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Love in the dark

Ellie Morgan

Published: 2023
Source: https://www.wattpad.com
AVISOS + GATILHOS

Não milite no meu livro


Esse livro irá conter:
— Palavras de baixo calão
— Drogas, bebidas e violência
— Conteúdo sexual explícito
— Gatilhos emocionais e psicológicos
— Abuso sexual
— Kink bondage
— Dub-con
— Tortura física e emocional
— Piadas contendo humor ácido
— Sonofilia
Este livro não é um manual de romance, tampouco um exemplo para
isso. Entendam que o conteúdo visto aqui é romance dark. Não se baseiem
no casal principal para começarem um relacionamento, pois ambos são
completamente problemáticos.
Separem ficção da realidade.
NÃO ACEITO ADAPTAÇÕES, PLÁGIOS E/OU INSPIRAÇÕES
Dedicatória

Dedico este livro à 99% das minhas leitoras, que sempre apoiam todas
as putarias que eu escrevo. Mas também, àquele 1%, que me mandam
mensagens em horários suspeitos, dizendo que gozaram lendo.
Capítulo 1| A fogueira

Nada de spoilers nos comentários para não serem silenciados. E por


favor, não comparem a antiga versão com esta, algumas coisinhas mudaram
e ficarão assim.
ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO

Eu sempre me senti desconfortável em meio aos amigos da minha irmã
mais velha; Loren. De algum modo, eu estou sempre deslocada entre eles.
Ou melhor dizendo: "Fora da panelinha".
Não consigo me encaixar nas conversas ou no estilo de vida que eles
levam — por mais que eu me esforce à beça para isso —, no entanto, ainda
assim, continuo vindo à esses encontros no meio do nada, na floresta mais
escura de Vespeau; minha cidade natal.
Aos sábados, todos eles se reúnem e fazem uma fogueira na parte mais
afastada do centro urbano para se pegarem, fumarem e beberem enquanto
ouvem mais alguma playlist de outra banda de metal.
Não sou careta, mas, sinceramente, quem aguenta ouvir esses gritos o
tempo inteiro?
Loren sempre gostou de estar no meio de tudo isso, mas eu só comecei a
participar do seu ritual de saideira depois que completei 16 anos de idade
(ordens dos nossos religiosos pais rígidos), ela sempre criou um meio para
conquistar a sua própria liberdade, e depois de um tempo, cavou uma forma
de eu ter a minha também; mesmo que eu nunca antes tivesse me importado
em ficar em casa.
Minha irmã sempre foi atenciosa e protetora. Acho que ela tem medo de
que eu não saiba ficar sozinha, mesmo que isso nunca tenha sido um
problema para mim. No mundo dela, querer ficar só é quase o mesmo que
gritar: "Eu tenho depressão e quero cortar os meus pulsos", quando na
verdade, tudo o que eu quero é ser uma antissocial em paz.
Mas não dá para explicar isso para uma festeira de primeira igual a ela,
então eu venho às festas, pelo bem do seu lado maternal comigo, e também,
para garantir que a minha adolescência não se resuma a brigar na internet,
mandar memes e ler livros de romance safado.
Os olhos da minha irmã ainda brilham toda vez que ela percebe que
finalmente conseguiu me arrastar para fora do meu cativeiro (meu quarto)
para outra de suas "reuniões" de amigos na floresta.
Porém, essa noite em questão, me arrependi de ter vindo à festa antes
mesmo de ter posto os pés aqui. Meio que se deu ao fato de eu ter decidido
usar roupas tão curtas que mal cobrem qualquer parte do meu corpo. Tentar
se adaptar à moda não dá muito certo quando se está indo para o meio da
floresta com uma mini saia e uma regata tão fina que mal cobrem o meu
sutiã sob o tecido branco.
A noite está muito fria. A brisa gelada debanda todas as partes do
ambiente, causando-me calafrios, por esta razão, tento me manter o mais
aquecida possível sentando-me no toco em volta da fogueira. Arrepios
percorrem a minha pele à medida em que a rajada da ventania atinge as
minhas costas não cobertas pelo calor do fogo.
Jogo o meu cabelo para trás, deixando que as longas madeixas castanhas
me cubram e encolho os ombros.
Há pelo menos umas vinte e tantas pessoas nessa festa, e nenhuma delas
parecem estar com tanto frio quanto eu. De fato, a maioria está mais vestida
comparado a mim, porém, ainda assim.
— Quer uma cerveja, Dy? — Marcos, amigo de Loren, oferece,
encurvando o seu corpo alto em minha direção; ele ergue a garrafa diante
dos meus olhos com uma expressão maliciosa em seus lábios.
Me afasto discretamente, mantendo uma certa distância entre nossos
rostos.
— Não, valeu. Não curto bebidas. — Sorrio forçado, farta de repetir esse
mesmo dilema toda vez que ele me oferece álcool.
— Tem certeza? — incita, a voz mais baixa e rouca agora.
Seus olhos escuros passeiam pelos meus seios e descem pelo meu corpo
até pararem sobre as minhas coxas.
Desconfortável com a situação, tento me cobrir com as mãos.
Marcos continua tentando me embebedar para que algum dia ele tenha
alguma chance. Uma linha de raciocínio não muito sábia, pois Loren
arrancaria o seu saco para me defender do seu amigo tarado antes mesmo
que ele tente qualquer coisa comigo.
Ele é um garoto muito bonito, moreno, alto, corpo esguio e magro, um
pouco sério e alguns brincos na orelha. Marcos tem feições que o faz
parecer uns quatro anos mais novo do que realmente é, além do mais, ele
age como se tivesse uns dez, apesar de ter 21. Não faz o meu tipo.
— Quem sabe uma outra hora — murmuro e volto a esfregar as mãos
uma na outra à procura do calor.
— Tudo bem — ele sorri cheio de segundas intenções, e então sai, como
se fosse um grande galã de novela.
Solto um riso curto de sua atuação horrorosa, mas não o olho por muito
mais tempo. Ser pega encarando-o só faria o seu ego aumentar em
quantidades absurdas.
Volto minha atenção para o que eu estava fazendo e percebo que já faz
alguns bons minutos que minha irmã saiu de perto de mim e dos seus
amigos para dar uns amassos em Kaio — seu mais novo amigo colorido —
e até o momento não voltou.
Preciso me aliviar logo ou irei mijar na roupa. Eu não sou de beber nada
com álcool, mas em troca, me abarroto em energéticos, o que por
consequência, me fazem mijar a cada 15 minutos.
Rolo os olhos em volta da floresta, mas tudo o que encontro são um
bando de adolescentes bêbados sacudindo o corpo como se estivessem
sendo eletrocutados ao som de Psychosocial de Slipknot, desvio o corpo um
pouco para o lado antes que eu seja atingida por alguma garrafa de vidro
acidentalmente.
Continuo à procura por um rosto conhecido em toda a floresta, até que
finalmente encontro o amigável ponto ruivo à poucos metros de mim.
Levanto-me depressa de onde estou e ando até Claire; que depois de
dançar horrores, por fim, decidiu se sentar na traseira do seu adorável Opala
para observar as faíscas da fogueira com o seu namorado Joshua — que se
mantém recostado confortavelmente entre as suas pernas.
Claire é a melhor amiga de Loren desde os 10 anos de idade. Onde uma
vai, a outra também vai. Então se minha irmã não está por perto, é a ruiva
que me socorre. Ela possui um lindo e delicado rosto, mas não se pode
deixar enganar pela aparência, Claire adora dar uma de Vin diesel com
carros, fuma como se fosse uma chaminé ambulante, e, por acaso, já a
peguei com a boca em Joshua em um lugar muito público. Cena esta, que eu
ainda tento esquecer até hoje.
— Claire, tem algum banheiro químico por aqui perto? — grito, para que
minha voz se sobressaia à música alta e tranço as pernas em urgência, sem
conseguir mais conter a vontade de mijar.
Seus olhos azuis me olham com preocupação quando ela repuxa o canto
dos lábios para baixo, em desânimo.
— Poxa, Dy. Não tem nada por aqui por perto — sua doce voz está
grogue, mas felizmente ela ainda está consciente o bastante para continuar
acordada.
— Se estiver muito apertada, sugiro a floresta — Joshua se pronuncia
alto, em seguida leva o cigarro aos lábios e o traga, deixando à vista suas
tatuagens na mão.
— Floresta? — repito desgostosa e sinto um tremor percorrer todo o meu
corpo, não sei se desta vez por frio ou por medo.
Já são um pouco mais de meia noite. Entrar na floresta agora seria um ato
de desespero ou de loucura. Nada e nem ninguém aqui são confiáveis para
que exista alguma liberdade de ir para dentro do mato e voltar intacto. Além
do mais, há tantas possibilidades diferentes de morrer por algum animal lá
dentro que sinto meus ossos doerem apenas de imaginar.
— Foi mal, Dytto. Realmente não há outro lugar aqui por perto — ele
confirma pesaroso e preciso contrair as pernas novamente quanto minha
bexiga implora para ser esvaziada.
Queria poder rebocar Claire dali para me fazer companhia enquanto
procuro por algum lugar, mas não quero ser inconveniente e nem a obrigar a
cambalear pelo mato comigo. Provavelmente seria eu a carregá-la por todo
o caminho de ida e volta. Um trabalho duplo que eu não estou muito afim
de ter.
— Pega, usa a lanterna do meu celular. — Ela oferece quase gritando.
Claire estende o smartphone e rapidamente o tomo de sua mão. Não sei o
que aconteceu com o meu, mas desconfio que Loren tenha o escondido em
seu carro para que eu não tenha que atender as milhares de ligações de
nossos pais a cada cinco minutos para confirmar que ainda estamos vivas.
Amanhã com certeza estaremos de castigo e será — em grande parte —,
culpa da minha irmã. A outra parcela de culpa eu assumo por ter
concordado em vir.
— Está bem! Eu espero não me perder. — Suspiro, extremamente
nervosa.
Os dois riem em uníssono.
— Só não vá para muito longe. — Joshua alerta esfregando os dedos em
seu cabelo desgrenhado.
Assinto.
Saio dali com passos largos. Os pelos dos meus braços e pernas estão
eriçados e meus dedos já estão dormentes de tanto frio. De vez em quando
paro em algum canto para prender o xixi e volto a andar.
Não devia ter bebido tanto energético sem antes não ter usado o banheiro
quando ainda podia. Odeio sentir vontade de fazer necessidades em lugares
que claramente não são adaptados para isso.
Afasto-me um pouco de cada vez da multidão eufórica e barulhenta, com
cuidado para não me esbarrar em ninguém, até finalmente estar de encontro
com o mato aberto, longe da área descampada.
O matagal arranha meus tornozelos descobertos e de vez em quando, um
galho ou outro arruína o meu cabelo, agarrando um punhado de fios. Tento
marchar em passos firmes, mas o solo desnivelado me faz titubear.
Eu deveria mesmo ter vindo mais coberta. Tentar seguir a moda dos
adolescentes nunca dá certo e agora estou congelando.
Repito mentalmente "Eu sou uma cretina" toda as vezes que sinto minha
pele sendo rasgada por mais um graveto e todas as vezes que meus dentes
rangem um no outro.
Paro de andar tão somente quando já não ouço mais sinal de música,
apenas para garantir que nenhum maluco bêbado possa me perturbar aqui.
A floresta é extensa e larga, contudo, cheia de lindas árvores recheadas
de folhas verdes e robustas, já outras, pequenas, magras e mortas com
enormes galhos secos que estralam toda vez que o vento as balança,
tornando o cenário ainda mais pavoroso.
Já estou distante o suficiente, e até mesmo mais do que deveria. Sou
insegura demais para que acabem me vendo nua sem querer, seria muito
constrangedor e altamente perigoso.
Apoio o celular de Claire em um toco qualquer e abaixo as minhas
roupas, me agacho e finalmente consigo soltar o xixi que prendi por horas.
Suspiro fundo e abraço os meus braços gelados, com a falsa esperança de
conseguir aquecer a minha pele. Tento aproveitar a sensação de estar ao ar
livre, e não me sentir desesperada com o fato de estar em um local escuro e
deserto com vários bichos ao meu redor.
A paranoia ainda vai me matar antes mesmo que algo realmente sério
aconteça.
Sempre odiei a ideia de acabar me perdendo no meio do mato e nunca
mais conseguir voltar para a casa. Acho que por estar sempre evitando
festas e pessoas, passei tempo demais vendo documentários de assassinatos.
A ideia de que alguém vai a qualquer momento pular do mato com um
machado na mão me obriga a mijar mais rápido.
Olho para cima a fim de desviar minha atenção e fito a vasta escuridão
do imenso céu, mas um pingo ralo de água atinge o meu ombro, em seguida
mais outro, outro e outro.
Ótimo, lá vem chuva!
Termino de fazer minha necessidade e sacudo os quadris, empenhando-
me em fazer o melhor que posso para me secar sem papel.
A garoa torna a cair cada vez mais rápido, em um aviso furtivo para que
eu me apresse antes de presenciar o temporal que está por vir.
Ouço as folhas de árvores se arrastarem no chão conforme o tempo se
transforma. Um estrondoso ruído estoura provindo de um raio que ilumina
o céu e estremeço.
No entanto, é um barulho incomum que chama ainda mais a minha
atenção. Ouço estalos atrás de mim, como se algo esmagasse os gravetos
avulsos no chão. Viro a cabeça sobre os ombros ao ouvir o som pesado se
aproximar por trás de mim.
Ainda agachada no chão, meu corpo é tomado pelo pânico ao ver um
homem com estatura alta e forte aproximar-se de onde estou. Minhas pernas
ficam mole e meu coração dispara feito louco.
A escuridão da noite cobre a maior parte do seu rosto e do seu gigante
corpo, tornando o momento em algo extremamente aterrorizante.
No mesmo instante, outro trovão estronda no céu, coincidindo com a
tensão que acaba de se formar.
— Ai caramba! — berro nervosa e desato a levantar rapidamente.
Puxo a minha saia de uma só vez e faço o mesmo com a minha calcinha,
tentando me cobrir fazendo o que melhor que posso — mesmo que o tecido
tenha ficado completamente embolado no meu corpo. De qualquer modo, o
sujeito continua atrás de mim estagnado, aparentemente tão surpreso quanto
eu.
Arregalo os olhos quando ouço-o rir e giro os calcanhares para ele.
— Mas que porra! — sua voz grossa e rouca sussurra divertida, quase
como se estivesse falando sozinho.
Sinto meu torso trepidar e minhas bochechas queimarem de vergonha.
Tentar correr agora pode ser tão inútil quanto ficar e tentar lutar caso o
gigante decida fazer algo comigo.
— Q-quem é você? — minha voz vacila.
Percebo quando ele troca o peso do corpo de uma perna para a outra,
muito à vontade com tudo isso.
Poderia estar apenas alucinando, mas seria capaz de jurar — mesmo na
escuridão em que seu corpo se esconde — que o seu rosto está coberto por
linhas que mais parecem raízes escuras entorno de seus olhos. No entanto,
com certeza não seria tão bizarro se estivesse, os garotos da minha cidade
possuem um costume estranho e gótico de se pintarem para irem à florestas
ou cemitérios.
— Depende. — brinca, todavia, a sua entonação soa tão gélida e rouca
que é quase possível perfurar a minha pele.
Ergo as sobrancelhas, já entrando em total desespero e recuo um passo.
— Depende? — arregalo os olhos.
Ele ri e logo abaixa a cabeça, deixando que um longo suspiro escape de
seus lábios, como se estivesse em uma luta interna consigo próprio. Mas
aos poucos, parece retornar a si.
O chuvisco cai continuamente, molhando de pouco em pouco o meu
corpo inteiro. Meus dentes já não param mais de bater um no outro.
Eu preciso sair o mais rápido possível dessa situação. E de preferência,
viva.
Em um rápido movimento me abaixo, eu pego o celular de Claire e
aponto para o flash para o desconhecido. Ele logo abaixa as pálpebras ao
ser atingido pela luz diretamente em seus olhos e cobre o rosto com os
braços.
— Tira esse negócio da minha cara sua doida. — O homem gargalha ao
dizer, sua voz está menos densa e assustadora, porém agora parece meio
arrastada.
Franzo a testa.
— Está drogado? — investigo ao constatar a embriaguez em seu timbre.
Baixo o celular bem devagar e ele faz o mesmo com os braços. Viro
discretamente meu rosto sobre os ombros e percorro os olhos para o
caminho de onde eu vim, procurando de repente por uma salvação e
torcendo muito para que algum maluco tenha realmente vindo atrás de mim.
— Vem cá, que merda você está fazendo no escuro garota?
— Não é da sua conta. — Rebato, mais rígida do que queria e me
arrependo no segundo seguinte, com medo do que ele possa fazer.
Arregalo tanto os meus olhos que temo que meus globos oculares possam
cair do meu rosto. Entretanto, ele ri, contrariando toda a situação.
— Calma, sua maluca.
Aperto os dentes, irritada.
— Se vai mijar, poderia ter feito em algum lugar mais escondido, sabe?
— se diverte, a voz cheia de gracinha.
— Foi você quem apareceu aqui para me interromper, poderia só ter
desviado e ido embora. — Rebato, furiosa.
— Eu vi você balançando a sua bunda, achei que precisasse de ajuda. —
Responde risonho.
Dou outro passo para trás, olhando indignada para a sua silhueta.
O garoto torna a rir sem controle algum e ergue as mãos.
— Qual é! Eu não fiz nada. — Se defende, cínico.
— Olha só, eu não te conheço e tem muita gente na festa comigo. Se por
algum acaso eu não voltar agora mesmo, vai ser muito ruim para você. — é
agora ou nunca.
Mesmo com o seu corpo debaixo das sombras, consigo vê-lo balançar os
ombros.
— E-eu vou gritar hein! — ameaço, sentindo meu estômago se revirar de
medo.
Ele solta um riso despreocupado.
— Grita.
— Tô falando sério!
— Ué, então grita.
Tombo o rosto para o lado.
— Não estou brincando, garoto!
Ele suspira.
— Tá, tá bom. Chega disso. — Ele suspira e me ignorando
completamente, o desconhecido passa por mim, dando passos largos e
descontraídos, como se só passeasse pela floresta, alheio.
Ele não ia mesmo fazer nada?
Viro-me para ele.
— Quem é você? — questiono.
O garoto se vira para mim e aponto a lanterna do celular para ele, dessa
vez, não diretamente para o seu rosto, o que me dá a possibilidade de vê-lo
com uma melhor clareza.
Os seus olhos são de um verde tão claro que se parecem mais como
lentes de contato. O rosto marcado e os olhos levemente puxados. Os seus
lábios são cheios e bem desenhados. Abaixo do seu rosto encontro várias
tatuagens em seu pescoço, e em seu corpo, vejo que está vestido em uma
camiseta branca, um enorme casaco preto com capuz e uma calça jeans
escura. As mãos estão postas nos bolsos, como um homem de negócios.
Ele não parece ser tão velho quanto imaginei que seria, porém, suas
expressões são intensas que o fazem parecer sisudo e arrogante. Seu olhar
pesa sobre o meu e sinto-me intimidada com a violência seriedade em que
ele me encara. Tento desviar o olhar quando noto que estou o observando
demais, mas não consigo, me sinto presa em uma hipnótica visão de seu
rosto absurdamente lindo.
— Christopher — finalmente responde — e você é...
— Dytto — sussurro nervosa — Dytto Bell.
— Ok. Foi um prazer conhecê-la Dingo Bell, agora tenho que ir. —
Diferentemente de sua aparência fria, ele está de bom-humor.
Mas não deixo de franzir a testa.
— É Dytto, e não Dingo. D-Y-T-T-O.
— Legal, Dingo Bell.
Sem mais delongas, ele volta a caminhar.
O que esse menino é? Um sem teto? E por que diabos ele está andando
há uma hora dessas por aqui se não era para ir à festa?
No momento em que seu corpo some completamente de vista, a chuva
cai abruptamente e me vejo correndo feito doida para voltar para onde eu
estava.

Estarei repostando os capítulos à medida em que eu for os reescrevendo.


Espero que tenham gostado. Paciência e até logo.
Capítulo 2| A grande Festa

Novamente peço que NÃO deem spoilers e NÃO comparem a antiga


versão com essa, apesar das sutis mudanças, sempre tem um bocó ou outro
que não lê o aviso e comenta besteirinhas que desanimam.
ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO

4 dias depois...
— Chegamos — aviso à Loren — que ocupa sua atenção dirigindo o
carro — e ergo os olhos do GPS para o nosso destino final; a antiga mansão
de madeira, onde ocorre a maior festança.
Minha irmã já havia desacelerado a sua SUV antes mesmo que eu tivesse
terminado de falar e procurou estacionar em uma das poucas vagas livres na
entrada.
Mesmo que ela conheça todo o trajeto e tenha feito questão de me
lembrar disso, resolvi usar a ajuda da tecnologia para garantir que não nos
perderíamos. Loren me acha o cúmulo do exagero, mas eu me considero
responsável. É por isso que somos o completo oposto uma da outra,
entretanto, continuo amando essa monga do mesmo jeito, apesar de ela não
ter tantos neurônios funcionando.
Sentado no banco do carona, percebi que a casa está em um dos lugares
mais solitários da floresta de Vespeau, e pelo o que eu soube, próxima de
um lindo lago de água cristalina. Sem nenhum dono para vistoriar o local, a
mansão se torna a oportunidade perfeita para festas clandestinas feitas por
adolescentes. Eu nunca havia vindo aqui antes, no entanto, depois de tanto
Loren insistir, acabei me rendendo.
A festa está abarrotada de pessoas transitando de lá para cá. E uma
estrondosa música vem de lá de dentro. Há pelo menos três casais se
beijando, ou quase transando, em um canto mais afastado. .
Meu rosto automaticamente se contrai ao notar alguns adolescentes fora
de si jogados no gramado perante a casa.
Tudo aqui indica perigo de uma casa desmoronando, mas acho que
ninguém parece realmente ligar para isso. As paredes parecem mal se
aguentarem no lugar, e onde deveriam ser janelas, agora são apenas espaços
vazios. A madeira aparenta estar deteriorada e a varanda está com as
escadas quebradas.
Me retraio no banco com todo o cenário posto à minha frente e enrugo o
nariz em uma careta.
— Tô falando sério, Loren, acho melhor você encontrar novos amigos,
esses parecem querer nos matar nos chamando para essas festas.
Ela sorri com o seu jeito provocador e joga a cabeça para o lado,
deixando que os seus cabelos castanhos — um pouco mais claro que os
meus — caiam sobre o seu ombro.
— Eles não são tão perturbados quando estão sóbrios. — Os defende,
sorrindo.
Ergo a sobrancelha, contrariada.
— Marcos tentou afogar você quando te conheceu. E ele estava sóbrio.
— Enfatizo a última parte.
— É o jeitinho dele — ela dá de ombros.
— Você definitivamente precisa de novos amigos.
— Dy, fica tranquila. Se alguma coisa te acontecer por causa de algum
deles, eles não vão nem chegar a ver o próximo amanhecer. — Comenta
tranquilamente.
— Eu estou mais preocupada com a saúde mental deles do que comigo.
Ela desliza a língua pelos lábios, tentando engolir um sorriso.
— Vamos — Loren sai do carro e me junto logo em seguida.
A brisa gelada do anoitecer nos atinge no mesmo instante e
automaticamente me encolho em meu casaco. Por sorte, decidi vir com
mais roupas do que em nossa última festa, na noite da fogueira.
Caminhamos de braços dados rumo à baderna; de vez em quando,
desviando de um maluco ou outro. Eles estão mortos de bêbados e
cambaleando sobre os próprios pés.
Loren não queria vir tão cedo à festa, mas a convenci de que o quanto
antes voltássemos para casa, menor seria a punição imposta pelos nossos
pais desta vez. Na última, fomos obrigadas a confessar nossos pecados ao
padre e rezarmos umas dez ave-marias.
Que Deus me perdoe, mas meus pecados estão acabando com os meus
joelhos.
Assim que entramos, minha irmã cumprimentou a todos por onde
passávamos, eu apenas repeti o gesto, mas, por alguma razão, era sempre
ignorada. Uma das razões pelas quais eu sempre fico acobertada por Loren,
é que sou sempre invisível, quase ninguém me enxerga, e quando me veem,
eu me escondo. Do contrário, Lô parece totalmente à vontade com a
atenção que recebe.
Ao passarmos pela maior parte dos festeiros, chegamos no centro da
casa, que em outrora deveria ter sido uma sala elegante e rústica, no
entanto, agora é só mais um amontoado de poeira e movéis quebrados.
Vistoriando tudo em volta encontramos: Marcos, Claire e Joshua,
sentados no velho sofá amarelo cheio de rasgos com outros adolescentes.
Estão todos obviamente bêbados, animados e postos em um círculo no
cômodo.
Há uma garrafa no meio da roda de pessoas, em cima de uma mesa de
centro de madeira. Alguém fica encarregado de rodá-la enquanto os outros
ficam na expectativa de onde ela vai parar. Um tipo de jogo que mais
recorda "verdade ou desafio", porém não parece ser essa a brincadeira.
Me sento no braço quebrado do sofá e Loren se acomoda na parte
estofada, ao meu lado.
— Qual é a dessa brincadeira? — Pergunto baixinho, para que apenas ela
me escute.
Loren se inclina um pouco em minha direção.
— É beijo ou consequência. Ou você beija alguém, ou tem que cumprir
um desafio.
— E é a pessoa que escolhe quem vai beijar? — investigo, os olhos
vidrados na brincadeira.
— Não, quem escolhe é a garrafa. É a mesma coisa de verdade ou
desafio, mas sem a verdade.
A agitação aumenta assim que a garrafa para no lugar, o gargalo
indicando um garoto com camiseta azul de Star Wars e a outra ponta para
uma garota morena com peitões.
O escolhido de óculos fundo de garrafa ligeiramente enrubesce e curva
um sorriso tímido em seu rosto. A garota troca um sorriso malicioso antes
de tomar a atitude de se levantar primeiro.
Os burburinhos de comemoração aumentam à medida em que ela
caminha confiantemente em direção ao menino; que mais parece querer se
mijar de nervosismo.
— Mmm... E se a pessoa não quiser ser beijada? — Indago, incomodada
com a ideia de assistir alguém ser obrigado a beijar.
— Bom, então ele ou ela vai ter que cumprir um desafio, mas não acho
que seja necessário. Todo mundo sempre beija.
— Menos o Chris — o cara do sofá ao lado que, discretamente ouvia
nossa conversa, comenta de repente.
— É. Menos o Chris — Loren confirma baixo, parecendo estar chateada
com algo.
— Chris? — pergunto intrigada.
— É só um garoto que não gosta de beijar qualquer garota, ele meio
que... tem preferência — minha irmã explica, mas em seguida dá de
ombros.
— Digamos que ele é extremamente arrogante. Chris não vai com a cara
de absolutamente ninguém, se o vê hoje por aqui, recomendo que saia de
perto. — ele fala, em seguida estende a sua mão — Eu sou o Benjamin, mas
me chamam de Ben.
— Sou Dytto, Dytto Bell. Mas me chamam de Dy ou de Bell — o
cumprimento.
Ele abre um lindo sorriso que ilumina todo o seu rosto meigo e
misterioso. O garoto possui cabelos encaracolados e veste roupas escuras e
largas. Não sei em que momento ele se sentou do nosso lado, mas pelo
visto, consegue tanto reservado quanto extrovertido.
— Vou chamar de Dy então.
Sorrio, tímida e volto a assistir o casal escolhido agarrados aos beijos,
com a plateia de amigos eufóricos ao redor.
— Chris é um cuzão — minha irmã solta subitamente, os olhos fixos à
sua frente e os cotovelos apoiados nas pernas.
Franzo o cenho, e Ben assim como eu, olhamos para ela curiosos.
— Do que estão falando? — Claire se aproxima, balançando os cabelos
ruivos quando desiste de observar a brincadeira.
— Do Chris — respondo.
Ela ergue as duas sobrancelhas.
— Ah, então já o conhece? — murmura.
— Não, mas acho que já não gosto dele. — aponto o queixo
discretamente para a minha irmã, indicando a razão para não confiar nele.
Ela ri baixo e se senta ao lado de Ben.
— Bom, ele é um idiota, mas a galera até que gosta dele.
Ergo uma sobrancelha.
— Então é para gostar dele ou não? — indago, confusa.
— Apenas não goste dele, Dytto — Loren se pronuncia.
— Ok... — pronuncio bem lentamente, desconfiada.
— Ele não é tão ruim, Lô — Claire o defende.
— Não é tão ruim? — retruca, indignada — Aquele cara é um sacana que
faz da vida de todo mundo um inferno.
— Você só está dizendo isso porque ele não quis te beijar — Claire
rebate.
Péssimo erro!
Agora minha irmã está a olhando como se quisesse arrancar o pescoço da
melhor amiga.
— Oh-oh! — murmuro.
— Nunca mais, na sua vida, defenda aquele canalha filho de uma mãe. E
não, não foi porque ele não estava afim de mim. Ele é um babaca e ponto
final.
Ben e eu rimos, mas prendemos o riso assim que ela nos encara
sanguinária.
— Eu só quis dizer que ele não é tão ruim. Ele é um ser humano
complicado, isso é óbvio, mas sempre defende a galera. E se não fosse por
ele nós já teríamos sido presas, lembra?
Loren solta um suspiro irritado e se levanta, acabando bruscamente com
a conversa.
— Eu vou pegar bebidas — pronuncia desgostosa.
Olho confusa de uma para a outra, esperando por mais detalhes,
entretanto, as duas continuam em um silêncio mortal, mas isso se encerra
assim que Loren se afasta de nós.
— Merda! — Claire suspira — Não deveria ter dito nada, isso ainda
incomoda ela.
— Por que? — questiono rapidamente.
— Ela o queria. Ele não a queria. — Esclarece.
Loren nunca me contou nada disso. E ela normalmente me conta tudo de
seus relacionamentos. É bem esquisito o fato dela nunca ter mencionado
esse garoto para mim antes. O que significa que ele foi uma decepção tão
grande que nem ela própria teve coragem de me contar. Mas isso é papo
para depois.
— Vem cá, que história é essa de prisão? — troco de assunto, antes que
eu esqueça de mencionar esse grande detalhe.
Ela bufa, não muito orgulhosa das lembranças desse dia.
— Organizamos uma festa na floresta nas férias passadas e uma menina
menor de idade teve uma overdose, a ambulância e a polícia chegaram, mas
Chris deu um jeito para que não precisássemos ir para a delegacia, ele tem
conhecidos importantes por lá e livrou a barra pra gente. Foi horrível, mas
ela ficou bem.
Isso é bem a cara dos amigos de Loren mesmo.
— Olha, eu acho que eu estava lá — Ben comenta.
— E onde eu estava? — falo, desconfiada.
— Provavelmente estudando. — Claire responde sorrindo, já que eu furar
as saideiras é algo bem costumeiro.
Reviro os olhos.
— Eu e essa minha mania de querer um futuro.
Os dois riem, mas Claire para repentinamente e arregala os olhos.
— Ai, merda!
— O que é? — sondo ao vê-la entrar em alerta.
— Chris está aqui. A Loren vai surtar. — Sussurra.
— Onde? — estico o pescoço.
— Ali — aponta com a cabeça e sigo com o olhar.
O garoto completamente tatuado e absurdo de tão alto se aproxima do
amontoado de gente que parece o esperar para cumprimentá-lo. Ele está
totalmente à vontade, como se soubesse que será bem recepcionado por
onde quer que ele passe. Os olhos verdes olham para os seus amigos com
perversidade, sua boca está curvada para o canto e a sua expressão está
cheia de superioridade de tanta arrogância que ele exala.
Eu teria realmente ficado encantada com a sua beleza e enojada com o
seu comportamento se o garoto já não me fosse familiar.
Merda!
— Espera aí! Ele é o Chris? — me apavoro.
— O próprio. — A ruiva responde tranquilamente, não notando a
urgência em minha voz.
— Christopher é o Chris. — Cochicho sozinha.
O garoto que viu a minha bunda no meio da floresta é o Chris? "Chris, o
babaca"?
— Oh merda!
Tapo o meu rosto com as minhas mãos, ardendo de vergonha, e me jogo
onde Loren estava sentada há poucos minutos atrás, escorregando a bunda
no estofado até estar quase deitada.
— Já o conhece? — Ben pergunta, confuso.
— Meio que sim, e não foi em uma situação muito boa — resmungo
baixo.
Eu sinceramente esperava não o ver nunca mais em toda a minha vida.
Mas cá estamos nós. Os dois na mesma festa.
Me contorço de ansiedade e solto um suspiro irritado. Curiosa para saber
o que está acontecendo, dou uma breve espiada por entre os dedos, e, por
azar, o encontro caminhando na direção do nosso círculo, onde os outros
ainda brincam de "Beijo ou consequência". Porém, seus olhos não me
notaram, ainda...

Capítulo 3| O canalha

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



À medida que a noite ia vagarosamente se desdobrando, sentia uma
necessidade absurda de me encolher ou ser abduzida pelo sofá, apenas para
não ser notada por Christopher — que se mantinha sentado
confortavelmente no círculo de jogos desde que notou que os demais
estavam brincando, há pelo vinte minutos atrás.
A todo instante me mantive no mesmo lugar; enrolada em meu casaco e
escondendo o meu rosto, como se eu fosse uma celebridade fugindo de
paparazzis. Sempre que ele fazia menção em olhar para o rumo em que eu
estava, eu abaixava a cabeça ou a virava. A essa altura, tinha medo de
respirar alto demais e acabar chamando a sua atenção.
Não fazia ideia de como seria quando ele me olhasse de novo depois de
toda aquela embaraçosa situação que passamos na floresta.
Tudo isso é uma grande merda! Por que diabos ele tinha que aparecer
nessa festa? Ele nunca antes havia aparecido em qualquer outra em que eu
estivesse, e isso acontece justo dias depois de tê-lo conhecido. É uma baita
coincidência horrorosa ou uma punição?
Ele está completamente esparramado em seu assento, com os cotovelos
apoiados nas laterais da sua poltrona e as pernas compridas esticadas,
ocupando grande parte do espaço à sua frente, como se estivesse apenas
curtindo um domingo em sua sala de estar.
Esse garoto é um absurdo de tão alto, deve ter cerca de uns 2 metros de
altura, ou sei lá.
Ele ria condescendente toda vez que alguma menina se animava com a
possibilidade da garrafa parar apontando para os dois, mas a oportunidade
não veio a calhar. Era inevitável a decepção no rosto delas.
Tudo bem que ele é um cara atraente, mas não dava para essas garotas
serem menos óbvias? Estava tão claro que isso só enchia o ego desse
infame narcisista.
Sentado e distraído, pude perceber que ele não era só alto pra caramba,
como também passava uma vibe caótica em meio ao fato de ter várias
tatuagens espalhadas por todo o seu corpo. Algumas no pescoço, outras nas
mãos e nos braços, que, por sinal, eram cheias de veias salientadas. Eu não
sabia se haviam mais por debaixo de sua larga camiseta preta, mas quase
podia ter certeza que sim.
Eu queria não tê-lo secado tanto com os olhos, porém, era algo quase
impossível. Toda vez que ele passava a língua sobre os labios, ele o fazia
bem devagarinho, e sempre curvava um breve sorriso cínico ao terminar; de
modo que tivesse a certeza que estava sendo observado por alguém que
claramente se sentia atingido ao ver aquilo.
Christopher encarava as pessoas como se fossem livros abertos, de
maneira que ele conhecesse cada um e suas histórias. Ninguém em questão
parecia ser do interesse dele, ou talvez, eu estivesse tão imersa observando-
o que passei a imaginar uma certa apatia de sua parte.
As pessoas na festa ainda não haviam parado de dançar. Até o volume do
som fora aumentado quando a maioria já estava tão bêbada e chapada ao
som da banda Midnight que pulavam feito malucos.
Ouvi falar que as festas em que minha irmã ia, eram sempre pesadas e
com muitas pessoas que — assustadoramemente — não tinham limites e
nunca diziam não para o que quer que lhes fosse oferecido, e, por isso,
sempre que chegavam ao fim da festa, estava a maioria alucinando pelo
efeito ou de: MD, maconha, LSD, cocaína, ou qualquer droga distruibuida e
produzida por algum estudante louco de farmacologia.
Eu sempre me abismei com a forma em que eles se divertiam, por isso
evitava me manter no meio disso.
Claire e Joshua eram os únicos amigos de Loren que, em grande parte
das vezes, tinham mais responsabilidade. Em todas essas festas, sempre
havia um grupinho mais quieto, que preferia ficar retido da bagunça, e era
desses que eu ficava perto; bem como agora.
Minha irmã se acomodou um pouco mais afastada de mim, em um
banquinho, estava bebendo e evitava olhar diretamente para Christopher. Eu
sabia que ela estava desconfortável, mas ela não iria admitir isso, tampouco
tocar no assunto novamente.
Os outros permaneciam brincando, ainda na mesma empolgação de
quando começaram, mas, de repente, se fez um silêncio brutal na sala
quando tudo foi tomado por um grande suspense nos últimos giros da
garrafa, antes dela parar.
— Oh merda! — A voz de Marcos se sobressaltou animada quando
Christopher finalmente foi escolhido.
Junto dele, o objeto de vidro também apontava para uma garota de pele
negra e belíssimos olhos safiras, sentada em uma cadeira próximo do
círculo.
Estavam todos estáticos e surpresos.
Enquanto isso, Chris deslizava os olhos com malícia sobre o corpo cheio
de curvas da menina. De fato, ele não parecia querer ninguém na festa, mas
ela parecia tê-lo interessado. Já a morena o olhava boquiaberta, parecia
ainda não acreditar que iria beijar o tão "desejado Christopher".
Argh!
O grandalhão cheio de tatuagens a chamou com a mão sem qualquer
cerimônia. Desajeitada e com um sorriso tímido, ela se levantou e foi até
ele. Chris a pegou pela cintura e a fez sentar em seu colo de frente para si,
ele sussurrou algo em seu ouvido e então, a puxou pelo rosto, encaixando os
lábios dos dois um ao outro.
Eu prometi a mim que só olharia o suficiente, mas falhei.
Eu assisti ele agarrar os quadris dela e puxar com força para ele enquanto
enfiava os dedos no cabelo cacheado da garota para pressionar os lábios
dela ainda mais nos deles. Também vi quando ele escorregou uma de suas
mãos tatuadas para debaixo do vestido dela, mas parou na bunda e a apertou
com ferocidade. Notei o empenho que ele mantinha em manter um ritmo
selvagem de sua língua dentro da boca dela, como se quisesse dominá-la
por inteiro.
Aquilo definitivamente havia passado de apenas um beijo de brincadeira
e havia se tornado uma cena de pré-sexo. Eu tenho certeza.
Evitei manter os olhos na cena posta diante de mim quando comecei a me
sentir nauseada, logo virei o rosto, poupando-me do resto. Voltei a olhar
apenas quando ouvi Ben ao meu lado murmurando enojado: "Finalmente
acabou".
A garota estava sem fôlego e ainda o segurava pelo pescoço; parecia
ofegante e atônita. Acho que beijá-lo deve ter sido um sonho realizado, ou
então, tão bom que a deixou bêbada.
— Terminamos por aqui. — Chris a informa, novamente entediado.
Ela ficou em choque, parecia esperar por mais, até que se tocou que o
cara à sua frente não tinha planos de pegar o seu número, chamá-la para sair
ou continuar a beijando. Foi então que ela se levantou e voltou para onde
estava, com o rosto visivelmente constrangido.
Para ele, ela era só mais um desafio. Nada mais. E isso foi um terrível
balde de água gelada para a pobre e iludida garota.
— Dytto, você está brincando? — a voz de Marcos instantaneamente me
fez entrar em pânico.
Em pé, diante do círculo, como se administrasse o jogo, ele me olhava
sereno, enquanto eu surtava internamente ao constatar que havia perdido
minha camuflagem.
Meu rosto inteiro arde de vergonha e arregalo os olhos ao ganhar a
atenção de todos ali, até mesmo a de Christopher; que deixa um sorriso
irônico despontar em seus lábios. Seus olhos verdes deslizam de cima a
baixo sobre o meu corpo, sem o menor pudor.
Meu estômago se revira e preciso lembrar-me de respirar.
Apenas por tê-lo me encarando, sinto como se uma avalanche recaísse
sobre mim de maneira abrupta e eu não soubesse o que fazer ou como
escapar.
Cruzo os dedos uns nos outros e olho para Marcos, que, por sua vez,
ainda espera uma resposta.
— Definitivamente, não. Para todos os efeitos, me vejam apenas como
um abajur de decoração e esqueçam que eu estou aqui — disparo trêmula e
todos riem, menos eu.
Marcos cruza os braços e me lança um olhar com descrença.
— Não vai mesmo brincar? — insiste.
Balanço a cabeça.
— Fora de cogitação.
— Dytto não curte essas brincadeiras — Loren reforça, com o seu modo
irmã protetora ativado, em seguida toma mais um gole de sua cerveja.
Ele parece contrariado, mas acaba assentindo. Sabe que rebater a minha
irmã é o mesmo que pedir por uma guerra.
— Ok. E você, Ben? — Marcos aponta, tirando o foco de mim, e
mentalmente o agradeço. Os olhares se vão para o garoto ao meu lado, ou,
pelo menos, quase todos.
Sinto minha pele sendo fuzilada pelo olhar maciço de Christopher, ainda
em mim.
Meu coração está disparado no peito e minhas mãos soam frias. Por
alguma razão ele continua me encarando. E, por soslaio, percebo seu olhar
vagando por cada mísero pedaço do meu rosto, como se não pudesse se
conter.
— Vou, eu não tenho nada melhor para fazer mesmo — Ben suspira.
— Ok, então... beijo ou consequência? — Marcos incita sorrindo.
— Espera! Você não vai girar a garrafa? — intervém, confuso.
Os dois trocam olhares. Marcos mantém um sorriso perverso no rosto,
como se planejasse algo, até que o responde:
— Que se dane a garrafa.
Ben revira os olhos.
— Beleza! Beijo, então. — dá de ombros.
— Te desafio a beijar o Christopher — ele o provoca, aos risos.
— Ah, vá se foder! Se era o seu plano desde o início me fazer escolher
consequência, era só ter dito. — Ben zomba.
Todos da roda caem na gargalhada, até mesmo Chris. O que
verdadeiramente me admira, o fato dele não querer rebater que um menino
foi desafiado a beijá-lo é bem legal.
Sem masculinidade frágil então. Ótimo!
— Tudo bem, consequência, então. — se rende.
— Responda, quem daqui dessa festa você gostaria de dar uns pegas?
Todos ficam apreensivos e curiosos. Até mesmo Loren se ajeita em seu
banco. Exceto o som da música e das pessoas à nossa volta, ninguém mais
ousou fazer barulho.
Sorrio disso. Tão curiosos.
— Não vou mentir, eu ficaria com a Dytto. — revela, curvando um breve
sorriso tímido.
Ele lentamente vira o seu rosto para mim, apreensivo. E outra vez na
mesma noite, arregalo os olhos e sinto minhas bochechas corarem.
Olho em volta, ainda abismada. Encontro Marcos com uma expressão
irritada e os punhos cerrados. Próximo dele, vejo Christopher, não muito
diferente; o olhar sério e os lábios frizados. E há uma curta distância, a
minha irmã... Visivelmente intrigada.
Ao que parece, a qualquer momento Ben vai ser estrangulado pelos dois
garotos.
Ainda não sei o que há de tão errado dele ter dito isso, mas parece que de
alguma forma conseguiu incomodá-los.
— Bom, não é como se eu fosse obrigar a Dytto a me beijar —
prossegue, em seguida baixa a voz, em tom sugestivo agora: —, mas se ela
quiser....
— Caramba, Dytto. — Joshua, ao lado de Claire, brinca, todo orgulhoso.
É claro que isso iria deixar os amigos de Loren chocados. Ninguém
nunca menciona o meu nome em brincadeiras assim.
— E-eu acho melhor eu ir ao banheiro. — Gaguejo.
Tento não fazer cara de desespero. Já é constrangedor demais ter que
passar por isso.
— Ok, vamos parar a brincadeira por aqui — Marcos determina, com um
fundo de raiva.
— Eu não vou forçar um beijo, só quero que ela saiba que eu tô aqui para
caso ela tenha interesse — Ben se defende.
— Não acho que a Dingo Bells tenha tão mal gosto assim para ficar com
você — Christopher se pronuncia, a voz rouca e grave.
— Que apelido é esse? — Loren se alerta.
Ah meu Deus!
Levanto-me de supetão e ergo a mão.
— Marcos tem razão! Já chega dessa brincadeira. — intervenho, nervosa.
Achei que finalmente íamos acabar com isso, contudo, Benjamin decidiu
que era um bom momento para debater com Christopher.
— E quem ela devia beijar? Você? — provoca ironico.
Chris se levanta com determinação e todos em volta olham para o
enorme garoto.
— O que ele vai fazer? — ouço Claire murmurar.
Ele caminha confiante até a mim, sem nunca parar de me olhar. Tão
depressa o seu cheiro me inunda; uma mistura de álcool e perfume
masculino. Meu corpo estremece à medida em que ele fica mais próximo e
me arrepio quando ele toca o meu rosto, deslizando o seu dedo suavemente
sobre a minha bochecha.
Aquelas duas esmeraldas me fitam sérias. Ele se encurva até estar com o
rosto próximo do meu ouvido.
Apesar de eu ter 1,70 de altura, isso não nos deixa em posições mais
favoráveis, ainda assim, alcanço apenas o seu ombro.
— Vê-lo fazer cara de idiota, será quase tão mais satisfatório do que ter
visto a sua bunda, Dingo Bells.
Engulo em seco.
— Não ouse me beijar ou eu arranco as suas bolas — ameaço.
Ele ri baixinho, achando aquilo puramente engraçado. Christopher se
afasta apenas o suficiente para ficarmos cara a cara.
–- Não se preocupe, no final dessa nossa brincadeira, vai estar
implorando para que eu a beije — Cochicha apenas para mim e se retém
por um momento, antes de prosseguir: — e não será nos seus lábios que irá
me pedir para eu colocar a minha boca.
Seu rosto está tomado por malícia, enquanto que o meu está
completamente cheio de vergonha.
Christopher dá a volta e para logo atrás do meu corpo. Meu corpo se
arrepia quando sou surpreendida por ele colocando o meu cabelo para trás,
e treme mais ainda quando sinto seus lábios sugando o meu pescoço.
Ben fica vermelho e vira a cara, ouço Christopher rir baixinho, satisfeito
com o que causou.
— Olhe para cá e aprenda a como deixar uma mulher molhada, Ben, e só
depois, a chame para um beijo.
Oh, não! Ele não disse isso.
Automaticamente meu cenho se crispou em raiva e me virei de uma só
vez para ele. Antes mesmo que meu cérebro tenha se conectado com o
resto, minha mão já estava quente com o impacto dela em seu rosto.
O suspiro dos que nos assistiam foi em um tipo de coral esquisito de se
ouvir.
Quando me dei conta do que eu havia feito, já estava arrependida e com
as duas mãos cobrindo a boca.
— Ai não... — arfo.
— Seu babaca! — Loren berrou — Vem, Dy. — de alguma forma ela já
estava ao meu lado segurando o meu braço, pronta para me tirar dali.
Christopher me encarava intrigado, enquanto a marca da minha mão em
seu rosto ganhava aos poucos uma coloração mais avermelhada. Ele não
parecia irritado com aquilo, apenas sorriu maligno, em um tipo de recado
que dizia que isso não acabaria ali.


Me desculpem pela demora, irei cuidar para que os outros não demorem
tanto. Reescrever é mais complicado que escrever k
Os capítulos até então, não tiveram grandes mudanças, em maioria, o que
mudou foram alguns acréscimos de detalhes e mudanças na escrita, apenas
nesse que o final foi diferente da antiga versão
Capítulo 4| Fique longe

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



Loren estava sentada na mureta do lado de fora da casa, com as duas
pernas cruzadas e o seu pé balançando enquanto me encarava firme, com os
seus olhos de águias presos aos meus.
Eu ainda estava muito constrangida e plenamente arrependida do que eu
havia feito.
Eu não sou assim, não saio batendo em caras desconhecidos por aí.
Estava tão surpresa quanto qualquer um pela minha brusca atitude.
Eu sabia que ela estava esperando que eu lhe contasse o motivo de
Christopher ter agido tão intimamente comigo há pouquíssimos minutos
atrás. No entanto, o que eu poderia dizer?
"Ele está louco assim porque já me viu seminua"?; "Nos conhecemos
enquanto eu fazia xixi"?; "Ele me encontrou sozinha, no meio da escuridão
da floresta"?
Qual dessas opções era menos perigosa e constrangedora? NENHUMA.
— Então... — ela se pronunciou lentamente, com a sua sobrancelha
erguida num ar de investigação — "Dingo Bells"?
— Esquisito, não? — tento disfarçar, mas minha voz soa tão trêmula que
mais parece um remix.
— Muito... — ela semicerrou os olhos. — Conhece esse garoto de onde?
Tento aparentar serenidade, contudo, meu corpo se mantém oposto à
minha ideia e inconscientemente acabo torcendo mechas do meu cabelo nos
dedos sem parar.
Sei que ela só está preocupada, porém também sei que às vezes quer agir
como se devesse me proteger de tudo, algo que não deveria ser a sua
responsabilidade.
— Não o conheço. Só nos vimos uma vez.
— Onde? — instiga.
Solto um longo suspiro.
— Na nossa reunião na floresta, há 4 dias atrás. Você tinha ido beijar o
Kaio e eu precisava mijar. Meio que encontrei ele na floresta, ou bem, ele
me encontrou.
Loren arregala os olhos.
— Você se encontrou com um estranho na floresta e não me disse nada,
Dy?
— Se eu te contasse, você iria surtar. — sussurro, agora tomada pela
culpa de não tê-la sequer a avisado disso.
— É, Dytto, porque eu sou sua irmã. Não pode simplesmente me
esconder essas coisas assim.
Ela solta o ar pelo nariz, se levanta e abre os braços para mim, puxando-
me para um abraço.
— Não minta para mim e nem me esconda essas coisas, você não sabe o
quanto eu me preocupo com a minha caçulinha.
Rio do seu ato fraternal exagerado.
— Você é apenas um ano mais velha que eu. — Acuso sorrindo.
Ela estapeia a minha cabeça.
— Eu sei, miolo de cérebro, mas eu me preocupo. Você é muito inocente,
poderia facilmente ser raptada.
— Não sou criança.
— Nem muito esperta. — ela acrescenta, em tom de brincadeira.
Me afasto para olhá-la nos olhos.
— Sim, senhora. — ironizo, com uma teatral revirada de olhos.
— E fique longe daquela peste alta e tatuada, ele faz coisas horrendas
naquela floresta.
— Que tipo de coisas? — Me interesso.
— Rituais satânicos, sacrifícios ou sei lá. Algo assim... — ela passa a
mão sobre os cabelos e evita me olhar.
Bem típico de quando está me escondendo algo.
— Já viu ele? O cara é cheio de tatuagem estranha. — cochicha,
encarando os seus coturnos.
— Loren, não vamos julgá-lo por ter tatuagem.
— Eu não me refiro às tatuagens em si, mas aos desenhos que elas têm.
Ele tem um bode satânico no braço e a porra do 666 no corpo.
— E onde está o "666"? — aperto os olhos, desconfiada.
— Na lateral da barriga.
— Lô — disparo abismada — Você já o viu pelado! — quase grito.
— O QUÊ? — ela solta um berro fino e desesperado que chama a
atenção dos que estão à nossa volta, ao mesmo tempo em que recua um
passo.
— Ai meu Deus! Você já dormiu com ele — concluo pasma, deslizando
as duas mãos pelo rosto.
— Não! De jeito nenhum! Eu o vi sem camiseta uma vez em uma festa,
Dy. Ficou doida, aquele garoto é um pé no saco. — protesta.
— Não mente.
— Não estou mentindo, eu nunca dormi com ele.
— Não por falta de tentativa — ouço Joshua caçoar se aproximando de
nós com Claire ao seu lado.
Loren fica vermelha e lentamente vira a cabeça para ele, como uma
boneca de filme de terror.
— Hm? — murmuro com curiosidade.
Ela respira bem fundo antes de finalmente voltar a me olhar.
— Eu achava que nós poderíamos ter algo? Sim. Mas aquele garoto é um
escroto, então, não, não rolou nada, e sim... — ela novamente se vira para
Joshua — Eu já quis dormir com ele, e ele não quis — logo retorna para
mim — Fim de papo!
— Sei — Claire provoca, risonha.
Loren fecha os olhos e balança a cabeça, furiosa com nossos amigos.
— Só se mantenha longe dele, Dy. Ele não presta e você é muito
sensível. Christopher provavelmente secaria o seu estoque de lágrimas com
as besteiras que ele fala.
— Tem que parar de se preocupar tanto assim comigo ou vai envelhecer
trinta anos em apenas um.
— Ontem você passou a noite inteira chorando porque assistiu "Marley e
eu" e ainda pediu para dormir comigo. — acusa.
— Eu...Tô...De...TPM?
— Não está, não.
Não, eu não estou. Mas filmes que tem mortes de cachorros sempre me
deixam abalada, só que, admitir isso, é o mesmo que concordar que eu sou
muito sentimentalista, ou seja, daria razões a ela para se manter no meu
encalço.
— Eu estou. Ok? — insisto, séria.
Loren revira os olhos, porém desiste da briga.
— Vamos, temos que buscar as nossas coisas e dar o fora daqui. — ela
avisa, dando de ombros.
A sigo com Claire e Joshua ao meu lado, cheios de cochichos secretos,
que, imagino serem sobre a minha irmã e Chris.
Sei que Loren tem um passado amoroso e que nem sempre deram certo,
mas ela querer me esconder de Christopher a todo custo, é bem suspeito e
estranho. O que me leva a pensar que há algo mais esquisito nessa história.
Eu só ainda não sei o quê.
Nos dirigimos à sala de estar onde ainda há uma multidão euforica
dançando. A brincadeira finalmente parece ter chegado ao seu fim, mas não
a noite.
Loren saiu em busca pelo seu casaco, Claire foi atrás do banheiro e
Joshua foi se despedir dos seus amigos, enquanto isso, eu acabei sozinha no
sofá da sala.
Acabo distraída em pensamentos quando, de repente, sou desperta por
uma voz me chamando e noto um corpo parado ao meu lado.
— Ben? Pensei que já tivesse ido. — comento, surpresa.
— Na verdade, eu já estou de saída, mas queria fazer algo antes. — ele
retira sua mão do bolso do seu casaco e a estende — Toma, me liga se
estiver afim de sair um dia — Benjamin me entrega um pedaço de papel
com o seu número de telefone rabiscado — Sei que hoje não foi um dos
melhores dias, mas eu te garanto que posso ser um cara bem legal.
Meu rosto cora.
— Eu irei ligar. — sussurro.
Ele joga uma piscadela para mim e então vai embora.
Me encontro olhando e sorrindo para o papel algumas vezes antes de
finalmente enfiá-lo em meu casaco.
Eu nunca havia recebido o número de ninguém, e meio que gostei de
conhecer a sensação, ainda mais, vinda de um garoto que aparenta ser
genuinamente interessante. Um combo bem legal.
— Então quer dizer mesmo que tem mal gosto? — a voz rouca e grave
zomba, já se sentando ao meu lado sem nem mesmo ter sido convidado.
Encontro Christopher me encarando e meu coração dispara.
— O que está fazendo? — solto, nervosa.
— Só puxando assunto. — suspira, totalmente despreocupado.
A forma em que ele sempre parece estar muito bem à vontade comigo me
deixa inconformada. O que o faz pensar que temos intimidade para isso?
— Pra quê?
— Não posso, querida Dingo Bells?
— Não, não pode.
— Então não podemos nem mesmo conversar? — ele ri.
— Não é porque já viu a minha bunda que você pode simplesmente agir
como quiser.
Ele repuxa os lábios convicto e meu rosto esquenta.
— Falando nisso... — insinua malicioso — Tem sorte de ter sido eu a te
achar primeiro naquele lugar, você não estava exatamente segura, Dingo
Dingo.
— Eu sou uma mulher, nenhum lugar é seguro.
Ele ergue uma sobrancelha.
— É. Tem razão. Mas não era bem disso que eu estava falando.
— À proposito, o que você estava fazendo naquele lugar?
Christopher prende o seu olhar no meu e isso faz com que eu sinta frios
na barriga.
A intensidade em seu olhar é tão profunda e densa que me faz quase
delirar. Não há nada parecido com isso, e eu realmente não sei o que fazer
quando ele me olha. E nem mesmo entendo porque reajo assim.
— O mesmo que você. — finalmente responde, estivese tão imersa que
nem percebi que estava o encarando tanto quanto ele a mim.
— Ok, mas estava fazendo o que antes disso?
Ele coloca o seu cotovelo no encosto do sofá e apoia o rosto em sua mão,
deixando seu corpo deliberadamente voltado para mim.
— Estava... com uma companhia.
Franzo a testa, não conseguindo compreender.
— Não acredito que seja tão inocente assim. — ele parece decepcionado.
Me espanto, quando, por fim, entendo o que ele quis dizer com
"companhia".
— Estava...
— Transando — completa, curto e áspero.
Engulo em seco.
— E precisava ser na floresta? — rebato abismada.
— Fetiche é fetiche.
— Você tem um fetiche muito estranho.
— Não era de mim que eu estava falando.
Faço careta.
— Nem todo mundo tem o seu fetiche de bater na cara dos outros,
algumas preferem florestas.
— E-eu não tenho fetiche em bater em ninguém.Você é quem passou dos
limites hoje. — debato, sentindo-me enrubescer.
— Ainda não passei, Dingo Bells. Mas eu prometo que vou. — garante
baixinho.
— Achei você. — Joshua desponta à nossa frente, alternando o seu olhar
entre mim e o garoto ao meu lado — E pelo visto, também achei você.
— Joshua, Joshua... — Chris cantarola misterioso.
— Está perdido? — meu amigo retruca, bravo.
Christopher rola os olhos em volta de onde estamos, com o mais puro
deboche.
— Na verdade... não. Estou onde deveria. — responde cínico.
— É, e está no lugar errado, com a pessoa errada.
Chris ri e passa a língua sobre os lábios. E então, se inclina em minha
direção para sussurrar em meu ouvido:
— Nos vemos por aí, Dingo Bells.
Sendo pega de surpresa, ele beija a minha bochecha. Em sequência, se
levanta do sofá e caminha tranquilo para o meio da multidão, mas não antes
de roubar a garrafa de tequila de um cara qualquer.
— O que ele queria? — Joshua investiga.
— Conversar.
Ele parece confuso, assim como eu, mas opta por não dizer nada, apenas
se mantém sério e o encarando de longe.
Por que é que todos agem como se soubessem algo horrível desse
garoto?
∆∆
Feliz dia das mulheres! (finjam que tem um enorme texto motivador
aqui), enfim, parabéns a todas!❤
Aos escritores que estiverem precisando de capa, me chama no insta
capista_asavage :)
Capítulo 5| Inacreditável

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



— Hoje está tão quente! — Luc comenta todo sedutor.
Ele abana a sua camiseta de forma exagerada enquanto arrastamos
preguiçosamente nossos pés sobre a ponte de arco que dá acesso do
refeitório às salas de aula.
Luc é extremamente bonito; do tipo que te hipnotiza com o sorriso
perfeito dele, o corpo atlético, a pele escura e os lábios carnudos, mas não é
muito esperto quando o assunto é flerte. Se ele queria que eu visse o
abdômen definido dele, era só ter dito, não precisava de todo esse drama.
Prendo um sorriso quando percebo seus olhos castanhos mirados nos
meus com a mais pura malícia.
Aos doze anos, eu caia de amores por Luc, mas, para a minha completa
falta de sorte, ele era apaixonado por Loren. Então, por dois anos seguidos,
eu tive que enfrentar uma paixão platônica, até que finalmente consegui
deixar esse sentimento de lado, no entanto, como mágica, ele passou a
gostar de mim, desde então, colou no meu pé como chiclete. Porém, já faz
um bom tempo que não o vejo mais assim.
O fato de sermos amigos nunca o impediu de tentar, e, apesar de eu
nunca aceitar as suas investidas, também gosto de provocá-lo.
Meio que se tornou um lance só nosso.
— Você ficaria mais refrescado se tirasse a camiseta de uma só vez.
Aposto que a sua linda pele máscula adoraria absorver vitamina D, meu
caro. Só uma sugestão. — balanço as sobrancelhas e ele cai na risada.
— Seria ótimo, minha cara, mas em cinco minutos eu já teria ganhado
duas advertências. — Luc revira os olhos e finjo estar decepcionada, mas a
minha horrível atuação o faz gargalhar ainda mais.
Disfarçadamente, sinto-o colocar seus braços em volta da minha cintura,
puxando-me para perto dele. Finjo não notar quando, vez ou outra, as
pontas dos seus dedos escorregam rumo ao meu quadril e voltam, em um
vai e vem.
— Quer matar a aula de inglês, Dy? — sussurra, os lábios roçando a
ponta da minha orelha.
Ele seria perfeito demais, se não fosse um baita galinha.
— Não. Eu quero um futuro. — desconverso me afastando de seu abraço.
— O que eu tenho para lhe dar ali no cantinho, será mais gostoso que
uma aula chata. — Luc me joga uma piscadela.
— Isso aí será momentâneo, meu caro. Momentâneo. Meu futuro vai
durar bem mais do que meros dois minutos.
Sorrio ao vê-lo fazer careta.
— Olhe! Elas parecem animadas hoje. — ele aponta com o queixo para
as carpas no pequeno lago artificial debaixo de nós e inclinamos o tronco no
guarda-corpo para observá-las.
Os peixes coloridos nadam com calma de um lugar para o outro,
descendo na pequena cachoeira de pedras e descendo até o fim do lago,
para então, darem a volta por um lado mais raso e subirem novamente.
— As coitadas devem mesmo é estarem enlouquecendo depois de serem
obrigadas a conviver todo santo dia com tanto adolescente. — comento.
— Pelo menos elas ficam bonitas como decoração.
— Elas não fazem parte da decoração, Luc. Elas são uma herança
cultural. — implico
— Tanto faz, você entendeu o que eu quis dizer. — ele balança os
ombros.
Pequenas partes dos nossos costumes, como: alguns festivais de danças,
arte e ornamentação, vieram de vestígios japoneses, já que, quem de fato
descobriu a nossa ilha, foi uma velha família da nobreza japonesa; Os
grandes e famosos Tanakas. A família mais vil e rica de Nabrya.
Há tantos boatos esquisitos dessas pessoas que é até difícil ter um pouco
sequer de gratidão por essas pequenas heranças que eles nos deixaram, visto
que, há um longo histórico de torturas, rituais, intimidação e ganância em
seu nome.
Hoje em dia sabemos apenas que eles existem, pois, ao passar dos anos,
pouco a pouco ganharam uma identidade mais anônima, até que se
tornaram apenas fantasmas ocultos convivendo em nossa cidade. O que só
torna a história toda mais bizarra.
— Saco! — Luc resmunga.
— Que foi?
— Tenho um jantar importante hoje com os meus pais. Odeio ter que
pensar em faculdade agora.
— Já não está no quarto ano? Deveria começar a pensar nisso.
Ele torce o nariz.
— Nem sei ainda o que eu quero fazer. — murmura.
— Bom, então procure algo. Nossa escola criou um ano a mais no ensino
médio justamente para isso. Só não invente de tirar um ano sabático. Isso é
coisa de gente preguiçosa.
— Dytto, ainda bem que você é muito linda, porque às vezes, você
consegue ser irritante pra caralho — reclama, fazendo-me rir.
Me aproximo e puxo o seu rosto para mim, dando-lhe um beijo na
bochecha.
— Você vai se descobrir, não se preocupa. — Sorrio gentil e ele faz o
mesmo.
Luc lentamente aproxima o seu rosto do meu, mas desvio a tempo de ele
chegar em meus lábios.
— É a quinta vez só hoje. — pontuo.
Ele ergue a cabeça ao alto.
— Deus, faça com que ela me aceite como o namorado dela um dia. Eu
não aguento mais levar fora.
Dou-lhe um murro fraco no peito.
— Cai fora. Eu vou pra aula.
Dou-lhe as costas e apresso os passos para entrar em sala de aula antes
dos outros. Odeio chegar atrasada, sinto como se todos soubessem de algo
que eu não sei.
Por sorte não me atrasei tanto quanto Luc queria, sou a segunda a chegar
e me sento na sétima cadeira da terceira fileira. Meu lugar favorito.
Aos poucos a sala vai se enchendo e um tumultuado de vozes começa a
gradualmente aumentar.
Alguns dos garotos da minha sala entram animados e chutam coisas
causando o maior barulho.
Céus, não vejo a hora de dar o fora daqui.
À esquerda, vejo um grupo de garotas conversando, todas parecem serem
super amigas, do tipo que você olha e acha muito brega, mas que por
alguma razão adoraria fazer parte. Curvo um pequeno sorriso quando as
vejo rirem.
É uma droga não se encaixar, mesmo sendo convidada a participar. O
único que ainda tenta andar comigo, é o Luc, porque tá sempre tentando me
beijar. E a minha irmã, porque é a minha irmã, mas hoje ela infelizmente
faltou. Ontem extrapolou na bebida pós-festa e está com tanta ressaca que
mal consegue ouvir o som da própria voz.
Loren diz que só aproveitou mais do que deveria, porém, eu
particularmente acho que o lance com o Christopher a afetou mais do que
ela deixa transparecer.
O professor entra após alguns minutos. A sala inteira se acomoda em
seus lugares e todos se mantêm em silêncio. Ao menos ainda respeitam
alguma autoridade.
— Olá, queridos alunos e alunas. — o homem baixinho anuncia animado
e a sala responde um "Olá" em uníssono.
O senhor de idade sorri, mostrando todos os seus dentes amarelados e
desgatados; Parece prestes a contar uma deliciosa fofoca ou uma grande
novidade, ou quem sabe, os dois.
— Hoje teremos uma participação muito agradável. Teremos um
estagiário observando e auxiliando na aula, então sejam educados. —
revela, enquanto articula com as mãos.
Ele aponta para a porta, e todos os olhos se vão para lá, de modo que
mais parece que a própria Beyoncé vá entrar na sala
Sou tomada pelo choque no instante em que Christopher surge na entrada
da sala com uma bolsa de professor pendurada no ombro esquerdo. Senti o
sangue fugir do rosto e meu corpo paralisar.
Suas mãos estão enfiadas nos bolsos da calça Caqui. Os ombros
relaxados, mas a expressão fatalmente séria em seu rosto. Seus olhos vagam
devagar pela sala de aula, tal como procurassem por alguém.
Notei quando os burburinhos deram início, principalmente os das garotas.
Mas é claro que falariam dele, por que não falariam? Céus, ele é tão
duramente lindo!
Christopher por fim adentrou o lugar e, sem hesitar, depositou sua bolsa
sobre a mesa do professor, que, por ser extretamente humilde, não ligou
para o gesto arrogante dessa torre tatuada e prepotente.
— Meninas e meninos, esse é o Christopher. Em breve ele também estará
se tornando um professor. — o ancião apresentou-o, já que o homem
tatuado não parecia que iria o fazer.
Pisco algumas vezes, atordoada.
Seu olhar passeava pela sala de aula com atenção, ainda não havia me
avistado, ou, ao menos, até o exato instante. Um arrepio percorreu minha
coluna assim que seus olhos esmeraldas recaíram sobre os meus, ainda mais
sombrios.
Ele não os moveu, me encarou com tanta rigidez que quase implorei para
que parasse com aquilo.
Eu quase realmente enfiei minha cabeça dentro da minha mochila, mas,
ainda assim, ele não iria magicamente desaparecer.
No decorrer da aula, Christopher tomou um tempo para lecionar. Mesmo
que estivesse explicando um assunto para mais de 35 alunos, era sempre em
mim que seu olhar cravava violentamente.
Minha pele parecia queimar e meu estômago embrulhava toda vez que
Christopher olhava para mim. E ele olhava muito para mim.
Me sentia impaciente e agitada. Conferia meu relógio a cada dois
minutos, mas o tempo dava a impressão de nunca passar. Já não conseguia
mais parar de balançar a perna e de suspirar, frustrada.
Estava distraída em meio ao turbilhão de pensamentos ansiosos da minha
mente, quando, de repente, vi sua mão pousar na superfície da minha mesa.
Meu olhar naturalmente subiu pelo seu braço e encontrou o seu pesando
sobre mim.
— Tem alguma dúvida quanto ao assunto do seu dever, senhorita Bell?
— perguntou, seco.
Por um breve instante eu não reaji, apenas fiquei o encarando como um
completa idiota. Até que enfim, balançei a cabeça, negando, sem nem
mesmo ter prestado atenção no que ele dizia.
Christopher franze a testa.
— Ainda não respondeu nada.
Ele aponta com o queixo para a folha em branco em cima da carteira e
arregalo os olhos.
— Droga! Quando foi que isso veio parar aqui? — sussurro, espantada.
— Desde que a sua colega de classe entregou um desses a todos.
Mordo o lábio inferior, constrangida.
Christopher se distancia, mas não demora muito a voltar com uma
cadeira, sentando-se ao meu lado.
— O que está fazendo? — questiono, surpresa.
Ainda não sei como reagir perto dele, e sempre que estamos perto, eu
esqueço de como um ser humano normal age.
— Vou ajudá-la com a lição.
Ergo uma sobrancelha.
Christopher olha para o professor, que nos encara com curiosidade.
— Ela está com dificuldades em responder — explica.
— Oh, claro! — o professor sorri.
Olho para o garoto ao meu lado, irritada.
— Não estou com dificuldades, não.
Chris põe a mão discretamente sobre a minha coxa, em um lugar um
tanto quanto íntimo e a aperta.
— Agora está. — decreta, gélido.


Puts, tbm acho que tô com dificuldade
Queria dizer que estou amando escrever esse livro e que faz tempo que
eu não me sentia tão bem assim escrevendo.
Espero que estejam gostando!
E mais duas coisas, Nabrya é um país fictício, se procurarem na internet,
não vai dar em lugar nenhum.
E outra, já postei fotos do elenco lá no meu Instagram, o user é
autoramariliaandrade, link na bio
Capítulo 6| Chris, o canalha

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



— Está mesmo entendendo o assunto, senhorita Bell? — Chris pressiona
sua coxa na minha.
Engulo em seco, sentindo a vermelhidão tomar conta da minha face.
— S-sim.
Eu já estava terminando a lição, mas, ele continuava a me atormentar,
como se sentisse prazer ao me ver desconcertada ao seu lado. Sempre
averiguando cada mínimo detalhe e tendo a certeza de que iria me deixar
ainda mais nervosa na sua intoxicante presença.
Cada palavra que saia de seus lábios era rígida. Sua postura era sempre
imponente e ameaçadora. Não sabia o que havia feito para ele agir assim,
mas me mantive quieta enquanto ele me explicava — obrigatoriamente —
um assunto que eu já sabia.
Respiro fundo, mas o ar parece entrecortado.
Por mais que eu tenha me esforçado para me manter tranquila, fraquejei
diversas vezes. E tudo culpa da incessante pressão que Christopher fazia em
meu corpo.
— Por que está tão distraída então? — Sua voz soa mais baixo desta vez.
Seu olhar parecia querer impulsionar uma resposta da minha parte, no
entanto, tudo o que eu fiz, foi balançar a cabeça e dar continuidade ao que
estava escrevendo. Estava tão estressada com a situação que a minha letra
virou um completo garrancho cheio de tremidas em toda a atividade.
De repente, o som estridente e contínuo do alarme assoma o lugar.
Finalmente!
Meus ombros, antes tensos, relaxam e meu corpo se inunda de alívio ao
saber que, enfim, sairia daquela aula após cerca de 35 minutos com
Christopher ao meu lado, olhando-me impiedoso.
Durante todo o tempo em que a torre tatuada permaneceu comigo, temi
que fosse aprontar algo macabro. Eu não conseguia dizer nem mesmo uma
frase inteira sem gaguejar.
Ele não se levantou para ajudar os outros com o dever. E, na única vez
em que o chamaram — mesmo que as intenções da aluna parecessem outras
— Chris a incentivou, de maneira nada sutil, que ela se dirgisse ao
professor, pois, pelo visto, ficar ao meu lado era tão necessário que ele não
estava nem aí para o restante da sala. Desde então, os alunos ficaram
receosos de pedirem seu o auxílio novamente.
Vicente, nosso professor, nos olhou desconfiado por diversas vezes, mas
não se atreveu a nos confrontar. Acho que até o próprio tem um pouco de
medo de Christopher, mas, quem não teria?
Assim que os alunos começaram a guardar os seus materiais, Chris se
aproximou do meu ouvido e automaticamente congelei no lugar quando
senti sua respiração quente no meu pescoço.
— Nos vemos em breve, Dingo Bells. Eu estou de olho em você. —
alerta sério, e só então, ele se põe de pé, afastando-se rapidamente.
Sentindo meu rosto queimar de vergonha pela ideia de que alguém possa
ter nos escutado, olho em volta para dar uma conferida, todavia, ninguém
parece ter prestado atenção. Tento processar o que acabou de acontecer, mas
Chris ainda é um enigma complexo demais para mim. Meu coração ainda
está disparado no peito quando consigo voltar a respirar normalmente.
De longe, o vejo se juntar ao professor. Antes dele cair fora, seu olhar
procura o meu uma última vez e um sorriso perverso pinta os seus lábios.

Luc me alcançou na hora da saída para me acompanhar até o meu carro
como sempre fazia, mas, assim que começamos a andar, ele parou no lugar
e me olhou com cara de quem sabia que havia algo errado comigo.
Meu amigo ergueu o olhar e me analisou de cima a baixo com os olhos
semicerrados.
— Você está... estranha. — decretou, franzindo a testa.
Ele agarrou o meu queixo para examinar o meu rosto, mas bati em sua
mão para que me soltasse.
Pelo visto, estava literalmente estampado na minha cara que eu ainda
estava balançada com o que havia acontecido na sala.
Depois daquela aula, eu não conseguia parar de pensar em Christopher
um segundo sequer. Ele havia conseguido arranjar um jeito de grudar na
minha cabeça e me consumir completamente como se estivesse drenando as
minhas energias.
Luc consegue ser muito intrometido quando está preocupado, mas não
quero lhe dar motivos para isso ou ele vai querer dar um de "macho alfa"
para o meu lado, então apenas dou de ombros.
— Não é nada.
Me esforço para fingir pouco caso e enrolo uma mecha do meu cabelo
entre os dedos, porém, sinto seu olhar desconfiado sobre mim.
— O que houve? — instiga.
Eu sou a pior pessoa do mundo mentindo, mas agora eu realmente vou
precisar da minha melhor perfomance ou ele vai me questionar até semana
que vem sobre isso. Solto um suspiro exagerado e repuxo o canto dos lábios
para baixo.
— Sei lá, só devo estar cansada. Não gosto de ter que ficar o dia inteiro
na escola quando Loren não vem.
Luc parece mais aliviado e passa os braços ao redor dos meus ombros.
— Você tem a mim.
— É, mas você não é a minha irmã. Você é um descarado. — O afasto e
ele ri.
— Você me ama que eu sei.
— Você que pensa. — gracejo.
— Quando é que você vai deixar de ser tão fria e vai me convidar para
sair, Dy? — ele cruza os braços.
— Não sou fria, eu sempre te chamo para sair.
— Você me chama para festas, e eu, mereço um encontro. — rebate,
frustrado.
— Não.
Ele bufa, mas finjo não ouvi-lo. Ignorando a sua insistência por um
encontro, seguimos para o estacionamento, onde os amigos de Luc nos
olham com sorrisinhos bobos ao passarmos por eles, pois juram que existe
algo rolando entre nós, no entanto, a realidade é bem diferente.
Ao alcançarmos o meu sedan, paramos frente a frente, o que acaba me
proporcionando a visão do seu rosto de cachorro chutado.
— Você merece um pouco de juízo, Luc.
Ele encosta o seu corpo em meu carro e curva um sorrisinho.
— Oh, Dytto. Só me dê uma chancezinha e eu vou te mostrar que eu sou
o homem da sua vida.
Rio alto disso e balanço a cabeça.
— Não mesmo.
Passo por ele e jogo as minhas coisas dentro do carro, quando volto para
onde estava, o encontrando olhando fixamente para um ponto específico.
— Tá olhando o que? — pergunto, sorrindo.
— Por que o Christopher está nos encarando?
A expressão bem-humorada evapora de meu rosto e arregalo os olhos.
— O-o que? — indago nervosa.
— Ali, logo ao lado do carro — sussurra, baixando o olhar para os seus
próprios pés, a fim de disfarçar.
Passo os olhos pelo lugar, e o encontro do outro lado do estacionamento,
o corpo apoiado em uma ranger vermelha, uma de suas mãos no bolso e a
outra segurando um cigarro nos lábios. Christopher nos encara sem o menor
pudor ou constrangimento.
Noto que os seus olhos se demoram em Luc. A forma em que ele o
encara me causa calafrios.
Uno as sobrancelhas e alterno meu olhar entre Chris e o meu amigo,
ainda sem entender o que está havendo.
— Você fez algo para ele? — Investigo, séria.
— Eu não. Só o vi algumas vezes em algumas festas Não imaginei que
ele estivesse aqui hoje.
— Eu acho melhor você ir embora. Ele está te olhando muito estranho.
Luc revira os olhos, não dando a mínima, mas se despede com um forte
abraço que quase me parte em dois.
— Está me devendo um encontro — pontua.
— Não estou, não.
— Eu vou cobrar — avisa, ao passo em que se afasta andando de costas
— Já vou antes que eu leve uma surra.
Balanço a cabeça em concordância e me obrigo a rir para camuflar o
nervosismo, o que acaba soando mais como um motor morrendo.
Assim que Luc ganha distância o bastante, volto a olhar para Christopher,
que, agora, me observa atentamente.
Ao perceber que eu o encarava, ele acenou de leve com a cabeça
enquanto mantinha um sorriso perverso.
Meu rosto esquentou e fechei os punhos diante da situação.
— Seu psicopata — sussurro sozinha e viro-me para o meu carro.
Não voltei a olhá-lo, mas senti que ele manteve seu olhar queimando
sobre mim durante todo o tempo em que usei para ir embora.

Ciúmes? Doença? Psicopatia? Amor? 😳
Comparação de altura entre Christopher e Dytto. (o nome dela ficou
errado sem querer gente)
Capítulo 7| Jantar em família

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— Como foi o seu dia? — Papai perguntou, sentado à beira da mesa com
os olhos postos em mim.
Apesar de vaidoso e consideravelmente jovem, seu cabelo já possui
vários indícios de fios grisalhos. O rosto com resquícios de juventude, agora
é marcado por algumas linhas de expressão que estão mais associadas ao
estresse do que a idade chegando.
De canto, vejo Loren inspirar fundo, como se já não aguentasse mais nem
um segundo sequer sentada aqui.
Hoje é dia de jantarmos juntos; fazemos isso pelo menos uma vez na
semana, pois, em grande parte do tempo, não nos vemos.
Papai é um cardiologista renomado e está sempre transitando entre uma
cirurgia e outra. Mamãe é diretora de marketing em uma grande empresa e
está sempre ocupada elaborando estratégias de vendas ou viajando a
trabalho.
Ambos vivem em função de seus empregos, e nas folgas, vão para a
igreja e nos obrigam a ir juntos. Eles são bem rígidos quando se trata de
religião — em razão de terem vindo de famílias católicas super devotas —,
o que os levam a pensar que devemos agir igual.
E Deus nos livre de sequer pensar em seguir outra crença, seria um
absurdo sem perdão.
Eles não são lá o tipo de pessoas que estão dispostas a serem mentes
abertas com os filhos e terem uma conversa um pouco menos formal do que
as do dia-a-dia. Então apenas seguimos a tradição das quintas em família.
— Foi bom, o mesmo de sempre — respondo baixinho, evitando
realmente pensar no meu dia.
Encolho o corpo na cadeira e fixo os olhos no prato de comida — agora
vazio — diante de mim, apenas para não ter que encarar a tensão no rosto
de todos à minha volta.
— E o seu, Loren? — papai questiona, numa entonação mais severa, em
seguida beberica o seu suco de laranja.
Por alguma razão, ele sempre a trata como suspeita de um crime, até
mesmo quando ela não fez nada para isso. Loren não é exatamente o
modelo de filha perfeita, mas, ainda parece um grande exagero da sua parte
agir tão friamente assim.
Ela solta o ar pesadamente e cruza os braços
— Chato.
— Já está se sentindo melhor, minha Lobinha? — mamãe aborda,
afagando gentilmente o rosto de minha irmã.
— Sim. Deve ter sido algo que eu comi. — Loren cochicha, visivelmente
desinteressada no assunto.
Papai a olha desconfiado e ergue uma sobrancelha.
— Ou bebeu — contesta.
Theo — nosso pai — odeia o fato dela beber e nunca escondeu isso. Em
geral, Loren mantém um certo controle, apenas para evitar discussões como
esta, mas noite passada em questão deve ter sido uma barra e tanto para ela,
e por isso, não contei nada sobre Christopher hoje.
Apesar da minha consciência ainda me martelar a cada instante, sinto que
foi o que precisava a se fazer. Será melhor se ela não souber isso logo após
ter se recuperado de uma ressaca da qual eu tenho certeza que a razão foi
tentar esquecê-lo.
— É. Ou bebi. — ela retruca rudemente.
Massageio as têmporas, já sabendo o tornado que está por vir.
— Acha isso bonito? — Theo reclama irritado. — Você precisa dar um
jeito nessa sua vida ou vai acabar sendo inútil pra sempre. — ele aponta
para ela ao dizer, como se precisasse enfatizar a sua raiva.
Ah, merda!
O rosto de Loren rapidamente ruboriza e lágrimas brilham no canto de
seus olhos.
Isso é pesado demais para se ouvir. Papai não impõe barreiras no que diz
e isto sempre termina com Loren magoada e ele furioso, enquanto o resto
de nós procura uma forma de amenizar a briga.
— Agora vai me dizer que nunca bebeu na sua vida? Não venha agir
como um santo, pai. — ela rebate, a voz instável e os lábios trêmulos.
— Você é a irmã mais velha, e ainda assim é Dytto que se contém no seu
lugar. Você deveria ser um exemplo para sua irmã. Não o contrário. — As
veias saltam em seu pescoço conforme ele berra a sua irritação sobre ela.
Enquanto isso, minha irmã o encara com amargura e a mais pura mágoa.
— Papai, isso não é algo que deveria ser tarefa para Loren — intervenho.
— FIQUE QUIETA! — manda, irritado e eu arregalo os olhos.
— Amor, por favor, pare! — Ever pede, testemunhando para onde
estamos indo nessa discussão fútil.
Mamãe sempre conseguiu manter um certo equilíbrio em nossos jantares
de família. Ela não gosta das conversas duras que papai geralmente
direciona à Loren, porém, é submissa demais para conseguir se impor
completamente.
Papai contrai a mandíbula, ainda furioso. Ele tenta se controlar, enquanto
minha irmã finge não estar segurando o choro.
— Eu vou subir — Loren avisa, já se levantando.
Ever apertou o braço de Theo, que já estava prestes a se opor quando
minha irmã saiu a passos largos. Eu, no entanto, corri para acompanhá-la,
pois sabia como ela ficava extremamente vulnerável em momentos como
esse.
Assim que já estávamos em seu quarto, ela rapidamente o trancou para
evitar que algum dos dois entrasse.
Deitei-me ao seu lado na cama e a envolvi em meus braços. Não
demorou muito e ela desabou em lágrimas, não apenas de tristeza, mas
também, raiva. Disso, ela está cheia.
Ela odeia quase tudo em nossos pais, mas principalmente o fato deles já
terem planejado toda uma vida para ela. Desde o cara certo para ela, a
profissão, faculdade, onde ela vai morar e até mesmo quando é a hora certa
dela ter filhos.
Eles acham que assim, ela será bem sucedida e feliz, como se seguir isso,
fosse o segredo de uma vida abundante. Mas isso não é Loren, ela está
longe de querer uma vida estável e pacata com um monte de filhos. E eu a
entendo, também não quero, mas eles nunca cobraram isso de mim, e
talvez, essa seja uma das maiores mágoas em Loren, mas sei que ela jamais
descontará isso em mim.
— Vai ficar tudo bem — sussurro, depositando beijos em sua cabeça.
— Por que eles sempre exigem que eu seja perfeita? Eu já faço de tudo
por eles. Tenho 18 anos, estudo, trabalho e tiro boas notas. Por que o nosso
pai sempre exige que eu seja quem eu não sou, Dy? — desabafa.
Deixo que um suspiro triste escape de meus lábios.
— Eu sinto muito, Lô. Eles só não sabem dar valor ao que tem. Você é
talentosa e esperta, vai se dar bem na vida com ou sem eles.
Loren balança a cabeça, indignada.
— Eu só bebi, mas que droga! Todo mundo faz isso, não é coisa de outro
mundo, caramba. — esbraveja sozinha.
O problema nunca foi exatamente a bebida, o fato é que, ela não abaixa a
cabeça e o obedece como ele bem queria que fosse, e isso o irrita mais do
que ela sair para beber. Afinal, é mais fácil controlar ela quando a mesma
está sobre os seus domínios do que quando ela se opõe para ser livre. Isso o
enfurece.
Mas eu não iria dizer isso a ela, de todo modo, não seria necessário.
Loren já conhece a família que viemos.
— Logo ele esquece isso. Ele sabe que você bebe e que não é nenhuma
santa puritana. Papai só precisa aceitar isso na cabecinha de minhoca dele.
E ele vai aceitar. Se acalme, está bem?
Loren soluça em meus braços e desliza suas pernas sobre as minhas.
— Eu amo você, Dy. Você é literalmente a única pessoa no mundo em
quem eu confio — confessou baixinho.
Meu peito se aperta, e a sensação de culpa se mostra ainda mais cruel e
presente dentro de mim.
Eu sei que não fiz nada de errado para me sentir assim, porém, o fato de
não conseguir tirar Christopher dos meus pensamentos, também me parece
traição. Porque talvez, só talvez, exista um novo sentimento surgindo dentro
de mim, e eu não sei o que fazer com isso.
— Também amo você, irmãzinha. — sussurro — pra sempre!
∆∆
Capítulo 8| Pureza

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Durante a aula de inglês, Christopher se manteve sentado à frente da
classe. Seu semblante era sempre cheio de seriedade, porém, hoje ele estava
mais receptivo aos pedidos de ajuda dos alunos.
Desta vez, ele não ousou se aproximar de mim, tampouco me olhar.
Parecia que, mesmo indiretamente e sem discussões, estávamos nos
evitando, ou melhor, ele estava o fazendo.
No decorrer da aula, era eu quem inevitavelmente o olhou por diversas
vezes. Estava em uma corda bamba, sem saber o que havia acontecido, ou o
porquê de ele estar tão contrário a forma que agiu na aula passada.
Eu não estava interessada em ser o alvo de sua arrogância novamente,
mas queria ao menos uma explicação do que de fato estava acontecendo;
mesmo que eu nunca fosse questioná-lo sobre, e muito provavelmente que
apenas deixasse toda essa confusão morrer.
Talvez Loren tivesse passado pelo mesmo com Chris, e por isso o julga
tão mal. Ela estava apaixonada, deve ter sido complicado para ela aceitar a
frieza no comportamento dele.
Christopher é sempre sério, intenso e ímpeto. Pelo pouco que vi dele, não
parece ser alguém gentil.
Seu humor parece se dividir entre o ódio e a raiva. E a sua personalidade
se divide entre odiar, e odiar muito.
Mas, pensando pelo lado positivo, ao menos não é necessário muito
esforço para saber que é melhor mantê-lo longe.
O alarme soou, e quase como se desse Graças a Deus, nosso professor,
Vicente, levantou-se em um pulo. Ainda estava explicando o final do nosso
dever de casa, mas, cair fora do emprego mais cedo, lhe pareceu mais
tentador. Levando em conta que é sexta, eu acho sua atitude muito sábia.
— Bom, por hoje é apenas isso. Ao fim do dia, vão para casa em paz e
fiquem bem. — ele dizia enquanto enfiava com pressa as suas apostilas na
bolsa.
Quase ri disso.
— Professor Christopher. — uma aluna chamou, com a mão suspensa no
ar.
Professor Christopher? Quando foi que ele se tornou tão íntimo da
turma?
Curiosamente, ele apenas ergueu uma sobrancelha ao olhá-la.
— Você vem na próxima aula? Gosto muito das suas explicações. —
notei as bochechas dela ganharem tons rosados e as suas amigas soltarem
risinhos baixos, como quem sabe que ela não estava se referindo realmente
às explicações de Christopher, apesar de ele ser muito bom nisso.
— Venho. Por um tempo. — A torre tatuada foi breve, mas bastou para
causar agitação em, principalmente, garotas.
Acho que os meninos não gostavam tanto da atenção que Christopher
tomava para si sem nem ao menos se esforçar para isso. Isso atingia o ego
deles em cheio.
— Então quer dizer que eu estou sendo trocado. — nosso professor
brincou, meio melancólico.
Apesar de que ele esteja realmente animado com a ideia de se aposentar,
é possível notar o desânimo em seu rosto. O que é bem compreensível,
afinal, deve ser estranho deixar para trás o que ele mais gostou de fazer a
sua vida inteira.
Por isso, decido animá-lo um pouquinho.
— Particularmente... — me pronunciei em voz alta — Eu ainda prefiro o
senhor — declarei, com um sorriso gentil.
Seu rosto automaticamente ganhou vida.
— Oh! Olhe só, Christopher. Eu também tenho fãs — o professor dizia
aos risos, em divertimento.
Eu sempre mantive um respeito enorme pelos mais velhos, mas, ainda
achava estranha a forma com que eles riam com tão pouco. Por outro lado,
Christopher me encarava severo.
E lá estava aquele olhar sombrio queimando em mim novamente, quase
como se quisesse me estrangular.
Meu propósito não era espetá-lo, porém, foi o que aconteceu.
Meu corpo parecia doer de tanta tensão em consequência de sua
repreensão sobre mim. Por isso, evitei encará-lo por muito mais tempo.
Meu estômago se revirava com a certeza de que Christopher havia
decidido me esganar com os olhos.
A sala aos poucos se esvaziava conforme os alunos saiam. Fui uma das
últimas a me levantar pois ainda estava terminando de guardar tudo. O fato
de me sentar na última cadeira era bom, mas geralmente atrasava a minha
saída em meio ao tumulto que se formava no caminho.
Quando finalmente alcancei a porta, senti uma mão entornar o meu braço
com firmeza, não o suficiente para me machucar, porém o bastante para me
assustar e acabar me deixando nervosa.
— Vou te procurar mais tarde. E nós iremos conversar — sussurrou como
uma ameaça em meu ouvido, em seguida, se afastou.
Como assim irmos conversar? O que Christopher e eu teríamos a falar
um com o outro?
Continuei a encarar o seu corpo alto mesmo depois dele já estar longe.
Sentia arrepios de medo em minha pele à medida que a sua voz se repetia
em minha cabeça, em um looping que só se rompeu quando a da minha
irmã entoou ao meu lado.
— Tá tudo bem, Dy? — Loren perguntou e estremeci de susto.
Viro-me para ela com a mão no peito e a respiração ofegante.
— Caramba, Loren. Você quase me matou do coração. — arquejo,
sentindo as maçãs do meu rosto esquentarem.
— Parou no mundo da lua por quê? — investigou, curiosa.
— Nada! — baixo o olhar para os meus pés e passo os dentes em meus
lábios. Geralmente eu acabo os machucando quando estou nervosa.
— Você tá esquisitinha. — murmura, desconfiada, mas não se demora
nisso.
Loren me puxa pelo braço. Por sorte, mudando o assunto de nossa
conversa.
— O que vamos almoçar hoje? Odeio a comida dessa escola, parece que
ninguém sabe que se temperar demais uma comida, ela simplesmente para
de ter gosto e vira um amontoado de gororoba.
Me arrastando até o refeitório, Loren nem mesmo se deu conta de que
Christopher havia me dado aula, talvez, ela nem mesmo tenha notado que
ele estava na escola. Pelo menos, não ainda. Era difícil não perceber os
boatos do "novo estagiário gato" circulando pelos corredores, ou seja, seria
só uma questão de tempo até ela perceber ou acabar topando com ele por aí.
Só espero não estar presente quando isso acontecer.

— Te dou 5 minutos, Dy. Eu quero ir logo para casa. — Loren reclamou
de braços cruzados enquanto batia o pé, impaciente.
— Eu só preciso ir ao banheiro ou vou mijar dentro do seu carro. Você
quem sabe.
Embora eu tenha o meu próprio carro, gosto de, às vezes, pegar carona
com Loren para a escola, porém, isso implica em ter que ser pontual na hora
da saída ou ela vira um pé no saco.
Suspirando forte, ela finalmente assentiu.
— Vai. Só não demora ou eu te deixo plantada aqui.
Loren apoia o corpo na sua SUV, e Luc, que estava ao seu lado o tempo
todo observando a situação, gargalha.
Sabendo que ela pode estar realmente falando sério, e que a escola já está
quase que completamente vazia e prestes a ser fechada, vou correndo para o
banheiro e me tranco em uma das cabines.
Passei o dia inteiro fugindo de lugares desocupados ou distantes para que
Christopher não me achasse, e isso custou prender a minha bexiga, mas,
assim que chegamos ao estacionamento e não encontrei sua ranger
vermelha, percebi que ele já havia ido embora.
Eu estava verdadeiramente assustada com a forma que ele sempre parecia
estar com raiva de mim, por isso decidi que não iria dar oportunidades a ele
para conversarmos.
Após finalmente conseguir me aliviar, fui direto para a pia lavar as
minhas mãos.
Porém, distraída, passei a olhar para o meu reflexo no espelho e, assim
que sequei as mãos, aproveitei para ajeitar o meu cabelo nas laterais do meu
corpo.
Hoje vim com uma camiseta preta e justa de Loren que me faz parecer ter
seios um pouco maiores do que realmente são. Não é como se eu tivesse
muito, de todo modo, mas acabei me acostumando com as migalhas que
tenho.
Imaginando como seria se eu tivesse nascido um pouco mais afortunada,
viro-me de lado e os aperto, fazendo com que eles saltem e pareçam
silicones. Volto a ficar de perfil e sorrio ao ver a minha falsa imitação de
peitos grandes.
— Vocês ficariam uma gracinha. — cochicho, empinando-os ainda mais.
— Prefiro como são. — a voz rouca me fez estremecer e saltar para trás.
Encostado na entrada do banheiro, Christopher encarava-me sem o
menor pudor.
Senti minha pele ferver de vergonha e precisei puxar o ar com força.
— O-o que está fazendo aqui? Esse é o banheiro feminino! — tentei
manter a seriedade, porém, minha voz falhou como um disco arranhado.
Christopher desliza a língua sobre os seus lábios fartos bem devagarinho
enquanto desce o olhar para o meu busto.
— Ups! — sussurra irônico, curvando um sorriso de lado.
Como um caçador atrás de sua presa, ele caminhava passo atrás de passo
em minha direção, sem a menor pressa.
Sua face parecia se deliciar do medo que via em mim, já os seus olhos,
sempre vagavam ruidosamente pelo meu rosto, enquanto as batidas do meu
coração se tornavam cada vez mais frenéticas.
Recuei sentindo-me assustada. Olhando em volta, percebi que não havia
outra saída, senão a única porta que havia no banheiro, porém, Christopher
estava perto demais.
Quando topei na parede atrás de mim e me vi sem saída, ele sorriu,
satisfeito. Então, por fim, me alcançou. Sua mão direita envolveu o meu
pescoço e a outra agarrou os meus cabelos com firmeza.
Ele me obrigou a encará-lo. Sua respiração se tornou mais pesada e seu
corpo pressionou o meu com indelicadeza.
— Olá, Dingo! — sussurrou, rouco. O olhar vidrado no meu.
Já não havia uma única partícula de mim que não estivesse tremendo. Eu
estava, por inteiro, aterrorizada.
— O que você quer? — perguntei, com os olhos arregalados de pavor.
Senti o nó na garganta se formar e aumentar à medida que meus olhos
começaram a lacrimejar.
Eu não o conhecia, sabia que ele poderia fazer o que quisesse comigo.
Estava em total desvantagem. E mesmo se gritasse, dificilmente alguém
estaria por perto para me ouvir.
Christopher é muito mais alto do que eu, assim como também é muito
mais forte.
Ele usou o dedão da mão que segurava o meu pescoço para tocar o meu
lábio inferior e fechei os olhos com força.
Chris estava tão próximo que sentia sua respiração quente tocar a minha
pele enquanto me examinava atentamente.
— Não feche esses lindos olhos verdes. Me olhe, querida Dingo Bells. —
pediu, cheio de necessidade.
Meus lábios se mantinham entreabertos e ofegantes, enquanto o resto de
mim permanecia paralisado, preso entre a parede e o corpo alto de
Christopher.
Devagarinho, abri os olhos.
— Não vou te machucar. — ele murmurou ao notar uma lágrima solitária
escapar dos meus olhos.
— O que você quer então? — choraminguei trêmula.
Christopher não parecia mais tão furioso agora, ele estava mais para...
Comovido?
— Não se preocupe. Já consegui o que eu queria.
Franzi a testa, confusa.
— Por que está me prendendo aqui? — as palavras saíram arrastadas.
Ele colocou as suas mãos no meu rosto.
— Você vai descobrir... em breve.
— Christopher, eu preciso sair. A minha irmã, ela está me esperando com
o Luc lá fora. Por favor! — pedi com urgência, já estava desesperada e sem
mais alternativas em mente do que poderia fazer para convencê-lo a me
deixar.
— Luc? — pontuou, curioso — Então esse é o nome do garoto que anda
com você? Nossa! — ele riu — Está mesmo andando com alguém que tem
nome de cachorro? Você não aprende, não é?
Balancei a cabeça.
— Do que está falando?
— Não se faça de boba, Dingo. Eu vejo como ele te olha.
— Por que? Pra que tudo isso? Eu não entendo. — supliquei, atordoada.
— Você está em todo canto. O que eu fiz pra você? É por causa do tapa? É
por isso que me odeia tanto? Então me desculpa. Eu prometo não fazer mais
aquilo.
Christopher juntou as sobrancelhas e curvou um leve sorriso audacioso
no canto dos lábios.
— É porque não posso permitir que seja tão pura. Não sabe como isso me
enlouquece.
— Por favor... Eu preciso ir. — peço num sopro.
Ele lentamente joga a cabeça para o lado.
— Você vai. Mas não vai se livrar de mim. — garante.
Como ele podia ser tão mal assim? Não havia compaixão em sua fala ou
em sua face. Apenas a expressão mais sombria e maléfica que poderia
existir. Christopher claramente pretende me destruir.
— Não magoou a minha irmã o suficiente e agora vai garantir que eu seja
a próxima também? — questionei, magoada.
— A sua irmã? Não fiz nada a ela. — se defende.
— Fique longe de nós. — disse séria.
— Eu já estou longe dela há um bom tempo, Dingo. Mas já de você...
— Vai o quê? Me usar para os seus rituais na floresta? — sorri amarga,
não sentindo a menor graça disso.
Tudo o que eu queria era correr dali.
— Não, meu anjo. Vou te usar, mas de um jeito gostoso.
Minhas bochechas se acenderam e meu coração disparou mais forte.
— E eu prometo que você vai gostar de sentir o gosto do pecado. Vou te
fazer implorar por mais, minha Dingo Bells. Não há almas que se
mantenham puras depois de entrarem no meu caminho.
Repentinamente ele se afasta de mim, deixando um espaço brusco entre
nós.
Precisei segurar a bancada da pia ao meu lado para conseguir me
equilibrar.
— Nos vemos por aí. — avisou, partindo rapidamente.
Não demorou nem mesmo um segundo e Loren entrou.
— Será que poderia me explicar o que está havendo? — questionou
furiosa.
Merda! Ela deve estar pensando que eu estava de próposito com
Christopher.
— E-eu... — sem saber como explicar, apenas alternei meu olhar entre
ela e a porta do banheiro.
— Dytto. Pelo amor de Deus. Como você ainda está aqui? Já faz mais de
10 minutos, será que não poderia ter sido mais rápida? Caramba!
Espera?! Como assim ela está brava por isso? Ela não ligou para o fato
de Christopher ter acabado de sair daqui?
— Loren... Eu... O que...?
— Caramba. Éramos para termos ido embora há tempos. Anda! Já estão
fechando a escola, só tem nós duas aqui dentro ainda.
— Só nós duas?
— É, Dy. — respondeu, extremamente irritada.
Eu estava tão confusa que nem mesmo protestei quando ela pegou o meu
braço e saiu me puxando porta a fora.
∆∆
😏
Vou postar os próximos capítulos ou mais tarde, ou somente amanhã,
pois estou fazendo uma reescrita mais profunda neles.
(Todo fim de semana sairá capítulos novos, ou no sábado ou domingo)
Capítulo 9| Cruel

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



Durante o café da manhã, Dytto estava completamente imersa em seus
pensamentos. Os seus olhos se mantinham fixos à tigela de frutas diante de
si, mas ela não parecia realmente vê-la. Sua mente estava distante, vagando
num mundo só seu.
Ela permanecera completamente imóvel e apática em sua cadeira durante
todo o tempo em que esteve ali. Talvez ainda estivesse com sono, no
entanto, parecia ser algo a mais que lhe prendia a atenção.
De onde eu estava, a observava em silêncio, não fazia ideia do que se
passava em sua cabeça, mas me preocupava vê-la assim.
Vez ou outra, ela expirava baixo e cansado.
Deveríamos sair há quinze minutos, entretanto, Dytto ainda estava em
seu pijama, alheia ao nosso compromisso obrigatório.
Normalmente, era ela quem sempre pegava no meu pé para que eu me
aprontasse, mas hoje, parecia uma completa sonâmbula.
— Ei! — Murmurei, porém, ela não reagiu, repeti o chamado outras duas
vezes, mas nem assim.
Começando a ficar realmente preocupada, me inclinei em sua direção e
balancei o seu corpo. Foi só então que ela finalmente despertou.
— Quê? — indagou confusa e suspirei, aliviada.
— Está tudo bem aí?
Observando-a bem, percebo que seus olhos estão avermelhados, as
pálpebras inchadas e as olheiras em evidência.
Ao que parece, ela não teve uma boa noite de sono, ou então, nem
mesmo chegou a ter uma.
— Hum rum. — murmurou relutante, o que só me deixou ainda mais
intrigada.
Ela não possui o costume de mentir ou esconder coisas. Em geral, sempre
me conta todos os seus segredos, porém ultimamente sinto como se ela
tivesse se fechado.
Não quero pressioná-la a falar, todavia, é impossível não ficar aflita sem
saber o que posso fazer para cuidar dela.
— Está quase na hora da missa. Vá se arrumar. Eu vou te dar carona.
Ela balança a cabeça.
— Hoje eu não vou, Loren.
Ela não querer ir a uma missa sem nenhum bom motivo aparente, torna
tudo ainda mais suspeito.
Minha irmã não é uma religiosa rígida, porém admiro a sua devoção em
ir às missas mais vezes do que eu mesma iria por vontade própria.
E mesmo que Dytto não se considere um exemplo de cristã, comparada a
mim, ela é quase uma santa.
Estreito os meus olhos.
— Mas você sempre vai. — comento com estranheza.
Ela escorrega na cadeira.
— Mas hoje, não.
Tem algo errado com ela.
Jogo um guardanapo em sua direção. Porém Dytto o apara e arremessa de
volta para mim.
— Para, Loren — cochicha irritada.
— Aconteceu alguma coisa, não é?
Seu lábio inferior treme, a denunciando, porém, ela nega com a cabeça.
Ela está mentindo!
Penso em ficar para sondar mais a fundo o que está acontecendo, mas
Dytto não parece a fim de me contar nada.
Ela abraça o próprio corpo e se mantém retida em sua cadeira, encarando
com os olhos sem vida o beiral da mesa.
Uma outra hora então.
— Está bem! — declaro, já me pondo de pé — Na próxima você vai. Vou
dizer aos nossos pais que você estava se sentindo mal hoje.
Ela assente, não parecendo realmente estar prestando atenção no que digo
— E a louça do jantar é toda sua. — acrescentei.

Após a missa, Claire e eu pegamos a estrada e fomos parar na floresta em
que sempre ocorriam nossas festas. Não havia muitas pessoas no lugar,
apenas alguns dos nossos colegas de farra.
Ninguém estava realmente dando uma festa, apenas bebendo, como
costumávamos fazer durante algumas tardes de sábado em que ficávamos
de bobeira.
Claire estava novamente chateada por alguma outra briga com Joshua e
me procurou para encher a cara e esquecer os seus problemas junto de uns
caras mal-encarados que haviam acabado de se sentarem próximo de nós,
em um tronco de uma árvore caída.
Fiquei um pouco mais distante. A cabeça cheia de problemas e receios.
Há coisas sobre mim que eu tento camuflar, mas, não existem maneiras de
se esconder. E se afogar em ilusões, só acaba juntando ainda mais peso na
viagem.
Estava exausta, mas eu não podia desabafar com ninguém. Então me
entorpecia até esquecer todo o resto.
Estava fumando, distraída, no momento em que o garoto alto e tatuado a
qual eu já conhecia bem, tomou conta do meu campo de visão. Seus olhos
miraram nos meus com seriedade, e nos seus lábios, ainda existia aquele
mesmo sorriso torto e sarcástico de quando o vi pela primeira vez. Seu
cheiro forte e amadeirado me invadiu, desestabilizando-me, mas fingi
indiferença.
E, do mesmo modo, meu coração disparou. Mas, com um belo passado
de sedutoras memórias, as mágoas surgiram e nublaram todos os meus
pensamentos.
Por mais louco e insano que fosse esse sentimento que ainda nutria por
ele, precisava me lembrar que jamais ficaríamos juntos.
Porém, vê-lo, sempre acaba despertando sentimentos que tento manter
adormecidos.
Sempre que eu possuía conhecimento de Christopher, ele estava em sua
parte da floresta, do outro lado. Junto de sua turma. Nunca aqui.
Logo, se veio para cá, havia um bom motivo para isso. Ou então, só
estava procurando um novo alvo para atormentar.
— O seu lado da floresta não é esse. — pontuei, séria.
Ele cruzou os braços em oposição.
— Cadê a sua irmã? — perguntou interessado.
Imediatamente fechei a cara para ele.
Por que inferno ele estaria perguntando sobre a Dytto? Ele nem mesmo
deveria ter chegado perto dela.
— E te interessa? — retruquei, rígida.
— Mais do que você pensa. — respondeu cheio de malícia.
Christopher consegue mesmo me enfurecer em cerca de três segundos.
Apertei os dentes e me esforcei para não avançar em cima dele com
socos.
— Tire os olhos dela. Dytto não é para o seu bico. — ameacei, entre os
dentes.
Se havia alguém a quem eu defenderia melhor do que eu mesma, era a
minha irmã. E Christopher é, sem dúvidas, uma armadilha para o coração
de Dytto.
Ele soltou um riso baixo, não me levando a sério.
Os olhos brilhavam em divertimento enquanto me desafiava.
— Que porra você acha que é? Hum? — ele ergueu uma sobrancelha,
ainda mais autoritário.
— Veio aqui apenas para ser inconveniente ou tinha outros planos?
— Soube que havia gente aqui, pensei em dar uma olhada para saber se
quem eu queria estava — Ele força os lábios para baixo, em uma
demonstração exagerada de desapontamento — Infelizmente só encontrei a
irmã doida dela.
— Sorte a da Dytto então. — provoco, abrindo um sorriso desafiador a
ele.
Chris passa a língua sobre os lábios e solta um breve suspiro.
— Não precisa se preocupar. Eu sempre consigo o que eu quero, Loren.
E se eu me esforçar só um tantinho assim. — ele mede, exibindo um
pequeno espaço com o seu polegar e o dedão — Vou fazer o mundo dela de
cabeça para baixo.
— Seja lá o que você tenha em mente, é melhor parar agora. Dytto
merece bem mais do que um escroto igual a você.
Ele estala a língua.
— Tarde demais.
Senti meu rosto pegar fogo e avancei um passo em sua direção enquanto
jogava o maço de cigarro de qualquer jeito no chão.
— Não ouse tocar nela! Não vai usá-la para satisfazer as suas vontades
sujas. — minha voz se sobressaiu e notei olhares de algumas pessoas à
nossa volta.
Christopher ligeiramente torceu o lábio e aproximou o rosto para perto do
meu ouvido.
— Não tente me impedir. Sabe bem o que vai acontecer se tentar
qualquer coisa. — sussurrou, ameaçador.
Então se afastou.
Não consegui reagir. Meu corpo estava tomado pelo choque de suas
palavras.
Meu coração parecia quase explodir no peito.
∆∆
Eita
Perdoem a demora pelo capítulo, vou tentar trazer um outro amanhã
Capítulo 10| Sonhos

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



Eu estava morrendo.
O meu corpo havia entrado em total colapso de um dia para o outro.
Como fumaça, todas as minhas energias evaporaram. Sentia-me
desorientada e alucinando acordada. Havia duas noites seguidas em que eu
não conseguia dormir e já estava entrando em uma crise nervosa. Não fazia
ideia de como tinha chegado a este ponto tão rápido. Apenas havia caído
em um completo estado de insônia.
Uma pequena e sombria voz dentro da minha cabeça estava a me
perturbar o tempo todo. Provocando-me a cair em delírios.
Eu sempre me cuidei, mantinha uma dieta saudável e uma rotina estável,
não havia motivos para que eu adoecesse assim. Porém, não sentia como se
isso afetasse somente o meu estado físico, contudo, o meu psicológico, e, de
alguma forma, espiritual. Estava agonizando dentro do meu próprio corpo e
temia estar ficando à beira da loucura em um curto espaço de tempo.
Ninguém da minha família pareceu ter notado a condição em que eu
estava, afinal, apenas saí do quarto quando já não havia mais sinal de
pessoas em casa, pois não queria asssustá-los.
Minha mãe havia embarcado em uma viagem a trabalho hoje de manhã e
o meu pai estava participando de um congresso, deixando o lugar livre
apenas para mim e Loren, que também havia encontrado algo para fazer no
seu tempo livre.
Cansada de estar no sofá da sala, fiz o esforço que pude para me por de
pé e saí me arrastando como uma zombie idiota e lenta até a cozinha.
Estava tão fora de si, que acabei tropeçando em meus próprios pés.
— Merda! — apoiei o corpo na parede, ao sentir uma enorme pressão me
puxar para baixo.
Alonguei os ombros, os girando para trás e estiquei o pescoço para os
lados. Me recusava a cair, porém, me sentia cada vez mais fraca ao lutar.
Meu estômago estava frágil e minhas pálpebras pesavam. Eu não
conseguia dormir, mas também não sabia como me manter desperta. Estava
atordoada com um amontoado de pensamentos desconexos na cabeça que
não conseguiam se encaixar e esse sentimento me rasgava por dentro.
As paredes pareciam estar encolhendo, deixando-me claustrofóbica e as
vozes... elas pareciam gritar.
Numa rápida decisão, impulsionada pela minha irracionalidade, tomei a
chave do meu carro em cima do balcão e saí em direção à garagem.
Em uma outra ocasião, sabia que essa era uma escolha arriscada, mas
eu precisava urgentemente sair daqui.

Minha mente adoecida me trouxe ao estacionamento do supermercado.
Nem mesmo prestei atenção ao caminho que estava seguindo, apenas
"acordei" quando desliguei a chave da ignição.
Durante 10 minutos seguidos, me vi parada dentro do carro, encarando o
local, sem conseguir enxergar nada com precisão.
Até que finalmente saí, porém eu estava no modo automático. Não fazia
a menor ideia do que estava fazendo, parecia uma bêbada ambulante, sem o
menor controle de si.
Cambaleei com a chave do meu Sedan em minha mão. Me segurava em
capô por capô de cada carro por onde passava, seguindo em direção a
entrada.
A sensação de desmaio me dominava e minhas pernas fraquejavam. Eu
estava tão exausta que só queria fechar os olhos.
Meus lábios estavam ressecados e minha visão embaçada parecia se
dividir em vários.
Ouvia as vozes dos poucos que passaram por mim e notava brevemente a
expressão preocupada no rosto deles. Entretanto, ninguém realmente parou,
mesmo que tudo em mim implorasse por ajuda.
O estacionamento estava meio vazio, então supus que todos deveriam
estar dentro do supermercado, para onde eu tentava, dolorosamente, chegar
sem nenhum motivo.
Meu coração estava disparado e comecei a ficar ofegante. A odiável e
incômoda sensação aumentava a todo segundo. Queria gritar por socorro e
chorar.
Minha pele estava formigando e tudo em mim ardia.
Foi então que desabei de joelhos no chão, sem forças e confusa.
Pisquei várias vezes, olhando em volta. Não havia ninguém por perto e
eu não sabia o que fazer.
Eu queria tirar aquilo de mim, embora nem mesmo entendesse do que se
tratava.
Desesperada, enfiei os dedos entre os cabelos, os puxando com força.
Meu peito subia e descia descontroladamente.
Gemi de dor enquanto arranhava os braços com força.
— Ajuda... Ajuda... — arfava fraca.
Tal qual uma nuvem, a angustiante aflição me cobria, tirando-me o ar. A
pressão no meu peito se agravava juntamente de tremores que surgiam
inesperadamente.
O horror estava me dominando.
Ergui a cabeça, e varri o lugar com os olhos, em busca de alguém. Por
coincidência, ao longe avistei um rosto conhecido, carregando o seu carro
com sacolas. Ele não parecia ter me notado, mas eu precisava urgentemente
de alguém para me socorrer.
Engatinhando, consegui aos poucos me levantar e ficar de pé. Se eu
pudesse, teria corrido em sua direção, mas tudo o que consegui fazer, foi
arrastar os pés até metade do caminho.
Quando seus olhos finalmente me avistaram, quase suspirei de alívio. O
garoto estava apático perante a situação, porém, deixou suas coisas no chão
para se aproximar.
Ele caminhou até a mim apressado, como se já soubesse que eu estava
prestes a cair e me segurou em seu braço.
Lágrimas escorreram depressa do meu rosto e comecei a soluçar.
Estava contente com a sua presença, ao mesmo tempo em que estava
desesperada.
— Chris... Chris, me ajuda. — implorei fatigada, encarando os seus olhos
frios.
Sua outra mão tocou o meu rosto com gentileza e escorregou
devagarinho até o meu queixo. Ele então, curvou um meio sorriso
diabólico.
— Uma péssima hora para ter me encontrado, Dingo Bells. Não acha? —
murmurou enigmático, confundindo-me.
Christopher me observava atentamente enquanto seu olhar vagueava por
todo o meu rosto.
Minha pele estava cada vez mais molhada de lágrimas que rolavam sem
cessar.
— Apenas relaxe, querida. Eu vou cuidar de você.
— Eu preciso que isso pare. — sussurrei, fracassando ao deixar que meus
olhos se entrecerrassem.
Senti seu rosto roçar a minha bochecha e os seus lábios tocaram
levemente a minha orelha.
— Vai acabar logo logo, eu prometo.
Sua respiração quente tocou o meu pescoço e provocou ondas elétricas
em todo o meu corpo.
— O que está acontecendo comigo? — arquejei em tom baixo e quase
ininteligível.
— Eu a avisei. Não há nada que se mantenha puro ao entrar no meu
caminho. E a sua alma é doce demais para não ser provada.
Não fazia ideia do que Christopher falava, tampouco conseguia ouví-lo
corretamente, então duvidava de que estava o escutando certo.
Esgotada, deixei-me adormecer e pendi o peso sobre os seus braços.

De alguma forma eu sabia que estava em meu quarto, mas não fazia ideia
de como havia voltado para cá. O horrível sentimento de dor, loucura e
cansaço haviam — felizmente — chegado ao seu fim. Me sentia bem
novamente.
Minha mente permanecia presa a um estado semiconsciente, perdida na
vasta escuridão. Entretanto, meu corpo se mostrava indiferente, estava
inquieto e ansioso, sentia-se sendo tocado em todos os cantos.
Poderia estar apenas sonhando, mas conseguia jurar que havia sentido
enormes mãos me tocarem e deslizarem por entre minhas coxas
descobertas, causando-me arrepios.
Uma breve sensação de desejo crescia em meu íntimo à medida em que
os toques se intensificaram. De repente, me vi ansiosa, desejando por mais
do que quer que fosse aquilo. Esperando que continuasse. Excitada pelo
desconhecido.
Aparentava ser real demais para um sonho, mas, fantasioso o suficiente
para ser de verdade.
A suposta pele era muito fria; como se tivesse sido mantida muito tempo
descoberta em um ambiente gelado, e, demonstrava, se deliciar de cada
pedaço do meu corpo.
Um toque sutil, porém molhado, deslizou sobre minha coxa, subindo até
o vão entre minhas pernas, próximo à minha virilha, mexendo com cada
célula do meu corpo. Automaticamente minhas pernas fizeram menção em
se fecharem, mas fui interrompida de o fazer. Se pudesse apostar, diria que
aquilo era o toque de uma língua escorregando em meu ponto mais íntimo.
Me revirava de um lado para o outro na cama, de olhos fechados. A
sensação não passava, parecia estar presa naquele sonho sem fim. Em uma
tortura lenta e deliciosa.
Notei quando suas mãos pousaram sobre minha cintura, e um corpo
pesado se debruçou sobre mim. A respiração quente atingiu a minha pele de
maneira gentil, porém, me afetou como um furacão.
Aquilo parecia se aproximar do meu rosto. Podia quase sentir sua pele
tocar a minha.
Um toque suave e macio brincou com os meus lábios, um beijo, eu diria.
Tão rápido que mal pude entender o que desejava.
Quem sabe, o que quer que isso fosse, estava apenas curioso.
Sua mão desceu até o meu quadril e deslizou para debaixo de mim,
agarrando a minha bunda e puxando-me para fazer pressão contra seu
corpo.
Sentia sua excitação por baixo do tecido áspero, tocando minha
intimidade desnuda e se aprofundando ali, com força.
Gemi baixo, molhada e desejosa.
Respirei fundo, sentindo o ar se encurtar em meus pulmões quando,
beijos molhados tocaram o meu pescoço e sugaram a minha pele.
A sua língua brincava de escorregar em meu pescoço, subindo e
descendo. Chupando e ansiando ter mais.
O desejo daquilo parecia falar alto o suficiente para me cobiçar com
todas as suas forças. "Ele" estava ofegante e excitado. Estava se segurando,
podia pressupor isso.
Minha intimidade latejava, pois, por alguma razão, eu vivenciava daquele
mesmo desejo sujo.
Eu podia imaginar o que aquilo sentia, parecia tão forte, e me queria da
maneira mais possessiva.
Sua extrema necessidade de mim, fazia com que a coisa revelasse seu
mais profundo desejo em me tomar. Mas parecia cauteloso ao se relacionar
comigo daquele jeito.
— Bons sonhos, Dingo — sussurrou, e então, o peso sobre mim
desapareceu, deixando marcas de medo e espanto em minha mente ao
reconhecer o dono da voz.


Querido psicólogo, eu sei que estará lendo esse capítulo, mas por favor,
não vamos mencioná-lo na nossa próxima consulta, eu juro que ainda estou
sã da cabeça... aliás, mais ou menos. Mas eu estou bem.
Foi sonho ou realidade? :)
Capítulo 11| Respostas

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



Meus dedos escorregaram curiosos entre os velhos e escassos livros da
biblioteca da cidade. Havia explorado a sessão espiritual de cima a baixo,
mas não havia encontrado nada similar à minha experiência.
Procurava por algo que me trouxesse respostas do que havia acontecido
no dia anterior. Obviamente eu não haveria nada nem perto de ter o título
"Descubra o porquê você teve alucinações com o cara esquisito que sua
irmã gosta" estampado na capa, porém, continuava vasculhando tudo ali,
como se de repente, fosse encontrar a solução.
Ainda não sabia ao certo o que tinha acontecido. Nem mesmo tinha
certeza de que havia saído de casa.
Tudo estava muito estranho, e as câmeras de segurança de dentro e fora
da minha residência, simplesmente decidiram que não iriam me mostrar
nada. Todos os registros das gravações de ontem haviam sido apagadas por
algum "Erro no sistema".
Sentia que estava jogando o jogo de alguém, cujo estava bem preparado
para manipular todas as minhas ações.
Estava um pouco paranoica hoje, olhando por entre os ombros a todo
instante. Minha cabeça ainda estava meio desnorteada. Me beliscava e
rolava os olhos em volta do lugar a cada cinco minutos, para ter a certeza de
que eu realmente estava na biblioteca.
Abria livro por livro e folheava todos os capítulos, mas não havia nada
que mencionasse energia espiritual sendo sugada. Procurei sobre almas, no
entanto, havia apenas algumas passagens bíblicas que não faziam muito
sentido para mim.
Tinha quase certeza de que eu havia sido possuída. Talvez a culpa fosse
da minha imaginação fértil sendo regada pelo o que imaginei ter ouvido de
Christopher.
A real era que tudo havia ficado de cabeça para baixo em minha vida
desde o momento em que ele apareceu.
No fundo, eu sinto que há algo muito, muito errado acontecendo.
— Não vai levar nada, Dy? — me assustei com a voz gentil atrás de mim
e estremeci.
Me virei atônica, com a mão sobre o coração disparado em meu peito. E,
pela forma que ele me encarava, provavelmente eu estava pálida agora.
— Oi, Ben — consegui murmurar. — Que surpresa te ver aqui.
Ele consegue disfarçar a expressão intrigada em seu rosto e curva um
meio sorriso. Seu cabelo encaracolado recai sobre a testa, enquanto os seus
olhos amáveis mudam de direção, olhando em volta, desconcertados.
— Desculpe. Eu não queria te assustar. — lamenta.
Adorava o jeito que Benjamin parecia um misto de rebeldia, mistério, e
ao mesmo tempo, timidez. É realmente fofo.
— Tudo bem. Eu só estava... — apontei para os livros as minhas costas e
balancei a cabeça. — Sei lá, acho que procurando alguma coisa.
Ele juntou as sobrancelhas e enfiou as mãos no seu grande casaco preto.
— Para algo em particular? — apontou com o queixo para o livro de
tradições espirituais que eu segurava em minha mão.
— Co-coisas para um trabalho escolar. — Pigarreio, nervosa
Ben me olha com desconfiança, mas resolve não rebater. Mentir não é
um dos meus pontos fortes e qualquer um com o menor nível de percepção
saberia.
— Quer ajuda? — oferece, aproximando-se da prateleira e conferindo as
obras ali.
Tombo a cabeça para o lado.
— Sabe algo sobre o mundo espiritual?
Ele se vira para mim.
— Para a escola? — pontua, curioso.
— Foi o que eu disse.
Ben confere seu relógio de pulso.
— São 10 horas, não deveria estar estudando?
Passo os dedos pelos lábios, sentindo minhas bochechas queimarem de
vergonha.
É. Eu meio que fiz um desvio no caminho para a escola. Estava
morrendo de medo de encontrar com Christopher. Definitivamente não
estava preparada para esse momento.
— Talvez...?
Benjamin solta uma risada discreta, exibindo seu lindo sorriso.
— Não sabia que curtia matar aula, Dy — brinca.
Ele se estica e alcança um livro no alto da prateleira, tirando de lá o
objeto empoeirado e velho que eu ainda não havia notado.
— Provável que seja a coisa mais próxima da realidade que vá encontrar
nesse lugar. — ele o estende e fazemos uma troca, para que Ben devolva o
que eu estava em seu lugar.
— Por que? — investiguei, espanando o livro com a mão, o que
consequentemente fez o meu nariz coçar.
— Os outros são medíocres e contam histórias que não tem o menor
cabimento. Às vezes eu penso em trocá-los de lugar para a sessão infantil,
mas ele ali... — apontou para o bibliotecário distraído no balcão que parecia
ser apenas uns cinco anos mais velho do que eu — está sempre atento a
essas merdas. Ele acha mesmo que essas histórias são reais. É um idiota,
não, pior que isso, é um ignorante que nem se dá ao trabalho de levantar a
bunda do lugar e descobrir do que merda esses livros falam.
Sorri com o seu desabafo.
— Não sei porque, mas sinto que você estava guardando isso há muito
tempo. — comento em tom de brincadeira e denoto suas bochechas
ganharem uma adorável cor rosa.
— Foi mal. É que eu vim de uma família cheia de médiuns e espíritas. E
eu odeio ver tanta mentira assim.
Essa é uma informação realmente relevante.
Se por algum acaso Ben decidir me ajudar a investigar seja lá o que
aconteceu comigo, pode ser que eu chegue em algum lugar. Do contrário,
terei mesmo que levar em conta a alternativa de ser exorcizada.
— Tudo bem. Dá para entender a sua frustração. E a propósito, valeu! —
agradeci, balançando o objeto velho, com folhas que pareciam estar se
decompondo.
Com sorte, conseguiria encontrar páginas inteiras.
— Não encana. Quer tomar um café?
Bingo! Aí está o que eu queria ouvir. Não é como eu estivesse me
aproveitando dele, de todo modo, foi ele quem me convidou.
— Adoraria! — sorri.

— Vem cá, que tipo de coisas você lê? — apoiei os cotovelos sobre a
mesa com curiosidade, sentindo a fumaça do café quente preencher as
minhas narinas.
— Tenho um gosto muito específico para leituras.
— Gosta de leituras sobre espíritos?
— Gosto de leituras sobrenaturais e sangrentas.
Ergo as sobrancelhas.
— Nada de romance então?
— Há um pouco de romance nisso, não acha? — ele leva a sua xícara aos
lábios, tomando um pequeno gole do seu café.
— Acha romântico o sangue? — questiono, confusa.
— A morte — corrige.
Batuco os dedos em meu rosto, pensativa.
— Ainda prefiro os meus romances bobos. — digo.
— É claro! Tem final feliz e tudo.
— E para quê alguém leria livro para ficar triste? A vida real já não é
monótona o bastante?
— Depende do ponto de vista. Tem gente que adora finais tristes para
sentir algo.
— Gente masoquista, é o que quis dizer.
Ele sorri, achando graça.
Por um breve momento, o silêncio se instala, levando-me a tomar
coragem para levar esse assunto por um caminho mais delicado.
— Ben — murmuro — Tem uma coisa que eu deveria ter dito a você.
Ele ergue uma sobrancelha, curioso.
— Eu sinto muito por aquele dia na festa. Não queria que você fosse
envergonhado daquele jeito pelo...
— Christopher — conclui.
— É — confirmo baixo.
— Não se preocupe com isso. Ele adora essas brincadeiras sádicas para
constranger as pessoas.
— É. E adora ser um escroto também.
Benjamin ri.
— Só se mantenha longe de tudo que diz respeito a ele e vai ser poupada.
— O que há de tão errado nele que todos sempre me avisam para manter
distância? — questionei, incrédula.
— Bem, você não vai querer realmente saber. Mas, resumindo, ele é um
cara infernal. De um jeito singular.
— Desculpa, Ben. Vou precisar que me conte um pouco mais do que
apenas isso. — insisti e ele suspirou, apoiando as costas no estofado de seu
assento.
— Dytto é... complicado, sabe? Ele não é como as outras pessoas que
você conhece. Christopher não pertence a nós, de certo modo. Ele é
deslocado, e vive no próprio mundo, um mundo cheio de sombras e
maldade. Ele não possui senso comum, é egoísta e adora destruir tudo e
todos que lhe der na teia. Tudo sempre se trata de uma tortura psicólogica e
física para ele.
— Se ele é tão ruim, por que vive cercado de pessoas que parecem o
admirar tanto?
— As pessoas que geralmente andam com ele, parecem, ridiculamente
dizendo, "adorar ele". — Ben faz aspas com os dedos — De um jeito bem
insano. — acrescenta, desconfortável.
Aperto os olhos.
— Tipo um deus? — indago, confusa.
— Tipo o diabo. — conclui — É por isso que todo mundo sempre alerta,
não só você, mas a qualquer um, de permanecer bem longe.
— Isso é meio complicado pra mim agora. Ele está estagiando na minha
escola. — cochicho.
— Ah... Mas que droga!
— Pois é. Só espero que ele não alongue a estadia. Eu já não o suporto
mais. — sopro frustrada, esfregando as mãos nas mechas do meu cabelo —
Ele é tão esquisito, e me diz coisas que não fazem o menor sentido.
Benjamin olha para baixo e cruza suas mãos uma na hora. O clima parece
denso agora, muito diferente de minutos atrás.
— Tome cuidado, Dy. — sua voz soa tensa, enfatizando seu alerta — Ele
provavelmente vai atrás de você para conseguir o que quer, e depois que
conseguir, vai sumir da sua vida. Se for esperta, vai ficar bem longe dele.
— E o que ele quer? Sexo? — questiono com ceticismo.
— Talvez não seja só sexo. — sussurrou, tão baixo, que precisei me
esforçar para ouví-lo.
— E o que mais poderia ser? — minha voz falhou ao dizer.
Eu não queria ter que pensar nas possibilidades e acabar descobrindo
que poderia ser a pior delas, mas estava nervosa e desesperada por uma
luz.
Benjamin forçou um sorriso nos lábios, fingindo um bom ânimo que não
parecia existir ali.
— Vai ver ele só quer tirar a sua paciência, Dy. — desconversa, levando
a sua xícara aos lábios e se demorando mais nela desta vez, como se
quisesse fugir do assunto.
— Na melhor das hipóteses, certo? — sondo, apreensiva.
Benjamin deixa que o ar escape de seus pulmões, incerto.
— Apenas seja desinteressante para ele.
— Pensei que eu já fosse desinteressante o suficiente, mas acho que foi
isso que o fez se interessar. — murmuro — Aparentemente a minha alma é
muito "pura".
Por um instante, Benjamin parecia concentrado em seus pensamentos. A
testa franzida e os olhos estagnados. Até que suas sobrancelhas saltaram e
seu olhar se iluminou.
— Faça o oposto até ele perceber que você mudou.
— O quê?
— O desafie, Dytto. Mostre a ele que não há mais nada que ele precise
fazer. Mostre-se impura e obscena.
∆∆
Será que vem Dytto babadeira por aí?
Capítulo 12| Madrugada longa

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



— O que é, o que é... — Loren cantarolou, entrando de fininho em meu
quarto — Que... do nada: faltou uma missa — ela contou no dedo — matou
aula — contou com um segundo dedo — e está se escondendo da irmã na
cara dura? — finalizou em um terceiro.
— Essa eu sei! — ergui o braço com empolgação — Uma garota que
precisa urgentemente de férias.
— Oh, não! Errado. É uma garota que está precisando contar para a irmã
uma porrada de coisas.
Revirei os olhos.
— Ainda prefiro a minha resposta — contesto.
Loren se jogou em minha cama, interrompendo a leitura que Benjamin
indicou. Eu havia acabado de dar início, mas estava começando a
considerar esquecer essa teoria estúpida e fazer logo um teste toxicológico,
porém tinha medo de que meu pai descobrisse e viesse fazer perguntas, eu
não saberia o que dizer.
Ele estava sempre dentro do hospital, e era quase impossível não o
contarem sobre. E mesmo que eu decidisse ir a algum outro, ele saberia por
seus amigos.
Médicos são quase uma máfia que atuam em conjunto para dedurar filhas
de outros médicos. Acho que isso deve ter feito parte do juramento deles:
Prometa sempre fuxicar quando a filha de um médico for fazer algum
exame meramente suspeito.
Eles não deviam, mas todos os médicos que eu conhecia, já haviam
dedurado algo sobre mim ou Loren para o meu pai.
— Então pequena tigresa, o que a faz pensar que não deveria ter me
avisado sobre o "Gostoso e... alto e... tesudo..." Ahnn, espera aí, aquelas
garotas também tinham dito algo mais — Loren fingiu pensar por um
segundo e continuou — ISSO. Elas também haviam mencionado, "...e
tatuado estagiário Christopher que não parava de encarar uma senhorita
chamada Dytto na sala de aula".
Meu rosto se acendeu e precisei escondê-lo, deixando que algumas
mexas caíssem propositalmente em minha frente para que Loren não visse a
vergonha e o constrangimento estampados em minha cara.
Merda!
— São muitos adjetivos para uma pessoa só, não acha? — tento
minimamente disfarçar, mas a minha voz vacila.
— Ah, são sim. Mas o que eu mais ouvi falarem pelos corredores foi algo
como "Ele parecia comer ela com os olhos durantes as aulas, e só queria se
sentar perto dela o tempo inteiro".
Arrepios percorreram do meu dedo mindinho até a raiz dos meus cabelos.
— Que mentes criativas — engoli em seco.
— É, talvez elas façam muito sucesso se fizerem uma fanfic no Wattpad.
— ironizou, parecendo meio irritada.
Cansada desse joguinho, deixei o livro de lado e soltei um suspiro.
— O que quer eu diga, Lô? — rendo-me.
— Eu? Nada. — ela age com indiferença, balançando os ombros.
Odeio quando é ela quem age como a irmã mais nova e birrenta.
— Ok. Eu sinto muitíssimo por não ter te contado, está bem? Deveria ter
te avisado? Sim. Mas não avisei para te proteger. Eu juro que não foi por
mal.
— Não avisou o quê exatamente, Dytto? — ela semicerrou os olhos.
— Que Christopher estava na escola? — respondi incerta.
— Eu não estou nem aí para isso. Só queria que tivesse me contado que
aquele filho da mãe estava no seu pé. — ela se senta bruscamente na cama,
virada para mim — É por isso que tem estado distante desse jeito? Dytto ele
te machucou? Se ele te fez algo, eu juro por tudo que eu mato ele.
— Só fique calma, está bem? Está tudo certo. Ele só... se sentou próximo
de mim porque eu precisava de ajuda, e, sinceramente, eu acho um grande
exagero dizer que ele ficou me olhando o tempo inteiro — sorri
nervosamente.
Mentiras e mais mentiras.
Acho que no fim, Christopher está mesmo me moldando para ser
exatamente o que ele queria que eu me tornasse, sem nem se esforçar. Mal o
conheço e agora eu tenho uma pequena carga de mentiras e segredos se
enchendo lentamente.
— Fala sério, Dy! É claro que não é só isso. Christopher tem interesse
em você. Não seja ingênua.
Reviro os olhos e tento ignorar o pequeno frio na barriga que senti ao
ouvi-la dizer isso. Um rápido lapso de memória das mãos de Christopher
tocando o meu corpo com indecência me vem à mente e estremeço. Tento
não parecer afetada e mantenho meu olhar preso ao seu.
— Para. Isso é só a "Loren preocupada " tentando agir como se fosse a
minha mãe, por favor, volta ao normal e aí nós conversamos como duas
IRMÃS civilizadas, está bem? — levei minha atenção ao meu celular.
Por soslaio, notei que ela me encarava como se fosse arrancar todos os
meus dentes de uma só vez, mas vendo que eu não iria dizer mais nada,
decidiu me escutar. Por alguns segundos Loren apenas inspirou e expirou,
repetindo a tarefa por mais algumas vezes, até que finalmente pareceu
encontrar alguma calma dentro de si.
— Dytto — sua voz soa falsamente mais leve.
— Sim, querida? — respondi ainda mais suave.
— Ouvi dizer que tem um garoto mal intencionado te encarando pela
escola. Poderia, por favor, me avisar se ele tentar algo contra você, apenas
para que a sua... — ela aponta para si — irmã, que já conhece o longo
histórico de coisas ruins que esse garoto mal intencionado já fez na vida,
possa ter a chance de arrebentar a cara dele. Hum? — ela finaliza jogando-
me uma piscadela.
— Loren — repeti o gesto.
— Sim, querida?
— Poderia, por favor, me contar desse longo histórico para que a sua...
— apontei para mim — irmã, saiba lidar com isso sozinha como um ser
humano normal faria? — rebati com outra piscada.
Loren estreitou os olhos e balançou a cabeça, cética.
— Saco! — resmunga.
Sorri com cinismo.
— Uma barganha de alto nível. — zombei, vendo-a ficar vermelha de
raiva.
— Quer saber. Eu não estou nem aí. — ela se levantou.
— Ei! — reclamei, mas quando um sorriso perverso surgiu nos seus
lábios, percebi que ela estava só me enrolando.
— Você está em total desvantagem, Dy.
— Estou, é?
— Está. Agora vem, nós vamos sair.
— O quê? Para onde?
— Festa. Você está enjaulada aqui dentro já faz um século.
— Não seja exagerada.
Loren me ignora e caminha até o meu closet, arrancando de lá uma
variedade de roupas, em maioria, peças roubadas do guarda-roupa dela.

— De jeito nenhum! — berrei ao constatar o meu reflexo no espelho.
— Ficou ótima — Loren discordou deitada em minha cama, distribuindo
o peso do corpo nos cotovelos.
Ela já está pronta, vestida em uma camiseta cinza, curta e uma minissaia
pregada, parecida com a minha.
— Está um frio do caramba hoje. Eu não vou com isso, essa saia não
cobre nem a metade da minha bunda. — reclamei, virando para os lados
enquanto puxava o tecido para baixo.
— Não vejo nada de fora.
— Ah, jura? Daqui eu consigo ver a minha vagina inteira sem nenhum
esforço — rebato e ela balança a cabeça.
— Estamos indo para uma festa, não para um convento.
— Que bom que me lembrou que estamos indo para uma festa, porque
com essa roupa que você escolheu, poderia jurar que estávamos indo nos
prostituir.
— Você tem 17 anos, Dy. Essas coisas não vão ficar levantadas para
sempre. Vai me agradecer quando estiver tudo murcho e você ter tido a
experiência de mostrar enquanto ainda estava duro.
— A minha bunda não vai ficar murcha. — protestei.
— Eventualmente a de todo mundo vai.
Faço careta.
Tento me conformar com o fato de que realmente irei com essa roupa,
apesar de ser completamente desconfortável. Por outro lado, é uma boa hora
para ser um pouco mais ousada, assim como Benjamin me aconselhou.
Acho que se eu fingir bem o bastante que sei ser diferente, talvez consiga
começar a agir um pouco mais "vulgar" perto de Christopher sem que
pareça algo mecânico.
Quem sabe assim, ele note que eu não sou nenhuma "Santa puritana das
virgens" que me julgar ser e finalmente me deixe em paz.
— Eu vou morrer de hipotermia e a culpa é toda sua — reclamei uma
última vez antes de sairmos.

— Vem cá, por que demoraram tanto? — Claire advertiu assim que nos
recebeu na porta de sua casa.
— Dytto não queria vir. Precisei suborná-la. — Loren confessou com
pressa, sem sequer me dar a chance de tentar explicar.
Lancei-lhe um olhar acusatório, mas não surtiu o menor efeito.
— Como sempre, não é. Dy? — a ruiva brincou.
— O que posso fazer se nasci com defeito. — disse e ela riu.
— Vamos, tem um montão de gente no jardim.
Caminhamos juntas em direção ao fundo da casa, onde um rock metal já
tomava conta do ambiente, explodindo em nossos ouvidos.
Dentro da enorme piscina, no centro do jardim, estava uma parte dos
convidados. Na lateral esquerda, alguns brincavam com uma grande bola
colorida, enquanto outros flutuavam alheios em cima de boias, com cigarro
de maconha na mão.
O resto se mantinham espalhados. Uma porção na parte da churrascaria, e
a outra deitada na cama balinesa, visivelmente alterados.
Claire não vinha de uma família rica. Aos 11 anos, sua mãe — uma
simples dona de casa — conheceu um milionário, por quem se apaixonou e
acabou casando-se, desde então, ela acabou sendo inserida em um nível
social bem mais alto, porém nunca deixou que isso lhe subisse à cabeça,
pelo contrário. Ela e o seu padrasto se dão muito bem, e, algumas vezes, ele
cede a sua majestosa casa para que ela faça festas.
Marcos, como sempre, foi o primeiro a se aproximar de nós. Ele
cumprimentou Loren com um leve aceno desinteressado, mas quando me
notou um pouco mais escondida e envergonhada atrás dela, seus olhos
foram tomados por um certo tipo de interesse e sua boca se abriu em
surpresa.
— Caramba! — murmurou, antes de beijar a minha bochecha e me
abraçar.
Com certeza o garoto está exagerando para puxar o meu saco.
Finjo não tê-lo escutado, já que a menor brecha significaria — para ele
— que estou perdidamente apaixonada. Marcos é meio carente.
— Caramba, só tem gente feia aqui — Loren cochichou, franzindo o
nariz em uma careta enquanto vasculhava o quintal com os olhos.
— Tem eu para salvar — Marcos disse, afastando-se de nosso braço.
— Como eu ia dizendo, só tem gente feia aqui. — Loren repetiu
encarando-o Marcos revirou os olhos, mas não se demorou nisso, logo saiu
para cumprimentar seus amigos que haviam acabado de chegar com a
mesma animação de antes.
— Vamos pegar bebidas. — Claire avisou pegando a mão de Loren, no
entanto, parou por um momento e me olhou, como se apenas por educação.
— Eu vou ficando por aqui. — respondi, antes mesmo de ela perguntar.
Nada surpresa com a minha resposta, a ruiva assentiu e saiu arrastando a
minha irmã.

26 de Março| Terça-feira
Já passavam um pouco mais das duas da madrugada. Loren bebeu abessa
e agora estava dançando uma música eletrônica com Claire em meio a
multidão. Eu não me sentia confortável em fazer o mesmo, mesmo que
tivesse planejado me soltar um pouco mais.
Depois da meia noite, a casa lotou de pessoas que haviam acabado de
chegar. O som fora aumentado e uma grande agitação se formou.
Estava sentada entre Marcos e Joshua no deck da escada que dava acesso
ao jardim. Não haviam muitas pessoas à nossa volta, o que era realmente
legal, já que eu preferia lugares reservados
Me sentia indiferente aos outros, que pareciam genuinamente estarem
curtindo. Pensei em beber, mas se eu o fizesse, não poderia dirigir,
tampouco a minha irmã que já estava em um estado caótico de álcool. No
fim das contas, eu devo mesmo agir como o tipo de garota que Christopher
me julga ser. O que só me deixa ainda mais irritada.
— Vocês dois estão com cara de quem vão morrer de tédio a qualquer
momento. — Joshua comentou, levando a sua cerveja aos lábios.
— Não estou com estômago para bebidas, então estou me comportando.
— Marcos respondeu, irritado.
— E você, Dytto? Não vai conquistar nenhum cara hoje? Adoraria ver
outro duelo entre os machos alfas que você atrai. — Joshua zombou,
segurando o riso.
— Esquece isso. — murmurei envergonhada.
Não aguentava mais pensar na discussão de Benjamin e Christopher
como se eu fosse lá um grande prêmio. Em parte, ainda sentia raiva por ter
deixado a Torre tatuada tomar grande liberdade comigo na frente de toda
aquelas pessoas.
— Bebe algo ao menos. Ninguém merece ter que ficar de babá para a
irmã mais velha. — Marcos resmungou, encarando Loren dançar até o chão
agarrada em um cara.
— Não posso, tenho que nos levar para casa ainda vivas. — murmurei.
— Se você quiser, eu posso levar vocês — Marcos se ofereceu, a voz
baixa e lenta, carregada de malícia.
De canto de olho, vejo um sorriso maroto surgir nos lábios de Joshua,
como quem sabe o que o moreno ao meu lado está aprontando algo.
— Não precisa. Eu me viro com Loren. — respondi seca.
Ele, no entanto, pareceu não perceber e colocou a sua mão em cima da
minha coxa desnuda.
Odeio minissaias.
— Está bem. Mas se quiser, podemos ir para algum quarto. Aqui fora
está bem frio. — sussurrou.
Eu poderia estar morrendo congelada agora mesmo, e ainda assim não
iria a lugar nenhum com ele.
Minhas bochechas estavam ardendo de vergonha e os meus olhos
arregalados.
Joshua, que nos assistia em silêncio, já estava com o rosto
completamente vermelho pelo esforço que fazia para não rir, em
contrapartida, Marcos me olhava como um ator pornô prestes a fazer algo
obsceno.
— Eu acho melhor se continuarmos aqui. — declarei, afastando a sua
mão.
— Por mim, tanto faz. — cochichou baixinho.
Joshua soltou uma risada nasal e rapidamente emendou uma tosse como
desculpa de ter se engasgado.
— Cara, toma cuidado aí. — Marcos o alertou, ainda sem captar o que
estava rolando.
Tinha quase certeza de que ele não estava cem por cento sóbrio como
afirmava.
Me assustei quando senti o seus lábios beijarem o meu ombro e
rapidamente me afastei.
— O que está fazendo? — indaguei, retraída.
— Só te fazendo carinho. — respondeu, para a minha incredulidade.
Abri a boca para argumentar, mas vendo a situação em que eu estava,
apenas balancei a cabeça.
— Eu vou ao banheiro — alertei, prontamente me pondo de pé.
Joshua não se aguentou e escondeu o rosto entre as mãos, abafando a sua
gargalhada.
Saio dali com passos rápidos e apressados para dentro da casa. Sem
nenhum destino e apenas procurando uma rápida fuga, vou em direção à
cozinha, mas ao colocar os pés na entrada, me deparo com a última coisa
que eu gostaria de ver.
Christopher
Com
Outra
Garota
Aos beijos.
A minha surpresa fora tão grande que minha visão, por um segundo,
tornou-se turva.
A garota loira estava de costas para mim, apoiada no balcão no meio da
cozinha, com Christopher agarrando violentamente os seus lábios enquanto
prensava o seu corpo com dureza. Ele mantinha uma de suas mãos atrelada
aos cabelos dela e a outra cobria quase toda a garganta da garota com a sua
enorme mão.
Engoli em seco, sem conseguir lembrar-me como se movia.
Meus batimentos cardíacos batiam num ritmo desregular. Não sabia ao
certo o que fazer diante daquilo, mas me sentia enojada.
Eu estava odiando presenciar essa situação com todas as minhas forças.
Quando ele notou a minha presença, afastou o rosto devagarinho e sorriu de
canto para mim.
Tentei reagir, mas me mantive paralisada. Eu não fazia ideia se ia até a
geladeira pegava algo e saia, ou se simplesmente ia embora. Christopher
não me dava muitas escolhas, senão agir como uma completa idiota que
sempre caia na sua intimidação.
Senti arrepios percorrerem toda a minha pele e abracei o meu próprio
torso.
A minha mente insistia em relembrar os seus toques íntimos em mim.
Sabia da possibilidade de ter sido tudo uma grande alucinação, mas
parecera tão real que me tirava o juízo.
Ele sussurrou algo para a garota e ela prontamente se virou em minha
direção.
Agora eu tinha dois pares de olhos me encarando. Que beleza!
— Eu vim buscar cerveja. — expliquei, desconcertada.
Christopher me encarava desacreditado, como se eu tivesse dito que vim
buscar um Alien na cozinha. A garota, no entanto, apenas se mantinha
curiosa sobre a minha presença.
— Pode pegar a sua bebida então. — ele disse, a voz provocativa e baixa.
Seus olhos verdes cravaram em mim com indecência e se fixaram sem
desvios. Até a sua "amiga" notou e tentou buscar por sua atenção, mas
fracassou, visto que Christopher pretendia priorizar o seu jogo sádico
comigo.
Fui com passos em falso até a geladeira, que, por sinal, estava bem
abastecida de álcool. Eu não queria uma cerveja, nem mesmo gostava do
sabor, porém, assim mesmo peguei a primeira garrafa que vi.
Eu só precisava sair logo daqui, mas ao me virar, o encontrei observando
o tamanho da minha saia com reprovação, suas sobrancelhas estavam
franzidas e a expressão séria. Seu olhar subiu bem devagar, até pousar em
meu busto. Agilmente o cobri com os braços, vendo isto ele achou graça.
— Eu vou para o jardim. — a garota informou, frustrada e saiu pisando
duro.
Christopher não se deu ao trabalho de se despedir ou protestar, ele nem
mesmo parecia ter se importado com isso,
— Venha aqui, eu abro para você. — disse firme, apontando sutilmente
para a garrafa em minhas mãos.
Balancei a cabeça, negando. Eu não iria mover os pés dali, estava com
medo agora que só havia nós dois no mesmo cômodo.
Sentia meu rosto enrubescer e o meu estômago revirar-se de ansiedade.
Minha respiração falhou e me encolhi no lugar.
— Uma hora, não vai ter mais que se esconder de mim — provocou,
como se isso fosse uma promessa.
Franzi o cenho, olhando-o confusa.
— Você faltou à escola — comentou aborrecido.
Christopher estava irritado comigo. De modo que, faltar, teria sido um
grande desrespeito a ele.
O que é que ele queria desta vez?
— Não me sentia bem — sussurrei.
Seu olhar ganhou intensidade, estava mais sombrio agora. Ele apoiou
seus braços fortes no balcão, tensionando seus músculos e salientando-os.
Mais uma vez engoli em seco, sentindo uma pequena queimação surgir
entre o meio de minhas pernas. Perdida em um transe, me vi fascinada pelo
o seu corpo.
Ligeiramente meu olhar subiu e desceu pelos seus braços cheios de veias
e tatuagens. Seus cabelos negros estavam bagunçados de um jeito
selvagem, e suas roupas eram de um estilo mais pesado, combinando com o
que sua personalidade transparecia, porém menos vulgar do que ele era, ou
então estaria completamente nu.
Continuei estática no lugar. Se mexer certamente não é mais uma opção
aqui, pelo menos, não quando ele me olha assim. De forma que mandasse
em mim e definisse que é ele no comando, não eu. Me desafiando com
esses olhos afiados e maldosos.
Seu foco estava inteiramente em meu rosto, sempre ardente e furioso.
— Por que faltou? — interrogou, grave.
De repente, senti-me como se estivesse levando um esporro de um chefe
de trabalho.
Balancei a cabeça.
— Eu já disse que...
— Não. A verdade, Dingo. Eu quero a verdade. — Exigiu bruto.
Ergui uma sobrancelha. Agora eu é que estava tomada pela raiva.
— Eu não te devo satisfação. — ousei dizer, o que rapidamente o fez
erguer o seu corpo.
Seu breve movimento fez meu coração pulsar mais forte no peito.
Christopher começou a andar em meu rumo e agindo por impulso, recuei
vários passos de uma só vez. Sem calcular para onde ia, bati a cabeça na
geladeira.
— Ouch! — gemi de dor, levando a mão de encontro ao local.
Christopher rodeou seu braço em minha cintura e me puxou para ele. O
nervosismo tomou conta de mim e a minha boca ficou seca. Minhas pernas
agora davam a impressão de que a qualquer momento cederiam e eu cairia
no chão.
Ele segurou a minha nuca e minuciosamente analisou a minha cabeça,
enfiando seus grandes dedos entre o meu cabelo e afastando os fios ali.
Tentei me mover, mas ele me apertou com força em seu braço.
— Não cortou. — concluiu baixo — Não se afaste de mim novamente,
Dingo Bells.
— Não precisa ficar atrás de mim toda hora, sabia? — Me mantive
determinada, precisava manter a voz de Benjamin presente em minha
cabeça e rezei para que ele estivesse certo.
— Não, é? — sussurrou diabólico.
Ele tocou o seu corpo no meu e devagarinho aproximou seu rosto do meu
ouvido. Sua respiração quente reverberou em minha pele e
automaticamente fechei os olhos.
— Não acha que essa saia está curta demais, Dingo? — sussurrou, sua
mão escorregando devagarinho em minha coxa, e então deliciosamente
subiu por entre o meio de minhas pernas, até topar com a minha calcinha.
— Porra... — suspirou em meu ouvido.
Eu já estava ofegando. Presa à sua sedução, ao seu toque tão presente em
meu corpo, ao seu cheiro delicioso, forte e amadeirado, aos seus dedos
curiosos e possessivos.
Sem pensar, coloquei minha mão sobre o seu membro sob o jeans, senti-o
duro e quase o larguei, mas o encarei séria, como quem diz "Eu também sei
fazer".
Meu corpo estava tremendo, mas apertei com um pouco mais de força.
Mesmo morrendo de vergonha e assustada, encarei-o diretamente.
— Quer mesmo brincar disso? — ele disse sorrindo.
— Se você pode, eu também posso. — minha voz fraquejou e caiu um
tom ou outro, mas fiquei feliz em ao menos tê-la terminado.
— Acho que ainda não teve tempo para se acostumar comigo, não é?
Suas pupilas estavam dilatadas e vividas. Seu dedo lentamente afastou a
minha calcinha para o lado e o senti deslizar por entre os lábios de minha
boceta. Ele esfregou seu dedo ali apenas para me provocar.
Quanto mais eu agia na defensiva, mais isso o motivava. E quanto mais
indefesa eu ficava, mais excitado ele ficava. De toda forma, tudo se tornava
combustível para ele.
— Esse lugar me parece muito convidativo, ainda mais assim... tão
molhado — sibilou.
Um tremor percorreu todo o meu corpo, me fazendo delirar. Um pequeno
e baixo gemido escapou de meu lábios.
Christopher encostou seus lábios no canto de minha boca, e o senti sorrir.
Ele pressionou o meu clitóris e friccionou o dedo ali. Em seguida,
deslizou o seu dedo até a minha entrada, fazendo menção de se enfiar, mas
não o fez.
— Sabe a melhor parte, querida Dingo Bells? — perguntou risonho.
— O quê? — ofeguei.
— Você nunca vai conseguir me enganar. — ele riu — Te encontro
quando estiver sozinha.
Christopher repentinamente se afastou, causando-me atordoação.
Ele deslizou seu dedo —- que há poucos segundos estava em mim — nos
seus lábios, molhando-os com meu líquido. E então, saiu.
Apoiei minhas mãos em meus joelhos e precisei puxar o ar com força.
Meu cérebro parecia completamente sem oxigênio e minha cabeça rodava.
Mas que droga foi essa? Não deveria ter acontecido isso.
Definitivamente não devia!

