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Copyright© 2024 – Jéssica Oliveira

Edição 01
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1. Literatura Brasileira 2. Romance 3. Jovem Adulto 4. Contemporâneo

Revisão - Mariana
Diagramação – B. S. Oliver
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Sumário
Sinopse
Gatilhos
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Epílogo
Sinopse

Sombra
Eu avisei para nunca mais voltar. Ela voltou.
Eu avisei que me tornaria seu inferno particular. Ela não acreditou.
Eu só tinha uma tarefa, observá-la, mas quanto mais perto eu ficava, mais me envolvia.
Com o tempo, essa atração se transformou em obsessão.
Lovely Blossom me pertence, só ainda não sabe disso.

Coelhinha
No lugar errado, na hora errada, acabei sendo a única testemunha de um crime brutal.
Parti com a promessa de nunca mais voltar, mas o destino tinha outros planos para mim.
Agora, de volta, me vejo presa em um jogo perigoso de gato e rato.
O Sombra disse que seria meu inferno particular, mas não disse que me faria apaixonar
pelo homem por trás da sombra.
Gatilhos

— Violência
— Conteúdo sexual explícito
— Tortura psicológica
— Consentindo não consentir
— Relacionamento tóxico
— Assassinato
— Mutilação
— Sequestro
— Perseguição (stalker)

— Crueldade animal.
Capítulo 1

— Ainda não acredito que vai me abandonar — Cameron se queixa tragando o pequeno
baseado. Ela me oferece, mas eu nego veemente, encarando seus grandes olhos castanhos por um
momento.
Gostaria de dizer a ela que sentirei falta daqui, cresci em Serpentine Hill, conheço todos,
e quase ninguém me conhecia, mas tudo mudou quando meu irmão Tyler morreu. Preciso de um
recomeço e não posso tê-lo nessa cidade.
— Eu volto nas férias de verão — prometo, mas uma dúvida persiste em seus olhos. —
Você vai estar ocupada demais no seu primeiro ano na Vanguard, duvido que sentirá minha falta.
Meus olhos vagueiam pela festa, é sexta-feira treze, as luzes de néon lançam sombras
fantasmagóricas nas paredes escuras e uma névoa artificial paira no ar, criando uma atmosfera
misteriosa. As pessoas nunca pareceram tão ridículas em trajes macabros, exceto os anfitriões da
festa, todos com máscaras de led néon.
Pulo de cima da mesa de ping-pong e, mesmo com um all star branco e muito sujo,
perco o equilíbrio. Vejo as horas no meu relógio de pulso, são quase três da manhã. Em menos
de cinco horas, embarcarei para Califórnia.
— Vou ao banheiro — aviso e desapareço entre as pessoas antes que ela possa me
seguir. Subo para o segundo andar, conseguindo ouvir meus pensamentos sem o barulho
ensurdecedor da música Wap e, por instinto, ando direto até um dos quartos principais.
Giro a maçaneta com uma sensação esmagadora dominando o meu peito. Entro no
aposento e acendo a luz na parede ao lado. Meus olhos vagueiam pelo quarto e a familiaridade
que costumava sentir não apareceu. Só há uma cama bem desarrumada e roupas espalhadas pelo
chão.
Não tem mais nada do Tyler aqui. Com um suspiro fraco, dou um passo para trás e a
saudade se mistura com tristeza, então, sinto uma parede de músculos as minhas costas, enrijeço
ligeiramente, olho por cima do ombro e vejo Maddox Knight. Um arrepio indesejado percorre
meu corpo, me incitando a me afastar rapidamente de sua figura imponente, que domina a
entrada do quarto.
Maddox, mais conhecido como Mad Knight, o apelido lhe cai bem, “cavalheiro louco”,
é o ex-capitão do time Black Ravens, tem o físico de um armário, daqueles que portam maleiro e
tudo, e foi expulso por socar a cara de um jogador do time rival. Brigas são normais nos jogos,
mas Maddox deixou o cara em coma por quase um mês.

Não consigo deixar de notar seu rosto com vários hematomas. Parece que ele acabou de
sair de um ringue.
— Eu já estava saindo — murmuro com uma nota de nervosismo na voz.
Nunca trocamos sequer uma palavra. Sua cabeça se inclina para o lado, seus cabelos
pretos como uma pedra ônix adornam um rosto brutalmente bonito, carregado por uma expressão
fria. Ele estende a mão em direção à saída sem dizer nada e, com seus nefastos olhos azuis, me
observam de forma predatória, mas eu fujo como uma coelhinha, fazendo jus à minha fantasia.
Procuro pela Cameron no caminho para o meu carro e, como não a vejo em lugar algum,
envio uma mensagem, mas não espero ela responder para dar partida.

Chego em casa em menos de quinze minutos. Ao subir o primeiro degrau, o sensor de


movimento ativa e a luz da varanda se acende, revelando o início da floresta ao lado. Quando era
pequena, isso costumava me assustar. Caminho para dentro de casa silenciosamente, evitando
acordar meu pai. Ao entrar no meu quarto no andar superior, sinto uma angústia ao vê-lo quase
vazio, com apenas uma cama de casal e um roupeiro roxo praticamente desocupado. Vivo aqui
há quase dezoito anos, sentirei falta daqui.
Paro em frente ao espelho, removendo as minhas orelhas de coelha, e passo os dedos
nos fios de cabelos loiros, tão claros quanto a lua, para desembaraçá-los. Ignoro a maquiagem,
cansada demais para removê-la, tiro minhas roupas e deslizo dentro de uma camisola branca de
cetim. Me deito na cama e fico encarando o teto por um longo tempo com a sensação de que não
conseguirei pregar os olhos até estar com os pés dentro do avião.
Minha mãe está me esperando na Califórnia. Depois da separação dos meus pais e da
perda de Tyler, ela não suportou ficar nesta casa, mas eu precisei para terminar o ensino médio.
Bufo, tremendo os lábios, e de repente sinto o focinho gelado de Ozzy no meu braço. Viro a
cabeça em direção ao Golden Retriever, e meu peito se aperta por ter que deixá-lo com meu pai.
Ozzy choraminga ao meu lado e sei exatamente o que ele quer. Levanto-me da cama com
preguiça dominando o meu corpo e desço para o andar inferior. Abro a porta para ele se aliviar, e
o cão sai disparado para fora.
Jogo a cabeça para trás e praguejo alto, porque esqueci a porra da coleira. Desço as
escadas descalça e começo a gritar por Ozzy, mesmo imaginando onde ele está nessa altura.
Caminho em direção à floresta. Durante o dia, é lindo, mas, à noite, se transforma em um
labirinto de terror. E Ozzy está lá. Das outras vezes que fugiu, ele foi encontrado à beira do lago.
Ótima noite para passear na floresta, Lovely... Nunca tive medo dessa data, mas também
nunca entrei no meio de uma mata à 1h da madrugada de uma sexta-feira treze. Abandono o
pátio, adentrando a clareira. A seis metros, mergulho na densidade da floresta, descalça. Santa
inteligência! Não posso acreditar que vou passar minha última noite no meio do mato.
A dor nos pés se torna quase insuportável ao me aproximar do lago. O som da
correnteza ecoa e a lua reflete, clareando a mata. Chego à margem e limpo os pés, sentindo-os
sensíveis.
— Ozzy! — exclamo e minha voz ecoa pela escuridão. — Vamos, amigão, já está tarde
para um passeio — grito e assobio, mas nem sinal do meu cão. Eu me viro e congelo quando me
deparo com três silhuetas esguias na beira do lago, meu coração parece que perde uma batida
quando meus olhos se fixam em seus rostos escondidos por máscaras de néon vermelha, azul e
amarela.
— Peguem-na — ordena uma voz grave. Meus olhos descem entre os indivíduos
enquanto involuntariamente dou um passo para trás e me deparo com um corpo caído no chão.
Sufoco um grito, cerrando a mandíbula com força e, antes que eu perceba, já estou
correndo na direção oposta deles. Minhas pernas parecem estar pesadas por chumbo, me
deixando mais lenta. Corro pela floresta densa, sentindo o sangue pulsando em minhas veias,
minha visão fica embaçada e não sei mais que caminho seguir para casa. Os galhos baixos
cortam minha pele conforme passo entre eles.
— Corra, coelhinha, corra! — exclama a mesma voz com um toque de diversão. — Não
há como escapar de mim. — Ele solta uma risada que ecoa pela floresta, provocando-me cólicas
no estômago e, pela distância de sua voz, sei que ele não está muito longe. Olho por cima do
ombro e, de repente, meu pé prende em um galho, me jogando de cara no chão.
Cerro os dentes, sentindo pontadas de dor em várias partes do corpo. Rastejo para trás
de um tronco, tentando, inutilmente, ouvir seus passos, mas, com meu coração frenético, tudo
que ouço é ele trabalhando furiosamente em meus ouvidos.
Quando ameaço refletir sobre o que diabos vi lá, me proíbo. Tenho que encontrar um
jeito de chegar em casa e, aí, sim, chamo a polícia. É o trabalho deles, não o meu. Livro-me da
camisola branca que me faz parecer um fantasma no meio da escuridão, ficando apenas de
calcinha e sutiã de renda branca. O calor envolve meu corpo, fazendo-me sentir ainda mais nua.
Meu peito aperta, porque agora tenho que correr de novo.
Sou pequena e ágil, era assim que Tyler me descrevia. Se tenho alguma vantagem, é
essa, e preciso acreditar nisso.
— Apareça, Lovely. — Suas palavras me deixam em transe, como diabos ele sabe o
meu nome? — Vamos conversar, não é nada do que você pensa — diz, alto e persuasivo. Engulo
o pavor que ameaça me engolir e saio correndo novamente, tentando encontrar a trilha de volta
para casa.
Meus pés doem a ponto de sangrar, e o medo toma conta de cada fibra do meu corpo.
Olho para trás quando ouço um barulho, mas não vejo ninguém e, por um momento, sinto que
estou num daqueles filmes slasher de péssima qualidade.
Deus, não me deixe morrer. Peço em oração e procuro o caminho com passos
apressados. À medida que me afasto do lago, mais aumenta dentro de mim aquele sentimento de
perseguição. Quando meus pés atingem a trilha, sei que não estou longe de casa. Encontro o
caminho e a sensação de alívio é iminente. Acelero o passo, mesmo que machuque meus pés e
meus pulmões. Consigo ver o início da minha casa, algo maior cresce em meu peito, esperança
com certeza.
Estou quase dentro da clareira quando dois dos mascarados aparecem lado a lado na
minha frente, paraliso, sentindo as lágrimas brotarem em meus olhos. Como fui estúpida, corri
direto para os braços deles! Não quero pensar no que vão fazer comigo se me pegarem. Aquele
corpo no lago não é bom sinal.
Eles ainda me encaram, paralisados, apenas me analisando. Dou um passo para trás, e
meu corpo colide com um bloco de músculos. Braços fortes se fecham em volta do meu dorso e,
quando meus lábios se abrem para gritar, ele coloca a mão na minha boca, me silenciando.
— Peguei você, coelhinha — sussurra em meu ouvido, provocando um arrepio na
espinha.
Capítulo 2

O estridente som metálico da campainha corta o ar, reverberando pelos corredores do


Aeroporto Internacional de São Francisco, seguido por uma mensagem.
— Últimos passageiros do voo XY123 para o Aeroporto Internacional da Filadélfia,
por favor, dirijam-se ao portão de embarque B14.
Relutante, levanto-me do banco, sentindo a alça da minha mochila de couro deslizar
suavemente em meu ombro. Minha mãe, de pé à minha frente, hesita e sua expressão entrega a
indecisão de me abraçar para se despedir.
— Love, isso não é um adeus... — ela sussurra, e a culpa transparece nos vincos ao
redor de seus olhos verdes.
Empurro uma mecha do seu cabelo castanho-escuro para trás da orelha, nós nunca
ficamos tão parecidas depois que tingi os cabelos de preto. A tonalidade do cabelo não foi a
única mudança que fiz. Agreguei tatuagens, piercings e adotei hábitos questionáveis como uma
das formas que encontrei para me livrar da Lovely do passado.
— Não vamos fazer isso de novo, mãe — respondo, me aproximando para dar um beijo
na sua bochecha, consciente de que mereço isso, afinal, fui eu quem me coloquei nessa situação.
A campainha ecoa novamente, e sei que não tenho escolha, a não ser me afastar dela e
embarcar rumo ao destino, que, ironicamente, prometi a um assassino que nunca mais voltaria.
Minha mãe me observa a passar o portão de embarque, dou um último aceno para ela,
entro no avião e tomo o meu lugar rumo à Pensilvânia, especificamente Serpentine Hill.
O avião começa a decolar. Olho pela janela, observando as luzes da cidade de São
Francisco se afastando gradualmente. Pensamentos intrusivos invadem minha mente enquanto
penso no que me aguarda daqui para frente. Será que as coisas mudaram? Ou será que a pequena
cidade ainda é o mesmo lugar onde eu cresci?
Quando parti, a falta que senti foi avassaladora e desejava voltar apenas para matar a
saudade das minhas coisas e do meu pai, que nunca foi me visitar. Mas tanta coisa aconteceu
nesse curto intervalo de tempo que voltar agora para minha antiga cidade me faz sentir uma peça
sobrando no quebra-cabeça.
Coloco meus fones e a melodia de Me and The Devil de Soap&Skin ecoa, silenciando os
motores do avião. Relaxo na poltrona, fecho os olhos e, de repente, minha mente é invadida por
flashes rápidos e vívidos. Encontrei-me novamente na escuridão densa da floresta, os raios da lua
apenas destacando as sombras ao meu redor. A sensação daquela mão fria em meu abdômen e
dos dedos dele trancando minha passagem de ar sempre me fazem hiperventilar. Respiro
profundamente, tentando afastar a ideia de que algo ruim está prestes a acontecer.
Não sou mais aquela garota. Eu não terei medo!
O avião aterriza no Aeroporto Internacional da Filadélfia, e eu me vejo junto da
multidão de passageiros ansiosos para sair. Minha mochila pesa nos ombros, e a ansiedade cresce
a cada passo em direção à saída. Eu não sei o que esperar, mas uma coisa é certa: Serpentine Hill
não será o mesmo.
Ao desembarcar, enxergo o meu pai, ele não mudou nada, cabelos loiros e penteados
para trás, terno e gravata azul-marinho com risca de giz, visto que é dia de semana e ele teve que
sair no meio do expediente para vir me buscar, quanta cortesia, penso ironicamente, do homem
que teve quase um ano e meio para me visitar, mas não foi porque escolheu ficar mais tempo
com a nova esposa.
Encontro os olhos castanhos do meu pai, e eles revelam um misto de alegria e tristeza,
como se a minha presença fosse bem-vinda e inconveniente ao mesmo tempo. Parece que ele
recebeu de volta um fardo que não queria mais, como se tivesse sido obrigado a carregá-lo
novamente.
— Love, como eu senti sua falta — murmura, apertando-me nos braços. Eu retribuo o
abraço, tentando afastar a sensação de desconforto que se instala.
— Eu também, pai — minto, eu senti falta dele nos primeiros cinco meses, depois
desisti de fazê-lo me visitar, não era minha função bancar o papel paterno.
Ele puxa uma longa mecha do meu cabelo escuro entre os dedos e sorri.
— Está parecida com sua mãe.
Meu pai, George, é reitor da Universidade Vanguard. Ele era muito próximo de Tyler, o
filho perfeito, embora tivesse notas horríveis. Meu irmão era o quarterback do Black Ravens,
então estava tudo ok.
Pegamos minhas malas, e ele me guia para fora do aeroporto, a sensação familiar do ar
úmido da Pensilvânia preenche meus pulmões. O trajeto até o carro é pontuado por silêncios
desconfortáveis e esforço de conversa superficial.
Entro no carro, um Tesla preto de última geração, e envio rapidamente uma mensagem
para a minha mãe, avisando que cheguei bem. Meu pai desliza ao meu lado e me dá um pequeno
sorriso, talvez na tentativa de me deixar mais confortável. Não sei. Nunca fomos muito
próximos, mas também nunca me senti tão deslocada ao lado dele.
— Como está Madeleine?
— Mamãe, está bem — respondo. Ele concorda brevemente e dá partida no carro.
— E o processo, Love?
— Ela não conversou com você? — questiono o óbvio, é claro que os dois conversaram.
— Sim, e ela me pediu para falar com você. — Suspiro. — Sabe, eu esperava esse
comportamento do seu irmão, e não de você, Love — diz e há um toque de decepção em sua voz.
— É, mas ele não está mais aqui, e você também não estava...
— Eu sei e sinto muito não ter ficado perto de você, filha, mas nada justifica colocar
fogo no carro de uma pessoa. Você entende que o que fez foi errado, não é?
Sinto vontade de rir. Ainda possuo a capacidade de distinguir o que é certo do errado.
Não sou uma piromaníaca, apenas uma incendiária por falta de opção. Aquele carro em chamas
representava mais do que uma explosão física. Foi uma manifestação visível da minha raiva, uma
chama alimentada pela traição de Sebastian com a irmã do seu colega de quarto na Universidade
Berkeley. Foi a minha forma de dizer que não aceito ser traída. É claro que eu devia ter
incendiado seu carro fora do campus. Foi isso que me levou à expulsão e a um processo quase
milionário.
— Sim, eu sei que foi errado — respondo enquanto olho pela janela do carro. A
paisagem familiar de Serpentine Hill passa rapidamente, criando um pequeno frio em meu
âmago.
— As aulas na Vanguard começam em duas semanas, Love, e, para manter a vaga, você
não poderá sair da linha, entende? Nada de fogo, processos, prisão.
— Uau, pai! Eu não sou uma criminosa, cometi um erro uma vez e, para mim, já é
punição suficiente ter que voltar a morar com você.
Ele inspira lentamente.
— Você não irá morar comigo, Love, há um dormitório na fraternidade esperando por
você. — Meu queixo cai.
— Por que eu não posso ficar com você? — Amacio a voz, encontrando o seu olhar, já é
ruim o bastante ter que voltar e ainda morar com as piranhas da Kappa Delta Pi.
— Evy está grávida, Love. Não queria que soubesse dessa forma, querida. Mas não
moro mais na casa do lago, e não há quartos sobrando na casa, porque Ivy tem dois filhos que
vivem conosco.
Engulo o nó crescente em minha garganta, por essa, definitivamente, eu não esperava.
— Minha mãe sabe disso? Que ela está grávida? — pergunto, rispidamente. Recordo-
me que o que quebrou o casamento deles foi não saber como lidar com a perda de um filho, mas
o meu pai, em meses, já estava bem resolvido com uma das professoras da universidade.
— Ainda não, e eu peço que não conte, quero ter a chance de conversar com ela.
Lambo os lábios, encontrando seus olhos enquanto ele para na sinaleira.
— Quero ficar na casa do lago.
— Love, morar sozinha exige responsabilidades.
— Eu errei uma vez, pai, prometo não fazer mais nada estúpido. Por favor, o senhor não
faz ideia da saudade que tenho daquela casa e do meu quarto — imploro, não imaginando como
seria morar em uma casa tão perto da fraternidade dos garotos.
Aqueles caras na floresta usavam as máscaras dos anfitriões da festa na noite de sexta-
feira treze e sabiam o meu nome. Eu fiz um quadro com as fotos de alguns caras do time e
residentes da fraternidade, eu estava obcecada para conhecer os rostos por trás daquelas
máscaras...
— Love. — Meu pai me arranca do meu devaneio. Encaro seus olhos e enxergo culpa
neles, talvez por me negligenciar durante meses, por deixar minha mãe passar por tudo sozinha,
ou por estar levando uma bomba para a vida da sua esposa grávida.
— Serei uma boa garota — digo com um olhar persuasivo que funcionava quando era
pequena.
Meu pai suspira e assente.
— Tudo bem, mas, se acontecer alguma coisa fora do normal, você vai para a
fraternidade. — Concordo com aceno de cabeça. Eu nunca fui tão tratada como criança como
agora. Porém, infelizmente possuo um patrimônio no total de zero dólares, não tenho emprego
nem profissão, e eles se aproveitam dessa situação.

O carro para em frente à casa, e eu desço, sentindo a nostalgia invadir cada parte do meu
ser. A fachada da casa, construída com imponentes pedras escuras, parece intocada pelo tempo.
Os vitrais adornam as paredes do primeiro andar, criando um jogo de cores que dança à medida
que os raios de sol atravessam como figuras intrincadas.
Meu pai tira as malas do carro, e eu fico ali, parada por um momento, observando as
flores no jardim que ainda mantêm seus núcleos vibrantes e, ao redor, tudo é tão verde, cercado
por grandes árvores e um gramado extenso até a clareira.
— Como está o Ozzy? — pergunto.
— Bem, na próxima visita, eu o trago.
Entramos na casa, o cheiro familiar de madeira e as lembranças me envolvem. A sala de
estar ainda tem o mesmo sofá de canto, cor de creme, e os quadros de fotos na parede capturam
momentos felizes que parecem tão distantes agora.
— Você não mudou nada — comento, analisando os fundos da casa e a ostentosa
cozinha paralela da minha mãe. Eu lembro quando ela a comprou, parece que foi a uma vida.
— Nadinha — responde, soltando as minhas malas no chão. — Vou pedir para minha
empregada passar aqui essa semana.
— Obrigada, pai. — Ele assente, pegando o telefone do bolso e analisando a tela.
— A Evy perguntou se você quer jantar conosco. Assim pode conhecê-la.
— Estou cansada da viagem, talvez outro dia — respondo, honestamente ainda não me
sinto confortável para conhecer a nova esposa do meu pai e mentir para a minha mãe enquanto
ele cria coragem de dizer que seguiu em frente.
— O sistema de alarme está com defeito. Funciona a hora que quer, então, não esqueça
de manter tudo fechado até o técnico vir arrumar, se não quiser acordar com um gambá dentro da
lixeira. — Ele sorri, pois isso acontecia muito antigamente.
Me despeço do meu pai depois de ele citar as regras novamente. Nada de fogo,
processos ou prisões. Subo as escadas em direção ao meu antigo quarto. A porta está entreaberta,
e a luz do sol ilumina o chão de madeira. Empurro a porta e vejo que, surpreendentemente, nada
mudou. O meu roupeiro roxo está aberto e vazio, a cama de casal está com o lençol de flores
esticado sobre ela e as paredes de cor de creme com cortinas brancas de renda.
Deixo as malas no chão e me jogo na cama, observando o teto por um momento. O
quarto parece congelado no tempo. Olho para minha penteadeira cor-de-rosa envelhecida e uma
mistura de emoções me invade quando vejo a camisola que usei na última noite que estive aqui.
Está exatamente do mesmo jeito que a larguei. Quando percebo, já estou em pé com ela em
minhas mãos.
O tecido está rasgado na extremidade e sujo de terra, e há uma folha seca enroscada na
renda. Será possível meu pai não ter entrado aqui desde que fui embora?
Despedaço a folha em minha mão e jogo a camisola no armário.

Capítulo 3
Meu coração pulsava descompassado, ecoando nas cavidades de minhas costelas, enquanto o
homem mascarado mantinha suas garras implacáveis ao redor de mim, como se eu fosse uma
presa encurralada. A floresta parecia conspirar, fechando-se a minha volta, engolindo-me na
sua escuridão.
— Quem é você? — sussurrei, minha voz abafada pela mão impiedosa que me
silenciava. Os outros mascarados permaneceram paralisados, observando-nos.
Tentei em vão me debater nos braços que me aprisionavam, mas foi inútil, sua força era
avassaladora, e ele muito maior que eu.
— Você tem certeza de que deseja saber? — ele murmurou com sua voz rouca e
sufocada pela máscara. Engoli em seco, minhas lágrimas escorrendo por entre seus dedos.
Balancei a cabeça percebendo que não conhecer seus rostos era a única coisa que me mantinha
viva para esse diálogo.
— Você não devia ter entrado nessa floresta, coelhinha. — Sua voz fria não carregava
qualquer vestígio de compaixão... Seus dedos afrouxaram a abertura da minha boca, permitindo
que minhas palavras saíssem trêmulas, alimentadas pelo desespero.
— E-eu não vou falar nada... — gaguejei, uma combinação de raiva e medo
entrelaçando minhas palavras.
— Eu sei. Vou garantir que isso aconteça — disse com uma sugestão ameaçadora na
voz.
Uma luz repentina se acendeu dentro da minha casa e o aperto em minha boca se
intensificou. Os outros homens mascarados desapareceram na escuridão enquanto ele me virava
em direção da floresta. Mesmo com os pés latejando de dor, tentei resistir, cravando-os no chão,
mas ele foi implacável.
Lutei e busquei atingir seu rosto com uma cabeçada desesperada, mas minha cabeça
não alcançava nem no seu queixo, então ele afrouxou o aperto em minha boca e instintivamente
meus dentes se fecharam em torno de seu dedo. O homem uivou em meus ouvidos e, quando
minha boca ficou livre, gritei como se minha vida dependesse disso.
— PAIII!!! SOCORROOO... — Fui lançada ao chão atrás de uma árvore, o impacto
tirou todo o ar dos meus pulmões e uma dor aguda se espalhou por meu âmago.
Ele se posicionou sobre mim, seu peso esmagador restringindo meu fôlego. A máscara
de néon vermelha já estava apagada, revelando traços sombrios sob o brilho da lua. Uma mão
prendeu meus braços acima da cabeça, a outra cobriu minha boca novamente, seu sangue agora
misturando-se aos meus lábios.
Ele se inclinou com seu rosto próximo ao meu, e eu me encolhi instintivamente,
querendo desaparecer.
— Se gritar de novo, vou te sufocar até suas órbitas virarem. Você entendeu? — rosnou
em meu ouvido. Balancei a cabeça, engolindo em seco, pois não sabia ao certo o que o impedia
de cumprir a ameaça.

Capítulo 4

Abro a porta contrapeso da garagem e me afasto quando a poeira se levanta, fazendo minhas
narinas coçarem e os olhos lacrimejarem. Quando a poeira baixa, enxergo o Jeep Wrangler
Rubicon preto que era o xodó do meu irmão. A saudade que me invade é indescritível. Tyler
sofreu uma concussão durante uma partida de futebol, resultando em uma hemorragia que levou
à morte. Todos comentavam que ele morreu fazendo o que amava, e isso, de alguma forma,
parece tão errado. Já faz dois anos e meio, e ainda é difícil acreditar que ele não está mais aqui.
Adentro a garagem com a chave em mãos. Faz uma semana que cheguei e não fui a
lugar algum. Papai veio me visitar duas vezes e me convidou para jantar três vezes, mas ainda
não estava com disposição para encarar minha nova realidade. As memórias daquela maldita
noite têm percorrido minha mente todos os dias antes de dormir e, quando acordo de madrugada,
devido a um pesadelo, escuto estalos na floresta e vejo vultos nos reflexos dos vidros.
Acho que vou enlouquecer se não sair e ver alguém. Cameron publicou uma foto no
Serpent's Pub há uns quinze minutos, fica próximo à Universidade Vanguard. Se eu for rápida,
consigo encontrá-la.
Entro no Juggernaut, era assim que meu irmão o chamava. Representa força impiedosa,
destrutiva e imparável. Veremos se Jugg continua tudo isso. Dou partida no carro, e o motor
rosna ferozmente, provocando um sorriso em mim. Dou play e dirijo ao som de One Of The
Girls.
À medida que percorro as ruas familiares da cidade, percebo que algumas coisas
mudaram, mas outras permanecem inalteradas. As lojas que costumava frequentar ainda estão lá,
embora agora exibam novas fachadas.
Em menos de quinze minutos, estaciono em frente ao pub, desço do carro e bato a porta
com força. Me encaro no reflexo do vidro fumê, perguntando-me se devia ter vestido algo
melhor. Coloquei um all star preto e um vestido básico da mesma cor, com alcinhas finas e
decote reto. A noite está chegando e a brisa suave do verão arrepia minha pele.
Me viro em direção do pub, que é uma construção de tijolinhos pretos, com uma enorme
placa em néon vermelho escrito Serpent's e uma cobra enrolada na letra “t”. Caminho em direção
à porta de vidro e há outra placa néon pendurada escrito ABERTO.
Empurro a porta e, ao entrar, um sino anuncia minha chegada, atraindo olhares curiosos
de algumas pessoas próximas. De repente me sinto fora do eixo. Antigamente todos que olhavam
para mim desviavam quase no mesmo instante, agora, sinto que estou atraindo mais atenção que
desejava.
Caminho próximo ao balcão principal iluminado por centenas de luzes quentes, assim
como o restante do pub. Avisto Cameron pelo seu cabelo loiro, com algumas mechas cor-de-
rosa, ela está sentada à mesa com um grupo de pessoas.
Uma das garotas que está com ela cruza o meu olhar e se inclina para frente,
sussurrando algo. Cam se vira imediatamente, seus olhos castanhos se arregalam, ela se levanta e
corre na minha direção. O impacto do seu corpo contra o meu quase me desequilibra.
— Não acredito no que eu estou vendo. Você voltou! — exclama, se afastando para
analisar o meu rosto.
— Parece que sim — respondo com um sorriso.
Durante o tempo em que estive ausente, Cameron e eu fomos nos afastando
gradualmente, as mensagens foram diminuindo até que, um dia, simplesmente paramos de nos
falar, mas vê-la agora parece que nada mudou.
— Vem! Todos querem te conhecer. — Ela me arrasta em direção à mesa. Paramos
diante de seus amigos, duas garotas e um cara. Todos me encaram como se eu fosse um
brinquedinho novo para animar suas vidas tediosas.
— Love, estes são Styles — ela aponta para o garoto de olhos escuros e cabelo
platinado, ele me cumprimenta com um aceno de cabeça —, Lilly e Zoe.
— É um prazer — digo enquanto Cam se acomoda ao lado do garoto e me puxa junto.
Me sento em frente a Zoe, a garota que sussurrou ao me ver chegar, como se já me conhecesse.
Ela se parece um pouco comigo, longos cabelos pretos e a pele de marfim.
— É verdade que você retornou a Serpentine Hill por que nenhuma universidade te
aceitou? — Zoe pergunta, sem disfarçar a curiosidade em seus olhos azuis.
— Quem disse isso? — quero saber, me sentindo ligeiramente desconfortável.
— Todos ficaram sabendo o que você fez, Love — Cam diz, seus dedos envolvendo
delicadamente em meu pulso; — Depois surgiu um rumor que o reitor estava negociando a sua
aprovação com o conselho da Vanguard, já que nenhuma outra universidade estava disposta a
aceitá-la. Mas não tínhamos certeza se viria.
— Acredito que vocês já tenham a resposta — digo, pensando agora em como deve ter
sido vergonhoso para o meu pai ter pedido que a universidade me aceitasse, algo que não havia
passado pela minha cabeça até agora.
— Como você não foi presa? — Styles pergunta, suspiro com um sorriso, me
perguntando se todas as minhas interações serão assim a partir de agora.
— Eu fui detida, até que a minha mãe pagou a fiança, depois respondi ao processo em
liberdade.
— Vadia sortuda! — Cam me abraça e me beija na bochecha.
Em menos de meia hora, decido ir embora, usando a desculpa que vou jantar com o meu
pai. Eu não me importava de ser o centro das atenções na Califórnia, namorava o running back
da Golden Bears e ainda esperava não ser traída, rio da minha inocência. Aqui, entretanto, quero
ser invisível, o que não será uma tarefa fácil.
Abro a porta do carro e sinto uma presença atrás de mim, viro-me com o coração
acelerado e vejo apenas Cam.
— Assustamos você, não é? — pergunta, mordiscando o lábio.
— Eu não esperava passar por uma entrevista — brinco.
— Eu sei, desculpa, mas você meio que virou notícia. — Cam junta as sobrancelhas; —
Porra, incendiou o carro de um Bears, os caras do Black Ravens estão orgulhosos, Love.
— Mas eu não estou — respondo, deslizando no assento, incendiar aquele carro foi a
segunda estupidez que eu fiz, a primeira foi ter entrado na floresta. — Preciso ir, conversamos
outro dia. — Fecho a porta, e minha amiga se afasta.
— Ficou uma gata com esse carro — comenta quando ligo o motor e ele range potente.
Mando um beijo para minha amiga e retorno para casa.
Entro no banho pensando em transferir o meu quarto para a suíte, é maior, com banheiro
e uma vista incrível do pôr do sol. Termino de enxaguar o cabelo quando o alarme da casa
dispara.
Cacete! Papai ficou de mandar alguém consertar, mas até agora ninguém veio. Me
enrolo rapidamente em uma toalha e atravesso o corredor, deixando um rastro de água pelo chão
enquanto desço para o primeiro andar. Alcanço o dispositivo do alarme ao lado da porta no hall
de entrada e desligo, voltando a ouvir as vozes na minha cabeça.
Caminho de volta ao quarto e, quando alcanço a escada, um barulho reverbera no porão.
Paraliso no primeiro degrau, e o silêncio parece se aprofundar.
Dou um passo atrás e observo se a porta do porão, que fica abaixo da escada, está
fechada. E ela está entreaberta. Tudo bem, apenas volte para o quarto, Love, deve ser só um
gambá. O lado racional da minha mente tenta me passar algum discernimento, mas é tarde, já
estou a caminho da cozinha.
Me aproximo do faqueiro no balcão principal e puxo a maior faca. Apenas o eco dos
meus próprios passos preenche o espaço vazio da casa enquanto caminho até a porta do porão.
Olho para faca, vejo o meu reflexo na prata polida e me sinto uma maluca. Abro a porta e a
penumbra domina a escada que leva ao porão. Meus dedos deslizam pelo interruptor e as
lâmpadas oscilam antes de acenderem, revelando um lugar que, apesar de familiar, parece mais
sombrio nesse momento.
O cheiro de mofo paira no ar à medida que desço os degraus de madeira desgastados. O
porão é um labirinto de registros esquecidos e coisas sem uso, como uma bateria musical, lembro
que papai teve que fazer isolamento acústico quando Tyler resolveu montar uma banda no
primeiro ano do ensino médio. Sorrio.
Alcanço a máquina de lavar antiga, um estranho silêncio toma conta do lugar. Por um
momento, o único som é o meu próprio coração acelerado. Olho ao redor, notando as
ferramentas de caça do meu pai presas à parede e as caixas empoeiradas.
De repente, outro barulho repercute. Viro-me na direção. Meus olhos se estreitam,
tentando discernir a fonte desse som. A luz trêmula joga sombras nas paredes, ampliando minha
sensação de inquietação, como se a minha imaginação não fosse o suficiente para me aterrorizar.
Caminho em direção ao canto mais distante do porão, pois sei que não vou conseguir sossegar se
não descobrir a fonte do barulho. Uma caixa média entreaberta chama minha atenção. Com
cautela, empurro a tampa para o lado e, para minha surpresa, vejo um par de olhos amarelos
brilhando na escuridão.
Um gato, seu pelo negro reluz à luz trêmula. Seu olhar curioso se encontra com o meu, e
uma onda de intervalo se mistura com uma ponta de riso nervoso. É apenas um gato.
— Por onde você entrou bichano? — pergunto. Ergo o olhar e enxergo a fresta de uma
janela aberta, solto um suspiro e a fecho, em seguida, pego a caixa e subo com o gato, me
sentindo ridícula.
Solto a caixa no sofá, e o gato pula para fora, levo uma mão ao seu rosto e ele a cheira e
depois se esfrega nela.
— Será que você tem um dono? — indago, e o gato me responde com um miado.
Sorrio, acariciando sua cabecinha, ele parece meio magro, mas saudável.
Deve estar com fome. Caminho em direção à cozinha, a empregada do meu pai veio
durante a semana, deixou comida pronta e fez as compras do supermercado, devo ter algo para
ele comer. Me aproximo do balcão e a tela do meu telefone acende com uma mensagem.
Cameron: Oi, Love. Queremos nos redimir por antes. Haverá uma reuniãozinha
particular amanhã, na casa da praia, em Raystown Lake. Sem interrogatórios, prometo. Por
favor, diz que vai.
Escoro a testa na pedra fria do balcão, encarando o telefone. Para as coisas voltarem a
ser normais, preciso agir normalmente. Envio uma resposta.
Love: Me envia o endereço.
Solto o telefone e olho para minha perna quando sinto uma cabecinha roçando em mim.
Já estava me esquecendo de você. Prendo melhor a toalha em meu peito, dou um pedaço de
salame para o bichano comer e subo para o meu quarto me vestir.
Capítulo 5

O homem transferiu seu peso para um dos joelhos apoiado no chão da floresta e senti
um alívio imediato nos quadris. Ele se levantou e me puxou tão sem esforço que me fez pensar
que ele poderia me quebrar com facilidade.
Ele ligou a máscara novamente, e seus olhos indescritíveis percorreram meu corpo,
causando um arrepio frio nas minhas costas. Ele puxou minha camisola do bolso da calça e
jogou no meu rosto.
— Vista — sussurrou.
Rapidamente deslizei a camisola e me senti ridícula por acreditar que aquele pedaço de
tecido fino me protegeria de suas garras. Sua mão gelada subiu acima do meu cotovelo e
fechou-se firmemente em volta de mim, depois me empurrou para frente dele, onde os outros
homens mascarados saíram das sombras.
O de máscara amarela usava uma regata preta e tinha uma tatuagem de cobra
serpenteando pelo braço. O outro, de máscara azul, vestia uma camisa com a imagem de um
gorila fumando, a estampa que, por um momento, tentei decifrar. Ambos eram brancos, altos e
imponentes.
A Cobra, o Gorila e o Sombra.
Os outros não falavam nada, nunca, apenas o Sombra.
O Sombra aplicou ainda mais força em meu braço, parecendo extrair a própria
essência da minha existência. Ele me conduziu até o centro do círculo formado pelos três
homens, onde a sensação de vulnerabilidade atingia proporções quase insuportáveis. Eles se
entreolharam por um instante e o Sombra me guiou na frente deles. O silêncio, denso e
assombroso, foi quebrado apenas pelo som dos galhos sob nossos pés.
Chegamos ao lago e eu já estava mancando pela dor insuportável. E, quando meus
olhos se depararam com o corpo inerte no chão, eu travei, e o corpo do Sombra colidiu com o
meu. Meus olhos ficaram embaçados pelas lágrimas e pelo terror que me envolvia.
Eu não quero morrer.
Olhei para ele por cima do ombro e encontrei apenas escuridão.
— Seja uma boa garota e não terá o mesmo fim que ele.
— Como posso confiar em você? — Ouvi um riso.
— Você não pode.
Sombra me forçou a andar, meus pés tornando cada passo uma tortura. Nos
aproximamos de uma árvore na beira do lago, e Sombra me sentou perto do tronco, agarrei
meus joelhos e me encolhi. Eles caminharam até o corpo e o silêncio durou pouco, o som de
suas vozes abafadas pelas máscaras dificultava discernir as palavras, mas o tom e os gestos
deixavam claro qual era o dilema: o que fazer com o corpo e comigo?
A discussão entre eles continuou, e minha mente absorveu fragmentos das palavras.
Olhei em volta, procurando alguma abertura, pois, se minha vida dependesse de correr, estaria
morta.
Sombra olhou para mim por um momento e depois voltou sua atenção para o corpo.
Meu coração começou a afundar, me perguntando quais são seus planos para mim. A urgência
de escapar superou a dor, se eu morrer, será lutando. Desenterrei qualquer vestígio de coragem
que restava em mim, esperei que Sombra lançasse outro olhar em minha direção e, quando ele
se virou, me levantei, mas não corri para a floresta...
Capítulo 6

Estaciono atrás de uma fileira de carros e desço, sentindo as rajadas de vento arrepiarem
a minha pele. Vesti-me com uma saia preta e um cropped cor-de-vinho de renda e decotado,
exibindo a pequena rosa-vermelha que tenho tatuada entre os seios. Caminho sob a luz do luar
em direção à casa que Cameron me passou o endereço.
A batida de um som vibra o gramado da ostentosa residência. Cameron mentiu sobre a
reuniãozinha particular. Que vaca. Só há uma coisa que não me faz entrar no meu carro e dirigir
por uma hora em meia de volta à cidade, a necessidade de ir ao banheiro.
Caminho pela entrada da casa, a construção imponente mostra elegância e luxo. A
fachada é clássica, com colunas majestosas e detalhes refinados. A porta principal, larga e com
detalhes dourados, brilha sob a luz da lua enquanto me aproximo. Abro a porta e sou recebida
por um hall espaçoso. As conversas altas e o som vibrante da música se intensificam enquanto
cruzo o limiar. Atraio a atenção das pessoas mais próximas à medida que avanço a festa, seus
rostos são desconhecidos, de repente me dou conta de que não conheço ninguém, nem os
anfitriões da casa.
Caminho sem ter muita certeza de para onde ir. Atravesso um corredor alcançando a
área externa e vejo os cabelos cor-de-rosa da Cam, ela está escorada em uma mesa de ping-pong
com as bebidas em cima. Faço a volta na mesa e paro diante dela e de seus amigos.
— Uma reuniãozinha, então — comento, observando seus lábios vermelhos se abrirem
em um pequeno sorriso sem graça.
— Me desculpe, mas foi a única forma que encontrei para te fazer vir. — Cam pega o
celular e o desbloqueia direto na câmera, virando-o para nós duas. Lambo os lábios pensando em
qual momento minha amiga se transformou nas garotas que mais odiávamos no ensino médio.
Me afasto dela, encarando o restante dos seus amigos.
— Vou ao banheiro e depois embora — aviso.
— Antes de ir, me deixe pelo menos apresentá-la ao resto da galera.
Balanço a cabeça em negação, desacreditada.
— Eu não quero conhecer ninguém, Cam, só queria passar uma noite agradável com
você e seus amigos.
— Você disse que ela era mais divertida — sussurra uma das garotas que estava no
Serpent's Pub na noite passada.
— Pelo visto, me enganei — Cameron diz em alto e bom som e depois entorna um copo
de bebida. Aperto a mandíbula não acreditando que despenquei até esse fim de mundo para
cortar os laços com a minha melhor amiga de infância.
Me sentindo a maior trouxa, dou um passo para trás e esbarro em alguém, olho por cima
do ombro e um cara loiro abre um sorriso, exibindo formidáveis covinhas.
— Foi mal — sussurro, me virando para ele, e preciso erguer o queixo para encontrar
seu olhar.
— Você é a irmã do Tyler, não é? — pergunta, e fico surpresa por ele me reconhecer.
— Era — respondo, me afastando de Cameron, e o cara caminha ao meu lado, seus
olhos cor de âmbar ainda me fitam.
— Eu lamento pelo que houve com ele.
— O conhecia?
— Quem não o conhecia? Tyler Blossom era uma lenda. — Sorrio para ele e desvio de
um grupo de pessoas, alcançando a extremidade da área, então me escoro no parapeito,
vislumbrando a praia que se estende diante de mim.
— E você tem um nome? — Ele me dá um sorriso perigosamente sexy. Quem sabe vir
até aqui não seja uma grande perda de tempo, reflito, analisando-o.
— Devon Macoy — diz, debruçando-se no parapeito, suas mãos entrelaçadas, exibem
os nós dos dedos machucados, se eu adivinhasse diria que foi resultado de uma briga, embora
não tenha nenhum hematoma no rosto — Veio com alguém? — pergunta, chamando a minha
atenção.
Me viro para Devon e de repente um braço envolve suavemente meus ombros. Estico o
pescoço para olhar o cara abraçado em mim sem compreender sua ação. Não o reconheço, ele é
asiático, com cabelos pretos cortados no estilo comma, alto e confiante, e ele lança um olhar
sério na direção de Devon.
— Se ela veio com alguém, eu não sei, mas ela não vai ficar sozinha com você — diz
com firmeza, sem quebrar o contato visual com Devon. Franzo o cenho, olhando para o cara sem
entender nada e removo o seu braço sem delicadeza.
— Eu conheço você? — pergunto, me afastando dele.
— Jimin Minseok, seu irmão emprestado.
— Você é filho da Evy — afirmo, Jimin dá um aceno de cabeça e volta a encarar
Devon.
— É melhor você dar uma volta, Macoy — Jimin profere com aquele tom de voz que os
veteranos costumam usar com os calouros, mas Devon não é um calouro e não parece nem um
pouco afetado com a presença de Jimin.
— Acho que posso cuidar de mim mesma — digo a Jimin, mantendo meu olhar firme
no dele. Sinto-me desconfortável presa entre dois estranhos que, aparentemente, têm assuntos
não resolvidos.
— Vamos, Devon, não vale a pena. — Jimin me ignora, a sua voz é cautelosa, mas há
um subtom de aviso. Ele conhece Devon e há algo nessa interação que eu não entendo
completamente.
Devon olha de relance por cima de mim e se afasta, mas não antes de lançar um último
olhar penetrante na direção de Jimin. Eu me viro para vê-lo partir, ainda processando o que
acabou de acontecer.
— Por que fez isso? Foi o meu pai que mandou você me vigiar?
Jimin inclina a cabeça e dá de ombros.
— O que eu posso dizer, George se preocupa com você. — Inspiro profundamente.
— Não entre no meu caminho sem ser chamado. Eu não preciso da sua proteção —
aviso, dando as costas para ele.
Encontro um banheiro e me alívio rapidamente, mal posso esperar para deixar essa
festa. Lavo minhas mãos, encarando-me no espelho e sentindo como se tivesse voltado castrada
para Serpentine Hill. Tudo o que eu fiz e conquistei ficou na Califórnia, aqui sou apenas o
sombra da lenda que foi meu irmão.
Deixo a casa pela mesma porta por onde entrei. Meus pensamentos se reorganizam sem
a música alta. Acho que é a primeira vez em meses que saio de uma festa sem ter consumido
uma gota de álcool. Faço a volta no carro e, ao avistar um sujeito fumando do outro lado da rua,
escorado na moto com o rosto oculto sob o sombra da árvore, uma sensação sinistra se insinua
em meu estômago.
Viro-me para o carro e vejo o pneu dianteiro vazio. Um sorriso amargo surge nos meus
lábios e a frustração se instala em minha consciência. Solto um suspiro pesado enquanto balanço
a cabeça, como se a situação fosse apenas mais um revés ao meu retorno.
Caminho resignadamente até a parte traseira do Jeep, procurando o estepe, não que eu
mesma possa trocá-lo. Retiro a capa que o protege na porta traseira do carro e deparo-me com
um rasgo em toda a circunferência.
Examino o pneu com uma junção de exasperação e preocupação. Alguém arrebentou o
pneu sobressalente de propósito. Agora, se é coincidência o meu pneu dianteiro ter furado
exatamente nessa noite, eu não sei.
Caminho até a frente do carro, encarando o pneu vazio com meus pensamentos em um
turbilhão de incertezas. O sentimento de frustração se transforma em uma onda crescente de
ansiedade. Sinto a paranoia se infiltrando e meus pensamentos correndo selvagens, e surge a
pergunta assustadora: e se aquele homem à sombra da árvore for um dos homens da floresta e
que agora vem atrás de mim?
Respiro fundo, tentando reprimir o pânico que ameaça me consumir. Curvo-me diante
do pneu e meus dedos exploram a borracha, até encontrar um rasgo na parte de trás.
— Não, não pode ser... — murmuro para mim mesma em negação enquanto a realidade
se desenrola diante dos meus olhos.
Mordo meu lábio enquanto pego meu telefone, uma sombra se projeta sobre mim. Viro-
me bruscamente, e o cara que fumava agora está a um passo de distância. Eu olho para cima para
encontrar os olhos dele e, diante de mim, com certeza está o homem mais lindo que eu já vi.
Maddox Knight.
Seu olhar profundo como a noite parece penetrar minha alma, decifrando cada
pensamento tumultuado. A luz dos postes delineia os contornos do seu rosto, criando sombras
que intensificam o brilho dos seus olhos azuis.
— Você me assustou — digo, tentando acalmar as batidas frenéticas do meu coração.
— Não foi minha intenção. — Sua voz surpreendentemente suave quebra o silêncio da
noite, enquanto meu corpo reage instantaneamente, tenso e em alerta.
Dou-lhe um aceno.
— Você viu alguém por aqui? Furaram os pneus — explico com o choque evidente em
minha voz.
— Saí pra fumar agora. — Assinto, sem ter a menor ideia do que fazer, talvez contatar o
guincho ou meu pai... — Você é a garota que estava no meu quarto na noite de sexta-feira treze,
não é?
Aceno, surpresa por ele lembrar disso.
— Eu só queria dar um adeus antes de deixar Serpentine. — Naquela época, fazia
sentido, mas, pensando agora... balanço a cabeça, afastando o pensamento. — Era o antigo
quarto do meu irmão, mas você já deve saber disso — explico, e Maddox acena.
— Quer uma carona de volta à cidade? Ninguém virá buscar o carro nesta hora —
oferece, dando um passo para trás, permitindo que a luz ilumine meu rosto, revelando uma
cicatriz fina e esbranquiçada que percorre sua testa e sobrancelha, cruzando sua pálpebra até a
linha abaixo do olho.
— Você não vai voltar pra festa? — pergunto, hesitante, enquanto a Lovely do passado
ameaça ressurgir. Medrosa, atormentada e patética.
— Não — diz simplesmente. Vaguei o olhar entre meu carro e Maddox, ele estava no
quarto dele naquela noite. Um álibi convincente para afastar as suspeitas sobre sua possível
ligação com os homens da floresta.
— Aceitarei sua oferta. Só espero que não me leve até um beco escuro para me
violentar.
— Violentar você não está nos meus planos para esta noite. — Sua voz adquire um tom
sugestivo, e seu sorriso irônico trai uma intenção ambígua. — Mas prometo manter o beco
escuro como opção de último recurso. — Ele pisca com a ironia evidente em seu sorriso.
Fecho o carro e atravesso a rua até Maddox, ele já subiu na moto e segura um capacete
preto. Paro ao seu lado e ainda assim permaneço mais baixa que ele. Ele desliza o capacete
gentilmente em minha cabeça e, instantaneamente, um perfume envolvente preenche o ar, uma
mistura de notas amadeiradas e um fundo sutil de especiarias.
Me seguro em seu ombro, firme como um alicerce, para subir na moto, e deslizo as
mãos ao redor da sua cintura, então ele pega meus pulsos e puxa para frente do seu corpo,
fazendo-me abraçá-lo. De repente começo a me perguntar se ele está esperando receber alguma
recompensa assim que chegar na minha casa.
O motor da moto ruge quando Mad dá partida, então, percebo que ele está sem o
capacete. O vento corta o ar enquanto nos afastamos da festa, e a estrada está quase deserta,
apenas o som do motor e o farol da moto iluminam o caminho à frente. Eu me agarro a ele cada
vez mais conforme acelera, e o vento bagunça meus cabelos e minha mente a respeito dos
eventos da noite.
— Quem você acha que ferrou com seus pneus? Não parece ser uma garota com muitos
inimigos — pergunta, desacelerando a moto.
Escoro a cabeça em suas costas e, quando flashes daquela noite ameaçam invadir meus
pensamentos, a mão de Maddox desliza por minha coxa e um arrepio gelado percorre todo meu
corpo. Ele me olha por cima do ombro, esperando uma resposta.
— A única pessoa capaz de fazer uma babaquice dessas é meu ex-namorado, mas ele
não está aqui — minto, e sua mão abandona minha perna.
— Se arrepende do que fez com o carro dele? — quer saber, seus olhos encontram os
meus pelo retrovisor.
— Um pouco, eu não tinha planos de voltar para Serpentine, mas minha mãe não me
deu escolha.
Mad permanece em silêncio o resto do caminho, enquanto meus pensamentos vagaram
até meu carro. Talvez seja melhor eu encontrá-los antes que eles me encontrem.
A moto para abruptamente em frente à minha casa. Desço dela sentindo as pernas
bambas e gélidas pelo vento frio da noite. Removo o capacete e estendo a Maddox, seu cabelo
preto carbono é uma bagunça sexy. Desço o olhar até o seu e não consigo desviar da cicatriz,
meu polegar involuntariamente traça a sua marca, e então, de repente, seus dedos fecham com
firmeza em volta do meu pulso.
O encaro assustada e envergonhada, Maddox me solta, mas, ainda assim, consigo sentir
a marca dos seus dedos em mim.
— Me desculpe, eu...
— Tudo bem — me corta abruptamente. — É melhor entrar, está tarde — diz,
colocando o capacete.
— Obrigada pela carona — sussurro, dando um passo atrás.
Maddox parte sem dizer adeus. Assisto à moto desaparecer na escuridão da noite antes
de me virar e entrar em casa. Subo as escadas e vou direto para o meu quarto, precisando de um
momento para processar tudo o que aconteceu essa noite. Amanhã eu ligo para o guincho, espero
que ninguém até lá arruíne o meu carro ainda mais.
Troco de roupa por um confortável pijama no espaçoso closet que era dos meus pais,
hoje à tarde tive tempo de fazer a mudança de quarto, e depois me jogo na imensa cama king size
e imediatamente sou recebida por Noturno, o gato que encontrei no porão, ele pula na minha
barriga, procurando aconchego.
Pego o telefone e noto uma notificação de Devon de poucos minutos atrás, ele começou
a me seguir no Instagram. Esse é rápido. Hesito por um momento antes de decidir seguir de
volta, depois percorro suas fotos e o contraste entre nossas vidas é evidente. Me pergunto qual
será o problema que Jimin tem com ele, mas afasto rapidamente, já tenho problemas demais para
me preocupar com o dos outros. Coloco o telefone de lado e acaricio Noturno. Fecho os olhos,
tentando afastar os pensamentos, e me concentro no suave ronronar do gato. No entanto, a
sensação de vulnerabilidade persiste, hoje foram os pneus, e amanhã será o quê? O meu freio?
Capítulo 7

Pauso minha série na televisão quando meu telefone rompe em vibrações, anunciando
uma videochamada de minha mãe. Esticando-me preguiçosamente no sofá, recosto a cabeça
contra uma almofada antes de atender à chamada que ilumina o rosto dela do outro lado da tela.
— Mãe — saúdo.
— Como você está, Love? Não me deu notícias desde que aterrizou na Filadélfia.
— Desculpa, eu estive ocupada.
— Percebi pela conta do cartão de crédito, o que aconteceu com o seu carro? Recebi
uma cobrança de um guincho e uma oficina.
— Estou usando o carro do Tyler, mas ele estava muito tempo parado e deu problema.
— Hum — minha mãe emite desconfiada, examinando meu rosto através da tela. — As
aulas começam em breve, já pensou em comprar os materiais? — indaga, dando um gole em seu
vinho.
— Sim, irei mais tarde — digo o que ela quer ouvir, é mais fácil para encerrar a
conversa.
— Tem visto o seu pai? — Balanço a cabeça em negação, sabendo que papai ainda não
deve ter abordado o assunto da gravidez da Ivy com ela.
— Eu tenho um encontro esta noite — revela e, mesmo através da tela do telefone,
percebo suas bochechas corarem.
— Com Steve, o dono da padaria? — pergunto, observando-a com curiosidade, e ela me
encara surpresa.
— Como você sabe? — Seu sorriso se alarga.
Converso com minha mãe por mais um tempo e explico a ela como era evidente a
atração entre eles. Quando íamos na padaria, a fila parava, pois os dois não calavam a boca.
Tiro Ted Bundy do pause, assisto a mais alguns episódios, meu corpo começa a
protestar por movimento e minha barriga responde com uma reclamação audível de fome.
Caminho até a geladeira e torço o nariz perante tudo que vejo. Posso quase ouvir a voz
de minha mãe dizendo que estou com fome de besteira e, admito, ela não está totalmente errada.
Um hambúrguer cairia bem, ainda mais porque já são quase 7h e eu ainda nem almocei. Dou
comida para o gato, lembrando-me de pôr na lista de compras um pacote de ração. Pego as
chaves do carro e deixo a casa rumo à cidade.

