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Copyright © 2024 por Tamires Barcellos

Todos os direitos reservados.

Revisão: Raquel Moreno


Capa: Tamires Barcellos
Diagramação: Tamires Barcellos

É proibida a reprodução de parte ou totalidade da obra


sem a autorização prévia da autora.

Todos os personagens desta obra são fictícios.


Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas terá sido mera coincidência.
Nota da autora e gatilhos
Dedicatória
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Epílogo
Agradecimentos
Olá, leitor! Como é bom ter você aqui comigo mais uma vez, prestes a conhecer a história
de amor de James e Norah.
Antes de iniciar, preciso avisar que “Proposta Perfeita” é o segundo livro de “Acordo
Perfeito”. Pode ser lido separadamente, mas acredito que você vai se apaixonar pela história do
casal do primeiro livro, então, se chegou até aqui e ainda não conhece Logan e Avalon, corre
para saber mais sobre eles.
“Proposta Perfeita” é uma comédia romântica, porém, tem algumas situações que podem
causar desconforto durante a leitura.
O livro vai abordar abuso sexual, mas sem cenas explícitas.
Espero que goste deste romance e que se divirta!
Beijos!
Dedico esse livro às minhas avós, que se pudessem, fariam como a avó de James e dariam
uma ajudinha ao destino para que eu encontrasse o meu “príncipe encantado”.
Uma já é estrelinha no céu e a outra permanece ao meu lado.
Vó Marinalva, sinto muito a sua falta.
Vó Fatinha, obrigada por estar sempre comigo.
Eu as amo profundamente.
“O amor é muito jovem para saber o que é consciência.”
William Shakespeare
Janeiro de 2022

Uma vez eu li em algum lugar que nunca estamos preparados para perder alguém que
amamos. Apesar de a morte fazer parte da vida, não perdemos muito tempo pensando nela, por
isso, quando ela chega, geralmente sem aviso, pega todo mundo de surpresa. Quebra corações,
corrói almas e deixa um rastro de dor para trás.
Eu sabia que tinha que me levantar da cama e me vestir. Precisava erguer todos os meus
muros e lidar com o meu irmão, apoiar o meu pai, secar as lágrimas da minha avó, mas não
conseguia. Meus olhos estavam presos ao porta-retrato ao lado da minha cama na casa dos meus
pais, onde minha mãe me abraçava no meu aniversário de dezesseis anos. Parecia ter sido ontem,
apesar de já ter se passado três anos. Eu nunca vi a minha família tão feliz quanto naquele dia.
Logan ainda podia jogar futebol sem a pressão constante do meu pai sobre a sua carreira,
não existia discussão entre os dois dentro de casa e minha mãe não precisava se preocupar em
tentar amenizar o clima entre o meu pai e o meu irmão. Eu era apenas uma adolescente comum,
cercada por amigos e pessoas especiais, começando a sonhar de verdade com o meu futuro e
ansiosa para beijar pela primeira vez na vida.
Uma risada rouca escapou do fundo da minha garganta. Eu tinha uma queda enorme por
Declan, o garoto mais popular da minha turma, e ainda não acreditava que ele tinha aceitado o
meu convite para ir ao meu aniversário. Nossos olhos ficaram se encontrando durante toda a
festa, até que ele se aproximou na pista de dança e perguntou se poderia me beijar. Eu,
logicamente, aceitei.
Fomos juntos para o jardim da minha mãe, que ficava na parte de trás da mansão, e o meu
coração ameaçou explodir dentro do peito quando Declan me abraçou pela cintura e se inclinou
em minha direção. Eu pude sentir a sua respiração levemente ofegante tocar o meu rosto e o
cheiro do seu perfume ficar ainda mais presente, tirando o meu fôlego. Ainda não acreditava que
eu ia mesmo beijar na boca, justo no dia do meu aniversário. Existia alguma garota mais sortuda
do que eu?
— Posso saber o que está acontecendo aqui?
Só percebi que meus olhos haviam se fechado quando os revirei por trás das pálpebras ao
me lembrar, de novo, do que havia acontecido naquela noite. Não os abri, pois percebi que era
melhor viver aquela recordação do que encarar o presente.
Não foi Logan quem interrompeu o momento mais importante da minha vida até então —
e eu havia me escondido com Declan justamente para que meu irmão ciumento não nos
encontrasse. Foi James, que era, basicamente, a sombra de Logan, uma extensão sua que
andava pela Terra e parecia estar em todos os lugares onde o meu irmão não poderia estar.
Declan deu um pulo para trás e eu cerrei os olhos para James, encontrando-o a poucos
passos de onde estávamos. Assim como meu irmão, James também era um atleta e parecia ter
crescido quase vinte centímetros de um ano para o outro. Ele estava prestes a fazer dezoito
agora, mas era muito alto, muito forte, e eu senti Declan estremecer ao notar o mesmo que eu.
— N-não está acontecendo nada. — Declan se afastou completamente. — Nós só
estávamos conversando.
— E precisam ficar agarrados no escuro para conversar? — questionou James, deixando
bem claro com o olhar que não havia acreditado em nenhuma palavra que havia saído da boca
de Declan.
— Tem razão, n-não precisamos, eu... Eu já estou indo.
Simples assim, Declan saiu de perto de mim e fugiu tão rápido, que em um piscar de olhos
eu me vi apenas na presença de James. Senti meu rosto ficar quente de raiva e vergonha, mas o
primeiro sentimento suplantou tudo. Em passos largos, me aproximei dele e bati em seu peito,
vendo-o dar um passo para trás — não por conta da minha força, obviamente, mas porque quis.
— Qual é o seu problema? Tem ideia do que acabou de fazer?
— Sim, eu impedi que você cometesse uma burrada e beijasse aquele babaquinha.
— Babaquinha? Declan é o garoto mais lindo da turma! E estava prestes a ficar comigo!
— Beleza não é tudo, baixinha.
— Não me chame assim! — James deu um passo em minha direção, mas eu dei outro para
trás. — E não chegue perto de mim!
— Norah...
— Eu ia dar o meu primeiro beijo e você estragou tudo! — Gritei, irritada, dando um
outro tapa nele, agora em seu braço forte e, caramba, muito musculoso.
James parou de repente, muito perto de mim, e eu precisei erguer a minha cabeça para
poder olhar em seus olhos cor de chocolate. Estava mesmo escuro ali atrás, mas as arandelas
espalhadas pelo jardim e as luzinhas douradas que minha mãe pediu para que a equipe de
decoração colocasse na árvore às minhas costas, me permitiam enxergar o melhor amigo do
meu irmão sem tanta dificuldade.
— Seu primeiro beijo? — perguntou baixinho, arqueando as sobrancelhas.
Mordi a minha língua, sentindo a vergonha passar por cima da raiva como um rolo
compressor. Droga, eu não deveria ter admitido aquilo! Todas as minhas amigas já haviam
beijado, James ainda era menor de idade, mas com certeza não era mais virgem. Eu ouvia as
suas conversas com o meu irmão, os dois eram populares e faziam muito sucesso entre as
meninas.
Dentro do meu círculo de amizade, eu era a garota mais atrasada, e justamente quando
tinha a oportunidade de mudar isso, James estragava tudo.
Existia alguma garota mais azarada do que eu?
— Esquece o que eu disse, tá legal? Vou voltar para a festa.
Havia perdido o clima, mas ainda era meu aniversário. Eu não poderia simplesmente
fugir para o meu quarto e chorar por ainda ser boca virgem. Desanimada, passei por James,
mas sua mão grande se fechou em meu braço com delicadeza e me puxou de volta para o lugar
onde eu estava, bem de frente para ele.
— Norah, me desculpa, eu não imaginava que...
— Claro que não imaginava. — Revirei os olhos. James e Logan só olhavam para o
próprio umbigo.
Quando não estavam fazendo isso, passavam o resto do tempo se certificando de que os
garotos não se aproximassem muito de mim. Isso não queria dizer que James soubesse que eu
não havia beijado na boca ainda, afinal, a maioria das meninas da minha idade já havia feito
bem mais do que esfregar a sua língua na de outra pessoa.
— Eu só vim atrás de você porque conheço a fama daquele garoto, entendeu? Ele é um
idiota que usa as meninas.
— E você e meu irmão fazem o quê?
— Não usamos as garotas, sempre deixamos bem claro para elas o que devem esperar de
nós dois.
Cruzei os braços, ficando irritada de novo com aquele discurso idiota.
— E você achou que eu queria o que, James? Namorar com Declan?
— Não é isso que você queria?
Bem, sim... Mas eu sabia que ninguém começava a namorar sem beijar na boca antes.
Tinha esperança de que Declan se apaixonasse por mim também, mas não era nenhuma idiota,
sabia que ele não faria o pedido só porque eu queria que me beijasse.
— O que eu quero não importa, afinal, você estragou tudo!
— Na verdade, eu te salvei, baixinha. — Ele tocou em meu rosto com delicadeza e sorriu.
— Você não merecia ser beijada pela primeira vez por um covarde de merda.
— Covarde de merda? Não fale assim do Declan!
— Mas é isso que ele é. Se tivesse coragem, não teria fugido com o rabinho entre as
pernas, tremendo como se estivesse a ponto de fazer xixi nas calças. — Os dedos de James
tocaram o meu queixo, erguendo o meu rosto para cima. — Entenda uma coisa, Norah. Há uma
linha tênue que separa os meninos dos homens. Sei que você está na idade de se divertir, de se
aventurar, mas não deixe que meninos se aproveitem de você.
— Eu acabei de completar dezesseis anos, James. Acha mesmo que eu deveria me
envolver com homens? Não é você quem vive dizendo por aí, junto com o meu irmão, que eu sou
nova demais para isso?
— Não estou falando sobre idade, Norah, estou falando sobre caráter. Charles é irmão de
Declan e eu sei que os dois não valem muita coisa, por isso que conheço a fama do garoto. Ele é
um menino que não vale a pena, entendeu? Você merece muito mais do que um babaca como ele
para ser o seu primeiro beijo.
James e Logan sabiam me irritar como ninguém com toda aquela superproteção, mas eu
sabia que eles não mentiam. Se o melhor amigo do meu irmão estava afirmando que Declan não
valia nada, então, eu acreditava. Isso não queria dizer que eu não estava decepcionada, no
entanto. Talvez, eu tivesse mais do que uma queda por Declan. Pelo menos, foi isso que pensei
quando senti meu peito ficar apertado.
Meu Deus, eu estava apaixonada por ele? Sem nem ter beijado a sua boca ainda? Eu era
muito estúpida!
— Droga! — Bufei, pensando seriamente em deixar a minha festa e fugir de verdade para
o meu quarto. — Acho que vou morrer sem beijar na boca!
Para a minha surpresa, James riu ao ponto de seus ombros sacudirem. Fiquei tentada em
bater nele de novo, mas o garoto perturbado me puxou para os seus braços e me apertou bem
forte.
— Você só tem dezesseis anos, Norah, ainda vai beijar muito na boca e dar muito
trabalho para mim e para o seu irmão. — Senti seus lábios em minha testa e acabei amolecendo
entre os seus braços, cercando a sua cintura estreita com os meus. — E eu estarei aqui,
preparado para socar a cara de qualquer idiota que ousar machucar o seu coração. Quer que
eu faça isso agora com Declan?
— Não é necessário. — Minha voz saiu abafada de encontro ao seu peitoral, mas ele
ouviu muito bem. — Mas também não precisa ficar atrapalhando as minhas próximas tentativas
de perder a virgindade.
— Perder a virgindade? Norah! — Ele deu um passo para trás, horrorizado, me
segurando pelos ombros. Eu ri.
— A virgindade da boca, James. — Deixei claro, vendo-o cerrar os olhos para mim.
— Tem razão, só vou me meter se eu perceber que você está se metendo em alguma
furada. A partir de hoje, vou deixar o meu cargo de protetor. Seu irmão já domina essa área
com maestria, de qualquer forma.
— Está falando sério?
Não sabia o porquê, mas metade de mim ficou eufórica e a outra ficou chateada, o que
era bastante confuso. Tudo o que eu queria era me ver livre das sombras que eram meu irmão e
James pairando sobre mim. Então, por que a ideia de ter o wide receiver deixando aquela
função me deixava magoada?
— Sim, estou falando sério. Você já não é mais uma criança, Norah, tem o direito de se
divertir como as meninas da sua idade, mas com responsabilidade, entendeu?
Eu apenas concordei com a cabeça e James sorriu, me puxando de volta para mais perto.
Ao invés de me abraçar, ele só passou o braço pelos meus ombros e voltou a me guiar para a
festa.
— Então, você vai me deixar... livre?
— Não se engane, vou sempre ficar de olho em você, só que com mais discrição. — Sua
voz soou mais baixa perto do meu ouvido. — Você nunca vai se ver livre de mim, baixinha.
Agora vai se divertir com os seus amigos, você tem uma festa de aniversário para aproveitar.
Senti meu coração ficar muito mais acelerado com a sua promessa do que com a
possibilidade de beijar Declan minutos atrás. Foi a esse sentimento que me agarrei enquanto me
inclinava em sua direção e deixava um beijo estalado no seu rosto antes de seguir para a pista
de dança. James tinha razão, era meu aniversário e eu aproveitaria cada segundo ao máximo.
A lembrança se esvaiu como fumaça ao vento, mas a sensação boa ficou em meu peito por
longos segundos enquanto eu voltava a abrir os olhos. Sem pensar muito, peguei o porta-retratos
e abracei com força, tendo mais alguns flashes da minha mãe, do seu sorriso naquela noite, e de
como pareceu aliviada quando contei a ela sobre o não-beijo em Declan. Agatha Miller era a
minha melhor amiga, eu contava tudo para ela e, naquele dia, ela disse que agradeceria a James
por ter impedido que eu seguisse adiante com Declan.
Não sabia se minha mãe havia mesmo agradecido a ele ou não. A dúvida ficou em minha
cabeça mesmo depois de eu ter ouvido algumas batidas na porta do meu quarto e permitido a
entrada de quem estava do lado de fora. Soube quem era antes mesmo de me virar na cama e
encontrar James em meu antigo quarto. Seu perfume marcante sempre denunciava a sua
presença.
Vestido completamente de preto, James se aproximou em silêncio e se deitou ao meu lado
no colchão, cruzando um tornozelo sobre o outro. Ele bateu com os dedos no peitoral e foi para
lá que eu corri, deixando que me cercasse com os braços fortes enquanto eu encostava a minha
cabeça bem em cima do seu coração.
Eu havia chorado na noite anterior, quando soube que minha mãe havia sofrido morte
encefálica e não voltaria para casa nunca mais. Chorei enquanto tentava amparar o meu irmão e
ouvia os gritos do meu pai, mas precisei ser forte quando Logan saiu do hospital e ficou horas
sem dar notícias, até ser carregado para dentro de casa pelo meu pai, completamente ensopado
pela chuva e bêbado. Cuidei dele, segurei a sua cabeça enquanto vomitava no vaso sanitário, dei
banho nele junto com o meu pai e só me deitei quando o dia já estava amanhecendo, depois de
me certificar de que ele estava bem, aquecido e dormindo.
Eu não chorei mais, pelo menos, não até aquele momento. Não até colocar a cabeça no
peito de James e deixar que a represa estourasse. Ele não disse nada, apenas me abraçou muito
forte, e ficou pressionando os lábios em meus cabelos, como fazia quando eu era mais jovem.
James me amparou quando eu sabia que deveria ser a rocha da minha família, pois sem minha
mãe, temia que meu pai e Logan se afastassem completamente, já que Logan Miller II não
aceitava que seu filho quisesse jogar futebol, e que tudo o que construímos ao longo de todos
aqueles anos fosse destruído.
Mas naquele momento, eu apenas permiti que a dor falasse mais alto. E não estar sozinha
deixou tudo relativamente mais fácil. Estar com James deixou tudo menos pesado e sombrio.
Muitos minutos se passaram até eu conseguir me acalmar e diminuir o fluxo de lágrimas.
James não se afastou nem por um segundo, mesmo após os meus soluços diminuírem e o tremor
em meu corpo começar a passar. Ele apenas me abraçou mais forte e deixou que o calor do seu
corpo aquecesse o meu.
— Sabe do que eu estava me lembrando? — perguntei baixinho, minha voz ainda soando
embargada e rouca pelo choro recente.
— Não, mas gostaria muito que você me contasse.
— Estava me lembrando do meu aniversário de dezesseis anos e de quando você me
flagrou com Declan, estragando o que deveria ter sido o meu primeiro beijo. — James riu abaixo
de mim e eu ergui a cabeça, ficando surpresa ao ver seus olhos molhados por lágrimas. Ele havia
chorado comigo e eu nem percebi. — Não ria, aquela noite ainda me traumatiza.
— Eu te salvei, baixinha. Esqueceu disso?
Ficou claro que eu não havia esquecido e, depois de uns meses, vi que James tinha razão.
Declan era mesmo um babaca. Engravidou uma menina da nossa turma e só assumiu o bebê,
porque seus pais o obrigaram. Ele havia se mudado do Alabama para cursar a faculdade e nunca
mais tive notícias dele, mas sabia que Emma e a filhinha dos dois ainda moravam na mesma
casa.
— Por que estava se lembrando disso?
— Por causa dessa foto. — Tirei o porta-retratos de encontro ao meu peito e dei para ele.
James deu um sorriso saudoso ao olhar a fotografia e seus olhos se encheram de lágrimas. —
Minha mãe chegou a falar com você sobre aquela noite?
— Comigo? Não. O que ela teria para falar comigo sobre aquela noite?
— Eu contei para ela o que aconteceu e ela disse que confiava em você, que sabia que
você não teria se intrometido se Declan fosse um garoto que valesse a pena. — Sorri, mas senti
novas lágrimas se derramarem sobre o meu rosto. — Minha mãe disse que iria te agradecer por
ter impedido que o beijo acontecesse, se ela não conseguiu fazer isso, então, eu faço agora.
Obrigada, James. Peço não apenas em nome da minha mãe, mas em meu nome também. Acho
que eu jamais me perdoaria se tivesse entregado algo tão especial para um covarde de merda
como Declan.
James colocou o porta-retratos de lado e tomou meu rosto em suas mãos, me dando um
sorrisinho emocionado.
— Jamais agradeça por eu ter cuidado de você, Norah. Eu te amo, você é especial demais
para mim, eu nunca me tornaria indiferente sobre algo que poderia te machucar. — Ele me
puxou em sua direção e eu perdi o fôlego quando aproximou o rosto do meu, apesar de saber que
ele faria o mesmo de sempre. Beijaria a minha testa. Foi o que ele fez. — Espero que seu
primeiro beijo tenha sido com alguém fantástico, pois você não merece nada menos do que isso.
Não tinha sido com alguém fantástico, mas foi, sim, com uma pessoa especial, um garoto
que entrou na escola no meio do ano, quando eu ainda tinha dezesseis. Fomos para o cinema em
um grupo grande de amigos e nos beijamos. Foi bonito e eu tive a certeza, mais uma vez, de que
James havia me salvado na noite do meu aniversário.
Assim como estava me salvando agora, me permitindo ser fraca, quando eu tinha que ser
forte.
James era o meu porto seguro, de uma forma totalmente diferente do meu irmão. Era o
meu protetor, aquele para quem eu corria quando algo ficava ruim e difícil, meu melhor amigo,
ainda que meu coração sussurrasse que o queria como algo mais do que isso.
Silenciei aquele sentimento e me aconcheguei em seus braços.
Dezembro de 2022

A única certeza que eu tinha para aquele ano, era que o Crimson Tide seria o campeão da
temporada. Além de todos os jogadores estarem em sua melhor fase, Logan havia dado tudo de si
e merecia erguer o troféu junto com os meninos.
Por isso, não foi realmente uma surpresa quando o time terminou como o vencedor
daquela última disputa.
Da arquibancada, ao lado do meu pai e da minha avó, eu gritei e limpei as minhas
lágrimas, pensando em minha mãe. Ela com certeza estava olhando por nós dois, de onde
estivesse, cheia de orgulho do filho mais velho.
— Ele nasceu para isso — papai comentou ao meu lado, passando um braço pelo meu
ombro. Apesar da fama de tubarão do mundo do Direito, Logan Miller II não conseguia esconder
a emoção naquele momento. — Agora percebo que tentar lutar contra a paixão e o talento do seu
irmão foi em vão, da mesma forma que seria comigo, caso alguém ousasse me afastar do que
amo fazer.
— Que bom que percebeu isso, pai. Estou muito feliz por você e Logan terem finalmente
se acertado.
Os últimos dois anos entre os dois foram difíceis. Apesar de Logan ter cedido e aceitado
cursar Direito, sempre deixou bem claro que queria ser jogador de futebol profissional,
contrariando a vontade do nosso pai de que ele, um dia, assumisse a rede de escritórios de
advocacia da nossa família. Mamãe sempre esteve entre os dois, controlando os ânimos,
reafirmando que, como pai e filho, eles não poderiam dar as costas um ao outro jamais. Após a
sua morte, eu precisei tomar o seu lugar, mas a situação entre os dois apenas piorou.
Por sorte, Logan pareceu me ouvir quando começou a receber críticas dos profissionais do
esporte sobre a sua conduta fora de campo. Sua imagem, sempre impecável, começou a se
deteriorar, a bebida se tornou parte da sua rotina, até Avalon entrar na sua vida e mudar tudo.
O que era para ser apenas um namoro de mentirinha que ajudaria os dois, se transformou
em amor. Agora, minha cunhada favorita estava no meio do campo, sendo beijada por um Logan
apaixonado. Eles formavam o casal mais bonito do mundo.
— Não é um absurdo que James e Benjamin estejam sozinhos? — Aubrey, a irmã mais
nova de Avalon, comentou ao meu lado.
Ela era como uma miniatura colorida da namorada do meu irmão. Enquanto Avalon
amava cores escuras e botas gladiadoras, Aubrey adorava se vestir com peças de roupas de cores
diferentes, que sempre conversavam entre si. Hoje ela usava a camisa do Crimson Tide com o
número de Benjamin, já que eu usava a camisa com o número de James e ela afirmou que não
queria que Ben se sentisse excluído — o que o deixou meio embevecido —, um short jeans azul
e All Stars brancos. Seu cabelo ruivo caía solto pelas costas, com duas trancinhas nas mechas da
frente, que ornavam com o seu rosto e seus olhos verdes.
— Se você insinuar que eles precisam de namoradas, é capaz de os dois começarem a se
coçar como se estivessem com alergia — falei, puxando o seu braço para dentro do meu.
Eu estava acostumada a ser tratada como a irmã mais nova desde que nasci, mas Aub tinha
quatorze anos e eu a achava uma fofa. Ela, com certeza, era como uma irmã mais nova para mim.
— São dois bobos. De que adianta eles serem jogadores populares do time da faculdade se
não vivem um romance como nos livros que eu leio? — Ela fez uma careta. — Só Logan sabe
viver a vida.
Vendo essa nova versão do meu irmão — que me lembrava muito a antiga antes da morte
da mamãe —, eu não poderia deixar de concordar.
Alguns minutos depois, tivemos permissão para descer para o campo e fomos de encontro
aos campeões. James foi o primeiro a me alcançar e eu soltei uma risada quando agarrou a minha
cintura e rodopiou comigo entre os outros jogadores, tirando o ar dos meus pulmões e fazendo o
meu coração disparar.
— Me solta, seu doido! — Apesar do meu pedido, eu não queria que ele me soltasse de
verdade e, obviamente, James sabia disso.
— Gostou do jogo? — perguntou ele enquanto me colocava no chão. Suas mãos
permaneceram em minha cintura e eu gostei.
— Não gostei apenas do jogo, mas da temporada inteira. Vocês arrasaram, Sr. McHugh!
Tinha certeza de que sairiam daqui com o troféu.
James me deu o maior sorriso do mundo, ainda meio ofegante e claramente emocionado.
Eu não admitia muitas vezes em voz alta, pois não queria contribuir com o ego imenso do wide
receiver, mas James era um dos homens mais lindos que meus olhos já tinham visto. Alto,
imponente, com a pele negra reluzente, olhos castanhos em formato amendoado, o cabelo com
cachos macios, o corpo de atleta, cheio de músculos, e aquele sorriso maravilhoso... Ele tirava o
meu fôlego às vezes, mesmo o conhecendo desde pequena, e fazia muito sucesso com as
mulheres, o que sempre me deixou meio enciumada.
— Obrigado pelo elogio, apesar de eu estar me sentindo o meu pai ao ser chamado de
senhor.
— E onde é que está o seu pai?
Eu sabia que Jonathan não perdia um jogo do filho. James ergueu o queixo para algo às
minhas costas e eu me virei a tempo de ver Jonathan, Louise, sua mãe, e Emory, sua avó, se
aproximando. Distanciei-me um pouco de James quando eles chegaram mais perto e
cumprimentei com um abraço caloroso de vovó Emory, a melhor amiga da minha avó Meredith.
Chamá-la de avó conforme fui crescendo foi algo natural. Hoje, já não conseguia me dirigir a ela
de outra forma.
Não tomei muito do seu tempo, pois sabia que deveria estar louca para falar com o neto.
Após cumprimentar Jonathan e Louise, que eram como tios para mim, me afastei e fui falar com
meu irmão. Meu coração disparou de alegria ao ver o seu sorriso tão bonito e a felicidade em
seus olhos. Eu sabia como ele merecia viver aquele momento. Logan me agarrou e me deu um
abraço muito forte, que me deixou sem fôlego e tirou os meus pés do chão.
— Estou muito orgulhosa de você! Sempre soube que esse troféu seria seu — falei em seu
ouvido antes que ele se afastasse para me olhar.
— Eu não teria chegado até aqui sem você. Obrigado por ter passado esse último ano
lutando para que eu não me perdesse, irmã. Você foi e sempre será o melhor presente que a
mamãe e o papai poderiam me dar.
Aquilo não era justo, eu não queria chorar. Sacudindo a cabeça, o abracei de novo,
piscando para espantar as lágrimas bobas que tomaram conta dos meus olhos.
— Eu te amo, sempre estarei do seu lado, cuidando de você e te dando esporro.
Ele gargalhou e eu ri junto, sentindo-o leve e alegre, finalmente orgulhoso de si mesmo.
Meu irmão merecia.
Foi para ver esse brilho nos seus olhos que eu me obriguei a ficar firme e não desmoronar
nos últimos meses.
— Seus esporros são sempre os piores, mas eu agradeço por cada um deles, maninha.
Não sabia se aquilo era verdade, mas de uma coisa eu tinha certeza, se Logan precisasse
de mim, eu sempre estaria disposta a trocar de lugar com ele e agir como a irmã mais velha.
Meu irmão sempre teria o meu apoio.