Eita atrás de eita
Queria muito agradecer a todos vocês pelos comentários de apoio, fiquei
muito feliz lendo eles ❤❤
E sobre os dias de postagem, eu infelizmente não tenho dias fixos, mas
vou tentar estar postando com frequência.
Me sigam também no insta, estou sempre postando as prévias dos
próximos capítulos, interações, fotos do elenco e tudo mais para vocês, o
link está na bio ❤
Capítulo 13| Christopher

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



Ele está aqui.
Desde que chegamos da festa, fiquei ociosa com o que poderia acontecer.
Deveria ter sido apenas um sonho indecente com ele, mas, conseguia sentir
o seu peso atrás de mim, deitando-se em minha cama.
Não conseguia me virar nem mesmo se quisesse, meu corpo estava
inteiramente paralisado de medo.
O primeiro toque foi gentil e suave, seus dedos deslizaram suavemente
pelo meu maxilar, entretanto, não abri os olhos, ou só encontraria a vasta
escuridão do quarto, mas sabia que ele estava logo atrás de mim.
Sua pele, já não era mais quente como hoje cedo, agora estava fria.
Sua mão vagarosamente desceu pelo meu braço, em seguida, rumou à
minha cintura, ao meu quadril, e então, à borda do meu pijama. Ele o subiu
devagarinho e meu corpo tremeu em resposta.
Aquilo estava bom, e, inconscientemente desejei por mais. Estava
sedenta por seus toques. Mesmo que me causassem medo. Ou talvez, fosse
por esta razão que me sentia tão afetada em lugares que não deveria.
Isso é só um sonho — repetia a mim mesma mentalmente, várias e várias
vezes, só assim conseguiria conter a ansiedade crescente em meu íntimo.
Agora, com meu pijama erguido, sua mão se espalmou em minha bunda e
a apertou, meu coração imediatamente tornou-se eufórico dentro do peito.
E, como mais cedo, ele encontrou a minha calcinha. Senti meu rosto
corar e minha respiração ficar ofegante.
Seu dedo se esfregou em minha entrada, ainda por cima do tecido de
algodão.
Deixei um murmúrio baixo e retido escapar de minha garganta, e isso, o
deixou louco, seu toque em mim se tornou mais intenso, podia sentir sua
respiração alta.
Ele estava sedento por mais.
Pouco a pouco ele puxava a minha calcinha para baixo, deslizando-a
sobre minhas pernas, e então, se livrando por completo do meu corpo.
Eu estava em transe, com receio de mostrar que estava acordada, o que
eu desconfiava que ele já soubesse.
Christopher, ou o que quer que estivesse ali, se acomodou atrás de mim e
ergueu a minha perna, deixando-a sobre a sua coxa atrás de mim. Eu estava
completamente acessível para ele.
Apertei os dedos no lençol da cama e comecei a respirar mais rápido.
Não estava mais com medo, entretanto estava nervosa, sem saber o que
poderia acontecer.
Aquilo deslizou seu dedo sobre minha intimidade; que latejava
impiedosamente, esfregando-se ali.
— Seria tão fácil entrar em você, Dingo — ele sussurrou.
Arfei, atônita e ele riu baixinho, encostando sua cabeça na minha.
Sua temperatura me atingiu, e meu corpo inteiro se arrepiou. Ele estava
tão gelado agora.
— Chris... — minha voz soou arrastada e sedenta .
Ele arranhava o meu pescoço com os seus dentes causando-me deliciosas
sensações.
Sua mão pousou em minha barriga descoberta, e então desceu em direção
à minha virilha, remexi-me na cama ao notar que ele continuava movendo-a
para baixo, até que alcançou toda a minha intimidade.
Christopher cobriu toda a minha parte íntima com a sua mão, e, em
seguida, suponho que, com o dedo do meio, o escorregou para dentro de
mim.
Abri a boca em um gemido silencioso e enfiei meu rosto no travesseiro,
sentindo-o invadir a minha intimidade e deliciando-me com isso.
Uma sensação estranha, mas prazerosa, percorreu o meu corpo. Por instinto,
fechei as pernas e me contrai, em consequência, apertando seu dedo frio
dentro de mim. Não que eu não quisesse, mas tive espasmos ao sentí-lo.
Sua língua brincou com a ponta da minha orelha e desceu até o meu
pescoço, ele fez movimentos de vai e vem com seu dedo, dentro da minha
boceta e apertou sua intimidade contra a minha bunda.
— Eu disse que seria fácil, está toda melada — murmurou.
Acordei num impulso e sentei-me na cama, suada e ofegante. O coração
batendo feito louco. O sol já iluminava as frechas da janela, pintando o
quarto com raios de luz.
Segurei-me nos lençóis da cama para não cair para os lados e puxei uma
grande lufada de ar, como se estivesse afogando no mar e finalmente
emergisse.
Meus braços e costas doem muito, de modo que estivessem sido
eletrocutados.
A dor se torna tão insuportável que começo a chorar alto, feito uma
criança que acaba de se machucar.
Demora poucos segundos para que a porta do quarto se abra com mamãe
e papai me olhando preocupados.
Papai acende a luz e passa os olhos por todos os lugares, mamãe corre em
minha direção para me analisar.
Tento dizer algo, mas tudo o que sinto é dor.
Ambos ainda estão de pijama, creio que os dois tenham chegado não faz
muito tempo, pois aparentam cansaço em suas feições.
— Ei, estou aqui — minha mãe murmurava enquanto beijava a minha
testa, abraçando-me com força.
Papai analisa todo o quarto, embaixo da cama, dentro do closet, checa as
fechaduras, e, apenas quando determina que ninguém invadiu, é que se
senta ao meu lado.
Abraço o meu torso, trêmulo e dolorido, na falha tentativa de apaziguar
essa sensação horrorosa. Minha intimidade não doía, porém todo o meu
corpo parecia pesar e arder.
Loren surgiu na entrada da porta, de olhos arregalados e os cabelos
arrepiados.
— O que que foi? Aconteceu alguma coisa? Dytto, você está bem? —
metralhou de uma só vez.
Quando viu que eu não conseguia responder, intercalou o seu olhar
confuso entre nossos pais. Mas eles também não sabiam o que dizer.

— Tem certeza de que já está bem? — mamãe perguntou, sentada à
mesa, com todos nós tomando o café da manhã.
— Tenho, foi só um pesadelo — murmuro baixo.
Papai e mamãe relaxam, mas Loren ainda parecia desacreditar. Ela me
investigava minusciosamente com os seus olhos, mas não perguntou nada.
— Da próxima vez, não esqueça de rezar antes de dormir — papai avisa.
— Claro — sussurro.
— Tem certeza mesmo de que está bem?
— Estou, mãe.
— Você parecia aterrorizada quando entramos no seu quarto. Com o que
estava sonhando? — papai questionou.
Balanço a cabeça.
— Eu sei lá, eu só... não me senti bem, ok?
— Vou checar as câmeras de segurança, quero ter certeza de que
ninguém entrou aqui dentro.
— Pai, eu já estou bem — reafirmo, mas ele não parece convicto.
Solto um suspiro cansado.
— Vem, eu te levo para a escola — Loren avisou.
Acenei para os nossos pais em despedida e saímos as duas em direção à
garagem, mas antes mesmo que pudéssemos entrar em seu carro, Loren me
interrompeu.
— Você disse que queria saber quem ele é, não era? — pontuou, séria.
Frizo as sobrancelhas.
— Do que está falando?
Seu rosto estava sem expressão quando me olhou diretamente nos olhos.
— Me pediu para contar sobre Christopher. Quer mesmo ouvir?
Engoli em seco, sem entender como ela havia chegado aquela
contestação.
— Por que agora? — minha voz parecia querer prender-se a garganta.
— Me diga que não foi com ele que sonhou.
Minhas bochechas esquentaram e minha respiração tornou-se sôfrega.
— Vamos. Vou te contar uma coisa ou outra sobre ele. — decidiu, vendo
que não haveria respostas da minha parte.

Estou sem data pra postar, pois estou lotada de trabalhos da faculdade, é
isto, beijos.
Capítulo 14| Segredos

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Loren toma mais um gole do seu café expresso.
Estamos as duas sentadas no meio fio de uma rua distinta e quieta. Um
fino e ralo chuvisco recai sobre nós sem alarde.
Nuvens escuras vestem o céu e o som de folhas rasgando o asfalto se faz
presente, avisando-nos de uma bela chuva por vir. Se demorarmos muito
aqui, só servirá para nos molharmos.
Ela suspira alto, como se o que fosse me contar exigisse muito de si. Seus
ombros estão curvados e a cabeça baixa.
— Dy, eu preciso que me diga se sente algo por ele. — sua voz se torna
um murmúrio triste.
Uno as sobrancelhas.
— Eu não...
— Por favor, seja sincera! — pede, desta vez olhando-me diretamente
nos olhos.
Balanço a cabeça.
— Eu realmente não sinto nada por ele, Lô. — eu queria ter dito isso com
tanta firmeza que eu mesma acreditasse, mas o dizer só serviu para me
afundar em dúvidas e culpa.
Havia algum sentimento de minha parte por aquele garoto imprudente?
Eu não tinha certeza. Já não tinha mais certeza de nada há um tempo.
Ela umedeceu seus lábios, não muito confiante da minha resposta, mas, a
contragosto, assentiu.
Loren corrige a sua postura e vira-se em minha direção. Meus dedos
doem com a pressão que faço entre eles, apertando-os, a fim de controlar o
nervosismo.
— Como já deve ter percebido, Christopher é um garoto muito
complicado. — Ela solta um riso amargo e batuca os dedos em seu copo de
café, prendendo sua atenção ao asfalto à nossa frente.
— A família dele meio que tem... lendas.
Faço careta e ela sorri.
— É, eu sei. Mas não tem um jeito menos ridículo de dizer isso. A
família dele é muito, muito rica, mas não sabemos ao certo o quanto, só
sabemos que os antepassados dele vieram do Japão e que de alguma forma
foram importantes no desenvolvimento da nossa ilha Nabrya, apesar de
quase ninguém da cidade saberem quem são eles e quase sempre
distorcerem a história toda.
— Oh! — murmuro ao me dar conta de algo — É por isso que ele tem os
olhos meio puxadinhos, ele tem descendência japonesa — concluo.
— É — Loren assente.
— Então a família dele deve conhecer os Tanaka, não é? Isso se algum
Tanaka ainda estiver vivo.
— Talvez. Se todos vieram do Japão na mesma época, pode ser que eles
tenham mantido algum vínculo, mas é difícil saber. Todos eles se
esconderam da cidade depois que os boatos do que acontecia na família
Tanaka começaram a surgir. Quem sabe a família do Chris tenha tido algum
envolvimento nisso também. Basicamente todos tinham o mesmo costume.
— Acha que a família do Chris também fazia a mesma coisa?
— Há chances. A família dos antepassados do Christopher sempre foi um
pouco estranha. Cheia de mistérios, sabe? Aos poucos, as pessoas que
trabalhavam para a família, contaram que haviam muitas coisas bizarras e
sem explicações naquela casa.
Ela muda sua atenção para mim.
— Eles eram rígidos, pareciam pessoas normais e importantes aos olhos
de todos, porém, quando estavam em casa, costumavam ir para o porão, e,
de repente, havia muito barulho e gritos. Ninguém sabia ao certo o que eles
faziam lá, mas desconfiavam que fossem adorações ao diabo.
— Adorações ao diabo? — digo incrédula.
— É. Talvez tenham vendido a alma ao diabo para continuarem sendo
importantes — comenta despretensiosamente — Só que depois de anos, a
família foi crescendo, e os descendentes pararam de descer ao porão. Eles
pareciam saber de algo e que não deviam continuar com aquilo. Assim que
o o chefe da família morreu, eles a demoliram e se mudaram. Quando
Christopher nasceu, todos da família notaram coisas estranhas. Ele não era
uma criança comum, era... bizarro.
— Bizarro?
— Não fisicamente, mas no comportamento. Ele não era como as outras
crianças, parecia estar sempre conversando com pessoas que não eram para
estar ali, pessoas mortas.
— Talvez fossem apenas amigos imaginários. — suponho.
— Não. Christopher não é do tipo que tem amigos imaginários.
Entenderia o que digo se você o conhecesse de verdade.
— E você o conhece? Vai ver alguém só queria criar uma história de
terror bizarra.
— Eu não tirei essa história do meu rabo, Dytto. A mãe de um amigo
trabalhou com a família do Christopher. E também, não é como se
precisasse de muito para acreditar. Qualquer um que já tenha ouvido falar
de Christopher sabe que ele não é "comum".
— Ok... Então, Christopher sempre foi estranho assim?
— Bom, sim. Quando andávamos juntos, ele nunca criava intimidade
com ninguém, sempre tratava a todos do mesmo modo em que você viu. Eu
gostava dele porque eu era a única com quem ele não era maldoso, não
porque gostasse de mim — ela sorri triste —, mas porque eu era tão
insignificante pra ele, que Chris sequer tinha tempo para notar a minha
presença.
Queria dizer algo para confortá-la, mas isso só deixaria tudo ainda pior.
— Mas aconteceu algo que a chateou, não é?
Ela deixa que o ar escape de seus lábios e abaixa a cabeça.
— Ele gostava de ir para a floresta sozinho às vezes. Um dia eu o segui,
ele me viu e ficou irritado, mas eu insisti até que ele deixasse. Não demorou
muito para eu me arrepender. — suspira.
A olho com curiosidade.
— O que aconteceu?
— Ele tinha ido fazer um ritual.
— Ritual? O quê? — praticamente berro — Loren, por que você ficou lá
com ele?
— Eu estava doida por ele, Dy. Teria feito qualquer coisa que me pedisse.
— Mas você não é assim!
— É, mas na época, eu não era tão esperta.
Mordo a ponta do dedão e respiro fundo. Não quero ter que lhe dar lição
de moral, Loren já contrariou todos os seus princípios antes, imagino que
deva ter aprendido algo com isso.
— O que aconteceu depois? — sussurro.
— Ele arrancou a cabeça de um coelho, acendeu algumas velas e disse
algumas palavras que eu não entendi muito bem, talvez fosse latim ou
hebraico.
Loren estalou a língua e deixou que os ombros caíssem.
— Eu me senti vigiada o dia inteiro depois daquilo e fiquei ouvindo umas
coisas estranhas. — ela tinha os olhos distantes agora, estava imersa em
seus pensamentos enquanto me contava. — Era uma sensação bizarra e
desoladora. Eu não sei, Dy, mas parecia que tinha alguma coisa ruim me
seguindo, entende?
Arregalo os olhos.
Sinto raiva, decepção e angústia, tudo de uma só vez. E o pior, odeio
saber que Loren esteve tão envolvida no que sentia que nem sequer
conseguia ver o que estava bem à sua frente.
— Quando ele terminou, eu corri para um canto e comecei a vomitar.
Tudo o que ele fez, foi dizer: "Se não dá conta, era melhor não ter vindo", e
então foi embora.
Solto o ar pela boca, frustrada demais.
Sabia que Christopher era um tremendo filho da puta, mas não assim,
pelo menos, não a esse ponto.
— Ele matou um coelho — repito baixinho, completamente atordoada.
— É, Dy, matou. Dá pra parar de prestar atenção apenas nisso?
— Como você se apaixonou por isso? — esbravejo.
— Eu... — as palavras somem de sua boca e ela simplesmente se cala.
Enfio os dedos entre os cabelos.
— Termina. — peço, nauseada..
— Eu queria parecer descolada, então continuei seguindo ele até a
floresta para vê-lo fazendo rituais. Toda vez que eu sentia vontade de
vomitar, prendia a respiração e começava a pensar em você. — admite,
decepcionada. — Era a única coisa que não me fazia sentir enjoada.
Pouso a minha mão sobre a sua, em apoio.
Loren pouco se importar consigo mesma me deixa angustiada e em um
tipo de posição em que eu não queria estar. Era para ser ela a me aconselhar,
não o contrário.
— Não devia deixar uma paixão te levar para o fundo, Loren. Sofrer pelo
o que não tem, é melhor do viver perto de alguém na ausência de um
sentimento não recíproco que você insiste em gastar esforços.
— É fácil falar quando se está de fora da cena, Dy. Eu não sentia que
merecia ser amada, eu só queria que ele me visse. — cochicha.
Loren vira a palma da mão para cima e cruza seus dedos nos meus.
— Um dia, ele deixou que eu mesma fizesse aquilo, e eu fiz. Nunca me
senti tão mal na vida. Tive pesadelos com coisas estranhas por vários dias
seguidos, foi quando pedi a ajuda de uma amiga bruxa e ela me deu alguns
cristais como amuleto. Eu os deixo ao lado da minha cama agora.
— Fez rituais, Loren? — pontuo, surpresa.
Ela suspira, cansada.
— Não vamos tocar nesse assunto.
— Minha nossa! Ok, mas, e como eram os seus.... — pigarreio,
constrangida — pesadelos?
— Eu estava dentro do inferno. Christopher também estava lá, mas ele
era um demônio que torturava almas, e sempre que ele notava a minha
presença, começava a correr atrás de mim, pronto para me matar ou torturar,
sei lá. Ele manipulava tudo em volta para me amedrontar. Passei dias e dias
sem conseguir dormir.
— Oh! Os seus pesadelos... — engasgo, constrangida — são assim?
Tipo.só.correr?
Ela franze o cenho.
— Os seus, não?
Meu rosto imediatamente se incendeia.
— M-meio que não, e-eles são um pouco... Continua.
Seu rosto demonstra confusão, mas, ao notar o meu embaraço, ela opta
por não insistir no assunto.
— Depois dos cristais, não tive mais pesadelos com ele. Ainda tentei ter
algo com Christopher, mas ele não quis nada. Um dia estávamos brincando
de beijo ou consequência, e quando o colocaram para me beijar, ele disse
que não iria ficar comigo, e então, preferiu nada em um lago gelado do que
me beijar — revela, magoada.
— Caramba! — murmuro, triste.
— Não começa. Se ficar deprimida por minha causa, eu te jogo na frente
de um caminhão. — impõe, séria. Ela odeia que sintam pena dela ou até
mesmo que tentem a consolar.
Loren ainda não superou o que aconteceu, isso ficou mais claro do que
tudo o que eu ouvi, mas, o que me dói, é saber, que ela ainda sente algo por
ele.
Seus olhos se mantêm grudados no chão, como se fizessem todo o
esforço do mundo para não derramarem lágrimas.
Pressiono os seus dedos no meu, chamando a sua atenção e sorrio para
ela quando seus olhos me encontram.
— Podemos sair daqui? Vai chover e se vamos matar aula, vamos fazer
direito.
Ela bufa.
— Eu não devia te deixar faltar mais um dia. Vai ficar atrasada pra
caramba na escola.
— É, mas eu não estou pronta para ver o Christopher ainda.
— Vai me contar o que ele fez?
Minhas bochechas esquentam.
— Não vamos falar sobre os rituais que você fez e nem sobre isso. É
melhor assim.
— Mas você tem certeza de que está bem? — ela se preocupa.
Dou-lhe um sorriso tranquilizador.
— Apenas seja o meu amuleto e durma comigo que vai ficar tudo bem.
Ela estreita os olhos.
— Tem certeza? Mamãe disse que eu ronco.
Faço careta.
— É melhor ter pesadelos com você do que com ele.
— Tudo bem. Vamos matar essa droga de aula então. Vamos para um bar.
— Eu tenho 17, Lô. — protesto.
— Eu tenho identidade falsa.
— São 8 da manhã.
— E daí, você que disse que queria matar aula.
— Oh, céus! — reclamo.

Oi de novo. Desculpem a demora, tô em uma semana de trabalhos e
provas na faculdade e amanhã mesmo não tendo aula, eu vou ter uma
bendita prova do MEC. Que delícia, tô tão feliz que tô quase me jogando da
sacada. Mas enfim, já estou providenciando o próximo capítulo. Por favor
não me agoniem, pois sou uma pessoa deprimida e ansiosa, e quanto mais
você me apressam, mais deprimida e ansiosa eu fico.
Me sigam no Wattpad para sempre saberem quando sai capítulo novo,
caso o Wattpad não avise, ou me sigam no instagram, caso queiram receber
notícias, sobre o elenco, perfis dos personagens ou spoilers. Meu instagram
é autoramariliaandrade
Capítulo 15| Faltas

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Infelizmente Loren e eu estávamos sóbrias demais quando abrimos a
porta de casa.
Nosso pai já nos esperava no hall de entrada com os braços cruzados.
Seus olhos duros e frios vagueavam entre mim e minha irmã com
desaprovação; o que me fez querer estar realmente muito bêbada para
encarar a situação agora.
Até Loren, que sempre o enfrentava, se empertigou ao meu lado.
Sem rastros de bom humor em sua face, ele conferiu as horas em seu
relógio de pulso.
— 12:32 — anunciou alto — A que devo a honra das minhas duas filhas
em casa tão cedo quando deveriam estar na escola estudando.
Meu corpo estremeceu e olhei nervosa para Loren. Só devíamos chegar
às três da tarde.
— Nos liberaram mais cedo. — a voz dela soou tão baixa que nem
mesmo parecia acreditar no que dizia.
— Liberaram cedo — papai repetiu desacreditado. — Onde as duas
estavam? — reverberou sério.
— Eu vou vomitar. — sussurrei sozinha, sentindo a queimação no meu
estômago aumentar.
— Estudando. O que mais poderíamos estar fazendo? — Loren se
pronunciou, desta vez, mais cheia de atitude.
Papai retirou o celular do seu bolso e o ergueu.
— Recebi uma ligação hoje mais cedo de um professor reclamando das
constantes faltas da Dytto. — disse, olhando-me irritado e ligeiramente se
voltou para a Loren — Ao que parece, ela faltou acompanhada da irmã
desta vez.
Merda!
Loren deixou que os ombros caíssem em sinal de derrota e então
suspirou.
— Dytto não se sentia bem, estava com cólica, por isso eu insisti que não
fôssemos para a escola.
— Mas fui eu que pedi para que Loren ficasse comigo. Implorei, na
verdade. — intervi. Ela não pode assumir o erro se ele foi todo meu.
— A ideia foi toda minha. — ela contrariou.
— Mas Loren só fez isso para cuidar de mim. — rapidamente emendei.
Theo nos olhava como se estivesse acompanhando uma partida de ping-
pong conforme tentávamos amenizar o peso das consequências das costas
uma da outra.
— Não deveria estar trabalhando? — Loren desconversou.
— Como pode ver, eu não estou. — Respondeu num tom ríspido e
balançou a cabeça. — As duas estão de castigo, e isso quer dizer: nada de
festas, nada de saideiras, nada de bebidas e nada de faltas. E você... —
apontou para mim — nem pense em faltar mais uma única aula ou vai ficar
sem o seu carro até que complete a maioridade.
— Sim, senhor. — murmurei, sentindo-me enjoada.
— Quero as duas dentro da escola amanhã bem cedo, e eu vou me
certificar de que estejam indo. — mandou, sério. As sobrancelhas grisalhas
se franzindo em irritação e os olhos verdes lançando-nos um olhar duro.
Loren soltou um baixo suspiro e assentiu. Papai apenas apontou para o
andar de cima e se inclinou para o lado, dando-nos passagem.
— Tomem banho e tirem esse cheiro nojento de cerveja. — ordenou.
Como duas crianças acanhadas, nós duas marchamos diretamente para o
andar de cima.
— Qualquer dia desses ele vai nos transformar em freiras. — ela
reclamou baixo.
— Ah, para. Poderia ter sido pior. — contesto — Ficar sem ir a festas
nem é um castigo de verdade.
— Para você. — protestou.
Sorri e ao mesmo tempo bocejei. Sinto como se não tivesse dormido nada
durante a noite toda.
— Vá descansar. Mais tarde teremos muito o que pedir perdão a Deus. E
com certeza eu vou ter pelo o quê pedir desculpas, porque eu quero muito
quebrar o pescoço do professor que nos dedurou.
Eu ri de seu desabafo, mas travei no segundo seguinte, como se a minha
mente tivesse sofrido um derrame.
O PROFESSOR QUE NOS DEDUROU!
— Christopher — sussurrei, encarando-a embasbacada.
— O que disse? — Loren parecia confusa.
— Christopher nos dedurou. — sentenciei entre os dentes.
Ela fechou os punhos com força ao se dar conta disso.
— Mas que filho da p...
— Puta. — terminei a sua frase, tão mais irritada que até Loren se
assustou.

A noite nunca me pareceu tão longa.
As luzes de LED se mantiveram ligadas em meu quarto, juntamente das
velas que deixei acesas em cima dos móveis. Na cabeceira da cama, havia
duas lanternas. Debaixo do meu travesseiro, um crucifixo, e em uma garrafa
deixada no chão, água benta.
Em cima da escrivaninha deixei uma bíblia, e abraçado ao meu corpo,
uma pequena estátua de Jesus.
— Tenta a sorte, cretino! — provoquei-o, imaginando ele em algum
canto do meu quarto à espreita.
Quase conseguia visualizar a imagem do seu corpo derretendo ao chegar
perto de mim e sendo morto pela proteção divina, mas é claro, isso era
apenas minha imaginação trabalhando.
— Fica quieta, Dy. — Loren balbuciou, irritada.
— Desculpe!
Já passava da meia noite. Minha irmã estava deitada ao meu lado, com os
olhos cobertos por uma máscara, dando-me seu apoio.
Por mais que eu não aceitasse, estava soando frio, apavorada com a ideia
de acordar com todo o meu corpo se contorcendo em dor novamente.
Não sabia a razão pelo qual Christopher desejava me punir daquela
maneira ou o porquê dele me torturar todas as noites, como se quisesse que
eu implorasse por ele.
Às vezes eu sentia como se ele fosse capaz de ser verdadeiramente gentil
comigo, e em outras, sentia que eu era sua inimiga número um. Nas raras
ocasiões em que me senti meramente confortável ao seu lado, Christopher
conseguiu me apunhalar com o seu verdadeiro eu, sendo egoísta e maldoso.
Noite passada apenas confirmou o óbvio. Eu não poderia ceder aos
desejos da carne. Ficar vulnerável perto dele só lhe dava a chance de me
machucar e se divertir às minhas custas.
— Só respira fundo e feche os olhos. Se algo acontecer eu estou logo
aqui do seu lado. — aconselhou, sonolenta.
Meus olhos já estavam ardendo e o meu maxilar doendo de tanto bocejar,
mas a sensação de sua possível aparição me deixava em alerta.
— Só quero deixar claro e em voz alta que não tenho medo.
— Imagina se tivesse — ironizou, baixo. — Vá dormir, Dy.
— Não dá para dormir quando se tem um garoto endemoniado me
assombrando.
Ela suspira.
— E então o que vai fazer?
— Contar carneirinhos. Não. Vou contar o tanto de chifre que você já
levou. — brinquei.
— O que eu fiz pra merecer você como irmã? — choraminga.
— Não sei. Mas não é todo mundo que tem essa sorte.
Ela afunda o rosto no travesseiro e tapa os ouvidos.
— Não dorme, Lô. Eu não vou conseguir ficar acordada se não tiver com
quem conversar.
Ela põe sua mão sobre mim, mas com os olhos cobertos, acaba
acidentalmente batendo em meu seio. Reclamo de dor, porém me
ignorando, ela continua tatendo meu corpo até acertar minha boca e tapá-la.
— Dormir, Dy. Dormir.
Afasto sua mão.
— Se eu morrer a culpa é toda sua.
— Deixarei o meu mérito em seu túmulo.

Se acalmem, se acalmem, se acalmem. Eu já estou providenciando a
revisão do próximo. Aos que estão relendo, o próximo capítulo terá cena
nova, aos que são leitores novos, é isso aí que vocês leram.
Capítulo 16| Posse

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Nenhum pesadelo. Nada.
Não houve nem mesmo indícios de que Christopher esteve em meu
quarto ou tentou estar. Vasculhei todo o cômodo assim que despertei, no
entanto, tudo estava como deveria.
Loren disse não ter ouvido ou visto nada suspeito. Acordei sem dores,
apenas cansada pela noite mal dormida.
Eu não sabia como agir mediante a situação. Me sentia confusa e
estressada. Havia pouquíssimas coisas que eu conhecia sobre ele. Era como
estar presa em um labirinto sem saídas.
Precisava encarar a situação de frente, mas ao colocar os pés na escola
esta manhã, temi pelo pior.
Caminhando em direção à sala de Inglês, meu corpo inteiro tremia em
apreensão. Luc insistiu em me acompanhar, mas eu não conseguia ouví-lo.
Sua voz estava em segundo plano em minha cabeça. Acho que ele falava
algo sobre faculdade, contudo, eu estava tão presa ao que aconteceria assim
que entrasse na sala, que nem mesmo percebi.
Ao pararmos na porta da classe, ele suspirou.
— Eu vou nessa. Se decidir matar aula de novo, ao menos me chame
desta vez. — resmungou em tom de brincadeira.
— Claro. — assenti e forcei um sorriso que exigiu esforços de cada
músculo do meu rosto tenso.
Quando Luc me deu as costas, a pressão em meu íntimo aumentou.
Minha mão estava tremendo quando toquei a maçaneta. Ao entrar, um
arrepio percorreu todo o meu corpo. Rapidamente meus olhos deslizaram
pelo lugar, porém, tudo parecia em perfeita ordem.
O professor mantinha-se sentado à mesa, fazendo a chamada. Os alunos
continuavam os mesmos, sonolentos e desleixados, como em todas as
outras manhãs. Estava tudo do mesmo modo que antes, em perfeito eixo.
Procurei pelo corpo alto e tatuado do qual já estava habituada a encontrar
sorrindo de maneira sarcástica em algum ponto do ambiente, mas a sua
ausência me causou uma certa estranheza.
Vicente notou a minha figura parada na porta e sorriu, erguendo as
sobrancelhas esbranquiçadas.
— Ah, entre, Dytto. Ainda não começamos. — gentilmente avisou.
Assenti envergonhada e segui rumo à minha cadeira, sempre conferindo a
todos a minha volta em sua procura. Notei alguns olhares curiosos, mas que
logo perderam o interesse e voltaram ao que estavam fazendo.
Permaneci em constante alerta, como se a qualquer momento Christopher
fosse entrar. Esse pensamento me fazia sentir frios na barriga. Mas não foi o
caso.
Durante todo o tempo de aula, não tivemos o menor rastro de sua
possível presença. Talvez as aulas com ele finalmente tivessem acabado.
Seria possível eu estar com tanta sorte assim em uma Quarta-feira?

Sentada no refeitório, ouvia as palavras de Loren ecoando em minha
cabeça como um pensamento distante, apesar de sua presença falante ao
meu lado ser real.
— Hoje eu vou trabalhar até às oito. Que droga! — ela resmungava
enquanto eu mastigava o canto das minhas unhas, completamente distraída.
— O que você vai fazer hoje, Luc?
— Vou sair com uns caras para jogar basquetebol. — ele respondeu
empolgado. — Querem vir junto?
— Não dá. Estamos de castigo. — Minha irmã bufou.
— O Sr. Bell não está para brincadeiras, não é? — ele riu.
— Não mesmo. — Loren revirou os olhos de um jeito dramático.
Ambos continuaram o papo, mas eu não consegui prestar atenção,
tampouco estava afim de escutar. Minha mente estava entorpecida em
dúvidas e ansiedade, mal conseguia focar em qualquer coisa ao meu redor.
— Vou para a biblioteca. — avisei de repente, já me pondo de pé.
A presença de ambos não me era desagradável, porém, no momento, eu
só queria ficar a sós com o meu amontoado de pensamentos.
— Quer que eu vá junto? — Luc se prontificou, atencioso.
— Não, valeu. Vou colocar as matérias que eu perdi em dia.
Ele pareceu descontente com a minha falta de interesse em aceitar o seu
convite, mas nenhum dos dois protestaram. Loren fez pouco caso, sabia do
porquê de eu estar tão longe e respeitou esse momento, logo voltou a puxar
assunto com Luc.
Saí dali com passos lentos e descontraídos, não estava com pressa, por
isso desacelerei ao chegar à ponte de arco sob o lago.
Me sentia mais esgotada que o normal. Pensar em toda essa situação
tirava muito de mim.
Aproveitei do fundo de amontoado de vozes entrelaçadas do intervalo
para espairecer a confusão em minha mente.
Ao chegar no fim da ponte, fui surpreendida por encontrar a cena que
achei ser a mais improvável de hoje.
Sentado no parapeito com quatro garotas à sua volta, estava Christopher;
vestido em uma camiseta cinza de botões, uma calça jeans escura e apertada
que realçava bem as suas coxas grossas. Ele estava sério, encarando o rosto
das meninas. As suas tatuagens no pescoço e os olhos verdes claríssimos
estavam em evidência devido ao reflexo do sol sobre parte dele.
Os braços fortes estavam cruzados e o seu olhar carregado de
superioridade e arrogância.
Aparentemente estavam todos envolvidos em alguma conversa que
parecia ser de interesse apenas das meninas. Meu coração disparou e o
sangue do meu rosto evaporou num segundo.
Antes que eu fosse capaz de ser surpreendida por seu olhar pesado sobre
mim, apressei os passos e baixei a cabeça. Estava soando frio quando passei
por eles.
— Senhorita Bell. — sua voz firme e rouca me freou.
Me virei bem devagarinho e o encontrei me olhando. Com um breve
gesto, ele me chamou com dois dedos. As garotas ao seu redor se calaram, e
agora estavam me encarando curiosas.
Estava assustada e sentindo o meu corpo inteiro formigar.
Andei devagarinho em sua direção, rezando mentalmente para que Loren
tivesse vindo atrás de mim e me resgatasse.
Christopher se levantou e veio em minha direção. Não conseguia olhá-lo,
mas sentia seus olhos em mim.
— Venha. Vamos conversar. — avisou rígido, envolvendo sua mão em
volta do meu cotovelo.
Prontamente, Christopher me guiou para longe dali com autoridade, não
voltei a olhar para as garotas pois temia vê-las chateadas com o gesto mal-
educado dele.
— Para onde vai me levar? — perguntei nervosa
Ele não me respondeu, nem mesmo me olhou de volta, apenas continuou
a me levar por entre os corredores. Os que nos viam, olhavam curiosos,
porém, ninguém ousou interromper os planos de Chris.
Christopher me colocou dentro de uma sala vazia junto dele e trancou a
porta. Minha boca estava seca e a minha respiração ofegante. Ele, por outro
lado, se mantinha passivo e calmo, andou até a janela de vidro e sentou-se
no beiral.
Eu ainda estava confusa e com medo, olhei em volta à procura de algo,
mas tudo o que encontrei foi uma pilha de papéis em cima da mesa.
— São deveres para mim? — questionei, a garganta seca e os lábios
trêmulos.
Christopher riu e levou sua mão ao bolso, tirando um cigarro de lá.
— Não, querida Dingo Bells, não são para você. Eu não te trouxe aqui
para responder nenhum dever. — respondeu, os lábios vestidos de malícia e
sensualidade.
Agora ele me olhava de um jeito quente e perverso. Seu olhar se manteve
em mim mesmo quando pôs os cigarros entre os lábios e o acendeu.
— Não pode fumar aqui. São contra as regras. — murmurei.
— Também é contra as regras que eu foda as alunas, mas ainda assim eu
te visito toda noite, não é? Ou quase... — ele semicerrou os olhos — Não
devia se enfeitar toda para dormir. Nenhuma cruz ou água benta vai te
salvar de mim.
Ele havia acabado de admitir com todas as letras, mas ainda assim eu me
mantinha perplexa. Sem acreditar no que acabara de ouvir.
— O q-quê?
Ele sorriu.
— Não seja ingênua. Você já havia imaginado isso.
Christopher se desencostou da janela, apagou o cigarro nos papéis em
cima da mesa — antes mesmo da primeira tragada — e veio até a mim. Eu
simplesmente havia paralisado no lugar.
— Sabe do que mais gosto em você, Dingo Bells? — sua voz
gradualmente se tornou um sussurro, enquanto seus olhos quentes se
mantinham grudados nos meus.
Christopher levou sua mão ao meu queixo e aproximou-se do meu rosto.
— Você sempre fica excitada quando eu te toco. — sua língua alcançou
os meus lábios e passearam entre eles, imediatamente fechei os olhos.
As batidas em meu peito estavam tão frenéticas que eu quase era capaz
de ouví-las. Minha respiração estava descompassada e minhas mãos se
fecharam com tanta força que minhas unhas rasgavam a carne.
Ele chupou o meu lábio inferior e um leve tremor acompanhado de um
arrepio invadiram o meu corpo.
— Sua boceta fica tão molhada que se torna uma tortura não te foder.
Por acidente, deixei que um gemido escapasse de minha garganta e de
imediato minhas bochechas se acenderam de vergonha.
Seus lábios escorregaram úmidos em minha bochecha. Cada vez mais o
ar parecia rarefeito em meus pulmões. Sentia-se como se estivesse
derretendo diante dele.
— Chris...
— Você quer que eu te foda, não quer? — ele mordiscou o lóbulo de
minha orelha, em seguida constatei sua respiração quente descendo em meu
pescoço.
Eu precisava sair daquela situação ou acabaria cometendo um grande
erro. Não poderia ceder ao desejo, ainda mais quando sabia do que ele era
capaz de fazer.
Ele parou por um momento para me olhar nos olhos.
— Quer me dizer algo? — exigiu, como se já soubesse o que eu estava
pensando.
— Você me machucou. — denoto baixinho, empurrando-o de leve.
— Machuquei? — suas sobrancelhas se unem em confusão.
— Doeu muito quando eu acordei. — sussurro.
Ele encaixa suas mãos em meu rosto, olhando-me com mais atenção.
— Onde?
Mordo o lábio, mas Christopher é rápido e passa seu dedo sobre ele,
livrando-o de meus dentes.
— Todo o meu corpo. — confesso.
Seus olhos escureceram, tornando-se sombrios e irritados.
— Não fui eu, anjo. — constatou, fazendo com que o medo em mim se
assomasse.
— Disse que era você me visitando. — engasguei, assustada.
— E eu a visitei, mas não a feri. Eu tenho todo o cuidado do mundo com
você, Dingo.
— Me conte o que está acontecendo. Por que isso tudo está acontecendo
comigo? Seja sincero, Chris. Eu não aguento mais. — implorei chorosa e
meus olhos se inundaram de lágrimas.
— Tire todas as cruz do seu quarto, Dingo. Isso os irrita.
— "Isso os irrita"? Isso o quê? — solucei, sentindo minhas bochechas
ficarem úmidas.
Suas mãos se tornaram mais firmes em volta do meu rosto.
— Apenas me obedeça, vou cuidar para que não seja machucada
novamente.
— Christopher, por favor...
— Me ouça! — mandou mais rigoroso — Faça o que eu mando, e vai
ficar tudo bem.
— O que que você é? Me responda qualquer coisa. Você me colocou
nesse seu jogo, me tire dele.
Ele me olhou terno, enxugando minhas lágrimas com as costas das mãos.
— Eu ainda não terminei com você, querida. Você agora é minha.
O som estridente do alarme informando o fim do intervalo ecoou no
lugar, interrompendo-nos.
— Volte para a sua sala e fique quieta. — ditou, encarando-me
diretamente — A partir de agora quero que saiba que se você se envolver
com qualquer um, serei obrigado a intervir do pior jeito, entendeu?
— Eu...
— Não brinco quando digo que você é minha. Não me leve como um
tolo, Dingo. Se me desobedecer ou me desafiar, te garanto que vai haver
sangue.
— Me machucaria apenas para me ter como sua? — debati, irritada.
Ele curvou um sorriso diabólico.
— Mataria qualquer cara para te ter como minha, mas não te deixarei
correr risco algum.
Christopher agarrou o meu queixo.
— Me espere na sua cama como sempre, querida. Doce e excitada.
Ele apontou para a porta.
— Agora saia daqui, ou eu vou te prender nesta sala e te soltar apenas
depois de enterrar meu pau em você.
Arregalei os olhos e muito mais rápido do que imaginei que poderia
mover as pernas, saí dali.

Loren chegou bem mais tarde do que deveria e papai a olhou irritado.
Sabia que ela escutaria poucas e boas vindo dele.
Fiquei jantando sozinha na mesa da cozinha enquanto os ouvia
conversarem em um canto. Acho que eles estavam lhe dando um sermão.
Deveríamos ter ido à missa hoje em castigo pela nossa matança de aula,
mas, não deu. Aposto que pisar na igreja depois de deixar Christopher me
tocar, provavelmente faria Jesus descer do paraíso e balançar o dedo na
minha cara dizendo: "Não, não. Você já não entra mais no céu nem se me
parisse."
Eu riria, mas depois choraria bastante e arrancaria mesmo as bolas de
Christopher por estar me levando por este caminho.
Eu não sou assim. Eu não deixo garotos me tocarem em benefício de suas
próprias diversões. Para falar a verdade, eu nunca havia deixado nenhum
fazer o que ele fez.
Meu rosto esquenta toda vez que lembro de seus toques, seus beijos e
suas carícias.
Negar dizendo que não gostei, seria só uma forma ingênua e
desesperada de mentir para mim.
Eu quero muito parar, mas Chris está dificultando o caminho.
Poxa vida! A Loren é minha irmã e claramente não o superou. O que
diabos Christopher quer de mim? Ele por algum acaso está tentando me
pregar uma peça ou só acabar com a minha vida?
Aquele destruidorzinho de lares vai me pagar!

Espero que tenham gostado do capítulo, e que tenha ficado claro que eu
não gosto que me apressem, mesmo que isso signifique que vocês estejam
morrendo de ansiedade pelo próximo.
Meu instagram: autoramariliaandrade
(Link na descrição do meu wattpad)
Capítulo 17| Garotinho travesso

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



Eu sentia sua respiração pesar em meus ombros. A rajada de ar morna
atingia minha pele de maneira singular. Atrás de mim, no escuro do meu
quarto, ouvi quando Christopher se acomodou em meu colchão.
Loren havia ido dormir em seu quarto esta noite, estava chateada devido
a briga com nossos pais. Eu não me opus, mas sabia o que me esperaria
assim que eu deitasse a cabeça no travesseiro.
Meu corpo estava tomado por arrepios. A ansiedade me devorava viva
como traças famintas. Por dentro, eu vivia um tsunami agitado de emoções,
por fora, eu estava paralisada diante de sua misteriosa e assombrosa
presença roçando as minhas costas.
Meu coração estava bombeando sangue muito mais rápido, sentia-o se
debater desesperado em meu peito, como se soubesse... como se ansiasse...
por aqueles toques malignos.
Deus sabe bem que eu nunca chegaria tão longe sozinha. Mas, ora, quem
poderia negar aquilo? Aquela sensação de luxúria e desejo me
consumindo.
Eu sentia que Christopher havia me corrompido aos desejos mais insanos
e sombrios. Ainda sem nem mesmo ter visto sua verdadeira face, já o
imaginava como a pior das criaturas.
Céus, eu estava afogada em minhas misérias. Eu queria parar, mas não
tinha certeza se queria afastá-lo. Estava presa em minhas próprias
contradições.
Como eu consiguia sentir pavor e, ao mesmo tempo, um desejo tão fugaz
e louco por este homem?
— Está com medo, Dingo? — murmurou, o timbre rouco e forte.
Engoli em seco.
— Não tenho medo de você — respondi trêmula.
A quem eu queria enganar? Poderia morrer neste exato momento.
Ele riu baixo.
— Sentiu saudades? — provocou risonho. Se conseguisse o ver,
enxergaria em seus lábios o sorriso mais maldito capaz de existir.
— Nem um pouco. — sussurrei.
— Mentirosa.
Seus dedos ásperos e gelados foram gentis ao tocarem meu braço, porém
não me movi.
— Me diga, o que você faria se eu rasgasse todas as suas roupas e
chupasse cada centímetro do seu corpo agora mesmo? — perguntou,
genuinamente curioso.
Deixei um suspiro surpreso escapar. Provavelmente devia estar mais
vermelha que um tomate. Meu peito subia e descia ligeiro.
Christopher ignorou a minha reação e tocou a braguilha do meu pijama.
— E se eu colocasse meus dedos dentro de você... — sua mão escorregou
devagar para dentro do meu short — E te fizesse gemer tão alto que o seu
papai precisaria vir até a porta só para te conferir?
Minha pele esquentou. Sua mão passeava cheia de provocação pela
beirada da minha calcinha, ameaçando enfiar-se de uma vez.
— Me diga, Dingo, quanto eu preciso foder você até que pare de ser tão
boazinha? — seu tom de voz aos poucos tornou-se um murmúrio gélido
cheio de perversão, seus lábios frios deslizaram em meu pescoço — Me fale
o quão desgraçado terei de ser para te arruinar. — seus dentes agora
arranhavam a minha pele.
Minha intimidade latejava implorosa à medida que meu corpo se
impertigava em sua mão malina.
— Christopher — arfei, no objetivo de lhe repreender, no entanto, soou
como um pedido.
— Diga, meu bem.
Aperto os olhos, minha respiração desequilibra-se e minhas mãos tornam
a soar.
— Chris...
Ele me vira de maneira ágil na cama e transfere seu peso com cuidado
sobre o meu, até que o seu corpo alto e pesado me envolva como uma
coberta. Porém, sua pele está longe de ser quente ou amável, não, lembra-
me mais uma noite congelada e vil.
Sinto seus quadris se remexendo sobre minha intimidade, esfregando-se
com força, remetendo as suas reais intenções.
Ele pressionou o corpo contra o meu com mais força, deixando-me ainda
mais vulnerável.
Sem pensar muito, levei minhas mãos ao seu rosto, mas me assustei com
a estranha sensação áspera de sua face e rapidamente recuei.
— O-o que é isso?
— Eu, em minha forma mais cruel, a que deseja te arrastar para o inferno
comigo. — admitiu sério.
Eu não conseguia respondê-lo, não sabia como pedir que não o fizesse,
ou que tivesse piedade. Mas senti um nó se formar em minha garganta.
Meus olhos se umedeceram e deixei que lágrimas escorregassem livres pela
minha bochecha. Estava acuada sob ele. Sempre a sua mercê.
Quando deixei que o primeiro soluço escapasse, seus lábios tocaram os
meus em meio a escuridão intensa do meu quarto. Não me movi, estava
nervosa. Porém, seu beijo foi rápido.
— Você me intriga, Dingo. Tem algo em você que me move para que eu
sempre te encontre. Você está mexendo comigo.
Passo a língua na boca, provando dos resquícios do seu gosto frio.
— O que eu faço com você, hum? — murmurou rouco.
Sua grande mão envolveu o meu pescoço e o pressionou com um pouco
mais de força, por instinto coloquei a minha sobre ela.
— Não. — pedi, engasgando em choro.
— Acha que tem algum poder sobre mim, querida? — zombou, áspero.
— Não me machuque. — pedi, chorosa.
Ele soltou uma risada que mais parecia um sopro e retirou sua mão de
meu pescoço.
— Não quero te machucar, minha Dingo Bells. Quero te foder.
Mordi o lábio inferior com força num rápido instinto de nervosismo.
— Não, meu bem. Não machuca esses lábios. — ele disse, deslizando
seu dedo sobre minha boca e livrando-a de meus dentes.
Eu não fazia ideia de como ele me enxergava em meio a falta de qualquer
vestígio de luz no ambiente.
Senti seu corpo se inclinar para mais perto de mim. Seus lábios triscaram
nos meus e prendi a respiração.
Sua mão desceu por entre nós até estar de encontro com o meu short.
— O que vai fazer? — arfei, sentindo sua mão deslizando devagar para
dentro de minha calcinha.
— Enfiar alguns dedos em você.
Ele sugou o meu lábio inferior e escorregou sua língua até o meu
pescoço, depositando chupões gentis.
Quando seus dedos tocaram o meu monte pubiano, meu corpo inteiro
estremeceu. Ainda não havia me acostumado com seus toques.
— Chris... Eu não sei se... — aperto as pálpebras — Eu não sei se posso.
— Está com medo do seu Deus te castigar, meu bem?
Engoli em seco.
— Não se preocupe. O seu paraíso é comigo, Dingo.
Seu hálito quente reverberou em minha pele, fazendo com que uma onda
cheia de eletricidade percorresse cada centímetro de mim.
Seu dedo desceu devagarinho até os lábios da minha boceta e se deslizou
entre eles.
Percebi sua satisfação quando se deu conta de que eu estava molhada.
Fiquei parada esperando por seus movimentos, quando seu dedo
gentilmente me invadiu, ofeguei baixo.
Eu estava nervosa e sem saber o que agir.
O que geralmente as garotas faziam quando estavam fazendo isso com
garotos? Elas gemiam? Os beijavam? Isso era tão diferente de tudo o que
eu já havia lido em livros.
— Se ficar tão tensa vai ser desconfortável para você. — avisou, a voz
sombria.
Levei minhas mãos a cada um de seus braços e me agarrei a eles, como
se fôssemos namorados. Precisava tocá-lo intimamente para sentir que
aquilo era normal, ou então, eu cairia na realidade de que nada daquilo era
comum.
Christopher beijou o meu queixou e suspirou.
— Te foder ainda vai ser um espetáculo e tanto, garotinha. — sussurrou,
enfiando mais de seu dedo em mim.
Automaticamente contrai o meu corpo, pressionando seu dedo gelado
dentro de mim.
— Você está tremendo. — constatou.
— Eu nunca fiz isso. — admiti, constrangida.
Esfreguei minhas mãos em seus braços fortes e os apertei. Todo o seu
corpo possuia uma textura diferente. Não se parecia pele, era mais dura e
resistente, longe de ser macia.
Christopher começou a movimentar seu dedo em mim, em um vai e vem
lento. Meu corpo ainda estava tenso e ansioso. Aquilo me parecia
desconfortável.
— Se concentre, Dingo. Somos só eu e você aqui. — sussurrou chupando
a minha bochecha.
Deixei que um gemido baixo ecoasse pelo quarto quando ele se afundou
em mim.
Christopher acariciava minha pele com os seus beijos que foram
lentamente descendo do meu pescoço até o meu busto. Quando os senti
sobre a curva de meus seios, um pontada de prazer surgiu em meu íntimo.
Por que eu queria tanto os lábios dele ali?
Sua outra mão agarrou o meu seio e a apertou, involuntariamente arqueei
as costas.
Chris notou o que eu queria, pois foi rápido em descobrir o meu peito.
Sua língua rodeou minha auréola, sem pressa.
Seu dedo ainda mantinha um ritmo constante em minha intimidade; que
ficava cada vez mais excitada.
Senti sua boca chupar o bico do meu seio com sagacidade. Minha
respiração estava descompassada, em um ritmo acelerado. Levei minha mão
aos seus cabelos e os enrosquei em meus dedos.
Estava agonizando em prazer. Precisava me aliviar de algum modo.
No momento em que senti que Chris incitava um segundo dedo em mim,
contraí as pernas e afastei o seu ombro de cima de mim.
— Não.
Ele riu baixo.
— Será só mais um dedo. Preciso que se acostume antes. O que eu tenho
para colocar em você é bem grande.
Minha garganta secou e arregalei os olhos.
— Não vai colocar nada em mim. — protestei, assustada.
Christopher escalou o meu corpo até se por diante do meu rosto. Senti o
ar de sua respiração em meu rosto. Agora ele estava tão próximo...
Me encolhi na cama.
— Vou te fazer me desejar tanto, Dingo, que vai querer que eu enfie cada
centímetro de mim em você.
— Não confio em você. Você me assusta.
— Deixe-me ser mais claro. Isso aqui... — seu dedo tocou a ponta do
meu dedo e deslizou em linha reta sobre todo o meu corpo até o meio de
minhas pernas. — é todo meu.
— Não posso ser sua.
— Mas você quer. Eu sinto em todo o seu corpo, querida. — seu rosto
aproximou-se de meu ouvido e cochichou: — Se tem tanto medo, por que
está sempre me desejando?
Meus lábios se abriram em choque. Mas não fui capaz de proferir uma
única letra.
Christopher não esperou por uma resposta. Ele levantou-se do colchão, e
rapidamente senti sua ausência em cima de mim.
— Eu estou de olho em você. — alertou de um algum ponto do lugar,
como uma despedida, e então houve o silêncio completo.
∆∆
Espero que gostem dos capítulos de hoje.
Que cor de tela vocês leem? Aconselho a colocarem tela preta, assim os
nomes da Dytto e as divisórias ficam mais bonitas.
Capítulo 18| Ausência

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



Aquela manhã havia sido monótona.
Christopher não havia comparecido à escola e, de certa forma, isso
deixou o dia como qualquer outro. Porém, havia me dado conta do quão
ingênua fui sobre a realidade mórbida que eu vivia.
Antes dele, não havia nada de realmente interessante naquele lugar. Tudo
era tão simples e comum.
Os adolescentes possuíam o mesmo humor sem sentido. As conversas
eram vazias, e sempre se mantinham nos mesmos tópicos: relacionamentos
e festas — que, na minha opinião, não tinham a menor graça.
Os grupos de amizades da escola ainda eram os mesmos. Bom, alguns,
ainda menores. As paredes eram iguais, brancas e sem vida. Até o lago
parecia mais sujo aquele dia.
Por que eu não conseguia me encaixar em nada daquilo que via à minha
volta? E por que a única coisa que parecia ter sentido em minha vida, era a
pessoa mais anormal do universo?
Até mesmo sentar-se ao lado de Loren, Luc e alguns de seus amigos era
entediante.
De repente, eu me sentia ainda mais fora de eixo.
Luc percebeu que eu estava indiferente e tentou me animar. Loren apenas
me olhou de canto, parecia animada com a notícia de que Christopher não
havia aparecido.
Ela andava preocupada com a estranha proximidade dele comigo, porém
evitamos esse assunto do mesmo modo que evitávamos os seus segredos
com ele.
Quando cheguei em casa, Loren, papai e eu fomos à missa. Deveríamos
ter tido o nosso jantar em família, mas mamãe estava cansada demais para
fazer qualquer coisa. O seu trabalho a consumia por completo, não que ela
não gostasse, ela era obcecada por trabalhar.
Durante a missa, notei que o padre me olhou por diversas vezes, não de
um jeito involuntário, e, sim, de uma maneira que me arrepiava. Sentia que
ele quase podia ver o que eu andava escondendo.
— Não me diga que está flertando com o padre. — Loren cochichou
brincalhona perto do meu ouvido.
— O quê? Eca! — Murmurei, crispando o rosto em uma careta.
Ela riu baixo.
— Então por que ele está te olhando assim? — suas sobrancelhas se
uniram, e ela lançou um olhar sério para o padre, que logo se empertigou
envergonhado.
— Eu não sei.
— Será que ele está vendo a sua alma pecaminosa, Dy? — ela sorriu
arteira.
Eu sabia que ela estava apenas brincando, mas, e se por alguma razão
estivesse certa?
Esse pensamento fez com que eu sentisse frios na barriga.
— Pare com isso, Lô. Ele é padre e não vidente. — respondi, temendo
acabar gaguejando. Isso acontecia sempre que eu ficava nervosa.
— Não que a gente saiba. Vai saber o que ele faz nas horas vagas. —
provocou risonha.
Dei-lhe um tapa fraco no braço.
— Só ouve a missa, garota. — resmunguei.
Ela deu de ombros, no entanto, me deixou quieta.
Alguns minutos depois, o padre estava me encarando novamente.
Ele, assim como eu, partilhávamos da mesma sensação. A sensação de
que algo estava errado.
Após chegarmos em casa, disse a Loren que estava tudo bem, e que ela
não precisava dormir comigo. Sabia que isso não teria impedido de Chris
aparecer, e aposto que seria bem embaraçoso a situação.
Mas ele não apareceu naquela noite, e nem nos 2 dias seguintes.

01 de Abril
Segunda-feira
— Você está bem? — Loren perguntou, sentada na outra ponta da mesa.
Pisquei algumas vezes antes de olhá-la, apenas para me dispersar da
distância que me encontrava em meus pensamentos.
— Huh rum — concordei, fingindo um meio sorriso.
Ela franziu as sobrancelhas.
— Tem certeza?
Loren sempre sabia quando algo estava errado comigo, e ultimamente ela
andava ainda mais atenta.
Soltei um suspiro baixo.
— Acho melhor acabar a noite de estudo por aqui. Eu estou com muito
sono — menti, forçando um bocejo.
— Mas, já? Ainda são 9 horas da noite — investigou, confusa.
— Eu não dormi muito bem noite passada.
Eu realmente não dormi bem, não porque Christopher veio, e, sim,
porque ele não veio. Ele nunca mais veio. E a ansiedade de não saber o que
aconteceu, está para um fio de me matar.
Quem sabe, ele já não tenha se cansado de mim e, tenha encontrado
outra garota para invadir o seu quarto.
Essa ideia me causava infelicidade.
— Foi por causa do... — ela sussurra, como se estivesse contando um
segredo, apesar de que, nossos pais ainda não estejam em casa.
Minhas sobrancelhas saltaram.
— Ãhn, não. Eu não tive mais pesadelos.
— Certeza?
— Garanto — sinto um aperto no peito.
Rapidamente recolhi meus cadernos e lapiseiras e subi as escadas,
jogando tudo de qualquer jeito na minha escrivaninha.
Meu corpo parece pesado demais para se manter de pé, então me lanço
em cima da cama, agarrando os lençóis nos dedos.
Desde que ele sumiu, me sinto sem muito ânimo. Ando meio distraída, e
ausente de meu próprio corpo.
Já se passaram 4 dias. A sensação é de que eu fui deixada. Como se
tivéssemos rompido um namoro.
Reviro os olhos.
Pelo amor de Deus, Dytto. Vocês não estavam juntos.
Resmungo sozinha. Irritada consigo própria por dar tanta importância a
um garoto que mal conheço.
Me enfio debaixo dos lençóis, a fim de dormir um pouco, ou, ao menos
tentar.
Mais uma noite sem notícias dele.

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Capítulo 19| Floresta

Sem spoilers, indiretas, menções à spoilers, brincadeiras que levem a


um possível spoiler. Não estraguem a experiência de quem está lendo pela
primeira vez
ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO

Despertei num rápido ato ao sentir todo o meu corpo sendo chacoalhado.
De um segundo para o outro, já estava em alerta.
— Dy, acorda — Loren sussurrou sentada ao meu lado, enquanto ainda
balançava o meu braço.
— O quê? O que está acontecendo? — perguntei atordoada, sentando-me
na cama de supetão.
Seus olhos encontraram os meus, mas foram breves, ela claramente
estava com pressa.
— Vem, vamos sair. — avisou, pondo-se de pé.
Pisquei várias vezes, a vista ainda embaçada e as pálpebras pesadas.
— Que horas são? Cadê os nossos pais?
— Se arrume — Loren ignorou o meu interrogatório e caminhou até o
meu closet. — Papai e mamãe não estão em casa, ligaram dizendo que vão
dormir fora. — avisou, tateando roupa por roupa.
— Quê? — esfreguei os olhos, sentindo-me zonza.
Não deveria ter me levantado de uma só vez.
Loren soltou o ar com força.
— Anda logo, Dy. Pare de fazer perguntas.
— Vá dormir, Loren. Virou sonâmbula agora? — resmunguei baixo,
levantando-me do colchão.
— Pare de reclamar e se arrume. Temos compromisso. Anda, anda... E
nada de roupas curtas. — ela se virou em minha direção com as mãos na
cintura — Nós vamos à floresta. Preciso te mostrar uma coisa. — havia
urgência em sua voz, mas nada daquilo parecia fazer sentido.

— Por que estamos aqui? — questionei pela milionésima vez,
encolhendo-me em meu casaco enquanto andávamos como duas
ambulantes.
A brisa gelada debandava cada canto do ambiente. De onde estávamos,
só conseguia enxergar árvores e mais árvores em meio à escuridão.
Loren estava logo atrás de mim, com uma lanterna que mal iluminava o
caminho por onde passávamos.
Era um pouco mais de uma da madrugada.
Me vesti em uma calça jeans escura, uma camiseta larga, com estampa de
uma banda de rock — obviamente de Loren —, um enorme casaco preto e
um All star velho.
Deixei o cabelo solto para que cobrisse o meu pescoço. A temperatura
ainda me fazia sentir arrepios por debaixo das roupas.
— Não está me levando para uma festa, não é? — indaguei, irritada com
a possibilidade dela ter me acordado apenas para festejar.
Eu com certeza a estrangularia se fosse o caso.
Porém, de repente, os passos de Loren cessaram bruscamente atrás de
mim.
— Desculpe, Dy. — a culpa em sua fala me fez virar para trás.
No entanto, Loren agiu rapidamente, segurando os meus dois braços nas
costas. Ouvi um breve barulho de "click", e só notei que meus braços
estavam presos quando tentei reagir.
— Você me algemou? — disse incrédula — O que que você tem na
cabeça, Loren?
— Desculpa, irmãzinha — ela segurava o riso ao dizer. — Hoje é o dia
do trote, e chegou a sua vez de participar.
Oh, não! O maldito trote.
— Lô — soltei desanimada, a expressão em meu rosto murchando como
uma flor.— Eu não acredito nisso.
— Desculpa, desculpa, desculpa. Eu falei para eles que você não queria
participar, mas ele me forçaram.
— Botaram uma arma na sua cabeça? — rebati seca.
— Sim, com faca e tudo. Você precisava ver — disse irônica e eu revirei
os olhos.
O trote era feito duas vezes ao ano. As datas eram sempre aleatórias e
nunca se repetiam. Os participantes eram sorteados. Quem quer que fosse
escolhido, deveria ser "sequestrado" e levado à floresta para cumprir com o
desafio. Se o mesmo negasse, seria obrigado e levado a fazer algo ainda
pior.
Os perdedores pagavam uma prenda, e nem sempre era uma prenda
agradável. Por outro lado, o vencedor conseguia um bom prêmio, mas não
tão bom que fizesse alguém se voluntariar para querer brincar disso.
— Que droga, Lô.
— Eu sei. Mas todo mundo tem a sua vez de participar, e hoje, é a sua.
— Que honra. — disse sarcástica.
Loren sorriu gentil e beijou a ponta do meu nariz. Mesmo com raiva de
seu ato traíra, uma parte de minha irritação se dissipou.
— Juro que mato qualquer um que tente pregar peças em você. —
garantiu, segurando a ponta do meu queixo.
— Mesmo?
— Mesmo.
Solto um longo suspiro.
— Eu tenho escolha? — cochichei, esfregando as folhas avulsas no chão
com o meu tênis.
— Nenhuma.
— Então acho que é isso, não?
— Não se preocupe. Não será tão ruim assim.
Vai ser horrível.
— Está bem! — cedi, desesperançosa.
— Agora fica quieta que eu tenho que vendar você.
Quase mordi a língua.
— Ah, não! Sério?
— Sério.

— Chegamos. — Loren avisou, retirando a venda dos meus olhos.


O amontoado de vozes já era audível há vários metros atrás, entretanto,
parecia ainda maior agora.
Quando abri os meus olhos, fui tomada pelo choque de encontrar dezenas
de pessoas espalhadas pela floresta. Automaticamente recuei um passo.
O trote nos anos anteriores não eram tão lotados assim. Que droga de
sorte a minha.
— Ah, não! Não, não, não. Me tira dessa, Lô. Eu juro que faço qualquer
coisa por você. — implorei, nervosa.
— Relaxa, Dytto. São só pessoas.
Arregalei meus olhos, fitando-a furiosa.
— Pessoas idiotas que vão rir de mim.
— Não se preocupe. Eu vou estar por perto. Se qualquer idiota dizer
qualquer coi...
— Não. — a interrompi. — E-eu não quero participar. Cansei. Me tira
disso.
— Sabe que se não participar vai ter que pagar uma prenda ainda pior
que o desafio, não é? — pontuou ruidosamente.
Mordi o canto dos lábios com força, não demorou para que eu sentisse o
gosto metálico irromper em minha boca.
Varri o lugar com os olhos, procurando por alguém que parecesse estar
prestes a se borrar, apenas para me sentir um pouco mais confortável,
todavia, não encontrei ninguém tão tenso quanto eu. Talvez fosse eu, a
pessoa que estivesse prestes a se borrar da qual os outros estariam
procurando para se sentirem melhores.
Uma fogueira estava acesa no centro da floresta. Algumas pessoas se
agrupavam à sua volta, a fim de se esquentarem, em outros pontos, havia
alguns grupinhos conversando à vontade. Ainda não haviam organizado o
ponto de partida, ao que parece, ainda faltavam alguns participantes, os que
encontrei, também estavam algemados.
— Você precisa se acalmar ou vai perder a prova antes mesmo de
começar.
— É, eu sei. Muito obrigada por nada. — disparei, ansiosa.
— Sabe que eu te amo, né?
— Estou começando a duvidar.
Ela riu e enroscou o seu braço no meu.
— Vem, vamos procurar os nossos amigos.

— Olhe só, a escolhida — Luc, me recebeu sorridente e passou os braços
sobre meus ombros — Você está linda de prisioneira, Dytto — ele beijou a
minha bochecha, bem-humorado.
— Até você, Luc. Pensei que eu pudesse confiar no meu melhor amigo.
— estreitei os olhos.
— Sabe que eu daria a minha vida por você, não sabe?
— Que tal trocarmos de lugar, então? — ofereci, mas ele ergueu as duas
mãos.
— Não mesmo.
Fiz cara de brava.
— Sinto muito, Dy — Claire murmurou gentil, beijando a minha testa.
A ruiva sempre foi muito sentimental comigo, pois sabia o quanto eu era
"frágil" a todo o resto. De todos de nosso grupo, ela parecia ser a mais
comovida com a minha situação.
— Talvez um dia eu supere essa traição de vocês. — me esforcei para
sorrir, mas estava desconfortável demais.
— Só quero deixar claro que eu não tive nada a ver com isso — Marcos
se pronunciou, sorrindo de canto.
Sorri de volta.
— Tenho quase certeza disso. — Murmurei em tom de brincadeira.
Todo o grupo riu, mas Joshua ainda estava meio desnorteado, pelo visto,
não foi só eu que odiei ter sido acordada durante a madrugada.
— Ei, olha lá — Luc disse, apontando com a cabeça para algo — Quem é
aquela gata com o Christopher?
Meu corpo inteiro estremeceu, um frio na barriga me atingiu e senti o
meu estômago se revirar.
— Uau, ela é bem gata — Marcos comentou, malicioso. Os olhos
pareciam brilhar com o que enxergavam.
Eu não consegui virar o meu rosto para lá, não mesmo.

Capítulo 20| O desafio

SEM SPOILERS, menções a spoiler, indiretas, apelidos que dêem a


entender spoiler
ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO

Estávamos sentados diante da fogueira fazia cerca de meia hora. Ainda
esperávamos pelo momento em que nos chamariam para o desafio.
Nós, os prisioneiros
Evitei olhar para qualquer rosto que não fosse o de meus amigos, e
apenas os deles, já que, o grupo de Christopher estava a apenas alguns
metros de nós.
Joshua e Luc não paravam de comentar sobre eles, dizendo o quão da
"pesada" eram.
Claire dizia ter medo só de olhar, pois sabia que todos eles faziam rituais
e outras coisas na floresta.
Loren se apoiou em mim e se manteve calada. Assim como eu, ela não
queria vê-lo abraçada à outra.
Luc soltou de repente:
— Até que eles formam um casal muito bonito.
E isso bastou para sentir minhas entranhas se revirarem.
Naquele instante, eu decidi que Christopher não faria mais parte da
minha vida. Não se ele mexia tanto assim comigo em tão pouco tempo
desde que nos conhecemos.
Eu estava me corroendo de ciúmes, e isso me irritou pra caramba.
Nunca fui o tipo de garota que se rastejava aos pés de quem gostava,
sempre abafava meus sentimentos até eles simplesmente sumirem. Mas,
desta vez, o que sentia por Christopher era diferente de tudo.
Ainda não sabia ao certo o que era aquilo que eu estava vivenciando. Me
parecia um sentimento confuso e não definido.
Eu sabia quando estava apaixonada, entretanto, o atual sentimento dentro
de mim me avassalou da cabeça aos pés.
Saber que neste exato momento ele está com outra garota, não me causou
só ciúmes, porém, uma grande angústia, um aperto no peito e um nó na
garganta.
O sentimento era o mais ridículo possível: traição.
Por um segundo, fiquei grata dele ter tomado a iniciativa de se afastar.
Depois de ter destruído toda a dignidade que eu tinha, talvez Christopher
tenha finalmente se cansado de mim.
— Eu quero sair daqui — avisei baixinho, para que apenas Loren me
escutasse.
Ela ergueu a cabeça e me olhou preocupada.
— Está sentindo alguma coisa?
— Sim.
Não menti. Eu estou. E, pela primeira vez, faço um grande esforço para
não chorar.
— Para onde quer ir? — ela perguntou.
— Eu não sei, só quero me afastar daqui.
Loren assentiu e se levantou. Em seguida me ajudou a ficar de pé.
— Para onde vão? — Marcos questionou, atento.
— Só dar uma volta. Dy quer dar uma esticadinha nas pernas antes do
desafio — Loren sorriu, para amenizar a curiosidade de todos.
— Só não vão para muito longe, os amigos de Christopher são estranhos
e toda hora olham para nós — Claire avisou, apreensiva.
— Amor, acho que você está paranóica — Joshua se pronunciou.
— Eu não estou, Josh. Eles estavam me olhando.
— Porque você estava encarando eles. — Luc acrescentou.
— Vocês não entendem, eles são realmente muito bizarros — a ruiva
tentou defender seu argumento, mas ninguém parecia muito afim de
prolongar o assunto.
Claire sempre foi muito melindrosa em relação a essas coisas, imagino
que se soubesse que Loren já fez rituais com Christopher, provavelmente
teria receio de andar com ela.
— Pode deixar, ninguém vai mexer conosco, Claire. — Loren afirmou,
convicta.
Minha irmã me guiou em outra direção, mas, naquele instante, maldito
instante, meus olhos procuraram desobedientemente o rosto dele.
Ele não estava olhando para mim, estava conversando com um garoto;
que tenho de concordar, eles são realmente todos bizarros e assustadores.
Uma linda e exorbitante garota estava em seus braços.
Alta, cabelos longos e platinados. O rosto mais lindo que eu já vi em toda
a minha vida. Os olhos azuis e os lábios carnudos. A expressão séria, mas,
incrivelmente sedutora.
Ele a mantinha em sua frente, com seus braços ao redor de sua cintura, de
vez em quando beijava o seu ombro.
O corpo dela era perfeitamente definido e cheio de curvas. Ela era a
garota mais bela que eu já vi em toda a minha vida, mas também, a mais
intimidadora.
Por que ela tinha que ser tão bonita?
Nunca irei me recuperar dessa cena. Nunca nunca nunca.
Foi fatal, e bem no peito.
Suspirei baixinho e, com muito esforço, acompanhei os passos de Loren,
que sequer se deu ao trabalho de olhar para lá.

Loren e eu andamos por uma grande parte da floresta. Ela conhecia
muitas pessoas dali, o que nos fez parar diversas vezes para cumprimentá-
las.
A área em que estávamos era pouco iluminada, criando uma atmosfera
carregada de suspense e terror.
Não sabia o que estava por vir, contudo, estava nervosa. Loren retirou as
algemas de meus pulsos quando anunciaram o começo do desafio. Todos
nós nos juntamos em um canto, lugar em que haviam faixas para evidenciar
de onde começaríamos.
Em volta de nós, os curiosos se animavam cheios de expectativas.
De um lado, um garoto falava em um alto falante, de um enorme tronco
caído. Do outro, uma garota nos organizava em uma linha de partida, um ao
lado do outro.
Eu trocava o peso do meu corpo de uma perna para a outra de segundo
em segundo.
Ficar ali parada aguardando estava me deixando ainda mais nervosa.
O garoto com o alto falante aumentou o tom de voz, decretando as regras
do jogo:
— Seguinte. Os prisioneiros terão 15 minutos para pegar o máximo de
fitas amarelas que encontrarem na floresta. Se acabar os 15 minutos e não
voltarem imediatamente, vão se foder comigo. Coloquem as fitas dentro da
cesta que vão dar a vocês. — ele colocou a mão na boca, como se fosse
contar um segredo. — E tudo bem roubar fitas do amiguinho, desde que
você não seja pego, mas se for, é bom que saiba brigar. — ele riu maldoso.
Eu estava para desmaiar.
— Quem achar mais, ganhará um prêmio, e aos que encontrarem de
menos, pagarão a prenda.
É, tudo bem, Loren estava certa, era um jogo fácil. Eu só precisava estar
atenta a todas as fitas amarelas. Tudo bem, eu ia conseguir.
— E aos demais... — prosseguiu — bem... Vocês só poderão ficar aqui
esperando os outros voltarem, de qualquer jeito, a graça só vem depois que
essa merda acabar. — anunciou empolgado.
Olhei desesperada para Loren, que retribui com um olhar cúmplice de
minha insatisfação.
Respirei fundo. Minhas mãos estavam geladas e o meu estômago se
impulsionava continuamente para que eu vomitasse.
Passei a língua sobre os lábios e respirei fundo.
Uma garota, muito mais nova que eu, passou distribuindo uma cesta
vazia a cada um de nós. No total, éramos 9 prisioneiros, bem mais do que
no último trote, onde eram apenas 3 pessoas.
Cada vez mais essa "brincadeira" crescia em nossa cidade. Antes eram
só desafios bobos, mas, agora, estava mais para um evento anual, ou
melhor, dois eventos anuais.
— No três vocês iniciam. E é bom serem rápidos ou vão ficar para trás
— o garoto notificou.
— Ai meu Deus — murmurei para mim mesma.
— 1 — entoou seguido da multidão —2...3...VALENDO, SEUS PUTOS.
Meus pés saltaram para frente e comecei a correr, assim que avistamos a
segunda faixa, sabíamos que dali em diante já deveríamos catar todas as
fitas amarelas que encontrássemos.
O lugar em diante era muito escuro e cheio de árvores e galhos.
Estávamos na parte mais fechada da floresta.
A multidão atrás de nós não poderia se aproximar, apenas aguardavam de
onde estavam.
15 minutos. Eu consigo!
Assim que avistei a primeira faixa amarela, joguei-me de joelhos no chão
e a arranquei do galho em que estava preso.
Os outros se disperçaram sobre a floresta, quase que com o rosto
completamente enfiado no chão, afim de encontrarem as fitas.
Levantei e corri depressa para o próximo galho, onde tudo o que
encontrei foi o mais completo nada.
Os outros participantes iam aos poucos sumindo, cada para um canto.
Todos eram competitivos.
Continuei a buscar pelas malditas fitas, mas, um calafrio percorreu todo o
meu corpo quando um barulho entre os galhos me chamou a atenção.
Estava agachada, contudo, assim que o barulho ruiu ainda mais alto,
prontamente fiquei de pé, girando o rosto para todos os lados em volta de
mim. Fui cercada pela sensação de estar sendo vigiada e meu estômago se
embrulhou.
Meus pés foram erguidos do chão com tamanha facilidade que eu parecia
uma pena, e minha boca foi tapada no segundo em que quis gritar.
Quem me levantou, deu dois passos para trás comigo, ainda em seus
braços. Tentei fugir, mas fui pressionada com ainda mais força.
— Fica quieta, Dingo Bells — a voz de Chris ordenou séria em meu
ouvido e paralisei no lugar.
Eu não sabia o que estava acontecendo, contudo, o obedeci, sentindo seus
braços me manterem erguida.
Seu corpo estava tão próximo do meu que eu podia sentir as batidas
agitadas do seu coração em minhas costas, ele estava ofegante atrás de
mim.
Sua mão se manteve nos meus lábios e o seu rosto tocava a minha nuca.
Era como se eu não recebesse o seu toque há anos, e de repente, todo o
meu corpo houvesse se recordado.
— Essa foi por pouco — disse ele, apontando para onde eu estava, onde
uma cobra venenosa se rastejava, bem onde eu havia me agachado para
pegar as fitas.
Assim que ela sumiu de nosso campo de visão, Chris me colocou de pé
no chão.
Virei-me para ele, e, sem demora, ele franziu o cenho.
— Te machuquei?
— N-não.
Seus olhos vagavam com cautela sobre o meu rosto, e um misto de
sentimentos se ponderaram sobre mim. Não sabia dizer se estava com tanta
raiva que queria batê-lo, ou com tanta saudade que queria abraçá-lo.
Quando foi que eu fiquei doida assim?
— O que está fazendo aqui? — me impus friamente quando consegui
voltar a órbita.
— Te ajudando.
Ergui uma sobrancelha, displacente.
Chris não disse mais nada, então apenas virei-me de costas para ele.
— Ok, já pode ir, não posso perder o jogo — debati, forçando
indiferença.
Voltei para onde eu estava, mas, ainda assim, ele não saiu do lugar. O
olhei sobre o ombro e percebi que ele se manteve parado, as duas mãos no
bolso de seu grande moletom preto e um sorrisinho sacana nos lábios.
Por que ele tinha que ser sempre tão condescendente.
— O que ainda faz aí?
— Eu quero olhar para você. — ele foi direto.
Meu rosto esquentou cheio de vergonha. Olhei para a frente e recolhi
minha cesta do chão.
— É melhor voltar para seus amigos.
Sua namorada deve estar lhe esperando — deixei escapar, enciumada.
Foi mais forte que eu. Mordi a língua no segundo seguinte, punindo-me
por tamanha imbecilidade.
Christopher riu alto.
— Está falando da Amara?
Balancei os olhos, tentando não parecer interessada.
— Se esse é o nome dela, então, sim.
— Hum...
Certo! Então ele admite. Cretino.
Virei-me para ele, zangada.
— Está me atrapalhando — esbravejei.
Ele não conteve o riso e se aproximou. Christopher retirou do seu bolso
uma dezena de fitas amarelas e a jogou dentro da minha cesta.
— Roubei algumas para você. Precisava de um tempo a sós.
Uni as sobrancelhas.
— Por que?
Ele deu de ombros.
— Matar a saudades.
Saudades?! Foram 5 dias sem ir me visitar seu idiota.
Mordi a língua, para não acabar chamando-o de nomes que, Deus me
livre meus pais descobrirem que eu sei
— Acho que já deu tempo de matar a saudades, vá logo. A Tamara deve
estar lhe procurando.
Sim, eu sei. Não devia ter feito isso, não devia mesmo.
— A Amara deve estar fazendo tudo, menos me procurando, Dingo Bells
— zombou. — A minha querida irmã, é egocêntrica demais para pensar
tanto assim em mim — enfatizou.
— Irmã? — repeti baixo.
— A pior de todas.
O aliviou que me inundou no exato momento fora tão bom que quase
sorri, mas segurei o impulso assim que percebi seu rosto convencido me
encarando.
— Está bem, volte para sua irmã então.
Christopher deu dois passos em minha direção e bastou para que tudo em
mim colpsasse.
— Não dá. — seu tom de voz gradualmente diminuiu.
— E por que não? — eu estava tremendo.
Ele me alcançou e segurou o meu rosto com as suas duas mãos.
— Porque agora eu quero ficar com você. — confessou num sussurro,
com aquelas lindas esmeraldas quentes presas aos meus olhos, levando-me
a mergulhar nelas como um maldito transe.
Ele trouxe seu rosto para mais perto do meu e eu fechei os olhos. Me vi
estática perante a sua presença e acabei por deixar que a cesta caísse no
chão.
Malditas borboletas drogadas voando como idiotas em meu estômago.
Se mexa, Dytto. Por favor, se mexa!
Meu lado consciente pedia para que eu me afaste de Christopher. Em
contrapartida, o meu corpo implorava por ele. Pelo seu toque, pelo seu
gosto, pelo seu cheiro.
Suas mãos desceram até a minha cintura e agarraram-na com força, me
puxando abruptamente para si.
Seus lábios roçaram nos meus, devagarinho.
Eu queria mais.
Fiquei na ponta do pé e impulsionei meus lábios nos seus, beijando-o.
Christopher apalpou a minha bunda com as suas mãos e então me ergueu
em seu colo. Carregando-me até a árvore mais próxima, ele me encostou
nela.
Seus beijos se tornaram mais profundos, intensos e fortes. Sua língua
invadiu a minha boca e me experimentou sem o menor pudor.
Passei meu braços ao redor de seu pescoço e me deixei ser levada.
Agora eu entendia o porquê da Loren gostar tanto dele. Ele era intenso,
safado, selvagem e... LOREN.
Rapidamente afastei meu rosto do seu e o encarei de olhos arregalados.
— Eu não posso. — ofeguei.
Christopher me ignorou e beijou o meu pescoço, descendo e subindo os
lábios sobre ele.
— Chris — tentei impedí-lo, porém, quando mais eu me esforçava,
menos eu queria que ele parasse.
Ele sugou a minha pele e eu me derreti em seus braços.
— Chris... — eu já não sabia mais se estava pedindo para ele parar, ou
para continuar, apenas continuei o chamando.
Ele enfiou seus longos dedos entre os fios do meu cabelo e os puxou.
— Você já está marcada como minha, Dingo — sussurrou sombrio.
Apertei minhas pernas em sua cintura e o pressionei ainda mais contra
mim.
— Você sumiu. — contestei.
Senti-o rir em minha pele.
— Encontrou outra garota para infernizar? — caçoei, com receio de estar
certa.
— Não, querida Dingo Bells. Só você ganha as minhas visitas
românticas.
— Então por que sumiu?
— Não sou só professor, anjo. Tenho responsabilidades em particulares
que precisam muito de mim.
Eu queria tanto saber do que ele falava, mas não podia ir a fundo. Não
podia remexer em sua vida se nem mesmo deveria deixar ele se aproximar
da minha.
— Você está mexendo com a minha sanidade, Chris. — ofeguei.
— E você com a minha.
O alarme soou alto tirando-nos de nosso transe.
O desafio havia acabado.
Ele me colocou de volta no chão, mas minhas pernas estavam moles
demais para se manterem de pé.
Me apoiei em sua cintura, e Chris esperou pacientemente para que eu
conseguisse me equilibrar por si só.
Notei os passos de todos os participantes indo em direção ao ponto de
saída e me desesperei.
— Eu tenho que ir. — disse prontamente correndo.
Christopher se encostou na árvore, com as duas mãos no bolso e me
observou se afastar dele.
— Boa sorte, querida Dingo Bells.

Capítulo 21| O trote

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO


Eu havia ganhado.
Loren e os nossos amigos me espremeram em um abraço de
comemoração tão apertado que precisei berrar para que me soltassem. Eles
estavam tão felizes, que mais parecia que eu havia acabado de ganhar o
prêmio Nobel.
Por outro lado, em volta de nós, os outros participantes me encaravam
irritados, talvez, por terem se esforçado abessa, e nem assim, terem chegado
perto de conseguir tantas fitas quanto eu.
Ao longe, deslumbrei o sorriso sarcástico de Christopher. Ele havia
adorado trapacear, mas não saberia dizer se a razão era por termos dado
alguns belos e quentes amassos, ou se ele apenas gostava de andar errado na
linha. Desconfiava que a segunda opção fosse a mais provável.
Christopher estava claramente acostumado a agarrar garotas em florestas.
Eu provavelmente seria só mais uma da qual uma hora ou outra ele nem se
lembraria mais do nome. Isso me causava uma estranha sensação de
desgosto e desânimo.
Sem que os outros percebessem, ele jogou-me uma piscadela e meneou
com os lábios: "Parabéns, Dingo Bells".
Bom, se é que ele realmente sabe que eu tenho um nome de verdade.
Minhas bochechas automaticamente se acenderam. Desviei meus olhos
quando meu coração comemorou aquela breve troca de olhares, e os segui
para os meus amigos; que ainda pareciam deslumbrados com a minha
vitória.
Obviamente eu não teria chegado nem perto de conseguir se não fosse
por Christopher.
Tanto faz... Ele não fez isso porque se importa comigo.
— Não vou dizer que não acreditava em você, mas eu bem que duvidei
que fosse conseguir tantas fitas. — Marcou revelou, receoso.
Lancei-lhe um olhar irritado e ele logo ergueu as mãos.
— Já entendi.
— Nunca duvidei de você, irmã. — Loren me olhou admirada. —
Diferente de outros. — e logo aproveitou para alfinetar Marcos.
Oh, irmã! Se você soubesse...
Meu peito se apertou em culpa. Eu não queria esconder dela algo assim.
Não mesmo. Me sentia uma traíra ordinária.
Pigarreei nervosa.
— Parem com todo esse drama meloso. Eww! — franzi o rosto em uma
careta. — Vocês estão me deixando enjoada.
— Só estamos muito orgulhosos da nossa caçula. — Claire disse, com
um lindo sorriso.
— Tá bom, Claire. Já chega... — Murmurei tímida, enquanto era cercada
por sua gentileza.
Ela riu. Eu não consegui a encarar diretamente nos olhos. Eu não estava
negando o seu afeto por que não o queria, mas por vergonha do que eu
havia feito há alguns poucos minutos atrás.
— Aqui está. — uma garota se aproximou de repente, estendendo um
envelope dourado para mim. — Seu prêmio. — informou, gentil.
— Prêmio?
— Você ganhou 8 jantares grátis no restaurante Per Gason. Aproveite! —
e assim ela saiu, com pés de bailarina que mal tocavam o chão.
Per Gason era um dos restaurantes mais descolados de Vespeau. Em
maioria, sua clientela eram jovens adultos e adultos. De dia, aquilo era
apenas mais um restaurante, durante as noites, se tornava uma boate com
atrações "exóticas".
Nunca havia ido, mas Loren já, e as histórias que ela me contava eram
sempre indecentes e perturbadoras.
— Beleza! Vamo logo. Já vai rolar o trote. — Joshua disse, impaciente.
Ele estava completamente esgotado e necessitado de dormir. Parecia ser o
único com senso de horário.
Estava entardecendo cada vez mais, em breve amanheceria e ainda
teríamos aula.
Se papai e mamãe descobrissem que quebramos o castigo, provavelmente
nos decapitariam antes mesmo de termos a chance de pedir desculpas.
Eu não queria bancar a "irmã certinha" em todas as vezes que saíamos,
mas me preocupava com a forma que Loren nunca se preocupava com o
resto.
— Eu não sei se eu quero ver isso. — resmunguei.
— Essa é a melhor parte, Dy. Não vem com essa agora. — Marcou
rebateu e Loren entrelaçou o seu braço no meu.
— Infelizmente tenho que concordar, Dy.
— Fala sério, Loren. Que graça vai ter em ver esses pobres coitados
serem torturados? — deslizei os olhos em volta, observando os perdedores
sendo amarrados pelos líderes do trote.
O resto dos telespectadores já estavam eufóricos com a cena, no entanto,
eu me sentia com a consciência pesada demais para me sentir uma
verdadeira campeã.
— Até parece que ver alguém sofrendo é uma tortura. — Loren revirou
os olhos, desdenhando.
— Na verdade, é um pouco... — sussurrei, acudida.
No fundo, eu sempre me sensibilizava além da conta pelos demais. E, em
algumas vezes, a ponto de chorar.
Loren não gostava do fato de eu ser tão sensível, mas me mantinha por
perto, como se tentasse, ao menos, amenizar a situação.
— Vamos! — um garoto loiro encapuzado, ordenou firme aos
prisioneiros, já enfileirados.
Toda a baderna de pessoas se juntou para os seguir, rumo ao alto da
floresta de onde estávamos. Alguns levavam lanternas ou acendiam o flash
do celular. Quem estava longe de nós, poderia enxergar a iluminação
amena, os passos arrastados e murmúrios amontoados.
Claire e Joshua foram os primeiros de nosso grupo a se mexerem. Marcos
se juntou logo em seguida, e Luc me enviou um olhar gentil, para que me
incentivasse, porém, foi só quando Loren se moveu, que segui o restante.
Estava frio, mas não como as outras noites, no entanto, de um jeito
amedrontador. Por mais que estivesse acompanhada de dezenas de pessoas,
sentia-me tensa e ansiosa, como se vagasse sozinha no escuro.
A algumas pessoas à nossa frente, Christopher caminhava com irmã ao
seu lado e os seus amigos estranhos.
Não era só o estilo pesado e escuro que os fazia diferente do resto, mas
havia algo na postura e na forma com que olhavam para os outros, que os
destacava de um jeito diabólico.
Chris parecia ser um tipo de líder para eles, mesmo que, para mim, fosse
o menos assustador. Entretanto, isso com certeza se dava ao fato de que eu
já havia tido momentos mais íntimos e "normais" com ele, porque para o
resto, ele ainda era o pior.
Em um dos momentos que subíamos a colina, havia o flagrado agindo de
um jeito nada sutil. Era assustador vê-lo sendo cruel, de modo que mais
parecia ser algo normativo a ele ameaçar e infringir dor.
Em um instante, estavam todos quietos, noutro, Christopher estava
segurando a garganta de um menino qualquer, o lhe dizendo coisas, que
mesmo sem conseguir ouví-las, pareciam absurdas.
Podia ver nos olhos melindrosos do pobre rapaz, que Chris não estava
para brincadeiras naquela madrugada.
Loren apertou sutilmente a minha mão para que eu parasse de olhar. Os
demais também evitavam, como se quisessem evitar problemas para si.
Eu precisava mesmo conhecer melhor Christopher ou sempre o veria
como uma total incógnita que apenas os outros haviam decifrado.
Quando chegamos no topo da colina, formamos um tipo de meio círculo,
observando os prisioneiros serem posicionados na ponta.
Quando notei o que pretendiam fazer, olhei em total alerta para Loren.
— Eles não vão jogá-los daqui de cima, não é? — perguntei, abismada.
— Há um riacho lá embaixo e...
— É! — a cortei rude — tem um rio que pode quebrar eles se pularem de
mal jeito. — rebati, ainda mais incrédula.
Ela deu de ombros.
— Eles já estão acostumados a pularem ali.
— Loren, se algo acontecer, nós seremos cúmplices. — alertei, meus
olhos quase saltando do rosto.
— Qual é, Dytto. Não estraga a brincadeira. Não vai acontecer nada. —
Marcos interviu, à vontade.
Balancei a cabeça, irritada e sai pisando duro dali.
Entretanto, foi quando eu já estava enfiada na multidão, tentando me
afastar, que senti braços fortes me cercarem e arrematarem meu corpo
contra o seu, colidindo minhas costas no peitoral duro de alguém.
Mesmo sem conseguir ver o seu rosto, sentia seu delicioso cheiro forte e
intoxicante. Meu corpo já conhecia o seu toque autoritário e arrogante
mesmo se estivesse de olhos fechados, ou talvez, principalmente de olhos
fechados.
Christopher não estava mais perto de sua irmã ou os seus amigos, o que
me deixou só um pouco mais a vontade.
Seus braços entornaram o meu corpo, acorrentando-me a ele. Seu torso
estava colado em mim. Sentia cada pedaço dele tocar cada pedaço meu.
Mesmo que nossas alturas fossem bem diferentes, sentia como se eu
encaixasse em seu abraço perfeitamente.
Eu não queria sentir que o pertencia, mas Christopher me fazia se sentir
tão dele.
— A vencedora tem que assistir os seus concorrentes pagando a prenda.
— ele sussurrou maldoso em meu ouvido, quase como um cantarolar.
Seu timbre era grave e forte, ele queria me deixar assustada, ou então, me
fazer sentir o mesmo que ele no momento.
Senti seus lábios macios e carnudos beijarem a minha pele. Minha pele
foi atingida por um tremor, acompanhada de uma onda de arrepios
delirantes.
— Eu não vou olhar. — devolvi baixo e covarde.
Sua língua rodeou a ponta da minha orelha.
— E quem disse que você tem escolha? — murmurou.
Não respondi. Apenas permaneci inquieta em seus braços, tentando me
afastar antes que Loren ou qualquer um dos nossos amigos nos vissem
assim.
Christopher não fez esforços para que eu permanecesse presa, um pouco
de força que ele fazia, bastava por si só. Eu não tinha a menor chance contra
aquela muralha tatuada, mesmo que gastasse todas as minhas energias
tentando escapar.
— Agora! Olhe, querida Dingo Bells. — avisou baixinho no momento
em que os prisioneiros já estavam com os pulsos livres e prontos para
saltarem.
Os outros já haviam aceitado — contra a sua vontade — o seu destino.
Apenas um, se manteve contrário. Ele não queria pular de jeito nenhum,
mas os líderes o mantinham ali, pressionando-o. Era visível o seu rosto
pálido e as gotículas de suor se formando em sua testa.
— Dy! — a voz de Loren soou como um alerta em meus ouvidos no
instante em que ela surgiu no meu campo de visão. — Achei você. —
murmurou devagar, enquanto trocava o seu olhar surpreso de mim para
Chris e em seguida para o meu rosto novamente.
Ela estava em choque. Eu estava nervosa. E Christopher estava...
Indiferente? Feliz? Orgulhoso? Eu não conseguia olhar para o seu rosto
para descobrir.
— O que estão fazendo? — perguntou, ao notar que não conseguiria
explicações apenas observando essa bela tragédia diante dos seus olhos
desacreditados.
Ela nos olhava como se estivesse vendo uma alucinação.
— Fica quieta, Loren. Vai começar. — Chris resmungou rude atrás de
mim. — Agora olhem para essa belezinha. — disse animado.
Minha irmã, mesmo com a atenção presa a nós dois, conseguiu virar o
seu rosto com bastante esforço para onde os perdedores estavam.
Eu só sabia me afogar em culpa.
O primeiro pulou após a contagem regressiva ter sido feita, e todos
berraram em comemoração. Demorou alguns instantes até ouvirmos o
baque do seu corpo contra a água. Estremeci por inteiro e Christopher me
pressionou mais forte.
A cada segundo, a madrugada parecia ainda mais gélida. Aqueles
jogadores iriam sofrer com a sensação horripilante de estarem molhados
nesse clima.
O segundo e terceiro foram juntos. Eram duas garotas, aparentemente
próximas. A plateia em volta vibrou ainda mais.
Eu estava odiando cada segundo daquilo. Aquelas risadas, gozações,
gritos e assobios. Tudo estava me deixando enojada.
Depois que pulavam, eu não sabia se emergiam logo em seguida ou se
continuavam debaixo d'água, mas não tive coragem o bastante para conferir.
Sequer sabia se algum dos líderes iria atrás deles após o trote.
Ninguém realmente se preocupava, apenas queria algo ou alguém de
quem rirem.
Os outros pularam de um a um, porém, ao chegarem no último
participante, o qual se negava a fazer o mesmo, o clima pesou.
O garoto balançou a cabeça e recuou um passo com finco. Estava
decidido que não iria de maneira alguma.
Senti o peito de Christopher vibrar, como se risse baixo de algo que só
ele sabia.
Mesmo com toda a situação, minha irmã e todo o resto manteve a
concentração presa ao que acontecia.
— Se você não pular, eu te jogo. — o líder que parecia mais velho
ameaçou com um sorriso de canto que dizia não estar brincando.
— E-eu não vou. — o menino novamente recusou.
Sendo pego de surpresa, dois deles os seguraram pelos braços e os
arrastaram à força até a beirada.
O garoto fechou os olhos com força e apertou os punhos. Ele tentava
frear com os pés enquanto jogava a cabeça para trás.
Meu coração já estava disparado e eu suava frio.
Olhei em volta, mas ninguém estava disposto a ajudá-lo. Ao vê-lo tão
desesperado e prestes a cair, tentei dar um passo a frente por impulso em
ajudar, mas Chris rapidamente me impediu.
E então aconteceu. Jogaram-no.
Meu corpo saltou como se tivesse levado um grande choque elétrico e
virei-me de uma só vez para Christopher, imediatamente enfiando o rosto
em seu peito, a procura de consolo.
Lágrimas e mais lágrimas jorraram de meus olhos. Ver aquilo havia me
desestabilizado completamente. Eu estava tão aflita que não ligava de saber
que havia várias pessoas ao nosso redor testemunhando os meus soluços no
corpo do garoto mais insensível de Nabrya.
Uma mão sua afagou as minhas costas, enquanto a outra fazia o mesmo
em minha cabeça.
— Não se preocupe, Dingo. Ele vai sobreviver.
— Solta ela, Chris. — a voz da minha irmã foi séria dessa vez.
— Não. — ele retrucou.
— Eu vou levar ela daqui. Me desculpa, Dy. Eu não sabia que o trote
desse ano seria assim, ou juro que não teria te trazido. Imaginei que fossem
fazer algo mais leve.
— Ah, cale a boca! — Christopher a interrompeu duramente — Não
existe trotes leves, Loren. Se ela está bem, isso não é graças a você.
— Quer me ensinar a como cuidar da minha irmã? — ela parecia ainda
mais brava.
— Se não fosse por mim... — o tom de voz dele baixou até que se
tornasse um sussurro — sua irmã estaria nesse mesmo buraco que todos os
outros. Talvez, na mesma situação que o último garoto.
— Chris. — soprei para que ele parasse.
Não havia motivos para que ele a fizesse sentir culpa disso agora. Eu
não queria que ele a deixasse mal.
— Você é só uma idiota, Loren.
— E você é um grande cretino que só quer se aproveitar da minha irmã!
— Loren aumentou o tom.
Me afastei um pouco de Chris, mas bastou para que ele me puxasse de
volta para onde eu estava.
— Não. Fique aí. Você não vai querer ver nada do que está acontecendo,
Dingo Dingo. — ele dizia sorrindo, mas eu estava curiosa.
— Vamos logo, Dy. É melhor que não fique perto desse idiota. Ele vai se
aproveitar de você até onde puder. É o que ele sempre faz.
Christopher riu.
Ergui meu rosto para ele e franzi as sobrancelhas.
— Por favor, pare.
— Qual é, Loren. Sua irmã já está grandinha para saber o que quer. E se
ela me quiser, quem sou eu para me opor. — provocou-a.
— Duvido que ela ainda vá querer algo depois de conhecer a pessoa
desprezível que você é.
— Inferno. Sua irmã é uma grande empata foda, Dingo. Como eu vou te
pegar se ela não sai de cima?
— Chris, é sério. Por favor, pare de falar agora. — implorei baixinho.
Seu olhar indecente vagueou pelo meu rosto até que encontrou o meu e
sorriu.
— Calma, anjo. Só estou conversando com a sua irmã.
— Não faça isso.
Ele se encurvou um pouco mais para mim.
— Como quiser.
Sendo pega desprevenida, ele agarrou os meus lábios com os seus e os
chupou em um beijo caloroso, no entanto, rápido demais.
Eu estava completamente constrangida quando ele terminou.
— Deve fazer apenas meia hora que fizemos isso, e eu já estava
morrendo de saudades. — comentou alto.
Não consigo me mover. Não consigo sequer olhar para Loren agora.
— O gosto da sua boca é tão bom quanto o da sua boceta.
— Seu filho da puta! — Loren esbravejou e avançou para cima dele, mas
assim que me virei para trás, me deparei com a irmã de Christopher,
empurrando-a.
De um segundo para o outro. Todo mundo havia parado para nos olhar,
esquecendo completamente do trote.
— E quem é essa valentona, Yori? — a garota alta e esbelta indagou
provocativa. Seu olhar ácido e sério me lembrava o dele.
Yori? Christopher havia Yori no nome?
— Que porra é essa? — Loren rebateu.
— Opa, ringue de irmãs. Eu aposto na Amara. E você, Dingo Bells? —
Chris brincou.
Olhei para ele boquiaberta e ele balançou a cabeça.
— Tudo bem não torcer para a Loren. Se ela fosse minha irmã, eu
também não torceria. E ela não pode ficar chateada. Ela quem te trouxe
aqui, lembra?
É impossível ter uma conversa séria com ele.
— Chris, pare elas. — pedi, irritada.
— Elas ainda nem arrancaram uma gota de sangue uma da outra, calma.
Eu mal podia acreditar que Christopher ia mesmo deixar que Loren e
Amara continuassem a discutir ao nosso lado e tratasse aquilo como uma
aposta de cavalos.
— Ei, ei. O que tá acontecendo? — Joshua chegou, ao lado de Claire e
Marcos.
— Esse filho da puta tá se aproveitando da Dytto. — Loren apontou para
nós dois — E essa cretina acha que pode vir para cima de mim. — quase
podia ver fumaça saindo de dentro dela.
— Você não aguenta uma briga de verdade, imbecil. — Amara rebateu.
— Quer apostar pra ver?
Loren foi para cima dela, mas Joshua se meteu no meio e no mesmo
instante eu fiz o mesmo.
— Vamos embora! — ditei, séria.
Agora já mal me lembrava o porquê me senti mal. Tudo estava
acontecendo rápido demais.
— Você não aguenta a porra de um murro. — Amara continuou.
Olhei séria para Chris, esperando por alguma ajuda da sua parte. Todavia,
ele apenas se divertia assistindo a situação, esperando que elas partissem
para a ação.
— Chris, por favor, eu faço qualquer coisa. Só não deixe elas brigarem.
— implorei, melindrosa.
Ele suspirou frustrado, mas parecia finalmente ter cedido.
— Deixa essa briga para um outro dia, irmã. Essa merda vai ter que ser
adiada. — pronunciou, desanimado.
Amara riu baixinho.
— Tô sempre aqui. — ela desafiou, olhando diretamente para Loren.
As bochechas da minha irmã coraram por um momento, mas ela
disfarçou, olhando para mim.
— Vamos! Antes que eu acabe com a vida de alguém hoje. E eu nem sei
de qual irmão eu estou falando primeiro.
Tive que engolir em seco, pois não sabia se eu estava inclusa.
Arrastando todo mundo a força, Joshua e Marcos se encarregaram de
intervir na briga. Claire ainda nos observava confusa, mas não disse nada.
Christopher continuou a me encarar, mesmo após termos nos afastado.
Maldito! Agora eu teria problemas ainda maiores assim que chegasse em
casa.

Passei alguns dias sem postar, em maioria por estar ocupada, outros por
estar doente e agora por estar viajando, mas logo logo volto ativa de postar
capítulos novamente.
Beijos e até a próxima.
Meu Instagram: autoramariliaandrade
Capítulo 22| O silêncio

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



Nem uma única palavra. Nada.
Eu via em seu rosto pálido o quão imersa em pensamentos ela estava.
Seus lábios não se moverem nem um único milímetro desde que entramos
em seu carro.
Loren estava indiferente a situação. E isso era ainda pior do que se ela
apenas gritasse comigo e me chamasse de "A pior irmã do mundo".
Eu aceitaria todas as suas palavras. No entanto, isso nunca aconteceu.
Aquele silêncio rasgava os meus ouvidos como um zumbido agudo e
estridente. Era muito mais difícil saber que ela estava tão chateada, que não
conseguia nem mesmo dizer algo, do que se apenas brigasse comigo.
Seus olhos castanhos mantinham-se presos à estrada. Distantes e vazios.
Ausentes do atual momento, enquanto eu me corroía em ansiedade ao seu
lado, esperando por uma reação que parecia nunca vir.
A parte interna das minhas bochechas já estavam sangrando e os meus
dedos doíam com tamanha força que eu impunha uns aos outros.
Minha respiração era silenciosa, porém descompassada.
Não fazia a menor ideia do que se passou em sua cabeça quando
Christopher me beijou. E odeio que ele tenha feito isso na frente dela.
Se eu pudesse voltar atrás...
Ao chegarmos em casa, ela estacionou o seu carro na garagem, abriu a
porta e se foi.
Simples assim.
Saí vários minutos depois.

O sol raiou tão mais rápido quanto eu queria.
Os feixes de luz atravessavam as cortinas brancas e destacavam meu
rosto sonolento. Meus olhos ainda ardiam e pesavam pela noite mal
dormida.
Minha cabeça latejou com mais força quando ergui o tronco para sentar-
me. Sentia como se estivesse sendo inteiramente martelada.
Eu só queria dormir, ou talvez correr para o banheiro e por tudo para
fora, como uma maldita bêbada. Mesmo que não houvesse uma única gota
de álcool no meu organismo, era como se estivesse passando pela pior
ressaca da minha vida.
A madrugada passada foi um porre e tanto. Meu estômago se contorcia
somente de lembrar.
Não recebi visitas de Christopher. Aposto que o que ele fez já tenha sido
o suficiente — momentaneamente —para preencher o seu ego. Logo ele
procuraria por mais, e eu precisava pará-lo de uma vez por todas. Isso
estava destruindo a minha amizade com a minha irmã e me afundando em
culpa.
Quando desci para o café da manhã, o casaco do papai e a bolsa da
mamãe, já estavam avulsos pela casa. Provavelmente haviam chegado há
pouco tempo.
Loren não tinha descido, de todo modo, eu não contava com a sua
presença na escola hoje. Ela ainda deveria estar dormindo.
Quando chequei o meu celular, havia algumas mensagens de Luc:
Sorri com a sua preocupação por mim.
Oh, Luc. Como eu queria gostar de caras como você. Tudo seria tão
mais fácil.

Ao chegar na escola, vasculhei o lugar, procurando compulsivamente por
Christopher. Eu precisava falar com ele o mais rápido possível.
Era o momento certo para acabar com isso. Luc não estava pelos
corredores, Loren não tinha vindo, e, bem, não havia mais nenhuma outra
presença por perto que poderia atrapalhar a minha conversa particular com
ele.
Esquece. Havia, sim, uma presença que poderia nos atrapalhar.
Na porta de uma das salas, avistei Christopher papeando com uma garota
um pouco mais velha do que eu. Ele estava com as duas mãos no bolso, e a
ouvia atentamente. A forma tão atenciosa da qual ele a olhava me deixou
enojada.
Foi automático. O ciúme assomou todo o meu corpo, como um calafrio,
mas não me prendi no lugar por isso.
Fingi desinteresse e caminhei até os dois. Meu coração acelerava a cada
dado passo, minhas mãos já começavam a soar frias e o estômago se
embrulhou. Era como se eu estivesse destinada a me sentir assim toda vez
que o visse.
Apenas fique tranquila, Dy. Apenas fique tranquila.
— C-Chris. — as palavras saltaram assim que me aproximei.
Merda! Eu não planejava gaguejar assim que abrisse a minha maldita
boca.
A garota parou de falar no mesmo segundo e ambos trouxeram sua
atenção para mim.
De repente, eu não queria mais ter vindo até aqui.
— Eu preciso falar com você. — informei-o, tremendo.
Ele uniu as sobrancelhas, como se fizesse pouco caso.
— Agora, não. — disse, indiferente.
Isso não podia estar acontecendo!
O que eu havia feito que o deixou assim tão estranho de repente?
— É muito importante. — frisei.
Ele soltou o ar pela boca. O seu olhar duro me acertava como uma espada
atravessando o meu rosto e gritando "Eu não estou nem aí para você".
— Em um outro momento, senhorita Bell!
— Não dá para esperar cinco minutos, droga? — a garota cochichou
quase inaudível, mas consegui ouví-la perfeitamente.
Eu estava tão constrangida que queria morrer ali mesmo, apenas para
não ter que continuar vendo os dois me encarando com o mais puro
desprezo.
— Certo. — sussurrei, sem jeito.
Ao me virar, dei apenas dois passos, para, então, ouvir a voz autoritária e
bruta me chamar.
— Espere!
Voltei a olhá-lo, porém, Christopher não parecia mais estar prestes a
enfiar suas garras em mim.
Ele apontou para um canto.
— Fique ali. Eu já converso com você. — exigiu.
Balancei a cabeça.
— Esquece, desculpe a intromissão. — soprei.
Saí dali com passos apressados. Estava cansada demais para lidar com
Christopher agora em seu constante mal-humor.
Eu nunca sabia se ele estava só irritado, se me odiava por completo, ou se
só fazia isso por diversão.

Aconteceu em mais ou menos cinco minutos depois de eu ter saído de
sua frente. Christopher já estava logo atrás de mim, com a sua enorme mão
envolvida em seu braço, segurando-me ávido.
Sua repreensão sobre mim era nítida. Ele estava tão puto!
— Garota teimosa! — resmungou, enquanto me puxava para o lado
contrário do meu trajeto.
— Não parecia nem um pouco interessado em me ouvir. Agora isso? —
reclamei, irritada.
— A escola toda está de olho em nós dois, caramba. Quer ser expulsa
pelo diretor?
Merda! Papai não poderia descobrir isso de jeito nenhum. Mas não
estávamos sendo exatamente discretos há um bom tempo.
Apontei com os olhos para a sua em meu braço.
— Quer que me expulsem?
Ele apertou os maxilar.
— Tô começando a considerar essa ideia.
Fiz cara feia, e ele sorriu.
— Vamos procurar uma sala vazia para conversarmos. — avisou.

— Não vai mais me importunar e nem irritar a minha irmã. — disse
séria, andando de um lado para o outro.
Christopher curvou um sorriso arteiro nos lábios e colocou as pernas
sobre a carteira a frente de onde estava sentado.
— Estou falando sério, Chris. — pontuei firme e ele rapidamente
assentiu, no entanto, ainda em tom de brincadeira.
— Claro, claro. Deixa eu só anotar aqui na minha cabeça.
Ele ergueu a mão, como se segurasse uma caneta, fechou os olhos e
fingiu escreveu no ar.
— "Não importunar a Dingo Bells e nem irritar a irmã chata dela". Está
anotado, algo mais? — ele abriu as pálpebras. As íris verdes fincadas em
meu rosto.
Suspirei fundo.
— Também não irá mais... não irá... — tímida, cruzei os dedos uns nos
outros e os encarei, para que assim conseguisse impulso ao tentar dizer. —
Não vai mais me fazer ter sonhos indecentes com você. — minha voz
estava surpreendente mais baixa e retida quando terminei.
Ele passou a língua sobre os lábios.
— Certo. — sem tirar os olhos de mim, ele prosseguiu: —"Não ser mais
tão atraente, para deixar de ser o objeto sexual dos sonhos da Dingo." —
rabiscou no ar com malícia.
— Não é isso. Você sabe do que eu estou falando. — rebati, brava.
— Eu sei? — Christopher fingiu-se de desentendido, do jeito mais cínico
que conseguia.
Balancei a cabeça, concordando.
— Também não irá mais me beijar. — continuei.
Ele pendeu sua cabeça para o lado, olhou-me de cima baixo, demorando-
se apenas em lugares dos quais ele mais parecia interessado em tocar, em
resumo, meu rosto, peitos e coxas, em seguida se levantou de onde estava.
— Não? — pressionou.
Balancei a cabeça, negando.
Seu corpo alto veio devagar, no entanto, cheio de atitude em minha
direção. Meu corpo havia entrado em pânico. Sentia como se todas as
partículas de mim estivessem em chamas.
— Também não vai mais se aproximar de mim. — dei um passo para
trás. — Não vai mais agir como se eu fosse sua. — recuei mais um — Não
vai mandar em mim. — e mais um — Não vai...
— É uma lista muito grande. — interrompeu-me duramente — E eu
ainda nem comecei a fazer o que eu quero com você. Isso não é justo para
nós dois.
— É, para mim.
Christopher começou a dar passos mais largos quando me viu fugindo de
sua proximidade. Ele queria me alcançar a qualquer custo.
— Chris, fique longe. — alertei-o, mas isso não serviu. — Por favor,
apenas fique longe. — ofeguei.
No instante em que ele me alcançou, seu primeiro toque fora em minha
bochecha. Um gesto modesto e gentil, que se desfez tão rápido quanto se
formou. Logo, sua mão estava entrelaçada aos fios do meu cabelo,
puxando-me a ele, seus lábios quentes e molhados deslizando em todo o
meu pescoço, sua outra mão deslizando para debaixo da minha saia.
Seus dedos longos e curiosos tatearam a parte interna de minhas coxas,
subindo e deliciando-se de cada centímetro de mim.
— Temos um pacto, amor. — Chris sussurrou em meu ouvido, a voz
impiedosamente sexy.
— Não...
— Não devia ter cruzado o meu caminho, anjo. Deveria ter se mantido
longe.
— Foi você quem cruzou o meu.
Ele riu.
— Não, amor. O diabo nunca cruza o caminho de ninguém.
Seus dentes mordiscaram a minha pele. Ele incitou que eu continuasse a
andar até que estivesse com o corpo colado na parede, e quando o fiz,
Christopher colocou suas mãos em minha cintura e enfiou seu joelho entre
as minhas pernas, pondo-me apoiada sobre ele.
— Se você, em momento algum, aparecesse na minha vida. —
sussurrou, tão próximo da minha pele que podia sentir o sopro de ar quente
vindo de seus lábios. — Eu nunca iria saber como é estar obcecada por uma
alma. Por uma garota. Pelo desejo de te fazer pecar. De querer te fazer
cometer as piores danações. Eu quero que você queime comigo.
— Me deixe em paz. — murmurei.
Ele encostou a sua testa na minha e suspirou baixo.
— Sabe qual é a pior parte? — pronunciou rígido.
— Qual?
— Eu sinto tudo o que você sente. E não há uma única mínima parte de
você que quer que eu a deixe ir. Não há nada em você que queira me
afastar, e isso... Inferno! É muito bom, Dingo. Eu quero te foder aqui e no
inferno sem parar.
Engoli em seco. Seus olhos finalmente avançaram até os meus. Ardentes
e furiosos.
Por um segundo, esqueci como se respirava, e tudo a minha volta tornou-
se nublo. No momento, só existiam aqueles olhos sombrios, aqueles lábios
sacanas, aquele rosto tão dolorosamente lindo e o corpo que, pelos céus, era
capaz de ser tão incrível.
Só ele. Apenas ele.
— Pare de mexer comigo. Eu preciso voltar a ser quem eu era. —
cochichei trêmula.
— Eu não quero parar.
— Eu preciso que pare.
— Me responda uma única coisa. — ele ergueu um dedo diante dos meus
olhos.
— Sim?
— Você é virgem, querida Dingo Bells?
Minhas bochechas imediatamente esquentaram.
— É isso que quer de mim, não é? — a minha voz saiu arrastada, eu não
conseguia disfarçar o quão decepcionada estava.
— Eu quero comer você. Em todas as posições. Em todos os lugares. —
sua voz se baixou um pouco mais. — em todos os cantos que você quiser
que eu entre. Mas há algo mais que eu quero, e isso vai além de sexo.
Me afastei um pouco.
— Está apaixonado por mim?
Ele frizou a testa, intrigado.
— Obcecado. — respondeu.
— E quando isso passar?
Ele gentilmente acariciou o meu rosto com as pontas dos seus dedos.
— Se eu não fosse o que eu sou, isso naturalmente passaria. Mas não é da
minha natureza se entediar. Vai querer que eu esteja obcecado por você, e
não apaixonado. Se fosse só paixão, eu não seria tão paciente ou gentil.
— Você não é gentil. — protestei — Você me atormenta. Me faz sentir
dores. Me faz acordar gritando. Você nunca foi gentil.
— Se eu não fosse gentil. Você estaria morta há tempos.
Minha respiração fraquejou.
— Não vou agradecer. — debati, nervosa.
— Eu sei que não. Mas de todo modo, não fui eu quem te fiz gritar.
— Você, de alguma forma, está em todas as partes do meu corpo. Eu não
sei o que você fez, ou o porquê fez. E eu sinto que nunca vou entender isso
ou o motivo de todos esconderem segredos sobre você. A minha irmã, tem
segredos sobre você. E eu não paro de sentir culpa por ter deixado você se
aproximar tanto, ou de ter permitido que me beijasse na frente dela e dos
meus amigos.
— Pare de cavar buracos ou entrará muitos ossos. — seu timbre
transformou-se em algo mais autoritário, a expressão em seu rosto tornou-se
macabra. Eu sempre tinha medo quando ele fazia isso.
Em um segundo, éramos Christopher e eu, noutro, ele era apenas mal e
misterioso.
— Você quer tudo de mim. Não é justo que eu não tenha nada de você.
— Você já me tem mais do que qualquer outra pessoa já teve. Basta! —
esbravejou ele.
— Não basta.
Christopher se afasta abruptamente.
— Vá para a sua sala, senhorita Bell. — ordenou.
— E se eu não for?
— Eu mesmo a levo.
Assenti, contrariada. Sentia um bolo de emoções presas a minha
garganta. Minha vontade era de gritar com ele. Mas já meus olhos,
denunciavam a chegada de lágrimas. Portanto, apenas concordei. Não me
prestaria a chorar para ele.
— Eu vou fazer o que eu quiser e você não tem nada a ver com isso. —
Dando-lhe as costas, marchei duramente para fora da sala.

Voltei.
Quem aí já viu as ilustrações do Chris com o pirocão de fora? Kkkkkk
Me sigam no Instagram, que lá eu posto spoilers, quando vai ter capítulo,
memes, ilustrações, notícias sobre o livro, caixinhas de perguntas e tudo
mais, meu user é: autoramariliaandrade
Capítulo 23| O beijo

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



— Por que as duas estão tão quietas? — mamãe semicerrou os olhos,
inclinando-se levemente sobre os cotovelos na mesa. — O que foi que
vocês aprontaram?
De um lado da mesa estava Loren, o olhar cabisbaixo e os braços
cruzados. Totalmente afundada em silêncio. De um outro, eu, olhando-a
como um cachorro chutado, implorando a ela por um olhar que fosse.
Minha irmã em geral não era de conversar, mas certamente, de pertubar
ou negligenciar a paz alheia. Porém, hoje, ela estava mais quieta do que o
normal, e eu sabia bem a razão.
— E então? — mamãe insistiu.
Me sentia sufocada. Como se precisasse urgentemente resolver as coisas.
Eu não queria ficar assim com Loren. Ela era a minha melhor amiga, minha
confidente e a pessoa que eu mais amava.
Poderia passar anos sem me envolver com qualquer cara, mas era quase
impossível suportar passar um dia sem falar com ela.
— Podemos dormir na casa da Claire hoje? — me prontifiquei.
Loren rapidamente ergueu os olhos para mim, confusa.
— Claire? Ainda estão de castigo. — Ever cruzou os braços.
— Eu sei. E eu prometo que nós duas vamos compensar indo às missas
mais vezes e chegando em casa tão pontual quanto nunca. — garanti.
— Por que? Você odeia sair, Dytto. — perguntou, desconfiada.
Balancei os ombros.
— Eu preciso me divertir mais vezes, e a Claire não é ruim. Estamos
preparando uma noite de garotas. — olhei para Loren, indiretamente
pedindo por sua cumplicidade.
Bom, não era tudo mentira. Mas eu com certeza não estava saindo para
me divertir ou para uma noites de garotas. Apenas queria encontrar uma
forma de fazer as pazes com Loren.
Mamãe soltou o ar com força e assentiu.
— Estejam aqui bem cedo amanhã. — ela apontou o dedo indicador em
cima da mesa e fincou o seu olhar mais rígido sobre nós. — Bem cedo. —
enfatizou — O pai de vocês anda muito mais irritado que o normal e eu não
quero que as duas percam a confiança dele.
— Sim, senhora. — sussurrei.
— Claro. — Loren concordou seca.

Enfiei mais roupas na minha bolsa do que realmente precisava. Íamos
passar apenas uma noite fora, mas eu não pretendia ir para a casa de
ninguém. Tinha planos de parar em algum lugar tranquilo, beber algumas
cervejas com Loren e ver o nascer do sol juntas.
Parei de arrumar as minhas coisas quando ouvi dois toques sutis na porta
do meu quarto e me virei. Loren estava parada, com uma pequena bolsa em
sua mão, quase que completamente vazia.
— Me avise quando você for sair. — murmurou baixo.
— O quê? Não vai comigo?
Seu olhar mudou de alheio para intrigado de um segundo para o outro.
— Não está indo dormir na casa dele? — ela frisou as sobrancelhas.
— Dele? — declarei minha confusão.
— Christopher.
O que? Ela pensou que eu estava usando ela para dormir na casa do
Christopher?
— Claro que não. — protestei. — O que acha que estamos indo fazer?
— Pensei que estivesse querendo dar uma fuga para ver ele. —
respondeu, simples.
Agora conseguia entender melhor o seu jeito desinteressado.
— Eu não tenho nada com ele. Sabe bem disso.
Seu rosto contraiu levemente, como se não concordasse tanto assim
comigo.
— Eu só queria passar um tempo com a minha irmã. O que deu em você?
— impliquei, olhando-a rápido de cima a baixo.
Ela encostou o corpo no batente e deixou que um longo suspiro escapasse
de seus lábios.
— Você mente mal, Dytto. Muito mal.
Tombei a cabeça para o lado.
— E eu menti sobre o quê?
Ela curvou um sorriso sem vida.
— Está apaixonada por ele.
Meu corpo automaticamente sobressaltou.
— N-não!
Seus olhos examinaram o meu com exatidão.
— Eu te conheço a quanto tempo mesmo? — provocou.
— Eu não sei do que você...
— Ah, para! — disse séria — Não vamos jogar esse jogo de "Você finge
que não sente e eu finjo que acredito". Isso já está tão óbvio que chega a ser
esquisito.
Por um momento, quis encolher todo o meu corpo, até que coubesse
dentro de uma caixinha, para, então, poder me trancar lá para sempre.
Só assim eu não precisaria mais passar por situações tão constrangedoras
como esta.
— Se quer vê-lo, vá em frente. Só espero que ele não seja tão idiota com
você quanto foi comigo ou qualquer outra. Você não sabe metade da
historia dele.
— Eu não pretendo vê-lo, Loren.
— Mas devia. Assim poderiam resolver de uma vez por todas seja lá o
que está acontecendo.
— Tá bom. Agora é a sua vez de parar. Eu tô tentando resolver as coisas
entre você e eu. Também tô tentando te dizer que não tenho nada com o
Chris, mas acho que você não me escuta.
— Dytto eu tô escutando as mentiras que tem contato a si mesma há dias.
Eu não sou cega, está bem? Eu vejo claramente tudo o que está
acontecendo.
— Loren, por favor, pare. Eu não quero que você fique com raiva de mim
ou...
— Com raiva de você? — pontuou — Eu não estou com raiva de você,
Dytto. Eu estou com raiva dele.
Loren deixou que a sua bolsa caísse no chão e relaxou os ombros.
— Não me importo que esteja apaixonada ou que esteja ficando com
alguém. O problema é a pessoa que você escolheu ficar. — a expressão em
seu rosto tornou-se melancólica— Christopher é um cara bonito, atraente e
todas as coisas que uma garota procura quando está afim de viver uma
paixão doida. Ele é tudo isso, Dy.
Ela balançou a cabeça.
— Só não é o cara certo para ninguém. — finalizou, infeliz.
Mordi o canto do lábios.
— Eu não o escolhi. — cochichei.
— Mas está se apaixonando.
— Não por escolha.
— Eu sei. E é por isso que eu estou tão furiosa com ele. Eu tenho medo
por você, Dy. Medo do que ele pode fazer depois que você estiver
totalmente apaixonada por ele.
— Não precisa agir como se precisasse me defender de tudo o tempo
inteiro.
— Foda-se, Dy. O problema aqui é ele. — debateu, irritada. —
Christopher acha que pode fazer o que quiser com a vida de quem ele
decidir infernizar. Ele pode ter feito isso com outras pessoas, mas você tem
a mim, e eu pretendo te defender até o fim de qualquer que seja a idiotice
que ele tenha preparado para você. Eu não posso deixar ele te manipular.
— Christopher sabe disso, e é por isso que você precisa parar. Ele só quer
te provocar, Loren. É você quem ele quer infernizar.
Seus olhos estagnaram em mim, incapazes de acreditar no que ela estava
ouvindo. As peças pareciam ter se encaixado em sua cabeça. Ela estava
incrédula.
— Eu sei que não é fácil lidar com ele, mas não acho que ele queira me
infernizar. Eu sei que o Chris não tem intenções boas comigo, mas ele é só
um cara que quer as mesmas coisas que os outros. Logo ele se entedia e
segue em frente. Você vai ver. — eu disse, tão convicta, que, por um
instante, até eu acreditei em minhas palavras
Eu não sabia se estava tentando a confortar, ou apenas enganando a mim
mesma de que não havia algo mais ali.
Christopher não queria só a minha virgindade ou o meu corpo. Ele
desejava a minha alma e os meus pecados. E era por isso que eu o temia
tanto.
— Podemos ir agora?
Ela deslizou a língua sobre os lábios e assentiu.
— Talvez você tenha razão. — sussurrou. — Christopher é incapaz de
sentir algo por qualquer pessoa ou até mesmo de se apaixonar.
Aquele frio na barriga quis me engolir, mas tão logo disfarcei.
— Claro. Ele nunca sentiria nada por mim, Lô. — forcei um sorriso.
Ela baixou os olhos.
— Isso tudo é uma merda. — refletiu sozinha.
— Posso perguntar algo? — balbuciei — Ainda está apaixonada por ele?
Loren se impertigou envergonhada e desviou o olhar para um canto
qualquer.
— Vou ligar para a Claire. Vamos fazer essa tal "Noite das meninas". —
e assim, ela rapidamente pegou sua bolsa do chão e saiu. Confirmando o
que eu temia.

A noite das meninas se transformou em uma pequena reunião de amigos,
e em seguida, numa festinha particular.
Não havia muitas pessoas além do nosso grupo e mais umas outras seis
pessoas. Ainda tínhamos o controle da situação. O problema era Marcos,
que quando ficava bêbado perdia as estribeiras e logo chamava quem quer
que ele visse. Por este motivo, não pude tirar os olhos dele.
— Marcos, não pode ficar dando em cima de todas as garotas do mundo.
Em algum momento, vai topar em uma que tenha um namorado muito
bravo e vai levar uma surra por isso! — o aconselhei.
— Não se preocupe, Dytto, eu sei me cuidar. — ele exibiu seus músculos
murchos e balançou as sobrancelhas.
Revirei os olhos pela quarta vez.
— Beba mais água e fique sóbrio de uma vez por todas. — reclamei,
enfiando a garrafa na sua cara.
Ele gargalhou, mas derramou o líquido em sua boca mesmo assim.
Enquanto eu me encarregava de ser a babá de Marcos, Claire estava
transando com Joshua em seu quarto e Loren estava dançando sobre a mesa
do jardim.
Ela rebolava até embaixo e subia esfregando as mãos em seu corpo
conforme a batida da música. Loren não era de dançar daquele jeito.
Por mais que tivéssemos tocado no assunto do qual estávamos evitando,
isso não tornou a situação mais leve.
— Mais que droga é que ela tem? — resmunguei sozinha.
— Sei lá, ela é sua irmã, você é quem deveria saber — Marcos se
intrometeu, supondo ser com ele que eu estivesse falando.
Apenas suspirei, derrotada. Lidar com bêbados era cansativo.
— Vem cá, por que tá tão quieta hoje? — questionou.
— Não é nada.
Ele coloca sua mão sobre a minha na mesa.
— Se não fosse nada, não estaria tão distante. — argumentou.
Seus olhos já estavam miúdos de tão alcoolizado, então pra quê se dá ao
trabalho de esconder o que eu estava sentindo se ele nem mesmo se
lembraria depois.
— Só não gosto de ver a Loren agir desse jeito. Parece que ela
simplesmente muda quando está mal e acaba se entregando para o mundo
de uma maneira estranha.
— Não se preocupa, Dy. Nós estamos de olho, nada vai acontecer com
ela.
— Não é isso... É só que, eu vejo que ela está mal, mas ela não se abre
comigo.
— Tem coisas que é melhor guardar.
— Não, não tem não. Nós só guardamos as coisas quando estamos com
medo de lidar com elas, mas isso só se acumula, e depois, sofremos as
consequências.
— Vem, deixa isso para lá — ele se levantou e me puxou para junto dele
— Que papo chato! Vamos dançar.
Sorri envergonhada. No entanto, antes que eu pudesse ter a chance de
negar, Marcos já me arrastava para o meio do jardim. Tecnicamente não
estávamos em uma festa pra lá de grande como sempre fazíamos, mas já era
o bastante para que eu quisesse me esconder.
— Se deixa levar. — disse animado.
Enquanto ele já aparentava estar totalmente a vontade, eu me prendia ao
chão como uma árvore.
— Desculpa, eu não consigo — murmurei tímida.
Ele riu. Marcos deu a volta em meu corpo e pôs suas mãos em minha
cintura.
— Faz assim — guiou-me a se remexer de um lado para o outro, porém
eu estava travada — Relaxa, Dy.
Apesar de sua ajuda, continuei dura no lugar. Marcos insistiu em meu
progresso, mas logo percebeu a péssima dançarina que eu era.
— Feche os olhos — pediu.
— O quê? — perguntei, nervosa.
— Apenas feche os olhos. Imagine que está sozinha no seu quarto.
Apenas você, e dance, Dytto.
Com um pouco de relutância, fiz o que me pediu. Tentei me fantasiar
sozinha em meu mundinho, com uma música bacana tocando. Aos poucos
comecei ao que poderia ser chamado de "dançar", ou pelo menos, tentei que
se tornasse isso.
— Bem melhor — o ouvi sussurrar risonho.
Sorri junto, mas decidi continuar com a fantasia na minha cabeça. Ainda
não queria acabar com a pouca coragem que me restava.
Marcos escorregou as suas mãos para os meus quadris e me puxou para
mais perto. Assim que senti seu corpo quente colidir ao meu, fiquei
imediatamente desconfortável e parei.
— E-eu acho que já está bom. — ergui as pálpebras e me virei para ele.
Sem pensar muito, Marcos agarrou os meus lábios em um beijo
desesperado.
Eu não sabia o que fazer. Era informação demais para se processar
naquele pequeno espaço de tempo.
De repente, ele estava chupando os meus lábios como se fossem uma
laranja. Uma de suas mãos estava na minha cintura e a outra em meu rosto.
Tentei dar a mesma atenção aos seus lábios, mas era difícil, estranho e
incômodo.
Não estava rolando!
Não estava ruim, mas, também não estava bom.
Para falar a verdade, estava meio merda.
Céus! Quando ele ia parar?
Marcos enfiou sua língua em minha boca, praticamente atingindo a
minha goela e quase chorei de nojo. Que porra ele estava tentando fazer?
Uma lavagem estomacal?
Tentei afastar o meu rosto, mas isso só o fez avançar mais.
Eca, eca, eca.
Quando ele finalmente cessou, tentei não demonstrar o pavor que eu
sentia.
Sorri constrangida e Marcos beijou a minha bochecha.
— Você é linda pra caralho, gata. — murmurou no meu pescoço.
— Valeu, Marcos — respondi apática, ou melhor, traumatizada.
Ele começou a dar beijos em minha pele, o que, por consequência, me
fez ter arrepios, e não de um jeito bom.
— Acho melhor a gente parar por aqui. — segurei-o pelos ombros.
— Tem certeza? — ele fez beiço.
— Tenho! Acho que isso não é certo. Vai acabar com a nossa amizade,
entende? — sorri nervosamente.
— Nossa amizade é forte, vai aguentar.
Recuei um passo.
— É melhor não. Loren vai te matar se souber, e você sabe que eu não
sou boa em esconder segredos. Nossa amizade não seria mais a mesma.
Lancei um olhar rápido para a minha irmã, que sequer havia percebido
qualquer coisa que estivesse acontecendo a sua volta.
— Dytto, qual é? Foi só um beijo, nada demais. Amigos se beijam de vez
quando.
— É, mas isso é um pouco estranho, foi mal.
Recuei dois passos.
— Mas foi... foi... — tentei achar a palavra mais sutil que surgisse em
minha cabeça — legal. — mostrei-lhe o dedão em sinal de joinha e sai
quase que correndo dali.
Ao chegar no quarto de hóspedes em que eu ficaria, tranquei a porta e
joguei-me na cama.
Mais que imediatamente meu celular vibrou no bolso, alertando-me de
uma mensagem.
O pesquei na roupa e acendi a tela. Havia uma notificação de um número
não salvo. A toquei ligeiro, com a mais pura curiosidade.
Quem estaria me mandando mensagem à meia noite?

Oh mai godi. De quem poderia ser a mensagem??? Ohhhh, eu não sei. 😨
😨
Fofoca: Aaron liebregets começou a me seguir também no twitter,
descobriu que é um demônio no meu livro, que tem uma terceira perna e
quer ler o livro. Acompanharam essa tour nos meus stories?
Capítulo 24| Vício

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



Um toque gélido e calmo constatou a minha bochecha com delicadeza e a
percorreu até o meu maxilar. Minha pele instintivamente se arrepiou.
Ainda que, com os olhos fechados, sentia-o atrás de mim. Seu olhar
mesmo que não diretamente assertivo ao meu, tomava-me a ele com
abrupta força, pois sua repreensão pesava toneladas em meus ombros.
O sangue em minhas veias congelaram ao sentir a sua respiração quente e
pesada colidir em meu pescoço. O som de como inspirava e expirava,
demonstrava, sem espaço para dúvidas, que ele estava furioso.
Mordi o lábio inferior com tanta força que senti o gosto metálico e
enjoativo irromper em minha língua. E enquanto ainda mantinha a farsa de
garota adormecida, Christopher desfrutava do meu corpo seminu na cama.
Alguns momentos antes, após receber a sua mensagem, mergulhei em um
longo banho quente, a fim de retirar qualquer resquício da festa barulhenta
que ainda rolava no jardim de Claire, vesti apenas uma calcinha e me
aconcheguei ao colchão.
A culpa me consumia de tal modo que eu mais parecia estar em um
relacionamento com Christopher. Os sentimentos de arrependimento e
traição me arrebataram. Eu não o devia nada, mas o meu corpo se mostrava
contrário, gritando internamente para cada fragmento meu: "Sim, sim, você
deve lealdade a ele. Seu corpo é dele."
Haviam partes de mim, que ignorava o senso comum da realidade. Que
apenas queria viver aquela fantasia suja e imoral. Que durante as noites
implorava pelo seu toque, que se mergulhava em êxtase e luxúria toda que
vez que ele se aproximava. Eu só queria ele, ele e ele.
O simples ato de o sentir próximo, mexia com cada célula viva do meu
corpo. Eu estava doida. Tão obcecada por ele, quanto ele por mim. Maldito
vício por Christopher que me tirava os pés do chão e me levava a delirar.
Isso não era certo.
Eu era uma cristã devota a cristo, mas sedenta pelo diabo Christopher.
Sua enorme mão se enfiou debaixo do lençol pesado e se acolchoou por
entre as minhas pernas. Um de seus longos dedos esticou a minha calcinha
para o lado. Meu coração bateu mais intensamente ao denotar sua atitude
cheia de convicção.
A ponta do seu dedo escorregou entre os lábios da minha boceta e
brincaram com a umidade de prazer já presente. Eu estremeci por completo.
— Diga depois de mim. — ele sussurrou, o tom de voz agressivo e
dominador. — Diga que me pertence. — ordenou.
Meus lábios se entreabriram lentamente, mas sem forças para emanar
aquelas palavras ditadas por ele.
Puxei com o ar com força e encolhi os ombros.
— Diga antes que eu me aborreça ainda mais com você. — sibilou.
Um tremor escalou da minha espinha até o meu pescoço. Minhas mãos
soavam frias e tremiam sem parar.
— Eu per-t-tenço ao Christopher.
— Desde o mindinho do seu pé, até o último fio de cabelo, você é minha.
— declarou — Cada pedaço seu, é meu.
Seu dedo pressionou a minha entrada.
— Tudo. — frizou, deslizando mais dele dentro de mim.
— Chris... — arquejei.
Seu movimento era devagar em minha boceta. Lento como uma tortura,
mas, preciso como uma flecha.
Seu dedo afundou mais rápido. Meu corpo se contraiu e pressionei
minhas pernas uma contra a outra.
— Isso está indo longe demais. — soprei em voz baixa e fraca.
— Não, meu amor. Vai me sentir indo longe demais quando você estiver
chorando e eu colocando todo o meu pau nessa sua boceta virgem. —
gracejou, maldoso. — Ainda vai me agradecer por eu estar preparando ela
para o que eu vou enfiar aqui dentro.
— Você está me assustando.
— Eu vou te machucar. Mas será só um pouquinho. — ele foi perverso
ao responder. Estava se divertindo com o meu medo, bagunçando a minha
mente.
Christopher sobrepôs-se a mim. Seu corpo com mais de dois metros de
altura apertou-me contra a cama e fez pressão em meu íntimo. Sua mão já
não estava mais em mim, mas seu nariz tocava de leve a ponta do meu.
Estávamos frente a frente.
— Eu vou te mostrar quem manda em você. — murmurou, com seus
lábios quase colados ao meu.
Ele desceu o meu corpo, abocanhando a minha pele em um rastro que
chegaria ao meu seio, e o enfiou todo em sua boca gulosa, chupando-o com
força. Seus dentes mordiscaram o bico do meu peito e a sua língua o
lambeu em círculos.
Da minha boca, emanava-se gemidos obrigatoriamente contidos. Eu não
queria que o resto da casa me ouvisse sendo feita de doce na língua
maliciosa de Christopher.
Suas mãos apertaram os meus quadris com brutalidade, enquanto ele
abaixava-se sobre ele, prontamente colocando minhas duas pernas por cima
de seus ombros.
Sua língua molhada e quente encharcou a minha calcinha. Ele a
pressionava com a ponta de sua língua em minha intimidade, forçando o
tecido.
Eu estava desesperada, quente e suada. Tão excitada a ponto de procurar
extinguir meus desespero amassando os meus seios com rigidez.
Arqueei o corpo, deliciando-me de seus chupões em minhas coxas. Ele
me lambia, mordiscava e sugava de maneira ininterrupta.
— Faça logo, Chris. Eu imploro. — arfei, desconsolada, pressionando
meu seios com ainda mais força entre os meus dedos.
— Você quer, meu pequeno anjo? — provocou cínico.
— Eu quero. Sim, por favor! Eu quero.
Ele soltou um riso potente e rouco.
— Que calcinha horrorosa. — ouvi-o sussurrar quase inaudível antes de
rasgar o tecido e arremessá-lo em meio a escuridão do quarto.
Seu braços enroscaram-se por trás de meus joelhos, flexionando-os
suficientemente para que ele tivesse acesso a cada ponto meu.
Não conseguia enxergá-lo, mas o imaginava olhando a minha intimidade
com um sorriso sacana.
Seus lábios agarraram a minha boceta, num beijo de língua lento e
sensual.
Naquele momento eu me sentia prestes a desmanchar-me em sua boca e
pedir para que me fizesse gozar de novo e de novo, porém, antes mesmo
que eu deleitasse deste prazer, Chris cessou seus movimentos abruptamente
e tornou a gargalhar.
— Apesar de você ser a coisinha mais deliciosa que eu já experimentei,
vou ter que te deixar molhada e insasciada.
Soltei um suspiro frustrado e juntei as sobrancelhas.
— O q...
— Vamos voltar ao ponto principal desta visita, meu amor. — gracejou
— Você beijou o Marcos, que feio! — pontuou em repreensão. — Não faz
ideia do quão misericordioso eu estou sendo com o seu amiguinho
desgraçado agora.
De repente, me sentia como uma garotinha indefesa levando sermão.
Sentia a dureza de suas palavras amargas ecoarem em todo o ambiente.
— Eu poderia estar nesse exato momento fazendo ele se afogar na
própria merda, mas eu estou aqui, te fazendo gemer toda manhosa.
Ele soltou o ar pela boca, irritado.
— Você sempre atraiu toda a minha atenção. Até mesmo quando me
enfurece pra caralho. — ele riu irônico. — Porra, achou mesmo que eu ia te
deixar gozar depois de você foder com o nosso acordo, Dingo? — ele
novamente riu. — Sua trapaceira de merda.
Tentei me desvencilhar de seu corpo, no entanto, seu aperto se tornou
mais duro.
— Você está fodida, amor. Se antes me achava horrível, eu te garanto que
nada vai chegar perto do que eu vou fazer com a sua vida. — Chris se
ergueu, avançando sobre mim.
Imediatamente levei minhas mão ao seu peitoral, mas me assustei ao
presenciar sua pele áspera e grossa. Parecia ainda mais assustadora do que
qualquer outra vez que ele tenha me visitado.
— O que raios você é, Chris? — choraminguei, nervosa.
— Quer mesmo saber? — incitou cruel.
Apertei meu corpo ao colchão, a medida que o sentia se aproximar.
— Sou o seu demônio sexual. —reverberou arrogante. — Vai me receber
em seu corpo toda vez que eu a visitar.
Ele depositou um selinho rápido em meus lábios, mas eu estava
paralisada.
— E querida, por favor, me espere sempre nua.
Chris enfiou seu rosto em meu rosto e inspirou.
Eu não sabia o que dizer ou como reagir a nada daquilo. O choque tomou
conta da minha mente. Tudo parecia tão irreal. Mas como eu poderia negar
o que estava diante de meus olhos durante todo esse tempo?
Eu agora sabia o que ele era, o que queria, e porque queria. Eu era o seu
objeto sexual. E, de forma alguma conseguiria me libertar.
— Eu estou de olho em você o tempo inteiro. Se ousar me insultar
novamente, eu vou descontar a minha fúria sobre você. — ameaçou.
Seus lábios roçaram de leve o meu rosto.
Meu peito era atacado agressivamente pelas batidas descompassadas do
meu coração, enquanto o resto de mim tremia de cima a baixo.
— Vou fazer com que aquele filho da puta nunca mais encoste um único
dedo em você.
— Deixa ele fora disso. — protestei de imediato.
Christopher brincava com a vida de todos a sua volta, apenas para
satisfazê-lo, assim como Loren disse. Não havia maneira de pará-lo, mas
torci para que me escutasse.
— Você permitiu que ele se metesse no meu caminho. Isso é culpa sua.
— Ele estava bêbado, Chris. Eu prometo que não vou mais beijar
ninguém
Por favor, apenas pare. Você está destruindo a minha vida.
Christopher escorregou sua língua em meu pescoço.
— Estou cuidando do que me pertence.
— Não há nada de especial em mim. Não faz sentido essa sua obsessão.
O escutei conter o riso.
— Acha mesmo que eu não tenho razões para estar obcecado por você,
querida Dingo?
Ele afastou-se e suas duas mãos agarraram a minha cintura, deslizando-as
num sobe e desce, como se me apreciasse por inteira.
— Eu sinto você, meu amor. E eu te desejo. — ele novamente debruçou
em mim.
— Você me dá medo. — consegui pronunciar.
— Me desobedeça, e eu vou te dar mais do que só medo.

Fiquei a noite inteira imóvel, fitando o teto do quarto, no mais completo e


absoluto silêncio. Meditei sobre cada palavra de Christopher, fazendo com
que ondas de enjôo me nauseassem com todas as teorias que formulei sobre
o que ele pretendia fazer com Marcos.
Eu já não suportava mais a ansiedade corroendo os meus nervos, meus
músculos doíam com a tensão agarrada em cada fibra. Precisava me
concentrar, ou logo cederia e acabaria contando tudo para a minha irmã.
Uma péssima ideia, óbvio.
— Você está melhor? — Murmurei emendando em um bocejo, não havia
dormido muito, ou melhor, eu não havia dormido nada.
Loren tirou os seus olhos verdes da estrada por um segundo e os trouxe
até a mim.
— Eu bebi tanto assim? — perguntou bem-humorada.
Ok. Aquilo era estranho.
Ela acordou estranhamente feliz, como se apenas tivesse voltado a ser a
mesma de antes. Talvez a nossa conversa tenha servido de algo afinal.
Mesmo que ainda assim, eu tenha recebido uma nova visita de Christopher,
e simplesmente tenha implorado para que me chupasse depois de tê-la dito
que não queria nada com ele. Minhas bochechas queimaram de vergonha
com este pensamento.
— Eu não sei. Fui para o quarto mais cedo que os outros. — pigarreei,
trocando o olhar para a janela.
A vista lá fora era bem melhor do que as cenas da festa da noite passada
sendo rebobinadas em minha mente como um filme de terror.
Meu estômago se embrulhou ao recordar a razão. Ainda tinha a memória
corporal de Marcos tocando a minha goela com a sua língua bem vívida.
Ugh!
— E quanto a você? — joguei o foco de nossa conversa para ela.
— Hmm... Eu mal dormi, mas me sinto ótima. — ela balançou os
ombros, animada.
— Tem certeza? Eu posso dirigir se quiser. — ofereci, implorando
mentalmente para que ela dissesse que não, pois odiava dirigir.
Na minha opinião, o banco do passageiro era sempre melhor e mais
confortável.
Conseguia enxergar todas as lindas paisagens de Vespeau com mais
detalhes. Arriscaria dizer que era, até mesmo, a cidade mais bonita de
Nabrya. Era tudo sempre tão florido, grande, limpo e rústico. E de todo
modo, ela provavelmente dormiu bem mais do que eu.
— Tenho. Eu não bebi muito.
— Por que eu tenho a impressão de que está mentindo? Ontem você
dançou até o chão. — comentei risonha.
Loren revirou os olhos.
— Porque era uma festa. Festas são feitas para dançar.
— Tudo bem então. Eu não vou discutir. — ergui as mãos em rendição e
escorreguei no banco — O que vamos fazer agora?
— Vamos passar em casa, mostrar aos nossos pais que desta vez fomos
responsáveis com o horário, pegar nossas coisas e nos mandar para aquele
inferno que chamamos de escola.
— Argh! Não podemos fingir que estamos doentes? — resmunguei,
esfregando as mãos em meu rosto.
— Papai nos levaria imediatamente ao hospital e colocaria todos para
fazer um check-up completo em nós duas. E, depois que percebesse que não
tem nada de errado, iria nos estrangular até a morte.
— Como é bom ter um pai médico. — ironizei.
— Se ele fosse um pouco menos arrogante, estaria surfando em um
algum lugar por aí, pegando todas as mulheres do planeta. Aposto que ele
não transa muito, porque ele é sempre tão.... irritado.
— Que tal se não falássemos da vida sexual do nosso pai? — intervi,
enojada.
— Pais transam, sabia?
— Eu prefiro não saber.

Ao chegar em casa, corri pelas escadas, pulando os degraus de dois em
dois. Loren iria apenas pegar as suas coisas e logo se mandaria, queria a sua
carona, mas se demorasse muito, ela não iria me esperar.
Maldito mal-humor. Acho que ela também não transava muito.
Eu ainda pretendia trocar de roupas. Em geral, gostava de ir de saia, mas
ao que parece, não era única que apreciava a ideia, e eu me recusava
facilitar tanto assim para Christopher.
Era tão fácil para ele apenas colocar a sua enorme mão entre as minhas
pernas e me tocar como bem quisesse.
Não dessa vez, torre tatuada.
Me enfiei no meu closet e vasculhei todas aquelas roupas velhas que eu
guardava no "fundo do baú" e as esquecia para sempre até um dia precisar
de volta. Me admirei ao encontrar um calça preta de quando eu tinha 15
anos.
Provavelmente ficaria apertada, mas não é como se eu tivesse engordado
muita coisa desde então. Ao menos seria difícil de Christopher enfiar a mão
em minha calcinha.
Vestir aquela roupa foi mais difícil do que pensei. Talvez eu tenha
engordado um pouco nas coxas. Mas fala sério, como eu cabia nisso tão
bem? Que coisa mais apertada.
A minha bunda havia ficado mais em evidência do que eu gostaria, e os
meus quadris pareciam mais largos também.
— Fala sério! — cochichei irritada.
A intenção não era parecer uma patricinha sexy dos anos 2000, no
entanto, a vida nunca colaborou comigo mesmo.
Pulei o amontoado de roupas que havia deixado espalhado pelo chão,
joguei a mochila nos ombros e corri para o andar de baixo.

