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STANFORD:
Matteo, atual capitão do time;
Felicity, irmã de Matteo;
Manson, amigo de Nicholas;
Deborah, amiga de Rebecca.
REI ERICK, RAINHA MARTHA E PRINCESA ASTRID.
Avisei a meu pai que não queria ninguém por perto e que cuidaria
dos meus machucados, mas minha avó paterna, Meredith, não escutava
ninguém além dela mesma e, às vezes, o meu avô William.
— Achei que tinha parado com isso — disse analisando minhas
mãos —, mais um pouco e você precisaria levar pontos.
Ela levantou os olhos e ficou me olhando por instantes, na sequência
começou a pegar as coisas para fazer os curativos.
— O que ela diria se soubesse que você também já se automutilou?
Só que a sua forma era um pouco mais agressiva.
— Eu parei.
— Estou vendo — retrucou seriamente. — Ainda não respondeu à
minha pergunta — afirmou começando a limpar minha mão direita.
Ardia toda vez que o algodão molhado encostava, mas não me
importava.
— Choraria e depois ficaria cuidando de mim como se eu fosse uma
criança — comecei e soltei um suspirou — e ela cantaria para mim até eu
dormir, ou só ficaria em silêncio, mas não me deixaria sozinho.
Vovó sorriu e limpou a lágrima solitária que escorreu em meu rosto.
— Por que não a escolheu, querido? Você me falou sobre o amor de
vocês inúmeras vezes, ela jamais o deixaria em uma situação como essa.
— Não posso fazer isso com ela.
Vovó ficou em silêncio enquanto finalizava os curativos. Minhas
mãos estavam horríveis, mas, pelo menos, a luta foi adiada para novembro,
pois Bronwen e outros lutadores pediram mais tempo.
— Já lhe contei sobre Castiel, o filho mais velho de seu tio Thomas?
— questionou mudando de assunto.
— Ninguém fala muito dele, na verdade — relembrei.
— Castiel era um garoto incrível que se apaixonou por Rylie, a filha
de Benjamin, uma Malik também — ela sorriu enrolando um esparadrapo
em minha mão e pegou a outra para fazer o mesmo. — Você é a cópia
perfeita dele, exceto pelos olhos e os cabelos, e ele não tinha as sardas que
você tem. Castiel tinha olhos verdes e cabelos pretos como a escuridão,
enquanto seus olhos são azuis como o mar e o céu, e seus cabelos são
dourados.
— Aquele assunto sobre reencarnação de novo? — questionei-a
enquanto a olhava. — Sei que amava Castiel e sente muito a sua falta, mas
não sou a reencarnação dele — expliquei.
— Não estou tentando convencê-lo de que é isso, mas, se for como
eu acredito que é, você e Rebecca não vão se separar por causa da sua
teimosia nem por nada, acredito que o amor de vocês é tão forte que
ultrapassa até mesmo uma vida — afirmou. — Mas sei que não acredita,
então não vou prosseguir com esse assunto — disse, beijou minha bochecha
e se retirou da sala.
As coisas que vovó falava perambulavam sem parar na minha
mente, era estranho, e pensar naquele assunto me dava calafrios.
Caminhei para o quarto, mas não o meu, pois o destruí horas atrás.
Comecei a tocar a música Kiss Me, do Ed Sheeran, no violão,
deixando que minha mente viajasse para o dia em que levei Rebecca para
conhecer minha casa de campo e ela começou a tocar essa música no piano.
Era tão linda e serena cantando, parecia um convite eterno para
tocar seus lábios, para nunca a deixar…
Batidas na minha porta me fizeram soltar o violão e limpar o rosto
que estava molhado, novamente, pelas lágrimas. Era tão forte que nada,
nem o passar dos dias, nem a calmaria de qualquer lugar, conseguia
diminuir tamanha dor.
A última vez em que chorei, acredito, foi ao nove anos de idade, eu
parecia uma criancinha chorosa agora.
Abri a porta me deparando com Natalie. Ela me olhou por
milésimos de segundos e pulou em meus braços me dando um forte abraço.
— O que faz aqui? — questionei a soltando, e ela me encarou
cruzando os braços.
— Você precisa de mim — explicou convencida.
Olhei-a por instantes, sem muita força para retrucar, e lhe dei
passagem.
— Por que não está no seu quarto oficial?
— Porque eu o destruí.
Ela pegou minhas mãos, as encarou e suspirou.
— Entendo.
Sentei-me no sofá do quarto e encarei a tela desligada da televisão.
Natalie se sentou ao meu lado e me puxou me abraçando por trás,
ligou a tevê e ficou instantes em silêncio enquanto assistíamos a ela.
— Amanhã voltam as aulas — comentou.
— Eu sei.
— Vai voltar? — Balancei a cabeça concordando. — Para a casa
também? — Soltei a respiração.
— Vou ficar na casa de vovô até a luta, mas vou ir vê-la e às
crianças.
— E Isaac? — Meu coração doeu.
— Ele me odeia igual a irmã — falei tentando soar firme, e ficamos
em silêncio.
Olhei-me me arrumando no sofá para ficar ao seu lado, e ela ficou
instantes procurando as palavras certas para iniciar uma conversa.
— Acredito que tenha um grande motivo para você ter terminado
com Rebecca e desconfio ser a única da família que não sabe o que está
acontecendo, mas também sei que você não seria burro de simplesmente
terminar. Mas, se quer saber, ela não fala de você. — Franzi o cenho. — Ela
o afastou dos pensamentos de tal forma que não sei o que pensar. Sei que
ela sofreu, muito, muito mesmo — disse com advertência —, mas sozinha.
Quando a visitei, ela não citou seu nome e está fazendo uma coisa que
jamais faria. Rebecca não era assim. Isso não era nada bom.
— O que ela está fazendo? — questionei tão rápido que Natalie me
olhou e riu.
— Ah, bom… ela vai sair com um garoto esse fim de semana.
Levantei-me de imediato sentindo meu corpo formigar.
— Com quem? Como… como… faz menos de um mês que… e
ela…
Tentei controlar minha respiração, mas só de imaginar outra pessoa
a tocando, a beijando, a…
— Cameron! — Natalie me chamou em voz alta, como se tivesse
me chamado anteriormente, e eu a olhei. — Ela não é assim, não faz
substituições. Não está claro? O que aconteceu no aeroporto mexeu com ela
de uma forma que a faz querer fazer qualquer coisa para não pensar em
você.
— Qualquer coisa? — perguntei sem conter o desespero em minha
voz.
— Não qualquer coisa, seu idiota! — Ela passou a mão na testa e
revirou os olhos. — E, sinceramente, o que você quer? Foi você quem
terminou.
— Não lhe devo satisfações — disse me sentando no sofá e
cruzando os braços.
Jamais admitiria em voz alta, mas ter minha irmã por perto
silenciava todos os meus pensamentos, o que estava me matando nas
últimas semanas.
Ela bufou, e eu sorri, dando de ombros.
— Não sei por que ainda te conto as coisas.
— Sabe que, se não me contar, Alec contará — relembrei.
— Por que tio Owen ainda o deixa ter um segurança com Rebecca?
Não faz sentido a não ser que ele … — Ela me olhou. — É claro que ele
sabe o que aconteceu.
— E discorda da minha decisão, quase deixou os negócios da nossa
família — comentei.
Ela me olhou impressionada, com seus grandes olhos verdes
arregalados, porque todos sabíamos o quão meu pai era fiel a Owen, e
Owen a ele.
— Não vai me contar mesmo?
— Estou em uma batalha travada para mamãe e vovó não falarem
nada, mas com você não vai ter jeito, sei que vai falar para Rebecca e piorar
a situação — ela bufou de irritação. — Você é leal a ela, Natalie, isso é uma
qualidade enorme, e fico feliz por vocês se terem como amigas, mas não
vou arriscá-las nisso.
— Esse negócio de responsabilidade por mim e por ela de novo?
— Sempre!
Ela suspirou.
— Bom, sou leal a Rebecca, sim, mas você vai saber de qualquer
forma. Ela chorou a viagem toda, porém se mostrou animada com o pessoal
de Stanford e, quando ficou sozinha, desabou. Passou a primeira semana
toda chorando, teve pesadelos, e Nicholas a monitora desde que chegou.
Eles estão morando juntos. Peter e Josh foram visitá-la quando souberam o
que aconteceu, e ela chorou na frente deles, sabe que ela nunca faz isso e
me contou tudo quando a vi, há dois dias. Ela me disse que não quer mais
todos tão preocupados, ninguém fala de você, o que é bom, mas não acho
certo usar alguém como escape de quem está seguindo em frente; ela me
aconselhou a não fazer isso com Elliot e agora está fazendo exatamente isso
com Manson, eu a amo e…
— Manson — repeti, e ela fechou os olhos ao perceber o que tinha
falado.
— Eu sempre falo demais.
Respirei fundo e tentei controlar toda a minha vontade de ir a Palo
Alto.
— Não se preocupe, não vou fazer nada, apenas quero que ela esteja
em segurança — aleguei, contrariado, porque tudo o que eu mais queria era
vê-la, pressioná-la contra a parede, dizer que ela era minha, fazê-la minha e
pedi-la em casamento.
E que se fodesse a porra daquele acordo!
— O que aconteceu com você? — Ela franziu o cenho. — Ela, o
amor da sua vida, vai sair com outra pessoa, Matteo está em cima dela o
tempo todo e…
— Não comece, Natalie.
— Ou o quê? Vai atrás dela e contar a verdade?
— Natalie…
— Espere só até Rebecca cair em si. Quando minha amiga se
recompor e ficar bem, vai descobrir o que aconteceu.
— Não vai, ela vai seguir em frente — disse, duvidando das minhas
próprias palavras.
— Parece que não conhece mais sua futura esposa.
— Ela não é a minha…
— Não me teste, irmãozinho — disse apertando minhas bochechas.
Empurrei suas mãos sem conseguir conter o sorriso.
— Não estou testando, não há possibilidades de nos casarmos. —
Dei uma pausa para repensar minha situação. — Não mais.
— Entendi — disse remoendo as palavras que ouviu. — Bom, então
vou aconselhar minha amiga a investir em Manson, você precisava vê-los
nadando juntos quando fui à casa dela, e ele estava com Nicholas, tudo bem
que ele estava babando um pouco quando a viu de biquíni, mas…
Fechei o punho tentando conter minha raiva.
— Que merda você acha que está fazendo, Natalie? — Levantei-me
irritado. — Perdeu a noção do que está falando? Porra, é sobre Rebecca
estar de biquíni com outro homem. Vá se foder!
Ela se levantou em seguida.
— E você acha que ela vai ficar sofrendo até quando? Ela é linda,
gostosa, sabe se expressar, canta, é inteligente e conversa sobre qualquer
coisa. Não tem tempo de ficar esperando-o decidir se vai ou não a colocar
de volta em sua vida.
— Você pode, por favor, parar de falar? — pedi cerrando os dentes
enquanto minhas bochechas queimavam de nervoso.
— Claro, maninho — disse animada e beijou minha bochecha na
medida em que eu revirei os olhos de irritação. — O que acha de fazermos
pizzas no forno? Estou com uma fome enorme — comentou caminhando
para a porta de saída.
— Você devia parar de andar com Rebecca, está ficando cada vez
mais parecida com ela.
Ela sorriu e mandou um beijo para mim, antes de sair do quarto.
Decidi segui-la, talvez ela acabasse soltando algo a mais sobre
Rebecca e, para a minha infelicidade, sobre Manson.
— Preciso de um conselho seu — ela disse quando coloquei um
avental.
— O que seria? — questionei começando a colocar as rodelas de
minipizzas na forma.
— O que você fazia quando o fogo pegava com Rebecca?
Fiz uma careta ao pensar que era a minha irmã e meu melhor amigo.
— Ela me parava.
— Mas nunca teve um momento em que ela esqueceu que tinha que
parar?
Ponderei a situação e olhei Natalie, que parecia curiosa para a minha
resposta.