Era lógico que James, Benjamin e Logan dariam uma festa. Nossa casa estava lotada, já
tinha pessoas na piscina, mesmo com a noite fria, e alguém havia acabado de fumar maconha no
banheiro — o que me surpreendeu, pois, geralmente, quem fumava a erva não se importava
muito de esconder o hábito.
Precisei abrir o basculante antes de sair do lavabo para tentar expulsar a fumaça, enquanto
fazia de tudo para não respirar. Não adiantou muito. Tossindo e com os pulmões queimando, saí
do banheiro e só me dei conta de que havia alguém do lado de fora, esperando que eu liberasse o
cômodo, quando tropecei, ainda meio ofegante pela tosse, e senti duas mãos em meus ombros.
Foi um cara que me segurou. Com os cabelos loiros displicentes, um olhar divertido e bem
mais alto do que eu, ele olhou para a porta aberta às minhas costas e arqueou uma sobrancelha,
curioso e sugestivo. Minha mente ainda meio afetada pela fumaça demorou um pouco mais do
que o normal para entender o que ele estava pensando.
— Eu não estava fumando! — Deixei claro e tossi mais uma vez, sendo novamente
amparada por ele. — Juro que eu não estava!
— Tudo bem, se você diz, eu acredito.
Ele não acreditava nada, estava bem claro em sua expressão e na forma como tentava
segurar a risada.
— Estou falando sério, eu não fumo.
— Ok.
— Sério mesmo.
— Eu acredito.
— Você sempre mente? — perguntei, estreitando os olhos. O loiro finalmente deu a risada
que tanto queria.
— Só para garotas bonitas que fumam maconha escondidas no banheiro.
Eu não queria, mas meus lábios se ergueram mesmo contra a minha vontade em um
sorriso enquanto eu conseguia me desvencilhar dele. Seu olhar curioso e divertido continuou em
cima de mim, o que me fez pensar que o loiro com certeza não sabia de quem eu era irmã e eu,
apesar de não conhecer nem metade das pessoas que estavam na minha casa naquele momento,
não fazia a menor ideia de quem ele era. Como se quisesse remediar isso, o bonitão me estendeu
a mão direita.
— Prazer, sou Mason.
Olhei para a sua mão por um segundo e avaliei se valeria a pena cumprimentá-lo para
além da boa educação que meus pais me deram. O cara estava achando que eu fumava maconha
escondida no banheiro. E, tudo bem, em seu lugar, eu pensaria a mesma coisa, afinal, saí mesmo
de um banheiro embaçado pela fumaça da erva, mas a questão era que eu não fumava. Nunca dei
nem um trago. Eu era o orgulho dos meus pais.
— Esse é o momento em que você me diz o seu nome — comentou ele, me tirando do
transe. O sorriso bonito ainda estava em seu rosto, assim como a sobrancelha arqueada.
— Desculpa — pedi, tocando a sua mão. Logo percebi que sua palma era calejada, como a
de James. Pelo seu porte físico, poderia facilmente ser um atleta, mas, se fosse do time de
futebol, eu saberia. Conhecia todos os idiotas que vestiam a camisa do Crimson e que sempre
metiam o rabinho entre as pernas quando me viam, cheios de medo do meu irmão. — Prazer. Eu
me chamo Norah.
— É bom finalmente estar conhecendo alguém sóbrio nessa festa. — Seu sorriso se
expandiu mais e ele demorou a soltar a minha mão.
— Mas você não acabou de afirmar que eu estava fumando maconha no banheiro?
— Já não sei mais se acredito nisso. Conheço algumas pessoas que fumam e elas sempre
oferecem um trago para qualquer um que atravesse o seu caminho. Se você realmente fumasse,
estaria fazendo isso comigo.
— Talvez eu seja egoísta com a minha erva.
— Sua erva. — Ele repetiu e riu um pouco mais, quase me arrancando um sorriso de novo.
— Você claramente não fuma, Norah. Bem-vinda ao meu clube.
— Então você é careta como eu.
— Não sou careta, sou responsável, afinal, não acredito que a NFL vai me aceitar no
futuro se eu for pego nos meus exames antidoping.
— Você é um atleta, então. — Olhei-o com um pouco mais de atenção. Mason poderia ser
um jogador do time reserva, mas eu saberia se fosse. Um homem bonito como ele era o tipo
favorito das meninas, o fato de ser reserva no time de futebol não iria interferir muito nisso. —
Mas não joga no Crimson, ou eu saberia.
— É tão fã do time assim?
Resolvi contar logo quem eu era de verdade, assim, poderia observar a reação do loiro
bonito à minha frente.
— Sou irmã do Logan.
Esperei que Mason desse um passo para trás ou que o sorrisinho em seus lábios
desaparecesse, pois, geralmente, era o que acontecia quando os jogadores descobriam quem eu
era — Logan era especialista em colocar medo nos companheiros de time, sempre falando que
quebraria a cara deles se tocassem em mim — mas tudo o que ele fez, foi arquear as duas
sobrancelhas.
— O quarterback? — Concordei com a cabeça e Mason sacudiu a dele com certa
descrença. — E por que a irmã do QB está usando a camisa do wide receiver?
— Porque ela é a minha garota. Por qual motivo usaria outra camisa?
James surgiu de repente no corredor que levava ao lavabo, parando ao meu lado. Seu
braço pesado caiu sobre os meus ombros e logo percebi que havia bebido mais cervejas do que
de costume. Mason continuou com as sobrancelhas arqueadas e apontou para nós dois.
— Vocês são...
— Amigos. Nós somos amigos. — Logo respondi, me segurando para não dar um soco na
costela de James. Minha altura me deixava no ângulo certinho para agredir o jogador.
— E você já está se enturmando muito bem, pelo visto. — James sorriu e eu não soube
dizer se era amigável de verdade ou não. — Mason foi transferido para a UA e será o nosso novo
tight end, Norah.
— O que houve com Kevin? — perguntei pelo antigo jogador que dominava a posição.
— Foi pego no exame antidoping no penúltimo jogo e foi expulso do time.
Eu estremeci. Apesar de não ser próxima de Kevin, sabia que ele já havia sido pego no
exame pelo menos duas vezes no ano passado. Em algum momento, ele seria punido
severamente por isso e foi o que aconteceu.
— Seja bem-vindo, Mason — desejei, vendo-o sorrir para mim. Ele não parecia nem um
pouco abalado pelo fato de eu ser irmã de Logan ou por James estar agarrado ao meu ombro
como se fosse um carrapato.
— Obrigado, Norah. Espero ver você mais vezes, quem sabe usando a minha camisa um
dia? — Piscou para mim, apontando para o banheiro. — Acredito que a fumaça já tenha se
dissipado. Com licença.
Eu me afastei com James para que Mason pudesse passar, no entanto, a voz do wide
receiver o deteve antes que ele pudesse entrar no lavabo.
— Acho que você ainda não sabe sobre fama do Logan, Mason.
Ah, não. James não faria aquilo!
— Que fama? — Mason perguntou.
— Nada com que você deva se preocupar, James só estava brincando. — Dei uma
cotovelada no meu melhor amigo, ouvindo-o segurar um gemido. — Ele é muito brincalhão,
acredita? Faz todo mundo rir na hora do treino, o que é um problema às vezes, você vai ver
quando começarem a treinar juntos.
Mason franziu um pouco o cenho, confuso, mas logo concordou com a cabeça e me deu
um sorriso.
— Estou ansioso para ver isso e, claro, para conhecer melhor todos os meus companheiros
de time.
— Tenho certeza de que vão se dar muito bem! — afirmei cheia de falsa convicção.
— Espero que sim.
Mason logo entrou no banheiro e eu me livrei do braço de James assim que a porta se
fechou.
— Qual é o seu problema? Não me diga que está com vontade de tomar o lugar do Logan,
James!
— Só o achei muito abusado. Que merda é essa sobre você usar a camisa dele? Isso não
vai acontecer.
Respirei fundo, me obrigando a ter um pouco de paciência. James havia bebido, por isso
estava agindo feito um idiota ciumento como meu irmão.
— Um dia, vou querer usar a camisa de outro cara que não seja você, Benjamin ou Logan,
James.
— Por quê?
Por quê?
Em outras circunstâncias, eu teria uma resposta na ponta da língua, mas precisei parar por
um momento e realmente pensar no que dizer para James.
A Norah de um ano atrás diria que precisava de uma distração para a dor profunda que
estava sentindo pela morte da mãe, mas a Norah das últimas semanas estava se sentindo muito
solitária.
Logan já não era mais uma preocupação diária e eu tinha muito tempo livre, por isso,
talvez, tentar conhecer alguém poderia funcionar agora. Acreditava que eu poderia encontrar
alguém legal, interessante e divertido. A imagem de Mason voltou à minha mente por um
instante e eu quase sorri de novo ao me lembrar da curta conversa que tivemos.
“Espero ver você mais vezes, quem sabe usando a minha camisa um dia?”.
— Porque eu quero conhecer alguém legal, curtir a vida, namorar. — Dei de ombros,
como se não fosse algo tão importante assim. — Estou errada em querer algo assim?
Algo mudou no olhar de James quando me calei e senti vontade de me esconder, como
vinha fazendo nos últimos tempos. Não queria que ninguém enxergasse tão fundo dentro de mim
como James conseguia fazer às vezes. Sem que eu esperasse, ele voltou a passar o braço pelos
meus ombros e começou a me levar para longe do lavabo, em direção à escada.
— Claro que não. Me desculpa, agi como um idiota, não foi?
— Um pouquinho — respondi com um sorriso conforme subíamos.
James entrou comigo em meu quarto e tocou em meus ombros com carinho.
— Acho que estou um pouco bêbado e fiquei com ciúmes. Aquele babaca chegou agora e
acha que pode se aproximar de você assim? Não, ele precisa passar pela minha inspeção
primeiro.
— Sua inspeção? — Eu ri de verdade. — Acho que você não está apenas um pouquinho
bêbado.
— Sou seu melhor amigo, não vou deixar qualquer um se aproveitar de você.
— É mesmo? — Arqueei uma sobrancelha, sentindo certa ousadia, provavelmente, por
conta das duas cervejas que tomei mais cedo. — Então, acho que você pode me ajudar.
— Eu sempre estarei disposto a te ajudar, baixinha. É só você falar e eu vou obedecer.
Eu quase ri. Quando ele soubesse o que estava passando pela minha cabeça, mudaria o
discurso rapidinho.
— Quero que você me ajude a conquistar um cara!
— Como é que é?
Por um momento, pensei que os olhos de James saltariam das órbitas.
— Não há nada tampando os seus ouvidos, então, creio que você me ouviu muito bem.
— Você só pode ter perdido a cabeça! — Ele me olhou meio horrorizado. — Espera, eu
ouvi Mason falar algo sobre fumaça dentro do banheiro. Você não estava fumando maconha,
estava, Norah?
— Eu nem vou perder o meu tempo respondendo a isso, James!
Ele descruzou os braços e encurtou a nossa distância.
— Me desculpe se estou achando que você está chapada, mas é porque só isso é capaz de
explicar o que você acabou de me pedir.
— Eu não pedi nada de mais! A minha ideia é muito boa, na verdade — insisti, apesar de
me sentir meio insegura.
— Boa? Essa é uma péssima ideia, Norah! Ficou louca? Se seu irmão descobre, ele me
mata!
Quanto drama! Logan seria incapaz de matar James ou Benjamin, só se eles dessem em
cima de Avalon, o que eu sabia que nunca ia acontecer.
— James, por favor! Eu juro que Logan não vai nem desconfiar! Eu só preciso que você
me ajude a ser uma garota normal!
— Você é uma garota normal.
— Uma garota normal estaria aproveitando essa festa para beijar na boca, mas os garotos
têm medo de chegar perto de mim por causa do meu irmão — falei a primeira coisa que veio à
minha cabeça. Pelo menos não era mentira, Logan realmente colocava medo em todo mundo e,
por um tempo, eu acabei me aproveitando disso para passar despercebida.
— Seu irmão nem tem os ameaçado mais — disse ele, o que também era verdade. Avalon
estava controlando meu irmão.
— Eu sei, mas todos eles parecem estar traumatizados. Se você me ajudar, acho que isso
vai mudar. — Tomei as suas mãos nas minhas e permiti que um pouco da minha insegurança
aparecesse. — Eu só quero ser um pouco mais... Sexy. Você podia me dar umas dicas, já que
agora é solteiro e vive ficando com meninas por aí. O que te atrai nelas? Não é só a beleza física,
tenho certeza!
James, ao contrário de Benjamin, não era o louco do sexo casual. Até onde sabia, ele
parecia curtir a sedução, era o tipo de cara que levava a garota para jantar ou ir ao cinema, e não
tinha medo de relacionamentos. Ou seja, ele era o cara perfeito para me ajudar, pois era isso que
eu queria.
Eu queria um cara como James, alguém que respeitasse uma mulher e que tivesse bom
caráter. Queria despertar a atenção de um homem bacana, que se interessasse por mim para além
do sexo e, claro, não morresse de medo do meu irmão. Ou que se interessasse por mim o
suficiente para passar por cima das ameaças de Logan.
E se Mason fosse esse cara? Na nossa curta conversa, ele pareceu ser diferente dos outros.
— E então, o que me diz? — Insisti diante do seu silêncio.
James respirou fundo e coçou a testa, fazendo uma careta.
— Eu vou pensar, ok?
— Tá bom! — Sorri, sentindo um frio na barriga. — Quando vai me dar a resposta?
— Em... alguns dias.
— Quantos dias?
— Alguns dias, Norah — enfatizou e eu revirei os olhos. O idiota riu e se aproximou de
mim, dando um beijo em minha testa. — Não seja impaciente. E torça para que eu aceite essa
maluquice. Nesse momento, estou muito propenso a recusar.
— Eu faço o que você quiser!
— O que eu quiser?
— Menos perder no videogame!
— Não preciso que você perca para mim, eu sempre te venço. — Aquilo era uma mentira
deslavada. — Estava pensando em algo mais útil, como uma boa massagem nas minhas costas e
pés, café da manhã na cama todos os dias, ter os meus trabalhos feitos durante todo o semestre...
— Você quer me explorar, entendi. — Tomei seu rosto em minhas mãos e sorri. — Eu
aceito, mas só se você me ajudar. Vou ficar aguardando a sua resposta, gatinho.
Estiquei-me na ponta dos pés e dei um beijo em sua bochecha, correndo para o meu
banheiro. Precisava apenas de alguns minutos sozinha. Encostei-me atrás da porta e respirei
fundo, sentindo meus músculos tremerem de leve. Será que fiz a escolha certa? Eu estava mesmo
preparada para dar aquele passo e me abrir para alguém?
Agora eu já havia feito a proposta para James e não tinha mais para onde correr. Senti meu
celular vibrar no bolso da minha calça e fiquei surpresa ao ver que era uma mensagem de
Avalon.
Avalon: Ouvi sem querer a sua conversa com James. Eu AMEI! Estou preparada para te
ver passando o rodo na faculdade inteira, cunhada. Conte comigo!
Não tinha a pretensão de pegar a faculdade inteira. Só de pensar, sentia meu estômago
ficar gelado, mas queria sair da sombra opressora do meu irmão e sentia que James poderia me
ajudar.
Dezembro de 2022

Eu nunca mais colocaria uma gota de álcool na boca. Pelo menos, essa era a mentira que
eu contava para mim mesmo toda vez que acordava com ressaca. Sentindo a língua grossa como
uma lixa e minhas têmporas pulsarem, tateei sobre a cama até achar o meu celular, quase
quebrando a tela ao tentar desligar o alarme do despertador. Eu gostava de manter a frequência
das minhas corridas matinais mesmo fora da temporada ou em recesso na faculdade, mas,
naquele dia, seria impossível.
Virei para o lado e dormi de novo. Ou pelo menos tentei. As cortinas com blecaute
mantinham meu quarto na escuridão, por isso, vi pela frestinha dos olhos quando alguém abriu a
porta devagar. Um corpo pequeno entrou no cômodo e caminhou em direção à minha cama, logo
se enfiando debaixo das minhas cobertas e me abraçando forte pelo abdome, grudando-se às
minhas costas.
— Bom dia, flor do dia! O que acha de receber um café da manhã na cama como o rei do
Alabama merece?
— Quando uma garota diz isso agarrada a mim sob as cobertas, eu costumo pensar que ela
está me oferecendo outro tipo de comida, Norah.
Eu sabia o que ela faria, por isso, consegui dar risada quando seu punho se chocou contra
o meu abdômen trincado.
— Você é um porco, James McHugh!
— E você com certeza tem algum interesse por trás de toda essa gentileza — falei,
segurando seu punho. Abri cada dedo até ter a sua mão macia espalmada contra a minha barriga
nua. Graças a Deus eu não tinha o costume de dormir nu e estava usando um short. — Acha que
me engana, Norah Miller?
— Acho que você está começando a sofrer de perda de memória recente.
— Como assim? — perguntei, sem entender. Estava de olhos fechados, mas, devido ao
seu silêncio, precisei abrir os dois, mesmo sabendo que ela estava atrás de mim e que não
conseguiria vê-la, e ergui uma sobrancelha. — Norah?
Ela se ergueu de repente, tirando a mão debaixo da minha, e se sentou sobre a cama. Eu
me virei a tempo de encontrá-la se esticando até o interruptor que ficava ao lado da cabeceira,
acendendo a luz. Por sorte, apenas os spots foram acesos, mesmo assim, minha cabeça pulsou
com a claridade repentina.
— Não acredito que você se esqueceu do que conversamos ontem, James!
Pisquei para ajustar a minha visão e a encontrei com os braços cruzados, me olhando com
as sobrancelhas franzidas. Norah já era uma mulher, isso era fato, mas aquela sua cara enfezada
sempre me lembrava da Norah adolescente em seu aniversário, irritada comigo por ter empatado
seu primeiro beijo. Tentei conter a risada com a lembrança e foquei no presente.
— Ontem eu fiquei bêbado. Para falar a verdade, acho que ainda estou sob o efeito do
álcool, portanto, é melhor conversarmos depois — pedi, acariciando o seu joelho por debaixo da
coberta. — Deite-se e durma comigo, depois você pode me trazer o café da manhã que prometeu.
— Nada disso! — Ela me parou antes que eu conseguisse puxá-la para se acomodar ao
meu lado na cama. — É sério, James, você não se lembra de nada do que conversamos em meu
quarto? Do que eu pedi para você?
Franzi o cenho, tentando me lembrar. Entrei no quarto de Norah ontem à noite? Em que
momento e por quê? Então, lentamente, a lembrança me atingiu. Não de nós dois em seu quarto,
mas do que nos levou até o cômodo, primeiramente.
Eu havia acabado de jogar fora o que poderia ser a décima ou vigésima long neck vazia
desde que a festa havia começado e me dei conta de que Norah não estava em lugar algum.
Como tinha certeza de que ela não estava na área da piscina, pois eu acabara de sair de lá, fui
procurá-la dentro de casa. A cozinha estava cheia, com pessoas preparando drinques, virando
shots de tequila e vodca, pegando cervejas no freezer, mas Norah não estava por ali.
Eu sabia que ela ficava um pouco estressada quando dávamos aquele tipo de festa. Norah
geralmente não curtia muito, pois Logan sempre estava de olho nela, mas eu sentia meu amigo
mais relaxado naquela noite. Estava bebendo pouco, curtindo a companhia de Avalon,
conversando com um fã ou outro sobre a partida brilhante do nosso time. Ele não parecia tão
preocupado com Norah, mas eu fiquei.
E se ela estivesse com algum babaca?
Senti minha cabeça pulsar novamente, dessa vez, por culpa do sentimento estranho que me
invadiu quando aquele pensamento cruzou a minha mente na noite passada. Não entendi o gosto
amargo que senti em minha língua ao pensar em Norah beijando a boca de alguém e agora,
praticamente sóbrio, entendia menos ainda. No entanto, na noite anterior, não perdi muito tempo
analisando aquilo, só tomei o lugar do meu melhor amigo e, como um irmão mais velho zelando
pela sua caçula — porque era óbvio que o ciúmes que eu sentia de Norah era puramente fraternal
—, fui à procura dela.
Demorei um pouco para encontrá-la no corredor perto da escada, em frente ao lavabo.
Norah conversava com Mason Goldberg, nosso novo tight end. Não conhecia muito sobre o cara,
só que ele fora transferido do Clemson Tigers com um currículo impecável, passando à frente de
Liam Harrison, nosso jogador reserva que dominava a mesma posição.
Em um primeiro momento, achei que ele era um cara legal. Simpático, interessado pelo
time, vi que ficou junto com o comitê técnico durante todo o jogo do dia anterior, focado em
cada passo que dávamos rumo à vitória. Parecia ter chegado para somar e eu estava empolgado
para conhecê-lo melhor, afinal, como tight end, nós jogaríamos juntos o tempo todo. Era
importante que nos entrosássemos além do campo.
Era esse o pensamento que eu tinha até ouvir sua pergunta para Norah.
“E por que a irmã do QB está usando a camisa do wide receiver?”
Suas palavras vieram à minha mente com nitidez, assim como a forma que olhava para ela,
seu sorriso conquistador e o que disse depois, sobre Norah usar a camisa dele um dia. O filho da
puta era abusado! Pelo menos, foi o que pensei naquele momento. Agora, sem o álcool estar
correndo solto pela minha corrente sanguínea, eu me perguntava por que flagrar os dois
conversando e ouvir aquelas palavras de Mason, me deixaram tão incomodado.
No fundo, eu sabia o porquê. Mesmo concordando que Norah precisava viver e que Logan
tinha que soltar as suas rédeas sobre ela, eu nunca me preocupei de fato com Norah se
envolvendo com alguém. Ela sempre foi quieta, meiga, apegada a mim, Logan e Ben, cercada
por poucos e confiáveis amigos.
Eu sempre sabia onde ela estava e o que estava fazendo. Nosso canal era totalmente
aberto. Às vezes, eu contava a ela sobre coisas da minha vida antes mesmo de me abrir com
Logan ou Benjamin. Pensar em Norah com outro cara era uma possibilidade que eu sabia que
existiria em algum momento, mas não agora.
Seu pedido na noite passada, que agora eu me lembrava com nitidez, me pegou de
surpresa. A ansiedade em seus olhos, focados nos meus, deixou bem claro que ela estava prestes
a repetir cada palavra daquela ideia insana que tomou conta da sua cabeça na noite anterior.
— Infelizmente, eu me lembro. — Norah pareceu mais aliviada assim que respondi a sua
pergunta. — E ainda estou me questionando se você realmente não fumou maconha na noite
passada.
— Não é possível que você esteja realmente pensando isso de mim! — Bufou, parecendo
prestes a tacar algo em minha cabeça. Torci para que fosse um travesseiro e não o porta-retratos
que ficava na mesinha de cabeceira ao lado da cama.
— Eu estou brincando — garanti, me esforçando para me sentar ao seu lado. Meu
estômago embrulhou um pouco mais. — Confio em você, sei que nunca vai se meter com
drogas. O fato de você estar sóbria quando teve essa ideia é o que me deixa mais preocupado, por
incrível que pareça. — Ri, me esquivando do tapa que tentou dar em meu braço. — Ei,
comporte-se! Lembro muito bem de quando você disse que faria o que eu quisesse.
— Caso aceitasse me ajudar.
— Tinha essa condição? Dessa parte, eu não me lembro muito bem.
— Posso repetir tudo para você, se quiser.
Eu sabia que sim, por isso, logo respondi:
— Não precisa. Suas palavras estão socando a minha cabeça nesse momento.
— Está confundindo as minhas palavras com a ressaca. — Ela sorriu e, por um momento,
perdi um pouco da minha linha de raciocínio. A filha da mãe não parecia ter a menor ideia do
quanto era bonita. — Eu não pedi nada de mais, James. Só que me ajude a mudar para conquistar
um cara legal.
— Só isso — desdenhei e ela revirou os olhos. — Acho que já falei que isso é loucura...
— Sim, e disse que meu irmão vai te matar se descobrir. Eu sou ótima em guardar
segredo, tenho certeza de que você também é.
— Talvez eu seja, mas, antes, preciso deixar uma coisa bem clara. — Toquei em seu rosto
com os meus dedos até afastar um cacho longo da sua bochecha, colocando-o atrás da orelha. —
Não há nada em você que precise melhorar para chamar a atenção de algum cara, Norah. Se você
precisa mudar para agradar alguém, então, essa pessoa não vale a pena. Você é incrível
exatamente assim, do jeitinho que é. Então, se quer a minha ajuda para mudar, minha resposta é
não. E não vou mudar de ideia.
— Não, James, acho que me expressei mal — respondeu, tomando a minha mão na sua.
— Eu não quero mudar, só quero me tornar mais... interessante. Sinto que fiquei escondida atrás
da sombra do meu irmão esse tempo todo, em parte por culpa dele, por sair colocando medo em
qualquer garoto do campus, mas, em parte, por culpa minha também. Você só precisa me dar
umas dicas do que atrai os homens e eu vou colocar tudo em prática.
Eu fiquei em silêncio por um momento, tentando encontrar as palavras certas para dizer a
ela que homem se atraía por peitos, bunda e boceta. Todo o resto, nós deixávamos para prestar
atenção depois. Mas como dizer isso para Norah sem parecer — com todo respeito à minha mãe
— um filho da puta?
— Em troca — ela continuou, deixando a minha mão e se ajoelhando rapidamente às
minhas costas. Precisei segurar uma risada quando senti suas mãos pequenas começarem a
massagear meus ombros. Garota esperta. —, eu faço o que você quiser. Aqui está uma amostra
grátis. Sinta, sou uma ótima massagista.
Era mesmo, mas disso, eu já sabia. Às vezes, chegávamos em casa tão moídos do treino,
que Norah se compadecia e massageava nossos ombros. Ela tinha mãos delicadas, mas força
suficiente nos braços para tirar os nós de alguns músculos.
— Você é uma ótima chantagista, isso sim — falei, fechando os olhos e me permitindo
relaxar. O jogo de ontem, junto com todo o álcool ingerido, estavam cobrando o seu preço agora
e meu corpo doía. — Da mesma forma que eu falei ontem, vou repetir agora. Prometo pensar,
ok? Estamos em recesso na faculdade, você não conseguiria colocar as suas garrinhas inocentes
em nenhum desavisado de qualquer forma. Vou te dar a minha resposta depois das festas de final
de ano.
Ouvi sua respiração forte perto da minha orelha, e de repente, suas mãos já não estavam
mais em mim. Norah se afastou e se sentou na beirada da minha cama, prestes a se levantar.
Antes que conseguisse, a puxei para perto de mim novamente com um braço em sua cintura.
— Posso saber por que parou e por qual motivo está indo embora?
— Só vou voltar a massagear esse muro de concreto que você chama de ombros, quando
me der a sua resposta. — Ela me olhou por sobre o ombro, pois ainda estava de costas para mim.
— A resposta que eu quero ouvir, Sr. McHugh.
— Tem certeza de que está mesmo fazendo Artes Cénicas? Eu poderia jurar que era
Direito com toda essa sua lábia de advogada.
— Isso é um dom passado de geração em geração na família Miller. — Norah riu e eu a
puxei de verdade para a cama, fazendo com que se deitasse em meu lugar, enquanto tomava o
espaço vazio ao seu lado e me esticava para apagar a luz. — O que está fazendo?
— Não é óbvio? Me preparando para voltar a dormir, e você vai dormir comigo — avisei,
sentindo um alívio enorme quando meu quarto voltou a ficar imerso na escuridão. Ouvi Norah rir
baixinho e senti o seu corpo se movendo perto do meu sob a coberta, até suas costas se
encostarem em meu peitoral.
— Ouvi dizer que homens não gostam de dormir de conchinha — comentou ela com a voz
baixa.
— Nós gostamos de dormir de conchinha, sim, mas não com todas as garotas.
Com os olhos mais adaptados ao quarto escuro, pude ver o rosto de Norah se virar em
direção ao meu, tão próximo, que quase pude sentir o seu nariz e o meu se tocarem.
— Então, eu sou uma garota especial para você, James?
— Você é a garota mais especial de todas — garanti e, porra, aquilo era mesmo verdade.
Dei um beijo na ponta do seu nariz, sentindo meu coração ficar alegre ao ouvir a sua risadinha
feliz. — Agora vamos dormir, ou juro por Deus que a minha resposta para você será um grande
não!
— Sim, senhor!
Norah voltou a se virar de costas para mim e eu fechei os olhos, respirando fundo o cheiro
bom do seu cabelo. Em breve, algum babaca estaria no meu lugar, comigo a ajudando ou não, e
aquilo era uma merda.
Não sabia se estava pronto para entregar a minha garota para algum idiota.
Pelo menos, não ainda.

