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Ellie Morgan
Published: 2023
Source: https://www.wattpad.com
AVISOS + GATILHOS
Dedico este livro à 99% das minhas leitoras, que sempre apoiam todas
as putarias que eu escrevo. Mas também, àquele 1%, que me mandam
mensagens em horários suspeitos, dizendo que gozaram lendo.
Capítulo 1| A fogueira
⸸
Me desculpem pela demora, irei cuidar para que os outros não demorem
tanto. Reescrever é mais complicado que escrever k
Os capítulos até então, não tiveram grandes mudanças, em maioria, o que
mudou foram alguns acréscimos de detalhes e mudanças na escrita, apenas
nesse que o final foi diferente da antiga versão
Capítulo 4| Fique longe
⸸
Puts, tbm acho que tô com dificuldade
Queria dizer que estou amando escrever esse livro e que faz tempo que
eu não me sentia tão bem assim escrevendo.
Espero que estejam gostando!
E mais duas coisas, Nabrya é um país fictício, se procurarem na internet,
não vai dar em lugar nenhum.
E outra, já postei fotos do elenco lá no meu Instagram, o user é
autoramariliaandrade, link na bio
Capítulo 6| Chris, o canalha
⸸
Querido psicólogo, eu sei que estará lendo esse capítulo, mas por favor,
não vamos mencioná-lo na nossa próxima consulta, eu juro que ainda estou
sã da cabeça... aliás, mais ou menos. Mas eu estou bem.
Foi sonho ou realidade? :)
Capítulo 11| Respostas
Eu havia ganhado.
Loren e os nossos amigos me espremeram em um abraço de
comemoração tão apertado que precisei berrar para que me soltassem. Eles
estavam tão felizes, que mais parecia que eu havia acabado de ganhar o
prêmio Nobel.
Por outro lado, em volta de nós, os outros participantes me encaravam
irritados, talvez, por terem se esforçado abessa, e nem assim, terem chegado
perto de conseguir tantas fitas quanto eu.
Ao longe, deslumbrei o sorriso sarcástico de Christopher. Ele havia
adorado trapacear, mas não saberia dizer se a razão era por termos dado
alguns belos e quentes amassos, ou se ele apenas gostava de andar errado na
linha. Desconfiava que a segunda opção fosse a mais provável.
Christopher estava claramente acostumado a agarrar garotas em florestas.
Eu provavelmente seria só mais uma da qual uma hora ou outra ele nem se
lembraria mais do nome. Isso me causava uma estranha sensação de
desgosto e desânimo.
Sem que os outros percebessem, ele jogou-me uma piscadela e meneou
com os lábios: "Parabéns, Dingo Bells".
Bom, se é que ele realmente sabe que eu tenho um nome de verdade.
Minhas bochechas automaticamente se acenderam. Desviei meus olhos
quando meu coração comemorou aquela breve troca de olhares, e os segui
para os meus amigos; que ainda pareciam deslumbrados com a minha
vitória.
Obviamente eu não teria chegado nem perto de conseguir se não fosse
por Christopher.
Tanto faz... Ele não fez isso porque se importa comigo.
— Não vou dizer que não acreditava em você, mas eu bem que duvidei
que fosse conseguir tantas fitas. — Marcou revelou, receoso.
Lancei-lhe um olhar irritado e ele logo ergueu as mãos.
— Já entendi.
— Nunca duvidei de você, irmã. — Loren me olhou admirada. —
Diferente de outros. — e logo aproveitou para alfinetar Marcos.
Oh, irmã! Se você soubesse...
Meu peito se apertou em culpa. Eu não queria esconder dela algo assim.
Não mesmo. Me sentia uma traíra ordinária.
Pigarreei nervosa.
— Parem com todo esse drama meloso. Eww! — franzi o rosto em uma
careta. — Vocês estão me deixando enjoada.
— Só estamos muito orgulhosos da nossa caçula. — Claire disse, com
um lindo sorriso.
— Tá bom, Claire. Já chega... — Murmurei tímida, enquanto era cercada
por sua gentileza.
Ela riu. Eu não consegui a encarar diretamente nos olhos. Eu não estava
negando o seu afeto por que não o queria, mas por vergonha do que eu
havia feito há alguns poucos minutos atrás.
— Aqui está. — uma garota se aproximou de repente, estendendo um
envelope dourado para mim. — Seu prêmio. — informou, gentil.
— Prêmio?
— Você ganhou 8 jantares grátis no restaurante Per Gason. Aproveite! —
e assim ela saiu, com pés de bailarina que mal tocavam o chão.
Per Gason era um dos restaurantes mais descolados de Vespeau. Em
maioria, sua clientela eram jovens adultos e adultos. De dia, aquilo era
apenas mais um restaurante, durante as noites, se tornava uma boate com
atrações "exóticas".
Nunca havia ido, mas Loren já, e as histórias que ela me contava eram
sempre indecentes e perturbadoras.
— Beleza! Vamo logo. Já vai rolar o trote. — Joshua disse, impaciente.
Ele estava completamente esgotado e necessitado de dormir. Parecia ser o
único com senso de horário.
Estava entardecendo cada vez mais, em breve amanheceria e ainda
teríamos aula.
Se papai e mamãe descobrissem que quebramos o castigo, provavelmente
nos decapitariam antes mesmo de termos a chance de pedir desculpas.
Eu não queria bancar a "irmã certinha" em todas as vezes que saíamos,
mas me preocupava com a forma que Loren nunca se preocupava com o
resto.
— Eu não sei se eu quero ver isso. — resmunguei.
— Essa é a melhor parte, Dy. Não vem com essa agora. — Marcou
rebateu e Loren entrelaçou o seu braço no meu.
— Infelizmente tenho que concordar, Dy.
— Fala sério, Loren. Que graça vai ter em ver esses pobres coitados
serem torturados? — deslizei os olhos em volta, observando os perdedores
sendo amarrados pelos líderes do trote.
O resto dos telespectadores já estavam eufóricos com a cena, no entanto,
eu me sentia com a consciência pesada demais para me sentir uma
verdadeira campeã.
— Até parece que ver alguém sofrendo é uma tortura. — Loren revirou
os olhos, desdenhando.
— Na verdade, é um pouco... — sussurrei, acudida.
No fundo, eu sempre me sensibilizava além da conta pelos demais. E, em
algumas vezes, a ponto de chorar.
Loren não gostava do fato de eu ser tão sensível, mas me mantinha por
perto, como se tentasse, ao menos, amenizar a situação.
— Vamos! — um garoto loiro encapuzado, ordenou firme aos
prisioneiros, já enfileirados.
Toda a baderna de pessoas se juntou para os seguir, rumo ao alto da
floresta de onde estávamos. Alguns levavam lanternas ou acendiam o flash
do celular. Quem estava longe de nós, poderia enxergar a iluminação
amena, os passos arrastados e murmúrios amontoados.
Claire e Joshua foram os primeiros de nosso grupo a se mexerem. Marcos
se juntou logo em seguida, e Luc me enviou um olhar gentil, para que me
incentivasse, porém, foi só quando Loren se moveu, que segui o restante.
Estava frio, mas não como as outras noites, no entanto, de um jeito
amedrontador. Por mais que estivesse acompanhada de dezenas de pessoas,
sentia-me tensa e ansiosa, como se vagasse sozinha no escuro.
A algumas pessoas à nossa frente, Christopher caminhava com irmã ao
seu lado e os seus amigos estranhos.
Não era só o estilo pesado e escuro que os fazia diferente do resto, mas
havia algo na postura e na forma com que olhavam para os outros, que os
destacava de um jeito diabólico.
Chris parecia ser um tipo de líder para eles, mesmo que, para mim, fosse
o menos assustador. Entretanto, isso com certeza se dava ao fato de que eu
já havia tido momentos mais íntimos e "normais" com ele, porque para o
resto, ele ainda era o pior.
Em um dos momentos que subíamos a colina, havia o flagrado agindo de
um jeito nada sutil. Era assustador vê-lo sendo cruel, de modo que mais
parecia ser algo normativo a ele ameaçar e infringir dor.
Em um instante, estavam todos quietos, noutro, Christopher estava
segurando a garganta de um menino qualquer, o lhe dizendo coisas, que
mesmo sem conseguir ouví-las, pareciam absurdas.
Podia ver nos olhos melindrosos do pobre rapaz, que Chris não estava
para brincadeiras naquela madrugada.
Loren apertou sutilmente a minha mão para que eu parasse de olhar. Os
demais também evitavam, como se quisessem evitar problemas para si.
Eu precisava mesmo conhecer melhor Christopher ou sempre o veria
como uma total incógnita que apenas os outros haviam decifrado.
Quando chegamos no topo da colina, formamos um tipo de meio círculo,
observando os prisioneiros serem posicionados na ponta.
Quando notei o que pretendiam fazer, olhei em total alerta para Loren.
— Eles não vão jogá-los daqui de cima, não é? — perguntei, abismada.
— Há um riacho lá embaixo e...
— É! — a cortei rude — tem um rio que pode quebrar eles se pularem de
mal jeito. — rebati, ainda mais incrédula.
Ela deu de ombros.
— Eles já estão acostumados a pularem ali.
— Loren, se algo acontecer, nós seremos cúmplices. — alertei, meus
olhos quase saltando do rosto.
— Qual é, Dytto. Não estraga a brincadeira. Não vai acontecer nada. —
Marcos interviu, à vontade.
Balancei a cabeça, irritada e sai pisando duro dali.
Entretanto, foi quando eu já estava enfiada na multidão, tentando me
afastar, que senti braços fortes me cercarem e arrematarem meu corpo
contra o seu, colidindo minhas costas no peitoral duro de alguém.
Mesmo sem conseguir ver o seu rosto, sentia seu delicioso cheiro forte e
intoxicante. Meu corpo já conhecia o seu toque autoritário e arrogante
mesmo se estivesse de olhos fechados, ou talvez, principalmente de olhos
fechados.
Christopher não estava mais perto de sua irmã ou os seus amigos, o que
me deixou só um pouco mais a vontade.
Seus braços entornaram o meu corpo, acorrentando-me a ele. Seu torso
estava colado em mim. Sentia cada pedaço dele tocar cada pedaço meu.
Mesmo que nossas alturas fossem bem diferentes, sentia como se eu
encaixasse em seu abraço perfeitamente.
Eu não queria sentir que o pertencia, mas Christopher me fazia se sentir
tão dele.
— A vencedora tem que assistir os seus concorrentes pagando a prenda.
— ele sussurrou maldoso em meu ouvido, quase como um cantarolar.
Seu timbre era grave e forte, ele queria me deixar assustada, ou então, me
fazer sentir o mesmo que ele no momento.
Senti seus lábios macios e carnudos beijarem a minha pele. Minha pele
foi atingida por um tremor, acompanhada de uma onda de arrepios
delirantes.
— Eu não vou olhar. — devolvi baixo e covarde.
Sua língua rodeou a ponta da minha orelha.
— E quem disse que você tem escolha? — murmurou.
Não respondi. Apenas permaneci inquieta em seus braços, tentando me
afastar antes que Loren ou qualquer um dos nossos amigos nos vissem
assim.
Christopher não fez esforços para que eu permanecesse presa, um pouco
de força que ele fazia, bastava por si só. Eu não tinha a menor chance contra
aquela muralha tatuada, mesmo que gastasse todas as minhas energias
tentando escapar.
— Agora! Olhe, querida Dingo Bells. — avisou baixinho no momento
em que os prisioneiros já estavam com os pulsos livres e prontos para
saltarem.
Os outros já haviam aceitado — contra a sua vontade — o seu destino.
Apenas um, se manteve contrário. Ele não queria pular de jeito nenhum,
mas os líderes o mantinham ali, pressionando-o. Era visível o seu rosto
pálido e as gotículas de suor se formando em sua testa.
— Dy! — a voz de Loren soou como um alerta em meus ouvidos no
instante em que ela surgiu no meu campo de visão. — Achei você. —
murmurou devagar, enquanto trocava o seu olhar surpreso de mim para
Chris e em seguida para o meu rosto novamente.
Ela estava em choque. Eu estava nervosa. E Christopher estava...
Indiferente? Feliz? Orgulhoso? Eu não conseguia olhar para o seu rosto
para descobrir.
— O que estão fazendo? — perguntou, ao notar que não conseguiria
explicações apenas observando essa bela tragédia diante dos seus olhos
desacreditados.
Ela nos olhava como se estivesse vendo uma alucinação.
— Fica quieta, Loren. Vai começar. — Chris resmungou rude atrás de
mim. — Agora olhem para essa belezinha. — disse animado.
Minha irmã, mesmo com a atenção presa a nós dois, conseguiu virar o
seu rosto com bastante esforço para onde os perdedores estavam.
Eu só sabia me afogar em culpa.
O primeiro pulou após a contagem regressiva ter sido feita, e todos
berraram em comemoração. Demorou alguns instantes até ouvirmos o
baque do seu corpo contra a água. Estremeci por inteiro e Christopher me
pressionou mais forte.
A cada segundo, a madrugada parecia ainda mais gélida. Aqueles
jogadores iriam sofrer com a sensação horripilante de estarem molhados
nesse clima.
O segundo e terceiro foram juntos. Eram duas garotas, aparentemente
próximas. A plateia em volta vibrou ainda mais.
Eu estava odiando cada segundo daquilo. Aquelas risadas, gozações,
gritos e assobios. Tudo estava me deixando enojada.
Depois que pulavam, eu não sabia se emergiam logo em seguida ou se
continuavam debaixo d'água, mas não tive coragem o bastante para conferir.
Sequer sabia se algum dos líderes iria atrás deles após o trote.
Ninguém realmente se preocupava, apenas queria algo ou alguém de
quem rirem.
Os outros pularam de um a um, porém, ao chegarem no último
participante, o qual se negava a fazer o mesmo, o clima pesou.
O garoto balançou a cabeça e recuou um passo com finco. Estava
decidido que não iria de maneira alguma.
Senti o peito de Christopher vibrar, como se risse baixo de algo que só
ele sabia.
Mesmo com toda a situação, minha irmã e todo o resto manteve a
concentração presa ao que acontecia.
— Se você não pular, eu te jogo. — o líder que parecia mais velho
ameaçou com um sorriso de canto que dizia não estar brincando.
— E-eu não vou. — o menino novamente recusou.
Sendo pego de surpresa, dois deles os seguraram pelos braços e os
arrastaram à força até a beirada.
O garoto fechou os olhos com força e apertou os punhos. Ele tentava
frear com os pés enquanto jogava a cabeça para trás.
Meu coração já estava disparado e eu suava frio.
Olhei em volta, mas ninguém estava disposto a ajudá-lo. Ao vê-lo tão
desesperado e prestes a cair, tentei dar um passo a frente por impulso em
ajudar, mas Chris rapidamente me impediu.
E então aconteceu. Jogaram-no.
Meu corpo saltou como se tivesse levado um grande choque elétrico e
virei-me de uma só vez para Christopher, imediatamente enfiando o rosto
em seu peito, a procura de consolo.
Lágrimas e mais lágrimas jorraram de meus olhos. Ver aquilo havia me
desestabilizado completamente. Eu estava tão aflita que não ligava de saber
que havia várias pessoas ao nosso redor testemunhando os meus soluços no
corpo do garoto mais insensível de Nabrya.
Uma mão sua afagou as minhas costas, enquanto a outra fazia o mesmo
em minha cabeça.
— Não se preocupe, Dingo. Ele vai sobreviver.
— Solta ela, Chris. — a voz da minha irmã foi séria dessa vez.
— Não. — ele retrucou.
— Eu vou levar ela daqui. Me desculpa, Dy. Eu não sabia que o trote
desse ano seria assim, ou juro que não teria te trazido. Imaginei que fossem
fazer algo mais leve.
— Ah, cale a boca! — Christopher a interrompeu duramente — Não
existe trotes leves, Loren. Se ela está bem, isso não é graças a você.
— Quer me ensinar a como cuidar da minha irmã? — ela parecia ainda
mais brava.