Eu estava quase sendo declarada como paranóica em potencial por qualquer


um que me observasse por tempo demais.
Mesmo com a notícia dada pelo próprio professor de que Christopher não
nos daria mais aulas, — o que, de fato, fora uma grande surpresa para mim,
e uma grande decepção para outros — meus olhos deslizavam lá e cá
perambulando por todos os cantos.
Culpa dele de dizer que estava sempre me vigiando. Eu não sabia de que
modo ele o fazia, se havia pessoas naquela escola que fazia o seu serviço de
espionagem, ou se havia espíritos que trabalhavam misteriosamente para
Chris.
Nada mais na minha vida fazia qualquer sentido, então para quê eu
procuraria razões lógicas ou científicas para tudo isso?
Me sentia um ratinho andando em círculos, perdida e confusa, sendo
dominada pelo labirinto que ele havia criado para mim.
Ele me dominava, seduzia e machucava. Tudo ao mesmo tempo. Me via
assustada mais vezes do que nunca antes.
— Fala sério! Eu não acredito que depois do Christopher, o Marcos fez a
mesma merda. — Luc reclamou, irritado.
Havia desabado com ele sobre a festa de ontem. Não contei nada que
envolvesse Christopher, pois não era este o ponto, porém só de ouvir ele
tocar seu nome em voz alta, recuei um passo, com medo de que acabasse
sendo punido pelo mesmo.
— É. Tudo isso é uma droga mesmo. — concordei, com a voz vacilante.
— E a Loren? Contou pra ela.
Balancei a cabeça, negando.
— Pretende?
— Do que adianta? Só iremos brigar com o Marcos e fazer com que todo
mundo fique puto. E de todo modo, estava todo mundo meio bêbado
mesmo. Eu só quero encerrar esse assunto.
— Foi, tipo, sei lá, o seu primeiro beijo de língua. Deveria pelo menos
exigir um pedido de desculpas por ele ter sido tão ruim nisso.
Imediatamente corei. Marcos não foi o meu primeiro. Chris foi.
E novamente ele estava em minha cabeça. Pulsando como uma alerta
vermelho.
Maldito. Maldito. Maldito.
— Eu não quero mais tocar no assunto. — fiz careta e abracei o meu
próprio corpo. — Já tenho uma cota de experiências de beijos roubados
bem extensa, na minha opinião. Eu só quero distância de qualquer garoto
que tente me beijar.
Ele riu.
— Eu estou nesta lista? — perguntou risonho.
— Se tentar me beijar novamente, com certeza vai estar.
Ele abriu um sorriso encantador.
— Bom, diferente de Marcos, eu sou gentil, e diferente de Christopher,
eu não fico paquerando as minhas alunas. Pode confiar que eu poderia ser a
sua melhor experiência.
— Quê? Chris dava em cima das alunas? — me alertei, ignorando todo o
resto do que ele disse.
— Ahn... Bem, eu vi algumas garotas falando sobre ele.
Estreitei os olhos.
— Mesmo?
— Qual é, Dytto? Acha mesmo que ele não ficou com ninguém?
Basicamente toda garota dessa escola se jogou no pé dele quando ele
chegou aqui. — bufou, já revirando os olhos. — Mesmo ele sendo um
completo arrogante. — indignou-se.
Mas é claro que ele poderia ficar com todas as garotas que quisesse, mas
eu não poderia nem mesmo ter um amigo homem que ele já estava me
enlouquecendo. Babaca!
— É. Eu vou falar com a Loren, podemos nos falar depois? —
desconversei, me afastando lentamente.
— Tá. Nos vemos depois.
— Certo. — dei meia volta e sai com passos apressados.
Eu não estava procurando Loren.
Saquei o celular do bolso assim que entrei na primeira sala vazia.
Meus dedos voaram nas letras do teclado. Estava furiosa.

Soltei uma risada incrédula. Ciúmes? Que ridículo. Eu não estava com
ciúmes. Estava furiosa.
Mentiroso!
Enquanto ele digitava, eu mordia o canto dos dedos, ansiosa. Me
imaginava repetidamente xingando-o.
Ah, merda!

Bom... Acho que era a minha vez de o visitá-lo, então.



Eu nem ia dizer nada, mas acho que a Dy vai conhecer uma espécie de
anaconda diferente no próximo capítulo. Rsrs
Novidades: Fui apresentada na página da editora que irá lançar o físico
de Love in the dark, é só procurarem o post no meu insta
autoramariliaandrade ❤❤
E a propósito, Christopher e Dytto também possuem Instagram. O @
deles estão marcados na bio no meu insta também.
Capítulo 25| Conversa

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



Assim que as luzes de casa se apagaram e eu tive a certeza de que todos
haviam dormido, pulei pela janela do meu quarto e corri por entre os
arbustos do jardim até o portão.
Me sentia como uma espiã sexy de um filme extremamente fantasioso,
mas gostava da sensação de perigo. Qualquer passo em falso e eu seria
pega.
Passaria o resto da minha vida sendo castigada pelo olhar julgador do
meu pai. Teria filhos e ele ainda espalharia a história a eles sobre como a
filha certinha dele o apunhalou fugindo de casa para se encontrar com um
cara.
Eu esperava mesmo que tudo isso valesse a pena.
Eu não tirei o carro da garagem, pedi por um táxi e corri para a esquina
mais longe de casa. Estava tomando todo o cuidado do mundo para que não
me ouvissem saindo. Papai não notaria meu sumiço, a menos que checasse
as câmeras no dia seguinte, mas se eu fosse mais rápida, conseguiria apagar
as gravações.
Sentia um frio agudo espalhar-se por todo o corpo, apesar de estar
agasalhada da cabeça aos pés, ela agarrava-se a mim de um jeito que me
fazia fraquejar. Eu estava com medo, isto era óbvio, nunca antes havia feito
isso na minha vida. Tudo o que eu já fiz de mais louco e fora do comum,
fora feito ao lado de Loren, mas nunca sozinha.
Eu só queria voltar a ser quem eu era e acabar isso de uma vez, e era
exatamente por este motivo — e o único motivo —, de eu estar indo para a
casa de Christopher.
Coloquei a mesma calça de hoje mais cedo. De agora em diante ela se
chamaria "Anti-Christo".
Se ele não podia me tocar, não poderia me seduzir.
"Me seduzir" Céus! O que estava acontecendo? Eu estava virando um
homem?
Agora era só Christopher aparecer que eu não conseguia me conter. Me
condenava internamente por sempre deixá-lo abrir as minhas pernas para
ele.
Joguei a cabeça para trás e suspirei, formando um ligeira rajada de ar
congelada. Deveria estar fazendo pelo menos uns -2°C aqui fora. A
avenida, apesar de tarde, ainda mantinha uma pouca movimentação de
carros.
A rua estava iluminada por pequenos postes de ferro, com luzes
amareladas e antigas, refletindo sobre as calçadas de concreto.
Gostava de como era calmo durante as primeiras horas da madrugada. O
silêncio era confortável. O táxi chegou uns cinco minutos depois.

O lugar não era nada como eu havia imaginado.
Não havia pichações, caveiras ou cruzes invertidas na frente do imóvel.
Ela era somente mais uma casa como qualquer outra de alto nível.
A estrutura de madeira escura, alta e larga, possuia uma porta extensa e,
em seu entorno, janelas gigantes de vidro temperado e escurecido. Havia
pequenas muretas, calçadas e passarelas de pedras. Era realmente uma casa
desejável e grande, no entanto, transparecia assustadora, como a sensação
de um calafrio carregado de pavor.
A porta se abriu assim que tomei proximidade. A visão de Christopher
apenas de calça jeans caída e o peitoral tatuado descoberto fez com minha
boca se enchesse d'água.
Eu nunca o havia visto sem que não fosse nas sombras do meu quarto. E
minha nossa...
Loren não estava nada errada, quando me disse sobre a tatuagem "666"
na lateral da barriga dele e o bode satânico. Parecia tão mais evidente aos
meus olhos quanto qualquer outra. Talvez, por serem estas a me lembrar
quem de fato ele era.
Era estranho o fato de Christopher gostar de tatuagens tão óbvias.
— Venha. Não fique aí fora — mandou, dando-me as costas, também
tatuada.
Franzi as sobrancelhas, atordoada com tamanha "gentileza" em sua
recepção.
E pensar que eu ainda esperava um gesto amigável de sua parte. Sou tão
idiota.
Fechei a porta atrás de mim com cuidado e o segui. O lugar era tão lindo
por dentro quanto por fora. Conseguia ver toda a vizinhança pelas grandes
janelas da sua sala de estar. Agora fazia sentido ele ter me recebido tão
rápido.
Christopher sentou-se em sua mesa de trabalho, ocupando-se com uma
xícara de café, suponho.
Seus olhos rígidos fixaram-se a tela do seu computador. Imaginei que a
esta hora ele estivesse me esperando, e não trabalhando.
Abracei o meu corpo, retida. Queria ter coragem o suficiente para
enfrentá-lo agora, mas vendo-o assim, me senti desconcertada.
Não sabia se me sentava no sofá de couro preto em formato de C à minha
direita e esperava ele dizer algo, ou se ficava em pé até que sua atenção
fosse redirecionada a mim.
Aquilo estava começando a se tornar embaraçoso.
— Venha. — sua voz rouca cortou o silêncio.
Notei que aquelas íris verdes agora me encaravam.
Um sentimento de obrigação me fez andar até ele. Christopher de
imediato puxou uma cadeira e apontou para que eu me sentasse. Quando o
fiz, ele agarrou a minha perna por trás do meu joelho e a colocou sobre a
sua, assegurando que eu não saísse dali.
— Espere um pouco. Tenho que terminar algumas coisas antes. — disse,
em um breve aviso.
Apenas concordei num balançar de cabeça. Meu coração já estava
batendo em um ritmo desbalanceado, estava soando frio e tremendo,
todavia, ele não notou, e se notou, disfarçou muito bem.
Não conseguia me mover, não quando sua mão esquerda — uma bela
mão grande e cheia de veias — subia e descia devagarinho na minha coxa.
Com a outra, ele digitava em seu computador. O gesto, aparentemente, era
inocente, mas não pude evitar que meu corpo escorregasse na armadilha de
se sentir provocado.
Eu havia me tornado uma arma engatilhada, qualquer manobra errada e
uma tragédia poderia acontecer.
Não conseguia me concentrar em nada. Vim aqui por um motivo: acabar
com tudo. Porém, agora, eu estava em um transe louco que só me fazia
querer deixá-lo tocar onde quisesse.
Christopher escorregou sua mão para perto de minha virilha e eu
rapidamente puxei o ar com força.
— C-chris — alertei.
— Dingo. — ele finalmente me olhou, sereno.
Minhas bochechas queimaram ao me me sentir tão exposta.
— Eu ia conversar com você, lembra? — murmurei baixo.
Ele mordeu o lábio inferior, desceu os olhos para o meu busto e
lentamente os subiu.
— Então converse — sussurrou rouco.
— Você... — pigarrei — poderia virar para frente de novo? — pedi,
nervosa. Não iria conseguir dizer se ele continuasse me encarando com
aquele rosto faminto por sexo.
Ele repuxou os lábios de um jeito sacana.
— Está muito nervosa — declarou, fazendo pressão em minha perna.
— Por favor. — eu estava implorando.
A farsa que eu havia criado a mim mesma, havia caído por terra. Eu não
era mais forte que ele, tampouco era capaz de ser.
— Não. Vai dizer olhando para mim. — sua entonação transformou-se
em uma ordem.
Baixei o olhar e apertei as mãos umas as outras. Chris interviu levando o
seu dedo ao meu queixo e o ergueu para si.
— Se não disser me olhando nos olhos, não tenho como levar você a
sério nessa conversa.
Engoli em seco.
— Você tem álcool?
Ele abriu um sorriso enorme.
— Tenho, amor.
Christopher afastou minha perna com cuidado, se levantou e saiu.
Quando voltou, segurava uma garrafa de whisky e um copo com gelo. E,
mesmo que ele não dissesse em voz alta, era nítido a sua satisfação
estampada em cada linha de expressão.
Eu não poderia fazer aquilo sóbria. Era uma conversa intensa demais, e
eu, era uma completa covarde.
Ele me serviu com uma pequena dose e me entregou a bebida. Não
pensei duas vezes antes de virá-lo de uma só vez na boca.
Eu me arrependi no segundo seguinte.
O líquido desceu como ácido em minha garganta. Meu estômago foi
tomado por uma queimação horrível e meus olhos lacrimejaram como duas
poças. Comecei a tossir incessantemente.
— Estava mesmo com sede. — Chris denotou sarcástico.
Cobri minha boca enquanto ainda tentava me recuperar.
— Não pense que ficar bêbada vai te fazer se livrar de mim mais rápido.
Apenas será mais difícil de correr.
Ergui o rosto para o seu corpo alto parado diante de mim e suspirei.
— Quero que saia da minha vida.
Ele sorriu, de um jeito que seus olhos se iluminaram.
— E eu quero te foder, agora mesmo. — revelou, desinibido. — Mas não
podemos ter tudo, não é?
Engasguei novamente.
Christopher deixou a garrafa de lado em cima da sua mesa, mas fui capaz
de ouví-lo rir baixinho de mim. Ele se agachou no chão, apoiando seus
braços no joelhos e umedeceu os lábios.
— Eu poderia te contar como funciona essa coisa toda. — começou, a
voz densa e séria.
Seu olhar vagueava meu rosto por inteiro.
— Poderia desenhar um mapa gigante e te explicar passo a passo tudo o
que eu sou, de onde eu vim e como eu fui moldado. Mas eu prefiro ser
simples, meu amor. — ele mirou seus olhos nos meus, como se as próximas
palavras a saírem da sua boca fossem as mais absolutas. — Eu nunca vou te
deixar ir.
Balancei a cabeça.
— Vá se foder! — exclamei, furiosa.
Ele deixou que sua cabeça tombasse para a direita. As mexas negras do
seu cabelo escorregaram em sua testa, pendendo para o mesmo lugar.
— Eu não sei como lidar com esse seu jeito sem não te matar. —
arquejou pesaroso. — Grande merda, não acha?
— O que você fez com Marcos? Eu liguei para ele o dia inteiro. Ninguém
teve notícias dele. — esbravejei.
— Não sei do que está falando. — Christopher curvou um meio sorriso.
— Você fez algo com ele. Me conta agora.
— Por que acha que eu fiz algo? — fingiu inocência.
— Porque foi você que disse que ele estava no hospital. — acusei,
ríspida.
— Oh! Isso — ele gargalhou, em sua melhor atuação — Mas é claro,
como eu pude me esquecer? Dãã... Talvez, eu tenha feito seu amigo
acidentalmente quebrar o pescoço. Mas, vai sobreviver... — ele curvou um
sorriso triste — infelizmente.
— Christopher! — berrei.
— Não se preocupe. Marcos vai precisar de uns meses de reabilitação,
não vai poder se mover, e tal, e tal.... — ele revirou os olhos, entediado. —
Não se preocupe.
Dei-lhe um murro no ombro que surtiu o equivalente ao efeito de
espancar uma plataforma de ferro e esperar que ela sinta dor.
— Você nem gosta tanto dele assim. Pare de fingir que se importa. —
desdenhou, frisando seu nariz em uma careta.
Apertei os dentes com força.
Oh, que garoto mais insensível!
— E então, o que você vai fazer agora? Eu não tenho chances de fugir,
você não vai me deixar, eu não posso beijar outros rapazes e você machuca
os meus amigos. E agora, vai fazer o que comigo? — explodi.
— Quer que eu faço algo? — ele juntou as sobrancelhas, de um jeito
cínico.
— Eu odeio esse seu jogo, Christopher.
— Não. Você odeia o fato de gostar tanto dele. — corrigiu. — Você odeia
o jeito que você fica excitada toda vez que eu te toco. Odeia que me deseje
tanto, mesmo que isso fira os seus princípios de boa moça. Você odeia me
desejar tanto, amor. Seja sincera, pelo menos uma vez nessa sua droga de
vida.
Ele tocou a minha coxa, autoritário.
— Eu não espero que aja como uma santa. Eu quero ter o seu pior lado,
querida.
Balancei a cabeça.
— Eu não sei quem é você. E tudo o que eu sei e vejo, são coisas
horríveis. Por que eu deveria te mostrar o meu pior lado? Por que eu deveria
confiar em você? Está me prendendo nisso.
— Não espere que eu te conte o quão bom eu sou, Dingo Dingo. Se
espera que virá algo de positivo vindo de mim para, só então, poder confiar,
então lamento dizer que esse dia nunca vai chegar. Eu não tenho a menor
intenção de ser um cavalheiro com você.
Christopher reergueu a sua cabeça e aproximou-se um pouco mais do
meu rosto.
— Eu sou horrível, querida. Repugnante, asqueroso, egoísta e trapaceiro.
Tudo o que eu quero, eu consigo, e não estou nem aí para quem se ferir no
caminho. — seus dedos tatuados agora seguravam o meu queixo — Não
vou te prometer juras de amor, não vou te prometer o paraíso, flores ou
chocolates.
Sua face tornou-se mais sombria e séria.
— Mas eu te prometo, que se você finalmente se deixar ser minha,
ninguém nunca mais vai te desrespeitar ou ir contra você. Tudo o que quiser
estará logo aos seus pés, amor. Eu tenho um inferno inteiro para nós dois.
Meu peito parecia prestes a explodir com as batidas desenfreadas do meu
coração. Minha boca estava seca e os meus olhos arregalados.
Era certo dizer que não havia maneiras de ir contra ele. Christopher era
uma força da natureza implacável. O que existia em mim que seria capaz
de rebater e lutar? Nada.
Não existia nada que me fizesse escapar das garras dele.
— Se for para queimarmos juntos, eu espero estar fazendo do jeito certo,
Chris. — Então eu fiz o que ele esperava de mim.
Pulei sobre o seu corpo, agarrando os seus lábios com os meus,
chupando-os desesperada. Meus dedos entrelaçaram-se aos seus fios de
cabelo.
Eu ofegava em sua boca enquanto ele colocava-se de pé comigo em seu
colo. Entornei sua cintura com as minhas pernas e suas mãos pousaram
sobre a minha bunda.
Christopher carregou-me com pressa até ao seu quarto. Quando me dei
conta, já estava sendo colocada sobre o seu colchão.
Eu não queria parar, mesmo que soubesse o quão errado éramos.
Seus lábios se deliciaram dos meus na mesma proporção em que
demonstrava-se interessado em me tocar.
Suas mãos pareciam escorregadias em meu corpo, subiam e desciam por
todas as partes facilmente.
Consegui arrancar o meu casaco do corpo e o joguei no carpete. Meu
corpo se mostrava quente e ansioso.
— Eu quero você — ele sussurrou em meu ouvido.
Christopher enfiou seu rosto em meu pescoço e de imediato estremeci ao
sentir sua respiração eclodir em minha pele.
Ele esfregava sua parte íntima sobre a minha, me fazendo sentir o
extenso volume por debaixo de sua calça.
Minha pele queimava em êxtase. Todas as células do meu corpo haviam
sido afetadas. Minha traiçoeira intimidade se excitou e contraiu.
Respirei fundo, buscando por alívio, mas de nada adiantou. Christopher
embaçava a minha mente e me tirava a noção, me levando a desejá-lo como
uma louca.
Ainda por cima de mim, ele envolveu o meu pescoço com uma de suas
mãos e a minha cintura com o seu braço. Num rápido movimento, me
ergueu, virou-se no colchão e me pôs sobre seu colo.
Soltei um gritinho surpreso.
Isso foi tão fácil para ele.
Christopher fez pressão em seu aperto no meu pescoço, puxando-me para
si. Ele sugava os meus lábios com voracidade, deixando-me sem espaço
para respirar. Sua língua invadiu a minha boca, dançando com a minha em
um gesto ardente e sensual.
Gemi e busquei me segurar em seus braços.
— Chris... — arfei.
— Me deixe tocar todo o seu corpo.
Joguei a cabeça para trás, rendendo-me por completo a ele.
Christopher agarrou o colarinho de minha camiseta e o esticou para
baixo, até que parte dos meus seios estivessem à mostra. Sua doce língua se
pôs sobre eles, deixando marcas de suas deliciosas sucções.
A pele antes branca, ganhou marcas de tons avermelhados, que logo se
transformariam em vários hematomas arroxeadas por todo o meu busto e
parte dos meus seios. Mas naquele momento eu não ligava para mais nada.
— Eu tenho que foder você, garota — sua voz estava carregada de
desejo.
De maneira repentina ele recuou.
Christopher se levantou do colchão, mas seus olhos se mantiveram nos
meus, como duas rochas inabaláveis. Reparei por soslaio quando seus dedos
alcançaram o botão de sua calça, mas continuei a encarar o seu lindo rosto.
Notei quando ele começou a se despir, porém eu estava tímida demais
para conseguir observar cada detalhe do que ele fazia com a sua roupa, no
entanto, foi impossível ignorar quando ele abaixou a sua cueca.
Eu queria o olhar em sua estrutura mais completa.
Meus olhos quase saltaram da face ali mesmo quando viram a dimensão
do que Christopher carregava em seu corpo.
Meu coração batia tão forte que já não achava mais idiotice pensar que
ele também poderia estar o ouvindo.
Christopher não possuía apenas um membro como os outros caras que eu
havia visto na internet.
Era imenso. Gigante, para falar a verdade, e... tatuado.
Ele tinha uma tatuagem na droga do pênis dele.
— Respira, Dingo — ele falou, meio preocupado, meio risonho.
Não conseguia desviar os olhos dali. E, para piorar, estava ereto e
apontando em minha direção, como se ameaçasse me rasgar ao meio.
Minhas bochechas esquentaram e meus globos oculares lacrimejaram em
razão de eu nem mesmo ser capaz de piscar naquele momento.
— I-isso não! — proferi, incrédula.
O que eu realmente queria ter dito era que não queria me relacionar com
aquele negócio, nunca conseguiria aguentar tudo dentro de mim. Ou talvez,
nem mesmo parte daquela coisa.
Era bizarro ver um membro masculino tão grande. Como aquilo era
capaz de existir? Será que todos os demônios como o Christopher também
tinham pênis daquele jeito?
Mais perguntas e perguntas surgiram em minha mente. Eu estava ficando
tonta.
Ele se aproximou e eu instintivamente me encolhi.
Oh, céus! Eu estava com medo de um pinto como se ele fosse capaz de
me esfaquear.
— Me deixe ir devagar. — pediu, calmo — Vai ser menos doloroso se
você se acostumar com alguns dedos antes.
Balancei a cabeça, negando.
Olhei de novo para o seu pênis, mas, claramente ele não havia diminuído
ou deixado de ser extremamente assustador.
A tatuagem me parecia ser algumas correntes ao redor de seu pênis
extremamente grande e robusto.
— Isso é do tamanho do meu antebraço, Chris — sussurrei, apavorada.
Ele não se conteve e acabou gargalhando.
— É, meu amor. É bem grande, mas eu prometo que você vai se
acostumar — falou, com puro divertimento.
— Não dá para se acostumar. — protestei alto.
Se Christopher fosse capaz de ver por debaixo da minha pele, veria os
meus órgãos se contorcendo em horror.
Ele se agachou até estarmos cara a cara e suspirou.
— Christopher, eu acho melhor eu ir para casa. — disse arrependida.
— Fica tranquila. Não vou meter em você se não quiser. — ele franziu a
testa — Não sou um monstro. Só faço o que eu sei que você deseja.
— Me prometa. — insisti. — Me prometa que não vai colocar essa coisa
em mim quando eu estiver dormindo.
— Essa coisa? — ele riu e eu arqueei uma sobrancelha em repreensão,
não queria que ele mudasse de assunto agora, o meu pedido era sério. —
Claro, meu bem. Eu prometo que não vou enfiar "isso" em você a menos
que me peça.
— Certo. — meu rosto ainda estava ruborizado. Não sabia se ainda era
capaz de olhá-lo normalmente outra vez.
— Mas eu ainda quero gozar na sua barriga — completou.
Juntei as sobrancelhas.
— Confie em mim, vai ser uma sensação gostosa para você.
— Seu pervertido. — cochichei baixinho, sabendo que ele ouviria.
— Apenas pensando no nosso prazer, meu amor. — respondeu malicioso.
— Sem penetração. — reafirmei.
— Nada de desvirginar a Dingo Bells — ele levantou a mão em
juramento — Vou manter essa boceta intacta.
— Eu não vou te agradecer.
Ele sorriu.
— Agora segure-se na cama, eu vou tirar a sua calça e não serei nada
gentil.
Christopher se levantou e agarrou meus tornozelos. Rapidamente
enrosquei meus dedos nos lençóis da cama.
— Um passarinho me contou que você anda querendo dificultar as coisas
para mim.
O sangue congelou em minhas veias.
— Você me vigia o tempo inteiro?
— Eu, não. — ele entortou o canto dos lábios de um jeito malina — A
minha entidade demoníaca, sim.
Não tive tempo para processar o que Chris disse, pois, no segundo
seguinte, ele já estava arrancando a minha calça.
Precisei enfincar meus dedos no colchão ou seria arremessada para fora
da cama com tamanha ferocidade que ele exercia.
Assim que me viu apenas de calcinha, ele enrugou a testa.
— Não vai me dizer que roubou essa calcinha de alguma idosa. —
resmungou irritado.
— Seu idi... — O som estridente a seguir me assustou. Olhei para baixo
apenas para contestar o óbvio.
Christopher rasgou a minha calcinha.
— Ainda bem que a sua boceta é bonita demais para compensar esse
negócio.
Ele jogou o tecido no chão, com desdém. Tentei cruzar as pernas ao notar
a minha nudez, mas ele as separou, segurando uma perna em cada mão,
deixando-me bem aberta para ele.
— Não, não vai fechar.
Cobri minha intimidade com as duas mãos.
— Tenho que pedir por favor ou só me deixa tocar em você no escuro?
— Eu tenho vergonha, Chris — murmurei.
Ele lambeu os lábios, prendendo um riso safado.
— Me deixe te ver nua, que eu faço essa vergonha sumir. Daqui a pouco
eu vou estar entre as suas pernas, chupando essa boceta até ela gozar, então
não me venha com timidez, Dingo.
Ele olhou para baixo, entre o meio de nós dois e sorriu.
— Aposto que você já está melada.
Baixei o olhar, tomada por uma dolorosa vergonha.
— Não seja bruto — pedi.
— Você é uma coisinha frágil demais até mesmo para se pensar nisso.
Ele se levantou, debruçou sobre a cama, apoiando-se em seus braços e
subiu em meu corpo. Não olhei para baixo, entretanto, senti seu pênis roçar
em minha boceta.
— Você está tocando... — engoli em seco — lá embaixo.
Ele sorriu.
— Eu sei.
Christopher beijou a minha bochecha e desceu até o meu maxilar, parou e
voltou a olhar para o meu rosto.
— Pode até não confiar em mim e me ver como um cara horrível que
machucou o seu amigo. Mas a única coisa que você tem certeza sobre mim,
é que eu vou sempre te fazer gozar. É por isso que você deseja as minhas
visitas. Você adora quando eu te faço estremecer enquanto dorme. É o seu
fetiche, amor.
— Você é o demônio dos fetiches, Chris? — brinquei.
— Sou o demônio da foda. — ele beijou o meu pescoço — Mas somente
para você.
— Um incubus? — arrisquei.
Ele riu.
— Não. — ele ergueu seu corpo, sustentando-se em seus braços
musculosos. — Nunca deseje ter um desses na sua vida. Eles são horríveis.
— Para quê eu iria querer um? Aparentemente eu tenho você. —
provoquei.
— É. Mas eu não quero te foder na cama. Eu quero te arrastar para o
inferno e comer a sua alma.
Arregalei os olhos.
— Em tese. — acrescentou — ou não.
Christopher não me deu espaços para argumentar, ele se adiantou
arrancando a minha camiseta. Seu jeito impaciente o fez quase rasgar o
tecido enquanto puxava para fora do meu corpo.
Seus olhos brilharam assim que meus seios despontaram à sua frente. Ele
indecentemente molhou os lábios com a sua língua, enquanto uma
expressão perversa pintava o seu rosto.
Me ter completamente nua sob ele preenchia o seu ego diabólico.
Christopher, desprezível como era, adorava aquela sensação de poder e
autoridade.
Ele abocanhou o meus seio com sagacidade. Sua língua brincava com o
bico, ao mesmo tempo em que ele usava a sua mão para apertar o outro
seio.
Levei meus dedos às suas madeixas negras e o incentivei, firmando o seu
rosto em meu corpo.
Sua mão desceu até a minha cintura e buscou o meu quadril, levando
discretamente até entre as minhas pernas. Seus dedos longos tocaram a
minha boceta, esfregando-se entre os lábios. Eu estava úmida de prazer, o
que o fez tomar a liberdade de facilmente me penetrar.
Ele largou o meu seio e se assegurou em meus lábios, em um beijo voraz.
Sua mão manteve o ritmo, penetrando-me com um único dedo seu.
Eu me contorcia debaixo dele, gemendo dentro de sua boca. O
sentimento de ser preenchida por ele era o ápice do meu prazer. Era tão
bom, tão único.
Podia ouvir o som da sua respiração se fundir a minha em um uníssono
ofegante e cheio de luxúria. Nossos corpos se tocavam e passeavam um ao
outro, fundindo nossos cheiros. Christopher estava em cada parte de mim,
seu toque estava em cada centímetro da minha pele.
Nós nos movimentávamos em perfeita sincronia. Eu arqueava meus
quadris e Christopher se afundava ainda mais dentro de mim. Estávamos
suados e quentes, mas continuamos roubando tudo o que podíamos um do
outro.
Eu já estava sem ar, mas não conseguia largar os seus lábios, não queria
fugir do seu beijo. Ele percebeu e se afastou por um momento, busquei mais
rápido por ele do que por ar, mas fui interrompida.
— Só um pouco, respire, anjo. E eu volto a te dar o que você quer.
Mostrei a ele que estava respirando. Preenchi meus pulmões com ar e
expirei devagarinho, fiz isso algumas vezes com aquelas esmeraldas presas
ao meu olhar. Quando ele garantiu que eu estava bem, sorriu orgulhoso e
voltou a me beijar.
Ele retirou o seu dedo, substituindo aquela sensação por outra. Tentei
fechar as pernas quando senti o seu pênis roçar a minha entrada e me
afastei.
— Você disse...
— Eu não vou empurrar. — rapidamente assegurou.
Mesmo que ainda estivesse incerta, me permiti ficar parada. Christopher
se afastou e desceu até as minhas pernas. Ele segurou as minhas coxas e as
afastou, deixando que a minha intimidade estivesse inteiramente exposta a
ele.
Ele me olhava no fundo dos olhos, ao passo que esfregava seu pênis
devagarinho em minha entrada úmida. Meus pelos se eriçaram. Fechei os
olhos e mordi meu lábio inferior.
Aproveitei da deliciosa sensação de sentir a fricção do seu pau se
esfregando em meu clitóris. Meu corpo involuntariamente se arqueou e eu
comecei a rebolar nele.
Meus gemidos tornaram-se sofrêgos e constantes. A respiração de
Christopher estava pesada e a forma como a sua mão apertava a minha
coxa, demonstrava que ele, sem dúvidas, estava louco para me ter. A
sensação de ter conhecimento sobre o seu desejo sobre mim, me fez sentir-
se ainda mais eufórica.
Pressionei minha intimidade na sua, desejosa.
— Por favor, eu estou quase. — implorei num sopro.
Christopher se encurvou entre minhas pernas e me colocou em sua boca.
Fui cercada por uma sensação gostosinha ao sentir sua língua quente me
invadir.
Ele me chupou displicente e sem pressa. Deliciou de cada mínimo
detalhe da minha boceta até que eu me desmanchasse em sua boca.
Quando gozei, ele continuou com o seu trabalho até me ver mole em sua
cama.
Eu estava sem forças quando ele me devolveu completamente ao
colchão. Só então, ele se deu prazer na minha frente.
Sua mão agarrou o seu pênis sem a menor cerimônia e começou a se
masturbar. Ele não foi carinhoso, tampouco devagar. Seu jeito foi rude e
bruto, tinha medo que ele estivesse descontando em si a forma como queria
fazer dentro de mim.
Deixei que ele se tocasse olhando para o meio de minhas pernas. Seu
olhar estava fixo a minha boceta. Isso o inspirava a acelerar seus
movimentos.
Não fechei as minhas pernas, mesmo que já tivesse gozado, me excitava vê-
lo daquele jeito.
Quando Christopher estava prestes a gozar, ele me puxou para mais perto
dele antes de despejar o seu esperma em minha barriga, bem como disse
que o faria.
Eu estava melada, e foi diferente me ver daquela maneira. Me apoiei nos
cotovelos para me ver melhor. Era estranho sentir que alguém havia me
tocado tão intimamente e me pervertido assim.
— Olhe para mim. — sua voz invadiu os meus pensamentos.
Ergui os olhos para ele e o encontrei com um sorrisinho.
— Você está linda pra caralho.
Mordi o canto dos lábios e desviei o olhar. Não sabia que eu iria ficar tão
sem jeito depois que terminassemos.
— Espere um pouco, vou limpar você.
Christopher andou até o um canto do seu quarto e buscou por uma
camiseta velha. Quando voltou, ergueu sua mão para mim, ajudando-me a
ficar de pé.
Fiquei parada enquanto ele limpava o que havia feito comigo, e quando
terminou, nos olhamos por um minuto que mais parecia ter durado uma
eternidade.
— Está tão quieta. — notou, intrigado. — Me conte o que está pensando.
— Eu acho que, é só... uma experiência diferente para mim, apenas isso.
Ele sorriu e me puxou para si, me envolvendo em um abraço.
— Muito em breve você vai se acostumar em fazermos coisas do tipo, e
vai se deixar estar livre dessa timidez, eu prometo.
Ele depositou um longo beijo no topo da minha cabeça.
— Às vezes... — comecei, baixinho — você consegue ser gentil.
Chris uniu as sobrancelhas.
— Vou levá-la para casa, está tarde — desconversou.
— Não pode aparecer na minha casa a esse horário, já deve passar das 3
da madrugada.
— E é por isso que eu vou levá-la — insistiu.
— Não. Eu vou sozinha.
— Eu juro que faço você se arrepender se fizer isso — disse sério.
É, seus momentos de gentileza duram pouquíssimos e raros segundos.
— Eu vim sem você. — argumentei.
Ele riu baixo.
— É o que pensa.

O asfalto estralou, indicando a chegada da Ranger vermelha em frente a
nossa casa.
Eu já a esperava de pé na varanda de casa enquanto fumava um cigarro,
mas não imaginei que fosse ele a trazê-la.
Minha irmã não era exatamente discreta quando estava planejando algo.
Durante todo o nosso jantar em família ela estava tensa e distraída. Só
percebi que ela tentava algo quando ouvi a janela do seu quarto arranhar em
plena meia noite.
Nem para passar a droga de um óleo antes de tentar abrir a janela, não
é, Dytto?
Não foi uma incógnita descobrir que o filha da puta do Christopher
estava envolvido nisso. Minha irmã nunca teria saído sozinha de madrugada
antes de tê-lo conhecido.
Apaguei a bituca no gramado e avancei em direção a eles.
Dei de cara com Dytto passando pelo portão, e assim que ela me viu, se
encolheu, melindrosa.
Minha irmã veio em minha direção, aparentemente preocupada com o
que eu poderia fazer.
Seus grandes olhos verdes e inocentes, me encaravam assustados, com
medo. A culpa estava estampada ali.
— Lô, ele só veio me acompanhar — explicou trêmula.
Antes que eu pudesse dizer algo, a grande sombra de Christopher surgiu
logo atrás dela. Seus olhos estavam sérios sobre os meus e a sua postura era
defensiva ao redor de minha irmã.
— Loren. — chamou, atraindo a atenção de Dytto — No meu carro —
mandou sério, já retornando para dentro do seu automóvel.
Soltei o ar com força e retornei o meu olhar para Dytto.
— Lô — ela sussurrou baixinho.
— Me espere na sala — eu disse, por fim.
Ela assentiu, nervosa. Dytto olhou para o carro de Christopher uma
última vez antes de caminhar para dentro de casa.
Andei rápido até a ranger e sentei no banco do passageiro; onde
costumava ser o meu lugar preferido no mundo... até não ser mais.
Todos os fragmentos do meu coração se lembraram de cada momento
horroroso que passei após me declarar para ele.
Dói lembrar de cada segundo que eu implorei para que me desse uma
chance.
Reviver essas memórias me preenchiam de angústias amargas. Não havia
nada no mundo que eu fizesse para que ele me desejasse, e me parte saber
que eu sacrifiquei a mim mesma por um amor não recíproco.
Christopher conseguiu ser a pessoa mais fria de todo o planeta apenas por
ser. Entenderia se ele apenas me dissesse que me odiava, mas ele me fez se
odiar ainda mais. E somente de pensar que Dytto estava indo longe demais
nisso, meu estômago se embrulhava.
Ela era muito sensível, e qualquer passo em falso com ela, se tornaria
uma grande catástrofe emocional.
Dytto sempre corria para mim em todas as vezes que queria chorar. E eu
não poderia suportar vê-la sofrendo pelo mesmo garoto que destruiu cada
pedaço de mim.
Seria insuportável. E, tenho certeza que despertaria cada sentimento ruim
que já tive por causa dele.
— Vamos dar uma volta — avisou, gélido.
Chris manobrou o carro e nos pôs na estrada.
O cheiro do carro ainda era o mesmo, menta e limão. Perfeitamente
limpo e brilhante. Os bancos de couro e os vidros fumê.
Os mesmos chaveiros de caveiras pendurados no painel do carro e a
garrafa preta com álcool no compartimento.
Christopher era o mesmo, mas, agora, ainda mais distante do que já foi.
Prendi os olhos na paisagem através da janela e respirei fundo.
Às vezes, passávamos um tempo juntos com o seu grupo, que, em geral,
não era muito agradável, mas suportável. Tudo isso mudou de um segundo
para o outro, e agora voltamos a ser dois desconhecidos novamente.
Consegui sentir o perfume forte de Dytto nele e isso fez a raiva em
minhas veias se acenderem.
— O que você fez com ela? — questionei duramente.
Ele suspirou.
— Não é da sua conta o que eu faço com ela.
— Não, não é. Mas eu não confio em você.
Ele apoiou o cotovelo na porta do carro e descansou o queixo na ponta
dos dedos tatuados.
— Dytto sabe como eu sou, e se ela não me quisesse, eu saberia.
— Ela não sabe como você é, Christopher. Dytto não te conhece, ela acha
que você é esse cara, mas nós dois sabemos a verdade.
Ele umedeceu os lábios.
— Me poupe desse rancor.
— Não se trata de rancor, já tive experiências o suficiente perto de você
para saber que de um segundo para o outro, você pode simplesmente
mostrar as suas garras nojentas para ela.
— Pobre, Loren! — cantarolou — Não se preocupe com a minha garota,
eu estou cuidando dela.
Apertei os dentes.
— Está envenenando ela. Não pode continuar assustando-a com
pesadelos. Isso é cruel, Christopher.
— Pesadelos? — gracejou, rindo — É isso o que ela disse? — perguntou,
com um sorrisinho irônico nos lábios.
Franzi as sobrancelhas.
— O quem tem feito a ela?
Seus olhos vibraram em maldade.
— Ensinei a ela como chegar no paraíso. — ele ergueu o dedo do meio,
como se estivesse orgulhoso — Esta noite, foi com esse dedo daqui. —
sorriu perverso.
Meu estômago se revirou.
— Você não...
— É. Eu fiz — respondeu, simples.
Um misto de dor, raiva e mágoa se apoderaram de mim de maneira
devastadora.
Um nó doloroso se formou em minha garganta. Meus olhos ardiam com
as insistentes lágrimas que inconvenientemente sugiram.
Senti o olhar dele sobre mim, contudo, não me virei para poder vê-lo.
Abaixei o rosto para o meu colo.
Isso foi fundo demais para suportar.
— Não magoe ela — sussurrei, tão baixo que quase se tornou inaudível
— É tudo o que eu peço.
Me virei para olha-lo.
— Eu a amo mais que a mim mesma. Não a quebre, Christopher.
Ele não era bom para ela, e se ainda assim Dytto escolheu ficar com ele,
eu tinha o dever de garantir que ela ficaria bem.
— Dytto é religiosa, e mesmo que não entenda a fé dela ou que não goste
do jeito dela ver as coisas, não a faça se desprezar por isso. Ela é assim, não
tire a essência dela.
— É claro, Loren. — Christopher murmurou, sem tirar os olhos da
estrada.
— Se quebrar o coração da minha irmã por egoísmo, eu farei de tudo
para que pague.
Christopher me olhou por um momento. Ele entendia o que eu queria
dizer, afinal, ele também tinha irmãos que defenderia com unhas e dente.
Um silêncio se formou entre nós dois e me afundei naquele breve
momento de ilusão, onde ainda éramos apenas nós dois, antes de voltarmos
para a nossa nova realidade.
Deixei que a dor engolisse cada parte de mim e que minha alma
sangrasse até a última gota.
Essa era a última vez que eu me permitia sentir aquilo de novo.

O que acharam??? 😈
Oi, gente. Primeiramente: quero dizer que a maratona deu ruim, porque
eu havia esquecido que eu ia para o fim de mundo sem internet esse fim de
semana, ou seja, deixarei para postar os próximos dois capítulos somente
segunda feira já que eu ainda não comecei a revisar eles, começarei hoje.
Em compensação esse capítulo teve quase 6 mil palavras, já que ele foi a
junção de três capítulos nele.
Posso dizer que estou finalmente de férias, logo, as postagens sairão bem
mais rápidas.
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O grupo 1 de Love in the dark lotou com 1025 participantes, e como ainda
tinha muita gente querendo entrar, fiz um grupo 2 e deixei o link nos meus
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SEREM REMOVIDOS
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capítulos, novidades, notificação de capítulo novos e para acompanhar a
vida dos personagens também.
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Capítulo 26| Família

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



Acordei com o estrondo da porta do meu quarto sendo esmurrada. Estava
tão atordoada que levantei-me num pulo.
Meu corpo começou a tremer e a soar frio. Eu estava confusa e
desnorteada. Havia entrado em total alerta.
Arregalei os olhos quando minha vista escureceu. Precisei me segurar ao
colchão para não cair com a força em que fui puxada para baixo.
Minha pressão definitivamente havia despencado.
— Loren? — perguntei, confusa.
Já era manhã.
Agora, a luz do sol atravessava as cortinas e pincelava o chão do quarto,
resplandecendo tons amarelados por todas as paredes.
Deveria ter sido um bom dia, mas o clima parecia pesado.
— Levante agora e desça — era a voz do papai do outro lado.
Aparentemente, furioso.
Engoli em seco.
Sentei-me na cama sentindo o meu cérebro latejar forte e pisquei fundo.
Passei os dedos entre meus cabelos emaranhados e resmunguei de dor
quando os fios se entrançaram.
Eu ainda não estava 100% acordada. Ainda sentia como se noite passada
tivesse sido apenas um sonho.
Enquanto Loren estava com Christopher, decidi tomar um banho e tentar
um cochilo, ou, acabaria entrando em colapso, mas acabei pegando no sono
e sequer vi quando ela chegou.
Christopher não apareceu em meu quarto, acho que o que tivemos deva
ter satisfazido uma parte dele.
Contudo, um frio na espinha me incomodou ao ponderar o que ele queria
com a minha irmã.
Christopher não me parecia ser do tipo que sairia com alguém para se
resolver ou pedir desculpas, e tenho receio do que ele possa ter falado para
ela.
— Agora, Dytto! — papai berrou impaciente e rapidamente voltei a
minha realidade.
— Já estou indo.
O que diabos aconteceu?
Levantei-me da cama e corri para fora do quarto. Não medi meus passos
ao descer às escadas. Sai pulando de dois em dois degraus.
Se papai estava nesse estado, era melhor não lhe dar mais motivos para
incrementar a sua fúria.
Ao chegar no andar de baixo, encontrei Loren, com o rosto sonolento,
apenas de babydoll, sentada no sofá, tão atordoada quanto eu.
Mamãe estava sentada em uma poltrona, as pernas cruzadas e o olhar
sério. Papai estava no outro sofá, as mãos cruzadas entre as suas longas
pernas arreganhadas, os cotovelos apoiados nas coxas e o semblante
tenebroso.
Papai e mamãe eram o tipo de casal de revistas. Sempre bem vestidos,
arrumados e elegantes. Até mesmo quando apresentavam o aspecto de
quem estavam prestes a assassinar as suas duas filhas.
— Dytto, se sente ao lado de sua irmã — mamãe pediu, bem mais calma
do que realmente parecia estar, o que de certa forma, se tornou assustador.
Caminhei meio que sem jeito até ela e me sentei ao seu lado, mas, pelo
visto, Loren não fazia tanta questão por mim hoje. Ela virou o rosto e
encarou os lustres da casa, deixando-me completamente no vazio.
— As duas estão de castigo! — papai cuspiu.
Arregalei os olhos.
— O quê? — Loren e eu falamos em uníssono.
— Que porra estavam fazendo passeando às 3 da madrugada com um
garoto? — papai trovejou.
Olhei para Loren e ela para mim. É, havíamos sido pegas.
Eu me lembro bem de ter esvaziado as câmera. Como é que papai
conseguiu nos descobrir?
— Temos as gravações das câmeras em nossos celulares, não nos tratem
como se fôssemos idiotas. — papai reclamou. — Já tivemos a idade de
vocês.
— Vocês são duas adolescentes, não podem simplesmente fazerem o que
quiserem e no horário que quiserem. Poderiam estar mortas nesse exato
momento! — desta vez, foi nossa mãe a dar o sermão.
— Mamãe, nós sabemos nos cuidar — Loren retrucou.
— Vocês são duas irresponsáveis — papai novamente atacou.
Ele se levantou do sofá e caminhou até estar diante de nós. As suas mãos
se mantiveram na cintura, num gesto autoritário, e o seu rosto, impávido.
Minha barriga gelou de pavor.
Odiava quando a briga de nossos pais se extendiam a mim. Me
incomodava a sensação de tê-los magoada. Era o meu dever dar orgulho
aos dois, e agora eu estava debaixo dos seus olhos levando esporro.
— Aonde vocês foram ontem? — questionou, como se quisesse a nossa
garganta.
— Saimos com uns amigos — Lô falou completamente despreocupada, o
meu total oposto.
Eu por outro lado, me tremia do mindinho a cabeça. Um pouco de
pressão e eu acabaria soltando o que não devia. Maldita boca!
— Não fizemos nada de errado papai, Loren sequer bebeu — afirmei,
nervosa.
— Você! — mamãe pontuou séria, os olhos voltados para mim — Quem
era aquele garoto que estava com você? E para onde você foi sozinha?
— E-eu... — meus olhos correrram de um lado para o outro, sem saber se
paravam na mamãe ou no papai — É só um amigo.
— Amigo? — papai frizou.
— É, um a-amigo.
Loren suspirou baixo.
— Não podemos mais ter amigos também? — ela murmurou, irritada.
— Também vimos que você entrou no carro dele — papai apontou para
Lô — O que estão pensando que são? Agora saem por aí de madrugada
com um garoto?
— Já parou para pensar que estamos crescendo? — Loren reclamou alto
— Não somos mais crianças, pai.
Ele arregalou os olhos.
— Enquanto viverem sobre o nosso teto, vão ter que nos obedecer —
exigiu, furioso.
Eu quase podia ver Loren revirando os olhos sem nem mesmo ter acesso
ao seu rosto.
Como eu queria ter toda essa coragem e uma vez na vida não abaixar a
cabeça.
— Tudo bem então. Eu vou embora de casa, o que acham? — desafiou.
— Filha, pelo amor de Deus, não me faça isso ou eu vou ter um ataque
do coração — mamãe se pronunciou levando a mão ao peito.
— Céus! — Loren sussurrou enojada.
— Damos de tudo para vocês, o mínimo que pedimos é respeito! —
papai falou.
Me encolhi no sofá e prendi meus olhos ao chão.
Queria não ter essa necessidade de estar sempre agradando a eles, me
reservando para que eles nunca se decepcionem comigo, como uma maldita
obrigação que não posso nem mesmo sonhar em descumprir.
Só de imaginar meus pais decepcionados, todo o meu corpo se retraia.
— Queremos conhecer o garoto — mamãe exigiu.
— O quê? — um grito fino escapou de minha garganta.
— Traga ele, amanhã!
— Você nunca quis conhecer nenhum dos nossos amigos, qual o interesse
agora? — minha irmã rebateu.
— Dytto disse que são só amigos, então não vejo nenhum problema em
conhecê-lo — mamãe comentou, relaxada.
— Ah, claro! Então o problema não é nós duas termos saído de
madrugada, o problema é a princesa dos olhos de vocês ter chegado com
um menino — Loren disse, claramente chateada.
— Lô — a chamei apreensiva, mas ela sequer deu atenção.
— Nós estamos preocupados com vocês duas.
— É, eu estou vendo! — ela rebate irônica.
Loren se levantou e saiu da sala, ignorando os berros de papai e mamãe
para que ela voltasse.
Soltei um suspiro derrotado.
Odeio que Loren se sinta assim. Odeio que nosso país a façam se sentir
assim. Odeio que eu tenha causado tudo isso. Odeio tudo.
— Dytto — mamãe solicitoi — Traga amanhã — deu o ultimato.
Apenas assenti, triste.
— Posso ir para o meu quarto?
— Vai.
Levantei-me, sentindo o corpo meio bambo e sai, como um cachorrinho
demonstrando remorso.
Ao sair do campo de visão deles, corri para as escadas e fui até a porta do
quarto de Loren, que, obviamente já estava trancado.
Dei algumas batidinhas, mas ela não respondeu.
— Você quer conversar sobre isso? — cochichei.
Silêncio. O mais completo silêncio.
Tudo bem, eu merecia essa punição. Não tenho sido a melhor irmã do
mundo no momento, e, imagino, que não tenho sido a melhor filha também.
Me desencostei da porta e me arrastei até o meu quarto, sentindo os olhos
arderem.
Loren deveria estar odiando todos os seres humanos da face da terra
nesse momento, mas, principalmente nossos pais, eu e o Christopher.
Christopher.
Como vou trazer Christopher para conhecer os meus pais? Que merda!
Isso é loucura. Muita loucura.
Esse era o pedido mais insano que minha mãe já me pediu para fazer.
Como iríamos nos juntar e fingir que noite passada não aconteceu?
Peguei o celular da cabeceira da cama e desconectei o carregador.
Receosa, procurei pelo contato de Chris, e, ao encontrá-lo, meu dedo
estagnou no ar.
Como se chama um demônio para jantar na casa de seus pais religiosos?
Essa era uma daquelas perguntas esquisitas que não se encontrava a
resposta no Google, e que seria bem estranho de se encontrar no histórico
dele.
Deitei-me na cama, joguei o celular ao meu lado e descansei as mãos
sobre a barriga.
Tentei levar meus pensamentos para longe, mas eles insistiam em
vagarem para a madrugada passada. Para os beijos de Christopher, para os
seus toques íntimos, para a sua língua na minha...
Droga!
O meu corpo inteiro se incendiou.
Peguei o celular novamente e toquei em seu nome. Encostei o aparelho
no ouvido e esperei chamar.
Desta vez, ele chamou várias vezes antes de eu finalmente ser
respondida.
— Estou ouvindo — atendeu, rouco.
— Chris... — sussurrei.
— Diga, meu bem.
Meu coração disparou.
— Preciso de um favor — minha voz soava como um suspiro.
— O que você quiser.
Mordi os lábios e prendi os olhos nas pontas dos meus dedos, sentindo
meu rosto corar e um sorrisinho bobo preencher meus lábios.
— Jantaria comigo e a minha família amanhã?
Ouvi um riso baixo do outro lado.
— Está claro que tem algo acontecendo. Me conte.
Fechei os olhos.
— Mamãe e papai viram você nas câmeras, eles querem saber quem é o
garoto que estava comigo e com a Loren às 3 da madrugada.
— Huh! Isso é bem ruim — respondeu, zombeteiro.
— Eu sei.... Mas se você não puder vir, eu digo a eles que você estava
ocupado.
— Não se adiante ainda. Eu vou, mas preciso de algo em troca.
Apertei as sobrancelhas.
— O que? — indaguei, melindrosa.
— Use um vestido.
— Por quê?
— Posso aumentar o pedido se estiver achando ruim.
— Não, não. Um vestido. Já entendi.
— Nos vemos amanhã às....
— 20:00.
— Às 20:00 então.
— Chris...
— Sim?
— Não diga a eles que nós já...
O escutei rir sacana.
— Manterei a língua dentro da boca, ou, pelo menos, até a hora em que
você for dormir.
— Chris — o repreendi, sentindo minhas bochechas arderem de
vergonha.
— Me diga, Dingo. Você quer mais?
Sentei-me na cama.
— Não é hora para isso, Chris.
— Dingo...
— Pare!
— Adoro a sua boceta molhada na minha cara.
— Chris, já chega — disse, exasperada.
Levantei-me e tranquei a porta, garantindo que ninguém entraria aqui.
— Porra! Eu quero muito...
Encerrei a ligação antes mesmo que ele terminasse. Tudo o que me vinha
a mente era um Christopher sacana gargalhando de sua casa, sabendo que
conseguiu mexer comigo da maneira que ele queria.
Minha nossa!
Meu corpo inteiro parecia estar em chamas.
Não não não.
Isso não podia estar acontecendo. Definitivamente não!
∆∆
O próximo capítulo é um POV do Christopher ❤
Capítulo 27| O jantar

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



O cheiro do pecado é um irresistível convite que atrai o ego e a alma.
Aos olhos de um mero pecador suscetível a ser corrompido, o pecado tem
um gosto viciante e o cheiro ainda mais deliciosamente atrativo. E por que
negar? É da sua natureza ser frágil. E em seu todo, existem falhas humanas
que apenas o espírito seria capaz de curar, ou desvanecer em sua tentativa.
Tudo o que eu via ou sentia era diferente. Eu sabia, apenas por olhar uma
alma, o quão imerso em pecados aquele alguém estava. Sabia o quanto já
havia provado, quanto queria ou reprimia dele. Apesar disso, alguns ainda
lutavam, sabiam da verdade, mas fraquejavam ao desejo ensurdecedor da
carne.
O que nos separava eram as diferenças entre um ser de carne e osso, e um
ser como eu, forjado nas profundezas do inferno. O pecado eu já conhecia
bem. Ele, no entanto, não tinha um aroma agradável ou uma face
encantadora.
De onde eu vinha, o pecado era banhado de enxofre. As pessoas
emanavam o cheiro de podridão. Suas almas sangrentas exalavam o fedor
da decomposição eterna. Aquilo havia as corroído durante os anos vividos,
e tudo o que se foi doce, havia apodrecido.
Os pecados sempre exigiam o seu preço, e aquelas almas se arrastariam
como miseráveis até que o seu deus tivesse misericórdia.
Eu via sem dificuldade alguma a condenação nos olhos daqueles
malditos pecadores que viviam à minha volta. Todos teriam o rosto do
pecado a qual tanto deliciarem-se em suas vidas medíocres e explicitamente
curtas.
Era fácil ver a condenação em cada um, mas, ainda que todos fossem
iguais, uma em todos eles tinha o gosto mais espetacular. Ela era o meu
doce pecado favorito.
Dytto continha tudo o que eu queria. Seus traços e gestos me atraiam sem
querer. E era naqueles olhos verdes que eu queria mergulhar.
Sua alma, como todas outras, era corrompível, mas ingenuamente limpa.
Ela não era mais inocente do que qualquer outro, entretanto, havia um certo
pudor em seus limites. Ela se guiava, em parte por sua fé, e em parte por
sua crença na família.
Ela era jovem, teria tempo para cometer os seus erros e se perder em
pecados, mas eu a desejei com tanta intensidade que a roubei para mim.
Tomei sua alma para que fosse absolutamente minha. Apenas para que o
que tivéssemos durasse a eternidade. Dytto morreria e ainda seria a mim
que ela iria pertencer. Eu a levaria para o inferno e a deixaria sempre
comigo. Os seus pecados não transpareceriam como os outros, pois todos
seriam meus.
Este era o meu modo de dizer: "Para sempre".
A cada dia, eu a levava um pouco mais a se render ao proibido e sujo
desejo que tínhamos. Ela era apenas uma adorável jovem católica quando
nos conhecemos, mas, agora, ela era a mais atraente pecadora a sucumbir
aos encantos de um demônio.
A porta se abriu assim que toquei a campainha, como se alguém já me
esperasse do outro lado.
Fora ela quem atendeu.
Assim que vi o seu rosto, deslizei os olhos por todo o seu corpo, e me
maravilhei ao ter aquela visão espetacular.
Ela estava simplesmente linda. Usava um vestido branco, justo até a
cintura, e soltinho na saia. Ele alcançava o meio de sua coxa e a deixava
com um ar de inocência e pureza.
Precisei de um segundo para digerir aquela imagem antes de sorrir.
Suas bochechas atingiram o tom rubí e seus olhos brilharam ao me ver.
Minha garota adora quando eu a olho.
— Você chegou — sussurrou, ainda tímida.
Uma sensação ruim me atingiu no instante em que ela terminou de falar.
É claro! Seu pai estava se aproximando. Esse filho da puta!
— Você pediu, aqui estou eu — tentei ser educado, Dytto não gostava de
garotos como eu. Então, fingir ser bom, era o que eu me permitia perto dela,
ou pelo menos, me esforçava.
O homem alto, forte e grisalho surgiu logo em seguida. Seu olhar era
sério e expressivo. Haviam semelhanças entre ele e suas duas filhas, como a
cor dos olhos e um pouco dos lábios.
Bem que ele queria me intimidar, mas, ao constatar a minha altura e as
tatuagens, notei a sua surpresa. Seu olhar vacilou por um momento, mas
rapidamente endureceu-se novamente, como duas espadas afiadas sobre
mim.
Ele não queria perder a pose de durão. Que perda de tempo! Eu já o via
como um frouxo desde que senti o seu cheiro asqueroso.
— Então você que é o amigo das minhas filhas? — havia escárnio em
suas palavras.
Não. Eu sou a piranha da tua esposa, o que acha?
Embora eu tentasse, era difícil não ver a sua alma suja.
— Christopher — me apresentei em tom frígido.
Não ousei estender a mão e acabar sendo ignorado. Deixaria a
oportunidade dele tentar me humilhar na frente da filha passar.
Quem sabe apenas um pouquinho depois, apenas para não fazer ele se
sentir tão merda?
Sentia o nervosismo de Dytto se estender a quilômetros de distância.
Quando ela me encontrou a olhando, sorriu para mim.
Não faz isso, amor. Me faz ter vontade de roubá-la só para mim.
Passei a língua sobre os lábios, impaciente com a demora que esse cara
tinha em olhar para alguém.
— O meu nome é Theo, pai da Dytto e da Loren. — ele parou de falar
por um momento e ergueu o rosto — As garotas que você tomou a
liberdade de levá-las por aí. — enfatizou rígido.
— Eu sei. — voltei os olhos para Dytto, ruborizada — Minha memória é
excelente. — frisei.
Ela arregalou os olhos e baixou a cabeça. Era bom que ela soubesse que
eu ainda me lembrava de cada segundo da madrugada anterior. E que ainda
tinha lembranças vividas do seu delicioso gosto.
Theo soltou o ar com força. Aposto que ele queria ter uma arma em mão
naquele exato segundo.
— Vem, vamos entrar — Dytto nos apressou num sussurro e quase a
beijei por isso.
Não aguentava mais ficar na porta.
Loren se aproximou de nós, — mal humorada como sempre — me olhou
de cima a baixo com desdém e fingiu um enorme sorriso.
— Christopher! Como vai? — encenou uma animação que não seria
capaz de verdadeiramente expressar nem se tivesse acabado de ter um
orgasmo.
Falta pouco para ela conseguir ser mais perturbada do que eu.
— Tão bem quanto você! — devolvi o falso entusiasmo. Não queria
deixá-la atuando sozinha.
Ela quase, quase revirou os olhos.
Toquei a cintura de Dytto e escorreguei a mão para o seu quadril. Loren
percebeu e seu rosto se preencheu de ódio. Prendi um sorrisinho.
Dytto estremeceu no mesmo instante e me olhou apavorada, como se
dissesse: Não está vendo o meu pai na sua frente?
Eu adorava o jeito que ela reagia com cada toque meu. Dytto se excitava
muito fácil, assim como era extremamente sensível em lugares que só eu
tinha acesso.
— Você está incrível! — eu disse, olhando-a no fundo dos olhos e em
alto e bom som para que todos ouvissem.
Theo pigarreou, a fim de destacar a sua desnecessária presença no
mundo.
— Eu já estava morrendo de saudades, Dingo. — acrescentei.
O velho pigarreou novamente.
— Está doente? — perguntei, dando-lhe a atenção do qual parecia me
implorando.
Mas ele não gostou nem um pouco. Que pena!
— Eu o quê? — Theo ergueu o tom de voz, mas Loren se intrometeu.
— Que tal se nós nos sentarmos? — convidou, prontamente enroscando
o seu braço no do seu pai. Loren foi proativa e o puxou para longe.
Ela era útil, quando não estava me irritando com os seus sentimentos.
Loren não sabia conter os seus desejos sombrios. Estava sempre
procurando alguém para fazer de vítima. Uma pessoa para suprir o seu ego
ou deixá-la menos carente.
Se a pobre Dytto soubesse o que a irmãzinha tem feito com a própria
melhor amiga, não a admiraria tanto assim.
A única coisa pura em Loren, era o seu sentimento de amor e proteção
pela irmã, do contrário, ela era horrível com todos.
Apertei o quadril de Dytto e deslizei a minha mão para a sua bunda. Ela
logo ficou tensa. Minha mão desceu um pouco mais e ela saltitou para
frente, livrando-se do meu toque.
Sorri satisfeito.
Às vezes Dytto era tão ingênua que mal percebia a maldade das coisas.
Estava sempre procurando o melhor de todo mundo e tentava agradar às
pessoas ao seu redor. Ela tinha medo demais de viver, e, por isso, vivia se
escondendo nas sombras de qualquer um.
Desde que a encontrei, saberia que ela seria minha. Só precisaria cuidar
dela.
Descobri um certo fascínio por ela e por tudo o que fazia. Mas se ela ao
menos pudesse ser um pouquinho cruel, eu ficaria extremamente grato.
Eu tinha que estar sempre atento a ela, pois os espíritos ruins adoravam a
sua aura. Sempre que eu aparecia em seu quarto, acabava atraindo a sujeira.
E a sujeira adorava se agarrar a ela.
Os espíritos adoravam uma coisa boa para machucar, e eu odiava que eles
tocassem nela. Na última vez que a deixei sem a minha proteção, Dytto
sofreu as consequências e acordou sentindo dores.
Era o meu trabalho não deixar que isso se repetisse.
Assim que entramos na sala de estar, uma mulher alta, por volta dos seus
35 anos, com longos cabelos preto surgiu à nossa frente.
Ela usava um vestido tubinho, exibindo as suas curvas. Seu corpo
ostentava jóias caras e o anel de casamento de diamante em seu dedo anelar.
Essa mulher não tinha nada a ver com as filhas, parecia de um mundo
completamente só dela e de mamães ricas e exibidas. Que gracinha!
— Olá, Christopher. Sou Ever, mãe dessas duas lindas garotinhas.
Ela estendeu a mão para mim, e assim que a cumprimentei, senti seu
corpo ser afetado da cabeça aos pés.
Dytto, você está em uma péssima família.
— É um prazer, sou o namorado de Dytto.
— Na-namorado? — ela engasgou, ao mesmo tempo em que arregalou
os olhos
— Me disse que ele era apenas um amigo — Theo retrucou do outro lado
do cômodo.
Olhei para Dytto ao meu lado, tomada pelo desespero. Sua expressão era
a de mais puro pavor.
— Acho que ela preferiu guardar para o momento certo. — interferi,
olhando-a preocupado.
Me senti um pouco mal agora, ela aparentava estar prestes a chorar.
Que ela não faça isso. Dytto era a única que conseguia me fazer se sentir
culpado por fazer uma brincadeira.
— Oh! Eu não sabia que estavam assim tão sérios — Ever arfou, ainda
surpresa.
— Ela e eu estamos muito sérios — afirmei.
A puxei para mais perto e envolvi meu braço em volta de seus ombros.
Acentuando o nosso envolvimento, que até poucos minutos atrás, não
passava de uma suposta "amizade".
Que se foda. Eu quem não deixaria a oportunidade escapar.
Mudei minha atenção para Loren, encostada em um canto, e a encontrei
indiferente. Não era um grande choque para ela. A avisei desde o início que
sua irmã seria minha.
— Dytto, me explica isso! — seu pai exigiu, dando passos largos até nós.
Ever tocou o braço do marido, na tentativa de conter um escândalo.
— E-eu... — Dingo gaguejou, sem saber esclarecer algo que também era
novidade para ela.
— Não precisa se explicar, Dy — sua irmã se intrometeu — Já está
grandinha, nossos pais não podem proibí-la de namorar.
Elas se olharam por um instante. Eu sabia como Dytto se sentia culpada
pelos sentimentos que havia nutrido por mim, mas naquele segundo, uma
parte dela havia se sentido aliviada ao ter a aprovação da irmã.
As coisas não eram bem assim. Loren odiava a ideia de eu estar com a
sua irmã. Em parte porque conhecia a sua irmã. Em parte porque também
me conhecia. Ela sabia que éramos opostos, mas eu não tinha intenções de
rejeitar Dytto como fazia a Loren. Eram situações diferentes e distintas.
Loren sabia das chances que existiam de alguém ser machucada ao se
envolver comigo, porque havia tido o pior de minha rejeição. Entretanto,
haviam outras divergências entre nós dois maiores do que somente o bem
estar de Dytto.
— Esse namoro não vai ser tão liberal assim. Dytto não é como as outras
garotas, rapaz! — Theo protestou e a sua esposa tentou consertar a situação
explicando de um outro jeito.
— Nós sabemos que você é um rapaz que é... — Ever apontou para mim
com a mão — muito experiente, e é claro, gosta muito das coisa do mundo.
Tem tatuagens e tudo mais... — ela estava desconcertada — Nossa menina
não é assim.
Sorri com o seu julgamento cauteloso.
— Não se preocupem. Não vou levar a filha de vocês para nenhum lugar
que ela não queira ir.
Theo colocou as mãos na cintura, enquanto me olhava furioso.
— Não vão namorar de qualquer jeito. E também não vão ficar saindo de
madrugada. — esbravejou.
Acredite nisso se quiser, babaca!
— Sim, senhor. — concordei, evidentemente irônico.
Todos estavam balançados com a nossa discussão imediata. Geralmente
isso só deveria acontecer durante o jantar, mas acho que os meus sogros
gostavam de montar o barraco bem antes.
— Vamos jantar — Ever determinou rápido e lançou um olhar sério para
o marido, evitando mais protestos e gritos.
Ele apenas concordou, a contragosto. Era mesmo melhor não brigar com
a esposa.
Começamos a finalmente nos organizar na mesa e fiz questão que Dytto
se sentasse ao meu lado.
Loren se sentou na ponta e os pais dela se sentaram à nossa frente.
Dytto ainda parecia meio abismada e estática. Toquei seu joelho e ela
estremeceu de susto.
Seus olhos assustados me encontraram e eu juntei as sobrancelhas.
— Você está bem?
Ela apenas assentiu, ainda estava digerindo toda a situação. Eu não queria
que ela se preocupasse com nada disso. Se algo acontecesse, eu mesmo me
encarregaria de cuidar.
Descansei a minha mão em sua coxa e sorri.
— Será um bom jantar.
— Huh hum. — murmurou atônita.
Ela parecia prestes a vomitar na mesa. Estava com medo até de se mexer.
Dingo Bells levava bem a sério a opinião de seus pais.
Subi minha mão um pouco mais, passando-a por debaixo de seu vestido
e ela respirou fundo. Sua pele tornou-se, aos poucos, avermelhada.
Estiquei os dedos para tocar a sua virilha e ela endureceu no lugar feito
pedra. Meu pau reagiu no mesmo segundo.
Porra!
— Christopher, o que você faz da vida? — Theo investigou.
— Trabalho, estudo. Essas coisas. — dei de ombros.
Que papo chato!
Ele ergueu a sobrancelha grisalha e cruzou os braços.
— Quantos anos você tem mesmo?
— Faço 20 daqui alguns meses.
Dytto me olhou surpresa, mas não disse nada.
— E igreja? Frequenta alguma?
— Não.
— Alguma religião? — Ever averiguou e eu sorri de canto.
— Conhecem o Satanismo?
Ambos arregalaram os olhos e furtivamente vi Loren sufocar o riso.
Dytto pôs a sua mão sobre a minha, quase que implorando para que eu
parasse de falar.
— Estou brincando. — emendei, sorrindo.
— Não está apto a namorar a nossa filha — Theo reclamou.
— Não? — pressionei em tom sério.
Theo sentiu-se intimidado, o que acabou o deixando frustrado. Não era
esse recado que ele queria passar.
— Dytto é uma garota séria, não tem que ficar mexendo com essas coisas
e nem andando com esse.... com esse, tipo.
É trágico ver que ele pense assim. Como, ele sequer, poderia cogitar que
Dytto mexeria com algo assim?
— Garanto a você que ela não mexe com essas coisas e nem mesmo anda
com meu tipo de gente.
Ele uniu as sobrancelhas.
— É bom mesmo! — intimidou, diretamente olhando-a.
Imbecil.
Apertei a coxa de Dytto e subi a mão devagarinho até a borda da sua
calcinha. Seus pelos se arrepiaram e ela fez esforço para não reagir.
Enfiei o mindinho dentro do tecido e ela tentou discretamente afastar a
minha mão, mas não permiti.
Sua respiração acelerou e ela se ocupou com o copo à sua frente, dando
um grande gole na água.
— Você não acha que esse tipo de religião seja perigoso, digo, o
satanismo? — Ever quis saber.
— Só para quem não saber mexer.
Olhei propositalmente para Loren, o que a fez revirar os olhos.
Enfiei um pouco mais do meu dedo na calcinha de Dytto e ela tentou
apertar as pernas.
Enrosquei meu pé em seu tornozelo e puxei sua perna, obrigando-a a
separar as suas coxas.
— Certo! — ela concordou, constrangida.
— Acho melhor começarmos a comer — Theo sussurrou cabisbaixo,
triste com a escolha da filha.
— Eu vou buscar os pratos. Me ajude com isso. — Ever pediu ao marido.
Ambos se levantaram e saíram juntos. Provavelmente irão julgar até o
meu último fio de cabelo.
Aproveitei para colocar minha mão mais a fundo em sua calcinha, até
que senti a boceta dela sobre meus dedos. Molhadinha.
Mordi o lábio inferior. Meu pau já estava doendo dentro da calça.
Eu precisaria de um tempo antes de levantar ou todo mundo saberia que
eu estava de pau duro.
Dytto estava muito próxima de mim, o que facilitou todo o meu trabalho.
Enfiei um dedo dentro de sua boceta e ela engoliu um soluço.
— Para de dedar a minha irmã, Christopher seu merda. — Loren
sussurrou irritada e eu sorri. Ela já havia percebido há um bom tempo.
Dytto rapidamente afastou a minha mão, completamente constrangida.
Enfiei o dedo na boca e o chupei.
— Você tem uma delícia de irmã, Loren. — provoquei e ela deu-me o
dedo do meio.

Christopher é um querido. O que acharam do pov dele?
Sem pressão para eu postar o próximo capítulo ou eu mando o Chris
enfiar o antebraço dele no cu de vocês. Obrigada pela paciência, o próximo
capítulo sai o mais rápido que eu conseguir revisar.
Capítulo 28| Dytto

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



O silêncio durante o jantar teria sido quase ensurdecedor, se não fosse
pelo batucar de dedos do Theo. Ele encarava-me como um mafioso. Não
que ele fosse um, mas haviam tantos segredos por debaixo daquela faixada
de homem honrado, que o fariam ainda pior.
Se descobrissem quem, de fato, ele era, Dytto não o olharia mais do
mesmo jeito, Loren finalmente despejaria todas as merdas que sempre quis
dizer, e Ever... Bem, ela não era uma santa, amava o marido, ao seu jeito,
mas priorizava os status de riqueza. Fidelidade não era o seu forte,
tampouco um obstáculo para conseguir o que queria. Do contrário, ela não
teria espremido as pernas durante todas as vezes que me olhou.
A família Bell era estranhamente comum, pois como em todas as outras,
era hipócrita com a sua própria crença.
Olhei Dytto ao meu lado, que estava estranhamente quieta. Ela não
encarava o rosto de ninguém, mantinha-se recolhida para si. Toquei sua
mão por cima de sua coxa e cruzei nossos dedos uns aos outros. Senti seus
dedos pressionarem nos meus em um aperto, sua urgência por mim me
deixava aflito.
Todos já havíamos terminando de jantar, no entanto, eles ainda pareciam
não saber como me expulsar da sua enorme casa. E se não for eles a tomar a
atitude de quebrar a zona de desconforto que se formou, eu muito menos.
Era divertido vê-los sufocar em seu próprio constrangimento.
Tivemos apenas um curto diálogo durante o jantar. Theo me perguntou
quais eram as minhas intenções com a sua filha, achei que seria demais da
conta responder que queria fodê-la com força e carregar a sua alma para o
inferno. Então fui sensato ao respondê-lo:
— Tudo o que um homem quer com uma garota — todavia, acho que ele
não gostou da minha resposta. Seu rosto inteiro se tingiu de vermelho e suas
sobrancelhas se franziram.
E pensar que eu não poderia desagradá-lo ainda mais.
Em resposta, sorri internamente e terminei meu copo d'água. Dali em
diante, meus sogros perceberam que não havia muito em mim que os
fizessem feliz. Pelo menos, não como genro. Ever adoraria se eu a comesse.
Uma situação completamente impossível, claro.
Dytto era tudo o que eu queria, e a única razão de eu me manter
comportado naquele momento.
— Deseja algo mais, Chris? — Ever instigou por educação.
— Tem whisky?
Suas sobrancelhas se ergueram e ela riu desconcertada.
— Ora, nós não guardamos bebidas nesta casa. Raramente bebemos, na
verdade. Sinto muito!
— Tudo bem, acho que já estou satisfeito.
Olhei para Theo com divertimento. Sua expressão era a mais desgostosa
possível. Era inevitável não me preencher de êxtase ao vê-lo tão inseguro e
vulnerável.
— Vou para o meu escritório — ele avisou, rude. Os olhos fincados nos
meus.
— Foi um prazer conhecê-lo, sogro.
Theo apertou os dentes, furioso, e saiu da mesa com passadas largas. Tão
logo sumindo de nossas vistas.
— Ele está cansado. Vai viajar ainda hoje e só volta na segunda-feira. —
Ever informou. Era degradante ver essa mulher se explicar por cada atitude
do marido.
Assenti, pouco me fodendo.
Dytto parecia meio perdida em seus pensamentos, embora, ainda
estivesse prestando atenção na conversa.
Ela mordeu o canto dos lábios e ergueu aqueles lindos olhos para mim.
Puta merda de garota bonita!
— Podemos conversar lá fora um segundo? — sugeri.
Ela olhou para a mãe, como se pedisse permissão. Ever suspirou e deu
um leve aceno de cabeça.
— Não demorem. — acrescentou.
Por cortesia, joguei uma piscadela para ela e isso mexeu com partes suas
que não deveriam — eticamente — serem afetadas. Quanto falta de
respeito pelo namorado da sua filha, minha senhora!
Dytto e eu caminhamos de mãos dadas pelo jardim. Longe de sua
família, ela ficava mais a vontade. A tensão em seus ombros se dissipou,
suas mãos pararam de suar, e num segundo, eu tinha a Dingo Bells de volta.
Paramos diante de uma mureta de pedra. Se, os arbustos não fossem tão
altos, as câmera flagrariam tudo o que desejo fazer com ela. Estávamos com
sorte.
Os seus cabelos castanhos voavam ao vento e dançavam sobre os seus
ombros. Sua pele se arrepiou com a brisa gelada e seu rosto ganhou um leve
tom rosado.
Ela encostou seu corpo na construção e deixou que eu me aproximasse.
Dytto não protestou quando me curvei para beijá-la. Seus braços
entornaram o meu pescoço. Ela tecnicamente não era uma garota baixa, mas
em comparação a mim, eu tinha sempre que me inclinar um pouco mais.
Beijei-a com calma, degustando de seus lábios. Ergui parte do seu
vestido e procurei pelo elástico de sua calcinha. Eu queria arrancar as
roupas dela o mais rápido que pudia.
— Chris... Meu pai. Ele vai nos ver. — ela murmurou em minha boca.
— Eu saberei se ele estiver perto. Não se preocupe, querida.
Ergui uma de suas pernas, apoiando sua coxa em minha cintura.
Imprensei seu corpo e coloquei sua calcinha de lado para penetrá-la com o
meu dedo.
Ela se afastou por um segundo com um sorrisinho bobo nos lábios.
— Por que disse que era meu namorado?
— Algum problema nisso?
— Um pouco. — ela franziu a testa, mas parecia contente.
— Não gostou desse título, Dingo? — brinquei, enfiando meu dedo
dentro de sua boceta.
Ela abriu a boca para gemer, mas afundou seu rosto em minha camiseta,
abafando seus barulhos. Não queríamos fazer alarde.
Eu queria vê-la cavalgar em meu pau, mas ela ainda não estava pronta. E
o fato dela ainda ser virgem, dificultava que tivesse uma primeira
experiência menos dolorosa.
Me aproximei do seu rosto e inspirei fundo, sentindo seu cheiro doce,
quente e leve, me invadir.
Eu tinha desejo pelo seu corpo, mas, também, pela a sua alma. A minha
parte doente, suja e demoníaca ansiava levá-la para mim, trancá-la, foder o
seu corpo inteiro e me embebedar dela. Dia e noite, sem parar.
Uma alma tão limpa assim, merecia ser infectada pelos meus mais
sórdidos desejos.
No entanto, uma parte humana minha, queria apenas tê-la. Passar um
tempo a sós e assistir o seu corpo se envolver no meu. De um jeito
melodramático e romântico, queria apenas passar mais tempo em sua
presença. Abraçá-la e aproveitar o momento. Era estranho sentir que uma
parte de mim estava verdadeiramente vivo.
Deslizei a língua em seu pescoço, Dytto ofegou e lentamente tocou os
seus lábios nos meus. Ela os chupou com força e mordiscou.
Passei a movimentar meu dedo com mais força dentro dela. Dytto gemia
baixinho e os seus olhos se reviraram de prazer. Ela jogou os quadris para
frente, impulsionando-me a levar meu dedo mais a fundo.
Vê-la daquele jeito estava me matando.
Surpreendendo-me, ela enfiou suas mãos por debaixo da minha camiseta,
deslizando seus dedos curiosos por todo o meu abdômen. Fez isso
repetidamente, tateando a minha pele enquanto eu a masturbava.
Ela ofegou baixinho, o peito subindo e descendo ligeiro, e quando gozou,
seu corpo se entregou a mim.
Enrolei-a em meus braços, afagando as suas costas. Dytto fechou seus
olhos e permitiu desfrutar do meu carinho.
Pela primeira vez havia algo além do prazer. Eu queria que ela
permanecesse nos meus braços, apenas porque me queria tanto quanto eu a
desejava.
A ergui e a coloquei em meu colo. Sabia que logo logo sua mãe
apareceria atrás de nós dois, todavia, pouco me importei.
Em meus braços, ela mais se parecia um pequeno anjo adormecido e
satisfeito. Eu gostava de fazê-la se sentir assim.
Rocei a ponta do meu nariz no dela, sua pele estava gelada. A beijei
mesmo assim.
— Você vem me visitar hoje, Chris? — indagou num sussurro, ainda de
olhos olhos fechados.
Curvei um meio sorriso.
— Você quer?
— Gostaria que dormisse comigo. — denotei que ela estava
envergonhada ao me pedir isso.
Dei um último beijo em sua testa.
— Eu venho, minha Dingo Bells.
Ela sorriu.
— Obrigada.

— Aquele garoto é bem alto, não é? — mamãe observou, recolhendo os


talheres e copos da mesa.
Eu estava a auxiliando no serviço, e fazendo todo o esforço possível para
me esquivar das suas perguntas invasivas. Mas, afinal, ela era a minha mãe,
não havia muito o que eu pudesse fazer.
— Huh rum.
Não achava que entrar nesse assunto seria uma boa ideia no momento,
então apenas torci para que ela se distraísse e esquecesse disso por ora.
— E... bem tatuado também — dessa vez havia um fundo de julgamento
em seu comentário.
Optei por não discutir. Sei que ela e o papai odiavam tatuagens, e era o
que ele mais tinha. Havia até mesmo no seu... Oh, caramba!
Um arrepio percorreu todo o meu corpo ao lembrar-me de seu enorme
pênis com desenhos de correntes. Minha boca estranhamente se encheu
d'água.
— É. Já terminei aqui. Tô indo. — avisei.
— Nós ainda temos que conversar, Dytto — ela me freou.
— Podemos fazer isso em uma outra hora? — pedi, descontente.
Ela tombou a cabeça para o lado e pôs as mãos em sua finíssima cintura.
Eu esperava mesmo chegar em sua idade com o corpo tão bonito assim.
— Está tendo relações sexuais com aquele garoto?
Meu rosto inteiro ardeu de vergonha.
— Mãe! — adverti, constrangida.
Ela respirou fundo.
— Eu sou mulher, minha querida! Então nunca esconda essas coisas da
sua mãe. Está ou não?
Balancei a cabeça em negação.
Bem, não estávamos exatamente fazendo sexo. Existiam alguns amassos
e dedos? Sim. Mas não tínhamos feito penetração com o P e a V. Então eu
meio que era "virgem", ou uma "falsa virgem". Não importa, apenas não
tínhamos transado.
— Só... use camisinha. Eu já tive a sua idade, então por favor, nada de
sexo desprotegido, Dytto.
Mordi o canto da bochecha.
— Eu já entendi. — falei tímida.
— Não é só bucho que você pega se não se prevenir...
— Mamãe, eu já entendi — a cortei, nervosa, antes mesmo que ela
começasse a dar uma grande e extensa lista de doenças sexuais que eu
poderia pegar.
— Camisinha sempre, Dytto. Oral, vaginal, anal. Sempre.
Arregalei os olhos com tanta rapidez que acreditei mesmo que meus
globos oculares fossem saltar do rosto.
Meu Deus! Eu ainda não acreditava que estávamos tendo essa conversa.
Ela soltou o ar pela boca.
— Só... não estrague tudo por causa de um garoto. Você é esperta, não
precisa se prender a ele, está bem?
Balancei a cabeça em concordância.
Mamãe me puxou pelos ombros e passou os braços ao redor do meu
corpo, deixando um beijo casto em minha nuca.
— Eu ainda não acredito que você e Loren já estejam tão grandes. Parece
que foi ontem que eu me rasguei toda para ter vocês.
Recuei rapidamente de seu abraço.
— Tô indo dormir. — alertei e ela riu.
Apressei os passos pela casa, subindo as escadas de dois em dois
degraus.
Minha nossa! Quando mamãe tirava tempo para falar sobre coisas
constrangedoras ela não parava mais.

Instagram: autoramariliaandrade
Será que os 40k de seguidores no wattpad chega ainda esse ano? Já me
seguem aqui?
Capítulo 29| Hospital

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO


AINDA ESTOU BLOQUEANDO PESSOAS QUE DÃO SPOILERS.
ENTÃO PELO BEM DOS LEITORES, NÃO COMETA O DESSERVIÇO
DE DAR SPOILERS. COOPEREM E FAÇAM UMA AUTORA FELIZ
HOJE.
EU ESTOU NA TPM E COM CÓLICA.

Era quase 9 da manhã de sábado.
Loren e eu estávamos sentadas na calçada do estacionamento do hospital.
Ela com o seu cigarro cigarro na mão, e eu, com o meu caderno de
desenhos.
Eu havia deliberadamente a avisado sobre o "acidente" de Marcos. Claro
que sem especificar o meio pelo qual descobri. Minha fonte não era muito
confiável; e também, era a razão pela qual o seu amigo estava naquelas
condições.
Não era dia de visita, mas papai havia grande influência sobre os seus
colegas de trabalho. Ele só precisou fazer uns telefonemas, o que, por
conseguinte, nos permitiu visitar Marcos.
6 minutos. Foi apenas isso que nos cederam, no entanto, ainda não
havíamos entrado.
Entediada, esfreguei o tênis no chão, arranhando pequenas pedrinhas no
asfalto.
Christopher tinha um ponto, talvez eu não me importasse com Marcos
tanto quanto imaginava. Mas, afinal, era difícil ter afeto por alguém que
apenas me sufocava e tentava me embebedar.
— Por que ainda estamos aqui no estacionamento? — bocejei.
— Claire está vindo — Loren avisou e deu mais uma tragada. Em
seguida, deu batidinhas na bituca, deixando que as cinzas se espalhassem no
ar — O que está desenhando? — investigou, com os olhos semicerrados em
curiosidade.
Ergui o caderno de minhas coxas e lhe mostrei a página velha, cheia de
manchas de café e rabiscos.
Por alguma razão, adorava desenhar em folhas manchadas,
complementavam as minhas ideias, tornando-as mais atraentes.
— Isso é um cachorro? — ela indagou, confusa.
— É um pato, Loren — corrigi, ofendida.
— Oh! Desculpa. Quando você terminar acho que vou entender melhor o
que você estava querendo fazer.
— Lô, eu já terminei.
Ela arregalou os olhos.
— Ah...
Loren virou o rosto, constrangida.
— Está tão ruim assim? — murmurei, encarando o que eu havia feito.
Eu sabia que não era lá a melhor desenhista, nem mesmo estava na
média, mas confundir o meu pato com um cachorro, era demais da conta.
— Deve ser a caneta, Dy.
Franzi as sobrancelhas, encarando o objeto.
— Ela está normal.
— Não deve ser própria para desenhos. — explicou.
— Mas foi o Luc que disse que ela era boa para desenhos.
Ela encheu as bochechas de ar, prendendo um murmurio esganiçado em
sua garganta.
— Deve ter vindo com defeito — soltou, atordoada, sem mais desculpas
em mente.
— Loren, eu não sou mais criança. Pode falar que está feio.
— Então tá bom. Está feio.
— Mas não era para você falar.
Ela ergueu as mãos no ar, incrédula.
— Dyttoo — berrou.
Ri alto de sua cara ranzinza.
— Eu ainda vou aprender a desenhar — sussurrei.
— É.
— Tô falando sério.
— Eu acredito em você.
Joguei a cabeça para o lado e sorri para ela. Loren tentou esconder, mas
sei que ela também quis sorrir, ela só não gostava de ser melosa demais.
— O que acha da gente acampar? — perguntou.
— Ainda estamos de castigo, lembra?
Pela quinquagésima vez esse ano...
— Claire vai tentar convencer os nossos pais.
— Ah, Lô... Eu não sei, não. Não gosto de acampar. Nem de mato.
Florestas. Bichos. Insetos. Pessoas...
Ela bufou.
— Eu não consigo entender como você consegue gostar tanto de ficar
sozinha. — confessou, intrigada.
— Não é ruim como você faz parecer. Você apenas pre... — me calei
abruptamente ao avistar o Mustang prata que havia despontado no início do
estacionamento em alta velocidade, roubando a atenção de nós duas.
O motor roncou alto. O motorista acelerou até certo ponto, de repente, os
pneus cantaram no asfalto quando o automóvel deslizou lateralmente em
uma manobra perfeita. O carro estacionou do jeito mais espetacular na vaga
livre há poucos metros de nós.
— Claire mudou de carro? — perguntei e ela balançou a cabeça, tão
confusa quanto eu.
Claire adorava dirigir em alta velocidade, mas, desta vez, tinha dúvidas
que fosse ela dentro do automóvel. Ela odiava ficar se exibindo em público.
Não demorou para que a porta se abrisse e o rosto de Joshua surgisse em
nosso campo de visão.
É claro! Tinha que ser obra do namorado da ruiva. Ele ficava um tanto
eufórico quando entrava dentro de um carro.
Claire emergiu seguidamente no lado do passageiro. Ela parecia furiosa
com Joshua, mas a sua irritação logo se dissipou ao nos ver.
— Olá meninas — ele cumprimentou aprontando os seus passos,
divagando o olhar entre nós duas.
— Oi — dissemos em uníssono.
— Garotas. — Claire murmurou. — O que fazem aqui fora? Não
deveriam esperar lá dentro?
— Loren e eu estávamos esperando vocês. — expliquei.
— Então é bom nós nos apressarmos. — A ruiva tentou parecer natural,
mas percebi sua ansiedade.
Diferente de nós, ela se preocupava bastante com o bem de Marcos.
Quer dizer, ela se preocupava com o bem de todos. Era a mãe do grupo, eu
diria.
Joshua continuou parado à nossa frente. As duas mãos nos bolsos e a
expressão apática. Foi quando percebi que ele estava encarando o caderno
em meu colo.
— É um cavalo?
— É um sapo, Josh. — Claire o criticou.
— É UM PATO. — os corrigi.
A ruiva jogou o rosto para o lado, desnorteada. Joshua, entretanto, ficou
boquiaberto.
— Aaah... — foi tudo o que ele disse.
Balancei a cabeça, desacreditada.
— Como vocês não conseguem ver um pato nisso?
— É que está um pouco... diferente — Joshua falou, tomando todo o
cuidado.
— Se está feio, é só falar, não precisa me tratar igual uma criança.
— Bom... está esquisito, Dytto — confessou devagar, enrugando o nariz.
— Não era para você ter falado — Loren se pronunciou.
Fechei os olhos e inspirei fundo.
— É a droga de um pato. Pato. Pato. Pato. — resmunguei sozinha.
— Sua irmã está bem? — Claire questionou.
— Não muito. Ela está namorando o Christopher. — revelou,
despreocupada.
Meu sangue congelou nas veias e eu quis enfiar aquele Pato-cachorro-
cavalo-sapo na goela dela.
— Quê? Tá brincando, não é? — Claire explodiu uma risada, o seu rosto
cheio de sardas se preencheu do tom vermelho.
Ela me olhou cética. Mal podendo acreditar na notícia que havia
recebido.
Decerto que o histórico daquele homem não era um dos melhores, mas
ela estava exagerando. Não, é? Ela estava exagerando, né?
— Você... Tá... — ela apontou para mim e para o nada e depois para
mim, como se não soubesse o que dizer.
Namorados não era bem o termo que eu usaria se perguntassem sobre
mim e ele. Foi o que ele definiu que éramos para os meus pais, mas o
Christopher era o Christopher, ele poderia ter dito aquilo apenas para irritá-
los.
Aposto que ele nem devia mais se lembrar disso de tão tosco que pode ter
sido para ele.
Meu peito deu uma pontada em desapontamento.
Pare de bobagem, Dytto. Ele só estava brincando.
— Não é bem assim. — cochichei.
— Minha cabeça até rodou. — ouvi Joshua sussurrar.
— Eu e Christopher, nós não estamos namorando. — me defendi.
— Ah, estão, sim. — Loren soltou um riso tenso.
— Loren, eu e ele não estamos namorando.
Ela repuxou o canto dos lábios.
— Não na cabeça dele, Dy. Esse é o preço que se paga por estar com o
Christopher. Ou você o acompanha ou ele te arrasta mesmo assim.
Discordei com a cabeça.
— Não, ele nao é meu namorado. Nós ainda estamos nos conhecendo.
— E o quanto já se conheceram? — Joshua provocou.
— Ah, eu sei lá, uns... 45%? — que mentira. — 50% talvez... — outra
grande mentira.
— Qual o nome dele completo? — Claire perguntou.
Ah, deve ser algo como.... Christopher... Christopher Yori? Espera, deve
ter algum outro nome...
Antes que eu pudesse terminar o meu raciocínio, Josh foi mais rápido em
me bombardear.
— Quantos anos ele tem?
— Essa eu sei. — bati as mãos, confiante. — Ele tem 19, vai fazer 20
daqui uns meses.
— Ele não tem 19, Dy. — Loren riu. — Ele tem 18, faz 19 no final do
ano.
— O que?
Eu não sabia nada sobre Christopher. Todos os 50% pularam para 0,1%.
Afinal, o que nós havíamos feitos esse tempo todo, senão corrermos atrás
um do outro como cão e gato e nos aventurarmos no escuro do meu quarto
ou no claro da sua casa?
— Eu acho melhor você procurar saber mais sobre quem é o Christopher,
Dy. — Claire aconselhou. — Você não sabe nem metade do que ele
realmente é. Sugiro que comece procurando saber pela floresta, é lá que
aquele monstrinho faz as coisas sujas dele.
Suspirei, derrotada.
Eu não fazia ideia de quem ele era.
— É melhor entrarmos. — Loren disse.
Os outros concordaram, mas eu ainda estava com a cabeça abarrotada de
pensamentos.
— Só um segundo, tenho que fazer uma coisa. — avisei. — Podem ir,
encontro vocês num minuto.
Os três tomaram a frente. Em contrapartida, peguei o meu celular do
bolso e procurei pelo seu contato.

Como alguém conseguia ser capaz de ser tão irritante?

Oh, céus!

Eu devia mesmo estar preocupada em estar tão a vontade perto de alguém


que não tinha escrúpulos.

Marcos havia acabado de acordar quando chegamos à porta do seu
quarto. Através da pequena janela de vidro, vimos uma jovem enfermeira
ao seu lado, conferindo o seu colar cervical. Apesar de que ele parecia
realmente com dor, era óbvio que ele só a tinha chamado para paquerá-la.
Ele continuava o mesmíssimo Marcos de sempre.
— Lembrem-se, apenas 6 minutos. — o médico barbado relembrou ao
nosso lado.
— Eu posso fazer uma pergunta? — me prontifiquei. — É grave? Quer
dizer, é óbvio que é ruim, mas, ele vai ficar bem?
Ele sorriu gentil para mim.
— Felizmente, a fratura não afetou a coluna vertebral ou nervos
importantes do seu amigo. É uma fratura estável e não há desalinhamento
significativo nas vértebras. Mas, mesmo que tenha sido uma fratura leve,
ainda requer atenção medida e tratamento adequado para garantir a
cicatrização correta e evitar complicações. Marcos ficará bem, mas terá que
ficar na observação por mais uns dias, apenas por garantia. Ok?
— Certo. Obrigada. — sorri, aliviada.
Loren abriu a porta e os olhares lá dentro se voltaram para nós.
— Olha só. Os filhos da puta apareceram aqui. — Marcos gargalhou,
todavia, parou quando sentiu dor e engelhou o rosto. — Merda, eu estou tão
fodido.
— Eu vou indo nessa. Se precisar... — a enfermeira dizia quando foi
interrompida por Marcos.
— Sei, sei... Aviso, sim, gatinha. — ele jogou uma piscadela para a
moça, que saiu completamente envergonhada da sala.
— Nem fodido você deixa de ser um merda. — Loren declarou, enojada.
Marcos parecia feliz com o título, então pouco de importou.
Josh foi até o seu amigo e sentou-se na beirada da cama.
— Que nojo, você está parecendo um tarado. — comentou, brincalhão.
Marcos riu e os dois começaram a conversar. Tínhamos apenas 6 minutos
ali dentro e eu já queria ir embora.
Loren e Claire também se aproximaram, eu por outro lado, me mantive
mais distante.
Certa parte de mim se sentia culpada por ele estar daquele jeito. No
entanto, eu não conseguia ter compaixão o suficiente para me sentir
arrependida. Afinal, culpa e arrependimento não eram sinônimos.
— Que merda você fez dessa vez? — Joshua questionou, olhando-o de
cima a baixo.
Meus ouvidos se aguçaram e minhas mãos soaram frias. Temia o que ele
poderia dizer.
Quão ruim seria se descobrissem que isso foi causado por Christopher?
E pior, que Christopher fez isso por minha causa?
— Acho que desmaiei e caí da escada, ou algo assim. Não consigo me
lembrar bem o que houve. — respondeu, confuso.
Acho que ele nem mesmo teve tempo de processar o que aconteceu no
dia do seu acidente. Ou então, fingia muito bem.
Os outros voltaram a falar, e prontamente mudaram de assunto, logo já
estavam bolando planos e festas para quando Marcos estivesse em casa.
Quando nosso tempo finalmente se esgotou, me aproximei apenas para
dar um leve aperto de mão e lhe desejar melhoras. Todavia, percebi que ele
não parecia exatamente querer aquilo.
Marcos não me olhou diretamente nos olhos, sequer firmou nossas mãos
quando o toquei. Procurou discretamente me evitar.
Isso era estranho. Em geral, ele estava sempre aproveitando toda
oportunidade para estar próximo de mim.
Acho que me equivoquei ao pensar que ele não lembrava o que
aconteceu.

Ao voltarmos ao estacionamento, Loren estava mais distraída. Joshua e
Claire conversavam entre si, e eu, estava mergulhada em pensamentos.
Foi somente quando Claire falou comigo que eu percebi que havia me
desligado completamente.
— Desculpa, o que disse? — indaguei, desatenta.
— Perguntei se aquele não é o seu namorado. — replicou sorrindo. Ela
levemente inclinou a cabeça para a direita e me virei na direção.
Ao longe, Christopher estava sentado no capô da sua Ranger Vermelha.
Seus braços estavam cruzados enquanto ele me encara como uma águia.
Não aparentava sinais de contentamento, mas também não desmontava
interesse em vir aqui me buscar pelo braço.
Seu cabelo estava emaranhado de um jeito selvagem. Suas roupas eram
casuais, mas nele tinham um aspecto atraente. Existia uma brutalidade no
rosto de Christopher que o deixava sempre mais sensual, principalmente
quando tinha a expressão de quem queria matar alguém. Esperava não ser
eu a vítima.
— Mas que porra.. — Joshua sibilou. — Ele parece a droga de um
narcotraficante.
— Do que que você tá falando? — Loren disse incrédula.
— Ele anda vendo filmes demais ultimamente. — Claire justificou.
— Eu acho melhor eu ir até lá.
— E o que ele quer? — Loren se atentou.
— Quer me levar para sair. Talvez um encontro, eu sei lá. É o
Christopher.
— Você vai?
— Ficou maluca? Papai vai matar me matar.
— Eu digo que você foi para o meu emprego comigo. — deu de ombros.
— O quê? Pensei que estivesse de férias.
— E estou. Mas se eu dissesse ao papai, ele não me deixaria sair no meu
tempo livre.
Oh, que danadinha. Então quer dizer que esse tempo todo ela tinha uma
carta na manga para ir onde quisesse sem dar satisfação. Eu bem que
queria ser mais como ela.
— Não chegue em casa tarde, Dy. — avisou, séria.

Continua no próximo...
Dytto bateu 10 mil seguidores no Instagram dela
O user tanto dela, como o do Christopher, estão marcados na minha bio
do Instagram. O meu IG é autoramariliaandrade
Capítulo 30| Segunda camada

ESTE LIVRO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO


— Eu pensei que não seria capaz de chegar há pelo menos 100 metros de
distância dele, desde que você e eu conversamos outro dia. — ele incitou
frio.
Não conversamos exatamente. Em poucos segundos sua língua estava na
minha boca, e em seguida, estávamos nus em sua cama, então não conta.
Christopher continuava sentado no capô do seu carro, e na altura em que
estava, tornava-se infinitamente mais intimidador. Seus olhos navegaram
bem lentamente por cada fração do meu rosto. Sua face estava sombria e
enigmática.
Continuava sendo estranho vê-lo tão sério.
— Bom dia? — tentei descontrair com um sorriso, mas não funcionou.
Christopher saltou do seu carro.
— Vamos ter outra conversa. — ordenou, dando a volta no automóvel.
Crispei as sobrancelhas.
— Por que está assim? — perguntei ofendida.
Sua mão tocou a maçaneta, no entanto, ele cessou seus movimentos,
olhou para mim e curvou o canto dos lábios, maldoso.
— Porque eu nunca passei tanta vontade em toda a minha vida, querida.
Isso é o que acontece quando você tira de um demônio tudo o que ele mais
quer.— provocou malicioso.
Curvei um pequeno sorriso tímido, que durou apenas um piscar de olhos.
Eu ainda não podia me permitir criar esperanças. Existia a possibilidade
de ele estar apenas me enganando para conseguir o que queria.
— Eu não acho que esteja passando necessidade. — examinei.
— Não? — interrogou, curioso.
Deixei que meu olhar recaísse para os seus pés.
— Eu não sou a única garota que você fica, não é?
Ele se afastou do carro, aproximando-se devagar de onde eu estava.
— Está me perguntando por que quer saber ou por que quer ser a única?
Mordi o labios.
— Os dois... — soltei sem pensar.
O constrangimento tomou conta de todo o meu rosto. Sentia-o queimar
de vergonha.
— Tudo bem eu não ser a única — procurei corrigir o meu erro, mas isso
apenas pareceu servir de munição para um Christopher com o olhar
endiabrado.
— Jura? — caçoou.
— Não é como se eu fosse ter só você na minha vida, também.
Eu devia estar ficando doida.
— Bom, existe algumas outras garotas além de você — refletiu, olhando-
me nos olhos.
Não era isso o que eu desejava ouvir. Meu lábios tremularam em resposta
e meu coração murchou como um balão dentro do peito.
Eu deveria ter mantido a minha boca bem fechada.
— É , eu sei. Ouvi falar das alunas que você paquerava. — fingi
indiferença.
— Elas eram bonitinhas. — deu de ombros.
— Huh rum. — precisei de um segundo antes de dizer qualquer coisa que
não fosse um murmúrio choroso. Aquele nó na garganta estava me
sufocando. — Tenho que ir... — virei o rosto para trás, onde Loren ainda
conversava com seus amigos, que, de vez em quando nos observavam
"disfarçadamente". — Minha irmã está me esperando. Não posso ir com
você.
— Ainda não terminamos de conversar. — ele pontuou.
— Nós já conversamos. Somos solteiros. E cada um deveria fazer o que
bem entende. — esclareci rápido.
Ele passou a língua sobre os lábios, não contendo um sorriso perverso.
— Então não liga se eu trepar com outras? Sabe que eu não vou deixar
você fazer o mesmo, não sabe?
— Não pode me controlar. Se quiser ficar com outras garotas, tudo bem.
Mas não pode mais exigir isso de mim. Fique com quem sentir vontade, eu
não ligo. — não mantive contato visual ao dizer. Estava segurando lágrimas
que nem mesmo deveriam existir ali.
— Nem mesmo se eu estiver com outras, sei lá... cinco ou seis garotas
diferentes?
Meu estômago de revirou. Isso doeu.
— Não é da minha conta a sua vida.
Ele riu baixo.
— Eu sabia que você iria entender. — Christopher sutilmente tocou o
meu queixo. — Adoro como você é tão compressível, amor.
Apenas balbuciei algo ininteligível que deveria ter sido uma afirmação.
— Formamos uma ótima dupla. — continuou, empolgado.
— Claro. — concordei, fervendo de irritação. — Eu vou ter a chance de
perder a minha virgindade com alguém que tenha o tamanho do pau normal
e você continuará realizando as fantasias das garotas que são obcecadas por
você. — decidi.
Queria que ele ao menos sentisse um pouco das horríveis sensações que
eu estava presenciando.
Não havia nada que provocasse mais os homens, do que desmerecer o
pênis deles. Obrigada pelo sábio conselho, Loren, o mérito é todo seu.
— Tem ficado com mais alguém além de mim, Dingo bells? —
formentou, rígido.
— Você saberia. Sempre sabe todos os meus passos, imagino. — retorqui
com tristeza.
— Tem outro cara na jogada ou não? — repetiu mais sério.
— Você sabe que não. — sussurrei. — Eu tenho que ir.
Girei os calcanhares dali, mas antes que eu pudesse dar o primeiro passo,
ele agarrou o meu pescoço.
Senti seus lábios roçarem a ponta da minha orelha e estremeci.
— Sabe que é a única, não sabe? — constatou rouco.
— Sou? — duvidei.
Ele beijou o canto do meu rosto e senti seus lábios sorrirem em minha
pele.
— Não há mais ninguém além de você, Dingo Dingo.
— Algumas alunas pareciam bem interessadas. — pontuei, enciumada.
— Algumas alunas não é você. Não dei oportunidade a nenhuma. Gosto
do que temos. — seu braço entornou a minha cintura com um aperto mais
intensificado. — É muito melhor me enfiar no seu pijama para tocar a sua
boceta, do que uma trepada entediante com qualquer outra.
Me virei para ele.
— Até que eu pare de ser a sua diversão, certo? — salientei, encarando
seus olhos esmeralda.
— Minha Dingo Bells tem tão pouca fé em mim.
Olhei para trás, avistando o enorme Hospital.
— Estou aqui porque trouxe alguém que eu beijei para a UTI. — virei-
me para ele. — Você tem toda a liberdade de fazer o que quiser. Mas me
impede de fazer o mesmo.
Christopher se irritou.
— Quer beijar outros caras?
— Se eu sentir vontade, sim.
— Acho melhor nós sairmos daqui. — se apressou.
— Por que?
— Porque agora eu vou matar o Marcos.
Arregalei os olhos e o segurei pelos ombros.
— Achei que já tivesse feito o bastante. — ralhei.
Ele me olhou desgostoso.
— Tô vendo que não.
— Então tudo bem se você beijar outras pessoas e eu não? — disse
incrédula.
— Porra, Dingo. Eu não beijei ninguém. Por que está tão incomodada
com isso agora?
Me calei.
Naquele instante, sabia que qualquer coisa que eu dissesse poderia acabar
sendo o meu enterro. Odiaria saber que o meu atestado de óbito diria:
Morreu de vergonha.
Ele sorriu, provocador.
— Está apaixonada por mim. — observou.
— Não, não estou. — elevei o tom, enrubescida.
— Oh, querida! Está tão apaixonada por mim que já não sabe mais
disfarçar. — zombou.
Rolei os olhos e tentei me esquivar de seu corpo.
— Você que pensa.
Christopher segurou a minha mão e rodopiou o meu corpo, puxando-me
de volta a ele. Presa em seus braços, fui forçada a encarar aquele rosto
maléfico, cheio de perversão.
— Você é minha. — reforçou, aproximando os lábios dos meus. — E não
vai desejar ser de mais ninguém.
Ele me deu um rápido beijo, se afastou, e olhando sobre a minha cabeça,
sorriu.
— Seus amigos finalmente foram embora. — comentou. — Agora somos
só eu e você.
— E isso quer dizer que...
— Quer dizer que agora eu posso fazer isso sem que você me odeie. —
ele me girou e apoiou o meu torso na lataria do seu carro. Sua mão esquerda
prendeu os meus pulsos e a direita acertou a minha bunda com força.
Soltei um pequeno grito e o encarei aturdida.
— Se disser que quer beijar alguém outra vez, arranco a sua língua.
Ele me soltou e foi em direção a lateral do passageiro, abriu a porta e
esperou ao lado.
— Não sou um cavalheiro, amor. Sou quem manda em você. — Com a
mão, ele apontou para o banco. — Agora entra no carro.
Fui rápida ao obedecê-lo. Ele não estava para brincadeiras ou outras
provocações de minha parte. E, por mais que já não parecesse mais, eu
ainda me importava com a minha vida.

Christopher estava sentado à minha frente, em uma poltrona, apenas de
calça jeans, me encarando sério.
As suas pernas estavam arreganhadas, enquanto que o corpo inteiro
mantinha-se relaxado.
Ele levou o cigarro aos lábios e deu mais uma tragada, passeando os
olhos por todo o meu corpo.
Eu estava estática, sentada sobre as minhas pernas, em um canto do sofá
de sua sala. Ele me trouxe para cá sem mais nem menos, apenas por trazer.
Pelo visto, ele não sabia o conceito de se conhecer, pois a mensagem que
ele transmitia era que deveríamos ficar nos encarando até que chegássemos
a beira da insanidade ou algo assim.
— Quer... assistir a um filme? — perguntei baixo, a voz ameaçando
sumir ao terminar a frase.
Ele negou em um balançar de cabeça.
Encarei as minhas mãos sobre as coxas e inspirei fundo.
— Acho que tem um filme legal para assistirmos. Eu acho que é sobre
um casal que vai para uma ilha e...
— Está com fome? — Chris me interrompeu.
Ergui os olhos para ele.
— Ahn. Não. Eu acho que não.
Christopher apagou o seu cigarro no cinzeiro sobre o móvel ao seu lado e
se levantou de sua poltrona, caminhando em minha direção.
O garoto alto, tatuado e forte ofereceu a mão para mim.
— Venha.
Mordi o lábio inferior, e, sem pressa, levei a minha mão até a sua.
Ele me puxou para ficar de pé e me equilibrou, até que eu pudesse estar
firmada no chão.
Christopher abaixou o seu rosto, até estar próximo ao meu. Senti o cheiro
forte de nicotina e fumaça entranhada a ele e prendi a respiração. Esse
cheiro me deixava enjoada.
Ele aproximou seus lábios dos meus e os tocou pela primeira vez desde
que chegamos.
Christopher envolveu seus braços ao redor da minha cintura.
Lentamente seu beijo progrediu para algo mais intenso, porém, durou
pouco. Assim que eu tentei alcançar ainda mais dele, Christopher se
afastou.
— Suas coisas estão no balcão. Tem alguma roupa? — ele quis saber.
— Não. Só levo uma escova de dentes e uma calcinha de emergência
para todos os cantos, mas só tenho essa roupa — apontei para o meu corpo.
— É melhor não usar calcinha.
— Elas são confortáveis.
— A minha língua é mais — provocou, cínico.
Arregalei os olhos. No entanto, sem dar-me tempo para uma reação
maior, ele saiu em direção a cozinha.
O segui, mantendo alguns passos de distância. Christopher ainda me dava
medo, e eu ainda tinha certo receio de suas próximas ações, então sempre
tentava manter um pouco de distância, apenas para o caso dele virar um
lobo ou algo mais estranho. Afinal, ele entrou pelo meu quarto sendo um
demônio, sabe se lá o que mais ele poderia virar se quisesse.
Tomei minha bolsa do balcão e a puxei sem gentileza, ela deslizou no
mármore caiu. Tudo dentro dela surfou para fora.
Droga de zíper quebrado.
Christopher pôs suas mãos na cintura e balançou a cabeça.
— Só vou te ajudar porque você é gatinha, mas caso contrário, eu só me
sentaria aqui e ficaria rindo de você.
Tentei não rir, mas fracassei. Agaixei-me no chão e comecei a pegar
todos os meus lápis deixados de fora da lapiseira, que, agora, estavam
espalhados por toda a cozinha de Christopher.
— O que é isso? — ele perguntou, erguendo o meu caderno de desenhos
do chão, bem na página onde a minha última pintura fora deixada.
O pato, barra cachorro, barra cavalo, barra sapo.
— Não é nada.
— Isso é um pato?
— Ééé — berrei como um cabrito, tão contente por alguém finalmente
ter acertado.
Sorri orgulhosa e ergui os braços para o alto.
— Tá vendo, nem todos são tapados. — murmurei sozinha.
Christopher fez uma expressão estranha, porém, pelo jeito que me
encarava, aposto que não queria nem mesmo descobrir do que eu estava
falando.
— Dingo Bells, Dingo Bells... — cantarolou, risonho.
— Eu não sou doida. — intervi.
Ele sorriu, terminando de recolher tudo.
Christopher se levantou do chão e enfiou tudo dentro da minha mochila,
ergui os meus joelhos do chão e fiz o mesmo seguidamente.
Ele abriu os outros zíperes da bolsa, bisbilhotando cada um deles, até
parar em um em específico e enfiar a mão.
De lá, ele retirou a minha calcinha reserva e a enfiou no seu bolso.
— Chris, não. É a minha calcinha de emergência. — A peguei, mas ele
fora mais rápido e a roubou de volta, apenas para enfiar dentro de sua
cueca.
O olhei em choque.
— Christopher. — repreendi o gesto.
— Pegue — desafiou, brincalhão.
Semicerrei os olhos.
— Eu vou pegar. — ameacei.
— Oras, então pegue.
— Chris...
— Dingo...
Apertei os olhos uma última vez antes de tomar partido e enfiar a mão
dentro de sua calça.
Christopher sorriu sacana ao sentir minha mão se esbarrar em seu
membro.
— Isso, amor, vai fundo — gemeu rouco, em tom de divertimento — Vai,
garota.
Ele segurou o meu braço, não deixando que eu o movesse para fora de
sua roupa, ainda encenando gemidos que tornavam-se cada vez mais altos.
— Isso, Dingo.
— Christopher, pare — pedi, rindo.
Ele revirou os olhos, sorrindo, e soltou o meu braço; o tirei de lá
segurando — agora — a minha calcinha desonrada.
— Vou adorar saber que estará vestida em uma calcinha feia em que eu
esfreguei no meu pau.

Ele jogou uma piscadela para mim e deu-me as costas.


— Para onde vai? — investiguei.
— Banho. — ele andou até a porta do seu quarto e virou-se — Quer vir
junto, querida?
— Prefiro banhos sozinha.
Ele umedeceu os lábios e deixou que o seu rosto caísse para o lado.
— É uma pena. Pensei que quisesse me conhecer melhor.
— Não lembro de nenhum ditado que diga que banhar juntos nos faça
termos uma relação melhor.
— "Banho tomado, saúde dobrada".
— Vá logo, Christopher. Ainda temos muito o que conversar. — ignorei-
o e voltei para a sala.

P
ela primeira vez — sem razões obscenas, nos deitamos em sua cama,
lado a lado. Christopher estava apenas de bermuda e sua pele ainda estava
úmida em razão de seu recém banho tomado.
Levei a mão ao seu abdômen rígido e deslizei a ponta dos dedos
devagarinho, sentindo com atenção cada detalhe e textura do seu corpo.
Contornando todas as suas belas tatuagens escuras espalhadas em sua pele.
Estagnei ao aproximar-me do seu "666", por alguma razão, tinha receio
em tocá-lo, como se, de algum modo, fosse me ferir.
Me ajeitei de barriga para baixo e o encarei diretamente enquanto ainda o
tocava.
— Nos meus "sonhos", sua pele é gelada. Por quê?
Ele juntou as sobrancelhas, sério.
Christopher não parecia ter muito interesse em tocar neste assunto em
particular. Isso parecia afetá-lo a ponto de sentir seus músculos ficarem
rígidos sob meus dedos.
— Isso é culpa do meu outro eu.
— Isso é ruim? Digo, estar no seu outro eu? Você tem controle dele ou...
— Eu sou sempre eu, mas com desejos inimagináveis sobre você em
minha outra.... Camada.
Deslizei os olhos pelo seu corpo, ruminando suas palavras em minha
mente, para enfim, perguntar o que mais perturbou durante todo esse tempo.
— Chris... Por que você é assim?
Seus dedos deslizaram calmamente sobre as minhas bochechas até
alcançarem meu maxilar, e então, alcançar o meu pescoço.
— Sou metade humano. Metade demônio. Entende?
— Seus pais, eles....
— Não importa. — cortou.
— Não vai me dizer?
— Dingo... — ele soltou o ar pela boca, incomodado — Apenas esqueça
essa parte de mim.
— Você está em cada parte do meu corpo, todos os dias, todo o tempo.
Quando nós estamos pertos, eu me sinto presa a você.
Curvei um sorriso triste.
— Meus pensamentos em relação ao que temos me domina. Eu me sinto
cada vez mais obcecada pela sua presença. Não acha que mereço uma
explicação? Você e eu sabemos que isso não é normal.
Christopher fechou os olhos.
— Eu só preciso entender. — insisti.
— E o que precisa entender? — sua voz era densa e pesada, ao passo que
me olhava sem paciência.
— O que te fez ir me visitar? Por que todos me dizem para ter medo de
você?
— Eu já disse todas as minhas razões a você.
— Mas isso não me diz nada sobre você. — protestei. — Quero saber
quem é você!
— Por que só dá importância a isso quando se trata dos outros? Até
pouco tempo estava satisfeita em ter meus dedos em você.
— Porque você me tira a razão, Chris. É por isso que eu sempre me perco
perto de você. Eu não devia, e você sabe disso.
— Pare de se deixar levar pela opinião das outras pessoss. Somos eu e
você. E isso é o suficiente.
— Não para mim.
Christopher se ergue sobre os cotovelos e se senta na cama.
— É difícil lidar com a sua teimosia em saber algo que não lhe diz
respeito. Não faço parte do seu mundo e não precisa saber mais que isso.
— Está me mandando calar a boca e me contentar com o que tenho sobre
você? — me irritei.
— Está caçando meios para o seu próprio fim.
Me ajoelhei no colchão.
— Vai me matar se eu investigar você?
— Sabe porque ninguém sabe nada sobre a minha vida, Dingo? — ele
baixou o tom de voz. — Porque se soubessem, estariam perdidos ao
perceberem que não vivem no mundo em que pensam.
Ele segurou a minha mão.
— Não sou apenas um demônio. Eu tenho um propósito maior que não
cabe a você meter o nariz.
Puxei meu braço e abracei o meu corpo.
— Se não cabe a mim, não deveria ter me metido nisso. — rosnei, e pulei
para fora da cama.
Saí com passos pesados do seu quarto. Ouvi-o me seguir, mas não parei
para lhe dar satisfação do que fazia.
Se ele não podia me dizer quem era, eu não devia respostas a ele.
Era um jogo injusto, onde ele jogava com todas as peças e eu apenas o
via brincar com a minha vida e os que viviam a minha volta. Para ele, eu
não passava de um fantoche.
— O que está fazendo? — Chris exigia uma resposta.
— Não importa.
Ele soltou um riso áspero e curto.
— Quer ver o que tanto escondo, então? — intimidou. — Então me olhe,
querida. — ditou ameaçador.
Virei o corpo para trás e imediatamente me arrependi de tê-lo feito.
Suas pupilas estavam dilatadas e enormes, vestindo todo o verde de seus
olhos. Sua pele era acinzentada e marcada por linhas negras, como veias
demarcando todo o seu rosto. Debaixo dos seus olhos, sua cor pintava-se de
tons arroxeados, dando profundidade aquela máscara demoníaca a qual eu
via.
Em seu peitoral, haviam marcas vermelhas, que mais se pareciam como
rachaduras sangrentas em um vaso. Seu corpo era traçado por estranhas
texturas. Tudo nele era grosseiro e irregular.
Meu corpo se impulsionou para trás em resposta. Arregalei os olhos,
assustada.
— Eu vou sempre te proteger. Mas não ouse me provocar demais. Tem
coisas que vão além da sua capacidade de entender, me ouviu? — sua voz
era carregada e soturna.
Não me parecia o Christopher de sempre. Agora ele era assustador e me
causava calafrios.
Abracei o meu corpo, eu estava oscilante e zonza. Prestes a desmaiar
com a imagem mais horripilante que já vira em toda a minha vida.
Ao notar isso, ele ergueu as sobrancelhas e naturalmente seu rosto voltou
ao normal, dispersando as partes estranhas.
Solucei baixo quando ele se aproxima e fechei os olhos.
— Me desculpe — murmurou arrependido.
Tentei me afastar, mas Christopher fora mais rápido e me segurou em
seus braços, me enrolando em um abraço apertado.
— Eu sinto muito.

Meu IG: autoramariliaandrade
Fala o que quer, ouve o que não quer 😐
Teriam medo se vissem um Chris na versão demônio na frente de vocês?
Capítulo 31| Árvore genealógica

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO


Não dêem spoilers, não façam menções a spoilers. Os personagens que
irão aparecer para vocês, também irão aparecer para todos, então sem
suspense, para não acabar com a surpresa dos novatos.

8 de abril - Segunda feira

Dytto está quieta. Quieta demais.


Hoje minha tarefa era a levar para a escola. Surpreendentemente, com a
permissão de sua mãe. Precisei apenas insistir um pouco mais do que um
ser humano comum normalmente pediria, e ela cedeu — por pura vontade
minha.
Dytto estava com a cabeça apoiada no vidro do carro, abraçando o
próprio corpo. Os olhos distantes e pensativos, mantiveram-se presos ao
asfalto, como se viajassem para outras dimensões. Parecia existir tantos
pensamentos difusos em sua mente que a curiosidade me corroía em
descobrí-los.
No entanto, permaneci concentrado em dirigir.
Claramente não me incomodaria em passar o dia inteiro preso a ela, e me
fode a cabeça saber que ela passaria o resto do dia na escola, cercada de
garotos que não perderiam a chance de cobiçá-la, principalmente o Luc.
Tentei não pensar nisso. Despertar meus demônios justo quando estava
com Dytto, não terminaria bem. Esse mal dentro de mim a consumiria por
completo, causando-lhe a sua morte.
E era por este motivo, que ela ainda se mostrava tão tensa. Ontem lhe
mostrei o pior de mim, e vi o horror gritando em seus olhos. Não poderia
cometê-lo novamente.
Pouco tempo depois, notei que ela havia adormecido e toquei de leve a
sua perna. Dytto imediatamente despertou, olhando-me sobressaltada.
— Te assustei?
Ela lambeu os lábios, parecendo atordoada. As pálpebras inchadas e os
olhos avermelhados denunciavam a noite pouco dormida.
— Desculpe! Só estou com... — ela suspirou baixo e diminui
gradualmente o seu tom de voz — sono.
— Não dormiu bem?
— Bom, dormi, no pouco tempo em que você deixou.
Sorri em razão das lembranças da noite passada invadindo a minha mente
maligna.
Eu sabia que pedir desculpas não resolveria o problema, então a fiz
esquecer dele usando uma técnica um tanto quanto corrupta.
•••
Meus olhos brilhavam ao vagarem por todo o seu corpo nu. O rosto
ligeiramente adormecido se expunha entre as madeixas castanhas
espalhadas pelo colchão.
Eu já havia arrancado as suas roupas. Estava desesperado por ela.
Ela vagava entre um meio termo de estar consciente e inconsciente, mas
a sentia implorar para que eu lhe desse um fim àquele agonizante desejo
desesperador em seu ponto mais íntimo. Minha garota queria que eu a
tocasse de todas as formas. Seu subconsciente implorava por mim.
Toquei a sua barriga e explorei cada parte de sua pele macia, descendo
até às coxas e subindo pelas laterais. Ela estremeceu e apertou as suas
coxas, fazendo pressão em sua intimidade. Fiz questão de enfiar a mão
entre elas para tocar a sua virilha.
Seu corpo vibrou em excitação.
Separei as suas pernas, encaixando-me perfeitamente entre elas. Meu
corpo debruçou sobre o seu e a entreguei beijos apaixonados por cada
centímetro do seu corpo, adorando-a por completo.
Naquele momento, parte dela já havia despertado completamente.
Suguei os seus lindos seios e ela gemeu baixo, os enfiei completamente
em minha boca e os deixei se envolver em minha língua. Seus dedos
apertaram o meu braço e ela deixou escapar um suspiro dolorosamente
sensual.
Ergui os olhos para ela, sem conter um sorriso malicioso. Ela não podia
me enxergar, mas eu a via claramente, e a expressão de prazer em seu
rosto, ora.... Foi a coisa mais perfeita.
O doce som de sua voz gemendo manhosa, deixava-me louco por ela.
— Seu corpo sabe a quem pertence, por isso, eu só preciso te tocar para
você ser minha. — ao me ouvir, seus lábios se entreabriram e sua
respiração tornou-se ofegante.
Um arrepio atravessou o seu corpo quando deslizei a minha língua sobre
a sua barriga, descendo até o meio de suas pernas, alçando o seu clitóris.
Levantei as suas pernas sobre meus ombros e agarrei os meus quadris,
impulsionando sua intimidade em meu rosto, a chupando com desejo.
Coloquei o seu pequeno ponto de prazer na língua e o saboreei como se
nada mais no universo importasse.
A chupei com força, devagar, rápido e lento. Aproveitei de sua boceta a
noite inteira, de todas as formas. Ela já estava encharcada, mas ainda
gemia gostoso pra mim.
Deliciei do seu gosto incrível na minha boca. Aquele, afinal, era o meu
paraíso.
Ela agonizava em prazer na sua cama, arqueando as costas e enfiando
as unhas nos lençóis, e as vezes arranhava o meu pescoço, puxava o meu
cabelo e se esfregava mais no meu rosto.
Eu adorava quando ela rebolava na minha cara.
— Chris... Chris... — gemia sem parar.
Oh, querida. Continue. É tão extraordinário ouví-la gemer o meu nome.
•••
— Da próxima vez, me lembre que não posso passar a noite inteira
chupando você.
Suas bochechas coraram e ela sorriu tímida.
— Não o lembrarei.
Desta vez, fui eu quem sorriu.
— Então teremos que guardar um momento do dia para que durma, não
quero que adoeça.
Ela mordeu os lábios e encarou as mãos sobre as pernas.
— Meu corpo está cheio de chupões seus — sussurrou.
— Vai ter o que se lembrar quando se olhar nua novamente — comentei,
despreocupado.
Seu rosto inteiro enrubesceu.
— Na verdade, eu não estava tão acordada assim. Em algum momento eu
apaguei. — confessou, envergonhada.
— Eu sei. — a respondi. — Mas continuou gemendo mesmo assim.
Ela abriu um sorriso nostálgico.
— Será trágico se alguém tiver escutado.
— Você infelizmente é muito discreta. Bem que eu queria ter acordado a
casa inteira com a sua boceta na minha cara.
Seu rosto tingiu-se de vermelho, mas ela fez um grande esforço para
fingir-se indiferente. Percebi que ela não gostava de parecer tão tímida com
esses assuntos, mesmo que fosse tão inexperiente.
Ela queria mostrar-se diferente e ousada para mim, mas gostava de vê-la
sendo tão vulnerável e ingênua daquele jeito.
De certo modo, sua pureza era algo intrigante. Talvez, por eu ter vivido
tempo demais em meio a sujeira. Estava claro que Dytto havia começado a
sua vida sexual comigo. E, bem, eu pretendia a desvirtuar de todos os jeitos,
em todos os seus orifícios, e em todos os planos astrais que eu pudesse a
levar.
Ela cruzou as pernas e jogou o corpo para trás, aconchegando-se
confortavelmente ao banco.
— "Meu ficante é um demônio sexual". Eu poderia facilmente encontrar
um filme assim na internet — refletiu.
— Não sou seu ficante. — ela me olhou curiosa — Eu sou seu namorado.
— protestei.
Ela riu baixinho.
— Namorado então. — concordou retida, escondendo a exorbitante
animação que crescia no eu interior.
Era excitante vê-la feliz quando eu a tratava como minha namorada.
— E outra... — acrescentei.
Inclinei o tronco um pouco mais em sua direção, de modo que fosse
contar-lhe um segredo.
— Não sou um demônio sexual, Dingo.
— Você me disse...
— Para você eu sou um demônio sexual, e apenas para você, porque te
dou prazeres sexuais. Para outros, eu sou só um meio humano, meio
demônio. Uma aberração. Fruto de relações entre uma mulher e uma
criatura do inferno. É isso o que sou.
Senti seu olhar surpreso sobre mim, mas não o devolvi. Provável que será
ainda pior encará-la após essa drástica revelação.
Um pé em falso e Dingo surta de vez.
O pouco que lhe mostrei sobre a minha aparência demoníaca já havia a
feito chorar, o que, por consequência, precisou levar uma manhã inteira
para lhe acalmar em meus braços até que ela se sentisse bem comigo
novamente.
Com ela, eu estava sempre por um fio, que, se por acaso arrebentasse,
poderia a sucumbir a loucura. Era por está razão que eu a escondia tantos
segredos.
Se eu lhe contasse apenas duas coisas de ruins que já fiz, ela
provavelmente choraria até o fim de sua vida.
— Você já viu... o seu pai? — indagou apreensiva.
Ergui o olhar sobre ela.
— É claro.
Era uma pergunta meio óbvia para mim.
Ela juntou as pernas em cima do banco e envolveu os seus braços ao
redor delas.
— Tem raiva da sua mãe por isso? — murmurou, insegura.
Soltei o ar com força e batuquei o volante com as pontas dos dedos.
Não gostava quando a conversa começava a andar por esse rumo.
Preferia que ela perguntasse qual era a minha banda favorita ou sei lá,
mesmo que eu odiasse todas elas.
— Teria raiva se fosse você? — devolvi a pergunta, desta vez, olhando-a
no fundo dos olhos.
Ela estremeceu com a obscuridade em meu olhar, o que me fez lembrar
que tinha de ser mais gentil com ela.
Desviei minha atenção para frente.
— Eu acho... Acho que eu teria um pouco de raiva, sim. — revelou
baixo.
Soltei uma risada ríspida.
— Então obviamente não pensamos igual.
De soslaio, percebi que ela se inclinou um pouco mais para frente.
— Gosta de ter nascido assim?
— Você pergunta demais, Dingo Bells. — resmunguei e a escutei rir.
Assim que chegamos no estacionamento de sua escola, desci do carro e
dei a volta para abrir o carro para ela.
Ela saiu meio desajeitada, arrumando a alça da mochila sobre o ombro
que insistia em escorregar.
— Obrigada pela carona.
Seus olhos se prenderam aos meus, de um jeito que me tiraram o fôlego e
o juízo. A magnitude a qual eles me pretendia era imensurável e sem
limites. Eu estava louco por aquela menina.
Porra...
Sem me conter, envolvi minhas mãos em seus cabelos e agarrei os seus
lábios com desespero. Não sabia o que está fazendo, apenas agi.
Envolvi sua cintura com o meu braço e a puxei para mim. Ergui os seus
pés do chão e a segurei como se dependesse disso para respirar.
Dytto gemeu e descansou suas mãos em meu pescoço.
Enfiei minha língua em sua boca, experimentando tudo o que ela podia
me oferecer.
Me envolvi tão profundamente a ela que esqueci o tempo passar a nossa
volta.
Me sentia cada vez mais insaciado por ela. Sempre precisava de mais e
mais...
Quando me afastei, seu rosto estava vermelho e os lábios inchados.
Ela ofegou suave e sorriu para mim, meu coração disparou forte no peito.
Levei minha mão ao seu rosto e o contorno gentilmente.
Ela era tudo o que eu mais precisava, mas também, tudo o que eu mais
tinha receio em quebrar. Tão frágil e doce.
Pela primeira vez na vida, eu senti medo de destruir alguém. Pela
primeira vez, eu havia sentido medo. Aquilo era assustador.
— Te vejo depois — avisei, a devolvendo para o chão.
Todos em volta nos olhavam curiosas. Sentia o despeito de várias garotas
quanto a Dingo Bells. Por um segundo, desejei quebrar o pescoço de todas
elas, mas eram corpos demais, e eu não queria chamar a atenção.
Dytto se pôs na ponta dos pés e depositou um beijo suave em minha
bochecha.
— Você está cheio de arranhões — notou, fazendo-me rir.
A culpa era toda dessa mocinha selvagem.
Dytto baixou acidentalmente o olhar para a braguilha da minha calça e
corou até o último fio de cabelo. Ela tentou disfarçar olhando para os lados
e mexendo no cabelo, todavia, isso só me fez ter vontade de gargalhar.
— Não fique constrangida, meu pau está duro assim por sua causa.
Ela me encarou com os olhos arregalados.
— Assim que eu te foder pela primeira vez, você não vai mais precisar
me ver passando vontade em um estacionamento de escola. Vamos fazer
isso o tempo todo, e vai ser uma puta de uma visão deliciosa te ver gozando
em cima do meu pau, senhorita Bell.
Ela respirou fundo e sua respiração soou entrecortada.
— Acho que ainda vou ter mais uns bons dias sentindo você duro até
finalmente deixar você satisfeito, senhor meio demônio.
Joguei a cabeça para o lado.
Que danada!
— Você está mexendo com coisas perigosas, Dingo.
Ela engoliu em seco.
— Perigoso mesmo é você colocar esse seu.... — ela franziu o cenho,
procurando por um termo apropriado — poste, dentro de mim.
Ri alto disso e deitei a cabeça em seu ombro, enfiando-me em seu
pescoço.
— É, querida. Mas você aguenta.
— Talvez uma parte — ela sussurrou.
Afastei o meu rosto para olhá-la nos olhos.
— Acha que vai me satisfazer deixando só uma parte entrar em você? —
fiz careta. — Eu quero meter nessa sua boceta todinha.
Seu rosto estava tão vermelho que tinha medo de que ela estivesse
realmente passando mal.
Deslizei os dedos sobre seus lábios e suspirei.
— Na sua primeira vez, eu deixo você escolher até onde quiser ir. Mas,
depois, você vai ter que aguentar, meu amor.
Ela balançou a cabeça e tirou o meu dedo de seus lábios.
— Prefiro morrer virgem.
Dytto me deu as costas, marchando com passos rápidos para dentro da
escola.
Ri de sua reação e me encostei no carro, mantendo os olhos presos a ela,
balançando a sua bundinha arrebitada de um jeito sexy e descontraído.
Puta merda de garota gostosa.
Me mexi apenas quando ela sumiu de vista. Tendo a certeza de que ela já
estava segura dentro dos muros do colégio.
Agora Loren assumiria a responsabilidade daqui em diante. Pelo menos
nisso, eu confiava nela.
Para manter Dytto longe de garotos e brigas, a maluca se meteria em
porradaria.
Agora é hora de resolver alguns assuntos pendentes.

Ao adentrar a mansão da real família Tanaka, revestida em pedras,
mortes e segredos, Demétrius, o meu segundo irmão a nascer, surgiu em
minha frente, segurando um livro de Kama Sutra.
Ele era o que podemos chamar de galinha. Não estava nem aí para
ninguém e vivia trocando de parceiros sexuais.
Um dia estava com uma mulher, no outro com um cara, e no dia seguinte
está com um cara e uma mulher.
— Cadê ele? — interroguei, evitando olhar para a sua roupa pintada de
respingos de sangue e me questionar que porra ele anda fazendo.
— Bom te ver irmão — ironizou — Está com a Samantha. Marcelia
deixou ele aqui mais cedo, disse que vai viajar com urgência.
— Por que merda ela não me avisa nada antes?
Ele balançou os ombros.
Demétrius nunca estava nem aí para nada. A vida era somente uma longa
e entediante diversão para ele.
O seu corpo era marcado por tantas tatuagens que mal era possível ver
sua pele, algo que tínhamos em comum.
Seu rosto possuia traços asiáticos ainda mais presentes que os meus. Ele
era o irmão que havia o mais próximo do sangue de nossos antepassados. O
resto de nós, éramos mestiços de linhagens completamente diferentes. A
minha por exemplo, vinha diretamente do inferno.
5 filhos, 5 pais diferentes. Mamãe era uma mulher excêntrica que gostava
de foder com caras ainda mais excêntricos.
Demétrius e eu tínhamos quase a mesma altura, mas, ainda assim, eu
conseguia ser o mais alto de todos os meus quatro irmãos, possuindo 2
metros e 8 centímetros.
O meu tamanho fora motivo de vários olhares estranhos durante toda a
minha vida. No entanto, com o tempo, acabei me acostumando. A parte
boa, era que nenhum fodido tinha coragem o bastante para me enfrentar ou
fazer brincadeiras.
— Já tem um tempo que você não tem vindo. Ainda andando com a sua
turminha satânica? — comentou, num tom grave e gélido.
Revirei os olhos e desviei dele.
Ele era sempre assim. Desconfiado e intrometido.
Segui o som baixo de conversas entre os longos corredores escuros e
largos da casa, até alcançar a sala de músicas, onde Leví, o penúltimo irmão
a nascer, estava sentado em frente ao seu piano, jogando conversa fora com
Amara, a mais velha de todos nós.
Em uma ordem mais simples de se entender, a Amara foi a primeira a
nascer, filha de um romance proibido com um empresário casado.
Demétrius, o segundo filho a nascer, fruto de uma noite de sexo entre
nossa querida e ordinária mãe, com um turista coreano.
Logo depois, vem Samantha, cujo, nasceu de um namorico qualquer com
um músico.
Mais adiante, vem o Leví, o filho prodígio da família. Filho de um
bilionário indiano metido a besta, contudo, ao menos, o filho nasceu com a
noção que o seu pai não tem.
E, por último, vem a mim, fruto de uma obsessão de mamãe por um
demônio, o qual, a própria o invocou. Sou o mais horripilante de todos eles,
meros humanos mortais, idiotas e irritantes irmãos.
Nossa mãe, Naomi, vem de uma longa linhagem de honrados e nobres
ricos da sociedade, ou, adiantando a árvore genealógica, viemos da família
Tanaka, a tão famosa família que descobriu Nabrya, a ilha em que vivemos,
o que nos deixou um grande legado a prosseguir.
Imbecis.
— Cadê ele? — fui curto e breve ao chegar diante da entrada, tinha mais
o que fazer, e o dia de visitar toda a família já havia sido feito no ano
passado.
Os dois pararam de conversar e se voltaeam para mim.
— Olá, irmão — Levi cumprimentou, gentil.
Levei minha atenção para Amara, a qual melhor aturo.
— Quarto de Samantha — respondeu entediada.
Custava tanto assim alguém me responder?
Saí dali em passos largos, a caminho do quarto da princesa da casa.
Samantha desde pequena teve os seus mimos por todos que a visitavam.
Todos se encantavam pela doce voz, os lindos olhos cor de mel, os cabelos
longos e cheios de onda, como se acabassem de sair do mar, a pele
chocolate e os lábios carnudos.
Ao menos, com os olhos de todos postos sobre ela, o resto de nós
conseguia ter uma vida um pouco mais normal, mas, depois de um tempo,
passamos a ser invisíveis, tentando a todo custo se esconder das mídias e
dos boatos espalhados em nome de nossa família.
Hoje em dia, poucos sabem que somos todos irmãos, alguns sequer
sabem da existência de nós, outros apenas desconfiam.
É melhor assim.
Abri a porta do quarto, sem dar-me ao trabalho de bater. Tão logo avistei
Samantha sentada em sua cama com o pequeno rapaz em seu colo.
Ela cantava uma suave música de ninar que me dava enjôos, enquanto ele
a encarava como se quisesse degolar a sua garganta.
Esse é o meu garoto.
E então, por último, terminando a nossa geração, existe o pequeno Asafe.
O meu filho.

Sei nem se eu pergunto o que vocês acharam, mas se acharam ruim,
fiquem quietos
Postei uma ilustração do Christopher e seu antebraço de fora no twitter
alguns dias atrás, o user é autoramarilia
Meu Instagram: autoramariliaandrade
Capítulo 32| Asafe

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



Da entrada do cômodo, frizei as sobrancelhas e cruzei os braços no peito.
— Para onde a porra da Marcelia foi? — questionei, rígido.
Samantha suspirou alto e deslizou o seu corpo alto e magro da cama.
Asafe, que antes estava em seu colo, sentou-se no colchão assim que
ouviu a minha voz. Os enormes olhos verdes rapidamente passearam pelo
quarto em minha busca. Ao me encontrarem, ele se abriu num enorme
sorriso, animado.
As madeixas negras estavam bagunçadas para todos os lados. Ele odiava
que mexessem em seu cabelo. Para falar a verdade, ele odiava muita coisa e
muita gente.
Asafe se parecia cada vez maior em todas as vezes em que nos víamos.
Apesar de ter apenas dois anos, já poderia facilmente ser confundido com
uma criança de quatro ou cinco. Era genético sermos tão altos.
— Papai! — comemorou e ergueu os dois bracinhos para o alto, exigindo
o meu colo.
Parte da minha carranca se desfez no instante em que vi os seus olhos
brilharem para mim.
Caminhei até ele onde estava e o tomei em meus braços. O seu cheiro
infantil me inundou. As não era como as outras crianças, possuia um aroma
único. Mesmo que tão inocente, havia a essência do que era ser o meu filho.
Um misto de terror e ingenuidade.
Asafe deitou a cabeça em meu ombro e dei-lhe um beijo demorado na
nuca.
Sentia falta quando não o via, apesar de termos uma grande frequência de
visitas. As únicas vezes em que eu não conseguia o visitar, era por motivos
de viagens ou imprevistos ainda maiores. Fora isso, a todo momento eu lhe
observava e procurava saber dele.
Ele suspirou baixinho, parecia com sono, mas se recusava a dormir com
qualquer pessoa que não fosse comigo ou com a sua tia Marcelia; mesmo
que também não gostasse muito dela.
— Ela não avisou, mas acho que foi algum imprevisto no emprego dela.
— Samantha esclareceu.
— E ela não poderia ter me mandado mensagem um pouco antes? Porra,
concordamos em cuidar dele juntos, e não quando ela tem vontade. Já é a
terceira vez que ela não me avisa essa semana. Ela não pode simplesmente
trazer ele para cá sem mais nem menos. Ele é minha responsabilidade. —
retruquei, rude.
— Eu não sei, Chris. Talvez não tenha dado tempo. Por que está sempre
tão irritado com todo mundo?
Balancei a cabeça, incrédulo.
Como é que ela poderia fazer uma pergunta dessas a esta hora? Tudo
isso já não era motivo o suficiente?
Asafe colocou a sua mãozinha em meu queixo, acariciando-o. Ele
discretamente pediu pela minha atenção enquanto eu gritava aos quatro
cantos.
Sabia que ele estava com saudades. então afaguei as suas costas e o
apertei em meus braços, para que ele soubesse que eu ainda estava ali com
ele.
— Ele sente falta de morar com você — Samantha comentou, com os
olhos cor-de-mel presos em nós dois.
Beijei a nuca do meu filho e inspirei fundo.
Eu também sentia falta de tê-lo todos os dias comigo.
— Estou perto de levá-lo para morar comigo, mas, agora não, ainda não.
Tenho muita coisa para resolver.
Ela sorriu, triste.
Ainda precisava resolver parte da minha vida, e em maioria, negócios
inacabados. As exigia uma demanda de atenção muito maior do que eu
poderia lhe dar naquele momento.
Asafe tinha sorte em me ter como pai, porque o meu, abusava da minha
inexistente paciência com os meus deveres e cargos.
— Amara contou que você tem andado mais distante que o normal
ultimamente.
Revirei os olhos.
— Que bela merda! — zombei.
Amara era a porta-voz da família. Era por ela que eles sempre sabiam
notícias sobre mim. Garota enxerida.
Sam fez cara feia. Ela reprovava todas as minhas atitudes.
Digamos que ela era a certinha da família, apesar de não ser lá uma santa.
Afinal, ninguém da nossa família era.
Todos nós tínhamos as mãos sujas de sangue e uma significativa parcela
de culpa em muita das coisas que acontecia em nossa ilha Nabrya.
Nossa fortuna certamente não surgia do nada em nossas contas.
— Já estou indo. E mande a filha da puta da Marcelia me ligar. Ela não
me atende mais.
— Tem certeza? Não quer ficar um pouco? — sugeriu, simpática.
Ela era tão hospitaleira e gentil que me revirava os órgãos.
Não me dei o trabalho de responder. Eu só tinha um pau grande, mas não
saco para as coisas.
Peguei a mochila de Asafe em cima do armário e saí com passadas
largas.
Desci as escadas devagar para não deixá-lo agitado em meu colo. Devia
ser uma merda ser sacudido desse jeito.
Asafe não se contentou em apenas tocar o meu rosto, ele também tentava
me machucar apertando as minhas bochechas com as unhas.
Normalmente, ele era carinhoso, mas só até certo ponto. Existia uma
fomentação que crescia e o atentava até que ele agisse como sua natureza
exigia.
— Você é mesmo uma pestinha, não é? — sussurrei, afastando sua unhas
cravadas na minha pele.
Achando aquilo divertido, ele soltou uma gargalhada engraçada de
criança.
Asafe não possuia senso sobre o que era certo e o que era errado. Haviam
partes demoníacas dentro dele que não entendiam os limites humanos. Por
isso, eu tomava todo o cuidado ao lidar com as suas ações. Ele iria aprender
a se comportar, mas ainda não entendia a razão disso tudo.
Tudo em seu cérebro de demônio era muito confuso.
Meu filho era como qualquer outra criança, pois havia nascido de uma
mulher humana. Ele detinha as mesmas características, formas e estrutura
de um garoto de sua época de vida. No entanto, assim como eu, As também
se transformava. E isso ainda lhe era fora de controle.
Ele ergueu a cabeça de meu ombro e me olhou curioso, analisando cada
parte da minha face.
O rostinho angelical não passava de uma doce ilusão de criança delicada,
quando, na verdade, ele era o completo oposto.
Ainda tinha que receber ligações de sua tia Marcelia, aos prantos, com
medo do próprio sobrinho e das coisas esquisitas que ele fazia.
Esse garoto me enche de orgulho.
Asafe abriu um largo sorriso, revelando todos os seus novos dentinhos.
As bochechas coradas e os olhinhos alegres.
Ao menos, de mim, ele gosta.
— Por que você tem cara de quem está doido para me atazanar, huh?
Ele sorriu ainda mais.
— Sovete — pediu, manhoso.
— Sorvete, As? Sério? — fiz careta.
Ela balançou a cabeça, concordando, e eu repuxei os cantos dos lábios.
— Tudo bem, sorvete, então.
No pé da escada, Amara já me esperava com as duas mãos na cintura e o
olhar afiado. Eu quase podia ouvir o seu discurso notoriamente preparado
em sua cabecinha de geleca.
— O que é, Elsa? — falei, desinteressado.
Ela odiava o apelido que dei a ela, mas fazia jus a quem ela era. Fria,
cabelos brancos, solitária e lésbica.
No início, apenas eu a chamava assim, mas agora todos os nossos irmãos
encrencavam com ela.
— Já está indo? — brigou.
— Eu só vim buscar a minha criança, não tenho tempo para duas. Então
sai da minha frente.
Ela mostrou-me o dedo do meio e Asafe repetiu o gesto. Num rápido
movimento ela cobrou a mão dele e semicerrou os olhos.
— Nunca mais faça isso, garoto — mandou, toda cheia de robustez.
Meu bebê ficou zangado e enfiou o seu rostinho no meu pescoço.
É, Asafe, eu também não gosto tanto assim da sua tia.
Tentei me desviar de Amara, mas ela me barrou.
— Nós vamos conversar! — determinou, séria.
— Nem foden....
Antes mesmo que eu tivesse a chance de recusar, ela arrancou a chave do
meu carro de meu bolso e partiu para fora da casa.
Soltei o ar com força.
— Sua tia deveria ter sido abortada — disse, frustrado.
Asafe jogou a cabeça para trás. Os olhos curiosos presos aos meus, como
quem não entendia o que eu queria dizer.

Em meio ao trânsito, e com as mãos no volante, Amara virou a sua cabeça


para mim como uma boneca endemoniado e investigou:
— Quem é a garota?
Enruguei a testa e olhei para trás, apenas para conferir se Asafe estava
bem preso ao cinto de segurança. Desconfiava que Amara tivesse batido a
cabeça quando criança, pois dirigia como uma delinquente.
As ergueu os olhos para mim, mas logo em seguida voltou a sua atenção
para a janela. Foi tranquilizador saber que ele não estava verde e nem
prestes a vomitar.
Me ajeitei no banco e a olhei desentendido.
— Garota? — fingi demência.
Ela me olhou brava.
— A do trote, Chris.
Por que porra ela queria saber da Dytto?
— E o que você tem a ver com isso? — rebati.
— Contou para ela sobre o que você é?
Repuxei os lábios para o canto. Quase rindo da sua incômoda intromissão
repentina.
Quando foi que ela tomou essa liberdade toda?
— E te interessa, Amara?
Ela se emburreceu.
— A garota chorou porque viu a consequência do nosso trote. Ela
chorou, Christopher. Não vá me dizer que está se envolvendo com ela sem
pensar nas consequências.
Oh, claro! O trote. Éramos nós que os fazia todas as vezes. Desta última,
fora ideia de Amara que todos pulassem do penhasco.
Em geral, era Demétrius que gostava de escolher quem iria participar.
Pedi a ele que escolhesse Dytto, pois queria vê-la novamente. Eu
obviamente nunca deixaria que nada acontecesse a ela, por isso roubei um
saco de fitas antes do jogo começar.
Minha Dingo Bells ficou nervosa atoa.
— Você parece uma velha insuportável. — resmunguei, rolando os olhos.
Asafe riu atrás de nós. Éramos comparsas quando o assunto era falar mal
de alguém.
— Já temos boatos demais na nossa família. Não queremos uma igreja
inteira evangelizando na porta da nossa casa porque uma garota
emocionalmente instável contou a todos que você é a droga de um demônio.
Isso não se trata só de você. Todos nós sempre sofremos as consequências
— esbravejou alto.
Mesmo que vivêssemos como nômades, nos lugares mais afastados da
nossa cidade e escondidos na floresta, parte da igreja católica nos conhecia
e sempre nos investigavam. Os padres nos odiavam severamente, mas era
bem engraçado vê-los constantemente rezando em volta de nossos terrenos.
— Porra, como você é chata!
Ela me olhou ardendo em fúria.
— Para de ser assim, Christopher! Presta atenção!
— Se parar de me dizer merda, quem sabe eu não te ouça um pouco.
Ela apertou os dedos no volante.
— Prometa que ela vai nos deixar fora disso e eu te deixo em paz. Não
quero policiais na nossa casa e você sabe bem o motivo.
Revirei os olhos.
— Ela não vai contar nada.
— Como tem tanta certeza?
Arregalei os olhos e levantei as mãos para o alto, irritado.
— Vai me questionar sobre tudo agora? O que aconteceu com aquilo de
cuidar da própria vida?
Ela rosnou baixinho e vagamente a ouvi me mandar tomar no meio do
cú. Gostaria de ter dito que o sentimento era recíproco, mas ela me parou
mencionando um assunto ainda mais deliciado.
— Ao menos me responda então. Ela sabe sobre Asafe? Sobre a mãe
dele? Sobre como ela morreu?
A olhei sério. Se pudesse, a esganaria agora mesmo.
Que porra Amara estava perguntando? Por que diabos Dytto teria que
descobrir tudo isso? Este assunto não cabia ela ou a ninguém.
— Ela não precisa saber de tudo.
— Nem mesmo sobre Asafe?
— No momento certo eu conto. Fica fora de toda essa porra, Amara. Não
quero te machucar.
— Eu não ligo para a sua vida, Chris. Não me venha com babaquice.
Quero mais que você se foda, contanto que não deixe isso nos atingir. E,
aliás, tenho um assunto pendente com a irmã da garota.
— Se vai brigar com a cretina da Loren, então vai ter que aguentar a irmã
chorando.
Ela me lançou um olhar julgador.
— Por que está com ela se ela é tão sensível?
Sorri cínico.
— Porque ela é toda minha. — respondi, orgulhoso.
— Que merda você fez, Christopher? — ela semicerrou os olhos, soando
desconfiada.
— A marquei.
— Isso quer dizer que.... — instigou, confusa.
— A alma dela é minha. Quando ela morrer, eu ainda terei ela só para
mim.
Ela enrugou o nariz em uma careta.
— Isso é doentio.
Dei de ombros e escorreguei um pouco mais no banco.
— Já se sentiu tão obcecado por alguém a ponto de só enxergar ela? De
querer ela o tempo todo só para si, e odiar que qualquer um a toque ou tente
roubá-la de você?
— Não acha que ela tem o direito de escolher? — aconselhou.
Provavelmente.
— Sim, ela tem. E quando chegar a hora dela escolher, vou fazer com
que ela escolha a mim. Sempre a mim. Você não tem ideia, Amara. Não tem
a menor ideia do quanto eu quero aquela garota. Isso vai além de tudo o que
eu conhecia sobre mim.
— Sabe que isso é perigoso a ela, não sabe?
— Eu jamais a machucaria.
— Não de propósito — rebateu, firme.
— Não se preocupe. Prefiro cortar os meus próprios braços antes de fazer
mal a ela.
Amara juntou as sobrancelhas.
— Christopher... — seu tom de voz tornou-se estranho.
— O que?
— Você não está obcecado por ela. Está apaixonado — concluiu.
— Apaixonado não é o termo correto. Não chega nem aos pés do que
sinto.
Ela sorriu.
— O filho da puta do meu irmão tá apaixonado. — murmurou incrédula.
Sorri com ela.
— As? — o chamei.
— Oi.
— Em breve eu vou te apresentar uma pessoa importante pra mim.
— Quem é papai? — ele se empolgou.
Eu ri.
— Sua madrasta.