Aspen era sempre movimentada no inverno, mas depois de passar o réveillon com os meus
amigos nos últimos dois anos, eu havia me esquecido de como uma estação de esqui poderia
ficar lotada. Sentado dentro da cafeteria aquecida, tomei um gole do meu chocolate quente
enquanto via meu pai acompanhar a minha mãe e minha tia Lauren, irmã dela, até um dos
teleféricos que as levaria ao alto da montanha.
Sentia meu sangue mais quente e não tinha nada a ver com a bebida aquecida e, sim, com
a adrenalina. Queria estar no lugar da minha mãe, aproveitar aquele momento ao seu lado, tirar
fotos dela e da minha tia, sentir o coração acelerado ao descer a montanha sobre os esquis, mas
era muito perigoso. Segundo meu pai, eu não poderia colocar toda a minha vida em risco apenas
por alguns minutos de diversão.
Por mais que ele fosse rígido comigo sobre o futebol, sabia que, naquele ponto, ele tinha
razão. Eu não podia arriscar uma lesão séria nas pernas ou, pior ainda, na coluna, apenas por
querer andar de esqui.
Então, o que eu estava fazendo aqui? Era melhor ter ficado em casa, assistindo Netflix
com a vovó Emory. Entediado, tirei meu celular do bolso e sorri ao ver o nome de Norah na tela.
Ela havia acabado de me enviar uma mensagem.
Norah: Como você está? Estou com saudades! Acabei de assar biscoitos com a minha
avó, vou guardar uns para você.
Senti a saliva acumular em minha boca. Eu amava os biscoitos de gengibre que Norah e
sua avó faziam.
— Finalmente, as duas estão indo para o alto da montanha! — Ergui minha cabeça assim
que ouvi a voz grave e animada do meu pai. Ele se sentou à minha frente e tirou as luvas de
couro pretas. — Não sei como sua mãe pode gostar tanto de esquiar. Esse esporte assassino
deveria ser crime.
— Só se torna um esporte assassino se você não souber o que está fazendo — comentei,
sorrindo para ele. Meu pai revirou os olhos, mas estava de bom humor naquele dia.
Na verdade, ele estava de bom humor desde o último jogo da temporada. Não havia sido o
meu melhor jogo, segundo ele, mas o fato de termos saído como campeões, coisa que não havia
acontecido no último ano, o deixou satisfeito.
— Mesmo quando se sabe o que está fazendo, é arriscado. Por isso quero você longe
daquelas montanhas.
— O senhor já me disse isso, pai.
— Mas não custa nada lembrar. — Ele deu um tapinha em minha mão. — Você tem tudo
para se sair ainda melhor na próxima temporada, James! E, por favor, não ouse desperdiçar outra
chance com uma agência importante. Não cometa a burrice que fez no início desse ano.
Uma agência grande havia entrado em contato comigo quase um ano atrás, mas eu acabei
recusando o convite para ser agenciado por eles. Ainda não me sentia pronto para dar um passo
tão importante. Obviamente, não comentei com meu pai sobre isso quando recusei, deixei para
falar semanas depois, e isso o deixou furioso.
O fato de eu ser maior de idade e ter controle da minha vida era algo com que meu pai não
lidava muito bem. Jonathan McHugh ainda me via como o adolescente que conseguia controlar
quando eu estava no ensino médio, mas eu vinha mostrando a ele que já tinha idade suficiente
para tomar conta de mim mesmo e da minha carreira, por mais que ainda ouvisse e levasse em
consideração cada um dos seus conselhos.
Como não esquiar estando em uma porcaria de estação de esqui, por exemplo.
— Eu me sinto mais preparado esse ano, pai — falei, sentindo meu celular voltar a vibrar.
Uma olhada rápida me mostrou que eram novas mensagens de Norah.
— Ótimo! Não quero que nada tire o seu foco, já não basta aquele namoro com Megan.
Tenho certeza de que, se estivesse solteiro na época que a agência entrou em contato, jamais teria
recusado a proposta deles...
Meu pai continuou repetindo o mesmo discurso de sempre. Ele era o meu maior
incentivador, mas também era a pessoa que mais sugava a minha energia. Era apaixonado por
futebol, mas foi obrigado a deixar o esporte quando meu avô morreu de repente, vítima de um
infarto, e precisou tomar conta dos negócios da família. Éramos donos de uma das maiores
empresas náuticas do mundo, responsáveis por construções de grandiosos transatlânticos e
navios cargueiros. Com Jonathan McHugh no comando, as ações da empresa triplicaram,
ganhamos ainda mais notoriedade mundialmente e éramos referência no ramo.
Nada disso impediu que meu pai incutisse em mim o seu sonho frustrado de ser jogador
profissional. E o que antes era uma paixão que nos aproximava como pai e filho, hoje, era algo
que quase nos distanciava. Sua constante cobrança, o fato de nunca estar satisfeito, mesmo
quando eu dava o meu melhor, eram catalisadores que estremeciam, cada vez mais, a nossa
relação.
Eu relevava muita coisa em consideração ao amor que sentia por ele, ao respeito, que eu
sabia que deveria vir à frente de tudo, e à minha mãe e minha avó paterna, que sofriam quando
eu queria impor alguma distância, por isso eu estava naquela estação de esqui. Porque, mesmo
sem esquiar, eu queria estar próximo do meu pai.
— Está me ouvindo, James? — Voltei a prestar atenção no que dizia, vendo o seu
semblante sério. — É do seu futuro que estamos falando! Quero você mais focado do que nunca
esse ano, comprometido, dedicado. Lembre-se do seu objetivo.
Às vezes, eu me perguntava se estávamos mesmo falando do meu futuro ou do seu
passado fracassado.
— Eu sei de tudo isso, pai.
— Perfeito. Você é um McHugh, distrações não fazem parte do nosso legado.
Eu suspirei e olhei novamente para o celular em minha mão, me lembrando do pedido de
Norah. Ela jamais seria uma distração para mim, no entanto, eu sentia que meu pai faria de tudo
para me sufocar no ano que estava vindo. Ele não me deixaria em paz e, ao contrário do que
acreditava, eu precisava estar focado em outra coisa que não fosse o futebol, se não, iria
enlouquecer.
Por isso, sem pensar muito, comecei a digitar a resposta que eu sabia que Norah queria.
Ajudar a minha garota a encontrar um cara legal — legal, não, digno dela — me ajudaria a não
surtar com a pressão que meu pai faria sobre mim.
Aquela era a forma como Norah recompensaria a minha ajuda. Estando ao meu lado para
que eu não enlouquecesse.
Eu: Guarde uns biscoitos para mim.
Eu: E eu tenho uma resposta para você.
Eu: Pode contar comigo. Vou te ajudar, baixinha.
Janeiro de 2023

Minha mãe sempre amou ópera e espetáculos musicais. O primeiro musical que ela me
levou para assistir foi O Rei Leão e eu ainda conseguia me lembrar nitidamente da emoção e do
arrepio que senti quando a atriz começou a cantar as primeiras estrofes de The Circle of Life. As
memórias, as sensações, eram vívidas em minha mente, depois de mais de quinze anos, assim
como a certeza que eu senti, ainda sentada naquela poltrona vermelha e acolchoada, quando eu
tinha apenas cinco anos de idade.
Eu queria fazer aquilo.
Eu queria estar no palco e fazer a plateia transbordar como eu estava transbordando
naquele momento.
Algumas pessoas demoravam anos para entender qual era a sua vocação ou o seu
propósito na vida, outras, partiam sem nunca descobrir. Mamãe sempre dizia para mim e para o
meu irmão que não importava o que queríamos ser quando crescêssemos, contanto que não
machucássemos ninguém e não infringíssemos a lei. Ela só queria que fôssemos felizes à nossa
maneira. Acredito que tenha sido por isso que sequer hesitou quando pedi para que me colocasse
em aula de canto e teatro quando eu era criança.
Mamãe sempre me apoiou e meu pai também. Ele pode ter demorado para fazer isso com
Logan, pois queria que meu irmão seguisse o legado da nossa família, mas nunca me julgou pela
escolha que fiz desde pequena. Não sabia se era porque acreditava que eu poderia mudar de ideia
quando crescesse ou porque via em mim a mesma paixão que minha mãe sentia pelos palcos —
apesar de ela nunca ter pisado em um —, mas Logan Miller II logo percebeu que eu não
desistiria.
O teatro era o meu lugar. A música e a atuação eram o que preenchiam a minha alma e me
salvavam quando eu sentia que poderia me afogar.
A Sra. O’Neal, professora de Prática de Cena, encerrou a aula após explicar que
encenaríamos uma peça no final daquele semestre. Apesar de termos ensaiado uma peça pequena
no ano passado, aquela seria a primeira vez que pisaríamos oficialmente no palco do teatro da
faculdade e eu já estava sentindo um frio na barriga de ansiedade. O que me tranquilizava, era
saber que eu não era a única. John, um dos meus amigos de curso, e Alicia, nossa nova colega
que havia sido transferida de San Francisco para a UA, estavam tão nervosos quanto eu.
Combinamos de nos encontrar no Maeve’s Bar para poder beber alguma coisa e tentar não
surtar por antecipação. Era sexta-feira, mas, apesar do frio por conta da nevasca que havia
assolado a cidade na última semana, a “casa” do Alabama Crimson Tide já estava lotada. Por
sorte, John e Peter, seu namorado, haviam chegado antes de mim e Alicia, e conseguiram uma
mesa para nós quatro. Antes de me sentar com eles, fui dar um beijo em minha cunhada, que
estava ocupada atrás do balcão do bar.
— É muito bom ver você aqui, Norah! Seu irmão deve chegar daqui a pouco com os
meninos do time — disse ela conforme me entregava uma cerveja.
Eu ainda não tinha vinte e um anos, mas ter minha cunhada trabalhando no bar me dava
certos privilégios.
— Ele me avisou por mensagem, disse que aceitou o convite do pessoal porque queria te
ver.
Eu nem precisava levantar a moral do meu irmão com Avalon, mas era sempre divertido
ver a minha cunhada tentando disfarçar o quanto Logan a atingia. Suas bochechas vermelhas
eram prova disso.
— Como se ele precisasse de alguma desculpa para ficar aqui comigo. Seu irmão perde
quase todos os finais de semana sentado em frente ao balcão, esperando que eu termine o meu
turno.
— Não, Logan não perde tempo algum, ele aproveita cada segundo que pode ao seu lado
— falei, tocando a sua mão sobre o balcão. — Nunca pensei que um dia veria o meu irmão tão
realizado e em paz, Avalon. E tudo isso está acontecendo graças a você.
Eu sempre seria grata por Avalon ter entrado na vida do meu irmão. Sem ela, eu tinha
certeza de que Logan ainda estaria perdido.
— Ele faz o mesmo por mim. — Ela sorriu um pouco emocionada, mas logo tentou
esconder a emoção. — E em breve você vai encontrar alguém que te deixe suspirando de forma
apaixonada, tenho certeza. Não se esqueça de que eu ouvi, sem querer, parte da sua conversa
com James por trás da porta.
Eu ri ao me lembrar da sua mensagem sobre estar torcendo para que eu “passasse o rodo”
na faculdade. Eu estava bem longe de fazer isso, mas tinha que confessar que a ideia era
divertida, apesar de eu ter certeza de que não teria coragem de sair beijando qualquer um por aí.
— James disse que vai me ajudar, mas confesso que não sei onde isso vai dar. Talvez eu
tenha sido precipitada. — Dei de ombros antes de beber um pouco da cerveja.
Agora que James havia aceitado a minha proposta oficialmente, eu estava sentindo um frio
imenso na barriga.
— Precipitada? Por quê?
— Não sei. Vivi o último ano escondida nas sombras do meu irmão, acho que não sei
como fazer algo diferente disso.
Estava insegura, sem saber ao certo o que eu queria de fato. Me abrir para alguém? Não
tinha certeza de como isso aconteceria.
— Se ainda não sabe, está na hora de aprender. Você merece viver a sua vida, já passou
tempo demais cuidando do seu irmão quando ele ainda estava preso ao luto pela morte da sua
mãe. Logan está bem agora e você está livre para pensar mais em si mesma.
As palavras de Avalon tocaram em um ponto ainda dolorido em meu peito. Eu sabia que
ela tinha razão, mas era difícil sair da nossa zona de conforto.
— O primeiro passo eu já dei, não é? — falei, me referindo a pedir ajuda para James. No
final, acabei rindo, em parte por estar um pouco nervosa. — Vamos ver onde isso vai dar.
— Tenho certeza de que dará tudo certo. — Avalon piscou para mim.
Que bom que ela tinha certeza, pois eu ainda estava com dúvidas. Passei mais alguns
minutos ao seu lado, antes de ir para a mesa onde John e Peter estavam, vendo que Alicia já
havia chegado.
John e eu entramos ao mesmo tempo na faculdade e nos tornamos amigos rapidamente.
Peter estudava Biologia e eles se conheceram em uma das festas de fraternidade que eu nunca dei
muita importância para ir. Eram completamente diferentes um do outro. Peter era tímido e havia
ido à festa por insistência de amigos de curso, enquanto John era efusivo e comunicativo. Eles
eram a prova de que os opostos se atraíam e formavam um lindo casal.
Alicia era mais parecida comigo, sorridente, mas um pouco reservada. Estávamos nos
conhecendo ainda, mas eu sentia que ela estava mais entrosada conosco. Passamos os próximos
minutos conversando sobre a primeira semana na faculdade após o recesso e contando para
Alicia sobre cada um dos jogadores do time de futebol, quando alguns clientes começaram a
assoviar e bater palmas.
As estrelas da faculdade haviam acabado de chegar.
A primeira pessoa que vi foi James. Ele entrou ao lado do meu irmão e de Benjamin,
seguido pelos companheiros de time. Estava todo bonitão com o casaco de moletom do Crimson
Tide e um jeans escuro. Às vezes eu ficava em choque com a sua beleza, mesmo tendo o
conhecido a minha vida toda. Benjamin também era um homem bonito, assim como os outros
jogadores do time e vários outros alunos da faculdade, mas James era o único que conseguia tirar
o meu fôlego, o que me assustava um pouco.
Éramos apenas amigos, eu não podia me esquecer disso.
Logo atrás dele, vi Mason rindo de algo que Dean, que jogava na linha defensiva, acabara
de falar em seu ouvido. Não pude evitar que a lembrança da nossa primeira e última conversa
voltasse à minha mente. Mason parecia ser um cara divertido, além de ser muito bonito e
simpático.
Fiquei me questionando se valeria a pena o conhecer melhor. Ele se mostrou interessado
quando conversamos. Será que gostaria de me conhecer também ou Logan já havia ameaçado a
sua vida caso pensasse em se aproximar de mim? Precisava descobrir sobre aquilo.
Foi Logan quem me viu primeiro e acabou deixando o time ir para a mesa já reservada
enquanto vinha falar comigo. James logo o seguiu, já Ben acabou sendo arrastado para o
corredor do banheiro por uma garota que eu não conhecia. Meu irmão me abraçou forte, seguido
por James, que sussurrou em meu ouvido:
— Você está muito gata. Vou ter que impedir o seu irmão de matar quantos babacas hoje à
noite?
— Espero que nenhum, Maeve não merece ter um banho de sangue em seu bar.
Ri enquanto me afastava, aproveitando para apresentar Logan e James para Alicia, que
ainda não os conhecia formalmente. Meu irmão aceitou o abraço amistoso da minha nova amiga
de turma e James pareceu levar alguns segundos a mais olhando para ela antes de cumprimentá-
la. Resisti à vontade de revirar os olhos. Alicia era mesmo muito bonita, tinha olhos castanhos
marcantes, cabelo preto que descia ondulado até a altura dos ombros e chamava bastante atenção
do público masculino. Era óbvio que James não a deixaria passar despercebida.
Eles cumprimentaram John e Peter rapidamente, antes de se afastarem. Alicia me encarou
com um sorriso bobo e as bochechas coradas.
— Eu notei James no campus um dia desses, quando vocês dois se encontraram para
almoçar, mas confesso que só agora tive noção do quanto ele é bonito — disse ela para mim.
— Ele é mesmo — falei, olhando rapidamente em direção à mesa onde ele estava.
Percebi que James olhava na nossa direção, provavelmente para Alicia, mas alguém atrás
dele também olhava para a nossa mesa. Era Mason. Ele ergueu a mão e acenou para mim, me
pegando de surpresa. Achei que eu passaria despercebida por ele. Acenei de volta.
— O jogador novo não tira os olhos de você. — John me cutucou e eu senti uma onda de
calor descer pela minha coluna.
— E James não para de olhar para Alicia — comentou Peter. — Será que em breve
começaremos a fazer encontro de casais?
— Tomara. — Alicia riu, chamando a minha atenção. — Nunca tive um namorado,
acreditam? Acho que está na hora de ter um relacionamento sério, mas também não posso me
iludir, sei como é a fama dos jogadores.
— Sobre o jogador novo eu não posso dizer muita coisa, mas Norah conhece James como
ninguém e pode confirmar o que penso sobre ele. — John colocou a garrafa de cerveja vazia
sobre a mesa e arqueou uma sobrancelha. — O jogador parece ser fiel e apaixonado. Pelo menos,
essa era a impressão que ele passava quando ainda namorava a filha do prefeito.
Trinquei a mandíbula ao ouvir sobre Megan. Eu ainda me irritava por não ter tido a
oportunidade de dar na cara dela pelo que fez com James.
— Eles terminaram há muito tempo? — Alicia quis saber.
— Romperam ano passado — Peter respondeu.
— Foi um término traumático?
Foi. No entanto, eu jamais contaria aquilo para Alicia, nem mesmo para John ou Peter.
— O relacionamento não deu certo. — Fui objetiva. — Mas John está certo sobre James.
Ele é mesmo um homem fiel e apaixonado, tem um caráter exemplar e é o ser humano mais
bonito que conheço, mas eu sou suspeita para falar. Ele é o meu melhor amigo.
Alicia sorriu.
— Acho que quero conhecê-lo melhor, então.
Era claro que queria. Que mulher na face da Terra não ia querer? Terminei a minha
cerveja, sentindo um gosto levemente amargo em minha boca ao tentar imaginar James e Alicia
juntos. Havia me acostumado rápido demais com James solteiro e seria um choque vê-lo
apaixonado de novo.
Logo deixei aquele pensamento de lado. James era um homem livre e merecia se
relacionar com alguém que, de fato, merecesse o seu coração. Não sabia se aquela mulher era
Alicia ou não, portanto, não cabia a mim julgar ou sentir qualquer pontinha de ciúmes ao pensar
nos dois juntos.
Não que eu realmente estivesse com ciúmes. Quer dizer, talvez eu estivesse, mas era
apenas um ciúmes de amiga. Todo mundo sentia aquilo, certo?
— Vou ao banheiro — anunciei antes de sair da mesa.
Passei pelos clientes e consegui entrar no banheiro feminino que, por sorte, ainda não
estava lotado. Entrei em uma das cabines e usei aquele tempo para tentar me recompor. Por que a
ideia de ver James com Alicia havia me afetado tanto?
No fundo, eu sabia o porquê.
Eu estava carente e James era o meu porto seguro. Eu não queria perdê-lo, o que era um
absurdo, pois sabia que o fato de ele estar com alguém ou não jamais interferiria na nossa
amizade. Eu não poderia mais dividir a cama com ele — afinal, que namorada aceitaria esse tipo
de coisa? —, provavelmente perderíamos a nossa madrugada de jogos, mas a nossa amizade
permaneceria intacta.
A Norah adolescente, que tinha uma leve queda pelo melhor amigo do irmão, já estava
enterrada dentro de mim há muito tempo. Eu precisava me lembrar disso.
— Você está sendo uma boba, Norah — murmurei para mim mesma antes de sair do
reservado.
Lavei as mãos e joguei uma água em minha nuca para ver se me livrava um pouco da
ansiedade antes de sair do banheiro, dando de cara com Mason no corredor. Ele parou antes de
entrar no banheiro masculino e me deu um sorriso enorme.
— Parece que banheiros são o nosso ponto oficial de encontro, Norah Miller.
Ele lembrou o meu nome. Não sabia por que isso me chocara tanto.
— É, parece que sim. — Sorri, saindo da direção da porta quando uma menina pediu para
passar. — Como está a adaptação no novo time?
— Está correndo tudo bem, já me sinto amigo de todo mundo, inclusive do seu irmão.
Finalmente entendi o que James quis dizer sobre ele naquela noite.
Eu fiz uma careta de desânimo ao ouvir aquilo.
— Logan ameaçou você?
— Acho que ameaçar é um termo muito forte, ele só me avisou que não quer um idiota
cercando a irmã. Eu entendi o recado, mas não fiquei preocupado.
— Não?
— Não. Eu não sou um idiota. — Ele ergueu as sobrancelhas e eu senti meus lábios se
curvando em um sorriso sem que eu pudesse ter qualquer controle sobre eles. — Mas não acho
que vou conseguir mostrar isso para você em um bar lotado, depois de já ter tomado algumas
cervejas, então, a gente se vê por aí, Norah.
Mason piscou para mim e entrou no banheiro cambaleando levemente. Percebi que ele
parecia já ter bebido o suficiente e fiquei um pouco preocupada. Esperava que ele não fosse
embora dirigindo. Suas palavras ficaram se repetindo em minha mente conforme eu me afastava
do corredor. O fato de ele ter deixado claro que não ficara com medo da ameaça do meu irmão
me deixou surpresa; geralmente, os jogadores do time se mantinham afastados depois que Logan
passava o seu recado gentil no vestiário.
Mason continuaria flertando comigo em corredores de banheiro, então? Ele havia mesmo
flertado comigo ou eu estava enxergando um interesse que não existia?
James parou na minha frente de repente, com as duas mãos nos bolsos do moletom e
parecendo estar mais sóbrio do que os outros jogadores do time, tirando meu irmão, que estava
sugando a boca de Avalon no canto do balcão sem o menor pudor.
— Uma bebida pelos seus pensamentos — ofereceu, me estendendo a mão.
— Acho que eu prefiro um hambúrguer com muito queijo cheddar.
— Fechado. — James pegou o meu braço, passando-o pelo seu, e começou a andar em
direção à saída. — Vamos fugir daqui.
Eu saí com ele sem que ninguém nos visse e perguntei assim que entramos em seu carro:
— Não está a fim de beber com os meninos do time hoje?
— Não estou com muito ânimo para ficar falando sobre futebol depois de ter passado a
tarde em uma reunião com os técnicos do time. — Deu de ombros conforme colocava o carro em
movimento. — Pode me usar como desculpa por ter deixado seus amigos no bar.
— Ah, droga! Me esqueci deles! — James começou a rir conforme eu tirava o celular do
bolso da minha calça e enviava uma mensagem para John. Inventei uma desculpa sobre estar
com dor de cabeça e ter pedido uma carona para James. — Eu sou uma péssima amiga.
— Claro que não, deixa de ser boba. — Ele tocou em meu joelho com carinho antes de
entrar no drive-thru de uma rede famosa de fast-food. Sem precisar perguntar o que eu queria,
James fez o nosso pedido rapidamente. — Então, você tem uma nova amiga.
— Como você é sutil, James.
Ele teve a cara de pau de me olhar com uma expressão ofendida.
— Não entendi.
— Eu vi você olhando para Alicia, não precisa disfarçar.
Ele sorriu, mas parecia genuinamente inocente.
— Sim, eu notei que ela é bonita, mas juro que não pensei em nada além disso.
— Somos amigos, esqueceu? Não precisa mentir para mim.
— Não estou mentindo. — Ele pegou o lanche das mãos do funcionário e colocou a
embalagem sobre o meu colo. — Juro que não estou, eu não teria por que esconder isso de você.
Eu o olhei um pouco desconfiada. Será que eu tinha entendido tudo errado?
— Você continuou a olhar para ela mesmo depois de ter se afastado da nossa mesa.
— Não era para ela que eu estava olhando.
— Não? Então era para quem?
James dirigiu por mais alguns minutos, até parar em uma vaga em frente a uma farmácia
vinte e quatro horas. Seus olhos se encontraram com os meus quando entreguei o hambúrguer em
suas mãos.
— Eu estava olhando para você. — Ele disse como se fosse óbvio e, de fato, era. Havia
apenas Alicia e eu de mulher naquela mesa, se ele não estava olhando para ela, só poderia estar
olhando para mim. Isso não diminuiu a minha surpresa, no entanto. — Estava pensando que
havia muito tempo desde a última vez em que você saiu em um final de semana com os seus
amigos. E agora estou me sentindo um idiota por ter tirado você de lá.
James estava mesmo arrependido e eu senti o meu coração se aquecer.
— Você é muito fofo — declarei, vendo-o fazer uma careta.
— Fala sério, Norah.
— É sério, você é mesmo muito fofo. — Eu ri, passando a mão por sua bochecha. Ele
fingiu que ia me morder e eu afastei meus dedos. — E tem razão, não me lembro da última vez
que saí de verdade com os meus amigos. Foi bom o tempo que passei com eles hoje à noite,
espero repetir mais vezes.
— Também espero, você precisa sair mais e se divertir, quem sabe não acaba encontrando
o cara perfeito por aí? Nem vai precisar da minha ajuda.
Eu engoli o pedaço do meu sanduíche e sacudi a cabeça.
— Não, nada disso, eu preciso da sua ajuda, sim. E posso acabar retribuindo mais rápido
do que você imagina.
James franziu o cenho e estreitou os olhos.
— Tenho medo de quando você fica toda misteriosa desse jeito, Norah.
— Não há mistério algum, é bem simples, na verdade. Alicia ficou interessada em você.
— James arqueou uma das sobrancelhas bonitas. — E eu troquei algumas palavras com Mason
antes de sairmos do bar. Ele parece ser um cara muito interessante e eu acho que quero o
conhecer melhor.
— Quer que eu descubra se ele é um babaca? — James foi objetivo.
— Eu não tinha pensado exatamente nisso, mas é um começo.
— No que você pensou? — perguntou ele conforme devorava o hambúrguer, me olhando
com atenção.
— Você poderia falar bem de mim para Mason. Pelo que percebi, ele não se importou
muito com as ameaças ridículas do meu irmão. — James ficou alguns segundos em silêncio e eu
aproveitei para continuar: — Enquanto isso, eu posso falar bem de você para Alicia, passar o seu
contato para ela, se você quiser.
Eu ainda me sentia um pouco estranha com a ideia de ver James com Alicia, mas não
poderia ficar dando bola para aquele meu lado infantil e ciumento.
— Acho que eu não preciso falar bem de você para Mason, pois ele já deixou claro que
está interessado, mas vou descobrir se ele é um babaca. — James terminou o sanduíche e jogou o
papel dentro da embalagem onde viera o hambúrguer. — E você precisa prometer para mim que
não vai insistir nele se eu descobrir que o cara não presta, Norah. Eu jamais vou permitir que
algum idiota brinque com você.
Senti meu coração disparar ao ver o seu cuidado comigo.
— Eu prometo que não vou insistir. Confio no seu julgamento, sei que vai ser honesto
comigo.
— Sempre. — Ele sorriu, passando um braço pelo meu ombro até a minha cabeça se
encostar em seu peito. — E sobre a sua amiga, faça o que achar melhor. Confio em você
também.
— Vou ver se ela é digna do seu coração. Se for, eu armo um encontro.
James riu alto e o seu peito vibrou sob a minha cabeça.
— Me senti um adolescente de novo depois de ouvir isso.
Ele beijou os meus cabelos e eu sorri, mal sentindo o arrependimento por ter saído de
fininho do bar e deixado os meus amigos para trás. Nada no mundo era melhor do que estar nos
braços de James.
Mason Scott, aparentemente, era um cara sem defeitos.
Com o fim do recesso e a primeira reunião do time após a temporada, pude conhecer
melhor o novo tight end. Mason era bem-humorado, já havia feito amizade com a maior parte
dos jogadores e passou um tempo conversando comigo após a reunião. Nós jogaríamos lado a
lado, era preciso que criássemos intimidade e começássemos a confiar um no outro.
Se nossa relação fosse apenas dentro de campo, eu ficaria mais tranquilo, principalmente
para criar uma amizade com ele. O problema, era o claro interesse que Norah estava sentindo
pelo novo jogador. Eu precisava ser imparcial naquele momento e analisar Mason sem a
influência de uma relação pessoal entre nós dois. Era de Norah que estávamos falando e eu
realmente não permitiria que algum idiota brincasse com o coração dela, sendo meu
companheiro de time ou não.
A primeira informação que descobri ao decorrer da primeira semana após o recesso, era
que Mason era um homem solteiro. Não tinha nenhum relacionamento sério antes de ter sido
transferido para a UA e nada, além de sua família que era dona de uma famosa rede de hotéis, o
prendia em sua antiga cidade.
Aquele era, logicamente, o primeiro pré-requisito para que um cara se aproximasse de
Norah.
Também descobri que Mason era bom aluno. Não era o número um do curso de
Administração, mas tirava boas notas. Era importante que Norah se envolvesse com alguém que
fosse comprometido com os estudos.
Ele também estava longe de ser um galinha. Desde que chegara ao Alabama, havia
participado de algumas festas, mas, segundo os meninos do time, só saiu acompanhado duas ou
três vezes, como qualquer homem solteiro fazia.
Mason não ser um babaca pegador também era de suma importância. Norah não merecia
ser mais uma na lista de conquistas de qualquer imbecil. Nisso Logan e eu concordávamos cem
por cento.
Logan.
Pensar no meu melhor amigo me causava um arrepio sinistro e um nó no estômago. Era
como se o órgão já pudesse sentir, de antemão, o impacto do soco que Logan me daria se
descobrisse que eu estava prestes a dar uma de cupido para a sua irmã superprotegida.
A questão era que eu me preocupava com Norah. Muito. De verdade. E jamais viraria as
costas para ela quando precisava da minha ajuda. Era melhor que eu remediasse aquela situação
do que deixá-la sozinha, desprotegida, podendo cair na lábia de qualquer idiota que apenas
brincaria com ela. No final de tudo aquilo, quando Norah estivesse com um homem digno do seu
coração, Logan iria me agradecer, e eu ficaria orgulhoso.
Omitir tudo aquilo do meu amigo valeria a pena, estava certo disso.
Eu só precisava me convencer de que estava fazendo a coisa certa, antes de qualquer coisa,
porque pensar em Norah com algum outro cara me deixava com um sentimento estranho no
peito, que eu não conseguia entender. Era como se eu fosse perdê-la, o que não fazia qualquer
sentido, pois Norah sempre seria minha melhor amiga. Assim como não me afastei dela quando
comecei a namorar com Megan, eu sabia que Norah não se afastaria de mim caso começasse a
namorar com alguém.
No fundo, eu estava apenas sendo dramático e um pouco territorial. Aquele sentimento
passaria assim que eu visse Norah apaixonada e feliz ao lado de um cara que realmente a
merecesse.
— Por que você está com essa cara de quem levou um chute no saco?
A pergunta nada discreta de Logan me tirou do torpor enquanto eu revirava no meu prato
os dois ovos mexidos que já eram para estar dentro da minha barriga há pelo menos dez minutos.
— Não faço ideia do que você está falando — desconversei, enfiando uma garfada na
boca.
Logan cruzou os braços e me encarou com os olhos estreitos, exatamente como Norah
fazia quando estava desconfiada de alguma coisa. Quem poderia imaginar que dois irmãos
seriam tão parecidos, não é mesmo?
— Você fez alguma merda, está com cara de culpado.
— Que merda eu poderia ter feito antes das dez da manhã de um domingo, Logan?
— Não sei, por isso que estou aqui. — Ele se aproximou e parou do outro lado do balcão,
de frente para mim. — Para que você possa me contar.
Sacudi a cabeça e forcei um sorriso. Eu odiava esconder qualquer coisa do meu melhor
amigo, mas, talvez, a minha lealdade para com a sua irmã fosse maior do que a minha lealdade
para com ele.
Parando para pensar, sempre foi assim. Logan não sabia até hoje que eu impedi que o
merdinha do Declan desse um beijo em Norah no aniversário dela de dezesseis anos. Nunca
contei porque, primeiro, causaria uma briga desnecessária entre o meu amigo e o moleque e,
segundo, porque não queria que Norah se sentisse constrangida. Logan já se metia na vida dela o
suficiente.
Também havia o fato de que Norah confiou em mim para contar que aquele seria o seu
primeiro beijo. Sempre deixei claro que a via como uma irmã mais nova, mas não éramos irmãos
de verdade e eu imaginava que com Logan ela não tinha abertura para contar sobre aquele tipo de
coisa. Assim como eu era fiel a Logan para levar seus segredos para o túmulo — como a
primeira e última vez que ele experimentou maconha e me fez jurar que jamais contaria aquilo
para ninguém —, eu também era fiel a Norah e jamais iria desapontá-la.
— Vou almoçar na casa dos meus pais hoje e já estou pensando no discurso motivador que
Jonathan McHugh vai me fazer ouvir pelo resto da tarde — contei meia verdade. Logan conhecia
o meu pai e sabia como, às vezes, passar um tempo ao lado dele sugava toda a minha energia.
— É impressionante como os nossos pais são diferentes, mas, ao mesmo tempo, são tão
parecidos. Enchem a porra do nosso saco por motivos completamente diferentes.
— Pelo menos o seu pai finalmente entendeu que ser jogador profissional é o seu maior
sonho.
— E quando o seu pai vai entender que ser jogador profissional não é o seu maior sonho?
Senti a porcaria do ovo pesar em meu estômago e metade da porção ainda estava no meu
prato.
— Já disse para você que isso não é verdade. Eu quero ser jogador profissional, Logan.
Dediquei-me a vida inteira para que isso acontecesse, sou tão apaixonado por esse esporte quanto
você.
— E ainda assim, esse não é o seu maior sonho. — Logan me deu um olhar muito sério.
— E está tudo bem não ser, James.
Neguei com a cabeça, contrariado. Meu coração batia forte no peito, mas não deixei que
aquela adrenalina inconveniente transparecesse na minha respiração.
— Você está errado. Eu sei o que eu quero para a minha vida, o futebol é o meu futuro,
nada vai me fazer desistir disso.
— Nem o seu amor por fotografia?
— Isso é um hobby.
— Um hobby que vai te garantir um diploma. — Logan não gritou comigo, ao contrário
do meu pai quando eu o contrariava, mas me olhou daquele jeito que eu geralmente olhava para
ele. Como se me conhecesse melhor do que ninguém. — Porque esse é o seu verdadeiro sonho,
por mais que você negue. E não me entenda mal, você é um monstro dentro de campo, é o
melhor wide receiver com quem já joguei, tenho certeza de que os maiores times brigarão por
você no Draft, mas esse não é o seu sonho, irmão. O dia que admitir isso para si mesmo, nunca
mais vai precisar se sentir da forma que está se sentindo agora.
Eu queria que ele simplesmente ficasse quieto, mas esse era o maior ônus de se ter um
melhor amigo: ser obrigado a ouvir da boca deles o que você não queria escutar.
Só que Logan estava errado daquela vez. Eu amava e respirava o futebol. Cresci dentro de
um campo, pois meu pai me colocou para praticar o esporte antes mesmo de Logan pensar em
calçar uma chuteira, sempre conciliei a minha vida com a rotina regrada, a dieta, as contusões, a
adrenalina e a ansiedade que o futebol me causava. Eu havia nascido para aquilo, foi o que
sempre ouvi a vida inteira, foi no que sempre acreditei. Então, sim, aquele era o meu sonho. O
meu e o do meu pai e, por mais que ele me cobrasse até a exaustão, eu realizaria tudo o que ele
idealizou para mim.
Eu devia aquilo a ele, por toda a sua dedicação para comigo.
Jamais me perdoaria se eu falhasse. Já não bastava a culpa que me invadia quando me
sentia sufocado com a cobrança do meu pai.
— Talvez você nunca acredite em mim, mas eu não estou mentindo, Logan.
— Sei que não está mentindo quando diz que é apaixonado pelo futebol.
— Não sou apenas apaixonado. — Levantei-me da banqueta onde estava sentado e dei a
volta até alcançar o meu melhor amigo. Apertei o seu ombro e fiz de tudo para que ele
identificasse a verdade em minha voz: — Minha vida é o futebol e sempre será assim. Ainda
vamos conquistar muitos títulos juntos e erguer todas as taças possíveis. Acredita em mim?
Logan deu um tapinha em meu pescoço e suspirou.
— É lógico que eu acredito nisso, pois sei como você é talentoso e dedicado. Nunca
duvidei da sua capacidade, James.
— Assim como eu nunca duvidei de você. Sonhamos a vida inteira em sair da faculdade e
jogar juntos. Por que, de repente, parou de enxergar esse objetivo em mim?
— Você está enganado, eu ainda vejo esse objetivo nos seus olhos, irmão. Só que eu
passei o último ano com a cabeça enterrada no meu próprio rabo e deixei de enxergar as coisas à
minha volta. Agora, estou vendo tudo com mais clareza. Você não é mais o mesmo James de
dois anos atrás. Havia um sentimento em seus olhos quando entramos na faculdade que não
existe mais e isso me preocupa.
— Bobagem. — Sorri, sem querer pensar demais em suas palavras. — É verdade que o
meu pai me cansa um pouco com as suas cobranças, mas o que eu sentia quando entrei na
faculdade ainda permanece intacto. Sou o mesmo James, Logan, e não vou mudar.
Ele me olhou daquele jeito profundo que me lembrava do Logan que sempre foi o meu
melhor amigo. O Logan que ainda não havia se perdido em meio ao luto. Era bom ver que meu
irmão de alma estava de volta, ainda que isso o fizesse enxergar sentimentos em mim que eu
mesmo não queria ver.
— Está bem, só quero o que for melhor para você, entende isso?
— Assim como eu sempre quis o melhor para você. — Puxei-o para um abraço bem forte
e dei dois tapinhas em suas costas. — É bom te ter de volta, irmão.
Ele sabia do que eu estava falando, por isso, mesmo tentando disfarçar, pude ouvir quando
limpou a garganta antes de resmungar:
— Eu nunca mais vou embora.
Eu sabia que não. Com apoio, aquele Logan permaneceria ao nosso lado para sempre.
— Soube que aquele menino irresponsável finalmente foi expulso do time depois de ser
pego mais uma vez no exame antidoping e que um novo jogador já entrou em seu lugar. Como
ele é, James?
Meu pai, sentado à cabeceira da mesa, finalmente conseguiu inserir o futebol no meio do
nosso almoço em família. Sentada ao seu lado, minha mãe fez uma careta.
— Jonathan, por favor. Será que você não pode esperar para conversar sobre isso após o
almoço, querido?
Eu quase arregalei os olhos, mas consegui me conter a tempo. Era melhor conversarmos
sobre futebol agora. Se deixássemos para depois, meu pai me faria ir com ele para a sala de estar
e me seguraria pelo resto da tarde.
— Eu estava mesmo querendo falar sobre o novo jogador — falei antes que meu pai
pudesse responder a minha mãe. — Seu nome é Mason e foi tão bem na última temporada, que
passou à frente de Ryle, o reserva, e se tornou titular.
— É exatamente disso que o Crimson precisa! O time fez uma ótima temporada no ano
passado, mas eu não gostava daquele tal de Kevin — referiu-se ao antigo tight end. — Ele se
tornava muito lento às vezes e isso acabava atrapalhando o seu desempenho. Para jogar ao seu
lado, o jogador precisa estar no mesmo nível que o seu.
— James é o melhor jogador do mundo — disse minha avó, tocando em minha mão. Ela
sempre se sentava ao meu lado quando almoçávamos juntos. — É difícil que algum atleta chegue
ao nível dele.
— Não podemos levar a sua opinião em consideração, mãe. Para a senhora e para Louise,
James sempre será o melhor jogador do mundo — meu pai comentou com um sorriso, mas eu
entendi o que ele quis dizer nas entrelinhas.
Para ele, eu era um excelente jogador, mas não o melhor. Sempre precisava aprimorar
meus reflexos, minha agilidade em campo, minha tática para não ser pego pela defesa do time
adversário. Todos os seus elogios eram seguidos por uma repreensão.
— Lógico que sim, meu filho sempre será o melhor em tudo o que se propõe a fazer. —
Obriguei-me a sorrir para minha mãe em resposta ao seu elogio.
— Conte-me mais sobre esse novo jogador.
Passei o resto do almoço contando para o meu pai sobre Mason e sua atuação como tight
end em seu antigo time. Ele ficou animado, prevendo que formaríamos uma boa dupla em campo
e me dando conselhos como se fosse o meu treinador. Meu pai tinha aquela mania de achar que
entendia melhor sobre futebol do que qualquer outra pessoa.
Por sorte, logo a sobremesa foi servida e ele precisou se ausentar para fazer uma
videochamada com um sócio investidor que morava na Noruega. Mamãe reclamou, afinal, era
domingo e ela sempre se queixava que meu pai trabalhava demais, mas não adiantou muito — o
que eu agradeci. Pelo menos teria algum tempo livre para passar com ela e com a vovó.
Sentei-me ao lado da matriarca da família McHugh e a ajudei a encontrar uma série de
suspense na Netflix — seu gênero favorito. Assim que dei play, vovó perguntou:
— Como anda o coração, querido? — Seus olhos de águia me prenderam no lugar. — E
não ouse mentir para mim, quero saber tudo.
Eu ri baixinho ao ouvir aquela intimação. O sonho da minha avó era que eu encontrasse
uma boa mulher para me casar. Ela tinha uma lista em mente — todas netas de suas amigas mais
antigas —, mas havia um nome que sempre ocupou o primeiro lugar.
— Meu coração está em paz, vovó.
— Era para eu me sentir feliz com essa resposta?
— Depois do que Megan aprontou comigo, eu creio que sim.
Ela bufou e fechou a cara.
— Não fale no nome daquela vaca perto de mim!
Eu voltei a rir — o que provava que estava sendo sincero. Desde que Norah chamou
Megan de vaca pela primeira vez na frente da minha avó, a senhorinha nunca mais se esqueceu
do insulto. Se tornou seu apelido favorito para a minha ex.
— Desculpe-me — pedi, dando um beijo em sua mão. — Mas isso prova que eu estou
falando a verdade. Megan é passado e eu quase não penso mais nela.
Megan só voltava à minha mente quando o seu pai aparecia em algum canal de notícia na
TV, mas eu já não pensava mais em suas mentiras, na forma como me enganou ou no fato de eu
ter flagrado a sua traição. Não podia ser um mentiroso completo, o que ela fez me machucou
profundamente, mas era uma ferida que eu obriguei a cicatrizar. Não perderia um único segundo
da minha vida me martirizando por ter sido honesto com uma pessoa mesquinha como ela.
— Isso é ótimo, pois ela não merece ocupar a sua mente nem o seu coração. — Ela tocou
em meu rosto com carinho. — Mas isso também significa que você está livre para gostar de outra
pessoa.
— Não tenho tempo para isso, vovó. Esse ano eu vou me dedicar totalmente ao futebol.
— E vai se tornar um monge?
Eu a olhei com um sorrisinho sacana.
— Não preciso de uma namorada para fazer sexo, vovó.
Vovó Emory sacudiu a cabeça, como se estivesse desapontada, mas pude ver o sorrisinho
em seus lábios.
— É melhor ouvir isso do que ser surda — reclamou mesmo assim, me arrancando uma
risada. — Apesar de achar que você está sendo um idiota.
— Como é o que é? — Podia contar nos dedos de uma mão as vezes em que vovó me
chamou de idiota durante toda a minha vida.
— É isso mesmo! Tem uma menina maravilhosa vivendo sob o seu teto e fica com esse
discurso de que quer focar no futebol e ficar solteiro. — Ela revirou os olhos, contrariada. —
Espero que Norah apareça namorando alguém e que você se arrependa por tê-la perdido.
Aí estava. O primeiro nome na lista de pretendentes que vovó havia feito para mim. Ela
sempre sonhou com o momento em que Norah e eu ficaríamos juntos, mesmo eu já tendo
explicado, inúmeras vezes, que éramos apenas amigos.
— Isso deve acontecer em breve, não a parte em que eu vou me arrepender, mas a parte
em que Norah aparecerá namorando. E sabe quem vai ajudá-la a encontrar o cara ideal? —
Apontei para mim mesmo, vendo minha avó estreitar os olhos. — Eu.
Vovó Emory ficou durante longos segundos em silêncio, me olhando de forma tão
profunda quanto Logan havia feito mais cedo. Eu parei de sorrir e fiquei um pouco constrangido.
O que ela estava pensando, afinal? E por que estava me olhando daquele jeito?
— Vovó? — Estalei os dedos na frente do seu rosto, mas ela apenas voltou a sacudir a
cabeça.
— Algumas pessoas só dão valor para aquilo que possuem, quando perdem.
Eu arqueei as sobrancelhas, me segurando para não rir.
— Se está falando sobre a Norah, saiba que isso não faz o menor sentido. Eu nunca a tive,
pelo menos não dessa forma que está pensando, vovó.
— Isso é o que você pensa, mas não vou falar mais nada, você vai entender sozinho. —
Ela deu dois tapinhas em minha mão e apontou para a TV. — Volte para o início do episódio,
por favor.
Eu fiquei atônito por um tempo, antes de pegar o controle e fazer o que me pediu. Vovó
Emory sempre foi sábia e, geralmente, eu levava a sua opinião em consideração, mas, daquela
vez, ela estava enganada.
Por mais que a ideia de ver Norah com alguém me deixasse um pouco estranho, eu
superaria aquilo bem rápido, afinal, ela era como uma irmã para mim e aquilo nunca iria mudar.
Eu estava novamente no cemitério. Uma garoa fina caía enquanto eu observava a lápide da
minha mãe coberta por flores bonitas, cada uma mais colorida do que a outra. Ela amava cores
vivas e fortes, era o coração da nossa casa, nosso ponto de equilíbrio e, agora, partira e nunca
mais iria voltar.
As lágrimas desceram pelo meu rosto sem que eu pudesse contê-las. A dor em meu peito
ameaçou me sufocar. Havia tanta coisa que eu queria contar para ela! A felicidade que eu estava
sentindo por finalmente estar na faculdade, fazendo o curso que nós duas amávamos, realizando
o nosso sonho de que eu fosse atriz. Mamãe nunca me veria em um palco. Ela nunca se
emocionaria ao me ver interpretando um papel.
Não era justo que ela tivesse partido daquela forma, tão de repente. Era cruel. Eu sabia que
nenhum filho estava preparado para perder a sua mãe. Aquela era uma possibilidade que
sabíamos que existia, mas que ignorávamos. Só que agora não era mais uma possibilidade, era
uma realidade, e eu não sabia como agir.
Ergui a cabeça ao ouvir um grito doloroso, que terminou de partir o meu coração. Era
Logan, inconformado, destruído pela dor. Engoli o nó em minha garganta e passei os dedos pelas
minhas bochechas molhadas. Olhei mais uma vez para a lápide da minha mãe e toquei em seu
nome impresso na pedra branca.
— Pode ir em paz, mamãe. Eu vou cuidar de tudo por aqui. Eu te amo. Amarei a senhora
para sempre.
Afastei-me e fui até o meu irmão.
Engoli a minha dor e acolhi a dele, pois sabia que Logan precisava de carinho e apoio. O
meu luto poderia esperar.

