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Copyright © 2022 Stacye Caramelws

EDITORA FRUTO PROIBIDO


É proibida a reprodução total e parcial desta obra de qualquer forma ou quaisquer meios eletrônicos,
mecânico e processo xerográfico, sem a permissão da autora. (Lei 9.610/98)
Essa é uma obra de ficção. Os nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos na obra são
produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes e acontecimentos reais é mera
coincidência.

REVISÃO: Lucas dos Santos

CAPA: Larissa Chagas


DIAGRAMAÇÃO:
C. Oliveira
Aos que achavam que este livro era apenas um clichê,
isso não é bem o que você pensa.
PRÓLOGO...........................................................................................
..............
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
CAPÍTULO TREZE
CAPÍTULO QUATORZE
CAPÍTULO QUINZE
CAPÍTULO DEZESSEIS
CAPÍTULO DEZESETE
CAPÍTULO DEZOITO
CAPÍTULO DEZENOVE
CAPÍTULO VINTE
CAPÍTULO VINTE E UM
CAPÍTULO VINTE E DOIS
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
CAPÍTULO VINTE E CINCO
CAPÍTULO VINTE E SEIS
CAPÍTULO VINTE E SETE
CAPÍTULO VINTE E OITO
CAPÍTULO VINTE E NOVE
CAPÍTULO TRINTA
CAPÍTULO TRINTA E UM
CAPÍTULO TRINTA E DOIS
CAPÍTULO TRINTA E TRÊS
CAPÍTULO TRINTA E QUATRO
CAPÍTULO TRINTA E CINCO
CAPÍTULO TRINTA E SEIS
CAPÍTULO TRINTA E SETE
CAPÍTULO TRINTA E OITO
CAPÍTULO TRINTA E NOVE
CAPÍTULO QUARENTA
EPÍLOGO
É o primeiro livro da Supremacia Styles, que trata exclusivamente
do casal Cameron Styles e Rebecca Malik e conta a história do início e da
origem da série.
Por se referir ao começo de, literalmente, tudo, Doce Garota é o
maior livro da Supremacia, sendo ele dividido em quatro partes, sendo esta
a terceira delas, que conta a origem de suas famílias e a relação com a
monarquia e a máfia que aparecerão nos próximos livros.
Lembrando que o método usado no período escolar é totalmente
fictício, visando o desenvolvimento do livro em si. Sendo assim, não será
aplicado o método estadunidense em exclusivo para este livro.
Atentem-se aos gatilhos informados na próxima página.
De modo geral, em todas as suas partes, Doce Garota, abordará os
seguintes assuntos:
Abuso sexual e psicológico
Violência física e verbal
Uso de drogas
Consumo de álcool em excesso
Porte de armas
Tráfico de drogas ilícitas
Linguagem imprópria
Na parte IV, haverá capítulos e cenas eróticas.
Se qualquer um dos assuntos citados acima for um possível gatilho
ou elemento perturbador, sugiro que não dê sequência à sua leitura, visando
o bem da sua saúde mental.
Livro não recomendado para menores de 18 anos.
As informações abaixo estão sujeitas a alterações.*
Treinador Sanchez
01. Cameron (capitão do time);
02. Elliot (co-capitão);
03 Peter;
04. Josh;
05. Eric;
06. Adam;
07. Brian;
08. Cole;
09. Phillipe;
10. Dylan;
11. Noah.
[¹] Warriors, em português, tem como tradução Guerreiros.
[²] Liberty School, em português, tem como tradução Escola
Liberdade.
Por o livro se passar em Los Angeles, Estados Unidos, decidimos
manter os nomes originais.
Diretora: Helena lopéz;
Jornal: Lana e Calleb;
Natação: Jasper (Capitão);
Grupo de estudos (Fênix): Luce, Samuel e Neji;
CAPITÃ DAS LÍDERES: MELISSA;
PRESIDENTE DO GRÊMIO: KAREN;
JACE, MELHOR AMIGO DE CALLEB.

STANFORD:
Matteo, atual capitão do time;
Felicity, irmã de Matteo;
Manson, amigo de Nicholas;
Deborah, amiga de Rebecca.
REI ERICK, RAINHA MARTHA E PRINCESA ASTRID.

Família Payne: Andrew (amigo de Cameron) e Rosie (mãe de


Andrew e dona da Golden’s);
Carter: Noivo de Nicolly.
“Nós estávamos lá apenas juntos. E isso foi o suficiente.”
As Vantagens de Ser Invisível — Stephen Chbosky

Depois da prova do vestido de noiva de Nicolly, na qual ela me


pediu para acompanhá-la junto com tia Amora, seguimos para Liberty para
o dia de arrecadação para o orfanato de Polly e Antonella.
O campus da escola estava abarrotado de pessoas. Reconheci
algumas que moravam na rua dos Alfeneiros, os pais e mães dos meninos
do time e de outros amigos.
Havia várias barracas com bancas de comida ou com brincadeiras.
— Não acredito — eu disse, animada e parando de andar para
observar melhor aquela cena.
Os meninos do time estavam vestidos de super-heróis, e as crianças
não paravam de pular em volta deles. Peter estava de Batman; Josh, de
Robin — mesmo usando muletas —; Eric, de Lanterna Verde; Adam, de
Homem-Aranha; Brian, de Thor; Phillipe, de Capitão América, Dylan tinha
se pintado todo e colocado músculos falsos de plástico, estava de Hulk; e
Cole, de Wolverine.
Lana, de Mulher-Gato; Natalie, de Mulher-Maravilha, e Luce, de
Valquíria.
Eu estava sorrindo como uma criança ao ver que não deixaram Jace
de lado, e ele estava de Demolidor. Calleb, que estava de Flash, levava Jace
para todos os lugares com uma animação incrível e aparentava estar
comentando cada detalhe do evento.
— Vocês estão vendo Cameron em algum lugar? — questionei a
Nicolly e Carter, que estavam ao meu lado.
— Ainda não, e ele não é muito difícil de se achar — Carter
observou, e eu o empurrei pelos ombros levemente, vendo-o rir com
Nicolly.
As crianças começaram a gritar e correr para o outro lado do campo
de futebol quando começou a tocar Shoot To Thrill, do AC/DC.
— Isaac?
Observei-o correr em minha direção; ele pegou minha mão e
começou a gritar.
— IRMÃ, VENHA, VENHA. — E me puxou para onde todos
estavam indo.
— Você não devia estar na escola?
— Papai me buscou mais cedo — disse sem parar de correr e sem
me soltar.
Paramos quando chegamos ao enorme palco que fizeram na direção
da entrada número dois da escola, que era próxima do vestiário masculino e
feminino, e Isaac me trouxe para a área VIP, de onde eu conseguia ver todo
o palco sem estar no meio das pessoas, que estavam se aglomerando e
crescendo a cada segundo, tornando-se uma multidão.
A música, que era tocada por uma banda convidada, estava no
começo, e os meninos do time, que provavelmente foram correndo para trás
do palco, começaram a se apresentar.
— Isso foi Cameron, não foi? — Quis saber quando me aproximei
dos meus pais e dos de Cameron.
— Com certeza — tio Arthur disse.
Não era segredo que Cameron tinha mais dinheiro do que eu poderia
imaginar e que esse evento não devia ter sido o maior gasto de sua vida,
considerando suas mansões, seus carros e as festas para o time.
Olhei para a multidão, vendo que as crianças estavam nos ombros
dos pais, assim como Natasha estava nos ombros de meu pai e Ryan nos de
tio Arthur para ver melhor.
Voltei meu olhar para o palco quando Carter, Nicolly, Nicholas e
Felicity se aproximaram. Depois que as meninas se apresentaram, desceram
para a área onde estávamos, e Natalie veio correndo na minha direção.
— VOCÊ ESTÁ LINDA! — eu disse, pulando e a abraçando.
— Espere só para ver os nossos homens — disse em meu ouvido.
Quando a banda parou de tocar e a música do Super-Choque
começou, quase não acreditei ao ver Elliot se apresentando com uma dança;
eles deixaram apenas o final da música, e, quando ela acabou, ele dublou:
— Eu vou dar choque no seu sistema!
E as crianças gritaram, assim como eu, Natalie e o time.
Neji, que estava como DJ pelo menos naquele instante, parou a
música, e a baterista da banda começou, de imediato reconheci que era a
música Iron Man, do Black Sabbath.
Levei a mão até a boca, tapando-a, quando Cameron apareceu com
uma armadura do Homem de Ferro e andou em câmera lenta para que todos
o vissem. Por instantes ele ficou se mostrando para a plateia.
— Caralho, caralho, CARALHO! — Nicholas disse euforicamente,
porque seu super-herói favorito era o Homem de Ferro.
— Meu Deus — disse ainda surpresa.
A música foi ficando cada vez mais baixa, e Cameron pegou o
microfone; ele foi aplaudido por todos com muita animação e esperou que o
barulho diminuísse para começar a falar.
— A todos que vieram, a família Styles, juntamente com alguns dos
alunos de Liberty, está muito grata pela colaboração de vocês. Este evento
não é para o nosso benefício, e sim para uma associação de caridade: todo o
dinheiro arrecadado será enviado para o orfanato Loughty. Desejamos que
aproveitem ao máximo, obrigado ao time que está na frente e que apoiou a
ideia deste evento e obrigado à minha futura esposa por existir, eu te amo,
Malik. — Ele me olhou, e eu senti minhas bochechas queimarem enquanto
todos gritavam, principalmente o time, que adorava as demonstrações de
Cameron e estava pulando em cima de mim. — Um ótimo dia a todos! — E
saiu do palco.
— Ele ainda vai me matar do coração — eu disse, desacreditada.
Isaac ainda gargalhava com meu pai, ambos me olhando.
Foi um alvoroço quando Cameron desceu, e eu não consegui me
aproximar dele.
A fila para tirar fotos era grande demais, e eu optei por ficar com a
minha mãe e os gêmeos. Mandei um beijo no ar para Cameron e me
aproximei de minha mãe. Andrew, que chegou depois e estava com Rosie
em uma banca de cachorro-quente, aplaudiu Cameron de longe enquanto ria
de tudo aquilo.
Antes do final do evento, os meninos do time quiseram que eu
tirasse uma foto no coletivo e uma apenas com Cameron.
Voltamos para casa e passamos o resto da noite juntos, comigo o
elogiando o tempo todo pelo evento, dando-me conta de que Cameron e sua
família eram mais ricos do que eu imaginava.
— Eu sei que sou incrível, não é uma novidade — ele disse, com
seu ar superior.
— Eu não sei como ainda te suporto — afirmei me virando de
costas para ele.
— Deve ser porque eu beijo bem — sussurrou beijando meu
pescoço e passando a mão em minha coxa.
— Boa noite, Cameron.
Ele sorriu e me abraçou com um pouco mais de firmeza.
— Boa noite, dona da minha vida. — E beijou meu ombro.
“Não há nada como respirar fundo depois de rir tão alto.
Nada no mundo se compara a sentir dor de estômago pelas razões certas.”
As Vantagens de Ser Invisível – Stephen Chbosky

Hoje seria um dia extenso de projetos, exceto para mim e Neji,


porém o pessoal entraria um pouco mais tarde, e eu e Natalie decidimos
fazer a limpeza de pele em Cameron e Elliot na minha casa.
—… eu e Felicity vamos com Nicolly ver os últimos detalhes da
decoração, Carter vai porque é o noivo e tem que estar de acordo com tudo,
e Nicholas vai porque é namorado de Carter — brinquei enquanto colocava
a tiara em Cameron para que seu cabelo não atrapalhasse a aplicação dos
produtos.
Ele se inclinou e aproveitou o momento para selar nossos lábios.
— Eu acho bom isso não ser uma crítica a Nicholas, porque, na vez
de vocês, eu vou com o meu namorado, Cameron — disse Elliot sem fazer
questão de abrir os olhos, enquanto Natalie passava o primeiro produto.
— Com certeza — Cameron concordou após se deitar e fechar os
olhos.
Eles entrelaçaram os dedos, ergueram seus braços, mostrando que
estavam de mãos dadas, e começamos a rir juntos.
— Sua tia não se importa de não ir a essas coisas? — Natalie
questionou se referindo a tia Amora.
— Ela se importa, tanto ela quanto a sogra de Nicolly, mas
infelizmente são intrometidas nessa questão e acabariam tentando fazer
Nicolly escolher o que elas quisessem. Então, Carter se sentou com a mãe e
Nicolly com a minha tia e disseram que nenhuma das duas iriam nos
preparativos por escolha do casal. Elas odiaram, claro, mas logo relevaram
e deixaram para ver tudo no dia — expliquei.
— Acha que vai ter problemas com isso? — ela questionou com os
olhos voltados a Elliot, e Cameron deu uma leve espiada na minha reação.
— Na verdade, não. Sei que minha sogra e minha mãe são pessoas
com várias opiniões e palpites para tudo, mas, quando é sobre a minha vida
com Cameron, nenhuma das duas tenta influenciar em nada, dão conselhos,
mas não tem imposição de nada. Acredito que, como já mantemos isso
desde agora, lá na frente não teremos tais problemas — afirmei.
Natalie apenas concordou, e eu não retribui a pergunta por saber que
a mãe de Elliot faleceu quando ele tinha cinco anos, e Natalie, bom, tia
Eliza era sua madrasta e, mesmo a considerando como mãe, não iria impor
nada quando fosse seu casamento.
Ficamos conversando por um tempo até terminarmos a limpeza de
pele dos meninos, e Natalie avisou que se arrumaria para ir à escola, pouco
antes de ir para a sua casa com Elliot.
Assim que saí do banheiro, depois de tomar um banho e trocar
minhas roupas, deparei-me com Cameron passando meu gloss e lambendo
os lábios logo em seguida.
Com as mãos na cintura, fiquei o observando.
— Ah! — disse assustado, fechou o gloss às pressas e o escondeu.
— Não tinha te visto — comentou.
— Você estava gastando todo o meu gloss, Cameron?
— Eu? Não — rebateu se levantando e colocando as mãos em
minha cintura.
— Seu falso, fingido e mentiroso.
Ele sorriu me puxando para si.
— Muito agressiva, estou gostando — insinuou passando os lábios
em meu pescoço.
— Precisamos ir para a escola — relembrei.
— Eu sei.
E me beijou, ignorando tudo o que eu tinha acabado de falar.
Senti suas mãos passeando em meu corpo, e um de seus braços
envolveu minha cintura com firmeza, não demorou muito para que ele me
deitasse na cama.
Inclinei-me para beijá-lo, mas ele apenas ficou me observando, até
me deixar constrangida o suficiente para cobrir o rosto.
— Já te disse que você é a garota mais linda deste mundo?
— Só algumas vezes — brinquei selando nossos lábios. — Pare de
me olhar assim.
— Assim como? — questionou acariciando o meu rosto.
— Você sabe como — afirmei, e ele voltou a me olhar, como se
fosse arrancar minhas roupas a qualquer instante.
Ele se apoiou em seus braços de forma que sua correntinha de
Konoha ficou balançando no ar. Por segundos, eu me senti perdida com a
beleza de Cameron, e um calor que não tinha nada a ver com o verão subiu
pelo meu corpo e desceu de forma que eu estremeci.
Empurrei-o para o lado e precisei puxar a respiração ao me sentar na
cama apressadamente.
— Vou esperá-lo lá embaixo — anunciei me levantando e pegando
minha mochila.
— Mas, amor… — Eu o ouvi dizer, e sua voz carregava a vontade
de rir.
Então me dei conta de que ele sabia exatamente o efeito que tinha
causado em mim e decidi não dizer uma só palavra, apenas sair do mesmo
ambiente que ele.

Seguimos para o anfiteatro assim que chegamos à escola, e, como


esperado, o time, as meninas, Calleb e Jace ganharam a competição. A
natação, juntamente com o grupo de estudos e o futebol feminino, ficou em
segundo lugar, pois fez um bazar beneficente que, com a autorização de
Cameron, aconteceu durante o evento, e as líderes e o grêmio ficaram em
terceiro lugar. Os valores não foram relevados, claro, mas os vencedores
ganharam pontos na média e um dia de cinema na escola. Fiquei no
primeiro treino dos meninos, como prometido, e segui ao encontro de
Nicolly.
Em partes, estava aliviada por ficar um tempo longe de Cameron
depois de hoje cedo.
Encontrei-me com Nicolly e o pessoal onde tínhamos marcado de
vermos os últimos detalhes do casamento, mas acabou sendo rápido, pois,
quando cheguei, Nicolly já tinha alinhado grande parte dos detalhes
faltantes.
— Rebecca — Nicholas chamou —, tio Ben vai fazer churrasco na
sua casa porque o time está indo para lá almoçar.
— Mas já são duas da tarde — observei.
— E nossa família tem hora para fazer churrasco? — questionou
rindo.
Tio Pedro, pai de Nicholas, estava em casa quando chegamos e
parecia estar adorando a conversa com Peter e Josh, que não paravam de
fazer graça.
Observei que todos os meninos estavam sujos de tinta,
provavelmente fizeram alguma brincadeira entre si.
Isaac me parou assim que entrei na sala.
— Cameron está no seu quarto, ele está horrível. — E gargalhou,
começando a correr.
Beijei meus tios, os meninos do time, os familiares de Cameron e
meus pais, em seguida subi correndo, e Cameron estava passando água no
rosto, o que deixou o granito branco da pia do banheiro ainda mais sujo.
— GAROTO — disse alto e gargalhando.
Soltei minha bolsa e entrei no banheiro, que estava com a porta
aberta.
— Amor, me deixe ajudá-lo.
— Não deu para esperar, isso é horrível, meu rosto está pesado, vou
morrer — dramatizou.
— Garoto dramático — provoquei.
Sentei-me no granito, ele ficou em pé, entre as minhas pernas, e tirei
o resto da tinta que estava em seu rosto.
— Prontinho, amor — disse e me inclinei para o lado para que ele se
olhasse no espelho.
— Me sinto muito melhor — afirmou. — Vou tomar um banho, vim
direto do treino para cá — explicou.
Concordei e me preparei para descer, mas ele não me deixou, antes
selou nossos lábios devagar. O tecido do short que ele usava era
extremamente fino, e estávamos com os corpos tão colados que eu sentia as
reações de seu corpo. Ele mordeu meu lábio inferior, e eu desci as unhas em
seu abdômen.
Ele afastou os lábios dos meus, e ficamos respirando por instantes
sem conseguirmos nos afastar.
— A gente se vê lá embaixo.
Ele abaixou o olhar, sorriu e respirou fundo, dando-me espaço para
sair, mas permaneceu de costas.
Desci as escadas e observei toda aquela alegria dos meus parentes e
amigos, seria bom passar a tarde com eles, era o que eu precisava.
“Acima de tudo, porém, revistam-se do amor, que é o elo perfeito.”
Colossenses 3:17

Passei boa parte da minha tarde com Natalie, enquanto Cameron


estava com Nicholas e Elliot jogando basquete. Depois que eles pararam de
jogar, caminhei para o quarto de Cameron na intenção de pegar um
moletom seu e pedir para ele me levar para casa.
Dei duas batidas na porta, e ele a abriu, sem camisa e secando a
nuca com uma toalha preta. Por mais que eu tentasse, meus olhos desceram
diretamente para o seu abdômen descoberto. Era tentador vê-lo assim e
usando apenas uma calça de moletom preta.
Levantei meu olhar, e ele estava sorrindo ao me observar.
— Pode me levar para casa? — perguntei, antes que ele dissesse
alguma coisa.
— Está fugindo de mim? — questionou com seu olhar cínico e
safado, fazendo-me engolir em seco.
— Não — respondi tentando parecer firme, e ele se aproximou.
Olhei para baixo na tentativa de não perder o foco, mas foi pior
quando me dei conta de que estava passando a língua nos lábios ao olhá-lo
outra vez, abaixo de seu abdômen.
— Sabe o que estava pensando hoje? — questionou me puxando
para dentro do quarto e batendo a porta ao fechá-la.
— O quê?
Olhei seus olhos e dei passos para trás quando ele veio para a frente.
— Que uma vez te disse que você me desejaria tanto que não
conseguiria se conter — sussurrou olhando meus lábios.
— Eu…
Parei de falar quando ele me empurrou contra a cama, em questão
de segundos seu corpo estava colado ao meu e nossas línguas se
massageando. Sentia meu corpo pegar fogo quando ele começou a dar leves
beijos próximo de minha orelha.
— Alguém pode entrar aqui, e não acho que seja bom nos verem
assim — disse tentando me soltar dele, mas falhei quando ele colocou ainda
mais o peso de seu corpo contra o meu e entrelaçou os dedos de nossas duas
mãos.
— Não acho que seja bom parar de me beijar agora — rebateu,
voltando os lábios aos meus, e se afastou. — Aliás, não vou levá-la para a
casa agora, os meninos virão fazer uma fogueira e observar o amanhecer,
decidiram de última hora, e seria um crime a capitã deles não estar presente.
Sorri concordando e o empurrei para o lado, e ele revirou os olhos
em irritação por eu ter parado com os beijos.
— Tudo bem, senhor Styles.
— Não vai ficar com frio só com essa blusa? — questionou me
olhando por inteira quando me levantei da cama.
— Ah, sim. Vim aqui para pegar um moletom seu — expliquei, ele
riu concordando e apontou para o seu closet.
Entrei nele e o fechei, tirei meu short, coloquei um moletom vinho e
saí do closet. Cameron me olhou sorrindo enquanto eu puxava as cordinhas
da calça para ficar firme.
— Esse ficou melhor que o outro, vou levar alguns para Stanford —
alertei-o, enquanto o observava se levantar.
— Não uso esse há três anos, porque ficou pequeno, pode levar.
— E outros — repliquei sendo puxada pela cintura.
— Folgada — provocou selando nossos lábios.
— Não mais que você — rebati acariciando seu rosto, eu o vi rir e
fazer uma careta.
— Podemos ir até a casa na árvore? Os meninos ainda vão comprar
algumas coisas antes de virem para cá — pediu afastando uma mecha de
cabelo de meu rosto.
Durante nossa caminhada, pela primeira vez, Cameron comentou
sobre seus negócios e como estavam indo bem, mas que, para ficar nesse
nível, dava muita dor de cabeça.
Ele, tio Arthur e papai entraram em um acordo: Cameron deve estar
por dentro dos negócios, e a última palavra vai ser a dele quando o assunto
for sério, mas Arthur estará mais à frente para Cameron poder estudar tanto
no colegial quanto na universidade.
— Amor — chamou me fazendo olhá-lo.
A luz do luar revelou suas bochechas coradas e seus olhos azuis
bem vivos, ao mesmo tempo ele parecia não saber por onde começar fosse
lá o que tivesse a dizer.
— O que foi, bê? — questionei o olhando, e ele sorriu de
nervosismo.
Olhou para a frente, abaixou os olhos e voltou a me encarar.
— Eu não quero me separar de você.
Abri a boca para falar, mas temia começar a chorar antes da primeira
palavra.
— Estive conversando com a juíza Polly, mulher de Antonella, ela
está por dentro de tudo sobre a seleção de Stanford. Acabei comentando
sobre não querer me separar de você, sei que um namoro a distância é muito
complicado, e ficar um ano e meio assim seria doloroso demais, fora que
nunca falamos sobre isso… — Ele deu uma pausa e pensou um pouco antes
de voltar a falar. — Houve algumas mudanças na seleção que serão
apresentadas quando chegarmos a Stanford. Com tantos projetos, será
impossível enviar professores com o time durante as viagens, então Polly
disse que o método foi alterado. Vamos estudar normalmente em Stanford,
em Palo Alto, mas, em algumas quintas, até os domingos, vamos sair com o
time e depois repor as matérias quando chegarmos de viagem.
Quando me dei conta do que Cameron queria dizer, joguei-me em
seus braços e o abracei com firmeza.
— Ano que vem você estará em Stanford! — disse sorridente e o
enchi de beijinhos.
— Sim, meu amorzinho — disse sem me soltar, e eu já estava em
seu colo —, mas vou viajar com o time, muitas vezes. Os fins de semana
serão para isso, e, depois de um ano assim, vamos ficar totalmente em
Stanford.
— É melhor do que ficar o ano todo sem você — afirmei, e ele
sorriu selando nossos lábios por instantes.
— Rebecca — nós nos olhamos, e, quando ia sair de seu colo, ele
me segurou pelas coxas —, quero me casar com você.
Meu coração disparou, parecendo que a qualquer instante sairia pela
boca.
— Sei que você tem em mente as suas realizações pessoais e
profissionais assim como eu tenho as minhas, mas quero que faça parte dos
meus dias bons e ruins, das minhas realizações, das minhas conquistas, de
tudo — explicou, e eu senti as lágrimas de felicidade descerem em meu
rosto.
— E eu quero que faça parte de tudo na minha vida. Me casar com
você não é um peso, na verdade, é algo com que venho sonhando há mais
tempo do que me lembrava — eu disse, e ele acariciou minha bochecha
com o polegar na medida em que rimos juntos.
— Se você concordar, depois que passar esse um ano de viagens
com o time, poderemos noivar, e o casamento vemos mais para a frente,
mas estou ansioso para chamá-la de minha noiva — sorri, pensando em
como essas palavras soaram lindas em sua voz. — Casamento é
responsabilidade, amor, respeito, carinho, e tem muita coisa pelo caminho,
mas quero isso com você e sei que, com o tempo de namoro e noivado,
vamos ter mais certeza quanto a isso.
— É claro que eu concordo, meu amor — sorri beijando seus lábios.
Cameron não parava de sorrir enquanto me olhava, e eu só
conseguia pensar no quanto queria aproveitar cada ano da minha vida ao
lado dele, independentemente de sermos novos, tinha a certeza de que era
ele, sempre foi ele.
— Confesso que achei que seria melhor nos separarmos e seguirmos
nossos destinos por conta da faculdade, mas eu só me destruiria assim —
comentou envolvendo os braços em minha cintura.
— Tenho medo de deixá-lo e as pessoas ficarem sempre falando
para você o quão difícil é um relacionamento a distância, não quero que
fiquem em cima de você por isso, já vai ser difícil eu estar em Palo Alto e
você aqui, não precisamos de mais comentários sobre isso — admiti. — Sei
que não é segredo para ninguém que estamos juntos, mas, não sei, parece
confortável para esse momento.
Ele balançou a cabeça concordando.
— Meus pais não opinam muito, mas esses dias cheguei ao treino do
time e eles estavam falando que tinham medo de eu não ficar bem sem
você. Eu te amo, e vai doer muito não tê-la por perto, mas não posso ficar
bem só quando você estiver, ou ser um filho da puta só porque você vai
embora, e não quero que eles pensem isso quando você partir.
— Sim, você está certo. Sei que nossos pais e amigos mais
próximos não vão ficar se intrometendo, mas nossos tios, avós e, bom,
alguns de Liberty e de Stanford vão gostar de comentar. Não acho que seja
pedir demais não querer pessoas sabendo de tudo sobre as nossas vidas —
disse olhando em seus olhos, e ele balançou a cabeça positivamente.
— Podemos não comentar muito sobre a gente, quer dizer, as
pessoas sabem que estamos juntos, e não precisamos dizer mais nada.
Depois a gente aparece juntos e noivos.
Sorri o olhando.
— Me parece ideal.
— Continua sendo minha namorada, depois noiva e depois esposa,
nada de ex-atual — afirmou beijando meu pescoço.
— Nada de ex-atual — repeti. — Gostei disso.
Depois de falarmos sobre alguns outros assuntos, decidi falar sobre
um que, na verdade, me deixava com vergonha.
— Queria te contar uma coisa sobre… — Dei uma pausa e soltei a
respiração. — Sobre eu ter escolhido não fazer sexo por tanto tempo.
Cameron me olhou surpreso, e seus olhos brilharam.
— Você não precisa fazer isso — ele disse.
Beijei seu ombro e o olhei.
— Mas eu quero.
— Tudo bem — concordou.
— Vai além de proposito ou religião, depois do que aconteceu com
o… — Engoli em seco. — Turner, alguma coisa mudou em mim, alterou
tudo o que eu achava saber sobre querer alguém. Quando aquilo aconteceu,
eu estava no auge da minha adolescência, saía com um grupo de amigos e
amigas, mas então tudo se apagou. Meus pais voltaram para Los Angeles
pelos negócios, mas acho que por mim também. Eu não saía do quarto, não
queria conversar, e então voltar pareceu uma nova oportunidade. Sei que
parecia uma santa intocável, mas eu só estava com medo, ainda tenho
receio quando alguém que não é você se aproxima demais. — Respirei
fundo, decidida a ser ainda mais clara. — A ideia de ser forçada a alguma
coisa me deixa apavorada, e… ele me fez ter nojo de mim — disse sentindo
meus olhos lacrimejarem.
— O quê?
Eu o olhei e, em seguida, olhei para o céu tentando conter a
vergonha em falar aquilo em voz alta.
— Existe uma porcentagem de adolescentes que nunca se tocaram, e
eu devo estar inclusa, porque me sinto estranha só de pensar em fazer isso
— tentei explicar, ainda sem olhá-lo, pois estava envergonhada demais para
isso.
— Eu sinto muito, muito mesmo, amor — ele disse beijando minha
mão.
— Essa situação foi crucial para eu entender que, se a pessoa me
amasse antes do sexo, antes do toque íntimo, ela seria a pessoa para mim, e
por isso eu não precisava de sexo antes do casamento. — Ele forçou um
sorriso quando beijei suas mãos.
— Eu preferia mil vezes que você tivesse entendido isso de outra
forma — admitiu.
— Eu também — olhei-o, e ele acariciou meu rosto.
— Você nunca falou disso com a psicóloga?
— Nunca consegui, me sentia tão envergonhada de sentir nojo de
mim que… — Dei de ombros quando não soube mais o que falar.
— Ainda se sente assim?
— Não posso falar que um relacionamento resolveu tudo, mas me
sentir amada por você certamente mudou muitas coisas. Consigo entender
que não é de mim que sinto nojo, mas dele, do toque dele, e isso só me faz
compreender o motivo de meus pais quererem que eu volte para a terapia
quando estiver em Palo Alto, porque tenho muitas questões a resolver.
— E você pretende voltar?
— Sem dúvidas, espero não ter vergonha de falar sobre essas coisas
com a psicóloga — comentei rindo.
— Você não precisa ficar com vergonha por optar não fazer algo ou
por ter essa dificuldade de se tocar, seu autoconhecimento é importante no
seu momento — afirmou.
Seus dedos afastaram meus cabelos da nuca.
— Quando o vi pela primeira vez, quando voltei a Los Angeles,
fiquei pensando em quem você era de acordo com o que todos falavam. Em
seguida, você aparentemente mostrou ser alguém que ficava com várias e
só, o que não era um problema, porque não tinha nada a ver comigo. Mas,
quando começamos o namoro falso, fiquei um pouco apavorada.
— Um pouco? — questionou brincalhão.
Deixei-me rir baixo, e ele beijou meu ombro.
— Muito, de verdade. Na minha cabeça, se a gente se beijasse, você
iria querer algo mais e, quando eu falasse que não, você comentaria com o
time todo. Passei meses ouvindo todos forçando sexo entre a gente: se você
me abraçava, as pessoas falavam, e eu acabei me deixando pensar que você
acreditava nisso também, até você me mostrar que eu estava sendo uma
completa idiota. E sou tão grata por isso, porque… eu ficava desesperada
quando pensava em estar com alguém que me forçasse a fazer algo sexual
— senti as lágrimas serem limpas por seus dedos —, a fazer sexo obrigada,
contra a vontade, a me tornar uma escrava sexual que vai na base da
pressão…
— Rebecca — Cameron me calou subindo a mão em minha nuca
—, tudo bem ter seus medos, mas sua cabeça vai explodir com tanta coisa
— afirmou acariciando minha bochecha com o polegar.
— Não explodiu no começo do namoro falso, não vai explodir
agora, porque não penso mais assim — disparei, vendo-o rir e sentindo seus
lábios contra a minha bochecha.
Cameron abriu um sorriso lindo e sincero, fiquei olhando-o por
instantes hipnotizada com seus olhos radiantes.
— Eu aprendi a respeitar meus próprios limites e entender que, se eu
não quiser uma coisa, não sou obrigada a fazê-la. Cada um tem seu
processo de aprendizado na vida, e ter feito minha escolha me ensinou
coisas muito valiosas — finalizei, e ele concordou colando nossas testas.
— Fico feliz que se sentiu confortável em me contar tudo isso —
afirmou me olhando.
— É estranho, você me deixa confortável e ao mesmo tempo
nervosa — admiti.
— Por que fica nervosa? — questionou lentamente em um sussurro
com os lábios próximo de minha orelha.
Soltei um suspiro enquanto fechava os olhos, e seus lábios desceram
em minha nuca na medida em que seus dedos agarravam meus cabelos e os
puxavam.
Virei-me totalmente para ele e o beijei fazendo com que se
encostasse na parede da casa na árvore.
Joguei meus cabelos para o lado enquanto o via morder os lábios e
sorrir.
Suas mãos deslizaram em minhas coxas e as apertaram quando
voltei a beijá-lo com calma, e seus dedos desceram o zíper do moletom com
calma, senti seu aperto forte em minha cintura, e logo seus braços me
envolveram, me deixando totalmente colada ao seu corpo.
Antes que continuasse, Cameron me impulsionou a sair de seu colo
com cuidado quando ouvimos as vozes de Carter e Elliot.
— … e os dois somem toda hora, e agora a gente tem que buscar —
Elliot disse aos risos, e Cameron ficou em minha frente, me cobrindo para
que eu me organizasse.
Parei ao lado de Cameron depois de fechar o moletom e arrumar os
cabelos.
Eles falavam alto, e, pela primeira vez, agradeci por isso.
— Vocês me atrapalharam, e isso me deixa muito irritado —
Cameron disse com firmeza, como se estivesse, de fato, irritado.
— Você me atrapalha o tempo todo, e eu não fico chorando — Elliot
rebateu.
— É a minha irmã, óbvio que vou atrapalhar — Cameron disse aos
risos.
— Becca, pode, por favor, ir para a fogueira: se você for, ele vai, e
compramos coisas para comer também — Carter disse me olhando.
— Ótimo, estou com muita fome — repliquei me levantando, e
Cameron suspirou fazendo o mesmo.
— Ainda não terminei com você, garota — Cameron disse olhando
meus lábios.
Suas mãos apertaram minha cintura, e colou meu corpo no dele.
Dei-lhe um rápido selinho. Descemos a escada, e ele me abraçou
pela cintura.
— Quero que me leve até Stanford — nós nos olhamos —, sei que
vai precisar ir para a Noruega, e eu para a Suíça, mas eu e Nicholas vamos
ficar lá por duas semanas para ver nossos avós e vamos voltar para Los
Angeles; vou terminar de arrumar minhas coisas e, na última semana de
julho, vou para Stanford. Quero muito que esteja comigo — ele sorriu e
beijou minha bochecha.
— Então estarei com você — afirmou.
— Finalmente o casal apareceu — Josh anunciou.
— Estão inteiros? — Adam questionou, e eu fiz uma careta para ele.
— Capitão — Peter se aproximou enchendo um copo grande de
vodca —, lembra que você prometeu que, se encontrasse uma garota de que
realmente gosta, iria beber com a gente pelo menos uma vez desde quando
parou? — questionou olhando Cameron.
Todos o olharam, inclusive eu.
— Só esse copo e mais nenhum — Cameron avisou, e o time
comemorou.
— Hoje veremos o Narutinho — Peter brincou.
Aproximei-me de Natalie, que estava animada e radiante
observando Cameron.
— Estou feliz por ele não ter medo de ser abusado depois de beber
— Natalie comentou, e nos olhamos dizendo diversas coisas sem precisar
de palavras.
— Como ele fica quando bebe? — perguntei me sentando ao lado
dela.
— Pior do que quando come doce — explicou, e eu arregalei os
olhos na medida em que ela começou a rir.
Observamos os meninos cantando no karaokê improvisado que
fizeram perto da fogueira, depois Cameron e Elliot cantaram juntos, e os
meninos praticamente me carregaram para cantar com Cameron, que selou
nossos lábios no final da música.
Precisei ir ao quarto de Cameron tomar minha medicação e, quando
retornei para a ala de piscinas, onde os meninos faziam a maior bagunça,
não o encontrei.
— Onde estão Cameron e Nicholas? — questionei me aproximando
de Carter e Nicolly quando me dei conta de que meu primo também tinha
sumido.
— Eles pularam na piscina e foram trocar de roupa — Nicolly
explicou.
— Elliot, é hora da música — ouvi Andrew dizer, e Elliot riu
parando a música.
Quando começou a tocar um remix de Naruto, Cameron e Nicholas
surgiram da frente da casa e começaram a correr nas bordas das piscinas
com os braços jogados para trás como os ninjas do anime correm. Cameron
estava com a fantasia inteira de Naruto, e Nicholas de Sasuke, tia Eliza e tio
Arthur saíram da casa para vê-los dar a volta na piscina, um de cada lado, e
atravessar o caminho um do outro.
— SASUKEEEEEEE — Cameron gritou.
— NARUTOOOOOO — Nicholas gritou de volta.
Em seguida, eles fingiram uma luta com jutsus. Um espetáculo.
— Vou ensiná-los a dançar música brasileira — Nicholas disse
animado enquanto desamarrava sua roupa.
— Nicholas… — chamei-o sabendo as músicas que ele colocaria.
— Vou colocar as tranquilas.
— Você não escuta nada tranquilo, Nic — ele riu dando de ombros.
— Relaxa, caramelinho.
Nicholas começou com forró, e ele ensinado os passos para os
meninos era extremamente engraçado, porque ele era péssimo naquilo.
Quando chegou ao funk, não precisou de suas aulas, os meninos
simplesmente começaram a dançar.
— Por que você não está comigo? — Cameron questionou me
abraçando por trás.
— Você estava com os meninos e…
— Mas eu a quero. Você não me ama mais? — Virei-me e o olhei.
— Quer namorar comigo?
— Não começa — pedi rindo.
— Vem dançar — disse me puxando, e não consegui resistir.
Dancei com ele por um tempo até ser chamada por Isaac e Jeff.
— Irmã, queremos ir para casa, o Ryan vai com a gente — Isaac
disse se encostando em mim.
— Ok, vou avisar tia Eliza e…
— Não, irmã. A tia Eliza quem mandou eu avisá-la, a prima vai com
a gente, e Carter também — explicou sonolento.
Olhei Nicolly e Carter, que estavam um pouco distantes, e eles
apenas concordaram.
— Querida — ouvi tia Eliza chamar —, preciso que coloque
Cameron para dormir — pediu rindo e olhando o filho, que não parava de
correr de Nicholas — e que controle Nicholas também — acrescentou.
— Sim, senhora — concordei.
Tio Arthur desligou o som e colocou os meninos do time para dentro
de casa, mas Nicholas, Elliot e Cameron ainda estavam dançando, mesmo
sem som, cantando músicas que nem eles entendiam.
Fiquei olhando Cameron por instantes e cruzei os braços; quando
seus olhos encontraram os meus, comecei a caminhar na direção de sua
casa.
Assim que entrei na cozinha, seus braços se envolveram em minha
cintura, e seus lábios tocaram meu pescoço calmamente.
— Amor… — sussurrei, e ele me virou de frente.
— Só me beija — ordenou me puxando pela nuca e selando nossos
lábios.
Sorri, deixando que sua língua começasse a massagear a minha
lentamente, suas mãos apertaram minha cintura com firmeza e me
impulsionaram a sentar na bancada.
Arranhei as laterais de sua cintura, e ele estremeceu sorrindo.
Seu corpo me pressionava ainda mais, e só paramos por ouvirmos
passos se aproximando.
— Vou tomar banho para levá-la a um lugar — ele disse, e eu franzi
o cenho.
Subimos para o quarto vendo os meninos jogados na sala, já
adormecidos.
— Fez suas malas para ir a Nova Iorque? — questionei me
lembrando da viagem que ele fará para conhecer a liga profissional formada
pela universidade de Stanford.
— Fiz, sim, ontem — disse, ao entrarmos no quarto, e mostrou sua
mochila em cima do sofá que tinha no quarto.
— Sempre deixando as coisas para a última hora — comentei.
Ele riu, dando de ombros, me beijou e entrou no banheiro.
Caminhei atentamente em direção à minha bolsa, tirei o diário que
fiz para Cameron ler enquanto eu estivesse fora e o escondi no fundo de sua
mochila.
Subimos uma escada que dava para o telhado, e, ao chegarmos lá, vi
tudo o que tinha no enorme terreno que nossas famílias compraram.
— Aquela parte depois do salão de festas é onde eles realmente
treinam. — Apontou para depois de um córrego que atravessava nossas
casas. — As crianças não vão, lá será a central oficial dos seguranças,
aquela em que você estava e onde usou a metralhadora. Era usada
temporariamente até a oficial estar pronta. Não queremos isso tão perto de
casa. — Virei-me para ele e acabei rindo.
— Isso é ótimo — afirmei, e ele beijou minha testa.
— Vem — chamou me puxando pela cintura até o sofá, que estava
aberto em uma cama, e nos cobriu com um edredom —, olha — pediu.
Olhei-o, e ele fez três gestos com as mãos, pensei estar brincando de
fazer jutsus novamente, mas ele estava sério.
Cameron juntou as mãos devagar, entrelaçou os próprios dedos e
beijou os polegares.
— Lembra que me disse querer fazer códigos para se comunicar
comigo como Maxon e América? — sorri concordando. — Então, acho que
podemos dar um puxãozinho na orelha quando quisermos falar um com o
outro em particular caso estejamos em público.
— Perfeito — respondi animada, e ele sorriu.
— E quero poder dizer que eu te amo mesmo estando longe de você,
quando eu estiver no campo de futebol e você nas arquibancadas, ou você
cantando em alguma apresentação e eu na plateia. Então pensei em: Eu —
ele juntou as mãos — te — entrelaçou os dedos — amo — beijou os
polegares.
Juntei as mãos, entrelacei meus dedos e beijei meus polegares.
Ele sorriu quando o olhei.
— Eu te amo — admiti fazendo nosso código sentindo meu coração
bater forte.
— Eu te amo — rebateu fazendo, também, nosso código.
Aproximei-me dele e o beijei com calma, tristeza e felicidade. Um
misto de vários sentimentos.
— Vamos dormir aqui? — questionei, enquanto o olhava, e ele
negou.
— Só quero ver o céu com você, e depois descemos — explicou
quando me deitei ao seu lado e o abracei pela cintura.
— Tudo bem — disse olhando o céu.
— Amor?
— Oi.
— Falei com os meus pais sobre me casar com você — ele disse, e
eu o olhei animada.
Meu coração acelerava de um jeito incrível quando ele falava sobre
aquilo.
— E eles?
— Apoiaram, minha mãe se animou toda quando comentei, e meu
pai queria que fosse ano que vem — ele riu —, mas disse que esperaria o
nosso momento, pois é um grande passo, e casamento não é brincadeira.
— Estive pensando — sentei-me de frente para ele e entrelacei
nossos dedos. — Quando você completar dois anos de faculdade, pode ser
nosso casamento. Vamos estar em um momento bom e tranquilo na
faculdade, teremos vinte anos, e não acho uma idade ruim. Quando
terminarmos a faculdade, não vou querer me preocupar com festas de
casamento, quero me formar e viajar com você. Parece-me ótimo — admiti.
— Acho ótimo também, se quer saber.
— No fim do ano que vem, a gente noiva e, no outro ano, nos
casamos? — quis confirmar.
— Dois anos e meio para chamá-la de minha esposa? — questionou,
ao se sentar no sofá, e me puxou para me sentar entre suas pernas.
— Dois anos e meio para chamá-lo de meu esposo — respondi
deslizando as unhas em seu braço e o beijando.
Dois anos e meio, apenas dois anos e meio…
“Meu primeiro amor. Meu último amor. Desde que você se foi não sei o que fazer, não posso deixar o
amor ir. Eu estive quebrado, não posso começar de novo, não posso trocar por algo novo.”
Always – John Legend

Combinei com Rebecca de sairmos um pouco só eu e ela, porque


esta semana os meninos do time estavam tentando aproveitar ao máximo
sua companhia, e eu particularmente queria um tempo apenas com ela.
— Bom dia, senhor Styles — o segurança me cumprimentou assim
que cheguei à mansão dos Malik.
— Bom dia, Valter — cumprimentei o segurança. — Rebecca?
— Está na sala, disse para o senhor entrar assim que chegasse.
Apenas concordei e lhe agradeci. Entrei na casa seguindo na direção
da cozinha e me deparei com ela, Antonella e seu assistente, Marlon, e tia
Olívia com os gêmeos.
Rebecca estava de costas para mim, o que me possibilitou ver a
abertura do vestido na parte de trás. Seu corpo estava perfeito, e o vestido a
desenhou incrivelmente bem, mas foi inevitável conter a vontade de irritá-
la.
— Está muito aberto esse vestido, não? — provoquei, e ela se virou
para mim, lançando o mesmo olhar irritado de quando éramos crianças.
— Não — respondeu, e tia Olívia faz uma careta de quem sabia o
que viria.
— Na minha opinião, deveria ser mais fechado, olhe o tamanho
exagerado dessa abertura.
Ela revirou os olhos me deixando orgulhoso por ter conseguido
irritá-la.
— Obrigada por compartilhar sua opinião, Styles, mas devo lembrá-
lo de que ninguém pediu por ela — Rebecca disse com a voz carregada de
sarcasmo.
Tentei conter o sorrisinho de lado em meu rosto, mas, com seu olhar
cravado em mim, era impossível.
— Achava que, depois do namoro, vocês parariam com isso, mas só
piora — tia Olívia disse aos risos. — Como aguentam?
— Rebecca só está comigo porque sou o único que atura as chatices
dela e porque eu beijo bem — disparei sem rodeios.
— Cameron! — repreendeu quando Olívia nos olhou boquiaberta.
— Muitas pessoas me aturam.
— Meu Deus — Antonella disse baixinho sem conseguir conter a
risada, e tia Olívia gargalhou. — O vestido está pronto, e a costura está
firme para não ser rasgada como o outro — disse revezando o olhar entre
Rebecca e eu.
— Como o outro? — Olívia questionou, e Rebecca arregalou os
olhos.
— Juro que não foi eu, sogra — justifiquei levantando meus braços
em rendição, e ela me lançou um olhar indicando que sabia que era mentira.
Antonella não conseguiu conter a risada.
— Mãe, não foi nada demais — disse calmamente, e ela nos olhou
fingindo ter dúvidas, mas acabou rindo.
— Certo.
— Vou trocar de roupa — Rebecca avisou e abraçou Antonella. —
Muito obrigada pelo vestido, é perfeito!
— Ficaria triste se não me chamasse, mande-me fotos — pediu a
estilista retribuindo o abraço.
— Mando, sim. Tchau, Marlon, muito obrigada também —
agradeceu-lhe com um abraço.
— Você ficou uma gata! — disparou retribuindo, também, o abraço
dela.
Ela se aproximou de mim e, após me dar um selinho, subiu as
escadas tomando cuidado com o vestido.
— Fica de olho nas crianças, por favor? — Olívia pediu, enquanto
entregava Louis a mim, e levou Antonella e Marlon para a saída da casa.
Sentei-me no sofá com Louis em meu colo e puxei o carrinho onde
Eloise estava.
Tia Olívia retornou e se sentou ao meu lado, enquanto o garotinho
apertava meu dedo com a força dele. Gostava daquela sensação, fazia-me
imaginar como seria ter um filho com Rebecca… ou seis filhos.
— Soube que pretendem noivar ano que vem — Olívia disse
puxando o carrinho de Eloise —, saiba que vocês têm todo o nosso apoio
para isso.
— Por mim, estaríamos casados há um tempo — disse rindo —,
mas não quero nada apressado com ela, quero que as coisas aconteçam na
medida em que ela estiver confortável.
— Você é um ótimo garoto, Cameron, estou orgulhosa de você. —
O sentimento de aprovação era algo novo para mim ainda, não pude deixar
de ficar feliz em ouvi-la.
Abri a boca para falar, mas, ao ouvir os passos dela, optei pelo
silêncio.
— Vamos? — indagou me olhando e, em seguida, brincou com
Eloise.
— Vamos.
Entreguei Louis a tia Olívia, Rebecca a beijou na testa, beijou os
irmãos, e seguimos para o carro.
A ponte acabou se tornando um lugarzinho nosso, mas os
seguranças sempre verificavam se alguém estava aqui antes de chegarmos.
— Vire-se — pediu me olhando. — Preciso trocar de roupa.
— Mas eu já a vi de biquíni, qual é o problema? — questionei
tirando a camisa e o relógio.
— Não é a mesma coisa, vire-se.
Acabei rindo e me virando, pulei na água do lago e permaneci
virado.
— Pronto — avisou.
Virei-me em sua direção, ajudei-a a entrar na água e fiquei olhando
seu rosto delicado por instantes. Ela jogou água em mim e me empurrou
para baixo, afundando-me, e a puxei para afundar comigo e a beijei mesmo
debaixo d’água.
Era brega, clichê e ao mesmo tempo incrível por ser com ela.
Voltamos à superfície, e não deixei que se separasse de mim, puxei
suas pernas na altura de minha cintura, sentindo-as se entrelaçarem ao meu
redor, e juntei nossos lábios com calma enquanto meu corpo todo a
desejava.
Apertei sua cintura e a prendi com meus braços envoltos enquanto
nossas línguas se movimentavam com calma.
— Eu te amo — sussurrou com os lábios próximos dos meus.
— Eu te amo — disse selando nossos lábios.
Ela sorriu e voltou a mergulhar, ficamos assim por instantes,
brincando de jogar água um no outro, cantando e conversando
aleatoriamente.
Rebecca foi a primeira a sair da água.
Observei-a tocar na borda da ponte e sorrir sozinha.
O sol contra seu rosto realçava sua pele, uma beleza incrível que eu
poderia observar até o fim de minha vida.
Saí do lago e parei próximo dela.
— No que está pensando? — questionei afastando seus cabelos da
nuca.
— Na primeira vez que viemos para cá, eu achei que me beijaria —
ela riu se aproximando, e eu a puxei pela cintura para acabar com a
distância entre nós.
— Eu queria muito, muito, muito beijá-la naquele dia, mas não
queria desrespeitar seu espaço, tive que controlar até minha alma, e ainda
assim acabei lhe dando um selinho — ela sorriu se virando de frente para
mim.
— Fiquei com medo de me apaixonar e você só estar brincando —
explicou deslizando os dedos em meus braços.
— Juro que tentei — brinquei afundando os dedos nos fios de seus
cabelos e os puxando —, mas foi impossível não me apaixonar, e agora
você é minha.
— Não sou, não — provocou, e eu sorri puxando seu cabelo com
mais força.
— Isso não foi uma pergunta — afirmei roçando os lábios em seu
pescoço.
Ela puxou a respiração e apertou meus braços, tentando controlar
sua respiração.
Observei-a e acariciei seu rosto enquanto seus olhos estavam fixos
em mim. Passei os dedos em seus lábios enquanto molhava os meus com a
língua, subi a mão em seu rosto novamente e lhe dei um leve tapa.
Suas bochechas coraram na mesma hora em que abriu um sorriso, e
ela tapou o rosto com as mãos, totalmente envergonhada, o que a deixou
ainda mais atraente.
— Amor? — chamei tentando afastar as mãos de seu rosto.
— Não — disse se virando de costas —, me deixe.
— Jamais — sussurrei em seu ouvido, enquanto enrolava seus
cabelos em meu pulso, puxando-os, e beijei seu pescoço. — Por que não
olha para mim?
Eu a vi apertar as bordas da ponte e sorri satisfeito.
Deslizei os dedos em seus braços e os prendi atrás, pressionando
meu corpo mais contra o dela, e beijei sua nuca.
— Cameron… — disse baixo e ofegante.
Deslizei minhas mãos em sua cintura, virando-a para a frente, e a
beijei com voracidade, pressionando-a mais entre meu corpo e a borda da
ponte.
Senti suas unhas deslizarem nas laterais de minhas costas, de modo
a me estremecer por inteiro, enquanto nossos lábios começavam a se mover
devagar.
Eu queria mais dela, queria tudo dela e entregar tudo de mim.
— Você não faz ideia do quanto eu a quero — sussurrei em seu
ouvido antes de descer os lábios para o seu pescoço.
Sua pele se arrepiava sem parar, e ela estremeceu quando a apertei
com mais força. Com os dedos, ela ergueu meu rosto pelo queixo e me deu
novamente um beijo, que finalizou com uma mordida, o que era sinal de
que devíamos parar.
Ficamos abraçados por instantes até nos olharmos e rirmos. Puxei a
mochila e apoiei a cabeça após me deitar na extensão da ponte. Ela sorriu,
beijou minha bochecha e se deitou comigo. Ficamos a olhar para o céu
limpo por minutos, talvez horas, eu não me importava.
— Trouxe uma coisa para comermos, mas você precisa ver se a
diabetes está controlada — avisei, e ela concordou.
— Minha medicação está aqui na bolsa caso a diabetes suba demais,
mas vou verificar.
Concordei beijando sua bochecha, então me levantei e caminhei até
o carro. Peguei os potes com morango e calda de chocolate suíço. Quando
voltei, Rebecca havia acabado de aplicar a medicação em seu braço.
— Tudo bem?
Ela balançou a cabeça positivamente e sorriu.
Coloquei as coisas em cima de uma toalha, e seus olhos brilharam
vendo o chocolate.
— Você só vai comer o morango — provoquei me sentando ao seu
lado.
— E você nunca mais vai ganhar um beijo meu.
— Sem graça — disse aos risos e afundei um morango no chocolate,
levei-o até sua boca, e ela mordeu o morango.
— É só falar em beijo que você se rende rapidinho.
— Rebecca, não me estresse — brinquei fingindo irritação, e dessa
vez ela quem me deu um morango.
— Contei aos meus pais que vamos noivar ano que vem — olhei-a
como se lhe pedisse que continuasse a falar —, e eles apoiaram. Papai
começou a chorar dizendo que eu cresci, e mamãe queria falar sobre o
vestido e os preparativos; como combinamos de ficar só entre nós até
chegar o noivado, eles entenderam e prometeram segredo.
— Meus pais prometeram o mesmo também, e vamos nos preparar
para contar a Natalie, que sem dúvidas vai enlouquecer — afirmei, e ela riu.
— Com certeza vai — brincou voltando a comer. — Podemos
contar quando chegarmos a Palo Alto, ela e Elliot vão para conhecer o
campus. Você vai como meu convidado, Elliot como convidado de Neji e
Natalie como convidada de Felicity. Geórgia permitiu levarmos uma pessoa
com a gente.
— Perfeito, contaremos a ela e a Elliot de uma vez — afirmei, e ela
sorriu em concordância.
Depois de mais alguns morangos mergulhados no chocolate,
voltamos a nos deitar.
— Você precisa dormir um pouco e descansar para o jogo — disse
me olhando e beijou meus lábios.
Passei os dedos na extensão de seus cabelos, concordando, e a puxei
pela nuca fazendo com que nossos lábios ficassem próximos.
— Mas agora quero te beijar — admiti antes de beijá-la.
Envolvi meu braço em sua cintura, de modo a fazê-la ficar com o
corpo em cima do meu, mas sem quebrar o beijo. Enquanto nossas línguas
se moviam devagar, suas unhas deslizavam em minha nuca e em meus
braços e desciam em meu abdômen com calma. Desci minha mão até a sua
bunda e a apertei, e ela abriu um sorriso durante o beijo.
Virei-a, ficando por cima, e prendi suas mãos com uma mão só; com
a desocupada, apertei levemente seu pescoço, de modo a fazê-la inclinar a
cabeça um pouco para cima.
Era enlouquecedor o fato de que apenas a olhar me deixava
enrijecido.
Beijei seu pescoço com calma e mexi a cintura, Rebecca puxou a
respiração e soltou com dificuldade. Quando me mexi novamente, ainda
mais devagar, ela deixou escapar um gemido baixo. Acabei sorrindo, beijei-
a, soltando seus pulsos, e apertei sua cintura.
Senti suas unhas se cravarem em minhas costas com um cuidado
que só ela tinha, mas, antes que perdêssemos totalmente o controle, suas
mãos começaram a me empurrar, e ela afastou nossas bocas.
— Cam… — chamou com a voz fraca.
Balancei a cabeça positivamente, em sinal de que a havia entendido,
e me deitei ao seu lado, e ela se sentou. Ficou a olhar o lago por instantes
enquanto acalmávamos nossas respirações. Passei a mão em suas costas, e
ela se virou para mim.
— Precisamos ir, ou você não vai conseguir dormir nem por duas
horas — afirmou se levantando e me puxando para me levantar.
Em Los Angeles, Estados Unidos
Sex., 18h51, junho

A hora do jogo estava próxima, e, depois dos conselhos do


treinador, de Owen e meu pai, Rebecca entrou no vestiário. Ao contrário da
primeira vez em que ela entrou aqui, dessa vez não estava envergonhada, e
sim familiarizada com os meninos.
— Meninos, não sou mais a representante de Liberty, então hoje
vocês me terão apenas como a amiga de vocês…
— E nossa capitã — Peter completou e os meninos gritaram em
concordância.
— Eu aceito isso — ela sorriu e continuou. — Vai demorar um
pouquinho até que eu venha assistir a vocês, mas quero que levem para
todos os jogos a garra e motivação que vocês têm. Dentro e fora de campo,
vocês foram incríveis, foram ótimos alunos e se dedicaram a aprender os
conteúdos, se doaram nas arrecadações para o orfanato e mostraram que,
além de um time, vocês são uma família. Estou orgulhosa de vocês. No
próximo semestre, terão pessoas que continuarão a ajudá-los com os
estudos, e, como um pedido de quem os ajudou por um tempo, peço que lhe
deem atenção como deram para mim. Vocês são inteligentes e um time
muito talentoso, quero vê-los na final e, principalmente, em Stanford. Vocês
serão para sempre o meu time.
Quando ela finalizou, os meninos estavam aos prantos. Eles a
abraçaram em coletivo e depois a deixaram para me abraçar sozinha.
Rebecca selou nossos lábios e disse em voz baixa:
— Estou muito orgulhosa de você, meu amor, fez um ótimo trabalho
e sei que vai continuar fazendo. — E beijou meu rosto.
Fizemos a oração, aproveitando a presença dela, e depois ela saiu do
vestiário abraçada com Owen.
— É a vez de vocês entrarem — um dos inspetores avisou.
Fizemos a entrada tradicional dos Warriors e demos espaço para as
líderes dançarem; quando começou o refrão da música Crazy in Love, da
Beyoncé, começamos a dançar com elas, o que foi necessário para a
animação dos torcedores e as risadas maldosas do time Lophtom, nosso
rival.
Era um time forte, mas não o suficiente para uma final com a gente.
Olhei Rebecca, que sorria limpando os olhos. Ela me olhou, e eu fiz
o nosso código de eu te amo, que foi retribuído quase no mesmo instante.
— EM SEUS LUGARES! — o juiz gritou.
Colocamos nossos capacetes e corremos para as nossas posições.
— É por isso que não conseguiu transar com a virgem, não passa de
uma bichinha — o capitão de Lophtom disparou alto o suficiente para que
eu ouvisse.
Preparei-me para revidar, mas fui impedido por Elliot e Peter.
— Desconte no jogo — Elliot disse.
— Mas…
— Cameron, porra — Peter começou —, é o último jogo a que
Rebecca vai assistir antes de ir embora, sabe quando ela vai assistir a outro
jogo nosso? Na final, e eu não quero que hoje seja um jogo ruim para
ninguém, não fode — disse indo para a sua posição.
Eu e Elliot trocamos um olhar dizendo coisas sem precisar de
palavras.
— Vamos acabar com eles — Elliot disse.
O jogo começou, e estávamos tão determinados a vencer e acabar
logo com aquilo, que mal reparamos os três tempos que haviam terminado.
O treinador me chamou segundos antes do quarto e último tempo
para pedir que eu maneirasse um pouco na questão de embate físico, pois
dois jogadores foram para o hospital durante o terceiro tempo.
Sabia que estava com a cabeça cheia. Rebecca iria embora, meu pai
estava agindo de forma estranha desde que visitou meu avô há duas
semanas, ainda tinha as empresas e a faculdade. E a única forma que
encontrei de me desestressar foi jogando.
Dei-me conta de que o fim do jogo havia chegado, com uma vitória
para nós de 67 a 12, quando os meninos começaram a me jogar para o alto.
Depois de toda a comemoração, consegui chegar até minha garota.
Abracei-a com firmeza e a girei no ar.
— Você estava demais hoje; falaram-me que dois jogadores foram
para o hospital — disse admirada e acabou rindo.
— Eu sou demais sempre.
Ela fez uma careta e riu selando nossos lábios.
— Arrume-se, os meninos estão te esperando para sair com Carter
— avisou.
Concordei dando um beijo em sua testa e a deixando com Nicholas.
— Não a deixe sozinha — pedi o olhando, e ele concordou.
— Contou a ela o que vamos fazer na despedida de hoje? —
Nicholas questionou com ar maldoso, pois combinamos de zoar as meninas.
— Esqueci totalmente — admiti.
— O que vão fazer? — Rebecca indagou.
Não usávamos o termo despedida de solteiro porque não tínhamos
do que nos despedir, mas, como era por uma brincadeirinha dos meninos,
usamos o termo dessa vez.
— Vamos zoar o Carter, encomendamos aqueles bolos que saem
uma mulher de dentro — expliquei esperando o sermão de Rebecca, mas
ela acabou rindo.
— Ah, sério? Isso é ótimo — disse animada, e eu e Nicholas nos
entreolhamos.
— Becca, vamos, as meninas estão à sua espera — Felicity disse
pulando em cima dela e a puxando.
— Não — disparei envolvendo a cintura de Rebecca em meu braço
e a trazendo para mim. — Por que levar uma garota dentro de um bolo é
uma ótima ideia?
— Ah, sim, bom, não sabia como lhe contar, mas acho que não vai
ficar bravo porque vamos fazer quase a mesma coisa. Aqueles caras que
dançam em boate, sabe como chamam? — Olhei-a incrédulo quando ela se
soltou de mim. — Stripper! — disse eufórica. — Chamamos alguns para
fazer surpresa para a Nicolly; ah, vai ser incrível.
— Nem fodendo! — Nicholas esbravejou.
— Que ideia é essa, Rebecca? — perguntei impaciente.
— Uma despedida de solteira, amor, aproveitem a de Carter —
desejou e selou nossos lábios rapidamente.
Observei, sem reação, Rebecca sair com Felicity.
— Essa porra definitivamente não vai acontecer — afirmei e,
segundos depois, eu estava no vestiário.
Depois de tomar um banho rápido e trocar minhas roupas, caminhei
até o estacionamento onde os meninos estavam.
— Lana, Calleb, Melissa, Natalie e até tia Olívia disseram a mesma
coisa, chamaram strippers mesmo — Elliot informou.
— Vamos acabar com isso agora! — afirmei.
— Mas que merda de ideia foi essa de levar garotas? E de onde
tiraram a ideia de despedida de solteiro? Não tenho do que me despedir! —
Carter esbravejou.
— Não chamamos ninguém, só íamos zoar com as meninas, ver o
que elas fariam e… Antes que Nicholas terminasse de falar, Carter deu um
tapa em sua cabeça.
— Você sabe muito bem como Rebecca, Nicolly e Natalie são
quando se juntam e ainda cogitou testá-las com uma coisa dessas? Mas que
porra!
— Se vocês vão ficar discutindo, ótimo, eu estou indo atrás da
minha mulher — avisei entrando no meu carro, e Elliot entrou logo em
seguida.
Eu sabia que os homens da minha família e de Rebecca jamais
deixariam que algo assim acontecesse, mas não arriscaria com aquele trio.
Chegamos em casa sem poupar o barulho para que todos soubessem
que chegamos. Seguimos para a casa de Rebecca. A música estava alta, e
meu sangue começou a ferver quando vi carros desconhecidos
estacionados.
Quando chegamos na ala de piscinas, vimos as mulheres dançando
entre si, Nicolly toda cheia de tinta e glitter e Natalie, Lana e Calleb
dançando com ela.
Assim que nos viram, começaram a gargalhar.
Meu pai, Owen, Benjamin e outros tios de Rebecca estavam
presentes dentro da casa jogando sinuca.
— Rebecca estava certa, eles vieram correndo — Felicity disse
caminhando até Nicolly e entregando um copo de água a ela.
— Foi tudo armação? — Carter questionou quando a atenção se
voltou a nós.
— É claro que sim, até parece que deixaria essas coisas acontecerem
dentro da minha casa onde meus filhos vivem, de jeito nenhum — tia Olívia
explicou.
— Graças a Deus meu amorzinho e minha filha não estão vendo
outros caras dançando — Carter disse aliviado e caminhando até Nicolly.
— Isso foi ideia de Rebecca, não é?
— Só ela para deixar esse aqui desesperado e com ciúmes —
mamãe disse limpando alguma coisa que estava em meu rosto. — Ela está
na cozinha — avisou.
Fiz uma careta ao vê-la rir, beijei sua testa e saí o mais depressa.
Rebecca estava prestes a sair da cozinha quando apertei sua cintura
e a pressionei contra a parede repentinamente; ela me olhou surpresa e
sorriu passando a língua nos lábios.
— Parece que alguém me achou — ironizou me fazendo desejá-la
ainda mais.
— Parece que alguém gosta de armações — rebati.
— E parece que alguém caiu certinho — disse vitoriosa e tentou se
soltar.
Apertei-a com mais força e pressionei meu corpo contra o dela.
— Eu vou acabar com essa sua marra — ameacei subindo a mão em
sua nuca, e ela estremeceu mesmo tentando ficar firme. — Sabe, Malik —
iniciei roçando os lábios em seu pescoço até chegar à sua orelha —, não
tenho problemas em ficar por baixo quando é embaixo de você — sussurrei.
Ela abriu um sorriso safado e mordeu o lábio inferior enquanto
olhava a minha boca.
— Eu sei — disse convencida e me afastando para passar.
Puxei-a pela nuca e a virei para que ficasse cara a cara comigo.
— Cameron…
— Quietinha — exigi e a beijei deslizando minhas mãos em sua
cintura.
Nossos lábios se moviam com calma e precisão, meu corpo ardia de
desejo por ela cada vez mais, nossas respirações estavam ofegantes, e
paramos apenas quando o ar foi se acabando.
Mordi seu lábio, sentindo suas unhas em meu abdômen, e dei um
tapa em sua bunda. Ela ficou me olhando por instantes sorrindo e balançou
a cabeça como se tentasse acordar.
— Eu moveria o mundo para saber o que você acabou de pensar —
ela sorriu se afastando.
— Ainda bem que não pode mover o mundo.
“Eu vou sempre amar você, você sempre será a única e eu sempre vou te esperar.”
Always – John Legend

Carter estava se olhando no espelho enquanto ajeitava a gravata pela


décima vez, deixando nítido seu nervosismo e sua felicidade por ser o dia
de seu casamento.
— Quatro anos, e eu finalmente vou poder chamá-la de minha
esposa, hoje é o dia mais feliz da minha vida — anunciou se sentando ao
lado de Andrew.
— Quatro anos de noivado? — Andrew questionou.
— Dois de namoro e dois de noivado — Carter explicou.
— Cameron é o próximo — Nicholas disparou.
— Ou você — rebati, e ele riu negando.
— Felicity não gosta de mim como eu gosto dela, bom, não ainda —
explicou.
Elliot e Andrew me olharam na mesma hora, e eu dei de ombros,
olhando janela afora.
— Depois do Cameron, com certeza vai o Elliot. — Carter quebrou
o clima tenso.
— Se Natalie quiser hoje, eu vou — afirmou aos risos.
— Querido — a mãe de Carter disse contendo as lágrimas ao passar
pela porta.
Saímos da sala para deixá-lo a sós com sua família e seguimos para
onde as meninas estavam. Os meninos continuaram a andar depois de
descermos as escadas, mas eu parei quando vi Rebecca sair do quarto onde
Nicolly estava.
Meu coração disparou.
A sensação de amar alguém era estranho, como se pudesse me
consumir. Tranquilizava-me e ao mesmo tempo me deixava ansioso só de
pensar em vê-la.
E eu ficava mais ansioso quando me lembrava de que em breve ela
seria a minha noiva.
Ela sorriu quando estendi a mão para que descesse o último degrau
da escada.
— Você está linda — puxei-a pela cintura — e uma delícia —
sussurrei para que só ela ouvisse.
— E você está perfeito — ela selou rapidamente os nossos lábios.
— Mas fique longe do fecho do meu vestido.
— Só hoje — avisei vendo-a rir.
Após a entrada de Carter e alguns padrinhos, foi a minha vez de
entrar com Rebecca.
— Não vejo a hora de eu estar esperando-a no altar — disse baixo
enquanto andávamos.
— E eu não vejo a hora de saber que você está me esperando no
altar — replicou, também, em voz baixa quando paramos para a foto.
Sorrimos nos olhando e chegamos aos nossos devidos lugares.
Nicolly apareceu na entrada, e, por mais que Carter tenha tentado
segurar as lágrimas, não conseguiu evitá-las.
Beijei o topo da cabeça de Rebecca imaginando o dia em que fosse
o nosso casamento.
A cerimônia seguiu perfeitamente bem e tranquila; nos votos, os
dois choraram juntos, principalmente quando Carter falou sobre a filha.
— Hora de a noiva jogar o buquê! — Amora, a mãe de Nicolly,
anunciou.
— E você vem comigo agora! — Natalie disse praticamente
arrancando Rebecca de perto de mim.
Quando a noiva jogou, Isaac pulou na frente de todas as meninas,
pegou o buquê e o entregou a Rebecca, para em seguida fazer uma dancinha
própria e apontar para mim no final, fazendo todos começarem a rir,
inclusive eu e Rebecca.
A abertura da pista de dança foi com Nicolly e Carter iniciando, e,
em seguida, os pais dos noivos entraram. Nós os aplaudimos e então, eu e
Nicholas invadimos a pista dançando as músicas que ele tinha ensinado a
nós e puxamos Carter para dançar junto.
Os meninos do time titular se juntaram e era ótimo ver que eles
fizeram tanta amizade com Carter e Nicolly que até foram convidados para
o casamento.
Depois de cinco horas aproveitando a festa, percebi que os meninos
do time entraram na casa. Saí de perto do meu pai e sogro e entrei para ver
o que estava acontecendo.
—… vou sentir sua falta para caralho, irmãzinha — ouvi Peter dizer
a Rebecca.
— Promete não parar de falar comigo? Por favor — ela pediu com a
voz falhada.
Entrei no cômodo percebendo que os outros meninos também
estavam se despedindo, até porque iríamos para Nove Iorque.
— Eu os amo! Vocês são incríveis, não quero perder o contato e
prometo que venho visitá-los. O pessoal vai continuar a ajudá-los com as
matérias, e, por favor, mantenham o foco acima de tudo. Passem nos jogos,
porque quero vê-los na final.
— Capitã — Adam chamou —, vai conseguir vir mesmo na final?
— Pelo que entendi, as notas fecham na última semana de
novembro, o jogo da final é na primeira semana de dezembro, então, sim,
estarei na final para torcer por vocês — disse animada.
Os meninos começaram a comemorar pulando e gritando. Ouvimos
um assobio alto e forte, olhamos na direção dele e vimos que era Owen.
— Não quero acabar com a festa de vocês, mas precisam se
organizar, pois iremos embora em alguns minutos, e amanhã vocês sairão
cedo.
— Ok! — os meninos responderam juntos.
Um a um, foram abraçando Rebecca e se despedindo dela. Quando
chegou a vez de Peter, ele desmoronou nas lágrimas junto dela.
— Por favor, cuide-se — ela disse tentando se manter firme.
— Desculpe, irmãzinha, você é uma das únicas pessoas que ficaram
ao meu lado mesmo sabendo o pior de mim, você não desistiu.
— E não vou desistir, é só um tempo longe. — Eles sorriram com os
olhos avermelhados e se abraçaram.
Quando Natalie entrou com o nariz e os olhos avermelhados e
Rebecca a olhou, não consegui continuar na sala.
— Fique com elas, por favor — pedi a Nicholas, e ele balançou a
cabeça positivamente.
A última coisa que ouvi foi as duas conversando e chorando.
Sentia-me péssimo em deixar as duas garotas mais importantes da
minha vida aos prantos, mas era demais para mim.
Caminhei até uma parte da chácara vazia onde havia alguns
banquinhos e dava a visão de um pequeno riacho. Sentei-me e fiquei
olhando a água descendo pelo riacho, tentando manter a minha mente o
mais vazia possível.
Ficar sem ela seria difícil, queria terminar o colegial ao seu lado,
convidá-la para o baile, buscá-la em casa no dia da formatura, vê-la fazendo
o discurso e nos formarmos juntos, mas não seria possível; no quesito
inteligência, ela estava muito à minha frente.
Era isso. Respirei fundo e comecei a colocar as conquistas dela
acima da nossa distância. Estava orgulhoso pela minha garota, não tinha
problema, ainda a encontraria e ela continuaria a ser minha, e eu dela.
Ouvi passos se aproximando, ela se sentou ao meu lado e deitou a
cabeça em meu ombro. Entrelacei nossos dedos e beijei sua mão, não sabia
o que dizer e, no momento, não queria dizer nada. Senti seus lábios tocando
meu ombro.
— Carter e Nicolly vão sair agora, e podemos ir para casa — disse
baixo, e eu a olhei concordando.
Nós nos aproximamos dos demais convidados, e Nicolly e Carter
estavam radiantes enquanto se despediam.
Nós os observamos partir enquanto alguns convidados jogavam
pétalas de rosa sobre eles.
O motorista que nos levaria para casa estava ao nosso aguardo; nós
nos despedimos do pessoal, e Peter quase não soltou Rebecca.
— Becca — Josh chamou-a antes de ela entrar no carro, e ela o
olhou —, você vai ser sempre nossa capitã!
— E, quando chegarmos a Stanford, vamos dominar tudo com você
e o capitão no comando! — Peter disparou.
— Não tenho dúvidas disso — afirmou e mandou um beijo a eles,
em seguida entrou no carro e dessa vez não chorou.
Em Los Angeles, Estados Unidos,
Dom., 00h51, junho
Desci para a casa de Rebecca após tomar banho e trocar de roupas
na minha casa; ela e Isaac estavam abraçados no sofá quando cheguei.
—… eu não vou poder visitá-la todo fim de semana, não é? — Isaac
questionou.
— Eu acho que não, maninho — Rebecca disse tentando conter a
voz trêmula e ao mesmo tempo falha.
Isaac soltou um longo suspiro.
— Mas, quando eu me estabilizar em Stanford, você com certeza vai
me visitar.
— Com certeza — alegou a abraçando mais forte. — Acha que
Cameron vai continuar dando aulas de violão para mim?
Pensei em deixar Rebecca responder, mas, ao contrário dela — coisa
que nunca falarei em voz alta —, não consigo permanecer por muito tempo
ouvindo uma conversa escondido.
— É claro que vou — anunciei me aproximando deles, e Isaac deu
um pulo pelo susto.
— Precisava desse show? — Isaac indagou com a mão no peito.
— Sempre — rebati dando-lhe um leve empurrão pelos ombros.
Ele me empurrou e fez uma careta.
— Boa noite, irmã e Cameron. — Ele me abraçou e em seguida a
abraçou.
— Boa noite — ela disse beijando seu rosto, e ele subiu as escadas
para o quarto.
— É melhor irmos dormir também. A que horas será seu voo? —
questionei.
— Às seis — disse se levantando e desligando a tevê.
Chegamos ao seu quarto, e ela deu duas batidinhas na cama com a
palma na mão.
— Sei que está todo quebrado, mas não quer admitir porque sabe
que vou falar que estava certa em não o querer em confusões antes do jogo
— iniciou assim que me sentei ao seu lado.
— Estou bem, amor — menti.
— Cameron…
— Estou bem.
Ela balançou a cabeça negativamente.
— Se você diz. — Deu de ombros e se impulsionou para se sentar
em meu colo, sabendo que eu deixaria na mesma hora.
Seus lábios macios e doces tocaram os meus com suavidade; sentei-
me melhor na cama, sem soltá-la, e ela deslizou as unhas em minha nuca.
Suas mãos desceram em meu abdômen, empurrando-me para me afastar, e
ela sorriu me fazendo deitar na cama.
A cada beijinho que dava em meu pescoço minha vontade de
arrancar suas roupas crescia, e parecia que ela sentia a mesma coisa, pois
tirou minha camisa e…
A olhei desacreditado e decepcionado comigo mesmo por perceber
o quão fácil eu sou com Rebecca.
Ela analisou as marcas em meu corpo e subiu o olhar para o meu
rosto.
— Era por isso que estava preocupada com sua briga antes do jogo,
seus hematomas estão grandes — disse saindo de meu colo e afastando
temporariamente a vontade que estava de continuar o beijo. — Vire-se, vou
fazer uma massagem em você.
— Não quero que fique se importando com isso justamente nas
nossas últimas horas juntos — expliquei pegando novamente minha camisa,
e ela segurou minhas mãos.
— Deixe-me cuidar de você antes de partir. Por favor, vou ficar
melhor fazendo isso, porque me preocupo com você e quero que viaje um
pouco relaxado, a situação já está difícil — disse olhando em meus olhos.
Beijei sua bochecha, e ela abaixou o olhar. Deitei-me de bruços, e,
quando senti o creme gelado, um alívio começou a me percorrer, suas mãos
começaram a me massagear com calma e cuidado, ao mesmo tempo
atingindo pontos exatos que me aliviavam.
Rebecca finalizou a massagem com beijinhos em minhas costas, em
seguida me arranhou levemente e me fez arrepiar por inteiro. Virei-me
olhando-a, e ela sorriu, provavelmente das minhas bochechas, que estavam
queimando.
Abracei-a e me deitei na cama.
— Obrigado, meu amorzinho — agradeci beijando suas bochechas.
— Eu te amo.
— E eu te amo — sussurrei selando nossos lábios.
A luz do abajur foi a única que se manteve ligada, o que nos
possibilitava ver um ao outro.
Fiquei admirando cada detalhe de seu rosto. Queria cuidar ao
máximo dela, deixá-la livre de qualquer mal, e me torturava não poder fazê-
lo.
— Estou orgulhoso de você, por estar indo para a faculdade, e vou
esperá-la o tempo que for — prometi.
Seus olhos brilharam de felicidade, ela pareceu não esperar por
aquilo e sorriu.
— Eu esperarei por você em Palo Alto — prometeu selando nossos
lábios. — Você é o amor da minha vida e sempre vai ser!
Nós nos olhamos por instantes, e ela se inclinou para selar nossos
lábios, em seguida se aconchegou em mim.
Em Los Angeles, Estados Unidos,
Dom., 05h23, junho

O time fez questão de aparecer na casa de Rebecca para se despedir


novamente, e combinamos de nos encontrarmos em Liberty às seis e meia.
Seguimos para o aeroporto em meu carro, e os motoristas dos Malik
estavam levando os pais e irmãos dela em outro carro. Em nenhum segundo
soltei a mão de Rebecca, exceto quando realmente não tinha jeito; ela
cantou algumas músicas no caminho e chorou em outras.
Chegamos ao local e, quando ia sair do carro, ela me impediu e
observou o estacionamento, que ainda estava vazio, porque sua família
ainda não havia chegado.
— O que foi? — questionei confuso.
Em resposta, ela selou nossos lábios, e eu retribui de imediato. Era
um beijo com vários sentimentos, sendo um deles a vontade de não
ficarmos distantes; era carregado de desejo e de vontade que nossos corpos
sentiam um do outro.
Não queria soltá-la, nunca.
Abracei com firmeza sua cintura, fazendo com que seus seios
ficassem colados ao meu peitoral, mesmo que por cima das roupas; suas
mãos puxavam meu cabelo enquanto sua língua massageava a minha com
graciosidade e calma. Senti seu quadril se mexendo contra o meu corpo,
fazendo-me estremecer.
— Independentemente de qualquer coisa, eu te amo! — sussurrou
com os lábios próximos dos meus.
Beijou-me novamente e saiu do meu colo com a mesma rapidez com
que tinha parado ali. Ainda estava ofegante e atordoado, era tudo rápido
demais, queria mais tempo com ela, precisava de mais tempo, e ainda assim
não o tinha.
— Eu te amo, não se esqueça disso — eu me ouvi dizer e beijei sua
mão.
Não demorou para que sua família chegasse; entramos no aeroporto
após os seguranças arrumarem as malas de Rebecca.
Ela ficou o tempo todo abraçada comigo repetindo que me amava e
que não desistiria de mim, assim como eu repetia as mesmas coisas para
ela.
Quando seu voo foi anunciado, soube que era a hora de me despedir.
Era estranho e perturbador saber que não a veria amanhã depois de
meses juntos, quase que inseparáveis.
Abracei-a com firmeza, e ela retribuiu na mesma intensidade.
— Eu te amo.
— E eu te amo, muito, muito e muito — afirmou me dando diversos
beijinhos.
— Filha, precisamos ir — tio Owen replicou se aproximando.
Rebecca me deu outro beijo e se soltou devagar.
Observei-a caminhar até a parte de embarcação, ela se virou para
mim, juntou as mãos, cruzou os dedos e beijou o polegar dizendo “eu te
amo” sem som, apenas com os movimentos da boca e o código. Fiz o
mesmo para ela e então a olhei partir…
Saí do aeroporto atordoado e me deparei com Andrew próximo do
meu carro no estacionamento.
— Vim com os Malik, eles sabiam que você precisaria de alguém no
fim de tudo — explicou e deu dois tapinhas em minhas costas.
Suspirei concordando e lhe entreguei as chaves.
— Depois você deixa o carro em casa? — Ele concordou dando a
volta até a porta do motorista.
Entrei no banco do passageiro, ainda assimilando que ela havia
partido, mas seu cheiro ainda estava no carro fazendo meu coração acelerar.
Três semanas sem ela e depois meses, meses sem Rebecca, que
pareceriam uma eternidade. Estava feliz, mas uma parte de mim estava com
ela.
Andrew ligou o rádio para ocupar o silêncio. Às vezes parecia que,
no final de tudo, ele sempre estaria lá. Ele parou o carro longe dos meninos
do time, e eu ainda me sentia confuso.
Abaixei a cabeça, e foi impossível não chorar, eu tinha acabado de
deixá-la no aeroporto e estava doendo de uma forma horrível.
— Caralho… — disse quando percebi que parar de chorar depois
que havia começado era extremamente difícil.
— Caralho — Andrew repetiu, e eu acabei rindo.
Recostei-me no carro novamente, me soltei do cinto e me inclinei
para a frente apoiando os cotovelos nas pernas.
— Eu amo demais aquela garota, eu amo demais, demais — disse
passando as mãos nos olhos.
— E ela o ama demais, por isso vocês se reencontraram — afirmou.
Olhei-o, concordando.
— Mas, agora, mesmo doendo muito, você vai precisar seguir sua
vida até o momento de revê-la — explicou.
Respirei fundo e limpei os olhos.
— Valeu, cara — agradeci-lhe, fizemos um toque de mão, e saí do
carro.
Os meninos me receberam animadamente e tentavam a todo custo
me animar.
Estava prestes a entrar no ônibus que nos levaria até Nova Iorque,
quando ouvi uma voz que, além de surpreendente, fez meu coração quase
sair pela boca.
— Cameron! — chamou com firmeza me fazendo virar em sua
direção.
— Vovô?
Meu pai apareceu ao lado dele deixando claro que algo estava por
vir.
— Desculpe, filho, você não poderá ir nessa viagem — papai disse
desanimado como se carregasse um peso enorme nas costas, o que ele
aparentava estar fazendo há semanas.
— Existem coisas mais importantes do que viajar com o time —
vovô William disse com a mesma firmeza de sempre e sem olhar para os
meninos do time.
E eu os segui, sem fazer ideia do que viria agora.
“Às vezes, o amor não tinha a ver com vitórias, mas sim, com sábios sacrifícios.”
Paixão – Lauren Kate

Eu me sentia estranha, desde o momento em que acordei.