Estaciono em frente ao Serpent’s Pub e desço. Ao dar uma última olhada no carro,
lembro das palavras do mecânico. Disse que alguém talvez tenha usado uma faca ou um canivete
para furar os pneus. Parece estranho, quase absurdo. Ele explicou que furar um pneu não é fácil,
pois são feitos para resistir a danos. Mas, com o desgaste visível, uma lâmina afiada conseguiria
causar estragos.
Entro no pub, pensando que tem alguém solto por aí querendo foder comigo, e tudo que
eu quero nesse momento é comer alguma coisa. O pub está cheio como da última vez, me
aproximo do balcão próximo à porta de entrada e me sento na primeira banqueta livre.
Deslizo meu telefone sobre a bancada, pois, por algum motivo, me faz parecer menos
solitária. Parece que nem tudo mudou, acho que a parte mais difícil da mudança é começar de
novo, especialmente em uma cidade onde meu passado já está enraizado.
— Ora, ora, o que temos aqui? — Ouço, levanto a cabeça e encontro Devon com um
pequeno sorriso, o charme de suas covinhas ainda me encanta.
— Eu não sabia que você trabalhava aqui — digo surpresa ao vê-lo do outro lado do
balcão.
— Só até as aulas recomeçarem — explica, me entregando um cardápio. — Naquela
noite, na festa, eu... — Devon morde o canto do lábio inferior. — Eu não devia ter permitido que
Jimin me afastasse, mas eu estava em desvantagem.
— Desvantagem? — pergunto, confusa, pois lembro de só estarem os dois cara a cara.
— Jimin pertence aos Black Ravens e é próximo de Corbin e Mad Knight, líder da
Alpha Theta Phi.
— E onde você se encaixa nisso tudo? — pergunto, processando a informação, não fazia
ideia de que Jimin estava tão alto na hierarquia universitária.
— Eu não me encaixo. — Ele solta uma risada nasalada. — Eu entrei para a
fraternidade e saí depois de um tempo, ser pau-mandado não é a minha praia.
Ainda não entendo por que Jimin o odeia, mas parece que Devon também não está
disposto a revelar isso. Meu estômago aperta, me lembrando do verdadeiro motivo de ter vindo
aqui, olho o cardápio e peço uma porção de batata frita rústica, peixe empanado e uma
Budweiser. Pareço meu pai comendo no final de um campeonato.
Em menos de dez minutos, Devon coloca uma bandeja na minha frente com minhas
porções. Ele pisca para mim, com certeza ele passou o meu pedido na frente, pois este lugar está
cheio.
Na primeira batata que coloco na boca, alguém se senta abruptamente ao meu lado e
puxa minha garrafa de cerveja. Viro-me e olho para cima, encontrando aqueles olhos azuis que
pareciam estar enterrados em minha alma há quatro noites.
— Está me seguindo? — pergunto de repente e recebo dele um sorriso desdenhoso. No
passado, eu teria me sentido ofendida, mas agora há uma grande chance de ele estar atrás de
mim, e por motivos muito óbvios.
— É mais pretensiosa do que dizem. — Cerro os olhos, puxando minha cerveja da mão
dele. — Jimin está abastecendo do outro lado da rua, avistei seu carro e vim dar um oi —
explica, puxando uma tilápia empanada do meu prato. Dou um tapa na mão dele.
Maddox sorri e joga o peixe na boca, ele parece mais relaxado do que da última vez que
nos vimos na frente da minha casa. Passo meus olhos por sua cicatriz, me perguntando como ele
conseguiu isso.
— A pergunta de milhões — comenta, notando minha expressão analítica.
— Então eu sou a pretensiosa — escarneço. Ele abre um pequeno sorriso, e agora, em
plena luz, consigo ver melhor sua aparência; seus cabelos escuros, levemente desgrenhados,
contrastam com a palidez de sua pele, realçando seus traços marcantes. Maddox tem algumas
tatuagens, mas a que me chama a atenção é a mais próxima dos meus olhos, uma coroa de louros
na frente do pescoço. A coexistência de beleza e brutalidade certamente o define.
Endireito-me na banqueta e vejo Devon do outro lado, com uma bandeja nas mãos, sua
expressão não é das mais agradáveis. Tomo um gole da minha cerveja, cogitando mandar
embrulhar para comer em casa.
— Vamos a uma festa privada. Está a fim? — Encaro Mad por cima do ombro e me
vem à mente: será que, se eu não tivesse colocado fogo no carro do Sebastian, estaríamos aqui
agora? Provavelmente não.
— Não, já tenho compromisso com a minha cama — respondo, embora uma parte de
mim esteja a fim de ir e conhecer pessoas novas. Porém, o que aconteceu com o meu carro na
última festa me pareceu um aviso, então, prefiro me manter afastada por ora.
— Me liga se mudar de ideia — diz, rabiscando algo no guardanapo em cima do balcão.
Analiso seu número de telefone e assinto. Espero Maddox partir para gravar o seu
contato no meu telefone e volto a comer. Ele tomou toda a minha cerveja, que filho da puta!
Termino de comer em silêncio, apenas imersa no burburinho suave das conversas ao
redor, até mesmo Devon desapareceu, provavelmente já deve ter encerrado o seu expediente.
Dirijo de volta para casa de barriga cheia e, ao adentrar na sala, meu olhar passeia pelo
sofá, mas recuso a passar o resto da minha noite assistindo a Ted Bundy. Dou comida para
Noturno e subo para o meu quarto. Preparo um banho relaxante na banheira e, sem demora, me
pego envolvida pelo sono. Logo me visto em uma camisola preta e aconchego-me na cama.
Desperto com o barulho de vidro se partindo no andar de baixo, tenho certeza de que
aquele gato safado derrubou alguma coisa. Me espreguiço e puxo o meu celular debaixo do
travesseiro, já passou das 2h da madrugada. Ligo a lanterna do celular, pois a última coisa que
preciso agora é perder o meu sono acendendo a casa inteira.
Desço as escadas com cautela, deixando-me guiar pela tênue luz da lua que trespassa o
primeiro andar. Noturno se entrelaça nas minhas pernas quase me derrubando enquanto procuro
o que ele quebrou. Meu celular vibra em minha mão. Desbloqueio a tela com uma sensação
inquietante e me deparo com uma imagem perturbadora: eu, adormecida esta noite. Uma frieza
abrupta e visceral percorre meu peito, ecoando um medo agudo que arranha minha alma. Olho ao
meu redor, o silêncio se tornando opressivo, enquanto imagino que ainda possam estar dentro da
minha casa. Corro até a entrada principal e verifico se a porta está trancada. Ela está.
Automaticamente, avanço em direção à cozinha em busca de uma faca, mas, de repente,
sinto uma pontada aguda em meu pé, então praguejo e me abaixo para ver o que é. Uma pedra
semelhante às que repousam a margem do lago. Quando levanto, fito, atônita, uma figura
mascarada além da janela quadriculada, agora fragmentada, com a máscara neon, resplandecendo
numa luz fria e distorcida. Posso sentir o olhar gelado dele como um toque físico em minha pele.
A pedra cai da minha mão quando dou um passo atrás, e o pânico impiedoso se apossa do meu
coração. O Sombra, tenho certeza de que é ele, inclina a cabeça para o lado e, mesmo com essa
máscara estúpida cobrindo o seu rosto, posso imaginá-lo sorrindo. Os pelos dos meus braços se
arrepiam enquanto nos encaramos. Será que ele voltou para terminar o que não teve coragem
naquela noite?
Outra explosão ecoa pela casa, fazendo-me girar com uma mão sobre o coração
enquanto o medo se agarra em mim como um torno implacável. Através da janela, vislumbro a
presença de Cobra ou Gorila? Eu não sei. O momento parece congelar no tempo, e o único som
perceptível é o galope desenfreado de meu coração.
— Eu não contei pra ninguém! — grito, o terror entupindo minha garganta. — Só me
deixem em paz... por favor. — Eu forcei as palavras, mas elas soaram estranguladas.
Ele balança a cabeça em negação, se afastando da janela. Viro-me para Sombra, mas
não há mais ninguém ali. Meu corpo inteiro treme e sinto o jantar desejando abandonar o meu
estômago.
Ligar para a polícia aparece em meus pensamentos, mas, depois de todo esse tempo,
seria vista como cúmplice, sem dizer que não conseguiria identificar o rosto de nenhum deles. E
o que fizemos com o corpo daquele pobre coitado... balanço a cabeça, afastando a lembrança.
Instintivamente me aproximo da janela quebrada, não conseguirei pregar os olhos até ter
certeza de que eles saíram da minha propriedade. O vento da noite sopra através da abertura,
observo atentamente o vazio lá fora e respiro profundamente, sentindo que o pior dessa noite já
passou. Meu coração dispara quando, de repente, Sombra surge com suas mãos implacáveis
envolvendo meu pescoço impiedosamente.
Desesperadamente, tento libertar-me do seu aperto. A máscara emite um brilho sinistro,
revelando apenas o contorno sombrio de seus olhos. Minha respiração torna-se entrecortada e,
quanto mais eu luto para me desvencilhar do seu toque, sinto a pressão aumentando em meu
pescoço.
O ar parece raro, e minha visão começa a ficar turva. As mãos do Sombra são garras,
prendendo-me em seu domínio. Os sons ao meu redor tornam-se distantes, abafados pela
urgência pulsante em meus ouvidos. A floresta, antes iluminada pela lua, agora parece
mergulhada em um abismo de escuridão.
Instintivamente, meus dedos arranham as mãos que me sufocam, buscando
desesperadamente alguma brecha. Mas nada aconteceu, minhas unhas estão curtas demais para
deixar qualquer marca nele. Cada segundo parece uma eternidade, e minha mente, nublada pelo
medo, luta para encontrar uma solução, uma maneira de escapar desse pesadelo.
— Senti saudades, coelhinha, mas não devia ter voltado — Sombra sussurra, e sua voz
não passa de um chiado muito distante. — Pensou que não haveria consequências?
— Eu... não... tive escolha. — Minha voz arranha minha garganta, forçando a passagem.
— Sempre há uma escolha, e vou mostrar que fez a escolha errada — sussurra, seu
aperto se intensifica, e me vejo desesperada por ar. Meus olhos procuram por alguma forma de
fuga, mas não há.
Estico os braços em direção ao rosto encoberto do Sombra, alcançando a máscara. O
aperto em meu pescoço cede quando agarro-a com determinação. Sombra me empurra para trás
com brutalidade, então caio no chão segurando sua máscara.
Minha garganta arde, e o ar fresco da noite entra vorazmente em meus pulmões,
desencadeando uma crise de tosse. Engatinho para longe da janela, apoiando-me contra o sofá.
Se decidirem invadir, estou morta.
Esse inferno está longe de acabar. Talvez eu mereça tudo isso que esteja acontecendo.
Capítulo 8
Levantei-me e meu coração se sentiu pronto para sair da minha caixa torácica. Dirigi
um último olhar na direção deles e lancei-me para dentro do lago. Quando meus pés entraram
em contato com a água fria, um arrepio intenso atravessou o meu corpo. Deslizei nas primeiras
pedras encobertas por limo até que finalmente encontrei o chão firme.
— Filha da puta! — Ouvi um rosnado, mas não me virei, dei mais três passos à frente e
de repente a água atingiu minha cintura. Minha camisola subiu, enrugando-se ao redor dos
meus quadris.
Vamos, Love, atravesse o lago!
Meu coração batia ferozmente e raciocinar parecia uma tarefa impossível. Estava
ligada no modo sobrevivência e faria de tudo para viver.
— Onde você pensa que vai?! — A voz rasgada e impiedosa cortou o ar. Olhei por cima
do ombro e não precisei enxergar o rosto dele para ver sua fúria, pois conseguia senti-la crua e
fervente.
Me lancei para frente, mas antes que meu corpo tocasse na água, fui brutalmente
puxada para trás. Meu pescoço foi envolvido por uma mão que seria capaz de esmagar a
garganta de um homem.
— Não adianta correr, coelhinha, eu sempre irei alcançá-la.
— Você é um desgraçado doente! — gritei, me debatendo contra ele. Sua mão envolveu
a minha cintura e puxou com firmeza contra o seu corpo, então nos girou para a margem do
lago.
— Seria excitante perseguir você a noite inteira se eu não tivesse um cadáver para me
livrar — sibilou e, mesmo com a máscara, ele me provocou um arrepio em meu pescoço.
Saímos do lago, a camisola branca agarrada ao meu corpo, me deixando com uma
necessidade urgente de me encolher e me cobrir. Como pude imaginar que conseguiria correr
mais que um homem de quase dois metros?
O Sombra me soltou, me virei para ele com o sangue pulsando em minhas veias e, com
ímpeto, acertei seu rosto. Minha mão doeu pelo impacto na máscara, que se moveu centímetros
fora do lugar.
Sombra endireitou seu rosto, e eu pude sentir seu olhar assassino através da máscara.
Involuntariamente, dei um passo para trás. Medo misturado com antecipação rolou por mim.
— Eu... eu... — Balancei a cabeça, as palavras estavam emboladas em minha garganta.
— Me desculpe — sussurrei, dando outro passo atrás, meus pés se enroscaram em alguma coisa
e eu caí de costas, perdendo o ar.
A dor que atravessou meu elemento foi momentânea, substituída pelo horror ao
perceber no que havia tropeçado. No corpo. Arrastei-me para longe, com meu estômago dando
voltas.
O Sombra passou por cima do cadáver, vindo em minha direção. Virei-me de quatro e
rastejei para longe, sentindo um pavor repentino se espalhando entre minhas costelas como um
fogo ardente, consumindo tudo em seu caminho.
Sombra me segurou pela cintura e, antes que eu pudesse ter qualquer ação, ele me
colocou de costas no chão, com sua mão segurando as minhas acima da cabeça e suas pernas
abrindo as minhas.
— Por favor... — murmurei, com lágrimas caindo como cascatas pelo meu rosto. Engoli
em seco, sem ação, e meu corpo começou a tremer de agitação quando percebi Cobra e Gorila
se afastando de nós. Sombra segurou meu queixo, me forçando a encará-lo.
— Você não está sendo uma boa garota.
— Serei... Prometo — sussurrei e ouvi um riso.
— Tenho certeza de que você vai. — Sua mão deslizou até meu pescoço, me fazendo
tremer como uma folha frágil, depois viajou até meu seio e meus membros estremeceram com a
sensação de pânico me agarrando.
Senti meu mamilo ficar entumecido sob seu polegar enquanto ele o acariciava
suavemente.
— Já entendi o recado, não precisa fazer isso — disse. Sombra me ignorou. Ele agarrou
meu mamilo entre os nós dos dedos e puxou, uma, duas vezes e, na terceira vez, todo meu corpo
estremeceu.
Eu arregalei os meus olhos.
— Eu ainda não fiz nada — sussurrou, sua voz ficando diferente. Sua mão deixou meu
seio e desceu, explorando o meu corpo. Apertei minhas pernas ao redor dele quando sua mão
deslizou pela minha coxa, e ele agrupou minha camisola molhada até meu umbigo.
Balancei a cabeça em negação, incapaz de acreditar que isso estava acontecendo.
— Por favor... — Minha voz saiu abafada, estrangulada. — Eu sou virgem — gritei,
interrompendo sua ação. Sombra parecia me analisar por um momento. Não havia muitas
meninas virgens na minha idade, temia que ele não acreditasse.
— Está me dizendo que nenhum homem nunca tocou em você, coelhinha?
— Ninguém. Nunca.
— Nem mesmo você? — Seu olhar se ergueu até o meu e pude sentir a curiosidade no
ar.
Corei escarlate.
— Isso não é da sua conta — gritei, odiando o rumo que a conversa estava tomando.
— Você é careta, ou só inexperiente mesmo? — ele perguntou, sua mão traçando minha
coxa em direção à minha virilha. Olhei em volta, o desespero tomando conta do meu coração.
Como minha vida sexual se tornou mais interessante para esse sádico do que se livrar daquele
corpo há centímetros de nós.
— Por... favor... — Engasguei-me quando seu polegar traçou o tecido fino da minha
calcinha molhada.
Engoli em seco, com meu coração batendo em um ritmo anormal. Sombra se estendeu
sobre mim. Sua máscara estava a centímetros do meu rosto. Fechei os olhos com força,
desejando que o chão se abrisse e me engolisse.
— Talvez eu pare — disse com seus dedos iniciando pequenos círculos no meu clitóris.
— Mas primeiro me diga, você já se deu prazer? — quis saber com seu dedo pressionando mais
meu nervo, causando um pequeno espasmo em minha perna.
— Vá pro inferno! — rosnei com meu rosto queimando de vergonha. Isso não poderia
estar acontecendo. Tentei movimentar as pernas e tirá-lo de cima, mas Sombra usou mais força,
me imobilizando. Sua mão invadiu minha calcinha e enquanto lutava para sair debaixo dele, seu
dedo deslizou entre minhas dobras, encontrando-as molhadas. Corei.
— Parece que o perigo a excita, coelhinha.
— Você é um porco nojento — gritei e estremeci quando o dedo dele esfregou meu
clitóris, tentei fechar as pernas, e ouvi ele rir. Seu dedo desceu brincando na minha entrada,
depois subiu e involuntariamente me movi contra sua mão.
— Eu não quero isso. Pare! — Solucei, me sentindo suja e indefesa.
— Sua boceta encharcada diz o contrário — provocou, ignorando meu apelo.
Eu choraminguei e as lágrimas escorreram pelas minhas têmporas enquanto meu corpo
balançava inconscientemente contra sua mão.
— Não vou parar até ver você gozar, coelhinha — deixou claro ao mesmo tempo em
que continuava me tocando, alternando entre minha boceta e meu clitóris.
Meus membros começaram a tremer sem controle algum e, sem entender o que estava
acontecendo, mordi o lábio com força, mas um gemido gutural irrompeu pela minha boca. Eu
gritei quando Sombra me penetrou com dois dedos. Ele me tocou rápido e forte, e senti uma
avalanche de prazer descarregar em meu corpo, que ansiava que ele fosse cada vez mais fundo.
Isso é horrível, eu pensei enquanto a realidade distorcida se desenrolava diante dos
meus olhos. Sombra aliviou o aperto nas minhas pernas o suficiente para que eu conseguisse
chutá-lo e empurrá-lo para longe, mas não ofereci resistência alguma. Meu corpo, traído por
uma junção confusa de emoções, só queria que o prazer durasse por mais um tempo.
Eu gritei e gozei. Minha mente nublou e tudo rodou. De repente, os dedos do Sombra
entraram na minha boca, salgados e muito molhados. Eu os mordi com força, e Sombra riu.
— Este é o seu gosto, coelhinha. Quem sabe, mais tarde, você goze na minha boca.
— Vai sonhando. — Ele riu. Suas mãos me seguraram com mais força.
— Se tentar outra fuga, as consequências serão muito mais dolorosas — avisou e sua
mão levou a minha até sua virilha. Meus dedos encontram seu pau duro, eu tentei puxá-la, mas
Sombra a segurou firme contra ele. — Entendeu?
Balancei a cabeça horrorizada. Ele me soltou. Me apoiei nos cotovelos e puxei minhas
pernas debaixo dele, ganhando distância.
— O que vai fazer comigo? — sussurrei com uma mescla de medo e resignação na
minha voz.
Capítulo 9

Estaciono em frente à casa do meu pai e olho pelo retrovisor. Sou um retrato macabro
de exaustão, com profundas olheiras marcando meu rosto. A blusa canelada de gola alta que
escolhi mal cobre o hematoma no meu pescoço.
Passo o dedo indicador pela garganta, ainda sentindo a pressão, como se as mãos dele
estivessem ali, apertando implacavelmente. Meu canal lacrimal queima, lutando contra as
lágrimas que ameaçam cair. Estou assim, uma cascata de emoções desde que saíram de casa
ontem à noite. Engulo em seco antes de sair do carro. Pensei muito antes de vir para cá. Viver
com as garotas Kappa Delta Pi parece mais sensato do que sozinha na casa do lago.
Paro diante de uma residência ampla e luminosa, de linhas simples e janelas
envidraçadas. O jardim minimalista complementa a elegância da entrada. Enquanto caminho até
a porta, começo a me perguntar se papai mentiu sobre não haver quartos disponíveis na casa.
Toco a campainha, inquieta. Eu não avisei que estava vindo, mas, depois dos insistentes
convites da Evy, acredito que não será problema vir sem avisar. A porta se abre depois de alguns
segundos, revelando Jimin, que me olha surpreso, mas não o tipo de surpresa boa. Ele suaviza
sua expressão, dando um passo para trás. Ele está sem camisa e exibe um corpo definido e
atlético.
— Você está bem, Love? — pergunta, me dando passagem para entrar.
— Sim — respondo, minha voz é um sussurro rouco. — Meu pai está? — quero saber,
erguendo o queixo para olhar para ele.
— Eles foram ao cinema — explica, me levando até uma espaçosa sala de estar. Uma
TV plasma está sobre a lareira, com o jogo Fortnite em pausa, e um sofá comprido em formato
de L, de cor creme, de costas para nós.
— Será que eu posso esperar? — pergunto de repente, e uma sombra surge do sofá. Meu
coração dispara, minha visão fica embaçada e um lampejo de memória atravessa minha mente. A
imagem do Sombra está ali, pairando na minha cabeça, com seus olhos frios e sua máscara que
esconde qualquer vestígio de humanidade. Um arrepio percorre minha espinha, me congelando
no lugar. Minha mão tateia o vazio, procurando desesperadamente por algo em que me segurar,
mas a escuridão me consome antes que eu consiga agarrar em alguma coisa.
— Segure-a! — Ouço a voz que faz minhas entranhas gelarem e desmaio.
Desperto e meus olhos abrem lentamente, procurando entrar em foco, enquanto tento
compreender o que aconteceu. Vejo uma silhueta sentada aos meus pés, tenho um sobressalto no
mesmo instante e meu coração dispara, esperando um ataque.
— Ei, está tudo bem. — Jimin tenta me tranquilizar, ele está curvado na minha direção
com um copo d’água na mão. Olho em volta e vejo Maddox aos meus pés, sua expressão é uma
tela em branca sem emoção.
Solto o ar lentamente e escoro minha cabeça no sofá, aceitando a água. Mad está vestido
todo de preto, devo estar vendo e ouvindo coisas. Estou enlouquecendo. Tomo um gole da água e
entrego o copo ao Jimin, que se afasta. Me escoro novamente e levo uma mão involuntariamente
ao pescoço.
— O que houve com você? — Maddox pergunta com um toque de ternura em sua voz e
seu olhar no meu pescoço.
Balanço a cabeça em negação, e até esse mínimo movimento me traz pequenas pontadas
de dor.
— Acho que foi queda de pressão.
Ele emite hum baixinho, mas resolvo mudar de assunto.
— Devia ter ido à festa com você — balbucio, mal reconhecendo a minha própria voz.
O maxilar de Mad enrijece brevemente e vejo uma sugestão de emoção em seu olhar.
— Eu teria gostado — diz e um pequeno sorriso se forma na curva de seus lábios, mas
lhe dou um olhar de desdém. Se fosse há alguns anos, estaria sapateando em cima desse sofá.
— O que as princesas estão fofocando aí? — Jimin pergunta, se aproximando com um
uma garrafa de cerveja.
— Knight estava se declarando para mim — comento.
— O inferno vai congelar se um dia isso acontecer — meu irmão postiço expõe, me
arrancando um riso. É claro que Maddox não é do tipo que se apaixona e dorme de conchinha e,
depois do que Sebastian fez comigo, não tenho certeza se também pertenço a esse tipo.
Vagueio o olhar pela sala de estar e vejo um quadro emoldurado com uma foto do meu
pai, Evy e sua filha vestida de bailarina. Elas e Jimin são completamente diferentes; ambas são
loiras de pele bronzeada e olhos claros. Meu pai exibe um sorriso de plenitude, ele encontrou a
família perfeita.
Me levanto rápido, sentindo uma necessidade repentina de sair dessa casa, e sinto tudo
girar, então, me seguro no braço do sofá por um momento, até recuperar o equilíbrio.
— Vou embora, avise ao meu pai que estive aqui — peço, me afastando do sofá.
— Eles já devem estar chegando — Jimin fala, ficando em pé, mas já estou caminhando
em direção à saída. Quando chego em frente à porta, ela se abre, exibindo a família perfeita.
— Love, que surpresa! — papai fala, mas suas palavras não condizem com sua
expressão facial.
— Já estava de saída — digo mais rude que pretendia. Papai não tem culpa pelos meus
problemas, muito menos Evy e sua filha, mas, neste momento, não sou uma boa companhia para
ninguém.
— Tem certeza, Lovely, pode ficar e jantar conosco — Evy oferece com um sorriso
gentil. Ela fala comigo como se já me conhecesse há anos.
— Vai ter sorvete de sobremesa — Jisoo conta faceira, a menina deve ter uns onze anos,
ela passa por trás de sua mãe, indo em direção à sala.
— Obrigada, mas já tenho outro compromisso — profiro, forçando a voz para sair o
mais natural possível. Evy assente e posso ver a decepção no olhar do meu pai. — Podemos
conversar lá fora? — pergunto e não aguardo sua resposta, deixando a casa.
— O que você aprontou, Lovely? — Seu tom de voz duro mostra que estraguei sua
noite.
— Não posso ficar naquela casa... — falo, me virando para ele, encontrando seu olhar.
— Quero morar na fraternidade.
Meu pai suspira, balançando a cabeça em negação.
— A vaga já foi ocupada, Love. — Ele comprime os lábios. — O que te fez mudar de
ideia?
— Me sinto sozinha lá... E se eu ficar aqui com o senhor? — pergunto, olhando para a
residência. — Sua casa é enorme, deve haver pelo menos cinco quartos.
— Não há, querida. — Mordo o lábio, tentando engolir sua mentira. Se ele me quisesse
por perto, daria um jeito. Já que ele não vai me ajudar, o que eu faço? Não posso permanecer
naquela casa, vou morrer lá e eles vão me enterrar ao lado daquele garoto.
— Entre e jante conosco, depois eu a levo. — Um som de deboche irrompe do fundo da
minha boca. Balanço a cabeça em negação, agradecendo por minhas palavras estarem presas no
fundo da minha garganta.
Me viro e caminho em direção ao meu carro.
— Love — Papai chama, mas o ignoro e entro no carro, com as lágrimas riscando o
meu rosto. Minhas mãos tremem enquanto seguro o volante e uma onda de tristeza e confusão se
mescla dentro de mim.
Não posso voltar para aquela casa, não consigo...
O barman, de olhar sedutor, enche meu oitavo shot com uma bebida forte e desliza na
minha direção com um sorriso enigmático. Viro a tequila, o líquido abrasador desce pela minha
garganta e um calor intenso se espalha pelo meu interior. Em seguida, outro barman se aproxima
com um drink cor-de-rosa adornado com um pequeno guarda-chuva. Ele o deixa diante de mim.
— Cortesia daquele cavalheiro ali. — Ele aponta por cima do meu ombro, indicando um
grupo de homens alguns metros atrás. Um em especial, de cabelo cortado à moda militar, alto e
tatuado, fixa os olhos em mim. Ele se encaixa no meu perfil, se eu não estivesse bêbada demais
para consentir qualquer coisa.
Faço uma breve saudação com dois dedos na cabeça, e ele responde com um sorriso.
Tomo um gole do drink e me viro para frente, me sentindo mais corajosa para voltar para casa.
Um toque em meu ombro chama minha atenção e meu coração acelera
instantaneamente. O cara do drink se senta ao meu lado, apoiando o cotovelo no balcão, e se vira
na minha direção. Ele é ainda maior de perto, mas com 1,63 de altura, quase todo mundo parece
gigante para mim.
— Qual o seu nome? — grita por cima da música.
— Lovely.
— Eu sou Dean. Você está com alguém, Love? — ele pergunta, inclinando-se para
mim. Sinto cheiro de maconha e de cerveja em seu hálito.
Tomo outro gole da bebida, ganhando tempo para responder. Estou sozinha há mais de
uma hora, ele deve ter notado, e agora, se quer saber por cortesia, esta é uma ótima pergunta.
— Sim e já estou encerrando a noite — respondo e, de repente, sinto sua mão subindo
pela minha coxa. Eu pego seus dedos antes que eles alcancem a borda da minha saia.
— Você quer carona? Parece que você já bebeu demais — comenta, apertando minha
coxa com força.
— Tire suas patas imundas de mim! — Exclamo e me levanto do banco. Minhas pernas
vacilam e tudo gira. Dean me segura quando cambaleio para o lado dele. Maldição!
— Peguei você. — Ele me segura contra o seu corpo, me levando em direção ao
banheiro. Ninguém nos impede, nem mesmo seus amigos, que acenam sutilmente enquanto ele
me arrasta pela multidão. Meus pés tropeçam e não tenho forças para gritar, minha língua parece
adormecida dentro da boca.
Entramos no banheiro masculino, e Dean entrega algo para outro homem, que sai
fechando a porta.
— O que você vai fazer? — Forço as palavras, temendo ouvir sua resposta. Dean me
empurra contra a parede, seu corpo pressionando o meu para me manter de pé.
— Nada que você vá lembrar amanhã. Então relaxa e aproveita — sussurra, esfregando
sua ereção na minha bunda. Meu estômago se contorce de nervosismo, e o medo esmaga o meu
coração. Não há dúvidas sobre o que vai acontecer.
Dean levanta minha saia e seus lábios beijam meu pescoço. O desespero me consome
como fogo em pólvora me paralisando. Seus dedos se engancham nas tiras da minha calcinha,
puxando-as para baixo. Ele espalma minha bunda, separando minhas nádegas. Me debato quando
seu pau desliza entre minhas dobras.
— Por favor... — Minha voz desaparece no som alto que invade o banheiro no momento
em que a porta se abre.
— Paguei por 15 minutos — Dean vocifera, mas a pressão em meu corpo desaparece e
eu me seguro na pia para não cair. Quando me viro para entender o que está acontecendo, um
gemido gutural ecoa pelo banheiro. Maddox está em cima dele, estendido no chão. Fecho os
olhos com força, incapaz de acreditar no que estou vendo.
Maddox mantém o joelho no pescoço de Dean e olha para mim por cima do ombro
enquanto a escuridão toma conta de seus olhos azuis.
— Você está bem? — pergunta com a voz profunda e calma.
Concordo com a cabeça, sentindo-me arrasada, mas sabendo que esta noite poderia ter
terminado muito pior.
— Você quer esperar lá fora? — Balanço a cabeça em negação.
— Acho que ele me drogou. Não consigo sair do lugar — digo, e as lágrimas ardem em
meus olhos.
Mad me dá um aceno firme, tirando algo do bolso e olhando para Dean.
— Então você gosta de drogar e estuprar garotinhas no banheiro. — A voz de Maddox é
um vibrato baixo cheio de ameaça.
— Ela queria! — Dean grita, enquanto Mad vira uma espécie de faca em sua mão.
— Você queria, Love? — Balanço a cabeça em negação, horrorizada.
Maddox franze os lábios, seu olhar penetrante fixo em Dean enquanto a lâmina da faca
corre suavemente ao longo do contorno do pescoço dele.
— Não vai me matar em uma boate cheia de pessoas! — exclama, mostrando um sorriso
com os dentes manchados de sangue.
Mad estala a língua, demonstrando uma calma perturbadora.
— Matar você nunca esteve nos meus planos. — Maddox expressa seus lábios se
repuxando em um sorriso violento ao deslizar a lâmina pela bochecha de Dean, rasgando um
sorriso grotesco em seu rosto.
O grito angustiante do homem reverbera por todo o meu corpo, ecoando por todo
banheiro. O terror se intensifica em meu peito, roubando meu fôlego e apagando qualquer
vestígio de pensamento lógico diante da cena que Maddox está executando com aquele homem
na minha frente.
Maddox se ergue e desfere um chute certeiro no abdômen do Dean. O homem sangra
como um porco morto, arfando enquanto se curva, e se debate no chão com o rosto desfigurado,
exibindo uma parte de sua arcada dentária.
— Quer tentar? — Maddox pergunta, observando a lâmina suja de sangue. Ele a fecha
como um canivete e guarda no bolso da jaqueta.
Balanço a cabeça em negação, eu não tenho forças e nem estômago para isso, já estou
começando a ficar enjoada com o cheiro pungente de sangue dominando o ambiente.
— Ele tem amigos, Mad, é melhor sairmos daqui.
Maddox se aproxima e percebo que ainda estou com a calcinha presa nos calcanhares.
Ele se ajoelha na minha frente e arrasta para cima sem tirar os olhos dos meus. Quando se ergue,
seus dedos agarram meu quadril, ele me joga por cima do ombro como um saco de batata e sua
mão cobre minha bunda quando retornamos para festa.
As pessoas abrem caminho para Maddox passar, os amigos de Dean olham para nós
quando estamos atravessando pela pista de dança, então se entreolham e se afastam, indo em
direção ao banheiro.
Deixamos a boate e ele me puxa para frente, contra seu peito, e eu deslizo a cabeça na
curva do seu pescoço, me sentindo ainda tonta. Mal o conheço, mas sinto que posso confiar nele,
é a segunda vez que ele me salva.
— Como me encontrou? — questiono, e ele encontra o meu olhar.
— O reitor disse que se desentenderam e que estava com medo de que fizesse alguma
besteira. — Solto um sorriso amargo.
— Desde que aterrizei, meu pai me enxerga como problema.
— Se te faz sentir melhor, o meu também — diz com um pequeno sorriso na curva dos
lábios. — Vamos no seu carro, amanhã um calouro vem buscar minha moto — profere, se
aproximando do Juggernaut, sua moto está estacionada ao lado. Puxo a chave do carro entre
meus seios e estendo para ele.
Ele me coloca sentada e se estica sobre mim. Seus olhos obscuramente intensos se
fixam nos meus, então ele prende meu cinto e se afasta, fazendo o meu peito acelerar. Mad pega
o capacete em cima da moto e depois desliza ao meu lado.
— Obrigada por impedir aquilo... — Balanço a cabeça, tentando afastar aquela sensação
repulsiva da minha mente.
— Estou aqui. Ninguém vai machucá-la. — Mad dá partida no carro e nos leva de volta
ao centro da cidade. A adrenalina deu espaço à ansiedade, e aquela coragem que tinha de voltar
para casa se perdeu assim que fui atacada no banheiro da boate.
— Mad — ele me olha com atenção, posso passar essa noite com você?
— É claro. — Ele assente.
Capítulo 10

O carro estaciona em frente à imponente mansão da fraternidade Alpha Theta Phi, e um


arrepio abrupto arranha minha espinha ao avistar o local. Estou prestes a entrar no covil do
diabo. A ideia de voltar para casa passa pela minha cabeça, mas cheguei à conclusão de que não
importa onde eu esteja, não estou segura. Decido confiar que, como convidada do líder, ninguém
se atreveria a me tocar.
Mad abre a porta do carro e me puxa novamente para seus braços. Já sinto os dedos dos
pés começando a formigar, não gosto de pensar no que teria acontecido se tivesse ingerido mais
do que dois goles daquele drink batizado.
Ele nos conduz para a entrada da casa, passamos pelo hall e entramos na sala de estar.
Um grupo de garotos está concentrado diante de uma TV de plasma assistindo a um jogo de
futebol. Nossa presença não passa despercebida, mas ninguém diz uma palavra enquanto Mad
me carrega para o andar de cima, onde ficam os quartos.
— Por que Jimin não mora na fraternidade? — indago assim que chegamos ao quarto
dele. Ele chuta a porta, empurrando-a para trás, e a primeira coisa que eu vejo é um saco de boxe
pendurado no meio do cômodo.
— Ele morava... — Mad franze os lábios carnudos firmes e gentilmente me solta em sua
cama impecavelmente arrumada, assim como o resto do quarto. Nada se compara ao cômodo que
vi da última vez em que estive aqui.
— Então..., o que aconteceu?
Eu me aconchego em uma pilha de travesseiros brancos e fofos, observando-o tirar a
camisa. Seu peito imponente revela uma tatuagem marcante, um corvo majestoso com as asas
estendidas em pleno voo, a ave segura uma caveira na boca e, nos limites dos ombros robustos,
rosas-vermelhas com espinhos delicadamente entrelaçados adornam as extensas asas do corvo.
— Houve uma denúncia de estupro há um ano contra um dos membros da fraternidade,
ocorrido em uma das festas da casa. A polícia veio com um mandado de busca e apreensão e
encontrou drogas ilícitas. Corbin foi preso por distribuição de drogas e a denúncia de estupro foi
arquivada por falta de provas.
Corbin, esse nome não é estranho.
— Quem foi o acusado? Ele ainda pertence à fraternidade? — Mad sorri diante do meu
interrogatório e joga a camisa em uma cadeira gamer vermelha em frente, na sua mesa.
— Devon Macoy.
— Devon... — balbucio, tentando associar o sorriso doce com covinhas perfeitas ao
rosto de um estuprador. — Ele não parece alguém que faria isso.
Agora a discussão que Jimin teve com Macoy durante a festa na casa de praia faz todo
sentido.
— Se não provaram, talvez não tenha acontecido — comento, vendo Mad entrar no
banheiro e pelo reflexo no espelho o vejo lavando as mãos. Ele volta para o quarto e se senta na
ponta da cama, para tirar os coturnos. Olhei para suas costas largas, notando algumas cicatrizes
de queimaduras nelas.
— Você é do tipo que vê o melhor nas pessoas. — Ele me olha por cima do ombro e
uma mecha de seu cabelo desliza sobre o seu olhar — Não sei como era na Califórnia, Love, mas
aqui, em Serpentine Hill, é melhor esperar o pior.
— Você está insinuando que eu também deveria esperar o pior de você? — Mad se vira
para mim com um sorriso que provoca um frio na minha barriga.
— Estou dizendo que existem homens que gostam de tirar vantagem de garotas
inofensivas — declara, deitando-se de costas ao meu lado.
— Isso não responde a minha pergunta.
— Eu não teria te salvado hoje se quisesse o pior para você. — Ele me lança um olhar
de “touché.”
Quebro o contato visual, desviando os olhos para a barra de exercícios acima da porta de
entrada.
— O que fez com Dean no banheiro... você não tem medo de alguém descobrir?
— Ele tentou abusar de você. Ele não vai me denunciar, não se preocupe — diz
imperturbável.
Concordo.
— Está com fome? Podemos pedir alguma coisa — oferece, me surpreendendo com
tanto cavalheirismo.
— Eu estou sem fome, cansada e com sono. Meu retorno não tem sido fácil —
sussurro, Mad estende a mão por cima da cabeça e desliga o interruptor de luz. A claridade da
rua entra pela janela, criando sombras ao redor de seu rosto.
— Quer conversar? Talvez eu possa ajudar.
Visualizo Mad rasgando o rosto do Sombra como fez com Dean, e um sorriso amargo se
espalha pelo meu rosto.
— Não, obrigada — digo, chutando o tênis para fora da cama, e encosto a cabeça nos
travesseiros. — É seguro dormir nesse lençol?
A risada de Maddox percorre meu corpo.
— Eu não trago garotas aqui — responde, removendo a calça, ficando apenas de boxer
preta.
— Eu não vou transar com você — aviso, dando uma sutil olhada para seu amigo
adormecido. Ele ri.
— Depois do que aconteceu hoje, eu não tentaria nada. — Assinto, pensando se isso é
só conversa para me comer em outro momento, porque está funcionando.
— Obrigada — sussurro e fecho os olhos, ouvindo seu sorriso.

