Manuela só tem a birra.
— Crianças são pessoas que não têm plena ciência das
decisões que tomam, pela imaturidade que tem, e até agora você
acha que eu não tenho capacidade de tomar nenhuma — ela
defende seu ponto e eu me estresso, porque não é assim.
— Eu não disse que você não…
— Você deixou claro que eu não sei lidar com meus próprios
sentimentos, você literalmente disse o que pensava que eu estava
sentindo sem saber — ela responde, suas mãos indo em direção
aos seus cachos lindos e amarrando em um coque no alto da
cabeça, quase arrancando os cabelos, com raiva.
— Porque você está se sentindo confusa — afirmo, com o
coração acelerado.
— Em quê, Heitor? — ela indaga e eu engulo em seco.
— Você está morando comigo, Manu, é óbvio que está
agradecida por me ter sempre para você, mas você pode estar
confundindo tudo, achando que é algo que não é — tento explicar,
sem saber como e acabo me embolando todo na explicação.
— Beleza, fica aí, decidindo como eu vou me sentir daqui para
a frente — ela diz e tenta sair do carro, mas a puxo para perto de
mim pela mão e a abraço.
Seu corpo se choca com o meu e a envolvo com os braços em
sua cintura, enquanto ela se acomoda rapidamente em mim, como
se precisasse tanto quanto eu desse abraço.
— Eu não quero decidir o que você está sentindo, me perdoe
se eu dei a entender que você não é capaz de tomar as próprias
decisões, só… eu não gosto disso, Manu, não gosto de dormir
brigado com você, não gosto de discutir com você, eu gosto da
nossa camaradagem, gosto da nossa paz — murmuro no seu
pescoço, lembrando que sempre evito contato físico com ela, pelo
que isso causa a mim.
— Eu sei, desculpa, isso é culpa minha — ela sussurra, sua
boca na curva do meu pescoço, e seu hálito me fazendo arrepiar
inteiro.
— Não, não é.
— É sim, eu fiquei irritada por uma situação que não me diz
respeito e isso começou, me desculpa. — Sabia que ela estava com
ciúmes, assim como ela sabe que eu também estava há pouco
tempo.
Isso está errado, não sei o que eu sinto, só sei que é perigoso.
E quantas vezes eu tentei para me decepcionar no final?
Não que eu espere uma decepção vinda de Manu, mas não é
certo, minha ética não deixa e se tem algo que pode acabar com
alguém, somos nós mesmos.
Quando nos consumimos em tristeza.
Quando nos entregamos à raiva e ao ódio.
Quando não superamos uma culpa e somos consumidos por
ela.
Eu me consumiria em culpa, se eu ficasse com ela agora,
acordaria todos os dias e pensaria nos “e se” dá nossa relação,
ficaria sempre em dúvida se me aproveitei da sua situação, mesmo
ela me falando que queria, mesmo ela me conquistando por vontade
própria, eu sempre me questionaria.
Digo isso em seu ouvido, baixinho, digo como me sinto e ela
estremece.
— Agora, você entende? — pergunto, meus braços a trazem
para mais perto de mim.
— Desculpa por fazer você se sentir assim, eu não queria…
— Você não fez nada, ragazza, nada. Agora vamos, estamos
atrasados. — Sem querer prolongar a conversa, solto-a devagar e
ela me encara por alguns segundos, sem realmente falar nada,
depois assente com a cabeça e sai do carro.
Cinco minutos depois estou em minha sala, ela na mesinha
dela lá fora e Luiz me encarando curioso.
Mas nada me tira da mente que tudo que eu mais gostaria
agora era que ela estivesse me beijando.
É incrível que em todos esses meses, eu tenha ficado sem
sexo, mas a única coisa que eu consigo pensar com ela agora é em
um maldito beijo.
Um beijo na minha doce ragazza.

Antes do horário de almoço chegar, meu celular toca com uma


ligação de Mamma, enquanto verifico alguns livros que estrearão no
próximo semestre. Atendo antes que ela pegue um maldito avião e
venha aqui me bater.
— Bambino, como está? — ela me cumprimenta alegre, e eu
escuto o som das ondas batendo em algum lugar próximo a ela.
— Bem, Mamma e você? Já deixou seu marido louco com
suas manias de conhecer todos os lugares, embora a senhora tenha
nascido aí? — Sua risada melodiosa ecoa em meus ouvidos e
sorrio. Amo minha mãe, de todo o coração.
E tenho medo dela na mesma medida.
— Ragazzo mio, seu pai prefere fazer outras coisas na nossa
décima lua de mel. — Engasgo com a saliva, sabendo exatamente o
que o safado do meu pai prefere fazer, afinal, nós tínhamos que
puxar a alguém.
— Mamma, por favor, eu sou seu filho — reclamo, tentando
recuperar o fôlego e ela gargalha.
— Como você acha que foi feito, querido? — Bufo, mas logo
me arrependo ao ouvir meu nome em um tom de voz ameaçador do
outro lado. — Liguei para avisar que estou chegando na sexta,
inclusive, a próxima semana vai ser a semana da comida italiana,
pois eu estou muito feliz. — Sorrio, me encostando na cadeira e
jogo um papel amassado na direção de Luiz que está babando no
sofá novo, dormindo.
Graças a Dio que consegui tirar o antigo dessa sala, estava me
deixando enjoado.
Luiz acorda sobressaltado com o susto e começa a falar uma
língua própria.
— Que bom, eu gosto de comida italiana…
— Si, si… como está a ragazza? — ela me interrompe e eu fico
gelado com a menção de Manuela.
— É…, um…, está ótima — gaguejo a resposta e ela fica em
silêncio do outro lado.
— Por que você está nervoso?
— Não estou…
— Heitor de Lucca Mancini, o que você está me escondendo?
— Por que eu tenho a maldita sensação de que ela já sabe a
resposta?
Eu é que não vou ser burro de me entregar.
— Nada, Mamma, e…estou me preparando para uma reunião
hoje — murmuro uma meia verdade e ela chama meu pai aos gritos
do outro lado da linha.
— Enrico, seu cretino, esse lado mentiroso dele só pode ter
puxado a você, você vai me pagar por passar isso para esses
pilantras! — ela grita em italiano com meu pai e eu murcho na
cadeira, cazzo! Minha mãe sempre pega a gente na mentira, menos
Gael, aquele que aprendeu direitinho com o papai. — Quando eu
chegar em casa a gente conversa! — E ela desliga na minha cara.
P.U.T.A Q.U.E P.A.R.I.U.
— Por que você está pálido feito um papel? — Luiz murmura
sonolento, do outro lado da sala, já quase voltando a dormir
novamente.
— Mamma disse que quando chegar em casa quer conversar
comigo — resmungo e passo a mão no rosto, limpando o suor que
começou a se acumular na minha testa de nervoso.
— Se fodeu — ele gargalha, o abusado que era para estar
trabalhando, gargalha.
Mas ele está certo, eu me fodi.
Quando eu disse a Manu que nós iríamos conversar quando
nós chegássemos em casa, não era uma conversa besta, mas pelo
menos comigo era garantia que ela sairia ilesa.
Com Mamma? Isso é ameaça pura, e se ela dá uma ordem e
nós desobedecemos, a cada palavra que ela profere é um tapa que
a gente leva.
O engraçado é que ela começou com isso depois que
começamos a saber para o quê o nosso brinquedinho servia, eu não
sei como ela descobriu, mas descobriu, e ela começou com essa
merda.
Tanto puxão de orelha e tapa na nuca, que é difícil não ficar
nervoso.
Um homem de trinta e quatro anos, com mais de noventa
quilos em músculo, com uma empresa para comandar, tem medo da
mãe.
Mas me diz? Como não ter?
Meu celular que ainda estava na minha mão, toca com uma
mensagem e eu a abro para conferir.
Papai: Seu ingrato, custa falar a verdade para a sua mãe?
Agora quem toma no cu sou eu, stronzo!
Dessa vez, um sorriso se abre em meu rosto, deixando um
pouco do medo de lado, pois não é só nos filhos que Mamma bota
medo.
Infelizmente, tenho mesmo uma reunião nesta tarde, que vai
durar ela inteira, então mando uma mensagem para Manu, no chat
do facebook, onde ela deixa aberto no computador, avisando que
tem a tarde livre, afinal, ela é boa o suficiente, para ter feito tudo o
que eu pedi para o dia, nessa manhã, e olha que ainda são onze
horas.
O bom do chat do facebook é que podemos mudar o nome das
pessoas.
Heitor: Você tem a tarde livre, vou sair para uma reunião.
Donuts: Eu sei, fui eu que marquei ;)
Já disse que ela está ficando muito atrevida?
Heitor: Abusada.
Donuts: Estressadinho.
Heitor: Pietro vai passar aqui para te pegar, vai almoçar com
ele.
Donuts: Você sabe que só precisa abrir a porta e vir falar
comigo, certo?
Certo, mas eu gosto da intimidade que tem atrás das
mensagens.
Heitor: Você também sabe.
Donuts: Touché!
Heitor: Vai trabalhar, Manu.
Donuts: Mandão.
Se você soubesse como eu gostaria de mandar você fazer
várias coisas proibidas…
— Você está sorrindo para o celular? — a voz de Luiz me tira
do transe e eu encaro seu rosto desconfiado.
Tiro o sorriso do rosto, mas ele é esperto o suficiente para ter
entendido, e antes que eu tenha a chance, ele corre para a porta e
abre, mostrando um sorriso lindo no rosto da ragazza.
Porra, esse sorriso…
Assim que ela olha para a porta, Luiz fecha e se vira para mim,
que estou meio em pé, meio sentado, e ele abre um sorriso
malicioso, para o meu rosto fechado.
— Ah, tá explicado! Já rolou beijinho? — Ele levanta as
sobrancelhas, sugestivamente e eu apenas me sento novamente e
dou o dedo do meio. — Que maduro da sua parte. — Ele ri. —
Responde a pergunta.
— Não, não rolou, nem vai rolar, agora senta nessa mesa e me
fala os compromissos da semana, folgado — resmungo, já sem todo
o friozinho gostoso na barriga que Manu causou.
— Cara, quem guarda com fome… — ele deixa no ar e volta
para o sofá, me fazendo questionar seriamente que porra aquela
mesa faz no canto da sala.
— Quem guarda com fome…? — pergunto.
— O gato vem e come. — Ele me dá outro sorriso malicioso
que revira meu estômago. Ele está insinuando que…?
Encaro seu rosto, com o maxilar trincado e ele cai na
gargalhada.
Figlio di puttana!
Ei, quando encaramos todos os nossos medos,
aprendemos nossas lições através das lágrimas.
(The Nights — Avicci)

— Você acha que combina mais o verde ou o azul? —


pergunto para Pietro que está deitado na minha cama como se
fosse o dono, mostrando os esmaltes que eu quero pintar minhas
unhas e ele encara os dois, pensativo.
Pietro é alto, todos os irmãos são, mas como ele é o mais
novo, deveria ser menor, mas não é, é difícil notar a diferença de
altura de um para o outro.
Mas, diferente de Heitor e Vince, esse tem os olhos claros, de
um tom de azul com verde misturados, iguais os de Gael e da dona
Antonella, isso deixa ele com um olhar marcante, que combina com
o maxilar tão definido quanto o dos irmãos e com o corpo tão
musculoso que me pergunto onde dona Antonella tirou a forma que
fez essas obras de arte.
— Você está babando — ele diz, sorrindo divertido quando sou
pega no flagra.
Não é nada malicioso, eu realmente admiro a beleza deles e
eles sabem disso, é mais como se eu estivesse estudando uma
espécie desconhecida.
Repreendo Pietro com o olhar, por me fazer corar e ele ri,
mostrando seus dentes perfeitos.
— Você não respondeu minha pergunta — resmungo, sentada
em posição de buda, pensando no quanto Heitor vai ficar estressado
se eu melar meu lençol branquinho de esmalte.
Ele ainda está na reunião de trabalho e eu estou aproveitando
minha folga com meu fofoqueiro preferido, que decidiu me fazer
companhia. Vince está em mais um de seus desfiles e não o vejo já
faz uma semana.
— Azul, mas usa aquele tom pastel, combina com seus olhos
— ele se senta também e pega o esmalte que falou.
É mesmo um tom bonito, embora não estivesse nas opções
que lhe mostrei, mas não discuto.
Como já fiz todo o processo de limpeza e de preparo das
unhas, pego o palitinho e enrolo um algodão na ponta, pois tenho a
mania de limpar com a unha e acabo passando na blusa, mas não
estou a fim de melar meu pijama de gatinho preto, igual ao de
coelho.
Vince me deu uma coleção.
Pietro já está abrindo o esmalte e se preparando.
Falei que era ele que pintaria minhas unhas? Não?
Sorte a minha.
— Então…
— Lá vem — resmungo ao dar minha mão direita.
— Já rolou beijinho? — ele me repreende com o olhar por ter
sido interrompido, mas depois sorri malicioso, e suas sobrancelhas
balançam sugestivas.
— O que você tem a ver com isso? — falo, meu coração já
errando um compasso.
Pietro pinta primeiro a unha do meu mindinho e pinta tão bem,
que me pergunto onde aprendeu. Oh mãozinha firme, a minha já
tinha acertado o dedo inteiro e errado a unha.
— Nada... só curiosidade — ele finge desinteresse que só
quem não conhece, cai nessa.
— Então não te importa.
— Ah, Manuzinha, vai mesmo fazer isso comigo? E eu aqui,
pensando que gostava de mim — ele faz drama, seu rosto se
contorcendo, o que não cola com sua voz baixa e grave, enquanto
se concentra na minha unha do dedo do meio.
— Porque a mãe de vocês não insistiu na carreira de atores?
Nunca vi gente mais dramática. — Dou risada, o que o faz virar suas
esferas semicerradas para mim.
— Para sua informação, nós puxamos isso dela, agora não
foge da conversa, rolou ou não?
Ah fofoqueiro preferido, como eu queria que tivesse rolado...
— Não, não rolou, seu irmão não quer. — Isso faz ele me olhar
assustado e borrar a unha do meu dedão. — Prestenção — falo e
bato na sua testa, o que faz ele xingar em italiano e pegar a
acetona.
— Como assim, ele não quer? — Ele termina de pintar
direitinho e me pede a outra mão, que acertou sua testa, e ele a
encara, dando uma prensa tão forte em meus dedos que eles
estalam.
— Ai, filhote de lombriga — murmuro baixinho, olhando
ressentida para ele, que fica com pena e beija meus dedos, me
tirando um sorriso largo.
— Como assim, ele não quer, Manu? — ele insiste.
— Toda vez que pinta um clima, seu irmão sai correndo. —
Isso faz ele borrar outra unha. — Não tô te pagando para pintar
minha mão, não oh!
Ele pega a acetona novamente, com os lábios pressionados de
raiva e assim que termina de pintar tudinho, me encara incrédulo.
— Ele corre? — a voz sai engasgada, como se ele não tivesse
acreditando que o irmão gostoso dele, não queira me dar uns
beijinhos.
Eu posso não ser experiente, mas sei que o clima que ficou no
dia do bolo, no quarto, na empresa, no carro, tudo poderia resultar
em um beijo, e poxa, eu queria muito ser beijada, principalmente se
for alguém que eu gosto, e é bem óbvio que eu arrasto um
caminhão por ele.
Quando trabalhávamos, eu usava sua imagem para descrever
alguns personagens de histórias escritas por mim, que a burra aqui
deixava salvo no computador, mas que foi perdido no incêndio.
Então, é óbvio que eu sempre o achei bonitão.
Mas conviver com ele todos os dias? Não tem santo que
resista.
— Ele diz que a ética dele não deixa ele ter absolutamente
nada comigo, enquanto eu estiver dentro da casa dele — defendo,
ele deixou claro o porquê, e eu entendo seu ponto de vista.
Mesmo que não concorde com ele.
Pietro me encara pensativo por um momento, assentindo com
a cabeça, como se visse a lógica da questão e eu assopro minhas
unhas, de um tom azul muito lindo.
— Ele está certo, eu também não faria isso, sabe, ficar com
alguém que depende de mim — ele murmura.
Ele está certo.
Quando a pessoa se aproveita de alguém que está vulnerável,
essa pessoa é suja.
Mas Heitor? Ele tem tanto medo de fazer isso que é óbvio que
nunca faria, e mesmo se ele me beijasse, não ia contra seus
princípios, pois para mim, seria algo que partiu de nós dois, eu quis,
ele também, envolve nós como pessoas que sentem desejo uma
pela outra e poxa vida, desejo é o que eu mais sinto ultimamente
por aquele homem.
— Mas, você já tentou? — Pietro volta a conversa e eu coro
furiosamente, e um sorriso malicioso se abre em seu rosto bonito. —
Mas que safadinha, você tentou pegar meu irmão, Manuzinha? —
Ele estala a língua em reprovação, mas acaba recebendo um
travesseiro na cara. — Alguém já disse que você é muito violenta?
— ele resmunga, mas pega meus dedos para ver se não borrou
nenhuma unha.
— Eu não tentei, exatamente, foi mais um... clima que rolou —
conto envergonhada. — Mas já passou, não vai rolar e pronto.
Seus olhos se voltam para os meus, com um questionamento
que eu não quero responder e eu desvio o olhar.
Torço para Pietro mudar de assunto, e ele, vendo meu rosto
corado, faz isso.
Agradeço mentalmente.
— Mamma volta na sexta-feira da Itália. — Ele se deita na
cama, me puxando para seus braços e deixando um beijo na minha
cabeça.
— Queria ver ela novamente, mas Heitor me esconde dela —
falo, arrancando uma risada dele.
— Claro que esconde, se Mamma ver o tesouro que ele
esconde, ela vai querer para ela. — Sua risada continua e ele pisca
um olho charmoso.
Pietro tem uma cara de safado que não engana ninguém, ele
sempre vem com essas piscadinhas e de vez em quando flerta
comigo para irritar o irmão, mesmo que eu seja mais velha e mesmo
que nós dois saibamos que é brincadeira.
Sortuda é a mulher que vai amarrar esse vagabundo.
Semicerro os olhos para ele, mas ele apenas me aperta mais,
enfiando o rosto no meu cabelo, e me distraindo com conversas
sobre como uma tal de Célia, se casa no próximo mês com o
décimo marido, e sobre a filha mais velha dela que estava
namorando um garoto que não combinava, mas acho que passei
tanto tempo assim, com meu amigo fofoqueiro, que acabei
dormindo.

— QUE PORRA É ESSA? — a voz grave e irritada,


nitidamente masculina me faz acordar sobressaltada, com a
bochecha molhada, que prova que baba é pouco para o que
escorreu da minha boca, e braços fortes me abraçando.
Arregalo os olhos para Heitor, tentando ver o que foi que eu fiz,
mas Pietro me aperta mais e enfia o rosto no meu pescoço.
— Vai na onda — ele sussurra baixinho, mas firme e divertido,
me fazendo encarar seu sorriso sarcástico que ele dá para seu
irmão, sabendo que ele estava bem acordado. — Ei maninho, tudo
bem? — Heitor, vestido com a roupa de trabalho, sendo banhado
pela pouca luz que atravessa as janelas, me encara como um touro
bravo.
Sai fora chefinho, não fiz nada!
— Posso saber o que vocês dois estavam fazendo? — ele
rosna, olhando com ódio para a cama.
Olho para as janelas, vendo o céu já sendo preenchido pela
noite, indicando que já é hora da janta.
Prioridades.
— Dormindo, é cego por acaso? — Pietro brinca com fogo,
dando uma resposta sarcástica dessa, e Heitor vem para cima dele,
que em um instante está em cima de mim, no outro está do outro
lado do quarto gargalhando. — Ei, a ragazza é nossa, deixa de ser
egoísta.
— Nossa é o caralho...
— Ei, eu tô bem aqui viu? — respondo com a voz grogue de
sono. Não nego a parte de ser deles, pois eles são todos meus
também.
— Acho que nós já tivemos essa conversa, não tivemos
senhorita Manuela? — Heitor vira seus olhos profundamente
irritados em minha direção e eu fico surpresa.
— Que conversa, criatura? — respondo.
— Que meus fratelli estavam proibidos para você — ele diz,
entredentes.
— Ei, eu não concordei com isso, não — Pietro se mete no
meio, com sua voz divertida e Heitor corre para cima dele
novamente.
Não penso muito, me levanto e me coloco no meio dos dois,
com a bunda virada para Heitor, fazendo os olhos dele se
arregalarem ao olhar o que eu estou vestindo.
— EU TÔ VENDO SUA BUNDA, MANUELA! — ele xinga em
italiano, seu rosto ficando vermelho e eu viro minha bunda — que
realmente está aparecendo, já que uma banda está toda enfiada
nela — para Pietro, fazendo o favor de cobrir minha bundinha.
— Ei, ela tem até rabinho, olha aqui. — Pietro que agora
estava atrás de mim, pega meu rabinho de gata e fica rodando-o
com a mão, me fazendo ficar roxa de vergonha e Heitor ficar roxo de
raiva.
— Se não sair dessa casa agora, eu juro que conto para
Mamma que foi você quem tirou a virgindade da filha mais velha da
Célia — Heitor aponta o dedo em riste para Pietro que fica mais
branco que papel.
— Você não faria isso…
— Quer tentar a sorte? — o não mafioso fala.
Não é preciso muito, Pietro me olha apavorado, como se
pedisse desculpas, mas me dá um beijo na bochecha e sai correndo
do quarto.
Escuto seus passos apressados escada abaixo e logo em
seguida, a porta da frente se fecha.
Oh povo que tem medo da mãe, mas eu entendo, tinha pavor
da abuela também, mas apenas de decepcioná-la.
Encaro Heitor, enquanto ele luta para focar os olhos em meu
rosto e cruzo os braços na frente do peito.
— O que vocês estavam fazendo? — ele pergunta, sua voz
ainda irritada, mas o tom mais gentil.
— Pintando as unhas, olha. — Mostro minhas unhas para ele,
que as encara sem reação.
— Só isso? — ele indaga, voltando seus olhos para os meus,
embora insista em baixar a cada dois segundos para os meus seios.
Eu disse que era curvilínea, mas que o peso que eu havia
perdido, tinha acabado com minhas curvas.
— Só isso — respondo. Ele me fez um pedido, eu respeito seu
pedido, por que não respeitaria? Só porque os irmãos dele são
gostosos? Eles são como irmãos para mim.
— Mas precisava ficar só o nó, na cama? — ele resmunga.
— Precisava gritar? — retruco, descruzando os braços e indo
em direção a cama, esbarrando em seu ombro, pois estou me
sentindo muito ofendida de ele achar que eu ia quebrar minha
palavra.
— Desculpa — ele murmura baixinho, e eu percebo que a
irritação dele é mais com o irmão, do que comigo.
— Tá. — Me jogo na cama, escalando até meu travesseiro e
me aconchegando.
O quarto fica em silêncio por alguns segundos e depois, o lado
vazio na minha cama, afunda. Sua mão vem em direção aos meus
cabelos e ele faz um cafuné bem gostoso.
Continua, chefinho.
— Já jantou? — ele pergunta, sua voz grave, junto ao cafuné,
faz um arrepio varrer minha espinha e toda a minha pele que tem a
cor castanha se arrepiar.
— Não, e você?
— Não, desce em vinte minutos para comer? — ele pergunta,
sabendo a resposta, mas querendo ouvir mesmo assim.
— Claro — e simples assim, toda a confusão de hoje, a
discussão que houve de manhã, e essa besteira à noite, foi deixada
de lado, e simples assim estamos bem de novo.
— Te espero, então. — Sinto falta do contato assim que ele tira
seus dedos do meu cabelo.
Ele também não ajuda, né? Mas eu gosto, se eu faço isso com
meus amigos, porque não posso com ele? Só preciso deixar o
desejo de lado e tudo vai ficar bem.
Sim, tudo vai ficar bem.

Tudo está quente, e o ar não entra nos meus pulmões.


Tento puxar o ar, mas só entra fumaça e o fôlego que eu tanto
busco, não entra.
Meu peito dói, meu peito dói tanto e um medo irracional me
consome e me desespera.
Onde eu estou? Por que está tão quente?
Tento enxergar acima do véu que cobre meus olhos, mas
nenhum esforço é forte o suficiente, nada que eu faça me ajuda a
sair de onde estou.
A escuridão é quente, e abafada. E não me deixa respirar.
Tento gritar, mas nenhum som sai, tento correr, mas meu corpo
não mexe.
E é nessa hora que começa.
Minhas pernas queimam, por que estão queimando?
Choro de desespero, porque dói, arde, queima.
Tento gritar com a dor que me consome. Mas não consigo.
Dizem que não é para brincar com fogo, mas eu nunca
brinquei, eu nunca quis me queimar, então por que eu estou em
chamas? Por que mesmo sendo uma boa menina, eu ainda estou
sendo queimada?
Eu tenho tanto medo de morrer, por que não me deixam viver?
Eu já perdi tanto, querem levar até a mim?
Minhas pernas são consumidas em dor e meu corpo em
desespero, escuto o som característico de carne sendo queimada e
em uma última tentativa falha… grito.
— …Amore mio, acorda, por favor… Manuela? — O choro
estrangulado que sai do meu peito, encobre a voz sussurrada e
desesperada do homem que me abraça como se a vida dele
dependesse disso e não a minha.
Não consigo…
Não consigo parar a enchente de lágrimas que descem pelo
meu rosto, molhando a camisa de Heitor. Mas ele não me solta,
mesmo com meu corpo sendo consumido em tremores, mesmo que
minhas pernas se contorçam com uma dor imaginária, ele não me
solta.
Como eu pude sentir a dor? Eu nem sequer sofri alguma
queimadura naquele dia, no dia em que estive no fundo do poço.
Será que a vida está procurando mais formas de me torturar?
Eu tenho tido pesadelos, mas geralmente eu acordo sem ter gritado,
apenas com as lágrimas, mas a minha garganta doendo indica que
sim, eu gritei e que sim, Heitor escutou.
— Calma, mia ragazza, sono qui, sono con te, mi prendo cura
di te, fidati di me, amore mio… — sua voz rouca e baixa, repete as
palavras, uma vez, duas vezes, como se tivesse que dizê-las, como
se eu entendesse.
Seus braços me apertam mais à medida que meu choro
diminui.
Não gosto de sonhar com aquele dia, o dia em que quase tive
meus sonhos interrompidos, sonhos que eu sempre deixei para
realizar em um futuro, mas e se eu não tiver futuro? Eu sei que não
deveria ser consumida pelo medo, mas eu sou, eu tenho medo de
não viver o que eu quero, eu tenho medo de não realizar meus
sonhos.
Eu sou uma mulher sonhadora, e não há nada pior para uma
mulher como eu, não conseguir realizar os sonhos. Mesmo que eles
sejam pequenos.
Eu queria ir ao cinema.
Eu queria publicar um livro.
Eu queria aprender a andar de moto.
Eu queria ser beijada.
Eu queria viajar para Porto Rico.
Eu queria ver a Estátua da liberdade e a torre Eiffel.
Eu queria ser mãe.
— Você está bem, Manu? — A mão de Heitor massageia meu
cabelo em um conforto necessário e eu fungo, tentando recuperar
um pouco de controle sobre mim novamente.
— Estou melhor, desculpa te acordar. — Levanto a cabeça,
mirando meus olhos nos seus que exalam preocupação e ele abaixa
a cabeça, com seu nariz encostando no meu e me dando um
beijinho de esquimó, como ele fez no dia do bolo.
— Não se desculpe, ragazza. — Mais um beijinho de esquimó.
— É a primeira vez que isso acontece? — ele murmura baixinho,
procurando a informação no meu rosto com seus olhos intensos e
com seus braços que grudam mais o meu corpo no seu.
Não consigo mentir, então nego com a cabeça.
— É sobre o dia do acidente? — Balanço a cabeça,
assentindo. — Você quer falar sobre isso? — Nego e ele respira
fundo.
Meus olhos ainda encaram os seus olhos intensos, do
castanho mais bonito que eu já vi e levo minha mão até o seu
maxilar, sentindo imediatamente a textura áspera da sua barba
cerrada, que faz um contraste tão incrível com seu rosto, e Heitor
me devolve o olhar com tanta ternura que meu corpo treme.
— Seus olhos são seu céu particular, Manu — ele sussurra tão
perto de mim, que seu hálito chega ao meu rosto, dando um
ventinho gelado em minhas lágrimas que pararam de cair, mas que
ainda molham o meu rosto. — Toda vez que olho para eles, sinto
que me perco na sua imensidão azul, mas aí eu olho para a sua
boca e me encontro rapidamente no teu sorriso doce, no teu sorriso
que é o primeiro que vejo todos os dias e é o único que necessito
ver. — Nossos narizes se esfregam novamente e eu fecho meus
olhos. — Não quero que sinta medo, ragazza, quero que confie em
si mesma o suficiente para saber que aquela garota de dois meses
atrás, aquela garota é mais forte agora e não está sozinha.
Essa seria uma boa hora para um beijo, mas Heitor só
esconde seu rosto no meu pescoço e respira o meu cheiro.
Não estou muito a fim de falar, mas saber que ele está aqui
para mim, é…
Eu não sei o que é, mas é especial o bastante para eu nunca o
deixar partir.
— Acho melhor você voltar a dormir. — Seus braços afrouxam
o abraço e ele levanta a cabeça. — Qualquer coisa, você pode me
chamar, viu? — Ele me dá um beijo na testa, mas antes que possa
se levantar, eu me atraco nele. — Opa. — Ele ri.
— Dorme comigo — peço, não quero ficar sozinha, não quero.
— É… Manu… — Encaro seus olhos com os meus pidões e
ele respira fundo, voltando a me abraçar e deitar na cama. — Tudo
bem, fico com você — ele murmura em meus cabelos e eu sorrio.
Não demora muito para que eu caia no sono e não tenha
nenhum pesadelo.
Posso apenas ficar aqui?
Passar o resto dos meus dias aqui?
Porque você me faz sentir como se eu estivesse impedido de entrar no céu.
(Locked Out Of Heavem — Bruno Mars)

Uma bunda muito gostosa, está aconchegada no meu amigão


quando acordo.
Meus braços apertam o corpo de Manuela no meu em uma
conchinha bem confortável, deixando claro que em nenhum
momento da noite, minhas mãos ficaram longe, e ela resmunga
baixinho em um idioma só dela, me fazendo rir e apertá-la mais.
Ela me faz rir em qualquer momento, ultimamente tem sido o
meu único motivo, uma ragazza de apenas vinte e dois anos, uma
ragazza que não tem nenhum parente vivo, uma ragazza que é forte
o suficiente para viver, mesmo depois de apanhar tanto da vida.
Uma bambina que não tem um pingo de senso quando o
assunto é evitar diabetes, uma ciumenta que não pode ver outra
mulher me olhar diferente que já fica irritadinha e porra, não deveria,
mas isso me deixa com um tesão da porra, saber que mesmo que
nunca tenhamos sequer nos beijado, ela mesmo assim, se sinta
possesiva em relação a mim, que deixe claro que me quer não por
confundir as coisas, mas porque sente desejo por mim.
Meu corpo cola mais ao seu, deixando o seu corpo delicioso e
quente bem aconchegado, fazendo um rebuliço em meu estômago,
e um frio na minha espinha.
Não era para eu estar fazendo isso, mas por que eu não
poderia? O traste do meu irmão pode e eu não?
Queria poder não sentir isso.
Queria poder encarar o que sinto por ela sem medo.
Queria poder sair com uma bambina de vinte e dois anos e não
me sentir um velho pervertido.
Queria que não doesse em meu coração saber que estou
sentindo coisas que prometi que não sentiria por mais ninguém,
desde Vitória.
Desde que ela me deixou no meu pior momento, desde que ela
me prometeu amor e mentiu. Desde que ela tirou de mim algo que
não deveria, desde que ela partiu meu coração com mentiras e
ilusões, fazendo eu me fechar para o sentimento que se força a abrir
caminho para a ragazza que está comigo agora.
Sempre fui um homem fiel, sempre quis um relacionamento
como o de meus pais, até que Vitória apareceu, até que depois dela,
Carla veio, sempre tão interessada em status social, sempre tão
interessada em dinheiro e não me fazendo sentir nada além de
tesão.
Não depois que eu decidi seguir em frente com Vanessa,
mesmo não a amando e ela me deu um belo enfeite na cabeça.
Depois de quebrar a cara tantas vezes, eu deveria ser
diferente, mas minha bambina me faz pensar em tentar de novo, e
sim, é minha, e meus fratelli que vão para a casa do caralho.
— Ragazza? — murmuro baixinho, testando se já está
acordada.
— Só mais cinco minutinhos… — sua voz baixinha e rouca me
responde, dando uma resposta para o meu coração que nem ele
sabia que havia perguntado.
É tão bom acordar com ela, é tão bom saber que foi nos meus
braços que ela passou a noite.
Cazzo, como eu a quero.
— Precisamos acordar, querida, temos trabalho — mesmo que
tudo que eu mais queira seja ficar nessa cama com ela.
— Você é o chefe, me dê folga — ela resmunga sonolenta e
me arranca uma risada.
Penso no que fazer, se faço ela levantar e ir tomar banho, mas
pela pouca luz que passa pelas cortinas, deixa claro que ainda é
muito cedo, e ela não teve uma boa noite de sono.
Ah, Manuela, com o que você sonhou, amore mio?
Porém, acabo decidindo perguntar o mais importante.
— Como você está?
Ela demora um tempo para responder, se mexendo em meus
braços, tentando ficar mais confortável e porra se isso não é o
paraíso, ter ela assim, tão minha…
Mas, assim que se aconchega mais, vira sua cara bem irritada
para mim, me olhando por sobre o ombro.
— Vai me dar folga se eu disser que tô mal? — Te darei folga
se for para ficar na cama comigo, bambina.
— Você poderia criar vergonha na sua cara e ir tomar um
banho para sairmos. — Aperto seu nariz ao invés de dizer o que eu
realmente quero e ela rosna. — Você não me respondeu.
— Estou, geralmente são mais leves, os pesadelos, mas eu
nunca deixo eles me consumirem depois que eu acordo, então não
se preocupe, eu tô bem, vou ficar ainda melhor se tiver folga. — Ela
vira seu rosto novamente e deita no travesseiro e eu apenas
balanço minha cabeça em negação.
Manuela é forte, e o fato de ela não se deixar abater
simplesmente porque não quer, me enche de orgulho, pois mesmo
sendo bem menininha, ela é madura e incrível.
Enfio meu rosto em seu cabelo macio e cheiroso, respirando
fundo para memorizar seu aroma de morango, pois a bendita aqui
gosta de tudo doce, até mesmo o shampoo, mas não reclamo, é
muito característico dela ser um doce.
Será que você é toda doce, Manuzinha?
Só esse pensamento faz o meu amigão acordar, mas do que
ele já estava, já que agora ele tá com tesão.
Afasto meu quadril do seu, em uma tentativa de não ser um
completo imbecil, não depois da noite que ela teve.
Espero que ela acorde melhor, mas não vou deixar meu pau
duro encostado na sua bunda.
Papai, sempre nos mandou respeitar as mulheres, sempre
mostrou como tratar uma com suas atitudes com Mamma. Mas dona
Antonella fez melhor, ela nos fez uma lista de como devemos tratar
a ragazza que divide nossa cama.
1. Nunca desrespeite a mulher que está com você, se prometeu
mais de uma noite, honre as bolas que tem e fique só com
ela.
2. Se passar a mão ou encostar em uma mulher sem a sua
permissão, eu também não pedirei permissão para enfiar
uma vara na bunda de vocês.
3. Se ousarem levantar a mão para alguma ragazza, saiba que
a cada mínima marca, será um dente arrancado da sua boca
e um ano na cadeia.
4. Se algum dia algum de vocês gravar alguma ragazza
inocente, saiba que a morte de vocês também será gravada
e enviada para o jornal nacional.
5. Mulheres não são objetos, as tratem com todo o respeito que
me tratam, pois cada palavra que é dita a uma pessoa, não é
esquecida, principalmente se essa palavra machuca.
6. Usem camisinha, se algum de vocês tiverem filhos antes de
enfiar um anel no dedo da bambina, eu enfiarei o anel no cu
de vocês.
7. Não chame uma mulher de cadela, vagabunda, puta, ou
qualquer termo ofensivo, lembrem-se que eu sou mulher e
cada ofensa dessa será sentida em mim, e logicamente, no
rabo de vocês.
É óbvio que cada uma dessas regras é gravada em nossa
memória, pois ela as repetiu muitas vezes, cada vez que um de nós
decidiu brincar de casinha com alguém, juro que não sei como ela
descobria, mas sempre descobria.
E não sei que tara é essa que ela tem por enfiar coisas no rabo
dos outros.
A tentativa de afastar meu cacete, no entanto, vai por água
abaixo, quando uma bunda bem gostosa se aconchega mais, à
medida que eu vou afastando o quadril.
— Manu… — aviso, com a voz rouca de tesão e sono.
Pode isso, Mamma?
— Hm…? — murmura a pilantra ao rebolar mais um pouco a
bunda arrebitada no meu pau.
Jesus! Onde foi parar a menina doce que é minha secretária?
Essa Manuela diferente que eu conheci ao morar comigo me
tira todos os eixos.
Manuela não nega que me quer, e ela sabe que eu a quero
também, mas, enquanto eu vejo todos os lados disso, ela apenas
faz o que quer e me provoca com seus pijamas, suas curvas, suas
mordidas em bananas, mesmo que seja inocente essa última, não
deixa de me fazer pensar coisas nada respeitáveis sobre ela.
E essa reboladinha agora?
Ah, mas ela vai aprender uma lição.
Aperto seu corpo no meu, deixando bem evidente minha
ereção na sua bunda e Manuela arfa.
— É bom você parar de fazer isso, amore mio, seja uma boa
ragazza — sussurro baixinho em seu ouvido, vendo todo o seu
corpo se arrepiar e estremecer. — Você não aguentaria o que vem
depois da provocação. — Beijo seu pescoço e lhe dou uma leve
mordidinha, apertando mais uma vez minha ereção na sua bunda e
depois, pulando fora da cama, antes de fazer uma besteira sem
tamanho.
— Não sei do que você está falando. — Ah, sabe sim.
Ela sempre sabe.
Ela sabe que seus pijamas que estão mais para lingeries tiram
o meu foco.
Ela sabe que discutir com ela me deixa com tesão.
Ela sabe que eu quero beijá-la.
Ela sabe que eu quero provar seu corpo, como eu estou
faminto por ela.
E ela sabe que mesmo com as provocações, eu não vou fazer
nada sobre isso.
E é por isso que ela provoca.
— Como já está bem assanhadinha, pode se levantar e se
arrumar para o trabalho. — Aponto o dedo para sua carinha
inocente e suas bochechas vermelhas, tão gostosas que eu gostaria
muito de morder, assim como a sua bunda.
Mas não perco seus olhos que não focam no meu rosto, e sim
no meu pau furando a calça de moletom e a vergonha na cara que
eu poderia ter, foi para o brejo.
Assim como a dela.
— Mas você disse que eu estou de folga. — Ela vira a bunda
arrebitada para cima, se deitando de bruços e cazzo! Só um braço
em volta da cintura e uma puxadinha e ela estaria de quatro…
Semicerro os olhos em sua direção.
— Não disse não. — Tenho certeza que não, ou eu disse?
— Disse sim, eu ouvi — ela murmura, já voltando a fechar os
olhos
Mimada.
Penso em puxá-la da cama, mas lembro que ela não teve uma
boa noite de sono, então vou até ela, agradecendo mentalmente por
nada fazê-la quebrar, mas só a deixar mais forte, deixando um beijo
na sua testa, com uma ternura enorme tomando conta do meu
coração.
Mas a bonita já caiu no sono e eu sorrio.
Saio do quarto, indo em direção ao meu, já para me preparar
para correr e extravasar todo o tesão reprimido que sinto por ela
em voltas e mais voltas nas ruas de São Paulo.