As coisas pareciam fora do eixo.
Era como se algo fosse acontecer, como se minha vida fosse mudar.
Mas não para melhor, era um pressentimento horrível.
Conseguia apenas pensar em Cameron, porque, estranhamente, fazia
duas exatas semanas que ele não respondia às minhas mensagens. Natalie
me dizia que ele estava muito ocupado, mas até mesmo ela não conseguia
disfarçar que estava estranha.
A última vez em que eu e ele nos falamos foi na despedida no
aeroporto. O time parecia estar com uma barreira para falar comigo quando
o assunto era Cameron, eles simplesmente não falavam, nem mesmo Peter e
Josh.
Faltavam poucos minutos para eu entrar no avião e ir ao encontro de
Stanford.
A espera de Cameron me deixava ansiosa demais, principalmente
com toda essa estranha situação, então decidi esperá-lo no estacionamento
para podermos matar um pouco da saudade, considerando que quase
ninguém ficava ali.
Quando o vi, ele parecia o mesmo Cameron de antes, então corri em
sua direção e me joguei em seus braços. Ele me abraçou e então me dei
conta de que algo estava diferente.
— Achei que não viria mais — tentei brincar o olhando. — Como
foi com a liga oficial de Stanford? Você precisa me…
— Não tenho nada a contar, porque não viajei com o time.
— O quê?
Busquei o brilho em seus olhos, e não encontrei nada. Ele estava
frio como nunca, fazendo com que fosse quase impossível reconhecê-lo.
Meu coração disparou, e eu prendi a respiração.
Antes que Cameron pudesse dizer algo, seu avô paterno, William
Styles, caminhou até parar ao seu lado.
— Rebecca — cumprimentou com uma breve reverência, e eu fiz o
mesmo, entendendo que algo de muito errado estava acontecendo. William
voltou o olhar para Cameron. — Se não será ela, reduza o sofrimento e
acabe logo com isso! Você tem cinco minutos — disse de forma ríspida e se
retirou.
Minha mente começou a se embaralhar.
— Cameron? — chamei-o, e seus olhos azuis se cravaram em mim.
“Reduza o sofrimento”, repetiu a si mesmo, remoendo cada sílaba
da pequena fase.
— Não podemos ficar juntos — afirmou com frieza, e eu franzi o
cenho, sem acreditar.
— Você está brincando? Isso não tem a menor graç…
— Não dificulte as coisas, Rebecca. Foram bons os momentos que
passei ao seu lado, mas nossa história acaba aqui.
Olhei-o por instantes tentando entender o que estava se passando.
— Mas… o que está acontecendo? — questionei me aproximando.
Ele me olhou de forma tão seca que não consegui decifrar o que ele
sentia.
Normalmente era tão fácil entendê-lo, o Cameron com quem passei
meus últimos meses em Los Angeles parecia ter sumido.
— Você me entendeu.
Abri a boca para falar, mas aquilo foi tão inesperado que as palavras
sumiram. Um milhão de dúvidas pairaram em minha mente, mas, no
momento, não conseguia dizer nada, não queria acreditar em tudo aquilo.
Ficamos nos encarando.
— Eu não acredito em você, seu amor por mim acabou?
— Achei que você não era do tipo que implorava por atenção —
ironizou como se eu fosse uma qualquer na vida dele, depois de tudo. —
Não entendeu que acabou? Foi bom enquanto…
E, por total impulsividade, dei um tapa em sua bochecha esquerda,
fazendo-o virar um pouco o rosto.
— Não me trate assim, Cameron, você não tem o menor direito!
Olhei no fundo de seus olhos e senti que tudo por dentro de mim
estava se quebrando. E aquilo me afetou de tal forma que me deixei ir pela
impulsividade.
Ele me olhou, com um misto de surpresa e sofrimento.
— Avisaram-me que você faria isso, Rebecca…
Meus sentimentos estavam confusos, incompreendidos e
bagunçados. Estava com tanta raiva, tão confusa, que arranquei o colar de
chave, vendo seu cenho se franzir, não por dúvida, mas como se ele
estivesse prestes a entrar em desespero.
— Isso nunca me pertenceu — afirmei friamente puxando a mão de
Cameron e colocando o colar nela.
Virei-me para partir, esperando que aquilo fosse um pesadelo, que
ele voltaria atras, que explicaria o que estava acontecendo ou que ao menos
eu acordasse desse pesadelo. Mas não aconteceu. E o que me restou de
todos os nossos dias juntos, das nossas palavras e promessas, foi manter
meus passos firmes e caminhar para longe de Cameron.
Consegui me segurar até entrar no avião, mas, quando me deparei
com Nicholas e Felicity, as lágrimas desceram com tanta intensidade, que
eu sabia o tamanho do estrago que aquilo tinha feito em mim bem como
sabia que não cicatrizaria tão cedo.
Eu o amava incondicionalmente, mesmo desejando não o amar no
momento.
— O que aconteceu? Onde está Cameron? — Nicholas perguntou.
— Ele terminou comigo — disse com a voz falhada e voltando a
chorar.
— Eu vou matá-lo — Nicholas anunciou, e eu o segurei pelo braço
com precisão.
— Por favor… por favor… não — pedi, e ele me olhou.
— Ah… Becca — lamentou e me abraçou com firmeza.
— Por que ele fez isso? Eu não entendo… eu não entendo, eu…
Minha voz falhou, e só consegui chorar.
Seria uma longa viagem.
Em Palo Alto, Estados Unidos,
Sáb., 06h23, julho

Cinco horas de viagem não foram o suficiente para conseguir


assimilar o que estava acontecendo. Eu simplesmente não conseguia pensar
em nada além de Cameron debochando de mim daquela fora, como se o que
passamos fosse facilmente descartável.
Ele foi o primeiro a quem confiei meu beijo, meu toque mais íntimo,
e agora… eu me sentia um lixo.
— Precisamos desembarcar, docinho — Felicity, com voz calma,
me disse.
A olhei, com os olhos ainda a lacrimejar.
— Você não dormiu nada — comentou me entregando minha
mochila.
— Eu cochilei — retruquei, e ela balançou a cabeça negativamente.
— Onde está Nic?
— Com Manson, um amigo que veio nos buscar.
Desembarcamos e caminhamos aeroporto afora, encontrando os
meninos.
— Como você está? — Nicholas questionou me abraçando.
— Querendo qualquer coisa que não seja você com pena de mim —
disse em voz baixa, e ele me olhou com repreensão.
— Não estou com pena de você, mas, depois do que aconteceu
com…
— Por favor, um minutinho sem pensar nisso? — pedi, e ele
concordou.
— Este é Manson O’Brien, um amigo do time — apresentou o
garoto de cabelos louros e olhos claros. — Pelo amor de Deus, amor, você
vai acabar com o seu braço tentando levantar essa mala — Nicholas disse
olhando Felicity e correu até ela.
— Olá, Manson — cumprimentei-o. — Sou…
— Rebecca Malik — interrompeu-me. — Você é famosa por aqui
— explicou.
Sorri olhando para o chão e o olhei.
— Pelo que eu sou famosa? — perguntei.
— Por ser inteligente, por ser sem dúvidas a nova protegida da
diretora Geórgia e por cantar muito bem.
— E?
— O resto não é do meu interesse — rebateu.
Ele me encarou por instantes, não de forma maliciosa, mas
certamente um relacionamento me ensinou a decifrar quando alguém tinha
interesse a mais em mim.
Decidi não manter meu olhar naquele momento, era tudo muito
novo, muito recente, e eu não estava preparava para ninguém novo.
Principalmente um novo loiro, alto, bonito, de olhos claros e atleta.
— Não vamos conseguir ir embora com você encarando a minha
prima desse jeito — Nicholas anunciou, deixando claro que havia percebido
o mesmo que eu.
Manson de imediato ficou com as bochechas coradas, ao passo que
eu revirei os olhos com a falta de discrição do meu primo.
— Você é um idiota — retruquei, e ele fez uma careta antes de abrir
a porta para mim.
— Não faça nada fora do seu tempo — alertou. — Você não vai
querer tentar se curar do que Cameron significou para você com outro
alguém, e Manson é uma pessoa muito boa — aconselhou baixo o
suficiente para que apenas nós ouvíssemos.
— Mas eu não o quero.
— Apenas lembre-se disso quando for o momento certo.
“Estou na minha cama, você não está aqui e não há ninguém para culpar. Esqueça o que eu falei,
não era o que eu queria dizer e não posso retirar o que disse, não posso desfazer a mala que você
deixou”.
Falling – Harry Styles

Nunca pensei que a vida de alguém poderia virar de cabeça para


baixo como aconteceu com a minha.
Fazia manos de um mês desde que descobri que um envolvimento
da minha família com a realeza da Noruega mudaria totalmente a minha
vida e fazia semanas que tinha deixado Rebecca no aeroporto.
Desde então, não consigo parar de sonhar com ela, o único momento
reconfortante em que a toco, a beijo e a tenho para mim sem que ela duvide
do meu amor.
Mas, ao acordar, me lembro de sua reação no aeroporto, o que
reafirmava que ela jamais me perdoaria e que agora ela duvidava do meu
amor.
Era o certo, tudo o que falei foi em prol disso, da segurança e
liberdade dela. E não devia doer daquela forma, mas doía… e muito. Era
aterrorizante o sentimento de perdê-la. Eu a tinha perdido, e qualquer
vestígio de envolvê-la em minha vida outra vez tinha acabado, para sempre.
Encarei-me no espelho após deixar o violão na cama, sentindo meu
estômago revirar, e uma batida forte na porta piorou ainda mais minha
situação.
— Filho? — ouvi a voz de papai, e seu reflexo se mostrou no
espelho.
Olhei-o por instantes.
Ultimamente conversamos pouquíssimo, e, de certa forma, era
melhor assim. Entretanto, sabia o teor da conversa que ele gostaria de
começar.
— Se veio me convencer a colocar Rebecca nisso…
— Por mais que tenha certeza de que ela aceitaria no exato
momento, não pedirei isso. Sei como é se apaixonar por uma Malik e tentar
fazer o melhor por ela — disparou.
— Do que precisa, afinal? — perguntei me virando em sua direção e
vendo uma pequena caderneta azul em sua mão direita.
— As meninas estavam arrumando suas coisas em seu quarto, já que
não viajou com o time e deixou a bolsa em nossa casa. Elas encontraram
isso.
Caminhei mais depressa do que deveria e peguei de sua mão a
caderneta.
— Deixe-me sozinho, por favor — pedi caminhando até minha
cama.
Ouvi a porta sendo fechada e arranquei o lacre da caderneta ansioso
para saber o que tinha dentro.
Na primeira página, com a letra delicada de Rebecca, estava escrito:
O dia estava amanhecendo, e meus olhos estavam cansados pelas
lágrimas que saíam e pela madrugada acordado. Fechei a caderneta e senti
meu corpo doer de uma forma imaginável.
A primeira coisa que vi na frente foi uma estátua idiota que joguei
contra a parede.
A porta se abriu, mas eu não me importava. Não conseguia pensar
direito e comecei a destruir o quarto, com ódio.
Eu a perdi.
Eu a perdi por causa daquele velho nojento.
Peguei o violão e o quebrei na parede.
Estava com ódio da situação em que me envolveram quando eu
ainda estava sendo gerado pela minha mãe. Cuidei daquele velho como se
ele tivesse valor, enquanto para ele eu não passava de um escape.
Movido pela crescente raiva, estourei o espelho com um soco e,
ainda que meus punhos sangrassem, continuei a socar os cacos de vidro.
— Mãe, não! Não fique aqui, não lhe faz bem. Finn, leve-a por
favor! — ouvi a voz distante do meu pai.
A porta foi fechada, e logo eu estava sendo imobilizado.
Tentei me soltar, mas, em vez disso, fiz com que caíssemos no chão.
— SOLTE-ME! — gritei quando ele forçou mais seu aperto. —
Solte-me! — Implorei sentindo as lágrimas escorrendo em meu rosto. —
Solte-me…
— Não vou deixá-lo se machucar outra vez! — replicou afrouxando
seus apertos.
— Eu a perdi… eu… fiz o que ela esperava de mim, ela não vai me
perdoar — disse exausto, e minha voz falhou.
Meu pai me soltou aos poucos e parou em minha frente, ainda
sentado no chão. Esperava tudo, menos um abraço. Fiquei segundos em
choque até aceitar e abraçá-lo de volta. Não tinha mais forças para suportar
tudo isso em silêncio, não tinha forças para mais nada.
“Amor, por favor, tenha piedade de mim. Pegue leve com o meu coração. Mesmo que não seja sua
intenção me machucar, você continua acabando comigo”.
Mercy – Shawn Mendes

Avisei a meu pai que não queria ninguém por perto e que cuidaria
dos meus machucados, mas minha avó paterna, Meredith, não escutava
ninguém além dela mesma e, às vezes, o meu avô William.
— Achei que tinha parado com isso — disse analisando minhas
mãos —, mais um pouco e você precisaria levar pontos.
Ela levantou os olhos e ficou me olhando por instantes, na sequência
começou a pegar as coisas para fazer os curativos.
— O que ela diria se soubesse que você também já se automutilou?
Só que a sua forma era um pouco mais agressiva.
— Eu parei.
— Estou vendo — retrucou seriamente. — Ainda não respondeu à
minha pergunta — afirmou começando a limpar minha mão direita.
Ardia toda vez que o algodão molhado encostava, mas não me
importava.
— Choraria e depois ficaria cuidando de mim como se eu fosse uma
criança — comecei e soltei um suspirou — e ela cantaria para mim até eu
dormir, ou só ficaria em silêncio, mas não me deixaria sozinho.
Vovó sorriu e limpou a lágrima solitária que escorreu em meu rosto.
— Por que não a escolheu, querido? Você me falou sobre o amor de
vocês inúmeras vezes, ela jamais o deixaria em uma situação como essa.
— Não posso fazer isso com ela.
Vovó ficou em silêncio enquanto finalizava os curativos. Minhas
mãos estavam horríveis, mas, pelo menos, a luta foi adiada para novembro,
pois Bronwen e outros lutadores pediram mais tempo.
— Já lhe contei sobre Castiel, o filho mais velho de seu tio Thomas?
— questionou mudando de assunto.
— Ninguém fala muito dele, na verdade — relembrei.
— Castiel era um garoto incrível que se apaixonou por Rylie, a filha
de Benjamin, uma Malik também — ela sorriu enrolando um esparadrapo
em minha mão e pegou a outra para fazer o mesmo. — Você é a cópia
perfeita dele, exceto pelos olhos e os cabelos, e ele não tinha as sardas que
você tem. Castiel tinha olhos verdes e cabelos pretos como a escuridão,
enquanto seus olhos são azuis como o mar e o céu, e seus cabelos são
dourados.
— Aquele assunto sobre reencarnação de novo? — questionei-a
enquanto a olhava. — Sei que amava Castiel e sente muito a sua falta, mas
não sou a reencarnação dele — expliquei.
— Não estou tentando convencê-lo de que é isso, mas, se for como
eu acredito que é, você e Rebecca não vão se separar por causa da sua
teimosia nem por nada, acredito que o amor de vocês é tão forte que
ultrapassa até mesmo uma vida — afirmou. — Mas sei que não acredita,
então não vou prosseguir com esse assunto — disse, beijou minha bochecha
e se retirou da sala.
As coisas que vovó falava perambulavam sem parar na minha
mente, era estranho, e pensar naquele assunto me dava calafrios.
Caminhei para o quarto, mas não o meu, pois o destruí horas atrás.
Comecei a tocar a música Kiss Me, do Ed Sheeran, no violão,
deixando que minha mente viajasse para o dia em que levei Rebecca para
conhecer minha casa de campo e ela começou a tocar essa música no piano.
Era tão linda e serena cantando, parecia um convite eterno para
tocar seus lábios, para nunca a deixar…
Batidas na minha porta me fizeram soltar o violão e limpar o rosto
que estava molhado, novamente, pelas lágrimas. Era tão forte que nada,
nem o passar dos dias, nem a calmaria de qualquer lugar, conseguia
diminuir tamanha dor.
A última vez em que chorei, acredito, foi ao nove anos de idade, eu
parecia uma criancinha chorosa agora.
Abri a porta me deparando com Natalie. Ela me olhou por
milésimos de segundos e pulou em meus braços me dando um forte abraço.
— O que faz aqui? — questionei a soltando, e ela me encarou
cruzando os braços.
— Você precisa de mim — explicou convencida.
Olhei-a por instantes, sem muita força para retrucar, e lhe dei
passagem.
— Por que não está no seu quarto oficial?
— Porque eu o destruí.
Ela pegou minhas mãos, as encarou e suspirou.
— Entendo.
Sentei-me no sofá do quarto e encarei a tela desligada da televisão.
Natalie se sentou ao meu lado e me puxou me abraçando por trás,
ligou a tevê e ficou instantes em silêncio enquanto assistíamos a ela.
— Amanhã voltam as aulas — comentou.
— Eu sei.
— Vai voltar? — Balancei a cabeça concordando. — Para a casa
também? — Soltei a respiração.
— Vou ficar na casa de vovô até a luta, mas vou ir vê-la e às
crianças.
— E Isaac? — Meu coração doeu.
— Ele me odeia igual a irmã — falei tentando soar firme, e ficamos
em silêncio.
Olhei-me me arrumando no sofá para ficar ao seu lado, e ela ficou
instantes procurando as palavras certas para iniciar uma conversa.
— Acredito que tenha um grande motivo para você ter terminado
com Rebecca e desconfio ser a única da família que não sabe o que está
acontecendo, mas também sei que você não seria burro de simplesmente
terminar. Mas, se quer saber, ela não fala de você. — Franzi o cenho. — Ela
o afastou dos pensamentos de tal forma que não sei o que pensar. Sei que
ela sofreu, muito, muito mesmo — disse com advertência —, mas sozinha.
Quando a visitei, ela não citou seu nome e está fazendo uma coisa que
jamais faria. Rebecca não era assim. Isso não era nada bom.
— O que ela está fazendo? — questionei tão rápido que Natalie me
olhou e riu.
— Ah, bom… ela vai sair com um garoto esse fim de semana.
Levantei-me de imediato sentindo meu corpo formigar.
— Com quem? Como… como… faz menos de um mês que… e
ela…
Tentei controlar minha respiração, mas só de imaginar outra pessoa
a tocando, a beijando, a…
— Cameron! — Natalie me chamou em voz alta, como se tivesse
me chamado anteriormente, e eu a olhei. — Ela não é assim, não faz
substituições. Não está claro? O que aconteceu no aeroporto mexeu com ela
de uma forma que a faz querer fazer qualquer coisa para não pensar em
você.
— Qualquer coisa? — perguntei sem conter o desespero em minha
voz.
— Não qualquer coisa, seu idiota! — Ela passou a mão na testa e
revirou os olhos. — E, sinceramente, o que você quer? Foi você quem
terminou.
— Não lhe devo satisfações — disse me sentando no sofá e
cruzando os braços.
Jamais admitiria em voz alta, mas ter minha irmã por perto
silenciava todos os meus pensamentos, o que estava me matando nas
últimas semanas.
Ela bufou, e eu sorri, dando de ombros.
— Não sei por que ainda te conto as coisas.
— Sabe que, se não me contar, Alec contará — relembrei.
— Por que tio Owen ainda o deixa ter um segurança com Rebecca?
Não faz sentido a não ser que ele … — Ela me olhou. — É claro que ele
sabe o que aconteceu.
— E discorda da minha decisão, quase deixou os negócios da nossa
família — comentei.
Ela me olhou impressionada, com seus grandes olhos verdes
arregalados, porque todos sabíamos o quão meu pai era fiel a Owen, e
Owen a ele.
— Não vai me contar mesmo?
— Estou em uma batalha travada para mamãe e vovó não falarem
nada, mas com você não vai ter jeito, sei que vai falar para Rebecca e piorar
a situação — ela bufou de irritação. — Você é leal a ela, Natalie, isso é uma
qualidade enorme, e fico feliz por vocês se terem como amigas, mas não
vou arriscá-las nisso.
— Esse negócio de responsabilidade por mim e por ela de novo?
— Sempre!
Ela suspirou.
— Bom, sou leal a Rebecca, sim, mas você vai saber de qualquer
forma. Ela chorou a viagem toda, porém se mostrou animada com o pessoal
de Stanford e, quando ficou sozinha, desabou. Passou a primeira semana
toda chorando, teve pesadelos, e Nicholas a monitora desde que chegou.
Eles estão morando juntos. Peter e Josh foram visitá-la quando souberam o
que aconteceu, e ela chorou na frente deles, sabe que ela nunca faz isso e
me contou tudo quando a vi, há dois dias. Ela me disse que não quer mais
todos tão preocupados, ninguém fala de você, o que é bom, mas não acho
certo usar alguém como escape de quem está seguindo em frente; ela me
aconselhou a não fazer isso com Elliot e agora está fazendo exatamente isso
com Manson, eu a amo e…
— Manson — repeti, e ela fechou os olhos ao perceber o que tinha
falado.
— Eu sempre falo demais.
Respirei fundo e tentei controlar toda a minha vontade de ir a Palo
Alto.
— Não se preocupe, não vou fazer nada, apenas quero que ela esteja
em segurança — aleguei, contrariado, porque tudo o que eu mais queria era
vê-la, pressioná-la contra a parede, dizer que ela era minha, fazê-la minha e
pedi-la em casamento.
E que se fodesse a porra daquele acordo!
— O que aconteceu com você? — Ela franziu o cenho. — Ela, o
amor da sua vida, vai sair com outra pessoa, Matteo está em cima dela o
tempo todo e…
— Não comece, Natalie.
— Ou o quê? Vai atrás dela e contar a verdade?
— Natalie…
— Espere só até Rebecca cair em si. Quando minha amiga se
recompor e ficar bem, vai descobrir o que aconteceu.
— Não vai, ela vai seguir em frente — disse, duvidando das minhas
próprias palavras.
— Parece que não conhece mais sua futura esposa.
— Ela não é a minha…
— Não me teste, irmãozinho — disse apertando minhas bochechas.
Empurrei suas mãos sem conseguir conter o sorriso.
— Não estou testando, não há possibilidades de nos casarmos. —
Dei uma pausa para repensar minha situação. — Não mais.
— Entendi — disse remoendo as palavras que ouviu. — Bom, então
vou aconselhar minha amiga a investir em Manson, você precisava vê-los
nadando juntos quando fui à casa dela, e ele estava com Nicholas, tudo bem
que ele estava babando um pouco quando a viu de biquíni, mas…
Fechei o punho tentando conter minha raiva.
— Que merda você acha que está fazendo, Natalie? — Levantei-me
irritado. — Perdeu a noção do que está falando? Porra, é sobre Rebecca
estar de biquíni com outro homem. Vá se foder!
Ela se levantou em seguida.
— E você acha que ela vai ficar sofrendo até quando? Ela é linda,
gostosa, sabe se expressar, canta, é inteligente e conversa sobre qualquer
coisa. Não tem tempo de ficar esperando-o decidir se vai ou não a colocar
de volta em sua vida.
— Você pode, por favor, parar de falar? — pedi cerrando os dentes
enquanto minhas bochechas queimavam de nervoso.
— Claro, maninho — disse animada e beijou minha bochecha na
medida em que eu revirei os olhos de irritação. — O que acha de fazermos
pizzas no forno? Estou com uma fome enorme — comentou caminhando
para a porta de saída.
— Você devia parar de andar com Rebecca, está ficando cada vez
mais parecida com ela.
Ela sorriu e mandou um beijo para mim, antes de sair do quarto.
Decidi segui-la, talvez ela acabasse soltando algo a mais sobre
Rebecca e, para a minha infelicidade, sobre Manson.
— Preciso de um conselho seu — ela disse quando coloquei um
avental.
— O que seria? — questionei começando a colocar as rodelas de
minipizzas na forma.
— O que você fazia quando o fogo pegava com Rebecca?
Fiz uma careta ao pensar que era a minha irmã e meu melhor amigo.
— Ela me parava.
— Mas nunca teve um momento em que ela esqueceu que tinha que
parar?
Ponderei a situação e olhei Natalie, que parecia curiosa para a minha
resposta.
— Ela sempre foi muito mais controlada do que eu, mas acho que
ajuda ela nunca ter feito sexo com ninguém, porque eu sei que é bom e
tenho certeza de que com ela seria incrível, mas ela nunca se esqueceu de
parar. A decisão dela sempre foi mais forte — expliquei.
Mas no fundo eu sabia que, além da decisão que tomou, ela ficava
apavorada quando algo saía de seu eixo pelos abusos que já sofreu.
Natalie suspirou.
— Problemas com Elliot? — questionei, mesmo odiando ter que
entrar nesse assunto.
— Ele não é o problema, eu sou — afirmou apontando para si
mesma, e rimos juntos. — Você parou sua vida sexual desde que Rebecca
voltou?
— Essa foi a maneira mais educada de me perguntar quando foi
minha última transa, você não era assim — ela gargalhou me empurrando
pelo ombro. — Desde dezembro, na verdade, quando sonhei com ela e
soube que era ela. Depois teve aquela prima de Elliot que não consegui
também.
Ela riu sozinha e me olhou.
— E Rebecca jurava que você tinha outras pessoas enquanto estava
com ela.
— Quem tem te passado informações sobre Rebecca em Stanford?
— retornei ao assunto anterior.
— Felicity e Neji. O que quer saber?
— Tudo.
Ela riu ao me ouvir, colocou a forma com as minipizzas no forno e o
fechou.
— Tio Owen mandou Ned para vigiar Rebecca, e ele é
estranhamente parecido com a Luce — Natalie iniciou.
— Pensei o mesmo quando fomos para a fazenda do avô de
Rebecca, mas achei ser uma loucura minha — concordei.
— É um pouco estranho, enfim, Matteo tenta se aproximar de
Rebecca, mexe com ela sempre que passa por perto e essas coisas idiotas e
nojentas.
— Eu sabia que ele tentaria ficar em cima de Rebecca — disse
enraivecido.
— Maninho — levantei meus olhos em sua direção, e ela balançou a
cabeça negativamente —, quando eu cheguei a Palo Alto, ele mexeu
comigo também — fechei meu punho —, não é por Rebecca, é uma
implicância com você. Talvez porque não aceitou fechar negócios com a
família dele ou por vê-lo como ameaça.
— Espero que ele não pense que isso vai ficar assim — afirmei com
o punho ainda cerrado. — O que ele fez com você?
— Ele falou algumas coisas que os homens acham ser um elogio
quando, na verdade, é assédio — explicou —, mas Nicholas e outros
garotos do time estavam me esperando no campus da faculdade com
Rebecca e começaram a debater.
— O que eles disseram a Matteo?
— Rebecca e eu saímos antes da discussão — ela suspirou. — Tio
Owen tem mais de dois seguranças pelo campus, ela e Neji estão bem
amigos, então ela nunca está sozinha e tem Geórgia, que parece vê-la como
uma filha.
— Mas ainda não está do jeito que quero.
— Cam…
— Não, ela precisa estar totalmente segura! — afirmei em voz alta.
— Tudo ao alcance dos Nogueira está sendo feito, irmão, você não
pode…
Olhei-a, e ela revirou os olhos e se calou.
— Você é completamente apaixonado por ela, por que terminou?
Não faz sentido.
— Se eu gostasse dela, teria…
— Depois de toda essa conversa, ainda cogita me falar um absurdo
desses?
Aproximei-me dela e a abracei, sem aviso prévio.
— Obrigado por ter vindo.
Ela beijou meu rosto.
— Estarei sempre aqui por você, maninho.
— Natalie — meu pai a chamou, — você tem quinze minutos para
se arrumar, o motorista a levará, sua mãe a espera em casa — avisou com
firmeza.
— Eu acabei de chegar! — retrucou.
— E vai precisar ir embora, não me questione — pediu com
firmeza, mas via o sofrimento dele em ter que falar com ela daquela forma.
— Achei que você tinha melhorado — Natalie disse friamente
quando passou por ele e subiu as escadas às pressas.
Papai passou a mão na nuca, demonstrando que estava
decepcionado consigo mesmo, e se voltou para mim, e suas palavras me
fizeram entender tudo:
— Eles chegarão em trinta minutos — disparou, fazendo meu
estômago se revirar, e saiu.
“Às vezes, sinto que somos um nó complicado demais de desfazer.”
A Elite – Kiera Cass

Semanas não eram, nem de longe, o suficiente para me fazer


esquecer o que eu estava passando, sabia disso, mas também sabia que não
podia ficar o resto do semestre em Stanford esperando uma explicação ou…
simplesmente o esperando.
Meus primeiros sete dias em Palo Alto se passaram diante dos meus
olhos. A visita de Peter e Josh parecia ter acontecido com outra pessoa, e eu
apenas os observei, sendo que eu os vi, os abracei e chorei na frente deles.
Ainda era um baque muito grande para mim, mas, quando meus pais
vieram me visitar e eu vi que eles ainda eram os mesmos, que Isaac queria
contar tudo sobre sua vida só para não me deixar pensar em Cameron, e até
mesmo os gêmeos pareciam sentir a mudança de rotina, eu me dei conta de
que precisava me levantar.
A vida estava continuando, e eu precisava ao menos tentar. Então,
no começo da minha segunda semana em Palo Alto, decidi começar a
treinar com Alec e Ned, depois que tomávamos café da manhã. E eles eram
companhias estranhamente familiares e reconfortantes.
Talvez porque eles cresceram juntos e conversavam sobre tudo,
aquilo me fazia não pensar na minha vida, no que Cameron provavelmente
estava fazendo naquele mesmo instante ou apenas pensar nele.
Mas era inevitável não chorar quando ficava sozinha, porque era o
momento em que eu mais pensava… pensava nas noites em que dormíamos
juntos, via nossas fotos, ouvia nossas músicas. Não havia uma noite sequer
em que não pensei nele e sabia que era só o começo, um começo doloroso,
porque, desde o dia em que ele me deixou no aeroporto, tenho sonhado com
ele, assim como ele possivelmente tem sonhado comigo.
E me destrói cada vez em que acordo e meu dou conta de que era só
um sonho…
Ele não voltaria mais.
Ele não me pertencia mais.
— Você não parece muito animada para o primeiro dia em Stanford
— Manson comentou se sentando ao meu lado, no refeitório ao ar livre.
E eu quase lhe agradeci por me arrancar dos meus pensamentos.
Nicholas nos olhou e voltou a falar com Felicity e Neji.
— É o primeiro dia de aula, quem fica animado? — brinquei o
olhando, e ele sorriu dando de ombros.
Quando o sinal tocou, nós nos levantamos, e Neji se aproximou de
mim, uma vez que iríamos para a mesma sala por conta das aulas do ensino
médio.
— Passo na sua casa às sete, pode ser? — Manson questionou, sem
se importar com Neji o ouvindo.
— Pode, sim, claro — concordei.
Ele acenou com a cabeça e seguiu para próximo dos meninos do
time. Voltei meu olhar para Neji, e ele me encarava com o cenho franzido.
— Ah, por favor, não me julgue. Natalie e Nicholas são mais do que
o suficiente — afirmei, fingindo exaustão.
— Não julgarei, tem minha palavra, mas por que você quer sair com
ele?
Não contive minha expressão de confusão.
— Ele é uma ótima pessoa.
Ele balançou a cabeça negativamente.
— Ele não é Cameron.
Suspirei abaixando o olhar, e seguimos o caminho em silêncio.
Depois das apresentações dos coordenadores do Projeto
Inteligência, a aula começou, sem muito espaço para conversas, e as coisas
sem dúvidas eram diferentes de Liberty.
— Eu não quero que fique brava comigo — Neji disse enquanto
esperava minha aula de ensino superior começar.
Mesmo que ele não fosse ter aulas no ensino superior, tinha me
avisado que ficaria comigo durante o almoço.
— Não estou — afirmei. — Eu sei que é recente, mas não estou
indo atrás de um relacionamento, só quero… sair um pouco com alguém
que não seja o meu ciclo de amigos, porque sei que todos evitam falar de
Cameron por minha causa.
— Isso não é verdade — rebateu. — Não temos o que falar dele
considerando que não sabemos nada sobre ele. Evitamos falar do que
aconteceu porque cabe a você decidir com quem ou quando falar sobre esse
assunto.
— Todo mundo me faz lembrar dele: Nicholas venerava Cameron,
ele o tratava superbém, os seguranças, os meninos do time, Natalie, que foi
embora esse fim de semana, tudo, tudo me lembra dele.
Neji parecia ter coisas a dizer, mas optou pelo silêncio, e ficamos
daquela forma por minutos.
— Você não tem culpa de nada, eu sou uma idiota que não está
conseguindo lidar com os próprios sentimentos, desculpe-me — pedi e me
levantei.
— Becca, fique tranquila, é pior se continuar guardando tanta coisa
— alertou.
Respirei fundo, e ele me abraçou.
— Estou aqui se precisar.
— Muito obrigada! — o agradeci e me despedi.
Entrei na sala e subi até o meu lugar. Arrumei minhas coisas e fiquei
olhando os alunos entrarem na sala, não parecia ter outra coisa a fazer.
— Você é Rebecca Malik, correto? — levantei meu olhar para a
garota de cabelos escuros e traços leves que sorriu.
— Isso mesmo — confirmei, e ela se sentou ao meu lado. — E você
é Deborah Bellark, a representante do Projeto Inteligência da sala de que eu
faço parte, estou certa? Geórgia me falou sobre você — sorri de volta.
— Sim, ela te disse que eu me aproximaria?
— Disse que você era a pessoa ideal para fazer amizade e que seria
da minha sala, mas — pensei um pouco — não fazia ideia de como me
aproximaria.
— Bom, aqui estamos nós, e algo me diz que nos daremos bem —
rimos juntas.
— Alguma ideia do motivo de ela querer uma amizade nossa?
— Você é superinteligente, alguém precisa supervisioná-la de perto,
não acha? — questionou com ironia em sua voz.
— Ah, sim, é claro — ironizei de volta, e rimos outra vez.
— Eu particularmente não me importo, Geórgia é incrível, não a
questionarei.
— Estamos de acordo, então, senhorita Bellark.
Em Palo Alto, Estados Unidos,
Qua., 18h36, agosto

Estava quase tudo certo para sair com Manson, mas ainda precisava
acertar um detalhe, um mínimo detalhe com o meu pai.
—… sair com um garoto? — ele questionou tão alto que era
provável minha mãe ter ouvido.
— Sim, daqui a alguns minutos — comentei.
— Entendo. Precisa de alguma coisa da minha parte?
— Pedi para Ned ficar de folga hoje.
— Mas é a folga de Alec — protestou.
— Sim, eu sei. Por isso, imagino que vá colocar outras pessoas para
me vigiar, então, por favor, que eles sejam discretos.
— Não serão vistos — alertou.
— Você está muito calmo — estranhei —, já sabia disso, não?
— Nicholas me falou sobre Manson e disse que é um ótimo rapaz,
mas por que está escondendo de Alec e Ned?
— Nada demais. Preciso ir, um beijo, eu te amo, e diga à mamãe e
aos meus irmãos que eu os amo — pedi.
— Claro, caramelinho, eu te amo. — E desligou.
Fiquei instantes sentada na cama e me levantei, indo em direção à
janela e observando uma mansão que estava a ser construída desde quando
cheguei a Palo Alto.
Ela parecia ser enorme e luxuosa, e havia algo nela que me chamava
a atenção.
Era possível vê-la da nossa casa, de Stanford e de vários outros
lugares, pois era no alto da cidade, em um enorme campo, como a mansão
da minha família e a dos Styles.
Era a cara de Cameron uma mansão daquelas…
Meu corpo tremeu, e eu dispersei aquele pensamento. Não me sentia
nervosa ou ansiosa para ver Manson, eu não devia ao menos estar animada?
Conhecia-o há aproximadamente um mês. E não podia contar com a
primeira semana, porque quase não ficava perto de Nicholas e seus amigos,
mas, na segunda semana, ele estava sempre por perto, treinava comigo,
Alec, Ned, Nic e Felicity. Era uma ótima companhia, na verdade, sempre
bem-humorado e animado. Gostava muito de festas, baseado nas conversas
dele com Nicholas, mas nada que incomodasse, e era muito bonito, não
tinha como negar, e ainda assim…
— Manson chegou — Nicholas disse parando na minha porta, que
estava aberta desde o momento em que terminei de me arrumar.
Ele se encostou na parede enquanto comia algumas frutas que
estavam na tigela.
— Ok, obrigada.
— Precisa de alguma coisa?
— Está tudo bem, Nic, e você, precisa de alguma coisa?
Ele me olhou por instantes e balançou a cabeça negativamente.
— Vou deixá-la descobrir sozinha. — E saiu do quarto.
Revirei os olhos, olhei-me uma última vez no espelho e saí do
quarto.
Encontrei Manson na sala, e ele sorriu me olhando.
— Roupas confortáveis, como você me aconselhou — disse abrindo
os braços, indicando que era para ele ver melhor minhas vestimentas.
— Perfeito, senhorita Rebecca, podemos ir?
— É claro.
Durante o caminho, estávamos em um silêncio desconfortável e
tedioso, mesmo com o som ligado.
— Não vai me contar para onde estamos indo?
— Acredito que um cinema ou uma volta no shopping não faça
muito o seu estilo, estou certo?
Errado.
— Não me incomodo, na verdade — comentei. — Mas tenho
certeza de que vou gostar do que você vai fazer.
Ele parou o carro em uma colina alta o suficiente para ver a cidade,
saímos do carro, e, quando o porta-malas foi aberto, me dei conta do que ele
tinha planejado: um piquenique.
Estendemos a toalha no chão, sentamo-nos e arrumamos as coisas
para comermos.
— Aqui é lindo — eu disse, admirada com a cidade.
— Gosto de vir aqui quando preciso pensar e sempre corro pela
região antes de ir malhar — explicou.
— Ah, claro, a rotina de um atleta — brinquei, e ele sorriu
concordando.
— Tem gostado de Palo Alto?
— É um pouco recente para falar e é diferente de estar em Los
Angeles, onde tenho toda a minha família, mas, sim, tem sido muito bom
ficar… longe.
Nós nos olhamos, e ele pareceu entender sobre o que eu estava
falando.
— Achei que um dos seus seguranças que treinam com a gente iria
vir hoje — observou e mordeu seu lanche natural.
— Eu os dispensei hoje.
— Sério? Não ficaria confortável com a presença deles? —
questionou, e eu sorri satisfeita por ver que a conversa estava fluindo.
— Eles seriam bem discretos, mas — pensei um pouco —, promete
não contar a ninguém o que vou te falar agora?
Ele estendeu o mindinho.
— Quem te ensinou isso? — perguntei aos risos.
— Nicholas, claro, ele disse que sempre faz isso com os primos —
explicou.
Juntamos nossos mindinhos, e, depois de comer um pedaço do
lanche, comecei a falar:
— Alec passou a ser nosso segurança oficial repentinamente, foi na
mesma noite de um jantar com pessoas de que… Cameron desconfiava.
Busquei algum vestígio de incômodo, mas ele acenou com a cabeça
para que eu continuasse.
— Alec sempre se refere ao meu pai como se fosse um terceiro,
entende? Ned tem mais o costume de se referir ao meu pai como um chefe,
mas Alec não, e ele fala dos Styles com mais firmeza.
— Você acha que Alec é, na verdade, segurança do seu ex-
namorado? — indagou, e eu balancei a cabeça positivamente. — Mas…
não tem muita informação para pensar isso, não acha?
— Acho. Mas é o seguinte: na quinta-feira passada foi a folga de
Ned, e eu tomei café apenas com Alec; durante nossa conversa, perguntei
sobre a noiva dele, porque meu pai disse que ele tinha uma noiva, só que
nunca falava sobre ela, e eu acabei conseguindo tirar dele que ele só falou
que era compromissado porque foi uma exigência do cargo e que tinha
resolvido tudo com o meu pai antes de viajar. Porém, meu pai nunca teve
essa exigência, tanto que Ned é meu segurança e nunca precisou falar que
tinha um relacionamento.
— Mas Cameron Styles certamente exigiria isso?
— Sem dúvida alguma — confirmei.
— É uma grande possibilidade.
— Mas ainda não tenho certeza, estou apenas desconfiando —
admiti.
Ele me olhou por instantes e afastou uma mecha do meu cabelo.
— Tenho certeza de que vai descobrir tudo.
— Eu já falei demais, sua vez — eu disse, na tentativa de quebrar o
clima.
E então ele começou a falar sobre a faculdade, o time, o que gostava
de fazer, como foi sair do Canadá aos quinze anos e sobre sua família.
A noite estava um tanto agradável.
— Amanhã temos aula, não quero que vá outra vez desanimada para
Stanford — brincou estendendo as duas mãos.
Aceitei-as, e ele me ajudou a levantar. Arrumamos tudo e seguimos
para o carro.
— A noite foi ótima, Manson, muito obrigada — agradeci enquanto
o via arrumar as coisas no porta-malas.
— Podemos repetir, se você quiser — disse fechando o porta-malas
e parou na minha frente.
— Eu…
— Não precisa aceitar agora — alegou.
Nós nos olhamos por instantes, e ele passou os dedos em meu rosto,
para em seguida se aproximar mais.
Pela primeira vez, eu me senti nervosa ou apreensiva.
— Se você me disser que não quer, eu me afastarei agora —
prometeu.
— Não vou dizer isso — respondi, e logo ele me beijou.
Quando lhe dei passagem, eu me dei conta do que Nicholas e Neji
tentaram me dizer hoje cedo. Era inegável que Manson era uma ótima
pessoa, que ele beijava bem, que era bonito, braços fortes e uma pegada
incrivelmente boa, mas não foi nada disso que me fez vir aqui. Foi a minha
necessidade egoísta de esquecer Cameron. Tinha acreditado que as horas
com Manson eram o suficiente, que deixá-lo me beijar valia a pena, porque
não me deixariam pensar em Cameron, mas era totalmente o contrário.
— Desculpe-me — pedi interrompendo o beijo.
— Não… não precisa se desculpar — disse me soltando. — Eu
achei que você queria, por isso…
— Você não fez nada de errado, Manson, não foi isso.
Ele me observou por instantes.
— Estraguei nossa noite, eu sei, mas…
— Ei, não estragou nada. Vamos, vou levá-la para casa — disse com
a voz calma e abriu a porta para mim.
A volta para a casa tinha sido tão tensa quanto a ida para as colinas e
agora parecia um pouco pior. Era quase como se eu sentisse Manson lendo
meus pensamentos e decifrando que tinha sido usado.
Ele abriu a porta do carro, e, quando eu saí, ficamos segundos nos
olhando.
— Não queria deixá-la chateada.
— Não deixou — afirmei. — Eu quem não devia tê-lo deixado me
beijar — disse, um pouco sem pensar.
— O quê? Isso não faz o menor… — ele repentinamente parou. —
É o Styles, não é? — questionou em voz baixa. — Todos me disseram sobre
você e ele, mas decidi não acreditar que fosse tão forte assim, sendo que no
fundo eu sabia que isso poderia acontecer, Nicholas me avisou.
— Eu sinto muito — disse tentando segurar todas as emoções
confusas que me rondavam. — Não era para ser assim, ninguém devia tê-lo
avisado, eu devia ter sido sincera com você.
— Rebecca — ele tocou minha mão —, você precisa ser sincera
consigo mesma, os outros vêm depois.
Suas palavras vieram como dois socos no meu estômago, e eu não
soube o que falar.
— Não fique se culpando por hoje, foi uma noite ótima para mim e
espero que tenha sido para você. Não ficarei no seu caminho, sei que
precisa do seu espaço.
Pensei em rebater suas palavras, mas ele estava certo. Eu não tinha
traído Cameron, tinha traído a mim mesma achando que podia fingir ter
superado tudo, mas não.
— Você me entendeu antes que eu pudesse me entender — observei,
e rimos. — Obrigada, de verdade, por hoje e pelas suas palavras, mas, sim,
preciso do meu espaço.
Ele me olhou sorrindo, mas seus olhos mostravam decepção.
— Até mais, senhorita.
Entrou no carro e saiu.
E eu chorei quando fiquei sozinha, não por Manson nem por
Cameron. Pela primeira vez desde que cheguei a Palo Alto, não chorei por
ninguém que não fosse eu mesma, a bagunça em que eu estava.
Tinha sido uma hipócrita, julguei Natalie quando pensei que ela
estava usando Elliot para esquecer Andrew, sendo que, na verdade, eu quem
fiz isso. Estava tudo errado.
Sabia que, para começar a me reorganizar, eu precisaria chorar pelo
menos uma vez por mim, precisaria ser sincera comigo, eu não estava bem
e respeitaria o meu tempo para melhorar.
“Às vezes você faz escolhas na vida, e as vezes as escolhas fazem você. Essa é a beleza das coisas.”
Se Eu Ficar – Gayle Forman

Abri os olhos e me deparei com um buquê de rosas brancas em


minhas mãos; em seguida me vi entrando por uma trilha em uma praia com
o braço entrelaçado no de meu pai.
Eu me sentia linda com o vestido branco que usava.
O caminho a seguir era enfeitado com rosas brancas e azuis.
Mas me via de fora, como se assistisse ao filme do meu casamento.
Cameron me aguardava no altar e recebia apertos nos ombros de
Andrew e Elliot enquanto não segurava as lágrimas.
Ele vestia um terno azul-claro e estava lindo.
Seus olhos encontraram os meus e, em um piscar de olhos, não me
assista mais, estava ali, presente, de frente para Cameron em um vestido
branco.
Meu pai me entregou a ele enquanto chorava, mas eram lágrimas de
felicidade.
O noivo — meu noivo — tocou minha mão e a beijou.
Nós nos olhamos, e seus olhos estavam azuis como o céu, cintilantes
de alegria, amor e desejo. Ele juntou nossas testas e calmamente suas
palavras foram ditas:
— Obrigado por não ter desistido de mim e de nós, mesmo quando
eu mais queria que desistisse. Obrigado por ter descoberto tudo, não
conseguiria se não fosse por você, e, mesmo com os riscos, os problemas,
ainda assim insistiu em mim.
Franzi o cenho o olhando, mas Cameron continuava a me olhar
sorrindo.
— Do que você…
Dei um pulo da cama com o alto trovão que ecoou em meus
ouvidos, desejando voltar ao sonho, cogitando dormir novamente, mas
sabia que não daria certo.
Joguei as cobertas para o outro lado da cama e comecei a andar de
um lado para o outro. Meus olhos lacrimejavam sem parar, e eu nem sequer
percebi quando começou.
Estávamos em novembro, época em que chovia muito. Exatos três
meses desde que oficialmente ingressei em Stanford, e eu me sentia uma
idiota porque, mesmo depois de tanto tempo, minha única ligação com
Cameron era nos sonhos.
Três meses sem vê-lo, sem tocá-lo, sem falar com ele. As notícias
que chegavam para mim eram rasas.
Cameron está bem.
Cameron não tem saído com os meninos.
Cameron está focado na luta.
Cameron não conversa muito com ninguém.
Não fugiu nenhuma vez.
Não fica com ninguém.
Ele está bem.
Fim.
E estar há cinco horas de distância dele não me permitia nada além
de acreditar no que falavam, considerando que eu não iria atrás dele para
podermos conversar.
Foram três meses que se passaram sem ele, eu devia ao menos ter
superado a ideia de que ainda teríamos alguma coisa. Na verdade, não devia
cogitar pensar nele, mas, maldição, ele simplesmente não saía dos meus
sonhos.
Olhei a tela do celular, que se acendeu, e a notificação de que
Cameron havia curtido a minha foto apareceu fazendo meu coração
disparar.
Encarei por instantes aquela notificação, xingando-me mentalmente
por ficar feliz, e notei que era quinta-feira, meia-noite e meu aniversário.
Tirei do meu frigobar o pequeno cupcake que deixei guardado
justamente para esse momento, coloquei meus fones, coloquei uma velinha
no cupcake e olhei a chuva que caía.
Acabei rindo de mim mesma quando fechei os olhos para fazer meu
pedido, mas, nos três meses em Palo Alto, aprendi que a minha companhia
era a melhor.
— Que as coisas comecem a se resolver. — E assoprei a vela.
Sentei-me no sofá que era preso na parede da janela enquanto comia
meu cupcake de chocolate e comecei a agradecer por mais um ano de vida,
simplesmente agradecer.
Eu estava feliz, meu aniversário sempre me deixava feliz, mas havia
algo diferente naquela noite, algo mágico, como se alguma coisa realmente
fosse acontecer e que poderia mudar minha vida.
Passei um tempo simplesmente olhando pela janela transparente. O
barulho da chuva e os galhos das árvores balançando me traziam o
sentimento de paz. E era ótimo começar meu aniversário dessa forma.
Levantei-me e comecei a dançar sozinha pelo quarto depois que
coloquei novamente os meus fones. Caminhei até a lousa branca que tinha
no meu quarto e que a uso para organizar minha semana.
Ainda não acreditava que tinha aceitado o convite que Antonella me
fez há meses no jantar beneficente. Eu cantaria em seu desfile, em Paris.
Era a coisa mais incrível e assustadora da minha vida.
Não havia nascido para os holofotes e, sinceramente, não gostava
muito, então pedi ajuda da minha professora de dança para a presença de
palco.
Joguei-me na cama. Desejaria ter me conhecido de outra forma, sem
precisar passar pelo que passei com Cameron, mas, no fim, gostava de
quem eu era.
Tinha voltado para as aulas de dança, estava treinando com Alec e
Ned — e ainda não tinha confirmado se Alec era segurança dos Styles e até
mesmo deletei isso da minha mente —, decidi que não tinha espaço para
tentar um relacionamento, e Manson aparentou entender sem que eu
dissesse nada, a nossa conversa depois do nosso primeiro encontro pareceu
ter deixado tudo bem às claras, ninguém além de Nicholas e Felicity sabia
sobre eu e Manson termos ficado, os seguranças do meu pai ficaram longe o
suficiente para não ver nada e perto o bastante para caso acontecesse
alguma coisa, então ninguém sabia, e consideramos ser melhor assim;
Deborah se mostrou uma ótima amiga, Felicity é quase que minha mãe e
Nicholas segue sendo meu irmão mais velho.
Sentia muita falta dos meninos do time, porque eles não
conseguiram me visitar, pois, quando as aulas começaram para eles, os
treinos pesados vieram junto, mas eles fizeram um grupo comigo para
conversarmos.
Meus irmãos estavam enormes, e Isaac estava quase passando a
minha altura, com treze anos, e me visitavam de duas em duas semanas
junto com os meus pais.
O que aconteceu entre mim e Cameron não doía como quando
cheguei a Palo Alto, mas, ainda assim, fazia muita falta, e a pontada de não
entender o que aconteceu nunca parava.
Tirei do meu porta-joias a aliança e o colar que Cameron me deu na
noite do jantar na minha casa, eram as únicas coisas que sobraram do nosso
relacionamento.
Guardei-as e, quando me deitei, aquela estranha sensação de que
algo aconteceria voltou e continuava a ser mágica.
Em Palo Alto, Estados Unidos,
Qui., 15h17, novembro

— PARABÉNS, DOCI…
— Por favor, não — pedi puxando Neji e o fazendo parar seu
anúncio.
— Mas é seu aniversário!
— Sim, mas não precisa anunciar para toda a Stanford.
— Você é Rebecca Malik, acha mesmo que ninguém vai lembrar?
— Acho — disse firme, mas, ao nos olharmos, começamos a rir.
Pegamos nossos pedidos e nos sentamos em nosso lugar típico
próximo à janela.
— O que pensa em fazer hoje?
—Vou ficar em casa e assistir a Harry Potter.
Neji me olhou desacreditado.
— É seu aniversário, mulher, por Zeus, precisamos fazer algo hoje
— implicou.
— Você trocou Deus por Zeus? — notei, e ele riu concordando.
— Já pensou em ficar loira?
— Não…?
— Natalie disse para levá-la ao salão, e sua mãe concordou na
ligação, então vou levá-la ao salão.
— Mas…
Ele me olhou e abriu um sorriso maroto.
— Abby — chamou a dona da lanchonete em que estamos, e a
mulher se aproximou. — Não acha que Rebecca ficaria linda com algumas
mechas loiras?
— Com certeza, combinariam muito com você, docinho.
Pensei um pouco sobre o assunto e tentei mentalizar minha imagem
de cabelos loiros.
Neji ainda me olhava esperançoso para saber minha resposta.
Amava-o natural, mas ter uma mudança a mais me parecia algo bom.
Antes que pudesse responder a ele, meu celular começou a tocar em
uma chamada de vídeo de minha mãe. Abby se retirou após piscar para
Neji, como se fossem melhores amigos, e fez o mesmo para mim.
— Parabéns para você, nesta data querida, muitas felicidades,
muitos anos de vida! — Ela, Isaac e Jeff cantaram assim que atendi à
ligação.
Senti-me aliviada por estar na parte vazia da lanchonete.
Acabei deixando lágrimas de saudades escorrerem em meu rosto ao
ver que eles usavam chapeuzinhos típicos de aniversário, até mesmo Louis
e Eloise usavam, e mamãe colocou um minichapéu em Kurama, que batia
nele com a patinha, tentando tirá-lo. Louis e Eloise estavam em andadores
e, ao meu ouvirem, ficaram eufóricos.
— Ah, gente, muito obrigada, sinto a falta de vocês — afirmei os
olhando.
— A gente te ama, irmã — Isaac disse.
— Feliz aniversário, caramelinho — Jeff completou, e Isaac bateu
no chapéu de Jeff.
Os dois começaram a correr pela casa.
— Minha querida, eu te amo e quero desejar o mais lindo dos
aniversários. Orgulho-me de onde você chegou, e saiba que almejo que
você alcance tudo o que deseja. Sei que não fui nem sou a melhor mãe do
mundo, tenho muito o que melhorar, mas você é minha preciosidade e eu te
amo muito. Feliz aniversário, docinho — ela sorriu e limpou os olhos das
lágrimas que escorriam.
Kurama bateu a patinha no celular e começou a morder o aparelho
até mamãe afastá-la.
— Obrigada, mãezinha. Eu te amo muito!
— Seu pai não está no momento por conta do trabalho, mas acredito
que vai ligar para você. Planejamos viajar e encontrá-la, mas as crianças se
recuperaram da gripe e achamos conveniente não viajar agora que as
imunidades delas estão baixas.
— Tudo bem, mãe, eu entendo. Estão todos bem? E tia Eliza? —
questionei me recordando de que ela ganhou bebê há duas semanas.
Foi tão rápido de março para cá, que, quando Natalie me disse sobre
seu irmãozinho, Luke, quase não acreditei.
— Sim, está ótima. Ela, Arthur e as crianças estão radiantes de
felicidade. Luke é a coisinha mais linda, você precisa vê-lo — disse
animada. — Achamos que ele vai ficar muito parecido com… — Mamãe
parou de falar.
Achei graça.
— Cameron?
— Desculpe — pediu um pouco sem jeito.
— Tia — Neji chamou e pegou o celular da minha mão.
— Oi, querido, está cuidando da docinho?
— Com certeza! Estou tentando convencer a Rebequinha do Mel a
ficar loira.
Revirei os olhos fingindo irritação.
Rebequinha do Mel era o jeito que Neji me chamava desde que
ficamos mais próximos. Deborah, Felicity e Nicholas também me
chamavam assim quando queriam me irritar. Olhei minha mãe, que não
parava de rir.
— Rebequinha do Mel é ótimo! — balbuciou após se acalmar das
gargalhadas. — E acho que ficaria incrível — afirmou.
— Nunca fiz nada no cabelo, ainda não estou certa disso.
— Vou falar com o cabeleireiro que conheço em Palo Alto e vou
deixar marcado para hoje, após seu horário de aula. Se decidir fazer, vai
ficar perfeito, e seus cabelos serão muito bem-cuidados. Não se preocupe,
Robby é ótimo para isso, se você quiser, claro — disse animada.
Neji me olhou tão esperançoso quanto minha mãe.
— Ok, eu vou! — Os dois comemoraram me ouvindo.
— Maravilha, vou deixar agendado.
— Becca, precisamos voltar para a aula — Neji comentou olhando
as horas na tela do celular.
— Ah, sim, mãe, preciso ir. Eu te amo.
— Eu te amo, docinho. Até mais!
Desliguei a chamada, e começamos a nos organizar para sair.
— Felicity e Deborah não falaram nada sobre seu aniversário? —
Neji questionou.
— Não as vi hoje, mas…
— Então, hoje é o aniversário da garota mais gata de Stanford —
ouvi a voz de Matteo anunciar enquanto caminhava em nossa direção, junto
com dois garotos do time, que estavam sempre com ele.
— É, sim, mas precisamos ir! — afirmei me levantando
rapidamente e puxando Neji.
— Ei, calma, meu doce — Matteo pediu me puxando pela cintura, e,
por instinto, empurrei suas mãos. — Não posso nem mesmo te dar um
abraço de aniversário?
— Não, não pode, Matteo.
Passei por ele sem o olhar e finalmente saí da lanchonete. Matteo
era asqueroso e nojento. Eu não era a única garota que ele assediava, mas,
depois que descobriu que eu e Cameron tínhamos nos separado, ficou pior.
Ele procurava brechas para conseguir falar comigo, e, para a minha
felicidade, eu estava sempre acompanhada.
Sabia que suas intenções podiam ser por ele ser um safado, mas
nada tirava da minha cabeça que era por Cameron, principalmente por ele
ter assediado Natalie.
Quando cheguei, Manson ainda era amigo de Matteo, mas, depois
de três semanas, Nicholas me contou que, mesmo que os dois se
conhecessem desde a infância, Manson não conseguia manter mais a
amizade com Matteo, soube que eles brigaram, mas nem mesmo Nicholas
ou Felicity souberam me dizer o motivo.
Depois do segundo período, saímos do prédio onde os alunos do
colegial estudam e seguimos para a minha casa, porque não iria para o
ensino superior hoje.
— Vou trocar minhas roupas, será rápido — avisei subindo as
escadas.
— Um, dois, três… — ouvi Neji contar e acabei rindo.
Ele fazia de tudo para me acelerar quando combinávamos de sair.
Assim que entrei no quarto, vi uma caixa retangular na cor azul-
petróleo que estava em cima da mesa de estudos.
Desconfiada, aproximei-me e a analisei, torcendo para que não fosse
uma das típicas brincadeiras de Nicholas.
Abri o fecho da caixa e observei alguns papéis dobrados que
pareciam ter sido amassados anteriormente; não possuía assinaturas, mas,
de alguma forma, eu sabia de quem eram.
Puxei as cartas sentindo algo deslizar entre os meus dedos e se
enganchando. Meu coração disparou, e eu senti como se fosse sair pela
boca a qualquer momento. Dei passos para trás até sentir a cadeira, que era
conjunto da mesa de estudos, sentei-me e observei o pingente de chave sem
consegui conter as lágrimas.
Era o colar de chave que Cameron havia me dado no início do nosso
namoro falso, no início de tudo. Ele… não era possível, como isso tinha
chegado aqui? Fechei meus olhos e apertei o colar em minha mão. Voltei a
minha atenção para os papéis amassados e, emotiva e eufórica, desdobrei a
primeira folha, começando, então, a ler:
Um rabisco estava feito nas outras linhas, deduzi, então, que ele
desistiu de continuar a escrever.
— Rebecca, precisamos ir — ouvi Neji avisar.
Suspirei e, às pressas, devolvi as cartas para a caixa, deixando o
colar junto delas. Fechei-a e a escondi atrás de meus livros, mesmo que
ninguém fosse mexer.
Troquei minhas roupas e saí do quarto, sabendo que não conseguiria
parar de pensar nas cartas, no colar que voltou para mim e em Cameron.
Sabia que era impossível Cameron ter deixado a caixa aqui: se ele
estivesse em Palo Alto e entrasse em meu quarto, eu saberia, não saberia?
— Finalmente, Rebequinha do Mel — disparou me olhando.
— Está tudo bem, senhorita? — Alec questionou me analisando.
Encarei-o por segundos. Alec. Se eu estava certa, ele era um
segurança dos Styles que meu pai, por algum motivo, permitiu me vigiar e
sem dúvidas ajudaria Cameron.
— Vamos, vocês já demoraram demais — brinquei.
Neji bufou fingindo irritação ao passo que Alec riu baixo. Seguimos
para o salão, mas nada me concentrava. Eu precisava ler aquelas cartas,
urgentemente.
Em Palo Alto, Estados Unidos,
Qui., 19h44, novembro

Passamos mais tempo no salão do que havíamos planejado.


Neji pintou o cabelo de preto, e fizemos Alec hidratar seus cabelos
para passar o tempo enquanto nos esperava.
— Então, Alec, o que achou da Rebequinha do Mel loira? — Neji
questionou depois que saímos de uma sorveteria.
— Com todo respeito, ficou linda.
— Obrigada, Alec — sorri agradecida.
Sentia-me renovada e tinha amado meu cabelo loiro, mas nada me
tirava da mente a caixa azul que estava em casa. Não me importava quem
havia deixado lá, queria ler tudo, devorar cada palavrinha, e desejava
ansiosamente ficar sozinha o quanto antes.
— Posso ir para a casa de vocês? Nicholas disse que precisa de
ajuda com o notebook dele — Neji pediu.
Disfarcei minha risada, recordando-me de ter usado o notebook de
Nicholas ontem.
Deborah e Felicity não falaram comigo hoje, não via Nicholas desde
o momento em que acordei, e Neji me distraiu o dia todo.
Eles estavam planejando algo e eram tão indiscretos que decidi
fingir acreditar em tudo.
— É claro que pode — eu disse.
Quando Alec estacionou o carro, Neji foi o primeiro a sair.
Eu não tinha problemas em andar no banco da frente com Ned e
Alec, eles pareciam minha família, meus amigos, e talvez tenha sido isso
que me fez não ir a fundo em descobrir se Alec era segurança da minha
família ou dos Styles.
Estava pronta para sair do carro até Alec me impedir.
— Rebecca — chamou me fazendo o olhar, e eu fiquei grata por ele
finalmente ter parado de me chamar de senhorita —, esse presente não é
meu, mas feliz aniversário — desejou me entregando uma caixinha da
mesma cor que a que estava em meu quarto.
Peguei-a e observei a assinatura C.W. Styles. Senti um frio na
barriga, e minhas mãos suaram. Odiava o efeito que ele ainda tinha sobre
mim, odiava sentir falta dele e odiava querer que ele viesse pessoalmente
me entregar o presente.
— O que você está fazendo, Alec? Não devia colaborar com
qualquer coisa vinda de Cameron, eu…
Parei de falar ao me dar conta de que aquilo não me irritava, mas me
deixava um tanto perdida em como devia reagir.
— Sei disso, senhorita. Entendo que posso perder meu emprego,
mas a felicidade de Cameron está em jogo. Talvez seja egoísmo da minha
parte e de Arthur — franzi o cenho ouvindo e o encarei —, mas, se há
alguém que pode fazer algo por Cameron, esse alguém é você.
— A caixa no meu quarto, foi você também?
— Caixa? No seu quarto? Não, não — afirmou.
Olhei no fundo de seus olhos, ele não parecia mentir. Suspirei
abrindo a caixinha e vendo um único bracelete magnético, que se juntava à
outra metade quando as duas estavam próximas.
— Não tenho expectativas para minha volta com Cameron, isso é
uma perda de tempo — balbuciei.
Alec saiu do carro e deu a volta no veículo, depois abriu a porta e
estendeu a mão para mim.
— Acredito que a senhorita não tenha tanta certeza de suas próprias
palavras — afirmou segurando minha mão e mostrando a aliança que eu
estava usando desde o começo do dia.
Fechei os olhos, balançando a cabeça negativamente, e o olhei logo
em seguida.
— Lembre-me de nunca mais fazer amizade com os seguranças,
combinado?
— Desculpe, não entendi o que a senhorita disse, pode não repetir?
— brincou.
— Engraçadinho. — Fingi irritação e rimos. — Preciso descobrir
quem deixou aquela caixa no meu quarto; se não foi você, não consigo
pensar em quem pode ter sido. Nicholas com certeza não foi.
— Tive ordens apenas para lhe entregar esse bracelete, e Ned era
quem estava de vigia essa noite, posso ver com ele e lhe falar — assegurou.
— Ficarei grata. — Ele concordou com um aceno.
E passamos a andar a caminho de casa, prolongando o passo,
mesmo que a caminhada não fosse distante.
Parei-o quando chegamos à ala de piscina.
— Estou confusa, Alec. Cameron me deixou, e, durante três meses,
ficou tudo por isso mesmo, não fui atrás, e ele não veio atrás, e justamente
agora parece que estão tentando fazer com que eu e ele voltemos, não faz
sentido.
— Não sei ao certo do que se trata, e o único que tem acesso a
informações é o chefe dos seguranças — disse me fazendo suspirar de
frustração —, mas… — olhei-o, com expectativa — Finn é o segurança
particular de Cameron e, felizmente, é meu amigo e de Ned, e ele disse que
tem algo de muito errado acontecendo, que algumas pessoas importantes
frequentaram a ilha de William Styles e que não pode falar quem, por ser
uma informação extraconfidencial. — Ele se aproximou e diminuiu o tom
de voz, como se fosse me contar um segredo. — Cameron tem passado
mais tempo com William do que com qualquer outra pessoa, Finn acredita
que estão procurando alguma informação para alguma situação que
Cameron tem passado e envolve essas pessoas importantes.
Olhei-o por segundos.
— Isso não é tudo o que você sabe — deduzi quando o vi hesitar e
olhar para os lados.
Puxei-o para próximo da churrasqueira, que ficava a uma distância
consideravelmente boa da entrada de casa.
— Cameron quase não fica na mansão Styles. Arthur foi vê-lo na
casa do avô, e Finn ficou do lado de fora do escritório deles, mas suas vozes
soavam tão altas e irritadas que ele conseguiu ouvir Arthur dizer que você
podia mudar tudo se ele lhe contasse a verdade, disse que você concordaria
na mesma hora, e Cameron esbravejou dizendo que jamais a envolveria
nisso. William disse que a pressão estava cada vez maior e que não sabia se
encontraria uma solução até o fim do ano.
— Quando tudo isso aconteceu?
— Na segunda-feira desta semana.
Pensei um pouco.
— E então Arthur pediu que você me entregasse o bracelete, e a
caixa azul apareceu no meu quarto, provavelmente vinda pelas ordens dele
— deduzi. — Mas Cameron optou por me afastar, me deixar sofrendo em
vez de contar a verdade.
— Senhorita, ele optou pela sua segurança — ouvi Alec rebater.
— Minha segurança?
— A única pessoa que pode fazer Cameron falar é você.
Acabei me deixando rir… de ódio pela confusão.
— E como você acha que eu posso fazer isso se ele me afastou?
Você não faz ideia de como tudo aconteceu no aeroporto, ele
definitivamente poderia ter feito diferente.
— Então vai desistir? — Soltei a respiração.
— Parece ser o mais adequado no momento — assegurei.
Alec me analisou por segundos torturantes.
— Disseram-me que você seria a primeira pessoa que lutaria por
Cameron se ele precisasse, a única que não desistiria e que é a única por
quem ele lutaria até o fim. Meredith, a avó de Cameron, me disse para
contar tudo a você, mas acho que ela errou. Estou impressionado que você,
Rebecca Malik, vai optar por desistir dele, justamente você que é tão
curiosa e persistente vai escolher ficar sem saber o que levou Cameron a
fazer o que fez.
Abaixei a cabeça, sentindo meus olhos arderem.
— Eu te odeio, Alec! — disparei e acabei rindo.
— Não, não odeia, mas você não acha que é a pessoa que mais
merece entender o que está acontecendo?
Olhei-o e balancei a cabeça concordando.
— Mas, agora, temos uma coisinha muito importante para fazer —
Alec disse, mostrou uma venda e sorriu.
— Ah, não! — queixei-me.
Coloquei a venda, e Alec me auxiliou a fazer o caminho de entrada
para a casa.
Quando a venda foi retirada, um grito de surpresa explodiu em
meus ouvidos acompanhado de quatro lança-confetes, que estavam com
Nicholas, Peter, Elliot e Josh.
E, com a bagunça que só os Warrior sabiam fazer, o parabéns
começou a ser cantado.
Estavam presentes: Elliot, Peter, Josh, Eric, Adam, Brian, Calleb,
Natalie, Nicolly e Carter, Lana, Andrew, Jace e até mesmo Luce, que havia
sumido por um tempo antes de eu partir.
A ausência dele era gritante.
— FAÇA UM PEDIDO! — Calleb gritou ao fim dos parabéns.
“Descobrir o que está acontecendo com Cameron.”
E assoprei as velas, com a estranha sensação de que meu pedido se
cumpriria.
“Eu vou te apoiar quando as coisas derem errado, estarei com você do crepúsculo ao amanhecer.
Amor, eu estou bem aqui”.
Dusk Till Dawn - Zayn

Abracei um por um, sentindo uma vontade enorme de voltar para


Liberty, para junto deles, mas sabia que estava onde deveria estar no
momento.
As coisas estavam dando certo em Stanford, e eu era uma
universitária, isso era basicamente mais do que esperava para mim mesma.
Todos os meninos que abracei falaram sobre eu estar loira e, ao
mesmo tempo que ficava envergonhada por tantos elogios, me sentia linda.
— Meu Deus, Jace, quanto tempo! — disse animada e o abracei.
— Sumi por um tempo, porque estava tendo aulas com outra turma
e passando em alguns médicos, mas sempre estive por perto. Você continua
a mesma?
Achei graça e tirei os óculos, peguei suas mãos e as coloquei em
meu rosto.
— Continua linda! Feliz aniversário — desejou me abraçando e, em
seguida, me entregou um presente.
— Ah, muito obrigada!
— Vem, Jace, você precisa provar o bolinho de queijo que eles
fizeram — Josh disse animado. — Parabéns, capitã, meu presente está no
seu quarto junto com os outros — disse após beijar minha bochecha e me
abraçar.
O agradeci e ele, com todo cuidado possível, caminhou com Jace até
os meninos do time. Calleb se aproximou sem tirar os olhos de Josh.
— Nunca imaginei que Josh cuidaria tão bem dele; ele não se
incomoda e o leva para vários lugares. É muito difícil alguém ficar assim
com Jace. Até o time o inclui nas coisas agora.
— Josh é um amor mesmo, e fico feliz pelo time — disse admirada.
— Você faz tanta falta! — Calleb replicou segurando as lágrimas e
me abraçou.
— E eu sinto muito a falta de vocês — afirmei retribuindo seu
abraço.
— O loiro combinou muito com você, e nem estou falando do loiro
Styles — Calleb disparou.
— Você não presta, sabia? — questionei aos risos.
— Desculpe, eu não resisti, desculpe — pediu, mas acabou rindo.
— REBEQUINHA DO MEL! — Peter gritou e me abraçou,
virando-me no ar após me fazer soltar de Calleb.
Encarei Neji, que conversava com Eric, e ele abriu um sorriso cínico
por ter espalhado o apelido justamente para os meninos do time.
— Seu imundo, mal-educado! — Calleb deu um tapa em seu ombro.
— Calma, cunhadinho — brincou Peter e bagunçou os cabelos de
Calleb depois de me soltar. — Irmãzinha, que saudade de você — disse
envolvendo o braço em meus ombros e me fez andar com ele até a mesa de
salgados.
— E que saudade de vocês, achei que não aguentaria nos primeiros
meses — admiti o abraçando novamente. — Está se cuidando?
— Sempre. Lana, Josh e agora Calleb ficam em cima de mim, não
tenho escolhas — explicou rindo.
— Como estão as coisas em Liberty?
Ele me olhou e coçou a nuca.
— Sei aonde quer chegar, Becca.
— Peter, eu preciso saber como ele está, ninguém, principalmente
da minha família e da dele, me fala sobre isso. É angustiante — admiti —,
por favor, não faça como eles — pedi, sem a menor intenção de disfarçar
minha exaustão, sabia que com Peter eu não precisava disso.
— Ele não está bem, nunca mais saiu com a gente. Há meses
apareceu com os punhos cortados, eu o ouvi falando para Elliot que quase
precisou levar pontos e…
— Espero não estar atrapalhando. — Natalie olhou Peter com
repreensão. — Senti muito a sua falta, amiga. — Peter me olhou, sorriu
fraco e saiu silenciosamente. — É muito diferente sem você.
— Também senti sua falta. Achei que viria me visitar outra vez, algo
deu errado?
Ela me encarou pensando em milhares de coisas.
— Algumas coisas foram ao contrário do que tinha planejado.
Enfim, você precisa ver meu irmãozinho, ele é tão lindo — disse com tom
apaixonado.
A cada foto que via, meu coração se enchia de alegria. Tio Arthur
estava radiante assim como Eliza; as crianças estavam maiores, e vi fotos
em que eles estavam com a minha família, mas Cameron não estava… em
nenhuma.
Ao passar algumas fotos, observei a primeira foto de Cameron
segurando Luke como se fosse a coisinha mais frágil do mundo.
Natalie, com uma certa pressa, passou a imagem me deixando ver
outra dele com ela se implicando e brincando com Natasha e Ryan, seus
irmãos adotivos.
— Chega de fotos — sugeriu, sem jeito.
— Por que não deixou Peter terminar de falar?
Ela me olhou buscando as palavras certas.
— É seu aniversário, não quero que fique pensando nisso.
— Amanhã não vai ser meu aniversário, e você vai fazer a mesma
coisa.
— Você quem pediu para não falar dele — relembrou me olhando.
Respirei fundo e olhei para a frente. Tinha tomado minha decisão.
Precisava descobrir o que estava acontecendo com Cameron e só
agora entendia que não fui atrás antes porque não fazia ideia de por onde
começar, porque estava machucada, magoada e ressentida. Não conseguia
pensar direito, mas, no fundo, tinha noção de que Cameron não faria aquilo
sem uma explicação, ele não podia, ele não era assim.
— Pois bem — olhei-a —, se falar dele significa ter respostas, então
retiro o que disse anteriormente.
— Mas…
Olhei para a frente, vendo Andrew balançando a cabeça como
indicação para segui-lo, e ele logo saiu para a ala de piscina.
— Precisamos fazer isso, Natalie, ou o perderemos — disse a
olhando nos olhos.
Ela me abraçou com firmeza.
— Eu sabia que era só uma questão de tempo.
Olhei-a, um tanto surpresa, ela beijou meu rosto e saiu, com um
sorriso radiante.
Caminhei até a porta para encontrar com Andrew e, antes que
pudesse sair, Felicity parou em minha frente.
— Sabe que gosto muito de você, não? — Confirmei balançando a
cabeça. — E gosto muito de Nicholas também, amo morar com vocês e
detestaria que ficasse um clima ruim pelo que vou falar, mas amo muito
Andrew, ele é meu melhor amigo desde sempre. A mãe dele cuidou de mim
quando a minha morreu, e ele se tornou meu irmão.
— Aonde quer chegar com isso? — questionei, confusa.
— Não desconte sua carência nele. — Meu coração quase parou ao
ouvi-la.
— Eu não…
Ela me olhou, e eu me calei.
— Com Manson foi diferente, ele não a conhecia como Andrew a
conhece, não se apaixonou como meu amigo se apaixonou por você.
Manson se encantou e de imediato optou por se afastar, porque você foi
clara com ele, mas com Andrew… vocês são amigos.
— Tivemos oportunidades, mas — pensei um pouco enquanto ela
me encarava — eu estava com Cameron — deduzi.
— Exatamente. Só, por favor, não ignore os seus sentimentos nem
os dele — pediu e beijou meu rosto, para logo se retirar.
Com as palavras de Felicity ecoando em minha mente, cheguei aos
sofás da área coberta, que ficavam a uma curta distância das piscinas e em
cuja direita ficava a churrasqueira.
Andrew estava em pé quando me aproximei dele e fez um gesto
com a mão para que eu me aproximasse; ele me entregou uma caixa preta
com o nome da marca escrito em dourado.
— Para você — sorri e a peguei —, espero que goste. Feliz
aniversário!
— Ah, muito obrigada, Andrew — agradeci-lhe e o abracei após
colocar a caixa em cima do sofá.
Ele envolveu os braços em minha cintura, abraçando-me com
firmeza, e eu joguei meus braços em volta de sua nuca. Fazia tempo que
não o via, e, sentindo seu abraço, percebi que havia ficado mais forte.
Nós nos soltamos, sentei-me no sofá e abri a caixa, vi o copo
térmico do Harry Potter, uma réplica perfeita da varinha de Dumbledore, a
réplica do Mapa do Maroto, uma xícara toda preta e uma caixinha pequena
da Pandora, e quase não acreditei quando a abri e vi um Pomo de Ouro
pequeno.
— Andrew. Ai, meu Deus! Isso é meu? — questionei animada
enquanto abria o Mapa do Maroto.
Ele sorriu me olhando.
— Essa xícara, quando alguma coloca coisa quente é colocada
dentro dela, mostra um desenho em volta dela.
— Qual desenho? — questionei curiosa e olhei a xícara.
— Quando você colocar algo quente, vai ver. — Fiz uma careta e o
empurrei pelo ombro.
— Não sei como agradecer — confessei colocando as coisas
delicadamente de volta na caixa e a deixei ao lado. — Sério, eu amei. Muito
obrigada! — agradeci novamente e o abracei pela cintura.
— De nada, senhorita — disse acariciando meus cabelos.
— Por que mentiu para mim? — Soltei a respiração fechando os
olhos. — Felicity quem me contou sobre seu estado quando você e
Cameron terminaram e que agora você não fala mais dele.
— Não queria que fosse atrás dele ou que se preocupasse.
— Quem decide minhas reações sou eu — rebateu —, e ele quem
veio atrás de mim.
Olhei-o, ainda abraçado com ele.
— Como?
— Ele veio me contar que terminou com você.
— E o que você fez?
— O que ele pediu.
— Andrew… — Fitei-o enquanto me arrumava no sofá.
— Rebecca… — disse meu nome com o mesmo tom que eu havia
dito o seu.
— Você sabia do que tinha acontecido.
— E gostaria muito que tivesse sido você a me contar — alegou, e
eu revirei os olhos com irritação.
— Não vou discutir esse assunto.
— Você ao menos está bem agora?
— Estou.
— Então olhe para mim e fale isso — pediu.
Respirei fundo e continuei a olhar as piscinas à minha frente.
— Becca — chamou passando os dedos em meus cabelos, de forma
a fazer minha pele se arrepiar, e, se Andrew percebeu aquilo, preferiu não
comentar.
Olhei-o.
— Eu estou bem — afirmei.
— Saiba que pode contar comigo, Peter e Josh sempre que quiser,
não precisa ficar guardando nada, estamos aqui por você — afirmou
acariciando minha bochecha com o polegar.
Ficamos nos olhando por instantes, e meus olhos descerem até seus
lábios. Balancei a cabeça, afastei a sua mão, que em algum momento parou
em minha nuca, e tentei conter a raiva de mim mesma pela carência que
estava sentindo.
— Desculpe — olhei-o, e suas bochechas estavam coradas de
vergonha —, não quero parecer estar me aproveitando do afastamento entre
você e…
— Eu sei, Andrew, eu sei — o interrompi.
Nós nos olhamos e, sem motivo algum, começamos a rir.
— Como ele está? — questionei, e ele franziu o cenho. — Sei que
você não vai se importar com alguém não querer que você fale.
— Ele está ausente em tudo, os meninos do time estão bem unidos,
porque querem deixá-lo o mais feliz possível, mas ele não é o mesmo —
respondeu, sem hesitação.
— Entendo.
— O que pensa em fazer?
— Descobrir o que o fez terminar comigo. — Olhei-o seriamente.
— Você o conhece bem, acha que ele terminaria assim, sem explicações?
Andrew balançou a cabeça negativamente antes que eu pudesse
terminar minha pergunta.
— Preciso descobrir por onde começar — comentei. — Por ora, o
que acha de ser meu acompanhante no desfile LevéBlue, de Antonella? —
perguntei animada.
— Acho que posso encaixá-la na minha agenda.
— Você é muito engraçadinho. — Cutuquei suas costelas com o
cotovelo. — Vá arrumado.
— Ei! — protestou.
— Será em Paris, querido, não pode ir assim. — Fiz uma falsa
expressão de enojada.
Ele fez uma careta e se levantou, estendeu a mão e me puxou para
me levantar.
— Vai à luta amanhã?
— Não tenho motivos para ir — afirmei dando de ombros e apertei
o botão da porta automática para Andrew passar com a caixa.
A porta se abriu e me deixou ouvir as vozes do pessoal.
— Estou ansioso para ver Cameron, Andrew e Nicholas na luta de
amanhã, vai ser foda — ouvi Elliot dizendo, e tudo simplesmente parou.
Andrew, que estava ao meu lado, ficou pálido, assim como
Nicholas, que bateu com a mão na própria testa.
Olhei para Nicholas decepcionada, não pela luta, mas por esconder
aquele tipo de coisa de mim. Assim como meu pai provavelmente sabia e
decidiu não me contar.
Os meninos estavam entretidos com o jogo de sinuca, o videogame
e o narguilé, mas Peter, Josh, Carter e Elliot me encaravam.
— Alec, pode deixar isso em meu quarto, por favor? — pedi
calmamente, depois peguei a caixa que estava com Andrew e a repassei a
Alec. — Você sabia? — perguntei em voz baixa, e ele concordou
brevemente. — Obrigada.
Ele saiu silenciosamente, e, quando me virei, Nicholas estava atrás
de mim.
— Prima…
— Não, Nic, agora não — pedi o encarando, e ele, com raiva,
balançou a cabeça negativamente e se afastou.
À medida que caminhava até a cozinha para comer algo, meus
pensamentos começavam a se encaixar, e, agora, eu tinha uma luta para ir.
Em Palo Alto, Estados Unidos,
Sex., 00h39, novembro

A decepção que eu sentia por ser a última a saber que Nicholas e


Andrew participariam das lutas em Las Vegas se esvaiu quando decidimos
começar a arrumar a bagunça da festa, e Peter e Josh iniciaram uma
brincadeira com as bexigas, jogando-as para o alto. Não demorou para que
eu me aproximasse deles e os outros meninos também. A brincadeira
favorita deles foi começar a jogar as bexigas um contra o outro. Peter me
puxou pelos braços para me usar de escudo contra Eric e Brian.
— Seu filho da puta, isso é roubo — Eric protestou.
— Peter, me solte, solte garoto — pedi em meio às gargalhadas,
enquanto ele me mexia de um lado para o outro, nas direções em que os
meninos tentavam atingi-lo.
— Eles são a defesa do time, vão me matar — Peter disse
desesperado.
Josh correu na direção dos dois e jogou duas bexigas neles, o que
deu a oportunidade de Peter sair correndo, e logo Josh estava correndo com
ele. Eric e Brian foram atrás, e eu fiquei instantes os observando. Era ótimo
tê-los por perto.
Depois de arrumarmos tudo, inclusive os lugares onde os meninos
iam dormir — tivemos que colocar colchões na sala de estar e de jantar —,
segui para o meu quarto. Tomei um banho calmo e coloquei meu pijama.
Encarei todos os presentes que recebi, sorrindo em gratidão, e não
poderia deixar de agradecê-los por eles quando acordasse. Mas, mesmo que
estivesse um tanto animada com a vinda dos meninos, meus olhos seguiram
para a caixa azul na mesa de estudos, com o bracelete que Alec trouxe.
Em seguida, encarei a estante de livros, decidindo-me se era assim
que eu queria terminar meu dia. Decidida que sim, caminhei até ela, mas
duas batidas ecoaram contra a minha porta, e eu soltei um longo suspiro de
irritação.
Abri a porta e observei Nicholas.
— Podemos conversar? — pediu me olhando e abaixou a cabeça
como se estivesse encrencado.
Dei-lhe passagem, e ele entrou.
— Ned, pelo amor de Deus, vá dormir. Pela décima vez, não precisa
ficar de vigia — pedi aos risos.
— Mas, senhorita, seu pai deu ordens claras para…
Fechei a porta atrás de mim e o olhei.
— Ned, eu o estou liberando hoje. Você trabalha mais para mim do
que para o meu pai — ele riu concordando. — Ótimo, descanse bastante,
pois amanhã viajaremos — informei.
— Sim, senhorita. Boa noite.
— Boa noite, Ned, e pare de me chamar de senhorita. Você e Alec
adoram fazer isso comigo.
— Sim, senhorita — Ned disse, brincalhão, e saiu.
Voltei para o quarto, eu e Nicholas ficamos nos olhando, e ele
suspirou.
— Eu sei, eu sei. Escondi de você sobre a luta, mas…
— Sem mais, Nic — pedi. — Você prometeu que não esconderia
mais nada de mim desde a confusão com os agressores de Calleb e Josh;
achei que podia confiar em você de novo, mas, se você me esconder as
coisas, fica muito difícil.
— Você escondeu sua dor esse tempo todo de mim.
Balancei a cabeça negativamente, sentindo-me exausta disso.
Ele me olhou e pareceu se arrepender do que havia falado, mas sabia
que não voltaria atrás com suas palavras.
— Se você acha que pode justificar suas ações em cima dos meus
sentimentos, nossa conversa acaba aqui. Sua manipulação pode funcionar
com Felicity e as garotas que já se apaixonaram por você, mas comigo não
— disparei irritada e abri a porta. — Amanhã à noite viajarei para Las
Vegas. Boa noite, Nicholas.
— Rebecca…
— Boa noite, Nicholas — repeti, e ele bufou irritado.
— Você não é a dona da razão — retrucou, e eu o olhei.
— Concordo, mas você aparentemente é o dono da manipulação.
Ele me olhou e saiu do quarto a passos firmes.
Sentei-me no sofá próximo da janela e comecei a chorar, odiava
discutir com ele e odiava ainda mais quando ele tentava converter a
situação a seu favor.
Abri meu frigobar para pegar minha garrafinha d’água e, como ela
não estava, desci para pegá-la na cozinha. Ouvi sussurros e risadas que
eram impossíveis de não reconhecer: Deborah e Alec. Eles não eram bons
em disfarçar quando Alec estava de vigia e ela saía comigo, mas optei por
não entrar no assunto com nenhum dos dois.
— Senhorita — a voz de Alec chamou.
— Não queria atrapalhá-los — eu disse.
Deborah estava sorridente e ao mesmo tempo envergonhada.
— Amiga, é tudo culpa minha, desculpe-me por…
— Acho que você não estava beijando sozinha — disparei, e suas
bochechas ficaram avermelhadas —, não se preocupem, não vi nada, apenas
tomem cuidado — avisei olhando Alec.
Cameron detestaria saber daquilo, e eu detestaria que Alec parasse
de ser meu segurança.
— Entendido, senhorita — Alec disse.
— Preciso que você descanse, amanhã viajaremos para Las Vegas.
— Las Vegas?
— Temos uma luta para ir — expliquei, e ele sorriu como se
esperasse por aquilo.
— Boa noite, senhoritas — Alec desejou, e pude ver em seus olhos
que almejava se despedir de Deborah corretamente.
— Podem se despedir direito — assegurei saindo da cozinha.
Depois de alguns minutos, Deborah me encontrou na sala de estar.
— Ah, amiga — e pulou em mim de forma que me fez cair no sofá
com ela em meu colo —, nem consegui vê-la direito para desejar os
parabéns! Mas quero dizer que você é incrível, que estarei sempre aqui para
quando precisar e quiser. Sou muito grata por tê-la em minha vida, e você
ficou linda loira. — Ela me abraçou e beijou meu rosto.
— E eu te amo, coisinha, sou muito grata por você em minha vida.
Você me ajuda a aguentar todas as barras desde que cheguei a Stanford e me
deixa chorar em seu colo, obrigada mesmo. Mas, agora, quero que vá
dormir, amanhã vamos a Vegas.
— Não posso ir com você — disse um pouco sem jeito.
— Sério? — Perguntei confusa.
— Irei a Vegas e a encontrarei lá, mas meu pai vai me buscar. Minha
prima vai a essa luta e quer me ver — explicou.
— Sua prima? — Ela balançou a cabeça concordando.
— Princesa Astrid da Noruega, ela precisa comparecer à luta por
algum motivo. — Franzi o cenho. — Não faz sentido, por que uma princesa
vai a uma luta?
— Você é prima de uma princesa — eu disse. — Que tipo de amiga
não me conta que é prima de uma princesa?
— Não é o tipo de coisa que eu conto assim que conheço alguém,
ok? — Achei graça. — Na verdade, não posso contar para ninguém por
vontade própria, se as pessoas me virem com ela, não haverá problemas,
mas não posso entrar no assunto. Gostaria que não falasse nada e guardasse,
por favor.
— Sem problemas — prometi com um juramento de dedinho, que
lhe ensinei na segunda semana em Stanford.
— Senhoritas — Robert, um segurança da família, chamou nossa
atenção —, com licença, seu motorista a aguarda, senhorita Bellark —
explicou olhando Deborah.
— Obrigada — Deborah se levantou. — Nós nos vemos em Vegas.
— Abraçou-me quando me levantei e beijou meu rosto em despedida.
Retornei ao meu quarto e assimilei as informações: Deborah ser
prima da princesa da Noruega e a princesa precisar ir à luta em Vegas eram
fatos um tanto… incomuns.
Meu coração se apertou, e tudo pareceu vir à tona.
A discussão com Nicholas.
Cameron escondendo algo.
Mentiras e segredos.
Era desgastante.
Novas batidas ecoaram na porta, mas não quis me levantar, apenas
limpei as lágrimas.
— Pode entrar.
A porta de abriu, e era Andrew. A luz estava baixa, mas pude ver
sua expressão receosa. Ele não disse nada e me abraçou. Não conseguia
chorar com ele como fazia com Cameron, mas sua presença era
reconfortante.
— Nicholas parecia bravo.
— Brigamos — expliquei brevemente, e ele riu.
— Eu e Fefê também somos assim, ela chorava, e eu batia nos
meninos mais fracos. — Olhei-o desacreditada, e ele riu. — Não me
orgulho disso e não conto à criança nenhuma para não acharem motivador.
— Justo — eu disse. — Sei que vou me resolver com Nic, só estou
cansada — expliquei, e Andrew limpou a lágrima que escorria.
— Acho que ele fez isso porque não queria que você visse Cameron.
— E Bronwen — comentei, e ele abaixou o olhar. — Você sabe,
não?
Ele balançou a cabeça concordando.
— Meu tio, pai de Peter, foi seu advogado, já que seu pai e seus tios
não podiam pegar o caso, porque não tinham condições de separar as
coisas, o que é compreensível.
— Tinha me esquecido totalmente de que você é filho de Chad
García e sobrinho de Tony! — Admiti.
— Sou, meu último sobrenome é esse, mas costumo me apresentar
com o sobrenome Payne, da minha mãe, quando perguntam — ele riu. —
Sei que não podem falar sobre os casos que pegam para defender, mas saiu
na mídia por ele ser lutador famoso, então…
— Sei disso.
— Escute — olhei-o —, não contei sobre a luta por motivos meus;
se quiser saber, Rebecca não queria que você fosse mesmo. Não queria
saber que você veria Cameron e ficaria triste, ou veria Bronwen e teria
medo. E, pior de tudo, não poderia fazer nada. Você é minha amiga, e não
queria vê-la mal ou tentando me convencer a não lutar, porque sei que
tentaria fazer isso.
Achei graça, mas, por outro lado, fiquei grata com sua sinceridade.
— E, se quer saber, não ia lhe contar nada. Você me veria na luta e
já era, o que estava feito não poderia ser desfeito.
— Você é um idiota, sabia? — Ele colocou a mão sobre o peito
fingindo estar ofendido. —Eu ficaria muito, muito, muito brava com você.
— E passaria.
— A dor de ver Cameron também vai passar — afirmei.
— E você se esqueceria facilmente de rever Bronwen? — suspirei.
— Ok, justo, mas irei de qualquer forma.
— Você pode assistir à luta pela tevê, Becca — suplicou segurando
minhas mãos.
— Eu sei — aleguei, levantando-me, e me deitei na cama após tirar
as pantufas.
Ele me seguiu, um pouco desapontado. Bati a mão no espaço vazio
da cama, e ele se sentou.
— Nada do que eu falar vai te convencer, não é?
— Entenda, Andrew, eu vou a essa luta. Há coisas que preciso
descobrir sobre tudo o que aconteceu. Você mesmo concordou que
Cameron não terminaria assim, sem uma explicação.
Ele coçou a nuca.
— Algumas coisas aconteceram hoje, e não tenho mais motivos para
ficar quieta, aguardando. Se fosse ao contrário, ele não esperaria um
minuto, não sei por que demorei tanto — admiti.
— Que coisas aconteceram hoje? — questionou curioso.
Sentei-me na cama e comecei a falar sobre o sonho que tive com a
intenção de chegar até o presente de Cameron enviado por Alec.
“Posso ir aonde você vai? Podemos ser próximos assim para todo o sempre?”.
Lover – Taylor Swift