Desperto sob um raio de luz, envolta pela solidez dos músculos de Mad ao meu redor.
Minha cabeça repousa próxima ao seu pescoço, e sua respiração profunda e ritmada ecoa no meu
ouvido. O calor que emana de seu peitoral é como uma fornalha em minhas costas, e preciso me
afastar para não chutar as cobertas para longe.
Relaxo novamente; parece que, desde que cheguei a Serpentine Hill, não experimentei
uma noite de sono tão profunda e tranquila como esta. A segurança que Mad me proporciona, eu
nunca tive isso com ninguém, talvez porque não me sentia constantemente ameaçada na
Califórnia.
Sua mão desliza suavemente sobre meu corpo e Maddox me puxa para perto dele, como
se quisesse me envolver completamente em seu calor. Nossos corpos se ajustam perfeitamente,
cada curva encontrando seu par ideal, como se fôssemos peças feitas para se encaixar.
— Você dormiu bem? — sussurra no meu ouvido, entrelaçando suas pernas nas minhas,
enquanto o timbre rouco da sua voz provoca cócegas no meu pescoço. Não sei em qual momento
da noite criamos essa intimidade, porém, isso desperta a vontade de querer permanecer aqui por
mais tempo.
— A melhor noite desde que cheguei — admito.
— Não precisa agradecer. — Rio, desferindo um golpe na barriga dele com o cotovelo.
Mad se antecipa, agarra meu braço e prende minhas pernas entre as deles. Sua ereção matinal
cutuca minha bunda, enviando uma onda de calor pelo meu corpo. Meu coração ecoa
intensamente. Ele me solta, mas nenhum de nós se afasta e meu cérebro se transforma em uma
tela preta enquanto tento lembrar como respirar.
Olho por cima do ombro e encontro seus selvagens e brilhantes olhos azuis. Seus
grossos cabelos escuros emoldurando seu rosto são simplesmente deslumbrantes. Empurro
minha bunda contra sua pélvis, em uma indireta tão sutil quanto seu polegar traçando pequenos
círculos em minha pele, acendendo uma centelha de calor.
Maddox sopra seu hálito quente e solta um grunhido baixo, enquanto suspiro e sinto
seus dedos acariciando o tecido fino da minha calcinha, seu toque é firme, porém, suave, e
provoca um arrepio de corpo inteiro na minha espinha, uma mistura de excitação e nervosismo
toma conta de mim.
Mad se inclina para beijar meu pescoço e seus olhos se detêm ali por um momento. Ele
traça o polegar pelo meu hematoma, e seus olhos cheios de perguntas encontram os meus.
— Por favor, não pergunte — digo, pegando sua mão e a levando para baixo, ligando o
foda-se na minha mente, completamente envolvida em seu toque quente descendo lentamente,
me concentrando em seu cheiro, e o calor do seu corpo parece me engolir por inteira. Seus
lábios deixam uma trilha de arrepios e depois sobem em direção a minha clavícula.
— Tem certeza? Posso ajudar se você me contar. — Encontro seu olhar com as palavras
presas na garganta, ninguém pode me ajudar, e envolvê-lo só colocaria na mira de três
psicopatas.
Balanço a cabeça em negação e minha mão envolve seu pescoço, puxando-o para mais
perto. Ele reivindica meus lábios em um beijo duro e provocante. Nossas línguas se envolvem
respondendo a uma necessidade violenta.
Mad se apoia no cotovelo, puxa o cobertor de cima de mim, e só então percebo que não
estou usando minha saia. Devo ter tirado em algum momento da madrugada. Sua mão desliza
pela parte interna da minha coxa, alcançando minha virilha.
— Achei que não fosse transar comigo — sussurra, mordiscando a delicada concha da
minha orelha, seu dedo puxa o elástico da minha calcinha e depois a solta, fazendo minha pele
arder.
— Uma garota pode mudar de ideia... Só vá devagar — digo, excitada e hesitante, quase
na mesma medida.
Os lábios de Maddox envolvem os meus novamente enquanto ele levanta minha blusa.
Seus olhos caem sobre meus seios, meus mamilos endurecem em botões rosados. Sua língua
quente e úmida traça meu mamilo e meu núcleo responde com uma avalanche de calor.
Maddox arrasta minha calcinha para baixo, e meu coração quase explode quando ele
afunda os dedos na minha umidade e os arrasta até meu clitóris. Encontro seu olhar, e ele chupa
meu mamilo com força, puxando-o entre os dentes, e tenho certeza de que vai me deixar com
chupões. Seus dedos torturantes esfregam meu clitóris, deixando-o inchado. Fecho os olhos e
arqueio com o toque de seus dedos, gemendo em sua boca.
— Você tem ideia de quão perfeita é? — Maddox sussurra, penetrando-me com dois
dedos. Eu ofego, curvando meus quadris e encontrando seu olhar. Ele saiu de dentro de mim,
provocando meu nervo sensível. Dois golpes experientes, e eu jogo a cabeça para trás, fechando
os olhos.
— Oh, Deus! — grito, agarrando sua mão, alcançando meu limite.
— Deus não tem nada a ver com isso — sussurra com uma voz sexy e perigosa. E ele
me penetra novamente, seus dedos batendo fundo, minha boceta pulsa, apertando seus dedos e, a
cada estocada dele, meu corpo afunda na cama. Fico tensa e o orgasmo começa a crescer nas
minhas pernas, espalhando-se como fogo em direção ao meu ventre, então grito, sentindo todo o
meu elemento estremecer.
Acho que nunca gozei tão gostoso dessa maneira, mas, de repente, o Sombra atravessa
meus pensamentos. Sádico nojento, ele literalmente fodeu com a minha primeira experiência
sexual.
— Sua boceta apertada fez um estrago nos meus dedos. Estou ansioso para fodê-la com
meu pau — Mad sussurra no meu ouvido e tira os dedos de dentro de mim. Posso sentir minha
excitação entre sua mão e minhas coxas. Em seguida, ele afasta uma mecha de cabelo do meu
rosto e dá um beijo nos meus lábios, deitando-se e me puxando para seu peito.
— Está tudo bem se ficarmos assim? — pergunto, ainda sentindo seu pau duro como
uma rocha e sua cueca úmida tocando minha coxa.
Mad assente com seus dedos acariciando minha cabeça. Viro-me para ele, enterrando o
meu rosto em seu pescoço, sem ter ideia de como ficaram as coisas entre nós depois de hoje.
Talvez eu tenha acabado de afastar a única pessoa que se mostrou preocupada comigo desde que
cheguei na cidade. Se eu conheço bem os homens, Maddox vai se afastar gradualmente nos
próximos dias. Mas, por enquanto, vou focar no dia de hoje.
— O que você queria falar com o seu pai ontem? — pergunta, iniciando longas carícias
nas minhas costas.
— Quando aterrizei, ele disse que eu ficaria alojada na fraternidade, mas estupidamente
recusei, agora mudei de ideia, só que a vaga já foi ocupada. Então eu pedi para ficar na casa dele,
e ele disse que não há quartos disponíveis.
— Você acha que é mentira? — Encontro o olhar dele.
— Me diga você, já esteve mais naquela casa do que eu. — Mad aperta os lábios.
— Eu não sei, mas posso perguntar ao Jimin. — Estalo a língua, balançando a cabeça
em negação.
— George não me quer naquela casa e saber a verdade não fará diferença.
— Vai voltar para Califórnia quando terminar a universidade?
— O mais rápido possível — respondo, e Mad começa a enrolar uma mecha do meu
cabelo em seu dedo.
Relaxo profundamente e adormeço ouvindo a suave batida do coração dele.

Acordo como se tivesse dormido dez noites seguidas. Procuro por Maddox ao meu lado
e encontro seu lugar frio e vazio. Me sento e uma necessidade urgente de ir ao banheiro cresce
em mim. Pulo para fora da cama e atravesso a grande suíte, olhando em volta, estou sozinha.
Bufo, tremendo os lábios, ele se foi mais rápido do que eu esperava. Enquanto uso o
banheiro, percebo o piso branco cremoso molhado, não precisa ser um detetive para saber que
ele tomou banho e sumiu, esperando voltar com o quarto vazio.
Lavo o rosto na pia de mármore branco, minha maquiagem está completamente borrada
e pareço uma bagunça. Penteio meus cabelos com as pontas dos dedos e depois retorno para o
quarto. Se Maddox não está aqui, não é seguro eu ficar. Procuro pelas minhas roupas, jogo o
cobertor para cima e encontro a saia aos pés da cama, mas nada da calcinha, olho debaixo dos
travesseiros, e nada, me ajoelho e varro o olhar debaixo da cama e encontro uma caixa de sapato
preto.
Lambo os lábios, olhando em direção à porta fechada, e me ocorre: o que Maddox
Knight esconderia debaixo da cama? Não faça isso, Love, reflito, removendo a tampa da grande
caixa. Sufoquei um grito e inesperadamente alguma coisa perto de pânico congelou meu corpo
inteiro.
Meus dedos involuntariamente deslizam pela máscara de néon, tirando-a da caixa, e
surge na minha mente a máscara que arranquei de Sombra duas noites atrás. Não sei por quanto
tempo ainda vou sentir medo toda vez que vejo uma dessas. No fundo da caixa, tem um papelote
de balinhas LSD, um maço de cigarro, camisinhas, luvas pretas de luta e várias fotos dos caras
em uma festa, tiradas por uma polaroid. Com certeza eu também as esconderia debaixo da cama.
Sorrio e coloco todas de volta até que uma delas me chama atenção, com o nome Corbin Jones
escrito com uma caneta cor-de-rosa e um coração ao lado. Pego a foto e meu queixo cai com
força, então minha cabeça dá um nó enquanto tento me lembrar de como fechar minha boca.
Vejo um garoto com uma cobra tatuada no braço. Fixo meus olhos no homem e um
arrepio percorre meu corpo todo. É o Cobra. Eu não vi seu rosto, mas a tatuagem é a mesma, eu
tenho certeza.
— O que está fazendo? — Tenho um puta sobressalto quando ouço a voz grave de
Maddox na entrada do quarto. Meus batimentos cardíacos bagunçam os meus pensamentos, me
deixando com o raciocínio lento.
Jogo a foto de volta na caixa, depois a máscara e a fecho rapidamente.
— Pro...curando a minha calcinha — gaguejo miseravelmente. Maldição, por que eu
tinha que bisbilhotar?
Maddox se aproxima com passos lentos, olhos fixos nos meus e uma expressão
carregada que me faz querer dar um passo atrás.
— E você encontrou? — pergunta, sua voz agora é mais irônica que brava e seu olhar
devora o meu corpo parcialmente nu. Contenho a vontade de cobrir meu sexo e balanço a cabeça
em negação.
Mad se detém ao lado da cama e puxa a minha calcinha branca presa no lençol. Ele a
segura no dedo e, quando dou um passo para pegá-la, ele enfia no bolso da calça com um sorriso
sardônico.
Travo o maxilar, engolindo em seco.
— Acho que vou ficar com ela para mim. — Aperto meus lábios, e Maddox força um
sorriso branco e afiado. Visto a minha saia, pois a expressão no seu rosto me diz que nem que eu
implore ele me devolverá. E eu mereço isso por ser uma puta bisbilhoteira.
— Me desculpe por xeretar — digo completamente envergonhada, ele aperta os lábios e
assente.
— Você encontrou o que procurava?
— Sim, está no seu bolso. — Um riso se abre no canto dos seus lábios. — Eu preciso ir
agora — falo, pegando a chave do carro na mesa da cabeceira e meus tênis no chão.
Maddox assente sem dizer nada, acho que fodi com tudo de vez.
— Obrigada, Mad. — Deixo a fraternidade o mais rápido que consigo, sem olhar para
trás.
Capítulo 11

Levantei-me do chão, esperando a resposta do Sombra. Eu, pelo menos, merecia saber
o que eles fariam comigo. Mas Sombra me deu as costas e se afastou de mim.
Deixei minha cabeça cair para trás, o céu era um vasto e profundo manto escuro. Num
impulso, minhas mãos encontraram meu pescoço e senti uma pontada esporádica de tristeza
penetrar diretamente em meu coração, as lágrimas começaram a aflorar, e eu mal consegui
conter um soluço que escapou de meus lábios.
Voltei-me para a margem do lago, iluminada pela luz parcial da lua, que refletia no
cadáver de um jovem de cabelos louros e corpulento como o Sombra. O que ele fez para merecer
esse destino?
— Afaste-se dele — ordenou o Sombra por trás de mim, fazendo meu coração quase
perder uma batida.
Reunindo o restante das minhas forças, manquei para longe do corpo e me sentei em
uma pedra. Por baixo do meu exterior entorpecido, tentei processar a fusão de emoções que
inundava minha mente. A dor física parecia pulsar por todo o meu corpo, mas a angústia era
igualmente avassaladora.
Olhei em volta, percebendo que estávamos sozinhos, levantei as sobrancelhas em
confusão. Encontrei o olhar do Sombra com olhos marejados, procurando qualquer sinal de
complacência ou esclarecimento em seu semblante oculto. Eu queria desesperadamente
entender o que viria a seguir.
— Para onde foram os outros? — perguntei, a minha voz tremia, mas mantive o olhar
firme.
— Você acha que merece uma explicação? — ele disse frio e sem emoção.
Engoli em seco.
— Eu mereço saber o que vai acontecer comigo — sussurrei e odiei o quão fraca a
minha voz me fez parecer.
Sombra riu.
— Não faça perguntas, simplesmente obedeça, Lovely. — Seu tom saiu como um
grunhido baixo em advertência e meu nome soou como uma ameaça em seus lábios... eles sabem
meu nome, onde eu moro, mesmo que eu saia daqui viva, não estarei segura.
Algum tempo que não consegui determinar passou, poderia ter sido horas, ou apenas
alguns minutos, o tempo não parecia mais fazer sentido para mim, e Cobra e Gorila ainda não
regressaram. Já está tarde, de madrugada, a adrenalina baixou no meu sistema, cedendo lugar
para o cansaço e a letargia. Manter os olhos abertos se tornou uma prova de resistência.
Acordei abruptamente quando o cotovelo escorregou do meu joelho onde estava
apoiada. Um cheiro pungente de gasolina encheu minhas narinas e eu pisquei algumas vezes
para focar minha visão. Cobra e Gorila já haviam retornado, e os três estavam ao redor do
corpo, enquanto Sombra segurava um galão branco, derramando algo sobre o corpo. Ele jogou
o galão a seus pés e um barulho de metal ecoou, então ele me encarou, sua máscara escondendo
seus próximos movimentos
— É bom ver você acordada — sussurrou o Sombra.
Cobra e Gorila se voltam para mim e Sombra faz um sinal para eles que eu não
consegui entender até que Cobra e Gorila se aproximaram de mim.
Balancei minha cabeça em negação e lágrimas arderam em meus olhos
instantaneamente. Levantei-me da pedra e olhei por cima do ombro para a vasta floresta, a
vontade de escapar dominou cada fibra do meu elemento, embora as consequências fossem
muito mais dolorosas. Mesmo se eu tentasse uma fuga naquele momento, não seria capaz de
correr mais do que eles.
— Não faça isso — Sombra entoou em aviso, prendendo minha atenção, então meus
braços foram envolvidos pelas mãos da Cobra e do Gorila. Tentei resistir, mas seus dedos se
fecharam como um torno em volta da minha carne e me arrastaram para ele.
Eles me empurraram em direção à Sombra, que me acolheu em seus braços. Ele se
inclinou e sua mão agarrou meu queixo com força, então eu olhei para cima antes que ele
movesse a mão para meu pescoço.
— Será que agora eu posso saber o que vai acontecer comigo? — indaguei, tentando
conter a inquietação que me envolvia. Eventualmente, sua voz não quebrou o silêncio.
Sombra me virou, sua mão agarrou meu pescoço novamente e eu segurei seu pulso para
conter o aperto, ele me puxou contra seu corpo e seu braço envolveu minha cintura. Eu me
encolhi ao olhar para o corpo encharcado de gasolina.
— É o seguinte, coelhinha — Sombra sussurrou e abruptamente acendeu um isqueiro
metálico com uma caveira entalhado nele. Em minha frente, as chamas dançaram em meus
olhos — Você quer sair viva dessa maldita floresta, basta queimar.
Meu queixo caiu e meus músculos protestaram enquanto eu tentava me afastar de seus
braços, mas ele era como uma armadilha de ferro, me segurando implacavelmente.
— Eu não vou fazer isso! — minha voz soou mais firme do que eu esperava, embora
todo o meu corpo tremesse como a chama do isqueiro.
— Coelhinha ... Coelhinha — murmurou com um toque de desdém e apagou a chama do
isqueiro em minha mão.
O toque do fogo que se apagou em minha pele foi uma agonia instantânea, logo, uma
explosão de dor ardente percorreu meu braço, como se o próprio calor do inferno tivesse
marcado sua passagem. Um gemido involuntário escapou dos meus lábios enquanto eu cerrei os
dentes para conter a dor que se espalhava por mim.
Sombra retirou o isqueiro depois de alguns segundos, mas a dor persistiu, com um
rastro de calor insuportável, que se espalhou das costas da minha mão para o resto do meu
corpo.
— Você aprenderá que a resistência só prolonga a dor, Lovely. — A voz de Sombra era
um eco sádico ao meu redor. — A escolha continua sendo sua.
Escolha? Que porra de escolha?
Meu sangue ferveu, lutei em seus braços com todas as minhas forças. Eu me senti fraca,
a dor e a frustração misturando-se em uma tempestade dentro de mim. Lágrimas turvaram
minha visão. A sensação de impotência me corroía, mas eu estava determinada a não ceder à
insanidade que Sombra queria que eu cometesse.
— Eu não quero fazer parte dessa merda — rosnei.
Ele riu, um som áspero e sem humor que reverberou na floresta silenciosa.
— Você já faz parte disso desde que entrou nessa maldita floresta.
— Eu... eu... estou saindo do estado, amanhã cedo, você nunca mais vai me ver, eu
prometo, apenas me deixe ir. Não vou contar a ninguém.
Sombra suspira de irritação e seus dedos me dão um aperto de aço em meu pescoço,
pressionando minha cabeça com força em seu peito.
— Você vai queimar com ele se não fizer isso agora.
Capítulo 12
Entro no closet com uma pontada de antecipação e nervosismo, à procura de uma roupa
adequada para o meu primeiro dia de aula na Vanguard. É final de setembro e as manhãs não são
tão quentes, por isso escolho uma saia xadrez azul de cintura alta e um cropped de manga longa
branco, adornado com delicados botões de pérolas. Para finalizar, deslizo meus pés em um par de
coturnos pretos.
Volto para o quarto, meu notebook está aberto em cima da cama com a localização da
penitenciária Riverside. Passei os últimos três dias vidrada na tela desse computador,
investigando sobre Corbin Jones, e não descobri nada relevante que ligue ele ao Cobra. Ele tem
vinte e dois anos e jogava na posição safety, na mesma época em que Maddox foi expulso.
Suas redes sociais estão congeladas no tempo, no último vídeo do Instagram dele,
Corbin estava em uma festa da fraternidade. Mad, Jimin e outros caras do time apareceram no
vídeo. Pode ser qualquer cara do time ou da fraternidade. É como procurar a porra de uma agulha
no palheiro.
Fecho o notebook e guardo dentro da minha bolsa de couro preto. Deslizo ela no ombro
e desço para o primeiro andar. Noturno me encontra no fim dos degraus e mia, roçando sua
cabeça nas minhas pernas. Passo pela cozinha e a empregada do meu pai está lavando a louça do
meu café da manhã.
— Boa aula, Love — Ruth diz com um sorriso em seus lábios finos.
— Obrigada e bom dia! — Abano a mão por cima do ombro, alcançando a porta, e
digito o código do alarme para abrir.
Depois da vergonha que eu passei sendo pega no flagra bisbilhotando as coisas de
Maddox, cheguei em casa e liguei para o vidraceiro e para meu pai, pedindo que enviasse um
técnico de confiança para arrumar o alarme da casa. Algumas horas mais tarde, voilà.
Entro no carro, solto a bolsa no assento do passageiro, encontro meus olhos no
retrovisor e meu coração acelera, pensando que, em poucos minutos, andarei entre dois
psicopatas... de repente me ocorre que a única coisa que liga eles à fraternidade são as máscaras,
porque, naquela noite de sexta-feira treze, os únicos que usavam a máscara neon eram os
anfitriões da casa. Talvez Sombra e Gorila nem estejam mais cursando. Quero acreditar nisso.
Suspiro, dando partida no carro e pensando que preciso reverter essa situação. Preciso
desmascará-los antes que me peguem.

Entro em uma rua com floresta em ambos os lados. Ao dobrar a esquina, vejo a
belíssima Vanguard. A universidade parece um daqueles castelos medievais tirados das páginas
de um livro. Os portões de ferro forjado se abrem majestosamente, revelando um caminho de
paralelepípedos ladeado por altas árvores. O caminho leva a um amplo pátio central, onde se
destaca o prédio principal. A estrutura imponente é construída com pedras antigas e ornamentada
com detalhes arquitetônicos que remontam a eras passadas. Não me admira que a universidade
seja um monumento histórico.
Sigo em frente, procurando pelo estacionamento, faz muito tempo desde a última vez
que eu estive aqui. Eu tinha dezesseis anos, foi no último jogo do Tyler.
Encontro o estacionamento lotado, mas avisto um local entre dois carros menores.
Estaciono e, ao abrir a porta, sou recebida por uma lufada de vento. Sinto um frio na barriga, em
um conjunto de nostalgia e expectativa que faz meu coração pulsar um pouco mais rápido do que
o normal.
Caminho entre os carros, meu olhar se perdendo nas árvores que cercam o campus. A
cada passo, as lembranças da última vez que estive aqui se entrelaçam com a visão atual, criando
uma sensação estranha e familiar.
Ando pelo pátio central, em direção ao prédio principal, e alguns olhares me seguem
pelo caminho. Pelo visto, meus quinze minutos de fama ainda não acabaram, penso quando ouço
uma garota sussurrar para outra “fogo e carro” na mesma frase, mas a ausência de pessoas
conhecidas me deixa um pouco relaxada.
Entro no prédio principal e sigo até o fim do corredor, pois papai me pediu que fosse até
sua sala assim que chegasse aqui. Espero que ele não queira conversar sobre nosso breve
encontro em sua casa. Paro diante do gabinete onde meu pai trabalha, bato na porta que contém
seu nome grifado em uma plaquinha de metal e abro em seguida. A sala dele é espaçosa e
decorada com móveis elegantes. As paredes são revestidas por estantes repletas de livros e
troféus, indicando uma longa carreira acadêmica e administrativa.
— Bom dia, querida — meu pai saúda atrás de uma imponente mesa de madeira maciça
que domina o espaço e, sentada na sua frente, há uma garota com o cabelo cor de mel preso em
um coque frouxo de dar inveja, daqueles que nem pagando o meu cabelo ficaria igual.
— Oi, pai — digo, desviando os olhos para uma janela ampla que oferece uma vista
panorâmica do campus.
— Se senta, quero te apresentar Fallon Mackenzie — a garota me olha por cima do
ombro, revelando um miniaparelho de audição, que me faz lembrar um fone intra-articular —,
ela vai te mostrar a universidade.
Me aconchego na poltrona ao lado dela, e minha perna começa a se mover inquieta.
— Eu não preciso de uma babá, pai — comento e encontro os olhos da garota, são azuis
intensos e brilhantes. — Sem querer ofender.
— Não ofendeu — responde sem emoção.
— Aceite, por favor — papai diz em um tom que não dá espaço para indecisão, aperto
os lábios relutantes e assinto.
Deixamos o escritório juntas, a garota caminha ao meu lado calada. Ela é alta e esbelta,
veste uma blusa preta sem estampa, uma calça jeans clara rasgada nos joelhos e um tênis da Vans
que já teve dias melhores.
— Se você quiser ir, eu não vou contar ao reitor — Fallon diz quando saímos do prédio
e uma risada exagerada chama nossa atenção. Encontro o olhar de Cameron, ela está a poucos
metros com suas amigas.
— Love — Cam diz com um tom de voz falso, ela deve ter esquecido o quão bem a
conheço. — É seu primeiro dia na Vanguard, se quiser, eu te mostro a universidade, seria como
nos velhos tempos. — Posso estar sendo pretensiosa, mas Cameron só quer escalar a minha
cabeça por causa do meu status atual.
— Fallon já está fazendo isso, mas obrigada, Cam. — Pego no cotovelo da Fallon e a
empurro para frente, deixando Cameron e suas amigas para trás.
Fallon olha para mim com uma expressão levemente curiosa enquanto caminhamos pelo
campus. A brisa fresca balança os galhos das árvores ao nosso redor, bagunçando um pouco o
meu cabelo.
— Então, por que meu pai escolheu você para me mostrar a universidade?
— Porque a minha mãe se ofereceu — diz e há um toque de descontentamento em sua
voz. — Sou filha da Ruth.
Me viro para ela surpresa.
— A sua mãe é um amor — digo, embora não tenha conversado muito com a Ruth,
porém, ela me tratou bem nas poucas vezes que foi na casa abastecer a geladeira e dar uma geral
na casa.
— Ela tem um problema sério que se chama agradar os outros.
— Pelo visto você não tem esse problema — digo, e Fallon sorri, me guiando para
dentro do que parece uma galeria com paredes de vidro, exibindo laboratórios de ambos os lados.
— Você cursa o quê? — pergunto.
— Artes visuais, e você, gestão financeira, não é? O seu pai fala de você com orgulho.
— Difícil acreditar — reflito, lembrando de todos os olhares de decepção que ele me
deu desde que cheguei na cidade.
Chegamos ao refeitório universitário, um espaço contemporâneo completamente
diferente do seu exterior. O teto é alto e as paredes de vidro permitem que a luz natural inunde o
ambiente. No interior do refeitório, há uma variedade de restaurantes e, no centro, um amplo
espaço, com várias mesas para quatro e duas pessoas.
— Bem-vinda ao refeitório — diz com tom irônico e paramos por um momento na
entrada, meus olhos percorrem a sala e de longe vejo Devon entrando pelo outro lado do
refeitório.
Seus olhos encontram os meus e um sorriso ilumina seu rosto, mas depois do que Mad
disse sobre o estupro, não posso compartilhar a mesma emoção. Mas aceno para ele, porque uma
coisa que não sou é hipócrita, já fiz coisas piores, e Devon é inocente até que se prove o
contrário.
De repente me lembro que Devon frequentou a fraternidade, ele com certeza deve saber
quem eram os amigos mais próximos de Corbin, seria mais fácil perguntar ao Maddox, mas,
depois que ele me pegou mexendo nas suas coisas, não tive coragem.
— Vamos. — Fallon dá um passo para o lado, mas eu não me movo, ainda observando
Devon caminhar até a máquina de café.
— Podemos continuar mais tarde? Preciso conversar com alguém. — Ela dá de ombros.
— No final da primeira aula, encontro você aqui — diz, se afastando.
Caminho até a máquina de café. Paro ao lado de Devon, ele está com um boné na
cabeça, virado para trás, e uma mochila nas costas...
— Está com tempo livre para me levar até o pavilhão sul? — pergunto, porque será
minha primeira aula lá e já estou ficando sem tempo. Devon sorri com o olhar e acena com a
cabeça.
— Você está ansiosa para o seu primeiro dia?
— Definitivamente não. — Sorrimos, saindo do refeitório, e as pessoas já começam a ir
para suas salas de aula. — Ontem estava jantando com meu pai e ele mencionou um incidente na
fraternidade — minto descaradamente e percebo sua mandíbula se contrair. Péssima escolha de
palavras, Love.
— Eu não fiz aquilo. Ok — diz rudemente.
— Refiro-me à prisão de Corbin Jones. — A expressão de Devon relaxa quase
momentaneamente.
— Sim, ele foi pego pela venda de drogas.
— Que merda, mas e os amigos dele...
— O que tem eles?
Meus lábios se abrem ansiosos para obter a informação sobre quem são os cúmplices do
Cobra, mas um braço desliza abruptamente sobre meus ombros. Olho irritada esperando ver
Jimin, mas é Maddox, seus olhos brilham sombriamente enquanto ele me encara.
— Podemos conversar? — pergunta, mas o seu tom é quase uma exigência.
— Ela está no meio de uma conversa, não percebeu? — Devon responde por mim, e de
repente me sinto presa entre dois cães disputando para ver quem mija mais longe.
— Eu quero te devolver uma coisa, Love, mas não me importo de entregar aqui mesmo,
agora. — Sua boca cruelmente sensual se curva em um sorriso devastador, dando-me a certeza
de que ele teria o prazer em entregar minha calcinha não só na frente de Devon, mas também de
toda a universidade.
— Dev..., até mais — digo, um pouco envergonhada por ceder as vontades de Maddox,
que passa o braço até minha cintura e me puxa sem esperar a resposta de Devon.
Eu tento afastar meu corpo do dele, mas seu braço me segura implacavelmente, e
Maddox praticamente me carrega entre as pessoas que precisam desviar de nós.
— Já pode me entregar — aviso com os dentes cerrados enquanto entramos no corredor.
Tento parar os pés no chão, irritada com o comportamento dele, mas Mad me empurra para
dentro de uma sala e fecha a porta atrás de nós com um estrondo surdo, deixando-me
encurralada. Seus olhos azuis brilham como diamantes, contrastando com a escuridão profunda
de seus cabelos, e encaram intensamente os meus, como se pudesse ver todos os meus medos e
segredos. Eu tento manter uma expressão impassível, mas, dada a atitude dele, é impossível.
— Quero que você fique longe dele. Entendeu? — Mad se aproxima lentamente, seus
passos são calculados, como se estivesse caçando uma presa.
Percebo que a menção à calcinha foi apenas uma desculpa para me trazer aqui.
— Você não pode me impor isso. — Minha voz sai afiada e minha postura defensiva
não parece afetar Maddox, que continua a se aproximar. Ele para a poucos centímetros de mim
com seu olhar penetrante. Seu sorriso desaparece, sendo substituído por uma expressão mais
séria, e tudo que posso pensar é sentir aqueles lábios carnudos e macios na minha pele.
— Eu posso — ele sussurra, segurando meu queixo com a ponta de dois dedos,
levantando-o para encontrar meu olhar —, porque eu me preocupo com você. — Um sorriso
cínico se abre sutilmente na curva dos seus lábios.
Ele tira a bolsa do meu ombro e a deixa cair em uma mesa ao meu lado, depois me puxa
pela cintura e me beija duramente, seus lábios devorando os meus como se estivessem ansiosos
para reivindicar cada centímetro de minha boca, causando uma pulsação instantânea entre
minhas pernas. Suas mãos percorrem cada curva, cada centímetro da minha pele com uma
firmeza dominadora, deixando um rastro de calor por onde passam. Ele me pressiona ainda mais
contra a parede e sua boca se move da minha para explorar meu pescoço com beijos famintos.
Ele passa os braços em volta das minhas coxas e me levanta até que minhas pernas envolvem
seus quadris e me pressiona contra a parede, nesse momento percebo que estamos em uma sala
de instrumentos musicais, com janelas altas.
Fico alinhada com seu olhar, meus dedos se enroscando nos fios sedosos de seu cabelo.
Meu polegar desliza suavemente sobre a cicatriz em seu rosto e, ao fazer isso, ele fecha os olhos,
absorvendo a sensação reconfortante. Ao traçar delicadamente sua pálpebra, vejo o brilho
faminto ressurgir quando ele abre os olhos. Ele se inclina e nossos lábios se encontram
novamente em um beijo mais lento.
— Se você não me impedir, eu vou foder sua boceta no meio dessa sala. — Suas
palavras fizeram o calor explodir em meu corpo, e eu tentei me recompor, mas Mad me beija
com uma força que me consome, roubando cada fôlego dos meus pulmões.
Agarro-me aos seus ombros largos enquanto seus dedos traçam o contorno das minhas
coxas, e meu corpo estremece enquanto ele acaricia minha bunda. É uma ideia terrível, mas foda-
se, porque sinto que preciso disso, dele, quase mais do que preciso do próprio ar. Seus dedos se
engatam nas alças da minha calcinha em ambos os lados e Mad puxa impiedosamente,
rompendo-as contra a minha pele.
— Maddox, porra! — grito, recuperando o juízo, — Como posso ir para a aula sem
calcinha? — Seus lábios se curvam em um sorriso atrevido e tenho vontade de arrancá-lo a tapa.
— Mantenha as pernas bem fechadas. — Ouvi o som do cinto sendo desafivelado
debaixo da minha bunda. — Eu odiaria ter que arrancar os olhos de alguém.
Visualizei claramente Mad fazendo isso com outro homem, mas não entendi por que ele
faria isso. Por que se importar com quem olha para mim?
— Você não pode me dizer essas coisas — declaro enquanto suas mãos pressionam
meus quadris contra a parede, colocando seu pau entre nós.
— Eu posso — sussurra, esfregando a cabeça do seu pau na minha fenda molhada,
provocando meu clitóris com uma habilidade inegável. Um gemido involuntário escapa de mim
com a pressão perfeita no meu ponto sensível. — Você me pertence, Lovely. Você só não sabe
disso ainda. — Sua voz profunda preenche o vazio silencioso da sala e seu olhar de aço encontra
o meu. Logo eu sinto a intensidade possessiva que emana deles.
Mad agarra meus quadris e me empala com seu pau, fazendo-me sentir completamente
esticada. Meu corpo enrijece e se retorce para acomodar toda a sua grandeza. Mad desce o
polegar até meu clitóris excitado e o estimula com movimentos circulares que fazem meus
quadris balançarem contra sua mão. Abro meus lábios, deixando passar um gemido, e cravo
minhas unhas em seus ombros, sentindo meu corpo começar a ondular.
Sua língua invade minha boca e seu pau desliza em minha excitação e me penetra com
dureza e urgência, sem parar, centímetro por centímetro, cada vez mais fundo dentro de mim.
Seus lábios encontram o meu pescoço e sugam minha pele. Mad mordisca minha orelha e sua
respiração grave me dá arrepios. Ele levanta meus quadris e seu púbis esfrega meu clitóris.
Gemo, me movendo incessantemente em direção a ele, sentindo meu corpo tremer
violentamente, com a necessidade de gozar.
— Porra — Mad geme em meu ouvido. — Tenho pensado na sua boceta fodendo meu
pau desde a primeira vez que te vi. É tão quente e apertada, Love... — ele geme o meu nome, e
acho que sou capaz de gozar de novo. — Não acredito que demorei tanto para fazer isso —
rosna, suas estocadas ficam mais fortes e rítmicas, e eu sinto seu pau dilatando dentro de mim.
— Você toma a pílula?
Balanço a cabeça em negação e Mad sai de dentro de mim. Ele me deixa cair no chão,
sua mão agarra meu cabelo na parte de trás da minha cabeça e me empurra para baixo, me
colocando de joelhos e deixando meu coração acelerado.
— Abra essa doce boquinha, Love. — Fico olhando o seu pau inchado, com veias
grossas em toda sua extensão.
Encontro o olhar de Mad, sua expressão é crua e nublada pela luxúria. Abro os lábios e
o nosso gosto é a primeira coisa que sinto quando seu pau desliza para dentro da minha boca.
Mad geme enquanto eu o chupo e seu aperto em meu cabelo aumenta. Ele viola minha boca,
bombeando até que um jorro do seu gozo quente enche minha boca, um pouco escorre pelo meu
queixo e seu polegar a limpa. Mad me puxa para cima e sua língua envolve a minha, saboreando
seu gosto. Eu seguro seu corpo, sentindo o meu inteiro tremendo.
— Quer tomar um café? — ele pergunta, e eu vejo seus lábios sutilmente vermelhos e
inchados por causa dos nossos beijos.
— Claro, já perdi a primeira aula. — Meu pai vai me matar, reflito, pegando minha
bolsa e colocando no ombro.
— Bem-vinda à Vanguard — diz com um sorriso cínico nos lábios.
— Quer dizer que é assim que você recepciona as recém-chegadas? — Arqueio a
sobrancelha. — Não sou idiota por acreditar que você é um santo, Maddox, mas também não
quero fazer parte de nenhum joguinho perverso que a fraternidade faz com as calouras.
— Com você não, Love.
— Por quê? O que me torna diferente delas?
— Você não é caloura, Lovely. É uma Blossom. — Esse sobrenome teve um peso maior
quando Tyler estava vivo.
Maddox abre a porta e saímos do depósito de instrumentos musicais. Caminhamos em
direção ao refeitório lado a lado, como se eu não tivesse acabado de enfiar o pau dele dentro da
minha boca. Não se engane, Love. Maddox não é o tipo de cara para se apaixonar. Mesmo que
aquelas palavras tenham exercido um estranho domínio sobre mim: "Você me pertence, Lovely.
Você só não sabe disso ainda".
Sua mão desliza para o meio das minhas costas e me guia até uma mesa vazia no canto
do refeitório.
— Qual café você quer? — pergunta quando me sento à mesa, cruzando as pernas, já
que não estou com a peça íntima. Este homem só pode ter uma tara por calcinhas.
— Olha que cavalheiro — escarneço.
— Você foi uma boa garota — seu polegar puxa suavemente o meu lábio inferior —,
merece uma recompensa.
A última vez que eu fui uma boa garota, ateei fogo em um cadáver no meio de uma
floresta. Balanço a cabeça, odiando esses pensamentos intrusivos.
— Me surpreenda. — Mad se afasta, caminhando em direção à máquina de café, e seu
corpo me impressiona por cobrir grande parte dela.
Meu celular vibra com uma mensagem da minha mãe.
Madeleine: Bom dia, querida! Como está sendo o primeiro dia de aula?
Maddox desliza um copo descartável na minha frente e se senta no banco ao meu lado
com suas pernas viradas para mim. Deixo o telefone cair sobre a mesa e me viro para ele quando
sua mão acaricia minha coxa por baixo da mesa.
— Minha mãe quer saber como está sendo meu primeiro dia de aula, o que você sugere
que eu responda?
— Depende, ela é depravada como a filha? — Meus lábios se abrem, e Mad agarra meu
cotovelo quando tento acertá-lo. — Você sente falta dela? — pergunta, acendendo um cigarro.
— Sim, muito. — Tomo um gole do café que ele escolheu, mocaccino de canela, e dou-
lhe um sorriso doce.— E seus pais moram em Serpentine Hill?
— Meu pai, a minha mãe já morreu.
— Sinto muito. — Ele balança a cabeça indiferente e toma um gole de café.
A primeira aula da manhã acabou, e as pessoas começam a circular no refeitório. Jimin
se senta abruptamente na mesa onde estamos sentados. Seus olhos profundos na cor de âmbar
disparam de mim para Maddox com sua expressão explícita de desaprovação.
— Vocês dois estão passando muito tempo juntos... — ele menciona, encontrando os
olhos de Mad, que o encara despreocupado.
— Não se preocupe, não estou tentando roubá-lo de você — respondo sarcástica e vejo
Fallon entrando no refeitório.
— Você faz parte da família, Love — Jimin ressalta, travando seu olhar no meu, e eu
sinto tudo, menos que faço parte da sua família perfeita. — E Mad é o meu melhor amigo...
então, se alguma merda acontecer...
— Não vai acontecer, porque nada está acontecendo — aviso, me levantando e
ajeitando a saia.
— Sua calcinha rasgada no meu bolso me diz outra coisa. — Congelo no lugar, olhando
para Maddox, que parece estar tentando fazer com que o sexo seja mais do que realmente foi.
Mas agora não é o momento para pensar ou discutir isso.
Jimin olha para minha saia, e eu estalo dois dedos no ar chamando sua atenção.
— Somos uma família, lembra? — Ele ri.
Aceno para Fallon se aproximar, ela olha nos meus olhos, mas finge que não me vê e sai
do refeitório.
— Ela não é muito sociável — Jimin comenta, seguindo meu olhar.
— É, eu percebi — respondo, sentindo os dedos de Mad deslizarem pela parte interna
da minha coxa. Seguro sua mão quando ele alcança a extremidade da minha saia e eu dou a ele
um olhar feio.
— Vejo você por aí, Mad. — Me afasto deles andando atrás da minha guia universitária.
Minha manhã foi mais turbulenta do que imaginei que seria. Agora não sei como posso
perguntar a Devon sobre os amigos mais próximos de Corbin sem levantar suspeitas. Senhor, por
que Maddox teve que se meter?
A Penitenciária Riverside fica apenas uma hora e meia de Serpentine Hill. Talvez eu
faça uma visita ao Cobra e pergunte a ele pessoalmente.
Capítulo 13

Saio da minha última aula segurando uma pequena pilha de livros e sigo o fluxo de
pessoas pelo corredor em direção à saída da universidade. O segundo dia não foi tão intenso
quanto o primeiro, não encontrei ninguém conhecido, além de Fallon no refeitório. Sinto falta de
ter uma amiga, alguém em quem confiar e com quem compartilhar segredos, mas parece que isso
é algo que não terei tão cedo, pois jamais arriscaria envolver outra pessoa em algo tão delicado e
controverso.
Quando chego ao campus, aproveito o sol alto e coloco meus óculos escuros. Observo
Cameron com suas amigas sentadas em um banco embaixo de uma grande árvore, ela acena
animadamente, eu aceno de volta, mas sutilmente procurando por outra saída que não precise
passar por ela. Talvez eu esteja sendo muito inflexível, o problema é que, quando sinto aversão
por alguém, prefiro preservar o meu bem-estar-emocional, que já não está lá essas coisas.
Do outro lado, estão Jimin, alguns caras do time e Maddox. Acreditei iludidamente que
Mad iria falar comigo depois de ontem. Rio, agora eu estou esperando mais do que uma simples
transa. Me envolver com caras com o caráter de Maddox é como caminhar na beira do precipício
e rezar para não ser empurrada. Porém, a atração dominante que ele exerce sobre mim parece
ignorar todos os sinais de perigo, consciente de que, por mais que meu instinto grite para recuar,
minha curiosidade insaciável me mantém à beira desse abismo emocional.
Caminho em linha reta, sentindo-me como uma égua com antolho. Um sutil silêncio
preenche o lugar quando me aproximo deles, e um dos caras pergunta em voz alta:
— Você não vai nos apresentar sua irmã, Jimin.
Olho para meu irmão postiço e um cara corpulento, vestindo um agasalho de treino do
Black Ravens, está com o braço enroscado ao pescoço dele. Jimin o empurra para longe.
— Chegou tarde, ela está com o Maddox. — Eu estou? Será que eles esqueceram de me
comunicar?
Maddox se levanta do banco como se estivesse saindo de um trono invisível e caminha
entre os caras do time, ficando na minha frente como se fosse uma parede enorme. Arqueio a
sobrancelha, mesmo sabendo que ele não consegue ver por causa dos meus óculos.
— Ninguém me informou que me tornei exclusivamente sua — digo, vendo seus lábios
se repuxarem em um sorriso.
— Eu te contei isso ontem, antes de me enterrar em você. — Lambo meus lábios
vermelhos, sem acreditar no que estou ouvindo. Não sei se isso me assusta mais do que me
excita.
— E se eu fizer sexo com outro homem? — questiono com um sorriso presunçoso e
removo os óculos.
— Eu quero ver você encontrar alguém que te foderia sabendo que você me pertence. —
Mad desliza suavemente uma mecha do meu cabelo para trás da orelha.
— Devon faria — provoco, vendo sua expressão ficar fria, enquanto seus olhos
encontram os meus afiados. De repente sua mão agarra meu queixo e ele se aproxima da minha
orelha.
— Não queremos que ninguém se machuque, certo? — ele sussurra num tom que faz
um arrepio serpentear minha pele, e Sombra se manifesta em meus pensamentos, fecho os olhos
e tremo toda, tentando tirá-lo da cabeça.
— O que foi? — Mad pergunta com a voz suave e passa a mão pelos cabelos, afastando
uma mecha que caiu em frente do seu olho.
— Nada. Só uma lembrança ruim.
— Você quer me contar? — pergunta e tira os livros dos meus braços, colocando-os
sobre os seus. Sorrio com seu gesto, ele é mais cavalheiro do que aparenta ser.
— Depende, você vai me contar como conseguiu essa cicatriz? — rebato, olhando por
cima do ombro, e flagro Cameron e suas amigas de olho em nós.
Mad coloca o braço envolta dos meus ombros e me puxa contra o seu corpo.
— Quem sabe um dia a gente junte as peças — diz com sorriso que provoca borboletas
em meu estômago. Particularmente, acredito que esse dia nunca chegará, porque Mad parece ter
tanto a esconder quanto eu.
— Vou levá-la até o estacionamento. — Caminhamos pelo campus, a quantidade de
pessoas que nos observam é bizarra, deixando-me apreensiva com a sensação constante de estar
sendo vigiada.
Eu olho para Mad e sua mandíbula angulosa parece forjada em aço. Se há um lugar
onde me sinto segura, é com ele. Maddox transmite uma sensação de segurança que ninguém
jamais me proporcionou, nem mesmo o meu próprio pai.
Quando chegamos ao meu carro, abro a porta e coloco minha bolsa e os livros no banco
de trás. Então me viro para Maddox, seus olhos intensos encontram os meus e, por um momento,
me sinto perdida naquele oceano azul profundo.
Ele dá um passo em minha direção, mas paro seu movimento, levantando um braço
entre nós. Preciso entender o que está acontecendo antes de continuar qualquer tipo de relação
que ele queira comigo.
— Por que esse interesse por mim, Mad? — pergunto, olhando para ele seriamente. —
Se isso é apenas um dos seus jogos, quero que pare. Não estou disposta a me envolver com
alguém que não leva as coisas a sério. Já tenho problemas demais para lidar, não preciso de mais
complicações. Então, se for apenas diversão para você, é melhor deixarmos as coisas claras
desde agora.
Ele inclina a cabeça, mantendo o olhar fixo em mim, como se estivesse avaliando cada
palavra que sai da minha boca. Acredito que nenhuma garota tenha sido tão franca com ele até
agora.
— Você mexe comigo, Love. — Ele umedece os lábios e morde o inferior. — Não sei
definir o que sinto por você, mas quero descobrir. Há algo em você que me intriga, algo mais
profundo do que diversão passageira.
Aperto os lábios querendo conter um sorriso, mas Mad agarra minha cintura e me puxa
para seus braços, me fazendo rir em sua boca.
— Incendiei o carro do meu último namorado... — aviso, abraçando seu pescoço. —
Não me faça de boba, Mad — adiciono, puxando seu lábio entre meus dentes. Sua língua invade
a minha boca voraz e posso sentir seu pau acordar entre nós. Mad se afasta um sorriso lascivo.
— É melhor você ir antes que eu te foda no estacionamento — diz, abrindo a porta do
carro para mim, e me dá um último beijo antes de eu entrar e partir.
Pego a estrada e um sorriso surge em meus lábios toda vez que penso em Maddox. Eu
realmente sou uma tola apaixonada. Quais são as chances de isso dar certo? Nenhuma, mas que
se foda, ele me traz paz e é disso que preciso agora.
Aperto play no painel e a música Everyday de Ariana Grande e Future preenche o
interior do carro enquanto dirijo para Riverside. Ontem, quando cheguei em casa, liguei para a
penitenciária e me informei sobre os horários de visita, e coincidentemente era hoje. Passei a
noite pensando se deveria fazer essa visita e decidi fazê-la antes que o medo me corrompesse.