— Você já comeu comida italiana, ragazza? — Manuela, que


está concentrada no meu celular, jogando candy crush, como se
ninguém desconfiasse que ela é fissurada em doce, me encara
confusa, mas sorri.
— Não, você nunca me alimentou com comida italiana. — Se
você soubesse com o quê “italiano” eu gostaria de te alimentar, você
não me olharia com esse olhar doce.
Passo a marcha da Lamborghini e mudo o caminho, indo agora
em direção ao restaurante preferido de minha mãe e desviando do
caminho de casa.
— Então vamos jantar fora hoje, que coisa feia eu não ter te
alimentado com comida italiana — falo sarcástico.
— Eu também acho. — Ela larga o meu celular em cima das
coxas nuas e começa a mexer nos seus cachos.
Hoje é quinta-feira e estamos saindo do trabalho, as ruas de
São Paulo estão caóticas de pessoas procurando seus próprios
rumos e o trânsito está horrível.
Olho para Manuela ao meu lado, com um vestido mais justo ao
corpo, de um tom de vermelho que porra, quando a vi hoje de
manhã, quase engasgo com o café que estava tomando ao vê-la
descer as escadas.
Todas as curvas tão desenhadas, tão moldadas como se
fossem pintadas no corpo dela. O vestido fatal que ela vestiu hoje, é
um da nova coleção de Vince, que ainda nem saiu no mercado,
apenas em julho e ainda estamos em março.
Mas parece que ele desenhou para Manuela, ele termina antes
dos joelhos, colado ao corpo, marcando a cintura estreita, e a parte
de cima em corte reto, mas deixando os seios que eu apostaria tudo
que tenho que caberia perfeitamente na minha mão, em um decote
chamativo, e as mangas longas, até o pulso, que deixam os ombros
descobertos, e que é frouxo, como se coubesse três braços dela ali
dentro, deixam ela tão linda, que é difícil não notar, nem santo
conseguiria.
Alguns minutos depois, estaciono o carro em frente ao
restaurante e olho para Manu, que passa um batom vermelho com a
ajuda do espelho do carro.
Manu é fissurada em doce, mas se tem outra coisa que ela
gosta muito é da cor vermelha, seu único batom é vermelho, a
maioria das suas roupas são vermelhas, e ela é fissurada em coisas
vermelhas. E combina tanto com ela.
Saio do carro e abro a porta para ela sair, e quando faz, já
pego sua mão na minha e entro no restaurante.
O La Mia Famiglia, é um ambiente muito requintado e
respeitado, o fato de trazer o melhor da nossa culinária para o país
conquistou cada pessoa que entrou aqui dentro, e Mamma é uma
dessas, junto com todos nós, mas como o dono é amigo da família,
nunca precisamos fazer uma reserva, embora a lista de espera seja
de dias, nossa família sempre tem uma mesa reservada, pois um de
nós sempre vem aqui, embora eu não tenha vindo nos últimos dois
meses.
Assim que chego a recepção, meu coração acelera.
Uma porra que isso tá acontecendo.
— Boa noite. — O sorriso profissional no rosto da recepcionista
se transforma. — Heitor... Olá! — A ruiva que eu saí no mês
passado, a qual nem chegamos aos finalmentes, me encara com
um sorriso sugestivo.
No nosso encontro, eu realmente fiquei interessado, ela
também ficou, ficou tanto que quis transar dentro do carro, mas meu
carro é sagrado, nunca transei com ninguém lá dentro. Mas, embora
eu estivesse com vontade, me lembrei que Manuela estava na
minha casa, com um braço quebrado e uma perna, jantando com
Vince e o fato de que eu sabia que o que eu sentia por ela ia além
de uma simples relação entre chefe e funcionária, me impediu de
seguir para o apartamento da moça, mas como ela me disse que eu
poderia ligar quando quisesse me divertir, me fez pegar o número
dela.
Péssima ideia.
— Boa noite Larissa. — Pigarreio e Manu aperta minha mão
com força. — Eu gostaria de uma mesa, por favor. — Parecendo
perceber que tinha alguém comigo, porque Manuela tem uma
incrível habilidade de se esconder atrás de mim, seu rosto
desanima, sabendo que eu não vim sozinho, mas logo ela coloca
outro sorriso no rosto.
Droga, odeio estar no mesmo ambiente com alguém que eu já
tive algo, me deixa desconfortável, principalmente se eu estiver com
outra pessoa, não que eu esteja com Manu, mas o fato de estar
jantando com ela, faz o desconforto me bater forte.
Eu não gostaria de estar em um lugar com alguém que
Manuela já ficou. Eu ficaria louco.
— Ah, claro, vocês fizeram reserva? — Ela olha no computador
à sua frente, procurando meu nome, mas eu respondo antes de ela
ter esse trabalho.
— Não, não fiz, mas sempre fica uma mesa reservada no
nome Mancini — falo, vendo Manuela se grudar mais em mim, e
Larissa me encarar surpresa.
Lembro que a encontrei em um bar que eu fui, mas não falei
meu sobrenome, nem sequer pensei, nem ela, já que eu não lembro
de nenhum.
— Ah, sim, claro, claro. — Ela sorri novamente, e dá a volta à
mesa e passa na minha frente. — Venham comigo.
Diz isso e sai rebolando os quadris em direção a nossa mesa.
Olho para Manuela que tem um bico do tamanho do mundo no
rosto e sinto vontade de rir.
— Você a beijou, não foi? — A vontade de rir evapora na
mesma facilidade que veio e eu engulo em seco. Mesmo que saiba
que não preciso dar satisfação, mesmo que não tenhamos nada,
ainda assim, me incomoda.
Mesmo que ela não tenha perguntado se eu não levei a ruiva
para a cama.
— Não sabia que ela estava trabalhando aqui — falo, e ela não
responde ou pergunta mais nada. Apenas ao chegar na mesa, a
qual senta na cadeira antes que eu possa ser cavalheiro, ela se vira
para a ruiva e agradece, com o rosto doce e sincero.
Essa é uma das coisas que eu mais gosto nela, ela não culpa
os outros e eu sei disso, porque agora, ela não tem nada contra a
mulher, mas vai arrancar meu couro com seus ciúmes a noite
inteira.
— Logo mais um garçom vem aqui atender vocês, mas o
cardápio já está na mesa e podem escolher o que vão pedir,
qualquer coisa, podem me chamar.
Sento no meu lugar, enquanto a ruiva volta para a recepção e
procuro os olhos que eu tanto admiro.
Seus olhos da cor do céu, não transmitem nada, ela apenas
pega o cardápio com uma mão, enquanto a outra tira um cacho da
frente dos olhos e depois dá uma ajeitada no óculos novo que
mandei Luiz comprar, já que ela perdeu o dela no incêndio, mesmo
que estejam sempre certinhos.
— O que você indica? Nunca comi nada que está escrito aqui,
eu nem faço ideia do que tenha, então se tiver alguma coisa com
tripa de animal, me avisa para eu passar bem longe — sua voz sai
divertida, me deixando confuso, muito confuso, mas pego o cardápio
mesmo assim.
— Depende do que você quer comer — respondo desconfiado.
— Você quer massa ou carne?
— Carne — ela responde de imediato. Como o dia de hoje foi
um pouco pesado no trabalho, também estou afim de comer uma
boa carne.
— Bistecca alla Fiorentina então, acho que você vai gostar — é
só o tempo de eu terminar de falar, que um garçom chega na nossa
mesa e pergunta o que queremos, Manu como a boa menina que é,
simplesmente aceita a minha indicação e quando o garçom sai, ela
varre o restaurante com os olhos, mas não me encara.
— Procurando alguém? — pergunto divertido, encarando seu
perfil de lado, que deixa sua boca em um biquinho lindo que eu
gostaria muito de chupar.
Seus olhos da cor de uma lagoa cristalina miram os meus e ela
levanta uma sobrancelha.
— E quem exatamente eu iria encontrar em um lugar assim?
— ela diz, com um sorriso no rosto que me deixa muito desconfiado.
No almoço que tivemos com Júlia, uma mulher que eu nunca
tinha sequer cogitado beijar, ela passou o almoço com a cara
fechada e fomos embora brigando.
Agora ela não liga para a mulher que enfiou a língua na minha
boca?
E por que eu estou reclamando? Não era isso que eu queria?
— Pergunta besta, mas me diz, como foi seu almoço com a
Duda? — Estou tão mal acostumado, que quando Manuela disse
que almoçaria com a melhor amiga, eu almocei na minha sala sem
companhia, já que Luiz saiu para almoçar com o carinha do T.I.
Como Mamma ainda não chegou, não vamos a casa dela
comer, e o fato de estar acostumado a almoçar com uma formiga
louca por doce, me fez ficar de mau humor pelo resto da tarde.
— Ah, foi tudo bem, ela vai lá em casa amanhã a noite, já que
é sua noite dos meninos, ela vai ficar no meu quarto comigo — ela
diz isso, mas noto uma tristeza em seus olhos.
— Ei, o que foi? — pergunto, levando minha mão
imediatamente ao seu rosto e aconchegando a sua bochecha.
Ela me encara, e depois respira fundo.
— Sabe, acho que você percebeu que quando eu comecei a
morar com você, ela sempre ia para lá, né? — Aceno em
concordância, pois eu mesmo pedi para ela fazer isso. — O
problema, é que naquele tempo ela estava com os pais dela e... O
pai dela não é uma boa pessoa, então qualquer desculpa para estar
comigo que ela tinha, ela usava. Não quero falar da vida da minha
amiga, mas às vezes, às vezes não ter os pais é uma dádiva,
melhor do que ter pais que não merecem esse título — ela fala com
a voz embargada, enchendo meu coração de preocupação com
Eduarda. Como assim?
— Ela está bem? — pergunto.
— Ela finge estar, porque ela nunca me diz o que está
acontecendo, ela não gosta de se sentir fraca, mas eu percebo,
sabe? Que tem algo errado. — Manu murcha na cadeira e eu me
levanto para sentar ao seu lado.
— Ei, quando ela estiver pronta para conversar, ela vai falar
com você, às vezes as pessoas querem se sentir fortes, pois as
julgam fracas, elas só precisam de tempo para reconhecerem que
pedir ajuda as fazem mais fortes ainda. — Dou um beijo na testa de
Manu, e a abraço de lado, ela me olha por um instante, meus olhos
se dirigindo para sua boca rapidamente, como se tivesse um ímã
me puxando, e porra, esse batom vermelho desenhando sua boca
carnuda, faz um frio gostoso descer minha espinha com imagens
nada respeitáveis dela no meu pau.
O momento, no entanto, é impedido pelo garçom.
— Aqui está, os mesmos pratos, espero que façam uma boa
refeição, Bistecca alla Fiorentina é o meu prato favorito desse
restaurante. — Ele sorri com gentileza e pergunta se queremos mais
alguma coisa, o qual respondemos que não.
— Obrigada — a voz doce de Manu sendo dirigida ao garçom,
me faz voltar meus olhos para o seus, que encaram o prato com
muito interesse.
Isso me deixa aliviado e estressado ao mesmo tempo.
Ela está cagando para o fato de ter uma ex que não é ex, aqui.
Ela não liga mais?
Cadê a Manu ciumenta que eu gosto?
Fala sério, Heitor, toma vergonha nessa sua cara.
Eu tenho é que admirar mesmo, Manu odeia rivalidade
feminina, não briga com a mulher, briga comigo.
Mas nem isso ela está fazendo hoje.
Por que?
Comemos a refeição calados, já que Manu não gosta de falar
enquanto janta, diz que a refeição é sagrada e eu acredito, ela
passou muitas noites sem fazê-la.
Quando terminamos, pergunto se ela quer algo e ela murmura
um não, só que quer ir para casa e eu acato seu pedido.
Meia hora depois, estamos entrando na nossa casa.
Nossa casa.
A ideia de Manu sair dela me deixa deprimido.
— Acho que vou tomar um banho e dormir, algum problema se
Duda dormir aqui amanhã? — Ela tira os sapatos e coloca no
armário ao lado da porta, e se vira para mim sorrindo.
Não aguento mais isso.
— Tá, o que está acontecendo? — pergunto, já me irritando
com essa falta de ciúmes dela.
Eu quero ciúmes, porra!
Significa que ela me quer, que ela me tem como dela, mas ela
não fez nada além de sorrir a noite toda!
— Como assim? — ela fica confusa, e coloca as mãos na
cintura.
— Você quase botou um ovo no dia que Júlia almoçou com a
gente, e hoje o fato de ter uma mulher que já provou minha boca
não te deixou nem um pouco intrigada? — Ela vacila um pouco, e aí
eu percebo que a pose de desinteresse era só fingimento.
Sou uma péssima pessoa por ficar feliz com isso?
— Bem, e o que você quer que eu faça? Você já a beijou,
provavelmente fez mais que isso, não tenho o que fazer, não sou
sua dona e você nem sequer me beija, o fato de você fazer isso com
outras não deveria importar — ela fala, suas bochechas corando
furiosamente, mas em nenhum momento seus olhos saem dos
meus. — Você é solteiro, tem que sair mesmo, eu vou fazer a
mesma coisa.
Pera aí, o quê?
Minhas sobrancelhas sobem tanto que quase se fundem com o
couro cabeludo e um gosto amargo se instala na minha garganta.
Ela vai sair com outro? Desde quando?
— O que você quer dizer com isso? — pergunto entredentes,
com as mãos em punhos.
Ela simplesmente se vira, me mostrando sua bunda empinada
e gostosa e sai andando em direção às escadas.
— Eu tenho vinte e dois anos, Heitor, cansei de esperar você
tomar alguma atitude, você já deixou claro que mesmo sabendo a
atração que sentimos um pelo outro, não irá fazer nada a respeito, e
eu não vou ficar esperando para sempre — ela fala, exasperada,
jogando os braços para cima, já chegando à porta do quarto e
entrando.
Eu, é claro, estou um passo atrás dela como um maldito
cachorro.
O gosto amargo desce na minha garganta e um embrulho
cresce no meu estômago também.
— Você quer ficar com outra pessoa? — minha voz sai grave e
irritada, mas ela apenas tira os óculos e coloca na escrivaninha. —
Manuela!
Ela para em frente a cama e se vira para mim.
Sei que ela pode fazer o que quiser, mas isso não faz eu me
sentir melhor.
— Não, não quero, mas o homem que eu tenho em casa não
dá conta do que tem. — Antes que ela tenha reação, pego-a pela
cintura e a jogo na maldita cama, com meu corpo cobrindo o seu.
Se ela quiser brincar, vamos brincar.
— Você acha que o homem que tem em casa não dá conta de
você, ragazza? — rosno, uma mão na sua cintura, e a outra com o
cotovelo segurando o meu peso e a mão entre seus cachos.
— E...eu acho que você até daria, se tentasse — ela gagueja,
sua respiração ofegante pelo ataque abrupto, mas seus olhos
intensos, e o rosto expressivo denuncia que ela está me
provocando. E ela está conseguindo.
Ah, pequena diaba.
— Você tem um homem em casa... — decido provocar a
bambina também. — Que mesmo se você procurasse na rua, não
acharia ninguém que fizesse o que eu faço. — Olho para os seus
lábios vermelhos, a cor da tentação, e acabo passando o nariz em
sua bochecha em um carinho.
Sinto seu corpo estremecer embaixo do meu.
— Tenho, é? — sua voz rouca me excita.
Jogo perigoso.
— Tem... sabe por quê?
— Me... Me diga — ela murmura quando minha boca dá
mordidas em seu maxilar, indo em direção a área sensível do seu
pescoço.
— O homem que você tem em casa, a faria gozar sem precisar
tirar sua roupa, amore mio — um gemido baixinho e doce é emitido
por ela, e minha cabeça começa a imaginar seus gemidos safados.
Vou em direção a sua bochecha, planejando apenas beijá-la,
mas a pequena coelha safada vira a boca e toma a minha em um
selinho rápido.
Todos os pensamentos coerentes que haviam na minha
cabeça evaporam no mesmo instante.
— Eu... — Manu está vermelha de vergonha, ou de tesão, não
a encaro muito para perceber e nem para deixá-la terminar de falar.
Minha mão que estava em seu cabelo, o agarra com força e
minha boca avança na sua, em uma fome que eu sabia passar há
muito tempo.
É impressão minha, ou o tempo parou? Sinto que entrei em um
mundo inteiramente nosso, em que a única coisa que importa é o
beijo doce da minha ragazza.
Ela não me decepciona, sua boca se preocupa em retribuir no
mesmo momento o beijo faminto e desesperado que eu lhe dou.
Eu tentei, todo mundo sabe que eu tentei, eu tentei resistir, eu
tentei não fazer isso, mas é mais forte do que eu, ela é mais forte do
que eu, ela não me ajuda e somos uma equipe.
Manuela abre a boca para mim e minha língua procura
caminho, encontrando a sua e um gemido do fundo da minha
garganta se força para fora.
Suas pernas se abrem para mim, e nunca me senti tão
confortável como estou me sentindo agora no meio delas, com uma
mão na sua nuca, uma na cintura e a boca provando a sua.
Seus lábios são macios, e carnudos, e deliciosos. Tem gosto
de inexperiência, inocência, casa, e é o mais doce que eu já provei.
E é bom pra caralho, o melhor gosto.
CAZZO!
Sinto que acabei de tomar uma decisão para a qual não estava
pronto e para a qual vou ter que lidar com as consequências, mas
nunca na vida tomei uma atitude melhor que essa.
Suas mãos se infiltram no meu cabelo, puxando com força,
enquanto ela suspira embaixo de mim, e rocei meus quadris
involuntariamente nos seus.
Dois gemidos gostosos são ouvidos no quarto, o dela me
enlouquece.
Pressiono meu corpo no seu, minhas mãos judiando da sua
cintura, mas ela não reclama, a cada novo avanço dos meus
quadris, os seus procuram os meus em resposta e um suspiro sai
dela.
Beijo minha ragazza profundamente, chupando seu lábio
inferior, e mordendo com força, mas não o bastante para machucar,
com um único pensamento na cabeça.
Não importa o que aconteça, nenhum outro homem vai provar
essa boquinha doce.
Pois todos os seus beijos serão meus de agora em diante.
Esse é um pensamento muito fodido, mas quem liga?
— Cazzo, ragazza, como sua boca é gostosa — afirmo
soprando em seus lábios, aproveitando para buscar ar, junto com
ela e a danada sorri.
A tentação sorri.
— A sua tem gosto de pecado — ela fala ofegante, seu rosto
furiosamente corado, e os olhos brilhantes.
— É o pecado que você mais gostou de cometer — afirmo,
sem lhe dar oportunidade de uma resposta atrevida e minha boca
avança na sua novamente, seu gosto é viciante, e eu pareço um
maldito drogado que experimentou uma nova droga e que mesmo
sabendo que não vai conseguir parar de provar, não faz nada para
impedir isso de acontecer
Não há nada tão bom quanto a sensação de me viciar nela.
Sua boca na minha é realmente inexperiente, consigo sentir e
isso aciona um alerta na minha cabeça.
Mas mesmo assim, não consigo parar de beijá-la, nem mesmo
se Mamma entrasse aqui agora, e olha que essa ideia é
aterrorizante.
Movimento meu quadril no seu, meu pau mais duro que uma
barra de ferro na calça, pressionando na sua boceta, coberta
apenas pela calcinha, pois seu vestido que é colado subiu para sua
cintura e arranco outro gemido dela.
Cazzo, esses gemidos.
Só a ideia de outra pessoa os escutar já me deixa louco.
O homem que tem em casa não dá conta...
Meu pau.
Sei que tenho que ir com calma com Manuela, sua idade, sua
inocência e minha ética me impedem de fazer o que eu mais queria
nesse momento, que é abrir a porra do zíper e afastar essa maldita
calcinha, que eu não estou vendo para o lado, me enterrando
gostoso nela.
Tão fundo.
Mas é a Manuela, a minha doce Manuela, e embora queira,
com todas as forças escutar mais de seus gemidos, me obrigo a
desacelerar os movimentos dos quadris, deixando em uma lentidão
deliciosa, e chupo o lábio inferior dela.
— Você tem um homem em casa, ragazza, espero que tenha
entendido isso — falo contra seus lábios, ofegante do beijo mais
intenso que dei na minha vida, e abro os olhos para encarar os
seus, baixos de prazer, mas que me fitam também, com sua
respiração tão ofegante quanto a minha.
Ela sorri, fazendo um carinho no lugar de puxar meus cabelos,
e meu quadril para de se mover.
— Era só falar que ia atrás de outro para fazer você agir? Se
eu soubesse, tinha feito isso antes... — Ela sorri, a bandida sorri e
se espreguiça como uma gatinha manhosa.
Ah, ela me paga.
Minhas mãos não perdem tempo, e cinco minutos depois,
Manuela ainda gargalha com as cócegas que faço em sua barriga.
Tão feliz, tão ela.
Tão Minha…
Como ímãs, nossa atração nos faz ir e voltar.
Mesmo que meu coração esteja se apaixonando também.
(Shape of you — Ed Sheeran)

Faz quinze minutos que os olhos de Duda queimam em mim,


buscando a resposta para a pergunta que eu tenho certeza que já
irá sair da sua boca.
Tento disfarçar o rubor que cobre meu rosto, olhando para as
pecinhas do novo quebra-cabeça de mil peças dela, enquanto
procuro a peça certa para encaixar, mas não funciona. Essas
merdas de quebra-cabeças tem umas pecinhas minúsculas,
algumas têm apenas uma cor, como diabos eu vou achar onde ela
encaixa? Duda chegou já faz quinze minutos e nesses quinze
minutos eu ainda não consegui encaixar uma peça sequer.
Eu estava em um grupo de leitura coletiva, quando ainda tinha
celular, onde a dona fazia brincadeiras de montar o quebra cabeça
de algo relacionado ao livro da LC, após o debate.
Não sou de xingar, mas ela é uma vaca.
— Rolou beijinho, não foi? — ela quebra o silêncio, e o rubor
no meu rosto piora.
— Qual é o problema de vocês, hein? Por que está todo
mundo fissurado nesse beijinho? — Não encaro seu rosto ao falar,
de tanta vergonha.
Não pelo que fiz, nunca por isso, mas simplesmente porque
sim.
Beijar Heitor foi a melhor experiência que eu já tive.
Meu primeiro beijo, puta merda.
Só em lembrar, meus braços se arrepiam.
Após o beijo espetacular, Heitor ainda ficou comigo por um
bom tempo, distribuindo beijos pelo meu rosto, pelo meu pescoço,
minha boca…, e que beijo gostoso.
Heitor tem gosto de experiência, safadeza, casa e é o gosto
mais viciante de todos.
Tudo o que ele fez foi perfeito, mas ele precisou sair do quarto
para tomar banho, me deixando na minha cama, jogada, sem
fôlego, e completamente feliz. Eu sei que foi só um beijo e uns
amassos, não sou burra, eu leio livro de máfia italiana com sexo
rolando solto na frente dos outros ainda por cima, é claro que eu
não fiquei surpresa na hora de ir tomar banho e encontrar minha
calcinha completamente molhada, e uma palpitação no meu ventre.
Mas podemos deixar isso para outro dia.
— Rolou… — A boca de Duda se escancara e meus olhos se
arregalam em sua direção. Como diabos ela descobriu? Parecendo
ouvir meus pensamentos, ela responde. — Dá para ver no seu
rosto de safada, que pegou o chefe — ela grita e pula em cima de
mim, divertida, me jogando no chão, tamanho o equilíbrio que eu
tenho e ela acaba ficando em cima de mim. — Diz, foi bom? —
Seus olhos brilham em expectativa, e meu rosto abre um sorriso
sem permissão.
— Não sei do que você está falando — me finjo de sonsa e ela
arregala os olhos e gargalha alto.
— Sabe sim, sua safada, deu seu primeiro beijinho. — Ela
cutuca minha boca, com o dedo, fazendo um barulhinho engraçado
e eu rio.
— Não, você sabe, eu disse que só daria meu primeiro beijo a
você, mas você não me quer. — Faço uma expressão tristonha.
— Ah, não vamos estragar nossa amizade, se eu te desse um
beijinho, você me pediria em namoro no dia seguinte e você sabe
que eu não namoro. — Ela dá um sorriso igual ao do gato de Alice
no País das Maravilhas.
No andar de baixo, a noite dos meninos está rolando solta.
— Te pedir em namoro por um beijinho? Você está se achando
demais. — Estalo a língua e ela ri.
— Acontece mais vezes do que você imagina, mas não foge
do assunto, rolou beijo? — Ela não larga o osso! Mas sabe que eu
vou contar, eu sou uma péssima mentirosa, por isso a enrolação.
— Te conto se você me der um beijinho. — Faço um biquinho
fofo, que sempre faz os irmãos Mancini me darem o que eu quero e
ela semicerra os olhos.
Duda como eu já deixei claro, é uma pessoa bem livre com sua
sexualidade, ela gosta de inovar, e faz tanta sacanagem que não sei
de onde ela tirou tanta imaginação, e quando ela diz que é pedida
em namoro constantemente, eu acredito, deve ser uma maravilha
passar pela sua cama.
E eu digo, passam, porque ninguém nunca ficou, ela nunca
pede para ninguém ficar e nunca repete a dose.
— Tem certeza que não vai querer ficar nua para mim? — Ela
sorri, maliciosa me fazendo gargalhar.
— Misericórdia, Eduarda! Eu sou uma moça de família — digo,
entre risadas.
— E eu o gato de botas. — Ela sai de cima de mim, e se senta
novamente. — Tudo bem se não quiser me contar… — Ela dá de
ombros.
Reviro os olhos para seu drama e me sento novamente,
procurando uma pecinha dessa merda de quebra-cabeça,
planejando mentalmente quebrar a cabeça da lindinha ali.
— Rolou ontem — digo logo, porque em nenhum momento
Heitor me mandou guardar segredo.
E eu espero que não seja, espero que haja mais, ele disse que
eu tenho um homem em casa, ele não falaria isso se não estivesse
disposto a mais do que só um beijo, né?
Meu Deus, Manuela, foi só um beijo, deixa de ser emocionada.
— AHHHHH, eu sabia! — Ela bate palmas, feliz e sorri de
orelha a orelha, me deixando envergonhada, mas sorridente mesmo
assim. — E foi bom? — ela pergunta, pegando uma pecinha e
achando exatamente onde encaixar sem nenhuma dificuldade.
Como ela faz isso?
— Foi o melhor — respondo sincera e ela revira os olhos. —
Que foi?
— Como é que foi o melhor se você nunca provou outro,
Manuela? — Ela bufa, mas um sorriso enfeita seu rosto.
— Se não quer saber minha resposta, não pergunte — retruco,
sorrindo e ela gargalha.
Enquanto ela se diverte às minhas custas, eu ainda estou
tentando achar uma pecinha que encaixe no quebra-cabeça, essa
merda tem mais de oitocentas peças para encaixar ainda, se
depender de mim, daqui a cinco anos eu termino.
— Fico feliz por você, sabe — ela fala, depois de um tempo
concentrada e me encara. Seus olhos verdes e lindos transmitindo
ternura.
— Foi só um beijo — resmungo, me arrastando para perto
dela.
— Sim, mas foi com alguém que você gosta e que gosta de
você. — Não nego que gosto dele, e sei que a recíproca é
verdadeira.
Quando estou perto de Heitor, todo o meu corpo reage a ele,
meus órgãos também, pois o coração só falta saltar do peito.
— Isso é verdade, mas não vou criar expectativas, que seja o
que tem que ser, e se não for… — murmuro, sem querer pensar nas
consequências para o meu coração.
— Thank u, next, Vadia — Duda grita com os braços para cima
e eu rio.
— Você não presta — falo para minha melhor amiga, estalando
um beijo na sua bochecha.
— Mas você me ama mesmo assim. — Ela pisca um olho,
cheia de charme.
— Amo sim. — Tento piscar também, mas não funciona,
porque vai os dois de uma vez e eu faço uma careta engraçada,
tentando piscar só um, fazendo Duda gargalhar.
Eu gosto de ver minha amiga sorrir, ela já tem motivos demais
para chorar.

Duas horas depois, decidimos descer para comer alguma


coisa, minha barriga está roncando de fome e a de Duda também.
Acabamos de sair do banho, e eu estou vestindo outro dos
pijamas de animais que Vince me deu, esse é de um panda, mas é
um short soltinho e curto, e uma blusinha que não cobre a barriga.
São bem confortáveis e eu já passei tempo demais usando roupas
maiores que eu, sem realmente gostar de vestir.
Duda está com uma blusa igual a minha, mas toda branca,
com uma calça de moletom folgada, e como a blusa também deixa a
barriga à mostra, vi que ela tem um piercing que nunca soube que
ela tinha.
Descemos as escadas e ouvindo nossa aproximação, quatro
cabeças masculinas se viram em nossa direção.
Os olhos de Heitor percorrem meu corpo de cima para baixo,
com suas pupilas escurecendo ao encarar minha boca mais
demoradamente, fazendo as borboletas no meu estômago darem
uma festa.
Meu corpo esquenta apenas em saber que ele realmente me
deseja como eu o desejo.
Ele sempre me olha assim, mas é bom saber que não está
fingindo que o que tivemos não aconteceu e que se arrepende.
Continuo andando em direção aos sofás, já que eu vejo várias
caixas de pizzas na mesinha de centro e eu estou com fome, vou
aproveitar para roubar.
Não perco o olhar que Gael dá em Duda, mas ela nem sequer
olha em sua direção, fazendo ele trincar o maxilar.
Aí tem coisa, mas não vou me meter agora.
— Manuzinha, meu amor, vem aqui — Vince — que chegou
ontem de viagem, ainda não tinha vindo me ver, pois estava
resolvendo assuntos da sua marca de roupa, e quando chegou, eu
já estava lá no quarto, não desci nem para abrir a porta para Duda
— me chama.
Abro o maior sorriso que eu consigo para o meu amigo, que
tem um igual no rosto e os braços abertos e pulo com tudo em cima
dele.
O engraçado, é que há cinco sofás nessa sala, mas estão os
quatro em cima de apenas um.
Os braços de Vince me esmagam em um abraço de urso,
enquanto seu rosto se enfia no meu pescoço me dando um baita
cheiro.
Lhe dou um beijo gostoso na bochecha, e ele abre as pernas,
me colocando entre elas, virada para a televisão de cinema, que
passa um jogo de algum time fora do Brasil.
— Esses pijamas ficaram ótimos em você — Vince elogia,
passando um braço na minha cintura e me puxando para o seu
peito.
— Eu também acho, principalmente aquele de gatinha —
Pietro, que está na ponta do sofá comenta, me mandando uma
piscadinha e um beijo.
Mando um de volta e encaro minha amiga.
Duda está em pé, em frente à mesinha de centro, encarando
as pizzas como se elas tivessem chifres.
— Eu não tenho um de elefante, nem de guaxinim, nem de
raposa, eu gostaria de um de raposa, tem algum de raposa? —
pergunto, olhando para trás, encarando os olhos do mesmo tom que
o do bonitão que mexe com meus sentimentos.
— Você quer um de raposa? — ele pergunta surpreso e
depois, culpado. — Vou trazer um de raposa, e vou ser responsável
por você. — Ele pisca me deixando extremamente confusa.
— Não entendi, explica. — Faço bico e ele ri.
— Ele está dando uma de Pequeno Príncipe, já leu? — Gael
fala, com uma sobrancelha questionadora arqueada. Mas seus
olhos voltam novamente para Duda, preocupados. Minha amiga
ainda está olhando para as pizzas, mas agora com o cenho
franzido.
Ela está com a mãozinha indo e voltando, como se quisesse
pegar a pizza, mas em dúvida.
— Ainda não — respondo, preocupada com minha amiga. Mas
parece que eu cometi um pecado mortal, porque todo mundo na
sala arqueja e me olha como se agora fosse eu que tivesse três
chifres na cabeça. Me irrito. — Tá, não li, alguém me explica? —
falo grossa e Vince e Heitor caem na risada, mas os outros ainda
me olham como se eu fosse uma criminosa.
— O Pequeno Príncipe é uma criança que vem de um
asteroide para a terra e quando chega aqui, tem uma aventura em
busca de conhecer mais. Ele encontra uma raposa, mas a raposa
não lhe dá muita confiança, pois diz que não foi cativada ainda —
Vince me explica, e sorri, como se estivesse lembrando de algo. Os
seus irmãos também estão assim. — Então, a raposa fala algo que
fica marcado na cabeça de quem escuta, pois é a mais pura
verdade.
Gael levantou e foi até a cozinha, sem falar nada.
— E o que a raposinha fala? — indago, curiosa.
Sinto mãos que não são as de Vince na minha cintura, e ele
solta os braços que estavam à minha volta para deixar Heitor me
puxar em sua direção, os dois sorrindo.
— Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas
— a voz profunda de Heitor fala ao meu ouvido, alto o suficiente
para a sala toda ouvir, enquanto me coloca no seu colo, sorrindo
para mim.
Me aconchego entre suas pernas, suas mãos passando ao
redor da minha cintura nua e me puxando mais para ele.
— Essa frase é profunda — falo pensativa, lançando um
sorriso para Heitor, e em seguida encarando Vince. — Me dá seu
celular. — Coloco minha mão em frente ao seu rosto e faço uma
cara de má. Ele pega o celular e coloca na minha mão.
— O que você vai fazer? — indaga e eu pego sua mão para
colocar a digital, enquanto as de Heitor estão ocupadas fazendo
círculos na minha barriga e na minha perna, deixando um rastro de
arrepios a cada movimento.
— Vou fazer um pedido de algo que não tenha mil calorias
para Duda — falo, já com o número na minha mão e a ponto de
ligar, mas antes de apertar o botão e de Duda que acabou de virar
sua cabeça para mim arregalando os olhos, falar algo, Gael chega
na sala e fala.
— Não precisa — sua voz, tão profunda quanto a dos irmãos,
faz eco na sala quando ele oferece a uma Duda de cenho franzido,
e confusa, um prato de comida, com bananas cortadas, com várias
coisas em cima e com chocolate em todo o prato.
Bem, ele agiu mais rápido do que eu, que esqueci que minha
amiga não come comidas gordurosas.
Mas o que me deixa surpresa, é o fato de ser Gael que está
trazendo o prato, eles se evitam em todos os encontros, é como se
escondessem algo, mas nunca entrei nesse assunto com ela e nem
com ninguém, o assunto não é meu para comentar.
Ela aceita o prato com um olhar penetrante, mirando Gael, e
eu desvio os olhos, assim como os três outros.
É como se estivéssemos invadindo um momento íntimo.
Constrangedor.
Meus olhos acabam indo em direção aos do meu chefinho,
mas os dele estão fixos na minha boca, escuros e intensos.
Minha respiração fica presa e as borboletas festejam.
Parecendo perceber o poder que tem sobre mim, um sorriso
malicioso se abre em seu rosto, e seus olhos se movem para os
meus, mas os abaixo para sua boca, abrindo a minha
involuntariamente.
— Célia se casa no sábado, e ela está muito irritada com você,
Heihei — Pietro, meu fofoqueiro preferido interrompe nosso
momento, fazendo minhas bochechas corarem e Vince esconder um
sorriso vagabundo.
— E o que foi que eu fiz? — Ele apoia o queixo no meu ombro
e encara o irmão.
Duda, com o prato na mão, vem em minha direção, se
sentando no chão à minha frente e abro as pernas para ela se
encaixar no meio. Gael já está sentado no sofá, do meu lado,
porque ninguém se toca que tem cinco sofás.
— Você não foi no jantar de noivado há dois meses. — Pietro
pega um pedaço de pizza e um copo de refrigerante e me dá.
Ele, claro, para provocar o irmão, pede um beijo na bochecha
de agradecimento, o qual eu dou com gosto.
— Cazzo! Luiz ainda me alertou, mas acho que me esqueci
total, o que houve para Mamma não me ligar? — Ele geme baixinho,
enfiando o rosto no meu pescoço.
Pietro dá de ombros e se encosta no sofá, esticando as
pernas.
Detalhe, não sei se esses meninos sabem o que é uma blusa,
mas nenhum deles está vestindo.
— Vanessa estava lá — Heitor suspira baixinho, e viro o rosto
para encará-lo. Mas ele não tem nenhuma expressão de saudade,
dor ou algo diferente no rosto, apenas cansaço e um sorriso quando
me nota.
— Havia esquecido que seus pais são os donos da empresa
que iria organizar o jantar, e que ela foi convidada. — Ele dá outro
suspiro e se encosta no sofá, enquanto enfio um pedaço de pizza na
boca.
Meu Deus, como é gostosa essa pizza, de queijo com catupiry,
um gemido escapa da minha boca automaticamente.
— Ela ainda te liga? — Pietro pergunta, passando as mãos no
cabelo, bagunçando mais ainda os fios.
Vince aproveita e pega seu celular que estava na minha perna,
enquanto tomo um gole de refrigerante.
— Liga, mas eu não atendo. — Seus braços me apertam mais
forte, como se tivesse medo de que eu fosse fazer algo.
Gente, até parece que eu sou ciumenta.
Que nada.
— Amanda — Vince resmunga, enquanto mexe no celular,
bloqueando a tela assim que eu espio por cima com um pedaço de
pizza na boca. Ele semicerra os olhos e me repreende, mas finjo
uma cara inocente, e um biquinho e seu rosto logo se suaviza.
É muito fácil dobrar os Mancini.
— Amanda? — Heitor questiona, confuso, assim como Pietro.
— Amandatomarnocú. — O refrigerante que eu estava
bebendo, entra pelo buraco errado, ao final da frase, e me entalo
com o pedaço da pizza na garganta.
— Droga, Vince, até parece que não conhece a Manu. — Gael
se levanta em busca de água, enquanto Heitor novamente, faz a
manobra de Heimlich em mim, fazendo o pedaço de pizza voar da
minha goela em direção a televisão, ficando grudado lá.
Que imagem linda, mais um visto no meu caderno de palhaça.
Meu rosto deve estar mais vermelho que pimenta malagueta, e
Duda, que está na minha frente, me encara preocupada.
— Scusa, il mio fiore, esqueci que você tem o péssimo ato de
querer matar a gente do coração — Vince pede desculpas, seus
olhos culpados, enquanto Heitor pega meu queixo gentilmente e vira
para ele.
— Tudo bem? — pergunta, gentilmente.
— Tudo sim — minha voz sai rouca pelo esforço que eu fiz,
mas não aguento, acabo soltando uma risada da minha proeza, que
acaba sacudindo o meu corpo, se transformando em uma
gargalhada, e Heitor me encara como se eu estivesse louca, mas
quando percebe que eu estou bem, acaba gargalhando também,
assim como Vince, Pietro e Duda.
Gael volta, trazendo minha água, pegando todos nós
gargalhando como loucos, e balança a cabeça em negação, sem
entender, dando um sorriso involuntário.
O engraçado, é que ninguém estranha o fato de eu estar no
colo de Heitor, é como se fosse para ser assim, como se eles
achassem isso a coisa mais normal do mundo, e é.
É como se fosse para ser.
É assim que você encontra a cura para um coração perdido,
com pessoas que fazem você querer dar um amor inteiro e não pela
metade.

Duas horas depois, estamos todos em um embolado de


corpos, assistindo a Vingadores: Ultimato.
No chão, Duda está deitada com Pietro, Gael cochila na
poltrona, já que decidiu sair do sofá, eu estou com Heitor e Vince no
sofá, deitada entre suas pernas, enquanto Vince está entre as
minhas, recebendo um cafuné.
— Quero colocar um piercing — falo, e Heitor fica rígido
embaixo de mim.
— Você quer o quê, bambina? — Pietro se apoia em um
cotovelo e olha em minha direção com seus olhos claros e
divertidos.
— Colocar um piercing, como o de Duda — Ela levanta a
cabeça em minha direção e me dá um sorriso malicioso.
— Você tem que dizer qual lindinha, eu não tenho só um. —
Fico procurando em seu rosto para saber onde poderia ter outro,
mas Gael atrapalha minha inspeção ao se engasgar com
absolutamente nada.
Vince se senta no sofá, coçando o peitoral forte e lisinho,
enquanto Heitor oferece água a Gael.
— Onde mais você tem piercing? — Encaro minha melhor
amiga e ela acaba se sentando, jogando seus fios loiros para trás e
mirando seu jardim em mim.
— Tenho um no seio direito, tenho três na orelha e um no
umbigo. — Meus olhos arregalados a fazem sorrir.
— E não dói? O do peito — indago, enquanto Gah se recupera
do ataque de tosse que teve.
Eu imagino que deve doer, meus mamilos são super sensíveis,
quando eu estou naqueles dias, parecem que meus seios, com o
mínimo toque ficam duros.
— Quando eu fui colocar, sim, agora não, só quando está frio,
que ele fica parecendo uma lasca de gelo, mas não dói mais. —
Olho para onde seus seios estão e ela os encara também, puta
merda.
— Você quer colocar um piercing no seio, Manu? — a voz
rouca de Heitor, fala atrás de mim, e eu viro meus olhos arregalados
para ele, que tem suas esferas âmbares fixas e cheias de desejo.
Meu rosto cora furiosamente.
— NÃO! — respondo rápido. — É no umbigo. — Aponto para
baixo e me levanto do sofá, mostrando a barriga, e apontando para
a da Duda.
Enquanto isso, Thor esfrega a barriga do Rocket, coitado do
guaxinim.
Heitor encara minha barriga nua, e Vince e Pietro encaram a
Duda e a mim, como se estivessem pensando profundamente se
combinaria.
— E quando você decidiu isso? — meu chefinho questiona,
com uma sobrancelha arqueada.
— Agora. — Coloco as mãos na cintura, firme em minha
decisão e ele sorri, negando com a cabeça.
O coitado do Gah ainda está tentando recuperar o fôlego, mas
encara Duda com uma intensidade assustadora.
— Quando você quiser, nós vamos lá — o Mancini mais velho
fala e Vince concorda, como se eu estivesse pedindo permissão e
ele estivesse concedendo.
— Mas eu aconselho você a colocar um no seio, deve ficar
legal, eu tenho um no pau — Vince fala do nada, levando em
seguida um tapa na nuca de Heitor. — Ai stronzo! Para de me bater.
— Fica falando do seu pau na frente da Manuela, para você
ver — a voz de Heitor sai irritada, mas meu rosto está tão quente
que não tenho reação.
No pau? Como diabos colocar um piercing no pau?
— Você está falando sério? — indago curiosa, me
aproximando. Mas Heitor rosna alguma coisa e me puxa para o seu
colo, fazendo todo mundo gargalhar. — Ei, eu estou curiosa — falo,
sorrindo travessa e ele balança a cabeça, negando.
Pietro, Heitor e Gah se entreolham, como se tivessem em uma
conversa silenciosa e Duda encara Gah e Vince com a
concentração que coloca quando está montando um de seus
quebra-cabeças, eu só queria entender o que está acontecendo.
Um barulho de um celular tocando faz eco na sala que estava
silenciosa, e Vince olha a mensagem que chegou.
— Mamma chegou, quer que a gente vá buscar ela. — Vince
cutuca Pietro e ele se levanta. — Já vamos — Vince avisa e me dá
um beijo na bochecha e Pietro na outra.
Heitor simplesmente resmunga embaixo de mim um já vai
tarde para os dois e eles riem. A blusa que é bom, nenhum veste, se
forem assim buscar a mãe, tomara que levem uma surra.
— Já vou indo também. — Gah se levanta e se espreguiça no
meio da sala, vindo em minha direção e dando um beijo na testa de
Heitor e um na minha.
— Tchau para vocês — me despeço, mandando beijinhos, não
pedindo para nenhum ficar, porque minha amiga está bocejando, e
vou dormir com ela.
— Tchau, il mio fiore — Vince grita da porta.
— Tchau, gatinha — Pietro também grita de lá.
E depois, todos saem, deixando-me, com minha melhor amiga
e o homem que mora comigo.
Eu quero ser esse cara.
Eu quero beijar seus olhos.
Eu quero beber seu sorriso.
Eu quero sentir como se…
Como se minha alma estivesse em chamas.
( Shivers — Ed Sheeran)