Acordei com o grito assustado de Natalie, que me fez abri os olhos


abruptamente, e a olhei. Não sabia em que momento havia dormido, mas
Andrew estava deitado comigo, não estávamos abraçados nem próximos,
pelo contrário, ele estava de bruços, e eu virada para o lado contrário dele,
com um espaço entre nós; eu ainda estava vestida com o robe lounge, e ele
estava totalmente vestido.
Andrew também acordou em um pulo. Elliot e Alec entraram no
quarto, acredito que após ouvir Natalie, e os olhos de Elliot mostraram a
tristeza que foi me ver deitada com Andrew.
— Ah, não… — ouvi Peter dizer e me escondi puxando o edredom
até minha cabeça. — Eu falo — continuou, e senti Andrew sendo puxado
—, mas ninguém me escuta.
— A gente não fez nada, cacete — ouvi Andrew dizer, e sua voz
ficou distante.
Quando a porta foi fechada, meu edredom foi puxado e Natalie me
encarou. Estávamos apenas nós duas.
— Não fizemos nada, dormimos conversando e…
— Eu sei — disse baixinho —, mas Elliot precisa acreditar que eu
lhe dei uma bronca e blá-blá-blá — ela riu e se sentou ao meu lado.
Suspirei de alívio.
— Mas isso vai chegar aos ouvidos do meu irmão.
— Ele quem terminou — levantei-me —, não pode ficar bravo por
seguir minha vida.
— Seguindo? Então me fale: qual foi o seu assunto com Andrew?
Ri dando de ombros.
— Cameron não precisa saber disso.
— Andrew pode muito bem falar sobre isso — pontuou.
— Ah, sim, claro, e vai falar bem depois de explicar que dormiu
comigo — debochei, e ela riu.
— Ele não teria tempo de explicar o assunto, para falar a verdade —
disse aos risos.
O barulho do meu celular chamou minha atenção me fazendo pegá-
lo.
Meu pai estava me ligando.
— Vou fazer seu café — Natalie avisou e saiu do quarto após eu
agradecer.
Atendi a ligação. Ontem ele me ligou no meio do salão e me fez
chorar com as coisas que me falou logo após me desejar parabéns, mas
sabia que não seria sobre isso que ele falaria hoje.
— Bom dia — desejei assim que o atendi.
— Bom dia, docinho, como está hoje? Soube da festa que os
meninos fizeram para você, como foi? — questionou em português, o que
era uma indicação de que alguém possivelmente estava por perto e não
sabia falar o idioma.
— Ótima, na verdade. Exceto pela parte em que descobri que meu
primo e meu amigo vão participar da luta de amanhã — comentei, e ele
ficou em silêncio. — Obrigada por esconder de mim também.
— Fizemos pelo seu bem.
— Cada vez que escondem algo de mim e eu descubro por terceiros,
fico arrasada e sem conseguir confiar em vocês, assim como saber que
Cameron esconde algo de mim e que vocês devem saber me deixa muito
irritada.
Papai novamente ficou em silêncio, e eu soltei a respiração.
— Como descobriu que nós sabemos? — questionou, e eu bufei,
sem acreditar.
— Alec não é nosso segurança, é dos Styles e não foi ele quem me
disse — ouvi-o rir —, e você não deixaria um segurança de Cameron me
vigiar se não soubesse de alguma coisa.
Ele soltou a respiração.
— Sim, há algo acontecendo com Cameron. — Foi tudo o que disse.
— E desde quando sabe? — perguntei caminhando de um lado para
o outro no quarto.
— Dois meses. Estava para quebrar o contrato que tinha com os
Styles, minha amizade se limita à minha família. Atingindo quem é
importante para mim, também me atinge. Sei que pediu para não influenciar
nos negócios, mas não ia conseguir trabalhar com Cameron e pensar no
quão mal você estava por ele. No último dia de prazo que dei a eles para
quebrar o contrato, Cameron me contou tudo.
— Você podia me contar — insinuei parando na frente de minha
janela.
— Queria poder, docinho — disse desanimado —, mas assinei
alguns documentos prometendo meu silêncio. Estou comprometido com
toda essa situação.
Ficamos em silêncio.
— Odeio ficar no escuro. Acredito que ninguém possa me contar
nada.
— Cameron pode — assegurou. — Natalie não sabe de nada
também, mas Arthur… ah, desculpe, não posso falar disso também.
Achei graça pelas dicas, mesmo que fosse perigoso para seu
trabalho.
— Só preciso ter certeza de uma coisa.
— O quê, docinho?
— Seja lá o que está acontecendo, posso mesmo reverter a situação
se entrar nisso? Sou a chave?
A esperança em minha voz era nítida, não sabia que precisava tanto
saber do que estava acontecendo, até decidir entrar nisso.
— Sim, querida, você pode reverter a situação. Mas temo que
Cameron esteja totalmente fechado quanto a isso, não será fácil.
— Não costumo gostar do fácil — afirmei e o ouvi rir. — Você me
apoia a entrar nessa?
— Claro. Se tudo acabar como estou imaginando, será ótimo. Mas
Nicholas ainda não está pronto para saber nem Natalie ou o time, muito
menos sua amiga Deborah, ela principalmente não pode ter ideia do que
está acontecendo.
— Por causa da princesa?
— Você já sabe que ela é prima da princesa da Noruega? — ele
perguntou surpreso.
— Sim, e não devia saber disso.
— Meu… Deus… — papai murmurou. — Não posso falar mais,
precisa confiar em mim — disse com firmeza.
— Difícil quando se esconde uma coisa tão simples como os
participantes de uma luta. Posso e quero confiar no senhor, mas é um pouco
difícil, todos escondem muito de mim, inclusive você, que sempre foi meu
ponto máximo de confiança — acusei. — Mas, no momento, não tenho
escolhas.
— É… não queria que as coisas ficassem assim.
— Então é necessário tentar mudar — comentei, e ele riu.
— Sempre com uma resposta — brincou.
— Também tenho muito o que mudar, mas confiança é uma coisa
pela qual prezo fielmente.
— Sei disso, docinho, sei disso — reconheci a voz de tio Ben o
chamando. — Suas passagens estão com Alec, e consegui deixar seu voo
junto com o dos seus amigos, espero que façam uma ótima viagem,
docinho.
— Farei. Obrigada, pai. Eu te amo.
— E eu te amo — replicou pouco antes de desligar.
Caminhei até a porta, e, quando a abri, Alec estava lá.
— Bom dia, Alec.
— Bom dia, Rebecca.
— Pode, por favor, pedir a Leia que traga meu café da manhã, vou
tomar aqui no quarto — pedi calmamente, e ele concordou balançando a
cabeça.
Deixei a porta encostada e adentrei no quarto. Abri meu porta-joias
e me deparei com o colar de chave. Se eu fosse fazer isso, encararia com
todas as minhas forças. Encarei-me no espelho com o colar entre meus
dedos.
Uma vez que entrasse nisso, nada me faria sair a não ser uma coisa:
a verdade vinda diretamente de Cameron.
Coloquei o colar e senti o peso de cada sentimento que passou em
meu copo no dia em que Cameron o colocou em mim. Mesmo com toda
raiva ao redor de meu coração, ainda assim o amava. Não dependia dele
para ficar feliz, meus dias bons não oscilavam apenas por pensar em
Cameron, mas, ainda assim, o amava e o queria na minha vida.
Não deixaria que mentira nenhuma me impedisse de ir atrás da
verdade. Meus sentimentos também estavam em jogo, e eu merecia saber ao
menos o motivo.
Ele não desistiria de mim assim, nunca desistiu, e agora eu via isso.
Podia me esforçar no nível em que ele já se esforçou pelo nosso
relacionamento.
Tomei um banho longo e relaxante, troquei minhas roupas e
coloquei o colar de chave, a aliança no dedo anelar da mão esquerda e o
bracelete magnético.
Estava confortável, era tudo muito discreto do jeito exato como eu
gostava das coisas. Claro que Cameron me conhecia e sabia que, se fosse
extravagante demais, não usaria nada.
Escondi o colar dentro de minha blusa, peguei a caixa com os papéis
amassados e segurei um deles, consumindo as palavras escritas:
E não continuava, assim como a outra.
— Senhorita, trouxe seu café da manhã — Leia avisou com a voz
calma vinda de trás da porta.
— Obrigada, Leia — agradeci pegando a bandeja de sua mão, ela
sorriu e saiu.
Tomei minha medicação e voltei a ler as cartas enquanto tomava
meu café. Desdobrei outra, e, dessa vez, ao contrário de outras, havia uma
data:
Quando vi a gota solitária de sangue no fim da página e que parecia
ter escorrido no papel, as lágrimas vieram sem parar, e eu me senti sufocada
de desespero.
Ele estava socando o saco de pancadas a ponto de suas mãos
ficarem machucadas?
Não consegui voltar a comer, sentei-me no chão com a caixa em
minhas mãos e a carta. Não ouvi batidas na porta, mas ela foi aberta.
— Becca — ouvi a voz de Andrew.
A porta foi fechada, e ele correu até mim e me abraçou.
— Ele está sofrendo, Andrew, ele está se acabando, se
automutilando. Eu preciso descobrir o que está acontecendo, urgente —
afirmei quase sem conseguir respirar.
Ele ficou abraçado comigo até eu me acalmar.
— As cartas diziam isso? — Andrew questionou rapidamente.
Olhei-o.
— O quê?
Ele sorriu de leve.
— Cameron vai me matar por isso, mas vai me matar antes por
achar que dormi com você propositalmente.
— Como que você deixa isso aqui e simplesmente não fala nada
depois de eu lhe contar tudo? — questionei me levantando e colocando a
caixa na mesa. — Pode começar a falar.
Ele se levantou.
— Você renasce muito rápido — brincou. — Fui vê-lo há cinco dias,
porque, desde o dia no aeroporto, em que ele foi falar comigo, não nos
vimos. Consegui ver algumas cartas que ele escreveu para você e as peguei
mesmo com o risco de ele desconfiar. Não li nenhuma, mas estavam dentro
de uma caderneta azul que — ele pensou um pouco, e sua expressão
pareceu surpresa — tinha seu nome nela.
Sorri sozinha.
— Deixei nas coisas dele quando achei que iria para Nova Iorque.
— Tirei as poucas que achei que não fariam falta, achei que ajudaria
em algo, mas parece que piorei a situação, não?
Abracei-o.
— Não, eu precisava disso, obrigada — respondi soltando a
respiração e o olhei.
— Se quiser minha ajuda, para o que for preciso, pode ter certeza de
que estou dentro.
— Você é meu amigo, mas…
— Você ama Cameron, e eu quero vê-lo bem. Assim como eu e
você, ele também merece ser feliz. Já sofreu tanto e parece que está se
acabando de novo. Eu o vi bebendo e se drogando aos poucos ano passado,
sei como é isso e não quero que isso volte.
— Isso é lindo — admirei me sentando na cama e o convidando
para fazer o mesmo.
— É — ele se sentou —, perdi meu irmão antes de Cameron
começar a estudar em Liberty; mesmo Cam sendo muito novo, ele me deu
todo o suporte, não me deixou cair nas drogas nem no alcoolismo. Ele me
ajudou a me reerguer. Não é como se eu fizesse isso por gratidão, não, ele é
um irmão para mim.
Limpei os olhos.
— Sinto muito por seu irmão.
— Eu também, mas hoje só tenho lembranças boas de Pedro. Ainda
dói, mas não tanto — concordei balançando a cabeça. — Enfim, quero
ajudar.
— Tem certeza disso?
— Toda a certeza do mundo — afirmou.
— Os meninos do time já sabem que você acordou no meu quarto?
— Apenas Elliot, Peter e Josh, e Cameron vai me matar — disse
rindo de nervosismo e me fazendo olhá-lo.
— Ou ele o mata, ou ele me questiona — brinquei.
— Torço para que seja a segunda — Andrew riu. — E ainda vou
aparecer com você no desfile.
— Não quero usar ciúmes, você não precisa se arriscar assim —
afirmei.
— Vamos ver onde isso vai parar — sorri enquanto esticava meus
pés.
— Rebecca. — A porta foi aberta com agressividade.
— Felicity, eu juro que ainda vou socá-la por entrar no quarto sem
bater — prometi, vendo-a rir.
— Pelo menos dessa vez você não está pelada, e seria uma péssima
situação se estivesse. — Ela olhou Andrew.
— A inconveniência em pessoa — ele brincou.
— Apenas é a verdade, vocês dois não combinam amorosamente
falando — disparou sem rodeios. — Você pode falar com Nicholas? Ele
chorou ontem de madrugada depois de ficar horas na academia e agora está
chorando de novo no quarto.
— Já vou — assegurei, e ela concordou balançando a cabeça.
Observei-a sair do quarto e guardei os papéis na caixa azul.
— Você faz Nicholas chorar? — Andrew questionou impressionado.
— Aparentemente, sim. — Dei de ombros.
— Depois de Cameron, qualquer outro não é tão impressionante
mesmo — disse se levantando. — Eu a vejo depois.
Puxei a manga da blusa, cobrindo o bracelete, e saí do quarto. Bati
na porta de Nicholas e entrei após ouvir um me deixe em paz. Quando o
olhei, as lágrimas escorreram em seu rosto.
Nicholas parecia ser um bruto e arrogante, mas, quando discutia
comigo ou Felicity, chorava igual a uma criança. Sentei-me na cama, e ele
abaixou o olhar.
— Você me perdoa?
— Pelo quê? — questionei enquanto me mantinha firme.
— Você é ruim, Rebecca, sabe o motivo. — Fingi pensar um pouco.
— Ah, por favor — pediu voltando a chorar —, fui um idiota de esconder
de você, lembro que me perguntou se eu iria participar, e insisti em dizer
que não por meses.
— Nic, sei que escondi de você meus sentimentos, tive medo de
você acabar indo atrás de Cameron como sempre prometeu que faria, ouvia
você falando com tio Pedro e o meu medo não me deixava falar como me
sentia, fora que não gosto de ninguém com dó de mim. Mas você ir lutar…
sabe que essa luta tem uma grande dimensão. Fico pensando em ver todo
mundo indo e eu sem saber de nada, ou ninguém ficando em casa para me
contar. Você nessa luta, Andrew nessa luta, Nic, até quando vai esconder
essas coisas de mim?
— Achei que estava fazendo o certo, achei que podia poupar seu
sofrimento em ver Bronwen e Cameron — disse com dor em sua voz.
Aproximei-me dele e apertei sua bochecha.
— Você e Cameron são engraçados, sempre reclamavam por os pais
não confiarem que sabem lidar com uma situação ou que têm maturidade
suficiente para entender coisas sérias e, quando descobrem que eles
escondem algo, reclamam, mas fazem igual comigo. Acha mesmo que não
sei lidar com Cameron? Bronwen é um dos meus menores problemas, e o
Cam…
— Você o ama, vê-lo será uma tortura — disse me olhando e pegou
em minha mão.
— Meus sentimentos, Nic, deixe-me lidar com eles.
Ele limpou os olhos.
— Não vou me meter, prometo. — Encarei-o e limpei suas
bochechas.
— Não confio ainda, mas você é minha família, e quero que
fiquemos bem. — Ele me puxou para um abraço que logo retribuí. — Não
quero promessas, quero ações.
— E eu queria que você falasse sobre o que sente. — Olhei-o rindo.
— Eu te amo, mas seus instintos protetor e impulsivo juntos são um
terror. — Ele coçou a nuca.
— O que posso fazer para mudar isso?
Analisei-o por instantes e vi a sinceridade e esperança que emitia em
seu olhar.
— Cameron não é o problema, ele…
— Ele a fez sofrer, chorar e ficar muito mal durante semanas —
completou.
— Há algo acontecendo com ele que o levou a fazer o que fez,
preciso resolver coisas na minha vida que envolvem Cameron, e você não
vai se envolver. — Olhei-o com firmeza. — É assim que você vai começar
a mudar; mesmo querendo me afastar de Cameron, você vai colocar o
rabinho entre as pernas e ficar caladinho. Não me importo com a sua
proteção, principalmente com Matteo e alguns meninos, mas com Cameron
não é necessário, por favor.
Ele soltou a respiração com força e ódio.
— Tudo bem — disse com os dentes cerrados.
— Ótimo, agora me dê a patinha, dog belga — brinquei em
português, esticando a mão, e ele a empurrou com um tapa leve. Rimos, e o
abracei novamente.
— Eu te amo, coisinha.
— E eu te amo, garotinho — ele me abraçou com força. — Agora se
levante e coma, vamos viajar em algumas horas.
Ele sorriu concordando e deu um beijo em minha testa, mas voltou a
se deitar na cama.
— Vamos, Nic, vamos — chamei-o, puxando-o pelo braço, e quase
o derrubei da cama.
— Para de ser louca — disse se levantando e fazendo cócegas em
mim.
— Não paro, não, seu mané — brinquei, vendo-o gargalhar.
Saí de seu quarto, peguei a bandeja de café da manhã que estava
próxima de mim e desci as escadas até a cozinha.
— Senhorita, deixe isso comigo — Leia pediu, então pegou a
bandeja de minhas mãos.
— Obrigada, Leia.
Virei-me para sair da cozinha e dei de cara com Elliot.
— Capitã — cumprimentou.
— Tenho uma dúvida — ele franziu o cenho —, você me chama de
capitã porque não lembra meu nome, não é? — brinquei, vendo-o rir.
— Seu nome é Roberta, certo? — brincou de volta. — É o costume.
— Muito bom. — Olhei-o, e foi como se eu entendesse o que ele
queria falar. — Pode falar, Elliot, sei que tem algo a dizer.
Ele sorriu sem jeito e colocou a xícara que estava em sua mão na
bancada.
— Você e Andrew… Vocês…
Antes que ele terminasse, neguei.
— Estávamos falando sobre Cameron ter terminado comigo, não sei
em que momento adormecemos, mas não estávamos abraçados nem nada
disso. — Ele continuou a me olhar, e eu soltei a respiração. — Eu amo
Cameron, Elliot. Juro que tentei afastar todo o meu sentimento dele, queria
não gostar, não sentir nada e seguir em frente, mas há algo de muito errado,
e ele não está bem, e eu simplesmente não consigo parar de amá-lo.
Vi lágrimas brilharem nos olhos de Elliot, e ele se sentou no banco
da bancada.
— Ei, o que foi? — questionei me sentando ao seu lado.
— Eu estou perdendo meu melhor amigo, e não posso fazer nada…
— Bom, Elliot, ao que todos dizem, você está olhando para a chave
— ele me olhou confuso e surpreso —, as coisas vão ficar bem, prometo.
Ele sorriu e me abraçou de surpresa.
— Eu sabia que, quando você se estabilizasse, iria atrás do que
aconteceu, confio que agora, sim, vai dar certo. — Ele me soltou.
— Você tentou algo?
— Tudo o que estava ao meu alcance. Os meninos do time me
ajudaram. Tentamos sair com ele, falar, dar suporte, tudo. Natalie disse que
você não queira saber de nada relacionado a Cameron, então não podia
chegar em você — explicou.
— Entendo.
— Becca — encarei-o —, não posso esconder de Cameron que você
e Andrew…
— Eu sei. Jamais pediria isso, seria como pedir para Natalie
esconder algo de mim.
— Você é uma ótima pessoa, Becca — disse com um sorrisinho
fofo. — Gosto de tê-la como cunhada, tanto por Natalie quanto por
Cameron.
— E eu gosto de tê-lo como cunhado também — repliquei me
levantando.
— Obrigado, capitã. — Voltei meu olhar a ele.
— Pelo quê?
— Por não desistir de Cameron; se fosse ao contrário, ele com
certeza não desistiria de você — assegurou.
“Então venha como você é para mim, não precisa de desculpas saiba que você é totalmente digno.
Eu vou receber seus dias ruins com seu melhor, caminharia através dessa tempestade, faria tudo isso
porque amo você”.
Unconditionally – Katty Perry

Papai me avisou por mensagem que ficaríamos em um hotel dos


Styles e disse que não sabia se eu conseguiria ver Cameron.
Quatro andares, os principais do hotel, estavam reservados para
comportar os meninos do time e as famílias dos lutadores como Nicholas,
Andrew e de mais outros dois lutadores que são filhos de amigos. O
primeiro andar seria apenas para os Styles.
Peguei da bolsa meu livro e fui diretamente para o último papel
amaçado. Era a maior de todas as cartas e, pela data informada, era também
a mais recente.
Fiquei encarando o final da carta até o momento em que a coloquei
na caixa e a abracei, como se aquilo pudesse mudar alguma coisa.
Eu não conseguia parar de chorar, e meu coração parecia se apertar
dentro do meu peito.
A única coisa em que eu conseguia pensar era no tanto que o queria,
no tanto que sentia sua falta.
Era uma dor tão forte que nada parecia poder amenizar.
Tudo o que consegui fazer foi ficar ali no chão, pensando no quanto
ele devia estar sofrendo. Queria vê-lo, abraçá-lo, pedir para ver a aliança de
noivado que ele estava guardando.
Encarei todas as cartas e consegui sorrir com os desenhos aleatórios
que tinham nas partes de trás de cada uma delas, e, no momento, eram a
única coisa que tinha dele.
Em Las Vegas, Estados Unidos,
Sab., 00h14, novembro
Foram quatro horas de viagem, e eu não consegui dormir um
segundo se quer com a bagunça dos meninos, felizmente a classe em que
estávamos era só nossa.
— Deixe que a gente leva suas coisas, capitã — ouvi Adam dizer.
— Não preci…
— Sabe que não funciona assim — Eric disse e pegou minha
mochila pela alça.
— Minha medicação está aqui, eu levo.
— Eu tomo cuidado, capitã — prometeu e, com cuidado, colocou a
mochila nas costas.
Adam pegou a mala de minha mão tirando qualquer espaço para
negação.
— Eles são bem fiéis e leais aos capitães deles — ouvi a voz de
Andrew e me virei para ele. — Você está muito nervosa — observou.
— Acha que ele está aí? — questionei esfregando minhas mãos
freneticamente.
— Sem dúvidas, mas não vamos vê-lo, eu acho — explicou.
— Isso pode ser bom — comentei.
— Vamos? — questionou colocando a mão em minhas costas.
— Vamos.
Assim que coloquei meus pés no hotel, ouvi a voz reconfortante de
papai me chamar. Sorri ao olhá-lo e, como uma criança, corri e o abracei.
— Qual é o quarto da capitã? — Eric questionou, e papai riu.
— Quarto 356, 17º andar. Alec e Ned podem levar, meninos, mas
obrigado — papai agradeceu.
— Estava com saudade de vocês — repliquei abraçando os meninos.
— Boa noite e até amanhã! — disse animada, e os dois beijaram minhas
bochechas ao mesmo tempo.
Alec e Ned pegaram minhas coisas e foram na minha frente.
— E mamãe?
— Está descansando, docinho, não aguentou esperá-la, estava muito
cansada — meu pai disse envolvendo o braço em meus ombros, dei um
tchauzinho para Andrew e os meninos do time em despedida.
— E você precisa descansar também — afirmou quando entramos
no elevador onde os seguranças nos esperavam.
— Não dormi nada durante a viagem — admiti, e ele beijou minha
cabeça. — Pai?
— Sim. — Ele me olhou após apertar o botão do 17º andar, um
depois da cobertura.
— Ned e Alec precisam dormir também, sei que amanhã eles
precisarão estar bem atentos a essas coisas.
— Senhorita, podemos revezar esta noite e… — Alec iniciou, mas
se calou quando o olhei.
— Tudo bem, George e Marco ficam de vigia — afirmou
calmamente.
Caminhamos até meu quarto, e eu olhei meu pai.
— Seus seguranças, suas ordens — arregalei os olhos de surpresa.
— Boa noite, meninos, estão dispensados.
Eles concordaram com um aceno de cabeça e saíram.
— O que foi isso? — perguntei me sentando na cama de casal que
tinha depois de colocar minha medicação em um pequeno frigobar.
— Você não é mais criança — ele se sentou —, e não vou tratá-la
como uma, não mais. Existem coisas que não vou parar, como sua proteção,
lhe dar presentes, mimá-la muito e querer que você se dedique apenas aos
estudos. Trabalhar ainda não é necessário. — Abri a boca para falar, mas ele
não deixou. — E nada de me retrucar, colocamos muitas responsabilidades
em você quando criança, pode nos deixar reparar isso enquanto é tempo?
Sorri e beijei seu rosto.
— Tudo bem, pai. — Apertei minhas mãos. — Ele está no andar de
cima?
— Ainda não o vi, mas, sim, está. Boa noite, querida, eu te amo.
— Boa noite paizinho, eu te amo — disse, vendo-o passar pela porta
e fechá-la.
Em Las Vegas, Estados Unidos,
Sab., 09h32, novembro

Fui avisada de que tinha uma reserva na lanchonete do hotel para


tomarmos café da manhã e, depois de pronta, caminhei para o elevador com
Alec.
— Não, não, não — balbuciei desesperada quando o elevador
começou a subir para a cobertura.
Meu coração parou junto com o elevador, minhas mãos suaram
quando as portas se abriram, e tudo o que eu não queria aconteceu em
poucos segundos.
Cameron parou e me encarou por instantes enquanto eu
simplesmente congelei o olhando de volta.
O segurança dele segurou a porta, e eu engoli em seco, ainda sem
conseguir me mexer.
— Não, Finn, iremos no próximo — Cameron disse com sua voz
firme e rouca.
Cada músculo de meu corpo estava tenso e o almejando de uma
forma que, se me deixasse ser um pouco impulsiva, me jogaria em seus
braços.
Cada toque, cada momento, nossos beijos, abraços, as cartas, os
sentimentos…
Tudo.
Absolutamente tudo veio à tona em um só segundo.
Queria chamar seu nome, tocá-lo, qualquer coisa que viesse dele.
Ele passou a mão na nuca, em seguida cerrou os punhos, sabia
perfeitamente que ele estava tentando controlar-se por completo para não
ser impulsivo. Ele olhou a aliança na minha mão esquerda e sorriu canto de
boca, mas logo ficou sério ao voltar o olhar para os meus olhos.
Estávamos com os olhares fixos um no outro; quando as portas
começaram a se fechar, pude perceber que soltou a respiração assim como
eu. Não fazia ideia de que, em um segundo, tantas coisas poderiam ser
sentidas. Apoiei-me nas paredes de metal do elevador e respirei com calma.
— Isso foi horrível — Alec quebrou o clima me fazendo rir.
— Algum problema, Alec?
Olhei-o depois que minha alma voltou ao meu corpo.
— Parece ser torturante — observou.
— E sem dúvidas é — concordei, porque não era segredo para
ninguém.
As portas do elevador se abriram, e Peter, Calleb e Josh entraram
animados.
— Bom dia, irmãzinha, tudo bem? — Peter questionou me
abraçando.
— Ótima, e você? Onde está Lana? Bom dia, meninos. —
Cumprimentei Calleb e Josh com um abraço.
— Lana dormiu na casa da irmã, faz meses que não a via — Peter
explicou. — Tem algo diferente, está tudo bem mesmo? — Calleb e Josh se
viraram para mim na medida em que Alec riu; cutuquei-o com o cotovelo.
— Acabei de ver Cameron.
Calleb inspirou com expressão de surpresa ao passo que Peter e Josh
comemoraram.
— Por isso que estava um cheiro de tensão sexual no ar — Calleb
brincou, fazendo-me rir, e fiz uma careta para ele.
— E vocês conversaram? — Josh questionou.
Balancei a cabeça em negação e soltei um suspiro.
— Onde está Jace? — perguntei na intenção de mudar de assunto.
— Está com Luce — Calleb disse pouco antes de as portas do
elevador se abrirem.
Josh e Calleb andaram um pouco mais à frente.
— Por que Neji a chama de Rebequinha do Mel? — Peter
questionou me olhando.
Alec riu novamente.
— Alguns meninos em Stanford me chamavam para sair quase
sempre, para tomar café da manhã, almoço, para ir ao cinema e essas coisas.
Sempre que alguém fazia um convite, Neji estava por perto e disse que eu
tinha mel, então surgiu o apelido. — Peter riu alto, e, quando terminei, já
estávamos no lugar reservado para tomar café da manhã. — Pare de rir,
besta. — Empurrei-o pelos ombros.
— Rebequinha do Mel — implicou bagunçando meus cabelos.
— Mãe! — chamei quando a vi sentada com meu pai e meus tios.
Soltei-me de Peter e caminhei até eles.
Abracei-a sentindo um pouquinho de casa em meus braços, e aquilo
pareceu mudar meu dia para melhor.
— Que saudade, meu doce — mamãe replicou me abraçando. —
Você ficou linda loira!
— Obrigada, e eu também estava com muita saudade, quero tanto
ver as crianças — admiti.
— Suas provas acabam quando?
— Semana que vem.
— Soube que as provas dela vão terminar antes de todos os alunos,
tia? — Nicholas envolveu o braço em meus ombros e beijou o topo da
minha cabeça.
Mamãe me olhou admirada, e Nicholas se afastou para falar com
seus pais.
— Pedi para adiantar as avaliações, porque, depois do desfile de
Antonella em Paris, ela vai a Londres, e, se vocês permitirem, vou junto.
Depois quero ir para casa aproveitar as férias — expliquei, e ela sorriu, mas
seu sorriso se desfez aos poucos.
— Fico muito orgulhosa de você, querida, parabéns! Mas não está
fazendo muitas coisas ao mesmo tempo? Não devia descansar e fazer as
provas com calma?
— Aprendi a fazer várias coisas ao mesmo tempo, não seria a
primeira vez, então está tudo bem — brinquei, e seus olhos mostraram uma
certa dor e arrependimento.
— Docinho — papai chamou.
Beijei seu rosto e o abracei, em seguida fiz o mesmo com meus tios.
— Rebecca! — Virei-me quando a voz de tia Eliza me chamou.
— Tia! — exclamei e a abracei com cuidado por conta do pacotinho
que ela segurava. — Achei que a senhora não iria vir.
— Não vou à luta, vou assistir a tudo daqui, mas minha recuperação
do parto foi ótima, então fui liberada para viajar — explicou com a voz
gentil de sempre.
— Amor, quer que eu segure Luke? — Olhei na direção da voz de
Arthur, e ele me olhou junto com seu pai, William.
Milhares de coisas se passaram em minha mente. Eles tinham a
resposta para tudo, e não me diriam nada.
— Deixe Rebecca vê-lo antes — pediu.
— Ah, olá, Rebecca, ficou muito bem loira — tio Arthur disse me
abraçando. — Esse é…
— Senhor William — disse olhando o homem que parecia tio
Arthur de cabelos brancos e mais velho.
— Rebecca — cumprimentou e olhou em meus olhos —, bom revê-
la — replicou pouco antes de se sentar.
Tio Arthur e tia Eliza se comunicaram por meio do olhar.
— Este é Luke, querida — apresentou mostrando o pequeno
garotinho que dormia tranquilamente em seus braços.
— Que coisinha mais linda — eu disse acariciando sua mãozinha.
— Ah, ele parece tanto com Cameron quando era recém-nascido, as
sobrancelhas quase não eram vistas também de tão loiro que era, assim
como Luke — relembrou com um sorriso nostálgico.
— Ele é lindo mesmo, parabéns, tia Eliza, e a senhora está ótima! —
afirmei dando um beijinho em seu rosto.
Quando levantei meu olhar, vi Cameron entrando onde estávamos.
Ele me encarou por instantes, e eu fiz o mesmo, não era proposital,
mas eu não conseguia deixar de olhá-lo.
— Acho melhor eu ir me sentar com o pessoal — comentei, e ela
seguiu meu olhar.
Olhei Arthur, e ele olhou William, que observava Cameron
balançando a cabeça negativamente.
— Ele tem tudo, não entra na minha cabeça ele não querer que ela…
— Pai! — Arthur o interrompeu, e eu acabei rindo.
— Vocês Styles não são muito bons em disfarçar — observei, e os
dois homens começaram a rir.
Firmei minhas pernas no chão, não tropeçaria na frente de ninguém,
muito menos de Cameron. Respirei fundo e comecei a andar. Encarei-o,
enquanto desacelerava o passo, e ele se impulsionou para a frente, como se
a qualquer momento fosse me agarrar e me tirar dali. E, sinceramente, era
tudo o que eu queria naquele momento. Sentei-me ao lado de Nicolly e
olhei Cameron, sorrindo vitoriosamente, e algo me dizia que, se não fosse
por Finn, ele ainda estaria parado a me olhar.
Abracei Nicolly e sua barriguinha de cinco meses.
— Como está a pequena Diana? — questionei acariciando sua
barriga.
— Está ótima. Ela começou a se mexer ontem por causa de Carter,
agora, sempre que ele toca minha barriga, ela dá algumas leves tremidas —
disse sorrindo. — E você, como está?
Dei uma mordida no meu sanduíche natural enquanto analisava sua
pergunta. Olhei-a, e ela me observava enquanto comia.
— Estou bem, Nini, ótima, na verdade — assegurei, vendo-a sorrir.
— Você está com aquele brilho — franzi as sobrancelhas — de fé e
otimismo.
— Acho que agora Elliot está contando sobre Andrew — Natalie
disse baixo.
Segui seu olhar, que estava voltado para a mesa dos meninos.
— O que aconteceu com Andrew? — Nicolly questionou baixo.
— Adormecemos juntos, mas não foi proposital e não estávamos
abraçados.
— Você dormiu com ele! — disse surpresa, mas ao menos falou
baixo.
— Fiquem quietas! — Natalie disse impaciente como se estivesse
assistindo a uma novela.
Cameron estava em uma mesa com Andrew, Elliot, Peter, Josh,
Carter e Jace, e seus olhos se cravaram em mim com irritação.
— Agora ele sabe — Nicolly deduziu.
— Aparentemente, sim — respondi.
Mas minha atenção se voltou para a torta tentadora de maçã que me
foi servida. Um soco na mesa fez com que tudo ficasse silencioso por
segundos, mas não levantei meu olhar. Um sorrisinho se formou em meu
rosto, não podia mentir, estava gostando de vê-lo em apuros.
— Ele está vindo, ele está vindo, amiga — Calleb repetiu como se
fosse surtar.
— Fique quieto, Calleb. — Felicity deu um tapinha na perna dele, o
que me fez rir.
Estava nervosa, muito nervosa, mas tentava fingir estar calma.
Quando ele parou ao meu lado, levantei os olhos e o encarei prendendo a
respiração disfarçadamente.
— Preciso falar com você, agora — exigiu e simplesmente saiu.
— Você não vai? — Felicity questionou.
— Não recebo ordens de Cameron — disse sorrindo e voltando a
comer.
Arthur e William sorriram e cochicharam algo entre si, Eliza sorriu e
deu uma piscadela para mim. Olhei papai, e, com um aceno de cabeça, ele
me incentivou a lidar com a situação do meu jeito. O que queria dizer que
pirraçar Cameron era o ideal.
Terminei minha torta gastando o máximo de tempo possível,
sabendo que ele odiava esperar. Levantei-me calmamente e segui pelo
caminho que Cameron havia feito para o corredor, longe do olhar de todos,
o que era bem do feitio dele.
Fui puxada pela cintura, e ele me pressionou contra a parede de um
cúbico escondido e vazio.
— Você não me fazia esperar antigamente — disse calmamente.
— E você não guardava segredos — rebati.
Suas mãos apertaram minha cintura, lembrando-me de que ainda
estavam ali.
— Se é tudo o que tem a dizer…
Antes de cogitar sair, ele me pressionou ainda mais me fazendo
bater as costas na parede.
— Você dormiu com Andrew?
Seus olhos ferviam de raiva, e aquilo me deixava quente.
— Elliot não mentiria, e acredito que Andrew não tenha negado —
disse com a voz carregada de sarcasmo.
Ele respirou fundo, e eu abaixei meu olhar para os seus lábios.
— Achei que você não se importava — provoquei aproximando
meus lábios dos dele.
Seu corpo se pressionou contra o meu, fazendo-me prender a
respiração. Nossa distância era quase nula, e seu peitoral pressionava os
meus seios.
— Pare com os seus joguinhos, Malik, e me responda logo — disse
com os dentes cerrados.
— Meus joguinhos o irritam, Styles? — deslizei minhas unhas em
seus braços, sua pele se arrepiou, e ele respirou fundo quando aproximei
meus lábios de sua orelha. — Estou só começando — sussurrei.
Ele olhou meus lábios e molhou os dele com a língua, fazendo-me
acreditar que ele amava quando me ouvia falar assim. Quando Cameron se
afastou de mim, minha mão deslizou por inteiro em seu braço, e nossos
braceletes se juntaram. Vi seu cenho franzir.
— Quem te entregou isso?
Revirei os olhos, puxei meu braço e me afastei dele, mas, com sua
rapidez, parei de andar quando ele ficou à minha frente.
— Alec? — questionou. — É claro que meu pai faria isso. — Foram
suas palavras antes de simplesmente sair e caminhar na direção contrária do
restaurante.
Optei por voltar ao meu quarto, sem me importar se achariam que eu
estava com Cameron. Em cima de minha cama, havia uma camiseta preta
escrito atrás de branco: Time Nogueira, Time Payne e Time Styles, um
embaixo do outro, com um par amarrado de luvas de boxe vermelhas por
trás dos nomes.
E, na frente, à esquerda da camiseta preta sem estampas, estava o
seu logo com o nome da sua marca oficializada: C.W. Styles.
“Eu convoquei você, por favor, venha até mim. Não enterre os pensamentos que você realmente quer,
dentro de mim está o que você realmente deseja”.
Middle Of The Night – Elley Duhé

Estava ansiosa como se eu fosse participar das lutas.


Os meninos estavam em seus camarins, pois vieram mais cedo para
ensaiar as entradas, e ainda faltavam em torno de cinquenta minutos ou uma
hora para as lutas começarem.
— Cameron, Nicholas e Andrew não puderam ver Bronwen durante
os preparativos, Turner fez a entrada sozinho e subiu antes com sete
seguranças ao redor — papai disse quando se aproximou do carro em que
cheguei com Peter, Carter e Josh.
— Imagino — afirmei rindo, tentando aliviar a tensão que seria ver
Turner.
— Foi difícil convencer sua mãe a ficar com Nicolly e as crianças?
— Muito, ela queria a todo custo vir, mas a pressão já estava
começando a subir, então ficou mais fácil convencê-la, e sabe que ela
sempre passa mal em lugares cheios, precisei ser um pouco ruim e apelar
para isso — argumentei, e ele me olhou com um sorriso.
— Seu lugar está reservado na parte de cima do ringue, de onde
Bronwen não poderá cogitar chegar perto — papai disse, ao entramos no
enorme local onde aconteceriam as lutas.
— Pai, isso não é necessário — afirmei olhando-o, e ele me olhou
seriamente.
— Sim, será, pelo menos até ele não ser uma ameaça.
Suspirei e dei de ombros, era uma discussão perdida.
O local estava cheio, com diversos flashs sendo disparados, câmeras
para todo o lado, alguns telões revelando alguns treinamentos e música alta.
Chegamos ao camarim de Nicholas, e o abracei assim que o vi.
— Estou um pouco nervoso — admitiu sussurrando em meu ouvido.
Sabia que meus tios aqui o deixavam ainda mais apreensivo e que
Nicholas jamais falaria aquilo a outra pessoa, na intenção de não causar
alarde, exceto Felicity, claro.
— Sei que vai ir bem, você se esforçou muito para isso — afirmei e
beijei suas mãos. — Quer que eu os expulse daqui? — questionei.
— Você é a princesinha da família, tenho certeza de que não ficarão
bravos — disse rindo.
— Sabia que você só queria me usar de escape. — Empurrei-o pelos
ombros.
— Sempre que possível — rebateu.
Ouvimos a porta se abrir, e era Felicity, a melhor pessoa com quem
Nicholas poderia ficar no momento. Soltei suas mãos e me levantei quando
ela parou à minha frente.
— Natalie por algum motivo a está chamando lá fora — disse após
me dar um beijo no rosto.
— Ok, Nicholas está um pouco nervoso — comentei baixo, e ela
concordou. — Gabbe não virá?
— Vai estar na plateia, ela já veio falar com o Nic — explicou.
— Ela foi — procurei a palavra certa — gentil com ele?
Felicity sorriu com graciosidade.
— Sim, mais do que eu imaginava, se quer saber.
Sorri ao ouvi-la, Nicholas podia ser muitas coisas, mas tinha um
coração puro e bondoso, às vezes até demais.
Meus três tios paternos e meu pai estavam na sala falando alto,
como sempre.
— Homens da minha vida, vocês precisam sair — anunciei ao abrir
a porta, e todos me olharam enquanto tia Ammy deu um sorrisinho. — Para
fora, todos, Nic tem poucos minutos de paz, e vocês juntos… bom…
Uma explosão de risadas inundou a sala.
— Seguimos as ordens da docinho agora? — Tio Pedro provocou.
— Cuidado, ela vai mandá-lo para o hospital que nem fez com
Gabbe — tio Ben implicou, dizendo em português.
— Ou vai quebrar suas garrafas de bebida e apontar uma arma na
sua cabeça. — Nicholas entrou na brincadeira, também, falando em
português.
— Ela quebrou uma garrafa da Nicolly também — papai relembrou.
— E sabe usar uma metralhadora — tio Ben disse, e meus tios me
olharam.
— Ela o quê? Benjamim! — papai repreendeu. — E como ela foi?
— questionou baixo como se eu não pudesse ouvi-lo.
Achei graça.
— Chega, vocês estão me expondo demais. Vamos logo para fora —
pedi apontando para a porta.
— Precisa me visitar no Canadá, quero ver se sabe usar uma
metralhadora mesmo, docinho — tio David, o mais novo, disse me
abraçando.
— Preciso mesmo, faz tempo que não vejo a tia e meus primos —
relembrei.
Tio Ben passou após lançar uma piscadela para mim, e papai sorriu
me olhando, em seguida apertou minha bochecha e parou quando dei um
leve tapa em sua mão.
Nicholas ficou com os pais e Felicity, ele me lançou um sorriso
grato, e eu lhe mandei um beijo no ar antes de sair da sala.
Natalie estava praticamente na frente da porta, à minha espera.
— Queria falar comigo? — perguntei após abraçá-la.
— Não eu… é… não me odeie — pediu quando começamos a
andar.
Ela parou na frente do camarim que tinha o nome de Cameron, e
Finn e outro segurança estavam por perto.
— Ele quer falar com você.
— Seu pai e seu avô não…
— Não, não estão, ele está sozinho.
Respirei fundo, e o nervosismo começou a dar sinais em mim.
— Falarei com ele… — Alec e Ned me olharam. — Sozinha —
completei.
Natalie concordou eufórica e saiu com um segurança.
Demorei pelo menos dois minutos para tomar coragem e bati à
porta, que foi aberta quase no mesmo instante.
Quando entrei, Cameron me pressionou contra a parede como fez no
hotel.
— Que merda você está tentando fazer, Rebecca? — indagou
apertando minha cintura com firmeza e ao mesmo tempo o cuidado que só
ele tinha.
— Sobre o que estamos falando? — questionei calmamente.
— Primeiro você dorme com Andrew e agora manda alguém
entregar um buquê de rosas para você no meu camarim?
Franzi o cenho e encarei o buquê atrás dele, em cima de uma mesa.
Sorri sarcasticamente.
— Acho que você mandou entregarem aqui para ficar assim,
próximo de mim outra vez — disse com os lábios próximos dos dele.
— Eu não faria isso, não tenho motivos.
— Não tem?
— Não sinto nada por você, Rebecca.
Empurrei-o com o meu corpo.
— Não? — inverti nossas posições, deixando-o contra a parede. —
Então por que se importa tanto se eu dormi ou não com Andrew?
— Precisava ter a certeza do quanto a mudei.
— Você não me mudou, Styles, não se ache tanto. — Acariciei seu
rosto e ele prendeu a respiração. — Mas gosto de ver você tentando a todo
custo fingir que não sente nada por mim — sorri olhando em seus olhos.
— Você não sabe do que sinto.
Ele vestia um robe branco e um short preto, seu peitoral estava
descoberto, então tomei a liberdade de passar os dedos em seu corpo e vê-lo
estremecer.
— Por que seu coração está tão acelerado? — Ele abaixou o olhar.
— Você diz milhares de coisas, mas faz outras, porque não sabe como estar
comigo e continuar guardando segredos. Desde o momento em que cheguei,
você não consegue ficar longe de mim e ainda quer que eu acredite em suas
palavras?
Ele engoliu em seco ao sentir minhas unhas deslizando em seu
abdômen, quando cheguei na barra de seu short, passei as unhas por dentro,
ele fechou os olhos, estufou o peito, puxou a respiração e inclinou a cabeça
para trás.
— Pare, amor — suplicou com a voz e a respiração cortadas.
Parei e fiquei com os lábios próximos dos dele. Suas bochechas
estavam coradas, e seus olhos bem azuis. Sorri ao me dar conta do quanto
amava vê-lo assim.
Ameacei beijá-lo, e me afastei.
Sem dizer uma palavra, segui na direção de onde estava o buquê,
mas, antes que eu completasse meu caminho, Cameron me puxou pela nuca
e me virou para a frente, deixando-nos com os lábios próximos.
Ficamos segundos a nos encarar, e, quando me dei conta, nossos
lábios estavam juntos se movendo com voracidade e desejo.
Apertei sua cintura, e seus dedos se afundaram em meus cabelos.
Com o peso de seu corpo e seu braço fechado em minha cintura, ele me fez
dar passos para trás, empurrou o buquê e me colocou em cima da mesa.
Acabei sorrindo. Era claro que ele faria questão de destruir aquilo.
Ele sorriu durante o beijo, me olhou por segundos e voltou a me beijar
lentamente.
Seus dedos firmes em meus cabelos aproximavam mais nossos
lábios, e, com seu corpo entre minhas pernas, deixando-me colada a ele, eu
o sentia perfeitamente. Sua mão desceu em meu pescoço e o prendeu, o que
me fez puxar a respiração.
Seus lábios fizeram uma trilha de beijos de meu rosto até o lóbulo
de minha orelha, e ele moveu a cintura.
— Cam… a luta… — murmurei sentindo os arrepios constantes que
passavam em meu corpo.
Acariciei seus cabelos e, com a outra mão, segurei seu braço de
modo a sentir suas veias. Ele me olhou com um sorriso no rosto, e a
expressão tensa que o perseguia quando estava com seu pai e avô não tinha
mais espaço; sua mão soltou meu pescoço e tocou o pingente de chave, e
nosso breve momento pareceu ter acabado.
— Eu não devia ter feito isso — disse a si mesmo se afastando de
mim e passou as mãos em seus cabelos. — Eu devia ser forte, merda, eu
devia.
— Cam… — chamei-o enquanto descia da mesa.
— Não, Rebecca, você não entende.
Ele se virou para mim com os cabelos bagunçados e os lábios
marcados.
— Isso é maior do que você pensa — assegurou. — Eu…
Calei-o com um beijo, e, como se não pudesse se conter mais, suas
mãos passaram em minhas costas, e ele me abraçou.
— Se eu estivesse na situação em que você está, desistiria do nós?
— questionei retribuindo seu abraço e acariciei seus cabelos.
Ele me olhou nos olhos.
— Você sabe que não — disse quase em um sussurro.
— Então entende que não posso desistir, Cam.
— Mas você precisa. Pelo seu bem.
Colei nossas testas, em seguida beijei suas mãos.
— Não vou desistir até descobrir o que esconde — assegurei.
— Por que é tão teimosa?
— Se não escondesse nada de mim, eu não precisaria buscar
respostas, Styles. E admita — afastei-me dele —: você adora minha
teimosia.
Ele deixou um sorriso escapar em seus lábios e passou a mão no
rosto.
— Você não vai entrar nisso. Eu não vou deixar.
— Nem você acredita nisso, amor — disse sorrindo e beijei seu
rosto. — Olha só a bagunça que você fez — acusei, abaixando-me para
pegar o buquê.
Arrumei algumas das rosas que estavam espalhadas e peguei o
cartãozinho.
— Quem quer que enviou, teve sorte por eu não ter destruído isso
assim que o vi — afirmou, sem qualquer ressentimento na voz, e se jogou
no sofá.
Abri um sorriso e balancei a cabeça negativamente.
— Você não tem jeito, senhor Styles.
Quando abri o cartãozinho, meu sorriso se desfez, minhas mãos
suaram e meu estômago se revirou.
O cartão e o buquê caíram de minha mão, e dei passos para trás sentindo meu coração disparar.
— Não… não… não… — murmurei, como se aquilo pudesse mudar
alguma coisa.
Cameron se levantou e me abraçou, mesmo sem entender o que
estava acontecendo.
— Alec! — ouvi-o chamar.
— Senhor — respondeu após entrar no camarim.
Alec entregou o cartão a Cameron, que o amassou após ler e firmou
os braços ao meu redor.
— Eu vou acabar com esse filho da puta maldito — disse baixo e
beijou minha testa. — Você está segura, meu amor, você está segura —
sussurrou em meu ouvido.
Olhei-o.
— Eu estou bem, só me assustei — justifiquei, e ele selou nossos
lábios.
Não estava com medo e não queria chorar, mas era um sentimento
que me deixava nauseada só de pensar que foi ele quem escreveu isso e que
ele já me viu.
— Alec, leve-a para o lugar dela. Finn, mande Frederick ir junto.
— Sim, senhor — Finn disse e caminhou até o outro segurança.
— Não precisa — disse ao me soltar de Cameron. — Alec e Ned
são ótimos.
— Sei disso — disse, afastando uma mecha de cabelo do meu rosto,
e finalizou a conversa.
Saí com os seguranças. Alec foi mais à frente que os outros dois,
como se soubesse das ordens de Cameron melhor do que qualquer um.
— Não é possível — disse baixo, e Alec riu.
— Ordens do seu pai e de Cameron — afirmou.
— Desde quando você recebe ordens de Cameron? — questionei-o.
Ned nos olhou, Alec abriu a boca para falar, mas reconsiderou e
ficou segundos em silêncio.
— Desde hoje, ele e seu pai sempre trabalham juntos quando o
assunto é sua segurança — respondeu, e eu olhei em seus olhos.
— Rebecca, ainda estamos no meio da entrada — Ned disse com
tom brincalhão.
Foi o momento em que parei de olhar Alec e, contra a minha
vontade, entrei no camarote.
Tinha odiado a ideia de todos ficarem próximos ao ringue enquanto
eu estava em uma parte alta, longe de tudo. Mesmo que a visão daqui fosse
perfeita, ainda assim era injusto me deixar aqui. Aquele nojento não se
aproximaria de mim, e eles insistiam em me manter distante o suficiente de
qualquer possibilidade de aproximação.
Antes de me sentar, percebi que Deborah estava sentada ao lado de
uma garota que parecia ter aproximadamente nossa idade. Sua postura era
ereta, elegante e majestosa, o que me fez acreditar que ela era a princesa da
Noruega. E atrás delas havia dois homens, a uma distância o suficiente de
ouvir quaisquer conversas entre Deborah e a provável princesa.
Optei por fingir não as ter visto, não era como se eu pudesse
simplesmente me aproximar, principalmente considerando o tanto de
seguranças próximos deles.
Pensei em pesquisar sobre a princesa, para confirmar se era ela, uma
vez que não fiz isso antes, porque, sinceramente, diante de tantas coisas,
isso não me importou muito, mas decidi não fazê-lo agora.
— Rebecca? — ouvi a voz de Deborah e me virei em sua direção.
— Venha para cá, nossa companhia será melhor do que a deles — brincou
olhando Ned e Alec.
Sorri e me levantei caminhando até ela, mas alguns seguranças se
colocaram à minha frente, impedindo minha aproximação.
A garota disse algo rápido em norueguês, e consegui entender
apenas a frase é amiga de Deborah, e, pela reação dos seguranças ao
olharem o homem próximo delas, que concordou, ela provavelmente pediu
que me deixassem passar.
Seus cabelos eram no mesmo tom castanho-claro que os de
Deborah, ela usava uma roupa formal demais para uma luta e com cores
discretas, mas, para mim, ser discreta seria difícil, visto que ela era muito
bonita.
— Rebecca, essa é Astrid, minha prima — Deborah a apresentou ao
se levantar.
Fiz uma reverencia, e ela acenou com um sorriso no rosto.
Eu não sabia nada sobre comportamentos diante da monarquia, mas
sabia que o correto era reverenciá-las.
— Não faço ideia do que mais é apropriado diante da herdeira da
Noruega — admiti em voz baixa.
A princesa Astrid riu alto, e, quando um homem, que estava distante
de nós e com outros homens ao redor, a olhou, ela se recompôs.
— Fique tranquila — disse de forma elegante. — É um prazer
conhecê-la, Rebecca — ela sorriu com graciosidade.
— Digo o mesmo, alteza — ela riu outra vez, só que mais baixo.
— Pode me chamar de Astrid — afirmou. — Diga-me, você
conhece alguns dos lutadores de Los Angeles? Deborah conhece apenas
Nicholas, que é o seu primo, estou certa?
— Sim, conheço outros dois participantes.
Peguei o meu celular e entrei no perfil oficial da organização da
luta. Ao abrir a foto de Andrew, pude jurar que vi os olhos de Astrid se
iluminarem, ou eu estava vendo coisa.
— Quem é ele?
— Andrew Payne, nós nos conhecemos desde sempre, porque
nossos pais estudaram juntos, mas nos tornamos amigos este ano. — Ela
observou a foto por instantes. — E esse é Cameron Styles… — seus olhos
se voltaram em minha direção — irmão da minha melhor amiga —
completei.
— A senhorita o conhece há muito tempo?
Deborah olhou a princesa, com surpresa e confusão, em seguida me
olhou parecendo pedir desculpas.
— Desde sempre, na verdade, nossos pais e mães são melhores
amigos — respondi, torcendo para que ela não fosse curiosa a ponto de
fazer mais perguntas.
— Vocês…
— Astrid! — disse o homem em tom severo, que se parecia mais
com Deborah do que com Astrid, como em uma repreensão.
— Peço desculpas, senhorita Malik — pediu, sem jeito.
— Pode me chamar de Rebecca — afirmei.
Ela sorriu com graciosidade, e nos olhamos por segundos o
suficiente para ver a tristeza fluindo em seus olhos.
— Esse é o meu pai, Rebecca, meio que conselheiro do meu tio, o
rei — Deborah disse as palavras o rei em um sussurro, como em um
segredo.
— Chamo-me Jakob Bellark, Deborah fala muito bem de você,
senhorita Malik.
— É um prazer conhecê-lo, senhor Bellark.
Minha atenção se voltou para o ringue quando a entrada de Nicholas
foi anunciada. Meu pai, que sabia muito de boxe e luta desde os quinze
anos, estava aconselhando-o. A luta começou, e parecia que meu coração
pararia a qualquer momento.
Três rounds haviam se passado, e eu não conseguia ficar parada;
levantei-me ficando ao lado de Deborah, onde não atrapalhava a visão de
quem estava presente no camarote.
— Um cruzado, Nic, um cruzado — disse para ninguém em
especial, vendo que meu pai falava algo a Nicholas.
O quarto round começou, e Nicholas avançou para cima do rival;
depois de dois rounds o analisando e investindo em ataques, deu um
cruzado e disparou golpes até o juiz pará-lo e declarar vitória.
— ISSO! — disse um pouco alto demais e me contive ao perceber
os olhares em minha direção. — Alec, precisamos descer — avisei pegando
minha bolsa do banco.
— Mas…
— Vejo você mais tarde — avisei Deborah, e ela sorriu
concordando.
— Sabia que não aguentaria ficar aqui — respondeu aos risos.
— Princesa Astrid, foi ótimo conhecê-la — disse calmamente, e ela
sorriu dando um aceno com a cabeça.
Alec balançava a cabeça negativamente enquanto, junto de Ned e
Frederick, abria espaço entre a multidão para podermos passar. Papai me
olhou e acabou rindo, olhou Alec e acenou em concordância. Nicholas
estava em uma breve entrevista quando chegamos, o que dava tempo o
suficiente para os preparativos do anúncio da luta de Andrew.
— Olá, docinho, quanto tempo — ouvi Rosie, mãe de Andrew,
dizer.
— Olá, tia Rosie — disse, depois a beijei no rosto.
A entrada de Andrew começou, e ele caminhou seriamente. Apenas
a equipe de treino dele o acompanhava; assim como foi com Nicholas,
ninguém da família podia acompanhá-lo.
O juiz então iniciou a partida, e só assim me dei conta de que estava
com o braço envolto no braço de tio David, o irmão mais novo de papai.
Nos dois rounds, Andrew parecia atordoado, mas, no terceiro, após
meu pai, que não saía de perto do ringue para nada, falar alguma coisa a ele
e fazer Chad — pai de Andrew — parar de falar, Andrew voltou com tudo,
focado como nunca, e não deu espaço para o rival acertá-lo.
O juiz anunciou a vitória de Andrew, e gritamos todos juntos.
— ESSE É O MEU FILHO, PORRA! — tia Rosie gritou em
comemoração.
Quando ele saiu com vários fotógrafos em cima dele, meu coração
disparou ainda mais, como se aquilo fosse possível.
Era agora.
Na entrada de Bronwen, tio Benjamin parou ao meu lado, e tio
David me abraçou pelos ombros como sinal de proteção. Papai me olhou
três vezes conferindo como eu estava, e, se Bronwen em algum momento
me olhou, não tive espaço para confirmar, afinal não fiz a menor questão de
olhá-lo.
A entrada de Cameron começou, e ele caminhou com os olhos fixos
no rival.
Tio Arthur e William me olharam brevemente e voltaram o olhar a
Cameron, que entrou no ringue. Ele me olhou, fez o nosso sinal de eu te
amo e se manteve com os olhos em mim enquanto arrumavam as luvas em
suas mãos. Sorri e fiz o mesmo sinal discretamente, mas não o suficiente
para que tio David e Benjamin não percebessem.
O juiz, como com todas as duplas, esperou os lutadores se
cumprimentarem e então anunciou o primeiro round.
Cameron avançou para cima de Turner, que ficou desnorteado e sem
conseguir parar para pensar em reagir; o nariz de Bronwen expelia sangue,
e o juiz precisou separá-los quatro vezes.
Não tinha como conter as risadas com as ações de Cameron.
— O capitão vai matar o cara antes do terceiro round — ouvi Peter
comentar animado.
— Tenho certeza de que não vai chegar ao terceiro — Josh disse aos
risos.
O juiz liberou os lutadores depois de outra separação, e, no segundo
golpe que Cameron deu, Bronwen foi parar no chão, mas se levantou antes
que o juiz fizesse a contagem e encerrasse a luta.
Cameron estava pronto para golpeá-lo novamente quando o
primeiro round acabou. Enquanto o treinador o fazia tomar água, seus olhos
encontraram os meus, e ele me lançou uma piscadela e um sorrisinho de
lado.
Tio David e Ben me olharam, assim como meu pai e William.
O treinador foi até Cameron para colocar a proteção dental nele,
mas o lutador balançou a cabeça em negação, mesmo que isso fosse contra
todas as regras; como não era uma luta profissional, tinha certeza de que
não haveria problemas.
O segundo round começou, e Cameron golpeou Bronwen diversas
vezes como se descontasse toda a raiva dele em segundos; a plateia vibrava,
e os meninos do time não paravam de gritar. Não deu tempo nem mesmo de
o juiz parar Cameron ou de algum golpe ser revidado, Bronwen caiu no
chão com o rosto machucado e ensanguentado, e Cameron não continuou,
pois sabia das regras.
A equipe ajudava Bronwen a se levantar, e o juiz levantou o braço
de Cameron, indicando sua vitória.
Observei-o enquanto tirava as luvas, seu corpo estava suado; os
cabelos, bagunçados; e sua respiração, ofegante.
Por ser a última luta, os meninos do time invadiram o ringue para
comemorar, encarei meu pai como pedido de instruções, e ele balançou a
cabeça negativamente, para que eu não fosse ao ringue. A equipe de
Bronwen o ajudava a sair às pressas, como se fugissem de alguém.
— E como você se sente ganhando a luta mais esperada da noite? —
o repórter questionou.
— Normal, eu sabia que venceria — Cameron disse com ar
convencido e não teve quem não acabasse rindo com suas palavras.
— Parabéns pelo seu foco e determinação, Cameron…
Não consegui ouvir o resto quando papai caminhou até mim e
começou a me levar para fora.
— Nicholas e Andrew estão no ônibus, fique com eles, já estamos
indo — avisou.
E, mesmo sem entender o que estava acontecendo, segui seu pedido.
“Não é incrível como a vida é uma coisa… E, de repente, num instante, torna-se outra?”.
Se Eu Ficar – Gayle Forman

Assim que chegamos ao hotel dos Styles, Andrew e Nicholas


subiram para o quarto, e eu fiquei junto dos demais no salão do hotel, para
esperá-los para a festa da vitória.
— Que luta foi aquela — mamãe disse admirada e se sentando ao
meu lado. — Sabia que ele estava louco para bater naquele cara, mas não
daquela forma.
— Ele parecia querer bater mais no Turner — brinquei.
— Achei que seu pai viria junto com Nic — comentou.
— Cameron precisou parar várias vezes, e papai ficou por perto
caso tivesse alguma pergunta particular demais — expliquei.
Os meninos do time começaram a gritar, ouvi o barulho de lança-
confetes, e mamãe riu e me puxou para eu me levantar, possibilitando-me
ver Andrew e Nicholas entrando no salão.
Senti uma tontura assim que me levantei e sabia que era a diabetes,
que a taxa de açúcar no meu sangue estava alta.
— Preciso ir tomar meu remédio — avisei minha mãe.
— Está tudo bem? Quer que eu suba com você?
— Eu estou sempre acompanhada de duas pessoas chatas — disse
apontando para Ned e Alec, que me olharam com uma expressão entediada
e fizeram uma careta.
— Qualquer coisa me chame, estou com o celular — avisou olhando
em meus olhos.
— Sim, senhora — respondi calmamente.
Era reconfortante a tontura ter passado, mas sabia que não
melhoraria cem por cento se não tomasse minhas medicações. Meus olhos
encontraram os de Cameron, que observava cada ação minha.
— Vocês precisam de uma folga, ficaram o dia todo comigo, e, para
onde eu vou, tem seguranças da minha família e dos Styles — disse
olhando Alec e Ned.
— Está tudo bem, senhorita — Ned replicou.
— Subiremos com você, depois que voltar para a festa e estiver
segura, estaremos à disposição caso queira ou não liberar a gente — Alec
interveio.
— Combinado.
Quando cheguei ao meu quarto, medi minha glicemia e vi que
estava 576, o que era muito alto. Suspirei e coloquei minha medicação na
seringa, depois a apliquei em mim. Era desgastante ter isso, e não tinha
solução a não ser me cuidar.
Revisei mentalmente minha rotina de hoje e me dei conta de que
tinha passado por grandes emoções e comido muitas besteiras ao decorrer
do dia.
Tomei um banho e, como estava muito abafado, coloquei uma regata
branca com um short vinho.
Sentei-me na cama e passei os dedos pelas cartas que Cameron
escreveu. Reli a última enquanto esperava pelo menos uma das medicações
fazer efeito.
Precisei tomar dois tipos de insulina, uma chamada NPH, que fazia
efeito entre quatro e seis horas após a aplicação, e a insulina regular, que
começava a agir dentro de trinta a quarenta e cinco minutos, assim a regular
faria efeito para que eu pudesse comer tranquilamente agora, e a NPH
manteria o equilíbrio depois de eu comer.
As duas insulinas, se injetadas acima da quantidade exata e com a
diabetes baixa, podem me fazer entrar em coma.
Guardei as cartas no livro e o deixei na bolsa que trouxe. Pelo
relógio, consegui ver que o tempo que precisava tinha se passado. Caminhei
até a porta, depois de colocar os chinelos, e, quando a abri, vi que Cameron
falava com Alec e Ned.
— … a discrição de vocês é muito importante nessa situação. —
Cruzei os braços.
Alec e Ned me encararam, Cameron relaxou os ombros e se virou
para mim.
— Posso ajudar?
Ele sorriu.
— Eu a levo depois — Cameron disse aos meninos.
Alec não hesitou em obedecer a Cameron, mas Ned me olhou como
se me pedisse uma confirmação. Balancei a cabeça positivamente, e eles
saíram.
— O que é isso, Styles? — questionei lhe dando passagem para
entrar.
Seus cabelos estavam molhados, suas roupas agora eram outras, e
seu cheiro sempre me deixava atônita.
— Quero saber se está melhor.
— Minha mãe não consegue ficar quieta, não é? — Ele deu de
ombros. — Estou bem, podemos ir, então.
Antes que pudesse chegar à porta, suas mãos me seguraram pela
cintura.
— Andrew me explicou que vocês estavam falando de mim quando
ocorreu aquele terrível caso.
— Está se referindo a eu ter dormido com ele como terrível caso? —
perguntei aos risos. — Estávamos falando do quão idiota você é por ter me
deixado.
Empurrei suas mãos, fazendo-o me soltar, e toquei a maçaneta da
porta para sair do quarto, mas Cameron me impediu, dessa vez colocando a
mão na porta.
— Eu precisei fazer isso, Rebecca — sua voz ecoou calma, porém
sofrida, próxima de minha orelha.
Virei-me em sua direção.
— E por que precisou fazer isso? Por quê, Cameron?
Ele respirou fundo e colou nossas testas.
Não conseguia juntar as peças do que estava acontecendo com
Cameron, mas, quando vi seus olhos cheios d’agua, entendi que ele estava
falando a verdade. Sem pensar, selei nossos lábios.
Sentia-me perdida, sabia que não era esse o rumo que queria para
essa conversa e ao mesmo tempo desejava que isso acontecesse.
Com facilidade, suas mãos encontraram minhas pernas e as puxaram
até sua cintura, e ele me pegou no colo. Envolvi meus braços por cima de
seus ombros assim que ele se deitou calmamente na cama. Deixei minhas
pernas entrelaçadas em sua cintura para que não pudesse se afastar.
Nossas línguas se moviam devagar e com vontade, sua mão apertava
minha cintura enquanto a outra puxava meus cabelos.
Desci minhas mãos até a barra de sua blusa e as coloquei por dentro
deslizando as unhas em suas costas. Ele puxou meus cabelos com mais
força e movimentou o corpo lentamente, pressionando-o mais contra o meu.
Seus lábios desceram em meu pescoço, e, com uma das mãos,
afundei os dedos em seus cabelos e os puxei devagar. Arranhei levemente a
lateral de suas costas, e ele afastou nossas bocas apertando meu pescoço.
— Rebecca — chamou com a voz baixa e respiração ofegante —, eu
preciso parar, sinto muito a sua falta e…
— Tudo bem — disse soltando minhas pernas de seu corpo.
Ele se apoiou com as mãos na cama, na altura de minha cabeça, e,
em vez de sair de cima de mim, ele me beijou outra vez.
Sorri apertando sua cintura e o deixando me beijar, puxava cada vez
mais sua blusa para que ele não se afastasse, tinha medo de que, com a
distância, as coisas voltassem ao que eram antes. Não sabia direito o que
pensar, mas não queria que aquele momento acabasse.
Seus dentes agarraram meus lábios, e arranhei sua nuca, inclinando-
me na intenção de voltar a beijá-lo, mas, ao contrário disso, Cameron saiu
de cima de mim e se deitou ao meu lado de bruços.
Olhei-o sorrindo, e ele afundou o rosto no travesseiro, em seguida
começou a me empurrar com o braço para sair da cama. Estava quase na
ponta quando segurei seu braço.
— Cameron! — chamei antes que acabasse caindo, e ele me puxou
pela cintura.
Deitei-me e fiquei o olhando; suas bochechas estavam coradas, e os
olhos azuis cintilantes.
Ele me olhou e começou a acariciar meus cabelos, em seguida a
bochecha, e voltou para os meus cabelos.
— Por que você não me conta o que aconteceu e acaba com essa
tortura? — questionei passando os dedos em sua bochecha.
— Porque não é tão simples, minha princesa — sua voz não era tão
firme como sempre, era sofrida e dolorosa.
— Quando você me deu este colar de chave, era porque você
sempre soube que eu seria a chave para alguma coisa? — Ele franziu o
cenho. — Ouvi dizerem que sou a chave para concertar essa situação, faz
tanto tempo assim?
— Quando te dei o colar, não tinha ideia de que estaria nessa
situação — ele se virou e se sentou na cama; eu me sentei ao lado dele. —
Então, não, esse colar simboliza que você é a única pessoa que tem meu
coração — assegurou beijando minha testa; antes que ele se levantasse,
segurei sua mão.
— Você sabe que não vou desistir até entender o que aconteceu, não
é?
Ele forçou um sorriso e soltou a respiração.
— Não vou deixá-la correr perigo algum — sua voz falhou.
— Tem outra pessoa envolvida nisso? — Ele ficou em silêncio. —
Cameron, isso tem algo com a máfia? Lembro que seu bisavô era…
— Não vou entrar na máfia e não é nada disso, mas eles podem me
prejudicar bastante se eu não fizer o que precisa ser feito — explicou.
— Certo, então…
— Temos pouco tempo em Las Vegas, Becca, não quero mais falar
disso — pediu se levantando. — Por favor.
— Não aqui em Las Vegas? — questionei.
— Você acha um motivo em tudo — disse aos risos.
Levantei-me e o beijei.
— Hoje eu não vou encher sua paciência com esse assunto, mas
depois vou até descobrir — ele sorriu quando envolvi os braços por cima de
seus ombros. — Não gosto de ficar assim, sem saber de nada, Cam.
— Eu só quero que você fique segura, sem ninguém em cima de
você, que tenha uma vida ótima e tranquila, mas não posso mais te dar isso.
— Se eu soubesse o que você tanto esconde, poderia dizer se pode
ou não me dar uma vida assim — insinuei, ele soltou a respiração devagar
como se conseguisse aliviar o peso que carregava, mas pareceu não
adiantar.
— Fiz o meu máximo para não encostar em você, planejava não vê-
la a não ser na luta, mas foi só olhá-la que nada pareceu importar a não ser
estar ao seu lado e tocá-la, mas não podemos fazer isso. — Seus braços me
soltaram.
— Cameron — deslizei as mãos em seus braços, puxei-os para que
me abraçasse novamente, e ele o fez —, olhe nos meus olhos e diga que me
quer longe de você, que não quer meus beijos, meus abraços… — passei os
lábios em sua nuca — diga que não me deseja, e eu não vou insistir.
Ele prendeu meu pescoço em sua mão e aproximou nossos lábios.
— Sabe que não posso dizer isso, eu mal consigo ficar longe de
você — rebateu.
Soltei sua mão de meu pescoço e acariciei seu rosto.
— Então sabe que não posso desistir de você e de descobrir o que
está acontecendo, e não vou — assegurei olhando-o por instantes e vendo
seus olhos brilharem.
Ele me beijou, mas não consegui manter por muito tempo.
— Precisamos ir, ou vão dar falta de nós — alertei me soltando de
seus braços.
— E você acha que ninguém percebeu?
Dei de ombros e me olhei no espelho vendo se estava tudo em
ordem; peguei meu celular, coloquei os chinelos, e, quando me aproximei
da porta para abri-la, Cameron me puxou para outro beijo.
Ele fechou os braços em minha cintura, pressionando-me contra seu
corpo e finalizando o beijo com três selinhos.
— O que acha de dormir na cobertura hoje? — questionou afastando
uma mecha de cabelo do meu rosto.
— Achei que precisava ficar longe de mim — provoquei, e ele deu
de ombros.
— E preciso, mas hoje não.
Balancei a cabeça negando e me criticando mentalmente por querer
ir.
— Vou pensar no seu caso — provoquei, e ele sorriu de lado.
— Até lá, eu a convenço — afirmou, depois me deu um selinho e
abriu a porta. — Ei, você ficou linda loira — elogiou enrolando uma mecha
em seus dedos.
— Que pena, era para você ter odiado — disse sentindo sua mão
subir em minha nuca.
— Enquanto eu puder puxar, não vou odiar — rebateu puxando
meus cabelos.
— Idiota.
— Gostosa. — Ele beijou meu rosto.
— Cam, sobre o que aconteceu no aeroporto, eu não devia…
— Eu sei, meu amor, não precisa entrar nesse assunto —
interrompeu e aproximou os lábios dos meus, beijando-os.
— Ah! Eu me esqueci totalmente, meus parabéns, você foi incrível
na luta.
— Eu sempre sou incrível — afirmou apertando minha cintura.
— Não o aguento mais, sabia?
— Cameron — tio Arthur chamou, fazendo-nos olhá-lo —, estão
todos à sua procura — disse tentando conter a risada.
— Já estávamos voltando — Cameron disse tranquilamente
enquanto eu tentava me soltar dele. O que não adiantou de nada, pois seu
braço continuou envolto em mim enquanto andávamos.
— Estou vendo — tio Arthur disse caminhando à nossa frente.
— Solte-me — pedi empurrando a mão de Cameron, e ele bufou ao
me soltar.
Entramos no elevador e ficamos em um silêncio desconfortável, e
minha situação ficava pior com tio Arthur conversando com Cameron com
os olhos e risadinhas.
— Vocês dois podem parar? — pedi, e eles não conseguiram segurar
a risada, pareciam dois adolescentes. — Eu odeio vocês — brinquei e
acabei rindo com eles.
Chegamos ao salão de festas, e eu evitei contato visual com os
meninos do time, Andrew, Nicholas e qualquer pessoa da minha família e
dos Styles, mas, quando levantei a cabeça olhando papai, notei que ele me
observava como se decifrasse minha alma.
Os meninos do time levantaram Cameron enquanto gritavam em
comemoração à vitória espetacular da luta, e eu aproveitei para comer os
salgados que minha mãe ensinou o pessoal da cozinha a fazer.
Enchi meu copo com suco de limão enquanto sentia alguém se
aproximando, ergui meu olhar, vendo tio Arthur parar ao meu lado, e segui
seu olhar vendo que agora Cameron dançava com os meninos e puxou tia
Eliza para dançar com ele.
— Ele não ficava animado assim desde a sua partida — comentou
em tom baixo.
— Desde que ele, por algum motivo, terminou comigo — corrigi, e
ele balançou a cabeça em concordância.
— Sabe que eu e seu pai temos uma amizade muito forte, certo? —
concordei enquanto o olhava. — E isso nos impede de mentir ou esconder
algo um do outro — explicou voltando o olhar para mim —, e sei que ele
lhe deu dicas.
— Ele vai ter algum problema?
— Não, sempre foi bem claro entre nós que nossa amizade se limita
à nossa família.
— Sei de algumas coisas sobre Cameron, e, com todo respeito, o
senhor quer vê-lo bem, não é?
— Mais do que tudo.
Voltamos a olhar Cameron, que agora dançava com Natalie.
— Sinto que estou em um quebra-cabeça e aos poucos vou
conseguir juntar todas as peças — decidi diminuir meu tom de voz —, sei
que indiretamente tem alguma coisa a ver com o que o bisavô dele fazia —
o olhar de tio Arthur mudou, impressionado, talvez — e sei que Cameron
não vai entrar nisso, mas ainda não entendo o que me faz ser a peça final, a
chave, e não entenderei sem ajuda.
— E entende que não posso fazer nada além de dar algumas
discretas indicações?
— Qualquer ajuda será bem-vinda — ele concordou brevemente.
— É muito importante que você entenda que qualquer informação
que souber, qualquer mínima coisa que entender, é crucial, e ninguém pode
saber até onde você tem conhecimento, principalmente Cameron, porque, se
você estiver próxima de descobrir tudo, ele optará por não contar nada para
mim e meu pai, a não ser que seja ele quem lhe conte.
— Certo — concordei.
E, em voz baixa, ele disse:
— O que posso lhe dizer é que Cameron não se envolveria com
ninguém além de você se não fosse por algum motivo muito maior. —
Franzi o cenho. — Não se esqueça disso, principalmente no desfile de
Antonella — pediu e, por fim, beijou o topo de minha cabeça como se fosse
meu pai, o que acontecia desde que eu era pequena.
— Não vou esquecer — prometi.
Ele me olhou como se confiasse o mundo em minhas mãos.
Quando saiu, dei-me conta de que Manson havia acabado de chegar
ao salão junto de outros dois amigos de Nicholas. Franzi o cenho, sem me
lembrar se os havia visto quando as lutas estavam acontecendo.
Cameron, que agora estava se aproximando, olhou na mesma
direção que eu e pareceu respirar fundo.
— Sobre o que estavam conversando? — questionou passando as
mãos em minha cintura.
— Seu pai estava falando sobre você estar feliz e disse que você não
ficava assim desde a minha partida — disse me virando de volta para os
salgados —, o que prova que você não consegue viver sem mim — afirmei,
fingindo convencimento, e lhe ofereci uma bolinha de queijo, que ele pegou
com a boca.
— Sei — disse pegando meu copo com suco e o tomando.
— Você é muito folgado — impliquei e o vi sorrir.
Ele não me olhava, então decidi verificar qual era o seu foco e, ao
ver que era Manson, entendi que sabia de alguma coisa.
— Por que está encarando o amigo de Nic? — perguntei, e ele me
olhou.
— Primeiro porque Natalie me contou que você sairia com ele e,
segundo, porque ele não para de olhar.
Dei de ombros e voltei a pegar os salgados.
— E você saiu mesmo com ele?
— Isso importa?
Ele me olhou como se fosse óbvio, e eu revirei os olhos.
— Sim, saí, e não ouse ficar bravo, porque você tinha terminado
comigo.
— Eu tenho todo o direito de ficar incomodado.
— Concordo, mas isso com certeza não é minha culpa, eu não teria
saído com ninguém se ainda estivesse comprometida — rebati.
Ficamos nos olhando por instantes, e ele relaxou os ombros.
— Que seja.
— Que seja — repeti me preparando para sair.
— Ei — ele me puxou pela cintura e me virou —, não vai ser isso
que vai fazer eu me afastar de você. — E selou nossos lábios.
— Mas não me culpe pelas reações que tive, não é justo — afirmei
tentando firmar minha voz, e ele passou os dedos em meu rosto.
— Não a estou culpando, meu amor, mas, da mesma forma que você
pode ficar incomodada quando sabe que alguém deu em cima de mim, eu
também posso. É inevitável.
Balancei a cabeça positivamente, e ele começou a me empurrar até
os sofás de lanchonete que estavam no salão.
— Ei, eu estava comendo — relembrei.
— Vão trazer aqui para a gente, senhorita — disse beijando meu
rosto.
Peguei sua mão e a beijei, mas não pude evitar ver as cicatrizes em
seu punho.
— Você vai ao desfile de Antonella?
— Infelizmente.
— Antonella me convidou para cantar, e eu aceitei — comentei.
Ele forçou um sorriso e balançou a cabeça positivamente.
— Isso é ótimo — ele disse, mas sua expressão era tensa.
— Por que você…
— Crianças, precisamos conversar — papai disse seriamente,
sentou-se em nossa frente e olhou para os lados.
— O que aconteceu, pai?
— Sejam discretos — pediu.
Não sabia se era possível, mas ele conseguiu me deixar ainda mais
tensa quando revezou o olhar entre mim e Cameron.
— Bronwen foi assassinado.
“Garoto, coloque essa energia na minha vida. Coloque seu braço no meu pescoço enquanto eu estou
andando e por favor, entenda, sim, eu me apaixonei por você”.
Genius – Labrinth, Sia & Diplo

Rebecca parecia um tanto surpresa ao ouvir seu pai dizer que


Bronwen havia sido assassinado; eu, por outro lado, não.
Ao ver tamanho espanto, toquei sua mão e entrelacei nossos dedos,
e ela pareceu soltar a respiração devagar.
— E foi por quem? — questionei.
— Há muitas possibilidades — Owen começou. — Chad explicou
que ele estava em dívida com algumas pessoas e prometeu que, ao ganhar a
luta, pagaria o que devia. Aparentemente ele já estava com sua sentença
assinada, caso perdesse, e sabia disso.
— Ele não era rico? — Rebecca questionou, pronunciando-se pela
primeira vez.
— Não o suficiente — Owen disse. — Como se sente, filha?
Ela pensou um pouco e deu de ombros.
— Não sinto nada, na verdade.
Ele apertou a mão desocupada dela.
— Menos um filho da puta no mundo — disparei, e Owen acabou
rindo.
— Cam…
— Não que eu esteja feliz com a morte de alguém, mas ele não
acrescentava nada na vida de ninguém, era um lixo e até as primas tinham
medo da existência dele — expliquei, e ela não disse nada.
Não me olhava com julgamento, aparentemente não sabia como
reagir.
— De qualquer forma, Cameron — Owen se voltou a mim —, o que
de fato importa é que não há a possibilidade de desconfiarem de você.
— Desconfiarem dele? — Rebecca questionou.
— Sim, docinho, todos viram que não era apenas uma luta
milionária, que havia problemas pessoais envolvidos pelas reações de
Cameron, mas, quando aquilo aconteceu, Cameron estava em uma
entrevista diante de várias pessoas.
Rebecca pareceu soltar a respiração e apertou nossos dedos
entrelaçados.
— Bom, agora voltarei para a minha mulher — Owen avisou. —
Alec me disse que você deu folga a ele e a Ned, quem vai vigiá-la?
— Eu a levo, pode deixar — garanti.
Ele pegou uma taça de champanhe de uma bandeja e passou a mão
desocupada na testa.
— Só de pensar que vou passar por isso com Eloise também —
disse sofridamente e se levantou tomando um gole do líquido em sua taça
—, tomem cuidado — pediu me olhando como se me alertasse de mil
coisas.
— Sim, senhor.
Quando ele saiu, Rebecca estava corada.
— Você fica linda quando está envergonhada — disse apertando
suas bochechas.
— Não faça isso, criatura. — E deu um tapa em minha mão.
— Não me bata, criatura — rebati, fazendo cócegas nela.
Puxei-a e lhe dei um selinho.
— Vocês são tão lindos juntos — Calleb disse, aproximando-se de
nós com o braço envolto no pescoço de Josh, quase o enforcando.
— Pare de beber, caralho — Josh disse e puxou o copo da mão de
Calleb, derrubando a bebida em mim e em Rebecca.
Os dois começaram a rir da situação, e nós também não aguentamos.
— Parem de beber, os dois — alertei, tirando o copo das mãos dos
dois.
— É isso que acontece quando dois bêbados namoram — ouvi Peter
dizer enquanto ajudava Josh a ficar de pé; Josh, em vez de ajudar, pulou nas
costas de Peter.
— Vai, cavalinho — ordenou levantando a mão e a rodando no ar
como se fosse um fazendeiro em um torneio. — Vai, caralho, me leva,
porra.
— Vai se foder — Peter colocou Josh sentado no banco à nossa
frente, mas Josh se deitou nele.
— Becca, ajude-me aqui — pedi quando Calleb dormiu apoiado em
mim, babando em minha blusa.
— Meu Deus, o que está acontecendo aqui? — Lana questionou ao
se aproximar.
— Vou chamar os meninos para ajudar a colocar esses bêbados no
quarto — Peter disse indo até os meninos do time, os que não estavam
bêbados.
— Preciso ir para o quarto — ouvi Rebecca dizer baixo.
Me virei para ela, vendo que sua blusa estava transparente pela
bebida que caiu e começando a mostrar seu sutiã.
Minha vontade era de esticar o braço e tocá-la, e pensar nisso me fez
abrir um sorriso.
— Cameron!
Voltei meu olhar para o seu rosto.
— Você quer a verdade, ou a mentira? — questionei descendo os
olhos para os seus seios, novamente.
Ela bufou e saiu andando com os braços cruzados, cobrindo sua
blusa.
— Eu te ajudo, amor!
Quando estava me aproximando dela, na ala das piscinas, ela
começou a correr, gargalhando como se fosse sua maior diversão.
Corri atrás dela sem muito esforço, para não a alcançar, e, quando
decidi que estava farto de nossa distância, alcancei-a com facilidade e a
abracei pela cintura.
Ela apoiou todo o seu peso em mim, fazendo-nos cair dentro da
piscina. Gargalhamos ao chegarmos à superfície.
— Meus óculos sumiram! — anunciou desesperada.
Em questão de instantes, mergulhei e encontrei seus óculos,
coloquei-os e joguei meus cabelos imaginários para o lado.
— Meu nome é Rebecca Malik, e eu fico uma gostosa de blusa
transparente — eu disse com a voz fina e me aproximando dela.
— Eu não falo assim — rebateu jogando água em minha direção, e
eu coloquei seus óculos na borda da piscina.
Tirei minha blusa e a deixei ao lado dos óculos.
— Mas a parte da blusa é verdade — afirmei quando me aproximei
e subi a mão em sua nuca.
Ela olhou para baixo e sorriu.
Selei nossos lábios e comecei a empurrá-la contra a borda da
piscina.
— Cameron… — murmurou.
— Eu só quero beijá-la — sussurrei com os lábios próximos dos
seus.
Foi Rebecca quem selou nossos lábios e envolveu os braços por
cima de meus ombros.
Eu a amava, com tudo em mim. Era completamente dela. E, ainda
que estivesse na situação na qual me colocaram, não conseguia ver minha
vida sem ela, era difícil imaginar isso, mesmo que aparentemente esse seria
o nosso destino.
Ao pensar nisso, agarrei-a com precisão, como se aquilo pudesse
evitar a nossa separação.
Minha língua explorava sua boca com calma, aproveitando cada
precioso segundo com ela. Apoiei uma de minhas mãos na borda da piscina,
pressionando-me mais contra o seu corpo, e ela entrelaçou as pernas ao meu
redor.
Porra, eu queria estar dentro dela, fazê-la minha, consumi-la até que
ela estivesse tão entregue que explodisse comigo dentro dela ou em minha
boca.
E, ofegante, ela nos afastou.
— Amor…
— Eu sei — disse respirando fundo e me virei, me afastando.
Ela saiu da piscina, e sua regata estava completamente transparente.
Estremeci só de imaginar o tanto de coisa que poderíamos fazer, que eu
poderia fazer com ela se…
— Pare de me olhar assim, seu safado — pediu fazendo uma careta.
— Impossível — rebati saindo da piscina.
Caminhei para o hotel, sem avisar nada, na intenção de buscar um
roupão para ela. E foi o tempo necessário para que Manson, aquele maldito
amigo de Nicholas, se aproximasse dela.
—… não precisa, Manson, obrigada, mas… não precisa, mesmo —
Rebecca insistiu, cruzando novamente os braços na altura de seus seios.
Meu primeiro instinto foi ordenar que ele se afastasse, mas aquilo
renderia mais brigas com Rebecca, e eu detestaria perder meu tempo
falando de um cara que não para de dar em cima dela, mesmo que eu
desejasse saber o que aconteceu quando eles saíram.
— Pronto, amor, assim está melhor — eu disse, cobrindo Rebecca
com o roupão e a abraçando pelos ombros.
Rebecca balançou a cabeça negativamente.
— Cameron, esse é…
— Manson O’Brien — ele disse, estendendo a mão para me
cumprimentar.
— Cameron Styles — cumprimentei-o rapidamente e voltei a
abraçar Rebecca.
Travamos o olhar um no outro, talvez por eu ter coisas a falar para
ele, e ele para mim.
— Parem — Rebecca protestou e começou a me empurrar para me
afastar. — Me, me desculpe — disse olhando Manson e me puxou para
dentro do hotel.
— Qual é a desse cara?
Ela não disse nada quando entramos no elevador.
— Rebecca.
— Você realmente não sabe o que aconteceu quando eu e ele
saímos?
— Deveria, não acha?
— Não acho — ela disse. — Eu estou solteira.
— Solteira — debochei e me aproximei dela, colocando-a contra a
parede do elevador —, muito solteira — disse antes de beijá-la.
Ela me empurrou ao chegarmos ao seu andar e saiu me deixando
observá-la rebolar enquanto andava. Seus olhos se cravaram em mim, e eu
mandei um beijo pouco tempo antes de as portas se fecharem.
Tomei um banho quente, me sequei e troquei minhas roupas,
pensando numa forma de descobrir o que havia acontecido entre Manson e
Rebecca. Se Alec soubesse, teria me contado quando o questionei, mas
Natalie não, porque se tratava de Rebecca.
Suspirei.
Não a questionaria, não agora; mesmo querendo, não poderia,
considerando que tinha terminado com ela no aeroporto.
— Mas que porra! — disse a mim mesmo.
Maldita situação em que me colocaram. Bati à porta de seu quarto, e
ela me encarou, após abri-la.
— Vim buscá-la — relembrei.
— Veio me buscar?
— Sim, você vai dormir comigo hoje.
Ela me olhou por instantes e entrou para o quarto, deixando a porta
aberta.
— Algo de errado?
— Amanhã eu acordarei e você terá partido? — questionou, e eu a
olhei, sem saber o que deveria responder. — Entendi…
— Não tenho mais controle sobre a minha própria vida — admiti.
— Talvez amanhã eu tenha que sair às pressas, mas… Rebecca, eu nunca
quis deixá-la, mas foi a única solução temporária que encontrei naquele
momento. Achei que, com o seu tempo na faculdade, você encontraria
alguém, eu os veria e entenderia que seguiu em frente, que seria mais fácil,
mas não, bastou vê-la uma vez, e eu falhei.
— Conte-me a verdade e deixe que eu decida sobre a minha
segurança, sobre o que eu quero e não quero, sobre…
— Não!
— Você é insuportavelmente cabeça-dura, difícil de lidar e quer
resolver tudo sozinho. Você não pode decidir nada por mim, não pode
querer me isolar e me tirar disso.
— Não vou decidir por você, eu já decidi.
Ela riu sarcasticamente.
— Isso não é um jogo, Rebecca.
Em segundos, ela estava à minha frente e passou os dedos em meu
rosto.
— Agora é, Cameron.
Ficamos nos olhando por instantes, e, quando me aproximei para
beijá-la, ela virou o rosto.
— Acho melhor você ir dormir.
— Não faça isso, Rebecca.
— Eu já decidi — repetiu minhas palavras.
Cerrei o punho, não por raiva dela, mas para conter a verdade que
insistia em sair de meus lábios e se eu ficasse mais um segundo ali, acabaria
contando tudo apenas para tê-la comigo.
E, contrariado, com raiva e a desejando como nunca, saí do quarto
antes de colocar tudo a perder.
“Este é o fim. Prenda a sua respiração e conte até dez, sinta a Terra se mexer e, então ouça meu
coração explodir novamente. Porque este é o fim”.
Skyfall - Adele