— Se não fosse por mim... — o tom de voz dele baixou até que se
tornasse um sussurro — sua irmã estaria nesse mesmo buraco que todos os
outros. Talvez, na mesma situação que o último garoto.
— Chris. — soprei para que ele parasse.
Não havia motivos para que ele a fizesse sentir culpa disso agora. Eu
não queria que ele a deixasse mal.
— Você é só uma idiota, Loren.
— E você é um grande cretino que só quer se aproveitar da minha irmã!
— Loren aumentou o tom.
Me afastei um pouco de Chris, mas bastou para que ele me puxasse de
volta para onde eu estava.
— Não. Fique aí. Você não vai querer ver nada do que está acontecendo,
Dingo Dingo. — ele dizia sorrindo, mas eu estava curiosa.
— Vamos logo, Dy. É melhor que não fique perto desse idiota. Ele vai se
aproveitar de você até onde puder. É o que ele sempre faz.
Christopher riu.
Ergui meu rosto para ele e franzi as sobrancelhas.
— Por favor, pare.
— Qual é, Loren. Sua irmã já está grandinha para saber o que quer. E se
ela me quiser, quem sou eu para me opor. — provocou-a.
— Duvido que ela ainda vá querer algo depois de conhecer a pessoa
desprezível que você é.
— Inferno. Sua irmã é uma grande empata foda, Dingo. Como eu vou te
pegar se ela não sai de cima?
— Chris, é sério. Por favor, pare de falar agora. — implorei baixinho.
Seu olhar indecente vagueou pelo meu rosto até que encontrou o meu e
sorriu.
— Calma, anjo. Só estou conversando com a sua irmã.
— Não faça isso.
Ele se encurvou um pouco mais para mim.
— Como quiser.
Sendo pega desprevenida, ele agarrou os meus lábios com os seus e os
chupou em um beijo caloroso, no entanto, rápido demais.
Eu estava completamente constrangida quando ele terminou.
— Deve fazer apenas meia hora que fizemos isso, e eu já estava
morrendo de saudades. — comentou alto.
Não consigo me mover. Não consigo sequer olhar para Loren agora.
— O gosto da sua boca é tão bom quanto o da sua boceta.
— Seu filho da puta! — Loren esbravejou e avançou para cima dele, mas
assim que me virei para trás, me deparei com a irmã de Christopher,
empurrando-a.
De um segundo para o outro. Todo mundo havia parado para nos olhar,
esquecendo completamente do trote.
— E quem é essa valentona, Yori? — a garota alta e esbelta indagou
provocativa. Seu olhar ácido e sério me lembrava o dele.
Yori? Christopher havia Yori no nome?
— Que porra é essa? — Loren rebateu.
— Opa, ringue de irmãs. Eu aposto na Amara. E você, Dingo Bells? —
Chris brincou.
Olhei para ele boquiaberta e ele balançou a cabeça.
— Tudo bem não torcer para a Loren. Se ela fosse minha irmã, eu
também não torceria. E ela não pode ficar chateada. Ela quem te trouxe
aqui, lembra?
É impossível ter uma conversa séria com ele.
— Chris, pare elas. — pedi, irritada.
— Elas ainda nem arrancaram uma gota de sangue uma da outra, calma.
Eu mal podia acreditar que Christopher ia mesmo deixar que Loren e
Amara continuassem a discutir ao nosso lado e tratasse aquilo como uma
aposta de cavalos.
— Ei, ei. O que tá acontecendo? — Joshua chegou, ao lado de Claire e
Marcos.
— Esse filho da puta tá se aproveitando da Dytto. — Loren apontou para
nós dois — E essa cretina acha que pode vir para cima de mim. — quase
podia ver fumaça saindo de dentro dela.
— Você não aguenta uma briga de verdade, imbecil. — Amara rebateu.
— Quer apostar pra ver?
Loren foi para cima dela, mas Joshua se meteu no meio e no mesmo
instante eu fiz o mesmo.
— Vamos embora! — ditei, séria.
Agora já mal me lembrava o porquê me senti mal. Tudo estava
acontecendo rápido demais.
— Você não aguenta a porra de um murro. — Amara continuou.
Olhei séria para Chris, esperando por alguma ajuda da sua parte. Todavia,
ele apenas se divertia assistindo a situação, esperando que elas partissem
para a ação.
— Chris, por favor, eu faço qualquer coisa. Só não deixe elas brigarem.
— implorei, melindrosa.
Ele suspirou frustrado, mas parecia finalmente ter cedido.
— Deixa essa briga para um outro dia, irmã. Essa merda vai ter que ser
adiada. — pronunciou, desanimado.
Amara riu baixinho.
— Tô sempre aqui. — ela desafiou, olhando diretamente para Loren.
As bochechas da minha irmã coraram por um momento, mas ela
disfarçou, olhando para mim.
— Vamos! Antes que eu acabe com a vida de alguém hoje. E eu nem sei
de qual irmão eu estou falando primeiro.
Tive que engolir em seco, pois não sabia se eu estava inclusa.
Arrastando todo mundo a força, Joshua e Marcos se encarregaram de
intervir na briga. Claire ainda nos observava confusa, mas não disse nada.
Christopher continuou a me encarar, mesmo após termos nos afastado.
Maldito! Agora eu teria problemas ainda maiores assim que chegasse em
casa.
⸸
Passei alguns dias sem postar, em maioria por estar ocupada, outros por
estar doente e agora por estar viajando, mas logo logo volto ativa de postar
capítulos novamente.
Beijos e até a próxima.
Meu Instagram: autoramariliaandrade
Capítulo 22| O silêncio
Soltei uma risada incrédula. Ciúmes? Que ridículo. Eu não estava com
ciúmes. Estava furiosa.
Mentiroso!
Enquanto ele digitava, eu mordia o canto dos dedos, ansiosa. Me
imaginava repetidamente xingando-o.
Ah, merda!
Oh, céus!
Continua no próximo...
Dytto bateu 10 mil seguidores no Instagram dela
O user tanto dela, como o do Christopher, estão marcados na minha bio
do Instagram. O meu IG é autoramariliaandrade
Capítulo 30| Segunda camada
— Eu pensei que não seria capaz de chegar há pelo menos 100 metros de
distância dele, desde que você e eu conversamos outro dia. — ele incitou
frio.
Não conversamos exatamente. Em poucos segundos sua língua estava na
minha boca, e em seguida, estávamos nus em sua cama, então não conta.
Christopher continuava sentado no capô do seu carro, e na altura em que
estava, tornava-se infinitamente mais intimidador. Seus olhos navegaram
bem lentamente por cada fração do meu rosto. Sua face estava sombria e
enigmática.
Continuava sendo estranho vê-lo tão sério.
— Bom dia? — tentei descontrair com um sorriso, mas não funcionou.
Christopher saltou do seu carro.
— Vamos ter outra conversa. — ordenou, dando a volta no automóvel.
Crispei as sobrancelhas.
— Por que está assim? — perguntei ofendida.
Sua mão tocou a maçaneta, no entanto, ele cessou seus movimentos,
olhou para mim e curvou o canto dos lábios, maldoso.
— Porque eu nunca passei tanta vontade em toda a minha vida, querida.
Isso é o que acontece quando você tira de um demônio tudo o que ele mais
quer.— provocou malicioso.
Curvei um pequeno sorriso tímido, que durou apenas um piscar de olhos.
Eu ainda não podia me permitir criar esperanças. Existia a possibilidade
de ele estar apenas me enganando para conseguir o que queria.
— Eu não acho que esteja passando necessidade. — examinei.
— Não? — interrogou, curioso.
Deixei que meu olhar recaísse para os seus pés.
— Eu não sou a única garota que você fica, não é?
Ele se afastou do carro, aproximando-se devagar de onde eu estava.
— Está me perguntando por que quer saber ou por que quer ser a única?
Mordi o labios.
— Os dois... — soltei sem pensar.
O constrangimento tomou conta de todo o meu rosto. Sentia-o queimar
de vergonha.
— Tudo bem eu não ser a única — procurei corrigir o meu erro, mas isso
apenas pareceu servir de munição para um Christopher com o olhar
endiabrado.
— Jura? — caçoou.
— Não é como se eu fosse ter só você na minha vida, também.
Eu devia estar ficando doida.
— Bom, existe algumas outras garotas além de você — refletiu, olhando-
me nos olhos.
Não era isso o que eu desejava ouvir. Meu lábios tremularam em resposta
e meu coração murchou como um balão dentro do peito.
Eu deveria ter mantido a minha boca bem fechada.
— É , eu sei. Ouvi falar das alunas que você paquerava. — fingi
indiferença.
— Elas eram bonitinhas. — deu de ombros.
— Huh rum. — precisei de um segundo antes de dizer qualquer coisa que
não fosse um murmúrio choroso. Aquele nó na garganta estava me
sufocando. — Tenho que ir... — virei o rosto para trás, onde Loren ainda
conversava com seus amigos, que, de vez em quando nos observavam
"disfarçadamente". — Minha irmã está me esperando. Não posso ir com
você.
— Ainda não terminamos de conversar. — ele pontuou.
— Nós já conversamos. Somos solteiros. E cada um deveria fazer o que
bem entende. — esclareci rápido.
Ele passou a língua sobre os lábios, não contendo um sorriso perverso.
— Então não liga se eu trepar com outras? Sabe que eu não vou deixar
você fazer o mesmo, não sabe?
— Não pode me controlar. Se quiser ficar com outras garotas, tudo bem.
Mas não pode mais exigir isso de mim. Fique com quem sentir vontade, eu
não ligo. — não mantive contato visual ao dizer. Estava segurando lágrimas
que nem mesmo deveriam existir ali.
— Nem mesmo se eu estiver com outras, sei lá... cinco ou seis garotas
diferentes?
Meu estômago de revirou. Isso doeu.
— Não é da minha conta a sua vida.
Ele riu baixo.
— Eu sabia que você iria entender. — Christopher sutilmente tocou o
meu queixo. — Adoro como você é tão compressível, amor.
Apenas balbuciei algo ininteligível que deveria ter sido uma afirmação.
— Formamos uma ótima dupla. — continuou, empolgado.
— Claro. — concordei, fervendo de irritação. — Eu vou ter a chance de
perder a minha virgindade com alguém que tenha o tamanho do pau normal
e você continuará realizando as fantasias das garotas que são obcecadas por
você. — decidi.
Queria que ele ao menos sentisse um pouco das horríveis sensações que
eu estava presenciando.
Não havia nada que provocasse mais os homens, do que desmerecer o
pênis deles. Obrigada pelo sábio conselho, Loren, o mérito é todo seu.
— Tem ficado com mais alguém além de mim, Dingo bells? —
formentou, rígido.
— Você saberia. Sempre sabe todos os meus passos, imagino. — retorqui
com tristeza.
— Tem outro cara na jogada ou não? — repetiu mais sério.
— Você sabe que não. — sussurrei. — Eu tenho que ir.
Girei os calcanhares dali, mas antes que eu pudesse dar o primeiro passo,
ele agarrou o meu pescoço.
Senti seus lábios roçarem a ponta da minha orelha e estremeci.
— Sabe que é a única, não sabe? — constatou rouco.
— Sou? — duvidei.
Ele beijou o canto do meu rosto e senti seus lábios sorrirem em minha
pele.
— Não há mais ninguém além de você, Dingo Dingo.
— Algumas alunas pareciam bem interessadas. — pontuei, enciumada.
— Algumas alunas não é você. Não dei oportunidade a nenhuma. Gosto
do que temos. — seu braço entornou a minha cintura com um aperto mais
intensificado. — É muito melhor me enfiar no seu pijama para tocar a sua
boceta, do que uma trepada entediante com qualquer outra.
Me virei para ele.
— Até que eu pare de ser a sua diversão, certo? — salientei, encarando
seus olhos esmeralda.
— Minha Dingo Bells tem tão pouca fé em mim.
Olhei para trás, avistando o enorme Hospital.
— Estou aqui porque trouxe alguém que eu beijei para a UTI. — virei-
me para ele. — Você tem toda a liberdade de fazer o que quiser. Mas me
impede de fazer o mesmo.
Christopher se irritou.
— Quer beijar outros caras?
— Se eu sentir vontade, sim.
— Acho melhor nós sairmos daqui. — se apressou.
— Por que?
— Porque agora eu vou matar o Marcos.
Arregalei os olhos e o segurei pelos ombros.
— Achei que já tivesse feito o bastante. — ralhei.
Ele me olhou desgostoso.
— Tô vendo que não.
— Então tudo bem se você beijar outras pessoas e eu não? — disse
incrédula.
— Porra, Dingo. Eu não beijei ninguém. Por que está tão incomodada
com isso agora?
Me calei.
Naquele instante, sabia que qualquer coisa que eu dissesse poderia acabar
sendo o meu enterro. Odiaria saber que o meu atestado de óbito diria:
Morreu de vergonha.
Ele sorriu, provocador.
— Está apaixonada por mim. — observou.
— Não, não estou. — elevei o tom, enrubescida.
— Oh, querida! Está tão apaixonada por mim que já não sabe mais
disfarçar. — zombou.
Rolei os olhos e tentei me esquivar de seu corpo.
— Você que pensa.
Christopher segurou a minha mão e rodopiou o meu corpo, puxando-me
de volta a ele. Presa em seus braços, fui forçada a encarar aquele rosto
maléfico, cheio de perversão.
— Você é minha. — reforçou, aproximando os lábios dos meus. — E não
vai desejar ser de mais ninguém.
Ele me deu um rápido beijo, se afastou, e olhando sobre a minha cabeça,
sorriu.
— Seus amigos finalmente foram embora. — comentou. — Agora somos
só eu e você.
— E isso quer dizer que...
— Quer dizer que agora eu posso fazer isso sem que você me odeie. —
ele me girou e apoiou o meu torso na lataria do seu carro. Sua mão esquerda
prendeu os meus pulsos e a direita acertou a minha bunda com força.
Soltei um pequeno grito e o encarei aturdida.
— Se disser que quer beijar alguém outra vez, arranco a sua língua.
Ele me soltou e foi em direção a lateral do passageiro, abriu a porta e
esperou ao lado.
— Não sou um cavalheiro, amor. Sou quem manda em você. — Com a
mão, ele apontou para o banco. — Agora entra no carro.
Fui rápida ao obedecê-lo. Ele não estava para brincadeiras ou outras
provocações de minha parte. E, por mais que já não parecesse mais, eu
ainda me importava com a minha vida.
⸸
Christopher estava sentado à minha frente, em uma poltrona, apenas de
calça jeans, me encarando sério.
As suas pernas estavam arreganhadas, enquanto que o corpo inteiro
mantinha-se relaxado.
Ele levou o cigarro aos lábios e deu mais uma tragada, passeando os
olhos por todo o meu corpo.
Eu estava estática, sentada sobre as minhas pernas, em um canto do sofá
de sua sala. Ele me trouxe para cá sem mais nem menos, apenas por trazer.
Pelo visto, ele não sabia o conceito de se conhecer, pois a mensagem que
ele transmitia era que deveríamos ficar nos encarando até que chegássemos
a beira da insanidade ou algo assim.
— Quer... assistir a um filme? — perguntei baixo, a voz ameaçando
sumir ao terminar a frase.
Ele negou em um balançar de cabeça.
Encarei as minhas mãos sobre as coxas e inspirei fundo.
— Acho que tem um filme legal para assistirmos. Eu acho que é sobre
um casal que vai para uma ilha e...
— Está com fome? — Chris me interrompeu.
Ergui os olhos para ele.
— Ahn. Não. Eu acho que não.
Christopher apagou o seu cigarro no cinzeiro sobre o móvel ao seu lado e
se levantou de sua poltrona, caminhando em minha direção.
O garoto alto, tatuado e forte ofereceu a mão para mim.
— Venha.
Mordi o lábio inferior, e, sem pressa, levei a minha mão até a sua.
Ele me puxou para ficar de pé e me equilibrou, até que eu pudesse estar
firmada no chão.
Christopher abaixou o seu rosto, até estar próximo ao meu. Senti o cheiro
forte de nicotina e fumaça entranhada a ele e prendi a respiração. Esse
cheiro me deixava enjoada.