O que acharam do pequeno/grande As?
Sim, o capítulo foi curto. E, sim, os capítulos são curtos e vão continuar
sendo. Em compensação sai capítulo quase todo dia. Favor não encher a
paciência
Capítulo 33| Autoridade

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



Seus olhos eram rígidos, frios e duros.
Não possuía meia hora que eu e minha irmã havíamos chegado da escola,
e papai prontamente tinha decretado a minha morte.
Ele havia retornado de viagem fazia pouquíssimo tempo, mas já estava
uma fera indomável.
As suas mãos na cintura, determinava a postura repreensiva de quando
queria nos dar sermão.
Os olhos afiados vagueavam pelo meu rosto, com nítido desgosto.
Eu supus de ínicio que aquele assunto não iria por um bom lado, todavia,
não sabia que seria tão ruim até ele começar a falar.
— Não queremos que você namore aquele garoto — disse sério, de pé à
frente da mesa.
Sentada no banco próximo a ele, me sobressaltei.
— O quê? Pensei que estivesse tudo bem — indaguei, confusa.
Seu rosto congelou em uma máscara raivosa. Ele cerrou os dentes e
apertou os punhos sobre a pobre mesa.
— Achou que estivesse tudo bem? — cuspiu, incrédulo — Depois do
nosso jantar, como pôde pensar isso, Dytto? Aquele moleque não é para
você.
Arregalei os olhos e busquei pelo olhar da minha mãe do outro lado da
sala de jantar, em busca de acolhimento. No entanto, ela parecia de acordo
com o papai.
Ever sequer deve ter argumentado nessa decisão. Tudo o que ela fazia era
acreditar que meu pai sabia todas as respostas e que deveria se manter
calada e obediente.
Infelizmente minha mãe era submissa às ordens do seu marido.
Balancei a cabeça freneticamente.
Eu não queria acreditar que ele estivesse mesmo falando sério. Nunca
havíamos discutido sobre a minha vida pessoal desta maneira antes. Ou
melhor, ele nunca havia imposto sua vontade sobre a minha.
— E-eu não acho que você possa escolher quem é ou não para mim —
argumentei com confiança.
Ele apoiou os dois braços sobre a móvel de madeira e ergueu o corpo.
Furioso.
— Eu te conheço melhor que todo mundo. Eu sei o que é melhor para
você. Não aquele garoto imbecil. E você vai me obedecer.
Meu rosto inteiro esquentou e estremeci no lugar.
Senti meus olhos umedecerem e um grande nó se formar em minha
garganta, mas não derramaria uma única lágrima sequer em sua frente.
Se eu quisesse que ele me ouvisse, eu teria de enfrentar os meus próprios
sentimentos e agir com seriedade.
Preenchi os pulmões de ar, determinada, e ergui o queixo para ele
— E eu escolho com quem eu vou ficar.
Ele franziu o cenho, tão surpreso quanto eu ou mamãe pela minha atitude
tão inesperada.
Afinal, não era de se esperar que a caçula boba e ingênua fosse um dia
contrariar as suas ordens.
— Você não pode decidir com quem eu vou namorar. Não assim. Não
desse jeito. Você não pode simplesmente decretar e pronto. Você nem ao
menos me perguntou se eu me sinto feliz com ele — comentei, tristonha —
Por que não confia em mim?
— Aquele garoto... — papai gesticulou com as mãos — Não gosta de
você.
Ele fumegava de ódio ao ditar palavra por palavra, pouco se importando
em como me afetariam.
— Ele só quer o que todos os outros homens querem como uma garota
ingênua como você. Digo isso para o seu bem. E ele claramente não te faria
feliz, porque ele é tudo o que você nunca quis em alguém.
Papai tinha razão. Algumas semanas atrás, eu nunca teria aceitado a
ideia de me relacionar com alguém como Christopher. Mas, bem, as coisas
mudaram.
Eu já não era mais a mesma de ontem, e nem a de hoje mais cedo. Estou
em constante mudança, e, se isso quer dizer sair da minha zona de conforto,
eu aceito. Mas não permito que papai se prenda à ideia de que eu devia me
manter para sempre em uma caixinha, fantasiando apenas o melhor da vida.
Eu ainda não me conheço. E se eu continuar acreditando que tenho que
me limitar a ideia de outros, então eu nunca vou crescer.
— Eu nunca na minha vida teria deixado Christopher entrar na minha
vida se não fosse pela constante insistência dele. Acredite, papai, eu não
queria nada disso. — Comecei, sabendo que não iria parar até que meu
coração se sentisse liberto de tudo o que eu queria jogar para fora.
Os dois ouviam ainda mais atentos. Eu estava com medo, mas precisava
daquilo.
— No fundo eu sempre soube que ele não era o que eu esperava, mas,
ainda assim, eu me senti atraída por ele desde o minuto em que eu o vi pela
primeira vez. Eu sei que eu não costumo magoar vocês, e eu lamento em
decepcioná-los, mas não lamento por não desistir dele.
Engoli as lágrimas, e prossegui:
— E, sim, papai, o Christopher me faz feliz, porque apesar de ele não ser
absolutamente nada do que um dia eu sonhei, ele é tudo o que eu precisava.
Ele balançou a cabeça, horrorizado.
— Meu santo Deus! Está se escutando, Dytto? Você, que sempre
priorizou os seus ideais, está se deixando levar por um garoto. E a custo de
quê?
Papai despentou os seus cabelos, esfregando-os com rigidez em sua
cabeça.
— Você não está vendo com clareza o que nós vemos, porque está cega,
mas saberia que esse... — ele mordeu a língua, engolindo palavras cruéis
demais para serem ditas — esse rapaz, está brincando com você. Com os
seus sentimentos. Ele é um erro.
— Se ele for mesmo um erro. Então não se preocupe, papai. Eu lido com
os meus erros sozinha a partir daqui.
— Querida... — mamãe interviu, calma e serena — Tem certeza que esse
garoto é bom para você?
Deslizei a língua sobre os lábios e assenti.
— Sei bem o que estou fazendo, mamãe.
Não completamente, é claro. Mas estava óbvio que eu não deixaria que a
minha indecisão fizesse os meus pais interferirem no que nós tínhamos.
Era a minha vida em jogo, não a deles.
— Não! — papai se intrometeu — Não vou deixar aquele garoto fazer
isso.
— Theo — mamãe o chamou, apaziguadora.
Ela ainda tentava nos proteger, mesmo que papai sempre desse a palavra
final.
— Não! — berrou ele novamente — Dytto não verá mais esse garoto,
não falará mais com ele e não vai mais ter o carro até que termine com ele.
— determinou, rígido.
Ele ergueu a postura e abotoou o paletó.
— Agora eu tenho que ir para o hospital. Irei realizar uma cirurgia daqui
30 minutos. E não me venham com esse assunto de novo! — berrou,
furioso.
Sem mais paciência para esta conversa, papai saiu com passos pesados e
longos. Confiado de que aquilo havia sido um ponto final.
Mordi os lábios com força, sentindo-os tremularem e os olhos arderem.
Mamãe me olhou complacente, mas apenas sorri triste.
— Talvez seu pai tenha razão, Dy...
Não fiquei para a ouvir. Saí dali apressada, rumo ao meu quarto.

A porta grunhiu ao ser aberta, mas não ousei me mover.
— Você está bem? — ouvi a voz Loren perguntar.
Já passava um pouco mais de uma da madrugada. Não consegui dormir,
tampouco comer. Sentia que parte de mim se rasgaria se eu tentasse fazer
qualquer movimento.
Christopher não veio me visitar, também não me avisou a razão. Mas eu
desejei que ele viesse. Queria-o comigo para que parte dessa angústia se
desfizesse. Queria poder desabar em seus braços e pedir que me fizesse
companhia.
Pensei em mandar mensagem, mas não queria parecer desesperada por
ele.
Eu sabia viver sem as suas visitas noturnas, e precisava me conter sem
isso. Não queria tornar-me dependente daquela torre tatuada tão
excepcionalmente atraente.
Sem mais alternativas, apenas afundei debaixo do meu cobertor.
Vivenciando dos meus sentimentos ensurdecedores.
Suspirei cansada.
— Só estou um pouco... triste. — respondi, num sussurro infeliz.
A porta se fechou e senti os lençóis serem chacoalhados, seguidamente
do colchão afundando ao meu lado. Loren envolveu seu braço ao redor de
minha cintura e beijou o meu ombro.
— Daqui alguns meses, eu vou montar a minha própria empresa, e, em
média, uns 5 anos depois, vou começar a faturar um bom dinheiro. E eu
prometo, gatinha, nós duas nunca mais vamos precisar saber dos nossos
pais, dos dinheiros deles, ou dessas loucuras fantasiosas que eles têm sobre
nós duas. Vamos morar em uma casa em frente ao mar, beber tequila e rir
abessa lembrando desses dias.
Sorri.
— Vou ter o meu próprio banheiro? — murmurei.
— Vai, sim.
Meu sorriso cresceu, contudo, seguidamente murchou como uma flor em
seu devaneio.
Virei-me para ela devagar.
— Eu me defendi hoje. Do papai. Foi estranho, mas foi muito bom —
confessei, contente.
Ela sorriu e beijou a minha testa.
— Meu bebê está crescendo — disse orgulhosa.
— Talvez.
Loren apertou a minha bochecha.
— Mentiu para os nossos pais, fugiu de casa, se posicionou hoje. O que
mais devo esperar de você?
Sorri contido.
— Bom, provavelmente, muito em breve, talvez eu consiga ser um pouco
mais rebelde e pinte uma mecha do meu cabelo de rosa. Papai e mamãe
ficarão loucos.
Loren gargalhou.
— Céus! Eles vão te mandar rezar e provavelmente me culpar por isso.
— Ah, tem mais chances deles culparem o Chris, ele é bem pior do que
você.
O sorriso de Loren morreu ao ouvir o nome dele. Ela tentou disfarçar,
mexendo em algumas mechas de seu cabelo, mas, ainda assim, era nítido o
seu desconforto.
Ela ainda não estava nada bem com isso.
Queria que as coisas fossem diferentes para nós duas.
— Lô, você ainda não me disse o que pensa sobre mim e ele.
Ela balançou a cabeça.
— Eu não tenho que pensar nada, Dytto. Se você está feliz, eu também
estou, é assim que somos.
Balancei a cabeça.
— Você é a minha irmã. É claro que você tem que pensar algo.
A ouvi suspirar, tristonha.
— Não me faça dizer em voz alta o que eu penso, porque nós duas
sabemos bem como eu me sinto. E eu não quero que isso te magoe, porque
sinceramente, se fosse para ele e eu ficarmos juntos, ele nunca teria feito
nada do que ele fez, mas se ele é o total oposto com você, então quer dizer
que ele sente algo, e claramente não é para mim. Então que se dane o que
eu sinto agora, ele não vai deixar de ser o Christopher malvado que eu
conheço de todo o modo.
Mordi o canto dos lábios.
— Eu sinto que eu te devo desculpas.
— Para falar a verdade, você me deve explicações e não desculpas. O
que é que está rolando entre vocês dois?
Mordisquei o canto do dedo, nervosa.
— Eu sei lá, eu só... Acho que só aceitei que agora nós somos algo.
— Namorados.
Bom, era isso que Christopher diz que somos. Deve significar alguma
coisa, então.
— É, talvez, eu não sei. Eu não sei mesmo, Lô. Ele é toda cheio de si, e
eu sou completamente medrosa. Apenas me deixo ser levada para onde ele
quer que eu vá, porque eu também sinto algo por ele, mas, é tão forte e tão
profundo que me faz ficar doida por ele. E eu odeio me perder assim, e ficar
completamente fora de si. Mas é esse choque que o Chistopher causa no
meu corpo.
Seu rosto assumiu uma expressão curiosa. Loren se ajeitou na cama,
apoiando o corpo nos cotovelos e o rosto nas suas mãos.
— Dy, Vocês dois já....
Arregalei os olhos e senti minha pele ser incendiada de vergonha.
Era pessoal demais conversar sobre isso com a minha irmã.
Para ela era mais fácil. Loren era mais experiente com essa coisa de sexo.
Eu, por outro lado, havia sido tocada apenas há pouco tempo.
Nenhum garoto havia sequer passado dos limites comigo. Até o
Christopher chegar, e então Marcos.
— Nós fizemos coisas, mas não chegamos até o fim. — confessei,
vergonhosa.
Baixei o olhar para os meus dedos, enquanto os enrolava nos fios soltos
do meu pijama.
Era difícil manter contato visual falando sobre minha vida íntima com
Christopher.
— E isso é bom ou ruim? — Loren quis saber.
— Ele está esperando que eu me sinta pronta.
— Ok. É muito bom saber que eu não terei que arrancar as bolas dele.
— Para falar a verdade, ele é um pouco alucinado. E me deixa com medo
saber que ele tem bastante experiência, e eu nenhuma. Tudo o que eu vivi
foi com ele. — admiti, sincera.
Era vergonhoso não saber o que fazer quando ele estava comigo. Como
eu poderia dar prazer a ele se mal conhecia a mim mesma?
— Não precisa ter pressa. Não é como se o mundo fosse acabar se você
decidisse esperar por mais alguns anos para fazer sexo com ele. —
aconselhou. — Christopher provavelmente sofreria, mas, se você é o que
ele realmente quer, então não tem o porquê ele te deixar.
— Eu sei, é só que... Nem é só o fato de esperar, é que, por mais que eu
espere 1 ou 10 anos, aquilo não vai mudar.... — engoli em seco, evitando
levar os meus pensamentos para aquela cena novamente.
Oh, merda! Por que Christopher tinha que ter sido feito completamente
fora dos padrões de um homem normal?
— Não vai mudar o que? — Loren instigou, curiosa.
Soltei o ar pela boca.
Era terrível o que eu ia dizer, mas eu precisava mesmo contar isso para
alguém ou iria explodir.
— Não ri, tá bom?
Ela enrugou a testa.
— Eu não prometo que não vou rir, mas agora vai ter que me contar ou
eu vou morrer de curiosidade.
Mordi os lábios e a encarei incerta.
— Me empresta o seu braço — pedi. Ela virou-se de barriga para cima e
fez o que eu pedi. O estiquei para o alto e delimitei com os dedos a dobra
dele.
— Isso aqui — apontei para o seu antebraço — Esse é o tamanho da
coisa que ele guarda nas calças.
Ela arregalou os olhos e pulou da cama, sentando-se num rápido impulso.
— Você tem certeza? — indagou, abismada.
Seus olhos pareciam tão chocadas que imaginei que ela estivesse vendo
fantasmas. Olhei em volta, mas só havia nós duas ali.
— É, eu tenho. — confirmei.
Ela trocou o olhar diversas vezes entre o seu antebraço e a mim.
Completamente tomada pelo choque.
— Dytto... — se pronunciou, aterrorizada.
— É, eu sei. — assenti, apática.
Eu já havia passado pela fase da negação. Agora estava em um algum
tipo de trauma-pós-Christopher.
— E... Tem tatuagens. — acrescentei, sem jeito.
— O QUÊ? — gritou, exasperada.
— Shhh!!! — enfiei o dedo em sua boca — A mamãe vai acordar assim.
Ela tapou o rosto, olhando-me com os globos oculares quase que saltando
para fora do seu rosto.
— Isso é bizarro, Dytto. — cochichou, perplexa.
Balancei os ombros, como quem diz: "É uma merda, mas é a vida".
— Se ajeita — ordenou, arrancando os lençóis do meu corpo.
— O que vai fazer, Lô?
Ela me puxou com tanta facilidade que me assustei.
— Vou medir.
— O quê? — tentei me levantar, mas ela me empurrou de volta.
— Fica quieta.
Esperei paciente, enquanto ela deitava seu antebraço na vertical, do início
da minha virilha até o meio de minha barriga. Ela estava realmente levando
aquela metragem a sério.
— Isso vai te arrebentar inteiro, garota — determinou.
Sua cabeça parecia estar prestes a explodir com a sua fértil imaginação
trabalhando.
— É, tô sabendo.
Ela se jogou ao meu lado.
— Dytto, não pode deixar ele enfiar isso em você assim.
Acabei rindo.
— E o que dá para fazer?
— Sei lá, tenta com um vibrador antes, ou....
— Ou? — juntei as sobrancelhas.
— Ou pede para ele cortar metade.
— O quê?
— O que é? Ainda vai ter a outra metade.
— Loren — a repreendi.
— Tudo bem, você que sabe, mas no seu lugar, eu pediria.
Balancei a cabeça.
— Isso nem mesmo é uma idéia que deveria ser considerada.
— Tá legal, mas foi você que me mostrou isso, e agora eu vou ter
pesadelos com essa coisa.
— Vamos logo dormir que está tarde.

Fiz uma playlist de Love in the dark no Spotify, o link tá nós stories do
meu Instagram: autoramariliaandrade
Capítulo 34| Toxidade feminina

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



Estava com o torso encostado no guarda-corpo da ponte de minha escola
— observando as carpas nadarem alheias pelo lago —, quando senti alguém
cutucar de leve as minhas costas.
— Para você — Luc disse atrás de mim e virei-me para ele.
Em suas mãos, encontrei um buquê de flores, com lindas tulipas rosa e
perfumadas. Meus olhos brilharam ao denotarem seu gesto gentil.
Ele sorriu ao me entregar e minhas bochechas coraram.
Eu nunca havia recebido um buquê antes.
— Minha nossa! Obrigada, Luc — sorri animada e ele beijou a minha
testa, aquecendo o meu coração.
— Estava passando na rua quando vi um senhor vendendo. Achei a sua
cara. — comentou, cavalheiro.
Mordi os lábios, prendendo um sorriso tímido.
— Valeu... Eu achei, realmente, muito fofo!
As abracei com cuidado enquanto as admirava. Luc sorriu, contente, e
colocou suas mãos nos bolsos da calça.
— Que nada! Você merece muito mais do que flores, Dytto.
Seus olhos castanhos me observavam amáveis. A pele bronzeada parecia
ainda mais corada e o sorriso formava covinhas atraentes em suas
bochechas.
Luc era tão lindo quanto encantador. Mas meu coração já havia outro
dono.
— Vai me dar uma cantada a uma hora dessas? Ainda não são nem 8
horas — desconversei e ele riu.
Não queria tomar um caminho romântico após receber flores, então
apelei para as minhas piadas.
Luc e eu éramos apenas amigos, portanto, devíamos agir como tal.
— Nunca é cedo demais para te enaltecer, mulher.
Ri em diversão e joguei a cabeça para o lado.
— Onde você se meteu esses dias? — perguntou, descontraído.
— Ando um pouco ocupada...estudando — pigarriei.
Eu não queria mentir para ele, entretanto, era bem melhor do que soltar a
bomba. Ainda mais, logo após receber seu presente. Que tipo de pessoa que
seria se fizesse uma coisa dessas?
Enfiei meu rosto nas flores, respirando seu aroma, antes mesmo que meu
rosto me denunciasse, transparecendo o meu nervosismo.
Girei os tornozelos, e Luc me acompanhou. Estávamos indo em direção
às salas.
— Quer sair comigo hoje à noite, mademoiselle? — convidou, simpático
e sorridente.
Meu rosto automaticamente se crispou.
— Sinto muito! Estou de castigo.
Ele revirou os olhos.
— Droga, eu havia esquecido! — murmurou.
— Não faz mal. Podemos fazer isso um outro dia.
— Jura?
— Sim. Eu, você, Loren e...
— Não, não. Espera aí! Não tem como levar todo mundo para um
encontro. — observou, magoado.
— Não será um encontro, Luc.
Ele fez beicinho.
— Você não cansa de quebrar todos os pequenos cacos do meu coração,
não é? — brincou.
— Sou um lobo solitário, não tente me acompanhar.
Ele assumiu uma expressão neutra.
— Tudo bem. Não precisa se preocupar, eu dou conta. Mais 20 sessões
de terapia e eu te esqueço.
Ri alto e ele seguiu o ritmo.
— Eu vou para a aula, Luc. Valeu pelas flores — agradeci, ainda
sorrindo.
Ele acena despretensioso com as sobrancelhas e eu me despedi com a
mão.

O tempo estava correndo depressa.
Apenas entrei no modo automático assim que pisei em sala de aula.
Algo costumeiro, como em qualquer outro dia. Contudo, algo incomum
virou o meu dia do avesso.
Eu não era de ligar para conversas alheias, não mesmo, a menos que
fosse uma grande fofoca, daquelas que fazem estragos, e, só então, meus
ouvidos se aguçavam, mas é claro, eu não espalhava, apenas dividia as
informações com Loren, que, consequentemente, surtava e me pedia por
mais.
No entanto, não foi uma fofoca que me despertou de meus devaneios,
mas, um nome.
Um nome que estava mexendo com a minha cabeça há dias.
— O Christopher é tão lindo, não é? — comentou a loira, sentada à
minha frente.
A garota ao seu lado sorriu maliciosa quando sua amiga lhe mostrou a
tela do celular. De onde eu estava, via com clareza a foto do homem
tatuado, de lindos olhos verdes resplandecendo na tela.
Meu estômago se contorceu no mesmo instante. Não que eu discordasse,
porém, porque eu me comparei no segundo em que vi as lindas garotas o
elogiarem.
E, se, por algum acaso, Christopher caísse por si e percebesse que
poderia ter qualquer garota aos seus pés e que estava perdendo seu tempo
comigo?
Eu odiava aquele pensamento, entretanto, ele implorava com todas as
suas forças para se manter ali, me maltratando.
Nunca fui o tipo de garota que estava pronta para competir pelo garoto a
qual gostava.
Eu não. Eu não fazia isso. Sem chances!
Se havia a menor chance de existir uma competição, eu corria para o lado
oposto. Não gostava de saber que seria sufocada pela toxidade que algumas
garotas conseguiam liberar.
Fugir de brigas sempre me pareceu o caminho certo. Afinal, para quê me
colocar diante situações que eu sabia que me deixariam para baixo?
Apesar de tudo, ainda assim, eu me mantive atenta ao que diziam.
Elas o elogiaram por tantas e tantas vezes que comecei a me sentir
nauseada.
Mas o que eu poderia fazer? Gritar: "Ei, não o elogiem. Ele me garantiu
que estávamos namorando, então por favor, fiquem caladas" ?
Não seria certo.
— Eu mandei mensagem para ele ontem a noite — cochichou a loira.
A sua amiga arregalou os olhos e as duas sorriram.
Meu peito doeu no mesmo segundo. Foi certeiro e fatal.
Seria por isso que ele não fora me visitar? A ansiedade estava me
matando.
— Ficou doida? O que ele respondeu? Anda, me conta.
Meus dentes travaram.
Oh não!
— Ah, bem... — ela fez um leve suspense, e, pela primeira vez na vida,
eu quis socar o rosto de alguém — Nada.
O sorriso sumiu de seu rosto. Poderia até mesmo dizer que eu o arranquei
de lá e o coloquei em minha face, mas não poderia saber, no minuto em que
ela respondeu, um sorriso aliviado surgiu em meus lábios, já nos seus, eles
se desmancharam.
— Bom, espera mais um pouco, talvez ele só não tenha tido tempo para
olhar as conversas — a amiga incentivou.
— Na verdade, ele viu.
Dytto 2 × 0 Garota da minha sala
Mas que droga! Eu estava tão feliz por isso e já estava me sentindo uma
grande vitoriosa.
Quando foi que eu decidi que as outras garotas eram as minhas rivais?
Maldita toxicidade feminina!
— Que droga, amiga! — lamentou baixo, afagando as costas de sua
colega — Acho melhor deixar isso para lá. Seria bem vergonhoso insistir —
aconselhou, com um sorriso triste em seus lábios.
A loira suspirou baixo e assentiu.
Sábio conselho. Deixe o meu Chris quieto.

Loren e eu nos entretemos em uma conversa, enquanto caminhavámos
pelo estacionamento em direção ao seu carro, já que, o meu, foi confiscado.
Eu carregava as flores em meus braços, recebendo vários olhares
curiosos.
Loren elogiou o gesto de Luc uma centena de vezes. Ela não era
romântica, e nem melosa, mas apreciava gestos como este.
Luc não pôde nos acompanhar, estava em um tipo de prova nacional.
Gostava do jeito de como ele sempre se empenhava em se sair bem em
tudo o que fazia.
— Você vai sair hoje? — perguntei, distraída.
— Provável. Mamãe e papai ainda não descobriram das minhas férias de
mentirinha, ou seja, eu ainda tenho meu escape de fuga.
Sorri.
— Queria poder levá-la, mas, você sabe, papai está com tanta raiva que
te caçaria.
— É, eu sei. Ele está mesmo furioso, mas não vou deixar que ele se
impregne nos meus pensamentos. Não quero que ele tome decisões por
mim.
— Você está mesmo bem? Digo, em relação ao Chris? Está mesmo feliz?
— investigou, preocupada.
Assenti.
— É. Eu estou.
— Não tenho nada para me preocupar, então?
— Não, não tem.
Ela sorriu, despreocupada.
— Tudo bem! Me avise se ele fizer algo estranho.
Juntei as sobrancelhas.
— Estranho como?
— Você sabe, Dy. Christopher já deve ter te mostrado uma coisa ou outra
sobre ele.
Inspirei fundo.
— É, eu sei. Mas estamos lidando com isso.
Seus olhos sem querer vagaram sobre a minha cabeça, mas algo que ela
viu a fez parar em uma direção fixamente. Seus olhos semicerraram e seus
lábios se entortaram para o canto.
— Falando no diabo.
Crispei a testa e me voltei para onde ela olhava. Encontrei o carro de
Christopher estacionando a alguns metros de nós.
Não demorou muito para ele descesse, cercando-se olhares de todos em
volta.
Ele estava todo vestido de preto, com um enorme casaco de lã bege. Seus
olhos maciços, domavam uma selvageria que enlouqueceria a qualquer um.
Chris deslizou a língua sobre os lábios, de maneira hipnótica.
E que visão....
Ele caminhava cheio de postura e seriedade em nossa direção. Foi
impossível não notar os olhares que ele recebeu durante o percurso que fez.
— Dingo Bells — cantarolou, assim que se pôs diante de mim.
Meu coração ligeiramente disparou no peito.
Senria como se não nos víssemos há séculos.
Seus olhos desceram pelo meu rosto ate o buquê que eu segurava em
meus braços e tornaram-se sérios. Uma de suas sobrancelhas se arqueou, e
uma onda de fúria tomou conta de sua face. Ele parecia prestes a colocar
fogo nas flores, e em seguida, em que as me deu.
— Flores? — instigou.
Precisei de um segundo para me recuperar, antes de respondê-lo.
— O Luc me deu — expliquei, mas não pareceu diminuir a raiva que
encontrei em seus olhos.
Ele soltou o ar com força e olhou para Loren, que... Puta merda! Não
parava de encarar as calças dele.
— Perdeu alguma coisa? — Chris a alfinetou e ela imediatamente
arregalou os olhos ao ser flagrada.
Senti que tanto eu como ela estamos vermelhas.
Nem para Loren ser um tantinho mais discreta.
— Humm, não! Eu.... — ela me olhou, nervosa — Ainda vai precisar da
minha carona, Dy? — sua voz soou trêmula e desconcertante.
— Ah, vou. Não quero que meu castigo aumente por mais 10 anos pelo
simples fato do papai me ver chegando com o Chris.
— Pode ir, Loren. Eu cuido dela — ele interviu.
Fiz careta e balancei a cabeça.
— Por favor, não! Papai me deixou sem carro por causa do nosso... Ahn,
namoro.
Ele deu de ombros.
— Eu me resolvo com ele depois.
— Chris — sussurrei.
— Não se preocupa, Dingo.
Era difícil discutir com Christopher se ele nunca deixava ninguém ter
razão.
— E o que vai fazer? — perguntei, preocupada.
— Conversar.
Ergui uma sobrancelha, desconfiada.
Ele revirou os olhos e voltou sua atenção para a minha irmã.
— Que inferno, Loren. Para de olhar para a minha calça.
Mordi o lábio inferior com força e olhei para baixo.
Eu quero muito morrer.
— Eu não estava... — ela tentou consertar a situação, mas vendo o que
havia se transformdo, logo desistiu.
Christopher suspirou forte e levou sua atenção para mim. Ele ergueu o
meu rosto com o dedo indicador, e encarou-me com severa apreensão.
— O que você aprontou? — investigou, a voz rouca e autoritária.
Olhei para ele constrangida.
— N-nada.
Seu rosto se endureceu.
— Conta.
Enguli em seco.
— Eu conto tudo para Loren, não sei o porquê de estar tão surpreso.
Ele retornou o olhar para ela, em seguida para mim, e então, para ela
novamente.
Achando graça, sorriu.
— Bom, pelo menos, agora, ela pode fantasiar com mais clareza —
caçoou.
— Seu cretino!
— Christopher — ralhei.
Ele me olhou sorridente.
— Foi só uma brincadeira, meu bem.
— Não faz mais isso.
Ele ergueu as mãos em rendição.
— Eu já vou — Loren avisa — e me faça o favor de não matar a minha
irmã, Slenderman pirocudo.
Mordi os lábios, mantendo um grande esforço em conter o riso.
Christopher fez uma expressão enojada, e a fitou com tanta desdém que me
fez querer gargalhar.
Loren mostrou-lhe o dedo do meio e entrou em seu carro. Pouco se
importando com a bomba que deixou cair aqui.
Chris pôs seu olhar sobre meu corpo, descendo-o de cima a baixo.
— Se eu não me preocupasse tanto com você, já teria te feito pagar por
isso.
— Desculpa — murmurei, entre um riso e outro.
Enfiei meu rosto em sua camiseta e ele me abraçou forte.
Christopher arrancou o buquê de minha mão e resmungou desgostoso.
— Que péssimo gosto, Dingo Bells. Péssimo gosto!
— O Luc é um cara legal. — o defendi e ergui a cabeça para a torre
tatuada.
Chris abaixou o seu rosto, até que, gentilmente, seu nariz estivesse
tocando a ponta do meu.
— Você ainda não entendeu, não é? Ninguém mexe com o que é meu.
Fechei os olhos.
— Não pode prender todo cara que fala comigo em uma gaiola.
Ele soltou um riso curto.
— Oh, como posso! Não faz ideia de como eu posso.
Fiz cara feia para ele.
— Não se meta nisso. Ele é meu amigo, e ele me deu flores.
Seu corpo ficou tenso entorno de mim mas não retrucou. Chris apenas
beijou a minha testa e recuou um passo.
— Acho melhor nós irmos. Quero te levar para sair.
— Papai vai me deixar de castigo para todo o sempre. — brinquei,
sabendo que ele realmente poderia fazer isso.
— Não tenha medo, amor. Você está comigo.
Sorri, empolgada.
— E para onde vamos?
— Quero te apresentar a alguém.

Eu acho que vocês sabem bem o que vai acontecer no próximo capítulo
Já seguem o Chris e a Dytto no Instagram? Deixei o @ deles nos
destaques do meu IG: autoramariliaandrade
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Capítulo 35| Criatura

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO


Sem spoilers no capítulo

Não era como se eu quisesse assustá-la, mas, ver o choque em seu rosto,
tornou isso uma tarefa interessante.
Assim que Samantha abriu a porta de minha casa com Asafe em seu colo,
Dytto estagnou.
Por longos dois minutos, imaginei que ela estivesse tendo um derrame,
contudo, assim que ela se moveu, soube que estava apenas confusa.
Asafe se agitou no colo de minha irmã no momento em que seus olhos se
depararam com os meus, ignorando por completo a presença de Dytto ao
meu lado na varanda.
A criatura não sabia ser receptora com ninguém.
Minha irmã sorriu, cheia de ternura. Os olhos alternando entre mim e
Dytto várias vezes. Esperando por uma apresentação mais adequada.
Obviamente ela não esperava que eu fosse levar alguém para a minha
casa, ainda mais com Asafe sob minha responsabilidade. Éramos discretos
demais para apresentar nossa família a outros.
Dytto também parecia esperar para conhecer a garota parada à sua frente.
Era algo engraçado ver as duas aguardando que eu me pronunciasse. Então
eu o fiz.
— Samantha, essa é a minha namorada, Dingo bells...
— Dytto Bell — ela rapidamente corrigiu, nervosa.
Às vezes eu me esquecia seu verdadeiro nome. Que tipo de mãe colocava
um nome desses em uma filha?
O rosto da minha irmã imediatamente se preencheu de uma genuína
surpresa, ao mesmo tempo em que parecia tão contente a ponto de quase
soltar fogos.
Era a primeira vez que eu apresentava uma namorada, afinal, nunca havia
entrado em um compromisso sério antes.
Dytto, no entanto, parecia animada em estar sendo apresentada para
alguém.
Suas bochechas estavam vermelhas e suas mãos trêmulas. Ela não
esperava de maneira alguma que fosse conhecer uma pessoa.
No máximo, com a sua pequena imaginação, ousou pensar que eu fosse
lhe apresentar um cachorro.
— Dingo, essa é a Samantha, infelizmente, minha irmã.
Sam fez cara feia para mim. Em seguida, se aproximou da garota, que, ao
seu lado, se tornava pequena.
Dytto era maior que a média de muitas mulheres, algo que eu
verdadeiramente apreciava, mas, com certeza, não era vista como grande
perto de minhas irmãs.
Samantha tinha 1,76, enquanto Amara tinha 1,82. Nossa mãe tinha 1,80,
e, além do mais, se envolveu com caras ainda mais altos, resultando em
uma família de gigantes.
Ela era uma grande filha da puta com sonhos e metas esquisitas.
Sam, fez um enorme esforço para manter Asafe quieto em seus braços,
mas ele se contorcia por inteiro, como se a desafiasse.
Meu filho estava ansioso saltar para o meu colo.
— É um prazer te conhecer! — Samantha falou com dificuldade. O
pequeno tornado em seu colo tornava tudo mais engraçado.
Dytto retribuiu com um sorriso gentil. Seus olhos então vagaram para o
pequeno homenzinho no colo de Sam com curiosidade.
Ela apontou para ele.
— Seu filho? — questionou, inocente.
Samantha me olhou atordoada, em busca de uma ajudinha. Estava claro
que eles ainda não haviam se conhecido.
Discretamente balancei a cabeça para ela, em um aviso furtivo que não
dissesse nada.
— Ãhn... bem, não. — respondeu, desconcertada.
— Ah, desculpe! — Dytto se apressou, constrangida.
Samantha veio até a mim, colocando Asafe — que a todo momento
tentou se jogar de seus braços — em meu colo
— Eu já vou. Meu ato de bondade aqui já foi feito. Tenho que ir
trabalhar — avisou, alongando o corpo na ponta dos pés para dar-me um
rápido beijo de despedida na bochecha.
Imitei uma careta e ela me lançou um olhar descrente e irritado, mas que
logo se desfez. Sam já conhecia o meu humor, e odiava ele.
Ela se virou para Dytto e ergueu sua mão.
— Foi bom te conhecer, Dytto. Fico feliz em saber que agora somos
cunhadas.
Minha garota a cumprimentou e sorriu.
— Idem.
No mesmo instante, Asafe grudou os dentes em meu queixo, mordendo-o
sem a menor delicadeza. Fingi não notar, mas provavelmente aquilo
deixaria marcas.
Samantha foi embora, mas deu seu último aceno antes de partir. Ela era
educada demais para não se despedir pelo menos umas vinte vezes.
A linda garota diante de mim, lambeu os lábios e cruzou as pernas, ainda
tímida e resguardada.
Ela nos olhava sem jeito, com as mãos nas costas e o rostinho
concentrado. Notei uma certa curiosidade em sua face, ela ainda estava
tentando entender o que estava acontecendo aqui.
— Samantha é muito bonita. — comentou, bem-humorada.
— É, pois é. — concordei, a contragosto.
Samantha tinha uma beleza única, mas não era algo que eu quisesse
prestar atenção.
— Você tem mais irmãos do que eu pensava — ela apontou com o queixo
para Asafe, que ainda não havia a olhado em momento algum — Seu
irmãozinho se parece muito com você.
"Irmãozinho". Ela não sabia mesmo onde havia se enfiado.
— Bem que eu desconfiei que ele fosse a segunda pessoa mais bonita da
família — gracejei, o que a fez rir descontraída.
Ela mordeu os lábios.
— Você é tão convencido.
Asafe se afastou, apenas para me olhar cara a cara. Parecia pasmo
quando finalmente a sentiu. Ele ficou intrigou com a presença de mais
alguém aqui. Ainda lhe era estranho sentir as pessoas, mais ainda quando
ele não as conhecia.
Bem, estava na hora do meu anjinho conhecer o meu diabinho.
Penteei o cabelo de Asafe com as pontas dos dedos, deixando-o um
pouco mais apresentável. Não que isso fosse mudar alguma coisa, de todo
modo. Mas Dytto não precisava saber como Asafe era uma criança peculiar
e atentada, pelo menos, não por agora.
Ele se incomodou com aquilo, mas não recuou. Mesmo que sempre
estivesse descontente com as minhas ordens, ele as obedecia.
Era algo que nós demônios tínhamos em comum, o respeito por um ser
maior e mais poderoso. Não todos, é claro, os deuses eram a nossa exceção.
Virei o meu diabinho com cuidado, para que ficasse de frente para ela.
Ela o olhou simpática, no entanto, estava com medo. Não era habituada
com crianças, e claramente estava insegura.
As arregalou os dois grandes olhos verdes quando a viu. Estava perplexo
com a minha garota. Ele parou de respirar, pois estava tão admirado que
mal se mexia em meus braços.
— Dytto, esse é o Asafe — o apresentei sem pressa, ela sorriu sem saber
o que viria a seguir — Meu filho.
Seu olhar retornou ao meu, demorando-se nele. Dytto empalideceu num
milésimo de segundo. Seus olhos se arregalaram de uma maneira excessiva,
enquanto o choque tomava conta de cada pedacinho do seu corpo.
Ambos estavam com os olhos exageradamente abertos, como se fossem
duas criaturas de outro planeta se conhecendo.
Sendo um pouco mais fantasioso, eu quase poderia imaginar Dytto
erguendo a mão e se apresentando como habitante de Marte, e As dizendo
ser de júpiter.
— Você tem um filho? — ela soprou, aturdida, as palavras quase
inaudíveis se perdendo ao vento.
— É, eu...
Fui abruptamente interrompido quando Asafe abriu os braços para ela e
impulsionou o seu corpinho para frente.
Juntei as sobrancelhas e o segurei com mais firmeza.
— Fique quieto, As. — alertei-o, mas ele não se importou.
Asafe se atirou para frente de maneira frenética. Assustada, Dytto correu
para pegá-lo.
Embora eu tivesse certeza de que nunca o deixaria cair, permiti que ela o
segurasse mesmo assim. Talvez fosse mais fácil para eles se conhecerem.
Quando Dytto o aparou em seu colo, ela parou por um segundo, meio
confusa com o que fazer a seguir. Ela o encarava como se ele tivesse duas
cabeças, e ele a olhava como se ela fosse seu mais novo brinquedo
predileto.
Asafe sorriu e grudou seus lábios nos de Dytto. Ela me olhou com
espanto, completamente estática.
Agilmente enrosquei o meu braço no corpo de Asafe e o tirei dela.
— Está tentando me passar a perna, garoto?
Ele resmungou, não querendo permanecer em meu colo.
Dytto estava inteiramente vermelha, e não era por menos. Ela havia
acabado de receber um baita beijão de um demônio de 2 anos de idade.
— Desculpe. Ele geralmente não gosta de ir para o colo de ninguém que
não seja o meu. Achei que ele fosse ter bons modos com você.
Ela sorriu nervosamente.
— T-tudo bem.
Asafe soltou um berro, que chamou a atenção de nós dois.
Dytto quis rir e balançou a cabeça.
— Tá tudo bem, eu posso ficar com ele. — concordou, aproximando-se
de nós.
Enruguei a testa e o afastei.
— Não precisa ceder as manhas dele — intercedi.
Dytto novamente sorriu.
— Tá tudo bem, sério.
Ainda desconfiado, mantive As em meus braços. Não sabia o que mais
ele poderia aprontar. Por outro lado, Dytto tomava coragem, aproximando-
de lentamente de nós
Quando ela já estava próxima o suficiente, Asafe se jogou em seu colo
novamente.
Ele a agarrou com força. Parecia não querer se soltar mais dela e isso me
deixou cheio de agonia. Dingo Bells, entretanto, me encarava surpresa, com
tamanha facilidade em que As havia se apegado a ela.
Dytto, definitivamente, era uma imã para demônios.
Toquei o braço dela de leve e apontei com o queixo para a porta.
— Vamos entrar. — avisei, encarando os dois.
Dytto foi na frente, com Asafe agarrado ao seu corpo, como um bote
salva-vidas. As duas perninhas entrelaçadas em seu cintura e os braços em
volta de seu pescoço. Ele deitou a cabeça no seu ombro e se aconchegou,
manhoso.
Que canalha! Mal a conhece e já está roubando-a de mim.
— Acho melhor ele ficar comigo. — sugeri.
Dytto se virou para mim, mas Asafe fez pouca questão em se mover.
— Ele vai me machucar? — ela questionou, vacilante.
— Aparentemente, não. Mas também não parece que vai desgrudar de
você tão cedo.
Ela riu, afagando as costas dele.
— Não tem problema.
Fiz careta.
Ah, claro que não tem problema. Já está toda agarrada nele mesmo.
Dytto sentou-se no sofá, e eu logo me acomodei ao lado dos dois. Ela
estava desajeitada com ele em seu colo. Aparentava estar com medo de
machucá-lo, por isso, se movimentava devagar.
Ela estava acanhada. Seu rosto mantinha-se inteiramente corado e o
corpo melindroso.
— Por que nunca disse nada? — indagou baixo.
Apoiei os braços sobre os joelhos e suspirei. Não eram muitas pessoas
que sabiam da existência do meu filho.
Ele não era alguém que eu quisesse compartilhar com o mundo. Queria o
deixar longe de olhares maldosos, e garantir que ele se mantivesse
protegido.
Durante toda a minha existência, minha família fora perseguida pelo
poder político, religioso e cidadãos da ilha. Éramos alvo de tudo e todos.
E quando As nasceu, era apenas um bolinho pequeno e recém-nascido
nos meus braços. Eu só tinha 16 anos e havia me tornado pai, mas não havia
nada naquele mundo que não fizesse por ele.
Desde o minuto em que veio a este mundo, ele já corria perigos de
pessoas que deveriam tê-lo amado e cuidado. Eu não iria permitir que
ninguém o tocasse ou ousasse machucá-lo novamente.
Arrancaria cabeças antes que isso acontecesse.
— Não era algo que eu pretendia sair contando. — respondi.
Ela entortou os lábios.
— Nem para mim? — sussurrou, triste.
Acariciei o seu rosto com o polegar.
— Eu estava esperando o momento certo, Dingo.
Ela baixou o olhar, pensativa.
Dytto estava envolta em pensamentos, cujo eu não sabia como decrifrá-
los. No momento, ela sentia muitas coisas diferentes ao mesmo tempo. Suas
ideias se entrelaçaram e desconectaram-se em segundos.
Sua opinião ainda estava sendo formada, por isto, não queria forçar a
barra e a fazer acreditar que deveria simplesmente aceitar a situação.
— Está chateada? — examinei, ruidoso.
Dytto inspirou fundo e balançou a cabeça.
— Em choque. Ainda não acredito que você tenha mesmo um filho. Eu
quero conversar sobre isso, só que não quero fazer isso na frente dele.
Assenti.
Asafe se afastou um pouco, apenas para olhá-la. Ele abriu um enorme
sorriso para ela. Dytto não se conteve e sorriu de volta.
Isso me fazia sentir coisas diferentes, e boas.
Dytto virou a cabeça para mim e Asafe colou o seu rosto no dela.
— Ele gosta de você. — declarei, contente.
— Ele me parece ser um carinha gente boa.
Eu quase ri.
— Oh, ele não é! — garanti.
— Não?
— Ele é o meu filho, ou já esqueceu?
— Não é porque o pai dele é um descarado que o filho também seja um
— argumentou.
Asafe gargalhou, mostrando todos pequenos dentinhos.
— Por que está defendendo essa criatura?
Ela o abraçou com mais força.
— Porque eu gosto da criatura.
— Mais do que de mim? — me ofendi.
Ela balançou a cabeça, confirmando e eu revirei os olhos.
— Não devia ter apresentado vocês dois.
— Sim, você devia.
Aproximei o meu rosto do dela e beijei sua testa. Asafe não ficou nada
feliz e tentou me afastar.
Engelhei as sobrancelhas numa carranca.
— Vá atrás de uma namorada e deixe a minha em paz — avisei, mas ele
continuava me olhando sério.
— Está mesmo discutindo com ele por minha causa? — Dytto se meteu.
— É claro. Não vê que ele é uma armadilha?
— Ele é um bebê, Christopher.
— Já é velho o suficiente para saber roubar a garota de outro cara.
Ela riu.
— Ele tem o que, 5 anos? Fala sério!
— 2 anos.
Ela enrugou a testa e se afastou para olhá-lo por inteiro.
— Mesmo?
— Mesmo.
— Minha nossa! — surpreendeu-se.
Puxei As de seu colo e o joguei em meu ombro.
— Vem, vamos comer, garotinho.
Levantei-me do sofá com ele de cabeça para baixo e Dytto veio logo
atrás.
— Dingooo — Asafe grita, pedindo por ela, mas o ignoro.

Dingo é madrastaaa
Instagram: autoramariliaandrade
Capítulo 36| Possessão

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



Asafe finalmente adormeceu, após meia hora me encarando.
Deitado entre mim e Christopher na cama, com os seus dedinhos
enrolados em meus cabelos, ele suspirava baixinho pelos lábios
entreabertos.
Eu sorri, sentindo meu coração bobo se desmanchar por aquele
pequeno/grande ser demoníaco.
Seus traços eram idênticos ao de Chris. Poderia vê-lo naquela criança em
cada detalhe. Os olhos verdes-claro, os lábios carnudos, as sobrancelhas
grossas — que se franziam quando estava sério—, o mau-humor e a
possessividade.
Asafe era tão parecido com Christopher que mal poderia imaginar o que
ele teria puxado de sua mãe.
Chris se levantou do colchão devagar e deu a volta no quarto, afastando
as mãozinhas de seu filho de mim com cuidado.
Antes mesmo que eu pudesse me sentar, seu braço entornou minha
cintura e ele me ergueu, carregando-me como se eu fosse apenas uma
maleta de trabalho ao lado de seu corpo.
Tapei os lábios, abafando um gritinho de susto que ameaçou escapar de
meus lábios.
Christopher fechou a porta do seu quarto ao sairmos, e, comigo ainda em
seu braço, ele me levou para a sala.
— Chris! — gargalhei.
Ele me olhou sorrindo, mas balançou a cabeça, negando ao meu pedido
para me colocar no chão.
Christopher virou o meu corpo, agarrando minhas pernas e se acomodou
no sofá, comigo em seu colo.
— Ei!
Ele riu.
— Te machuquei?
Neguei num balançar de cabeça e olhei para a porta do quarto.
— Seu filho se parece com um anjo.
— É. O Lúcifer.
Revirei os olhos.
— Pare de graça. Ele realmente se parece um.
Chris suspirou e jogou a cabeça para trás.
— Sabe que horas são? Preciso ir para casa — avisei.
— Fica mais um pouco. Te levo quando eu terminar.
— Terminar o quê? — questionei, confusa.
Ele sorriu, malicioso.
— De te pegar.
Arregalei os olhos, sentindo minhas bochechas arderem.
— Chris, temos uma criança em casa. — cochichei, como se contasse um
segredo.
— Você? — provocou.
Dei-lhe um tapa fraco no peito e ergui o corpo, virando-me de barriga
para baixo.
— O Asafe, Chris, Asafe.
Ele bufou, alheio.
— Asafe é mais adulto do que você.
— Ele tem 2 anos — pontuei, semicerrando os olhos.
Ele sorriu, sarcástico.
— E ainda assim é mais adulto.
Balancei a cabeça, descrente.
— Que tipo de pai você é? — reclamei.
— Um pai legal, diferente do seu.
Desta vez, fui eu a rir.
— Meu pai é um pouco bruto, mas ele é mais responsável do que você.
— Ah, é? — duvidou, olhando-me cheio de malícia.
Christopher gostava de provocar.
— Aposto que você deixaria o Asafe esfaquear uma criança se ele
quisesse.
Ele sorriu, parecendo nostálgico.
— Ele nem o machucou tanto.
— O quê? — quase berrei.
— O garoto era um pé no saco — se defendeu, fazendo-me arregalar os
olhos.
— Christopher, o Asafe já...
— Esfaqueou alguém? — completou.
— É... — minha voz soou esganiçada.
Eu estava assustada demais em até mesmo cogitar essa ideia.
— Com um lápis conta? — refletiu.
— Eu não acredito — murmurei, zonza.
Chris parecia se divertir às minhas custas, enquanto eu o encarava
incrédula.
— Foi só uma vez. Duas. Três... — ele começou a contar nos dedos —
Umas 6 vezes.
Minha cabeça rodou.
— Ele... — pisquei várias vezes — ele...
Christopher se ajeitou no sofá e subiu meu corpo em seu colo.
— Não vai desmaiar, né — preocupou-se.
— Parece que vou?
— Parece mais é que você está tendo uma convulsão. — admitiu,
sincero.
— Não pode ensinar essas coisas para ele. — briguei.
— Por que?
Soltei um esguicho de minha garganta, agoniada por ele perguntar o
óbvio.
Balancei as mãos freneticamente e me segurei para não chacoalhar a sua
cabeça até que ele começasse a funcionar como um ser humano normal.
— A mãe dele concorda com isso? — perguntei, brava.
Ele umedeceu os lábios e afundou o corpo no estofado do sofá. Parecia
incomodado com a minha pergunta.
— Ela está morta. — disse, seco.
De um segundo para o outro, a conversa tornou-se fúnebre e pesada.
Sentia-o tenso debaixo de mim.
— Ai meu Deus! Desculpe, eu não fazia ideia.
— Não fale esse nome na minha casa — pediu, irritado.
Não rebati, pelo menos, não por ora. Sabia que ele não era religioso, mas
contestar que eu dissesse o nome de quem eu servia, era demais da conta, e
não cabia a ele me censurar daquela maneira.
— Asafe sente muito a falta dela? — desconversei.
— Nem um pouco.
— Oh! — me espantei, em completa surpresa.
Era estranho saber que uma criança não sentia saudades da própria mãe.
Em geral, havia um sentimento de perda ou falta, mas Asafe não era um
garoto comum, e isso ficava mais óbvio a cada segundo.
— Não se preocupe. As não sente falta de ninguém.
— É uma pena — lamentei.
Ele deu de ombros.
— Se incomoda se eu perguntar como ela morreu? — eu não queria
parecer indelicada, no entanto, gostaria de saber o que havia conhecido, e
torci para que ele estivesse de acordo.
— Sim, me incomodo. — foi tudo o que disse, antes de desviar o olhar.
Uni as sobrancelhas, desconfiada.
Ele não parecia interessado em dar continuidade ao assunto, para falar a
verdade, ele transparecia sentir-se completamente apático sobre o caso.
— E você está bem com tudo isso? — insisti.
Ele fungou e revirou os olhos.
— Eu não quero mais falar sobre isso. Podemos apenas focar em nós
dois, anjo? — sua voz possuía resquícios de irritação.
Existia algo muito estranho naquela história e eu estava me corroendo
para descobrir.
Coloquei minhas mãos em seu peitoral e ergui uma sobrancelha.
— Lembra que íamos nos conhecer um pouco mais? — tentei ser sutil,
mas isso só parecia tê-lo aborrecido.
— Tudo bem. Mas há outras maneiras de nos conhecermos. — ele me
puxou para mais perto.
— Ou poderíamos falar sobre a....
Num gesto ágil, ele enrolou sua mão em meus cabelos e enfiou sua boca
na minha, calando-me de um jeito nada gentil.
Chris beijou-me com tanto desespero e veemência que mal consegui
tomar fôlego.
Sua língua me invadiu e incitou-me a dançar com ela. Tentei afastar o
meu rosto, em busca de ar, mas ele segurava o meu maxilar, paralisando-me
de maneira obrigatória.
Me debati sobre ele, contudo, Chris afundou o seu rosto no meu e
mordiscou a minha boca. Murmurei baixo e tentei me esquivar, mas ele me
impediu.
— Me deixe te beijar, amor — implorou, desesperado e rouco.
— Eu preciso respirar — sussurrei, as palavras entrecortadas.
Ele encostou sua testa na minha e apertou suas pálpebras. Demonstrava
estar fazendo um enorme esforço para se conter.
— Porra, Dingo. A cada dia que passa eu quero você ainda mais. —
confessou.
— Não pode fazer o que quiser, eu ainda preciso do meu espaço —
ruminei, ofegante.
Ele balançou a cabeça.
— Não posso te deixar. Nem por um mísero segundo. Eu quero você toda
hora.
Tentei me sentar, mas Christopher apertou o meu pescoço.
— Não! — rugiu e imediatamente estremeci.
Que droga estava acontecendo com ele?
Ele abriu os olhos, encarando-me diretamente. Notei pequenas partes de
sua parte demoníaca revelando-se lentamente em seu rosto. Tão logo me
assustei e tentei me afastar.
— Me solta, Chris! — gritei, apavorada.
Ele travou o maxilar, entretanto, retirou sua mão de mim.
Rapidamente sai de seu colo e me pus de pé.
— O que foi isso? — esbravejei.
Ele expeliu o ar com força e esfregou o rosto. Christopher exibia estar
decepcionado consigo mesmo.
— Meu outro eu se expandindo.
Engelhei o rosto.
— Guarda ele ou tranca. Eu sei lá — gesticulei, estressada — Só não
faça com que ele estrague tudo entre nós.
Ele me encarou, sério. O rosto havia voltado ao seu estado humano.
Um nó se formou em minha garganta, fazendo-a arder e rasgar. Fiz um
grande esforço para não fraquejar em sua frente e inspirei fundo.
— Não vou estragar isso.
— Não me encurrala assim de novo — pedi, assustada.
Ele assentiu.
— Tudo bem — soprou, deixando o olhar recair sobre o carpete.
— Você não está conseguindo controlar, não é?
Chris estreitou o olhar para mim.
— Sei me controlar — rebateu, frio.
— Não é o que parece.
Ele sacudiu a cabeça, bravo.
— Eu sinto muito, Dingo.
Fechei os olhos por um segundo, andando de um lado para o outro à sua
frente.
— Tenta não deixar ele vir a tona, está bem? Preciso de você aqui, não
ele.
— Você tem despertado todas os lados sombrios dentro de mim. Não me
peça para deixá-los de lado. Todos eles fazem parte de mim.
Engoli em seco.
— E isso me assusta.
Ele riu com escárnio.
— Deveria se assustar com as pessoas que estão a sua volta, não a mim.
Eu sou a última pessoa que deveria ter medo.
— E ainda assim, é a única pessoa que mais me apavora.
Christopher se colocou de pé.
— Pode não ver, mas eu te protejo. De todos eles.
Soltei um riso sem rastros de bom-humor.
— Não preciso que me proteja deles, preciso que você não seja um
perigo para mim.
— Eu só preciso que seja minha. — suspirou.
— Sinto que você quer mais do que isso. Tem algo de estranho toda vez
que me toca. — abordei, receosa — Eu sinto em cada fibra do meu corpo
que você quer mais. Você sempre parece mais sedento, mas nunca satisfeito.
Christopher se aproximou de mim e curvou-se, até estarmos com os
rostos na mesma altura.
— Você já me satisfaz, mas é difícil me conter quando todos em volta
parecem querer tirá-la de mim.
Toquei o seu queixo com a ponta dos dedos.
— Preciso que entenda que ninguém vai me afastar de você. Por favor,
Chris, não me faça ter medo de você — supliquei, vacilante.
Ele escorregou os dentes pelos lábios, e, a contragosto, assentiu.
— Está bem, meu amor — ele depositou um beijo casto em minha testa e
me abraçou.
Apertei seu corpo e afundei o meu rosto em sua camiseta.
— Confie em mim. — murmurei.
Ergui o meu rosto para ele e Chris beijou a minha testa.
— Existe outro quarto na casa além do seu... longe do Asafe? —
questionei-o.
Minha pergunta parecia ter despertado o seu interesse. Ele olhou-me
curioso, com uma expressão investigativa.
— O que quer fazer?
— Apenas não quero mais ficar aqui — menti.
Ele ergueu uma sobrancelha, desconfiado.
— Tenho dois quartos de hóspedes no fim do corredor.
Mordi o canto dos lábios e sorri, perversa.

Olhando-o com firmeza, apontei para o colchão da cama.


Não precisei de muito para que ele apenas me obedecesse, ele apenas o
fez, com o sorriso mais traquina em seu rosto.
Estava curiosa para saber até onde eu seria capaz de ir com tudo isso,
mas excitada com as várias possibilidades que existiam a minha frente.
Afinal, Christopher era inteiramente meu.
— Vou te mostrar que sou sua sem que precise se mostrar todo
possessivo.
Seu sorriso aumentou.
— Mas não fique todo convencido.... — Chris revirou os olhos — E não
empurra a minha cabeça — acrescentei.
Chris me olhava desacreditado, como se essas palavras não tivessem
realmente saído da minha boca.
Eu até o entendia. Não era como se eu acreditasse em mim também, mas,
de certa forma, sentia que precisava mostrar para ele e assegurá-lo de que
poderia confiar em mim tanto quanto eu confiava nele.
Me ajoelhei entre suas pernas e levei a minha atenção para a braguilha de
sua calça.
Meu corpo estava gelado e trêmulo. Minhas mãos mal conseguiam
desabotoar sua calça sem vacilarem.
Precisei de um segundo antes de retirar seu pau de dentro da roupa.
— Vá com calma — avisou, preocupado.
Meu corpo demorou um pouco a reagir antes de finalmente tomar
coragem e enfiar a mão em sua cueca.
O seu pênis já estava ereto quando o retirei da sua roupa. Conseguia
sentir o nervosismo tomar conta de cada pedaço de mim.
Passei a língua sobre os lábios antes de me aproximar daquilo.
— Eu consigo — cochichei sozinha.
Chris deslizou os dedos em meu maxilar e sorriu.
— Sem empurrar, certo? — relembrou.
— Também não quero sua mão em mim. Quero fazer isso sozinha.
— Como quiser.
O segurei com firmeza em minha mão e o abaixei em minha direção.
Isso definitivamente não iria dar certo.
— Chris...
— Já mudou de ideia? — brincou.
— Isso cabe mesmo em mim? — perguntei, incerta.
— Só há um jeito de descobrir, princesa.
Eu não era capaz de parar de encarar para o seu grande membro em
minha mão. Parte de mim já havia desistido daquela ideia, e a outra estava
morrendo de medo.
Era a minha primeira vez fazendo um... Boquete. E, caramba! Era difícil
até mesmo em pensar nisso.
— Chupa meu pau e você ganha um desejo — sussurrou.
Sua condição roubou meu interesse. Rapidamente ergui o olhar para ele.
— Qual desejo?
— O que você quiser.
Era uma proposta realmente tentadora. E poderia dizer que fora até
mesmo um grande incentivador para que eu então, começasse.
Me ergui sobre os joelhos e aproximei os lábios diante do seu pau. Todo
o seu corpo estremeceu quando o beijei.
Chris puxou o ar com força e apertou o lençol da cama.
— Me deixa foder essa boca, Dingo.
Sorri manhosa para ele.
— Sou eu quem vou te foder, Chris.
Seu rosto mergulhou em uma expressão sacana. Apenas para provocar,
deslizei a língua sobre toda a extremidade.
Christopher tornou a respirar ofegante e mordeu os lábios com força.
— Puta merda!
Olhando-o nos olhos, coloquei a cabeça de seu pau em minha boca e o
chupei cheia de vontade. Seu rosto pintou-se inteiramente de vermelho.
— Caralho, Dingo. Caralho.
Enfiei um pouco mais dele em mim, mas parei quando comecei a
engasgar.
Aquilo era muito grande e volumoso para mim, contudo, não joguei a
toalha. Continuei a chupar o seu pau até onde consegui.
Minhas bochechas doíam, mas o suguei com vontade e fechei os olhos.
Sentindo todo o seu corpo rijo. Gemi baixinho e gostoso para deixá-lo ainda
mais cheio de tesão.
Senti um gosto estranho em minha boca, porém, tinha certeza de que ele
ainda não estava gozando, apenas excitado demais.
Parei por um momento e abri o zíper de minha calça. Enfiei a mão dentro
da minha calcinha, molhando os dedos em minha boceta, em seguida,
esfregando minha excitação no seu pau.
Christopher enguliu em seco, um gemido baixo escapou de seus lábios e
ele endureceu a feição.
Contornei seu pau com a minha mão e fiz movimentos de sobe e desce.
— Precisa que eu te deixe mais molhado, amor? Eu ainda estou
encharcada — provoquei, e ele se enfureceu.
— Não faz isso, garota. — sussurrou, desejoso e sombrio.
— Então não posso te contar que minha boceta está molhada? Desculpe.
Ele apertou os dentes.
— Puta que pariu, sua filha da puta.
Abri um largo sorriso e coloquei a língua para fora, esfregando todo o seu
pau nela.
— Não reclame, Chris. Foi você quem apareceu no meu quarto todas as
noites. Não era isso que você queria? Estou te dando o que você tanto
provocou.
Ele balançou a cabeça.
— Não pedi para ser torturado.
Chupei a glande de seu membro, fechei os olhos e suspirei de prazer.
— Desculpe, o que disse? — fiz-me de desentendida.
Ele pegou o meu pescoço e o segurou com firmeza, Chris foi ágil ao se
levantar, me erguendo junto a ele do chão.
Ele me empurrou contra a parede, erguendo meus dois braços com a sua
mão. Com a outra, ele apertou o meu seio.
Sua boca chupou os meus lábios e desceram para o meu pescoço.
— Chegas de provocações — determinou.
Chris se agachou e puxou a minha calça para baixo juntamente de minha
calcinha, jogando-a para bem longe de mim.
Ele beijou o monte pubiano de minha intimidade e deslizou a língua de lá
até a minha barriga.
Chris me vira de costas para ele e puxou os meus quadris, deixando um
tapa estralado em minha bunda, fazendo-me gemer.
Ele esfregou seu pau melecado entre minhas nádegas e aproxima seus
lábios de meu ouvido.
— Eu quero te foder, aqui e agora!
Meu coração disparou ainda mais e o encaro sobre os ombros, de olhos
arregalados.
— Eu ainda não estou pronta para isso — declarei assustada.
Ele mordeu os lábios com força.
Chris me virou-se novamente e ajoelhou.
— Segura na cômoda — mandou.
Num rápido impulso, ele levantou a minha perna e a jogou sobre o seu
ombro. A tempo dele fazer o mesmo com a outra, apoiei a mão no móvel ao
meu lado.
Chris enfiou a sua cabeça entre minhas pernas e chupou a minha boceta.
Abri a boca para gemer, mas Christopher me interrompeu.
— Geme baixo, amor. Não quer acordar um pequeno demônio, não é?
Sem demora tapei a boca.
— Boa garota — sorriu perverso e voltou ao trabalho.
Chris brincou com o meu clitóris e chupou toda a minha intimidade. Me
fazendo delirar de prazer.
Arqueei as costas e enfiei meus dedos entre seus fios de cabelos,
enfiando-o ainda mais em mim.
— Isso, Chris... — arfei.
Joguei a cabeça para trás e mordi os lábios.
Christopher não parava e nem media esforços. Ele me chupava cada vez
mais intensamente.
Minhas pernas tremiam e fraquejavam sobre seus ombros.
Ele mordeu a parte interna de minhas coxas e as chupou.
Senti sua língua quente em minha virilha e estremeci.
Quando fui atingida por um grande espasmo, enrosquei minhas pernas
sobre sua cabeça e o impulsionei para ir mais a fundo em mim.
Ele não reclamou, tampouco fez menção em se afastar. Pelo contrário, ele
puxou meus quadris para frente.
Chris me beijou, me chupou, mordeu e arranhou a minha pele com os
dentes. Sentia-me instável toda vez em que ele acelerava seus movimentos,
perturbando o meu juízo e me levando a loucura.
Fui levada pelo longo e doloroso prazer que Christopher me
proporcionava.
Joguei o meu corpo para ele quando, por fim, cheguei ao ápice, gozando
em sua boca.
Respirei ofegante, a garganta seca e os lábios machucados de tanto os
morderem.
Christopher me segurou pela cintura e me levou até a cama, colocando-
me nela com cuidado.
Ele sorriu para mim e beijou o meu joelho.
— Quer mais, amor?
Sorri nervosamente.
— Eu preciso de alguns minuto — ofeguei, mole e frágil no colchão.
— Me avise quando quiser de novo.
Ele se jogou ao meu lado.
— Meu pau ainda está duro.
Olho para baixo, encontrando seu membro erguido e suspirei.
— Você não me deixou terminar — destaquei e ele riu.
— É claro que não. Achou mesmo que poderia me maltratar assim?
— Disse que estaria ao meu dispor.
— Para fins sexuais, não para ser machucado.
Ri e me virei para ele.
Chris jogou minha coxa sobre sua barriga e a acariciou.
— Está bem? — perguntou, o olhar penetrando o meu.
— Acabei de ter um orgasmo, estou mais do que bem.
— Então quer dizer que já aguenta mais uma rodada?
Me sentei na cama.
— Eu ainda não estou pronta.
— O que falta?
Sorri.
— Você não para, não é?
— Só quando você decide que não quer mais.
Me deitei sobre ele e Chris acomodou seu pau no espaço entre as minhas
pernas, roçando a extensão sobre a minha boceta.
— Um ótimo lugar para colocá-lo, não? — caçoei, mas ele discordou.
— Eu prefiro dentro.
Beijei os seus lábios.
— Eu preciso de um pouco mais de tempo.
O garoto tatuado enroscou seus dedos em meus cabelos e puxou o meu
rosto, beijando a minha testa.
— Minha — declarou.
Deitei a cabeça em seu ombro e fechei os olhos.
— Completamente sua. — concordei.
Christopher levantou a minha camiseta, até que estivesse completando
fora do meu corpo, e afagou as minhas costas.
— Preciso colocar você para dormir em um outro lugar.
— Por que?
— Preciso bater uma.
Franzi a testa e ergui o rosto para ele.
— Sério?
— Como acha que eu vou me aliviar se não vai deixar eu meter?
Me sentei em cima de sua barriga.
Ele olhou para baixo e eu me cobri com as mãos.
— Não se cobre, Dingo.
— Já não olhou o bastante?
— Nunca é o bastante.
Balancei a cabeça e deslizei pelo seu corpo, até estar em cima de suas
pernas, abaixo do seu quadril.
— Agora pode bater a sua punheta.
— Com você sentada aí? — se opôs — Vou ter que bater umas 10
punhetas, Dingo. Não há como me masturbar se vai continuar com a sua
boceta se esfregando em mim.
Mordi os lábios.
— Vou fazer isso no banho. — informou.
Joguei a cabeça para o lado, me divertindo com aquilo.
— Você me faz se sentir a garota mais sexy do planeta terra.
Ele se sentou.
— E você é.
Beijei a pontinha do seu nariz e me joguei ao seu lado.
— Tenha um bom banho — fiz movimentos com a mão, imitando uma
punheta e Chris mostrou-me o seu dedo do meio.

Espero que tenham gostado, porque eu tô quase dormindo sentada. Então
se tiver algum erro na escrita, me avisem e amanhã eu corrijo.
Capítulo 37| Sogro

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



Seu rosto inicialmente se ratificou em uma surpresa singular. As duas
sobrancelhas se engelheram e os lábios descancararam.
O seu corpo inteiro paralisou no lugar e as mãos se mantiveram erguidas
no ar; bem como um filme pausado. Contudo, essa reação logo se dissipou.
Theo endureceu a face e mirou seu olhar sobre mim, enojado.
O susto já havia se sucedido, agora, só lhe restou a mais pura indignação
ao me ver em sua frente.
Fazia apenas 8 minutos que atravessei a porta de entrada do hospital à
sua procura.
Foi rápido. Eu sabia onde encontrá-lo.
O ardor de vermes era sempre inconfundível.
— Era só o que me faltava — resmungou baixo, visivelmente irritado.
— Olá, sogro — sorri cínico e presenciei seu rosto encher-se de uma
fúria ampla.
Ele balançou a cabeça, cheio de incredulidade.
— Não! não! — indignou-se — Ontem você levou a minha filha para
casa à meia noite. Mesmo depois de eu ter deixado claro que vocês dois não
deveriam ficar juntos — ele apontou para mim enquanto ditava, a boca
espumando ódio.
— Pelo menos a levei de volta. Deveria me agradecer — zombei, cínico.
Ele enrugou a testa.
O corredor era composto por apenas nós dois, longe de todo o resto. O
hospital permanecia sereno durante a madrugada. O horário entre às duas e
três da manhã eram sempre os melhores para visitas. Seja ela qual for.
— Já chega! Não vai mais ver a minha filha. Ouviu bem? — decretou.
— Ouvi muito bem. — sorri.
— Ótimo! Agora saia daqui. — Abanou a mão em direção a saída.
Olhei para trás, pelo caminho a qual apontava, e então, lentamente
retornei minha atenção para o coroa.
— Ouvir não é o mesmo que obedecer, Theo. — entoei perverso.
O homem alto e com indícios de fios grisalhos, apertou os seus dentes
branquissimos e marchou até mim.
Ele apontou o seu dedo nojento em meu rosto, a fim de mostrar
autoridade. Seu rosto vermelho, assemelhava-se a um rubi, já os lábios, se
enrugavam, em uma ira descontrolada.
Theo balançou a cabeça com descrença.
— Fique longe da minha filha. — bostejou, irritado. — Sei bem o que
garotos como você querem. Dytto não vai namorar você. Ela tem mais é
que ficar longe da sua família. Bando de hereges nojentos.
Passei a língua sobre os lábios, segurando um riso vil e debochado.
Então, quer dizer que o velhote puxou a minha ficha e de toda a minha
família? Ora, ora...
— Quer dizer que a sua princesa não pode namorar alguém que não seja
cristão, não é? Patético — cuspi com desprezo.
— Vocês são todos uns satanistas. Merecem todos irem para o inferno e
nunca mais saírem de lá. — praguejou alto.
— É, e nós vamos. — concordei, relaxado — E você vem logo atrás. Se
esconder atrás de uma cruz e uma bíblia não vai te livrar dos seus pecados,
seu maldito.
Theo impulsionou seus braços em meu peitoral, visando me empurrar.
Mas, se eu movi um milímetro, foi exagero de minha parte.
— Theo, Theo. Não brinque comigo — cantarolei, numa entonação
cruel.
— Não brinca você comigo. Você não me conhece seu moleque. Não
sabe o que sou capaz de fazer. — protestou, irado.
— Está falando dos seus contatos? Corruptos, ladrões e contrabandistas?
— lembrei-o. — Tenha um pouco de senso, Theo. Nenhum deles vai te
salvar se eu decidir que sua vida acabou. Nenhum.
Ele me olhou em um misto de pavor e nojo.
— Você é um cara rico, bem sucedido e um bom pai — ri, sentindo
cócegas em pronunciar tantas mentiras em uma só frase — Não quer que
descubram os seus segredinhos, não é? Afinal, ninguém quer contratar um
cara com o histórico de contrabandear medicamentos, corrupção, lavagem e
desvio de dinheiro de verbas que deveriam estar indo para as crianças com
câncer. — abri a boca em uma falsa expressão de choque.
Ele arregalou os olhos, soterrado em um ódio mortal por mim.
— Que feio, seu danadinho. — caçoei, segurando seu nariz com força
entre dois dedos meus para chacoalhar a sua cabeça em uma irônica
advertência.
Ele acertou a minha mão com um tapa e recuou um passo, enfurecido.
Precisei segurar o riso.
— Você é um desgr...
— Seu genro. — o interrompi — Eu sou o seu genro! — exclamei firme,
sem espaço para argumentações. — E a partir de agora, se eu pedir para
você chupar as minhas bolas, você vai.
Ele respirava rápido e pesado. Os seus punhos se abriram e fecharam
várias e várias vezes.
— Sua filha é a minha namorada, e vai continuar sendo. — anunciei bem
lentamente. — Se você se meter. Se ousar questionar. Se magoá-la ou se
pisar em falso. — balancei a cabeça em desaprovação. — Eu arranco a sua
pele com você vivo.
Theo empinou o queixo, embora internamente não estivesse tão confiante
assim.
Subsistia medo e raiva enfeitando a sua face, no entanto, ele sabia que
tinha muito mais a perder se me questionasse.
— Ninguém vai ficar sabendo disso? — certificou-se.
— Isso depende de você.
Theo cerrou os dentes uns nos outros.
— Meu genro então? — repetiu, de modo que as palavras aparentavam
amargar em sua língua.
— O genro que você mais ama em todo o universo. A pessoa certa para
sua filha, e... — rindo, enfatizei a última parte — seu grande amigo.
Ele bufou e revirou os olhos.
— Seu desgraçado de merda — rosnou, baixinho
— Epa epa. Mais respeito pelo cara que satisfaz a sua filha até ela virar
os olhinhos. — afrontei sua confiança.
Se, humanamente, fosse possível, ele teria explodido de raiva, entretanto,
ele apenas socou a parede ao seu lado, afundando a placa de gesso.
Eu ri baixo e provocativo.
— Espero que não tenha me imaginado no lugar da pobre parede.
Seus olhos — vermelhos como se queimassem em chamas — pousaram
rudes sobre os meus. A sua pele estava avermelhada de raiva, e as veias
pulsavam à vista.
— Não conte nada a elas e Dytto ainda terá permissão para ver você. Mas
tenho condições para esse namoro. E eu exijo que respeite a minha filha.
— Sou eu quem faço as regras, amigo. Mas não se preocupe, sua filha
será tratada como uma rainha.
Ele assentiu.
— Então que assim seja. — concordou, de má vontade.
Ergui minha mão para ele. Theo a encarou por longos segundos, até que
finalmente cedeu e a tocou.
O erro foi completamente dele em achar que eu queria cumprimentá-lo.
No mesmo segundo o puxei e o apunhalei entre as pernas com o joelho.
Ele imediatamente se encolheu, cheio de dor.
Aproximei meu rosto de seu ouvido.
— Isso é por ter brigado com a minha garota — sussurrei.
Girei sua mão para trás, ouvindo-a torcer e Theo se esvair em lamúrias.
— E isso... é por achar que é melhor que eu.
O pai de Dytto se derramou sobre os joelhos. Os olhos lacrimosos e os
lábios abertos em um grito silencioso.
Finalizei a minha visita, golpeei o seu rosto com um chute, deixando-o
desacordado no chão.
— Tenha bons sonhos, babaca do caralho. — Virei-me e saí dali
apressado.
Quando já estava fora do hospital, meu celular estalou no bolso,
notificando uma nova mensagem. Ele emitia sons apenas quando eram
mensagens de Dytto.
Me preocupei em saber o que ela queria a esta hora.
"Queria fazer uma coisa" — Sorri sozinho.
O que você está aprontando, meu amor?

O relógio marcava três e trinta e cinco da madrugada.
Ainda que Christopher não tivesse vindo durante a noite, eu o esperava
em minha cama.
O pensamento de que a qualquer momento ele surgiria nas sombras do
meu quarto, causava-se ansiedade e excitação.
Um combo de sentimentos que se expandiram por cada fragmento do
meu corpo, consumindo-me por inteira.

Christopher despertava sensações tão intensas dentro de mim que me


tiravam o fôlego e me levavam a fundo em sua escuridão.
Eu queria ser esperta e saber nadar, mas toda vez que o "oceano
Christopher" alcançava os meus pés, eu queria mergulhar nele e me deixar
afogar.
Cada vez querendo-o mais, pensando em tê-lo todo para mim. Sempre só
para mim, o tempo inteiro.
Minhas mãos deslizaram por entre minhas coxas, minha respiração
tornou-se ofegante. Desta vez, meus dedos exploraram o meu corpo,
apertando as minhas coxas e todas aquelas partes em que ele adorava tocar.
Tudo se tornava mais sexy, porque ele o fez assim.
Não consegui me controlar à sua espera. Enfiei minha mão dentro da
minha calcinha e comecei a me tocar. Massageei o meu clitóris já dolorido
em movimentos circulares e deslizei o dedo pela minha boceta, inteiramente
molhada.
Gemi quando adicionei um dedo, fantasiando ser Chris, e o escorreguei
para dentro de mim. Mas não era a mesma sensação, e isto me deixou
frustrada.
Os dedos dele me preenchiam por completo, do contrário, os meus, se
pareciam sem sentido aqui. Não se encaixavam.
Enfiei um segundo dedo. Consegui sentir-me um pouco mais saciada,
entretanto, almejava por mais.
Acelerei-os dentro de mim. Tudo o que eu conseguia ouvir era o som de
meus dedos entrando em minha boceta encharcada.
Mordi os lábios com força quando senti espasmos de prazer. O imaginava
chupando os meus seios e descendo até entre o meio de minhas pernas para
me lamber. Queria suas enormes mãos apertando a minha cintura e me
puxando para ele.
— Chris... — suspirei, contorcendo-me em prazer.
Com a mão livre, apliquei pressão em meu seio.
Enfiei meus dedos mais a fundo em mim e diminui a intensidade em que
os remetia.
Enterrei o rosto no travesseiro, quando percebi que não conseguiria mais
reprimir os meus barulhos.
Precisava de mais. Precisava dele. Precisava de Chris para gozar.
O lençol fora bruscamente jogado para longe do meu corpo e um toque
firme e apertado em minha coxa me fez estremecer de susto e saltar sentada
na cama.
Arregalei os olhos, apavorada com ideia de ter sido alguém da minha
família a bisbilhotar.
Apenas cessei a tensão em meu corpo quando ouvi o riso baixo e
conhecido ressoar próximo.
— Você me assustou. — cochichei.
— Já começou sem mim, Dingo? — sua voz era carregado de tesão.
Christopher se ajoelhou entre as minhas pernas e arrancou a minha
calcinha do corpo, empurrando-me com força de volta ao colchão.
— Quer foder com os dedos, princesa? — provocou, curvando-se para
mordiscar a minha coxa.
Sorri no escuro do quarto e todo o meu corpo se arrepiou.
Meu coração disparou no peito. Estava receosa de que ele tivesse
assistido tudo, ao mesmo tempo em que desejava que ele o tivesse feito, e
que houvesse gostado tanto quanto eu.
Christopher se ergueu sobre o meu corpo e aproximou-se.
— Continua. — proferiu baixo — Mas eu quero que você continue com
os meus dedos. — pediu.
Ele apoiou sua mão grande e pesada sobre a minha barriga, como se a
entregasse em minha responsabilidade.
— Faça!
Engoli em seco.
Uma nova experiência.
Abri as minhas pernas, deixando-as bem afastadas. Tomei a mão de
Christopher nas minhas e a levei onde o meu desejo pulsava mais forte.
Posicionei o seu dedo do meio em minha entrada e lentamente o enfiei
dentro de mim. Um gemido tortuoso escapou de meus lábios e precisei
respirar fundo para conseguir absorver aquela sensação.
Comecei a movimentá-lo e ergui os quadris, flexionando meu corpo para
frente.
Deixei seu dedo parado em minha frente enquanto remexia a cintura para
frente e para trás, rebolando em seu dedo, sentindo-o me penetrar com
dureza.
Christopher deitou a cabeça em meu ombro e apertou seu rosto em meu
pescoço. Sentia sua respiração quente e descompassada em minha pele. Ele
parecia tão mais excitado que eu.
Apertei firme o seu braço, ofegando em seu ouvido.
Christopher não se limitou e deu-me um beijo abrasador. Ele, aos poucos,
adicionou mais um dedo, este, se tornou doído.
Murmurei desconfortável, mas ele apertou ainda mais os seus lábios
contra os meus, sufocando os meus gemidos.
Apertei minhas pernas ao redor de sua cintura quando ele forçou a
entrada de seus dois dedos em mim. Consegui escapar de seus lábios e
soltei um grito baixo.
— Aguenta — mandou, firme.
Fiz o que me pediu e permiti que me fodesse daquele jeito. Talvez, fosse
o único jeito de aguentá-lo se um dia eu realmente conseguisse ir até o fim
com ele.
Christopher disse que se eu me acostumasse com os seus dedos, seria
mais fácil quando ele fosse me penetrar, mas aquilo doía.
Era prazeroso saber que era ele ali, me tocando, entretanto, não deixava
de machucar ao me invadir.
Mordi os meus dedos e enfiei o rosto em seu pescoço.
— Chris, isso dói. — confessei, chorosa, espremendo as pernas entre o
seu corpo.
Ele automaticamente interrompeu o que fazia e suspirou agoniado.
Preocupava-se em me ver daquela maneira. Christopher deu curtos beijos
em toda a minha bochecha.
— Eu não sei se isso vai dar certo — admiti.
— Quer que eu te deixe mais molhada?
— Não é isso. Só que eu acho que o seu negócio não vai caber.
Ele soltou uma risada baixa.
— Me deixe terminar isso aqui. — sussurrou — E não me peça para
parar até não aguentar mais. Entendido?
Balancei a cabeça em concordância.
— Entendido.
Seus dedos voltaram a se mexer em um entra e sai lento. Chris usava o
seu dedão em meu clitóris para me estimular, ao mesmo tempo que beijava
o meu rosto.
Era notável o seu desejo em tornar aquilo menos difícil.
Passei os braços ao redor dele e o puxei para mim, colando o seu rosto no
meu.
— Não se afaste — pedi.
— Tudo o que quiser, princesa.
Segurei o seu lindo rosto entre as minhas mãos e o beijei. Minha língua
adentrou a sua boca, em um desejo envolvente de dançar com a sua.
Christopher me pegou desprevenida, enfiando os seus dedos por completo
de uma só vez.
Um gemido esganiçado escapou de minha garganta, mas nosso beijo o
abafou.
— Ouvir você gemendo gostoso me dá um puta tesão do caralho, garota.
Ele deslizou a língua por todo o meu pescoço, deliciando-se de cada
pedaço meu. Abracei o seu corpo com força e apertei os joelhos em sua
cintura.
Christopher intensificou suas estocadas de um jeito delicioso.
Pressionei seus dedos dentro de mim, sentindo meu corpo enrijecer com
o desejo crescente em meu íntimo.
Minha nossa! Eu estava delirando em seu toque.
Enfiei minhas unhas em seu pescoço, não ligando se eu estava o
machucando ou não. Eu só queria-o mais forte, mais próximo, mais dentro.
Eu estava quase...
Christopher me masturbou naquela noite até que eu gozasse. Apenas
quando me viu se desmanchar em seus dedos, agarrando-me a ele, ao sentir
ondas de um orgasmo delicioso me envolver, que me deixou.
Em seguida, Christopher me enrolou no cobertor e deitou-me sobre ele
até que eu finalmente adormecesse.
Não lembro de quando ele foi embora naquela madrugada, contudo,
apreciei cada segundo depois de ter sido satisfazia.

O melhor encontro com o sogro
Insta: autoramariliaandrade
Capítulo 38| Estranho

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO.


Loren e eu nos encontramos no topo da escada quando saímos de nossos


quarto pela manhã.
No entanto, estávamos igualmente exaustas e sonolentas para nos
falarmos.
Nós duas ainda permanecíamos em um transe profundo de sono enquanto
descíamos às escadas. Eu não dormi muito, por motivos indecentes. Ela, por
outro lado, deveria ter fugido durante a noite para aprontar alguma.
Minha irmã não era uma santa, isso era óbvio. Por isso, já não a
questionava mais sobre os seus compromissos repentinos.
De todo modo, eu deveria ser a última pessoa no mundo a julgá-la por
qualquer coisa que fosse. Afinal, minha relação com o Christopher já era
um bom motivo para isentá-la de qualquer má atitude que ela tivesse.
Foi somente quando vimos o que nos esperava na cozinha, que
despertamos completamente.
Papai estava sentado à mesa. Sua mão direita engessada, e a esquerda
segurava uma bolsa de gelo em seu rosto.
Arregalei os olhos diante daquela situação.
— O que que houve? — me alarmei, apressando os passos.
Seus olhos rapidamente se prontificaram a olhar em nossa direção.
— Garotas — cumprimentou baixo, forçando um sorriso que parecia lhe
causar dor — Bom dia!
— Que droga foi isso? — Loren questionou-o indelicadamente.
Toquei o rosto do papai com cuidado e o ergui para mim. O grande
hematoma arroxeado na lateral do seu rosto foi exposto quando ele retirou o
gelo.
— Meu Deus! — sussurrei horrorizada.
Papai era muito vaidoso, e vê-lo daquela maneira me fez ficar tensa.
O que o teria acontecido para que ficasse assim? Será que ele teria se
metido em uma briga? Não poderia ser possível.
Seu temperamento nunca foi um dos melhores, mas papai nunca foi
agressivo. Ele sequer, em sua vida toda, levantou a mão uma única vez para
qualquer uma de nós ou outra pessoa.
— Bem, eu sofri um assalto assim que saí do hospital ontem. —
suspirou. — Não queria que soubessem assim, e desculpe assustá-las. — ele
tocou a minha cintura e curvou um sorriso triste.
— E você está bem? Se machucou muito? — disparei aflita, procurando
olhá-lo por inteiro.
— Eu estou bem, querida! — garantiu.
— O que foi isso no seu rosto? — investiguei, arrastando os olhos por
toda a sua face.
— O idiota me deu um chute para me desacordar e levar o meu relógio.
— ele ergueu o braço, expondo a ausência do objeto.
— Já registrou a queixa? Não pode deixar impune quem fez isso. — me
enraiveci.
— Já tomei todas as medidas cabíveis. Não se preocupe.
Loren se aproximou atentamente, embora não estivesse procurando
esforços para consolar o nosso pai.
— Ainda estamos de castigo? — questionou, alheia.
Lancei-lhe um olhar de advertência, mas que não surtiu o menor efeito.
Decidi não brigar, isso somente a faria revirar os olhos. Loren tinha um
mau hábito de ser extremamente rude com os nossos pais em qualquer
ocasião. Eu não a culpava totalmente, porém, ainda assim, eles eram nossos
pais.
— Não, Loren. Não estão mais de castigo — papai respondeu, com
resquícios de raiva em sua voz.
— Ótimo! — ela se animou, enfiando uma torrada na boca. — Vamos a
uma festa hoje a noite, Dy — avisou.
Arregalei os olhos.
— O quê? Eu... — encarei papai com incerteza.
Ele não deveria estar falando sério. Só podia estar brincando.
Papai jamais nos deixaria sair do castigo assim. Ainda mais, depois de eu
tê-lo desafiado ao quebrar suas regras quanto ao meu namoro.
— Tudo bem, podem ir. — confirmou, respondendo à confusão agarrada
ao meu rosto.
Crispei a testa, atordoada.
— O senhor está mesmo bem? — semicerrei os olhos.
O que diabos aconteceu nessa cabeça de vento dele?
— Acho melhor fazer uma tomografia. Esse ladrão parece ter lhe
acertado com muita força — argumentei, irritada.
— Está tudo bem, Dytto. Não se preocupe. Não dá para trabalhar com a
minha mão assim. — ele a balançou de leve — Vou ficar em casa por um
tempo e não preciso de vocês duas me entediando.
Balancei a cabeça, assustada, e olhei para Loren que, misteriosamente,
sorria como se aquele fosse o melhor dia da sua vida.
O que ela tinha hoje? E o que o meu pai tinha? Afinal, o que estava
acontecendo com todo mundo aqui?
Quase me besliquei, a fim de descobrir se ainda estaria dormindo.
— Eu não vou. Vou ficar aqui rezando 30 ave Maria — testei.
— Não encha, Dytto — Theo reclamou.
— Tá vendo? — Falei para Loren, apontando para ele com incredulidade
— Papai não está normal! Se eu tivesse dito ontem que ficaria em casa
rezando, ele teria me incentivado e jogado isso na sua cara.
— Vai reclamar pelo papai ter criado um pouco de juízo? — Loren
caçoou e ele a olhou furioso.
— Não está preocupada de ele ter tido um AVC? Ele pode estar
delirando.
— Não é todos os dias que ele está de bom humor, Dy. — ela chacoalhou
os meus ombros, empolgada, como se papai não estivesse bem à nossa
frente — Vamos curtir.
— Eu ainda acho que ele bateu a cabeça com força.
— Já chega. — Theo declarou, se levantando. — Vão se arrumar para a
escola. — nos expulsou com a mão boa, farto daquele bate-papo.
— Posso pegar o meu carro, então? — questionei-o.
— Vai.
De soslaio, verifiquei a minha irmã, porém ela parecia indiferente com
tudo aquilo.
Ou eu estava ficando maluca, ou o mundo é que estava.

Ao sairmos de casa, Loren parou no meio da garagem, respirou fundo e
sorriu para mim.
— Eu já falei o quanto gosto do seu namoro com o Chris? — comentou,
alegre.
Não?! Porque você definitivamente odeia ele. Que droga ela tem?
— O quê? — fiz careta.
— Deveria chamá-lo para a festa de hoje. — sugeriu, de um jeito
simpático e bizarramente suspeito.
Seria mais provável que ela estivesse planejando o assassinato dele do
que tentando ser amigável.
— O que é que você tem hoje? Não voltou a beber acetona, né? Pensei
que tivesse superado essa fase aos 8 anos de idade.
Ela alargou o sorriso e beijou a minha bochecha.
— Aposto que esse é só o início da nossa liberdade. — cantarolou.
E assim, saiu dançando até o seu carro.
— Maluca. — cochichei.

Luc tinha sua concentração completamente entregue ao que estava
fazendo quando eu me aproximei.
Ele estava tão mergulhado no livro a qual lia, que mal se deu conta
quando me sentei ao seu lado no refeitório.
Era fofo ver os seus olhos correndo sobre a página, devorando palavra
por palavra em questão de segundos, imerso à história.
— Uau! Temos um leitor assíduo aqui? — brinquei, chamando a sua
atenção. — O que está lendo?
— Dytto — ele sorriu. — Ah, estou lendo um livro chamado Love in the
dark.
— Uuh! Tem um título interessante. — comentei, com entusiasmo.
— É, ele é. Tem umas paradas bem maneiras. — se animou — Me
trouxe novidades, garota?
Sorri para ele.
— Meu castigo finalmente acabou — comemorei.
Ele ergueu sua mão ao alto, segurando uma taça imaginária.
— Um brinde a esse dia! — celebrou e eu ri.
— Não faça charme. Conhecendo o meu pai, pode ter sido apenas um
momento de surto psicótico. Assim que ele voltar à lucidez, o castigo irá me
receber de braços abertos novamente.
Luc fez uma expressão insatisfeita.
— Então, vamos aproveitar enquanto podemos. — propôs. — O que
temos para amanhã?
— Hmm... — meditei, repassando todos os vários nadas que tenho
agendado — Bom, nenhum compromisso importante.
— Perfeito! Vamos ter o nosso primeiro encontro.
Oh-oh! Isso não era uma boa ideia. E Marcos era a prova — quase não
viva — disso.
Mordi o canto dos lábios.
— É... Então, sobre isso — frisei os lábios em uma linha torta — Eu
meio que estou... na-mo-ran-do. — minha voz se tornou um esguicho ao
finalizar.
Fiz uma careta, esperando por sua reação, mas Luc parecia tão chocado
que mal conseguiu esboçar uma.
— Ah — sibilou, estático.
Baixei o olhar para a ponta das minhas unhas.
— Eu queria te contar, só não sabia como.
Ele batucou os dedos em cima da mesa.
— Tá, tudo bem. Uma hora ia acontecer, não é? E você... Quando..
quem... Quero dizer, com quem está? Quem é o cara? Ele é daqui? Do
colégio?
— Christopher — confessei — Eu estou namorando o Christopher.
Suas sobrancelhas saltaram.
— Christopher — repetiu, atordoado.
— É.
— Ein? Ok. Isso é bem louco.
Mordi o lábio, insegura.
— Ele não te machuca, né? — Luc perguntou desconfortável.
Balancei a cabeça, negando.
— E nem te força a nada, né?
— Não se preocupe, Luc. Estamos bem. Christopher respeita os meus
limites. — Bom, quase todos.
Ele mexeu um ombro.
— Só queria ter certeza — sussurrou, tristonho.
— Loren e eu vamos a uma festa hoje. Quem sabe você não possa
conhec....
— Eu estou ocupado, Dy. — me interrompeu. — Isso aí são prazeres
momentâneos. O meu futuro não será. — ele forçou sorriso brincalhão, mas
que não me transparecia a menor verdade.
Tentei sorrir ao ouví-lo dizer palavras que, em um outro momento,
saíram de mim.
Agora tudo me parecia tão inverso e estranho.
— Está bem. Tem razão.
Ele sorriu.
— Mas tô feliz por você, sabe? — ele se esforçou, mas eu vi que isso o
magoou profundamente — É bom saber que está feliz.
— Obrigada, Luc — balbuciei, penosa.
Ele assentiu e retornou a sua leitura.
Curvei um meio sorriso triste, levantei-me dali e fui em direção ao
banheiro.
Era horrível a sensação de que o sentimento de outra pessoa estava em
minhas mãos. Me parecia como um peso me sufocando.
Sabia que todas as decisões que eu tomasse, poderiam ter um grande
efeito nele, e isso era assustador.
Apoiei o corpo na pia e soltei o ar pela boca. Estava me sentindo tensa e
incerta.
Eu sabia que não poderia dar a ele motivos para achar que teríamos uma
chance, mas me partia o coração vê-lo assim.
Fechei os olhos por um breve momento e balancei a cabeça.
Não. Não. Não. Não. Chega!
Eu não vou me punir por isso. Não posso deixar que os pensamentos
intrusivos me façam sentir culpa por não ter sentimentos recíprocos por
Luc.
Eu o amo, mas somos apenas amigos. Eu preciso me recompor, e não, me
torturar.
Tudo bem. Hora de pensar em outra coisa. Remoer esse assunto não vai
me levar a lugar nenhum que não seja o horroroso vale da culpa.
Retirei o celular do bolso e procurei pelo contato de Christopher.

A resposta, como sempre, veio imediatamente. Sorri, abobalhada.


Bom, então estava marcado!
Hoje iríamos a uma festa. Juntos. Em público. Pela primeira vez. Como
um casal.
Que frio na barriga!

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sai capítulo novo.
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Capítulo 39| Bêbada

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



O reflexo no espelho me deixava instigada a descobrir qual seria a reação
de Christopher assim que me visse.
O vestido branco, mal alcançava a metade das minhas coxas. Havia uma
pequena fenda na lateral esquerda da roupa, dando-lhe um ar mais ousado, e
possuía alças tão finas, que temia quebrarem com qualquer movimento
brusco.
O tecido marcava todas as minhas curvas, ressaltando ainda mais a minha
cintura e quadris. Até mesmo os meus — quase inexistentes — seios,
conseguiram ganhar um pouco mais de notoriedade com o enchimento.
Gostava de como a roupa me fazia se sentir uma mulher sexy, porém, ao
mesmo tempo, séria. Era sensual, mas não vulgar. Deixava apenas o
suficiente à mostra.
Tentei fugir destes pensamentos, contudo, a única coisa a qual eu mais
queria, era os olhos de Chris postos sobre mim, olhando-me cheio de
desejo.
Não era costumeiro que eu usasse roupas assim, mas não era um evento
impossível de acontecer. Eu só não estava muito afim de estar sempre
procurando por ficar sensual.
Me incomodava receber olhares de quem não contribuiria no menor
parâmetro da minha vida.
No entanto, agora eu tinha um bom motivo pelo qual usar roupas a qual
eu fosse se sentir desejada.
Não que eu quisesse me tornar um objeto sexual para ele, mas me
afundava em prazer quando Christopher me olhava cheio de malícia.
Adorava sentir que tudo nele era sobre mim. E que éramos
completamente pertencentes um do outro.
— Estou bonita? — perguntei para Loren, dando uma voltinha no quarto.
Ela estava vestida em uma calça jeans preta e um moletom bege. O
cabelo estava preso em um rabo de cavalo, com alguns fios rebeldes soltos.
Loren adorava festas, mas não curtia moda tanto assim. No entanto, ela
era muito bonita e não precisava de esforços para chamar a atenção.
— Você está incrível, Dy. Mas por que essa roupa? — analisou, descendo
o olhar pelo meu corpo.
Sorri.
— Quis ousar um pouco.
Ela ergueu uma sobrancelha.
— Espero que isso seja sobre você, e não influência de outros. —
aconselhou.
Quase ri disso. A rainha influenciável querendo me dar palestra.
— Se influência de "outros" está querendo dizer "Chris", então não. Ele
não escolhe as minhas roupas, eu escolho. E não me importo de me vestir
um pouco mais ousada para impressioná-lo. Mas eu também gosto de me
surpreender às vezes. Então, no fim, todo mundo ganha. — dei de ombros.
Ela me ignorou completamente e jogou-se no colchão. Aposto que parou
de me ouvir na terceira palavra que eu disse.
— Vai demorar muito? — resmungou.
— Eu só quero me conferir antes. — avisei.
Ela bufou alto, estava cansada de esperar que eu me aprontasse, embora
fôssemos em carros separados, ela queria esperar para partirmos juntas de
casa.
Preparei a minha bolsa com suprimentos básicos de sobrevivência:
Celular, carregador, absorvente e um pirulito para ajudar a cortar o efeito do
álcool.
Me peguei pensando se colocar uma camisinha seria estranho.
De onde tirou isso, Dytto? Pensamento idiota!
Eu não ia perder a minha virgindade em uma festa qualquer. Me recusava
a isso.
— Eu estou pronta! — informei, nervosa.

Christopher e eu iríamos juntos para a festa. Estava empolgada com a
ideia e satisfeita por isso.
Eu seria a sua "motoristinha" de hoje.
Estacionei o meu carro perante a sua casa, em sua espera. Precisei apenas
do tempo para desfivelar o cinto de segurança, antes da porta do imóvel se
abrir, revelando um Chris muito sexy, vestido em uma camiseta azul-escuro,
um grande casaco preto, uma calça jeans e um coturno.
Meu queixo caiu.
— Caramba! — arfei. Inconscientemente, espremendo as coxas.
Ok! Talvez eu devesse ter comprado uma camisinha.
Engoli em seco ao vê-lo caminhar posturado, o rosto cheio de seriedade e
os olhos firmes. Seus passos eram duros e largos em direção ao meu carro.
Ele era tão convicto e se esvaia em uma coragem que causava inveja a
qualquer um.
O cabelo negro estava incrível bem penteado para trás, num estilo
elegante e chique.
À medida em que se aproximava, notei que seus dedos tatuados estavam
decorados por anéis de prata.
Ele estava tão lindo que doía.
Christopher deveria ser considerado um crime pela lei constitucional:
Lei de n°666/69: Tocar nesse meio humano, meio demônio, é um crime
sem direito a perdão; visto que, essa criatura, é de tal modo, tão perfeita,
que deveria permanecer em exibição em um museu, com aquiescência de
ser apenas admirado e cultuado.
Eu seria presa, sem dúvidas.
No momento em que Christopher entrou em meu carro, não deixei nem
mesmo que me olhasse antes de pular em seu colo para agarrá-lo aos beijos.
Senti-o sorrir com os lábios colados aos meus e enlaçar a minha cintura
com o seu braço, pressionando meu corpo no dele.
O beijei como se não nos víssemos há tempos, pois naquele momento, eu
queria-o somente para mim.
Aquele homem! Meu Deus! aquele homem era meu. Eu mal podia
acreditar nisso. E saber que ele era completamente obcecado por mim.
Minha nossa! Eu era verdadeiramente uma puta de uma garota de sorte.
Cada vez que eu pensava nisso, tinha ainda mais vontade de me agarrar a
ele nesse carro durante horas.
O tesão me consumia pouco a pouco e nosso beijo tornava-se cada vez
mais quente, mais malicioso e sensual. Suas mãos tocavam partes das
minhas coxas não cobertas pelo vestido e subiam até a minha bunda.
Agarrei o seu rosto com as minhas mãos e puxei ele para mim. Seu
cheiro adentrou minha narina, intoxicando os meus sentidos apenas para me
fazer querê-lo.
Segurei-o comigo para que permanecesse completamente colado a mim.
Nosso beijo durou vários e deliciosos minutos. Estive tão absorta em
meus desejos que mal notei que ambos já estávamos sem fôlego.
Foi só então que afastei-me dos seus lábios. Eu estava ofegante e quente.
Meu corpo fora afetado em cada mínimo detalhe.
Meu momento irracional, me fez agir como uma maluca, mas,
Christopher adorava quando eu fazia isso.
— Você está bem? — ele perguntou, respirando com dificuldade.
Um sorrisinho cafajeste pintava os seus lábios, ao passo que ele me
olhava de cima a baixo.
— Desculpe. Acho que estou no período fértil. — admiti, penteando com
os dedos os fios de cabelos selvagens em minha cabeça.
Ele riu e deu um breve beijo em meu queixo.
— Acho que tenho que agradecer ao seu corpo por isso. — brincou.
Christopher parecia curioso em descobrir o que eu estava vestindo e
afastou o meu corpo do seu até que eu estivesse com as costas apoiadas no
painel do carro.
Ele sorriu ao observar o que eu usava e passou os dedos sobre os lábios,
como se degustasse do que via.
— Você está gostosa pra caralho, Dingo. — murmurou, rouco.
Brinquei com a beirada do seu casaco e sorri.
— Digo o mesmo.
— Estou gostosa também, princesa? — ele riu.
— Sim, você está uma gostosa do caralho, Christopher.
Ele escorregou as costas das mãos em meu rosto e apertou as minhas
bochechas, obrigando meus lábios a formarem um bico.
— E pensar que eu achei que você fosse inocente. — ele jogou-me uma
piscadela.
Revirei os olhos e afastei a sua mão.
— Não tenho culpa se você mentiu para si mesmo. — provoquei.
Ele abriu um largo sorriso.
— É que eu me enganei feio. — Chris deu um tapinha na minha coxa. —
Ainda bem, ou não teria ganhado um boquete dos infernos.
Meu rosto esquentou.
— Esqueça isso. — cochichei.
— Nem ferrando.
Encarei minhas mãos em seu colo.
— Você gostou? — sussurrei.
— E existe algo em você que eu não goste?
Ergui o meu olhar para o dele.
— A minha crença em Deus e a minha teimosia em saber sobre o seu
passado, talvez?
— Podemos dar um jeito nisso.
Seus lindos olhos brilhavam e todo o seu rosto parecia sorrir. Meu peito
se aqueceu e todas aquelas borboletas drogadas cercaram o meu estômago.
A sensação me deixava meio bêbada e lerda. Meus lábios deixavam que
sorrisos bobos escapassem.
Oh, merda! Ele estava me fazendo querer dar para ele ali mesmo.
— Acho melhor nós irmos — avisei, pulando ligeiro para o banco do
motorista.
Christopher gargalhou, mas não disse nada. Parecia ter entendido bem a
situação.

Ao adentrarmos o lugar, notei que Christopher permanecera calado e
sério. Seus olhos desconfiados encaravam a todos com uma insistente
suspeita.
Conforme nós nos enfiávamos em meio ao tumulto no hall de entrada,
sentia-o ainda mais tenso e irritado.
Não gostei da sua reação e me encolhi atrás dele, segurando-o apenas
pelo seu dedo indicador.
Alguns dos convidados, entretanto, se distraíram conosco ao passarmos.
De certa forma, chamávamos a atenção. Christopher não era alguém
comum, tampouco possuía resquícios de gentileza em sua face.
Eu não conhecia ninguém ali, mas pela forma que olhavam o homem
extremamente alto e tatuado ao meu lado, aposto que sabiam quem ele era.
Christopher formava um escudo de proteção à minha frente, guiando-me
com cuidado em meio aquelas pessoas. Eu queria enxergar o caminho, mas
ele continuava a se meter em meu campo de visão, enfiando-me
propositalmente atrás dele.
A casa era grande e espaçosa, mas uma grande parte dos festeiros se
amontoavam no meio da sala ao som de uma música eletrônica irritante que
parecia nunca sair do refrão.
As paredes pálidas eram decorados por quadros com cores vividas e
brilhantes. Os móveis eram, em parte, quase todos amarelos ou cinza. No
geral, até que era uma boa mistura.
As divisórias entre os cômodos davam-se por paredes com aberturas
largas em formatos de arcos, passando a sensação de um lugar amplo e
aberto.
Próximo da cozinha, havia uma escada mesclada a parede, dando acesso,
ao que eu imagino, serem os quartos.
Loren tinha amigos bem afortunados, logo, sempre estávamos pulando de
mansão em mansão para mais festas.
— Sua irmã. — ele avisou, parando no lugar.
Dei um passo para frente, enxergando Loren aproximando-se
rapidamente. Ela já estava com uma garrafa de cerveja em uma mão e um
cigarro na outra.
— Por favor, não briguem. — pedi a ele num sussurro.
— Como quiser.
Loren nos alcançou assim que ele terminou de falar.
— Ei, vocês! — cumprimentou.
— Ei, você! — Chris a imitou com voz de garotinha.
Minha irmã revirou os olhos e mostrou-lhe o dedo. Chris repetiu o gesto,
mas quando ergui o pescoço para olhá-lo, ele o trocou pelo dedão.
— Apenas paz e amor reina aqui. — garantiu, sorrindo forçado para
mim.
— Se vocês dois brigarem hoje, eu vou trancar vocês em um quarto,
obrigá-los a pedirem desculpas um ao outro, se abraçarem e darem
beijinhos na bochecha. — ameacei.
Os dois simultaneamente fizeram careta.
— Ah, para né! Adoro a sua irmã. Eu sou o maior fã dessa garota. —
Chris vibrou animado, passando o braço em volta do pescoço de Loren,
enforcando-a.
— Que Lúcifer tenha piedade de mim. — Loren lamentou sufocando.
Christopher riu.
— Não vai, não.
— Não precisam ser amigos, apenas não querem que se matem. — avisei
e Chris a soltou, suspirando aliviado.
— Por que não avisou antes?
— Dytto, eu tentei ser educada, mas não dá. Por que não pega essa coisa
grande e esquisita e leva pra dar uma volta bem longe daqui? — Loren
sugeriu, encarando-o séria.
Christopher sorriu provocador e balançou as sobrancelhas.
— Tá com medo, Loren?
— Chris! — chamei sua atenção. — Que tal se formos beber, hein?
— Isso. Vão lá e sejam felizes. — Loren deu-nos as costas e apressou os
passos para bem longe.
Christopher comemorou discretamente e beijou a minha bochecha.
— Vamos.

A mesa de bebidas era composta por tantas opções, que me fez ficar
estática encarando-a por, ao menos, uns 2 minutos.
As variedades eram compostas por garrafas de diferentes cores e formas,
preenchendo a grande mesa redonda por inteira.
Quem morava ali, era, no minino, um alcoólatra inato ou dono de um bar.
— Já escolheu? — Chris perguntou, de pé atrás de mim.
Devidamente estava cansado de me encarar olhando todas aquelas
bebidas sem dizer absolutamente nada.
Virei-me para ele.
— Quer saber? eu não vou beber. — suspirei.
— Não?
— Loren vai beber e eu vou ter que ficar de olho nela mesmo. Não daria
certo.
— Ela consegue ficar de olho nela mesma.
Balancei a cabeça.
— Não posso.
Christopher aproximou-se, beijou a minha testa e segurou o meu rosto
com firmeza entre as suas mãos.
— Se não beber por causa da sua irmã, eu vou quebrar as duas pernas
dela para não precisar mais se preocupar com ela bêbada.
Arregalei os olhos.
— Você não faria is...
— Faria. — garantiu, olhando-me no fundo dos olhos.
— Não, não faria.
Ele sorriu e deu dois passos para trás, afastando-se devagar. Quando notei
a sua intenção, estremeci completamente.
— Christopher! — berrei e corri atrás dele, segurando os seus dois
braços. — Tá bom, caramba, eu bebo! — me irritei.
Ele ergueu meu pés dos chão e carregou meu corpo de volta para a mesa
de bebidas.
— Te dou 3 segundos para escolher antes de ir atrás da Loren. —
sussurrou, com os lábios roçando a ponta da minha orelha.
— Calma, eu preciso pensar.
— 3... — iniciou a sua contagem.
— Chris!
— 2...
— O VINHO — berrei desesperada, apontando para a garrafa enfiada no
balde de gelo.
Alguns dos que estavam à nossa volta, nos olhou com uma expressão
engraçada.
— Vinho. — Christopher repetiu. — Uma excelente escolha.
Ele arrancou a garrafa de lá, a abriu, deu um grande gole e por fim me
entregou.
— Está aprovada. Boas festas, Dingo Dingo.
Olhei insegura para o objeto em minhas mãos.
— E se eu ficar muito bêbada?
— Eu cuido de você.
— E se eu vomitar em você? — supus.
— Eu tomo banho.
— E se eu ficar muito, muito, bêbada e começar a tirar as roupas? —
aquela era uma hipótese difícil de acontecer, mas quis garantir que ele daria
conta.
— Arranco os olhos de quem te olhar.
Existia uma porcentagem significativa daquilo que ele estava dizendo ser
verdade.
— São muitas pessoas. — argumentei.
— Eu sou rápido.
— E se eu...
— Eu dou um jeito. Beba!
Ergui as sobrancelhas.
— Sim, senhor. — revirei os olhos, levando o gargalo da garrafa aos
lábios.
Derramei o primeiro gole de vinho com cuidado, pois queria beber
devagar.
Chris assistiu orgulhoso e me estendeu a sua mão.
— Vem. Vamos procurar um lugar para você beber em paz.

Estávamos os dois, longe de todos os outros, em um canto no chão,
debaixo das escadas.
Christopher me observava atento, vendo-me beber cada gota de álcool
daquela garrafa. Ele franziu as sobrancelhas quando meu corpo ameaçou
tombar para os lados, e isso, de alguma forma, me fez rir alto.

Eu já estava muito alterada, e mesmo sentada, tinha a sensação de que iria


cair. Ria sem motivos e apertava os braços de Christopher diversas vezes,
apenas para me aproveitar daquele corpo musculoso.
— Nós dois... — apontei para mim e para ele — Não combinamos para
festas. Olhe só — girei o dedo no ar — Viemos para o canto mais afastado,
porque somos anti-sociais — gargalhei, a voz soando esquisita.
Ele me olhou estranho e balançou a cabeça, como se eu fosse uma
criança dizendo que acreditava em unicórnios.
Deixando-me falar sozinha, ele retirou de seu bolso um cigarro e o
acendeu.
Eu não era um grande fã de cigarros, mas fiquei fascinada com a forma
que aquilo soou sexy.
— Eu pos-posso fumar?
Seus olhos se ergueram para os meus.
Christopher ruminou por um momento antes de decidir.
— Abre a boca — mandou, e prontamente a escancarei — Desse jeito
não, Dingo. — interviu. — Assim você abre para eu enfiar outra coisa.
De imediato a fechei.
— Apenas a desprenda. — orientou.
Christopher levou o cigarro aos meus lábios e os posicionou entre eles.
— Puxa.
Obedeci, tragando aquela fumaça amarga na boca, mas imediatamente a
soltei, tossindo.
Afastei a bituca do meu rosto e fiz careta.
Era horrível!
Christopher riu e afastou os fios de cabelos soltos que estavam no meu
rosto para abaná-lo.
— Ainda quer fumar, Dingo? — provocou, zombeteiro.
— Por que me deixou fazer isso? — choraminguei.
— Foi você quem quis. — ele riu.
— Não pode me deixar fazer essas coisas.
Ele beijou os meus lábios e sorriu.
— O que quer fazer agora?
— Eu quero dançar — sussurrei.
— Agora?
— Agora.
Ele passou os olhos em volta, sério demais.
— Não sei, não, Dingo. Tem caras demais ali.
— Está com ciúmes? — aticei.
— Não.
— Ah, é mesmo?
Ele se afastou.
— Não estou com ciúmes, Dingo. Só preocupado.
— Então quer dizer que não sente ciúmes? — brinquei, já me levantando.
— O que vai fazer? — questionou, rígido.
— Dançar.
— Sozinha?
— Oh, não! Com uns amigos. Sei que ficará bem aí. Sem ciúmes, é claro.
— joguei uma piscadinha para ele.
Christopher apertou os olhos, furioso, e aproveitei do seu descuido para
andar rápido até pista de dança, antes mesmo que ele fizesse menção em se
levantar.
Me escondi entre as pessoas quando notei que ele vinha em direção ao
amontoado de gente na sala, à minha procura.
Ri de sua carranca e corri para o centro da sala.
Chamei o primeiro garoto que encontrei para dançar. O rapaz logo se
empolgou, a fim de colar o corpo no meu, mas o afastei, deixando um
espaço de dois palmos entre nós dois.
Fingi saber o que fazia, mas ele riu ao me ver entrar em ação.
Estiquei o corpo para tentar achar Christopher, porém não tive nem sinal
de sua presença. A sensação de que ele estava vindo atrás de mim, me
provocava frios na barriga, causando-me cócegas.
O garoto que dançava comigo se deu a liberdade de tocar a minha cintura
e aproximar-se um pouco mais. Ele se remexia no ritmo da música,
entrando na onda, assim como eu.
Joguei os braços para o alto e me soltei. Sentindo-me leve.
Era meio bom estar bêbada, na verdade.
Nada mais parecia importar tanto e eu sentia que era capaz de fazer
qualquer coisa que me desse na teia.
Em momentos como este — sóbria —, eu estaria parada feito uma idiota,
olhando todos se divertirem. Mas, agora, eu não estava nem aí se dançava
bem ou mal. Eu só queria mexer todo o meu corpo e cantar alto.
Abri os olhos ao perceber que o garoto tocava o meu rosto e recuei um
passo, percebendo que ele já se aproximava para me beijar.
— Eu tenho namorado. — avisei e ele sorriu.
— Bom, mas ele não está aqui, né? — insinuou, sedutor.
Engoli em seco.
Droga! Eu já havia visto isso acontecer antes e não terminou nada bem.
— Eu não faço esse tipo de coisa. — recusei, apavorada.
— Não se preocupe, gata. Ele não vai precisar saber.
Um rápido reflexo eclodiu à sua frente, fazendo-me estremecer. De
repente, a enorme mão de Chris agarrava o pescoço do garoto com força.
O moreno arregalou os olhos e abriu a boca, buscando por ar
desesperadamente. Christopher não soltou-o, apenas aproximou seu rosto
do dele.
— Se tocar nela de novo, eu vou quebrar cada osso do seu corpo —
ameaçou, frígido. A voz tão mórbida e bizarra a ponto de causar calafrios
na espinha.
Agonizando, o garoto desesperadamente deu batidinhas na mão de Chris,
mostrando-o que entendeu.
Eu observava a cena abismada, sem conseguir mexer um único músculo
do corpo.
O sangue sumiu da face do moreno. Ele parecia prestes a desmaiar.
Christopher, por fim, soltou o rapaz e lhe deu um tapinha nas costas.
— Agora pode dançar com o seu amigo — informou a mim, afastando-se
de nós.
Assim que o garoto conseguiu inspirar a primeira lufada de ar, passou
rápido por mim e correu para longe.
Eu estava tremendo e assustada. Christopher de repente já não estava
mais ali. Tão logo olhei em volta e o avistei sentado no sofá, com as pernas
cruzadas. Observando-me de longe.
Ele sorriu amável, como se nunca tivesse saído dali. Afinal, Christopher
não precisou mover-se do lugar para ameaçar o rapaz.
Ele sequer precisou mover um único dedo.
A ficha finalmente caiu.
Não foi Christopher quem o ameaçou, mas, a sua segunda camada.

Capítulo 40| Cuidado

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



Embora já estivesse quase dormindo, sentia sua presença sobre o meu
corpo.
Seus longos dedos gelados contornavam a minha face devagarinho.
Sentia frio, mas não me incomodei. Gostava quando ele me tocava.
Não me lembro exatamente quando foi que chegamos em minha casa, ou
como Christopher me carregou até o meu quarto sem que meu pai não
quisesse arrancar o seu pescoço.
Mas, sabia, que em algum momento ele havia retirado as minhas roupas
sujas, dado-me um banho, me vestido em um pijama e colocado-me para
dormir. Contudo, a sua visita sempre me deixava muito ansiosa, impedindo-
me de adormecer, gostava de aproveitar cada segundo com ele.
— Vai dormir aqui? — sussurrei, rouca.
Meus olhos pesavam e a minha boca estava seca. Mesmo deitada, sentia
minha cabeça girar como um maldito brinquedo Twister. Eu estava
passando pelo efeito da ressaca.
Após minha bebedeira, Christopher havia se mantido ao meu lado
durante todo o tempo, segurando o meu cabelo e hidratando-me com água,
enquanto eu vomitada tudo o que havia no meu estômago.
Aquele foi o meu primeiro porre da vida.
Ele não me respondeu de imediato. Beijou meus lábios, bochechas e
queixo. Permaneci parada, sentindo sua respiração colidir em minha pele,
sorrindo feito uma boba.
— Foi uma festa e tanto. — brinquei, ainda de olhos fechados.
Sua língua passeou em meu pescoço, subindo e descendo, causando-me
excitação.
— Mas poderíamos ter aproveitado mais. — continuei, desta vez,
maliciosa.
Lembrei-me do quão majestoso estava e suspirei apaixonada.
— Cuidado. — soprou ele, quase inaudível, as palavras sumindo no ar.
— Como? — questiono-o, confusa.
Christopher calou-se, e de repente, um clarão invadiu os meus olhos sob
as pálpebras.
Franzi a testa.
— Chris, você acendeu a lu... — fui interrompida, quando sua grande
mão entornou o meu pescoço com rigidez.
Imediatamente abri os olhos e encontrei-o no claro do meu quarto em sua
pior forma.
Os olhos verdes estavam completamente transformados em dois poços
negros. Linhas escuras como raios tomavam todo o seu rosto. A pele antes
branca, tornou-se cinza e macabra.
O que ele estava fazendo?
Tentei me mover, mas ele não deixou. Por um momento, achei que
estivesse me provocando, no entanto, Christopher não estava para
brincadeiras.
Ele fez pressão em seu aperto no meu pescoço. Arregalei os olhos, o ar
faltando nos pulmões.
— Pa-pare. — tentei dizer, mas suas fortes mãos pressionaram o meu
pescoço com ainda mais força.
Meu coração batia feito louco no peito, assustado com aquela brusca
atitude.

Enfiei minhas unhas em seus braços, lutando contra ele, mas isso não o
afetou de maneira alguma. Quanto mais eu resistia, mais força ele impunha
sobre mim.
Minhas pernas se debatiam na cama, mas o seu peso sobre mim impedia
que eu pudesse me mover.
Minha visão tornou-se turva, meu rosto formigava e meus olhos ardiam.
Eu estava desesperada. Meu corpo estava desistindo.
A morte. Era tudo o que me vinha a mente naquele instante.
Tudo em mim doía.
Como de repente o amor da minha vida havia se tornado o monstro a
qual estava tentando me matar? O que mudou? Fora tudo uma grande
mentira?
Enquanto o olhava nos olhos em meus últimos suspiros, lágrimas
desciam em meu rosto. Já no seu, não existia o menor remorso.
Christopher não se importava com aquilo, era proposital e planejado. Eu
via que aquele era o seu desejo, que aquilo que causava-lhe prazer.
— Por favor, Chris. — chorei sufocando, mas não adiantou. — Chris...
Meu amor estava me matando.

Sorri ao ler a sua mensagem.


Esta era, somente, uma das quinhetas mensagens que ele havia me
mandado desde que viajou em razão de uma emergência de trabalho, há
cinco dias atrás, logo após a nossa festa.
Gargalhei com isso. Eww! Christopher não sabia ter limites.
Garoto tarado.
Merda! Isso era um problema.
Eu ainda não havia lhe contado sobre o pesadelo que havia tido com ele
me sufocando, e nem pretendia.
Mas se ele me olhasse nos olhos, saberia imediatamente que eu estava lhe
escondendo algo.
Depois da nossa festa, Christopher de fato, me levou para casa, cuidou de
mim e me deixou dormir, contudo, recebeu uma ligação urgente, e precisou
deixar-me sozinha. Mas tudo depois pareceu tão real que fiquei
verdadeiramente grata por não ter que vê-lo no dia seguinte.
Eu estava tão apavorada que tinha medo apenas da ideia de ele me visitar
novamente.
Sabia que Christopher não seria capaz de me machucar daquela maneira,
ou ao menos, tentava me convencer disso, visto que, esse medo só se
concretizou após o meu pesadelo.
Antes disso, eu confiava nele.
— Vai se mexer ou vai morar aí na fila? — o balconista se pronunciou,
com ignorância.
Oh, Merda! A fila.
A biblioteca da cidade resolveu me ligar para devolver um certo livro, o
qual peguei há duas semanas atrás, pouco tempo depois que conheci o
Christopher.
Agora já estávamos oficialmente com 1 mês de conhecidos e eu ainda
não tinha certeza do que ele era.
Eu simplesmente havia esquecido o livro debaixo do meu closet, entretanto,
isso tudo parecia tão sem sentido agora.
Ben tinha razão, toda aquela história não passava de contos de fada. Nada
ali me ajudou a descobrir, o que Christopher era.
— Vai ter que pagar multa — o rapaz rabugento, avisou.
— O quê? Ele está em perfeito estado. — protestei.
— Você atrasou 7 dias depois do dia da entrega.
Fiz careta.
— E quem iria querer ler essa coisa além de mim? — argumentei e ele
estreitou os olhos.
— Talvez alguém quisesse o ler, se ele estivesse na devida prateleira.
— As pessoas desta cidade só vem na biblioteca para namorarem
escondido. Já viu alguém aqui realmente lendo algo que não fosse por
obrigação da escola? Devem existir, no máximo, dois leitores em Vespeau.
O garoto soltou o ar pela boca, em rendição.
— Sai logo daqui.
Sorri contente e girei os calcanhares.
Meu sorriso aumentou quando avistei Benjamin acabando de chegar logo
atrás de mim.
— Você — cantarolei, animada.
Ele abriu um meio sorriso, tímido.
— Dytto. Quanto tempo!
— É. Uma grande coincidência te encontrar aqui de novo.
— Na verdade, eu venho aqui quase todos os dias.
— Shhh! — pus o dedo na sua boca e o fiz recuar — Acabei de dizer
para o balconista que ninguém dessa cidade lê. Não destrua meu único
argumento para não pagar a multa de atraso — sussurrei.
Ele riu e passou os dedos nos lábios, zipando-os.
— E então, qual a leitura atual? Romeu e Julieta da dark web? —
brinquei, apontando com o queixo para o livro em suas mãos.
Ele balançou a cabeça, sorrindo, e ergueu em sua mão exibindo "Carrie,
a estranha".
— Um baita livrão. — comentei.
— Um clássico da adolescência atual.
— Só se for da adolescência da minha avó.
— Um clássico nunca envelhece.
Assenti, rindo.
—Tem novidades? — questionei-o.
— Ah, tenho! Tenho uma muito boa. — ele sorriu.
— Me conte.
— Um passarinho contou para um outro passarinho, que esse outro
passarinho me contou, que... Você e o Christopher, o garoto que você tinha
repulsa, estão namorando.
Meu rosto ardeu de vergonha.
— Ãhn... Que tal falarmos sobre a Carrie? — sugeri, constrangida. —
Tem todo aquele lance de sangue, não é?
Ele deixou sua cabeça tombasse para o lado.
— O que aconteceu?
Mordi o lábio inferior.
— Acho que Christopher e eu temos mais em comum do que
imaginávamos — sussurrei.
Ele crispou a testa e sorriu.
— Eu já disse o quanto você mente mal?
— Eu gosto dele.
— Gosta mesmo? — incitou, curioso.
— Pare com isso, Ben. Eu gosto mesmo dele. E eu não estaria com ele se
eu não quisesse. — cruzei os braços.
— Não é o que parece. Christopher sabe exatamente como manipular
alguém, Dy. Estou falando sério. Toma cuidado. Ele não é o seu príncipe
encantado. — aconselhou.
— Talvez eu não queira um príncipe encantado. — cochichei.
Benjamin repuxou o canto dos lábios.
— Ele é capaz de qualquer coisa para conseguir o que quer.
Dei de ombros.
— Por que isso agora, Ben?
Ele soltou um riso curto.
— Eu não tenho certeza se ele sabe que eu tenho conhecimento disso,
mas, descobri que ele tem me vigiado.
Juntei as sobrancelhas.
— Vigiado?
— Ele é um pouco possessivo quando o assunto é você.
Meu coração disparou.
— Acha que ele tem te vigiado por minha causa? — eu disse, incrédula.
— Não acho. Tenho certeza.
Ben afastou-se um pouco e apontou para o balconista atrás de nós dois.
— Eu tenho que ir. Mas tenha cuidado com a sua alma, Dy. Ele quer
muito ela. — informou, antes de se afastar.
Saí da biblioteca atordoada. Presa em pensamentos horrorosos. De
repente, minha mente combinou meu pesadelo ao que havíamos acabado de
conversar.
Se Benjamin dizia com tanta naturalidade que Christopher queria a
minha alma, então ele sabia bem mais do que tranpareceria.
O quanto Benjamin conhecia Christopher?
Meu celular vibrou no bolso. Tomei-o nas mãos e a tela se acendeu.
Christopher.
Capítulo 41| Feliz aniversário

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO


Quanto aos spoilers, vocês colocam no boga, e não nos comentários.

17 de Abril
Quarta-feira

Um beijo suave e gentil provocou a minha bochecha.


Adormecida, minhas pálpebras instintivamente reagiram num estímulo
trêmulo.
Meu corpo fora cercado por algo grande e espaçoso atrás de mim no
colchão. Encaixando-se perfeitamente em cada pedaço meu, como duas
peças de quebra-cabeça.
A grande massa quente e pesada aconchegou-se sem pressa. Toques
delicados deslizaram em minha pele, em um calmo vaivém.
Ouvi o cantar dos passarinhos, como um fundo sonoro. Feixes de luz
atravessaram as minhas pálpebras, esvaindo-se num clarão sobre meus
olhos.
— Feliz aniversário, minha Dingo Bells. — sua voz sussurrou macia em
meu ouvido.
Sorri de olhos fechados.
— Você voltou de viagem. — murmurei, feliz.
Sua enorme mão cobriu a minha barriga, puxando-me para ele.
— Sentiu saudades? — provocou, deslizando devagarinho sua mão em
direção ao shorts do meu pijama.
Minha pele se arrepiou. Aquele era o Christopher que eu bem conhecia.
— Eu senti muita saudades. — ofeguei.
Havia se passado 1 semana inteira desde que Christopher viajou
repentinamente. Foi o maior tempo que passamos longe um do outro desde
que nos conhecemos.
Embora fôssemos um recém-casal, a ausência de suas visitas noturnas
provocaram-me, em parte, alívio, e em parte, abstinência.
Eu ainda tinha medo de que se eu abrisse os olhos, poderia voltar àquele
episódio horrível de tê-lo me enforcando até a morte, mas, no exato
momento, sua presença era real. E eu sentia isso da cabeça aos pés.
— Senti saudades disso aqui. — Christopher deslizou seu dedos entre os
lábios de minha boceta, esfregando-os bem lentamente em meu clitóris.
— Somente disso? — cochichei, excitada.
Ele beijou o meu ombro, deslizando os lábios até o meu pescoço.
— Senti falta de você inteirinha, meu amor.
Coloquei minha mão em seu braço e o incentivei a continuar.
Definitivamente acordar com Christopher me masturbando era, sem
dúvidas, o melhor jeito de começar o dia.
Mas, um barulho no andar de baixo me fez lembrar que meus pais já
estavam de pé, e que minha irmã deveria estar andando de um lado para o
outro organizando a minha festa de aniversário; a qual ela tanto insistiu em
planejar.
A qualquer momento alguém entraria, e de forma alguma poderiam nos
ver assim. Seria um absurdo sem fim.
— Chris... espere, espere. — pedi, afastando a sua mão.
Afastei o lençol do meu corpo e sentei-me no colchão, virando-me para
ele.
Eu provavelmente deveria estar toda descabelada, com o rosto inchado e
enormes olheiras, por outro lado, Christopher se parecia um deus grego em
minha cama.
Ele estava vestido em uma camiseta branca e uma calça jeans escura.
Seus olhos claros evidenciam-se ainda mais com a luz do sol mirando em
seu lindo rosto.
Pela primeira vez, Christopher se parecia mais como um anjo, e não
como um demônio que era. Meu coração disparou mais forte.
— Você é tão lindo. — soltei, sem perceber.
Ele crispou a testa.
— E você só diz isso agora?
Minhas bochechas esquentaram.
— Eu estava tentando ser difícil. — tentei descontrair e ele balançou a
cabeça, fingindo desapontamento.
— Não me sinto valorizado nessa relação.
— Bom, então deveria estar namorando outra garota.
Ele agarrou o meu braço e brutalmente me puxou para ele, rolando com o
seu corpo para cima do meu.
Debaixo dele, comecei a rir, mas tive que tampar a boca, contendo o
barulho para que os outros não me ouvissem.
E, de todo modo, eu também ainda não havia escovado os dentes,
Christopher não precisava de toda essa intimidade ainda, mesmo que eu
desconfiasse que ele já soubesse demais sobre mim.
— Não vou ter mais outra namorada além de você.
— Está me pedindo em casamento, então? — incitei.
— Casamento? — ele riu — Demônios não se casam.
— E o que vocês fazem?
— Trancamos a garota que gostamos dentro de uma jaula, e só as
visitamos quando queremos foder.
Dei-lhe um murro no peito com a mão desocupada.
Eu não sabia se ele estava sendo irônico ou se realmente estava sendo
sincero.
— Não sou uma escrava sexual. — reclamei e ele gargalhou, beijando a
minha testa.
— Não gosta da minha proposta, Dingo Dingo?
Tentei o empurrar, no entanto, seu corpo não se moveu do lugar.
— Sai de cima, diabão. Eu preciso usar o banheiro, e quero que vá
embora de fininho antes que meu pai te veja e arranque a sua cabeça.
— Quando eu subi pelas escadas ele não reclamou.
— O quê? — estremeci.
— Ele não te contou? Nós conversamos e ele decidiu liberar a filha dele
pra mim.
Arregalei os olhos.
— Não está falando sério.
— Quer descer para falar com ele sobre isso? — ele ergueu o dedão
sobre o seu ombro, apontando para a porta.
— Chris, meu pai nunca iria deixar eu namorar alguém como você. O
que você fez?
— Correção, seu pai me adora.
— O inferno congelou e eu não estou sabendo? — uni as sobrancelhas,
desconfiada.
— De onde eu venho, ele congelou, sim.
— Quê? — intriguei-me.
— Ãm? — disfarçou ele.
— O quê?
— O quê o quê?
— Que que você disse?
— Eu não disse nada. — respondeu, cínico.
Soltei o ar pelo nariz e me remexi.
— Sai logo. Eu preciso me arrumar.
Ele jogou o corpo para o lado e eu rapidamente me levantei, a caminho
do banheiro.
— Quer outro banho, Dingo Bells? — estimulou, malicioso, fazendo-me
girar os calcanhares em sua direção.
— Aquela vez não conta. Eu estava bêbada e vomitando.
— Mas me deixou tocar em tudinho. — ele sorriu de canto e meu rosto
tornou-se vermelho como brasa.
— Eu realmente preciso me lembrar o que aconteceu. — confessei,
vergonhosa.
— Você me pediu para eu te chupar, eu disse que chuparia quando
estivesse sóbria. E depois chorou porque queria me chupar e eu não deixei.
Fechei os olhos e escondi o rosto entre as mãos, morrendo de vergonha.
— Ai, não! — sussurrei.
— Você fez tanta coisa... — continuou, nostálgico.
— Eu não sei se preciso saber do resto.
Ele riu.
— Na verdade, não sei se você aguentaria saber.
Apertei os olhos.
— Agora eu acho que devo saber. — murmurei, curiosa.
— Tem certeza.
Engoli em seco.
— Talvez só um pouco mais. — falei, retida.
— Na banheira, você sentou no meu colo e esfregou os peitos na minha
cara. — ele parecia contente ao revelar aqueles detalhes sórdidos. — E
ainda disse que...
— Chega! — berrei, correndo para o banheiro.
Eu nunca mais iria beber vinho depois disso.

Christopher estava deitado, com as duas debaixo da cabeça, quando sai
do meu banho, enrolada apenas em uma toalha.
Ele fitava o teto, dedicando a sua total atenção aos pensamentos que
passavam-se em sua cabeça.
Fui diretamente para o closet, procurar por algo para vestir. Enquanto
vasculhava, encontrei uma roupa ou outra que meramente me fazia parecer
ter 18 anos.
Meu rosto era ligeiramente infantil e delicado, e não era essa a imagem
que eu queria passar hoje.
Busquei por algo mais formal na última gaveta e quando o achei,
levantei-me rápido. Ao virar, fui surpreendida com Christopher atrás de
mim, com o susto, a toalha escorregou do meu corpo e caiu no chão.
Ele desceu o olhar pelo meu corpo e sorriu de um jeito ferino. Chris se
aproximou de mim, e com uma mão, puxou-me pela cintura, com outra
agarrou o meu pescoço. Fui tomada pelo choque das lembranças, e travei,
ofegante.
Chris estava a meio passo de me beijar, mas parou quando percebeu que
havia algo de errado.
— Me solta. — pedi, com a voz embargada.
Confuso, ele o fez. Rapidamente fugi para o fundo do closet, respirando
com dificuldade.
Passei as mãos sobre os cabelos e desci para o meu pescoço, cobrindo-o
em uma atitude defensiva.
Christopher semicerrou os olhos, encarando-me com estranheza. Havia
desconfiança naquele olhar.
— Venha aqui, Dingo. — pediu, a voz carregada e séria.
Abracei o meu torso com força.
— Por que? — perguntei, nervosa.
— Venha! — ordenou.
Meu corpo inteiro tremeu.
Melindrosa, caminhei até ele e parei um pouco mais afastada.
— O que foi? — sussurrei e minha voz vacilou.
Estava óbvio que havia algo de errado comigo, mas eu não fazia ideia do
que iria acontecer se contasse. E, pela maneira cheia de raiva que ele me
olhava, tinha medo de como poderia reagir.
Chris me olhou de cima a baixo, como se averiguasse todo o meu corpo.
Ele inspirou fundo e se aproximou de mim novamente.
Como se me testasse, ele envolveu sua mão em meu pescoço. Fiquei
inteiramente tensa e fechei os olhos.
— Conta. — exigiu.
— Não há nada para contar. — hesitei por um segundo.
— Conta de uma vez.
Devagar, mirei meu olhar no seu, sentindo um grande peso neles apenas
por me olharem.
— Não tem nada, Chris.
Ele aproximou seu rosto e torci para que não me fizesse nada. Sua
respiração quente se chocou em minha pele, pressionando-me a falar.
— Agora. — proferiu lentamente, de um jeito perturbador e autoritário.
Apertei as pálpebras, tremendo.
— Você — soprei.
Christopher ergueu meu queixo para ele, me obrigando a olhá-lo.
— Preciso que seja mais clara comigo. — insistiu.
— Tive um pesadelo com você. — expliquei, choramingando.
Christopher enfureceu-se.
— Quando? — disse entre os dentes.
— Na noite da festa, depois que foi embora da minha casa.
— Isso já faz uma semana, caramba! Por que não me contou? — brigou.
— Eu fiquei com medo. — não pude conter as lágrimas que se
derramaram a seguir.
Chris voltou a andar, fazendo-me recuar até que estivesse encurralada na
parede.
— Sempre me conte tudo, Dingo. Sempre!
— Nã-não sabia como te contar isso.
Christopher tombou a cabeça para trás, apertando os dentes. Seu maxilar
tornou-se rígido, e a respiração pesada.
— Puta merda. — rosnou baixo.
Ele novamente me encarou. Christopher estava extremamente irritado, e
certamente por razão da minha escolha em escondê-lo algo assim.
Não sabia o que fazer, logo, permaneci estática, sentindo meu corpo ser
ameaçado.
Às vezes eu esquecia como era tão fácil me sentir com medo dele.
— Eu nunca vou te machucar — garantiu — Nunca.
Seu corpo relaxou, e seu olhar lentamente voltou a transbordar cuidado.
Christopher segurou o meu rosto e beijou a minha testa de maneira terna
e carinhosa. Em seguida, se afastou, dando-me espaço. Talvez estivesse
com medo de estar me sufocando.
— Não posso ficar para o seu aniversário, estou completamente fodido
hoje. Vou ter que trabalhar até tarde da noite. — avisou, exausto — Mas, se
precisar de algo, me ligue.
Baixei o olhar.
— Chris — enunciei baixinho — Obrigada por vir.
Ele assentiu.
— Sempre que precisar, amor. — ele sorriu de leve — Seu presente
chegará hoje mais tarde, assim que chegar da escola. — ele beijou a minha
boca e em seguida tocou o meu queixo — Não tenha medo de mim, amor.
— Tenho certeza de que jamais me machucaria... você jamais faria isso
— afirmei, olhando-o nos olhos.
Chris segurou o meu rosto entre as suas duas grandes mãos.
— Jamais, Dingo. — arfou.

Apenas quando cheguei da escola, que vi um modesto pacote pardo na
sala, endereçado a mim, com o remente Christopher escrito no cartão de
aniversário.
Quando o rasguei, encontrei uma caixa azul marinho, oval e com uma
textura aveludada.
Nela, o nome "Stekra" estava em evidência, bordado na cor prata. Aquela
era a maior joalheria que existia em Nabrya, tão famosa aqui, quanto em
qualquer outro continente.
Já havia visto vários famosos adquirirem jóias daquele lugar, até mesmo
mamãe queria usar algo dali, mas os valores de tudo e qualquer coisa eram
tão extraordinariamente altos que papai a limitava de comprar ali.
Meus olhos cintilaram e meu queixou foi ao chão ao abrir a caixa.
Christopher havia me mandado um colar com milhares de diamantes
cravados na peça.
Em um pequeno envelope, havia um bilhete seu, escrito à mão:

O mínimo que ele poderia me dar? Aquilo devia valer mais do que tudo o
que meus pais possuíam em toda a sua vida. Imediatamente fechei a caixa e
a guardei no fundo do meu closet.
Tinha medo até de olhar para algo tão caro assim.
Durante toda a tarde, tentei manter a mente ocupada, no entanto, meus
dedos coçaram até que eu finalmente pesquisasse o valor do seu presente.
Dizem que: "Cavalo dado não se olha os dentes", mas foi impossível não
querer descobrir. Afinal, os dentes eram de diamantes, então, sim, eu ia
olhar e fazer o checa-up inteiro daquele cavalo.
Ao acessar a internet e pesquisar pela jóia, encontrei os números mais
absurdos de toda a minha vida.
CHRISTOPHER HAVIA ME MANDADO UM PRESENTE NO
VALOR DE CINQUENTA E SETE MILHÕES DE REAIS.
Como caramba ele tinha tanto dinheiro assim?
A minha cabeça estava rodando com aquela informação.
Eu tentei diversas vezes mandar mensagem para ele, mas meus dedos
sempre apagavam tudo o que eu havia escrito.
Tudo o que eu conseguia digitar eram coisas como: "VOCÊ PIROU DE
VEZ", "VOCÊ É LOUCO?" ou "VOCÊ NÃO ASSALTOU A DROGA DE
UM BANCO, NÃO É?"
Por fim, apenas deixei que isso se tornasse uma conversa para uma outra
hora. Debater sobre isso com ele no momento, seria completamente em vão,
visto que ele deveria estar trabalhando feito um louco.

Durante o fim da tarde, Loren já havia enfeitado todo o nosso quintal
para a minha festa de aniversário.
Ela colocou vários pisca-piscas envoltos das plantas, mesa e paredes.
Encheu alguns lugares com pequenos balões fofos e recheou uma mesa
inteira com guloseimas.
Dentro de um caixa térmica, ela havia abarrotado de bebidas alcoólicas,
com a desculpa de que agora eu poderia ficar bêbada com a sua benção.
Graças aos céus, papai e mamãe saíram para que fizéssemos uma festa
sem eles. Dando-nos um pouco de privacidade.
Após os parabéns, nos reunimos em um pequeno grupo no jardim. Loren
sabia que eu odiava multidões de pessoas em um mesmo lugar, então
convidou apenas os mais íntimos para nós.
Em um círculo estávamos apenas: eu, Loren, Joshua, Claire, Luc e outras
três amigas de minha irmã.
A mais nova estava contando alguma história de quando era criança, e
Loren parecia partilhar algumas de suas aventuras também, enquanto isso,
eu tentava manter um bate-papo com Luc, que ainda parecia meio distante
de mim.
— E então, me trouxe boas notícias? — perguntei, sorrindo.
— Na verdade, te trouxe um caderno de desenhos de presente, dei para
Loren guardar. — comentou, tímido.
— Ah, isso vai ser bom. Preciso praticar mais os meus talentos. —
brinquei.
Nós dois sorrimos um para o outro, no entanto, esse bom astral logo
morreu e um silêncio estranho se formou.
Aquela conversa era tão mecânica que sequer parecia ter algum sentido
para mim ou para ele.
Eu não queria que ficássemos daquele jeito, antes havia tanto assunto
entre nós dois, e agora era desconfortável se manter perto dele nessa névoa
esquisita.
— E o livro que estava lendo. Está intessante? — tentei quebrar o gelo.
— Ah, Love in the dark? Bom, na verdade, estou em uma parte bem
triste.
— Caramba. — fiz careta. — Espero que isso não estrague a experiência.
— Na verdade eu pulei algumas páginas para espiar, e você nem imagina
a reviravolta que tudo isso vai ter. — ele sorriu, empolgado.
— Adoro reviravoltas emocionantes.
— Eu te empresto o livro quando eu terminar, se quiser. Também já olhei
todo o final da história. — confessou.
Luc era muito ansioso e não sabia se conter, até mesmo quando víamos
filmes juntos, ele procurava o final na internet antes dele terminar.
— E o livro termina feliz? — tive vontade de saber.
Ele abriu a boca para responder, porém, fomos interrompidos:
— Ei, vocês! — Claire chamou alto, ganhando a atenção de todos nós. —
Que tal verdade ou desafio? — propôs.
Ela adorava essas brincadeiras, mas imaginei que não fosse querer
brincar disso hoje. Estava tão quieta a noite toda que pensei estar triste.
Talvez eu estivesse errada.
Todos em volta concordaram. Eu que já estava meio bêbada apenas
balancei a cabeça.
— Loren, verdade ou desafio? — a ruiva deu início.
Minha irmã pensou por um momento.
— Vou começar com verdade.
— Aposto que a Claire vai se vingar na próxima vez que você escolher
desafio. — comentei, sorrindo.
— Nem invente em fazer isso. — minha irmã brincou.
— Eu estou doido para fazer uns desafios loucos, então andem logo com
a vez de vocês — Luc apressou.
— Você com certeza não consegue ser tão criativo assim, cara — Joshua
interviu e nós rimos.
— Está bem. — Claire se pronunciou, extremamente calma — Loren...
— Ai minha nossa! — Loren cochichou, ansiosa e tomou mais um gole
de sua cerveja.
Todos estavam apreensivos, pois Claire, melhor do que ninguém,
conhecia tudo sobre Loren.
— É verdade que gosta de mandar fotos peladas para o meu namorado?
— Claire perguntou, nos deixando confusos.
— Essa foi boa! — Luc riu, sem entender e me juntei a ele.
Era uma perspectiva estranha de se olhar, e tão complicada que se
tornava — de um jeito bizarro —, engraçado. Mas, meu sorriso se
desmanchou quando encontrei o rosto de minha irmã inteiramente vermelho
e sem graça.
— Claire, eu não... — a voz de Loren gradualmente baixou, até se tornar
um completo nada.
Espera aí! Isso estava estranho.
— O que está rolando aqui? — questionei, atordoada.
Olhei para Joshua, que permanecia quieto e calado, com o olhar baixo de
cachorro arrependido.
— Lô — a chamei, nervosa — O que é isso? Estão brincando, não é? —
me apavorei.
Ela levou sua atenção para mim, seus olhos imersos em lágrimas.
— Me desculpe por isso, Dytto.
Pisquei repetidamente, em choque.
Retonei meu olhar para Claire, que chorava em silêncio.
— Parem de brincar com isso. É sério! Isso não tem graça. — gritei.
— Não é brincadeira, Dy. — a ruiva sussurrou.
— O quê? — balancei a cabeça.
— Hoje mais cedo, peguei o celular de Joshua atrás de algumas fotos
nossas para fazer um vídeo para você. Mas a sua irmã — Claire apontou
para ela — decidiu que queria fazer uma surpresa muito maior, mandando
fotos da porra da boceta para Joshua, que... — ela se virou para o seu
namorado — inclusive, adorou — sua voz era carregada de ódio, mágoa e
traição.
— Claire, amor... Pelo amor de Deus, me perdoa. — ele sussurrou,
choroso.
Eu respirava ofegante, o coração batendo rápido no peito. Todos em volta
estavam tão abismados quanto eu.
— Eu nunca vou conseguir perdoar nenhum de vocês dois. — Claire
soltou, amarga e infeliz.
Levantei-me de onde estava e saí apressada, marchando para dentro de
casa.
— Dy — Loren chamou em tom de desespero, mas a ignorei.
Minha irmã me seguiu até a sala.
— Dytto, por favor, me desculpe, eu não queria, eu... Eu só tava perdida.
Parei no lugar e virei-me para ela.
— Não é a mim que deveria estar pedindo desculpas agora, Loren —
cuspi, incrédula.
— Eu sei, eu sei. — ela esfregava o rosto repetidamente, completamente
transtornada.
— QUE PORRA ESTAVA PENSANDO? ELA É A NOSSA AMIGA,
LOREN — berrei, sentindo a fúria tomar conta de mim. — A SUA
MELHOR AMIGA.
— Eu, eu... Christopher havia me rejeitado, eu estava mal, e o Joshua,
bem, ele estava passando por mal bocados. Nós só buscamos apoio um no
outro, e... rolou. Eu juro que não queria que isso tivesse acontecido. Eu juro
por tudo, Dytto.
Soltei o ar pela boca com força. Estava queimando de raiva.
— NÃO! Não vai culpar o Christopher por isso. Não está certo, Loren.
— protestei.
— O que eu posso fazer, Dy? Você me culpa, mas se apaixonou
justamente pelo cara que eu amava. ME DIZ O QUE EU POSSO FAZER!
As lágrimas desciam incessantemente de nossos rostos. Senti o meu
coração se despedaçar em milhares de pedacinhos.
— Você me apoiou nisso. — murmurei, com a voz trêmula de choro.
— Eu nunca disse que tinha sido fácil pra mim.
Assenti, engolindo em seco.
— Acho que nós duas somos péssimas pessoas com quem amamos então.
— declarei, sentindo um nó na garganta.
Ela franziu o cenho.
— Eu não quis dizer isso, Dy — ela se apavorou ao ouvir as minhas
palavras.
Balancei a cabeça e busquei pelas chaves do meu carro, correndo para
fora de casa.

Sentia que não iria aguentar nem mais um minuto esperando.
Desesperada, esmurrei a porta de sua casa com força. Minha mão estava
vermelha com a força que eu a golepeava.
Estava muito frio, e eu havia vindo sem nenhum agasalho. Uma leve
garoa derrumava-se do céu, cobrindo-me de pouco a pouco. Ventava forte, e
o céu estava nublado.
Meu corpo inteiro estava dormente e a ponta do meu nariz e dedos
pareciam estar prestes a congelar.
A porta finalmente se abriu, revelando um Christopher confuso e
cansado. Seus olhos estavam fundos e avermelhados, devido há horas de
trabalho.
Ele rapidamente me agarrou pelo braço, me puxando para dentro. Assim
que fechou a porta, dedicou-se totalmente a mim, esfregando as mãos em
meus cabelo. O aquecedor estava ligado, e a temperatura ali dentro me
trouxe alívios.
— O que que aconteceu? Você está bem? Se machucou? — disparou,
preocupado.
— Christopher... eu estou pronta. — avisei-o, séria.
Ele uniu as sobrancelhas, em uma confusão explícita.
— Pronta? — repetiu, aturdida.
— Eu quero que faça sexo comigo. — esclareci.

Capítulo 42| A primeira vez

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO


Obs: Não houve romantização na primeira vez da Dy, pois, um pau do
tamanho de um antebraço, É UM PAU DO TAMANHO DE UM
ANTEBRAÇO.