— Ela sempre foi muito mais controlada do que eu, mas acho que
ajuda ela nunca ter feito sexo com ninguém, porque eu sei que é bom e
tenho certeza de que com ela seria incrível, mas ela nunca se esqueceu de
parar. A decisão dela sempre foi mais forte — expliquei.
Mas no fundo eu sabia que, além da decisão que tomou, ela ficava
apavorada quando algo saía de seu eixo pelos abusos que já sofreu.
Natalie suspirou.
— Problemas com Elliot? — questionei, mesmo odiando ter que
entrar nesse assunto.
— Ele não é o problema, eu sou — afirmou apontando para si
mesma, e rimos juntos. — Você parou sua vida sexual desde que Rebecca
voltou?
— Essa foi a maneira mais educada de me perguntar quando foi
minha última transa, você não era assim — ela gargalhou me empurrando
pelo ombro. — Desde dezembro, na verdade, quando sonhei com ela e
soube que era ela. Depois teve aquela prima de Elliot que não consegui
também.
Ela riu sozinha e me olhou.
— E Rebecca jurava que você tinha outras pessoas enquanto estava
com ela.
— Quem tem te passado informações sobre Rebecca em Stanford?
— retornei ao assunto anterior.
— Felicity e Neji. O que quer saber?
— Tudo.
Ela riu ao me ouvir, colocou a forma com as minipizzas no forno e o
fechou.
— Tio Owen mandou Ned para vigiar Rebecca, e ele é
estranhamente parecido com a Luce — Natalie iniciou.
— Pensei o mesmo quando fomos para a fazenda do avô de
Rebecca, mas achei ser uma loucura minha — concordei.
— É um pouco estranho, enfim, Matteo tenta se aproximar de
Rebecca, mexe com ela sempre que passa por perto e essas coisas idiotas e
nojentas.
— Eu sabia que ele tentaria ficar em cima de Rebecca — disse
enraivecido.
— Maninho — levantei meus olhos em sua direção, e ela balançou a
cabeça negativamente —, quando eu cheguei a Palo Alto, ele mexeu
comigo também — fechei meu punho —, não é por Rebecca, é uma
implicância com você. Talvez porque não aceitou fechar negócios com a
família dele ou por vê-lo como ameaça.
— Espero que ele não pense que isso vai ficar assim — afirmei com
o punho ainda cerrado. — O que ele fez com você?
— Ele falou algumas coisas que os homens acham ser um elogio
quando, na verdade, é assédio — explicou —, mas Nicholas e outros
garotos do time estavam me esperando no campus da faculdade com
Rebecca e começaram a debater.
— O que eles disseram a Matteo?
— Rebecca e eu saímos antes da discussão — ela suspirou. — Tio
Owen tem mais de dois seguranças pelo campus, ela e Neji estão bem
amigos, então ela nunca está sozinha e tem Geórgia, que parece vê-la como
uma filha.
— Mas ainda não está do jeito que quero.
— Cam…
— Não, ela precisa estar totalmente segura! — afirmei em voz alta.
— Tudo ao alcance dos Nogueira está sendo feito, irmão, você não
pode…
Olhei-a, e ela revirou os olhos e se calou.
— Você é completamente apaixonado por ela, por que terminou?
Não faz sentido.
— Se eu gostasse dela, teria…
— Depois de toda essa conversa, ainda cogita me falar um absurdo
desses?
Aproximei-me dela e a abracei, sem aviso prévio.
— Obrigado por ter vindo.
Ela beijou meu rosto.
— Estarei sempre aqui por você, maninho.
— Natalie — meu pai a chamou, — você tem quinze minutos para
se arrumar, o motorista a levará, sua mãe a espera em casa — avisou com
firmeza.
— Eu acabei de chegar! — retrucou.
— E vai precisar ir embora, não me questione — pediu com
firmeza, mas via o sofrimento dele em ter que falar com ela daquela forma.
— Achei que você tinha melhorado — Natalie disse friamente
quando passou por ele e subiu as escadas às pressas.
Papai passou a mão na nuca, demonstrando que estava
decepcionado consigo mesmo, e se voltou para mim, e suas palavras me
fizeram entender tudo:
— Eles chegarão em trinta minutos — disparou, fazendo meu
estômago se revirar, e saiu.
“Às vezes, sinto que somos um nó complicado demais de desfazer.”
A Elite – Kiera Cass
Estava quase tudo certo para sair com Manson, mas ainda precisava
acertar um detalhe, um mínimo detalhe com o meu pai.
—… sair com um garoto? — ele questionou tão alto que era
provável minha mãe ter ouvido.
— Sim, daqui a alguns minutos — comentei.
— Entendo. Precisa de alguma coisa da minha parte?
— Pedi para Ned ficar de folga hoje.
— Mas é a folga de Alec — protestou.
— Sim, eu sei. Por isso, imagino que vá colocar outras pessoas para
me vigiar, então, por favor, que eles sejam discretos.
— Não serão vistos — alertou.
— Você está muito calmo — estranhei —, já sabia disso, não?
— Nicholas me falou sobre Manson e disse que é um ótimo rapaz,
mas por que está escondendo de Alec e Ned?
— Nada demais. Preciso ir, um beijo, eu te amo, e diga à mamãe e
aos meus irmãos que eu os amo — pedi.
— Claro, caramelinho, eu te amo. — E desligou.
Fiquei instantes sentada na cama e me levantei, indo em direção à
janela e observando uma mansão que estava a ser construída desde quando
cheguei a Palo Alto.
Ela parecia ser enorme e luxuosa, e havia algo nela que me chamava
a atenção.
Era possível vê-la da nossa casa, de Stanford e de vários outros
lugares, pois era no alto da cidade, em um enorme campo, como a mansão
da minha família e a dos Styles.
Era a cara de Cameron uma mansão daquelas…
Meu corpo tremeu, e eu dispersei aquele pensamento. Não me sentia
nervosa ou ansiosa para ver Manson, eu não devia ao menos estar animada?
Conhecia-o há aproximadamente um mês. E não podia contar com a
primeira semana, porque quase não ficava perto de Nicholas e seus amigos,
mas, na segunda semana, ele estava sempre por perto, treinava comigo,
Alec, Ned, Nic e Felicity. Era uma ótima companhia, na verdade, sempre
bem-humorado e animado. Gostava muito de festas, baseado nas conversas
dele com Nicholas, mas nada que incomodasse, e era muito bonito, não
tinha como negar, e ainda assim…
— Manson chegou — Nicholas disse parando na minha porta, que
estava aberta desde o momento em que terminei de me arrumar.
Ele se encostou na parede enquanto comia algumas frutas que
estavam na tigela.
— Ok, obrigada.
— Precisa de alguma coisa?
— Está tudo bem, Nic, e você, precisa de alguma coisa?
Ele me olhou por instantes e balançou a cabeça negativamente.
— Vou deixá-la descobrir sozinha. — E saiu do quarto.
Revirei os olhos, olhei-me uma última vez no espelho e saí do
quarto.
Encontrei Manson na sala, e ele sorriu me olhando.
— Roupas confortáveis, como você me aconselhou — disse abrindo
os braços, indicando que era para ele ver melhor minhas vestimentas.
— Perfeito, senhorita Rebecca, podemos ir?
— É claro.
Durante o caminho, estávamos em um silêncio desconfortável e
tedioso, mesmo com o som ligado.
— Não vai me contar para onde estamos indo?
— Acredito que um cinema ou uma volta no shopping não faça
muito o seu estilo, estou certo?
Errado.
— Não me incomodo, na verdade — comentei. — Mas tenho
certeza de que vou gostar do que você vai fazer.
Ele parou o carro em uma colina alta o suficiente para ver a cidade,
saímos do carro, e, quando o porta-malas foi aberto, me dei conta do que ele
tinha planejado: um piquenique.
Estendemos a toalha no chão, sentamo-nos e arrumamos as coisas
para comermos.
— Aqui é lindo — eu disse, admirada com a cidade.
— Gosto de vir aqui quando preciso pensar e sempre corro pela
região antes de ir malhar — explicou.
— Ah, claro, a rotina de um atleta — brinquei, e ele sorriu
concordando.
— Tem gostado de Palo Alto?
— É um pouco recente para falar e é diferente de estar em Los
Angeles, onde tenho toda a minha família, mas, sim, tem sido muito bom
ficar… longe.
Nós nos olhamos, e ele pareceu entender sobre o que eu estava
falando.
— Achei que um dos seus seguranças que treinam com a gente iria
vir hoje — observou e mordeu seu lanche natural.
— Eu os dispensei hoje.
— Sério? Não ficaria confortável com a presença deles? —
questionou, e eu sorri satisfeita por ver que a conversa estava fluindo.
— Eles seriam bem discretos, mas — pensei um pouco —, promete
não contar a ninguém o que vou te falar agora?
Ele estendeu o mindinho.
— Quem te ensinou isso? — perguntei aos risos.
— Nicholas, claro, ele disse que sempre faz isso com os primos —
explicou.
Juntamos nossos mindinhos, e, depois de comer um pedaço do
lanche, comecei a falar:
— Alec passou a ser nosso segurança oficial repentinamente, foi na
mesma noite de um jantar com pessoas de que… Cameron desconfiava.
Busquei algum vestígio de incômodo, mas ele acenou com a cabeça
para que eu continuasse.
— Alec sempre se refere ao meu pai como se fosse um terceiro,
entende? Ned tem mais o costume de se referir ao meu pai como um chefe,
mas Alec não, e ele fala dos Styles com mais firmeza.
— Você acha que Alec é, na verdade, segurança do seu ex-
namorado? — indagou, e eu balancei a cabeça positivamente. — Mas…
não tem muita informação para pensar isso, não acha?
— Acho. Mas é o seguinte: na quinta-feira passada foi a folga de
Ned, e eu tomei café apenas com Alec; durante nossa conversa, perguntei
sobre a noiva dele, porque meu pai disse que ele tinha uma noiva, só que
nunca falava sobre ela, e eu acabei conseguindo tirar dele que ele só falou
que era compromissado porque foi uma exigência do cargo e que tinha
resolvido tudo com o meu pai antes de viajar. Porém, meu pai nunca teve
essa exigência, tanto que Ned é meu segurança e nunca precisou falar que
tinha um relacionamento.
— Mas Cameron Styles certamente exigiria isso?
— Sem dúvida alguma — confirmei.
— É uma grande possibilidade.
— Mas ainda não tenho certeza, estou apenas desconfiando —
admiti.
Ele me olhou por instantes e afastou uma mecha do meu cabelo.
— Tenho certeza de que vai descobrir tudo.
— Eu já falei demais, sua vez — eu disse, na tentativa de quebrar o
clima.
E então ele começou a falar sobre a faculdade, o time, o que gostava
de fazer, como foi sair do Canadá aos quinze anos e sobre sua família.
A noite estava um tanto agradável.
— Amanhã temos aula, não quero que vá outra vez desanimada para
Stanford — brincou estendendo as duas mãos.
Aceitei-as, e ele me ajudou a levantar. Arrumamos tudo e seguimos
para o carro.
— A noite foi ótima, Manson, muito obrigada — agradeci enquanto
o via arrumar as coisas no porta-malas.
— Podemos repetir, se você quiser — disse fechando o porta-malas
e parou na minha frente.
— Eu…
— Não precisa aceitar agora — alegou.
Nós nos olhamos por instantes, e ele passou os dedos em meu rosto,
para em seguida se aproximar mais.
Pela primeira vez, eu me senti nervosa ou apreensiva.
— Se você me disser que não quer, eu me afastarei agora —
prometeu.
— Não vou dizer isso — respondi, e logo ele me beijou.
Quando lhe dei passagem, eu me dei conta do que Nicholas e Neji
tentaram me dizer hoje cedo. Era inegável que Manson era uma ótima
pessoa, que ele beijava bem, que era bonito, braços fortes e uma pegada
incrivelmente boa, mas não foi nada disso que me fez vir aqui. Foi a minha
necessidade egoísta de esquecer Cameron. Tinha acreditado que as horas
com Manson eram o suficiente, que deixá-lo me beijar valia a pena, porque
não me deixariam pensar em Cameron, mas era totalmente o contrário.