Acordei de repente, suando e tremendo, levando segundos longos demais para entender
que eu acabara de ter aquele mesmo sonho. De novo. Em meio à penumbra, olhei atentamente ao
meu redor apenas para me certificar de que eu estava mesmo em meu quarto e não mais no
cemitério, no dia do enterro da minha mãe. Meu abajur estava ligado, minha mesa de estudos
estava no mesmo lugar, assim como a minha estante pequena com livros, e a cortina branca
esvoçava porque decidi deixar a janela aberta naquela noite.
Passei a mão pelo meu peito, tentando fazer com que meu coração voltasse a bater no
ritmo normal, enquanto respirava lentamente. Fiz yoga durante muitos anos com a minha mãe e
ainda sabia algumas técnicas de respiração, mas elas quase nunca me ajudavam em momentos
como aquele, onde minha mente se recusava a esquecer das cenas dolorosas daquele dia
traumático.
Com as pernas trêmulas, desci da cama e saí do meu quarto, encontrando a luz do corredor
acesa, o que indicava que Benjamin ainda não chegara. Eu sabia que James deveria estar
dormindo e que Logan dormiria na casa de Avalon. Decidi que não acordaria James por conta de
algo fútil como um pesadelo e desci para a cozinha.
Eu só precisava de uma boa xícara de chá, como minha mãe fazia para mim quando eu
tinha uma noite de sono ruim. Enquanto a água fervia na chaleira elétrica, eu me peguei
observando a lua pela janela da cozinha e senti um aperto ainda maior no peito. Sentia tanto a
falta da minha mãe, que às vezes era difícil respirar.
Por muitas vezes, peguei Logan me observando com certa indignação. Ele parecia se
perguntar como eu pude superar tão rápido a morte da nossa mãe, mas a verdade era que eu não
havia superado nada. Engoli a minha dor para poder cuidar dele, precisei ser forte por nós dois,
ou o perderíamos de vez. Mas em momentos como esse, onde eu me sentia completamente
sozinha, não conseguia ser tão resiliente. Principalmente porque eu sabia que minha mãe estaria
me abraçando agora, se pudesse, e repetindo que sempre estaria do meu lado.
— Norah? — A voz de James às minhas costas me fez dar um pulo de susto. Meu coração
quase saltou pela garganta conforme eu me virava para ele. — Aconteceu alguma coisa? Por que
está acordada a essa hora?
Tentei pensar em uma resposta, mas acabei perdendo a concentração ao ver tanta pele
exposta bem na minha frente. James usava apenas um short de moletom branco, que fazia um
contraste maravilhoso com a sua pele negra e caía de forma preguiçosa em sua cintura, deixando
em evidência o V pronunciado no final do seu abdômen. Senti a minha boca ficar seca
novamente e daquela vez não teve nada a ver com o meu pesadelo.
Será que eu nunca me acostumaria a ver James sem camisa?
— Norah? — Ele fechou completamente a nossa distância e eu dei um novo pulo de susto
ao ouvir a chaleira apitar. Arqueando uma sobrancelha, James olhou para a minha xícara vazia ao
lado da pia. — Está com insônia?
— Sim. — Achei melhor dar aquela resposta do que contar que sonhei novamente com o
enterro da minha mãe. — E você? Por que está acordado?
— Insônia, também. Espero que tenha esquentado água suficiente para mim.
— Acho que vai sobrar um pouco para você. — Consegui sorrir conforme ele se afastava
para pegar mais uma xícara no armário.
Coloquei o sachê de camomila na minha e na dele quando voltou com a porcelana e depois
despejei a água fumegante, sentindo o aperto em meu peito se afrouxar o suficiente para que eu
pudesse respirar sem sentir um nó em minha garganta. A presença de James sempre teve um
efeito calmante em minhas emoções.
Pegamos as nossas xícaras e fomos para a sala, onde James acendeu apenas um abajur. A
lua estava cheia e ajudou a iluminar ainda mais o ambiente, pois as cortinas estavam afastadas.
Sentamos lado a lado no sofá, mas eu me aproximei mais de James até ter o seu braço musculoso
sobre os meus ombros.
— Aconteceu alguma coisa? Você está muito quieta.
— Acho que é porque já passou das três da manhã e a minha bateria social está em cinco
por cento.
James riu e a vibração em seu peito arrepiou os pelos da minha nuca.
— Você não respondeu a minha pergunta — lembrou conforme tocava os meus cabelos.
— Chegamos juntos, esqueceu? — perguntei, pois assim como James passara a tarde na
casa dos seus pais, eu também passei a tarde com meu pai e minha avó. Foi uma coincidência
termos chegado juntos em casa. — O que pode ter acontecido desde o momento em que
desejamos boa noite um para o outro antes de cada um ir para o seu quarto?
— Não sei, você que precisa me responder.
Assoprei um pouco o meu chá e dei um gole na bebida doce e quente, sentindo parte da
minha apreensão ir embora. Então, me dei conta de que James era uma das pessoas que eu mais
confiava no mundo e que poderia me abrir com ele.
— Só estou passando por um daqueles momentos em que sinto uma falta absurda da
minha mãe. — Dei de ombros, tentando minimizar os meus sentimentos como vinha fazendo há
mais de um ano.
— Norah... — James colocou sua xícara no aparador que ficava ao lado do sofá e tocou o
meu queixo em seguida, me fazendo olhar em seus olhos bonitos e sérios. — Por que não me
chamou para ficar com você? Sabe que não precisa ficar sozinha em momentos assim.
— Sei disso, mas não queria incomodar.
— Você nunca me incomoda. — James me puxou para mais perto, me fazendo encostar a
cabeça em seu peito, e deu um beijo demorado em minha testa. — Sabe que não precisa ser forte
o tempo todo, não comigo.
— Eu sei — murmurei, lutando para não chorar conforme me afundava mais em seu peito,
sentindo o cheiro da sua pele e ouvindo as batidas fortes do seu coração.
— Sabe também que eu sempre estarei ao seu lado, não é? Em todo e qualquer momento,
Norah. — Sua voz soou baixa, mas forte, e ecoou dentro de mim. — Você é uma das poucas
pessoas por quem eu largaria tudo apenas para dar um abraço. Entende isso? — Ele tocou
novamente o meu queixo com os dedos, me fazendo olhar em seus olhos. — Eu largaria tudo,
Norah.
— Até um jogo de final de campeonato? — perguntei com uma risadinha apenas para
tentar espantar o nó em minha garganta.
— Tudo significa tudo — respondeu ele bem sério e eu mordi o lábio, nervosa e
emocionada. — Nunca duvide disso.
— Eu não duvido, pois também largaria tudo para ficar ao seu lado, James. Eu te amo.
— Eu também te amo. — Ele finalmente sorriu e deu mais um beijo em minha testa. — Te
amo como se fosse a irmã que eu nunca tive.
Algo pesou em meu peito ao ouvir aquilo, apesar de eu saber que não deveria me sentir
assim, pois era lógico que James me amava como uma irmã, assim como eu o amava.
Certo?
Certo, respondi para mim mesma, encerrando aquele assunto em meu interior.

— Ei, cara! Acorda!