Dytto me encarava ansiosa. Os lindos olhos grandes e verdes cheios de
lágrimas. O rosto inteiramente tingido de rubro.
Sua respiração era descompassada e a sua pele estava gelada. Seus lábios
mantinham-se entreabertos e o seu corpo parecia tenso entre os meus
braços.
Entrei em estado de alerta. Perturbado com hipóteses do que quer que
tivesse acontecido.
— Do que está falando, Dingo? — exprimi, confuso.
Minha garota nunca tomaria uma decisão tão importante para si de um
momento para o outro. Ainda mais assim, tão desesperada e aflita.
Sexo com penetração ainda lhe era uma ideia muito dolorosa para que ela
aceitasse assim, tão de repente, sem nenhum motivo aparente.
Ela não parecia excitada, tampouco perto de estar.
— Eu quero fazer sexo com você, Christopher. — repetiu, num sussurro
quase inaudível.
Franzi o cenho, preocupado.
Tinha algo a mais nessa história. Podia sentir a sua mágoa e todo o
sofrimento estampado em sua aura.
Ela não veio à procura de sexo. Ela veio atrás de algo para livrá-la do
tormento que sentia.
Toquei o seu rosto com delicadeza e deslizei os dedos por toda a sua
bochecha, agora, úmida de lágrimas.
— O que está acontecendo? Alguém te feriu? — ela negou — Brigaram
com você? — ela sacodiu a cabeça — Tentaram alguma coisa?
— Não foi nada com que deva se preocupar. — respondeu.
— Se algo te atinge, isso se torna um problema meu.
Ela suspirou baixinho e deitou a sua cabeça em meu peito.
— Deu tudo errado hoje — murmurou chorosa e eu me agarrei a ela com
destreza.
— Amor, me conta o que que está acontecendo.
— Christopher, eu não quero te chatear com isso, por favor, não me faça
contar — pediu, soluçando.
Inspirei fundo. Eu não sabia até que ponto deveria insistir antes que ela
desmoronasse ou saísse correndo.
Peguei-a pela cintura e a ergui em meu colo num gesto rápido. Ela deitou
a cabeça em meu ombro e fechou os olhos. Seus cabelos castanhos se
derramaram em meus braços.
Levei-a para o meu quarto, onde a deitei com cuidado no colchão. Ela se
encolheu e abraçou as pernas. Aconcheguei-me logo atrás.
— O que aconteceu? — investiguei, novamente, abraçando o seu corpo
magro.
— Eu não vou te contar. Você vai ficar bravo.
Imediatamente senti a raiva me dominar. Se ela estava com medo de que
eu fosse ficar irritado, então alguém havia lhe feito algo.
— Me conta o que fizeram com você. — irritei-me.
Era difícil manter a paciência quando tudo o que eu queria era que ela se
manteve a sã e salvo. No entanto, Dytto não era do tipo que adorava me
avisar que porra andava acontecendo com ela quando eu ficava longe.
— Por favor! É melhor não.
— Eu já te disse para não esconder nada. Pare de ser teimosa! —
esbravejei.
Ela virou o seu corpo em minha direção.
— Transe comigo. — pediu.
Não tive tempo de a responder. Dytto pulou em meu corpo, sentando-se
sobre mim. Ela agarrou o meu rosto e enfiou seus lábios nos meus com
afobação. Seus quadris se movimentavam, rebolando em cima do meu pau.
Ela estava me provocando e sabia disso.
Porra! Dytto me deixava tão louco, excitado e bravo.
Joguei-a no colchão novamente e montei em cima dela, aprisionando
seus dois braços com uma mão.
— Não vou fazer transar com você se não vai me dizer a verdade.
Com a mão livre, segurei o seu queixo.
— Então é melhor começar a falar. — ditei, sério.
Ela tentou se afastar, mas meu peso a impedia de se movimentar.
— Não vai sair enquanto não me contar. — ameacei.
Dytto encarou os meus olhos, apática. Sem a menor intenção de revelar
nada. Aquilo me enfureceu.
Assenti, rude.
— Tudo bem. Eu vou até a sua casa descobrir sozinho o que aconteceu.
— fiz menção em me afastar, e prontamente ela reagiu.
— Não! — protestou.
Levantei-me de cima dela e sai da cama. Dytto saltou do colchão e
rapidamente se pôs à minha frente.
Ela colocou as suas duas mãos em meu peitoral e se esforçou para me
empurrar, notando o seu empenho em me fazer retornar, deixei que ela
levasse meu corpo de volta para o colchão.
— Não vá até a minha casa — pediu, desesperada.
— Se me disser o que aconteceu, posso considerar o seu pedido. —
propus.
— Merda. — cochichou.
Dytto deixou que a sua cabeça tombasse para o lado e encaixou o seu
corpo entre o meio de minhas pernas. Ela descansou as suas mãos em meu
ombros, e eu pousei minhas mãos em seus quadris.
— Loren estava tendo um caso com Joshua, namorado de Claire. — deu
início, visivelmente magoada.
Bom, não era como se isso fosse uma grande novidade para mim, eu já
sabia há um bom tempo.
— E, bem, a Claire achou que minha festa de aniversário seria o
momento perfeito para contar isso. — ela curvou um sorriso triste — Loren
basicamente disse que a culpa de ter começado isso, era a sua rejeição por
ela. E depois me disse que eu não poderia culpá-la, porque eu me apaixonei
por você. E, agora, eu sou a pior irmã do mundo, e ela, a pior amiga.
Eu vou matar aquela filha da puta.
Os olhos de Dytto se encheram de lágrimas.
— Eu me sinto péssima com tudo isso, Chris.
— Não chore, amor.
Ela esfregou os dedos em seu rosto, enxugando as gotículas de lágrimas
que se derramavam sobre as maçãs de sua face.
— Eu só quero esquecer isso — arfou — Amor, me faça esquecer esse
dia. — choramingou.
Ela sentou de frente para mim em meu colo e passou seus braços em
volta dos meus ombros.
— Eu não quero que a única lembrança do meu aniversário seja o que
aconteceu. Eu quero algo bom pelo que eu vá me lembrar. Christopher, por
favor, eu preciso de você.
Era difícil ser o que ela precisava agora, visto que ela estava fazendo isso
por emoções descontroladas.
Ela não estava em si. E eu odiaria saber que poderia se arrepender disso
mais tarde.
— E eu estou aqui por você. — declarei.
— Não, não assim. Eu quero que faça amor comigo.
— Sua primeira vez merece ser menos horrível do que isso. — coloquei
uma mecha de seu cabelo atrás da orelha. — Vamos esperar para fazer isso
quando estiver pronta.
Ela balançou a cabeça.
— Eu quero que seja assim — afirmou com seriedade.
— Não está pensando direi...
— Você me disse que estaria à minha disposição. Cumpra com a sua
palavra!
Mordi a bochecha com força.
— Eu não quero te foder só porque está mal. Por que você não entende
isso? — vociferei, groceiro.
Precisava despertá-la de uma realidade que não existia. Sexo
definitivamente não a deixaria melhor, apenas mais culpada.
— Porque sou eu quem decido quando vai ser a minha primeira vez —
berrou — E se não vai fazer isso por mim, então não se importa comigo
tanto quanto me prometeu.
Ela não estava jogando limpo.
— Quer que eu te coma? É isso o quer, Dingo? Me diga! Porque isso não
vai ter mais volta depois que acontecer — soltei, entre os dentes.
Ela ergueu o seu rosto.
— É o que eu quero, Chris.
Balancei a cabeça, incrédulo com o seu desespero.
— Então eu vou te foder até que esqueça de toda essa merda. — rosnei.
Seu rosto se enrubesceu.
— Faça isso. — determinou nervosa, ela estava tremendo.
Esfreguei os dentes com rudeza em meu lábio inferior.
— Levante. — ordenei, e ela o fez.
Coloquei-me de pé, andando de um lado para o outro no quarto.
Pensando em como faria isso dar certo.
Dytto permaneceu no lugar, sem jeito, acompanhando-me com os olhos,
curiosos e tímidos.
— Tire a sua roupa.
Seus olhos se prenderam aos meus por um longo tempo, até que ela
finalmente começou.
Dytto retirou o seu vestido e o deixou cair sobre o carpete. Em seguida,
ela logo abriu o sutiã, deixando seus lindos e delicados seios à mostra. Por
último, ela tocou a borda de sua calcinha horrorosa e a livrou de seu corpo.
Dytto saiu de cima de sua pequena pilha de roupas e as chutou para um
canto.
Sua nudez era tão linda que me atordoava. Cada detalhe seu me
impressionava. Suas belas curvas e marcas eram de tirar o fôlego.
Dytto era uma garota magra, de cintura fina, seios pequenos e quadris
largos. Possuía uma belíssima e deliciosa bunda arrebitada.
Porra! Eu me odiava por querer comer ela nessa situação, e estava puto
com ela por deixar que isso acontecesse.
— Já — avisou, como se eu não tivesse acompanhado cada mínimo
movimento seu.
— Deita. — apontei para o colchão.
Dytto caminhou até a beirada da cama, e, com cuidado, deitou-se.
Era cruel ver toda aquela cena; minha garota toda nua na minha cama,
pedindo para que eu a fodesse. Me entregando a sua virgindade como se
não fosse mais nada para ela, apenas para que eu a fizesse sentir algo.
— Agora abra bem as suas pernas.
Ela virou o seu rosto para mim, os olhos meio arregalados e as bochechas
vermelhas.
— Você não vai...
— Abre.as.pernas — eu disse, dessa vez, mais sério.
Ela puxou o ar com força. A respiração estava bem acelerada e
entrecortada. Sua barriga subia e descia rapidamente. Seus dedos apertavam
o lençol da cama em busca de calma e ela mordia os lábios sem gentileza.
Bem devagarinho ela afastou as suas coxas, deixando-as bem abertas
para mim. Dytto ergueu sua cabeça para o alto, encarando o teto, como se
não fosse capaz de nem mesmo conseguir ver aquilo.
— Isso vai doer — avisei.
— Eu sei. — arfou.
— Muito. — acrescentei.
Dytto não respondeu, estava apavorada. Parecia estar imaginando que eu
apenas iria tirar o pau para fora e enfiar de qualquer jeito.
Sorri de canto.
— Eu vou te preparar antes, Dingo. Não sou um monstro — informei,
notando a tensão em cada centímetro do seu corpo — Não vou meter até
que esteja pronta.
Percebi o alívio que tomou o seu rosto. Dytto me olhou nos olhos e
curvou um pequeno sorriso.
— Certo. — suspirou.
— Se não suportar, eu paro. Mas se sentir que aguenta, não me peça para
parar. Ouviu?
Ela concordou.
Caminhei até estar diante dela e toquei os seus joelhos. Vagueei o olhar
pelos seus seios, desci para a sua barriga e os levei até o meio de suas
pernas.
Sua boceta estava depilada e incrivelmente atraente. Sentia o meu pau se
contorcer na calça.
Até pouco tempo atrás, eu estava esgotado com tantas o obrigações
pendentes, mas apenas de vê-la assim, meu corpo inteiro se energizava.
Meu pau já estava duro feito pedra e doía.
Coloquei minha mão em sua virilha e brinquei com os dedos ali,
provocando ao redor de sua intimidade. Seu corpo estremeceu.
— Tente não gritar muito. Não quero os vizinhos chamando a polícia. —
avisei com um sorriso torto e ela me olhou assustada.
Dytto tentou fechar as penas, mas as segurei.
— Feche as pernas e você apanha até sangrar.
Ela assentiu, aterrorizada com a ideia.
Me ajoelhei no chão e agarrei a parte detrás de seus joelhos, puxando-a
para mais perto de mim.
Com a ponta da língua, tracei um caminho da parte interna de sua coxa
até a sua virilha. Chupei todo a sua pele durante o trajeto, deixando
pequenas marcas avermelhadas, que logo se tornariam lindos chupões.
Dytto se moveu, excitada, e eu sorri.
Levei minha boca até o seu pequeno clitóris e passei a língua de leve
naquele ponto de prazer. Ouvi-a suspirar e repeti o gesto.
Ela me desejava loucamente ali, estava ansiosa e queria mais.
Suguei o seu clitóris com delicadeza e escorreguei a língua entre os
lábios de sua boceta, deliciando-me de seu gosto.
Dytto soltou um delicioso gemido que quase me fez colocá-la de quatro
para fodê-la.
Circulei novamente o seu clitóris e fiz mais pressão com a língua, em
pequenos círculos. Ela jogou os quadris para frente, como se implorasse por
mais.
Beijei-a naquele ponto íntimo como um beijo de língua lento e quente.
Ela adorava quando eu a chupava devagarinho, estimulando cada
terminação nervosa de sua intimidade.
Dytto gemia baixinho e gostoso. Meu pau era atormentado dentro das
calças, dolorido. Eu queria muito meter nela.
Soprei uma rajada de ar quente em sua boceta e ela se empertigou e
mordeu os lábios.
Dytto tentou erguer o corpo para olhar o que eu fazia. Parecia curiosa.
— Quer assistir eu te fazendo um oral, princesa? — provoquei, com um
sorriso perverso mascarando os lábios.
Suas bochechas ruborizaram.
Voltei a minha atenção para o que eu fazia e beijei o seu clitóris, fiz isso
mais uma vez, em seguida, deslizei a ponta do nariz em toda a sua abertura.
Lentamente inseri a língua em sua entrada. Enfiei nela o máximo que
consegui. Dytto agarrou os lençóis e os apertou com força.
— Chris... — Como eu amava ela gemendo o meu nome.
Afastei o rosto por um instante, apenas para olhá-la se contorcendo de
prazer.
— Eu ainda nem fiz nada, anjo. — aticei.
Ela não respondeu. Seus olhos mantinham-se fechados e os lábios
entreabertos, ofegando.
Aumentei a sucção de minhas chupadas e ela agarrou o meu cabelo com
força, pressionando meu rosto entre as suas pernas. Puta que pariu, eu
adorava quando essa garota implorava por mim.
Sentir o gosto de Dytto em minha língua era uma delícia. Toda aquela
boceta melada deslizando em minha língua, mexendo com o meu pau de
uma maneira insana. Caralho!
Quanto mais eu a chupava, mais a minha garota gemia. Joguei suas
pernas sobre os meus ombros e a puxei, afogando a sua intimidade na
minha língua. Eu a fodi com a minha boca até que suas pernas começaram a
tremer, desejosa. Ela estava tão perto de gozar.
Enfiei o dedo do meio dentro dela e acelerei os meus movimentos. Fui
preciso e rápido. Queria comer ela com força.
Ouvir os sons molhados que sua boceta fazia quando eu socava o dedo
dentro dela me deixava louco.
Dytto estava tão encharcada que acabou molhando a cama. Precisei me
conter para que o pior de mim não viesse à tona e a fodesse feito um louco.
Quando ela gozou, soltou um gemido manhoso e calmo. Definitivamente
aquele havia acabado de tornar o meu som favorito de todos os tempos.
Conseguiria ouví-lo pelo resto da vida sem nunca se cansar.
Retirei suas pernas de meus ombros e as coloquei com cuidado no
colchão.
Beijei a testa da sua boceta e ergui os olhos para ela.
— Está pronta, meu amor?
Seu corpo estava quente, suado e cheio de marcas vermelhas. Ela
respirava com dificuldade e a voz falhava ao tentar se comunicar.
Ela assentiu.
— Sim, estou. — conseguiu dizer.
Levantei-me de onde estava e fui até a cama sentar-me ao seu lado. Ela
se ajeitou ao meu lado e sorriu.
— Isso foi incrível, Chris. Você é sempre incrível. — admirou-se.
Toquei o seu corpo suado e acariciei sua pele nua.
— Tem certeza que quer perder a sua virgindade hoje? — eu precisava
conferir.
— Eu tenho, Chris. — ela pôs sua mão sobre a minha. — Não há nada
que eu queria mais além de você.
Levei minha mão ao seu queixo e puxei seu rosto para mim, depositando
um beijo calmo em seus lábios.
— Eu vou sempre me importar com você. — soprei, sincero.
Ela sorriu e passou os braços em volta dos meus ombros, me beijando
ainda mais intensamente.
Quando me afastei, Dytto, que estava meio sentada, lentamente
escorregou na cama, deitando-se completamente. Aproveitei do momento
para arrancar a camiseta do corpo, tão logo puxei a minha calça e a cueca
de uma só vez.
Meu pau ganhou vida quando me livrei das peças de roupas, já ereto.
Apressadamente, retirei uma camisinha da cômoda ao lado e a passei em
volta do meu pau.
Dytto encarava-me como da primeira vez, completamente chocada.
Essa reação sempre seria cômica para mim. Dytto foi a primeira garota a
qual precisei implorar tanto. Mas valeu a pena cada segundo.
— Vai doer muito, não vai? — perguntou, insegura.
— Vai sim, Dingo Bells.
Ela engoliu em seco.
— Daremos um jeito. — murmurou.
Sorri de sua auto-confiança.
Deitei-me sobre ela e afastei as suas pernas, me posicionando bem entre
elas. Dytto, nervosa, enfincou sua unha no meu braço e fechou os olhos
com força.
— Sem pressão, amor. — brinquei, rindo de sua reação.
Encostei a ponta do meu nariz no seu e ela ergueu as pálpebras. Seus
olhos miravam-se nos meus, melindrosos e assustados.
— Não precisa ficar assim. Juro que vai dar tudo certo — assegurei-a.
— Preciso que me beije — pediu, apavorada.
Me ergui sobre ela e toquei os seus lábios com os meus. Beijei-a com
veemência, até que ela se perdesse, o suficiente, para se distrair.
Quando Dytto já estava mais calma e com os pensamentos longe,
posicionei meu pau na sua entrada.
Por um instante ela se assustou e estremeceu, mas continuei a beijá-la.
Esfreguei meu pênis em sua boceta, estimulando-a, até que se permitisse
se acalmar.
Quando Dytto relaxou os músculos, movi meu pênis para dentro dela,
enfiei apenas um pouco antes dela abrir a boca e apertar seus dedos em meu
braço.
Fiz pressão, conseguindo colocar um pouco mais de mim, nela.
Dytto soltou um suspiro rasgado e doloroso quando me sentiu
penetrando-a. Meu pau era grosso, isso definitivamente não tinha como não
doer.
Mordisquei seus lábios e beijei o seu pescoço. Levei o meu dedo ao seu
clitóris e o estimulei até que a densidade de seu medo se diluisse.
Me mexi um pouco mais quando ela se soltou. Soquei um pouco do meu
pau em sua boceta, e ela soltou um gritinho.
— Dói — murmurou chorosa, os olhos tornando-se vermelhos.
Puta merda! Odiava vê-la sentindo dor.
Encostei meu rosto em seu seio e o coloquei em minha boca, esfregando
a língua em sua aréola.
Dytto ainda estava incomodada com a dor, mas pareceu esquecer um
pouco dela, dando-me tempo para enfiar mais, desta vez, fui mais a fundo,
enfiando bem mais de mim de uma só vez. Quase metade do meu pau
estava dentro. Às vezes era uma maldição ser tão abençoada neste lugar.
Ela sufocou um grito com a mão e fechou os seu olhos com força. Uma
lágrima solitária escorreu de seus olhos.
— Amor — murmurei, afastando mechas de cabelo do seu rosto — Você
quer parar?
Ela me encarou, os olhos inundados em lágrimas, e o rosto inteiramente
avermelhado. Dytto estava ofegante.
— E-eu quero tentar mais um pouquinho — sussurrou, trêmula.
Assenti.
Meti mais, chegando na metade do meu pau. Ela tentou encolher as
pernas e esconder o rosto nas mãos, encobrindo as lágrimas que agora
desciam sem freio.
Dytto chorou baixinho, sufocando o barulho com as palmas.
Remexi os quadris, fazendo movimentos lentos de entra e sai. Ela não se
mexeu, mas percebi que fazia um grande esforço para isso.
Me senti ainda mais duro sentindo a sua boceta me apertando gostoso.
Arfei baixo sentindo uma longa onda de prazer.
Apertei a coxa de Dytto e mordi os lábios. Cada vez mais, querendo a
foder com força, entretanto, contendo cada pensamento sujo que surgia em
minha cabeça.
O tesão aumentava gradualmente a medida em que me movia.
Dytto soluçou alto, mas prendeu o choro no mesmo instante.
Continuei a meter nela. Pouco a pouco aumentando meus movimentos.
Suas pernas tremiam.
Rebolei devagar dentro dela. Dytto estava toda vermelha e inquieta na
cama. Tudo o que eu fazia parecia empertigá-la ainda mais.
Remexi meu pau mais devagar, mantendo o cuidado de não ser bruto. Ela
respirou fundo e afundou o rosto no travesseiro ao seu lado.
Após um tempo no mesmo ritmo, aumentei as estocadas e forcei mais de
mim dentro dela. Ela recuou o quadril, expulsando-me.
O seu rosto estava franzido em uma expressão dolorosa. Porém, segurei
suas pernas, para que não se afastasse.
— Christopher — choramingou — Tá doendo muito — arfou, as
lágrimas descendo em seu rosto.
Parei de me mexer e beijei a ponta de seu nariz.
— Quer parar? — sugeri.
Ela balançou a cabeça, concordando.
— Está bem, meu amor. Vamos parar por aqui. — afirmei.
Segurei meu pau e devagarinho o tirei de dentro dela. Notei o sangue
envolto na camisinha, mas não o mencionei para que ela não ficasse
constrangida.
Dytto fechou as suas pernas no mesmo instante e esticou os pés.
— Eu não consigo mais continuar. Eu realmente tentei não parar, me
desculpa — lamentou, em meio ao choro.
— Ei, não se desculpe. — beijei a sua bochecha, molhada pelas lágrimas
salgadas.
A puxei para os meus braços e abracei-a com força.
— Está tudo bem, Dingo Bells. Está tudo bem. Não esperava que fosse ir
até o fim na sua primeira vez. Não se preocupe. — tentei a acalmar
enquanto a acalentava em meus braços.
Beijei a sua nuca. Seu corpo inteiro tremia quando ela soluçou.
— Anjo, está tudo bem. — repeti, baixinho.
— Eu realmente tentei — ela arfou.
— Eu sei, querida. Eu estou orgulhoso de você. — garanti.
Ela se enfiou ainda mais em meu abraço, encolhendo o seu corpo.
Por um longo tempo, ela permaneceu parada e sensível. Afaguei as suas
costas, sempre beijando o seu ombro e testa até que ela se acalmasse por
completo.
Quando Dytto finalmente me olhou nos olhos, ela aparentava estar mais
relaxada, porém, ainda sentida.
Toquei o seu rosto para enxugar as suas lágrimas enquanto ela me
encarava.
— Está se sentindo bem? — investiguei.
Ela umedeceu os lábios. Suas pálpebras estavam inchadas e vermelhas.
— Me sinto dolorida — confessou.
Eu me sentia tão culpado por aquilo. Não devia ter deixado isso
acontecer.
— Quer algo, Dingo?
— Apenas que você me abrace.
Me rendi ao seu pedido. O que acabou se prolongando pela noite inteira
com nós dois abraçados.

Ter um Chris deve ser ou muito bom, ou muito ruim
Capítulo 43| Volte para o inferno

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO


Aos antigos leitores, sejam bem-vindos, oficialmente, à nova versão do
enredo, espero que gostem.
Não haverá triângulo amoroso.

— Não brinque com a comida, As. — murmurei, retirando de sua mão o


pequeno bolinho de panqueca que ele havia amassado.
Ele fez beiço e Dytto caiu na risada. Ela estava adorando a companhia
dele. Sentia-se confortável agora que o conhecia um pouco melhor.
Sua tia, Marcelia, havia o entregado para mim esta manhã. Estava
exausta e estressada, mas aliviada por ser a última vez que teria ele em sua
responsabilidade. Agora, Asafe seria só meu.... e, da Dingo "dele". Bufei
com esse pensamento.
Assim que abri a porta mais cedo para pegá-lo, os seus grandes olhos se
arregalaram, tingindo-se de um brilho único, não por me verem, mas por
encontrarem a linda garota de cabelos castanhos logo atrás de mim.
Dytto não estava acordada há muito tempo, e se assustou com a visita do
pequeno/grande rapaz de última hora, mas não hesitou ao pegá-lo no colo.
Meu filho não desgrudou dela nem por um único minuto. Ela, por outro
lado, não se incomodava em receber tanta atenção.
Mas eu me incomodada, As. Eu me incomodava em dividir ela.
— Eu vou buscar água para ele. — ela avisou, sorrindo, e deixou de lado
o pano de fralda que usava para limpar a sujeira no rosto do diabinho.
Olhei para Asafe, que mantinha os olhos centrados na televisão à sua
frente. Ele não era uma criança que gostava de assistir desenhos infantis,
parecia se interessar mais por noticiários de mortes, roubos e tragédias. Isso
o entretia o suficiente para não ter sequer notado que a minha namorada
havia saído do seu lado.
— Asafe, não fuja daí, não mate ninguém e nem coloque nenhum objeto
estranho na boca. — avisei-o antes de me levantar, mas ele tampouco se
importou para o que eu dizia.
Fui atrás de Dytto, que estava apoiada no balcão, servindo uma
mamadeira com água. Era engraçado vê-la bancar a madrasta.
Bom, era meio sexy também.
Encostei-me atrás de seu corpo e beijei o seu ombro. Ainda não havíamos
tido tempo para conversarmos sobre noite passada, mas a sentia diferente
hoje.
Fui o primeiro a acordar, e vê-la lindamente nua, abraçada ao meu lençol,
foi de tirar o fôlego. Pouco tempo depois, Dytto acordou, atordoada. Ela
procurou pelo seu celular, para avisar aos seus pais sobre o seu sumiço, mas
eu já havia conversado com o seu pai, Theo, e a cretina da Loren.
Foi bom ver Dytto aliviada ao perceber que seu pai estava "bem" em
saber que sua filha estava na minha casa, mas ela logo percebeu a minha
presença, sentado na poltrona do quarto, com uma xícara na mão, e ficou
tímida.
Dytto ficou trancada no banheiro por pelo menos meia hora antes de
conseguir alguma coragem para me ver novamente.
Somente quando meu filho chegou, que ela pareceu mais a vontade com
a minha presença. Estava envergonhada por não ter conseguido terminar o
que havia começado ontem. Eu não a culpava por nada, mas Dytto, sim.
— Chris... — ela sussurrou, num aviso furtivo para que eu não passasse
dos limites.
— Como está a sua boceta hoje, amor? — perguntei e ela me olhou
estarrecida.
— Não pode ser um pouco menos.... discreto? — disse sarcástica.
A expressão em seu rosto me fez ter vontade de gargalhar. Algumas
semanas juntos e ela ainda não havia se acostumado comigo.
Sorri para ela.
— Como está a sua florzinha? — zombei, rasgando um sorriso torto nos
lábios.
— Credo. — ela riu e escondeu seu rosto no meu peitoral. — Estou...
sensivel. — cochichou.
Apertei-a em meus braços e beijei o topo de sua cabeça.
— Vai demorar um pouco até que se acostume comigo, mas podemos
continuar tentando até se sentir confortável. — sugeri, descendo as mãos
para a sua cintura.
— Eu gostei do que nós fizemos, só não acho que somos assim tão
compatíveis, quando se trata do seu... — ela pigarreou e olhou para o meio
de nós.
— Pau?
Dytto arregalou os olhos e olhou sobre os ombros, apenas quando não
encontrou nenhum sinal de Asafe hipoteticamente nos flagrando, que ela
voltou seu olhar para mim.
— Não fale essas coisas com As em casa. Ele é um bebê.
— Amor, ele não está nos ouvindo.
— Como sabe disso? — ergueu uma sobrancelha.
— Eu sinto quando há outros demônios por perto. E As, está bem
quietinho na cozinha.... bom, quietinho não, porque agora eu sinto ele
agitado, deve estar vendo alguma coisa animada.
E, com "coisa animada", poderia ser um desastre nuclear, alguém
destroçado ou mulheres peladas. A última era a menos provável, eu havia
bloqueado todos os canais de sexo que a rede de televisão fornecia.
— Sente mesmo as pessoas? — ela quis saber, curiosa.
— Sim, eu já havia lhe dito isso.
— É, mas, eu não pensei que fosse de verdade. Imaginei que estivesse
falando de um jeito romântico.
— Acha que eu minto para você, garota? — brinquei.
Ela mordeu os lábios.
— Talvez.
Encostei minha testa na sua.
— Você é a única pessoa que conhece a minha verdade.
— Omitir, também é mentira.
— Não, não é.
— É, sim.
— Eu não vou discutir isso. — suspirei, afastando o rosto.
— Está bem. Mas, se você sente as pessoas, deve sentir tudo o que eu
sinto, não é?
— Absolutamente tudo.
Ela engoliu em seco.
— Até quando eu estou excitada? — sussurrou.
— Porque acha que eu a visito em seu quarto?
— Porque você é um maluco?
Uni as sobrancelhas.
— Te visito porque você me quis desde quando me viu na floresta. —
esclareci.
Ela abriu a boca, surpresa. Não imaginava que eu sabia exatamente o que
ela havia sentido quanto a mim.
— Ah! — suas bochechas ruborizaram — Então porque parecia que não
queria falar comigo aquele dia?
— Eu estava atrás de outra coisa.
— Hmm... uma outra possível ficante? — chutou, enciumada.
— Um demônio, Dy. Estava atrás de você.
Ela arregalou os olhos.
— Tinha mais alguém lá? — entrou em alerta.
— Você é um como uma peça rara, Dingo Dingo. Atrai eles
naturalmente.
Ela esfregou os dedos nos lábios, estava tremendo.
— O que isso quer dizer?
— Quer dizer que, se não fosse eu a te encontrar naquela floresta, seria
outro.
— Quem?
— Não importa, já foi para o inferno. Mandei de volta bem rapidinho. —
estalei os dedos.
— Chris, você está me deixando com medo. — murmurou, a voz
trêmula.
Coloquei minhas duas mãos em sua face.
— Você me tem para te proteger, querida. Ninguém toca em você se não
passar por mim antes.
Ela fechou os olhos e respirou fundo.
— Eu não gosto de nada disso.
— E não precisa. Pode viver a sua vida normalmente. Eu vou estar
sempre aqui para cuidar de você.
— O que ele teria feito comigo se você não tivesse aparecido naquela
floresta, Chris?
Beijei a ponta do seu nariz.
— As ainda está esperando a água dele. — lembrei-a.
Ela suspirou.
— Não vai me contar? — sussurrou.
— Não, amor. Eu não vou.
Ela assentiu.
— Deve ser algo bem ruim então. — concluiu.
Beijei os seus lábios, desviando-me de sua curiosidade.
— Tudo bem, então. Eu já vi que não posso mais lutar contra nada disso.
— cedeu.
— É. Não pode.
— E também, que você não mais me largar. — provocou.
— Nunca.
— E que também não vai me deixar conhecer outros caras.
— Vão morrer antes de terminarem o primeiro cumprimento.
— E se eu quiser te deixar? — incitou, maliciosa.
— Arranco a sua cabeça fora.
Ela assentiu.
— Bom saber, diabão.
Virando-se, ela pegou a mamadeira de As e voltou para a sala de jantar.
Me juntei a ela logo em seguida.
Asafe estava mastigando o controle da televisão quando voltamos. Dytto
prontamente retirou dos pequenos dentes dele e o entregou a mamadeira.
— Você não pode colocar isso na boca, está bem? — ela gentilmente
pediu a ele, mostrando-lhe o objeto.
— Não pode? — ele insistiu.
— Não, não pode. Você pode se machucar. — ela dizia, acariciando as
bochechas dele. — Pode ser?
— Pode, Dingo. — As concordou rápido.
Então era só ter um rostinho bonitinho para ele finalmente obedecer?
Ela olhou para mim, culpando-me pelo apelido dado. Apenas dei de
ombros e sentei-me à mesa.
— As, conte para a Dingo o que você fez de presente para ela.
Ele abriu os lábios, em um sorriso gigantesco.
— Bolinho. — gritou, animado.
— Me fez um bolinho? — ela disse, alegre.
Pobre inocente.
— Um bolinho de cérebro. — eu expliquei.
Ela enrugou a testa.
— Como se faz um bolinho de cérebro? — ela sorriu.
— Com cérebro. De rato. — contextualizei.
Suas sobrancelhas saltaram.
— Rato? — ela olhou para mim, depois para o As, depois para mim
novamente, chocada. — Rato. — repetiu, quase inaudível.
Quis rir, mas me contive.
— É por isso que ele não para de amassar a panqueca. Está viciado em
fazer "bolinho". — comentei.
Dytto soltou uma risada nervosa.
— É... bolinhos de cérebro. Bolinhos. — ela frizou os lábios em uma
linha.
Asafe a encarava intrigado. Não sabia a razão dela não ter aprovado a sua
atitude.
— Bem vinda a família. — joguei-lhe uma piscadela.
— E pensar que eu achei que um colar de cinquenta e sete milhões fosse
a coisa mais intrigante que eu fosse ganhar. — ela soltou, atordoada.
— Fazer o quê se As e eu gostamos de surpreender a nossa garota.

Dytto já estava na porta, prestes a ir embora. As estava em meu quarto,
trancado e chorando. Não queria que ela fosse embora, por isso precisei
aprisioná-lo.
Os olhos de Dingo Bells se embargaram em lágrimas ao ver Asafe
chorando. Eu não está conseguindo lidar com tanta emoção ao meu redor.
Quase a tranquei junto dele para que terminassem aquilo logo.
Ela soluçou e respirou fundo, engolindo o choro.
— Diga pra ele que eu vou voltar. — pediu.
— Hum huh.
— Diz também, que eu não queria que você tivesse trancado ele. — seus
lábios tremulavan ao dizer.
— Hum huh.
— Avise a ele que eu gosto muito dele, por favor.
— Hum huh.
— E que também...
— Minha nossa! Vocês vão se ver já já. — resmunguei.
Ela assentiu, mordendo o canto dos lábios. Fazia um grande esforço para
conter mais lágrimas que insistiam em surgir.
— Acho que já vou então. — avisou, chorosa.
Suspirei. Era uma tarefa árdua lidar com alguém tão sentimental. Dytto
se preocupava ao extremo com as pessoas. E As chorar em sua frente
pedindo para que ficasse, não ajudou muito.
Precisei buscar pelo meu lado mais sentimental e amoroso, por ela.
— Tudo bem. — a puxei pela cintura. — Não se preocupe com ele.
Ela novamente assentiu.
Puxei seu rosto para mim e curvei-me para beijar os seus lábios. Me
demorei nele o máximo que pude, também não queria que ela fosse embora.
Chupei os seus lábios e adentrei a sua boca com a minha língua, queria
mergulhar em seu beijo e permanecer.
Agarrei o seu quadril com uma mão, com a outra, enfiei entre seus
cabelos e os assegurei com força.
Ela já estava sem fôlego, eu ofegante. Ambos desejosos, mas contendo-se
ao máximo que podíamos.
Quando me afastei, ela já havia parado de chorar.
— Você é incrível, Dingo Dingo. — cochichei, os meus lábios roçando
os seus. — Queria arrancar todas as suas roupas agora mesmo.
Ela sorriu.
— Só tem um problema. — ela ofegou. — Eu não achei a minha
calcinha.
Ri baixinho.
— Oh. Será que foi a que eu queimei antes de você acordar.
Ela fez careta.
— Chris, não pode queimar todas as minhas calcinhas.
— Elas são horrorosas.
— São confortáveis.
— Feias.
Dytto desistiu de discutir, deu de ombros e saiu.
Esperei até que já estivesse dentro do seu carro, e somente quando ela
deu a partida, que fechei a porta e fui atrás de As.
Quando destranquei o quarto, ele estava sentado no canto da cama, seu
rosto ainda estava vermelho e molhado de lágrimas.
Estava sentado com as pernas esticadas e as mãos sobre elas. Um beiço
choroso se destacava em seu rostinho. Suas bochechas e a ponta do seu
nariz estavam avermelhadas. As suas pálpebras visivelmente inchadas.
— Prometo que ela vai voltar. — avisei-o.
Ele fungou, e todo o seu corpo estremeceu.
Dei passos em sua direção e sentei-me na cama. O puxei para o meu
colo, envolvendo-o em meus braços.
As me olhava tristemente, de modo que me fazia sentir dó. Eu não queria
vê-lo tão triste assim.
Penteei seus cabelos negros para trás, enquanto o observava atentamente.
Não havia nada que eu amasse mais do que ele, porém, eu não podia
protegê-lo de seus sentimentos.
Beijei sua testa e ele fechou os olhos.
— Não fique chateado. É normal sentir saudades, mas ela também tem
outras coisas para fazer. Você vai ver ela um outro dia.
— Mas eu queria ela, papai. — choramingou, a voz manhosa e sem
ânimo.
— Você terá ela por toda a eternidade, As. Mas não agora.
Ergui-o nos braços e levantei-me com ele.
Asafe ainda chorava em silêncio no meu ombro, embora já não estivesse
mais tão triste, apenas não sabia como administrar a sua vontade por ela.
Para ele, saudades, ciúmes e possessividade eram sentimentos
correlativos. Todos eles o fazia agir de maneira irracional, e mesmo que
ainda fosse apenas uma criança, sua entidade demoníaca falava sempre
mais alto em decorrência do descontrole emocional devido a sua pouca
idade.
— Sam quer te ver. — informei-o.
— Não. — respondeu seco.
Minha irmã Samantha não desistia, mesmo com o desprezo de As por
toda a sua gentileza.
Ela o via como uma criança fofa, e ele a via como uma tia chata. Era uma
relação complicada, mas ambos se amavam.
Eu estava limpando a mesa, com a mão desocupada, quando um frio na
espinha me atingiu. As sentiu o mesmo, pois ficou inquieto em meu colo,
esticando o pescoço em um ato instintivo.
Minha pele doía, num misto de fúria e gelo. Sua presença me era tão
sufocante que exalava em cada cômodo da casa.
Seu terrível cheiro emanava a sujeira em sua podre e perversa aura.
Num rápido ato, virei-me para trás.
Porra!
O homem da mesma altura que eu, estava parado, com as duas mãos
entrelaçadas perante ao corpo. Os olhos castanhos miravam sobre mim,
impiedosos.
Seus longos cabelos negros estavam soltos sobre os ombros. As
características asiáticas eram expressivas em sua face.
Sua pele bronzeada era marcada por enormes tatuagens, enquanto que em
seus braços havia várias cicatrizes de guerras.
— Não deveria estar em Nefarious? — rosnei, rude.
Ele umedeceu os lábios e devagarinho virou o seu rosto para o lado.
— Este é o seu filho? — analisou, encarando As com curiosidade.
Sua postura era elegante, mas afiada. Um passo em falso com ele e suas
garras eram atiradas para fora.
Meu filho se empertigava em meu colo, com medo. Da mesma maneira
que eu, denotava com nítida clareza a intenção daquele monstro em matar.
— Meu pai o mandou? — investiguei.
O Samurai sorriu.
— Seu pai? — havia incredulidade e rispidez em sua voz. — Não recebo
ordens, Christopher. Eu sou um rei, não um soldado... como você. —
rebateu, perverso.
Cerrei os dentes.
— Não é bem vindo aqui.
— E nem você. — rapidamente devolveu.
— Volte para o inferno. — declarei, furioso.
— Voltarei. Um dia. — ele curvou um sorriso maligno. — Mas gostaria
de passar um tempo, é claro.
— Não deveria estar aqui, Nabrya.
Ele sorriu, abrindo os braços com graça e leveza.
— A ilha é minha, Christopher. Eu faço o que eu quiser. — Nabrya disse
sereno, virou-se de costas para nós e deu dois passos antes de parar — E eu
preciso de você como aliado. — ele olhou sobre os ombros, com uma
expressão maldosa. — Eu quero destruir o seu pai, e você quer a sua
liberdade. Me ajude a queimar o inferno.

Eita, eita, eita, eita
Estou sem dias de postagens
Capítulo 44| Condição

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



Bastou que eu estacionasse o carro na garagem de casa, para que uma
Loren extremamente preocupada me abordasse.
— Meu Deus, Dytto! Quer me matar do coração? — trovejou ela,
gesticulando com as duas mãos.
Eu estava sem o menor ânimo para começarmos um assunto do qual nos
levaria a uma briga.
Era suficientemente exaustivo ter que vê-la após tudo o que aconteceu.
Ainda sentia ânsia ao pensar em toda a situação.
— Por que não me telefonou? Achei que estivesse morta — continuou —
Eu passei a noite inteira te procurando. Sabe o quão insuportável foi pensar
que você poderia estar machucada? Você nem me disse para onde ia. Você
não pode simplesmente sumir assim.
Passei por ela, com a sua voz explodindo em meus ouvidos.
As suas palavras me enchiam de pouco a pouco, fazendo com que todo o
meu corpo se preenchesse de uma grande dose de raiva.
Inspirei fundo, mas o ar me invadia entrecortado e quente.
Mordi a parte interna de minha bochecha com força. Não demorou para
que o gosto metálico e enjoativo de sangue irrompesse em minha língua.
— Porra, Dytto! Não é porque fez dezoito que pode simplesmente sumir
no mundo — esbravejou alto, seguindo cada passo que eu dava.
Meu rosto ferveu de uma fúria inexplicável.
— Eu precisei saber de você pela droga do Christopher, porque você não
se deu ao trabalho de dizer que estava viva. Isso é o mínimo que se faz
quando se quer sumir, Dytto.
— JÁ CHEGA! — gritei, girando os calcanhares em sua direção — Eu
não ligo, Loren. Não ligo se passou a noite me procurando, se estava
preocupada, ou não. VÁ SE FERRAR! Eu não liguei porque não quis. Não
disse onde estava porque não queria que soubesse. Porra, não nascemos
grudadas. Me deixe em paz!
A esta hora, seus olhos estavam arregalados e cheios de arrependimento.
A expressão abismada mascarava toda a sua face, enquanto que seus olhos
mantinham-se bem abertos.
— Não vê que tudo isso é culpa sua? O que mais quer de mim, hein?
Quer que eu te peça desculpas e beije a droga dos seus pés? Foi você quem
fodeu com o namorado da nossa amiga, não eu. Então se puder me poupar
disso, eu agradeço pra caralho. — Virei-me e saí pisando fundo.
Há vários limites em que você pode se colocar, mas não há limites no
mundo que nos impeça de explodir quando atigimos o ápice da fúria.
Talvez, mas, só talvez, eu me arrependa das minhas duras palavras mais
tarde.

Papai e mamãe haviam chegado animados do trabalho hoje.
Aparentemente, a ideia de que as férias de ambos estavam cada vez mais
próximas, os deixava felizes.
Mamãe queria dar uma grande festa. Papai queria viajar para Seoul.
Loren não se deu ao trabalho de opinar.
E quanto a mim, eu apenas queria me trancar em meu quarto. No entanto,
fugir das quintas em família não era uma opção.
Minha irmã estava de cara fechada, seus dois braços cruzados diante do
peito, e os olhos perdidos sobre o prato à mesa.
Eu odiava a ideia de brigarmos, éramos sempre tão próximas que me era
estranho quando não estávamos nos falando. Mas havia uma pontada no fim
do meu estômago, lembrando-me em um looping eterno sobre a sua
covarde traição.
Minha mente mastigava as lembranças de maneira ríspida, e em todas as
vezes que eu sentia-me minimamente prestes a desculpá-la, a raiva me
atingia como a ponta de uma lâmina.
Minha atenção só fora resgatada no momento em que a voz de papai se
voltou para mim.
— Eu conversei com o garoto — ele falou, olhando em meus olhos — E
eu concordei que namorassem. — admitiu.
Christopher ter dito isso foi uma grande surpresa, mas ouvir da boca do
meu pai, foi ainda mais chocante. Era quase o mesmo de ele ter dito que eu
poderia explodir a casa com dinamite.
— Só espero que entenda que não é porque deixei, que quero que passe a
ser como ele. — pediu.
— Como ele? — interroguei, curiosa.
— Você sabe, Dytto. Tatuagens, piercings, drogas e satanismo —
explicou, desgostoso.
— Ah... — murmurei, constrangida.
Tatuagens, piercings, drogas e satanismo não eram a minha praia,
somente Christopher era.
— Tenho uma condição para isso, Dytto — mamãe comentou, erguendo
o rosto — Quero que o leve para a igreja todos os sábados. Inclusive neste
próximo.
Arregalei os olhos e Loren se engasgou com o seu copo de água.
— Igreja? — as palavras saíram cuidadosamente de minha boca, como se
ditas por um médico que acabara de dar um terrível diagnóstico ao seu
paciente.
— Não é necessário, amor. — papai intercedeu.
— É claro que é. Eu sou a mãe da Dytto, e preciso ter algum motivo pelo
qual apoiar esse namoro. Não pode simplesmente aceitar isso assim, do
nada. — ela ergueu as mãos, incrédula.
Eu também estava chocada com tamanha facilidade do papai em ter
aceito isto. Mas também não imaginava que logo a minha mãe se
intrometeria.
— Mãe, Christopher não é religioso, e eu não quero ter que forçá-lo a ir
em um lugar em que ele não se à vontade.
Confortável, ela batucou as suas unhas curtas e delicadas na mesa.
— Com o tempo ele se acostuma, querida. Espero que entenda que eu só
quero o seu bem.
Percorri meu olhar em busca do auxílio de Theo, que parecia sem
argumento contra isso.
Uh oh!
— Então tenho que chamá-lo para ir à igreja, certo? — evidenciei,
nervosa.
— Apenas — concordou ela.
Sentia minha pele em brasa.
Como era que se convencia um demônio a ir para a igreja?
Eu definitivamente iria para o inferno sem direito a julgamento.

— Preciso que faça uma coisa por mim — sussurrei, no segundo em que
senti Chris deitar-se em minha cama.
Ele se impertigou.
— Deveria estar dormindo — ouvi sua voz em meio a escuridão, parecia
irritada.
Tudo bem que já era um pouco mais das três da madrugada, mas eu
precisava falar com ele. E isso só daria certo se fosse pessoalmente.
— Por favor, me ouça.
Christopher tocou a minha cintura e aproximou seu corpo do meu.
— Ouvindo.
— Preciso que você vá para a igreja comigo no sábado. — soltei,
receosa.
Ele riu baixo, mas com tanta graça que senti como se eu tivesse acabado
de lhe contar a melhor piada de todo o universo. Era meio irônico, na
verdade.
— É sério, Chris. Essa é a condição dos meus pais para que a gente
namore. — implorei, virando-me para ele.
Ele ainda estava rindo quando enfiou seu rosto na dobra do meu pescoço.
— Igreja? Fala sério, Dingo! — gargalhou.
Se eu pudesse vê-lo com clareza, teria a total comprovação de que ele
estava revirando os seus olhos.
— Chris, por favor! — insisti, manhosa — Eu não quero ficar longe de
você. E meus pais não irão me deixar te ver se não concordar.
— Eu sinto muito, amor. Mas isso é um plano fora de cogitação. —
murmurou entre um riso e outro.
— Christopher. — Passei o braço em volta do seu corpo e joguei a perna
em cima dele, esfregando a ponta dos pés em sua perna — Christopher, por
favor.
Tentar um jogo de sedução, era um tanto quanto apelativo, no entanto,
era isto, ou não poderia mais visitá-lo ou sair com ele.
— Gatinha, não dá. — ele alisou o meu rosto.
Suspirei fundo.
— Lembra daquele desejo que me prometeu se eu chupasse você? —
pontuei.
Senti sua respiração ficar pesada.
— Disse que poderia escolher qualquer coisa que eu quisesse. —
lembrei-o.
— Merda... — ele cochichou, mais para si do que para mim.
— Eu quero que você vá para a igreja comigo, todos os sábados.
— Todos? — alarmou-se — Calma aí, não era só um? — ele ergueu o
corpo, apoiando o torso em seu cotovelo.
— Esse é o meu pedido, diabão. Você quem disse que eu poderia
escolher qualquer coisa que eu quisesse.
— Isso não estava nos planos. — protestou, aborrecido.
— Não me lembro de você ter dito nenhuma regra para mim. A única
coisa que me disse foi que eu poderia escolher qualquer coisa ow "Gênio do
boquete".
Christopher enfiou seu rosto entre os meus seios e soltou um grito
abafado. Ri disso e abracei-o.
— Eu espero que você se comporte, Christopher.
— Você me odeia.
Sorri e beijei a sua testa.
Não o odiava. Eu, na verdade, o amava. Mas essas palavras ainda não
deveriam ser ditas, era cedo demais para isso.
— Preciso da sua ajuda, amor.
Ele suspirou alto.
— Espero que com isso, você entenda que está desafiando a fúria de
quem você serve. — comentou.
Um calafrio percorreu o meu corpo inteiro.
— Eu já o desafio todos os dias somente por querer você.
Christopher subiu seu corpo sobre o meu e beijou o meu queixo.
— Sem dúvida alguma.
Revirei os olhos.
— Há pouco tempo atrás, eu ia às missas e rezava para que Deus me
livrasse de todos os males. Agora eu deito em minha cama e espero que um
demônio venha enfiar a mão dentro do meu pijama. — bufei. — Eu achei
mesmo que poderia fugir de você.
— Você não foge. Você apenas se rende.
— É. Eu percebi. — respondi, seca.
— Não fique brava. — ele acariciou o meu rosto — Comigo, você será
eternamente livre.
— A que preço? — discordei.
— Não será mais nada além de minha. Irei me alimentar da sua alma pelo
resto dos tempos.
— Isso satisfaz o seu ego?
— Satisfaz os meus desejos.
Enfiei meus dedos entre as mechas do seu cabelo.
— Isso vai doer, Chris?
— Não, amor. Apenas não tente escapar de mim e nunca conhecerá a
minha fúria.
— Irá comer a minha alma?
— Oh, com certeza eu vou. — respondeu malicioso.
— Chris, não era disso que eu estava falando. — repreendi-o.
— Mas pode apostar que eu eu vou.
Fechei os olhos.
— Sua florzinha está melhor? — ele perguntou baixinho.
— Não a chame assim. — resmunguei.
— Você só reclama.
— É que esse nome é ruim.
Ele riu.
— Poderia, por gentileza, responder se sua parte íntima está em bom
estado, madame? — caçoou.
— Ah, é claro que está. Você nem é tudo isso. — o provoquei, segurando
o riso.
— Devo lembrar que era você chorando enquanto eu metia?
— Eu só estava encenando para você não ficar constrangido, bobinho.
— Que ótima atriz eu tenho, não? — ele mordeu o meu queixo.
— Tente ser melhor na próxima. — incitei, sorrindo.
— Pode deixar que eu vou me esforçar.

Dois boiolas apaixonados
Capítulo 45| Igreja

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



— Fique quieto e nada de fazer bagunça. — alertei-o, séria, e ele revirou
os olhos pela décima quinta vez.
Segurando a sua mão, caminhávamos em direção à minha família; que
aparentava exaustão de tanto nos aguardar em frente a igreja, mas ao nos
ver, forçaram um sorriso mesmo assim, menos Loren, é claro.
Hoje, busquei Christopher em sua casa, para ter certeza de que ele
realmente viria. Porém, o demônio atentado demorou cerca de uma hora e
miseráveis dez minutos no banho, propositalmente.
Por sorte, havia ido uma hora e meia mais cedo do que o usual. Eu
gostava de ser uma pessoa pontual, então adiantei os passos, temendo um
imprevisto ou um pé atrás, no entanto, eu não estava preparada para todas
as peripécias que Christopher armaria no caminho para que nos
atrasássemos.
Em um dos semáforos, ele gritou para um motorista, chamando-o de
"Corno cego", e desceu do carro, com a esfarrapada desculpa que o outro é
quem havia começado. Precisei buscá-lo de volta pela gola da camiseta,
garantindo que o moço do outro carro sequer havia lhe dito algo, pois era
mudo.
E, em um outro momento, ele inventou que Asafe havia lhe pedido um
carrinho, e nos fez parar em uma loja de brinquedos. Ele parecia muito
seletivo para escolher o presente do seu filho, até que magicamente lembrou
que Asafe, na verdade, não gostava de carrinhos.
Somente quando ameacei jogar o carro de uma ponte, que ele finalmente
me deu um minuto de paz.
— Christopher — mamãe o recebeu, com um largo sorriso no rosto e
estendeu a sua mão.
Ele, por outro lado, manteve-se retido ao cumprimentá-la, como se
fizesse apenas por obrigação, mas Ever fingiu não notar.
— Chris — Theo acenou, seco.
Christopher fez questão de dar-lhe um forte aperto e sorrir para ele.
Por meros segundos imaginei ter visto papai arregalar os olhos, mas fora
tão rápido que poderia ter sido apenas coisa da minha cabeça.
— Vamos entrar — Loren nos apressou, sem nem ao menos nos olhar.
Minha irmã abriu caminho e a seguimos. A igreja estava cheia de cristãos
e visitantes. Um belo e agradável coral preenchia as enormes paredes
revestidas de pinturas simbólicas, ecoando por todos os lados.
Olhares curiosos se voltaram para Christopher no minuto em que
adentrarmos o local. Certamente, não era comum ver homens como ele
frequentar aquele lugar, ou pelo menos, não havia mais ninguém com um
bode satânico tatuado no braço.
Embora ele não ligasse da atenção que recebia, me senti tímida ao seu
lado. Era estranho ver todos aqueles que já me conheciam, me encontrarem
de mãos dadas com o pior, e provavelmente o maior habitante de Vespeau.
Em apoio, ele segurou minha mão com mais força.
Christopher decidiu vir completamente de preto, de tal modo que
parecesse estar de luto. E talvez estivesse, pela sua dignidade.
Sorri ao pensar nisso.
— Não zombe de mim ainda, Dingo. Isso vai ter volta — ameaçou num
sussurro.
— Você fica lindinho na igreja. Parece até um bom moço. — sacudi o seu
braço, provocando-o. — Poderia até mesmo te confundir com um padre.
Seu olhar recaiu sobre o meu, tomado de fúria. Seus lábios estavam
franzidos em raiva e o seu maxilar tornou-se rígido.
Bravo, ele soltou a minha mão e adiantou os seus passos.
— Cai fora, Dingo Bells. Eu vou ficar sozinho. — reclamou, rabugento.
— Nem pensar! — rapidamente enrosquei o meu braço no seu.
Deus me livre deixar Christopher à solta em uma igreja. Sabe se lá o que
ele poderia aprontar.
Ele suspirou forte.
— Relaxa, Christopher. Não precisa ficar tão nervoso. Deixe o espírito
santo trabalhar em você, meu caro. — caçoei.
Vê-lo mal-humorado tornava o meu dia bem mais agradável.
— Puta merda.
— Olha a boca. Papai do céu não gosta. — fiz cara feia em repreensão, e
pela décima sexta vez, ele revirou os olhos.
Tentei arrastá-lo para o banco da frente, para sentarmos junto da minha
família, mas ele me agarrou à força pela cintura, e me carregou para a
penúltima fileira.
Ele se acomodou preguiçosamente no banco, como se estivesse apenas
no sofá de casa em um domingo à tarde, sozinho e despreocupado. Os que
estavam ao nosso lado, se afastaram para o fim do banco, notando a
ignorância da torre tatuada.
Christopher arreganhou as suas grandes pernas, apoiou os cotovelos nos
joelhos e baixou a cabeça entre elas.
Ele ficou em silêncio por tantos minutos que me senti incomodada. Não
sabia se era possível estar passando mal ou se só queria ignorar tudo à sua
volta.
— Está rezando? — investiguei baixinho, mas ele se manteve parado, o
que me preocupou. — Está sentindo algo? Dor de barriga? Dor de cabeça?
Azia? Enjôo?
— Fique.quieta.
— Já está sentindo a sua alma mais limpa? — zombei e ele ergueu o seu
rosto, encarando-me cheio de raiva.
Juntei o polegar e o indicador, e os escorreguei em meus lábios, zipando-
os.
Ele balançou a cabeça, incrédulo.
Christopher estava pouco à vontade dentro da igreja. Em grande parte do
tempo apenas suspirava alto, incomodando aos que sentaram ao nosso lado
e a nossa frente.
— Pare de fungar, Chris. Está atrapalhando a todos. — reclamei.
— Eles nem ligam, Dingo. Aposto que vão sair daqui sem nem mesmo
lembrarem de uma única palavra. — rebateu, seco.
— Se os deixarem ouvir o padre, talvez eles possam ouvir algo que
possam se lembrar.
Ele virou os olhos e se espreguiçou.
— Saco, saco, saco... A minha bunda já está doendo.
Apertei o seu braço e arregalei os olhos.
— Shiii... Está atrapalhando.
Ele fez cara feia e se reencostou no banco, entediado.
Voltei a minha atenção para o padre, que proferia lindas palavras sobre o
amor de Cristo.
Mas, o Christo ao meu lado, decidiu me interromper, alisando o meu
cabelo e brincando de os enrolar em seu dedo.
— Preste atenção, Chris. — pedi.
Ele sorriu e aproximou o seu rosto do meu.
— Quer pegar o dinheiro que eles guardam naquela salinha ali? — ele
apontou com o queixo e arregalei os olhos.
— Christopher, nós estamos em uma igreja. Não podemos sair roubando.
— Depois que sairmos nós podemos então? — sugeriu.
— Não. Cale a boca!
Ele resmungou e deitou a sua cabeça em meu ombro.
— Eu estou exausto, Dingo Bells. Vamos embora — implorou.
— Não.
— Que inferno!
Christopher se remexeu de um lado para o outro no banco. Até que, por
um milagre, decidiu parar. Ou era o que eu pensava, até vê-lo dando língua
para uma criança à nossa frente.
O garoto parecia assustado, enquanto Christopher fazia as piores caretas
que conseguia. O menino começou a franzir o rosto, até que desatou a
chorar. A mãe da criança lançou um olhar aborrecido para o homem tatuado
ao meu lado e tentou acalatentar o filho, sacudindo-o no colo.
— Você é pai, Christopher. Como pode ficar fazendo isso com uma
criança? — briguei.
— Asafe teria rido — se defendeu.
Juntei as sobrancelhas.
— Ou teria me dado o dedo do meio. — ruminou, pensativo.
— Por Deus, fique quieto!
— Eu não faço nada por ele, amor.
— Por mim então. Por Asafe. Por Amara, Samantha ou qualquer ser no
mundo que você minimamente goste.
Ele fez careta.
Suspirei e escorreguei o corpo no banco, cansada de bancar a mãe. Ele
sorriu e escorregou junto, até estarmos na mesma altura.
— Quer brincar de jogar papel nas pessoas? — sugeriu, malicioso.
Olhei para ele, extremamente séria, mas ele não pareceu captar a notícia.
— Quer ou não? — insistiu.
— Não, Chris. Não. Não. Não. Você consegue ser ainda mais inquieto
que uma criança. — surtei.
Ele mordeu o meu ombro em diversão e se ajeitou no banco.
— Eu preciso ir ao banheiro — reclamou.
— Se você se levantar desse banco, eu arranco o seu pinto com um
motosserra! — ameacei.
Ele esbugalhou os olhos.
— O que isso, garota? Estamos na igreja. Mais respeito! — falou, alto o
bastante para que quem quer que estivesse ao nosso redor, escutasse.
Olhos curiosos rapidamente me procuraram, de tal maneira que pareciam
estar todos me repreendendo.
Meu rosto rapidamente ferveu de vergonha e me senti tentada a correr
dali para enfiar a cabeça em um boeiro.
Enquanto quase o matava com o olhar, Christopher permanecia atuando
no seu papel de falso cristão ofendido.
— Eu vou matar você — proferi, silenciosamente.
Ele levou a mão ao peito e balançou a cabeça.
— Como pode?! Na casa do senhor falar tantos absurdos.
— Deus, por favor, me tira daqui. — clamei, escondendo o rosto entre as
mãos, sentia minha pele esquentar com mais e mais pessoas encarando-me.

Finalmente havia terminado a missa —, que ao lado do Christopher,
pareceu durar centenas de horas.
Mamãe nos obrigou a conversarmos com o padre, pois, para ela,
deveríamos apresentar o nosso namoro para alguém que poderia nos
abençoar.
Mas as coisas inevitavelmente saíram do meu controle.
Assim que chegamos à frente da igreja, me entreti em uma conversa, com
uma simpática moça que me parabenizava pelo namoro.
Foram apenas alguns poucos minutos sem Christopher sob meu campo
de visão para que ele aprontasse uma.
Assim que voltei minha atenção a ele, o encontrei em uma guerra fria
com o padre, onde os dois lutavam pela posição a qual o crucifixo ficaria
em cima do púlpito.
O padre a arrumava para que ficasse da maneira correta, já Chris, insistia
em virá-la de cabeça para baixo.
O padre novamente a ajeitou, irritado. Mas Chris, pirracento como era, a
virou de cabeça para baixo, encarando-o sério.
O homem careca ajeitou a cruz e semicerrou os olhos, todavia, o garoto
tatuado a virou de novo.
O padre, por fim, pegou o crucifixo e o enfiou debaixo do braço.
Pigarreei alto, chamando a atenção dos dois.
— Podemos ir? — pontuei, rígida.
— Não vejo a hora de sair daqui. — Chris suspirou, aliviado.
Mordi a língua e me virei para o homem ao nosso lado, que olhava para o
meu namorado com o mais puro desgosto.
— Foi uma ótima missa! — eu disse, por educação.
Não tinha ouvido metade dela por culpa do meu namorado iperativo.
— Eu odiei — Chris protestou sincero, fazendo-me soltar uma risada
nervosa.
— Ele está brincando! — ri mais alto, mas isso não fez com que o padre
ficasse menos irritado.
Rapidamente peguei Christopher dali, arrastando-o para fora, antes que
ele mudasse de ideia e tacasse fogo nas pessoas.
Definitivamente ele nunca mais viria à igreja novamente.

Não foi a Dytto que pariu, mas é ela quem cuida kkkkkk
Capítulo 46| Calcinha

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



1 de junho
Sábado
As coisas estavam indo bem.
Os dias passavam-se como páginas de livros, os quais mal notávamos
que se despediam de nós.
Partiram-se mais de um mês num piscar de olhos, mas, com as férias
cada vez mais próximas, acabavámos tão mergulhados em provas, trabalhos
e projetos que não notamos o tempo passar
Havíamos acabado de entrar no mês de junho. Era uma época gelada em
minha cidade.
Os bancos da praça central estavam sempre molhados, as ruas de pedras
tornavam-se escorregadias à medida que o lodo se agarrava a elas.
As árvores não mais floriam e o céu era sempre cinzento e coberto por
nuvens pesadas e escuras. As ruas estavam sempre mais calmas durante o
entardecer, e mais gélidas ao anoitecer.
Quando chegavámos próximos ao início do inverno, grande parte dos
jovens procuravam por um par, para se manterem aquecidos e aproveitarem
as noites de conchinhas. No verão, esqueciam a razão pelo qual gostavam
tanto do seu "companheiro de coberta".
Eu, ao invés disso, adorava usar meias e fazer chocolate quente. Mas,
agora, existia um alguém que me mantinha bem mais aconchegada.
Christopher ainda me visitava durante às noites. Sentia minha pele
formigar todas as vezes que seus dedos deslizavam em minha pele.
Não havíamos tentado o sexo outra vez, sequer falamos sobre. Ele
parecia interessado em respeitar os meus limites, mesmo que eu não o
tivesse pedido. Continuamos apenas em carícias íntimas, algumas mãos
bobas e beijos, muitos beijos.
Adorávamos nos beijar, pois parecia a linha mais tênue que existia para
que nós dois nos sentíssemos unidos um ao outro.
Do primeiro toque até o atual, sempre desejei por cada carícia sua. Desde
a mais inocente, até a mais maliciosa.
Ansiava para que ele me quisesse tanto quanto eu o desejava. E todas as
vezes, mesmo que inconscientemente, eu esperava por ele.
Christopher, porém, parecia ter criado termos em nossa relação. Termos
estes, que ditava que só ficaríamos de novo quando eu me sentisse
verdadeiramente pronta, sem mais desequilíbrios emocionais.
Contudo, o que ele não possuía conhecimento, era que havia criado uma
serpente. E eu adorava o provocar de todas as maneiras que conseguia.
Eu não estava preparada para tentar de novo, afinal, acho que nunca
estaria, mas adorava atentar a ele até que enlouquecesse.
— Olá, moça. Posso ajudar? — a atendente gentil perguntou, alargando
os lábios em um sorriso que deixava todos os seus lindos dentes à mostra.
A loira parecia muito contente com a minha presença alí. De modo que,
poderia jurar que se eu pedisse uma capa do Batman com o meu rosto
estampado nela, ela o costuraria à mão, apenas para não perder a clientela.
A comissão aqui deveria ser tudo o que eles ganhavam.
Meu coração batia descompassado no peito. Sentia-me como uma criança
encurradala, mas forçava-me a agir como uma adulta.
A situação era comum na vida de qualquer pessoa, mas não na minha. Eu
era tímida demais para essas raras ocasiões em que saia para fazer comprar
íntimas.
— Pode me mostrar calcinhas? — pedi, a voz ligeiramente falhando.
Não que eu ligasse para as pessoas saberem que eu usava calcinha, mas
ainda achava vergonhoso elas saberem qual eu provavelmente estaria
usando uns dias após ter feito a compra.
Para mim, era quase o mesmo de ter o poder de ver as pessoas nuas.
Tentei explicar isso a Loren uma vez, mas ela simplesmente me chamou de
"Débi".
Senti uma pontada no peito ao pensar nela.
Ainda estávamos "brigadas", de um jeito estranho. Depois do meu
aniversário, ela naturalmente se afastou e se fechou para todos. Parecia
presa a um sofrimento somente dela, e a punia mantendo-se afastada de
tudo que mais gostava de fazer.
Ela entrava por uma porta e eu saia por outra. Ela se sentava em uma
ponta da mesa, e eu noutra.
Não queria ter que viver dessa maneira com a minha própria irmã, mas
nem ela própria fazia questão de uma possível rendição.
Loren vivia em seus próprios pensamentos, e a culpa era a sua nova
maquiagem. Tudo o que ela fazia, era manter-se trancada em seu quarto, ou
sair para fumar no jardim durante as madrugadas.
Em determinados momentos, tentei me aproximar, porém, ela se mostrou
alheia às minhas investidas. E durante algumas noites, ouvia ela chorar.
Meu coração se partia todas as vezes que via a tristeza a tomar.
Sabia que o que ela havia feito tinha sido uma grande covardia, mas
acima de tudo, eu a amava e me preocupava com o seu bem estar.
— Por aqui — a vendedora orientou, arrancando-me de meus devaneios.
A segui pela loja até o mostruário de calcinhas, que exibia peças fio-
dental e rendadas que mal cobriam qualquer parte das minhas nádegas.
Realmente muito bonitas. Mas pareciam incômodas quando eu pensava
em vestí-las.
Pensativa, passei a língua sobre os lábios.
Eu não queria estar aqui comprando calcinhas, mas, "misteriosamente",
elas estavam sumindo de três em três, e não porque as usava de maneira
descontrolada, porém, porque Christopher andava com seus grandes dedos
envolvidos em seus desaparecimentos.
Olhando em volta, encontrei apenas as mais sexys lingeries. De fato,
eram sensuais e poderosas, mas eu não queria me sentir assim. Eu só queria
a droga de uma calcinha que cobrisse a minha bunda inteira.
Por que Christopher não poderia apenas aceitar em me ver "bem coberta"
em lugares que não deveriam ter tanta exposição se as peças que eu usava
ele mesmo fazia questão de rasgar?
Frustrada, soltei o ar pela boca.
Que se dane todos esses minúsculos pedaços de panos! Eu não me rendi
ainda.
— Pode me mostrar a sessão de calcinhas para vovós grandes? — pedi,
atrevida, bordando um sorriso perverso nos lábios.
A mulher fingiu normalidade, mas o tique em seu rosto a denunciou.
Evidentemente, não era só eu quem estava frustrada com as expectativas
alheias.
— Ah, claro! — meio desanimada, ela forçou os lábios a sorrirem.
Demos a volta na loja até encontrarmos as benditas calcinhas mais
horrorosas que eu já vi em toda a minha existência.
Acho que por serem tão assustadoras, as deixaram longe de todo o resto,
excluídas das sociedades de calcinhas.
Se Christopher achava mesmo que poderia me ganhar, ele estava tão,
mais tão errado.
— Aqui estão. — informou, sem graça, como se eu já não tivesse visto
aquelas coisas horrendas bem diante dos meus olhos.
— Obrigada!
A moça se pôs ao meu lado, mostrando-se à disposição, enquanto
discretamente me observava escolher a dedo as mais esquisitas.
De soslaio, via seus lábios se franzirem em uma meia careta toda vez que
eu escolhia uma outra peça.
Notei seu incômodo em ver ali, parecia que havia um bicho mordendo as
suas pernas, a implicando a me investigar.
Em determinados momentos, quase pude imaginá-la arrancando as peças
da minha mão e expulsando-me da loja.
— É presente? — ela não conseguiu mais conter a curiosidade.
— É, sim. — menti.
Ela pareceu aliviada, como se um elefante desmontasse de suas costas e
sorriu.
— Bem, acho que sua vó gostará dessas então. São bem confortáveis —
ela ergueu o pano em suas mãos, exibindo a calçola mais terrível da minha
cesta.
Balancei a cabeça em concordância.
— Perfeito! Era disto que ela precisava. Vou levar ao menos umas 20.

— Dingo Dingo. O que aconteceu? — Christopher me recebeu em sua
porta, com um sorriso confuso ao me ver ali; sem aviso prévio ou razões
óbvias.
Ele estava vestido em apenas uma bermuda moletom, cinza. O incrível
peitoral de fora, exibindo as suas várias tatuagens.
Embora ali fora estivesse congelando, a sua casa estava sempre bem
aquecida, porém, ele também não parecia ligar muito para o clima
ambiente, sua face demoníaca era sempre gelada, de todo modo. Talvez ele
fosse parente de Jack Frost, eu já não duvidava de mais nada.
Seus cabelos negros estavam despenteados, e, em suas mãos, havia uma
franela, que ele parecia usar para limpar-se do que quer que estivesse
fazendo.
Era tão sexy vê-lo todo autoritário e casual em minha frente. Acho que
"Papai dono de casa" estava começando a se tornar meu tipo de homem
preferido, não que ele me desse escolha para eu ter outro tipo além dele
próprio, mas né...
— Não posso mais visitar o meu namorado? — brinquei e ele sorriu
sacana.
— Entra, gata. — convidou, dando-me espaço.
Não consegui disfarçar a empolgação que me preenchia quando adentrei.
Eu estava doida para que ele visse as compras que eu havia feito mais cedo.
Já havia lavado e secado a minha mais nova coleção de calcinhas de
vovós, portanto, usava a mais horrorosa.
Eu mordia os lábios e apertava os dedos atrás das costas como uma
criança impaciente. Sempre fui péssima em atuar. Não era atoa que fui
expulsa do clube de teatro da escola duas vezes.
Digamos apenas que eu apenas não nasci para a arte da enganação.
Retirei meu casaco e luvas, pondo-os sobre as costas do sofá. Christopher
ainda estava de pé, olhando para mim. Sorri para ele.
— E então... — comecei, notando-o se aproximar, com os olhos curiosos
vagueando sobre mim. — O que anda fazendo? — indaguei, animada.
Ele curvou os lábios de canto, de um jeito que parecia esconder algo
mais.
— Quer dar uma olhada? — convidou, misterioso.
Juntei as sobrancelhas com desconfiança, mas assenti.
— Quero, sim. Agora você me deixou curiosa.
Christopher apontou com os dois dedos para o corredor, impelindo-me a
seguir ele.
Fomos em direção a entrada do seu quarto, onde ele parou diante do
cômodo e escorou o corpo no batente da porta.
— Isso aqui. — explicou.
Me aproximei para enxergar com mais clareza do que se tratava, mas
estanquei os passos ao avistar a terrível cena diante dos meus olhos.
Apavorada, recuei um passo.
— O que aconteceu aqui? — minha voz estava de transformou em um fio
agudo e estridente.
Prendi a respiração, evitando sentir aquele aroma nojento, que fazia meus
órgãos se revirarem dentro de mim.
— Debaixo da cama. — informou ele, tranquilo.
Meu olhos deslizaram pela parede — antes, cinza —, lambuzada do
líquido vermelho e espeço, até encontrarem a pequena coisinha deitada de
bruços debaixo da cama de Christopher, como se apenas cochilasse sereno.
— Este é o Asafe? — me apavorei.
— Em carne, osso e maldade. — respondeu, risonho.
Ergui as duas sobrancelhas.
— Ele me parece...
— Diferente? — concluiu — Ele está na forma demoníaca dele. É bem
mais difícil cuidar de uma criança meio demônio, do que de um adulto.
Engoli em seco, sentindo meu estômago contrair.
— O que é isso na parede, Chris? — eu já sabia perfeitamente a resposta,
mas torcia para estar errada.
— Sangue. Ele decidiu que o mais novo hobbie, é matar animais.
Arregalei os olhos.
— E o q-que ele matou? — eu tremia sem parar.
Christopher suspirou ao meu lado.
— Não deu para descobrir, As esmagou tudo.
Olhei para Christopher e o encontrei com um sorriso todo orgulhoso no
rosto.
— Está feliz? — sobressaltei.
— O garoto é um prodígio. — protestou.
— Ele matou um animal e esfregou o sangue nas paredes — lentamente
incitei, horrorizada.
— Ele é um demônio. O que esperava? Rabiscos de giz na parede?
— Ele é uma criança!
— Ele é um demônio. — irritou-se.
Senti meu sangue sumir do corpo e minha pressão despencar num salto.
— Eu vou esperar na sala. — murmurei.
— Você tá bem? — Christopher se preocupou, erguendo os braços em
volta de mim, para me aparar.
— O cheiro do sangue está me deixando enjoada. — expliquei.
— Me espere na sala, será melhor mesmo. — concordou, mais calmo.
— Está bem!
Antes que eu desse o primeiro passo para longe, a voz infantil, mas
assustadoramente sombria se manifestou, ecoando em nossa direção.
— Dingo. — Asafe sussurrou debaixo da cama, emendando em um
bocejo.
Seus olhos estavam inteiramente pretos, as veias negras saltavam em sua
pele, os lábios estavam roxos, mas, entornando-os, sangue salpicava todo o
seu pequeno rosto.
Sua pele não parecia mais a mesma, entretanto, marcada por linhas, como
raios em todo o seu corpo.
Era exatamente como Christopher em sua outra entidade.
— Dingo. — ele novamente chamou, despertando aos poucos.
Assustada, toquei o braço de Christopher, mas notei seu incômodo ao me
ver reagir daquela maneira.
— Deixa ele comigo. Vá para casa. — orientou, afastando-me devagar.
— É melhor eu ir. — cochichei, assustada.
— Nãoo! — o rapazinho gritou, arrastando-se debaixo da cama, até sair e
conseguir ficar de pé.
Ele correu em minha direção, e por instinto, me afastei.
Confuso, As parou no meio do quarto, olhando-me sem entender o que
havia feito de errado. Seu olhar alternou de mim para o seu pai, como se
perguntasse a ele o que estava acontecendo.
Meu coração murchou dentro do peito, eu não queria chateá-lo, mas não
sabia lidar com o medo enraizado dentro de mim.
— Titia... — chamou, imploroso, a voz mais doce que uma criança
poderia ter — colo, titia — pediu manhoso, abrindo os braços, ainda sem
sair do lugar.
Era como se ele pedisse que eu fosse até ele, pois tinha medo de se
aproximar novamente.
Christopher observava a situação enraivecido, mas não voltou a sua
atenção para mim. Ele caminhou até Asafe e o tomou nos braços.
Eu não podia fazer nada a respeito, não estava habituada a situação, mas
não queria rejeitá-lo, nunca foi a minha intenção.
As não tinha culpa de nada, ele mal entendia o que estava acontecendo,
para ele, aquilo tudo era normal, mas para mim, era um mundo totalmente
averso ao meu.
— Ela precisa ir, filho. Outro dia. — informou-o, afagando as costas do
seu bebê.
De repente, me senti aturdida e estranha. Eu estava completamente
deslocada àquela situação.
— Vá logo. — Christopher mandou, sério. Ele era ainda mais protetor
quando se tratava do pequeno As.
Balancei a cabeça, nervosa. Estava segurando as lágrimas presas nos
olhos.
— Não sei lidar com isso, Chris. — cochichei, chorosa, encolhendo-me
num canto.
Eu esperava por pelo menos um pouco de sua compreensão, mas ele me
repreendia veemente com aquele olhar fugaz e sombrio.
— Então vá embora daqui. — rugiu.
Neguei num balançar de cabeça.
— Me dê um tempo, por favor!
Asafe abriu os bracinhos para mim de novo e tentou se jogar em minha
direção, mas Christopher novamente se mostrou na defensiva e segurou-o
mais forte.
Virei-me de costas, e de olhos fechados, inspirei o máximo de ar que
conseguia, preenchendo os meus pulmões.
Por que aquilo tinha que ser tão doloroso?
— Saia logo daqui. Você vai passar mal — Christopher ergueu a voz.
Seu desespero em me manter longe, ia além de sua preocupação comigo.
Existia algo mais. Ele parecia querer proteger Asafe de presenciar aquele
momento. Ele não queria que o seu filho se sentisse rejeitado por ser quem
era.
E tudo bem, eu o entendia. Foi por isso que exigi ao meu máximo para
lidar com os meus próprios temores.
Virei-me de volta e fui em direção aos dois.
— Venha! — chamei-o firme e ergui as mãos em direção a Asafe, que
logo se jogou para o meu colo.
Por consequência, melando a mim com sangue fresco e fedorento.
— Cuide disso! — avisei Chris, apontando para as paredes. — Eu vou
banhar ele.
Ele franziu as sobrancelhas, intrigado.
— O que está fazendo? — investigou, meticuloso.
— Eu sou madrasta de um demônio agora. Não posso fugir da minha
responsabilidade — falei séria, antes de sair dali.
Asafe inocentemente me abraçou, sem nem mesmo perceber a gravidade
da situação ou de suas ações.
Ele beijou o meu rosto e se abriu em um lindo sorriso.
Quando eu sorri de volta, as marcas em seu rosto lentamente afinaram-se.
A expressão assustadora se dissipou, voltando ao seu habitual rosto de bebê.
A caminho do banheiro, Asafe agarrou o meu rosto com as duas
mãozinhas sujas e apertou as minhas bochechas. Ele as apertou tanto que
passou a ferí-las.
— Au! — reclamei e ele arregalou os olhos, rapidamente afastando-se.
Era gentil a forma que ele me olhava tão preocupado, como se de fato, se
importasse ao me ver machucada.
— Dói? — sussurrou, arrependido.
Sorri para ele e acariciei as suas bochechas com as ponta dos dedos,
apenas deslizando os dedos de leve em sua pele.
— Faça assim, está bem? — ensinei-o.
Ele balançou a cabeça, concordando, e repetiu o gesto. Seus dedinhos
mal tocavam a minha pele, mas ele não deixava de acariciá-la.
Ao adentrarmos no banheiro, o coloquei no chão e fui preparar a
banheira.
Quando voltei minha atenção para Asafe, ele estava parada, as duas
mãozinhas cruzadas e os pezinhos balançando, empolgados. Ele observava
cada movimento que eu fazia, simplesmente admirado.
Os cabelos negros rebeldes em sua cabeça continham sangue seco
formando uma grossa camada envolta dos fios. Os olhos verdes como os de
Christopher me olhavam sem nunca desviarem.
Me ajoelhei diante dele e toquei os seus braços.
— Posso tirar suas roupas e banhar você, mocinho? — pedi.
Ele concordou, sacudindo a cabeça.
— Está bem! Levante os braços. — ele prontamente obedeceu.
Com cuidado, tirei a sua camiseta e em seguida seu short, ambos
inteiramentes melados de sangue.

Optei por não retirar a sua cueca, pois, se eu fosse uma criança, com certeza
não iria querer ficar pelada para um estranho.
Christopher saberia resolver essa situação depois.
Evitei olharas manchas de sangue em todo o seu corpo e fingi ser apenas
tinta guache.
Era mais fácil assim.
Esperamos juntos, até que a banheira estivesse cheia o bastante para
colocá-lo ali.
Aproveitei para colocar espuma e óleos essenciais — da preferência de
As —, para que o cheiro de sangue não permanecesse.
Asafe sentou-se no meio dela, meio desajeitado e ergueu os olhos para
mim, esperando que eu o dissesse o próximo passo.
Me sentei no chão ao seu lado e peguei a esponja. Devagarinho, comecei
a esfregar em sua pele, ele não reclamou, permaneceu sereno. Os seus olhos
brilhavam e os lábios ofereciam sorrisos.
Coloquei shampoo em seus cabelos e o massageei. Ele jogou a cabeça
para trás e permitiu que eu massageasse o seu coro cabeludo.
A espuma avermelhada escorria pelas suas costas, tingindo toda a água
da banheira. O cheiro misturou-se às essências e ao shampoo de bebê,
dando uma certa apaziguada nas reviravoltas que meu estômago dava.
— Você gosta de visitar o seu papai? — murmurei, ao notá-lo quieto
demais.
— Gosto. — ele foi rápido.
— Você brinca muito aqui? — sorri.
Ele concordou.
— Já fez muitos amiguinhos, As? Posso chamar você assim?
— Arram. E eu não tenho nenhum amigo, não.
— E por que não? Não gosta das crianças da sua idade? — investiguei
com curiosidade.
— Não. — ele curvou os lábios para baixo.
Juntei as sobrancelhas.
— Eles são ruins para você?
— Elas não são legais de sentir
— Sentir? Vocês também os sente?
— Sim.
— Asafe e eu somos iguais. — ouvi a voz de Christopher na porta e o
olhei surpresa.
— A quanto tempo está aí?
— Há um bom tempo. — suspirou.
— Papai, a Dingo me deixou escolher os negócios de banhar. —
informou-o, como se aquilo fosse um grande feito para si.
— Ah, que ótima notícia! — Chris sorriu para o filho, aproximando-se de
nós.
Ele sentou na beirada da banheira, agora, olhando para mim.
— Eu posso banhar ele. — avisou.
Parei de esfregar as costas de As por um momento.
— Prefere que eu não o banhe? — perguntei, incerta.
— Pelo As está tudo bem. E quanto a você?
— Eu gosto do As! — admiti, olhando para o pequeno, que sorria
confiantemente para mim.
Christopher ainda me parecia meio desconfortável. A situação ainda era
tão nova para ele, quanto para mim.
Toquei o seu joelho de Chris, chamando a sua atenção.
— Você quer que eu pare?
Ele franziu a testa e baixou o olhar.
— Tenho medo de que vá fugir.
— Chris, eu não vou. Por que pensa assim?
Ele apoiou os braços sobre os joelhos.
— Seria mais fácil para você. — confessou, tristemente.
— Não sou tão covarde assim. — debati.
Sua atenção se voltou para mim. Ele tocou a minha bochecha e curvou
um meio sorriso desanimado.
— Não desista de nós, amor. — pediu.
A forma como ele me olhava, mostrava-me que havia algo mais
acontecendo por trás daqueles olhos. Algo perigoso e sério que me causava
calafrios.
O que Christopher não estava me contando?

Próximo capítulo haverá cenas novas para os antigos leitores E vamos
de novo roteiro né, guys?
AGORA SOBRE O LIVRO FISICO:
Para quem ainda não viu, ou não me segue no Instagram, a Editora fruto
proibido anunciou que a pré-venda de Love in the dark está estimada para
outubro, agora me deixem esclarecer dúvida por dúvida.
1- Eu não vou parar de escrever LITD, ele será finalizado
INTEIRAMENTE no Wattpad.
2- O livro será retirado da plataforma após um tempo depois de
finalizado. Quando? Depois de um tempo que ele for finalizado. E quando
vai ser isso? Depois de um tempo que ele for finalizado.
(Espero que tenha ficado claro que eu não tenho uma data específica, mas o
livro será finalizado antes da pré venda, obviamente)
3- Ainda não há preço para o livro físico, mas avisarei quando tivermos.
4- Sim, vão ter duas capas, uma mais discreta e uma mais explicia. E,
sim, vai ser a mesma história.
5- Vai ter o livro digital na Amazon Kindle.
6- Aviso onde e como vocês poderão comprar quando estiver disponível.
7- Coloque sua dúvida aqui.
Capítulo 47| A droga do amor

STE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



Asafe finalmente adormeceu após Christopher terminar o seu banho e
colocá-lo para dormir.
Já eu, tentava limpar as manchas de sangue seco da minha camiseta, na
área de serviço. Porém, quanto mais eu esfregava, menos progresso tinha.
Eu já estava cansada de lavar toda aquela sujeira dos meus braços e
roupa. Christopher havia terminado de limpar o quarto, mas os rastros de
sangue ainda mantinham-se nas paredes, perdurando-se desde as cortinas
até o carpete.
— Amanhã terei que pintar e trocar tudo — suspirou, cansado, jogando
os panos sujos em um balde qualquer. Ele encostou o corpo na bancada e
voltou sua atenção para mim. — Esqueça a camiseta, eu compro uma nova
para você.
Deixei que meus ombros caíssem em derrota, havia sido uma longa tarde.
— Talvez se eu deixar de molho, fique mais fácil de limpar.
Ele balançou a cabeça.
— Não se dê ao trabalho.
Curvei um sorrisinho de canto nos lábios.
— Ah, desculpe, senhor! Eu me esqueci o quão rico é. — incitei.
Ele revirou os olhos.
— Você esquece bem rápido.
— Vai me dar outro colar milionário para que eu possa me lembrar com
mais frequência? — sugeri, jogando-lhe uma piscadela.
— Prefiro te dar algo mais duradouro.
— E o que seria?
— Tire tudo. Vamos tomar um banho.
— O que te faz pensar que pode simplesmente mandar em mim assim?
— provoquei-o, sabendo que isso serviria somente para atiçar o seu lado
perverso.
Christopher não perdeu por esperar. Ele agarrou a minha cintura desnuda
com as duas fortes mãos e puxou-me, levando o meu corpo a colidir com o
seu.
— E o que te faz pensar que eu não poderia? — devolveu.
Passei a língua sobre os lábios, enquanto encarava os seus lindos olhos
verdes postos sobre mim com uma indomável arrogância.
— Você é muito mandão quando quer — murmurei.
Ele soltou um riso seco e curvou o corpo, pegando-me pelas pernas e
jogando-me sobre o seu ombro.
Soltei um gritinho, surpresa, mas logo tapei a boca. Asafe poderia
acordar a qualquer momento.
Meu cabelo saltou para frente e cobriu o meu rosto como uma cascata.
Joguei-os para trás e tentei me equilibrar ao passo que ele me carregava em
direção ao seu banheiro.
Senti sua mão acertar a minha bunda com força e enfiei minhas unhas em
suas costas.
— Oh, Dingo Dingo... — arfou. — Me arranhe de novo e eu vou
espancar a sua boceta.
Mordi o canto dos lábios, tentada a repetir o gesto, mas com medo de sua
brutalidade.
De cabeça para baixo, aproveitei para apreciar aquele belo traseiro sendo
exibido bem diante dos meus olhos.
Estiquei minhas mãos e os apertei, Christopher se empertigou e me
sacudiu em seu ombro. Ri alto de sua reação.
— Glúteos fortes. Que sexy, Chris! — caçoei, gargalhando.
— Sua pervertida.
Já dentro do banheiro, ouvi-o passar a tranca na porta. Ele devolveu o
meu corpo ao chão e apontou para as minhas roupas.
— Tire tudo.
— Tire você primeiro — rebati.
Ele me encarou sério, mas respondi sua teimosia à altura, cruzando os
braços, com a mais convicta decisão de que não iria ceder.
Christopher olhou-me de cima a baixo, com um rápido escorregar de
olhos, no entanto, desistiu de relutar.
Ele removeu a camiseta, exibindo detalhes de seu corpo que somente eu
poderia aproveitar.
Chris tocou o botão de sua calça, o que rapidamente chamou a minha
atenção. Acompanhei ele desabotoar a sua calça, abaixá-la até os tornozelos
e terminar de tirá-la com os pés.
Ao tocar a borda da sua cueca, seus olhos prenderam-se aos meus.
Sentia-me ansiosa e excitada, mas sempre demonstrava calma e postura.
Christopher deslizou o tecido pelo seu quadril e deixou que escorregasse
por conta própria em suas pernas, até que estivesse no chão.
Meus olhos desceram do seu rosto para o seu corpo, apreciando todas as
suas tatuagens, os seus músculos e belas curvas. Seu excepcional membro
atraiu o meu olhar como um ímã. Ele era tão largo, grande, cheio de veias,
tauado e curiosamente único.
Eu nunca havia visto nada como aquilo em lugar nenhum. Era óbvio que
eu havia encontrado uma coisa ou outra na internet quando mais nova e
curiosa, mas não como aquilo, era tão descomunal e imenso.
Não conseguia imaginar como ele escondia aquilo tão bem dentro das
calças.
Talvez ter um pênis daquele tamanho fizesse parte do pacote de ser um
demônio.
— Sua vez — lembrou-me.
Com os olhos presos aos seus, para mostrar a ele que não me sentia mais
intimidada, levei minhas mãos ao fecho do meu sutiã e o abri, deixando que
ele raspasse em meus braços até que se soltasse por completo do meu
corpo.
Não poderia me dar ao mérito de dizer que tinha grandes seios, ou, até
mesmo médios, já que eles eram apenas meros limãozinhos. Entretanto,
Christopher os olhava como se fossem do tamanho perfeito.
Talvez, para ele, tudo em mim fosse do tamanho certo, ou era o que
poderia concluir pela maneira a qual me admirava.
Abri a minha calça, e a deslizei para fora do meu corpo. Seu nariz
instintivamente se franziu em uma careta ao se deparar com a minha bela
calcinha de vovó, na cor bege.
Ri de sua expressão.
Bom, quase tudo em mim o agradava exceto, as minhas calcinhas.
Ele a encarava com o mais puro desgosto. Sequer fazia o menor esforço
para disfarçar a sua aversão.
— Gostou da minha calcinha nova, diabão? — sorri e ele fechou os
olhos.
— Tire isso logo, Dingo.
— Comprei pensando em você.
Christopher ergueu a cabeça para o teto e pôs as mãos na cintura.
— Eu percebi. — resmungou.
— Não quer olhar mais um pouco? — sugeri, maliciosa.
Era tão divertido vê-lo afetado pelas minhas terríveis escolhas de
calcinhas.
— Tire!
Prendi os lábios entre os dentes, segurando um sorriso.
— Tenta olhar de novo, talvez você goste. — insisti, entre um riso e
outro.
Ele mirou os seus olhos nos meus e ergueu uma sobrancelha.
— Tire ou eu vou rasgá-la. — ameaçou, frio.
— Credo, que mal humor. — reclamei, prontamente, tirando-a.
Ainda era muito cedo para ele se desfazer dela, pretendia mantê-la a
salva por mais um tempinho.
Ele esfregou o rosto e suspirou.
— O que eu preciso fazer para você abdicar dessas coisas horrendas? —
resmungou.
Rindo, me aproximei, dando-lhe um beijo no queixo.
— O que eu preciso fazer para você entender que não vai conseguir?
Ele se curvou, deitando sua testa na minha
— Que merda! — murmurou.
Coloquei minhas mãos em seu rosto e beijei a sua bochecha.
— No fundo eu sei que gosta delas.
Christopher não respondeu, mas seu corpo inteiro se mostrou contrário ao
meu comentário.
— Obrigada por ficar. — sussurrou, desconversando.
Havia muito mais do que apenas sinceridade, podia enxergar a sua
gratidão bem nítida ali.
— Não vai mais escapar de mim, Chris.
— Eu espero mesmo que não.
Ele se afastou e estendeu a sua mão, a peguei de bom grado e o segui até
o chuveiro, onde ficamos os dois abraçados debaixo da água. Apenas
balançando o corpo para lá e para cá numa dança lenta.
Meus braços estavam envoltos em sua cintura. Suas mãos afagavam as
minhas costas e seus lábios vez ou outra beijavam o topo da minha cabeça.
Aquela era a melhor sensação existente. Tê-lo ali comigo, tornava tudo
único. Nada mais importava quando eu estava nos braços do meu homem.
O mundo ao redor simplesmente nublou-se, e tudo o que eu conseguia
ver, era nós dois.
Por um tempo, tudo o que eu mais queria, era tê-lo o mais distante
possível. Porém, se me dissessem agora sobre um futuro no qual nós dois
não estivéssemos juntos, eu optaria por não mais existir.
Naturalmente, havia me tornado dependente de Christopher;
Emocionalmente, psicologicamente e e fisicamente. Tudo em mim era
sobre ele. Eu o respirava e o vivia.
Sentia minha alma desvanecer-se somente em pensar na possibilidade de
não tê-lo comigo.
Christopher me pressionou em seus braços e suspirou.
— Dingo Dingo...
— Sim? — ergui o rosto para ele.
— Eu te amo.
O ar sumiu de meus pulmões. Por um milésimo de segundo eu vi aquela
cena se pausar como num filme. Meu coração disparou e os meu olhos se
arregalaram.
Eu mal podia conter as emoções dentro de mim. Era tão perfeito ouví-lo
dizer.
— Diga de novo. — pedi, os olhos inudando-se em lágrimas.
Christopher acariciava o meu rosto com ternura, não poupando-me de
olhares apaixonados e doces.
Como podia ser tão perfeito? Como podia ser tão meu?
— Eu te amo, minha Dingo Bells.
Um soluço escapou de meus lábios, misturando-se a um sorriso
emocionado.
— Chris... — arfei.
Eu não imaginei que ficaria tão emotiva por tê-lo escutado dizer essas
três palavras. Embora houvesse fantasiado com isso, jamais imaginei que
este momento se concretizaria.
Afinal, demônios não amavam, mas o meu Christopher me amava.
— Eu também te amo. Amo tanto. — admiti, chorosa.
Ele sorriu, aproximando seu rosto até que nossos lábios se encaixassem
em um beijo.
Eu o amava. E esperava que apenas o amar bastasse.

Minha blusa foi para o lixo. E sem outra alternativa, peguei uma de Chris,
que chegava até a metade das minhas pernas. Precisei fazer um nó, para que
ficasse, minimamente, boa em meu corpo. Todavia, eu ainda aparentava ter
vestido um saco.
Eu já estava de saída quando decidi parar na porta de Asafe. O pequeno
despertou há pelo menos meia hora. Christopher havia o conferido, em
seguida, foi preparar uma mamadeira para ele.
As ainda estava muito cansado, pois, pelo o que eu soube, o outro lado
dele, de certa forma, tomava muito de sua energia.
A porta estava entreaberta, coloquei apenas uma parte do rosto na frecha.
Existiam coisas na vida que meu cérebro conseguia entender bem rápido,
menos o fato de que Asafe não era como as outras crianças. Eu ainda me
sentia surpresa por não tê-lo flagrado brincando com os seus brinquedos,
mas, sim, falando sozinho.
O pequeno/grande rapaz, estava sentado diante da parede, olhando-a
como se mais alguém estivesse ali com ele.
— Não — Asafe dizia baixinho, como se contasse um segredo.
Engelhei as sobrancelhas, intrigada.
— Ele não contou para ela — sussurrou, olhando para as suas mãozinhas
— Papai não quer que a Dingo saiba — estreitei os olhos, sentindo o
coração palpitar mais forte.
Do que é que Asafe estava falando?
— Ela não sabe o que ele fez com você. — murmurou.
A porta de repente se fechou, não pelo vento ou um fator sobrenatural.
Apenas me dei conta do que havia acontecido quando notei a mão de
Christopher sobre ela.
Sentia-o atrás de mim, com o corpo roçando o meu. Sua respiração
pesada atingia o meu pescoço, causando-me calafrios.
Assustada, imediatamente virei-me para ele.
— O que está fazendo? — questionou ele.
Sua face estava petrificada em uma expressão rígida e enraivecida.
— Eu vim me despedir do Asafe. — tremi ao dizer.
— Ele vai chorar se ver que você vai embora. — respondeu com rudeza.
— Ah. — foi tudo o que eu consegui sibilar.
Tentei aparentar normalidade, no entanto, sentia meu rosto vermelho
como um tomate.
Por que Christopher ficou tão estranho de repente? E o que ele fez? Por
que fez?
— Aconteceu algo? — investigou, olhando-me minuciosamente.
Balancei a cabeça, negando.
Christopher não parecia convencido e deu um passo em minha direção,
mas foi o bastante para me deixar em pânico.
— Eu já vou. — avisei.
Ele segurou o meu queixo e o ergueu para si.
— Tome cuidado. — alertou.
Sua voz trazia consigo um fundo de duplo sentido, e eu não sabia o que
fazer com aquilo.
— Claro. — concordei baixo, deixando a entender que minha
interpretação fora rasa, mas era difícil enganar a ele.
Dei-lhe um rápido beijo nos labios e fiz menção em me afastar, mas
Christopher segurou o meu braço.
— Você faz parte da minha vida agora. Tente ser compreensível com
tudo o que vê.
— Hum ruh. — assenti, nervosa, mas algo lhe chamou a atenção.
Christopher olhou sobre a minha cabeça, atento. Seus olhos vagavam ao
redor da casa, como se algo estivesse errado.
Seus olhos escureceram e aquele olhar demoníaco se fez presente em seu
rosto.
— Fica aqui. — ele me puxou para trás de si e pôs-se à frente,
caminhando com passos largos para a sala.
Estranhei o seu comportamento, mas me mantive parada.
A porta do quarto ao lado se abriu e Asafe correu para fora. Ao me ver,
parou ao meu lado e segurou a minha mão.
— Dingo, tô com medo. — admitiu.
Todo o seu pequeno corpinho estava trêmulo. Sua mão suava frio e os
seus olhos estavam arregalados.
— Não se preocupe, ok? Papai vai cuidar de nós dois. — abaixei-me ao
seu lado e o puxei para os meus braços, envolvendo-o em um abraço
apertado.
Sentia seu coraçãozinho disparado no peito. Ele estava tão amedrontado
que me partia vê-lo naquele estado.
— Venha. — peguei-o no colo, quando ele começou a fungar, o choro
ameaçando a desatar de seus olhos. — Está tudo bem, bebê. — beijei a sua
testa e deitei a sua cabeça em meu colo.
As estava desesperado e eu não sabia a razão.
Havia perdido Christopher de vista, e não tinha a menor suspeita do que
estava rolando.
Até que de repente, um ruído alto reverberou pelo corredor, como se algo
se partisse ao meio.
Nervosa, recuei um passo. Asafe estava chorando em meu ombro e
agarrava os meus cabelos como se dependesse de mim naquele momento.
— As, você sabe quem está aqui? — perguntei, num sussurro.
O pequeno afastou o corpo, para conseguir olhar-me nos olhos.
— É o bixo papão. — respondeu, choroso.
Eu não sabia quem era o bixo papão para ele, mas, certamente não era
coisa boa.
— Christopher vai expulsar ele. — garanti.
— Papai não pode expulsar ele. — As balançou a cabeça.
— Não pode? — enruguei a testa.
Ouvi vozes da sala de estar, entretanto, não conseguia distinguir o que
diziam, era como murmúrios estranhos e indecifráveis.
Devagarinho, dei passos um atrás do outro, e a medida que eu me movia,
As pressionava o rosto com força em meu ombro.
Eu estava com medo, porém, não queria deixar As sozinho, temia que
algo pudesse lhe ocorrer se não houvesse ninguém por perto.
As vozes pararam no momento em que cheguei ao fim do corredor.
Quando dei meu último movimento antes de me por diante da situação, tudo
se silenciou por completo.
No centro do cômodo, Chris estava de pé, olhando para o homem tão alto
quanto ele. Ambos se encararam friamente perante a mesa de centro,
destruída. Os estilhaços de madeira haviam se partido e espalharam-se por
todo o chão.
O homem diante dele, possuía diversas tatuagens e cicatrizes medonhas
espalhadas em seus braços. Mesmo possuindo uma beleza louvável e uma
postura significativamente elegante, eu sentia uma sensação de
desconfiança quanto a ele.
Ao mesmo tempo em que me parecia um homem fino, também
transpassava a ideia de que a qualquer momento se viraria contra nós.
Seu cabelo negro caia sobre os seus ombros com majestude. Os seus
olhos escuros miraram sobre os meus no instante em que notaram a minha
presença.
Eu estagnei no lugar.
— Um belo motivo, suponho. — comentou, enigmático. Ele parecia dar
continuidade ao que conversavam há alguns poucos minutos atrás.
O timbre da sua voz se parecia como um cantar dos anjos. Era hipnótico
e sedutor.
Christopher virou o seu rosto para mim, furioso.
— Me entregue o As e vá para a sua casa. — aquilo era uma ordem, sem
espaço para protestos.
— Está tudo bem? — arfei, a voz quase sumindo.
Christopher não se conteve e avançou em minha direção, arrancando seu
filho de meus braços.
— SAIA!
Abri os olhos ao máximo e me impertiguei.
Estremecida, me afastei dele. Meu olhar, por um segundo, alternou para o
outro homem, que se aproximava devagarinho de nós, como uma cobra
prestes a dar o bote, mas se mantinha em silêncio. Parecia que se chegasse
próximo de mais, poderia nos matar.
Existia algo de ameaçador naquele homem. Tudo nele parecia um convite
a morte.
Corri dali para fora da casa, sem olhar para trás. Não tinha ideia do que
havia acontecido, mas tremia tanto que mal conseguia enfiar a chave na
ignição do carro.
Quando cheguei em casa, tranquei-me no quarto e tornei a chorar até que
meus olhos estivessem inchados demais.
Eu não liguei para Christopher aquela noite, tampouco ele o fez.
Meus ossos doíam com tanta tensão. E minha pele gritava, alertando-me
que algo de muito ruim havia acontecido.

Daqui pra frente, é só de ré
Capítulo 48| Amor no escuro

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



03 de junho
Segunda

Christopher sumiu durante todo o fim de semana. Minhas chamadas caiam


diretamente na caixa postal, minhas mensagens não eram visualizadas e o
seu perfil nas redes sociais estavam sempre inativos.
Eu estava à beira de um colapso.
Já havia dado voltas no quarteirão de sua casa uma centena de vezes, mas
nem mesmo o seu carro estava na garagem.
Eu estava ficando louca. Queria ter o contato de suas irmãs ou saber onde
elas moravam, mas eu não sabia nada sobre Christopher. E isto estava
começando a me incomodar além da conta.
Eu confiava cegamente em suas escolhas, porque adorava tê-lo no
comando de todo o meu corpo. Mas não podia deixar que ele continuasse a
interferir em minha vida daquele jeito .
Meus olhos estavam presos à carteira quando notei a presença de alguém
agachando ao meu lado.
Luc me olhava com um sorriso triste nos lábios, estava atordoado por me
ver daquela maneira, mas queria me dar apoio moral, mesmo que não
soubesse a razão da minha infelicidade.
— Você geralmente é quieta, mas hoje parece que pisou em merda. —
comentou.
Forcei um sorriso.
— Acho que eu não só pisei, como me banhei nela. — suspirei triste,
deitando a cabeça em cima da pequena mesa.
Era intervalo, mas eu não estava afim de ir para o refeitório. Optei por
manter-me sentada na sala de aula.
Não queria ver ninguém, falar com ninguém, ou dar explicações a
ninguém. Eu só queria encolher até sumir.
— Está com fome? Eu trouxe barras de cereais. — ele as ergueu diante
dos meus olhos, num gesto gentil.
Resmunguei algo que deveria ter sido um "não", mas soou como um
grunhido esquisito.
— Certo! — ele assentiu, puxando uma cadeira.
Ele sentou-se ao meu lado e colocou a bolsa no chão.
— Eu não gosto de bancar o psicólogo, mas também não gosto de ver a
minha melhor amiga parecendo uma ameba em decomposição. Caramba,
Dy, tem moscas voando em cima de você. — ele balançou a mão sobre a
minha cabeça, fingindo afastar os insetos imaginários.
— Eu tô bem. — murmurei.
— Se isso é estar bem, tenho medo do que você pode fazer quando
estiver mal. — ele juntou as sobrancelhas — Por favor, não se mate. Mas se
fizer, me chame antes.
— Vai me impedir? — impliquei.
— Nah! É só para fazermos isso juntos.
Sorri.
— Suicídio duplo? — pensei.
— Bom, eu conheço mais gente que adoraria participar.
— Todos eles tem depressão?
— Não, eles estão terminando o ensino médio.
— Faz sentido.
— É, faz sim.
Conversar com o Luc era bom, embora não apaziguasse aquele misto de
inconformidade e medo dentro de mim.
Não saber de nada, me matava por dentro. Era como se eu estivesse em
uma caixa, sendo lentamente espremida pelas minhas próprias angústias e
aflições. Eu estava sendo engolida pelo desespero e ansiedade.
O meu corpo inteiro estava preso em um estado caótico de pavor. Tudo
dentro de mim estava a mil, no entanto, me mantive estática por fora, sem
forças para conseguir mexer um único dedo.
— Me conte algo de bom ou eu vou morrer aqui mesmo. — implorei,
chorosa.
— Eu terminei o meu livro. — ele sorriu.
— Isso é bom. E como foi?
— Eu não vou contar, seria um grande spoiler.
Revirei os olhos.
— Você não está ajudando.
— Que tal se eu te obrigar a ir para o refeitório para comer algo? Você
está com cara de quem nem mesmo jantou.
Entortei o canto dos lábios.
Ele não estava errado. Não consegui comer nada. Minha garganta doía
até mesmo quando bebia água e parecia queimar ainda mais quando prendia
o choro.
Deixar Christopher fazer o que quisesse comigo, me trouxe
consequências, e agora eu mais parecia uma zombie do que um humano.
Tudo isso apenas porque não tive notícias suas.
— Eu não quero sair daqui. Eu só preciso.... ficar parada. — sussurrei.
Estava mentalmente esgotada. Não conseguia lidar com mais nada no
momento.
— Quer me contar o que está havendo? — investigou, preocupado.
— Apenas nunca se entregue cem por cento para ninguém, Luc. Nunca
ame ninguém mais do que a si mesmo. Nunca.
— Christopher fez algo?
— Não, ele não fez. Esse é o problema. — fechei os olhos, sentindo-os
embaçarem em razão das lágrimas. — Eu não faço ideia de nada. Eu estou
completamente fora da vida dele.

Era hora da saída.
As salas já estavam vazias e os alunos marchavam para fora da escola. O
céu estava escuro, ameaçando cair uma grande tempestade. Os trovões
estrondavam no céu, entre um intervalo e outro após brilharem.
Eu estava encolhida em meu casaco, a caminho do estacionamento.
Cobria as minhas mãos com luvas macias, e usava botas.
Eu só queria entrar no meu carro o mais rápido possível, ligar o
aquecedor, colocar uma música alta e partir para casa.
Mas o planos da vida, me reservavam outras coisas.
Christopher estava sentado no capô do meu carro, os olhos presos ao meu
rosto, alheios.
Ele parecia absurdamente despreocupado e calmo, como se nada nunca
tivesse acontecido.
Meu coração batia forte no peito e minha pele agora fervilhava sob as
roupas grossas.
Naquele instante, a preocupação transformou-se em raiva. No fundo,
talvez eu quisesse encontrá-lo todo machucado, apenas para ter uma razão
pela qual compreender o motivo do seu sumiço.
Mas vê-lo tão bem e inteiro, me causava a ligeira vontade de gritar com
ele por toda a angústia que me causou.
Engoli o nó em minha garganta. Meu peito doía e os olhos ardiam. Mas
caminhei firmemente até o meu carro.
Não lhe dirigi a palavra, tampouco o olhei novamente, desviei o caminho
e passei direto em sua frente, marchando para a porta do motorista.
Ouvi os seus pés pisarem fundo no chão até onde eu estava. Ao abrir a
porta do carro, Chris segurou o meu braço.
— Amor. — chamou.
Fechei os olhos e enchi os pulmões.
Senti uma lágrima teimosa escorrer em minha bochecha.
Não era justo. Não era justo ele ter feito aquilo.
— Ei. — Senti-o se aproximar, envolvendo meu corpo em seus braços.
— Me desculpe.
— Eu não... — mordi o canto dos lábios, trêmula, e suspirei. — Por que,
Chris? Por que?
Ele segurou o meu rosto entre as suas enormes mãos e beijou os meus
lábios.
— Terá que confiar em mim, amor.
— Você me tira todas as razões possíveis para confiar em você. —
debati, irritada.
Seus olhos encaravam minuciosamente o meu rosto.
— Isso vai além de nós dois.
— Não, Chris. Não vai. — dei um passo para trás. — Eu não quero viver
no escuro. Não dá para amar alguém assim.
— Se eu te contar, nunca mais me verá do mesmo jeito.
— Se precisa me esconder, eu não deveria mesmo estar com você.
Ele automaticamente crispou a testa, transformando seu rosto em uma
expressão dura e rígida. Notei a sua irritação com as minhas palavras, mas
já era tarde, e eu não iria voltar atrás.
— É a minha vida em risco. — continuei.
— Faço qualquer coisa antes de você ser machucada. — rebateu ligeiro.
— Não, não faz. Porque nesse exato momento eu estou machucada, mas
você não vê isso. — solucei.
Atordoada, esfreguei os dedos em meu cabelo, enfiando-os com força na
raiz.
— Eu passei o fim de semana inteiro me mordendo de medo. Assustada e
perdida, porque não fazia ideia do que tinha acontecido. — minha voz
gradualmente se sobressaiu.
Tanto faz, eu já não estava nem aí se alguém estivesse nos ouvindo.
— Você não tem ideia, Chris. Não tem ideia de quantos cenários
horrorosos eu criei na minha cabeça. Tudo porque você... — apontei para
ele — não se deu o trabalho de falar comigo.
Abracei o meu próprio corpo, alterada. Precisava de alívio.
— Você simplesmente me abandonou no momento mais assustador da
minha vida. — naquele momento, eu já chorava tanto que minha voz
enrolava.
Christopher apertou os dentes com força. Seu maxilar estava rijo e o
rosto, pouco a pouco, ganhava tons de vermelho.
Ele inspirou com força e virou-se de costas para mim por um momento.
A fúria tomava conta de seus pensamentos enquanto ele se obrigava a detê-
la.
Quando finalmente voltou sua atenção para mim, ele parecia se esforçar
ao máximo para não gritar.
— Precisei ficar longe, não por mim, mas por você, Dytto! Eu não posso
ficar sempre do seu lado, porque isso pode não ser seguro para você ou para
a sua família. — esbravejou.
— E como é que eu vou saber se não me conta nada! — devolvi, tão
irritada quanto ele.
Ele segurou firmemente o meu rosto com as duas mãos.
— Eu estou sempre, sempre te protegendo. E eu me esforço pra caralho
para que você não precise saber do quê.
— Me fala, Chris. Me fala o que está acontecendo com você. Quem era
aquele homem? Por que As estava com medo? Por que me expulsou? Eu só
consigo ter dúvidas e mais dúvidas. E isso está aqui... — apontei para a
minha garganta — entalado aqui, me sufocando.
— Que porra mais você quer saber de mim? Eu já não faço tudo por
você?
Balancei a cabeça, incrédula com a sua indiferença.
Para ele, apenas me proteger deveria bastar. Mas esconder segredos não
me protegia de absolutamente nada.
— Me solta. — pedi, numa entonação mais baixa agora.
— Dingo...
— Eu quero ir para a minha casa. — soprei, infeliz.
— Não. — ele balançou a cabeça. — Não... — Chris me puxou para mais
perto dele, abraçando o meu corpo e beijando o topo da minha cabeça. —
Tá tudo bem, querida. Vai ficar tudo bem. Me desculpa, está bem? Eu vou
te contar tudo o que precisa, eu prometo.
Seu cheiro me inundou, trazendo calma para a minha aflição. Embora
ainda estivesse com raiva, eu estive com tanta saudades que apenas queria
tê-lo comigo.
— Eu tô exausta, Chris. Não consegui dormir, comer ou me mover. Eu
não quero nunca mais sentir isso. Eu não posso. Amar você está me
matando aos pouquinhos.
Christopher curvou o corpo até estar quase na minha altura, e então,
beijou os meus lábios.
— Eu vou dar um jeito em tudo isso. — garantiu, em meio ao nosso
beijo.
— Preciso dos seus segredos.
Ele suspirou forte.
— Por hoje, eu quero que saiba apenas o suficiente. Eu realmente não
quero te afastar de mim, amor. Por favor, eu imploro, me deixa te contar
apenas o suficiente. Você nunca me perdoaria se soubesse o monstro que eu
sou.
— Por que? Nunca se importou de me fazer ter medo de você antes.
— A situação é diferente agora.
Encolhi-me e afastei o corpo do seu.
— Eu decido até onde quero saber.
— Ir contra mim, é um caso perdido. Sabe que eu não vou desistir,
mesmo que peça.
— Pode não desistir, mas não vai suportar ter a minha aversão a você.
— Vou lutar cada segundo para que não tenha.
— Se fizer isto, só estará garantindo um meio para que eu te odeie, Chris.
Ele sorriu e colocou seus dedos em minha bochecha, acariciando-a de
leve.
— Impossível, amor. — seus dedos escorregaram até estarem acima do
meu coração. — Isso aqui é meu.
— Não disse que deixaria de ser, apenas que o amor pode se transformar
em ódio em um único segundo, se preciso.
— Não vou deixar que me odeie, mas se fizer, por mim tudo bem. Eu não
fujo de você, e nem você de mim. E isso é um acordo selado.
— Não há acordo se não não é uma decisão unânime.
— Às vezes você esquece com quem namora. Não preciso da sua
autorização para nada, Dingo. Peço às vezes em respeito a você.
Fiz cara feia, mas não adiantou.
— Entre no carro, mas do lado do passageiro. Vou te levar para outro
lugar, precisamos de privacidade.
— Eu não vou! — bati o pé. — Eu passei pelo o inferno, e agora você
simplesmente vem e age como quer.
Ele ergueu um sobrancelha.
— Que coincidência, querida. Voltei de lá não tem muito tempo.
Ele apontou para o outro lado do automóvel.
— Entre, Dytto. — ordenou, autoritário. — Ou eu te faço entrar mesmo
assim.
— Você começou com o pé certo para quem quer se redimir, não é? —
fui irônica.
— Comece a andar com o pé certo e eu não terei que acorrentar nenhum
dos dois. — ameaçou.
Deixei que meus ombros desmorossem em desânimo.
— Vá se foder, Christopher Yori. Sem brincadeira.
Ele umedeceu os lábios, prendendo um sorrisinho.
— Eu vou foder, sim. — garantiu, me olhando de um jeito sacana. —
Entra logo, vida. Eu preciso me resolver com a minha mulher, e ela não está
cooperando.
Mostrei-lhe o dedo do meio e ele devolveu o gesto.
— O meu é bem maior. — se gabou.
— Ótimo! Enfie no seu rabo. — marchei em direção ao banco do
passageiro e me enfiei de qualquer jeito no carro.
Quando Christopher entrou, tentou uma certa aproximação, tocando a
minha coxa, mas afastei a sua mão e encostei o corpo na porta.
— Vamos ficar sem nos falar então? — incitou.
— Ao que parece, é assim que a nossa relação funciona agora. — disse
entre dentes.
Ele soltou o ar com força e deixou que parte do seu corpo deslizasse
sobre o banco.
— Não fui justo com você.
— É, não foi. — murmurei, irritada.
— Mas eu quero que saiba, que se eu não tivesse feito o que fiz, teria
encarado a fúria de alguém que está muito interessado em me atingir.
Instigada, olhei para ele.
— O homem na sala?
— Sim. Digamos que ele é um antigo.... colega de trabalho.
— Trabalho? — juntei as sobrancelhas. — Que tipo de trabalho,
Christopher?
— Ele veio diretamente do inferno para me visitar, amor. E agora que ele
sabe de você, me tem na palma das mãos. — confessou, incrédulo. —
Quanto mais perto você estiver dele, mais próxima de morrer estará.
Engoli em seco.
— O que ele quer? — sussurrei.
— Poder. Vingança. Soberania.
Balancei a cabeça.
— Por que me meteu nisso tudo, se sabia que a minha vida seria sempre
assim?
— Porque demônios não sabem conter o vício. E você é o meu vício,
Dytto. É impossível a minha parte demoníaca te deixar ir.
— Se você fosse apenas um humano, ainda estaria comigo?
— Se eu fosse um humano. Eu seria apenas um idiota apaixonado.
Olhei para frente, enquanto brincava com os dedos uns nos outros.
— Pode ser apenas um idiota apaixonado hoje? — cochichei.
— Está com medo de mim?
Concordei, balançando a cabeça.
— Certo. Apenas um idiota apaixonado hoje. — concordou.
— Preciso que esse idiota apaixonado esteja disposto a ser sincero. —
baixei os olhos para as minhas mãos sobre o meu colo.
— Não.
Olhei-o nos olhos.
— Você nunca será verdadeiro comigo, não é? — lamentei,
decepcionada.
— Não se esqueça de que é apenas uma humana. Não saberá lidar com
nada do que eu te disser. E eu te conheço o bastante para saber que
imploraria para eu parar com tudo o que estou fazendo.
— Eu namoro você, e te conheço menos do que qualquer pessoa. —
sorri, magoada. — Me sinto olhando para uma porta trancada toda vez que
te olho.
— Ainda vai me agradecer por eu não deixar você entrar.
Revirei os olhos, mirando-os para a paisagem lá fora. O estacionamento
agora estava quase vazio. Algumas finas gotículas de água caiam no chão,
misturando-se à forte ventania. Logo logo a chuva daria início.
— Por favor, não odeia essa relação. — pediu, roçando de leve o meu
braço. — Eu amo você, Dytto. Eu nunca me apaixonei, e a minha parte
idiota está tentando não te decepcionar. Eu te deixaria ir se eu conseguisse,
mas não há formas de isso acontecer, então me deixe te compensar.
Olhei em sua direção.
— Eu sinto que estamos sempre caminhando para um fim.
Ele baixou o olhar. A seriedade emergindo em seu rosto.
— Isso não vai terminar. Nunca. — pontuou, rígido.
Christopher se ajeitou no banco e pôs as mãos sobre o volante.
— Eu sou tolerante, Querida. — ele virou a chave na ignição e o carro
ganhou vida. — Mas continuo sendo um demônio.

Assustei vocês atoa (por enquanto) kkkkkkk amaram?
Capítulo 49| Mais

ESTE CAPITULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



Meus olhos se abriram em um rápido ato.
A breve imagem de um ambiente com uma iluminação rarifeita bordou
os meus olhos. Eu não fazia ideia de onde eu estava e nem como havia
chegado ali.
Ergui o corpo nos cotovelos, aos poucos sentando-me no que parecia ser
uma enorme cama coberta por um lençol de seda vermelho, em meio ao
cômodo escuro.
Atordoada, pisquei várias vezes, obrigando-me a identificar a situação.
Eu estava sozinha, em um local completamente desconhecido. Eu não me
lembrava de muita coisa, além da sucinta lembrança de um Christopher
dirigindo o meu carro em uma estrada longe da cidade.
O quarto mais parecia ser de uma época distinta e macabra. As paredes
eram revestidas em uma cor escura e parecia brincar com a medíocre
iluminação amarelada que as lâmpadas do canto das paredes resplandeciam.
O lugar era muito mais espaçoso do que um quarto comum. Havia espaço
para uma família inteira abrigar-se ali. As enormes cortinas na cor preta,
pendiam até o chão de madeira escura. Tudo naquele ambiente era mórbido,
desde a arquitetura até os movéis. Existia um imenso lustre no centro,
ornamentado por cristais, que mais parecia derramar-se como uma
cachoeira.
Não queria nem mesmo pensar no valor de tudo aquilo. Era grã-fino
demais.
A porta abriu-se de repente, anunciando um Christopher todo paternal,
com Asafe adormecido em seus braços. A cena me intrigou, mas deixou o
meu coração inteiramente aquecido.
A torre tatuada sorriu ao me ver desperta. Ambos estavam tão lindos
naquele instante, que me derreteu todos os neurônios existentes.
Por um momento, o imaginei em dias habituais cuidando de Asafe. Era
interessante vê-lo como pai solo em minha imaginação, tornava-o, de certo
modo, mais humano.
Christopher caminhava com cuidado, certificando-se de que o filho ainda
dormia. Ao se aproximar, apoiou o joelho do colchão e passou o rapazinho
para o meu colo.
— Estávamos esperando você acordar. As estava ansioso para ter ver,
mas ele também estava exausto. — comentou, enquanto sentava.
Sorri, encantada, e depositei um rápido beijo na bochecha do bebê.
Ele estava tão bem aconchegado em meus braços.
— Asafe é a coisinha mais preciosa do mundo. — sussurrei, a voz rouca,
subsequente a minha dormida.
Christopher curvou um sorriso.
— As tem lá os seus momentos fofos. — brincou, acariciando de leve o
rosto do filho.
Ele me olhou nos olhos, de um jeito terno e macio. Nossos momentos
tornavam-se mais aconchegante quando não estávamos brigando.
— Eu não faço ideia de quando eu caí no sono. — murmurei.
— Um pouco depois de dez minutos de viagem. — explicou.
— Onde é que eu tô? — puxei o lençol para cobrir o pequeno em meus
braços.
Não estava exatamente frio, mas achei que seria mais confortável deixá-
lo embrulhado.
— Na casa da minha família. No meu antigo quarto, mais
especificamente.
Dei uma rápida varrida com os olhos no lugar.
— Eles estão aqui? — perguntei, assombrada.
Ele não se conteve e acabou rindo.
— Eles não são como eu, Dingo. São seres humanos.
— Ah! — soprei, envergonhada.
Asafe se movimentou em meus braços, fiquei apreensiva, mas ele
continuou dormindo.
— Amor — Christopher chamou num sussurro e levei meus olhos em
sua direção. — Venha, temos que preparar algo para você comer.
— E o As?
— Ficará no quarto dele, o traremos de volta quando acordar. Mas, como
o meu diabinho dormiu tem pouco tempo, vai ficar desacordado por horas
— Christopher deu de ombros — Ele adora dormir.
— Certo! Eu só vou... — tentei afastar a coberta com cuidado, para
erguê-lo no colo, mas Christopher foi mais rápido.
— Deixa comigo. — informou, pegando-o de volta.
Ele tomou a frente e o segui ao seu lado. Eu ainda estava meio zonza
quando saí do quarto. Meus olhos estavam pesados e minha boca seca.
Havia dormido bastante.
Estávamos no corredor do segundo andar da casa. Eu devia ter apagado
bem feio para não ter o sentido me subir pelos degraus quando chegamos.
O lugar era enorme, ainda maior do que eu poderia sequer imaginar.
Parecia mais um castelo assombrado. Por um curto período fútil de
pensamentos, imaginei seus irmãos como uma família de vampiros.
Era óbvio que eles não eram vampiros, mas era o que o ambiente
transmitia. As paredes pareciam gritar em horror, e o eco que emanava-se
entre os cômodos, se assemalhavam a sussurros. Ou talvez, eu apenas
estivesse delirando.
Voltei minha atenção para os dois homens ao meu lado. Sorri em alguns
momentos, vendo Christopher beijar a testa do seu filho e cheirá-lo. Meu
peito se enchia de carinho assistindo aquela cena.
Mesmo com toda a sua insistente indiferença, existia uma parte dentro de
si que era sentimental e amava genuínamente. E era por este Chris que eu
era louca de amor. Não o Chris egoísta, arrogante, que mentia, escondia
segredos e sumia por dias
Meu coração murchou com este pensamento. Ele imediatamente
percebeu, pois me me olhou com uma expressão curiosa.
— O que foi? — questionou baixo.
— Um idiota apaixonado não saberia o que eu sinto. — recordei o nosso
acordo.
— Não posso ser observador?
— Não. E eu estava sorrindo. Então você não tinha como ter ideia do que
se passa dentro de mim. — determinei.
Seus olhos subiram e desceram pelo meu corpo. Ele negava-se a aceitar
aquilo. Era notável o seu descontentamento e a visível preocupação, mas
manteve-se calado.
Imaginei que aquilo não iria durar por muito tempo.
Quando Christopher devolveu As ao seu quarto — que, por sinal, era
completamente diferente do resto de toda a casa, pois apenas nele, existia
uma bela prévia do que deveria ser um quarto infantil, se não fosse as
pequenas caveiras penduradas sobre o berço e algumas figuras satânicas nas
paredes, quebrando as boas expectativas.
Ao descermos às enormes e largas escadas juntos, Christopher
disfarçadamente cruzou seus dedos no meu, embora eu tivesse notado as
suas intenções de se desculpar, não o interrompi. Estava faminta, e pouco
interessada em dar continuidade a nossa discussão. Teríamos tempo para
isso.
Me sentia dentro de um castelo em meio a todo aquele espaço que era a
sua casa.
Como eu nunca ouvi falar deste lugar antes? Seria impossível alguém
nunca tê-lo visto.
— Não tem ninguém na casa? — interroguei-o ao chegarmos no cômodo.
— Amara está em uma viagem, Sam está na casa do namorado, Levi está
no trabalho e Demétrius... Bem, deve estar fodendo. — ele sorriu, dando de
ombros.
— Leví? Demétrius? — uni as sobrancelhas. — Quem são?
— Oh, droga! — ele mordeu os lábios — Esqueci de avisar — apontou
para mim, despretensioso — Tenho mais outros dois irmãos humanos.
— Humanos?
— Meu pai era um promíscuo. Devo ter outras centenas de irmãos no
inferno e em outros paralelos.
— Não são todos filhos do mesmo pai?
Ele soltou uma gargalhada exagerada.
— Cada um tem um pai diferente. — ele lambeu os lábios — Nossa mãe
gostava de... — ele deu de ombros. — Enfim.
Ele arrastou o banco encostado diante do balcão para que eu me sentasse
e deu a volta, procurando por alguma coisa nas gavetas.
— Gosta de sanduíche?
— Vai me fazer um sanduíche? — ergui a sobrancelha.
— Eu vou ficar te devendo um almoço. Mas, por enquanto, precisamos
de uma comida feita rápida. Você tá pálida. — observou.
Assenti.
— Tudo bem. — minha barriga roncou alto no mesmo instante.
Christopher desceu seu olhar sobre mim e a cobri com os braços.
— Não me olha assim, é constrangedor.
Ele sorriu e voltou sua atenção ao que fazia.
— Sim, senhora.
Enquanto Chris preparava o seu "Mister Monster sanduíche", parei para
observá-lo. Era satisfatório vê-lo na cozinha, abrindo e fechando gavetas,
mexendo em tudo e misturando molhos.
Eu estava curiosa e não aguentava mais segurar as perguntas. Ele
obviamente notou, mas decidiu fingir que não.
Pigarreei, quando finalmente tomei coragem.
— Sua mãe... — comecei, esperando uma reação de sua parte, quando vi
que ele fez pouco caso, prossegui: — Como ela é?
— Atualmente?
— E tem diferença?
— Sim. Viva ela era uma coisa, morta ela é outra.
Minhas sobrancelhas saltaram. Eu ainda me esquecia que ele via os
mortos.
— Não sabia que ela tinha morrido, sinto muito!
— Guarde seus sentimentos a quem não consegue visitar os seus parentes
mortos, Dingo.
Cocei a nuca, constrangida.
— Então... Me conta, ela era uma mãe legal?
Ele terminava de cortar uma fatia de tomate quando parou a faca para me
olhar.
— Ela era excêntrica. O tipo de mulher que prioriza os seus proprios
interesses antes dos filhos. Isso responde a sua pergunta?
Meus pensamentos só conseguiam a nomeá-la como irresponsável, no
entanto, se nem mesmo Christopher era capaz de ofendê-la, decidi manter
os meus pensamentos para mim.
— Com certeza.
Ele não deu continuidade ou fez menção a nenhuma história sobre a sua
mãe, portanto, preferi não comentar mais nada a respeito.
Não fazia ideia do seu sentimento quanto a ela, e não gostaria de
machucá-lo com isso.
Em média, 20 minutos depois, eu tinha perante os meus olhos um
sanduíche tão grande que duvidei ser capaz de aguentar comer por inteiro.
— Devore tudo, amor. Sem desperdícios. — disse, lavando as louças.
— Gula é um pecado. — notei, encarando a montanha à minha frente.
— Nesta casa, todos os pecados são bem-vindos.
Revirei os olhos, mas avancei como uma desesperada no meu lanche.
Christopher era exagerado em qualquer coisa que fizesse. Não havia nada
pequeno quando o assunto se remetia a ele. Bom, naquele momento, era
uma vantagem, em outros momentos, não.
Quando terminei, Christopher me encarava admirado. Me ver entupida
até o talo de comida o deixava impressionado. Ele sorria encarando-me
confiante.
— Pare com isso. — pedi, envergonhada.
Ninguém gostaria de ser observada lamber os dedos.
Christopher veio em minha direção, pousando suas mãos em minha
barriga.
— Bem melhor vê-la cheinha. — brincou, beijando a minha testa.
Coloquei as minhas mãos sobre as suas.
— Gostou da minha barriga de gravidinha. — brinquei, mas do contrário
que havia imaginado, Chris fechou a cara e se afastou.
— Prefiro que não fique grávida... nunca.
— De comida, bobinho. — tentei descontrair, entretanto, isso tinha
mexido com ele.
— Que seja. — ele me agarrou pela cintura, arrancando-me da cadeira.
— Vamos para o quarto.
— Ei! espera! — berrei.

— Não vai me manter trancada aqui. — briguei, sentada num canto da
cama.
Christopher havia tentado suas técnicas de sedução, mas o recusei e me
transferi para o outro lado de onde ele estava.
— Eu sou uma moça de família, preciso estar em casa antes das 16h.
Ele revirou os olhos.
— Seu pai disse que está tudo bem. Por que está tão ansiosa para ir
embora? — reclamou.
— Não finja que a nossa brigou não existiu.
— Não estou.
— Ah, é? Por que parece que estamos evitando o assunto enquanto você
está aí, agindo como se eu simplesmente tivesse esquecido.
Christopher suspirou, ajeitando-se na cama.
— Me diga o que eu posso fazer para que me perdoe.
Olhei para o teto, pensativa.
— Me conte tudo.
Ele tombou o corpo no colchão e fechou os olhos.
— O que quer saber?
— Onde estava? — disparei.
Ele umedeceu os lábios.
— Nefarious.
— Isso é o quê? Uma boate?
Ele franziu a testa.
— Que tipo de homem sem honra você acha que eu sou? — ofendeu-se.
— Não sei, Chris. Não o conheço o suficiente. Talvez estivesse com
outras garotas, como posso saber?
Ele logo se virou em minha direção, arrastando o corpo até que estivesse
totalmente sobre mim.
— É um tapa na cara saber que pensa isso de mim.
— O que é Nefarious, Chris? — incitei.
Ele despencou o corpo sobre o meu e gritei com o seu peso.
— Chris, sai, você é pesado. — reclamei, esforçando-me para empurrá-
lo, no entanto, foram tentativas em vão.
Apenas quando ele decidiu erguer-se nos cotovelos que pude respirar
novamente.
Inspirei fundo, agarrando-me a cada milímetro de oxigênio possível.
Christopher mais parecia uma parede gigante de aço.
— Nefarious é o inferno em que fui forjado, Dy.
— Pensei que o inferno se chamasse inferno. — denotei.
— Se engana ao pensar que só existe um inferno.
— Pensei que...
— Não foi só um anjo que se rebelou, amor.
— Bom, eu sei, mas imaginei que todos estivessem no mesmo inferno.
Ele sorriu de canto.
— Há uma grande lacuna entre uma história e outra.
Ele posicionou-se de lado e suspirou.
— Milhares de séculos depois que lúcifer caiu, Christopher, um anjo
ganancioso e perverso, deitou-se com um outro anjo. Deus não gostou.
— Você se deitou com um anjo? — quase gritei.
— Oh, amor. — ele fez carinho no meu rosto — Não eu. Christopher I,
meu pai.
— Seu pai é gay? — arregalei os olhos.
— Foi só isso que te chamou na história toda? — notou, curioso.
— Não, espera, não! Quer dizer, ele é?
Christopher deu de ombros.
— Ele dorme com quem ele quiser. Não é sobre o sexo. É sobre a
perversão em corromper tudo que há de puro.
— Igualzinho a você. — comentei, distraída.
— Eu nunca dormi com um homem. — pontuou, intrigado.
— Não era dessa parte que eu estava falando.
Ele sorriu.
— Então... Deus o expulsou do paraíso?
— Sim. Mas não por isso. — ele naturalmente desceu o olhar para o meu
busto. — Christopher continuava a desafiar a bondade de Deus. Deleitava-
se de tudo que era bom e puro, inventava mentiras, mas somente quando
disse ser a salvação do mundo, que então foi... Banido.
— Como Lúcifer?
— Não. Lúcifer está preso no seu próprio inferno. Christopher caiu em
Nefarious, um lugar onde milhares de demônios residiam.
— Mas...
— Christopher era esperto, conseguiu fazer com que todos aqueles
demônios tornassem seu exército. Mas ele não imaginou que havia seres tão
horrendos quanto ele.
— Quem?
Ele balançou a cabeça.
— Apenas entenda que nada se criou do nada. E nada vai se destruir do
nada. — ele beijou o meu queixo. — Está tudo conectado.
Ele escorregou a mão para o colarinho da minha blusa.
— E tudo o que acontece agora, é para definir o que seremos no futuro.
— seus dedos brincaram com o meu busto. — E se quiser ir contra isso,
esteja pronta para lidar com as consequências do universo.
Seus lábios beijaram a parte descoberta dos meus seios.
— Somos o que somos, amor. — murmurou.
Christopher suspirou em meu ouvido.
— E você foi feita para ser minha desde o dia em que naceu.
Sua mãos deslizaram até o meu quadril.
— Agora me permita foder o que você tem entre as pernas. Seja
obediente e as abra.
O empurrei.
— Eu quero ouvir a história, Chris.
Ele revirou os olhos e agarrou a parte detrás dos meus joelhos, puxando-
me num rápido movimento para si.
— Podemos fazer os dois ao mesmo tempo. — sugeriu.
Ele não me deu tempo de reagir, já estava com as mãos na braguilha da
minha calça, deslizando o zíper.
— Não quer matar a saudade, amor? — perguntou, malicioso.
Fechei os olhos.
— Só se me contar mais uma coisa.
— Diga.
— Com quem As estava conversando no quarto?
Seus movimentos cessaram.
— Por favor, Chris... — arfei.
Ouvi ele soprar com o ar com força.
— Zoe. Asafe estava conversando com a mãe dele.
Arregalei os olhos, mas contive um suspiro surpreso. Me ajeitei no
colchão, apoiando o corpo nos cotovelos.
— Eu não queria que isso te incomodasse, por isso não contei.
— Eles se vêem muito? — questionei-o, atônita.
— Não. As não devia nem mesmo ter visto ela. Eu a tranquei no inferno,
mas o meu pai a soltou para que se metesse no meu caminho.
— Por que?
— Trabalho para ele. Sou o responsável pelo caos. Mas eu não tenho
feito um bom trabalho. — ele curvou um sorriso triste. — Se rebelar é algo
que temos em comum.
— Isso não me parece bom. — comentei, tentando ignorar o incômodo
que se formava dentro de mim.
— Não, não é. Mas eu sou melhor do que ele jamais será. Eu sou o único
que pode destruir ele, e é por isso que eu preciso manter você segura,
porque eu não sei o que eu faria se ele a tocasse. Isso vai além de nós dois,
Dytto. Se algo ou alguém te tocar, eu posso destruir o mundo inteiro em
segundos, entende?
Suas palavras me atingiam como grandes ondas das quais eu não era
capaz de me recuperar. O fôlego havia sido extinto de meus pulmões e
minha cabeça rodava.
Era demais. Mas eu precisava ouvir a verdade, agora mais do que nunca.
— E o que acontece depois? — minha voz ressoava trêmula.
— Eu te levaria para o meu paraíso de gelo. Te transformaria em minha
rainha. E comandaríamos uma nova geração.
Christopher aproximou os lábios dos meus.
— No início eu achei que o que tínhamos era apenas obsessão, e depois
pensei ser apenas amor. No fim, eu entendi que você seria minha
independentemente de qualquer coisa. A nossa história é inevitável. Somos
um meio para o fim.
— C-chris...
Ele se afastou, ruidoso.
— E é por você estar tão pálida agora, que eu não te conto muitas coisas.
— continuou, acariciando o meu rosto. — Agora você entende?
— Isso é assustador. — sussurrei.
— É mais simples do que pensa.
— Mas e todo o resto? O que seriam das pessoas? O que seria de tudo?
A... A minha família?
— Todos terão o seu destino final. Isso não cabe a nós dois.
Christopher se aconchegou sobre mim e beijou os meus lábios.
— Me deixe tirar essa sua preocupação. Eu quero foder você.
Seus dedos acariciavam a minha cintura, bem lentamente.
— Por que você tinha que ser um demônio? — murmurei e senti seus
lábios sorrirem em meu pescoço.
— Quero te fazer gemer. — ele deslizou a mão para a borda do meu
jeans. — Quero me enfiar em você hoje, amor. Eu quero te sentir.
Seus lábios passeavam em minha pele, causando-me uma longa sensação
de arrepios.
— Quero você em volta do meu pau. — sussurrou — Sabendo que é só
minha.
Eu não o respondi, estava sem fôlego. Minha intimidade já estava úmida,
eu não consegui me conter, Christopher sabia o que fazia quando tocava o
meu corpo.
Era natural que eu o obedecesse, mesmo que sem perceber.
Ele se posicionou para retirar as minhas vestes. Suas enormes mãos
puxaram a minha calça e a minha calcinha de uma só vez. Talvez estivesse
evitando se decepcionar com a minha coleção de calcinhas, ou talvez,
apenas estivesse com pressa.
Quando ele retornou para onde estava antes, retirou meu moletom e abriu
o meu sutiã. Em poucos minutos eu estava completamente despida para ele.
Christopher subia e descia os olhos por todo o meu corpo nu. Meu corpo
parecia o encantar, pois seu rosto preencheu-se de satisfação.
Ele arrancou a camiseta do seu corpo e desabotoou as calças.
— Vai doer como da primeira vez, Chris? — o interrompi, incerta.
Ele me lançou um olhar terno e gentil.
— Farei o meu melhor para que não doa tanto. — garantiu, voltando ao
que fazia.
Quando Christopher já estava sem roupas, retirou de uma das gavetas
uma camisinha. Ele a colocou sem pressa em seu membro ereto. Sua
tatuagem no pênis agora me era algo extremamente erótico, toda vez que o
imaginava nu, gostava de focar nela, havia se tornado a minha melhor
fantasia.
Eu estava ansiosa, mas temia pela experiência passada se repetir. Queria
que aquilo fosse menos doloroso.
Christopher deitou-se ao meu lado, ele não pediu que eu fizesse nada,
apenas abriu as minhas pernas para me tocar enquanto beijava os meus
lábios.
Seus dedos maliciosos estimularam o meu clitóris em um gesto contínuo.
Eu arfava em seus lábios, gemendo com o prazer que ele me entregava.
Com ele ao meu lado e minha perna estava sobre o seu corpo, estava
completamente exposta, sem nada para me cobrir.
Eu já não tinha mais vergonha. Christopher sempre me fazia sentir-se
confortável com a minha nudez.
Sua boca chupou os meus seios, um por um, dando a devida atenção.
Seu dedo me preencheu e eu estremeci. Já tinha desacostumado com a
sensação após tanto tempo sem tê-lo me tocando.
Ele me encarava, sem nunca tirar os olhos dos meus, ao mesmo tempo
em que me penetrava com os dedos em um vai e vem delicioso.
Toquei o seu rosto, deslizando os dedos entre seus lábios macios e
carnudos. Eu adorava a sua boca.
Christopher pôs sobre mim. Senti seu membro roçar a minha intimidade
e suspirei, ansiosa.
Ele curvou um breve sorriso nos lábios e aproximou-se.Chris me beijou
devagar, suave e contido. Sua língua se misturou à minha em um beijo que,
gradualmente, se tornou mais impetuoso, desesperado e quente.
Sua mão passeava pela lateral do meu corpo e desceu até estar pousada
em meu quadril.
Prendi minhas pernas em sua cintura e me impulsionei em sua direção,
esfregando a parte de mim que doía de tanto desespero por ele.
Com a sua mão livre, ele deslizou o indicador em meu queixo e
mordiscou o meu lábio inferior.
Um gemido baixo escapou de meus lábios quando senti seu dedo tocar o
meu clitóris e me provocar ali, fazendo movimentos precisos, os quais me
faziam delirar.
Mordi os lábios com força e fechei os olhos, apreciando o seu toque.
Chris passou a língua entre os meus seios, colocou um deles na boca e o
chupou sem pausas, conforme me masturbava.
Enfiei meus dedos entre seus cabelos e os puxei quando a pressão entre o
meio de minhas pernas se tornou deliciosamente agonizante.
Christopher lambia o meu peito sem pressa, dando a ele quase toda a sua
atenção, se não fosse, é claro, por seu dedo me invadindo repetidamente.
Um gemido alto fugiu de minha garganta, rapidamente Christopher o
conteve com a sua boca na minha.
— Desculpe — arfei, baixinho.
— Não quero que goze ainda — avisou.
Chris recostou sua testa na minha e inspirou fundo. Sua mão pressionou a
minha cintura com mais autoridade.
— Preciso que me diga que quer isso — pediu, num sussurro rouco.
Levei meus dedos ao seu peitoral tatuado e os deslizei naquele local,
apreciando a sensação de sua pele quente e macia sob meu toque.
Sorri boba. Ele se tornava ainda mais atraente toda vez que se revelava
preocupado.
— Eu sempre quero você, Christopher. Sempre.
Seus olhos se fixaram nos meus e ele sorriu.
— Também sempre quero você, garota.
Passei os braços em volta dos seus ombros.
Christopher posicionou seu membro em minha entrada e me olhou nos
olhos ao empurrá-lo. A intensidade de seu olhar me fez perder todo o
raciocínio e fixou-me a atenção naquelas íris verdes.
O puxei para um beijo quando presenciei a dor me invadir de uma vez.
Apertei meus lábios nos seus com força, esperando que a sensação se
dissipasse.
Christopher fez movimentos de entra e sai devagarinhos, porém, sempre
mantendo o ritmo.
Sentia meu corpo inteiro entrar em chamas, de modo que estivesse febril.
Meu coração estava disparado.
Apertei-o ainda mais forte em meu abraço ao sentir o incômodo
sentimento de ter ele em mim, manter-se.
Enfiei minha língua em sua boca, alvejando pelo mais louco beijo que ele
pudesse me dar. Eu só precisava de algo para me distrair enquanto ele me
penetrava, ou pensar na dor me faria desistir.
Christopher agarrou os meus lábios com veemência e autoridade. Senti-o
impulsionar o seu pênis ainda mais.
— Merda — murmurei, a voz dolorosa.
— Me diga o que quer, Dingo.
— Coloca mais — pedi, contrariando toda a situação.
Ele franziu o cenho, sério, aparentemente, se negando a fazê-lo.
— Por favor, Chris!
— Não vou te forçar a isso.
— Eu tô pedindo. Eu juro que eu quero.
— Te fazer sentir de uma vez, não vai diminuir a dor, amor.
Impaciente, enrosquei minhas pernas em seus quadris, forçando-o para
mim, Christopher resistiu, mas continuei a puxá-lo.
— Porra, Dingo... — arfou, furioso.
— Mais — insisti.
Ele apertou os dentes, seu maxilar ficou rijo. Seus olhos estavam cheios
de fúria. Christopher, a contragosto, colocou mais de si em mim e continou
a enfiar-se.
Tapei a boca quando senti uma forte pontada em meu útero me tomar.
— Não dá de colocar você inteiro em mim. — murmurei, suada e
ofegante.
— Isso já estava claro desde o início, amor. — respondeu, com um
sorriso arteiro nos lábios.
Constatei a sensação de tê-lo penetrando o máximo que conseguíamos.
E doeu, como doeu.
Respirei devagar e mordi os lábios, na árdua tentativa de me acostumar
com aquilo.
Christopher beijava o meu pescoço e tomava todo o cuidado ao
movimentar-se. Senti receio em sua pele. Ele estava com medo de me ferir,
mas havia decisões que Chris não poderia tomar por mim.
Pressionei o seu braço, a fim de buscar por alívio. Agoniada, enfiei meu
rosto no travesseiro ao nosso lado. Meu rosto estava quente, meu corpo
estava molhado e minha intimidade estava dolorida.
Tentei olhar para o meio de nós, mas não consegui visualizar nada com
clareza.
— Você está muito vermelha — informou, afastando as mechas de cabelo
do meu pescoço. — Me avise se...
— Eu sei — interrompi-o — Eu aviso.
Christopher me olhou curioso, mas não se opôs. Seus olhos sempre
postos sobre os meus, atentos e sérios.
Ele prosseguiu em seu ritmo calmo e preciso. Estávamos indo bem,
muito bem. De repente, a dor já não era mais um grande incomodo,
certamente não havia cessado, mas agora existia uma pequena pontinha
prazerosa em seus atos.
Gemi, mas isso o fez parar.
— Está bem? — alarmou-se
— Continue, está ficando bom. — pedi, sôfrega.
Ele se afastou um pouco, apenas para enfiar sua mão entre nós.
Christopher colocou um dedo em meu clitóris e me estimulou, ao passo que
continuou a meter.
De pouco em pouco, tornei a desfrutar de um prazer que tornou a se
intensificar. Ainda sentia-me incomodada, mas podia superar isso.
Christopher remexia os quadris numa sequência gostosa. Aquilo
provocava ondas vigorosas de prazer, consequentemente me fazendo gemer.
A cada minuto, a dor deixava de ser um problema, e tudo o que
Christopher fazia me deixava mais instigada a continuar.
Quando a sensação boa se tornou mais forte, não me contive e comecei a
gemer alto, Chris riu baixo e tapou a minha boca com a sua enorme mão
tatuada.
— Eu bem que queria te ouvir gemendo alto, amor. Mas... — ele não
finalizou a frase, porém, não era como se fosse preciso.
Sorri em meio aos meus gemidos sufocados.
Repentinamente, ele se retirou de dentro de mim e ajoelhou-se na cama.
Estava confusa, mas esperei.
Apenas entendi sua intenção quando ele agarrou o meu corpo, virando-o
de lado, em seguida, deitando-se logo atrás de mim. Chris suspendeu uma
de minhas pernas sobre a sua coxa e me penetrou novamente, desta vez, em
uma nova posição
Sua mão agarrou o meu seio com tanta força que supus que logo ficaria
cheio de marcas, no entanto, ele a desceu para a minha barriga e em seguida
envolveu minha cintura sem braço, pressionando-me para baixo em seu
pau.
Christopher acelerou suas estocadas. Apertei os lábios no travesseiro
quando ele me acertou violentamente com um tapa em minha bunda.
Ele mordeu o meu ombro e agarrou o meu seio com violência, mantendo
a dominância ao se enfiar em mim com mais destreza.
Senti minhas pernas tremerem quando já estava prestes a gozar. Ele
enrolou sua mão em meu cabelo, puxando-o cheio de hostilidade.
Chris me inundou em seu pau quando, assim como eu, sentimos-nos mais
próximos do fim.
Não consegui aguentar e desatei a gozar, gemendo manhosa entre os
lençóis da cama. Christopher ainda se manteve ritmado por mais um tempo,
até que por fim, se juntou ao êxtase comigo. Ambos suados, ofegantes e
satisfeitos.
Sentia meu coração descompassado no peito e o corpo inteiro em puro
frenesi . A adrenalina ainda corria em minhas veias, mesmo após terminar.
Christopher tocou o meu rosto e me virou para ele, tocando os meus
lábios com puro desejo. Silenti um sorriso largo sorriso em sua boca quando
nos beijamos.
— Você é incrível! — sussurrou.
Virei-me completamente para ele. Chris entornou o meu corpo e me
manteve ali, presa em seus braços.
Ele gentilmente tocou a ponta do seu nariz no meu e nos permitimos ficar
assim por um longo tempo.