Ele aproximou seus lábios dos meus e os tocou pela primeira vez desde
que chegamos.
Christopher envolveu seus braços ao redor da minha cintura.
Lentamente seu beijo progrediu para algo mais intenso, porém, durou
pouco. Assim que eu tentei alcançar ainda mais dele, Christopher se
afastou.
— Suas coisas estão no balcão. Tem alguma roupa? — ele quis saber.
— Não. Só levo uma escova de dentes e uma calcinha de emergência
para todos os cantos, mas só tenho essa roupa — apontei para o meu corpo.
— É melhor não usar calcinha.
— Elas são confortáveis.
— A minha língua é mais — provocou, cínico.
Arregalei os olhos. No entanto, sem dar-me tempo para uma reação
maior, ele saiu em direção a cozinha.
O segui, mantendo alguns passos de distância. Christopher ainda me dava
medo, e eu ainda tinha certo receio de suas próximas ações, então sempre
tentava manter um pouco de distância, apenas para o caso dele virar um
lobo ou algo mais estranho. Afinal, ele entrou pelo meu quarto sendo um
demônio, sabe se lá o que mais ele poderia virar se quisesse.
Tomei minha bolsa do balcão e a puxei sem gentileza, ela deslizou no
mármore caiu. Tudo dentro dela surfou para fora.
Droga de zíper quebrado.
Christopher pôs suas mãos na cintura e balançou a cabeça.
— Só vou te ajudar porque você é gatinha, mas caso contrário, eu só me
sentaria aqui e ficaria rindo de você.
Tentei não rir, mas fracassei. Agaixei-me no chão e comecei a pegar
todos os meus lápis deixados de fora da lapiseira, que, agora, estavam
espalhados por toda a cozinha de Christopher.
— O que é isso? — ele perguntou, erguendo o meu caderno de desenhos
do chão, bem na página onde a minha última pintura fora deixada.
O pato, barra cachorro, barra cavalo, barra sapo.
— Não é nada.
— Isso é um pato?
— Ééé — berrei como um cabrito, tão contente por alguém finalmente
ter acertado.
Sorri orgulhosa e ergui os braços para o alto.
— Tá vendo, nem todos são tapados. — murmurei sozinha.
Christopher fez uma expressão estranha, porém, pelo jeito que me
encarava, aposto que não queria nem mesmo descobrir do que eu estava
falando.
— Dingo Bells, Dingo Bells... — cantarolou, risonho.
— Eu não sou doida. — intervi.
Ele sorriu, terminando de recolher tudo.
Christopher se levantou do chão e enfiou tudo dentro da minha mochila,
ergui os meus joelhos do chão e fiz o mesmo seguidamente.
Ele abriu os outros zíperes da bolsa, bisbilhotando cada um deles, até
parar em um em específico e enfiar a mão.
De lá, ele retirou a minha calcinha reserva e a enfiou no seu bolso.
— Chris, não. É a minha calcinha de emergência. — A peguei, mas ele
fora mais rápido e a roubou de volta, apenas para enfiar dentro de sua
cueca.
O olhei em choque.
— Christopher. — repreendi o gesto.
— Pegue — desafiou, brincalhão.
Semicerrei os olhos.
— Eu vou pegar. — ameacei.
— Oras, então pegue.
— Chris...
— Dingo...
Apertei os olhos uma última vez antes de tomar partido e enfiar a mão
dentro de sua calça.
Christopher sorriu sacana ao sentir minha mão se esbarrar em seu
membro.
— Isso, amor, vai fundo — gemeu rouco, em tom de divertimento — Vai,
garota.
Ele segurou o meu braço, não deixando que eu o movesse para fora de
sua roupa, ainda encenando gemidos que tornavam-se cada vez mais altos.
— Isso, Dingo.
— Christopher, pare — pedi, rindo.
Ele revirou os olhos, sorrindo, e soltou o meu braço; o tirei de lá
segurando — agora — a minha calcinha desonrada.
— Vou adorar saber que estará vestida em uma calcinha feia em que eu
esfreguei no meu pau.
Enfiei minhas unhas em seus braços, lutando contra ele, mas isso não o
afetou de maneira alguma. Quanto mais eu resistia, mais força ele impunha
sobre mim.
Minhas pernas se debatiam na cama, mas o seu peso sobre mim impedia
que eu pudesse me mover.
Minha visão tornou-se turva, meu rosto formigava e meus olhos ardiam.
Eu estava desesperada. Meu corpo estava desistindo.
A morte. Era tudo o que me vinha a mente naquele instante.
Tudo em mim doía.
Como de repente o amor da minha vida havia se tornado o monstro a
qual estava tentando me matar? O que mudou? Fora tudo uma grande
mentira?
Enquanto o olhava nos olhos em meus últimos suspiros, lágrimas
desciam em meu rosto. Já no seu, não existia o menor remorso.
Christopher não se importava com aquilo, era proposital e planejado. Eu
via que aquele era o seu desejo, que aquilo que causava-lhe prazer.
— Por favor, Chris. — chorei sufocando, mas não adiantou. — Chris...
Meu amor estava me matando.
17 de Abril
Quarta-feira
O mínimo que ele poderia me dar? Aquilo devia valer mais do que tudo o
que meus pais possuíam em toda a sua vida. Imediatamente fechei a caixa e
a guardei no fundo do meu closet.
Tinha medo até de olhar para algo tão caro assim.
Durante toda a tarde, tentei manter a mente ocupada, no entanto, meus
dedos coçaram até que eu finalmente pesquisasse o valor do seu presente.
Dizem que: "Cavalo dado não se olha os dentes", mas foi impossível não
querer descobrir. Afinal, os dentes eram de diamantes, então, sim, eu ia
olhar e fazer o checa-up inteiro daquele cavalo.
Ao acessar a internet e pesquisar pela jóia, encontrei os números mais
absurdos de toda a minha vida.
CHRISTOPHER HAVIA ME MANDADO UM PRESENTE NO
VALOR DE CINQUENTA E SETE MILHÕES DE REAIS.
Como caramba ele tinha tanto dinheiro assim?
A minha cabeça estava rodando com aquela informação.
Eu tentei diversas vezes mandar mensagem para ele, mas meus dedos
sempre apagavam tudo o que eu havia escrito.
Tudo o que eu conseguia digitar eram coisas como: "VOCÊ PIROU DE
VEZ", "VOCÊ É LOUCO?" ou "VOCÊ NÃO ASSALTOU A DROGA DE
UM BANCO, NÃO É?"
Por fim, apenas deixei que isso se tornasse uma conversa para uma outra
hora. Debater sobre isso com ele no momento, seria completamente em vão,
visto que ele deveria estar trabalhando feito um louco.
⸸
Durante o fim da tarde, Loren já havia enfeitado todo o nosso quintal
para a minha festa de aniversário.
Ela colocou vários pisca-piscas envoltos das plantas, mesa e paredes.
Encheu alguns lugares com pequenos balões fofos e recheou uma mesa
inteira com guloseimas.
Dentro de um caixa térmica, ela havia abarrotado de bebidas alcoólicas,
com a desculpa de que agora eu poderia ficar bêbada com a sua benção.
Graças aos céus, papai e mamãe saíram para que fizéssemos uma festa
sem eles. Dando-nos um pouco de privacidade.
Após os parabéns, nos reunimos em um pequeno grupo no jardim. Loren
sabia que eu odiava multidões de pessoas em um mesmo lugar, então
convidou apenas os mais íntimos para nós.
Em um círculo estávamos apenas: eu, Loren, Joshua, Claire, Luc e outras
três amigas de minha irmã.
A mais nova estava contando alguma história de quando era criança, e
Loren parecia partilhar algumas de suas aventuras também, enquanto isso,
eu tentava manter um bate-papo com Luc, que ainda parecia meio distante
de mim.
— E então, me trouxe boas notícias? — perguntei, sorrindo.
— Na verdade, te trouxe um caderno de desenhos de presente, dei para
Loren guardar. — comentou, tímido.
— Ah, isso vai ser bom. Preciso praticar mais os meus talentos. —
brinquei.
Nós dois sorrimos um para o outro, no entanto, esse bom astral logo
morreu e um silêncio estranho se formou.
Aquela conversa era tão mecânica que sequer parecia ter algum sentido
para mim ou para ele.
Eu não queria que ficássemos daquele jeito, antes havia tanto assunto
entre nós dois, e agora era desconfortável se manter perto dele nessa névoa
esquisita.
— E o livro que estava lendo. Está intessante? — tentei quebrar o gelo.
— Ah, Love in the dark? Bom, na verdade, estou em uma parte bem
triste.
— Caramba. — fiz careta. — Espero que isso não estrague a experiência.
— Na verdade eu pulei algumas páginas para espiar, e você nem imagina
a reviravolta que tudo isso vai ter. — ele sorriu, empolgado.
— Adoro reviravoltas emocionantes.
— Eu te empresto o livro quando eu terminar, se quiser. Também já olhei
todo o final da história. — confessou.
Luc era muito ansioso e não sabia se conter, até mesmo quando víamos
filmes juntos, ele procurava o final na internet antes dele terminar.
— E o livro termina feliz? — tive vontade de saber.
Ele abriu a boca para responder, porém, fomos interrompidos:
— Ei, vocês! — Claire chamou alto, ganhando a atenção de todos nós. —
Que tal verdade ou desafio? — propôs.
Ela adorava essas brincadeiras, mas imaginei que não fosse querer
brincar disso hoje. Estava tão quieta a noite toda que pensei estar triste.
Talvez eu estivesse errada.
Todos em volta concordaram. Eu que já estava meio bêbada apenas
balancei a cabeça.
— Loren, verdade ou desafio? — a ruiva deu início.
Minha irmã pensou por um momento.
— Vou começar com verdade.
— Aposto que a Claire vai se vingar na próxima vez que você escolher
desafio. — comentei, sorrindo.
— Nem invente em fazer isso. — minha irmã brincou.
— Eu estou doido para fazer uns desafios loucos, então andem logo com
a vez de vocês — Luc apressou.
— Você com certeza não consegue ser tão criativo assim, cara — Joshua
interviu e nós rimos.
— Está bem. — Claire se pronunciou, extremamente calma — Loren...
— Ai minha nossa! — Loren cochichou, ansiosa e tomou mais um gole
de sua cerveja.
Todos estavam apreensivos, pois Claire, melhor do que ninguém,
conhecia tudo sobre Loren.
— É verdade que gosta de mandar fotos peladas para o meu namorado?
— Claire perguntou, nos deixando confusos.
— Essa foi boa! — Luc riu, sem entender e me juntei a ele.
Era uma perspectiva estranha de se olhar, e tão complicada que se
tornava — de um jeito bizarro —, engraçado. Mas, meu sorriso se
desmanchou quando encontrei o rosto de minha irmã inteiramente vermelho
e sem graça.
— Claire, eu não... — a voz de Loren gradualmente baixou, até se tornar
um completo nada.
Espera aí! Isso estava estranho.
— O que está rolando aqui? — questionei, atordoada.
Olhei para Joshua, que permanecia quieto e calado, com o olhar baixo de
cachorro arrependido.
— Lô — a chamei, nervosa — O que é isso? Estão brincando, não é? —
me apavorei.
Ela levou sua atenção para mim, seus olhos imersos em lágrimas.
— Me desculpe por isso, Dytto.
Pisquei repetidamente, em choque.
Retonei meu olhar para Claire, que chorava em silêncio.
— Parem de brincar com isso. É sério! Isso não tem graça. — gritei.
— Não é brincadeira, Dy. — a ruiva sussurrou.
— O quê? — balancei a cabeça.
— Hoje mais cedo, peguei o celular de Joshua atrás de algumas fotos
nossas para fazer um vídeo para você. Mas a sua irmã — Claire apontou
para ela — decidiu que queria fazer uma surpresa muito maior, mandando
fotos da porra da boceta para Joshua, que... — ela se virou para o seu
namorado — inclusive, adorou — sua voz era carregada de ódio, mágoa e
traição.
— Claire, amor... Pelo amor de Deus, me perdoa. — ele sussurrou,
choroso.
Eu respirava ofegante, o coração batendo rápido no peito. Todos em volta
estavam tão abismados quanto eu.
— Eu nunca vou conseguir perdoar nenhum de vocês dois. — Claire
soltou, amarga e infeliz.
Levantei-me de onde estava e saí apressada, marchando para dentro de
casa.
— Dy — Loren chamou em tom de desespero, mas a ignorei.
Minha irmã me seguiu até a sala.
— Dytto, por favor, me desculpe, eu não queria, eu... Eu só tava perdida.
Parei no lugar e virei-me para ela.
— Não é a mim que deveria estar pedindo desculpas agora, Loren —
cuspi, incrédula.
— Eu sei, eu sei. — ela esfregava o rosto repetidamente, completamente
transtornada.
— QUE PORRA ESTAVA PENSANDO? ELA É A NOSSA AMIGA,
LOREN — berrei, sentindo a fúria tomar conta de mim. — A SUA
MELHOR AMIGA.
— Eu, eu... Christopher havia me rejeitado, eu estava mal, e o Joshua,
bem, ele estava passando por mal bocados. Nós só buscamos apoio um no
outro, e... rolou. Eu juro que não queria que isso tivesse acontecido. Eu juro
por tudo, Dytto.
Soltei o ar pela boca com força. Estava queimando de raiva.
— NÃO! Não vai culpar o Christopher por isso. Não está certo, Loren.
— protestei.
— O que eu posso fazer, Dy? Você me culpa, mas se apaixonou
justamente pelo cara que eu amava. ME DIZ O QUE EU POSSO FAZER!
As lágrimas desciam incessantemente de nossos rostos. Senti o meu
coração se despedaçar em milhares de pedacinhos.
— Você me apoiou nisso. — murmurei, com a voz trêmula de choro.
— Eu nunca disse que tinha sido fácil pra mim.
Assenti, engolindo em seco.
— Acho que nós duas somos péssimas pessoas com quem amamos então.
— declarei, sentindo um nó na garganta.
Ela franziu o cenho.
— Eu não quis dizer isso, Dy — ela se apavorou ao ouvir as minhas
palavras.
Balancei a cabeça e busquei pelas chaves do meu carro, correndo para
fora de casa.
⸸
Sentia que não iria aguentar nem mais um minuto esperando.
Desesperada, esmurrei a porta de sua casa com força. Minha mão estava
vermelha com a força que eu a golepeava.
Estava muito frio, e eu havia vindo sem nenhum agasalho. Uma leve
garoa derrumava-se do céu, cobrindo-me de pouco a pouco. Ventava forte, e
o céu estava nublado.
Meu corpo inteiro estava dormente e a ponta do meu nariz e dedos
pareciam estar prestes a congelar.
A porta finalmente se abriu, revelando um Christopher confuso e
cansado. Seus olhos estavam fundos e avermelhados, devido há horas de
trabalho.
Ele rapidamente me agarrou pelo braço, me puxando para dentro. Assim
que fechou a porta, dedicou-se totalmente a mim, esfregando as mãos em
meus cabelo. O aquecedor estava ligado, e a temperatura ali dentro me
trouxe alívios.
— O que que aconteceu? Você está bem? Se machucou? — disparou,
preocupado.
— Christopher... eu estou pronta. — avisei-o, séria.
Ele uniu as sobrancelhas, em uma confusão explícita.
— Pronta? — repetiu, aturdida.
— Eu quero que faça sexo comigo. — esclareci.
⸸
Capítulo 42| A primeira vez
Optei por não retirar a sua cueca, pois, se eu fosse uma criança, com certeza
não iria querer ficar pelada para um estranho.
Christopher saberia resolver essa situação depois.
Evitei olharas manchas de sangue em todo o seu corpo e fingi ser apenas
tinta guache.
Era mais fácil assim.
Esperamos juntos, até que a banheira estivesse cheia o bastante para
colocá-lo ali.
Aproveitei para colocar espuma e óleos essenciais — da preferência de
As —, para que o cheiro de sangue não permanecesse.
Asafe sentou-se no meio dela, meio desajeitado e ergueu os olhos para
mim, esperando que eu o dissesse o próximo passo.