— Desculpe-me — pedi interrompendo o beijo.
— Não… não precisa se desculpar — disse me soltando. — Eu
achei que você queria, por isso…
— Você não fez nada de errado, Manson, não foi isso.
Ele me observou por instantes.
— Estraguei nossa noite, eu sei, mas…
— Ei, não estragou nada. Vamos, vou levá-la para casa — disse com
a voz calma e abriu a porta para mim.
A volta para a casa tinha sido tão tensa quanto a ida para as colinas e
agora parecia um pouco pior. Era quase como se eu sentisse Manson lendo
meus pensamentos e decifrando que tinha sido usado.
Ele abriu a porta do carro, e, quando eu saí, ficamos segundos nos
olhando.
— Não queria deixá-la chateada.
— Não deixou — afirmei. — Eu quem não devia tê-lo deixado me
beijar — disse, um pouco sem pensar.
— O quê? Isso não faz o menor… — ele repentinamente parou. —
É o Styles, não é? — questionou em voz baixa. — Todos me disseram sobre
você e ele, mas decidi não acreditar que fosse tão forte assim, sendo que no
fundo eu sabia que isso poderia acontecer, Nicholas me avisou.
— Eu sinto muito — disse tentando segurar todas as emoções
confusas que me rondavam. — Não era para ser assim, ninguém devia tê-lo
avisado, eu devia ter sido sincera com você.
— Rebecca — ele tocou minha mão —, você precisa ser sincera
consigo mesma, os outros vêm depois.
Suas palavras vieram como dois socos no meu estômago, e eu não
soube o que falar.
— Não fique se culpando por hoje, foi uma noite ótima para mim e
espero que tenha sido para você. Não ficarei no seu caminho, sei que
precisa do seu espaço.
Pensei em rebater suas palavras, mas ele estava certo. Eu não tinha
traído Cameron, tinha traído a mim mesma achando que podia fingir ter
superado tudo, mas não.
— Você me entendeu antes que eu pudesse me entender — observei,
e rimos. — Obrigada, de verdade, por hoje e pelas suas palavras, mas, sim,
preciso do meu espaço.
Ele me olhou sorrindo, mas seus olhos mostravam decepção.
— Até mais, senhorita.
Entrou no carro e saiu.
E eu chorei quando fiquei sozinha, não por Manson nem por
Cameron. Pela primeira vez desde que cheguei a Palo Alto, não chorei por
ninguém que não fosse eu mesma, a bagunça em que eu estava.
Tinha sido uma hipócrita, julguei Natalie quando pensei que ela
estava usando Elliot para esquecer Andrew, sendo que, na verdade, eu quem
fiz isso. Estava tudo errado.
Sabia que, para começar a me reorganizar, eu precisaria chorar pelo
menos uma vez por mim, precisaria ser sincera comigo, eu não estava bem
e respeitaria o meu tempo para melhorar.
“Às vezes você faz escolhas na vida, e as vezes as escolhas fazem você. Essa é a beleza das coisas.”
Se Eu Ficar – Gayle Forman
— PARABÉNS, DOCI…
— Por favor, não — pedi puxando Neji e o fazendo parar seu
anúncio.
— Mas é seu aniversário!
— Sim, mas não precisa anunciar para toda a Stanford.
— Você é Rebecca Malik, acha mesmo que ninguém vai lembrar?
— Acho — disse firme, mas, ao nos olharmos, começamos a rir.
Pegamos nossos pedidos e nos sentamos em nosso lugar típico
próximo à janela.
— O que pensa em fazer hoje?
—Vou ficar em casa e assistir a Harry Potter.
Neji me olhou desacreditado.
— É seu aniversário, mulher, por Zeus, precisamos fazer algo hoje
— implicou.
— Você trocou Deus por Zeus? — notei, e ele riu concordando.
— Já pensou em ficar loira?
— Não…?
— Natalie disse para levá-la ao salão, e sua mãe concordou na
ligação, então vou levá-la ao salão.
— Mas…
Ele me olhou e abriu um sorriso maroto.
— Abby — chamou a dona da lanchonete em que estamos, e a
mulher se aproximou. — Não acha que Rebecca ficaria linda com algumas
mechas loiras?
— Com certeza, combinariam muito com você, docinho.
Pensei um pouco sobre o assunto e tentei mentalizar minha imagem
de cabelos loiros.
Neji ainda me olhava esperançoso para saber minha resposta.
Amava-o natural, mas ter uma mudança a mais me parecia algo bom.
Antes que pudesse responder a ele, meu celular começou a tocar em
uma chamada de vídeo de minha mãe. Abby se retirou após piscar para
Neji, como se fossem melhores amigos, e fez o mesmo para mim.
— Parabéns para você, nesta data querida, muitas felicidades,
muitos anos de vida! — Ela, Isaac e Jeff cantaram assim que atendi à
ligação.
Senti-me aliviada por estar na parte vazia da lanchonete.
Acabei deixando lágrimas de saudades escorrerem em meu rosto ao
ver que eles usavam chapeuzinhos típicos de aniversário, até mesmo Louis
e Eloise usavam, e mamãe colocou um minichapéu em Kurama, que batia
nele com a patinha, tentando tirá-lo. Louis e Eloise estavam em andadores
e, ao meu ouvirem, ficaram eufóricos.
— Ah, gente, muito obrigada, sinto a falta de vocês — afirmei os
olhando.
— A gente te ama, irmã — Isaac disse.
— Feliz aniversário, caramelinho — Jeff completou, e Isaac bateu
no chapéu de Jeff.
Os dois começaram a correr pela casa.
— Minha querida, eu te amo e quero desejar o mais lindo dos
aniversários. Orgulho-me de onde você chegou, e saiba que almejo que
você alcance tudo o que deseja. Sei que não fui nem sou a melhor mãe do
mundo, tenho muito o que melhorar, mas você é minha preciosidade e eu te
amo muito. Feliz aniversário, docinho — ela sorriu e limpou os olhos das
lágrimas que escorriam.
Kurama bateu a patinha no celular e começou a morder o aparelho
até mamãe afastá-la.
— Obrigada, mãezinha. Eu te amo muito!
— Seu pai não está no momento por conta do trabalho, mas acredito
que vai ligar para você. Planejamos viajar e encontrá-la, mas as crianças se
recuperaram da gripe e achamos conveniente não viajar agora que as
imunidades delas estão baixas.
— Tudo bem, mãe, eu entendo. Estão todos bem? E tia Eliza? —
questionei me recordando de que ela ganhou bebê há duas semanas.
Foi tão rápido de março para cá, que, quando Natalie me disse sobre
seu irmãozinho, Luke, quase não acreditei.
— Sim, está ótima. Ela, Arthur e as crianças estão radiantes de
felicidade. Luke é a coisinha mais linda, você precisa vê-lo — disse
animada. — Achamos que ele vai ficar muito parecido com… — Mamãe
parou de falar.
Achei graça.
— Cameron?
— Desculpe — pediu um pouco sem jeito.
— Tia — Neji chamou e pegou o celular da minha mão.
— Oi, querido, está cuidando da docinho?
— Com certeza! Estou tentando convencer a Rebequinha do Mel a
ficar loira.
Revirei os olhos fingindo irritação.
Rebequinha do Mel era o jeito que Neji me chamava desde que
ficamos mais próximos. Deborah, Felicity e Nicholas também me
chamavam assim quando queriam me irritar. Olhei minha mãe, que não
parava de rir.
— Rebequinha do Mel é ótimo! — balbuciou após se acalmar das
gargalhadas. — E acho que ficaria incrível — afirmou.
— Nunca fiz nada no cabelo, ainda não estou certa disso.
— Vou falar com o cabeleireiro que conheço em Palo Alto e vou
deixar marcado para hoje, após seu horário de aula. Se decidir fazer, vai
ficar perfeito, e seus cabelos serão muito bem-cuidados. Não se preocupe,
Robby é ótimo para isso, se você quiser, claro — disse animada.
Neji me olhou tão esperançoso quanto minha mãe.
— Ok, eu vou! — Os dois comemoraram me ouvindo.
— Maravilha, vou deixar agendado.
— Becca, precisamos voltar para a aula — Neji comentou olhando
as horas na tela do celular.
— Ah, sim, mãe, preciso ir. Eu te amo.
— Eu te amo, docinho. Até mais!
Desliguei a chamada, e começamos a nos organizar para sair.
— Felicity e Deborah não falaram nada sobre seu aniversário? —
Neji questionou.
— Não as vi hoje, mas…
— Então, hoje é o aniversário da garota mais gata de Stanford —
ouvi a voz de Matteo anunciar enquanto caminhava em nossa direção, junto
com dois garotos do time, que estavam sempre com ele.
— É, sim, mas precisamos ir! — afirmei me levantando
rapidamente e puxando Neji.
— Ei, calma, meu doce — Matteo pediu me puxando pela cintura, e,
por instinto, empurrei suas mãos. — Não posso nem mesmo te dar um
abraço de aniversário?
— Não, não pode, Matteo.
Passei por ele sem o olhar e finalmente saí da lanchonete. Matteo
era asqueroso e nojento. Eu não era a única garota que ele assediava, mas,
depois que descobriu que eu e Cameron tínhamos nos separado, ficou pior.
Ele procurava brechas para conseguir falar comigo, e, para a minha
felicidade, eu estava sempre acompanhada.
Sabia que suas intenções podiam ser por ele ser um safado, mas
nada tirava da minha cabeça que era por Cameron, principalmente por ele
ter assediado Natalie.
Quando cheguei, Manson ainda era amigo de Matteo, mas, depois
de três semanas, Nicholas me contou que, mesmo que os dois se
conhecessem desde a infância, Manson não conseguia manter mais a
amizade com Matteo, soube que eles brigaram, mas nem mesmo Nicholas
ou Felicity souberam me dizer o motivo.
Depois do segundo período, saímos do prédio onde os alunos do
colegial estudam e seguimos para a minha casa, porque não iria para o
ensino superior hoje.
— Vou trocar minhas roupas, será rápido — avisei subindo as
escadas.
— Um, dois, três… — ouvi Neji contar e acabei rindo.
Ele fazia de tudo para me acelerar quando combinávamos de sair.
Assim que entrei no quarto, vi uma caixa retangular na cor azul-
petróleo que estava em cima da mesa de estudos.
Desconfiada, aproximei-me e a analisei, torcendo para que não fosse
uma das típicas brincadeiras de Nicholas.
Abri o fecho da caixa e observei alguns papéis dobrados que
pareciam ter sido amassados anteriormente; não possuía assinaturas, mas,
de alguma forma, eu sabia de quem eram.
Puxei as cartas sentindo algo deslizar entre os meus dedos e se
enganchando. Meu coração disparou, e eu senti como se fosse sair pela
boca a qualquer momento. Dei passos para trás até sentir a cadeira, que era
conjunto da mesa de estudos, sentei-me e observei o pingente de chave sem
consegui conter as lágrimas.
Era o colar de chave que Cameron havia me dado no início do nosso
namoro falso, no início de tudo. Ele… não era possível, como isso tinha
chegado aqui? Fechei meus olhos e apertei o colar em minha mão. Voltei a
minha atenção para os papéis amassados e, emotiva e eufórica, desdobrei a
primeira folha, começando, então, a ler:
Um rabisco estava feito nas outras linhas, deduzi, então, que ele
desistiu de continuar a escrever.
— Rebecca, precisamos ir — ouvi Neji avisar.
Suspirei e, às pressas, devolvi as cartas para a caixa, deixando o
colar junto delas. Fechei-a e a escondi atrás de meus livros, mesmo que
ninguém fosse mexer.
Troquei minhas roupas e saí do quarto, sabendo que não conseguiria
parar de pensar nas cartas, no colar que voltou para mim e em Cameron.
Sabia que era impossível Cameron ter deixado a caixa aqui: se ele
estivesse em Palo Alto e entrasse em meu quarto, eu saberia, não saberia?