Estou diante da penitenciária, olhando para os altos muros de concreto que circundam o
complexo. A sensação de nervosismo e ansiedade aumenta à medida que me aproximo da
entrada. O estacionamento é amplo, mas poucos carros estão presentes. O ambiente é frio e
impessoal, carregando uma aura de desolação. As grades altas e as janelas reforçadas revelam a
natureza restritiva do local. As luzes pálidas e uniformes iluminam o perímetro, destacando o
cinza predominante da construção penitenciária.
Saio do carro e caminho em direção à entrada principal, onde um guarda uniformizado
está de prontidão. Ele me olha atentamente enquanto me aproximo, me deixando desconfortável.
Ao entrar no prédio, me deparo com uma série de procedimentos de segurança.
Detectores de metais, portões automáticos e olhares vigilantes passam a fazer parte do ritual de
entrada. Cada passo que dou parece ecoar nos corredores vazios, aumentando meu nervosismo.
No momento em que estou começando a mudar de ideia, finalmente chego à área de
visitação. Mesas de plástico duro estão dispostas em fileiras, com fitas amarelas de
distanciamento aplicadas no chão. O som abafado de conversas e risadas preenche o espaço,
criando uma estranha dissonância com a gravidade do local.
Encontro um lugar vago e me sento, meu coração bate forte e a ansiedade atinge seu
ápice quando vejo a figura familiar passar por uma pesada porta de ferro, algemada. Corbin veste
o uniforme laranja, destacando seus músculos bem definidos. Seus braços exibem tatuagens
complexas, começando no pescoço e se estendendo pelos antebraços. Seu cabelo preto curto,
agora parcialmente raspado nas laterais, acentua seus intensos olhos azuis que ele direciona para
mim, percebo algo parecido como malícia cruzar seu olhar, então me endireito, tentando manter
a pose durona enquanto ele se aproxima, escoltado por um guarda.
Respiro profundamente. Ele não pode te machucar, Love.
Corbin se vira para o guarda e estende os braços, removendo as algemas, e me lança um
olhar especulativo. Corbin se senta à minha frente e a tensão em meus ombros parece me
empurrar cada vez mais para baixo. Seus dedos se cruzam sobre a mesa e a luz difusa da sala
destaca as cicatrizes em seus braços.
Meus lábios se movem, articulando palavras que permanecem aprisionadas no fundo da
minha garganta. Passei meses tentando descobrir quem eles eram, imaginando seus rostos e
como seria ficar cara a cara com eles, sem aquela maldita máscara.
— Você está diferente, coelhinha — corta o silêncio e sua voz é diferente de tudo que
imaginei, tranquila e descontraída.
— Não me chame assim! — exclamo com minhas mãos fechadas, e um sorriso atrevido
curva sua boca.
— Apostei que você nunca descobriria nossa identidade. — Ele aperta os lábios,
expressando uma ponta de decepção.
— Ah, é? E com quem você apostou? — questiono, tentando esconder a ansiedade em
minha voz. Seus olhos semicerrados me estudam, e ele se inclina em minha direção, como se
estivesse prestes a contar um segredo.
— Você não sabe quem são os outros, não é? — Sua voz é pouco mais do que um
sussurro. — É por isso que você está aqui? Você quer nos desmascarar um por um?
— Não quero desmascarar ninguém... — murmuro com a garganta apertada.
— Ouça com atenção, Blossom, você pode não ter tirado a vida daquele cara, mas fez
coisas que um júri não poderia ignorar.
— Pare de me ameaçar — vocifero, chamando a atenção de um dos guardas.
Respiro fundo, tentando acalmar meu coração, que parece querer explodir a qualquer
momento.
— Se eu quisesse ir à droga da polícia, já teria ido, até feito uma ligação anônima
quando ainda morava na Califórnia... — Minha voz falha por um momento, mas recupero o
controle. — Furaram o pneu do meu carro e quebraram as janelas da minha casa. Eu só quero
que isso pare.
— Você já tentou dizer isso a ele? — ele pergunta, e sei que está se referindo à Sombra.
Assinto, e Corbin se acomoda em sua cadeira. Sua língua traça o contorno de seus
lábios, como se estivesse ponderando algo. Seus lábios imitam um suspiro e, depois de um
momento, seu polegar começa a traçar círculos invisíveis na mesa, até que finalmente encontra
meu olhar.
— Sabe — ele morde o lábio —, é muito solitário aqui na prisão... — cerro a mandíbula
quase a ponto de quebrá-la, presumindo suas próximas palavras —, venha para a próxima visita
íntima e eu contarei tudo detalhadamente.
— Você só pode estar brincando — digo com os dentes cerrados, e Corbin dá de
ombros.
— Estou preso, coelhinha, não tenho mais nada a perder. Você tem.
Levanto-me, quase derrubando a cadeira atrás de mim.
— Prefiro morrer a dar para você — sibilo antes de me virar e sair da sala de visitas.
No momento em que saí da penitenciária, amaldiçoei toda a família de Corbin. Entro no
carro e fecho a porta com um estrondo que ecoa minha frustração, esperneando como uma
criança liberando minha raiva. Encosto minha testa no volante, tentando processar a situação, e
visualizo Corbin. Ele tem uma beleza selvagem que contradiz tudo que sei sobre ele... balanço a
cabeça, não posso me submeter a isso só porque ele tem uma aparência bonita. Corbin é um
cretino e mau-caráter, mas me tem nas mãos até atrás das grades.
Capítulo 14

Chego em casa com o sol ainda brilhando no céu. Tiro o tênis na entrada e subo direto
para tomar banho, desejando lavar toda sujeira e desconforto daquele encontro com o Cobra...
Argh! Corbin!
A água quente escorrendo pelo meu corpo é reconfortante, mas meus pensamentos
continuam voltando para Corbin e para a proposta indecente que ele fez. Apesar da sensação de
repulsa, uma parte de mim se pergunta sobre os outros envolvidos. Há algum tempo, eu disse a
mim mesma que faria qualquer coisa para descobrir quem eles são..., mas o que ele quer é
demais. Estou longe de ser virgem, casta, santa e inocente, mas é preciso haver um limite para
essa loucura.
Eu me visto com shorts de malha creme com estampas de várias luas e estrelas,
combinado com um cropped preto, de alças finas. Deixo o closet e olho para minha cama, o
lençol branco esticadinho parece muito convidativo, faço beicinho, pois preciso iniciar um
trabalho de contabilidade avançada. Faço um sanduíche, alimento o Noturno e sento-me à
escrivaninha.
A luz do sol aos poucos dá lugar à escuridão, e o silêncio da noite envolve meu quarto.
Ainda estou na primeira página do trabalho, mas minha mente insiste em voltar ao encontro na
penitenciária... Fecho o notebook e me jogo na cama, ao lado do Noturno, e coloco o gato em
cima da minha barriga.
— Me dê uma luz, Noturno — digo ao felino, mas ele mia em resposta, sua cabeça
encosta na curva do meu pescoço e adormeço ouvindo seu ronronar.
Acordo de repente com um grande estrondo vindo de algum lugar da casa. Meu coração
dispara e meus sentidos ficam em alerta, sabendo quem poderia ser. Me viro na cama,
percebendo que meu corpo está molhado, acendo o abajur e a luz bruxuleante por todo o quarto.
Meus olhos fitam o lençol manchado de vermelho e o terror entope minha garganta quando
percebo o que é. Sangue. Muito sangue. O pânico arranha minhas entranhas como uma garra
afiada. E, quando vejo a origem do sangue, um grito assustador escapa da minha boca, ecoando
por todo o quarto. Pulo abruptamente da cama, caindo para trás, incapaz de acreditar no que vi:
um coelho eviscerado, ao lado do meu travesseiro.
Meu Deus. Meu Deus. Meu Deus.
Meu coração bate descontroladamente no peito enquanto penso desesperadamente no
que fazer. Eles entraram aqui. Por que eles não me mataram? Por que eles continuam com esses
jogos?
Eles não querem me matar, apenas me aterrorizar e me deixar louca o suficiente para me
colocarem em um manicômio, reflito.
Levanto-me do chão, a raiva queima dentro de mim como uma chama voraz. Olho para
o coelho aberto ao lado do meu travesseiro e o cheiro metálico pungente se intensifica, me
fazendo sentir enjoada. Eu travo a minha mandíbula, e a fúria ressoa em meus ouvidos,
silenciando a razão.
Saio do quarto, minha respiração acelera a cada passo, fazendo o meu coração quase
bater fora da caixa torácica. Chego na escada, o silêncio da casa intimida, mas minha insensatez
é maior do que o medo que tenta se estabelecer.
Apoio-me no guarda-corpo de ferro da escada e procuro algum movimento lá embaixo,
mas tudo parece calmo. A casa está vazia, até onde posso ver. Respiro fundo, lambo meus lábios
e sinto o gosto de minhas lágrimas neles. Minhas pernas, antes firmes, agora parecem ceder sob
o peso da tensão acumulada. O Sombra está brincando comigo e suas brincadeiras estão ficando
cada vez mais perversas, e a linha tênue entre o horror e a insanidade parece desfazer-se a cada
momento.
Um suspiro exausto escapa dos meus lábios enquanto tento assimilar a situação. A visão
do coelho mutilado assombra meus pensamentos, e a sensação de impotência é devastadora. Não
posso continuar presa nesse jogo. Não sei quanto tempo vou suportar isso.
Preciso de um banho, de um calmante e de uma cama limpa, tudo nessa ordem. Dou um
passo para trás e meu corpo se contrai involuntariamente. Uma parede sólida e fria de músculos
me impede de recuar. Olho por cima do ombro e meu olhar encontra uma figura sombria. É
Sombra, mas ele é alto demais para eu ver seu rosto.
Ele desfere um golpe com um taco de beisebol no guarda-corpo e o estrondo me faz
sobressaltar. Não sei de onde consigo forças, mas pulo para fora do alcance dele e desço a
escada. Meus pés alcançam o chão firme da sala, me viro para ele e aquela maldita máscara
esconde seu rosto. Sombra permanece imóvel no topo da escada, ele gira o taco na mão com
maestria e depois o apoia no pescoço.
— Olá, coelhinha. — Meu coração dispara, reagindo ao som distorcido de sua voz. Ele
está usando um modificador de voz.
— O... que... você quer? — sussurro.
Sombra desce mais um degrau, e eu, involuntariamente, dou um passo para trás. Seu
corpo está quase completamente escondido nas sombras por causa de suas roupas escuras.
— Quero que você corra. — Ele tira o taco do ombro e bate no corrimão. — O mais
rápido que pode. — Outra batida, e o som metálico reverbera como um aviso.
Balanço a cabeça em negação, digerindo esse absurdo. Ele quer me caçar e me forçar a
participar desse jogo doentio que ele criou. Olho para os meus pés descalços e me lembro de
tudo que passei da última vez.
— Eu não vou correr! — grito com as unhas cravadas nas palmas das minhas mãos.
Sombra solta uma risada distorcida e avança mais um degrau. Seus passos são lentos e
calculados, como se saboreasse cada momento.
— Você vai correr. Porque, se você não correr, a diversão será curta e menos
interessante para mim. E eu gosto de me divertir.
Engulo o nó crescente na minha garganta e enxugo as lágrimas, frustrada.
— Você tem dez segundos, coelhinha. Um. — Sombra desce mais um degrau, girando o
taco na mão.
Sem mais opções, a adrenalina assume o controle, e minha mente se concentra em uma
coisa: sobrevivência. Um passo hesitante e então eu corro. Meus pés batem freneticamente no
chão, ecoando pela sala. Cada segundo é um martírio, uma contagem regressiva para me
distanciar dessa aberração.
— Dois!
Chego à porta da frente, ela está entreaberta e, no chão, ao lado, está o par de tênis que
usei hoje na universidade.
— Três!
Pego meus tênis e corro sem olhar para trás, em direção a uma área arborizada, onde as
sombras da floresta oferecem um esconderijo temporário. Eu me escondo atrás de um tronco
caído e rapidamente calço meus tênis. Meu coração bate incontrolavelmente, e o medo se mescla
com as lágrimas que escorrem pelo meu rosto. O som de folhas secas sendo pisoteadas atrás de
mim me diz que ele está cada vez mais próximo. Olho para a floresta e lampejo do que aconteceu
em suas mãos naquela noite invade meus pensamentos. Prometi que nunca mais entraria nela,
mas agora isso não é mais uma opção. Eu mergulho nela na esperança de encontrar alguma saída
desse pesadelo.
Sinto que ele está por perto, mas resisto à tentação de olhar para trás. O medo me
impulsiona e a adrenalina mascara a raiva que borbulha dentro de mim. A noite está escura,
apenas a luz tênue da lua guia meus passos. Cada respiração é um esforço árduo, e o som dos
meus pés ecoa batendo com força no solo irregular. Atrás de mim, ouço os passos de Sombra,
firmes e implacáveis. O som do taco batendo nos galhos das árvores repercute em meus ouvidos
e o medo me impulsiona para frente, apesar da exaustão que se instala rapidamente.
Tropeço em uma raiz exposta, meu corpo perde o equilíbrio e caio de joelhos no chão
áspero. A dor lateja, mas o desespero de escapar me obriga a me levantar rapidamente. Lágrimas
escorrem pelo meu rosto, turvando minha visão. Sua risada distorcida corta o ar, ele é uma
presença pavorosa que parece estar em todos os lugares ao mesmo tempo.
— Vou pegar você, coelhinha — sua voz, ainda alterada pelo modificador, sussurra,
provocando um arrepio na minha espinha. Desgraçado!
Meus pulmões queimam, mas ignoro a dor e continuo correndo, procurando o lago,
talvez desta vez consiga atravessá-lo. Tropeço novamente, agora em uma pedra solta. Caio de
joelhos, mas, desta vez, o impacto é mais forte. Sinto o gosto metálico de sangue na boca, e meu
corpo implora por descanso.
Fico de quatro, a dor latejante nos joelhos intensifica a sensação de impotência. Tento
me arrastar para longe, mas Sombra para na minha lateral esquerda e me empurra com o pé. Meu
corpo tomba para o lado e eu caio de costas, olhando o céu estrelado entre as folhas das árvores.
Minha respiração ofegante luta contra o peso do pânico que parece esmagar meu peito.
— Por que você está fazendo isso? O que você quer de mim? — eu choramingo com
meus lábios tremendo.
Sombra se abaixa, ficando cara a cara comigo, e sinto seus olhos me analisando. Ele
estende a mão em direção ao meu rosto e eu tremo como asas de uma borboleta, então tira uma
folha do meu cabelo. Ele segura a ponta do meu queixo, me forçando a encará-lo.
— Você nunca deveria ter voltado para Serpentine Hill — sussurra, seu polegar percorre
o meu lábio inferior e seu toque frio provoca um arrepio na minha espinha.
Sombra não vai me matar, posso ser estúpida por acreditar nisso, mas ele já teve
diversas outras chances e não fez isso nenhuma vez. Então por que ele continua fazendo isso
comigo, o que ele quer de mim?
— Faço o que você quiser, só pare, por favor.
— O que eu quiser? — Há um tom sugestivo em sua voz, e Sombra se apoia no taco de
basebol. Senhor! Acho que acabei de me oferecer sexualmente a um sádico.
Concordo com a cabeça, sabendo que vou deixar minha dignidade nesta floresta por
alguns dias de paz, porque isso não vai ser enterrado apenas com uma noite de sexo. Mas, pelo
menos, terei mais tempo para investigar e talvez repensar a oferta de Corbin. Argh! Aquele
maldito porco deve ter ligado para Sombra, isso está longe de ser uma puta coincidência.
— O que você está pensando, coelhinha? — Sombra pergunta, colocando a ponta do
taco embaixo do meu queixo, elevando-o.
— Quero acabar logo com isso — aviso e retiro meu cropped. Os meus mamilos
endurecem ligeiramente e tenho de cerrar os punhos com força para evitar cobrir meus seios.
— É uma proposta tentadora, coelhinha, mas não vou foder sua doce boceta no meio do
mato como um animal. — Sombra se levanta. — Vista-se — ordena.
Meu queixo cai e tenho que lembrar como se faz para fechá-lo. Visto minha roupa
rapidamente e de qualquer maneira, antes que ele decida mudar de ideia.
— Se eu souber que você está nos investigando, essa complacência vai acabar com meu
pau saboreando todos os seus orifícios. Você entendeu?
— Entendi — respondo enquanto Sombra vira as costas e desaparece na escuridão,
reforçando a certeza de que sou uma marionete em suas mãos.
Permaneço sentada no chão frio da floresta, as lágrimas escorrem livremente pelo meu
rosto, misturando-se à sujeira da queda e ao gosto amargo da derrota. Meus pensamentos estão
fragmentados. A imagem do coelho estripado, a violência e as ameaças constantes, tudo isso
ecoa na minha mente em um pesadelo do qual não consigo acordar.
Capítulo 15

A floresta ao meu redor estava iluminada pelo inferno que havíamos criado. O lago
refletia a luz das chamas como um espelho distorcido. Minha mente, envolta em agonia, lutava
para processar a realidade. Independentemente do que tivesse acontecido entre os três homens e
aquele cadáver, eu estava imersa até o pescoço neste pesadelo do qual não encontraria saída.
Um calor insuportável envolveu meu corpo enquanto as chamas dançavam, devorando
a escuridão da floresta como uma fera faminta. O cheiro de carne queimada encheu minhas
narinas, me deixando enjoada. A dor intensa me fez cambalear, mas Sombra continuou a me
segurar firme, como se estivesse determinado a me manter de pé até que a última chama se
extinguisse. Ele assistiu imperturbável e sua máscara escondeu qualquer emoção que pudesse
residir em seu rosto. Cobra e Gorila estavam ao nosso lado como estátuas sombrias
testemunhando a crueldade da escolha que fui forçada a fazer.
O tempo parecia ter se dilatado, esticando-se como uma corda. As horas que se
passaram desde que acendi aquela fogueira humana eram uma confusão nebulosa em minha
mente. A exaustão, tanto física, quanto mental, pesava sobre mim como uma âncora implacável.
Finalmente, Sombra me soltou, permitindo que eu caísse de joelhos no chão áspero, o
resquício de vida que restava em mim pulsava fraco e irregular. Minha visão estava turva e
meus sentidos, obscurecidos pela tortura que sofri.
Olhei para o que restava do jovem loiro, agora apenas uma massa carbonizada, com a
pele dura e quebradiça. Eu queimei com ele, entregando uma parte da minha humanidade.
— Você fez a escolha certa, mas ainda não terminou.
— Não me obrigue a fazer mais nada — implorei, pois não tinha mais forças, e só
recebi seu silêncio em troca.
Um barulho de metal soou atrás de mim e, quando olhei por cima do ombro, vi Cobra e
Gorila se afastando, cada um carregando uma pá. Eles vão enterrar o corpo aqui na floresta.
Virei-me para Sombra a tempo de vê-lo abaixar uma machadinha no pulso do cadáver. Meus
lábios se franziram com o som estranho do osso quebrando, essa foi a única reação que tive.
— Isso é necessário? — Sombra sustenta meu olhar por um momento e desfere outro
golpe na base do cotovelo, arrancando o membro com um corte limpo.
— Não, faço isso por puro prazer — disse, exacerbado pela frieza e pelo sarcasmo.
— Por que pôr fogo se ia desmembrá-lo? Sombra parou no meio do próximo golpe e me
olhou.
— Apagar as digitais, coelhinha. Mais alguma pergunta?
Apertei os lábios e balancei a cabeça em negação.
— Abra a mala, coelhinha. — Olhei para a minha esquerda e encontrei duas malas
grandes. Obedeci à Sombra, porque quanto mais relutante eu fosse, mais tempo ficaria presa
nesta maldita floresta com ele.
Sombra jogou os membros do homem na mala e continuou desmembrando o corpo. Eu
me perguntei quantas vezes ele tinha feito isso. Seu foco e calma eram de alguém com
experiência.
Depois do que pareceu uma eternidade, não pude mais suportar testemunhar a
carnificina. Virei as costas para Sombra e vi Cobra e Gorila na beira da floresta, eles se
aproximaram, olhando o conteúdo das malas, um mórbido quebra-cabeça de carne e ossos.
Sombra jogou a cabeça e o sangue respingou nas minhas pernas, meu estômago deu um
nó naquele momento, a bile subiu pela minha garganta e o que quer que eu tenha comido
naquela noite eu coloquei para fora.
Limpei a boca com as costas da mão e tentei me levantar para fugir daquela cena
desumana, mas a fraqueza no meu corpo e os pés machucados só me fizeram cair para frente.
Não tentei me virar na direção deles e, quando ouvi o zíper da mala sendo fechado, rastejei o
mais rápido que pude em direção ao lago.
— Vão, encontro vocês lá — avisou, caminhou na minha frente e depois se abaixou
para lavar as mãos no lago.
Parei no lugar quando Sombra se virou para mim, seu peito afundou em um suspiro
profundo e seus ombros pareciam curvados de exaustão. Esquartejar um corpo não deveria ser
uma tarefa fácil.
Ele se aproximou e de repente me pegou nos braços. Eu me agitei como um peixe fora
d’água e seu toque ficou mais firme, prendendo-me contra seu corpo.
— Para onde você está me levando? — perguntei, vendo Cobra e Gorila partirem na
frente, carregando as malas.
— Acabou, coelhinha — murmurou em um fio de voz.
Acabou. Meus olhos se encheram de lágrimas, e eu, contra toda a minha vontade,
descansei a cabeça em seu peito, com o peso da exaustão pesando em cada fibra do meu ser. O
silêncio pairou, interrompido apenas pelos passos silenciosos de Sombra e pelos ruídos
distantes da natureza amanhecendo.
Quando chegamos perto da clareira, senti meu coração dobrar de tamanho, pensei que
nunca mais voltaria aqui. Sombra me colocou no chão. Minhas pernas tremiam, mas eu fiquei
grata por finalmente tocar o chão firme. Ele permaneceu em silêncio, me observando como se
estivesse avaliando cada respiração minha.
Dei um passo para trás, ansiando pela minha libertação, quando Sombra puxou meu
braço e agarrou minha garganta, deixando-me apenas com os dedos dos pés no chão. Ele se
inclinou em minha direção enquanto eu lutava, tentando desesperadamente me libertar de seu
aperto.
— Eu sei onde você mora, eu sei onde seu pai trabalha...
Minhas tentativas de falar foram sufocadas pela pressão em minha garganta. Engoli em
seco, as palavras mal saindo.
— Eu... não vou... dizer nada. Eu prometo. — Minhas palavras arranhavam minha
garganta, engasgadas.
A resposta de Sombra foi um aperto ainda mais implacável, puxando-me com força
para cima. O ar ficou escasso e meu corpo implorava por oxigênio. Seus olhos sem emoção
perfuraram os meus.
— Você disse que estava saindo do estado — ele sussurrou, e eu pisquei, concordando,
sentindo minha consciência vacilar. Seu aperto tornou-se insuportável. — Se você ousar voltar
para Serpentine Hill, coelhinha, eu me tornarei seu inferno particular. Você me entendeu? — ele
sibila cada palavra, áspero e cortante.
Minha visão começou a ficar turva e a consciência desliza para a escuridão iminente.
Tentei balbuciar, mas as palavras não encontravam voz. Sombra soltou meu pescoço, e eu caí de
joelhos, com o ar finalmente enchendo meus pulmões enquanto tossia para recuperar o fôlego.
— Eu entendi... entendi — disse, colocando as mãos em volta do meu pescoço.
O som dos passos silenciosos de Sombra ecoou em minha mente, mas minha visão
embaçada mal me permitiu segui-lo com os olhos. Ele se afastou, uma sombra entre sombras, e
eu fiquei ali, no chão frio, tentando recuperar o fôlego roubado. Eu queria esquecer, mas cada
detalhe ficaria gravado em minha mente como uma cicatriz permanente.
Capítulo 16

O quarto está mergulhado em escuridão, exceto pela luz pálida da lua que se infiltra
através das frestas das cortinas. A batida contínua de Heathens de Twenty One Pilots preenche o
espaço, pulsando no ritmo acelerado do meu coração. Socando o saco de boxe com raiva, eu
tento liberar a tensão que se acumula dentro de mim. O suor escorre pelo meu rosto, misturando-
se à dor pulsante nos nós dos meus dedos.
Faz uma semana desde que ela não frequenta a universidade e não responde às minhas
mensagens. A irritação transforma-se em preocupação, e uma sensação desconhecida de
apreensão se instala em meu peito. Por que estou tão agitado? Por que diabos estou me
importando tanto com ela?
O que começou com uma tarefa simples de apenas vigiá-la tornou-se em algo que não
consigo controlar. Minha mente está uma bagunça, incapaz de se desvencilhar da teia de
pensamentos que giram em torno dela. Um desejo incontrolável de estar perto dela parece ter
tomado conta de mim, e é uma sensação que eu tento, sem sucesso, ignorar.
Deixo a música tocar alto, afogando meus pensamentos. O saco de boxe absorve minha
raiva, cada golpe me fazendo lembrar da sua expressão de terror caída no chão daquela floresta.
Porra, ela nem desconfia que sou eu e estava prestes a me deixar fodê-la no meio do mato. A
mera ideia me enfurece, imaginá-la entregando-se a outro homem. Se fosse há dois anos, teria
feito contra uma árvore sem piedade, como um maldito bastardo.
Por que não o fiz?
De repente, a música parece uma cacofonia irritante. Desligo o som abruptamente e o
silêncio se instala, pesado e carregado de uma verdade que eu não quero enfrentar. Olho para o
saco de boxe e a raiva se transforma em autodesprezo. Que merda estou fazendo?
Pego o meu telefone e olho as mensagens que enviei, todas recebidas e perfeitamente
ignoradas.
Foda-se.
Agarro minha camisa preta da cama, me visto rapidamente, pego o capacete e saio do
quarto. É madrugada de sábado, está acontecendo a primeira festa do retorno às aulas na
fraternidade. O som vibrante preenche os corredores da mansão. Alcanço o andar de baixo,
ignorando os olhares curiosos e as saudações efusivas dos colegas de fraternidade. Vejo Jimin na
entrada, conversando com uma garota. Ele diz algo no ouvido dela, que sorri em resposta, e se
afasta dela, caminhando em minha direção.
— Pensei que não fosse descer — comenta, olhando para o capacete embaixo do meu
braço.
Ele balança a cabeça em negação.
— Não me diga que você vai atrás dela.
— Tá bom. Não vou atrás dela — respondo, deixando a mansão, e mesmo por cima do
som alto, consigo ouvi-lo caminhando atrás de mim.
— Lovely não vai contar a ninguém. Já se passaram quase dois anos, Mad, não é mais
necessário intimidá-la. — Subo na moto e encontro o olhar dele.
— Isso quem decide sou eu, Jimi. — Coloco o capacete e ergo a viseira. — Só quero
saber como ela está, não vou machucá-la.
Ele balança a cabeça em negação como se detestasse a ideia e se afasta com um olhar
resignado. O motor ronca quando eu ligo, e Jimin me observa partir. O vento frio corta meu rosto
e gela minhas mãos enquanto percorro as ruas iluminadas apenas pela luz dos postes, mas a
sensação é bem-vinda, uma distração temporária.
Chego à casa de Love, removo o capacete e observo a residência ao lado de uma
floresta. Suas sombras dançantes parecem estender seus braços ao redor da propriedade. Fico
impressionado com a coragem de ela escolher viver em um lugar tão isolado. Escolha. Aquele
boçal do George detém o poder de proporcionar mais segurança para ela, mas nega um dos
quartos disponíveis na casa.
A luz fraca das estrelas ilumina o caminho até a entrada da casa, que está silenciosa e
com as luzes apagadas. No primeiro degrau que eu piso, o sensor de luz acende, lembro a
primeira vez que estive aqui, isso me deu um puta cagaço. Toco a campainha, o som ecoa na
quietude da madrugada, mas não há resposta. Insisto mais vezes, Love não fez novos amigos
além daquele imbecil do Devon, de quem eu venho tentando afastá-la desde que chegou.
Nenhuma resposta. Pro inferno. Eu vou entrar.
Digito o código de acesso e, quando ouço o pequeno clique da porta se abrindo, me
pergunto por que ela não alterou depois da última vez que estive aqui. Quase formado em
cibersegurança, foi ridiculamente fácil acessar esse aparelho de segurança antigo.
Entro na casa e escuridão do interior me cerca, me movo cautelosamente pelo cômodo
em direção ao segundo andar. O cheiro de desinfetante paira no ar, e não consigo deixar de me
sentir culpado. Mas, quando Corbin me ligou da penitenciária, o sangue me subiu à cabeça.
Eu avisei para nunca mais voltar. Ela voltou.
Eu avisei que me tornaria seu inferno particular. Ela não acreditou.
Paro em frente à suíte, a porta está aberta, revelando um cômodo vazio com uma cama
sem colchão. Sigo pelo corredor, passando por outro quarto com um roupeiro roxo, que também
se encontra desocupado.
Onde você está, coelhinha?
Caminho até o fim do corredor e viro à direita, entrando em outro corredor. No final
dele, avisto uma porta com uma placa de carro, grifado nela "NÃO ENTRE", pressuponho que
este era o quarto do Tyler. Avanço até lá, hesitando quando seguro na maçaneta, sem saber o que
vou encontrar do outro lado. Deus sabe que sou um bastardo, e eu sei que há um lugar especial
guardado para mim no inferno, mas, sinceramente, eu não ligo, desde que ela esteja bem.
Abro a porta do quarto com cuidado, tentando não fazer barulho. O abajur da cabeceira
da cama está aceso, o halo dourado ilumina delicadamente o canto do quarto e a luz, difusa e
quente, realça os contornos do rosto pacífico de Love. Ela permanece imersa em um sono
profundo.
Silenciosamente entro no quarto e me aproximo da cama. Ao sentar-se ao lado dela,
observo cada detalhe de sua beleza. Seus longos cabelos negros se espalham pelo travesseiro
como ramos de ébano, e alguns fios teimosos escapam da cama. Sua pele branca como marfim
parece brilhar sob a luz dourada, destacando suavemente seus traços delicados, como seus lábios
macios e perfeitamente rosados em forma de coração e a curva graciosa de suas sobrancelhas, até
mesmo o arco elegante de seu nariz. Porra, ela parece uma obra de arte entalhada para mim.
Puxo uma mecha de seus cabelos entre os dedos, enquanto Love parece profundamente
adormecida. Mordo o lábio e me levanto da cama. Jimin está certo, ela pode até não contar a
ninguém, mas, ainda assim, é crucial mantê-la longe de Devon e Corbin, que está preso e não
tem nada a perder ao revelar nossa identidade a Love. Na verdade, ele adoraria ver o circo pegar
fogo. Desgraçado.
Quando me afasto da cama, algo se fragmenta sob meu coturno. Olho por cima do
ombro, e Love nem se moveu do lugar com o barulho. Me abaixo e apanho o que restou de um
frasco vazio de remédio. Fentanil está prescrito na embalagem; trata-se de um potente analgésico
100 vezes mais forte que a morfina.
Porra, o que você fez Lovely?
Me aproximo dela, meu coração fica em estado agonizante, jogo o que sobrou do frasco
de volta no chão, seguro em seus braços e a sacudo com força, mas Love não reagi. Eu poderia
colocar fogo na casa, e ela nem se sentiria queimar.
Verifico os batimentos cardíacos dela, que parecem mais lentos do que deveriam. Puxo
cobertor dela, revelando que ela está vestida exatamente como a vi da última vez, shorts com lua
e estrelas e uma blusa preta. A culpa me atinge como um soco no estômago, isso é tudo minha
responsabilidade.
Inspiro profundamente, sentindo a urgência devorando cada fibra do meu ser. Eu me
afasto dela e vou em direção ao quarto onde ela esteve acomodada na semana passada. Acendo
as luzes e entro no banheiro. Ele é grande, com azulejos cor de gelo nas paredes e no chão e uma
banheira de imersão branca com pés pratas. Ajusto a torneira da banheira para encher com água
em temperatura ambiente. A água aumentará sua circulação, acelerando os batimentos cardíacos
e, caso ela não acorde... balanço a cabeça em negação. Ela vai acordar!
Volto para o quarto e, desta vez, com movimentos suaves, tento acordá-la, mas Love
permanece imersa em um sono profundo. A fragilidade de seu pequeno corpo fica evidente
quando a envolvo em meus braços, sua cabeça pende fracamente para trás, exibindo um pescoço
fino, e ela parece um pouco mais magra.
Carrego-a até o outro quarto, onde a água da banheira quase atingiu o nível desejado,
mesmo assim, mergulho-a na água. Me ajoelho ao lado da banheira, encarando o rosto
adormecido dela. Meu fodido coração martela no peito e uma sensação de impotência toma conta
de mim, algo que não experimentava desde os meus 9 anos.
Desligo a água quando ela atinge seus ombros, fazendo com que seus cabelos flutuem
ao redor do seu corpo. A ansiedade cresce, me devorando de dentro para fora, enquanto o
remorso está ali, como um espinho cutucando uma ferida aberta, me lembrando que a culpa é
minha.
Parece uma eternidade, mas, então, gradualmente, seus cílios começam a se mover,
revelando a suavidade de seus olhos verdes. Uma confusão momentânea passa por seu rosto,
como se ela estivesse tentando entender onde está e como chegou ali.
— Love — sussurro, seus olhos se movem lentamente até encontrar os meus e, por um
momento, o mundo ao nosso redor parece desaparecer. O alívio toma conta de mim quando vejo
que ela está pelo menos consciente.
— Mad? — ela murmura, a voz ainda sonolenta e fraca. Seus olhos se abrem mais,
focando em meu rosto. A confusão dá lugar ao reconhecimento, mas também percebo um rastro
de medo.
— Você está bem? — pergunto, minha mão tocando gentilmente seu rosto. Ela balança
a cabeça levemente, mas ainda parece atordoada.
— O que... o que está acontecendo? Por que você está aqui? — ela pergunta com sua
voz tremendo.
— Você não foi para aula, eu estava preocupado — respondo, colocando uma mecha de
seu cabelo atrás da orelha.
— Como você entrou na minha casa?
— Eu invadi — confesso, e Love olha para seu corpo imerso na banheira. Um suspiro
de alívio toma conta de seus lábios quando percebe que está vestida. — Eu vi o frasco de
Fentanil no seu quarto...
— Você não deveria estar aqui, Mad, e nem ter mexido nas minhas coisas — adverte,
sua voz embargada passa toda sua irritação.
— Você estava tentando se matar? — pergunto, ignorando seu temperamento, e uma
sombra de desconforto paira em seus olhos verdes.
— Eu não consigo dormir. — Sua perna fica inquieta. — As noites são muito longas, e
os pensamentos, eles não param... — Ela respira fundo e desvia o olhar, enquanto seus ombros se
curvam como se ela estivesse carregando o peso do universo.
— Que pensamentos?
— Não preciso de psicólogo, só preciso dormir.
— Com quem conseguiu as drogas? — Ela solta uma risada incrédula, agarro seu
queixo, forçando-a olhar para mim. — Com quem conseguiu as drogas, Lovely?
Love puxa seu queixo com força, se livrando do meu toque.
— Você sabe de quem — rosna.
Vou matar Macoy.
Ela agarra as laterais da banheira e tenta se levantar, mas seu corpo não responde
completamente, sua cabeça cai para trás, e lágrimas começam a escorrer por seu rosto.
— É o que acontece quando você toma uma dose para derrubar um leão.
— Vá pro inferno, Maddox. Eu estaria dormindo a esta hora se não tivesse invadido
minha casa.
Aperto meus lábios e me levanto do chão, dando um passo para trás em direção à saída.
— Como quiser, bons sonhos, Lovely. — Ela ri e ergue o queixo com arrogância,
parece que já recuperou os movimentos do rosto.
— Você não pode me deixar aqui, Maddox. — Cruzo os braços, olhando para ela, a
ponta do nariz dela está rosada pelas lágrimas que acaba de derramar.
— Não quer aproveitar e tomar um banho? — pergunto, e suas bochechas coram,
olhando para suas roupas.
Love assente.
Me aproximo da banheira, e ela estende os braços para mim, retiro a blusa, e seus
mamilos rosados e entumecidos me fazem chupar o lábio, suprimindo o desejo de sugá-los e
mordê-los. Encontro seu olhar enquanto me ajoelho para ajudá-la a tirar o short.
— Você não presta, sabia disso? — ela diz, me fazendo sorrir.
— Já ouvi isso algumas vezes. — Jogo a roupa molhada dela dentro da pia e pego o
sabonete. Ela o tira da minha mão e começa a se ensaboar. Afasto-me, admirando cada curva de
seu belo corpo. Seus olhos, de vez em quando, param em mim com um olhar de desaprovação.
— Por que você ligou para Devon em vez de mim? — Ela para de se lavar e encontra o
meu olhar. Seus dentes mordem o lábio superior, pensativa.
— Porque eu precisava dormir e não transar. — Ela larga o sabonete enquanto sinto o
gosto amargo de suas palavras.
— Você realmente acredita que eu só quero te foder? — pergunto, sem entender por que
continuo seguindo essa conversa quando claramente ela não está errada. Além de vigiá-la, uma
parte de mim ansiava por provar sua carne quente e apertada e, depois que o fiz, fiquei viciado
em seu gosto e em seu cheiro. Uma possessividade doentia toma conta de mim a ponto de sentir
uma fúria insana com a ideia de mais alguém provar o que agora considero meu.
— Acredito que, quando os caras da Vanguard perderem o interesse, você fará o
mesmo.
— Uma coisa que você precisa saber sobre mim, Lovely, eu não sou como os outros
caras. — Ela corta o contato visual e começa a lavar o cabelo.
Pego meu celular que vibra no bolso da calça, tem uma mensagem de Jimin.
Mensagem Jimin: É melhor dormir por aí porque vou usar sua cama.
Bloqueio o celular e guardo-o, encontrando seu olhar em mim.
— Quem era? — ela pergunta de forma propositalmente invasiva. Vou até ela, tirando a
camisa, e Love me olha com um olhar que diz: que merda você pensa que está fazendo?
— Era Jimin, ele quer meu quarto emprestado — respondo, puxando uma toalha de
corpo e colocando-a no ombro, depois me abaixo para tirá-la da banheira, a água escorre pelo
corpo dela, molhando completamente o meu enquanto a seguro contra o meu peito.
— Essa é a sua estratégia para dormir na casa de uma garota? — Sorrio, carregando-a
de volta para o quarto de Tyler.
— Nunca precisei implorar. — Love revira os olhos.
— Sempre há uma primeira vez — responde e não tenho dúvidas de que me fará
implorar.
Coloco Love na cama, e não posso deixar de seguir a trilha de arrepios que percorre seu
corpo, ela puxa a toalha do meu ombro abruptamente e se cobre, encontrando o meu olhar.
— Você pode ir agora Maddox — diz com uma expressão soberba.
— Se eu voltar, terei que compartilhar a cama com Jimin e uma garota — provoco.
Love me dá um olhar indiferente.
— Faça bom proveito — declara, cobrindo-se com o cobertor.
Lambo os lábios, percebendo que estou em território desconhecido. Nunca fui
dispensado por uma garota e, também, nunca me envolvi mais do que uma vez com ela.
— Sério, você não se importa nem um pouco? — pergunto, sentando-me na cama ao
seu lado.
— Da última vez que me importei, Mad, acabei nessa cidade de merda — comenta, e sei
que ela está se referindo ao ex-namorado que a traiu.
Love solta um pequeno bocejo e lágrimas escorrem pelos olhos.
— Se você pretende ficar, terá que me contar como obteve essa cicatriz no olho, ou as
queimaduras nas costas.
Lambo os lábios, consciente do olhar penetrante de Love sobre mim, enquanto penso
em uma mentira razoável para evitar ser chutado por ela esta noite. A cicatriz no meu rosto,
apenas Jimin e Corbin conhecem a verdade e não há como eu contar a ela sem que levante um
leque de perguntas. Quanto às queimaduras nas minhas costas, não é uma história que eu queira
compartilhar com ninguém. Nenhuma delas é uma boa história.
— Eu tinha nove anos e caí de costas nas brasas de uma churrasqueira.
Love franze os lábios e seu nariz emite um som nasal.
— Está mentindo, Mad. — A decepção é visível em seu rosto. — Você quer ficar
comigo, mas não pode confiar em mim. Não sei o que ainda está fazendo aqui.
— Meu pai me queimou... — digo e o arrependimento de pronunciar essas palavras vem
junto com o pensamento de: o que caralhos estou fazendo aqui? Revelando os demônios que me
assombram porque não consigo ficar longe de uma boceta. A última coisa que preciso agora é
abrir uma janela para o meu passado fodido.
Seus olhos verdes como esmeraldas fixam-se em mim com uma expressão que entrelaça
surpresa, compaixão e algo mais profundo que não consigo decifrar.
— Mad, eu... — ela começa, mas eu a interrompo antes que possa terminar.
— Prefiro não falar sobre isso — digo, levantando-me da cama para ir embora, antes
que as paredes que construí cuidadosamente ao meu redor comecem a desmoronar. Parece que a
coelhinha se infiltrou na minha cabeça como um maldito câncer que preciso extirpar.
— Mad, por favor, fique. — Ela me agarra pela mão, seus olhos são duas esferas
brilhantes impossíveis de ignorar.
— E, no final, você acabou implorando. — Meus lábios se curvam em um sorriso, e
Love exala, revirando os olhos.
— Você nunca sabe quando ficar calado? — pergunta, enquanto dou a volta na cama e
tiro os sapatos e depois a calça.
— Acostume-se — respondo, virando-me para ela.
Deito-me na cama e a aconchego em meus braços, sua perna se entrelaça com a minha e
sua mão desliza até meu peito, com seu dedo passando delicadamente pelo contorno da minha
tatuagem, como se tentasse entender o significado. Seguro a mão dela quando noto uma cicatriz
esbranquiçada do tamanho de uma moeda, passo o polegar sobre ela, lembrando exatamente do
grito que Love deu ao sentir o isqueiro incandescente em contato com sua pele. Beijo sua mão e
a coloco de volta no meu peito. Lovely precisava queimar, ou ela iria queimar com ele.
Tomamos essa decisão enquanto ela dormia, sentada em uma pedra. Não havia garantia de que
ela não nos entregaria às autoridades, mas concordar, mesmo contra a sua vontade, talvez
oferecesse uma chance de ela manter-se em silêncio. Talvez por isso não consigo me afastar dela.
Juntos, atravessamos o inferno e aquela noite nunca deixará de nos assombrar.
Capítulo 17

— Mais forte, Knight! — Corbin ordenou.


Puxei o fôlego com força, o suor escorrendo pelas minhas costas, unindo-se à sensação
pulsante em minhas mãos protegidas por luvas de boxe, enquanto cada impacto dos meus
punhos atingindo as mãos de Corbin ecoava pelo quarto.
— Sabe o que está faltando aqui? — Encontrei seus olhos azuis antes de desferir outro
golpe em sua mão esquerda. — Um saco de pancadas. — Lambi os lábios, sentindo o gosto do
meu suor neles, e dei outro soco, depois recuei e minha cabeça caiu sob o peso da exaustão.
— Por quê? Você não quer mais ser meu saco de pancada? — perguntei, indo até o
frigobar no canto do quarto, pegando duas garrafas de água e jogando uma para CJ, que se
atirou no meu sofá.
— Já se passaram seis meses sem nenhuma derrota, Knight. É hora de levar isso a
sério. Se você vencer o Tank esta noite, tomará o lugar dele.
Tomei um gole d’água, pensando que tudo isso só estava acontecendo porque resolvi
socar a cara de um jogador no meio de uma partida. Quando ouvi o que Tate disse sobre o meu
pai, o sangue explodiu na minha cabeça e eu só queria fazê-lo engolir aquelas malditas
palavras. “E aí, Knight, seu pai te adotou pra ser a mulherzinha dele?” A raiva cegou meu
julgamento, eu o derrubei no chão, arranquei seu capacete e usei-o como arma em seu próprio
rosto.
Nunca tive vergonha ou escondi a sexualidade do meu pai, e se tivesse que arregaçar a
cara daquele pamonha de novo, eu faria isso.
Meu pai, como capitão da polícia, teve que me tirar da prisão e isso foi uma grande
decepção para ele. Fui expulso do Black Ravens, precisei fazer terapia cognitivo-
comportamental e quatro meses de serviço comunitário, foi aí que eu e Corbin nos
aproximamos, ele estava prestando serviço por pichar uma parede da prefeitura. CJ disse que
tinha uma ideia para liberar toda a minha raiva e me apresentou a luta clandestina.
A porta se abriu abruptamente e Jimin apareceu na frente dela usando uma máscara
azul do The Purge e uma camisa com um gorila fumando um baseado, uma ótima fantasia para
uma noite de sexta-feira 13, ironizei mentalmente. Ele me jogou uma máscara vermelha e uma
roxa para Corbin.
— Nós três com as mesmas máscaras ficaremos parecidos com as Meninas
Superpoderosas — Corbin comentou, soltando-a na perna.
— O resto da casa também vai usar — Jimin retrucou com sua voz completamente
abafada pela máscara. Ele a ergueu acima da cabeça e se jogou na minha cama. Jimin e eu nos
tornamos amigos no colégio, nos conhecemos na sala de suspensão, qual foi mesmo o motivo?
Eu não tenho mais ideia.
— Vou tomar banho, caem fora do meu quarto — avisei, abrindo a porta do banheiro.
Assim que fechei atrás de mim, respirei fundo.
Não poderia negar que a luta dessa noite seria um desafio. Tank nunca experimentou a
derrota. Ele não apenas dominou o ringue, mas também conquistou investidores de elite. Quem
apostava nele tinham plena consciência de que estava investindo no campeão. Quero tomá-los
todos para mim.

Estacionei minha moto diante do armazém abandonado. O lugar parecia prestes a


desmoronar, com janelas quebradas e portas enferrujadas. Grafites coloridos adornavam as
paredes, contribuindo com a decadência do local. Ao lado, um desmanche de carros, com
veículos destroçados empilhados uns sobre os outros, suas carcaças marcadas por anos de
abandono.
Tirei o capacete e peguei um cigarro do bolso, enquanto CJ e Jimin estacionavam ao
meu lado. Desci da moto e me apoiei nela, CJ parou na minha frente com uma expressão séria
no rosto.
— Escute, Knight, o Tank é um osso duro de roer. Ele é rápido, forte e tem um alcance
impressionante. Não subestime sua habilidade no clinch. Ele tende a cansar seus oponentes
antes de finalizar. Mantenha distância no início, use sua agilidade a seu favor. E, lembre-se, ele
tem um gancho de esquerda poderoso.
Assenti, soltando a fumaça do meu cigarro antes de esmagá-lo no chão.
— Eu sei, CJ. Você está buzinando nos meus ouvidos desde que soube que iríamos lutar
— disse, e Jimin riu e comentou:
— Eu apostei em você, Mad Knight, se perder, está me devendo 500 pratas.
— Obrigado pela confiança — desdenho.
Caminhamos em direção à entrada do armazém, onde um homem corpulento guardava
a porta. Hulk é seu apelido. Ele nos lançou um olhar de reconhecimento antes de abrir a
passagem. Entramos no local, imersos na escuridão com o cheiro de sangue, suor e álcool
pairando no ar. Avancei no meio da multidão, olhos curiosos voltando-se brevemente para mim
antes de retornar ao frenesi na imponente gaiola de aço que dominava o centro do armazém.
Suas grades robustas, elevando-se a uma fortaleza impenetrável, manteve os oponentes em
confinamento.
O som dos golpes ecoou pelo ambiente, misturando-se aos rugidos da plateia. Era um
ambiente brutal, mas era aqui que eu pertencia, onde a raiva poderia ser liberada e a força
poderia reivindicar o seu lugar.
Caminhei com Jimin até o vestuário improvisado, e Corbin foi procurar seu tio Oscar,
que é um dos apostadores da casa há alguns anos. Tirei a camisa, sentindo a brisa fria da noite
acariciar minha pele, enquanto vestia um short para a luta.
Já estive dentro daquela gaiola mais vezes do que me lembro, mas essa noite era
diferente, era tudo ou nada, vencer o Tank era chegar ao topo, aonde ninguém jamais chegou.
— Knight, a porra da casa está lotada até a tampa. Os investidores do Tank estão
ansiosos e despejaram uma fortuna nisso. Você precisa entrar lá e acabar com esse cara. Faça
um banquete de sangue e pinte aquelas grades de vermelho! — CJ exclamou, agitado. Jimin me
olhou de soslaio e acreditei que estávamos pensando a mesma coisa: Quanto de pó Corbin
cheirou quando foi falar com seu.
— Já está ganho — respondi, enrolando minhas mãos em ataduras brancas, sentindo a
textura familiar sob meus dedos. Minha respiração tornou-se mais profunda, mais rítmica,
enquanto me preparava para entrar na gaiola.
A luz do armazém diminuiu, deixando apenas um foco intenso na gaiola de aço. Uma
batida pulsante ecoou. Então, uma voz profunda e imponente reverberou pelos alto-falantes,
preenchendo todos os cantos do lugar.
— Senhoras e senhores, preparem-se para a luta que todos esperavam! No canto
direito, o invicto, o imparável, o temido Tank!
Veremos por quanto tempo ele será o temido.
O público irrompeu em aplausos e gritos, reconhecendo a imponente reputação do
Tank. As luzes brilharam momentaneamente em tons vibrantes, destacando sua entrada
triunfante, enquanto ele caminhava em direção à gaiola com absoluta confiança.
O locutor esperou que a resposta da multidão diminuísse antes de prosseguir com uma
entonação ainda mais intensa.
— E, no canto esquerdo, o destemido, o rebelde que conquistou o respeito e o temor de
todos os presentes, Mad Knight!
A luz focou em mim enquanto eu caminhava em direção à gaiola. A multidão reagiu
com uma junção de aplausos, assobios e gritos. O locutor continuou incitando a galera até que
eu e Tank estivéssemos dentro da gaiola.
Seu corpo era um bloco sólido de músculos, tão imponente quanto o meu. Tatuagens e
cicatrizes contavam histórias de lutas vencidas, e seu cabelo loiro era uma cópia fiel de seu
irmão, Devon Macoy, sentado ali, na primeira fila de assentos.
O som metálico das grades sendo fechadas ecoou em meu ouvido, abafando os rugidos
da multidão. O ar dentro da gaiola tornou-se pesado. Encarei Tank do outro lado, e vi sua
expressão confiante, confiante de mais. Sorri de lado, sentindo o frenesi pulsando em minhas
veias.
Dentro da jaula, me senti em casa. A raiva poderia ser liberada sem restrições, e a
força, anteriormente contida, poderia agora manifestar-se sem impedimentos. A gaiola de
combate não era uma barreira, mas, sim, um palco onde eu reivindicaria o meu lugar,
desafiando não só meu adversário, mas também os limites da minha própria resistência.
— Que vença o melhor — disse o locutor, olhei para Tank e estalei o meu pescoço.
O sino tocou, marcando o início da luta. Tank avançou com agilidade, desviei de seus
primeiros golpes e mantive distância, como CJ havia aconselhado, dançando ao seu redor. Cada
vez que seus punhos tentavam me alcançar, eu deslizava para fora do seu alcance, irritando-o. A
multidão rugiu, alguns apostando contra mim, mas eu estava determinado a provar que valia a
pena.
Encontrei uma abertura e contra-ataquei, meus punhos encontrando o corpo do Tank
com extrema precisão. Ele recuou, surpreso com a ferocidade dos meus golpes. Avancei
novamente, mas Tank estava preparado. Ele bloqueou meus ataques e retaliou com uma série de
socos poderosos. Senti cada impacto reverberar pelo meu corpo. Suor misturado com sangue
escorria pelo meu rosto enquanto eu tentava encontrar uma brecha em sua defesa. Sua força era
impressionante. Cada vez que tentei contra-atacar, encontrei uma resistência sólida.
Um gancho de esquerda me pegou desprevenido, atingindo meu queixo com força.
Cambaleei para trás, meu corpo bateu contra a grade, e senti o gosto metálico de sangue na
boca. O público rugiu.
Ele avançou novamente com uma série de cruzados, mas eu me antecipei. Desviei para
o lado e o golpe encontrou o vazio. Aproveitando a oportunidade, dei três socos firmes no
estômago de Tank, com o objetivo de minar sua resistência antes que ele tivesse chance de
revidar. No entanto, antes que pudesse assimilar totalmente o impacto, meu rosto foi atingido
por um golpe forte. A partir daquele momento, a luta virou um turbilhão caótico de chutes e
socos, tão velozes que perdi a conta dos movimentos.
A percepção do tempo desapareceu conforme a luta se desenrolava, tornando-se mais
caótica. Era como se as rédeas do controle tivessem sido soltas, e a brutalidade se tornasse
incontrolável. Não havia mais espaço para contenção quando agarrei Tank e o joguei com todas
as minhas forças contra a grade. O estrondo do impacto foi como um trovão reverberando por
todo o armazém, e ele caiu de quatro, com sangue escorrendo de seus lábios, manchando o
chão. O público, momentaneamente silenciado pelo choque, absorveu a cena diante deles. Não
dei tempo para Tank se recuperar. Ofegante e com o corpo tenso, avancei em sua direção,
aproveitando sua fraqueza momentânea, e desferi golpes que buscavam explorar qualquer
brecha em sua defesa. Cada soco teve a intenção de aproveitar o impacto anterior, visando
mantê-lo encurralado e incapaz de se recuperar. Só parei de socá-lo quando não havia mais
força em meus braços e o rosto do Tank se tornar irreconhecível.
Meu corpo latejava e o sangue escorria pelo meu rosto. Olhei para Tank caído no chão,
sua figura imponente agora reduzida a uma massa contorcida de músculos derrotados. O som
metálico da abertura da grade marcou o fim da luta. O público, inicialmente silenciado,
explodiu em uma fusão de gritos e aplausos enquanto a luz focava em mim, destacando meu
corpo coberto de sangue e suor.
— Senhoras e senhores, assistam ao incrível Mad Knight! O temido Tank encontrou seu
superior esta noite, e o vencedor é... MAD KNIGHT! — A multidão gritou ainda mais alto, e eu
levantei os braços em triunfo, embora cada movimento doesse.
Capítulo 18