Durante dias, eu me arrependi de ter recusado dormir com Cameron


em Las Vegas, mas, por outro lado, me sentia orgulhosa de mim mesma,
principalmente quando Natalie me disse que ele estava estressado com tudo
e todos os dias perguntava sobre mim, porém não tive muito tempo para
pensar nisso, visto que estava em semana de provas em Stanford.
Depois de ser parabenizada por Anthony e Geórgia, quando fui
avisada de ter passado em todas as provas e estar de férias, entrei no carro, e
partimos direto para o aeroporto.
Faltavam horas para a minha viagem a Paris, para o desfile de
Antonella, e as palavras de Arthur não saíam da minha cabeça.
Seja lá o que estivesse acontecendo, o desfile me revelaria alguma
coisa, ou ele não teria me dito que Cameron não ficaria com outra pessoa e
que não era para eu me esquecer disso durante o desfile.
A viagem de Palo Alto a São Francisco era curtíssima e demorou
apenas quarenta minutos com Alec dirigindo. O carro parou, indicando que
havíamos chegado.
Tentei falar várias vezes a Ned e Alec que podia abrir a porta do
carro para sair, mas eles sempre me ignoravam, então às vezes corria para
conseguir abrir a porta antes deles e decidi fazer isso hoje.
— Rebequinha, não foi isso que combinamos — ouvi Ned dizer e
sorri por ele estar começando a se sentir livre para brincar comigo, assim
como Alec.
Mostrei a língua em resposta e corri para entrar no aeroporto, apenas
na intenção de ver Ned correr atrás de mim. Ao entrar no aeroporto,
comecei a andar normalmente, mas havia valido a pena ter visto Ned correr
atrás de mim. Assim como Alec, ele tinha apenas 22 anos, éramos novos
demais para ficarmos tão sérios o tempo todo.
— Tenho sorte de não ter problemas no coração — Ned disse
parando ao meu lado.
— E continue assim, ou vai ter um ataque em breve. — Ele me
olhou com uma expressão incrédula que me fez rir.
Busquei a pessoa que afirmou que estaria me esperando e, quando o
encontrei, percebi que ele estava de costas concentrado em uma revista
aleatória segurando um copo de café ou alguma outra bebida.
— Rebecca, não — Ned tentou me conter, mas era tarde demais.
Caminhei até Andrew e pulei em suas costas.
— A criança chegou — Andrew disse aos risos e colocando o copo
na mesinha em que estava apoiado.
— Para a sua felicidade, cheguei muito bem, obrigada. Vamos?
Quero descansar um pouco, Ned não parou de fofocar o caminho todo — eu
disse, fingindo irritação e vendo Andrew começar a rir.
— Ei, você quem fez as perguntas — rebateu, fazendo-me cair nas
risadas.
— Vamos? — ouvi Alec perguntar, enquanto arrastava um carrinho
com nossas malas.
Depois de toda a burocracia, finalmente pude me sentar no meu
assento, que ficava ao lado de Andrew na primeira classe. A aeromoça
passou as instruções, e, quando vieram as turbulências, apertei a mão de
Andrew. Odiava viajar de avião e me senti aliviada quando Andrew não
questionou o motivo.
Ao chegar à calmaria da viagem, lembrei-me de uma coisa.
— Ei, esqueci de te contar uma coisa — disse a Andrew.
— O quê?
— Na noite da luta, a princesa da Noruega assistiu ao combate e me
pediu para falar dos lutadores que eu conhecia, e ela pareceu muito
interessada quando mostrei sua foto.
Ele franziu o cenho.
— O que uma princesa faria em uma luta?
Revirei os olhos.
— Sério que você focou isso? Esse não é o foco, meu Deus.
— E qual é o foco? A princesa ter me achado um gostoso sendo que
eu sou mesmo? — disse esbanjando charme, fiz uma careta e dei um tapa
em sua testa.
— Às vezes eu te odeio.
— O problema é todo seu.
— Vou te atropelar, otário. — Ele me mostrou o dedo do meio.
— Mas me mostre a princesa. Ela é bonita?
— Homem só pensa com uma cabeça — murmurei.
Alec e Ned, que estavam nos bancos de trás, riram um pouco alto,
fazendo-me rir junto. Peguei uma foto de uma pesquisa do Google e mostrei
a Andrew.
— Caralho, que gata! — Andrew disse e passou a entrar em diversas
fotos dela.
— Seu abusado! — ele riu ao me ouvir. — Ela estará no desfile.
— Não serei seu acompanhante mais, você vai me atrapalhar —
afirmou.
— Eu já falei com ela, devo ressaltar que talvez fale outra vez.
— Ah, sendo assim, irei com você.
Dei um tapa em sua perna.
— Seu interesseiro!
E caímos nas risadas.
As risadas foram parando, e eu o olhei, carregando uma dúvida
enorme, sabia que nossa amizade me permitia perguntar isso.
— Andrew? Você e Melissa… — Ele me olhou e balançou a cabeça
negando.
— Fiquei com ela algumas vezes até perceber que ela apenas
gostava do sentimento que eu causava nela e queria tornar aquilo fixo. —
Franzi o cenho.
— Que sentimento?
— O de substituir o Cameron — explicou. — E eu sinceramente não
queria nada disso, estou em Oxford, distante de todos que já conheci, e me
prender a alguém por quem não tenho sentimentos não daria certo.
— Fico feliz que tenha sido sincero com Melissa, mas
principalmente sincero com você mesmo.
Ele me olhou por instantes e sorriu.
— Acho que estou aprendendo.
— E eu concordo.
— Mas, voltando ao assunto, o que a princesa estava fazendo na luta
de Las Vegas? Foi apenas por que gosta?
— Não sei, não fiz amizade com ela o suficiente para isso.
— Talvez ela apenas goste de assistir a lutas — sugeriu, mesmo que
não parecesse acreditar em suas palavras.
Nós nos olhamos, e eu dei de ombros. Contive a minha vontade de
falar o que eu pensava. Parando para analisar, era um tanto estranho
tamanho interesse da princesa quanto à minha relação com Cameron, e suas
perguntas… isso tinha alguma ligação?
Em Paris, França,
Sab., 19h20, novembro

Sem sucesso, tentei parar de tremer. Nada adiantava. Antonella e seu


assistente Marlon deram seus últimos toques em meu vestido, e, pouco
tempo depois, Antonella entrou no palco.
Tentei me manter calma, outra vez. Não podia cair, não podia
tropeçar, não podia falhar.
Precisava ser perfeita, ao menos hoje. Andei de um lado para o
outro até Marlon caminhar animadamente em minha direção.
— Sua vez de entrar, não se preocupe, você está maravilhosa —
elogiou.
No meio das inúmeras pessoas que me aplaudiam enquanto
Antonella falava sobre o belo vestido que eu usava, consegui ver os rostos
dos meus pais, Arthur e Eliza, William, Natalie e Elliot e, finalmente,
Cameron.
Devido a todas as luzes das câmeras e dos flashs, não consegui ver
as demais pessoas que estavam com Cameron. Parei na frente do microfone,
e a orquestra à minha frente começou a tocar as músicas escolhidas por
Antonella. Fechei os olhos e então comecei a cantar.
Ao abrir meus olhos, as luzes não eram mais tão fortes, e não havia
flashs contra o meu rosto, apenas os olhares das pessoas. Então, passando
os olhos pela plateia, encontrei novamente Cameron e… a princesa Astrid.
A princesa Astrid.
Era claro!
Era essa a confirmação do que pensei, Astrid estava na luta por
Cameron e não em um passeio aleatório. Afinal, não teria outro motivo.
Mas eles não se falaram, bom, não enquanto eu estava presente… e
a sua reação ao falarmos do desfile agora fazia todo o sentido.
Estava confusa, tentando entender tudo… e a forma como pude
fazer isso foi atingindo uma nota que nem eu sabia que podia, logo ouvindo
a explosão de palmas que me fez abrir os olhos.
A primeira pessoa que olhei foi Cameron, com raiva, confusão e
desespero por uma resposta. Eu estava perto, tinha de estar.
Finalizei a música e, como minha professora me disse para fazer,
peguei uma das rosas que foram jogadas, cheirei-a e agradeci a plateia.
Retirei-me calmamente do palco ouvindo os aplausos que continuavam.
A música mudou, e as modelos profissionais continuaram o desfile.
— Garota, você canta muito bem! Agora, quero que se sente para
ver o desfile, seu acompanhante está esperando — Antonella avisou um
pouco apressada.
Assim que saí da parte de trás do palco, encontrei-me com Andrew,
que estendeu o braço para mim, e caminhamos para os nossos assentos.
Cameron estava na parte de cima, onde ficava uma tela de vidro à
prova de tiros. Ele estava sério e parecia tenso enquanto observava, em
silêncio, o desfile ao lado da princesa. Ambos pareciam desconhecidos e
odiando aquele momento.
Deborah acenou para mim, mas parecia descontente. Os que
pareciam ser o rei e a rainha, esbanjavam um ar majestoso e ao mesmo
tempo sem vida, como se se resumissem em roupas reais, ordens e o peso
das coroas em suas cabeças. Não me parecia a vida que Cameron desejava
para si.
Olhei para tio Arthur, ele deu um aceno com a cabeça, como se
pudesse confirmar meus pensamentos mesmo estando longe.
— Cameron e a princesa da Noruega?
— Acredite — olhei Andrew e disse, mantendo o tom baixo —, é
uma surpresa até para mim.
— Eu aceito fazer ciúmes — disse próximo de meu ouvido, ri
baixinho em resposta, olhei-o e concordei.
Quando levantei a cabeça na direção da princesa, ela e Cameron
estavam com os olhares cravados em nós como se nos encarar pudesse
mudar algo.
Andrew colocou a mão em minha cintura e me levou até nossos
assentos, e Cameron se levantou de seu lugar com muita rapidez por outra
pessoa me tocar, tio Arthur o olhou e balançou a cabeça negativamente, e
ele se sentou novamente.
Nós nos sentamos nos lugares que Antonella reservou, e, estranha
ou propositalmente, davam a visão perfeita de mim e Andrew para
Cameron e Astrid.
— Tem certeza disso? — questionei baixinho com os lábios
próximos de sua orelha e cobrindo a boca com a mão, como se lhe contasse
um segredo.
Ele se virou na minha direção e estendeu o braço em resposta.
— Também quero sua felicidade e a dele, talvez seja necessário
fazer isso, talvez dê certo e ele corra desesperadamente atrás de você —
sussurrou quando enlacei meu braço no dele e nossas mãos se tocaram.
Ao nos olharmos, começamos a rir, porque aquela situação era
simplesmente ridícula agora.
— Sempre achei que, se em algum momento o tocasse assim, eu
explodiria de amor, mas agora é ridículo. — Sua voz era trêmula pela risada
que lutava para sair.
Apoiei-me em seu ombro para me conter, e ele deu duas
palmadinhas na minha perna.
— Rebecca, pare com isso agora, a Antonella está nos olhando.
— Só um minuto, muita calma — pedi e respirei fundo.
— Desculpe-me por isso…
E, em questão de instantes após sua fala, Andrew me puxou com a
mão em meu pescoço, fazendo-se engolir em seco.
— Vou matá-lo por isso, eu juro — afirmei ao vê-lo rir e me soltar.
— Vale a pela, não olhe agora, mas Cameron está a ponto de
explodir.
Quando olhei a princesa, ela nos observava e, em seguida, olhou
Cameron com muita atenção.
E Cameron, como a pior pessoa em disfarçar, estava com os olhos
fixos em nós, sem se importar com Astrid ao seu lado.
Ele levou a mão até a orelha e deu uma puxadinha, mas o ignorei,
não porque a princesa via tudo, e sim para deixá-lo ainda mais irritado.
Depois de alguns minutos, avisei Andrew que voltaria em breve e
segui para o banheiro. Saí da cabine e lavei minhas mãos; depois de secá-
las, olhei-me no espelho por segundos. O banheiro estava vazio e era o
lugar mais silencioso no momento, pois todos estavam entretidos com o
desfile.
Suspirei e me preparei para sair, mas, assim que abri a porta, fui
empurrada devagar para não sair.
— Cameron, aqui é um banheiro feminino!
— Você mentiu, Andrew não é só seu amigo, não é mesmo? —
indagou irritado. — Vocês dois mentiram!
— Eu quem devia estar nervosa, você nem se quer me contou que
viria com outra quando lhe contei sobre cantar no desfile! Você ainda queria
que dormíssemos juntos, sendo que está com outra pessoa. Quer falar sobre
mentiras? Você disse que me amava, essa foi a maior e mais dolorosa
mentira! — disparei com a mesma irritação.
Mas aquelas eram só palavras usadas como armadilhas. Arthur
havia sido bem claro quando disse que, se Cameron soubesse que eu estava
próxima de saber toda a verdade, ele me afastaria.
— Isso nunca foi mentira! — esbravejou.
— Então me explique como em um dia você me beija e no outro
você está com outra pessoa? — questionei irritada. — Você é um
irresponsável! — Mesmo mantendo o tom baixo de minha voz, qualquer
um poderia notar minha raiva.
— Eu… — Ele parou de falar quando ouvimos duas mulheres
conversando e seus passos se aproximando; suas mãos me puxaram para
uma das cabines, e ele a trancou.
— Merda — balbuciei, e ele tapou minha boca com a mão.
Ficamos nos olhando por instantes, com milhares de lembranças e
sentimentos. Ele veio para me beijar, mas não o deixei e levantei a cabeça,
deixando que se direcionasse para a curva de meu pescoço, o que facilitou
para ele roçar o nariz de forma tão lenta que chegava a ser torturante, e,
com um braço envolto em minha cintura, puxou-me para si e me apertou.
Meus dedos se enroscaram nos fios de seus cabelos, e os puxei e
senti seus beijinhos em meu pescoço com leves mordidas, que me deixavam
atordoada. Ele me apertava cada vez mais, agora com os dois braços
envoltos em mim. Seus dedos deslizaram em minhas costas nuas pelo
vestido aberto, trazendo-me calafrios e ao mesmo tempo calor.
Me senti trêmula quando ele mexeu a cintura entre as minhas
pernas, fazendo minhas costas deslizarem contra a parede. Agarrei seu
ombro e afundei meu rosto na curva de seu pescoço, tentando conter o
gemido que queria escapar quando senti o quanto estava duro.
Ele respirou fundo parecendo tentar controlar toda a vontade que
seu corpo sentia.
— Eu só quero arrancar esse vestido — sussurrou ofegante me
deixando sentir sua respiração na minha pele.
Espasmos passavam pelo meu corpo, como uma corrente elétrica, e
me faziam tremer por inteiro. Não sabia onde pararíamos se o deixasse me
beijar ou se ele cogitasse passar as mãos em minhas coxas por baixo do
vestido. Não cogitava pará-lo.
Eu o amava tanto, o queria tanto, e não podia continuar com isso por
inúmeros motivos. Quando ouvi as mulheres saindo do banheiro, abri a
porta da cabine praticamente fugindo dos braços de Cameron.
O grito assustado de Natalie me deu um susto, coloquei a mão no
peito e, Cameron saiu da cabine.
— Por que isso não me surpreende? — ela questionou.
Abri a boca para falar, mas não sabia o que era apropriado, então a
única coisa que me pareceu cabível foi sair o quanto antes daquele
banheiro.
Olhei-me em um espelho que tinha no corredor, vendo que
aparentemente estava tudo em ordem no meu exterior. Passei a mão em
minha nuca e precisei de minutos para controlar minha respiração.
Voltei ao meu lugar torcendo para que ninguém percebesse, mas
meus pais me olharam lendo meus pensamentos, e Arthur balançou a
cabeça como se soubesse no que resultaria eu e Cameron no mesmo lugar.
— Você voltou, mas sua alma continua lá — Andrew observou.
— É exatamente isso que eu estou sentindo — admiti
E, quando Cameron voltou ao seu lugar, não conseguimos nos olhar
pelo resto do desfile.
“Eu me afoguei e sonhei este momento tão esperado, eu devo a eles,
arrasada, eu fui roubada”.

Skyfall - Adele

Os convidados especiais foram para a mansão de Antonella, onde estou


hospedada, para um pequeno jantar, e as comidas e bebidas eram servidas
de mesa em mesa.

O segundo andar da mansão estava restrito por seguranças para que


nenhum convidado que não estivesse hospedado subisse.

Mamãe se sentou ao meu lado com meu pai, tia Rosie também ficou na
mesma mesa que a gente, junto com a diretora López, sua esposa.

— Me diga que você não ficou com Cameron durante o desfile — mamãe
cochichou em meu ouvido, em português.

Não sabia bem definir o que tinha acontecido, e poderia ser considerado
pior que um beijo.

“Ele queria arrancar minha roupa, e eu sinceramente queria deixar”, pensei.

Olhei-a e soltei a respiração; papai me olhou, provavelmente sabendo da


pergunta de minha mãe e aguardando uma resposta.

— Quase — respondi, e ela conteve a risada. — Alguém reparou?

Papai balançou a cabeça negativamente, mas não parecia certo daquilo.

Um dos guardas reais começou a se aproximar, e tudo o que eu consegui


pensar foi em sim, eles perceberam tudo e agora, de alguma forma, estou
encrencada.
Apertei a mão de Andrew e de minha mãe, e papai se preparou, assim como
eu.

— Com licença, senhorita — o homem disse com cordialidade e me


olhando —, peço desculpa pelo incômodo, mas a princesa Astrid pediu que,
assim que terminar o seu jantar, a senhora vá ao encontro dela, por
gentileza.

Olhei papai em busca de uma resposta, e ele balançou a cabeça em


concordância; levantei-me, e Andrew se levantou pronto para ir comigo.

— Apenas ela — o homem respondeu.

Cada passo que dava em direção à princesa parecia um para a minha ruína.

— Mandou me chamar, alteza? — questionei com o máximo de respeito.

Astrid se virou para mim, mas não tão rápido quanto Cameron. Ela o olhou,
com a mesma curiosidade que aparentava ter durante o desfile.

— Sim, sim. E, repito, pode me chamar de Astrid — pediu calmamente.

Fiquei olhando-a na espera de que falasse logo o que queria e me liberasse,


era torturante estar tão próxima e tão longe assim de Cameron.

— No que posso ajudar, alteza? — perguntei tão calma quanto ela.

Ela me encarou, e pude perceber que queria sorrir.

— Sua voz é exuberante! Parece um anjo cantando, já pensou em seguir


carreira profissional? — indagou elegantemente com um sorriso no rosto.

Tentei sorrir da mesma forma.

— Muito obrigada, alteza, mas não tenho intenções de seguir carreira


profissional.

— E você desfilando foi espetacular, não acha, Cameron? — Ela se virou


para ele com um ar persuasivo, e não precisei olhá-lo para saber que seus
olhos estavam cravados em mim, antes mesmo de a pergunta ser feita.

Peguei uma taça de champanhe da bandeja do garçom que passou por perto
e me segurei para não virar todo o líquido de uma vez. Meu corpo se
contraia intensamente como se estar perto de Cameron me fizesse sentir
tudo o que se passou há minutos.

E, como se fosse o grande final da princesa, ela disparou:

— Diga-me, aceitaria cantar em nosso noivado?

Cameron se engasgou com o champanhe, e eu fiquei olhando-os por


instantes. Astrid encarava Cameron com determinação, como se agora
entendesse tudo.

— De forma alguma, Astrid, isso está fora de cogitação — ele disse,


soando rude.

E ela não pareceu incomodada, pelo contrário, aquela parecia ser


exatamente a reação que esperava ver.

— Devo lembrá-lo de que você está falando com a princesa da Noruega,


senhor Styles? — um dos guardas disse de forma firme a Cameron.

Mas Cameron e Astrid estavam com os olhares fixos um no outro. Não


como uma troca de olhares apaixonados, mas sim como se fossem duas
pessoas com focos totalmente diferentes.

— Tudo bem, Percival, as coisas estão ficando bem esclarecidas agora,


peço que desconsidere o que aconteceu aqui e volte ao seu posto — ela
pediu, voltando ao tom calmo e doce de antes.

— Não vou deixar que você a coloque nisso — ouvi Cameron dizer a
Astrid.

— Não é só do seu futuro que estamos tratando aqui — ela disse e me


olhou. — Com licença, senhor Styles, tenho coisas a tratar com Rebecca, se
ela quiser, é claro.
— De jeito nenhum! — protestou, com voz firme.

— Eu adoraria — prontifiquei-me.

— Rebecca…

— Podemos? — ignorei-o e voltei minha atenção à princesa, que sorriu.

Quando eu e Astrid começamos a sair do enorme salão, Arthur e William


pareciam realizados e brindaram brevemente, ao passo que Cameron estava
congelado no lugar, com o punho cerrado e nos encarando.

Seguimos para uma espécie de cabana meio aberta, enfeitada com luzes por
dentro e por fora, com alguns banquinhos para se sentar e com a própria
parede do lugar como apoio. A abertura era grande, qualquer pessoa
poderia encontrar esse lugar, mas estava vazio.

— Rebecca Malik, como não me atentei a isso — a voz doce da princesa


ecoou quando nos sentamos. — A avó de Cameron havia me dito sobre a
única garota que poderia fazê-lo mudar de ideia, anular o casamento
arranjado, mas não disse seu nome, e eu não tinha certeza. Imagino que
tenha sido doloroso ouvi-lo ser chamado de noivo por mim, e me desculpe
por isso, mas eu precisava ter certeza de que era você — lamentou-se.

— Está tudo bem.

— Não, não está. Vi seus olhos perderem o brilho quando o chamei de


noivo, fui rude com ele e com um de meus guardas, peço que me desculpe
por presenciar tudo isso, mas minhas opções estão acabando. Na verdade,
quando o assunto é Cameron, você é a única opção.

— Princesa, vejo que apenas duas pessoas podem me contar a verdade,


você ou ele, e acredito que ele não está cogitando me falar sobre esse
assunto — admiti.

Ficamos em silêncio por instantes, olhando a mansão à nossa frente,


quando Astrid disse:
— Você é a chave para absolutamente tudo. Eu — ela suspirou aliviada —,
eu mal acredito que a encontrei.

— A chave?

— Da felicidade de Cameron. — Ela pegou em minhas mãos com precisão.


— Rebecca, ele está caminhando para a destruição da minha felicidade e da
dele porque…

Passos firmes a fizeram parar de falar.

— Conversaremos em outro momento, mas preciso que concorde em me


ouvir em um local particular — disse baixinho.

— Com certeza — concordei.

— Princesa — ouvi a voz de Cameron chamar.

E respirei fundo.

— Sim, querido — disse Astrid com doçura.

— Com licença — pedi me levantando.

— Do que estavam falando? — questionou olhando Astrid e em seguida


me olhou.

— Tenho plena certeza de que você sabe — insinuei e me virei. — Alteza,


espero que possamos nos ver em Londres, no próximo desfile de Antonella.
Adoraria conversar um pouco mais — ela sorriu concordando, e me virei
para Cameron.

— Rebecca — olhei-a —, fico muito feliz por tê-la conhecido.

— Digo o mesmo, alteza — brinquei fazendo uma reverência para ela que
deixou escapar uma risadinha e colocou a mão cobrindo o rosto para
disfarçar. — Boa noite, casal — despedi-me e caminhei sentindo o olhar de
Cameron em mim.
Em Paris, França,

Dom., 01h18, novembro

Os convidados estavam tão animados que ficou claro que o jantar não
acabaria tão cedo.

— Agora eu entendi por que Ned e Alec não estão em cima de mim hoje —
eu disse ao ver Andrew me esperando na entrada do salão.

— Na verdade, eles a estão observando, só que discretamente — explicou e


apontou para os dois, que estavam distantes de nós e conversando.

Dei de ombros e começamos a andar pelo espaço, até pararmos em uma


área com bancos de madeira brancos, e nos sentamos.

— É um casamento arranjado, não é?

Abaixei a cabeça, não podia falar sobre o assunto, principalmente ali.

— Entendo — deduziu.

— Como foi que chegamos a isso, Andrew?

— Ao quê?

— Meu ex-namorado com a princesa e a princesa interessada em você —


comentei, ouvindo-o rir, e me deixei em seu ombro.

— Não faço ideia, minha cara amiga, não faço ideia.

Ned se aproximou a passos apressados, e só então me dei conta de que Alec


não estava mais com ele.

— Senhorita, a princesa precisa de sua ajuda, Deborah está passando muito


mal.

— Onde elas estão? — questionei já caminhando às pressas com Ned e


puxando Andrew para que viesse comigo.
— Em um dos quartos da casa, vou levá-la até ela.

Os seguranças que protegiam o andar de cima abriram passagem para nós,


e rapidamente caminhamos até um dos diversos quartos da mansão.

Encontrei-me com Alec, que estava na frente da porta, ele mantinha a


calma, mas seu olhar era carregado de preocupação.

— Ned, pode ficar no lugar de Alec, por favor? Quero que ele entre
comigo.

Ned aceitou, e entramos no quarto. Cameron andava de um lado para o


outro, aparentemente sem saber o que fazer.

— Elas estão no banheiro — avisou.

Ao ouvi-lo, caminhei rapidamente e ouvi a voz de Astrid. Ela falava algo


em norueguês, parecendo um tanto cansada.

— Posso ajudar? — perguntei, em inglês, e ela se virou.

— Sim, sim, por favor.

Depois de darmos banho em Deborah, trocamos suas roupas de acordo com


as que eu tinha na mochila que Alec trouxe, e ele a deitou na cama.

Ficamos eu, Cameron, Andrew, Astrid e Alec a encarando.

Não me importava em estar com a maquiagem borrada e o vestido


molhado, tudo o que conseguia pensar era no que havia acontecido.

A princesa não estava muito diferente de mim, mas continuava com sua
graciosidade, e não parecia confusa quanto à situação de Deborah.

Eu e Cameron nos olhamos ao perceber que Andrew observava a princesa,


e ela o olhou de uma forma que nunca havia visto olhar Cameron. Quando
se deu conta de sua situação física, caminhou rapidamente até o banheiro.
— Cuidem dela, por favor — pedi especificamente a Alec, mas sem o olhar
diretamente.

Puxei minha mochila, que Alec trouxe com roupas para Deborah, parei no
pequeno cúbico onde ficava a porta do banheiro e bati.

— Princesa — chamei pouco antes de a porta se abrir —, acho que alguma


roupa minha cabe em você, se quiser — comentei olhando-a, e ela sorriu.

— Minha assistente está trazendo minhas roupas, obrigada mesmo assim


— agradeceu calmamente. — Estou horrível — lamentou quando entrei no
enorme banheiro e encostei a porta —, como consegue passar por essa
bagunça e continuar…

— Você não está horrível só por causa de uma maquiagem borrada! —


afirmei pegando os produtos para tirar sua maquiagem.

Ela se sentou em uma cadeira que tinha dentro do banheiro.

— Sim, estou horrível. Meu futuro noivo provavelmente me acha horrível,


principalmente sabendo que ele não gosta de mim — observou.

— A culpa não é sua, e isso não significa que você seja feia — assegurei.

Mesmo sem saber qual seria sua reação, comecei a tirar sua maquiagem.
Ela me olhou com um brilho diferente nos olhos, e me questionei o motivo
daquilo.

— Está tudo bem eu continuar? Não quero incomodá-la — recuei,


sentindo-me uma idiota em ter tomado aquela liberdade.

— Não, está tudo bem. É que — ela soltou a respiração — as pessoas


cuidam de mim apenas por eu ser a princesa, não de bom grado.

Pude perceber que Astrid tentou disfarçar sua frustração quando arrumou
sua postura.

— Desculpe a pergunta e falta de delicadeza, mas quantos anos você tem?


— Dezenove, e, mesmo assim, estou sendo forçada a me casar com alguém
mais novo — brincou.

Ficamos em silêncio por instantes.

— É tão perceptível o amor que Cameron sente por você. É tão natural que
qualquer pessoa por perto consegue ver, e nem precisa de muito esforço —
ela sorriu. — Isso muda tudo — sussurrou, como um segredo entre nós
duas.

Uma mulher entrou no banheiro assim que abri a porta, depois de duas
batidas, e toda a sua atenção foi voltada à princesa.

Retirei-me discretamente e voltei ao quarto. Alec estava em pé observando


disfarçadamente Deborah, que estava dormindo.

Tudo parecia em ordem, exceto eu e meu vestido. Não estava sujo, e todas
as pedrinhas estavam presas a ele, mas estava molhado e pesado. Por ser
tomara que caia, temi que em algum momento me deixasse em apuros.

Subi o vestido pela parte de cima ao pensar nisso acontecendo com


Cameron, Alec e Andrew por perto.

Segurei o vestido pela barra e o levantei apenas para conseguir caminhar


até meu quarto sem pisar nela e, assim, evitar que um desastre acontecesse.

— Alec, você pode ficar de vigia esta noite com Deborah? Aqui é seguro,
mas, se ela precisar de algo, gostaria que alguém estivesse por perto.

Os olhos de Alec se iluminaram, mas em segundos ele disfarçou.

— Senhorita, não seria melhor que eu ficasse de vigia para você? Sei que a
segurança da mansão é rígida, mas todo cuidado é pouco — Alec disse.

— Vou pedir para Frederick ficar de vigia no seu lugar, Alec — Cameron
interveio.

— Darei um jeito, Alec, não se preocupe. George ficará no seu lugar, com
licença — eu disse, ignorando Cameron e vendo seus olhos cheios de
irritação.

Andrew me olhou, indicando que me seguiria, e tudo o que fiz foi balançar
a cabeça negativamente.

— Ned — disse ao sair do quarto —, você precisa de uma folga hoje e…

— Não, senhorita. Eu e Alec quase não ficamos de guarda para você hoje,
apenas quando ficou do lado de fora do salão, então…

— Mas…

— Não há problemas.

Suspirei.

— Por que eu nunca consigo discutir com você e Alec?

Ele riu dando de ombros.

— Boa noite, senhorita, estarei aqui para o que precisar — afirmou.

— Obrigada, senhor, boa noite.

Ele fez uma careta e abriu a porta do meu quarto para mim. Olhei-me no
espelho e xinguei mentalmente o fecho do vestido que estava emperrado.
De todas as formas, tentei abri-lo, mas o vestido era superapertado.

Ouvi batidas na porta que fizeram com que meu coração disparasse, por
algum motivo sabia que era Cameron.

Soltei meus cabelos e me olhei outra vez no espelho, caminhei até a porta e
a abri calmamente como se esperasse qualquer pessoa, exceto ele. Encarei-
o por segundos, enquanto me questionava como, depois de toda essa
bagunça, ele ainda estava tão bem-arrumado e… lindo.

— Posso entrar?

— O que você quer? — Cameron olhou Ned e me olhou.


— O que eu quero?

Ele passou a língua nos lábios deixando aparecer um sorriso safado, quando
me olhou de cima a baixo, sabia que faria alguma insinuação. Dei-lhe
passagem, e, com o maldito sorriso vitorioso, ele entrou.

— Já que está aqui — comecei —, ajude-me com o fecho do vestido —


virei-me de costas —, está emperrado.

Por segundos, pensei que ele não se moveria, até ouvir seus passos.

Afastei meus cabelos, colocando-os para o lado, senti seus dedos passando
pelo fecho e o abrindo com facilidade. Em seguida, seu toque veio ao
encontro das minhas costas, e eu prendi a respiração.

Sabia perfeitamente bem onde pararíamos se eu o beijasse. Então decidi


segurar meu vestido, pegar minha bolsa e entrar no banheiro.

— Então, o que você quer? — questionei, depois de estar com as roupas


trocadas.

— Sei que sabe sobre o meu relacionamento com Astrid e não quero que dê
falsas esperanças a ela de que pode fazer alguma coisa para mudar nossa
situação. Observei-o por instantes, com raiva e frustração.

Ele não podia estar falando sério!

— Dar esperanças a ela? — iniciei, empurrando-o. — Ela não precisa de


esperanças, Cameron! Você mal consegue disfarçar quando está comigo —
esbravejei e o empurrei novamente —, e pior, mesmo com ela no desfile,
VOCÊ VEIO ATRÁS DE MIM! Seu irresponsável, mentiroso! Dando-me
beijos enquanto está a um passo de entrar em um noivado! Eu tenho nojo
de você, nojo de mim. Deixei-me levar enquanto sabia que você tinha outra
— afastei-me andando de um lado para o outro. — Eu fui contra tudo o que
sempre defendi!

— Rebecca…
— Não toque em mim! — alertei sentindo meu sangue borbulhar em
minhas veias.— Não enquanto tem outra.

— Eu não tenho outra! — Foi a vez de Cameron explodir, implorando por


compreensão. — Não vou noivar com ela, não enquanto puder adiar ou
achar uma outra solução — disse com firmeza. — Precisei aparecer com
ela no desfile, ela precisava de um acompanhante…

— Astrid foi bem clara em dizer “meu futuro noivo” — rebati tão baixo
que fiquei em dúvida se ele havia me ouvido.

— Foi necessário.

Encarei-o friamente, sem conseguir entender aquela raiva e desespero que


cresciam dentro de mim. A ideia de perdê-lo me deixava totalmente
apavorada, e eu simplesmente não conseguia me controlar.

— Quer que eu acredite que não terá noivado sendo que, no fim, vai acabar
acontecendo, mas também não quer perder sua diversão comigo. Como
quer que eu acredite que não é isso quando as evidências deixam claro que
sim?

Ele ficou me olhando por instantes, com as bochechas coradas de irritação.

— Se não tem respostas para as minhas dúvidas, então vá embora.

— Não! — rebateu com firmeza.

— Vá embora!

Quando ia empurrá-lo novamente, Cameron puxou meus braços e teria


conseguido me pressionar contra a parede se eu não tivesse começado a
tentar me soltar. Queria os beijos de Cameron, mas também precisava de
respostas. Ele conseguiu me prender na parede e segurou minhas mãos na
altura da cabeça. Meu coração disparou tão forte que achei que ele poderia
ter ouvido cada batida acelerada.

— Pare de agir feito uma criança mimada, Rebecca! — disse com firmeza.
Gelei. E ele continuou a dizer:

— Não aja como uma desequilibrada, a situação não é tão simples como
pensa para ficar fazendo birra assim!

Acabei soltando uma risada sarcástica e voltando a ter controle de minhas


ações. Ele estava certo, mas não totalmente.

— Você acha que tem o direito de me chamar de desequilibrada, Cameron?


— questionei. — Você não conseguiu disfarçar quando Andrew tocou
minha cintura, todo mundo o viu se levantar! E, ainda por cima, veio atrás
de mim no meio do desfile, sendo que vai noivar com a princesa, estando o
rei e os guardas no desfile, e tantas coisas poderiam ter acontecido. —
Empurrei-o. — Não venha falar de equilíbrio quando nem mesmo você tem
equilíbrio diante dessa situação.

Ele ficou me olhando por instantes assimilando tudo o que havia ouvido.

— Se você vai noivar com outra mesmo, se nosso amor não é suficiente
para fazê-lo permanecer, se não vai me contar o que aconteceu, então vá
embora, saia deste quarto agora! Não vou ser sua diversão…

— Chega!

Nós nos olhamos por longos instantes.

— Se quer insinuar coisas sobre o meu passado, dizendo que o que tive
com você foi só diversão, vá em frente, Rebecca, mas não vai conseguir
respostas dessa forma — ele soltou a respiração. — Ao contrário da
princesa, não posso falar sobre o assunto apenas por desejo meu. Entendo
que tudo o que eu lhe disse colaborou para pensar assim, mas, de todas as
pessoas, eu tive a certeza de que você seria a primeira a decifrar que foram
palavras falsas, que era tudo mentira, porque eu jamais a deixaria, Rebecca,
jamais! Mas… você tem optado por se defender com coisas do meu
passado que sabe que eu jamais, jamais, faria com você…

Ele me olhou, claramente decepcionado e parecendo completamente


exausto. Então continuou:
— Estou errando com você o tempo todo, eu sei, mas nunca deixei de amá-
la. É egoísmo meu não querer colocá-la em perigo e mudar completamente
sua vida, mas não é justo ouvir tudo isso sendo que você é a única garota
que eu amo e sempre vou amar! — Seus olhos brilharam com as lágrimas.
— Quanto a ouço falar que nunca a amei, que foi tudo por diversão, tudo
em mim dói. Tudo.

Ele respirou fundo, como se tentasse controlar a vontade de desabar.

— Eu te amo e, mais do que ninguém, entendo sua raiva, porque sinto a


mesma coisa pela situação. Tento me afastar, e não consigo, sou um idiota,
mas não posso suportar a dor de ver a mulher que amo agindo da mesma
forma que todos que não sabem da história.

Seus olhos encontraram os meus, e eu não consegui me mover.

— Você disse que não desistiria de mim, mas não imaginava que me
trataria como alguém que só a usou, uma pessoa a ser desprezada assim. A
sua raiva a faz me amar menos a ponto de pensar dessa forma?

Mantemos o olhar por instantes. Tempo o suficiente para entender o que


tinha falado, do que se tratava e de que era maior do que qualquer coisa que
eu pudesse imaginar.

— Cam…

Ele me olhou pela última vez e saiu do quarto sem dizer nada, e eu preferia
que tivesse dito. Queria que ele olhasse para trás, que eu pudesse consertar
o que falei, mas era tarde.
“O tempo não estava a nosso favor. Isso não é um adeus, é simplesmente um te vejo mais tarde”.
See You Later – Jenna Raine

Era difícil dizer a hora em que os Styles e a família real foram


embora.
Por intermédio de Alec, soube que Deborah estava bem, e Astrid
acobertou toda a situação, mas, naquele momento, nenhum drama da noite
passada tinha minha atenção.
Queria Cameron, queria uma conversa decente, seu perdão e uma
resposta. Não queria pedaços da história, queria-a por inteiro e, mais que
isso, o queria. Depois de tomar café da manhã, eu me sentei em um dos
sofás da sala e olhei para a ala das piscinas e o céu ensolarado.
— Você não comeu quase nada — Andrew disse ao se sentar ao
meu lado.
— Não estava com muita fome — comentei sem disfarçar meu
desânimo.
— E você está com uma cara péssima — observou.
— Obrigada — ironizei e dei de ombros. — Eu e Cam brigamos
feio, fui uma péssima pessoa com ele — admiti, e ele me analisou por
instantes.
— E, como sempre, você acredita que é o fim do mundo ter errado
em vez de ser uma senhora perfeita — concluiu.
— Senhora perfeita? — Perguntei.
— Sim, às vezes você parece uma senhora no corpo de uma jovem,
parece ter uma bagagem de anos, finge que aguenta tudo, mas você só tem
dezoito anos, Rebecca, é claro que em algum momento você iria errar, ou
acreditou que teria um relacionamento perfeito com Cameron, sem brigas e
sem problemas?
— Não, sempre soube disso, mas não imaginava que erraria tão feio
— expliquei.
Ele me abraçou pelos ombros e, depois de alguns instantes, me
olhou e limpou as lágrimas que rolavam em minha bochecha.
— Encontrei Cameron saindo do seu quarto depois de deixar Astrid
no quarto em que ela ficou, e, bom, ele me contou sobre a briga de vocês.
Soltei a respiração.
— Seja sincero — pedi.
— Ele não está bem e, Becca, estarei sempre ao seu lado, mas, sim,
você errou. Não como se tivesse destruído a vida dele, mas suas palavras
sempre tiveram grandes efeitos na vida de Cameron, assim como as dele
têm na sua.
Suspirei em concordância. Com calma e gentileza, ele levantou
minha cabeça com o auxílio de seus dedos em meu queixo e afastou a mão.
— Mas você não agiu, você reagiu, e os dois erraram. Cameron não
me contou sobre o caso dele com a princesa e, pelo que entendi, não pode
falar sobre nada disso para ninguém além de seus pais, os avôs paternos,
que têm algum tipo de envolvimento, o advogado, que é seu pai, e, bem,
você — explicou. — Ele tem tentado sobreviver desde o início disso tudo, e
não vejo mais a paz que transmitia ao estar ao seu lado. Não só por você,
mas por toda a situação. Existem pessoas, Becca, que são pontos de paz,
isso não significa que nunca vai ter problemas com aquela pessoa, mas sabe
que, se seu mundo desmoronar, ela poderá ajudá-la a segurar um pouco do
peso, e, para Cameron, você é essa pessoa. Ele sabia que, se todos virassem
as costas por algum erro do passado, você ainda tentaria entender o lado
dele.
— E eu fiz o mesmo que todos — completei.
— Você errou, mas isso não é o fim. Os dois estão confusos,
ansiosos, irritados e mais outros sentimentos com toda essa situação. Como
uma pessoa que passa por algumas coisas semelhantes a Cameron, o que
você falou não foi legal, mas você precisa — ele pegou minhas mãos —
persistir. Esse relacionamento é pura farsa, Cameron nem sequer encostou
em Astrid.
— Como assim?
— Você entendeu — replicou, e eu soltei uma risada baixa.
— Cameron te contou isso, ou foi Astrid?
Ele riu com minha pergunta.
— Cameron, claro. Astrid acha que não sei de nada, e preciso
manter assim — explicou.
— Com licença, senhorita, a princesa Astrid deixou isso para você
antes de partir — uma funcionária anunciou trazendo um pequeno bilhete
dobrado.
— Obrigada! — agradeci à jovem funcionária, que acenou com a
cabeça e se retirou.
A caligrafia de Astrid era tão delicada quanto ela:

Entreguei o bilhete a Andrew, que sorriu dizendo:


— Bom, acho que terá algumas respostas.
Ele se levantou em um pulo e puxou minhas mãos para me levantar
também
— Vamos, você tem coisas a resolver com a princesa! — anunciou,
parecendo mais animado que qualquer outra pessoa.
Em Londres, Inglaterra,
Qui., 15h45, dezembro

O desfile de Antonella, na quarta-feira, havia sido deslumbrante,


mas não fiquei para o jantar, pois não conhecia ninguém, e, por algum
motivo, Alec e Ned não podiam ficar no desfile, no jantar ou em qualquer
lugar onde Antonella e Polly estivessem presentes.
Era um tanto incomum, mas só me dei conta disso no desfile de
ontem quando parei para fazer uma análise geral. No jantar que aconteceu
na minha casa, meu pai fez questão de dispensar Alec e Ned, e foi a
primeira vez que vi Antonella e Polly. Na inauguração da associação criada
por elas, eles não me acompanharam. No desfile em Paris, eles me
supervisionaram apenas quando eu não estava dentro do salão, e ontem
havia acontecido a mesma coisa.
Antonella dizia para dispensar meus seguranças, porque, dentro de
sua mansão, estavam os dela e insistiu em colocá-los de folga durante meu
tempo com ela, mas, quando informei Alec e Ned disso, eles insistiram o
contrário, e foi meu pai quem resolveu tudo isso antes do desfile de Paris. E
eles ficaram de vigia ontem dentro da mansão, porque não era o andar onde
ficava o quarto delas.
De qualquer forma, era um pouco estranho que todas as vezes eles
não ficavam no mesmo lugar, e aquilo certamente devia ter alguma
explicação.
—… então você não participou do jantar de Antonella, após o
desfile? — minha mãe questionou, do outro lado da ligação.
— Andrew está em época de provas e não pôde me acompanhar,
Astrid não compareceu a esse desfile, e Alec e Ned nunca podem ficar
comigo na presença de Antonella e Polly, o que é um pouco estranho, não
acha? — insinuei.
— Ah, minha querida, deve ser apenas uma exigência delas. Não
vejo a hora de você chegar em casa amanhã. — Ela mudou de assunto. —
Louis a chama o tempo todo, ele e Elô sentem muito sua falta, assim como
nós. Isaac já planejou fazer milhares de coisas.
— Não vejo a hora também, quero muito ficar com vocês, estou
cheia de saudades.
— Fico feliz que você poderá se formar com seus amigos.
— Eu também… — disse, um pouco pensativa. — Mãe?
— Sim, docinho.
— Como ele está?
Ouvi um longo suspiro.
— Quero ter noção de como ele está antes de chegar a Los Angeles
— supliquei.
— Entendo. — Ela fez uma pausa antes de continuar. — Ele não
está bem. Eliza tem ficado muito preocupada pela excessiva falta de sono
que acomete Cameron, ele dorme somente algumas horas por semana. Pelo
que ela me disse, depois do desfile em Paris, isso piorou.
Sentei-me na cama e contive as lágrimas.
— Mas ele veio aqui em casa na terça-feira para ficar com Isaac e
praticar violão. Isaac pediu para ficar no seu quarto, porque sentia muito a
sua falta. Nisso, Louis entrou no seu quarto no andador e pediu colo,
Cameron começou a fazer Louis dormir, Isaac saiu para me avisar onde o
pequeno estava, e, quando voltou ao quarto, Cameron estava deitado
dormindo com Louis de bruços em cima dele na sua cama. Ele nem reparou
quando Isaac tirou Louis de seu colo e continuou a dormir, ficou a tarde
toda descansando — ela riu alto —, você tinha que ver como ele ficou
envergonhado quando acordou.
Abri um sorriso, ao passo que não consegui deixar de chorar.
— Como você está, meu amor? Imagino que as coisas que viu no
desfile não foram fáceis.
— Aquela noite me deu respostas e ao mesmo tempo dúvidas —
admiti.
Afastei a cortina da janela para ver a origem do barulho de carro se
aproximando da mansão; ao ver Astrid saindo da limusine, abri um sorriso.
— Mas minhas respostas acabaram de chegar.
— Maravilha — disse, parecendo entender tudo. —Eu te amo,
docinho, e até amanhã.
Desliguei a chamada no exato momento em que duas batidas na
porta ecoaram pelo quarto. Às pressas, eu a abri.
— Senhorita — um homem com uniforme vermelho e preto disse
fazendo uma reverência —, a princesa Astrid da Noruega deseja vê-la.
Ele me trouxe a uma sala mais reservada.
Achava que dois seguranças eram muito para uma pessoa, mas, ao
ver Astrid com dez guardas ao seu redor, senti pena pela falta de liberdade e
privacidade, mas era compreensível para alguém da realeza, em um país
que não era o seu, estar rodeada daquela forma.
Seria mais difícil do que eu imaginava termos uma conversa em
particular.
— Está gostando de Londres? — Astrid questionou e levou a xicara
de chá até os lábios.
— Estou, sim, alteza. Na verdade, conhecia alguns lugares, mas
Antonella me mostrou outros que me deixaram encantada. — Ela me olhou
como se quisesse que eu falasse mais. — Na terça-feira, conheci o campus
de Oxford com meu amigo Andrew, lembra-se dele? Estava no desfile.
Ela sorriu, não só com os lábios, mas com os olhos. Os guardas ao
nosso redor pareciam acreditar que aquela conversa era comum e sem
qualquer interesse.
— Lembro-me, eu o vi na luta também — respondeu com
entusiasmo disfarçado.
— Pois bem, ele está estudando lá, então me deixou conhecer o
campus, mas infelizmente tive que voltar para cá sem ele, já que está em
semana de prova.
— Entendo. Percebi que a amizade de vocês é um tanto… — ela
buscou as palavras e me olhou — intensa e verdadeira.
Olhei em seus olhos entendendo aonde queria chegar.
— Sim, é uma amizade verdadeira, demorou um pouco para isso.
Algumas pessoas achavam que tínhamos algo, mas nunca aconteceu — eu
disse, respondendo a uma pergunta que seus olhos nitidamente faziam. —
Meu coração sempre pertenceu a outra pessoa — declarei, e ela sorriu.
Bebemos do chá no mesmo minuto.
— E como foi ter que se despedir de seu futuro noivo? Soube que
ele não a acompanhou.
Pude perceber que os guardas voltaram a atenção para a nossa
conversa apurando seus ouvidos para ouvir cada palavra nossa.
— Não foi a primeira vez — disse suavemente.
Ela pensou um pouco.
— Mas não é sobre isso que vim falar. — Mudou de assunto. —
Você é muito conhecida, não pude deixar de perceber, então vim tratar de
um assunto que pode ser consideravelmente bom para o meu país. Preciso
de sua colaboração em um projeto que quero fazer para a Noruega — ela
sorriu. — Dar alguns conselhos de amiga a incomodaria?
— Nem um pouco, alteza, será um prazer.
— Fico feliz com isso, mas é um assunto particular. Guardas,
poderiam nos deixar a sós?
Os guardas se entreolharam, mas não retrucaram. Os passos de
todos ao mesmo tempo formavam uma espécie de marcha, e o último que
saiu fechou a porta, deixando-nos a sós.
Astrid soltou a respiração como se deixasse um peso cair de seus
ombros.
— Peço desculpas pelo assunto totalmente sem sentido e fora de
hora, precisava deixar um indício do que vou falar aqui. Não tenho muito
tempo, pois alguém pode desconfiar e levar a algum conselheiro do palácio,
meu pai sabe do que viemos tratar aqui, mas os conselheiros não. Sei que
tem perguntas, o que puder te responder, estou às ordens. Mas, antes de
tudo, quero assegurar e deixar claro que eu e Cameron não tivemos
absolutamente nada amoroso, conversamos pouco, mas nenhum contato
além disso.
— Como isso aconteceu? Digo, o noivado?
— Na verdade, não sei o que causou a necessidade de um casamento
arranjado; no fim de julho, meu pai me convocou para uma reunião com
minha mãe e disse que conheceria meu pretendente. Em agosto, viajei para
uma ilha e conheci Cameron e sua família. Perguntei ao meu pai o que
estava acontecendo, e ele disse que essa aliança era necessária para evitar
problemas, apenas isso.
— E você não questionou nada além disso?
— Fui criada para um casamento em prol do bem do país, não para
o amor — rebateu.
— Astrid, eu sinto…
— Por favor, não sinta pena de mim, não quero parecer uma coitada.
Prossiga com suas perguntas — pediu.
— Sabe de alguma coisa sobre essa aliança que vocês precisam
fazer?
— Papai disse que era uma coisa dos nossos antepassados e que isso
manteria a paz. Por que disso? Não sei. Tudo o que sei é que precisamos
noivar e casar para que as coisas continuem em seus devidos lugares. O
noivado, se não acontecer nada que o impeça, ocorrerá depois do ano que
vem, logo no início do ano.
— E como se impede isso? — Ela sorriu e pegou em minhas mãos.
— Se Cameron já estiver casado, não terá como eu me casar com
ele — respondeu dando a solução para tudo.
Soltei a respiração que nem sabia que estava prendendo. Era uma
resposta tão simples e tão obvia que me deixava tonta. O que Cameron
pretendia, afinal?
— Rebecca, sei que casamento é algo muito sério e jamais lhe
pediria para fazer isso por mim, uma pessoa que você não conhece, mas…
— Eu e ele cogitamos inúmeras vezes depois da escola, iríamos
noivar este ano — ela arregalou os olhos — e nos casarmos, talvez, no ano
que vem.
— Isso mudaria tudo — alegou. — Para a monarquia, é diferente,
uma vez que eu entro em um noivado, o casamento precisa acontecer em
menos de três meses, e ele não vai poder desfazer nosso noivado —
explicou.
Por quê?
Por que ele não me contou isso? Era algo que já queríamos.
Olhei-a.
— O que acontece se Cameron casar comigo antes do noivado de
vocês?
— Pelo que sei, é anulada a necessidade de um casamento comigo
— ela soltou um suspiro. — Mas há uma parte da história que, não sei por
que, envolve o que o bisavô de Cameron incluiu no tratado com minha avó,
e acredito que seja esse o motivo de ele não querer colocá-la nisso.
Por instantes, ficamos em silêncio, até ela soltar uma risada
descontente.
— Imagine ser amada a ponto de alguém estar disposto a arriscar a
própria felicidade em vez de envolvê-la em algo.
Nós nos olhamos.
— Astrid…
— Você não faz ideia de como é sortuda, Rebecca, eu não o perderia
por nada.
Ela parecia irritada e frustrada com aquela situação, e não a culpava,
mas… maldição, o que eu deveria falar agora?
— Desculpe-me, você não tem culpa de nada, mas… eu faria de
tudo para ter alguém disposto assim por mim. Quando vi Cameron, pensei:
“Bem, ele é bonito, me trata bem, e terei um casamento razoavelmente
feliz, mas…”.
— Eu apareci — deduzi.
— Não, ele não conseguiu fingir — corrigiu. — Vocês não
conseguiram, na verdade. Não sou tola, vi o momento em que vocês
desapareceram no desfile em Paris, e isso me custou boas conversas com o
meu pai para que ele não fosse a fundo nessa história. E eu não estou com
raiva de você, estou com raiva porque Cameron foi escolhido enquanto
Eliza ainda estava grávida, eu fui escolhida com menos de um ano de idade.
É tão injusto o que minha avó e o bisavô dele fizeram, e eles ainda tiraram
qualquer possibilidade de ser eu a pessoa que poderia quebrar esse tratado.
Franzi o cenho, e ela se recostou no sofá.
— Se eu escolhesse me casar com outra pessoa, não poderia. Mas
Cameron tem a total liberdade de noivar e anular nosso casamento. Ele tem
um poder enorme sobre mim e pode mudar tudo, porém ter a pessoa que o
ama e que ele ama mais do que tudo, o que devia ser uma bênção, tem sido
usado ao contrário e… — Ela parou e me encarou. — Não, ele não tem esse
poder, você tem! — Ela se levantou. — Rebecca, só você pode fazê-lo
mudar de ideia, sabe disso, e, por favor, eu imploro, não posso me casar
com Cameron.
— Princesa, eu farei tudo o que estiver ou não ao meu alcance,
mas… o que preciso fazer agora? Não posso forçá-lo a se casar comigo.
— Descubra a parte que eu não sei e me informe de tudo,
poderemos mudar isso. Certamente há algo que a herdeira do trono da
Noruega poderá fazer, quando assim me for concedido — explicou.
— Você me disse que o bisavô dele o envolveu nisso, correto?
— Sim, correto.
Ela pareceu confusa, até seus olhos se iluminarem e me fazerem
acreditar que havia entendido minha pergunta.
— A máfia estadunidense — sugeriu.
Balancei a cabeça positivamente.
— Ele me disse sobre ter algo a ver, mas que não entraria
diretamente na máfia.
Ela sorriu.
— Descubra qual é a relação com a máfia, e conseguiremos resolver
tudo, tudo! — Ela se levantou novamente, dessa vez animada, convicta e
sorridente, enquanto eu me mantive sentada, cada vez mais confusa.
— Eu deveria entender o motivo de sua animação quando o assunto
é a máfia estadunidense?
— Ora — ela se sentou, com confusão no olhar —, deveria, afinal a
chefe da máfia é…
— Senhoritas — Antonella disse entrando inesperadamente na sala
em que estávamos.
Astrid a olhou e me olhou.
— Alteza, seu pai acabou de me avisar que seu voo foi antecipado
— Antonella disse.
— Ah, sim, claro. Obrigada, senhora Loughty — agradeceu e se
levantou.
Antonella não se moveu, pelo contrário, ficou no aguardo das
próximas ações de Astrid.
— Deborah me disse que podia confiar em você e, confesso, estava
receosa, mas agora vejo que meu prejulgamento foi errado, estou feliz em
tê-la como aliada e espero que consiga ter mais respostas por si só — ela
disse, como se tentasse me contar algo pelo olhar.
— Fico feliz em poder confiar em você também, alteza, espero vê-la
em breve — afirmei com sinceridade e fiz uma reverência.
Astrid saiu, e só então Antonella se moveu para acompanhá-la.
Fiquei observando a porta, mesmo depois de todos passarem por ela, e uma
estranha ideia se passou pela minha cabeça.
Por que Antonella apareceu tão de repente justamente quando Astrid
ia me contar quem era a chefe da máfia? Por que… não, não podia ser,
podia?
Marlon entrou às pressas no quarto assim que abri a porta.
— A senhora Antonella deseja sua presença em seu ateliê — avisou
com a elegância de sempre.
Concordei e segui para o ateliê, sem precisar que alguém me levasse
até ele.
Um segurança abriu a porta e me deixou entrar onde Antonella
trabalhava atenciosamente em um vestido azul-claro. Era de longe o mais
lindo e mais simples que já a vi fazer. Não que seus vestidos não fossem
bonitos, pelo contrário, eram deslumbrantes, mas esse, havia algo nele de
diferente dos outros.
As alças eram finas, e seu cumprimento longo até os pés, bem
cinturado, porém um pouco mais folgado na parte baixa; as únicas joias
ficavam na cintura, como uma faixa fina e brilhante. Era majestoso, simples
e único.
— Ah, olá, moranguinho — ela sorriu ao me olhar e olhou Marlon,
que saiu, deixando-nos a sós.
Meu coração quase saiu pela boca ao ouvi-la me chamar pelo
mesmo apelido pelo qual meu tio Benjamin me chamava e chamava Rylie.
— Esse vestido é magnífico — observei, tentando disfarçar minha
surpresa.
— E seu — completou.
— Como?
Ela sorriu e passou o braço em meus ombros, com um ar amigável e
inesperadamente materno, aproximando-me do vestido junto dela.
— Sei que não devia ser intrometida dessa forma, mas a diretora
López me disse sobre você se formar em Liberty e, se me permite, quero
lhe dar esse presente de formatura.
Espantei-me com seu gesto, mas acabei abrindo um sorriso enorme
e grato.
— Antonella, muito obrigada. Não precisava se preocupar com isso.
É lindo, ele… ele é meu? — questionei, sentindo-me uma criança.
— Sim, querida. Isso é também por toda a ajuda nos desfiles, sei
que é cansativo e você tem sua rotina, mas…
Abracei-a antes que ela pudesse terminar os agradecimentos.
— Não sei como te agradecer, mas eu amei. Obrigada, obrigada! —
agradeci animada.
Ela pereceu receosa em me abraçar, mas logo retribuiu. Após soltá-
la, vi seus olhos marejados, mas decidi não comentar. Experimentei o
vestido e me senti a garota mais linda.
Depois de colocar minhas roupas de antes, olhei-a.
— Como vou levar o vestido no avião?
— Quanto a isso, não se preocupe. Terei que ir a Los Angeles essa
semana para um evento e o levarei para você — assegurou sorrindo.
— Ah, Antonella, muito obrigada.
Ela balançou a cabeça aos risos.
— Mas agora se arrume, você tem uma viagem a fazer e um amor
para rever.
“É engraçado porque eu sempre sonhei com nós dois e agora aqui nós
estamos encarando as estrelas”.

See You Later – Jenna Raine

Texto Descrição gerada automaticamente

Cheguei de viagem de madrugada junto de Alec e Ned. Mamãe queria que


eu dormisse sozinha e descansasse, mas Isaac não me deixou sozinha, e,
com ele, vieram os gêmeos, o que foi reconfortante e familiar.

Papai cancelou toda a agenda dele para ficarmos juntos durante o café da
manhã e almoço, mas, com o cair da tarde, foi impossível evitar que o time
viesse para a casa, e era uma coisa que eu não queria.

Desde as cinco da tarde, eles estavam comigo; Peter e Josh não me


largavam por nada e eles estavam atentos a qualquer coisa que eu fazia.
Lana, Calleb, Jace e Luce chegaram às sete, e pedimos algumas pizzas.

Quando Natalie chegou com Elliot, corri para abraçá-la. Abracei Elliot e
voltei para Natalie quando ele foi até os meninos.

— Depois do desfile, não a vi mais — Natalie comentou sem me soltar.

— Aquela noite foi… turbulenta, desculpe-me — pedi a olhando.

— Aquela noite teve Cameron, não foi?

Dei de ombros, e ela entrelaçou nossos dedos enquanto andávamos para


onde todos estavam; os meninos do time falavam alto como de costume, e
Isaac parecia o mascote deles, sendo muito bem-cuidado.

Soltei Natalie, e ela se sentou abraçando Elliot. Fiquei em pé na frente de


todos, e as conversas ficaram baixas até todos ficarem em silêncio.
— Não ia contar a ninguém porque queria fazer surpresa, mas… — soltei a
respiração — quem participa do projeto inteligência tem a opção de se
formar em Stanford ou na antiga escola em que estudava, eu e Neji
optamos por nos formarmos em Liberty com vocês, isso significa que
estarei na formatura, no baile e na final do time.

A comemoração do time explodiu na sala de minha casa. Peter e Josh


correram para me abraçar, e logo o time estava em cima de mim, pulando e
gritando “Ei, ei, ei”, de modo a quase me deixar surda.

Os demais também me abraçaram com felicidade, e Natalie começou a


chorar.

— Deus sabe o quanto eu pedi para você se formar comigo — ela disse me
abraçando outra vez.

— A chorona não para nunca! — ouvi Josh provocar, e Natalie jogou uma
almofada nele quando se sentou novamente.

— Precisamos de um rei, já que nossa rainha do baile acabou de voltar! —


Calleb anunciou.

— Ela vai para a casa do rei dela depois daqui — Natalie provocou, e todos
me olharam, ouvi a gargalhada dos meus pais e a comemoração de Isaac.

— Ok, mas Cameron disse que não iria a esse baile — Eric interveio.

— Minha irmã voltou, tenho certeza de que ele vai — Isaac disse me
abraçando, e todos riram alto.

Tentei interferir no assunto, mas eles já falavam mais alto sobre os planos
para o baile. Quando todos foram embora, horas depois, subi para o quarto
com Natalie, depois de ser facilmente convencida a dormir na casa dela.

Ficamos em silêncio enquanto eu pegava algumas coisas minhas e colocava


na mochila, incluindo minha medicação.

— Eu não sabia de nada sobre o noivado; se soubesse, eu a teria preparado


antes do desfile — Natalie disse me fazendo a olhar.
Me sentei em sua frente.

— Por isso Cameron não queria que eu soubesse de nada, ele sabia que eu
te contaria. Eu juro, não sabia, não conheço Astrid e não sei por que meu
irmão está nisso, mas sei que tem um meio de acabar com isso, e você pode
ajudar, é tudo o que sei, sinto muito. — Ela abaixou o olhar.

— Não se preocupe, as coisas vão se resolver, prometo.

Ela sorriu e me abraçou.

— Tudo o que eu mais quero — ela me soltou para nos olharmos — é ver
meu irmão feliz, ele fez muito por mim.

A observei por instantes.

— Eu nunca te perguntei como você estava diante dessa situação. Como se


sente?

— Confusa, mas acho que não tanto quanto você — disse e forçou um
sorriso.

— O foco aqui não sou eu, amiga. — Peguei em suas mãos quando ela
começou a olhar para baixo.

— Você carrega muita coisa, Becca, não se preocupe, Elliot tem me


ajudado — explicou e levantou o olhar. — Ele está carregando o peso
comigo.

— Mas, se em algum momento quiser, saiba que estou aqui — afirmei, e


ela sorriu.

— E eu também estou aqui por você, mas sei que ainda não pode me contar
muita coisa — disse desanimada.

— Como sabe disso?

— Papai tenta me deixar bem mesmo que a situação esteja acabando com
ele, então me aconselhou a estar com você quando precisar, mas a não
pressioná-la a contar nada, porque você não podia ainda. — Ela soltou a
respiração. — Então, posso assegurar que estou aqui mesmo que para saber
poucas coisas.

Abracei-a.

— Obrigada por isso. — Beijei sua bochecha.

— Não agradeça, você é minha melhor amiga e cunhada — brincou. —


Vamos?

Concordei, e descemos as escadas. Ao chegarmos à mansão dos Styles,


meu coração disparou, e minhas mãos suaram.

Natalie pegou minha mochila e levou ao seu quarto avisando que deixaria
meu remédio no pequeno frigobar que tinha em seu quarto, quando, na
verdade, estava no quarto de Cameron.

Esperei-a no fim da escada, e Natalie me trouxe para a sala de estar, onde


todos pararam de conversar, como se já não fosse constrangedor o
suficiente entrar na casa do meu ex-namorado.

Natasha, de três anos, e Ryan, de nove, vieram correndo em minha direção.


Ele conseguiu me abraçar pela cintura, mas Natasha conseguiu abraçar
apenas minha perna.

Peguei a pequena no colo e abracei Ryan com um braço, feliz por ter
conquistado os dois.

— Você vai embora de novo? — Ryan questionou.

— Ano que vem volto para a faculdade, mas não vou embora da sua vida,
garotinho — brinquei fazendo cócegas nele com a mão desocupada.

Natasha deu dois beijos em minha bochecha, pediu para descer e foi direto
para o colo de Cameron.

— Ah, querida, que ótimo que veio! — tia Eliza disse ao me abraçar e me
fez caminhar até Meredith.
A mulher se levantou e ficou paralisada a me olhar.

— Meredith… — ouvi William chamar.

— Você é igual a ela — disse em um sussurro —, você…

— Muitos dizem o mesmo — comentei e sorri, porque ser comparada com


Rylie nunca me incomodou —, é um prazer revê-la, senhora Styles — eu
disse, afinal a vi quando era criança.

Falamos um pouco sobre a minha estadia Stanford, em seguida Arthur e


Eliza disseram sobre seu tempo na universidade, e a atenção não era mais
voltada a mim.

Não conseguia evitar olhar Cameron uma vez ou outra pelo canto dos olhos
enquanto Luke, o Styles mais novo, estava em meu colo, rindo sem motivo
algum.

Levantei a cabeça e vi os olhos de Cameron fixos em mim, e fizemos o


nosso sinal de puxadinha na orelha no mesmo instante.

Acabamos rindo, e eu tentei disfarçar minha alegria.

Em Los Angeles, Estados Unidos,

Sex., 21H21, dezembro

Deixei Luke no berço, e, quando saí de seu quarto, a porta de Cameron se


abriu, e ele me encarou.

Mordi o lábio de nervosismo quando ele me deu passagem e adentrei no


quarto. Passei os olhos no lugar, vendo que nada tinha mudado, e me virei
de frente para Cameron quando ouvi a porta ser fechada.

Tomei coragem para começar, mas foi em vão, pois ele iniciou:

— Eu sinto muito pelo nosso último encontro, eu… não queria fazê-la se
sentir culpada. Não te contei nada, estive com você na noite da luta, e não
falei o que estava acontecendo. Não quero me justificar, mas eu não tinha
certeza de que iria ao desfile e muito menos se seria a companhia dela,
mas… Rebecca, eu sinto muito. — Sua voz falhou.

Ele olhou para baixo, e todo o seu sofrimento começou a me deixar


agoniada.

— Cam, pare — pedi, ainda sem conseguir me mexer devido à tensão.

— Não, meu dever era apenas ficar longe de você, e eu não consegui. Sou
um idiota e covarde…

Então, em questão de menos de um segundo, selei nossos lábios. Ele sorriu


e me tomou em seus braços, inspirando e expirando, como se dependesse
daquilo para respirar.

— Desculpe-me, não devia beijá-lo assim, mas… meu amor, ninguém tem
o direito de jogar nada na sua cara, muito menos eu, Cameron, e fui
totalmente errada.

Afastei-me dele e apertei meus próprios dedos.

— Você me perdoa? — pedi. — Sei que o perdão não é de uma hora para a
outra e vou entender se quiser espaço, mas… — Ele balançou a cabeça
negativamente.

— Você não precisa pedir perdão, sei que a situação tem sido muito
confusa.

— Mas… não devia ser assim — afirmei com a voz trêmula —, não somos
assim, Cameron. Passamos por muitas coisas, e você sabe muito de mim, e
eu de você, então eu não devia ter usado manipulação. — Limpei minhas
lágrimas, mesmo que outras estivessem aparecendo. — Sei que, quando
fica encurralado, você explode… — minha voz falhou, e eu precisei pausar
para continuar falando — e usei isso para fazê-lo falar, mas eu não devia ter
feito isso. Mesmo confusa, com raiva e irritada, amar não é assim, e eu…
sinto muito — disse, quando consegui levantar meus olhos para encará-lo.

Ele me puxou e me abraçou.


— Não faça isso, não é justo tentar amenizar minha culpa.

Seus dedos subiram em minha nuca, e nos olhamos.

— Rebecca, não há espaço em mim que sustente rancor por você nem
qualquer outro sentimento ruim. Mas obrigado por pedir perdão.

Sentindo suas carícias em meus cabelos, deitei-me em seu peitoral, e


ficamos abraçados por minutos. Ele suspirava relaxadamente, mas sabia
que precisava iniciar aquele assunto.

— Eu o quero, Cameron, e não vou tentar negar isso, mas quero a verdade
também. Sei que é um casamento arranjado, que seu bisavô o envolveu
nisso antes mesmo de nascer, e Astrid não tinha um ano quando a
colocaram nisso e…

— Astrid te contou isso? — questionou, sem disfarçar sua irritação, e me


soltou.

— Não a culpe, é a vida e a felicidade dela que estão em jogo também.

Peguei em suas mãos e olhei seus punhos, que estavam com marcas de
cortes e cicatrizes que não sairiam nunca mais.

— Isso não pode continuar, olhe o que está fazendo consigo mesmo, não
dorme, não se cuida. Acha que vai mudar depois do casamento?

Nós nos encaramos, e, quando ele abriu a boca para falar, o interrompi:

— Cameron, eu jamais negaria entrar nisso com você, jamais.

— Você não vai se casar para parar outro casamento, não vai ser assim,
encontrarei outro jeito de impedir esse noivado, e, mesmo que não me
queira mais quando eu resolver tudo, ainda assim vai estar segura, e só isso
me importa! — Revirei os olhos.

— E, enquanto acha um jeito, você vai se destruindo? — Olhei suas mãos e


o olhei. — Acha que é simples assim? Eu te amo, Cameron! Eu te amo. —
expressei com urgência. — Que parte você ainda não entendeu? Acha que
vou conseguir simplesmente deixar tudo para trás quando sei que podemos
dar um jeito?

Aproximei-me ainda mais dele, acabando com quase toda a distância.

— Quando é que você vai entender que estou disposta a ficar com você?

— Não, Rebecca, não assim. — Ele se sentou na cama, e eu parei em sua


frente.

— Cameron — ele me olhou —, me conte a verdade.

Ele fechou os olhos, abaixei-me e passei os dedos em seu rosto.

— Estaremos arruinados, amor, imagine estarmos em um relacionamento


com a monarquia e em festas das nossas famílias e acabarmos nos vendo?

Ele me olhou, e eu peguei em sua mão, entrelaçando nossos dedos e beijei


sua mão.

— O que será de nós se não ficarmos juntos?

Seus olhos se cravaram em mim, e sua mão desocupada me puxou pelo


pescoço. Nossos lábios foram selados, e eu me sentei em seu colo.

As mãos de Cameron apertavam minha cintura, e joguei meus braços por


cima de seus ombros, aproximando-o mais de mim.

Ele me deitou na cama e voltou a me beijar.

— Eu sinto tanto — sussurrou acariciando meu rosto —, queria ter um jeito


para tudo agora mesmo e vou tentar até o último momento, com tudo o que
eu puder.

Afundei os dedos em seus cabelos e o puxei para outro beijo, diminuindo o


ritmo de nossas bocas, massageando sua língua devagar.

Sua mão apertou meu pescoço, e ele passou a língua em meus lábios para
mordê-los.
À medida que o beijo ficava mais lento, ele começou a ficar ofegante, e sua
pegada mais forte e intensa.

— Há tantas coisas que queria compartilhar com você como seu esposo,
coisas que queria fazer — sussurrou passando os lábios em meu pescoço
—, coisas que queria fazê-la sentir… — seus beijos em meu pescoço eram
leves e desejosos, e ele mexeu a cintura; arranhei suas costas e as apertei
—, mostrar-lhe o quanto a amo, o quanto meu corpo precisa do seu e fazê-
la minha todos os dias… todas as noites. — Seus lábios desceram até a
minha clavícula.

Levantei a cabeça e lhe dei passagem para beijar novamente meu pescoço.
Estava totalmente entregue a ele, em suas mãos.

—… eu só queria… eu só precisava…

Ele empurrou mais seu corpo contra o meu e arfou com os lábios contra os
meus quando apertou o lençol embaixo de mim. As batidas na porta me
fizeram acordar, e eu e Cameron nos olhamos, ofegantes. Ainda perplexa e
desorientada, eu o vi sair de cima de mim.

— Quem é? — Cameron questionou mantendo a voz firme.

— Sou eu. — Reconheci a voz de William.

Arregalei os olhos e me sentei na cama, tentando me reorganizar.

— Um minuto — Cameron pediu.

Levantei-me para correr até o banheiro, mas ele me puxou pela cintura.

— Você não vai se esconder — afirmou.

— Mas…

— Acha mesmo que ninguém sabe que está aqui?

Fechei os olhos e ri de mim mesma.


— Eu sou uma farsa — brinquei.

Dei-lhe um selinho rápido, arrumei rapidamente seus cabelos desalinhados


e me sentei na cama, passando os dedos em meus próprios cabelos.

Cameron abriu a porta.

— Algum problema?

— Vim checar como você estava — William afirmou e se inclinou para me


olhar —, mas vejo que está muito bem.

— Vô…

— Boa noite, filho, e boa noite, senhorita Malik — disse se despedindo.

William não esperou nenhuma resposta, mas saiu sem disfarçar sua
felicidade. Cameron fechou a porta, caminhou até mim e tocou meus
cabelos.

— Depois da formatura, te contarei a parte que falta da história —


prometeu decididamente.

Seus dedos acariciavam meu rosto, passando levemente por cada traço, e eu
não poderia me sentir mais em casa.

— E vai me contar tudo?

— Sim, tudo. Sei que esperar ainda mais é um pesadelo, mas… não posso
falar aqui.

Soltei a respiração.

— Eu sei, amor, Astrid me contou muitas coisas. — Entrelacei nossos


dedos e beijei as costas de sua mão, onde ele ainda usava nossa aliança. —
Não duvido do seu amor, mas preciso saber da verdade, não que seja sua
obrigação, só me deixe entrar nisso, me deixe escolher também, podemos
fazer isso, juntos.
Ele sorriu e se deitou na cama.

— Você é impossível, senhorita Malik — afirmou.

O beijei rapidamente e me deitei em seu peitoral.

— Eu vou te contar tudo — disse sem tirar os olhos dos meus. — Prometo,
principalmente a parte que me fez querer afastá-la de tudo isso.

— E não vai ser motivo o suficiente para me fazer desistir — ele riu me
abraçando e subiu a mão em minha nuca, até que seus dedos se afundassem
em meus cabelos.

— Sem discussões, ao menos hoje — pediu e me beijou.

— Combinado — disse, dando-lhe um selinho.

— Eu sinto muito por tê-la chamado de desequilibrada. Confesso que fiquei


assustado, porque minha zona de conforto era eu ser o estressado, e você a
calma, mas não é assim que as coisas funcionam, você terá seus momentos
de desequilíbrio também, e eu preciso saber lidar com eles; você sempre
soube lidar comigo, e, quando foi sua vez, eu falei aquilo, você não é
desequilibrada.

Achei graça e acariciei seu rosto.

— Foi um baque ter ouvido aquilo, mas sei que agi como uma
desequilibrada, porque estava claro que a situação era muito mais séria e
vai muito mais além de um luxo seu, mas relacionamento tem disso,
aprender a lidar um com o outro.

Ele apertou minha cintura.

— Não vou estar compromissado com Astrid, meu avô vai tentar achar
uma brecha para reivindicar esse casamento. O único compromisso que
tenho é com você.; Astrid sabe que estou em busca de uma solução.

— E, se não tiver, vocês vão…


— Vai ter, amor, preciso acreditar que vai ter. Eu quero muito que continue
comigo, muito mesmo, mas, se não quiser se sujeitar a essa situação, eu…

Dei-lhe um selinho.

— Preciso trocar minhas roupas. — Mudei de assunto, e ele me olhou por


segundos.

— Ok — suspirou —, vou buscar suas coisas no quarto de Natalie, e você


pode pegar o que quiser para vestir.

Concordei, então saí da cama, e ele caminhou até a porta logo saindo. Sorri
ao ver que, até mesmo no seu jeito de andar, ele parecia relaxado.

Peguei uma de suas blusas que ficavam folgadas em mim e o esperei para
pegar um de meus shorts. Troquei minhas roupas e saí do banheiro, vendo-
o de short, o que aparentemente seria a única peça que vestiria para dormir.

— Deixou minha medicação no frigobar?

— Sim, senhorita — disse me puxando para me aproximar dele. —Vamos


assistir a que hoje?

— Nada — disse colocando meus óculos na mesa de cabeceira e aproveitei


para desligar a luz deixando apenas o abajur do Naruto ligado. — Vamos
dormir, e você vai estar descansado para o jogo de amanhã.

Ele riu ao se deitar na cama, depois puxou a coberta e me cobriu. Ficou


instantes acariciando meu rosto e mexendo no meu cabelo.

— Sentia falta disso.

— Do quê? — questionei, afastando uma mecha de cabelo que caía em seu


rosto.

— Da paz no caos — explicou, e eu sorri.

Cameron começou a dar vários beijinhos em meu rosto, sem parar, de


forma que faziam cócegas. Seus lábios passaram a beijar meu pescoço, mas
não eram em forma de brincadeira como anteriormente. Seus beijinhos
voltaram aos meus lábios, selando-os e iniciando um beijo lento e
carregado de saudade.

Envolvi meus braços em seus ombros e me senti fraca pelos seus apertos
em minha cintura, e uma vontade enorme de deixá-lo tirar minhas roupas
me incendiou.

O que estava acontecendo comigo?

— Melhor pararmos — murmurei afastando nossas bocas.

Ele me olhou com um sorriso safado e maroto enquanto passava as mãos


em meu abdômen por dentro da blusa, deixando-me arrepiada, e senti a
excitação descer até entre minhas pernas.

— Por quê? Seu corpo está pedindo?

SIM!

Revirei os olhos, depois o empurrei e afastei sua mão de mim.

— Você não vai esquecer isso nunca mais? — ele gargalhou.

— Nunca mais — assegurou, dando-me um selinho.

— Que seja, precisamos dormir, amanhã você tem uma final para ganhar!

Pela primeira vez, Cameron não relutou, apenas concordou balançando a


cabeça e deu um beijinho em minha testa.