Me sentei no chão ao seu lado e peguei a esponja. Devagarinho, comecei
a esfregar em sua pele, ele não reclamou, permaneceu sereno. Os seus olhos
brilhavam e os lábios ofereciam sorrisos.
Coloquei shampoo em seus cabelos e o massageei. Ele jogou a cabeça
para trás e permitiu que eu massageasse o seu coro cabeludo.
A espuma avermelhada escorria pelas suas costas, tingindo toda a água
da banheira. O cheiro misturou-se às essências e ao shampoo de bebê,
dando uma certa apaziguada nas reviravoltas que meu estômago dava.
— Você gosta de visitar o seu papai? — murmurei, ao notá-lo quieto
demais.
— Gosto. — ele foi rápido.
— Você brinca muito aqui? — sorri.
Ele concordou.
— Já fez muitos amiguinhos, As? Posso chamar você assim?
— Arram. E eu não tenho nenhum amigo, não.
— E por que não? Não gosta das crianças da sua idade? — investiguei
com curiosidade.
— Não. — ele curvou os lábios para baixo.
Juntei as sobrancelhas.
— Eles são ruins para você?
— Elas não são legais de sentir
— Sentir? Vocês também os sente?
— Sim.
— Asafe e eu somos iguais. — ouvi a voz de Christopher na porta e o
olhei surpresa.
— A quanto tempo está aí?
— Há um bom tempo. — suspirou.
— Papai, a Dingo me deixou escolher os negócios de banhar. —
informou-o, como se aquilo fosse um grande feito para si.
— Ah, que ótima notícia! — Chris sorriu para o filho, aproximando-se de
nós.
Ele sentou na beirada da banheira, agora, olhando para mim.
— Eu posso banhar ele. — avisou.
Parei de esfregar as costas de As por um momento.
— Prefere que eu não o banhe? — perguntei, incerta.
— Pelo As está tudo bem. E quanto a você?
— Eu gosto do As! — admiti, olhando para o pequeno, que sorria
confiantemente para mim.
Christopher ainda me parecia meio desconfortável. A situação ainda era
tão nova para ele, quanto para mim.
Toquei o seu joelho de Chris, chamando a sua atenção.
— Você quer que eu pare?
Ele franziu a testa e baixou o olhar.
— Tenho medo de que vá fugir.
— Chris, eu não vou. Por que pensa assim?
Ele apoiou os braços sobre os joelhos.
— Seria mais fácil para você. — confessou, tristemente.
— Não sou tão covarde assim. — debati.
Sua atenção se voltou para mim. Ele tocou a minha bochecha e curvou
um meio sorriso desanimado.
— Não desista de nós, amor. — pediu.
A forma como ele me olhava, mostrava-me que havia algo mais
acontecendo por trás daqueles olhos. Algo perigoso e sério que me causava
calafrios.
O que Christopher não estava me contando?
⸸
Próximo capítulo haverá cenas novas para os antigos leitores E vamos
de novo roteiro né, guys?
AGORA SOBRE O LIVRO FISICO:
Para quem ainda não viu, ou não me segue no Instagram, a Editora fruto
proibido anunciou que a pré-venda de Love in the dark está estimada para
outubro, agora me deixem esclarecer dúvida por dúvida.
1- Eu não vou parar de escrever LITD, ele será finalizado
INTEIRAMENTE no Wattpad.
2- O livro será retirado da plataforma após um tempo depois de
finalizado. Quando? Depois de um tempo que ele for finalizado. E quando
vai ser isso? Depois de um tempo que ele for finalizado.
(Espero que tenha ficado claro que eu não tenho uma data específica, mas o
livro será finalizado antes da pré venda, obviamente)
3- Ainda não há preço para o livro físico, mas avisarei quando tivermos.
4- Sim, vão ter duas capas, uma mais discreta e uma mais explicia. E,
sim, vai ser a mesma história.
5- Vai ter o livro digital na Amazon Kindle.
6- Aviso onde e como vocês poderão comprar quando estiver disponível.
7- Coloque sua dúvida aqui.
Capítulo 47| A droga do amor
Minha blusa foi para o lixo. E sem outra alternativa, peguei uma de Chris,
que chegava até a metade das minhas pernas. Precisei fazer um nó, para que
ficasse, minimamente, boa em meu corpo. Todavia, eu ainda aparentava ter
vestido um saco.
Eu já estava de saída quando decidi parar na porta de Asafe. O pequeno
despertou há pelo menos meia hora. Christopher havia o conferido, em
seguida, foi preparar uma mamadeira para ele.
As ainda estava muito cansado, pois, pelo o que eu soube, o outro lado
dele, de certa forma, tomava muito de sua energia.
A porta estava entreaberta, coloquei apenas uma parte do rosto na frecha.
Existiam coisas na vida que meu cérebro conseguia entender bem rápido,
menos o fato de que Asafe não era como as outras crianças. Eu ainda me
sentia surpresa por não tê-lo flagrado brincando com os seus brinquedos,
mas, sim, falando sozinho.
O pequeno/grande rapaz, estava sentado diante da parede, olhando-a
como se mais alguém estivesse ali com ele.
— Não — Asafe dizia baixinho, como se contasse um segredo.
Engelhei as sobrancelhas, intrigada.
— Ele não contou para ela — sussurrou, olhando para as suas mãozinhas
— Papai não quer que a Dingo saiba — estreitei os olhos, sentindo o
coração palpitar mais forte.
Do que é que Asafe estava falando?
— Ela não sabe o que ele fez com você. — murmurou.
A porta de repente se fechou, não pelo vento ou um fator sobrenatural.
Apenas me dei conta do que havia acontecido quando notei a mão de
Christopher sobre ela.
Sentia-o atrás de mim, com o corpo roçando o meu. Sua respiração
pesada atingia o meu pescoço, causando-me calafrios.
Assustada, imediatamente virei-me para ele.
— O que está fazendo? — questionou ele.
Sua face estava petrificada em uma expressão rígida e enraivecida.
— Eu vim me despedir do Asafe. — tremi ao dizer.
— Ele vai chorar se ver que você vai embora. — respondeu com rudeza.
— Ah. — foi tudo o que eu consegui sibilar.
Tentei aparentar normalidade, no entanto, sentia meu rosto vermelho
como um tomate.
Por que Christopher ficou tão estranho de repente? E o que ele fez? Por
que fez?
— Aconteceu algo? — investigou, olhando-me minuciosamente.
Balancei a cabeça, negando.
Christopher não parecia convencido e deu um passo em minha direção,
mas foi o bastante para me deixar em pânico.
— Eu já vou. — avisei.
Ele segurou o meu queixo e o ergueu para si.
— Tome cuidado. — alertou.
Sua voz trazia consigo um fundo de duplo sentido, e eu não sabia o que
fazer com aquilo.
— Claro. — concordei baixo, deixando a entender que minha
interpretação fora rasa, mas era difícil enganar a ele.
Dei-lhe um rápido beijo nos labios e fiz menção em me afastar, mas
Christopher segurou o meu braço.
— Você faz parte da minha vida agora. Tente ser compreensível com
tudo o que vê.
— Hum ruh. — assenti, nervosa, mas algo lhe chamou a atenção.
Christopher olhou sobre a minha cabeça, atento. Seus olhos vagavam ao
redor da casa, como se algo estivesse errado.
Seus olhos escureceram e aquele olhar demoníaco se fez presente em seu
rosto.
— Fica aqui. — ele me puxou para trás de si e pôs-se à frente,
caminhando com passos largos para a sala.
Estranhei o seu comportamento, mas me mantive parada.
A porta do quarto ao lado se abriu e Asafe correu para fora. Ao me ver,
parou ao meu lado e segurou a minha mão.
— Dingo, tô com medo. — admitiu.
Todo o seu pequeno corpinho estava trêmulo. Sua mão suava frio e os
seus olhos estavam arregalados.
— Não se preocupe, ok? Papai vai cuidar de nós dois. — abaixei-me ao
seu lado e o puxei para os meus braços, envolvendo-o em um abraço
apertado.
Sentia seu coraçãozinho disparado no peito. Ele estava tão amedrontado
que me partia vê-lo naquele estado.
— Venha. — peguei-o no colo, quando ele começou a fungar, o choro
ameaçando a desatar de seus olhos. — Está tudo bem, bebê. — beijei a sua
testa e deitei a sua cabeça em meu colo.
As estava desesperado e eu não sabia a razão.
Havia perdido Christopher de vista, e não tinha a menor suspeita do que
estava rolando.
Até que de repente, um ruído alto reverberou pelo corredor, como se algo
se partisse ao meio.
Nervosa, recuei um passo. Asafe estava chorando em meu ombro e
agarrava os meus cabelos como se dependesse de mim naquele momento.
— As, você sabe quem está aqui? — perguntei, num sussurro.
O pequeno afastou o corpo, para conseguir olhar-me nos olhos.
— É o bixo papão. — respondeu, choroso.
Eu não sabia quem era o bixo papão para ele, mas, certamente não era
coisa boa.
— Christopher vai expulsar ele. — garanti.
— Papai não pode expulsar ele. — As balançou a cabeça.
— Não pode? — enruguei a testa.
Ouvi vozes da sala de estar, entretanto, não conseguia distinguir o que
diziam, era como murmúrios estranhos e indecifráveis.
Devagarinho, dei passos um atrás do outro, e a medida que eu me movia,
As pressionava o rosto com força em meu ombro.
Eu estava com medo, porém, não queria deixar As sozinho, temia que
algo pudesse lhe ocorrer se não houvesse ninguém por perto.
As vozes pararam no momento em que cheguei ao fim do corredor.
Quando dei meu último movimento antes de me por diante da situação, tudo
se silenciou por completo.
No centro do cômodo, Chris estava de pé, olhando para o homem tão alto
quanto ele. Ambos se encararam friamente perante a mesa de centro,
destruída. Os estilhaços de madeira haviam se partido e espalharam-se por
todo o chão.
O homem diante dele, possuía diversas tatuagens e cicatrizes medonhas
espalhadas em seus braços. Mesmo possuindo uma beleza louvável e uma
postura significativamente elegante, eu sentia uma sensação de
desconfiança quanto a ele.
Ao mesmo tempo em que me parecia um homem fino, também
transpassava a ideia de que a qualquer momento se viraria contra nós.
Seu cabelo negro caia sobre os seus ombros com majestude. Os seus
olhos escuros miraram sobre os meus no instante em que notaram a minha
presença.
Eu estagnei no lugar.
— Um belo motivo, suponho. — comentou, enigmático. Ele parecia dar
continuidade ao que conversavam há alguns poucos minutos atrás.
O timbre da sua voz se parecia como um cantar dos anjos. Era hipnótico
e sedutor.
Christopher virou o seu rosto para mim, furioso.
— Me entregue o As e vá para a sua casa. — aquilo era uma ordem, sem
espaço para protestos.
— Está tudo bem? — arfei, a voz quase sumindo.
Christopher não se conteve e avançou em minha direção, arrancando seu
filho de meus braços.
— SAIA!
Abri os olhos ao máximo e me impertiguei.
Estremecida, me afastei dele. Meu olhar, por um segundo, alternou para o
outro homem, que se aproximava devagarinho de nós, como uma cobra
prestes a dar o bote, mas se mantinha em silêncio. Parecia que se chegasse
próximo de mais, poderia nos matar.
Existia algo de ameaçador naquele homem. Tudo nele parecia um convite
a morte.
Corri dali para fora da casa, sem olhar para trás. Não tinha ideia do que
havia acontecido, mas tremia tanto que mal conseguia enfiar a chave na
ignição do carro.
Quando cheguei em casa, tranquei-me no quarto e tornei a chorar até que
meus olhos estivessem inchados demais.
Eu não liguei para Christopher aquela noite, tampouco ele o fez.
Meus ossos doíam com tanta tensão. E minha pele gritava, alertando-me
que algo de muito ruim havia acontecido.
⸸
Daqui pra frente, é só de ré
Capítulo 48| Amor no escuro
Teorias?
Eu uso o calendário de 2019 no livro, olha só que coisa hein.
Capítulo 58| Momentos em família
Loren veio até nós depois de duas músicas. Ficamos nós três por um tempo
juntos até que meu corpo não suportou mais tanto tempo dançando.
Eu precisava de um lugar para me apoiar ou cederia aqui mesmo. Minha
garganta estava seca. Luc gentilmente se ofereceu para buscar uma garrafa
de água para mim. Quando me entregou, senti vontade de abraçá-lo em
gratidão.
Ao fim da música lenta que tocava, perdi Loren completamente de vista.
Ela já deveria estar com a língua dentro da boca de algum cara. De todo
modo, era sempre assim.
Luc não tinha bebido nada, e parecia pouquíssimo afim. Decidi que
permanecíamos perto um do outro. Entrelacei os meus dedos nos seus e
seguimos em direção a sala.
Como grande parte dos festeiros estavam no quintal, a casa acabou
ficando mais livre e espaçosa. Embora os mais introvertidos ainda se
escondessem por ali. Não os culpava. Também gostava de me isolar.
Desabei no sofá duro e Luc fez o mesmo no espaço ao meu lado. Deixei
que minha cabeça tombasse em seu ombro e suspirei cansada.
— Eu estou morta. — grunhi.
Ele riu.
— Está mesmo fora de forma. — gracejou.
Luc dizia que eu deveria entrar para o time de futebol feminino da escola,
mas isso definitivamente não estava nos meus planos.
Dytto Bell e esportes eram quase antônimos em algum dicionário da
vida.
— Só um pouco.
— Deveria correr de vez em quando. Só para... sabe como é, seu sangue
não coagular no corpo. — ele riu de sua própria piada.
— Eu corro, sim. — me defendi.
— Ah, claro. — ele gargalhou.
— Tá. Tá. Tá. Você perdeu o direito de me julgar hoje mais cedo.
— Pensei que tivesse dito que não me julgaria por aquilo.
Ergui o corpo, ajustando-me para ficar de frente a ele. Sentei sobre
minhas pernas e olhei-o nos olhos.
— Mas não estou. Só que ela é... — cobri a boca, abafando um sorriso —
A professora de geografia. — entoei devagar, ainda desacreditada.
Ele cobrou o seu rosto, envergonhado.
— Esqueça isso, pelo amor de Deus. — pediu, sorrindo.
— Bom, isso vai ser meio difícil. — eu ri. Luc sabia bem a razão. Isso
estaria marcado em nossa amizade pelo resto de nossas vidas.
Ele desviou o olhar. Tinha uma tendência em tornar-se tímido para certas
circunstâncias. Em geral, ele era muito extrovertido, porém, para alguns
assuntos, voltava a agir como uma criança desconcertada.
— Me diga pelo menos que ela bancava você. — caçoei.
Suas bochechas coraram.
— Não foi assim.
— Então me conta. Adora uma história quente de professora e aluno. —
provoquei, irônica.
Ele umedeceu os lábios e deixou que o olhar recaísse para o carpete,
nostálgico.
— Ela me viu por acidente no vestuário da escola, nu. Disse que tinha
entrado lá para buscar umas coisas e... — ele suspirou. — Eu me cobri com
uma toalha, mas ela continuou encarando o meu corpo, estava muito... —
seu tom de voz abaixou abruptamente — excitada. — ele se contorceu,
como se falar aquilo em voz alta fosse demais.
Meu rosto ardia de vergonha, mas eu estava interessada em descobrir
tudo.
— Ela veio para perto de mim e começamos a conversar. Eu me ofereci
para ajudar ela a procurar a droga de uma caixa com bóias. Eu nem sei pra
que ela queria aquilo. Ela não é nem supervisora do grupo de natação, sabe?
— ele coçou a nuca. — E aconteceu a coisa mais idiota do mundo. A minha
toalha caiu justamente quando eu ergui a caixa. — ele riu, como se fosse
muito estranho.
— Então decidiram recriar um filme pornô? — ri.
Ele balançou a cabeça, timidamente.
— Eu sei lá. Ela só, desceu lá embaixo e... — seus olhos ainda eram
fixos no carpete, sem coragem para me encararem. — Fez.