— Finalmente, Rebequinha do Mel — disparou me olhando.
— Está tudo bem, senhorita? — Alec questionou me analisando.
Encarei-o por segundos. Alec. Se eu estava certa, ele era um
segurança dos Styles que meu pai, por algum motivo, permitiu me vigiar e
sem dúvidas ajudaria Cameron.
— Vamos, vocês já demoraram demais — brinquei.
Neji bufou fingindo irritação ao passo que Alec riu baixo. Seguimos
para o salão, mas nada me concentrava. Eu precisava ler aquelas cartas,
urgentemente.
Em Palo Alto, Estados Unidos,
Qui., 19h44, novembro
Skyfall - Adele
Mamãe se sentou ao meu lado com meu pai, tia Rosie também ficou na
mesma mesa que a gente, junto com a diretora López, sua esposa.
— Me diga que você não ficou com Cameron durante o desfile — mamãe
cochichou em meu ouvido, em português.
Não sabia bem definir o que tinha acontecido, e poderia ser considerado
pior que um beijo.
Cada passo que dava em direção à princesa parecia um para a minha ruína.
Astrid se virou para mim, mas não tão rápido quanto Cameron. Ela o olhou,
com a mesma curiosidade que aparentava ter durante o desfile.
Peguei uma taça de champanhe da bandeja do garçom que passou por perto
e me segurei para não virar todo o líquido de uma vez. Meu corpo se
contraia intensamente como se estar perto de Cameron me fizesse sentir
tudo o que se passou há minutos.
— Não vou deixar que você a coloque nisso — ouvi Cameron dizer a
Astrid.
— Eu adoraria — prontifiquei-me.
— Rebecca…
Seguimos para uma espécie de cabana meio aberta, enfeitada com luzes por
dentro e por fora, com alguns banquinhos para se sentar e com a própria
parede do lugar como apoio. A abertura era grande, qualquer pessoa
poderia encontrar esse lugar, mas estava vazio.
— A chave?
E respirei fundo.
— Digo o mesmo, alteza — brinquei fazendo uma reverência para ela que
deixou escapar uma risadinha e colocou a mão cobrindo o rosto para
disfarçar. — Boa noite, casal — despedi-me e caminhei sentindo o olhar de
Cameron em mim.
Em Paris, França,
Os convidados estavam tão animados que ficou claro que o jantar não
acabaria tão cedo.
— Agora eu entendi por que Ned e Alec não estão em cima de mim hoje —
eu disse ao ver Andrew me esperando na entrada do salão.
— Entendo — deduziu.
— Ao quê?
— Ned, pode ficar no lugar de Alec, por favor? Quero que ele entre
comigo.
A princesa não estava muito diferente de mim, mas continuava com sua
graciosidade, e não parecia confusa quanto à situação de Deborah.
Puxei minha mochila, que Alec trouxe com roupas para Deborah, parei no
pequeno cúbico onde ficava a porta do banheiro e bati.
— A culpa não é sua, e isso não significa que você seja feia — assegurei.
Mesmo sem saber qual seria sua reação, comecei a tirar sua maquiagem.
Ela me olhou com um brilho diferente nos olhos, e me questionei o motivo
daquilo.
Pude perceber que Astrid tentou disfarçar sua frustração quando arrumou
sua postura.
— É tão perceptível o amor que Cameron sente por você. É tão natural que
qualquer pessoa por perto consegue ver, e nem precisa de muito esforço —
ela sorriu. — Isso muda tudo — sussurrou, como um segredo entre nós
duas.
Uma mulher entrou no banheiro assim que abri a porta, depois de duas
batidas, e toda a sua atenção foi voltada à princesa.
Tudo parecia em ordem, exceto eu e meu vestido. Não estava sujo, e todas
as pedrinhas estavam presas a ele, mas estava molhado e pesado. Por ser
tomara que caia, temi que em algum momento me deixasse em apuros.
— Alec, você pode ficar de vigia esta noite com Deborah? Aqui é seguro,
mas, se ela precisar de algo, gostaria que alguém estivesse por perto.
— Senhorita, não seria melhor que eu ficasse de vigia para você? Sei que a
segurança da mansão é rígida, mas todo cuidado é pouco — Alec disse.
— Vou pedir para Frederick ficar de vigia no seu lugar, Alec — Cameron
interveio.
— Darei um jeito, Alec, não se preocupe. George ficará no seu lugar, com
licença — eu disse, ignorando Cameron e vendo seus olhos cheios de
irritação.
Andrew me olhou, indicando que me seguiria, e tudo o que fiz foi balançar
a cabeça negativamente.
— Não, senhorita. Eu e Alec quase não ficamos de guarda para você hoje,
apenas quando ficou do lado de fora do salão, então…
— Mas…
— Não há problemas.
Suspirei.
Ele fez uma careta e abriu a porta do meu quarto para mim. Olhei-me no
espelho e xinguei mentalmente o fecho do vestido que estava emperrado.
De todas as formas, tentei abri-lo, mas o vestido era superapertado.
Ouvi batidas na porta que fizeram com que meu coração disparasse, por
algum motivo sabia que era Cameron.
Soltei meus cabelos e me olhei outra vez no espelho, caminhei até a porta e
a abri calmamente como se esperasse qualquer pessoa, exceto ele. Encarei-
o por segundos, enquanto me questionava como, depois de toda essa
bagunça, ele ainda estava tão bem-arrumado e… lindo.
— Posso entrar?
Ele passou a língua nos lábios deixando aparecer um sorriso safado, quando
me olhou de cima a baixo, sabia que faria alguma insinuação. Dei-lhe
passagem, e, com o maldito sorriso vitorioso, ele entrou.
Por segundos, pensei que ele não se moveria, até ouvir seus passos.
Afastei meus cabelos, colocando-os para o lado, senti seus dedos passando
pelo fecho e o abrindo com facilidade. Em seguida, seu toque veio ao
encontro das minhas costas, e eu prendi a respiração.
— Sei que sabe sobre o meu relacionamento com Astrid e não quero que dê
falsas esperanças a ela de que pode fazer alguma coisa para mudar nossa
situação. Observei-o por instantes, com raiva e frustração.
— Rebecca…
— Não toque em mim! — alertei sentindo meu sangue borbulhar em
minhas veias.— Não enquanto tem outra.
— Astrid foi bem clara em dizer “meu futuro noivo” — rebati tão baixo
que fiquei em dúvida se ele havia me ouvido.
— Foi necessário.
— Quer que eu acredite que não terá noivado sendo que, no fim, vai acabar
acontecendo, mas também não quer perder sua diversão comigo. Como
quer que eu acredite que não é isso quando as evidências deixam claro que
sim?
— Vá embora!
— Pare de agir feito uma criança mimada, Rebecca! — disse com firmeza.
Gelei. E ele continuou a dizer:
— Não aja como uma desequilibrada, a situação não é tão simples como
pensa para ficar fazendo birra assim!
Ele ficou me olhando por instantes assimilando tudo o que havia ouvido.
— Se você vai noivar com outra mesmo, se nosso amor não é suficiente
para fazê-lo permanecer, se não vai me contar o que aconteceu, então vá
embora, saia deste quarto agora! Não vou ser sua diversão…
— Chega!
— Se quer insinuar coisas sobre o meu passado, dizendo que o que tive
com você foi só diversão, vá em frente, Rebecca, mas não vai conseguir
respostas dessa forma — ele soltou a respiração. — Ao contrário da
princesa, não posso falar sobre o assunto apenas por desejo meu. Entendo
que tudo o que eu lhe disse colaborou para pensar assim, mas, de todas as
pessoas, eu tive a certeza de que você seria a primeira a decifrar que foram
palavras falsas, que era tudo mentira, porque eu jamais a deixaria, Rebecca,
jamais! Mas… você tem optado por se defender com coisas do meu
passado que sabe que eu jamais, jamais, faria com você…
— Você disse que não desistiria de mim, mas não imaginava que me
trataria como alguém que só a usou, uma pessoa a ser desprezada assim. A
sua raiva a faz me amar menos a ponto de pensar dessa forma?
— Cam…
Ele me olhou pela última vez e saiu do quarto sem dizer nada, e eu preferia
que tivesse dito. Queria que ele olhasse para trás, que eu pudesse consertar
o que falei, mas era tarde.
“O tempo não estava a nosso favor. Isso não é um adeus, é simplesmente um te vejo mais tarde”.
See You Later – Jenna Raine
Papai cancelou toda a agenda dele para ficarmos juntos durante o café da
manhã e almoço, mas, com o cair da tarde, foi impossível evitar que o time
viesse para a casa, e era uma coisa que eu não queria.
Quando Natalie chegou com Elliot, corri para abraçá-la. Abracei Elliot e
voltei para Natalie quando ele foi até os meninos.
— Deus sabe o quanto eu pedi para você se formar comigo — ela disse me
abraçando outra vez.
— A chorona não para nunca! — ouvi Josh provocar, e Natalie jogou uma
almofada nele quando se sentou novamente.
— Ela vai para a casa do rei dela depois daqui — Natalie provocou, e todos
me olharam, ouvi a gargalhada dos meus pais e a comemoração de Isaac.
— Ok, mas Cameron disse que não iria a esse baile — Eric interveio.
— Minha irmã voltou, tenho certeza de que ele vai — Isaac disse me
abraçando, e todos riram alto.
Tentei interferir no assunto, mas eles já falavam mais alto sobre os planos
para o baile. Quando todos foram embora, horas depois, subi para o quarto
com Natalie, depois de ser facilmente convencida a dormir na casa dela.
— Por isso Cameron não queria que eu soubesse de nada, ele sabia que eu
te contaria. Eu juro, não sabia, não conheço Astrid e não sei por que meu
irmão está nisso, mas sei que tem um meio de acabar com isso, e você pode
ajudar, é tudo o que sei, sinto muito. — Ela abaixou o olhar.
— Tudo o que eu mais quero — ela me soltou para nos olharmos — é ver
meu irmão feliz, ele fez muito por mim.
— Confusa, mas acho que não tanto quanto você — disse e forçou um
sorriso.
— O foco aqui não sou eu, amiga. — Peguei em suas mãos quando ela
começou a olhar para baixo.
— E eu também estou aqui por você, mas sei que ainda não pode me contar
muita coisa — disse desanimada.
— Papai tenta me deixar bem mesmo que a situação esteja acabando com
ele, então me aconselhou a estar com você quando precisar, mas a não
pressioná-la a contar nada, porque você não podia ainda. — Ela soltou a
respiração. — Então, posso assegurar que estou aqui mesmo que para saber
poucas coisas.
Abracei-a.
Natalie pegou minha mochila e levou ao seu quarto avisando que deixaria
meu remédio no pequeno frigobar que tinha em seu quarto, quando, na
verdade, estava no quarto de Cameron.
Peguei a pequena no colo e abracei Ryan com um braço, feliz por ter
conquistado os dois.
— Ano que vem volto para a faculdade, mas não vou embora da sua vida,
garotinho — brinquei fazendo cócegas nele com a mão desocupada.
Natasha deu dois beijos em minha bochecha, pediu para descer e foi direto
para o colo de Cameron.
— Ah, querida, que ótimo que veio! — tia Eliza disse ao me abraçar e me
fez caminhar até Meredith.
A mulher se levantou e ficou paralisada a me olhar.
Não conseguia evitar olhar Cameron uma vez ou outra pelo canto dos olhos
enquanto Luke, o Styles mais novo, estava em meu colo, rindo sem motivo
algum.
Tomei coragem para começar, mas foi em vão, pois ele iniciou:
— Eu sinto muito pelo nosso último encontro, eu… não queria fazê-la se
sentir culpada. Não te contei nada, estive com você na noite da luta, e não
falei o que estava acontecendo. Não quero me justificar, mas eu não tinha
certeza de que iria ao desfile e muito menos se seria a companhia dela,
mas… Rebecca, eu sinto muito. — Sua voz falhou.