Secsu bixo hihihi
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notificações do wattpad sobre novos capítulos, ou para o caso de você
querer ser notificado sobre os avisos do livros, ou se você somente quer me
seguir por seguir mesmo, o que também é muito bom.
beijão.
Ps: mudei o nome do meu tiktok, agora é nanabrya, mas se vocês não
seguirem, tudo bem tbm, desinstalei o app pq ele não para de flopar os
meus vídeos e eu tô sem sanidade mental para qualquer coisa ultimamente.
Minha vida tá uma bagunça e as divulgações de LITD tão indo de zero a
zero por hora..
Capítulo 50| Zoe

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



2 anos atrás....
— Qual é o problema? — perguntei, desinteressado.
Zoe deu de ombros e virou-se de costas. Ela levou os dedos aos seus
longos fios loiros e desgrenhados em sua cabeça, e os prendeu em um
coque alto.
Hoje ela parecia ainda mais cansada do que normalmente estava.
Eu sentia em todas as fibras do meu corpo que ela me escondia algo.
Estava com medo de me contar. Talvez, com receio de que eu fosse brigar
ou dizer algo ruim.
— Anda, Zoe. — insisti, irritado. Odiava quando ela fazia isso, quase
parecia proposital para que eu perdesse a droga da paciência.
O pequeno Asafe se remexeu em meu colo. Seus grandes olhos
lentamente emergiram ao abrirem as pálpebras sonolentas. Ao me
encontrarem, ele curvou um breve sorriso que se emendou em um bocejo
longo e preguiçoso.
Embora ele estivesse no mundo dos vivos há apenas 6 semanas, parecia
conhecer-me há uma vida inteira. Toda vez que me olhava, parecia saber
mais de mim do que um bebê deveria.
Era quase como se já nos conhecêssemos desde sempre. Provavelmente,
fosse por esta ligação entre mim e ele, que nosso elo era tão forte.
Sabia que não eu estava nem um pouco capacitado para ser pai aos
dezesseis anos de idade, no entanto, jamais teria permitido que Zoe o tirasse
de mim.
Nunca permitiria tal coisa.
— Ele só não dormiu muito bem à noite. — as palavras sairam lentas e
arrastadas de sua boca.
Ela dobrava algumas fraldas de pano sobre a mesa, no centro da sala.
Seu corpo magro e pequeno estava lerdo e os ombros baixos. Seus olhos
mal pareciam aguentarem abertos e os globos estavam avermelhados.
Entornando os seus olhos, marcas de cansaço arrroxeados marcavam sua
face, evidências de várias noites mal dormidas.
Seu cabelo estava cheio de frizz, oleoso e bagunçado. Tinha tantos nós
que agora ela mal o penteava. Para uma garota, antes vaidosa, isso era
terrível de se assistir.
Seu declínio a cada dia era cada vez mais evidente, ela tinha desistido de
si mesma, ainda que eu sempre me oferecesse para auxiliar e ficar com As,
Zoe não se arrumava mais, às vezes nem mesmo banhava. Estava afundada
em infelicidade.
— Vá descansar, eu cuido dele. — indiquei.
Seus grandes olhos castanhos me olharam cheios de gratidão.
— Sabe como dar a mamadeira? — investigou.
— Sei.
Ela sorriu.
— Obrigada, Chris!
— Ele é o meu filho.
Ela assentiu.
Não conseguia ser minimamente gentil. Odiava o fato dela sempre
alimentar a menor das expectativas em sua fantasia, onde éramos uma
família perfeita e normal. Estávamos bem longe de qualquer
relacionamento ou intimidade.
Zoe era loucamente apaixonada e fez questão de se declarar para mim
por meses, mesmo que eu nunca correspondesse aos seus sentimentos.
Porra! Nem de longe eu iria me casar com essa garota. Não com ela ou
nenhuma outra.
Eu sempre gostei do seu estilo, as músicas que ouvia e as roupas que
usava. Mas não foi por isso que me aproximei, gostava do jeito que ela
dançava e me provocava, entretanto, deixei claro, desde o início, que as
minhas intenções eram apenas fodas.
Eu não precisava de uma namorada ou uma amizade colorida. Sempre
me dei bem sozinho.
Também não saia muito com garotas, estava focado em viver em um
mundo só meu. Tinha planos e objetivos, vivia a mercê de meu pai e
precisava cumprir com a minha função no mundo. Eu queria mais do que
nunca a minha liberdade, e sabia que não conseguiria ela trabalhando o
resto da vida para ele.
Beijei a testa de Asafe e inspirei fundo. Ao menos, esse rapazinho me
trazia sossego.
Deslizei o dedo sobre sua bochecha e ele o agarrou com sua mãozinha,
mesmo com a pouca idade, tinha bastante força.
Já tinha um tempo que eu não me sentia tão vivo e bem assim. Era
estranho passar tanto tempo me sentindo sozinho e único no mundo, e
então, de repente, havia outro ser igualzinho a mim.
— Por favor, não esquece de trocar a fralda dele daqui uma hora. E passe
a pomada, não quero que ele se asse. Se esquecer de algo, há um bloco de
notas preso à geladeira. — avisou, sonolenta.
Olhei para ela e a encontrei parada no meio da cozinha. O corpo
corcunda, o pijama em uma mistura de suor, leite e seja lá o que quer que
fosse aquela coisa amarela ali.
— Pode deixar, Zoe. Eu assumo daqui. — entortei os lábios em uma
careta.
Ela assentiu e saiu esfregando os pés no chão, como uma morta-viva pela
casa.
Eu me ofereceria para cuidar dela — pelo As —, se isto, é claro, não a
enchesse de esperanças.
— Caramba. O que você está fazendo com a sua mãe, garoto? —
brinquei.
Seus olhos me encaravam curiosos. Mesmo que ele tivesse entendido o
que eu disse, apenas teria ignorado. Digamos que ele era um carinha
desapegado.
Crianças geralmente gostavam de ficar no colo. Asafe, não. Ele gostava
de ficar no meu, e apenas.
Por mais que ainda fosse tão jovem, toda vez que notava algum estranho
tentando cuidar dele, fazia um show de rock e tanto, soltando berros tão
agudos, que fazia a cabeça de qualquer um doer.
Zoe ainda não havia se acostumado com nada disso. Ela ainda odiava o
fato de ter virado mãe aos 15 anos. Talvez, se ela tivesse sido mais esperta,
teria concluído que engravidar, propositalmente, de mim, não me tornaria o
seu namorado dos sonhos, ou me faria se apaixonar magicamente por ela.
Tudo o que ela conseguiu, foi tirar o resto de paciência que me restava.
Quando ela me contou sobre a gravidez, quis explodir a sua cabeça, todavia,
sabia que isso levaria a morte do feto que ela já carregava no ventre.
Eu não era alguém superprotetor, mas uma parte de mim mudou naquele
instante, declinando-se a ser solícito à situação.
Deitei-me no sofá de Zoe, ou melhor, no sofá de sua irmã. Já havia um
tempo em que ela estava morando naquele lugar. Sua mãe tinha a expulsado
de casa após descobrir sua gravidez, desde então, sua irmã a abrigou,
embora a relação das duas não fosse das melhores.
Coloquei As sobre o meu peito. Ele fechou os olhos enquanto tentava
fazê-lo dormir. Uma das tarefas mais difíceis do mundo inteiro, visto que o
garoto adorava estar sempre acordado.
Passei um bom tempo batendo em suas costas até que finalmente me vi
entediado e parei de o fazer. Não se passou 2 segundos para que Asafe
começasse a resmungar.
Nunca na vida eu tinha sido tão submisso a alguém como eu era para
aquele ser minúsculo nos meus braços.
Suspirei fundo.
— Garoto, eu até posso parecer legal, mas eu não sou. Vá logo dormir.
Ele ameaçou berrar e me vi forçado a obedecê-lo.
— Puta merda...
Se eu pudesse vê-lo de onde estou agora, poderia imaginá-lo com um
sorriso vitorioso no rosto.

— Eu volto amanhã bem cedo. Mas só vou poder ficar até o almoço,
tenho algumas aulas na faculdade que não quero perder. Tudo bem para
você? — informei-a.
Zoe assentiu e curvou um curto sorriso nos lábios.
— Pode ser. Vou usar a manhã para procurar algum emprego, preciso de
uma renda para me manter.
— Não precisa trabalhar enquanto As for pequeno. Já disse que posso
sustentar vocês dois numa boa. Deixa isso para quando ele estiver com 5 ou
6 anos. Vá terminar seus estudos ou sei lá, eu cuido dele por meio período.
Ela balançou a cabeça.
— Eu não quero voltar para aquela escola estúpida. E também não quero
ficar parada o dia inteiro em casa sendo mãe — ela quase cuspiu a última
palavra, como se fosse uma ofensa.
— Faz o que quiser, Zoe. Só não esquece do As.
— Pensei em contratar uma babá. Eu poderia trabalhar pela manhã, uma
parte da tarde e voltaria para casa de noite para ficar com ele.
Fiz careta.
— Prefere passar o dia inteira socada até o cú de trabalho do que ficar
com o seu filho? — soltei, ríspido e incrédulo.
Ela abraçou o próprio corpo e repuxou um canto dos lábios.
— Você diz como se eu não gostasse do nosso filho — murmurou, baixo.
— E você não gosta. Para falar a verdade, eu nem mesmo sei como
consegue suportar ele. — apertei o punho, enraivecido. — Eu já a avisei
antes, e torno a repetir. Qualquer coisa que acontecer com As, vai cair na
sua conta.
Seu rosto perdeu a cor.
— Não fale besteiras — Zoe tentou amenizar a situação, para que se
reduzisse a uma ameaça vazia, apenas para aliviar o desespero em sua alma.
— É melhor você ficar na linha, eu sempre sei um jeito de te pegar.
Ela se encolheu e deixou que o olhar recaisse sobre o carpete.
— Cuide do As, eu tenho um compromisso em família hoje à noite. Nos
falamos amanhã.
Estava prestes a me virar, quando ela agarrou o meu braço.
— Chris, espere!
Olhei-a furioso. Não estava a fim de ouvir mais de suas desculpas
esfarrapadas, apenas para ficar longe de Asafe.
Sabia como ele podia dar trabalho, mas não era este o caso. Eu estava
sempre a disposição e pronto para pegá-lo, entretanto, Zoe queria sempre
correr de qualquer responsabilidade que envolvesse o nosso bebê.
— Tem algo de errado com o As. — sussurou, como se aquilo fosse um
segredo. Seus olhos desconfiados ruidosamente deslizaram em volta antes
de ela prosseguir. — Eu posso sentir, toda vez que o toco. É como se fosse
maligno e quisesse me destruir. — confessou, desesperada.
Lágrimas preencheram o seu rosto. Os lábios tremiam em uma
agonizante ansiedade.
— Ele é um bebê, Zoe. — declarei, rude.
— Eu sei. Eu sei....
Ela esfregou os dedos no rosto, enxugando-o.
— E entendo que o que eu estou falando pode ser estranho e idiota. Mas
eu juro, Chris. Tem algo de errado com ele. Eu prometo que não estou
mentindo. Eu tenho tido pesadelo a dias desde que o tive. E são sempre
pesadelos demoníacos e estranhos.— as palavras escorriam apressadas de
sua boca. Parecia tanta informação que nem ela mesma conseguia assimilar.
Zoe se aproximou ainda mais, os olhos fincados no meu, em um gesto
imploroso.
— Lembra quando eu estava grávida e sentia calafrios em todo o meu
corpo? E sempre que As se mexia eu me sentia desconfortável? —
recordou, pousando as mãos sobre a barriga — É assim que eu ainda me
sinto, mesmo depois de ter tido ele.
Com certeza Asafe não era como nenhuma outra criança que já nasceu.
Mas ele era o que era, e não se podia mudar a natureza de alguém só porque
estava assustado.
Toquei o seu rosto, gentil. Eu não me importava. Tudo aquilo era
responsabilidade da mesma. Ela causou destruição a si própria no momento
em que se permitiu gerar um fruto meu.
Eu a avisei, no entanto, seus sentimentos cegaram a razão.
— Tome um banho e faça um chá. — aconselhei brevemente.
Ela balançou a cabeça, mais lágrimas surgindo em seus olhos.
— Por favor, Chris. Acredite em mim.
— Eu acredito, Zoe. — respondi, sereno. — Mas o que posso dizer?
Você teve um filho meu. Essas são as consequências.
Atormentada, a loira agarrou em meus braços.
— Mas eu não sinto o mesmo com você. Isso é diferente, Chris. Por
favor...
— É diferente apenas porque eu sei ter controle de mim. — apontei para
a porta do quarto que ela divida com As. — Volte lá para dentro, e faça o
que tem que fazer.
Eu não deveria ter dito essas palavras, não mesmo!

Já era noite. Eu estava de pé, no canto mais escuro do quarto, diante do
berço de As, quando Zoe entrou com um travesseiro abraçado ao seu corpo.
Pressenti imediatamente que existia algo de errado ali. Ela estava suando,
nervosa e decidida. Mas para o quê? Que porra ela pretendia fazer?
Marcelia, sua irmã, ainda estava em uma viagem à trabalho. Só
estávamos em três. Porém, ela não sabia que eu vinha visitar os dois todas
as noites.
Zoe nunca soube de muita coisa. Para ela, eu era apenas um garoto
rebelde e descolado em que ela queria estar montada.
Sempre soube que havia algo de diferente em mim, mas não foi esperta o
bastante para perceber que eu não pertencia àquele mundo.
— As, ainda acordado? — murmurou, trêmula.
Asafe se remexeu no berço, ingenuamente pensando que seria
alimentado.
Ela fez um barulho com a boca e isso o fez rir.
Enquanto o meu bebê estava se divertindo, sentimentos de ódio
atravessavam o corpo de Zoe.
A garota magra e pequena posicionou o travesseiro sobre o corpo de
Asafe. Ela lentamente o baixou até que estivesse o cobrindo, e de supetão, o
pressionou-o com força em seu rosto, sufocando.
Foi num rápido impulso que cheguei a ela. Segurava a sua garganta com
tanta força que temi quebrar. Seus olhos se arregalaram ao me encontrarem
ao seu lado em minha forma demoníaca. Eu sabia que era horrendo, mas
adorava saber o medo que causava a ela.
— Eu te avisei para não tocar no meu filho, Zoe.
Ela não pôde responder, já estava roxa devido a falta de ar.
Aquela foi a última vez em que ela esteve viva. Assim que seus olhos
perderam a vida e o seu corpo amoleceu, eu sabia o que deveria fazer.
Atravessei todas as camadas para chegar ao inferno, e a tranquei no
fundo dele. O lugar perfeitamente reservado para os piores condenados.
Eu a vi queimar. Gritar por socorro. Implorar por perdão. Mas nada
daquilo me fez recuar.
Eu queria que ela ardesse por toda a eternidade. Afinal, ela merecia.
Na manhã seguinte, apareci em sua casa como se nada demais houvesse
acontecido. Peguei As, suas coisas, e o levei para a mansão da minha
família.
Marcelia apareceu dias depois em minha porta, à procura de sua irmã,
mas tudo o que eu pude dizer, era que ela havia desistido da
responsabilidade de ser mãe.
Ela juntou as peças, e de maneira errônea, concluiu que eu havia dito que
Zoe tinha se mandado e deixado Asafe para mim. Ela conhecia sua irmã,
sabia o quão problemática ela podia ser.
Ninguém nunca a procurou. Não houve telefonemas, mensagens, cartas
ou cartazes de desaparecida. No fim da contas, ela não importava mais para
ninguém.
Uma completa estranha.
Queimando para todo o sempre.
Ou era o que eu pensava...

Qual a opinião de vocês? Chris fez certo ou errado?
Insta: autoramariliaandrade
Capítulo 51| Demônios

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



04 de junho
Terça
O dia amanheceu chuvoso. As nuvens escuras e pesadas vestiam todo o
céu de Vespeau. As pancadas de água colidiam ao chão com rispidez e
volumosidade.
A brisa gelada corria pelo meu corpo, causando arrepios, mesmo estando
bem agasalhada por debaixo de uma coberta grossa e quentinha.
Com o rosto no travesseiro, ouvia aos montes, os berros estraçalhados de
minha família, no andar de baixo.
No início, pensei que o fato de eu ter acordado às 6 em ponto da manhã,
mesmo sem aula, devia ter sido apenas um evento rotineiro na vida de uma
estudante, até notar que a razão pelo qual havia despertado tão rápido, fosse
um belo e rasgado palavrão jogado ao vento pelo meu pai.
Ele gritava algo como: NÃO VAI, NÃO, PORRA!
E às vezes, ouvia frases recortadas entoadas pela voz da minha irmã,
dizendo: A escolha é minha!
Independentemente do que estivessem conversando, a única coisa que
"Não iria, não", era o meu sono, que não seria nada aproveitado no único
feriado do mês.
Suspirei mais uma vez. Eu só queria passar o dia inteiro na cama.
Era feriado dos Santos em minha cidade. Eu odiava este dia,
simplesmente por ser barulhento e chato.
Estava frio, poxa! Não fazia sentido as pessoas fazerem desfiles no meio
da rua, com roupas bregas, músicas bregas, e discursos bregas.
Mas era o que faziam.
O dia não tinha nada a ver com santos, tampouco com religião, mas
gostavam de comemorar mesmo assim. O dia dos Santos simbolizava o que
devia ser a chegada do chefe da família Tanaka em Nabrya, já que até o dia
exato era uma icógnita.
De alguma forma, se sentiam gratos por toda aquela bizarrice. A história
da ilha Nabrya nunca foi realmente explicada, existiam lacunas que os
habitantes apenas ignoraram. Os mais curiosos, por outro lado, inventaram,
para que parte de si, se saciassem.
Mentiam tão bem, que acreditavam... eu acho.
De todo modo, a família Tanaka ainda era um enigma. Quem eram?
Onde estavam? De fato existiram? Ninguém sabia de nada, ninguém viu
nada, e ninguém tinha rastros de nada. Era quase como se tivessem o poder
de invisibilidade.
Estavam diante dos nossos olhos o tempo inteiro, mas era impossível os
ver.
O brasão da família se estendia pelo museu da cidade, alguns restaurantes
e praças, no entanto, ninguém tinha muita certeza de quando exatamente
foram parar ali. Apenas tornou-se um símbolo para nos lembrarmos de
nossa história.
Uma história incompleta e assustadora.
Mais tarde, quando desci as escadas, mamãe sondava as compras na
cozinha. Cheguei de mansinho, e quando me notou de pé diante dela, seu
corpo estremeceu de susto.
— Droga! — cuspiu, rígida, algo que com certeza não era do seu
habitual — Dy, preciso que vá ao supermercado com a sua irmã.
Precisamos de vinho, cheddar e carne para hambúrguer.
Esfreguei os olhos, meio sonolenta.
— Por que não pede comida pelo aplicativo?
— Porque eu preciso cozinhar com as minhas mãos — ela rangeu os
dentes, juntando o polegar e o indicador, gesticulando-os.
Uni as sobrancelhas, notando a sua ansiedade.
— Está tudo bem? — questionei, preocupada.
Ela inspirou fundo e repousou as suas mãos nas cintura, incrédula. Se ela
fosse um rojão, teria explodido agora mesmo.
— Acabei de perder o emprego dos meus sonhos. Então não, não está
nada bem. — desabafou, num grito impulsivo que ela parecia ter tentado
conter.
Senti meus olhos se arregalarem.
— Droga... — murmurei mais retida.
— É! Droga! — sua voz estourou pelo ambiente.
Mordi o canto dos lábios, escondendo as mãos atrás das costas. Eu é
quem não daria minha opinião e corrrer o risco de perder o pescoço.
— Não quer vir junto ao supermercado? — sugeri, coçando o pescoço,
sem jeito. Nunca a tinha visto tão irritada assim.
Ela balançou a cabeça.
— Eu preciso ficar bêbada e de um bom banho. — confessou, infeliz.
Assenti.
— Está bem!
Ela olhou em volta, e então suspirou, deixando os ombros caírem em
desânimo. Seus olhos estavam avermelhados, parecia ter chorado hoje mais
cedo. Seus lábios se franziam toda vez que ela balançava a cabeça, de
maneira que ainda não parecia acreditar que aquilo estava mesmo
acontecendo com ela.
— Leve Loren com você. — pediu, de repente.
— Eu acho que ela está ocupada, mãe. — debati, pensativa.
Ever não fazia ideia do que havia acontecido entre mim e Loren, de todo
modo, nossos pais nunca percebiam nada que acontecia dentro de casa.
Eram presentes-ausentes em nossas vidas. Tínhamos estabilidade
financeira, uma vida cheia de luxos, mas vazia de sentimentos.
— Ela sabe quais são os vinhos bons. Então, por favor, leve ela.
A contragosto, concordei.
Não estavámos em um bom momento como irmãs, e embora não nos
odiássemos, era estranho sairmos juntas.
Eu mal me lembrava quando tinha sido a última vez que nos falamos
como duas pessoas normais. Era sempre algo como: "E aí" ou "Beleza?".
Nada mais.
Ela me descartou completamente.
— Loren — gritei, da ponta da escada.
Não demorou muito para que ela surgisse, olhando-me séria, com um
cigarro entre os lábios
— Supermercado ou mamãe vai deserdar você.
— Supermercado — decidiu, revirando os olhos.
— Eu não falei que tinha escolha.
Ela franziu o cenho.
— Mamãe perdeu o emprego — expliquei.
— Puta merda!
É. Puta merda!
Esse emprego estava em número 1 na lista das melhores coisas que já
aconteceram na vida de nossa mãe, ultrapassando até mesmo a minha
existência ou a da Loren.
Isso significa que, perdê-lo, devia estar sendo o pior dia da sua vida
inteirinha.

— Por que será que ela perdeu o emprego? — perguntei a Loren, que
empurrava o carrinho de compras irritada.
— Não sei. Talvez o chefe dela a tenha trocado por uma bunda mais
nova. — respondeu desinteressada.
— Não, ele não faria isso — intervi — Talvez contratasse uma bunda
mais nova para se tornar a faxineira, mas não para substituir a mamãe.
Loren balançou os ombros.
— Talvez ela só não chupa pau tão bem assim.
Fiz cara feia.
— Dá um desconto. Ela lutou muito por aquele emprego. Nem tudo se
trata sobre sexo — argumentei.
— Até parece. — ela revirou os olhos.
— Vem cá, foi porque nasceu de sete meses que se tornou ranzinza assim
ou você só bateu a cabeça quando criança? — provoquei, enraivecida.
Ela não me respondeu, tão menos demorou-se nisso. Logo voltou ao
estado habitual do qual eu já havia me acostumado, o seu completo e
tortuoso silêncio.
Eu não sabia se ela fazia aquilo para me punir ou a si mesma. Era fato
que ainda existiam problemas não resolvidos entre nós duas, entretanto, a
situação por inteiro me angustiava.
— Prefiro quando está brigando comigo do que calada assim. —
sussurrei, propositalmente baixo, porém torcendo para que me ouvisse.
Não parei de andar, apenas apressei os passos para que não a
acompanhasse lado a lado, no entanto, a sua voz me surpreendeu,
obrigando-me a parar no lugar.
— Senti falta de falar com você. — murmurou, tristonha.
Olhei para trás.
Seus lábios sorriam desanimados, e seus olhos possuíam um vazio
imenso que nos distanciava a milhas de quilômetros. Esvaziei os pulmões e
cruzei os braços.
Era uma situação complicada para nós duas.
— Não parece. — Balancei levemente a cabeça. — Tem andado tão
distante. — admiti, sincera.
Seu sorriso triste morreu.
— Eu sei.
Voltamos a andar.
— Já conversou com a Claire? — indaguei, receosa.
— Não.
— Loren — a repreendi — Caramba ela é sua melhor amiga.
— Podemos voltar a ficar caladas?
— Loren — parei de andar — O que aconteceu? Por que ficou logo com
o Joshua? — tombei a cabeça para o lado — Sabe, você é cheia de caras ao
seu redor. Por que justamente o namorado da sua melhor amiga?
Ela balançou os ombros.
— E por que não ele? Ele estava lá nos meus piores momentos desde
sempre. Ele foi gentil e doce. Ele estava sofrendo, eu também. As peças só
encaixaram — respondeu, apática.
— Está mentindo. — apontei — Está mentindo e sabe disso.
Ela baixou o olhar.
— Eu não sou você, Dytto. Não sou boazinha como quer que eu seja. Eu
sou assim. Um monstro nojento e egoísta.
— Não, não é. Mas mesmo que eu insista, você nunca me dirá a verdade.
— deixei escapar o ar dos pulmões — Então para quê insistir, não é?
— Existem coisas que você não deveria saber.
— E por quê? — soltei um riso amarga. — A essa altura eu já lidei com
coisas demais.
— Porque te quebraria por inteira. E eu estou te poupando de muito a
bastante tempo.
Em uma súbita urgência, me aproximei ainda mais dela.
— Uma hora vai ter que me contar.
Loren repuxou o canto dos lábios para baixo.
— Deixa que eu cuido da minha dor sozinha. Não preciso ter você
chorando nos meus braços a noite inteira, ok?
— Eu choro porque eu te amo, Loren. Não porquê preciso que me
acolha.
— Aguentei a dor todos esses anos, posso aguentar mais alguns dias
nesse inferno.
Cruzei os braços e me apertei entre eles.
Queria poder dizer a ela todos os bons momentos em que passamos
juntas. Todos os dias em que apenas o apoio dela foi o suficiente para que
eu permanecesse firme, mas, ao invés disso, os guardei em segredo, porque
precisava que apenas a amar bastasse, mesmo que ela parecesse tão fria
agora. Estávamos sempre juntas, todavia, distantes. E eu sabia que, em
partes, a culpa era toda minha, porque eu sempre permitia que os outros se
afastassem por medo de os perder.
— Espero que um dia confie tanto em mim que não hesite em me contar
a verdade.
— Não se trata de confiança, Dy.
Loren retomou o trabalho de empurrar aquele maldito carrinho
barulhento.
Três corredores depois, seu celular repentinamente tocou, tomando toda a
sua atenção. E pela cara que ela fazia, parecia ser de extrema importância.
Quando finalizou a sua chamada, seu rosto despencou em preocupação.
— Tenho que ir. — sussurrou. — Pode terminar as compras sem mim?
— Claro. Aconteceu alguma coisa?
— Papai. — explicou — Ele está em todos os cantos, tentando furar os
meus planos.
Bom, isso deveria ser uma pista da gritaria toda pela manhã. Papai era
um homem sério, carrancudo e autoritário. Para ele, as filhas deveriam
seguir o caminho que ele decidisse, pois só assim estariam certas. No
entanto, Loren era uma rebelde. E se curvar, certamente não estava nos seus
planos.
— No que ele está se metendo desta vez? — investiguei, crispando as
sobrancelhas.
— Estou escolhendo uma faculdade, nos Estados Unidos, para ser mais
exata. E papai odiou a ideia.
Me engasguei ao mesmo tempo em que meus olhos saltaram em
surpresa.
Tudo bem que eu disse a ela que sempre a apoiaria em todos os seus
planos, mas eu quase podia sentir uma faca sendo cravada em minhas
costas com essa recém notícia.
Ela não havia me contado sobre isso. Sequer fez comentários sobre, e
agora, soltou como se não fosse nada.
Eu até poderia fingir que não fiquei magoada, mas no fundo, ela era a
minha melhor amiga e a minha irmã. Doía saber que ela tinha planos para
tão longe de mim.
Forcei um sorriso.
— Oba! Que bom está tomando as rédeas da sua vida. — fingi
comemorar. As lágrimas embargaram a minha voz, entretanto, ela não
pareceu notar, estava irritada demais.
— É, pois é. Mas talvez isso nem mesmo chegue a acontecer. Nosso
querido pai é um filho da...
— Loren — supliquei. — Eu sei que vocês dois brigam muito, mas por
favor, não... — balancei a cabeça.
— Nada de xingar o coroa na sua frente, entendido. — ela levou os dois
dedos à testa, como um soldado — Pode deixar, gata. Eu vou fazer o meu
melhor para não dizer as palavras mais chulas, baixas e horrendas do meu
vocabulário.
Sorri.
— Obrigada.— cochichei, agradecida.
Apesar de tudo, eu não conseguia apelidar nossos pais de nomes ruins.
Me sentia péssima.
Ela deu um pulinho para trás e girou os calcanhares.
— Vou indo, porque pelo visto, papai está conversando agora mesmo
com o reitor da faculdade dos meus sonhos, prestes a me tirar da lista de
espera.
— Lista de espera? — eu disse, exasperada. — Peraí, já se candidatou?
Ainda estamos em junho!
— Nos encontramos depois, e aí falamos sobre isso. — sua voz já me era
distante. Ela estava há uns dez passos na frente, quase correndo.
Esfreguei o rosto em minhas mãos, em um misto de irritação e angústia.
— Claro. Vai lá correr atrás da sua faculdadezinha dos sonhos. —
sussurrei sozinha. — Aposto que vai ser bem mais feliz sem mim e logo
logo vai encontrar uma irmã melhor que eu. — resmunguei, enquanto
jogava doces no carrinho, distraída. Iria me entupir deles assim que
chegasse em casa. Mamãe não seria a única a se afogar em lamentações.
Eu não queria Loren longe de mim. Queria perto. Bem perto.
Ela não era gentil, e nem a pessoa mais correta do mundo, mas era uma
das pessoas mais importantes na minha vida. Eu precisava dela, porque sem
ela, eu era só a Dytto. E eu precisava da Loren.
— Expectativas não correspondidas são mesmo uma droga. — a
longínqua voz já permeada em meu cérebro outrora, comentou atrás de
mim.
Seu timbre impecavelmente atrativo fez com que meu corpo
estremecesse em um frio insuportável. Meus pelos eriçaram-se em ondas de
choques causadas pelo medo.
Engoli em seco, sentindo os lábios secos.
Bem devagarinho, quase parando no lugar, virei-me em sua direção.
Seu corpo alto estava tão perto que poderia ser muito fácil tocá-lo apenas
por uma sutil aproximação.
Meus olhos se ergueram para os seus, escalando seu sublime porte com a
mais fina cautela. Encontrei suas íris negras como a escuridão da noite, e
sombrias como contos de terror, encarando-me ardúo.
Não ouvi quando os seus passos se aproximaram, ou de quando a sua
presença se tornou tão vívida, mas era capaz de presenciar de maneira
abrupta o calor de sua companhia, ainda que indesejada.
— P-posso ajudar?
Se eu podia, eu não sei. Mas eu só queria chorar ou sair correndo. Ou sair
correndo enquanto chorava.
Havia uma energia estranha, emanada por cada poro seu. Aquele homem,
era demoníaco, diabólico, satânico, e tudo de infernal que me viesse à
mente naquele instante.
— Dytto, não? — chutou, por educação, imagino. Ele já parecia me
conhecer mais do que apenas uma breve aparição revelaria.
— É. — consegui entoar, mas fui preenchida pela sensação de ter
rasgado a garganta em virtude do esforço que fazia para que algo fugisse à
garganta.
Seus dedos longos e maltratados, com variadas cicatrizes evidentes,
tocaram o meu queixo com delicadeza, porém, fui levada a sentimentos
absurdos de tristeza.
Todo e qualquer ato daquele homem causava-me angústia, como se
projetado para causar o mal. Eu não estava gostando daquilo.
— Não me disse o seu nome ainda. — funguei, involuntariamente
chorosa.
Eu nem sabia a razão de querer chorar, porém, ele me fazia sentir aquilo.
Ele controlava aquilo, não eu.
— Nabrya. — respondeu, sucinto.
— Foi batizado como a ilha. — notei, entre um soluço e outro.
Uma lágrima se desfez em meu rosto, e ele prontamente a aparou,
arrastando em minha bochecha até que sumisse.
— Não, Dytto. — ele era perverso em suas palavras, havia uma
obscuridade no tom de sua voz que o fazia sempre parecer um vilão de
desenho animado. — A ilha é quem foi batizada em meu nome. — ele
sorriu.
Tentei me afastar, no entanto, minhas pernas não se moviam.
E então, me vi presa em um daqueles pesadelos estranhos de terror em
que eu não conseguia me mexer.
Tudo em mim gritava para fugir, mas eu não me lembrava como se fazia
isto, embora meu cérebro soubesse bem como me alertar do perigo.
— Você é linda. — observou, atento. Seus olhos desceram e subiram
sobre o meu rosto. — Me lembra uma moça que conheci há centenas de
anos atrás. Valente e ousada. — ele sorriu — As semelhanças vão além da
aparência.
— Eu não te conheço bem, mas acho que não é uma boa ideia ficar aqui.
— sussurrei.
Meu coração batia feito louco no peito.
Nabrya aproximou-se devagar do meu rosto. Ele era encantador mesmo
quando parecia prestes a me golpear. Seus olhos eram ágeis, de um jeito que
demonstravam perigo. Sua elegância trazia-me desconforto, tamanho era a
sofisticação de seus toques e gestos.
Ele era como uma espada: bela, afiada, e perigosa. Trazia poder, mas
também causava mortes.
Eram tantas conclusões que eu poderia tirar de Nabrya, que não
conseguia pensar direito.
Quando seu rosto já estava próximo a ponto de eu sentir sua respiração
quente em minha pele, seus movimentos cessaram.
— O lugar de garotas como você, não é debaixo de um demônio, Dytto.
— murmurou, em um tom enigmático. — Ele vai ruir, não fique para
assistir. Você não deveria desvanecer em vão, por um homem que roubou a
sua alma de você. — seu olhar vagueou pelo meu, de um jeito hipnótico.
Seu corpo ergueu-se novamente, tomando espaço entre nós dois. Soltei o
ar que nem mesmo notei que prendia.
— Te achei, Dytto! — uma outra voz masculina nos interrompeu, firme e
segura.
Levei meus olhos em busca do dono e o encontrei me encarando, com
um doce sorriso bordando os lábios amigáveis e gentis.
— Benjamin. — notei, surpresa.
Ele passeou os olhos de mim para Nabrya, em seguida, refez o caminho
de volta.
— Desculpa interromper, mas estamos com pressa, lembra? —
pressionou sutilmente.
Ben não estava comigo, mas parecia que estava no supermercado há...
bom, talvez tenha chegado antes de mim e Loren. De todo modo, segurava
apenas um saco de açúcar na mão, e um olhar terno no rosto, buscando me
ajudar, mesmo que eu não aparentasse ser uma donzela em perigo, ao
menos, aos olhos de quem não conhecia Nabrya.
Exceto, se Ben já o conhecesse...
— Ah, claro. Claro! Desculpa te fazer esperar. — pigarreei, nervosa.
Virei-me para Nabrya e sorri desconcertada. Ele encarava Benjamin com
um sorrisinho irônico de como quem sabia que aquilo não passava de uma
farsa mal contada, porém, me mantive firme naquela atuação exagerada.
— Eu tenho que ir, mas foi ótimo te ver. — foram as palavras mais
ridículas ditas a alguém que claramente não era pró-vida-da-Dytto.
Firmei as mãos no carrinho e apertei os pés no chão.
— Vamos, Ben! — chamei-o com um falso entusiasmo.
A situação era tão desconcertante quanto vergonhosa. Mas eu gostaria de
não pensar naquilo no momento.
Se eu pudesse, apenas teria abandonado o carrinho e corrido para a minha
casa. Ligaria para Christopher aos prantos e pediria socorro, porém, eu
ainda tinha que sobreviver antes de fazer qualquer coisa. Logo, apenas
segui Benjamin para longe dali.

Postei pra vocês matarem a saudades, enquanto a maratona não fica
pronta.
Capítulo 52| Ambiciosa

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



Benjamin sentou-se ao meu lado, no banco do passageiro do meu carro.
Em um gesto descontraído, arrumou a gola do seu enorme casaco preto,
como se estivéssemos apenas saindo à passeio.
Concordei em lhe dar uma carona, mas não trocamos muitas palavras
desde que passamos as compras no caixa.
Com medo, eu olhava para todos os lados e checava o retrovisor de um
em um minuto. A sensação de estar sendo seguida engolia os meus
sentidos, tornando rarefeiro o ato de respirar.
Por outro lado, Ben sustentava uma expressão plácida e imperturbável.
Gostaria de acreditar que ele estava fingindo, porém, ninguém agia assim
em momentos desesperadores como o presenciado há uns 15 minutos atrás.
Minha agonia era depositada na estrada à nossa frente. Me esforçava para
que o foco no trânsito desfizesse o meu medo, mas a curiosidade me
venceu.
— Quem era aquele homem? — soltei, para a sua surpresa.
Suas sobrancelhas grossas se engelharam, como se estivesse prestes a
mentir, mas de um segundo para o outro, ele pareceu ter desistido da ideia,
como se entendesse que o mais prudente agora, seria ser sincero.
Ben era o mais próximo que eu conseguiria chegar da verdade. E, por
mais que eu amasse Christopher, havia uma nebulosa curiosidade dentro de
mim que me tirava do ar.
Mesmo que no fundo sentisse como se traísse a sua confiança, uma outra
parte de mim implorava para saber. Ela, por muito tempo, manteve-se
reprimida em razão dos meus sentimentos, mas agora, precisava ser
libertada.
Christopher me avisou que se eu cavasse buracos, encontraria ossos. No
entanto, sentia-me como se, em breve, eu é quem faria parte daqueles ossos.
Eu sabia que era necessário compreendê-lo para entender que ele não era
como alguém qualquer e, que por isso, mantinha segredos de mim, mas não
existia as mínimas razões meramente relevantes que me fizessem se sentir
assim. Ainda mais quando outras criaturas iguais a ele começavam a entrar
na minha vida desta maneira.
Passei a manhã toda o ignorando, porque no fundo sentia receio em
responder as suas notificações. Estávamos, de alguma forma, em meio a um
tornado, embora fingíssemos que não enquanto nos distraíamos com sexo.
Evitei pelo menos seis mensagens de textos, porque eu não sabia como
me sentir. Gostava de sua companhia quando estava tudo bem, mas quando
o tempo se fechava, Christopher sumia e tornava-se o seu próprio inferno.
E, bem, na atual situação, pode ser que exista um ou outro motivo para ele
surtar.
Ele era um demônio, mas eu ainda era uma humana, e sentia coisas
confusas, tinha medo e existia a raiva. Como se não pudesse piorar, sentia
tudo ao mesmo tempo, e isso acabava comigo.
Por muito tempo, permiti que ele me escondesse coisas. Nosso
relacionamento começou errado, permaneceu errado, mas não deveria ser
assim.
Eu devia saber para quem estava olhando quando encontrava aquelas
esmeraldas sobre mim.
Não, eu não me contentaria com partes da história. Eu estava ambiciosa,
e queria mais.
— Não sei se é algo que está ao meu alcance, Dytto. Não tenho
permissão nem mesmo para estar aqui com você. — ele balançou a cabeça,
incrédulo — Chris odeia quando estou próximo da garota dele.
Balancei os ombros.
— Então por que está aqui?
Ele sorriu de um jeito cínico.
— Porque ninguém manda em mim — implicou, atrevido. Eu quase
sorri, se não fosse pelo fato de os músculos do meu rosto estarem tão
tensos.
Quase podia sentir a respiração quente de Nabrya, bem perto do meu
pescoço, fungando no meu ouvido. De modo que mais parecia uma ordem.
Os resquícios dos sentimentos ruins causados por ele deixara-me, de
certo modo, emotiva. Um peso estranho no peito, causando-me angústias.
— Eu preciso que seja mais específico, Ben. Preciso que me conte tudo o
que sabe, porque eu sei que você conhece bem mais do que parece. —
gradualmente baixei o tom de voz, aquilo era perigoso e definitivamente um
segredo — Você não é uma pessoa comum, você está enfiado nisso, de um
jeito ou de outro. Eu só não sei como.
Ele entortou o canto dos lábios, meio sorrindo.
— Vai ficar me devendo uma.
— E o que quer em troca?
Ele riu e se ajeitou no banco.
— Não é assim que uma negociação funciona, Dytto. Eu estou te fazendo
um favor, e, no futuro, quando eu precisar, você me devolve. Simples assim.
— Simples assim? — desconfiei.
Ele revirou os olhos.
— Acordo feito, ou não?
— Se prometer que vai contar tudo. — propus.
— Eu prometo. — ergueu a palma da mão.
Aquilo não me fez ficar aliviada ou dar gritinhos de alegria, porque sabia
que o que viria a seguir, não poderia ser nem um pouco bom. Afinal, era de
Christopher que estávamos falando.
— Acordo feito. — concordei.
De soslaio, notei que ele assentiu.
— Para você meramente entender quem era aquele homem, vai ter que
escutar uma historinha primeiro. Ah, e não, não é nada inventado por mim,
eu juro. — declarou, sincero.
— Tudo bem.
— Existe um livro chamado Pergaminho de Christto. Deve ter pelo
menos uns 500 anos, mais ou menos. No livro, contém histórias antigas de
demônios que vieram para este mundo extenso que vivemos antes mesmo
do primeiro anoitecer na terra.
Meus dedos apertaram o volante com mais força. Meu coração acelerou
fortemente. Ainda não havia nada de especial, porém, meus sentimentos
estavam à flor da pele.
— Nesse livro, conta a história de um inferno, não o que conhecemos,
mas um inferno nunca visto antes. Comandado por um demônio chamado
Christopher.
Por instinto, franzi o cenho e ele sorriu.
Lembrei-me do que Chris havia me contado sobre o outro inferno,
Nefarious. Mas ainda não entendia muito bem como isso chegaria ao
homem na sala do meu namorado, ou agora, nas minhas costas no
supermercado. Parecia um caçador cada vez mais próximo da caça.
— Não se preocupe, não é o seu Christopher. — informou.
Não dei-me o trabalho de responder. Obviamente não poderia ser o meu
Christopher a comandar o inferno Nefarious. Não tinha como. Impossível.
— Bom, neste inferno, existem pelo menos 5 pilares da criação. O rei de
todos eles era Christopher, ele comandava o maior exército de demônios já
existente. Dizem que neste inferno, existem mais demônios do que no
inferno bíblico. É uma nação inteira deles. O inferno bíblico é fichinha
perto daquilo.
— E como exatamente funciona? As pessoas também serão mandadas
para lá depois do julgamento de suas mortes?
Ele negou num balançar de cabeça.
— Haviam apenas demônios naquele inferno, mas, há pessoas que foram
mandadas para lá, porque fizeram um pacto com os demônios de lá, ou... de
alguma forma foram parar no caminho deles aqui na terra. Desde então, as
almas pertencem aos donos dos pilares.
Benjamin apanhou um bloco de notas esquecido no painel do carro. Com
uma caneta, começou a pincelar a folha amarela, desenhando algo como um
grande pilar dividido em cinco partes. Bem como uma montanha.
Não conseguia enxergar bem, estava concentrada na estrada. E ainda que
estivesse longe do centro da cidade, as ruas estavam cheias e
movimentadas. Por sorte, o céu se abriu um pouco mais, e um escasso raio
de luz atravessara as nuvens carregadas e escuras.
— Christopher, comanda todo o altar de demônios — deu início a sua
explicação — Otos, comanda o segundo pilar, Nabrya comanda o terceiro,
Anya e Dlaver, os gêmeos, comandam os outros dois últimos. Esses dois
últimos são nojentos.
— Nabrya? — pontuei, instigada.
— É. Como o nome de nossa ilha.
Meu sangue congelou nas veias.
— Então quer dizer que nossa ilha é uma homenagem a um demônio que
estava atrás de mim alguns minutos atrás? — berrei, incrédula.
Ben ergueu uma sobrancelha, alheio. Provável que aquilo já não o
afetasse nem um pouco, e isso me deixava bem mais assustada.
— Basicamente.
— Ah, meu Deus! — clamei, sôfrega.
— Chris não te contou?
Bufei, furiosa.
— Christopher acha que pode me enfiar nisso e me contar apenas o
superficial. Ele acha que eu vou quebrar ou alguma merda assim. —
esbravejei, ao passo que dava pequenos socos contínuos no volante.
— Para com isso, Dy. — ele pôs sua mão sobre a minha, acariciando-a de
leve — É isso que Nabrya quer, ele adora provocar, sacanear e manipular a
mente das pessoas. Vai te fazer sentir ódio, mágoa e tristeza. Vai entrar na
sua mente e te perturbar. Foco, Dytto.
Preenchi os pulmões ao máximo.
— Me diz como evitar, Ben. — pedi, exasperada.
Voltei meu olhar para ele por um segundo, o nó preso à garganta me fazia
sufocar.
— Precisa ser forte, Dy. Não tem como parar Nabrya. Ele só para quando
o estrago já está feito e ele conseguir levar tudo o que pode.
Pus meu olhar sobre a estrada. Queria gritar com Benjamin por ele estar
tão calmo, dizendo coisas tão idiotas.
— Só... continua! — resmunguei. — Continua a merda dessa história.
Benjamin se ajeitou no banco e esfregou suas mãos sobre os jeans.
— Quando Ken, o primeiro homem da família Tanaka, pisou em Nabrya,
antes mesmo dela ser colonizada, já haviam rumores sobre esse segundo
inferno se espalhando por todo o continente asiático. Isso motivou a elite do
Japão, eram ambiciosos e gananciosos, queriam tudo. Assim, quando o
casal Ken e Ayumi Tanaka chegaram aqui, decidiram que fariam um pacto
com Nabrya para que tivessem poder suficiente para comandarem tudo e
serem ricos a ponto de nadarem em ouro. E, em troca, lhes dariam uma
cidade inteira de almas para aquele inferno.
Engoli em seco. Minhas bochechas estavam ardendo.
— Então, como pode ver, nossa história começou, nasceram mais
pessoas, vieram estrangeiros de outros continentes, a maioria sul
americanos. Morreram centenas de pessoas misteriosamente. Aconteceram
eventos inexplicáveis, surgiram boatos, lendas, teorias. Mas ninguém nunca
entendeu exatamente o que acontecia em Nabrya, na verdade, ainda não
percebem.
Ele balançou a cabeça, desapontado.
— Bom, desde então, algumas pessoas passaram a ser devotas ao
demônio Nabrya. Já a família Tanaka, comandou por séculos a nossa ilha,
até que nasceu o tataravô do seu Christopher. Ele viu o que estava na
família dele há anos, e decidiu acabar com aquilo.
Ele mordeu o canto dos lábios, como se a continuação disto o
decepcionasse, não notando que acabara de revelar o maior dos maiores
segredos de todos para mim.
Eu estava em choque enquanto o ouvia prosseguir:
— Mas, é claro que a obsessão por poder continuou, só precisou pular
duas ou três gerações, e então, nasceu a mãe de Christopher, e ela retomou
os negócios, fazendo um acordo com o demônio Christopher. Ela queria um
filho dele, e em troca, daria o que ele quisesse.
— Eu acho que eu vou desmaiar. — sussurrei, sentindo-me pálida. Meus
lábios formigavam e o meu rosto e mãos estavam frios.
Benjamin me encarou, alerta.
— Qual parte te deixou branca assim? — preocupou-se.
— Chris faz parte da família Tanaka? — repeti, desorientada.
— Oh! — ele ergueu as sobrancelhas, exclamativo. — É... bem, sim.
— Tanaka. Então a família dele toda é da família Tanaka. — eu soava
como uma asmática em crise. — Todo esse tempo, e eu nunca parei para
pensar. Como eu sou burra!
— Também não é para tanto, Dytto. Não é como se você investigasse a
família dele.
— Benjamin, olhe em volta. — apontei para os carros de famílias
estacionados no meio fio, enquanto cidadãos caminhavam alheios, com o
brasão da família Tanaka; duas coroas entrelaçadas sobre um escudo
dourado, estampadas em pequenas bandeiras. — Estão fazendo uma
comemoração para a família do meu namorado. Eu devia ter percebido.
— Tudo bem. Processe isso com calma.
— Por que a cada minuto que se passa eu sinto cada vez mais que
Christopher quer me manter dentro de uma caixinha?
— Porque em uma caixinha, ele te mantém longe do que te faria o odiar.
Semicerrei os olhos.
— E o que seria?
— A verdade, Dytto. A verdade sobre o passado da família dele, de onde
ele veio e o que ele é.
Mordi o canto dos lábios.
— Me conta, Ben.
— Eu bem que gostaria de ter uma resposta para tudo o que ele é, Dytto,
mas isso é muito mais do que apenas uma simples resposta. Christopher não
foi só gerado para satisfazer a sede de poder da mãe dele. Chris tem algum
tipo de propósito neste mundo, muito maior do que apenas ser o seu
namorado ou um garoto arrogante.
— Por que a mãe do Christopher ia querer que o filho fosse um
demônio? Se ela queria poder, poderia ter pedido outra coisa, não é? —
ruminei.
— Tudo para os Tanaka se resume em título, mas o pai de Christopher
jamais concederia um bebê como ele por razões egoístas e humanas.
Entende agora como tudo isso parece um plano sádico do seu sogro? É um
jogo.
A palavra sogro me fez sentir espasmos, no entanto, apenas suspirei. Esta
conversa me deixava cada vez mais agoniada.
— Me conta mais sobre a mãe do Christopher.
— Eu só sei que ela se chamava Naomi e que era excepcionalmente
linda.
— E o que aconteceu a ela? Digo, depois de ter transad... depois de ter o
filho dela, o... Christopher. — pigarreei, desconcertada.
— Bom, até os nove anos do Christopher ela ainda era presente na
sociedade, mas um dia, simplesmente desapareceu do mapa. Assim... — ele
estalou os dedos.
— E o que o Christopher-pai pediu da Naomi? Quer dizer, ele deve ter
pedido algo em troca para que ela tivesse um filho dele, não?
— Talvez tenha pedido para que ela se mudasse para o inferno com ele,
eu sei lá.
— Acha que o Christopher-pai amava a Naomi?
— Christopher-filho e Christopher-pai não são as mesmas pessoas, Dy.
— ele sorriu. — Não se preocupe com isso, o seu Chris tem sentimentos
genuínos por você, mas não pense que isso é boa notícia, ele continua sendo
filho de um maluco.
Balancei a cabeça, negando.
— Mas eu nunca invoquei o Christopher-filho, ele veio até mim, e me
obrigou a ficar.
Benjamin sorriu.
— O Christopher-filho é um pouco mais radical do que o pai. — brincou,
mas não consegui sorrir.
— E o que mais? — insisti. — O que mais sabe sobre ele?
— Bom, Christopher sempre foi muito reservado, mas gostava de
aparecer na floresta algumas vezes. Ele teve um caso com uma amiga
minha, ela era muito apaixonada por ele.
— Que amiga? — eu quis saber.
— Zoe. Eu não sei bem o que aconteceu, mas nunca mais a vi.
Esse nome me fazia sentir frios na barriga.
Zoe, a mãe de Asafe. Christopher havia me contado que tinha a trancado
no inferno, porém não me deu detalhes de quase nada.
— P-por que? Ela foi embora?
— Ela estava grávida do Christopher. Suponho que tenha fugido, ou ele
tenha encontrado um jeito de mandar ela embora. Eu não sei, Dytto. Mas eu
tenho uma sensação ruim quanto a tudo isso. Acho que ela não teve o bebê
e isso aborreceu o Chris, ou então teve o bebê e fugiu.
Apertei a ponta da língua entre os dentes.
— Também tenho coisas que gostaria de descobrir. Zoe contava apenas
comigo, e um dia, simplesmente passou a andar estranha, distante e
assustada. Isso durou um tempo, até que eu não a vi mais. — lembrou,
nostálgico. — Isso acontece muito com quem anda com os Tanaka, eles
tendem a sumir. — lamentou.
Benjamin, apesar de possuir um belo e gentil rosto, sabia que a vida não
era flores. Ele sabia que as pessoas não simplesmente sumiam, podia ver
isso em seu olhar pesaroso.
— E Nabrya? — desviei o foco.
— Nabrya deve ter vindo com algum tipo de missão. Talvez tenha vindo
em ocorrência de algum chamado. Às vezes um grupo de pessoas invocam
demônios poderosos. — ele virou-se para mim — Como o conheceu?
— Na casa do Christopher. Eu o encontrei, na sala dele. — umedeci os
lábios.
— Tudo bem, pode encostar aqui. — pediu, apontando para uma pequena
lanchonete. — Eu tenho que trabalhar, nos falamos depois?
Assenti, curvando um sorriso triste.
— Obrigada por ter me contado.
Ele sorriu de volta.
— Não me agradeça, Christopher vai querer a minha cabeça.
— Não se ele não descobrir. — protestei.
Ele soltou uma risada baixa.
— Ainda não conhece tão bem o seu namorado, não é? — ele abriu a
porta e saltou para fora, voltou-se para mim uma última vez e acenou. —
Tenha cuidado, Dy. Está entrando em um lugar perigoso.
— Não se preocupe, vou dar um jeito.
Benjamin não parecia convicto, no entanto, assentiu amigavelmente antes
de se afastar. Não fazia mal ter esperanças.
Mais que imediatamente, a tela do meu celular ganhou vida no porta-
copos, era uma notificação de mensagem.
Ele não facilitava, tampouco me dava alternativas entre responder ou me
dar um tempo.
Que mentira! Mentira! Mentira!
Isso estava me enchendo.

Quase o respondi: "Obrigada, amor. Me sinto tão segura sendo ameaçada


assim."
Atirei o celular no banco de trás e dei partida.

Desculpem, não consegui aguentar, postei mais um pq sou mais ansiosa
que vocês kk
Capítulo 53| Olhe para mim

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



O percurso de volta para casa foi demasiadamente longo. Fiz questão de
ir devagar para ganhar tempo e conseguir digerir tudo aquilo que Benjamin
havia me contado.
As suas palavras pareciam ter repulsa de se juntarem para, enfim,
ganharem sentido em minha cabeça.
Eu estava vivendo um pesadelo de olhos bem abertos.
Na hipótese de Ben estar certo, o que garante que Christopher não fará
comigo o mesmo que fez com as outras pessoas que sumiram durante o
decorrer de sua vida? Não dá para confiar que serei sua exceção se nem ao
menos o conheço direito. E se não for ele a razão de alguma coisa ruim
acontecer, talvez será Nabrya, senão outro ou outro.
Meu corpo inteiro tremia. Um calafrio percorria minha coluna e seguia
para todo o resto. Que sensação desgraçada!
Estacionei o carro na garagem de casa. No caminho para a porta andei
meio lerda, esfregando meus pés no chão, sentindo todo o meu corpo
pesado e tenso. Já dentro dela, com as sacolas de compras em volta dos
meus braços, encontrei o que já temia.
Mamãe estava chorando em razão do luto pelo seu emprego, deitada no
colo de papai, que demonstrava o cansaço em cada nova ruga que ameaçava
surgir em sua pele esteticamente mudada. O seu pulso havia finalmente se
curado após a torção e agora ele já estava bem melhor.
Loren estava na mesa de jantar, sozinha e relaxada. Batucando os dedos
sem rumo pela tela de seu celular. Assim que notou a minha presença, seu
olhar se ergueu para o meu, surpresa.
— Está tudo bem? Você demorou — notou, atenta.
— Eu estou bem, só quis dar uma olhada na passeata da cidade. —
informei-a, colocando as compras sobre a mesa.
Ela repuxou o canto dos lábios, mas logo o devolveu ao lugar, de modo
que mais parecia um piscar de olhos. Uma expressão penosa abrangeu sua
face, como se estivesse prestes a contar-me uma péssima notícia. De modo
que não aguentasse mais suportar dentro de si, suspirou.
— Eu recebi notícias do Marcos. — ela avisou, triste.
Tinha um bom tempo que não o visitávamos. Na última vez, ele parecia
irritado em termos ido, então não fomos mais, no entanto, parecia melhor da
fratura em seu pescoço.
Sabia que Christopher nunca iria pedir perdão por tê-lo empurrado das
escadas em sua crise de ciúmes, porém, aquilo não mais parecia ter sentido,
até agora.
— Marcos foi internado hoje de manhã. Aparentemente, está tendo
alucinações, indícios de desidratação e uma micose estranha nos pés.
Enruguei a testa.
— Falou com ele? — investiguei, aflita.
— Nãmm — ela deu de ombros — Ele está louco da cabeça.
— Sabe a razão de tudo isso?
— Não. Mas disseram que apareceu do nada e que foi piorando cada vez
mais.
Fechei os olhos por um momento, atingida por uma forte vertigem. Eu
ainda me esforçava para mentir para mim mesma. Me dava ao trabalho de
criar razões para os comportamentos de Christopher, porém, existiam
limites para as suas crueldades.
Marcos cometeu o erro de me beijar há várias semanas atrás, e ainda
pagava o preço por isso.
— Dy, está tudo bem?
— Sim — afirmei, exausta. — Eu vou tomar um banho.
Saí dali com pressa, em direção ao meu quarto. Assim que tranquei a
porta, arranquei sem cuidado algum cada peça de roupa do meu corpo, e as
joguei de qualquer jeito no chão.
Corri para debaixo do chuveiro e permiti que a água me embalasse da
cabeça aos pés.
Fechei os olhos e abracei o meu corpo com força, sentindo minha
respiração desordenada e meu coração impaciente.
Sentia-me completamente destruída, e mesmo que saber sobre a família
do Christopher tivesse tido grande impacto sobre mim, desconfiava ainda
estar sob influência dos poderes de Nabrya.
Mergulhei no contato fino e constante das gotículas de água em minha
pele, absorvendo a sensação. Tentei relaxar ao som da água desabando no
chão. Joguei a cabeça para trás, inspirando fundo e suspirando devagar.
Mas, um toque suave, porém, sombrio, atingiu as minhas costas e
estremeci de susto, entretanto, não ousei me virar.
Abaixei o rosto, assustada. Lentamente o toque se expandiu e escorregou
para a minha barriga. Devagar, desci o meu olhar, avistando a mão cinzenta
e tatuada de Christopher sobre mim.
Engoli em seco, sem conseguir mover-me.
Ele enroscou seu braço em minha cintura e me puxou para trás, colando
meu corpo nu ao seu.
O sentimento de medo me cercou, trazendo consigo o receio de que algo
ruim me aconteceria.
Travei os olhos no azulejo do banheiro diante de mim, sentindo sua
respiração, gradativamente, se aproximar de meu ombro.
— Você desapareceu o dia inteiro — sua voz sussurrou, mórbida e rouca.
O pânico me tomou, contudo, esforcei-me para não deixar transparecer.
— Estive ocupada. — arfei, apertando os olhos.
— O que andou fazendo, Dingo? — instigou.
— Nada de tão interessante.
Sua respiração pesada transformou-se em uma tonelada de repreensão em
minhas costas.
— Você não me respondeu — cantarolou devagar.
— Eu preciso tomar banho, Chris. — sussurrei.
Seu aperto em volta de mim ganhou intensidade.
— O que você fez hoje? — insistiu.
Sua mão tocou o meu braço e Christopher me virou para ele, mas não
permiti que meus olhos se mantivessem abertos. Não queria vê-lo em sua
segunda camada.
— Olhe.Para.Mim — ordenou, devagar e frio.
Neguei.
Seus dedos gelados tocaram o meu queixo e se moveram até a minha
têmpora, a qual ele massageou sugestivo, para que eu abrisse os olhos.
— Me olhe, amor. Veja o que você tanto tem medo — provocou, cruel.
Novamente neguei.
Senti seu corpo se inclinar em direção ao meu e endureci no lugar. Seus
lábios, no entanto, passearam sobre os meus, e então, seus dentes os
mordiscaram de leve.
Sua língua tocou a minha pele e caminhou até o lóbulo de minha orelha.
— Me olhe! — ordenou, desta vez, mais sério e intenso, dando ênfase ao
seu comando.
— Por favor, Chris... Eu não quero — solucei.
— Mas vai ter que me olhar. Como vai acreditar nas historinhas do Ben
se nem ao menos me olha nos olhos para contestar o quão monstruoso eu
sou? — sentia ódio e amargura em suas palavras. — Você queria saber
sobre mim, insistiu até onde deu, e continuou forçando a barra mesmo
depois de eu dizer para você parar. Quer saber sobre mim? Então me olhe,
amor.
Prendi a respiração.
— Eu não queria...
— Sim, você queria, Dingo. Você queria saber da história do começo ao
fim.
— Por que está fazendo isso? — me engasguei em meio ao choro e enfiei
meu rosto em seu peitoral, sem coragem para vê-lo, sem forças para correr.
Christopher beijou o meu ombro e abraçou o meu corpo.
— Não seja covarde agora, minha Dingo Bells. Não era isso o que
queria? — falou, com um fundo de irritação em sua voz. — Se queria saber
a verdade, deve ser porque aguenta, não?
— Eu não quero isso. Por favor, pare! — eu disse, aos prantos.
— É claro que quer ou não teria me desobedecido. Eu avisei, mas você
não me deu ouvidos. Quer a verdade? Você é minha. Sua alma já é minha.
A porra dessa cidade é minha. — ele respirava mais rápido agora. — Eu
pedi que parasse, amor. Eu pedi com zelo. Mas você continuou me
desobedecendo.
Devagar tomei distância de Chris, finalmente encarando-o.
A sua segunda camada.
Ainda era medonha e horripilante. Meu corpo inteiro reagiu em pavor.
Seus olhos tornaram-se dois poços negros e vazios, envoltos de linhas em
formato de escuras raízes escuras em todo ele. Os lábios roxos e a pele eram
de um tom cinzento, com uma textura áspera e dura. As olheiras eram
fundas e tingidas de tons roxos.
Seu peitoral era cheio de cicatrizes vermelhas, de tal modo que pareciam
rachaduras.
O cenário por completo era horripilante e assustador. Por alguma razão,
esperei que o meu medo fosse menor, mas eu me enganei fajutamente.
Não havia conforto algum em já tê-lo visto assim.
— Gosta do que vê, amor? — perguntou, sarcástico.
Levei minhas mãos ao meu rosto e tentei sufocar o pavor e as lágrimas
sob elas sem alarde. A última coisa que eu desejava era que papai colocasse
a porta do meu quarto abaixo por ouvir sua filha gritar histericamente
dentro do banheiro. Não sabia mais pelo o que chorava, apenas odiava tudo
aquilo.
— Não é incrível que há pouco tempo disse que me amava e agora eu sou
o monstro debaixo da sua cama? — zombou, ácido.
Continuei fungando baixinho.
— Não tem o direito de me culpar — apontei para ele. — Você roubou a
minha alma — pontuei, infeliz.
— Não, eu não roubei. Eu a marquei.
— Dá no mesmo, não é? No fim, você vai me arrastar para o inferno, e
aposto que vai fazer questão de me torturar por toda a eternidade — ralhei,
irritada.
— Torturar você? Que porra você pensa de mim? — brigou entre dentes
— Te marquei para ser minha, não para te condenar ao sofrimento, mas
para ficar comigo.
— Serei obrigada a ficar trancada no inferno. Isso te parece amor? —
rebati.
Ele soltou um riso amargo.
— Assim que você morresse, já estava fadada ao inferno.
— Eu poderia ter a chance de conseguir a graça eterna. Você me roubou
isso. — esbravejei.
Ele uniu as sobrancelhas.
— Prefere uma eternidade de ilusões a viver comigo?
— Christopher, você nem ao menos me perguntou o que eu queria. Você
tomou a decisão por mim. Você tirou a escolha que eu tinha sobre mim. Não
venha dar um de santo ou de romântico. Você é só um mentiroso!
Ele curvou o canto dos lábios.
— Acha mesmo que ainda iria para o céu depois de se deitar com um
demônio, Dingo? — gracejou em diversão — Sua alma está manchada
desde o dia em que se sentiu atraída por mim pela primeira vez. Você não
iria para o céu nem se tornasse a porra de uma freira. Você se despiu para
um demônio e abriu as suas pernas para ele. Que tipo de salvação você
estava esperando quando me pediu para te foder? A santa graça divina dos
infernos ou a benção da minha porra?
Me encolhi num canto.
Christopher se aproximou, colocando meu rosto entre as suas mãos
gigantes.
— Te marcar era a única forma de você não passar pelo sofrimento
eterno. Você será feliz. E eu vou te amar pelo resto de toda a eternidade.
Abaixei o olhar.
— E quanto ao resto? Marcos, Zoe, Nabrya... Não pode me livrar do
sofrimento, porque você é quem causa ele.
Esperei pelo momento em que ele iria surtar, mas este não chegou. Ele se
manteve complacente e calmo.
— Marcos está passando pelo seu castigo, Zoe teve o que mereceu,
quanto ao Nabrya, isso é problema meu.
— Não é problema seu se ele está atrás de mim. — retruquei. — Hoje ele
esteve a centímetros de mim, Christopher. Que droga é essa?
— Deveria ter me procurado, a mim, Dytto! A mim. E não ao Ben.
— Por quê? Por que é que tem tanto medo que eu descubra sobre você?
— Eu estou mandando, Dytto. Não me desobedeça de novo. — decretou,
intimidador.
— Por que? Vai me castigar como faz com o Marcos? Ou como fez com
a Zoe? Não pode condená-los assim, e nem a mim. — me impus,
aproximando-me ainda mais dele. — Você mente e manipula.
Ele semicerrou os olhos, fúria ardia em todo o seu rosto.
— Zoe tentou matar o meu filho e Marcos te estupraria no primeiro
momento em que tivesse a chance. — ele apertou o meu pescoço com sua
mão, porém não o machucava. — Estrangulei Zoe até o último suspiro, e
depois, me livrei do corpo. E agora cuido para que Marcos apodreça de
dentro para fora.
Puxei o ar com força e me abracei em busca de conforto.
— Eu jamais te machucarei, amor. Você não é como eles. Você me ama, e
eu vejo como ama o meu filho. Apenas não quebre a minha confiança, e eu
te prometo que nunca terá o meu desprezo.
Mordi os meus lábios trêmulos.
— Se os visse como os vejo. Se os sentisse como eu os sinto. Saberia
quem são. E se me ouvisse, saberia que tudo o que eu quero é te manter a
salvo do mal que eu causo a todos.
Christopher se afastou.
— Eu te amo, não se esqueça disso. Mas quando eu mando, você
obedece. Eu tenho muita paciência quando o assunto é você, Dytto. Mas se
você não consegue compreender isso, então vai ter o pior de mim. E eu
prometo ser pior com você do que eu jamais serei com qualquer outro.
Antes que eu pudesse me mexer, seu corpo evaporou num milésimo de
segundo, sumindo como o ar fugia

Avisei no insta que hj serão 4 capítulos postados e semana que vem posto
o resto da maratona, pois tenho dois capítulos da maratona com hots em
ajuste e mais três em andamento
Capítulo 54| Vândalas

ESTE CAPITULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



09 de junho
Domingo
— Shhh! — Loren soprava, com o indicador grudado no biquinho que
fazia com a boca. — Quieta. — sussurrou, seguido de uma gargalhada
exagerada e cambaleou para a esquerda.
Eu não queria rir, mas, de repente, tudo era tão engraçado. As minhas
pernas estavam leves como penas e os meus lábios se abriam em risadas
sem esforço.
— Cala a boca você! — devolvi, entre um riso e outro.
Ela agaixou-se no chão enquanto fazia o que podia para não rir. Sua mão
estava apoiada na barriga enquanto os olhos mergulhavam-se em lágrimas
devido ao riso contido.
— Fica observando. Se alguém vir, você me avisa. — dizia, olhando-me
de um jeito malino.
— Eu quero fazer xixi. — reclamei, manhosa, apertando uma perna na
outra.
— Para com essa bexiga frouxa.
— Uhhh!! — resmunguei, virando-me, dando início ao que deveria ser
uma vigilância centrada.
Estava escuro e os outros festeiros estavam espalhados pela floresta.
Estávamos entre os carros estacionados mais longe da bagunça.
Conseguíamos ouvir apenas um breve ecoar da música que tocava. O
chão tremia devido aos graves sonoros que emitia-se das caixas de música.
Minha visão estava distorcida e as árvores pareciam ter se duplicado,
não... triplicaram. Ou será que sempre existiu tantas árvores juntinhas
assim?
Apertei os olhos, mas um barulho estridente me fez virar de costas.
— Loren? Por que está rasgando esse carro? — perguntei, curiosa.
Eu nem mesmo sabia o porquê de ela ter me arrastado para cá.
Em um minuto, estávamos em uma festa porque queríamos fazer as
pazes, e no segundo seguinte, eu estava bêbada e a ajudando a vandalizar
um carro de Deus-sabe-quem.
Ela parou com o estilete na mão e lançou-me um olhar incrédulo.
— Parou de vigiar por quê? — seus olhos se arregalaram, como sempre
fazia quando estava falando sério.
Dei com a mão, como quem não se importa e voltei a ficar de guarda. Eu
não sabia exatamente o quê eu deveria olhar.
Quem mesmo eu deveria estar vigiando? Quer saber? Eu não estou nem
aí, eu só quero mijar.
— Loren... — juntei as pernas, saltitando sobre elas como uma mola —
Eu quero fazer xixiiiiii.
— Espere.... — o ruído prosseguiu-se, agudo e metálico na lataria,
mudando um tom ou outro conforme ela manuseava o estilete. Durou um
tempo, até que finalmente cessou.
Meus ouvidos agradeceram o fim daquele zumbido estridente.
— Terminei. — Informou — O que achou? — apontou com as duas
mãos, como se exibisse uma baita obra-prima.
Onde antes era um carro limpo e polido, agora existia rasgos de um
enorme pênis e "VADIA LOIRA" cravado de um jeito bem torto.
As palavras não seguiam em uma linha reta, e o "i" de vadia estava quase
que completamente escondido pela letra "D".
— Faltou a cabeça dessa piroca aí. — lembrei-a.
Ela olhou para o seu desenho e crispou a testa de um jeito que parecia
concordar.
— Hum, é mesmo. — ela finalizou o desenho com uma cabeça e algumas
gotas de porra saltando.
Fiz um OK com a mão.
Pelo menos agora ela parecia contente e havia desistido de usar MD,
tentei convencer ela de todas as maneiras a não usar drogas, mas somente
quando surgiu a brilhante ideia em sua cabeça de vento de que deveríamos
correr para o estacionamento, que ela se desligou da ideia.
— Tá perfeito! Mas de quem é o carro? — instiguei, curiosa.
— Da vadia loira aqui. — a voz feminina e autoritária chamou-nos a
atenção.
Olhei para a garota alta atrás de mim, com o seu lindo rosto preso a uma
carranca furiosa. As sobrancelhas loiras franzidas e as mãos agarradas à
cintura. Seus cabelos branquíssimos estavam presos a um coque alto no
topo de sua cabeça, enquanto os lábios estavam pintados em um batom
vermelho-sangue.
Oh, merda! Nós destruímos o carro da Amara. A irmã do Christopher.
— Merda! — murmurei.
— Corre, Dytto! — Loren saltou do chão, mas Amara me golpeou com
um chute no meu pé assim que dei o primeiro passo, fazendo-me tropeçar e
cair de cara em um amontoado de folhagem.
Mesmo bêbada, soube que isso imediatamente fez com que o sangue
subisse aos olhos de minha irmã. Ela odiava quando alguém me machucava
e prontamente avançou na Loira.
— Sua filha da puta! — berrou Loren, impulsionando os braços em sua
direção.
Amara não levou nem três segundos e já estava sobre minha irmã no
chão, imobilizando-a.
Loren tentou se remexer, contudo, a sua oponente era ainda mais forte. E
mesmo que eu odiasse que ela estivesse em desvantagem, não poderia não
dizer que aquilo me impressionou. Amara parecia uma lutadora
profissional.
Eu quero ser igual a ela quando crescer.
— Ei! — gritei, a voz embolada.
Fiz um grande esforço para me pôr de pé. Meu corpo estava cheio de
galhos e o meu cabelo parecia um amontoado de palha. E apesar de não ter
sido lá uma grande queda, sentia-me dolorida.
Destemida, dei dois passos na direção das duas, pronta para salvar a
minha irmã, no entanto, a minha natureza humana falou mais alto e
rapidamente voltei atrás.
— Merda, merda, merda. — reclamava, pulando na ponta dos pés para
trás do carro.
— DYTTO — Loren gritou, acuada sob o corpo da magérrima Amara.
Ela era tão linda que mais parecia uma boneca de plástico, tipo a Barbie.
Embora sua aparência fosse divina, lutava como uma pirata valente. Era
meio sexy, para falar a verdade.
Não pude conter e me agachei atrás do carro da loira. Arrastei o short
jeans e a calcinha para baixo, me livrando do líquido que meu corpo
implorava para expulsar. Oh... como era bom!
Fechei os olhos, meio lerda e busquei me equilibrar. O álcool ainda
queimava em minhas veias.
Loren poderia esperar um pouquinho, ou então, teria que lidar comigo
mijando na sua adversária enquanto tentava ajudar.
Quando retornei ao que havia se tornado um ringue, Amara brincava de
dar pequenos tapinhas no rosto de minha irmã, provocando-a
Loren estava vermelha dos pés a cabeça, furiosa. Ela relutava — em vão
— debaixo da Barbie gótica.
— DYTTO CARAMBA! — minha irmã berrou, lembrando-me de que
eu ainda estava parada.
— Ow!
Avancei em direção às duas, mas dois braços fortes agarraram meu corpo
com força. Tirando-me do chão num piscar de olhos.
— SOLTA. SOLTA. SOLTA. — ameacei, debatendo-me.
Amara nos olhou com os lábios pintando sorrisinhos.
— Segura essa daí, Dem. — pediu, divertindo-se com a situação.
— Já está no papo. — a voz forte e maliciosa concordou.
Virei o pescoço para o lado e forcei-me a enxergar quem era o enxerido
que me impedia de ajudar a minha irmã.
O rapaz — ao que parecia, coreano — mantinha a pose robusta e firme
diante da situação. As várias tatuagens no pescoço se estendiam até onde a
sua blusa me deixava enxergar. Na orelha, existiam alguns pequenos
brincos, e os seus lábios se curvaram de um jeito zombeteiro.
Um homem muito bonito, admito, mas que não parecia muito afim de me
soltar.
— Quem é você? — Perguntei, meio embasbacada.
Ele me deixava um pouquinho tímida, na real. Bem como Christopher.
— Por que quer saber? — rebateu, desconfiado.
— Porque sim.
— Me solta, porra! — Loren esbravejou. A situação ainda era tensa do
nosso lado.
— Isso não é resposta. — discordou.
— Tecnicamente, é, sim.
Ele semicerrou os pequenos olhos, o que só os fez quase sumirem.
— Quem é essa daqui, Amara? — investigou, enquanto ainda me
encarava.
— A namorada do Christopher.
Ele rapidamente abriu um largo sorriso.
— Oh, olhe só. Conheci a escolhida. — celebrou, sorridente.
Franzi o nariz em uma careta.
— Quem é esse daqui, Amara? — foi a minha vez de dizer.
— Irmão do Christopher.
O homem tatuado fechou a cara.
— Eu sou mais do que só o "irmão do Christopher", irmã do Christopher.
— ele jogou uma piscadela para a loira. — Sou gostoso, e sou charmoso.
— E egocêntrico. — complementei num sussurro que o fez erguer uma
sobrancelha.
Rapidamente voltei a atenção para as duas garotas estiradas no chão.
Minha irmã já havia cansado de se debater, então só aceitava a derrota em
silêncio. Amara, por outro lado, ainda chacoalhava os quadris sobre a
minha irmã, atiçando a sua raiva.
— Tudo bem, irmão do Christopher. Agora ligue para ele. Temos que dar
um jeito nessas duas. — a bárbie gótica informava, com o olhar vidrado em
minha irmã.
Arregalei os olhos.
Ligar para o Chris? Ah, não! Isso não era coisa boa. E eu certamente
estava encrencada.
Havia dito a ele que estaria dormindo às 10 em ponto, pois amanhã
planejava acordar bem cedo para estudar para uma prova, por isso, pedi que
não fosse me visitar.
De fato, era verdade, até Loren entrar chorosa no meu quarto, dizendo
estar com saudades e mandando um longo discurso que mexeu comigo.
Nossos pais estavam dando um tempo longe de casa para nossa mãe não
surtar de vez, isso facilitou tudo, minha irmã havia dado um jeito de
hackear as câmeras, então tínhamos o passe livre.
Eu deveria ter pelo menos o avisado que os meus planos mudaram, mas,
agora, saber que ele iria descobrir pelos próprios irmãos que eu não só, não
o disse a verdade, estava em uma floresta às duas da manhã, como também
ajudei a vandalizar o carro da sua irmã, era um pesadelo. Eu ia morrer. Cem
por cento.
— Não, não liga, por favorzinho. — pedi, fazendo beiço.
O "irmão do Christopher" encarou-me cético.
— E por quê? — indagou, curioso.
— É que... — pigarreei. — Ele me disse hoje que não gostaria de ser
incomodado... — sorri nervosamente. — Acho que pegaria mal se vocês
irritassem ele, não é?
— Está chamando. — a voz de Amara me alertou e me deparei com a
loira segundo o celular no ouvido.
— Não! — protestei.
— Temos um problema. — ela respondeu ao celular, quando,
aparentemente, a ligação fora atendida.
Tentei me soltar, mas o homem atrás de mim, era muito mais forte.
— Bom, tem a ver com a sua namorada e a filha da puta da irmã. —
conversava, enquanto eu me esvaia em pedidos de ajuda.
Bom, devo admitir que nenhum dos meus esforços funcionaram, porque
de onde eu estava, ouvia os berros de Christopher ao telefone enquanto eu
assistia horrorizada sua linda e fofoqueira irmã me dedurando.
Ainda preferia que fosse meus pais na ligação.

Seus olhos eram duros e repreensivos quando me alcançaram. Ele pisava
fundo com as suas botas pretas na grama úmida. As mãos balançavam com
rispidez no ar.
Quando estava perto o bastante, levou sua atenção para a sua irmã, ainda
por cima da minha em uma posição que estava começando a parecer erótica
demais. E então, retornou-a para mim.
Os olhos verdes tranformavam-se em uma cor mais escura quando estava
furioso.
— Vai amenizar a situação se eu disser que você está lindo assim... todo
de preto? — sorri.
"Dem", "Demétrius", "irmão do Christopher", ou seja lá qual outro
apelido ele tivesse, mantinha-se paciente, ainda me segurando. As duas
mãos agarradas aos meus braços como algemas. Porém, mesmo que me
perturbasse a ideia de estar assim, foi ele quem cortou o clima tenso.
— Fala sério, o cara está parecendo um adolescente emo.
Christopher inclinou-se a olhar para o irmão, lançando-lhe um olhar
repreensivo.
— Não tem nada melhor para fazer? — a torre tatuada provocou, irado.
— Bom, já que essa já está comprometida... — senti-o se endireitar para
a direita, atrás de mim, como se quisesse ver além do meu corpo, mesmo
que fosse muito mais alto que eu. — Imagino que aquela ali deva estar
disponível, não?
— Está dando em cima da minha irmã? — entrei em alerta.
Em raras ocasiões eu agia como a irmã ciumenta, isso era papel para
Loren, não para mim. Entretanto, eu sabia que se ela se envolvesse com
Dem, isso poderia acabar muito mal.
— Ela é uma gatinha. — estimulou, malicioso.
De onde estava, vi Loren rir sugestiva e Amara emburrecer-se. A loira
acertou a minha irmã com um outro tapa na cara, mas desta vez, parecia
sério.
— Desgraçada. — Loren rosnou baixo.
Tenho plena certeza de que Lô se segurava para não fazer coisa pior,
como enfiar a cabeça de Amara em um buraco cheio de formigas quando se
soltasse.
— CHRIS. — reclamei. — A sua irmã está batendo na minha irmã, e o
seu irmão está me segurando. Faz alguma coisa!
— A minha irmã não estaria batendo na sua irmã se ela não merecesse. E
o meu irmão não estaria segurando você, se estivesse em casa. E os meus
irmãos não teriam me ligado, se vocês não tivessem arranhado a porra do
carro da minha irmã. — me encolhi, conforme o ouvia me dar sermões.
— Mas eu sou a sua namorada, não conta? — abri um sorriso forçado.
Christopher suspirou e fez um gesto com a mão para Demétrius.
— Pode soltar. — pediu.
Dem me soltou e imediatamente me inclinei a ir para o rumo da minha
irmã, porém, foi a vez do Christopher me impedir, agarrando-me pela
cintura.
— Está cheirando a cerveja. — comentou.
— A sua irmã ainda está batendo na minha, olhe. — apontei para Amara
batucando com as mãos nos seios da minha irmã.
— Eu tenho certeza de que Loren não se importa. — Christopher
respondeu.
— EU ME IMPORTO SIM, SEU IDIOTA.
— Ah, é? — ele brincou com a sobrancelha e sorriu. — Não parece. —
balançou a cabeça.
Ouvi Demétrius rir atrás de nós dois.
— Amor — segurei o seu rosto. — Pode, por favor, pedir para a sua irmã
deixar a minha? — choraminguei.
Tentei ser convincente, mas fazer cara de manhosa enquanto se está
bêbada só te faz parecer uma demente. Sei disso porque Christopher estava
me encarando como se eu fosse uma.
— Mal resolvemos um problema e você já arranjou outro. — murmurou.
— Nós nunca resolvemos nossos problemas, Chris. Nós brigamos e
seguimos para o próximo.
Ele revirou os olhos.
— Amara. — chamou. — Qual o veredito?
Juntei as sobrancelhas, confusa.
— Eu pesquei esse peixe, e vou levar para casa. Ela vai ficar comigo até
que eu a faça me pagar tudo o que destruiu no meu carro e toda a raiva que
me fez passar.
— Vai sequestrar a minha irmã? — quase gritei.
— Não. Não. Não. Eu não vou. — Loren tentou se mexer, mas os seus
braços estavam presos pelos joelhos de Amara.
— Acho que você não entendeu, Loren. — a loira sorriu — Você é minha
até eu disser que não é mais.
— Tenho quase certeza de que Loren também me fez passar raiva. —
Dem se pronunciou, safado.
— Vá atrás do seu, Dem. Eu não divido.
— Eu não sou a porra de um brinquedo. — Loren esbravejou.
— Agora é. — Christopher discordou.
— Temos que ir para casa, Chris. — reclamei.
— Não, senhora. E você... — apontou para o meu rosto. — Vai vir
comigo. Vamos todos para a mansão.

Vejo vocês em breve com um ménage e um hot bem quente kkkk
Capítulo 55| Irmãos habilidosos

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



Meus braços e tornozelos ardiam e coçavam presos às cordas
envolvendo-os com um forte nó. Debatia-me sobre o colchão duro em meio
ao enorme cômodo pouco iluminado, mesmo que já soubesse não ter saída
daquela situação em que eu mesma me coloquei.
As paredes negras contrastavam perfeitamente com a macabra decoração
do ambiente. Sentia-me na sala do diabo. As caveiras penduradas nas
paredes pareciam sorrir, embora não pudessem.
Eu só queria nunca ter feito o que fiz com o carro dessa psicopata, assim,
poderia estar bem bêbada e dançante no meio da festa, e não, sequestrada,
dopada, e então amarrada em sua cama.
Não tinha a menor ideia de como eu havia chegado ali, e de onde estava
exatamente.
— Que porra você quer, Amara? — soltei rígida, encarando-a irritada.
Mesmo que fosse eu — inicialmente — a errada da situação, negava-me
lhe dar a razão dos fatos.
Eu era teimosa, gostava de um bom jogo, sabia lidar com pessoas difíceis
e nunca baixava a cabeça para ninguém. No entanto, havia entrado em um
ninho de ratos perversos e esquisitos. Imaginei que Amara fosse só mais
uma idiota, mas olhando a situação agora, sabia que estava enganada para
caralho.
Não poderia dizer que estava cento por cento certa do que ela poderia
fazer esta noite, mas a vaga ideia de que poderíamos transar me deixava um
tanto quanto excitada, lado este, escondido e sufocado por anos de minha
parte.
Eu não poderia sentir nada por alguém que claramente era tão ferrada da
cabeça quanto eu.
Perversamente, a garota curvou os lábios em um sorriso maligno.
A loira maluca estava à minha frente, o corpo magro e alto apoiado no
móvel de carvalho escuro.
Sob a luz das lâmpadas amareladas, um lado vil se revelara em sua face
mais obscura. Seus olhos claríssimos sondaram o meu corpo amarrado em
sua cama.
Os meu dois braços presos na cabeceira, e os tornozelos presos às pontas
da cama.
— Estamos adiando uma coisinha há um bom tempo, não acha, Loren?
— Amara provocou, esfregando a unha esmaltada de preto sobre os
acentuados lábios vermelhos.
Revirei os olhos em rebeldia.
Estávamos adiando uma briga desde o desafio no penhasco, mas não era
como se tivéssemos uma obrigação pendente. Obviamente não nos dávamos
bem, no entanto, era bem rude da sua parte me por em desvantagem para
obter sucesso e então se vangloriar disso.
Não era uma vitória se havia trapaça.
— Podemos sair no soco depois que me soltar. O que acha? — debati,
exonerando a fúria que ardia em meu íntimo.
Ela riu.
— Não estou falando de socos, querida. Um pouco de agressão? Com
certeza. Mas odiaria acabar com o seu lindo rosto. — ela mordeu o canto da
unha, deixando que os olhos lentamente escorregassem para entre as minhas
pernas arreganhadas — E também, não acho que seria convidativo você
sentar na minha cara me vendo de olho roxo, não acha?
Minhas bochechas imediatamente foram atingidas por uma forte colisão
de ardor, o sangue preso à cabeça pincelando minhas bochechas em um
rubro intenso. Me retrai, empurrando os pés no colchão, afim de ganhar
espaço.
Nunca havia conhecido alguém tão direto, ainda mais, tão intimidador e...
porra, tão gostosa.
Forcei-me a sentir indiferença, embora meu tolo e frágil corpo estivesse
sedendo, minha boceta molhada e os meus seios endurecidos.
— Até parece que eu iria querer sentar na sua cara, Amara — minha voz
tremulou e engasgou ao fim da frase.
Merda!
Ela sorriu, expondo o seu maldito ego nas alturas e o cinismo
reverberando-se como um grito urgente em toda a sua face.
Filha de uma puta!
— Ah, é claro. Você nunca iria querer que eu chupasse a sua boceta
inteira por horas, não é? — ironizou, sorrateira.
Era difícil admitir até mesmo para mim, mas ninguém nunca teve tanto
poder sobre mim antes como essa garota. Tentei desviar-me dos seus jogos
sacanas, mas era impossível quando ela sabia que eu sempre caia em suas
armadilhas.
Amara sabia como me imobilizar, e não só em brigas físicas.
Seus olhos me encaravam como uma águia, esperando apenas um vacilo
para poder me atacar.
— Eu não vou com a sua cara, Amara. Então faça o favor de me deixar
em paz. — rebati entre dentes.
Condescendente, a vadia loira soltou um riso baixo. Deixou que os
braços caíssem ao lado do seu corpo e caminhou, um passo atrás do outro
com a mais pura elegância.
Sem demora, ela aproximou-se do colchão, flexionou os joelhos sobre a
cama, um de cada lado do meu corpo. Levou uma de suas mãos bem aberta
à frente do seu rosto, deitou os dedos permitindo que apenas o indicador e o
dedo do meio permanecessem em pé, e com a mais pura cara de sacana,
esfregou-os na língua, umedecendo-os em sua própria saliva. Sem mais
nem menos, esfregou-os entre o meio de minha calça, sobre o jeans, bem
onde a minha intimidade mais latejava.
A sensação de ser acariciada bem onde meu desesperado desejo
implorava ser satisfeito, me fez gemer.
— Você pode ficar aí reclamando, ou então, podemos fazer algo a
respeito. — ela me encarava ao dizer — Não se preocupe, não vou fazer
nada sem sua permissão. Mas eu vou fazer com que você permita cada ação
minha, Loren. Oh, se vou! Vai implorar para que eu te chupe, sua vadia.
— Você é louca! — acusei, remexendo-se em um miserável e falho ato
de fingir não querer.
— E você vai adorar isso. — acrescentou. — Não sabe o quanto eu estou
excitada em te ver assim, querida — sussurrou, maliciosa.
Minha respiração já estava acelerada, meu peito batia feito um louco e
minha pele se arrepiava sem intervalos.
Eu odiava perder o controle, e Amara conseguia me desarmar por
completo.
Ela agachou, bem devagarinho, mantendo permanentemente o contato
visual, abriu a braguilha da minha calcinha e deslizou parte da minha calça
em minhas pernas.
Quando minha calcinha fio-dental já lhe era parcialmente visível,
aproximou seu rosto de minha intimidade, onde ela faz questão de soprar
uma rajada de vento quente.
Todo o meu corpo se empertigou e precisei me esforçar como nunca para
mostrar-me firme.
Meu corpo covarde já havia cedido, entretanto, a minha mente insistia em
continuar atuando até o último minuto.
Ela levou a ponta do seu dedo até a minha calcinha, e de modo quase que
imperceptível, esfregou seu dedo ali, de modo delicado e lento. Uma tortura
deliciosa, que quase me faz pedir para que ela introduzisse mais pressão em
seu toque.
Prendi a respiração, supondo que, talvez assim, se tornasse mais fácil.
Ela continuou a esfregar seu dedo ali, enquanto baixava de pouco em
pouco a minha roupa, quando me teve mais exposta para si, depositou um
beijo molhado na parte interna da minha coxa, tão próximo à virilha,
esfregando sua língua para cima e para baixo nela.
Um gemido baixo escapou de minha garganta. Me remexi no mesmo
instante, afim de disfarçar.
— Isso é perda de tempo — tentei contestar, porém, ela pouco se
importou.
Fui surpreendida por sua língua quente passeando sobre a minha
calcinha, neste instante, não fui mais capaz de fingir.
Automaticamente minhas pernas se abriram ainda mais, meu quadris se
ergueram e meu corpo tentou se pressionar nela.
Amara se afastou, sorrindo vitoriosa.
— Me peça para tirar a sua calcinha, Loren — sussurrou, rouca e
impassível.
— Não! — teimei.
— Peça!
Ergui o olhos para o teto escuro, evitando-a. Instantâneamente, senti sua
língua novamente ser pressionada em minha calcinha, mas, agora, com mais
destreza, chupando-a e causando-me ondas de prazer
— Porra — arfei, estremecida.
— Peça, Loren! — ordenou.
Mordi a língua, furiosa.
— Tire a merda da minha calcinha, Amara! — esbravejei, impaciente.
Amara parecia satisfeita. Desfez os nós em meus tornozelos e arrancou
minhas roupas, deixando-me nua da cintura para baixo.
Revirei os olhos quando a vi exibir a minha calcinha em sua mão, se
gabando de seu mérito.
— Vamos ver até onde você consegue fingir que não me quer. —
provocou.
Ela abriu as minhas pernas, mas, ainda irritada, relutei, tentando fechá-
las, entretanto, Amara distribuiu um forte tapa em minha boceta que me fez
se empertigar.
— Se fechar, eu vou te machucar. — ameaçou, séria.
Cerrei os dentes.
Amara deliberadamente curvou seu corpo entre as minhas pernas. Ela
jogou as madeixas brancas do seu cabelo para trás e lambeu os lábios, como
se estivesse cheia de fome e eu fosse o seu lanchinho.
Ela prosseguiu, tocando a minha intimidade com a pontinha de sua
língua, circulando-o tão devagar que mal parecia se mexer. Amara mal me
tocava, apenas para me tirar do sério.
Ela queria que eu implorasse, que eu me rebaixasse e me humilhasse
completamente.
Apertei os lábios um contra o outro, sufocando meus gemidos
desesperados. Tentei forçar meu corpo a tocar o seu, mas ela se afastou.
— Só chupo se pedir. — insinuou.
— Vá se foder! — eu disse incrédula.
— Peça, Loren! Peça para eu te chupar. — ela sorria, como uma maldita
diaba.
— Sua filha da puta!
— Eu não tenho tanta paciência assim. Me peça com jeitinho, e eu vou te
dar a melhor chupada de toda a sua vida. — ela fingiu saborear dedo por
dedo.
Respirei fundo, ardendo em fúria e excitação.
Eu sabia que o caminho mais fácil seria me render, porém, uma parte
insistente e orgulhosa, me fez permanecer calada.
Ela riu ao notar minha resistência. E, como se prevesse isso, caminhou
até um móvel em seu quarto, e da gaveta, retirou um pênis de borracha
preto, de tamanho médio e um um produto, cujo eu não conseguia ver o que
era.
Amara caminhou cheia de si até onde eu estava e parou. Ela abriu a
tampa do produto e derramou o líquido espesso e transparente sobre todo o
pênis de borracha. Em seguida, o fechou e o jogou de qualquer jeito ao meu
lado.
Ela tomou proximidade, apertou o botão de ligar, e logo o objeto ganhou
vida em sua mão. O som do zumbido suave ganhou intensidade à medida
que ela aumentava a frequência de sua vibração.
Ela o aproximou de mim, sem desviar os seus olhos dos meus. Senti
quando o brinquedo sexual pulsou vibrante em minha entrada e se firmou
em meu clitóris, provocando-me sensações terrivelmente maravilhosas. Um
mar de prazer me engoliu e arqueei minhas costas.
— Ah caramba — arfei, mordendo os lábios. Involuntariamente
remexendo os quadris.
Ela continuou esfregando o objeto melecado em toda a minha boceta.
Uma sensação refrescante tornou a surgir e senti deliciosos arrepios.
Isso era tão gostoso!
— Me chupa, porra. — soltei rudemente.
— Com jeitinho, Loren. Não seja mal-educada. — brincou.
— Amara, por tudo que é mais sagrado, me chupa logo, porra. —
implorei, odiando ter que pedir tanto.
Ela me enfiou o objeto de borracha de modo lento, quase que parando,
até que aquilo me preenchesse por inteira. Seguidamente, se ajoelhou no
chão, afastando os lábios da minha boceta para si. Enquanto o objeto me
torturava, penetrado em minha vagina, ela tornou a me chupar.
Não consegui manter-me parada na cama, quando tudo o que eu queria
era gritar de prazer. Havia tantas sensações correndo em minhas veias que
sentia que mal poderia aguentar.
Ela foi precisa brincava de escorregar a sua língua em mim, os olhos
safados permanecerão grudados aos meus, as suas mãos acariciam a minha
bunda, apertando-a com força.
Ela beijou toda a minha barriga, subindo a minha camiseta até que meu
sutiã se revelasse diante a si. Ela quebrou o fecho e deixou que meus seios
saltassem em sua frente. Amara não recuou, se propôs a chupar um por um.
Primeiro, ela deslizou a língua em círculos em meus bicos, e quando
terminou, enfiou um deles na boca, sugando-o com força, com o outro,
manteve a sua mão pressionando-o.
Eu mordia os lábios, encarando-a cheia de tesão. Eu queria agarrar os
seus cabelos e enfiar aquele lindo rosto entre minhas pernas, fazê-la se
afogar em mim e sufocar ela ali, mas eu ainda me mantinha amarrada, e
quanto mais eu puxava os braços, mais a corda arranhava os meus pulsos.
Depois que se teve como satisfeita, ela subiu, beijando o meu pescoço,
mordendo o lóbulo da minha orelha e arranhando os seus dentes em minha
pele.
Amara segurou o meu queixo e me olhou uma última vez antes de agarrar
os meus lábios nos seus. Meu peito fora comprimido, e então, disparou tão
forte que quase pude imaginá-lo rasgando o meu peito.
Sua língua adentrou a minha boca, envolvendo-me em um beijo lento e
sensual. Ela dançando com a minha língua, esfregando seus dedos em meu
clitóris. O brinquedo ainda mantinha-se funcionando dentro de mim, mas
agora ela o movimentava em um entra e sai.
De supetão, um barulho nos roubou o momento, direcionando nossa
atenção para a porta agora aberta. E parada diante dela estava Demétrius,
seu irmão, encarando-nos interessado.
— Por que eu não fui convidado? — fingiu estar magoado.
— CAI.FORA. — Amara entoou alto. Estava furiosa com a sua
interrupção.
Sorri, vendo-a incomodada daquela maneira.
— Ah, deixe ele. Não faria mal um a mais. — aticei, maldosa.
Ela voltou sua atenção para mim, os olhos semicerrados e tomados de
ódio. Suas sobrancelhas se franziram em uma expressão mortal. Naquele
instante, ela enfiou o brinquedo mais a fundo em mim, abri a boca em um
gemido silencioso e virei os olhos.
— Porra, isso está deixando meu pau duro pra caralho. — Dem
comentou, a sua voz desmonstrava o quão desejoso estava e como isto
havia o afetado.
— Se não sair daqui agora, eu juro, Dem, eu vou matar você. — A loira
ameaçou no que mais parecia um rosnado.
Demétrius ergueu as duas mãos em rendição e saiu, fechando a porta,
mas não permaneci o olhando por muito tempo, estava quase gozando. Meu
corpo inteiro tremia e suava. Eu estava tão próximo que qualquer ação
poderia me levar a desvanecer em um orgasmo.
Amara agarrou o meu pescoço com a sua mão, fazendo-me a encarar.
— Você está adorando fazer isso comigo, não é? — existia raiva em sua
entonação.
Não lhe respondi.
Ela se levantou de cima de mim, pôs se pé e retirou o brinquedo da
minha boceta. Quis xingá-la por isso, até perceber que ela estava retirando
sua roupa.
Primeiro, Amara ergueu sua camiseta, revelando os lindos seios sem
qualquer sutiã os cobrindo. As auréolas rosadas estavam rijos. Ela parecia
bem confortável consigo mesma. E conforme foi retirando a sua calça e a
calcinha, minha fora boca enchendo d'água.
Ela era simplesmente linda nua. Todas as suas curvas e formas pareciam
simuladas para serem atrativas para qualquer um. Sua cintura finíssima
evidenciava os quadris e a bunda arrebitada.
Quando me dei conta, eu estava ofegante, meus olhos fixos no corpo
dela. Eu não sabia como não a olhar.
Amara amassou os seus seios em um gesto sexy, ela me olhava ao passo
em que mordia os lábios e deixava baixos sons de gemidos escaparem de
sua boca.
Ela lentamente desceu uma de suas mãos em sua barriga. Eu estava
ansiosa por aquele momento, e assim que a garota enfiou a própria mão
entre o meio de suas pernas, sabia que eu estava arruinada.
Amara acariciou a sua boceta molhada bem na minha frente,
diferentemente do que fazia comigo, ela era mais bruta consigo própria,
fazia movimentos rápidos. Com a outra mão, aperta o seio com rigidez. Seu
corpo começou a tornar-se frenético à medida em que ela se masturbava,
cada vez mais excitada.
Eu estava molhada, sentia o líquido escorrer entre minhas pernas. Nunca
antes presenciei nada assim, e doía. O prazer pendente doía.
Para aliviar a pressão, pressionei minhas coxas uma na outra, eu
precisava dela me tocando, estava louca para chupar a boceta dela. Queria
comer ela e fazê-la gozar. Porra!
Amara introduziu seus dedos dentro de si enquanto chupava outros dois
de sua mão livre. Ela gemia tão deliciosamente que me sentia à beira da
loucura.
Gemidos entoavam-se por todas as partes, éramos nós duas. Ela gemia
porque se tocava, e eu gemia porque eu queria fodê-la. Já não mais me
importava com os meus pulsos machucados, os puxava sem pena, não
porque soubesse que aquilo resolveria, mas porque eu estava sedenta.
Amara gozou deliberadamente diante de mim, e por um segundo, fechei
os olhos, ofegando, como se fosse comigo.
— Foi uma delícia me tocar para você, querida. — suspirou, satisfeita.
Amara caminhou em minha direção, enfiou as mãos entre as pernas,
exibiu os dedos molhados e os usou para me masturbar. Não que ela
precisasse, eu estava molhada pra caralho. Mas não poderia mentir, eu
adorei aquilo.
A loira enfiou seu dedo em minha boceta e sorriu quando me ouviu soltar
sons de prazer.
Ela colocou mais outro e tornou-os a se movimentarem num ritmo lento,
e então, mais rápido e rápido.
Abri as minhas pernas o máximo que pude enquanto jogava o meu corpo
para frente. Ela beijava as minhas coxas internas e as lambia enquanto me
penetrava com os seus dedos.
— Isso, Loren. Geme pra mim. — ela dizia ofegante.
Amara mantinha um ritmo veloz e certeiro. Os olhos congelados em
minha face. Meu corpo inteiro estava quente como se estivesse febria.
Minha pele estava suada e em êxtase.
Revirei os olhos e travei os dentes no labios com força o bastante para
fazerem os sangrar quando gozei em seus dedos.
Naquele noite. Eu fui dela e deixei que Amara repetisse o seu trabalho
horas mais tarde. Em nenhum momento fui solta, ela não permitiu. Ela disse
que me faria pagar, e eu paguei. Gozei todas as vezes que ela disse que eu
deveria gozar.
Quando acordei no dia seguinte, ela já estava de pé, ou, bem, não
exatamente. Ela, na verdade, estava entre as minhas pernas.
Abri os olhos, meio atordoada, mas já presenciava uma sensação
gostosinha. E foi quando olhei para baixo, que a encontrei nua, chupando o
meu clitóris como se me beijasse sensualmente.
Ela sorriu manhosa e disse:
— Volte a dormir, querida. Eu estou cuidando de você.

Eu avisei que haveria um hot quente, e um ménage. O hot foi aqui, mas o
ménage, não. Ou seja....
Meu antigo nome de autora "Marília Andrade" foi trocado por "Ellie
Morgan". Explicações na caixa de aviso do meu wattpad.
Meu Instagram: autoraelliemorgan
Capítulo 56| Sorte dobrada

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



— Eu não estou tão bêbada assim. — protestei, com o meu corpo
apoiado em seu peitoral nu e molhado.
Christopher não quis saber, estava ocupado demais ensaboando partes do
meu corpo que já haviam sido lavadas por mim antes, no entanto, que ele
quis dar uma "atenção extra".
Provocativo, seus longos dedos escorregavam pelos lábios da minha
boceta, mesclando-se à espuma, que se avolumava à medida que ele
continuava a friccionar ali, e somente ali.
Christopher estava tão centrado em seus movimentos, que mal notava as
minhas insistentes argumentações em provar para ele que eu não estava
bêbada, quando, obviamente, eu estava um caco.
— Eu já estou até sóbria. Quer que eu fique de quatro para você? — ri
assim que deixei as palavras saírem. — Fazer o quatro. — Corrigi entre
risos — Eu quis dizer, fazer o quatro.
Em partes, era o álcool falando, e em partes, era o fato do meu namorado
estar pelado atrás de mim, exibindo o corpo mais gostoso que eu já vi na
vida.
— Estou vendo. — ironizou, beijando o meu pescoço, subindo e
descendo os lábios, num vai e vem excitante.
— Humm. — gemi de olhos fechados. A sensação era deliciosa demais
para que eu pudesse me mover.
Minha cabeça ainda rodava, por isto, me mantive bem perto dele,
evitando cair.
— Não durma. — pediu, mordiscando o lóbulo da minha orelha.
— Não vou.
— Bom mesmo!
— Isso é uma ameaça? — brinquei.
— Mentiu para mim esta semana. Foi para uma festa sem me avisar.
Ajudou a sua irmã a vandalizar o carro da minha. Está merecendo uma
grande punição, Dingo Bells.
Lambi os lábios, maliciosa, e levei minha mão para o que estava grudado
em minhas costas desde que ele tirou nossas roupas. Ao esbarrar os dedos
em seu membro ereto, acariciei a ponta, estava melado, podia sentir a sua
inegável excitação naquele momento.
— Uma punição bem grande. — sorri, manhosa e levei dois dedos aos
lábios, molhando-os com o seu gosto.
— Uma não. Duas. — corrigiu, misterioso, sua grande mão envolveu
todo o meu pescoço, agarrando-o com firmeza.
Franzi a testa, intrigada.
— Está me chamando para um ménage? — havia uma certa
incredulidade em minha voz, embora eu ainda estivesse incerta se aquilo
era uma brincadeira ou não.
Christopher, jamais, em sã consciência, permitiria que outro homem me
tocasse.
Ou ele havia enlouquecido e cedido a um relacionamento aberto, ou
então, possuía um vibrador escondido em seu antigo quarto, nesta enorme
mansão assustadora em que eu e minha irmã fomos arrastadas, em castigo.
— Sim. — sua voz fora séria e determinada, definitivamente ele não
estava blefando.
Imediatamente virei-me em sua direção.
— Um ménage? — Soltei, ríspida. — Vai deixar alguém me tocar? —
aquilo me chateou.
Por mais que não aprovasse o seu ciúme doentio, gostava menos ainda dá
ideia de ele permitir que um outro homem fizesse sexo comigo.
Christopher me prometeu que eu era dele, que droga mudou?
Balancei a cabeça, mas Christopher me puxou, impedindo que eu abrisse
o boxe de banho, apertando-me em seus braços.
— Você não vai escapar dessa vez, amor.
— Eu posso estar bêbada, mas ainda estou consciente o suficiente para
negar essa atrocidade. — em uma falha tentativa, esforcei-me para escapar
dali — Agora me solta! — berrei, irritada.
Ele sorriu, de um jeito provocador.
— Me solta! — eu rangia os dentes de raiva.
Eu queria tanto socar a cara dele agora.
Por que ele estava fazendo aquilo comigo? Por que estava me cedendo a
outro alguém? Será que já não gostava mais tanto assim de mim?
Ele riu perversamente e então me puxou para mais perto.
À medida que eu me mexia, ele pressionava seus braços com ainda mais
força em volta do meu torso.
Sentia cada celular do meu corpo se torcer sabendo que ele se deliciava
em me ver relutar.
— Se não me soltar, eu vou gritar. E você sabe que o As está dormindo
há alguns quartos de distância daqui. Eu vou acordar ele em instantes.
— Ótimo. — disse ele, ironicamente, ao mesmo tempo em que desligava
o registro d'água.
Por um único segundo, tive esperança que me soltaria e diria que tudo
aquilo não passava de uma brincadeira. No entanto, ele abafou o meu rosto
com a sua enorme mão, e, com o braço livre, envolveu-o em minha cintura,
erguendo-me do chão.
— Agora nós vamos foder. — avisou, ao passo que me levava para fora
do banheiro.
Me debati em seus braços para que me soltasse. Eu estava tão furiosa,
irritada, chateada e... Caramba! A minha cabeça rodava sem parar.
Quando me pôs de volta sobre o carpete, estávamos diante da sua enorme
cama king size.
Eu não iria dormir ali. Estava pouquíssimo a fim de ficar perto dele
agora, e se Chris me obrigasse a qualquer coisa, eu faria questão de socar
aquele rostinho bonitinho que no momento me tirava o sério.
Seus olhos possuíam um brilho malicioso que combinava perfeitamente
com o sorriso estampado em seus lábios rosados. Ele deslizava a língua pela
boca, sacana, mas não se movia, apenas me encarava, como se aprontasse
algo.
— Já teve vontade de fazer um menáge, amor? — provocou.
— O quê? — quase rosnei, recuando um passo simultaneamente.
Meu corpo mais que imediato fora atingido por alguma coisa parada logo
atrás de mim. Foi quando percebi que não estávamos mais sozinhos no
quarto.
Meus olhos se arregalaram. Eu não era capaz de me mover naquele
instante, pois estava nua e vulnerável.
Meu coração disparou. De repente, me vi acuada pela pessoa que eu
acreditava ser capaz de confiar em um momento tão íntimo como aquele.
Não podia acreditar no que Christopher havia feito. Ele tinha armado para
que outra pessoa viesse para cá quando me trouxe.
Isso fez meu rosto esquentar de mágoa e vergonha.
Por outro lado, a torre tatuada encarava-me cada vez mais quente e
intenso. Seu olhar vagueava pelo meu corpo nu com um descaramento
insaciável.
A pessoa atrás de mim tocou a minha cintura e isso me fez estremecer,
saltando para frente.
— Me solta! — berrei, girando os calcanhares em um gesto instintivo.
O que vi me deixou... embasbacada.
Não.
Não.
Não era real.
— Querida... — Christopher sussurrou às minhas costas, beijando o meu
pescoço, afagando os meus ombros. — Conheça o nosso terceiro
participante de sexo hoje. — apresentou, apontando para a coisa parada á
nossa frente, ou melhor, apontando para sua entidade demoníaca diante de
nós.
Meu coração batia em um descompasso exasperado. Minhas mãos
soavam frias e minhas pernas tremiam.
— C-como? — consegui enunciar.
— Como o quê, Dingo Dingo? — Chris murmurou, descendo os seus
lábios bem devagarinho em minha pele.
— Como existe dois de você nesse quarto? — arfei, a voz quase
sumindo.
Seu outro lado, em sua camada demoníaca, deu um passo à frente e
automaticamente eu quis me afastar.
— Não tenha medo, amor. Somos a mesma pessoa. — Christopher, em
sua matéria humana, informou.
Minha cabeça agora parecia dentro de um carrossel, girando em sua
velocidade máxima. Era muita informação para ser analisada.
— Meu corpo consegue se desvincular da minha forma imortal, meu
bem. É por isso que consegue ver dois de mim. — Ele me abraçou, notando
o visível tormento que se passava em meu rosto.
Permaneci estagnada, em choque. Foi somente quando a sua forma
demoníaca se mexeu, que eu descongelei do lugar, ainda tinha o ato
involuntário de querer fugir, mas Chris me manteve presa até que o seu
outro eu estivesse tão próximo que sentia o frio de sua pele emanando na
minha.
— Consigo estar em dois lugares ao mesmo tempo. — informou em meu
ouvido.
— E agora posso te comer de duas maneiras diferentes. — a voz sombria
e macabra acrescentou.
Embora fossem a mesma pessoa, eu os via como diferentes.
Meu Christopher humano não possuía aqueles traços sinistros em sua
pele, não possuía um vazio nos olhos, nem era completamente assustador.
Christopher agachou-se atrás de mim, tomando a parte de trás de meu
joelho para erguer a minha perna no ar à minha frente, abrindo-me para sua
entidade assustadora.
Aquilo era tão confuso, louco e... excitante. Mas que merda. Christopher
havia ferrado com a minha cabeça e agora eu me sentia excitada pelo seu
lado demoníaco.
— Vou comer você até que não aguente mais. — o monstro comentou.
— Mais uma coisa... — Chris entoou — Minha outra face não possui
humanidade, então espero que entenda que isso vai ser uma foda violenta.
— ele riu.
Prendi o ar nos pulmões e virei meu rosto para ele, assustada. Foi o
tempo exato que levou para o monstro se abaixar, levando seus lábios à
minha intimidade. Seu ato certeiro pegou-me desprevenida e suspirei.
Embora eu tentasse me mover, Christopher ainda prendia minha perna em
volta do seu braço, deixando-me arreganhada para ele próprio.
— Quietinha, Dingo. — informou, roçando seu nariz em minha
bochecha. — Tudo o que meu eu demoníaco sentir, eu também sinto. Terei
o prazer de gozar mais forte hoje.
A língua do monstro entornou a minha boceta, descendo e subindo em
minha entrada, provocando o meu clitóris, para então, enfiar-se dentro de
mim. A sensação de sua língua gelada me fez virar os olhos e arrepiar-se.
Um longo gemido escapou de meus lábios e joguei a cabeça para trás.
Christopher apertou o meu seio com a mão livre e agarrou os meus lábios
com os seus, beijando-me com urgência.
Enquanto o monstro fodia a minha boceta com a sua língua, Christopher
fodia a minha boca.
Ambas as mãos passeavam em meu corpo, agarrando-se a todas as partes.
Uma explosão de sentimentos arrebataram a minha mente. A experiência
era nova, desafiadora, mas incrível. Eu estava delirando com os dois.
Quando o monstro se ergueu, foi a vez de Christopher me virar para si. O
braço aterrorizante do demônio agarrou a minha cintura, já a sua mão
entornou o meu pescoço com garra e pressão.
Christopher posicionou seu dedo em mim, mas não o enfiou, parecia
apenas querer conferir algo antes de remover a mão dali. Franzi as
sobrancelhas, a ansiedade tomava conta. Minha respiração descompassada
acelerava cada vez mais.
— Está bem lubrificada. — Chris explicou ao denotar minha confusão.
Ele me olhou nos olhos, agarrando firmemente o seu pênis em sua mão,
masturbando-o, ainda que já estivesse duro.
— Eu vou foder você, e eu quero que aguente. — comandou, encarando-
me sério.
Não pude assentir, o monstro mantinha minha cabeça presa em sua mão.
— Se você se esquivar, eu vou te enforcar. — o demônio ameaçou,
frígido.
Busquei Christopher, de olhos bem abertos, mas de nada adiantou, afinal,
eu estava buscando apoio dele próprio. Assistindo a minha reação, ele
sorriu. Divertia-se em me ver daquela maneira.
— Ganhará castigos toda vez que ousar me desobedecer de agora em
diante.
— Eu não vou dar conta de você dois, Chris... — arfei, nervosa.
— Eu sei que não, amor. — ele suspirou — Mas consegue fazer isso com
um de cada vez. — Jogou uma piscadela cínica e tomou aproximação.
— Mas.... — tentei me mover, porém fui esmagada pela pressão em meu
pescoço.
O monstro tinha razão quando disse que apertaria, porém, imaginei que
não seria tão perverso como estava sendo. A criatura parecia ansiosa para
me enforcar ainda mais. Era sádico.
O demônio envolveu os braços cinzentos por trás de meus joelhos, para
então, deixar-me completamente acessível para Christopher.
Sua parte humana logo se aproximou, beijando os meus lábios
violentamente. Notei que queria tirar o foco dos meus pensamentos quando,
inesperadamente, senti seu pênis de pouco em pouco introduzindo-se em
mim.
Abri a boca, em um gemido abafado.
— Ah minha nossa! — exclamei, sensível.
Ele sorriu, sacana, enfiando mais de si até onde conseguia. Inicialmente,
foi doloroso até eu me reacostumar com ele, penetrando-me, mas logo, uma
breve sensação prazerosa assumiu.
Suas mãos agarraram com força as minhas coxas, ele não media esforços
ao espremê-las, o que provavelmente resultaria em hematomas roxos mais
tarde.
Com cuidado, ele se movimentou em um vai e vem que logo progrediu
para atos mais rápidos e persistentes enquanto o monstro deixava-me de
pernas bem abertas para ele. Mordi os lábios assim que suas estocadas
tornaram-me mais rápidas e extremas.
Ele me fodia com força, ao mesmo tempo em que sua segunda camada
mordiscava a minha orelha. Em certo momento, seu aperto em meu pescoço
tornou-se tão acirrado que me faltou o ar, porém, quanto mais eu me mexia,
mais ele forçava, então parei.
O oxigênio em meus pulmões consequentemente diminuiu, porém, com a
falta de ar, os toques em meu corpo se aguçaram, sentia ainda mais
intensamente Christopher estocando com força.
Eu estava tão excitada que sentia-o escorregar facilmente dentro de mim.
Um prazer louco e fodido me arrematava ao ser tão preenchida.
Meus lábios começaram a formigar, minha cabeça queimava e minha
testa latejava. Eu estava sufocando, mas, de algum jeito, isso me deixara
ainda mais excitada.
O sentimento imoral possuía uma certa sensualidade. Christopher mordia
os lábios, sua respiração estava ofegante. Seus olhos possuíam um
resplendor maléfico, preenchido de prazer. Ele deliciava-me com o seu
olhar quente, satisfeito em vê-me daquela maneira.
Naquele momento eu sentia que ele era tão meu. Todo meu.
Meu olhar vagueava pelo seu corpo suado me fodendo. O peitoral
coberto pelas suas enormes tatuagens. As veias em seu pescoço saltavam e
a pele tornou-se avermelhada. Sua respiração era rápida e descompassada e
o seu olhar era rígido e possessivo sobre o meu.
Vê-lo daquela maneira era exorbitantemente provocador.
A pressão em meu ouvidos tornou-se um zunido, minha visão turvou,
sentia como se estivesse prestes a desmaiar quando tudo começou a
escurecer, porém, o monstro libertou o meu pescoço, e mais que
imediatamente busquei por ar.
— Porra... — Christopher gemeu, investindo em suas estocadas.
Sorri, atingida.
Sem aviso prévio, fui novamente posta no chão, contudo, me segurava
nos braços do demônio, minhas pernas não se aguentavam em pé por si só,
meu corpo estava mole e vacilante.
Sentia-me como se fosse ceder ao chão a qualquer instante. Preocupado,
Christopher me buscou em seus braços e sentou-me na cama, garantindo
que eu não caísse.
Agora, parados diante de mim, estavam os dois homens quase que
idênticos, se não fosse as características sobrenaturais que os distinguiam.
O monstro sorriu e se aproximou. Engoli em seco, estava nervosa e um
tanto quanto desnorteada.
— Ajoelhe, meu amor. — a entidade demoníaca ordenou.
Intercalei o meu olhar entre um e o outro, como se isso fizesse alguma
diferença, até que o meu Christopher humano sorriu.
— Não nos olhe como se eu não fosse ele. Sinto tudo o que minha
camada demoníaca sente, Dingo Bells. — Christopher se agachou perante a
mim. — A diferença entre eu e... bem, eu demônio, — ele sorriu achando
graça — é que em mim — apontou para si —, há um lado humano e
sensibilizado, mas já a minha outra metade, apenas quer te foder e te
machucar.
— Precisa adestrar o seu outro lado. — brinquei, mas o seu outro eu não
possuía um senso de humor tão bom assim. Seus longos dedos macabros
seguraram o meu queixo com força e me obrigararam a encarar a negritude
do vazio em seus olhos.
— Ajoelha! — desta vez, não havia espaços para paciência em sua voz
maligna.
Fiz o que me pedia, mas, diferentemente do que imaginei, não era ao
monstro que eu iria chupar, o meu Christopher humano se pôs a minha
frente, seu lado obscuro sentou-se na cama às minhas costas. Suas mãos
brutas puxaram os meus cabelos para trás, enrolando-o em um rabo de
cavalo entre seus dedos.
— Abra a boca, amor. — Christopher pediu, sua mão já segurava o seu
pênis sob a vista dos meus olhos.
Deixei que meus lábios se separassem, abrindo a boca com certo receio.
Eu estava ansiosa e excitada, mas ainda tinha resquícios de preocupação.
— Não se preocupe, anjo. Eu sou todo seu. — Chris comentou, em um
misto de gentileza e perversão.
— Mesmo?
Ele assentiu, com um sorriso de canto. Devolvi na mesma intensidade e
agarrei o seu membro tatuado em minha mão.
Chupei Christopher bem lentamente, deslizando toda a minha língua em
volta da cabeça do seu pau. Gemendo baixinho apenas para o provocar
Ele mordeu os lábios. Seu rosto suado atingiu o tom rubro mais que
imediatamente, imaginava ser uma fantasia sua me ver tão submissa a ele.
As veias em seu pescoço e braço se acentuaram, tornando-se bem
visíveis.
O monstro guiou os meus movimentos, estava disposto a me fazer
engolir muito daquilo pela maneira em que era autoritário ao enfiar a minha
boca mais a fundo.
Obedeci ao seu desejo, levando o meu corpo a suportar ao máximo.
Precisei conter um grande soluço quando o coloquei no fundo de minha
garganta em minha garganta e senti refluxos.
O tirei por um segundo. Meus olhos lacrimejavam e minhas bochechas
ardiam. Eu não possuía muita experiência com aquilo, precisava de um
pouco mais de tempo.
Ergui o olhar e encontrei-o com os seus olhos cheios de um fogo que
poderiam me queimar apenas por me olharem tempo demais. Christopher
me encarava como se quisesse me foder loucamente.
Com um sorrisinho inocente, porém, malicioso, esfreguei a cabeça do seu
pau em minha língua bem lentamente.
Ele umedeceu os lábios, enquanto seus dedos acariciam de leve a minha
bochecha.
Meu corpo inteiro tremeu ao sentir um toque gelado e pesado envolver o
meu pescoço. Ouvi o chacoalhar metálico e busquei entender o que estava
acontecendo, levando minhas mãos ao que parecia enrolar-se em minha
garganta.
Quando notei a textura inigualável do ferro da corrente fria, arregalei os
olhos.
— Chris...
— Vai me chupar com uma corrente no pescoço. — o monstro anunciou
num sussurro rouco. — Não estou nem aí se engasgar, só vou parar se
vomitar.
Tentei agarrar com as duas mãos o ferro que me prendia, no entanto, a
entidade impediu.
— Entendeu, Dingo? — a voz mórbida pressionou.
Assenti num balançar rápido de cabeça.
— Quer isso, querida? — Christopher instigou, olhando-me atentamente.
Mordi o canto dos lábios, estava nervosa, mas disposta a tentar.
— Eu quero... — murmurei em um sonoro e baixo ruído.
— Mais alto, meu amor. Quero te ouvir dizer que quer que eu foda a sua
boca assim.
Mordi o canto dos lábios.
— Eu quero, Chris. — me esforcei para que a minha voz se sobressaisse
ao medo.
Era óbvio que eu nunca havia feito nada de tão radical, mas eu estava
empolgada com a ideia. Queria testar os meus limites e fazer com que
Christopher se sentisse satisfeito, porque isso, oras, me deixava tão excitada
quanto ele.
Ele sorriu. Em seguida, colocou o seu pênis em meus lábios, esfregando-
os sugestivo. Abri a minha boca e deixei que ele me penetrasse a fundo.
Fechei os meus olhos quando os senti arder, mas Christopher queria me ver
daquela maneira e fez com que eu novamente os abrisse. Ele segurava o
meu queixo com rispidez, erguendo-o para si.
Sua entidade pressionou as correntes em volta do meu pescoço. Não me
fazia sufocar, mas era suficientemente precisas para me fazerem sentir a
pressão e a temperatura fria sobre elas. Meu corpo se arrepiava sem parar.
Aos poucos, fui tomando um ritmo impassível e rápido, Christopher me
acertou com um tapa no rosto e no momento seguinte, o demônio
pressionou as correntes com mais força.
Senti minha intimidade latejar, queria Christopher me fodendo ali, com
força. Eu estava afogada em prazer e luxúria. Adorava a forma como meu
namorado me encarava, me fazia sentir-se livre para fazer o que quisesse.
Retirei seu pênis de minha boca e lambi, desde a base até a ponta.
Christopher esfregou-o em meu rosto de um jeito safado.
— Você está uma puta de uma gostosa, amor. — murmurou, a voz
carregada de rouquidão.
Abri um sorriso contente e lambi os lábios, encarando-o diretamente nos
olhos. Aqueles olhos tão quentes e perversos. A imoralidade paraiva sobre
cada linha de expressão em sua face.
Naquele momento, senti-me como se nunca antes houvesse sido pura. Me
sentia como uma puta para aquele homem, e de algum modo, eu amava a
sensação.
A submissão trazia consigo alguns prazeres que nenhum outro esquema
poderia fornecer. A devoção era um prazer perigoso, eu confiava a ele tudo
de mim.
— Você adora o pecado, Dingo Dingo. — declarou, sério — E é por isso
que você me quer tanto na sua boceta agora.
Ele tocou o meu queixo de leve.
— Agora eu vou te foder.
A sua entidade me agarrou pela cintura no segundo seguinte para erguer-
me do chão.
As correntes em meu pescoço tilintaram ao se debaterem uma à outra.
Imediatamente elas alongaram-se como mágica. Ele não perdeu tempo,
aproveitou das voltas que havia dado em meu pescoço e puxou as correntes
para as minhas costas, descendo para o restante do meu corpo, aprisionando
os meus braços e pernas.
Assim que o monstro terminou de me acorrentar, jogou-me de barriga
para baixo no colchão macio, em meio aos lençóis vermelhos, puxando
meus quadris para que eu ficasse de quatro. O movimento fora tão rápido
que tive a sensação de ter levitado.
Eu não conseguia apoiar os braços no colchão para me equilibrar devido
as correntes, mas sentia a minha bunda arrebitada para o alto.
O demônio não buscou por me dar tempo para respirar. Ele logo me
penetrou, me fodendo cheio de raiva e ignorância.
Eu gemia alto e me contorcia inteira ao sentir uma forte onda de prazer,
cobrindo-me dos pés a cabeça.
Minhas pernas tremiam. Precisei morder os lençóis para conseguir me
segurar e não sair do lugar com a força em que o monstro investia em mim.
Meus gemidos saiam em um coro contínuo, assomando todo as quatro
paredes do quarto.
Aquela posição doía tanto quanto era prazerosa. Mas eu estava gostando
de sentí-lo, mesmo sabendo que as consequências viriam logo em seguida
que ele terminasse.
Senti uma tapa ardido queimar em minha bunda e soltei um grito.
O olhei sobre os ombros e o encontrei sorrindo como um garoto travesso.
Ele estava adorando aquilo. Ou melhor, a sua forma demoníaca
completamente assumida estava gostando daquilo.
Os olhos negros e as raízes escuras espalhado por todo o seu corpo nu e
cheio de músculos evidenciava o que já era óbvio desde que ele começou
isso, ele estava sedento.
Continuei a observá-lo, presa como uma hipnose a cada detalhe de seu
lado sombrio. E não foi nada mal. Sendo sincera, vê-lo assim só me fez
gozar ainda mais rápido.
Me desmanchei em seu pau gemendo e arfando. Ele meteu mais algumas
vezes antes de gozar em cima da minha bunda.
Quando parou, me olhou firme nos olhos. Eu estava soada, cansada e
ofegante. Sentia-me como se tivesse corrido uma maratona.
Busquei procurar pelo "outro Chris" e o avistei tragando um cigarro em
uma poltrona do quarto enquanto marturbava-se diante daquela cena.
Sorri para ele.
— Eu te amo. — sussurrei com dificuldades.
Ele jogou-me uma piscadela e apontou com o olhar para o seu pênis
melado por sua porra. Christopher também havia gozado.
Naturalmente joguei-me para o lado na cama. As correntes entorno do
meu corpo dissiparam-se. Sua entidade demoníaca havia sumido. Agora
éramos somente nos dois novamente.
Meus olhos pesavam tanto que eu mal conseguia mantê-los abertos.
— Durma, meu anjo. Eu cuido de você. — ouvi sua voz longínqua em
minha cabeça, mas a escuridão já tomava conta.

O que acharam? Acertaram de quem seria o ménage?
Fazia tempo que eu não escrevia capítulos tão longos, ao todo, foram 7
mil palavras nos total. Eu poderia ter colocado eles juntos, mas prefiro fazer
uma coisa mais separadinha.
Meu antigo nome de autora "Marília Andrade" foi trocado por "Ellie
Morgan". Explicações na caixa de aviso do meu wattpad.
Meu Instagram: autoraelliemorgan
Capítulo 57| DR

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



— Você parece desconfortável. — notei, num rápido lance de olhar.
Seu corpo se esquivava de sentar-se completamente no banco do
passageiro, estava ligeiramente virada, debandando todo o seu peso para o
seu quadril.
Suas pernas estavam cruzadas de maneira proposital para que suas partes
intimas não tocassem o assento.
Suas bochechas rapidamente ganharam o tom rubro, que logo se espalhou
pelo resto de sua face. Seu nervosismo evidente deixava-me aflito, e sua
ansiedade era desconfortável para qualquer um de nós dois.
Ela pigarreou, desconcertada e mordeu o canto do dedo.
— Quero ficar assim. — explicou, baixinho.
Prendi um sorrisinho nos lábios.
Minha garota ainda não havia tido tempo para se acostumar com o meu
pau, tampouco, com dois dele.
Quando os pneus passaram sobre parte da superfície íngreme em meio à
estrada, todo o carro mexeu, percebi que isso a fez apertar os olhos com
força, ela estava sentindo dor.
Toquei a sua coxa, afagando-a devagar.
— Precisa de alguma coisa?
Ela balançou a cabeça, antes de pousar sua mão sobre a minha.
— Estou bem. — garantiu, embora, tudo nela demonstrasse sinais de
incomodação.
— Posso ver que não está bem. Sabe disso. — pontuei mais sério.
— Então deve saber que eu só quero chegar em casa logo. — debateu,
meio irritada.
Intrigado, juntei as sobrancelhas, vagando o olhar sobre o seu rosto.
— Desculpe. Eu só estou me sentindo estranha. E isso dói e arde. — ela
balançou a cabeça — Não podia ter um pênis um pouco mais fino e menor?
— cochichou.
Quase ri disso, no entanto, as circunstâncias mais me deixaram agoniado
do que lisonjeado.
— Não se preocupe, nas próximas vezes serei mais cauteloso.
— Acho que não vai ter próxima vez. — resmungou, com uma expressão
dolorosa.
Semicerrei os olhos, desta vez, mais sério.
— Com certeza terá.
— Minha vagina, minha escolha. — ela ainda cochichava, de modo que
se dissesse alto demais, traria aborrecimento para si mesma.
Eu não iria discutir sobre a quem seu corpo pertencia agora, apenas para
não deixá-la ainda mais brava. No entanto, Dytto parecia ter dificuldades
em aceitar a realidade em que vivia comigo. Nada do seu corpo era somente
seu.
Acho que eu chamá-la de "minha" já deveria ter surtido algum efeito,
porém, ela pensava ser apenas um gesto romântico ou sexy, quando, na
verdade, se tratava de posse.
Subi e desci a mão em sua coxa, mas ela se afastou, como se isso a
machucasse.
— As minhas pernas estão doendo, roxas e marcadas. — explicou.
Afastei a mão.
— Te tocar hoje será ainda mais difícil. — comentei em tom baixo e
calmo.
— Está reclamando? — ela ergueu o tom de voz.
Dytto estava em um estado extremo de sensibilidade. A dor em geral
tende a ativar um lado defensivo e rude das pessoas, logo, evitei colocar
tudo o que eu desejava em palavras. Teria o mínimo de consciência hoje
para amenizar o seu sofrimento, embora ela estivesse assim por merecer.
Garota desobediente!
— Me deixa irritado ficar tão longe de você.
— Estamos só há alguns centímetros de distância. — protestou.
— Preciso estar há zero centímetros de distância, e isso significa estar
enterrado em você.
— Acho que já fez isso a noite toda, de duas maneiras diferentes. —
pontuou.
Assenti, com um meio sorriso de canto.
— Está me pedindo para ficar longe de você, sininho de natal? —
provoquei-a.
— Sim, estou, torre pirocuda. — ela foi firme em sua decisão.
— Vou te dar espaço então. Não reclame.
Ela franziu a testa. Estava curiosa para descobrir o que eu planejava, mas
uma parte orgulhosa dentro de si relutava para que não fizesse isso.
Eu não planejava nada demais além de atormentá-la em sua própria
curiosidade.
— Então fique bem longe. Preciso de um tempo de você. — à
contragosto, concordou.
Não era o que ela queria, e sentia como se começasse a se arrepender
disto, porém, Dytto não voltaria atrás, estava furiosa comigo.
— Certo. — fui curto, evitando dar-lhe pistas do eu hipoteticamente iria
fazer.
Eu sabia exatamente como atingí-la e usaria isto ao meu favor. Dytto me
fazia parecer uma garota carente, e eu não era assim, a maldita me
transformou nisso.
— Pode ir mais rápido, por favor? Preciso ter certeza de que a Barbie
gótica deixou a minha irmã em casa em segurança.
Voltei meu olhar para ela, cerrando o maxilar. Pelo visto, Dingo Dingo
estava mesmo afim de entrar nesse jogo.
— Claro, sininho. — fui sarcástico e ela revirou os olhos.
Troquei de marcha e afundei o pé no acelerador. Ela fingiu pouco caso,
mas apertou os dedos no cinto de segurança.
Tirei uma mão do volante para procurar um cigarro no porta-luvas, isso a
fez imediatamente entrar em alerta.
— Chega, Chris. — ela avisou entre dentes.
— Hum? — olhei para os lados do carro, fingindo não a ver — Será que
tem mais alguém aqui comigo? — Provoquei.
Ela deu um soco fraco em meu ombro, enquanto me encarava com uma
expressão mortal. Os olhos carregados de fúria se fincaram nos meus em
uma advertência.
Sorri para ela.
— Olha, você aqui. — fingi perceber a sua presença.
— Caramba, Chris! — berrou, esfregando suas mãos no rosto.
Era engraçado ver aquela coisinha magra tão brava ao meu lado.
Recuei o pé no acelerador, o ronco do motor aos poucos perdeu vida, a
velocidade fora reduzida e ela suspirou.
Dytto prendeu o olhar para a paisagem lá fora, pouco interessada em
mim.
Puxei a cartela para o meu colo e retirei um maço de cigarro, colocando-
o entre os lábios, porém, ela foi rápida em arrancá-lo de mim.
— Não vai fumar aqui. — determinou.
Ergui uma sobrancelha.
— Tenho uma cartela inteira para nós dois brigarmos.
Dingo olhou em volta, como se procurasse algo, então estancou o olhar
sobre o painel.
Ela pulou sobre o isqueiro como se sua vida dependesse disto e o jogou
para dentro do sutiã.
— RÁ! Mas não tem um isqueiro para acender. — gritou.
Passei com a língua sobre os lábios e assenti.
— Pense bem se é isso o que quer fazer. — ameacei devagar.
Eu também não planejava fazer nada contra aquilo, mas ela era adorável
quando estava com raiva.
Seu sorriso vitorioso diminuiu e Dytto cruzou os braços.
— Espero que enfie todos os cigarros no seu rabo e fume de lá.
Ri disso.
— Ter dois paus dentro de você te deixou um porre.
Seu rosto enrubesceu e ela virou o rosto.
— Não fale comigo. — decretou.
Ô inferno. A minha mulher estava me matando.
Percorremos nosso caminho em silêncio, ambos sem trocar uma única
palavra. Ela não iria se render, e eu sabia que era exatamente o que queria
que eu fizesse, no entanto, a conhecia o bastante para saber que mesmo que
eu pedisse desculpa, ela ainda ficaria chateada.
Era uma lógica feminina intrigante. Ela não iria me perdoar, mas
precisava me ouvir pedir desculpas, porque isso, em sua cabeça, era o que
deveria ser feito.
Dytto só voltou a me olhar quando estacionei diante a farmácia. Seus
olhos saltaram para os meus num instante, como se não soubessem o porquê
de não termos ido diretamente para a sua casa.
— Não vamos correr o risco. — avisei enquanto abria a porta do carro.
Ela não se importou de sair ainda mais rápido do outro lado.
Continuávamos não nos falando.
Eu não ia pedir que descesse do carro, resolveria isso sozinho, entretanto,
também não ia pedir que agora ela voltasse. Minha mulher estava uma leoa.
Dytto caminhava na frente, irritada, porém, de um jeito esquisito. Parecia
um frango assado tentando andar. Sua boceta deveria estar em seus piores
dias.
Prendi um sorrisinho entre os dentes, mas fui flagrado por ela olhando a
sua bunda.
Dytto fez a maior cara horrorizada que conseguiu, logo, me deu as costas
e andou o mais rápido que podia no momento, o que não era muito.
Ela foi a primeira a chegar ao balcão. O atendente era um rapaz, estatura
baixa, algumas tatuagens e um piercing na sobrancelha. Ele a olhou de um
jeito que eu quis arrancar os seus olhos, mas eu sabia que não devia quando
seus olhos vieram sobre os meus e ganharam um brilho ainda maior.
É, ao que parece, eu fazia bem mais o seu tipo.
Dytto percebeu, e não gostou nada. De repente, estávamos em uma
competição silenciosa.
Ela pigarreou, chamando a atenção do farmacêutico. Ele obrigou a voltar
o seu foco para ela. Aproximei-me do balcão e me apoiei sobre ele,
deixando que meu corpo recaisse bem próximo do moreno, isso o deixou
eletrizado.
— Quero comprar a pílula do dia seguinte e.... — Dytto torceu o nariz,
sem saber como prosseguir — Pomadas vaginais para machucados. —
soltou rapidamente, como se fosse o próprio Eminem.
Seu rosto estava inteiramente marcado pela sua timidez.
Tentei conter o riso, mas acabei soltando-o um pouco mais alto do que
pretendia.
Dytto me encarou irada.
— Também quero remédios contra DST's. — continuou, sem deixar de
me olhar. — Acho que o meu parceiro não era muito saudável. —
comentou, condescendente.
Meu riso imediatamente cessou. Lhe olhei carrancudo e ergui uma
sobrancelha.
Filha da puta.
O vendedor prontamente registrava todos os seus pedidos no computador.
— Bom, já eu... — comecei — Quero uma pomada. A minha parceira
tinha todos os tipos de fungos mais estranhos na boceta. Eu tô bem, na
verdade, mas já ela...— fiz careta enquanto balançava a cabeca.
— Imbecil. — Dingo Bells sussurrou.
O farmacêutico arregalou os olhos, suas sobrancelhas saltaram enquanto
o mesmo me encarava desacreditado. Quando se deu conta de sua reação,
disfarçou virando-se de costas.
— Disse que queria uma pomada vaginal para machucado e remédio do
dia seguinte, certo? — conferiu, erguendo os braços nas prateleiras, a fim
de esconder sua atitude anterior — Já tomou a pílula antes? Tem alergia a
algum medicamento que eu deveria saber?
— Não e não. — ela respondeu, ignorando-me completamente.
Dytto foi atendida primeiro, acho que o atendente pensou que eu deveria
receber um pouco mais de privacidade em minha compra depois. Ele deve
ter imaginado as coisas mais nojentas que já viu em sua vida.
Perambulei por toda a farmácia, olhando produtos que eu não estava nem
aí.
Voltei para o meu atendimento apenas quando o de Dytto fora encerrado.
Passei o cartão para ela e peguei as sacolas no balcão.
— Ainda quer a sua pomada? — o farmacêutico indagou, de um jeito
provocativo. Ao mesmo tempo em que parecia querer flertar, se continha
em razão da garota ao meu lado.
Havia certa dúvida em sua mente. Ele ainda parecia ter esperança de que
ela fosse apenas uma amiga.
Dytto revirou os olhos.
— Não, ele não quer. — ela respondeu secamente por mim.
— Não? — instiguei, semicerrando os olhos. — Claro que quero. Não
posso confiar na minha parceira.
Voltei minha atenção ao rapaz interessado e me encostei na bancada.
Deixei que meus olhos recaissem propositalmente para os seus lábios e
curvei os meus para o canto.
— Bom, acho que se você desse uma olhada no meu pau, poderia saber
se ela não passou nada para mim. Só para ter certeza, sabe? — deixei que
minha voz gradualmente baixasse, de um jeito mais paquerador.
— Não precisa. Já estamos de saída. — Dingo Bells se envolveu, bruta,
e segurou o meu braço.
— Pode ser que descubra qual é o melhor tratamento que você pode me
oferecer. — provoquei, ignorando a interrupção de Dytto.
O rapaz ficou vermelho, completamente desconcertado. Seu olhar
vagueava entre mim e Dytto. Ele não sabia o que fazer. Seus lábios se
entreabriram, mas ele nada dizia.
— Meu pau é bem grande, pode ser que demore você olhar tudo. —
insinuei, lambendo os lábios.
Ele abriu os olhos de um jeito que quase os fez saltarem da face.
— E-eu posso olhar se quiser. Eu... — o garoto engoliu em seco,
perplexo.
— 32 centímetros. — informei, como um sussurro íntimo.
Naturalmente, ele deixou que a curiosidade o vencesse e desceu seu olhar
em mim, embora eu estivesse encostado sobre a bancada de vidro e não
pudesse ver nada com clareza, ele se esforçou.
— C-cara eu acho que....
— CHEGA! — Dytto berrou, agarrando o meu queixo, obrigando-me a
olhá-la. — Vamos! A-GORA. — Ordenou, bem devagar.
Sorri, apenas para deixá-la mais irritada.
— Sim, sininho de natal. Vamos embora.
Ela se afastou, mas não saiu até que eu me movesse.
— Um prazer te conhecer, cara. — eu disse, antes de dar um passo para
trás.
Ele acenou, retido, e não fez mais nada. Estava estático e apavorado.
Saí de mansinho, fingindo pouco caso. Dytto veio logo atrás,
empurrando-me pelas costas, ou tentando empurrar, eu não sentia a menor
pressão com a força que ela exercia sobre mim, mas deixei que ela
acreditasse estar no comando.
— Cretino. Desgraçado. Filho de uma mãe. — ela rosnava a medida em
que nos aproximamos da Ranger vermelha.
Quando já estávamos suficientemente pertos, girei meu corpo e deixando
que ela ficasse à frente, para imprensá-la na lataria.
Ela tentou fugir, mas a segurei pela cintura enquanto gargalhava alto com
o rosto enfincado em seu pescoço.
— EU ODEIO TANTO VOCÊ. — ela esbravejava, dando-me socos no
braço.
— Own, meu amorzinho está brava? — caçoei dela, fazendo bico.
Eu bem que queria não a irritar, mas era tão bom.
— Espero que você tenha mesmo uma infecção e que seu pau caia. —
proclamou.
Segurei seu rosto entre as minhas mãos, eu ainda tentava parar de rir, já
estava sentindo a barriga doer.
Enfiei meus lábios nos seus e prendi seu rosto para que não se afastasse.
Se eu não iria a deixar menos irritada por bem, seria por "mal". Somente a
larguei quando ela já se debatia pedindo por ar.
Ela estava ofegante e com os grandes olhos verdes bem abertos.
— Desgraç-
Enfiei minha boca na sua novamente e continuaria fazendo até que ela
desistisse de me odiar. Quando me afastei pelo mesmo motivo de antes, ela
apenas abriu a boca para respirar, deixou que todos os seus xingamentos
fossem engolidos.
Ou era isso, ou eu a mataria asfixiada em beijos.
— Melhorou, amor? — perguntei.
— Não tenho escolha.
Sorri, e depositei um rápido beijo em sua bochecha que ela fez questão
de limpar.
— Agora, minha querida. — abri a porta do carro para ela — Entre.
Dytto deixou que os ombros caíssem e se rendeu ao meu pedido.
Mais tarde, quando a deixei em casa, sabia que ela não teria tempo e nem
condições físicas para ir à escola, então liguei para o seu diretor e pedi, ao
meu modo, que ele não a prejudicasse ou deixasse que aquilo marcasse a
sua linda e contínua presença escolar.
Ele, obviamente, concordou após as minhas belíssimas ameaças
amigáveis.
Eu tentava ser bom por ela. Mas eu, felizmente, não era um homem bom.
Liguei para Loren naquela manhã, e de um jeito ainda bem menos
amigável, lhe fiz prometer que levaria Dytto a um ginecologista o mais
rápido que desse. Eu já sabia que Dingo Bells não iria comigo de forma
alguma, então pensei que seria mais confortável se sua irmã a levasse.
Eu jamais a deixaria ir em um médico qualquer, fiz questão de eu mesmo
marcar a consulta com uma médica de confiança, indicada pelas minhas
irmãs. Eu não deixaria ela nas mãos de um homem desconhecido tocando
no corpo da minha garota.
Somente depois de ter resolvido tudo, fui atrás da pulga em minha orelha.
A tarefa pendente da qual eu mais evitava cumprir.
Parado dentro do carro no estacionamento vazio, esperava pela sua
presença. Não devia demorar, ele nunca perdia qualquer encontro.
O céu estava escuro, ameaçava chover como na maioria dos dias em
Vespeau, mas eu não ligava, já estava habituado ao frio desde sempre.
Cinco minutos depois, a porta fora aberta. Nabrya entrou em um lance
rápido e ágil.
Sentia a sua aura pesada há quilômetros, não era difícil não percebê-lo,
no entanto, era horrível suportá-lo.
— Há uma certa singularidade no que diz respeito a você. — comentou
ele, num tom mais baixo e calmo. — Imagino que goste de deveres
cumpridos, deveres estes, que satisfazem o seu infeliz ego insaciável. —
criticou.
Eu não absorvia as suas provocações. Nabrya adorava jogos suicidas e
possuía manias de controle mental.
Eu me alimentava de almas, Nabrya se alimentava de mentes. Ele
adorava manipular e desmembrar as suas vítimas em partes.
Dificilmente ficava sem um alvo fixo. Brincava com os desejos, segredos
e medos das pessoas. Influenciava sentimentos com as suas habilidades
psíquicas, e então, prendia o indivíduo em aflições que poderiam durar
semanas, meses, anos ou uma vida inteira. A quantidade dependia da
habilidade do seu jogador em saber se livrar de seus comandos.
Em maioria, ele se deleitava em virtude quando ouvia as pobres almas
pecadoras se perguntarem: "Por que me sinto tão mal em momentos tão
bons da minha vida?", ou algo assim.
Poderia até mesmo culpá-lo por tantas pessoas se converterem ao
cristianismo, eu odiava Nabrya. Ele jogava sujo e às vezes era hipócrita.
Quando pessoas infelizes se dão conta de que estão na pior, procuram por
seu milagroso Deus. Algumas até realmente crêem, outras, no entanto, se
perdem no que fingem ser.
Eu realmente odeio esse cara.
— Sabe, eu adoro a juventude, mas odeio a arrogância que ela traz
consigo. — comentou.
— Ah, é? — falei desinteressado e prendi um bocejo.
Sempre fui desrespeitoso e mal caráter. Mas perto de Nabrya, eu sabia
que deveria conter esses instintos.
— Eu sempre abri mão de muito em toda a minha existência, não porque
não fizessem sentido ou porque eu não as quisesse, mas porque eu tinha
ambições que iam além do que a mediocridade do desejo tinha a me
oferecer.
— A resposta é não. — fui rude ao entender onde chegaríamos.
— Só acho que você seria bem mais eficaz sem ela na sua vida. Eu a
vejo, sei que ela possui beleza, juventude e uma aura deliciosa. Mas
também é mortal e fútil. Irá envelhecer e morrer como qualquer um.
Sempre vai existir um outro amor, e outro, e outro....
— Não se sinta responsável por quem eu amo, ou irei amar. Se seus
sentimentos são vazios e limitados, isso não é problema meu. Então não se
ofenda quando eu digo que nada que eu faço é pensando em você. Não o
idolatro, não sou seu servo e nem seu aluno.
— Não se limite ao pensamento do Eu te amo, Christopher. Isso é falho e
passageiro. — Nabrya virou-se bem devagar para mim — E isso vai acabar,
de um jeito ou de outro. Se não por mim, mas talvez, pelo seu pai. Sabe
bem que ele não está nada contente por você ter ela.
— Meu trabalho aqui ainda está sendo feito. Não olhem para quem eu
estou e não vão ter motivos do que se preocupar. Sou muito bom no que
faço.
— Eu não diria que não deveríamos nos preocupar. Quando você se
concentra nela, esquece tudo o que devia estar fazendo. Quer fazer mais
devagar para ter mais tempo ao lado dela. Quer dar tempo de vida a ela
nessa terra. Mas sabe que isso não é possível, Christopher.
Apertei os punhos e ergui uma sobrancelha a ele.
— A porra do mundo não vai acabar amanhã. Terei tempo suficiente com
ela viva ou morta.
— Mas prefere se agarrar a vida inútil e mundana com ela. — ele sorriu.
— Sua vida mortal é descartável. Se eu te matasse neste exato momento,
teria apenas o casco odioso de sua forma demoníaca trabalhando mais
rápido.
Ele tocou a maçaneta.
— Pense nisso, Christopher. Estou te dando a oportunidade de estar com
o coração batendo e trabalhando para mim.
Respirei fundo, o ar parecia cortar as minhas entranhas e arder em meio a
fúria crescente em mim.
Eu queria rasgá-lo em pedaços naquele momento.
— Seu pai espera que você trabalhe para ele pelo resto da vida. E eu
espero que você me ajude a destruí-lo para que fique livre e eu no comando.
Mas você está estragando tudo com essa sua piedade pela humana.
— Nunca mais chegue perto dela. — murmurei entre dentes.
— Nunca mais desobedeça aos meus comandos. — ele abriu um sorriso
maléfico — Vá para o Brasil, você sabe o que te espera lá.
— A doença vai se espalhar de qualquer jeito, não preciso levá-la a lugar
nenhum.
Ele deixou que a sua cabeça tombasse para o lado.
— Não se trata mais de uma única doença, Demônio.
Nabrya fechou a porta e deu as costas para mim.
O caos.
Eu era responsável pelo caos.
Então teríamos o caos.
E eu não serviria mais a ninguém.

Teorias?
Eu uso o calendário de 2019 no livro, olha só que coisa hein.
Capítulo 58| Momentos em família

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



— Fissuras. — Informei, olhando-o nos olhos.
Sua testa se franziu em uma nítida confusão, ele havia acabado de chegar
em meu quarto. Desta vez, em sua forma humana. Chris tinha até mesmo
passado pela porta como alguém normal fazia, e isso me rendeu uma
ligação de papai, que ainda estava em viagem e tinha o visto pelas câmeras.
Meus pais chegariam apenas depois de amanhã, por isso, precisei
tranquilizá-lo dizendo ser só uma rápida visita, porém ele só pareceu
convencido quando Christopher pegou meu telefone e trocou algumas
palavras com ele do lado de fora do meu quarto.
Eu tinha uma vaga sensação de que o meu namorado não era tão amigo
assim do meu pai quanto demonstrava ser, mas acho que meu pai me
contaria se tivesse algo errado. Bom, isto era o que eu me esforçava para
acreditar, e às vezes funcionava.
— No meu útero. — esclareci.
Suas sobrancelhas saltaram ao captar a notícia com mais clareza. Ele se
mostrou preocupado, entretanto, notei que segurava um sorriso malicioso
nos lábios.
Estávamos os dois esparramados em meio aos lençóis brancos e
amarrotados da minha cama.
Sua cabeça estava deitada no alto da minha barriga, e seus braços
envoltos às minhas coxas descobertas pelo pequeno pijama que eu já usava,
embora o sol ainda estivesse se pondo.
Queria apenas estar vestida com uma roupa confortável, e como não
contava com a presença do meu namorado aqui hoje — mesmo que ele não
se afastasse de mim por muito tempo nem com reza braba. —, optei pelo
básico e adorável pijama curto.
Meu corpo estava repleto de hematoma esverdeados, minhas pernas
estavam marcadas nas laterais, bem onde Christopher me segurou forte ao
me penetrar.
Meu pescoço ainda tinha algumas pequenas manchas arroxeadas das
mãos de seu lado demoníaco me enforcando, isso me custaria um bom
tempo até que desaparecessem. Eu estava colocando gelo de hora em hora e
o massageando. Teria que usar roupas de gola alta e cachecol até sumirem
completamente.
Ainda bem que estavámos num clima frio, apenas seria difícil explicar
para os meus pais o porquê de eu estar sempre coberta por roupas longas
dentro de casa, mesmo com os aquecedores ligados e deixando o ambiente
quentinho.
— Físsuras. — pontuou ele. Uma expressão orgulhosa assomava o seu
rosto malino, estava tão satisfeito com o próprio trabalho sexual que os
olhos verdes brilhavam.
Eu sabia que o que tínhamos feito ultrapassava o meu limite assim que
terminamos e me vi um pouco ensaguentada. Não era costume eu sangrar
depois de termos uma relação, pelo menos, não desde que perdi a
virgindade.
— A ginecologista me passou uma pomada e algumas broncas. Vamos
ter que ficar algumas semanas sem nada, Diabão. — avisei-o, suspirando.
Sua expressão imediatamente caiu. Christopher logo ficou mal-
humorado. Ergueu-se nos cotovelos e me olhou fixamente com aquelas
duas esmeraldas sérias.
Seus lábios se franziram e seu rosto transformou-se em uma carranca
engraçada. Era fofo o jeito que ele ficava irritado por saber que não poderia
me tocar por um bom tempo até que eu estivesse bem para isso novamente.
— Sério? — reclamou, insatisfeito. — Mas que porra...
Quase ri de seu mau-humor, mas me segurei. Certamente isso só o faria
resmungar ainda mais como um velho rabugento, e eu sabia bem que teria
que lidar com as suas reclamações constantemente daqui em diante.
— Pois é. É isso o que acontece quando você decide usar a sua outra
camada para fazer sexo comigo. — eu disse, reprimindo um sorriso.
— Culpa sua. Eu avisei para não me desobedecer. — murmurou
malicioso.
Mordi os lábios. Lembrar de como nós fizemos sexo ainda mexia muito
comigo.
Eu jamais esqueceria a visão de tê-lo me penetrando em sua segunda
camada. O lindo rosto transformado em uma máscara demoníaca,
mergulhado em puro êxtase de prazer enquanto puxava os meus quadris
para ele, me afundando em seu pau até onde pôde.
Aquela visão foi a coisa mais sexy e perigosa que eu já vi. Seria difícil
superar isso da próxima vez que pudéssemos fazer sexo de novo, e ainda
que eu estivesse com muita dor, estava meio ansiosa para isso.
— Tô vendo que seu auto-controle é a única coisa pequena em você. —
incitei.
Ele curvou um sorriso safado nos lábios, o ego completamente inflado,
mas logo a sua face foi tomada por preocupação.
— Como foi a sua consulta? Se sentiu bem?
— Sim. Loren ficou do meu lado o tempo todo.
Minha irmã percebeu a selvageria da situação no momento em que me
viu chegando em casa cheia de marcas e mancando. Loren apenas me olhou
de cima a baixo de um jeito acusatório, mas guardou sua opinião para si.
Ela, por outro lado, parecia muito bem. Nenhum olho roxo, osso
fraturado ou cabelo raspado. Acho que no fim das contas ela e Amara
resolveram as suas indiferenças. Minha irmã não foi muito esclarecedora
quando disse que tinha dado tudo certo, o que me deixou espaço aberto para
a imaginação.
— Está com dor?
— Muita cólica, mas nada que o álcool não resolva. Eu só quero curtir
alguns bons momentos com você, antes de você viajar. — sorri, mas
Christopher não estava na mesma sintonia que eu, seu rosto se enrijeceu e
ele trocou o seu olhar do meu rosto para o colchão.
— Eu vou voltar o mais rápido possível. Você vai ver.
Encolhi o ombros.
— Eu sei, você disse isso no segundo seguinte que me contou que iria
viajar para um lugar secreto, e depois repetiu outras três vezes.
— Eu não disse que era um lugar secreto. — ponderou, ríspido.
— Mas também não me disse para onde ia.
Christopher suspirou, mas assentiu.
Ele mantinha uma postura tensa e o olhar vazio, tinha algo mais que não
me contava.
Eu queria fazer perguntas, mas isso nos levaria ao mesmo beco sem saída
de sempre, então contive o impulso na ponta da língua.
Eu ainda estava me acostumando com o fato do nosso relacionamento
não ser claro e sem segredos, e por mais que me doesse, teria que ceder um
pouco mais de mim...
Chris aproximou os lábios dos meus até quase estarem colados, tirando-
me de meus devaneios e sorriu.
— Desculpa ter machucado a sua boceta. Vou tomar mais cuidado da
próxima vez que a gente foder. — garantiu rouco, a voz cheia de malícia.
Sorri com ele, achando graça da forma que me pedia desculpas, de modo
que mais parecia se gabar do que lamentar.
— É bom mesmo, ou eu nunca mais deixo você fazer sexo comigo.
Christopher aconchegou o seu rosto na curva do meu pescoço e riu.
— Eu duvido. Você agora está tão excitada que mal consegue disfarçar.
Era uma droga namorar alguém que poderia saber exatamente o que eu
estava sentindo a cada minuto do dia. Ficava difícil disfarçar o quanto
Christopher me deixava doida por ele.
Bufei e tentei empurrá-lo de cima de mim, entretanto, ele parecia mais
uma rocha do que um corpo, o que não resultou em nada. Ele não se mexeu
um único centímetro.
— Chris, sai. — reclamei, já sem forças.
Ele ergueu o seu lindo rosto para me olhar nos olhos, zangado.
— Por que já está me expulsando?
— Você está me esmagando, cara. Sai logo.
Ele levantou o seu corpo, mas não saiu até me virar para o lado e estapear
a minha bunda com força. Gemi de dor, ainda sentia cólica, mas havia
tomado alguns remédios que logo surtiriam efeito e amenizariam aquela
sensação.
Virei-me na cama e fechei os olhos. Estava sonolenta, Chris não me
deixou dormir muito noite passada.
Notei que ele não se afastou. A torre tatuada continuava negando o meu
espaço pessoal, mas não me importei, sentiria sua falta enquanto estivesse
viajando.
Naturalmente ele se aconchegou atrás de mim, envolvendo-me em uma
conchinha e descansou o corpo.
Internamente eu sorri de como éramos bons nisso.