Depois de deixar Eduarda em sua casa, no sábado de manhã,


antes de voltar para a casa, passo na doceria que Manuela compra
seus donuts que tanto gosta para levar uns para ela.
Quando voltei da minha corrida matinal, Eduarda estava
descendo as escadas para ir para sua casa, deixando Manu
dormindo no andar de cima. Como ela veio dormir aqui em casa
ontem, veio comigo e Manu, depois do expediente e emprestou o
carro para Luiz levar o carinha do TI para jantar. Isso fez ela ficar
sem ter um transporte para voltar para casa, então me ofereci para
deixá-la, e cá estou eu, entrando nesse ambiente que cheira a
açúcar.
A smurf, não é mais smurf, agora é um duende de fogo,
pequena e com os cabelos vermelhos e com mechas laranjas.
Vou em sua direção e ela sorri.
— Bom dia! Se eu adivinhar o que o senhor veio pedir, eu
ganho gorjeta? — pergunta, ciente do que quero, já que sempre
paramos aqui para Manu saciar seu vício.
Coloco a mão no bolso da calça de moletom, pegando minha
carteira e já buscando a gorjeta, que é óbvio que ela vai ganhar.
— Faça-me o favor. — Aponto para a vitrine de doces,
esperando a sua resposta.
— Quantos donuts? — Ela ri, mostrando seus dentes
alinhados.
Sorrio e faço um cinco com a mão esquerda. Ela pega uma
pequena caixa e vai organizando os donuts dentro.
— Coloca três de cobertura rosa, são os preferidos dela — falo
e o pica-pau fêmea dá outro sorriso.
Engraçado que todo mundo sorri quando eu falo da Manuela.
Principalmente eu.
Pago, junto com uma gorjeta generosa a mocinha e saio, indo
para casa.
Vinte minutos depois, estou entrando na cozinha só pra
encontrar a mimada em cima do balcão, com as perninhas
balançando para fora.
O pijama de panda não faz nada para esconder suas coxas
gostosas, a barriguinha lisa, e...
— Você não tem sutiã? — pergunto divertido, ao colocar a
caixa ao lado dela e encarar os biquinhos duros por baixo da blusa
curtinha.
— Tenho — ela fala, ao pegar a caixa e abrir. Sua voz está
rouca de sono e seu cabelo está amarrado em um coque em cima
da cabeça, deixando alguns cachos emoldurarem seu rosto. Os
óculos fazem presença, deixando-a com uma aparência tão
tentadora que eu respiro fundo.
É normal um coração bater tão rápido na presença de alguém?
Porque se não for, acho melhor eu ir no hospital, pois sempre que
estou perto dela, ele falta sair do peito.
— E por que não usa?
— Porque eu estou em casa e ninguém está te obrigando a
olhar. — Touché.
Sorrio para ela que me devolve o sorriso quando vê o que tem
na caixa, mesmo sabendo desde o começo o que era. Sua boca
mesmo assim, faz aquela curva deliciosa que melhora meu dia
100%.
— Sua mãe quer falar com você — agora piorou 30% só com
essa fala dela, e seus olhos me sondam divertidos. — Vince ligou
para aquele telefone fixo na parede da sala, imagina o susto que eu
levei quando vi que ele realmente funcionava. — Ela gargalha,
arrancando uma risada nervosa minha, enquanto faço o nosso café.
— Por falar nisso, queria sair hoje para comprar um celular para
mim. — Ela não espera o café ficar pronto e mete o dente no doce.
Balanço a cabeça em negação, em parte surpreso por
finalmente querer comprar um celular, em parte feliz por ela estar
aqui e em parte apavorado com o que Mamma quer conversar.
— Que horas? — Que seja na hora que Mamma me ligar,
assim terei uma desculpa.
— Não sei, acho que à tarde, quero aproveitar essa manhã
para fazer faxina — ela fala, mordendo outro pedaço de donuts e eu
levo o café para ela, entrando no meio das suas pernas que se
abrem automaticamente para mim.
— Por que não continuou dormindo? — pergunto, tomando um
gole de café.
Ela mira seu céu em mim, com recheio rosa no canto da boca,
o qual limpa com a língua, tão inocente, sem saber o efeito que esse
ato fez ao meu pau.
Decidi chutar o balde no momento em que provei o gosto de
Manuela, é impossível beijar essa garota e não querer fazer isso
pelo resto da vida. E eu quero mais, não só beijo, como corpo, como
afeto, como tudo dela.
Eu já tive o coração quebrado, eu não posso realizar o meu
maior sonho, eu só espero que isso não impeça Manuela de ficar
comigo, eu só espero que quando ela descobrir o que eu não posso
lhe dar, que ela não se ressinta, que ela não me deixe, que ela me
escolha mesmo assim, mesmo eu sendo um fodido de merda.
— Acordei com fome — justifica e mostra os dedos melados,
do doce que já foi garganta abaixo.
Apoio meu café na bancada, e pego seus dedos com cobertura
rosa.
Ela me encara desconfiada, mas relaxa os dedos e eu levo seu
polegar à boca, chupando a cobertura, escutando-a arfar.
Miro seus olhos intensamente ao colocar o indicador na boca,
me aproximando mais dela, que abre mais as pernas, receptiva.
Faço isso até limpar seus dedos e deixo um beijo na palma de
sua mão, lhe dirigindo um sorriso cheio de malícia.
Desde o momento em que a beijei, não tivemos mais nenhum
contato assim, pois ontem fomos trabalhar e quando chegamos,
meus fratelli chegaram logo em seguida, embora não tenha me
faltado vontade de chamá-la na minha sala, colocar ela em cima da
minha mesa e meter a boca no meio das suas pernas. Mas é
Manuela, e minha Manuela ficaria roxa de vergonha quando saísse
da sala e não saberia disfarçar para Luiz.
Olho seu rosto, que já está corado e a respiração ofegante, e
eu sei que tenho que ir com calma, mas é difícil resistir a boca
entreaberta dela e a língua lambendo o lábio inferior.
Minha mão vai em direção a sua nuca, e a outra se acomoda
na sua bunda, deixando claro o que eu quero fazer e ela se
aproxima mais de mim com um puxão que dou, deixando sua boca
na minha frente, e eu não perco tempo.
Sua boca é mais doce do que da primeira vez, mas isso só a
deixa mais deliciosa. Suas mãos agarram meu cabelo, puxando com
força, e eu aprofundo o beijo, procurando sua língua, e assim que a
acho, chupo, arrancando um gemido seu.
Manuela é doce, Manuela é inocente, mas eu não sou, e custa
tudo dentro de mim não fazer o que realmente quero.
Mas minhas mãos não têm controle e apertam com força a sua
bunda, trazendo seu corpo mais perto do meu, mais perto de
encontrar exatamente o efeito que ela causa em mim com um
simples beijo, quando uma de suas mãos descem para a minha
bunda e puxa de encontro a sua.
CAZZO!
Se algum dia encontrarem meu corpo jogado no chão da
minha casa, foi de um infarto que Manuela causou. Minha ragazza.
Atendo ao seu pedido, encostando meu membro mais duro do
que eu imaginei que poderia, na sua intimidade, coberta pelo pijama
de panda, enquanto minha língua e a sua se encontram em uma
dança deliciosa. Tudo é delicioso com ela.
Sua boca acompanha a minha perfeitamente, como se tivesse
sido feita para isso, diferente da primeira vez que mesmo sendo
maravilhoso, ainda senti alguma hesitação, mas agora só há fogo
puro.
Manuela tem gosto de paraíso.
Movimento meu quadril lentamente de encontro a sua boceta
coberta, arrancando gemidos meus e dela, que me acompanha no
movimento, buscando a mim, como se precisasse, como se
necessitasse.
Somos dois, mio doce, somos dois.
Quem precisa de café, quando se tem uma refeição dessa logo
cedo?
Me sacio dela, assim como ela sacia a fome de mim.
— Ah, ragazza, você ainda vai me matar do coração. — Afasto
minha boca agora para tomar fôlego o bastante para falar e ela
ainda ofegante responde.
— Do jeito que você já é velho, não precisa de muito esforço.
— Mas que abusada!
A beijo com mais fome, minhas duas mãos agora em sua
bunda, enquanto as dela percorrem meu corpo, conhecendo,
admirando, memorizando cada parte minha que todo mundo sabe
que pertencem a ela.
Sou todo seu, amore mio, todo seu.
Minha boca sai da sua, procurando fôlego, mas não consigo
ficar longe, beijo seu maxilar, descendo a língua por seu pescoço,
deixando um rastro de arrepio que a faz arquear o corpo, quase se
fundindo a mim, tamanha a intensidade que estamos grudados.
Deixo beijos molhados por seu maxilar, descendo mais, em direção
àquelas belezinhas que estão quase furando o tecido de tão duros.
— Que boca deliciosa, ragazza — murmuro, ao chegar no
limite, sabendo que se eu ultrapassar, estarei perdido.
— A sua é uma delícia também — ela murmura ofegante e
volto meus olhos para os seus, surpreso. Seu rosto está vermelho
de vergonha e de tesão, seus olhos baixos de desejo e seu quadril
se movimenta mais em direção ao meu.
Cazzo! Ela tinha que falar isso? A minha ragazza, tinha que se
tornar uma safada ao me beijar?
Caralho se ela não é perfeita.
Minhas bolas se contraem quando um gemido rouco sai da sua
boca, ao ter a minha mordendo um bico do seu seio por cima da
camisa. A vontade que eu tenho de levar isso para outro nível me
consome.
Eu e Manuela já tivemos tempo de nos conhecermos, já somos
um do outro, eu sei, ela sabe, o erro foi meu ao negar isso por tanto
tempo, mesmo sabendo que com uma palavra dela eu estaria de
joelhos. Ela me teve desde que eu a convidei para ir à casa de
meus pais, almoçar com minha família.
E ela é minha desde o momento em que aceitou. Só fui burro o
suficiente para negar isso, mas não me arrependo de ter esperado,
de ter conhecido quem ela é, o que ela se tornou para mim, por ter
ficado esse tempo mostrando quem eu sou para ela, para que
quando a gente decidisse se entregar a isso, estivéssemos os dois
certos do que seríamos.
Do que queríamos.
E tudo o que eu quero é ela.
Aperto sua bunda com força, soltando em seguida, para passar
as mãos na sua cintura, conhecendo o seu corpo, voltando minha
boca para a sua. A beijo com fome, enquanto uma mão sobe para
seu seio e o aperto por cima da blusa, assim como meu quadril
aperta o seu e minha boca chupa sua língua. Manuela geme alto e
quase gozo ao ouvir esse som.
— Manuela? — Beijo o canto da sua boca.
— Hum? — Mãos puxam o meu cabelo.
— Me diz o quanto eu vou gostar de provar seus seios? —
minha voz rouca e grave fala ao seu ouvido, causando outro arrepio
nela. Sorrio maliciosamente.
— Só vamos saber quando acontecer. — Encaro seus olhos, e
sua boca inchada e vermelha e ela sorri. A danada sorri.
Não tem visão mais linda que essa.
Logo minhas mãos estão subindo sua blusa, enquanto ela
levanta os braços para cima.
Assim que jogo a blusa em algum lugar pela cozinha e olho a
obra de arte que está à minha frente, minha boca seca.
Manuela, contrariando tudo que eu pensei, não se cobre, ela
não tem vergonha de quem é, nem de mim, e não deveria.
Ela é perfeita.
Seus seios redondos e durinhos cabem perfeitamente na
minha mão, que criou vida própria e os agarrou. Os mamilos
marrons avermelhados estão enrijecidos, pedindo atenção, mas
antes que eu os prove, a sua boca cobre a minha em um beijo que
me faz perguntar o que eu fiz da vida antes dela.
Meu coração aperta com um pensamento fugaz que tenta criar
raízes na minha cabeça.
Os ciúmes de quem viu ela primeiro do que eu, me corrói, mas
é comigo que ela está agora, essa visão é só minha.
Aperto um seio enquanto Manuela chupa minha língua e meu
pau se contorce pedindo atenção. Então me movimento de encontro
a ela, soltando sua boca e fazendo um caminho de beijos molhados
em direção ao que tanto quero provar agora.
Beijo a pele castanha, e dou mordidinhas na pele sensível do
seu pescoço.
Meus cabelos são quase arrancados da cabeça quando fecho
minha boca em um mamilo chupando com força, meus olhos se
fechando com o prazer que corre em meu corpo.
Cazzo! Faz tanto tempo que não faço isso, mas o fato de ser
Manuela me deixa ainda mais a ponto de gozar.
Minha língua passeia pelo bico duro e um gemido gostoso sai
da boca da minha ragazza. Minha mão esquerda se ocupa em dar
atenção ao outro, que aperto, sabendo que a marca da minha mão
vai ficar nela.
Sabendo que quando eu a foder, ela ficará toda marcada,
assim como ela está marcada em mim.
— Cazzo, amore mio, você está me deixando louco —
murmuro rouco, soprando seu mamilo, e olhando em seu rosto.
A cara de quem está perto de gozar. É essa a cara dela,
apenas com meu pau esfregando sua boceta e minha boca no seu
mamilo. Não aguento não a tocar. Preciso tocá-la, como preciso de
ar para respirar.
Dou atenção ao outro seio, puxando sua bunda em minha
direção, ouvindo hmms da sua boca, mas logo a minha engole seus
gemidos em um beijo faminto. Desço minha mão por sua barriga,
sabendo que se continuar me esfregando nela vou gozar como um
maldito adolescente e falo no seu ouvido, baixinho e grave.
— Me diz, Manuela, me diz que você me quer tanto quanto eu
te quero e que se eu te tocar aqui embaixo, você vai estar tão
necessitada quanto eu... — Minha mão cobre sua boceta inteira,
quente e gostosa que para o meu desprazer, está coberta.
Manu arqueja quando sente o contato e eu mordo o lóbulo da
sua orelha. Ela estremece.
— Quero, quero tudo Heitor, quero você inteiro — ela responde
ofegante e eu não perco tempo, minhas mãos logo descem pela sua
barriga e se infiltram na sua calcinha e CARALHO.
Manuela está encharcada, toda sua boceta está melada,
escorrendo.
— Dannazione, amore mio, è tutto per me? — falo rouco, ao
deslizar meus dedos em seus lábios e ela ofega, cravando suas
unhas em minhas costas. Se eu não estivesse de camiseta, as
meias luas sangrariam agora.
Ela gosta disso…
Minha respiração fica ofegante como se eu estivesse correndo
uma maratona e meus dedos encontram seu clitóris, já
movimentando ele.
— Continua falando italiano, isso é... Ahhhhhh… — Ela se
contorce em meus dedos, e geme alto quando eu mordisco seu
mamilo. Meu pau está quase furando a calça de moletom, mas não
é sobre mim, é sobre o prazer que consome Manuela, é sobre sua
respiração ofegante, suas bochechas coradas, sua boca
GOSTOSA.
É sobre ela, sempre sobre ela.
Ela se contorce ainda mais e eu dou o que ela quer. Enfio um
dedo devagar para dentro dela, e ela estremece, meu dedo não vai
muito longe porque ela é apertada pra caralho, mas a pressão que
faço em seu clitóris, ao fazer círculos deslizando facilmente pela
lubrificação, fazem ela explodir.
— Isso, deixa vir, amore mio, goza pra mim. — A boceta dela
pulsa, apertando meu dedo médio que entrou só um pouco, mas
isso faz com que minhas bolas decidam que é hora de gozar
também, pois é isso que eu faço. A visão dela ofegante, gozando e
satisfeita é a melhor visão do mundo, e meu pau concorda, pois tiro
a mão da sua boceta, esfregando meu pau ainda de roupa nela e
quando levo os dedos a boca, olhando para Manuela que ofega com
fogo nos olhos, eu gozo., revirando os olhos de prazer.
Gozo melando minha calça de moletom, molhando o tecido e
ela olha para baixo, sorrindo. Mas não consigo sorrir agora, não
quando chupo o gosto delicioso dela.
Cazzo. Encontrei meu novo vício.
— Parece que sou eu a pessoa que pode fazer alguém gozar
sem nem tirar a roupa. — Gargalho com a resposta atrevida dela e
puxo seu cabelo, tomando sua boca na minha, mostrando
exatamente porque eu gozei e qual é o gosto dela.
— Quando eu te foder, ragazza, diventerai dipendente da me,
proprio come io sono dipendente da te. — Ela me encara, seu rosto
ficando mais vermelho do que estava e eu sorrio malicioso.
Ah ragazza, você não sabe o que te espera.

O novo celular de Manuela é o foco principal dos seus


pensamentos nesse momento. Sentada no sofá da sala, vestida
com um vestido rodado de alcinhas azul, ela olha para a tela como
se tivesse o próprio globo de ouro.
— O que você tanto olha aí nesse celular? — resmungo,
estressado que ela não está me dando um pingo de atenção.
Depois de ter gozado nas calças como um adolescente, ela foi
tomar banho e eu segui para o meu quarto para fazer o mesmo,
quando pensei que poderíamos nos embolar na cama, com beijos e
amassos, pois eu nunca fiquei com tanta fome de alguém como eu
tô dela, ela quebrou minhas esperanças, me dando um pano com
desinfetante para limpar todos as superfícies dos móveis da casa,
enquanto ela tentava passar a vassoura no teto.
Não funcionou, já que não temos uma criatura de tamanho
normal, e sim um gnomo.
Mas quando eu fui falar isso, ela me obrigou a passar a
porcaria da vassoura no andar de cima e no de baixo, limpar os
móveis e ainda lavar a louça.
Eu pago alguém para fazer isso, mas ela não me deixou
chamar a mulher e ainda me deu um sermão sobre a preguiça.
— Tô baixando uns aplicativos, você tem conta no Spotify? —
Ela não me encara, só o maldito celular.
E daí que eu tô com ciúmes do celular?
— Tenho, tenho Netflix, Amazon Prime, Disney Plus, te dou a
senha depois, mas larga esse celular e vem aqui. — Pego o celular
e coloco em cima da mesa de centro, arrastando seu corpo para
cima do meu colo.
Agora sim.
Seus cachos fazem um volume macio e cheiroso, modelando
seu rosto lindo. Rosto que está com as sobrancelhas arqueadas, e
um sorriso travesso.
Manuela me fita divertida, enquanto eu tiro vários cachos que
caem cobrindo seus olhos.
— Eu estava ocupada — ela fala. Suas mãos se apoiando em
meus ombros.
Manuela tem um rosto tão jovem, ela tem apenas vinte dois
anos e a convivência me fez esquecer desse fato. Mas embora eu
tenha tentado, e tentado muito, o domínio que ela tem sobre mim é
mais forte do que eu e minha consciência. Mesmo eu sabendo que
sou doze anos mais velho, decidi deixar isso para trás. Meus fratelli
me apoiam, mesmo que nenhum saiba que eu já dei o primeiro
passo.
Manuela me quer e não nega, e mesmo que minha ética me
peça para não fazer merda, meu coração já tomou conta. O que ela
quiser, ela vai ter, porque é dela.
Mesmo que esse órgão que acelera em sua presença já tenha
sido partido anos atrás, ela está pegando cada caco e colando sem
nem saber que está me curando por dentro.
Mesmo que eu não possa dar algo que ela possa sonhar em
ter, mesmo que eu me odeie por isso. Mesmo que eu sonhe com
isso.
— Mas você pode fazer isso depois — murmuro, encarando-a,
enquanto ela passa os braços envolta do meu pescoço e eu os
meus, envolta da sua cintura.
Seu nariz faz um carinho no meu e eu quase ronrono.
Cazzo, eu sou muito carente.
— Também posso te beijar depois. — Ela sorri.
— Não, não pode, tenho que ter um beijo seu ao menos de
meia em meia hora, recomendações médicas. — Ela gargalha,
enquanto um sorriso feliz estampa meu rosto.
— Para quem não queria me beijar, você está pedindo até
demais. — Sua cabeça tomba para o lado, seu céu particular
analisando cada parte do meu rosto, curiosa.
Faço o mesmo com o seu, analisando seus olhos, suas
sobrancelhas, seu nariz, sua boca, tudo nela me fascina.
— É porque eu sabia que quando provasse seu gosto, não
conseguiria mais parar. Eu quero você toda hora, ragazza. — Ganho
um selinho por esse comentário. Tento aprofundar, mas ela puxa o
rosto para longe, provocadora.
— Não quero que você pare — ela fala, agora séria, e eu me
pego hipnotizado.
— Eu não quero parar — falo rouco.
E é verdade, eu não quero, não quero que ela saia da minha
casa, não quero que ela continue no quarto dela, não quero que ela
saia com ninguém, não quero parar de beijá-la.
Sabe o que eu quero?
Quero que ela durma na minha cama, quero ver ela acordar
com baba escorrendo da boca e os cabelos embolados, quero
chegar depois de um dia de trabalho com ela e trepar até a
exaustão no banheiro, na cama, no sofá. Quero sair todos os dias
para comprar os doces que ela tanto gosta, quero assistir a porcaria
do filme Como eu era antes de você todos os dias, mesmo já tendo
enjoado daquela merda, quero ser o motivo principal dos seus
sorrisos todos os dias.
Eu quero que ela seja minha. E quero ser dela.
O que isso diz sobre mim?
Não sei o que ela enxerga em meus olhos, mas o seus tem
tanta ternura que um nó se forma em minha garganta.
Esse foi o meu maior medo, eu sabia, sempre soube o que
aconteceria quando eu permitisse que ela entrasse, mas o medo
que me consome é o de perdê-la, eu morro de medo de deixá-la ir e
ela não voltar.
Eu gosto dela, mas é mais que isso.
Eu sou…
A boca dela toma a minha antes que eu consiga raciocinar os
meus sentimentos. Sua língua já está à procura da minha, doce e
faminta.
Mãos macias procuram a barra da minha camiseta, puxando
para cima e eu levanto os braços, descolando nossas bocas, e ela
joga em algum lugar da sala.
Pego a barra do vestido, puxando para cima, mas pedindo
autorização com os olhos, antes de realmente tirar. Ela assente,
com o rosto vermelho e a boca aberta, ofegante.
Tiro seu vestido, jogando em algum canto da sala, e encaro
seu corpo.
— Você é perfeita — murmuro rouco, ao pôr as mãos na sua
cintura nua, sentindo a pele macia e sedosa, encarando a calcinha
de renda preta, cobrindo aquele monte perfeito no meio das suas
pernas, e os seios descobertos. — Foi Vince que trouxe essa para
você? — Aponto para a calcinha, encostando no sofá.
— Foi. — Ela suspira, mas como hoje cedo, não se cobre,
apenas me encara curiosa.
— Me lembre de agradecer ao meu irmão, depois de quebrar
os dentes dele por dar isso para a minha ragazza. — Puxo sua
bunda gostosa, encaixando-a certinho em cima de onde eu mais
preciso e ela solta uma risada.
Essa risada faz um frio descer pela minha espinha e meu
coração dar um salto.
— Sua ragazza? — Ela tomba novamente a cabeça para o
lado, mesmo estando só de calcinha na minha frente.
Ela deve ter sido muito admirada por quem veio antes de mim,
ela tem uma confiança enorme na beleza de seu corpo e está
certíssima, ela é a coisa mais linda em que eu já botei os olhos. Mas
continuo ciumento com quem veio antes.
— Minha ragazza — concordo firme e ela sorri, com o rosto
vermelho e os olhos mais brilhantes do que em qualquer outro
momento.
Meu rosto vai automaticamente em direção ao seu, e ela me
recebe em sua boca, quente e desejosa. Minha língua invade sua
boca, procurando a sua língua, e quando a encontro, chupo,
arrancando um gemido dela.
Amo essa parte entregue dela, como ela não poupa gemidos, e
como eles são verdadeiros. Amo essa parte dela que não se
envergonha e busca o que quer, amo essa parte dela que não faz
joguinhos.
Ela se movimenta lentamente em cima de mim, buscando o
próprio prazer, enquanto suas mãos exploram meus ombros, meu
abdômen, o peitoral. Suas unhas arrancam sangue das minhas
costas quando eu chupo sua língua novamente, e aperto contra
mim.
Só existe eu e ela, só nós dois, e o fato de que se eu afastar a
calcinha dela de lado…
— AHHHH, O NENÉM, NÃO É NENÉM!
O pulo que Manu dá em cima de mim, pode se igualar ao pulo
que meu coração dá no peito com o susto que Vince me dá, ao
entrar em casa. O gritinho de susto dela quase me deixa surdo.
— CARALHO! Não sabe bater na porcaria da porta, não? —
Tento esconder Manu dos olhos dele, que não fez nenhum
movimento para se cobrir, mas bem atrás dele, vejo pela janela,
Mamma quase chegando à porta e meu corpo gela.
Vince é mais rápido que eu, já que o vestido de Manu estava
mais perto dele, e vem na minha direção, tirando ela do meu colo, e
fechando os olhos ao vestir o vestido nela, enquanto eu pego minha
camiseta e coloco uma almofada em cima do meu colo.
Manuela está com o rosto vermelho e ofegante, e assim que
está vestida, meu irmão dá um abraço nela apertado, me olhando
de olhos arregalados, quando dona Antonella entra.
Cazzo!
— COMO VOCÊ TEM A AUDÁCIA DE TRAZER ALGUÉM
PARA MORAR COM VOCÊ E NÃO ME DIZER, HEITOR DE LUCA
MANCINI? — o grito da invasora assusta tanto Manu, quanto eu,
mas no meu caso é diferente, eu estou apavorado ao olhar o rosto
vermelho da Mamma me fuzilando.
Sabe quando você esconde algo da mãe e sabe que ela sabe
e fica esperando você confessar, mas quando você não faz isso,
piora tudo?
— Mamma, pelo amor de Deus, eu posso...
— Eu não terminei! — sou interrompido de me explicar e olho
para a porta, vendo Gael e Pietro entrarem correndo e sem fôlego.
— A gente tentou, fratello, mas... — Gael tenta, mas com um
olhar de Mamma, ele se cala.
Meu olhar traído vai para Vince, mas ele apenas balança a
cabeça. E Pietro está com as mãos nos joelhos, tentando recuperar
o fôlego.
— Mãe... eu posso explicar — tento falar e ela me encara
furiosa, o que me faz me calar novamente.
Eu, um homem de trinta e quatro anos, CEO de uma das
maiores editoras do país, independente.
Estou aqui me explicando porque tem uma mulher na minha
casa para Mamma.
— Eu te dei uma boa educação, eu cuidei de vocês todos, e é
assim que vocês me retribuem? Não seguindo minhas regras...
— Eu sou um homem adulto!
— E eu sou a sua mãe, cazzo, você vai me respeitar! — me
calo novamente, porque ela está certa e eu sabia que essa merda ia
acontecer.
— O que foi que eu disse para vocês? Para não desonrar
ragazze, alheias, né? — Ela mira meus olhos e eu arregalo os
meus.
— Mas eu não...
— O que foi que eu fiz, Dio? Onde eu errei na criação destes
trastes, juro que disse para eles não fazerem isso com a filha dos
outros, para levar elas para o altar antes de levá-las para morar com
eles, mas eles me escutam? Não, nenhum destes infelizes me
escutam, eles querem é me enlouquecer, não conseguiram quando
eram crianças, então estão tentando agora. — Manuela está tão
assustada, que Vince faz um carinho nela e tenta acalmá-la,
enquanto isso, Mamma se joga no sofá e faz o drama dela.
— Mãe, eu não desonrei ninguém! — me defendo, já em pé e
com as mãos na cintura.
Meu pau duro foi para a casa do caralho.
Tô irritado para porra com essa porra.
— Não? Vai dizer que trouxe uma belezinha dessa para cá e
não... — Ela olha para Manuela e para mim e depois faz um gesto
estranho, que vai me dar pesadelos pelo resto da minha vida.
— NÃO, DONA — agora é Manuela quem grita, me olhando e
olhando Mamma.
— Não, querida? — nela, ela acredita? E em mim porra? Até
parece que eu ando desonrando a filha dos outros por aí, esse
trabalho eu deixo para Pietro. — Pois Vince, arrume as coisas dela
e Gael prepare o carro. — A louca da minha mãe se levanta,
deixando todos incrédulos e bate palmas, colocando meus fratelli
para correr. — Vamos, não tenho a noite toda e você Heitor, pegue
Manuela e leve ela para o meu carro, ela vai ficar na minha casa —
que porra?
— Como é que é? — Ainda estou tentando processar tudo que
ela disse, sem nenhum sucesso.
— Precisa de um tapa no pé do ouvido para destampar ele
também? — Ela me olha, e por um segundo, um brilho astuto se
passa nos seus olhos, me deixando incomodado. — Manuela vai
ficar comigo, tudo bem para você, ragazza? — Ela olha para
Manuela, que me olha em busca de ajuda, mas eu não posso fazer
nada.
— Eu acho que sim? — é mais uma pergunta do que uma
resposta e minha mãe deixa o drama de lado e sorri satisfeita.
— Você não pode simplesmente levar ela daqui — tento
argumentar, mesmo que seja tolice.
— Eu posso e eu vou, não faz bem para a reputação da garota
ficar sozinha aqui com você. — Ela está brincando, né?
— Em que ano você acha que nós estamos? — indago e
Pietro ri.
— Sabe que somos assim, não me estresse mais — Dona
Antonella fala, e eu sei, somos italianos tradicionais. — Além disso,
você pode visitar ela, afinal, de todos, você e Gael são os únicos
que foram embora — ela diz ressentida e aí está.
Ela quer que eu volte para casa desde que eu saí, e embora
eu saiba que ela respeita a tradição da nossa cultura, eu também
sei que ela está me manipulando.
A encaro, minha própria mãe e ela sorri.
Volto meus olhos para Manu, e ela está com os olhos tão
arregalados que eu acho que eles podem saltar para fora.
— Olha Mamma, podemos conversar? Onde está o papai? —
Por que aquele traidor não me avisou desse ataque?
— Mamma trancou ele no quarto, disse que a genética
mentirosa era herança dele — Vince responde e eu nem fico
surpreso. Quando Vince perdeu a virgindade, com duas gêmeas ao
mesmo tempo, Mamma deixou o papai em greve porque disse que
essa sem-vergonhice tinha vindo do lado dele da família. Só queria
saber como ela descobre as coisas.
— Mamma, Manuela não vai sair daqui — sou firme, coloco as
mãos na cintura e encaro a mulher elegante de cabelos prateados
na minha frente e ela imita minha pose. O problema é que a dela é
bem mais ameaçadora.
— Você está manchando a reputação da garota, e quer que eu
a deixe aqui? — ela dá um gritinho, com o rosto vermelho e eu me
encolho.
O rosto de Manuela agora está enfiado no pescoço de Vince e
seus ombros estão balançando. Ela está chorando? Olho o rosto de
Vince e ele está quase explodindo em uma risada. Eles estão rindo?
— Eu não estou…
— Então me diga que você nunca nem beijou essa menina. —
Ela arqueia a sobrancelha e meu rosto esquenta. — Não precisa
responder, já estou vendo no seu rosto.
Ela se joga no sofá novamente e balança a cabeça em
negação.
— Dona? Se a minha opinião importa, eu gostaria de continuar
aqui — minha ragazza fala e minha mãe a analisa.
Gael e Pietro estão no topo da escada do andar de cima só
rindo da minha cara.
— Tem certeza querida? — Manuela faz que sim, tirando um
peso enorme do meu coração, porque eu não quero que ela saia
daqui nunca mais.
Possessivo da minha parte? É, mas quem liga?
— O que eu faço, Dio? Se der permissão para um, os outros
vão seguir o exemplo e eu vou perder todo o respeito…
— Eu não vou levar nenhuma mulher para morar comigo. —
Vince estremece.
— Nem eu — Gah e Pietro respondem em uníssono do topo
da escada.
— Bambina, poderia pegar um copo de água para mim? Acho
que estou passando mal — Mamma fala, se abanando e Manuela
corre para a cozinha. Quase grito para ela não ir, mas quando eu
me dou conta do que está acontecendo, a mão de Mamma puxa
minha orelha e eu solto um grito mudo, enquanto meus fratelli se
encolhem. Eles sabem como essa porra dói.
— Escuta aqui, se eu souber que você está bagunçando com
ela, eu vou vender suas bolas para o circo fazer malabarismo, está
me entendendo? — rosna.
— Sim, Mamma, sim — murmuro.
— Tudo bem, leve ela ao casamento de Célia hoje. — Ela solta
minha orelha, e alisa o vestido, como se não tivesse feito nada
demais, enquanto eu esfrego minha orelha.
Ela se vira e vai em direção a porta, como se não tivesse feito
a porra de um escândalo e sai, chamando meus fratelli.
Encaro cada um com ressentimento e eles se encolhem.
Traidores, nem me ligaram para avisar.
Quando eles saem pela porta, Manu volta com a água e
encara a sala confusa.
Eu apenas balanço a cabeça e pergunto.
— Tem vestido de festa?
É tão maravilhoso e quente.
Me inspire.
Respire-me.
(Watermelon sugar — Harry Styles)

Você já pesquisou no dicionário o significado de loucura? Não? Então,


deixe eu te mostrar.
O significado dessa palavra é: Família Mancini.
Passei a maior parte da minha vida apenas com uma pessoa, minha
abuela, e nesse caso, nós éramos pessoas comuns, que viviam um dia de
cada vez, com uma rotina, sabendo exatamente o que ia acontecer no
decorrer dos dias, era só eu e ela, e nós éramos felizes, mesmo quando ela
estava doente.
Agora? A qualquer momento alguém dessa nova família pode entrar em
casa, me pegar nua e ainda fazer um escândalo.
A qualquer momento Vince pode entrar pela porta com uma mala de
roupas e pedir para eu experimentar todas elas para decidir que nenhuma
ficou boa e ir embora emburrado.
A qualquer hora, Pietro pode entrar no meu quarto, se jogar na minha
cama e falar sobre a família de uma tal de Célia e sobre a filha dela que faz
isso, faz aquilo, fica com não sei quem, deixando claro que ele sente algo por
ela, mas não faz nada a respeito.
A qualquer momento Gah pode entrar no quarto de Heitor, pegar um de
seus relógios na gaveta do guarda-roupa e pedir para eu ficar de bico
fechado.
E agora, sua mãe entrou e quase me fez parir de susto.
Surpresa é algo que muitas pessoas amam, mas só quando elas são
boas, não que eu não goste dessa nova rotina, mas é uma loucura. Você
nunca sabe o que esperar, nunca sabe se Gah vai estar emburrado por algo
que ninguém entende, nunca sabe se Vince vai ter que viajar para algum
desfile de moda mesmo que ele tenha prometido ficar com você o fim de
semana, você nunca sabe se quer matar ou beijar o fofoqueiro da família e
agora eu não sei o que eu tenho com o Mancini mais velho.
Eu nunca namorei, alguém tem que me explicar as regras, pois eu
posso até ter lido muito, mas isso não me ensina a como proceder com o que
nós temos.
A gente se beijou, depois se beijou de novo, depois fizemos coisas que
as santas da minha abuela devem estar amaldiçoando muito e depois
iríamos fazer de novo, mas fomos interrompidos.
Não sei o que estamos fazendo, estamos ficando? Somos exclusivos?
Ele não me pediu isso? Disse que eu tinha homem em casa e não precisava
buscar fora, mas ele não me prometeu nada, a gente só se pega e pronto.
Eu queria isso, mas agora eu quero mais. Posso só ter começado a
ficar com ele ultimamente, mas passamos meses nessa enrolação, sabendo
o que sentíamos, mas negando até a morte — no caso dele — a ficar juntos.
Eu não posso cobrar dele algo que não me prometeu, ele não está
namorando comigo, mas ele sabe que se ficar com outra, eu vou meter a
louca e ficar emburrada.
Mesmo sem ter esse direito, eu quero ter esse direito.
Mas se ele foi lerdo para tomar uma atitude, imagina para assumir um
relacionamento comigo? Talvez ele nem queira, talvez só queira brincar,
como Duda, ela brinca direto. Vince também é o maior vagabundo, assim
como Pietro, eles fazem mais sexo que coelhos, e eu sei porque eles deixam
eu mexer no celular deles e eu sempre fuxico o whats. Pior coisa, viu, já vi
uns peitinhos por ali.
Então, eu não posso pedir algo que ele pode não estar pronto para me
dar.
E isso é desconcertante.
Desço as escadas, com um salto firme que eu não estou acostumada a
usar, mas que calça tão bem que tenho certeza que não vou cair, e usando
um vestido vermelho sangue, que deixa os ombros descobertos, com um
decote acentuado, a cintura estreita e a saia colada também, até pouco
abaixo da bunda, depois vai soltando e deixando uma fenda lateral.
Vince me mandou ele depois que saiu daqui, como um pedido de
desculpas pela explosão da mãe. O vestido caiu como uma luva, modelou
meu corpo perfeitamente e eu me senti a própria Zendaya, um ícone. Meus
cabelos estão presos em um coque com cachos soltos bem bonitos, e minha
maquiagem é leve, com batom obviamente vermelho. Vermelho combina
muito com a minha pele e é minha cor favorita também.
Óbvio que Duda veio me ajudar a me arrumar para o casamento que eu
nem sabia que tinha que ir, mas aqui estou, chegando na sala e encontrando
uma visão maravilhosa.
Heitor veste um smoking preto e sob medida, que deixa claro os
músculos que tem por baixo, músculos que eu admirei muito bem com nossa
convivência e que eu explorei com minhas mãos.
Ele está deslumbrante e me encara como se estivesse vendo uma
miragem.
Não tive muita escolha de ir ou não nesse casamento, ele até disse que
eu tinha, porém, o pavor que a mãe dele me causou, me fez me arrumar e
não enfrentar a ira daquela mulher. Ela é um doce, mas se não fizer o que
ela manda...
— Dio, come puoi essere così bella? — ele murmura, falando mais com
ele do que comigo e desfilo em sua direção.
Heitor é um homem sério, CEO, com mais de trinta anos, e é o homem
mais lindo que eu já vi, pode ter qualquer mulher que quiser, mas ele me
trata como se eu fosse a única que importasse e a mais linda de todas, tem
como não se iludir com isso?
— Eu acho lindo quando você fala italiano, mas sabe que eu não
entendo nada, não é? — Ele sorri, estendendo a mão que eu pego.
O toque faz uma corrente elétrica fantasma disparar em meu corpo e
me pergunto se é normal eu querer tanto alguém, como eu o quero.
Meus crushes literários que lutem.
— Essa é a parte divertida, se eu te xingar você não vai brigar comigo.
— Solto uma risada e ele respira fundo.
Eu brigo sim, chefinho, só por birra.
Minha abuela dizia que no dia que eu me apaixonasse, seria pelo
homem da minha vida, pois isso é o que acontece com as pessoas da nossa
família, ela só se apaixonou uma vez e se casou com meu avô, minha mãe
seguiu o mesmo exemplo, assim como meu pai. Eles só se apaixonaram
uma vez.
Isso me faz pensar em mim, me faz pensar no fato de eu não querer ir
embora, me faz pensar no frio na barriga que eu sinto todas as vezes que eu
chego perto de Heitor, me faz pensar na saudade que me preenche só em
pensar em ficar longe dele.
Me faz questionar se o que eu sinto é o mesmo que minha mãe e minha
abuela sentiam. Será que é?
— Com quem você está conversando? — a voz profunda dele me traz
de volta dos meus pensamentos e ele puxa minha mão, de encontro ao seu
peito e me beija na bochecha.
Encaro seus olhos castanhos e intensos e ele me analisa de cima a
baixo.
— Com meus pensamentos — respondo.
— E eles estão pedindo para você me dar um beijo?
Rio novamente, levando a mão aos óculos, mas lembrando que não
estou usando, e abaixo.
Ele continua me analisando e engole em seco.
— Você está esplêndida — ele murmura pertinho de mim, e um
sentimento que eu não consigo identificar se passa nos seus olhos.
Minhas bochechas esquentam com esse elogio e eu miro o chão, com a
intensidade que seu olhar tem sobre mim.
— Você está lindo, também — elogio e seus dedos tocam meu queixo,
virando meu rosto ao seu, e um selinho é depositado na minha boca.
Se ele tivesse me beijado nós teríamos uma briga, porque Duda ficou
horas me maquiando.
Prioridades.
— Vamos? — Ele me oferece o braço e o frio na barriga se faz
presente, mas esse é de ansiedade pelo casamento.
— É o jeito, né? — falo e ele solta uma risada rouca.
Ah, Heitor..., o que você está fazendo comigo?

O salão de festas onde ocorrerá a cerimônia de casamento da tal Célia


é enorme.
Fica pertinho da editora, então o bairro não é desconhecido, mas o
lugar parece um salão de baile, e acredito que seja.
Entramos no salão coberto de flores de diversos estilos, com o teto
abobadado, passando por um tapete vermelho como se eu estivesse no
Oscar e indo em direção às fileiras da frente para o meu completo espanto.
Todo o lugar é ornamentado em cores brancas e com detalhes
pequenos em vermelho, como as flores e o tapete, mas é tão elegante que
eu fico encarando a maioria das coisas, e Heitor tem que me puxar para que
eu ande, de tão deslumbrada que estou.
As pessoas à nossa volta cochicham, encarando Heitor e ele fica rígido
ao meu lado, e quando tento perguntar o quê, ele murmura baixinho no meu
ouvido.
— Eles estão falando sobre o galho que enfeita a minha cabeça. — E
volta a olhar para a frente, com uma mão na minha cintura, nos levando onde
sua família está.
Fico calada, pois isso não é assunto meu, mas uma raiva me bate por
essas pessoas estarem julgando meu Heitor por algo que ele não teve culpa.
Porém, minha atenção é desviada para a porta que está aberta e dá
para um jardim aos fundos, mostrando onde exatamente vai ser a
comemoração e o jantar. Eu espero que tenha jantar, porque eu não comi
com essa esperança.
Essa mulher deve ter muito dinheiro, porque se bancar um casamento
já é pesado, imagina bancar mais de dez? Espero que sejam os noivos,
porque se for ela, a coitada está lascada.
Tomara que esse dê certo também, e caso não dê, vou chamar ela para
fazer uma vaquinha
Sororidade.
Chegamos a segunda fileira de bancos de vidro que devem custar mais
que minha vida, e que eu não vou encostar minha bunda para não correr o
risco de quebrar e imitar as mulheres mijando em banheiro público,
encontrando dona Antonella, Seu Enrico, e os três irmãos Mancini que
sorriem largamente para mim.
— Com’è bella! — A matriarca arregala os olhos e sorri, abrindo os
braços, o qual eu retribuo, dando um abraço, porque essa mulher me põe
medo. — Não é, Enrico, não está lindíssima? — Vira os olhos para o marido
que encara Heitor como se fosse escalpelar o couro dele, fazendo meu
chefinho sorrir, mas ele move seus olhos para mim quando escuta a voz da
esposa e sorri, suavizando a expressão.
— Belíssima — ele elogia e me puxa para um abraço.
É até engraçado, já que o braço de Heitor continua à minha volta.
— Figliolo, è anche molto bello. — Dona Antonella aperta as bochechas
de Heitor que sorri forçado, respondendo na língua deles e eu encaro essa
família linda.
Os pais, ambos com cabelos completamente brancos, esbanjam
elegância, na postura, nas roupas e na fala, dona Antonella está linda em um
vestido azul, que cai perfeitamente em seu corpo. Ela é alta, e esguia, e o
vestido tem uma camada de tecido brilhoso por cima e sobe até o pescoço,
onde tem um decote trançado, ela é linda demais.
Já os homens dessa família, parecem dignos de capa de revista.
Gah está em um terno sob medida azul marinho, com a camisa branca,
o cabelo bem penteado e uma gravata do tom do vestido da mãe.
Pietro está igual ao pai, os dois de terno preto, com gravatas também
da cor do vestido da matriarca e Vince está com um terno de um tom salmão,
o deixando deslumbrante, mas não usa gravata, assim como Heitor.
Encaro essa família e não tem como meu peito não apertar com o fato
de eu não ter uma minha. São todos tão parecidos, os irmãos principalmente,
e dividem um laço de sangue que os une acima de tudo.
Eu quero isso, quero alguém para chamar de meu, que divida o meu
sangue, porque eu já perdi todos aqueles que compartilhavam o meu DNA, e
vou ter, algum dia eu vou.
— A senhora está lindíssima também, assim como seu marido e seus
filhos — falo para a senhora que mais parece uma modelo ambulante e ela
brilha como um vagalume.
— Isso é o que dá, ter um filho estilista — ela se gaba, apontando para
o filho que segura a vontade de revirar os olhos.
— Vai começar, a gente pode se sentar? — Heitor pergunta, apontando
o banco e me empurrando gentilmente em direção a ele quando uma música
começa a tocar e eu fico estática. Heitor busca algo em meu rosto e franze o
cenho ao não saber porque estou parada e não me mexendo. — O que foi?
— ele sussurra, com todos da sua família se sentando.
— Heitor, esse banco é de vidro, se quebrar, é daqui para o caixão —
murmuro temerosa, evitando tudo que possa me fazer lembrar que minha
vida é curta e ele me encara.
— Você está com medo de quebrar? — ele pergunta.
— É óbvio — resmungo e ele franze o cenho.
Pode ser bobo, mas é verdade, eu estou me tremendo, o banco é de
vidro, e mesmo que eu saiba que há uma possibilidade mínima de quebrar,
eu ainda tenho medo.
— Tudo bem, então — ele se senta, me deixando confusa e depois,
contrariando tudo que eu imaginei, e fazendo meu coração quase pular para
fora do peito, me puxa para sentar no seu colo.
— Heitor, que merda é essa? — sussurro com o rosto quente, olhando
de um lado para o outro, vendo os bandidos escondendo os sorrisos e isso
inclui seu Enrico e dona Antonella e encaro os olhos do chefinho.
— Você disse que estava com medo de quebrar, mas eu estou embaixo
de você, se quebrar, eu te protejo — ele murmura, me encarando sério, seus
olhos intensos sobre meu rosto, e juro que a única música que eu estou
escutando é a canção que meus divertidamente estão cantando.
Sinto um nó se formar em minha garganta, ao encarar o homem que se
preocupa até com meus medos imaginários e tenta me fazer sentir melhor,
que tenho certeza que aquilo que minha avó disse já está acontecendo, pois
se não aconteceu antes, esse momento com certeza deixou tudo claro.
Acho que chegou minha vez, abuela…
Heitor me rouba um selinho, e depois encara a mãe com um sorriso
dissimulado, ela apenas sorri para mim que quero me esconder em qualquer
buraco, mas o seu sorriso é tão gentil que eu não consigo deixar de retribuir.
Me acomodo, mesmo sentindo olhares em mim, mas não ligo, apenas
espero a celebração começar.

Célia é uma mulher extraordinária.