Senti uma mão pesada sacodir meu ombro de um lado para o outro, mas não quis abrir os
olhos. Eu estava muito bem acomodado e abraçado a algo quente e cheiroso. Acho que murmurei
alguma coisa, mas levei uma nova sacodida, dessa vez mais urgente.
— Porra, James, acorda!
Abri apenas um olho e tudo o que enxerguei foi... Cabelo? Um mar de cachos revoltos
estava praticamente em cima da minha cara. Assustado, me sentei de repente, sentindo meu
pescoço travar em um torcicolo e a luz do dia dar um soco em minhas córneas.
— Que merda você pensa que está fazendo?
Demorei alguns segundos para conseguir me virar e olhar para um Benjamin parado na
minha frente, com as duas mãos na cintura, ainda vestido com a roupa de ontem. Pelo menos ele
estava com o cabelo úmido, o que indicava que tomou banho no lugar onde passou a noite.
— Até onde sei, eu estava dormindo... Que merda, meu pescoço tá travado — xinguei,
tentando movimentar a cabeça de um lado para o outro enquanto massageava o nó duro logo
acima do meu ombro.
— Sim, estava dormindo, só que no sofá, agarrado com a Norah!
Parei o movimento na hora e olhei para onde Benjamin estava apontando. Encontrei Norah
deitada de costas para nós dois, usando um short curto demais que deixava a polpa da sua bunda
de fora. Sem querer que Benjamin a visse tão exposta, me movi no sofá e me sentei na frente do
seu traseiro empinado.
— Não é nada disso que você está pensando — murmurei, vendo seus olhos sóbrios
demais passearem entre mim e Norah.
— Eu não estou pensando nada.
— É claro que está! — Bufei, cruzando os braços. — Norah estava com insônia, então fez
um chá para nós dois e acabamos pegando no sono aqui no sofá. Foi só isso.
Benjamin viu as xícaras e pegou uma delas, cheirando o que havia restado da bebida que
Norah preparou para nós dois. Um sorriso idiota nasceu em seus lábios.
— Que bom que Norah te deu apenas um chá de camomila. Se fosse um chá de boceta,
você estaria fodido.
— Alguém já mandou você ir se foder hoje, idiota?
— Passei a madrugada fodendo, então, tecnicamente, sim. — Ele continuou a rir e se
afastou quando ameacei jogar o controle da TV em sua cabeça. — Ok, estou apenas brincando,
sei que você não tocaria em Norah desse jeito. Já o Logan, te daria um soco antes e perguntaria
depois. Sorte a sua ter sido flagrado por mim, aceito um beijinho como agradecimento por eu ter
te acordado antes que o Logan chegasse.
— Um beijinho? — Eu sorri, arqueando uma sobrancelha. — Sempre soube que você
sentia tesão por mim, Ben.
Ele fez uma careta de desgosto.
— Pensando bem, vou pedir o beijo para Norah, afinal, salvei a pele dela também.
Fechei a cara ao pensar naquela merda, apesar de ser comum que Norah e Benjamin
trocassem um pouco de carinho.
— Sai logo daqui, precisa de um banho, o perfume doce da garota com quem ficou ainda
está impregnado em você.
— E desde quando eu cheiro a outra coisa que não seja uma garota?
O babaca se afastou com um sorriso e eu revirei os olhos antes de me virar para acordar
Norah. Apesar de estar com um bom humor irritante, Benjamin realmente salvou a nossa pele.
Logan me comeria vivo se flagrasse Norah e eu dormindo de conchinha. Levei alguns segundos
para despertar a dorminhoca e fiquei satisfeito quando recebi o seu sorriso assim que abriu os
olhos.
— Não me diga que dormimos no sofá — murmurou ela escondendo o rosto entre as
mãos.
— Sim, dormimos, e agora eu preciso de uma massagem, pois estou com o pescoço
travado.
Ela voltou a me olhar ainda sorrindo. Estava aliviado por ser um sorriso verdadeiro. Eu
sabia como Norah lutava para ser forte, como era independente e odiava incomodar os outros,
por isso, sempre ficava atento a ela. Fiquei feliz por ter a ouvido sair do quarto de madrugada e
por ela ter me permitido ficar ao seu lado enquanto se permitia sentir a dor de ter perdido a mãe.
— Parece que o massagista do time vai trabalhar hoje.
— O massagista do time? Até onde sei, temos um trato, onde você precisa fazer tudo o que
eu pedir.
— Nada disso. — Ela se sentou no sofá rapidamente, fazendo um coque nos cabelos
longos e cacheados. Por fim, se levantou e parou na minha frente com os braços cruzados. —
Você ainda não fez nada do que pedi.
— Descobri algumas informações sobre Mason — falei, me recostando no sofá e
colocando as mãos atrás da cabeça.
Senti Norah olhar para o meu peitoral e descer até a minha cintura rapidamente, o que me
fez agradecer por não estar com uma ereção matinal — e encheu o meu ego, pois ela pareceu
gostar muito do que viu.
— Que informações? — perguntou segundos depois, voltando a me olhar nos olhos após
passar a língua pelos lábios.
Porra. Eu não deveria sentir um arrepio ao ver Norah fazendo aquilo.
— Me faz uma massagem e eu conto tudo para você.
— Vamos nos atrasar para a aula.
— Ainda temos tempo. — Na realidade, eu nem sabia que horas eram, só queria perturbá-
la e sentir aquelas mãos macias em meus ombros. — Mas se você ficar parada no meio da sala,
realmente vamos chegar atrasados.
Ela estreitou os olhos para mim, o que me divertiu, antes de dar a volta e parar atrás do
sofá. Eu me acomodei melhor e soltei um gemido de dor quando a filha da mãe deu um apertão
em meu pescoço, bem no local onde estava dolorido.
— Espero que essas informações sejam boas, James McHugh, ou vou te deixar com mais
dor.
— É isso que recebo depois de ter passado a noite com você nesse sofá apertado?
— Passar a noite comigo foi um privilégio. — Eu pude sentir o sorriso em sua voz e
precisei me segurar para não concordar em voz alta. — Agora, comece a falar.
Fiz como me pediu, pensando mais uma vez que, se Mason realmente conquistasse Norah,
eu nunca mais dormiria com ela em meus braços.
Perderia aquele privilégio, mesmo sendo o seu melhor amigo.
Logan não mentira durante a nossa conversa no café da manhã do dia anterior.
A fotografia era mesmo uma das minhas maiores paixões.
A lembrança mais antiga que eu tinha, era de um James ainda moleque, entre quatro e
cinco anos, mexendo com curiosidade na câmera fotográfica antiga que minha avó guardava no
antigo escritório do meu avô, quando ainda morava na mansão onde viveram por mais de
quarenta anos. Não cheguei a conhecer o meu avô, pois ele faleceu quando meu pai ainda era um
jovem adulto, mas vovó Emory adorava me contar histórias sobre ele.
A que eu mais adorava escutar quando criança, era o fato de meu avô ser um entusiasta da
fotografia. Ele era realmente um curioso e amava aquela arte, tinha inúmeros livros sobre o tema
— que eu devorei quando ainda era um adolescente —, uma coleção rara de fotografias
renomadas e quase trinta modelos de câmeras e lentes diferentes, além de uma câmara escura,
onde passava horas revelando as fotos que tirava em viagens, da família, até mesmo das
construções dos primeiros navios cargueiros da nossa empresa.
Meu pai nunca entendeu o fascínio do meu avô pela fotografia, assim como não entendia a
minha paixão, mas não pareceu preocupado quando revelei que era sobre isso que eu queria
estudar na faculdade. Ele não era como o pai de Logan, seu sonho não era me ver no seu lugar na
nossa empresa quando quisesse se aposentar — para isso, Christopher, meu primo de segundo
grau, filho do irmão do meu avô, havia se formado e já estava trabalhando ao seu lado —, mas,
sim, me ver brilhando em campo. Na sua cabeça, a fotografia não era uma preocupação.
E realmente não deveria ser, pois eu jamais desistiria do futebol. Nunca. A conversa breve
que tive com Logan não me deixou nem um pouco confuso ou com receio da decisão que eu
havia tomado quando ainda era um moleque.
Então, por que sua voz continuava a se repetir em minha cabeça enquanto o professor de
Fotografia Editorial explicava sobre como seria o projeto daquele semestre?
— Para esse projeto, vocês se dividirão em grupos. Metade da nota será individual e a
outra metade será coletiva. Cada grupo vai ficar responsável por um estilo diferente de editorial,
entre eles moda, gastronomia e arquitetura, e terão que trabalhar em conjunto para que seus
ensaios fotográficos individuais conversem entre si na hora da apresentação do projeto. Um
exemplo, o grupo X com quatro alunos ficou responsável pelo editorial de gastronomia. Cada
aluno fará um ensaio fotográfico diferente, ficando assim responsável por sua nota individual,
mas esse ensaio precisa ficar harmonioso em conjunto, para que assim seja avaliado a nota do
trabalho em grupo. Alguma dúvida?
Uma aluna levantou a mão, mas eu estava ocupado demais me livrando das palavras de
Logan e anotando as regras do projeto em meu iPad para poder prestar atenção. Achei o trabalho
interessante e gostei ainda mais quando o professor permitiu que formássemos o grupo com
quatro integrantes. Ele sortearia apenas o tema. Logo me aproximei de Louis, Matthew e Tessa,
amigos de curso com quem eu já havia feito algumas matérias anteriormente, e formamos o
nosso grupo.
Fomos sorteados para fazer um editorial de moda e ficou a nosso critério qual estilo
seguir. Eu senti uma dose de adrenalina correr pelo meu sangue, coisa que não acontecia desde a
final da última temporada, onde eu sabia que não poderia falhar de forma alguma. A diferença,
era que a pressão de saber que eu estava sendo assistido de perto pelo meu pai, que não perdia
um único jogo, não me permitiu aproveitar completamente o momento. Aquilo não acontecia
quando eu estava envolvido com a fotografia.
Aquele era um momento só meu, onde eu podia ser livre e criativo, tendo a certeza de que
não haveria a sombra do meu pai ditando suas regras ou exigindo que eu melhorasse, sempre me
dizendo que eu não estava dando o meu máximo.
— Parece que você gostou bastante desse projeto — disse Tessa conforme saíamos da sala
no final da aula.
— Ficou tão nítido assim? — perguntei com um sorriso.
— Ficou. Sempre fico impressionada com o fato de você ter dois talentos tão diferentes.
— Ela parou em frente ao seu armário e me encarou com um sorriso sacana. — Deve deixar um
rastro de calcinhas por aí.
— Não fique com inveja, tenho certeza de que você faz mais sucesso com as mulheres do
que eu.
Tessa era lésbica assumida e, quando nos conhecemos, namorava uma menina chamada
Daisy. Por algum motivo, o relacionamento não deu certo e agora Tessa estava na sua fase
“pegadora”, como gostava de intitular. E ela realmente fazia muito sucesso entre as garotas. Toda
festa em que nos encontrávamos, ela estava com uma menina diferente a tiracolo.
— Elas se apaixonam rápido porque gostam de ser fotografadas por mim, você sabe que
eu tenho um olho muito bom.
— Sim, eu sei. Tem uma lábia melhor ainda, aparentemente.
Tessa riu e fechou o armário após pegar o material para a próxima aula. Eu já estava livre
e tinha um tempo antes de ir para a academia do centro de treinamento, onde o preparador físico
do time nos aguardava.
— Lábia não, charme. — Ela piscou para mim. — Vou ver se um dos meus contatos
aceita posar para mim. Se não der certo, vou conversar com algumas alunas do curso de Artes
Cênicas.
— Artes Cênicas? Por quê?
— Porque elas são mais desinibidas e não têm medo das câmeras, pelo contrário, se
sentem bem ao serem fotografadas e filmadas. Pelo menos, foi o que disse uma das alunas com
quem fiquei no semestre passado. — Tessa deu de ombros e percebi que ela tinha razão. —
Norah Miller estuda Artes Cênicas, não é?
— Sim.
— Então, talvez ela aceite ser fotografada por mim. — A danada sorriu. — Será que ela
não é bi?
— Não, ela não é bi, e pode tirar essa ideia da cabeça. Norah não será fotografada por
você.
— Por que não?
Olhei para Tessa e tomei uma decisão rápida e inocente que, naquele momento, eu nem
imaginava que mudaria toda a minha vida.
— Porque Norah será fotografada por mim.

Tom Ward, preparador físico do nosso time, era um sádico até mesmo quando não
estávamos na temporada de jogos. Terminei o treino sentindo cada músculo tremer e o suor
escorrer por todo o meu corpo. Ofegante, aceitei um isotônico que foi jogado em minha direção
sem nem ver quem havia me oferecido a bebida.
— Bom saber que eu não sou o único a estar morto — murmurou Mason ao meu lado de
forma ofegante conforme dava um gole em sua própria bebida.
Eu forcei um sorriso, sem entender direito o porquê de ainda sentir uma certa animosidade
pelo cara, apesar de ele ser gente boa e parecer querer firmar laços comigo.
— Prepare-se, Tom não costuma dar colher de chá para gente e quando chegar perto da
temporada, os treinos ficarão mais rígidos.
— Mais? Ele quer que estejamos preparados para jogar ou morrer em campo? — brincou,
me arrancando uma risada sincera.
Ele era mesmo gente boa. O cara perfeito para Norah.
— Sempre fico com essa dúvida. — Bebi pelo menos metade do meu isotônico antes de
voltar a falar. — Mas você está se saindo muito bem, Mason, e, pelo que percebi, é um dos
poucos jogadores que não está de ressaca.
Infelizmente, eu não podia colocar Benjamin naquele pacote. Apesar de ter acreditado que
ele estava sóbrio quando me acordou no sofá naquela manhã, logo percebi que o babaca estava
fingindo muito bem. Ele era tão comprometido quanto Logan e eu, mas às vezes extrapolava na
bebida — não tanto quanto Logan em sua pior fase, mas ainda exagerava.
— Não gosto de beber muito em dia de domingo e quando estamos em temporada, não
bebo em qualquer dia da semana.
Arqueei uma sobrancelha, surpreso pra caramba.
— É sério?
— Sim. Eu realmente amo o futebol e não faria nada para prejudicar o time ou a minha
produtividade em campo. Minha mãe diz que sou certinho demais, mas é o meu jeito. — Ele
sorriu e eu vi Logan em seus olhos, pois meu amigo era exatamente assim antes de tudo
acontecer e agora estava voltando a ser o cara focado de sempre.
Porra, ele gostaria muito de ter Mason como cunhado, eu tinha certeza. Ficaria com raiva
de mim por ter agido pelas suas costas para que Mason se aproximasse de Norah? Sim, mas
depois iria me agradecer. Voltei a sorrir e ignorei o aperto em meu peito, que sempre me
incomodava quando eu pensava em Norah junto com o tight end.
— Então, imagino que fica afastado até mesmo das garotas quando a temporada começa?
Ou fica com as meninas para se distrair? — sondei, querendo saber como ele agia com as
mulheres.
Alguns jogadores, quando a temporada de futebol começava, adoravam usar as meninas
como escape para o estresse, adrenalina ou frustração. Se Mason fosse desse tipo, era melhor que
eu soubesse logo.
— Não me afasto nem as uso como distração. Não sou do tipo que se aproveita das
garotas, gosto de curtir o momento. Na minha primeira temporada, eu estava namorando e
consegui conciliar tudo muito bem.
Os meninos do time começaram a sair da academia para ir para o vestiário, mas nós
permanecemos no mesmo lugar, perto da saída do ar-condicionado.
— Muito bom saber disso.
Mason me encarou com os olhos levemente estreitos e soltou uma risada.
— Você está me interrogando e só agora me dei conta disso? Não acredito. — Balançou a
cabeça com bom humor.
— Talvez eu esteja, mas é por uma boa razão.
— E que razão seria essa?
Olhei à nossa volta, percebendo que Logan não estava mais ali e decidi ser direto:
— Percebi que você está interessado na Norah e queria saber se você era digno dela ou
não.
— Digno dela? Voltamos ao século retrasado e não fiquei sabendo?
— Norah é importante para mim e eu não deixaria você se aproximar se fosse um babaca.
Mason pareceu surpreso com a forma como fui direto, mas logo relaxou.
— Fica tranquilo, não sou idiota. Mas confesso que eu esperava esse tipo de atitude vindo
do Logan e não de você.
— Logan nunca teria uma conversa assim com você, ele protege muito a Norah.
— E você também, pelo visto. — Ele jogou a garrafa vazia no lixo e voltou a me encarar.
— Agora que já sabe que não sou um idiota, vai deixar eu me aproximar dela?
— Depende. Qual é a sua intenção com ela?
— Não posso falar que quero me casar e ter filhos com Norah, mas quero conhecê-la
melhor, talvez convidá-la para sair comigo qualquer dia desses. Eu realmente gostei dela no
pouco tempo em que conversamos.
— Claro que gostou, eu ficaria surpreso se dissesse que não — falei, porque era verdade.
Só um imbecil não se encantaria por Norah. — Pode se aproximar dela, não vou atrapalhar, mas
seja discreto no início, ou Logan vai querer cortar as suas bolas. Entendeu?
— Entendi. — Mason riu e concordou com a cabeça. — Obrigado por ter me dado um
voto de confiança, James. — Ele deu um tapinha em meu ombro. — Pode ter certeza de que não
irei desperdiçar.
Eu apenas concordei em silêncio e vi Mason deixar a academia sem saber ao certo o que
eu estava sentindo. Parte de mim estava satisfeita por ter a certeza de que eu abrira caminho para
que um cara bacana se aproximasse de Norah, mas a outra parte parecia irritada justamente por
eu ter dado espaço para que isso acontecesse.
Decidi deixar tudo aquilo de lado e fui para o vestiário. Um banho frio com certeza faria a
minha mente voltar para o seu estado normal e tiraria qualquer aperto do meu peito. Após a
chuveirada, enrolei uma toalha na cintura e fui direto para o meu armário pegar a roupa limpa
dentro da minha mochila. O vestiário estava praticamente vazio, mas logo senti uma presença ao
meu lado.
— O que você e Mason tanto conversavam na academia? — Benjamin perguntou, curioso
como sempre.
— Nada de mais, estava apenas alertando-o sobre como o treino físico vai piorar quando a
temporada começar. — Bati o armário, vendo os olhos estreitos de Ben sobre mim. — O que foi?
— Posso ser meio desligado às vezes, mas não sou burro nem cego, também não estou
apaixonado como Logan e percebo as situações à minha volta. Mason tá a fim da Norah, não
está?
Fiquei surpreso por Benjamin ter percebido aquilo. Ele realmente era o mais desligado
entre nós três e demorava para notar aquilo que estava bem debaixo do seu nariz.
— Ele quer conhecê-la melhor.
— E você estava o interrogando por conta disso — concluiu.
— É claro. Não vou deixar que um babaca se aproxime de Norah, preciso saber se ele vale
a pena ou não.
— E chegou a alguma conclusão?
— Mason parece ser um cara legal e tranquilo — falei enquanto começava a me vestir. —
É gente boa, responsável e não parece ser mulherengo. Pesquisei sobre a vida dele e não
encontrei nenhum escândalo que envolvesse mulheres. Na minha opinião, não há problema ele se
aproximar de Norah.
Benjamin concordou de leve com a cabeça, pensativo. Terminei de me vestir, tentando
adivinhar o que estava passando pela cabeça dele.
— É, também não soube nada de ruim sobre Mason e ele parece mesmo ser alguém
bacana. Quando vai contar para Logan que ele está a fim da Norah?
— Então... Eu não vou contar.
Benjamin arqueou as sobrancelhas.
— Como assim?
— Logan sufoca a Norah quando o assunto é namoro, Ben. Ela merece conhecer alguém
sem ter a sombra do irmão a perseguindo.
— E por isso você vai mentir para Logan?
— Mentir não, omitir — falei conforme saía do vestiário ao seu lado. — Logan não
precisa saber que Mason está querendo se aproximar da Norah, ele pode descobrir quando os
dois estiverem se envolvendo. Isso se realmente rolar algo entre eles.
— Cara, tem noção de que isso pode dar merda? Logan não vai gostar nada quando
descobrir que você não só sabia sobre Mason e Norah estarem juntos, como se prestou a fazer o
papel de cupido.
— Não estou realmente fazendo o papel de cupido. — Benjamin me deu um olhar
condescendente e eu engoli em seco. — Ok, talvez eu esteja fazendo isso, mas Norah pediu a
minha ajuda e eu não vou voltar atrás. Ela passou o último ano vivendo em função do Logan,
cuidando dele, mal olhando para si mesma. Norah merece curtir agora, conhecer um cara legal,
se apaixonar. Ela tem vinte anos, Ben, está na faculdade. Vai ficar se anulando por conta do
Logan até quando?
Benjamin voltou a ficar em silêncio e percebi que estava ponderando as minhas palavras.
Eu sabia que estava errado em esconder qualquer coisa do meu melhor amigo, mas era por um
bem maior. Eu não o estava traindo, estava apenas cuidando da sua irmã. No final, Logan iria me
agradecer — depois que a sua raiva passasse.
— Você tem razão — Ben resmungou. — Mas me deixa fora disso, ok? Quando a bomba
estourar, eu vou fingir que não sabia de nada. E se Logan quiser te dar um soco, eu vou deixar.
Eu pude sentir a brincadeira no seu tom de voz e comecei a rir.
— Se ele conseguir me acertar um soco, eu vou falar que você foi o meu cúmplice.
— Seu babaca! — Ele deu um a cotovelada de leve em meu braço conforme ria. — Quero
só ver como você vai ficar quando Norah estiver namorando e não permitir mais que você durma
de conchinha com ela.
— O que você viu hoje de manhã foram dois amigos dormindo de forma inocente.
— Forma inocente, sei — resmungou de novo, me olhando de lado. — Nunca dormi de
conchinha com uma garota de forma inocente.
— Porque você é um tarado idiota que só pensa com o pau. — Sacodi seu cabelo,
ouvindo-o me xingar. — Um dia, uma mulher vai te pegar de jeito e te deixar de quatro,
Benjamin. Escuta o que estou te dizendo.
— Às vezes eu fico me perguntando se você é mesmo meu amigo ou um inimigo
disfarçado, porque só um inimigo desejaria algo tão terrível para mim.
Eu comecei a rir, vendo-o me encarar com resignação conforme saíamos do centro de
treinamento. Pensei que encontraríamos o campo vazio, mas me surpreendi ao ver Logan
acompanhado por Avalon e Aubrey. As líderes de torcida estavam reunidas por ali,
provavelmente já pensando na coreografia da próxima temporada. Nos aproximamos dos três e
vi os olhos da irmã mais nova de Valente praticamente brilhando.
— Aubrey, o que está fazendo por aqui? — perguntei a abraçando rapidamente.
— Estou só fazendo uma visita e pensando no meu futuro.
— No seu futuro, princesa? Como assim? — Foi a vez de Benjamin abraçá-la conforme eu
cumprimentava Avalon.
Era incrível como as duas eram parecidas fisicamente, mas diferentes até mesmo nos
trejeitos. Aubrey deu um sorriso sorrateiro para Benjamin.
— Sim, meu futuro, porque quando eu entrar para a faculdade, vou virar líder de torcida!
Logan sacudiu a cabeça, preocupado, e Avalon riu.
— Aubrey não fala sobre outra coisa desde o último jogo de vocês. Ela ficou apaixonada
pela apresentação das líderes de torcida.
— O que é péssimo — Logan resmungou. — Eu não estarei mais na faculdade quando
você entrar, Aub. Quem vai te proteger dos idiotas que adoram cercar as líderes de torcida?
— Logan, eu te amo, você sabe disso, mas dou graças a Deus por você já ter se formado
quando eu estiver na faculdade, porque não quero sofrer como a Norah sofre.
— O quê? A Norah não sofre nada!
— Isso é relativo — Avalon comentou com um sorriso.
— Eu a protejo, só isso!
— Concordo com o Logan — disse Ben, abraçando Aubrey pelos ombros. — Quem vai
proteger você, princesa? Eu conheço os homens, todos eles são canalhas.
— Inclusive você? — perguntou ela com uma sobrancelha arqueada.
— Principalmente eu. — Benjamin sorriu.
— Ben é um idiota, não acredite nele, Aubrey. Eu não sou canalha — falei e apontei para
Logan. — Esse chato também não é.
— Mas Benjamin é mesmo um canalha — disse Logan conforme sorria. — Quer saber?
Não vou ficar sofrendo por antecedência. Você só tem quatorze anos, até entrar para a faculdade,
já vai ter se esquecido dessa história de virar líder de torcida.
— Eu não vou me esquecer. Vou ser uma líder de torcida, pode ter certeza.
Avalon apenas sorriu e Logan soltou um suspiro de pesar. Eu ri baixinho. Meu amigo
estava bem longe de encontrar a paz que tanto queria. Aubrey daria trabalho para ele, com
certeza.
Minha mãe amava música clássica e me colocou em aulas de piano antes mesmo que eu
sonhasse em ser atriz de musical. Meu professor, um francês chamado Pierre, ia duas vezes por
semana em nossa casa me dar aulas sobre o instrumento e eu acabei me apaixonando também.
Adorava tocar para minha mãe e ver o sorriso em seu rosto, mas o que realmente me enchia de
alegria, era cantar enquanto tocava. Apesar de querer ser atriz, quando menor, eu era tímida, mas
sempre cantava e tocava em datas especiais como Natal, aniversário dos meus pais e da minha
avó. Era um momento gostoso que passávamos em família.
Depois que minha mãe faleceu, fiquei meses sem chegar perto de um piano. O instrumento
belíssimo parecia me encarar sempre que eu ia para casa do meu pai e me deixava angustiada,
com o peito apertado com a saudade. Eu ainda me sentia assim, mas vinha sonhando
constantemente com a minha mãe e com o seu enterro. Sentia uma falta absurda dela e parecia
que apenas a música e o palco aplacavam um pouco aquela sensação. Por isso, no final da aula
de sexta-feira, fui direto para a sala de música, encontrando o lugar vazio, e me sentei em frente
ao piano de cauda.
Minhas mãos tremeram conforme meus dedos passavam por cima das teclas brancas e
lisas. Eu quase podia sentir a presença da minha mãe, seu sorriso bonito e os seus olhos
emocionados. Meu coração ficou ainda mais apertado. Eu queria apenas olhar para ela uma
última vez. Em meus sonhos, eu nunca a via, apenas tinha a sensação de que ela estava por perto
nas raras vezes em que não sonhava que eu estava no cemitério. Daria tudo para sentir ao menos
o seu cheiro ou ouvir o som da sua voz.
Comecei a tocar as primeiras notas de I Say A Little Prayer, de Areta Franklin, quase que
de forma automática. Logo entendi que tocar aquela música era uma necessidade da minha alma,
uma forma de colocar para fora o que eu estava sentindo. Aquela era a canção favorita da minha
mãe e comecei a cantar baixinho, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas.
Eu sabia que estava na sala de música da faculdade e que qualquer pessoa poderia entrar,
mas não me importei. De olhos fechados, cantando e tocando, eu só conseguia ver a minha mãe e
o seu sorriso, e o meu peito foi, aos poucos, afrouxando aquele nó desesperador.
Quando cheguei no refrão, não pude mais segurar as minhas lágrimas. Aquela música
sempre foi especial para mim porque ela era especial para minha mãe, mas sua letra falou muito
comigo naquele momento. A estrofe em que dizia nós nunca iríamos nos separar. Eu acreditava
fielmente nisso. Ainda que sentisse saudade e revolta pela sua morte repentina, eu sabia que
nada, nem mesmo a distância física, me afastaria da minha mãe. Ficaríamos juntas para sempre.
Abri meus olhos assim que terminei de tocar a última estrofe, sentindo minhas bochechas
molhadas e a respiração levemente ofegante. Encarei o dia lá fora pela janela, o céu azul e sem
nuvens, com o sol brilhando, apesar do frio porque estávamos no inverno. Torci para que minha
mãe tivesse conseguido me ouvir e que estivesse feliz por eu finalmente ter conseguido voltar a
tocar o seu instrumento favorito. O barulho de palmas me fez dar um pulo no banco acolchoado e
me virar para trás.
— Você é extraordinária.
Foi Mason quem disse. Ele estava parado perto da porta fechada, ainda batendo palmas.
Começou a se aproximar de mim com um sorriso bonito no rosto e eu senti minhas bochechas
ficarem quentes conforme limpava rapidamente as minhas lágrimas.
— Meu Deus, eu nem te ouvi entrar. Está aqui há muito tempo?
— O suficiente para ouvir a voz mais bonita do mundo. — Mason parou ao lado do piano
ainda sorrindo. — Sinto muito se estou parecendo um intrometido. Eu vi você entrando na sala
de música e não consegui me conter, precisei vir atrás de você.
Por um momento, eu não soube o que dizer. Aquele era, sim, um momento íntimo, mas
como poderia culpá-lo por ter assistido? A sala de música da faculdade era um espaço livre,
qualquer aluno poderia frequentar e usar os instrumentos. Se não fosse Mason a me assistir,
poderia ter sido outra pessoa. Talvez fosse melhor que tivesse sido ele.
— Está tudo bem. — Sorri para ele, me sentindo tímida. Uma boba que não sabia como se
comportar na frente de um cara bonito. — E obrigada pelos elogios. Estou meio enferrujada no
piano, sei que preciso melhorar.
— Eu não acho. Não sou nenhum profissional, mas meu pai ama música clássica e já me
obrigou a ir com ele a alguns concertos, portanto, posso dizer que tenho um bom ouvido. Você
toca muito bem, Norah.
Eu desviei o olhar, sentindo minhas bochechas mais quentes ainda. Mason gostara. Eu não
sabia ao certo como reagir àquilo.
— Você era obrigado a ir? Não gostava de concertos musicais? — perguntei, me
obrigando a desviar o foco sobre mim.
— Não posso dizer que sou um grande fã de música erudita e, quando mais novo, achava
um pouco chato, mas ia para agradar meu pai. Hoje, eu sou mais eclético, e até escuto solo de
piano quando preciso relaxar.
— E dá certo?
— Geralmente, sim. Fico muito tenso quando nos aproximamos do início da temporada e
utilizo qualquer meio que consiga me relaxar.
— E o que te ajuda a relaxar sem ser solo de piano?
Mason ficou um tempinho em silêncio, parecendo pensar.
— Exercícios físicos, assistir um filme, passar um tempo com os meus amigos... — Ele
me olhou e abriu um novo sorriso. — Conversar com garotas bonitas na sala de música da
faculdade.
Ouvir aquilo me arrancou uma risada.
— Não estamos perto da temporada de futebol.
— Sim, você tem razão, mas eu estou tenso de qualquer forma.
— Está? Por quê?
— Porque quero te chamar para sair e estou com medo de levar um fora.
Eu abri e fechei a boca duas vezes, sendo pega completamente de surpresa. Se havia
qualquer dúvida de que Mason estava flertando comigo, agora, não restava mais nada. Era real.
Ele queria sair comigo. E eu não sabia direito como reagir.
— E o meu irmão? — Foi a primeira coisa que saiu da minha boca e eu senti vontade de
me dar um tapa.
Como eu era idiota! Vivia reclamando que Logan me mantinha longe dos garotos da
faculdade e quando um demonstrava interesse em sair comigo, era no nome do meu irmão que eu
tocava? Fala sério, Norah!
— O que tem o seu irmão?
— Nada. Quer dizer... Você sabe que ele tem uma fama.
— De colocar medo nos caras? — Eu apenas concordei com a cabeça e Mason me deu um
sorriso confiante. — Isso não funciona comigo. E pode perguntar ao James, nós tivemos uma
conversa séria no início da semana e eu deixei bem claro que não sou um babaca.
— Vocês conversaram?
— Sim, James se preocupa com você, acho que te vê como uma irmã mais nova. — Eu
engoli em seco ao ouvir aquilo e fiquei me perguntando por que James não me contara nada
sobre a conversa que teve com Mason. — Você é linda, Norah, e não consigo parar de pensar em
você desde a festa da vitória do Crimson, quando pensei que estava fumando maconha no
banheiro.
— Eu não estava fumando — lembrei a ele com um sorriso.
— Sim, eu não me esqueci disso. — Mason riu. — Quero te conhecer melhor. Aceita sair
comigo hoje à noite? Podemos jantar ou pegar um cinema. Você escolhe.
Eu respirei fundo, sentindo um frio imenso na barriga de ansiedade e expectativa. Já tinha
ido a alguns encontros quando ainda estava no ensino médio, mas todos foram bobos, coisa de
adolescente. Aquela era a primeira vez que eu sairia com um homem de verdade e, por mais que
quisesse muito ter essa experiência, estava com medo. E se eu não soubesse me comportar? E se
Mason pensasse que eu era uma boba? Mordi o lábio, me sentindo insegura. Senti vontade de
sair correndo e conversar com James, pedir o seu conselho, mas não faria isso.
Eu era adulta agora e precisava agir como tal.
— Sim, eu aceito sair com você, Mason.
A primeira coisa que fiz quando cheguei em casa, foi me jogar na cama e gritar contra o
travesseiro, surtando de ansiedade. Eu queria tanto viver aquela experiência, sair com um homem
de verdade pela primeira vez após entrar na faculdade, mas agora estava me sentindo insegura,
como se estivesse andando em uma corda bamba.
Estava mesmo preparada para aquilo? Talvez fosse melhor cancelar o encontro. Mason e
eu trocamos número de celular, eu podia inventar uma desculpa. Ergui a cabeça do travesseiro,
me sentindo confusa, e olhei para o aparelho ao meu lado. Tomei um susto quando a tela se
acendeu com uma notificação de mensagem. Meu coração ameaçou escapar da minha boca
quando pensei que fosse Mason, mas me acalmei ao ver que era uma mensagem de Alicia.
Peguei o celular e comecei a ler.