Mordi os lábios, prendendo a risada que queria explodir de minha boca.
— E caramba... Ela era muito boa. — Luc sorriu — No dia seguinte, ela
ficou me encarando na sala a aula inteira, e quando o sinal tocou, ela me
pediu para que eu ficasse. Foi quando ela disse que aquilo não se repetiria, e
que foi um erro. — ele franziu as sobrancelhas. — Mas aí no dia seguinte,
ela estava lá no vestiário, no mesmo horário. Me esperando.
— Há quanto tempo isso vem rolando?
— Sei lá, já tem um tempo. Três semanas, acho.
Não dei minha opinião. Não poderia julgar ele. Também me envolvi com
quem não deveria.
— Hoje mais cedo, não deveria ter acontecido. Eu estava me escondendo
porque sabia que essa relação é um total fracasso. Mas ela me procurou
para conversamos. Disse que entendia. Mas sabe como é né, Dytto? Eu
estava envolvido demais. Vulnerável demais. Começamos a nos beijar e
aconteceu. E de repente, a porta se abriu e lá estava você.
Ele retornou o seu olhar para o meu.
— Eu achei que estava verdadeiramente encrencado. — ele suspirou —
Depois daquilo, acabou, de vez. Eu não vou mais voltar a ficar com ela. Eu
não quero ser assim. Sinto que tudo isso está errado. É como se ela
estivesse brincando comigo, me manipulando a querer. Eu sei lá. Não é
como eu culpasse ela. Ninguém botou uma arma na minha cabeça, mas eu
me sinto um pouco... levado a fazer o que ela quer. Entende?
— Luc, se você está desconfortável. É melhor parar.
— Esse é o problema, Dytto. Eu não me sinto desconfortável. — ele
jogou a cabeça para trás, apoiando-a na cabeceira do sofá — Na primeira
vez eu me senti horrível. Mas depois, a culpa foi embora. Só que, eu me
sentia estranho. Uma sensação de que eu devia querer parar. Mas ela me faz
querer continuar. E eu não sei como sair dessa relação doentia.
Afaguei o seu ombro.
Esse sentimento eu conhecia bem.
De estar no erro e não saber como fugir sem ceder. De sentir o desejo
ardente crescendo cada vez mais e mais, sabendo que é errado.
— Pode começar evitando ela. Vamos entrar de férias muito em breve.
Terá tempo para deixar isso longe da sua mente. Será só mais um semestre
antes de você ir embora da escola de vez. — aconselhei.
Ele me olhou, com um meio sorriso nos lábios.
— É, pode ser. — concordou sem muito animo. Seu olhar se foi para o
centro da sala — Ah, fala sério! — resmungou, triste.
— Que que foi?
— Nossa festa acabou de furar. — ele entortou o canto dos lábios,
entreolhando algo. — Seu namorado chegou. — avisou.
Meu coração parou. Senti minhas bochechas esquentarem e minha
respiração tornar-se sôfrega.
Segui bem lentamente o seu olhar, com medo demais de descobrir o que
encontraria.
Não muito longe de nós, Christopher cumprimentava alguns caras em
uma rodinha, de pé ao lado da porta.
Não era muito longe de onde estávamos.
Ele parecia exausto. Com olheiras fundas que circundavam seus olhos. As
visíveis expressões de cansaço evidenciavam-se em seu rosto. Suas
pálpebras se mostravam sonolentas e baixas. Residia em seus olhos uma
nítida tristeza.
Não saberia dizer se eu estava pior ou igualmente destruída, visto que
comecei a evitar me olhar no espelho desde que constatei meu rosto
inchado mais vezes do que conseguia contar nos dedos.
Estava claro que nós dois passamos pelo mais amargo sofrimento que
duas pessoas que se amam eram capazes de atravessar.
Eu quis me enfiar debaixo daquele sofá. Me acovardei no minuto em que
o vi.
Toda aquelas emoções de desespero e angústia entalaram-se dentro de
mim. Eram sentimentos demais. Eu estava mergulhada em aflição.
— Vou voltar para a pista de dança. — Luc se pronunciou. — Te vejo
depois, Dy. — se levantou, afastando-se rápido demais.
Eu queria ter segurado o seu braço com todas as minhas forças e
implorado para que ele ficasse ao meu lado. Mas eu não fui capaz. Estava
paralisada dos pés à cabeça. Presa ao rosto de Christopher.
Senti meus olhos embargarem em lágrimas. Tudo o que tentei esconder
nos últimos dias, veio à tona como uma chuva tempestuosa.
Notei que ele parou por um momento, rolou os olhos pela sala, mas os
estagnou antes que chegassem em mim. Ele sabia que eu estava aqui, mas
se deteve para não me ver.
Será que ele sentia o mesmo que eu?
Era injusto que ele soubesse exatamente como eu estava, mas que eu
nunca poderia ser capaz de dizer se seus sentimentos eram mútuos.
Esperei, e torci para que viesse até mim. Implorei mentalmente para que
me buscasse nesse sofá. Que estivesse me desejando feito um louco.
Meu coração estava sangrando naquele momento. A dor assolava o meu
peito.
Eu solucei, e a primeira lágrima veio. Elas não parariam. Eu sabia que
não iam parar.
Eu não tinha forças contra aquilo.
Christopher despediu-se de seu grupo de amigos. Girou os calcanhares e
marchou para o quintal da casa, não olhando para mim nem por um
milésimo de segundo sequer.
Ele simplesmente seguiu o seu caminho, como se eu nunca tivesse
existido em sua vida. Como se nós dois simplesmente nunca tivéssemos nos
amado.
Eu queria morrer ali.
...
Eu já estava naquele sofá há tempo demais. 20, 30 minutos, talvez.
Não chorava. Apenas permanecia em estado de choque. Voltando em
memórias do passado. Revivendo os beijos e as carícias.
Estava desmoronando em meus próprios pensamentos. Minha mente ia e
vinha do passado ao presente. Pendendo entre o amor e a dor.
Eu era tão dependente dele que não sabia ser capaz de me aproximar
daquele jardim novamente. Não conseguiria olhar para ele e permanecer no
mesmo local, fingindo que nada aconteceu.
O término foi a decisão mais difícil que eu precisei tomar. E agora lidava
com as consequências. Sentindo todo o peso da culpa e da saudades me
corroendo noite e dia.
Se eu pudesse. Se eu conseguisse. Teria corrido para bem longe.
Meus olhos trancaram-se à saída, encarando-a por entre as pessoas que
permaneciam em meu campo de visão.
Eu estava entorpecida em meus devaneios. O álcool fora capaz apenas de
roubar o meu equilíbrio, mas Christopher tomou o meu fôlego e a razão.
Encarei as minhas próprias mãos sobre as minhas coxas. Queria usá-las
para algo, não lembro. Acho que eu queria me levantar. Estava atordoada.
Sentia-me pesada e desconexa da minha realidade.
Forcei-me a erguer o meu corpo sentado sobre as minhas pernas no sofá e
me desvirei. Apoiei-me nos móveis e nas pessoas à minha frente. Alguém
me auxiliou a levantar, não vi quem.
Arrastei os pés e apressei os passos em direção a saída da casa. Estava
cambaleando, mas comemorava mentalmente cada passo bem sucedido sem
cair no chão.
Precisava de ar. Sentia minhas vias respiratórias fechando. Estava
taquicardica e trêmula. O choro embolou-se em minha garganta e fugi para
onde o carro de Loren estava estacionado.
Encostei o corpo na lataria e desatei a chorar, sem fôlego.
O amor não deveria deixar alguém tão frágil assim. Então culpei o álcool
por se sentir uma estúpida.
Estava claro. Christopher não ligava. Era eu quem estava me escondendo.
Agachei-me e tentei criar um ritmo de respiração constante. Era difícil,
todavia, necessário.
Ninguém me veria chorando de onde eu estava e fiquei aliviada por isso.
Toda a movimentação concentrava-se apenas em frente à casa.
Levantei-me novamente e apoiei os braços no carro, encostando a testa
neles. Persistindo em ficar bem. Lutando contra aquela enxurrada de
sentimentos ruins.
Apertei as unhas na palma da mão e as pressionei em minha carne. Um
pouco de dor física talvez abafasse a agoniante sensação que me matava por
dentro.
Porém, meu corpo inteiro estremeceu no segundo em que algo
pontiagudo tocou com firmeza a minha costela.
— O celular, agora! — a voz era exigente e rude.
Tremi, virando-me em sua direção. O seu rosto estava completamente
escancarado, sem máscara ou venda para o cobrir, isso significava que ele
não tinha medo que eu soubesse quem era, ou então, que acabaria comigo
assim que finalizasse o seu roubo.
O homem parecia jovem, porém, a pele era marcada por manchas
escuras, os olhos débeis e vermelhos encaravam-se de modo assustador,
denunciando o seu vício por drogas.
Parecia nervoso, irritadiço e tremia muito. A boca estava seca e
maltratada. A barba por fazer estava suja e o seu corpo fedia. Aparentava
estar passando pela abstinência.
— Passa, porra! — repetiu, mais cruel.
— E-eu não. Não tá aqui. — disse, nervosa.
O medo de morrer tomou conta. Eu estava sozinha, poderia acontecer
qualquer coisa.
Meu celular estava no carro e eu não havia nada de valor que eu pudesse
lhe entregar. Me impertiguei, afastando-me um pouco mais para trás, apenas
para aliviar a pressão que ele fazia com a faca em sobre o meu vestido.
— Não mente pra mim, caralho. Passa o celular ou eu... — seu rosto
atingiu a lataria do carro de uma maneira tão brusca que me fez saltar para
trás.
As mãos, autoras do ato, permaneceram lançando a cabeça do ladrão
repetidamente contra a lataria do carro, esmagando os ossos do nariz do
indivíduo. Seu rosto agora ensaguentado arquejava de dor.
A faca rolou no chão e rapidamente a peguei, apontando para os dois.
Meu olhar lançou-se em direção a quem o segurava. Christopher estava ali,
em sua forma mais possessa. Não era um demônio, mas agia como um em
sua forma humana.
Engoli em seco, vendo a sua face revestida em fúria.
Ele largou o homem no chão. Chutando a sua costela uma. Duas. Três
vezes.
Eu estava tremendo, ainda apontando a faca na direção dos dois,
assustada.
O ladrão gemia de dor, engasgando em seu próprio sangue. Christopher
agaixou-se sem dizer nem uma única palavra e agarrou o seu cabelo. Assim,
saiu arrastando-o no asfalto cru, rasgando as pernas expostas pela
maltrapilha que mal cobria qualquer parte do seu corpo. Os tecidos de roupa
completamente desgastados fez com que ele ficasse exposto, deixando
rastros de sangue de suas coxas no chão.
Enquanto relutava para que fosse solto, gritando aos quatro ventos,
pedindo socorro, Christopher o feria sem piedade. Cruel e frio.
Um pequeno amontoado de curiosos se formou próximo de mim.
Queriam entender o que estava acontecendo. O burburinho do pequeno
grupo começou, todos apavorados com a cena.
Demorou até que Christopher retornasse, somente quando o jogou em um
boeiro na esquina da rua, que se conteve.
Ele voltou a passos largos. As pessoas que o assistiam abismados logo
saíram de perto. Todos estavam com medo do que ele poderia fazer.
Christopher marchou em minha direção e arrancou a faca de lá,
arremessando-a para bem longe.
Ele puxou a manga de seu casaco para baixo. Com uma mão, segurou o
meu queixo, e com a outra, limpou o meu rosto de algo.
Chris me conferiu de cima baixo. Os olhos sérios e franzidos
continuavam procurando por algo mesmo após já tê-lo feito.
— Ele te machucou? — perguntou, sério.
Balancei a cabeça.
Não sabia como me sentir.
Ele alisou o meu cabelo com as suas grandes mãos e me puxou para mais
perto. Seu cheiro automaticamente me atingiu. Eu queria mergulhar nele ali
mesmo.
Christopher me abraçou, apertando-me nele. Eu não resisti, fiz o mesmo.
No seu abraço, me sentia em casa.
Sua evidente preocupação aqueceu-me por dentro. Passei a mão pelo meu
rosto, enxugando os vestígios de lágrimas, embora já tivessem sido vistas.
— Tem mesmo certeza de que ele não te machucou? — insistiu,
afastando-se apenas um pouco.
Sacudi a cabeça, confirmando.
Ele segurou o meu rosto entre as suas mãos e com o dedão acariciava a
minha bochecha. Christopher me olhava cheio de ternura.
Antes tão frio, agora tão caloroso. Eu não sabia lidar com isso.
— Aquele merda vai ficar preso naquele boeiro por um tempo até
conseguir se levantar de novo. — avisou.
Assenti. Era o melhor a se fazer.
— Inferno. Você está tão magra. — notou, preocupado. Havia aflição em
sua voz.
— Eu estou bem. — cochichei.
— Preciso que se cuide, amor. — pediu, novamente abraçando-me —
Você precisa se cuidar. — beijou o meu pescoço.
— Chris...
— Não se preocupe. Vai dar tudo certo. Mas, por favor, fique viva e
saudável. — ele me olhou no rosto. — Merda, Dingo. — reclamou, irritado.
— Eu estou tentando. Juro que estou.
Christopher balançou a cabeça e aproximou-se. Seus lábios me roubaram
um beijo ardente. Eu não me opus. Não podia. Precisava tanto dele.
— Me prometa, Dytto. Que não vá desistir. — arfou em meio ao nosso
beijo. — Me prometa! — exigiu.
— Eu prometo.
Ele apertou os dentes.
— Você é muito descuidada. É desobediente. — reclamou. — Não faça
isso consigo. Que merda!
Ele beijou a minha testa.
— Eu odeio quando age assim, Dingo Dingo. Isso me mata, caramba. Te
ver triste me mata. Te ver chorando me destrói. Isso já é difícil o suficiente.
— brigou. Estava com tanta raiva que não sabia se conter.
Ele inclinou meu rosto para cima. Seu dedo acariciando uma de minhas
sobrancelhas.
— Eu nunca mais quero ver você assim, novamente. Nunca mais.
Fechei os olhos.
— Disse que queria me ver infeliz pelo resto da vida. — memorei.
— Eu prefiro sofrer no inferno a isso. — disse.
— Sinto sua falta. — sussurrei triste, e abri os olhos.
Ele curvou um meio sorriso.
— Eu sei... Também sentimos a sua.
Asafe. Eu também morria de saudades dele.
Lambi os lábios.
— Me leva com você hoje. — pedi. — Só mais uma vez, Chris.
Ele fechou os olhos, em uma luta interna consigo mesmo.
Me aproximei, beijando o seu peitoral.
— Só mais essa vez. — implorei.
— Só mais essa vez. — concordou.
⸸
ih rapaz... Eu não digo é nada.
MAS VEM AÍ UMA COISA MUITO FORTEEEE.
Ig: autoraelliemorgan
Capítulo 66| Fim
AVISO
Antes de começarem o capítulo, queria conversar com vocês sobre algo
que vem me incomodando bastante. Eu sei que vocês lêem outros livros, no
entanto, é uma situação bem chata ver vários comentários mencionando
referências sobre outros livros.
Uma referência ou outra, era ok. Porém agora há diversos comentários, e
às vezes, até mesmo, sem sentido nenhum espalhados pelo livro.
Peço que, por favor, mantenham as comparações, piadas internas,
brincadeiras, menções a nomes e cenas apenas nos comentários dos
próprios livros que vocês lêem.
Se vocês se depararem com comentários do tipo por aqui, por favor,
alertem o leitor sobre o meu aviso.
Agradeço!
Horas antes...
Sentia frios na barriga como da primeira vez o que vi.
De soslaio, o observava dirigir. As grandes mãos seguravam o volante
com força. O rosto estava sério e ímpio. Os braços largos e fortes
evidenciavam as suas várias tatuagens.
Tinha sentido tanta falta de olhá-lo que mal conseguia conter a vontade
que tinha em beijá-lo. Existia uma conexão entre nós dois que tempo
nenhum poderia apagar.