Depois da cerimônia linda que teve, ela trocou o vestido modelo sereia
que usou para se casar, por um de um modelo mais curto, para rodar pela
festa. Ela passa por todas as mesas, às vezes dançando com alguns
homens que a convidam, rindo como se não houvesse amanhã e distribuindo
carisma por onde passa, e agora, ela vem em direção a mesa que eu estou
com a família Mancini, sem Vince e Gah, pois eles estão no bar improvisado
que tem, dando em cima de umas meninas.
Coitadas.
Ela é uma mulher de mais de cinquenta anos, com o corpo bem
parecido com o da mãe de Heitor, e os cabelos são de um castanho mel, que
com certeza são pintados e os olhos são de um verde claro.
— Ella, querida, você está belíssima! — exclama, encantada com
Antonella e elas se abraçam rindo.
— Amiga, você roubou a atenção hoje com seu vestido feito pelo meu
bambino! — Isso, enche mais o ego dele, se acha pouco já.
Mas é merecido, eu faço a mesma coisa.
Atrás de Célia, uma morena de quadris largos, curvilínea, com lábios
fartos e um olhar extremamente sensual se aproxima. No mesmo momento,
Pietro se endireita imperceptivelmente e finge um olhar desinteressado no
prato de comida.
O meu eu já acabei há uma hora atrás.
A moça bonita desvia o olhar rapidamente para Pietro, com algo
passando em seus olhos e mesmo querendo evitar, os olhos de Pietro se
erguem até os dela. Enquanto Heitor traça círculos no meu ombro, e
Antonella conversa com sua amiga, Pietro trava um duelo com a garota e fico
imaginando quem vai desviar primeiro.
E ela o faz, fingindo que ele nem existe, e um olhar magoado cobre o
rosto do meu fofoqueiro.
— Eles namoraram por dois anos — Heitor sussurra no meu ouvido,
fazendo um calafrio descer pela minha espinha e continua — ela é a filha
mais velha da Célia — explica.
Ah. Ah.
Então é essa a menina que Pietro sempre que tem a oportunidade
enche meu saco falando sobre? Falando que o cara que ela está não é certo,
falando que ela beijou não sei quem…, ele só está magoado…
O que houve com vocês, meu neném? Penso ao ver Pietro desviar os
olhos para o celular que pegou no bolso.
— Por que eles terminaram? — sussurro, voltando os olhos para o meu
chefinho e ele balança a cabeça em negação.
— Ninguém sabe. — Ele deposita um beijo no meu nariz.
— Heitor, Ragazzo! Como você está? — a voz da noiva se eleva,
chamando nossa atenção e Heitor se levanta para abraçar a mulher.
— Estou ótimo, parabéns pelo casamento, querida. — Ele beija seu
rosto e ela semicerra os olhos, balançando a cabeça em negação.
— No meu jantar de noivado não apareceu, posso saber por quê? —
Ela o solta do abraço e coloca a mão na cintura em uma pose muito parecida
com a de Antonella mais cedo.
Heitor coça a nuca e vira o rosto à minha procura, sorrindo
embaraçado. Franzo o cenho quando ele aponta para mim.
— Culpa dela, tomou conta dos meus pensamentos e eu não lembrei do
seu jantar. — Os olhos de águia da mulher se fixam em mim, me analisando
de cima a baixo, enquanto meu rosto cora de vergonha e meu coração pula
com a possibilidade de ser verdade o seu comentário.
— E quem é você, ragazza? — ela pergunta, sua filha agora está
falando com Antonella, e a matriarca Mancini elogia o seu vestido, que tem
uma fenda na perna, deixando à mostra para o olhar de Pietro.
— Manuela — respondo, lançando um olhar de esguelha para o
bandido que me colocou sob a mira dela.
— E você tem ocupado os pensamentos de Heitor, como? — Seus
olhos se enchem de divertimento, e ela lança um sorriso malicioso para
Heitor.
— Eu nem sabia que estava fazendo isso.
Heitor levanta as sobrancelhas, olhando em minha direção e tomba a
cabeça para o lado.
— Você está sempre em meus pensamentos, mesmo quando eu
implorava para minha mente um descanso — ele diz.
As borboletas que habitam em meu estômago, estão batendo as
asinhas delas agora.
Ele precisa falar essas coisas?
— Ah, o clima do casamento... — Dona Antonella fala, suspirando feliz
e se senta novamente.
Uma música romântica começa a tocar e as luzes baixam.
— Ah, a gente conversa mais depois, está na hora da minha dança —
Célia vibra e dá um tchauzinho ao sair quase pulando em direção ao meio do
jardim que se abriu e agora se transformou em uma pista de dança.
— Foi um prazer ver você, querida, mas já vou indo — a menina fala
para Antonella, e me encara rapidamente, me lançando uma piscadela e
saindo, rebolando os quadris. Escuto Pietro respirando fundo e quando o
encaro, ele tem os olhos fixos na bunda da garota, e ele morde os lábios me
fazendo sorrir tristemente.
Ele ainda a quer, é óbvio, mas parece que ela não. O que você fez,
príncipe?
Antes que Heitor possa sentar novamente, agarro sua mão e me
levanto.
— Pode me levar a algum banheiro? — questiono, e ele segura minha
mão, me puxando em direção ao salão de cerimônia novamente, avisando
que já volta.
Entramos em um corredor lateral que tem uma porta no fim do corredor
e Heitor fica na porta me esperando.
Não quero fazer xixi, quero apenas tirar algo que está me incomodando
no seio direito.
O banheiro é amplo, com paredes brancas, uma cabine que fica o vaso
sanitário e um espelho enorme. Baixo o decote, liberando meus seios ao ar
livre e vejo o que tanto me incomoda.
É uma cordinha que segura a etiqueta, que eu tirei o papel e esqueci de
tirá-la.
Puxo a cordinha, mas ela é dura. Até essas merdas são de qualidade
na marca de Vince. Olho ao meu redor, buscando algo que possa cortar, mas
não encontro. O dente até seria uma opção, mas o que restou do batom
vermelho depois da janta pode manchar. Penso no que fazer, e decido limpar
o batom que sobrou. Vou em direção a pia, pegando um pouco de sabão
líquido e passando na boca, mesmo não sendo o recomendável, a gente
trabalha com o que tem e pego água, limpando em busca de tirar o batom,
conseguindo tirar o que sobrou. Meus seios balançam com o movimento.
A porta é aberta abruptamente me dando um susto e Heitor entra,
fechando em seguida e se encostando nela. No susto, me virei
completamente para ele, e assim que seus olhos se fixam em mim, ele os
arregala. Assim como eu.
— O que foi? — pergunto, com a mão no coração, puxando o vestido
para me cobrir.
— Eu..., por que você estava com os peitos de fora? — fala com a voz
rouca, o olhar perdido e extremamente confuso.
— Tem algo me incomodando, mas por que você invadiu o banheiro? —
pergunto novamente, já me estressando.
Ele bagunça os cabelos e respira fundo.
— Eu vi o pai da Vanessa lá fora..., mas o que está incomodando você?
— Agora pronto!
— Uma cordinha da etiqueta que eu esqueci de tirar, mas o pai dela
estava vindo falar com você? — E por que ele está se escondendo dele?
Que falta de educação.
Puxo o vestido, agora cobrindo tudo e me viro para o espelho
novamente.
— Não, não estava, mas eu não quero falar com ele, onde está a
cordinha? — Mesmo encarando seu reflexo, a sua presença atrás de mim
me faz estremecer.
Será sempre assim?
— Você não consegue prestar atenção só no que eu estou
perguntando, não? — indago, nervosa.
Heitor tem que aprender que não se pode chegar por trás de alguém
assim, a pessoa pode ter um ataque.
Ele não me responde, apenas pega minhas mãos que estão segurando
a frente do vestido e as apoia na pia. Sua respiração atinge o meu pescoço
um minuto depois, mas ele não beija, só assopra, e isso é o suficiente para
fazer minhas costas arquearem, encostando minha bunda nele. Em algo
específico e duro dele.
Prendo a respiração.
— Seus seios tiraram completamente a minha atenção, querida — ele
murmura rouco, levando suas mãos até a frente do meu vestido e puxando o
decote para baixo, libertando novamente ao ar livre. Diferente de antes,
agora com sua respiração pesada na minha orelha, os bicos dos meus seios
estão enrijecidos e bem mais pesados. É incrível que esse homem tenha
ficado tanto tempo sem me tocar, já que agora não consegue ficar com as
mãos longe. E eu nem posso reclamar, eu teria suas mãos no meu corpo
toda hora se pudesse.
Todas essas sensações novas que tomam conta do meu corpo e do
meu coração deveriam me assustar, mas o fato de ser com ele, deixa tudo
mais simples e intenso ao mesmo tempo. Isso não me assusta, o que me
assusta é o fato de eu me entregar tão completamente a ele quando suas
mãos estão em mim. É como se eu não tivesse controle sobre o meu corpo e
o fato de eu não ter experiência nenhuma fora a nossa, deveria me deixar
envergonhada por estar com alguém mais experiente, mas não consigo, é
como se eu fosse feita para ser dele, para ser tocada por ele, para ser
beijada por ele...
Não existe confusão quando o nome dele está no meio, é simples, é
para ser. Me assusta a ideia de isso não ir para a frente e eu ficar sem ele.
— Com eles de fora, duvido que sua atenção retorne a conversa — falo,
rouca. Sorrindo para o reflexo do homem divino atrás de mim e ele me
devolve o sorriso, mas seus olhos se focam em meus bicos túrgidos
novamente.
— Pode me culpar? Você mesmo está vendo como eles são bonitos e
apetitosos. — Um beijo é depositado no vão do meu pescoço e meu corpo
arrepia com o contato.
A respiração sai ainda mais pesada dele quando beija meu ombro, sem
tirar os olhos de mim. O sentimento mais presente em seu olhar é o desejo,
mas há ternura, e veneração. Ele venera meu corpo com o olhar, como se
estivesse em frente a uma obra de arte. É por esse olhar que nós mulheres
procuramos, ninguém nunca entende porque temos crushes literários, mas é
por isso, por essa veneração, por esse carinho, por buscar se sentir única.
Pode ser difícil encontrar alguém assim, mas eu encontrei, e ele tem mais de
um metro e noventa, olhos castanhos e trinta e quatro anos. É impossível
não sorrir com isso.
As mãos dele percorrem meu corpo, passando pela cintura, indo em
direção ao que tanto admira e assim que os acha, eu ofego.
— Pensei que queria saber o que me incomodava para tirar a cordinha
— falo, ofegante. Meu coração já está saltando no peito, me deixando sem
controle algum sobre meu corpo.
— Mas não é só a cordinha que está te incomodando, amore mio, tem
outras coisas também. — Suas mãos apertam meus seios e os dedos
começam a dar um carinho aos biquinhos que imploram pela sua boca.
Eu sabia que meus mamilos eram sensíveis, mas no dia que eles
experimentaram o calor da boca dele, eu quase gozei. Porém, eu sabia que
homens podem gozar também sendo levados ao seu limite, e Heitor é o tipo
de homem que sente prazer em ver a parceira sentindo, eu sabia que ele
poderia vir comigo, por isso aguentei.
Eu gostaria de oferecer tudo a ele, todo o prazer que me proporcionou
ontem... suas mãos...
Meu corpo estremece ao lembrar de onde exatamente seus dedos
acharam caminho e qual o meu gosto na sua boca.
— O que mais me incomoda? — pergunto, tombando a cabeça para o
outro lado, deixando o acesso livre para a sua boca, enquanto suas mãos
ainda trabalham.
— Seus seios, eles precisam de um carinho, ragazza, eles estão
pesando, não estão? — Morde o lóbulo da minha orelha ao sussurrar com a
voz grave. Eu não aguento essa miríade de sensações.
Meu coração está acelerado.
Minha respiração está ofegante.
Estou com um frio gostoso na barriga.
Meu ventre está comichando e lá embaixo lateja.
— Estão — respondo completamente entregue, sabendo que só ele
pode me fazer relaxar.
— Sim, estão, precisam das minhas mãos e da minha boca. — Ele fixa
seus olhos nos meus e eu não conseguiria desviar o olhar nem se minha
vida dependesse disso.
Sua boca está curvada em um sorriso malicioso, seus olhos brilhando
com luxúria, o deixando incrivelmente sexy.
Murmuro algo ininteligível quando ele leva o polegar até a boca e
depois volta ao meu mamilo direito. O contato gelado e o aperto que ele dá
faz minha respiração travar na garganta.
— Você está com tesão, amor? — Uma mão desce para a minha
barriga, traçando círculos em cima do meu ventre, e outro beijo é depositado
no meu pescoço me fazendo arquejar. — Não precisa responder, eu sei que
está..., a recíproca é verdadeira.
Seu quadril prensa o meu na pia e minhas unhas quase perfuram o
granito ao sentir todo o seu desejo.
Um desejo bem grande e duro.
Eu daria tudo para tocá-lo agora.
— Você sabe que estamos em um casamento, né?
— Sei? — Ele balança a cabeça em negação, abaixando a mão
apoiada em minha barriga, encaixando em cima da minha intimidade. Ele é
direto ao ponto... gosto disso. — Sabe o que eu sei? — pergunta, ao respirar
mais rapidamente e apertar meu seio. Nego com a cabeça, sem conseguir
falar, só sentir. — Eu sei que você está molhada agora, mas, o que eu não
sei, é o quanto... o quanto você está molhada para mim, Manuela?
Esse jogo de luxúria que ele está fazendo, vai fazer de nós dois
perdedores ou ganhadores.
— Me responde, ragazza, o quanto? — mesmo ofegante, eu respondo.
— O bastante para escorrer pelas minhas pernas... — Viro meu rosto
para o seu, encarando suas pupilas dilatadas e os dentes massacrando os
lábios... não sou a única afetada aqui, e o fato de ele ter mais experiência e
estar desconcertado assim, me faz ficar mais confiante ao falar. —
Literalmente, já que eu não estou usando calcinha.
Suas pupilas cobrem toda a íris agora quando ele olha para baixo como
se conseguisse ver por baixo do vestido e depois olha para mim angustiado,
respirando rápido.
— Isso é sério? — pergunta, mas não tenho tempo de responder,
porque sua boca toma a minha em um beijo faminto e selvagem, sua língua
procurando a minha, quando me vira completamente de frente para ele e
com as mãos em minha cintura, me coloca em cima da pia.
Meus braços se movem em direção ao seu pescoço e agarro seus
cabelos.
Sinto como se tudo ao redor sumisse. O casamento, a noiva, os
irmãos..., só existe eu e ele, e nossos corpos necessitando de algo que eu
nunca fiz.
E não é medo o que me consome, é ânsia.
As mãos de Heitor se infiltram na fenda do meu vestido, encontrando a
minha coxa nua e subindo mais.
Sua boca devora a minha e ele aperta minhas coxas, antes de procurar
a resposta para a pergunta que me fez. Ele não vai em direção ao meu ponto
mais sensível, ele vai em direção ao meu quadril, subindo por dentro do
vestido, buscando, mas quando não acha, ele larga minha boca, deixando
nós dois ofegantes em busca de ar e me encara.
— Você quer me deixar louco? — rosna, puxando meu quadril mais
para a borda da mesa e mordendo meu lábio inferior em seguida.
— Não dava para esconder a marca da calcinha, então tive que vir sem
e eu não imaginava que você ia me fazer ficar molhada — murmuro sincera
e ele balança a cabeça em negação, passando a língua nos lábios.
Seus olhos desejosos fitam os meus, buscando algo, e logo um sorriso
malicioso se abre em seu rosto. Eu sei que o que ele falar agora não vai ser
nada decente, mas não é como se eu não gostasse.
— Você não pode voltar para a festa assim, querida. — Morde meu
lábio novamente, depois vai descendo e deixando beijos molhados no meu
pescoço, e chegando aos meus seios necessitados. Sua boca se fecha em
um mamilo, chupando e lambendo, mas não demora muito nele, logo passa
para o outro, aumentando a pressão em meu ventre e a palpitação no meio
das minhas pernas. Já falei que eles são sensíveis. — Preciso te limpar
antes de voltarmos. — Sopra contra a pele exposta e eu arquejo.
Ele vai...?
Ah sim, ele vai.
Meu vestido é levantado, me deixando completamente exposta ao seu
olhar faminto e ele se ajoelha.
A pia me deixa na posição perfeita para a sua boca que fica alinhada ao
meu centro, e minha respiração que já estava ofegante, movimenta meus
seios rapidamente quando eu o encaro.
Seus olhos estão fixos no meio das minhas pernas, e embora agora, um
pouco de vergonha me cubra, não sinto vontade de me esconder, eu quero
que ele me veja. E ele o faz, e parece gostar do que vê, porque respira fundo
e sorri.
— Você é mais perfeita do que eu imaginei que seria..., e sobre você
estar molhada..., cazzo, Manuela, você está escorrendo e brilhando para
mim. — Ele traz o rosto, se aproximando e aspirando o meu cheiro e quando
fala, o ar que me encontra me faz tombar a cabeça para trás em prazer. —
Cheirosa..., será que é doce também?
Um gemido baixo escapa.
Isso é novo, em nenhuma das vezes que me excitei lendo alguma cena
imprópria, as sensações chegavam perto do que estou sentindo agora.
Minha intimidade se fecha, e um vazio me faz querer mais. Eu estou
escorrendo de desejo por ele e ele me dá o que eu quero, quando volto
meus olhos para os seus.
Suas esferas, com pupilas dilatadas se fixam no meu rosto e ao
primeiro toque da sua língua eu incendeio. E não é o fogo ruim que quase
me matou, mas um diferente.
Esse fogo que me consome quando sua língua lambe minha excitação
da entrada ao clitóris, me faz sentir viva.
Um gemido gutural sai da sua boca, assim como um gemido rouco sai
da minha.
— Cazzo, amore mio, seu gosto é melhor do que doce. — Seus olhos
focam completamente o que está na sua frente brilhando e ele me chupa.
Seus dedos entram para a festa, me abrindo para ele quando ele me
beija demoradamente com a boca molhada, chupando meus grandes lábios
e gemendo como se estivesse saboreando a coisa mais gostosa da vida.
Meu coração acelera e fica difícil respirar quando encontra o ponto que
implora por atenção.
Sua língua fica mais rígida, ao circular meu clitóris, e depois, ele
começa um movimento mais rápido, levando um dedo à minha entrada.
Ontem eu ainda fiquei meio tensa por ele fazer isso, nunca introduzi
nada ali, e ele o fez, e foi gostoso, ter seus dedos em mim foi muito bom,
mas junto com sua língua fica ainda melhor. Mordo os lábios para não gemer
alto, lembrando por um mísero momento que ainda estamos em um local
cheio de pessoas, mas quando ele enfia o indicador e chupa o meu clitóris,
fica difícil. Meu quadril automaticamente se movimenta e minha mão puxa
seus cabelos, trazendo-o para mais perto, enquanto gemidos altos saem da
minha boca e a sua se ocupa em chupar o meu ponto que está inchado de
prazer.
Assim que seus olhos, baixos de prazer encontram os meus e ele leva a
língua até minha entrada, eu explodo.
Gozo em sua boca e ele fecha os olhos, gemendo de encontro a mim,
enquanto bebe de tudo que lhe dou.
Nunca pensei que seria tão bom. Mas é mais que isso, e eu tenho
certeza que se fosse com outra pessoa não seria assim.
Enquanto ele limpa tudo, solto seus cabelos e me apoio na bancada da
pia, atrás de um fôlego que eu necessito.
Heitor se levanta do chão e seu corpo se assoma sobre o meu, dando
um beijo no meu mamilo esquerdo e depois no direito. Meu desejo por esse
homem não tem limite, e pelo tamanho que tem na frente da sua calça, o
dele também não.
— Isso foi… — tento falar com a voz rouca, ainda ofegante e ele me
encara divertido.
— Delicioso — fala por mim e eu aceno, enquanto ele lambe os lábios,
fechando os olhos por alguns segundos, saboreando…
Se possível, fico ainda mais molhada e olha que ele me limpou todinha.
Seus olhos se abrem ainda mais pretos, consumidos pela pupila
dilatada, e prometendo pecados irreparáveis e ele se acaricia por cima da
calça.
Encaro sua mão hipnotizada, enquanto ele traça o contorno do seu
membro com o polegar. Mordo o lábio inferior, querendo muito provar o gosto
dele, mas não sabendo como perguntar isso, enquanto ele encara o meio
das minhas pernas ainda abertas para ele.
— Como eu queria foder essa boceta gostosa agora… — ele murmura,
sua voz grave chegando até o meu centro e me molhando mais. — Me diz
ragazza, o quanto sua boceta apertada vai chupar meu pau quando eu
estiver dentro de você?
Seus olhos se fixam no meu rosto, e ele esquenta.
Puta merda…ele me quer, agora…
Mas eu não sou o tipo de garota que tem vergonha de ser virgem e que
esconde isso de alguém, e como eu sei que se eu pedir para ele continuar, e
ele descobrir de outro jeito que eu nunca fiz sexo, ele vai ficar puto com ele
mesmo, decido falar.
— Eu não saberia te dizer… — começo hesitante, encarando sua mão
novamente, que massageia lentamente seu membro por cima da calça
social.
— Claro, querida, nunca me teve dentro de você — ele sopra
sarcástico, com sua boca em meu mamilo novamente.
— Nem você, nem outro — jogo na lata e ele trava a boca que chupava
o bico enrijecido.
Sua boca o solta com um barulho estalado quando ele levanta seus
olhos para mim e meu rosto esquenta.
Ele me analisa por uns instantes e depois encontra sua voz.
— Como assim? — Apoia as mãos na bancada, me prendendo entre
seus braços, enquanto se encaixa entre minhas pernas. Ele não entende que
eu não consigo raciocinar quando está tão próximo? Pelo visto não, já que
seu rosto se aproxima mais ainda do meu, sondando até a minha alma com
seus olhos intensos.
— Não tive ninguém dentro de mim — falo, ele não é burro. Seus olhos
se arregalam minimamente. Um misto de emoções se passa rapidamente
pelo seu rosto. A primeira é surpresa, depois choque, depois confusão. Ele
fica um tempo assim, encarando cada parte do meu rosto, mas, depois de
alguns minutos, ele deixa um beijo no canto da minha boca.
Outro no outro lado, um no nariz, e enquanto ele deixa beijos no meu
rosto, maxilar e pescoço, ele vai levantando o decote do vestido e cobrindo
meus seios.
— Heitor? — pergunto, nervosa por não ter nenhuma resposta sua.
Pode ser que ele prefira mulheres com experiência. Homens e mulheres
gostam de pessoas com mais experiência na hora do sexo. Talvez ele seja
assim e se for, se não quiser mais, eu vou entender, não vou ficar chateada.
Eu não escolhi esperar ninguém, não estou me guardando para alguém
especial, eu só respeitava muito minha abuela, e nunca vou deixar que
alguém me julgue por ser quem sou. E eu sei que ele não é assim, se ele
gostar de pessoas mais experientes, é uma escolha dele, um desejo dele, e
mesmo que meu coração possa sofrer, não sou do tipo que julga as escolhas
das pessoas, nem ele. Então eu sei que não vai me julgar, mas pode não
querer continuar com isso.
Esse é um defeito das pessoas. Se você faz sexo demais, te julgam, se
você é virgem, dizem que está seguindo as regras de uma sociedade
machista, engraçado como essas pessoas apontam o dedo e não ligam em
respeitar a escolha dos outros.
— Sim? — responde, ao ir até o suporte de papel toalha e voltar com
algumas folhas, me pedindo para abrir as pernas com os olhos. Coro
furiosamente com esse ato, mas faço o que ele pediu.
— Não vai falar nada?
— Sobre o fato de ter sido um completo idiota e não ter percebido isso
antes? — Ele arqueia a sobrancelha ao me limpar. — Tipo, quando meu
dedo entrou em você pela primeira vez e eu só consegui enfiar a pontinha?
— indaga, jogando o papel no lixo, e eu abaixo o rosto de vergonha.
Fico em pé, abaixando o meu vestido, mas minhas pernas estão
bambas do pós-gozo e Heitor me segura. Me viro para o espelho, vendo meu
reflexo e arregalo os olhos.
Meu coque está uma bagunça, minha boca está inchada, meu rosto
está vermelho e minha cara denuncia que eu estava fazendo sem-
vergonhice. Heitor apoia os braços novamente em cada lado meu e me
encara, deixando um beijo na minha cabeça.
— Linda — murmura, seus olhos brilhando, me deixando confusa e
quente com seu elogio.
— Você não tinha como adivinhar, eu não tenho um aviso de virgem no
meio da testa. — Lavo as mãos e peço para Heitor fazer o mesmo, mas ele
balança a cabeça em negação.
— Não, quero ficar com seu cheiro nelas. — Fecho os olhos e escuto
sua risada. — Sobre você ser virgem? Eu não tenho o direito de opinar sobre
isso, e também não vou perguntar o porquê, pois foi uma escolha sua, mas
eu até… é muito machista da minha parte se eu te falar que adoro isso? —
Ele me dá outro beijo na cabeça.
— É sim. — Ele ri.
— Se você soubesse o tanto que eu me consumi em ciúmes só em
pensar que outra pessoa veio antes de mim, não falaria isso. — Ele nega
com a cabeça. — Eu sei que não tenho esse direito, mas eu sou seu
ragazza…, eu quero saber se você quer ser minha também, só minha? —
ele pede, abraçando a minha cintura e enfiando o rosto no meu pescoço.
— Você quer que eu seja?
— Não estou falando no sentido físico, porque sabendo que você é
virgem, eu vou esperar seu tempo, seu desejo e sua escolha, estou falando
de você, do seu coração, da sua alma, da sua felicidade. — Ele me aperta.
— Quero que se entregue para mim assim, e tudo que eu sou, tudo que eu
tenho será seu. Só me escolha — ele murmura, sem me encarar e eu não
consigo falar por sobre o nó que se forma em minha garganta.
Isso é o quê? Um pedido de namoro?
Ele me quer, ele está sanando minhas dúvidas, todas as que eu tive,
mas ele está me pedindo mais do que isso, ele está me pedindo para
escolher amar ele ou não…, como se eu tivesse escolha sobre isso, sobre
ficar com ele.
— Eu…
— Espera. — Levanta a cabeça, me fitando através do espelho, seu
rosto se contorce em uma careta, antes de continuar. — Eu preciso te contar
algo primeiro, algo que se você me escolher, você pode estar abrindo mão, e
eu nunca negaria nada a você, ragazza, só espera…, eu conto a você
quando estivermos em casa. — Ele me solta, me deixando confusa, muito
confusa, mas antes que eu possa falar, ele balança a cabeça novamente. —
Em casa.
E me beija, sorrindo para mim, sorrindo feliz, mas lá no fundo tem uma
pontada de medo. Um medo que eu não entendo, mas eu sei que
entenderei.

Quinze minutos depois, de volta à mesa, agora completa, Antonella


conta sobre uma vez que teve que mandar fazer um relógio verde, todo da
pedra jade, para Vince, uma vez que o belo só queria coisas verdes e a
mesa gargalha lembrando.
Encaro Vince que me devolve uma piscadinha e sorri presunçoso.
— Naquela época eu era o mais novo, era mimado, mas depois que
esse adotado chegou à família, não me mimaram com mais nada. — Ele faz
bico, e encara a mãe que está encostada no peito do seu Enrico, recebendo
carinho, sorridente.
Pietro bate no peito e fala.
— Você já foi mimado por oito anos, teve mais do que Gah e Heihei,
ainda tá reclamando? — Heitor, Gah e Vince têm apenas três anos de
diferença, então só tiveram isso no posto de filho mais novo, antes que outro
tomasse o lugar. Pietro já está há vinte anos neste posto.
Mimado.
Vince lança o dedo do meio para Pietro, mas antes que tenha reação,
dona Antonella pega o dedo e torce para trás, arrancando um gemido geral.
— Olha o respeito, moleque — rosna ao soltar seu dedo, que Vince
puxa para o peito com carinha de choro.
Vem aqui neném.
— Mas não foi para a senhora — ele choraminga, empurrando seu
dedo em minha direção, que eu deposito um beijo.
— Mas foi na minha frente — ela ralha e ele se encolhe.
— Acho é pouco — Heitor fala, sorrindo.
— Acha porque não é com você, tá vendo Manuzinha, como ele é
sádico? — Vince, que está ao meu lado, deita a cabeça no meu ombro ao
falar. Lanço um olhar de repreensão a Heitor e ele revira os olhos.
— Não fala assim com ele — falo e Vince sorri presunçoso em direção
ao meu chefinho e ele semicerra os olhos.
— Você está brigando comigo, por quê? — Ele levanta as sobrancelhas
e Vince responde.
— Porque você está me desejando mal e nossa ragazza é boazinha. —
Pietro e Gah acenam em concordância e Heitor ferve.
— Tá bom de vocês procurarem as ragazze de vocês e deixarem a
minha em paz — ele rosna, me puxando para ele, fazendo a cabeça de
Vince tombar.
— Eu também acho — a Mancini mãe fala, com o rosto pensativo.
— Mas a gente já tem a Manuela. — Pietro pisca para mim e Heitor
quase pega sua gravata.
— Manuela é minha. — Gargalho com essa conversa, junto com Enrico
e Antonella.
Pietro e Vince só falam isso para provocar e Heitor sabe. Mas a
conversa com ele no banheiro ainda está firme na minha cabeça. Fico
pensando no quê ele pode querer conversar e sobre o quê ele se referiu ao
dizer que eu abriria mão de algo ao escolher ficar com ele. Eu sempre vou
escolher ficar com ele.
— Mamma não te ensinou a ser egoísta, tem que aprender a dividir —
Vince fala, ganhando um tapa na nuca, mas Heitor fica rígido ao meu lado de
repente, assim como Vince.
Olho para eles, mas eles têm os olhos fixos em algo à frente, e assim
que eu olho, vejo o porquê.
Uma Vanessa muito grávida caminha em direção a nossa mesa e para
na frente dela, deixando todos de olhos arregalados.
Os olhos de Heitor se fixam na barriga que ela tem, e os meus também.
Um aperto enorme toma conta do meu peito.
— Heitor, querido — ela diz, sua atenção direcionada a ele. — Eu te
liguei, mas você não atendeu, e proibiu minha entrada na empresa…, é difícil
falar com você.
Difícil está respirar agora. O rosto de Gah se contorce em fúria, assim
como o de Pietro e Vince.
A atenção de Antonella está no rosto de Heitor que ainda foca sua
atenção na barriga dela.
— O que você quer, Vanessa? — Gah pergunta, sua voz mais fria do
que já tinha visto. É de se imaginar, essa mulher lascou um chifre na cabeça
do irmão.
Mas o aperto no meu peito ainda continua.
— Falar com Heitor, já que ele não me atende, mas já que estamos aqui
e ele provavelmente não vai me atender, vou logo dizer a verdade. — Prendo
a respiração e Heitor fecha os olhos. Encaro a mulher elegante em um
vestido de cetim nude, e ela me olha rapidamente com desdém no olhar, mas
volta sua atenção a Heitor e aponta para sua barriga. — É seu.
Engulo em seco, enquanto Heitor se encolhe. Meus olhos arregalam em
choque, e não tenho tempo de piscar, antes que dona Antonella se levante e
acerte um tapa na cara de Vanessa.
A grávida a encara em choque, com a mão na barriga de no mínimo
seis meses e tenta devolver o tapa. Mas Gah segura sua mão e Heitor
encontra a minha embaixo da mesa desesperado, como se estivesse
buscando conforto e eu aperto a sua.
— Mentirosa de merda, por que não vai procurar o verdadeiro pai,
Vanessa? Aquele que você gostava tanto de treinar? — vocifera a matriarca
na cara dela e Vanessa não se esconde, ela desafia.
— É do seu filho, eu espero que ele seja homem para assumir, porque
eu vou atrás dos meus direitos. — Ela vira de costas e sai.
Ela está certa, por um lado. Se for de Heitor, ele tem que assumir,
embora isso me doa, a criança não tem nada a ver, não importa o que a
mulher fez, se é de Heitor, ele vai assumir e eu o ajudarei nisso.
Mas o fato de ele ter seu primeiro filho com outra mulher que um dia ele
amou, me causa medo. Me causa medo ele perdoá-la e querer tentar algo,
mesmo que tenha pedido que eu entregasse meu coração a ele hoje. Medo
que ele não queira continuar comigo, e mesmo que isso aconteça, eu não
vou poder fazer nada. É uma família.
Agora nós dois temos uma escolha na mão. Ele me pediu para escolher
ele, mas será que vai escolher a mim?
Não é questão de rivalidade feminina, é questão de escolher entre a
família e o coração.
Heitor se levanta, ainda segurando minha mão e me puxa gentilmente.
— Filho… — Antonella até tenta, mas Heitor balança a cabeça em
negação e sai andando me levando junto. Olho para os que ficaram e com a
boca, em um pedido mudo, Gael pede.
Cuida dele.
E vamos embora.
Parece que essas noites nunca vão de acordo com os planos.
Eu não quero que você vá embora.
Pode pegar a minha mão?
(Stay with me — Sam Smith)

O caminho do casamento até nossa casa é feito em completo silêncio.


Manuela até tentou conversar, mas isso não é algo que eu queira fazer
agora.
Eu sabia que Vanessa estaria presente na festa, mas não a vi na
cerimônia e depois estava ocupado demais encarando minha Manuela, e a
beleza dela, para depois ficar ocupado com outra coisa.
Descobrir que Manuela é virgem me afetou de uma forma inexplicável,
saber que nenhum homem a tocou antes de mim…, isso nunca aconteceu,
eu realmente prefiro mulheres experientes, pelo fato de eu ser muito exigente
na cama. Porém, com ela é diferente, não deveria gostar tanto disso, e ter
uma satisfação tão grande, mas aconteceu, me excitei muito mais ao saber
que são só meus e sempre foram só meus os seus gemidos e arquejos ao
sentir prazer. Que eu sou o único para ela.
Eu já sou dela, já deixei isso claro, eu só quero que ela seja minha por
inteiro, não só seu corpo, ela.
Pode parecer confuso, e é.
Minhas mãos depois que descobriram a maciez da sua pele, não
conseguem mais ficar longe ou deixar de tocá-la. Sua boca foi feita para
mim, para os meus beijos, para a minha língua, e sua boceta…, nunca provei
um gosto tão bom quanto o de Manuela.
Ela tem um gosto único, delicioso e viciante.
Uma boceta não é doce, mas a de Manuela é, para mim, assim como
tudo nela.
Pensei que tinha visto estrelas no céu, mas as que apareceram atrás de
meus olhos ao primeiro toque da minha língua com a sua intimidade foi muito
melhor.
Eu não quero perder isso. Eu não quero acordar e não ter que passar
em uma doceria para comprar seus donuts. Eu não quero ir na cozinha e não
ver suas pernas balançando na bancada, enquanto espera eu fazer algo
para comer, porque tem preguiça. Eu não quero chegar em casa e não
sentar no sofá com a ragazza para assistir ao seu filme favorito. Eu não
quero nada que não tenha ela no meio, e isso poderia ser ruim para muitas
pessoas, mas eu me apeguei, eu me apeguei a tudo que ela é, a tudo que
ela representa, a tudo que meu coração sente ao estar do seu lado. Me
apeguei aos seus beijos, seus abraços, seus surtos. Me apeguei aos seus
flertes com Pietro e seu carinho por Vince.
Eu sinto muitas coisas em relação a ela.
Carinho, ternura, desejo, saudade e mais…, muito mais.
Mas não acho que seja o momento de falar isso, o que eu sinto, não
quando tudo à minha volta ameaça o que temos.
Não quando Vanessa chega à festa e joga tudo o que nós tivemos na
minha cara.
Nunca amei Vanessa, eu a respeitei como mulher, eu me apeguei a
nossa rotina e eu fiz tudo ao meu alcance para fazê-la feliz. Fodíamos como
coelhos, eu a mimava sempre que pedia algo, a levava em passeios
românticos. Tudo para que eu pudesse sentir o que hoje eu sinto pela
ragazza que está ao meu lado.
Eu tentei com Vanessa, mas ainda bem que não consegui, pois eu não
sobreviveria a ter meu coração estilhaçado novamente. Não depois de
Vitória, não depois do que ela fez conosco, comigo, com meu futuro.
Vanessa está grávida. Pelo tamanho da sua barriga, de no mínimo seis
meses. E há seis meses ainda estávamos juntos e pelo que ela diz, o bebê é
meu. Solto uma risada amarga, meu coração ribombando no peito e de
relance, vejo Manu me encarar no banco passageiro.
Não, não é.
Eu e Vanessa tínhamos um acordo silencioso, o de não ter filhos.
Vanessa está em uma carreira de modelo em ascensão e deixou claro desde
o início que não queria filhos, que não estragaria seu corpo e que não queria
a responsabilidade e por isso eu investi, porque filhos não são algo que vejo
no meu futuro.
Esse fato sobre mim é cruel, é feio, e me consome, mas é a verdade.
Filhos não são uma possibilidade no meu relacionamento e é isso que eu
queria falar com Manuela. Se ela me aceitar, eu darei meu coração, darei
minha vida e darei tudo que eu puder, menos isso.
E isso é demais para ela, por isso evitei a todo custo não começar o
que temos, mas eu já estou envolvido e antes que eu possa pedir mais,
preciso que ela saiba desse fato.
Sobre Vanessa…, ela pode ir até o personal trainer atrás dos seus
direitos, porque de mim, ela só tem o meu mais puro ódio. Ela não o teve
nem quando eu descobri sobre a traição, mas agora, com um filho no meio,
ela o tem.
Ela não tinha esse direito. Não tinha.
Meu peito se aperta ao lembrar de anos atrás.
De sete anos para ser mais exato.
Vitória estava tão linda, seu rosto branco corado, seus olhos puxados
fechados ao sorrir, enquanto eu a levava para escolher a cor do quarto…
Quando eu pensei que a mulher que eu amava tanto estava me dando
um presente por superar o que quase me matou, por vencer uma guerra
travada comigo mesmo e com o que havia em mim, enchendo meu peito de
esperança por ganhar o que eu mais queria.
Doeu como uma faca perfurando o meu coração quando todas as
máscaras caíram e quando o presente que eu achei que ela havia me dado,
tinha sido roubado de mim e jogado fora.
Quando ela, por pura maldade no coração, destruiu toda a esperança
de realizar o meu sonho.
Eu só tinha esse ódio por Vitória, e agora, agora eu tenho por Vanessa.
Nenhuma das duas tinham esse direito.
Porra, só em pensar nisso, dói.
Dói como se eu estivesse morrendo, é algo que mesmo que eu tente,
não consigo superar, é como uma ferida aberta que sangra cada vez que eu
respiro.
Uma lágrima cai do meu rosto, e a mão da minha ragazza limpa.
Não falamos nada, não conversamos. Apenas estaciono o carro na
garagem e saio com ela, entrando na nossa casa e subindo para o meu
quarto.
Manuela está confusa, eu sei, ela tem uma careta de dor no rosto, pelo
que Vanessa disse, mas agora não é a hora, a ferida ainda está sangrando,
eu só preciso que ela coloque a mão no machucado e me ajude a fazer o
sangramento ser menor.
No quarto, tiro minhas roupas, começando com o paletó, depois a
gravata, a blusa, enquanto vou tirando, ela me encara no meio do quarto,
querendo perguntar, mas sem a coragem para fazer. Eu sei que ela vê em
meus olhos a dor que eu estou sentindo nesse momento e como é ela, ela
balança a cabeça, concordando em não falar nada.
Tiro a calça, ficando apenas de cueca e vou em sua direção.
Ela vira de costas e eu desprendo todos os grampos de seu cabelo,
deixando um beijo no seu ombro. Desço o zíper, e a alça do vestido, e ele cai
no chão. A empurro gentilmente em direção a cama e a faço se sentar,
enquanto me ajoelho e tiro seus saltos. Nesse tempo, seus olhos não saem
de mim, preocupados com as lágrimas que caem sem permissão, com a dor
que me consome agora, com o pedido silencioso por conforto.
A deito na cama, e meu corpo cobre o seu, o contato da nossa pele é
quente, e meu rosto se esconde em seu pescoço, enquanto suas mãos
circulam o meu tronco, e mesmo não querendo, eu desabo.
Eu quebro novamente.
Ela me aperta mais forte, e meus braços a seguram, buscando conforto
nela. Ela não sabe ainda, mas desde o momento em que nossas bocas se
encontraram, eu encontrei o meu lar, o meu porto seguro. Eu só espero que
ela me escolha, mesmo quando eu negar a ela, algo tão grande assim.
— Estoy aquí, estoy contigo, te cuido, confía en mí, mi amor… — ela
repete essas palavras, sussurrando em meu ouvido.
Meu coração galopa e eu a encaro, seus olhos preocupados fixam nos
meus e eu a beijo. A beijo por saber que não importa o que aconteça mais à
frente, eu sei, com tudo de mim, que ela é a mulher da minha vida.
Ela não sabe, mas sou fluente em espanhol e a frase que ela falou, eu a
falei também quando ela precisou de conforto, e saber que pensamos e nos
sentimos iguais a respeito um do outro, conforta cada parte do meu coração.

Mãos macias massageiam meu cabelo com tanto carinho que quase
ronrono. Abro os olhos devagar, sentindo uma pele sedosa de encontro ao
meu rosto e dando de cara com seios, com bicos marrons avermelhados na
altura da minha boca.
Dormi agarrado a Manuela, mas ao invés de ela dormir no meu peito,
eu que me aconcheguei ao dela, e ela não parece reclamar, já que suas
mãos continuam massageando meu couro cabeludo.
Suspiro, lembrando da noite de ontem, de como terminou o casamento
para nós, de como eu desabei quando chegamos em casa e Manuela me
confortou, simplesmente sendo ela.
— Você está bem? — ele pergunta, sua voz rouca, sonolenta.
Movimento meu rosto, me esfregando como um gatinho nela, e depois
me apoio nos cotovelos para respondê-la.
— Não — sou sincero, encarando seu rosto. Seus cachos se espalham
como uma cortina no travesseiro, seu céu analisa cada parte do meu rosto,
com a maquiagem borrada, deixando um sombreado abaixo dos olhos.
Linda.
— Quer conversar? — Tiro um dos cachos que sempre insistem em
cobrir seu rosto, para o deixar livre para os meus olhos.
— Depois — sussurro. Um medo absurdo de não ser o bastante para
ela me consome. De pedir algo que ela pode não querer.
— Tudo bem — sua voz é doce, calmante e ela fecha os olhos
novamente.
Não demora, ela cochila.
Ela passou a noite acordada, pelos seus olhos vermelhos, sei que não
dormiu bem, então a deixo descansar.
Saio da cama, indo ao banheiro para fazer minha higiene pessoal,
encarando no espelho o reflexo de tudo que eu sou e tudo que eu não posso
ser.
Um homem que sofre até hoje com as consequências de algo que
nunca teve culpa.
Um homem que sente dor, receio, e medo de não conseguir preencher
o vazio que ficou anos atrás.
Um homem completamente fodido que está com uma ragazza doze
anos mais nova, funcionária, que depende dele e que pode muito bem pedir
algo que ele não possa dar.
Um completo fracassado.
É isso o que enxergo ao olhar no espelho, é esse o homem que vejo e
ele não é nem de longe, bom o suficiente para a mulher que agora dorme em
sua cama, mas que é egoísta o suficiente para pedir para ela ficar quando
tudo dentro dele grita que ela vai abandoná-lo.
Manuela é uma mulher que com certeza quer formar uma família, que
com certeza quer ter filhos, e isso não vai acontecer se ela estiver comigo.
É por isso que eu fiquei na minha, até não conseguir ficar longe. Até ela
se tornar importante demais na minha vida para eu simplesmente saber que
é ela. Desde o começo.
Desço as escadas, para preparar um café da manhã para ela, mas
estanco ao chegar na sala e encontrar um bêbado, jogado no chão.
Três garrafas de vinho estão jogadas no canto da sala e Luiz está
desmaiado apenas de cueca. Corro em sua direção para conferir se está
morto, mas assim que chego perto, vejo seu peito se movendo para cima e
para baixo e respiro fundo. Cazzo! Um dia ainda posso infartar se Manuela e
Luiz continuarem fazendo coisas que fogem do meu controle assim.
Meu assistente e melhor amigo tem a chave da minha casa, assim
como meus fratelli, mas ele dificilmente a usa e isso é o suficiente para me
ajoelhar ao seu lado e tentar acordá-lo.
Ele não deve estar bem.
— Luiz? Acorda! — Chacoalho levemente seus ombros e ele resmunga
palavras desconexas. — Luiz, que porra aconteceu com você? — falo mais
alto e ele se senta de uma vez, tacando a testa na minha.
— Ai cacete! — Ele cai, deitando novamente, com a mão na testa e
choramingando, enquanto eu faço a mesma coisa, mas sentado.
— Porra, precisa levantar assim? — minha voz sai irritada pela dor de
cabeça que me acomete.
— Precisa gritar? — ele retruca, gemendo. O bafo de álcool chega forte
até mim.
— Preciso, você estava jogado no meu tapete com três garrafas vazias
de vinho, quer me explicar o que aconteceu? — Me levanto, indo em direção
a cozinha e pegando um copo de água e remédio para ressaca na dispensa.
Assim que volto, ele já está sentado e toma de bom grado a pílula,
ainda massageando a testa.
Seus olhos castanhos estão vermelhos, imitando os meus e ele repara.
— O que aconteceu? — Ele se levanta com o cenho franzido, mas
balanço a cabeça em negação.
— Perguntei primeiro. — Indico o sofá e ele se acomoda, se jogando de
uma vez.
Ele faz um bico de choro, olhando para os lados, tentando disfarçar as
lágrimas que querem sair e meu peito aperta pelo meu amigo. Sento ao seu
lado, puxando-o para um abraço, pois seja o que for, ele está arrasado. Seus
ombros tremem quando um choro é iniciado e eu sei que ele se machucou,
porque se as bebidas não foram indício o suficiente, seu choro dolorido é.
— Carlos me traiu. — Travo o maxilar ao ouvir isso.
Qual o problema das pessoas hoje em dia? Se quer ficar com outra
pessoa, termina, cazzo!
— E você descobriu como?
— Fui visitá-lo na sua casa, mas ele estava beijando um homem ruivo
no portão, se despedindo e eu nem tive a coragem de chegar mais perto e
perguntar o que estava acontecendo. — Ele passa a mão no rosto, que
escorre lágrimas e suspira. — Quando voltei para casa, mandei mensagem
para ele, perguntando o porquê, mas ele ficou falando que era coisa da
minha cabeça e se fazendo de vítima, eu quase acreditei que estava ficando
louco, sabe? — Assinto com a cabeça e ele continua. — Mas então me
lembrei de você e Vanessa e vi o que chegou depois dela, talvez tenha uma
Manuela para mim em algum lugar. — Ele dá de ombros, sem me olhar.
— Como você sabe que aconteceu algo entre mim e ela?
— Pietro me falou, temos um grupo no whats, só com o propósito de
descobrir quando ia acontecer. — Ele me lança um sorriso sacana, mesmo
que seus olhos estejam tristes. Abraço ele ainda mais forte.
— Vocês terminaram? Eu nem sabia que estavam namorando. — Meu
peito se aperta em culpa. Será que eu fiquei tão focado em Manu mesmo
antes de beijá-la que esqueci de quem estava ao meu redor?
Luiz está comigo há cinco anos, é meu melhor amigo e mesmo assim,
eu não sabia que o caso que ele tinha com o Carlos, meu funcionário, tinha
evoluído ao ponto de se tornar namoro.
Mas é hipocrisia minha falar sobre o fato de eles já estarem namorando,
eu e Manuela só começamos com isso na quinta e hoje é domingo.
O fato é que ela e eu tivemos muito mais antes de tentar, e o que temos
é só consequência do que construímos desde que ela veio à minha casa.
— Estávamos, pedi ele em namoro semana passada, mas não te contei
porque queria contar primeiro à minha mãe, agora não vou contar mais. —
Ele esconde o rosto e deixa cair um choro silencioso. Ele realmente gostava
dele.
— Como veio parar na minha casa?
— Sua adega de mafioso italiano é cheia, é óbvio que eu viria me
embebedar aqui. — Ele apoia os cotovelos no joelho e encara o chão.
— Se tivesse me esperado, eu teria bebido com você — comento, seria
uma boa ter enchido a cara depois do que aconteceu ontem, mas tenho
certeza que beber não chegaria nem perto de ser tão bom quanto o abraço
de Manuela.
Falando nela, passos na escada são ouvidos e tanto eu quanto Luiz
encaramos a ragazza que desce vestida com minha camisa social que eu
usava ontem, chegando aos joelhos de tão pequena que ela é, os cabelos
amarrados em um coque, o rosto já limpo da maquiagem e uma beleza
assustadora.
Por que eu não reparei que ela é tão linda assim antes?
Porque eu não queria que ela perdesse tanto ao estar comigo…
— Por que você está chorando? — Ela se aproxima rapidamente de
nós, se ajoelhando na frente de Luiz e pergunta com sua voz doce. — Quem
fez você chorar, querido?
Luiz conta novamente o que aconteceu, enquanto ela faz carinho em
seu cabelo. Seus olhos vez ou outra se desviam em minha direção, como se
quisesse checar que eu estou bem e levanta Luiz, levando-o para o andar de
cima, me pedindo para fazer um café.
Eu já estava com esse plano na minha cabeça, mas agora não sou eu
que preciso de conforto. É ele.
Então deixo a conversa que eu preciso ter com ela de lado, por
enquanto, e me ocupo em cuidar do meu amigo.
Mas isso é novo para mim, isso é novo para você.
Inicialmente, eu não queria me apaixonar por você.
( Location — Kalid)