— Não, meu dever era apenas ficar longe de você, e eu não consegui. Sou
um idiota e covarde…
— Desculpe-me, não devia beijá-lo assim, mas… meu amor, ninguém tem
o direito de jogar nada na sua cara, muito menos eu, Cameron, e fui
totalmente errada.
— Você me perdoa? — pedi. — Sei que o perdão não é de uma hora para a
outra e vou entender se quiser espaço, mas… — Ele balançou a cabeça
negativamente.
— Você não precisa pedir perdão, sei que a situação tem sido muito
confusa.
— Mas… não devia ser assim — afirmei com a voz trêmula —, não somos
assim, Cameron. Passamos por muitas coisas, e você sabe muito de mim, e
eu de você, então eu não devia ter usado manipulação. — Limpei minhas
lágrimas, mesmo que outras estivessem aparecendo. — Sei que, quando
fica encurralado, você explode… — minha voz falhou, e eu precisei pausar
para continuar falando — e usei isso para fazê-lo falar, mas eu não devia ter
feito isso. Mesmo confusa, com raiva e irritada, amar não é assim, e eu…
sinto muito — disse, quando consegui levantar meus olhos para encará-lo.
— Rebecca, não há espaço em mim que sustente rancor por você nem
qualquer outro sentimento ruim. Mas obrigado por pedir perdão.
— Eu o quero, Cameron, e não vou tentar negar isso, mas quero a verdade
também. Sei que é um casamento arranjado, que seu bisavô o envolveu
nisso antes mesmo de nascer, e Astrid não tinha um ano quando a
colocaram nisso e…
Peguei em suas mãos e olhei seus punhos, que estavam com marcas de
cortes e cicatrizes que não sairiam nunca mais.
— Isso não pode continuar, olhe o que está fazendo consigo mesmo, não
dorme, não se cuida. Acha que vai mudar depois do casamento?
Nós nos encaramos, e, quando ele abriu a boca para falar, o interrompi:
— Você não vai se casar para parar outro casamento, não vai ser assim,
encontrarei outro jeito de impedir esse noivado, e, mesmo que não me
queira mais quando eu resolver tudo, ainda assim vai estar segura, e só isso
me importa! — Revirei os olhos.
— Quando é que você vai entender que estou disposta a ficar com você?
Sua mão apertou meu pescoço, e ele passou a língua em meus lábios para
mordê-los.
À medida que o beijo ficava mais lento, ele começou a ficar ofegante, e sua
pegada mais forte e intensa.
— Há tantas coisas que queria compartilhar com você como seu esposo,
coisas que queria fazer — sussurrou passando os lábios em meu pescoço
—, coisas que queria fazê-la sentir… — seus beijos em meu pescoço eram
leves e desejosos, e ele mexeu a cintura; arranhei suas costas e as apertei
—, mostrar-lhe o quanto a amo, o quanto meu corpo precisa do seu e fazê-
la minha todos os dias… todas as noites. — Seus lábios desceram até a
minha clavícula.
Levantei a cabeça e lhe dei passagem para beijar novamente meu pescoço.
Estava totalmente entregue a ele, em suas mãos.
—… eu só queria… eu só precisava…
Ele empurrou mais seu corpo contra o meu e arfou com os lábios contra os
meus quando apertou o lençol embaixo de mim. As batidas na porta me
fizeram acordar, e eu e Cameron nos olhamos, ofegantes. Ainda perplexa e
desorientada, eu o vi sair de cima de mim.
Levantei-me para correr até o banheiro, mas ele me puxou pela cintura.
— Mas…
— Algum problema?
— Vô…
William não esperou nenhuma resposta, mas saiu sem disfarçar sua
felicidade. Cameron fechou a porta, caminhou até mim e tocou meus
cabelos.
Seus dedos acariciavam meu rosto, passando levemente por cada traço, e eu
não poderia me sentir mais em casa.
— Sim, tudo. Sei que esperar ainda mais é um pesadelo, mas… não posso
falar aqui.
Soltei a respiração.
— Eu vou te contar tudo — disse sem tirar os olhos dos meus. — Prometo,
principalmente a parte que me fez querer afastá-la de tudo isso.
— E não vai ser motivo o suficiente para me fazer desistir — ele riu me
abraçando e subiu a mão em minha nuca, até que seus dedos se afundassem
em meus cabelos.
— Foi um baque ter ouvido aquilo, mas sei que agi como uma
desequilibrada, porque estava claro que a situação era muito mais séria e
vai muito mais além de um luxo seu, mas relacionamento tem disso,
aprender a lidar um com o outro.
— Não vou estar compromissado com Astrid, meu avô vai tentar achar
uma brecha para reivindicar esse casamento. O único compromisso que
tenho é com você.; Astrid sabe que estou em busca de uma solução.
Dei-lhe um selinho.
Concordei, então saí da cama, e ele caminhou até a porta logo saindo. Sorri
ao ver que, até mesmo no seu jeito de andar, ele parecia relaxado.
Peguei uma de suas blusas que ficavam folgadas em mim e o esperei para
pegar um de meus shorts. Troquei minhas roupas e saí do banheiro, vendo-
o de short, o que aparentemente seria a única peça que vestiria para dormir.
Envolvi meus braços em seus ombros e me senti fraca pelos seus apertos
em minha cintura, e uma vontade enorme de deixá-lo tirar minhas roupas
me incendiou.
SIM!
— Que seja, precisamos dormir, amanhã você tem uma final para ganhar!
Puxei seu braço para que ficasse envolto em minha cintura, e, tentando usar
o tom mais suave de minha voz, comecei a cantar enquanto acariciava seus
cabelos e arranhava suas costas com leveza, e ele adormeceu me abraçando
com firmeza, e o sentimento de segurança e felicidade dominou meu corpo
e me deixou adormecer junto dele.
“Esta é a nossa vida e a estamos vivendo bem virando noites na cidade, aprontando um caos. Se
tudo o que temos é esta noite, vamos fazer isso direito”.
Paradise - Bazzi
A diretora López havia me dito que era para ficar dentro do campo,
próximo de onde as líderes ficavam e junto de Neji, onde era um ótimo
lugar para assistir ao jogo.
Isaac estava se achando com Ryan por estar com meu pai e tio
Arthur dentro do campo, mamãe e tia Eliza optaram por não vir ao campo e
por assistir à partida de casa com as crianças.
A música de entrada do time rival iniciou, e o time Buccaneers
entrou animadamente, deixando claro que era o time forte que todos diziam
ser.
As líderes eram tão fortes quanto o time e provocavam a torcida dos
Warriors, a capitã deles encarou Melissa e sorriu provocativa.
A coreografia muito bem ensaiada dos Buccaneers se finalizou, e a
música típica da entrada dos Warriors começou.
Cameron foi o primeiro a entrar, seguido pelos meninos, todos
muito sérios, e pararam no meio do campo. Tudo ficou silencioso, e todas
as luzes se apagaram, até que a música Run On The World, da Beyoncé,
explodiu junto com as luzes se acendendo, e foi a hora em que as líderes de
torcida entraram fazendo suas danças que envolviam saltos-mortais,
estrelinhas e outras coisas.
Em um remix, a música mudou para Single Ladies, e eu dei um grito
de animação junto com Neji.
— Meu Deus, meu Deus, meu Deus! — repeti animadamente vendo
todos do time dançarem.
Era incrível que eles dançassem mesmo sem gingado nenhum,
exceto Cameron, Elliot, Peter e Josh, que eram os mais soltos nas danças.
Os líderes de torcida dançavam numa alegria contagiante, que fez Neji
começar a imitá-los junto comigo. O time parecia tão focado em não errar
os passos que se tornou fofo.
Tio Arthur e papai balançavam as mãos, fazendo os mesmos
movimentos dos meninos em Single Ladies; as arquibancadas estavam com
as torcidas animadas onde até os torcedores do time rival não conseguiam
ficar parados.
Quando terminaram de dançar, todos aplaudiram de pé. Cameron
correu até mim, e a câmera que gravava o jogo de hoje para passar ao vivo
em um canal o seguiu.
— Espero que tenha gostado, fizemos por você — disse ao me
puxar pela cintura.
Suas bochechas estavam com duas listras pretas muito bem-feitas,
seu uniforme estava impecável, e, com a mão desocupada, segurava o
capacete.
— Vocês são incríveis! — afirmei.
Ele sorriu e selou nossos lábios, ouvimos os gritos e suspiros
apaixonados ao nosso redor e nos olhamos rindo.
— Sei que você vai ser incrível hoje, mas boa sorte, meu capitão —
sussurrei enquanto o olhava.
— Obrigada, minha capitã — respondeu e outra vez selou nossos
lábios.
— STYLES! — papai o chamou.
Cameron me deu uma última olhada, me soltou e correu na direção
dos Warriors; observei-o até que chegasse lá e me sentei em um dos
assentos da bancada.
Melissa estava junto dos líderes; olhei-a e vi que conversava
animadamente com o pessoal; quando me olhou, deu um aceno e abriu um
sorrisinho que foi retribuído.
Por mais animada que estivesse, era impossível não ficar inquieta ao
pensar no beijo ao vivo e nos problemas que poderiam acarretar a Astrid e
Cameron, principalmente a Astrid, no momento, por ter que lidar com seu
pai, o rei Erick.
O jogo começou, e os Buccaneers eram mais violentos que os outros
times com que os Warriors competiram; as investidas eram específicas,
variando de — principalmente — Cameron, depois Elliot, Peter e Josh.
Depois do segundo tempo, o placar estava muito acirrado, e os
Warriors ganhavam por 28 a 24, e bastava um passe para o time da casa ser
ultrapassado.
Levantei-me do banco antes de começar o terceiro tempo. Papai
havia esperado o tempo certo para aconselhar o treinador a agora tirar
Kevin e Oliver, para colocar Brian e Adam, e para substituir Jack por Eric.
O terceiro tempo iniciou, e os Warriors pareciam ter guardado tudo
para os dois últimos tempos: nada os parava, e eles impediam qualquer um
de chegar perto do jogador que estivesse com a bola.
O quarto e último tempo começou com o capitão do time rival
empurrando Cameron com força, o que o fez cambalear para trás, e ele,
com toda a sua falta de paciência, foi para cima do garoto e o empurrou de
volta, fazendo-o se encontrar com o chão.
Antes que uma briga começasse, Elliot e Peter puxaram Cameron, e
o juiz interveio. O jogo voltou, e dessa vez não tinha espaço para os
Buccaneers fazerem qualquer pontuação: a barreira que os meninos criaram
contra o time rival foi decisiva.
O jogo estava quase no final quando Cameron jogou a bola para
Peter, e Peter para Josh, que correu como um foguete.
— Isso, Josh, ISSO! — Gritei, e, como esperado, Josh fez os
últimos pontos dos Warriors, trazendo a vitória a Liberty.
O placar terminou em 58 a 44 para os Warriors. Eu e Neji nos
abraçamos em comemoração, e todos do time correram até Josh. Consegui
ver que, quando foram para levantar Cameron, ele negou e ajudou a
levantar Josh e Peter. Chorei de felicidade com toda a festa sendo feita ao
redor do time. Em seguida, receberam a taça da vitória e as medalhas para
cada jogador. Cameron ia entregar a taça a Josh, mas ele negou.
— Você foi o melhor capitão que Liberty já teve, você segurando a
taça representa o time todo, não eu — Josh disse alto o suficiente para o
resto do time ouvir e concordar.
Cameron pareceu tão feliz ao ouvir aquilo, como se ele tivesse
conseguido cumprir sua missão com perfeição, o que me deixava totalmente
realizada pela felicidade dele.
— CAMERON, O MELHOR CAPITÃO DA HISTÓRIA DE
LIBERTY! — Elliot gritou, fazendo os meninos do time gritarem e
pularem.
— HORA DA FOTO, MENINOS! — o treinador Sanchez gritou.
Natalie o olhou por ele ter gritado no ouvido dela, e ele pediu
desculpas sem conseguir deixar de rir.
Os meninos acabaram em uma bagunça engraçada que formou uma
foto linda do time.