Eu o amava tanto que doía. Doía ainda mais, porque eu sabia que depois
de hoje, não poderia tê-lo.
— Sinto tudo o que está sentindo. — comentou, atento à estrada.
— Então deve saber o que pretendo passar a noite inteira fazendo. —
devolvi, sorrindo.
Ele lambeu os lábios, contendo um sorriso malicioso.
— É, eu sei.
Baixei o olhos para as minhas coxas.
— Sinto falta disso. — murmurei. — De nós dois. Das brincadeiras. Do
sexo. De tudo. — suspirei. — Sinto falta de você. Eu não devia, não é? —
ruminei. — Quer dizer, isso tudo, não é certo.
Seu rosto transformou-se em uma máscara séria. Era complicado para
nós dois. Queríamos algo que não poderíamos ter.
Era como desejar a mágoa inevitável.
— Ainda dá tempo de voltar atrás. Se não se sente mais confortável. —
sugeriu, parecendo não querer ter dito nada disso. — A festa não acabará
cedo então...
— Eu sei. Mas não vou voltar atrás. — balancei a cabeça — Preciso de
você, Chris.
O carro diminuiu a velocidade, estacionando em frente o jardim de sua
casa.
— Quero você. — continuei.
Ele girou a chave na ignição e recostou-se no banco. Com os dedos
ansiosos, tamborilava o volante. Sentia como se quisesse me dizer algo.
— Isso é perigoso, Dingo. Para nós dois. — ele levou seu olhar para o
meu — Ficarmos juntos hoje... Sabe que isso só vai acender a vontade que
temos todos os dias. Vai doer muito quando não estivermos mais juntos.
Quando eu disser que acabou. Quando você for embora e...
Retirei o cinto de segurança e pulei em seu rosto, agarrando-o aos beijos.
Não queria ouvir mais nenhuma palavra de sua boca.
Eu já sabia.
Sabia tudo o que aconteceria quando isso acabasse. Mas não era no fim
que eu estava pensando. Era no agora. E somente ele importava. O agora.
Nós dois. Nada mais.
Sutilmente passei uma perna para o seu banco, em seguida, passei a
outra, até que estivesse completamente em seu colo.
Enfiei meu dedos em seu cabelo, beijando-o com todo o meu alvoroço.
Agradecendo aos céus e infernos por tê-lo feito tão perfeito.
Queria ficar ali, estendendo o tempo para que nunca passasse. Para que
eu pudesse lhe ofertar todo o meu amor e sentimentos que guardei.
Ele era o meu ar. Precisava dele, nem que fosse apenas mais um pouco.
Minha alma exigia dele. Talvez estivéssemos conectados por uma razão
sobrenatural, ou então, éramos apenas dois viciados.
Suas mãos agarraram a minha cintura e exploraram o meu corpo,
descendo avidamente para as minhas coxas, subindo a borda do meu
vestido, e então acariciando minha bunda. Seus dedos atrevidos desceram
pela borda da minha calcinha, seguiram caminho para entre o meio de
minhas pernas. Sorri enquanto ainda o beijava.
Ele massageou minha intimidade por cima do tecido, provocando-me
discretamente.
Seu longo dedo se infiltrou em minha calcinha, esfregando-se em minha
boceta. Arquejei, excitada. Estava melada, ansiosa e pronta.
Embora partes de mim ainda estivessem em recuperação, poderíamos
apenas pegar mais leve. Tudo bem. Ia dar certo.
Ele friccionava o meu clitóris, masturbando-o bem devagarinho. Ele
parou de me beijar, descendo sua língua do meu maxilar até o meu pescoço,
chupando a minha pele. Deixando mordiscadas gostosas. Gemi baixo,
estava uma delícia.
De olhos fechados, mergulhada em puro êxtase, procurei pelo seu cinto e
o desfivelei. Em seguida desabotoei sua calça e a abri.
Ergui o meu quadril para que pudesse afastar a sua calça. Seu dedo
continuou me provocando, aproveitei da posição em que estávamos para
rebolar nele.
Christopher beijou o meu busto, deixando rastros até o colar do meu
vestido, o qual ele baixou com a mão livre, colocando meu seio em sua
boca. Eu ainda tentava livrar o seu pênis de sua roupa, mas estava difícil
manter a concentração. Sabia que ele estava duro, então por cima de todo
aquele tecido, apalpei-o, me aproveitando de todo ele.
Christopher enfiou o dedo em mim.
— Cavalga. — ordenou, olhando-me diretamente nos olhos.
Prendi o canto dos lábios com os dentes e fiz com o que me pediu.
Devagar, subi e desci em seu dedo, até que conseguisse manter um ritmo
constante.
Christopher deliciava-se com os olhos. Me observava de cima a baixo, a
sua face brilhava de satisfação.
Rebolei em seu dedo. Chris começou a movimentá-lo em um entra e sai.
Peguei o seu rosto entre minhas mãos e o enfiei em meus seios, levando-a
me chupar. Sua língua entornou os bicos, seus olhos malinos olhavam-me
de baixo, enquanto eu gemia.
Seu rosto estava grudado ao meu corpo, sua boca insaciável sugava o
meu peito.
Beijei a sua testa, ao passo que forçava seu rosto em meus seios. Seu
dedo nunca cessou os movimentos, continuava a me penetrar forte. Meus
quadris se remexian mais rápidos agora.
Chris adicionou um outro dedo. Eu gemi alto.
— Espera. Espera. — pedi, ofegante.
Ajeitei-me em seu colo, retirando seu pênis apressadamente de sua cueca.
Não ia esperar até que entrássemos dentro da sua casa.
Foda-se os vizinhos de Christopher. Não me importava em dar um show
no meio da rua escura hoje. Eu queria foder.
Seu pênis ereto saltou de sua roupa, a deliciosa visão das veias saltando
no seu membro grosso me fez lamber os lábios.
— Posso chupar? Quer dizer, você quer? Ou nós... — eu dizia apressada.
Christopher puxou-me para mais perto dele pelo tecido da calcinha. Ele a
arrastou para o lado e me posicionou em cima dele, mas parou bruscamente
com os movimentos.
— Amor, eu estou sem camisinhas aqui. — lembrou.
— Merda. — suspirei.
— É. — concordou.
— E se nós passássemos em uma farmácia? — perguntei, ansiosa.
— Não vendem camisinhas para o meu pênis em farmácias, Dingo Bells.
— ele riu ao responder. — Eu as peço na internet e só tenho delas dentro de
casa.
— Não sai com camisinhas por aí, é? — tentei descontrair, para camuflar
a minha aflição em não poder terminar o que começamos.
Eu estava com muita vontade, mas tentava ser racional. Um bebê era a
última coisa que eu queria no momento. Eu nem sabia como ser uma mãe, e
estava pouco afim de descobrir gerando uma criança.
— Sem necessidade. A única pessoa com quem eu transo andou com
feridas no útero, não precisei andar com nada.
Internamente, eu me gabei por isso. Não pelas feridas, é claro. Mas por
ser a única.
— Então, nada de sexo no carro? — desanimei.
— Poderíamos ir para o banco de trás para eu te chupar, mas seria bem
desconfortável pra mim. Sou muito alto pra transar em carros.
— Me surpreende o fato de que você caiba em um. — ri.
Ele tocou o teto.
— Por que acha que eu comprei um carro tão alto?
— Espero que não para transar com garotas. Eu também quero ser a
única a ter feito isso aqui.
Ele brincou com uma sobrancelha.
— Não era essa ideia no início, mas agora... — ele acariciou as minhas
coxas. — Agora seria muito bom transar com você aqui.
Toquei o seu peitoral, apalpando seus músculos sob a camiseta.
— E se... — joguei a cabeça para o lado — Você for bem rapidinho lá
dentro e pegar uma camisinha?
— Transar no carro é o seu mais novo fetiche, Dingo Dingo? — ele
mordeu os lábios. Havia uma obscenidade sexy em seu rosto.
— Talvez. — deslizei em seu corpo, descendo por entre as suas pernas,
até estar agachada no chão, era apertado aqui. — Vamos começar neste
lugar primeiro. — sorri, segurando o seu pau próximo a minha boca. — E
então... — depositei um selinho na glande, isso o fez se empertigar —
podemos continuar com outras coisas.
Prendi o meu olhar no seu, ele acariciou a minha face com os dedos.
— Parece um plano incrível. — animou-se.
Chupei apenas a ponta do pênis. Deslizei a língua sobre ele, provocativa.
Christopher puxou o ar com força, agarrou o meu cabelo com brutalidade e
apertou o maxilar.
— Não seja tão má. — implorou.
— Não sou. Mas preciso ter cuidado. São trinta e dois centímetros aqui.
— caçoei.
Christopher sorriu.
— Eu exagerei um pouco.
— Exagerou quanto? — quis saber.
— 2 centímetros. — respondeu, orgulhoso.
Revirei os olhos. Quanta diferença! De 32 para 30 é quase nada.
— Certo. Então me deixe cuidar dos seus trinta centímetros, amor. —
joguei-lhe uma piscadela.
— Me chupa, anjo. — ele acariciou a minha bochecha. — Eu quero que
faça isso me olhando com essa cara de danada.
— Eu vou. — mordi os lábios. — Mas quero que, enquanto isso, me
conte o porquê das tatuagens no pau.
Lambi a extensão de seu pênis bem devagarinho e o senti pulsar em
minha mão, excitado.
— Eu estava chapado. — começou, a voz sôfrega. — E eu achei que
seria leg... — coloquei-o na boca, fazendo sucção, Chris gruniu — ... l-
legal. — conseguiu terminar.
Seu aperto em meu cabelo ganhou intensidade.
— Porra, e... — se deteve quando coloquei mais dele em minha boca, seu
corpo estava implorando por mim. — Eu não me lembro muito bem de
muita coisa. Tinha usado drogas pra caralho. — ele gemeu.
Tirei seu pau de minha boca e coloquei um de seus testículos nela.
Ele sorriu, ofegante. E desceu sua mão para o meu pescoço.
— Eu tô com uma puta vontade de te encher de tapa. — confessou,
provocativo.
Em resposta, afastei o meu rosto de seu pênis, dando-lhe liberdade para
que o fizesse.
Fui atingida no rosto. A ardência queimava em minha bochecha e na
lateral dos meus lábios.
Com os olhos fixos nos seus, coloquei seu pênis em minha boca,
afundando-me nele até onde pude.
Fiz pressão com a lingua, mantendo contato visual. A grossura do seu
membro fazia minhas bochechas doerem, mas valia a pena.
Deslizei-o em minha boca, mantendo um ritmo lento. Tirei-o algumas
vezes para lamber e chupar a ponta. Gemia baixinho e manhosa enquanto o
fazia. Gostava de ver o rosto vermelho de Christopher. As veias em seu
pescoço acentuaram-se conforme eu o chupava tão dedicada. Fazia
movimentos com a língua. Com uma mão, massageei o testículo, isso o
atiçou.
Christopher pressionou apenas um pouco da minha cabeça em seu pau,
guiando-me a ser um pouca mais rápida.
— Isso! — gemeu — Porra!
Ele mordeu os lábios rudemente. Seu peito subia e descia, a resiração era
ofegante e rápida. Eu estava adorando aquilo.
Enfiei-me mais a fundo, mas parei quando engasguei. Se aventurar em
um pênis tão grande não me traria benefícios, e eu já sabia bem.
Continuei o chupando, provocando e lambendo-o. Fiz o que pude, como
pude, deliciando-me com a sua majestosa visão sensual.
Seus olhos possuíam uma expressão selvagem, encarando-me em
chamas. A sua face transmitia o prazer que estava sentindo. Meu homem
estava excitado, duro feito pedra em minha boca. Ele semiabriu a boca,
respirando acelerado.
Em determinado momento, contraiu-se. Ele estava prestes a gozar.
Fui mais ágil, ele estava alucinando em prazer. Seus músculos
tensionaram-se de repente, antes de relaxarem.
Foi no exato momento que senti a sua porra deliberadamente preencher a
minha língua com aquele estranho gosto amargo e sutilmente salgado. Ele
arfou, segurando o meu rosto com as suas mãos.
Engoli tudo aquilo. Meu rosto franziu-se em uma careta. Odiava o sabor.
Christopher sorriu de lado, achando graça.
— Você é incrível. — sussurrou, satisfeito.
Ele fechou os olhos, sorrindo. Isso fez meu coração errar uma batida. Ele
estava tão lindo.
Afastei-me limpando a boca.
— Quero que vá buscar a camisinha. — pedi, prontamente voltando ao
seu colo. Posicionei-me com uma perna em cada lado do seu corpo,
observando-o guardar o seu pênis na calça.
— Sim, minha senhora. Eu volto num instante. — ele beijou o meu
queixo.
Passei para o banco do carona e confortavelmente joguei as pernas para
cima do painel.
— Estarei esperando. — brinquei.
Christopher tocou a maçaneta do carro, fez menção em abrir, mas algo o
deteve. Ele franziu as sobrancelhas, olhando para o nada, ergueu o rosto e
encarou a entrada da sua casa.
Não havia nada e nem ninguém ali, entretanto, alguma coisa estava o
incomodando.
— Tá tudo bem? — investiguei, baixinho.
Ele continuou olhando fixamente para o mesmo ponto na entrada de sua
casa, como se estivesse esperando alguma coisa acontecer. Fiz o mesmo que
ele, mas tudo continuava o mesmo.
— Qual o problema? Asafe está em casa?
— Dytto. — sua voz era séria e pesada ao meu lado. Quando o olhei
novamente, seu rosto parecia completamente transformado. Estava em
alerta. As veias negras de sua face demoníaca ameaçavam surgir. — Me
escuta! — exigiu, pressionado sua mão em meu queixo. — Fique nesse
carro e não saia por nada nesse mundo. Dirija para bem longe daqui e não
entre dentro da casa. Me ouviu? — ordenou.
— Sim. Claro. — concordei, confusa.
Sua exigência me era tão desesperada que não tive tempo para perguntas.
Christopher abriu a porta e colocou um pé no solo antes de inclinar-se
para trás, em minha direção.
— Eu confio em você.
Balancei a cabeça.
— Por que está tão estranho? — indaguei, nervosa.
Meu estômago agora se revirava em ansiedade. Meu coração disparou em
preocupação.
Para quê aquilo tudo? Que droga estava havendo?
— Vai ficar tudo bem. — garantiu, pousando sua mão sobre a minha. —
Minha linda garota, vá para longe dessa casa. Por favor.
Ele segurou o meu braço, obrigando-me a ocupar o banco do motorista
enquanto se colocava para fora do carro.
Christopher ligou a chave na ignição e olhou-me outra vez.
— Pise fundo. — mandou, fechando a porta.
Minhas mãos tremiam quando dei partida. Eu não queria sair dali. Eu
queria chorar e não sabia a razão. Ou talvez, no fundo, soubesse. Algo
muito ruim iria acontecer naquela casa e por isso Christopher me obrigava a
ir embora.
Olhei através do retrovisor. Ele já não estava mais na rua. Em rápidos
passos havia chegado à porta de sua casa.
Todo o meu corpo queria voltar ali. Descobrir a razão do que estava
acontecendo.
O enjôo crescente em meu íntimo dificultava a minha atenção no que
acontecia na estrada. Tentava manter o meu foco em duas coisas, mas
acabei descontrolando-me.
Eu estava muito enjoada naquele instante.
...
Tinha dado tantas voltas naquele quarteirão que já conhecia de cor cada
casa, cada lixeira, cada portão.
Eu me recusava a ir embora. Estava ali dando voltas e voltas, pois sabia
que não iria conseguir voltar para a minha casa, não sem uma resposta.
Meus dedos apertavam o volante com força. Eu estava suando frio. Meu
coração estava eletrizado, como um louco no peito. A ansiedade de não
saber o que estava havendo me destruía.
Milhares de pensamentos estranhos atormentaram a minha cabeça. Ao
mesmo tempo que eu me forçava a engolir o nó na minha garganta.
Eu estava aterrorizada, mas não sabia fugir. Precisava encarar.
Tínhamos que dar um jeito no que quer que estivesse acontecendo.