Faz alguns minutos que Luiz foi embora e Heitor está no andar de cima,
tomando um banho, enquanto eu estou deitada no sofá, esperando que ele
faça algo para o jantar.
Não conversamos a respeito de ter uma mulher grávida dele e como
isso vai afetar no que começamos a ter. Estamos nos envolvendo há apenas
três dias, embora pareçam mais, já que moramos juntos, e desejamos um ao
outro há um bom tempo. A única diferença de antes para agora, é que
deixamos o receio de nos envolvermos e agarramos a oportunidade de ser
mais.
Mas eu não sei o que vai ser daqui para a frente.
Ontem, minha cabeça estava cheia de dúvidas sobre o que nós éramos,
então, dentro de um banheiro de um casamento, onde estávamos
comemorando a felicidade de um casal, ele pediu o meu coração, pediu para
me entregar o seu coração. Foi ali que nosso futuro se entrelaçou quando ele
sanou minhas dúvidas assumindo o que negou por tanto tempo.
Que quer ficar comigo, pois não se pede o coração de alguém que
queira só por uma noite.
Mas hoje, tudo que aconteceu ontem foi posto à prova novamente, uma
criança, uma criança que não é minha, é dele, com outra mulher.
Ele me pediu para não aceitar o que ele me oferecia ainda, porque tinha
algo sobre ele que eu precisava saber antes de mergulhar fundo na nossa
relação. Fico me perguntando se não é isso. Será que o que ele queria tanto
me contar era que sabia que Vanessa estava grávida e que teria um filho?
Se for isso, ele não precisa temer.
Se ele me quer, eu vou ajudar, vou ajudá-lo com isso, com a criança,
com o futuro.
Eu vou até gostar, vou tratar a criança como se fosse minha, nunca
tentarei tomar o lugar da mãe, mas vou estar aqui para quando ela precisar.
Porque é uma parte de Heitor, de quem ele é, do homem que estava comigo
esse tempo todo, do homem que me estendeu a mão quando eu mais
precisava e me ajudou a me reerguer. Porque quando uma porta é aberta
para você, você abre para os outros também.
E acima de tudo, porque é uma criança, e crianças são inocentes,
devem ser amadas, respeitadas, cuidadas. O filho dele vai ter tudo isso de
mim.
Mas embora a empatia preencha meu corpo todo agora, meu coração
está sendo esmagado por isso da mesma forma. Eu não tenho esse direito,
foi antes de nós, foi quando eles namoravam. Porém, acima de todos os
sonhos que eu tenho, aquele que eu nunca conto para ninguém é o de ser
mãe.
Eu já perdi muito, eu já perdi todos aqueles que eu tinha um laço de
sangue. É pouco para as pessoas, mas eu quero para mim. Quero acima de
tudo formar uma família, pois eu tenho a de Heitor, mas é dele, eu quero a
minha, eu quero a nossa. E eu queria que formássemos a nossa juntos.
O fato de vir primeiro de outra mulher me dói, não a criança, nunca ela.
Minha cabeça ronda por pensamentos demais, hipóteses demais,
decisões demais. A única certeza que eu tenho nesse momento, é a certeza
de que eu sempre vou escolher Heitor.
Passos vindos da escada denunciam que ele vem em minha direção,
assim como o cheiro que chega a mim antes dele e entorpece os meus
sentidos.
— Ei… o que você quer jantar? — Encaro o homem que apoia os
cotovelos no encosto do sofá e me encara por cima dele.
Analiso cada parte do seu rosto, tentando encontrar algo que eu nem
sei o que é, mas ele está calmo, seus olhos âmbar me analisam também,
desde o rosto, ao pijama de zebra que visto hoje.
— Alguma coisa depois que a gente conversar — chuto o balde, posso
fugir das conversas que me deixam com vergonha do que fiz, mas essa
precisamos ter. Ele respira fundo e fecha os olhos, passando uma mão no
cabelo, enquanto eu me sento e bato ao meu lado para ele se sentar.
Ele dá a volta no sofá e se senta, com uma perna dobrada e virado para
mim.
Imito sua posição, e apoio um cotovelo no encosto para apoiar a cabeça
e ele sorri, imitando o gesto.
— Sobre o que você quer conversar primeiro? — ele pergunta, tirando
um cacho da frente do meu rosto e eu ajeito os óculos.
Penso por um instante, como assim conversar primeiro? Estava
torcendo para o que queria me contar e a gravidez de Vanessa ser a mesma
coisa.
— Vanessa — murmuro e ele assente, desviando os olhos para a
cozinha e massageando o queixo coberto pela sua barba bem aparada. Seu
rosto se contrai por uns segundos e fico admirando o fato de todas as
expressões dele fazerem um rebuliço no meu estômago.
— Se quer saber a verdade, não é meu — ele diz na lata e eu respiro
fundo.
Um peso que eu nem sabia carregar sai das minhas costas e o aperto
no meu peito alivia. Mas só por alguns instantes, já que Vanessa deixou claro
que era dele e ele não pode ter tanta certeza assim de um dia para o outro.
— Como você sabe? — Ele solta uma risada amarga, uma que eu
nunca escutei saindo da sua boca e que me causa arrepios.
— Porque eu nunca, nunca transei sem camisinha com ela. — Contorço
a cara em uma careta com a imagem que eu não pedi deles fazendo sexo
que invade minha mente. — Além disso, ela esqueceu que mesmo antes de
terminarmos, não dormíamos juntos porque ela passou um mês viajando
para uma campanha de uma marca internacional e quando chegou, não
fizemos nada, pois ela estava ocupada demais, o que eu descobri depois
que era com o amante dela. — Assinto, pedindo para ele continuar, e ele o
faz. — Liguei hoje mais cedo para o pai dela e ele disse que ela está de
quase seis meses, nós até estávamos juntos, mas não fazíamos sexo, não
tem como ser meu ragazza… — É impressão minha ou os olhos dele estão
marejando? Ele queria?
Engulo em seco, raciocinando tudo que ele falou e o sentimento de
perda que vejo nos olhos dele, e mordo o lábio inferior.
— Tudo bem, mas você tem que tirar essa história a limpo, porque ela
está crente que é seu — falo e encaro minhas perninhas.
— Mas não é…, isso nos leva a outro assunto, o que eu queria que
soubesse sobre mim. — Levanto os olhos, franzindo o cenho, tentando saber
que relação um tem com o outro.
— Sobre o que você disse que tinha para me falar antes que eu… —
coro de vergonha, e ele sorri.
— Antes que você escolhesse me dar seu coração. — Assinto
novamente, fazendo seu sorriso se abrir mais, mas logo ele o desfaz.
Por alguns minutos ele desvia o olhar do meu e encara minha mão. A
sua vem em direção a ela e o contato quente e imediato me conforta, ele a
leva até a boca e deposita um beijo gentil, acalmando ainda mais o meu
coração.
Eu amo essa parte dele, a parte que cuida de mim, a parte que me
conforta e que me faz sentir paz. Também amo a parte dele que me irrita, a
parte que me faz sorrir e a parte que me excita. Cada parte dele é única e
especial para mim.
Abuela dizia que temos que amar cada parte da pessoa que está
conosco, porque se uma não te agrada, logo você vai encontrar outras que
vão te desagradar e você vai começar a olhar mais os defeitos do que as
qualidades da pessoa.
Ela me dizia:
Se algum dia amar alguém, hija, que ame os seus defeitos e aprecie
suas qualidades, pois assim amará ele com todas as forças.
Eu prometi que no dia que amasse alguém, seria assim.
— Heitor? — pergunto, quando ele passa algum tempo encarando o
nada e preciso chamar sua atenção de volta ao presente.
— Eu sei que eu demorei a assumir o que eu queria com você, porque
eu a quero desde antes do acidente — ele engole em seco, mirando suas
orbes nas minhas e a intensidade da verdade que vejo nelas, não me
assusta, mas me faz sorrir. Se ele soubesse que eu também… — Mas então,
então tudo aconteceu, e você veio morar comigo. Você não sabe o quanto eu
fiquei apavorado, Manuela, quando eu liguei a televisão naquele dia e vi o
incêndio. — Seu rosto se contorce em dor e eu lhe dou um selinho.
Lembrar daquele dia ainda dói, porque os sonhos me acompanham,
mas como eu disse para Heitor, eu tenho que seguir em frente, porque se for
olhar para trás, só vou lembrar do que perdi e não valorizar o que ganhei, e
eu ganhei muito, ganhei Vince, ganhei Pietro, Gah. Ganhei amigos
verdadeiros e ficou mais forte as amizades que eu já tinha com Luiz e Duda.
Mas, mesmo eu perdendo tudo que eu tinha e ficando no fundo do poço, eu
aceitei o que aconteceu.
Eu e a vida temos altos e baixos, mas agora eu agradeço, agradeço
que ela me fez forte, me fez ver o que eu perdi, para amar o que ganhei, me
fez passar fome, para que agora eu possa comer bem, me fez sofrer, para
que agora, eu tenha todos os motivos do mundo para sorrir.
E o maior desses motivos está na minha frente.
Nós temos que passar por baixo, para valorizar a vista de cima.
Solto sua boca do selinho, quando ele pensa em aprofundar e com os
olhos, peço para que continue. Ele assente.
— Então você veio morar comigo e ficou dependente de mim e eu não
estou reclamando, eu gosto de cuidar de você, de mimar você, mas isso me
deixou com a questão moral, como eu poderia me envolver com alguém que
depende de mim? — Ele balança a cabeça em negação. — Isso, e o fato de
você ser minha funcionária me impediram de fazer o que eu mais queria, que
era provar o gosto da sua boca. — Outro selinho, esse iniciado por ele. —
Sabe, eu te via no trabalho como uma bambina que ia chegar longe, te
passei trabalhos que você não precisava fazer para te treinar, te promover a
editora. — Arquejo.
Isso era o que eu queria ao entrar na editora, eu queria esse cargo,
queria ser mais, pois o sonho de publicar um livro era mais particular, meu
sonho profissional era ser editora e ele…
Lhe dou um beijo agora, não um selinho, mais um de verdade, com
minha língua atacando a sua.
Suas mãos me puxam e logo estou sentada em cima do seu colo,
provando o melhor gosto, mas não dura muito, porque ele o interrompe, e
com os olhos me avisa que tem mais a falar.
No entanto, não saio do seu colo.
— O fato de você ser doze anos mais nova que eu, não me incentivou.
— Ele ri, e eu tombo a cabeça para o lado. — Me senti um velho pervertido
toda vez que me pegava pensando em você, com pensamentos que não
deveria ter com alguém tão nova. — Ele fica sério, suas mãos fazendo
círculos no meu quadril, enquanto me encara firme. — Mas você tem mais
poder sobre mim do que imagina, ragazza, eu não tive escolha, eu só adiei o
que era inevitável, porque o destino fez você para mim, e mesmo que eu
tentasse sair dele, ele fazia algo para te trazer e te firmar aqui. — Sua mão
pega a minha e a leva até o seu peito que bate fortemente, fazendo par com
o meu. — Ele se entregou a você, antes mesmo de eu perceber. Eu sou um
homem que foi criado sob velhos costumes, amore mio, não saio por aí
trepando com quem me der vontade, eu formo relacionamentos, eu respeito
a mulher que está comigo, e por isso que quando eu a beijei pela primeira
vez, eu sabia que não queria algo de uma noite e por mais que eu tenha tido
alguns relacionamentos fracassados, eu sabia que com você seria diferente,
porque por anos eu não entreguei meu coração a ninguém, mas ele é seu,
Manuela, ele é seu. — Lágrimas descem pelos meus olhos e pelos dele e
novamente nossas bocas estão uma na outra, famintas, necessitadas,
desesperadas.
Ele não disse com todas as letras, mas sei que isso é mais forte do que
tudo.
— Mas, antes que me entregue o seu, eu quero que saiba de algo, algo
que você vai abrir mão se me escolher. — Fico automaticamente nervosa e
ele encara minha boca, roubando mais um beijo, como se sentisse medo, e
isso me deixa mais ansiosa ainda. — Se ficar comigo, eu posso te fazer feliz,
ser o suficiente, eu darei e serei todo seu, mas vai ser isso Manuela — ele
engole em seco — só nós, nós dois. — Franzo o cenho, confusa com o que
ele fala, ele pensa o quê? Que eu vou querer outra pessoa? — Nós dois,
sem filhos.
Ah, ah.
Meu coração galopa em alta velocidade, um peso enorme se faz em
meu estômago e eu prendo a respiração.
— Você não quer ter filhos? — sussurro, assustada. Eu sei que tem
homens que não querem ser pais, assim como mulheres que não querem ser
mães, mas… — Posso perguntar por quê?
Seu rosto se contorce em uma careta de dor, dor nua e crua, uma dor
tão profunda que fico com vergonha por ter perguntado.
Meu pobre coração está se estilhaçando agora, por que eu tenho que
escolher entre ficar com ele e ter filhos no futuro? Ele tem certeza absoluta
de que o de Vanessa não é seu filho, foi por isso aquela dor ontem? Por que
não queria filhos? Por que pensou que era seu? Ele teve bastante tempo
para pensar sobre, e acho que por isso percebeu que o filho não era dele.
Mas, e quando não tinha essa certeza? Uma criança seria tão horrível
assim? Não seria um presente?
Eu nem sei o que falar agora, estou em choque. Eu quero formar uma
família, uma minha, uma com ele. Mas ainda sou nova, tenho apenas vinte e
dois anos, não era algo que eu planejava ter tão cedo, embora eu
entendesse que a partir do momento em que eu tivesse uma vida sexual
ativa, a gravidez pudesse vir mesmo sem planejamento, afinal eu sei que os
métodos não são 100% seguros.
Saio do seu colo quando não tenho uma resposta sua, deixando claro
que não, não posso saber o porquê, ou não agora e me sento no sofá.
Encaro a minha frente sem realmente ver nada, sentindo Heitor se encostar
no sofá, e de esguelha o vejo puxando os cabelos.
E agora? Será que eu estou pronta para isso? Estamos começando a
ter algo, e foi certo da parte dele me avisar sobre algo assim. É melhor ser
sincero no começo do relacionamento do que descobrir coisas que não te
agradem no meio deles quando você já está completamente entregue.
Isso pode ser verdade para muita gente, mas e para quem já era
apegada antes de tudo? Antes do primeiro beijo?
Suspiro. Eu quero Heitor, mas ficar com ele significa abrir mão de um
futuro que eu desejo.
Mas o futuro é incerto, nunca temos certeza do que vai acontecer.
Eu já fui alguém que sonhou demais, que pensou no futuro demais, que
esqueceu de viver o presente.
O que eu não daria para ter mais um minuto com a minha abuela? Com
meu avô, com meus pais que eu nem cheguei a conhecer direito, pois não
tenho nenhuma lembrança?
Li em um livro nacional “Promete me esperar?”, algo que marcou muito
minha vida.
Dizia que o futuro é algo que lutamos muito para alcançar, mas estamos
lutando por algo que nem existe, pois a única coisa que existe é o passado e
o presente, já que quando o futuro chega, ele se torna o nosso hoje.
Então, por que eu vou esperar algo de um futuro que nem existe?
Respiro fundo, é muita coisa para pensar, mas ao meu lado está o
homem que eu quero para mim, o homem que eu escolhi me apaixonar…
É isso, e todo o sentimento que eu guardo dentro de mim que me faz
virar meus olhos para Heitor, que tem no rosto, o reflexo de um homem
perdido e falo.
— Tudo bem — a tudo que ele falou, aceitando-o e só ele, abrindo mão
de algo por nós, com a voz rouca, eu repito. — Tudo bem.
Seus olhos parecem não acreditar, mas assim que minhas palavras
assentam em sua cabeça e ele processa a informação, seu corpo cobre o
meu no sofá e sua boca encontra a minha.
Abro as pernas para recebê-lo, e ele se encaixa no meio delas. Sua
boca não é faminta, é reverenciadora, exploradora. Sua língua procura a
minha em busca de algo que eu dou. Seu gosto é de ternura, de carinho e de
cuidado. Seu gosto é de mais, muito mais.
Não sei o que aconteceu, mas meu coração me diz que aconteceu
alguma coisa que o fez não querer ter filhos, mas não estou em busca de
encontrar justificativas, mas a sua dor, a sua dor foi verdadeira. Eu vi em
seus olhos quando perguntei o porquê. Ele não está pronto para falar, mas
quando estiver, eu vou ouvir.
Seria engraçado se não fosse triste.
A sua dor me pede para fazer algo que causa dor em mim. Isso não é
justo, mas ele não sabe.
Não tem como você curar a dor de alguém se não sabe que a pessoa
está sentindo dor.
No entanto, a dele é por alguma coisa que aconteceu, a minha é por
algo que não poderei ter. Porém, como eu disse, eu ganhei um presente, não
vou perdê-lo também.
E essa é a última coisa que eu perco. Não vou perder mais nada daqui
para a frente, vou fazer tudo que estiver ao meu alcance para isso, e mais.

Semanas depois…

— Está pronta? — Na porta, vejo um homem vestido com uma bermuda


branca, com uma camisa de botões azul marinho, sandálias e olhos intensos,
devorando cada parte do meu corpo.
Pensando sacanagem, chefinho?
Hoje é sexta-feira, mas Vince e Gah estão viajando, Vince está em
Paris, pois está organizando um desfile lá, já Gah, foi fechar contrato com
alguns autores internacionais que eu indiquei na semana passada. Então,
sem dois dos irmãos e Pietro ocupado com algumas coisas a respeito da
universidade, a noite dos garotos ficou para outro dia.
Então, depois que saímos do trabalho, Heitor me convidou para ir ao
cinema.
Eu nunca fui ao cinema, então eu estou dando pulinhos de alegria
desde que ele me chamou. Literalmente. Vesti um vestido rodado e de
alcinhas que Vince me mandou junto com os novos pijamas de animais —
não de verdade — na semana passada também. Esse é um vermelho,
porque ele sabe que é meu preferido e como gosta de me mimar, me
mandou dois modelos diferentes. Se ele quer me mimar, eu não vou
reclamar, engraçado é ver Heitor reclamando que não me dá nada.
E é verdade, eu já moro com ele, trabalho para ele, como da comida
dele e ele ainda quer pagar minhas calcinhas? De jeito nenhum, Vince
manda sempre uma caixa cheia de umas lingeries que mais parecem fiapos,
mas que servem muito bem.
Heitor fica puto com isso.
Meu chefe pediu para que eu ficasse com ele, já moramos juntos e
estamos juntos, então por que ir embora? Eu aceitei ficar, mas agora eu
pago as contas mais bestas que existem. As de streaming, spotify, e ifood
quando queremos pedir algo. É o máximo que eu consegui arrancar dele e
isso porque eu tive que apelar para a sua mãe.
— Estou. — Giro na sua frente e ele exibe um sorriso encantado.
— Está linda. — Seus passos em minha direção o aproximam de mim e
suas mãos rodeiam a minha cintura.
— Grazie. — Suas sobrancelhas se erguem ao me ouvir agradecer em
italiano e sorrio, exibida. — Eu presto atenção quando vocês conversam.
Seu rosto abaixa em direção ao meu e eu ganho um beijo gostoso.
— Você me surpreende mais a cada dia, sabia? — murmura, seu hálito
quente aquecendo meus lábios.
— Sabia, sou uma caixinha de surpresas.
— Uma caixinha muito linda.
— Você já disse isso — sopro em sua boca, divertida.
— E nunca irei deixar de falar — ele revela. Amoleço igual gelatina em
seus braços. É normal sentir algo assim?
Basta ele entrar em um ambiente que eu imediatamente sei que ele
chegou. Basta ele me encarar com seus olhos profundos e intensos cor de
caramelo que meu coração acelera.
Basta um beijo e eu já estou molhada. E eu falo sério.
Os últimos dias tem se resumido a isso, beijos molhados, sua boca na
minha, nos meus seios, na minha pele, na minha intimidade. Eu até tento
dormir na minha cama. Mas ele não deixa e quando deixa, se arrasta no
meio da noite e me agarra.
Eu durmo na sua cama, ele dorme na minha, mas dormir separados é
algo que ele não aceita, e eu amo ver o Heitor mandão. Ele ama pôr sua
boca em mim, diz que é viciado.
Abre suas pernas para mim, amore mio.
Você é tão doce.
Você é meu vício.
Poderia passar o dia inteiro chupando a sua…
— Com quem você está conversando? — murmura em meu ouvido, me
tirando dos devaneios que minha mente me joga de vez em quando.
— Com meus pensamentos — respondo.
— E seus pensamentos estão te mandando me dar um beijo? —
pergunta, fazendo uma carinha de cachorrinho sem dono e me arrancando
uma risada e um beijo.
Ah, chefinho, se você soubesse…
Eu ainda não o vi nu, nem o toquei ainda. Ele disse que primeiro vai
desfrutar de mim, me dando orgasmo após orgasmo.
Eu poderia não reclamar, mas eu reclamo.
Eu quero lhe dar prazer como ele me dá. Mas isso eu posso tentar mais
tarde quando chegarmos do cinema.
— Vamos? — pergunto, pulando no lugar, animada demais, ganhando
uma mordida no lábio inferior.
— Vamos.
Vinte minutos depois estamos em uma sala com a maior tela que eu já
vi na vida. Heitor está rindo de mim há alguns minutos, mas é grande
mesmo.
Meus olhos encaram a cena de uma mulher militar, em uma cena de um
trailer que não tem nada a ver com o filme que passa na tela de cinema e a
imagem é tão boa e grande que é demais.
— Você tinha razão, sua televisão não chega nem perto do tamanho de
uma tela de cinema. — Heitor ri ainda mais da minha boca escancarada.
Uma vontade incontrolável de chorar me acomete, porque de todos os
sonhos que eu tinha, esse era um deles, ir ao cinema. Pode ser pequeno,
mas é a verdade. Eu aprendi a valorizar coisas simples da vida.
Todas as pessoas merecem ir ao cinema pelo menos uma vez na vida.
É simples, mas é especial mesmo assim.
Eu deveria fazer uma lista de coisas que ninguém deveria deixar de
fazer e experimentar, mas que são simples.
Estamos sentados na última fileira, perto da saída caso eu queira ir ao
banheiro, não atrapalhar ninguém, esperando para assistir Como eu era
antes de você que estavam retransmitindo no cinema, o que eu estranhei, já
que esse filme é antigo e já passou em todo lugar, mas não reclamo, estou
amando tudo.
Então decido fazer essa lista.
Volto meus olhos para Heitor e me surpreendo ao já ter seus olhos em
mim e um sorriso torto no rosto. Tombo a cabeça para o lado, deixando
cachos caírem em frente aos meus óculos e ele o tira, como sempre faz,
aquecendo o meu coração.
Embora esteja quase acostumada, ainda coro vergonhosamente
sempre que seus olhos estão em mim, como agora.
— Quero fazer uma lista — digo.
Seu cenho se franze em confusão ao responder
— De quê?
— De coisas que todo mundo deveria fazer uma vez na vida. — Suas
sobrancelhas se erguem, e ele massageia o maxilar marcado com sua barba
cerrada. — Mas tem que ser coisas que todos possam fazer, não tipo, pular
de paraquedas, que deve ser caro — resmungo e ele ri.
Tá achando engraçado, chefinho? É engraçado para você que nasceu
com a bunda virada para a lua.
— Então faça sua lista, quer que eu anote? — questiona, já pegando o
celular.
— Quero, mas quero que me ajude também. — Balançando a cabeça
em concordância, ele abre o aplicativo de notas e me encara, esperando o
primeiro item.
— 1. Ir ao cinema. — Seu sorriso se alarga no seu rosto, assim como o
meu.
Olho para a frente e vejo que o filme ainda vai demorar um pouco para
começar, então dá tempo.
— Dois… — ele espera minha resposta, me encarando, mas reviro
meus olhos. — Essa é para você falar — resmungo e ele pensa, abrindo um
sorriso esperto.
— 2. Ler um livro.
— Fazendo o marketing, né? — Gargalho, junto com ele, mas concordo
do fundo do meu coração. Todo mundo deveria ler um livro.
— Claro, agora você. — Tomba a cabeça, esperando.
— 3. Comer um donut. — Seus olhos se reviram, mas ele anota.
Estou falando sério, todo mudo deveria comer um donut na vida. Eles
são viciantes e muito gostosos. É o que eu mais amo comer, para a tristeza e
alegria de Heitor. Tristeza porque comer tanto doce não é saudável, e alegria
pela bunda que ele gosta tanto de admirar.
— 4. Ir ao circo — ele fala e eu concordo, mas, quem nunca foi a um
circo?
— 5. Jogar videogame. — Seus olhos se viram para mim e eu explico.
— Nunca joguei videogame, mas dizem que é muito bom, e se é algo bom,
todo mundo deveria jogar! — Arreganho os dentes em um sorriso
dissimulado…
— Era para você ter dito, temos um lá em casa, eu te ensinaria a jogar.
— Franzo o cenho, porque eu futriquei cada superfície daquela casa e nunca
achei nenhum videogame. Ele entende a minha confusão e explica. — Está
escondido no meu quarto, porque da última vez que eu deixei na sala, Pietro
sumiu com ele por duas semanas e eu acreditava que tinha sido roubado. —
Solto uma risada, isso é bem a cara de Pietro. — Mas continua, não estou
com imaginação agora.
Penso no que posso colocar na lista, algo que seja bom demais e que
todos deveriam fazer, mas só uma coisa que eu fiz recentemente que me
vem à cabeça e antes que eu tenha dado permissão, minha boca fala.
— 6. Beijar. — Meu rosto está corando furiosamente, e o olhar de Heitor
queima ainda mais.
— Acho que isso já é algo muito comum, é bom demais para que
ninguém tenha feito — divertimento cobre a sua voz, mas não consigo
encará-lo agora. — Manuela?
— Tem pessoas que nunca beijaram, é super normal — disfarço. Mas
sinto seus olhos fixos em mim.
— Adolescentes sim.
— Adultos também — defendo meu ponto me entregando de vez.
Murcho por dentro ao encarar os olhos questionadores e profundos de
Heitor.
— Você beijou alguém antes de mim, ragazza? — indaga, baixinho e
grave.
— Eu…
— Não minta — diz, ao chegar pertinho de mim e levantar meu rosto,
nos deixando face a face.
— Não — decido ser sincera, pois ele sempre sabe quando eu estou
mentindo, todo mundo sabe. Uma emoção crua passa por seus olhos que eu
identifico ser desejo, e seus olhos caem para a minha boca.
— Essa boca é só minha? — pergunta rouco e mesmo com vergonha
de ter sido tão inexperiente antes dele, assinto. Não entendo algo baixinho
que ele fala em italiano, mas sei que foi algum palavrão.
Sua testa descansa na minha e ele fecha os olhos, mas antes que me
beije, o filme começa e ele ganha só um selinho.
Essa é a oportunidade perfeita para fugir de seus questionamentos e
também não vou desperdiçar minha primeira vez no cinema, assistindo meu
filme favorito, chupando a língua de alguém. Mesmo que esse alguém seja
Heitor.
Durante todo o filme sinto seus olhos queimando em mim, mas um
sorriso largo ocupa espaço demais no meu rosto. Um sorriso de estar vendo
meu filme favorito no cinema.
Assisto cada parte feliz, desde o começo, a entrega do coração de
Louisa e a morte do Will. Nessa última, eu deixo escapar algumas lágrimas.
Assim que o filme acaba, todos se levantam e saem da sessão, mas
quando faço menção de me levantar, Heitor me manda sentar e mesmo
achando estranho, sento.
A sala fica vazia em poucos minutos e Heitor se vira para mim quando
uma lanterninha fecha a porta. Meu coração acelera. Será que ele quer fazer
sacanagem no cinema?
— Não vou nem explicar como eu estou me sentindo agora por ter tido
o privilégio de ter sido o seu primeiro beijo — ele começa, seus dentes
mordem o lábio inferior quando ele pausa, mas depois continua — Eu quero
continuar sendo o seu primeiro em tudo, Manuela. Porque desde que você
entrou pela porta da minha casa eu sabia que ia ter que lutar muito para
manter minhas mãos longe de você, porque você mexe com tudo que eu
julguei ser certo e tudo o que eu queria para o futuro. — Respiro fundo. O
que é isso? O que ele está fazendo? — Eu quero te fazer feliz, e você é
especial demais para mim para que eu a deixe morar comigo, dormir na
minha cama sem algo fixo com você, então paguei ao dono desse cinema
para passar uma sessão inteira do seu filme favorito, para que na primeira
vez que você viesse aqui, tivesse a melhor experiência, tudo para que esse
dia seja especial para você, assim como você é para mim. Então, — ele tira
algo no bolso da bermuda, que eu vejo ser um pequeno anel, rodeado de
uma pedra vermelha que tenho certeza que são rubis, na minha cor favorita
e estende para mim. Não é um anel de noivado, mas um de namoro — quer
namorar comigo, principessa?
Eu pensei que já estávamos namorando…
Uma gargalhada explode da minha boca, quando me jogo em seus
braços, enchendo o seu rosto de beijos e murmurando vários…
— SIM.
Pois é claro que sim, agora eu posso dar a certeza a todos que
Manuela Martínez é namorada de Heitor Mancini!
Ah meu Deus!
Não sei em que momento da minha vida eu consegui virar a página e
escrever uma nova história, mas não vou reclamar, eu não reclamei antes,
agora que eu não vou mesmo.

Depois que comecei a dormir com Heitor, os pesadelos tem sumido, e


uma calmaria e sonhos vem fazendo morada nas minhas noites e isso é
bom, é muito bom.
Mas a noite de ontem não foi de calmaria, foi de ansiedade.
Eu estou acordando oficialmente como namorada de Heitor! Eu estou
feliz? Estou, é óbvio, estou em um relacionamento com o homem por quem
estou apaixonada e cada parte do meu corpo deseja o dele. Principalmente
quando acordo já sentindo o seu corpo colado ao meu, me aquecendo por
dentro e por fora. Mas a minha maior alegria é saber que o que eu sinto é
recíproco, porque é.
Abro os olhos, dando de cara com o assunto em questão, me
encarando com o semblante sonolento.
Meu rosto esquenta de vergonha. Ele estava me vendo dormir? Senhor,
que seja a primeira vez, porque se ele tiver o costume de me ver babando,
com remela nos olhos e com bafo de leão, eu com certeza nunca mais vou
dormir com ele.
— Você ronca. — Ele abre um sorriso divertido, seus olhos ainda
sonolentos e fico admirada em como esse homem é gostoso acordando.
Minha calcinha concorda comigo e é por isso que demoro um momento para
processar o que ele fala.
O olho com uma cara feia, o que não deve ficar muito longe da verdade
e falo.
— Quem insiste em me chamar para dormir contigo é você — era só o
que me faltava. Não que eu reclame, adoro dormir com você, chefinho, mas
eu tenho que apresentar os fatos. E os fatos mostram que você é carente,
mas do que eu.
— Ai, você sabe ferir o ego de um homem. — Ele leva a mão até o peito
e força uma carinha magoada no rosto, me arrancando uma risada. Ele sorri
com isso. — Bom dia, ragazza — a voz dele me atinge também, rouca de
sono, assim como fica rouca de tesão.
— Bom dia. — Ele tira alguns cachos do meu rosto com carinho, seus
olhos brilham em admiração, fazendo meu coração palpitar com alegria a
esse pequeno gesto, que faz tanta diferença. Se eu tiver um infarto, foi culpa
dele, viu? — Acordou agora?
— Há alguns minutos. — Franzo o cenho.
— E por que não fez o meu café ainda?
— Já disse que você é muito abusada? — pergunta divertido.
— Já, mas isso não responde a minha pergunta.
— Mimada.
— Mandão. — Lhe dou língua e ele me puxa mais, colando seu corpo
no meu.
— Eu não te disse? — pergunta, me deixando momentaneamente
confusa.
— O quê?
— Que eu vou te alimentar, amore mio, mas só depois que você fizer o
mesmo. — Me apoio em um cotovelo, sabendo exatamente onde seus
pensamentos sacanas foram parar e antes que ele tenha reação, pulo da
cama. — Ei, para onde você vai? — resmunga em protesto, tentando me
alcançar, mas corro para o banheiro.
— Escovar os dentes, bem capaz de eu te deixar me beijar com bafo,
hein? — ele xinga em italiano, e eu sei que é xingamento, porque sempre sai
da sua boca quando o timinho dele pega um gol.
Também, vai torcer logo para o flamengo.
Escovo meus dentes rapidamente, fazendo um xixi e me lavando bem
direitinho, porque vai que ele quer mais que uns beijinhos.
Volto para a cama, puxando sua camiseta para cobrir minha calcinha, já
que ela enganchou no cós, e pulo em cima dele.
Suas mãos agarram logo minha cintura, me prensando sobre sua
dureza.
— Sua bunda fica muito gostosa com a minha camiseta, sabia? —
Aperta com gosto a coitada. Isso, aperta mais, desse jeito pode pegar uma
parte para você. — Mas fica ainda mais sem ela. — Ele puxa a camisa para
cima, suas mãos passando por minha pele, hipnotizando meus sentidos e eu
me sento em seu colo, para facilitar o processo.
A camiseta é jogada em algum canto de seu quarto, e suas mãos
correm pelo meu corpo, apreciando cada pedaço de pele e beijando o meu
pescoço. Só basta um toque no bico enrijecido do meu seio para me arrancar
um gemido rouco.
O volume que sinto aumentando a cada movimento de suas mãos me
fazem arfar, pois ele está bem abaixo da minha intimidade, se pressionando
contra ela como se quisesse entrar, se fundir.
Suas mãos se direcionam para a minha bunda e o aperto sensual
fazem eu ficar molhada, e coitada da sua calça que faz contato direto com
minha calcinha.
— Estou sentindo sua boceta encharcando a minha calça, ragazza. —
Um gemido gutural saiu da sua boca, enquanto mãos habilidosas pegam as
alças da minha calcinha, puxando-a lentamente. — De joelhos — manda, e
eu me coloco na posição, deixando meus seios pairando à frente do seu
rosto.
Fazer o quê? Eu gosto quando ele fica mandão.
A calcinha some do meu corpo e logo depois estou sentada novamente
em seu colo, agora tendo a certeza que a coisa enorme que me cutuca aqui
embaixo está sentindo todo o calor e consequência do meu prazer.
Ele analisa meu corpo, de cima a baixo com um olhar provocativo, e me
pega pela cintura, nos girando e ficando por cima de mim. Eu gosto dessa
posição, ele fica mais no controle e eu gosto que ele tenha o controle. É
difícil ter um quando não se sabe o que fazer.
Ele se põe de joelhos entre minhas pernas, espalmando as mãos nas
minhas coxas e as abrindo para seu olhar faminto. Seus olhos se fixam no
meu centro, que palpita em resposta ao olhar de admiração, como se fosse a
coisa mais linda que ele já viu, cheio de desejo e luxúria. Esse olhar poderia
me causar vergonha, assim como o fato de que eu nunca fui em um
ginecologista homem com medo de ter que abrir as pernas para ele, sempre
me consulto com mulheres. Imagina, ter que mostrar sua parte íntima para
um completo desconhecido? Mas, embora eu saiba que a vergonha é
normal, ela não me atinge, ela nunca me atingiu desde o momento em que
ele me viu nua pela primeira vez. É questão de confiança e se sentir segura
com a pessoa que está e eu me sinto assim, ele me faz me sentir assim.
O olhar em seu rosto se torna presunçoso quando leva um dedo até
onde estou mais lubrificada me fazendo arfar.
Seus olhos se fixam nos meus quando o dedo volta completamente
molhado e ele o leva à boca, chupando e fechando os olhos em seguida.
Não sei se aguento ter essa reação sempre que ele faz isso, pois meu
coração bate tão rápido que tenho certeza que o coitado um dia não vai
resistir.
— Sua boceta... — ele geme, levando o dedo até minha intimidade
novamente e trazendo a boca como se fosse brigadeiro. Heitor lambe a
ponta do polegar que está brilhante, e sua lambida é tão sensual que eu
estremeço. — Nunca vou cansar de provar essa sua boceta lisinha, que
basta uma palavra minha e ela já fica pingando de tesão, pronta para a
minha boca chupá-la.
Afundo minha cabeça no travesseiro com suas palavras sujas que
fazem o efeito desejado, pois se antes eu já estava molhada, agora eu estou
encharcada. Todos os pensamentos fogem da minha cabeça quando ele
apoia minhas pernas em seus ombros e aperta minhas coxas, deixando
beijos molhados no interior delas, a caminho de onde eu mais quero, porque
depois das suas palavras, o meu maior desejo agora é ter sua boca me
lambendo.
— Posso, ragazza? — Como se eu fosse dizer não.
Assinto, fechando os olhos, mas uma mordida no interior da minha coxa
me faz abrir novamente e encará-lo.
— Quero seus olhos em mim enquanto te faço gozar — ordena e eu
fixo meu olhar no seu.
De jeito nenhum eu vou desobedecer e ter motivo para sua língua não
fazer a festa.
Eu confio nele e quero muito isso, por que não iria obedecer agora? Me
diz quem tem coragem de negar algo quando esse homem está com a boca
onde você mais quer?
Nem a pessoa mais certinha!
Com nossos olhares travados, ele passa a língua macia da minha
entrada ao clitóris em uma lambida espetacular.
A língua desse homem tem que ser estudada, não é normal não, hein.
Meu quadril se ergue em sua direção automaticamente, buscando mais,
sem nenhuma vergonha na cara, porque ela foi embora e nem me disse para
onde, para eu ir buscá-la.
— Ambiciosa — rosna contra mim, agarrando a minha bunda e me
puxando em direção a sua boca, devorando minha intimidade como se
tivesse o melhor banquete na sua frente.
Heitor arranca gemidos altos de mim, quando beija meus lábios,
chupando em seguida. Quando lambe da entrada ao clitóris novamente e fica
alternando entre esses movimentos. Mas meu corpo estremece quando sua
língua se ocupa em meu ponto inchado e circula ele dando voltinhas lentas,
mas eu quero mais, e meu quadril se ergue para procurar o que tanto quer e
sua língua fica mais rígida. Não demora muito para que sinta meu ventre se
contorcer e um frio desça pela minha espinha para eu saber que estou perto.
Heitor sente isso, e com o olhar ainda preso no meu, ele traz uma mão
da minha bunda e circula minha entrada com o dedo médio, logo enfiando a
pontinha e mordendo meu clitóris. Arfo, minha respiração está tão ofegante
que a vontade de fechar os olhos vem com tudo. Mas Heitor me pediu para
olhar, então eu vou.
Meu quadril de encontro a sua boca busca o próprio prazer, e quando
Heitor enfia o dedo em um vai e vem e chupa meu ponto inchado, eu
explodo.
Estremeço em sua boca, minhas paredes internas espremendo seu
dedo furiosamente enquanto o clímax me arrebata, e gemidos desconexos
saem da minha boca e não resisto, meus olhos reviram de prazer quando a
língua ocupa o lugar do dedo na minha entrada e tomam cada gota do que
dou.
Heitor me limpa todinha com a língua e quando está satisfeito, fica de
joelhos novamente, encarando o trabalho com um sorrisinho arrogante.
— Adoro quando você está assim.
— Parecendo que foi atropelada por um trem? — falo ofegante.
Ele ri.
— Não, ofegante de prazer, quando eu foder você ragazza, depois da
sua primeira vez, vamos foder em cada canto dessa casa. — Ele se
acomoda em cima de mim e coloca meu mamilo na boca, dando uma
mordidinha e depois chupando quando resmungo. — Vou foder você na
cama, no sofá, no balcão da cozinha. — Solto um gemido quando se
acomoda no meio das minhas pernas e chupa o outro mamilo. — Vou te
foder na parede, no chão, no banheiro...
Seus lábios deixam beijos molhados no meu pescoço e todo
pensamento racional foge lá para onde Judas perdeu as botas.
— Pode ser agora... — jogo a isca.
Eu quero, quero demais fazer isso com ele, eu sinto que é o certo, mas
ele não me deixa tocá-lo de verdade. Não sei o que aconteceu, mas ele
pegou como obrigação morar, me encher de prazer, antes de me encher de
outra coisa. Mas eu acho que já chega, estamos há semanas assim, eu
quero senti-lo de verdade, sem ser a boca, embora goste muito dela.
Ele ergue o rosto, me encarando com intensidade.
— Você é uma safada, sabia? — Nego com a cabeça, dando a ele o
olhar que o patrão, gato de botas me ensinou e ele ri, mordendo meu lábio
inferior em seguida. — Como eu pude cair nessa sua carinha doce? — ele
murmura.
— Você está fugindo do assunto — resmungo, mesmo que meu corpo
esteja bem relaxado.
— Quer que eu te foda, ragazza? — pergunta provocativo. Seus olhos
brilham.
— Foder é uma palavra muito forte. — Desvio o olhar para o teto, com
meu rosto corando vergonhosamente. Fala sério Manuela, você está nua e
está corando por uma maldita palavra?
— Prefere fazer amor? — Seu nariz passeia pelo meu maxilar, e
beijinhos são distribuídos pelo caminho.
Eu amo isso, o carinho que ele tem por mim.
Embora, agora sinta meu pescoço esquentar com o que ele fala.
Fazer amor, a gente só faz isso com quem ama, né? Para ele fazer
amor comigo teria que me amar e eu não sei se o que ele sente é tão forte
assim.
Me apaixonei por você, chefinho, se apaixone por mim também.
— Eu não sei. Acho que só vou saber quando fizer — falo, empurrando-
o de cima de mim.
Ele se ajoelha novamente, me encarando confuso e para dissipar a
vergonha que estou sentindo, falo.
— Vai me deixar retribuir o prazer? — Ele nega com a cabeça, com um
sorriso presunçoso e eu fecho a cara. — Então se levanta e vai fazer o meu
café. — Jogo um travesseiro na sua cara, arrancando uma risada alta sua.
— Merecia umas palmadas por ser tão mimada — ele fala baixinho ao
se levantar.
— Minha bunda tá aqui, não dá porque não quer — a vergonha na cara
deveria ter deixado o endereço para que eu pudesse ir buscá-la, porque sem
ela eu não tenho limite quando o assunto é esse homem.
O projeto de mafioso me encara com olhos perigosamente
semicerrados, prometendo deixar minha bundinha vermelha por dias, mas
como eu não planejo ficar em pé para sempre com medo de machucar ela,
antes que sua mão alcance meu pé, corro gargalhando para dentro do
banheiro, e como ele estava do outro lado da cama, tenho tempo de fechar
escutando seus xingamentos em italiano do outro lado.
Tranco a porta, me encostando nela, sentindo as vibrações das suas
batidas e ainda gargalhando me sento no chão.
— Abre essa porta, Manuela! Vou te ensinar a não me provocar,
ragazza… — ele rosna, socando a porta.
— Deus me livre, se você castigar minha bundinha, eu vou sentar
como, Heitor?
— Se sentasse no meu pau, não reclamaria. — Oi? Ele disse isso
mesmo? Sua voz saiu tão sussurrada que eu não tenho certeza que escutei
direito. — Você me paga, Manuela. Deixa você sair daí.
Escuto seus passos saindo de perto da porta enquanto ainda dou
risada, planejando ficar aqui o restante do dia, mas como minha barriga
ronca, não acho que seja possível. Mas não é como se eu fosse reclamar de
alguma punição por ser atrevida com ele, né?
Você deve achar que sou um tolo.
Você deve achar que sou novo nisso, mas já vi isso tudo antes.
(Too good at goodbyes — Sam Smith)

— Aquele cretino! — A porta da minha sala é aberta brutalmente pelo


meu assistente que entra como um furacão, e em seguida, fechando com
força, como se não tivesse geladeira em casa e se joga no sofá, com cara de
poucos amigos. — Acredita que ele estava flertando com o Marcelo na
cozinha do 6º andar, e quando me viu chegando, fingiu que estavam falando
de trabalho? — ele rosna, pegando o tablet e quase quebrando com a força
que aperta.
Sinceramente, estou pensando seriamente em colocar Manuela dentro
da minha sala, pois ela realmente faria uso da mesa que ocupa espaço aqui
dentro e colocar Luiz para fora.
Mas, como estou organizando a sua mudança para uma sala particular
que vem com seu novo cargo, não acredito que apreciaria o fato do meu
novo ou nova secretária ficar na minha sala.
— Ele quem? — mesmo sabendo que é de Carlos que meu amigo está
falando, pergunto.
Sonso? Talvez.
— Não, não venha com essa, você sabe quem é, e esse nome não
pode ser mencionado. — Ele aponta o dedo em riste para o meu rosto,
fazendo uma cara feia e eu assinto.
Luiz está péssimo.
Seus olhos tem olheiras profundas desde que acabou seu
relacionamento com Carlos, ele estava realmente muito apegado e se tem
uma coisa que eu tenho certeza, é que se fosse Manuela quebrando meu
coração, eu estaria bem pior que ele.
— Tudo bem, Ronald Weasley, não vamos falar o nome do infeliz, mas
você sabe que ele não vale a pena, então, pode parar de ir ao sexto andar só
para xeretar?
Ele faz uma careta culpada, sabendo que eu estou certo e não sou o
único que sabe que ele vai ao andar de Carlos apenas para vê-lo, já que
todo mundo percebeu, inclusive o traidor. Ele pensa por um momento,
enquanto fecho a gaveta guardando algumas pastas de documentos e franze
o cenho, virando seu rosto para mim.
— Por que Ronald? Eu quero ser a Hermione.
Tenha paciência para lidar com Manuela e Luiz em um dia.
— Porque Hermione falava o nome de Voldemort, e era inteligente o
suficiente para ficar longe dele. — Solto uma indireta e ele me dá língua,
deitando em seguida.
Se não estivesse sofrendo, eu o jogaria pela janela, certeza. Me diz, pra
quê diabos eu contratei esse garoto?
— Como você está? — pergunto, posso não concordar com sua
preguiça, mas sei cuidar de um amigo.
— Pior que você, que está aproveitando uma novinha que só tem olhos
para você — ele resmunga, mas suas palavras deixam meu coração leve.
É verdade, eu estou ótimo, depois que eu aceitei que não conseguiria
ficar longe da minha ragazza, estamos vivendo muito bem. Ela é tudo que eu
poderia pedir e mais.
Apoio o corpo na cadeira, deixando a cabeça tombar para trás,
enquanto minha cabeça se enche de imagens sobre a minha ragazza.
— Você supera, é como você me disse, vai demorar um pouco e vai
doer também, mas depois de uma Vanessa, sempre vem uma Manuela —
relembro o que ele me falou quando o achei jogado na minha sala, uma
semana atrás. — Mas você não bebeu mais, né?
Nega com a cabeça. Embora possa parecer um homem que é solto e
de boa com a vida, Luiz tem muita responsabilidade sobre suas ações. Ele
não é alguém que bebe muito, mas ultrapassou um limite que me deixou
preocupado na minha casa.
— Vamos lá em casa, a gente assiste algo, pede comida e você pode
dormir no quarto de Manuela — chamo, tentando…
Ele me olha por um instante, e como eu imaginei, ele responde.
— Já estão dormindo juntos? Ah, Heitor, você já viu como aquela bunda
é bonita? — ele provoca, e mesmo que meu sangue ferva, como sempre
acontece quando falam algo sobre os atributos da minha ragazza, sorrio,
tentando dissipar a névoa que cobre os pensamentos e o olhar do
preguiçoso à minha frente.
— Bonita vai ficar sua boca quando eu quebrar seus dentes por falar
besteiras demais. — Ele gargalha, os olhos já recuperando aquele brilho
divertido.
— Eu até iria. — Se senta. — Mas combinei de ir com Duda em uma
boate que vai estrear hoje. — Ele coça o queixo e olho o meu relógio,
verificando quantas horas faltam para o meu turno terminar. Eu já terminei
meu trabalho de hoje, mas gosto de dar o exemplo, não sou o CEO dessa
birosca à toa. — Vem cá, o que você sabe sobre Duda e seu irmão? — a
pergunta do século.
Eles se conheceram no dia do acidente, no hospital, mas não sei o que
aconteceu, eu estava tão desesperado que não notei nada entre eles, só sei
que umas semanas depois eles se olhavam com olhares intensos quando
pensavam que ninguém estava encarando, e sempre que estavam em um
mesmo ambiente, ficavam o mais longe o possível um do outro.
Mas não me escapou o dia em que ele preparou comida para ela, como
se soubesse da sua dieta e a conhecesse há mais tempo.
— Não sei — respondo sinceramente.
— Eu já perguntei a ela, mas ela diz que não tem nada, mas é óbvio
que tem, será que seu irmão não é apaixonado por ela? — pergunta,
cruzando a perna.
Solto uma risada.
— Não, a não ser que tenha mudado de ideia. — Seu cenho se franze e
decido explicar o que passou anos atormentando meu irmão. — Ele é
apaixonado por uma mulher misteriosa que passou um final de semana
inteiro há dois anos atrás. — Gah ficou arrasado quando chegou em casa,
passamos um final de semana enchendo a cara, sem Pietro que era menor
de idade ainda, porque ele disse que teve o melhor final de semana da sua
vida com uma mulher, não falaram os nomes, apenas decidiram viver o
momento, mas quando chegou na segunda, quando ele planejava dizer o
seu e descobrir tudo o possível sobre ela, ela tinha fugido. Sem deixar
número, nome ou rastro. — Ele disse que foi amor no primeiro momento,
mas não conseguiu encontrá-la e também disse que nunca entregaria seu
coração a alguém que não fosse ela, mesmo que tenha ficado com raiva.
Luiz ergue as sobrancelhas em surpresa, assim como eu fiz com as
minhas quando descobri que meu irmão tinha se apaixonado por alguém à
primeira vista.
— Bem… sendo assim. Bom para o seu irmão, Duda não é mulher para
se apaixonar. — Ele dá de ombros, e se levanta, olhando o tablet. — Deu
minha hora, vou indo.
Semicerro meus olhos para ele, vendo-o pegar suas coisas e soprar um
beijo para mim, a caminho da porta.
Mas é muito abusado mesmo, pago um salário exorbitante para esse
figlio di puttana vir para cá, sentar no sofá e fofocar da vida alheia.
Se eu quisesse fofocar eu chamaria Pietro. Cara de pau.
Porém, relevo sua atitude porque ele está sofrendo.
— Já vou indo também — resmungo, arrumando minhas coisas e o
seguindo para fora da sala.
Manuela está com o rosto enfiado no celular e apenas bato na sua
mesa, esticando a mão, para que ela saiba que é hora de sair.
Sua mão pega a minha, com um sorriso no rosto ao guardar o celular
no bolso da calça comprida que veste hoje e me acompanha, junto com Luiz,
para o elevador.
Penso no que temos que fazer ao chegar em casa, e decido mudar um
pouco a rota.
— O que acha de um sorvete? — pergunto, encarando a minha ragazza
pelo espelho do elevador, e seus olhos brilham.
— Eu acho ótimo — era a resposta que eu precisava.