Mais tarde, quando acordamos, Christopher me levou até a sua casa para
supostamente passarmos um tempo juntos como namorados normais
faziam. No entanto, não demorou muito mais que 10 minutos para
Samantha chegar com o pequeno As com a sua mochilinha nas costas,
parecendo uma tartaruga ninja.
Ele estava irritado, odiava passar um tempo com a tia enquanto
Christopher me visitava, mas isso só durou até o momento em que nos
avistou parados na entrada da porta. Um sorriso pintou os seus lábios e ele
disparou em uma corrida.
Christopher o pegou no colo, enquanto As trançava as suas pernas na
cintura dele. O rapazinho agora estava todo cheio de sorrisos.
Samantha apenas balançou a cabeça, sorriu e foi embora. Ela era
reservada e mantinha-se mais isolada dos outros irmãos.
A vi pouquíssimas vezes, e tudo que sabia sobre ela era que gostava
abessa do sobrinho, um amor cujo não era tão recíproco assim, As era um
tanto quanto crítico sobre quem ele gostava.
Eu tinha uma certa curiosidade sobre Samanta, parecia ser modesta e
inteligente, e embora possuísse um rosto angelical e meigo, sabia que ela
cultivava os seus próprios segredos mórbidos. Nenhum Tanaka tinha um
histórico limpo.
Entramos os três na casa e nos sentamos na sala. Asafe tagarelava sem
parar sobre o seu dia e o quanto Demétrius brincou com ele. Não sei bem
do que brincaram, mas para o pequeno demônio ter gostado, com certeza
não foi nada saudável ou apropriado para uma criança de dois anos —
quase três, de acordo com o próprio.
A insanidade estava no sangue de todos da família.
— Está bem, vamos banhar, filho. — Chris avisou, encerrando as longas
histórias de dinossauro de Asafe, tomando-o no colo enquanto se colocava
de pé.
Eu não as entendia bem. Ele gostava de falar rápido e às vezes criava
novas palavras, afinal, o que era "dracudo" e "pislama"? E como de repente
surgiram formigas na história de dinossauro que ele contava?
Asafe percebia a minha confusão, porém quanto mais ele tentava
esclarecer, mais difícil e complexo ficava. Eu me sentia um pouco burra por
isso, mas acho que Christopher também não entendia tudo, o que me
deixava um pouco mais relaxada.
— Papai. — Asafe chamou.
Christopher o respondeu, olhando-o nos olhos, mas pelo visto, o
garotinho só queria olhar para o rosto dele. Eu achava muito fofo quando
ele fazia isso. De certa maneira, era como matava a sua saudade. Chris
beijou a testa do filho e virou-se para mim.
— Amor, pode ligar a banheira para o As enquanto eu guardo as coisas
dele? — pediu.
— Claro. — levantei-me do sofá.
— ESPERA. — afoito, o demoninho gritou para mim, ainda que eu nem
mesmo tivesse chegado a me mover do lugar.
Asafe desceu do colo do pai, lhe entregou a sua mochila, correu até onde
eu estava e enroscou a sua mão na minha, olhando-me como se esperasse
que eu o levasse junto. Em geral, eu não gostava de crianças, mas Asafe
conseguia derreter o meu coração todinho. Sorri para ele.
Seguimos em direção ao banheiro. As parou em um canto, de pé.
— Você prefere a água quente ou fria, As? — questionei, observando-o
balançar o corpinho ansioso para um lado e para o outro, com as duas mãos
nas costas.
— Fia. Não. Quente. — ele franziu a testa, congelando no lugar — Não,
não. Fia.
Asafe parecia prestes a entrar em um colapso de nervos com a indecisão
e me segurei para não rir.
— Temos todo o tempo do mundo. — brinquei.
Ele estava realmente avaliando a sua escolha, como um jogador de
xadrez escolhendo a sua próxima jogada. Era tão divertido ver o seu
rostinho sério daquele jeito.
— Eu não sei, titia Dingo. — respondeu tristonho quando se deu conta de
que não sabia o que preferir.
— Seu papai costuma te banhar com aquela água fria que te dá arrepios
no corpo quando você sai ou aquela água mais quentinha, que parece que
você está todo embrulhado? — sugeri opções, talvez o ajudasse.
Porém, Asafe não conseguia se identificar com nenhuma das duas
opções. Talvez o seu pai optasse por banhá-lo em água morna, fazia mais
sentido.
No mesmo instante Christopher entrou no banheiro.
— O mais gelada possível, por favor. Asafe não consegue distinguir bem
a diferença de temperatura ainda. Para ele ainda é muito confuso. —
explicou.
— Por causa do outro lado dele? — investiguei e ele assentiu.
— Está bem. — Antes de ligar a água, me virei para Christopher. — A
água gelada não o incomoda? — estranhei.
— Não se preocupe, Dingo Bells. Ele adora o frio, e antes que pergunte,
não o machuca.
— Certo. — uni as sobrancelhas, intrigada.
Havia muitas coisas as quais eu nunca entenderia em Chris e o seu filho,
mas ficar o enchendo de perguntas não era algo que eu quisesse, afinal,
explicar como é ser um demônio não deve ser lá uma conversa muito
agradável para ele.
Sem mais delongas, fiz o que me pediu.
Asafe remexia o corpinho, os olhos vidrados na água enchendo a
banheira. Adicionei um pouco de espuma e alguns brinquedos dos quais ele
parecia gostar.
Sentei-me na borda da banheira e Christopher sentou-se logo atrás de
mim.
— Ele ama tomar banho quando estamos com ele. — sussurrou no meu
ouvido e eu sorri.
— Ele ama mesmo é molhar a gente. — rebati, achando graça.
— Fazer danação faz parte da natureza demoníaca dele. As não pode
evitar.
Rindo, virei-me para ele.
— Acho que isso não é coisa de demônios. Isso é a genética de suas
características humanas. Você é um péssimo exemplo de um bom cidadão,
meu querido Chris.
— Meu lado humano é bem quieto, juro. — Christopher sorria, já que
nem ele próprio acreditava no que dizia.
— Ah, é? E por que nunca me apresentou esse lado desde que nos
conhecemos. — provoquei-o.
— Estou mostrando agora.
Christopher colou seus lábios nos meus em um selinho prolongado. Não
demorou muito para ouvirmos um ruído de vômito.
— Ewww! — Asafe fazia careta e fingia vomitar enquanto apertava a
barriga e curvava o corpinho.
— Cara, faz o favor e dá licença. — Chris reclamou em tom de
brincadeira
As fez careta e correu até nós, puxando o cós da minha calça em um
gesto possessivo.
— Garoto ciumento. — Chris sussurrou e o pegou nos braços.
Arregalei os olhos quando o vi colocá-lo de cabeça para baixo. As estava
morrendo de gargalhar. O rosto inteiramente vermelho enquanto seu pai o
sacudia.
— Você vai machucar o garoto assim, Chris. — eu disse, preocupada.
— Se ele morrer, só vou precisar buscá-lo no inferno de volta. — deu de
ombros.
Tentei argumentar contra, mas, com o quê? Tecnicamente era isso que
iria acontecer, não?
Apenas quando As já estava tonto que Christopher decidiu desvirá-lo. A
criança estava bêbada e deitou a cabeça no ombro de Chris enquanto ainda
ria alto, seu pai fazia o mesmo e eu só observava com o coração na mão.
Céus! Esses momentos em família ainda iam me matar.

Um capítulo lindo e feliz para vocês, já sabem né... 😈
No início de todos os capítulos de vocês sempre aparece o aviso "ESTE
CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO", certo?
Capítulo 59| Nefarious

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



— Eu odeio isso. — reclamou ela, as duas mãos no volante e os olhos
azuis fixados na estrada. Seu semblante transparecia toda a sua aflição em
meio a raiva. Existia uma dualidade batalhando dentro de si, entre fazer ou
não o que gostaria.
— Se quer ver ela de novo por que porra fica dando voltas nisso? —
resmunguei, alheio.
— Eu não vou ceder. Se ela quiser, é ela que tem que me procurar.
— Ela não vai te procurar, mesmo querendo. — a interrompi, alto o
suficiente para que isso se esclarecesse em sua mente.
Amara revirou os olhos.
— Eu não vou atrás das minhas fodas, são elas que me ligam no dia
seguinte, e já fazem seis dias e nada. Eu sou ótima na cama, Chris. Não. Eu
sou excelente. Se ela não vir atrás, o problema é todo dela. — a loira deu de
ombros, no entanto, isso não amenizou nada. Sentia-se com o ego ferido, e
estava tomada de incredulidade por não conseguir deixar esse assunto de
lado.
— Ah, com certeza você é. — provoquei-a, com um pitada de ironia.
— Eu sou, sim. Pergunte a qualquer uma que já teve o prazer de ficar
comigo.
Soltei um riso curto e seco. Eu não estava nem um pouco a fim de
entrevistar as trepadas de Amara, mas sabia que Loren havia gostado do que
tiveram no segundo que a vi saindo do quarto de minha irmã na mansão na
manhã seguinte. Dytto não juntou as peças, acreditava fielmente na
heterossexualidade que sua irmã esbanjava pra lá e pra cá.
— Amara, vá chupar uma boceta e me poupe. — suspirei. — E acelere a
droga do carro, Asafe vai sair da creche daqui cinco minutos, e você sabe
como ele odeia esperar.
— Não é como se fossem jogar ele pra fora, ele vai continuar brincando.
— As odeia as crianças e as professoras. Daqui cinco minutos acaba a
tolerância dele em socializar com os pivetes da idade dele, e aí, ele sai da
creche sozinho porque não aguenta ficar por muito mais tempo.
Ela franziu a testa.
— Caramba, se ele não fosse seu filho eu pediria um teste de DNA. —
brincou, ao passo que afundava o pé no acelerador.
Ninguém gostava de quando Asafe se irritava, então era bom deixá-lo
sempre feliz e sossegado, logo, estávamos sempre a mercê dele.
O toque singular e marcado especificamente para mensagens de uma
pessoa em específico, ressoou do meu celular. Ligeiro, retirei-o do bolso.
Amara me olhou de soslaio de maneira julgosa, mas se reteve. Ela odiava o
jeito que eu era quando o assunto era Dytto, porém, fingia respeitar.
O que Dytto estava aprontando logo tão cedo? Ela não deveria estar
focada nas aulas?
Mas o quê?
Engelhei as sobrancelhas, coçando a nuca.
— Está tudo bem aí? — Amara investigou, enquanto buscava por uma
vaga livre em frente à creche.
— Dytto está usando drogas.
Ela sorriu.
— Tô começando a gostar mais dela.
A cada mensagem eu sentia todo o meu corpo se contorcer em agonia
pura. Como eu deixei isso acontecer?
— Me lembra o porquê de eu ter entrado em um relacionamento com
uma humana adolescente. — supliquei, afagando o rosto com ambas as
mãos.
— Eu diria tesão, mas você faz umas coisas absurdas demais para quem
deveria ser só um rabo de saia, então deve ser amor.
— Amor. — repeti a mim mesmo. — Que doença mais estranha.— fiz
careta.
O celular notificou mais outra mensagem em meu colo.
Mas que gatinha sem vergonha, manipuladora.
Estávamos chegando a uma negociação interessante.
Foi um bom preço, mas eu provavelmente me arrependeria mais tarde.
O carro parou na vaga, e não tão longe, vi Asafe correr ligeiro para fora
da creche, uma professora que estava logo atrás, tentava contê-lo, visto que
era o seu trabalho tomar das crianças, mas ele pouco se importou, disparou
em direção ao carro. Sua mochila saltitava em suas costas à medida em que
ele corria. Um largo sorriso enfeitava o seu rosto, mal podia conter a alegria
de se ver livre de uma vida mundana e normal com as outras crianças.
Eu tentava ensiná-lo a não deixar o seu lado demoníaco vir à tona em
momentos rotineiros com outros seres humanos, e ele respeitava isso,
apesar de odiar cruelmente. Eu sentia quando ele parecia prestes a explodir,
contendo-se perto de outras criancinhas chatas e choronas, eu também fazia
o mesmo.
Abri a porta do carro e me coloquei para fora, As ergueu os dois braços
em minha direção, peguei-o no colo a tempo da sua professora nos alcançar.
Ela estava vermelha, suada e ofegante. A veia em sua testa pulsava mais
forte. Qualquer dia desses teria uma taquicardia.
— Desculpe, senhor Christopher. — arfava em meio ao turbulento ato de
tentar respirar.
Ela se apoiou nos joelhos. Não deveria ter mais de trinta e cinco anos,
mas estava sedentária demais para quem cuidava de tantas crianças
enérgicas.
— Pelo o quê? Deixar o meu filho solto? — impliquei, rude — Posso te
listar inúmeras coisas que poderiam ter acontecido se eu não tivesse
chegado a tempo.
— Sinto muito. Sempre deixamos os portões trancados, mas eu não sei
como ele sempre consegue abrir. Não temos mais chaves reservas e
ninguém deixa ele sem as travas fixas. Eu juro que sempre conferimos ao
fechar.
Internamente sorri. Garoto esperto.
Não era culpa dela, mas que mal faria desmerecer o seu trabalho? Eu
não estava nem aí mesmo.
— Estou vendo. — ironizei. — Se algum dia uma dessas crianças fugir
for atropelada, isso será culpa sua. — dei-lhe as costas, sabendo que isso a
deixaria mal por um tempo, talvez a tirasse o sono e a deixasse meio
paranóica.
Pelo menos a deixaria mais esperta.
Coloquei As no banco de trás, e enquanto o afivelava na cadeira infantil,
joguei uma piscadela ao meu comparsa.
— Dia difícil? — perguntei-o e ele assentiu como se tivesse tido um dia
cheio e trabalhoso, e não que tivesse apenas brincado sozinho e evitado
abraços de todas as tias da creche cheias de ocitocina — É, posso imaginar.
Ele não estava para conversas, então deixei que adormecesse.
Partimos em direção a mansão, onde Asafe ficaria com as tias até que eu
voltasse de viagem. Minha rota deveria me levar ao Brasil, mas, por conta
própria, o modifiquei.
Eu precisava ir para casa resolver assuntos pendentes bem antes de
qualquer outra prioridade.
E isso não seria nada bom.

O inferno ardia impiedosamente, não pelo fogo, não pelas lavas ou pelo
calor. Porém, pelo maldito frio incessante que fazia os ossos dos
condenados doerem e a carne tremer. A mim pouco importava. O gelo não
penetrava em minha pele dura e áspera. Nada trespassava sobre mim. A
menos que eu permitisse.
Em meu outro eu, em meu verdadeiro paradeiro, eu não era apenas alto,
mas gigante, potente e sólido. Não tinha apenas dois metros, contudo, seis.
Dytto teve apenas o deslumbre do que ela tanto horrorizava. Ela com
certeza não saberia lidar comigo agora, afinal, nem eu próprio tinha tanto
controle assim quando estava fora do meu corpo mortal.
No inferno, eu me modificava completamente, deixando para trás todas
as partes ainda humanas em mim.
Se antes eu aparentava ser um monstro, agora era o pior pesadelo já visto.
A pele completamente cinza. As rachaduras em meu corpo — no
momento — não só eram vermelhas, como transbordavam o sangue de cada
condenado. Poderia estancar se quisesse, mas adorava me deleitar sobre ele.
Banhar no sangue dos pecadores, me parecia uma linda tragédia.
O rosto antes com traços negros, agora possuíam cortes mais escuros e
profundos. O vazio era presente onde deveria ter globos oculares em minha
medonha face.
A cada passo dado sobre o chão alvo, a neve se afundava, deixando
apenas os meus rastros para trás enquanto caminhava para dentro do inferno
Nefarious.
Uma enorme nevasca de flocos de gelo atormentava o lugar, tal como
uma praga. A friagem insensível nunca havia fim. O céu sempre nublado,
coberto por uma ventania violenta que ensurdecia a quem quer que passasse
ali pelo chiado grave e pesado que se arrastava.
As árvores secas e mortas estralavam à medida em que eram atingidas
pelas rajadas de vento. Ameaçavam ceder a qualquer instante, mas nunca o
faziam. Em um eterno suspense sem fim.
O caminho era tortuoso e confuso. Qualquer um que não o conhecesse,
facilmente se perderia, indo parar na toca de um demônio faminto pelo
medo e desejo de castigar.
O cheiro dos cadáveres podres e em decomposição eram sentidos de
longe, porém, mesmo que mortos, ainda se mexiam, choravam e sentiam
dor.
Os miseráveis se arrastavam na neve pedindo para que o frio impiedoso
cessasse; estes não haviam cometido muitos atos profanos, logo eram os
que menos sofriam, e por isso eram deixados avulsos pelo caminho até a
fortaleza de demônios.
As montanhas circundavam o buraco no centro deste inferno. Ainda que
longe, era possível ouvir os urros dos errantes que ali, nos montes, eram
punidos.
Eles me conheciam, cada um deles. Eu fazia questão de olhá-los
enquanto sentiam dor. Era a melhor sensação que se poderia existir.
Por outro lado, havia uma semente do bem que existia em meu peito,
cultivada pela linda garota que possuía o meu coração. Ela era a única que
conseguia me tirar a atenção do dever que nasci para cumprir, e talvez fosse
por esta razão que o meu desgraçado pai a odiava tanto.
À medida em que a muralha de aço e pedras se tornava mais inteiramente
visível, constatava que estava mais perto da entrada de ossos. E, ao
finalmente chegar, os portões se abriram completamente.
Dei passos rápidos, não queria perder meu tempo naquele labirinto.
O lugar era escuro, mórbido e construído em seu interior por enormes
blocos de pedra. A cada passo dado, via um diferente trajeto constituído por
ossos, dando acesso à cela de cada condenado. Segui o meu curso, não me
permitindo parar, Meus passos foram firmes, não estanquei, mesmo que
estivesse bem interessado em conhecer o motivo de cada grito alucinado e
plangente daquele lugar.
As almas eram ensurdecedoras, barulhentas e implorosas. Choravam por
misericórdia para um Deus a qual abandonaram em vida para que pudessem
viver uma vida baseada em prazer carnal.
A neve, por algum motivo, caia aqui dentro, apesar do lugar ser como
uma caixa tampada.
Um exército de demônios agarravam-se às paredes de sangue, esperando
pelo momento em que buscariam a alma pelo qual exigiria a sua atenção
pela eternidade. Assim que me viram entrar, reverenciaram-me em
demonstração de respeito.
Passei pelo corredor que dava acesso a outras rotas de sofrimento e
caminhei o mais logo possível para o altar de meu pai. O primeiro pilar de
todos eles.
O pilar onde Christopher I habitava.
Ao pisar em seu santuário de mortes, fui contemplado pelos olhos
completamente negros de minha mãe. Ela não costumava ser assim quando
ainda era viva.
Naomi era linda, charmosa e má. Seus enormes cabelos escuros e lisos
escorriam pelo seu corpo, alcançando a sua cintura. Seus traços asiáticos lhe
tornavam a mais bela dentre todas as mulheres da mais alta sociedade de
Nabrya. Porém, desde a sua transformação de vida para um cadáver, sua
aparência se tornou sórdida, não tão obscura quanto a minha, mas já não era
ela própria.
Ignorei a sua existência como sempre o fazia. Ela já não existia há muito
tempo, de todo modo. Tudo o que meu pai fazia era alimentar-se do que
sobrou de sua alma penada. Ela ainda se mexia, porém, não proferia mais
uma única palavra. Meu pai não permitia. E quando ela não o obedecia, ele
a punia.
Naomi, minha mãe, acreditava que ao convocar um demônio, poderia
negociar. Mas meu pai nunca foi um demônio qualquer. Ele queria um
servo e uma alma para sugar. E conseguiu os dois, ou quase.
Bem que ele queria que eu fosse tão maleável quanto a minha mãe foi.
Contudo, eu sempre o desafiava.
— Ora, ora. Eis aqui a criatura mais desesperada que já conheci. — Sua
voz reverberou em seu covil conforme ele se aproximava.
Seu corpo se destacou no momento em que ele despontou das sombras.
Sua face não era como a de nenhum outro demônio.
Seu rosto era jovem, quase que ainda mais que o meu. Sua beleza não
possuía data de validade e era invejável aos homens que almejavam a
perfeição.
Seus olhos eram verdes como esmeraldas. O corpo impío, torneado e
forte. Ele era alto, não tanto quanto eu em minha forma demoníaca, mas
quanto a mim em minha forma humana. Tínhamos uma certa semelhança,
porém, ele conseguia ser ainda mais gracioso e naturalmente sedutor. Era
assim que conseguia atrair a atenção dos que o procuravam.
Meu pai era esperto. Eu sabia que ao negociar com ele, teria que lhe dar
algo em troca. Porém, estava disposto a tentar.
Seus olhos rudes e perversos buscaram os meu e travaram uma guerra
silenciosa. Ele estava sempre em busca de uma boa briga.
— Qual é o motivo de sua presença neste local, criança? Optou por
cessar suas discordâncias com o seu pai?
Dei um passo em sua direção.
— Esqueça a garota que está comigo e a deixe em paz. — Exigi, num
tom de voz mais sério.
Seus lábios curvarem-se num tom rude de maldade.
— E por que eu faria isso? — Replicou, curioso.
— Me diga, fodido pai. Que planos tem reservado para mim? Tenho
cumprido com as suas ordens e realizado cada tarefa que me dispus a
executar.
— Retorne às suas responsabilidades profissionais, que são inerentes ao
seu papel. Evite distrações com a jovem, ela tem o potencial de
comprometer sua concentração.
— Nunca parei com o meu trabalho. — rebati.
— Você diminuiu sua produtividade. Deixou de trazer um número
significativo de almas. Não celebrou mais acordos. Você não tem mais
cumprido seu papel filial de forma adequada. — Seu tom de voz
gradativamente se intensificou. — Eu desejo que você cause desordem e se
mantenha nela. Não tenha a intenção de entrar em um lugar de culto
novamente, a menos que sua intenção seja perturbar o espírito daqueles que
o frequentam.
— Você pode controlar todo um reino, mas não a mim. Eu faço o meu
próprio caminho, e eu escolho onde pisar. — dei outro passo em sua
direção, mais pesado desta vez, o atrito ao chão fez com que o barulho
ecoasse, se estendesse por todo o ambiente.
— Não crie a sua própria desgraça, Christopher. Te fiz para que fosse o
meu melhor soldado, mas agora age como um tolo. — ele balançou a
cabeça, incrédulo. — Tudo por uma garota. Ela é impura e suja. Fez coisas
horríveis. Você sabe porque está atraído por ela, e não é porque está
apaixonado. Você sabe bem porque a seguiu na floresta. Essa sua fixação
por ela, não passa de um desejo obscuro de tomar o que ela ganhou. Não
terá perdão das coisas que fez como ela ganhou.
Franzi o cenho.
— Acha que estou atrás do perdão angelical? — uni as sobrancelhas—
Estou pouco me fodendo pela redenção que ela teve. Ela fez o que fez
porque era uma criança e agora sequer lembra. Eu faço tudo o que eu faço
porque eu quero.
Ele riu amargo.
— Seu plano sempre foi desafiar os anjos, e agora você conseguiu.
Provou a eles que Dytto não tem salvação. Livre-se dela ou eu mesmo faço
isso.
Ergui o rosto.
— Se o fizer, acabo com qualquer passagem ou rito que ainda o ligue a
eles. Eu sou o caminho entre você e aqueles pecadores fodidos. Sempre que
ousar contra mim, eu me volto contra você. E sempre que me prejudicar, eu
acabo com a sua diversão. — Ameacei, mantendo a postura.
Ele, por sua vez, semicerrou os olhos, ardendo em fúria.
Meu pai sabia que eu poderia destruir o que ele construiu. Eu era o fruto
de seu corpo, e o único que conseguiria derrotar a ele.
Ele me queria para ser a sua máquina, mas eu era o seu único inimigo
realmente a altura. Estávamos sempre em um impasse. Como a porra de um
jogo. Ele mexia as suas peças, e eu, as minhas.
— Traga-me o maior número de almas. Espalhe mais aflição pelo
mundo. E mesmo que você tente resistir a mim, Dytto já estará sob meu
amparo. Eu duvido que qualquer tentativa de vingança possa compensar a
angústia de saber que a responsabilidade pelo sofrimento dela repousará
unicamente sobre seus ombros.
— A alma dela pertence a mim.
— No entanto, ela a ofereceria a mim em troca da segurança de sua
família. E estou certo de que você faria qualquer coisa por aquela jovem. —
afirmou com convicção. — Cause sofrimento, Christopher. Inflija dor ao
mundo, e então permitirei que ela seja sua. — exigiu.
— Está fazendo isso da maneira errada.
Ele deslizou os olhos bem lentamente sobre o meu rosto, de um jeito
ameaçador.
— Apesar de tudo, Christopher, sou eu quem te mantenho vivo e são.
Poderia te matar no minuto que em descobri a sua traição. — ele ergueu
uma sobrancelha — Se livre do Nabrya, mate-o, enfraqueça-o, e traga ele
para mim. Você e eu trabalhamos juntos. Se houver qualquer outra
proximidade entre vocês dois, isso custará um preço alto a você, filho. E eu
não te pouparei do pior.

É aqui que tudo começar a girar
Teorias?
Ig: autoraelliemorgan
Capítulo 60| Mergulhada em dor

Gatilho: Este capítulo fará menção à violência sexual — acontecimento


vivenciado por uma personagem do livro anos antes.
Se você não se sente confortável lendo o relato desse tipo de situação,
recomenda-se que role o capítulo para baixo até a próxima sinalização. Dali
em diante o assunto não será mais abordado e uma nova cena será tratada.
Aos que optarem por pular, deixarei um breve resumo do que se passa na
cena (sem nada explícito) para que não se sintam confusos ou perdidos na
leitura.
ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO

Já haviam alguns dias que eu podia sentir a inquietude dentro do seu
corpo. Ela não estava exatamente cansada, como sempre dizia para todos;
Ela estava angustiada. Absorta em dores que ninguém além dela mesma
poderia ser capaz de entender.
Eu sabia que algo ruim tinha acontecido à ela desde o momento em que
a vi pela primeira vez.
Era feio, obscuro e monstruoso.
Loren passou anos de sua liberando parte de sua amarga raiva nas
pessoas que conviviam ao seu redor. Entretanto, aquilo continuava ali, dia
após dia, e não importava o intervalo de tempo que tínhamos entre todas as
vezes que nos encontrávamos, eu sempre sentia a mesma dor reverberando
dentro dela.
A dor da perda, do roubo, da humilhação e do medo.
Ela tinha o inferno inteiro dentro de si.
Aquela habitual sensação ruim me atingiu no minuto em que cheguei em
frente à casa da família Bell, todavia, aquilo me arrebatou de uma maneira
ainda mais fatal.
Loren situava-se ainda pior que os outros dias. Ela estava sentada na
calçada, em frente aos portões de sua casa. As pernas inclinadas para a
esquerda, as mãos sobre os joelhos e os olhos vermelhos.
Sua respiração era ofegante e descompassada. As bochechas pintavam-se
de um tom rubro, enquanto a pele estava úmida de suor, embora o sol
tivesse decidido nos aquecer hoje, o clima ainda era frio.
Em uma de suas mãos trêmulas, um cigarro enfeitava os seus dedos, ao
passo que a mão livre, beslicava o seu pulso.
Eu sabia que era outra crise acontecendo, mas ela sempre saia de casa
para não assustar ninguém. Ela queria esconder suas dores de todos eles, até
mesmo de Dytto... principalmente de Dytto.
Loren havia criado uma maneira própria de camuflar suas aflições aos
olhos de sua família, e a executava com perfeição. Fez isso como forma de
mecanismo de defesa, e pode-se dizer que deu certo.
Seus pais eram ocupados demais para darem o devido afeto e a atenção
da qual a filha precisava. Sua irmã, no entanto, parecia certa de que Loren
lhe contaria se algo a ocorresse, então acreditava fielmente que o seu jeito
desnaturado, era apenas uma rebeldia da idade.
Estacionei o carro ao seu lado, mas nem mesmo o som do motor ou os
faróis acesos sobre ela a fizeram acordar daquele pesadelo.
Inerte, ela sequer notava qualquer coisa em seu entorno. Presa em seu
sofrimento, os olhos assustados estagnaram-se na paisagem alheia.
Minha natural reação teria sido recuar e voltar em um outro momento,
quando não estivesse mais aqui. Eu provavelmente chegaria atrasado ao
compromisso marcado com Dytto, porém, não teria que passar por Loren e
fingir que ela não estava se torturando.
Suspirei, girando a chave na ignição.
Eu tinha que fazer aquilo.
No instante que desci do automóvel, fui agraciado pelos berros
estraçalhados providos de sua casa. Ao que parece, papai e mamãe Bell
haviam chegado, no entanto, a farsa do casamento perfeito tinha se
encerrado.
Ambos gritavam um com o outro como dois animais atrás daquelas
paredes chiques a qual escondiam seus fracassos.
Evitei deslocar a minha atenção para eles e caminhei em sua direção.
Somente quando eu já estava perante os seus olhos que ela despertou.
Franzi as sobrancelhas e apontei com o queixo para o cigarro que ela
segurava, desviando os olhos do seu pulso rasgado por suas unhas.
— Preciso de uma tragada se vou ser obrigado a esperar a sua linda
irmãzinha ao seu lado, com esse teatro de " O Corno e a vadia" como fundo
sonoro.
Seu rosto travou, como se precisasse de um segundo antes de conseguir
retomar às suas funções. Ela arregalou os olhos, e então piscou repetidas
vezes, de modo que parecia acordar de um sonho, observou em volta e
então retornou o olhar para mim.
— O quê? — indagou, confusa.
Em resposta, bufei impaciente.
Sentei-me ao seu lado na calçada. Não dei-lhe tempo para conversas.
Arranquei o cigarro pouco tragado de sua mão e o levei a boca.
— Quanto tempo até a Dytto sair? — perguntei.
Ela pigarreou, esfregando suas mãos no rosto.
— Talvez dez ou quinze minutos... Eu sei lá — sua voz estava rouca. Ela
balançou cabeça, frustrada — Devolve o meu cigarro. — implicou, irritada,
pegando-o de volta.
— Porra... — murmurei, inquieto.
— Se a minha presença é tão desconfortável a você, espera na droga do
carro, Christopher. Dytto não vai te amar mais se você fingir que me tolera
— retrucou, indignada.
— Eu sei que não. Mas ela gosta dos mocinhos, então tô me
comportando. — balancei os ombros.
— Não vai receber um troféu de honra por estar aqui.
Sorri de canto.
— Vem cá, não devia estar fazendo nada de mais interessante não?
— Tipo o quê? Ficar lá dentro ouvindo aqueles dois idiotas gritarem um
com o outro? Não, valeu. — debateu, com um expressão desgostosa.
— O que é, não tem mais amigos? — provoquei.
— Eu tenho amigos, Chris. Eu só não tô afim de sair.
— Sei.
— Eu tenho amigos, sim. O que te faz pensar que não? — irritou-se.
— O fato de você ter transado com o namorado da sua melhor amiga
meio que contribui um pouco pra ninguém querer ficar perto. — roubei o
seu cigarro de volta.
Seu semblante caiu por terra. Notei quando um nó sufocou sua garganta e
as lágrimas contidas preencheram os seus olhos. Loren tomou o cigarro de
mim e o levou aos lábios, dando uma longa tragada para sufocar o choro.
Ela virou o seu rosto, deixando que o cabelo o cobrisse.
Ok. Talvez eu tenha pegado um pouco pesado.
Suspirei irritado, querendo socar a mim mesmo. Não por tê-la magoado,
mas por saber que teria que consolar ela. Eu normalmente nunca faria isso,
porém, sua irmã era a minha namorada, e eu precisava que Dytto tivesse
algo pelo qual acreditar em mim.
— Merda, Loren. — cochichei, pesaroso — Me conta o que está
acontecendo.
— Não há nada acontecendo. — ela se esforçava ao dizer, para que não
caísse no choro enquanto o fazia.
— Você não costuma ser tão sensível assim.
— Não finja que se importa, Christopher. Eu te conheço. Não faz isso.
Não precisamos disso.
— É por causa do que eles fizeram com você? — questionei, direto.
Sua cabeça se moveu bem lentamente em minha direção. Suas
sobrancelhas estavam franzidas e os olhos carregados em surpresa. Os
lábios entreabertos denunciavam o seu choque.
— Você sabe? — arfou, atônita. Parecia querer morrer naquele instante.
— Sim, eu sei. Desde um pouco depois do ocorrido. — admiti.
— Q-quem contou? — sua voz tremeu chorosa enquanto uma lágrima
solitária desabava em sua bochecha.
— Ouvi eles conversando na floresta. Estavam se gabando pelo vídeo
que fizeram.
Sua respiração trepidou. Rapidamente Loren sufocou os lábios, mudando
a direção de seu olhar, sem um rumo definido. Estava perdida.
— Você sabia o tempo todo. — murmurou para si, em assombro.
Toquei o seu ombro, em uma genuína tentativa de consolar ela. Eu não
era muito bom com isso, mas me esforcei.
— Todo esse tempo, achei que ninguém soubesse. — lamentou, sôfrega.
— Acredito que só eu além deles quatro sabíamos.
— Foi por isso que nunca me quis. — afirmou com convicção — Tinha
nojo de mim? — sussurrou receosa, à espera de minha resposta, pois ela
sabia que seria sincera.
Frisei a testa. Eu não achei que esta seria a conclusão ao saber que eu
tinha conhecimento de seu segredo do qual ela lutava tanto para esconder.
— Nunca te quis, porque nunca senti atração por você. — esclareci —
Isso não tem nada a ver com o que te fizeram.
Ela me olhou, o rosto banhado em lágrimas.
— Como não? — discordou — Você assistiu o que eles fizeram comigo.
Viu a forma que eles se aproveitaram do fato de eu estar bêbada. — ela
soluçava ao dizer — Deve ter me achado suja e deplorável.
— Eu nunca vi o vídeo. — ergui a sobrancelha — E eu nunca te vi dessa
maneira. — respirei fundo — Não sou piedoso, Loren. Não sou empático e
nem sentimentalista, mas não etiqueto ninguém.
— Sente pena de mim?
Balancei a cabeça.
— Não. Não sinto nada em relação a você. — fui franco. Seus ombros
relaxaram.
Ela assentiu.
— Ótimo! — declarou, mais fria desta vez.
Ela soltou o cigarro no chão e o esmagou com a bota.
— Mas não acho justo o que aconteceu. — acrescentei — Não sou bom,
e nem espero coisas boas de ninguém. Só que... eu fui atrás.
Ela uniu as sobrancelhas, intrigada.
— Queimei a câmera com o vídeo e os fiz machucarem um ao outro por
diversão. — intensifiquei o meu aperto em seu ombro — Eles se mutilaram
para sobreviver. — Levei meus dedos para o seu queixo e ergui o seu rosto,
para que ela se sentisse acima da situação e melhor do que qualquer um
deles. — Aprecio que você tenha se tornado tão má com tudo isso, Loren.
Gosto de como se tornou. Agora pare. Pare de se torturar por causa deles.
— Se livrou do vídeo? — seus olhos se arregalaram quando se deram
conta e inundaram-se em gratidão.
— Sim.
Ela mordeu o lábio trêmulo.
— Obrigada. — murmurou, aliviada. Parte da pressão em seu peito se
desfez, como se um elefante desmontasse de cima dela. Loren parecia
finalmente respirar novamente após anos.
Por educação, sorri bem brevemente e a livrei de meu toque.
Ela tentava limpar as lágrimas correntes em seu rosto, mas pareciam
minar a cada segundo mais. A emoção de estar livre a abraçava com
maravilha.
— Eu achei... Por todo esse tempo, eu achei que poderia acabar
encontrando esse vídeo em algum site a qualquer momento. — ela sorria ao
desabafar — Mas ele não existe mais. — Loren ergueu sua cabeça ao céu.
— Ele não existe mais. — chorava feliz.
Eu, do contrário, me sentia estranho em estar exposto a uma situação
adversa as que eu geralmente causava. Eu não era o mocinho, não fazia
ninguém feliz. Não sentia picos de felicidade ao vê-la assim, tampouco
sentia-me melhor ou grato. Era só... desconfortável. Não havia nascido para
tornar o mundo das pessoas melhor.
— Certo. Espero que isso te faça ser menos rabugenta. — tentei
descontrair.
Preferia quando estávamos brigando.
— Disse que fez com que eles se mutilassem para sobreviver. — ela me
olhou, confusa. — O que aconteceu depois?
Agora eu senti picos de alegria. Felicidade real. Euforia corria em minhas
veias.
— Nunca mais ninguém os viu, não é? — comentei de forma alusiva.
Loren manteve-se concentrada no que eu dizia. Sabíamos o que eu havia
cometido, mas não dissemos mais nada.
Ela voltou a olhar para a rua, pensativa.
— Eu faria qualquer coisa para ter visto isso. — soltou, baixinho.
Daqui em diante o gatilho anteriormente citado não será mais
abordado.
(Resumo: Christopher foi até a casa da família de Dytto e encontrou
Loren sentada na calçada chorando, e enquanto esperava sua namorada
terminar de se arrumar, se sentou para conversar com Loren sobre um
acontecimento trágico do passado dela.
Meu celular vibrou no bolso da calça e rapidamente o peguei, já sabendo
de quem se tratava.
— Dytto está vindo. — alertei-a.
— Merda — ela saltou do chão. — Eu vou indo antes que ela me veja
assim. — disse, enxugando o rosto inchado de choro.
— Beleza. Cai fora.
Ela sorriu. Os olhos brilhavam.
— Até mais, Slenderaman pirocudo.
Revirei os olhos. Porra de apelido.
— Só mais uma coisa. — pontuei, chamando a sua atenção. — Sei que
você e a Amara curtem colar velcro, mas me faça o favor de visitar ela logo.
Eu não aguento mais aquela folgada me falando do quanto foi bom foder
você.
Seu rosto inteiro enrubesceu.
— Diga a ela que aquilo foi um erro.
— Diz você, eu não sou papagaio. — retruquei, rude.
— Seus momentos de tolerância duram bem pouco, não é, cara?
Umedeci os lábios e balancei os ombros. Loren me deu as costas e saiu,
com passos apressados.
Um segundo depois e Dytto passou pelo portão de sua casa.
— O que estavam fazendo? — estranhou, mudando seu olhar entre mim,
e Loren na calçada do outro lado da rua, indo embora bem rapidamente.
— Brigando. Sua irmã é insuportável.
Ela balançou a cabeça.
— Vocês dois são como cão e gato.
Eu sorri.
— Por você, eu deixo ela sair ilesa de todas as nossas brigas.
— Não está sendo honesto, você deixa a sua irmã bater na minha. —
argumentou, bem-humorada.
Levantei-me da calçada, caminhando em direção a linda garota a minha
frente. Vestida em um vestido azul claro e um casaco marrom felpudo sobre
ele.
— Não é a mesma coisa. — rebati, descendo os olhos por toda ela com
satisfação.
Tão linda. Tão minha.
— Você indiretamente fere ela.
Suspirei.
— Vem logo aqui. Eu preciso que você me recompense antes de eu fazer
o que estamos prestes a fazer.
Ela riu.
— Eu vou. Assim que a minha ginecologista deixar. Mas por enquanto,
somente beijos e abraços.
Fiz careta.
— Ew.
— Eu sinto tanta falta quanto você, Diabão. Mas você esqueceu que eu
sou uma humana, e agora eu preciso de remendo em um lugar bem
particular e a culpa é sua.
Puxei-a pela cintura e a beijei. Deixei que todos os meus receios e
preocupações diante ao nosso destino junto se destilassem por um momento
e me afoguei nela.
Eu queria ela e me esforçaria para tê-la em segurança. Isso deveria bastar,
ou então, eu enlouqueceria.
— Eu amo você. — sussurrei, os lábios colados nos seus.
— Eu também te amo. — senti-a sorrir.
Fechei os olhos e a apertei em meus braços.
Isso estava me matando. Ver para onde caminhávamos, estava me
matando.
— Queria poder te guardar somente para mim. — cochichei em seu
ouvido.
— Imagino que este seja o seu plano desde sempre. — brincou, rindo.
Tentei sorrir, mas soou forçado.
— É. É o meu plano, Dingo Bells.
Ela ergueu o seu rosto para mim.
— Está pronto para ser maquiado por mim? — ela reluzia felicidade.
— Nem um pouco.
Dytto se colocou na ponta dos pés e beijou o meu queixo.
— Pois devia. Vou te deixar uma gatinha.
— Vamos logo.
Enquanto eu a levava para o carro, Dytto pulava na ponta dos pés como
uma criança arteira.
O que eu não fazia por ela?

Uma mistura de depressão, alegria e depressão nesse capítulo. O próximo
será igual kkkkkk
Ig: autoraelliemorgan
Capítulo 61| Egoísmo

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



Seus olhos lacrimejavam toda vez que eu — acidentalmente — os furava
com o pincel de maquiagem.
Christopher não reclamava, mas era nítido o seu desconforto toda vez,
porque apertava as pálpebras e respirava fundo. Ele mantinha-se parado,
mesmo que soubesse que eu acabaria fazendo novamente.
Repetindo: POR ACIDENTE.
A missão mais difícil naquele momento, foi conter a gargalhada presa à
minha garganta.
Eu sentia vontade de berrar aos risos, mas Christopher estava tão
concentrado em apenas ser o meu modelo, que me esforcei para terminar o
que eu fazia.
Estávamos na sala de teatro da escola. Cada participante do concurso
havia ganhado uma mesa de maquiagem. Alguns professores se
dispersaram no ambiente para supervisionarem. Poucas pessoas
permaneciam na sala, já que havia outros campeonatos bem mais
interessantes no ginásio.
A mínima plateia, no entanto, mantinha os olhos vidrados naquele grande
homem sendo pintado por uma garota como se fosse uma boneca.
Todos os outros participantes eram mulheres, apenas Christopher, o único
homem, se dispôs a fazer parte do time, não por escolha própria, óbvio, mas
acho que ele queria muito me ver em uma calcinha bonita. Apesar de que
seria apenas isso que teria direito, por um tempo, até que pudéssemos fazer
sexo novamente.
Seus olhos já estavam finalizados. Pintei-os de um tom azul, e esfumei o
côncavo com tons mais escuros da paleta. No início dos olhos, adicionei um
brilho discreto, que se mesclou ao azul do meio para o final de sua
pálpebra. Passei lápis preto nas bordas do seu olho, misturando-o em tons
médios de azul, abaixo de sua linha d'água. Fiz delineados quase parecidos
em cada lado.
Em todo o processo, devo ter enfiado o pincel umas cinco ou seis vezes
dentro do seu globo ocular, e mais outras três vezes com o pincel do rímel.
Christopher já havia desistido de não ser alfinetado, então apenas me
permitia massacrá-lo naquela cadeira. Por um momento, senti pena, até me
lembrar de que meu útero estava bem mais destruído do que seu olho.
Em sua pele, a preparei com tons mais frios e finalizei passando um gloss
em seus lábios.
Eu era mesmo muito boa nisso. Só não continha a menor coordenação
motora.
— Estou bonito, Dingo Bells? — perguntou, de olhos fechados. Por
precaução, imagino.
Acho que ele ainda esperava o momento em que eu o cegaria.
— Está linda, Christina. — sorri, satisfeita.
Ele tocou a minha coxa, mas imediatamente o afastei.
— Não pode apalpar a maquiadora. — adverti, varrendo o lugar para ter
certeza de que nenhum professor nos viu.
Ainda éramos falados por aqui. A maioria dos alunos possuíam
consciência de que formamos um casal. Existia um boato ou outro que
nosso relacionamento começou quando ele ainda era o estagiário, bom, não
era exatamente um boato, mas ninguém poderia provar que se iniciou alí.
Eu nem sei exatamente quando viramos um casal, já que para
Christopher, aparentemente, eu sempre pertenci a ele.
A torre tatuada fez careta.
— Você é a minha namorada. — protestou.
— No momento eu sou só a sua maquiadora. Agora, fique quieto, irei
passar o iluminador.
Ele suspirou, cansado.
— Tenho que ir rápido, o tempo está acabando. — avisei, encarando o
cronômetro — Droga, não vou ter tempo para os cílios postiços.
— Ah, que ótimo! Assim não vai poder grudar os meus olhos também.
— Se continuar reclamando, irei grudar a sua boca. — cochichei, séria.
— Grossa! — cochichou de volta.
— Shiii. Eu vou fazer você comer pó, hein.
Christopher abriu um dos olhos.
— Me lembre de nunca deixar você se tornar maquiadora.
— Não me irrita. Eu não sei trabalhar sob pressão.
Ele sorriu, mas se manteve quieto.
Quando o alerta foi dado e o júri decretou o fim do concurso, não pude
mais tocar no meu modelo gostoso e tatuado. Larguei as maquiagens na
mesa e recuei um passo.
Dois avaliadores passavam em cada dupla de um por um, verificando
cada maquiagem feita, ao todo, éramos cinco concorrentes.
Eu me sentia em um daqueles programas de TV. Minha barriga doía de
ansiedade, mas acho que não os impressionei tanto quanto desejava, pois
mantiveram a expressão imparcial todo o tempo em que passaram
encarando o meu namorado.
Christopher tentou roubar, jogando uma piscadela para a avaliadora, eu
teria o criticado, se eu não estivesse tão doida pelo prêmio.
Sobre o prêmio, eu menti para ele quando disse que valeria nota. O
prêmio era, na verdade, uma camiseta autografada pelo Zayn Malik e
trezentas pratas.
Eu tinha uma queda por ele desde muito tempo, mas acho que meu
namorado não ficaria tão satisfeito assim se soubesse que eu o maquiei
apenas para ganhar algo de outro homem.
— Acho que não temos chance. — fiz beiço, observando os avaliadores
unirem-se.
— Se você quiser, eu posso...
— Não! — o interrompi. — Quero vencer de maneira limpa.
— Bobagem. — ele revirou os olhos.
Por mais decorado que Christopher estivesse, ainda mantinha aquele
olhar potente em seu rosto másculo. Eu poderia dizer que estava ainda mais
apaixonada ao vê-lo assim.
— Você todo maquiado assim, é uma gracinha. — comentei, abobalhada.
— Eu preciso me ver. — pediu.
Busquei pelo espelho de mão sobre a mesa e lhe entreguei. Christopher
avaliou a si próprio minusciosamente. Fiquei meio tensa quando notei que
ele realmente analisava detalhe por detalhe.
— Não gostou? — perguntei, desanimada. Ele estava se encarando a
tempo demais.
Christopher sorriu para mim.
— Desculpe, amor. Eu estava tentando enxergar, meus olhos ainda estão
cheios de maquiagem. — ele balançou as sobrancelhas. — Você é fera! —
disse, admirado.
Minhas bochechas esquentaram. Juntei as mãos e encolhi os ombros.
— É, eu sei. — sorri, convencida.
Bom, foi um momento legal. Mas em resumo, nós não vencemos o
concurso.
Christopher fez menção em roubar o prêmio, mas o adverti, dizendo estar
tudo bem. Ele ainda insistiu, mas quando lhe contei o que era, pareceu
convencido com a minha derrota.
Depois de todo o meu trabalho, fotografei-o ao máximo que pude.
Gostaria de ter lembranças da minha maquiagem antes dele lavar tudo
aquilo.
Passamos pelo menos meia hora para Christopher se livrar da
maquiagem. Seus olhos ainda possuíam resquícios de lápis de olho quando
terminamos, mas ele já não tinha mais paciência para remover.
Eu ainda não queria voltar para casa. A manhã inteira havia sido regada
de brigas pelos meus pais. Estavam infelizes, por isso haviam viajado
anteriormente, mas desde que retornaram, pareciam ainda pior.
Queria me distrair antes de voltar para aquele tornado sem fim. Qualquer
mínima coisa era motivo para eles dois iniciarem outra discussão que só
terminaria horas depois.
Christopher e eu andamos por toda a escola, acompanhando campeonato
por campeonato. Foi estranho ter tantos olhares curiosos sobre nós dois,
mas era inegável que estávamos juntos, então não vi motivo para nos
escondermos.
Meu coração murchou um pouco quando um único olhar nos encontrou.
Luc.
Ele acenou de longe e gentilmente sorriu, embora seu rosto demonstrasse
aflição ao nos ver juntos. Christopher pouco se importou, não curtia drama
adolescente, então apenas seguiu caminho. Sempre indiferente a tudo.
Eu o respondi com um outro aceno, porém durou pouco antes de sua
atenção ser roubada por uma garota que o cumprimentava. Esperava
verdadeiramente que estivesse feliz e que se apaixonasse por alguém o mais
rápido possível.
Odiava isso tudo. Éramos grandes amigos, porém, agora, parecíamos
apenas estranhos que se cumprimentavam de longe.
Busquei olhar para Christopher. Não ia deixar que meus sentimentos
estragassem o dia.
Somente quando a escola já estava fechando, que Christopher e saímos,
em busca de um outro caminho. Ele sabia como eu me sentia em relação
aos meus pais, então não tocou no assunto.
Não pegamos o carro, decidimos dar uma caminhada pela cidade.
Sua mão quente aquecia a minha. Ele a segurava firmemente, mantendo-
me sempre perto do seu majestoso corpo. Ambos mergulhados num
completo silêncio conforme andávamos com passadas alheias nas ruas de
pedra de Vespeau, no entanto, sentia-me absolutamente confortável.
Desfrutávamos da companhia um do outro como se estivéssemos em um
primeiro encontro. Nossos corpos às vezes colidiam sem querer, e às vezes,
eu fazia de propósito, apenas para o sentir mais perto. Sentia-me como uma
boba apaixonada ao seu lado, estava alegre com o nosso dia juntos.
A noite estava gélida, carregando consigo uma brisa que me fazia
encolher no casaco. O céu fora tingido por um vermelho vivo. O barulho de
trovões estrondavam entre as nuvens carregadas.
A ponta dos meus dedos e nariz haviam adormecido com o frio. Supus
que voltaríamos para casa antes do anoitecer e desconsiderei meia calça ao
sair. Agora, meus pelos se eriçavam e meus dentes rangiam um no outro.
Meus lábios estavam letárgicos. Eu usava o meu cabelo como um tipo de
cachecol ao redor do pescoço, era o máximo que havia conseguido para me
esquentar.
Passávamos por um beco — que dava acesso a outra rua —, quando
Christopher sorriu e me apanhou pela cintura, segurando-a com a sua
enorme mão. Seus olhos traquinas e brincalhões prenderam-me de um jeito
que me fizeram sorrir.
Ele deu passos em minha direção, guiando-me a andar para trás até que
estivesse encurralada entre ele e a parede de roxas.
— Está tão linda. — murmurou, aproximando o seu rosto do meu.
— Estou, é? — alarguei o sorriso.
— Quis te dizer isso o dia inteiro. — confessou, tocando os lábios nos
meus.
Christopher depositou um beijo apaixonado, lento e modesto. Sua língua
adentrou a minha boca para envolver-se com a minha. A intensidade do seu
beijo fez com que meu coração disparasse e meu corpo aquecesse.
Envolvi os braços em seu pescoço e ele cuidadosamente envolveu os seus
envolta do meu corpo, erguendo-me do chão.
Sua urgente necessidade por mim fez com que nossos lábios passassem
longos minutos saboreando um ao outro, como uma exigência.
Meus dedos enroscaram-se em seu cabelo negro. Fiz questão de
pressionar seu rosto contra o meu. Estava sedenta pelo seu amor. Buscava
fôlego em seu beijo e abrigo no seu abraço.
Embora eu ainda o quisesse por muito mais tempo, suas ações
finalizaram-se cedo demais. Ele se afastou de repente, possuía um olhar
completamente diferente do meu, que era, portanto, apaixonado e desejoso,
enquanto no seu, residia desconfiança e incredulidade.
Suas sobrancelhas grossas estavam frisadas e os olhos verdes possuíam
descrença. Via o ódio consumindo cada traço seu, roubando todo o bom
humor que existia em sua face há segundos atrás.
Num rápido gesto, Christopher devolveu-me ao chão e girou os
calcanhares. Notei que sua próxima ação seria partir para cima de quem
quer que tivesse o tirado do sério, por isso, segurei o seu braço com o
máximo de força, até que eu tivesse o panorama completo da situação.
No segundo em que tive o deslumbre da razão de seu descontrole, intervi
como pude, e agarrei-me à sua cintura.
— CHRISTOPHER, NÃO! — o grito rasgou desesperado de minha
garganta.
Ele estagnou os passos, tentava me arrancar dele, mas isso só me fazia o
apertá-lo ainda mais.
A risada do seu adversário estourou no beco em que nós nos situávamos.
Sabia que ele estava ali apenas para provocar um conflito, e isso não
acabaria bem.
— Chris, por favor, não. Eu tô pedindo. — supliquei, abraçada a ele.
— Dytto, me solta. — sussurrou entre dentes.
— Por favor, Chris. — tentei tocar o seu rosto, mas ele se esquivou. — É
isso o que ele quer. Você sabe que é isso o que ele quer.
— Eu quero? — Nabrya questionou, irônico.
— Se não é o que quer, então porque droga está aqui? — esbravejei.
Ele curvou o canto dos lábios. Seu corpo estava deliberadamente
repousado no canto da parede de pedras.
Suas mãos mantinham-se nos bolsos de seu jeans. A blusa branca e larga
balançava ao vento, no entanto, parecia indiferente ao frio, bem como
Christopher.
— Seu namorado e eu temos assuntos pendentes. Negócios. —
esclareceu, com certo atrevimento.
— Em um outro lug.. — Christopher dizia.
— Que tipo de negócios? — me envolvi.
Nabrya intrigou-se e Christopher me lançou um olhar furioso.
— Seu namorado não te conta muitas coisas, não é?
Soltei a cintura de Christopher.
— Mas você sabe de muita coisa, não sabe? — afrontei-o.
— Dytto! — a voz de Christopher soava como um alerta agressivo.
Se isso o incomodava, quer dizer que eu estava há um passo da verdade.
Nabrya nos entreolhava, curioso.
— Seu namorado é um grande trapaceiro, querida. Ele acha que pode
jogar o jogo de dois reis sem ser eliminado do tabuleiro. Mas esquece que é
descartável para ambos.
— Adoraria se não fosse tão enigmático. — a pressão no meu braço me
fez sobressaltar em um susto.
Christopher pressionava sua mão em mim. Os olhos fincados nos meus
ardendo em raiva.
— O que te assusta mais, Christopher? — Nabrya murmurou, maldoso
— Ela saber a verdade sobre você... Ou sobre ela?
Franzi o cenho.
— Christopher me solta. — pedi, tentando escapar, mas já era tarde.
Ele não iria me deixar ouvir, tampouco me soltaria. Sentia que este,
talvez, fosse o momento de que ele tanto me ameaçava. Christopher não
queria que eu descobrisse nada sobre ele, e fazia questão de me prometer o
pior sempre que eu estava perto.
— Vamos para casa. — pedi. — Podemos resolver isso de outro jeito.
— Você é muito bom é coagir ela. — Nabrya comentou, risonho. —
Mantê-la na coleira é o único jeito dela te amar. — ele riu. — Tão sujo.
— Desgraçado. — Chris rosnou.
— Devia ter me obedecido. — O samurai sussurrou ameaçador. — Pelo
o que eu soube, sua viagem não foi muito bem sucedida.
Recuei um passo, mas Christopher novamente me puxou para mais perto.
— Vamos, Chris. Por favor. Eu estou com frio. — implorei.
— Não tenha medo, Dytto. Christopher não vai te matar. — Nabrya disse
encarando-o. — Ele jamais seria capaz disso, mesmo que a odiasse com
todas as forças. Mesmo que precisasse muito fazer isso.
— Não. — Christopher concordou — Eu jamais a mataria. Mas você...
— ele sorriu, apontando para o demônio à sua frente. — Terei o prazer de
arrancar a sua cabeça.
— Por um segundo... — Nabrya gesticulou um pequeno espaço entre o
dedão e o indicador — eu pensei mesmo que seria capaz de ir contra o seu
pai. — ele balançou a cabeça, decepcionado. — Mas ainda está aqui,
querendo me matar a mando dele.
Christopher soltou uma risada incrédula.
— Acha que eu vou te matar por causa dele? — riu outra vez — Você
acha mesmo que eu preciso de você ou do meu pai? — ele curvou o canto
dos lábios. — Sou melhor do que vocês dois. Sou pior do que vocês dois. A
única coisa que me impede de destruir tudo... — ele parou por um segundo,
suspirando firme. E então, seus olhos vieram para os meus. — Vocês dois
sabem que é ela, e é por isso que estão tão desesperados.
Meus olhos naturalmente se arregalaram diante de sua confissão.
Eu era o que impedia Christopher? Eu?
— Se a ama tanto assim, porque nunca contou o que o seu pai está
tramando contra ela? — Nabrya soltou em revolta. — Ou, até mesmo,
contra a família inteira dela?
Juntei as sobrancelhas.
— Christopher. — chamei-o em desespero — O que seu pai está
fazendo?
Ele fechou os olhos com força.
— E não me diga que isso não é da minha conta. — apressei-me em
dizer. — Eu juro, Christopher... — apertei os dentes um contra o outro, sem
conseguir terminar.
— O seu adorável sogro quer te destruir, Dytto. É isso que o seu covarde
namorado não quer contar. — Nabrya novamente se intrometeu. — Ele está
brincando com a sua família. Um por um. E se vocês não terminarem o que
tem, não vai demorar muito a ter um túmulo da família Bell por aqui.
Meu coração batia como um louco no peito. Minha garganta secou e
minhas pernas tremularam.
— N-não.
Christopher não se movia, mantinha-se completamente imóvel, sem
nunca soltar-me dele, como se eu fosse fugir a qualquer instante.
Eu não sabia o que sentir. Doía. Tudo doía.
Todo esse tempo existia uma chance real de algo ruim acontecer a minha
família, mas, por egoísmo, Christopher nunca me contou. Nunca me deixou
ir embora.
Por puro egoísmo.
— Você nunca ia me contar, não é? — a mágoa era evidente em minha
voz.
Nabrya aproximou-se um pouco mais, prestes a jogar mais segredos
sobre nós dois.
— Além do mais... — continuou, entretanto, ele não finalizou o que
dizia, pois foi abruptamente interrompido pelo ruído sonoro de um suave e
agudo violino tocando em meio a escuridão. Isso fez com que o Samurai
risse alto. — Bem na hora! — alegrou-se.
— O violinista. — Christopher se deu conta de alguém que parecia
conhecer — Que porra é essa, Nabrya? — rugiu.
Ambos pareciam saber exatamente do que aquilo se tratava, enquanto eu,
permanecia no vazio, atolada em dúvidas e confusões.
— O que está acontecendo? — meus olhos buscavam o local de onde
aquele melancólico som provinha, mas parecia vir de todos os lados e lugar
nenhum.
— Ah, este? — Nabrya pontuou — É só um dos filhos de Christopher.
Franzi a testa
— Quantos mais irmãos você tem? — Rechacei.
— Não, não. — O homem alto e perverso novamente se meteu — Não
Christopher o pai dele. Mas o seu Christopher.
Me espantei.
— Dytto, não é assim que você está pensando. — meu namorado se pôs a
tentar explicar, mas Nabrya continuava a me bombardear.
— Bom, esse não é o único filho. E veio diretamente do inferno para
fazer uma visitinha a vocês dois.
— Do inferno? — apavorei-me.
— Dytto. — Christopher segurou o meu rosto com ambas as mãos. — Se
acalma, está bem?
— Quantos mais filhos você tem? — berrei.
— Uns 17. — Nabrya respondeu sorrindo.
— 17? — explodi.
— Dytto, eu... — Chris ainda tentava dizer algo, mas o seu arqui-inimigo
não lhe dava tempo.
— Milhões. — o Samurai acrescentou.
— Cala a porra da boca, Nabrya. — Christopher se enfureceu, partindo
para cima do demônio ao seu lado.
No mesmo instante um barulho agudo e desafinado estilhaçou em meus
ouvidos, fazendo-me gritar.
O ruído parecia urrar dentro da minha cabeça. Cobri os meus ouvidos e
joguei-me de joelhos no chão, desorientada. O estrondo feria os meus
ouvidos. Tive a sensação de que meu cérebro explodiria. Porém, durou
pouco, de repente, o zumbido cessou.
Christopher já estava de joelhos à minha frente. Os olhos agitados em
preocupação.
— Ei. Está tudo bem? — ele tocava o meu rosto. Afastou a minha mão e
checou os meus ouvidos.
Minha cabeça rodopiava, enquanto um eco preenchia os meu tímpanos.
Sua voz me era distante e minha visão estava embaçada.
— Porra! — ele encarava a sua mão ensaguentada.
— O-o quê? — eu o olhava confusa.
— Nabrya. — explicou. — ele olhou sobre os ombros, mas já estávamos
sozinhos.
A melodia do violino sumira também. Não havia mais ninguém ali.
— Chris... — respirei fundo, estava assustada e perdida.
Ele encaixou o seu dedo em meu queixo.
— Vamos resolver isso. Agora se levante, temos que ir.
— Quem era... Quem era?
— O quê? — ele balançou a cabeça, apressado — Vamos, Dytto. —
chamou, impaciente.
— O som. O que era aquela coisa? O som na minha cabeça. Você
também ouviu?
Ele suspirou.
— Dytto, Nabrya está colocando meus filhos contra você.
— Filhos? — a palavra ainda era irreal em minha cabeça.
— Eu tenho proles em todo o Nefarious, amor. Nós demônios não nos
reproduzimos como os humanos. A minha presença no inferno basta para
que um novo demônio seja criado. — ele afagava o meu rosto ao me
explicar. — Agora eles são vários, e me querem no comando. Precisam de
mim, por isso querem te afastar.
— Ele tentou me matar?
— Não, amor. Ele mandou um aviso
Nenhum deles tem permissão para tocar em você.
Christopher beijou o meu rosto.
— Vamos. Nabrya está nos rondando sem parar. — ele ergueu-me do
chão.
Eu não sei o que aconteceu depois. Minha mente fora tomada pela
escuridão. Desmaiei no segundo em que fui colocada de pé.

Madrasta de um? Não não. Madrasta de um exército de demônios.
Ig: autoraelliemorgan
Capítulo 62| Destroços

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



Pouco a pouco eu redobrava a consciência. Minha cabeça latejava
impiedosamente e um zunido baixo incomodava os meus ouvidos.
Christopher me tinha em seu colo, no banco do motorista do seu carro. O
aquecedor estava ligado, mantendo o ambiente agradável. Sua mão
gentilmente afagava a minha face, seus olhos me observavam carregados de
preocupação. Assim que notou que eu despertara, respirou fundo,
aparentemente aliviado.
— Você está bem? — questionou, num volume mais suave
Pisquei algumas vezes, sentia a garganta seca.
— Eu não sei. — cochichei, ainda com dificuldade em manter os olhos
abertos.
Tentei esticar o corpo, mas eu estava enrolada por cobertores. Não sabia
como Christopher tinha os arranjado, mas busquei não pensar nisso.
Fiz um grande esforço para me sentar, ele me ajudou, atento.
— Você quer algo? — ele afastava mechas do meu cabelo para trás.
Balancei a cabeça.
— Que horas são? — indaguei, aturdida. Estava escuro lá fora.
Já não estávamos mais estacionados no estacionamento da escola. Porém,
diante dos portões da minha casa.
— São um pouco mais de 9 horas. Ficou desacordada por um tempinho
— explicou — Te trouxe para cá, mas não queria te levar para dentro nessas
condições. Sua irmã acha que estamos apenas namorando aqui na frente.
Enquanto ele falava, minha mente insistia em resgatar as minhas
memórias mais recentes. Tudo ainda parecia meio irreal e estranho. Os
rápidos lapsos avançavam em flashs. As vozes se misturavam em meio às
recordações.
Franzi as sobrancelhas.
— Seus pais ainda não se deram conta de que estamos aqu...
— Você tem dezessete milhões de filhos ou eu estou delirando? —
disparei, de repente.
Christopher calou-se, seu rosto inteiro ficou sério.
— Não são filhos, exatamente. — ele suspirou. — São frutos do mal.
São... aberrações. — balançou a cabeça — Eles se formaram com a minha
presença em Nefarious, não foram gerados por mulheres, está bem? Isso
não é culpa minha.
— Está me dizendo que o inferno é o quê? Um útero? — me intriguei
Ele balançou os ombros.
Me senti desconfiada, pois nunca antes ele havia tocado no assunto. Mas,
para falar a verdade, ele nunca antes tocou em muitos assuntos.
— É um modo de se ver. Talvez. — ergueu a sobrancelha — Para de me
olhar assim. Eu não transei com nenhuma mulher.
Semicerrei os olhos.
— Eles simplesmente brotam? Assim... do chão? — suspeitei.
— Dingo, eu sou um demônio. A minha alma cultiva sementes em
Nefarious. Demônios surgem. Não são flores, não brotam do chão. A minha
aura os cria.
— Se os cria, então são seus filhos. — argumentei. — Você tem
dezessete milhões de crianças para cuidar? É isso? — disse, incrédula.
— Pelo amor de Christto. Não são crianças. — protestou, indignado —
São demônios. Estão espalhados por todas as partes, eu não cuido de
ninguém. Asafe sim é o meu filho. Minha responsabilidade. Minha criança.
Aqueles demônios, não. Eles são meus servos. São devotos a mim, porque
eu os criei e reconhecem isso.
— Então o que era aquela coisa no beco? — irritei-me.
Ele passeou o olhar pelo carro, suspirando firmemente.
— O violinista. Você foi um dano colateral. Não devia ter acontecido
aquilo.
— Ah, claro. Amanhã vou dar de cara com quem? O flautista, o pianista,
ou o bailarino? — esbravejei. — Com sorte, talvez eu só encontre o
Nabrya.
— Não. Claro que não! — ele aumentou o tom de voz. — Eles não estão
aqui para te matar, estão aqui por minha causa. Isso não tem nada a ver com
você.
Me mexi entre os lençóis e arrastei-me até o banco do passageiro.
Estava furiosa.
Christopher havia escondido coisas demais. Importantes. Que deviam ser
ditas. Mas ainda assim, ele não planejava me contar nada.
— Nabrya quer nos atingir. Eu não cumpri com o nosso acordo e agora
ele está tentando atacar. — explicava apressado — O violinista, Melodius,
não tinha planos para atacar você. Nabrya entrou na mente dele, e assim que
ele se deu conta do que havia feito com você, foi embora.
Balancei a cabeça, incrédula.
— Vem cá, quantos mais demônios vão vir atrás de mim e da minha
família? — vociferei. — Quantas mais vezes eu vou ter que lidar com isso
até você perceber que essa situação é culpa da sua arrogância. — ergui o
queixo — Tudo isso é culpa sua.
Ele me encarava cético. Os olhos não se moviam, haviam paralisado
sobre mim numa fúria descomunal. Embora seu corpo inteiro parecesse
estar sob ataque, ele não reagiu.
— Está me prendendo a este relacionamento porque está obcecado por
mim, e não porque me ama. Porque se me amasse, me deixaria livre de tudo
isso. As pessoas que eu amo correm perigo, e você não me disse nada a
respeito. — meus olhos encheram-se de lágrimas, não sabia dizer se de ódio
ou de mágoa.
Christopher poderia me enfiar em um quarto branco sem soluções se essa
situação afetasse somente a mim, isso nós já sabíamos que iria acontecer.
Porém, era cruel de sua parte deixar que isso acontecesse com outros da
minha família bem diante dos meus olhos sem me dar a chance de intervir.
— Quer um fim? — sua voz era densa, mesmo baixa. — Quer terminar
comigo?
Me encolhi no canto. Recolhi as minhas pernas e as abracei.
Completamente em silêncio.
Mesmo que eu me esforçasse, as palavras se agarravam para retornarem à
garganta. Não queriam ser expelidas. Não queriam vir à tona.
— Diga, querida. — pediu, aflito — Me fale, olhando nos meus olhos,
que quer que isso termine.
— Eu só quero viver a minha vida, Chris. — suspirei. — Só quero uma
vida com você sem estar sob ameaça de morte a cada minuto. Sem que isso
não se torne uma guerra. — olhei em seus olhos, tristonha. — Eu te amo,
mas estou farta de viver no escuro.
Ele repeliu as minhas palavras, irritado. Sua expressão contraiu em
desgosto.
— "Viver no escuro"? — observou degostoso — Deixe-me ver, quando
foi a última vez que eu te disse algo que não te fizesse querer correr para
longe, Dytto? — ele soltou o ar pela boca, com força — Sempre que eu te
mostro a verdade, você se esconde, porque é covarde demais para me amar.
Bufei, atônita.
— Isso é injusto pra caramba. — me opus — Mas se é assim quer quer
jogar, tudo bem. — me enraiveci.
Congelei a face em uma expressão séria. Não deixaria que ele
determinasse isso por mim. Isso tudo já havia me enchido.
— Me deixe pensar em uma única vez que você me deixou viver sem
toda essa sua escuridão ou loucura por controle. O que acha, Chris? —
rebati, ríspida — Nem se eu passasse horas do meu dia, conseguiria pensar
em um único momento que me deixou aceitar essa minha nova realidade
sem que me fizesse sentir culpa por temer a única coisa que eu fui ensinada
a repudiar a minha vida inteira. — minha voz gradualmente aumentava,
alimentada pela raiva.
Sorri amarga. Sentia minha veias em chamas. Meu corpo inteiro reagiu,
tomado pela vontade de defender-se de tudo aquilo que não fui capaz de
dizer antes.
— Mas você não entende, não é? É fácil para você, porque nasceu no
inferno. Mas eu cresci ouvindo que deveria fugir dele. — tombei a cabeça
para o lado — E você chegou, roubou a minha alma e o meu destino. Tudo
o que era meu, se tornou seu, sem mas.
Mordi o canto dos lábios.
— Eu tentei aceitar tudo isso. Me esforcei para entender como de repente
eu estava namorando um demônio. E eu tive que aceitar, já que não havia
espaço para as minhas escolhas, porque você já tinha decidido tudo. Eu não
precisei pensar em nada porque você já tinha feito isso por mim também.
Encarei a rua à frente, por um momento, retomando o fôlego
— E ainda assim, eu sou uma péssima namorada porque sou "covarde
demais para te amar". — soltei uma risada ressentida — E eu nem posso
sentir medo disso porque todas as minhas emoções humanas estão sendo
manipuladas para me encaixar na sua vida.
Olhei-o cheia de mágoa.
— Está me pedindo para eu fechar os olhos e acreditar que está tudo bem
eu deixar você continuar mentindo para mim, porque está cuidando de tudo.
— apontei para mim — Eu quero não me sentir sua marionete para variar.
Christopher observava-me ruidosamente, mas não parecia prestes a ceder
ou mudar de opinião. Sua ideia mantinha-se fixa, poderia enxergar isso
através dos seus olhos frios.
— Então não podemos nos amar. — decretou.
Christopher ajeitou-se no banco, inclinando o corpo para frente, deixando
que seus cotovelos fossem apoiados em suas coxas.
— Você quer o amor humano. O amor que te deixa a mercê do perigo da
vida real. — ele me encarou, magoado — Mentiria a você se eu dissesse
que tenho como mudar o nosso relacionamento. Esse sou eu. Um amor
demoníaco e doentio é tudo o que eu tenho a oferecer.
Chris virou o seu corpo em minha direção.
— Não vou mais te obrigar a ficar se não é o que quer. Então vai ter que
escolher agora, Dytto.
Minha respiração trepidou por um segundo.
Estava mesmo acontecendo.
— Está me pedindo para escolher entre a minha liberdade ou o seu amor?
— brandei.
— Estou te dando a chance de escolher como quer viver. — contestou —
Disse que eu não amo você, mas eu amo. Sou louco por você.
Ele aproximou sua mão do meu rosto, mas não o tocou. Logo a devolveu
ao seu lugar.
— Decida se vai permanecer comigo nisso ou não. — reiterou.
Balancei a cabeça. O nó em minha garganta me sufocava e as lágrimas
quentes desciam do meu rosto sem controle algum, solucei entre elas.
— Eu amo você. — declarei, chorosa.
Christopher assentiu.
— Eu sei, amor. — ele sorriu, complacente, mesmo que soubesse
perfeitamente o que estava por vir.
— Mas não posso te amar assim. — chorei, destruída. — Não quando há
pessoas na minha vida que correm perigo.
Sentia meu coração ser destroçado em milhões de pedacinho naquele
momento.
Dizer aquelas palavras em voz alta estava me matando.
— Tudo bem. — concordou — Mas não espere que eu te deseje tudo
bom. Quero que seja infeliz até o seu último dia. — anunciou, amargo.
Forcei um sorriso que me custou todas as minhas forças.
— Não esperaria menos de você.
Ele passou a língua sobre os lábios e posturou o corpo para a frente.
— Vá para casa, Dingo Bells. — era uma ordem áspera e dura. Sem
sentimento.
Eu queria ter a chance de tocá-lo novamente, de beijar ele uma última
vez, mas meu corpo me deteve. Ele não era mais o meu Christopher naquele
momento, e deixava de ser confiável.
Ele tinha razão quando dizia que era um demônio e não havia nada de
bom nele. E eu sabia que se me aproximasse demais, poderia ser fatal.
Via em seus olhos o quanto se continha para não deixar que o seu pior
viesse a tona, então fui embora.
Quando eu saí do seu carro e corri para dentro do meu quarto, já não
chorava mais. As lágrimas haviam cessado alí.
Não chorei, pois estava entorpecida demais para sentir algo.
Algo havia se partido dentro de mim. Meu coração. Ele havia se
quebrado. E aposto que o de Christopher também.
Mas eu nunca descobriria.

Quando deitei a cabeça no travesseiro aquela noite, meu corpo inteiro
fora abraçado pelo frio do medo imaginário.
Sentia como se estivesse em constante ameaça, no entanto, não sabia a
razão.
Talvez estar tão ligada a vida do Christopher tenha me deixado
traumatizada com tudo o que tive que passar.
Meus olhos fixaram-se à parede pálida do meu quarto, sem reflexos de
iluminação artificial, apenas a luz do luar que trespassava as cortinas
brancas a destacava em meio a escuridão.
Desejei que Christopher viesse ao meu quarto. Quis que ainda existisse
uma parte tão doente e sádica de si, que abdicasse do que me disse em seu
carro.
Poucas horas após nosso término, meu corpo já estava com abstinência
do seu.
Meu peito parecia vazio, com saudades de ser preenchido por sua
presença.
Eu era dependente de seu amor. De sua obsessão.
Eu era tão doente quanto ele.
Entretanto, existiam pessoas que não tinham culpa disso. Eu não poderia
deixar que a fúria do seu pai, ou a revolta do seu rival destruissem a minha
família.
Amor poderia virar ódio em segundos.
Christopher sabia disso. E por isso me deixou ir. Sabia que eu jamais
poderia conviver com a culpa.
Mas, se eu estava fazendo o que era certo, porque a dor era tão
insuportável?
Fechei os olhos.
Abri os olhos.
Fechei os olhos.
Abri os olhos.
Eu não conseguia dormir. Queria gritar.
Fechei os ombros e abracei a escuridão. Permaneceria assim durante a
noite toda, mesmo que o sono nunca viesse.
Em algum momento desse pensamento, minha mente adormeceu, mas
não sonhei com Christopher e nem tive pesadelos. No entanto, uma visão.
A garota estava longe, no escuro do abismo, chorando em um canto,
abraçada ao seu próprio corpo. As roupas surradas vestiam seu corpo magro
e ossudo. E os fios loiros derramavam-se sobre os seus ombros, cobrindo
todo o seu rosto.
Estava tão aninhada que parecia mal existir naquele lugar.
Seu choro era repleto de dor. Uma angústia que me provocava profunda
tristeza.
Não havia nada ao redor, somente ela vivendo em sua própria angústia.
— Está tudo bem? — quis ajudar. Minha voz ecoou em meio ao vácuo.
Seus gemidos dolorosos cessaram por um segundo. Ela havia me
escutado.
Sua cabeça moveu-se bem devagarinho em minha direção, pouco a pouco
revelando a pele clara deteriorada e cheias de feridas abertas. Não havia
sangue, mas sua carne podre estava exposta. Seu rosto emergiu em meio a
cortina loira de seus cabelos maltrados, mas já não havia uma face ali.
Metade de sua pele havia sumido, ossos se revelaram diante do que antes
era uma jovem face. No fundo, ainda existia alguém debaixo de todo aquele
horror.
Meus olhos arregalaram-se em pavor. Meu coração batia tão alto que eu
era capaz de escutá-lo ecoando em toda a dimensão.
— Ele vai destruir você como fez comigo. — a sua doce voz entoou com
um canto de terror.
Levou um segundo para que eu entendesse.
— Zoe. — afirmei.
A garota morta se jogou para a frente, obrigando o seu cadáver a se
arrastar em minha direção, mas algo a detinha. Quanto mais ela forçava,
menos tinha progresso. Um tilintar estranho surgia todas as vezes que ela
retomava a ação. Até que percebi a corrente em seu pé. O ferro estendia-se
pela escuridão até que em certo ponto, sumia completamente.
Tudo começava fazer sentido de pouco em pouco.
Eu estava no inferno de Zoe.
Estava em sua jaula.
Estava onde Christopher a prendeu.
Olhei em volta, mas não havia mais nada senão o vazio.
Mas o que eu fazia aqui?
Franzi as sobrancelhas.
Foi então que eu me dei conta. Nabrya estava jogando com a minha
mente. Colocando-me contra Christopher. Perturbando o meu espírito e
apavorando-me.
Ele era perverso.
— Aparece filho da puta. — berrei. — Nabrya. — repeti, mais
escandalosa.
Num piscar de olhos, a visão se foi.
Acordei em meu quarto. Já era manhã.
Ele esteve aqui.

Que loucura hein beninas 😮
Ig: autoraelliemorgan
Capítulo 63| Tratado de morte

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



Istambul, Turquia
A luz vermelha refletia sobre as ousadas garotas seminuas dançando na
barra de pole dance.
Vestiam apenas lingeries sensuais — que mal cobriam qualquer parte de
seus corpos — e saltos altos enormes. Por um segundo, tive o sentimento
nostálgico de calcinhas grandes e horrorosas, pareciam mais interessantes
do que isso.
Elas esfregavam seu corpo umas às outras e sorriam maliciosas para
qualquer homem que as olhassem, seduzindo-os ao som erótico que eclodia
por toda a boate. Apenas fazendo o seu trabalho, mesmo que desgostassem
dos clientes. Afinal, o propósito era outro.
Observá-las não me causava nada além de indiferença. Não havia uma
única parte de mim que as desejasse sexualmente. Mas, saber que suas
almas pertenciam a mim, me preenchia de uma enorme satisfação
obscura. Eu também só estava fazendo o meu trabalho.
Almas pecadoras. Era tudo o que via. Sedentas pela riqueza e vaidade.
Naquela noite em Istambul, ninguém sabia quem, de fato, estava por trás
da pintura de caveira. Não era uma festa a fantasia, nem mesmo halloween,
mas eu queria estar assim. Coberto pelas tintas enigmáticas em meu rosto,
escondendo-me em meio aos outros. Vivendo num certo anonimato.
Fugindo do que eu havia deixado para trás. Seguindo com as escolhas que
eu adiava impiedosamente por causa dela. Cumprindo com o meu destino.
Sentado na área vip, afastado de todos os outros, tinha a ampla visão do
ambiente carregado de pessoas. Estava barulhento e agitado. Os corpos
suados se entregavam às batidas da música. Homens endinheirados
lançavam notas altas sobre o palco de dança. Era uma noite que parecia não
ter fim, por isso agiam como se não mais fossem existir.
A diversão os deixava cegos, excitados e irracionais. Era um barco cheio
de devedores do diabo.
— Foi muito difícil encontrar você. — o homem loiro e barbudo sentado
ao meu lado, comentou. — Precisei mover céus e terra para conseguir esse
encontro. — ele riu, limpando a ponta do nariz repleto da cocaína que
acabara de aspirar.
Era nítido o seu nervosismo. Suas mãos tremiam abessa, enquanto
mantinha-se agitado ao meu lado. Estava ansioso e não conseguia manter o
olhar fixo no meu. Embora parte de sua euforia fosse consequências das
drogas, seus nervos já se contorciam antes da primeiro uso.
Ele queria algo de mim, mas temia tudo o que eu era, e tudo o que eu
poderia o ofertar. Porém, adorava tudo o que eu poderia lhe oferecer. Para
os homens, eu era só o seu "gênio da lâmpada". Para mim, eles eram apenas
um meio para o caos.
— E-eu sou o Max. Tenho trabalhado há anos para o Leonel, mas nunca
foi o bastante. — Confessou, repentinamente.
Leonel era, para muitos, um poderoso homem da máfia. Para outros,
apenas uma ameaça do qual ninguém ainda teve coragem de se livrar.
Nunca havíamos nos topado, mas sabia sobre o seu desejo de me conhecer.
Ele era alvo das mafias rivais. Era dono dos melhores portos de drogas e
o rei de todas as cabeças que trabalhava para ele.
Leonel era um homem astuto e frio, matava homens, mulheres e crianças
com o mesmo ímpeto. Odiava cada um que entrasse em seu caminho.
Destruía cidades e vilas, desafiando a lei e a moral. Ditava as regras de um
todo, e exercia sua força por entre os governantes do país, decretando suas
próprias vontades conforme lhe desse vantagem.
Imbatível aos olhos que o temiam. Invencível aos que iam contra ele.
Imoral ao julgo dos moralistas
Incrível aos meus planos.
Seu desejo por reinar o tornava o homem mais perigoso da máfia. Seu
único medo não era dos que perdiam a luta. No entanto, daqueles que não
desistiam, pois ele sabia que estes, eram os únicos inimigos à altura.
Mas ninguém antes ia tão longe. Ou era morto. Ou torturado, e então,
morto também.
— Eu quero mais, Christopher. Eu quero poder. Quero ser melhor que os
outros homens. — admitia sedento, cheio de uma arrogância maior que o
seu próprio corpo, desejando por algo que ia além do que suas próprias
pernas seriam capazes de alcançar.
Era um caminho de fracassos.
Ele queria o sucesso sem conquistar. Queria o poder, não para liderar,
mas para preencher o seu ego frágil e a sua alma vazia. Um tolo fútil.
A terra estava farta deles. E era por isso que eu sabia que não precisava
de muito esforço para levá-los aos montes para o inferno.
Eram almas que estavam condenadas antes mesmo que eu as marcassem.
— Preciso desse acordo. — admitiu, numa necessidade insana.
Cruzei as pernas, inclinando minimamente o meu corpo em sua direção.
Tomei mais um gole do meu conhaque. Olhava-o fixamente nos olhos, isso
o deixava intimidado.
Ele engoliu em seco. A testa suando. O coração disparado. O medo o
corroía de dentro para fora, entretanto, confiava em mim, depositando todas
as suas esperanças em minha pessoa.
— Quer um tratado então? — me pronunciei.
Ele balançou a cabeça de um jeito frenético.
— Quero.
— Um tratado. Certo! — Concordei — Quer poder, Max? É tudo o que
quer? — Instiguei, deixando-o desconcertado.
Suas bochechas atingiram um tom vermelho com a forma em que lhe
desafiei. Seu corpo acovardado tremia incessantemente. Porém, embora
medroso, sua insana vontade de ser melhor, tirava-lhe a razão.
— Sim. — respondeu, nervoso.
— Tudo bem. Me diga, Max. Quer mulheres também? Filhos? Dinheiro?
— Apontei com o copo para as strippers — Deseja aquilo?
Seus olhos azuis se foram para a pista e deslizaram sobre tudo ali com
um certo encanto. A mera possibilidade dele obter toda aquela luxúria para
si o deixava hipnotizado a ponto de sequer piscar.
Sua ganância nublava todo o seu bom senso, deixando-o ser levado pelo
brilho do momento. Fazendo dele apenas um humano como qualquer outro.
— Sim. — Ele engoliu em seco.
Seus olhos ainda postos nas dançarinas, presos ao que seria a sua
recompensa.
Eu era capaz de sentir toda a sua excitação e desejo. A sua vontade suja e
depravada. Não havia mais o menor pudor em seu corpo. Todo ele estava
preenchido de devassidão.
— Está bem. É tudo seu. — Declarei simplesmente.
Ele rapidamente me olhou, curioso, franzindo as sobrancelhas. Os lábios
entreabertos.
— Fácil assim? — sua voz soou esganiçada quando saiu de sua boca,
mas ao finalizar, parecia mais uma comemoração.
— É o que quer, não é? — ergui sutilmente o copo em minha mão, em
um falso brinde de comemoração.
Ele agitou a cabeça, concordando.
— Vou precisar apenas de um pequeno favor em troca. — Sorri, forçando
uma falsa gentileza.
Max estreitou os olhos, atento à nossa conversa.
— Quero que durma com o máximo de mulheres que conseguir em toda
a sua vida. Nunca repita a mulher. Deite-se com homens também, sei que
você gosta. Foda com todos. E sempre despeje sua porra neles.
O homem se encolheu mediante aos meus pedidos.
Era óbvio que ele não acharia ruim. Ele nem mesmo entendia o que eu
estava lhe pedindo.
— De preferência, durma com prostitutas. Faça isso com mulheres de
várias nações diferentes. Não use proteção, Max. Suje todos.
— Por que é que está me pedindo isso? — desconfiou, frustrado. Pensou
que eu o escolheria para uma missão sangrenta.
— Para colher os seus frutos, terá que plantá-los. Não se preocupe. —
balancei a cabeça — Darei tudo o que quiser. Mas primeiro, mostre que
você está a altura do trabalho.
— Eu não entend...
— Não precisa. — interrompi-o, sorrindo amigavelmente — Apenas siga
as minhas instruções.
Max se calou, ponderando acerca do assunto.
Dentro dele existia uma deliciosa confusão de se sentir. Sabia que não
seria uma grande sacrifício fazer isso, mas tinha medo de que isso de certa
forma o atingisse.
O candidato perfeito para o trabalho. Egoísta o bastante para fazer tudo
pelo o que quer. E idiota o suficiente para fazer sem questionar.
Para ele, seria como um mar de diversão. Dinheiro, poder, drogas e
filhos. Apenas fazendo sexo por isso.
Trabalhando pelo diabo sem nem mesmo perceber. Agindo como se
estivesse apenas curtindo sua vida da melhor maneira que pudia, com a
desculpa de estar apenas vivendo como se fosse o último dia.
Sempre foi tão fácil manipular a eles que nem mesmo se deram conta
disso. Eles ainda pareciam não ver.
Dizem que o diabo irá na sua casa, irá te oferecer tudo o que você quer e
pedirá um grande sacrifício em troca. Bobagem! Todos condenam a sua
alma por si só se preenchendo de prazeres carnais, eles só não querem se
culpar por isso, e foi assim, que criaram alguém para culpar de seus
próprios pecados. Alguém pelo qual depositariam suas irresponsabilidades.
"O satanás fez isso", "o satanás fez aquilo". Não! Eles fizeram isso. Eles
só são covardes demais para assumirem que são mais fracos que a carne.
Ele não seria único. Todos já estavam fazendo o mesmo. Mas o
diferencial, era o poder que Max tinha em suas mãos em começar uma coisa
ainda maior. Espalhar uma doença que acarretaria graves danos,
espalhando-se para outras milhares de pessoas. Inicialmente, transmitidas
através do ato sexual, no entanto, que se modificaria tão depressa, que logo
seria passada por transmissão aérea, fluídos corporais e então, o toque
humano.
Um vírus quase que invisível. Novo. Um enigma.
O indivíduo infectado sentiria dores insuportáveis, teria os membros do
corpo atrofiados, apodrecidos, procurariam por todo tipo de antibiótico,
respostas médicas e esperançosas curas, mas, antes de tudo isso, o pior já
teria acontecido.
O terror se instalaria. O caos. O medo.
— Tudo bem. Eu aceito! — Respondeu finalmente.
Era fácil demais. Acordos não podiam ser desfeitos. Cuidado ao apertar a
mão do diabo.
Estendi-lhe a mão e o cumprimentei sorrindo.
— Foi muito bom fazer um acordo com você, Max. — Entoei sério e ele
estremeceu.

Quando passei o cartão na porta do hotel em que eu estava hospedado,


Asafe estava sentado no chão, diante à porta. Parecia que ele me esperava
ali há um tempinho.
Seus grandes olhos verdes brilharam emotivos e seus lábios se
avantajaram em um sorriso enorme ao me verem.
— Papai. — animou-se, levantando.
— As. O que faz aí? — peguei-o nos braços, com cuidado.
Ele agarrou com as suas mãozinhas nos botões da camiseta preta que eu
usava. Sua ansiedade em me ter por perto era tanta que deixava-o afoito.
Asafe não sabia bem como suportar a saudade. Sua alegria era tanta, que
parecia não se conter. No espaço de tempo em que ficávamos longe, seus
pensamentos disparavam bem rapidamente, lembrando-o de que devia estar
perto de mim.
Era algo que nós demônios possuíamos em comum. A incessante
necessidade de estar próximo a quem possuíamos grande vínculo.
— Tinha uma balata ali oh. — apontou para o chão.
Se o As fosse uma criança normal, teria deixado uma babá de olho, no
entanto, possivelmente a encontraria sem vida assim que passasse pelo
porta, e eu não estava muito afim de me livrar de nenhum cadáver hoje.
Portanto, deixei-o como ele se sentia melhor.
— E o que você fez? — encostei a porta, carregando-os nos braços até o
banheiro.
— Amassei. — ele mostrou a palma da mão suja.
Engelhei as sobrancelhas.
— Não passa isso em mim.
Ele sorriu, perverso e aproximou a sua mão do meu rosto.
— Eu vou passar. — brincou, sorridente.
— As, não! — disse mais sério e ele recuou.
— Brincadeeeeira. — mentiu, como se seu propósito esse tempo todo
fosse só me assustar.
Certamente não era. Asafe seria capaz de enfiar uma barata inteira na
minha boca pela própria diversão.
O sentei na bancada da pia e liguei a torneira. Aproximei suas mãos da
água corrente e espirrei sabão em ambas. Fiz com que ele se lavasse até
todos os resquícios da barata morta terem sumido.
Retirei a camiseta, livrando-me da última prova que tínhamos do falecido
inseto: as digitais de Asafe contaminadas nos botões.
As começou a me contar sobre tudo o que viu durante o seu dia, embora
eu já soubesse, posto que estávamos junto em todas as ocasiões citadas por
ele próprio.
No entanto, ele não ligava para o fato de eu estar ciente disso. Apenas
queria ter assunto para conversar. Então deixei que ele me contasse detalhe
por detalhe enquanto lavava a pintura do meu rosto.
O pequeno historiador dizia suas vivências tão rápido que fora necessário
parar por um segundo, apenas para respirar, e então, retornou ao assunto.
Porém, foi somente quando um nome familiar saltou de sua boca que os
meus ouvidos prontamente se aguçaram:
— E hoje, eu vi uma garota muito bonita. Parecida com a mamãe Dytto...
— contava alegremente — Ela tinha o...
— As — o interrompi — Não está com sono? — perguntei, olhando-o
diretamente.
Ele juntou as sobrancelhas enquanto negava num balançar de cabeça.
— Está um pouco tarde. Melhor ir dormir. — sugeri, acariciando as suas
bochechas.
— Papai, eu...
— Ei — segurei o seu pequeno rostinho entre as minhas mãos — Me
conta mais amanhã, está bem? Prometo ouvir tudinho, mas agora é hora de
dormir.
Sua expressão animada murchou. Seus lábios curvaram-se para baixo,
refletindo a sua infelicidade.
Eu sabia que ele não estava com tanto sono devido ao fuso horário. A
diferença entre a Turquia e Nabrya eram de pelo menos 12 horas, mas ouví-
lo falar dela, doía.
— Vai. Eu vou depois. — pedi, colocando-o de volta no chão.
Asafe saiu arrastando os pés de má vontade. Em sua última tentativa,
estacionou no batente da porta, olhou-me com o rostinho de cachorro pidão
e suspirou.
— Eu só quelia conversar. — murmurou, arrasado. Os lábios contraídos
em um beiço.
— Isso não funciona comigo, aberração.
Ele sorriu, arteiro, e disparou sorridente em uma corrida até o quarto.
Nossa suíte possuía muitos cômodos. Era espaçoso o suficiente para nós
dois, no entanto, As gostava de dormir comigo, bem próximo. Muito
próximo. As vezes tão próximo que eu acordava com metade do seu corpo
posto sobre a minha cabeça.
Ele também não era muito a favor do espaço pessoal.
Terminei de lavar o rosto, esfreguei-o na toalha e tranquei a porta; caso
Asafe decidisse voltar engatinhando, chorando falsamente, ainda em sua
atuação desesperada.
Arranquei as minhas roupas e andei até o chuveiro. Ali, permiti que a dor
se mostrasse. A cruel e impiedosa dor.
Constantemente eu me esforçava para deixá-la livre de meus
pensamentos, no entanto, ela não morava somente nele. Dytto estava em
cada parte do meu corpo, residindo em cada mísero espaço. Atormentando
o meu casco mortal, e fodendo com a minha entidade imortal.
Fechei os olhos, tomado pela angústia avassaladora presa à garganta e
tudo o que me veio à mente foram os malditos flashes de seu rosto, seus
olhos, seus lábios, seus cabelos e todo o seu corpo.
Entrei no modo automático e toquei o meu pau, já duro. Quando me dei
conta, já esfregava a mão por toda a extensão, imaginando a sua boca em
mim, me chupando. Seus olhos doces me olhando cheios de segundas
intenções.
Fantasiei com ela sentando em cima de mim, esfregando toda a sua
boceta molhada no meu pau, facilmente escorregando encharcada em todo o
seu comprimento. Quase podia ouvir os seus gemidos deliciosos. Seus
toques ainda eram tão vívidos em minha mente quanto os sons que fazia
quando eu a fodia.
Seus suspiros pareciam próximos, assim como todas as vezes que eu a
tocava em seu quarto. Poderia ser capaz de presenciar seus toques em mim
como sendo reais demais.
Aumentei a velocidade da minha punheta, imaginando ser ela.
Imaginando estar dentro dela. Comendo ela com força. Ouvindo ela gritar o
meu nome. Pedindo por mim. Exigindo por mim.
— Caralho! — gemi, ardendo em excitação.
Mais forte. Mais rápido.
Eu queria desesperadamente aquela desgraçada. Queria a foder como
nunca fiz antes. A queria inteiramente em mim.
Soltei um gemido alto e joguei a cabeça para trás quando meu pau
libertou o gozo, espirrando porra na parede de azulejo à minha frente.
— Dytto — gemi baixo — Dytto. Dytto. Dytto. Sua filha da puta!
A raiva novamente me preencheu.
Filha da puta!
Eu precisava dela de volta.

Às vezes eu quero um As kkkkk
Terminei de escrever esse capítulo agora na faculdade pq está tendo um
evento e foi o único momento hoje que eu tive tempo, não me perturbem
pedindo por mais no momento, agradeço.
Capítulo 64| Fundo do poço

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



26 de junho
Definitivamente Christopher havia secado o meu estoque de lágrimas.
Meus olhos queimavam devido ao choro incessante. Meu peito doía tanto
que me fazia suspirar a cada 5 minutos, na falha tentativa de amenizar o
peso que estava sentindo.
Nesses últimos oito dias desde o término, forcei-me a sorrir apenas uma
vez; quando Loren comemorou sua aceitação na faculdade de UA
(Universidade do Arizona)
Nossos pais se enfureceram pela distância que isso tomaria. Eu, pela
primeira vez, me impus a ficar do lado dela. Queria acima de tudo que
Loren fosse feliz, mesmo que isso significasse que teríamos que suportar a
saudade uma da outra.
Porém, enquanto eu lutava pela sua felicidade, outro lado meu, sangrava
de pouco em pouco.
A dor estava me matando.
Sentia falta do Asafe. Saber que provavelmente não o veria mais, partia-
me em milhões de fragmentos.
De toda esta situação, ao menos, eu tinha a certeza de que não havia
errado. Não podia perdoar o fato de que Christopher tinha me escondido
que seu pai não nos queria junto, e que isso colocava a minha família em
perigo. Também não poderia fingir que estava tudo bem depois da nossa
briga.
Sabia desde o início que não seria fácil tê-lo, porém, esperava uma
compreensão de sua parte, afinal, somos dois: Chris e seu lado sombrio, e
Dytto com seu lado humano. Deveria ser um acordo, e não um contrato de
tortura onde eu deveria ser obrigada a aceitar tudo o que viesse dele.
Christopher era obsessivo e louco, porém, havia uma parte dele que
lutava por nós, que queria que isso desse certo. O suficiente para termos
tido meses maravilhosos juntos, até não termos mais.
Eu estava cansada de tanto chorar, e chorei por isso também.
Não fazia ideia de que amar seria assim, e se soubesse, não teria ido a
nenhuma festa na fogueira, dormiria com uma calcinha de aço e beberia
água benta todos os dias para mantê-lo sempre distante.
Eu queria muito ter feito isso. E nesse momento, desejei tê-lo cometido
com ainda mais forças.
Desci às escadas de casa correndo, não queria ter a pausa obrigatória que
Loren me forçava a ter todos os dias para conferir se eu estava bem. Mas
ela já havia notado que eu estava a evitando, então, agiu mais rápido dessa
vez.
— PARADA AÍ! — abordou, saltando em meu campo de visão,
apontando uma pistola de dedos na minha cara — Mãos para o alto e me
segue devagarinho — exigiu, encarando-me séria, bem como uma policial
de verdade.
— Loren, eu....
— Calada, malandrinha! — alterou o seu tom de voz, encurralando-me
— Anda, anda, anda.
Levei minhas mãos ao alto e fui bem lentamente para a cozinha. Ela fazia
questão de sair empurrando minhas costas para mostrar uma falsa
autoridade.
— Ok, não precisa entrar tanto assim no personagem. — resmunguei.
— Shhh... — silenciou-me num rápido chiado — Sente-se aí e tome o
seu café da manhã!
A contragosto, me arrastei até a cadeira diante do balcão e me acomodei.
Loren arrastou o prato já ocupado por torradas amanteigadas e frutas
vermelhas até mim e apontou para ele.
— Não se levante até ter terminado — ordenou, num tom de voz mais
sério.
Balancei a cabeça, cedendo aos seus cuidados maternais.
— Loren, não precisa ficar de olho em mim. Está tudo bem, sério.
— Você precisa se alimentar, ou eu serei obrigada a recolher seu cadáver
seco dentro do seu quarto qualquer dia desses. — Provocou — E você sabe
que nenhuma maquiagem no mundo vai te deixar bonita dentro do caixão se
não tiver nada além de ossos para maquiar.
— Não seja dramática — critiquei, ao passo que mastigava a minha
torrada.
— Não sou. Você não tem comido, bebido e nem dormido. Se não vai me
contar o que está rolando, então ao menos me deixe cuidar de você.
— Eu já falei o que aconteceu.
— Nenhum "término pacífico" é capaz de tanto estrago assim, Dytto.
Vocês dois estavam felizes juntos e então "BOOM"... terminam? —
desconfiou.
Dei de ombros e abaixei a cabeça.
Não entrei em detalhes quando lhe avisei sobre o término, afinal, o que
eu poderia lhe dizer? Loren não fazia ideia do que Christopher era. Seria
como jogar uma bomba em cima dela e esperar que ela a aparasse sem lhe
causar dano algum. Ela ia pirar.
Minha irmã veio até às minhas costas e abraçou os meus ombros.
— Eu amo você, minha garotinha. Vai ficar tudo bem. — murmurou,
beijando a minha bochecha.
Engoli em seco e constatei o, agora, habitual nó se formar em minha
garganta. Já estava me acostumando a essa insuportável situação desde que
terminamos. Enchi a boca de suco para dissolver esse sentimento, senti o
líquido descer queimando.
— Me conta. Está animada para a faculdade. Para ficar longe de mim? —
desconversei.
— Céus! Ainda não sei como vou sobreviver sem você. — choramingou,
sua cabeça apoiada em meu ombro.
Sorri.
— Vamos sempre fazer ligações. Eu prometo!
— Não se esqueça, sempre faça ligações longe do papai e da mamãe para
não ser deserdada. Agora eu sou a ovelha-mega-hiper-negra da família por
querer fazer uma faculdade em outro país.
Apertei os seus braços em volta do meu corpo.
— Eu estou com você, não se preocupe. Vou te dar todo o meu apoio
para que você possa estudar onde quiser.
Ela jogou a sua cabeça para o lado e sorriu.
— Obrigada.
Soltei-a e me afastei.
— Chega de melosidade! — eu disse.
Ela riu, assentindo.
— Vou terminar as minhas malas. Tenha um bom dia na escola, Dy. — se
afastou, deixando-me sozinha na cozinha.
Loren não teria mais que se preocupar com a escola. Sua aceitação fez
com que ela apenas precisasse buscar os papéis de sua conclusão de ensino
médio. Agora, eu não veria mais todos os dias pelos corredores. Não teria
mais com quem dividir os meus intervalos, e, em breve, nem mesmo teria
com quem contar ao chegar em casa.
Me sentia angustiada dos pés à cabeça. Em partes, estava feliz por ela ter
conseguido entrar na faculdade que queria, mas, também, extremamente
triste por saber que não a teria mais por perto.
Saco!

Estávamos há alguns dias das férias. Os corredores da escola se
encontravam quase que totalmente vazios. Os alunos que ainda vinham,
pareciam zombies, loucos pelo último dia de aula.
Ainda teríamos um semestre inteiro pela frente, mas ninguém realmente
se lembrava disso. Estavam tão ansiosos por folga que mal eram capazes de
abrirem o caderno durante as aulas.
Em determinado momento, os professores ainda chamavam a atenção
daqueles que deixavam explícito o desinteresse pelas explicações longas e
chatas que ninguém mais dava a mínima, porém, de nada adiantava.
Ninguém queria mais escola. Ninguém queria mais ter que ver os
professores. Ninguém queria lições chatas. No entanto, eu, sim.
Não que eu quisesse estudar, mas sabia que ficar em casa pensando em
Christopher seria muito pior.
Precisava de questões dificílimas de matemática rondando a minha
cabeça. Fórmulas de química atormentando os meus sonhos. E aulas de
educação física arrancando as minhas energias.
Precisava ser sugada pela escola, ou então, o vazio da solidão me
chamaria de volta. E absolutamente todos os meus pensamentos se
voltavam para ele.
Sozinha, caminhava alheia por entre as salas na hora do intervalo.
Eu não tinha mais nenhum amigo. Não tinha mais a minha irmã por
perto. Não tinha mais um namorado. Não tinha mais um enteado. Alma.
integridade. Felicidade.
Gostaria de saber como eu me meti no fundo do poço na velocidade da
luz, entretanto, já tinha conhecimento da resposta.
Eu havia me desacostumado a não ter um namorado. Era estranho saber
que estava solteira. Me sentia meio perdida.
O que os solteirões fazem quando terminam um relacionamento? Ah,
claro, vão às festas.
Talvez não fosse má ideia ir em uma. Eu já não tinha mais nada a perder
mesmo. Até a minha sanidade tinha ido para o ralo.
Loren não parecia empenhada a sair de casa nesses últimos dias, mas se
eu insistisse um pouco, poderia ceder à ideia.
Luc era a única pessoa que eu conhecia que sempre sabia onde e quando
cada festa acontecia. Ultimamente andávamos distantes um do outro,
porém, não custaria muito ir até ele pedir por uma única informação.
Foi pensando nisso que busquei encontrá-lo. Sabia que quando não
estava no refeitório Luc se escondia na sala de reuniões do conselho de
turma. Era o lugar perfeito para quem buscava silêncio e privacidade.
Ninguém quase nunca ia lá se não fosse por obrigação.
Apressei os passos, precisava saber onde eu me meteria desta vez. Iria
bem arrumada, é claro. Ficar bêbada e dançar até o chão era o único plano
que me vinha à mente.
Um péssimo plano, admito. Horrível. Horroroso. Chato. Mas foi a única
coisa que eu pensei.
Se eu precisasse definir a palavra choque, mostraria uma fotografia do
que vi no exato momento em que girei a maçaneta da sala de reuniões de
classe, às 11:36 da manhã, do dia 26 de junho.
Meus olhos se arregalaram de um jeito que quase precisei os repor no
lugar.
O que deveria ter sido apenas um sútil encontro, tornou-se um flagra
quente e bizarro.
A professora de geografia do quarto ano estava sobre uma das mesas, no
centro da sala, com a saia erguida até a cintura. Suas longas pernas estavam
arreganhadas e suas mãos enfiadas nos cabelos negros do meu amigo Luc,
que, despretensiosamente chupava a sua boceta.
Eu queria tacar fogo nos meus olhos, se possível, mas não era o lugar
para isso. Então, discretamente — com aqueles dois pares de olhos sobre
mim, tão chocados quanto eu por terem sido vistos —, me afastei com
passos para trás e fechei a porta.
Talvez pudesse ter sido pior. Poderia ser ela chupando ele. Na verdade,
eu não sei como isso seria pior. Acabei de ver uma cena e tanto.
Acho que nada mais me chocaria depois daquilo.
Girei os calcanhares, com a mente presa naquele momento. Teria corrido,
se sua voz rouca e desesperada não tivesse surgido às minhas costas.
— Dytto. — Luc chamou.
— Oh, Deus. Me ajude. — sussurrei, quase inaudível, apenas para mim...
e para Deus.
Virei meu corpo em sua direção. Meu rosto tenso sorria nervosamente
enquanto tentava encará-lo com alguma seriedade. Se é que existia alguma
dentro de mim naquele instante.
— Luc. — seu nome era tudo o que fui capaz de dizer.
— Olha, eu... — ele apontou com a mão para a sala, como se precisasse
se explicar, mas balancei ambas as mãos, intervindo.
— Não. Não. Eu só estava de passagem. Eu nem sei o que eu vi aí. — me
apressei em dizer.
Estava claro que isso era desconfortável para nós dois.
— Me desculpa, Dy. Eu não devia. Sei que não devia.
— Luc. — o interrompi. — Eu não tenho nada a ver com isso. Não tem
que explicar nada pra mim.
Ele suspirou, constrangido e balançou a cabeça.
— Sério. Eu não sei o que deu em mim. Tínhamos conversado. Íamos
parar com esses encontros. É só que... — ele repuxou o canto do lábio para
baixo. — Não era o que eu planejava.
— Tá. Eu vou para o refeitório.
— Podemos conversar? — pediu. — Por favor.
— Tudo bem. Mas ainda assim eu tô indo para o refeitório. Não seria
ideal a gente conversar aqui. — fiz careta.
Ele assentiu, voltando para a sala em que estava poucos segundos antes.
Sai dalí o mais rápido que consegui.
Eu sabia que Luc era um galinha, só não imaginei que pegaria uma
professora.
Logo a de geografia.
Ninguém gosta de geografia. Mas, pelo visto, alguém gostava da
professora. Talvez ele tenha gostado tanto das aulas sobre os montes
geográficos que decidiu conhecer o monte pubiano dela.
Sorri sozinha com a minha própria piada.
Eu estava ficando louca.

— Não pensa mal de mim, tá bom. — Luc murmurava, envergonhado.
Sentados de frente para o outro, notei seu rosto enrubescer. Apesar da
pele escura, era nítida a vermelhidão pulsando de maneira alarmante em
suas bochechas.
Era tão engraçado quanto desconcertante.
— Pelo menos me deixou menos entediada. — tentei descontrair.
Ele sorriu, nervoso.
— Sei.
— Não precisa ficar assim. Somos amigos há um bom tempo. Acho que
em algum momento teríamos que passar por uma situação esquisita.
— Não imaginei que a situação esquisita seria assim. — argumentou, os
olhos castanhos postos sobre os meus. — Me desculpa ter feito você ver...
Bem, aquilo. — suspirou, decepcionado consigo.
— Tá tudo bem. — confortei-o. — Não precisamos ficar tocando nessa
tecla.
Ele desviou os olhos para o jardim, onde alguns alunos conversavam
tranquilamente.
— Preferia que fosse o diretor da escola a ter visto nós dois daquele jeito
do que você. — confessou, baixo.
Franzi as sobrancelhas.
— Não fale besteira. Ele teria demitido ela e expulsado você.
— E eu teria me importado menos.
Balancei a cabeça.
— Luc, qual é? Eu não estou te julgando por isso.
Ele voltou sua atenção inteiramente para mim.
— Você sabe as minhas pretensões por você. Conhece o que eu sinto. —
admitiu — Não queria que tivesse aquela cena sobre mim na sua cabeça.
Isso não é o que eu quero que saiba. Quero ser melhor para você.
Meu coração se comprimiu no peito.
Isso era pior do que se só estivéssemos estranhos perto um do outro.
— Eu pensei que gostasse dela. — comentei.
— É só sexo, Dytto. — ele deslizou suas mãos sobre a mesa, até tocarem
as minhas. — Não tenho sentimentos por ninguém além de você.
— Pensei que tivesse deixado isso para trás. — cochichei.
Ele curvou um sorriso triste.
— Eu sei que está com ele. E sei que isso não vai mudar, mas, eu ainda
sinto tudo aqui dentro. E me dói pensar que nunca vai existir nós dois. —
ele deixou que o olhar recaisse sobre nossas mãos próximas. — Nunca vou
ser capaz de competir contra isso.
Eu quis chorar naquele momento.
Eu não estava mais com ele.
Não existia mais nós dois.
Me forcei a prender o choro e afastei minhas mãos, escondendo-as sobre
o meu colo debaixo da mesa.
— Loren vai embora para os Estados Unidos nas férias. Entrou em uma
ótima faculdade no Arizona. — mencionei, para que o foco fosse desviado.
— Acho que seria legal uma festa de despedida hoje.
Ele pigarreou, abraçando os seus sentimentos de volta. Sendo levado a
mudar de assunto tão drasticamente para me acompanhar.
— Sei de uma hoje.
Sorri, mais animada.
— Perfeito. Me passa o endereço e vamos nos encontrar lá. Vai ser
ótimo.
Ele assentiu.
— Fico feliz que ela esteja se dando bem. Muito em breve serei eu. —
ele procurou sorrir, mas os lábios pareciam não querer.
— É. Vai, sim. — incentivei, embora isso não mudasse o clima pesado.
Era muito mais fácil quando apenas guardávamos nossos pensamentos.
Revelar um profundo sentimento resultava em problemas demais. No
fundo, eu culpava Luc por admitir em voz alta algo que eu não era capaz de
retribuir.
No fundo, era melhor não sentir nada por ninguém.
Nunca.

Choque-se se você se chocou


Luc leu Love in the dark e quis recriar as cenas da Dytto e do Chris
kkkkkk
Ig: autoraelliemorgan
Capítulo 65| Corações quebrados

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



O som alto fazia convite aos loucos e bêbados jovens da cidade naquela
noite.
A humilde casa no fim da esquina, iluminava a rua Marti com sua
decoração néon. E, embora fosse um lugar pequeno, já abrigava pelo menos
uma dúzia de adolescentes dispersos em seu jardim.
O som estourava dentro do carro de Loren, fazendo com que os vidros se
agitassem em uma vibração sonora. Os olhos da minha irmã ganharam vida
ao notar a rua cheia. Estávamos há um tempo procurando vagas, até que,
por sorte, uma foi desocupada a tempo de passarmos por ela.
Meu coração batia freneticamente em meio a animação provinda do
lugar. Gritos eufóricos soaram do fundo da casa ao mesmo tempo em que
um estouro de água surgiu. Definitivamente havia uma piscina no quintal.
Minha irmã estava ansiosa para se enfiar naquela bagunça. Saltou do
automóvel assim que estacionamos.
Do momento em que descemos do carro até o que atravessamos a porta
de entrada, não soltei a mão de Loren nem por um segundo.
Loren era bizarramente conhecida pela cidade, e conforme nos
enfiávamos em meio a multidão amontoada no pequeno espaço da sala,
éramos barradas de um em um instante por algum conhecido seu. Ela
cumprimentou meio mundo em um curto espaço de tempo.
Ao chegarmos finalmente no jardim, inspirei o máximo de ar que pude.
Eu estava confusa. Meu corpo inteiro estava eletrizado em meio ao
ambiente caótico, no entanto, minha mente buscava por algum alívio. Eu
não estava habituada a lugares tão cheios ou barulhentos assim.
O grave da música na caixa de som fazia o chão debaixo dos meus pés
tremerem.
A gritaria cacofonica repercutia em todo o ambiente. Em breves
intervalos entre a letra da música pop e os berros, consegui me aproximar
do ouvido de minha irmã.
— Acho melhor procurarmos um lugar mais afastado. Tô me sentindo
claustrofóbica. — berrei, obrigando minha voz a se sobressair ao barulho.
Ela assentiu, sabendo que seria desnecessário tentar dizer algo.
Segui Loren até o outro lado do jardim, que possuía o triplo do tamanho
da casa. Tive medo ao passarmos pela piscina carregada de pessoas e acabar
sendo empurrada ou escorregar. Eu estava usando um vestido preto, bem
curto. Odiaria me molhar naquela vestimenta que se desajustava em meu
corpo a cada passo dado.
Por cada um que passei, notei que seguravam uma lata de cerveja ou um
copo na mão. Certamente não sairia ninguém sóbrio daqui esta noite.
E, bem, parece que eu não seria a exceção. Loren me passou um copo,
que tomou de um outro alguém. Ninguém sabia mais o que bebia, o álcool
era apenas repassado de mão em mão.
— Bebe. — ela disse, olhando-me nos olhos.
Em meus dias mais sãos, eu o teria negado. Afinal, quem bebe no copo
de um desconhecido?
Mas eu não estava sã por aqueles dias.
Enquanto tentava o fazer, sentia meu corpo sendo esbarrado pelas
pessoas que andavam às minhas costas. Ouvia os breves pedidos de
desculpas em meio a correria, mas que não pareciam realmente sinceros. O
quintal estava lotado. E a bagunça de pessoas servia apenas para que meus
olhos pulassem de rosto em rosto, sem conseguir reconhecer ninguém.
Eu definitivamente não gostava de lugares cheios.
Virei o copo de plástico de uma só vez na boca, sentindo o líquido
queimar a minha garganta. Desceu quente. Aquela fervilhação em meu
estômago parecia atraente para muitas outras doses, mas me controlaria um
pouco antes de ficar completamente bêbada.
Eu não ligava de me embebedar aquela noite. Só queria que a minha
mente se desligasse. Precisava me dopar com algo.
— Vem, vamos dançar. — Loren falou, tomando uma grande dose de
uma garrafa de tequila
...
Uma hora depois, minhas panturrilhas e pés estavam me matando.
Depois do quarto copo ninguém mais se lembrava de contar. Eu, pelo
menos, não.
Loren pulava animadamente. Seus passos destoavam das batidas da
música, porém, ela não se importava. Eu já estava alterada, apenas seguia
seu ritmo louco e bagunçado. De vez em quando a perdia de vista em meio
a muvuca. Em determinado momento, encontrava fragmentos do seu corpo
saltando. Ficamos nesse impasse entre nos encontramos e desencontramos à
medida que as músicas eram trocadas.
Eu jogava os meus braços para o alto e gritava junto da galera. A playlist
era meio clichê e sem graça, com músicas insalubres da atualidade.
Entretanto, quando se tem álcool no organismo, até as piores melodias
tornam-se dançantes.
Em algum momento da minha dança, duas mãos sutilmente tocaram a
minha cintura, virei-me imediatamente, encontrando o amigável rosto de
Luc saudando-me.
Ele estava cheirando muito bem, um perfume forte e amadeirado exalava
de todo o seu corpo. Havia um corte mais elegante em seu cabelo e ele
vestia uma roupa que o deixava ainda mais bonito do que era.
Empolgada, sorri com a sua presença ilustre. Não imaginava vê-lo por
aqui, visto que andava focado nos estudos. E na professora de geografia.
Céus! Nunca imaginei ela se envolvendo com um aluno, porém, poderia
estar vivenciando a crise dos trinta ou coisa assim.
O que me confortava era o fato de ele não ter escolhido uma professora
com os seus setenta e poucos anos, apesar de achar que Luc fosse mais
criterioso com idades.
— Você. — cumprimentei-o, alto o suficiente até mesmo para a curta
distância entre nós dois.
Ele riu, achando graça.
— Acho que alguém já está muito bêbada, não é? — pontuou, abrindo
aquele seu lindo sorriso charmoso para mim.
Balancei os ombros, em diversão. Estava com o corpo suado, meu
coração estava disparado e minha pele meio gelada, não por culpa da
temperatura. Embora estivéssemos no inverno, o clima estava ameno,
dando uma folga de seus tortuosos dias gelados. Gostava do fato de não ter
vindo com um casaco pra lá de grande esta noite. Estava totalmente afim de
me exibir.
Aproximei meu corpo do seu, rodeando o seu pescoço com os braços.
— Você não me disse que vinha. — percebi, gritando sem muita
necessidade. O som não estava mais tão elevado e eu com toda certeza
estaria sem voz no dia seguinte.
— Você não me perguntou se eu vinha, só me perguntou da festa. —
rebateu.
Joguei a cabeça de um lado para o outro como quem concordava.
— Tô surpreso em te ver aqui. — me aproximei ainda mais, sentindo seu
corpo quente colar ao meu. Não me importava com aquela proximidade.
Luc era o único garoto que não me deixava desconfortável em me manter
tão perto.
Suas mãos pousaram delicadamente em minha cintura, num gesto
respeitoso.
— Por quê? Não acha que eu sou capaz de andar em festas? — brinquei,
escandalosa.
— Não é isso. Tenho certeza que existe uma Dytto festeira dentro de
você. O que me preocupa é a quantidade de meses de castigo que isso vai te
custar. — Luc encostou seu rosto em meu ombro e embalou comigo junto à
dança.
Estava tocando uma música eletrônica sem letra alguma. Isso me dava
nos nervos. Preferia gritar letras sentidos a ouvir batidas desconexas que
diminuíam sua intensidade em seu clímax. Era frustrante!
— Meus pais estão há um passo do divórcio. — eu disse e ele se afastou,
apenas o suficiente para me olhar cara a cara —A única coisa que eles
sabem no momento é só gritar um com o outro e evitar as filhas. —
desabafei, tristonha. — Sem castigos desta vez. Eles sequer se lembram de
nós duas agora. — dei de ombros.
Este era um outro motivo pelo qual eu gostaria de me entorpecer.
A relação de Ever e Théo já havia chegado ao seu fim há muito tempo
atrás. Somente ainda não tinham aceitado a situação. Consequentemente,
todos nós presenciávamos o rancor de duas pessoas que não se amavam
mais, porém, que viviam uma ilusão por puro capricho.
Eu não sabia se ainda esperavam por um milagre em seu relacionamento
ou se apenas eram egoístas demais para dividirem os bens.
No fim das contas, apenas seria melhor se isso acabasse de uma vez. Essa
relação desgastava a todos nós mentalmente. Era horrível ter que se trancar
em meu quarto para chorar pelo meu amor não vivido, enquanto no andar
de baixo, ouvia berros de um amor que morreu.
Nunca fomos uma família amorosa ou unida. Mas também não éramos
tão destruídos assim. Eu nunca saberia o que é ter pais amorosos e
acolhedores, porém, seria feliz se soubessem que ambos conseguem se
libertar dessa relação tortuosa.
— Sinto muito, Dy. Eu não fazia ideia. — disse, enxugando lágrimas do
meu rosto que nem eu mesma havia notado.
Balancei a cabeça e sorri para tranquilizá-lo.
— Tá tudo bem. Eu quero beber e me divertir esta noite. — forcei-me a
não ligar — Pode dançar comigo e evitar que caras nojentos se esfreguem
na minha bunda, por favor?
Ele assentiu.
— Pode deixar, garota. Essa noite é uma criança.
— Então chega de papo triste. — comemorei.
Ele concordou, mas de repente, suas sobrancelhas se franziram.
— Seu namorado não vai vir aqui dar um de macho alfa não, né? — quis
saber, preocupado.
Eu devia estar ciente de que em algum momento perguntas assim iriam
surgir, mas isso não atenuava o impacto.
Engoli em seco, obrigando-me a esconder todas as lágrimas que insistiam
em se derramarem no meu rosto.
— N-não. — murmurei, não olhando diretamente para o seu rosto.
Virei-me de costas a tempo de um soluço repercutir e agarrei suas mãos,
repousando-as sobre a minha barriga.
— Dançar, Luc. Vamos dançar. — repeti, cortando o fluxo de nossa
conversa.
Ouvi-o rir atrás de mim, mas prosseguimos com o nosso ritmo arranhado
e torto.
...

Loren veio até nós depois de duas músicas. Ficamos nós três por um tempo
juntos até que meu corpo não suportou mais tanto tempo dançando.
Eu precisava de um lugar para me apoiar ou cederia aqui mesmo. Minha
garganta estava seca. Luc gentilmente se ofereceu para buscar uma garrafa
de água para mim. Quando me entregou, senti vontade de abraçá-lo em
gratidão.
Ao fim da música lenta que tocava, perdi Loren completamente de vista.
Ela já deveria estar com a língua dentro da boca de algum cara. De todo
modo, era sempre assim.
Luc não tinha bebido nada, e parecia pouquíssimo afim. Decidi que
permanecíamos perto um do outro. Entrelacei os meus dedos nos seus e
seguimos em direção a sala.
Como grande parte dos festeiros estavam no quintal, a casa acabou
ficando mais livre e espaçosa. Embora os mais introvertidos ainda se
escondessem por ali. Não os culpava. Também gostava de me isolar.
Desabei no sofá duro e Luc fez o mesmo no espaço ao meu lado. Deixei
que minha cabeça tombasse em seu ombro e suspirei cansada.
— Eu estou morta. — grunhi.
Ele riu.
— Está mesmo fora de forma. — gracejou.
Luc dizia que eu deveria entrar para o time de futebol feminino da escola,
mas isso definitivamente não estava nos meus planos.
Dytto Bell e esportes eram quase antônimos em algum dicionário da
vida.
— Só um pouco.
— Deveria correr de vez em quando. Só para... sabe como é, seu sangue
não coagular no corpo. — ele riu de sua própria piada.
— Eu corro, sim. — me defendi.
— Ah, claro. — ele gargalhou.
— Tá. Tá. Tá. Você perdeu o direito de me julgar hoje mais cedo.
— Pensei que tivesse dito que não me julgaria por aquilo.
Ergui o corpo, ajustando-me para ficar de frente a ele. Sentei sobre
minhas pernas e olhei-o nos olhos.
— Mas não estou. Só que ela é... — cobri a boca, abafando um sorriso —
A professora de geografia. — entoei devagar, ainda desacreditada.
Ele cobrou o seu rosto, envergonhado.
— Esqueça isso, pelo amor de Deus. — pediu, sorrindo.
— Bom, isso vai ser meio difícil. — eu ri. Luc sabia bem a razão. Isso
estaria marcado em nossa amizade pelo resto de nossas vidas.
Ele desviou o olhar. Tinha uma tendência em tornar-se tímido para certas
circunstâncias. Em geral, ele era muito extrovertido, porém, para alguns
assuntos, voltava a agir como uma criança desconcertada.
— Me diga pelo menos que ela bancava você. — caçoei.
Suas bochechas coraram.
— Não foi assim.
— Então me conta. Adora uma história quente de professora e aluno. —
provoquei, irônica.
Ele umedeceu os lábios e deixou que o olhar recaísse para o carpete,
nostálgico.
— Ela me viu por acidente no vestuário da escola, nu. Disse que tinha
entrado lá para buscar umas coisas e... — ele suspirou. — Eu me cobri com
uma toalha, mas ela continuou encarando o meu corpo, estava muito... —
seu tom de voz abaixou abruptamente — excitada. — ele se contorceu,
como se falar aquilo em voz alta fosse demais.
Meu rosto ardia de vergonha, mas eu estava interessada em descobrir
tudo.
— Ela veio para perto de mim e começamos a conversar. Eu me ofereci
para ajudar ela a procurar a droga de uma caixa com bóias. Eu nem sei pra
que ela queria aquilo. Ela não é nem supervisora do grupo de natação, sabe?
— ele coçou a nuca. — E aconteceu a coisa mais idiota do mundo. A minha
toalha caiu justamente quando eu ergui a caixa. — ele riu, como se fosse
muito estranho.
— Então decidiram recriar um filme pornô? — ri.
Ele balançou a cabeça, timidamente.
— Eu sei lá. Ela só, desceu lá embaixo e... — seus olhos ainda eram
fixos no carpete, sem coragem para me encararem. — Fez.
Mordi os lábios, prendendo a risada que queria explodir de minha boca.
— E caramba... Ela era muito boa. — Luc sorriu — No dia seguinte, ela
ficou me encarando na sala a aula inteira, e quando o sinal tocou, ela me
pediu para que eu ficasse. Foi quando ela disse que aquilo não se repetiria, e
que foi um erro. — ele franziu as sobrancelhas. — Mas aí no dia seguinte,
ela estava lá no vestiário, no mesmo horário. Me esperando.
— Há quanto tempo isso vem rolando?
— Sei lá, já tem um tempo. Três semanas, acho.
Não dei minha opinião. Não poderia julgar ele. Também me envolvi com
quem não deveria.
— Hoje mais cedo, não deveria ter acontecido. Eu estava me escondendo
porque sabia que essa relação é um total fracasso. Mas ela me procurou
para conversamos. Disse que entendia. Mas sabe como é né, Dytto? Eu
estava envolvido demais. Vulnerável demais. Começamos a nos beijar e
aconteceu. E de repente, a porta se abriu e lá estava você.
Ele retornou o seu olhar para o meu.
— Eu achei que estava verdadeiramente encrencado. — ele suspirou —
Depois daquilo, acabou, de vez. Eu não vou mais voltar a ficar com ela. Eu
não quero ser assim. Sinto que tudo isso está errado. É como se ela
estivesse brincando comigo, me manipulando a querer. Eu sei lá. Não é
como eu culpasse ela. Ninguém botou uma arma na minha cabeça, mas eu
me sinto um pouco... levado a fazer o que ela quer. Entende?
— Luc, se você está desconfortável. É melhor parar.
— Esse é o problema, Dytto. Eu não me sinto desconfortável. — ele
jogou a cabeça para trás, apoiando-a na cabeceira do sofá — Na primeira
vez eu me senti horrível. Mas depois, a culpa foi embora. Só que, eu me
sentia estranho. Uma sensação de que eu devia querer parar. Mas ela me faz
querer continuar. E eu não sei como sair dessa relação doentia.
Afaguei o seu ombro.
Esse sentimento eu conhecia bem.
De estar no erro e não saber como fugir sem ceder. De sentir o desejo
ardente crescendo cada vez mais e mais, sabendo que é errado.
— Pode começar evitando ela. Vamos entrar de férias muito em breve.
Terá tempo para deixar isso longe da sua mente. Será só mais um semestre
antes de você ir embora da escola de vez. — aconselhei.
Ele me olhou, com um meio sorriso nos lábios.
— É, pode ser. — concordou sem muito animo. Seu olhar se foi para o
centro da sala — Ah, fala sério! — resmungou, triste.
— Que que foi?
— Nossa festa acabou de furar. — ele entortou o canto dos lábios,
entreolhando algo. — Seu namorado chegou. — avisou.
Meu coração parou. Senti minhas bochechas esquentarem e minha
respiração tornar-se sôfrega.
Segui bem lentamente o seu olhar, com medo demais de descobrir o que
encontraria.
Não muito longe de nós, Christopher cumprimentava alguns caras em
uma rodinha, de pé ao lado da porta.
Não era muito longe de onde estávamos.

Ele parecia exausto. Com olheiras fundas que circundavam seus olhos. As
visíveis expressões de cansaço evidenciavam-se em seu rosto. Suas
pálpebras se mostravam sonolentas e baixas. Residia em seus olhos uma
nítida tristeza.
Não saberia dizer se eu estava pior ou igualmente destruída, visto que
comecei a evitar me olhar no espelho desde que constatei meu rosto
inchado mais vezes do que conseguia contar nos dedos.
Estava claro que nós dois passamos pelo mais amargo sofrimento que
duas pessoas que se amam eram capazes de atravessar.
Eu quis me enfiar debaixo daquele sofá. Me acovardei no minuto em que
o vi.
Toda aquelas emoções de desespero e angústia entalaram-se dentro de
mim. Eram sentimentos demais. Eu estava mergulhada em aflição.
— Vou voltar para a pista de dança. — Luc se pronunciou. — Te vejo
depois, Dy. — se levantou, afastando-se rápido demais.
Eu queria ter segurado o seu braço com todas as minhas forças e
implorado para que ele ficasse ao meu lado. Mas eu não fui capaz. Estava
paralisada dos pés à cabeça. Presa ao rosto de Christopher.
Senti meus olhos embargarem em lágrimas. Tudo o que tentei esconder
nos últimos dias, veio à tona como uma chuva tempestuosa.
Notei que ele parou por um momento, rolou os olhos pela sala, mas os
estagnou antes que chegassem em mim. Ele sabia que eu estava aqui, mas
se deteve para não me ver.
Será que ele sentia o mesmo que eu?
Era injusto que ele soubesse exatamente como eu estava, mas que eu
nunca poderia ser capaz de dizer se seus sentimentos eram mútuos.
Esperei, e torci para que viesse até mim. Implorei mentalmente para que
me buscasse nesse sofá. Que estivesse me desejando feito um louco.
Meu coração estava sangrando naquele momento. A dor assolava o meu
peito.
Eu solucei, e a primeira lágrima veio. Elas não parariam. Eu sabia que
não iam parar.
Eu não tinha forças contra aquilo.
Christopher despediu-se de seu grupo de amigos. Girou os calcanhares e
marchou para o quintal da casa, não olhando para mim nem por um
milésimo de segundo sequer.
Ele simplesmente seguiu o seu caminho, como se eu nunca tivesse
existido em sua vida. Como se nós dois simplesmente nunca tivéssemos nos
amado.
Eu queria morrer ali.
...
Eu já estava naquele sofá há tempo demais. 20, 30 minutos, talvez.
Não chorava. Apenas permanecia em estado de choque. Voltando em
memórias do passado. Revivendo os beijos e as carícias.
Estava desmoronando em meus próprios pensamentos. Minha mente ia e
vinha do passado ao presente. Pendendo entre o amor e a dor.
Eu era tão dependente dele que não sabia ser capaz de me aproximar
daquele jardim novamente. Não conseguiria olhar para ele e permanecer no
mesmo local, fingindo que nada aconteceu.
O término foi a decisão mais difícil que eu precisei tomar. E agora lidava
com as consequências. Sentindo todo o peso da culpa e da saudades me
corroendo noite e dia.
Se eu pudesse. Se eu conseguisse. Teria corrido para bem longe.
Meus olhos trancaram-se à saída, encarando-a por entre as pessoas que
permaneciam em meu campo de visão.
Eu estava entorpecida em meus devaneios. O álcool fora capaz apenas de
roubar o meu equilíbrio, mas Christopher tomou o meu fôlego e a razão.
Encarei as minhas próprias mãos sobre as minhas coxas. Queria usá-las
para algo, não lembro. Acho que eu queria me levantar. Estava atordoada.
Sentia-me pesada e desconexa da minha realidade.
Forcei-me a erguer o meu corpo sentado sobre as minhas pernas no sofá e
me desvirei. Apoiei-me nos móveis e nas pessoas à minha frente. Alguém
me auxiliou a levantar, não vi quem.
Arrastei os pés e apressei os passos em direção a saída da casa. Estava
cambaleando, mas comemorava mentalmente cada passo bem sucedido sem
cair no chão.
Precisava de ar. Sentia minhas vias respiratórias fechando. Estava
taquicardica e trêmula. O choro embolou-se em minha garganta e fugi para
onde o carro de Loren estava estacionado.
Encostei o corpo na lataria e desatei a chorar, sem fôlego.
O amor não deveria deixar alguém tão frágil assim. Então culpei o álcool
por se sentir uma estúpida.
Estava claro. Christopher não ligava. Era eu quem estava me escondendo.
Agachei-me e tentei criar um ritmo de respiração constante. Era difícil,
todavia, necessário.
Ninguém me veria chorando de onde eu estava e fiquei aliviada por isso.
Toda a movimentação concentrava-se apenas em frente à casa.
Levantei-me novamente e apoiei os braços no carro, encostando a testa
neles. Persistindo em ficar bem. Lutando contra aquela enxurrada de
sentimentos ruins.
Apertei as unhas na palma da mão e as pressionei em minha carne. Um
pouco de dor física talvez abafasse a agoniante sensação que me matava por
dentro.
Porém, meu corpo inteiro estremeceu no segundo em que algo
pontiagudo tocou com firmeza a minha costela.
— O celular, agora! — a voz era exigente e rude.
Tremi, virando-me em sua direção. O seu rosto estava completamente
escancarado, sem máscara ou venda para o cobrir, isso significava que ele
não tinha medo que eu soubesse quem era, ou então, que acabaria comigo
assim que finalizasse o seu roubo.
O homem parecia jovem, porém, a pele era marcada por manchas
escuras, os olhos débeis e vermelhos encaravam-se de modo assustador,
denunciando o seu vício por drogas.
Parecia nervoso, irritadiço e tremia muito. A boca estava seca e
maltratada. A barba por fazer estava suja e o seu corpo fedia. Aparentava
estar passando pela abstinência.
— Passa, porra! — repetiu, mais cruel.
— E-eu não. Não tá aqui. — disse, nervosa.
O medo de morrer tomou conta. Eu estava sozinha, poderia acontecer
qualquer coisa.
Meu celular estava no carro e eu não havia nada de valor que eu pudesse
lhe entregar. Me impertiguei, afastando-me um pouco mais para trás, apenas
para aliviar a pressão que ele fazia com a faca em sobre o meu vestido.
— Não mente pra mim, caralho. Passa o celular ou eu... — seu rosto
atingiu a lataria do carro de uma maneira tão brusca que me fez saltar para
trás.
As mãos, autoras do ato, permaneceram lançando a cabeça do ladrão
repetidamente contra a lataria do carro, esmagando os ossos do nariz do
indivíduo. Seu rosto agora ensaguentado arquejava de dor.
A faca rolou no chão e rapidamente a peguei, apontando para os dois.
Meu olhar lançou-se em direção a quem o segurava. Christopher estava ali,
em sua forma mais possessa. Não era um demônio, mas agia como um em
sua forma humana.
Engoli em seco, vendo a sua face revestida em fúria.
Ele largou o homem no chão. Chutando a sua costela uma. Duas. Três
vezes.
Eu estava tremendo, ainda apontando a faca na direção dos dois,
assustada.
O ladrão gemia de dor, engasgando em seu próprio sangue. Christopher
agaixou-se sem dizer nem uma única palavra e agarrou o seu cabelo. Assim,
saiu arrastando-o no asfalto cru, rasgando as pernas expostas pela
maltrapilha que mal cobria qualquer parte do seu corpo. Os tecidos de roupa
completamente desgastados fez com que ele ficasse exposto, deixando
rastros de sangue de suas coxas no chão.
Enquanto relutava para que fosse solto, gritando aos quatro ventos,
pedindo socorro, Christopher o feria sem piedade. Cruel e frio.
Um pequeno amontoado de curiosos se formou próximo de mim.
Queriam entender o que estava acontecendo. O burburinho do pequeno
grupo começou, todos apavorados com a cena.
Demorou até que Christopher retornasse, somente quando o jogou em um
boeiro na esquina da rua, que se conteve.
Ele voltou a passos largos. As pessoas que o assistiam abismados logo
saíram de perto. Todos estavam com medo do que ele poderia fazer.
Christopher marchou em minha direção e arrancou a faca de lá,
arremessando-a para bem longe.
Ele puxou a manga de seu casaco para baixo. Com uma mão, segurou o
meu queixo, e com a outra, limpou o meu rosto de algo.
Chris me conferiu de cima baixo. Os olhos sérios e franzidos
continuavam procurando por algo mesmo após já tê-lo feito.
— Ele te machucou? — perguntou, sério.
Balancei a cabeça.
Não sabia como me sentir.
Ele alisou o meu cabelo com as suas grandes mãos e me puxou para mais
perto. Seu cheiro automaticamente me atingiu. Eu queria mergulhar nele ali
mesmo.
Christopher me abraçou, apertando-me nele. Eu não resisti, fiz o mesmo.
No seu abraço, me sentia em casa.
Sua evidente preocupação aqueceu-me por dentro. Passei a mão pelo meu
rosto, enxugando os vestígios de lágrimas, embora já tivessem sido vistas.
— Tem mesmo certeza de que ele não te machucou? — insistiu,
afastando-se apenas um pouco.
Sacudi a cabeça, confirmando.
Ele segurou o meu rosto entre as suas mãos e com o dedão acariciava a
minha bochecha. Christopher me olhava cheio de ternura.
Antes tão frio, agora tão caloroso. Eu não sabia lidar com isso.
— Aquele merda vai ficar preso naquele boeiro por um tempo até
conseguir se levantar de novo. — avisou.
Assenti. Era o melhor a se fazer.
— Inferno. Você está tão magra. — notou, preocupado. Havia aflição em
sua voz.
— Eu estou bem. — cochichei.
— Preciso que se cuide, amor. — pediu, novamente abraçando-me —
Você precisa se cuidar. — beijou o meu pescoço.
— Chris...
— Não se preocupe. Vai dar tudo certo. Mas, por favor, fique viva e
saudável. — ele me olhou no rosto. — Merda, Dingo. — reclamou, irritado.
— Eu estou tentando. Juro que estou.
Christopher balançou a cabeça e aproximou-se. Seus lábios me roubaram
um beijo ardente. Eu não me opus. Não podia. Precisava tanto dele.
— Me prometa, Dytto. Que não vá desistir. — arfou em meio ao nosso
beijo. — Me prometa! — exigiu.
— Eu prometo.
Ele apertou os dentes.
— Você é muito descuidada. É desobediente. — reclamou. — Não faça
isso consigo. Que merda!
Ele beijou a minha testa.
— Eu odeio quando age assim, Dingo Dingo. Isso me mata, caramba. Te
ver triste me mata. Te ver chorando me destrói. Isso já é difícil o suficiente.
— brigou. Estava com tanta raiva que não sabia se conter.
Ele inclinou meu rosto para cima. Seu dedo acariciando uma de minhas
sobrancelhas.
— Eu nunca mais quero ver você assim, novamente. Nunca mais.
Fechei os olhos.
— Disse que queria me ver infeliz pelo resto da vida. — memorei.
— Eu prefiro sofrer no inferno a isso. — disse.
— Sinto sua falta. — sussurrei triste, e abri os olhos.
Ele curvou um meio sorriso.
— Eu sei... Também sentimos a sua.
Asafe. Eu também morria de saudades dele.
Lambi os lábios.
— Me leva com você hoje. — pedi. — Só mais uma vez, Chris.
Ele fechou os olhos, em uma luta interna consigo mesmo.
Me aproximei, beijando o seu peitoral.
— Só mais essa vez. — implorei.
— Só mais essa vez. — concordou.

ih rapaz... Eu não digo é nada.
MAS VEM AÍ UMA COISA MUITO FORTEEEE.
Ig: autoraelliemorgan
Capítulo 66| Fim

AVISO
Antes de começarem o capítulo, queria conversar com vocês sobre algo
que vem me incomodando bastante. Eu sei que vocês lêem outros livros, no
entanto, é uma situação bem chata ver vários comentários mencionando
referências sobre outros livros.
Uma referência ou outra, era ok. Porém agora há diversos comentários, e
às vezes, até mesmo, sem sentido nenhum espalhados pelo livro.
Peço que, por favor, mantenham as comparações, piadas internas,
brincadeiras, menções a nomes e cenas apenas nos comentários dos
próprios livros que vocês lêem.
Se vocês se depararem com comentários do tipo por aqui, por favor,
alertem o leitor sobre o meu aviso.
Agradeço!