Puxei seu braço para que ficasse envolto em minha cintura, e, tentando usar
o tom mais suave de minha voz, comecei a cantar enquanto acariciava seus
cabelos e arranhava suas costas com leveza, e ele adormeceu me abraçando
com firmeza, e o sentimento de segurança e felicidade dominou meu corpo
e me deixou adormecer junto dele.
“Esta é a nossa vida e a estamos vivendo bem virando noites na cidade, aprontando um caos. Se
tudo o que temos é esta noite, vamos fazer isso direito”.
Paradise - Bazzi

Esperar era um problema enorme, principalmente diante da situação


em que estávamos, mas era uma questão de menos de quarenta e oito horas
para saber de tudo.
Depois da final, já ocorreriam a formatura e o baile, e então eu teria
a parte que faltava e sabia que Astrid me ajudaria a resolver o que quer que
ela não soubesse. Afinal, tratava-se de sua vida também.
— Baby… — Dei duas batidinhas no ombro de Cameron, que
estava como conchinha maior, e seus braços me seguravam com precisão.
— Baby, acorde.
Em resposta, ele me abraçou e se pressionou ainda mais contra mim,
e eu prendi a respiração.
— Mais um minutinho — resmungou.
— Amor, por favor — pedi tentando segurar a risada.
— Ah… — murmurou —, é isso — disse, virando-se para o lado
contrário, e, em segundos, se levantou e foi ao banheiro.
Cameron saiu do banheiro, e não podia imaginar o quão péssima eu
estava, corri até o banheiro, peguei minha mochila no caminho e me
tranquei.
Medi minha glicemia e tomei minha medicação, considerando que
tinha horas para fazer o efeito que e até lá teria tomado meu café.
Saí do banheiro, e Cameron estava deitado com as mãos cobrindo o
rosto.
— O que foi amor?
— Me desculpe — resmungou envergonhado —, é uma coisa que
não se controla. Não estava sonhando com nada, simplesmente aconteceu.
Puxei as mãos de seu rosto e ri de sua timidez. Não era a primeira
vez que precisava acordá-lo devido a uma ereção matinal.
— Você está agindo como se fosse a primeira vez.
— O quê?! — indagou surpreso e se sentou na cama.
Sua expressão incrédula me fez rir ainda mais.
— Às vezes eu o acordava alguns minutos antes de o relógio
despertar justamente por causa disso. Aconteceu algumas vezes, achei que
sabia.
— Ah, merda, isso ainda consegue ficar pior — dramatizou com
tom sofrido e passou as mãos no rosto.
— É normal, não precisa de tudo isso — afirmei tentando não rir do
jeito como ele estava e o abracei para disfarçar que faltava pouco para
gargalhar.
— É constrangedor — insistiu.
— E normal — eu disse, e ele riu dando de ombros.
Puxei-o para um beijo, mas tudo o que recebi foi um selinho.
— Você não está assim por causa do que acabou de acontecer… o
que foi?
— Eu poderia fazer milhares de coisas como os meninos fizeram
para o convite, mas meu tempo acabou. Feche os olhos e não espie!
Bufei ao ouvi-lo.
— Por que você faz isso, Styles?
— Feche os olhos, Malik — ordenou.
Acabei rindo e fechei os olhos.
— Pode abrir. — Abri os olhos, e ele estava com uma caixinha preta
aberta, dentro tinha um bracelete prateado com pedrinhas azuis. — Aceita ir
ao baile comigo?
Abri um sorriso enorme e me joguei em seus braços dando beijinhos
em seu rosto.
— Isso é um sim?
— Você ainda pergunta? Claro que aceito! — afirmei sorrindo e
selando nossos lábios.
— A regra do convite do baile é entregar um bracelete com uma flor
falsa para selar o convite, mas sei que não gostaria de uma daqueles, então
comprei algo que sei que gosta de usar.
— É lindo, meu amor, combina com o colar que me deu no jantar —
observei tocando o bracelete.
Ele soltou a respiração.
— Que bom que gostou — suspirou quando peguei a caixinha de
suas mãos.
— Eu amei! — Fechei a caixinha e a coloquei na minha bolsa.
Descemos as escadas, e eu me senti envergonhada depois de lembrar
que devia ter descido com Natalie, e não com Cameron, mas ninguém
pareceu surpreso com a situação, o que, de certa forma, era reconfortante.
Em Los Angeles, Estados Unidos,
Sáb., 16h57, dezembro

Eu e Neji estávamos na primeira fileira e diversas vezes trocávamos


olhares carregados pelas lembranças de que há meses éramos nós ali.
Cameron estava atrás de mim com os meninos do time e não parava
de mexer no meu cabelo.
O novo grupo Fênix era composto por Luce, Samuel, Eric e Adam,
que são do time e finalmente se deram a oportunidade de estar em um grupo
de estudos.
Inclinei-me para a frente, vendo Alec, que estava na porta à
esquerda, com Ned e… Jasper. Franzi o cenho e olhei Cameron, que seguiu
meu olhar e deu de ombros.
A última pergunta feita por Gerard significava a vitória ou a derrota,
e era a vez de o Fênix responder, porque o rival havia perdido. Eric olhou
Cameron como se soubesse a resposta, mas tinha medo de responder e estar
errado.
Cameron balançou a cabeça positivamente, e Eric respondeu com
clareza.
— …a resposta está — Gerard fez um suspense que quase me
matou do coração — correta! Vitória do grupo Fênix.
Os meninos do time se levantaram em comemoração, correram até o
palco e abraçaram o grupo.
— Não sei mais o que faço com essas crianças — ouvi Cameron
dizer e o olhei rindo.
Eu e Neji ficamos esperando o pessoal descer para os parabenizar.
Abracei Eric e Adam, Luce e Samuel, e Cameron, que me abraçou por trás,
disse a Eric:
— Parabéns, irmão, sabia que ia conseguir — Cameron deu-lhe os
parabéns enquanto o cumprimentava com um toque de mão. — No
vestiário, em meia hora, avise o Adam.
— Ok, capitão, e obrigado pelo apoio, acho que não teria entrado
nisso se não fosse por você — afirmou com gratidão no olhar.
— Sempre que precisar — Cameron disse sorrindo e envolveu o
braço em minha cintura — e você vem comigo.
Antes que pudesse responder, ele me arrastou para fora do anfiteatro
e me empurrou para dentro de um dos laboratórios da escola.
Minhas costas bateram contra a parede depois de ele trancar a porta,
e seu corpo se pressionou contra o meu quando seus dedos se afundaram em
meus cabelos.
— Sabe o que é você querer a pessoa o tempo todo? — perguntou
me dando dois selinhos.
— Então, está esperando o que para me beijar? — brinquei e o vi
abrir o mais lindo dos sorrisos.
Seus lábios se juntaram aos meus em um beijo calmo e com desejo,
seu corpo relaxava enquanto ele me beijava, como se fosse um momento de
tranquilidade, mas, ao mesmo tempo, de desejo.
Apertei sua cintura, fazendo-o ficar ainda mais próximo de mim,
quando ele começou a dar vários beijinhos em meu rosto e a puxar meus
cabelos. Inclinei um pouco a cabeça para cima, e seus beijos começaram a
descer em meu pescoço.
Empurrei-o, e ele me encarou.
— Foco no jogo.
Ele se aproximou novamente e afastou os cabelos de meu rosto.
— Algo a está incomodando — observou. — Por que olhou Alec
daquela forma?
— Você não notou o quanto ele se tornou amigo de Jasper desde o
dia em que fomos para a fazenda do meu avô? Eles quase não se veem,
mas, quando acontece, conversam como se fossem amigos de longa data —
expliquei.
— Eles apenas se deram bem, aconteceu o mesmo com Luce e Ned
— disse, sem dar muita importância.
Olhei-o por instantes. Não era hora de falar de nada daquilo. Ele
aproximou os lábios dos meus outra vez.
— Foco no jogo, senhor Styles — disse, impedindo-o de me beijar.
— Que chatice! — reclamou.
Em Los Angeles, Estados Unidos,
Sáb., 18h15, dezembro

A diretora López havia me dito que era para ficar dentro do campo,
próximo de onde as líderes ficavam e junto de Neji, onde era um ótimo
lugar para assistir ao jogo.
Isaac estava se achando com Ryan por estar com meu pai e tio
Arthur dentro do campo, mamãe e tia Eliza optaram por não vir ao campo e
por assistir à partida de casa com as crianças.
A música de entrada do time rival iniciou, e o time Buccaneers
entrou animadamente, deixando claro que era o time forte que todos diziam
ser.
As líderes eram tão fortes quanto o time e provocavam a torcida dos
Warriors, a capitã deles encarou Melissa e sorriu provocativa.
A coreografia muito bem ensaiada dos Buccaneers se finalizou, e a
música típica da entrada dos Warriors começou.
Cameron foi o primeiro a entrar, seguido pelos meninos, todos
muito sérios, e pararam no meio do campo. Tudo ficou silencioso, e todas
as luzes se apagaram, até que a música Run On The World, da Beyoncé,
explodiu junto com as luzes se acendendo, e foi a hora em que as líderes de
torcida entraram fazendo suas danças que envolviam saltos-mortais,
estrelinhas e outras coisas.
Em um remix, a música mudou para Single Ladies, e eu dei um grito
de animação junto com Neji.
— Meu Deus, meu Deus, meu Deus! — repeti animadamente vendo
todos do time dançarem.
Era incrível que eles dançassem mesmo sem gingado nenhum,
exceto Cameron, Elliot, Peter e Josh, que eram os mais soltos nas danças.
Os líderes de torcida dançavam numa alegria contagiante, que fez Neji
começar a imitá-los junto comigo. O time parecia tão focado em não errar
os passos que se tornou fofo.
Tio Arthur e papai balançavam as mãos, fazendo os mesmos
movimentos dos meninos em Single Ladies; as arquibancadas estavam com
as torcidas animadas onde até os torcedores do time rival não conseguiam
ficar parados.
Quando terminaram de dançar, todos aplaudiram de pé. Cameron
correu até mim, e a câmera que gravava o jogo de hoje para passar ao vivo
em um canal o seguiu.
— Espero que tenha gostado, fizemos por você — disse ao me
puxar pela cintura.
Suas bochechas estavam com duas listras pretas muito bem-feitas,
seu uniforme estava impecável, e, com a mão desocupada, segurava o
capacete.
— Vocês são incríveis! — afirmei.
Ele sorriu e selou nossos lábios, ouvimos os gritos e suspiros
apaixonados ao nosso redor e nos olhamos rindo.
— Sei que você vai ser incrível hoje, mas boa sorte, meu capitão —
sussurrei enquanto o olhava.
— Obrigada, minha capitã — respondeu e outra vez selou nossos
lábios.
— STYLES! — papai o chamou.
Cameron me deu uma última olhada, me soltou e correu na direção
dos Warriors; observei-o até que chegasse lá e me sentei em um dos
assentos da bancada.
Melissa estava junto dos líderes; olhei-a e vi que conversava
animadamente com o pessoal; quando me olhou, deu um aceno e abriu um
sorrisinho que foi retribuído.
Por mais animada que estivesse, era impossível não ficar inquieta ao
pensar no beijo ao vivo e nos problemas que poderiam acarretar a Astrid e
Cameron, principalmente a Astrid, no momento, por ter que lidar com seu
pai, o rei Erick.
O jogo começou, e os Buccaneers eram mais violentos que os outros
times com que os Warriors competiram; as investidas eram específicas,
variando de — principalmente — Cameron, depois Elliot, Peter e Josh.
Depois do segundo tempo, o placar estava muito acirrado, e os
Warriors ganhavam por 28 a 24, e bastava um passe para o time da casa ser
ultrapassado.
Levantei-me do banco antes de começar o terceiro tempo. Papai
havia esperado o tempo certo para aconselhar o treinador a agora tirar
Kevin e Oliver, para colocar Brian e Adam, e para substituir Jack por Eric.
O terceiro tempo iniciou, e os Warriors pareciam ter guardado tudo
para os dois últimos tempos: nada os parava, e eles impediam qualquer um
de chegar perto do jogador que estivesse com a bola.
O quarto e último tempo começou com o capitão do time rival
empurrando Cameron com força, o que o fez cambalear para trás, e ele,
com toda a sua falta de paciência, foi para cima do garoto e o empurrou de
volta, fazendo-o se encontrar com o chão.
Antes que uma briga começasse, Elliot e Peter puxaram Cameron, e
o juiz interveio. O jogo voltou, e dessa vez não tinha espaço para os
Buccaneers fazerem qualquer pontuação: a barreira que os meninos criaram
contra o time rival foi decisiva.
O jogo estava quase no final quando Cameron jogou a bola para
Peter, e Peter para Josh, que correu como um foguete.
— Isso, Josh, ISSO! — Gritei, e, como esperado, Josh fez os
últimos pontos dos Warriors, trazendo a vitória a Liberty.
O placar terminou em 58 a 44 para os Warriors. Eu e Neji nos
abraçamos em comemoração, e todos do time correram até Josh. Consegui
ver que, quando foram para levantar Cameron, ele negou e ajudou a
levantar Josh e Peter. Chorei de felicidade com toda a festa sendo feita ao
redor do time. Em seguida, receberam a taça da vitória e as medalhas para
cada jogador. Cameron ia entregar a taça a Josh, mas ele negou.
— Você foi o melhor capitão que Liberty já teve, você segurando a
taça representa o time todo, não eu — Josh disse alto o suficiente para o
resto do time ouvir e concordar.
Cameron pareceu tão feliz ao ouvir aquilo, como se ele tivesse
conseguido cumprir sua missão com perfeição, o que me deixava totalmente
realizada pela felicidade dele.
— CAMERON, O MELHOR CAPITÃO DA HISTÓRIA DE
LIBERTY! — Elliot gritou, fazendo os meninos do time gritarem e
pularem.
— HORA DA FOTO, MENINOS! — o treinador Sanchez gritou.
Natalie o olhou por ele ter gritado no ouvido dela, e ele pediu
desculpas sem conseguir deixar de rir.
Os meninos acabaram em uma bagunça engraçada que formou uma
foto linda do time.
— CAPITÃ, VENHA TIRAR FOTO COM A GENTE — Peter
gritou.
— VEM CAPITÃ, VEM CAPITÃ! VEEEEM!!
Ouvi os outros meninos do time gritando e não consegui distinguir
as vozes de quem era quem. Um pouco envergonhada, aproximei-me dos
meninos, e Cameron envolveu o braço em minha cintura, mesmo segurando
o capacete numa mão, enquanto segurava a taça com a outra.
Os meninos começaram a se espalhar pelo campo para ir com seus
familiares, deixando-me com Cameron no meio do campo.
— Por que está tão pensativa? — Cameron questionou enquanto me
puxava pela cintura, levando-nos até nossos familiares.
Ele estava suado, e a tinta em seu rosto havia sido borrada por
inteira.
— Aparecermos juntos nas fotos e irmos ao baile juntos não vai te
dar problemas com Astrid?
Ele soltou a respiração.
— Talvez, mesmo que eu esteja solteiro e que meu relacionamento
com Astrid tenha que começar a ser desenvolvido ano que vem, para
ninguém desconfiar de que é arranjando, ainda assim posso ter problemas.
— Abaixei o olhar, e, quando tentei me afastar, ele não deixou e apertou
minha cintura com mais firmeza. — Mas não me importo, a única coisa que
quero é aproveitar cada segundo com você. — Ele beijou meu rosto.
— Odeio quando fala assim.
— Assim como?
— Como se fosse se livrar de mim, como se tivesse a certeza de que
vai conseguir me convencer a desistir da gente, como se eu fosse fácil a
ponto de me deixar ser usada e depois descartada por causa de um contrato
— expliquei e o vi revirar os olhos.
— Não foi isso que quis dizer, mas não vou discutir isso agora.
— Ótimo — rebati.
— Ótimo — repetiu.
Em resposta, empurrei seu braço de minha cintura e saí andando até
chegar em meu pai e Isaac. Carter, Nicholas e Felicity foram parabenizá-lo.
— Brigaram? — papai questionou.
— Brigar é nossa especialidade — respondi vendo que ele e Isaac
riram.
— Posso dar os parabéns para ele, pai? — Isaac questionou.
Papai concordou, e Isaac correu até Cameron. Meu pai me olhou à
espera de uma fala minha.
— Em resumo, a princesa e eu conversamos em Londres — ele
sorriu surpreso —, e ela me contou muito do que eu precisava saber, contei
a Cameron, e ele insiste em dizer que não vai me deixar entrar nessa.
— Cameron lhe contou alguma coisa?
— Depois da formatura, foi essa a única coisa que me pediu, porque
precisará ser em um lugar particular — expliquei.
Ele riu.
— Por que está rindo, senhor Nogueira?
— Porque eu não entendo o que a faz ficar brava com as falas de
Cameron, sendo que você claramente vai conseguir convencê-lo. — Ele
olhou para a frente. — O garoto mal consegue ficar sem você, confie em si
mesma, filha, tenho certeza de que tomará o controle dessa situação.
Ele me abraçou de lado e beijou minha cabeça, o que me fez sorrir.
— Prima? Iremos para a festa, e o time nos encontrará lá. Vamos
comigo? — Nicholas questionou se aproximando.
Olhei papai que deu um aceno de cabeça.
— Vou, sim — disse a Nic, e olhei papai —, te vejo em casa.
— Cuide-se, caramelinho — pediu dando um beijo em minha testa.
Seguimos para a antiga casa de Cameron, que estava exatamente a
mesma coisa desde a última vez em que vim para cá, e que, no final, não foi
vendida.
Me sentei no sofá que havia no fim da ala das piscinas, comi um
pedaço de pizza que os meninos trouxeram e fiquei um tempo com eles. Os
outros chegaram, e a comemoração ficou ainda mais animada; em questão
de segundos, estava rodeada dos meus amigos, que conversavam
animadamente.
Cameron parou em minha frente e acenou com a cabeça indicando
para eu ir para o lado e lhe dar espaço. Ele envolveu o braço em minha
cintura quando se sentou, e eu me mantive imóvel.
— Vai ficar brava comigo mesmo?
— Sim, vou.
— Rebecca — chamou, e o olhei.
— O que foi?
— Venha comigo — pediu e se levantou, deixou o copo de
refrigerante em uma mesinha que tinha no centro, onde estavam as coisas
dos narguilés dos meninos, pegou minha mão e me olhou —, por favor —
completou.
Me levantei aceitando. Caminhamos até a cozinha da casa, onde um
casal que estava aos beijos nos viu e saiu.
— Quando é que vai me entender?
— Estou tentando, Cameron. Mas saber que você está cogitando
mesmo me deixar fora disso e que fica aproveitando o agora como se fosse
me descartar não tem sido nada legal.
— Eu só quero que você espere até o fim da formatura, é pedir
muito? — indagou olhando meus olhos.
— Não é sobre isso — informei. — O único problema é agir como
se eu fosse descartável, como se não fosse nem ao menos tentar ajudar
nessa situação.
— Já disse que é perigoso, você entrar nisso não é uma opção…
— Você não pode decidir por mim — esbravejei. — Está agindo
como se só a sua opinião valesse quanto a esse assunto e se esquece de que
não sei de tudo.
Quando me preparei para sair, ele se colocou à minha frente, e suas
mãos foram em minha cintura.
— Becca — chamou baixinho, como uma súplica —, eu estou com
medo — confessou — e acabei descontando em você por acreditar que
deixá-la longe resolveria algo. Estou com medo de não poder protegê-la, de
não poder fazê-la feliz, de me casar com outra e nunca mais conseguir ter
um dia alegre e, para piorar, ainda tenho a responsabilidade de fazer Astrid
feliz, ela merece, mas não sei se consigo fazer outra pessoa feliz. Nunca
fiquei com tanto medo assim, desesperado e agoniado. Me perdoa por fazê-
la se sentir descartável, você nunca, nunca, será descartável. Eu só… não
sei mais o que fazer e estou esgotado. — Sua voz falhou na última palavra.
Ficamos nos olhando por instantes. Puxei-o para um abraço
demorado e o deixei se acalmar um pouco enquanto acariciava seus
cabelos.
— Não quero jogar tudo isso em você, sei que é uma esponja. Só
preciso descansar um pouco para conversarmos civilizadamente sem que eu
seja um completo idiota e a machuque tentando afastá-la, não quero que
pense que estou colocando meus sentimentos desesperados acima dos seus
nem quero que puxe isso para você. Vou ficar bem, prometo.
— Ei, tudo bem não estar bem, está passando por muitas coisas
também, mas me deixe entendê-lo, não fique escondendo, quero carregar
isso com você. — Passei os dedos em seu rosto. — Por que não vamos para
a casa? Assim você descansa um pouco — sugeri.
— Acho que é disso que estou precisando — admitiu me olhando e
beijou a ponta do meu nariz.
Assim que chegamos em casa, comemos, e ele avisou que passaria
em sua casa para falar com os pais. Coloquei meu pijama e me deitei na
cama pensando sobre tudo o que estava acontecendo ultimamente.
Quando Cameron chegou, nós nos deitamos e ficamos nos olhando,
enquanto trocávamos nada além de carícias sem qualquer outra intenção.
— Você está muito enganado se acha que vou deixá-lo sozinho
nessa — sussurrei.
— O que me importa é você ficar bem, segura e ter a vida com que
sempre sonhou.
Ele achava que me faria bem me afastando da situação, eu achava
totalmente o contrário e não desistiria dele.
“Me dê um pouco de tempo ou acabe com isso, vamos brincar de esconde-esconde para mudar essa
situação. Tudo que quero é o sabor que seus lábios permitem”.
Give Me Love – Ed Sheeran

Quando acordei, às dez da manhã, não consegui chamar Cameron,


pois ele parecia estar em um sono incrível. Então, tomei um banho, apliquei
minha medicação e não abri as cortinas para que a luz entrasse em meu
quarto; pelo contrário, as cortinas pesadas e pretas permaneceram fechadas
para que o quarto ficasse escuro.
Desci as escadas após fechar a porta e dei de cara com meus pais
tomando café da manhã com tia Eliza, tio Arthur, Nicholas, Felicity e as
crianças.
— Bom dia — cumprimentei e me sentei ao lado de Isaac.
— Bom dia — disseram todos juntos.
— Cameron não dormiu aqui? — Eliza questionou, e Arthur me
olhou.
— Está dormindo ainda — expliquei, e Eliza sorriu concordando.
Mamãe e papai ficavam se olhando e conversando com os olhos;
olhavam-me e voltavam a se olhar.
— O que foi? — questionei confusa.
— Faremos uma viagem em família e amigos este ano — anunciou
animadamente. — Meus pais, sogros, Rosie e Helena junto com Andrew
vão também. Lembra que fazíamos essas viagens de fim do ano quando
você e os outros eram mais novos?
— Sim, eu sempre brigava com Cameron ou Natalie — relembrei
fazendo todos rirem.
— Sem brigas dessa vez, hein — Arthur brincou.
— Ela e Cameron vivem discutindo, ou se beijando — Isaac disse
em um tom engraçado e provocativo que me fez empurrá-lo pelos ombros.
— Para onde iremos? — perguntei.
— Noruega — papai disse, e automaticamente abri um sorriso.
— Natal e Ano-Novo? — Olhei mamãe, que concordou. — Ótimo!
— disse, tentando não demonstrar tanta animação.
Em seguida, eles entraram em assuntos aleatório, mas eu só
conseguia pensar em como fazer para a princesa nos visitar e ter um
momento para conhecer Andrew.
Em Los Angeles, Estados Unidos,
Dom., 14h32, dezembro

Voltei para o quarto com uma bandeja em mãos e deixei em cima da


mesa de cabeceira. Beijei as costas de Cameron e subi até a nuca, ele se
virou ainda com os olhos fechados e comecei a dispensar beijinhos em seu
rosto, ele me puxou com o braço envolto em meu pescoço ainda sem abrir
os olhos.
— Você precisa comer, meu amor — disse me soltando dele, e me
sentei na cama.
Ele coçou os olhos e os abriu um pouco, deixei apenas o abajur
ligado para que não forçasse sua visão.
— Que horas são? Quanto tempo eu dormi? — perguntou com a voz
sonolenta.
— São mais de duas da tarde, e você dormiu dezesseis horas —
respondi vendo-o abrir os olhos por completo ao me ouvir.
— Eu nunca dormi tanto tempo assim — disse depois de se sentar
na cama e se espreguiçar. — Vou tomar um banho e já venho comer.
Concordei vendo-o sair da cama, pegar sua mochila, que buscou
ontem de noite, e entrar no banheiro.
Me levantei, abri as cortinas e as janelas, deixando o ar fresco
invadir o quarto. Fiquei observando as crianças na piscina com Nicholas e
Felicity. Ele a olhava de forma que seus olhos brilhavam, e eu torcia para
que assumissem seus sentimentos um para o outro. Ouvi os passos de
Cameron e me virei o observando sentar-se na cama e pegar a bandeja em
que estava seu almoço.
Ele parecia relaxado, e seu rosto estava iluminado. A respiração era
calma. Era o meu Cameron outra vez. Sentei-me na cama e me encostei em
um travesseiro.
— Parece que descansei minha alma — admitiu.
— Você precisava, meu amor.
Ele terminou de comer e saiu do quarto, levando a bandeja; quando
voltou, foi ao banheiro escovar os dentes. Coloquei um filme aleatório para
assistirmos. Cameron se deitou ao meu lado, e ficamos abraçados olhando a
tevê por instantes.
— Os meninos do time querem passar uma semana na minha casa
de campo, e, se você aceitar ir com a gente, será o lugar ideal por conta da
privacidade, assim poderei te contar tudo.
— Claro que aceito, não perderia isso por nada — disse e o beijei
rapidamente.
— Por que sinto que não devo confiar em você?
Sorri e o olhei.
— Porque você sabe que eu não tenho a menor intenção de fazer o
que você quer.
Ele balançou a cabeça e me beijou. Sorri ao olhá-lo e tentei me
afastar, mas Cameron me fez deitar na cama e apertou minha cintura
quando selou nossos lábios. Virei-me, ficando por cima, e me encaixei em
seu corpo com uma perna de cada lado, seus dedos afundaram em meus
cabelos e me puxaram para si novamente, e ele me beijou com calma.
Passei as unhas em seu abdômen por baixo da blusa e comecei a descer
meus lábios em seu pescoço.
A respiração de Cameron ficava cada vez mais descompassada e
ofegante, enquanto suas mãos me apertavam com mais força. Ele me puxou
pelo pescoço e me olhou por instantes mordendo os lábios.
Quando disparou tapas na minha bunda, acabei sorrindo e passei a
língua nos lábios. Ele abriu um sorriso safado e voltou a me beijar. Seus
dentes agarraram meus lábios e os puxaram, em seguida seu dedo polegar
contornou minha boca, e ele me deu três selinhos. Ficamos nos olhando por
segundos, admirando um ao outro enquanto ele acariciava minha nuca e eu
deslizava as unhas em seus braços.
— Soube que Matteo dá muito em cima de você.
— Um pouco — disse e tentei sair de seu colo, mas ele me segurou
pelas coxas e me fez continuar no mesmo lugar.
— Um pouco?
O olhei por instantes.
— Sempre que ele, de alguma forma, encontra uma brecha, o que
não é frequente, porque Alec e Ned estão sempre por perto, e, se acontece
de eles não estarem, tenho Nicholas, Manson e outros amigos de Nic que…
— Manson — disse e balançou a cabeça negativamente. — Eu sabia
que Matteo era um babaca, e ele nem sequer se aproximará quando
estivermos em Stanford.
O abracei pelos ombros e sorri ao vê-lo falar do futuro daquela
forma.
— O que aconteceu entre você e Manson? — questionou apertando
minha cintura de forma que me fizesse olhá-lo.
Sai de seu colo, e ele se manteve me olhando.
— Saímos juntos, e ele me beijou — disparei vendo suas bochechas
corarem quase na mesma hora, de irritação.
— Ele a beijou? — perguntou, com uma grande insinuação por trás.
— Não assim, não foi contra a minha vontade.
Cameron ficou me olhando por tanto tempo, sem reação, sem falar
nada, que me questionei se ele ainda falaria alguma coisa durante o resto do
dia.
— Ora, você não pode ficar bravo.
— Posso, não com você, mas… outro homem a beijou, como eu
deveria me sentir? Feliz?
Acabei rindo.
— Cameron…
— Caralho — disse, ainda incrédulo. — Não que você não pudesse,
mas, caralho. Ele foi tão bom com você a ponto de…
— Cameron, pelo amor de Deus, esse assunto não é necessário.
— Ele encostou em você, Rebecca, mas que porra?
Revirei os olhos.
— Tínhamos terminado.
— Eu sei.
— E eu estava com raiva, queria esquecê-lo.
— Eu sei.
— Então…?
— Não estou com raiva. Quero dizer, é claro que ele é uma das
pessoas que quero bem longe de você, mas, caralho…
— Sabe que isso será uma realidade caso você se case com Astrid,
não?
Ele concordou e ficou olhando para o nada.
— Não quero uma vida sem você, mas não ficarei sozinha —
comentei, não para pressioná-lo, mas para dizer a verdade em voz alta.
Batidas leves na porta ecoaram, e eu me levantei para abri-la.
Mamãe entrou empurrando um manequim com rodinhas; seguindo-a,
vinham Felicity, Natalie e Eliza.
— Olha só o que chegou — mamãe anunciou cantarolando.
A capa cor pérola com o nome e logo de Antonella Loughty na parte
de trás cobria meu vestido inteiro.
— Não acredito! — disse caminhando até o manequim e o trazendo
para perto da cama.
Todas olhamos Cameron, que permaneceu deitado como se nada no
mundo o faria sair.
— O que foi? — questionou franzindo o cenho.
— A gente quer ver o vestido, e você precisa sair daqui — Natalie
respondeu.
— Também quero ver o vestido — retrucou.
Os dois começaram a discutir, enquanto tia Eliza se acabava de rir
com eles, e eu e mamãe trouxemos o manequim para dentro do closet. Tirei
a capa assim que conferi que Cameron não veria, e meus olhos brilharam.
O vestido estava intacto.
— Nossa! É a sua cara — Felicity disse admirada.
— Sim, é lindo demais — mamãe confirmou.
— Natalie precisa ver! — assegurei animada e saí do closet. —
Vocês precisam ver isso aqui — disse animada.
As duas passaram para o closet, e, quando Cameron ia fazer o
mesmo, fechei a porta.
— Não vai me deixar ver? — questionou fazendo uma manha.
— No dia do baile, você vai ver — afirmei caminhando para a
frente e o afastando da porta.
— Só uma olhadinha? — pediu dando um passo à frente.
Empurrei-o para se sentar na cama.
— Você vai ficar quietinho e ver esse vestido na sexta-feira quando
eu o estiver usando — fiz um carinho em sua bochecha quando ele ficou
sentado a me olhar. — Bom garoto, agora me dá a patinha — brinquei, e ele
abriu um sorriso safado.
Sua mão agarrou meu pescoço e me puxou para que nossos rostos e
lábios ficassem próximos.
— O que disse? — Ele se levantou sem me soltar e olhou em meus
olhos.
Puxei a respiração e empurrei sua mão.
— Nossas mães estão aqui, Cameron — disse baixo.
— Você quem começou, Rebecca — provocou balançando os
ombros em uma dancinha convencida.
Fiz expressão de tédio para ele, que continuava com seu jeito
brincalhão.
— Vá procurar o que fazer, vá. — Arrastei-o para fora do quarto.
Ele me deu um selinho e saiu caminhando com um rebolado
forçado; quando chegou próximo das escadas, virou-se e fez um
coraçãozinho.
— Eu te amo, minha princesa. — E me mandou um beijo.
Acabei rindo e mandei um beijo de volta; ele voltou a andar
normalmente e desceu as escadas.
Fechei a porta do quarto e sorri sozinha. Um dia de cada vez, e hoje
era um dia bom. Depois de verem o vestido e eu passar um tempinho
conversando com a minha mãe sobre toda a minha situação, me juntei ao
pessoal que estava jogando na sala de jogos e fiquei algumas horas com
eles.
Olhei Cameron, que aguardava sua vez enquanto Nicholas e Elliot
competiam, e saí da sala de jogos, indo até a cozinha.
— O que deseja, senhor Styles? — questionei, depois de encher
minha tigela de uvas verdes, e me sentei na bancada.
— Você — disse se encaixando entre as minhas pernas.
— No momento, estou indisponível, vou para a estufa ler um pouco.
Com a semana de provas, quase não tive tempo — expliquei, e ele
entrelaçou nossos dedos.
— Quer que eu fique com você?
Sorri, depois selei nossos lábios, e ele apertou minha cintura depois
de soltar nossos dedos.
— E tirar minha concentração? Não, obrigada — brinquei sentindo
suas mãos entrarem por dentro da minha blusa folgada.
Ele sorriu sem dizer nada e selou nossos lábios com calma me
puxando mais para si. O abracei pelos ombros e afundei meus dedos em
seus cabelos. Seus lábios começaram a deslizar em meu pescoço, e um
misto de desespero e euforia por alguém poder entrar na cozinha começou a
crescer dentro de mim.
— Cam… Cameron… — chamei ofegante —, qualquer pessoa pode
entrar aqui — afirmei em voz baixa, e ele me olhou sorrindo.
Aproximou os lábios dos meus, passou a língua neles e os agarrou
com os dentes, em seguida me deu três selinhos. O olhei por instantes,
sentindo minhas bochechas queimarem, e ficamos abraçados até que nossas
respirações começassem a se acalmar.
— Eu te amo — sussurrou em meu ouvido.
— E eu te amo — sussurrei de volta.
O beijei e desci da bancada, apressando-me para ir à estufa antes
que Cameron me fizesse mudar de ideia.
“Contanto que você me ame, serei seu soldado lutando a cada segundo do dia pelos seus sonhos,
garota. Então não se estresse e não chore, não precisamos de asas para voar apenas pegue minha
mão”.
As Long As You Love Me – Justin Bieber

Os meninos haviam decidido jogar boliche, e nada era mais


gratificante do que ver Cameron solto, leve, animado e perturbando todos
os meninos com suas piadinhas.
— É tão estranho — comentou Neji quando se aproximou, depois
de jogar com os meninos —, o pessoal de Liberty me faz sentir em casa, e
eu sempre quis sair daquela escola, mas, um pouco antes de partir, as coisas
estavam tão diferentes.
— Você sempre quis sair de Liberty? — Franzi o cenho.
— Sim, eu era só o nerd DJ aqui, entende? — Balancei a cabeça em
confirmação. — Depois que você chegou, as coisas ficaram diferentes.
— Como assim?
— Uma nerd calma e tranquila, dependendo do momento, com o
capitão do time popular, briguento e impaciente. Isso juntou mundos
diferentes, e os demais foram se juntando. Ninguém esperava que do time
saíssem pessoas legais, porque eles sempre se mostravam uns babacas sem
noção, mas Cameron ao menos não os deixava bater em mim, Aaron, Lucca
e Jace, mas… ainda assim eles eram uns idiotas — explicou.
— Nerd não é um apelido ruim nem motivo de chacota. Eu, por
exemplo, nunca achei ruim ser chamada de nerd — Neji sorriu ao me ouvir.
— E agora você é capitã.
— E nerd — afirmei. — Ser nerd não é o problema, o problema é a
ignorância de achar que pode ofender alguém com um título que, na
verdade, é muito agradável. Ruim seria ser apenas a namorada do capitão
do time.
Senti suas mãos apertarem minha cintura e me puxarem contra o seu
corpo, não precisei me virar para saber que era Cameron, e os braços
tatuados me envolvendo apenas comprovaram o que eu já sabia.
— O que é agradável? — Cameron questionou.
— Não ser a namorada do capitão do time, e sim a capitã do time —
Neji brincou e acenou antes de sair caminhando até os meninos do time.
Me virei para Cameron, que me olhava confuso, e expliquei minha
conversa com Neji, vendo-o rir e adorar o assunto.
— Rebecca Malik jamais será uma mulher atrás de um homem —
Cameron afirmou e selou nossos lábios —, mas eu aceito ser um homem
atrás de você — sussurrou abrindo um sorriso safado.
— Por que você tem que fazer isso? Eu te odeio, Styles — repliquei,
vendo-o sorrir, e me soltei dele, pois era minha vez de jogar.
Depois de pararmos de jogar, sugeri que fôssemos para a minha
casa.
— O que vocês acham de irmos para a minha casa e pedirmos algo
para comer?
— Tudo bem, a gente compra os lanches e vai para lá — Elliot
disse, e os meninos do time concordaram.
Olhei Cameron, que trocou um olhar de gratidão com Elliot.
— Acho que alguém quer um tempo a sós com a capitã — Natalie
sussurrou.
— Acho que não é só ele que quer um tempo a sós com alguém —
rebati, e ela me empurrou levemente pelos ombros.
Assim que chegamos em casa, subi para o meu quarto e coloquei um
shortinho folgado e uma blusa bem confortável que era de Cameron,
enquanto ele trocava de roupa no banheiro.
Cameron saiu do banho sem camisa com uma calça de moletom
preta, caminhou em minha direção e sorriu me vendo admirar seu corpo.
Parou em minha frente, seus dedos seguraram meu queixo e fizeram o
contorno de meus lábios.
— Estava babando — comentou, então molhou os lábios devagar
com a língua e os mordeu.
— Babaca. — Empurrei sua mão.
— Não me xingue — exigiu quando me levantei e o encarei.
— Ou o quê? — perguntei, e ele apertou meu pescoço.
— Vou ter que fazê-la substituir os xingamentos por outra coisa —
sussurrou e passou a língua em meus lábios.
Dei a volta e o empurrei pelo abdômen enquanto ele me olhava com
atenção. Sua mão desceu em minha coxa direita para que se apoiasse no
sofá, e, antes que ele fizesse o mesmo com a outra perna, me arrumei em
seu colo com uma perna de cada lado.
Seus lábios tocaram os meus com calma e lhe dei passagem
iniciando um beijo lento. Ele me puxava cada vez mais para si; encaixei-me
mais em seu colo sem quebrar o beijo e envolvi meus braços em seus
ombros.
Afundei meus dedos em seus cabelos e mexi minha cintura devagar.
Seus lábios se afastaram dos meus e começaram a descer em meu pescoço.
Ele parou com o rosto próximo de minha clavícula e me deixou sentir sua
respiração, tão ofegante que duvidava de que conseguiria controlá-la, e me
mexi outra vez, o ouvindo arfar. Em segundos, ficou por cima.
Seus beijos continuavam a percorrer meu pescoço; com uma de suas
mãos, ele apertou o lençol e, com a outra, apertou minha cintura
pressionando o corpo contra o meu. Em seguida, desceu os lábios para o
meu abdômen, o beijando até um pouco acima da barra do meu short, e
ergueu o olhar e sorriu enquanto me observava.
O olhar de cima para baixo, enquanto ele me olhava de baixo para
cima, me deixava louca, e eu não consegui dizer uma palavra sequer.
O puxei e o beijei novamente, colocando minhas mãos em suas
costas e as arranhando, e eu sabia que tinha que parar, que…
— Amiga — ouvi a voz de Natalie e duas batidas na porta.
Tentei empurrar Cameron, mas ele continuou em cima de mim.
Puxei a respiração e retomei o fôlego.
— Oi — disse alto para que ela me ouvisse.
Cameron voltou a beijar meu pescoço.
— Vocês vão comer os lanches aqui no quarto? Vão acabar
esfriando. — Pude notar que Natalie ria enquanto falava.
— Já vamos descer — disse tentando manter minha voz neutra
enquanto estremecia com os beijos dele.
— Ok — disse rindo, e seus passos começaram a se afastar até
sumir.
— Não vou descer agora — Cameron alertou saindo de cima de
mim. — Preciso de uns vinte minutos.
— Não temos vinte minutos, nossos lanches vão esfriar — rebati,
provocando-o.
— Temos, sim.
— Não temos. — Levantei-me indo até a porta a passos rápidos
ainda em provocação.
Ele veio atrás de mim e, em vez de me puxar para si, me pressionou
devagar contra a porta com o corpo colado ao meu. De costas para ele,
sentia o quanto me desejava.
— Temos, sim — sussurrou em meu ouvido, depois de afastar meus
cabelos, e beijou minha nuca.
Respirei fundo.
— Temos, sim — respondi me virando e o vendo sorrir.
Ele se sentou na cama com uma almofada no colo, e acabamos
rindo.
— Vou falar com seu pai sobre Matteo.
Me sentei ao lado dele.
— Apenas para separar os negócios?
— E para dar um jeito em Matteo — explicou.
— Matteo tem medo de perder o time para você — expliquei, e ele
franziu o cenho —, ele parece uma criança assustada.
— Por que acha isso?
— Não acho, tenho certeza. Ele sabe que mexer comigo vai irritá-lo
e deixá-lo agressivo, de forma que não vão aceitá-lo como capitão, a
própria universidade não deixa exemplos de agressividade na frente de
nenhum projeto. Na minha opinião, a forma de rebatê-lo é tirando o time
dele, se controlando e não o atacando, porque talento e prática você tem e
muito; com o time, vai ser fácil. — Ele sorriu me ouvindo e beijou minha
mão. — E nós somos as maiores fontes de dinheiro da família dele, porque
o que está mantendo os Hernandez é o contrato com a sua família e com a
minha, mas você sabe o que quer fazer quanto a isso, e meu pai com certeza
vai aceitar.
Retomei o fôlego e disse:
— Não sei por que ele arrisca tanto por um time, talvez seja pelo
ego, ou talvez ele esteja apaixonado por você — brinquei, e Cameron
gargalhou.
— O que é compreensível — afirmou jogando os cabelos
imaginários para trás.
— Você se acha, meu Deus. — Empurrei-o pelos ombros, e ele
selou nossos lábios.
— O que quer fazer?
— Quero que ele se afunde na própria soberba… sozinho —
expliquei.
Cameron pensou um pouco e deduziu:
— Você não quer manchar a família de Felicity com envolvimento
na polícia, não é?
Apertei meus dedos, um pouco ansiosa pelo assunto, e ele os
entrelaçou nos seus.
— Isso não significa que eu não queira que Matteo veja como a lei
da vida e a justiça funcionam, mas já deve ser difícil ser da família que
Felicity é, com o nome manchado ainda… — soltei a respiração —,
podemos ajudar caso a família dela fique falida, Nicholas vai cuidar dela,
mas, com o nome manchado na polícia, seria mais difícil ela conseguir
seguir seus sonhos e projetos, entende? Vão sempre associá-la ao ocorrido.
Ele acariciou meu rosto.
— Podemos pensar nisso antes de tomarmos alguma atitude, mas
depois das férias?
— Claro, meu amor — disse beijando as costas de minha mão.
— Tudo bem descer agora? Estou passando mal de fome.
Ele se levantou, colocou a camisa, pegou em minha mão e me
puxou para fora do quarto, praticamente me arrastando para descer as
escadas.
— Amor, não estou passando mal no sentido literal — expliquei
vendo-o parar de andar no meio do corredor.
— Você me assustou — afirmou, e eu lhe dei um selinho.
Descemos as escadas e seguimos para a casa da piscina, onde o
pessoal estava.
— Percebi uma coisa — Cameron comentou apertando minha
cintura enquanto andávamos.
— E o que seria? — questionei.
— Você tem mexido a cintura melhor do que antes — sussurrou,
tentando me desestabilizar.
Aproximei meus lábios de sua orelha e disse:
— Voltei a dançar, amor, o que mais acha que eu posso fazer?
Sorri e o olhei, depois me afastei e entrei na casa da piscina aos
risos, enquanto ele ficou parado por um tempo, desnorteado.
— Finalmente apareceram — Peter anunciou.
— Estavam fazendo o quê? — Josh perguntou abrindo um
sorrisinho provocativo.
— Não estávamos cuidando da vida de ninguém, isso pode ter
certeza — Cameron respondeu fazendo os meninos rirem alto.
— Seu ignorante — Josh implicou como uma criança.
— Seu intrometido — Cameron rebateu também como uma criança.
Ignorei-os e aproveitei para pegar meu lanche, chegava a ser
engraçado quando Peter ou Josh começavam a implicar com Cameron.
— Amor, vá comer — alertei, sabendo que essas implicâncias iam
longe.
Todos me olharam, e eu franzi o cenho.
— Eles voltaram a se chamar de amor, que lindo — Peter disse com
a voz fina.
O falatório em torno disso começou. Sentia uma imensa falta
daquela bagunça, então deixei que prolongassem a brincadeira e voltei a
comer.
— Por que meu querido irmãozinho a está olhando como se fosse
devorá-la? — Natalie questionou em voz baixa e a olhei rindo.
— Quer mesmo saber?
Ela fez uma careta.
— Não — disse e começou a rir.
Olhamos Cameron enquanto ele se aproximava. Dei-lhe espaço para
se sentar ao meu lado e senti sua mão em minha cintura por dentro da
minha blusa.
— Aquele seu vestido foi feito por Antonella, correto? — Natalie
questionou. Balancei a cabeça em afirmação. — Virou a queridinha dela?
— provocou balançando os ombros, como se dançasse mesmo sentada.
— Eu estranhamente acho que sim — respondi sorrindo.
Estranhamente…
Em Los Angeles, Estados unidos,
Sex., 17h45, dezembro

A cerimônia de formatura se iniciaria em alguns minutos, e eu ainda


estava conversando com os meus pais, pelo simples motivo de não fazer
ideia de para onde deveria ir.
Natalie estava se preparando para fazer as fotos e só pararia quando
fosse receber seu diploma, o time tinha o seu próprio lugar, assim como os
outros projetos que aparentemente aconteceram por decisão deles, Cameron
estava com os meninos, Lana e Calleb haviam sumido, e os outros com os
quais eu tinha amizade não eram parte dos formandos.
— Senhor e senhora Malik — ouvi Neji chamar.
Mamãe balançou a mão como se dispensasse as formalidades.
— Ah, querido, chame-nos pelo nome — ela disse o abraçando de
lado.
Ele beijou seu rosto e cumprimentou meu pai.
— Você se sente tão perdida quanto eu? — questionou-me.
Respirei aliviada.
— Muito.
— Ah, eu os encontrei— Melissa anunciou, e nós quatro, eu, meus
pais e Neji, a olhamos. — Os dois, para a frente, reservamos seus lugares.
— Mas…
— Andem, andem, sem reclamar — Melissa interrompeu Neji.
Acabamos rindo. Despedi-me de meus pais e segui para onde
Melissa estava caminhando, com o braço envolto no de Neji.
— Vocês estão bem? — ele questionou olhando a garota à nossa
frente, que falava com várias pessoas pelo caminho.
— Acredito que sim, não somos amigas, tampouco inimigas —
expliquei e dei de ombros.
— Aqui — ela disse, então se virou para nós e apontou para dois
lugares, em cima do palco e à direita do palanque.
Do lado desses lugares, à esquerda, estavam reservados o da diretora
Helena López, o de Anthony e o de Geórgia, que representavam Stanford, e,
à direita, os lugares de algumas pessoas que falariam na formatura.
Franzi o cenho ao ver que eram os lugares de Elliot e Cameron, mas
não questionei. Neji se sentou em seu lugar, e percebi que o meu era entre
Cameron e ele.
— Rebecca — Melissa chamou e apertou os próprios dedos.
— Sim?
— Sei que não temos muito tempo, mas… espero que possa me
perdoar pelo que fiz durante seu tempo em Liberty, foi muito… — Ela
soltou a respiração. — Eu fui horrível com você, disposta a ver alguém
cometer um crime e… — Sua voz falhou, e ela começou a abanar o rosto
com as mãos, para não borrar a maquiagem com as lágrimas.
— Quando Natalie me visitou, ela me falou sobre você e Karen
terem voltado a se falar, os projetos contra assédio sexual e violência que
implantaram em Liberty e… algumas outras coisas. Natalie e Peter me
falarem que alguma pessoa mudou é muito raro — disse rindo —, isso
basta.
— Eu sei, mas eu…
— Ora, Melissa, não borre sua maquiagem — a repreendi. — Tenho
certeza de que você tem coisas a fazer hoje — relembrei.
— Certo, certo.
Não era nada difícil reconhecer o toque de Cameron. Ele passou a
mão em minha cintura, logo envolvendo o braço e me puxando para si.
Melissa sorriu e mandou um beijo em despedida.
Me virei para Cameron e o fitei por instantes, vestido com sua beca
azul-escura e segurando o capelo, na mesma cor, em mãos.
— Você não tem nada para me contar? — questionei, e ele me
beijou.
— Sou o orador, eles me escolheram, não te contei?
— Se tivesse contado, eu não o questionaria.
— Ignorante — brincou mostrando a língua e beijou minha
bochecha.
— E, deixe-me adivinhar, Elliot será o juramentista?
— Isso mesmo — confirmou e beijou meu rosto.
A formatura começou, e, depois das apresentações, agradecimentos
e felicitações, foi o momento da entrega dos diplomas.
— Neji Mizuki e Rebecca Malik — a diretora chamou antes de
começar a ordem alfabética, eu e ele nos olhamos e caminhamos até ela
ouvindo os aplausos —, esses foram os alunos que concluíram o ensino
médio em Stanford e nos deram o privilégio de tê-los se formando conosco,
uma salva de palmas.
Os aplausos começaram, e os meninos do time gritaram meu nome
diversas vezes, fazendo-me rir; pegamos nossos diplomas e tiramos as
fotos, a diretora pediu que ficássemos próximos dela.
— Ela faz uma questão enorme de nos mostrar — Neji ironizou, e
eu dei risada, balançando a cabeça em concordância.
— Adam Wesley… Brian Smith… — Mais outros nomes foram
chamados até chegar a vez dele. — Cameron William Styles.
Ele cumprimentou a todos e, quando chegou em mim, me puxou,
me inclinou para o lado e selou nossos lábios.
— Eu te odeio — murmurei sorrindo.
— Ah, eu sei — debochou enquanto os meninos gritavam.
Depois de todos estarem sentados com seus diplomas em mãos, o
juramento de Elliot — com direito a gritos do time quando o nome do
cocapitão foi anunciado — foi feito, e, após ser finalizado, chegou o
momento do discurso.
— Gostaria de chamar o nosso orador, Cameron Sty…
E a diretora não conseguiu terminar, pois o barulho do time
sobrepôs qualquer apresentação.
— Boa noite, autoridades, homenageados — ele se virou para a
bancada onde estavam as autoridades, que são os diretores e os
homenageados, que eram dois professores escolhidos pelos alunos —, pais,
amigos, minha mulher — balancei a cabeça negativamente —, e,
principalmente, boa noite aos formandos!
— BOA NOITE, CAPITÃO! — alguns meninos do time gritaram
trazendo uma montanha de risadas.
O olhei por segundos, orgulhosa por ver aonde ele chegou.
— Sinceramente, não achei que seria orador da nossa formatura,
porque, na verdade, não achei que me formaria — brincou, e a alta onda de
risadas se estendeu pelo amplo anfiteatro. — A nossa história começou há
anos, e milhares de coisas aconteceram, entramos como adolescentes e
agora… somos jovens. É o fim dos nossos dias em Liberty e chegamos ao
momento em que devemos correr atrás dos nossos sonhos, atrás do que
queremos para as nossas vidas, mas somos jovens, jovens com o anseio de
ser alguém e ao mesmo tempo amedrontados. Se tem uma coisa que
aprendi, é que estamos no momento de nos descobrirmos. Não precisamos
sair daqui com a certeza de nada, porque estamos no começo de tudo. Não
sabemos lidar com tudo…
Sorri ao pensar nas suas palavras, sabendo que estávamos pensando
nisso, e ele continuou:
— Temos medo do novo, mas não podemos deixar que isso nos
impeça de seguir nossos sonhos, pode parecer algo típico de discurso,
porém sair do colegial agora é o maior acontecimento de nossas vidas, mas
não será o único. Não desistam dos seus sonhos, temos esta vida para viver,
nossa vida, nossos momentos, nossas vontades e nossos sonhos. A vida é
difícil, sair do colegial não é nada simples, mas não vamos nos limitar a
isso. Erraremos em nossas caminhadas, cairemos, nós nos levantaremos,
alguns vão parar no caminho e depois continuar, outros vão até o fim, mas
não desistam de si mesmos nem do que vocês desejam e sonham. Que em
nossos corações não cresçam palavras negativas, mas que sejam enormes as
positivas, as motivacionais. Lembrem-se: nada neste mundo pode parar
alguém que tem um foco, que tem um sonho. Que o medo não nos impeça
de arriscar e viver!
Os meninos do time puxaram aplausos carregados com a gritaria
deles, e eu me juntei a eles, fazendo com que Cameron precisasse fazer uma
pausa.
— Aos que planejam viajar e conhecer o mundo, desejo boa sorte;
aos que têm projetos depois do colegial, desejo boa sorte; para quem foi
aceito na sonhada universidade, dominem tudo; e, para quem vai para a
mesma universidade que eu: Stanford é nossa! — Os meninos do time
começaram a bater os pés no chão para que o barulho ficasse mais alto. —
Obrigado a todos!
— NÓS TE AMAMOS, CAPITÃO! — algumas pessoas, até
mesmo que não eram do time, gritaram.
— STANFORD É NOSSA, PORRA! — Peter gritou, e os meninos
do time se levantaram batendo palmas, fazendo o resto das pessoas se
levantar também.
Ele acenou em cumprimento e voltou ao seu lugar.
— Ficou perfeito, amor — sussurrei, e ele selou nossos lábios. —
Mas espero que você entenda que essas palavras servem principalmente
para nós, porque eu não tenho medo — afirmei e passei os dedos em seu
rosto.
— Você é impossível, Rebecca Malik — disse e sorriu.
Ao término da formatura, seguimos para o baile. Estávamos em um
daqueles momentos de filmes em que tudo parecia acontecer em câmera
lenta. Eu e Cameron dançávamos com os meninos do time, com nossos
amigos, e a pista de dança era nossa. Melissa e Samuel estavam juntos, e ela
parecia feliz; Peter e Lana dançavam animadamente, assim como Josh com
Calleb e Natalie com Elliot.
Andrew nos observava de longe, e, quando estava exausta, me sentei
com ele.
— Olá, senhor Payne — cumprimentei-o.
— Senhorita Malik, está muito bonita hoje — elogiou.
— O senhor também.
Ele sorriu.
— Assim que chegarmos à Noruega, faremos uma visita à minha
mais nova amiga — brinquei, e ele franziu o cenho.
— Como assim “faremos”?
— Plural abrange duas ou mais pessoas, achei que tinha estudado —
provoquei.
— Vá se foder, Rebequinha do Mel — implicou.
Senti os dedos de Cameron se afundarem em meus cabelos; com a
mão desocupada, ele cumprimentou Andrew e se sentou ao meu lado.
— Com licença, amigos, ou ficarei diabético — ele disse, em
seguida me olhou, olhou Cameron, e começaram a rir.
— Vocês são duas crianças — observei.
Andrew acenou e saiu.
— O que acha de darmos uma voltinha? — questionou beijando
meu pescoço.
Concordei, e Cameron me puxou pela cintura, tirando-nos do salão.
Ele pegou uma lanterna que a bibliotecária sempre deixava guardada e me
trouxe até um dos corredores de livros. Me encostei no apoio da janela e o
observei tirar o paletó.
— Por que eu estou sentindo que você tentou me tirar do baile por
um motivo além de querer ficar a sós comigo? — questionei, depois dos
segundos o analisando.
Ele ergueu o olhar e sorriu de lado.
— Nenhum detalhe passa desapercebido por você?
— Quando se trata do meu homem, não — rebati enquanto ele se
aproximava.
— Seu homem? — indagou subindo a mão em minha nuca e
afundou os dedos em meus cabelos.
— Estou errada?
— Jamais, sou todo seu — afirmou beijando meu pescoço a cada
palavra dita. — Queriam nos escolher para rei e rainha do baile, e,
conhecendo a minha mulher, sabia que não ia ficar muito confortável.
— “Minha mulher” — observei.
— Estou errado?
O olhei com sarcasmo e abri um sorriso.
— Bom, isso vai depender de…
Ele me calou com os dedos em meus lábios.
— Você é insuportavelmente insistente quando quer — afirmou e
passou a dobrar as mangas de sua camisa social, ainda estando de colete.
Fiquei observando-o por instantes, sem conseguir me mover ou
reagir de tão lindo e atraente que ele era.
— Você fica tão atraente assim. — Ele ergueu o olhar em minha
direção, e eu teria caído para trás se não estivesse encostada.
Ele apoiou as mãos uma de cada lado e aproximou os lábios dos
meus.
— Esse é seu jeito fofo de falar que me acha gostoso? — brincou e
eu engoli em seco, sentindo minhas bochechas corarem.
Abri a boca para falar, mas não saiu nada. Seus lábios roçaram em
minha bochecha, e eu coloquei a mão em seu abdômen para afastá-lo.
— Preciso tirar esses saltos, meus pés estão doendo — comentei
olhando para baixo, tentando desviar o assunto.
Inclinei-me para tirar os saltos, mas Cameron me impediu
colocando a mão em meu queixo. Ele manteve o olhar fixos em meus olhos
e foi se abaixando calmamente. Suas mãos foram para o fecho da sandália
esquerda e o soltaram, em seguida foi para a outra e fez a mesma coisa.
Desci dos saltos, sentindo um alívio enorme, e o olhei.
— Obrigada, amor — agradeci e mordi o lábio inferior, tentando
disfarçar o nervosismo.
Ainda de joelhos diante de mim, Cameron ergueu o olhar e sorriu
maliciosamente. Seus dedos passaram em minha canela até minhas pernas,
e, à medida que seu corpo se levantava suas mãos subiam, chegando às
minhas coxas por baixo do vestido.
A extensão da saia do vestido, que não era colada, agora cobria até a
metade de minhas coxas, onde as mãos de Cameron estavam escondidas,
próximo do shortinho que usava por baixo do vestido.
Com o peso de seu corpo, ele me empurrou e me pressionou contra
a parede, fazendo-me sentar no pequeno muro da janela, e ficou entre
minhas pernas enquanto apertava minhas coxas.
Seus olhos me observaram por segundos, azuis cintilantes, ele sorriu
e se inclinou. Prendi a respiração quando ele começou a beijar meu pescoço
devagar e foi subindo os beijinhos em minha bochecha até chegar aos meus
lábios.
Ele selou nossos lábios e se afastou, repetiu o beijo e se afastou.
— Você está cheio de graça, solte-me — reclamei, fingindo
impaciência, e ele sorriu, em seguida apertou minhas coxas e me impediu
de me afastar. — Acabou a graça, me solta.
— Acabou? — Ele olhou meus olhos, e, quando veio me beijar,
virei o rosto rindo. — Não vai me beijar mais?
— Não vou — respondi.
Uma de suas mãos continuou em minha coxa, enquanto a outra
subiu em minha nuca, e, com facilidade, ele me fez inclinar a cabeça para
trás.
— Tem certeza? — questionou, enquanto roçava os lábios em meu
pescoço, e começou a descer em minha clavícula, fazendo uma trilha até o
outro lado lentamente.
Abri seu colete pelos botões e passei as mãos em sua cintura. Ele
sorriu ao me olhar e selou nossos lábios puxando meu cabelo com firmeza.
Seus lábios se moviam contra os meus, enquanto meu corpo, e acredito que
o dele também, parecia queimar.
Ele pressionou ainda mais e mexeu a cintura devagar quando
colocou as duas mãos em minhas coxas, me puxando mais para si.
— Se você soubesse o quanto eu quero fazer isso dentro de você —
sussurrou e se mexeu outra vez.
— Amor… — Não consegui conter o gemido baixo, e ele devorou
meus lábios.
Arranhei sua nuca, sentindo sua respiração pesar e o beijo ficar mais
intenso. Ele parou para me olhar por instantes, seus olhos fixos nos meus
brilhavam intensamente. Sorrimos ao mesmo tempo, e nossos lábios se
encontraram novamente. Com as alças descendo em meus ombros, o
vestido parecia que a qualquer momento me deixaria em apuros.
— Cam — disse após afastar nossas bocas —, você vai acabar
tirando meu vestido desse jeito — brinquei tentando aliviar a tensão.
— Não me parece nada ruim — brincou de volta enquanto levantava
as alças; antes de se afastar, abaixou a saia do meu vestido e me deu um
selinho.
Ele se sentou na cadeira em que seu paletó estava e passou a mão na
nuca enquanto tomava o controle de sua respiração. Desci do muro, me
sentei na cadeira ao seu lado e coloquei novamente os saltos.
— Já sabe da viagem para a Noruega? — questionei tentando fazê-
lo se distrair.
Ele balançou a cabeça em concordância.
— A casa que compramos é enorme; se achou a casa de campo
exagerada, espere só para ver a da Noruega. Só perde para o palácio —
brincou, e eu o olhei impressionada. — Podemos voltar agora — comentou
antes de se levantar.
Concordei, e voltamos ao salão onde estava acontecendo o baile;
antes de entrarmos, segurei-o pelo braço.
— O que foi? — questionou confuso.
Ri da bagunça de seus cabelos e os arrumei, em seguida passei os
dedos nos meus.
— Agora, sim, podemos entrar — afirmei, e ele sorriu e beijou o
topo da minha cabeça.
Chegamos ao exato momento em que Lana e Peter recebiam as
coroas, os meninos gritavam e aplaudiam sem parar. Lana me olhou e
mandou um beijo no ar, Peter acenava de uma forma engraçada. Lana
agradeceu, e Peter pegou o microfone logo em seguida. Cameron me
abraçou por trás com os braços envoltos em minha cintura.
— A gente quer aproveitar para falar uma coisa, capitã — iniciou e
me olhou com um sorriso. — Eu e Josh passamos na prova de Stanford
graças a você e ao pessoal que nos ajudou com as notas esse ano! VAMOS
DOMINAR TUDO, PORRA! — gritou, e os meninos do time gritaram de
volta.
Ouvir aquilo fez meu coração bater forte e as lágrimas de felicidade
escorreram em meu rosto, Josh caminhou na minha direção, e eu o abracei
quando me soltei de Cameron. Quando Peter se aproximou, chorei ainda
mais o abraçando e, no fim, abracei os dois.
— Eu falei que vocês iam conseguir! — afirmei limpando o rosto.
— Não só a gente, Eric, Adam, Brian, Elliot e o capitão também vão
— Peter afirmou, e os que foram citados se aproximaram.
Abracei cada um deles e os parabenizei; agora, sim, me sentia
completa em relação aos meninos do time. Sabia que não era por mim que
eles tinham conseguido chegar a isso, mas saber que tive uma pequena
parcela nisso me animava. A dança do rei e da rainha do baile foi
anunciada, nós os observamos dançar, e, em seguida, Cameron me puxou
para dançar também.
— Não é engraçado pensar que você achou que não dançaria
comigo no baile? — questionei baixinho em seu ouvido enquanto
dançávamos lentamente no ritmo da música.
Ele sorriu, me girou e me puxou para si novamente.
“Coração bate mais forte, o tempo foge de mim. Isto se torna difícil e as lágrimas escorrem pelo meu
rosto. Se nós apenas pudéssemos ter essa vida por mais um dia. Se nós apenas pudéssemos voltar no
tempo”.
Moments – One Direction

Como de costume, os meninos estavam fazendo sua enorme


bagunça na piscina da casa de campo. E era bom, porque assim se tornava
possível mascarar a tensão que viria no momento de conversar com
Rebecca sobre o casamento arranjado com a monarquia.
Entrei no quarto com alguns lanches para comermos e percebi que
ela conversava com Deborah por ligação.
Deixei a bandeja na mesa de frente para o sofá e me deitei nos seios
de Rebecca, logo envolvendo os braços ao seu redor.
—…não estarei em Oslo quando você vier, a quimioterapia da
minha mãe é em outro estado, mas espero que aproveite muito — desejou.
Rebecca estimou melhoras para a mãe de Deborah, elas se
despediram e encerraram a chamada.
— Quimioterapia?
— Eles descobriram recentemente, por isso ela estava tão chateada
no desfile e bebeu muito, assim acabou passando mal — explicou.
— Espero que dê tudo certo.
— É, eu também — confirmou.
— Trouxe algumas coisas para comermos e… conversarmos — eu
disse, sentando-me no sofá, e ela arrumou sua postura e se sentou também.
Rebecca entrelaçou os dedos nos meus e beijou as costas de minha
mão.
— Eu te amo.
— E eu te amo, meu amor, é por isso que não quero que se envolva
nisso.
Ficamos nos olhando por instantes. Tomei um gole de água, e ela fez
o mesmo. Pensei e repensei em como começaria.
— Cam…
— Eu te amo, nunca foi por falta de amor que eu quis afastá-la de
mim — afirmei beijando sua mão. — Isso tudo começou antes de eu ter
nascido…
A observei, lembrando-me de que ela sabia de alguns detalhes.
— Até onde você sabe?
— A avô de Astrid fez um tratado com a máfia quando Astrid tinha
menos de um ano e você ainda não tinha nascido, mas não sei o motivo do
tratado.
Pensei um pouco enquanto passava os dedos em meus cabelos.
— Meu bisavô paterno, Charles, foi quem começou o histórico dos
Styles com a máfia, antes do meu avô William nascer. Charles foi
selecionado pela máfia estadunidense, porque as empresas de nossa família
estavam grandes e conhecidas, e, por meio delas, ele passou a transportar
drogas, armas, carros e dinheiro de todas as formas, mas a principal era em
barras de ouro. Ele não pensou duas vezes em aceitar e passou a elaborar
planos diretamente com o chefe. E o dinheiro que saía disso, se
quiséssemos, manteria o luxo de cinco gerações sem ao menos precisarem
trabalhar.
Rebecca arregalou os olhos de surpresa e tomou um pouco de água.
— Os negócios se expandiram, primeiro para os estados daqui, mas
depois para outros países, e na Noruega foi onde a máfia se infiltrou de
alguma forma, então ele se tornou o subchefe da máfia estando na Noruega
e transportando diversas coisas. A empresa da minha família cresceu muito
rápido, e isso chamou a atenção da monarquia, então Charles decidiu abrir
uma empresa com tudo legalizado, apenas uma para acobertar, mas a
principal continuava com coisas ilegais.
Suspirei. Todos os meus esforços de não contar a Rebecca sobre o
casamento forçado tinham sido em vão. Ela estava na minha frente a me
ouvir com toda a atenção. Não tinha para onde correr. Eu contaria tudo e
não a deixaria se envolver em nada.
— Charles era praticamente o chefe da máfia na Noruega, e isso não
incomodava o chefe da máfia dos Estados Unidos, porque eles ganhavam
muito dinheiro, mas a monarquia decidiu investigar, e não demorou muito
para que a avó de Astrid, a rainha na época, descobrisse tudo e o prendesse.
A rainha Sigrid estava para banir Charles, minha bisavó já havia falecido e
meu avô William estava casado com vovó Meredith, mas Charles era
esperto e preparado. Então disse que bani-lo seria um erro e que ele poderia
ajudar a manter a riqueza do país e o controle da máfia estadunidense se
criasse um vínculo entre nossas famílias, porque a máfia sempre teria o
controle de nossos atos, até a quinta geração de Charles, ou seja…
— A de William, a do seu pai, a sua, dos seus filhos e netos — ela
completou.
Balancei a cabeça positivamente.
— Continue, por favor — pediu.
— Acredito que isso seja motivo o suficiente para…
— Eu vou esperar o fim da história para começar a falar —
interrompeu.
Soltei a respiração, irritado e contrariado. Rebecca não era fácil, e
eu a amava. Porra, eu a amo.
— E, para esse vínculo seguir até a quinta geração, precisava que
alguém da família Styles se casasse com alguém da monarquia, não poderia
ser alguém com antecedentes criminais, problemas com drogas ou qualquer
boato.
— Foi Charles quem propôs isso?
— Não, a proposta era que seu único filho trabalhasse para a realeza
e que seus primogênitos também, até a quinta geração, mas Sigrid queria
mais. Alegou que, mesmo que cinco gerações dos Styles ficassem no
palácio, futuramente poderiam levar informações a pessoas que iniciariam
uma guerra, que ajudariam a enfraquecer o país, saber de segredos sigilosos
e tantas outras coisas, mas que, se os Styles se tornassem família, parte da
monarquia, não iriam desejar destruir as próprias famílias nem iriam expor
o segredo do vínculo pelo dinheiro entre a família e a monarquia .
— Mas inicialmente o casamento não poderia acontecer, porque
William já estava casado.
— Exatamente.
— E seguiu para o primogênito do seu avô, seu tio Thomas?
Neguei balançando a cabeça.
— Para Charles, Thomas não era adequado, não era bom, por isso
ele simplesmente descartou a ele e a seus filhos. Meu pai sempre foi o único
favorito, fosse para receber a herança, fosse para… apanhar — disse
franzindo o cenho pela agonia que se passou pelo meu corpo.
Rebecca abriu um pouco os lábios.
— Em algum momento, na piscina ou na praia, você deve ter visto o
“X” enorme que tem nas costas do meu pai — comentei.
— Eu… eu… ele dizia ter sido por um acidente de moto — ela
disse, parecendo surpresa e de coração partido.
— Ele dizia isso para mim até pouco tempo — expliquei, e ela
abaixou o olhar.
— Eu sinto muito.
— Eu também.
E ficamos em silêncio por alguns instantes.
— Meu pai era o próximo da geração que sofreria as consequências,
mas, quando a rainha disse que tinha uma filha mulher, irmã do rei Erick,
meu avô William tratou de arranjar um casamento entre meu pai e sua mãe.
Nós nos olhamos e rimos.
— Ainda bem que não deu certo, e isso explica o casamento
arranjado da mamãe.
— Mas ela fugiu com seu pai, e meu pai ficou com a minha mãe,
aparentemente eles ficaram juntos na noite em que seus pais fugiram —
completei.
— Não me surpreende — afirmou. — Então seu pai não poderia se
casar, porque se casou com Eliza, mas — ela deu uma pausa — ele sabia
que o filho seria o próximo a passar por um casamento arranjado?
— Na verdade, ele não fazia ideia de que o casamento arranjado era
por conta da monarquia, meu avô William dizia que era por negócios.
Ela pareceu pensativa e então disse:
— Entendo que não quer que isso se estenda aos nossos filhos, mas
acredito que tenha mais coisa — disparou.
Respirei fundo e me levantei.
— Castiel nunca foi uma possibilidade, nem mesmo Jeremy ou
qualquer outra pessoa. Charles deixou claro para a rainha que só a geração
do meu pai serviria, então ficou para mim. Quando Charles faleceu, meu
avô conseguiu desvincular nossa família da máfia nas empresas, mas não na
vida, eles nos rondam desde sempre. Com a monarquia, não era possível
desfazer o vínculo, e, como Astrid tem menos de dois anos para atingir a
maioridade, veio à tona o casamento, querem que ela seja coroada quando
estiver casada. — Rebecca soltou a respiração como uma advertência de
que detestava aquela situação. — E então vieram atrás de nós na noite em
que você partiu para as férias, não há nada que impeça o nosso casamento.
— Não há nada?
Ignorei o que ela queria dizer e dei continuidade, sabendo que ela
detestaria aquilo.
— Astrid foi criada para um casamento arranjado, a avó dela não lhe
deu a possibilidade de se apaixonar e se casar, mas, se com a outra parte
isso tiver acontecido, no caso, eu, não terá como impedir, não há nada
que…
Ela se levantou abruptamente e me olhou nos olhos.
— Conte-me tudo! — exigiu. — Você prometeu — completou.
Ficamos nos olhando por segundos.
— Se noivarmos, teremos que comparecer a um jantar com a chefe
da máfia estadunidense e com a realeza, e, se nos casarmos, a cerimônia e a
festa serão presentes dos monarcas, uma festa enorme com convidados
nossos, deles e a máfia, eu não posso…
— Cameron, minha família foi da máfia. Os jantares que frequentei
não eram apenas com clientes, meus avôs paternos foram amigos diretos
dos chefes da máfia, todo ano eles viajam para comprovar que não possuem
vínculo com nenhum inimigo. Sabe que escuto atrás da porta quando quero
descobrir alguma coisa — admitiu e eu balancei a cabeça, tentando
disfarçar o sorriso. — As viagens repentinas dos meus pais, as mudanças de
países, de casas… Não me trate como ingênua, não é só você que tem
família nisso.
— Como prova de fidelidade ao país, ficaremos dois anos a serviço
da monarquia morando no palácio e seremos obrigados a fazer um
juramento perante ela de que jamais contaremos quaisquer coisas que
acontecerem durante a nossa estadia no palácio — ela prendeu a respiração
— e, quando voltarmos aos Estados Unidos, ficaremos sob a supervisão da
máfia pelo resto de nossas vidas, para todos terem a certeza de que
manteremos nossa palavra, em qualquer estado que ficarmos.
— Isso não é tão surpreendente, eles certamente não estão errados
em exigir que mantenhamos nossas palavras, e não será difícil, afinal
estaremos entre…
— Rebecca, não, nada vai mudar o meu pensamento!
— Mas…
Continuei:
— Você precisará engravidar em dois anos, teremos que ir ao
palácio quando nosso filho ou filha completar dois anos, você terá que
abdicar dos seus sobrenomes e carregar apenas o sobrenome Styles! Acha
que eu não tenho o sobrenome Hansen, da minha mãe, por quê? Charles
controlou tudo o que pôde! Eu não posso deixar que eles mudem todo o
curso da sua vida, que coloquem em risco a nossa geração — afirmei,
desesperado.
Ela ficou em silêncio, assimilando o que tinha ouvido.
— Preciso que você entenda o tamanho do risco que corre. Não
quero uma vida para você que seja sob a supervisão da máfia, ou que você
precise deixar seus sobrenomes como se não fossem nada, nem que coloque
em risco as nossas gerações. Se não for eu, serão os meus filhos que
precisarão criar um vínculo com a monarquia.
Nossos dedos se entrelaçaram.
— Eu não deixarei de ser uma Nogueira-Malik por causa dos
sobrenomes, minha vida toda foi debaixo da supervisão da máfia, e, quanto
aos nossos filhos, a nossa estadia no palácio, temos Astrid, que quer
resolver isso tanto quanto nós e…
— Não, não adianta, e não podemos contar com a possibilidade de
Astrid conseguir mudar alguma coisa. E você seria um brinquedinho na
mão deles assim como eu vou ser.
— Vai ser? — questionou me encarando. — Então tomou sua
decisão?
— Se não tiver outro caminho, sim, esse casamento com Astrid vai
acontecer. Você não vê, Rebecca, o tanto de coisa que vai ter que deixar de
fazer por mim, ou o que precisará fazer por minha causa?
— Cameron — ela pegou minhas mãos e se abaixou em minha
frente —, pense comigo: a avó de Astrid fez um tratado ligado à máfia que
seu bisavô comandava, e, depois que ela faleceu e Charles também, Erick
teve autoridade o suficiente para dar o passe de liberdade ao seu avô
William, assim findando oficialmente a máfia na Noruega. Ou seja, Erick
passou por cima de um certo ponto do tratado, mas não dele inteiro. Quando
Astrid for a rainha, ela poderá fazer o mesmo, teremos possibilidades.
— Mas, Rebecca…
— Meu avô Marcus tem um acordo com a máfia, somos vigiados
desde sempre, e eles não se envolvem no que fazemos, não falam nada e
não interferem em nada. Minha vida seria a mesma coisa assim como a sua.
Sei lidar com o jantar, com a supervisão e…
— Um casamento forçado? Um filho planejado por outras pessoas?
Não saber até quando a faculdade será adiada?
Caminhei na direção contrária dela e me afastei.
— Casamento forçado? — Uma forte irritação tomou conta de sua
voz. — Acha que eu estaria sendo forçada a me casar com você?
— E você quer se casar, por exemplo, daqui a meses?
— Não íamos fazer isso?
A olhei incrédulo.
— Não para evitar outro casamento! — expliquei irritado. — E
depois um filho — gargalhei, com raiva, ódio e fúria —, incrível, não acha?
Ela me olhou como se duvidasse de tudo o que estava ouvindo.
— Cameron, e se Astrid…
— Chega! — esbravejei.
Seu olhar mudou repentinamente, talvez porque nunca houvesse
gritado com ela, e seus olhos irritados cravados em mim me fizeram sentir
arrependimento na mesma hora.
— Você não pode contar com expectativas em outra pessoa — disse
com certo receio na voz.
Ela caminhou na minha direção sem tirar os olhos dos meus e parou
em minha frente.
— Se você acredita que gritar comigo me fará te obedecer ou mudar
minha opinião, está completamente enganado — afirmou, sem poupar a
irritação em sua voz. — Não ficarei em seus braços enquanto você estiver
cogitando me colocar de lado e se casar com outra. Eu entendo seu
desespero, Cameron, mas você nem ao menos quer tentar resolver as coisas
comigo, e sim por mim. Você — ela me empurrou pelo abdômen, fazendo-
me sentar no sofá — me subestima, Cameron William Styles! Você me
subestima em achar que não vou saber lidar com um casamento, com as
coisas do palácio, ou pior, que eu não sei me defender.
— Rebecca, não é se defender de qualquer coisa, é a máfia
estadunidense.
Ela riu com sarcasmo, deixando-me entender que eu estava piorando
tudo.
— E ainda acha que gritar comigo me fará lhe obedecer.
Rebecca se afastou e começou a arrumar a mochila dela.
— Becca, vamos conversar, por favor. Não queria ter gritado com
você — disse, sentindo pontadas no meu estômago e minha pele trêmula.
— Amor…
— Não me chame de amor. — Ela fechou a mochila, pegou o
celular e me olhou. — O que você está fazendo, Cameron, é egoísmo com
Astrid, egoísmo comigo e até mesmo com Andrew. Estou disposta a largar
o que for necessário para ficar com você, mas, se você não está, se você não
vê que podemos lidar com as coisas daqui para a frente, então não posso me
humilhar mais… e ficar sem você, vai acabar comigo.
Ela caminhou até a porta e pegou a chave digital reserva, pois mudei
a segurança da casa, e agora era possível entrar apenas com aquela chave,
porque, com a minha digital, as funcionárias da limpeza não entravam.
— Rebecca, esse casamento não seria como planejamos, nada seria.
— Eu não me importo, Cameron. — Ela jogou a alça mochila no
ombro direito.
Prendi a respiração quando ela passou as mãos surpreendentemente
em minha cintura, enquanto seus olhos estavam cravados nos meus.
— O que você não entendeu ainda é que meu amor por você não é
forçado.
Ela beijou minha bochecha e se afastou indo até a porta. Eu me
mantive parado como uma estátua e olhei para o chão, dando-me conta de
que havia estragado tudo.
A porta se abriu, e ela passou para o outro lado.
— Mas vou lhe provar, Cameron, que você não devia ter me
subestimado assim e muito menos ter gritado comigo.
Levantei meu olhar.
Quando as palavras terminaram de sair de seus lábios, ela sorriu
enquanto mostrava meu celular em suas mãos, a chave digital original que
estava em meu bolso e a chave manual.
— Rebecca! — chamei no momento exato em que a porta se fechou.
Ela me trancou no meu quarto. Sem chaves, sem celular, sem a
possibilidade de pedir a alguém que não a deixasse sair, não a tempo.
Ela sabia que meus outros meios de comunicação não estariam no
quarto? Era claro que sabia! Rebecca me trancou, na porra do meu próprio
quarto.
— REBECCA! — gritei enquanto batia na porta. — Mas que porra!
— esbravejei ao me relembrar que o quarto era à prova de som.
Maldição!
“Garoto você sabe que adora como sou esperta o bastante para ganhar
milhões, forte o suficiente para lidar com as crianças e depois voltar aos
negócios. E você… vai fazer qualquer coisa para mim”.

Run The World – Beyoncé

Texto Descrição gerada automaticamente

Em minutos, consegui fazer Andrew e Ned aceitarem viajar comigo e


encontrei Alec antes de conseguir sair da casa.

— Senhorita — chamou.

— Você estará ao meu lado, ou ao lado de Cameron? Porque, se ele souber


onde estou…

Antes que eu terminasse, Alec retirou o celular, as escutas, o relógio e um


rastreador que estava por dentro de seu terno.

— Estou com você.

Balancei a cabeça em concordância, e corremos para o aeroporto, onde meu


pai havia conseguido nossos voos para a Noruega.

— Eu não faço a menor ideia do que estou fazendo aqui — Andrew


manifestou após estarmos em nossos lugares no avião.

— E, mesmo assim, aceitou vir — Ned observou, e nós quatro começamos


a rir.

— Ser amigo de Rebecca tem exigências.

— Ser segurança também, é um grande desafio — Alec disse.

Fiz uma careta para os três.


— Iremos resolver algumas coisas quanto a situação de Cameron e…

Parei de falar quando os três me encararam.

— Não importa — completei. — Astrid concordou em nos receber no


palácio, assim como o rei e a rainha. Eu preciso que vocês prometam que
não vão falar para Cameron ou para qualquer pessoa que possa falar para
ele — pedi, revezando o olhar entre os três.

— Não falarei nada — Ned foi o primeiro a dizer.

— Muito menos eu — Andrew disse.

— Tem a minha palavra — Alec completou.

Suspirei aliviada e me recostei na poltrona. Entendia Cameron e seus


medos, entendia que ele não queria colocar minha segurança em risco, que
temia minha infelicidade ou o risco com os nossos filhos. Entendia seus
pontos, mas ele parecia simplesmente querer desistir, e eu não suportaria
que ele se casasse com outra pessoa contra a sua vontade, não suportaria
vê-lo infeliz e perdê-lo. Meu coração doía só de pensar nisso.

Em Oslo, Noruega,

Ter., 20h31, dezembro

Entramos no palácio com facilidade e totalmente escondidos. Eu e os


meninos jantamos em meu quarto, a fim de sermos vistos pelo menor
número de pessoas possível.

Astrid havia me dito que iríamos conversar hoje à noite, para agilizarmos
as coisas. Ela parecia tão ansiosa quanto eu para resolver toda aquela
situação, o que era compreensível, visto que toda a sua vida poderia mudar,
assim como a de Cameron.

Sentei-me no colchão macio e observei o quarto todo, após a saída dos


meninos. Quando a estante de livros começou a se mexer para o lado,
pensei estar alucinado, até a silhueta de Astrid aparecer e logo se
personificar na própria princesa.
Então, me dei conta de que estava parada como uma estátua de pedra, até
que ela me olhou e sorriu. Astrid vestia uma camisola, que era um vestido
longo, e parecia majestosa como sempre.

— Alteza — eu disse e fiz uma reverência.

— Ah, por favor — pediu e começou a rir. — Como foi seu jantar? Espero
que não tenha se importado em ter acontecido aqui em seu quarto com os
meninos, acredito que, quanto menos pessoas os verem, menos pessoas
saberão.

— Não foi incômodo nenhum, estar com os meus seguranças e Andrew me


traz um ar familiar e amigável, me sinto segura — expliquei.

Olhei para uma direção sem motivo algum, pensando em quão confortável
e familiar era estar perto de Alec e Ned durante todo esse tempo.

— Fico feliz por isso, pode me acompanhar? — pediu.

Concordei e, depois de deixar apenas a luz do abajur ligada, a segui.

— Claro, alteza.

— Astrid — corrigiu —, apenas Astrid.

Entramos na passagem secreta, subimos uma escada, passamos por um


corredor e, quando me dei conta, estávamos em seu quarto, que era três
vezes maior do que aquele em que estávamos anteriormente.

— Uau — eu disse, admirada, e ela riu de minha expressão.

— Exagerado?

— Lindo, na verdade — afirmei.

Ela sorriu enquanto me olhava, e sua expressão ficou tensa repentinamente.

— Você… gostaria de ver meu closet? — questionou com receio.


Olhei-a e abri um sorriso animado.

— Eu adoraria! — respondi entusiasmada.

Ela agarrou meu braço e me puxou para duas portas, empurrou-as, abrindo
o closet e mostrando tantos vestidos que não era possível contá-los, sapatos
e mais sapatos, conjuntos de terninhos e saias ou calças sociais, camisolas
longas e mais um monte de outras roupas.

— Que coisa mais linda, Astrid! — elogiei, atônita.

— Não uso metade do que tenho, mas aqui é o meu lugar favorito.

Olhei-a, sorrindo, e ela apontou para o lado vazio do sofá.

Me sentei e ela logo se virou em minha direção.

— Quero ser totalmente sincera com você, estamos do mesmo lado,


queremos a mesma coisa, então…

— Astrid — toquei sua mão, pois ela não parava de apertar os próprios
dedos —, somos aliadas, estou aqui para expor tudo o que Cameron me
contou e para encontrarmos uma solução para nós, todos nós — enfatizei.

Ela balançou a cabeça em concordância.

— Mas eu gostaria de saber uma coisa — comentei.

— O que seria?

— Ele não é apropriado? — questionei ao me lembrar de que Charles


desconsiderou a existência de todos os netos, exceto Arthur.

Astrid soltou uma risada alta que, na frente de qualquer outra pessoa, seria
contida pelos pais ou algum familiar que fosse seu representante.

— Cameron é o ideal. Meus pais o adoraram, e, quando o vi pela primeira


vez, o achei a pessoa mais bonita que já havia visto. Fiquei encantada —
admitiu gesticulando com as mãos —, e ele não deixou de ser bonito,
mesmo que agora eu ache Andrew mais…

Ela parou de falar e me olhou. Sorrimos juntas, e eu balancei a cabeça em


concordância, como indicação de que havia entendido.

— No jantar na casa do senhor William, Cameron tentava me deixar à


vontade, mas conversava pouco e estava extremamente desconfortável. Ele
estava odiando cada segundo comigo, ou melhor, com o peso que a minha
presença ali trazia.

— Como percebeu isso? — questionei.

— Ele fingia muito bem, com excelência e perfeição, mas fingir é uma
especialidade para mim, não foi difícil notar. De qualquer forma, naquela
hora soube que não seríamos felizes. Talvez poderíamos ficar bem por um
tempo, mas não duraria, e o casamento se tornaria um fardo.

— Entendo.

Ela segurou minhas mãos e me olhou no fundo dos olhos.

— Preciso que me conte tudo. Não quero me casar com Cameron. Parecia
uma ótima ideia, mas, depois da noite da luta, depois do desfile… não
consigo imaginar o quão infeliz seremos. Isso vai nos destruir, Rebecca,
todos nós — disse, como uma súplica.

Então começamos a falar, compartilhando o máximo de informações que


conseguimos durante esses dias, contei tudo o que sabia e, quando ela ficou
em silêncio, pensativa, sabia que tinha algo muito importante em mente.

— Não quero ofendê-lo, mas acho que Cameron não está raciocinando
direito — iniciou, fazendo-me franzir o cenho.

Eu a segui quando ela caminhou para fora do closet. Ela ergueu o olhar em
minha direção e pegou uma pasta que estava escondida embaixo de vários
livros. Astrid a abriu e tirou de dentro alguns papéis, em seguida os leu com
atenção.
— Esta é a cópia do contrato que consegui com minha mãe, e que meu pai
não descubra isso — disse sorrindo e então apontou para a 23ª cláusula do
contrato.

Ela leu a cláusula, que tinha uma linguagem difícil, e me olhou ao começar
a explicar:

— Esta cláusula é de uma alteração feita pelo meu pai quando o avô de
Cameron quebrou totalmente o vínculo com a máfia. Então, o que esta
parte significa é que, se Cameron estiver casado com outra pessoa que não
seja eu, nossas famílias não serão obrigadas a ter vínculo matrimonial no
futuro, nossos filhos não serão obrigados a absolutamente nada, apenas nós;
no caso, você e Cameron e eu e meu marido teremos o vínculo de nossa
amizade e contratos para manter o sigilo de qualquer assunto tratado no
tempo em que vocês passarem no palácio, ou de quaisquer assuntos que
souberem, mas nossos filhos não sofrerão as consequências, acredito ser
um detalhe que ele deixou passar.

Senti os músculos de meu corpo relaxarem ao ouvir isso. E uma sensação


diferente, incomum e arrebatadora cresceu em mim ao pensar em ter filhos
com Cameron, e eu definitivamente daria minha vida por eles, sem ao
menos saber quem são ou quando viriam, e não estava no caminho de ter
um agora.

— Não será necessário um casamento entre nossas famílias, porque os


contratos sigilosos serão rigorosos na questão de manter segredo, foi assim
que conseguimos desfazer a necessidade de um laço matrimonial.

Acenei positivamente, era compreensível termos rigor nos contratos.

— Esse contrato só podia ser alterado uma vez, Rebecca, e meu pai fez essa
alteração por odiar o que minha avó fez comigo e por não querer fazer o
mesmo com os netos dele. Sinto muito, mas, quanto a estar sob supervisão
da máfia estadunidense, estar grávida no período de dois anos e passar anos
a serviço do palácio, nada disso poderá ser alterado — disse desanimada.

Seus olhos encontraram os meus, ela parecia tão triste quanto eu em não
poder reverter a situação, mas o meu maior medo, o de acabar
influenciando a vida dos nossos filhos, não perdurava mais.

— Quanto ao seu sobrenome, foi uma exigência integral de Charles, para


que o sobrenome dele jamais morresse, para que — ela suspirou — ele
tivesse o controle de quem aceitasse entrar nessa situação.

Dei de ombros.

— Não deixarei de ser da minha família por conta do sobrenome. Sempre


foi algo muito importante para mim, sim, mas, diante das circunstâncias,
temos coisas mais sérias com que nos importarmos — admiti, mesmo que
fosse contra todo o meu planejamento, eu não perderia Cameron.

Astrid me olhou como se uma luz tivesse surgido em sua mente.

— Considerando que eu posso ser coroada ano que vem, eu quem vou
definir quando vocês precisarão vir para o palácio, ou seja, posso fazer com
que o tempo que seu filho tenha que ficar no palácio seja o mesmo que o de
vocês, assim eliminaremos dois anos que vocês precisariam atrasar na vida
de vocês — explicou eufórica.

Abri um sorriso em concordância com o ponto a que ela se referia e


entendendo-o.

— Imagino que pensar em ser mãe em um tempo tão curto não estivesse
em seus planos, e eu sinto muito por não poder mudar isso, eu precisarei ter
um herdeiro ou uma herdeira nesse tempo também.

Parei e pensei um pouco, mas todas as circunstâncias e consequências ainda


não bastavam para me fazer desistir.

— Entendo suas preocupações, Rebecca, minha vida tem sido controlada


desde sempre, não posso te pedir algo assim, e não vou, é um direito seu
não querer.

A olhei e seus olhos diziam muitas coisas, inclusive aparentavam medo.

— Não há a menor possibilidade de eu desistir de Cameron.


Ela soltou um suspiro de alívio que parecia ter vindo do fundo de sua alma.
Acariciei a mão de Astrid como se fosse eu e Natalie ou Nicolly
conversando.

— Eliza disse que, quando o assunto é você, Cameron tende a ser mais
teimoso que o normal na questão de achar que está fazendo o certo — ela
riu quando soltei suas mãos, e nos sentamos em um sofá do quarto.

— Cameron abomina a ideia de estar me forçando a algo, principalmente


quando o assunto é casamento, e, depois da cerimônia… — torci o nariz,
me dando conta de que aquilo possivelmente agregava na situação — a lua
de mel, ele deve pensar que, além de me casar, vou me sentir forçada a isso
também. Ele não está no seu juízo perfeito.

Ela arregalou os olhos, surpresa.

— Por Odin, eu não havia pensado nisso — confessou. — Soube do que


aconteceu com você e… — Ela procurou uma forma de dizer aquilo, e
pareceu não achar.

— Turner?

— Sim, ele mesmo, mas não pensei que Cameron acreditaria que poderia
fazer algo semelhante com você, confesso.

— E não pode, de forma alguma, mas acredito que esteja pensando em


tudo, inclusive que isso possa ser uma possibilidade, sendo que está fora de
cogitação. Eu e Cameron já quase adiantamos a lua de mel mais vezes do
que eu me lembro.

Ela sorriu ao me ouvir.

— Mas, quando falo isso, ele não acredita. Está convencido de que vou me
casar para impedir o casamento de vocês, sendo que íamos nos casar em
breve de qualquer forma — expliquei.

— Talvez ele possa escutá-la agora que sabemos como resolver pontos
importantes e, o principal, nossos filhos poderão escolher com quem vão ou
não querer se relacionar.

Por instantes, acreditei que grande parte das coisas estava resolvida, mas
ainda havia outros pontos.

— Cameron me informou que precisaríamos ter uma conversa com o rei, a


rainha e a chefe da máfia para a aprovação do casamento. É possível que eu
fale com os seus pais antes desse jantar?

Ela sorriu.

— Meus pais não têm objeção alguma ao casamento de vocês; pelo


contrário, eles estão ansiosos para que isso aconteça e coloque um fim na
minha falta de escolha quanto a com quem vou me casar; se Cameron fizer
o pedido, eu lhe asseguro que não haverá interferências, posso afirmar que
não precisa se preocupar em falar com ele.

A olhei, um pouco em dúvida.

— Rebecca — ela tocou minha mão —, não pense que não sabemos o que
aconteceu no desfile, Cameron não sabe disfarçar, e você também não.

Por instantes, congelei.

— Não se preocupe, ninguém os culpa — acrescentou.

— Obrigada por isso — eu lhe agradeci, com sinceridade. — Astrid.

— Sim?

— Você conhece a chefe da máfia estadunidense? — perguntei.

Finalmente, percebi que agora aquela seria a última questão a ser resolvida:
falar com a chefe da máfia. Astrid franziu o cenho, confusa e surpresa.

— Você a conhece — alegou.