— Nossa, o sorvete de chocolate é uma delícia — claro, porque não


acaba com meu juízo mais um pouco, tá achando pouco.
O sorvete em questão mela o canto da sua boca, descendo pelo queixo,
e eu lhe entrego um guardanapo para que se limpe.
Manuela parece criança comendo, se duvidar, ainda se mela mais do
que uma de cinco anos. Nunca vi alguém para ficar mais animada comendo
do que ela. Eu não reclamo, ela pode melar o rosto todo, contanto que
aproveite o que come. Se tem uma coisa que Manuela nunca mais vai
precisar passar na vida, é fome.
— Prefiro de maracujá. — Ao contrário da minha secretária, que lambe
um sorvete de casquinha, eu peguei o meu em uma taça com colher, de jeito
nenhum vou me melar todo.
Ela bufa, pegando uma boa quantidade de sorvete com a boca, e
olhando para as pessoas ao nosso redor.
Estamos em um parque e à nossa volta, várias crianças correm,
brincando e se divertindo, enquanto os pais conversam entre si, ou ficam
andando pra lá e pra cá, para segurar um que escapa.
É um lugar legal, não era aqui onde pretendia levar Manu para tomar
sorvete, mas quando passamos, ela insistiu em parar, e aqui estamos.
— Mas chocolate é melhor — defende e eu não discuto. Não adianta
discutir, e é melhor não fazermos isso em público, se tem uma coisa que me
deixa com tesão, é Manuela irritada, e com certeza não quero ter uma
ereção no meio da rua.
— Se você diz — concordo, encarando-a divertido.
Ao nosso lado, uma mulher caminha com um bebê no colo e os olhos
de Manuela se dirigem diretamente para ela. Eu sei o que ela está pensando.
Isso dói.
Dói saber que ela escolheu ficar comigo mesmo sabendo o que nunca
poderia ter.
Eu estou feliz, estou muito, mas saber que a estou impedindo de fazer
algo, dói, porque quando você gosta de alguém, a dor do outro se torna a
sua.
Não acredito que Manuela queira um bebê agora, ela é nova, ainda está
tentando ocupar o espaço dela na vida. Buscando se adaptar a tudo a sua
volta, viver um pouco.
Ela passou muito tempo presa em uma caixinha, o que eu mais desejo
que faça agora é aproveitar a vida sem o peso que carregava.
Se ela quiser viver, eu vou estar com ela para isso, para o que ela
quiser. Mas saber que não posso dar a ela algo que ela pode querer em um
futuro, dói.
Dói porque o meu futuro já está escrito pelo que aconteceu anos atrás.
Pelo que aconteceu naquele dia em que recebi um e-mail que mudaria
minha vida.
O rosto dela entristece por um mísero segundo, e logo volta a tomar o
sorvete, fingindo que isso não a afeta. Mas eu a conheço, passei semanas
analisando suas feições, pois era a única coisa que eu poderia fazer. Olhá-la
sem tocar.
Conheço quando ela está com raiva, com vergonha, com tesão.
Conheço quando ela está triste, quando está magoada e quando disfarça
algo que a afeta.
É isso que ela está fazendo agora.
Tomo meu sorvete, que desce amargo ao invés de doce. Tentando
engolir o fato de que eu estou pedindo para ela renunciar algo para mim,
enquanto eu não estou renunciando nada para ficar com ela.
— Vamos para casa? — pergunto, afastando os pensamentos e ela
assente, ajeitando os óculos no rosto.
Levanto da mesinha, indo ao caixa para pagar, pedindo para colocarem
em um recipiente mais sorvete de chocolate, vai que Manuela quer comer a
noite.
Quando me viro de volta para a mesa em que deixei minha ragazza,
vejo uma cena linda. Uma cena linda que dói pra caralho.
A mulher que passou com o bebê no colo deixou o sorvete derramar em
cima de si, e enquanto se limpa, Manuela está ninando o neném.
Ela fica tão linda enquanto olha o bebê que a encara com devoção, e
ela devolve o mesmo olhar, e meus olhos marejam.
Eu queria isso, anos atrás eu queria, eu sonhava, mas então tudo virou
de cabeça para baixo e isso se tornou uma impossibilidade.
E dói, dói saber que ela nunca vai segurar um neném nosso.
Ela não sabe o quanto dói. Mas dói pra caralho.
Pego o sorvete e vou em sua direção. Assim que percebe que eu estou
de volta, foca os olhos brilhantes nos meus.
A mulher termina de se limpar e me encara envergonhada.
— Oi, desculpa ocupar sua amiga, mas eu precisava de uma ajudinha.
— Ela aponta para si mesmo, achando graça e depois estende os braços
para minha namorada.
Namorada, é tão estranho chamá-la assim. Por algum motivo, o que eu
tenho com minha ragazza é muito mais que isso.
— Seu neném é muito lindinho — ela diz, ao entregar a criança de volta
aos braços da mãe.
— É, não é? — Os olhos da mãe brilham. — Dão um trabalho, mas é a
melhor coisa que você pode ter na vida. Você gera, e quando nasce…, você
sente um amor tão imediato que fica se perguntando como não fez um
antes? — Ela ri.
É assim que uma completa desconhecida destroça minha alma
quebrada por algo que nunca poderei ter.
É assim que ela faz os olhos da mulher ao meu lado se entristecerem
novamente e meu coração sangrar.
Como eu sou tão egoísta? Como eu posso pensar apenas em mim e
pedir para a mulher que tem meu coração nas mãos renunciar a algo tão
grandioso como gerar uma vida?
Se tem algo mais precioso do que o poder que as mulheres têm de
gerar um ser humano, eu desconheço. O mundo deveria dar tudo a elas, pois
elas merecem. As mulheres são os seres mais perfeitos do mundo e a minha
é assim.
Tão nova, renunciando a algo tão grande.
Não posso fazer isso, não posso.
Engulo em seco e alguns minutos depois estamos no carro a caminho
de casa.
O silêncio no carro é pesado. Ambos sabemos o que estamos
pensando. Principalmente o que ela está pensando.
Decido perguntar de uma vez o que me atormenta.
— Posso perguntar algo?
— Claro — responde, mas sua voz sai hesitante.
— Você queria ter filhos? — pergunto, engolindo em seco.
Meu coração começa a ficar mais acelerado quando entramos na rua
da nossa casa.
— Bem…
— Não estou falando agora, estou perguntando se algum dia você já se
imaginou com filhos. — Conheço Manuela, sei que ela está pensando em
contornar a pergunta.
— Sinceramente? — sua voz falha um pouco, e mesmo que eu já saiba
a resposta, peço para ouvir.
— Me conte, amore mio, não me esconda nada.
— Eu não tenho família Heitor, todas as pessoas que eu tinha se foram,
eu não tenho alguém como você tem. Eu estou sozinha no mundo, sem
nenhum parente. Eu passei meses sozinha, e era solitário. — Ela olha para a
janela, mas pelo seu tom de voz, eu sei que está com vontade de chorar.
Por que não olha pra mim, ragazza?
— Você tem uma família agora, tem a minha, ela é sua também.
— É diferente, Heitor, ela é sua, seu porto seguro, e eu os amo, de
verdade, mas queria ter a minha, formar a minha. — Dói, ter tudo que você
não pode ter jogado na sua cara, dói. — Mas mesmo que eu queira formar
uma família, eu já me decidi, eu quero você, eu quero você mais que
qualquer coisa agora. — Ela me encara.
Sua face transbordando sinceridade e eu gostaria que fosse diferente,
eu gostaria muito que fosse.
Ah Manuela, se eu pudesse, eu te daria tudo, e não fazer isso me
quebra.
Entro em silêncio no nosso terreno, e em seguida, entramos em casa.
Eu nem consigo explicar como eu estou emocionado em saber que
mesmo que ela queira formar uma família, esteja renunciando a isso por
mim. Mas não é assim que funciona, e depois do que me contou, não tem
como.
Manuela passou meses sozinha, solitária e não tem um parente vivo, e
eu estou pedindo que renuncie a oportunidade de fazer com que isso fique
para trás e um novo caminho comece.
Que tipo de homem eu sou? Uma vergonha enorme me abate, e a
certeza de que não sou o cara certo para ela também.
Entro em casa, vou em direção ao sofá, me sentando e apoiando os
cotovelos no joelho e o queixo na mão e sinto Manuela sentar ao meu lado.
— Você está muito calado.
Encaro seus olhos, seu céu particular, que tanto me encanta e decido
fazer meu coração quebrar mais uma vez, tudo para que ela não se
arrependa de me escolher.
Pois é isso que vai acontecer, sabendo o que eu sei agora, sei que terá
algum dia que Manuela vai se ressentir pelo fato de nunca carregar um filho
meu em seu ventre. Sei que não será a primeira vez que presenciarei o olhar
triste em seus olhos ao ver um bebê e saber que por ficar comigo, não terá
um. Sei que ela um dia vai duvidar da sua decisão.
Mas é Manuela, ela é doce, e ela nunca vai me dizer isso, nunca vai
chegar em mim e falar que me culpa por algo, ela vai passar por tudo calada,
como fez meses atrás, sozinha e passando fome na sua casa. E eu me nego
a negar algo a ela. Ela já passou por coisas demais para abrir mão de algo
tão grande por mim. Ela não precisa mais fazer isso, ela tem que ganhar o
mundo por ser forte o suficiente e merecer ele.
— Não posso, Manuela — minha voz falha, assim como uma batida do
meu coração.
Ela franze o cenho, mas receio cobre seus olhos.
— Não pode o quê?
— Negar a você algo que foi seu desejo por tanto tempo.
Ela se levanta e fica na minha frente, uma esperança crua cobre seus
olhos, mas ela nem sabe de nada.
— Você mudou de ideia? — pergunta, seus olhos tomando um brilho
diferente.
Solto uma risada amarga… se ela soubesse.
— Sim, mas não é o que você está pensando. — Ela dá um passo para
trás, uma carinha de choro se formando.
Não chora, amore mio, não suporto te ver chorando.
— Não estou entendendo — sua voz falha.
Está sim, ragazza, você sempre entende.
— Mudei de ideia em relação a nós, isso não vai dar certo, você não
precisa renunciar a algo tão grande por alguém, Manuela, eu fui egoísta,
pensei só em mim, não posso em sã consciência saber que você pode
formar sua tão desejada família com qualquer outra pessoa, mas não poder
fazer o mesmo comigo. — Ela vira de costas e eu vou em sua direção.
Preciso do seu abraço, ragazza. Isso dói pra cacete.
Não pensei que depois de Vitória ainda sentiria essa dor que me
consome agora. Ela me magoou, me quebrou, e eu nunca consegui entregar
meu coração para ninguém depois dela por receio. Por medo de ter ele
partido por alguém novamente.
O que eu não esperava era que a pessoa que está quebrando meu
coração fosse eu mesmo, e de quebra, magoando a mulher por quem eu me
apaixonei.
Não teria como doer tanto se eu não estivesse apaixonado. Eu
entreguei meu coração a ela, e não importa onde ela for, ele vai com ela.
Mas dói pra cacete ter ele arrancado do meu peito.
— Você poderia, sabe, você poderia me dar essa família — ela
choraminga, enquanto meus braços a abraçam por trás.
— Não, não posso. — Ah ragazza, como eu gostaria, como eu queria
não ser um fodido de merda, alguém tão incompleto assim. — Scusa.
Ela se vira em meu abraço e suas mãos se prendem às minhas costas.
Seus ombros balançam com soluços silenciosos.
Não chora, ragazza, por favor.
— Não fique assim, amore mio. — Massageio seu cabelo, um nó do
tamanho de um caroço de abacate se forma em minha garganta e se torna
difícil falar por cima dele.
— Como não ficar? Eu pensei que a gente estava bem, quando as
pessoas estão bem elas não terminam, você está terminando comigo, né? —
ela soluça, mas não me encara.
Não queria, ragazza. Está doendo pra caralho fazer isso.
— Algum dia, quando você formar sua família, você vai me agradecer.
A mísera ideia de saber que minha ragazza pode formar uma família
com outra pessoa me quebra de inúmeras maneiras.
— Então é isso? — ela pergunta, saindo do meu abraço com os olhos
marejados e o nariz vermelho. — Você vai terminar comigo por um futuro
incerto, e não faz nada para mudar o nosso?
— Porra, Manuela…
— Sabe o que eu acho? — Ela se afasta mais de mim, limpando as
lágrimas com raiva. Ótimo, assim vai ser mais fácil para ela. — Eu não sei o
que aconteceu com você para que você seja tão contra a ideia de formar
uma família comigo, mas eu sei que você não sente por mim o mesmo que
eu sinto por você, porque se sentisse, você me contaria, me contaria o que te
causa tanta dor, e… — aponta o dedo na minha cara quando abro a boca
para falar. — E mesmo podendo mudar o nosso futuro, você não quer.
— Manuela…
— Não, não sei mais o que fazer com você, porque eu nem quero um
filho agora Heitor, eu tenho 22 anos, eu só queria aproveitar pela primeira
vez na vida o meu relacionamento com o homem que eu estou apaixonada,
mas ele arranja motivos para não ficar comigo, e quando fica, arranja
motivos para terminar. — Ela gesticula com as mãos, bufando de raiva. —
Eu já deixei claro que deixaria essa história de lado porque eu, eu gosto de
você e escolhi ficar com você, eu só preciso de tempo para me adaptar e
tirar da cabeça a ideia que eu formei, mas eu escolhi você. Será que dá pra
você entender isso?
Encaro a mulher na minha frente, vermelha de raiva, e com o rosto
molhado e tudo que eu mais quero é me ajoelhar aos seus pés e implorar
que me perdoe, que fique comigo.
— E se algum dia você acordar querendo isso? — indago, quebrado.
— Esse dia chegou, por acaso? — ela me pergunta, raivosa. — Não
tem como você saber de nada, só precisa confiar em mim. — Seus olhos me
encaram magoados. Não suporto isso.
— Eu confio…
E é verdade, é por confiar que eu sei que mesmo que se arrependa, ela
ainda vai ficar comigo.
— Quer saber? Não vamos ter essa conversa. Você é muito instável,
me faz duvidar se a mais velha aqui sou eu. — Ela põe as mãos na cintura.
— Instável?
— Não quero ter essa conversa, amanhã você pode muito bem acordar
e falar que se arrependeu dessa besteira, eu não deixo você terminar
comigo.
Pera aí, o quê?
— Você não tem…
— Se quer tanto me dar a oportunidade de formar uma família, me dê
uma você, porque isso não vai acontecer com outro — ela rosna.
Seria engraçado ver minha ragazza brava assim em outro dia, mas com
o que ela acabou de falar, a única emoção que me assolou foi a dor.
— Eu não posso, Manuela.
Suas mãos esfregam o rosto e ela vira de costas e sai em direção ao
seu quarto. Vou atrás.
— Você não pode, ou não quer, Heitor?
— Não posso.
— Por que?
— Porque eu sou estéril.
Conte-me seus segredos e faça-me suas perguntas.
Oh, vamos voltar pro começo.
( The scientist — Coldplay)

Travo na porta do quarto ao escutar as palavras do homem surtado


atrás de mim. Ele disse mesmo o que eu ouvi? Ah, não, chefinho.
Sinto sua presença de perto, enquanto minha mão está na maçaneta e
meu coração corre acelerado, mas ao invés de correr pela raiva como eu
estava sentindo, embora ela ainda esteja aqui, agora corre por outro motivo.
Eu sou estéril.
Quando acordei hoje, pensei que seria mais um dia normal, um dia na
nossa bolha mágica. Mas esse é o problema das bolhas, elas explodem
quando você menos espera.
Acordei, fomos trabalhar, almoçamos com sua família como fazemos
religiosamente de segunda a sexta e depois voltamos ao trabalho. Eu pensei
que quando ele me convidou para ir tomar sorvete, seria mais um convite
normal e não um começo de um pesadelo.
Nunca que eu adivinharia que o homem que está atrás de mim ia pedir
para terminar algo que acabamos de começar. A aliança em minha mão, com
as laterais cheias de pedrinhas de rubi, minha aliança de compromisso
queima em meu dedo e eu decido abrir a porta e entrar.
Me viro e encaro o homem à minha frente, com o semblante carregado
de dor e pergunto.
— O que mais você me esconde, mi amor?
Seus olhos desviam para a parede e depois de alguns minutos, ele se
volta para a porta e fecha.
Se ele fosse mafioso, essa hora eu estaria lascada.
Aproveito o momento de silêncio e me sento na cama, tirando o celular
do bolso e jogando de qualquer jeito na mesinha ao lado.
Ele vai me contar, ele vai me contar o que o causa tanta dor, e deve ser
o que já disse, ele é estéril. Meu peito se aperta por ele.
É por isso, mi amor? Por isso seus olhinhos ficam tristes?
Heitor vem em minha direção e não demora muito em matar minha
curiosidade, ao se deitar no meu colo.
— Vou te contar a história de como eu corri em alta velocidade e
quando menos esperei, colidi. — Pisco, sabendo que não é uma história
bonita. — Anos atrás eu namorava uma mulher chamada Vitória. — Fecha
os olhos e pede um carinho. Eu dou, é claro. Minha raiva já está se esvaindo,
embora o nó na garganta aumente.
É complicado esse negócio de ciúmes. Ele não precisa ter de mim,
nunca fui de outro, apenas dele, embora ele ainda tenha ciúmes. Mas eu? Eu
sei que outras mulheres já viram o corpo que eu ainda não vi, beijaram a
boca que me beija todos os dias e fizeram amor com o homem deitado no
meu colo.
Mas isso não é o que corrói mais nos ciúmes, o que mais machuca
nesse sentimento é saber que o que a pessoa sente por você agora, ela já
sentiu por outra.
É óbvio que essa tal de Vitória foi importante o suficiente para causar
tanto estrago e fazer o homem que está comigo agora ser tão inseguro.
Pois é isso que Heitor é, inseguro com relacionamentos, mas quem não
seria? Pietro me disse que antes de Vanessa, Heitor namorou uma mulher
que só queria seu dinheiro e a Vanessa, bem..., já é autoexplicativo.
Mas Vitória, Pietro nunca falou nada sobre ela.
— Quantos anos? — pergunto, tentando saber se eu era adolescente
ou criança.
— Oito anos atrás. — Olhos castanhos e tristes me encaram no meu
colo e eu só aceno, pedindo para continuar. Fazendo as contas na cabeça,
eu ainda tinha quatorze anos.
Ele fecha os olhos por um instante, como se pedisse coragem para se
abrir para mim.
Por favor, faça isso chefinho, me faça entender tudo.
— Eu tinha vinte e seis anos e jurava por tudo na minha vida que tinha
encontrado a mulher mais perfeita, Manuela. — Não me encara ao falar. Não
faça mesmo, chefinho, meus olhos estão marejados agora. — Ela era linda,
sua família vinha da Coreia, seus olhos eram puxados e seu cabelo era
longo e escuro como a noite. Eu me encantei por ela assim que a vi
comprando um dos nossos lançamentos na bienal.
Desvio os olhos para o teto, enquanto minhas mãos massageiam o seu
cabelo e seus olhos ainda permanecem fechados.
Ele está perdido em lembranças.
— Foi amor à primeira vista? — pergunto.
Heitor ri e volto a encará-lo, mas seus olhos ainda estão fechados e o
que sai da sua boca não é um som feliz.
— Não, eu não acredito nisso, acredito que amor se constrói, com duas
pessoas que se conectam, se preocupam…, a gente não escolhe por quem
se apaixona, mas a gente pode escolher amar alguém — ele fala.
— Como assim?
— A partir do momento em que uma pessoa entra na sua vida, se você
deixar ela tomar espaço, você está escolhendo quem seu coração pode
amar, porque você não ama alguém que você não conhece, não fala, não se
conecta, você precisa dar a essa pessoa a oportunidade de entrar na sua
vida e é então que o amor acontece, é uma escolha nossa correr o risco. As
consequências só vêm porque você pediu por aquilo. — Seus olhos se
abrem e ele me encara com sentimentos demais nublando seus olhos.
Ternura sendo o maior deles. — Eu não me apaixonei por ela à primeira
vista, eu me encantei, chamei-a para sair e ela aceitou. Cinco meses depois
nós estávamos namorando.
Eu não deveria estar competindo, mas minha mente entrou nesse modo
sozinha e está gritando.
Foi menos de três meses com você, Manuela.
Patético.
— Nós éramos felizes, eu pensei que éramos, eu me entreguei a ela,
Manuela, eu a amava. — Trinco o maxilar, ciúmes corroendo minhas veias
mais forte do que tudo. — Mas então, eu comecei a sentir dores estomacais
recorrentes, pensei que era só uma infecção estomacal. — Por que meu
coração diz que não foi? — Mas não era, Manuela, um dia eu vomitei
sangue, e estava na frente de Mamma, ela me levou imediatamente ao
hospital. — Heitor se senta, virado para mim, como se o que fosse falar fosse
muito doloroso.
Meus lábios tremem.
— Não era infecção, era?
— Não, ragazza, eu fui diagnosticado com câncer gástrico em estágio
inicial.
As comportas dos meus olhos transbordam em lágrimas, uma dor
enorme se infiltra em meu peito e pulo no colo dele.
Não, não…
Por que todas as pessoas na minha vida sofrem tanto?
Medo me consome, um medo paralisante enquanto os braços de Heitor
me rodeiam. Medo de que eu possa perder mais alguém.
— Você… você ainda… — tento perguntar com a voz chorosa, mas
Heitor puxa meu rosto para o dele, com os olhos vermelhos brilhando.
— Não, ragazza, não mais.
O alívio imediato que inunda meu corpo faz eu chorar mais ainda. Esse
medo que eu tenho de perder as pessoas ao meu redor nunca vai passar,
porque eu sempre perco, a vida tira tudo de mim.
Já não passei por muita coisa? Eu disse que não abriria mão de mais
nada, Heitor estava no meio.
— O que aconteceu com Vitória?
Ele beija a minha testa e apoia o queixo na minha cabeça.
— Deixa eu ir do começo, querida. Vitória ainda ficou comigo, ela
estava comigo no meu pior momento, eu, minha família e ela. E depois que
eu descobri o câncer, tive que começar a fazer tratamento, mas os médicos
avisaram que por conta do tratamento do câncer, eu poderia sair mais
prejudicado, pois com ele, eu poderia ficar infértil, isso pode ocorrer com
qualquer pessoa que tenha um tumor, seja ele onde for. — O abraço
apertado. — Eles me perguntaram se eu não queria guardar meu sêmen
congelado por precaução, e eu o fiz, eu guardei pensando em um dia usar
ele com Vitória.
— Ela não quis? — minha curiosidade fala mais alto, assim como a
esperança nubla minha voz.
Ele solta outra daquelas risadas amargas e doloridas.
— Eu fiz o tratamento, passei por altos e baixos, minha família esteve
comigo a todo instante, Manuela, mas o que os médicos disseram
aconteceu, eu consegui superar, eu consegui acabar com aquilo antes que
acabasse comigo, mas depois de tudo que eu passei internado no hospital,
com exames e mais exames por anos, eu pensei que estaria tudo bem. Mas
então, nos meus exames finais, depois de ter superado a doença, os
médicos me enviaram um e-mail e constataram que o tratamento tinha
prejudicado o meu esperma, eu não podia mais ter filhos.
Levanto minha cabeça, vendo seus olhos lotados de lágrimas e só
queria saber como pará-las.
Não chora, chefinho, não aguento ver você chorando.
O seu choro é dolorido, e agora entendo o porquê de ele ter tanta
certeza em relação a Vanessa, era por isso, porque não podia ser dele. Mas
ele queria, queria que fosse.
— Você queria ser pai, não é? — minha voz falha.
— É meu sonho, Manuela, meu sonho sempre foi ser pai — ele desaba,
seu rosto se enfia no meu pescoço com o choro e sua careta de dor e eu
choro igualmente.
O problema não era ele não querer filhos, o problema era que ele
queria, e não podia.
Ah, Manuela, como você é burra, como não notou que a dor dele era
essa? Como não notou que o choro estrangulado que saiu da sua garganta
no dia do casamento era por isso? Ah meu Deus, o casamento.
Meu coração sangra ao pensar no quanto a imagem de Vanessa
grávida, falando que o filho era dele, deve ter doído. Com certeza foi muito.
Eu nunca tive ódio de ninguém, mas agora, uma raiva descomunal me
possui, Vanessa não tinha esse direito.
— Não chora, mi amor, não suporto saber que está sofrendo — peço,
soluçando.
— Então somos dois.
Lembro de algo que ele falou e pergunto com esperança.
— E o que você congelou? Ele ainda existe?
Ele enxuga os olhos no meu ombro e me encara.
— Essa é a parte que dói, ragazza, foi aí que meu coração quebrou. —
Ele roça seu nariz no meu, nariz que está escorrendo, para deixar claro. —
Eu ainda tinha esperanças, sabe? Eu sabia que podia realizar meu sonho, já
estava há três anos lutando contra o câncer e os mesmos três com Vitória, e
quando saiu a notícia que eu estava livre, algumas semanas depois ela disse
que tinha uma surpresa para mim. — Oh merda.
— Qual era a surpresa? — pergunto hesitante, limpando o nariz,
enquanto ele tira o paletó e joga longe, tentando sem sucesso, afastar a
careta de dor do rosto.
— Eu dei a ela a permissão de usar o sêmen quando quisesse, pois era
o nosso futuro, o que eu não sabia, era que ela era tão cruel, eu nunca vi,
Manuela, em todos os anos que estive com ela, esse lado cruel. — Seu rosto
agora é preenchido por raiva e angústia, tanta angústia.
Meu peito dói, não sei o que ela fez, mas não foi legal, tenho certeza.
— O que ela fez?
— Dois meses depois dos resultados dos exames, recebi uma ligação,
avisando que estava tudo pronto para a inseminação artificial que Vitória
pediu. — A careta no meu rosto faz Heitor rir tristemente. — Eu fiquei feliz,
fiquei tão feliz, Manuela, eu ia ter um bebê se tudo desse certo, nós iríamos
ter a nossa família. — Suas mãos agarram os cabelos. — Ela fez a
inseminação, os testes que fez depois confirmaram que ela estava grávida, e
nós começamos os planejamentos, eu ia a todo canto, estava feliz pra
caralho em realizar o meu sonho, comprei tudo, organizei um quarto de
bebê, e comprei um anel de noivado. — Nunca, nem mesmo quando chorou
depois do casamento eu vi seus olhos tão tristes como agora.
— O que aconteceu?
— Aconteceu, que um dia fomos fazer um ultrassom e a médica avisou
que faltava apenas dois meses para nascer o bebê, mas era para faltar
quatro.
Arregalo os olhos, pavor me tomando.
Não, não, não.
— Ela estava grávida antes de fazer a inseminação, ragazza. — Ele
soluça, e eu também. — Ela sabia, e fez mesmo assim, usou minha última
esperança sabendo que eu não poderia ter mais nada sem ela. Ela usou
para encobrir uma gravidez de um filho que não era meu.
Ah, meu Deus!
Puta merda!
Puxo Heitor para os meus braços, sentindo todo o seu corpo tremendo,
enquanto o deito por cima de mim na cama e o abraço. Seus braços me
apertam contra si, contra seu corpo desesperado que treme, soluçando, e eu
queria, queria tanto conseguir fazer essa dor passar.
Deixo-o chorar, é o melhor que eu faço agora.
Mas, o que essa mulher fez? Quem é tão cruel assim?
— Eu descobri que enquanto eu estava internado no hospital no último
ano, ela estava tendo um caso com o advogado da família do seu pai, mas
eu já estava à frente da editora, e ela queria continuar comigo. O filho não
era meu, era do advogado, mas ela queria tanto que eu acreditasse que era
meu, que usou a última oportunidade de eu ter realmente um filho.
Eu gosto de pensar que todos tem um lado bom, mas essa mulher não
tem nenhum, como ela pôde? Como existe alguém capaz de fazer tal coisa
apenas por egoísmo?
— Eu não quero ser essa pessoa, Manuela, não quero me tornar a
pessoa que eu mais odeio, tirando isso de você.
Ele chora, chora no meu pescoço, chora com tanta dor que eu queria
gritar. A dor dele passa pelo meu corpo, se transforma em minha.
Heitor foi tudo para mim quando eu mais precisei, não em benefício
próprio, simplesmente por bondade do seu coração. Heitor é melhor do que
deixa as pessoas verem. Se esconde atrás da fachada de CEO exigente,
durão, irmão mais velho rabugento e namorado ciumento. Heitor é um
homem quebrado, e pessoas quebradas sentem dor, e a dor não é fácil de
sentir, a dor consome, a dor corrói, a dor toma conta da alma, quando você
menos a percebe, te arruína. Pessoas quebradas são sensíveis e sentem
mais do que todos, mas é difícil você conseguir enxergar por cima das
máscaras que elas usam. A de Heitor nunca o escondeu de mim, eu sou
apaixonada por todas as partes dele, principalmente as quebradas, pois eu
tenho as minhas também.
Não preciso entregar meu corpo a esse homem para ter certeza do
meu sentimento, porque esse sentimento que faz seu coração ficar ansioso e
relaxado ao mesmo tempo não se resume a sexo, se resume a cuidado, a
carinho, a responsabilidade, a atenção, a compreensão e a conexão. Não é
carnal, não é físico, é um enlace entre almas, entre o coração.
Com meus braços ainda a sua volta, sussurro.
— É por isso que quer terminar comigo?
Ele levanta a cabeça, seus olhos tão vermelhos me encaram
pesarosos.
— Eu não quero terminar com você, mas não posso ser pai, Manuela, e
isso corrói a minha alma, mas você pode ser mãe, pode encontrar alguém
para te fazer mãe.
— Você não se deu muito bem com relacionamentos anteriores a mim,
Heitor, mas não aceito que faça isso, não aceito que termine comigo porque
acha que eu estou melhor sem você, já discutimos que eu sei tomar minhas
decisões, e nós vamos superar isso — falo, minha voz rouca pelo choro.
Sua expressão transmite pesar e dúvida.
Esse é o problema de Heitor, nunca teve realmente alguém que o
amasse, nunca teve uma mulher que valorizasse a pessoa que ele é, esse
ser humano incrível.
Ele precisa saber que o que eu sinto é verdadeiro e não há nada que
ele possa fazer para mudar isso.
— E se algum dia você mudar de ideia?
— Você quer mesmo que eu fique com outra pessoa? — Ele faz uma
careta e uma lágrima acaba escapando. — Você me imagina beijando outra
boca? — Beijo a sua, delicadamente, e ele retribui.
— Não, não imagino — sopra contra a minha boca. Preciso tirar esse
olhar triste do seu rosto, preciso tirar essa ideia ridícula que ele tem de
querer terminar com o que temos. Preciso mostrar que não há nada mais
importante para mim no mundo do que ele. Pois não há.
Passo minhas mãos nas suas costas, acariciando, passando as unhas
levemente, enquanto o beijo novamente, e ele estremece.
— Consegue imaginar minhas mãos acariciando outro corpo? — Ele
rosna contra meus lábios, e morde o inferior, fazendo um frio descer pela
minha espinha e minhas unhas fincarem na sua blusa, machucando a pele
por baixo.
— Porra, Manuela. Para com isso. — Heitor contorce seu rosto em uma
careta.
Movo minhas mãos para a sua bunda, e o aperto contra mim, sentindo
seu membro já endurecendo. Eu amo a entrega que Heitor tem comigo,
assim como ele ama a minha, é bem clichê, mas é como se fossemos feitos
um para o outro.
— Você quer tanto que eu construa uma família com outra pessoa que
esquece que essa pessoa vai me beijar. — Ele engole em seco, seus olhos
agoniados. — Outra pessoa vai me ver nua, beijar meu corpo, lamber meu
corpo. — Sua boca toma a minha, desesperada e raivosa. Ele me beija
tentando apagar a imagem mental que eu plantei na sua cabeça, mesmo
sabendo que se ele fizer isso, eu não conseguiria ficar com alguém tão cedo
ou superar ele. Suas mãos agarram meu corpo o juntando ao dele, quase
nos fundindo, tamanha a intensidade que se pressiona contra mim.
Ele solta minha boca em busca de fôlego e vira seus olhos irritados
para mim, a dor indo embora.
— Caralho, Manuela, não me fode assim.
— O quê? Se é o que você quer, que outro homem me fod… — Sua
mão tapa minha boca, e ele pressiona o seu membro bem duro na minha
intimidade, me encarando profundamente. Seu rosto está contorcido em uma
careta de ciúmes.
Prefiro seus ciúmes a sua dor, chefinho, eu prefiro a minha dor do que a
sua.
— Chega! Eu não quero, não suporto a ideia de outro homem a
tocando, beijando, fodendo. Era isso que queria ouvir? — Seus olhos brilham
com intensidade. Enquanto isso, lá embaixo minha calcinha encharca. —
Não quero terminar com você, eu só queria te dar a oportunidade de formar
sua família, como eu não tive. Mas, cazzo, Manuela, você não ajuda. — Sua
mão é substituída pela boca em um beijo rápido e as minhas vão para seus
cabelos.
Abro minhas pernas, o recebendo duro contra mim.
— Eu não quero outra pessoa, eu quero você, e só você, quando vai
entender isso? — murmuro desejosa em sua boca.
— Eu sei, eu sempre soube, amore mio — outro beijo, calmo e rápido.
— Só eu vou foder sua boceta apertada e você vai gozar apenas para mim.
— Sussurra, me causando um arrepio involuntário.
Quando vejo que o olhar triste já deixou o seu rosto, decido que é a
hora de dizer aquilo que eu sinto, aquilo que ele precisa saber, aquilo que vai
deixar meu coração mais tranquilo.
Espalmo minhas mãos em seu rosto e o faço me encarar.
— Eu sei que você não teve mulheres boas na sua vida, mas eu sou,
confie em mim, eu sou, eu quero você e só você, eu escolhi você e eu sei,
sei que nós podemos resolver tudo se estivermos juntos, eu sou sua, Heitor,
sua e de mais ninguém. Sou sua para cuidar, sou sua para quando precisar,
sou sua na cama e fora dela. — Ele sorri, sorri um sorriso lindo. Mesmo que
seus olhos ainda estejam vermelhos. — Eu nunca quero que o que temos
acabe, porque isso vai acabar comigo, eu já entreguei meu coração a você
há muito tempo, Heitor, ele é seu. Eu não posso te perder também, eu não
vou te perder, isso é inadmissível, ninguém vai mais me impedir de ser feliz,
e é com você que eu sou. — Respiro fundo e capturo seu olhar no meu,
mostrando o quanto minhas próximas palavras são verdadeiras. — Você é
meu porto seguro, você é meu amigo, você é meu protetor e acima de tudo.
— Engulo em seco, seus olhos estão ansiosos, e sua respiração se torna
ofegante. — Acima de tudo, você é o homem que eu amo.
Seus olhos castanhos brilham mais do que as luzes no dia de Natal.
Seus braços me apertam contra si, com tanta força que quase quebra minha
coluna, sem exagero, mas não vou reclamar. Eu nunca vou reclamar estando
em seus braços.
— Diz de novo — pede, sussurrando em meu ouvido, ao pegar a barra
da minha blusa e a puxar para cima. Levanto os braços para ajudá-lo.
— Eu amo você, Heitor. — Ganho um beijo, um beijo gostoso, lento,
exploratório com gosto de lágrimas. As minhas e as dele misturadas.
— De novo. — Solto uma risada, mas ele apenas me implora com o
olhar para repetir.
Um dia vou tirar esse olhar inseguro do seu rosto, mi amor, mostrarei a
você que somos para sempre.
— Eu te amo — sussurro contra sua boca, deixando meus olhos
mostrarem toda a verdade das palavras, todo o sentimento real, e tudo o que
ele precisa saber.
Ele não me beija novamente como eu achei que faria, ao contrário, ele
fica de joelhos e mirando os olhos em mim, começa a desabotoar o zíper da
minha calça. Meu coração acelera, meu fôlego trava na garganta e fico
completamente hipnotizada por suas orbes marrons.
Quando minha calça sai completamente do meu corpo e fico apenas de
calcinha e sutiã, ele se abaixa sobre mim e me beija, finalmente. Mas para o
meu desprazer, acaba rápido também.
— Você entrou na minha vida há meses e eu não te enxerguei, foi
preciso você chegar ao fundo do poço para que eu conseguisse reparar em
você, amore mio, eu queria ter feito isso antes, queria evitar que passasse
por tudo que passou e passei tanto tempo com medo, ragazza, com medo de
dar meu coração a você depois que entrou na minha vida, com medo de
você não querer um homem tão incompleto, mas com seu jeitinho doce, eu
soube que era diferente, eu soube que meu medo não era mais quebrar meu
coração, pois mesmo se você fizesse isso eu nunca a culparia, pois você tem
um coração tão enorme que nunca machucaria alguém por querer, não
consegue, não é da sua natureza. — Balanço a cabeça, assentindo, pois é
verdade, não gosto disso, não consigo machucar nem uma mosca. Ele me
dá um selinho e minhas mãos agarram seus cabelos. — Obrigado por entrar
na minha vida, obrigado por abrir meu coração novamente. Eu já disse que
ele é seu amor, vou te provar o que eu sinto tão profundamente dentro de
mim.
Meu chefe fica de joelhos novamente e começa a desabotoar a camisa
azul marinho que usa.
Começo a ofegar, sabendo exatamente como ele quer me mostrar o
que sente. Tenho certeza que não sou cardíaca, porque o tanto que meu
coração está acelerado agora e eu ainda estou viva me dão essa certeza.
Ele tira a blusa e pergunto, apenas para ter a certeza.
— Você vai… — Meu rosto esquenta, arrancando um sorriso malicioso
dele, mesmo que seu rosto ainda tenha rastros de lágrimas, ele está
incrivelmente sexy agora. Como é a palavra que ele gosta de usar? — Você
vai… me foder?
Seu peito nu, lisinho, seus ombros largos e seu abdômen tiram
completamente a minha atenção agora. Essas partes eu já vi, mas mesmo
assim são preciosas demais para deixar de admirar.
Seu polegar pega meu queixo, chamando minha atenção para seus
olhos brilhantes e ele fala, fala algo que tira meu chão.
— Não, ragazza, não vou fodê-la. — Seus olhos intensos me prendem.
— Vou fazer amor com você. 
Sua pele. Sim, sua pele e ossos.
Transformaram-se em algo bonito.
Você sabe?
Você sabe que eu te amo tanto?
( Yellow — Coldplay)