— CAPITÃ, VENHA TIRAR FOTO COM A GENTE — Peter
gritou.
— VEM CAPITÃ, VEM CAPITÃ! VEEEEM!!
Ouvi os outros meninos do time gritando e não consegui distinguir
as vozes de quem era quem. Um pouco envergonhada, aproximei-me dos
meninos, e Cameron envolveu o braço em minha cintura, mesmo segurando
o capacete numa mão, enquanto segurava a taça com a outra.
Os meninos começaram a se espalhar pelo campo para ir com seus
familiares, deixando-me com Cameron no meio do campo.
— Por que está tão pensativa? — Cameron questionou enquanto me
puxava pela cintura, levando-nos até nossos familiares.
Ele estava suado, e a tinta em seu rosto havia sido borrada por
inteira.
— Aparecermos juntos nas fotos e irmos ao baile juntos não vai te
dar problemas com Astrid?
Ele soltou a respiração.
— Talvez, mesmo que eu esteja solteiro e que meu relacionamento
com Astrid tenha que começar a ser desenvolvido ano que vem, para
ninguém desconfiar de que é arranjando, ainda assim posso ter problemas.
— Abaixei o olhar, e, quando tentei me afastar, ele não deixou e apertou
minha cintura com mais firmeza. — Mas não me importo, a única coisa que
quero é aproveitar cada segundo com você. — Ele beijou meu rosto.
— Odeio quando fala assim.
— Assim como?
— Como se fosse se livrar de mim, como se tivesse a certeza de que
vai conseguir me convencer a desistir da gente, como se eu fosse fácil a
ponto de me deixar ser usada e depois descartada por causa de um contrato
— expliquei e o vi revirar os olhos.
— Não foi isso que quis dizer, mas não vou discutir isso agora.
— Ótimo — rebati.
— Ótimo — repetiu.
Em resposta, empurrei seu braço de minha cintura e saí andando até
chegar em meu pai e Isaac. Carter, Nicholas e Felicity foram parabenizá-lo.
— Brigaram? — papai questionou.
— Brigar é nossa especialidade — respondi vendo que ele e Isaac
riram.
— Posso dar os parabéns para ele, pai? — Isaac questionou.
Papai concordou, e Isaac correu até Cameron. Meu pai me olhou à
espera de uma fala minha.
— Em resumo, a princesa e eu conversamos em Londres — ele
sorriu surpreso —, e ela me contou muito do que eu precisava saber, contei
a Cameron, e ele insiste em dizer que não vai me deixar entrar nessa.
— Cameron lhe contou alguma coisa?
— Depois da formatura, foi essa a única coisa que me pediu, porque
precisará ser em um lugar particular — expliquei.
Ele riu.
— Por que está rindo, senhor Nogueira?
— Porque eu não entendo o que a faz ficar brava com as falas de
Cameron, sendo que você claramente vai conseguir convencê-lo. — Ele
olhou para a frente. — O garoto mal consegue ficar sem você, confie em si
mesma, filha, tenho certeza de que tomará o controle dessa situação.
Ele me abraçou de lado e beijou minha cabeça, o que me fez sorrir.
— Prima? Iremos para a festa, e o time nos encontrará lá. Vamos
comigo? — Nicholas questionou se aproximando.
Olhei papai que deu um aceno de cabeça.
— Vou, sim — disse a Nic, e olhei papai —, te vejo em casa.
— Cuide-se, caramelinho — pediu dando um beijo em minha testa.
Seguimos para a antiga casa de Cameron, que estava exatamente a
mesma coisa desde a última vez em que vim para cá, e que, no final, não foi
vendida.
Me sentei no sofá que havia no fim da ala das piscinas, comi um
pedaço de pizza que os meninos trouxeram e fiquei um tempo com eles. Os
outros chegaram, e a comemoração ficou ainda mais animada; em questão
de segundos, estava rodeada dos meus amigos, que conversavam
animadamente.
Cameron parou em minha frente e acenou com a cabeça indicando
para eu ir para o lado e lhe dar espaço. Ele envolveu o braço em minha
cintura quando se sentou, e eu me mantive imóvel.
— Vai ficar brava comigo mesmo?
— Sim, vou.
— Rebecca — chamou, e o olhei.
— O que foi?
— Venha comigo — pediu e se levantou, deixou o copo de
refrigerante em uma mesinha que tinha no centro, onde estavam as coisas
dos narguilés dos meninos, pegou minha mão e me olhou —, por favor —
completou.
Me levantei aceitando. Caminhamos até a cozinha da casa, onde um
casal que estava aos beijos nos viu e saiu.
— Quando é que vai me entender?
— Estou tentando, Cameron. Mas saber que você está cogitando
mesmo me deixar fora disso e que fica aproveitando o agora como se fosse
me descartar não tem sido nada legal.
— Eu só quero que você espere até o fim da formatura, é pedir
muito? — indagou olhando meus olhos.
— Não é sobre isso — informei. — O único problema é agir como
se eu fosse descartável, como se não fosse nem ao menos tentar ajudar
nessa situação.
— Já disse que é perigoso, você entrar nisso não é uma opção…
— Você não pode decidir por mim — esbravejei. — Está agindo
como se só a sua opinião valesse quanto a esse assunto e se esquece de que
não sei de tudo.
Quando me preparei para sair, ele se colocou à minha frente, e suas
mãos foram em minha cintura.
— Becca — chamou baixinho, como uma súplica —, eu estou com
medo — confessou — e acabei descontando em você por acreditar que
deixá-la longe resolveria algo. Estou com medo de não poder protegê-la, de
não poder fazê-la feliz, de me casar com outra e nunca mais conseguir ter
um dia alegre e, para piorar, ainda tenho a responsabilidade de fazer Astrid
feliz, ela merece, mas não sei se consigo fazer outra pessoa feliz. Nunca
fiquei com tanto medo assim, desesperado e agoniado. Me perdoa por fazê-
la se sentir descartável, você nunca, nunca, será descartável. Eu só… não
sei mais o que fazer e estou esgotado. — Sua voz falhou na última palavra.
Ficamos nos olhando por instantes. Puxei-o para um abraço
demorado e o deixei se acalmar um pouco enquanto acariciava seus
cabelos.
— Não quero jogar tudo isso em você, sei que é uma esponja. Só
preciso descansar um pouco para conversarmos civilizadamente sem que eu
seja um completo idiota e a machuque tentando afastá-la, não quero que
pense que estou colocando meus sentimentos desesperados acima dos seus
nem quero que puxe isso para você. Vou ficar bem, prometo.
— Ei, tudo bem não estar bem, está passando por muitas coisas
também, mas me deixe entendê-lo, não fique escondendo, quero carregar
isso com você. — Passei os dedos em seu rosto. — Por que não vamos para
a casa? Assim você descansa um pouco — sugeri.
— Acho que é disso que estou precisando — admitiu me olhando e
beijou a ponta do meu nariz.
Assim que chegamos em casa, comemos, e ele avisou que passaria
em sua casa para falar com os pais. Coloquei meu pijama e me deitei na
cama pensando sobre tudo o que estava acontecendo ultimamente.
Quando Cameron chegou, nós nos deitamos e ficamos nos olhando,
enquanto trocávamos nada além de carícias sem qualquer outra intenção.
— Você está muito enganado se acha que vou deixá-lo sozinho
nessa — sussurrei.
— O que me importa é você ficar bem, segura e ter a vida com que
sempre sonhou.
Ele achava que me faria bem me afastando da situação, eu achava
totalmente o contrário e não desistiria dele.
“Me dê um pouco de tempo ou acabe com isso, vamos brincar de esconde-esconde para mudar essa
situação. Tudo que quero é o sabor que seus lábios permitem”.
Give Me Love – Ed Sheeran
— Senhorita — chamou.
Em Oslo, Noruega,
Astrid havia me dito que iríamos conversar hoje à noite, para agilizarmos
as coisas. Ela parecia tão ansiosa quanto eu para resolver toda aquela
situação, o que era compreensível, visto que toda a sua vida poderia mudar,
assim como a de Cameron.
— Ah, por favor — pediu e começou a rir. — Como foi seu jantar? Espero
que não tenha se importado em ter acontecido aqui em seu quarto com os
meninos, acredito que, quanto menos pessoas os verem, menos pessoas
saberão.
Olhei para uma direção sem motivo algum, pensando em quão confortável
e familiar era estar perto de Alec e Ned durante todo esse tempo.
— Claro, alteza.
— Exagerado?
Ela agarrou meu braço e me puxou para duas portas, empurrou-as, abrindo
o closet e mostrando tantos vestidos que não era possível contá-los, sapatos
e mais sapatos, conjuntos de terninhos e saias ou calças sociais, camisolas
longas e mais um monte de outras roupas.
— Não uso metade do que tenho, mas aqui é o meu lugar favorito.
— Astrid — toquei sua mão, pois ela não parava de apertar os próprios
dedos —, somos aliadas, estou aqui para expor tudo o que Cameron me
contou e para encontrarmos uma solução para nós, todos nós — enfatizei.
— O que seria?
Astrid soltou uma risada alta que, na frente de qualquer outra pessoa, seria
contida pelos pais ou algum familiar que fosse seu representante.
— Ele fingia muito bem, com excelência e perfeição, mas fingir é uma
especialidade para mim, não foi difícil notar. De qualquer forma, naquela
hora soube que não seríamos felizes. Talvez poderíamos ficar bem por um
tempo, mas não duraria, e o casamento se tornaria um fardo.
— Entendo.
— Preciso que me conte tudo. Não quero me casar com Cameron. Parecia
uma ótima ideia, mas, depois da noite da luta, depois do desfile… não
consigo imaginar o quão infeliz seremos. Isso vai nos destruir, Rebecca,
todos nós — disse, como uma súplica.
— Não quero ofendê-lo, mas acho que Cameron não está raciocinando
direito — iniciou, fazendo-me franzir o cenho.
Eu a segui quando ela caminhou para fora do closet. Ela ergueu o olhar em
minha direção e pegou uma pasta que estava escondida embaixo de vários
livros. Astrid a abriu e tirou de dentro alguns papéis, em seguida os leu com
atenção.
— Esta é a cópia do contrato que consegui com minha mãe, e que meu pai
não descubra isso — disse sorrindo e então apontou para a 23ª cláusula do
contrato.
Ela leu a cláusula, que tinha uma linguagem difícil, e me olhou ao começar
a explicar:
— Esta cláusula é de uma alteração feita pelo meu pai quando o avô de
Cameron quebrou totalmente o vínculo com a máfia. Então, o que esta
parte significa é que, se Cameron estiver casado com outra pessoa que não
seja eu, nossas famílias não serão obrigadas a ter vínculo matrimonial no
futuro, nossos filhos não serão obrigados a absolutamente nada, apenas nós;
no caso, você e Cameron e eu e meu marido teremos o vínculo de nossa
amizade e contratos para manter o sigilo de qualquer assunto tratado no
tempo em que vocês passarem no palácio, ou de quaisquer assuntos que
souberem, mas nossos filhos não sofrerão as consequências, acredito ser
um detalhe que ele deixou passar.
— Esse contrato só podia ser alterado uma vez, Rebecca, e meu pai fez essa
alteração por odiar o que minha avó fez comigo e por não querer fazer o
mesmo com os netos dele. Sinto muito, mas, quanto a estar sob supervisão
da máfia estadunidense, estar grávida no período de dois anos e passar anos
a serviço do palácio, nada disso poderá ser alterado — disse desanimada.
Seus olhos encontraram os meus, ela parecia tão triste quanto eu em não
poder reverter a situação, mas o meu maior medo, o de acabar
influenciando a vida dos nossos filhos, não perdurava mais.
Dei de ombros.
— Considerando que eu posso ser coroada ano que vem, eu quem vou
definir quando vocês precisarão vir para o palácio, ou seja, posso fazer com
que o tempo que seu filho tenha que ficar no palácio seja o mesmo que o de
vocês, assim eliminaremos dois anos que vocês precisariam atrasar na vida
de vocês — explicou eufórica.