Meu mundo pareceu parar. E, se minha intuição estivesse certa, eu… teria
passado dias com a própria chefe, teria dormido em sua mansão,
participado de seus eventos e a visto de perto, durante esse tempo todo!

— Eu a conheço? — perguntei tão baixo que não tinha certeza se as


palavras haviam saído de meus lábios.

— Você está brincando? — indagou após soltar uma alta risada.

Quando viu que eu estava tensa, passou a ficar séria.

— Oh, Rebecca, desculpe-me. Eu pensei que… durante todo esse tempo…

Ela respirou fundo e se recompôs, para então dizer:

— A chefe da máfia estadunidense é Antonella Loughty, eu pensei que…

A voz de Astrid ficou longe, e eu senti todo o sangue que percorria meu
rosto se esvair. Minhas mãos suaram frio. Por mais que eu desconfiasse
durante todo esse tempo, ainda assim, era demais para mim.

— Rebecca…

Recostei-me no sofá.

Antonella Loughty.

A estilista que fez o meu vestido.

Que jantou na minha casa.

Que eu dormi na casa dela e com quem estive…

Ela era a chefe.

— Rebecca, oh, você está pálida! — observou.

A olhei depois de segundos fora de mim, com a mente em qualquer outro


lugar que não fosse aqui.

— Peço desculpas, alteza, eu… não esperava — afirmei.


Ela me entregou um copo de água gelada e me ofereceu um sorriso
amigável.

— Eu quem devo me desculpar, achei que você tinha conhecimento.

Tomei um gole de água e olhei em sua direção, com a visão ainda turva e
tomando forma.

— Preciso falar com ela — anunciei.

— Você não parece muito bem, tem certeza?

— Sim, com certeza, o quanto antes.

Pensei um pouco para então dizer:

— Antonella é estranhamente próxima e gosta de mim desde o primeiro


momento em que fomos apresentadas. Ela tem um ar muito familiar, talvez
para questões da… — engoli em seco — máfia ela não seja tão familiar,
mas acho que a conversa será melhor do que se fosse com alguém
desconhecido.

— Rebecca, ela a venera — Astrid disse, olhando em meus olhos —, há


dois dias veio entregar um vestido de minha mãe e falou muito bem de
você, além de ter declarado que você poderia consertar o que minha avó e o
bisavô de Cameron fizeram.

— Ela está na Noruega? — questionei ao notar que deveria começar a me


preparar.

— Sim, está na mansão dela à sua espera. Ela, de alguma forma, sabia que
em algum momento você viria — explicou.

Ela abriu a boca para falar, mas não o fez, pois as batidas na porta não
permitiram. Astrid a abriu, e ouvi a voz de Violet, sua assistente pessoal.

— Peço desculpas pelo horário, alteza, mas…

A voz ficou tão baixa que não consegui ouvir.


— Obrigada, Violet — Astrid agradeceu.

A porta foi fechada e Astrid se voltou para mim com um sorriso enorme.

— Antonella parece saber que você está em Oslo.

— Não, alteza, ela sabia. A máfia estadunidense tem uma longa história
com a minha família e sabe cada passo nosso.

— Ela quer vê-la.

Prendi a respiração.

—… se você quiser — acrescentou apressadamente.

— Acredito que agora pela noite será o horário ideal, visto que ninguém me
verá sair do palácio, mas devo alertar que Andrew possivelmente
perguntará de mim.

— Assim como os seus seguranças — disse e sorriu.

— Eles irão comigo — aleguei.

— Eles não podem ir, Antonella quer apenas você — afirmou, com certa
firmeza na voz. — Por favor, não me questione — pediu fechando os olhos,
como se não soubesse o que fazer. — Ela apenas pediu que seus seguranças
não fossem, em nenhuma hipótese.

Ela abriu os olhos, e ficamos nos encarando por segundos.

— Você sabe o motivo?

Astrid abaixou o olhar.

— Rebecca…

— Tudo bem, tudo bem. Preciso resolver a minha questão primeiro —


afirmei, tentando ignorar alguns fatos.
— Certo, certo. Arrume suas coisas, Antonella enviará alguém em alguns
minutos.

Me levantei abruptamente.

— Irei me preparar agora mesmo — afirmei.

— Perfeito.

— Astrid — toquei suas mãos —, toda a nossa conversa mudou tudo e


pode mudar as intenções de Cameron de não me envolver nisso. Obrigada
por me receber e…

— Não, Rebecca, você é quem está mudando a minha vida de uma forma
positiva. É uma bênção tê-la para interferir em nossa situação — afirmou,
apertando minha mão. — Tenho certeza de que Cameron vai ouvi-la.

— Bom, eu não teria tanta certeza — ironizei, e ela sorriu confusa.

— Por que não?

— Eu o tranquei dentro do próprio quarto para conseguir encontrá-la —


expliquei.

A gargalhada de Astrid me fez começar a rir sem parar, e ficamos nós duas
a rir por mais tempo do que eu achava ser possível.

— Você… você — ela parou para voltar a rir —, não acredito que Cameron
Styles foi trancado no próprio quarto — admitiu quando conseguiu conter
as risadas.

— Incrível, não? — brinquei, fingindo convencimento.

— Sim, incrível, você definitivamente o vencerá, mas só se ir conversar


com Antonella urgentemente — relembrou.

— Ah, alteza — fiz uma reverência —, como quiser — brinquei, e ela me


empurrou levemente pelo ombro. — Aliás, peço que cuide bem do meu
amigo… Andrew.
Seus olhos se levantaram para mim com tanta pressa que eu comecei a rir.

— Estou começando a entender Cameron Styles, você não deixa passar


nada.

— Com licença, alteza, tenho um casamento para impedir.

Ela sorriu e concordou, balançando a cabeça.

— Quer que eu envie algum guarda com você?

— Antonella não fará nada contra mim, tenho certeza disso — eu disse,
com uma certeza que quase não reconheci.

— Sendo assim, desejo-lhe boa sorte.


Maldição!

Fazia exatos vinte minutos que eu estava dentro da porra do meu quarto por
culpa de Rebecca, ou minha culpa.

Não devia ter gritado daquela forma e sabia disso, mas ela era…

Teimosa.

Impulsiva.

Inconsequente.

E o amor da minha vida!

Andei de um lado para o outro.

Ela iria para a Noruega, tinha certeza disso, era exatamente o tipo de coisa
que ela faria, e falaria com Astrid, o que era um alívio, porque, ao menos
assim, ela não falaria com a falcão vermelho.

Isso, sim, seria um problema. Se ela cogitasse conversar com uma mafiosa,
sem mim, eu não saberia do que era capaz.

Caminhei até o cofre que tinha no quarto, em um local escondido que só eu


e Deus conhecíamos, o abri e de lá tirei a caixinha com a aliança de
casamento que pertencia a ela, somente a ela.

Quando a porta de abriu, saí de imediato. Estava estressado, era claro, e


tinha xingado até a quarta geração do técnico pela sua demora, mas, ao sair,
tudo o que eu queria era ir atrás de Rebecca e pedi-la em casamento.

Caralho!
Ela me trancou no meu próprio quarto e agora quero pedi-la em casamento,
o quanto antes.

— Ronald. — Olhei-o.

E, por ser o chefe da segurança, acredito, ele me olhou preparado para levar
uma bronca ou coisa pior.

— Prepare o meu avião, iremos para a Noruega.

— Sim, senhor.

E saiu rapidamente. Finn me encarou e, após olhar os outros seguranças


que saíram ao entender seu olhar, entrou no quarto junto comigo. Peguei
minha mala e comecei a colocar as coisas.

— Se você tiver algo a dizer, Finn, diga — pedi, sem tirar meus olhos das
coisas que estava arrumando.

— Alec ficou ao lado dela — iniciou, e eu o olhei. — Ele tirou todos os


equipamentos que nos possibilitavam rastreá-lo.

Soltei a respiração e dei um soco na mala. Finn me entregou meu iPad e


meu iPhone.

— Diga-me que, durante esse tempo todo, vocês conseguiram rastreá-lo.

— Enviamos a localização dela para o senhor, está a caminho do aeroporto.


Um dos seguranças a está seguindo.

— Ótimo. Quem deu a ordem para segui-la? — questionei, observando o


pontinho vermelho no mapa da cidade, que era a localização de Rebecca.

Ela havia chegado ao aeroporto, e não teria como alcançá-la, não agora.

— Todos da segurança sabemos que, se Rebecca sair sem o senhor,


devemos acompanhá-la. Um segurança viu quando Alec retirou o
rastreador e os seguiu.
Ele se manteve me olhando, mesmo que o assunto tivesse terminado.

— Sim?

— Seu amigo Jasper disse que precisa falar com você. — O encarei com
olhar incrédulo. — Urgentemente — acrescentou.

— Nada é mais importante que Rebecca.

— Acredito que tenha algum envolvimento com ela.

Fitei-o por instantes.

— Arrume suas coisas, Finn, viajaremos em alguns minutos — o alertei.

Saí do quarto, desci as escadas e me deparei com Jasper no fim do corredor,


parecendo discutir com Luce.

—… tirarei essa história a limpo, é a nossa família! — o ouvi dizer assim


que me aproximei.

— Possivelmente — Luce retrucou.

— Jasper, não tenho muito tempo para conversa — avisei, de certa forma,
ríspido.

Não estava com paciência e muito menos com tempo. Ele olhou Luce, que
balançou a cabeça negativamente e saiu.

— Preciso falar com Rebecca.

— Sugiro que entre para a fila — aleguei.

Seus olhos encararam os meus, parecendo desesperados.

— Por qual motivo quer falar com ela?

Ele soltou a respiração.


— Porque… talvez ela… — ele parou de falar e olhou para baixo — possa
ser da minha família.

Por instantes, ficamos em silêncio e nos olhando.

— Você já sabia?

— Desconfiava — admiti. — Arrume suas coisas, iremos para a Noruega.

Em algum lugar a caminho da Noruega…

Devido a um problema com o piloto do meu avião, atrasamos


absolutamente tudo, e eu nunca me senti tão estressado.

Era noite, mais de dez horas da noite, quando estávamos chegando à


Noruega, e a única coisa que me tranquilizava era ver pelo mapa que
Rebecca estava no palácio. Encarei Jasper, que parecia ansioso.

— Como descobriu?

Ele se virou para me olhar.

— E não oculte informações — aconselhei-o.

— Depois da casa de campo — iniciou. — A única coisa que tenho dos


meus pais biológicos é uma foto deles mais novos. Sobre a minha mãe, não
existe informações em lugar algum, ela é um fantasma. Mas meu pai é uma
pessoa pública, um médico renomeado, e comecei a pesquisar sobre ele;
quando encontrei fotos dele mais novo, soube que era ele.

Jasper contou mais do que ele sabia, do seu irmão, do seu pai, de tudo, até
mesmo de sua mãe e das desconfianças que ele tinha.

Recostei-me na poltrona.

— Que merda — murmurei, surpreso e sem saber ao certo o que devia


dizer com aquelas informações.

— Sim, para um caralho!


Ficamos em silêncio o resto da viagem pelo simples fato de que eu não
conseguia processar uma só frase para falar a ele. Eu teria me revoltado
contra os meus pais, sem dúvidas. O avião pousou, e eu decidi ver qual era
a localização de Rebecca para decidir o que eu faria. Quando olhei o iPad, a
localização dela havia sumido. Abruptamente me levantei da poltrona.

— Eu quero uma explicação sobre a localização de Rebecca ter sumido,


agora! — exigi, com uma autoridade usada com eles apenas quando
Rebecca foi para a casa de campo pela primeira vez. E sua segurança e a de
Natalie eram as minhas prioridades.

— Ela está em uma casa que barra todo o nosso sistema, senhor — um dos
seguranças técnicos disse, com receio.

— Nosso sistema é o melhor, não pode ser barrado! — protestei.

— Aparentemente, o deles é mais protegido. Estou tentando rastrear a


senhorita Malik, mas esse sistema não tem dado a possibilidade. Andrew,
Alec e Ned permaneceram no palácio.

Apertei o encosto da poltrona.

Não.

Definitivamente, não.

Ela não poderia estar com…

Passei a ligar, desesperadamente, para ela, mas não fui atendido, em


nenhuma das cinquenta ligações.

— Cameron, há homens querendo vê-lo — Finn alertou.

E, por instantes, desaprendi a respirar.

Quando desci as escadas do avião, um carro preto blindado me aguardava.

— Ela está com a falcão vermelho — um homem de terno me disse.


E tudo em mim se calou, tudo.

Minhas mãos suaram, meu corpo gelou e meu cérebro parou de processar
quaisquer que fossem as palavras que o homem disse a seguir.

O encarei.

— Onde?

O homem me observou por segundos.

— Eu o levarei até ela, mas ele — o homem apontou para Jasper — não
poderá ir.

— Que seja! — eu disse.

— Senhor, não é prudente que vá só…

— Vá para a casa dos meus pais, Finn, e diga que estou bem. Leve Jasper
com você.

E, sem me importar com nada, entrei no carro com os capangas da falcão


vermelho.

Nada importava, eu precisava ver Rebecca, mesmo que custasse a minha


vida.
“Quando vai embora, imploro para você não ir e chamo seu nome várias vezes seguidas”.
Crazy In Love – Beyoncé

Passava das dez e meia da noite quando cheguei à mansão de


Antonella, que era praticamente escondida do resto das casas, o que fazia
muito sentido. Nada foi tão estranho quanto me sentir confortável enquanto
esperava Antonella na sala de estar.
— Senhorita Malik, a senhora Loughty a aguarda na sala de jantar.
Me levantei e segui o homem alto de cabelos e olhos escuros.
— Boa noite, senhora…
— Ora, nada disso — Antonella interrompeu, levantando-se e
passando o braço ao meu redor. — Pode continuar me chamando pelo nome
— pediu.
— Certo — eu disse, me sentando na cadeira à esquerda de
Antonella. — Boa noite, senhora Polly.
— Criança, você saber o que sabe sobre nós não exige que fique tão
tensa ou nervosa. Pode me chamar apenas de Polly — pediu, e eu sorri,
ainda tensionada pela situação.
— Já jantou, moranguinho?
A encarei por instantes ao ouvi-la me chamar pelo apelido outra vez
e sorri.
— Há algumas horas.
— Ah, ótimo. Há algumas coisas mais leves para você comer —
sugeriu.
Antonella começou a falar sobre os desfiles a que compareci e que
as pessoas falaram sobre a minha voz. Não era bem aquilo que eu esperava.
— Como chegou à Noruega sem Cameron? — Polly interrompeu o
falatório da esposa.
— Polly — Antonella disse como se fosse uma repreensão, após
respirar fundo.
Polly levou a taça de vinho até os lábios, aguardando minha
resposta.
— Eu o tranquei no próprio quarto e viajei às pressas — confessei, e
ela se engasgou com o líquido, começando logo a rir, e Antonella se juntou
a ela na gargalhada.
— Ele deve ter ficado extremamente irritado — Antonella deduziu
aos risos.
— Provavelmente — disse convencida e tomando um pouco de suco
de limão.
— Como se sente em saber a verdade sobre nós? — Polly
questionou, e Antonella a olhou com impaciência.
Até mesmo os seguranças pareciam esperar minha resposta.
— Não precisa responder, moranguinho — disse Antonella,
segurando minha mão.
Mas eu sabia como funcionava.
— Está tudo bem — disse calmamente, olhando-a, e olhei para
Polly. — Fiquei surpresa, confesso, não esperava, mas desconfiava.
— A discrição é nosso maior tesouro, nada pode comprometer isso
— Polly disse com perspicácia.
— Nada comprometerá isso — assegurei.
Ela me analisou por instantes.
— Sabe usar uma arma, Rebecca?
— Polly! — Antonella disse alto. — Ela é só uma criança —
advertiu, mas Polly se manteve me encarando.
— Uma criança não devia saber tudo o que ela sabe — Polly disse
com firmeza.
— Sei — intervi, com calma e cuidado para não parecer desrespeito.
As duas mulheres me olharam, Antonella atônita e Polly com um
sorrisinho maroto.
— Meu pai e meus tios me ensinaram defesa pessoal aos dez anos.
Aos quatorze, comecei a aprender a atirar com meu avô Marcus e com
dezesseis usei uma metralhadora pela primeira vez.
Antonella ainda estava surpresa e pegou em minha mão.
— Eu sinto muito por ter começado com isso tão cedo — afirmou
com a voz dolorosa. — Uma arma na mão de uma adolescente de quatorze
anos não deveria acontecer em hipótese alguma.
Balancei a cabeça em concordância. Meus pais queriam me dar uma
vida normal e ao mesmo tempo não podiam me deixar à própria sorte, era
claro que poderia ser diferente, mas… de qualquer forma, não tem como
alterar o passado. Sei que farei diferente com os meus filhos.
— Eu quero ver — Polly se levantou.
— Não, de jeito nenhum! Isso está indo longe demais — Antonella
esbravejou e se levantou ainda mantendo a classe.
— Malik? — Polly chamou com os olhos voltados a mim.
Me mantive sentada.
— Com todo o respeito, doutora Polly, não posso nem devo
desobedecer às ordens e à vontade de Antonella — repliquei e abaixei o
olhar.
Pela primeira vez, não me senti tão segura na presença de Antonella.
Polly levantou meu rosto pelo queixo.
— Impecável — elogiou, com admiração. — Tão nova e tão sábia!
Está pronta para a conversa que veio ter com você — disse, me analisando e
sorriu.
— Isso não é uma ordem, Rebecca! — Antonella explodiu, e seu
olhar carregava tristeza. — Não ordeno nada a você, por Deus, Polly,
quantas vezes preciso te dizer que você pode agir assim com quem vier à
minha presença, mas com Rebecca não? Nunca, em hipótese nenhuma! —
Antonella disse, puxando a mão de Polly.
— Ela vai ser sempre sua protegida, não?
— Sempre.
Não pude deixar de ficar surpresa ao ouvir aquela breve conversa,
não fazia ideia de sua consideração por mim, e aquilo era incomum.
— Só não esqueça que, mesmo ela sendo sua protegida, há coisas
que não podem ser mudadas — Polly alertou para em seguida caminhar na
direção da saída da sala de jantar.
Abri a boca para falar, mas Antonella iniciou primeiro:
— Moranguinho, peço desculpas por presenciar isso. Polly tende a
ser desconfiada de todos que sabem sobre os nossos… negócios —
explicou. — E, com ou sem um pedido meu, ela faz esse tipo de coisa —
completou.
— Fui treinada para isso — eu disse. — Mesmo que
involuntariamente, meus pais me prepararam para essas coisas, eu… não
estou surpresa — afirmei, e ela me olhou com um ar maternal.
— Vamos, acredito que veio aqui com um objetivo.
A segui até seu escritório, com medo e de certa forma ansiosa. Eu
poderia ser a protegida, como Polly disse, mas apenas alguém cuja sanidade
foi tirada não ficaria apreensivo com a situação, dadas as circunstâncias.
Mas havia algo de muito incomum no ar, algo de errado que parecia
apertar meu coração dentro do peito.
Antonella dispensou os seguranças, e ficamos a sós em seu
escritório, as paredes eram cinzas, havia alguns quadros e, atrás dela, um
que era o desenho dela mesma, parecendo mais nova. Fiquei o encarando
por instantes. Parecia-me familiar, mas não conseguia me recordar de onde
o conhecia, ou melhor, não conseguia encontrar em minha mente a
possibilidade de já tê-la visto antes, ainda assim…
— Rebecca — chamou, fazendo-me sair de meus pensamentos.
— Ser sua protegida pode me dar algum benefício dada a situação
com… — a olhei, tentando não soar tão tensa — Cameron?
Ela sorriu, e aquilo fez os músculos de meu corpo relaxarem um
pouco, mas aquela curiosa sensação ainda perturbava.
— Farei tudo o que estiver ao meu alcance — prometeu.
Ela analisou minhas tentativas fracassadas — embora eu estivesse
tentando muito — de ficar confortável sentada na cadeira.
— Rebecca — com um susto, a olhei —, só estamos eu e você aqui,
gostaria de me revistar? Olhar minhas gavetas?
Ela abriu uma das gavetas que estava trancada à chave e tirou de lá
uma arma, retirou as balas e me olhou.
— Medo não combina com você, você nunca foi uma garotinha
indefesa e…
— Nunca estive sozinha diante da chefe da máfia — relembrei, e ela
sorriu —, pelo menos não sabendo que era a chefe — incluí.
— Considerarei isso — disse em tom brincalhão. — Não estou
armada e não farei nada contra você.
Balancei a cabeça em concordância e passei a observar a sala, na
tentativa de conseguir pensar em como começar o assunto, mas, quando a
olhei, ela estava sob seus pés a me olhar à espera de uma reação.
— Você não está com medo — acusou, e eu balancei a cabeça em
negação.
— Estou aterrorizada, na verdade — admiti —, mas tem algo tão
familiar nesta sala…
Antonella estava paralisada e perplexa, parecendo aturdida com o
que ouviu.
— Disse algo de errado? — perguntei, franzindo o cenho.
— Não, claro que não. — Ela balançou a cabeça negativamente. —
O que acha de irmos direto ao assunto que viemos tratar?
— Ah, claro — iniciei, repensando toda a situação.
— Antes de tudo, quero que saiba que não desconfiamos de sua
família.
A encarei.
— Mas reconheço que alguns seguranças que me observam na
faculdade e em outros lugares não são de meu pai nem dos Styles —
afirmei.
— Tem razão. O que quis dizer é que não os vigiamos por acharmos
que sua família irá expor o que sabe sobre mim, e sim porque prezamos
pela segurança de sua família, especialmente a sua — explicou.
— E por que eu sou tão especial?
— Bom — ela me olhou e, se estou certa, mudou o que ia falar —, a
pedido de seu avô paterno, Marcus, sua segurança é prioridade depois do
que aconteceu com Bronwen, e como foi bom enfiar a faca na garganta
daquele desgraçado!
Abri a boca para falar, mas não saiu nem um som sequer, não até me
recompor.
— Você — dei uma pausa para retomar o fôlego —, foi você que o
matou?
— Sem remorso nenhum, queria ter feito assim que soube o que ele
fez a você, mas isso encrencaria sua família de uma forma grande demais
para ser abafada, e, procurando uma coisa, a polícia iria atrás de outras. Não
valia o risco.
Ela pensou um pouco e voltou a dizer:
— E, no exato momento em que isso aconteceu, Cameron estava em
público, em uma entrevista, e não seria uma suspeita, fiz tudo muito bem
pensado. Quem tirou Bronwen derrotado do ringue foi o meu pessoal, até
mesmo o treinador dele estava comigo. O pai teve que ficar preso por
instantes, e, de qualquer forma, aquele inútil me devia milhões. — Ela me
olhou, com um sorrisinho diabólico. — E ninguém que me deve permanece
me devendo, assim como ninguém que abusa sexualmente de uma pessoa
deveria permanecer vivo, fiz um favor à humanidade.
Estava aturdida e sem reação com tantas informações.
— Entendo — eu disse, após um silêncio mais duradouro do que
devia ter sido.
Ela me encarou por instantes.
— Quero ter uma conversa aberta com você. Normalmente, não me
importo que as pessoas fiquem tensas comigo, mas a conheço e não quero
que percamos o vínculo que criamos, mesmo sendo raso — disse, com certa
frustração em sua voz.
— Confesso que — soltei a respiração — é uma grande surpresa
estar diante da chefe da máfia agora que sei da verdade. Estaria mentindo se
dissesse que está tudo tranquilo, mas posições trazem responsabilidades, e
eu estou — fechei os olhos — apavorada.
— Você ao menos está sendo sincera, o que é bom. Estou certa de
que não me olhará mais com os mesmos olhos de antes, e não a culpo por
isso, é totalmente compreensível, mas afirmo que minha intenção jamais
será atingi-la ou machucá-la, tudo o que quero é sua segurança.
Apertei as unhas em minhas mãos, tentando conter a sensação
horripilante que me dominava, um frio na barriga surgiu quando minhas
dúvidas sobre mim e Cameron voltaram, sentia minha cabeça doer.
Soltei a respiração, tomei coragem e iniciei nossa conversa:
— Eu e Cameron ficaremos sob supervisão da máfia pelo resto de
nossas vidas?
— Sim, assim como a minha geração supervisionará a de vocês.
— Isso devido à realeza da Noruega?
O olhar de Antonella passou a ser rígido.
— Permita-me dizer, Rebecca, mas apenas um imprudente não
aceitaria nossa proteção de bom grado, estando à mercê da monarquia
norueguesa. Não vigiaremos em prol da desconfiança, mas a família Styles
teve um subchefe da máfia na família, o vínculo pode ter sido quebrado por
William, mas, perante outros mafiosos, não podemos contar com a sorte e o
bom senso. Charles prejudicou os negócios de muitas pessoas quando o
nosso estava se expandindo cada vez mais, e agora você terá a monarquia
em cima de você. O rei Erick e a rainha Martha são meus amigos, e acredito
que Astrid quer uma boa amizade com você e Cameron, porém sinto muito
em te dizer isso com você sendo tão nova, mas entre vocês e o país, a coroa
sempre virá antes da amizade. — Ela deu uma breve pausa e continuou: —
Quem entra uma vez na máfia tem total ciência dos perigos que a família
pode correr no futuro, e infelizmente seus avós e os avós dele fizeram isso.
Com a segurança que seu noivo pode fornecer, tenho 50% de certeza de que
você e seus filhos estarão seguros, mas a longo prazo talvez não. Outras
máfias podem querê-los, e não sabemos a que ponto vão. Até hoje você
nunca foi sequestrada, nem seus irmãos ou seus pais, acha que foi apenas
pelos seguranças de seu pai ou da família Styles?
Eu me senti na obrigação de negar.
— E, com o palácio ainda, minha desconfiança cresce. Confio em
Martha e Erick, mas eles têm a família deles, a ambição, o desejo de
proteção e a coroa. Não os culpo, mas, ao oferecer meus serviços e ficar de
olho em vocês, consegui garantir que sua segurança não corresse perigo e
ainda pude afastar a segurança do palácio de cima de vocês. O que fiz,
moranguinho, foi pensando em você.
Ficamos nos olhando por instantes. Estava admirada, nunca foi
sobre eu estar em perigo devido à máfia, e sim sobre ser protegida por ela.
E aquilo era tão assustador quanto bom.
— Eu sempre vi pessoas que não conhecia nos jantares da minha
família, mas nunca os vi me vigiando quando, por exemplo, ia à escola, saía
com meus amigos, quando estava sozinha com Cameron e essas coisas, isto
é, a discrição de vocês é impecável. Posso considerar que será feito o
mesmo pelos meus filhos? Ou, quando estiver casada com Cameron, terei
minha privacidade?
O rosto de Antonella se iluminou com um sorriso.
— Não temos interesse em invadir a privacidade de ninguém, mas
ficaremos perto de onde vocês morarem, por exemplo, porém não na casa.
Estaremos atentos a possíveis invasões, contudo. Você não precisa se
preocupar em estarmos de olho em vocês quando estiverem em um
momento particular, é um limite que impus, era o mínimo, é claro.
— Perfeito — eu disse, mais aliviada do que achei que estaria. —
Fico feliz que meus futuros filhos estarão protegidos — admiti. — O jantar
entre nós e a realeza, quando acontecerá?
— Após o pedido de casamento de Cameron, será um jantar de
ultimato como sinal de que estamos todos de acordo, e ninguém vai impedi-
los, ninguém quer impedi-los. Todos queremos que esse casamento dê
certo.
— Ah, é tudo o que eu mais quero.
— Cameron já está a caminho do país, acredito que devo te
informar. Pelo que me comunicaram, ele partiu assim que saiu do quarto.
Abri um sorriso.
— Eu queria saber outra coisa — disse repentinamente após um
silêncio não muito longo, e ela balançou a cabeça indicando que eu podia
falar. — Se eu e Cameron decidirmos viajar para outro país, apenas para
passar um tempo, como isso funcionará?
— Não implicaremos em nada, vocês são livres para viajar.
— Mas? — Ela acabou rindo e cobrindo os lábios para disfarçar.
— Alguns de nós terão que ir com vocês, mas nenhuma presença
será vista. Manteremos a discrição — prometeu.
Pensei um pouco e analisei minha situação.
— Cameron sabe sobre a senhora ser a chefe da máfia?
Nós nos olhamos, e ela balançou a cabeça em negativa.
— Não sabe. As pessoas ficam sabendo quando eu decido o
momento.
Era de se esperar que, quando o assunto fosse a máfia, Antonella
ficasse fria como um icebergue.
— E acredito que ele odiaria saber que você está aqui, diante da
chefe da máfia, poderia até proibi-la de…
— Ele não é meu dono — rebati, e ela sorriu.
— Claro, moranguinho, você está certa.
— Moranguinho — murmurei.
Era o apelido de Rylie, não o meu, mesmo que tio Benjamin me
chamasse assim toda a vez, mas… era apenas tio Benjamin, porque era a
filha dele com…
— Falarei com a rainha Martha, há problemas em ir comigo para o
jantar?
— Não há — afirmei.
Quando ela se levantou, eu me senti na obrigação de fazer o mesmo.
Meus olhos foram diretamente a um quadro enorme, que quase pegava a
parede inteira, no fundo do escritório. O fundo estava muito escuro, e não
consegui ver direito quem era, talvez não pela escuridão em si, mas sim por
eu simplesmente ser míope. A única coisa que vi, devido à pouca luz no
fundo da sala e minha visão péssima, foi uma pintura de mulher com três
crianças, mas podia ser facilmente outra coisa.
— Esse quadro…
O olhar de Antonella, cujos olhos eram verdes e cintilante, passou a
ficar acinzentado.
— Senhora Loughty — um homem com tatuagem no pescoço e
olhar frio chamou ao entrar no escritório em que estávamos —, ele chegou.
Antonella se manteve com o olhar em mim e, quando pareceu soltar
a respiração, disse:
— Você precisa subir para o quarto e descansar, já se passa da meia-
noite, e, se tudo der certo, teremos um jantar para irmos.
Sorri em concordância.
— Antonella — ela se virou para mim após sairmos do escritório
—, muito obrigada por tudo, principalmente por se colocar à disposição do
palácio em prol da minha segurança e da segurança da minha família.
Obrigada, mesmo.
— Era o mínimo que poderia fazer após as coisas que meus pais
fizeram ao seu noivo.
Acabei sorrindo por ela sempre querer se referir a Cameron como
meu noivo, algo me dizia que era inteiramente proposital.
— Ele não é meu noivo — retruquei, vendo-a sorrir.
— Algo me diz que isso tende a mudar antes mesmo do que você
espera.
Achei graça e não consegui evitar minha felicidade ao ver tamanha
esperança vinda de Antonella, a chefe da máfia.
— Acredita mesmo nisso?
— Sempre acreditei em vocês — afirmou pouco antes de virar de
costas e se retirar.
Olhei Marlon, que me olhava com os lábios abertos em um sorriso.
— Não me olhe assim — pedi em tom brincalhão, e ele gargalhou.
— Apenas estou em concordância com a minha chefe — explicou
com graciosidade e me indicou a escada, para que a subisse.
“É tão engraçado tentar explicar como estou me sentindo, a culpa é do meu
orgulho… porque eu sei que não entendo como seu amor pode fazer o que
ninguém mais pode”.

Crazy In Love – Beyoncé

Entrei no quarto que Marlon disse que seria o meu durante o tempo aqui.
Era grande e aconchegante, mas eu adoraria estar na mansão dos Styles
com a minha família.

Minha cabeça começou a latejar e, mesmo após tomar um banho que


deveria ser relaxante, não consegui descansar. Eram tantas respostas e,
felizmente, soluções. Mas… eram tantas perguntas.

Quem eram as três crianças no quadro? Por que Antonella me soava tão
familiar? Por que Alec e Ned nunca podiam estar no mesmo lugar que
Antonella e Polly? Por que Astrid hesitou em me explicar o motivo de não
poder trazê-los aqui? Por que aqui era tão familiar sendo que nunca vim
aqui? Por que eu sou a protegida da chefe da máfia?

Me sentei na cama, vendo que minha mochila estava aqui, e coloquei


minha medicação dentro de um frigobar que tinha no quarto, certamente a
pedido de Antonella.

Peguei meu celular, que estava desligado por conta de a bateria ter acabado,
o deixei carregando e me deitei.

Acabei rindo pela ironia da situação, até o momento em que quis chorar.
Queria minha família comigo, queria meus irmãos, meus pais, meus avós
e… queria Cameron, tudo em mim o queria.

Eu o queria tanto que meu corpo estremecia, ainda mais quando o ouvi me
chamar. Estava delirando, sem dúvidas, ele não estava aqui, não podia estar.
Caso estivesse, significaria que a pessoa com quem Antonella queria
conversar seria exatamente ele e…

— Rebecca! Rebecca! Por favor, me diga que está aqui e a salvo. Rebecca!

Seu chamado se tornou um grito de desespero e agonia que me fez levantar


bruscamente da cama.

Se a porta de meu quarto não tivesse aberta e revelado a imagem dele,


desesperado e ofegante, poderia continuar afirmando que estava sonhando.

Ele estava diante de mim, com os olhos suplicantes. Em questão de


segundos, invadiu o quarto e me abraçou com força. O clima norueguês era
frio, mas Cameron suava de calor. Seu corpo tremia constantemente.

— Meu amor, meu amor — sussurrou em meu ouvido enquanto apertava


mais os braços envoltos de meus ombros.

— Baby…

Seus olhos encontraram os meus, com agonia.

— Me diga, por favor, diga-me que eles não a machucaram, que eles não
encostaram um só dedo em você, que… — A voz dele falhou.

Cameron segurou minhas mãos com precisão e começou a respirar com


dificuldade, como se estivesse perdendo o ar. Suas mãos tocaram meus
braços e começaram a puxar as longas mangas para cima, procurando por
algum machucado.

— Cam…

— Eles fizeram algo com você? Rebecca, por favor. Eu sinto tanto, é tudo
culpa minha, tudo, tudo. Diga-me, ela fez algo a você, ela…

Por um instante, pensei que ele fosse parar de respirar. Ele continuou a
murmurar palavras e a se culpar e não me dava espaço para dizer nada.
— Cameron, meu amor, eu estou bem — assegurei, mas ele parecia não me
ouvir.

Estava aprisionado na culpa, uma que não era dele. Ele sabia respirar, claro
que sabia. Mas agora parecia ter desaprendido. Seu rosto estava ficando
avermelhado, e os olhos brilhavam pelas lágrimas que queriam sair. Minha
única reação foi selar nossos lábios.

Não sabia se daria certo, mas não podia olhá-lo ter um ataque de pânico e
simplesmente não fazer nada. Seus músculos, que antes estavam tensos e
rígidos, começaram a relaxar quando puxei seus braços para que ficassem
envoltos na minha cintura.

Ele me abraçou com fervor, deixando-me totalmente colada ao seu corpo, e,


quando afastei nossos lábios, ele finalmente inspirou e expirou algumas
vezes, voltando a ter controle de sua respiração, com olhos fixos nos meus.

— Meu amor… — sussurrei, passando os dedos em seus cabelos. — Eu


sabia que você se opunha ao nosso casamento, mas não que se sentia assim
por causa de mim.

Suas mãos me apertaram ainda mais, ele fechou os olhos e soltou a


respiração devagar.

— Não me oponho a casar com você, eu me oponho a colocar sua


segurança em risco por se casar comigo — abri a boca para falar, mas ele
colocou o dedo indicador nos meus lábios, calando-me. — E, mesmo
assim, quero me casar com você.

Dessa vez, eu quem parei de respirar, e meu coração bateu mais forte
dentro do meu peito.

— A ideia de ser egoísta e colocá-la na posição de minha esposa, que ficará


sob a supervisão da máfia, ao dispor do palácio, que terá prazo para ficar
grávida, me atormenta mais do que ser infeliz em um casamento com
Astrid — admitiu.
— Você não será egoísta ao se casar comigo, Cameron, porque é o que eu
quero.

Ele me olhou e balançou a cabeça negativamente, deixando-me sem saber o


que esperar.

— Sim, serei egoísta. Colocá-la em um jantar com a máfia, você estar nessa
casa e eu ainda sem nem saber quem é ela. — Arregalei os olhos,
entendendo que ele veio diretamente ao meu quarto, e não ao escritório de
Antonella. — Fiquei desesperado, Rebecca, quando saí do avião e os
capangas da máfia me chamaram e disseram que a chefe estava com
você… tentei ligar para você inúmeras vezes, e você não me atendeu,
depois disso não consegui pensar em nada. — Ele apertou minha cintura,
puxando-me novamente para si. — Não me lembrei de ligar para o seu pai,
ou seus tios, ou para os meus. Tudo o que conseguia ver era ela fazendo
algo muito, muito, ruim com você.

— Ela não fez nada.

— Nem tortura psicológica? — Seus dedos subiram em minha nuca, e ele


colou nossas testas. — Ah, meu amor, minha pequena, fiquei com tanto
medo de algo acontecer com você — sussurrou com a voz trêmula.

Passei os dedos em seu braço e o segurei com leveza, percebendo que eu


sentia muita falta dele, apenas a um dia distante. Ele beijou meus lábios
com delicadeza e calma, como se tivéssemos todo o tempo a nosso favor.

— Antes de você ir embora de Los Angeles, eu sabia que a queria por


perto, mas era um sentimento totalmente inocente, e, quando voltou, o que
eu sentia não era mais inocente — afirmou, e seus olhos foram tomados por
um brilho ardente, como se estivesse em chamas. — Sempre soube que a
queria, mas de desejo passou a ser necessidade. Eu precisava de você e
agora preciso, não, necessito ainda mais. Eu preciso de você ao meu lado,
comigo, embaixo de mim, em cima, ao meu redor… — ele fechou o braço
em minha cintura — preciso de você, totalmente. Não é só meu corpo que
implora por você, é minha alma, Rebecca, meu coração, tudo em mim.

Meus olhos se encheram de lágrimas.


— Eu sempre o quis, amor. Sempre. Mas a ideia de tirar de você os seus
planos, seu sobrenome e tudo o que quer para você me torturava. Ter um
filho, anos a serviço do palácio, isso nunca foi algo que você queria, e
agora vai atrasar todos os seus planos por mim. Não queria ser egoísta de te
pedir isso, eu queria te dar mais, muito mais.

— Cameron — deslizei a mão em seu braço —, não desistirei dos meus


planos para o futuro, precisarei fazer alguns reajustes, sim, mas não serei
impedida de nada.

Ele acariciou meu rosto com o polegar.

— Eu não posso te prometer uma vida perfeita, um casamento comum e


sem surpresas, estamos sujeitos ao palácio e à máfia. Não posso te prometer
uma cerimônia de união simples como você, e eu queríamos. — Ele fechou
os olhos por instantes. — Mas posso te prometer — ele abriu os olhos e
desceu a mão que estava em minha nuca até minhas costas — que a
protegerei com a minha vida, farei o possível e o impossível para você se
sentir sempre em segurança. Serei o melhor marido para você e o melhor
pai para os nossos filhos.

As lágrimas que estavam retidas começaram a descer em meu rosto.


Lágrimas de felicidade e alívio, ele finalmente havia entendido e parado de
se enganar.

— Vou me esforçar para fazê-la a mulher mais feliz e amada do universo


— afirmou, enquanto passava os dedos em minha bochecha e limpava as
lágrimas. — Te pedir em casamento é pedir para sacrificar anos de sua vida
a serviço do palácio e ter um filho antes do planejado, é te pedir que aceite
a máfia nos observando e colocar sua segurança em minhas mãos confiar
em mim.

Olhei seus olhos, que emitiam súplica e angústia por pensar nisso tudo.

— Cameron — acariciei seu rosto com cuidado —, tudo o que quero é que
você me deixe amá-lo, apenas isso. Sei que algumas coisas podem ser
difíceis, casamento nenhum é mil maravilhas, mas faremos dar certo e
resolveremos juntos as demais coisas. Deixe-me amá-lo, e a única coisa
que te peço em troca é passarmos por isso juntos, por tudo o que puder vir
lá na frente. Juntos — sussurrei, e ele abriu um sorriso —, eu e você.

— Eu e você — repetiu.

Ele me soltou.

— Muitas coisas estão sendo controladas por outras pessoas no nosso


noivado e casamento — ele disse enquanto mexia na blusa de frio e deu um
passo para trás —, mas isso não — afirmou sorrindo. — Rebecca Malik —
meu coração disparou quando ele se ajoelhou —, aceita se casar comigo?

De dentro da caixinha preta, apareceu um par de alianças finas e um anel


fino com uma pedra de diamante azul e pedrinhas pratas contornando-o.

A todo custo, tentei conter minhas lágrimas, mas não era possível.

— É claro que eu quero. — Foi tudo o que consegui dizer antes de me


jogar em seus braços.

Cameron nos levantou em um impulso, com um sorriso enorme nos lábios


e os olhos azuis como o céu em seus melhores dias de verão. Ele limpou
meu rosto com as pontas de seus dedos e pegou minha mão que estava com
a aliança de sol.

— Eu disse que substituiria essa aliança, não disse? — questionou


enquanto tirava a aliança de meu dedo e colocava o anel de noivado no
lugar.

— Disse, sim — consegui falar mesmo que fungando.

Colocamos as antigas alianças na caixinha e, no dedo anelar de nossas


mãos direitas, colocamos as alianças de noivado.

Ele beijou minha mão com o anel de noivado e me puxou para si, sorrindo.

— Minha noiva — sussurrou, selando nossos lábios.


— Meu noivo — sussurrei de volta e o beijei, jogando meus braços por
cima de seus ombros.

Comecei a encher seu rosto de beijinhos.

— Amor — ele disse em meio às suas gargalhadas gostosas de serem


ouvidas —, amor.

Mas não lhe dei atenção e continuei a beijá-lo. O puxei mais para mim,
fazendo com que caíssemos na cama, com ele por cima de mim.

— Eu te amo, minha futura senhora Styles — sussurrou, afastando os


cabelos de meu rosto.

— Eu te amo, meu futuro esposo.

Ele se inclinou e me deu um selinho, em seguida outro e outro até se tornar


um beijo.

— Amor — o afastei —, tem algumas coisas que… — Engoli em seco. —


Você veio aqui para conversar com uma pessoa específica.

— Na verdade, vim atrás de você.

Acabei sorrindo e balancei a cabeça em negação.

— Na verdade — ele se sentou, e eu fiz o mesmo —, nosso casamento será


um assunto muito importante a ser tratado, mas precisaremos da chefe da
máfia e da realeza para isso. Porém…

— Porém?

Ele respirou fundo.

— Temos que ir para a mansão da minha família, amor, há algumas coisas


que Jasper sabe que…

— Com licença. — Olhamos para a porta no mesmo instante, vendo


Marlon e o segurança que havia chamado Antonella em seu escritório.
— Marlon? — Cameron questionou e me olhou.

Balancei a cabeça positivamente, e ele arregalou os olhos de surpresa.

— Por favor, siga o segurança, há alguém que solicita sua presença —


Marlon completou.

— Não se preocupe, meu amor — sussurrei antes de selar nossos lábios.

— Te vejo em breve, minha noiva — ressaltou.

Vi Marlon sorrir de lado, e Cameron saiu com o segurança.

— Noiva? — Marlon questionou quando ficamos a sós.

Levantei minha mão direita, revelando a aliança de noivado e o anel


solitário.

— Parece que teremos um casamento importante a ser feito — ele disse,


animado. — Agora não há nada além de um jantar com que se importar, e
você precisa descansar.

— Mas…

— Ordens de Antonella — alertou.


“A verdade é uma coisa bela e terrível, e, portanto, deve ser tratada com grande cautela”.
Alvo Dumbledore – Harry Potter e a Pedra Filosofal

Eu estava noiva, e nada me deixava mais feliz que isso.


Quando consegui ligar meu celular, como suspeitava, vi inúmeras
ligações e mensagens — além das de Cameron antes de ele chegar aqui —
de papai, mamãe, meus tios e até meus avós. Todos desesperados atrás de
mim, e eu não podia culpá-los.
Nesse intervalo de tempo pensando, papai me ligou novamente, e o
atendi. Esperei que ele terminasse de esbravejar e brigar comigo, falando
sobre eu ter sido irresponsável de não o atender antes, que, se Polly não
tivesse o avisado que eu estava com Antonella, eles teriam começado a me
procurar sem descanso.
—… Rebecca, isso foi muito inconsequente da sua parte, e não
acredito que Alec, Ned e Andrew não me ligaram, como…
— Eu estou noiva — anunciei, mesmo que minha vontade fosse
falar pessoalmente, foi a única forma que encontrei de fazê-lo parar de
brigar.
Houve um silêncio, e, de repente, a voz de papai estava baixa
quando ele disse:
— Você… você… Cameron fez o pedido?
— Sim, fez — disse antes de ouvir meu pai praguejar, e a voz de
mamãe começou a ecoar do telefone.
— Ai, meu Deus. Quando será o casamento? Ainda este mês? Como
foi o pedido, docinho? Conte-me tudo, tudo!
— Mamãe — acabei rindo —, como a senhora está?
— Feliz que você está bem e noiva — afirmou animada.
— E ninguém está se importando com o fato de que estou na
mansão de uma mafiosa?
— Você já esteve na mansão dela — tio Ben protestou.
— Quantas pessoas estão aí? — questionei, rindo, e ouvi a risada de
meus tios e meus avós, todos começaram a falar juntos, e eu simplesmente
não consegui entender nada, mas disse: — Ótimo, a família toda sabe que
vou me casar! Do jeito que vocês são, a Noruega toda vai ficar sabendo em
poucos segundos — provoquei, e o falatório pareceu ainda mais alto.
Não demorou muito para que meus tios começassem a discutir quem
era o mais fofoqueiro, e todos concordamos que era tio Dave, o mais novo
dos irmãos da parte paterna da minha família.
— Mamãe — a chamei esperando que me ouvisse.
— Sim, querida — respondeu, e as vozes dos meus tios ficaram
distantes, como se ela tivesse saído do mesmo ambiente que eles.
— Eu estou bem, Antonella deixou claro que sou a protegida dela, e
acredito que não teremos problemas. Cameron está em reunião com ela e
Polly faz algumas horas. Não atendi às ligações e não respondi às
mensagens, porque meu celular ficou totalmente descarregado, e Alec, Ned
e Andrew não sabiam que eu viria para cá e não podiam vir. Fora isso, estou
bem, exceto pela parte que, durante todo esse tempo, a chefe era Antonella,
e ninguém, principalmente os meus avós que conheceram a família dela, me
contaram isso.
— Ah, era claro que você se chatearia com isso, mas… não
podíamos. Apenas quem ela quer que saiba, sabe sobre ela, ninguém mais.
Soltei um longo suspiro cansado.
— Agora, eu entendo isso.
— Sentimos muito por não ter lhe contado quem era Antonella e
principalmente por tê-la deixado entrar em sua vida, você parecia gostar
tanto dela, e proibir qualquer coisa de você… bom, sabe a pessoa que você
é e nos questionaria demais — rimos juntas.
— Mãe, isso ficou muito claro. Agora, preciso desligar, tenho um
jantar no palácio para ir, mas preciso descansar antes, foi uma noite e
madrugada turbulentas; depois de tudo, irei para casa.
— Nós a amamos, docinho.
— E eu amo vocês, muito.
Me deitei na cama e fiquei olhando para o teto, tentando organizar
meus pensamentos.
Peguei meu iPad da bolsa e comecei a mexer na galeria em que
minha avó paterna, Ângela, fez com que eu, Nicholas e Gabbe salvássemos
todas as fotos de família que tínhamos, pelo simples fato de que estávamos
brigando muito, e ela não aceitava desunião na família. E, além de ter dado
certo, todas as fotos, além de salvas em um pen drive, estavam em uma
pasta à qual eu tinha acesso.
Comecei a olhá-las conforme minha avó tinha pedido que as
salvássemos. Entrei na pasta de tio Benjamin, considerando que Antonella
não parava de me chamar de “moranguinho”, que era o apelido de Rylie,
filha de Benjamin com… Bridget.
Abri as fotos que havia dos três e dei um pulo da cama.
A mulher do quadro era… era…
Andei de um lado para o outro.
Era Bridget.
Caminhei até a porta do quarto, e, quando coloquei a mão na
maçaneta, ela já estava sendo girada, e logo a porta foi aberta. Cameron me
olhou, em seguida fechou os olhos e sorriu como se esperasse aquilo.
— Você não consegue descansar por um minuto?
— Amor, eu acho que descobri uma coisa que…
— Baby — ele fechou a porta, colocando-se na frente dela para que
eu não a abrisse, e afundou os dedos em meus cabelos —, não acha que já
descobrimos muita coisa hoje? Está tarde.
— Você foi ao escritório dela?
— Sim, amor, fui — disse e me puxou para que me sentasse na
cama.
— O quadro atrás dela — virei o iPad em sua direção.
— Oh! — expressou, surpreso. — Parece a mesma pessoa.
— Talvez seja a mesma pessoa. Bridget Davis Valle. Ex-mulher de
tio Benjamin, mãe de Rylie e minha madrinha.
Cameron me olhou, perplexo.
Eu me levantei.
Ele se levantou.
— Preciso falar com ela, preciso saber se ela é Bridget ou qual seria
o vínculo com ela, preciso… — repentinamente, parei de falar e o encarei.
— O que Jasper sabe? Por que ele veio com você?
— Amor…
— Cameron, me conte o que sabe.
— Não. Não hoje, não agora. Chega, amor. Há quantas horas não
dorme?
— Isso não importa — eu disse e caminhei até a porta, mas, quando
tentei abri-la, ele a fechou fazendo com que o barulho da batida ecoasse. —
O que você…
— Amor, eu acredito que você já tenha entendido muita coisa —
garantiu.
Pisquei algumas vezes para não começar a chorar, mas, quando
Cameron me abraçou, eu finalmente senti que podia desabar e… desabei.
— Você precisa descansar. O jantar será somente à noite. Por hoje,
chega. Quando chegarmos em casa, iremos atrás das respostas que você
quer — prometeu.
Apertei meus braços ao seu redor, e ele me fez olhá-lo ao afundar os
dedos em meus cabelos.
— Eu estou cansada de mentiras e segredos, minha família,
Antonella, eu… — Respirei fundo. — Você tem razão, eu preciso descansar
— confessei, limpando minhas bochechas.
Ele selou nossos lábios e deu passos para a frente, me fazendo dar
passos para trás, até que eu sentisse a borda da cama em minhas pernas.
— Vou tomar um banho e finalmente ficar com a minha noiva —
alegou, passando os dedos em meus cabelos —, e depois, só depois que
resolvermos tudo no jantar, iremos atrás do que você quer tanto saber.
— Não vai tentar me impedir? — questionei, olhando em seus
olhos.
— Não adiantaria — ele disse, com um sorrisinho de lado.
— Fico feliz por conhecer a sua futura esposa, senhor Styles.
— E, para o meu alívio, eu também.
Oslo, Noruega
Qua., 19h12, dezembro

Cameron entrou no quarto em que estávamos.


O dia havia sido longo e corrido, Cameron passou a maior parte do
tempo com Antonella enquanto eu com Polly, e talvez eu estivesse movida
pelos meus sentimentos confusos, mas parecia que Antonella estava me
evitando.
— O que foi? — questionei, olhando Cameron através do espelho.
Estava parado me encarando e passeou com os olhos pelo meu
corpo mais de uma vez para então passar a língua nos lábios.
— Cam — o chamei.
Seus ombros se sacudiram como se ele tivesse se assustado.
— No que está pensando? — desafiei, me virando para olhá-lo.
— Em como eu estou feliz porque essa bunda linda será minha.
Automaticamente meus lábios se entreabriram de surpresa, e ele
gargalhou.
— Eu amo quando você fica sem palavras — expressou-se e me
puxou pela cintura.
— Você é um ser inexplicável — articulei, tentando empurrá-lo com
a mão em seu peitoral.
— Você está linda, meu amor — elogiou —, mas preciso que me
prometa uma coisa que será um grande desafio para você.
— E o que seria?
— Não confrontar Antonella até o fim do jantar com a realeza —
pediu.
— Não estava pensando em fazer isso — rebati, me sentindo de
certa forma, ofendida.
— Esse é o problema, quando você não pensa nas consequências,
simplesmente vai e faz o que bem entende, e isso pode nunca ter sido um
problema para você, mas estamos diante da máfia, diante de adultos, e não
há como explicar o quão complicado esse jantar pode ficar se você
confrontar Antonella. Se ela estiver escondendo algo e você colocá-la
contra a parede, as coisas podem acontecer de uma forma desagradável.
Soltei a respiração, odiando me dar conta de que ele estava certo.
— Você está certo — murmurei contra a vontade e tentei me soltar
dele.
Cameron apertou minha cintura, de modo a me impedir de me
afastar.
— Desculpe, minha noiva, não a ouvi — instigou.
— Não vai existir um dia em que você não vai me tirar do sério, não
é, Cameron Styles?
— Não, principalmente quando estivermos casados — confirmou, e
eu sorri selando rapidamente nossos lábios, para que não ficassem vestígios
de batom em sua boca.
— Prometo que, até o fim do jantar, não questionarei nada, agirei
normalmente.
— Perfeito, minha noiva — disse, passando o nariz em meu
pescoço, e apertou minha bunda. — Aliás — pronunciou, de repente —, na
próxima vez que me trancar no quarto, futura senhora Styles, eu juro que
vou amarrá-la na cama e fazer o que eu quiser com você — ameaçou com a
voz carregada de malícia e me olhou.
Minha fala simplesmente sumiu à medida que minha respiração
ficou ofegante e um desejo enorme cresceu em mim, mais especificamente
em meu corpo, no lugar onde Cameron fazia questão de se pressionar e me
deixar louca.
— Pensando bem, eu posso fazer isso sem que você me tranque no
quarto — ameaçou.
— Cameron, vamos — disse, segurando sua mão.
Peguei minha bolsa prateada e o puxei para sairmos do quarto.
Entramos na limusine de acordo com as instruções de um segurança, e,
pouco tempo depois, Antonella e Polly adentraram o veículo.
— Olá, moranguinho, desculpe por hoje, não consegui te dar muita
atenção, estava tratando de algumas coisas com o seu noivo — Antonella
disse, apertando minha mão — e, devo acrescentar, estou muito feliz pelo
noivado.
Cameron apertou minha coxa como uma advertência.
— Obrigada, Antonella, mas acho que você já desconfiava disso —
brinquei.
— De fato.
Polly me encarava desconfiada. Olhei-a rapidamente e desviei o
olhar.
— Está tudo bem, senhorita Malik? — ela questionou.
— Um pouco ansiosa, eu acho — comentei.
— Não fique, sairá tudo bem — Antonella afirmou.
Balancei a cabeça em concordância e sorri, envolvendo o meu braço
em volta do de Cameron.
— Crianças — nós a olhamos —, eu e Polly os representaremos
hoje, conforme te disse mais cedo, Cameron. — Ela o olhou e em seguida
se voltou para mim. — Moranguinho, reduzimos esse jantar ao mínimo de
pessoas possíveis a pedido da monarquia.
— Mas… por quê? — questionei.
— Bom, não costumo questioná-los, não é sempre que posso
colocá-los contra a parede. Lembre-se, é a realeza da Noruega.
Balancei a cabeça em concordância. Ao chegarmos ao palácio,
Antonella e Polly foram convocadas a comparecer no escritório do rei
Erick, antes do jantar, enquanto eu e Cameron ficamos em uma sala de
espera, depois de deixarmos nossos casacos pesados em um lugar próprio
para isso.
Não demorou muito para que Andrew e Astrid entrassem na sala,
parecendo íntimos. Eu e Cameron nos olhamos e rimos juntos.
— Rebecca! — Astrid chamou enquanto abria os braços para mim.
A abracei e aproveitei para sussurrar:
— Ele me pediu em casamento ontem mesmo.
— Ele te pediu em casamento? — repetiu alto, como se não
soubesse que aquele seria o motivo do jantar, e me soltou do abraço para me
encarar. — Isso é ótimo!
— Graças a Deus — Andrew disse.
— Você não sabia? — interroguei-a.
— A princípio, o jantar era para alinhar algumas coisas justamente
para Cameron se acalmar e fazer o pedido. Acho que Antonella foi chamada
para falar sobre isso com os meus pais — Astrid explicou.
De repente, ela teve uma atitude inesperada: soltou meu braço, se
virou, se jogou nos braços de Andrew, para então sussurrar “nós poderemos
nos casar também”, e selou seus lábios nos dele.
Eu e Cameron ficamos igualmente boquiabertos. Ele me abraçou
pelos ombros e disse:
— Nada disso, para se casar com ele, precisará da permissão do
time.
— A futura rainha da Noruega pedindo permissão para se casar? —
questionou Astrid, entrando na brincadeira de Cameron.
— Não, não, não, querida. — Ele balançou o dedo negativamente,
como Calleb fazia às vezes, e os meninos o imitavam sempre,
principalmente Cameron, para irritá-lo. — Rainha você será aqui, para o
time você será a esposa de Andrew, e ele o seu esposo.
Astrid revirou os olhos, fingindo irritação, e olhou Cameron com
sarcasmo.
— Sendo assim, enviarei um pedido de permissão — disse aos risos,
e Andrew lhe deu um selinho.
— Não dê atenção a ele, só está tentando tirá-la do sério —
explicou.
A recepcionista nos avisou que estavam todos à nossa espera na sala
de jantar. Então, finalmente havia chegado o momento de resolvermos as
últimas coisas que faltavam.
“Eu estava começando a acreditar que umas poucas vezes em sua vida, se você tiver sorte, você
pode encontrar alguém que é exatamente o certo para você. Não porque é perfeito, ou porque você é,
mas porque suas falhas combinadas permitem que dois seres separados formassem um só”.
A Redenção – Lisa Kleypas

Entramos na enorme — não, imensa! — sala de jantar do palácio.


Cumprimentamos o rei e a rainha com uma reverência. Cameron
puxou a cadeira para mim, e, depois de já estar sentada, ele se sentou ao
meu lado. Andrew fez o mesmo a Astrid.
Estavam presentes os irmãos mais novos de Astrid: Sarah, de cinco
anos, Leonardo, de seis anos, e August, de dezesseis anos, que foram
apresentados e nos cumprimentaram.
— Rebecca — a rainha Martha chamou —, não pude deixar de
perceber o lindo anel em sua mão.
Sorri, olhando-a, e levantei minha mão.
— Estou noiva — anunciei.
O rei Erick e a rainha Martha se olharam com alívio, animação e
parecendo tirar um peso de seus ombros.
— Ficamos muito felizes por isso — informou.
O jantar foi servido, e, após as conversas jogadas fora, o rei e a
rainha se entreolharam, conversando pelo olhar. O rei disse algo a um dos
guardas, que concordou.
— Andrew e August, vocês poderiam levar as crianças para os seus
quartos, por favor? — Martha pediu delicadamente.
Os dois concordaram e, com prontidão, saíram com as crianças, e o
guarda com quem o rei havia conversado brevemente saiu com mais da
metade dos outros guardas, deixando apenas três na sala de jantar.
— Acredito termos assuntos a serem alinhados — iniciou o rei.
Apertei a mão de Cameron que estava em minha coxa, ele virou a
mão e entrelaçou os nossos dedos.
— Astrid me informou que você sabe muitas coisas, então explicarei
como funcionará. O que minha mãe queria era que algum Styles tivesse um
vínculo matrimonial com a monarquia, entretanto, na alteração que
consegui fazer junto de William, conseguimos limitar essa obrigação à
terceira geração de Charles, ou seja, se Cameron se casar com outra pessoa,
os filhos, netos, bisnetos e qualquer pessoa da geração de Cameron jamais
precisarão se casar com alguém da monarquia.
O rei voltou o olhar a Cameron.
— Peço desculpas por uma coisa tão séria ser jogada em suas mãos,
mas não tivemos uma alternativa a não ser mudar para isso.
Cameron balançou a cabeça em concordância.
— Dadas as circunstâncias, acredito que isso não seja mais um
problema — Cam afirmou e sorriu ao me olhar.
— Tem razão, mas devo lembrá-los de que, após todo o serviço
prestado para o nosso país, o vínculo será eterno, porque os anos em que
ficarem aqui renderão segredos, informações a serem guardadas com vocês
até o tumulo.
— Estamos de acordo, majestade — eu disse.
— Quanto ao filho de vocês, lamento em informar que não
poderemos mudar isso.
Eu e Cameron nos olhamos.
— Sabemos disso — Cameron disse.
— Quanto a sobrenomes e a demais coisas que não dizem respeito à
monarquia, nem mesmo William conseguiu mudá-los, são irrevogáveis.
Ele revezou o olhar entre mim e Cameron, e apenas concordamos
com o que já sabíamos.
— Cameron, quanto à estadia e segurança de vocês, o que tem a
dizer?
— Sugiro que, além de alguns dos meus seguranças estarem
presentes, os de Antonella também. Acredito que ela é uma das pessoas
mais confiáveis para monitorar tanto a minha segurança quanto a de
Rebecca, se minha noiva estiver de acordo — afirmou, me olhando.
Olhei Antonella e Polly, entendendo que isso havia sido combinado
antes, me lembrei do que Antonella disse de só um tolo não querer sua
segurança, de que o rei Erick estava ao nosso favor, mas que sua família
viria sempre na frente. E, não posso discordar que, no meio de tantos
homens, poder confiar em duas mulheres que estão acima de qualquer outro
homem aqui, além do rei, é tranquilizador e até mesmo poderoso.
— Estou de acordo — confirmei, olhando o rei e a rainha.
— Astrid — rei Erick se voltou à filha —, alguma objeção?
— Nenhuma. Não podemos deixar de concordar que o cuidado que
Cameron tem com Rebecca é admirável.
Ela sorriu ao me olhar.
— Vejo que criou um laço de amizade com eles — comentou a
rainha Martha.
— De fato — concordou Astrid.
— Isso será bom para o tempo em que o casal passará no palácio
após o casamento — relembrou o rei Erick.
— Queremos conversar apenas com Cameron, Rebecca e Astrid —
anunciou o rei Erick de repente. — Se bem me lembro, vocês conversaram
antes de nós. — Ele se levantou e pegou a mão da rainha, ajudando-a
graciosamente a se levantar.
— Ele está bravo? — questionei Astrid pouco depois de me levantar
e encaixar meu braço no de Cameron, enquanto o rei e a rainha andavam
mais à frente.
— Não — ela sorriu —, ele está admirado com vocês, na verdade.
Te achou muito inteligente, e Cameron determinado, e os dois ousados —
explicou, me fazendo relaxar. — Ele preza muito pelo reinado, mas, acima
disso, admira quem valoriza a própria família e cuida dela.
Chegamos à enorme sala de reunião do palácio, que se tornou ainda
maior por ter apenas cinco pessoas presentes. Passamos da mesa de reunião
e paramos próximo a uma menor, com oito lugares. O rei se sentou em uma
ponta, a rainha e Astrid à sua direita, e eu e Cameron à sua esquerda.
— Devo admitir que você é uma garota muito inteligente, destemida
e corajosa, senhorita Rebecca — iniciou, me olhando.
Estava tão nervosa que comecei a apertar as unhas em minhas mãos,
sentindo pequenas marcas aparecerem. Cameron deslizou a mão na minha e
entrelaçou nossos dedos, o que me tranquilizou.
— Fico grata pelos elogios, majestade — consegui dizer.
— Não é comum vermos uma garota de sua idade se arriscando
dessa forma, veio ao palácio e em seguida foi ao encontro de Antonella. É
admirável. O que a motivou?
Olhei o rei.
— Ele — disse, observando Cameron, em seguida voltei meu olhar
ao rei. — Sabia que havia algo de errado e precisava descobrir, Antonella
não se mostrou ameaça quando passei dias em sua casa nos desfiles em
Paris e Londres; se fosse para ter feito algo contra mim, acredito que não
perderia tempo. E vir ao palácio, bom, eu sabia que podia confiar em
Astrid.
Martha olhou Astrid com uma felicidade enorme.
— Astrid nos disse sobre os anos a serviço do palácio — rei Erick
começou, e meu coração disparou — e nos informou que tem algumas
observações a serem feitas.
Eu e Cameron olhamos Astrid.
— Como serei a rainha, não quero que venham antes de terminarem
a faculdade, nem assim que o filho de vocês nascer, quero que aproveitem
os primeiros meses e anos de vida dele, para depois terem essa mudança tão
grande. Um bebê precisa sentir o conforto e aconchego do lar.
Segurei minha vontade de chorar e sorri ao ver que ela se importava
e estava sendo cuidadosa comigo, Cameron e nossa futura família.
— Sendo assim, se todos concordarem com a minha sugestão, os
anos de vocês no palácio poderão acontecer quando o filho de vocês estiver
com mais idade e após estarem formados. Quanto a isso, não temos pressa.
— Estamos de acordo, querida — a rainha Martha disse, e o rei
acenou em concordância.
Eu e Cameron nos olhamos, e ele balançou a cabeça positivamente.
— E nós também estamos de acordo, alteza — me prontifiquei.
— Ótimo, agora que está tudo resolvido, podemos definir a data do
casamento de vocês — o rei revezou o olhar entre mim e Cameron —, após
o Ano-Novo, uma semana depois das comemorações, no segundo sábado
do mês, que será no dia… que dia vimos, meu bem? — ele perguntou à
rainha Martha.
— Nove de janeiro, querido — ela disse.
— Tudo bem para vocês?
Cameron me olhou, pedindo confirmação, era claro que nesse
momento eu não tinha alternativa, o rei havia decidido essa data antes dessa
conversa, então acenei positivamente, ainda sem acreditar que em duas
semanas estaríamos casados.
Duas semanas.
Apenas duas.
— Essa data está ótima, rei Erick — afirmou Cameron.
Eu e Astrid trocamos um olhar tão reconfortante, tão amigável, tão
tranquilizador, que parecia ter algo mágico no ar.
Quando vim ao palácio, não tinha certeza de que tudo daria certo, e
ela me motivou. Então me dei conta de que não queria ser a amiga da
rainha, e sim de Astrid, apenas Astrid.
— Minha esposa cuidará de todos os detalhes com você, Rebecca,
mas, por hora, peço que aproveitem as festas de fim do ano. Alguém quer
acrescentar mais alguma coisa a esta reunião?
Todos concordamos que não, precisávamos apenas da aprovação do
rei nesse jantar e conseguimos.
— Então, estamos todos de acordo. Filha — chamou Astrid,
Cameron beijou minha testa e acariciou meu rosto —, quer ter a conversa
com Andrew ainda hoje?
— Ah, papai — Astrid se levantou, deixando o protocolo e as
formalidades de lado, e abraçou o pai pelos ombros —, o senhor está
cansado, vejo isso. Andrew deseja ver a família, podemos conversar depois.
— Tem certeza, querida? — questionou a rainha Martha, e Astrid
tocou a mão da mãe com graciosidade.
— Tenho, sim, mãe.
O rei concordou e se levantou da cadeira principal, beijou o rosto da
filha e da esposa, em seguida nos olhou. Eu e Cameron estávamos em pé
também, à espera do que o rei gostaria de falar.
— Vocês são novos e muito sábios — disse, começando a andar à
nossa frente —, imagino que tiveram uma criação semelhante à de Astrid.
— Algumas coisas explicaram os motivos de nossas criações, não
tudo, mas explicaram — disse Cameron.
— Imagino que sim. Fico feliz em saber que Astrid fez boas
amizades. Sendo sincero, quando os vi no desfile de Antonella em Paris,
sabia que esse seria nosso destino e fico feliz por vocês intermediarem a
chegada de um garoto que parece ter conquistado Astrid. — Acabamos
sorrindo em sintonia.
O rei parecia tão durão quando, na verdade, era apenas uma pessoa
cuja responsabilidade o fazia criar uma armadura.
— E, se não fosse pela minha esposa, teria acabado com a farsa de
vocês no desfile.
Pela primeira vez na minha vida, vi Cameron sem fala, surpreso e
perplexo. Ele abriu a boca para falar, mas a fechou, desistindo de sabe-se lá
o que ia dizer, e fez isso outras duas vezes. O rei Erick estava a ponto de
explodir em risadas, mas se conteve.
— Eu sinto muito, nunca foi minha intenção brincar com Astrid ou
nada do tipo. Não imaginava que… — Ele engoliu em seco e apertou minha
cintura. — Achei que não tinha percebido.
— Sei que acredita ser discreto, e de fato é, mas, quando o assunto é
sua noiva — o rei me olhou e voltou para Cameron —, você não é nada
discreto.
— Eu já ouvi isso antes — Cameron brincou.
— Rebecca, podemos conversar um instante? — Astrid me chamou.
Virei-me assim que a ouvi, soltei o braço de Cameron e me
aproximei dela.
— Eu estou tão, tão feliz por vocês — disse e me abraçou.
— E eu estou feliz por nós — corrigi. — Mas quando você e
Andrew aconteceram? — questionei em voz baixa.
A rainha Martha estava com o rei e Cameron conversando, e eles
não prestavam atenção em nós.
— Precisei mantê-lo distraído, ou ele ligaria para o seu noivo para
avisar que você estava indo para a casa de uma mafiosa — explicou.
— Ah, entendo. Imagino que tenha sido muito difícil mantê-lo
ocupado — insinuei.
— Rebecca! — repreendeu.
— Desculpe, alteza — brinquei, e ela sorriu envergonhada. — Mas
quero te perguntar uma coisa.
— O que quiser.
— Não sei se é possível, mas acredito que, quando for rainha, será
ainda mais difícil. De qualquer forma, gostaria de saber se há um jeito de
você ao menos ir para a casa em que estamos aqui na Noruega?
Os olhos dela brilharam, e eu sorri ao observar aquilo.
— É totalmente diferente daqui, pode ser enorme, mas é cheia de
gente, crianças, churrasco todos os dias, muita bagunça, principalmente
com a minha família e a do Cam juntas, não é nada como aqui, mas… acho
que você gostaria um pouco. A mãe e madrasta de Andrew estão com a
gente também e…
— Eu adoraria! — anunciou animadamente e um pouco alto, o que
fez Cameron, o rei e a rainha nos olharem. — Acredito que, após o Natal,
conseguirei ir, não posso deixar que o país saiba, mas consigo ir, sim.
Falarei com os meus pais, prometo.
— Não se esqueça de me avisar ou falar a Andrew — pedi, a
olhando e ela sorriu em concordância.
Soltei a respiração e a puxei para um abraço.
— Conseguimos, Astrid. — Olhei-a, e ela sorriu e soltou a
respiração com calma.
— Conseguimos! — comemorou discretamente.
— E como será com você e Andrew? — questionei, quando
Cameron se aproximou de mim e me abraçou pela cintura.
O rei e a rainha avisaram que voltariam para a sala de jantar.
— Não quero que ele se case sem ao menos me conhecer um pouco
ou ter a noção do que vai enfrentar. Ele vai se casar comigo e vai ser
príncipe consorte, são duas grandes responsabilidades de que quero que ele
tenha consciência. Ele precisa ter certeza se realmente quer essa vida.
— Ele quer — Cameron respondeu tranquilamente, tendo nossa
atenção. — É ótimo que você não queira que ele se case enganado, mas ele
sabe das responsabilidades e mesmo assim quer. Andrew já foi
irresponsável, e eu estava bem do ladinho dele quando isso aconteceu —
balancei a cabeça negativamente —, mas agora as coisas mudaram. Você
não vai se livrar dele, vai por mim.
Astrid sorriu, concordando.
— Vou acreditar em você, então — disse, dando de ombros. —
Acho bom voltarmos, meus pais precisam dar atenção aos meus irmãos e
descansar.
Concordamos, e eu envolvi meu braço no de Cameron. Ele olhou a
princesa e lhe ofereceu o outro braço, com um sorriso fofo. Ela aceitou,
surpresa pelo ato, mas Cameron sabia que Andrew teria a mesma atitude se
fosse ele em seu lugar, e, por algum motivo, aquilo me deixou feliz.
— Estou feliz — comentei durante nossa caminhada. — Imaginava
que o jantar seria tenso, complicado e cheio de regras, mas acabou sendo
mais fácil do que eu esperava.
— Asseguro-lhe que estou tão feliz quanto você — Astrid
confessou.
“Eu nunca soube que você era a pessoa que estava esperando por mim porque nós éramos apenas
crianças quando nos apaixonamos e não sabíamos o que era”.
Perfect – Ed Sheeran

Nós nos despedimos de todos, e eu e Cameron seguimos para o


jardim, para esperarmos os outros e irmos para a limusine. Andrew avisou
que se juntaria a nós em breve e que aproveitaria o tempo em que Antonella
e Polly ainda conversavam com o rei e a rainha, pois ele queria se despedir
devidamente de Astrid.
E, considerando que era Andrew, sabíamos bem o que
“devidamente” se tratava.
— Amor? — Cameron chamou quando nos sentamos em um dos
bancos ao redor de uma escultura de flamingo que jorrava água pela boca.
— Sim. — O olhei e percebi que ele estava tenso.
— Não temos muito tempo, mas… depois do que você disse de
madrugada sobre o quadro de Antonella, pedi que meu pessoal pesquisasse
tudo sobre ela, e — ele abaixou ainda mais o tom de voz — Elliot
conseguiu informações sobre ela com o primo que trabalha na delegacia.
— E o que encontraram?
— Ela não possui nenhum tipo de antecedente criminal, não tem a
ficha suja na polícia.
— Bom, era de se esperar — observei.
— Sim, mas — ele pareceu pensar na forma exata de falar o que
quer que fosse — ela não existia até dez anos atrás.
Franzi o cenho.
— Como assim não existia?
— Não há registro dela no país. É claro que, como uma mafiosa,
não conseguiríamos descobrir nada sobre ela, a não ser que ela quisesse,
mas, sobre Antonella Loughty, a estilista mais rica dos Estados Unidos,
podemos descobrir algumas coisas. Ela possui biografia e registros
específicos, e isso disfarçou algumas coisas.
Olhei para nenhum ponto em especial, assimilando aquela
informação.
— E Bridget Davis Valle, não existe ninguém com esse nome nos
Estados Unidos, é como se fosse um fantasma.
— Cam, há alguma foto do registro de Antonella?
— Sim. — Ele tirou o celular do bolso e me mostrou.
O olhei, assustada.
— A última vez em que vi Bridget, eu tinha oito anos de idade,
posso não me lembrar com exatidão, mas é ela.
— Amor…
— Cam, eu tenho certeza, total certeza de que é ela — disse, tirando
o meu celular da bolsa. — Quando a vi, foi com oito anos, há exatos dez
anos.
Procurei a foto em minha galeria, e passamos a encarar as duas
fotos, revezando-as.
— Puta merd…
— Crianças — Antonella chamou.
Dei um pulo pelo susto e bloqueei meu celular no mesmo instante,
assim como acredito que Cameron fez.
— Vamos? — questionou.
— Ah, claro. — Me levantei.
Cameron se levantou e passou o braço em volta da minha cintura.
— Por que eu sinto que você vai fazer alguma coisa?
O olhei sorrindo e o beijei rapidamente. Nossa chegada à mansão
Styles foi mais rápida do que eu esperava, e era um pouco menor que o
palácio, como meu noivo havia dito. Andrew foi o primeiro a sair por estar
na porta, Cameron saiu e estendeu a mão para que eu saísse, em seguida fez
o mesmo por Antonella e Polly.
— Agora que vocês estão seguros, podemos…
— Acredito que nossos pais vão querer saber de tudo, e seria tão
bom se vocês pudessem passar um resumo do nosso jantar, junto com a
gente, não acha, madrinha?
Andrew saiu no exato momento em que me ouviu chamá-la de
madrinha. Cameron me olhou, mas não estava surpreso. Polly estava com
os lábios entreabertos, e Antonella empalideceu.
— Rebecca…
Soltei a respiração.
— Então estou certa?
— Esse assunto não deveria ser…
— Polly — Antonella a conteve —, isso não é sobre os negócios.
Cameron apertou minha cintura. Ficamos em um silêncio
embaraçoso, e eu senti as lágrimas queimarem em meu olhar.
— Por quê? — perguntei sem a olhar.
— Moranguinho, preciso que entenda que…
— Estarei pronta para conversar quando estiver disposta a contar a
verdade. Não como chefe, não como estilista, apenas como a minha
madrinha. — A olhei.
— E eu estou pronta, Rebecca, quando você quiser.
— Podemos entrar?
— Não — Polly disse.
— Por causa de Alec e Ned? — rebati.
— Rebecca! — Cameron repreendeu.
— O que mais você sabe, Malik? — Polly questionou, parecendo
impaciente.
— Não sei de nada, na verdade, apenas juntei algumas suspeitas e
entendi que havia algo de errado — justifiquei.
As duas mulheres se entreolharam.
— Filha? — papai chamou, e eu o olhei.
Ele vinha acompanhado de tio Benjamin, vovô Marcus, tio Silas e
vovô John. Papai beijou minha testa e sorriu ao me olhar.
— Estou feliz pelo seu noivado, docinho.
O abracei, em seguida abracei os outros homens, que em seguida
cumprimentaram Cameron. Voltei aos braços de meu noivo, e ele acariciou
meus cabelos. Benjamin encarava Antonella de uma forma diferente, voraz,
com raiva, assim como Silas encarava Polly.
— Antonella e Polly, acredito que precisamos conversar. — A voz
grossa e firme de meu avô Marcus ecoou.
Olhei-as e franzi o cenho. Elas sempre exalaram poder, e agora
pareciam amedrontadas como nunca havia visto.
— E acredito que você saiba muito bem sobre o que se trata,
Antonella — Benjamin cuspiu quase que em um rosnado.
— Filha, por favor, entre e encontre sua mãe e os Styles — papai
pediu, me afastando de todos, exceto de Cameron.
— É sobre Alec e Ned, não é?
Comecei a respirar descontroladamente.
— Eu devia saber que você seria a primeira a desconfiar, mas
preciso que entre com seu noivo.
— Só se me prometer não esconder mais nada — pedi —, não
quando se referir a eu ser afilhada da chefe da máfia — sussurrei.
Cameron me soltou para que meu pai pudesse me abraçar.
— Sem mais segredos, docinho, você já é quase uma senhora casada
— brincou e beijou o topo de minha cabeça antes de me soltar. — Cuide
dela — pediu, olhando Cameron.
— Sempre.
Seguimos caminhos diferentes, papai se juntou aos homens de nossa
família, e eu entrei em casa junto de Cameron.
Nossas famílias, exceto meus avôs, meus dois tios e meu pai,
fizeram festa assim que chegamos. Uma festa no sentido literal.
Logo na entrada, havia uma faixa com a frase “Parabéns aos
noivos”, uma mesa com um bolo e docinhos típicos de festas brasileiras;
uma mesa com refrigerantes e salgados, sendo coxinhas, bolinhas de queijo,
rissoles, que com certeza foram feitos pelos Nogueira, e refrigerantes, e, na
outra mesa, de onde as crianças não se aproximavam, estavam as bebidas.
Natalie foi a primeira a pular em nós, nos abraçando ao mesmo
tempo. Em seguida cumprimentamos todos, familiares e amigos.
— Nunca apresentou ninguém à família, mas, quando decidiu fazê-
lo, foi como sua noiva, Cameron? — Rolland, um dos tios de Cameron,
brincou.
— Melhor do que Arthur, que simplesmente nos informou de que
estava casado — Thomas, o tio paterno mais velho, afirmou.
— Ora, deixem os noivos em paz — uma mulher disse, e me dei
conta de que era a única mulher Styles dos irmãos de Arthur, Adelaide.
William me olhou e ergueu a taça em aprovação.
Cameron seguiu para Elliot e Andrew, após me apresentar
orgulhosamente a todos de sua família que não me conheciam. Elliot pulou
no ar com Cameron, e os dois, estranhamente, bateram seus peitorais
propositalmente.
Olhei minha família.
Não que eles não fossem importantes, não que eu não quisesse me
jogar nos braços deles e abraçá-los, mas… minha mãe e minha avô paterna
estavam juntas de todos, e, pela primeira vez, eu soube que não conseguiria
conter minhas palavras.
E, ao contrário dos Styles e Hansen, minha família estava dominada
por uma tensão incomum, porém explicável.
— Estamos tão felizes por vocês, docinho, sabia que resolveria tudo
— mamãe disse e me abraçou.
— Minha madrinha também ficou muito feliz — eu disse, baixo o
suficiente para que ela e minha avó Ângela, que estava ao seu lado,
ouvissem.
Mamãe me puxou delicadamente, e apressadamente, para um canto
e olhou no fundo de meus olhos.
— Sei que está irritada e decepcionada, mas aqui não é lugar para
falarmos disso — repreendeu. — Há outras coisas sendo resolvidas,
Rebecca, não me faça ter a certeza de que fiz certo em esconder isso de
você.
— O que quer dizer?
— Que você é tão impulsiva quanto eu na sua idade. Isso pode ser
uma bênção, mas usada no momento certo, como ao trancar Cameron no
próprio quarto e vir para a Noruega, mas, quanto a Antonella, nenhuma
impulsividade cairá bem.
Balancei a cabeça em concordância, e, em seguida, ela saiu ao ser
chamada por Eliza, que não parava de tagarelar sobre sempre ter certeza de
que eu e Cameron resultaríamos em casamento.
— Irmã! — Isaac gritou.
Me virei em sua direção, e ele pulou em mim, quase me derrubando.
— É verdade o que disseram? Você vai se casar com Cameron? —
questionou ainda com os braços envoltos em mim.
Nicholas havia chegado junto com ele e parecia tão tenso quanto eu.
— Sim, é verdade, e eu não vou devolvê-la — Cameron respondeu.
— Ela é minha irmã — Isaac protestou.
— Eu cheguei antes de você, baixinho — implicou e bagunçou seus
cabelos.
A verdade era que Isaac não era mais tão pequeno assim aos seus
treze anos. Ele era como Cameron e eu quando tínhamos aquela idade, os
maiores das nossas turmas.
— Eu posso morar com vocês?
— Mas que por…
— Cameron! — intervi.
Ele gargalhou e deu de ombros.
— E, não, garotinho, você não poderá morar com a gente.
— A culpa é sua — Isaac acusou.
Eles começaram uma luta de mentira no meio da casa, e eu
aproveitei a distração para sair. Me aproximei de Nicholas, que estava com
Louis no colo. Meu irmãozinho se jogou em meus braços. Ele envolveu os
pequenos braços ao redor de meu pescoço e não me soltou. Eu e Nicholas
nos olhamos e rimos.
— Só eles para me entreter agora — comentei, me sentando em uma
cadeira próxima de nós.
Ele se sentou ao meu lado, e Eloise veio correndo em nossa direção.
Os gêmeos ficaram abraçados comigo, e eu precisei me virar para ficar
abraçada com os dois. Coloquei um sentado em cada coxa, sem me
importar com o peso, sentia tanta falta deles que nada importava. Os dois
ficaram deitados em mim.
— Você sabe?
Balancei a cabeça positivamente.
— Foi uma bagunça aqui — admitiu. — Assim que Jasper e Alec
chegaram, deram de cara com vovô Marcus e vovó Ângela. Os dois
conseguiram disfarçar, mas Jasper é muito mais inteligente do que, acredito,
eles esperavam. Então, quando ele viu tio Benjamin, bom, disse que
precisavam conversar, e assim começou.
Cameron se sentou ao meu outro lado, e Eloise pulou para o colo
dele. Os gêmeos não paravam quietos, e Cameron parecia adorar as
brincadeiras deles.
— Estou muito feliz, porque vocês vão se casar, mas como foi que
isso aconteceu? — Nicholas mudou de assunto.
— Eu o tranquei dentro do próprio quarto e vim para a Noruega —
expliquei.
Nicholas gargalhou tão alto que todos os olhares se voltaram a nós.
— Por favor, não — Cameron disse e fechou os olhos.
— Tio Dave! — Nicholas o chamou, com ele estando do outro lado
da sala, onde as bebidas estavam na mesa.
— Nicholas, nã…
— Ela trancou Cameron no próprio quarto e veio para cá, por isso
ele a pediu em casamento — anunciou.
E, naquele momento, a nossa história entrava para a favorita de
nossas famílias.
— Você me paga, Rebecca — Cameron disse.
O olhei e abri um sorriso maroto.
— E eu já sei de que forma você vai pagar — insinuou em um
sussurro.
Oslo, Noruega
Qui., 03h12, dezembro
Eu e Cameron estávamos sentados no sofá, quase deitados, na
verdade, ele com o braço envolto em mim e segurando Eloise com o outro,
enquanto eu estava com Louis.
— Baby — Cam chamou, mexendo-se um pouco.
Eu me arrumei no sofá.
— Vamos colocar as crianças nos berços?
Mamãe se apressou em se aproximar, ela havia perguntado no
mínimo oito vezes se queríamos que ela ficasse com as crianças.
— Eu e seu pai os levaremos, nós…
— Mãe — eu a interrompi —, está tudo bem — afirmei, me
levantando. — Estava com saudades deles, e isso amenizou um pouquinho
— admiti, e ela sorriu concordando. — Boa noite, mãe. — Beijei seu rosto.
Subimos as escadas, e Cameron envolveu o braço desocupado em
minha cintura.
— Você está bem?
— Cansada e curiosa, muito curiosa — confessei.
Coloquei Louis cuidadosamente no berço, e Cameron fez o mesmo
com Eloise.
— Curiosidade só não será o seu sobrenome, porque Styles será —
relembrou.
— Filha? — papai chamou.
— Sim, pai. — O olhei.
Cameron se manteve no quarto e observou as crianças.
— Precisamos conversar sobre… tudo — disse um pouco sem jeito.
— Pai — peguei em sua mão —, você está exausto e eu também.
Podemos tomar café amanhã, apenas eu e você.
Ele abriu um sorriso.
— Eu adoraria, caramelinho — admitiu.
Beijei seu rosto.
— Então amanhã conversaremos sobre tudo.
Nunca havia visto papai daquela forma, como uma criança sem
rumo.
— Não quero deixá-lo remoendo toda a situação, mas… — suspirei
cansada e o abracei — não aguento ter mais uma conversa dessas hoje.
Ele concordou e beijou minha mão. Cameron saiu do quarto e ficou
parado na porta, como se fosse invadir nosso espaço caso se aproximasse.
— Venha, amor — o chamei e acabei rindo.
— Finalmente a pediu em casamento, garotão — papai disse. —
Precisou que ela o trancasse em um quarto — ironizou.
— Isso vai me perseguir até os meus filhos.
— Faremos questão disso, tem minha palavra — papai caçoou.
E aquele ar zombeteiro o deixava jovial.
— Boa noite, crianças — desejou para, então, se retirar.
Avisei a Cameron que tomaria um banho antes de descansarmos, e,
quando saí, meu coração quase explodiu por vê-lo com Luke em seu braço
direito, Natasha sendo abraçada pelo braço esquerdo e Ryan deitado com a
cabeça apoiada em uma das pernas de Cameron. E todos assistindo a
Naruto.
Observei aquela imagem com um sorriso bobo nos lábios.
— Meus amores — os chamei, Natasha me olhou, desceu da cama e
correu até o meu colo. Ryan pulou em mim e quase me derrubou.
— Ryan! — Cameron disse em tom autoritário, mas sem gritar. —
Você precisa tomar cuidado, ela estava com sua irmã nos braços e poderia
ter caído! — concluiu.
— Desculpe, Cam — Ryan pediu sem jeito e como se tivesse feito a
coisa mais errada do universo.
Olhei Cameron, em seguida olhei o pequeno à minha frente. Com
Natasha ainda em meus braços, eu me inclinei um pouco para que Ryan me
ouvisse.
— Ele está certo, Ryan, eu poderia ter caído. Mas está tudo bem,
você só se empolgou muito. Só tome um pouquinho mais de cuidado da
próxima, combinado?
Seu rosto se iluminou, tomando um ar de alívio, e ele sorriu em
concordância.
— Agora — arrumei minha postura —, vocês precisam ir dormir —
disse, arrastando Ryan para fora do quarto.
Natasha já estava apagando deitada em meu ombro.
— Amor, deixe que eu levo Natasha, e você leva o Luke — disse
Cameron, parando em minha frente.
Antes que eu pudesse dizer que conseguia levar ambos, ele pegou
Natasha com um braço só enquanto segurava Luke com o outro. Peguei o
pequeno no colo com cuidado e segui para o quarto dele com Ryan agarrado
em minha cintura. Depois de colocar Luke no berço, fiz Ryan se deitar e
adormecer ouvindo uma história rápida. Deixei o abajur ligado, pois ele
tinha medo do escuro.
— Ah, meninos, muito obrigada — ouvi tia Eliza dizer.
— Filhinha! — Arthur anunciou.
— Pai, as crianças — Cameron observou e o puxou para sair do
quarto.
— Ele está muito animado com o casamento e bebeu um pouco —
Eliza disse, enlaçando o meu braço com o seu.
— Todos estamos animados, sogra — afirmei e beijei sua bochecha.
— Agora, preciso urgentemente descansar um pouco.
Ela beijou minha testa e se despediu.
— Sua vez de descansar, minha noiva — Cameron disse quando saí
do quarto.
Passei a mão em sua cintura e selei nossos lábios.
— Estou de acordo, meu noivo.
Cameron saiu do banho com um short de linho fino preto, sem
camisa e secando os cabelos com uma toalha.
— Amanhã vou tomar café da manhã com meu pai, ele quer me
explicar tudo.
Ele se deitou ao meu lado, e eu o abracei pela cintura. Cameron
ficou em silêncio, e aquilo significava que ele discordava.
— O que foi?
Abruptamente me sentei, interessada no que ele tinha a falar. Seus
braços se mantiveram ao meu redor, e ele me encarou.
— Não discordo de você querer saber sobre a sua família, sobre a
sua madrinha, até mesmo sobre seus familiares mais próximos, mas
discordo de você não descansar.
— Então eu deveria descansar enquanto tenho primos que descobri
agora e uma madrinha chefe da máfia?
— Sim, é exatamente isso. — Ele se recostou na cama.
E a calma com que falava comigo me deixava irritada.
— E você só está se irritando dessa forma porque está cansada —
alegou, e eu revirei os olhos.
— Descansar agora será o suficiente — rebati.
— Você sabe muito bem que não.
— O que quer dizer, Cameron?
Ele ficou instantes olhando em meus olhos e passou os dedos,
irritantemente carinhosos, em meu rosto.
— Quero que descubra tudo o que está acontecendo, mas quero que
descanse primeiro, não em algumas horas apenas. Você acabou de descobrir
que tem primos que sempre estiveram por perto, mesmo sem saber,
descobriu coisas sobre a máfia, nós nos casaremos em duas semanas, sabe
sobre o vínculo entre a minha família e a monarquia, aceitou passar por
várias coisas antes e depois do casamento. — Tentei não o olhar, mas seus
dedos tocaram meu queixo, e ele inclinou o meu rosto em sua direção. —
Rebecca, você sabe que puxa tudo para você e que não fica bem depois. É
muita coisa para uma pessoa só.
Ficamos nos olhando, e ele balançou a cabeça.
— De qualquer forma, você vai fazer o que quer — relembrou e deu
de ombros, deixando claro que não estava surpreso.
— Parece que estou cometendo um crime — comentei.
Deslizei minhas pernas na direção do meu peito e apoiei meus
braços em cima de meus joelhos, ficando de costas para Cameron. Seus
dedos passaram em meus cabelos e pararam em minhas costas.
— Não está cometendo crime algum, meu amor, mas discordar de
decisões faz parte, e não quero limitá-la, é a sua família, mas gostaria muito
que descansasse de verdade antes de ter outra conversa sobre assuntos tão
sérios.
Virei-me para olhá-lo, e ele abriu os braços como um convite.
Aproximei meu corpo do dele, e sua mão alcançou minha cintura.
— Eu te amo, minha noiva.
Seus lábios tocaram os meus suavemente enquanto suas mãos
passeavam em minhas costas. Aconcheguei-me próximo de seu corpo e
passei as unhas em sua nuca.
— Eu te amo, meu noivo — murmurei durante o beijo.
Me inclinei para a frente, e, quando ia colocar uma perna de cada
lado, ele me segurou pelo quadril.
— Amor…
Franzi a sobrancelha e me arrumei na cama, sentindo minhas
bochechas corando de vergonha.
— Certo — disse a mim mesma. — Melhor irmos…
— Me escute — pediu, sentando-se na cama, e passou a mão em
meus ombros, de modo a afastar meus cabelos. — Eu te amo e,
sinceramente, adoraria que continuássemos, mas… não assim. — Ele soltou
a respiração, e eu o olhei.
— Sim, eu sei, eu…
— Você não entendeu — prosseguiu —, sei que quer pensar em
qualquer coisa que não sejam as coisas que estão acontecendo em nossas
vidas. E, meu amor, acabamos de noivar, nos casaremos em algumas
semanas, é muita coisa para se pensar, entender. — Ele pegou minha mão e
a beijou. — Mas, se continuarmos com isso para você não precisar pensar
em nada, a situação ficará pior.
Pisquei algumas vezes e, quando tomei coragem, o olhei.
— O que acha de descansarmos, minha noiva?
Balancei a cabeça positivamente. Ele se deitou, e eu ao lado dele,
com seu braço envolto em mim.
— Cam — o chamei, quando as luzes foram apagadas, restando
apenas o abajur ligado.
— Sim?
— Obrigada — ele me olhou —, por me entender, até mesmo antes
de mim. Pela primeira vez, eu pensei estar pronta — admiti.
Ele beijou minha testa e apertou mais o braço ao meu redor.
— É isso o que noivos fazem — afirmou ao fechar os olhos.
— Você está certo, meu noivo. — O abracei.
Meu noivo e, em algumas semanas, meu esposo.
“Eu não vou desistir de você dessa vez, mas querida, apenas me beije devagar. Seu coração é tudo o
que eu tenho e em seus olhos você está segurando o meu”.
Perfect – Ed Sheeran