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



Um zunido baixo perturbava os meus deliciosos sonhos.
Minha mente tentava a todo custo desligar-se, para então, mergulhar na
maravilhosa sensação de estar inconsciente. Por outro lado, meu celular
continuava tentando, de maneira persistente, destruir isso.
Eu odiava a determinação do responsável em continuar me ligando,
mesmo após ter sido obviamente ignorado.
Eu devia ter atendido no que parecia ter sido a primeira ligação, mas
acho que voltei a dormir sem querer. Só que aquela maldita vibração não
parava.
Irritada, bufei alto, tateando a mão sobre o móvel ao lado da minha cama.
Não me dei o trabalho de abrir os olhos. Arrastei o dedo sobre a tela e torci
para ter recusado a chamada por acidente. No entanto, ao colocar o aparelho
contra o ouvido, alguém já falava no outro lado da linha.
— Loren, caramba! — trovejou rude.
Pisquei várias vezes, frisando as sobrancelhas com estranheza. Aquela
voz me parecia familiar.
— Quem é? — perguntei, arrastada e sonolenta.
— Acorda agora!
— Amara? — reconheci. — Porra. — virei-me de barriga para cima no
colchão.
Já havia um bom tempo desde que nos falamos pela última vez. Dali em
diante, passei a ignorá-la, pois sabia que isso me lembraria de um lado meu
que eu não poderia assumir. Ele deveria se manter sufocado.
— Que droga você quer? Tá com saudades? — eu provoquei-a.
Um breve silêncio se fez presente. Foram apenas cinco segundos, mas
que pareceram uma eternidade.
— É a sua irmã. — avisou, tensa. — Precisa vir imediatamente. —
parecia abalada.
Em um rápido movimento sentei-me no colchão.
— O que aconteceu? Cadê ela? Ela se machucou? — disparei, afoita.
Pulei da cama, alarmada e corri para o closet, procurando pela primeira
peça de roupa que surgisse.
— Ela está muito mal, Loren. Precisava vir para a casa do Christopher.
— explicou, baixo.
— Casa do Christopher? — berrei — Que porra esse imbecil fez com a
minha irmã? Eu vou arrebentar ele. — esbravejei, desejando tê-la impedido
de ir com ele na noite passada.
Sabia que era um erro ter permitido que fossem embora juntos quando
Dytto me procurou, mas ela parecia tão triste que, por um segundo,
imaginei que pudessem resolver suas indiferenças e voltarem a namorar.
Agora percebo que foi um grande erro.
— Loren, apenas vem. Ela precisa de você. Ela... — Amara suspirou. —
Traga roupas limpas. Ela está toda suja.
— Suja? O que aconteceu, Amara? Que merda! Fala alguma coisa. —
surtei.
Tudo o que me vinha a mente eram cenas horrorosas de Christopher
batendo em Dytto ou coisa pior.
Todas as minhas paranóias se tornaram grandes monstros em minha
mente, sendo alimentados por todas as teorias loucas do que poderia ter
acontecido.
Eu estava tremendo.
— Não fale para ninguém que você está vindo. Vou passar o endereço. —
disse ela, mais calma — Venha sem ninguém saber. — reforçou.
De repente, a chamada ficou muda.
Ela havia desligado.
Achei que naquele dia, eu encontraria o pior de minhas hipóteses quando
saí de casa. Mas o que encontrei, superou tudo o que eu tinha imaginado.
A cena permaneceria perpetuando pelo resto da minha vida em minha
memória.
•••

Horas antes...
Sentia frios na barriga como da primeira vez o que vi.
De soslaio, o observava dirigir. As grandes mãos seguravam o volante
com força. O rosto estava sério e ímpio. Os braços largos e fortes
evidenciavam as suas várias tatuagens.
Tinha sentido tanta falta de olhá-lo que mal conseguia conter a vontade
que tinha em beijá-lo. Existia uma conexão entre nós dois que tempo
nenhum poderia apagar.
Eu o amava tanto que doía. Doía ainda mais, porque eu sabia que depois
de hoje, não poderia tê-lo.
— Sinto tudo o que está sentindo. — comentou, atento à estrada.
— Então deve saber o que pretendo passar a noite inteira fazendo. —
devolvi, sorrindo.
Ele lambeu os lábios, contendo um sorriso malicioso.
— É, eu sei.
Baixei o olhos para as minhas coxas.
— Sinto falta disso. — murmurei. — De nós dois. Das brincadeiras. Do
sexo. De tudo. — suspirei. — Sinto falta de você. Eu não devia, não é? —
ruminei. — Quer dizer, isso tudo, não é certo.
Seu rosto transformou-se em uma máscara séria. Era complicado para
nós dois. Queríamos algo que não poderíamos ter.
Era como desejar a mágoa inevitável.
— Ainda dá tempo de voltar atrás. Se não se sente mais confortável. —
sugeriu, parecendo não querer ter dito nada disso. — A festa não acabará
cedo então...
— Eu sei. Mas não vou voltar atrás. — balancei a cabeça — Preciso de
você, Chris.
O carro diminuiu a velocidade, estacionando em frente o jardim de sua
casa.
— Quero você. — continuei.
Ele girou a chave na ignição e recostou-se no banco. Com os dedos
ansiosos, tamborilava o volante. Sentia como se quisesse me dizer algo.
— Isso é perigoso, Dingo. Para nós dois. — ele levou seu olhar para o
meu — Ficarmos juntos hoje... Sabe que isso só vai acender a vontade que
temos todos os dias. Vai doer muito quando não estivermos mais juntos.
Quando eu disser que acabou. Quando você for embora e...
Retirei o cinto de segurança e pulei em seu rosto, agarrando-o aos beijos.
Não queria ouvir mais nenhuma palavra de sua boca.
Eu já sabia.
Sabia tudo o que aconteceria quando isso acabasse. Mas não era no fim
que eu estava pensando. Era no agora. E somente ele importava. O agora.
Nós dois. Nada mais.
Sutilmente passei uma perna para o seu banco, em seguida, passei a
outra, até que estivesse completamente em seu colo.
Enfiei meu dedos em seu cabelo, beijando-o com todo o meu alvoroço.
Agradecendo aos céus e infernos por tê-lo feito tão perfeito.
Queria ficar ali, estendendo o tempo para que nunca passasse. Para que
eu pudesse lhe ofertar todo o meu amor e sentimentos que guardei.
Ele era o meu ar. Precisava dele, nem que fosse apenas mais um pouco.
Minha alma exigia dele. Talvez estivéssemos conectados por uma razão
sobrenatural, ou então, éramos apenas dois viciados.
Suas mãos agarraram a minha cintura e exploraram o meu corpo,
descendo avidamente para as minhas coxas, subindo a borda do meu
vestido, e então acariciando minha bunda. Seus dedos atrevidos desceram
pela borda da minha calcinha, seguiram caminho para entre o meio de
minhas pernas. Sorri enquanto ainda o beijava.
Ele massageou minha intimidade por cima do tecido, provocando-me
discretamente.
Seu longo dedo se infiltrou em minha calcinha, esfregando-se em minha
boceta. Arquejei, excitada. Estava melada, ansiosa e pronta.
Embora partes de mim ainda estivessem em recuperação, poderíamos
apenas pegar mais leve. Tudo bem. Ia dar certo.
Ele friccionava o meu clitóris, masturbando-o bem devagarinho. Ele
parou de me beijar, descendo sua língua do meu maxilar até o meu pescoço,
chupando a minha pele. Deixando mordiscadas gostosas. Gemi baixo,
estava uma delícia.
De olhos fechados, mergulhada em puro êxtase, procurei pelo seu cinto e
o desfivelei. Em seguida desabotoei sua calça e a abri.
Ergui o meu quadril para que pudesse afastar a sua calça. Seu dedo
continuou me provocando, aproveitei da posição em que estávamos para
rebolar nele.
Christopher beijou o meu busto, deixando rastros até o colar do meu
vestido, o qual ele baixou com a mão livre, colocando meu seio em sua
boca. Eu ainda tentava livrar o seu pênis de sua roupa, mas estava difícil
manter a concentração. Sabia que ele estava duro, então por cima de todo
aquele tecido, apalpei-o, me aproveitando de todo ele.
Christopher enfiou o dedo em mim.
— Cavalga. — ordenou, olhando-me diretamente nos olhos.
Prendi o canto dos lábios com os dentes e fiz com o que me pediu.
Devagar, subi e desci em seu dedo, até que conseguisse manter um ritmo
constante.
Christopher deliciava-se com os olhos. Me observava de cima a baixo, a
sua face brilhava de satisfação.
Rebolei em seu dedo. Chris começou a movimentá-lo em um entra e sai.
Peguei o seu rosto entre minhas mãos e o enfiei em meus seios, levando-a
me chupar. Sua língua entornou os bicos, seus olhos malinos olhavam-me
de baixo, enquanto eu gemia.
Seu rosto estava grudado ao meu corpo, sua boca insaciável sugava o
meu peito.
Beijei a sua testa, ao passo que forçava seu rosto em meus seios. Seu
dedo nunca cessou os movimentos, continuava a me penetrar forte. Meus
quadris se remexian mais rápidos agora.
Chris adicionou um outro dedo. Eu gemi alto.
— Espera. Espera. — pedi, ofegante.
Ajeitei-me em seu colo, retirando seu pênis apressadamente de sua cueca.
Não ia esperar até que entrássemos dentro da sua casa.
Foda-se os vizinhos de Christopher. Não me importava em dar um show
no meio da rua escura hoje. Eu queria foder.
Seu pênis ereto saltou de sua roupa, a deliciosa visão das veias saltando
no seu membro grosso me fez lamber os lábios.
— Posso chupar? Quer dizer, você quer? Ou nós... — eu dizia apressada.
Christopher puxou-me para mais perto dele pelo tecido da calcinha. Ele a
arrastou para o lado e me posicionou em cima dele, mas parou bruscamente
com os movimentos.
— Amor, eu estou sem camisinhas aqui. — lembrou.
— Merda. — suspirei.
— É. — concordou.
— E se nós passássemos em uma farmácia? — perguntei, ansiosa.
— Não vendem camisinhas para o meu pênis em farmácias, Dingo Bells.
— ele riu ao responder. — Eu as peço na internet e só tenho delas dentro de
casa.
— Não sai com camisinhas por aí, é? — tentei descontrair, para camuflar
a minha aflição em não poder terminar o que começamos.
Eu estava com muita vontade, mas tentava ser racional. Um bebê era a
última coisa que eu queria no momento. Eu nem sabia como ser uma mãe, e
estava pouco afim de descobrir gerando uma criança.
— Sem necessidade. A única pessoa com quem eu transo andou com
feridas no útero, não precisei andar com nada.
Internamente, eu me gabei por isso. Não pelas feridas, é claro. Mas por
ser a única.
— Então, nada de sexo no carro? — desanimei.
— Poderíamos ir para o banco de trás para eu te chupar, mas seria bem
desconfortável pra mim. Sou muito alto pra transar em carros.
— Me surpreende o fato de que você caiba em um. — ri.
Ele tocou o teto.
— Por que acha que eu comprei um carro tão alto?
— Espero que não para transar com garotas. Eu também quero ser a
única a ter feito isso aqui.
Ele brincou com uma sobrancelha.
— Não era essa ideia no início, mas agora... — ele acariciou as minhas
coxas. — Agora seria muito bom transar com você aqui.
Toquei o seu peitoral, apalpando seus músculos sob a camiseta.
— E se... — joguei a cabeça para o lado — Você for bem rapidinho lá
dentro e pegar uma camisinha?
— Transar no carro é o seu mais novo fetiche, Dingo Dingo? — ele
mordeu os lábios. Havia uma obscenidade sexy em seu rosto.
— Talvez. — deslizei em seu corpo, descendo por entre as suas pernas,
até estar agachada no chão, era apertado aqui. — Vamos começar neste
lugar primeiro. — sorri, segurando o seu pau próximo a minha boca. — E
então... — depositei um selinho na glande, isso o fez se empertigar —
podemos continuar com outras coisas.
Prendi o meu olhar no seu, ele acariciou a minha face com os dedos.
— Parece um plano incrível. — animou-se.
Chupei apenas a ponta do pênis. Deslizei a língua sobre ele, provocativa.
Christopher puxou o ar com força, agarrou o meu cabelo com brutalidade e
apertou o maxilar.
— Não seja tão má. — implorou.
— Não sou. Mas preciso ter cuidado. São trinta e dois centímetros aqui.
— caçoei.
Christopher sorriu.
— Eu exagerei um pouco.
— Exagerou quanto? — quis saber.
— 2 centímetros. — respondeu, orgulhoso.
Revirei os olhos. Quanta diferença! De 32 para 30 é quase nada.
— Certo. Então me deixe cuidar dos seus trinta centímetros, amor. —
joguei-lhe uma piscadela.
— Me chupa, anjo. — ele acariciou a minha bochecha. — Eu quero que
faça isso me olhando com essa cara de danada.
— Eu vou. — mordi os lábios. — Mas quero que, enquanto isso, me
conte o porquê das tatuagens no pau.
Lambi a extensão de seu pênis bem devagarinho e o senti pulsar em
minha mão, excitado.
— Eu estava chapado. — começou, a voz sôfrega. — E eu achei que
seria leg... — coloquei-o na boca, fazendo sucção, Chris gruniu — ... l-
legal. — conseguiu terminar.
Seu aperto em meu cabelo ganhou intensidade.
— Porra, e... — se deteve quando coloquei mais dele em minha boca, seu
corpo estava implorando por mim. — Eu não me lembro muito bem de
muita coisa. Tinha usado drogas pra caralho. — ele gemeu.
Tirei seu pau de minha boca e coloquei um de seus testículos nela.
Ele sorriu, ofegante. E desceu sua mão para o meu pescoço.
— Eu tô com uma puta vontade de te encher de tapa. — confessou,
provocativo.
Em resposta, afastei o meu rosto de seu pênis, dando-lhe liberdade para
que o fizesse.
Fui atingida no rosto. A ardência queimava em minha bochecha e na
lateral dos meus lábios.
Com os olhos fixos nos seus, coloquei seu pênis em minha boca,
afundando-me nele até onde pude.
Fiz pressão com a lingua, mantendo contato visual. A grossura do seu
membro fazia minhas bochechas doerem, mas valia a pena.
Deslizei-o em minha boca, mantendo um ritmo lento. Tirei-o algumas
vezes para lamber e chupar a ponta. Gemia baixinho e manhosa enquanto o
fazia. Gostava de ver o rosto vermelho de Christopher. As veias em seu
pescoço acentuaram-se conforme eu o chupava tão dedicada. Fazia
movimentos com a língua. Com uma mão, massageei o testículo, isso o
atiçou.
Christopher pressionou apenas um pouco da minha cabeça em seu pau,
guiando-me a ser um pouca mais rápida.
— Isso! — gemeu — Porra!
Ele mordeu os lábios rudemente. Seu peito subia e descia, a resiração era
ofegante e rápida. Eu estava adorando aquilo.
Enfiei-me mais a fundo, mas parei quando engasguei. Se aventurar em
um pênis tão grande não me traria benefícios, e eu já sabia bem.
Continuei o chupando, provocando e lambendo-o. Fiz o que pude, como
pude, deliciando-me com a sua majestosa visão sensual.
Seus olhos possuíam uma expressão selvagem, encarando-me em
chamas. A sua face transmitia o prazer que estava sentindo. Meu homem
estava excitado, duro feito pedra em minha boca. Ele semiabriu a boca,
respirando acelerado.
Em determinado momento, contraiu-se. Ele estava prestes a gozar.
Fui mais ágil, ele estava alucinando em prazer. Seus músculos
tensionaram-se de repente, antes de relaxarem.
Foi no exato momento que senti a sua porra deliberadamente preencher a
minha língua com aquele estranho gosto amargo e sutilmente salgado. Ele
arfou, segurando o meu rosto com as suas mãos.
Engoli tudo aquilo. Meu rosto franziu-se em uma careta. Odiava o sabor.
Christopher sorriu de lado, achando graça.
— Você é incrível. — sussurrou, satisfeito.
Ele fechou os olhos, sorrindo. Isso fez meu coração errar uma batida. Ele
estava tão lindo.
Afastei-me limpando a boca.
— Quero que vá buscar a camisinha. — pedi, prontamente voltando ao
seu colo. Posicionei-me com uma perna em cada lado do seu corpo,
observando-o guardar o seu pênis na calça.
— Sim, minha senhora. Eu volto num instante. — ele beijou o meu
queixo.
Passei para o banco do carona e confortavelmente joguei as pernas para
cima do painel.
— Estarei esperando. — brinquei.
Christopher tocou a maçaneta do carro, fez menção em abrir, mas algo o
deteve. Ele franziu as sobrancelhas, olhando para o nada, ergueu o rosto e
encarou a entrada da sua casa.
Não havia nada e nem ninguém ali, entretanto, alguma coisa estava o
incomodando.
— Tá tudo bem? — investiguei, baixinho.
Ele continuou olhando fixamente para o mesmo ponto na entrada de sua
casa, como se estivesse esperando alguma coisa acontecer. Fiz o mesmo que
ele, mas tudo continuava o mesmo.
— Qual o problema? Asafe está em casa?
— Dytto. — sua voz era séria e pesada ao meu lado. Quando o olhei
novamente, seu rosto parecia completamente transformado. Estava em
alerta. As veias negras de sua face demoníaca ameaçavam surgir. — Me
escuta! — exigiu, pressionado sua mão em meu queixo. — Fique nesse
carro e não saia por nada nesse mundo. Dirija para bem longe daqui e não
entre dentro da casa. Me ouviu? — ordenou.
— Sim. Claro. — concordei, confusa.
Sua exigência me era tão desesperada que não tive tempo para perguntas.
Christopher abriu a porta e colocou um pé no solo antes de inclinar-se
para trás, em minha direção.
— Eu confio em você.
Balancei a cabeça.
— Por que está tão estranho? — indaguei, nervosa.
Meu estômago agora se revirava em ansiedade. Meu coração disparou em
preocupação.
Para quê aquilo tudo? Que droga estava havendo?
— Vai ficar tudo bem. — garantiu, pousando sua mão sobre a minha. —
Minha linda garota, vá para longe dessa casa. Por favor.
Ele segurou o meu braço, obrigando-me a ocupar o banco do motorista
enquanto se colocava para fora do carro.
Christopher ligou a chave na ignição e olhou-me outra vez.
— Pise fundo. — mandou, fechando a porta.
Minhas mãos tremiam quando dei partida. Eu não queria sair dali. Eu
queria chorar e não sabia a razão. Ou talvez, no fundo, soubesse. Algo
muito ruim iria acontecer naquela casa e por isso Christopher me obrigava a
ir embora.
Olhei através do retrovisor. Ele já não estava mais na rua. Em rápidos
passos havia chegado à porta de sua casa.
Todo o meu corpo queria voltar ali. Descobrir a razão do que estava
acontecendo.
O enjôo crescente em meu íntimo dificultava a minha atenção no que
acontecia na estrada. Tentava manter o meu foco em duas coisas, mas
acabei descontrolando-me.
Eu estava muito enjoada naquele instante.
...
Tinha dado tantas voltas naquele quarteirão que já conhecia de cor cada
casa, cada lixeira, cada portão.
Eu me recusava a ir embora. Estava ali dando voltas e voltas, pois sabia
que não iria conseguir voltar para a minha casa, não sem uma resposta.
Meus dedos apertavam o volante com força. Eu estava suando frio. Meu
coração estava eletrizado, como um louco no peito. A ansiedade de não
saber o que estava havendo me destruía.
Milhares de pensamentos estranhos atormentaram a minha cabeça. Ao
mesmo tempo que eu me forçava a engolir o nó na minha garganta.
Eu estava aterrorizada, mas não sabia fugir. Precisava encarar.
Tínhamos que dar um jeito no que quer que estivesse acontecendo.
Por Deus, eu não podia deixar Christopher. Não podia deixar ele. Não
podia.
— Por favor, que você esteja bem. Que você esteja bem. Por favor, Deus,
por favor o proteja. Por mim. Por favor. — orava baixinho. Sentindo
lágrimas quentes escorrerem de meus olhos.
Poderia estar apenas dizendo palavras em vão, afinal, Christopher era um
demônio, que tipo de deus me ajudaria a salvá-lo. Mas, em momentos de
desespero, não há limites que nos impeça de fazer o impensável. E
Christopher era o amor da minha vida. Eu precisava que ele estivesse
seguro.
A angústia avassaladora teimava em me fazer sofrer.
Meu pé freou o carro — parando diante o jardim em que ele me pedira
para ir embora momentos antes — e encarei a casa, aparentemente, serena e
tranquila.
Sentia meus órgãos se rebolarem dentro de mim. Eu estava uma bagunça,
mentalmente e psicologicamente.
Inspirei fundo e olhei em volta nos bancos do carro à procura de algo, no
entanto, não existia nada ali que me fosse útil. Desci do automóvel às
pressas e corri para o porta malas. Peguei o pé de cabra que, por sorte,
encontrei e fechei o compartimento.
Segurando o ferro gelado em minha mão, caminhei com passos
vacilantes e apressados em direção a casa. Não bati na porta, era um
desperdício de tempo.
Avancei no local, adentrando de supetão.
Arregalei os olhos diante da zona de guerra que estava em seu interior.
Ainda na entrada, existia pedaços de móveis espalhados por todos os
cantos. Fragmentos de madeiras dispersos no carpete e cacos de vidros
salpicando o chão.
Uma parte da mobília estava destruída, e a outra estava revirada no chão.
Meus olhos vaguearam pelo lugar, em busca de Christopher. Continuei
andando, em passos silenciosos, porém ágeis. Não queria permanecer ali
por muito mais tempo. Sentia-me numa cena de crime, com o suspeito a
solto, aterrorizando o ambiente.
O suspense e a tensão ainda pairava no ar, como se as paredes tivessem
absorvido o horror presenciado aqui. O silêncio parecia ensurdecedor,
causando-me tensão. Meus nervos estavam à flor da pele.
Quando me pus na sala de estar, meu mundo ruiu num piscar de olhos. O
pé de cabra escorregou de meus dedos, senti-me fraca. Minha visão turvou
e meus lábios tremularam.
— Não. — arfei, chorosa. — Não. Não. Não.
Aproximei-me devagar do corpo no chão, deitado na poça de seu próprio
sangue. A camiseta rasgada, dava-me o desprazer de ter a visão de suas
costelas arrancadas, exibindo os órgãos falecidos.
As pálpebras abertas demonstravam o horror no vazio do que deveriam
ter olhos — pois tinham sido arrancados.
Sua pele, antes branca, pintava-se agora do líquido vermelho, repleta de
ferimentos abertos que deixavam claro que aquilo tinha sido brutal.
Seu pescoço degolado, exibia o enorme e profundo corte. Os lábios agora
era cinzentos. O rosto antes perfeito, tornou-se macabro em decorrência dos
rasgos, deixando-o quase irreconhecível.
Minhas pernas cederam. Desmoronei ao seu lado em um grito silencioso
de dor.
Sentia como se minhas costelas tivessem sido arrancadas também. Não
conseguia respirar. Isso não poderia estar acontecendo.
Um oceano de lágrimas apoderaram-se do meu rosto.
— CHRIS, NÃO! — toquei o seu rosto pálido e sem vida. — NÃO! —
meu grito saiu num rasgo desesperado.
Tinha que ter um jeito para aquilo. Por que ele não voltou? Por que o
meu amor havia morrido? Não poderia.
Ele não poderia morrer. Ele era um demônio. Como aquilo era capaz?
Quem fez aquilo? E porquê?
Eu não sabia. Não sabia de nada. Eu estava dilacerada. Minha alma
gritava aos prantos de dor.
Eu queria ele de volta.
Por que ele não se mexia?
Deitei-me no chão ao seu lado e o abracei.
Tudo era dor.
— Eu vou te esperar aqui. — sussurrei entre soluços.
Iria ficar ali até o momento em que Christopher voltasse.
Ele tinha que voltar.
Ele deveria voltar.
Ele ia voltar... não é?

Não me matem ainda
Preparados para o que os esperava?
Ig: autoraelliemorgan
Capítulo 67| Acorda

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



— Não me chame de covarde. — reclamei, semicerrando os olhos sobre
Samantha que, confortavelmente, lambuzava os lábios fartos com gloss.
Ela balançou os ombros e aconchegou-se ainda mais ao banco do carona,
jogando o cosmético dentro de sua bolsa rosa e aveludada. Odiava a forma
como ela mudava completamente sua personalidade a cada semana.
Até quatro dias atrás, ela só vestia roupas pretas e cardigans. Agora ela
estava com essa mania de agir como uma garota metida que só usa rosa.
Não tinha como definir Samantha em uma só coisa. Ou talvez tivesse:
esquizofrênica.
O sol refletia sobre os seus longos cabelos cacheados, estava uma bela
tarde. O clima ensolarado fez com que o tortuoso clima úmido se
dissipasse, ou pelo menos, em partes. Mas era bom não ter que espirrar a
cada cinco minutos.
— Só estou dizendo a verdade. Você não tem coragem de assumir o que
está acontecendo e agora fica nessa. — sorriu de um jeito provocador. Ela
sabia como isso ia atiçar a minha raiva, no entanto, não se deu ao trabalho
de se importar.
— Porra. Claro que não, Sam. — discuti, irritada.
Estava sem paciência com a sua constante insistência em me julgar. Ela
adorava pontuar cada atitude minha como se fossem pautas importantes
para serem abrangidas em cada conversa que tínhamos.
Ela me perseguia e me massacrava sem o menor pudor. Eu não tinha uma
irmã, tinha um hater obcecada.
— Não xinga. — ela esbravejou, apontando com os seus olhos cor de mel
para o banco de trás.
Através do retrovisor interno, observei As distraído com o seu pequeno
dinossauro. Ele encarava o objeto, intrigado, analisando-o por inteiro.
Tínhamos acabado de o buscar na creche, estava ansioso para voltar para
casa do seu pai. Duvido que sequer tenha prestado atenção em qualquer
coisa que tenhamos dito. Ele só sabia falar quando o assunto o convinha.
— Ele sabe coisas bem piores do que nós duas juntas. — argumentei,
despreocupada.
Ela suspirou.
— Não é porque você e o Christopher são dois imprudentes que eu deva
ser. Asafe ainda é um bebê. — reclamou, cruzando os braços.
Samantha não tinha anseio maternal de gerar uma criança, porém,
adorava o papel de tia boazinha, embora por trás da máscara ingênua,
existisse uma víbora, sedenta pelo mal. Ela bancava o ser humano de luz
para encobrir a sua má índole. Mas acho que só eu via isso. Para o nosso
irmão, Leví, ela era doce e ingênua.
Asafe não estava nem aí para ela, porém ela se esforçava. Tinha
esperanças de que um dia isso fosse mudar e morria de inveja de Dytto, que
conseguiu a paixão de Asafe apenas por existir. Ela não a odiava, na
verdade, gostava bastante da escolha de nosso irmão, mas não gostava do
esforço que precisava fazer, enquanto sua cunhada simplesmente tinha o
coração trevoso do seu sobrinho.
— Ah, cala a boca, Sam. Tô cansada da sua voz. Mais um pio e eu te
jogo do carro. — ameacei, revirando os olhos.
— É por causa do jeito que você resolve as coisas, que Loren já deve
estar em outra enquanto você chora atrás do rabo de saia dela igual uma i-d-
i-o-t-a.
Grunhi, irritada. Minhas bochechas ardiam de raiva.
Lancei-lhe um olhar repreensivo que não surtiu o efeito que eu gostaria.
— Idiota. — A voz infantil chamou-nos a atenção. — Idiota. — Asafe
sorria.
As sobrancelhas de Sam saltaram do lugar. Eu, no entanto, não pude
conter a risada.
Eu amo esse garoto.
— Não. Não foi isso o que eu disse. — Sam interferiu, buscando
amenizar o que havia feito.
— Idiota. — Asafe repetiu, mais orgulhosa de si desta vez.
Ela soltou o ar com força e tapou o rosto com ambas as mãos.
— Eu não acredito que o Christopher ensinou ele a soletrar só pra me
fazer passar essa raiva. — disse entre dentes. — Eu vou matar ele.
— Bom, se matem depois. — desacelerei o carro, estacionando em frente
a casa do nosso não tão amado irmão rabugento. — Agora temos que fazer
a nossa entrega e esfregar na cara dele que eu não deixei o Asafe fugir da
mansão dessa vez. Adoro ganhar apostas do Christopher. — me animei.
— Christopher sabe que eu sou uma melhor tutora do que você, é por
isso que ele sempre deixa o filho comigo.
— E eu sou uma tia melhor, por isso que o Asafe corre pra mim quando
quer ficar longe de você. — sorri convencida.
Samantha suspirou, outra vez.
— Ele só não gosta quando eu toco no cabelo dele, está bem? Esse garoto
me ama. — ela inclinou seu corpo para trás. — Não é, As?
— Já posso descer? — desconversou ele.
Lambi os lábios, sentindo-me uma grande vitoriosa.
Provavelmente Samantha daria um jeito de colocar um explosivo no meu
carro assim que eu dormisse. Ela também tinha um lado vingativo muito
cruel.
— Deixe só eu soltar você da cadeirinha, docinho. — provoquei Sam,
saindo do carro.
Ela me ignorou. Fazia isso quando estava chateada. Era a irmã mais
mimada da família. E mesmo que não fosse culpa minha ser a tia preferida,
teria que dar um jeito de me desculpar com ela depois.
Fui em direção ao As, que esperava impaciente para ser solto.
Christopher havia o deixado em nossa responsabilidade na manhã do dia
anterior, estava distante e estranho. Ele não costumava deixar Asafe
conosco assim tão de repente, ainda mais, sem nenhum motivo aparente.
Mas era o Christopher. Ele era esquisito até em seus melhores dias.
Marchamos em direção a casa, eu não tinha pressa, mas precisei acelerar
os passos, ou Asafe iria enfiar as presas em meu ombro.
Samantha foi quem tocou a campainha primeiro. O som repercutiu no
ambiente lá dentro, mas não houve reações. A falta de respostas a fez tocar
novamente. E então, de novo, e de novo, e de novo, e de novo.
— Será que ele saiu? — Sam questionou.
— O carro dele está estacionado aqui na frente. — virei-me para trás,
avistando a ranger vermelha parada diante o jardim.
— Será que ele e a Dytto estão... — ela pigarreou, exibindo em sua
expressão o que não podia dizer em palavras.
— Ah, eu sei lá. Mas é bom que ele abra logo. — resmunguei.
— Por que está triste, As? — Sam notou, encarando-o.
Olhei para o pequeno em meu colo. Os seus olhos estavam mergulhados
em lágrimas. Seus lábios tremiam e uma expressão chorosa gradualmente
aumentava em sua face.
— Dingo está triste. — explicou, baixinho.
— Dingo? A Dingo está aqui? — Sam indagou, tocando a campainha
mais uma vez.
Percebendo que algo estava errado, ela tornou a esmurrar a porta.
— Tenta ver se está aberta, Sam! — me pronunciei, com raiva.
Ela girou a maçaneta e a porta se abriu.
— Sua burra. — critiquei-a.
— Cala a boca, Amara. — disse, prontamente entrando.
...

— Dytto. — senti meu corpo sendo balançado, mas minha mente estava
exausta. — Dytto, acorda.
Meus olhos recusavam-se a se abrirem como se pesassem toneladas. Meu
peito doía tanto que aparentava estar rasgado em milhões de pequenos
fragmentos.
— Dytto, acorde. — a voz insistiu.
Alguém tocou o meu rosto, checou o meu pescoço e suspirou.
— Ela está viva. — concluiu. — Não sei porquê não está acordando.
— Veja se ela machucou a cabeça. — outro alguém pediu.
As vozes ecoavam em minha mente, como se distantes. Imersas no vazio.
Mãos tocaram o meu cabelo, viraram o meu rosto de um lado para o
outro, checaram a minha cabeça, até que pareceram chegar a um veredito.
— Não, ela não está machucada.
— Vamos tentar levantá-la. — aconselhou.
— Dingo. — a voz infantil e chorosa suplicou.
Meu coração imediatamente acelerou. Lutei para alcança-lo. Lutei para
achar Asafe. Forcei meus olhos a se abrirem. Eu precisava acordar.
Minhas pálpebras tremeluram em uma constante insistência de minha
parte em erguê-las.
— Espere. Ela está acordando. — a voz autoritária disse, cheia de
esperanças.
A luminosidade preencheu meu campo de visão. Já era dia, mas eu ainda
não conseguia enxergar nada além da pequena brecha aberta pelos meus
olhos.
Me sentia acordando de um coma. Estática e confusa. O resto de mim,
despertava aos poucos, devolvendo-me a mim o poder de suas funções.
Abri e fechei a mão, parecia quase uma novidade para mim. Sentei-me
devagar, com ajuda de mãos que puxaram-me pelo braço.
Quando enfim voltei a minha realidade, desejei nunca ter aberto os olhos.
O cheiro asqueroso de sangue irrompeu em meu nariz. A visão de Amara
agachada à minha frente me fez perceber que eu não estava acordando de
um coma, mas, sim, de um pesadelo, um pesadelo real.
Virei a cabeça para o lado. Ele ainda estava lá. Sem vida. Sem mexer-se.
Sem nada.
— Ele voltou? — tentei dizer, mas minha voz havia sumido. Após
passar uma noite inteira chorando e implorando para que ele retornasse, em
algum momento não saia mais nada de mim. — Me diz que ele voltou. —
pressionei minhas cordas vocais a dizerem, mas as palavras soaram como
ruídos baixos e incompletos.
— Eu sinto muito, Dytto. Christopher não está mais entre nós. —
Samantha lamentou. — Quem fez isso destruiu seu corpo humano e mortal
para garantir que não existisse mais vida nele.
— Mas ele tem que voltar, não é? Ele tem que voltar. — as palavras
ressoavam arranhadas.
— Ei, ele vai. Ele vai voltar. — Amara segurou o meu rosto. —
Precisamos dar um tempo a ele. Christopher está em sua forma demoníaca,
vagando em algum lugar do inferno, ele vai dar um jeito de voltar.
Balancei a cabeça, freneticamente e me soltei dela.
— EU NÃO VOU. EU NÃO VOU SAIR ATÉ QUE ELE VOLTE. —
gritei, poucas palavras saíram completas. Minha voz era falha.
— Precisamos enterrar o corpo, Dytto. Não podemos deixar ninguém vê-
lo. Entendeu? Em algumas horas esse odor... — Amara balançou a cabeça,
enojada. — O corpo está entrando em decomposição com feridas abertas. O
cheiro vai se exalar muito rápido se não tirarmos ele daqui.
Ela suspirou.
— Eu sei que está doendo, Dytto. Ele é o meu irmão, e eu também sinto
isso. — ela tocou o meu rosto — Mas temos que fazer isso por ele enquanto
Chris não volta.
Neguei, num balançar de cabeça.
— Ninguém vai tirar ele de mim. — decretei, rouca.
Deitei-me novamente na poça vermelha e abracei o seu corpo morto. Não
iria sair dali. Não iria me mover. Ficaria ali até que o meu Christopher
voltasse.
De um jeito ou de outro.
— Dingo. — a voz suave e macia me chamou, tão triste e desolada que o
meu peito se apertou.
Ele aproximou-se devagarinho do corpo de seu pai. Ele tremia, o rosto
estava banhado em lágrimas. Seus dedinhos se seguravam um ao outro. Os
ombros estavam encolhidos e os seus olhos avermelhados me encaravam
tristes.
Merda. Eu não podia deixá-lo aqui. Não poderia deixá-lo encarar o seu
pai assim.
— Eu tô com medo, mamãe. — chorou.
Minha respiração trepidou. Meus lábios se entreabriram, mas nada saia.
— Mamãe. — chamou, assustado. — Eu quelo o papai de volta.
Meu olhos se arregalaram. Eu não sabia como reagir. Partilhávamos
todos de uma dor única. A perda. E agora, ele me via como sua figura
materna.
Sentei-me novamente e abri os braços para ele. Asafe veio o mais rápido
que pôde, desviando-se de Chris. Ele agarrou o meu pescoço com os
bracinhos e me apertou como se precisasse de mim.
Ele precisava de mim.
As desatou a chorar forte. Seu corpo inteiro tremia, amedrontado.
Envolvi-o em meus braços e o deitei em meu colo, chorando junto a ele.
Eu também precisava do seu apoio.
Amara limpou algumas lágrimas que deixou escapar e se levantou.
— Me empreste o seu celular, Dytto. Vou precisar de ajuda. — pediu.
— Deve estar no carro do Chris. — sussurrei.
Ela assentiu, saindo o mais rápido que conseguia de dentro da casa.
Samantha encarava o corpo do seu irmão. Sua mente estava distante e
imersa em uma notória confusão. Porém, ela parecia saber de algo mais.
Sequer se surpreendera com a morte de Christopher.
Havia algo da qual eu não possuía conhecimento.
— Quem fez isso com ele? — murmurei. — Samantha. Me diz a
verdade. — implorei.
Seu olhar lentamente veio para mim, pesaroso.
Sua face expressava o sentimento de aflição que a cercava.
— Christopher está morto porque desafiou o próprio pai para estar com
você, Dytto.
Prendi a respiração. Minha cabeça rodopiou e o sangue pareceu estagnar
em minhas veias.
— Isso é minha culpa. — declarei.
— Ninguém tem culpa além do pai do Christopher. — discordou. — Isso
aconteceria de qualquer jeito. O pai dele só estava a espera de uma desculpa
para transformar o filho no soldado que nasceu para ser.
Ela soltou o ar pela boca, chateada.
— O Christopher que conhecemos se foi, Dytto. Se foi para sempre.
— Ele vai voltar. — retruquei.
— Sim, ele vai. — ele arranhou os lábios com os dentes — Mas não em
sua forma humana. — completou. — Ele vai voltar em sua forma cruel e
destrutiva. — ela balançou a cabeça. — Eu sinto muito. Vocês tiveram uma
história de amor muito bonita. Não merecia acabar assim. — entristeceu-se.
Foi como perder o fôlego.
Ouvir as suas palavras tirou-me algo. Senti as esperanças sendo
arrancadas a força de mim.
Christopher sempre me disse que sua parte demoníaca não possuía
sentimentos humanos, mas que se continha por me amar.
Porém, agora, o que seria de um Christopher demoníaco que não sentia
nada por mim?
Desprezo. Eu teria apenas o seu mais puro desprezo.
Apertei Asafe em meus braços. Seus olhos estavam fechados, mas as
lágrimas deliberadamente derramavam-se em seu rostinho.
— Tem que ter outro jeito. — eu quis gritar, no entanto, não conseguia.
Ela andou um pouco mais para perto, sentou-se em uma poltrona e
apoiou os cotovelos nas coxa, aturdida.
— Não há muito que poderemos fazer, Dytto. Não sabemos o que ele está
passando agora. — ela engelhou as sobrancelhas — Meu irmão pode não
ser mais ele quando voltar. Estará ocupado demais fazendo o que nasceu
para ser.
— E o que ele nasceu para ser? — eu disse entre dentes.
Ela parecia pensativa.
— Ele nunca te contou. — percebeu.
Samantha se ajeitou na poltrona e abriu um sorriso sem vida para mim.
— Todo demônio tem uma função, Dytto. Meu irmão nasceu para
destruir o mundo em que vivemos.
Ela ergueu os olhos para o teto.
— Christopher veio para trazer o caos e destruição. Por causa dele,
muitas pessoas irão morrer. Haverá fome. Haverá guerras. Meu irmão está
infiltrado em muitas situações diferentes.
— E de que forma ele seria responsável por isso? — questionei.
— Indiretamente ele controla homens poderosos. Pessoas do mundo todo
o procuram para fazer negócios. Christopher pode não ser um presidente ou
um rei, mas tem controle do caos. Ele sabe onde atingir para que uma onda
de eventos se iniciem.
— A teoria do caos. — sussurrei.
— Ele só dá as dicas. Os peões é quem fazem o resto.
Joguei a cabeça para trás, rindo.
— Todo esse tempo... — gargalhei — Todo esse tempo ele me escondeu
que estava destruindo um mundo fadado ao fim dos tempos. — minha
risada aumentou.
Olhei para ela, que me observava intrigada.
— No fim das contas, eu teria ficado com ele mesmo assim. — sorri para
ela. — Sabe de uma coisa, Samantha. Eu não estou nem aí para o mundo.
Agora eu só quero que tudo queime.
Baixei os olhos para a criança em meu colo, afaguei o seu cabelo com
carinho.
— Eu tô cansada. E eu só sei que o quero de volta. — declarei,
simplesmente.

Loren estava parada no sofá há pelo menos meia hora. Não se moveu
desde que nos encontrou. Amara tinha lhe ligado, e agora envolvia o corpo
do irmão em um carpete, enquanto procurava uma forma de despachá-lo
sem que a vizinhança nos visse.
Seus olhos presos ao chão, acentuava a sua reação horrorizada. Sequer
movia um único músculo. O choque a arrebatou, levando-a um estado de
inércia.
Eu havia tomado um banho e trocado de roupas pelas as que minha irmã
trouxe. Foi difícil entrar no quarto de Christopher e encarar tudo como se as
memórias não tivessem vindo à tona como uma enxurrada na minha cabeça
no segundo em que senti seu cheiro impregnado em cada canto.
Chorei mais uma vez enquanto banhava, mas recuperei o fôlego quando
terminei de me vestir.
Precisava ser forte, pelo Asafe.
Ele estava deitado em meu colo, brincando com o fio do meu moletom.
Os olhos estavam inchados e o nariz avermelhado. Sua expressão triste e
vazia me deixava angustiada.
Eu teria que saber lidar com aquilo, querendo ou não. Asafe esperava que
eu soubesse cuidar dele, porque precisava de uma mãe.
Christopher disse que confiava em mim poucos minutos antes de entrar
em sua casa, acho que no fundo, ele sabia que não era sobre aquele
momento que estávamos falando, mas o depois, portanto, o agora.
— Um demônio. — Loren arfou, atônita.
Eu tinha lhe resumido partes do que sabia sobre a vida do Christopher. A
parte que ele não contava a ninguém. E a parte que lhe escondi durante todo
esse tempo.
— É.
Ela franziu as sobrancelhas.
— Que porra é essa, Dytto? — sussurrou, assustada. — Por que merda
isso tá acontecendo?
Balancei a cabeça e soltei o ar pela boca.
Eu não poderia me permitir sentir nada. Então precisei ser paciente para
tentar lidar com o baque que estava sendo para Loren descobrir toda a
verdade.
— Eu sempre soube que tinha algo há mais com ele. Mas não desse jeito.
Não nessa magnitude. — ela ergueu os braços para quantificar o exagero
que era a situação. — Que porra! — repetiu.
Ela me olhou, desceu os olhos para Asafe, e os retornou para mim.
— Vai cuidar dele? — perguntou, curiosa. — Quer dizer, você vai ficar
com ele na nossa casa enquanto o... — ela não terminou.
— Tenho que cuidar, Lô. — toquei o rosto de As com cuidado — Ele é
minha responsabilidade agora.
Loren assentiu.
— Não precisa ser, Dytto. — Amara se pronunciou, aproximando-se. —
Podemos ficar com ele na mansão da família, não teremos problema algum
em cuidar dele. Você ainda tem escola e uma vida. Não precisa fazer isso.
— Eu não posso ficar longe do As. — discordei.
— Não precisa. Pode visitar ele todos os dias se quiser. Será sempre bem
vinda na nossa casa. — disse, gentil — Sua família não aceitará bem a
situação. É melhor deixarmos isso o mais escondido possível. Não era o
desejo de Chris que o filho fosse exposto ao mundo.
Asafe me olhou, como se implorasse para ficar comigo. Ele não deveria
ter que suportar mais nenhuma perda, mas Amara tinha razão. Ele precisava
ser protegido.
— Eu amo você. — cochichei, olhando-o — Vou te ver todos os dias. E
passar as tardes com você, está bem? — beijei a sua testa. — Podemos
fazer isso, Asafe. Podemos esperar ele juntos. — apertei sua mão. — Nós
dois seremos fortes juntos.
— Também te amo, Dingo. — murmurou.
Sorri para ele.
— Vamos sobreviver a isso.

Quase eu não termino esse capítulo de tanto chorar
Ig: autoraelliemorgan
Capítulo 68| Onda de caos

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



3 dias após a morte de Christopher
30 de junho| domingo
Eu que estava de luto, mas era mamãe quem estava mal.
Sentada na mesa do seu escritório, seus olhos perscrutavam o nada. Sua
mente lhe era distante do mundo real. Ela ainda estava péssima pela perda
do emprego há meses, não havia jogado fora as papeladas do antigo
trabalho ou sequer se desfez de seus antigos hábitos de sentar-se a frente do
computador para escrever documentos, que, agora, já não tinham mais
serventia alguma.
Ela emagreceu à bessa e estava visivelmente deprimida. Tons arroxeados
rodeavam os seus olhos fundos. O rosto magro e ossudo tinha o semblante
de uma mulher muito mais velha do que ela era. Os seus cabelos longos,
conhecidos pelo brilho e saúde, encontravam-se ressecados e ralos. Sua
vaidade esvaiu-se completamente. Passava grande parte dos dias vestida em
trapos velhos e sujos.
Ever aparentava ter desenvolvido depressão, que, somado ao péssimo
casamento que ela estava vivendo, deteriorava o seu estado mental com
muito mais rapidez.
Eu me preocupava com a forma que tudo isso vinha se desenrolando,
Loren, por outro lado, tinha outras aflições como prioridade, por exemplo: a
sua faculdade e a mim. Papai passava a maior parte do tempo fora, pegava
todos os plantões que podia e, às vezes, não voltava durante as noites para
casa, dormia em quarto de hotéis ou no hospital.
Diferentemente de sua esposa, ele não parecia abatido, tampouco parecia
importar-se mais, havia abdicado de sua responsabilidade conjugal e
raramente exercia a paternal. Até mesmo os sermões desapareceram.
Cogitei por diversas vezes a ideia de que ele já estava amando outra
mulher, e que mamãe sabia, somente não aceitava. Eu gostaria de provar de
alguma forma que eu estava errada, mas ao que tudo indicava, era questão
de tempo até isso vir a tona sobre todos nós.
Minha mente atravessa um inferno inteiro, porém, naquele momento,
sabia que precisaria guardar minhas dores para depois. Existiam pessoas
que necessitavam de mim, enquanto eu ainda aguardava dia e noite por
Christopher. Só que às vezes, tinha sonhos tão lúcidos com ele me tocando
durante às noites, que parecia ser real. Todo o meu corpo preenchia-se de
uma esperança poderosa que, por sua vez, era extinta assim que eu abria os
olhos e todas as memórias do seu falecido corpo rebobinavam-se em minha
mente.
Portanto, ainda sem ter como ajudar Christopher, me envolvi em cuidar
de quem se mantinha aqui. Perto.
Dei dois toques suaves na porta, despertando-lhe a sua atenção, ela,
contudo, parecia insatisfeita com a minha presença ali, tinha adquirido um
certo hábito de se isolar.
— Precisa de algo? — perguntei, mesmo sabendo que seria em vão.
Ela nunca respondi que "sim".
— Não. — disse secamente, voltando sua concentração a tele vazia do
computador — E feche a porta quando sair. — avisou, formalmente.
Acho que no fim, eu só queria ter um motivo para abraçá-la, um motivo
egoísta, apenas para chorar no colo de alguém tudo aquilo que eu estava
sentindo.
Mas eu não poderia fazer isso. Todos estavam cuidando de suas próprias
vidas.
— Está bem, mãe. — murmurei. — Se precisar, eu est...
— Já entendi. — cortou-me, secamente.
— Certo. — assenti, fechando a porta.

7 dias após a morte de Christopher
04 de julho| Quinta

— Mas que porra, Théo! — Ever esbravejou furiosa da cozinha, seguido de


um estilhaço.
Um breve momento de silêncio fez-se presente, antes de recomeçar.
— Como pôde? Seu desgraçado! Como... Como pôde?
Meu pai rapidamente levantou-se do sofá à minha frente, lia um jornal
em seu iPad antes da gritaria repentina ganhar início.
Eu não estava realmente prestando atenção neles dois, ambos tinham
começado a brigar novamente nos dois dias em que papai ficou de folga em
casa. Eu fingia encarar o caderno em minhas coxas, tentando enganar a
mim mesma que estava estudando para os exames finais. Eu não estava
nem aí para os exames finais. Na verdade, mantinha todo o meu foco no
celular que eu segurava com todas as minhas forças, aguardando — pelo
sétimo dia consecutivo — por uma ligação que nunca veio. Esperando que
alguém de sua família dissesse que ele voltou, mas este momento nunca
chegou.
Embora eu não quisesse ouvir os ruídos sonoros da minha casa, era quase
impossível não se assustar com os berros. Pareciam mais ferozes desta vez.
— Ever, para de gritar. — Théo devolveu no mesmo tom irritado.
— Que merda é essa aqui? — ela rosnou.
— E-eu... — papai tentou se explicar, mas parecia ser grave demais.
Suspirei, obrigando-me a não prestar atenção.
— Vai me deixar? Por ela? — Mamãe questionou, em um misto de fúria
e mágoa.
Ok... talvez eu devesse prestar atenção nessa conversa em particular.
— Será que eles não se cansam? — Loren sussurrou ao meu lado.
Também aguardava comigo pela ligação.
Ultimamente dormíamos e acordávamos juntas. Ela havia se tornado o
meu alicerce. Íamos para todos os cantos grudadas, inclusive, visitar Asafe.
Pobre Asafe, mal comia ou dormia. Chorava pelos cantos da mansão
Tanaka, tão ansioso pela volta do seu pai quanto eu.
Estávamos todos enlouquecendo com a demora.
— Eu não sabia como contar. — papai comentou, mais baixo.
Precisei me esforçar para conseguir ouví-los.
— Aposta quanto que mamãe acabou de descobrir a amante do papai? —
Loren provocou, sorrindo de canto.
Ela estava insatisfeita com a relação deles dois, então apenas torcia logo
para o fim. Ninguém suportava mais a situação.
— Eu não sei, mas tem algo errado. — eu disse, pondo-me de pé.
Fui em passos rápidos para a cozinha. Mamãe estava de pé diante a
cadeira em que papai estava. Ela chorava enquanto checava o celular de
Théo.
— Você vai me deixar por ela. — concluiu. — SEU MALDITO!
Ela atirou o celular contra a parede. O aparelho caiu no chão já
estraçalhado.
— MADILTO! — gritou.
Seu rosto inteiro estava vermelho como um tomate. Os olhos pulsavam
horrorizados. As veias saltavam em sua testa e pescoço, completamente
furiosa.
Nunca tinha lhe visto desta maneira antes.
Papai tentou segurá-la, mas os gritos dela o fez recuar.
— Eu não acredito. Não acredito. — repetia atordoada, puxando os fios
de cabelo de maneira descontrolada.
Loren apareceu na entrada da cozinha, confusa e assustada. Os olhos
varreram o lugar em busca de uma resposta, mas nada ali parecia certo.
Papai mantinha-se calado e retido. A culpa maquiava o seu rosto maduro.
— Mãe, se acalme. — pedi, aproximando-me devagar. — Tá tudo bem.
Vamos sair daqui e conversar. Tá tudo bem. — tentei lhe acalmar.
Ever estava histérica, não parava no lugar, andando de um lado para o
outro, repetindo palavras inteligíveis para si.
Sua respiração era ofegante e audível. Seus olhos estavam imersos em
um abismo interior. O choque do que quer que ela tenha visto a esfaqueava
repetidas vezes.
— Mãe. — repeti, mais baixo. — Vem comigo. — pedi, estendendo a
mão.
Ela parou de andar, olhou-me nos olhos e balançou a cabeça.
— Eu perdi os dois. — sussurrou.
E então saiu, quase correndo.
Ouvi o barulho de suas passadas da escada, estava indo para o segundo
andar. Loren se prontificou a ir atrás, mas a segurei.
— Deixa comigo. — tomei a frente, indo atrás dela.
Subi o segundo andar bem rapidamente. Pulei de três em três escadas
para conseguir a alcançar, no entanto, ela já estava em seu quarto quando a
encontrei. Estava de costas para mim, encarando o jardim através da janela
de vidro. O corpo mal parecia conseguir equilibrar-se em suas próprias
pernas.
— Eu perdi os dois. — ela chorava.
— Mãe, conversa comigo. — andei em sua direção, mas parei no lugar
quando ouvi um clique metálico muito incomum, porém, que parecia
importante. Sabia da existência de uma arma na casa, porém, nunca tive
conhecimento de onde eles a guardavam. Tinha medo do que o estado
mental de mamãe poderia levá-la a fazer.
— Primeiro ele. Ele me trocou pela secretária mais jovem. — lamentou
num desabafo. — Ele me descartou da empresa que eu o ajudei a construir.
— chorava ao dizer.
— Mãe, isso não faz sentido. — minha voz tremia.
Ela estava muito fragilizada.
— Mãe, por favor, me escuta...
— E agora... — me interrompeu — O seu pai está me trocando por outra.
— ela estava sofrendo. A dor em suas palavras eram de cortar o coração —
Os dois homens que eu amei me deixaram, Dytto.
Ela virou-se bem devagar em minha direção, segurava uma arma,
apontando-a para debaixo do seu queixo. Arregalei os olhos, andando
rapidamente em sua direção.
— Não, mãe. Não, mãe. Não, mãe.
— Esse é o preço que se paga por fazer tudo por eles. — e então ela
atirou.
— NÃO, MÃE! — tentei interromper, mas já era tarde.
Seu sangue salpicava o meu rosto e roupas. Seu corpo despencou no
chão. A arma tocou o piso de madeira e escorregou para longe.
— Ah, não! — a voz angustiada de Loren atrás de mim me fez virar em
sua direção. — Meu Deus! — seus olhos estavam tão arregalados quanto os
meus.

8 dias após a morte de Christopher
1 dias após a morte de Ever
05 de julho| Sexta

Eu não havia ficado para ver Amara e os seus irmãos enterrarem o corpo de
Christopher. Sabia o local exato em que a terra o engoliu para sempre, mas
não tive coragem de me despedir. Não poderia vê-lo uma última vez
sabendo que seria assim por um bom tempo.
Não tinha ideia de como ele voltaria. Em que situação a sua aparência
estaria, ou como a sua personalidade agiria, então me comprometi a guardar
apenas as lembranças do seu lindo sorriso em minha mente, faria o mesmo
pela minha mãe. Ter a ideia de ver a sua cabeça aberta em minha mente não
me traria conforto.
A família estava junto ao redor de sua cova, o caixão já deitava no fundo
do solo. A caixa fechada e sem vidro indicava tamanha tinha sido a
fatalidade.
Loren não ficou para ver, estava sentada em um dos túmulos mais
distante, fumando um cigarro sozinha.
Papai enxugava lágrimas invisíveis de seu rosto, embora culpado por
grande parte do sofrimento de Ever, agia como se fosse uma grande
surpresa para ele o ocorrido. Como se ele não tivesse prestado atenção em
como sua mulher se desvanecia na mais pura infelicidade debaixo dos seus
próprios olhos. Como se ele nunca tivesse se negado a estender a mão para
lhe ajudar ou dizer uma única palavra de conforto.
Fingia tão bem que todos os familiares pareciam acreditar no pobre
viúvo.
Eu sentia raiva. A raiva fervilhava o meu íntimo e grudava-se a parede do
meu estômago, subindo para a cabeça e esmagando as minhas têmporas.
Era avassaladora e corrompia todo o meu corpo. Estava em todas as partes.
Prendi a dor em uma caixinha para que não desmoronasse. Não chorei em
nenhum momento. Não precisei engolir lágrimas, não existia mais dor,
apenas raiva, eu estava consumida por ela.
— Oh, minha querida! — Vovó Irina, mãe do meu pai, aproximou-se,
afagando o meu braço. — Sinto tanto pela sua perda. — os lábios
enrugados davam as suas condolências sem muita veracidade. — Isso tudo
deve ter sido horrível. Bem na sua frente. Como ela foi capaz de fazer isso
com você? — julgou.
Respirei fundo, obrigando-me a não discutir. Não agora.
— Ever era muito brilhante, quando foi que esse desequilíbrio a
tomou? — opinava, consciente ou inconscientemente rude.
— É, horrível. — concordei, desinteressada.
— Mãe... — Theo se aproximou, tocando os ombros da velha chata. Ela
sorriu lamentosa para ele.
— Meu querido, eu estava conversando com a minha neta sobre como
isso aconteceu. — pontuou, ainda curiosa. — Deve ter sido péssimo. Não
tenho ideia de que tudo isso estava acontecendo.
— Ah, claro! — ele suspirou — Foi horrível. Ever estava mal por conta
da demissão, e então, Loren de repente quis ir embora para outro país, a
senhora sabe... Ela ficou péssima depois disso. Tentamos ajudar como
podíamos, mas ela andava muito resguardada. — contava, magoado.
Como é que é? ele realmente quer se fazer de bom moço e jogar culpa na
Loren? — estreitei os olhos, virando-me furiosa para os dois.
Apertei os dentes uns contra os outros, sem paciência.
— Não tão difícil quanto descobrir que você estava trepando com outra
mulher, não é, pai? — rebati, encarando-o séria.
Seus olhos miraram-se sobre os meus com tanta fúria que jurei que ele
me acertaria com um tapa ali mesmo
— E se vamos ser honestos aqui. — sorri amarga — Mamãe estava muito
feliz com a entrada da Loren na faculdade, só andava meio deprimida por
conta do marido de merda. — e do amante de merda, mas não adicionei
essa parte. Virei-me para a minha vó, que observava a situação chocada —
E não, minha mãe não era uma desequilibrada, na verdade, ela era muito
equilibrada, a prova disso é ter suportado essa merda de família por
anos. — dei-lhes as costas, marchando duramente em direção a Loren.
Longe de todas aquelas pessoas que não realmente se importavam com a
minha mãe, sentei-me ao lado da minha irmã.
— Eu quero um cigarro. — pedi.
— Você não fuma. — pontuou.
— Agora eu fumo. Me dá logo. — estendi a palma da mão.
Ela deu de ombros, tateou os bolsos e tirou um cigarro da cartela.
Coloquei-o na boca e ela o acendeu para mim.
Dei a primeira tragada. Foi horrível. O gosto era amargo demais e
deixava a boca com gosto de fuligem, mas não desisti, continuei fumando-o
como se estivesse habituada. Eu não queria estar fumando, porém, também
não queria ficar parada.
Eu estava elétrica, furiosa e infeliz.
— Sabe a nova? Espalhei para a vovó sobre a amante do papai. —
confessei.
Loren segurava o cigarro entre os dedos, próximo à boca, quando me
olhou intrigada, franzindo as duas sobrancelhas.
— Como é que é? — ela riu.
— É, pois é.
Ela tornou a gargalhar descontroladamente.
— Isso é demais, Dy. Demais. — se divertia.
Mordi os lábios.
— É, e foi sensacional fazer isso. — balancei a cabeça — Mas não contei
a ela sobre o amante da mamãe. Acha que eu fiz certo?
— Ah, sei lá. Papai sempre foi um marido horrível, ele mereceu os
chifres que levava.
Suspirei.
— Eu não entendo. — repuxei o canto dos lábios — Por que duas
pessoas se acorrentam a um relacionamento horrível pra acabar assim?
— Eu não sei, Dy. — respondeu, distraída.
— Ela amava os dois. — sussurrei. — Antes de se matar. Ela me disse
que amava os dois.
— Bom pra ela que sentava em duas picas.
Virei-me para Loren.
— Me disse também que os dois a deixaram. Ela estava sofrendo muito.
— Ui! — fez careta.
— Ela amava todo mundo menos as próprias filhas. — cochichei — Ela
não passava nenhum tempo com nós duas. Nunca foi nossa amiga, nunca
procurou saber se precisamos dos conselhos dela. — juntei as sobrancelhas
— Acho que já tinha homens demais no coração dela que não sobrou
espaço para nós. Ela nem notou que eu estava de luto pelo Christopher.
Soltei a fumaça no ar.
— Ela não percebeu nada, Loren. Papai também não. — comentei,
absorta em pensamentos — Acho que nós duas viramos órfãs muito antes
dela morrer.
Minha irmã passou o braço em volta dos meus braços.
— Contanto que fiquemos juntas, nada mais importa, Dy. — ela deitou a
cabeça em meu ombro e me encostei na dela. — Nós nunca pertencemos a
essa família.

13 dias após a morte de Christopher
5 dias após a morte de Ever
9 de julho| Terça
— Não, você não vai sair. — papai cuspia ordens atrás de mim.
Seus passos apressados tentavam alcançar os meus. Estávamos em uma
dança de caça ao rato, onde ele tentava me apanhar a caminho do meu
carro.
— Ah e por que não? — o desafiei, agressiva.
— Você tem matado aulas. Não tem ficado em casa e sequer tem
atendido as ligações. — esbravejou alto.
— Olha só, acho que eu estou me tornando você antes da mamãe se
matar. — brinquei, ácida.
— O que disse? — se ofendeu.
Estagnei os meus passos e virei-me para ele.
— Por que nunca parou para falar com ela? — perguntei, irritada — Por
que nunca se preocupou com a porra da sua própria esposa? — apontei
para a casa atrás de nós — Porque você só liga para isso, pai. STATUS.
Ele balançou a cabeça, vermelho de fúria.
— VOCÊ NÃO VAI SAIR DESSA CASA, E ESTÁ DE CASTIGO. —
berrou, como sempre fazia quando fugia de uma conversa séria.
— Ah, estou? — ri.
— Tem agido como uma adolescente deliquente e irresponsável. Eu não
te criei assim. Essa sua má educação veio das suas amizades e das amizades
de Loren. — criticou, enojado.
— Minha má educação se chama LUTO.
— Não, Dytto. Está agindo como uma imbecil. Tem passado o dia fora,
com sabe se lá quem, fazendo sabe se lá o quê. Deveria estar aqui para
apoiar a família. Você costumava ser doce e boazinha, agora eu nem te
reconheço mais. Pensei que fosse a irmã madura, mas está agindo como
criança.
Sorri, decepcionada e balancei a cabeça. Por mais que estivesse
acostumada a ouvir isso dele sobre Loren, achei que essa frase nunca mais
me surpreenderia.
— Ah, pai, sabe como é a adolescência. Tenho passado o dia fora
fodendo com caras que eu nem conheço e cheirando cocaína pra bancar a
rebelde. — balancei os ombros — Sabe como é, né?
Ele apontou para mim.
— Vai voltar agora lá pra dentro! Vai pedir desculpas aos seus familiares
e vai se redimir comigo. — ele ergueu o tom de voz — Não vou tolerar esse
comportamento na minha casa. Não criei minha filha pra ser uma puta.
— Puta? — disse, incrédula — Ah, bem, eu não sou uma puta pai, mas
odeio que falem mentiras de mim. — agachei-me no chão, apanhei uma
pedra enorme e a atirei contra a janela do seu carro estacionado na garagem.
O vidro explodiu, estilhaçando-se em milhares de cacos pelo chão.
— Que porra está fazendo? — brigou, alto o suficiente para chamar a
atenção de Loren, que já caminhava apressada em nossa direção.
— Te dando verdadeiras razões para me chamar de deliquente, antes
disso era só raiva, mas agora, vou te dar motivos reais para deixar de ser um
mentiroso.
Dei-lhe as costas e sai apressada rumo ao meu carro. Loren veio correndo
para o banco do carona, ela ria em diversão quando se jogou para dentro do
automóvel em movimento.
Eu já estava acelerando quando o portão se abriu, por pouco não
arranhamos a lataria.
Pelo espelho, vi papai correndo atrás de nós, mas freou os passos quando
chegou ao portão.
— ISSO FOI DO CARALHO. — ela gritou, empolgada.
— E lá vamos nós mais uma vez. — sorri.
— Eu até que gosto da mansão Tanaka. Lá eles tem sala de cinema,
sabia?
— Minha nossa, Loren. — ri, revirando os olhos.

17 dias após a morte de Christopher
9 dias após a morte de Ever
13 de julho| Sábado
— Você está muito quieto. — beijei a sua testa, ele me olhou nos olhos e
sorriu. Adorava quando eu o fazia carinho.
— Você também, mamãe. — comentou.
Estávamos sentados no jardim da mansão Tanaka, em frente ao túmulo de
Christopher. Asafe e eu costumávamos nos sentar ali para contar nossas
novidades para ele. Embora soubéssemos que ele não estaria nos ouvindo,
se tornou algo simbólico para nós dois, para sempre mantermos as
esperanças de que ainda estávamos o esperando.
— Só estou preocupada com você. — afaguei suas costas.
— Ainda está triste pela sua mamãe, né?
Curvei um breve sorriso para ele.
— É, ainda estou, sim.
Ele ergueu a cabeça, segurou o meu rosto com as suas mãozinhas e me
puxou para ele, dando-me um longo beijinho na testa.
— Pra salar. — murmurou. Era o que eu dizia a ele quando o notava
triste demais.
Puxei-o para o meu colo e o abracei. Ele ainda era tão jovem, mas já
parecia ter que segurar um mundo inteiro nas costas. Eu não queria que ele
passasse por aquilo.
— O papai vai demorar a voltar? — questionou, pensativo.
Inspirei fundo. A dor cortante rasgava o meu coração ao ouví-lo tão cheio
de esperanças.
Eu não fazia ideia de quanto tempo mais levaria para Christopher voltar.
Estava me obrigando a ter paciência, mas a cada segundo que se passava,
menos controle eu tinha.
— Talvez, As. Vai ver ele está matando a saudades de casa. — tentei
descontrair, mas isso não o fez rir.
— Papai não gosta da casa dele. — murmurou — Ele não quer ficar lá.
— Consegue sentí-lo?
— Não. — Asafe virou-se para mim — Quelia ele aqui. — e então
encostou sua testa em mim.
Eu não precisava de dons sobrenaturais para perceber que aos poucos
Asafe também estava perdendo a paciência.
— Um passarinho me contou que você gosta de sorvete.
— Titia Amara não é um passalinho. — pontuou, intrigado.
— É uma expressão, As. — ri dele.
Ele me olhou interrogativo, mas não disse nada.
— Eu trouxe sorvete. — comentei, sorrindo.
Os lábios se curvaram em um grande sorriso, salientando as suas
bochechas fofas.
— Me dá um poquinho? — pediu, animado.
— Venha. Vamos comer um montão de sorvete.

21 dias após a morte de Christopher
13 dias após a morte de Ever
17 de julho| Quarta

— O que vamos fazer nessas férias? — Loren perguntou, alheia.


Estávamos deitadas em um mesmo sofá na mansão Tanaka. Para falar a
verdade, mal saíamos daqui. Os irmãos Tanaka não residiam fixamente
neste lugar, então ficávamos a maior parte do tempo a sós. Apenas
Samantha era presente e passava dia e noite na casa, se responsabilizando
por Asafe quando eu não podia.
Demétrius e Amara sumiram do mapa após a morte de Christopher. E, ao
que parece, havia mais um irmão, Leví, cujo nunca vi nem mesmo o seu
rastro.
Todos eles pareciam ter os seus próprios compromissos secretos, Sam
garantiu que em breve todos estariam de volta, e que apenas finalizavam
alguns "negócios" de família. Suspeitava que eram ilegalidades, no entanto,
eu é quem não iria querer saber.
Ela dizia não se importar de ficarmos aqui, e até gostava de nossa
presença, apesar dela própria parecer um fantasma no ambiente. Era
estranho como eles eram estritamente reservados e misteriosos, andavam
como se mal existissem nesse mundo. Sempre tão discretos que me
assustavam.
Eu odiava cada segundo que eu passava dentro da minha própria casa,
por isso a evitava tanto. E se tornava ainda pior quando papai estava
presente. Ele queria que nós jantássemos juntos todas as noites, coisa que
não rolava. Loren e eu sempre conseguíamos fugir dessa situação.
Agora ele queria falar de família.
Era quase irônico se ele realmente não estivesse falando sério.
Théo não parecia de luto. Ele parecia um verdadeiro homem solteiro e
desempedido. Se algum dia foi casado, agora ele mal parecia lembrar-se
disso.
Havia desenvolvido um certo hábito por álcool, deixou de ir às missas e
agora frequentava bares chiques e boates — de acordo com o seu extrato do
cartão de crédito.
Ou ele estava muito feliz ou muito infeliz. Eu não saberia dizer.
Loren não se importava, eu no entanto, supria raiva de tudo aquilo, mas
me mantinha longe, para o bem de todos.
— O mesmo que fazemos agora. — respondi.
— Pensei que quisesse fazer algo mais nas suas férias além de...
— De o quê? Visitar o túmulo do meu namorado morto e cuidar do meu
filho? É, poderíamos variar de vez em quando e visitar o túmulo da mamãe
também.
Ela riu.
— Chamou a peste de filho. — evidenciou, risonha.
— Não chamei, não. — intriguei-me.
— Sim, você chamou. — ela se sentou — Minha irmãzinha virou mãe.
Ownnt! — Loren fez cara de orgulhosa, repousando as duas mãos sobre o
coração.
— Não faz essa cara. E não o chame de peste novamente. — escondi o
rosto com as mãos.
Me sentia um pouco envergonhada. A sensação era estranha, mas boa. Eu
realmente tinha uma responsabilidade real e materna aos dezoito anos de
idade.
E pensar que eu abolia fielmente a ideia de ser mãe na adolescência.
Foi somente em falar o seu nome, que o pequeno/grande rapaz surgiu na
entrada da sala.
— Lúcifer fugiu. — avisou, desconcertado.
Suas bochechas vermelhas e o comportamento retido demonstrava que,
de alguma forma, isso era culpa sua.
— Lúcifer? — Loren se assustou — Isso não parece nada bom. — me
encarou de olhos arregalados.
Apoiei-me nos cotovelos, incrivelmente calma com a situação.
— Quem é lúcifer? — quis saber.
— O cabito. — respondeu, timidamente.
— Temos um cabrito chamado lúcifer aqui?
— Ah, é um cabrito. — Loren suspirou aliviada.
Asafe concordou num balançar de cabeça.
Isso não era muito convencional, mas para uma família como aquela,
estranho seria se tivessem um cachorro.
— Ok... — assenti, olhando em volta —Vamos atrás do lúcifer então.. —
coloquei-me de pé.
...
— Tem certeza de que ele está por aqui? — perguntei para Asafe.
Ele segurava os meus dedos com força ao passo que caminhavámos pela
floresta ao redor da mansão.
— Sim. Ele vem pa cá quando foge.
— Por que é que vocês tem um cabrito? — indaga.
— Papai me deu.
Eu quase ri. Era óbvio que Christopher daria um cabrito para o filho, isso
era tão a cara dele.
— Faz sentido. — murmurei.
— É.
— Olhe... — apontei para o chão. — Cocô de cabrito, devemos estar
perto.
— Não, isso foi eu. — admitiu.
Olhei para ele, instigada.
— Por que faz cocô aqui fora? E o que mesmo estava fazendo aqui, As?
Ele deu de ombros.
— Tava bincando com o Lúcifer.
Deslizei a língua sobre os lábios.
— Oh. Certo. Conversamos sobre isso depois. E a propósito, você faz
cocô como um cabritinho.
Ele soltou uma risadinha engraçada.
Ficamos pelo menos mais de dez minutos dando voltas e voltas na
floresta antes de um pequeno cabrito preto surgir por entre os arbustos altos.
— Lúuucifer. — As cantarolou, animado.
— Achamos o cabrito. — comemorei baixo.
Asafe correu em direção ao animal, e como se fossem melhores amigos,
Lúcifer se animou entre o abraço do seu pequeno amiguinho.
É, a função de ser mãe de um pequeno demônio tinha lá as suas emoções.

O capítulo era para ser mais extenso, porém, tô lotada de coisa da facul e
não consegui escrever mais, porém, colocarei o resto no próximo capítulo,
que provavelmente sairá no fim semana.
Ps: criamos um seita sem querer no perfil do Aaron e agr ele quer ler
LITD. Ele lendo sobre o pirocão dele vai ser o máximo kkkkkkkK
Capítulo 69| Maldição

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



29 dias após a morte de Christopher
21 dias após a morte de Ever
25 de julho| Quinta

Sob a luz amarelada do ilustre de vidro, seu rosto indiferente era


apresentado por frações da rara iluminação que o banhava, pondo em
evidência os seus olhos, que possuíam um brilho singular, mas que
pareciam gritar o total oposto de felicidade.
Ao fundo da imagem triste diante de mim, ouvia distante o baixo
monólogo de papai ao nosso lado, reclamando da refeição que ele próprio
havia pedido ao chefe do restaurante. No fim das contas, todas as suas
frustrações eram resultados de suas próprias escolhas ruins. Não dei-lhe
atenção, observava minuciosamente a falta de ânimo de minha irmã.
Na maior parte do tempo, eu podia lidar com o seu constante e usual
humor entediado, porém, quando suas expressões transformavam-se em
infelicidade, sabia que ela estava agonizando por dentro sem ter a menor
pretensão de me contar o porquê.
Uma pequena gotícula de lágrima escorregou teimosa, mas contida e
devagar em sua face, ela a desfez, disfarçadamente coçando a bochecha.
Loren era sútil ao fingir.
Quis perguntar o que estava acontecendo, mas não a denunciaria desta
forma para o nosso pai, isso apenas serviria para alimentar a tensão
existente em nossa família. Ele não teria a delicadeza de entendê-la, mas
teria a indecência de oportuná-la e puní-la como se tivesse a razão e o poder
de o fazer.
— Sabe, eu nem sei porque essa droga está tão salgada, isso deveria ser
quase um prato doce. Ninguém aqui sabe fazer a porcaria de uma comida
boa? — felizmente ele finalizou a sua reclamação.
— Pensei que quando disse que iríamos sair para jantar, iríamos apenas
ser obrigadas a comer e fingir que nos suportamos. Deveria ter avisado que
teríamos que aguentar você falando sem parar. — pontuei, frígida.
Não me esforçava mais para recobrir meus sentimentos com o
comportamento de boa moça. Meu desejo de agradar havia chegado ao seu
declínio, e o meu interesse em permanecer nessa família também.
Minha pele parecia entrar em chamas quando atravessava a porta de casa.
Me contorcia de dentro para fora todas as vezes.
Théo suspirou. Uma parte dele cansou de debater ou ir contra mim. No
fim, seria tudo em vão, de todo modo.
— Ok. Eu estou tentando. Tô aqui. Tô tentando. — defendeu-se, a voz
baixa e controlada. — Eu não sei mais o que fazer, Dytto. Você passa mais
tempo me odiando do que tentando entender que eu estou sofrendo. Nós
estamos machucados, mas precisamos nos apoiar um ao outro.
Cruzei os braços, recostando-me na cadeira.
— Faz menos de um mês que a mamãe morreu e você já conheceu todas
as boates dessa cidade. — franzi a testa. — Se é desse tipo de apoio que
precisa, então deveria ter ido para um cabaré, e não nos trazer para jantar
como se fingisse que se importa. Só está tentando tirar a culpa dos ombros,
pai, nada além. Não está ajudando ninguém aqui.
Ele balançou a cabeça, suspirando.
— Eu só... só preciso fazer algo para não enlouquecer. A sua mãe, ela
também tinha outros relacionamentos, sabia? Ela nunca foi uma mulher fiel,
nunca. — disse, desconcertado.
— É, mas também nunca o tratou como lixo. — argumentei — Quanto
aos termos de exclusividade no relacionamento de vocês, isso era problema
de vocês, não meu, mas a mamãe sempre te endeusou, pai. Você é que
nunca a tratou bem. — soltei, despretensiosamente — E agora, está nos
forçando a te aceitar. Não somos obrigada a isso. Você nunca fez por
merecer.
Ele esfregou ambas as mãos em seu rosto.
— Tudo bem. Eu desisto. — ele jogou o guardanapo sobre a mesa e
levantou-se. — Não sou um pai de honra, fui um marido de merda. O que
mais eu sou, hein, Dytto? Tem sido ótima em me rotular como bem quis
esses dias. Sinceramente, preferia que fosse você no lugar de Ever naquele
dia. Pelo menos teria me poupado de tanto desgosto em te ver assim. — e
saiu.
Engoli em seco, digerindo as suas palavras bem devagarinho, deixando
que elas trespassassem sobre minha pele, carne e ossos. Exalando em minha
mente como um veneno.
Fechei os olhos por longos segundos, deslizando a língua sobre os lábios
— quase pude sentir o amargor da minha fúria —, apenas para dar-me um
tempo ante a situação. Precisava de um momento para lembrar-me de
controlar todos os sentimentos que eu enjaulei, pois eram feios, monstros
horrendos que se alimentavam do meu ódio, e cresciam, todos os dias, a
medida que eu tentava lidar com o mundo.
Estava começando a me sentir fora do controle, de pouco em pouco, os
monstros me afastavam do comando, e quando, por fim, assumissem o meu
lugar, nada de bom poderia acontecer.
Eu nem mesma conhecia essa parte de mim até ela ser desencadeada por
uma sequência de eventos traumáticos, mas estava ali, e sentia como se em
outrora, tivesse sido repreendida, encolhida e guardada. Mas agora, se
preparava para retornar como nunca antes.
Me sentia intrigada dentro de mim, presa ao meu próprio enigma. O quão
horrível eu poderia ser?
— Era menos pior quando ele só falava merdas pra mim. — Loren
comentou, divagando.
— Ei. — repousei minha mão sobre a sua. — Está tão triste. O que
aconteceu? — indaguei, preocupada, afastando os pensamentos ruins.
Ela deixou que o olhar recaísse triste sobre nossas mãos, mas se forçou a
sorrir mesmo assim.
— Tenho uma boa notícia. Ainda nos veremos na escola no próximo
semestre. — fingiu comemorar.
— Espera. Pensei que já tivesse tudo pronto para você embarcar no mês
que vem. O que houve?
— Nada. É só que eles mudaram de ideia. Não me querem mais no
Arizona, devem ter descoberto que sou má caráter e uma péssima filha. —
tentou descontrair, rindo.
— O quê?! — arregalei os olhos. — Não acredito que perdeu a sua vaga?
O que eles disseram?
— Bom, na verdade, apenas disseram que lamentavam muito, mas que eu
não poderia mais usufruir da minha vaga, uma merda assim. — ela tomou
um gole de água, parecia segurar as lágrimas.
— Não quer ligar ou enviar um e-mail? Pode ter sido um engano, Loren.
Você não fez nada de errado. — insisti.
— Não foi, Dy. — murmurou — Estamos vivendo o inferno, ainda não
percebeu? — ela entortou o canto dos lábios, insatisfeita. — Não vai
adiantar de nada.
— Mas... — o barulho que irrompeu ao longe, chamou-nos a atenção
antes que eu pudesse ser capaz de terminar.
— Que droga é essa?! — papai berrou. — ME SOLTE!
Levantei-me junto de Loren, buscando entender o motivo da euforia que
havia tomado conta do restaurante.
Percebemos a razão assim que vimos papai com o torso deitado sobre a
mesa vazia. Um policial alto e forte o segurava enquanto o outro, mais
baixo e sisudo o algemava.
— Théo, você está sendo preso, acusado de: fraude, corrupção, desvio de
verbas do hospital em que trabalha e contrabando de medicamentos. Você
tem o direito a um advogado. Se você não puder pagar um advogado, um
será fornecido para você. — sentenciou — Você entendeu o que eu disse?
— perguntou, mais firme.
Abismada, olhei para Loren, que encarava a situação sem sequer piscar.
Minha irmã buscou pela minha mão, e cruzou os seus dedos nos meus,
sem munca desviar o foco do que encarava.
— O quê? O quê? — rosnava incrédulo — Isso é mentira! — ele passeou
os olhos pelo restaurante, até nos achar. — Dytto. Loren. Liguem para um
advogado. Avisem o que está acontecendo. Há um número na gaveta do
meu escritório. — informava, ao passo que era remanejado contra a sua
vontade para fora do restaurante.
O observamos se afastar, tão logo sumindo de nossas vistas. A multidão
ainda permanecia balançada com o ocorrido, porém, aos poucos retornavam
sua atenção aos seus pratos.
Respirei fundo e virei-me para a minha irmã.
— Por favor, não se mate e nem cometa nenhum crime. — pedi — Nossa
família acabou de ser reduzida novamente.
— Digo o mesmo. — concordou, lamentosa.

30 dias após a morte de Christopher
22 dias após a morte de Ever
26 de julho| Sexta
— Você me disse que ele ia voltar, Amara. — eu dizia, bem devagarinho,
para não gritar. Asafe estava na cozinha, e eu não queria causar alarde da
sala. — Hoje completa um mês e ele ainda não voltou! — apertei os dentes.
Ela me observava, fria e indiferente. Havia chegado hoje cedo, seus
outros irmãos Leví e Demetrius, chegariam mais cedo. Mas não era pela
presença deles que eu estava ansiosa.
Loren ficou em casa para conversar com o advogado sobre a questão
burocrática para tirarmos o papai da cadeia. Todo o nosso dinheiro tinha
sido bloqueado. Todas as contas. Todos os cartões. Era uma situação
complicado, e que agora, cabia a nós resolver.
— Eu disse que ele ia voltar. — afirmou — Mas também disse que
poderia demorar horas, dias, semanas, meses, anos. — acrescentou,
suspirando. — O tempo passa diferente em Nefarious, Dytto. Não há como
saber de nada. Ele morreu. Tudo é diferente para Christopher agora.
Mordi a língua, andando de um lado para o outro com ambas as mãos na
cintura.
— Ah, ótimo! — esbravejei — Então vamos ficar todos sentados aqui na
droga dessa casa, olhando para as paredes, sem fazer absolutamente nada.
Que ótimo plano, Amara. Ótimo, plano. — escarneci.
Girei os calcanhares apontando para as paredes.
— Eu já conheço de cor todos os detalhes da merda daquela parede. —
virei-me — Da merda daquele tapete. — virei novamente — Daquele
abajur, daquele móvel, daquele e daquele.
Olhei para Amara, que pacientemente me observava pirar.
— Eu não vou ficar aqui esperando Christopher voltar. Não vou. Isso
aqui é o meu limite. 30 dias já se passaram.
— Eu sei que é difícil ter paciência, Dytto...
— Não! — interrompi-a — Eu não terminei.
Cruzei os braços, e endireitei a postura.
— Eu vou fazer um ritual para invocar ele. — declarei, firme.
— Acho que cheguei na hora certa. — a voz masculina preencheu o
ambiente. Era gentil, mas potente e segura.
Um homem alto, de cor moreno claro, e olhos castanhos surgiu. Ele
sorria de um jeito faceiro, mas amigável. Possuía traços indianos e um olhar
acolhedor. A beleza era um outro traço seu que deixava exposto que fazia
parte daquela família.
Ele deixou sua mala no canto da porta de entrada do jardim e aproximou-
se de mim.
Ele era realmente muito alto, não tanto quanto Christopher, mas
significativamente. Porém, todos eles eram enormes ali, eu nem sabia mais
o motivo da surpresa.
— Sou Leví. — estendeu a mão. — Sou irmão da Amara, Christopher,
Samantha e Demétrius. Acho que já deve ter ouvido falar de mim.
Apertei sua mão.
— Dytto. — apresentei-me.
— Se não me engano, escutei que está pensando em fazer um ritual. —
ele sorriu, lançando um olhar confuso para a irmã.
— Ela quer invocar o Christopher. — a Barbie gótica explicou.
— Entendo. — disse calmamente. Ele tocou o meu ombro, guiando-me
para o sofá de um jeito pacífico e relaxado, parecia ser tão paciente que
conseguia transmitir isso sem nem mesmo se esforçar. — É uma ideia. Mas
é complicado, Dytto. Isso envolve trazer seres de um outro mundo.
Desconexo e distinto do nosso. Christopher era o que nos ligava ao outro
inferno, sem ele, podemos acabar invocando um ser de outra dimensão de
um outro inferno.
— Christopher me disse que a mãe de vocês que invocou o pai dele. E se
usarmos o mesmo ritual? — indaguei, ansiosa.
Ele franziu as sobrancelhas de um jeito intrigante e se acomodou no sofá.
— Podemos. É claro que podemos. Mas, isso só funcionou porque
Christopher era um rei. O filho dele, nosso irmão, é um soldado, não há
como fazer essa ligação. Nosso irmão era a ponte para Nefarious, sem ele,
não resta muitas opções.
— Leví, você aqui. — Samantha adentrou a sala.
— Sam. Quanto tempo! — Levi sorriu.
— O que está acontecendo? — perguntou, olhando-nos curiosa.
— Dytto quer invocar o Christopher usando o ritual que Naomi usou. —
a Loira novamente se dispôs a explicar, parecia meio irritada.
Talvez eu estivesse a pressionando demais, mas eu me negava a ficar
mais um único segundo parada.
— Ah, caramba! Isso vai ser emocionante. — Sam comemorou.
— Vai ser? — juntei as sobrancelhas e encarei Leví de um jeito
acusatório — Acabou de dizer que não dava.
— E não dá. — reiterou.
— Como não? — Sam discordou — Podemos fazer. Temos o As para
criarmos a ligação.
— O quê? — sobressaltei o tom de voz — Não vamos usar o As, ele é
uma criança. — me opus.
— Ele não será machucado no processo, Dytto. Ele ficará bem. — Sam
interferiu.
— Não, não podemos. — levantei-me de supetão — Eu não concordo
com isso.
— É, eu também não. — Levi se juntou — Christopher não queria que o
filho tivesse ligações com Nefarious, ele sabia que o pai dele poderia usar a
criança contra ele. Sabe que se fizermos isso será com a fúria do nosso
irmão que teremos que lidar quando ele voltar. E nesse momento, ele seria
capaz de nos dar o pior sem nenhum remorso.
— Por que ficam repetindo isso? — me irritei — Christopher talvez
ainda mantenha um lado sentimental na camada demoníaca. Ele ainda
lembra de nós. De todos nós. — argumentei, sentindo a fúria fervilhar em
minha pele.
Um silêncio desconfortável se fez presente. Ninguém estava realmente
afim de discutir aquele assunto comigo, por mais que seus rostos os
denunciasse, revelando que discordavam veemente de mim.
— Podemos pensar em algo. — desconversei — Para o ritual.
— É perigoso, Dytto. — Levi comentou.
— Eu sei. Mas tudo é perigoso. Há um tempo atrás eu fui perseguida
pelo Nabrya, ameaçada pelo pai de Christopher, tive pesadelos com a Zoe.
— confessei — Eu sei que estamos nos metendo em uma ruína, mas não
vou permitir que Christopher se mantenha em Nefarious.
— Disse que foi perseguida pelo Nabrya? — Sam acentuou.
— E que foi ameaçada pelo pai de Christopher? — Levi fez o mesmo.
— E que teve pesadelos com a Zoe. É ela disse. — Amara confirmou,
sem paciência.
— Nabrya está na cidade? — Sam mencionou baixinho, atordoada.
Amara revirou os olhos e bateu no ombro da irmã.
— Ai supera, gata! — aconselhou. — Você já sabe o quão imbecil ele
consegue ser. Não deixa ele te ferir de novo.
— Eu já superei. Ele é passado. — fez-se de indiferente. — Não sinto
mais nada.
— Teve um relacionamento com o Nabrya? — questionei, surpresa.
— Faz um tempo. Esquece isso. Me conta mais o porquê dele ter te
perseguido. — mudou de assunto.
— Na verdade, a razão era o irmão de vocês. Da última vez que vimos
Nabrya, ele estava com raiva dele. Parece que o Chris tinha quebrado algum
acordo, sei lá. E então, Melodius apareceu, e de repente, Nabrya sumiu.
— Melodius? — Amara quis saber.
— Aparentemente, é um dos dezessete milhões de filhos demônios que
Christopher criou. — revelei.
— Oh!
— Falaram sobre esse acordo? — Levi perguntou, interessado. — Que
tipo de acordo?
— Eu não sei. Tudo o que eu fui capaz de entender era que Christopher
estava jogando dois jogos. O de Nabrya e o do seu pai. — suspirei — Ele
pretendia matar Nabrya. Estavam furiosos um com o outro.
— Por que Christopher iria jogar com Nabrya? Ele não o suporta. —
Sam comentou, pensativa.
— Tudo o que sabemos é que Nabrya sempre quis ter todo o poder de
Nefarious. — Levi adicionou à conversa.
— E que Christopher sempre quis sair do controle do pai. Talvez fosse
isso. — Amara elucidou, como se acabara de entender o que estava
acontecendo— Talvez no início, Chris pensou em trabalhar com Nabrya
para acabar o pai, e então mudou de ideia quando percebeu que o pai dele
poderia matar a Dytto e roubar a alma dela para si. — ela deu um passo a
frente — Christopher foi para Nefarious conversar com o pai sobre a Dytto,
disse que ia lutar pela sua segurança.
Ela deixou que os ombros caíssem em desanimação.
— E foi aí que tudo desandou.
— Espere aí. Ele pode fazer isso? — eu intervi — Christopher me disse
que minha alma pertencia a ele, não ao seu pai.
— Christopher é subordinado ao pai, poderia ser obrigado a entregar a
sua alma. — Amara esclareceu.
— Isso faz todo sentido. Christopher disse que Nabrya e o seu pai não
gostavam de mim porque eu o detinha de destruir o mundo. — memorei.
— Meus parabéns, conseguiu irritar o seu sogro antes de conhecê-lo. —
Amara brincou.
— E espero não conhecer ele nunca. — me esquivei, agoniada.
Abracei o meu próprio corpo. Apenas o breve pensamento de ter que que
conhecer Christopher I, fazia com que meus órgãos se revirassem.
— Seria possível que Christopher estivesse todo esse tempo negociando
com o próprio pai? — Leví pensou.
— Não teria muito o que Christopher pudesse fazer. No mínimo, ele deve
estar em guerra. — Amara relutou.
— Como? O pai dele não é muito mais forte? — questionei.
— Não exatamente. — Sam disse — Christopher só era mais frágil em
seu corpo humano. Agora que está em sua completa versão demoníaca, se
torna o demônio mais forte de Nefarious, talvez, até mais que o próprio pai.
Ele foi criado para isso.
— E se Christopher tiver morrido de propósito? — o moreno disse, sua
cabeça parecia a mil. — Ele poderia, não é? Assim poderia ter uma chance
de matar o seu pai e deter Nabrya.
— Sozinho? — a loira duvidou.
— Não, sozinho. Ele tem um exército de filhos. — pensei em voz alta. —
Christopher estava muito estranho no dia que morreu. Senti como se
estivesse se despedindo de mim o tempo todo.
— É, sabemos. Ele deixou Asafe com a gente, estava todo estranho
também. — Samantha comunicou.
— Ah, minha nossa! — esfreguei os dedos entre os fios de cabelo —
Christopher já sabia que ia morrer. Ele queria morrer.
Recuei vários passos para sentar-me no sofá.
— Que merda! — murmurei.
— Se ele queria morrer, então sabia que sua volta iria demorar. Por que
ele não falou nada? — Sam estava revoltada.
— Porque Nabrya estava o vigiando, poderia descobrir o seu plano. E
estava me vigiando, entrando na minha mente. E o pai de Chris estava na
cola da minha família e... — parei de falar.
— E...? — a Barbie gótica incitou.
— O pai do Christopher ameaçou a minha família se eu permanecesse
com Chris, mas eu terminei com ele para evitar isso. E agora, agora está
tudo destruído. — ergui os olhos para todos eles, que me encaravam sem
entender — O pai do Christopher sabe que o filho o desafiou e por isso está
descontando em mim, para que doa em seu filho. Ele é o responsável por
todas as coisas ruins que está acontecendo na minha família porque está
punindo Christopher.
— Ou Nabrya é o respondi. — Levi discordou. — Não podemos afirmar
quem está se vingando de Chris em você. Todos os dois tinham motivos
para querer ferir aqueles que o Christopher ama, e esse alguém é você.
Suspirei, derrotada.
— Eu não acha que tenha sido Nabrya. Foi ele quem me contou a
verdade sobre o pai do Chris. Tudo o que ele queria era me por contra o
Christopher. E funcionou.
— Não sabemos como está a situação em Nefarious. Pode ser que o
cenário todo tenha mudado. Christopher pode ter passado para o lado do pai
e isso deve ter irritado Nabrya. — Amara disse.
Meu celular tocou no bolso, quebrando a linha de conversa em que nos
situávamos. Em outro caso, apenas teria encerrado a chamada, mas era
Loren.
— Alô. — atendi.
— Temos um pequeno problema. — disparou, sem paciência.
Escorreguei no sofá, tensa e exausta.
— Problema não tem sido novidade para nós.
— É, bem, esse meio que é. — ouvi ela solta o ar pela boca. — Querem
nos tomar a casa.
— O que?
— Podemos ficar sem casa, Dy. Alegaram que foi comprada com o
dinheiro que papai desviou.
— Ser duas sem teto era só o que nos faltava mesmo. O que mais eles
vão nos tirar, as roupas também?
— Talvez.
— Fala sério! — revirei os olhos.
— Bom, tenho que ir. Estou indo buscar o papai na delegacia. Ficará em
casa até a situação mudar. — avisou.
— Certo. Conversamos depois.
A ligação fora encerrada.
— Problema? — Levi se interessou.
— Nosso pai está sendo preso e a nossa casa está prestes a ser tomada.
Mais uma vez a minha família me surpreendeu. — lamentei — Achei que
minha mãe se matar porque os amores da vida dela a deixaram seria o pior a
nos acontecer, mas ver que o meu pai é um demônio em pessoa, torna a
situação extremamente nojenta.
— Christopher-pai não está para brincadeira. — Sam observou.
— E por que não se mudam para cá? — convidou Amara.
— Para cá?
— É. Você disse que queria ficar mais perto do As, e sei que não vai se
afastar até ter Christopher de volta. Facilitaria a vida de todos vocês.
Dei uma rápida vasculhada em volta, procurando pelo menor sinal de
insatisfação dos presentes, no entanto, tudo o que encontrei foram pessoas
bem à vontade com o convite oferecido.
Embora não parecesse uma boa ideia, era menos pior do que ficar na casa
dos nossos familiares.
— Ficar aqui? — pensei.
— O quarto de Christopher está livre se quiser passar mais tempo lá. E há
quartos de hóspedes, de todo modo. — Sam reforçou.
Balancei o pé no chão, avaliando.
Asafe emergiu na entrada da sala, estava enrolado em um enorme lençol.
Os olhos cansados demonstravam dificuldade em dormir.
— E um bônus, ele prefere quando você o põe para dormir do que a mim.
— Samantha revelou, entristecida.
Se esforçava bastante para ser aceita por As, mas ainda não obteve bons
resultados.
— Certo. Vamos nos mudar. — declarei.
Asafe fora, sem dúvidas, o estopim para a minha decisão final.

Duas sapatão cheias de tesão morando em uma mesma casa 😀
IG: autoraelliemorgan
Capítulo 70| Insistência

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



36 dias após a morte de Christopher
28 dias após a morte de Ever
01 de agosto| Quinta
— Leví, por favor! — insisti, copiando cada passo que lhe era dado em
torno da grande cozinha. — Eu sei que não foi feito para a mesma pessoa,
mas talvez nós...
— Não. — embora calmo, virou-se imediatamente para mim, segurava
uma xícara preta na mão. — Nós não vamos fazer o ritual.
Cruzei os braços.
— Sim, nós vamos. — discordei.
Ele ergueu uma sobrancelha.
Apesar de muito mais forte e alto que eu, não me parecia perigoso, na
verdade, ele era um doce. O ser humano mais amoroso e gentil que tive o
prazer de conhecer. Por um momento até desconfiei que ele fosse de fato da
família, até tê-lo visto acidentalmente nu no banheiro e confirmar pelo
expressivo membro que era, sim, um Tanaka.
Eu definitivamente morreria com aquela imagem, e ela se perpetuaria em
minha mente para todo o sempre apenas por pura desobediência em tentá-la
esquecer. Foi tão inocente, eu apenas abri a porta e "tcharam" Levi com seu
pênis grandão diante o enorme espelho. Mas quem diria que ele usava o
banheiro social ao invés do seu pessoal? Eu não poderia adivinhar, o que de
certa forma, amenizava a culpa por não ter batido antes.
Ele, na verdade, não pareceu se importar. Eu, por outro lado, quis morrer
de vergonha.
— Por favor, Leví. Eu tô sentindo abstinência de Christopher na veia.
Sabe o que sentir abstinência de uma pessoa, Leví? Sabe? — pressionei. —
Eu sinto que a qualquer momento eu vou sair apontando uma faca para as
pessoas. Isso é insano.— dramatizei, arregalando os olhos.
Ele pôs sua xícara sobre o balcão de mármore, pegou a garrafa de café e
a despejou cuidadosamente.
Nós dois assistimos o líquido preto, com o seu delicioso e forte aroma ser
despejado até a borda da xícara, e então, ele novamente pôs a garrafa sobre
o balcão, pegou a xícara, me olhou diretamente nos olhos e bem
suavemente declarou:
— Não. — e assim, girou os calcanhares, levando o seu corpo elegante e
gracioso para bem longe de mim.
Entretanto, eu não lhe dava espaço. Ele era o único que possuía
conhecimento acerca do ritual completo utilizado por Naomi. Eu queria
aquela receita mais do que tudo. Estava a um passo de pular em sua cabeça
gritando "Me dá, me dá, me dá." Mas acho que nem assim ele o faria.
— Fala sério, Levi! — reclamei.
Bem tranquilamente ele sentou-se no banco diante do piano. Deixando
sua xícara sobre a tampa, ele esticou os braços e dedos, girou os ombros
para trás e para frente, esticou os pescoço para o lados e sorriu antes de
dedilhar as teclas freneticamente, transformando as batidas de sons em puro
suco de música clássica.
— Ah, não! — berrei mais alto. — EU PRECISO DA DROGA DO
RITUAL.
Ele ignorou todos os meus pedidos incessantes e perturbados.
Furiosa, saí pisando duro para fora da sala de música. Estava exausta de
tanto implorar.
Faziam seis dias desde a nossa mudança, para falar a falar verdade, nos
mudamos no mesmo dia em que recebemos o convite. Quando cheguei em
casa naquele dia, papai tinha voltado da delegacia e brigado com Loren,
que, por sua vez, já arrumava as suas malas, pronta para ir embora para
qualquer buraco.
Foi apenas o tempo de eu lhe avisar que havia arranjado um lugar para
nós duas e correr para o meu quarto, pescando algumas roupas, sapatos,
escova de dentes, utensílios pessoais e o presente milionário de Christopher.
Aquele presente mais do que nunca fora bem-vindo em minha vida, ele
era a minha garantia para não morrermos pobres. Quer dizer, ao menos eu e
Loren. Em contrapartida, papai teria que se virar, sozinho, sem dinheiro,
sem esposa e com um problema enorme na justiça que lhe custaria vários
bons advogados. Talvez a amante viesse a calhar agora com alguma
ajudinha.
Eu sei lá. Apenas sei que estamos o ignorando desde então. Não
atendemos as suas ligações, mensagens. Até brincamos com a possibilidade
dele divulgar um cartaz com nossas fotos exibindo uma legenda bem grande
com as seguintes palavras: "DESAPARECIDAS. NÃO HÁ
RECOMPENSA POIS ROUBEI DINHEIRO DE CRIANCINHAS
DOENTES E AGORA ESTOU POBRE."
Loren parecia bem na mansão Tanaka, no início ela detestou a ideia,
porém acabou cedendo a ideia, ainda estava desconfortável e retida, mas
bem. Ao menos tínhamos um teto, mesmo que temporário. Em grande parte
do seu tempo, ela se mantinha dentro do seu quarto, quer dizer, o quarto que
nós duas dividíamos, eu ainda não estava pronta para morar no antigo
quarto de Christopher. Ter suas lembranças impregnadas em minha mente,
dificultava manter-me próxima de suas coisas.
A situação estava difícil. Eu corria para todos os lados da casa, buscando
por uma solução. Loren mal saia do quarto, e quando saia, não falava muito
com ninguém. Eu tinha a breve sensação de que ela se escondia dos irmãos
Tanaka, Amara era quem ainda tentava se aproximar, mas sempre era
dispensada e jogada para escanteio. Não gostava da forma rude que minha
irmã a tratava, mas não me intrometi, ainda não sabia o que fazer para
melhorar o humor de Loren.
Joguei-me no sofá da sala ao lado de Asafe. Ele estava entretido com
uma aranha que se arrastava bem lentamente pelo carpete quando me notou.
— Mamãe, posso matar a alanha?
Asafe agora possuía o hábito de me pedir permissão quanto aos animais
que podia ou não matar, apesar da minha resposta ser sempre não para
qualquer sugestão que me era oferecida. Também falamos sobre o fato de
que fazer necessidades na floresta não era uma coisa boa; experiência
própria.
Lúcifer mantinha-se livre no jardim para caminhar à vontade, mas às
vezes o encontrava passeando alheio pela casa. As gostava de deixá-lo
entrar. Eu evitava sua presença aqui, mas o pequeno cabrito era teimoso.
— Não, As. Não pode matar a aranha. Esmagar animais com a mão é
uma coisa não muito legal de se fazer, está bem?
— Ãrram. — balançou a cabeça. Ele parou por um momento, pensativo,
e continuou. — E com o pé?
— Não.
Ele coçou a nuca, intrigado.
— Podemos soltar na natureza, o que acha? — sugeri.
Eu não soltava aranhas em jardins. Tacava tudo o que me viesse a frente
sobre elas, porém, eu precisava educar Asafe de um jeito diferente, senão,
ele poderia começar a achar muito normal o ato de esmagar coisas por aí, e
eu não era Christopher, não poderia conter ele. As por mais fofo que fosse,
ainda era um demônio, com instintos de um.
— Por quê? — questionou, confuso.
A ação de deixar seres vivos livres e vivos era algo muito difícil de ele
aceitar.
— Para ela voltar para os filhos aranha dela, para voltar para o marido,
para a mamãe e o papai dela. — respondi.
Ele franziu a sobrancelha.
— E se a gente matasse todos? — propôs, entusiasmado.
Oh, céus!
— Não é assim que funciona, As. Tem que deixar os bichinhos vivos.
Ele coçou o cabelo, entristecido.
— Mas eu, mas eu...
— Peste. — minha irmã entrou em cena, segurando um único sapato
incendiado. — Da próxima vez que tacar fogo em uma das minhas coisas,
vou tacar fogo em você. — ameaçou, encarando-o.
— Loren! — adverti.
— Que é? Ele não é um filhote de demônio? — argumentou, instigada.
— É uma criança! — olhei-o a tempo de pegá-lo no pulo dando a língua
para ela.
— As você não pode fazer isso com a... — flagrei Loren fazendo o
mesmo que ele. — Minha nossa! Será possível que eu vou ter que dar
educação a duas crianças?
— Eu posso, sou mais velha, portanto, tenho direitos que a peste não tem.
— Sua cocô. — Asafe a criticou.
— Pelo menos eu tenho todos os dentes, olhe só. — ela abriu um
larguíssimo sorriso, bem próxima a ele para exibir-se.
Ele fez careta.
— Feia. — disse, chateado.
— Restinho de aborto.
— Sua... Sua... — As olhou em volta, os olhos ansiosos pesquisando uma
rápida ofensa. — Sua cabeça de cabito.
— Esse é o melhor que sabe fazer? — Loren o provocou, divertindo-se.
Asafe começou a gritar como um alarme de sirene com defeito. Loren
revirou os olhos. Eu suspirei.
— Desisto. — levantei-me.
— Não. Palei. Palei. — Asafe se adiantou, saltando do sofá para correr
até mim. — Palei, mamãezinha.
— Você é um espertinho, não? — brinquei.
— Nada de queimar as minhas coisas de novo, Asafe. Eu sei onde você
guarda os seus brinquedos. — Loren ameaçou, tomando distância de nós.

38 dias após a morte de Christopher
30 dias após a morte de Ever
03 de agosto| Sábado
— Eu acho que a gente ainda só não se conhece bem. Sinto falta de
confiança da sua parte, Leví. — dizia, encarando-o jantar.
— Dá logo o ritual para a garota, Leví. — Demétrius riu.
— Essa foi a coisa mais sensata que você disse. — comentei.
Ele franziu a testa. Estava sentado ao lado de Leví diante da enorme
mesa carregada de comida. Ele gostavam de banquetes bem recheados, pois
todos eles se reuniam durante o jantar.
A enorme mesa ocupava o grande salão de jantar. Estava cheia de comida
de ponta a ponta, como se morássemos em um castelo, na verdade, era bem
assim que eu me sentia.
O ilustre absurdamente exagerado banhava as nossas cabeças com as
suas luzes amareladas. Ao fundo, uma ópera tocava baixinho, preenchendo
o vazio daquela casa assustadora.
Eu ainda não havia me acostumado com a atmosfera bizarra que aquele
lugar emanava. Trazia consigo a esmagadora sensação de estar sempre
sendo observada. Às vezes, durante a madrugada, ouvia sons distantes que
pareciam delírios de minha cabeça, ressoavam como gritos desesperados e
ecoavam por todos os lados.
Loren dizia ouvir também, mas evitava dizer qualquer coisa em voz alta
sobre isso. Tinha medo de que pudesse irritar algo ou alguém que ia além
de nós.
A mansão era enorme e muito, muito espaçosa, no entanto, parecia tão
oca de móveis, mais cheia de pavor e histórias.
Ainda sentia calafrios quando passava por determinados corredores.
— Eu sou o rei da sensatez.
— Não, não é. Ou então saberia que é uma péssima ideia dar a ela o
ritual. — Leví interferiu.
— Se ela quer fazer um ritual, então deixa ela. Há sempre uma primeira
vez pra tudo. — Dem defendeu, um sorriso sarcástico brilhava nos lábios.
— Eu acho um ato muito nobre ela querer correr o risco. — Samantha se
pronunciou, levando a taça de vinho aos lábios.
Ela estava em um vestido ousado. Era de um dourado claro e brilhante. O
longo decote entre os seus seios dava-lhe um ar de sensualidade puramente
calculado. O tecido colava perfeitamente em sua cintura, revelando suas
belas curvas. Seus acessórios de ouro mesclavam-se bem ao conjunto todo.
Possuía um bracelete na parte superior do braço, brincos que se
derramavam em fitas sobre os seus ombros e uma gargantilha semelhante
aos que deuses gregos usavam em suas cabeças.
Ela estava sempre deslumbrante em qualquer e todo jantar que tínhamos.
— Ah, muito obrigada, Sam. — agradeci.
— Não há de quê. Precisando de uma confusão, é só me chamar.
— O que você acha, Amara? — Leví interrogou. — É a mais velha,
decide você então.
A loira parecia ocupada demais atazanando a minha irmã ao seu lado
para se preocupar com o que qualquer um de nós dizia.
Loren evitava seus toques e continuava a se desviar das provocações da
Barbie gótica, mas ela era um poço sem fim de insistência.
— Fala sério. Não põe essa responsabilidade em mim. Se Dytto quer
invocar demônios, então que os invoque. — deu de ombros, voltando a
cutucar o cabelo da minha irmã, que, prontamente a ignorava.
— Eu não quero fazer uma baile de demônios, eu só quero invocar o
Christopher. O meu Christopher.
— Dá logo a droga desse ritual pra ela, Levizinho. — Demétrius se
divertia.
Ele era o único que parecia muito bem à vontade com tudo alí, não
importa qual ideia eu tivesse, Dem sempre apoiava.
— Está bem. — suspirou. — Mas não diga que eu não avisei.
Arregalei os olhos.
— Vai mesmo me dar o ritual? — falei, desacreditada.
— Claro. — ele sorriu, mas tudo ainda parecia não ser de confiança.
— Estou ouvindo. — me atentei, curiosa.
Ele olhou em volta da mesa, surpreso por eu já querer saber, no entanto,
eu não queria mais perder um único segundo sequer.
— Ok. Três homens. Três mulheres. — listou. — Vai precisar disso.
— Três homens e três mulheres? — me intriguei. — Bom, já temos as
três mulheres — apontei para mim, Sam e Amara. Loren não parecia querer
fazer parte disso, então a deixei de fora. — E já temos dois homens, falta
somente um.
Ele sorriu, cruzando os braços.
— Três homens mortos e três mulheres mortas para o ritual, Dytto. —
explicou, fazendo com que meu coração parasse de bombear sangue por um
milésimo de segundo. — E eu nem preciso dizer que terá que ser você a
matar.
— Merda! — suspirei, nervosa.
Isso era algo impossível.
De repente, o sonho de chamar Christopher tornou-se ainda mais distante
e irreal.
— Eu ficaria honrado se me chamasse para ajudar. — Demétrius se
voluntariou.
— Dy. — Loren me chamou. — Não precisa fazer isso. Podemos fazer
de outro jeito, está bem? Você não conseguiria conviver com a culpa.
— Todos nós podemos conviver com a culpa de alguma coisa, Loren. —
a loira ao seu lado interviu. — Basta ela se lembrar do porquê fez e verá
que valeu a pena.
Abracei o meu próprio corpo. Sentia ondas de náuseas me atropelando.
— E o que mais, Levi? — baixei o olhar, esperando que me dissesse o
resto.
— Te conto depois que me trouxer os corpos. Enquanto isso, pense mais
sobre. — ele se levantou, bebeu o último gole do seu whisky e repousou o
copo sobre a mesa. — Preciso descansar. Devia fazer o mesmo, Dy. Não
dorme há dias.
— Não tem como dormir, a casa faz barulho demais. — reclamei, baixo.
Ele sorriu.
— Fique com o quarto de Chris, o barulho nunca chega perto de nada
dele.
O olhei interrogativa, mas Leví já estava se afastando.
— Bom, eu também já vou. — Dem se levantou. — Me avise quando
decidir, Dytto. — me olhou, antes de mudar sua atenção para a minha irmã.
— E você, me avise se precisar fugir dos barulhos... ou se quiser causar um
pouco de barulho. — sorriu malicioso.
— Cai fora, Dem. — Amara brigou.
— Vocês por acaso estão namorando? — ele provocou.
— O-o quê? N-não. Não! — o rosto extremamente vermelho de minha
irmã a denunciou.
Juntei as sobrancelhas.
Oh, caramba!
Oh, caramba!
Oh, caramba!
Meus olhos se arregalaram a cada exclamação que minha mente
ruminava.
— E-eu não tenho nada com Amara, tá?
A loira sorriu disfarçadamente. Eu mudei de olhar, fingindo olhar para
qualquer coisa que não fosse o constrangimento de minha irmã ou da sua
namorada secreta.
— Eu sou hétero, caramba. — Loren se pôs de pé e saiu marchando
duramente.
— Uau! Você consegue tirar a paz de todo mundo, Dem. — Sam sorriu,
erguendo a mão para um high five.
...
— Você está inquieta. — Loren pontuou, deitada ao meu lado.
Umedeci os lábios. Estava de barriga para cima, encarando o teto.
— Preciso dormir, mas não consigo. — sussurrei.
Ela pôs sua mão sobre a minha.
— Não quer tentar dormir no quarto dele? — sugeriu.
— Não. — balancei a cabeça. — Ainda não sei se estou pronta.
— Ou talvez só esteja com medo de que não vá encontrar ele.
Fechei os olhos, sentindo uma lágrima solitária escapar.
— Eu preciso dele, Loren.
Ela suspirou, aconchegando-se mais a mim em um abraço.
— Eu sei, Dy.
Ficamos em silêncio por um longo instante. Eu precisava digerir o nó em
minha garganta. Não queria deixar os meus sentimentos me afogarem, não
poderia. Eu tinha de ser forte, e não ceder a emoções.
Inspirei fundo e soltei.
Virei o rosto para a minha irmã, ela ainda estava acordada, pensativa.
— Então... Amara, hum? — sorri.
Ela imediatamente ficou envergonhada e escondeu o rosto.
— Nunca me disse que gostava dela. — comentei, afagando o seu braço.
— Ela é do estilo bruta e tudo mais, mas parece se importar com você.
— Não é isso. Não, não é assim. Não temos nada. — Loren se apressou,
virando-se de costas para mim.
Juntei as sobrancelhas.
— Ei. Por que está assim? — toquei suas costas.
— Pare de dizer coisas que não faz sentido, era só uma brincadeira idiota
do Dem, Dytto. Que saco!
Ela ficou imóvel. Não disse mais nada depois disso.
Dei-lhe um pouco de tempo para se acalmar antes de eu prosseguir.
— Eu não sou os nossos pais, Lô. Se está apaixonada por uma garota,
não precisa esconder isso de mim. Eu nunca te julgaria por isso. Nunca. —
me aproximei dela — Se você gosta dela, pode me contar. Se gosta de outra
garota, pode me contar também. Eu vou sempre te amar, não importa de
quem você goste. Eu não sou o papai. E nem sou a mamãe. Eu sou a sua
Dy.
Ela ergueu o rosto cheio de lágrimas para mim.
— Eu estou assustada, Dy.
Beijei a sua têmpora.
— Faz sentido, mas vai passar. — a abracei. — Você vai ficar bem.
— É que com o Chris foi diferente. Eu sentia algo, algo de verdade. Mas
isso. — ela balançou a cabeça. — Eu nunca senti isso por ninguém, Dy. E
eu tenho medo.
— Vocês duas já conversaram?
— Não, não. Claro que não. Ela não entenderia. A Amara não é muito
monogâmica, ela vive com uma garota e outra o tempo todo. Ela nunca
entenderia o que é se apaixonar por alguém.
Loren se virou de barriga para cima.
— Eu só preciso de um tempo. Isso vai passar.
Prendi um sorriso entre os lábios.
— Se quer saber, eu acho que ela sabe sim o que é estar apaixonada. Ela
não sai do seu pé desde que chegamos.
Loren revirou os olhos.
— Ela só quer sexo. — debateu.
— Pensei que você gostasse de sexo. — brinquei.
— Sim, mas com pessoas que eu não vou me importar se não me
mandarem mensagem no dia seguinte ou se eu ver com outra pessoa logo
em seguida. — desabafou, sôfrega.
Virei-me na cama, apoiando os cotovelos no colchão.
— Tudo bem, mas você não precisa tirar conclusões de tudo agora.
— Todos eles são assim, Dytto. Todos os Tanaka. Nenhum gosta de
relacionamento ou de ser puramente fiel a uma única pessoa.
— Ei! — reclamei.
— Oh, quer dizer, menos o Christopher. — corrigiu.
— Bom, no seu lugar eu estaria pelo menos me divertindo. Eu não posso
nem pensar em sexo porque eu não tenho mais um namorado para fazer o
que eu queria. — lamentei — Ao menos a Amara está o tempo todo
disponível.
— Quando foi que você se tornou isso? — ela riu.
— Desde que eu não tenho mais um cara de mais de dois metros de altura
entrando todas as noites no meu quarto pra me comer.
— Ahhh, então era isso. Pensei que aqueles gemidos de madrugada era
você siriricando.
— O quê!? Dava pra ouvir?
— É claro que dava. Você não é tão discreta assim, sabia?
— Ah, não! Será que os nossos pais ouviam? — murmurei,
desconcertada.
— Eu duvido, eles dois tinham sono de aço.
Cobri o rosto.
— Que merda!
Loren virou-se.
— Vá dormir. — decretou, bocejando.
...
Eu tentei, fielmente, seguir o seu conselho, mas ao notar o celular
exibindo 3:37 da madrugada, percebi que já havia falhado.
Na ponta do pé, caminhei cuidadosamente até o quarto de Christopher.
Ao adentrar o ambiente pouco iluminado e de aparência assombrosa, fui
recebida pelo seu cheiro. Ele estava impregnado em cada parede. Como se
ele ainda estivesse vivo e presente ali.
Por um segundo, me permiti idealizar Christopher naquele ambiente.
Sentado em sua poltrona, observando-me. Deixei que minha mente fluísse,
trazendo as nossas poucas memórias intensas nesse lugar.
Deitei-me em sua cama, me enrolando nas cobertas macias, aspirando a
sua essência. Aquilo me trouxe saudades, mas também, conforto.
Senti-me tão à vontade que nem percebi quando adormeci.
Acordei apenas quando um pequeno estrondo irrompeu na porta.
Percebi algo do outro lado no chão, ocupando a iluminação que raspava a
brecha da porta.
Talvez fosse Lúcifer dormindo, mas tive curiosidade em descobrir.
Levantei-me cuidadosamente, caminhando com cuidado para não
assustar o que quer que estivesse parado naquele canto.
Ao abrir a porta, me deparei com um pequeno corpinho deitado no
carpete, enrolado em seu cobertor de dinossauro. Ele dormia calmo e
sereno.
Mas o que ele fazia ali? Pensei que estivesse em seu quarto.
Me peguei imaginando quantas vezes ele não deve ter dormido no chão
diante a porta do quarto do seu pai apenas para matar a saudades. Isso fez
meu coração encolher-se no peito.
Apanhei As em meu colo, tomando todo o cuidado para não despertá-lo,
no entanto, assim que o deitei no colchão, seus olhos se abriram confusos.
— Mamãe. — cochichou, sonolento.
— Oi, bebê. — sussurrei — Você estava no chão.
Suas pálpebras estavam inchadas e os olhos avermelhados indicavam que
ele havia chorado.
— Eu estou aqui, está bem? Tudo bem se dormimos juntos? — perguntei
e ele assentiu. — Está bem.
Aconcheguei meu corpo ao seu, embrulhando nós dois entre as cobertas.
As se virou para mim e sorriu, em seguida envolveu meu pescoço em seu
mini abraço.
No início, quase fui asfixiada uma três vezes, porém, finalmente consegui
adormecer e realmente dormir. As também.
Pela primeira vez em muito tempo, nós dois dormimos de verdade.
Juntos e no quarto do Christopher.

AAAAAAAAA
Enfim, cá estou já que semana passada estivesse atolada em
compromissos
Ig: autoraelliemorgan
Capítulo 71| O lobo em pele de cordeiro

ESTE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO DO LIVRO



39 dias após a morte de Christopher
31 dias após a morte de Ever
04 de agosto| Domingo

A casa estava vazia.


Meu coração estava disparado e minhas mãos suavam frias. Meus olhos
estavam bem abertos diante o cômodo desocupado.
Meu peito apertou, como se um alfinete trespassasse a minha carne.
Sentia como se estivesse perdendo as boas memórias vividas ali escapando
como água entre os meus dedos.
Embora eu tenha esperado tempo demais para dar atenção às dezenas de
ligações perdidas de meu pai, imaginei que, ao menos, ele poderia ter sido
capaz de enviar uma mensagem de texto avisando que iria se mudar, ou
melhor, sumir.
Os móveis desapareceram. Os retratos. Os vasos. Não existia mais nada
além do piso de madeira polido e as paredes pálidas sem decoração.
Corri para o meu antigo quarto, entretanto, somente o eco do vazio
ocupava espaço. Um nó imediatamente se formou em minha garganta.
Fui novamente preenchia pelo sentimento de luto.
Olhei pela janela do meu antigo quarto. O jardim estava vazio. A
garagem estava sem carros. Apenas a ranger vermelha de Christopher —
que peguei emprestada — estacionada na frente da casa indicava a
presença de alguém aqui.
Não havia placa de "Vende-se" fincada no gramado, isso quer dizer que
papai não teve escolhe a não ser ceder a casa para a justiça, porém, se
recusou a deixar os móveis, o que provavelmente o tornava um novo tipo de
ladrão.
Fechei os olhos, deixando o ar escapar pela minha boca. Não existia
conforto em ver toda a minha antiga vida se dispersar.
Outra vez eu me despedia de algo importante.
— Ele acha que você está morando com o Christopher. — o timbre
rouco, mas suave reverberou atrás de mim como um soco em minhas
costelas.
Meu corpo instantaneamente fora tomada por ondas de arrepios.
Virei-me de solavanco.
— Nabrya. — decretei entre dentes.
Ele abriu um sorriso maroto, olhando-me fixamente nos olhos.
— Agora tem nos vigiado, por acaso? — retruquei, rude.
Nabrya ergueu o rosto, numa postura inabalável.
— Tenho cumprido com a minha promessa.
— Que promessa? — Franzi as sobrancelhas.
Ele sorriu de lado. Deu dois passos em minha direção antes de parar,
olhar em volta e balançar a cabeça.
— Foram momentos intensos nesse quarto. Aposto que sente muito a
falta do seu namorado. — memorou, como se pudesse enxergar todas as
memórias existentes daquele cômodo.
Seus olhos reflexivos deslizavam bem lentamente. Onde deveria se
localizar a minha antiga cômoda, ele sorriu, continuou com a sua
investigação, indo em direção ao closet, agora vazio, ficou intrigado, mas
logo tomou rumo para onde ficara o vazio de onde costumava estar a minha
cama.
— Está vendo o quê? — indaguei.
— Memórias. — admitiu. — De vocês dois. — ele virou-se de costas
para mim. — Christopher adorava entrar aqui quando você não estava para
roubar as suas calcinhas. Algumas que você nem mesmo notou a ausência.
— ele riu. — Christopher te vigiava todas as madrugadas antes de lidar com
a própria vida. Queria garantir que estava viva e que nenhum monstro seria
capaz de tocar em você, mas quando ele sumiu, sua casa foi tomada por
demônios.
Nabrya virou-se novamente para mim.
— Isso explica a minha promessa.
— Ainda não me disse que promessa. — argumentei.
— Christopher me pediu para ficar de olho em você. Ele queria garantir
que você continuasse bem.
— Então ele te contou que iria morrer. — sorri amarga.
— Não. Eu o matei. — Confessou simplesmente.
Senti meu rosto tranformar-se em um lava de fogo. Minha pele queimava
de fúria. Embora soubesse agora que isso era o que Christopher queria,
repugnava com todas as minhas forças o fato de que alguém tinha o
machucado.
— Você... — avancei um passo, querendo gritar, mas Nabrya me
interrompeu.
— Ele me pediu por isso. Ele me colocou de prontidão para matar ele. —
entoou firme.
Meu corpo estagnou em uma postura defensiva, tensa e sólida.
— Christopher e eu demoramos até finalmente chegarmos a um acordo.
Tive que garantir que ele não me trairia no último minuto, mas ele não o
fez. Então, agora estou aqui, vigiando a moça dos olhos dele. — Nabrya
sorriu. — Tem sido um trabalho inquietante. Ver você o tempo todo triste
é... incrivelmente satisfatório.
— Aposto que sim. — eu disse, friamente. — Não me surpreenderia se
você admitisse ser o culpado do que vem acontecendo a minha família
também. A morte, a destruição e mandato de prisão.
Ele caminhou até estar ao meu lado perante a janela, sentou-se no beiral e
suspirou.
— Infelizmente o mérito não é meu.
— Então admite estar fazendo um péssimo trabalho cuidando da sua
promessa? Não protegeu a minha mãe.
— Não. Minha promessa foi que eu cuidaria de você, não da sua família.
— ele brincou com uma sobrancelha.
Senti vontade de machucá-lo. De pular em seu rosto enfiando as minhas
unhas em sua pele. Mas, muito provavelmente, o maior dano colateral seria
causado em mim, então, abri mão da ideia a contragosto.
Cruzei os braços.
— Depois de todo esse tempo você finalmente decidiu dar as caras. O
que está acontecendo? — intriguei-me. — Sabe por que ele ainda não
voltou?
Nabrya umedeceu os lábios.
— Como tem sido a sua hospedagem na mansão da família Tanaka? Se
divertindo? — desconversou.
— Não sei, me diz você.
— Não, não posso. Não tenho permissão para te vigiar de lá, mas sei que
está segura.
— O quê, tem medo da família Tanaka? — zombei.
— Não, não tenho. Mas os filhos de Christopher fazem o trabalho dentro
da casa. Eles protegem a mansão, então não há motivos para existir perigos
lá dentro.
Agora fazia sentido todas aquelas vozes ressoando pela madrugada. No
fim, a casa era mesmo assombrada, porém pelos filhos do meu namorado.
Acho que isso se entitularia como "Mansão bem-assombrada".
— Eu não gosto de você. — admiti, irritada.
— Eu sei que não. Dá para ver desde que eu lhe disse que matei o seu
namorado. — ele sorriu. — Se quer saber, foi emocionante.
Engelhei o nariz em um careta.
— Você é nojento. — dei-lhe as costas. — Se não vai ser útil aqui, então
deveria ter continuado nas sombras.
Caminhei em direção à porta, mas parei quando fui chamada.
— Eu vim aqui por uma razão. — disse. — Quero te mostrar uma coisa.
O olhei de soslaio.
— O que seria tão interessante a ponto de me procurar, Nabrya? Espero
que não seja para contar como matou o meu namorado.
Ele levantou de onde estava.
Sua expressão era mais sombria agora. Os olhos carregavam segredos
que pareciam muito próximos de vir à tona.
— Por muito tempo você culpou Christopher por ter roubado a sua alma,
e estava certa. Ele roubou. — o Demônio pressionou os olhos nos meus —
Mas sua alma nunca pertenceu aos céus, Dytto. Sua alma não foi roubada
de Deus, mas, sim, do pai de Christopher.
Meu estômago se contorceu com esta informação.
— O seu bichinho de estimação se apaixonou por você por causa do que
o pai dele fez. E não por quem você foi persuadida a se tornar.
— Que raios você está falando? — questionei, confusa.
A cada palavra que saia de sua boca, mais perturbada eu me sentia.
— Quero te mostrar as memórias que você perdeu, Dytto. Está pronta?
— Eu deveria saber do que você está falando?
— Não. Você não faz ideia do que houve, mas agora precisa, porque você
é uma peça essencial para tudo o que está havendo. — ele caminhou até
estar quase colado a mim. — Deixe-me mostrar quem é você nesse jogo. —
suas mãos tocaram a minha têmpora antes mesmo que eu pudesse recuar.
°°°
10 anos atrás...
O vento gelado soprava o meu cabelo, emaranhando os fios soltos sobre
as minhas costas.
Sentada na grama úmida daquela colina, eu agarrava com força a
boneca de pano contra o meu peito — como se a minha vida dependesse
disso —, encarando os olhos azuis que ameaçavam chorar diante de mim.
Havia ganhado a boneca em meu recém aniversário de oito anos, Loren
quem a me deu. Ela economizou a sua mesada por meses para que pudesse
me presentear desde que a vimos outro dia em uma lojinha. Papai disse um
curto e simples "não" quando perguntei a ele se poderia a comprar para
mim, pois afirmou com todas as letras que o lugar era comum demais e que
os brinquedos cheiravam a mofo.
Eu não achava isso. O vendedor era um homem simpático que parecia
muito com o meu avô. As sobrancelhas grossas e grisalhas eram gentis, a
careca brilhava e a pele estava muito envelhecida. Embora ele também
tivesse escutado o que meu pai disse, não pareceu ofendido.
A partir daí, comecei a considerar a boneca como minha pequena
filhinha. A trocava com fraldas todas as noites, e sempre precisava
grampear as laterais pois em todas as vezes ficavam frouxas. Eu a
perfumava e a colocava para dormir ao meu lado todas as noites, e, em
todas as refeições, eu a colocava ao meu lado. Mamãe dizia que eu não
poderia colocar comida para ela, pois seria desperdício, então apenas
curtia a sua companhia.
— Me dá ela. — a garota loira exigia, dando um passo em minha
direção.
— Ela é minha. — defendi enciumada e olhei para trás, procurando por
Loren, mas ela estava ocupada demais jogando futebol com os garotos para
perceber o conflito alí. Nela eu confiava para dar umas porradas nas
crianças chatas que me irritavam. É claro, eu até poderia fazer isso
sozinha, mas nossos pais iriam me ver como a minha filha má, e eu
precisava de bons créditos se quisesse ganhar tudo o que desejava.
Nossos pais estavam distraídos montando uma fogueira em meio ao
campo livre daquela colina. Estávamos alojados na casa há uns metros
dali, em meio a floresta.
Eu sabia que Lily era uma garota mimada, por isso, sempre que meus
pais diziam que iríamos passar os seus dias de folga na casa de férias dos
pais dela, eu me trancava no meu quarto e gritava por uns 30 segundos
com a cabeça enterrada no travesseiro.
Ela era simplesmente a pessoa mais irritante que eu conhecia e exigia de
mim uma paciência e graça que eu não possuía.
— Me daaaaa. — gritou, lágrimas já brilhavam em suas bochechas.
— SAI. — levantei-me bem rapidamente.
Mamãe não demorou a surgir às minhas costas.
— Ei, ei, ei. — interrompeu — O que está havendo aqui?
Ela tocou o meu ombro, alterando seu olhar em mim e a garota chorona.
— Ela quer pegar a Rose de mim, mãe. — reclamei.
— Certo! — mamãe assentiu. — Faremos assim. Dytto brinca com a
Rose um pouquinho, e depois você troca com a Lily. Está bem?
— NÃO! — protestei, alto o suficiente para chamar a atenção dos nossos
pais.
— Dytto, meu amor, você tem que aprender a compartilhar os seus
brinquedos. — Ever dizia, afagando as minhas costas. — Só um pouco não
fará mal.
Balancei a cabeça freneticamente.
Eu não ia emprestar a minha filhinha para Lily brincar. Se ela quisesse,
arrumava uma boneca para brincar. A minha não!
— Que escândalo é esse aqui, Dytto? — papai brigou, aproximando-se
rapidamente.
— A Lily quer pegar a Rose. Ela fica igual uma mula atrás de mim. —
me irritei.
— Dê logo a boneca para ela e pare de gritaria. — papai arrancou a
boneca dos meus braços e a ofertou para Lily, que prontamente a pegou. —
Compramos outra depois, Dytto. Agora fique quieta e se comporte.
Meu olhos se arregalaram e meu coração disparou. Senti como se todo o
meu corpo queimasse de irritação. Um sentimento ruim tomou posse e eu
quis machucar papai com o cachecol vermelho que ele possuía no pescoço.
— NÃO! NÃO! NÃO! — gritei escandalosa, batendo os pés no chão.
— JÁ CHEGA! — Théo me arrastou pelo braço à força para longe dali
enquanto eu me jogava no chão e esperneava.
— EU ODEIO A LILY. ODEIO ELA. ODEIO ELA. — eu berrava alto.
Papai desistiu de me fazer andar e me colocou em seu colo. Tentei me
desvencilhar e me jogar, mas ele era mais forte.
...
Durante o jantar, eu não comi nada. Sequer tirei os olhos de Lily
abraçando a MINHA Rose.
Loren não pareceu ligar muito quando soube o que aconteceu, estava
distraída demais com os irmãos mais velhos de Lily. Ela adorava
brincadeiras de meninos, roupas de meninos e até mesmo se comportar
como um menino. Mamãe tentava a deixar mais feminina, mas Loren
apenas balançava os ombros e fazia cara feia quando era corrigida. Minha
irmã quase parecia querer ser um garoto.
Todos eram uns imbecis.
Eu estava tão chateada que sequer abri a boca. Tentei parar de respirar
em protesto, mas não aguentei muito mais do que 1 minuto e 46
segundos — cronometrados —, porque meus ouvidos começaram a zumbir
e meu corpo inteiro a se debater, então apelei para o silêncio mortal.
Prometi a mim mesma que nunca mais falaria com os meus pais ou com
mais ninguém em toda a minha vida, e meu pai ficaria tão arrependido que
me pediria perdão para sempre, ou, eu daria um jeito dele querer ter me
pedido desculpas.
Mais tarde, quando já estavam todos deitados. Me levantei na ponta do
pé e caminhei até o quarto de Lily. Ela não estava exatamente dormindo,
porque no momento em que tentei arrancar Rose de seus braços, ela
acordou. Pensei em sufocá-la com o travesseiro, mas ela faria muito
barulho.
— Não. — sussurrou, odiosa.
Mordi a língua para evitar morder a sua cara estúpida.
— Eu vim te acordar bobona. Eu vi uma coisa. — murmurei.
Ela franziu a testa. Os olhos azuis miúdos me encararam confusos.
— O que? O que você viu? — questionou, interessada.
Ela era tão irritante quanto burra. Seria fácil enganá-la.
— Na... Colina. Lá embaixo no riacho. Eu vi um mago, Lily. — arregalei
os olhos, atuando entusiasmo. — Ele disse que ia me conceder um desejo.
Você quer um também?
— Um desejo? — se animou. — Espere. Eu quero. — ela pulou da cama,
calçando as pantufas rosas e felpudas. — Me espere, Dytto. — pediu,
agoniada. — Espera, espera.
Suspirei, irritada.
— Eu tô parada bem na sua frente ô bocó.
— Tá, vamos. — ela agarrou a MINHA Rose no braço dela e esperou que
eu tomasse a frente.
Eu não sabia bem o que ia fazer ainda, mas poderia acabar inventando
uma história como: "O mago me pediu para você devolver a minha filhinha
ou ele vai estrangular você."
Ela não era muito racional, então com certeza iria me devolver.
...
— Cadê? Cadê ele? — ela esticava o pescoço, vasculhando o riacho
abaixo de nós. — Você disse que o mago estava ali, mas eu não estou vendo
nada, Dytto. E eu estou com medo.
Suspirei, incrédula. Que garota estúpida!
— Olhe melhor. — mandei, entediada, ao passo que encarava minha
boneca. Estava avaliando mentalmente a melhor forma para arrancar Rose
de seus braços magrelos.
Estava escuro e frio. A colina estava tomada pela nebulosidade. Era
apenas eu e ela na beira de um precipício alto o bastante a qual já fui
avisada por minha mãe para nunca chegar perto demais da ponta. Lily, por
outro lado, sequer tinha permissão para andar livremente, quem dirá, estar
onde estávamos.
Era divertido levá-la a fazer coisas estúpidas, porque era fato que ela
sempre acaba acreditando em qualquer bobagem.
— Ainda não vejo nada. — resmungou, completamente distraída.
Nesse instante, quase fui capaz de ver um sinal verde brilhando sobre a
sua cabeça, expondo um sinal positivo para avançar com a minha missão.
Aquele era o momento.
Dei um passo em sua direção e agarrei Rose com todas as minhas forças,
mas a loira imediatamente tentou puxá-la de volta.
— Não! Agora ela é minha. — Lily lutou, segurando um dos braços da
boneca, ao passo que eu firmava minhas mãos no outro.
— ME DÁ ELA AGORA. — protestei agressiva.
Estávamos em um embate onde eu sabia que nenhuma de nós cederia,
portanto, não me importei em continuar forçando, afinal, a boneca era
minha e eu não desistiria dela somente porque uma garotinha mimada
queria a roubar de mim. Entretanto, Lily puxou com mais força, e o som do
tecido do corpo de Rose estalando fora audível o suficiente para tomar a
atenção de nós duas, deixando-nos abismadas demais para, enfim,
cessarmos.
Rose havia sido desmembrada. Um de seus braços rasgou e parte de seu
enchimento vazou para fora, sendo carregado pela forte rajada de vento
que nos atingiu naquele exato momento.
Ambas estávamos em choque e de olhos bem arregalados encarando o
objeto de pano danificado diante de nós.
Em primeiro momento, senti-me triste, eu adorava Rose e vê-la daquela
maneira fez com que meu coração murchasse no peito. Em geral, eu não
era sentimental, mas possuía um carinho incomum por aquele brinquedo,
porém, essa sensação se deteve no minuto seguinte quando fui abraçada
por um fúria destruidora que me cegou num estalar de dedos. A
discrepância de meu humor fora tão rápido que fez Lily engolir em seco
com a expressão furiosa que despontou em minha face.
— Oh, não! — lamentou ela, arrependida.
— Olhe só o que você fez. — culpei-a, enraivecida.
Larguei o corpo rasgado de Rose no chão e avancei em seu pescoço com
as duas mãos. Os olhos de Lily se arregalaram de medo e ela tentou se
afastar, mas estava próxima demais da beirada e escorregou.
Tudo o que eu ouvi antes de seu corpo desvanecer no escuro, fora um
breve e singelo suspiro surpreso. Ouví-a gritar por cerca de cinco segundos
após cair, até que se calou permanentemente. O ambiente fora preenchido
pelo som das ondas do riacho colidindo contra as rochas e o farfalhar das
árvores próximas dali dançando em meio a forte ventania.
Meu coração estava disparado no peito e todo o meu corpo tomado por
adrenalina.
Paralisei com os braços dispersos no ar, encarando a ausência da garota
loira diante de mim. Minha respiração estava ofegante e meu peito subia e
descia descontroladamente. Meu cérebro levou um minuto inteiro para
assimilar a situação.
— Não. — murmurei me afastando da cena.
Não olhei para o riacho. Não queria ver Lily, pois não sabia em que
condição a encontraria.
Olhei para os lados, não havia ninguém. Com medo, tomei Rose e os
seus pedaços nos braços e corri para dentro da casa.

— Não, não pode ser. — disse, abismada.
— Sim, você fez. — Nabrya cantalorou, com um sorrisinho perverso nos
lábios.
— Eu não... não... Foi um acidente. — eu respirava com dificuldade,
buscando me segurar nas paredes do quarto.
— É o que você acha? — instigou, sorrateiro.
— Não foi a minha intenção. Eu não queria machucar ela, eu só queria a
minha boneca de volta. Como eu me esqueci disso? — levei minhas mãos
ao rosto.
Meu cérebro latejava com as recentes informações de um passado cujo eu
nem mesma lembrava da existência. A memória do corpo pálido e sem vida
de Lily sendo encontrada chocou-se em minha mente como um flash.
Lapsos do ocorrido surgiam em velocidade máxima dentro da minha mente,
como luzes estourando, sons agudos e estridentes ressoavam
incessantemente.
— Eu não queria ter feito aquilo eu... — sussurrava atordoada,
caminhando perdida pelo quarto. Dando voltas e voltas.
Nabrya continuava no mesmo lugar, observando-me atentamente,
avaliando o meu estado psicológico e julgando-me como bem queria. No
entanto, eu estava atordoada demais para brigar com ele.
— Mas que droga! — minha voz falhou. — Eu não queria...
— Não? — duvidou.
Parei no lugar, mirando os olhos nele, incrédula.
— NÃO! EU NÃO QUERIA TER MATADO AQUELA GAROTA.
Ele sorriu, como se esperasse que eu dissesse exatamente aquilo.
E foi esse sorriso que me apavorou.
— Ela não morreu naquele dia, Dytto. Ela, por alguma razão, sobreviveu.
— suas mãos estavam postas despojadamente em seus bolsos, a postura
estreita carregando um ar de dureza. — Lily não morreu naquele momento,
mas o impacto machucou uma de suas pernas e quebrou alguns ossos, por
isso ela não conseguiu nadar, então foi levada pela correnteza até a margem
de uma pedreira, Lily ainda acordou, mas sentia tanta dor que o corpo se
desligou.
Nabrya se aproximava lentamente de mim.
— Ela passou horas desacordada no frio, enquanto você fingia que nada
havia acontecido. Disse a todos da casa que não sabia onde ela estava
quando acordou na manhã seguinte. Sem culpa, sem remorso, sem
arrependimento.
Eu estava tremendo, ouvindo as suas palavras serem despejadas
rudemente sobre mim. A vergonha e o horror tomaram conta. Estava
aterrorizada com as minhas atitudes.
Ele tinha razão, não houve arrependimento algum quando fiz aquilo. E
agora, eu me lembrava com tanta nitidez que era como se eu nunca tivesse
esquecido.
— Você simplesmente seguiu com o seu dia... — continuou, amargo —
deixou que os pais procurassem ela na floresta ao invés de onde de fato ela
tinha caído, porque sabia que Lily não tinha permissão para ir para perto do
precipício. Você foi esperta, Dytto. Apontou para eles a direção entre as
árvores e sugeriu que ela tivesse se perdido. Você... — ele mirou o dedo
para mim. — tinha oito anos, mas seu coração era impuro e maldoso. Não
ligou se ela iria sobreviver ou não, apenas rezou para que nunca a
encontrassem. Você estava ocupada demais tentando costurar a sua boneca
que sequer percebeu a aflição daquela família.
— Para... — sussurrei, sôfrega — por favor, para. — cobri o rosto. Não
conseguia respirar direito, faltava-me fôlego.
— Ela morreu por sua causa. Porque você a matou. — acusou.
— FOI UM ACIDENTE. — insisti.
— Inicialmente, talvez tenha sido um acidente. Mas e depois, Dytto? —
ele juntou as sobrancelhas.
— Depois? — questionei, confusa.
— A casa era longe demais da cidade e os pais de Lily saíram atrás de
ajuda enquanto os seus pais e os outros buscavam por ela na floresta.
Ele frizou a testa, mas não parecia descontente com a minha atitude, pelo
contrário, eu conseguia enxergar um brilho maléfico em seus olhos,
evidenciando que se orgulhava do meu feito.
— Você disse que queria ficar na casa com um dos irmãos mais velhos de
Lily para caso ela voltasse. — ele jogou a cabeça para o lado — Você disse
isso com um sorriso todo bonzinho no rosto. Fez todos acreditarem que
você ligava, mas tudo o que você queria era brincar sozinha pelo lugar com
a sua boneca. Você saiu para fora da casa e caminhou por aquela colina, e
isso te levou exatamente para onde Lily estava. Em uma das margens. O
corpo dela foi levado pelo riacho até uma pedreira.
Nabrya segurou o meu rosto entre as suas enormes mãos.
— Você viu ela. Machucada, chorando e com medo. Ela estava tão frágil,
tão vulnerável. Ela se arrastou por aquelas pedras até as árvores porque
estava determinada a viver, mas nada disso te impediu. — ele acariciou a
minha bochecha. — Você sabe o que você fez, doce Dytto. Lembre-se.
...
Deitada no chão, com as costas parcialmente repousadas no tronco de
uma árvore qualquer, lá estava ela. Gemendo de dor e tremendo enquanto o
corpo molhado era arrebatado pelo frio.
Eu não conseguia acreditar no que estava vendo.
Como ela havia conseguido sobreviver?
— Lily? — eu disse, intrigada. Estava parada há pouquissimos passos de
distância. Não tinha certeza se era ela quando avistei um pequeno ponto
recostado. Foi somente quando percebi o cabelo dourado que notei que Lily
estava mesmo ali.
Quando ela virou o pescoço e notou a minha presença, arregalou os
olhos, amedrontada. Percebi que tentou se arrastar para longe, estava com
tanto medo de mim que não conseguia sequer falar.
— Você está viva. — murmurei, decepcionada. — O que você... como? —
intriguei-me.
— N-não. — seus lábios arrroxeados de frio tremularam.
— Tá tudo bem. Eu vou te ajudar. — comentei, calma. — Estão
procurando por você.
Lily desatou a chorar silenciosamente, enquanto os seus braços se
esforçavam no árduo trabalho de levar o seu corpo para longe de mim.
— Pare com isso. Eu já disse que vou te ajudar. — me irritei.
— Eu quero a minha mamãe. — soluçou, a voz quase sumindo.
— É, eu sei. Eu posso chamar ela. Quer que eu te leve até ela? — sugeri,
camuflando minhas reais intenções.
Lily assentiu num rápido balançar de cabeça.
— Tudo bem, mas me prometa que não vai contar o que aconteceu. Jura
pra mim que nunca vai dizer que eu tenho algo a ver com isso. — exigi.
Lily hesitou. Ela SIMPLESMENTE HESITOU.
— Você não vai contar, não é? — pressionei, dando passadas curtas e
lentas em sua direção. — Você. Não.vai.contar. Não é? — disse
pausadamente.
Seus olhos se arregalaram. Apavorada, ela rapidamente deslizou os
olhos pelo lugar, como se buscasse desesperadamente por ajuda.
— Você fez todo um esforço para sair da água e agora não quer ser
ajudada? — pontuei, enojada.
— M-me desculpa.
— Não, eu não desculpo. Isso tudo é culpa sua.
Lily virou o corpo de barriga para baixo e tentou engatinhar, mas seus
joelhos deslizavam na grama úmida. Ela gemeu de dor e seu corpo cedeu
completamente no chão.
— Como você saiu do riacho? — investiguei, ao passo que ainda
caminhava em sua direção. Ela não iria muito longe, e muito
provavelmente não sobreviveria.
Papai dizia que pessoas em situações como ela, morriam de hipotermia.
Os órgãos começariam a falhar e aos poucos paravam.
Era um milagre ela ainda estar viva... Quer dizer, não tão viva. Lily
estava frágil demais.
— Não vai me falar? — agachei-me ao seu lado.
Um ruído baixo e ininteligível soou de seus lábios.
— E se eu te jogasse de volta no riacho, será que você sobreviveria de
novo, Lily? — brinquei, genuinamente tentada. — A minha Rose está
machucada por sua causa, você deveria sofrer o mesmo. — sussurrei.
Meus olhos vagaram pelo seu corpo pálido e doente. Seus olhos estavam
murchos e a pele acinzentada.
Ela começava a respirar com muita dificuldade, a respiração parecia um
ronco.
— Vamos lá então. — me levantei e peguei um de seus pés.
Eu ainda estava tão irritada com a situação. Eu não queria saber se ela
iria ficar bem ou não. Ela era chata, e eu estava cansada de tê-la em minha
vida. Todos pareciam querer defender ela o tempo todo.
Mamãe dizia que era porque Lily havia descoberto que estava doente,
por isso todos faziam de tudo para agradar essa garota mimada. Estava
com alguma coisa chamada Lumia... Locemia... LEUCEMIA. Isso! Mamãe
dizia que Lily tinha Leucemia, e isso fazia com que todos ficassem sempre
de olhos nela.
— Você é pesada. — resmunguei, arrastando o corpo dela pelo chão.
Lily murmurou de dor, acho que sua perna estava ferida, estava meio
ensanguentada e estranha.
Arrastei o seu corpo até as pedreiras e parei para respirar um pouco.
— Olha, isso vai doer, mas falta só um pouquinho para chegarmos na
água. Acho que ninguém gosta de ser arrastada em pedras. — sorri,
ofegante.
Virei-me para trás. A corrente de água estava muito forte, a única forma
de Lily ter conseguido parar aqui, foi se ela engatou em algum galho ou
ficou presa em alguma pedra. Era impossível nadar contra a correnteza.
— Tá bom. Você está chegando, Lilizinha. — agarrei seus tornozelos e
voltei a puxá-la. Ela, no entanto, já não respondia mais.
Conforme eu a puxava por entre as pedras, notava os rastros de sangue
que sua pele deixava no chão.
Quando finalmente a coloquei na água, observei seu corpo se despedir
de maneira rápida, flutuando para longe sobre a água. No fundo, de
alguma forma eu me sentia contente por aquilo. Estava animada. Era quase
como se um peso saísse de meus ombros.
Lavei as mãos no riacho, estava muito frio e me fez bater os dentes. Eu
tinha que voltar e fingir que nunca saí da casa.
Provavelmente, se os irmãos de Lily soubessem o que eu fiz, até me
agradeceriam por ter se livrado dela.
Estava pronta para voltar, entretanto, quando me virei de costas, notei
um homem entre as árvores me encarando.
Ele era alto, olhos verdes e a pele branca como a neve. Seu cabelo era
negro e seu olhar era intenso, como se pudesse ser capaz de dominar o que
quisesse.
Senti-me intimidade, mas não desviei os olhos. Talvez fosse um bom
momento para dizer que eu não sabia de nada, mas esperei ele falar algo
primeiro. Ele poderia não ter visto o que eu fiz, e acabaria que eu me
entregaria de bandeja. Não seria esperto da minha parte. Eu ficaria muito
encrencada. Mamãe dizia que as pessoas que faziam coisas ruins, iam
parar em lugares horríveis no inferno.
Mas, tecnicamente, eu fiz algo bom. Provavelmente nem Lily deveria
gostar dela mesma.
— Quem é você? — perguntei, curiosa, quando notei que ele não iria
falar nada.
— Christopher. E você? — devolveu, caminhando para fora das árvores.
Seu longo corpo emergiu, ele não estava exatamente vestido, tudo o que
usava era um pedaço de pano em volta de sua cintura, exibindo o restante
de sua pele. Seu rosto era tão lindo que se tornava hipnotizante olhar para
ele.
Meu coração acelerou, isso costumava acontecer quando via garotos
bonitos também.
— Eu sou a Dytto. Minha irmã me chama de Dy.
Ele sorriu.
— Olá, Dy. — acenou gentil.
Eu não me sentia à vontade perto de estranhos, porém, particularmente
com ele, era como se eu fosse preenchida por uma sensação esquisita de
conforto e confiança, quase familiar.
— Não gostava daquela garota? — indagou, olhando para o riacho atrás
de mim.
— Eu não sei de nada. — dei de ombros.
— Sabe, sim. — discordou. — Eu vi o que você fez.
Droga...
— Não conta pra ninguém, por fav...
— Eu não vou. — me interrompeu.
Encarei-o cética.
— Não?
— Só estou de passagem. Não vim para dedurar garotas espertas como
você. — o homem agachou no chão, analisando o rastro de sangue que se
seguia até as pedreiras. — Para sua sorte, parece que vai chover. Não
ficará um único rastro de sangue. — e então me jogou uma piscadela
cúmplice.
Eu gostei dele.
— Onde você mora, Christopher?
— No céu. — respondeu, mas logo em seguida balançou a cabeça. —
Morava, aliás. Eu não moro mais lá agora.
— Você é um anjo? — arregalei os olhos.
— Bom, eu costumava ser um. Mas ousei contra Deus. — ele sorriu de
um jeito que os olhos se iluminaram.
— Fez algo errado, né? Igual lúcifer. — ponderei, lembrando os
versículos bíblicos que papai nos obrigava a ler.
— Defina errado, Dytto. — pediu.
— Mamãe diz que é quando fazemos algo que não agrada a Deus.
— E só porque não o agrada que é errado? — fomentou.
— Eu sei lá. — balancei os ombros.
Ele assentiu, parecia achar aquilo engraçado.
— Dytto, eu posso pedir a sua ajuda? — gentilmente solicitou.
— Eu acho que sim.
Ele olhou em volta e suspirou.
— Deus está muito zangado comigo, Dytto. Muito zangado. Tenho
andado entre a terra e Nefarious há séculos, mas soube que ele quer me
banir da terra, e eu não sei como continuar minha missão preso em um
lugar horrível como aquele. — ele deixou que o olhar recaísse para o
gramado. — Preciso da ajuda de alguém para que eu possa transformar
esse mundo em um lugar melhor. — Christopher me olhou nos olhos. —
Será que pode me ajudar?
— Por que Deus quer banir você da terra? — a curiosidade me venceu.
— Ele diz que eu não sou justo com os humanos. — Christopher apontou
para mim — Mas todos vocês têm livre arbítrio. São vocês que escolhem
como querem viver. Isso faz parte da escolha de cada um de vocês. Eu não
enganei ninguém, apenas lhes ofereci opções.
Dei alguns passos em sua direção, meio retida, e então parei.
— O que isso quer dizer?
Ele curvou o canto dos lábios, era um homem incrivelmente bonito,
ainda mais do que os que eu via em filmes e novelas, quase como se fosse
irreal.
— Eu tenho um fruto na terra, um ano mais velho que você. Preciso que
o atraia para você e inconscientemente o faça cometer algo que ele
acredite que será o certo a se fazer naquele momento. — Christopher
franziu as sobrancelhas. — Você é o meu diamante da sorte, Dytto. Vai
levar o meu filho exatamente para onde ele tem que ir.
— E o que eu tenho que fazer para isso? — juntei as sobrancelhas.
Christopher curvou os lábios para cima.
— Nada, pois eu o farei. — o homem se pôs de pé — Dytto, eu te
abençoo com muita bondade em seu coração. Será uma garota amável e
terá compaixão pelos outros. Sentirá medo pelo mal, e amor pelo bem. Será
obediente e compreensiva. Fará o que puder pelo bem daqueles que você
ama. Eu te dou o perdão angelical. Está absorvida de seus pecados. — ele
veio em minha direção. — Você será o oposto da garota que você é hoje.
Não irá mais sentir prazer em tirar vidas ou machucá-las. Não será uma
filha mal criada e nem uma irmã ausente. Isso fará o meu fruto querer te
corromper até o último fragmento do seu corpo. E não há nada mais
perigoso do que uma mulher, minha querida.
Eu não o respondi. Meus lábios pareciam dormentes e minha mente era
como um barco balançando em meio ao oceano. Meus olhos começaram a
pesar.
— Tenho que ir, Dytto. Estou sendo banido a partir de agora deste
mundo. Irei para o meu mundo para governar... — ele fez uma pequena
pausa. — Mas eu voltarei.
Depois daquilo, tudo tornou-se escuridão.
Acordei no dia seguinte deitada em um dos sofás da sala da casa de Lily.
Mamãe estava comigo no colo, disse que eu havia pegado no sono. Eu
ainda me sentia como se estivesse dentro de um sonho, não me lembrava de
muito. Apenas de saber que Lily sumiu em uma noite, e no dia seguinte, que
estavam a sua procura.
Dois dias mais tarde, quando mamãe contou que Lily tinha sido achada
morta, eu chorei. Me senti tão triste por aquela garotinha. Ela era só uma
criança, não deveria ter morrido.
A polícia decretou que havia sido um acidente.
Trágico.
Eu gostava dela, éramos grandes amigas. Sentiria a sua falta.

— Não éramos amigas. — sussurrei.
— Não, não eram. Mas Christopher fez com que você pensasse que sim.
Ele não queria que você se lembrasse da conversa que tiveram naquele dia.
Ele te usou direitinho para que você fosse o peão dele. — Nabrya riu. —
Ele ainda ousou dizer que não fez nada de errado. Disse que apenas te
abençoou com coisas boas. — suspirou — Ele sabia exatamente o que fazer
sem parecer errado.
— Foi tudo um jogo para Christopher. — murmurei, em choque.
Estava sentada no chão, encarando o carpete.
Minha mente não estava cem por cento sã. Me sentia como se fosse um
cômodo revirado. Todas as memórias apagadas daquele dia voltaram.
Eu não sabia mais quem eu era, mas conseguia compreender o que estava
sentindo há dias. As peças pareciam se encaixar de pouco em pouco.
— Ele é o responsável por você ter encontrado o filho dele. De ter feito
vocês chegarem até o momento em que o Christopher filho decidiu morrer.
Ele estava à frente de todos nós o tempo todo, porque já sabia cada passo
que seria necessário para isso acontecer.
— E o que vem em seguida?
— O seu namorado plantou doenças em cada continente nesses últimos
meses, Dytto. Ele arquitetou guerras, destruições e bombardeios em cada
cantinho do mundo. Todos os anos de vida dele se resumiram em criar
formas para a extinção humana de modo que os próprios humanos fizessem
o trabalho sozinho. Apenas com um toque de ajuda dele.
— Para que ele quer destruir esse mundo? — Arquejei.
— Para construir um novo. Christopher-pai quer fazer disso tudo o novo
Nefarious. Ele quer ser mais poderoso. Quer se auto intitular Deus para
criar novas vidas. Novos mundos.
— E onde está o meu Chris? — olhei-os nos olhos, séria.
— Está preso, Dytto. Ele está sendo forjado para se tornar um demônio
servo. O pai dele quer tornar ele o general de seu exército. Quer destruir
tudo com a ajuda do filho, mas ele não contava com o amor que Christopher
sente por você.
Franzi o cenho.
— Christopher está há quase um milênio em Nefarious desde que
morreu, o tempo lá passa diferente. Há cada 16 horas na terra, se passam 17
anos em Nefarious. Chris já está há uns 980 anos lá, e mesmo assim, ele
nunca cedeu a sua honra para o pai, porque ele te ama e quer governar este
mundo com você.
Eu paralisei. Não sabia reagir aquela informação. Senti meu mundo
desabar debaixo de mim.
980 anos... Christopher estava há 980 anos preso em Nefarious.
— Christopher e eu fizemos um acordo de que destruiríamos o pai dele
juntos, mas Christopher-pai já sabia que o filho iria morrer, só não sabíamos
o motivo ainda. Até eu descobrir que tudo isso foi por sua causa.
— Por que ele me escolheu para esse serviço imundo? Me fez de peão
esse tempo todo. — sussurrei, atordoada.
— Vocês estava no lugar errado, na hora certa. Christopher estava
fugindo dos anjos que o buscavam para levar ele a Nefarious quando te viu.
Você se tornou o plano dele a partir daquele momento.
Olhei-o nos olhos, atônita.
— E o que te fez me contar tudo agora?
— Só a verdade liberta. E essa é a verdade, Dytto. Agora você sabe quem
você é de verdade. Não precisará mais ser quem Christopher te abençoou
para ser, ou melhor... — ele fez careta. — amaldiçoou.
Assenti.
— Eu preciso buscar Christopher. — determinei.


Chocastes?
Alguém imaginou essa teoria? No fim, Christopher-filho estava há alguns
passos na frente de todos, mas o Christopher-pai estava há anos-luz na
frente de todo mundo.
E bate uma dorzinha só de saber que o Christopher está há quase mil
anos longe da Dytto 😭😭😭
Me sigam no IG para pararmos sobre esse capítulo: autoraelliemorgan
Link na bio do wattpad
|PARTE 2

Love in the dark ganhará livro físico muito em breve, mas, para isso,
preciso avisar que, ele se tornará uma duologia.
Por que Love in the dark se tornará uma duologia?
Inicialmente o plano era fazer de LITD livro único, no entanto, a obra
tem se tornado extensa demais, e eu não quero deixá-la ainda maior, por
isso, decidi dividí-lo em duas partes, assim, poderei trabalhar a segunda
parte com mais calma e sem um final corrido, portanto, desenvolvendo-a
melhor, até porque eu sei que vocês estão doidas para verem o futuro de
Dytto e Chris como um casal apocalíptico.
Se o livro vai ser dividido em duas partes, onde termina a primeira
parte do livro?
A primeira parte do livro se encerrará no capítulo 71 (Lobo em pele de
cordeiro). E é bem aí, que eu finalizo o primeiro livro.
Ele vai se manter no Wattpad? Qual a data de pré-venda?
Esta primeira parte não poderá ser mantida no wattpad, e será preciso ser
retirada no dia ❗05/01/2024❗, pois no dia ❗15/01/2024❗ começará a sua Pré-
venda. Até lá, vocês terão um tempinho para terminar de ler tudo.

Onde será escrita a segunda parte do livro então?


O livro começou no Wattpad e será finalizado inteiramente no Wattpad.
Mesmo após a retirada da primeira parte do livro no dia 05/01, o livro
continuará sendo escrito normalmente por lá até ser finalizado, não se
preocupem.
Qual será o preço do livro? A capa será discreta?
O preço do livro ainda não foi definido, no entanto, vocês serão
informados sobre isso assim que a editora definir isso.
Sobre a capa, vocês terão duas opções de capas, uma mais discreta e uma
mais ousada.
Onde posso comprar?
O livro físico, durante a pré-venda, fica disponível somente no site da
fruta (a amazon determina que a entrega seja feita em 20 dias no máximo e
a pré-venda leva 30 dias), assim que a pré-venda acaba o livro físico vai pra
Amazon. O e-book sai no mesmo dia do físico.
OBS: A partir do próximo capítulo, já estaremos na segunda parte do
livro. E, sim, eu vou continuar postando normalmente aqui como sempre
fiz.

Meu Instagram: autoraelliemorgan


Insta da editora: editorafrutoproibido

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