Por Deus, eu não podia deixar Christopher. Não podia deixar ele. Não
podia.
— Por favor, que você esteja bem. Que você esteja bem. Por favor, Deus,
por favor o proteja. Por mim. Por favor. — orava baixinho. Sentindo
lágrimas quentes escorrerem de meus olhos.
Poderia estar apenas dizendo palavras em vão, afinal, Christopher era um
demônio, que tipo de deus me ajudaria a salvá-lo. Mas, em momentos de
desespero, não há limites que nos impeça de fazer o impensável. E
Christopher era o amor da minha vida. Eu precisava que ele estivesse
seguro.
A angústia avassaladora teimava em me fazer sofrer.
Meu pé freou o carro — parando diante o jardim em que ele me pedira
para ir embora momentos antes — e encarei a casa, aparentemente, serena e
tranquila.
Sentia meus órgãos se rebolarem dentro de mim. Eu estava uma bagunça,
mentalmente e psicologicamente.
Inspirei fundo e olhei em volta nos bancos do carro à procura de algo, no
entanto, não existia nada ali que me fosse útil. Desci do automóvel às
pressas e corri para o porta malas. Peguei o pé de cabra que, por sorte,
encontrei e fechei o compartimento.
Segurando o ferro gelado em minha mão, caminhei com passos
vacilantes e apressados em direção a casa. Não bati na porta, era um
desperdício de tempo.
Avancei no local, adentrando de supetão.
Arregalei os olhos diante da zona de guerra que estava em seu interior.
Ainda na entrada, existia pedaços de móveis espalhados por todos os
cantos. Fragmentos de madeiras dispersos no carpete e cacos de vidros
salpicando o chão.
Uma parte da mobília estava destruída, e a outra estava revirada no chão.
Meus olhos vaguearam pelo lugar, em busca de Christopher. Continuei
andando, em passos silenciosos, porém ágeis. Não queria permanecer ali
por muito mais tempo. Sentia-me numa cena de crime, com o suspeito a
solto, aterrorizando o ambiente.
O suspense e a tensão ainda pairava no ar, como se as paredes tivessem
absorvido o horror presenciado aqui. O silêncio parecia ensurdecedor,
causando-me tensão. Meus nervos estavam à flor da pele.
Quando me pus na sala de estar, meu mundo ruiu num piscar de olhos. O
pé de cabra escorregou de meus dedos, senti-me fraca. Minha visão turvou
e meus lábios tremularam.
— Não. — arfei, chorosa. — Não. Não. Não.
Aproximei-me devagar do corpo no chão, deitado na poça de seu próprio
sangue. A camiseta rasgada, dava-me o desprazer de ter a visão de suas
costelas arrancadas, exibindo os órgãos falecidos.
As pálpebras abertas demonstravam o horror no vazio do que deveriam
ter olhos — pois tinham sido arrancados.
Sua pele, antes branca, pintava-se agora do líquido vermelho, repleta de
ferimentos abertos que deixavam claro que aquilo tinha sido brutal.
Seu pescoço degolado, exibia o enorme e profundo corte. Os lábios agora
era cinzentos. O rosto antes perfeito, tornou-se macabro em decorrência dos
rasgos, deixando-o quase irreconhecível.
Minhas pernas cederam. Desmoronei ao seu lado em um grito silencioso
de dor.
Sentia como se minhas costelas tivessem sido arrancadas também. Não
conseguia respirar. Isso não poderia estar acontecendo.
Um oceano de lágrimas apoderaram-se do meu rosto.
— CHRIS, NÃO! — toquei o seu rosto pálido e sem vida. — NÃO! —
meu grito saiu num rasgo desesperado.
Tinha que ter um jeito para aquilo. Por que ele não voltou? Por que o
meu amor havia morrido? Não poderia.
Ele não poderia morrer. Ele era um demônio. Como aquilo era capaz?
Quem fez aquilo? E porquê?
Eu não sabia. Não sabia de nada. Eu estava dilacerada. Minha alma
gritava aos prantos de dor.
Eu queria ele de volta.
Por que ele não se mexia?
Deitei-me no chão ao seu lado e o abracei.
Tudo era dor.
— Eu vou te esperar aqui. — sussurrei entre soluços.
Iria ficar ali até o momento em que Christopher voltasse.
Ele tinha que voltar.
Ele deveria voltar.
Ele ia voltar... não é?
⸸
Não me matem ainda
Preparados para o que os esperava?
Ig: autoraelliemorgan
Capítulo 67| Acorda
— Dytto. — senti meu corpo sendo balançado, mas minha mente estava
exausta. — Dytto, acorda.
Meus olhos recusavam-se a se abrirem como se pesassem toneladas. Meu
peito doía tanto que aparentava estar rasgado em milhões de pequenos
fragmentos.
— Dytto, acorde. — a voz insistiu.
Alguém tocou o meu rosto, checou o meu pescoço e suspirou.
— Ela está viva. — concluiu. — Não sei porquê não está acordando.
— Veja se ela machucou a cabeça. — outro alguém pediu.
As vozes ecoavam em minha mente, como se distantes. Imersas no vazio.
Mãos tocaram o meu cabelo, viraram o meu rosto de um lado para o
outro, checaram a minha cabeça, até que pareceram chegar a um veredito.
— Não, ela não está machucada.
— Vamos tentar levantá-la. — aconselhou.
— Dingo. — a voz infantil e chorosa suplicou.
Meu coração imediatamente acelerou. Lutei para alcança-lo. Lutei para
achar Asafe. Forcei meus olhos a se abrirem. Eu precisava acordar.
Minhas pálpebras tremeluram em uma constante insistência de minha
parte em erguê-las.
— Espere. Ela está acordando. — a voz autoritária disse, cheia de
esperanças.
A luminosidade preencheu meu campo de visão. Já era dia, mas eu ainda
não conseguia enxergar nada além da pequena brecha aberta pelos meus
olhos.
Me sentia acordando de um coma. Estática e confusa. O resto de mim,
despertava aos poucos, devolvendo-me a mim o poder de suas funções.
Abri e fechei a mão, parecia quase uma novidade para mim. Sentei-me
devagar, com ajuda de mãos que puxaram-me pelo braço.
Quando enfim voltei a minha realidade, desejei nunca ter aberto os olhos.
O cheiro asqueroso de sangue irrompeu em meu nariz. A visão de Amara
agachada à minha frente me fez perceber que eu não estava acordando de
um coma, mas, sim, de um pesadelo, um pesadelo real.
Virei a cabeça para o lado. Ele ainda estava lá. Sem vida. Sem mexer-se.
Sem nada.
— Ele voltou? — tentei dizer, mas minha voz havia sumido. Após
passar uma noite inteira chorando e implorando para que ele retornasse, em
algum momento não saia mais nada de mim. — Me diz que ele voltou. —
pressionei minhas cordas vocais a dizerem, mas as palavras soaram como
ruídos baixos e incompletos.
— Eu sinto muito, Dytto. Christopher não está mais entre nós. —
Samantha lamentou. — Quem fez isso destruiu seu corpo humano e mortal
para garantir que não existisse mais vida nele.
— Mas ele tem que voltar, não é? Ele tem que voltar. — as palavras
ressoavam arranhadas.
— Ei, ele vai. Ele vai voltar. — Amara segurou o meu rosto. —
Precisamos dar um tempo a ele. Christopher está em sua forma demoníaca,
vagando em algum lugar do inferno, ele vai dar um jeito de voltar.
Balancei a cabeça, freneticamente e me soltei dela.
— EU NÃO VOU. EU NÃO VOU SAIR ATÉ QUE ELE VOLTE. —
gritei, poucas palavras saíram completas. Minha voz era falha.
— Precisamos enterrar o corpo, Dytto. Não podemos deixar ninguém vê-
lo. Entendeu? Em algumas horas esse odor... — Amara balançou a cabeça,
enojada. — O corpo está entrando em decomposição com feridas abertas. O
cheiro vai se exalar muito rápido se não tirarmos ele daqui.
Ela suspirou.
— Eu sei que está doendo, Dytto. Ele é o meu irmão, e eu também sinto
isso. — ela tocou o meu rosto — Mas temos que fazer isso por ele enquanto
Chris não volta.
Neguei, num balançar de cabeça.
— Ninguém vai tirar ele de mim. — decretei, rouca.
Deitei-me novamente na poça vermelha e abracei o seu corpo morto. Não
iria sair dali. Não iria me mover. Ficaria ali até que o meu Christopher
voltasse.
De um jeito ou de outro.
— Dingo. — a voz suave e macia me chamou, tão triste e desolada que o
meu peito se apertou.
Ele aproximou-se devagarinho do corpo de seu pai. Ele tremia, o rosto
estava banhado em lágrimas. Seus dedinhos se seguravam um ao outro. Os
ombros estavam encolhidos e os seus olhos avermelhados me encaravam
tristes.
Merda. Eu não podia deixá-lo aqui. Não poderia deixá-lo encarar o seu
pai assim.
— Eu tô com medo, mamãe. — chorou.
Minha respiração trepidou. Meus lábios se entreabriram, mas nada saia.
— Mamãe. — chamou, assustado. — Eu quelo o papai de volta.
Meu olhos se arregalaram. Eu não sabia como reagir. Partilhávamos
todos de uma dor única. A perda. E agora, ele me via como sua figura
materna.
Sentei-me novamente e abri os braços para ele. Asafe veio o mais rápido
que pôde, desviando-se de Chris. Ele agarrou o meu pescoço com os
bracinhos e me apertou como se precisasse de mim.
Ele precisava de mim.
As desatou a chorar forte. Seu corpo inteiro tremia, amedrontado.
Envolvi-o em meus braços e o deitei em meu colo, chorando junto a ele.
Eu também precisava do seu apoio.
Amara limpou algumas lágrimas que deixou escapar e se levantou.
— Me empreste o seu celular, Dytto. Vou precisar de ajuda. — pediu.
— Deve estar no carro do Chris. — sussurrei.
Ela assentiu, saindo o mais rápido que conseguia de dentro da casa.
Samantha encarava o corpo do seu irmão. Sua mente estava distante e
imersa em uma notória confusão. Porém, ela parecia saber de algo mais.
Sequer se surpreendera com a morte de Christopher.
Havia algo da qual eu não possuía conhecimento.
— Quem fez isso com ele? — murmurei. — Samantha. Me diz a
verdade. — implorei.
Seu olhar lentamente veio para mim, pesaroso.
Sua face expressava o sentimento de aflição que a cercava.
— Christopher está morto porque desafiou o próprio pai para estar com
você, Dytto.
Prendi a respiração. Minha cabeça rodopiou e o sangue pareceu estagnar
em minhas veias.
— Isso é minha culpa. — declarei.
— Ninguém tem culpa além do pai do Christopher. — discordou. — Isso
aconteceria de qualquer jeito. O pai dele só estava a espera de uma desculpa
para transformar o filho no soldado que nasceu para ser.
Ela soltou o ar pela boca, chateada.
— O Christopher que conhecemos se foi, Dytto. Se foi para sempre.
— Ele vai voltar. — retruquei.
— Sim, ele vai. — ele arranhou os lábios com os dentes — Mas não em
sua forma humana. — completou. — Ele vai voltar em sua forma cruel e
destrutiva. — ela balançou a cabeça. — Eu sinto muito. Vocês tiveram uma
história de amor muito bonita. Não merecia acabar assim. — entristeceu-se.
Foi como perder o fôlego.
Ouvir as suas palavras tirou-me algo. Senti as esperanças sendo
arrancadas a força de mim.
Christopher sempre me disse que sua parte demoníaca não possuía
sentimentos humanos, mas que se continha por me amar.
Porém, agora, o que seria de um Christopher demoníaco que não sentia
nada por mim?
Desprezo. Eu teria apenas o seu mais puro desprezo.
Apertei Asafe em meus braços. Seus olhos estavam fechados, mas as
lágrimas deliberadamente derramavam-se em seu rostinho.
— Tem que ter outro jeito. — eu quis gritar, no entanto, não conseguia.
Ela andou um pouco mais para perto, sentou-se em uma poltrona e
apoiou os cotovelos nas coxa, aturdida.
— Não há muito que poderemos fazer, Dytto. Não sabemos o que ele está
passando agora. — ela engelhou as sobrancelhas — Meu irmão pode não
ser mais ele quando voltar. Estará ocupado demais fazendo o que nasceu
para ser.
— E o que ele nasceu para ser? — eu disse entre dentes.
Ela parecia pensativa.
— Ele nunca te contou. — percebeu.
Samantha se ajeitou na poltrona e abriu um sorriso sem vida para mim.
— Todo demônio tem uma função, Dytto. Meu irmão nasceu para
destruir o mundo em que vivemos.
Ela ergueu os olhos para o teto.
— Christopher veio para trazer o caos e destruição. Por causa dele,
muitas pessoas irão morrer. Haverá fome. Haverá guerras. Meu irmão está
infiltrado em muitas situações diferentes.
— E de que forma ele seria responsável por isso? — questionei.
— Indiretamente ele controla homens poderosos. Pessoas do mundo todo
o procuram para fazer negócios. Christopher pode não ser um presidente ou
um rei, mas tem controle do caos. Ele sabe onde atingir para que uma onda
de eventos se iniciem.
— A teoria do caos. — sussurrei.
— Ele só dá as dicas. Os peões é quem fazem o resto.
Joguei a cabeça para trás, rindo.
— Todo esse tempo... — gargalhei — Todo esse tempo ele me escondeu
que estava destruindo um mundo fadado ao fim dos tempos. — minha
risada aumentou.
Olhei para ela, que me observava intrigada.
— No fim das contas, eu teria ficado com ele mesmo assim. — sorri para
ela. — Sabe de uma coisa, Samantha. Eu não estou nem aí para o mundo.
Agora eu só quero que tudo queime.
Baixei os olhos para a criança em meu colo, afaguei o seu cabelo com
carinho.
— Eu tô cansada. E eu só sei que o quero de volta. — declarei,
simplesmente.
⸸
Loren estava parada no sofá há pelo menos meia hora. Não se moveu
desde que nos encontrou. Amara tinha lhe ligado, e agora envolvia o corpo
do irmão em um carpete, enquanto procurava uma forma de despachá-lo
sem que a vizinhança nos visse.
Seus olhos presos ao chão, acentuava a sua reação horrorizada. Sequer
movia um único músculo. O choque a arrebatou, levando-a um estado de
inércia.
Eu havia tomado um banho e trocado de roupas pelas as que minha irmã
trouxe. Foi difícil entrar no quarto de Christopher e encarar tudo como se as
memórias não tivessem vindo à tona como uma enxurrada na minha cabeça
no segundo em que senti seu cheiro impregnado em cada canto.
Chorei mais uma vez enquanto banhava, mas recuperei o fôlego quando
terminei de me vestir.
Precisava ser forte, pelo Asafe.
Ele estava deitado em meu colo, brincando com o fio do meu moletom.
Os olhos estavam inchados e o nariz avermelhado. Sua expressão triste e
vazia me deixava angustiada.
Eu teria que saber lidar com aquilo, querendo ou não. Asafe esperava que
eu soubesse cuidar dele, porque precisava de uma mãe.
Christopher disse que confiava em mim poucos minutos antes de entrar
em sua casa, acho que no fundo, ele sabia que não era sobre aquele
momento que estávamos falando, mas o depois, portanto, o agora.
— Um demônio. — Loren arfou, atônita.
Eu tinha lhe resumido partes do que sabia sobre a vida do Christopher. A
parte que ele não contava a ninguém. E a parte que lhe escondi durante todo
esse tempo.
— É.
Ela franziu as sobrancelhas.
— Que porra é essa, Dytto? — sussurrou, assustada. — Por que merda
isso tá acontecendo?
Balancei a cabeça e soltei o ar pela boca.
Eu não poderia me permitir sentir nada. Então precisei ser paciente para
tentar lidar com o baque que estava sendo para Loren descobrir toda a
verdade.
— Eu sempre soube que tinha algo há mais com ele. Mas não desse jeito.