Em todas as vezes que eu me imaginei falando sobre o meu passado


com Manuela, em nenhum deles ela ficava comigo.
Pode ser ridículo, mas tenta passar anos tentando um relacionamento
com mulheres que nunca valorizaram você como pessoa, para você ver se
não vai ter esse medo.
Só que por mais que eu pensasse isso, Manuela ainda querer ficar
comigo não foi uma surpresa. Essa é a parte que mais temos em comum. A
lealdade, quando decidimos entregar ela a alguém, é dela, até que a pessoa
faça algo para não a ter mais, e é por isso que combinamos tanto, é por isso
que ela é minha e eu sou dela. Somos leais um ao outro.
Não sei o que vai acontecer mais à frente, mas Manuela deixou claro,
que mesmo tendo vinte e dois anos, a sua decisão é verdadeira, não a tomou
por medo de ficar sozinha, não a tomou influenciada pelas pessoas ao seu
redor, foi única e exclusivamente escolha dela. E ela escolheu a mim, com
meus medos, minhas inseguranças, minha incapacidade, tudo que vem na
minha bagagem, ela mesmo assim, escolheu a mim.
Espero um dia superar a perda que tive, a perda do sonho que eu tanto
ansiava realizar. Dizem que quando a pessoa tem dinheiro, tem felicidade.
Mas esquecem que as consequências da vida vêm para todos e todos
sentem dor igualmente. Olha eu, tenho mais dinheiro do que posso gastar,
tenho uma família incrível, venci uma doença que poderia me matar e mesmo
assim aqui estou eu, com a vida me negando o que eu mais desejava.
Enquanto a mulher à minha frente perdeu tudo, casa, família e mesmo
assim sorri, mesmo assim luta pelo que quer, e o que ela quer sou eu.
Você é o homem que eu amo.
Cazzo, Manuela me desarmou completamente com essas palavras.
Com o sentimento que eu vi através dos seus olhos. Ela deixou claro que
está entregue, que é minha, que tá tudo bem eu ter medo, e ter dor, ela
também tem e nós podemos superar, juntos.
Juntos.
Seus olhos ansiosos correm por meu corpo, arrepiando cada parte que
seus olhos observam, reagindo a cada sentimento presente em seu rosto.
Desejo, ternura, amor.
Veja bem, eu estou há mais de seis meses sem transar, a minha mão, o
sabor de Manuela e sua imagem, são as únicas coisas que tem me mantido
nos últimos meses, mas não aguento mais essa espera, preciso dela. Ela já
deixou claro que queria isso.
Manuela tem que se tornar permanentemente minha, entrelaçada a
mim, tem que me fazer dela, e porra, só de imaginar como vai ser, meu pau
lateja.
Saio da cama, com seus olhos fixos em mim, enquanto devoro cada
parte do corpo seminu em cima da cama com os meus e tiro a calça, ficando
apenas de cueca.
Uma vara de ferro perderia a batalha em uma luta com meu pau agora,
a expectativa de estar dentro dela faz isso.
Ah, Manuela, quando eu puder fazer tudo que eu quero com você…
— Heitor… — ela sussurra, se sentando na cama, mas apenas com um
olhar meu, ela se deita novamente. Boa ragazza.
— Sim? — Volto a me pôr de joelhos no meio das suas pernas, vendo
pelo tecido de renda preta que ela está brilhando.
— Eu tô vendo a cabeça dessa anaconda pelo cós da cueca —
sussurra, hesitante e gargalho, gargalho alto, dissipando a dor que me cobriu
minutos ou horas atrás e olho para baixo, vendo o que ela viu. A cabeça
brilhante com líquido pré-ejaculatório melando-a, desponta do cós da cueca,
de tão duro que eu tô, dando a visão que eu queria esconder por mais alguns
segundos da mulher à minha frente.
— Está, não é? — respondo em meio a uma risada e seus olhos não
saem do meu amigão que pulsa com a atenção. Isso, amore mio, tenta mais,
eu tentando ir com calma, no meu limite e ela me olhando assim. Custa
guardar esse olhar para depois? — Gosta do que vê?
Seu rosto mais vermelho do que um pimentão, levanta, encontrando o
meu olhar com o seu.
— Se você baixar mais um pouco, eu posso dar uma opinião sincera —
responde, toda safada. Sabia que essa carinha doce de Manuela era para
quando está fora da cama. Quando está com a boceta em minha boca, solta
gemidos tão gostosos que não preciso trabalhar muito com a mão para poder
gozar
Mas se tem algo que Manuela tem sobre mim, esse algo é o poder, e
quem sou eu para negar algo que ela pede? Lentamente, muito lentamente,
desço a cueca, e meu membro salta para fora, fazendo os olhos da minha
ragazza se arregalarem.
Uma satisfação puramente masculina percorre meu corpo ao saber que
é o primeiro pau que ela vê pessoalmente.
Cazzo!
— Tem uma opinião sincera, agora? — provoco, depois de tirar a cueca
e voltar ao meu lugar no meio das suas coxas macias. Ela engole em seco,
um misto de excitação e curiosidade percorrendo seu rosto e para provocar
ainda mais, com o polegar, limpo uma gotinha que acabou de sair, enquanto
com a outra me acaricio lentamente, e com a gotinha no dedo, ofereço a
mulher à minha frente. Isso vai ser uma tortura, tanto para ela quanto para
mim. — Lambe — ordeno, levando o polegar até sua boca gostosa.
— Gosto do que vejo, embora não saiba como é possível isso ser tão
grosso — ela fala com o cenho franzido, e solto uma risada. É óbvio que ela
vai falar alguma besteira mesmo na hora mais íntima. Não seria minha
ragazza se não fizesse. Mas logo, com seus olhinhos doces, coloca a língua
para fora e lambe meu polegar. Um gemido rouco sai do fundo da minha
garganta ao ver a cena.
Caralho, quem consegue ter controle?
— É gostoso — geme.
— Sua boceta é mais. — Movo meus olhos para o banquete que eu
tenho entre suas pernas e com um puxão, rasgo a calcinha de renda,
deixando-a peladinha para mim, como tem que ser. Escuto o gritinho
assustado dela, mas estou muito ocupado contemplando o que está na mira
dos meus olhos.
Manuela é curvilínea, depois que começou a se alimentar direito, tudo
que antes ficava escondido pelas roupas e pela falta de peso apareceu. Sua
bunda gostosa é grande, suas coxas são grossas, Manuela tem o quadril
largo e a cintura estreita, e seus seios são perfeitos para minhas mãos. E, ela
não perde na frente, seus lábios são carnudos como os de cima, escondendo
o que tem no meio, deixando tudo mais tentador e ela é lisinha.
Há alguns dias, descobri que ela vai todas as sextas a um lugar onde
faz depilação por influência de Eduarda. Tenho que me lembrar de dar um
bônus especial para ela no Natal em agradecimento.
Manu mal sabe que eu tô usando todo o controle que eu tenho para não
agir como um animal faminto com ela.
Fito novamente os olhos de Manuela, avisando o que eu vou fazer, pois
é sua primeira vez e se tem algo que ela precisa estar, é relaxada, mas antes
que eu possa prová-la, sua voz hesitante chega a mim, coberta de vergonha.
— Heitor?
— Sim?
— Nós podemos…, tipo — ela tenta fechar as pernas, e estranho sua
atitude, Manuela nunca se esconde de mim, por isso a encaro com uma
dúvida no meio da testa.
Ela mudou de ideia sobre nós? Talvez não queira fazer isso agora,
talvez a conversa que tivemos sobre sua abuela querer que ela fizesse isso
só depois do casamento seja importante para ela, eu nem…
— Tipo, tomar banho? Sabe… — Seus olhos se desviam dos meus,
suas bochechas bem vermelhinhas de vergonha e suspiro. Sobre nós ela não
mudou de ideia. Graças a Deus. — Passamos o dia no trabalho, eu gostaria
de estar limpa na nossa primeira vez — fala, toda envergonhada e sorrio.
Saio da cama, completamente pelado, e ofereço minha mão para ela,
que vem, passando os braços pelo meu pescoço e as pernas ao redor do
meu quadril.
Manuela é bem pequenininha, tanto que sua boceta está molhando meu
abdômen, pois é onde ela chega. Resmungo em italiano, levando-a para o
banheiro com as mãos espalmadas em sua bunda e meu pau a cutucando
levemente.
Poderia estar dentro dela, mas isso está pertinho de acontecer.
Beijo sua boca gostosa, andando. Entramos no banheiro e acendo a
luz, levando minha ragazza ainda de sutiã para debaixo do chuveiro, com sua
boca grudada na minha.
Nosso beijo é de expectativa, nosso beijo é de ternura, de confiança,
nosso beijo é de lealdade e de amor.
Amor, algo que eu julguei não ser capaz de sentir por mais ninguém,
algo que eu fechei meu coração para não sentir. Manuela entrou como um
furacão na minha vida e me fez amá-la. Eu sabia, sabia que no momento em
que eu a deixasse entrar, nunca mais ela sairia, porque ela é assim, quem a
conhece se apaixona, seja como amigo, seja como irmão, ou seja o amor que
eu estou sentindo por essa mulher.
Essa mulher que disse me amar sem esperar as palavras de volta,
apenas assumindo seus sentimentos por mim sem exigir nada. Sabendo que
quando eu estivesse pronto, eu falaria. E eu estou, eu estou pronto para dizer
o que sinto por ela há dias, só achei cedo demais, porém, eu esqueço que
esse sentimento surgiu antes mesmo de eu provar o gosto da sua boca, e
nada é cedo para nós, é tudo no tempo certo.
A água nos encharca, enquanto tomamos o banho que ela tanto queria,
tirando seu sutiã, e para isso, preciso colocá-la no chão, para meu completo
desprazer. Manuela se encaixa tão perfeitamente no meu colo que é difícil
soltá-la.
Limpo com as minhas mãos e sabonete sua pele macia, mas sua
curiosidade foi ativada por algo que eu estava esperando ela reparar.
Algo que meus fratelli disseram que não tinham coragem para fazer,
mas que fariam se eu me curasse e eu me curei, eles cumpriram a promessa
besta e eu fiz também, anos depois Pietro também fez. Algo que doeu pra
caralho pra pôr.
— Você também tem um piercing no pau? — ela dá um gritinho quase
me deixando surdo, e seus olhos se arregalam.
— O “também” você poderia deixar de fora, querida — falo, pegando um
de seus cachos molhados e o enrolando no dedo.
A curiosidade da minha ragazza, a faz abaixar um pouco o rosto atrás
de ver melhor o piercing que fica na base do meu pau e para ajudá-la nessa
tortura do caralho, falo.
— Pode pegar, amore mio — sussurro rouco.
— Isso não dói? — pergunta, ao tocar com a pontinha do dedo o
piercing me arrancando uma risada. Não era bem isso que eu queria, mas
tudo…
— Cazzo — um gemido rouco e grave sai da minha boca, quando sua
mão me agarra gentilmente, e seus olhos doces procuram os meus. Os olhos
de Manuela são sempre assim, doces, mesmo que meu pau esteja na sua
mão. Ela é um chamado para a perdição, é impossível não querer corromper
essa garota. — Doeu, mas não dói mais — digo, me referindo a sua pergunta
sobre o piercing.
— A textura parece veludo. — Fita o dito cujo. — Mas é tão duro, sabia
que ficaria duro, mas não tanto — ela murmura, conversando mais consigo
mesma, do que comigo.
Prendo a respiração por alguns segundos, tentando com tudo de mim
controlar meu coração, mas é impossível. Manuela me olha com tanta
intensidade que a veia em minha testa pulsa, assim como as que se
desenham no meu membro.
— Com sua mão em volta dele, é meio difícil ficar mole, ragazza. —
Penso um pouco, olhando em seu rosto e decido arriscar. Com minha mão,
cubro a sua, iniciando um vai e vem lento, e arrancando um gemido do fundo
da minha garganta.
— Você gosta disso? — pergunta, toda inocente.
— Difícil não gostar de algo relacionado a você, além da sua péssima
escolha de time. — Ganho um pequeno aperto em resposta, mas ao invés de
machucar, me dá ainda mais tesão.
Solto uma risada grave, deixando-a tomar o controle, puxando-a pela
bunda, e tomando sua boca na minha. Nossas línguas entram em uma dança
exploratória, e deixo uma mão na polpa da sua bunda, para envolver sua
nuca em um aperto firme com a outra, deixando na posição que eu quero,
para beijá-la.
Não demora para que eu a pegue no colo e a leve para o quarto
novamente, soltando-a apenas para enxugá-la com a toalha quando reclama
sobre molhar a cama e depois a deito, ficando no meio das suas pernas.
— Posso chupar você, agora? — Arqueio uma sobrancelha, sarcástico,
e suas pernas se abrem mais ao meu olhar, com a dona da boceta mais
deliciosa, toda vermelha de tesão.
— Já que você insiste. — Lhe lanço um sorriso que promete muito
prazer e apoio suas pernas nos meus ombros, ficando cara a cara com o que
eu quero.
Passar tanto tempo desejando algo sem poder tocar me deixou maluco,
mas saber que agora posso fazer isso, que ela gosta quando faço, quebra
completamente minha linha de raciocínio.
— Olhos nos meus, ragazza — ordeno e ela o faz, as esferas azuis já
tomadas de desejo. Essa obediência dela me faz questionar quantas ordens
ela vai seguir quando estiver pronta para me receber sem nenhuma barreira,
apenas fogo puro nos consumindo.
Sua pele castanha é sedosa e roço meu nariz por ela, beijando devagar
o interior da sua coxa esquerda, sentindo-a estremecer e gemer baixinho e
faço o mesmo com a outra, prendendo seus olhos aos meus.
Meu pau roça o lençol da cama, friccionando e babando enquanto não
encontra um lugar melhor para se acomodar. Meses sem sexo e tesão
reprimido me fazem duvidar muito da minha sanidade quanto a sentir ao meu
redor, mas não é apenas o fato de estar sem transar há muito tempo que me
faz pensar isso, e sim o fato de ser Manuela.
Levo meu nariz ao seu centro, aspirando seu cheiro, cheiro de excitação
e de boceta que precisa ser fodida, e provoco, soprando contra sua
intimidade.
— Heitor...
Decido fazer logo o que tanto quero e dou uma lambida, do centro ao
clitóris, sentindo seu gosto tomar conta da minha boca.
Ela geme, um gemido rouco e delicioso.
— Tão molhada, ragazza — sussurro, gemendo em sua boceta,
lambendo mais um pouco, e porra.
O frio que desce na minha espinha tem tudo a ver com o sabor que
exala dela. Eu passaria o dia todo entre suas pernas se ela deixasse,
provando, beijando, chupando, e é isso que eu faço agora.
Com os dedos, abro seus lábios para encontrar meu pote de ouro e com
a língua, faço círculos lentos no seu botãozinho inchado, e seu quadril
levanta, pedindo mais. Eu dou, tudo que ela quiser eu dou, mas embora seja
por ela, minha boca é egoísta e já decorou o gosto que só eu provei, um
gosto viciante que fica na minha boca e invade minha mente todas as horas
do dia.
Chupo um lábio carnudo, me deliciando em seu gosto, e faço o mesmo
com o outro. Beijo como se estivesse beijando sua boca, e Manuela se
contorce sobre os lençóis, buscando mais, esfregando a boceta gulosa na
minha cara em busca do próprio prazer. Amo essa parte de Manuela, amo
que ela não tem vergonha quando estamos na cama, Manuela é doce, mas é
desinibida, o que ela quer, ela busca.
A devoro lentamente e chupo seu ponto de prazer, arrancando um
gemido alto da sua boca.
— Mais, Heitor...
— Tão mandona — sussurro, sorrindo maliciosamente.
Solto uma coxa e levo o polegar até sua entrada, roçando ao redor,
enquanto minha língua trabalha. Meto lentamente o polegar a sentindo
quente e apertada e sopro em sua intimidade que escorre de tesão, brilhando
de tão lubrificada.
Trabalho seu e meu.
— Você é uma delícia, Manuela, nunca me canso de você — falo, e a
encaro. Óbvio que a ragazza está com os olhos fixos em mim. Tão obediente.
— Passaria o dia com minha cabeça entre suas pernas.
— Eu, com certeza, não vou reclamar — geme com a voz rouca.
Sua respiração está tão ofegante que seu peito sobe e desce em um
ritmo acelerado, quase igual ao meu coração.
Experimento enfiar mais um dedo, agora tirando o polegar e enfiando o
indicador e o médio, pois quanto mais eu a acostumar com o tamanho deles,
menos vai doer quando eu meter meu pau nela.
Não é exatamente confortável para “tirar” uma virgindade.
Vou ganhando espaço dentro dela, escutando seus gemidos ficarem
mais altos e suas paredes internas apertarem ao redor dos meus dedos.
Brinco com a língua por seus lábios, escutando seus gemidinhos doces e
safados que mexem com minha cabeça e não demora para ela começar a se
contorcer na cama. Olho para seu rosto, que está virado para trás e dou uma
pequena mordida, chamando sua atenção para mim. Tem o efeito desejado.
Ela volta seus olhos para os meus, mas quando chupo seu clitóris e começo
a meter mais rápido, eles se reviram e um grito mudo sai da sua garganta ao
esmagar meus dedos e gozar na minha boca.
Deliciosa.
Bebo tudo que ela me dá, ansioso por mais, esperando mais, satisfeito
para um caralho com seu estado e com suas paredes internas expulsando
meus dedos de dentro dela.
O lençol da cama está completamente molhado, e meu pau a ponto de
explodir com a visão que é Manuela gozando.
Assim que os tremores do seu corpo desaceleram, fico de joelhos,
deitando em cima do seu corpo em seguida, e tomando sua boca na minha,
deixando o seu gosto tomar conta do nosso beijo e as mãozinhas da minha
ragazza agarram meus cabelos.
Meu pau descansa na sua barriga, e o contato me faz gemer entre o
nosso beijo. Pauso, apenas para pegar a camisinha na gaveta da mesa de
cabeceira e fico de joelhos para vesti-la.
Os olhos azuis da minha ragazza focam famintos no movimento da
minha mão e é impossível não gemer.
Tem que ser tão gostosa assim, amore mio?
— Eu não vou poder te tocar? — pergunta, arqueando uma sobrancelha
e fazendo um biquinho. Solto uma risada, balançando a cabeça em negação.
Se essa mulher quiser me tocar, tem que deixar para outro dia, pois um
toque seu e é capaz de a brincadeira acabar antes mesmo de começar
— Talvez outro dia. — Deito novamente em cima do seu corpo, tendo o
cuidado de não apoiar meu peso em cima dela, e levo meu polegar ao seu
clitóris novamente, fazendo círculos para deixá-la ainda mais relaxada. —
Posso ragazza?
— Pode o quê? — sussurra baixo e beijo o seu queixo, deixando uma
mordidinha.
— Fazer amor com você? — Deixo um beijo no seu maxilar, e Manuela
arqueja, tombando a cabeça para o lado e deixando seu pescoço livre para a
minha boca.
Garota esperta.
— Você quer fazer amor comigo? — arfa quando chupo o lóbulo da sua
orelha.
— Isso não é sobre mim. — O ponto que divide seu pescoço e seu
ombro me chama. Deposito um beijo molhado, e todo seu corpo estremece.
— Mas você precisa querer, também. — Levanto a cabeça e encaro
seus olhos, vejo vulnerabilidade ali, estamos os dois de guarda baixa, os dois
entregues.
— Ragazza, querer você é meu lema de vida. — Ela deixa escapar uma
risadinha entre gemidos que solta com meu polegar ainda trabalhando e
sorrio. — Preciso saber de você, amore mio, preciso saber se está pronta,
sempre preciso saber o que você quer, se não estiver, podemos esperar, eu
te espero o tempo que for — sou sincero, se ela não estiver pronta, eu não
vou insistir, seu bem vem antes do meu, sua opinião antes da minha. Ela que
manda aqui, e daí que é verdade? Não ligo, amanhã mando comprarem
minha coleira.
Ela sorri.
— Me faça sua — pede com os olhinhos brilhando.
— Você já é minha — roço meu nariz no seu, fechando os olhos com
prazer.
— Só, tenha cuidado, eu sou pequena, com esse negócio enorme e
grosso eu posso ser rasgada ao meio. — Meus ombros tremem com a risada
que sai de mim, e encaixo o rosto no seu pescoço, me perguntando onde
Manuela acha essas besteiras que ela fala. — Não ri, tô falando sério Heitor,
que tamanho é isso aí? — resmunga, e preciso me controlar muito para não
gargalhar.
— Quer mesmo saber? — pergunto divertido.
— Quero…, quer saber, não, vou me assustar mais, me conta depois —
fala e tiro meu rosto do seu pescoço, abaixando o meu quadril e o
encaixando em cima da sua boceta. — Ah, isso é bom…
— É, não é? — sussurro, rouco, gemendo com o quão fácil é deslizar
no meio das suas dobras, quando começo a movimentar meu quadril. —
Cazzo!
Me apoio nos dois cotovelos, pairando meu rosto em cima do seu, e
meu quadril faz movimentos de vai e vem, entre seus lábios molhados. Porra,
como isso é gostoso. O rosto de Manuela, vermelho de prazer depois de
gozar, expressa tudo que ela está sentindo. O tanto que eu queria deslizar
com força pra dentro dela agora faz minha cabeça enlouquecer, mas me
acalmo, pois vai chegar esse dia. Hoje é o dia dela, o dia de fazer com
carinho, de fazer ser gostoso mesmo sendo sua primeira vez, vou fazer de
tudo para que ela saia satisfeita dessa cama, ou melhor, não saia.
— Posso pedir algo? — ela geme, mas hesita um pouco.
Pauso meus movimentos e lhe dou um selinho.
— Você pode me pedir tudo que você quiser.
— Até que torça para o Corinthians? — ela duvida.
— Tudo tem limite, querida. — Ela ri, e roço meu nariz no seu, sorrindo.
Nunca estive tão feliz como estou agora.
Ela espalma as mãos em meu rosto, e com o polegar, traça o contorno
dos meus lábios, minha bochecha e minha barba, e seus olhos brilham.
— Quero que seja sem — franzo o cenho em confusão, e ela explica. —
Camisinha.
Ah, Ah.
O único objetivo de colocar essa porra foi para que se sentisse segura
comigo, em relação a doenças, usar o látex foi só um costume que é
automático eu fazer desde a adolescência, pois é uma das regras de
Mamma.
Mesmo que ainda doa o fato de que eu nunca mais vou precisar dela.
— Tem certeza? Eu tô com os testes em dia, mas você não precisa…
— Eu sou sua, não quero nada entre nós. — Meu coração acelera só
em pensar em sentir a carne macia completamente nu dentro dela. Se com
camisinha eu já tinha certeza que poderia não ter muito controle, sem ela é
que eu vou morrer.
Me coloco de joelhos novamente e tiro a camisinha, jogando no chão
em algum lugar do quarto e depois ataco sua boca.
O contato pele a pele que eu nunca senti na vida, pois nunca fiz sem
camisinha, me deixa louco. Beijo seus lábios macios, devorando sua boca
com a minha e a coelhinha safada ergue o quadril, pedindo para que eu a
faça minha.
— Amore mio, vai doer um pouco, eu não sei como evitar essa dor —
aviso antes de tudo, com a mente a mil, pensando em como fazer isso ser
melhor para ela, para saber se ela quer enfrentar isso agora, e ela assente
com a cabeça. — Prometo que vai melhorar, tá bom? Só preciso que se
acostume ao meu tamanho — sussurro.
Ela assente de novo e passa as pernas ao meu redor, suas mãos indo
para onde tanto gosta, uma nas minhas costas e outra nos meus cabelos.
Com o coração acelerado, pego meu pau e o direciono a sua entrada, o
contato com sua lubrificação se juntando a minha arranca gemidos de nós
dois. Cazzo! Antes de entrar nela, lambuzo toda minha extensão com seu
líquido e desço minha cabeça em direção às obras de artes que Manuela tem
no lugar dos seios.
Os mamilos duros imploram por minha boca e dou o que eles pedem,
me encaixando em sua entrada novamente e antes de meter, tomo um
mamilo na boca e chupo com força ao mesmo tempo que entro um pouco
dentro dela.
CARALHO.
Um gemido gutural sai da minha boca, enquanto um murmúrio baixinho
sai da dela.
Manuela é apertada pra caralho. Sua boceta tenta a todo custo expulsar
a cabeça inchada, e ainda com o biquinho duro na boca, encaro minha
ragazza para captar suas expressões.
Seu cenho está franzido, e largo seu seio para perguntar.
— Dói muito, amore mio? — A última coisa que quero é machucá-la
agora.
— Já viu o seu tamanho? Claro que dói! — fala e pairo meu rosto em
cima do seu novamente. Não me movo mais e com preocupação na voz,
indago.
— Quer parar? Se tiver doendo muito, podemos deixar para depois,
odeio ver você sentindo dor.
— Tem como enfiar de uma vez? Eu li que isso ajuda, pois a gente
sente de uma só vez a dor. — Choraminga, puxando os meus cabelos...
— Não amore mio, infelizmente, se eu fizer isso, eu a rasgo de verdade
e não é nem pelo meu tamanho — sussurro.
— Então continua, mas vai mais rápido, quero chegar na parte boa —
pede. Penso um pouco, morrendo de medo de machucá-la.
Nunca tirei a virgindade de alguém, Manuela é a primeira em muitas
coisas na minha vida.
Assim como eu sou na vida dela.
Acato o seu pedido, levando o polegar ao seu botãozinho inchado,
fazendo movimentos circulares em busca de melhorar isso para ela. A
primeira vez quase nunca é boa, mas me recuso a deixar que a dela seja
ruim.
Beijo sua boca, buscando sua língua e chupando quando a encontro e
me enfio mais um pouco na sua boceta apertada. A cabeça do meu pau
lateja à medida que as suas paredes internas me apertam e mordo seu lábio
inferior, gemendo contra sua boca. Manuela arqueia, gemendo com
murmúrios ininteligíveis e seus olhos, embora carreguem um pouco de dor,
carregam prazer e determinação, também.
— Sua vagina é muito apertada, amore mio — sussurro, já dentro até a
metade, com o coração galopando. Solto o ar entre os dentes, vendo a
ragazza sob o meu corpo respirar ofegante.
— Vai logo — murmura, erguendo o quadril e meto mais, sentindo a
barreira do hímen.
— Vai doer agora, amore mio. — Aumento a velocidade do meu
polegar, e Manu ofega.
— Mais? — Solto uma risada, mas essa é mais de desespero, pois o
tanto que Manuela está me apertando é de outro mundo. Suas unhas nas
minhas costas tiram sangue e meus cabelos, vão cair mais cedo do que eu
imaginei.
— Mais, você aguenta?
— Aguento, sou forte Heitor, pode doer, mas eu aguento. — Seus olhos
brilham.
Eu sei, amore mio, eu sei.
Não há uma pessoa que eu tenha conhecido que seja mais forte que
você, ragazza.
Tomo seus lábios em um beijo faminto, procurando sua língua com a
minha e meus dedos trabalham em seu botãozinho inchado quando
ultrapasso a barreira do hímen.
Manuela endurece embaixo de mim e fico parado.
— AI, AI, AI — ela grita quase estourando meus ouvidos. Porra.
Continuo o movimento do meu polegar que desliza facilmente na sua
lubrificação, mas encaro seus olhos, preocupado, sem me mexer.
— Te machuquei? — sussurro perdido, sem fôlego e prestes a explodir.
Manuela pulsa tanto ao meu redor, expulsando meu pau de dentro dela
que meu saco se contrai.
— Não, mas essa coisa enorme sim — fala, com os olhinhos brilhando,
mas se recusando a deixar escapar as lágrimas e meu peito se aperta em
desespero.
— Porra, Manuela. — Beijo sua bochecha, sua testa, sua boca. —
Scusa, amore mio, eu vou parar, prometo que não vou mais machucar…
— NÃO OUSE, HEITOR DE LUCCA MANCINI — ela rosna e meus
olhos se arregalam. Esse tom de voz me faz calar a boca na hora. — Por
favor, faça chegar na parte boa, mi amor — ela pede, e a encaro em dúvida.
Não suporto isso, ver essa dor nela. — Por favor — choraminga.
— Tem certeza? — me preocupo.
— Por favor…
Assinto, beijando sua boca e começando a me movimentar lentamente
dentro dela. A sensação é torturante. Meu pau só está até a metade dentro
da sua boceta quente e lubrificada, mas de jeito nenhum eu vou forçar essa
coisa enorme como Manuela gosta de falar, dentro dela hoje.
Ela enterra as unhas em minhas costas, com força e a beijo
apaixonadamente, mesmo que minha alma esteja sendo arrancada pelas
suas garras nesse momento. Recuo o tronco, ainda acariciando sua boceta
com o polegar e a faço minha, completamente minha, enquanto meto dentro
dela.
— Você é minha, agora, amore mio — sussurro.
— Sou sua antes mesmo de saber que podia ser — ela responde, seu
rosto começando a ser tomado por prazer ao invés de dor e invisto contra ela
mais rápido gemendo, tamanho o prazer que me consome.
Não deveria sentir, sabendo que está sentindo dor, mas mesmo assim,
é impossível estar dentro dela sem achar a melhor coisa do mundo. É uma
sensação que eu nunca senti antes.
Deve ser por tudo que fizemos para chegar a esse momento.
Invisto mais rápido, procurando em seu rosto, saber se ainda sente
muita dor, mas ela começa a gemer, e esses gemidos eu conheço, eles
ocupam minha mente todas as horas do dia.
— Tudo bem? — pergunto.
— Ahã, continua, tá ardendo ainda, mas é bom, tá ficando bom. —
Desço a boca em direção ao seu mamilo e dou batidinhas com a língua no
biquinho duro, chupando em seguida. Manuela geme, seu quadril já subindo,
buscando o meu, mas como não meti tudo dentro dela, não a deixo chegar
muito longe.
— Você é perfeita, sabia? — Dou atenção ao outro seio, gemendo
quando ela me aperta e intensifico as investidas.
— Duvido muito disso — me responde com a voz rouca.
Encaro seu rosto, mas seus olhos estão fechados e sua boca
semiaberta.
— Você é, sua boca é gostosa, seu corpo é maravilhoso, seu jeito é
cativante, mas seu coração, esse é o que rouba a atenção. Você é um
conjunto de coisas boas que a fazem perfeita para mim — sussurro e seus
olhos se abrem. Pairo meu rosto em cima do seu, movimentando meu quadril
mais intensamente, me preparando para gozar, e aumento a velocidade do
meu polegar. Manuela tem emoções cruas nos olhos, e se contorce,
cravando suas unhas bem fundo no meu corpo, enquanto estremece debaixo
de mim. Sorrio, sabendo que o gemido que escapa da sua boca é bem
conhecido por mim, o gemido rouco e baixinho que dá quando goza e me
deixa livre.
A sensação pele com pele é incrível e gozo dentro dela, gemendo
contra sua boca, marcando-a por dentro como minha, assim como estou
marcado por fora e dentro do seu coração.
Que pena que ela ainda não pode sentir meu piercing em contato com
seu clitóris, para isso ela teria que me ter inteiro dentro dela, mas tudo ao seu
tempo.
Deixo beijos por todo o seu rosto, arrancando risadinhas dela,
maravilhado com tudo que vivemos, tudo que eu estou sentindo agora.
Desabo em cima dela e ela me abraça apertado.
Devolvo o abraço, tendo o dia mais feliz da minha vida, que começou
como mais um dia de trabalho normal e acabou com a certeza de que o que
temos não é passageiro e que nunca outro homem vai encostar na minha
mulher. Ela é perfeita demais e é só minha.
— Querido?
— Hum?
— Você está me esmagando. — Solto uma risada e lentamente saio de
dentro dela, me deitando ao seu lado e a puxando para o meu peito.
— Isso foi… — ela começa.
— Foi, sim. Perfeito
— Sim, foi, mesmo que pareça que você ainda está dentro de mim —
murmura e solto uma risada baixa.
— Tudo bem? Ainda dói? — pergunto, puxando seu rosto para me
encarar. Seu céu particular está mais brilhante do que qualquer outro dia.
— Está ardendo um pouco, mas isso é bom, torna real o que tivemos.
— Deixo um beijo rápido em sua boca, abraçando-a.
Ficamos em silêncio por uns instantes, tentando recuperar o fôlego,
mas como Manuela não é alguém que consegue ficar calada por muito
tempo, fala.
— Seu gozo está saindo de dentro de mim. — Meus ombros se
sacodem com a risada que dou. — Tô falando sério.
— Eu sei, eu gosto — sou sincero, dando um sorrisinho arrogante que
ela não pode ver e a chamo. — Banho?
— Com certeza. — Se levanta, mas a puxo, deitando-a e colocando
meu corpo em cima do dela novamente.
Ela ri, mas nota meu rosto contemplativo e apenas permanece com um
sorriso no rosto.
— Você é tudo para mim — começo.
A partir de hoje, desde o momento da nossa discussão, eu tomei uma
decisão, ninguém vai tirar ela da minha cabeça, pois minha ragazza é a
mulher da minha vida e nunca, nunca vou deixá-la escapar.
— Você também é tudo para mim. — Eu sei, amore mio.
— Você é a luz do meu dia, a alegria da minha casa, o motivo dos meus
sorrisos… — Sorrio para os seus olhos marejados. — Você é a mulher que
mora comigo, a que beija minha boca, a que dorme na minha cama, você é
importante demais para mim, é a mulher da minha vida. — Ela chora agora,
assim como eu. — Você me enxerga como homem, você me ama como eu
sou, você acolhe minhas inseguranças, você me transforma em um homem
melhor, Manuela.
— Você faz isso sozinho, sou apenas eu — murmura chorosa. Limpo
uma de suas lágrimas.
O que tivemos hoje foi mais que sexo. Foi entrega, foi a decisão que
tomamos de ficar juntos, eu já sabia que seria dela para o resto da vida, tê-la
como eu a tive só intensificou esse laço.
— Casa comigo?
— Sério? — Ela arregala os olhos, e ergue as sobrancelhas em
surpresa.
Nunca vou deixar essa mulher escapar, nem se eu fosse louco.
— Mais sério impossível, casa comigo? — Beijo o cantinho da sua
boca.
Meu coração bate acelerado. Eu sou um homem tradicional, fui criado
assim, não é a primeira vez que planejo pedir uma mulher em casamento,
mas é a primeira vez que eu vou com toda a certeza do que eu quero. Além
do fato de querer que Manuela seja minha de papel passado, quero andar
exibindo a aliança que me marca como dela.
Também tem o fato de que quando Mamma souber o que fizemos, e ela
vai saber, ela vai exigir um casamento, essa é a primeira vez que vou
concordar de olhos fechados com a decisão.
Além de ansiar, caso Manu me rejeite.
— Por que? — pergunta, duvidosa.
— Porque moramos juntos, porque dormimos juntos…
— Você não precisa se casar comigo só porque tirou minha virgindade,
Heitor — ela tem razão, mas não é por isso. Seu corpo é só a cereja do bolo,
todo o resto me fascina do mesmo jeito.
O jeito doce de Manuela, o jeito safado na cama, o fato de ser mimada
e atrevida, a amizade que tem com meus fratelli e o modo que minha família
a acolheu, me fazem ter a certeza do que eu estou fazendo.
Além do fato de Manuela respeitar muito sua abuela e ter feito algo que
ela pediu tanto antes do casamento, não quero que fique achando que
magoou a avó.
— Tem razão, não estou fazendo isso por ter tirado sua virgindade,
quero me casar com você porque você é a mulher que eu amo. — Seus
olhos marejam, assim como os meus, e ela espalma as mãos nas minhas
bochechas, me puxando para um beijo apaixonado, um beijo com a resposta
explícita.
— Eu aceito casar com você, mi amor — responde chorosa, contra
meus lábios.
Essa foi a melhor resposta que eu já tive na vida.
Não tinha um centavo, mas sempre tive uma visão.
Sempre tive grandes, grandes esperanças.
Tive de ter grandes, grandes esperanças para viver.
Não sabia como, mas sempre tive um pressentimento,
que eu seria aquele único em um milhão
(High Hopes — Panic! At the disco)

Braços me rodeiam, me puxando e aconchegando a um corpo grande,


quente e muito confortável que está atrás de mim. Ronrono como uma
gatinha manhosa com o carinho.
Já pensou acordar com um italiano gostoso abraçando e cheirando seu
cabelo, depois de fazer amor com você? Me diz, quanta sorte eu tenho por
ser agraciada com essa maravilha?
Abro lentamente os olhos, vendo um quarto escuro e lembrando de tudo
que aconteceu ontem.
Não sou mais virgem!
O lugar entre minhas pernas doloridas me dá a certeza de que tudo que
aconteceu na noite não foi apenas ilusão dos meus sonhos. Eu fiz amor com
Heitor, doeu pra caramba, mas foi bom também. Foi muito bom.
Não o fato de tirar a virgindade, essa parte doeu demais e tenho certeza
que agora vai ser muito melhor depois de termos derrubado essa barreira a
base de boas cutucadas dentro de mim, não vejo a hora de ver o lado
descontrolado de Heitor, o lado completamente entregue ao prazer, ao
contrário do que vi ontem. Ontem ele me tratou com carinho, me tratou com
amor, fez com que minha primeira vez fosse memorável e não fosse ruim.
Porque foi perfeita, mesmo com a dor, eu vi meu homem gozar, vi ele
olhando para mim em completa adoração.
E ahhhhhhh.
Eu estou noiva!
Me diz se o homem que está atrás de mim não é emocionado? Mas eu
não reclamo, não mesmo, o fato de estar noiva do homem que eu amo não
vai mudar nada na nossa rotina. Moramos juntos, dormimos juntos, fazemos
amor. Sua família é tradicional, é óbvio que é da criação de Heitor fazer isso
comigo. Pelo que Pietro falou, Heitor nunca morou com nenhuma namorada,
e se eu me recordo bem, faz poucos anos que Heitor decidiu sair da casa da
mãe depois de muita luta, então acredito que quando estava com aquela
mulher sem coração, eles poderiam estar na casa da mãe dele. Mas, como
sei que esse é um assunto doloroso para ele, não vou perguntar, embora
uma ideia se forme na minha cabeça.
Diante disso, sei que Heitor se consumiria se não formalizasse o que
temos. Mesmo que seja um pouco arcaico esse modo de pensar, sei que
quando estávamos apenas morando juntos sem fazer nada quase fez sua
mãe infartar, imagina agora?
Respiro fundo, pensando em como minha vida mudou e em como ainda
vai mudar muito. Passei de uma mulher que não tinha nada, para uma que
tem o mundo. Embora o meu mundo tenha um taco de beisebol duro
cutucando a minha bunda nua.
— Sabe que a parte de trás não vai rolar, né? — Uma risada abafada
contra meus cabelos, denunciam que o meu homem está muito bem
acordado e ciente da sua coisa enorme me cutucando.
Pensa em um pau grande.
Ah, e tem um piercing, viu? Não senti ele, mas Heitor disse para mim
que não tinha enfiado tudo, e isso me deixou aterrorizada, pois se a vara que
eu senti me alargando não era tudo, imagina quando for, vai sair pela
garganta.
— Quem disse? — o tom rouco contra meus cabelos, fazem uma trilha
de arrepios me cobrir.
Sua mão esquerda, começa a fazer pequenos círculos na minha barriga
que não perde tempo e solta um lamento em forma de ronco.
— Vai com calma, mi amor, é um buraco por vez. — Me viro em seus
braços, sorrindo e querendo ver o rosto dele, e o sorriso preguiçoso que
esbanja faz meu coração errar uma batida.
— Você não tem filtro quando está na nossa cama, né, ragazza? —
Agarra minha bunda com força e involuntariamente solto um gemido.
— Nem um pouco, a vergonha eu deixo para fora dela — respondo,
sorrindo, para soltar a bomba.
— Conheço esse sorriso — resmunga, estalando a língua e balançando
a cabeça em negação. — Você é muito mimada, sabia disso?
— Sabia, agora vai fazer café para a sua noiva — mando com o maior
sorriso no rosto e ele retribui, mostrando seu sorriso perfeito em meio a barba
cerrada.
Feliz? Imagina.
Já falei que eu estou noiva de um italiano gostoso que tirou minha
virgindade e me mima como nunca? Pois é, e ele nem é mafioso.
— Minha noiva — ele testa o som na língua e morde o lábio inferior. —
Sabe do que minha noiva mimada precisa? — pergunta e nego, bem
menininha. — De uns bons tapas na bunda, para parar de ser mandona. —
Sinto o estalo alto na polpa e arregalo os olhos para o safado com um sorriso
malicioso que tem na minha frente.
— Você bateu na minha bunda? — pergunto incrédula, pensando se
reclamo da ardência ou se imploro por mais, pois isso foi muito bom.
— Não gostou?
— Gostei sim. — Conto sincera, e ele abre o maior sorriso para mim.
— É bom que tenha mesmo, pois eu vou bater muito nela enquanto
estiver te fo…
— ACORDA FAMÍLIA QUE EU TROUXE CAFÉ — grito assustada e
Heitor quase pula da cama quando um furacão entra no quarto de suéter
salmão e bermuda preta com um sorriso que se escancara ao arregalar os
olhos e notar o que exatamente está acontecendo. — VOCÊ CORROMPEU
MINHA RAGAZZA. — Heitor puxa ainda mais o cobertor em busca de não
deixar nada dos nossos corpos nus amostra e rosna.
— Caralho, figlio di puttana, eu vou te matar, VINCENZO! — Escondo
meu rosto vermelho embaixo dos lençóis para que Vince não olhe na minha
cara e sinto Heitor se mexendo.
Misericórdia, o homem vai sair nu para cometer um assassinato!
— Me matar? Você que precisa levar uma boa surra por desvirginar
nossa ragazza, sem ter colocado uma aliança no dedo dela! — grita Vince e
eu sinto uma vontade enorme de gargalhar, mas de vergonha por eles
estarem discutindo isso. Heitor se senta na cama e rosna.
— Nossa ragazza é o caralho, vai procurar….
— Você fez o quê? — grita uma voz feminina que eu conheço muito
bem e me encolho, querendo muito ser uma formiga como Heitor gosta de
me chamar e fugir para onde o vento faz a curva de tanta vergonha que eu
estou sentindo agora.
O quê diabos Vince e dona Antonella estão fazendo aqui uma hora
dessa? Alguém me mata.
Um gemido ao meu lado é ouvido, mas esse não é dos bons não, esse
é de medo mesmo.
Tadinho.
— Eu não acredito que você desvirginou a ragazza antes de um
casamento! ENRICOOOOO — Ela grita tão alto que me encolho ainda mais,
sentindo Heitor fazer o mesmo ao meu lado.
Meu senhor, onde eu enfio a cara, agora? No rabo, só se for.
— Mamma, eu posso explicar…
— ENRICOOOO — ela interrompe em outro grito e juro, tentei com
todas as forças segurar, mas a gargalhada explode da minha garganta alta,
uma gargalhada desesperada e nervosa, mas que sai mesmo assim embaixo
dos lençóis.
A cabeça de Heitor se enfia dentro, me olhando em pavor e
preocupação e eu gargalho ainda mais.
Senhor, sou eu aqui, me ajuda. Onde eu fui me meter?
— Você está bem? — pergunta preocupado.
Mas não consigo responder, só balanço a cabeça em negação, com o
rosto vermelho e querendo sumir da face da terra agora.
— HEITOR DE LUCCA MANCINI, TIRE JÁ A CARA DE DENTRO
DESSE COBERTOR. — Heitor tira na velocidade da luz, me deixando bem
escondidinha embaixo e juro que meus tímpanos estão pedindo socorro.
— Mamma…
— O que foi, querida? — a voz de seu Enrico, sem fôlego, chega até
nós, cavando mais fundo a tumba onde eu vou me enterrar.
Eles não me mataram com o negócio de máfia, tão fazendo agora, mas
é de vergonha.
— Isso é culpa sua! Foi de você que eles herdaram essa
desobediência, eu falei que se encontrassem uma ragazza virgem, só
estreassem o parquinho depois que a aliança estivesse no dedo, mas eles
me escutam? Não! — rosna e escuto passos…
— AI MAMMA! — O tapa estalado que eu escutei, tenho quase certeza
que foi na nuca de Heitor, pois seu choramingo é verdadeiro.
Eita chefinho, olha aí, foi desvirginar a filha dos outros!
Minha risada nervosa vai acabando aos poucos.
— Ai Mamma? Merece mais que um tapa, diabolo! Descumpriu uma de
minhas regras!
— Pietro também, mas nele a senhora não bate!
Eita pau.
— Que trai…
— Enrico, eu vou desmaiar… Só tenho ingratos como filhos, ai meu
coração, vou morrer, tô sentindo…
— Mamma… — Escuto a voz de Vince, mas dona Antonella continua
falando.
— Nem pediu a ragazza em casamento…
— PEDIU SIM — grito, colocando a carinha pela primeira vez para fora
e olhando para todos como se eu tivesse cometido um crime e tentado
amenizar o estrago no coração da mulher. Puxo o lençol, deixando só o meu
rosto de fora e falo de novo, mais baixo. — Pediu sim.
Meu coração está tão acelerado com a adrenalina que se eu conseguir
me levantar depois que ele acalmar é sorte.
Olho para a família que está toda ali. Vince, dona Antonella e seu Enrico
dentro do quarto, e Pietro e Gah que eu ainda não tinha ouvido as vozes,
encarando Heitor com pena na porta.
Embora a vergonha me consuma, não deixo de me emocionar com o
fato de quando me casar, meu sobrenome vai mudar, vou ser uma Mancini
também, e embora queira muito segurar, meus olhos se enchem de água e
meus lábios tremem de emoção.
Eu tenho uma família agora, vou ter uma oficialmente depois que tiver
seu sobrenome e os papéis assinados.
A primeira lágrima cai quando me sento e sussurro novamente para
eles.
— Pediu sim.
Braços me rodeiam e me puxam, quando todos me encaram com
preocupação, óbvio que pelas lágrimas que saem sem permissão dos meus
olhos e meu noivo sussurra.
— Ei, por que está chorando? — se preocupa.
— Porque eu vou ter uma nova família agora — soluço alto. — Eu não
tô mais sozinha.
— Ah, ragazza…
Heitor estava certo quando disse que a partir do momento em que você
dá espaço para novas pessoas entrarem na sua vida, você
consequentemente escolhe quem seu coração vai amar e o meu ama todos
eles. Todos os irmãos e os pais.
Não esqueço de minha abuela, ou de meu avô e meus pais, eles foram
minha família e vão continuar sendo, mas não estão mais aqui, e o fato de eu
ter uma nova não significa que estou substituindo-os, só que estou me
reconstruindo.
Só que estou tentando seguir em frente, já passei tanto tempo sozinha,
só eu e Deus. Será que eu não mereço isso? Será que não está na hora de
eu conseguir respirar mais aliviada? Só tem mais uma coisa que eu gostaria
de fazer, e vou precisar de toda a minha nova família.
Antes, pergunto.
— Vocês vão me aceitar? — Olhos calorosos me encaram e os sorrisos
se abrem no rosto deles. Vince tem lágrimas nos olhos também.
— Ah querida! Você já é da família — fala, toda amorosa, a matriarca da
família, nem parece que quase me mata de vergonha há pouco tempo.
Ao meu ouvido, Heitor sussurra baixinho.
— Eu amo você.
Giro meu rosto para o seu e encontro seus olhos castanhos brilhantes e
intensos fixos em mim, cheios de amor.
— Eu amo você — declaro e ele sorri lindamente.
— VAMOS ORGANIZAR UM CASAMENTO, AH MEU DEUS, MEU
FILHO VAI SE CASAR! — Antonella que estava quase morrendo do coração
agorinha, dá pulinhos de alegria e enxota todo mundo de dentro do quarto,
feliz da vida. — FORA, eles precisam trocar de roupa.
Essa mulher é louca, assim como seus filhos.
Vou me encaixar direitinho.
Heitor suspira e se deita na cama.
— Jesus, se eu não morri hoje, não morro nunca mais.
Gargalhei.