Estávamos no escritório da mansão dos Styles, onde havia uma sala


para as refeições que tinha paredes de vidro e nos deixava ver a beleza e
calma de Oslo.
Tomamos nosso café, e papai começou a contar tudo o que eu
precisava saber. O início de tudo era na minha família, a de Cameron e a de
Antonella.
Os Styles e Davis eram, e ainda são, as famílias estadunidenses mais
antigas da cidade de Los Angeles, assim como a família Nogueira é a
família brasileira mais antiga.
Os Styles mandavam na cidade de forma legal, enquanto os Davis
eram ilegais com a ajuda dos Nogueira. E as coisas pareciam não ter
mudado muito, visto que os Styles eram os mais falados até mesmo em
jornais, enquanto a minha família preferia não estar em nenhum tipo de
mídia, e os Davis, agora Loughty, eram fantasmas.
Porém, depois que Charles, o bisavô de Cameron, se vinculou à
máfia e à monarquia norueguesa, os Styles optaram em nunca mais se
associar à política de forma externa.
Os Nogueira voltaram ao Brasil e lá ficaram durante anos, e os
Davis desapareceram, mas, para a minha infelicidade, nunca perderam o
relacionamento com a minha família paterna.
Sendo assim, mesmo com os anos se passando, minha família
seguiu trabalhando para os Davis, até a geração de meu avô Marcus.
Quando Antonella Loughty, na época Bridget Davis Valle, nasceu,
meu avô Marcus, da família Nogueira, que estava casado com minha avó
Ângela e que havia recentemente tido um filho, Benjamin, precisou retornar
para os Estados Unidos, a serviço da máfia.
Vovô ofereceu vinte anos de trabalho em troca de ter sua família
livre da máfia, e o trato foi feito.
O pai de Antonella a odiava por ter nascido mulher, pois acreditava
que jamais conseguiria ser forte o suficiente para chefiar a máfia, então
contratou o meu avô para treiná-la e torná-la uma pessoa ao menos boa o
suficiente e que servisse para alguma coisa futuramente, ou seja, a geração
de um filho homem e herdeiro da máfia.
—… o senhor Davis sempre ofereceu ao seu avô o cargo de
subchefe, mas aceitar aquilo significava nunca mais poder sair, então seu
avô não aceitou e prometeu que ensinaria tudo para Antonella — papai
falou, durante sua explicação. — Isso depois de o bisavô de Cameron e de o
avô de Antonella terem sido o chefe e subchefe da máfia.
Ao completar seus doze anos, Antonella passou a ter treinamentos
de autodefesa, se mostrou ótima em conflitos físicos e, o que era
impressionante, era ótima com facas.
Aos quinze anos, Antonella era ótima com diversas armas, era a
melhor em defesa pessoal e sabia sair de qualquer briga sem um arranhão,
sabia por completo as leis e os protocolos da máfia, havia decorado o
juramento e era apaixonada pelo meu tio Benjamin, que durante todo esse
tempo a acompanhou, tendo o mesmo treinamento que Antonella e a
defendo a qualquer custo.
Com dezesseis anos, Antonella foi apresentada a Polly, da família
britânica Sallow, que foi treinada para ser sua conselheira futuramente,
porém as famílias queriam seus caminhos ligados e, para isso, a
matricularam em Liberty, onde Antonella estudava.
Onde Georgia estudou.
Onde Anthony estudou.
Onde os Styles, Malik, Nogueiras, Hansens, Paynes… todos, onde
todos estudaram.
—… Georgia e Anthony…? — Encarei-o com olhar interrogatório.
— Não para a máfia em si, e sim para Antonella, por questões
pessoais de — ele me olhou — você, a sua segurança e o seu
desenvolvimento em Stanford.
Ao contrário de Antonella, tudo o que Polly não podia fazer era ter
um filho, porque isso significava ter outras preocupações. Viver em prol de
outra pessoa como uma criança ou se apaixonar era estritamente proibido,
seu único proposito deveria ser servir a máfia estadunidense.
Entretanto, a primeira pessoa a recebê-la foi meu tio Silas, gêmeo de
tio Paulo, assim dando início à história deles.
Antonella, Polly e Georgia se tornaram grandes amigas durante a
época escolar e seguiram juntas para Stanford. Entretanto, Antonella
engravidou.
E o senhor Davis não sossegou até saber se era um menino ou uma
menina, mas, quando soube, optou por se desfazer da neta, desprezá-la,
afirmar que ela era mais um erro em sua descendência, e, novamente,
Antonella se viu sem os pais e com apenas os meus avós para apoiá-la. A
mãe de Antonella preferia ter uma vida de luxos ilegais ao aceitar sua
própria filha e sua neta.
De qualquer forma, Rylie teve de tudo por parte dos meus avós e até
mesmo dos pais de Antonella — que enviavam pequenas fortunas aos meus
avós como pagamento —, e se estivesse viva, teria em torno de trinta anos
ou mais.
Quando Rylie tinha doze anos, Antonella descobriu estar grávida
novamente, e não contou a ninguém até saber se era um menino ou uma
menina, e, quando soube que era um menino, Alec, usou como desculpa
para os meus avós e tio Benjamin que teria de resolver questões da máfia,
que Rylie não poderia desconfiar, que teria que ser cuidada como nunca, e
então conseguiu sair de Los Angeles e se mudou para uma cidade pequena
no Canadá, onde seu pai não a alcançaria.
Polly a acompanhou sem hesitar, estava separada de tio Silas, que
estava estudando em Yale, e, para a sua surpresa, dois meses depois de estar
no Canadá, ela descobriu estar grávida de três meses de um menino, Ned.
As famílias Davis e Sallow eram repulsivas a níveis absurdos. Como
Alec nasceu meses antes de Ned, Antonella o deixou com a família de
Georgia, uma família rica que detestava os pais de Antonella e morava em
uma cidade tranquila em São Francisco, mas com Polly…
Os pais descobriram que ela estava no país para ganhar o bebê, eles
a encontraram no hospital, não a deixaram pegar Ned no colo, tiraram-no
dela e tentaram dar um sumiço nele, mas Antonella conseguiu reverter a
situação, e assim Ned e Alec cresceram juntos, como irmãos.
Quando Antonella voltou para a minha família e sua filha, ela estava
diferente, guardava o segredo de ter um filho e não podia contar a ninguém
sobre, era arriscado o senhor Davis saber disso e colocar Alec como
herdeiro, e ainda tinha a máfia que ela assumiria, afinal. Então, o
relacionamento com Benjamin já não dava mais certo, e decidiram que seria
ideal darem um tempo.
E esse tempo durou dois anos, até Rylie adoecer. Dos quatorze anos
aos dezesseis, Rylie lutou contra o câncer.
Os Styles nunca gostaram muito dos Nogueira — assim como
ironicamente os Malik detestavam os Nogueira —, diziam que minha
família havia ajudado o senhor Davis a colocar Charles no meio disso, uma
mentira contada e levada pelo próprio Charles para a geração de William,
mas uma rixa de família não foi páreo para o amor entre Rylie Nogueira e
Castiel Styles.
Castiel esteve ao lado de Rylie até, literalmente, o seu último
suspiro. Quando seus batimentos pararam, ele estava lá, e, após isso, o
coração dele parou em um acidente de moto.
Por algum motivo, ouvir tudo aquilo apertou meu coração de forma
que me fez chorar, causando o interrompimento das explicações de meu pai.
— Podemos parar, se quiser, caramelinho — sugeriu enquanto
passava a mão para cima e para baixo do meu braço, ao me abraçar.
Respirei fundo e levei o copo de água até os lábios, deixando que o
líquido me ajudasse a retomar a compostura.
— Não, quero saber tudo.
E ele continuou:
A perda de Rylie foi devastadora para todos, para os Nogueira e os
Styles, e, de certa forma, uniu nossas famílias. E para Antonella foi
devastadora e fundamental para que ela não quisesse mais ficar em Los
Angeles.
Seis meses após o falecimento de Rylie, Antonella se encontrou com
Benjamin para se despedir, pois decidiu que se mudaria para outro país, sem
seus pais, sem familiares, amigos ou qualquer coisa que lembrasse a filha, e
a despedida concebeu Jasper.
Porém, durante o luto de Antonella, Polly passava com meu tio Silas
as noites em que ela queria ficar sozinha, e não foram necessárias
informações de quando ocorreu a gravidez de Luce.
— Luce… — murmurei.
Tirei os óculos e os coloquei em cima da mesa.
— Eu não fazia ideia — admiti e fechei os olhos. — Durante todo
esse tempo, Jasper e Luce sempre do meu lado, contando a Cameron sobre
os meninos que me assediavam, a amizade ingênua e inesperada, totalmente
sem explicação, que fiz com eles… tudo isso porque eles são minha família.
Alec… Ned… eu…
Relaxei na cadeira, exausta.
— Filha…
— E o que aconteceu depois?
— Você tem certeza de que quer continuar com isso? Faz horas que
estamos aqui.
Acenei para que ele continuasse.
Quando eu nasci, meses após Jasper e Luce, Antonella retornou para
as nossas vidas, a semelhança entre mim e Rylie era tão grande que ela
desejou vê-la de perto e passou a ser muito próxima de mim.
Ao completar os meus dois anos de idade, passei a chamar
Antonella — Bridget, na época — de madrinha e tio Benjamin de padrinho,
apenas por influência do meu amor por eles, e com cinco anos isso se
tornou real.
Eu a escolhi.
Eu…
Mas a história não acabou.
Antonella se manteve em minha vida pelo máximo que pôde.
Alec morava em São Francisco com Ned e a família de Georgia, e
Luce com Jasper e Samuel. Foi a família de Samuel quem cuidou deles,
porque trabalhavam para Antonella, porém moravam em Los Angeles, do
lado sul.
E, com os quatro morando nos Estados Unidos, Antonella e Polly
conseguiam monitorá-los, não que isso tivesse mudado em algum momento.
— Se ela sempre teve olhos em mim, imagine neles — comentei.
— Com certeza.
Porém, o senhor Davis, tendo mais de setenta anos, ainda era capaz
de causar um inferno na vida da filha e de Polly.
De alguma forma, ele descobriu sobre os quatro antes de qualquer
outra pessoa, descobriu sobre eu ser a afilhada de Antonella, contactou os
Sallows, e, juntos, programaram uma viagem para encontrar os netos, mas
eles, curiosamente, sofreram um acidente horas antes de chegar a Los
Angeles.
E foi nesse momento que Antonella se tornou a chefe da máfia,
quando passou de Bridget a Antonella, quando precisou se tornar um
fantasma, quando precisou matar Bridget e acabar com qualquer vínculo,
qualquer relacionamento, tudo.
Antonella era uma pessoa totalmente diferente de Bridget, era a
chefe da máfia e uma estilista renomeada. Era a falcão vermelho.
Seus rivais não sabiam que ela era a chefe da máfia nem mesmo
quem trabalhava para ela ou quem lhe devia. Ela era um fantasma.
—… e foi assim que ela conseguiu mantê-los a salvo. Se as pessoas
soubessem que Antonella é a falcão vermelho, que você é afilhada dela, que
Jasper e Alec são seus filhos, que a esposa dela tem dois filhos, vocês
correriam perigo. Sei que detesta escondermos alguma coisa de você,
mas…
— Eu entendo, pai — o interrompi.
Aquela sensação de que eu faria qualquer coisa por alguém que amo
cresceu em mim.
— Mais do que nunca, eu entendo. Há poucas coisas que eu não
faria por Cameron, pelos meus irmãos, por vocês… — Ergui meus olhos
para ele. — Eu arriscaria minha vida por ele — admiti.
— E arriscou — observou. — O que foi muito inconsequente.
— Bom, pelo menos não fugi com uma jovem chamada Olívia
Malik, cuja família me odiava — observei.
Ele arregalou os olhos, parecendo ofendido.
— Eu sabia que você usaria isso contra mim um dia — alegou.
Dei de ombros e sorri para ele, mas meu sorriso foi sumindo quando
uma dúvida surgiu.
— Quando descobriu sobre Alec, Ned, Jasper e Alec?
— Alec e Ned vieram por indicação de Georgia, e, quando olhei
Alec, a cópia de Benjamin mais novo, eu entendi. Na noite do jantar,
quando disse que viajaríamos para a Suíça para ajudar sua tia Ada, na
verdade, antes de irmos à Suíça, conversamos com Antonella. Eu e sua
mãe, e — ele sorriu, nostálgico — a conversa foi a pior possível.
— E por qual motivo você está sorrindo?
— Ora, porque você é igual a ela — franzi as sobrancelhas, confusa
—, sua mãe. Ela ignorou o fato de que estava na frente da falcão vermelho e
falou como quando éramos mais jovens, e elas discutiram. Sem medir as
palavras, sem ser cuidadosa, simplesmente falou.
Revirei os olhos, sem querer.
Ele gargalhou, e eu não consegui resistir a me juntar a ele nas
risadas, mas, quando elas foram sumindo, o ouvi dizer:
— Foi quando descobrimos sobre eles, mas sobre Jasper e Luce foi
durante a ida à casa de campo do papai. Benjamin desconfiou, vi nos olhos
dele isso, mas ele nunca agia impulsivamente.
Recostei-me novamente no banco em que estava.
— Agora você sabe de toda a história, é livre para reagir.
Me levantei rapidamente, percebendo que o entardecer havia
chegado, e agora a noite caía sobre o céu, escurecendo-o.
E, merda, Cameron estava certo.
Quando me dei conta, minhas vistas estavam embaçadas; a voz de
papai, longe, e então tudo ficou escuro, e eu já não ouvia mais nada.
“Em toda vida ocorre um momento decisivo. Um instante tão extraordinário, tão claro e tão nítido
que temos a sensação de havermos sido golpeados no peito, deixados sem fôlego, sabendo, sem a
menor sombra de dúvida, que nossa vida jamais será a mesma”.
O Conde Enfeitiçado – Julia Quinn

Abri meus olhos devagar.


Pisquei algumas vezes, incomodada pela claridade, e consegui ver
que estava em meu quarto, o que dividia com Cameron na mansão. Um
homem conversava com o meu pai, e Cameron estava sentado em uma
cadeira ao lado da cama, com a mão junto à minha.
Não me viu acordar, seus olhos estavam voltados aos homens, e ele
ouvia a conversa com muita atenção.
— O que…
— Ei, nada de se levantar de uma vez! — Mamãe, que eu não havia
visto, disparou, aproximando-se e me forçando a deitar novamente.
— O que aconteceu? — questionei, sentindo um mal-estar, e minha
cabeça doía.
Dei-me conta de que um de meus braços estava com um acesso pelo
qual eu recebia soro na veia.
— Estávamos conversando, e você desmaiou — disse papai,
olhando-me com culpa. — Esse é o doutor Martin, enviado pelo rei Erick
— o apresentou.
O doutor começou a explicar que minha glicemia se elevou de
repente, mesmo tendo tomado a medicação que a deixava controlada. Não
era só por conta da alimentação, era pelo emocional também, tinha
consciência disso.
Cameron estava com os olhos fixos em mim e, se pudesse, diria
naquele momento que havia me avisado.
— Senhorita Malik, a crise de diabetes e o desmaio não foram
causados apenas pela alimentação, pois, de acordo com os exames em nosso
sistema, não é a primeira vez que tem essas crises. Seu desmaio repentino
foi devido a fortes emoções e ao estresse, que influenciam muito em quem
tem diabetes. Teve algum acontecimento que a deixou assim?
Eu e mamãe nos olhamos por instantes, e ela parecia estar pronta
para me dar uma bronca enorme.
— Certo. É recomendável e muito necessário que descanse,
senhorita Malik. Você é muito nova para ter desmaios por estresse e
cansaço mental.
— Ela vai descansar, doutor. Obrigado pela orientação. — A voz de
Cameron ecoou firme, com preocupação e irritação no tom.
O olhei e suspirei como uma criança encrencada.
— Ótimo. Descanse e se hidrate — o doutor disse, retirando
cuidadosamente o acesso que estava em meu braço.
Nós nos despedimos, e papai pediu para que um segurança o
acompanhasse até a saída. Mamãe se manteve de pé, ao lado de Cameron, e
cruzou os braços de imediato. A porta foi fechada, e ela começou:
— Estamos todas de acordo que isso tem que parar?
Me sentei na cama e abaixei o olhar.
— Desde que chegamos aqui, você não descansou, não parou um
segundo sequer, está resolvendo uma coisa atrás da outra.
— Mãe…
— Não me interrompa, Rebecca.
— Isso não estaria acontecendo se vocês não tivessem escondido
nada de mim — acusei e, na mesma hora, quis colocar as palavras dentro da
minha boca, para nunca as pronunciar.
Ela me encarou por segundos que pareceram horas.
— Muito interessante a colocação de suas palavras, vindas de
alguém que hoje sofre por tamanhas responsabilidades que nós, seus pais,
que erramos muito, colocamos em você — ela disse com ressentimento. —
Com que idade você pensa que deveríamos te contar? Com treze anos?
Com quinze? Aos dezesseis? Não, melhor, no início deste ano depois de
tudo o que passou com Turner?
— Olívia…
— Erramos muito, Rebecca, muito e estamos tentando não fazer
tudo isso de novo, mas você precisa entender que esses assuntos não foram
coisas que escondemos por luxo nosso, porque não queríamos nos dar o
trabalho de explicar algo a você. É sobre a máfia, sobre a chefe da máfia.
Não é sobre uma luta que não te contamos, uma volta para Los Angeles ou
coisas assim. É muito maior que isso. Você está lidando diretamente com a
monarquia e a máfia, vê o peso que tudo isso tem? Acha que você, aos
dezesseis anos, saberia lidar com isso?
Mamãe respirou fundo, e Cameron se levantou de seu lugar para que
ela se sentasse.
— Entendo que é curiosa, filha, a pessoa mais curiosa, caça-
problemas e inteligente que eu conheço, mas isso a está afetando muito.
Senti meus olhos encherem d’água, e ela continuou:
— Você chegou à Noruega para resolver questões com as pessoas
mais poderosas que há neste país, depois foi para a casa de Antonella pegar
mais coisas para si. Não falei uma só palavra contra tudo isso, sabia que não
resolveria, eu a conheço, mas agora está na hora de parar. Nossas famílias
estão se resolvendo, e sua madrinha conversará com você.
Em silêncio, Cameron e papai saíram do quarto.
— Você passar mal foi seu corpo implorando pelo mesmo que eu.
— Ah, mãe… — murmurei pouco antes de começar a chorar.
Ela me abraçou.
— Tudo o que poderemos fazer será aceitar a decisão dos meninos e
os acolher com todo o amor familiar que eles nunca tiveram, nada além
disso. E Antonella… você sabe de toda a história, pode imaginar o quão
difícil foi para ela?
Balancei a cabeça em concordância e a abracei um pouco mais forte.
— Eu me importo com sua saúde, docinho, principalmente a
emocional.
— Não queria ter jogado a culpa em vocês — admiti.
— Entendemos o seu ponto de vista, mas agora descanse, filha. Seus
primos, tios, Antonella e Polly não retornarão até a véspera de Natal, então,
por favor, descanse.
A soltei, limpei o rosto e respirei profundamente pela primeira vez
desde que cheguei. Beijei sua mão, grata pela forma como resolvíamos as
coisas agora.
— Quero meu noivo — murmurei.
Ela abriu um sorriso enorme e caminhou até a porta, e os dois
homens quase caíram para dentro do quarto, pois estavam ouvindo toda a
conversa.
— Em minha defesa, fui manipulado pelo meu sogro — Cameron se
justificou.
— Que absurdo ser acusado de algo assim — papai rebateu.
Puxei meu noivo pelo braço para que se sentasse na cama, precisava
do calor do corpo dele no meu.
— Como se sente, caramelinho? — papai questionou.
Cameron não ousava encostar em mim de forma audaciosa quando
meu pai estava por perto, então se limitou a pousar a mão em minha cintura
e acariciar minha mão.
— Estou bem, de verdade, acho que minha glicemia está em ordem.
— Perfeito. Você quer…
— Vamos, amor, hora de termos uma conversinha também —
mamãe disse, arrastando meu pai para fora do quarto, e bateu a porta ao
sair.
Me virei, olhei Cameron e selei nossos lábios com calma.
— Você deve estar louco para me dar um sermão, não é?
Ele sorriu e se aproximou mais de mim.
— Na verdade, não — disse e acariciou meu rosto. — Estou
aliviado por vê-la bem, mas, gostaria que tivesse me ouvido. O que
pretende fazer agora?
— Nada. Não quero ter uma conversa séria, quero apenas aceitar o
que aconteceu e chega. Agora que sei de tudo e entendo, não quero mais
explicações. Ele afundou os dedos em meus cabelos.
— Ótima ideia — declarou, descendo seus lábios em meu pescoço,
e suas mãos subiram em minha cintura.
Ele me olhou por instantes e sorriu, colocando uma mecha de cabelo
para trás da orelha. A porta foi aberta, e Cameron levantou em um pulo que
me fez gargalhar.
— Cacete, Rebecca, você me deu um susto! — Natalie acusou,
puxando-me pelos ombros para um abraço, depois de se jogar em minha
cama.
— Você está incontrolável, Rebequinha do Mel — Andrew disparou
e caminhou até mim, e eu me levantei para abraçá-lo, em seguida abracei
Natalie corretamente.
— Como está, capitã? — Elliot questionou depois de me abraçar
também.
— Com licença, mas minha noiva precisa descasar — Cameron
disse, envolvendo o braço em minha cintura.
— Está se achando só porque está noivo — Andrew provocou.
— E você também está se achando — Elliot rebateu.
— E você em breve estará — Cameron disse a Elliot, rindo junto
com Andrew.
Eu e Natalie nos olhamos, e seus olhos cintilavam.
— Vá descansar, amiga. Amanhã é véspera da véspera de Natal.
Beijei seu rosto, e os meninos saíram junto dela. Depois de um
longo banho, eu me deitei na cama e esperei que Cameron terminasse o dele
para que se deitasse comigo. Peguei uma blusa preta fina de mangas
cumpridas e a coloquei, tirando a outra que eu usava. Pela primeira vez
desde que cheguei aqui, parei e fiquei olhando pela janela. Havia começado
a chover. Os braços fortes de Cameron envolveram minha cintura.
Ele me virou para si e me puxou até a cama, onde nos deitamos.
Fiquei com uma das pernas em cima de seu corpo, o braço em cima de seu
peitoral e o rosto próximo de seu pescoço, onde minha respiração roçava
em sua pele.
— É tão bom — murmurei, sentindo seu braço se envolver em
minha cintura, ele subiu a mão desocupada em minha nuca e acariciou meus
cabelos e os puxou levemente. — Um momento de paz com meu noivo.
Eu o senti sorrir, mesmo estando de olhos fechados.
— Estava contando os minutos para isso — afirmou enquanto
acariciava minha cintura.
Eu o observei por instantes, e, quando ele desceu o olhar em minha
direção, ficamos nos encarando por instantes até nossos lábios se
aproximarem para selar um beijo.
Ele me deu um, dois, e, no terceiro selinho, sua língua pediu espaço
para invadir minha boca.
Me arrumei melhor em cima dele e senti seus dedos puxando ainda
mais meu cabelo e seu braço fechar em minha cintura.
De início, era um beijo cheio de carinho e cuidado. Mas, conforme
nossas bocas se moviam com lentidão, o beijo passou a ser carregado de
desejo, e uma vontade enorme dele, de senti-lo, de tê-lo, fazia meu corpo
queimar, arder.
Cameron foi descendo a mão que estava em minha cintura com
calma e astúcia, até chegar à minha bunda. Ele a apertou devagar uma vez
e, na segunda, com mais força, pressionando-me contra o seu corpo.
Sorri ainda o beijando, ele me virou e ficou por cima, me olhou
sorrindo e devorou meus lábios outra vez. Arranhei sua nuca e o senti
respirar fundo e ficar ofegante. Seus lábios desceram em meu pescoço, e
uma de suas mãos entrou por baixo da minha blusa.
Comecei a respirar com dificuldade, sentindo meu corpo estremecer
e se arrepiar. Cameron subiu a mão devagar em meu abdômen, de uma
forma que me torturava. Sua mão subiu um pouco mais quando ele voltou a
me beijar e, quando estava próximo de chegar ao meu seio esquerdo, ele
parou e desceu a mão novamente até a minha cintura.
Passei as mãos em seu abdômen, e ele se pressionou ainda mais
entre minhas pernas, deixando-me senti-lo, e ele parecia ser… enorme.
Eu queria tocá-lo.
Queria mais.
Queria-o por inteiro.
Queria descer as mãos até onde eu tanto desejava, descobrir se ele
era tão grande quanto parecia, quanto me deixava sentir, queria…
Bruscamente me levantei e o empurrei para o lado. Minhas pernas
tremiam, e meu clítoris pulsava de excitação. Meu corpo estava quente e
transpirando, mesmo sendo frio na Noruega.
— O que acha de fazermos um café gelado? — questionei
repentinamente, apenas para que aquela expressão interrogativa
desaparecesse de seu rosto.
Ele se manteve me encarando, e eu decidi sair. Caminhei na direção
da escada no fim do corredor e, ao chegar à cozinha, suspirei aliviada por
estar totalmente vazia. Cameron não demorou para descer também.
— Você não devia ao menos colocar uma camiseta? — perguntei de
braços cruzados.
Felizmente os aquecedores da casa não permitiriam que Cameron
congelasse, mas, no momento, adoraria que ele não estivesse com seu
abdômen definido e delicioso descoberto.
— Devia — disse passando por mim e me deu um selinho. — Desde
quando gosta de café? E gelado? — Ele fez uma careta.
— Desde que aprendi a fazer, com Deborah — expliquei. — Pegue
o gelo para mim — pedi, e ele se manteve parado encostado na pia.
— Faltam duas palavrinhas — observou.
— Pegue, agora — rebati com uma arrogância fingida.
Ele colocou as mãos em minha cintura e me puxou para si em um
impulso.
— Vou ter que te ensinar boas maneiras, Rebecca? — sussurrou.
Fechei os olhos e soltei a respiração, voltando a ter o controle de
minhas ações.
— E eu vou ter que te ensinar a ser mais rápido e ágil, Cameron?
— Rápido e ágil eu sou, mas não para isso — insinuou.
— Cameron!
Ele riu e deu de ombros.
— Precisa de quantas formas de gelo? — Questionou durante seu
percurso até a geladeira.
— Duas… por favor — acrescentei.
Ele pegou as duas e as trouxe para o balcão.
— Não vou tomar esse negócio.
— Tenho certeza de que vai e quando gostar, vai querer tomar o
meu e vamos ter sérios problemas porque eu não vou te dar.
— Não vai me dar?
Quando o olhei, sua expressão estava carregada de malícia.
— Você é patético — declarei.
— Mas não vai me dar? — Dei um tapa em seu braço e ele riu alto.
— Por que está fazendo quatro copos se somos apenas dois?
— Porque meu pai tem o dom de aparecer sempre que faço esse café
e sempre quer pegar o meu, espere e verá. Venha me ajudar — exigi,
puxando-o pelo braço.
— Um é do seu pai, e o outro?
— Do meu sogro — ele sorriu. — Acho que meu pai está com ele,
depois de levar bronca da minha mãe.
Cameron começou a me ajudar e questionava cada ingrediente que
eu colocava, até mesmo a quantidade de gelo não escapou de suas
perguntas.
— Cam, me deixe pegar um negócio no armário — disse, parando
em sua frente.
Não tinha como abrir a parte de baixo do armário com seu corpo
parado na frente. Ele me olhou e cruzou os braços.
— Só depois de um beijinho.
— Você não está merecendo — rebati, tentando puxá-lo para sair da
frente, mas ele continuou parado.
O encarei seriamente, e ele abriu a boca para falar, mas não o fez
quando me viu amarrar o cabelo. Abaixei-me em sua frente, com os olhos
presos aos dele e as mãos deslizando nas laterais de seu abdômen.
Dei uma leve empurrada nele com a mão em sua cintura para ir para
o lado, e ele estava tão aéreo que simplesmente foi. Peguei o último
ingrediente que faltava e me levantei.
— Obrigada por colaborar, amor — debochei, selando rapidamente
nossos lábios.
Me afastei para terminar o café gelado e, enquanto estava
despejando o pó de canela, senti o braço de Cameron envolvendo minha
cintura.
— Você gosta de brincar com fogo, não é?
— Só gosto de brincar com você. Um a um, meu noivo.
Terminei de colocar o pó de canela nos quatro cafés e me virei com
o meu copo.
— Aliás, você quem começou, lembre-se disso — afirmei, tomando
um pouco do café pelo canudo.
Ele tentou pegar o meu canudo, mas não deixei e me virei de costas
outra vez.
— O seu está aqui.
Eu o ouvi bufar e me apertar. Beijou a curva de meu pescoço e me
soltou. Cameron pegou o copo, tomou um pouco e arregalou os olhos como
se aquele fosse o melhor café que ele já tivesse tomado na vida. Parecia
uma criança feliz em comer algo que nunca havia comido.
— Eu falei, não falei? Eu falei — disse convictamente.
Ele riu sem se importar muito e voltou a se deliciar.
— Nossa, isso é muito bom — murmurou, fechando os olhos, e
passou a língua nos lábios.
— Quando Deborah me ensinou a fazer, minha vida mudou —
assegurei em tom brincalhão.
— E a minha acaba de mudar — esclareceu, maravilhado. — Mas
eu estou com fome, será quem tem alguma coisa para comer?
— Deve ter alguma coisa no forno.
— Cadê o meu café, minha adorável filha? — ouvi a voz de papai
vinda da entrada da cozinha e o olhei, estava junto com tio Arthur, como
deduzi.
Cameron, no entanto, não se importava com nada além de seu café
gelado.
— Aqui, e não me venha com adorável filha, seu fingido — disparei
em tom de brincadeira, coloquei seu copo na bancada, e papai se sentou à
minha frente. — E fiz para o senhor também — disse a Arthur, que me
olhou surpreso e encantado. — Só não sei se vai gostar.
— Isso é muito bom — Cameron disse. Ainda dentro de seu
mundinho e com uma bandeja de pão de queijo que estava no forno,
levantou o olhar e observou o pai. — Ah, oi, pai, oi, sogro —
cumprimentou. — Pai, você vai amar esse negócio.
— É café gelado — eu e papai dissemos em uníssono.
Tio Arthur tomou um gole, e seu olhar foi o mesmo que o de
Cameron ao beber pela primeira vez.
— Eu queria dizer — Arthur começou remexendo o café com o
canudo — que isto aqui é muito bom.
— Não é? É ótimo! — Cameron afirmou.
E eu percebi que ele e Arthur tinham um mundinho juntos que era
só deles.
— Meu Deus! — papai exclamou com sofrimento. — Minha filha
vai se casar — lamentou e pegou em minha mão.
— Lá vai começar a chorar — Arthur debochou, me fazendo abrir
um leve sorriso.
— Não me atrapalhe — papai ordenou, mas pareceu um jovenzinho
implicando com o melhor amigo.
Então me olhou e depois olhou Cameron.
— Não a machuque para não ser machucado — iniciou papai.
— Lembre-se de que ela sabe usar uma metralhadora — Arthur
relembrou.
— E que tem muitos tios — disse papai.
— E é afilhada da chefona — Arthur continuou.
— E o seu time de futebol é mais dela do que seu — completou
papai, me fazendo gargalhar.
— Vocês combinaram isso? — perguntei curiosa e rindo animada.
— Não — os dois disseram ao mesmo tempo.
Papai apertou minha mão de leve. Me levantei e o abracei.
— Eu te amo, pai.
— E eu te amo, filha. — Ele beijou minha testa.
— Como assim vocês estão tomando café gelado e não me
chamaram? — A voz de mamãe ecoou.
Acabei rindo. Minha sogra estava junto de minha mãe e se
aproximou de Arthur e tomou um pouco do café gelado, fazendo uma
expressão de satisfação misturada com surpresa.
Sem formalidade nenhuma, Cameron me puxou pela cintura ainda
sentado. Envolvi um de meus braços em seus ombros e beijei sua bochecha.
Tio Arthur e papai começaram a conversar com Cameron, enquanto
mamãe falava sobre estar pensando nos detalhes de meu casamento.
—… a rainha Martha pediu para, depois do Natal, irmos ao palácio,
ela quer saber tudo o que você deseja para o casamento — disse mamãe
animada.
— Eu adoraria que vovó Abigail fosse comigo, ela tem um talento
único para a decoração — afirmei. — Tudo o que sei é que quero que seja
azul-claro — esclareci.
Mamãe falou alguma coisa que não entendi, pois voltei minha
atenção à voz de Cameron, que questionava:
— Azul? Algum motivo em específico?
Olhei seus olhos, que, quando me olhavam, após um dia longo e
cheio de confusões, estavam azul-claros e vivos, fazendo-me sentir ainda
mais viva.
Quando estávamos em um momento de desejo, seus olhos pegavam
fogo e ficavam bem azuis; quando ele se declarava, seus olhos carregavam
amor, sinceridade, carinho e devoção, ficando também mais azuis do que o
normal.
Seus olhos, azuis como o céu em um dia limpo e perfeito, me
deixavam em paz em um dia tempestuoso, e eu sabia que jamais mentiriam.
— Sim, você, os seus olhos.
Ele abriu um sorriso encantador e beijou meu rosto com carinho.
— Como desejar, minha noiva.
“O amor verdadeiro é algo bem diferente. É quando o resto do mundo se cala. Não são os olhos que
se encontram, mas as almas que dançam. Acolhem-se um no outro. Cedem espaço um para o outro
até que não haja mais onde se esconder”.
Kate Sharma – Série Bridgerton

Era sexta-feira.
Véspera da véspera de Natal, e eu sempre me lembrava disso por
causa de Natalie, que fazia questão de falar isso por causa de uma série a
que ela amava assistir.
Acordei um pouco antes do meu normal, abri um pequeno espaço
entre as cortinas e olhei o céu azul.
Estava cinco graus, mas, devido aos aquecedores que havia na
mansão, era possível usar um moletom durante o dia, desde que não
saíssemos de casa.
Medi minha glicemia, vendo que precisaria aplicar minha
medicação antes de descer para tomar café da manhã. Ontem, depois do
café gelado, eu simplesmente deixei de lado a medicação e dormi. Seria
mentira se eu dissesse que me furar todos os dias com as medicações e
medições da glicemia não era cansativo, pois era e muito. Mas aprendi a
conviver com isso.
Alguns dias, eu relaxo um pouco e depois volto a me cuidar no dia
seguinte. Por fim, apliquei minhas medicações.
Esperaria alguns minutinhos para a insulina regular fazer efeito, e a
outra insulina — chamada NPH — faria efeito ao decorrer do dia.
Caminhei até o guarda-roupa do quarto, em que estavam
organizadas as roupas que eu e Cameron trouxemos para as férias. Cada um
tinha sua parte, como se já fôssemos casados, e eu amava aquilo.
Na minha parte, peguei um moletom que não usava desde o término
com Cameron antes de ir para a faculdade. Sempre o olhava e chorava, por
isso evitei usá-lo.
E agora tudo o que tinha eram boas lembranças. Aquele moletom,
um preto do Paris Saint-Germain, foi o primeiro que ele me emprestou em
toda a nossa história. Aconteceu quando demos um encontrão no meio do
refeitório de Liberty e o lanche dele caiu todo em mim; devido a isso,
Cameron simplesmente entrou no banheiro das meninas e me entregou o
moletom.
Acabei sorrindo sozinha, com um ar nostálgico e, devo admitir,
irônico. Peguei-o em minhas mãos, o coloquei e me encarei no espelho.
E, através do reflexo, vi Cameron sair do banheiro com uma calça
de moletom preta e meias da mesma cor, ele sorriu vitoriosamente, me
deixando à espera de uma provocação. Aquele sorrisinho sempre era um
indício de que viria algo.
— Que ironia, dona Malik — brincou, ao se aproximar de mim, e
me puxou pela cintura.
— Que ironia, Styles?
— O quarterback babaca e insuportável com quem você jamais
cogitou, em nenhuma hipótese, ter algo e com quem vai se casar justamente
agora — explicou enquanto dava beijinhos em meu pescoço.
Achei graça e me virei para olhá-lo.
— E você — levantei seu rosto pelo queixo antes que ele descesse o
beijo em minha clavícula —, prestes a casar com a nerd mandona que você
jurava não suportar, quando, na verdade, sempre foi louco por mim — ele
riu, me olhando e selou nossos lábios. — Tenho plena certeza de que
pensou no nosso casamento no primeiro reencontro que tivemos na
lanchonete Golden’s ou no primeiro jantar que fui à casa de seus pais e você
ficou me olhando o tempo todo.
Ele passou a língua nos lábios.
— Pensei nos sonhos que tive com você quando a encontrei na
Golden’s, mas, no jantar em casa… — seu tom seguiu um rumo malicioso
— nem queira saber o que eu estava pensando enquanto a olhava.
— Cameron!
— E penso muita coisa enquanto te olho — continuou para me
deixar ainda mais envergonhada.
— Você é um safado. — Eu me soltei dele, empurrando-o, e ele me
puxou pelo braço.
— E você gosta — disse, fechando a porta do guarda-roupa para me
pressionar contra ele —, ou vai me dizer que não?
— Vou optar pelo silêncio — rebati, e seus lábios ficaram ainda
mais próximos dos meus.
— Podemos ficar em silêncio, não vejo problemas. — Foi o que
disse antes de me beijar devagar.
Por mais que suas palavras fossem carregadas de malícia, Cameron
me beijou com cuidado e carinho, devagar, aproveitando cada instante
nosso como se fosse único, e com certeza era.
Ele me puxou pela cintura, me afastando do guarda-roupa e
caminhando até a cama. Afastou nossos lábios e acariciou meus cabelos.
— Você está voltando a fazer aquilo, minha princesa — disse, me
olhando nos olhos.
— O quê?
Ele pegou minhas mãos e, mesmo sabendo do que ele estava
falando, deixei que continuasse. Cameron encarou os pequenos fios
vermelhos de sangue em minhas mãos, alguns estavam com feridas
pequenas.
— Isso. — Ele beijou as costas de minhas mãos.
Me sentei na cama, e ele ao meu lado.
— Sempre faz isso quando fica muito nervosa, mas você tinha
parado há um tempo.
Abaixei o olhar e soltei um suspiro pesado.
— Estava nervosa enquanto conversava com o rei, e você me
ajudou. Mas, com meu pai, era muita coisa para pensar, e eu fiquei tão
apreensiva que fiz sem perceber.
Ele ficou me olhando como quem queria dizer “eu avisei”, mas ao
mesmo tempo era um olhar tão cuidadoso que não tinha como ficar
incomodada.
— Não quero que você continue nisso, amor. Por favor — pediu.
— Mas é incontrolável, quando vou ver, já aconteceu — disse,
abaixando o olhar, o que me fez me sentir culpada, mesmo que seu olhar
não fosse acusador.
— Não estou falando disso — disse ao beijar minhas mãos —, claro
que precisa parar com isso, com certeza precisa. Mas, no momento, estou
falando sobre você pegar coisas que não são suas. Sei que minha sogra já
falou sobre isso, então não vou repetir nada — ele me olhou nos olhos —,
mas, por favor, quero que se cuide.
— Eu vou. — Beijei a mão dele. — Não vou prometer, vou de fato
fazer.
Ele sorriu concordando e selou nossos lábios.
— Você parou? — questionei, olhando seus punhos, que tinham
cicatrizes pequenas e mais fundas que as minhas.
Ele pareceu surpreso com a minha pergunta, franziu o cenho, me
olhou e olhou para nenhum ponto em específico, em seguida voltou a me
encarar.
— Já desconfiava disso, porque, quando você ficava muito nervoso
para algum jogo em Liberty — comecei entrelaçando nossos dedos —,
passava horas treinando boxe, mas de uma forma que fazia seus punhos
ficarem machucados, ou, quando se estressava com outras coisas, fazia o
mesmo. Depois deu uma parada, mas, quando li algumas cartas suas,
quando estávamos separados, em uma delas tinha uma mancha de sangue,
não consegui pensar em outra coisa que não fosse isso.
Ele soltou nossas mãos e as mostrou.
— Nunca mais fiz e não pretendo.
Balancei a cabeça em concordância, e ele selou nossos lábios
devagar.
— Amor — resmunguei, afastando-nos —, o que acha de irmos
tomar café da manhã só eu e você?
Seus olhos se arregalaram, impressionados e contentes.
— Seria ótimo, minha noiva. Teremos que sair escondidos —
brincou, puxando-me para um beijo.
— Acredito que aqui tenham passagens, não? — questionei, em
seguida mordi seu lábio inferior.
— É claro — afirmou, então me levantei, e ele me puxou pela
cintura.
— Preciso me arrumar, me solte!
Ele apertou ainda mais minha cintura em resposta, e uma de suas
mãos começou a descer até minha bunda.
— Cameron! — o repreendi tentando me soltar.
— Ai, que porra! — reclamou. — Não se pode mais nada nessa
vida, que injustiça!
Ele se levantou, me fazendo gargalhar com sua reação.
— Para de reclamar, seu chato — impliquei.
— Você me chamou de chato? Quem você acha que é, hum? —
rebateu.
— Sou dona, trata de me obedecer — disparei.
Ele me olhou com um olhar que eu conhecia muito bem. A qualquer
instante, ele começaria a correr atrás de mim sem parar.
— Cameron… Cameron, não! — gritei quando começou a correr
atrás de mim dentro do quarto.
Passei por cima da cama aos risos, quando tentei desviar outra vez,
ele me puxou pelos quadris e me fez cair na cama com ele por cima.
— Você tem que entender, senhorita — ele se arrumou em cima de
mim —, que eu sempre vou ganhar nessas corridinhas.
— Não vale! — protestei. — Você é atleta, não tem como competir.
Ele sorriu, enquanto deslizava as mãos em meu corpo, e selou
nossos lábios.
— Amor — resmunguei quando seus lábios desceram em meu
pescoço.
Respirei fundo, tentando manter o foco, e o afastei com as mãos em
seu peitoral, fazendo com que ele me olhasse.
— Tomei minha medicação, eu preciso comer — expliquei.
Seu olhar, que antes pegava fogo, se tornou um olhar de
preocupação, e ele saiu de cima de mim.
— Ai, meu Deus.
Em um segundo, Cameron pegou em minhas mãos e me levantou da
cama com um impulso.
Troquei minhas roupas, me agasalhei o suficiente e saí do banheiro,
vendo-o já arrumado. Por alguns instantes, eu simplesmente parei para
olhá-lo e admirá-lo. Meu noivo era tão, tão lindo. De uma forma gloriosa.
— Você se apaixonou, foi? — Cameron provocou, me encarando.
Fiz uma careta, e ele gargalhou, se aproximou, me deu um selinho,
enquanto seus dedos se afundavam em meus cabelos, e puxou minha touca.
— Podemos ir, senhorita?
Concordei com um olhar, peguei minha bolsa, e seguimos para a
saída da casa. Nossa tentativa de sairmos escondidos deu supererrado,
quando me lembrei de uma coisa superimportante:
— Amor, não posso sair escondida assim.
— E por que não?
Acabei rindo e balançando a cabeça negativamente.
— Ainda tenho que dar satisfação para minha mãe, sabia?
— Você é minha noiva e…
— Noiva, não esposa — o relembrei e ele bufou — por enquanto.
Sendo assim — selei nossos lábios e me soltei de seus braços —, tenho que
deixar minha mãe avisada. Você devia ter se acostumado com isso, quem
não dá satisfação aos pais aqui é você, mocinho.
Ele fez uma careta e me puxou para fora do quarto.
Depois de avisar meus pais, seguimos para uma cafeteira chique,
luxuosa, muito bonita e movimentada, aparentando ser bem conhecida na
região.
Fizemos nossos pedidos após nos sentarmos em um lugar reservado
e calmo no andar de cima, perto do vidro que mostrava as ruas
movimentadas.
— Dá para acreditar que essa confusão toda do casamento acabou
sendo resolvida? — questionei assim que o garçom se retirou com os
nossos pedidos anotados.
A cafeteria era aconchegante, e a decoração linda de Natal era o
toque que precisava para ficar ainda mais perfeita.
— Dá para acreditar que você me deixou trancado no meu próprio
quarto e eu ainda a pedi em casamento? — rebateu em tom brincalhão.
Entrelacei nossos dedos, rindo de suas palavras.
— Você pediu por aquilo.
— Eu pedi compreensão, mulher! E em troca você me trancou.
Revirei os olhos.
— Ou era isso, ou eu te socaria, homem! Você estava pedindo um
soco bem no meio da sua cara. Eu jamais desistiria da gente — declarei.
Ele sorriu, divertido. Pegou minhas mãos e levou até os lábios para
beijá-las.
Comemos olhando o pessoal da rua e dublando conversas de casais.
Cameron me fazia rir alto e me deixava envergonhada quando alguém me
olhava, franzindo o cenho ou rindo das nossas risadas.
— Agora que já comemos — eu disse após sairmos da cafeteria —,
poderíamos dar uma volta, não? Nunca fizemos isso.
— Nunca?
— Não — afirmei, balançando a cabeça negativamente. — Uma
caminhada só eu e você, não — corrigi, e ele me puxou pela cintura.
Cam disse que conhecia o dono da cafeteria, pois sempre a
frequentava quando vinha para Oslo, e o homem o conheceu quando tinha
seus cinco anos de idade, então era confiável deixar o carro no
estacionamento de lá.
Passamos na frente do palácio. Cameron começou a me contar a
história da estátua que tinha na frente do palácio, e eu percebi uma coisa
que nunca havia notado: ele amava história.
Ele simplesmente não parava de falar, e eu o induzia a continuar, era
lindo vê-lo falar com tanto entusiasmo assim, e poderia ficar o dia todo o
admirando.
—… estou falando demais, não é? Meu avô materno quem me
contou tudo isso, é fascinante.
— Sim, é fascinante e, não, não está falando demais. Continue —
pedi, apertando seu braço, e beijei seu ombro.
Ele sorriu e beijou minha testa, em seguida voltou a falar sobre Oslo
e suas histórias, as vezes contando sobre outros lugares com alguma
conexão com o assunto.
Não havia visto a hora passar, estava tão entretida com Cameron que
só me dei conta quando minha fome fez meu estômago doer.
— Amor? — o interrompi e ele me olhou. — Estou amando tudo o
que você está falando, mas estou faminta.
Ele me olhou preocupado.
— Sim, claro, não me dei conta das horas. É tão bom conversar com
você — afirmou de uma forma fofa. — Podemos ir a um restaurante perto
daqui, depois voltamos para a cafeteria.
Fiz uma careta em resposta.
— Não estou com fome de comida — ele me olhou incrédulo, e eu o
empurrei pelos ombros levemente em provocação. — Quero um lancheeee
— pedi, cantarolando, e entrelacei nossos dedos.
— Para deixar metade, nunca aguenta comer tudo — implicou.
— Não é para isso que os namorados existem? Para comer a parte
do lanche que o outro não aguenta?
Ele deu um tapinha leve na minha testa que me fez rir.
— Você é uma abusada, e eu não sou seu namorado.
— Meu noivo — disse, o abraçando pela cintura, e selei os nossos
lábios.
“Amor não é algo que alguém é capaz de sentir ou não com base em alguma mágica. Alguma
química. Isso é teatro. Amor é determinação. Amor é uma escolha que se faz”.
Rainha Charlotte – Uma História Bridgerton

Seguimos para uma lanchonete, fizemos nossos pedidos e nos


sentamos em uma ponte de frente para um lago. Era tranquilizador aquele
ambiente, pouquíssimas pessoas estavam presentes e nada de barulhos de
carros ou pessoas falando alto.
Estava entre as pernas de Cameron, de frente para ele, que me sujou
duas vezes de molho, fazendo pontinhos em minhas bochechas. Dei-lhe um
tapa na segunda vez antes de limpar a sujeira, e ele gargalhou.
— Por que não vai mais viajar com a seleção de Stanford? —
perguntei.
Ele tomou um pouco de seu refrigerante de laranja — o favorito
dele — e me olhou.
— Não vou deixar minha mulher para ficar viajando, se eu quiser
viajar, eu viajo, mas com você, minha esposa — explicou.
Acabei sorrindo.
— Mas o time é uma ótima oportunidade, não?
— Sim, e esse é mais um motivo para que eu não vá — disse
naturalmente me fazendo franzir o cenho em confusão.
— Se é uma ótima oportunidade, você deveria ir.
— Amorzinho, para que preciso de uma ótima oportunidade se
tenho dezoito anos e já tenho meus negócios? Meu patrimônio? Já tenho
casas em outros países, carros e basicamente se quisesse não precisaria
trabalhar nunca mais e ainda daria uma vida de luxo aos nossos filhos.
Fiquei em silêncio, e ele prosseguiu:
— Vou estar no time de Stanford de qualquer forma, os diretores
concordaram de eu não viajar com os calouros, mas ficarei com os
veteranos e vou aproveitar para tirar o time das mãos daquele cara. — Abri
um sorriso. — Mas eu, Elliot, Peter e Josh concordamos em deixar essa
oportunidade para os outros meninos, já que temos uma vida financeira
estabilizada. E, por meio dessa viagem, os meninos podem se tornar
jogadores profissionais ou conseguir algum patrocínio. Não posso tirar isso
deles e não preciso de uma ótima oportunidade, como meu pai e meu avô
sempre me diziam, provavelmente quem vai dar oportunidades a outras
pessoas será eu por conta da vida que tenho. De toda forma, quero que os
meninos tenham as coisas por mérito deles, e para isso eles precisam dessa
viagem. Eles não aceitam que eu os ajude financeiramente, então essa é
minha única forma de ajudar, e vou falar deles para os patrocinadores
também.
Meus olhos brilharam de orgulho.
— Você amadureceu tanto, amor. — Ele me olhou surpreso. — O
garoto que me pediu em namoro falso era um garoto bom, mas não faria
isso, ou estou errada?
Ele sorriu em concordância.
— Mas pesou demais saber que tem gente que mexe com você em
Stanford, mesmo que não fôssemos nos casar agora, não conseguiria viajar
e a deixar lá.
— Estou conseguindo me virar.
— E eu vou virar Matteo do avesso.
Me engasguei com a minha bebida ao ouvi-lo. Ele gargalhou e deu
dois tapinhas em minhas costas, como se aquilo pudesse me ajudar.
— Você é demais — afirmei depois de me recompor.
— Só estou sendo realista. — Ele colocou o copo enorme dele de
lado e me puxou para mais perto. — Alec e Ned vão ter a mesma vida que
você, não serão mais seguranças de ninguém, tenho quase certeza de que
seus tios vão querer que eles estudem também. — Balancei a cabeça em
concordância.
— Ai, meu Deus…
— O que foi? — questionou ao ouvir minha murmuração.
— Se Alec e Ned já me protegiam fielmente, imagine agora sabendo
que são minha família — Cameron sorriu.
— Espero que eles vão para Stanford, eles jogam futebol
americano?
— Cameron — ele me olhou ainda com um sorriso nos lábios —,
você já está pensando no caos e na confusão na universidade?
— Com certeza.
— Que Deus me ajude! Três primos, meu esposo e meus amigos no
time, vocês não vão virar apenas Matteo do avesso, e sim Stanford toda.
Cameron riu alto para em seguida fingir uma expressão séria em seu
rosto.
— Serei um homem casado, não posso me comportar assim.
— Será casado, mas isso não significa que você não vai poder ser
você mesmo. Vamos fazer dezenove anos ainda, amor, não precisa se cobrar
ao ponto de não ir se divertir. — Ele me olhou, com um sorrisinho bobo. —
Isso não significa que você pode sair batendo em todo mundo, ok? E nada
de sair correndo só de toalha pela escola.
— Quem te contou? — questionou surpreso.
— Andrew — disse rindo.
— Um traidor, só quero deixar claro que ele estava comigo, e a
culpa foi dele por perder uma aposta.
Nós nos olhamos e rimos juntos.
— Onde vamos morar?
Ele sorriu e me abraçou pela cintura.
— Na nossa mansão.
— Mansão?
— Sim, é tipo a dos nossos pais aqui, num lugar reservado e só
nosso, mas fica no alto da cidade, da faculdade dá para ver. — Ele me
olhou.
— Da minha casa com Nicholas dá para ver, e, desde a primeira vez
que a vi, achei que fizesse o seu estilo — comentei, vendo-o abrir um
sorriso.
— Sei que queria ter algo mais simples, mas vou tratar de negócios
agora, minha casa vai dizer muito sobre meu empresário.
Acariciei seu rosto.
— Tudo bem, amor, eu entendo — disse, beijando sua bochecha. —
Vou vender a casa para Nic.
Ele franziu o cenho.
— A casa em que você morava em Palo Alto não é dele?
— Não. Ele morava em um apartamento quando cheguei, papai já
tinha comprado a mansão antes que eu chegasse a Stanford, mas está em
meu nome por enquanto. — Dei de ombros. — Tem foto da sua mansão?
Quero ver — pedi, olhando-o.
— Nossa mansão — corrigiu, me fazendo abrir um sorriso e
concordar.
Ele pegou o celular e me mostrou fotos do lugar, era de fato uma
mansão bem luxuosa.
— É linda, amor, perfeita, na verdade. Quando comprou?
— Ela sempre foi minha — disse rindo. — E agora é nossa. As
construções começaram quando você falou sobre ir a Stanford. Tem
algumas coisas que ainda quero acrescentar, mas faremos isso juntos — ele
sorriu.
— Quando chegarmos a Palo Alto, veremos isso — afirmei.
— Tem alguma coisa que queira falar sobre o jeito que repreendi
Ryan ontem?
— Na verdade, achei ótimo o jeito como falou com ele. Mostrou
autoridade sem ser agressivo, brigou com ele, mas explicou o motivo de ter
feito isso, e o principal, não gritou com ele nem o humilhou. Quero que
meus filhos no futuro entendam que não precisam gritar para serem
escutados.
Ele franziu o cenho.
— Eu fiz tudo isso?
— Fez — disse, rindo da expressão confusa em seu rosto.
Eu e ele nos olhamos por alguns instantes, hipnotizados pelo olhar
um do outro. Não me lembrava do quão bom era ficar assim com Cameron,
só eu e ele, ninguém para nos atrapalhar ou coisa do tipo. Até mesmo seu
silêncio, nenhuma palavra dita, era ótimo e me fazia amá-lo ainda mais.
— Quando tivermos um filho, você ainda estará estudando e…
Percebi que Cameron começou a ficar tenso enquanto falava. Ele
queria resolver tudo de uma vez.
— Amor — o chamei calmamente —, podemos falar sobre isso
depois do casamento, ainda temos outras coisas para resolver. Mesmo que
tenhamos um prazo, vamos planejar nosso filho, mas, no primeiro ano, não
precisamos fazer isso.
Ele soltou a respiração e selou nossos lábios com graciosidade.
— Você está certa. Minha mente fica acelerada. Ser esposo é uma
grande responsabilidade, e eu quero ser o homem perfeito para você.
— Todo dia vai ter algo em você que me irritará e algo em mim que
vai irritá-lo, seremos perfeitos imperfeitos, e, mesmo assim, vou amá-lo.
Não quero alguém perfeito, quero você, esse chato, teimoso e impulsivo
que você é — ele riu passando a língua nos lábios.
— E eu quero essa mandona que se acha a dona da razão, que diz
que eu sou teimoso, mas me vence nessa questão, que você é — replicou,
me puxando pela nuca.
— Chegamos a mais uma concordância, totalizando duas no mesmo
dia, um recorde a que nunca chegamos desde que… hmmm — pensei um
pouco —, desde que nos conhecemos.
Ele gargalhou.
— Concordar vai precisar ser rotina.
— Se você estiver errado, não conte com isso — alertei
rapidamente, e ele arregalou os olhos, impressionado.
— Eu nunca estou errado — assegurou com uma arrogância fingida.
— Quando você fala isso, já está errado — expliquei, o vendo bufar.
— Por que você é tão chata?
— É um dom — disse, convencida.
Ele deu de ombros e passou as mãos nos cabelos, jogando-os para
trás.
— Não consigo parar de pensar em uma coisa — começou, e eu
arrumei minha postura. — Um dos motivos para eu não querer que você se
casasse para evitar outro casamento era que… — ele respirou com
dificuldade e acariciou meu cabelo — não posso suportar pensar que você
vai fazer alguma coisa forçada, contra a sua vontade.
Fiquei segundos assimilando suas palavras, entendia o que ele
estava falando, mas me impressionava que ele ainda pensasse dessa forma.
— Amor — deslizei os dedos em seu braço —, eu não vou fazer
nem estou fazendo nada forçada — afirmei com calma. — Quem escolheu
ir atrás de todas as informações foi eu, porque não suportaria uma vida sem
você. Sei que se prende ao fato de termos sofrido abuso sexual — ele olhou
no fundo dos meus olhos —, mas com você eu não sinto nada parecido com
aquilo. Com você não tenho medo, pelo contrário, fico tão confortável que
tenho que me controlar — ele sorriu quando rocei meu nariz no dele com
suavidade.
Seus dedos desceram em minhas pernas, e ele me beijou devagar.
Quando nos afastamos, eu me arrumei em seu em colo, ficando com as
costas contra seu peitoral. Ficamos ali, sentados, sentindo a brisa fria e o
calor de nossos corpos.
— Os meninos me chamaram para jogar basquete hoje — Cameron
disse depois de alguns minutos em silêncio.
— E eu vou voltar para casa dormir um pouco — disse, o olhando.
Ele se levantou.
— A quadra é aqui perto, pode levar o carro para a casa depois, ou
quer que eu a deixe em casa?
— Ah, Cameron — disse com ar debochado, quando ele me ajudou
a levantar, segurando minhas duas mãos, e me puxou —, vai deixar seu
carro nas mãos de uma mulher?
— Vou — respondeu com naturalidade. — O caminho é tranquilo,
acredito que você não vá bater meu carro — afirmou com sarcasmo.
— E você vai jogar com essas roupas?
— Elliot levou minhas roupas para jogar — explicou, me puxando
para si e me abraçando pelos ombros — e depois vou embora com ele.
— Como quiser, senhor.
Seguimos para o carro de Cameron, e ele abriu a porta para que eu
entrasse, como sempre fazia.
— Eu já quase capotei um carro numa ribanceira — comentei,
quando ele se sentou no banco do passageiro.
— Você o quê?! — exclamou, de modo que me fez gargalhar pela
sua expressão horrorizada. — Quando foi que isso aconteceu, Rebecca?
Como? Onde?
Precisei de alguns minutos para parar de rir e me recompus.
— No Brasil, não se pode tirar habilitação antes dos dezoito anos,
mas eu aprendi com quinze, então dirijo faz três anos. Quando fui para
Madrid, com dezesseis, tinha umas pistas desertas, e eu e Nic íamos para lá.
Uma vez papai foi com a gente, e estávamos fazendo manobras…
— Jesus…
— As pistas eram perto de uma ribanceira, e eu parei na pontinha de
uma, depois de quase capotar o carro.
Cameron ficou pálido como um fantasma e respirou fundo, tentando
se livrar do choque que havia acabado de tomar.
— Acontece — começou sem tirar os olhos de mim — que você não
tem medo de nada quando o assunto é adrenalina, Rebecca! Que
inconsequente.
— E você não gosta? Quem participava de rachas ano passado? E
você ainda capotou literalmente um carro — afirmei rindo.
— É diferente! — rebateu.
— Por que é diferente?
— Eu não estava em uma ribanceira! — explicou como se fosse
óbvio.
— Mas capotou — invalidei seu argumento, e ele ficou boquiaberto.
Balançou a cabeça negativamente e deu partida em direção à quadra
fechada. Liguei o rádio, Cameron sempre cantava baixinho as músicas que
tocavam, não via a hora de ele soltar a voz de verdade e me deixar ouvi-lo
cantar.
— Você precisa soltar a voz, deve ser incrível cantando. — Ele deu
de ombros ao me ouvir.
— Não canto 10% do que você canta, nem 5%, na verdade.
— Ah, nem vem! — protestei. — Quando for o momento, sei que
vai me deixar ouvi-lo. Sua voz é ótima, você só não se solta.
— Que isso? Uma professora de música?
Dei um tapa em seu ombro, e ele riu e parou o carro. Olhei em volta
depois que ele desceu e abriu a porta para mim. Segui para o lado do
motorista, cuja porta aberta Cameron estava segurando para que eu
entrasse.
— Muito cuidado com essa belezinha — pediu, apontando para o
carro — e muito cuidado com essa gostosura — disse, passando a mão nas
curvas de minha cintura, e beijou a curva de meu pescoço.
— Vou tomar muito cuidado — afirmei, me virando para ele, e selei
nossos lábios. — Arruma o banco para mim?
Ele me olhou por inteira e balançou a cabeça em negação. Dei de
ombros e me inclinei para dentro do carro, arrumando o banco que ele
sempre deixava muito para trás. Quando senti um tapa forte em minha
bunda, entendi o motivo de ele querer que eu arrumasse o banco. Virei na
mesma hora e lhe dei um tapa no braço, vendo-o rir.
— Vou arrancar sua mão — ameacei, e ele me puxou pela cintura,
fazendo minhas costas baterem em seu peitoral.
— Se fizer isso, vai se arrepender tanto — sussurrou em meu ouvido
enquanto apertava minha cintura.
— Cameron — me afastei e virei de frente para ele —, vá jogar!
Entrei no carro antes que ele me puxasse de volta para si e fechei a
porta do carro. Ele sorriu, selou nossos lábios através da janela aberta e
esperou que eu desse partida.
Eu quero você de qualquer jeito. Não porque você é bonita ou inteligente ou gentil ou adorável,
embora você seja todas essas coisas. Eu quero você porque não há ninguém igual, e eu nunca quero
começar um dia sem te ver.
Lisa Kleypas - Autora

Eu amava o clima natalino, a sensação de harmonia, as famílias


reunidas para decorar a casa, as lojas decoradas, as pessoas mais alegres,
não sei bem como explicar, apenas gostava da energia do Natal.
Depois de tomar café, decidi ir assistir a alguma coisa em uma das
salas da mansão e dei de cara com Isaac assistindo a um anime, cujo nome
não sei, sozinho. Me sentei ao lado dele, e ele não demorou nem um
segundo para se deitar em meu colo. Fiquei olhando a tevê mesmo sem
entender o contexto do que estava acontecendo.
— Eu sabia que você ia se casar com Cameron — disse, puxando o
meu braço para abraçá-lo.
— Acho que todos sabiam — afirmei aos risos.
Ele me olhou.
— Eu te amo, irmã.
— E eu te amo, irmão.
— Eu sei, eu sou incrível — convenceu-se.
— Ah, não, retiro o que disse — disparei, o vendo gargalhar.
— Não dá para retirar, já foi. Vai fazer o quê? Chorar?
Ele começou a fazer cócegas em mim e, por mais que ele tivesse
apenas treze anos, conseguia ser mais forte que eu, e isso me fez não querer
medir forças.
— Para criatura! — empurrei-o com as pernas e o fiz cair no chão.
Quando ele parou de rir e olhou para a porta da sala em que
estávamos, me forcei a seguir a mesma direção, vendo minha mãe sorrir
enquanto nos observava.
— Tudo bem, mãe?
Ela concordou, voltando com sua expressão séria.
— Seus tios chegaram.
Engoli em seco e me levantei.
— Jeff está te procurando, filho — ela disse a Isaac.
— Beleza, mãezona — confirmou antes de se levantar.
Ficamos a olhá-lo até ele sair da sala, em seguida ela me olhou.
— Ele está ficando a cópia do seu noivo, e a culpa é sua — acusou
com tom brincalhão. — Se ele está assim, imagine um pequeno Cameron
vindo dele e de mim?
— Isso vai ser ótimo, uma réplica de Cameron em miniatura.
Rimos juntas enquanto seguíamos para um dos escritórios da casa
onde minha família em peso estava lá, exceto pela ausência de Nicolly, que
ia passar o Natal com os familiares de Carter.
— Tia Ada! — disse animada e corri para abraçá-la. — Oi, tia
Chloe — disse, abraçando a esposa de tia Ada.
— Como você está linda, caramelinho — tia Ada disse, para logo
começar a falar sobre eu estar em Stanford e noiva de Cameron.
Mas nossa conversa não perdurou por muito tempo, pois meu avô
Marcus pediu silêncio, e, quando ele pedia, até a chefe da máfia se calava.
— Vocês devem ter noção do que nos uniu aqui — ele começou
com sua voz fria e firme. — Eles estão…
A voz de vovô ficou distante, e tudo o que conseguia pensar era em
como Alec, Ned, Jasper e Luce estavam agora. O frio na barriga, a sensação
de não saber se serão bem recebidos pela própria família… ou pior, a
sensação do abandono durante todo esse tempo.
Voltei ao presente quando a porta foi aberta. Por algum motivo,
prendi minha respiração quando tio Benjamin entrou e deu passagem a Alec
e Jasper. Atrás dele, entraram tio Silas, Luce e Ned. Meus tios estavam
radiantes; mas seus filhos, um pouco perdidos e sem saber o que fazer.
Mas, com a família que tenho, o clima tenso não durou um segundo.
— PUTA MERDA, ELES SÃO SUA CÓPIA, BENJAMIN! — Tio
Dave, o mais novo dos irmãos do meu pai, o que sempre tem uma piada
para contar, quebrou o silêncio da sala, fazendo todos rirem, até mesmo
meus novos primos.
Meus avós e tios maternos foram na direção de Silas, Ned e Luce,
abraçando os netos e sobrinhos, enquanto os paternos fizeram o mesmo
com tio Benjamin, Alec e Jasper.
E eu simplesmente fiquei parada a observar minha família acolher
cada um deles com todo o amor que tinha. Luce me olhava quase pedindo
socorro por vovó Abigail estar enchendo-a de coisas que quer fazer com sua
mais nova neta.
Ned conversava com meus tios, como se estivesse em casa. Jasper e
Alec conversavam entre si, com meus tios e meus avós com uma
familiaridade que me deixava completamente feliz. Amava minha família
por isso e mais outras milhares de coisas.
Alec conseguiu escapar, e isso me fez acreditar que ele era mesmo a
cópia de tio Benjamin, e veio em minha direção. Eu dei um pulo em cima
dele animadamente.
— Priminho! — exclamei, apertando suas bochechas como se ele
fosse uma criança.
— Não faça isso, criança — disse, afastando minha mão —, sua avó
já fez muito isso — afirmou, massageando as próprias bochechas.
— Nossa avó! — ele sorriu, concordando.
Ned se aproximou, e eu o abracei com a mesma animação com que
abracei Alec.
— Priminho! — Apertei suas bochechas da mesma forma que fiz
com Alec, mas ele recebeu meu afeto com risadas e mais um abraço.
— Você tem noção de que não vai ter paz em Stanford? — Ned
questionou, trocando um olhar de cúmplice com Alec.
Minha família toda voltou o olhar para nós três quando eu disse:
— Vou ser a esposa de Cameron Styles, já não ia ter paz de qualquer
forma.
O escritório explodiu em altas gargalhadas. Aproximei-me de Luce
e a abracei, vendo que ela já havia chorado antes daqui. Em seguida,
abracei Jasper, e rimos juntos.
— Você quem descobriu, não foi?
— E você desconfiava, não?
Dei de ombros, e ele riu.
—Então, todos vão para Stanford? — questionei.
— Isso mesmo — tio Silas quem disse.
— Eu já estava lá — Alec disparou, já implicando comigo, e eu lhe
empurrei pelos ombros. — Não me estresse, Rebequinha do Mel.
O olhei incrédula.
— Rebequinha do Mel? — ouvi tio Dave questionar com um sorriso
maroto nos lábios. Qualquer pessoa podia saber desse apelido, mas tio Dave
não.
— E como está Deborah, Alec? Já contou para o seu pai sobre ela?
— disparei, vendo seu queixo cair.
— Quem é Deborah? — tio Benjamin questionou.
— Hmmm, o garoto já tem namoradinha — tio Dave brincou.
— Eu te odeio — Alec sussurrou, e eu mandei um beijinho para ele.
— Essa Deborah é aquela prima da princesa Astrid? — mamãe
questionou fingindo não saber quem era, apenas para me ajudar nas
implicações com Alec.
— Dona Olívia, até a senhora? — Alec lamentou, fazendo minha
mãe rir.
Nós nos sentamos em lugares aleatórios no escritório, meus primos
mais novos e meus irmãos se juntaram a nós, e ficamos ali, aproveitando a
companhia da nossa família, agora completa.
Nosso almoço ocorreu dentro daquele escritório enorme, e ninguém
se importava com o local. Foi um dos melhores almoços com a minha
família.
Depois de horas ali, Benjamin pediu um tempo com os filhos, e
Silas fez o mesmo pedido. Nós nos reencontraríamos às onze, antes da
virada do Natal, quando nos reuniríamos em família.
Saí do escritório e dei de cara com Antonella, junto de William. Ela
me olhou por segundos, e, por impulso, avancei em sua direção e a abracei.
William acenou para mim, indicando que havia entendido que precisávamos
ficar a sós.
— Desculpe, foi por impulso — justifiquei, ainda abraçada com ela.
Ela parecia emocionada quando disse:
— Está tudo bem.
Enlacei meu braço no dela, e caminhamos para fora de casa, onde
tinha um jardim.
— Eu sinto muito por ter escondido isso de você durante todo esse
tempo, era a sua segurança que estava em jogo — explicou.
— Madrinha — a olhei —, eu sei de tudo, não me importo mais
com explicações, entendi o que a levou a fazer tudo isso. Não sei como os
meninos reagiram, mas, para mim, está tudo bem. Só, por favor… —
peguei em suas mãos —, não suma outra vez dessa forma. Você era a minha
pessoa favorita no mundo, e, quando foi embora, mesmo que eu fosse nova,
me lembro de que foi uma das noites em que mais chorei. Mamãe disse que
tive febre e adoeci. Sei que agora as coisas são diferentes e eu não sou mais
tão nova, mas… por favor.
Ela me olhou por instantes.
— Não poderei te prometer algo assim, filha, haverá momentos em
que precisarei sumir sem que ninguém saiba pelo bem dos que amo. Não a
colocaria nisso nem se soubesse que me odiaria depois.
Ficamos nos olhando por instantes.
— Isso é maior do que você imagina.
Balancei a cabeça positivamente.
— Tudo bem. Ao menos agora eu saberei que você sumiu com
motivos — observei, e ela acabou rindo.
— Você e sua mãe podem dar as mãos quando o assunto é jogar algo
na cara discretamente.
— Me desculpe, não foi intencional — aleguei. — E fiz errado em
ter agido da forma que agi após o jantar com a realeza.
— Tive sua idade um dia, sei como é, e não se preocupe, mas — ela
olhou no fundo de meus olhos — isso não pode se repetir — alertou.
— Sim, não se repetirá.
— Ótimo. Agora que está tudo bem entre nós, posso voltar ao
palácio tranquilamente.
— Não ficará para a confraternização de Natal?
Ela soltou a respiração, e voltamos a andar.
— Daremos espaço aos meninos — iniciou. — Alec e Ned nos
compreenderam bem, mas Jasper e Luce tem sido difíceis e precisam de
tempo. Não posso culpá-los, principalmente sabendo que Luce puxou o
gênio de Polly e ainda é uma Malik — afirmou e riu, me fazendo rir junto.
— E Jasper, sendo um Nogueira com o meu pavio, com a idade que tem…
— ela suspirou, cansada.
— Imagino que com tio Benjamin não foi fácil.
— Ah, ele só me dirige a palavra quando é por intermédio dos
nossos filhos; fora isso, não está olhando na minha cara — explicou.
— As coisas vão ficar bem, ele não pode ignorá-la pelo resto da
vida, principalmente com dois filhos e Jasper, acredito que seja uma questão
de tempo, tenho certeza de que ele vai adorar trabalhar com você —
insinuei.
— Ah, não tenho dúvidas. Mas Alec é o completo oposto, deixou
claro em nossa conversa que não quer herdar isso, e Jasper ainda não me
deu abertura para conversar como fiz com o mais velho — ela suspirou. —
De qualquer forma, conversaremos com eles para podermos passar o Ano-
Novo com eles e vocês.
Balancei a cabeça em concordância, e ela me abraçou.
— Fico feliz que não esteja ressentida, iria me partir o coração que,
além do meu filho, minha afilhada também ficasse, mas, se acontecesse,
não a culparia.
Beijei seu rosto.
— Está tudo bem, madrinha, e Jasper só está assim porque puxou a
pirraça dos Nogueira — aleguei.
Ela sorriu em concordância, e nos despedimos. Quando entrei em
casa, Rebekah, a priminha de cinco anos de Cameron que conheci no
aniversário de Natalie, correu até mim e me abraçou.
— O primo Cam está te chamando. — Ela pegou em minha mão e
começou a me puxar enquanto corria, fazendo-me correr junto dela.
Cameron estava sentado com seus primos e primas. Me recordei de
Kiara e seu irmão Kenny, impossível esquecer o garoto que dedurou que
Cameron sonhava comigo.
Quando vi seus tios sentados nos sofás, eu me senti totalmente
envergonhada em me aproximar.
— Rebekah, vá na frente, que eu já vou — menti, a vendo concordar
animadamente.
Ela andou até seus parentes, dando pulinhos graciosos, e eu optei
por dar meia-volta e entrar para casa, teria conseguido se Elliot não tivesse
parado na minha frente.
— Por favor, não — pedi, o vendo sorrir de forma que me deixou
entender que minhas preces não haviam sido atendidas.
— CAMERON! — exclamou, e eu quase o estrangulei. — Sua
noiva está perdida.
— Venha para cá, amor — chamou, e seus familiares começaram a
gritar empolgados.
— Eu te odeio, tipo, muito. Quando se casar com Natalie, vou
levantar a mão quando o pastor perguntar quem tem algo contra o
casamento, pode ter certeza disso.
— Ótima ideia; considerando que você roubou meu namorado e vai
se casar antes de mim, eu quem vou protestar no seu casamento, capitã. —
O olhei incrédula, mas foi impossível não rir.
— Idiota. — Empurrei-o pelos ombros.
Me aproximei com Elliot, e Cameron não esperou que eu
cumprimentasse ninguém, simplesmente me puxou pela cintura e se
arrumou no sofá sem me soltar, em seguida nos cobriu com o cobertor e me
abraçou outra vez, sem vergonha nenhuma, mesmo com os olhares em cima
de nós.
— Oi, gente — consegui dizer depois de todo o procedimento de
Cameron para ficar abraçado comigo.
Seus familiares riram e me cumprimentaram.
— Você está muito apaixonado, maluco — Kenny provocou.
— Está com inveja porque sua mão é sua única companhia, Kenny?
— Cameron disparou, me fazendo arregalar os olhos com surpresa.
Kenny, em resposta, mostrou-lhe o dedo do meio. Os assuntos
começaram a surgir, e eu não consegui acompanhá-los, pois todos falavam
ao mesmo tempo e sem pausa, semelhante à minha família paterna e
brasileira.
Me arrumei-me entre as pernas de Cameron e encostei minhas
costas em seu peitoral sentindo seu braço se fechar em minha cintura,
deixando-me colada a ele.
— Como foi com seus tios e primos? — Cameron questionou com
os lábios bem próximos de minha orelha.
— Mais tranquilo do que eu imaginava — expliquei depois de me
sentar de lado para olhá-lo. — Minhas avós choraram muito, mas estavam
tão felizes. Depois tivemos um momento juntos, todo mundo conversando e
os acolhendo. Jasper não tem mais aquele olhar sombrio de sempre, mas
ainda não aceitou bem o que Antonella fez.
— Tenho certeza de que tudo vai se resolver. — O olhei, sorrindo.
— E eles vão mesmo para Stanford.
— Isso vai ser ótimo — disse, sorrindo, como se planejasse algo em
sua mente, e me abraçou mais forte.
— Que Deus me ajude!
Puxei seu braço para ver as horas em seu relógio, e já passava das
dez da noite.
— Vou ir me arrumar. — Selei nossos lábios, mas ele me impediu
de sair dentre suas pernas e me segurou com os braços em minha cintura.
— Você me deixa vê-la se arrumando? — disse baixinho.
Achei graça e sorri para ele.
— Daqui a duas semanas, eu deixo — disse, também, em voz baixa.
— Não vejo a hora — sussurrou, antes de beijar minha bochecha, e
me soltou.
“O casamento tem muito a oferecer: companheirismo, tradição, família, carinho”.
Rainha Charlotte – Uma História Bridgerton