Alicia: Oi, amiga! Queria ter falado com você mais cedo na aula, mas precisei
conversar com o professor e não consegui te encontrar quando deixei a sala. Queria saber
se você pode me passar o número do James.

Eu li e reli a mensagem de Alicia, sem saber ao certo o que estava sentindo. Um bolo se
alojou em meu estômago e eu quase revirei os olhos para mim mesma, incomodada com aquele
ciúme fora de hora. Sabia que Alicia estava interessada em James, ela deixou isso bem claro
quando estávamos no Maeve’s Bar e, por mais que James tivesse afirmado que não era para ela
que ele estava olhando, eu sabia que ele não dispensaria o contato de uma mulher bonita.
James poderia não ser um mulherengo como Benjamin, mas era homem e Alicia era muito
bonita. Tinha certeza de que ele adoraria conhecê-la melhor.
Duas batidas na porta do meu quarto me fizeram deixar o celular de lado sobre a cama.
Como se soubesse que era o dono dos meus pensamentos, James abriu a porta e me deu um
sorriso.
— Posso entrar?
— Não. — Revirei os olhos e ele riu. — É claro que pode.
James entrou e fechou a porta atrás de si. Estava muito bonito com um jeans preto e
camisa cinza de meia-manga. Não calçava nada nos pés e quase o xinguei por até mesmo os
dedos dos seus pés serem bonitos.
— Lançou um jogo hoje de manhã, de zumbis com muito sangue e tiro, do jeito que a
gente gosta. Vamos jogar hoje à noite? — perguntou, jogando-se em minha cama.
— Mason me chamou para sair — falei de repente, talvez rápido demais.
James arregalou levemente os olhos e se sentou de frente para mim. Seu sorriso pareceu
vacilar um pouco, mas talvez tenha sido somente uma impressão minha.
— É mesmo? Quando?
— Hoje. Ele disse que podemos ir ao cinema ou jantar, mas que ficaria à minha escolha.
— E o que você escolheu?
— Nada! — Joguei minha cabeça para trás e escondi meu rosto com as duas mãos. — Eu
nem sei se devo ir a esse encontro!
— Como assim? — Senti James se aproximar e tocar gentilmente em meus pulsos, tirando
minhas mãos da frente do meu rosto. — Norah, não era isso que você queria? Sair com Mason e
o conhecer melhor?
— Sim.
— Então, por que está agindo desse jeito? Não deveria estar feliz?
Sim, eu deveria.
Na verdade, uma parte de mim estava feliz, mas ela era pequena. A insegurança e
ansiedade a sufocavam.
— Estou com medo — confidenciei baixinho.
— Medo de quê? — Não havia julgamento nos olhos de James. Como sempre, ele me
encarava com compreensão e carinho.
— De Mason achar que eu sou uma idiota. Não tenho experiência com esse tipo de coisa,
acho que estou cometendo um erro ao tentar conhecer alguém. — Respirei fundo, me obrigando
a ficar calma. — É isso, estou cometendo um erro. Vou mandar uma mensagem para ele e
desmarcar tudo.
Peguei o celular ao meu lado, mas James segurou a minha mão antes que eu pudesse
desbloquear o aparelho.
— Norah, você não está cometendo um erro, pelo contrário. Está sendo corajosa. Se sentir
insegura é normal, até eu me sinto inseguro quando estou prestes a conhecer uma garota.
— Você é um péssimo mentiroso, James McHugh!
— Não estou mentindo. — James sorriu, mas havia seriedade em seus olhos. — Você sabe
que eu seria o primeiro a te desencorajar se acreditasse que estaria prestes a se meter em
encrenca. Sou seu melhor amigo, sempre vou priorizar o seu bem, mesmo que isso te irrite às
vezes. — Ele riu. — Mas Mason parece mesmo ser um cara legal. Nós conversamos dias atrás...
— Uma conversa que você nem me disse que teve com ele — salientei, vendo seu olhar
meio culpado.
— Sim, eu sei disso, mas não falei nada porque eu já tinha conversado com você antes e
afirmado que Mason não era um babaca. Ele apenas me disse isso quando conversamos, o que
me leva a acreditar que ele é mesmo um cara legal, digno de sair com uma garota incrível como
você.
Eu sacodi a cabeça, me sentindo ainda insegura e um pouco tímida.
— Você fala como se eu fosse a garota mais especial do mundo.
— Mas você é. — James disse com tanta certeza, que eu quase perdi o fôlego. Ele limpou
a garganta e continuou: — E merece começar a viver. Merece conhecer alguém e se apaixonar.
Sei que quer isso, que quer viver um relacionamento. Não deixe que a sua insegurança atrapalhe
a sua coragem.
— E se eu não souber o que conversar com ele? Só fui a encontros quando era
adolescente, é tudo diferente agora.
— Você é uma garota inteligente e bem-humorada, é claro que vai saber o que conversar
com ele. Mason que deveria estar com medo, ele não faz ideia de que está prestes a levar para
sair a garota mais incrível do mundo, com uma língua afiada e sanguinária quando o assunto é
jogo de videogame.
Eu ri, sentindo parte da minha tensão ir embora, meu coração se acalmando no peito.
James era o único que conseguia me deixar daquele jeito.
— Tudo bem, você me convenceu. Não vou desmarcar o encontro.
— Ótimo! — James tirou o celular da minha mão. — Vai ser um momento muito especial,
Norah, eu tenho certeza. Se não for, meu punho está preparado para atingir a cara de Mason.
— Não vai ser preciso usar a violência — afirmei, me levantando. — Agora você precisa
me ajudar a encontrar algo para vestir.
— Eu?
— Sim, você é o meu melhor amigo, não foi o que disse? — Abri a porta do closet e
acendi a luz, dando uma olhada geral dentro do armário. Opções não faltavam e fiquei me
perguntando se aquilo era bom ou ruim. — Sei que está frio, mas acho que prefiro ir de vestido.
Eu fico mais gostosa de vestido, não é verdade?
Observei James parar no batente da porta pelo espelho de corpo inteiro que ficava no
fundo do closet. Ele cruzou os braços.
— Que tipo de amigo diz que uma amiga está gostosa, Norah?
— O tipo de amigo sincero. — Comecei a olhar meus vestidos, descartando alguns e
separando outros.
— Não seria melhor chamar Avalon para te ajudar?
— Se eu fizer isso, vou ter que explicar para o meu irmão porque eu preciso da ajuda de
Avalon e não quero que ele saiba do encontro. Inclusive, eu preciso da sua ajuda! Você não pode
ficar em casa hoje à noite.
— O quê?
— É isso mesmo. Você vai fingir que vai sair comigo.
— Como é que é?
Revirei os olhos. Por que os homens eram tão lentos às vezes?
— É isso mesmo que você ouviu. Eu poderia falar para Logan que vou sair com John, mas
ele e o namorado estão viajando nesse final de semana e postando um story atrás do outro, meu
irmão segue os dois, logo descobriria a mentira, então, é você que vai ter que me dar cobertura.
James coçou os olhos, parecendo quase arrependido por não ter me dissuadido da ideia de
cancelar o encontro.
— E onde eu vou ficar enquanto você está em um encontro com Mason, Norah?
Olhei para James e tive uma ideia. Não sabia se era boa, no fundo, eu ainda estava com
ciúmes, mas me obriguei a desapegar do sentimento. Se eu estava prestes a ter um encontro,
James merecia o mesmo.
— Alicia pediu o seu número. Você podia chamá-la para sair.
— Alicia? Aquela sua amiga que estava no Maeve’s? — Eu apenas concordei com a
cabeça. — Como ela é?
— Muito legal! Simpática, extrovertida, além de ser linda! Você vai amar sair com ela!
James estreitou os olhos para mim.
— Não sei se posso levar a sua opinião em consideração, Norah.
— Claro que pode, eu sou sua melhor amiga, jamais te colocaria em uma furada! —
Aproximei-me dele e apertei suas bochechas. — Diz que aceita, por favor!
James ficou um tempo em silêncio, ainda me encarando com desconfiança, mas logo
concordou com a cabeça.
— Está bem, eu aceito, mas se Alicia for chata, você vai se ver comigo.
Eu sorri, me obrigando a demonstrar mais entusiasmo do que realmente sentia ao pensar
em James e Alicia juntos. Passei o número dela para ele e voltei a escolher um vestido para
aquela noite.
Norah estava um espetáculo.
Fiquei parado no meio do seu quarto como um idiota conforme ela andava de um lado
para o outro, observando-a colocar um par de brincos, passar o seu perfume favorito e retocar o
batom rosado nos lábios. Ela escolhera um vestido preto todo colado ao corpo que terminava
muitos centímetros acima do seu joelho e tinha um decote delicado no colo, deixando à mostra o
início dos seus seios. Usava uma meia-calça cor da pele e que a manteria aquecida e um parte de
botas de couro.
Puta merda, Norah estava linda.
Não apenas isso. Ela estava gostosa.
Quis arrancar os meus olhos e dar um soco na minha cara. Eu não deveria estar pensando
daquela forma sobre Norah. Era errado pra caralho. Quebrava a regra universal da amizade entre
os homens. Não cobiçarás a irmã do seu amigo. E o que eu estava fazendo agora? Babando em
Norah como se ela não fosse a irmã de Logan.
— Como estou?
A filha da mãe parou na minha frente e deu uma voltinha lentamente, quase me dando um
ataque cardíaco. Fazia dezessete graus do lado de fora, o aquecedor dentro de casa nos mantinha
confortáveis e aquecidos, mas fogo pareceu se alastrar pelas minhas veias sem qualquer
explicação. Engoli em seco.
Não olhe para a bunda dela, não olhe para a bunda dela, não olhe para a bunda...
Porra, eu olhei.
Dei um passo para trás como se tivesse levado um golpe e me recusei a admitir que meu
pau deu sinal de vida dentro da cueca.
Errado. Tudo isso é errado pra caralho, James McHugh! Comporte-se!
— James? — Norah me chamou com os olhos levemente arregalados. — Exagerei, não é?
Droga, eu sabia! Vou trocar de roupa!
— Não! — Aproximei-me de Norah rapidamente, segurando-a pela mão antes que se
afastasse em direção ao closet. — Você está tão linda, que eu fiquei sem palavras.
Seu olhar inseguro apertou o meu peito e me deixou meio puto por Norah realmente
acreditar que não era a porra de uma deusa.
— Não precisa mentir para me agradar.
— Não estou mentindo, eu juro. Você está maravilhosa, Norah. Quer saber a verdade? —
Norah confirmou com a cabeça e eu me obriguei a colocar para fora o que realmente estava
pensando. — Você está gostosa. Pelo amor de Deus, nunca conte para o seu irmão que um dia eu
te chamei de gostosa, ok? Eu gosto da minha cabeça exatamente onde ela está agora, em cima do
meu pescoço.
Norah começou a rir e a sua gargalhada aqueceu o meu estômago. Fiquei feliz por ver a
sua insegurança diminuir. Acreditava que ter passado o primeiro ano de faculdade focada em
Logan após a morte da mãe e ainda sendo obrigada a ver o seu irmão colocar medo nos babacas
do campus, acabou afetando a sua autoestima. Norah era linda demais, talvez a mulher mais
linda que eu conhecia, e precisava se enxergar dessa forma.
— Não pensei que você realmente se preocupasse com essa cabeça. Sempre achei que a
sua cabeça de baixo era mais importante — disse ela com aquele seu jeito inocente, como se não
imaginasse o impacto que suas palavras causariam em mim.
Mas a verdade era que suas palavras não deveriam causar qualquer impacto. Norah era
minha amiga. Irmã do meu melhor amigo. Eu a enxergava como uma irmãzinha. Então por que
as coisas que ela dizia me tocavam de uma forma que não era apropriada?
— Ela é muito importante, sim, mas seu irmão vai se manter bem distante dela, porque
essa cabeça nunca chegará perto de você. — Pisquei para ela, vendo seu sorriso divertido. Era só
uma piadinha infame entre dois amigos. Eu precisava parar de surtar.
— Tem razão. — Norah se afastou e parou em frente ao espelho de corpo todo que havia
em seu quarto. — Só espero que Logan também se mantenha distante de Mason, porque talvez a
cabeça dele um dia chegue perto de mim.
Ah, porra.
Norah queria me matar do coração?
— Eu não quero ouvir sobre isso! — falei mais sério do que deveria e Norah me olhou
com surpresa através do espelho. Limpei a garganta e me obriguei a não soar como um babaca.
— Sério, não quero imaginar vocês dois juntos dessa forma.
— Nós somos amigos, James. E se eu quiser conversar sobre sexo com você?
— Não quero imaginar você transando, Norah! Há um limite para tudo nessa vida.
Norah revirou os olhos e pegou sua bolsa em cima da cama.
— Eu sou obrigada a ouvir toda putaria que você e Benjamin fazem com as meninas, mas
você não pode conversar comigo sobre sexo?
— Nós nunca contamos qualquer detalhe para você.
— Verdade, mas vivem conversando sobre isso perto de mim. Eu tenho ouvidos, sabia? E
eles funcionam muito bem!
Merda.
Nunca parei para pensar realmente sobre aquilo. Não que eu fosse o rei do sexo como
Benjamin, que praticamente vivia com o pau enfiado entre as pernas de uma garota, mas, às
vezes, nós conversávamos sobre uma noite ou outra com alguma menina. Norah morava conosco
há um ano, estávamos tão acostumados à sua presença, que conversar sobre qualquer assunto
com ela por perto se tornara natural. Me senti um babaca.
— Nós somos dois idiotas — falei, me aproximando dela e dando um beijo em sua testa.
— Nos desculpe por isso, ok? Se Benjamin começar a falar sobre sexo na sua frente, juro que
corto a língua dele fora.
Norah revirou os olhos e eu senti que havia falado alguma coisa errada.
— Ben pode falar sobre sexo na minha frente porque eu não sou mais uma criança, James.
Sou uma mulher adulta e está na hora de você e meu irmão enxergarem isso. — Norah deu um
passo para trás e vestiu rapidamente o sobretudo preto, que escondeu completamente o vestido
que usava. — Estou pronta, podemos ir.
Pensei em insistir no assunto e afirmar que eu não via Norah como uma criança, mas ela
se afastou e saiu do quarto. Que ótimo. Agora ela estava puta comigo. Respirei fundo e saí logo
atrás dela, encontrando Logan e Benjamin na sala, os dois arrumados para sair e curtir a noite de
sexta-feira — Logan no Maeve’s Bar observando Avalon trabalhar e Benjamin em alguma festa
cheia de bebida alcoólica. Logan arqueou as duas sobrancelhas ao observar Norah e eu juntos
perto da escada.
— Vão sair?
— Sim! Vamos ao cinema. — Norah forçou um sorriso entusiasmado demais. Ela era uma
péssima mentirosa. — Nem estava muito a fim de ir, mas James insistiu.
— Não estava a fim de ir e se maquiou toda mesmo assim? — Logan perguntou com uma
leve desconfiança.
Será que ele sabia de alguma coisa? Benjamin teria deixado escapar algo sobre o interesse
de Mason em Norah?
— Sua irmã é vaidosa, deixa de ser chato, Logan — falei, passando meu braço pelos
ombros de Norah. — Vamos? Não podemos nos atrasar.
Norah concordou com a cabeça e Logan se levantou do sofá, aproximando-se para abraçá-
la. Ele deixou um beijo sobre os seus cabelos e sorriu.
— Desculpa, não quis ser um idiota. Divirtam-se. — Ele se virou para mim. — E cuide
bem da minha irmã.
— Sempre. — Toquei meu punho fechado no dele.
Benjamin observou tudo em silêncio, com um sorrisinho nos lábios. Ele provavelmente
desconfiava que eu estava prestes a acobertar Norah e me deu um olhar divertido antes de
sairmos de casa. Provavelmente, estava pensando que eu era doido, e eu não podia negar aquilo.
Abri a porta do passageiro para que Norah entrasse e dei a volta no veículo. Ela combinara
de jantar com Mason e ele se ofereceu para buscá-la, mas Norah não aceitou, afinal, precisava
manter o encontro em segredo, então, eu a levaria até o restaurante, em seguida, encontraria com
Alicia.
Ainda não acreditava que eu tinha mesmo convidado a amiga de Norah para um encontro.
Não que Alicia não fosse uma mulher bonita; ela realmente era. Mas eu estava fazendo aquilo
muito mais por Norah do que por mim.
Comecei a dirigir até o restaurante e Norah se manteve calada, mas suas mãos estavam
inquietas. Ela ligou o rádio, mexeu no aquecimento do carro, abriu e fechou a bolsa algumas
vezes, até eu ser obrigado a perguntar:
— Está chateada comigo? — Seus olhos surpresos se encontraram com os meus e percebi
que ela não esperava pelo meu questionamento. — Eu não vejo você como uma criança, sabe
disso, não sabe? Se a enxergasse assim, não estaria te levando escondido para um encontro.
Norah mordeu o lábio inferior e suas bochechas ficaram rosadas.
— Quando você fala assim, eu me sinto uma criança. Pareço uma adolescente que precisa
sair escondida dos pais. Isso é tão ridículo! — Ela sacodiu a cabeça meio desanimada.
— Pense que é por um bom motivo. Você está apenas conhecendo Mason, não precisa
envolver o seu irmão nisso, deixe para conversar com ele caso vocês dois comecem a se
envolver.
As palavras deixaram a minha boca quase que de forma mecânica, não porque eu fosse
frio ou calculista, mas porque ainda era estranho pensar em Norah namorando alguém. Eu
precisava parar de agir como Logan. Se estava afirmando que não via Norah como uma criança,
então, aquela sensação esquisita em meu peito precisava passar.
— Sim, você tem razão. — Norah suspirou. — E eu não estou chateada com você. Como
poderia me sentir assim? Você está ao meu lado agora, me apoiando, mesmo que para isso,
precise mentir para o meu irmão. Sei que não gosta de esconder nada do Logan, muito menos
enganá-lo, mas está fazendo isso por mim. Acho que te amo um pouquinho mais agora, James.
— Um sorriso bonito se abriu nos lábios dela e eu finalmente relaxei conforme dirigia.
— É bom que me ame mesmo. E que me acorde amanhã com café da manhã na cama.
— Farei isso se você passar a noite em casa.
— Onde mais eu passaria a noite?
— Com Alicia? — perguntou ela com uma sobrancelha arqueada. — Vocês vão sair
juntos, talvez queiram transar. — Norah deu de ombros e voltou a olhar pela janela.
— Não sei se você se lembra, mas eu combinei de buscá-la no restaurante mais tarde —
falei.
Norah voltou a me olhar.
— Não precisa se prender por mim, de verdade. Meu irmão vai para o bar ficar com
Avalon e provavelmente passará a noite com ela, eu posso ir embora de Uber.
Franzi o cenho e olhei para Norah sem entender o que tudo aquilo significava.
— Por que você está insistindo tanto para que eu fique com essa sua amiga?
— O quê? — Norah arregalou os olhos. — Não estou insistindo.
— Não? Acabou de falar que pode ir embora com um carro de aplicativo caso eu queira
transar com ela.
— Porque eu sei que isso pode acontecer e não quero que você deixe de curtir a sua noite
por minha causa. Já está mentindo por mim, não precisa fazer mais do que isso.
Parei o carro em frente ao restaurante, deixando o pisca-alerta ligado para que o frentista
soubesse que eu não ficaria estacionado ali por muito tempo, e me virei para Norah. Toquei em
seu queixo com delicadeza, querendo que ela olhasse em meus olhos.
— Norah, preste atenção. Eu faria muito mais do que mentir por você. Eu jamais daria
prioridade para um encontro, com uma menina que eu ainda nem conheço, e deixaria você
sozinha. Entende isso? Você é mais importante para mim do que todas essas coisas. Não vou
mudar o que combinamos, estarei aqui assim que o seu jantar com Mason terminar e iremos
juntos para casa.
Norah voltou a morder o lábio inferior e meus olhos observaram tudo de perto, com
interesse demais. Obriguei-me a voltar a olhar para os seus olhos e encontrei neles um brilho
diferente, que não soube identificar o que era.
— Está bem. Mas se depois que me deixar em casa você quiser sair para se encontrar com
ela...
— Não vou querer — garanti e me estiquei para deixar um beijo em sua bochecha. —
Divirta-se no seu encontro e me ligue se precisar de qualquer coisa, entendeu? Se Mason fizer
algo que você não goste, dê um chute no saco dele e o resto eu resolvo.
Norah riu e deu um tapinha de leve em meu braço.
— Já disse que não será preciso usar a violência. — Ela tocou na maçaneta do carro e se
virou para mim antes de sair. — Obrigado por tudo, James. Amo você.
— Também amo você, baixinha.
Norah piscou para mim e saiu do carro, deixando apenas o cheiro do seu perfume para
trás. Fiquei ali até ela entrar no restaurante e senti um vazio esquisito em meu peito quando seus
cabelos longos e cacheados sumiram das minhas vistas.
Obriguei-me a colocar o carro em movimento depois de enviar uma mensagem para
Alicia, avisando que eu já estava a caminho para encontrá-la, e torci para que Norah tivesse uma
noite incrível e que Mason não a decepcionasse, porque se Norah aparecesse com o semblante
chateado quando eu fosse buscá-la, eu acabaria com aquele filho da puta. Meu celular tocou
quando eu já estava perto do restaurante onde encontraria Alicia e atendi direto pelo painel do
carro ao ver que era minha avó.
— Oi, vovó! Está tudo bem? — perguntei, pois ela não tinha o costume de me ligar à
noite.
— James, aconteceu algo muito sério!
— O que houve? — Dei seta para a esquerda e parei rente ao meio-fio. — O que
aconteceu, vovó?
— Estou vendo uma tragédia se desenrolar bem na minha frente!
— Onde a senhora está? Vou buscá-la agora! — perguntei, quase colocando o carro em
movimento novamente.
— Estou jantando com a minha amiga Samantha, lembra dela? Que se mudou para Nova
York? Ela veio passar as festas de final de ano aqui no Alabama e acabou estendendo as férias,
vai ficar aqui até o final de janeiro...
— Sim, vovó, eu me lembro dela. O que está acontecendo? Estou preocupado!
— Nós estamos em um restaurante e Norah está aqui também! Ela está jantando com um
rapaz que parece ter a sua idade. James, isso não pode acontecer! Se Norah começar a
namorar, com quem você vai se casar?
Eu fiquei atônito por alguns segundos, ainda sentindo meu coração acelerado no peito e as
juntas dos meus dedos doendo de tanto apertarem o volante. Joguei a cabeça para trás e respirei
fundo, uma gota de suor gelado escorrendo pela minha nuca.
— Vovó, a senhora quer me matar do coração? Eu pensei que fosse algo sério!
— Mas isso é muito sério, James! Será que não percebe? Norah está conhecendo um
rapaz, você não pode deixar isso acontecer!
— Vovó, eu sei com quem Norah está jantando, inclusive, fui eu que a levei até o
restaurante.
— O quê? Como teve coragem de fazer isso, James?! — Vovó raramente excedia o tom de
voz, mas ela fez aquilo naquele momento.
— Norah e eu somos apenas amigos, vovó, a senhora precisa entender isso.
— É você que precisa começar a enxergar o que está bem na sua frente, meu filho. Não
acredito que vai entregar Norah de bandeja para esse loiro sem graça! Olha isso, Samantha! Eu
não consigo lidar com uma coisa dessa, meu neto é um homem maravilhoso, lindo, inteligente,
forte, o melhor jogador do Crimson Tide, herdou o talento do meu Joseph para fotografia, mas é
lento demais quando o assunto é entender que está morando sob o mesmo teto que a mulher da
sua vida! A mãe dos meus bisnetos! Eu estou indignada com isso!
Pude ouvir a voz da sua amiga ao fundo, mas não fiz questão de entender o que ela estava
dizendo.
— Vovó, a senhora precisa se acalmar...
— Não vou me acalmar, James! Como quer que eu me acalme? Eu não suporto burrice e
você está sendo burro, meu filho!
Sacodi a cabeça, sem saber se ria daquela situação ou se tentava ter um pulso mais firme
com a minha avó. Decidi ser paciente. Ela era uma senhora de idade e eu sabia que a velhice
tornava as pessoas teimosas.
— Tudo bem, vovó. Escuta, eu vou passar na casa do meu pai amanhã e a gente conversa
com calma, tudo bem?
— Claro! E até lá, esse loiro sem graça já vai ter encantado Norah e você vai perder a
mulher da sua vida.
— Não vou perder ninguém, vovó — garanti, afinal, Norah não era minha naquele sentido
para perdê-la. — Deixe Norah curtir o encontro dela enquanto eu vou curtir o meu.
— O quê? Você está indo para um encontro depois de entregar a Norah de graça nas
mãos desse loiro?
— Vovó, Norah é livre, assim como eu. Ela tem o direito de jantar e se envolver com
quem quiser.
— Não tem, não!
— Vovó, nós nos falamos amanhã, ok?
— Ok, James. Depois não venha chorar de arrependimento no meu ombro.
Eu sorri, quase podendo ver o seu semblante irritado na minha frente.
— Não fique irritada comigo, vovó. Eu te amo.
Pude ouvir o seu suspiro do outro lado da linha.
— Eu também te amo, meu neto, mesmo quando é burro.
Vovó Emory desligou e eu ri, voltando a colocar o carro em movimento. Uma hora ela
desistiria daquela ideia de que Norah seria a minha esposa, eu tinha certeza disso.
Mason veio ao meu encontro assim que entrei no restaurante. Ele já estava na mesa à
minha espera, mas não esperou que o maître me levasse até o lugar reservado e me encontrou no
meio do caminho com um sorriso bonito e muito bem-vestido. Usava um jeans azul-escuro,
sapatos de grife e uma blusa social de seda na cor cinza, com os primeiros botões abertos. Pude
notar que ele tinha pelos loiros e finos no peitoral. Seu perfume quase me fez espirrar quando me
abraçou, pois estava forte demais, mas sua beleza e carisma compensavam todo o resto.
Nós nos aproximamos da mesa e ele me ajudou a tirar o sobretudo, entregando-o ao maître
para que eu pegasse a peça apenas na hora de ir embora. Fiz de tudo para não estremecer de
timidez sob o seu olhar intenso, que me percorreu da cabeça aos pés.
— Norah, você está deslumbrante. Não imaginei que conseguiria ficar mais bonita do que
já é normalmente.
Eu sorri, tentando ignorar o frio na barriga e as mãos úmidas de suor.
— Obrigada, Mason, você também está muito bonito.
— Isso é obra da minha mãe — disse ele conforme arrastava a cadeira para que eu me
sentasse. Encarei-o com certa dúvida assim que se sentou à minha frente.
— Obra da sua mãe? Como assim? Ela te vestiu?
— Ela me ensinou a me vestir. — O garçom se aproximou e pediu licença ao nos entregar
o cardápio. — Durante muitos anos, minha mãe foi editora-chefe de uma revista especializada
em moda.
— É mesmo? Não fazia ideia disso. Qual é o nome dela?
— Heather Goldberg.
— Heather Goldberg da revista Burn Fashion? — Mason apenas concordou com a cabeça