Tiro um cigarro do bolso enquanto ando no meio das pessoas em direção ao refeitório.
Passei a manhã inteira pensando no recado do Oscar, ele disse que, em duas semanas, vou lutar
contra Devon Macoy. Parece que os deuses ouviram meus apelos. Vou esmagar esse bosta como
um rolo compressor.
Entro no refeitório e a primeira coisa que meus olhos encontram é Lovely sentada em
uma das mesas, conversando com o boçal do Macoy. Ele puxa uma trança solta na frente do
rosto dela, e a raiva cresce em mim junto com o desejo de fatiá-lo de cabo a rabo. Raramente
quero ser bom para alguém, mas, quando se trata dela, meu coração se torna malditamente mole.
A ideia de reduzi-lo a cinzas cruza o meu pensamento, mas isso seria estúpido. Tive sorte uma
vez, é melhor não arriscar.
Os olhos de Lovely disparam para mim, meus músculos da mandíbula se contraem
enquanto ando em direção a eles com uma advertência clara em meus olhos. Love diz algo para
Devon e pula da mesa. Ela está vestindo jeans de cintura alta, cinto Gucci e uma regata preta por
dentro da calça, com alças finas e um longo decote em V, mostrando a tatuagem de rosa que ela
tem entre os seios.
Sopro a fumaça do cigarro quando ela se aproxima com uma expressão impassível.
Então, num gesto firme, agarro seu quadril e reivindico seus lábios no meio do refeitório,
pegando-a completamente de surpresa. Os caras do time começaram a bater nas mesas e a uivar.
Lovely morde meu lábio, gemo em sua boca e me afasto, sentindo o gosto metálico de sangue.
— Faça esses idiotas pararem — sibila, a raiva brilhando em seus olhos verdes.
Olho por cima da Love e Macoy está parado em frente à mesa onde conversava com ela,
nos observando. Pisco para ele e depois gesticulo com a mão para os caras calarem a boca.
Demora alguns instantes para o refeitório voltar ao silêncio normal.
Love tenta se afastar, mas eu não permito.
— Por que você está irritada? — pergunto com uma inocência fingida.
— Por que você está irritada? — ela me imita com desdém. — Você agiu como um
cachorro marcando seu território. Isso é ridículo até para você.
Solto uma risada baixa, mantendo meu olhar fixo no dela.
— E se eu fosse um cachorro, qual seria o meu território?
Lovely rola os olhos e relaxa em meus braços.
— Você é um idiota, sabia disso? — Rio ao ver como seus insultos soam meigos saindo
da sua boca.
Beijo o topo de sua cabeça e coloco meu braço em seus ombros, a conduzindo para fora
do refeitório. Jogo o meu cigarro no chão e o amasso com o coturno.
— O que Devon queria com você? — pergunto enquanto caminhamos em direção ao
estacionamento.
Love me observa como se estivesse pensando se deveria me falar. Gosto disso nela,
dessa imprevisibilidade, tão diferente das outras garotas da Vanguard.
— Ele queria saber se eu tinha melhorado — responde, mas sinto que ela está
escondendo alguma coisa.
Ela melhorou, mas não foi graças àquele imbecil, que poderia ter causado uma overdose
nela. Passei a noite com Love, parti de manhã e retornei à noite para me certificar de que ela não
cometeria mais nenhuma besteira. A culpa é minha por ela ter tomado aqueles comprimidos, e
agora que não pretendo mais torturá-la com aquela máscara quero ter certeza de que ela ficará
bem.
Chegamos à minha moto e Love pega o capacete do guidão. Como eu dormi na casa
dela, decidimos vir de moto para a Vanguard. Meu telefone toca, era o meu pai. Faz um tempo
que não o vejo.
— Oi — saúdo, chamando a atenção de Love.
— O que preciso fazer para poder ver meu filho com mais frequência além das datas
festivas? — ele pergunta, me fazendo sorrir.
— Ligar é um bom começo.
— Onde você está? Podemos almoçar.
— Saí da aula agora, mas estou com uma garota... — Love estreita os olhos e sibila
minhas palavras: uma garota?
— Traga-a junto — responde, mas não tenho certeza se é uma boa ideia colocá-los no
mesmo lugar, lambo os lábios. — Não é nada sério? — ele pergunta.
— Eu acho que é — respondo, e Love levanta o queixo, perguntando o que estamos
falando.
Cubro o celular com a mão e pergunto a ela:
— Quer almoçar com meu pai? — Ela aperta os lábios, e percebo que ela não está
confortável, então me lembro do que quase conversamos no domingo de madrugada. — Ele é
meu pai adotivo — esclareço, e o sorriso dela se ilumina como um farol na escuridão.
Inexplicavelmente é a coisa mais linda que já vi.
Ela balança a cabeça, sem esconder sua animação.
— Nós vamos, pai.
— Espero vocês em casa — desliga. Guardo meu celular no bolso e pego o meu
capacete no guidão, Love já colocou o dela.
Nunca apresentei ninguém ao meu pai, Lovely está mexendo com o pouco
discernimento que me resta.
Vinte minutos depois, estacionamos em frente a uma imponente casa vitoriana de
dois andares, pintada de branco, com acabamentos em madeira escura nas janelas e nos batentes
das portas. Os degraus de entrada levam a uma varanda espaçosa, adornada com vasos de flores e
um balanço suspenso de dois lugares.
Descemos da moto e ajudo Love a tirar o capacete, admirando a forma como o sol da
tarde ilumina seu rosto. Solto os capacetes no guidão e me viro para ela, pensei que ela fosse me
encher de perguntas durante a viagem, mas ela veio em silêncio, fazendo longas carícias na
minha barriga.
— Você disse que sua mãe morreu, qual delas? — ela pergunta enquanto caminhamos
até a entrada da casa.
— A biológica. A fruta que você come, meu pai chupa até o caroço. — Lovely puxa
meu cotovelo na tentativa de me parar, mas continuo subindo os degraus.
— Seu pai é gay? — pergunta, incrédula, eu aceno com a cabeça e toco a campainha.
Não entendo por que é tão difícil para as pessoas acreditarem que meu pai é homossexual.
— Mad, se for mentira e você estiver tirando uma com... — A porta se abre,
silenciando-a.
Meu pai aparece diante de nós. Ele é quase tão alto quanto eu, e seu cabelo grisalho
penteado para trás permanece com o mesmo corte há treze anos. Seus olhos castanho-escuros
brilham com uma combinação de calor enquanto ele nos observa parados na porta.
— Boa tarde, capitão. — Meu pai sorri e me dá um abraço apertado, depois se afasta e
direciona sua atenção para Love.
— Pai, esta é Lovely, filha do reitor George Blossom. — Seus lábios se curvam,
orgulhosos. — Lovely, este é meu pai, James. — Faço as apresentações, sentindo uma leve
apreensão percorrer minha espinha.
— É um prazer conhecê-lo, sr. Knight — Love diz com um sorriso genuíno.
— O prazer é todo meu, Lovely. Por favor, entre, entre! — ele diz, dando um passo para
trás para nos receber.
Lovely olha para mim por cima do ombro e estendo a mão para ela entrar primeiro. Um
olhar zombeteiro cruza seu rosto e sei exatamente o que ela está pensando: Olha que cavalheiro.
Enquanto a sigo, chegamos à sala de estar, onde o aroma de comida faz meu estômago
roncar. A casa parece congelada no tempo, a sala é espaçosa e bem iluminada, com paredes em
suave tom creme que reflete a luz que entra pelas grandes janelas. Um sofá de couro marrom é o
ponto central e, ao lado dele, duas poltronas estofadas em padrão xadrez, voltadas para uma TV
de plasma. Love está diante de uma estante de madeira escura que exibe uma coleção variada de
livros e algumas condecorações ao longo dos anos.
— O cheiro está maravilhoso — Love comenta, olhando uma foto do meu pai
uniformizado.
— São minhas almôndegas — meu pai explica e caminha até o outro lado da casa, onde
ficam a cozinha e a sala de jantar.
— Seu pai é policial? — ela pergunta, sua voz aumentando um quarto.
— Capitão do Departamento de Polícia Estadual da Filadélfia — respondo, vendo Love
ficar mais branca que um osso.
— Por que você não me contou? — balbucia e parece perdida em seus próprios
pensamentos.
Se eu tivesse participado de um crime brutal, sairia daqui o mais rápido possível.
— Por quê? — pergunto, abraçando-a por trás. — Por acaso você tem algo a esconder?
Um segredinho sujo que eu não conheço? — sussurro em seu ouvido e chupo seu lóbulo macio.
— O único segredinho sujo que queria esconder é você — responde, me olhando por
cima do ombro. Aperto sua bunda em advertência, fazendo-a relaxar em meus braços, sua cabeça
desliza para o lado e beijo seu pescoço, então um barulho feito com a garganta chama nossa
atenção. Nos voltamos para o meu pai.
— O almoço está na mesa — ele avisa e volta para a cozinha.
Olho para Love delicadamente corada, pego sua mão e sigo meu pai. A ampla cozinha
se destaca pelos tons suaves dos armários de madeira polida, enquanto a bancada em granito
preto contrasta com os eletrodomésticos reluzentes, como o fogão de inox e a espaçosa geladeira.
Guio Lovely até a mesa de jantar adjacente, feita de carvalho maciço, iluminada por duas
luminárias pendentes.
A mesa já está posta com três pratos arrumados. Puxo a cadeira para Lovely, espero que
ela se sente e então me sento ao lado dela, à esquerda do meu pai, na cabeceira da mesa.
Seguro a perna dela embaixo da mesa quando percebo que ela está agitada, subindo e
descendo. Lovely me dá um sorriso doce e, com os dedos, traça as veias salientes do meu braço.
Meu pai coloca uma travessa com as almôndegas em cima da mesa e se senta. Seu olhar
correndo de mim para Love.
— Damas primeiro — diz, Lovely lambe os lábios timidamente e começa a servir.
— Então, há quanto tempo estão namorando? — Ele me dirige um olhar sugestivo e
percebo que a escolha das palavras foi feita intencionalmente.
— Na verdade, sr. Knight, ainda não estamos namorando oficialmente. Apenas nos
conhecendo melhor — responde.
— Acho que deixei bem oficializado hoje no refeitório.
— Não me recordo de ter ouvido seu pedido de namoro, Mad. — Ela me olha com
desdém.
— Você quer um pedido? Isso é tão ultrapassado. — Love quebra o contato visual,
encontrando os olhos do meu pai.
— E é exatamente por isso que estamos nos conhecendo melhor, sr. Knight.
— Acho que é bom você fazer o pedido, antes que outro faça — comenta e começa a se
servir.
Aperto os meus lábios em uma linha fina enquanto me sirvo. O almoço corre tranquilo.
Conversamos sobre a faculdade e meu pai conta a Love que está ansioso para que eu comece a
trabalhar no departamento de polícia. Desde que iniciei meu curso de cibersegurança, a ideia de
trabalhar na investigação de crimes cibernéticos foi uma das primeiras que veio a minha cabeça.
E Love disse que só escolheu o curso de gestão financeira por causa da mãe, que é formada na
área e, também, em economia, e é CEO de uma rede de hotéis de luxo em Beverly Hills.
— Estava tudo maravilhoso, sr. Knight — Love comenta, levando o prato dela até a pia,
abro a máquina de lavar louça e coloco tudo lá dentro.
— Sinta-se à vontade para voltar a qualquer momento — responde, e seu celular
começa tocar, meu pai se afasta para atender.
Love se vira para mim e diz:
— Acho melhor irmos agora, Mad.
Estalo minha língua.
— Eu nem te mostrei meu quarto ainda. — Ela franze os lábios.
— Maddox, o trabalho me chama — meu pai avisa com uma expressão decepcionada na
entrada da cozinha.
— Tudo bem, pai, vou trancar a porta quando sair. — Ele assente, se lamentando por
não poder ficar mais tempo, se despede de nós com um beijo e um abraço e depois parte.
Viro-me para Love, esfregando uma mão na outra, e seus olhos rolam, vou até ela,
agarro suas pernas e a jogo por cima do ombro.
— Você parece um homem das cavernas, sabia?
— Se eu fosse um homem das cavernas, te arrastaria pelos cabelos. — Aperto a bunda
dela.
— Aposto que você gostaria disso. — Deixo escapar uma risada áspera e mordo sua
coxa, Lovely grita e soca minhas costas.
Ando em direção à sala e subo as escadas até o andar superior. Caminho por um
corredor com paredes claras e vários porta-retratos ao longo dele. Viro à direita em outro
corredor e chego ao meu quarto.
— Você não sente falta de morar com seu pai? — Love pergunta enquanto abro a porta.
— No começo, eu senti — respondo enquanto a deito na minha cama king size e me
posiciono em cima dela, apoiando-me nos meus cotovelos. Seus olhos percorrem o quarto, tudo
está exatamente como era quando morava aqui; paredes cinza e preta, um grande armário cor de
gelo ocupando uma parede inteira, uma mesa vazia, porque levei o computador para a
fraternidade, e minha cadeira gamer de couro preto.
— Muitas garotas vieram aqui? — pergunta, enquanto meus olhos observam a delicada
tatuagem entre seus seios. Eu afundo meu nariz entre eles e inalo o seu perfume intoxicante e
embriagador, observando seus mamilos ficarem duros sob a renda de sua blusa, me implorando
para brincar com eles.
— Você realmente quer saber disso? — pergunto, empurrando o tecido da blusa dela
para o lado. Eu mordo antes de chupá-lo, forçando um gemido no fundo de sua garganta.
Love arqueia, empurrando seu seio em minha boca. Seguro em suas mãos quando ela
tenta me tocar e solto seu mamilo com um barulho, encontrando seu olhar, e a excitação que vejo
neles me deixa louco pra caralho. Eu arrasto as alças de sua blusa para baixo e mamo em seu seio
enquanto eu rolo e belisco seu mamilo oposto. Lovely geme, apertando suas pernas com força ao
meu redor, e eu deslizo a mão dentro de seu jeans. Inspiro profundamente, sentindo o calor e a
umidade de sua boceta se infiltrar através do fino material rendado de sua calcinha.
— Você já está molhada para mim? — murmuro com um sorriso malicioso.
— Sim — geme em uma quase súplica.
Ela morde o lábio inferior, eu me inclino para capturá-lo e sugá-lo entre os meus e desço
pelo seu corpo retirando agilmente sua roupa. Distribuo beijos e mordidas por suas coxas,
ignorando completamente o meio delas, sentindo seu olhar excruciante sobre mim.
Eu aproximo um pouco mais da sua boceta rosada e sopro na sua direção, Lovely solta
um gemido baixo e agarra um punhado do meu cabelo, puxando a minha cabeça para o meio
dela.
Ah, coelhinha gananciosa!
Retiro seu toque e sorrio. Ainda não, coelhinha. Você pode ter que implorar um pouco
mais.
Mantenho meus olhos fixos nos dela e começo a tirar a minha roupa com uma lentidão
deliberada. Ela lambe os lábios, depois morde o inferior e, quando estou totalmente nu, vejo sua
respiração falhar e se tornar superficial. Alguém aqui está com pressa. Bom! Pego meu pau e
começo a acariciá-lo em um ritmo lento, para cima e para baixo, observando seus olhos verdes
como duas esmeraldas faiscarem e se tornarem como chamas. E isso é uma sensação boa pra
caralho, é como sentir uma descarga de adrenalina, e o meu pau pulsa e incha nas minhas mãos.
Eu me acomodo entre suas pernas torneadas e as abro ainda mais. Encontro seu olhar
antes de enterrar minha língua em suas dobras macias, seus lábios se abrem e um lamurio passa
por eles enquanto seus olhos se fecham.
Mordo sua virilha, arrancando dela um gemido profundo.
— Fique de olhos bem abertos, quero que você veja quem está fodendo sua doce boceta.
Lovely me dá um sorriso felino e prende a parte de trás do joelho em volta do meu
pescoço, me puxando para frente. Enterro minha língua em sua entrada e a lambo deliciosamente
devagar, movendo-a até chegar ao seu clitóris. Enterro dois dedos nela e seus gemidos se
entrelaçam com os sons úmidos dos meus dedos fodendo sua boceta. A sua boca se transforma
em um lindo O, enquanto bato duro dentro dela e brinco com a minha língua em seu clitóris. A
sua boceta começa sovar os meus dedos desenfreadamente, e os seus quadris balançam ao ritmo
do orgasmo que percorre seu corpo. Ela geme meu nome, encontrando sua libertação, mas não
consigo parar de saboreá-la.
— Você tem um gosto delicioso pra caralho. — Eu me aproximo dela e me inclino para
beijá-la, enfiando minha língua em sua boca para que ela possa saborear a si mesma.
— Vire-se — sussurro em seu ouvido, mordiscando sua orelha. Ela obedece como uma
boa garota. Jogo um travesseiro no chão e, quando Love olha para mim por cima do ombro, eu a
empurro para cima dele. Seguro seus quadris, mantendo apenas sua deliciosa bunda para cima.
Seus cabelos escuros se espalham como fios de ébano pelo travesseiro, mostrando o
contorno sexy de suas curvas.
— Por que nada pode ser normal com você? — ela geme, me olhando por cima do
ombro.
— Porque o que pretendo fazer é melhor assim — aviso, enfiando um dedo na boceta
dela e depois levando até minha boca. Porra, o gosto dela me deixa louco. Tudo o que consigo
pensar é em beijá-la, fodê-la e mordê-la como maldito bastardo que sou.
Eu seguro as bochechas da sua bunda, abrindo-a para mim. O desejo ardente e
possessivo toma conta de mim, destruindo quaisquer pensamentos que não envolvam estar
enterrado dentro de Lovely. Seguro meu pau longo e grosso na base e afundo a ponta na sua
entrada molhada, meu pau se contrai em antecipação e consigo sentir a onda de umidade
escorrendo por ele. Deslizo meu comprimento pela sua bunda, acariciando seu buraquinho.
— Mad, não! — Love adverte, mas não obedeço e passo a mão pelas costas dela,
acalmando-a.
— Relaxa, não quero te machucar. — Não entendo por que, mas pareceu mais uma
ameaça.
Deslizo meu pau por toda sua extensão, observando seu buraquinho rosado se contrair,
grunho e me enterro até o talo na sua boceta. Minha boca se abre em puro êxtase, sentindo suas
paredes brigarem para engolir todo o meu comprimento. Ela é tão apertada, tão pequena.
— Jesus! Você é perfeita pra caralho. — Ofego, perdendo o último fio de sanidade que
me resta. Deslizo para fora e me empalo novamente, com sua umidade me deixando entrar com
facilidade.
— Lovely..., você aceita... — empurrei nela com força — ... ser oficialmente... — cerro
os dentes com outra estocada poderosa — ... MINHA? — rosno.
— Oh..., Deus, Mad. Sim. Eu quero... — ela grita.
Me agarro no ferro da cabeceira e encontro um ritmo. Love empurra os quadris para
cima, me recebendo por completo. Eu aliso suas costas pálidas, depois deslizo o meu polegar em
sua umidade e levo até sua bunda. Ela enrijece ligeiramente.
Calma, coelhinha.
Acaricio seu buraquinho lentamente, ganhando sua confiança, e aos poucos deslizo a
falange do meu polegar. Lovely solta um gemido, abafado pelo travesseiro.
Isso, coelhinha, me receba todo, como uma boa garota.
Fodo-a com mais força, os seus gemidos tornando-se cada vez mais graves e intensos.
Sua boceta me ordenha. Meu corpo estremece de prazer e meu pau sente a sensação do orgasmo.
Eu saio dela e deslizo meu pau em sua bunda. Ela endurece imediatamente.
— Mad — ela choraminga.
— Relaxa e se acaricie para mim — ordeno.
Ela obedece e um gemido rouco percorre por seus lábios. Empurro lentamente a cabeça
do meu pau em sua bunda e espero até que ela se acostume. Lovely geme e seus dedos batem
com mais força em sua boceta, me deixando com uma necessidade absurda de empurrar com
força, mas isso a machucaria. Empurro lentamente, mas não todo ainda, porque é grande demais
para ela.
— Se mova, lentamente — aviso, meus dedos passam por baixo de sua perna,
encontrando seu nervo inchado.
Lovely coloca as mãos no chão e se move contra mim, enquanto meus dedos torturam
seu clitóris e, quanto mais excitada ela fica, mais forte empurra, com sua bunda engolindo meu
pau inteiro. Seus gemidos ofegantes me deixam cada vez mais duro. Espero ela atingir o
orgasmo, agarro seus quadris com força e fodo sua bunda deliciosa.
Estou malditamente perto de gozar, mas, mesmo que quisesse atrasar, não conseguiria.
Meu gozo explode dentro dela, e eu diminuo meu movimento, saindo lentamente para não a
machucar. Minha porra escorre da bunda dela em direção a sua boceta e posso dizer que é a coisa
mais linda que já vi na vida.
Puxo Love pelos quadris, colocando-a de volta na cama, suas costas brilhantes de suor
encostam em meu peito enquanto nos deitamos e puxo-a para mim.
Ela se vira em meus braços, afastando o cabelo. Suas pupilas estão dilatadas e suas
bochechas rosadas, assim como seus lábios. Saber que fui eu quem a deixou nessa bagunça envia
um espasmo direto para meu pau.
— Você está bem? — pergunto, pois acredito que foi seu primeiro anal.
Suas bochechas coram um pouco mais e ela dá de ombros.
— É diferente — ela profere um pouco sem fôlego. Eu sorrio e dou um beijo em sua
cabeça. Seus dedos delicados sobem até meu peito e suas unhas compridas, pintadas de preto,
começam a circular minha tatuagem.
— Gostei de conhecer seu pai — ela diz, agora circulando meu mamilo.
— James é a melhor pessoa que conheço — respondo, enrolando uma mecha de seu
cabelo no dedo, pensando em tudo que meu pai fez por mim.
Fui transportado para aquele dia, há tantos anos, em que minha vida mudou
irrevogavelmente. Memórias agitam-se dentro de mim. O cheiro pungente do apartamento escuro
e enfumaçado invadiu minha mente, misturando-se à visão das paredes descascadas e das
garrafas de cerveja espalhadas pelo chão. A imagem do meu pai, com o cigarro aceso pendurado
perigosamente nos lábios entreabertos enquanto roncava pesadamente na cama, ficará para
sempre gravada na minha mente.
Eu tinha apenas nove anos quando vi o fogo devorar seu corpo e as chamas se
espalhando rapidamente pelo travesseiro. Bem, essa foi a versão que James me instruiu a contar
aos outros detetives.
Meu pai biológico era o diabo em forma de homem, e o mal encarnado nele parece ter
se enraizado em mim. Minha mãe morreu de overdose de metanfetamina quando eu tinha seis
anos, mas sua morte foi um alívio disfarçado de tragédia, libertando-me do tormento diário de
viver sob o mesmo teto que ela e meu pai. Mas, mesmo sendo ela uma vadia cracuda, ela não
negligenciou completamente a minha existência, como meu pai, que me prendia diariamente em
um armário escuro. Assim, era mais fácil ignorar minhas queixas sobre fome e atenção. Nas
poucas vezes que consegui escapar daquele armário, recebi punições cruéis, como
espancamentos, confinamento em gaiola de arame ou até mesmo queimadura com isqueiro.
Então, quando o vi deitado ali, naquela noite, com o cigarro apagado entre os lábios,
bêbado e vulnerável como um porco prestes a ser abatido, algo dentro de mim se instalou. Peguei
o mesmo isqueiro que tantas vezes foi instrumento de minha tortura e acendi o cigarro, deixando
o destino fazer o resto. Uma parte de mim sabia que a escuridão estava sendo consumida com
ele, mas a outra parte permanece comigo.
Coloquei seu isqueiro metálico com uma caveira esculpida no bolso da calça e o
tranquei no quarto. Quando os gritos começaram, eu estava sentado no chão da sala, comendo as
migalhas de um biscoito velho que encontrei no armário. Alguém ligou para o corpo de
bombeiros e para a polícia. Na época, James foi o detetive encaminhado.
O processo de adoção foi longo e a transição para uma nova vida com James não foi
fácil. Mas, aos poucos, comecei a me abrir para a possibilidade de uma existência diferente
daquela que conhecia. Aprendi a confiar em James e a confiar em mim mesmo. Agora, tudo que
me resta do passado é o isqueiro e as malditas lembranças que parecem nunca se apagar.
— O que foi, Mad? Você está tão quieto. — A voz suave de Lovely quebra o silêncio,
trazendo-me de volta ao presente.
— Nada. — Beijo sua têmpora e me levanto para ir ao banheiro.
Entro no banheiro do meu quarto e tranco a porta, mas, ainda assim, sinto como se não
houvesse ar suficiente para encher meus pulmões. Lavo minhas mãos trêmulas e depois lavo a
nuca e o rosto repetidamente, como se a água pudesse lavar os pensamentos intrusivos que me
assombram. Ao olhar no espelho embaçado, vejo meu reflexo, mas é como se houvesse outra
pessoa ali. Minha respiração fica mais rápida e mais superficial, como se eu estivesse preso em
uma bolha de angústia e não conseguisse encontrar uma saída. Sinto um aperto no peito, como se
alguém estivesse me sufocando lentamente.
Meu estômago revira e uma onda de náusea sobe pela minha garganta. Engulo em seco,
lutando contra a vontade de vomitar. Cada músculo do meu corpo parece tenso, como se
estivesse prestes a entrar em colapso a qualquer momento. Preciso me acalmar e sair desse
estado de pânico antes que ele me consuma completamente.
Finalmente, depois de alguns minutos que parecem uma eternidade, sinto uma leve
calma tomar conta de mim. Abro os olhos e vejo meu reflexo no espelho, ainda tremendo, mas
agora mais controlado. Tenho consciência de que essa aflição nunca me abandonará
completamente, mas também sei que posso aprender a lidar com ela, assim como aprendi a lidar
com todo o resto.
Volto para o quarto, e Lovely está sentada com as pernas fora da cama, segurando meu
isqueiro. Ela olha para mim, seu rosto um pouco pálido.
— O que você está fazendo? — pergunto com mais severidade do que queria e pego
minha cueca, vestindo-a rapidamente.
— Caiu quando fui pegar as minhas roupas — explica, fechando o isqueiro com um
clique e me entregando. — Podemos ir agora? — pergunta, pegando suas roupas do chão.
Concordo com a cabeça, Lovely se levanta e caminha até o banheiro em silêncio.
Termino de me vestir, me sento na cama e espero por ela. Depois de muito tempo, Love sai do
banheiro vestida e com os olhos vermelhos.
— Vamos — ela sussurra, virando-se de costas para mim, evitando contato visual.
Eu a seguro pelo braço e a viro para mim.
— Você estava chorando? — pergunto, levantando o queixo dela em minha direção.
Ela me dá um sorriso fraco.
— Sim, a maquiagem entrou nos meus olhos — explica com uma careta.
Eu me abaixo e capturo seus lábios em um beijo lento, envolvendo minhas mãos em
torno de seu corpo. Até agora, Lovely foi a segunda melhor coisa que me aconteceu, mas, se ela
descobrir o que eu fiz, não haverá redenção para mim.
Capítulo 19

O som metálico estridente da campainha corta o ar, anunciando a abertura de uma porta
de metal. Mesmo diante dos sinais gritantes em minha mente, dou um passo à frente, ignorando-
os completamente.
Meu coração parece dobrar de tamanho quando fecho a porta atrás de mim. O quarto é
pequeno e austero, contendo apenas o essencial: uma cama de metal, com um lençol amarelado
estendido sobre ela, uma poltrona marrom gasta e uma janelinha com grades, que permite a vista
do pátio da prisão. O cheiro de desinfetante paira no ar, misturado com um toque de mofo que
parece permear as paredes brancas. Mas é a presença de Corbin que domina o ambiente. Ele está
sentado na beira da cama com as pernas cruzadas, olhando para mim com uma expressão ilegível
em seus intensos olhos azuis.
Seu uniforme laranja destaca seus músculos definidos. Seu cabelo preto está mais curto
e é a moldura perfeita para seu rosto anguloso, mas há algo desafiador em seu sorriso torto
enquanto ele me observa parada como uma coluna no meio do quarto.
Engulo em seco, a tensão esmagando meus ombros enquanto olho de volta para ele.
Mas, apesar da incerteza e do medo que me consomem, não vou recuar agora. Passei quase uma
semana obcecada com aquele isqueiro de Maddox e então surgiram outras coincidências.
● Sombra entrou na minha casa sem arrombar, da mesma forma que Maddox fez.
● Maddox é próximo de Corbin e Jimin, pelo menos foi que Devon me disse no
refeitório e, se Mad é o Sombra, Jimin é o Gorila. Isso nem me surpreenderia.
● Sombra comprou um modificador de voz.
● Meus pneus foram furados com uma faca ou canivete, Maddox tem um canivete.
Como posso simplesmente ignorar todas essas contingências? Não posso, embora uma
parte de mim se recuse a acreditar que Mad faria algo assim comigo. Esses dias foram os mais
difíceis para mim. Meu corpo anseia pela sua proximidade, pelos seus beijos, carícias e elogios,
mas minha mente, sempre que olho profundamente em seus olhos, envia sinais de que não posso
deixar passar.
— Confesso que fiquei surpreso por aceitar a visita íntima. — Corbin quebra o silêncio.
Sua voz é suave, quase provocativa. Ele descruza as pernas e apoia a mão aberta na cama.
— Eu não vim aqui para joguinhos. Eu vou dar o que você quer, e você me dará o que
eu quero. — Seu sorriso se amplia e Corbin se levanta. Levanto meu queixo para encontrar seu
olhar com meu coração começando a bater em um ritmo frenético.
Ele avança, abruptamente me agarra pelas coxas e me pressiona contra a parede, seu
corpo esmagando o meu e, quando ele tenta me beijar, eu me afasto de seus lábios.
— Quero um dos nomes agora e outro depois que você terminar — proponho com os
dedos cravados em seus ombros, tentando afastá-lo.
— É melhor você anotar, porque, assim que eu começar, coelhinha, você não vai se
lembrar de mais nada. — Suas palavras fazem meu estômago embrulhar e não tenho certeza se
conseguirei continuar com isso.
Cobra nos vira e me deita na cama com seu corpo entre minhas pernas, e já posso sentir
seu pau duro na minha virilha. Gotas de suor começam a se formar na minha nuca e na testa
enquanto ele beija meu pescoço. Cravo minhas unhas em seu peito para afastá-lo, deve haver
outra maneira de eu saber. Então seus lábios encontram meu ouvido e ele sussurra:
— Maddox Knight, foi quem violou sua boceta naquela noite, agora é a minha vez. —
Meu corpo se torna uma gelatina como se minhas forças tivessem sido drenadas enquanto meu
cérebro processa a informação.
As minhas mãos caem frouxamente sobre o colchão e lágrimas queimam meus olhos,
implorando para serem derramadas. Flashes daquela noite se entrelaçam com os momentos que
tivemos recentemente. Uma bola de desespero cresce em minha garganta, me sufocando como as
garras de Sombra... Maddox.
Corbin se afasta para encontrar meu olhar.
— Eu sei que você não está aqui por vontade própria, mas bem que você poderia
cooperar, não é? — Enquanto suas palavras ecoam em minha mente, uma mistura de choque, dor
e incredulidade me consome. Então, como se uma válvula de pressão em minha mente se
rompesse, uma risada histérica irrompe de minhas entranhas, sacudindo todo o meu corpo. É um
riso sem alegria, sem humor, um riso que vem do abismo de minha alma dilacerada.
Meus olhos arregalados se enchem de lágrimas enquanto eu rio, como uma cacofonia
dissonante no silêncio sufocante do quarto de prisão. Cada risada é um soco na dor que me
assombra e uma tentativa desesperada de exorcizar o horror da verdade que acabo de descobrir.
Rio e choro ao mesmo tempo em uma sinfonia dissonante de emoções conflitantes.
Corbin se afasta e se senta ao meu lado. Ele me observa sem entender completamente a torrente
de emoções que estou experimentando, e talvez nem eu mesma compreenda totalmente.
O riso diminui e, no final tudo, o que resta são lágrimas e dor, uma dor que não pode ser
dissipada por risadas vazias, pois tornou-se parte de mim, uma marca permanente da traição e
crueldade de Maddox.
— Cara, você está chapada? — Viro minha cabeça para Corbin.
— Vem — estendo-lhe a mão —, vou cooperar — digo, enxugando as lágrimas.
— O que foi isso? — Corbin pergunta, levantando-se e tirando o macacão, mostrando
seu corpo musculoso coberto de cicatrizes, algumas parecem mais recentes que outras.
— Acho que atingi à insanidade. — Ele sorri, mas o que ele não sabe é que estou
falando sério.
Maddox me arrastou até o inferno e, agora que estou aqui, por que não abraçar o diabo?
Sento-me e tiro minha blusa, em seguida, inclino-me para trás para que ele tire minha
calça jeans. Levanto os pés até a ponta da cama e me empurro para cima, deixando o olhar de
Corbin devorar meu corpo.
Ele abaixa a cueca e seu pau duro fica na altura dos meus olhos, eu me deito nos
travesseiros enquanto ele pega uma camisinha da gaveta da cabeceira e envolve em seu membro.
Cobra se ajoelha entre minhas pernas, tira minha calcinha de renda preta e solta um
silvo quando seu olhar cai na minha boceta. Seus dedos afundam em minha intimidade e depois
circulam meu clitóris.
— Você quer que eu te chupe? — ele ainda pergunta, me tocando, mas não sinto
nenhuma centelha de prazer.
Balanço a cabeça em negação, pois a última coisa que eu queria nessas circunstâncias
era ser fodida por outro psicopata. Cobra encaixa seu pau na minha entrada e seus olhos se fixam
nos meus enquanto ele se enterra dentro de mim. Fecho os olhos quando ele se inclina sobre meu
corpo e começa a se mover. Ele aperta meus seios, depois envolve seus lábios em torno do meu
mamilo e chupa e mordisca com uma ferocidade que tenho certeza de que me deixará marcada.
— Por que você está tão tensa? — geme em meu ouvido, pegando minhas mãos e
levando-as até seu pescoço. — Por acaso você tem alguém lá fora? — pergunta e acrescenta: —
Aperte bem, Coelhinha. — Corbin geme, segurando meus quadris enquanto empurra cada vez
mais fundo.
— Eu tinha um namorado — digo, apertando o pescoço dele, desejando que fosse do
Maddox. — Aí descobri que ele é um psicopata que me persegue com uma máscara — comento,
aplicando toda minha força no pescoço de Corbin, seu rosto assumindo um tom avermelhado.
Ele para de me penetrar e agarra meus pulsos com força, prendendo-os na cama.
— Você está brincando comigo? — ele rosna, seu olhar ficando sombrio.
— Maddox Knight me pediu em namoro semana passada. — Corbin se afasta como se
tivesse se queimado.
— Você sabia que era ele! — ele afirma, a raiva brilhando em seus olhos azuis, — Por
que você está aqui?
— Eu precisava confirmar — falo, me sentando na cama e Cobra se deita ao meu lado,
seu pau perdendo força dentro da camisinha. — Por que você revelou que era Maddox?
— O combinado era esse, mas, se você tivesse me dito que pertencia a ele, eu não teria
tocado em você. — Reviro os olhos irritada e me levanto da cama.
— Eu não pertenço a ele! — rosno.
— E o que você pretende fazer agora que sabe a verdade, Coelhinha?
— Me vingar. — Corbin faz um som anasalado, balançando a cabeça em negação.
— Knight tem quase dois metros de puro músculo e, com a ajuda de Jimin, não vejo
como isso pode funcionar.
— Nunca subestime uma mulher com raiva — aviso, me vestindo.
Corbin sorri, virando-se na cama e apoiando-se no cotovelo.
— Você consegue ficar de boca fechada por alguns dias? — pergunto, fechando meu
sutiã.
— Depende. Você vai voltar e me contar como tudo terminou?
Eu dou de ombros.
— Claro. — Não tenho mais nada a perder.

Peguei a estrada para casa enquanto o sol se punha, ainda digerindo tudo o que
aconteceu na prisão. A sensação de traição e choque pesa em meu peito, fundindo-se à raiva
fervente crescente dentro de mim. Maddox Knight me manipulou, me enganou e me usou. Como
pude ser tão cega? Como pude ignorar todos os sinais gritantes bem na minha frente?
Minhas mãos seguram o volante com força, os nós dos dedos estão brancos devido à
minha fúria. A imagem de Maddox se entrelaça com a lembrança de sua voz, de sua pele e de
seu toque. Tudo o que eu achava que sabia sobre ele foi destruído em um instante.
Respiro fundo, tentando acalmar os nervos que dançam dentro de mim. Quero quebrá-lo
de todas as maneiras que ele me quebrou. Minha mente está em um vórtice, gritando com o
pensamento de vingança.
Meu corpo anseia por chegar em casa. Preciso de um banho, de uma limpeza para
purgar todo esse sentimento de nojo que estou sentindo por mim mesma. Nunca me senti tão suja
em toda a minha vida.
Viro a rua em direção à minha residência e o vejo. Maddox está sentado nos degraus,
fumando. Vê-lo me dá vontade de gritar de frustração. Meu coração pula no peito, e minhas
mãos começam a tremer ao mesmo tempo. Cobra já o avisou? Ele olha para mim com um sorriso
cínico brincando em seus lábios. Esse mesmo sorriso que uma vez me enfeitiçou agora me enche
de raiva.
Respiro fundo, preciso manter a calma até saber o que fazer. Mas é difícil. Tudo que
quero é enfrentá-lo e confrontá-lo com a verdade de suas ações desprezíveis. Estaciono o carro, e
minha respiração rápida ecoa em meus ouvidos. Respiro fundo, reunindo toda a coragem que
posso, e abro a porta do carro. Ele se levanta quando me aproximo, jogando o cigarro no chão e
pisando nele.
Forço um sorriso, tentando parecer calma e controlada, como se nada tivesse
acontecido, mesmo que a raiva borbulhe dentro de mim, deixando meu sangue em ebulição.
— A que devo a honra da sua visita? — Minha voz soa incrivelmente suave e minhas
emoções se revoltam dentro de mim.
Um sorriso doce aparece em seu rosto. Isso só aumenta minha vontade de esbofeteá-lo.
— Mal te vi na Vanguard hoje — diz, me puxando para seus braços, seus lábios
encontram os meus, e eu quero chorar e arranhar a sua cara toda, mas meu corpo miserável se
incendeia com seu toque como fogo em pólvora.
Eu me afasto de Maddox, e ele puxa algo do bolso.
— Comprei algo para você — ele diz, seu tom suave. Eu engulo em seco, sentindo meu
coração acelerar, e lambo meus lábios nervosamente enquanto encontro seu olhar. Ele estende a
mão aberta antes que eu possa formular qualquer pensamento coerente, revelando um colar de
ouro branco com uma esmeralda em formato de gota no centro, cercada por delicados diamantes.
— É lindo — falo, percorrendo os dedos pelo colar ainda em sua mão e sentindo o nó na
minha garganta se apertar ainda mais.
— Ficará ainda mais lindo no seu pescoço. — Mad caminha até as minhas costas e
prende o colar no meu pescoço.
— Obrigada, Mad. — Forço as palavras a saírem, mesmo estranguladas. Respiro com
força, querendo saber como ele consegue atuar malditamente bem.
Eu sorrio, porque não consigo pensar em nada melhor para dizer. Maddox me pega nos
braços e me carrega para dentro de casa, ele me solta no meio da sala e Noturno começa a miar
aos nossos pés. Aliso a cabeça do meu gato antes de me virar para ele.
— Vou tomar um banho — aviso, talvez ele mude de ideia e vá embora.
— Isso é um convite? — Um sorriso malicioso se espalha por seus lábios.
Santo inferno. Sombra está parado na minha frente, estou olhando nos olhos dele e
prestes a tomar banho com ele. Maddox é perigoso e sagaz. Se eu continuar me esquivando, ele
vai perceber.
— O que você acha? — Sorrio, minhas lágrimas presas no canal lacrimal, implorando
para sair.
Maddox me lança um olhar predatório antes de me jogar por cima do ombro e me
carregar para o andar superior. Ele me leva até o banheiro da suíte. Só consegui voltar a dormir
nesse quarto depois que o cheiro de desinfetante desapareceu completamente. E ainda tenho
pesadelos com aquele pobre coelho. Meu estômago revira quando me lembro que Maddox é um
monstro em forma de homem.
Ele me deixa cair no chão e corro para tirar minhas roupas antes que ele possa tirar os
sapatos. Entro no chuveiro e o ligo sem me importar que o primeiro jato seja de água fria.
Jogo minha cabeça para trás, deixando a água escorrer pelo meu corpo. Mad aparece na
entrada do banheiro sem camisa e sapatos e me olha firme nos olhos como se pudesse arrancar
algo dali.
— Você está bem, Love? — Franzo o cenho, fingindo demência.
— Claro, por quê? — pergunto, engolindo em seco. Mad dá um passo em minha direção
e jogo um pouco de água em seu corpo com um largo sorriso no rosto.
— Nada. — Mad parece relaxar e sorri de volta, terminando de tirar a roupa.
Meu coração pesa em meu peito. Lambo meus lábios sentindo o gosto das minhas
lágrimas se misturando com a água. Maddox entra no box, e seu enorme corpo ocupa quase todo
o espaço.
Ele empurra meu cabelo para o lado e seus dentes se enterram na curva do meu pescoço,
me causando arrepios por todo o meu corpo. Depois ele chupa minha pele enquanto sua mão se
fecha em volta do meu seio, e a outra desce até meu clitóris. Estremeço toda com seu pequeno
toque.
Mad empurra seu pau duro entre minhas pernas e belisca meu mamilo, ainda
massageando meu nervo, deixando-o incrivelmente sensível. Mordo meu lábio com força,
contendo um gemido no fundo da garganta. Ele tirou tudo de mim e agora está tirando a minha
dignidade.
Meus lábios se abrem, e eu gemo, sentindo meu corpo ceder ao seu toque. Mad me vira
para ele e me levanta pelas coxas, seus lábios tomam os meus com ferocidade, e seu pau desliza
em minha boceta, molhada para ele.
Minha cabeça se aninha na curva de seu pescoço enquanto ele afunda em mim,
sussurrando palavras que ele sabe que me deixarão ainda mais apertada e molhada. Lágrimas
borbulham em meus olhos enquanto luto para conter o nó que se forma em minha garganta.
Maddox continua a me tratar como uma marionete, e me sinto presa em suas garras implacáveis,
sem saber como escapar de seu toque e de seu domínio avassalador.
Eu grito, sentindo os espasmos do orgasmo ficando cada vez mais fortes. Os dedos dele
agarram um punhado do meu cabelo e puxam-no para trás. Meu queixo se levanta para encontrar
seu olhar. Seus olhos azuis brilham escuros e luminosos, como pedras preciosas brilhando na
noite. Mad passa a língua pelo meu queixo até enterrá-la na minha boca. Seu beijo ficando cada
vez mais forte, combinando com suas estocadas poderosas.
Meus lábios se abrem enquanto gemo em sua boca, encontrando minha libertação. Mad
se enterra uma última vez e sinto seu gozo explodir dentro de mim. Sua testa encosta na minha e
ouço nossa respiração irregular.
Terminamos de tomar banho, conversando sobre assuntos superficiais, minha cabeça
não conseguia se aprofundar em nada. Tudo que eu queria era ficar sozinha com meus
pensamentos para tentar entender tudo que estou sentindo.
Saímos do chuveiro e nos deitamos na minha cama. Maddox adormeceu primeiro,
enrolando uma mecha do meu cabelo no dedo. Eu ainda permaneço acordada, olhando para a
grande lua brilhando do lado de fora da minha fachada de vidro, sentindo um vazio profundo no
meu peito.
O que eu faço com você, Mad?
Capítulo 20

Recosto-me na cadeira, imerso na penumbra do meu quarto, com apenas a fraca luz da
tela do computador banhando meu rosto. Um gole de cerveja desce pela minha garganta, e meus
dedos tamborilam nervosamente na minha perna enquanto observo Love pela tela. Espiar pela
webcam não era algo que eu faria se não estivesse sentindo-a tão distante nos últimos dias.
Mandei uma mensagem mais cedo, mas ela simplesmente olhou para o telefone e o
deixou de lado, sem resposta. Talvez eu esteja sendo irracional, mas, quando sinto que algo não
parece certo, não está certo.
Ela boceja constantemente, um sinal claro de exaustão. Seus olhos permanecem fixos no
computador, mas seu olhar parece distante. Love se espreguiça e se apoia na mesa com o
cotovelo. De repente, ela se endireita na cadeira e pega o celular. Seus olhos se estreitam
ligeiramente enquanto ela olha para a tela dele, e me pergunto quem poderia estar do outro lado
da linha. Uma onda de paranoia me atinge, fazendo-me pensar se é o imbecil do Macoy.
Ela coloca o telefone na mesa com um suspiro, esfrega os olhos como se estivesse
lutando para ficar acordada e fecha o notebook. Talvez agora ela vá dormir.
Acendo um cigarro, observando a fumaça se dissipar lentamente no ar silencioso do
quarto. O relógio diz que é quase uma da manhã, e eu também preciso descansar. Amanhã tenho
uma prova na primeira aula e, à noite, finalmente enfrentarei o Macoy.
Termino o cigarro, levantando-me da cadeira com um estalo nos músculos. Meu
telefone vibra sobre a mesa com um número não identificado. A última vez que isso aconteceu
foi Corbin trazendo más notícias. Seguro o telefone, me perguntando o que ele tem a me dizer a
essa hora. Quando ele mencionou oferecer sexo durante a visita dela à prisão, rimos porque
sabíamos que Lovely jamais se submeteria a isso, e eu ainda desejei poder esmagar a garganta
dele por sugerir isso.
Atendo e aguardo a pessoa do outro lado falar.
— Knight.
— Que porra você fez, CJ? — pergunto ao reconhecer sua voz.
— A Coelhinha não é tão inocente quanto pensávamos. Ela veio me visitar na prisão,
Mad. E não foi apenas para uma conversa amigável. — Sua voz soa zombeteira e meu aperto se
torna mortal no aparelho.
— Porra, me diz que você não a fodeu, seu arrombado do caralho — rosno com os
dentes cerrados, com cada palavra escapando dos meus lábios em um grunhindo feroz. Minhas
mãos tremem de raiva e um calor abrasador ferve em meu sangue.
— Se isso faz você se sentir melhor, ela só veio confirmar que era você mesmo.
A raiva queima rapidamente em meu peito, uma mistura de ciúme, traição e pura fúria.
Como ela pôde? Como ela pôde se entregar a ele, a esse bastardo traidor que estava disposto a
nos vender em troca de sexo? A imagem de Love nos braços de CJ me deixa insano, é como se o
meu coração estivesse sendo estripado por um punhal.
Balanço a cabeça, dissipando os pensamentos insignificantes, não há tempo para
sentimentalismos agora.
— Quando foi essa visita? — interrogo.
— Cerca de quatro dias atrás — responde, despreocupado. Este infeliz adora participar
do caos, mesmo que não consiga vê-lo.
— E você não conseguiu me avisar antes?
— Estou na prisão, Knight, e não na porra de um acampamento de verão. Se você
tivesse me dito que estava brincando de casinha com a única testemunha daquela noite, eu teria
ficado bem longe dela — ele sibila.
— Eu sei, mas isso não importa agora, quando você sair da prisão, CJ, vou arrancar suas
bolas pela garganta por ter tocado nela. — Uma risada desdenhosa irrompe do outro lado.
— Se você estiver vivo até lá. A Coelhinha está com sangue nos olhos. — Ele ri.
— Seu bastardo, ela é a única que pode nos entregar — eu rosno.
— Ela não vai, relaxe. Ela está apaixonada por você, nem me deixou chupar sua boceta
apertada, você tem sorte, Knight — provoca com suspiro falso, pois sabe que não posso pegá-lo.
Encerro a ligação com o meu corpo tremendo violentamente e a raiva me cegando. CJ consegue
piorar qualquer situação ruim.
Love sabe sobre nós, sobre o que fizemos. Uma onda de choque me atinge quando
percebo o que isso significa. Ela nunca vai me perdoar.
— Maldição! — rosno. Minha mente se torna uma bagunça, minha vontade de destruir
tudo ao meu redor luta contra a vontade de encontrar uma solução para esse imenso problema.
Foda-se.
Pego meu capacete da mesa e saio do quarto com passos pesados, preciso falar com ela, antes

que ambos façamos alguma besteira.