Me olhei no espelho uma última vez e vi o vestido incrivelmente


lindo que Antonella fez para mim e me deu de presente, era vermelho de
mangas longas, tinha um pequeno decote, e seu comprimento ia até a
metade da coxa com uma leve abertura à direita, porém, devido ao frio,
coloquei uma meia-calça grossa, que era da cor da minha pele, e um
sobretudo vermelho. Caminhei até a porta, ao ouvir duas batidas, e a abri.
— Só falta colocar os saltos, e já desço — avisei, indo até a cama e
pegando os saltos.
Sem respostas, olhei novamente para Cameron, que estava
paralisado.
— Amor?
— Meu Deus — murmurou, fechando a porta, e caminhou em
minha direção.
Abaixei-me para arrumar os saltos, mas ele se abaixou em minha
frente, com os olhos carregados de admiração, e começou fechar o sapato
em meus pés.
— Não sabia que era possível você ficar ainda mais gostosa. Você
fica deslumbrante de vermelho, por favor, abuse dessa cor depois do
casamento.
— Cameron! — Dei um leve empurrão nele, que sorriu e selou
nossos lábios.
Puxou-me pela nuca, até que eu estivesse em pé, e ficou me
encarando por longos minutos a acariciar meu rosto com lentidão. Me
inclinei para beijá-lo, mas ele desviou, com um sorriso safado nos lábios.
— Você está irresistível, e, por esse motivo, não me toque —
ordenou. — Vamos?
Ainda rindo, enlacei meu braço no dele.
Descemos para a sala, e eu dei de cara com nossas famílias a cantar
algumas músicas antigas que meu avó John puxava.
Meus avós eram bem diferentes, enquanto Marcus era o tipo de
homem intimidador, bravo e mandão — exceto com os netos —, John era
um doce, acolhedor e ouvia o que as pessoas tinham a falar.
Assim que vovô John me viu, disse:
— Você me acompanha, docinho?
De imediato, concordei, e passamos alguns minutos cantando, até
dar meia-noite.
— Feliz Natal, meu amor. — Cameron beijou meu rosto e me
abraçou com firmeza.
— Feliz Natal, meu noivo — sorri e selei nossos lábios.
— Aproveite sua família neste fim do ano, porque no próximo
pretendo estar confraternizando a sós com você — sussurrou em meu
ouvido. — De preferência, eu dentro de você.
O empurrei pelo abdômen quando senti meu corpo se arrepiar.
— Eu te odeio! — assegurei.
E precisei tirar o sobretudo pelo calor que percorreu o meu corpo só
de imaginar Cameron den…
— Feliz Natal, amiga! — Natalie desejou ao me abraçar e, ao me
soltar, revezou o olhar entre mim e Cameron. — Você está vermelha, da cor
do seu vestido, e me recuso a perguntar o motivo disso, porque ele está bem
na minha frente.
— Não deixe o seu irmão se aproximar de mim — implorei.
— Vou ficar só alguns centímetros longe, depois perto, depois
longe.
Natalie deu uma risada tão alta que seus primos a olharam como se
ela fosse louca, enquanto eu, definitivamente, precisei sair de perto de
Cameron e segui para as nossas famílias.
Me aproximei de Rosie e, após abraçá-la, quis saber:
— E Andrew?
— Passou com a família de Astrid e vai trazê-la para cá. Estou
ansiosa para conhecê-la, tínhamos tanto a conversar, mas Andrew só falava
dela — Rosie disse com um sorriso enorme e contagiante no rosto.
— Ela é incrível, tenho certeza de que vai adorá-la! — afirmei
animadamente.
— Se você está falando, prefiro acreditar.
— Feliz Natal, irmã — Isaac deu um pulo em mim —, vovô Marcus
está reclamando que você deu feliz Natal para geral e se esqueceu dele.
Foi minha deixa para ir até Alec e Ned, que estavam conversando
com meu avô Marcus.
— Feliz Natal, priminhos — disse, puxando os dois para um abraço,
eles riram e me abraçaram coletivamente, em seguida me joguei nos braços
de meu avô, como faço desde criança. — Feliz Natal, vô.
Ele me abraçou e mexeu no meu cabelo com cuidado e carinho.
— Feliz Natal, docinho — desejou.
Soltei-me dele. Cameron se aproximou, desejou feliz Natal aos
homens à minha frente e me disse que precisava de minha ajuda.
— O que aconteceu? — questionei, enquanto ele me puxava e subia
as escadas.
— Na minha família, tem uma tradição, criada pelo meu avô Russel
— começou quando chegou ao corredor dos quartos e seguiu para o nosso
—, de alguém se vestir de Papai Noel, aparecer em algum lugar e entregar
presentes para as crianças. Como este ano tem o dobro de crianças na casa,
Elliot e Kenny vão me ajudar, mas preciso trocar de roupas com urgência
— explicou, puxando-me pela cintura para entrar no quarto, e fechou a
porta.
— Que tradição incrível — admirei.
Olhei para a cama, vi a fantasia e a peguei, enquanto ele tirava a
blusa de frio. O ajudei a colocar a fantasia e amarrei a cordinha da calça
dele, vendo-o me olhar com um sorrisinho nos lábios.
— Para de me olhar com essa cara, seu safado — pedi em tom
brincalhão.
Arrumei o casaco vermelho que ele tinha acabado de colocar por
cima de sua blusa, assim como ele colocou a calça da fantasia por cima da
roupa estava usando.
— Não é minha intenção, eu juro — disse com ironia e me deu um
selinho.
— Dissimulado — disparei, pegando o gorro natalino, e o arrumei
em sua cabeça.
Enquanto o analisava, ele simplesmente parou e me encarou sem
nem piscar. Peguei a barba falsa que ele teria de usar como disfarce e me
voltei a ele para colocá-la em seu rosto, mas fui impedida quando um de
seus braços fechou em minha cintura, me puxando para si. Ele veio certeiro
em meus lábios, mas desviei.
— Não, vai borrar meu batom — afirmei, o ouvindo sorrir baixo.
— Chata — resmungou.
— Que você ama — rebati, colocando a barba falsa em seu rosto. —
Pronto, está perfeito! Onde estão os presentes? Ele abriu a boca para
responder, mas as batidas na porta o interromperam.
— Pode entrar! — pediu, e a porta foi aberta.
Explodi em risadas quando Kenny e Elliot entraram no quarto
vestidos de duendes com roupinhas verdes e faixas vermelhas. Eu, Kiara e
Natalie tiramos várias fotos deles.
Olhei Kenny e Elliot e vi que suas pálpebras estavam com sombras
verdes para combinar com as roupas. Kiara puxou Cameron para baixo,
pois ela era bem menor que ele e passou sombra vermelha em suas
pálpebras.
— Sangue de Cristo — ouvi tio Arthur dizer e me virei na direção
da porta, vendo-o com Luke nos braços, virado em nossa direção, e ria para
Cameron, que começou a fazer palhaçada na frente do pequeno, até roçou a
barba falsa no garotinho, o fazendo rir ainda mais. — Vão rápido, as
crianças já estão perguntando se o Papai Noel vem hoje.
— Quero muito ver essa cena — Kiara disse animada.
Natalie enlaçou o braço no de tio Arthur, dizendo o quanto estava
feliz em ver Cameron bem e que achou que o Natal seria triste, porque ele
era o que mais animava tudo.
Descemos para a enorme sala de estar, e eu vi as tias de Cameron e
tia Eliza entretendo as crianças, perguntando se alguém tinha visto o Papai
Noel.
Depois de alguns minutos, Cameron e os meninos apareceram
pulando desengonçadamente do lado de fora com sacos de presentes e se
esconderam quando as crianças começaram a gritar. Cameron se escondeu
atrás de uma estátua, Elliot e Kenny foram para trás do sofá ainda do lado
de fora enquanto as crianças gritavam que os tinham visto “quase agora”.
Cameron — ou Papai Noel como dizem as crianças — fez um sinal
de agente secreto dando instruções aos meninos para seguirem o caminho
de entrada da casa. Quando entraram, houve uma explosão de gritos, e as
crianças pularam em cima dos três garotos, pedindo presente e dizendo
várias coisas ao mesmo tempo.
Nicholas, Alec e Ned pararam ao meu lado e riram sem parar
enquanto olhavam Cameron e os meninos.
— Isso está muito bom — disse Nicholas aos risos.
— Muito — concordou Ned.
— Agora eu posso gravar isso sem medo de perder o emprego —
Alec disse orgulhoso enquanto gravava Cameron fazendo dancinhas com as
priminhas dele e as minhas.
— Não grave, seu desgraçado — Cameron gritou para Alec e o
apontou.
Mas Alec continuou a gravar.
— Desgraçado? — o pequeno Pietro, de dois anos e primo de
Cameron, repetiu com um tom engraçado.
— Ai, meu Deus, não repita isso — Cameron suplicou.
— Desgraçado — repetiu, chamando-o.
— Jesus! Tia, ajude-me — pediu, olhando Adelaide, irmã de Arthur,
que era mãe do garotinho.
— Precisamos conversar, pequenino — disse a mulher, enquanto
fazia cócegas no garoto, e saiu com ele.
— Então — me virei para os meus primos —, vocês estão bem com
Antonella e Polly?
Nicholas parou ao meu lado para ver a reação dos meninos.
— Eu e ele, sim — Ned disse.
— Desde os quinze anos, estamos trabalhando como segurança,
quando foi para fazer sua proteção, Cameron e seu pai abriram o jogo para
nós sobre terem a supervisão da máfia, então sempre tivemos ciência disso.
Não sabíamos que eram elas as chefes, conhecíamos apenas como falcão
vermelho, assim como ela é conhecida, mas, sobre você ser a afilhada dela,
era um assunto sigiloso, imagina ser filho. Claro que falamos sobre as
nossas chateações, mas entendemos os motivos delas em partes. Porém,
Jasper e Luce não ficaram tão bem assim, Jasper falou várias coisas a
Antonella e está mais ligado ao nosso pai.
— E Luce também acabou com a minha mãe, tive que pará-la
quando saímos nós três, está mais próxima de Silas e da família paterna —
Ned explicou.
— Algumas pessoas reagem de forma diferente e é compreensível a
revolta deles, impressiona-me vocês estarem lidando tão bem com isso —
afirmei, admirada, e Nicholas balançou a cabeça em concordância.
— Acho que a convivência com sua família nos deixou mais
conformados, nós a conhecemos, estamos com você e sua família faz um
tempo, então talvez tenha facilitado — Ned observou.
— Nossa família — corrigi, e eles sorriram em resposta.
Depois de todos os presentes entregues, Cameron e os meninos se
despediram e saíram. Subi até o quarto para ajudá-lo a tirar a fantasia.
Quando retornamos, eu me deparei com Astrid conversando
animadamente com Rosie, como se já se conhecessem, então decidi não
atrapalhar a conversa, mandei um beijo para ela.
— Feliz Natal, futura senhora Styles — ouvi a voz de Deborah, que
com certeza estava com Astrid por serem primas, e na mesma hora me virei
e a olhei, em seguida pulei em cima dela, segurando meu vestido, para que
não subisse, e a abracei.
— Feliz Natal, meu amor.
— Você está noiva, parabéns!
— Muito obrigada. Aliás, quero te apresentar um primo meu.
— Mas Alec… — A olhei.
— Confie em mim — disse, puxando-a pelo braço.
Ela me seguiu na direção de Alec, que estava conversando com tio
Benjamin, e vi seus olhos quase saltarem para fora quando chegamos até
eles.
— Tio Ben, essa é Deborah que citei mais cedo. Deborah, esse é
meu tio Benjamin, pai de Alec.
— O QUÊ? — ela gritou, fazendo com que eu, tio Benjamin e Alec
começássemos a rir.
— Acho que você e Alec têm muito o que conversar, e não estou
falando apenas de assuntos da família — adverti, olhando Alec.
— Como você sabe? Tem bola de cristal igual dona Olívia? — Alec
questionou.
— Um palpite de prima — respondi, dando de ombros.
— Não a chame de dona Olívia de novo, a não ser que seja para
irritar sua tia — tio Benjamin advertiu rindo. — É um prazer conhecê-la,
senhorita Deborah.
— O prazer é todo meu, senhor Malik.
— Apenas Benjamin — pediu, dando um aceno de cabeça, e
estendeu o braço para mim. — Vamos, moranguinho?
— Claro, vamos, tio. — Enlacei meu braço no dele.
— Sua noiva — tio Ben disse, segurando minha mão, e a colocou
em cima da de Cameron, que sorriu e me puxou para si.
— Obrigado por trazer minha noiva em segurança, senhor — disse
com cordialidade, o que fez meu tio sorrir.
Observei-o caminhar na direção de Jasper, que estava com meu avô
Marcus, meus tios e meu pai. Jasper o olhou como se fosse a melhor pessoa
da sua vida.
— Já disse o quão linda você está com essa roupa? — Cameron
sussurrou em meu ouvido depois de me abraçar por trás.
— Linda, não, mas outras coisas…
— Você está incrivelmente linda com esse vestido — elogiou com
os lábios próximos de meus ouvidos e apertou mais a minha cintura.
— Obrigada, senhor Styles.
— Mas vou adorar ainda mais quando estiver sem. — A voz
carregada de malícia.
— Você não sabe o que é limite, não é? — o provoquei.
— Não — respondeu e deu de ombros.
Depois de poucos instantes, participamos da ceia de Natal, e nem
metade de nossas famílias ficou na mesa, e cada um subiu para o seu
quarto.
Coloquei um moletom para dormir, medi minha glicemia e, depois
de tomar minha medicação — sem exagerar, claro —, me joguei na cama.
Cameron trocou suas roupas no banheiro, se deitou na cama e me abraçou.
— O Natal ficou por conta da minha família, mas o Ano-Novo vai
ficar por conta da sua — ele disse, enquanto acariciava meus cabelos; o
olhei e dei uma risada.
— Minha família paterna quem organiza tudo, e minha família
materna ama as comemorações deles; preparem -se, porque não acaba tão
cedo e são três dias de churrasco e bebidas — o alertei e ele gargalhou.
— Vou ter que me acostumar, vai ser minha família também —
disse, amando a situação. O abracei e rocei o nariz em seu pescoço.
— É, vai ter que se acostumar. Suas confraternizações jamais serão
as mesmas. — Ele apertou minha cintura e beijou minha testa.
— Não quero nada menos que isso.
“A amizade desenvolve a felicidade e reduz o sofrimento, duplicando a nossa alegria e dividindo a
nossa dor”.
The Works Of The Right Honourable - Joseph Addison

Depois do almoço de domingo de Natal, Natalie pediu para


encontrá-la na sala quatro. Era uma sala com tevê, sofás e… tudo normal,
mas era outra além da sala de estar principal da casa.
Entrei e vi que ela estava com Astrid conversando e exalando uma
energia incrivelmente boa. Era quase impossível ficar triste perto de
Natalie, e Astrid precisava de alguém como ela por perto, nem que fosse
por alguns minutos.
— Oi, cunhadinha — disse, me jogando no colo de Natalie, e beijei
seu rosto.
— Oi, cunhadinha, dormiu bem?
— Muitíssimo — abracei Astrid, mesmo estando no sofá, e ela
retribuiu o abraço. — Tudo bem, alteza? Como foi dormir nesta humilde
casa?
— Humilde? — Astrid riu. — Dormi muito bem, senhorita.
— Ah, que ótimo, fico feliz em saber disso — disse, deitando a
cabeça em seu colo, e entrelacei meus dedos nos de Natalie.
— Você pode mexer no cabelo dela, ela não vai achar ruim —
Natalie avisou, olhando Astrid com um sorriso amigável nos lábios.
— Deborah está na casa? — questionei, mudando de assunto, e
Astrid começou a mexer em meus cabelos cuidadosamente.
— Saiu com Alec — a princesa disse.
— Estava pensando em ver um filme com Elliot, querem se juntar a
nós?
— Por mim, está ótimo. Provavelmente vou dormir no meio do
filme — afirmei com o intuito de ninguém ficar reclamando depois, e
olhamos Astrid.
— Me parece uma ideia incrível.
— Vou chamar os meninos — Natalie disse ao soltar minha mão e
se levantou.
— Traga uma coberta, por favor — pedi e a vi concordar. — Um
chocolate quente e o meu noivo também.
— Vá se ferrar, Rebequinha do Mel — disparou, fazendo uma
careta, e saiu da sala.
— Minha mãe quer a você e a Cameron no palácio amanhã para
alinhar algumas coisas do casamento, convidados e essas coisas. Caso você
queira que alguém mais vá por conta da decoração, não haverá problema —
Astrid disse após a saída de Natalie.
— Acredito que Cameron concorde com Natalie ir e minha avô
materna também, fora minha mãe e minha sogra — disse, sorrindo e
sentindo animação e ansiedade para que o dia da cerimônia chegasse logo.
— Sem problemas — ela sorriu, para depois uma expressão séria
dominar seu rosto. — Antes de chegar na casa, Andrew me contou algumas
coisas.
Me sentei para olhá-la e balancei a cabeça em concordância para
que continuasse.
— Ele não queria que eu chegasse aqui na casa sem saber de nada
dos relacionamentos que já teve, disse que foi seu noivo quem o
aconselhou.
Depois de alguns instantes, eu me liguei sobre o ponto a que ela
queria chegar.
— Natalie? — perguntei, olhando-a, e ela balançou a cabeça
positivamente.
— E você.
— Ah… — Foi tudo o que consegui dizer pelo choque que tomei.
Era assim que as pessoas se sentiam quando eu era direta?
— Por que não me contou nada?
Observei-a por instantes, buscando algo em seu olhar, algo como
raiva ou decepção, mas a única coisa que encontrei foi curiosidade quanto à
minha resposta.
— Coisas sobre ele, só ele quem pode contar. Não gostaria que
alguém tomasse minha frente para falar dos meus sentimentos, então não fiz
isso com ele.
Ela suspirou e concordou.
— Imaginei — disse, pensou um pouco e me olhou.
— Astrid, quero que fique bem claro que ajo assim em
determinados assuntos, Andrew estava para criar um vínculo com você, e
não tinha direito algum de falar sobre os sentimentos dele ou os seus. Mas
isso se limita a, por exemplo, eu saber de algo comprometedor ao seu país e
reinado. Sei que terei de fazer um juramento quando passar alguns anos no
palácio, mas isso é algo que quero deixar claro. Serei leal à rainha, assim
como sou à princesa, com a coroa e sem ela.
Seus olhos estavam arregalados de admiração e afeição.
— Sou leal a quem é leal a mim e agradeço sua sinceridade, estava
preocupada com isso — admitiu e soltou a respiração.
— Você conversou com Natalie?
— Não tive coragem — disse, abaixando o tom de voz. — Ele foi o
primeiro dela… — sussurrou, parecia que sua voz estava sumindo, então
ela engoliu em seco. — Não podia falar disso com ela.
— Entendo o que quer dizer, mas é algo que foi lá trás e, se ele te
contou, é porque…
— Acha que ela ainda sente algo por ele? Ou ele por ela? —
questionou, cortando minha fala. — Se ele vai pensar nela quando estiver
comigo?
— Astrid — peguei em suas mãos —, respire fundo.
— Mas…
— Apenas respire — ela respirou fundo.
Lembrava-me daquele sentimento de não saber ao certo o que fazer
em um relacionamento nem como lidar com a informação de que alguém
próximo teve sua primeira vez com o seu namorado.
Quando percebi que Astrid estava mais calma, soltei suas mãos e
disse:
— É tudo muito novo e confuso, entendo. E o que posso dizer é que
vi Natalie totalmente apaixonada por Andrew, de forma que ela queria até
mesmo atingi-lo mostrando que estava bem sem ele. Mas, quando a vi outra
vez, isso tinha mudado. Tudo o que vejo agora são seus olhos voltados a
Elliot, não tem mais espaço para Andrew na vida dela, — Pensei um pouco.
— E, claro, estou falando o que vejo, não posso falar o que ela sente.
— Sei da sua lealdade — disse com um leve sorriso nos lábios —,
mas não sabia como perguntar a Natalie ou entrar nesse assunto com ela.
— Mas, afinal, por que queria falar sobre isso com Natalie?
Ela pensou um pouco.
— Se ela ainda sente algo por ele e se isso interfere na minha
amizade com você, ela é sua melhor amiga — acabei sorrindo ao ouvi-la.
— Fez sentido na minha cabeça, agora estou me sentindo uma idiota.
— Eu entendo. É um pouco estranho, porque Natalie está com outra
pessoa, mas entendo o que quer dizer. Porém, se tem algo que aprendi
estando com Cameron é que sempre vai ter alguém o querendo, o desejando
mesmo que esteja comigo, mas não posso simplesmente deixá-lo por isso.
Eu o amo, com outra pessoa o amando ou não, ele é meu e está fora de
cogitação deixá-lo porque tem outra pessoa que gosta dele. Só que essa é
uma situação que não se enquadra em nossas vidas quando o assunto é
você, Natalie e Andrew.
Astrid ficou pensativa por alguns instantes.
— Vocês dois…
Arregalei meus olhos e acabei explodindo em risadas antes que ela
terminasse.
— Não, nunca. Andrew teve uma ideia equivocada de que teria uma
vida boa comigo porque nunca tinha conhecido alguém que não o desejava
ou o olhava como um pedaço de carne. Nunca aconteceu, eu… — sorri,
incrivelmente apaixonada pelo meu noivo — sempre fui de Cameron, antes
mesmo de notar isso — disse mais a mim mesma do que para Astrid.
Sorrimos juntas, e ela parecia aliviada. Cameron e Andrew
adentraram a sala com cobertores em mãos.
— Oi, Astrid — Cameron a cumprimentou e se jogou em cima de
mim —, oi, minha noiva.
— Oi, meu noivo — disse, sorrindo, e selei nossos lábios —, onde
estão Natalie e Elliot?
— Foram fazer chocolate quente — Cameron disse, depois jogou o
cobertor em cima de nós e se arrumou ao meu lado.
Olhei disfarçadamente Andrew e Astrid, ele a olhava como se ela
fosse a mulher mais linda que já viu. Era lindo de ver. Eu e Cameron nos
olhamos sorrindo e provavelmente pensando o mesmo sobre o casal ao
nosso lado.
“As pessoas se apaixonam de maneiras misteriosas, talvez apenas com o toque de uma mão. Bem, eu
me apaixono por você a cada dia e só quero te dizer que estou apaixonado”.
Thinking Out Loud – Ed Sheeran

Acordamos mais cedo que o nosso normal.


Astrid havia nos avisado que seus pais pediram nossa presença logo
após o café da manhã, pois almoçariam com o presidente da Finlândia —
um dos países que fazem fronteira com a Noruega — que estará no país
hoje.
Cameron pegou a escova de minha mão e começou a escovar meus
cabelos, depois de já estar pronto para sairmos. Eu particularmente não
escovava os cabelos ao acordar, mas, com Cameron por perto, fazia questão
de começar para que ele viesse até mim e continuasse o que comecei.
Ele sorriu de lado, amava quando sorria assim. Ficamos nos olhando
por alguns instantes até ele desviar o olhar e colocar a escova na cabeceira.
Me levantei e ele me seguiu com os olhos, me deu um selinho e se jogou na
cama.
— Quais são os seus planos quando chegar a Palo Alto, amor?
— Ficar com a minha esposa — disse, me puxando e beijando a
curva de meu pescoço.
— Amor — murmurei aos risos e levantei seu rosto com os dedos
em seu queixo —, quais são seus planos?
— Vou me especializar na área de direito empresarial e focar as
empresas, tenho uma filial em Palo Alto e, durante o tempo da faculdade,
vou trabalhar lá. Quando voltarmos a Los Angeles, volto a ficar na matriz.
— Vai conseguir conciliar trabalho com os treinos e a faculdade? —
questionei, enquanto acariciava seu rosto, e ele sorriu.
— Meu principal foco é nosso casamento, mas vou, sim. Os treinos
são às cinco da madrugada, as minhas aulas serão das oito às duas da tarde,
de lá vou para a empresa ou para casa, depende. Mas meu avô William,
agora que deixou os negócios dele nas mãos dos meus tios, vai ficar com
meu pai cuidando dos meus, então vou focar mais em estudar e treinar do
que em trabalhar. E espero que, quando você tiver um tempo, dê uma
olhadinha na minha contabilidade e me explique algumas coisas — ele
sorriu e me puxou para um selinho —, meu sogro disse que você entende
sobre esse assunto.
— Ele estava sendo modesto, adora me elogiar — afirmei e dei um
sorriso.
— Pois eu prefiro acreditar nele.
— No que eu puder, pode ter certeza de que vou ajudá-lo.
Ouvimos as batidas na porta e soubemos que era a hora de ir ao
palácio. Natalie não estava na casa, mesmo depois de prometer que iria
comigo. Não podia deixar de levar minha mãe e minha sogra junto, claro, e
infelizmente minha avó Abigail estava com muita dor de cabeça e não pôde
nos acompanhar.
— Cameron, pelo amor de Deus, vá devagar com esse carro —
Eliza disse, enquanto olhava o filho, e me olhou. — Você não quer dirigir,
não, nora? Ele não dirige normalmente, parece doido.
— Ela é pior que eu, dona Elizabeth — Cameron disse, fazendo a
mãe arregalar os olhos, e ela olhou minha mãe, que concordou.
— Claro que não, eu dirijo normalmente! — protestei.
— Nos meus sonhos, apenas — mamãe rebateu e Cameron
gargalhou.
— Que horror, mãe — disse, fingindo perplexidade, e ela riu
entrando no carro.
— Que Deus nos acompanhe — Eliza disse pouco antes de entrar.
Cameron abriu a porta para mim e, depois que entrei, deu a volta até
o banco do motorista.
— Vovó Abigail vai para a Suíça depois das festas de fim de ano e
do casamento? — questionei minha mãe.
Cameron puxou minha mão para a sua perna, era um costume que
tínhamos desde o início do namoro. Era tão natural, simples e ao mesmo
tempo importante e significativo.
— Por incrível que pareça, ela vai para o Brasil com a minha sogra.
— E a senhora vai também?
— Com certeza. Quero que as crianças conheçam o Brasil e
experimentem um calor de verdade — sorri ao me lembrar da última vez
que estive no Brasil.
— Sinto falta do calor de lá, mas, na verdade, sinto ainda mais
saudades da Suíça, faz tanto tempo que não vou lá, e não vejo a hora de
visitá-la outra vez, faz quatro anos já — comentei desanimada.
Percebi que Cameron olhou para Eliza, como se confirmassem algo
pelos olhares através do espelho retrovisor.
Depois de alguns minutos conversados sobre viagens que fizemos,
inclusive as de Cameron e Eliza, chegamos ao palácio.
Não contive minha felicidade ao ver que quem nos recebeu foi
ninguém menos que Andrew, futuro príncipe consorte da Noruega.
— Bom dia, alteza — brinquei, fazendo uma reverência.
— Bom dia, como dormiu hoje, fofinho? — Cameron disparou,
apertando as bochechas de Andrew; tia Eliza e minha mãe gargalharam com
a cena cômica deles.
— Eu ainda vou matá-lo, Styles — Andrew disse, empurrando as
mãos de Cameron.
— E então será um príncipe criminoso, pelo menos é bonito —
Cameron rebateu, fazendo com que Andrew lhe desse outro tapa.
— Oi, tia Eliza — Andrew a abraçou —, oi, tia Olívia — disse e a
abraçou também.
Havia acabado de entrar no palácio quando Astrid e Natalie vieram
animadas em minha direção, pegaram em minhas mãos e começaram a
correr, me fazendo segui-las.
A última coisa que consegui visualizar foi Cameron e Andrew se
entreolhando com sorrisos.
— Então era aqui que você estava o tempo todo — disse, olhando
Natalie; quando chegamos ao quarto de Astrid, ela abriu um sorriso maroto
e deu de ombros.
— Queremos saber o que vamos fazer na sua despedida de solteira
— Astrid disparou.
Duas batidas na porta fizeram a princesa se levantar e correr até ela,
e puxou Deborah para dentro assim que a viu.
— Oi, quase senhora. — Deborah beijou meu rosto. — Qual é o
assunto?
— A despedida de solteira da dona Rebecca — Natalie lhe
respondeu. — Quer dizer, não fazemos despedida de solteiro nas nossas
famílias, porque não temos do que nos despedir, mas uma festa só nossa
antes do casamento.
— Ainda não tinha pensado nisso — admiti.
— Mas pensamos por você — Astrid retrucou.
— Mas é surpresa, tudo o que você precisa saber é que, no dia 7 de
janeiro, viremos ao palácio. — Abri a boca para falar, mas Natalie não
deixou. — Não vamos colocar nenhum stripper, relaxa, Cameron, Elliot e
Andrew me matariam se eu inventasse uma coisa dessas.
— Felicity e Nicolly estarão também, é provável que, além deles,
Nicholas e Carter a cobrem — brinquei.
— E seus tios… — ela pensou um pouco — e os meus tios!
Todas rimos pela expressão de Natalie se dando conta da encrenca
que seria.
— Vamos, meus pais precisam falar com vocês rapidamente, pois
sairão em algumas horas. — Astrid me puxou para me levantar do sofá.
Olhei Deborah, que conversava com Natalie; era incrível o dom de Natalie
de fazer amizade na velocidade da luz, e segui Astrid para fora do quarto.
Chegamos a uma das enormes salas do palácio. Astrid dispensou as
formalidades e disse a um dos funcionários que não precisava anunciar
nossa entrada, então entramos sem aviso prévio, e dei de cara com a rainha
Martha, minha mãe e minha sogra conversando animadamente, nunca havia
visto a rainha sorrir tão sinceramente, e sua gargalhada era tão engraçada
quanto a de Astrid.
— Ah, oi, queridas. Que ótimo revê-la, Rebecca. — A rainha sorriu
ao me olhar.
— Um prazer revê-la também, majestade — disse, fazendo uma
reverência.
— Sente-se e fique à vontade — pediu, apontando para o sofá.
Astrid pegou minha mão e me puxou para me sentar ao seu lado.
— Onde está Andrew? — Astrid questionou.
— Com seu pai e Cameron, resolvendo algumas coisas entre eles.
Ela aceitou deixar a despedida de solteira dela nas mãos de vocês? — a
rainha questionou, lançando um olhar de cúmplice para a filha.
Mamãe e minha sogra sorriram como se soubessem o que iria
acontecer, e aquilo me deixava ansiosa.
— Aceitou, agora precisamos saber se ela vai aceitar seu presente.
— Presente? — questionei, olhando a rainha.
— Quando seu noivo chegar, eu te contarei.
— Vocês estão me deixando muito curiosa.
Não demorou para que Andrew e Cameron entrassem na sala,
Andrew beijou a testa de Astrid e se virou para a rainha com familiaridade.
— O rei está conversando com o presidente por ligação e pediu para
avisar que não vai conseguir estar presente nesse momento; disse que,
assim que terminar aqui, vocês viajarão.
Cameron se sentou ao meu lado depois de beijar o topo de minha
cabeça, no lado oposto ao de Astrid.
— Tudo bem, querido, serei breve, então — a rainha disse com
calma e olhou para mim e para Cameron. — Estive conversando com Erick
e Astrid, vocês sem dúvidas não fazem ideia da oportunidade que deram a
Astrid. Em especial, você, Rebecca, que não desistiu de Cameron quando
ele estava quase cometendo o grande erro de se casar com outra pessoa. —
Ela lançou um olhar de advertência a Cameron, que riu como uma criança e
encolheu os ombros.
— Mas Andrew é meu amigo, isso deve me dar um ponto — tentou
justificar.
— Conheci Andrew mais por causa de Rebecca — Astrid rebateu, e
eu gargalhei ao ouvi-lo.
— Você está andando muito com a minha noiva, não estou gostando
— Cameron replicou.
— A rainha está falando, parem, vocês dois — pedi.
— Continuando — ela sorriu —, como estava no contrato, daremos
o casamento como presente para vocês. Entretanto, conversando com
Natalie e as mães de vocês, decidimos ignorar a parte do contrato que diz
sobre precisar ser uma cerimônia grandiosa com convidados de nossa
escolha e queremos que venha tudo de vocês.
Meu queixo caiu ao ouvi-la, e meu coração se apertou de felicidade.
— Imagino que seus convidados serão mais as famílias que já estão
no país — ela prosseguiu. Pensei nos meninos do time, mas não tinha como
eles estarem presentes… — E precisamos das cores escolhidas para o
casamento. Conversando um pouco com sua mãe — seus olhos se voltaram
na minha direção —, o palácio parece um pouco demais, não?
Sorri envergonhada e balancei a cabeça positivamente.
— Aqui é incrível, mas só consigo ver o casamento de Astrid
acontecendo em um lugar tão majestoso — afirmei com ternura.
Astrid riu e balançou a cabeça negativamente.
— Temos uma casa de campo que acredito ser o lugar ideal, confia
em nós para fazermos o seu casamento?
A olhei um pouco surpresa pela pergunta.
— O lugar é incrível, você não verá os preparativos, será nossa
surpresa para vocês, mas sua mãe, sua sogra e Natalie irão ver — Astrid
disse, tentando me confortar.
Olhei Cameron, que beijou minha mão e acenou positivamente.
— Me parece… a melhor decisão deixar o casamento na mão de
vocês — afirmei, por fim.
— Ótimo, perfeito! Dessa forma, passe a lista de convidados, os
padrinhos e madrinhas de vocês para Natalie — ela se levantou. — Eliza e
Olívia, quero falar com vocês a sós. — A rainha se aproximou de mim, eu
me levantei, e ela tocou minhas mãos. — Foi ótimo revê-la, nós nos
veremos em breve.
E saiu, levando consigo minha mãe e minha sogra. Eu e Cameron
olhamos Astrid e Andrew, ele me olhou perguntando se concordava, e era
claro que sim.
— Andrew — ele chamou, fazendo-o olhar em nossa direção —,
aceita ser nosso padrinho?
Andrew se levantou em um pulo e sorriu animadamente.
— Está falando sério?
— Sim — Cameron respondeu, e, em segundos, Andrew se jogou
em cima dele.
— Ah, cara, eu sabia que você me amava — disse, o abraçando pela
cintura, e beijou o rosto dele de uma forma tão engraçada que eu e Astrid
não conseguimos deixar de rir com a cena. — É claro que eu aceito. — Ele
se levantou e se voltou para Astrid.
Olhamos a princesa, que parecia não ter entendido o que aquilo
significava.
— Isso quer dizer que eu… — Ela parou de falar quando me viu
balançar a cabeça positivamente, uma de suas mãos encontrou a minha e me
deu um aperto. — Será uma honra.
— Para nós também.
Meu coração estava palpitando de felicidade, ao pensar que faltava
uma semana para chamar Cameron de meu esposo.
“Então, querida, agora, me abrace amorosamente, beije-me sob a luz de mil estrelas, talvez nós
tenhamos encontrado o amor bem aqui onde estamos”.
Thinking Out Loud – Ed Sheeran

Eliza e mamãe se recusaram a falar qual foi o assunto conversado


com a rainha, então minha única opção foi desistir.
Dessa vez, todos estavam escondendo alguma coisa de mim, mas,
pelo menos, eu sabia que estavam escondendo e que não era nada grave
como dois primos sendo meus seguranças sem eu saber que são meus
primos ou meu ex-namorado, meu primo e meu melhor amigo indo
participar de uma luta por poder, nem era algo como ser a afilhada da chefe
da máfia.
— Eu odeio não saber as coisas — reclamei, me sentando no sofá, e
Cameron riu, me puxando para ele. — Você sabe de alguma coisa — acusei,
vendo-o rir alto.
Estávamos na sala 4, a única vazia da casa.
— Vai sobrar até para mim agora? — brincou ao selar nossos lábios.
— É claro. O que estava conversando com o rei?
Ele me olhou incrédulo, mas ao mesmo tempo carregava um olhar
divertido.
— Sobre a segurança durante nossa estádia no palácio, por isso
Andrew estava junto, porque ele será o príncipe consorte e tomará decisões
desse tipo com Astrid.
O olhei por instantes e suspirei.
— Ah, certo.
Ele passou os dedos em meus cabelos.
Sorri, olhando-o, e o beijei, até o momento de ele me afastar, e foi
impossível não rir ao lembrar que quem fazia isso era sempre eu.
— Amor — o chamei e levantei meu olhar para ele —, chamamos
Andrew e Astrid para serem nossos padrinhos. Quero que Nicolly e Carter,
Nic e Felicity também sejam.
— E Natalie? — ele perguntou incrédulo por não tê-la citado, e
acabei rindo.
— É sua irmã e seu melhor amigo, achei que você iria gostar de
fazer as honras — expliquei, o vendo sorrir e concordar.
— Não vai chamar ninguém dos seus tios?
Pensei um pouco e balancei a cabeça negativamente.
— Tenho muitos tios e tias, ao chamar um, eu me sentirei obrigada a
chamar o outro, não quero padrinhos por obrigação ou por serem meus
parentes — expliquei, e ele acariciou meus cabelos.
— Estou de acordo, minha noiva — afirmou, selando nossos lábios.
A porta da sala era de sensor, então, ao ser aberta, entendemos que
alguém vinha se aproximando. Olhamos na direção dela e vimos Kenny e
Samuel — o irmão de Jeremy que não tinha absolutamente nada a ver com
o irmão — entrarem com Kiara e Melanie — filha de Frederick, tio materno
de Cameron.
Melanie e Kiara não eram primas, a ligação delas era por causa do
casamento de Eliza e Arthur, mas eram como se fossem irmãs: desde que
chegaram, não se desgrudaram.
— Queremos ver se você está pronta para ser uma Styles — Kiara
anunciou animada.
— Queremos? — questionei e olhei Cameron em busca de
respostas, ele apenas sorriu.
— E aí, quase Styles, vai aceitar, ou não tem coragem? — Samuel
provocou, fazendo-me encará-lo furiosamente.
— Me mostre o lugar — afirmei enquanto o encarava.
Kenny riu alto e animadamente, e eu comecei a ser levada por
Melanie e Kiara. Cameron veio logo atrás com os primos. Descemos uma
parte do campo que rodeava a casa e seguimos até a área de segurança, que
ficava distante da mansão. Entramos em uma sala onde a família Styles
estava quase completa. Eliza conversava com Meredith, Adelaide e as
outras tias de Cameron. Os homens conversavam com suas vozes altas e
pareciam estar brigando.
Apenas os primos mais velhos de Cameron — paternos e maternos
— estavam presentes, juntamente com Natalie, os mais novos certamente
não estavam. Quando vi que era a ala de treinamento com armas, entendi do
que se tratava. Contive meu sorriso, não entregaria a facilidade que isso
seria.
— Finalmente ela chegou — Rolland, um dos tios, anunciou.
— Não comecem o show sem nós — Polly pediu ao entrar na sala.
— Isso não é um pouco demais? — Antonella questionou.
— Por Deus, não é um bicho de sete cabeças, se sua afilhada será
uma Styles, precisa estar preparada — Thomas, o tio mais velho, disparou.
— E ela é uma das netas mais velha dos Nogueira, Marcus não a
deixaria sem treinamento. Vamos logo com isso — William disse em voz
alta, e os homens da família concordaram.
— Sou totalmente contra isso, minha amiga não devia estar
passando por algo assim. Que pressão — Natalie disse, horrorizada.
— Se você não quiser, não seremos contra nada. É apenas uma coisa
desses homens cabeças-duras — Meredith disse, tentando me confortar.
— Vamos ser contra, sim, quero ver tiro — Adelaide gritou, fazendo
os homens rirem.
— Por Deus, deem uma arma para a minha nova filha logo! —
Arthur disse alto e em tom impaciente.
— Ela ao menos sabe atirar? — ouvi Kenny questionar.
— Uma Nogueira certamente sabe — ouvi William responder.
— Tudo bem, amor? — Cameron disse, tocando minha cintura e me
trazendo para perto dos equipamentos. — Você não precisa fazer nada que
não queira, eles só adoram lançar um desafio.
— E eu fujo de um desafio, Cameron? — ele riu e deu de ombros.
— Me diz você, vai desistir?
O encarei, joguei meus cabelos para trás e coloquei os fones de
proteção, em seguida os óculos de proteção por cima dos óculos de grau.
— Ela vai errar, e isso vai dar muito ruim — ouvi Elliot dizer assim
que entrou na sala.
Os demais homens se juntaram e começaram a me subestimar, e eu
entendi nitidamente de onde vinha o jeito provocativo de Cameron.
Tio Arthur era um dos piores a reclamar da minha demora em fazer
algo tão simples, mesmo que ele tivesse me visto atirar.
Eles falavam tão alto que minha única forma de falar foi pegar uma
das metralhadoras e começar atirar sem parar, e assim houve um silêncio
que não foi suficiente para mim. Então peguei duas outras armas e atirei
com as duas nos alvos à minha frente.
Eu sempre admirei mulheres que atiravam bem, era claro que, fora
de uma central de segurança, não iria me sair bem, a vida real era diferente
de um treinamento, mas aqui mostrei tudo o que eu havia aprendido em
mais de dois anos com atiradores profissionais — minha família paterna,
mais especificamente meus avôs.
Quando terminei o espetáculo que eles queriam, deixei as armas na
mesa, me virei na direção deles e fiz uma reverência teatral carregada de
ironia, como a de Katniss em Jogos Vorazes.
— Ai, meu Deus — Natalie disse pausadamente e me olhando com
os olhos arregalados.
— Caralho, eu estava brincando, priminha, você para mim sempre
significou muito — Samuel disse em tom brincalhão.
— Essa menina é uma Nogueira mesmo — disse Adelaide.
— O time vai saber disso — Elliot disse, perplexo.
— Eu disse para não subestimarem minha noiva — Cameron
afirmou, me puxando pela cintura depois de me ajudar a colocar os óculos e
fones em seus lugares.
— Minha afilhada — Antonella replicou com orgulho em sua voz.
— Minha nova neta — Meredith afirmou.
— Eu falei, Antonella, e você não me deixou vê-la atirar antes —
Polly reclamou.
Os elogios vieram em disparada, e eu precisei responder a algumas
perguntas dos Styles, como e quando eu aprendi a atirar daquele jeito e com
quem. Claro que elogiei meu avô Marcus sem parar e, no fim, disseram que
era apenas uma brincadeira que Cameron permitiu fazer comigo, porque, se
fosse algo que me incomodasse, eles não fariam, porque Cameron acabaria
com eles antes de conseguirem tramar alguma coisa.
Depois de algumas horas com os Styles e Natalie quase me matando
por eu nunca ter contado que sabia atirar, voltamos para a mansão, e a
primeira pessoa que vi foi Nicholas, com as bochechas sendo apertadas por
vovó Ângela, que amava fazer isso com os netos.
— Oi, vovó — cumprimentei-a, salvando Nicholas de mais apertos.
— Docinho — ela o soltou —, soube que calou a boca dos Styles
hoje.
— A senhora precisava ver a cara deles — comentei, e rimos juntas.
— Agora, preciso do meu querido primo.
Ele suspirou aliviado, beijou o rosto da minha avó e me abraçou
pelos ombros para sair com ele.
— Te devo uma — murmurou.
— Sim, deve, mas já sei como você me recompensará.
— Isso é uma ameaça?
Ri e fiz uma careta para ele quando paramos na cozinha, onde
Felicity estava, e Cameron se aproximou assim que nos viu. E dessa vez
quem o olhou em busca de uma concordância fui eu. Ele sorriu balançando
a cabeça positivamente.
— Gostaríamos de saber — comecei, olhando Nicholas e Felicity, e
Cameron parou ao meu lado — se vocês aceitam ser nossos padrinhos?
Nicholas arregalou os olhos e simplesmente começou a chorar,
estendeu os braços e me abraçou.
— Eu te amo, é claro que aceitamos, meu Deus, você vai se casar.
— E em breve será você — afirmei, beijando o rosto dele, e o soltei
para abraçar Felicity, que esperava por isso enquanto ria conversando com
Cameron sobre Nicholas ser mais emotivo do que parecia.
— É claro que aceitamos, será uma honra! — ela sorriu e me
abraçou. — Agora vou levar Nicholas antes que ele comece a chorar ainda
mais.
Concordei, rindo e voltando aos braços de Cameron. Nicholas me
olhou sorrindo com os olhos avermelhados.
— Estou muito feliz por vocês, é só que… — ele suspirou.
— Eu sei, Nic, não precisa explicar — afirmei o enquanto o olhava.
Ele pegou a mochila de Felicity, beijou meu rosto, deu um toque de
mão em Cameron e parou próximo da escada, à espera de Felicity para
subir junto dele.
— Nicolly já chegou, está com Ned e sua avó Abigail na sala
principal — ela avisou, para em seguida se aproximar de Nicholas e subir
as escadas.
— Ele sempre foi emotivo assim? Não me lembrava dele desse
jeito. — Olhei Cameron.
— Na verdade, não. Depois que Pollo faleceu, ele ficou muito
próximo de mim, mas acredito que ele queria ter uma relação assim com
Gabbe e se lembra dela quando tem esses momentos. Eles estão brigados
faz um tempo — expliquei, o vendo mudar o olhar quando falei de Gabbe,
como se todo o calor de seu corpo tivesse desaparecido.
— E por que brigaram? — questionou, parecendo voltar para a
realidade.
— Não sei, ninguém me fala, acho que ela fez algo muito grave que
ele descobriu. Até o dia da luta de vocês, estava tudo bem, depois disso ele
não queria nem mesmo falar dela. Acredito que Felicity tenha deixado
escapar algo, porque ele brigou com ela também, mas depois se resolveram.
Enfim, não faço ideia do que aconteceu e acho que ninguém vai me contar.
Sinceramente, sendo algo de Gabbe, realmente não tenho interesse em
saber.
Cameron pensou um pouco antes de perguntar:
— Ela vem passar o Ano-Novo aqui?
— Não, viajou com as amigas. — Voltei meus olhos para ele, que
soltou um suspiro de alívio. — Desculpe, amor, não devia falar dela com
você.
— Não é nada disso — ele apertou minha cintura —, só quero um
pouco de paz nas férias. Brigas de família não fazem bem a ninguém.
Suas palavras não me convenceram, mas, antes que eu pudesse
questionar, ele disse:
— Vamos falar com Carter e Nicolly? Quero falar com a minha irmã
ainda hoje.
Mesmo desconfiada e contrariada, concordei que tinha coisas
importantes a serem resolvidas quanto ao nosso casamento.
— Essa conversa ainda não acabou — afirmei, olhando-o e o vendo
rir.
— Não consegue deixar a teimosia um minuto? — questionou,
puxando-me para ficar ainda mais próxima dele, e me balançou devagar de
um lado para o outro, como uma dança lenta e desengonçada.
— Não, não consigo — disse, sorrindo, e seus lábios encontraram os
meus, pouco antes de eu conseguir terminar de falar. — Eu só não gosto de
vê-lo incomodado — expliquei depois de vários selinhos que ele deixou em
meus lábios.
— Não estou incomodado, minha noiva, mas estou começando a
ficar — retorquiu, olhando-me e acariciando meu rosto.
— Não me culpe por ser teimosa — protestei, o vendo rir.
— O que acha de irmos falar com Carter e Nicolly antes de
começarmos um debate em que ficaremos até amanhã?
Achei graça.
— Acho uma ótima ideia debatermos e depois irmos falar com
Carter e Nicolly — o contrariei, apenas por diversão, e ele revirou os olhos,
logo começando a rir.
— Você é mesmo impossível — murmurou, depois me puxou para
andar com ele. — E mandou muito bem na frente da minha família.
— Acho que não tinha escolhas — comentei aos risos, e chegamos à
sala principal. Nicolly estava toda animada conversando com Luce e Ned,
em seu rosto estava nítido que ela havia chorado antes de estar esbanjando
toda a sua felicidade com os nossos primos.
— BECCA! — gritou com ânimo, mas não se levantou com rapidez
por conta da barriga de seis meses.
Caminhei até ela e a abracei enquanto Carter e Cameron se
cumprimentavam.
— Oi, Nini, como está? — Me inclinei para baixo e dei um beijinho
em sua barriga. — E a Didi?
— Pesada — brincou —, mas está bem, não vejo a hora de chegar
março para ver o rostinho da minha pequena — disse, sorrindo, e passou as
mãos na barriga.
— Também não vejo a hora — Carter completou, abraçando a
esposa por trás e beijando o topo de sua cabeça.
— Precisamos falar com vocês dois — afirmei calmamente quando
Cameron parou ao meu lado e cumprimentou Nicolly —, se vocês puderem,
é claro — completei, olhando vovó Abigail, que não prestava mais atenção
em nós, e sim nos outros netos.
— Acho que podemos — Nicolly riu, dando de ombros, e seguimos
para a sala 4.
— Vocês descansaram da viagem? — questionei e me sentei no
sofá, e Cameron ao meu lado, conversando com Carter sobre a vinda a
Noruega ter sido tranquila.
— Não, nenhum pouco. Mas vamos depois dessa conversa. — Ela
afirmou, deixando claro que não sairia daqui enquanto não soubesse o
assunto.
— Entendemos o recado — Cameron brincou e acariciou minha
cintura. — Vocês serão nossos padrinhos — disparou, da mesma forma que
Carter fez com a gente.
Carter gargalhou e abraçou Cameron, os olhos de Nicolly se
encheram d’agua, e ela me abraçou.
— Meu Deus, você vai se casar — começou com a voz falhando de
emoção. — Estou tão, tão feliz por vocês! — declarou pegando a minha
mão e a de Cameron. — Será uma honra!
— Bom, vocês não me pediram, e sim convocaram, mas eu aceito,
sim — Carter brincou e me abraçou.
— O casamento será semana que vem, acho que vocês já devem
saber, minha mãe provavelmente anunciou para o mundo — eles
concordaram rindo. — Vovó Abigail ou Natalie vai falar quando será o
ensaio da entrada dos padrinhos e vai passar a cor do vestido das madrinhas
e da gravata dos padrinhos.
— E você não vai estar no ensaio de entrada?
Balancei a cabeça em negação enquanto ria.
— A rainha Martha nos presenteou com o casamento, não
poderemos ver nenhum preparativo — expliquei, vendo os dois ficarem
boquiabertos no mesmo instante.
— Rainha? — Carter questionou, e Cameron acenou em
concordância. — História complicada demais? — Cam concordou outra
vez.
— Isso significa que eu não vou poder saber — Nicolly reclamou e
cruzou os braços, e Carter deu um beijinho em sua bochecha que a fez
sorrir.
— O que acha de irmos descansar um pouco, meu amor? — ele
questionou, levantando-se e pegando na mão dela.
— Acho ótimo, a não ser que tenhamos mais algo a ser resolvido —
Nicolly me olhou, e eu discordei. — Maravilha, nós nos vemos mais tarde,
então.
Observamos os dois saírem, e Cameron me olhou.
— Por que Natalie e Astrid correram com você assim que
chegamos?
Me virei, encarando-o, e sorri, depois me deitei em seu peitoral.
— Minha despedida de solteira — expliquei, vendo-o cravar os
olhos em mim e questionar um milhão de coisas. — Só as meninas, amor,
sem homens ou strippers — brinquei, o vendo revirar os olhos. — O que
você pensa em fazer na sua despedida?
— Não faço ideia nem estou me importando muito com isso.
— Nem eu, as meninas que estão planejando tudo — disse,
arrumando-me no sofá e pegando o edredom que estava ali, o qual
reconheci como pertencente de Isaac.
— Confio que Astrid não vá fazer nada, mas Natalie…
— Meu nome? O que estão falando?
Atrás dela, entraram Elliot, Andrew, Samuel, Kenny e Nicholas.
— Minha despedida de solteira, expliquei que você e Astrid é que a
estão planejando.
Elliot, Andrew e Nicholas a olharam como se quisessem saber cada
detalhe.
— Os únicos homens presentes serão os guardas, e do lado de fora
da sala em que vamos ficar. Até o rei estará fora do palácio — prometeu
antes de ser questionada.
— Acho bom — disse Cameron.
— E o que vamos fazer na sua? — Kenny questionou, se jogando
em um sofá.
— Acho que ele deveria ir pescar ou fazer algo bem tranquilo,
porque Rebecca vai tirar todo e qualquer resquício de sossego que ele
pensar em ter — Nicholas anunciou.
— Se pensar assim, Rebecca precisará de uma casa de repouso para
passar dois dias. Não vai ser uma despedida de solteira, vai ser uma
despedida de paz — Natalie afirmou.
— Dos dois, não sei quem é pior — Andrew completou.
— Prefiro não opinar, ela sabe usar uma metralhadora — Elliot se
isentou.
— Vovô Marcus te ensinou, mas não me ensinou? — Nicholas
protestou, levantando-se. — Vou ir falar com ele agora.
— Deixa o vovô em paz um pouco — pedi.
— Jamais — Nicholas disse antes de sair da sala determinado.
Cameron olhou os primos e Andrew na sala, conversando entre si
sobre o filme Transformers: A vingança dos derrotados, que ele havia
acabado de colocar, pois era um de seus filmes favoritos, em seguida olhou
Elliot e Natalie, voltou o olhar aos primos e Andrew, e eu sabia o que viria
a seguir. Sem delicadeza nenhuma, Cameron disse:
— O que vocês acham de me deixar a sós com minha irmã, meu
amigo e minha noiva? Estão me atrapalhando.
— Nossa, que indelicadeza — Andrew protestou.
— Seu ignorante — disse Samuel, fingindo estar ofendido.
— E bruto — Kenny completou.
Ele olhou os garotos como se não entendesse o motivo de eles ainda
não terem saído.
— Meninos, por favor, podem nos dar um minuto? Precisamos falar
com Natalie e Elliot — pedi calmamente, vendo Kenny e Samuel sorrirem,
mas Andrew me olhava desconfiado.
— É claro, prima, você é muito educada — disse Kenny,
provocativo, e olhou Cameron.
Os três se levantaram aos risos e saíram. Não tínhamos começado a
falar, e Natalie estava com os olhos cheios d’água. Cameron riu, se sentou
corretamente no sofá — assim como eu e o casal à nossa frente — e
começou:
— Vocês com certeza sabem o que vamos falar. — Coloquei minha
mão em cima de sua perna, e ele me olhou e sorriu enquanto entrelaçava
nossos dedos, para em seguida olhar o casal. — Vocês são as pessoas que
posso citar como algumas das mais importantes na minha vida, foram
literalmente os únicos que acompanharam minhas fases da pior a melhor,
junto com Andrew, não podia deixá-los de lado no melhor momento da
minha vida. Queremos que sejam nossos padrinhos.
Natalie explodiu em lágrimas, de forma que me fez chorar junto, e
Cameron sorria que nem bobo. Quando olhei Elliot, pela primeira vez o vi
limpar os olhos, lutando para não chorar igual criança.
— É claro que aceitamos — Natalie disse, fungando, e abraçou
Cameron.
Ela começou a falar com ele tão baixo que preferi não tentar escutá-
los. Elliot me abraçou como se fosse meu irmão ou Nicholas, que é um
irmão para mim.
— Obrigado por não ter desistido dele — o ouvi dizer e o olhei
depois de soltá-lo. — Ele é muito importante para mim, é impagável vê-lo
bem assim — afirmou, mesmo depois de ver que Cameron agora prestava
atenção em nós.
Natalie praticamente pulou no meu colo e me abraçou.
— Irmãzinha?
— Sempre fui — disse aos risos, e ela se sentou novamente onde
estava.
Eles decidiram sair após nosso momento de sentimentalismo para
dar uma volta pela Noruega. Depois de assistir a um pouco do filme,
mamãe entrou na sala quase que implorando para ficarmos um pouquinho
com Eloise e Louis, pois Isaac havia caído e se machucado. Não tinha
dúvidas do pai incrível que Cameron seria, e ver a linda cena de ele
contando a Louis o que se passava no filme, como se o pequeno realmente
fosse entender, quase fez meu coração explodir.
Quando Louis começou a pedir para vir ao meu colo, Cameron
pegou Eloise com uma delicadeza enorme que nem eu sabia que ele tinha.
Em seguida, me puxou devagar para ficar mais próxima dele, como sempre
fazia.
“Você é o único com quem sonho todos os dias. Você é o único em que sempre penso. Você é o único
que me faz comportar. Meu amor é seu amor, seu amor é meu amor”.
You Da One – Rihanna

No Ano-Novo, ninguém esperava dar meia-noite para começar a


comer, pelo menos não na minha família. Tio Silas e tio Pedro, juntamente
com dois tios de Cameron, estavam na churrasqueira assando carne
enquanto tio Benjamin e meu pai estavam ensinando Antonella e Arthur a
fazer caipirinha, até mesmo William estava junto, mas apenas bebendo com
vovô Marcus. Quem ensinou os meus tios a fazer todas as bebidas
alcoólicas foi meu avô Marcus, a parte de bebidas era a favorita dele.
Olhei tio Benjamin e Antonella por instantes. Eles se olhavam como
se ainda guardassem sentimentos, e eu preferi ignorar aquilo, fingir que
estava vendo demais.
Cameron o tempo todo ia à churrasqueira pegar carne e provocar
meu tio Pedro de alguma forma junto com Nicholas e Alec. Eles
provocavam todos os meus tios antes de voltarem a comer. Meu noivo
estava totalmente familiarizado com os meus parentes, e isso era totalmente
satisfatório de ver.
— A família toda gostou dele — disse mamãe, parando ao meu lado
com Luke em seus braços.
Louis e Eloise estavam com tia Ada e sua esposa Chloe.
— Cameron se dá bem com qualquer pessoa — comentei, sorrindo e
tomando um pouco do suco de limão que vovô Marcus fez para mim,
mamãe sorriu, concordando, e eu voltei meu olhar para onde meu pai estava
fazendo os drinques. — Preciso entender algumas coisas. — A olhei.
— Imagino que sim. — Ela se sentou no lugar vazio ao meu lado.
— Vovô Marcus e William trabalharam juntos? Desde que
chegaram, eles estão juntos, conversam bastante, e soube até que saíram
para ver carros esta semana. Papai me disse que nossas famílias eram
juntas, mas achei que Charles havia sido o único envolvido nesses negócios.
Mamãe me olhou.
— William precisou trabalhar por um tempo para os Davis Valle, na
época em que Marcus cuidava de Antonella — explicou, e eu balancei a
cabeça positivamente.
— Você e papai — comecei, o olhando e me virei para ela, que
franziu o cenho —, ele sempre gostou de beber, e, desde o Natal, percebi
que tem bebido como antigamente, antes de ir à igreja. Com todo esse
envolvimento com a minha madrinha — suspirei — tenho pensado se vocês
iam à igreja para… disfarçar.
— De certa forma, sim. Precisamos esconder alguns assuntos.
— Principalmente a máfia — comentei baixinho.
— Eu sinto muito — ela tocou minha mão — por ter sido religiosa
com você ao ponto de julgar suas roupas ou o fato de você não querer
namorar ninguém. Estava apreensiva com a forma como as coisas estavam
acontecendo em nossa família, e as pessoas me pressionavam de forma que
descontei em você, uma coisa horrível, sei disso, desculpe-me, eu sinto
tanto.
— Passamos disso, você melhorou muito — afirmei, beijando seu
rosto.
Cameron apareceu com um copo enorme de caipirinha de kiwi.
— Ah, não — suspirei, e ele riu animado.
— Já comeu churrasco, sogra? — Ele se sentou na cadeira ao meu
outro lado.
— Sim, querido, vou ver se Isaac já comeu também — afirmou,
levantando-se, e saiu depois de nos olhar.
— E você, minha noiva? Já se alimentou? — Ele puxou minha
cadeira para próximo dele depois de colocar o copo em cima da mesa.
— Sim, amor, vou comer de novo depois — respondi enquanto o
olhava.
Minha família colocou músicas brasileiras para tocar, mas sabia que
era só o começo.
— Estava pensando — começou envolvendo um dos braços em
minha cintura — que deveríamos ir para aquele sofá — ele olhou um sofá
vazio que ficava do lado oposto à churrasqueira — antes que alguém vá.
Não tive escolhas quando seu braço me puxou e me levantou,
fazendo-me caminhar até o sofá citado. Com a outra mão, ele segurava o
copo.
— Guarde nosso lugar, vou colocar outro casaco — avisei.
O pouco tempo que gastei trocando de casaco e fazendo o caminho
de volta para fora da casa, onde estava acontecendo o churrasco, foi
necessário para que Jackeline — filha de tia Merabe — se sentasse ao lado
de Cameron.
As insinuações dela ficavam ainda mais nítidas a cada passo que me
aproximava. Nicholas e Carter nos olhavam prontos para se aproximar, mas
passei na frente deles, que recuaram no mesmo instante.
Cameron se afastava a cada insinuação de proximidade de Jackeline;
quando estava diante deles, ela tentou passar a mão no braço dele, que
desviou e a olhou como se ela fosse a pessoa mais sem noção que já viu na
vida, e era.
Agarrei seu braço e a puxei para que se levantasse, percebendo que
Cameron havia arregalado os olhos e se levantado em prontidão, e Jackeline
tropeçou nos próprios saltos. Eu a fiz se equilibrar e a olhei nos olhos.
— Se você se insinuar mais uma vez para o meu noivo, a próxima a
ter um nariz quebrado será você. Ele será o meu esposo, entrará para a
nossa família, e o mínimo que espero é respeito por ele e por mim, nem que
eu tenha que fazer um pouco de senso entrar nessa sua cabeça mimada à
força. Estamos entendidas?
Ela balançou a cabeça em concordância.
— Então diga! — exigi, e ela deu um passo para trás.
— Sim, estamos — disse rapidamente.
E não olhou para trás ao sair apressadamente. Mamãe nos olhava
juntamente com minha avó Ângela, as duas sorriram e voltaram a
conversar. Me sentei no sofá juntamente com Cameron, que, com a mão em
minha nuca, me fez olhá-lo.
— Não quero que brigue com a sua família por mim — protestou,
me fazendo rir.
— Primeiro, você quase quebrou o braço de Jeremy por minha
causa e acha que o que fiz agora está aberto a discussões? — Seus lábios se
abriram prontos para argumentar, mas não o deixei. — Segundo, você é
minha família! — Ele sorriu, e eu continuei: — E Jackeline não pode ver
um homem que já quer. Foi assim com Carter, com Nicholas por ele ser
meu primo paterno, e não materno, como ela é, provavelmente vai tentar
com Alec e Jasper. Só não vai em Ned porque é primo dela também.
Cameron ficou calado, apenas alisando minha cintura, e beijou meu
rosto.
— Válido — concordou depois de alguns segundos. — Com o meu
primo, deu certo, veja. — Ele olhou na direção de Jeremy, que chegou de
viagem há dois dias e estava conversando com Kenny e Samuel. — Jeremy
nem sequer olhou para você.
Voltei meu olhar a Cameron.
— Ele falou com você quando chegou? — ele perguntou, e balancei
a cabeça negativamente. — Ótimo!
— FALTAM CINCO MINUTOS PARA A MEIA-NOITE! —
Nicholas anunciou, estando, acredito, no terceiro copo de uísque.
Nós nos levantamos e nos juntamos às nossas famílias.
A contagem para a meia-noite se iniciou.
E em pensamento fazia meus pedidos particulares:
Um bom casamento.
Uma boa vida ao lado de Cameron.
Fazer dele a pessoa mais feliz do universo.
Não perder meu rendimento na faculdade.
Fazer Cameron feliz e dar todo o meu amor para ele.
Quando deu meia-noite e todos explodiram em felicitações, eu me
senti realizada pela forma como estava entrando nesse novo ano.
Noiva de Cameron, o que poderia ter dado muito errado, bem com a
minha família e sem segredos entre nós. Era uma ótima forma de
recomeçar.
Abri meus olhos quando senti as lágrimas de emoção e felicidade
descendo em meu rosto, e Cameron me puxou pela cintura, limpou minhas
bochechas e sorriu.
— Eu te amo, minha noiva. Faremos do nosso casamento o melhor
do universo, e eu prometo que você será a mulher mais feliz do mundo —
prometeu pouco antes de selar nossos lábios.
O abracei com força e senti seus braços envolverem totalmente
minha cintura, mesmo com os casacos pesados, e aproximei meus lábios de
sua orelha.
— Eu te amo, meu noivo, e até o meu último Ano-Novo quero estar
com você — sussurrei o vendo me apertar mais, então me virei um pouco
para olhá-lo, e ele selou nossos lábios sem parar de sorrir.
E, sim, era o primeiro Ano-Novo juntos como casal e não seria o
último, estava longe de ser.
Depois de agradecermos pelo Ano-Novo e felicitarmos os nossos
familiares, as carnes voltaram a ser assadas, o som ficou duas vezes mais
alto e as bebidas passaram a ser feitas uma atrás da outra — coisa normal da
minha família materna e paterna, e, pelo visto, a família de Cameron seguia
o mesmo ritmo.
Nicholas tomou o celular da mão de Jackeline, avisou que o DJ
agora era ele e, de início, colocou forró.
— Me concede essa dança, madame? — E estendeu a mão para
mim.
Achei graça e aceitei, meus avós paternos se juntaram depois de
alguns instantes, e as atenções foram todas deles, que sabiam dançar muito
bem.
— Nicholas, pelo amor de Deus — ouvi tia Ammy dizer, mas isso
não foi o suficiente para impedi-lo de colocar funk.
— Agora sim — ouvi tio Dave, que já estava na sexta caipirinha e
mesmo assim não largava o copo, exclamar e começar a dançar.
— Não é assim, pai — Angel disse, ensinando uma dancinha
engraçada para ele.
— Mano, como que essa coisa é da nossa família? — Isaac
questionou em português, parando do meu lado e me deixando em dúvida
se falava de Angel ou tio Dave.
— VENHA, ISAAC! — Nicholas o chamou.
O que me deixou mais impressionada foi não ter visto o momento
em que Cameron se juntou a eles para dançar, eles ensinaram Alec, Ned e
Jasper a dançar enquanto Luce ria sem parar com Nicolly, Natalie e Felicity,
e eu me juntei a elas depois que peguei um copo de caipirinha, era
simplesmente impossível resistir a uma feita diretamente pelo vovô Marcus.
As horas passaram voando, e só me dei conta disso quando minha
mãe, tia Eliza, alguns dos irmãos de tia Eliza e dois dos meus tios saíram
para colocar as crianças para dormir. E eu sabia que eles voltariam para a
festa por conta dos seguranças em casa e das câmeras que Marcus e William
monitoravam. Eram exatamente 3h20 da madrugada quando tio Dave
anunciou:
— BATALHA DE DANÇA!
E colocou a música Dança do Creu.
A família de Cameron não parava de rir, nenhum dos homens teve
coragem de ir junto com a minha família até Cam, Kenny e Samuel os
puxarem para dançar e mostrarem como fazia.
— O meu marido. Ai, meu Deus — Eliza disse pasma, após
retornar. — E o meu pai — ela gargalhou vendo o avô materno de Cameron
dançar desengonçadamente.
— O Jasper parece uma lombriga — Luce observou, gargalhando.
— O delegado Grier vai me matar — Natalie disse, olhando Elliot.
— Didi, esse é seu pai — Nicolly disse, rindo, enquanto passava as
mãos na barriga e olhava Carter.
Na velocidade cinco, Cameron e Nicholas firmaram os pés no chão
e tremeram a cintura, depois os dois dançaram no chão de uma forma que
ninguém conseguiu deixar de rir.
Vovô Marcus e William, que não estavam dançando, olharam para
eles balançando a cabeça negativamente, mas até eles caíram na risada.
— Quem fez a caipirinha que meu noivo tomou? — questionei.
Começou outra música, e Cameron simplesmente não parava, estava
ligado no 220.
— Marcus — Eliza respondeu.
— Santo Deus — disse aos risos.
— CASE COMIGO! — Cameron apareceu pulando animadamente
e fazendo um passinho que Nicholas ensinou.
— Eu vou — disse, rindo, e ele não parava.
— Vamos, hoje? Agora?
— Amor…
Ele se virou de costas para mim e rebolou no ritmo da música,
depois se virou de frente e balançou os ombros.
— Eu e você vamos nos casar. — E balançou a mão enquanto
falava, mostrando a aliança de noivado.
— É O BONDE DAS MARAVILHA — Nicholas apareceu
pulando, colocou o braço em volta dos ombros de Cameron e o puxou para
dançar.
Foram mais duas horas de danças, e até mesmo eu dancei algumas
músicas. Os adultos subiram para seus quartos depois de toda a
confraternização, e a família de Cameron declarou inúmeras vezes que em
todas as festas minha família precisava ir.
— Amor, precisamos dormir também — alertei, depois que todos
haviam subido.
Quando o olhei, vi que estava comendo mais alguns pães de alho e
tomando refrigerante de laranja.
— Ok — disse sozinha e me sentei no sofá para esperá-lo.
— A confraternização com a sua família é muito diferente. — Ele se
sentou ao meu lado sorrindo.
— E hoje no almoço continua, vai até de madrugada novamente.
Seria a semana toda se não fossem os preparativos do casamento —
expliquei, acariciando seus cabelos enquanto ele comia.
— Nosso casamento — ele sorriu, me olhando e me ofereceu um
pedaço de seu pão de alho, dei uma mordida, pois sabia que ele insistiria se
eu recusasse.
— Nosso casamento — repeti e soltei um suspiro de alívio e
emoção ao mesmo tempo. — Ei, você não me disse o que pretende fazer na
sua despedida de solteiro.
— Não tenho do que me despedir, mas vou assistir a uma luta de
boxe com os homens das nossas famílias, depois vamos comer — explicou,
limpando os lábios.
— Vai assistir ou participar?
E novamente ele riu, da forma mais engraçada possível.
— Dessa vez, só assistir. O rei Erick estará junto, não posso me
envolver em confusão — declarou, fazendo-me rir.
Subimos para o quarto; depois que tomei meu banho, fiquei
esperando-o tomar o dele, e foi impossível não pensar que daqui a tão
pouco tempo eu poderei tomar banhos e mais banhos com ele.
Uma semana, apenas uma semana, e eu me casaria. Ele seria meu,
totalmente e de todas as formas. Meu. Cameron saiu do banho, vestindo um
conjunto de moletom, e secou a nuca com a toalha.
— Parece que passou um trator em cima de mim de tão cansado que
eu estou agora — comentou para em seguida voltar ao banheiro para
estender a toalha, então se aproximou de mim e se jogou na cama.
— Foi ótimo vê-lo tão feliz — comentei e beijei o topo da sua
cabeça.
Me arrumeina cama, e ele me abraçou pela cintura, selou nossos
lábios duas vezes e pediu passagem para um beijo.
Ele estava tenso, pelo menos enquanto me beijava, e apertava minha
cintura constantemente como se, caso não fizesse isso, fosse perder o
controle de seus atos. Afundei meus dedos em seus cabelos e afastei nossos
lábios. Ele respirou fundo, como se tivesse perto de perder o ar.
— Acho que essa semana não poderemos dormir juntos —
confessou.
O encarei.
— Mas…
— Eu fico duro só de olhar para você, Rebecca, mas que porra. —
Ele abruptamente se levantou e pegou seu travesseiro. — Boa noite, durma
com Deus, porque comigo você só vai dormir depois que… — Ele se virou
para mim e me encarou. — Boa noite.
E saiu do quarto. Passei as mãos no rosto sem conter a risada e,
sinceramente, estava grata por ele ser saído, pois estava compartilhando do
mesmo pensamento.
“Eu quero seu corpo bem aqui. Quero você, agora. E quero ver você cumprir tudo que eu ouvi”.
Drunk In Love – Beyoncé

Era dia 7 de janeiro, dois dias antes do dia do meu casamento. Eu


estava ansiosa, muito ansiosa.
Me olhei no espelho e vi o vestido de noiva que Antonella havia
feito para mim, era perfeito, incrivelmente perfeito. Não conseguia me ver
vestida em nada tão bonito até hoje.
Olhei nos olhos de Antonella, que tentava a todo custo não chorar,
mas foi impossível.
— Quando estiver pronta, pode sair para mostrar à sua mãe —
afirmou pouco antes de se dirigir à porta de saída. — Você está linda.
E eu me sentia linda, tão linda que não conseguia responder nada de
tão impressionada que estava comigo mesma. Não me importei com os
minutos que demorei. Ouvia os resmungos de minha mãe enquanto me
esperava com vovó Abigail e Ângela, mas não ligava. Assim que saí,
mamãe prendeu a respiração, seus olhos se encheram d’água e ela começou
a chorar.
— Linda, tão linda minha menina — disse sem parar de chorar.
— Você está parecendo uma princesa, está linda — vovó Abigail
disse alto enquanto chorava.
— Nunca vi noiva mais perfeita — vovó Ângela, mesmo sendo a
mais difícil de chorar, limpou as lágrimas de seus olhos.
Antonella também estava presente, e, com as quatro chorando, foi
impossível eu não me juntar a elas.
— Eu estou tão feliz — disse, explodindo em lágrimas, e as três me
abraçaram.
Antonella tentou ficar de fora, mas vovó Ângela a puxou.
— Não acabem com o meu vestido, por favor — Antonella disse,
afastando-se aos risos e limpando discretamente o canto dos olhos.
Depois de tirar o vestido e ficar um tempinho conversando com
Antonella, voltamos para casa.
Procurei por Cameron e parei quando Natalie — depois de reclamar
pela 39ª vez por eu não a ter deixado ver meu vestido de noiva — disse que
ele estava no escritório.
Cameron estava me evitando desde o dia em que decidiu não dormir
mais comigo. Ele me cumprimentava, era claro, com um selinho e nada
mais e estava dormindo em algum dos quartos da casa.
Isso quando dormia, ele andava passando horas no escritório.
Dei duas batidas na porta, que foi aberta depois de alguns segundos
de espera, os olhos dele se cravaram em mim, e ele pareceu não saber como
respirava. Selei nossos lábios, mas ele tornou tudo muito rápido e se
afastou.
— Oi, amor, como vai? Como foi seu dia?
Franzi o cenho pelas perguntas estarem sendo feitas sem que ele ao
menos me deixasse entrar.
— Foi ótimo, e o seu?
— O mesmo. Precisa de algo?
Olhei em seus olhos e ouvi o barulho da caneta balançando entre
seus dedos.
— Vai continuar me evitando? — questionei, e ele engoliu em seco.
Coçou a nuca e me deu passagem para entrar. Entrei e me virei para
olhá-lo, vendo que ele ainda estava de costas e parecia murmurar alguma
coisa.
— Cameron! — Ele deu um pulinho e se virou para mim, forcou um
sorriso, fechou a porta, sem trancá-la, e se sentou no sofá do escritório.
Me sentei ao seu lado, e ele se arrumou indo mais para o canto.
— Quase não o vi essa semana — comentei enquanto o olhava.
— É… — murmurou sem me olhar — estava resolvendo as coisas
das empresas justamente para não ter problemas no meu período fora —
explicou.
Ele começou a tremer as pernas sem parar, e, para acalmá-lo,
inclinei minha mão para tocar sua perna, mas ele se levantou.
— Eu te amo, mas, por favor, não fique aqui, estamos sozinhos…
por favor — implorou.
— Desculpe — pedi e me levantei. — Na verdade, vim apenas para
avisar que irei para o palácio hoje.
— Graças a Deus!
— Amor! — protestei aos risos e me aproximei da porta para poder
sair.
— Eu não deixei de dormir com você porque simplesmente quero,
na verdade, não consigo dormir sem você — admitiu —, não deixei de
beijá-la por simples vontade, pelo contrário, você não faz ideia do quanto
eu a quero.
Ele se aproximou a passos lentos. Era como se um imã nos fizesse
se aproximar e que era sem dúvidas mais forte que nós.
— Não consigo parar de pensar no seu cheiro — sua mão me puxou
pela cintura, e ele roçou o nariz em meu pescoço —, você me deixa louco,
alucinado — sussurrou com a respiração cortada e deu passos até me fazer
sentir a porta em minhas costas. — Tem noção do quanto eu tenho pensado
em você nesses dias, nessas noites? — Sua voz ainda era um sussurro
próximo à minha orelha. — Em como quero invadir seu quarto, arrancar
sua roupa e beijar cada canto de seu corpo?
Fechei os olhos e senti seu perfume me dominar, sua mão desceu em
minha perna e subiu na altura de sua cintura. Minha respiração começou a
ficar descontrolada, com a outra mão ele agarrou meu pescoço, me fazendo
abrir os olhos, e me puxou, deixando meu rosto próximo ao dele.
— É assim… — ele pressionou seu pau coberto pela calça entre as
minhas pernas e me fez perder o ar e apertar seus braços — que você me
deixa sem precisar fazer absolutamente nada.
Sua mão apertou ainda mais meu pescoço, e ele parou com os lábios
próximos dos meus.
— E eu sei que só vou relaxar quando estiver dentro de você, indo
cada vez mais fundo, te fazendo gritar de prazer e pedindo que eu não pare.
— Ele se empurrou mais contra mim. — Eu quero tudo de você, Rebecca,
quero consumi-la, fazê-la minha.
— Cam… — gemi, estufando o peito e sentindo todo resquício de ar
abandonar os meus pulmões.
Ele se pressionou uma última vez contra mim, com mais firmeza, e
se afastou. Andou de um lado para o outro, desesperado e suado. Abri a
porta do escritório repentinamente, precisava sair logo, urgentemente.
— Não vou dormir em casa essas duas noites, estarei no palácio —
reafirmei.
— Eu vou ficar dois dias sem vê-la?
— Nós nos vemos às seis da tarde do dia 9! — Falei, pronta para
sair do escritório, mas ele me puxou.
— De jeito nenhum.
— Você estava de acordo até quase agora!
— Um dia antes do casamento sem vê-la, eu estou de acordo,
lembrando que isso é válido porque vamos nos casar — afirmou. — Dois
dias, não!
— Dois dias, sim. Estou indo. — Lhe dei um selinho.
— Não estou de acordo, quero que se lembre disso. — O olhei e
abri um sorriso.
— Tchau, Cameron. — E me soltei dele.
Voltei ao meu quarto para arrumar as malas. Não seriam apenas para
ir ao palácio, mas para a viagem de lua de mel também.
Lua de mel…
Passei a língua nos lábios e, ao me recordar das palavras recentes de
Cameron, do toque dele, da forma como ele se empurrou entre minhas
pernas…
Eu me joguei na cama e passei as mãos nos olhos, por baixo dos
óculos. Estava frio, mas eu nunca me senti tão quente. Eu o queria logo,
desesperadamente, e queria que ele fizesse tudo o que tinha falado. Quando
a porta se abriu, eu me sentei na cama.
— Pode me explicar por que Cameron começou a me xingar pelos
quatro cantos desta mansão? — Natalie questionou ao entrar no quarto.
— Cameron a xingou?
— Ele foi até o meu quarto, onde eu estava falando com Astrid,
pegou meu celular e começou a falar para ela que éramos duas desalmadas
por fazê-lo ficar longe de você por dois dias e que isso não ficaria assim —
gargalhei ao ouvi-la. — Você precisava ver, Astrid ficou pálida quando
Cameron começou a falar, coitada, não está acostumada com o furacão que
ele é.
— Com Andrew, ela vai se acostumar rapidinho, nunca vi gênios tão
parecidos. Como eles davam certo antigamente?
— Com muita briga, uma vez eles discutiram por causa do time, e
meu pai quase levou um soco de Andrew, que era para ter ido em Cameron.
Andrew pode até ser estressado, mas acho que ninguém o vence. — Ela
pensou um pouco. — Você vence, de alguma forma você consegue.
— A questão é que, durante nosso relacionamento, ele tentou impor
algumas coisas, principalmente em relação a Andrew, o que era
compreensível, sei disso. — Pensei um pouco. — Acredito que até você
tenha pensado que eu devia ter me colocado no lugar de Cameron, mas ele
não falava, não admitia o que o incomodava, simplesmente queria que eu
agisse de uma forma, sem explicar seus próprios sentimentos. Quando viu
que ou entrava em um diálogo comigo, ou iria explodir sozinho, as coisas
começaram a andar.
Ela riu, concordando.
— Quando teve aquela competição do Fênix em que vocês estavam
brigados por causa de Andrew, eu quis muito bater em você e em Cameron.
— Sei disso e imagino que tenha me achado uma insensível, mas
houve coisas que foram necessárias. Assim como ele fez e faz coisas que
são necessárias e me fazem abrir os olhos. Acho que casamento será
constantemente isso. — Ela abriu um sorriso.
— Tenho plena certeza de que sim. Eu e Elliot somos assim o tempo
todo, acho que ele foi crucial para que eu conseguisse ser mais segura de
mim e não achar mais que não mereço carregar o nome Styles.
Suas palavras me fizeram arregalar os olhos.
— Você pensava isso de si mesma?
Ela assentiu.
— Principalmente quando Cameron perdeu o time e papai foi para
cima dele, disseram a você que eu não estava em casa, que saí no meio da
confusão e fui ficar com Andrew…
— Eu sabia que você não seria capaz de largar Cameron no meio
daquilo tudo — comentei, sentando-me na cama e a convidando a se sentar.
— As brigas entre meu pai e Cam se tornaram um gatilho desde o
momento em que ele marcou as costas de Cameron, e, sempre que eles
brigavam, mesmo que não fosse nada sério, eu começava a ficar ansiosa, e
Cameron sempre me acalmava, sempre. Mas, naquele dia, antes de eles
começarem a conversar, Cam fez Andrew ir me buscar para sair, não
entendia nada, claro; depois de Alice, a amizade deles ficou impossível de
entender, então meu pai começou a brigar com meu irmão antes de eu sair,
uma briga horrível, e, em vez de eu ser forte e ir ajudar, eu tive um ataque
de pânico tão forte que apaguei. Não estava na cozinha quando a discussão
começou, mas ouvi tudo do quarto, e foi Andrew quem me levou para o
hospital… desacordada. — Ela abaixou o olhar, envergonhada. — Fui
fraca!
— Não foi. Só você sabe o que tudo isso lhe causou, e eu sinto
muito se dei indícios de julgamento.
— Você não deu, na verdade. Só foi contra mim e Andrew, mas isso
é compreensível — rimos, concordando. — Depois dessa situação, tive a
certeza de que não merecia levar o nome Styles, porque Cameron é forte,
muito forte, não só fisicamente. Ele carregou coisas minhas, coisas dele,
enfrentava meu pai quando brigava com a nossa mãe, quando brigava
comigo, ele nunca abaixou a cabeça para ninguém, e eu simplesmente não
aguentava nada. Depois você começou a fazer parte da família e você é de
longe a garota mais forte que eu conheço, digna do sobrenome Styles, e por
essas coisas eu não me achava digna nem disso nem do amor de ninguém.
— Até Elliot chegar.
— Até Elliot chegar — repetiu com um sorrindo lindo nos lábios.
— Não queria que tivesse passado por tudo isso sozinha, mas fico
feliz que tenha conseguido. Sei que Elliot tem grande parte nisso tudo e sou
muito grata a ele, mas a sua evolução pertence totalmente a você. Cada um
tem sua força. Cameron confronta qualquer um, quem quer que seja —
rimos —, mas você tem a força de ajudar, de amar com calma, com
cuidado, de ouvir e milhares de outras coisas.
— Meu irmão não ouve, então?
Gargalhei, discordando.
— Ele é um ótimo ouvinte, na verdade.
— É — ela sorriu —, ele realmente é. — Natalie se levantou e me
abraçou. — Termine de arrumar suas coisas, pois já vamos para o palácio,
Astrid está ansiosíssima.
Assim que deixei tudo pronto, tomei banho e troquei minhas roupas,
precisava estar apresentável na chegada ao palácio antes de colocar meu
pijama. Quando saí do banheiro, dei de cara com Cameron cheirando minha
blusa de frio que estava em cima da cama.
— No que posso ajudar, senhor?
Ele se manteve de olhos fechados, sorriu maliciosamente e afundou
o rosto em minha blusa mais uma vez.
— Em muita coisa.
Em reação às suas palavras, meu corpo todo estremeceu… sem ele
precisar me tocar.
— Vim te desejar uma boa festa — disse, levantando-se, e se
aproximou com meu casaco em mãos, depois o arrumou em cima de meus
ombros e me deu um selinho demorado.
— Eu te desejo o mesmo e, por favor — segurei-o pela cintura antes
que ele se afastasse —, não se envolva em confusões, senhor Styles.
— Não vou, prometo — replicou aos risos e saiu do quarto.
“Garoto, você sabe que sempre faz do jeito certo. Ninguém mais faz desse jeito. Só me faça sua”.
Kiss It Better – Rihanna

Estávamos em uma sala de espera, depois de todas termos colocado


nossos pijamas, e eu ainda não havia visto Astrid, Natalie e Deborah. A
rainha foi quem nos recebeu, com um pijama que parecia um vestido
chique, para em seguida sumir levando minha mãe.
Violet, a assistente pessoal de Astrid, apareceu anunciando que
precisávamos segui-la, mas que minha sogra devia me vendar.
— Vou bater em Astrid — disse a Violet enquanto entregava a faixa
para Eliza, e ela riu baixinho.
— Vou ter que informar a ela sua ameaça, senhorita — provocou,
fazendo-me rir.
— Oh, Violet, eu mesma a comunicarei — brinquei.
Comecei a andar com o braço envolto no de Eliza, ouvi portas se
abrindo e suspiros altos e reprimidos de surpresa.
— Sejam bem-vindas à despedida de solteira de Rebecca Malik! —
A voz da rainha anunciou, e a venda foi arrancada.
Meus olhos explodiram de felicidade, estava tudo incrivelmente
maravilhoso!
Vários colchões espalhados pelo chão e outros em lugares exatos
como se estivessem reservados para a hora de dormir, mesas com
maquiagens, espelhos, lugar reservado para karaokê, muita comida e até
mesmo coxinhas e bolinhas de queijo, e, como se não pudesse melhorar,
tinha uma piscina de bolinhas.
— Meu Deus, meu Deus, meu Deus! — disse animada e balançando
as mãos freneticamente.
Corri e abracei Astrid, Natalie e Deborah e, mesmo sem saber se
podia ou não, abracei a rainha animadamente e beijei seu rosto, a vendo
sorrir.
— Eu amei tudo, absolutamente tudo. Obrigada, gente, muito
obrigada, está incrível! — agradeci sorridente.
— Para que são os colchões? — vovó Ângela questionou.
— Para escorregarmos nas escadas.
Natalie mostrou as enormes escadas atrás de nós, que levavam para
outro andar, depois me dei conta de que eram as escadas centrais e que
estávamos próximas da porta principal do palácio.
Eu e Nicolly nos olhamos e rimos.
— O Diário da Princesa — dissemos juntas.
— EXATAMENTE! — Astrid disse animada de forma que até a
rainha olhou o entusiasmo dela, mas sorriu como se nunca tivesse visto a
princesa tão eufórica assim.
— Eu amo esse filme — Nicolly disparou com a mesma animação.
E assim as duas começaram a conversar, Nicolly fingia não se
importar por ela ser uma princesa, e era o que Astrid precisava.
— VAMOS CANTAR! — Deborah me puxou para o karaokê.
Cantei com as minhas avós, com as avós de Cameron, com a
princesa, com Natalie e com a rainha, as demais decidiram não arriscar. Em
seguida, arrumamos as coisas para escorregarmos nos colchões.
Astrid parecia uma criança no meio de várias outras crianças, não
tinha mais espaço para toda aquela seriedade de princesa, e, mesmo assim,
ela tinha uma graciosidade que pertencia somente a ela.
As escadas eram ótimas para escorregarmos nos colchões. Fui com
todas as minhas avós, minha sogra, minha mãe e as avós de Cameron.
Ainda fizeram maquiagens e tiraram, e algumas fizeram as unhas,
eu estava proibida de passar maquiagens hoje ou pintar as unhas, porque
amanhã começaria meus preparativos estéticos para o casamento.
O falatório era alto, e havia uma música tocando em inglês.
Depois de comer algumas coisas, entrei na piscina de bolinha,
observando toda aquela festa, e Astrid se aproximou, se sentou ao meu lado,
e ficamos segundos em silêncio.
— Gostou mesmo?
— Eu amei, muito. Não existe despedida melhor que está em
nenhum lugar do universo! — afirmei. — Obrigada, sério, você é incrível.
— Não fiz sozinha, as meninas me ajudaram em cada detalhe —
disse sorridente.
— Imagino que sim. Não sei como agradecer, de verdade.
Ela sorriu.
— Tem noção de que você meio que abriu o mundo para mim? Você
me apresentou Andrew e sei que falou de mim para ele, ele me contou — ri,
encolhendo os ombros, e ela me deu uma leve acotovelada. — Mostrou-me
o que era uma amizade além da minha prima Deborah, que era a única
amiga que tinha, e agora conheço Natalie, Nicolly e Felicity, que, meu
Deus, é tão doce e incrível e quase irmã de Andrew. Deu amizades até para
a minha mãe, sua mãe, Rosie, Eliza, e elas estão há horas conversando. —
Olhamos as quatro mulheres citadas, que agora cantavam no karaokê. — E
salvou meu futuro e provavelmente o de Andrew, nada do que eu fizer será
suficiente para agradecer tudo isso.
A abracei de lado e limpei o rosto.
— Na verdade, posso ter intermediado algumas coisas, mas tudo
veio de você. Não saberia de nada se não tivesse sua ajuda, e você e
Andrew, sinceramente, os dois não precisaram de nenhum impulso meu —
ela riu e deu de ombros.
— Eu precisei — rebateu —, mas agora preciso que você faça uma
coisa.
— O quê?
— Natalie vai chamar todas para dançar, e você vai sair
discretamente por aquela porta — ela apontou para uma porta atrás da
escada —, por onde Violet vai levá-la até Cameron.
— O quê? — questionei rindo.
— Ele pegou o celular de Andrew e começou a me mandar várias
mensagens implorando para vê-la, é de partir o coração, não podia ser má
assim — disse, me fazendo gargalhar.
Ele conseguiu o que queria, sempre conseguia.
— Gente, vamos dançar — Natalie disse, aumentando o som.
E não demorou para que ela conseguisse mesmo entreter todas,
Astrid assentiu, me deu o sinal que precisava e saiu da piscina de bolinhas,
indo na direção das mulheres dançando.
Vi que, mesmo todas estando entretidas, mamãe me olhou rindo e
balançando a cabeça negativamente.
Lancei uma piscadela para ela e caminhei até a porta citada por
Astrid. Violet me entregou um casaco, devido ao frio que estava, me levou
para o campo do palácio e informou que Cameron estava à minha espera na
árvore maior do lugar. Forcei meus olhos, parei diante dele e o analisei em
busca de algum vestígio de briga.
— Como está sendo sua despedida de solteira? — ele questionou,
sorrindo.
— Ótimo, escorregamos nas escadas principais em colchões —
disse animada e o vendo rir de minha animação. — E a sua?
— Não fique brava — começou, e meu sorriso desapareceu, ele
gargalhou. — Você mudou muito rápido — observou. — Não me envolvi
em confusões, e, depois da luta, fomos a um restaurante comer, cheguei de
lá agora.
— Foi o bar com sinuca? Meu pai sempre fala de lá — comentei, e
ele concordou. — Bom, agora não vai ficar dois dias completos sem me ver,
conseguiu o que queria, senhor.
— No momento, eu quero outra coisa. — Suas mãos puxaram meu
casaco e me fizeram bater o corpo contra o dele.
— Não preferia manter a distância? — questionei ainda sem tocá-lo.
— Sim, mas não agora, porque eu preciso e quero uma coisa —
afirmou, olhando meus lábios, em seguida olhou em meus olhos.
— E o que seria?
— Estamos na madrugada de sexta-feira, então tudo o que quero é
beijá-la pela última vez… — respirei fundo — como minha noiva —
completou. — Porque amanhã será como minha esposa — assegurou.
E então selou nossos lábios.
Não era nada parecido com qualquer outro beijo nosso, era
carregado de ternura, respeito, promessas, carinho e amor, um amor
cuidadoso, leal, sincero, voraz e intenso que estaria em nossas vidas para
sempre.
E ele finalmente seria o meu esposo.
UM TRECHO DO INÍCIO DE

PARTE FINAL

Era o dia do meu casamento, e eu não poderia estar menos ansioso.


Ela seria minha, totalmente minha.
Me encarei no espelho. Estava vestindo um terno azul-escuro para
os últimos ajustes no paletó, e o homem começou a falar onde precisaria
fazê-los, mas minha mente não focava ninguém que não fosse a minha
noiva.
Não sabia se era possível, mas, a cada dia que passava, ela ficava
ainda mais linda, ainda mais perfeita.
Essa semana havia sido de longe a pior para mim, um selar de
nossos lábios me fazia querer explodir, mas não explodir de qualquer forma,
explodir dentro dela, com ela, depois dela, enquanto a chupava, a tocava,
que fosse!
E isso me deixava louco.
Era impossível explicar como venci os mais sombrios dos meus
desejos de prensá-la contra a parede ou jogá-la no sofá, arrancar suas roupas
e amá-la de todas as formas imagináveis.

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