— Imagino que pensar em ser mãe em um tempo tão curto não estivesse
em seus planos, e eu sinto muito por não poder mudar isso, eu precisarei ter
um herdeiro ou uma herdeira nesse tempo também.
— Eliza disse que, quando o assunto é você, Cameron tende a ser mais
teimoso que o normal na questão de achar que está fazendo o certo — ela
riu quando soltei suas mãos, e nos sentamos em um sofá do quarto.
— Turner?
— Sim, ele mesmo, mas não pensei que Cameron acreditaria que poderia
fazer algo semelhante com você, confesso.
— Mas, quando falo isso, ele não acredita. Está convencido de que vou me
casar para impedir o casamento de vocês, sendo que íamos nos casar em
breve de qualquer forma — expliquei.
— Talvez ele possa escutá-la agora que sabemos como resolver pontos
importantes e, o principal, nossos filhos poderão escolher com quem vão ou
não querer se relacionar.
Por instantes, acreditei que grande parte das coisas estava resolvida, mas
ainda havia outros pontos.
Ela sorriu.
— Rebecca — ela tocou minha mão —, não pense que não sabemos o que
aconteceu no desfile, Cameron não sabe disfarçar, e você também não.
— Sim?
Finalmente, percebi que agora aquela seria a última questão a ser resolvida:
falar com a chefe da máfia. Astrid franziu o cenho, confusa e surpresa.
Meu mundo pareceu parar. E, se minha intuição estivesse certa, eu… teria
passado dias com a própria chefe, teria dormido em sua mansão,
participado de seus eventos e a visto de perto, durante esse tempo todo!
A voz de Astrid ficou longe, e eu senti todo o sangue que percorria meu
rosto se esvair. Minhas mãos suaram frio. Por mais que eu desconfiasse
durante todo esse tempo, ainda assim, era demais para mim.
— Rebecca…
Recostei-me no sofá.
Antonella Loughty.
Tomei um gole de água e olhei em sua direção, com a visão ainda turva e
tomando forma.
— Sim, está na mansão dela à sua espera. Ela, de alguma forma, sabia que
em algum momento você viria — explicou.
Ela abriu a boca para falar, mas não o fez, pois as batidas na porta não
permitiram. Astrid a abriu, e ouvi a voz de Violet, sua assistente pessoal.
A porta foi fechada e Astrid se voltou para mim com um sorriso enorme.
— Não, alteza, ela sabia. A máfia estadunidense tem uma longa história
com a minha família e sabe cada passo nosso.
Prendi a respiração.
— Acredito que agora pela noite será o horário ideal, visto que ninguém me
verá sair do palácio, mas devo alertar que Andrew possivelmente
perguntará de mim.
— Eles não podem ir, Antonella quer apenas você — afirmou, com certa
firmeza na voz. — Por favor, não me questione — pediu fechando os olhos,
como se não soubesse o que fazer. — Ela apenas pediu que seus seguranças
não fossem, em nenhuma hipótese.
— Rebecca…
Me levantei abruptamente.
— Perfeito.
— Não, Rebecca, você é quem está mudando a minha vida de uma forma
positiva. É uma bênção tê-la para interferir em nossa situação — afirmou,
apertando minha mão. — Tenho certeza de que Cameron vai ouvi-la.
A gargalhada de Astrid me fez começar a rir sem parar, e ficamos nós duas
a rir por mais tempo do que eu achava ser possível.
— Você… você — ela parou para voltar a rir —, não acredito que Cameron
Styles foi trancado no próprio quarto — admitiu quando conseguiu conter
as risadas.
— Antonella não fará nada contra mim, tenho certeza disso — eu disse,
com uma certeza que quase não reconheci.
Fazia exatos vinte minutos que eu estava dentro da porra do meu quarto por
culpa de Rebecca, ou minha culpa.
Não devia ter gritado daquela forma e sabia disso, mas ela era…
Teimosa.
Impulsiva.
Inconsequente.
Ela iria para a Noruega, tinha certeza disso, era exatamente o tipo de coisa
que ela faria, e falaria com Astrid, o que era um alívio, porque, ao menos
assim, ela não falaria com a falcão vermelho.
Isso, sim, seria um problema. Se ela cogitasse conversar com uma mafiosa,
sem mim, eu não saberia do que era capaz.
Caralho!
Ela me trancou no meu próprio quarto e agora quero pedi-la em casamento,
o quanto antes.
— Ronald. — Olhei-o.
E, por ser o chefe da segurança, acredito, ele me olhou preparado para levar
uma bronca ou coisa pior.
— Sim, senhor.
— Se você tiver algo a dizer, Finn, diga — pedi, sem tirar meus olhos das
coisas que estava arrumando.
Ela havia chegado ao aeroporto, e não teria como alcançá-la, não agora.
— Sim?
— Seu amigo Jasper disse que precisa falar com você. — O encarei com
olhar incrédulo. — Urgentemente — acrescentou.
— Jasper, não tenho muito tempo para conversa — avisei, de certa forma,
ríspido.
Não estava com paciência e muito menos com tempo. Ele olhou Luce, que
balançou a cabeça negativamente e saiu.
— Você já sabia?
— Como descobriu?
Jasper contou mais do que ele sabia, do seu irmão, do seu pai, de tudo, até
mesmo de sua mãe e das desconfianças que ele tinha.
Recostei-me na poltrona.
— Ela está em uma casa que barra todo o nosso sistema, senhor — um dos
seguranças técnicos disse, com receio.
Não.
Definitivamente, não.
Minhas mãos suaram, meu corpo gelou e meu cérebro parou de processar
quaisquer que fossem as palavras que o homem disse a seguir.
O encarei.
— Onde?
— Eu o levarei até ela, mas ele — o homem apontou para Jasper — não
poderá ir.
— Vá para a casa dos meus pais, Finn, e diga que estou bem. Leve Jasper
com você.
Entrei no quarto que Marlon disse que seria o meu durante o tempo aqui.
Era grande e aconchegante, mas eu adoraria estar na mansão dos Styles
com a minha família.
Quem eram as três crianças no quadro? Por que Antonella me soava tão
familiar? Por que Alec e Ned nunca podiam estar no mesmo lugar que
Antonella e Polly? Por que Astrid hesitou em me explicar o motivo de não
poder trazê-los aqui? Por que aqui era tão familiar sendo que nunca vim
aqui? Por que eu sou a protegida da chefe da máfia?
Peguei meu celular, que estava desligado por conta de a bateria ter acabado,
o deixei carregando e me deitei.
Acabei rindo pela ironia da situação, até o momento em que quis chorar.
Queria minha família comigo, queria meus irmãos, meus pais, meus avós
e… queria Cameron, tudo em mim o queria.
Eu o queria tanto que meu corpo estremecia, ainda mais quando o ouvi me
chamar. Estava delirando, sem dúvidas, ele não estava aqui, não podia estar.
Caso estivesse, significaria que a pessoa com quem Antonella queria
conversar seria exatamente ele e…
— Rebecca! Rebecca! Por favor, me diga que está aqui e a salvo. Rebecca!
— Baby…
— Me diga, por favor, diga-me que eles não a machucaram, que eles não
encostaram um só dedo em você, que… — A voz dele falhou.
— Cam…
— Eles fizeram algo com você? Rebecca, por favor. Eu sinto tanto, é tudo
culpa minha, tudo, tudo. Diga-me, ela fez algo a você, ela…
Por um instante, pensei que ele fosse parar de respirar. Ele continuou a
murmurar palavras e a se culpar e não me dava espaço para dizer nada.
— Cameron, meu amor, eu estou bem — assegurei, mas ele parecia não me
ouvir.
Estava aprisionado na culpa, uma que não era dele. Ele sabia respirar, claro
que sabia. Mas agora parecia ter desaprendido. Seu rosto estava ficando
avermelhado, e os olhos brilhavam pelas lágrimas que queriam sair. Minha
única reação foi selar nossos lábios.
Não sabia se daria certo, mas não podia olhá-lo ter um ataque de pânico e
simplesmente não fazer nada. Seus músculos, que antes estavam tensos e
rígidos, começaram a relaxar quando puxei seus braços para que ficassem
envoltos na minha cintura.
Dessa vez, eu quem parei de respirar, e meu coração bateu mais forte
dentro do meu peito.
— Sim, serei egoísta. Colocá-la em um jantar com a máfia, você estar nessa
casa e eu ainda sem nem saber quem é ela. — Arregalei os olhos,
entendendo que ele veio diretamente ao meu quarto, e não ao escritório de
Antonella. — Fiquei desesperado, Rebecca, quando saí do avião e os
capangas da máfia me chamaram e disseram que a chefe estava com
você… tentei ligar para você inúmeras vezes, e você não me atendeu,
depois disso não consegui pensar em nada. — Ele apertou minha cintura,
puxando-me novamente para si. — Não me lembrei de ligar para o seu pai,
ou seus tios, ou para os meus. Tudo o que conseguia ver era ela fazendo
algo muito, muito, ruim com você.
Olhei seus olhos, que emitiam súplica e angústia por pensar nisso tudo.
— Cameron — acariciei seu rosto com cuidado —, tudo o que quero é que
você me deixe amá-lo, apenas isso. Sei que algumas coisas podem ser
difíceis, casamento nenhum é mil maravilhas, mas faremos dar certo e
resolveremos juntos as demais coisas. Deixe-me amá-lo, e a única coisa
que te peço em troca é passarmos por isso juntos, por tudo o que puder vir
lá na frente. Juntos — sussurrei, e ele abriu um sorriso —, eu e você.
— Eu e você — repetiu.
Ele me soltou.
A todo custo, tentei conter minhas lágrimas, mas não era possível.
Ele beijou minha mão com o anel de noivado e me puxou para si, sorrindo.
Mas não lhe dei atenção e continuei a beijá-lo. O puxei mais para mim,
fazendo com que caíssemos na cama, com ele por cima de mim.
— Porém?
— Mas…
Era sexta-feira.
Véspera da véspera de Natal, e eu sempre me lembrava disso por
causa de Natalie, que fazia questão de falar isso por causa de uma série a
que ela amava assistir.
Acordei um pouco antes do meu normal, abri um pequeno espaço
entre as cortinas e olhei o céu azul.
Estava cinco graus, mas, devido aos aquecedores que havia na
mansão, era possível usar um moletom durante o dia, desde que não
saíssemos de casa.
Medi minha glicemia, vendo que precisaria aplicar minha
medicação antes de descer para tomar café da manhã. Ontem, depois do
café gelado, eu simplesmente deixei de lado a medicação e dormi. Seria
mentira se eu dissesse que me furar todos os dias com as medicações e
medições da glicemia não era cansativo, pois era e muito. Mas aprendi a
conviver com isso.
Alguns dias, eu relaxo um pouco e depois volto a me cuidar no dia
seguinte. Por fim, apliquei minhas medicações.
Esperaria alguns minutinhos para a insulina regular fazer efeito, e a
outra insulina — chamada NPH — faria efeito ao decorrer do dia.
Caminhei até o guarda-roupa do quarto, em que estavam
organizadas as roupas que eu e Cameron trouxemos para as férias. Cada um
tinha sua parte, como se já fôssemos casados, e eu amava aquilo.
Na minha parte, peguei um moletom que não usava desde o término
com Cameron antes de ir para a faculdade. Sempre o olhava e chorava, por
isso evitei usá-lo.
E agora tudo o que tinha eram boas lembranças. Aquele moletom,
um preto do Paris Saint-Germain, foi o primeiro que ele me emprestou em
toda a nossa história. Aconteceu quando demos um encontrão no meio do
refeitório de Liberty e o lanche dele caiu todo em mim; devido a isso,
Cameron simplesmente entrou no banheiro das meninas e me entregou o
moletom.
Acabei sorrindo sozinha, com um ar nostálgico e, devo admitir,
irônico. Peguei-o em minhas mãos, o coloquei e me encarei no espelho.