e eu fiquei boquiaberta. — Meu Deus, eu não poderia imaginar! Minha mãe já foi convidada
para a New York Fashion Week algumas vezes e eu a acompanhei, um dos nossos amigos nos
apresentou à sua mãe em um evento anos atrás.
— Que mundo pequeno, Norah! Sua mãe é modelo?
— Era advogada.
— Era?
— Ela faleceu há um ano, vítima de um acidente de carro.
— Norah... — Mason esticou a mão sobre a mesa até entrelaçar nossos dedos. — Sinto
muito, eu não sabia.
— Tudo bem. — Forcei um sorriso, sem querer ficar triste ao pensar na minha mãe. —
Imagino como deve ter sido crescer ao lado de um ícone da moda como a sua mãe.
— Por ela, eu seria modelo, mas nasci apaixonado por futebol, não tinha como fugir do
meu destino. — Mason sorriu e, caramba, ele era bonito mesmo. — Apesar de ter frustrado os
seus planos, ela e meu pai sempre me apoiaram. Eles adoram afirmar que são meus fãs número
um.
— Imagino que sejam, que bom que você tem o apoio deles, sei como isso é importante.
Meus pais também sempre me apoiaram em meu desejo de ser atriz.
— E como esse sonho surgiu para você?
Eu comecei a contar para Mason sobre minha mãe adorar musicais e como isso acabou me
influenciando. Ele ouviu tudo atentamente e eu senti parte do meu nervosismo ir embora. Estava
sendo uma boba por estar tão insegura. Mason sempre se mostrou um cara legal e extrovertido,
era lógico que com ele a conversa fluiria bem. Nós escolhemos nosso prato e, assim que o
garçom se afastou, pude notar como Mason não conseguia tirar os olhos de mim.
Eu estava na frente dele, era a sua única acompanhante à mesa, então, era óbvio que ele só
tinha a mim para olhar, mas mesmo eu, que não tinha muita experiência com flertes e encontros,
sabia o que aquela expressão em seu rosto significava. Mason realmente achava que eu estava
bonita. Ele me observava com admiração e ter consciência disso me deixou meio tímida, mas
também poderosa. De uma forma muito louca, amaciou o meu ego, e eu nem sabia que precisava
disso para me sentir melhor naquela noite.
— Sua mãe parecia ser uma mulher incrível, Norah, e fez muito bem em te levar ao seu
primeiro musical. Eu vi a forma como você canta, consegue imprimir emoção em cada nota, eu
fiquei tão envolvido ao observá-la na frente daquele piano que, por um momento, não parecia
que eu estava em uma sala de música da faculdade. Era como se eu tivesse sido transportado para
outro lugar. Não sei explicar.
Não pude conter o meu sorriso ao ouvir aquilo, a euforia que tomou conta do meu peito.
Eu amava a minha arte, era completamente apaixonada pelo que fazia, e saber que Mason se
sentira daquele jeito me deixou extremamente feliz.
— Está falando a verdade?
— Claro que sim. — Ele estreitou um pouco os olhos. — Não confia no talento que você
tem?
— Sim, eu confio, mas é sempre um choque quando escuto alguém falar que se sentiu
tocado pelo que faço.
— Pois acostume-se com isso, receber elogios vai se tornar a sua realidade em breve. —
Mason sorriu e voltou a tocar a minha mão por cima da mesa. — Acredita que eu não ia à festa
de comemoração do Crimson Tide naquela noite?
— Não ia? Por quê?
Observei rapidamente as nossas mãos unidas, seus dedos longos e com unhas curtas. As
mãos de James eram mais bonitas. E eu não fazia ideia do porquê estava comparando a mão dos
dois. Tentei tirar aquilo da minha cabeça.
— Eu tinha chegado na cidade há poucos dias, não conhecia ninguém, mas um dos
jogadores reservas acabou me chamando para tomar uma cerveja depois do jogo e me convenceu
a ir com ele para a casa do quarterback. Eu só fui porque sentia que seria bom começar a me
enturmar e pegar mais intimidade com os outros jogadores do time. Nunca imaginei que
encontraria a garota mais bonita de todas saindo de um banheiro fedendo a maconha.
Eu ri, deixando o garfo dentro do prato.
— Você nunca vai se esquecer disso, não é?
— Como poderia esquecer? Foi um primeiro encontro bem impactante e que me fez
repensar muitas coisas.
— Como o quê, por exemplo?
— Como o fato de que eu havia prometido a mim mesmo que iria focar exclusivamente no
time e não me envolver com ninguém. Olha onde estou agora. — Mason sorriu e olhou para a
minha boca conforme acariciava o dorso da minha mão. — Jantando com a garota bonita que
não fuma maconha e que, ainda por cima, é a irmã protegida do quarterback.
— Não leve em consideração as ameaças do meu irmão.
— Eu respeito o seu irmão e, se tivesse uma irmã mais nova, também a protegeria. Sei
como os homens podem ser idiotas, principalmente quando são jogadores de futebol. Já vi muita
garota saindo chorando de festas, até mesmo de vestiários, depois de levar um fora de um
jogador. Entendo Logan por não querer que você se torne uma delas.
— E você já foi um desses jogadores? — perguntei com curiosidade.
— Não. Minha mãe não me ensinou apenas a me vestir, ela também me ensinou a
respeitar as mulheres.
— Então, eu nunca estive errada por admirar Heather Goldberg.
Mason riu.
— Nunca mesmo. Minha mãe é uma mulher extraordinária, mas, voltando ao que eu
estava dizendo, não acho que seu irmão esteja errado.
— Mesmo assim, você ignorou todas as ameaças dele e está aqui comigo agora.
— Não ignorei, apenas as relevei, porque Logan deixou claro que não queria nenhum
idiota cercando você e eu não sou um idiota. — Mason me deu um sorrisinho confiante e eu sorri
como uma boba. — Quero mostrar isso para você primeiro antes de mostrar para ele, afinal, você
é a pessoa mais importante dessa história.
Lembrei-me de James falando que eu não estava agindo como uma adolescente por estar
me encontrando escondida com Mason. Ele tinha razão. Nós estávamos apenas conhecendo um
ao outro, meu irmão não precisava saber disso ainda. Eu não conseguiria aturar o seu surto por
algo tão bobo quanto um primeiro encontro.
— Eu sei que você não é um idiota, Mason.
— Porque foi isso que James te contou — concluiu.
— Também, mas porque você sempre foi simpático e honesto comigo. E porque,
aparentemente, não sente medo do meu irmão, o que eu não posso dizer sobre os garotos da
faculdade.
— Logan realmente colocava medo em todos eles?
— Sim. Meu irmão era pior antes, acredite, melhorou muito depois que começou a
namorar com a minha cunhada.
— Sorte a minha ter entrado na faculdade esse ano, então.
Mason piscou para mim e eu senti um frio na barriga. Ele ia continuar a falar, mas algo às
minhas costas chamou a sua atenção e o fez desviar os olhos de mim. Eu me virei a tempo de ver
o que ele estava olhando e fiquei surpresa quando vovó Emory se aproximou e fechou
completamente a nossa distância, parando ao meu lado na mesa.
— Norah, como é bom ver você, minha querida!
— Vovó Emory. — Soltei a mão de Mason e me levantei para abraçá-la. — Que surpresa
a encontrar por aqui. Está com Jonathan e Louise?
— Não, eu estava com Samantha, uma amiga que veio passar as férias no Alabama, mas
ela já se foi. Quando a vi aqui, precisei me aproximar para cumprimentá-la.
— É muito bom ver a senhora — falei com sinceridade, me afastando para poder apontar
para Mason, que havia acabado de se levantar. — Esse aqui é Mason, um ami...
— Ah, meu Deus, está tudo rodando...
Vovó Emory cambaleou de repente e só não caiu no chão, porque fui mais rápida e a
amparei. Mason se aproximou correndo, me ajudando a colocá-la sentada em minha cadeira
conforme a senhora balbuciava coisas estranhas e começava a passar mal. Senti minhas pernas
ficarem bambas, o terror me deixando enjoada.
— Vovó Emory! Por favor, fale comigo!
— Norah, minha querida... Acho que vou desmaiar...
— Meu Deus, chame uma ambulância, Mason!
— Claro, agora mesmo...
— Não! — Vovó Emory gritou e agarrou a minha mão com uma força surpreendente. —
Ligue para James, preciso do meu neto aqui, por favor, Norah.
— Mas, vovó Emory, a senhora precisa de um médico.
— Não, eu preciso do meu neto! — Ela me olhou bem séria, mas logo voltou a apresentar
vertigem, sua cabeça caindo mole para o lado. — Por favor, não estou me sentindo bem...
Eu olhei apavorada para Mason, vendo os clientes e funcionários do restaurante
começarem a se aproximar. Foi o jogador quem tomou as rédeas da situação.
— Vou ligar para James.
— Vovó!
James entrou no restaurante de repente, ofegante e suado como se tivesse acabado de
correr uma maratona. Seus olhos arregalados se encontraram com os meus conforme se
aproximava de onde a senhora estava, ainda parecendo prestes a desmaiar, apesar de já ter
tomado água e continuar segurando a minha mão. Ele se ajoelhou ao lado da avó e tocou o seu
rosto com cuidado.
— Vovó, eu vim o mais rápido que pude. O que está sentindo? Vamos para o hospital.
— Não é preciso hospital, só quero que você e Norah me levem para casa. Sinto que
preciso me deitar... Não trouxe meu remédio de pressão.
— Vovó, sabe que não pode sair sem o seu remédio na bolsa! Meu Deus, poderia
acontecer algo mais grave! Eu vou levá-la ao hospital.
— Não quero ir para o hospital.
— Sem discussão, vovó! — James se ergueu e a pegou em seus braços.
Vovó Emory era uma senhora baixinha e magra, com o cabelo crespo muito bem-cuidado
e cheio. Parecia mais nova do que realmente era, mas a sua saúde frágil deixava bem claro a sua
idade.
— Também acho melhor ir para o hospital, vovó Emory, e se for algo mais grave? —
falei, sentindo Mason parar ao meu lado. Ele pousou a mão em minha cintura e o gesto não
passou despercebido por James, muito menos por sua avó, que já não parecia mais estar prestes a
desmaiar.
Até sua cabeça cair mole de novo contra o peito do neto.
— Norah tem razão, no hospital o médico poderá tranquilizar a todos ao afirmar que não é
nada grave — disse Mason com um tom preocupado.
Ele não saiu do nosso lado nem por um segundo e foi quem pediu para que o garçom
trouxesse água. Também fez com que os curiosos se afastassem para que vovó Emory pudesse
respirar.
— Sim, vocês têm razão, eu acho que é melhor mesmo ir ao hospital... Quero que James e
Norah me levem... — Sua voz soou fraca e deixou o meu coração apertado.
E se fosse algo grave? Eu não queria pensar naquilo. Precisava acompanhar os dois para
ter certeza de que vovó Emory ficaria bem. Virei-me para Mason com um olhar de desculpa.
— Eu vou com eles, tudo bem?
— Claro. Se quiser, posso acompanhar vocês, estou com o meu carro aqui.
— Não precisa... — A voz de vovó Emory soou às minhas costas e eu me virei a tempo de
ver uma expressão de dor passar pelo seu rosto. — Não quero dar trabalho para mais um jovem.
— Não seria trabalho algum — afirmou Mason, mas vovó Emory tinha razão, não havia
motivo para prendê-lo conosco em um hospital.
— Está tudo bem, eu vou no banco de trás com vovó Emory enquanto James dirige. Muito
obrigada por ter ficado ao nosso lado.
— Não precisa agradecer. — Mason se inclinou em minha direção e meu coração disparou
em um misto de surpresa e ansiedade ao pensar que me beijaria na boca, mas seus lábios se
encontraram com a minha bochecha. — Me mantenha informado, ok?
Confirmei com a cabeça e nos afastamos depois de James agradecer a ajuda de Mason. Fui
logo atrás deles, pegando meu sobretudo com o maître, e abri a porta do carro de James para que
ele pudesse acomodar vovó Emory no banco traseiro. Assim que ela se sentou, pude ouvir a sua
voz de dentro do veículo:
— Peça para que Norah vá ao seu lado, querido, eu preciso me deitar um pouco.
James murmurou alguma coisa para ela e me deu um olhar apreensivo ao fechar a porta.
— Ela desmaiou em algum momento, Norah? — perguntou ele rapidamente.
— Não, mas apresentou vertigem. Acho que é melhor mesmo levá-la ao hospital.
James concordou e deu a volta para poder ocupar o lugar do motorista enquanto eu me
sentava no banco do passageiro. Virei-me para trás, encontrando vovó Emory deitada no banco,
seus olhos ligeiramente abertos acompanhando tudo. Estiquei-me e segurei a sua mão conforme
James colocava o carro em movimento.
— Fique falando comigo, vovó. O que está sentindo?
— Agora estou melhor. — Sua voz soou menos cansada. — Podemos ir para casa.
— Nada disso, vamos para o hospital — James afirmou com urgência.
— Não preciso de hospital, James.
— Precisa, vovó Emory, apenas para descartar a possibilidade de que seja algo mais grave
— falei.
Vovó Emory revirou os olhos e se ergueu sem muita dificuldade, recostando-se contra o
banco.
— Já estou melhor, não estão vendo? Acho que foi a comida do restaurante. Estou apenas
um pouco enjoada agora.
Eu me virei para James e o encontrei encarando a avó pelo espelho retrovisor, seus olhos
se estreitando conforme seus braços ficavam tensos ao segurar o volante.
— A senhora não está mentindo sobre passar mal, está?
— Eu? Mentindo? Olha como fala comigo, James McHugh! Sou sua avó!
— Exatamente, e eu a conheço muito bem.
— James. — Toquei em seu joelho e seus olhos se encontraram com os meus rapidamente.
— Claro que sua avó não está mentindo. Pode ter sido apenas uma queda de pressão.
— Isso mesmo, foi só uma queda de pressão — afirmou vovó Emory com muita
convicção. — E agora eu já estou melhor. Leve-me para casa.
— Eu deveria levá-la para o hospital e então o médico deixaria bem claro se a senhora está
mentindo ou não.
— Por que eu mentiria sobre isso? — perguntou ela com um tom de desafio na voz.
James bufou e voltou a focar na direção, tomando o caminho para a casa dos seus pais. Eu
olhei para trás a tempo de ver vovó Emory com o que parecia ser um leve sorriso nos lábios, mas
a expressão sumiu rápido demais. Fiquei confusa. Por que ela mentiria sobre estar passando mal?
Aquilo não fazia o menor sentido.
Voltei a segurar a sua mão e seguimos em silêncio até entrarmos na mansão da família
McHugh. James estacionou e saiu do carro, dando a volta no veículo para voltar a tomar a avó
nos braços, que não protestou. Ela acariciou o peito do neto conforme entrávamos na casa em
estilo vitoriano.
— Eu te amo, meu neto, nunca se esqueça disso.
James pareceu ficar menos tenso ao ouvir aquilo e eu sorri. A relação dos dois era tão
bonita quanto a minha com a minha avó. Os pais de James, que estavam na sala de TV, logo se
levantaram assim que entramos no cômodo, os dois ficando nervosos ao ver o filho carregando a
matriarca da família nos braços.
Fui eu que expliquei tudo o que aconteceu conforme a levávamos para o segundo
pavimento da casa. James acomodou vovó Emory em sua cama e Louise foi buscar o seu
remédio de pressão.
— Mãe, por que não me ligou? Eu já estava ficando preocupado, prestes a ir ao
restaurante, pois fiquei esperando sua ligação para que eu fosse buscá-la e estava demorando
demais — disse Jonathan ao se sentar ao lado de vovó Emory.
— Eu vi Norah jantando com um rapaz e me aproximei para cumprimentá-la, acabei me
sentindo mal de repente. Ah, obrigada, querida — agradeceu à Louise pelo remédio e o copo de
água. — Não imaginei que isso fosse acontecer, só pedi para que Norah ligasse para James
porque não queria preocupar vocês.
— Não é melhor irmos para o hospital? — perguntou a mãe de James.
— Não, eu estou melhor agora, só preciso descansar. Vou tomar um banho e dormir. —
Vovó Emory olhou para mim e sorriu. — Muito obrigada por ter ficado comigo, minha querida.
Você é a neta que eu não tive, especial demais para mim.
— Eu nunca a deixaria sozinha, vovó Emory.
— Claro que não, você é amorosa, gentil, tem uma alma doce e um coração maior ainda.
O homem que se casar com você vai ser o mais sortudo do mundo e aquele que te perder vai se
arrepender amargamente.
Eu apenas sorri, ficando com as bochechas quentes de vergonha por conta do seu elogio
fora de hora. Ao meu lado, James perguntou:
— Tem certeza de que está se sentindo melhor, vovó?
— Sim, meu querido, eu tenho certeza. Pode ir em paz. Direto para casa, ouviu? Você e
Norah.
Nós ficamos mais um tempinho com vovó Emory, até ela praticamente nos expulsar ao
afirmar que estava bem e que tomaria um banho. Saímos do seu quarto e nos despedimos dos
pais de James após o jogador pedir, pelo menos cinco vezes, para que eles o avisassem caso a
avó voltasse a sentir alguma coisa. Deixamos a mansão e James pareceu respirar mais tranquilo
pela primeira vez desde que entrara no restaurante.
— Está tudo bem agora, James. Não aconteceu nada grave com a sua avó.
— Sei disso, mas tomei um susto. Minha avó já tem certa idade, qualquer coisa que
aconteça com ela me deixa tenso.
— Eu sei, você a ama muito e ela te ama ainda mais. — Sorri, tocando em seu ombro. —
Sua avó é forte, tenho certeza de que vai permanecer ao nosso lado por muitos anos ainda.
— Tem razão. — James me deu um sorrisinho. — Ela não vai embora até ter certeza de
que estou casado e sendo pai de pelo menos três filhos.
Eu ri. Sabia que aquele era o maior sonho da vida da sua avó.
— Pois trate de realizar esse desejo dela — falei, apenas imaginando como James seria um
marido maravilhoso e um pai melhor ainda.
Vovó Emory disse que o homem que ficasse comigo seria o mais sortudo do mundo, mas
eu acreditava que sortuda de verdade seria a mulher que, um dia, ganharia o coração de James
McHugh.
Eu tinha certeza de que minha avó estava mentindo.
Obviamente, assim que recebi a ligação de Mason, não desconfiei de que vovó poderia
estar encenando. Ela era uma senhora, eu sabia que às vezes tinha picos de pressão quando
estava nervosa e que seu coração já não era tão forte quanto antes, realmente acreditei que
pudesse estar passando mal. Apenas quando dei partida no carro e a vi se sentar no banco como
se não estivesse sentindo mais nada, foi que comecei a desconfiar.
Seu discurso no telefone voltou com tudo em minha cabeça, a indignação em seu tom de
voz, principalmente quando falei que também estava indo a um encontro. Foi um erro meu,
deveria ter ficado quieto sobre aquilo. Talvez não impedisse minha avó de tentar arruinar o
encontro de Norah com Mason, mas com certeza não seria um motivo a mais para fazer com que
a matriarca dos McHugh se intrometesse daquela forma na minha vida — e na vida de Norah,
que não imaginava que minha avó queria dar uma de cupido para cima de nós dois.
Preferi não contar nada para a irmã do meu melhor amigo, pois não queria que ela ficasse
preocupada ou com medo de que minha avó pudesse fazer algo para atrapalhar o seu
envolvimento com Mason. Eu conversaria com a senhora Emory McHugh e a faria entender que
Norah e eu não gostávamos um do outro da forma como ela gostaria, que éramos apenas amigos.
Minha avó precisava começar a respeitar isso.
Encontramos a casa toda escura quando chegamos, o que não fora uma surpresa, afinal,
Benjamin raramente passava um final de semana sem ir para festas e Logan dissera que iria
dormir na casa de Avalon. Acendi a luz a tempo de ver Norah tirando o sobretudo e levei um
novo soco no estômago ao notar como ela estava bonita. Obriguei-me a tirar os olhos de cima
dela antes que as palavras de minha avó começassem a fazer uma lavagem em meu cérebro.
— Preciso de uma bebida — resmunguei enquanto ia para a cozinha.
Abri a geladeira e peguei uma cerveja, desejando algo mais forte. Talvez, fosse melhor
mandar uma mensagem para Benjamin e perguntar onde ele estava. Festa, música alta, bebida e
uma garota formariam o combo perfeito para fechar aquela noite desastrosa.
— Também quero uma — Norah disse atrás de mim.
Peguei uma cerveja para ela e a encontrei do outro lado da ilha central da cozinha. Seus
olhos bonitos me acompanharam conforme eu abria as duas bebidas e estendia uma em sua
direção. Dei um gole longo, sentindo a cerveja bater com tudo em meu estômago vazio. Seria
inteligente da minha parte comer alguma coisa, mas a bebida parecia mais interessante naquele
momento.
— Conte-me como foi o encontro com Alicia, estou curiosa! — Norah pediu com um
sorrisinho por trás da garrafa.
— Foi legal.
Norah pousou a garrafa sobre a bancada e arqueou uma sobrancelha.
— Legal? Só isso?
Lembrei-me de sua amiga. Alicia estava muito bonita usando um vestido vermelho e justo,
rosto maquiado e um sorriso enorme quando entrou no restaurante. Nós começamos a conversar
assim que nos sentamos à mesa, mas eu sentia minha cabeça longe. Em Norah, especificamente.
Se ela estava gostando do encontro com Mason, se ele a estava tratando como ela merecia, se
estava babando nela como eu babei ao ver como estava extraordinária naquela noite.
Eu me senti um babaca e mal conseguia compreender o que estava acontecendo com a
porcaria da minha cabeça. Estava na companhia de uma garota bonita e inteligente, que tinha um
papo divertido e mal conseguia tirar os olhos de cima de mim, mesmo assim, estava pensando na
irmã do meu melhor amigo. Qual era o meu problema?
Quando meu celular tocou, quase agradeci a Deus pela interrupção. Alicia não merecia
estar desperdiçando a sua noite de sexta-feira com um idiota como eu e, dependendo da ligação,
eu teria a desculpa perfeita para encerrar aquele encontro desastroso. Tomei um susto ao ver que
era Mason, mil coisas passaram pela minha cabeça, todas sobre Norah. Nunca imaginei que ele
estaria me ligando para falar sobre a minha avó, o que era bem irônico, na verdade.
Vovó nem precisava ter se esforçado tanto para arruinar meu encontro com Alicia. Eu
mesmo estava fazendo um bom trabalho ao não conseguir tirar Norah da minha cabeça.
— Alicia é uma garota incrível. Muito bonita, divertida e inteligente, mas receber a
ligação de Mason falando sobre a minha avó tirou o brilho da noite — falei parte da verdade.
Saber que minha avó estava passando mal me fez esquecer de toda a confusão que meu cérebro
estava arrumando.
— James, não fique assim. Sua avó está bem agora, com certeza foi só uma queda de
pressão. Acho que você e Alicia podem tentar de novo um dia.
— Sim, um dia, quem sabe. Isso se ela ainda quiser se encontrar comigo depois de hoje à
noite.
— Claro que ela vai querer, Alicia parece estar realmente interessada em você.
— E você não sente nem um pouco de ciúmes ao saber disso? — Puta merda. Meus olhos
se arregalaram assim que a pergunta insana saiu da minha boca. Precisei me questionar pela
milésima vez qual era a porra do meu problema. Forcei uma risada alta demais. — Afinal, eu sou
um grande gostoso...
Norah pegou um pano de prato que estava ali por perto e jogou em minha direção.
— Você é um idiota, isso sim. — Sua risada me deixou aliviado. Norah levara a minha
pergunta na brincadeira. — E o que sinto não é realmente ciúmes, é só...
— Só...? — Instiguei, curioso demais para ouvir o que tinha a me dizer.
— É só medo de perder a intimidade que temos caso um de nós dois comece a namorar —
Norah disse mais baixo, olhando para a cerveja ao invés de me encarar. — Quando me mudei
para cá, você ainda namorava a vaca da Megan. Nós éramos amigos, mas não tanto como somos
agora e eu sinto que criamos um laço mais forte desde que você ficou solteiro. Tenho medo de
que isso se perca.
Eu larguei a cerveja na bancada e dei a volta na ilha da cozinha, parando ao lado de Norah
e tocando em seus ombros até fazer com que olhasse para mim. Os saltos da sua bota a deixavam
mais alta, mas ela ainda batia abaixo do meu queixo. Notar aquilo me fez sorrir.
— Nós não iremos perder nada. Você sempre será a minha baixinha e se algum babaca
tentar mudar isso, vai se ver comigo.
Norah riu e eu fiquei encantado, quase sem piscar. Ela parecia se tornar mais bonita a cada
vez que eu a via e não conseguia entender como aquilo era possível.
— E se a sua namorada quiser mudar isso?
— Ela não vai conseguir. — Puxei-a para mim até sentir os seus braços ao redor da minha
cintura e a sua cabeça em meu peito. — Algumas coisas precisarão mudar, é claro. Você não vai
mais poder invadir a minha cama e implorar para dormir comigo de conchinha.
— Ei, eu não faço isso! E só dormimos de conchinha duas vezes.
— Porque você implorou...
— Eu nunca implorei! — Minha risada ecoou pela cozinha quando senti seu soquinho
fraco nas minhas costelas. — E tenho certeza de que você vai sentir falta de dormir comigo.
— Não vou sentir falta de acordar com um mar de cachos no meu rosto e com a sensação
de que perdi um braço por conta dos músculos dormentes.
— Vai sim, eu tenho certeza. Você também precisa encontrar uma namorada que jogue
videogame tão bem quanto eu, ou ela vai ficar com ciúmes ao ver que você só não consegue
vencer de mim.
— Isso é mentira, já que eu finjo perder para que você não fique triste.
Norah se afastou e me encarou com os olhos estreitos.
— Mentiroso! Eu sou mil vezes melhor do que você no videogame e posso provar. Vamos
estrear o jogo de zumbi.
— Vamos! — Peguei as nossas cervejas e comecei a me dirigir à sala. Virei-me a tempo
de ver Norah me seguindo. — Se eu vencer, quero receber café da manhã na cama pelo próximo
mês.
— Se eu vencer, você vai ter que me fazer uma surpresa no meu aniversário. Uma
surpresa gigantesca!
— O quê? Que surpresa?
Norah parou com as mãos na cintura.
— Você sabe qual é o significado da palavra surpresa?
— Sim, mas... Seu aniversário é só em junho.
— Exatamente. Sabe o que isso significa? — Norah se aproximou de mim e eu neguei
com a cabeça. — Que você tem bastante tempo para criar algo incrível para mim. É melhor já
começar a pensar, porque vai perder esta noite, James McHugh!
A danada deu dois tapinhas em meu peito e passou à minha frente para ir até a sala. Eu
fiquei parado no mesmo lugar, pensando em como poderia surpreender uma garota que já tinha
tudo, afinal, Norah era rica. Sacodi a cabeça, livrando-me do pensamento.
Eu não precisaria pensar em nada, pois Norah iria perder.