Acelero minha moto, cada vibração do motor ecoando minha raiva e frustração.
Pensamentos sobre a visita de Love à prisão giram furiosamente em minha mente, como uma
tempestade que ameaça engolir tudo em seu caminho. Ela estava lá, com Corbin. E então
comigo. A ideia gela meu sangue, mas eu a empurro para longe, antes de acabar cometendo uma
loucura, cumprindo com a promessa que fiz a ela na última vez que a vi na floresta. Eu provaria
todos os orifícios dela se ela continuasse nos investigando, porra, eu devia tê-la tomado contra
uma árvore, garantindo que ela ficasse bem longe de CJ.
Chego na frente da casa dela, estaciono minha moto com um rangido de freios, e minha
respiração difícil se junta ao ar frio da noite. Desmonto com um solavanco, meu capacete
pendurado em um dos espelhos retrovisores. Meu coração martela no peito, um misto fervilhante
de ansiedade e raiva me consumindo.
Vou até a porta da frente, meus dedos passam pela campainha, mas hesito antes de
tocar. E tento a sorte com o mesmo código. A porta se abre com um pequeno clique, dou um
passo para dentro da casa e uma pulga inquieta se aloja atrás da minha orelha enquanto fecho a
porta atrás de mim.
Se Love sabe que sou eu, por que ela não mudou o código?
O que você está tramando, Coelhinha?
Subo até o segundo andar e caminho pelo corredor até chegar à suíte com meu coração
batendo forte no peito enquanto meu punho se fecha em torno da maçaneta. Com um movimento
rápido, abro a porta e entro no quarto.
Meus olhos demoram um pouco para se ajustar, tentando penetrar na escuridão
enquanto dou passos em direção à cama. O silêncio é ensurdecedor, minha respiração soa como
um rugido em meus ouvidos.
No momento em que meus olhos não encontram Love na cama, algo parece errado.
Uma sensação de alarme percorre minha espinha, mas, antes que eu tenha chance de reagir, uma
figura se materializa ao meu lado com uma máscara de néon vermelha brilhando no escuro.
Antes que eu possa processar o que está acontecendo, um choque violento percorre meu
corpo e uma dor aguda me atravessa como uma faca. Caio de joelhos, minha visão piscando em
vermelho e preto, cada músculo se retorcendo em agonia enquanto luto contra a sensação de
formigamento que se espalha por mim.
Tento me levantar, lutando contra a dor que irradia por todo o meu corpo. Mas outro
choque me atinge, mais forte do que antes. Meu corpo convulsiona involuntariamente, minha
força se esgota quando caio estendido no chão e minha consciência oscila perigosamente à beira
da escuridão, cada pensamento se dissolvendo em uma névoa confusa. A dor ainda lateja em
cada fibra do meu ser, mas parece distante, como se eu estivesse em um sonho nebuloso.
Então, através da escuridão, o cheiro familiar de Love permeia o ar. Minha mente turva
luta para processar a presença dela, tentando entender o que está acontecendo.
— Você brincou com fogo, Maddox, e agora está prestes a se queimar. — Enquanto
tento encontrar uma resposta, a escuridão me engole e as palavras de Love ecoam em minha
mente como um prelúdio sombrio do que está por vir.
A consciência retorna lentamente, como se eu estivesse emergindo de um mar de
escuridão. Primeiro, é apenas uma sensação de peso nos membros, uma dor difusa e entorpecida
que se espalha por todo o corpo. Então as sensações começam a se cristalizar e os contornos da
realidade se formam ao meu redor.
Examino o ambiente, e minha visão embaçada se ajusta à penumbra. Estou em algum
tipo de porão escuro e úmido. A escassa luz de uma janela distante ilumina precariamente o
espaço, revelando as paredes de concreto que me cercam. Estou deitado no chão frio, e a dureza
pressiona as minhas costas. Todo o corpo parece pesado e trêmulo, como se fosse feito de
chumbo. Uma sensação de desorientação toma conta de mim, deixando-me tonto e confuso.
Onde diabos estou, Coelhinha? E como você conseguiu me trazer aqui?
Tento lembrar o que aconteceu. O choque, a dor, a voz de Love. Ela e CJ armaram para
mim, eu rio, porque não há outra explicação.
A Coelhinha subjugou o Corvo.
Com esforço concentrado, sento-me no chão e o som de algo metálico chama minha
atenção. Minhas mãos tremem quando alcanço meu pescoço, sentindo algo duro e frio contra
minha pele. Lovely colocou uma coleira de couro em volta do meu pescoço, larga o suficiente,
mas não para ser tirada.
Filha da puta!
Meus dedos exploram a superfície áspera da coleira e encontro um espécie de cadeado
em minha nuca, ligado a ela uma corrente grossa que se estende em direção a uma viga de
suporte próxima. Meu coração quincha quando percebo a gravidade da minha situação. Ela me
aprisionou como um animal enjaulado.
A adrenalina corre pelo meu corpo novamente, me levanto, mas a corrente se arrasta
atrás de mim e, enquanto me movo em direção à viga, noto um colchão de casal no chão. Meu
sangue ferve e me pergunto por quanto tempo ela pretende me deixar aqui. Alcanço a viga e
examino a corrente, buscando encontrar uma maneira de me libertar, mas está bem presa, sem
qualquer sinal de chave ou fecho que eu possa manipular.
Que caralho ela pensa que está fazendo!
— Lovely! — grito a plenos pulmões, minha voz ecoa no porão, repleta de uma
combinação de raiva e desespero. Minhas mãos agarram a corrente com força, com os dedos
fechando-se em torno do metal áspero enquanto tento processar a magnitude da situação em que
me encontro.
A sensação de impotência que me dominava há tanto tempo ressurge com uma
ferocidade avassaladora, como se todas as memórias sombrias do meu passado estivessem se
aglomerando ao meu redor, envolvendo-me em sua escuridão sufocante. Por um momento, sinto-
me como aquele menino assustado, preso num armário escuro, incapaz de escapar do tormento
que o cerca.
— Lovely — grito um rugido de raiva.
O eco dos meus gritos enche o porão. Cada vez que chamo seu nome, um sentimento de
desespero se apodera de mim, como se a própria escuridão estivesse se fechando ao meu redor.
Santo inferno, pareço uma menininha com medo do escuro. Love não desce. Ela não responde
aos meus apelos. Uma onda de fúria me envolve, alimentada pelo conhecimento de que ela me
prendeu aqui.
Minhas mãos estão ainda agarradas à corrente, eu puxo com força. Nada acontece,
parece que a corrente foi soldada na viga. Uma torrente de derrota me invade. Com um grunhido
de raiva, avanço em direção ao colchão e, a cada passo, o rangido da corrente ecoa no silêncio do
porão.
Deixo-me cair no colchão com um suspiro pesado e um sentimento de resignação se
instala em meu peito. Posso gritar o nome dela até ficar rouco, mas sei que não vai adiantar.
Love não descerá para me libertar até que sua sede de vingança seja saciada.
Olho para o teto e, à medida que a raiva começa a diminuir, a culpa se infiltra em seu
lugar. Não consigo deixar de pensar em tudo que fiz a ela e em como lhe causei dor e sofrimento.
Pode ser que a prisão seja realmente o meu lugar.
Capítulo 21

Sento-me contra o pilar da escada, meus joelhos puxados contra o peito, enquanto ouço
os gritos abafados de Maddox ecoarem pela porta entreaberta do porão. Cada palavra carregada
de raiva e desespero parece perfurar meu coração como uma faca afiada, o mesmo coração que
ele despedaçou aperta ao ouvir a sua voz suplicante, mas resisto à tentação de descer e enfrentá-
lo. Ele precisa entender que não pode brincar comigo impunemente, não depois do que descobri.
Com as mãos trêmulas, acendo um cigarro, inalando profundamente o aroma familiar
que me rodeia, uma mistura de tabaco e a própria essência de Maddox. Eu olho para o isqueiro
dele. A chama dança diante de mim e minha mente viaja para aquela noite. Maddox me queimou
com esse isqueiro, me marcou como um animal e depois me fez colocar fogo em uma pessoa.
Fecho os olhos, tentando bloquear seus gritos e afastar as imagens dolorosas que
ameaçam me consumir. Mas não importa o quanto eu tente, a culpa persiste, me pesando como
uma âncora e me arrastando para o abismo do remorso.
Teria Maddox me dado o mesmo destino daquele pobre homem se eu não tivesse me
rendido?
Uma lágrima solitária escorre pelo meu rosto enquanto tento me convencer de que estou
fazendo a coisa certa, mas uma parte de mim luta contra a culpa e a incerteza. Estou indo longe
demais? Estou me tornando o que mais temo?
Mas então a realidade me atinge com força novamente, me lembrando por que estou
aqui, porque tomei a decisão de aprisioná-lo. Maddox não é mais o homem por quem me
apaixonei. Ele é o Sombra, meu pesadelo encarnado.
Com um suspiro pesado, levanto-me do chão, passo a mão no rosto, enxugando as
lágrimas que teimam em cair, e fecho a porta do porão com um som inaudível. Um silêncio tenso
se firma, interrompido apenas pelo som abafado da minha respiração acelerada.
Caminho até meu quarto e me lembro da dificuldade de arrastar seu corpo inconsciente
para baixo, cada passo sendo uma batalha contra seu peso e tamanho, mesmo tendo colocado um
lençol embaixo dele para arrastá-lo. Quando chegamos à escada, eu o empurrei e a imagem dele
rolando desajeitadamente ecoou em minha mente. Por um momento, naquela hora, o medo de tê-
lo machucado de forma irreparável me consumiu junto da ideia de ele acordar no meio dos
degraus.
Desligo o celular dele e coloco dentro da minha mesinha de cabeceira junto de outros
pertences dele, depois me jogo na cama, exausta. Tive quatro dias para preparar tudo. Pedi a
Ruth para organizar o porão e limpar o pequeno banheiro, não há chuveiro, apenas o vaso
sanitário, então Maddox terá que se contentar com uma toalhinha molhada se quiser manter a
higiene. Contratei um soldador para prender a corrente no pilar, o que gerou curiosidade a sua
expressão, mas ele teve a educação de guardar para si.
Rolo na cama, querendo dormir, mas fico pensando que ainda não sei o que fazer com
Maddox. Tirar sua autoridade e suas escolhas parece uma boa opção por enquanto, mas não o
fará sofrer como fez comigo.

O som insistente do despertador me tira do sono, me fazendo piscar os olhos


sonolentamente. Num movimento automático, estendo a mão e silencio o alarme, desejando
poder ficar na cama o resto do dia. Tomo um banho rápido, pensando em como foi a primeira
noite do meu convidado, então coloco um vestido preto simples, de mangas compridas, e calço
meus tênis All Star.
Desço até o primeiro andar e encho a tigela do Noturno com ração, depois preparo uma
torrada reforçada e um pouco de suco de laranja e coloco em uma bandeja ao lado para Maddox.
Não posso deixar de pensar no quão ridícula é esta situação, mas, infelizmente, o manual de
boas maneiras não cobre este tipo de contingência. E oferecer a ele a melhor estadia alivia minha
culpa por me reduzir ao nível dele.
Respiro fundo enquanto pego a bandeja com as mãos trêmulas e caminho até o porão,
cada passo parece pesar uma tonelada, como se eu estivesse entrando na toca do leão... ou
melhor, no covil do diabo. Abro a porta do porão com um leve rangido e acendo a luz,
iluminando o caminho.
Desço os degraus e minha respiração se torna mais rápida e superficial. O som dos
gritos abafados de Maddox foi substituído por um silêncio pesado. Meu coração bate
descontroladamente no peito quando meu olhar encontra o dele, sentado no colchão e encostado
na parede. Ele me observa atentamente, seus olhos cravados nos meus com uma intensidade que
quase me faz recuar. Sinto-me como uma presa diante de um predador, com cada fibra do meu
ser alerta para o perigo iminente. Paro diante da marca que desenhei no chão com giz, uma linha
imaginária que nos separa. Não posso me dar ao luxo de baixar a guarda, não com ele.
— Ora, ora, parece que a Coelhinha finalmente decidiu aparecer — murmura com um
sorriso cínico, os olhos faiscando com malícia. Sinto a raiva borbulhando dentro de mim quando
ouço aquele maldito apelido saindo da boca dele. Minhas mãos apertam a bandeja e meus
músculos estão tensos, prontos para explodir.
— Poupe seu sarcasmo, Maddox. Você não vai sair daqui tão cedo — sibilo cada
palavra ríspida e afiada como uma lâmina, então ele se levanta com um impulso selvagem, os
olhos fixos em mim como se quisesse me aniquilar. Ele avança, determinado a me alcançar, mas
a corrente o puxa violentamente para trás, interrompendo bruscamente seu movimento.
Vejo a bestialidade refletida em seus olhos azuis, enquanto ele luta contra a corrente
com os dedos esticados a centímetros do meu pescoço, tão perto e ao mesmo tempo tão longe.
Um sorriso cínico, espelhando o seu, aparece em meus lábios.
— Você não achou que seria tão fácil assim, não é? — pergunto ironicamente e dou um
passo para trás, colocando a bandeja no primeiro degrau da escada, ignorando seu olhar furioso.
Pego o suco que preparei para ele e saboreio cada gole com uma sensação de prazer misturada
com a satisfação de vê-lo frustrado. Pego o sanduíche e dou uma mordida, depois limpo o
contorno dos meus lábios.
— Lovely, meu pai é policial, em algum momento ele vai sentir minha falta, isso não
vai acabar bem para nenhum de nós... — Engulo o desconforto subindo pela minha garganta.
— Que meigo — escarneço, erguendo o queixo, tentando aplacar minha raiva. — Onde
estava essa preocupação quando você me queimou, me sufocou, me violou e me aterrorizou? —
pergunto, me levantando, olhando nos olhos dele, tentando entender como não vi a verdade todo
esse tempo.
— Naquela época, eu não estava apaixonado por você, Love... — Balanço a cabeça,
cansada de ser manipulada e enganada por ele.
— Mentir não vai tirar você daqui, Maddox — digo asperamente, olhando para ele por
um momento, incapaz de desviar o olhar, antes de me virar e subir rapidamente as escadas.
Maddox dirá qualquer coisa para me fazer tirá-lo de lá. Não vou permitir que me controle outra
vez.
Fecho a porta do porão com um estrondo e penduro a pequena chave junto do colar que
Maddox me deu em volta do pescoço.
Apoio a testa na pedra fria da mesa do refeitório, depois de abafar vários bocejos. As
aulas foram uma tortura, eu simplesmente não me levantei e saí, porque teria que ir para casa, e
Sombra está preso no meu porão. Então percebo que nunca me senti tão segura desde que
cheguei nessa cidade de merda.
Sinto um leve puxão em meus cabelos, levanto a cabeça sem a menor vontade e
encontro o olhar de Jimin, então levanto uma sobrancelha, fingindo demência sobre o que ele
quer saber.
Só não coloquei ele no porão com o Mad, porque, dos três, ele é o que menos me
repugna.
— Cadê o Knight? — ele pergunta, se sentando na minha mesa.
— Deve ter matado aula — digo com um pequeno encolher de ombros.
— Sem você? — ele sonda, cerrando os olhos.
— E desde quando eu sei tudo o que seu amigo faz?
— Uau, que mau humor é esse, Love? — Sorrio com esforço e me recosto na cadeira,
encontrando seu olhar.
— Mad passou a noite comigo, mas voltou para a fraternidade para se trocar antes da
aula. Depois não o vi mais. Satisfeito? — esclareço, antes que ele me faça mais perguntas.
Jimin acena com um suspiro e se levanta da mesa com o celular na mão, provavelmente
já ligou para Maddox um milhão de vezes. A merda vai explodir se Corbin decidir ligar para ele.
Levanto-me para ir embora quando Cameron atravessa na minha frente. Seu cabelo loiro
tem duas tranças soltas na frente do rosto, iguais às que usei outra semana. Não me recordo de ter
se tornado tendência.
— Love — expressa com um sorriso forçado.
— O que você quer? — pergunto, porque já estou cercada até o talo de pessoas falsas,
não preciso de mais uma.
As narinas de Cam se dilatam de irritação e noto que ela cora levemente. Seus olhos
cortantes perfuram os meus e seus lábios formam uma linha dura.
— Você realmente acha que está por cima, não é, Love? — cospe meu nome com
desdém. — Só porque está transando com o Knight agora, você acha que é melhor que todos
nós? Bem, deixe-me dizer uma coisa: ele vai usar e depois jogá-la fora como fez com todas as
outras. Você será apenas mais uma na longa lista dele.
— A lista da qual, aparentemente, você não faz parte — respondo com o mesmo sorriso
cínico de Maddox e me viro para pegar minha bolsa.
— Tyler teria vergonha de você. — Suas palavras interrompem minha ação, — Seu
irmão não precisou se rebaixar para ser respeitado. Ele era admirado de verdade, não por quem
transava, mas por quem ele era. Algo que você, com toda a sua arrogância, nunca entenderá.
Sinto uma raiva violenta pulsar através de mim, como se cada célula do meu corpo
estivesse prestes a explodir. Olhei profundamente em seus olhos e acertei seu rosto com uma
bofetada que ecoou ao nosso redor.
Seu rosto se contorce de dor quando ela se vira para mim surpresa e uma expressão de
fúria ardente toma conta de seus olhos. Com ímpeto impulsivo, minhas mãos se lançam em
direção ao pescoço dela e empurro Cameron pela garganta sobre a mesa, ela luta embaixo de
mim enquanto eu cravo minhas unhas em sua pele macia para imobilizá-la.
— Sua cadela! — rosno na cara dela, quase encostando meu nariz no dela. — Nunca
mais fale o nome do meu irmão, ou arranco sua língua com meus próprios dentes. Você
entendeu? — grito e de repente mãos se fecham em meus braços, me arrancando de cima dela.
De um lado, está Jimin e, do outro, Fallon, os dois me arrastam para fora do refeitório
em meio à multidão que nos rodeia. Meu corpo treme violentamente.
— Você enlouqueceu? — Jimin indaga.
— Quem diabos você pensa que é para falar assim comigo? — rosno, puxando meu
braço de seus dedos.
— Seu pai vai saber disso, Love — Jimin avisa não como uma ameaça, mas para me
preparar para a bronca que está por vir.
Assinto. A adrenalina começa baixar no meu sistema e tudo o que resta é raiva e
frustração, acho que descontei minha raiva em Cameron, mas ela não deveria ter mencionado o
nome de Tyler. Tudo o que fiz nunca foi para igualá-lo.
Fallon me entrega a bolsa com um sorriso triste.
— Obrigada — sussurro mais calma.
— Posso te levar para casa, você não parece ter condições de dirigir — Jimin oferece.
— Prefiro que Fallon me leve — respondo, pegando a garota de surpresa. Não nos
tornamos grandes amigas desde que nos conhecemos, mas não posso permitir que Jimin vá na
minha casa até guardar a moto de Mad na garagem.
Agarro Fallon pelo braço antes que ela possa inventar uma desculpa, porque sua
expressão diz que ela não se sente muito confortável comigo. E eu nos levo em direção ao
estacionamento. Chegamos ao meu carro em silêncio e Fallon olha para mim com uma expressão
ilegível.
— Você bateu na Cameron por causa do Maddox? — Balanço a cabeça em negação,
imaginando que será isso o que todos pensaram.
— Ela disse que meu irmão teria vergonha de mim. — Fallon revira os olhos.
— Essa vaca não sabe do que fala. — Rio ao ver como o insulto passou delicadamente
por seus lábios.
— Meu pai vai me matar — digo, abrindo a porta do carro para Fallon.
— Devia ter pensado antes de tentar sufocar alguém no meio da multidão.
— Obrigada por seu apoio — zombo, entrando no lado do motorista e me sentando no
banco do passageiro.
Fallon assume o volante e olha para dentro do carro, admirando-o maravilhada.
— Lembro quando seu irmão dirigia esse carro. Eu tinha uma pequena queda por ele —
confessa com um sorriso sem graça.
— Você e metade das garotas de Serpentine Hill. — Rimos, mas logo o silêncio
preenche o carro, e volto para o fundo do poço onde estava antes de ver Cameron.
Olho para Fallon e, sua tranquilidade, era tudo o que eu desejava ter.
— Eu posso fazer uma pergunta?
— Acabou de fazer. — Ela me olha de esguelha com um sorriso. — Você quer saber
como perdi a audição, não é? — pergunta e meus olhos vagam para o pequeno aparelho dentro
de sua orelha.
Aperto os lábios, envergonhada.
— Acidente de carro quando eu tinha seis anos.
— Lamento. — Fallon encolhe os ombros.
— Tudo bem, ele já faz parte de mim, assim como suas tatuagens. — Ela sorri.
Seguimos o resto do caminho nos conhecendo melhor, Fallon não é azeda como
pensava, apenas reservada. Queria ser tão sincera com ela quanto ela está sendo comigo, mas
isso a colocaria em perigo.
Chegamos na minha casa e pedi um carro para ela no aplicativo. Perguntei se ela queria
entrar, mas, como viu a moto de Mad, ela presumiu que ele estava lá dentro. O que de fato está.
Espero ela ir embora e junto todas as minhas forças para guardar a moto na garagem, a cobrindo
com um lençol.
Me jogo na cama com a sensação de ter sido atropelada por um caminhão. De repente,
acordo com o quarto completamente escuro. Solto um bocejo, sem acreditar que dormi o resto
do dia.
Tiro o celular de Mad da gaveta e ligo. Ele precisa responder ao Jimin, mesmo que seja
uma mensagem, para tranquilizá-lo antes que ele acabe indo até o James. A tela do celular se
ilumina com centenas de mensagens e chamadas perdidas de Jimin.
Saio da cama me sentindo letárgica e pego o taser que comprei on-line, depois desço
para o primeiro andar. Noturno mia nas minhas pernas se queixando de fome, eu acaricio sua
cabeça e encho seu potinho de ração.
Preparo a comida para Maddox e aqueço no micro-ondas. Eu não pensei que me tornaria
sua mãe quando decidi sequestrá-lo. Dentro da bandeja, ao lado da comida, coloco um copo de
suco, o taser e o celular dele. Desço para o porão.
Maddox está deitado no centro do colchão, sem camisa, com os braços atrás da cabeça.
Ele não se move, nem parece estar respirando, mas duvido que esteja dormindo.
— Está com fome? — pergunto, colocando a bandeja no chão com cuidado no quadrado
que tracei com giz, depois pego o celular e o taser e dou um passo para atrás.
Maddox não responde.
— Sabe, isso pode acabar rápido se você for um bom garoto. — Faço das suas as
minhas palavras, ganhando sua atenção.
— O que você quer, Lovely? — Ele se senta, sua voz pouco mais que um sussurro sem
emoção. Lambo os lábios, não posso deixar que um rostinho triste me afete.
Quero saber tudo o que aconteceu antes de ele ter um cadáver nas mãos, mas primeiro
preciso me livrar do Jimin.
— Neste momento, preciso que você me dê a senha do seu celular. — Seus lábios se
abrem em um sorriso e Mad balança a cabeça.
— Isso não vai acontecer, Love.
— Na verdade, vai, mas pode acontecer com ou sem dor. Você escolhe, Mad — digo
com o taser na mão.
— Vá em frente. — Ele ergue as sobrancelhas, me instigando, quem sabe, duvidando de
mim ou acreditando que terei que me aproximar dele para lhe causar dor. O que Mad não faz
ideia é que, em sua coleira, há um pequeno dispositivo e eletrodos por dentro que ficam em
contato com sua pele, basta um clique no botão preso ao taser e ele vai se contorcer no chão
como um peixinho fora d’água.
Passei cada minuto do meu dia pensando em como pegá-lo e como mantê-lo preso.
Maddox não tem chance.
— Vou contar até três.
Seus olhos se estreitam, percebendo que não dei um passo fora do lugar.
— Um. — Os músculos do seu maxilar se contorcem sob a pele. — Dois. — Mad nem
pisca, ele não dará o braço a torcer, então aperto o botão, cansada de jogar o jogo dele, mesmo
quando sou eu quem está dando as cartas.
Um grunhido irrompe de seus lábios enquanto seu corpo convulsiona em cima do
colchão, com as mãos em punhos, os dentes brancos cerrados e aquele olhar selvagem fixo em
mim. Desligo o dispositivo de choque e cruzo os braços em frente ao peito.
— A senha Maddox.
Mad solta uma risada contida, quase desdenhosa, mesmo com o corpo ainda se
recuperando do choque.
— Você realmente acha que isso vai me fazer falar, Lovely? — ele responde, me
fazendo sentir uma pontada de frustração.
Sádico, desgraçado.
— Você pode ser teimoso, mas eu também sou, Mad. Se você não quiser me dar a
senha, talvez Macoy tenha que me dar uma ajudinha — blefo, pois Maddox tem uma rivalidade
enraizada com Devon. E agora que sei que ele estava me manipulando todo esse tempo, tenho
certeza de que seu ciúme exagerado não era por minha causa.
Dou de ombros, dando um passo para trás. Se Mad não morder a isca, talvez eu tenha
que recorrer a Macoy, ou sedá-lo e arrancar seu dedo para obter sua impressão digital. Esse
infame é capaz de gostar.
— B613 — ele diz de repente, me paralisando no lugar. Olho para ele por cima do
ombro antes de desbloquear seu celular, e ele se acende com uma foto minha dormindo na tela
inicial.
Sinto como se tivesse levado um golpe no estômago.
— Será que podemos conversar agora? — Passo a língua pelos lábios com a mente
enevoada. Como ele consegue me deixar tão confusa sem fazer absolutamente nada.
— Não — respondo, deixando o porão sem olhar para trás.
Ver minha foto como papel de parede do celular dele mexe comigo de uma forma que
não consigo entender. Tranco a porta do porão e caminho pela cozinha, inquieta. Meu coração
está acelerado, com as emoções agitando-se dentro de mim. Raiva, confusão, desconfiança...
A verdade é que, mesmo que eu queira odiá-lo, mesmo que eu tente me convencer de
que ele é o inimigo, uma parte de mim ainda o quer por perto. Uma parte de mim ainda se agarra
às lembranças dos momentos que passamos juntos. Mas sei que não posso confiar nele, não
depois de tudo que ele fez.
Capítulo 22

Após o fim da luta, saí da gaiola com um misto de exaustão e euforia. O frenesi ainda
pulsava em meus ouvidos, ecoando os momentos intensos daquele espaço confinado. Com
passos vacilantes, dirigi-me ao vestiário, cada músculo protestava dolorosamente, como se
estivesse clamando por descanso após o esforço extremo. Senti uma dor aguda na região das
costelas e ponderei se Tank conseguiu desferir um golpe que me quebrou. Um banho gelado era
tudo de que preciso para aliviar as dores e acalmar os ânimos. Deixei a água fria escorrer pelo
meu corpo, lavando o suor e o sangue.
Ao sair do vestiário, dei de cara com o Tank. Seus olhos faiscavam com raiva
reprimida. Eu sabia que ele estava fervendo por dentro, prometendo retaliação pelo que
aconteceu dentro da gaiola. Mas não me abalei. Encarei-o com a mesma firmeza, sem recuar
diante de sua ameaça silenciosa. Se ele queria uma revanche, que a buscasse.
Caminhei até ele, meu olhar desafiador encontrando o dele. Não recuei, não me
intimidei. Eu sabia que tinha vencido de forma justa e merecida, e não tinha medo das
consequências.
— Boa luta, Tank — disse com um sorriso irônico. — Talvez você tenha mais sorte na
próxima vez.
Ele rosnou algo ininteligível e foi embora, sua carranca intensa deixando claro que
nossa rivalidade estava longe de terminar. Deixei o vestuário e fui comemorar com CJ, Jimi e os
patrocinadores. Eles estavam visivelmente satisfeitos com a minha vitória, cumprimentando-me
com sorrisos e tapinhas nas costas. Já imaginei as discussões acaloradas sobre o retorno
financeiro que essa luta trouxe.
Às vezes gostaria de poder compartilhar minhas vitórias com meu pai, mas tenho
certeza de que ele não aprovaria, e não quero decepcioná-lo novamente.
Estacionei a moto em frente à fraternidade e atravessei o gramado ao lado de Jimin e
CJ, sentindo o som da música Wap vibrando em nossos pés. Maldita hora em que concordei em
dar esta festa. Minha cabeça pulsava ao ritmo da música.
Jimin caminhou na minha frente e entrou na casa e Corbin parou ao meu lado com uma
risada.
— Ele afofou sua cara, Knight.
— Vai se foder — grunhi, seguindo Jimin, e olhei ao redor da sala, uma névoa pairava
no ar enquanto luzes néon dançavam ao redor. Os anfitriões da casa se destacavam usando a
máscara The Purge.
Desviei das pessoas e subi para o meu quarto. Quando cheguei ao corredor, vi minha
porta entreaberta. Ninguém era louco o suficiente para entrar lá sem minha permissão. Me
aproximei e vislumbrei a silhueta de uma coelhinha perdida no meu quarto. Uma orelha caída e
a outra em pé. A garota usava vestido branco, com uma saia que parecia tule de bailarina. Seu
cabelo era claro como a lua e caía em ondas leves até o meio das costas. Ela parecia absorta
que nem notou a minha presença às suas costas. Com um passo para trás, seu corpo delicado
roçou o meu e seu doce perfume me envolveu. Ela olhou por cima do ombro antes de pular para
longe de mim como uma coelhinha assustada.
Lovely Blossom era o nome dela. Ela lambeu os lábios ligeiramente trêmulos enquanto
seus olhos verdes como uma floresta profunda examinavam meu rosto com desconforto e
curiosidade.
— Eu já estava saindo — murmurou com sua voz trêmula.
Estendi a mão em direção à saída, incapaz de tirar os olhos dela. Lovely parecia
hesitar por um momento antes de fugir, e era como se eu pudesse sentir a batida acelerada de
seu coração ecoando no ar. Seus movimentos tinham um charme tão delicado, tão irresistível,
que mal conseguia conter a vontade de segurá-la nos meus braços e tomá-la como prêmio.
Fechei a porta, me perguntando o que ela queria, esse quarto pertencia ao irmão dela,
Tyler, mas não havia mais nada dele por aqui.
Entrei no banheiro e joguei minha camisa suja no chão, olhei meu corpo no espelho e
alguns hematomas já estavam se formando nas minhas costelas. Voltei para o quarto pensando
se descia ou não para essa festa quando notei a presença de alguém até ser tarde demais. Uma
força poderosa me agarrou por trás, me dando uma gravata.
— Talvez eu tenha mais sorte desta vez — Tank rugiu em meu ouvido. Instintivamente,
reagi, empurrando meu cotovelo com toda a força que consegui reunir contra seu abdômen.
Senti o impacto reverberar pelo meu braço, mas o golpe era suficiente para fazê-lo vacilar por
um momento preciso. Aproveitando a oportunidade, me virei abruptamente, libertando-me de
seu aperto sufocante. Meu coração bateu com violência contra meu peito.
Tank tirou algo do bolso da calça, mas, antes que eu pudesse ver o que era, senti uma
dor excruciante rasgando meu rosto. Um uivo de agonia escapou dos meus lábios. Um choque
de surpresa me paralisou por um instante, quando meus dedos instintivamente tocaram o corte
profundo que cruzou meu olho. Minha visão estava obscurecida pelo sangue que corria em um
fluxo quente, mas, com o outro olho limpo, percebi um sorriso abrir no canto de seus lábios.
Meu sangue entrou em ebulição em milésimos de segundos. Com um rugido entorpecido
de fúria, lancei-me sobre ele, minha mão tentando desarmá-lo a qualquer custo. Nosso corpo a
corpo era violento e caótico, um emaranhado de membros com intenções assassinas. Agarrei
com ferocidade sua mão em volta na faca e trago para frente de seu peito. O metal reluzia entre
nós dois e os olhos de Tank refletiam preocupação.
Ele agarrou meu pescoço com a mão livre tentando me afastar de cima dele, mas
segurei no seu pulso com as duas mãos e, com um rugido gutural de fúria, enfiei a faca em seu
peito. Surpresa, fúria e dor cruzaram seu rosto.
Cego de raiva, peguei a faca de sua mão e desferi golpes rápidos e implacáveis em seu
abdômen, sentindo o impacto da lâmina contra sua pele e ouvindo seus gritos de agonia
ecoando pelo quarto. Senti seu corpo enfraquecendo sob mim, sua resistência esgotando, seus
movimentos se tornando mais desesperados a cada segundo que passa.
Meus músculos queimavam com o esforço, minha respiração se tornou um fardo pesado
e irregular, enquanto o sangue do meu rosto respingou sobre o dele, pintando um quadro
nocivo. Encarei os seus olhos, agora vazios e distantes, um olhar sem vida.
A porta se abriu com um estalo repentino e, por um breve instante, minha fúria
diminuiu quando meus olhos encontraram uma figura usando a máscara The Purge azul.
Reconheci Jimin pela camisa de Gorila. Ele levantou a máscara e seu horror refletido em meus
próprios olhos me trouxe de volta à realidade. A consciência começou a retornar aos poucos, a
situação se infiltrando em meio à névoa de furor que me consumia. Soltei a faca, deixando-a
cair no chão com um som metálico, minhas mãos tremendo com a intensidade do que acabei de
fazer
— Mad, o que diabos você fez? — Ele fechou a porta atrás de si.
— Jimi... — murmurei, sentindo que tudo ao meu redor começou a desacelerar. Olhei
para as minhas mãos, vermelhas com o sangue de Tank, e depois para o homem morto ao meu
lado.
Puta merda.
A porta se abriu abruptamente, afastando Jimin.
— Por que as putinhas estão demorando tanto? — Corbin paralisou na entrada, ele
analisou a situação por um segundo e uma risada incrédula passou por seus lábios. — Ele está
morto? — perguntou, trancando a porta e contornando o corpo de Tank.
— Não, ele está tirando uma soneca. O que você acha?! — ralhei, levantando-me com
um misto de repugnância e nervosismo, afastando-me porque o cheiro nauseante desse porco
estava me deixando enjoado.
— O que faremos? — Jimi perguntou.
Arfei, meus olhos vasculhando freneticamente o quarto, meus pensamentos se agitaram
como uma tempestade dentro da minha cabeça, procurando uma saída viável.
— Saiam daqui — disse, apontando para a porta, — Preciso pensar e não quero
envolvê-los. Então, sumam do meu quarto.
Os dois se entreolharam e balançaram a cabeça em negação ao mesmo tempo.
— Esse filho da puta me atacou primeiro, era ele, ou eu — expliquei, passando os
olhos pelo meu corpo coberto de sangue.
— Se você chamar a polícia, será preso, Knight. Nem mesmo seu pai poderá te salvar
disso. — Lambi os lábios, consciente disso.
— Vamos nos livrar dele, ninguém vai sentir falta desse monte de bosta, além do Macoy
— Jimin sugeriu.
Balancei a cabeça, a indecisão pesando sobre mim como uma rocha afundando em um
rio.
— Se eles descobrirem, vocês estarão tão fodidos quanto eu.
— Você faria o mesmo por nós, Knight. — CJ afirmou.
Concordei com a cabeça, porque eu faria o mesmo.
Depois de refletir por um momento, decidi que a melhor opção era me livrar do corpo
de Tank e encobrir o que aconteceu aqui. Antes de entrar no banho, combinamos o que cada um
faria e precisávamos fazer tudo antes do amanhecer.
Saí do banho e fiquei em frente ao espelho, o corte estava inchado e vermelho, com
uma linha profunda que atravessava a pele, começando acima da sobrancelha e descendo até o
início da bochecha. Felizmente meu olho saiu ileso, só parecia estar mais fechado devido ao
inchaço ao redor, adicionando um aspecto sinistro e perturbador à minha expressão. Ignorei a
dor latejante quando meus dedos tocaram o corte, com certeza iria precisar de pontos, mas só
seria depois que eu desaparecer com Tank.
Entrei no quarto com uma toalha na cintura e vi Jimin rolando Tank no meu tapete.
Corbin já saiu para buscar alguns itens necessários para se livrar de um cadáver, nunca pensei
que passaríamos por algo assim. Enquanto me vestia rapidamente, tentava manter a calma,
apesar do caos que se desenrolava dentro de mim.
Vesti uma calça e uma camisa preta sem estampa e me virei para Jimi, que estava
mandando mensagens.
— Corbin chegou lá. Ele deixou o carro estacionado embaixo da sua janela e a chave,
na ignição. — Assenti.
— Tem certeza de que quer mesmo fazer isso? Ainda dá tempo de desistir.
— Você desistiria? — Lhe dou um olhar duro, que tangia meu olho. — Então cala a
boca e me ajuda a levantar esse saco de bosta. — Ri e obedeci às suas ordens.
Jimi e eu ficamos cada um em ponta do tapete e o alavancamos.
— Puta merda, quando pesava esse bastardo? — Ele assobiou entre os dentes enquanto
caminhávamos em direção à minha janela aberta.
— Uns 120 quilos — sibilei, rangendo os dentes, sentindo diversas pontadas de dor por
todo o corpo.
Me aproximei da janela e olhei para baixo, graças ao bom Deus não havia ninguém lá.
Empurrei minha ponta do tapete para fora e deixei Jimin fazer o resto. Com um impulso, firme,
ele jogou o tapete para fora.
Colocamos a cabeça para fora da janela, ele caiu ao lado do carro.
— Se ele não estava morto, está agora. — Ele se afastou primeiro, e eu fiquei
observando por mais um momento. Pensei ter fodido nossas vidas hoje à noite.
— Mad. Deixe para lamentar depois, precisamos ir agora. — Me virei para ele, e Jimi
estava com a máscara na frente do rosto. Ele me entregou a minha de cor vermelha, e eu a
coloquei antes de sairmos pela janela.

Caminhamos pela floresta que havia sido usada como desova de corpos há muitos anos.
Cada galho quebrado sob nossos pés ecoava no silêncio da noite. Finalmente, avistamos Corbin
perto de um lago, sua máscara amarela brilhando na noite, sua figura escura destacando-se
contra o brilho prateado da lua refletida na água. Ele balançou os braços em vez de vir nos
ajudar.
Atiramos Tank no chão quando nos aproximamos e depois o desenrolamos do tapete.
Seu corpo estava pálido e seus olhos estavam vazios e sem vida, olhando para o céu estrelado.
Seu cabelo bagunçado estava grudado no seu rosto suado, sua expressão congelada em uma
máscara de dor e agonia. Sangue seco manchou sua camisa, formando uma poça escura ao
redor de seu corpo.
Desgraçado, nunca mais conseguirei tirar a expressão dele da minha cabeça.
— Alguém viu vocês saindo? — CJ perguntou.
— Não — respondi e acrescentei, — Vamos fazer isso e nunca mais tocar no assunto.
Eles me deram um aceno firme.
— Ozzy! — Uma voz ecoou na escuridão, chamando nossa atenção. — Vamos, amigão,
já é tarde para um passeio. — A garota vestida com uma camisola branca e com longos cabelos
cor de lua gritou e assobiou.
Maldita, sussurrei mentalmente, reconhecendo aqueles cabelos. Lovely Blossom. Ela se
virou e paralisou quando nos viu.
— Peguem-na. — ordenei, vendo Love dar um passo para trás, ela se virou e disparou
em direção à floresta. — Não deixe que ela ouça suas vozes e nunca tirem suas máscaras —
avisei enquanto nos espalhávamos para procurá-la.
Oh, Coelhinha, por que você tinha que aparecer bem agora?
Capítulo 23

Amanheceu e aqui estou eu, deitado neste maldito colchão, olhando para o teto do
porão. A comida que Lovely trouxe ainda está intocada, exatamente onde ela a deixou ontem à
noite, a fome é tudo menos o que estou sentindo agora. Sinto uma pontada de culpa me perfurar
toda vez que penso nela e na maneira como tudo aconteceu.
Mesmo ela me prendendo aqui como um animal, eu ainda faria o que Love quisesse
para consertar as coisas, mas acho que é tarde demais para isso. Minhas ações me transformaram
em um monstro aos olhos dela.
Coço o pescoço em volta da coleira. Sinto-me impotente e frustrado por não conseguir
dar mais de quatro passos fora do lugar em qualquer direção. Tentei chegar a um armário de
ferramentas do outro lado do porão, mas não tive chances de alcançá-lo.
Lovely não parece ter planos de me libertar tão cedo, conto com Jimin, ele sabe que
nunca perderia a luta com Devon Macoy. Um dia ele sentirá minha falta, ou talvez o infame do
CJ ligue se gabando. Espero que seja antes que ela faça algo estúpido, como se juntar ao Macoy
e compartilhar tudo o que fizemos. Ele acabaria com a vida de Jimin, e Corbin receberia uma
sentença maior.
Sento-me no colchão, exausto de tanta autopiedade. Às vezes fico com raiva dela, não
por me manter preso aqui, mas por ter aparecido na floresta naquela noite, e, se eu não tivesse
feito o que fiz, Love teria entrado em contato com a polícia assim que eu a libertasse para casa.
Um baque no chão interrompe meus pensamentos, estreito os olhos para ver as sombras
das caixas do outro lado do porão. Levanto-me do colchão com os músculos doendo. Love deve
ter me trazido até aqui na base de pontapés. De repente, da escuridão, um par de olhos âmbar se
destaca seguido de um miado. Noturno aparece na luz fraca que brilha acima de mim.
Sento-me no colchão e estendo a mão para o gato, ele deve ter entrado por uma janela
aberta, que Love não se preocupou em trancar porque sabe que, se um dia eu soltar dessa coleira,
não será uma porta de madeira que me manterá preso aqui embaixo.
O gato esfrega o rosto na minha mão, ronronando ao meu redor. Deito-me, e ele sobe no
meu peito, colocando a cabeça perto do meu queixo. Eu seguro seu corpo para tirá-lo de cima de
mim quando sinto o cheiro do perfume dela em sua cabeça.
Desgraçado — amaldiçoo o Noturno, que miou de volta.
Ouço a porta do porão se abrir e instantaneamente algo forte se agita dentro de mim.
Deve ser por volta das 7h30 e Love trará café antes da aula. Curioso como ela consegue agir
normalmente sabendo que mantém uma pessoa presa no porão de sua casa.
Não uma pessoa digna de pena.
Sento-me, e o gato se deita entre as minhas pernas. Os passos dela são suaves enquanto
desce as escadas, ela para em frente à comida intocada e reprime um revirar de olhos. Love está
vestindo uma blusa preta enfiada na calça branca e All Stars. Ela empurra a bandeja do jantar
para o lado com o pé e coloca a outra com meu café da manhã no lugar.
— Me avise se você vai continuar a greve de fome para poupar o meu tempo — diz,
encontrando meu olhar, então seus olhos se voltam para Noturno entre minhas pernas.
De repente passa pela minha cabeça a ideia de usar o gato para me tirar daqui, suprimo
minha vontade de rir dessa ideia absurda. Isso só provaria o que quero fazê-la esquecer.
— Solte o meu gato — ela assobia, seu rosto se transformando em uma linha dura.
— Eu não estou segurando-o — respondo, notando suas narinas dilatarem. — Por que
você não vem pegá-lo? — Seus lábios se repuxam em um sorriso sórdido, e ela tira aquela
maldita arma de choque do bolso da calça.
Uma sensação ruim percorre meu corpo quando me lembro de como foi sentir uma
corrente elétrica direto no pescoço.
— Se eu quisesse, já o teria matado — aviso, pegando Noturno e empurrando-o para
fora do colchão, o gato mia e retorna entre minhas pernas com um salto ágil.
Percebo a tensão em seus ombros, seus lábios estão tremendo e suas mãos, em punhos.
— Não vou machucá-lo — tranquilizo-a, acariciando a cabeça do felino.
Lovely lambe os lábios.
— E você espera que eu confie em você, Mad? — Ela deixa escapar uma risada triste,
dando um passo para trás, e eu sei que ela vai subir aquelas escadas correndo e me deixar aqui,
remoendo meus próprios demônios.
— Sim, eu espero. — Levanto-me do colchão, e Love ergue o queixo para olhar nos
meus olhos. — Aquele homem tentou me matar — digo antes que ela me dê as costas. Lovely
parece vacilar por um momento. Seus olhos verdes fixos nos meus, procurando por alguma
verdade, ou mentira escondida em minhas palavras.
— Eu não consigo acreditar em mais nada que sai da sua boca, Maddox. — Sua
bochecha se retrai suavemente para o lado.
— Foi ele quem deixou essa cicatriz. — Aponto para meu rosto. — Pergunte ao Jimin.
Ela balança a cabeça em negação.
— E como você explica o que fez comigo, Mad? — As palavras ficam presas na minha
garganta, não tenho resposta para isso e nada que eu diga vai aliviar o que fiz. — Você se
aproximou de mim, me usou, me enganou... Você não podia simplesmente me assombrar, me
aterrorizar, você tinha que me fazer apaixonar por você.
Sua acusação penetra profundamente em minha consciência e arranca a última camada
de defesa que resta em mim. Eu olho para ela com os olhos ainda cheios de raiva enquanto
minhas próprias palavras lutam para encontrar o caminho para fora da minha garganta.
— Tive que mentir para afastar você de Macoy, mas cada palavra que eu disse, cada
toque, cada olhar... eram reais. Meus sentimentos por você são verdadeiros, Lovely, mesmo que
todo o resto tenha sido uma farsa.
Olho em seus olhos na esperança de encontrar alguma centelha de compreensão neles.
— Você pode citar Shakespeare, Maddox, mas não vou tirar você daqui — ela entoa
com uma expressão dividida e raiva brilhando em seus olhos esmeraldas.
— Não estou pedindo que você me deixe ir, apenas que acredite em mim.
— Já cometi esse erro uma vez. — Love se vira e sobe as escadas, pisando firme. Volto
para o colchão, percebendo que nada do que eu disser mudará o que ela pensa sobre mim.