E, através do reflexo, vi Cameron sair do banheiro com uma calça
de moletom preta e meias da mesma cor, ele sorriu vitoriosamente, me
deixando à espera de uma provocação. Aquele sorrisinho sempre era um
indício de que viria algo.
— Que ironia, dona Malik — brincou, ao se aproximar de mim, e
me puxou pela cintura.
— Que ironia, Styles?
— O quarterback babaca e insuportável com quem você jamais
cogitou, em nenhuma hipótese, ter algo e com quem vai se casar justamente
agora — explicou enquanto dava beijinhos em meu pescoço.
Achei graça e me virei para olhá-lo.
— E você — levantei seu rosto pelo queixo antes que ele descesse o
beijo em minha clavícula —, prestes a casar com a nerd mandona que você
jurava não suportar, quando, na verdade, sempre foi louco por mim — ele
riu, me olhando e selou nossos lábios. — Tenho plena certeza de que
pensou no nosso casamento no primeiro reencontro que tivemos na
lanchonete Golden’s ou no primeiro jantar que fui à casa de seus pais e você
ficou me olhando o tempo todo.
Ele passou a língua nos lábios.
— Pensei nos sonhos que tive com você quando a encontrei na
Golden’s, mas, no jantar em casa… — seu tom seguiu um rumo malicioso
— nem queira saber o que eu estava pensando enquanto a olhava.
— Cameron!
— E penso muita coisa enquanto te olho — continuou para me
deixar ainda mais envergonhada.
— Você é um safado. — Eu me soltei dele, empurrando-o, e ele me
puxou pelo braço.
— E você gosta — disse, fechando a porta do guarda-roupa para me
pressionar contra ele —, ou vai me dizer que não?
— Vou optar pelo silêncio — rebati, e seus lábios ficaram ainda
mais próximos dos meus.
— Podemos ficar em silêncio, não vejo problemas. — Foi o que
disse antes de me beijar devagar.
Por mais que suas palavras fossem carregadas de malícia, Cameron
me beijou com cuidado e carinho, devagar, aproveitando cada instante
nosso como se fosse único, e com certeza era.
Ele me puxou pela cintura, me afastando do guarda-roupa e
caminhando até a cama. Afastou nossos lábios e acariciou meus cabelos.
— Você está voltando a fazer aquilo, minha princesa — disse, me
olhando nos olhos.
— O quê?
Ele pegou minhas mãos e, mesmo sabendo do que ele estava
falando, deixei que continuasse. Cameron encarou os pequenos fios
vermelhos de sangue em minhas mãos, alguns estavam com feridas
pequenas.
— Isso. — Ele beijou as costas de minhas mãos.
Me sentei na cama, e ele ao meu lado.
— Sempre faz isso quando fica muito nervosa, mas você tinha
parado há um tempo.
Abaixei o olhar e soltei um suspiro pesado.
— Estava nervosa enquanto conversava com o rei, e você me
ajudou. Mas, com meu pai, era muita coisa para pensar, e eu fiquei tão
apreensiva que fiz sem perceber.
Ele ficou me olhando como quem queria dizer “eu avisei”, mas ao
mesmo tempo era um olhar tão cuidadoso que não tinha como ficar
incomodada.
— Não quero que você continue nisso, amor. Por favor — pediu.
— Mas é incontrolável, quando vou ver, já aconteceu — disse,
abaixando o olhar, o que me fez me sentir culpada, mesmo que seu olhar
não fosse acusador.
— Não estou falando disso — disse ao beijar minhas mãos —, claro
que precisa parar com isso, com certeza precisa. Mas, no momento, estou
falando sobre você pegar coisas que não são suas. Sei que minha sogra já
falou sobre isso, então não vou repetir nada — ele me olhou nos olhos —,
mas, por favor, quero que se cuide.
— Eu vou. — Beijei a mão dele. — Não vou prometer, vou de fato
fazer.
Ele sorriu concordando e selou nossos lábios.
— Você parou? — questionei, olhando seus punhos, que tinham
cicatrizes pequenas e mais fundas que as minhas.
Ele pareceu surpreso com a minha pergunta, franziu o cenho, me
olhou e olhou para nenhum ponto em específico, em seguida voltou a me
encarar.
— Já desconfiava disso, porque, quando você ficava muito nervoso
para algum jogo em Liberty — comecei entrelaçando nossos dedos —,
passava horas treinando boxe, mas de uma forma que fazia seus punhos
ficarem machucados, ou, quando se estressava com outras coisas, fazia o
mesmo. Depois deu uma parada, mas, quando li algumas cartas suas,
quando estávamos separados, em uma delas tinha uma mancha de sangue,
não consegui pensar em outra coisa que não fosse isso.
Ele soltou nossas mãos e as mostrou.
— Nunca mais fiz e não pretendo.
Balancei a cabeça em concordância, e ele selou nossos lábios
devagar.
— Amor — resmunguei, afastando-nos —, o que acha de irmos
tomar café da manhã só eu e você?
Seus olhos se arregalaram, impressionados e contentes.
— Seria ótimo, minha noiva. Teremos que sair escondidos —
brincou, puxando-me para um beijo.
— Acredito que aqui tenham passagens, não? — questionei, em
seguida mordi seu lábio inferior.
— É claro — afirmou, então me levantei, e ele me puxou pela
cintura.
— Preciso me arrumar, me solte!
Ele apertou ainda mais minha cintura em resposta, e uma de suas
mãos começou a descer até minha bunda.
— Cameron! — o repreendi tentando me soltar.
— Ai, que porra! — reclamou. — Não se pode mais nada nessa
vida, que injustiça!
Ele se levantou, me fazendo gargalhar com sua reação.
— Para de reclamar, seu chato — impliquei.
— Você me chamou de chato? Quem você acha que é, hum? —
rebateu.
— Sou dona, trata de me obedecer — disparei.
Ele me olhou com um olhar que eu conhecia muito bem. A qualquer
instante, ele começaria a correr atrás de mim sem parar.
— Cameron… Cameron, não! — gritei quando começou a correr
atrás de mim dentro do quarto.
Passei por cima da cama aos risos, quando tentei desviar outra vez,
ele me puxou pelos quadris e me fez cair na cama com ele por cima.
— Você tem que entender, senhorita — ele se arrumou em cima de
mim —, que eu sempre vou ganhar nessas corridinhas.
— Não vale! — protestei. — Você é atleta, não tem como competir.
Ele sorriu, enquanto deslizava as mãos em meu corpo, e selou
nossos lábios.
— Amor — resmunguei quando seus lábios desceram em meu
pescoço.
Respirei fundo, tentando manter o foco, e o afastei com as mãos em
seu peitoral, fazendo com que ele me olhasse.
— Tomei minha medicação, eu preciso comer — expliquei.
Seu olhar, que antes pegava fogo, se tornou um olhar de
preocupação, e ele saiu de cima de mim.
— Ai, meu Deus.
Em um segundo, Cameron pegou em minhas mãos e me levantou da
cama com um impulso.
Troquei minhas roupas, me agasalhei o suficiente e saí do banheiro,
vendo-o já arrumado. Por alguns instantes, eu simplesmente parei para
olhá-lo e admirá-lo. Meu noivo era tão, tão lindo. De uma forma gloriosa.
— Você se apaixonou, foi? — Cameron provocou, me encarando.
Fiz uma careta, e ele gargalhou, se aproximou, me deu um selinho,
enquanto seus dedos se afundavam em meus cabelos, e puxou minha touca.
— Podemos ir, senhorita?
Concordei com um olhar, peguei minha bolsa, e seguimos para a
saída da casa. Nossa tentativa de sairmos escondidos deu supererrado,
quando me lembrei de uma coisa superimportante:
— Amor, não posso sair escondida assim.
— E por que não?
Acabei rindo e balançando a cabeça negativamente.
— Ainda tenho que dar satisfação para minha mãe, sabia?
— Você é minha noiva e…
— Noiva, não esposa — o relembrei e ele bufou — por enquanto.
Sendo assim — selei nossos lábios e me soltei de seus braços —, tenho que
deixar minha mãe avisada. Você devia ter se acostumado com isso, quem
não dá satisfação aos pais aqui é você, mocinho.
Ele fez uma careta e me puxou para fora do quarto.
Depois de avisar meus pais, seguimos para uma cafeteira chique,
luxuosa, muito bonita e movimentada, aparentando ser bem conhecida na
região.
Fizemos nossos pedidos após nos sentarmos em um lugar reservado
e calmo no andar de cima, perto do vidro que mostrava as ruas
movimentadas.
— Dá para acreditar que essa confusão toda do casamento acabou
sendo resolvida? — questionei assim que o garçom se retirou com os
nossos pedidos anotados.
A cafeteria era aconchegante, e a decoração linda de Natal era o
toque que precisava para ficar ainda mais perfeita.
— Dá para acreditar que você me deixou trancado no meu próprio
quarto e eu ainda a pedi em casamento? — rebateu em tom brincalhão.
Entrelacei nossos dedos, rindo de suas palavras.
— Você pediu por aquilo.
— Eu pedi compreensão, mulher! E em troca você me trancou.
Revirei os olhos.
— Ou era isso, ou eu te socaria, homem! Você estava pedindo um
soco bem no meio da sua cara. Eu jamais desistiria da gente — declarei.
Ele sorriu, divertido. Pegou minhas mãos e levou até os lábios para
beijá-las.
Comemos olhando o pessoal da rua e dublando conversas de casais.
Cameron me fazia rir alto e me deixava envergonhada quando alguém me
olhava, franzindo o cenho ou rindo das nossas risadas.
— Agora que já comemos — eu disse após sairmos da cafeteria —,
poderíamos dar uma volta, não? Nunca fizemos isso.
— Nunca?
— Não — afirmei, balançando a cabeça negativamente. — Uma
caminhada só eu e você, não — corrigi, e ele me puxou pela cintura.
Cam disse que conhecia o dono da cafeteria, pois sempre a
frequentava quando vinha para Oslo, e o homem o conheceu quando tinha
seus cinco anos de idade, então era confiável deixar o carro no
estacionamento de lá.
Passamos na frente do palácio. Cameron começou a me contar a
história da estátua que tinha na frente do palácio, e eu percebi uma coisa
que nunca havia notado: ele amava história.
Ele simplesmente não parava de falar, e eu o induzia a continuar, era
lindo vê-lo falar com tanto entusiasmo assim, e poderia ficar o dia todo o
admirando.
—… estou falando demais, não é? Meu avô materno quem me
contou tudo isso, é fascinante.
— Sim, é fascinante e, não, não está falando demais. Continue —
pedi, apertando seu braço, e beijei seu ombro.
Ele sorriu e beijou minha testa, em seguida voltou a falar sobre Oslo
e suas histórias, as vezes contando sobre outros lugares com alguma
conexão com o assunto.
Não havia visto a hora passar, estava tão entretida com Cameron que
só me dei conta quando minha fome fez meu estômago doer.
— Amor? — o interrompi e ele me olhou. — Estou amando tudo o
que você está falando, mas estou faminta.
Ele me olhou preocupado.
— Sim, claro, não me dei conta das horas. É tão bom conversar com
você — afirmou de uma forma fofa. — Podemos ir a um restaurante perto
daqui, depois voltamos para a cafeteria.
Fiz uma careta em resposta.
— Não estou com fome de comida — ele me olhou incrédulo, e eu o
empurrei pelos ombros levemente em provocação. — Quero um lancheeee
— pedi, cantarolando, e entrelacei nossos dedos.
— Para deixar metade, nunca aguenta comer tudo — implicou.
— Não é para isso que os namorados existem? Para comer a parte
do lanche que o outro não aguenta?
Ele deu um tapinha leve na minha testa que me fez rir.
— Você é uma abusada, e eu não sou seu namorado.
— Meu noivo — disse, o abraçando pela cintura, e selei os nossos
lábios.
“Amor não é algo que alguém é capaz de sentir ou não com base em alguma mágica. Alguma
química. Isso é teatro. Amor é determinação. Amor é uma escolha que se faz”.
Rainha Charlotte – Uma História Bridgerton
PARTE FINAL