Não nessa magnitude. — ela ergueu os braços para quantificar o exagero
que era a situação. — Que porra! — repetiu.
Ela me olhou, desceu os olhos para Asafe, e os retornou para mim.
— Vai cuidar dele? — perguntou, curiosa. — Quer dizer, você vai ficar
com ele na nossa casa enquanto o... — ela não terminou.
— Tenho que cuidar, Lô. — toquei o rosto de As com cuidado — Ele é
minha responsabilidade agora.
Loren assentiu.
— Não precisa ser, Dytto. — Amara se pronunciou, aproximando-se. —
Podemos ficar com ele na mansão da família, não teremos problema algum
em cuidar dele. Você ainda tem escola e uma vida. Não precisa fazer isso.
— Eu não posso ficar longe do As. — discordei.
— Não precisa. Pode visitar ele todos os dias se quiser. Será sempre bem
vinda na nossa casa. — disse, gentil — Sua família não aceitará bem a
situação. É melhor deixarmos isso o mais escondido possível. Não era o
desejo de Chris que o filho fosse exposto ao mundo.
Asafe me olhou, como se implorasse para ficar comigo. Ele não deveria
ter que suportar mais nenhuma perda, mas Amara tinha razão. Ele precisava
ser protegido.
— Eu amo você. — cochichei, olhando-o — Vou te ver todos os dias. E
passar as tardes com você, está bem? — beijei a sua testa. — Podemos
fazer isso, Asafe. Podemos esperar ele juntos. — apertei sua mão. — Nós
dois seremos fortes juntos.
— Também te amo, Dingo. — murmurou.
Sorri para ele.
— Vamos sobreviver a isso.
⸸
Quase eu não termino esse capítulo de tanto chorar
Ig: autoraelliemorgan
Capítulo 68| Onda de caos
Eu não havia ficado para ver Amara e os seus irmãos enterrarem o corpo de
Christopher. Sabia o local exato em que a terra o engoliu para sempre, mas
não tive coragem de me despedir. Não poderia vê-lo uma última vez
sabendo que seria assim por um bom tempo.
Não tinha ideia de como ele voltaria. Em que situação a sua aparência
estaria, ou como a sua personalidade agiria, então me comprometi a guardar
apenas as lembranças do seu lindo sorriso em minha mente, faria o mesmo
pela minha mãe. Ter a ideia de ver a sua cabeça aberta em minha mente não
me traria conforto.
A família estava junto ao redor de sua cova, o caixão já deitava no fundo
do solo. A caixa fechada e sem vidro indicava tamanha tinha sido a
fatalidade.
Loren não ficou para ver, estava sentada em um dos túmulos mais
distante, fumando um cigarro sozinha.
Papai enxugava lágrimas invisíveis de seu rosto, embora culpado por
grande parte do sofrimento de Ever, agia como se fosse uma grande
surpresa para ele o ocorrido. Como se ele não tivesse prestado atenção em
como sua mulher se desvanecia na mais pura infelicidade debaixo dos seus
próprios olhos. Como se ele nunca tivesse se negado a estender a mão para
lhe ajudar ou dizer uma única palavra de conforto.
Fingia tão bem que todos os familiares pareciam acreditar no pobre
viúvo.
Eu sentia raiva. A raiva fervilhava o meu íntimo e grudava-se a parede do
meu estômago, subindo para a cabeça e esmagando as minhas têmporas.
Era avassaladora e corrompia todo o meu corpo. Estava em todas as partes.
Prendi a dor em uma caixinha para que não desmoronasse. Não chorei em
nenhum momento. Não precisei engolir lágrimas, não existia mais dor,
apenas raiva, eu estava consumida por ela.
— Oh, minha querida! — Vovó Irina, mãe do meu pai, aproximou-se,
afagando o meu braço. — Sinto tanto pela sua perda. — os lábios
enrugados davam as suas condolências sem muita veracidade. — Isso tudo
deve ter sido horrível. Bem na sua frente. Como ela foi capaz de fazer isso
com você? — julgou.
Respirei fundo, obrigando-me a não discutir. Não agora.
— Ever era muito brilhante, quando foi que esse desequilíbrio a
tomou? — opinava, consciente ou inconscientemente rude.
— É, horrível. — concordei, desinteressada.
— Mãe... — Theo se aproximou, tocando os ombros da velha chata. Ela
sorriu lamentosa para ele.
— Meu querido, eu estava conversando com a minha neta sobre como
isso aconteceu. — pontuou, ainda curiosa. — Deve ter sido péssimo. Não
tenho ideia de que tudo isso estava acontecendo.
— Ah, claro! — ele suspirou — Foi horrível. Ever estava mal por conta
da demissão, e então, Loren de repente quis ir embora para outro país, a
senhora sabe... Ela ficou péssima depois disso. Tentamos ajudar como
podíamos, mas ela andava muito resguardada. — contava, magoado.
Como é que é? ele realmente quer se fazer de bom moço e jogar culpa na
Loren? — estreitei os olhos, virando-me furiosa para os dois.
Apertei os dentes uns contra os outros, sem paciência.
— Não tão difícil quanto descobrir que você estava trepando com outra
mulher, não é, pai? — rebati, encarando-o séria.
Seus olhos miraram-se sobre os meus com tanta fúria que jurei que ele
me acertaria com um tapa ali mesmo
— E se vamos ser honestos aqui. — sorri amarga — Mamãe estava muito
feliz com a entrada da Loren na faculdade, só andava meio deprimida por
conta do marido de merda. — e do amante de merda, mas não adicionei
essa parte. Virei-me para a minha vó, que observava a situação chocada —
E não, minha mãe não era uma desequilibrada, na verdade, ela era muito
equilibrada, a prova disso é ter suportado essa merda de família por
anos. — dei-lhes as costas, marchando duramente em direção a Loren.
Longe de todas aquelas pessoas que não realmente se importavam com a
minha mãe, sentei-me ao lado da minha irmã.
— Eu quero um cigarro. — pedi.
— Você não fuma. — pontuou.
— Agora eu fumo. Me dá logo. — estendi a palma da mão.
Ela deu de ombros, tateou os bolsos e tirou um cigarro da cartela.
Coloquei-o na boca e ela o acendeu para mim.
Dei a primeira tragada. Foi horrível. O gosto era amargo demais e
deixava a boca com gosto de fuligem, mas não desisti, continuei fumando-o
como se estivesse habituada. Eu não queria estar fumando, porém, também
não queria ficar parada.
Eu estava elétrica, furiosa e infeliz.
— Sabe a nova? Espalhei para a vovó sobre a amante do papai. —
confessei.
Loren segurava o cigarro entre os dedos, próximo à boca, quando me
olhou intrigada, franzindo as duas sobrancelhas.
— Como é que é? — ela riu.
— É, pois é.
Ela tornou a gargalhar descontroladamente.
— Isso é demais, Dy. Demais. — se divertia.
Mordi os lábios.
— É, e foi sensacional fazer isso. — balancei a cabeça — Mas não contei
a ela sobre o amante da mamãe. Acha que eu fiz certo?
— Ah, sei lá. Papai sempre foi um marido horrível, ele mereceu os
chifres que levava.
Suspirei.
— Eu não entendo. — repuxei o canto dos lábios — Por que duas
pessoas se acorrentam a um relacionamento horrível pra acabar assim?
— Eu não sei, Dy. — respondeu, distraída.
— Ela amava os dois. — sussurrei. — Antes de se matar. Ela me disse
que amava os dois.
— Bom pra ela que sentava em duas picas.
Virei-me para Loren.
— Me disse também que os dois a deixaram. Ela estava sofrendo muito.
— Ui! — fez careta.
— Ela amava todo mundo menos as próprias filhas. — cochichei — Ela
não passava nenhum tempo com nós duas. Nunca foi nossa amiga, nunca
procurou saber se precisamos dos conselhos dela. — juntei as sobrancelhas
— Acho que já tinha homens demais no coração dela que não sobrou
espaço para nós. Ela nem notou que eu estava de luto pelo Christopher.
Soltei a fumaça no ar.
— Ela não percebeu nada, Loren. Papai também não. — comentei,
absorta em pensamentos — Acho que nós duas viramos órfãs muito antes
dela morrer.
Minha irmã passou o braço em volta dos meus braços.
— Contanto que fiquemos juntas, nada mais importa, Dy. — ela deitou a
cabeça em meu ombro e me encostei na dela. — Nós nunca pertencemos a
essa família.
⸸
13 dias após a morte de Christopher
5 dias após a morte de Ever
9 de julho| Terça
— Não, você não vai sair. — papai cuspia ordens atrás de mim.
Seus passos apressados tentavam alcançar os meus. Estávamos em uma
dança de caça ao rato, onde ele tentava me apanhar a caminho do meu
carro.
— Ah e por que não? — o desafiei, agressiva.
— Você tem matado aulas. Não tem ficado em casa e sequer tem
atendido as ligações. — esbravejou alto.
— Olha só, acho que eu estou me tornando você antes da mamãe se
matar. — brinquei, ácida.
— O que disse? — se ofendeu.
Estagnei os meus passos e virei-me para ele.
— Por que nunca parou para falar com ela? — perguntei, irritada — Por
que nunca se preocupou com a porra da sua própria esposa? — apontei
para a casa atrás de nós — Porque você só liga para isso, pai. STATUS.
Ele balançou a cabeça, vermelho de fúria.
— VOCÊ NÃO VAI SAIR DESSA CASA, E ESTÁ DE CASTIGO. —
berrou, como sempre fazia quando fugia de uma conversa séria.
— Ah, estou? — ri.
— Tem agido como uma adolescente deliquente e irresponsável. Eu não
te criei assim. Essa sua má educação veio das suas amizades e das amizades
de Loren. — criticou, enojado.
— Minha má educação se chama LUTO.
— Não, Dytto. Está agindo como uma imbecil. Tem passado o dia fora,
com sabe se lá quem, fazendo sabe se lá o quê. Deveria estar aqui para
apoiar a família. Você costumava ser doce e boazinha, agora eu nem te
reconheço mais. Pensei que fosse a irmã madura, mas está agindo como
criança.
Sorri, decepcionada e balancei a cabeça. Por mais que estivesse
acostumada a ouvir isso dele sobre Loren, achei que essa frase nunca mais
me surpreenderia.
— Ah, pai, sabe como é a adolescência. Tenho passado o dia fora
fodendo com caras que eu nem conheço e cheirando cocaína pra bancar a
rebelde. — balancei os ombros — Sabe como é, né?
Ele apontou para mim.
— Vai voltar agora lá pra dentro! Vai pedir desculpas aos seus familiares
e vai se redimir comigo. — ele ergueu o tom de voz — Não vou tolerar esse
comportamento na minha casa. Não criei minha filha pra ser uma puta.
— Puta? — disse, incrédula — Ah, bem, eu não sou uma puta pai, mas
odeio que falem mentiras de mim. — agachei-me no chão, apanhei uma
pedra enorme e a atirei contra a janela do seu carro estacionado na garagem.
O vidro explodiu, estilhaçando-se em milhares de cacos pelo chão.
— Que porra está fazendo? — brigou, alto o suficiente para chamar a
atenção de Loren, que já caminhava apressada em nossa direção.
— Te dando verdadeiras razões para me chamar de deliquente, antes
disso era só raiva, mas agora, vou te dar motivos reais para deixar de ser um
mentiroso.
Dei-lhe as costas e sai apressada rumo ao meu carro. Loren veio correndo
para o banco do carona, ela ria em diversão quando se jogou para dentro do
automóvel em movimento.
Eu já estava acelerando quando o portão se abriu, por pouco não
arranhamos a lataria.
Pelo espelho, vi papai correndo atrás de nós, mas freou os passos quando
chegou ao portão.
— ISSO FOI DO CARALHO. — ela gritou, empolgada.
— E lá vamos nós mais uma vez. — sorri.
— Eu até que gosto da mansão Tanaka. Lá eles tem sala de cinema,
sabia?
— Minha nossa, Loren. — ri, revirando os olhos.
⸸
17 dias após a morte de Christopher
9 dias após a morte de Ever
13 de julho| Sábado
— Você está muito quieto. — beijei a sua testa, ele me olhou nos olhos e
sorriu. Adorava quando eu o fazia carinho.
— Você também, mamãe. — comentou.
Estávamos sentados no jardim da mansão Tanaka, em frente ao túmulo de
Christopher. Asafe e eu costumávamos nos sentar ali para contar nossas
novidades para ele. Embora soubéssemos que ele não estaria nos ouvindo,
se tornou algo simbólico para nós dois, para sempre mantermos as
esperanças de que ainda estávamos o esperando.
— Só estou preocupada com você. — afaguei suas costas.
— Ainda está triste pela sua mamãe, né?
Curvei um breve sorriso para ele.
— É, ainda estou, sim.
Ele ergueu a cabeça, segurou o meu rosto com as suas mãozinhas e me
puxou para ele, dando-me um longo beijinho na testa.
— Pra salar. — murmurou. Era o que eu dizia a ele quando o notava
triste demais.
Puxei-o para o meu colo e o abracei. Ele ainda era tão jovem, mas já
parecia ter que segurar um mundo inteiro nas costas. Eu não queria que ele
passasse por aquilo.
— O papai vai demorar a voltar? — questionou, pensativo.
Inspirei fundo. A dor cortante rasgava o meu coração ao ouví-lo tão cheio
de esperanças.
Eu não fazia ideia de quanto tempo mais levaria para Christopher voltar.
Estava me obrigando a ter paciência, mas a cada segundo que se passava,
menos controle eu tinha.
— Talvez, As. Vai ver ele está matando a saudades de casa. — tentei
descontrair, mas isso não o fez rir.
— Papai não gosta da casa dele. — murmurou — Ele não quer ficar lá.
— Consegue sentí-lo?
— Não. — Asafe virou-se para mim — Quelia ele aqui. — e então
encostou sua testa em mim.
Eu não precisava de dons sobrenaturais para perceber que aos poucos
Asafe também estava perdendo a paciência.
— Um passarinho me contou que você gosta de sorvete.
— Titia Amara não é um passalinho. — pontuou, intrigado.
— É uma expressão, As. — ri dele.
Ele me olhou interrogativo, mas não disse nada.
— Eu trouxe sorvete. — comentei, sorrindo.
Os lábios se curvaram em um grande sorriso, salientando as suas
bochechas fofas.
— Me dá um poquinho? — pediu, animado.
— Venha. Vamos comer um montão de sorvete.
⸸
21 dias após a morte de Christopher
13 dias após a morte de Ever
17 de julho| Quarta
⸸
Chocastes?
Alguém imaginou essa teoria? No fim, Christopher-filho estava há alguns
passos na frente de todos, mas o Christopher-pai estava há anos-luz na
frente de todo mundo.
E bate uma dorzinha só de saber que o Christopher está há quase mil
anos longe da Dytto 😭😭😭
Me sigam no IG para pararmos sobre esse capítulo: autoraelliemorgan
Link na bio do wattpad
|PARTE 2
Love in the dark ganhará livro físico muito em breve, mas, para isso,
preciso avisar que, ele se tornará uma duologia.
Por que Love in the dark se tornará uma duologia?
Inicialmente o plano era fazer de LITD livro único, no entanto, a obra
tem se tornado extensa demais, e eu não quero deixá-la ainda maior, por
isso, decidi dividí-lo em duas partes, assim, poderei trabalhar a segunda
parte com mais calma e sem um final corrido, portanto, desenvolvendo-a
melhor, até porque eu sei que vocês estão doidas para verem o futuro de
Dytto e Chris como um casal apocalíptico.
Se o livro vai ser dividido em duas partes, onde termina a primeira
parte do livro?
A primeira parte do livro se encerrará no capítulo 71 (Lobo em pele de
cordeiro). E é bem aí, que eu finalizo o primeiro livro.
Ele vai se manter no Wattpad? Qual a data de pré-venda?
Esta primeira parte não poderá ser mantida no wattpad, e será preciso ser
retirada no dia ❗05/01/2024❗, pois no dia ❗15/01/2024❗ começará a sua Pré-
venda. Até lá, vocês terão um tempinho para terminar de ler tudo.