Rolo no colchão, sentindo-me como uma fera enjaulada, cada músculo tenso, cada
pensamento fervilhando em minha mente como uma tempestade prestes a desabar. Eu mataria
por um mísero cigarro nesse momento. Minha cabeça está explodindo desde que Lovely saiu
mais cedo, o tempo parece irregular aqui, a impressão é que as horas estão se multiplicando. O
relógio invisível da minha mente marca cada respiração, cada batida do meu coração, como se
estivesse contando os grãos de areia em um deserto infinito.
Eu quero gritar, quero quebrar tudo ao meu redor, mas estou confinado, preso por essa
maldita corrente. Se Love quer me deixar louco, ela está no caminho certo.
Enxugo o suor da testa e me levanto, sentindo-me inquieto, desejando poder sentir o ar
fresco da rua, o sol ou até mesmo saber que horas são. Noturno já me abandonou, maldito felino
sortudo.
Encontro-me girando em torno do pilar quando a corrente me puxa abruptamente para
trás. Eu uivo enquanto me viro e tento arrancá-la novamente. Calculo por cima, se eu derrubar o
pilar, quais são as chances de ser esmagado até a morte pelo andar superior? Não precisa ser
engenheiro para saber que isso é uma má ideia.
Lambo meus lábios, sentindo-os secos.
Escuto a porta do porão se abrir e, em instantes, Love aparece em frente à escada,
vestindo as mesmas roupas de antes, carregando outra bandeja de comida. A chegada dela traz
consigo uma mistura de alívio e ansiedade. Seus olhos verdes, tão penetrantes quanto flechas,
perfuram-me enquanto ela despeja sua indiferença sobre mim
— Que horas são? — pergunto, enquanto ela cuidadosamente coloca a bandeja no chão
e empilha as outras ao lado dela.
— Por quê? Você tem algum compromisso? — ela responde, encontrando meu olhar
com um toque de escárnio.
— Quanto tempo você pretende me deixar aqui? — Love analisa minha expressão e
aperta os lábios.
— Não sei, não pensei nessa parte. — Ela parece sincera. — Quer que eu traga um
livro, algumas palavras-cruzadas? — O escárnio retorna a sua voz.
Me sento no colchão, desejando que ela pegasse uma arma e acabasse com isso. A cada
minuto que passa, sinto como se as paredes se fechassem a minha volta.
— Estou sufocando aqui dentro — murmuro com os dentes cerrados.
Ela levanta uma sobrancelha, seus olhos perfurando os meus com desconfiança.
— Já são 1h30 da tarde, Mad, eu trago um relógio, porque você não vai a lugar nenhum
tão cedo. — Algo se agita dentro de mim com sua resposta.
Ela dá um passo em direção à escada e então me olha com uma pergunta se formando
em seu rosto.
— O que você tem contra Devon Macoy? — Meu maxilar aperta e me esforço para não
deixar transparecer todo o meu desgosto para ela.
— Eu digo se você ficar mais um pouco e me contar como foi seu dia. — Não estou em
condições de impor nada, mas só se passaram duas noites e já estou entrando em parafuso neste
lugar.
Lovely pondera por um momento, depois se senta em um dos degraus e coloca a
bandeja ao lado dela.
— Eu estava na Vanguard. Então fui convidada a me juntar ao gabinete do reitor porque
dei um tapa em Cameron ontem de manhã. Agora estamos conversando.
— Por que você bateu nela? — pergunto sem conter a curiosidade.
— Primeiro você me conta sobre Macoy. — Abaixo a cabeça, olhando para minhas
mãos entrelaçadas entre as pernas, sabendo qual será a reação dela quando eu disser.
— Ele é irmão do homem que matei. — O choque é visível no rosto dela, seus lábios se
abrem sutilmente, mas Love os aperta com força.
— Todo esse maldito tempo... —Ela se levanta, parece agitada, processando a
informação. — Você... você só se aproximou de mim para ele não ter chances.
— Love... — Eu me levanto e caminho em direção a ela, até onde a corrente permite.
— Devon sabe que foi você? — ela me interrompe. — É por isso que existe essa rixa
entre os dois?
— Ele suspeita, mas não pode provar. — Incredulidade está escrita em todo o rosto dela.
— Justo quando penso que não pode ficar pior, você me surpreende! — ela exclama e,
por reflexo, estendo o braço para segurá-la, mas ela está muito longe.
— Naquela noite de sexta-feira 13 — menciono, chamando a atenção dela, pois direi
qualquer coisa para fazê-la ficar mais um pouco. — Participei de uma luta ilegal, enfrentando um
homem que nunca havia sido derrotado por ninguém. Ele perdeu para mim naquela noite e veio
ao meu quarto com uma faca.
— Seu pai é policial, Mad, você deveria ter chamado ele, em vez de incinerar e
desmembrar um homem.
— Um homem que tentou me matar — uivo, lembrando.
Lovely balança a cabeça em negação, hesitando um passo para trás.
— Devon merece saber onde o irmão está...
— Por que caralhos você se importa tanto com esse verme? — rosno, minha paciência
ultrapassando o limite.
— Diferente de você, ele foi o único que foi verdadeiro comigo desde que voltei.
— Estou sendo honesto agora. — digo, acalmando a voz.
— Você está preso, acorrentado... suas palavras não valem nada, Mad. — O desprezo
brilha em seus olhos enquanto ela sussurra.
Lovely se vira, dando as costas para mim. Sinto-me impotente e incapaz de encontrar
palavras para fazê-la reconsiderar. Observo em silêncio enquanto ela sobe as escadas, cada passo
dela ecoando como um martelo batendo na minha cabeça.
O silêncio no porão torna-se ensurdecedor quando ela desaparece. Afundo no colchão,
deixando as emoções me consumirem, pois, se um dia ela me deixar ir, nada disso vai importar,
pois Lovely Blossom estará inalcançável para mim.
Capítulo 24

Descanso a cabeça nos braços apoiados no balcão, sentindo-me letárgica. Estou assim
há quatro dias. Desde que Maddox revelou toda a verdade, minha mente está tumultuada, tão
agitada quanto as folhas ao vento lá fora.
Devon perdeu o irmão... o irmão que tentou matar Maddox... mesmo que ele não tenha
feito o certo com Mad, me sinto obrigada a contar a verdade a Devon para que ele possa seguir
em frente sem esse fardo.
Mas, caralho, como eu faria isso sem contar toda a verdade? O meu lado masoquista
nunca entregaria Maddox às autoridades. Acho que é por isso que continuo me martirizando.
Desci um desses dias e levei para ele um rádio-relógio e o livro Anna Karenina, foi a
única obra que minha mãe deixou quando nos mudamos para Califórnia. Maddox comentou que
ler aquilo era pior do que tortura. Bem, se ele está com a mentalidade para piadas, então continua
em plena consciência.
— Querida, você não vai comer? — Ruth pergunta pelas minhas costas.
Balanço a cabeça em negação.
— Obrigada, Ru, mas não estou com fome — digo, olhando para meu almoço intocado
na minha frente. — Pode deixar tudo como está, e eu guardo depois — aviso, ela sorri com um
aceno.
— Já estou indo embora então, vou passar na casa do seu pai e deixar algumas compras
— ela diz, tirando a bolsa do cabide de parede.
Assim que Ruth sai, eu volto para minha bolha depressiva, então, meu telefone acende
com uma videochamada da minha mãe. Respiro fundo, me preparando para o sermão, meu pai
provavelmente já contou sobre meu pequeno desentendimento com Cam, ele me encheu os
ouvidos e agora minha mãe fará o mesmo. Atendo e apoio meu telefone em uma garrafa de
ketchup.
— Mãe.
— Love, seu pai me ligou — ela lambe os lábios, o corpo se movendo no telefone,
provavelmente em cima de uma esteira —, você sabia que ela está grávida?
Aperto meus lábios e balanço a cabeça.
— Papai disse que queria te contar.
— E você está bem com isso, querida? — Dou de ombros.
— Eu nunca fui a preferida dele — respondo com um sorriso.
— Isso não é verdade, filha. — Reviro os olhos, esse é o papel dela me fazer acreditar
que tudo é perfeito. — E como está a situação com o padeiro? Ele já lhe mostrou o batedor de
ovos? — Ela sorri, suas bochechas ganhando um tom mais quente.
Me despedi da minha mãe depois de passar meia hora ao telefone, ela me contou sobre o
primeiro encontro e como foram seus dias sozinha. E, desde que prendi Mad no meu porão, esta
é a primeira vez que me sinto leve.
Levo meu prato ao micro-ondas e aqueço minha comida, risoto de carne com legumes, e
sirvo um copo de suco de laranja para Maddox. Fico pensando em como será quando libertá-lo.
Ele vai comer o meu rim. Quando o coloquei lá, não pensei em como seria o depois.
Uma parte de mim deseja expulsá-lo da minha vida, cortar todos os laços que nos unem
e seguir em frente sem olhar para trás. Mas a outra parte está em luta para aceitar a realidade
atual. Que nunca estaremos juntos.
O telefone de Maddox começa a tocar no balcão com uma ligação de James. Que merda.
Por que ele tinha que ser policial?! Atendo a ligação, será menos suspeito do que ignorá-lo como
venho fazendo com Jimin há dias.
— Senhor Knight — cumprimento gentilmente, antes que ele diga alguma coisa.
— Lovely? — ele pergunta e parece sorrir.
— Sim. Mad está no chuveiro agora — digo, querendo encerrar a conversa.
— Oh — ele balbucia, — Naquele dia, eu tive que sair tão rápido...
— Podemos marcar novamente — sugiro qualquer coisa para fazê-lo desligar.
— Seria incrível. Diga ao Mad que liguei e conte a ele sobre o nosso almoço. A próxima
semana é boa para você?
Oh, Deus.
— Vou falar com Mad e te avisaremos — respondo, sentindo-me afundar cada vez mais
em minhas mentiras. Me despeço dele e encerro a ligação com o coração acelerado. Preciso
deixá-lo ir, mesmo que parte de mim queira deixá-lo trancado ali para sempre.
Coloquei os dois telefones no modo silencioso, ignorando as últimas mensagens de
Jimin. Depois de muita pesquisa no telefone de Maddox, descobri que ele tem um avô morando
em Pittsburgh. O pobre vovô Mac está com um problema de saúde e, como sua única família é
Maddox e James, os dois foram passar alguns dias na casa dele.
Jimin engoliu, por enquanto, mas ele está desconfiado e não consegue disfarçar isso no
olhar. Mas que opções ele tem? Me entregar a James e correr o risco que eu dê com a língua nos
dentes.
Agora eles sabem o que é se sentir sem opções, encurralados.
Caminho com a bandeja de comida até o porão e, quando chego lá, vejo Maddox
sentado no colchão com as costas encostadas na parede, lendo o livro que trouxe. Seu cabelo está
despenteado de forma rebelde, mas igualmente sexy. Percebo que o deixei muito confortável
quando ele olha para mim com um sorriso que faz as borboletas da minha barriga brigarem.
— Você já leu este livro? — ele pergunta, enquanto deixo a bandeja de comida no local
marcado com o giz.
— Não — respondo e, ao pé do colchão, noto o balde de água que deixei ali antes de
sair para a aula, para que Maddox pudesse se lavar. Ele claramente usou, pois está parcialmente
nu, vestindo apenas a cueca boxer preta.
— Seu pai ligou — comento, observando a reação dele. Mad deixa cair o livro ao seu
lado e se levanta, seu corpo robusto e malhado é difícil ignorar, então me concentro em seus
olhos e há algo parecido com esperança brilhando neles. Quase parece que ele está sob tortura no
meu porão.
— Você atendeu? O que ele disse?
— Nada importante. — Sua mandíbula se aperta de irritação, dou-lhe um pequeno
sorriso, percebendo o quão autocontrolado ele tem sido comigo, não vi nenhum traço do
Sombra nele.
— Ele está bem? — Mad pergunta enquanto seu olhar se volta para a escada, mas mal
tenho tempo de responder quando alguém chama meu nome.
Viro-me e vejo Fallon no meio da escada, com os olhos arregalados enquanto olha para
Maddox, acorrentado na minha frente. O choque toma conta de seu rosto e, antes que eu possa
processar totalmente a situação, Maddox grita:
— Fallon corra! — Sinto a urgência na voz de Mad, e um arrepio percorre minha
espinha. A adrenalina toma conta de mim e meu coração bate descontroladamente.
O pânico me envolve enquanto Fallon recupera a compostura, ela se vira e corre em
direção à saída e o sentimento de desespero cresce dentro de mim.
— Avise Jimin onde estou — Mad grita, e eu lanço um olhar violento em sua direção.
— Se eu não conseguir alcançá-la, vou te arrastar para outro lugar e te deixar
apodrecendo lá — rosno, sentindo meu sangue pulsar. Subo os degraus com passos rápidos,
minha mente girando, cada batida do meu coração ecoando em meus ouvidos.
Filha da puta!
Quando chego ao primeiro andar, Fallon está chegando à porta da frente. Ela olha para
mim e uma expressão crua de medo toma conta de seu rosto. Forço minhas pernas, sentindo
minhas panturrilhas queimarem, Fallon tem o dobro do meu tamanho, estou perdida se ela sair da
minha propriedade.
Saio de casa e desço as escadas da varanda. Fallon está no meio do pátio com o cabelo
voando loucamente enquanto ela corre sem olhar para trás.
— Fallon, espere! — grito a plenos pulmões, minha voz ecoando ao ar livre — Deixa eu
explicar.
— Você é uma psicopata, sempre suspeitei — Fallon acusa, e tenho vontade de rir, mas
agora não é hora para isso.
— Mad, ele me machucou! — exclamo, sentindo o peso das palavras pesar sobre meus
ombros e minha respiração falhando em meus pulmões, e noto seus passos desacelerarem com
minha admissão.
— Maddox pediu ajuda — grita em pânico, parando na beira da estrada com os olhos
arregalados de terror.
— Obviamente ele pediu. Eu o prendi — digo, minha voz soando áspera e cheia de
desespero. Fallon faz uma carinha confusa. — Mad é um monstro, ele me perseguia com uma
máscara The Purge. Ele fazia coisas horríveis e, quando estava sem ela, era meu namorado.
A expressão de Fallon parece refletir por um momento, seus olhos procurando os meus
em busca de mais explicações.
— Parece típico das pegadinhas de Alpha Theta Phi.
— Não sou a psicopata, Fallon, mas como me vingaria de um homem do tamanho e
status de Mad?
— Isso não parece que vai acabar bem, Love — Fallon responde, sua voz tingida de
preocupação genuína enquanto se aproxima de mim com suas feições contorcidas, um misto de
preocupação e relutância.
— Só vai piorar se você contar ao Jimin. Eles estão de complô.
— Os dois são um lixo... Toda essa fraternidade é. — O jeito que diz isso me faz
suspeitar que ela esteja escondendo alguma coisa.
Fallon se aproxima, balançando a cabeça em negação, como se estivesse indo contra
tudo que defende.
— Não acredito que estou concordando em ficar calada — Fallon murmura, sua voz um
sussurro de resignação. Eu a abraço pela cintura, sentindo um alívio momentâneo por
compartilhar esse fardo com ela. — Minha mãe esteve aqui hoje, como ela não o viu nem ouviu?
— Ela me abraça de volta.
— Eu o mantenho trancado e o porão tem isolamento acústico. — Fallon me encara em
estado de choque, então eu a solto e voltamos para casa.
Meu coração quase voltando ao ritmo normal.
— Por que você veio aqui? — pergunto enquanto ando até a porta aberta do porão e a
fecho com força.
— Eu ia te convidar para tomar um café.
Dou de ombros, um sorriso se formando em meus lábios.
— Ainda podemos ir — sugiro, tentando dissipar o clima pesado que nos rodeia. Mas
Fallon balança a cabeça em negação.
— Não tenho mais estômago para café, Love. — Ela se joga no meu sofá, e eu sento ao
lado dela com meu corpo ainda tremendo por tudo que acabou de acontecer.
— Você é louca, sabia? — Ela me olha pelo canto dos olhos e passa a mão pela barriga,
que deve estar dando voltas como a minha.
Depois que nos acalmamos, fiz um café e passamos o resto da tarde conversando. E,
embora o peso do que fiz ainda esteja sobre meus ombros, pelo menos agora tenho alguém com
quem compartilhar, mesmo que apenas em partes .
Capítulo 25

Desço para o porão usando meu melhor vestido preto e salto alto. Fallon me convenceu
a sair de casa, temos uma festa da irmandade Kappa Delta Pi para ir à casa das meninas, uma
chance de escapar temporariamente desse pesadelo que se tornou minha vida desde que prendi
Maddox.
Chego ao último degrau e o vejo sentado e encostado na parede, seus olhos brilhando
com uma intensidade sombria que me faz estremecer por dentro. Ignoro seu olhar penetrante
enquanto me aproximo, mas sinto sua avaliação descarada percorrendo cada centímetro do meu
corpo
Jogo para ele um pacote de biscoitos e uma garrafa de leite.
Maddox se levanta do colchão com uma expressão algoz. Um arrepio percorre minha
espinha quando ele se aproxima, sua presença imponente preenche o espaço entre nós. Alertas de
autopreservação ecoam em minha mente para que eu me afaste, mas não saio nem um centímetro
do lugar e encontro seu olhar.
Ele me olha com olhos cheios de desprezo enquanto pega os biscoitos e a garrafa de
leite que joguei. Um sorriso sarcástico se forma em seus lábios e minha pele queima com a
intensidade de seu escrutínio.
— Posso não voltar a tempo de lhe dar o café da manhã — digo com a voz firme,
sentindo algo se agitar dentro de mim.
Maddox me encara por um momento com uma expressão grave e implacável. Então,
com um movimento rápido, ele se aproxima ainda mais com sua presença dominadora me
fazendo recuar instintivamente.
— Foi esse trapo que você usou para ver CJ na prisão? — Sua voz é áspera, carregada
de desdém e desaprovação.
Suas palavras me atingem onde mais dói. Nunca esquecerei o que tive que fazer com
Corbin para tê-lo na minha frente agora. Meu rosto se contorce de indignação e minhas mãos se
fecham em punhos ao lado do corpo.
Maddox mantém o olhar firme e sua expressão indecifrável. Recuso-me a desviar o
olhar, apesar da corrente de emoções que borbulham dentro de mim.
— Espero que você saiba o que está fazendo, coelhinha. Um dia sairei daqui e você não
terá como escapar de mim. — Solto uma risada anasalada, aí está ele, Sombra, mais cedo ou
mais tarde, eu sabia que ele apareceria.
— Você é um monstro, Maddox. — Uma onda de repulsa me invade, e as palavras que
estavam presas em meu âmago se libertam. — Você é um vazio, um buraco negro que suga tudo
que toca. Você merece apodrecer neste lugar. — Minha voz treme, assim como o resto do meu
corpo.
Eu me viro e subo as escadas correndo, deveria ter deixado esse infeliz passar fome.

O som ensurdecedor de Ayy Macarena de Tyga ressoa no ar, competindo com a batida
pulsante na minha cabeça. Já se passaram duas horas desde que cheguei na festa, mas minha
mente não consegue se desligar do bastardo do Mad.
O cheiro de álcool e suor transpassa o ar enquanto a sensação de embriaguez começa a
se instalar, criando uma névoa em minha mente. Meus movimentos tornaram-se mais soltos e
desinibidos, e me pego dançando sem me importar com mais nada.
— Vou pegar um copo de água para você — Fallon avisa, ela parece um pouco
arrependida por ter me forçado a vir.
— Estou bem — grito por cima do som alto e sinto alguém se aproximando por trás. Eu
me viro e vejo Devon com um sorriso travesso nos lábios. Uma pontada de culpa ameaça invadir
minha consciência, mas empurro o sentimento para o fundo e decido me deixar levar pelo
momento.
Começo a dançar com ele, sentindo seu corpo cada vez mais próximo do meu, e posso
sentir seu calor irradiando contra minha pele.
— É seguro ficar aqui? — ele pergunta em meu ouvido, me fazendo arrepiar com sua
barba.
— Mad e eu terminamos — digo, por cima do ombro e vejo o rosto dele se iluminar
com um sorriso.
Viro-me para dançar com Devon, tentando ignorar o sentimento de culpa que ainda se
agita em algum lugar dentro de mim. A música alta enche meus ouvidos, abafando quaisquer
outros pensamentos que tentem se infiltrar em minha mente embriagada.
— Você está linda nesse vestido. — Sorrio, levando as mãos de Devon até minha
cintura e, quando olho para o lado, procurando por Fallon, meu olhar encontra o de Jimin. Suas
narinas estão dilatadas como um touro pronto para atacar.
— Eu... eu preciso ir ao banheiro — murmuro para Macoy, que segue meu olhar até
Jimin.
Não sei o que Jimin fará, mas sei que não será bom. Eu me afasto de Devon e
rapidamente saio procurando por Fallon, mas ela sumiu. Caminho com passos pesados tentando
chegar à saída, mas, de repente, sou puxada pelo braço e pressionada com força contra a parede
de um corredor vazio.
— O que você fez com ele? — Jimin rosna e seus dedos me apertam como se fossem
torniquetes.
— Adivinha. — Deixo um sorriso escapar dos meus lábios e a preocupação se instala
em seu olhar.
— Vou ligar para o James, Lovely — ele ameaça, e eu tento dar-lhe um pequeno
encolher de ombros, mas não consigo me mover com seus dedos me segurando firme, então
apenas reforço minha expressão de indiferença.
— Liga, mas não esqueça de contar onde você e seus amigos enterraram o irmão de
Macoy. — Jimin se afasta como se tivesse se queimado.
— Como você sabe disso? — ele sussurra entre os dentes.
— Sobre o corpo esquartejado dentro de uma mala ou sobre me perseguirem em uma
floresta usando máscara The Purgue?! — respondo e, quando tento passar por ele, Jimin coloca o
braço na minha frente.
— Se você sabe a verdade, sabe que não tivemos escolha. Onde está o Mad, Love?
— Transformar aquela noite no meu pior pesadelo foi uma escolha — respondo, vendo
Fallon se aproximar segurando um copo de cerveja, seu olhar parece dobrar de tamanho.
— Fique longe dela — Fallon grita, Jimin se vira para ela, a irritação dominando cada
traço de seu rosto.
— Ou o quê, F? — ele pergunta.
Fallon cerra os dentes e, com uma expressão de pura raiva, joga a cerveja diretamente
na cara de Jimin. A expressão da minha amiga se transforma em puro choque enquanto ela
observa o que acabou de fazer. Jimin uiva de raiva, arrancando sua camisa molhada com um
movimento brusco. Seu rosto agora está vermelho, como se estivesse prestes a entrar em
erupção.
Agarro o braço de Fallon, sentindo meu coração explodir no peito com uma combinação
de medo e adrenalina. Sem dizer uma palavra, apenas com um olhar de desespero, arrasto-a para
fora da festa antes que a situação piore.
O ar fresco da noite atinge meu rosto enquanto caminhamos pela calçada, e só então
percebo que estou ofegante. Meu corpo treme com a intensidade do que acabou de acontecer.
Revelei ao Jimin que sei tudo. Quero bater minha cabeça na parede. O que eu estava
pensando? Agora ele não descansará até descobrir onde está Maddox.
— O que aquele infeliz queria com você? — Fallon pergunta, enquanto paro em frente a
uma cafeteria 24h, passando a mão na barriga, me sentindo mal.
— Saber onde está Maddox — respondo, sentindo um aperto no estômago. Maldito
álcool. — Quer tomar um café? Estou muito enjoada para entrar no carro agora.
Fallon balança a cabeça em desaprovação, mas segura o braço e caminhamos
lentamente.
— Não acredito que joguei minha cerveja no Minseok. E se ele pedir que demitam
minha mãe? — ela pergunta, preocupada.
— Ele não irá — digo, tentando acalmá-la.
Eu nunca permitiria isso.
Preciso ficar sóbria o mais rápido possível e colocar meus pensamentos em ordem.
Começo a pensar em prender Jimin ao lado de Mad, talvez caiba outro colchão se eu organizar o
espaço. Balanço a cabeça em negação, acho que é o álcool falando mais alto.

Capítulo 26
Assim que Lovely sai do porão, o silêncio se instala, mas, dentro de mim, há uma
tempestade violenta, que é acompanhada por uma profunda sensação de vazio. Ela veio aqui com
a porra de um pedaço de pano enrolado no corpo de propósito. Ela está, deliberadamente,
tentando me ferir como forma de punição.
O silêncio que se segue é ensurdecedor, preenchido apenas pelo som abafado dos meus
próprios pensamentos. As palavras de Lovely ressoam em meus ouvidos, cada uma como uma
adaga afiada cravada em meu peito. Mas o pior de tudo é que, no fundo, uma parte de mim sabe
que ela está certa. Eu a arrastei para esse pesadelo e não há como voltar atrás.
Minhas ações a levaram ao limite, eu a subestimei e permiti que meu ego e desejo de
controle obscurecessem meu julgamento, levando-a a um lugar onde ela nunca deveria ter
estado. Na prisão com CJ.
Queria poder calar meus pensamentos, mas eles são tudo o que eu tenho. Estou preso na
escuridão sufocante do porão há mais de dez dias, minha sanidade mental está começando a
desmoronar.
Rolo de um lado para o outro no colchão com a ansiedade correndo solta pelo meu
corpo. Garanto que só vou conseguir dormir quando Lovely voltar. O estouro repentino
interrompe meus pensamentos. Levanto-me do colchão com os músculos tensos enquanto olho
para a porta do porão. Rachaduras se formam em sua superfície, cada estalo ressoando como as
batidas frenéticas do meu coração. Lovely perdeu a chave, ou alguém veio me tirar daqui. Então,
com um último estrondo ensurdecedor, a porta se divide ao meio. Meu coração dispara no meu
peito com uma mistura vertiginosa de esperança e medo agitando-se dentro de mim. Não
acredito no que vejo diante de mim: Jimin.
— Puta merda! — ele grunhe no alto da escada e minhas bochechas parecem que vão se
partir com o tamanho do meu sorriso.
— Como você me achou? — pergunto, vendo-o descer as escadas com pressa.
— Dedução — ele responde, segurando a corrente que me prende e solta uma risada. —
Parece que você encontrou sua igual.
— Vou me casar com ela — digo com uma risada.
— Então prefere que eu te deixe aqui? — ele escarnece, analisando meu pescoço, e meu
coração acelera só de pensar em ficar mais um segundo nesse porão. — Como ela conseguiu
fazer isso?
— Depois te conto tudo. Primeiro, me ajude a tirar essa coisa do pescoço — digo, me
virando de costas para ele. Jimin passa os dedos pela coleira e faz um som com os lábios que não
me agrada nenhum pouco.
— É uma fechadura de impressão digital, Mad. — Ele ri. — Nunca pensei que teria
medo de uma garota — comenta com uma pitada de ironia.
— Porque você não a viu com uma arma de choque — respondo, virando-me para ele, e
digo: — Procure algo para tirar isso do meu pescoço.
Jimi acena com a cabeça, afastando-se de mim, e meu peito se enche de ansiedade com
a ideia de ser deixado aqui novamente. Se Love voltar e pegá-lo desprevenido como ela fez
comigo, nós dois ficaremos presos aqui.
Depois do que parece uma eternidade, Jimin retorna com uma tesoura, dou as costas
para ele e sinto o metal frio deslizar pelo meu pescoço enquanto corta o couro da coleira.
— Pronto — ele avisa, e meus dedos tocam ao redor do meu pescoço, sentindo a pele
sensível.
Me viro para ele e dou um abraço no meu amigo. Jimin ri e me abraça de volta.
— Cara, o que ela fez com você? — pergunta quando me afasto para encontrar seu
olhar.
— Ela me quebrou — respondo, me vestindo rapidamente e seguindo Jimin para fora.
Dou uma última olhada para trás, registrando tudo o que passei aqui embaixo. Nunca pensei que
desejaria morrer por não ter nada para fazer.
— Sua moto está na garagem — ele comenta quando entramos na sala. Paro no centro
da sala, e Jimin se vira para mim na frente da porta de saída. Ele analisa minha expressão e
balança a cabeça em negação.
— Não me diga que você está pensando em ficar — ele repreende, me fazendo apertar
os lábios.
— Preciso falar com ela — respondo, fazendo-o respirar alto.
— Eu deveria ter deixado você preso — ele resmunga, me fazendo rir.
— Estava morrendo de saudades de mim, que eu sei — zombo.
— Você quem sabe — ele diz, me dando as costas.
— Me espere na casa da fraternidade com uma cerveja gelada, irei imediatamente se
Love não voltar.
Viro-me em direção à cozinha e vejo meu celular em cima do balcão. Vou até lá,
esticando os braços e aproveitando cada movimento do meu corpo. Eu desbloqueio a tela dele e
agora há uma imagem de fundo branca. Entro em minhas mensagens e as últimas do Jimin não
foram respondidas. Ele estava perguntando como estava meu avô Mac.
Guardo meu telefone no bolso da calça e abro a geladeira. Pego um long neck e abro
com os dentes. No primeiro gole que tomo, ouço o som de um carro estacionando em frente à
casa.
Bebo o resto da cerveja em um só gole e fico em frente ao balcão, aguardando sua
entrada. A porta se abre e, assim que Lovely entra, meu coração dispara. Seu olhar encontra o
meu e seus olhos se arregalam. Sua mão trêmula deixa cair a sandália quando ela me vê livre.
Um sorriso sutil dança em meus lábios enquanto observo atentamente, como um predador prestes
a caçá-la.
— Como foi a festa? — pergunto, e Lovely levanta o queixo com arrogância, e seus
olhos brilham injetados de raiva.
— Foi ótima — diz com uma pitada de zombaria — Dancei a noite inteira com Devon.
Engulo sua resposta como lava quente escorrendo direto pela minha garganta. Uma
onda de ressentimento toma conta de mim, alimentando minha fúria adormecida. Dou um passo
em direção a ela, meu coração batendo descontroladamente. Depois de tudo que contei a ela,
Lovely insiste em ficar perto daquele verme. Ela dá um passo para trás, seus sentidos ficando em
alerta.
— Lembra do que eu disse antes de você sair? — pergunto, observando-a dar mais um
passo atrás. — Agora é a hora de você correr, coelhinha. — Ergo a sobrancelha com um sorriso
malicioso.
Ela olha para mim como se pudesse me reduzir a pó e, antes que eu possa fazer qualquer
coisa, Love se vira e sai correndo de casa, deixando a porta aberta em seu rastro. Um rugido
escapa dos meus lábios enquanto eu a persigo.
Corro atrás dela, meus pés batem pesadamente no chão e minha mente turva de raiva e
desejo. Ela desaparece na floresta escura à frente, e eu a sigo sem hesitação, alimentado pela
fúria que queima dentro de mim.
A escuridão da floresta abraça tudo ao meu redor, como se engolisse a própria luz. Meus
passos ecoam no chão irregular enquanto persigo Lovely, cada vez mais longe.
O som dos galhos quebrando sob seus pés ecoa pela floresta, distante, mas me guia em
sua direção. O coração dela deve estar batendo tão rápido quanto o meu, alimentado pela
adrenalina da fuga.
À medida que me aproximo, a floresta parece fechar-se a nossa volta, os seus troncos
retorcidos e as sombras escuras criam um labirinto intransponível. O ritmo frenético dela ecoa na
escuridão, como o bater de asas de um pássaro assustado.
— Não pense que você pode escapar tão facilmente, coelhinha. — Minha voz é uma
sugestão rouca, cheia de promessa e perigo.
A cada passo, a distância entre nós diminui até finalmente alcançá-la. Eu seguro seu
braço e a viro para mim. Seus olhos selvagens brilham na escuridão, mas não mostram sinais de
fraqueza.
— Estou cansada desse joguinho Mad — ela diz em voz baixa, revoltada, e lambe os
lábios levemente curvados.
Lovely tenta se libertar do meu aperto, então meus dedos se fecham em torno de sua
delicada garganta e meu polegar passa por seu queixo, levantando-o em minha direção. Sinto
meu corpo reagir instantaneamente à visão dela, à sua respiração ofegante e ao modo como seus
lábios se curvam provocantemente. Meu desejo por ela queima como uma chama selvagem,
consumindo tudo em seu caminho. Cada célula do meu ser clama por ela, pela sua proximidade,
pela sua pele contra a minha.
Me aproximo lentamente. Meus olhos percorrem seu rosto, capturando cada detalhe,
cada sombra, como se eu quisesse memorizar cada traço dela. E, depois, sem dizer uma palavra,
forço a minha língua na boca dela, mas Lovely morde o meu lábio com força.
Empurro seu corpo contra uma árvore, ela geme com o impacto, soltando meu lábio. Eu
a beijo novamente e seu olhar encontra o meu. Vejo neles uma fusão de desejo e raiva, luxúria e
ressentimento.
Agarro suas coxas e a levanto, suas pernas enlaçam meus quadris e seus dedos afundam
nos cabelos da minha nuca, puxando com força enquanto ela me beija. Deslizo minhas mãos por
suas coxas e acaricio sua bunda por baixo do vestido antes de enganchar meus dedos na tira da
sua calcinha e parti-la, libertando-a da única peça que me impede de tê-la completa.
Eu circulo meu polegar sobre sua boceta molhada, sentindo-a pronta para me receber.
Lovely solta um suspiro de puro êxtase. Os sons de seus gemidos são um oásis para minha alma
danificada. Desafivelo meu cinto e liberto o meu pau. O desejo cresce dentro de mim enquanto
deslizo em sua fenda. Encontro o olhar da Love e algo neles me diz que esta será a última vez.
Fecho os olhos e empurro profundamente em seu calor úmido, tentando reprimir o pensamento
de que nunca mais irei tocá-la.
Sinto sua rendição contra mim e seu corpo cedendo ao meu domínio. Aprecio a maneira
que suas paredes se apertam ao meu redor, antes de tomar seus lábios novamente e bater
profundamente dentro dela. Seus gemidos ecoam na noite em uma sinfonia de prazer e entrega
que alimenta o fogo dentro de mim. Cada impulso é uma explosão que me leva direto ao êxtase.
Sinto sua pele sob meus dedos e seu cheiro inebriante preenche meus sentidos enquanto ela se
entrega completamente. Seus quadris balançam contra os meus, e ela arranha minhas costas com
uma urgência descontrolada.
Suas unhas cravam em meus ombros, seus lábios se abrem em um maravilhoso “O” e
suas pálpebras se fecham de prazer. Lovely morde o lábio inferior contendo um gemido, mas ele
irrompe alto do fundo de sua garganta.
— Porra! Você é minha coelhinha e, mesmo que lute com todas as suas forças, eu nunca
te deixarei.
— Nem no inferno, seu bastardo... — A cabeça dela cai para frente e sua testa toca a
minha. Agarro as bochechas da sua bunda e as separo, metendo cada vez mais fundo. Meu pau
incha, tornando-se muito maior, com minhas estocadas mais fortes e menos controladas.
Ela chama meu nome à beira do êxtase mais uma vez. Não paro. Pressiono seu corpo
contra a árvore e tomo seus lábios com ferocidade. Me enterro até o fim em sua boceta
encharcada, ouvindo seus gritos ecoarem pela floresta e, com um grunhido alto, me derramo com
força dentro dela.
A cabeça de Lovely escorrega sobre meu ombro e seu hálito quente acaricia meu
pescoço. Ficamos na mesma posição por um momento, com meu nariz enterrado em seus
cabelos, sentindo seu perfume. Sabemos que, uma vez separados, as coisas nunca mais serão as
mesmas. E não tenho certeza se estou pronto para isso.
Depois de um momento, Love se afasta, e eu a solto, permitindo que ela volte para o
chão. Observo-a ajeitar o vestido enquanto eu me visto, e seu olhar encontra o meu, emitindo um
misto de firmeza e incerteza.
— Acabou, Mad... — ela diz e lambe os lábios. Sua expressão arrefece antes de
completar: — Fique longe de mim, ou irei direto para James, entendeu?
Digiro as palavras dela por um momento e me recuso a aceitar que acabou. Somos
caóticos, tóxicos, o próprio caos, mas eu não renunciaria a isso... a ela, por nada no mundo.
Balanço minha cabeça em negação.
— A única maneira de me manter longe de você é me colocar na cadeia.
— A escolha é sua, Mad — ela sussurra, e não espera pela minha resposta, dando-me as
costas em seguida. Tomo uma respiração profunda. Lovely me deseja tanto quanto eu a desejo.
Vou dar espaço para ela por enquanto, mas isso ainda está longe de terminar.
Capítulo 27

Coloco um vestido branco de mangas compridas e paro em frente ao espelho do meu


quarto. O colar de esmeraldas que Maddox me deu ainda brilha preso em meu pescoço, corro
meus dedos por ele, me perguntando por que não o retirei, da mesma forma que venho tentando
remover Maddox do meu coração.
Duas semanas se passaram desde aquela noite na floresta, mas parece uma eternidade.
Cada dia é uma batalha entre o ódio que arde em mim e a saudade que me consome. É como se
eu estivesse presa em um ciclo vicioso, incapaz de escapar do controle que Maddox exerce sobre
mim.
Desde então, tenho o evitado a todo custo na Vanguard, mas é impossível escapar
completamente quando ele está por perto todos os dias. Seus olhos, intensos e penetrantes,
parecem seguir cada movimento meu, perfurando minha pele como lâminas afiadas.
Eu o ignoro com todas as minhas forças, mantendo uma fachada de indiferença sempre
que nossos caminhos se cruzam, mas, por dentro, meu coração se debate entre o desejo de correr
para seus braços e o desejo de afastá-lo para sempre.
É um tormento constante ver Mad e não poder tocá-lo, não poder se entregar ao calor
dos seus abraços, ao toque dos seus lábios, mas sei que ceder seria um erro fatal, uma rendição à
escuridão que ele representa.
O ódio ainda queima em meu peito, alimentado pelas memórias dolorosas do que ele me
fez passar, além de uma saudade, uma saudade desesperada de tudo que já tivemos e que nunca
mais teremos.
Cada dia é uma luta constante para manter distância, resistindo à tentativa de ceder à
atração que ainda pulsa entre nós, mas sei que é o que devo fazer para proteger meu coração e
minha sanidade.
Então continuo a ignorá-lo, evitando seu olhar sempre que possível, mesmo que isso
signifique sacrificar parte de mim no processo, pois eu sei que, no final das contas, não posso me
permitir cair novamente nos braços da escuridão que é Maddox Knight.
Desço até o primeiro andar e pego o presente embrulhado que vou dar ao meu pai e a
Evy para o chá de revelação de bebê. Aliás, uma celebração brega para caralho. Estou levando
um livro sobre criação de filhos, espero que meu pai sinta a alfinetada, e Evy, se ela soubesse
que seu filhinho é criminoso, acho que pensaria duas vezes antes de trazer outra criança ao
mundo.
Olho para a nova porta do porão, que fiz questão de enviar a conta para Jimin pagar, e
pequenos flashes dos momentos que Mad passou aqui cruzam meus pensamentos.
Caminho até meu carro com o mesmo entusiasmo que sentiria em uma consulta de
Papanicolau. Só vou porque minha mãe pediu, ela disse que precisamos seguir em frente.
Como faço para seguir em frente nesta cidade que se tornou meu maior pesadelo?

Paro em frente à porta da casa do meu pai e toco a campainha. A porta se abre
lentamente, revelando Mad do outro lado. Sinto uma onda de emoções inundar meu peito
enquanto olho em seus olhos azuis. Posso ver a dor refletida em seu olhar, a mesma dor que sinto
dentro de mim.
Respiro fundo, tentando manter a compostura, mas é difícil quando estou tão perto dele.
Posso sentir todas as emoções que segurei durante dias ameaçando transbordar, cada uma
lutando para encontrar uma saída.
Fico ali, segurando o presente nas mãos trêmulas, enquanto Mad me observa com uma
expressão indecifrável.
Por um momento, quase consigo esquecer todo o caos que nos rodeia. Quase consigo
me perder em seus olhos azuis, nos pequenos detalhes que me fizeram apaixonar por ele.
— Love... — Sua voz nada mais é do que um sussurro.
— O que você está fazendo aqui, Maddox? — Minha voz é oposta à dele.
— George me convidou.
— Nem mesmo Jimin ficaria se tivesse escolha. — Cerro a mandíbula, respirando
fundo. — Não quero ter que lidar com você hoje, então não se aproxime. — Respiro fundo
novamente e passo por ele, sentindo seu calor e seu perfume. Quase me viro para ir embora
quando Evy olha para mim e seu sorriso se alarga.
Forço um sorriso em meus lábios e ando em direção a ela. Sua barriga está mais
volumosa do que da última vez que a vi. Evy usa um vestido justo amarelo de outono que
modela seu pequeno bebê no ventre.
— Obrigada por ter vindo. Você é muito importante, Love. — Uhum. Eu penso
ironicamente e amaldiçoo Mad por me deixar nessa vaca ranzinza.
— É um prazer estar aqui, Evy. — Sorrio docemente. — Eu trouxe um presente para
vocês — digo, entregando para ela, e minha madrasta me dá um abraço apertado em
agradecimento.
— A revelação será no quintal. — Ela aponta em direção aos fundos.
Vou até o quintal e vejo tudo organizado com balões em rosa e azul, mesas cheias de
salgadinhos e um clima alegre no ar. O ambiente quase me faz esquecer dos meus problemas por
um momento, até que, de repente, Ozzy aparece correndo em minha direção. Meu coração se
enche de felicidade e nostalgia. Estendo a mão para acariciar o pelo dourado do Golden
Retriever. Ozzy lambe meu rosto, me fazendo rir.
— Ei, amigão! Você também está animado para a festa? — digo, o acariciando. Ozzy
abana o rabo animado como se entendesse cada palavra minha.
Enquanto acaricio Ozzy, observo as pessoas ao redor, tentando manter distância de
Mad, que agora está empurrando Jisoo no balanço com pé. Sei que não posso evitar
completamente a presença dele, mas farei o possível para não deixar que ele me afete totalmente.
Com um suspiro, me levanto, e Jimin para na minha frente com sua expressão indecisa
me fazendo erguer uma sobrancelha.
— Nós podemos conversar? — ele pergunta baixinho, olhando sutilmente na direção de
Maddox, que nos observa.
— Não temos nada para conversar — respondo, o que quer que ele diga não nos levará a
lugar nenhum.
— Knight, ele sente sua falta. Nunca o vi tão mal, Love. — Engulo o desconforto que
sobe em minha garganta e reforço minha expressão de indiferença.
— Não é problema meu — digo com minhas cordas vocais emaranhadas.
Me afasto de Jimin e entro na casa com passos largos, desejando que o chão se abra e
me engula. Vagueio pela casa e entro no primeiro banheiro que encontro. Encosto-me na porta,
sentindo-me subitamente frágil e vulnerável. Uma onda de emoções contraditórias me atinge,
deixando-me tonta. Engulo em seco, tentando conter as lágrimas que ameaçam transbordar a
qualquer momento.
A notícia de que Maddox está sofrendo não me traz o conforto que deveria. Na verdade,
isso só aumenta a confusão dentro de mim. Não quero que ele sofra, mesmo depois de tudo o que
aconteceu entre nós.
Lavo o rosto rapidamente, engolindo o nó que ameaça se formar na garganta,
dificultando a respiração. Quando finalmente saio do banheiro, fico cara a cara com Mad lá fora.
Ele olha para mim com uma expressão preocupada.
— O que você quer, Maddox? — Minha voz sai mais ríspida do que eu pretendia,
incluindo toda a dor e raiva que venho tentando conter.
Ele não fica surpreso com minha hostilidade e muito menos recua. Em vez disso, ele dá
um passo à frente, invadindo meu espaço pessoal. Seus olhos azuis cheios de uma emoção que
não consigo decifrar me deixam ainda mais agitada.
— Já te dei tempo para ver que isso é loucura. Você não pode negar o que sente por
mim.
— Não estou negando nada. Você me dá nojo, raiva... — rosno, tentando manter minha
a voz firme.
— Você pode tentar se convencer disso, mas sei que ainda me quer. — Sua voz é baixa,
sendo responsável por uma determinação que me faz tremer por dentro.
Antes que eu possa responder, ele toma minha boca em um beijo que rouba o ar dos
meus pulmões, deixando-me incapaz de pensar em outra coisa senão no toque de seus lábios nos
meus.
Por um momento, luto contra o sentimento avassalador que ele desperta em mim. Tento
me lembrar de todos os motivos pelos quais deveria afastá-lo, mas é como se uma força
magnética nos atraísse, impossível de parar. Sinto meu corpo inteiro congelar. Por um instante,
tudo desaparece, menos nós dois, e só consigo sentir o calor do seu corpo contra o meu e das
suas mãos me abraçando e apertando nos lugares certos.
Entrego-me ao beijo como se fosse uma viciada, sucumbindo à minha primeira recaída.
Todas as minhas preocupações e hesitações desaparecem, vencidas pelo calor que só Mad é
capaz de despertar em mim.
Quando ele se afasta para respirar, seus braços permanecem em volta de mim, meu rosto
pressiona contra seu peito, inalando profundamente o seu perfume. Me desvencilho dele,
olhando em seus olhos.
— Não somos bons um para o outro, Mad. Se você sente algo verdadeiro por mim, me
deixe em paz. — Minha voz é um sussurro que mal consigo ouvir.
Não espero uma resposta dele, pois não há mais nada a ser dito. Saio da casa sentindo
um misto de frustração e tristeza inundar meu peito. Por mais que eu queira acreditar que
podemos superar tudo isso, uma parte de mim sabe que as feridas são profundas demais e os
danos irreparáveis. Ele ganhou minha confiança e depois destruiu tudo o que tínhamos. Caminho
até meu carro sentindo as lágrimas que lutei tanto para conter começarem a escorrer pelo meu
rosto.
Péssima ideia vir até aqui, reflito, entrando no carro.
Capítulo 28

Deixo a minha última aula e sigo o fluxo de pessoas em direção à saída. Já se passaram
três semanas desde que pedi para Mad ficar longe, mas, ainda assim, quando saio das aulas, faço
o possível para não esbarrar nele e sinto que ele está fazendo o mesmo.
Ao virar a esquina, me deparo com uma cena que faz meu coração afundar no peito e
meu estômago revirar. Mad está sentado na escora de um dos bancos do campus, conversando
com uma garota loira com um longo rabo-de-cavalo, vestindo um uniforme de líder de torcida.
Ela ri, tocando o braço dele, como se ele tivesse contado uma piada, o que acho improvável.
Paro abruptamente e meu corpo fica tenso enquanto os observo. O sangue pulsa em
meus ouvidos, uma soma de raiva e tristeza inundando minha mente. Mad olha na minha direção,
seus olhos azuis encontrando os meus por um breve momento, antes de eu desviar o olhar
rapidamente e começar a andar novamente.
Sinto uma onda de emoções conflitantes tomar conta de mim, ameaçando me afogar.
Por um lado, sinto uma fúria avassaladora ao vê-lo tão próximo de outra pessoa, principalmente
depois de tudo o que aconteceu entre nós. Por outro lado, uma parte de mim se sente traída,
como se ele estivesse seguindo em frente enquanto eu ainda estou presa no passado.
Respiro fundo, me perguntando o que eu esperava que acontecesse. Eu disse a ele para
seguir em frente, eu deveria fazer o mesmo, mas, em vez disso, sinto meu coração ficando em
pedaços dentro de mim.
Chego ao meu carro quando de repente Devon para ao meu lado com um sorriso. Ele
está me evitando há algumas semanas, temo que Mad o tenha ameaçado.
—Você vai à festa da fogueira hoje à noite?
— Vou por conta própria, ou Fallon vai me arrastar — comento com um pequeno
sorriso. Não que eu esteja ansiosa para entrar numa floresta na noite de sexta-feira 13, mas acho
que é hora de deixar o passado para trás.
— Vejo você lá então. — Ele abre um sorriso largo e vai embora.
Entro no carro com um turbilhão de pensamentos. Mesmo que um dia eu consiga pôr
um fim à minha história com Mad, sei que nunca darei uma chance a Devon. Olho para ele e me
sinto péssima por saber onde está seu irmão e não poder contar sem arruinar a vida de Maddox.