Semanas depois…
— Você já escolheu o seu padrinho? — Sentada no colo de Heitor, no
sofá, assistindo Como eu era antes de você, com uma caixa de donuts nas
pernas, faço a pergunta do século. — Porque você sabe, se for um dos
irmãos, tem que saber que é bem capaz do outro estragar nosso casamento
só de birra.
E é verdade, nas últimas semanas desde que anunciamos que iríamos
nos casar, os três desocupados não arredam o pé da nossa casa, todos
estão interessado em quem vai ser o padrinho, Heitor queria colocar os três,
mas precisam de pares, e eu só tenho a Dudinha para ser minha madrinha,
então é óbvio que está tendo uma pequena competição para saber quem
Heitor vai escolher.
Duda ficou eufórica quando contei sobre o casamento, todo mundo da
editora já está sabendo, e como Heitor é um homem respeitado e sempre fui
muito eficiente no meu cargo, ninguém falou quando me tornei editora.
Promoção grande a que eu ganhei, mas eu mereci, é o velho ditado,
você colhe o que você planta.
Luiz poderia ser o padrinho, mas ele disse que não queria tirar esse
lugar de um dos irmãos, pois eles literalmente ameaçaram Luiz.
Eu que não me meto nessa briga, embora eles achem que eu tenho
esse poder de decisão, porque se antes eles já me mimavam, agora só
faltam limpar minha bunda. Só não o fazem porque tenho um ciumento como
noivo.
— Sinceramente? Vince já está responsável por fazer seu vestido, ele já
está tendo essa honra, e Pietro vai ficar flertando com você toda hora. Vou
escolher Gah, acredito que a nossa ligação é um pouco mais forte, pois
nascemos primeiro, quero que seja ele ao meu lado no melhor dia da minha
vida. — Me abraça, enfiando o rosto no meu pescoço e dando um cheiro.
Ele sabe que sou sensível nessa parte, e por isso que o faz. Meu corpo
todo se arqueia com o contato.
— Também vai ser o da minha, se quer saber. — Lhe dou um selinho.
Boca gostosa.
Principalmente quando explora cada parte do meu corpo.
Venho me acostumando com seu tamanho, ardeu um pouco nas
primeiras vezes, mas depois veio um prazer que eu ansiava todas as vezes
que ele fazia amor comigo.
Como ele é grande, Heitor se controla o máximo para não me fazer
sentir dor, mas depois das primeiras, agora só sinto prazer, embora tenha
uma garrafa pet tentando me alargar.
Vinte e um centímetros! E ainda é grosso.
Pensei que nunca ia me acostumar, e ainda não me acostumei, mas
agradeço por isso, ele se encaixa perfeitamente em mim do jeito que é.
Porém, ainda preciso ver o outro lado de Heitor, eu anseio por esse
lado, o lado animal dele, o lado que não se controla, o lado que além dos
tapas gostosos que me dá, também puxe meu cabelo.
Talvez eu tenha lido um livro nacional de máfia ultimamente que me
deixou muito curiosa a esse respeito. Não que seja ruim o que nós temos,
longe disso, mas estudei um pouco através dos livros sensuais o que poderia
acontecer na cama. Quero dar prazer ao meu noivo, assim como ele me dá.
E puta merda, o piercing…
Preciso sentir ele novamente no meu ponto mais sensível.
É noite, já confirmei que nenhum dos irmãos viriam aqui para nos pegar
de surpresa e Heitor precisa urgentemente trocar as fechaduras dessa casa,
ninguém merece.
— Vai ser o da nossa — responde, falando do dia do nosso casamento.
Me viro completamente para frente em seu colo, passando minhas
pernas por cima das suas e ficando encaixadinha em cima dele e ele
espalma as mãos em minha cintura, com seu sorriso safado já tomando
conta do seu rosto ao me esfregar nele.
Que isso, hein, chefinho? Safadeza toda hora!
Eu gosto.
Agarro seus ombros, deixando um selinho no canto da sua boca, sem
reclamar nenhum pouquinho da sua ereção me cutucando e beijo seu
maxilar, gemendo baixinho ao sentir mais intensidade nas suas mãos.
Sei muito bem que entendeu quando eu sentei em seu colo o que eu
queria, principalmente estando de vestido, sentindo o contato do moletom
com a minha calcinha. Como todas as vezes, ofego baixinho quando sua
mão firma a pegada na minha bunda, apertando e subindo um pouquinho,
para estragar mais uma das minhas calcinhas com seus puxões.
— Sabe, você poderia parar de arrancar as coitadas assim, poderia só
pedir para eu levantar, sabia? — resmungo, mesmo sabendo que do jeito que
eu tô com tesão, minha reclamação não valha de nada.
— E qual seria a graça? — pergunta divertido, ao puxar meu vestido
para cima e me deixar nua na sua frente.
— Não vejo graça nenhuma em você destruir minhas calcinhas. —
Massageio seu peitoral lisinho, levando minha boca até eles e deixando
pequenos beijinhos molhados que fazem o homem abaixo de mim se
contorcer e seu membro pulsar de encontro a mim, embora o moletom ainda
atrapalhe. Fico de joelhos, pedindo com os olhos que tire seu moletom e ele
me encara cheio de luxúria e um olhar que promete muita coisa, ao retirar o
moletom do seu corpo.
Seu pau salta para fora, cheio de veias e com a cabeça vermelha
inchada e o pego. Meus dedos não conseguem se fechar ao seu redor, é
muito grosso, e é tão lindo, nunca pensei que acharia um pênis lindo, mas
vendo o dele, não tem como não achar. Ele tem a cabeça vermelha e grande
também, e todo grosso, com veias pulsantes desenhando ao seu redor.
Minha respiração começa a ficar ofegante só com essa visão. Decido fazer
algo para que ele perca o controle, assim como eu perco sempre.
— Quero você na minha boca, hoje — peço toda fofa, com o tom de voz
que sempre uso quando quero algo e ele balança a cabeça em negação,
mordendo o lábio inferior. Isso o deixa ainda mais sexy.
— Conheço esse olhar, ragazza, sabe que eu não resisto — ele
responde já rouco, desviando o olhar para minha intimidade e levanto um
dedo até ela, mas antes que consiga, o impeço, pegando sua mão e ele me
encara com o semblante sério.
Heitor não gosta de ter seu prato preferido negado.
— Não, hoje não, hoje é sobre você — repito o que ele me falou quando
tirou minha virgindade e seus olhos brilham em reconhecimento.
— Sempre é sobre nós, amore mio — sussurra com a voz grave ao me
ver descer do seu colo e ajoelhar no chão, ficando cara a cara com o que eu
pretendo transformar em novo pirulito.
Vince está certo, Heitor me corrompeu.
Pego meus cabelos, fazendo um coque no alto da cabeça e o encaro,
avisando o que vou fazer com o olhar, e os seus estão tão intensos e focados
em cada movimento meu, que me sinto ainda mais molhada. Esse negócio
de ficar molhada com apenas um olhar, eu achei que era mentira, mas não é
não, eu fico mesmo.
Pego seu membro duro com a mão, escutando um pequeno arfar vindo
da sua boca e sorrio, ganhando um pouco de confiança em fazer algo que
nunca fizemos. Levo a boca até a cabeça inchada e com a língua, dou uma
lambida na gotinha que sai dele.
— Porra — ele geme, encostando no sofá e jogando a cabeça para trás
em prazer. Uma parte bem feminina minha fica orgulhosa com essa reação e
como prêmio, coloco toda a glande dentro da boca chupando como se
realmente fosse um pirulito.
Um gemido sai da minha boca ao sentir seu gosto. Ele mesmo não tem
um gosto, é mais a lubrificação que eu lambi que faz ele ter um sabor.
— Manuela — ele rosna, gemendo e agarrando meus cabelos e faço de
novo, chupando e passando minha língua por toda a extensão, como eu li.
Ele gosta, percebo isso, seus quadris involuntariamente se erguem, pedindo
mais e com o olhar, peço que me guie. — Por que não me mata logo, né
amor? — murmura, mas faz o que eu pedi.
Ele pega seu membro com uma mão e apoio as minhas em suas
pernas, e com sua outra em meus cabelos, guia minha boca em sua direção,
mas ao invés de enfiar o negócio em mim, ele pincela a cabeça nos meus
lábios, olhando nos meus olhos e depois enfia a cabeça.
— Que boca gostosa, Manuela, sabia que era, mas no meu pau é uma
delícia… — ele geme quando chupo novamente e ele puxa minha cabeça,
tirando com um barulho molhado. — Faz de novo — ordena, pincelando
novamente os meus lábios e depois enfiando a cabeça. Chupo como ele
mandou, e sua mão no meu cabelo me deixa parada. Permaneço com a boca
aberta, gostando de cada parte disso e sentindo minha lubrificação escorrer
pelas pernas, mas abro mais a boca quando ele começa a fazer pequenos
movimentos com o quadril de encontro a mim, ele não mete tudo, nem
consigo enfiar metade dele na boca, mas ele não reclama, ele geme, geme
alto.
Chupo seu pau, deixando a língua trabalhar nele, e tenho muito cuidado
com os dentes, pois sei que é sensível e que pode machucar, mas quando
levo uma mão até suas bolas, ele sai da minha boca e me puxa para o seu
colo, me encaixando em cima dele.
— Cazzo, Manuela, sua boca é maravilhosa, mas preciso gozar dentro
de você. — Assinto com a cabeça, lambendo os lábios, não reclamando, pois
quero tanto quanto ele e ele me levanta, se encaixando na minha entrada e
me penetrando lentamente, entrando até o fundo.
Nós dois gememos com o contato de pele com pele.
— Tão molhada que deslizei facinho para dentro de você, amor, olha
isso — murmura — Sua boceta apertada engoliu tudo, ragazza, todo o seu
homem.
Solto o fôlego que estava prendendo, e jogo a cabeça para trás em
prazer, mas sua mão puxa meu rosto em direção ao seu, me beijando
profundamente e sua outra mão espalma em minha bunda, me puxando
ainda mais contra ele. Se for mais fundo que isso, querido, vai me empalar.
— Cavalga no seu homem amor — pede, e solta meu rosto para levar a
sua mão ao mesmo destino da outra.
Apoio as mãos em seus ombros, me erguendo lentamente, para depois
afundar nele, faço de novo com a ajuda das suas mãos, gemendo a cada
descida e o beijo. Colo meus seios ao seu corpo, abraçando seu pescoço e
enfio a mão em seus cabelos.
Heitor murmura algo em italiano que eu não entendo, e continuo
fazendo os movimentos de desce e sobe, mas não tenho muita coordenação
em cavalgar, fiz isso poucas vezes e vou dizer, ficar por cima cansa.
Contudo, uma das melhores partes de ficar por cima é algo que fica no
início do seu pênis. Desço, gemendo alto, com todo o seu tamanho dentro de
mim e quando chego a base, encostando nele, suas mãos empurram minha
bunda de encontro ao piercing gelado.
— Ah, nossa, isso é bom… — gemi em sua boca e Heitor abre um
sorriso malicioso.
Ele me esfrega de encontro ao seu piercing, arrancando suspiros de
mim.
— Quero que goze para mim querida, para que eu possa fazer o que eu
quiser com você. — Quase arranco seus cabelos quando ele sussurra essas
palavras no meu ouvido e ao invés de subir e descer, ele me esfrega nele.
Seu pau dentro de mim, suas mãos no meu corpo, sua boca na minha e
o piercing acariciando meu ponto de prazer me fazem explodir em um clímax,
arrancando um gemido mudo da minha boca.
— Isso, amore mio, goza no pau do seu homem — ele geme na minha
boca, passando suas mãos por todo o meu corpo.
— Heitor… — sussurro, com o rosto corado pelo o que eu vou pedir
para ele fazer agora.
— Diga, amore mio. — Morde meu queixo, passeando com as mãos em
minha cintura e bunda.
— Quero que me… foda — peço, Heitor sabe que perco completamente
o filtro quando estou com ele em um momento íntimo, mas mesmo assim,
fico com vergonha.
Ele levanta o rosto e encara meus olhos, fome tomando conta das
esferas cor de chocolate, e um sorriso pecaminoso toma conta dos seus
lábios.
— Quer que eu te foda, ragazza? — pergunta, com a voz grave e baixa.
Arrepios correm por todo o meu corpo, quando eu o sinto latejar dentro de
mim.
Respiro fundo.
— Quero — respondo.
Ele me encara por mais alguns segundos, mas seus olhos logo ficam
mais escuros pelas pupilas dilatadas. Não adianta correr, agora, eu pedi por
isso.
Sorrio.
Heitor morde os lábios e me tira de cima dele, gentilmente, me fazendo
estranhar.
— De joelhos no sofá — ordena, com sua voz tomada por desejo.
Faço o que pede, e fico de joelhos, com a bunda virada para fora do
sofá.
Ele se levanta, parando atrás de mim, e pegando minhas mãos. Elas
logo são apoiadas no encosto do sofá, e Heitor passa um braço em volta do
meu quadril, me deixando empinada para ele.
— Quero essa bunda gostosa empinada para mim, entendeu? —
sussurra no meu ouvido e eu aceno com a cabeça, o coração galopando sem
parar desde o orgasmo. E tenho certeza que não vai acalmar tão cedo.
Um tapa forte é dado na minha polpa direita, me fazendo arquear as
costas com o ardor, ao mesmo tempo que minha vagina baba por ele.
— Ai, Heitor — gemi.
— Você entendeu? — pergunta de novo, massageando o lugar que
ganhou um tapa.
— Sim, entendi — respondo com a voz rouca.
— Ah, Manuela, se eu te machucar, me diga, ok? — Aceno. — Se
quiser que eu pare, diga também, porque se não disser, meu pau só sai de
dentro de você quando eu não aguentar mais, entendeu?
— Tô contando com isso — provoco, e recebo outro tapa, e sem
esperar, Heitor entra de uma vez em mim, me arrancando o fôlego, e agarro
o encosto com força com a surpresa que foi esse impulso repentino. —
Ahhhhhh.
— Você vai aprender a não me provocar, ragazza, fui muito bonzinho
com você. — Estoca fundo dentro de mim, largando outro tapa na minha
bunda, e eu sinceramente não sei se eu choro ou se eu grito de prazer.
Talvez os dois.
Uma de suas mãos agarra meu quadril, enquanto a outra agarra meus
cabelos e Heitor começa a se mover dentro de mim. Ao contrário das últimas
vezes, ele não mete devagar, ele mete duro, profundamente dentro de mim.
— Chupa meu pau, Manuela, o engole todo — ordena, estocando com
força enquanto puxa meu cabelo para trás, puxando meu pescoço junto. —
Ofego, gemendo alto com cada arremetida para dentro de mim e ele gruda o
corpo nas minhas costas, agarrando um seio com força. — Gostosa, vai
parar de me provocar, amore mio?
— Nunca — solto entre gemidos.
Heitor abraça meu corpo por trás, levando uma mão até o meu pescoço,
e a outra em direção ao meu ponto de prazer.
Ele ri, malicioso, deixando beijos molhados pela minha nuca, enquanto
pega um mamilo com os dedos. Sua mão trabalha em meu clitóris, com
círculos rápidos, e é tudo incrível, a sensação pele com pele, suas mãos em
mim, tudo é demais.
O som da sua pélvis batendo na minha bunda ecoa pela sala, e o
barulho molhado dos nossos sexos se encontrando é um som tão sexy que
sinto que estou prestes a gozar de novo.
— Heitor… vou gozar — aviso, mas ele aperta meu pescoço com força,
não a ponto de machucar, mas a adrenalina que me toma, me faz ficar ainda
mais molhada. Heitor estoca mais rápido, em arremetidas fortes e profundas,
gemendo no meu ouvido. Sua mão continua trabalhando no meu clitóris e
não tento controlar o que sai de mim. — Heitor…
— Amo meu nome em sua boca quando geme, ragazza, principalmente
gozando com a boceta apertada me esmagando dentro de você, gostosa pra
caralho — ele rosna, mas não para de estocar, não para de me estimular,
mesmo que meu corpo estremeça em suas mãos.
Gemidos guturais saem da sua boca, e ele me solta, me empurrando
contra o sofá com uma mão na minha nuca e estala outro tapa na minha
bunda.
Ele não para, todas as vezes que fizemos isso, ele estava se segurando
e muito, pois as arremetidas dele são mais profundas e fortes e os sons que
saem da sua boca são…
Heitor é como um animal enjaulado, metendo em mim como se o
mundo fosse acabar e isso é gostoso, isso é muito gostoso.
Meu rosto está colado no encosto e o pau dele lateja dentro de mim,
anunciando o orgasmo que está tendo. Sinto sua respiração ofegante
enquanto ainda se movimenta, deixando beijos pela minha coluna e
murmurando em italiano.
As borboletas no meu estômago estão dando uma festa de felicidade
agora.
De repente, ele sai de dentro de mim e me puxa para o seu colo. Passo
as pernas na sua cintura, sentindo o gozo escorrer de dentro de mim, mas
ele me encaixa em cima dele novamente.
Arregalo os olhos para ele, que sorri, um sorrisinho pecaminoso.
— Você já gozou — constato, ofegante do sexo mais intenso que eu já
tive na vida.
Não é como se eu tivesse muitos, já que todos foram com o homem que
lateja dentro de mim.
— Já sim — responde com a voz rouca, andando comigo para o andar
de cima, mas movimentando minha bunda em cima dele. Gemidos saem da
minha boca, seguido por um gutural saindo da dele. — Mas eu disse querida,
meu pau vai foder sua boceta até cansar e isso só vai acontecer de manhã.
Ainda são oito horas da noite, ou era quando começamos, mas pelo
olhar no rosto de Heitor, ele não está brincando.
Sorrio, feliz em ver o homem que eu amo podendo ser ele mesmo
comigo, sem medo de estar me machucando e torço do fundo do coração,
que quando isso acabar, eu ainda consiga andar com minhas próprias
pernas.
Porque eu não quero perder você agora.
Estou olhando bem para a minha outra metade.
O vazio que se instalou em meu coração,
é um espaço que agora você guarda.
(Mirrors — Justin Timberlake)

Manuela está estranha, faz alguns dias que notei que ela não está se
alimentando direito e não gosto disso.
Ela não está mais acordando e me pedindo café, e anda sonolenta, tão
sonolenta que tenho que quase implorar para que acorde e vá trabalhar.
Mas mesmo nas horas de almoço e janta ela está estranha, Manuela é
uma pessoa que aprecia comida, come e come muito, porque gosta, porque
pode, porque quer. Mas não anda fazendo muito isso ultimamente.
Isso me faz voltar às camas de hospitais, sentindo dores estomacais e
sem conseguir comer bem.
Minha preocupação já é grande em tudo a respeito dela e sabendo que
tem algo ruim acontecendo me deixa angustiado. Já conversamos sobre isso,
mas ela me falou que se sentisse alguma coisa, iria me avisar
imediatamente, então isso me deixou mais tranquilo.
Embora não tire minha preocupação, se acontecer qualquer coisa, já
deixamos claro que eu vou levá-la ao hospital
— Vocês já escolheram onde vai ser a cerimônia? — Mamma pergunta,
comendo a carne assada que ela preparou para o almoço de hoje. Voltamos
a semana brasileira, e isso me causa uma nostalgia enorme, pois o primeiro
almoço que Manuela comeu conosco foi esse, quem diria que aquilo ia mudar
completamente o meu mundo?
— Estamos pensando em fazer algo na praia — falo, mas não em uma
praia normal, Manu merece Maldivas e é lá que vamos nos casar, ela só não
sabe ainda.
— Ah, amo casamentos na praia, fui a seis. — Mamma bate palminhas
feliz e sorrio, sabendo exatamente que seis casamentos foram esses.
— Ah, essas mulheres tem muito bom gosto — Minha noiva comenta
sorrindo, mas franze o cenho quando escuta um bufo coletivo.
— Essas não, querida, essa. Foram todos da Célia — Meu pai responde
rindo. Nenhum de nós julga Célia, mas ela bem que poderia parar de casar
só para fazer sexo.
Manuela arregala os olhos e solta uma risada gostosa. Meu peito se
aquece.
— Essa mulher é tudo — comenta.
— É sim, ela só está em busca da felicidade — Mamma fala e olha para
Pietro. — Querido, pegue aquele molho que eu fiz, esqueci dentro do micro-
ondas, ele fica uma delícia com esse assado — pede e Pietro corre na
cozinha, voltando rapidamente com o molho.
Amo os molhos de Mamma, uma italiana pura.
— Você quer? — pergunto ao projeto de Louisa Clark, pensando
seriamente em colocar um pano de prato como babador dessa mulher, pois
se com arroz ela já se mela, imagina molho?
— Quero sim. — Estende o prato e derramo um pouco em cima da sua
carne. — Obrigada. — Sorri e devolvo o sorriso. Mas, quando ela dá a
primeira colherada no molho, seus olhos arregalam.
Não tenho tempo de perguntar o que aconteceu, pois ela sai correndo
em direção a cozinha.
Cazzo!
Meu coração começa a acelerar.
— Será que ficou ruim? — Escuto Mamma perguntar, mas já estou
correndo atrás da minha ragazza, encontrando-a de frente para a pia
vomitando tudo.
Paraliso no lugar por uns segundos, medo puro me tomando e me
levando para oito anos atrás quando nessa mesma casa eu fiz a mesma
coisa. O medo de que aconteça o mesmo com Manuela me tira do transe e
me faz chegar até ela em passadas largas, pegando seu cabelo, enquanto
ela vomita tudo que almoçou na pia.
— Vamos ao Hospital, Manuela — aviso trêmulo, e ela acena com a
cabeça quando para de botar tudo para fora. Se tem uma coisa que Manuela
tem tanto medo quanto eu, é de perdas, e Manuela tem pavor de perder a
vida, por isso não discute, nada relacionado a sua saúde é motivo de
brincadeira para nós.
Seu corpo fica trêmulo e a pego no colo, indo em direção a cozinha.
Vince é o primeiro que vê e arregala os olhos ao ver minha noiva em
meus braços.
— O que…
— O carro, agora — falo, vendo todos na mesa se levantarem
assustados, e Vince correr em direção a porta. Passo por todos, andando
rapidamente, sabendo que estou sendo seguido.
— Não precisa de todo esse escândalo, sabe? — Manuela fala, rouca,
pelo esforço que fez ao vomitar.
— Saúde é algo importante para mim, amore mio, você também sabe —
murmuro gentil, morrendo de preocupação por dentro e a levando em direção
ao carro já ligado do meu irmão e sento com ela no banco traseiro.
— Figlio, o que aconteceu? — Mamma entra junto.
— Manuela vomitou, e ela já está sem comer direito há alguns dias,
preciso saber o que é, Mamma — respondo com o coração apertado, e
Mamma me entende com um olhar.
— Sigam a gente — ela fala para papai e meus fratelli, enquanto Vince
dá partida no carro.
Manuela se encosta em mim, seu corpo ainda trêmulo, e eu sei que é
pelo vômito, essa merda nos deixa fracos, nosso estômago vazio e a
garganta doendo. Fora a dor que sentimos no peito pelo esforço que
fazemos.
No caminho ao hospital, faço uma oração silenciosa para Dio, pedindo
com tudo de mim que não seja nada grave e que depois de tudo que ela já
passou, não tenha que passar também pelo o que eu passei.

Três horas depois, estamos todos dentro de um quarto, esperando os


resultados dos exames que Manu fez. Voltar a esse hospital, tendo Manu
como paciente me recorda do tempo em que ela quase perdeu a vida.
Não é uma lembrança que queira recordar, não quando sei que fiquei
tão perto de perder a mulher que eu amo. Além de me relembrar anos atrás
quando vivia entrando e saindo de hospitais, tratamentos e mais tratamentos,
para no fim, vencer o câncer e perder a oportunidade de realizar o meu maior
sonho.
Balanço a cabeça, tentando expulsar esses pensamentos e olho para a
minha noiva.
Ela está sentada na cama, devorando uma caixa de Donuts.
Não queria comprar, mas ela não come direito há dias e está fraquinha
e nada do que tentamos dar a ela, Manu quis comer, para falar a verdade,
seu estômago não segurou.
— Isso está demorando demais — resmungo, sentado na poltrona ao
seu lado, e meus fratelli concordam. Eles estão espalhados pelo quarto, em
pé, enquanto Mamma e Papai estão sentados em outra cama livre do quarto.
— Sim, eles já deveriam ter chegado — Vince resmunga.
A porta é aberta assim que ele termina de falar e o mesmo médico que
atendeu Manuela meses atrás entra, com papéis na mão e me levanto
rapidamente, com meu coração acelerando no peito.
Por favor, que não seja o pior, que não seja o pior.
— Manuela, gostaria de dizer que estou feliz em te ver de novo, mas
isso não é algo que seja de bom tom — ele faz uma piada extremamente
sem graça, mas Manu ri, é claro que riria, é um doce, fez o médico se
apaixonar na semana que passou aqui e nem estou falando romanticamente.
— Eu espero não voltar como paciente, doutor, me diz que tem boas
notícias aí. — Ela aponta para o papel com um donut na mão.
Todos nos inclinamos mais para perto como urubus, atrás de ver o que
tem escrito no papel, mas o médico nos lança um olhar sério, nos fazendo
afastar um pouco, só um pouco.
Tenha pena desse homem aqui e fala logo o que tem aí, figlio di
puttana.
— Bem, dependendo do ponto de vista, pode ser boa ou ruim, eu gosto
de pensar que é boa. — Ele sorri para Manu, e soltamos um suspiro de alívio
em conjunto.
Porra, estou velho demais para isso. Quase desabo na cadeira com as
pernas trêmulas.
Obrigado, Dio. Agradeço mentalmente, quase chorando.
— E o quê ela tem, senhor? — indago para o homem mais velho que
eu, e ele me encara por um momento, depois Manu e sorri novamente.
Nunca vi tanto sorriso em um hospital.
— Não é o “quê” ela tem, e sim quem. Parabéns Manuela, o que você
sentiu foi apenas enjoo, você está grávida — ele fala na maior leveza, como
se não tivesse acabado de enfiar uma faca na porra do meu coração.
Minhas pernas falham, me fazendo desabar na cadeira e respirar fundo.
Ninguém na sala fala, nenhum som é ouvido deixando o médico
desconfortável. Os olhos de Manuela se voltam para mim, arregalados, e seu
rosto está branco feito um papel.
Nem por um maldito segundo eu acredito que ela possa ter feito uma
sacanagem dessa comigo, é a minha Manuela, mas isso tem que ter uma
explicação, precisa ter uma explicação, mas eu não consigo falar, estou em
choque.
— Senhor? — Manuela murmura para o médico que a encara paciente.
— Como é possível que eu esteja grávida de alguém que não pode ter filhos?
Ele arregala os olhos, principalmente quando nota toda a concentração
de uma sala em cima dele, mas pigarreia e fala, se dirigindo a mim.
— O senhor é estéril? — indaga e apenas aceno com o coração
trovejando.
Meu peito é coberto por uma dor esmagadora, misturado com algo que
eu me recuso a ter agora, me recuso a sofrer assim.
— Pode me dizer como se deu o seu diagnóstico?
Como apenas encaro sem dizer absolutamente nada, minha mãe toma
a frente, segurando as mãos de papai e responde.
— Meu bambino teve câncer, anos atrás, ele conseguiu vencer, mas por
conta do tratamento, ele… — sua voz falha e ela não termina de falar e fecho
os olhos.
Dói, essa porra dói.
Mesmo que no fundo a semente da esperança queira brotar no meu
peito, não a reconheço ainda, não sou masoquista a esse ponto.
— Ah, entendi. Bem — a voz do médico sai firme. — Você quer contar
alguma coisa, Manuela? — pergunta a minha noiva e abro os olhos, sabendo
que tudo que sair da sua boca é verdade.
— Não senhor, ele tirou minha virgindade e só dormi com ele, então…
ou seu exame está errado, ou me tornei a Jane de Jane a virgem, ou então…
— Ela me olha, esperança cobrindo seus olhos, esperança crua que faz o nó
na minha garganta aumentar. Ele também me pede para confiar nela com
seu céu particular, e lhe dou um pequeno sorriso em resposta.
É claro que confio, amore mio, você é minha e de mais ninguém.
— Sendo assim, costumo pensar que nós médicos fazemos sempre o
melhor, mas não somos perfeitos, além disso, em algo que é tão importante
na nossa vida a respeito do nosso corpo e da nossa saúde, gosto de indicar
que sempre obtenha uma segunda opinião a respeito, o senhor foi em outra
clínica para ter certeza sobre o seu estado? — ele me pergunta e nego com a
cabeça. Me sentindo impotente. — Gostaria de me acompanhar para realizar
alguns exames? Manuela, também gostaria de refazer os seus — ele fala, e
tanto eu como ela nos levantamos.
Tento não voltar anos atrás e lembrar do dia em que meu mundo foi por
água abaixo.
Os olhos dos meus fratelli estão cobertos de lágrimas, e dos meus pais
também.
Pego a mão da minha ragazza, saindo da sala com ela, pedindo agora,
para que Deus me dê esse presente, para que a semente dentro do meu
peito seja regada por ele e que meu sonho finalmente se torne realidade.

Três horas depois, novamente estamos no quarto aguardando os


resultados. Agora há uma energia diferente no ambiente.
Sentado com Manuela no colo, espero a resposta para aquilo que está
corroendo meu peito agora.
Eu sei que há muitos casos onde os médicos por um cálculo errado ou
qualquer outra coisa, erram o diagnóstico dos pacientes, é muito difícil, é por
isso que confiamos sempre neles, mas o que o médico me falou é verdade,
em algo relacionado a nossa vida e ao nosso corpo, temos sempre que
procurar uma segunda opinião.
Mas, embora não queira acreditar que tudo que eu vivi possa ser uma
mentira, meu coração carrega uma dor enorme por algo que talvez não seja
real.
Eu sinto dor, e se depois desse resultado, tudo continuar na mesma, eu
vou sentir ainda mais, porque o fiapo de esperança que tomou conta do meu
coração é grande demais para deixar de lado.
Esse é o problema da esperança, ela vem para te fazer acreditar que
algo pode ser melhor, então você a acolhe, cuida dela, deixa ela tomar
espaço dentro de você. A parte ruim da esperança, é que ela não pode
mudar o que acontece na vida real e quando não conseguimos obter o
resultado que queríamos, ela te esmaga, a esperança amarra uma corda no
seu pescoço e a puxa, te deixando sem ar, e quando ela se vai, a dor toma
seu lugar, a inveja por algo que não conseguiu, a esperança de ter um amor
correspondido e depois ver ele se apaixonando por outra pessoa.
A esperança é a última que morre, é o que dizem, mas não dizem que
quando ela morre, ela pode te levar junto.
O médico entra na sala, cansado, provavelmente da rotina de trabalho,
mas mesmo assim, ainda está aqui, a pedido meu, para que ele consiga nos
falar o que está acontecendo com a gente.
Meu futuro e o de Manuela estão em suas mãos e eu sei que ele sabe
disso.
Puxo Manuela mais colada ao meu corpo e seus olhos brilhantes se
voltam para os meus. Beijo seus lábios em um selinho, com uma vontade
enorme de chorar como uma criança, pois se o que ele disser ali for algo que
não seja o que eu carreguei pela vida toda, eu vou chorar demais.
— Fala logo, homem, pelo amor de Dio — Mamma implora.
Prendo a respiração, sem tirar os olhos da minha noiva, dos olhos
doces da mulher que eu amo, ao esperar as respostas.
Ele lê os papéis e depois nos encara.
— Bem, Heitor, sua contagem de esperma está normal, inclusive normal
é um eufemismo, você tem até demais, mas não tem nenhum problema de
infertilidade — um grito é ouvido na sala, assim como vários outros e a única
coisa que consigo fazer é esperar o resultado de Manuela. Seu rosto já está
coberto de lágrimas, minhas e dela, e mordo o lábio ao escutar a voz do
homem. — E o seu resultado é o mesmo Manuela, parabéns aos novos
papais.
Por um instante, a incredulidade agarra com forças suas garras em
mim, por tudo isso.
— Pode repetir, senhor? — peço, rouco, encarando minha ragazza.
Manuela agarra meu pescoço em um abraço apertado, soluçando alto,
enquanto meus ombros tremem com o meu choro.
À nossa volta, gritos são ouvidos e nunca, nunca pensei que poderia
ser tão feliz na vida.
Nunca pensei que comemoraria um resultado errado de um médico.
Beijo minha noiva, beijo a mulher que mudou completamente o meu
mundo. Beijo a mulher que quis ficar comigo mesmo quando eu não podia lhe
dar o que mais queria.
Uma parte de mim grita com o mundo, grita com raiva, rugindo, pela dor
que eu senti, grita pelo que eu passei anos sentindo, grita pela dor que ser
impotente me causou. Mas calo essa parte, ela não é algo que quero deixar
tomar conta agora.
Apenas continuo beijando a minha noiva, que em breve será minha
esposa, e com o coração coberto de gratidão, agradeço a Dio pelo nosso
pequeno milagre.
— Sabe o que isso significa, amor? — sussurro contra sua boca.
— Que temos que apressar o casamento, não quero me casar de
barrigão — ela choraminga em meus braços e solto uma risada alta.
Meu Deus, eu nunca estive tão feliz.
Essa é uma frase que se repete muito quando estou com ela, mas
nenhuma é mentira, quando penso que algo não pode melhorar, ela me prova
que pode sim.
Mas é claro que ela faria isso. Claro que mudaria completamente minha
vida.
Ela é a mulher que amo.
Ela é a mulher que vai se casar comigo.
Ela é a futura mãe do meu bambino ou bambina.
Ela é a minha doce ragazza.
Por um minuto, eu esqueço que sou mais velho.
Eu quero dançar com você agora, oh.
E você parece tão bonita quanto sempre.
E eu juro que a cada dia você vai ficar melhor.
Você faz eu me sentir desse jeito de alguma forma.
Eu estou tão apaixonado por você.
(Say you won’t let go — James Arthur)

Uma mãozinha muito macia, que eu conheço muito bem,


aperta meu nariz com força.
— Acorda Papa, Mamma quer café — a voz doce como a da
mãe chega aos meus ouvidos como música.
É óbvio que quer café, a preguiçosa não tem coragem de se
levantar para fazer, pode até se levantar, mas para ficar esperando,
ainda mais depois de anos sendo mimada. Abro os olhos,
sonolento, dando de cara com os olhos cor de chocolate mais lindos
que eu já vi na vida, da minha bambina que me encara com a testa
franzida e um biquinho nos lábios destacando as bochechas
gordinhas e vermelhas dela.
— Agora, papa — resmunga, apertando novamente meu nariz.
É muito abusada mesmo.
Pego seu corpinho fofo que eu amo apertar e abraço apertado,
fazendo cócegas com minha barba no seu pescocinho.
Sua gargalhada gostosa ecoa pelo quarto, enquanto suas
mãozinhas tentam me tirar de cima dela.
— Cadê o “Bom dia, papai?” “Dormiu bem?” Não tem vergonha
de chegar pedindo assim, não? — Beijo sua bochecha, nem um
pouco ressentido por ela não ter feito essas perguntas.
— Bom dia, papa, dormiu bem? — ela diz entre risadas — já
disse, agora vai fazer nosso café, papa. — Mas é muito mandona
mesmo, igual a mãe.
Minha filha de cinco anos é uma mistura de Manuela e eu.
Sua pele é castanha igual à da mãe, mas os cabelos e os
olhos são meus. Em personalidade? Mandona igual a mãe e
mimada do mesmo jeito, e é doce, e gentil. De mim ela só puxou a
postura quando está com raiva, já que bota todo mundo para correr.
Ela é meu milagre mais bonito. Nossa pequena Giovana,
nosso pequeno presente de Dio.
— E cadê sua mãe mesmo? — pergunto me levantando com
ela no colo. Seus bracinhos passam pelo meu pescoço se
agarrando em mim para se segurar, enquanto vou em direção ao
banheiro.
— Na cozinha esperando, oras — resmunga de novo. Essa
menina vive resmungando.
Também tem um nível de sinceridade absurdo, não pergunte
algo se não quer saber a verdade, com apenas cinco anos ela já fez
muitas pessoas chorarem por falar que a mulher está parecendo
uma palhaça com a maquiagem mal feita ou que a roupa que a
pessoa está vestindo deixa ela parecendo um pepino.
Tô falando sério, ela fez isso com uma parceira que estávamos
fechando um contrato.
Gah e sua ragazza ficaram rindo por dias seguidos.
Sento a miniatura de gente na pia, enquanto pego a escova
para fazer minha higiene pessoal.
— Já escovou os dentes, querida?
Ela assente abrindo bem a boca para que eu confira se fez
direitinho.
— Mamma que escovou para mim, mas o senhor tá
demorando muito papa, ela tá com fome. — Coloca as mãos na
cintura e me encara brava. Solto uma risada ainda com pasta na
boca e nego com a cabeça.
Minha vida se resume a isso, todo mundo mandando eu fazer
coisas para Manuela.
Minha Manuela.
Manuela Martínez Mancini.
Imagina na hora de assinar os papéis do casamento quando
nos demos conta disso. Manuela quase explodiu de tanto rir e
pensei seriamente que ela iria ter nossa Gigi, naquele momento.
O dia em que fiz de Manuela minha esposa.
Nosso casamento foi perfeito, aconteceu em Maldivas, embora
tenhamos tido alguns problemas no meio do caminho com nossos
padrinhos, no final, tudo deu certo.
— É sua mãe ou você que está com fome? — indago,
enxaguando a boca.
— E não pode ser as duas, papa? — responde, com suas
bochechas corando. Sorrio, com a fofura que essa bambina é.
— Não podemos deixar as barriguinhas das mulheres da
minha vida, vazias, né? — Ela acena e me oferece os braços,
pedindo colo.
— Nossa raglassa disse que tem uma surpresa, papa. — Solto
uma risada com o raglassa dela que sempre me faz rir.
Nossa ragazza é o que falamos quando estamos nos referindo
a minha esposa.
— Ah, é? Posso saber o que é? — pergunto em um tom
conspiratório, mas ela me encara em repreensão. Mordo o sorriso.
— Se é surpresa, é claro que não, né papa? — Toma distraído.
Não sei porque ainda me dou esse trabalho.
Desço as escadas com ela no colo e ando em direção a
cozinha. Assim que entro, dou de cara com nossa ragazza, sentada
no balcão da cozinha, balançando suas pernas gostosas para fora,
com seu pijama de panda, cobrindo apenas os seios e o short
minúsculo.
Ela sorri ao me ver, e eu devolvo na mesma hora.
Dio, eu amo essa mulher.
Manuela já está mais velha, mais madura, mas o seu jeito
inocente e doce, nunca foi embora, ela ainda consegue o que quer
de mim, apenas com um olhar.
— Bom dia, mi amor. — Ela abre os braços e as pernas, e me
encaixo no meio delas, com nosso presente entre nós.
Deixo um selinho em seus lábios ao responder.
— Bom dia, amore mio — sussurro, com os olhos brilhando ao
encarar minha mulher.
Nunca pensei que me transformaria em um homem babão, que
poderia ficar o dia todo admirando sua mulher, mas quando você
está apaixonado, é impossível não o fazer. Eu assistiria minha
esposa plantando bananeira e ainda assim, a acharia esplêndida.
— Mamma, disse a papa que a senhora tá com fome, mas ele
ficou enrolando — ela me dedura para Manuela, ao pular no colo da
mãe.
Manu semicerra os olhinhos para mim e apenas ergo as mãos
em rendição.
— Ela não está falando a verdade — me defendo, e vejo
minha filha arregalar os olhos. Mordo a vontade de gargalhar, vendo
a mulher à minha frente fazer o mesmo.
— Disse que eu tô mentindo, papa? — Abre a boca em
descrença. Está aí, mais uma parte que herdou de dona Antonella.
O drama.
— Não, querida, só disse que você não está falando a
verdade.
Ela franze o cenho.
— Mas num é a mesma coisa, não? — pergunta, e pressiono
os lábios.
— Não, querida.
— Mamma, o papa tá me deixando confusa. — Ela olha para a
sua mãe, resmungando e não aguento, explodo em uma gargalhada
alta, sendo seguido por Manu, e mesmo sem entender nada, minha
Gigi ri também.
Olho para as mulheres da minha vida, sentindo a felicidade
que sempre toma conta de mim ao ver elas duas juntas e pergunto à
minha esposa.
— Qual é a surpresa que você tem para mim, ragazza?
Seus olhos brilham, e ela coloca nossa Gigi no chão, falando
algo em seu ouvido.
Gigi acena e vai até a sala, enquanto os braços de Manu
passam pelo meu pescoço e ela me beija. Fico surpreso, mas não
reclamo, beijo sua boca gostosa, apertando sua bunda rapidamente,
antes que nosso pequeno furacão volte correndo, com uma caixa
nas mãos.
— Toma, papa, um presente da Mamma. — Ela aponta o
presente para mim e mesmo desconfiado, pego a caixa das suas
mãos e levo para a minha frente.
Escuto um pigarro e volto meus olhos para a pequena que tem
o cenho franzido e os bracinhos para cima como se dissesse:
“esqueceu de mim” e sorrio, pegando-a.
Com as duas na minha frente e Manu quase pulando de
expectativa, abro o laço da caixa, abrindo-a. Meu coração erra uma
batida ao ver o que tem dentro.
Encaro os olhos da minha esposa e o sorriso grande no rosto
da minha pequena e pergunto com a voz ficando embargada.
— Isso, é sério?
— Sim, querido, é sim — com a voz tão embargada quanto a
minha, Manu me responde.
Olho dentro da caixa novamente, tirando um par de sapatinhos
azuis de dentro, com lágrimas já escorrendo em meu rosto e os
beijo.
Em seguida, abraço minhas duas ragazze, com todo amor do
mundo, enquanto comemoramos a entrada de mais um Mancini na
família.
E mais uma vez repito uma frase que está se tornando o meu
lema e sempre acaba sendo superada.
Esse é o melhor dia da minha vida.
Fim..., ou talvez não?

E o casamento? Como foi, quem foi convidado, onde foi? Acho


que vamos ver muito sobre ele no próximo lançamento, algo me diz
que os padrinhos vão fazer tudo dar muito certo…, ou muito errado!
Estamos aqui de novo, mais um lançamento de um livro e
posso deixar claro o quanto foi difícil escrever ele. É óbvio que eu
não conseguiria fazer isso sozinha, realizar o meu sonho. É incrível
o que você pode fazer com o apoio de pessoas que realmente se
importam em ver você voar em sua carreira.
Então, aqui eu agradeço a todos vocês que fizeram parte
dessa realização.
A vocês, Linna, Helido, Nicoly e Uandry. Minha mãe, meu pai,
minha irmã e meu namorado. Mãe, por você sempre me apoiar e me
dar o incentivo necessário para seguir o que eu escolhi para mim.
Pai, obrigada por me educar, sem você eu não seria a pessoa que
eu sou hoje, forte e que com certeza posso superar qualquer coisa.
Nicoly, por ser minha maior fã, saiba que eu sou a sua também, meu
amor. E Uandry, que passou madrugadas acordado comigo,
enchendo seu saco e pedindo, “faz isso”, “faz aquilo”.
Sinceramente? Não sei de onde você arrumou uma paciência que
não existe em você para me ajudar, quando você deixou de fazer
suas coisas e me deixou usar seu computador para escrever meu
tesouro, obrigada por ser você.
As minhas leitoras betas. Posso dizer, com toda a certeza que
a parte mais importante na escrita de um livro, são as suas betas. E
as minhas? Elas são todas especiais, e aguentaram todo o sufoco
que eu fiz para a mudança de título, me ajudaram a achar avatares
para a divulgação e o mais importante, me deram todo o incentivo
para continuar a escrever essa obra. Vou dizer para vocês, ter
alguém para dizer “Melhor assim”, “Você pode mudar isso”,
“Desenvolve mais essa parte”, é excepcional. Elas te ajudam a
melhorar e ainda fazem sua obra sair melhor.
Então, obrigada Evelyn Fernandes, obrigada por aguentar
meus surtos, por falar tudo que eu precisava ouvir e por não me
matar quando eu disse que precisava da sua urgência na revisão, e
você mesmo com vontade de pular no meu pescoço, não pulou,
amo você por isso. Obrigada também, por estar sempre disponível
para mim, não sei o que seria desse lançamento se não fosse você,
você foi a minha co-escritora, posso falar assim? Você é especial e
merece o mundo por ser tão excepcional. Além disso, é minha
revisora também, existe algo mais perfeito?
Obrigada Bella, sim... é a Isabella Hypolito, autora de “Paixão
cigana”, tá com inveja? Tenho uma autora como beta, imagina a
minha sorte? Por falar nisso, já leram o livro dela? Deveriam.
Obrigada Bella, por me colocar para cima todas as vezes que eu te
perturbei, obrigada por falar que eu conseguiria, obrigada por estar
sempre disponível para me ajudar.
Nana, amor e você? “que tal colocar algo italiano no título”,
tinha que ser ideia sua, né? Obrigada por me dar sempre sua
opinião sincera, por me acompanhar desde o tempo em que eu era
do wattpad, e por ser uma pessoa incrível que me colocou para
cima todas as vezes que eu surtei no grupo, me acalmando e
procurando soluções. Você é ótima meu amor.
Ana Lice, quer agradecimento maior do que o fato de você se
tornar um personagem do meu livro? Seu pedido virou ordem.
Obrigada amiga, por me incentivar a ler desde que tínhamos doze
anos, você sempre foi uma fonte de orgulho para mim. “Minha
amiga é leitora”, adivinha amiga, agora eu escrevo os livros que
você lê, obrigada por tudo.
Obrigada também a minha amiga Lara, que todos os dias me
aguenta no WhatsApp quando surto com dores de cabeça, com
reclamações da vida, você sempre fala. “Confio no teu potencial,
você vai conseguir” Eu amo você, quero que saiba disso.
Agradeço aqui agora, as minhas parceiras, vocês que estão
me ajudando na divulgação, vocês com certeza são meus potinhos
de mel, gostaria de guardar todas em um potinho, obrigada por
fazerem parte desse lançamento e por me ajudarem a fazê-lo
alcançar mais pessoas. Amo vocês.
Por fim, mas sem dúvidas especial, a você, leitora e leitor, por
estar lendo esse livro, por me acompanhar na jornada que foi a
história de Heitor e Manuela, obrigada a vocês por existirem. Vocês
são a parte principal dessa história, afinal, pra quem mais eu
escreveria?
Por hoje é só pessoal, beijos e até a próxima!

Com amor, Mirlla.

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