Viro-me para Fallon, que está deslumbrante em sua fantasia de anjo sombrio. Minha
amiga se destaca com sua saia preta de cintura alta e meia-arrastão que vai até as coxas, enquanto
seu cropped de renda realça perfeitamente seus seios. E, para completar a fantasia, asas fechadas
adornam suas costas, emanando um ar misterioso.
— Obrigada, Love. Amei a fantasia — ela diz com um sorriso genuíno, parada ao meu
lado no espelho.
— No próximo ano, podemos inverter. — Ela acena, admirando-se no espelho.
Vou até minha cama, pego o véu preto e estendo a Fallon para me ajudar a colocá-lo.
Este ano vou me vestir de freira, mas não daquela horrorosa do filme Invocação do Mal. Uso um
elegante vestido preto, com decote profundo que revela a pele na altura do umbigo, e luvas de
veludo que chegam aos cotovelos. Uma cruz meticulosamente desenhada adorna minha testa,
traçada com tal precisão que parece ter sido esculpida com uma faca. Fallon, definitivamente,
tem mão de artista.
— Parece até pecado ir vestida assim. Uma provocação divina — comenta, ajeitando o
véu.
— Às vezes, o pecado está nos olhos de quem vê — digo e rimos.
Descemos para o primeiro andar e, enquanto eu alimento Noturno, noto Fallon olhando
para o porão, então ela olha para mim como se fosse dizer algo, mas desiste. Ela tem sido uma
grande amiga e me apoia desde que presenciou Mad no porão, acredito que nem todos aceitariam
tão bem quanto ela. Mas, às vezes, sinto que ela tem tanto a esconder quanto eu.
— Vamos? — pergunto com um sorriso, sentindo um friozinho na barriga, e Fallon
balança a cabeça animadamente, pegando sua bolsa.
Descemos do carro e seguimos a trilha de luzes vermelhas de led que guiam o caminho
até o centro da festa. Conforme andamos, passamos por alguns bonecos pendurados nas árvores,
como o Jason Voorhees, Freddy Krueger e Ghostface. À medida que nos aproximamos, um
remix de I WANNA BE YOUR SLAVE se intensifica. Vejo a enorme fogueira acesa no centro
da clareira, uma sensação de pânico se insinua e as memórias que enterrei no fundo do peito
ameaçam voltar. Quando olho para aquela fogueira alta, tudo que me vem à mente é o irmão de
Macoy.
— Você está bem, parece tensa? — Fallon agarra meu pulso, chamando minha atenção.
— Sim, eu estou — minto.
A festa já está a todo vapor. O crepitar do fogo ecoa pelos arredores, e o brilho da
enorme fogueira ilumina a noite escura. Seguimos em frente, nos misturando à multidão
fantasiada. Meus olhos estão atentos, observando o que me rodeia, as máscaras The Purge
brilham entre os arbustos e uma inquietação arranha meu âmago como uma garra afiada. Eu
empurro esse sentimento para fora da minha cabeça.
Ao chegarmos à fogueira, o calor intensifica-se e o som das risadas e das conversas
torna-se mais alto. Reconheço alguns rostos da Vanguard, mas a maioria usa máscaras ou
maquiagem pesada, o que dificulta a identificação.
Olho em volta e, como sempre, me sinto atraída por Maddox com aquela maldita
máscara na cabeça enquanto conversa com Jimin e a loira dessa tarde, a garota está vestida de
Tiffany, de A Noiva de Chucky.
Meu olhar cruza com o de Mad e não consigo me livrar da ideia de trancá-la no meu
porão e depois arrancar seus dedos para que ela nunca mais possa tocá-lo. Balanço minha cabeça
com meus olhos fulminando os dele, eu queria odiá-lo mais do que desejo.
Viro-me para a mesa atrás de mim e tomo três shots seguidos. Tenho a sensação de que
esta noite vai acabar mal. Penso comigo mesma, sentindo meu peito apertar com a sensação ruim
que me assombra desde que cheguei, mas eu me forço a afastar esses pensamentos.
Viro o quarto shot quando pego a Fallon me observando.
— Que tal deixar um pouco para os outros?
— Não conte com isso — aviso, pegando dois shots e estendendo um para ela.
A noite continua e, a cada minuto que passa, mais gente chega e mais bêbada eu fico.
Nós nos misturamos à multidão, e a batida de My Type, de Saweetie, enche meus ouvidos,
afastando temporariamente meus pensamentos. Deixo-me envolver pelo ritmo pulsante,
permitindo que a música guie meus movimentos enquanto me movo junto de Fallon.
Mãos firmes agarram meu quadril, olho por cima do ombro pensando que encontrarei
Devon, mas vejo um par de olhos castanho-esverdeados olhando para mim. O grandalhão atrás
de mim sorri maliciosamente. Olho para Fallon, e ela balança a cabeça sutilmente, sinalizando
que isso é uma má ideia. Seria uma má ideia se eu cometesse uma loucura com a loira que não
sai de cima do Maddox, mas só quero dançar até esquecer de tudo.
— Você está um pecado com essa roupa. — Eu rio e me viro para ele, que tem cachos
pretos e macios que delineiam um rosto com traços duros. Ele está vestido com um macacão
laranja de prisão e tem uma algema presa em um dos pulsos.
— De qual prisão você fugiu? — pergunto antes que ele pegue minha mão e me vire
novamente.
— Riverside. — Ah, meu Deus, parece uma piada de mau gosto.
O detento encosta o peito nas minhas costas e sua mão desliza pela minha barriga. Pego
seus dedos antes que cheguem à minha cintura, e ele me segura contra seu corpo, seus lábios
alcançando meu pescoço.
— Love... — Fallon me chama com urgência no momento em que começo a me
esquivar do detento, então, de repente, vejo Maddox se aproximando. Seus olhos azuis estão
incendiados de fúria. Ele se lança em direção ao cara que estava dançando comigo, agarra-o pelo
colarinho e o joga violentamente no chão.
O gemido que passa pelos lábios do detento reverbera pela floresta, competindo com as
batidas aceleradas do meu coração. Antes que o cara possa se recuperar, Maddox está em cima
dele, desferindo golpes com uma ferocidade que me faz estremecer.
A multidão ao redor está congelada, observando Maddox desferir golpes com uma
selvageria que me dá arrepios até os ossos. Dou um passo em direção a eles, mas sou
interrompida por Fallon, que segura meu braço com firmeza e com os olhos cheios de
advertência. Quero gritar para Maddox parar e quero que toda essa violência pare, mas minhas
palavras se perdem no ar, abafadas pelo som dos socos.
Finalmente, depois de alguns segundos, que parecem durar uma eternidade, Jimin e dois
outros caras do Black Ravens puxam Maddox de cima do homem. Os olhos de Mad encontram
os meus com raiva incontida e expressão visceral.
— Se alguém se atrever a tocá-la, é isso que vai enfrentar — Maddox declara com voz
tensa e olhar incisivo. Ele cospe no chão, onde o detento se levanta, e parece prestes a explodir
outra vez com os punhos ainda cerrados perto do corpo.
As pessoas começam a olhar para mim e sussurrar. Meu sangue ferve de indignação.
Quero estapeá-lo e gritar com ele, mas minhas palavras parecem perdidas na turbulência que se
desenrola dentro de mim.
— Vamos sair daqui. — Fallon toca meus ombros e de repente preciso lembrar como
andar. A multidão se separa diante de nós quando saímos da festa. Nunca me senti tão humilhada
na minha vida e já passei por muita merda.
Estamos chegando ao meu carro quando Fallon para abruptamente, deixando escapar
um suspiro irritado.
— Droga, esqueci minha bolsa. — Ela rola os olhos.
— Tudo bem, espero você no carro — digo sem um pingo de ânimo para voltar lá.
Fallon acena e se afasta, voltando rapidamente para a festa, então me vejo olhando para
o céu estrelado enquanto vou em direção ao meu carro. Uma sensação de calma toma conta de
mim por um momento, mas é rapidamente substituída pela violência de Mad, a maneira como ele
se dirigiu a mim na frente de todos só adiciona combustível ao fogo da minha indignação.
Quando chego ao meu carro, o vislumbre de uma máscara The Purge vermelha é tudo
que vejo antes que uma dor aguda irrompa em minha cabeça, com uma explosão de sensações
desagradáveis que me deixam cambaleando. Tudo ao meu redor começa a girar, minha visão fica
turva, distante, como se eu estivesse observando tudo através de um véu de névoa densa. A dor
se intensifica, tão pulsante que parece ecoar por todo o meu crânio.
Tento me agarrar à consciência, mas é como se estivesse sendo arrastada para um
abismo escuro e sem fundo. Sinto mãos me segurando, mas meu corpo está pesado, incapaz de
resistir.
Minha mente grita por socorro, mas minhas palavras ficam presas na garganta. Tudo
fica em silêncio, imerso numa escuridão profunda e impenetrável. E, então, lentamente, como
uma vela se extinguindo, minha consciência se desvanece.

A dor latejante na minha cabeça é quase insuportável. Abro os olhos lentamente,


lutando contra a luz que me atinge. Sinto uma confusão tomar conta da minha mente enquanto
tento entender onde estou, porque tudo que vejo é um teto branco e mofado. Meu corpo está
pesado e minhas mãos... tento movê-las, mas elas estão detidas por amarras. O pânico se espalha
dentro de mim, meu coração começa a bater descontroladamente enquanto tento entender a
situação. Meus olhos examinam freneticamente o quarto, procurando por alguma resposta, mas
logo percebo que estou em um quarto de hospital. E então vejo uma silhueta ao pé da cama. Uma
máscara de néon vermelho esconde seu rosto, impossibilitando identificar quem é. Sombra cruza
meus pensamentos. Ele seria o único capaz de cometer isso, mas Maddox não me machucaria.
Eu quero acreditar nisso. Um arrepio de medo percorre minha espinha enquanto tento me
encolher, mas minhas pernas também estão amarradas, impedindo qualquer movimento.
Sinto-me novamente como uma presa encurralada, à mercê do desconhecido. Será que é
alguma das pegadinhas da Alpha Theta Phi?
— Quem é você? Por que me trouxe aqui? — exijo saber.
O homem mascarado se levanta, parando na minha frente. Sua presença é imponente,
sua figura, alta e intimidadora. Ele está vestido todo de preto, com o capuz do casaco cobrindo
sua cabeça e escondendo ainda mais suas feições
— Eu conheço você, não é? — digo, tentando olhar nos olhos dele, mas está escuro
demais para ver alguma coisa.
Ele não pronuncia uma única palavra, apenas me observa com interesse penetrante.
Sinto um nó apertar na garganta e lágrimas começam a se formar, obscurecendo minha visão
enquanto tento conter um soluço de desespero.
Ele tira as mãos dos bolsos e as traz para mais perto de mim. Instintivamente, recuo no
colchão, tentando evitar seu toque, mas seu dedo alcança meus lábios, traçando-os delicadamente
antes de descer até meu decote.
Fecho os olhos e sinto meu sangue gelar quando ele rasga meu vestido ao meio, me
deixando só de calcinha em cima da cama hospitalar. Uma onda de horror me percorre e minha
respiração fica mais lenta e pesada.
— Mad, se for você, não tem graça — choramingo, e a brisa que entra pela janela me dá
arrepios, deixando meus mamilos entumescidos.
O mascarado pega meu telefone e o desbloqueia rapidamente com minha impressão
digital. Um calafrio percorre minha espinha quando percebo o que ele está prestes a fazer. Ele
aponta o dispositivo para mim e o flash repentino me faz apertar os olhos, obscurecendo
momentaneamente a minha visão. Meu coração dispara em pânico enquanto me debato, sentindo
o terror arranhar meu peito.
— Por que está fazendo isso? — pergunto, lambendo meus lábios e sentindo o gosto das
lágrimas neles.
Então, num movimento lento e deliberado, ele remove a máscara, revelando o rosto por
trás dela. Meus olhos se arregalam em choque quando vejo quem está diante de mim. Seu olhar é
intenso, como se pudesse ler cada pensamento que passa pela minha mente.
— Agora você sabe porquê.
Capítulo 29

Encosto-me numa árvore e coloco um cigarro entre os lábios, sentindo os nós dos dedos
latejarem, pulsando com a dor persistente das consequências da minha explosão de raiva. Eu
deveria ter mais controle e ser capaz de lidar com as situações com mais calma e racionalidade,
mas, quando vi aquele cara tocando Lovely, algo dentro de mim simplesmente explodiu.
Love é minha única fraqueza, e vê-la dançando para outro foi como uma faca
atravessando meu peito. Ela é a única pessoa que me fez sentir completo e, mesmo agora, com
todo o caos que provocamos um ao outro, não consigo deixá-la. Tentei durante semanas, mas foi
como se ela tivesse extirpado um pedaço do meu coração e levado consigo.
— O que é uma festa sem barraco? — Lisa, minha colega da Vanguard, comenta, se
aproximando por trás da árvore. Ela está fantasiada de Tiffany. — Você pensou que ela iria
explodir de ciúme, mas o tiro saiu pela culatra.
— Dispenso seus comentários sarcásticos. — Ela ri, tirando o cigarro da minha boca e
me deixando sozinho.
Pego outro cigarro e me despeço de Jimin na saída da festa com a sensação de que estou
cada vez mais longe de tê-la de volta, pesando em meus ombros. Se houvesse uma maneira de
resolver isso, eu faria sem hesitar. Subo na minha moto e jogo o cigarro no chão, esmagando-o
com o coturno. Estou começando a odiar toda sexta-feira 13.
Olho para o teto, deitado na minha cama, é estranho sentir que dormi melhor no porão
dela do que no meu próprio quarto. Lovely deve ter feito uma lavagem cerebral em mim. Assim
que voltei à rotina, tive que colocar alguns trabalhos da Vanguard em dia e dizer ao meu pai que
estraguei tudo com Love e que ela não viria mais jantar. Além disso, tive que inventar uma
história convincente para os patrocinadores da luta entenderem por que não compareci ao
confronto marcado contra Macoy.
Viro-me na cama com os olhos pesados, mas sem conseguir dormir, o rádio-relógio
indicando 5h15 da madrugada. A escuridão do quarto é interrompida quando, de repente, a luz
do meu telefone acende na mesinha de cabeceira.
Eu me estico para alcançá-lo. A luz fraca da tela ilumina o quarto, revelando uma única
mensagem da Love não lida. Meu coração dispara enquanto desbloqueio o telefone. Um misto de
esperança e apreensão percorre meu corpo.
Meus dedos ágeis deslizam pela tela, abrindo-a mensagem, e o que vejo me deixa
completamente atordoado. Pulo da cama, incapaz de acreditar no que estou vendo: uma foto
dela, deitada, amarrada e seminua. A fúria bombeia dentro de mim misturando-se à sede de
sangue e raiva queimando em minhas veias.
Encontro-me andando de um lado para o outro, meu pulso desenfreado com uma
mistura de medo primal e emoção distorcida borbulhando dentro de mim. Quem teria a audácia
de fazer algo assim com Lovely? Ela não tem inimigos em Serpentine Hill... Jimin não seria
capaz de machucá-la, e aquele bastardo do CJ está preso...
— Porra! — eu rosno.
Ele descobriu.
O pensamento me golpeia como um soco no estômago, deixando-me atordoado e
indignado. Eu ligo de volta para Lovely. Se Devon encostar um dedo nela, eu desmembrarei
vivo. Ele atende e um longo silêncio se estende.
— Eu sei que é você, Macoy! — rugi ao telefone e, do outro lado, a risada dele ressoa
cínica e provocadora. A raiva cresce dentro de mim como uma fera enjaulada, pronta para se
libertar a qualquer momento.
— Você tirou algo de mim, que tal eu tirar algo de você? — ele pergunta e, junto de sua
voz, um grito estridente ecoa, cortando o silêncio da noite.
Meu sangue entra em ebulição, sabendo que ele a está machucando por minha causa.
— Faço o que você quiser, é só me levar no lugar dela...
— E arriscar ter o mesmo destino que meu irmão, Victor? — ele estala a língua, —
Quero que você vá até a delegacia mais próxima antes do amanhecer e se entregue a polícia.
Quero que confesse que matou meu irmão e onde você o enterrou, senão irei estuprá-la e matá-la.
— voz de Macoy soa como gelo implacável, deixando claro que não está blefando.
— Me deixe falar com ela antes.
— Você pode falar com ela quando te visitar na prisão. — Ele encerra a ligação.
Desgraçado!
Ando pelo quarto com as minhas mãos bagunçando meu cabelo em exasperação. E se eu
me entregar, e ele ainda a machucar? Fico parado no meio do quarto, respirando rápido e
irregularmente, meu coração martela no peito como se quisesse sair pela boca. O sentimento de
impotência me devora, incapaz de fazer qualquer coisa para evitar que Love sofra.
Se eu soubesse onde eles estão... cacete! O colar de esmeraldas com GPS embutido!
Uma ponta de esperança surge em meu peito quando me lembro disso. Talvez haja uma maneira
de localizá-la, caso ela ainda não tenha jogado o colar no lixo. Acesso ao sistema de
rastreamento através do meu celular. Meu coração bate mais rápido enquanto o mapa carrega na
tela, revelando a localização de Love. Prendo a respiração pela demora, cada minuto é crucial,
pois o amanhecer é daqui a uma hora. Meu coração aperta quando vejo o ponto no mapa
indicando onde ela está, em um pequeno hospital abandonado na extremidade da cidade.
Pego meu capacete e, no caminho para o andar de baixo, tento ligar para Jimin, ele já
deve estar bêbado, pois as ligações vão direto para a caixa-postal. Mando uma mensagem para
ele com a localização de Love, dizendo que Devon sabe de tudo... Me pergunto agora como
Macoy descobriu?
Na primeira semana em que Tank sumiu, Devon veio até mim para descobrir o que eu
fiz com ele. Ele não obteve provas e a polícia local relatou o desaparecimento do seu irmão
depois de algumas semanas, mas não se preocuparam em procurá-lo.
Subo na moto, o motor ruge embaixo de mim e acelero como um louco. Espero que
Jimin veja a mensagem porque, se algo acontecer comigo, sei que Love estará segura com ele.
Estaciono a moto a uma quadra do hospital, dez minutos depois meu coração bate
absurdamente alto, atrapalhando meus pensamentos. Caminho furtivamente em direção ao
prédio, tentando permanecer invisível nas sombras da noite.
Cada passo que dou parece ecoar como um trovão rugindo em meus ouvidos. Meus
músculos estão tensos e meu estômago revira de ansiedade. Não me lembro de ter me sentido
assim, mesmo quando estava esfaqueando aquele bastardo do Tank.
Aproximo-me do hospital abandonado, passando silenciosamente pelas janelas
quebradas e portas enferrujadas. Minha respiração fica mais superficial conforme me aproximo
da entrada. Entro com cuidado para não pisar nos vidros quebrados, ou fazer qualquer outro
barulho.
Ando pelo longo corredor parcialmente iluminado, espiando pelas janelas com cuidado,
meu coração vai parar na garganta quando meu telefone começa a tocar.
Porra!
Eu rapidamente muto o som e entro na sala à minha frente quando meus ouvidos captam
passos ecoando pelo corredor. Eu me agacho no chão e o cheiro de mofo enche as minhas
narinas como uma ferida aberta. Observo em silêncio enquanto Macoy desliza pelo corredor,
meu corpo está tenso como um arco prestes a ser disparado, e minha mente grita para avançar e
acabar com ele ali mesmo. Mas sei que não posso deixar que a minha sede de vingança coloque
Love em mais perigo.
Respiro fundo, lutando para conter meu instinto assassino. Tenho que libertar Love
primeiro e garantir que ela possa escapar se algo acontecer comigo. Quando Macoy finalmente se
afasta, sigo rapidamente pelo corredor, cada passo pesando como chumbo em meus pés.
Finalmente, encontro a porta do quarto onde ela está mantida.
Ando até ela, seu rosto pálido e seus olhos cheios de medo encontram os meus, e meu
maldito coração se parte mais uma vez quando vejo um hematoma em seu rosto,
— Mad — ela murmura, e as lágrimas escorrem livremente por suas bochechas.
— Eu estou aqui agora — digo, tirando a camisa e cobrindo seu corpo seminu. Por
instinto, minhas mãos alcançam a faca em meus bolsos, mas ela ainda está com Love, assim
como meu isqueiro. Olho ao redor no chão e vejo barras de ferro enferrujadas, madeira podre e
vidros quebrados, me abaixo e pego um caco para cortar as amarras que a mantêm presa na
cama.
Eu libero seus braços rapidamente, e Love se senta e me abraça com tanta força que não
consigo afastá-la.
— Ele está armado, Mad — ela sussurra e me solta, apavorada.
Começo a desamarrar seus pés enquanto ela veste minha camisa, mas, de repente, antes
que eu possa reagir, sinto o impacto brutal me jogando no chão. Minha cabeça bate forte e uma
explosão de dor atravessa meu crânio, deixando-me tonto e atordoado. Enquanto tento recuperar
os sentidos, Macoy aproveita minha vulnerabilidade e começa a desferir golpes diretos no meu
rosto, um após o outro, como marteladas brutais.
Cada soco é como uma onda de dor explodindo em minha mente, o gosto de sangue
enche minha boca e meu mundo se torna uma névoa vermelha de dor e raiva. Levanto os braços
para bloquear os golpes, mas eles vêm com uma força implacável, quebrando minha resistência a
cada soco. Eu jogo meus quadris para cima com a intenção de tirá-lo de cima de mim. Ele
levanta a arma com precisão fria e coloca o cano contra meu queixo, seus olhos transbordando de
intensidade visceral.
— Você vai me contar a verdade, Knight. — A voz de Macoy é baixa e perigosa, cada
palavra carregada com uma ameaça mortal.
Engulo em seco e minha mente trabalha freneticamente em busca de uma saída, mas
estou encurralado. Se eu não lhe disser o que ele quer ouvir, ele poderá matar Love ali mesmo,
diante dos meus olhos.
— Não tive escolha..., ele tentou me matar — digo em tom calmo.
— Você está mentindo! — ele ruge, desferindo uma coronhada na minha cabeça,
fazendo minha visão escurecer por um instante.
Não importa o que eu diga, Macoy vai me matar.
— Onde você o enterrou? — ele exige, sua voz é uma promessa de morte iminente.
— Em uma floresta em Valley Hill — respondo, resignado, sabendo que minhas
palavras podem selar não só o meu destino, mas também o de Love.
— Saiba que vou enterrá-lo no mesmo lugar onde você o enterrou. — A arma dele
desliza em meu coração, o ódio queima em seus olhos enquanto ele a pressiona com mais força,
como se estivesse tentando atravessá-la em meu corpo.
Procuro o olhar de Love porque, se eu morrer agora, quero que o rosto dela seja a última
coisa que eu veja. Busco por Love e ela não está mais na cama, uma sensação de alívio enche o
meu peito, se ela estiver segura, Macoy pode ir para o inferno que eu não digo mais nada.
De repente, um som abafado corta o ar e Macoy cai de cima de mim com um grunhido,
então, meus olhos encontram os de Love aos meus pés, segurando uma barra de ferro. Ela
desfere outro golpe na cabeça dele, fazendo com que o sangue de sua cabeça espirre para os
lados, deixando Macoy inconsciente, depois outro golpe e mais outro.
Levanto-me sentindo meu sangue escorrendo pela minha têmpora e seguro seus punhos,
impedindo o próximo golpe. Ela olha para mim com sua expressão em choque.
— Ele ia matar você, Mad. — ela sussurra com os olhos em uma profusão de lágrimas.
Pego o ferro de sua mão trêmula e jogo no chão, depois a puxo em meus braços e a seguro com
força contra meu peito. Eu posso sentir seu coração agitado.
— Eu sei, você me salvou — murmuro enquanto olho para o corpo inerte de Macoy
com uma mistura de alívio e horror percorrendo minhas veias.
— Puta merda! — Nos voltamos para a entrada da sala. Jimin encara o corpo de Macoy.
— Parece que estou tendo um déjà-vu — ele diz, se aproximando.
Love me olha assustada, mas faço um gesto sutil com a cabeça para mantê-la calada.
— Eu tinha que fazer isso, ele ia me matar — eu respondo.
— Já ouvi isso uma vez. — Jimi me lança um olhar de desaprovação e cutuca Macoy
com o pé, como se quisesse ter certeza de que ele realmente está morto.
— O que faremos? — Love choraminga com os olhos ainda em lágrimas.
Seguro seu rosto com ternura, erguendo seu olhar para mim, encontrando seus olhos
devastados.
— Você não vai fazer nada, Jimin vai te levar embora — digo, tentando transmitir
segurança mesmo diante do caos que se instaurou em nossas vidas enquanto amparo com o
polegar suas lágrimas que escorrem copiosamente.
— Mad... — ela sussurra, mas balanço a cabeça em negação, reunindo forças e me
libertando de seu toque.
— Vão — ordeno, desviando o olhar para Macoy.
— Eu volto em breve — Jimin avisa, passando o braço pelo corpo dela e guiando-a em
direção à saída.
Espero que eles saiam e solto um suspiro de frustração. Aproximo-me de Macoy e
verifico seu pulso, mas não sinto nada. Ele está morto.
Pego a arma perto de seu corpo e prendo-a na parte de trás da minha calça, minha mente
já começando a fazer planos para o que vem a seguir. Vou ter que fazer tudo de novo. Enterrar
um corpo, cobrir meus rastros e lidar com as consequências. A floresta em Valley Hill parece ser
o lugar certo novamente.
Espero que, desta vez, seja o fim.
Capítulo 30

Deitada na cama, o silêncio da noite envolve meu quarto enquanto observo a fumaça
subindo na escuridão da floresta ao longe. Eu sei que é Mad queimando o corpo de Devon. Um
arrepio percorre minha espinha ao pensar no que ele está enfrentando porque eu não conseguia
parar de golpear a cabeça de Macoy.
Deus, quando penso nas covinhas que se formavam em seu rosto toda vez que ele sorria
para mim, a culpa cai como lava em meu estômago. Eu tirei a vida dele..., mas era ele, ou
Maddox, e eu não poderia viver sabendo que deixei Mad morrer.
Me viro na cama, olhando para o teto. Passei o dia inteiro deitada, dormindo e
acordando em um estado de torpor. Toda vez que fecho os olhos, sou assombrada por
lembranças aterrorizantes da cabeça de Devon se amassando a cada golpe que dei e do sangue
espalhando-se pelo chão ao meu redor.
Pego meu celular debaixo do travesseiro e olho as mensagens que troquei com a Fallon.
Ela queria saber para onde eu fui depois da festa, ela acha que eu a abandonei lá, mas não posso
falar a verdade, sinto que minha vida está se tornando um emaranhado de mentiras. Respondi
que havia passado mal e pedi desculpas, ela deve estar me odiando e com razão.
O dia clareou depois do que pareceu uma eternidade, o cansaço estava se apoderando de
mim, deixando meus olhos terrivelmente pesados, até que ouvi passos soando no corredor.
Sento-me na cama e suspiro de alívio ao ver Maddox entrar no quarto, suado, desgrenhado e
completamente coberto de sujeira. Seu rosto está roxo e inchado em várias partes devido a vários
golpes de Macoy. Mordo meu lábio com pesar.
Corro em sua direção e me jogo em seus braços, sentindo o calor reconfortante de seu
corpo contra o meu. Mad me abraça de volta e eu o sinto beijar o topo da minha cabeça.
— Posso tomar um banho aqui?
— Claro, Mad. — Dou um passo atrás e observo Maddox tirar a roupa, seus ombros
estão levemente curvados, sua expressão, tão exausta quanto a minha.
Ele entra no chuveiro em silêncio, enquanto isso procuro uma peça da roupa de Tyler
para ele. Volto para o banheiro e Mad está de costas para mim, com as mãos agarradas no
corrimão e a cabeça inclinada para frente, recebendo o jato de água nas costas.
Mad se vira depois de um momento como se sentisse minha presença, empurra seu
cabelo molhado para trás, encontrando meu olhar, e não precisamos de palavras para expressar
que estamos sentindo a mesma coisa. Ele parece tão vulnerável agora, tão humano, mesmo que
sua força física seja inegável. Eu gostaria de poder tirar toda a dor que ele está sentindo e que ele
não tivesse que passar por tudo isso por minha causa.
Saio do banheiro para ele ter privacidade para se vestir. Sento-me de volta na cama,
percebendo que, com a chegada dele, o peso sobre meus ombros começou a diminuir.
Ouço o som da água parar no banheiro e, alguns minutos depois, Maddox entra no
quarto, vestido com calça de moletom e camisa preta. Seu rosto ainda carrega os traços do que
ele passou na noite passada, mas há algo em seus olhos que me tranquiliza, algo que diz que tudo
ficará bem.
Levanto-me da cama e o abraço com força, buscando conforto em seus braços fortes.
Ele me abraça com ternura e seu calor irradia uma sensação de segurança que me acalma mais do
que qualquer palavra poderia expressar.
— Você está bem? — murmura em meu ouvido, sua voz suave como uma brisa.
— Não. — Balanço a cabeça em negação, sentindo as lágrimas ameaçando aflorar mais
uma vez. — Eu matei Macoy... e se alguém descobrir o que eu fiz, Mad?
— Aquele verme mereceu cada golpe — Mad diz com sua voz ficando áspera e levanta
meu rosto para encontrar meu olhar. — Você não fez nada. Entendeu?
Engulo em seco, tentando compreender o que ele quer me dizer.
— Se algum dia descobrirem, eu o matei, porque mataria qualquer um para te salvar,
Love... — ele entoa sem espaço para discussão. — Nunca mais vou deixar que nada de ruim
aconteça com você, mesmo que você me expulse da sua vida para sempre.
Balanço a cabeça em negação, lutando contra as lágrimas que insistem em escapar, com
meu coração batendo tão forte que parece querer se libertar do meu peito.
— Cansei, Mad... — sussurro com lágrimas queimando em meus olhos. — Estou
cansada de lutar contra meus sentimentos por você... Não quero que você se afaste, mas não
quero que você me engane novamente. Não vou permitir que me manipule. Mesmo que isso
dilacere meu coração, vou arrancá-lo do peito para sempre, se necessário.
Seus olhos atormentados perfuram os meus com uma intensidade avassaladora. Mad
desliza a mão para meu rosto com seus dedos segurando firmemente minha nuca.
— Eu a amo mais do que ousaria admitir para qualquer pessoa. E eu prometo, com cada
batida do meu fodido coração, que nunca mais vou te machucar.
Ele empurra a língua na minha boca e me beija com tanta força que dói. Envolvo meus
braços em volta de seu pescoço e Mad me puxa para seus braços com firmeza e me leva para
cama. Ele se deita nos travesseiros comigo no colo, me afasto para arrumar o cabelo e analiso os
hematomas em seu rosto. Meus dedos os tocam suavemente e, mesmo assim, Mad demonstra
uma expressão de dor.
Macoy também me marcou com uma bofetada que me fez cuspir sangue no chão
enquanto falava com Maddox ao telefone. Nunca pensei que ele fosse capaz de me machucar,
mas ele não hesitou nem por um segundo.
— O que você está pensando? — Mad pergunta, seus dedos percorrendo minha coxa
nua e parando na minha cintura, ainda estou vestindo a camisa que ele me deu na madrugada de
ontem.
— Macoy descobriu tudo por minha causa, ele disse que me ouviu conversando com
Jimin naquela festa que eu estive enquanto você estava no meu porão... Eu não sabia que ele
estava ouvindo, Mad.
— Ele já sabia, Love..., só não conseguiu provar e usou você como isca.
— Como você nos encontrou? — pergunto, notando que seu rosto se tornar todo linha
dura.
Mad aperta os lábios com uma expressão tensa que me faz antecipar que sua resposta
pode não ser fácil de aceitar.
— O que você fez? — pergunto enquanto ele olha para o meu pescoço.
— Prometa que não vai brigar comigo.
— Você não tem cinco anos, Maddox! Que porra você fez?
— Coloquei um rastreador no seu colar.
— O quê?! — Minha voz sai num sussurro em uma confusão de choque e raiva
borbulhando em meu peito. Não acredito no que estou ouvindo. — Você colocou um rastreador
em mim? — Minha voz agora está mais alta, embargada de raiva contida.
Mad olha para mim com uma expressão de culpa pesando em seu rosto. Tento sair de
cima dele, mas ele me segura com força pelas coxas.
— Desculpe — ele diz, eu lambo meus lábios, retiro o colar com um gesto rápido e, em
seguida, empurro contra seu peito.
— Remova esse rastreador e depois devolva-o para mim — ordeno, e seus lábios se
curvam em um sorriso devastador. Mad nos gira, deixando-me sob seu corpo, seus lábios
lentamente reivindicando os meus.
— Como quiser — ele sussurra em meu ouvido, depois chupa meu lóbulo. — Mas antes
eu vou te chupar todinha como a porra de um pirulito, vou saciar minha fome de você, coelhinha.
Abro os lábios para protestar contra esse maldito apelido e Mad enfia a língua na minha
boca, seu beijo intenso e violento me faz esquecer de tudo, menos dele... Maddox Knight é
minha salvação e minha perdição.
Capítulo 31

A brisa fria da noite faz meu corpo arrepiar enquanto fumo na varanda da cobertura da
mãe de Love, observando as luzes de Natal brilharem pela cidade. É véspera de Natal e Love está
dentro de casa, ajudando a mãe nos preparativos para a ceia e fazendo um interrogatório ao
Steve, o padeiro. Eu não queria estar na pele dele.
Já se passou um mês desde o incidente com Macoy e ainda ninguém o procurou, acho
que sua única família era o temido Tank. Às vezes me pego desejando que as coisas tivessem
tomado outro rumo. Lovely terá que carregar esse fardo para sempre.
Passamos todas as noites juntos. Na primeira semana, Love teve pesadelos que a faziam
acordar gritando no meio da noite e, com o passar dos dias, eles foram diminuindo cada vez
mais.
Love surge silenciosamente atrás de mim e envolve seus braços em volta da minha
cintura, seu toque trazendo um calor reconfortante que contrasta com a noite fria. Olho para ela
por cima do ombro e só consigo ver o topo de sua cabeça.
Eu me viro, abraçando seu corpo, e vejo seus lábios abertos em um sorriso doce. Nunca
fui tão honesto com alguém como sou com ela. Contei a ela sobre as lutas clandestinas, sobre
minha adoção, de onde vim e como tudo aconteceu. Tive medo de que ela sentisse repulsa por
mim e que minha história a afastasse, mas, para a minha surpresa, ela apenas me abraçou com
força, como se quisesse me proteger de todo o sofrimento que já havia vivido.
— Você moraria em algum lugar fora de Serpentine Hill? — ela pergunta quando a
coloco na minha frente e nós dois olhamos para as luzes da Califórnia.
Desde que Love chegou em Serpentine Hill, ela queria sair de lá. Obviamente a culpa
foi minha, mas agora acredito que Macoy é o motivo, e acho que, quando ela terminar a
faculdade, nada vai mantê-la lá.
— Aonde quer que você vá, eu irei — respondo, fazendo-a se virar para mim.
— Promete? — Ela levanta o queixo, encontrando meu olhar.
— Eu prometo — respondo, tomando seus lábios em um beijo lento.
Um som feito na garganta chama nossa atenção, me afasto e vejo Madeleine atrás de
nós. Assim como Love, ela também nos questionou sobre nosso relacionamento e perguntou
sobre minha cicatriz, eu já imaginava que isso iria acontecer, então vim preparado e disse que foi
uma brincadeira que deu errado na fraternidade.
— O jantar está na mesa — declara, Love e sua mãe são muito parecidas, ambas com
pequenas proporções, rostos em formato de diamante e lábios em formato de coração.
— Já estamos indo, mãe — Love avisa e me guia para dentro de casa. O cheiro da
comida atiça meu apetite.
O apartamento está todo decorado, para onde quer que eu olhe, vejo Papai Noel, renas,
estrelas, bolas coloridas... O jantar ocorreu bem, com a mãe de Love me tratando com gentileza.
Ela me contou várias histórias engraçadas da infância de Love, fazendo-a, às vezes, corar de
vergonha.
Ao contrário de George, que agora é pai de um menino, Madeleine trata Lovely como se
ela fosse seu mundo. E, depois da refeição, ela prometeu me mostrar alguns álbuns de fotos de
família.

Deito-me nos travesseiros do quarto de Love, e ela rasteja entre minhas pernas e apoia o
queixo em meu peito. Olho para ela e depois para um retrato com uma foto dela loira em uma
estante.
— Por que pintou o cabelo? — pergunto, enrolando uma mecha de seu cabelo em meu
dedo.
— Porque eu queria parecer diferente de tudo que lembrava aquela noite. — Ela lambe
os lábios com um pequeno sorriso. — Eu apelidei os três naquele momento. Jimin era o Gorila...
— Por causa da camiseta? — adivinho, e ela me dá um sorriso genuíno.
— Corbin, era o Cobra por causa da tatuagem.
— O apelido nunca fez tanto sentido... — digo, sem conseguir bloquear a imagem dele
em cima dela.
— Não vamos pensar nisso — ela pede, corando levemente, e dou um aceno com a
cabeça, descendo minhas mãos até seus quadris. — E você era o Sombra.
— Sombra... — testei nos lábios e gostei do som. — A sombra se apaixonou pela
coelhinha.
Love sorri com seus olhos brilhando de ternura. Ela se aconchega mais em meu peito e
suas mãos deslizam suavemente pelo meu pescoço e até meu rosto enquanto sua respiração se
mistura com a minha.
— E a coelhinha se apaixonou pelo homem por trás da sombra. — Seus dedos traçam
padrões imaginários na minha pele.
Nossos olhos se encontram, e eu a puxo para alcançar seus lábios famintos de desejo.
— Eu te amo, Mad — Love murmura, seus lábios roçando os meus enquanto ela me
beija.
Epílogo

SEIS MESES DEPOIS | LOVE

Eu me seguro firmemente na parede do banheiro com meu vestido enrolado na cintura e


usando o capelo azul-marinho de Maddox na cabeça, enquanto ele empurra seu pau dentro de
mim, apertando minha bunda tão brutalmente que sei que isso deixará uma marca em mim. Ele
queria o presente de formatura antecipadamente e depois disse que eu sou a gananciosa.
Mad massageia meu clitóris, e eu mordo seu ombro para conter um grito. Seu pau se
expande na minha boceta enquanto ele entra e sai com facilidade, enterrando-se até o fim.
Maddox geme em meu ouvido, me fazendo estremecer, e eu afundo meus dedos em seus cabelos
sedosos, direcionando-os para meu pescoço. Ele morde minha pele e depois chupa o local
sensível, então um gemido irrompe do fundo da minha garganta enquanto sinto o orgasmo tomar
conta de cada fibra do meu ser pela segunda vez.
Mad se afasta, encontrando meus olhos, suas pupilas estão dilatadas, seu lábio inferior
fica cada vez mais branco entre os dentes conforme seus impulsos ficam mais fortes. Ele goza
forte e a cabeça pende para trás com uma expressão perigosamente sexy e os olhos fechados.
— O melhor presente que você poderia me dar — sussurra contra os meus lábios e me
coloca no chão.
Pego um pedaço de papel e me limpo antes de sairmos do banheiro para a festa que está
acontecendo na fraternidade dos garotos. Agora que Mad terminou o curso na universidade, ele
vai morar comigo na casa do lago até eu terminar o meu em dois anos. Então, só Deus sabe para
onde iremos depois.
Caminhamos pelo corredor lotado para voltar para a festa. Na multidão, vejo alguns
rostos familiares, incluindo Corbin conversando com Jimin. É estranho vê-lo sem aquele
macacão de prisão. Percebo que Maddox também o viu quando sua expressão se transformou em
fúria fria. Jimin olha para nós e sussurra algo para Corbin, que notou nossa presença e então um
sorriso audacioso se espalhou por seus lábios.
Maddox me solta e, antes que eu perceba, ele já está em cima de Corbin. Os dois caem e
rolam no chão, as pessoas abrem espaço enquanto se socam e chutam. Mad uiva algo para
Corbin, mas não consigo ouvir por causa da música alta. Caminho até o lado de Jimin e cruzo os
braços, observando a luta desenfreada.
— Você não vai tentar separá-los? — ele pergunta, tirando o capelo enquanto Fallon se
aproxima com um copo de cerveja.
— E adianta? — questiono, encolhendo os ombros.
— Você tem um pitbull como namorado — minha amiga escarnece e me oferece um
gole de sua cerveja.
Depois de alguns minutos, alguns rapazes da fraternidade se aproximam e afastam os
dois porque estavam destruindo a casa toda.
— Eu disse que não ficaria barato — Mad grunhe com um sorriso literalmente
sangrento e inexplicavelmente os dois se aproximam e se abraçam. Maddox sussurra algo em seu
ouvido enquanto o olhar de Corbin encontra o meu, então ele se afasta acenando para Mad.
— Como entender os homens... — Fallon comenta, me fazendo sorrir, e entorna sua
cerveja.
Mad se aproxima, seu lábio está sangrando e sua têmpora está começando a ficar roxa,
já estou começando a me acostumar com sua cara amassada.
— Se ele piscar errado em sua direção, eu o mato — Mad diz e não há hesitação em sua
voz. Ele dá um beijo na minha boca e me puxa para seus braços, me guiando até seu quarto
vazio, agora só deve estar a cama lá, esperando o novo Alfa.
Entramos no quarto, é completamente diferente sem os pertences de Maddox.
— Por que estamos aqui, Mad? — pergunto, encontrando seu olhar.
— Quando te vi aqui naquela noite, quase fui atrás de você. — Mad lambe os lábios e
seu olhar fica mais intenso. — Foi por isso que te trouxe aqui, Love. Sei que é muito cedo para
dizer isso, mas quero passar o resto da minha vida com você e farei de tudo para mantê-la ao
meu lado, hoje e para sempre.
Cada palavra de Mad ressoa dentro de mim nos cantos mais profundos do meu coração,
que bate incontrolavelmente. Deslizo minhas mãos trêmulas por seu peito até alcançar seus
ombros tensos.
— Eu o mataria se pensasse diferente — sussurro. Minha voz está embargada de
emoções. Maddox abaixa os lábios, reivindicando os meus.
Não há mais dúvidas, não há mais medo; existe apenas a certeza de que pertencemos um
ao outro, agora e para sempre.
PRIMEIRO LIVRO DA SÉRIE MARCADO PELO PODER
ROMANCE MÁFIA + CASAMENTO FORÇADO + MAFIOSO IMPLACÁVEL.

Nascida no berço da máfia de Chicago, Fiorella Santoro descobre tarde demais que seu destino já havia sido decidido antes
mesmo de completar dezoito anos.

Para garantir a paz entre Outfit e a máfia nova-iorquina, Ella, é usada como uma moeda de troca, sendo forçada a se casar com o
herdeiro da Cosa Nostra: Franco Fiore.

Franco não tem honra, coração e nem moral, dominado como o Corvo, pois reflete a encarnação do mal, pretende possuí-la e
reivindicar toda sua inocência.
Franco só não presumia que a sua futura esposa fosse tão sombria e perigosa quanto ele, Fiorella não estava disposta a ceder,
quebrar ou se esconder.

Uma união fatal que tem tudo para terminar em sangue, se torna uma paixão ardente, perigosa e instável, colocando em perigo
não só o acordo entre as máfias, mas tudo que está a volta deles.

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SEGUNDO LIVRO DA SÉRIE
Helena Hathaway foi adotada por Carlo Santoro, o Chefe da Outfit, devido a sua amizade com a filha do mafioso. Ela cresceu sob
as regras da máfia, jurou lealdade e submissão. Porém, para ajudar sua amiga, cometeu um ato de traição, colocando em risco o
acordo entre as máfias. Helena se vê no início de um pesadelo, desesperada e sem alternativas, ela foge para salvar sua vida.
Ettore Reviello, imponente e corrompido, é a voz da razão na máfia nova-iorquina. O Consigliere, carregado por um passado
obscuro, nunca desejou se casar. Logo que descobriu que seu destino já estava determinado, havia somente uma coisa que ele
poderia fazer: encontrar uma mulher disposta a se casar sem a esperança de um futuro.
Duas almas quebradas se unem. A sedução ardente e a luxúria que já existiu uma vez, revive entre os dois, e, desejo, ódio e
superação é a batalha que Ettore terá que lutar se quiser resistir ao casamento com Helena.
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TERCEIRO LIVRO DA SÉRIE
Ela é a minha esperança.
Ele é o meu pior pesadelo.
Sienna, menina perfeita de sorriso dócil e mente conturbada, acredita ter recebido um destino pior que a morte: casar-se com o
braço direito do seu pai, o seu pesadelo encarnado: Romeo Ferraro
O Subchefe, um homem rico, poderoso e perigoso, com a alma escura e condenada ao inferno, não esperava render-se aos
encantos da jovem, que viu crescer.
Ela aguardava um monstro que devoraria sua alma, que a quebraria em mil pedacinhos, contudo, o medo que carregava, tornou-se
pequeno comparado aos sentimentos que nasceu pelo homem.
Romeo jurou protegê-la, ele só não imaginava que sua bela esposa, guardava um segredo que quebraria sua família, colocando-o
contra quem ele mais amava, o seu irmão.
Ódio, amor e traição, é o que esse casamento fadado ao fracasso terá que enfrentar para encontrar a luz no fim da escuridão.
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QUARTO LIVRO DA SÉRIE

ROMANCE MÁFIA + CRIANÇAS FOFAS + FOUND FAMILY + HATE TO LOVE + VINGANÇA.


Fiorella

Fui forçada a casar com Franco Fiore para garantir a paz entre as máfias. Do amor ao ódio, construímos uma família. O Capo
da Cosa Nostra deu-me tudo e em troca só esperava a minha lealdade.
Todo mundo sabe o quão implacável e cruel meu marido pode ser e, para manter minha família segura, guardo um segredo que
poria fim ao acordo de paz entre as máfias e destruiria nosso casamento.

Franco
Fiorella me fez perceber que tenho coração apenas para apunhalá-lo. A pessoa em quem mais confiava me traiu para proteger o
inimigo, o homem que me levou ao inferno e me transformou no próprio diabo. Agora a sede de vingança queima dentro de mim
como uma chama insaciável, e não descansarei até que seu sangue seja derramado.

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Bebê Inesperado x Enemies to Lovers x Age Gap x Contrato x Sequestro
Arrogante, poderoso e controlador, Maxwell Snyder, CEO do Fundo de Investimento Snyder,
precisa de um herdeiro para se manter no poder na empresa. Viúvo há mais de três anos, Max
escolhe meticulosamente uma barriga de aluguel, determinado a fazer isso sozinho.

Ele só não esperava que no dia da consulta outra mulher acabasse sendo inseminada. Max faria
qualquer coisa para ter o bebê em sua posse, até mesmo sequestrar a mãe de seu filho.
Persephone Beaumont, atendente de uma cafeteria, vive um pesadelo constante após assumir
uma dívida de jogo de seu falecido pai. A jovem não imaginava que sua vida pudesse piorar
drasticamente, até que acordou no quarto de um estranho.
A descoberta de que estava grávida de um magnata, soava tão absurda quanto o contrato que ele
lhe impôs. Persephone era o oposto dele em todos os sentidos, mas ela se tornaria sua maior
tentação.

Um sentimento avassalador desperta em Max, porém, a única coisa que o impede de romper
todas as barreiras é o contrato que ele estabeleceu a ela.

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GRAVIDEZ INESPERADA - BILIONÁRIO MULHERENGO.

Delphine Dubois aos 27 anos, chegou no auge da sua profissão; Diretora Financeira do Hotel Bel Air Country Club. Para sua vida
ficar perfeita, só falta uma coisa. Um bebê.
Devido a um relacionamento complicado no passado, Delphine não consegue confiar em outro homem, por isso decide
fazer inseminação artificial. Duas semanas antes da consulta, por influência da sua melhor amiga, ela faz sexo casual com um
homem que conheceu no lobby do hotel.
Delphine só não contava que no dia da inseminação já estaria grávida do homem quente e com sotaque espanhol, com quem ela
rolou a noite inteira. Christopher Wesker, um mulherengo indomável e pior de tudo, herdeiro do Hotel Bel Air.
Christopher fará de tudo para ganhar a confiança dela, porém a sua reputação ao longo dos anos o coloca em maus lençóis.
O que resta saber é; será que Delphine cederá aos encantos do espanhol, pelo bem do bebê?

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Dante Armstrong abandona Nova York e se muda para Seattle em busca de um recomeço. Com o passado manchado
de relacionamentos fracassados, Dante ergue uma armadura emocional e decide dizer não ao amor, até sua irmã contratar
uma doce e tímida empregada.
Hannah Reese, depois de muito custo foi escalada para trabalhar na cobertura de um ricaço, porém não imaginava que
encontraria um homem gentil, solitário e quebrado.
A atração entre os dois é irrefreável, Dante sabe que não resistira, mas com as feridas do passado ainda aberta, ele propõe a
jovem um relacionamento sem compromisso.

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Michael O'Connor, um advogado bem sucedido que esbanja beleza e status, está à procura de uma babá para sua filha.
Viúvo há mais de quatro anos, Michael ainda sofre com os fantasmas do passado, mas tudo muda quando contrata Lindara, uma
doce jovem que o abala feito um raio com toda a sua simplicidade.
Lindara Fincher, aos 7 anos de idade, tinha uma vida espetacular, morava em Upper East Side e era a melhor dançarina de ballet
de sua turma. Porém, ela vê sua vida de cabeça para baixo, quando em uma noite ela e seus pais sofreram um grave acidente de
carro a deixando órfã.
Ambos atormentados pelo passado encontram algo em comum, mas para que esse amor floresça terão que lidar com Sabrina,
funcionária e ex-namorada do Michael, que une forças com o arqui-inimigo de longa data do advogado.

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Lindara aceitou o pedido de casamento, mesmo guardando um segredo que pode destruir seu relacionamento com o advogado
Michael O’Connor. Na tentativa de consertar o seu erro, ela acaba sofrendo um terrível acidente perdendo parcialmente a
memória.
Michael não poupa esforços para ajudá-la a lembrar dele. Porém, no processo, eventos preocupantes trazem grandes
consequências para vida dos dois.
Lindara se encontra em um impasse: ficar ao lado do seu noivo, mesmo não o amando, ou tentar recomeçar a vida, longe de tudo
o que ela já amou.

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Depois de muitos altos e baixos Lindara foi transformada em uma mulher indecorosa pela mídia, fazendo-a se afastar de todos
que mais ama. Ela tenta seguir em frente sem olhar para trás, mas o passado novamente volta atormentá-la.
Dante antigo rival do Michael se aproveita da situação e faz de tudo ao seu alcance para conquistar o coração da jovem, que a
muito custo acaba cedendo aos seus encantos.
O advogado se torna a válvula de escape da Linda, sempre presente e atencioso. Eles só não imaginavam que em um piscar de
olhos o universo deturparia a relação dos dois, e mais uma vez Lindara se veria entre o passado e o futuro.
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Um bad boy de caráter duvidoso se rende a uma nerd disposta a colocá-lo na linha.
Dakota King, uma aluna exemplar na Universidade de Nova York, tem sua vida transformada em um caos no instante em que
Savannah, sua irmã gêmea, lhe apresenta Heyden Hayes e Erin Yoshida, o cara, por quem ela sentia uma tremenda queda.
Estudante de literatura inglesa, a tímida garota sonhava em viver o seu próprio romance e aproveitou a oportunidade quando foi
assaltada em seu trabalho e o assaltante lhe propôs um acordo em troca do seu silêncio. Dakota pensou que seria fácil enganar a
polícia, já que o seu pai estava encarregado do caso, mas jamais pensou que se apaixonaria pelo assaltante.
Gravidez Inesperada - Segunda Chance - Bebê fofa - Hate to Love - Different Worlds.

Katie fugiu de casa aos dezoito anos, deixando para trás um passado carregado de cicatrizes.
Recém-formada e com grandes expectativas para o futuro, Katie decide iniciar uma nova fase de
sua vida, entregando-se a uma noite quente com o homem que ela deseja há meses, Blake
Lockhart, um advogado renomado, brutalmente bonito e charmoso.

O que começou como uma noite intensa se transforma no início de um pesadelo. A esperança de
um novo começo é cruelmente ceifada quando Katie descobre que está grávida, e Blake a acusa
de um golpe da barriga, desaparecendo de sua vida.

Quando Blake retorna a Seattle, o passado vem à tona, colocando-os cara a cara. O destino dá
uma segunda chance a Blake, que está determinado a corrigir os erros do passado. Ele fará de
tudo para derrubar o muro que Katie construiu.

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