Acordei com uma ressaca filha da puta que não tinha nada a ver com bebida.
Era uma ressaca moral.
Norah me venceu não apenas uma, mas duas vezes, o que me fez perder a nossa aposta no
critério de desempate após a terceira rodada. Eu venci no primeiro round e fui um bobo quando
ela pediu revanche. A filha da mãe me venceu na segunda partida e decidimos jogar uma terceira
vez para desempatar.
Foi a derrota mais agridoce da minha vida, pois tentei ficar puto e demonstrar revolta, mas
ver Norah pulando no meio da sala às quatro da manhã, com um sorriso que ia de orelha a
orelha, me impediu de sentir qualquer outra coisa que não fosse alegria por vê-la tão feliz. Eu
parecia o Logan ao ver qualquer conquista de Avalon e pensar nisso me deixou com o estômago
gelado.
Meu melhor amigo era completamente apaixonado pela sua namorada.
Eu estava muito longe de sentir algo sequer semelhante por Norah.
Ela bebeu pelo menos uma dúzia de cerveja após a vitória e eu precisei colocar a sua
bunda bêbada na cama quando percebi que havia extrapolado na bebida. Norah não tinha o
costume de beber daquela forma. O sorriso se recusou a sair do seu rosto conforme eu
acomodava sua cabeça no travesseiro e puxava a coberta sobre o seu corpo. Fiquei alguns
minutos apenas a admirando dormir e me senti meio bobo por causa disso, sem querer pensar
demais no que eu estava sentindo.
Não pude ignorar o sentimento como tanto queria. No fundo, eu estava feliz por Norah
estar encerrando aquela noite comigo, mesmo saindo como perdedor após mais uma rodada de
videogame com ela e sabendo que precisaria pensar em uma surpresa grandiosa para o seu
aniversário. Norah não me deixaria esquecer daquilo.
Deixei o seu quarto, tomei um banho e caí na cama. Acordei com o despertador e a
sensação de que a ressaca moral não era tão ruim assim. Eu aceitaria perder mil vezes para
Norah, apenas para ver aquele sorriso bobo e alegre em seu rosto pelo resto da vida.
Realmente me importava com aquela garota, de uma forma como nunca me importei com
qualquer outra mulher em minha vida.
Encontrei uma mensagem da minha mãe assim que peguei o celular. Ela informou que
minha avó passara bem a noite e que acordara disposta, o que me fez lembrar do que a
senhorinha esperta aprontara. Dei um pulo da cama e tomei uma chuveirada para despertar,
saindo do quarto em seguida. Encontrei Logan na cozinha, suado e com roupa de academia.
— Avalon te expulsou tão cedo assim? — perguntei.
— No meu relógio é quase meio-dia — disse ele, dando uma olhada para algo atrás de
mim. Segui a direção para onde estava olhando e não vi nada.
— O que foi?
— Pensei que estivesse acompanhado quando vi aquele monte de garrafa de cerveja vazia
na mesinha de centro.
— Bebi com a sua irmã — falei, vendo-o arquear uma sobrancelha. — E perdi para ela de
novo no videogame.
Abri a geladeira a tempo de ouvir a gargalhada de Logan ecoar pela cozinha.
— Não acredito que perdi isso. É sempre um evento quando vocês jogam juntos.
— Estou feliz por você e Ben não estarem aqui, ninguém precisava ver a minha derrota.
— Eu discordo, queria muito ter visto isso. — Logan agarrou a garrafa de isotônico que
joguei para ele e abri outra para mim. — Só você mesmo para passar uma noite de sexta-feira
jogando com a minha irmã.
Pensei em tudo o que havia acontecido ontem. Se Logan imaginasse...
— Passar um tempo com Norah é sempre um privilégio.
— Sim, eu sei disso, minha irmã é a melhor pessoa que conheço. — Ele bebeu o isotônico
quase todo de uma só vez. — E isso me lembra de que eu preciso passar mais tempo com ela.
— Sim, precisa mesmo. Talvez você consiga sondar o que ela quer de aniversário.
— Aniversário? Como assim? Estamos indo para fevereiro e minha irmã só faz aniversário
em junho.
— Eu sei, mas nós fizemos uma aposta ontem. Se eu perdesse, teria que fazer uma
surpresa no aniversário dela. Você sabe que eu perdi, agora, preciso pagar a aposta. — Joguei a
garrafa de isotônico no lixo após dar o último gole. — Como meu melhor amigo, você precisa
me ajudar com isso.
Logan voltou a rir e se aproximou de mim apenas para dar dois tapinhas em meu ombro.
— Vou ver o que posso fazer, mas não prometo nada... — O filho da mãe começou a se
afastar, mas manteve um olho sobre mim. — Sabe como é, eu gosto de ver meus amigos
sofrerem, é sempre muito divertido.
— Vai se foder, estrelinha dourada. — Logan me soprou um beijo e continuou a rir da
minha cara conforme subia a escada. — E cuide da sua irmã, ela vai acordar de ressaca.
— Depois de ter feito uma aposta com você e te derrotado, com certeza cuidarei dela.
Minha irmã merece o mundo.
Dei o dedo do meio para ele, mesmo sabendo que não conseguiria ver, pois já estava
praticamente no topo da escada, e sorri. Eu amava a minha vida e a minha amizade com Logan.
Não faria nada que pudesse colocar nossa irmandade em risco.
— A senhora mentiu ontem à noite!
Vovó ergueu o rosto para mim quando parei à sua frente, escondendo-a do sol fraco do
inverno. Ela adorava passar um tempo nos jardins da mansão, pois sempre amou flores e
jardinagem. Aquela parte em especial era o seu refúgio quando precisava ler, receber amigas
para um chá ou apenas refletir, o que parecia estar fazendo agora. E, pela sua expressão, Emory
McHugh não tinha um pingo de peso na consciência.
— Não sei do que está falando.
— Vovó, precisa ser sincera comigo. — Sentei-me ao seu lado no banco e a olhei bem
sério. — Porque eu já sei a verdade. A senhora mentiu.
Vovó Emory soltou um suspiro profundo e tocou em minha mão.
— Sim, eu menti, mas foi por uma boa causa.
— Uma boa causa? Não há justificativa para isso, vovó. Saúde é coisa séria!
— Seu futuro e o de Norah também é uma coisa séria!
— Vovó... — Apertei a ponte do nariz com a mão que ela não segurava, mas minha avó
não me deixou continuar.
— Sei o que vai me dizer. Que Norah é apenas sua amiga, que nunca ficarão juntos da
forma como imagino... Sei de tudo isso, James.
— Se sabe, por que continua insistindo nessa história?
— Porque eu vejo além do que você vê, meu filho. — Vovó Emory deu um tapinha em
minha mão. — Homens, geralmente, têm uma visão limitada sobre as coisas, mas as mulheres
são diferentes, principalmente uma mulher experiente como eu. Vejo como cuida da Norah,
como se importa com ela.
— Sim, porque eu gosto dela, vovó. Eu a amo como uma irmã.
— Um irmão não fica tenso quando vê um rapaz abraçando a cintura da sua irmã.
— O quê? — Franzi o cenho. — Do que está falando?
— Viu como você não vê o que eu vejo? Percebi a forma como você ficou quando o loiro
abraçou Norah pela cintura, praticamente marcando território sobre a menina. E não se engane,
aquele rapaz não é bobo, ele sabe que você é um concorrente.
— Concorrente? Vovó, a senhora está realmente vendo coisas que não existem. Não fiquei
tenso quando Mason abraçou Norah, eu estava tenso porque pensei que a senhora estivesse
passando mal.
— Sim, querido, eu sei como estava preocupado comigo e sinto muito por ter o deixado
desesperado daquele jeito.
Estreitei os olhos para ela.
— A senhora não sente nada.
— Está bem, eu não sinto. — Vovó Emory deu de ombros e eu quase sorri, mas precisava
demonstrar minha indignação para ela e fui mais forte. — Quer dizer, eu sinto um pouco. Sei que
brinquei com algo sério, mas precisava fazer alguma coisa. Aquele rapaz estava prestes a beijar
Norah, James!
Eu não queria — e jamais admitiria —, mas fiquei tenso. Tentei disfarçar, principalmente
porque minha avó me observava com olhos de águia e ainda segurava a minha mão, mas a tensão
em meus músculos e a pressão em meu peito me pegaram de repente, completamente de
surpresa. Engoli em seco e lutei para que vovó não percebesse nada.
— Eles estavam em um encontro, vovó, era lógico que algo assim aconteceria.
— Se você admitisse que gosta dela de verdade, não correria o risco de ter um outro
homem beijando a boca da sua garota.
— Norah não é minha garota, vovó! — Levantei-me, ficando nervoso de repente, acuado
por ela. — Norah é a irmã caçula do meu melhor amigo. A senhora conhece Logan, sabe como
ele é protetor com Norah, como afasta qualquer cara do caminho dela. Há um acordo tácito entre
nós dois, algo que não posso quebrar, e isso envolve Norah. Logan nunca me perdoaria se eu a
olhasse de outra forma.
Vovó estalou a língua no céu da boca e revirou os olhos.
— Isso tudo é bobagem...
— Não, não é bobagem. Sou amigo de Logan desde que era um moleque, vi Norah
crescer, ela sempre foi como uma irmã para mim.
— Mas não é sua irmã — disse ela. — Norah é uma mulher adulta agora e Logan vai ser
um rapaz muito idiota se arrumar confusão porque vocês dois querem ficar juntos. Não há
homem no mundo que seja melhor para a irmã dele do que você!
— Mas nós não queremos ficar juntos, vovó! — Fui mais duro daquela vez, enfático, mas
minha avó apenas cruzou os braços e virou o rosto para o lado, como uma adolescente rebelde.
Respirei fundo e me obriguei a ser paciente, agachando-me na sua frente até ter as suas mãos nas
minhas. — Por favor, entenda isso, tudo bem? Um dia, eu vou encontrar a mulher da minha vida,
me casar e te dar muitos bisnetos, mas ela não será a Norah.
— Tudo bem, James, eu não vou mais me meter. A vida é sua, você sabe o que faz.
Entendi que ficou magoada comigo, mas não me desculpei, apenas dei um beijo em sua
testa e a ajudei a se levantar para que pudéssemos almoçar. Uma hora, vovó entenderia que eu
tinha razão e deixaria de lado aquele sonho louco de que Norah e eu ficássemos juntos.
— Nunca mais vou beber na minha vida — resmunguei assim que abri os olhos, dando de
cara com Logan sentado na beirada da minha cama.
Meu irmão riu da minha cara e me estendeu a mão, ajudando-me a ficar sentada na cama.
Eu senti quando ele entrou em meu quarto devagar e acendeu a luz do abajur em minha mesinha
de cabeceira. Pelo menos ele não abriu as cortinas, tinha certeza de que minha cabeça estaria
doendo muito mais se a luz do dia estivesse entrando pelas janelas.
— James me contou sobre tudo o que aconteceu ontem à noite — disse ele, quase me
fazendo ter um ataque do coração.
— Tudo?
— Sim. Sobre as partidas de videogame e a bebedeira. Queria ter visto a derrota dele para
você.
O sorriso que se abriu em meus lábios foi de alívio.
— Seria ótimo ter expectadores. Da próxima vez, eu gravo para você.
— Não precisa, da próxima vez, estarei aqui. — Meu irmão se aproximou mais de mim e
segurou a minha mão. — Estou com saudades de você. Que tal fazermos alguma coisa juntos
hoje?
— Com a Avalon e a Aubrey? — perguntei, pois sempre saíamos em grupo agora que
Logan estava namorando.
— Não, só eu e você, um programa de irmãos. — Logan arqueou uma sobrancelha. — Ou
acha que apenas James é bom em fazer o papel de irmão mais velho? Ele está saindo mais com
você do que eu ultimamente.
Eu ri alto ao perceber o sentimento bobo nos olhos de Logan.
— Não acredito que está com ciúmes, Logan Miller III!
— Sim, eu estou. Sei também que não fui um irmão presente no último ano, quero mudar
isso.
— Você sempre foi o melhor irmão do mundo — afirmei conforme apertava sua mão com
a minha. — Mesmo quando me irrita quando o assunto é homens.
— Podemos passar o dia de hoje sem citar homens e namoro?
Revirei os olhos, apenas para não perder o costume, e concordei conforme sorria.
— Sim, podemos.
— Ótimo! — Logan se esticou e pegou um copo de água em cima da minha mesinha de
cabeceira junto com duas pílulas, dando-os para mim. — Remédio para ressaca. Tome um
banho, se arrume e vamos sair para almoçar, ok?
— Sim, Sr. Miller III. Mais alguma coisa?
Logan parou ao lado da minha cama, já de pé, e sorriu para mim.
— Sim. Eu amo você, pirralha.
Meu coração ficou acelerado no peito.
— Também amo você, seu bobo.
Meu irmão bagunçou o meu cabelo e saiu rápido do meu quarto quando ameacei jogar o
travesseiro em sua direção.

Fazia frio naquela tarde de sábado e o sol não ajudava em nada a esquentar a temperatura,
mas isso não impediu que Logan e eu nos divertíssemos. Nós fomos almoçar em um dos
restaurantes favoritos da minha mãe, conhecido por seus famosos pratos de frutos do mar, e me
senti nostálgica conforme comia e conversava com o meu irmão.
Por um momento, senti medo de que Logan se retraísse, apesar de ter sido ideia sua
almoçarmos ali, mas ele ficou bem. Nós lembramos de momentos da nossa infância, rimos de
histórias bobas do passado e de viagens que fizemos em família. Havia em Logan uma leveza
que reconfortava o meu coração. Era lógico que ele ainda sofria pela perda da nossa mãe, assim
como eu, mas o tempo estava curando as nossas dores.
— Ela adoraria ver o quanto você está amando a faculdade — disse Logan quando o
garçom se afastou após trazer a sobremesa. — Na verdade, eu sei que ela está amando
acompanhar a sua trajetória, porque nossa mãe jamais ficaria longe de nós dois.
Minha garganta pinicou, como se mil agulhas estivessem a espetando, e precisei piscar
mais forte para conter as lágrimas.
— Sim, ela nunca nos abandonaria. Tenho certeza de que a mamãe também sente muito
orgulho de você, Logan.
Meu irmão sorriu, mas vi certo tremor em seus lábios. Ele estava emocionado, assim como
eu, e com saudades, também. Nós sempre sentiríamos a falta dela.
— De nós dois. — Ele apertou a minha mão por cima da mesa antes de roubar a colher
dos meus dedos e enfiá-la em meu sorvete de morango.
— Logan! Quando você vai parar de ficar roubando as minhas sobremesas? — Precisei
me esticar para tirar a colher da mão dele enquanto o idiota ria com a boca cheia de sorvete.
— Nunca. Você sabe que o papel de um irmão é perturbar a vida do outro, certo?
— É mesmo? — perguntei, roubando um profiteroles dele. — Não vou me esquecer disso.
Passamos os próximos minutos roubando a sobremesa um do outro e voltamos a rir como
duas crianças. Percebi como estava com saudades do meu irmão. Sempre fomos unidos, nossa
diferença de idade não era tão grande e eu adorava acompanhar Logan para todo canto quando
mais nova. O terror da minha adolescência foi quando ele começou a ter permissão para ir a
festas e eu não. Apesar disso, Logan nunca me deixou de lado, sempre fazendo questão de sair
comigo em tardes de domingo. James sempre nos acompanhava e lembranças como aquela eram
muito especiais para mim.
Senti falta de James conosco, sempre formamos um bom trio, mas passar aquele tempo
sozinha com o meu irmão depois de tanto tempo estava sendo maravilhoso. Deixamos o
restaurante e fomos direto para o centro de patinação no gelo que frequentávamos quando mais
novos. Era um local enorme, que sempre ficava movimentado no inverno. Senti-me como uma
criança de novo conforme pegávamos os patins no balcão.
— Vai mesmo patinar comigo? — perguntei conforme nos sentávamos em um dos
inúmeros bancos perto dos armários de ferro, onde deixamos os sapatos.
— Claro que sim, acha que vou ficar apenas te olhando?
— Você não pisa em uma pista de gelo há anos, Logan.
Assim que decidira que seria um jogador profissional, Logan começou a cuidar mais do
seu corpo e não gostava de fazer nada que pudesse causar alguma lesão séria. Eu o entendia,
afinal, um único tombo poderia comprometer a sua carreira para sempre.
— Por isso mesmo, estou com saudades. — Ele se ergueu e me estendeu a mão. — Não
vou fazer nada arriscado, juro.
Pousei minha mão na sua e confiei nele. Fomos juntos para a pista de gelo, que estava
cheia de adolescentes e crianças acompanhadas pelos pais, e senti um frio na barriga quando
comecei a deslizar. Eu amava patinar quando criança, principalmente porque era algo que minha
mãe amava fazer. Ela não gostava muito de esquiar, mas adorava patinar.
Comecei a rir quando Logan quase escorregou, quase me levando junto de bunda no chão,
mas conseguimos nos estabilizar. Juntos, fomos devagar para o centro da pista, passando
vergonha perto das crianças que corriam ao nosso redor, como se tivessem nascido com patins de
lâminas nos pés. Uma delas parou de repente na nossa frente, arregalando os olhos ao quase
trombar contra Logan. O garoto, que não devia ter mais do que dez anos, encarou o meu irmão
com as bochechas vermelhas pelo esforço e pelo frio.
— Você é Logan Miller III, não é? O quarterback do Crimson Tide?
Logan me olhou por um momento, parecendo surpreso pelo menininho ter o reconhecido.
— Sim, sou eu mesmo.
O garoto abriu um sorriso enorme com dois dentes faltando na lateral da boca.
— Eu sabia! — Ele se virou para trás e acenou para outros dois garotos. — Eu disse que
era o Logan! Eu disse, vocês não acreditaram em mim! — Entusiasmado, o menino voltou a
olhar para o meu irmão conforme os amigos se aproximavam devagar. — Eu sou o seu maior fã!
Um dia, vou ser um quarterback igual a você!
— É mesmo? — Logan sorriu, todo bobo, e se inclinou em direção ao garoto. — Qual é o
seu nome?
— Thomas. E esses são Graham e Will. — Thomas apontou para os meninos que pararam
ao seu lado. — Graham quer ser running back igual Benjamin Ryan e Will quer ser wide
receiver como James McHugh.
Pousei minha mão em meu peito, pensando em como os meninos ficariam bobos como
meu irmão estava naquele momento. Um dia, eles foram como aqueles garotos, cheios de ídolos
em quem se inspiraram. Agora, eram eles que inspiravam a nova geração.
— Se vocês se dedicarem e estudarem muito, com certeza serão ainda melhores do que
nós três. Só não podem desistir e precisam ser responsáveis.
— Eu sei, meu pai sempre diz que para ser um jogador de verdade, é preciso se dedicar —
disse Will.
— E a gente se dedica muito — afirmou Graham com os olhos arregalados. Ele estava tão
admirado quanto os amigos.
— Você pode tirar uma foto com a gente? — perguntou Thomas.
— Posso, mas só se vocês prometerem que não vão desistir dos seus sonhos.
— Nós não vamos, QB! — A voz de Will saiu com muita certeza.
— E se aceitarem ir como meus convidados no primeiro jogo dessa temporada.
Os garotos se entreolharam, boquiabertos, e começaram a falar ao mesmo tempo que
aceitavam, que não podiam acreditar naquele convite. Um deles perguntou se Logan estava
falando sério. Eu comecei a rir quando meu irmão precisou pedir calma para eles e explicou que
o convite era verdadeiro, mas que precisava pegar o contato dos responsáveis dos garotos para
poder combinar tudo com eles. Foi Thomas quem saiu correndo à procura do pai e eu aproveitei
o momento para poder tirar fotos dos outros dois meninos com o celular de Graham.
O pai de Thomas logo se aproximou, parecendo tão encantado quanto o filho, e trocou
algumas palavras com Logan. Vi a admiração pelo meu irmão nos olhos do homem mais velho e
fiquei muito feliz. Logan merecia todo o reconhecimento possível, pois ele não era apenas um
jogador excepcional, era também um homem maravilhoso, com um dos maiores corações que eu
conhecia. Após pegar o contato do pai de Thomas e tirar mais fotos, os meninos se afastaram e
Logan me encarou com um sorriso ainda surpreso no rosto.
— Isso aconteceu mesmo?
Era a primeira vez que Logan era reconhecido por crianças. Geralmente, torcedores mais
velhos paravam para trocar uma ou duas palavras com eles e os estudantes da faculdade já
estavam acostumados a vê-lo e o cercava no Maeve’s Bar. Cruzei meu braço no dele e fomos
patinando juntos até as traves que protegiam a pista.
— Sim, aconteceu, e é melhor se acostumar, QB! Quando estiver em um time profissional,
não só esses meninos, mas muitos outros, terão um poster seu colado na parede do quarto. Você
será o ídolo deles.
— Nunca parei para pensar sobre isso, Norah. Sobre como posso ser uma influência para
meninos como eles, não apenas eu, mas Ben, James e todos os outros jogadores. Precisamos
fazer mais do que jogar, temos que ser um bom exemplo para esses meninos.
— É verdade e você já é um bom exemplo.
— Ano passado eu não era.
— Disse bem, ano passado. Aquele Logan ficou para trás. — Dei um beijo em sua
bochecha fria e meu irmão sorriu.
— Queria que Ben e James estivessem aqui. Eles iam adorar isso.
— Sim, eles iam, mas não sei se esse lugar é grande o suficiente para suportar o ego
imenso de vocês três juntos.
— Engraçadinha. — Ele riu e apertou o meu nariz. — Vou ao banheiro. Tome cuidado
para não cair de bunda no chão durante a minha ausência.
— Foi você quem quase me derrubou quando pisamos no gelo, Logan.
Ele se afastou e me deu um sorriso debochado.
— Impossível, o ídolo daqueles três garotos jamais escorregaria em uma pista de gelo.
Revirei os olhos para o egocêntrico do meu irmão conforme ele patinava para a saída da
pista. Voltei a patinar pensando em como aquele dia estava sendo incrível e que seria
maravilhoso repeti-lo, talvez com Avalon, Aub, James e Ben nos acompanhando. Eles com
certeza iriam se divertir.
Um casal passou por mim, seguindo uma garotinha que usava a fantasia da Elsa de Frozen
por cima da roupa de frio, me arrancando uma risada. Estava muito fofa. Distraída, observei ela
quase escorregar, mas seu pai a salvou e a pegou no colo, fazendo-a rir conforme rodopiava
sobre o gelo. Lembrei-me do meu pai e de quando ele tirava a máscara de advogado sério para
curtir com a família quando eu era criança.
Como Logan Miller II seria como avô? O pensamento passou rápido pela minha cabeça
quando senti alguém se aproximar ao meu lado e parar na minha frente. O sorriso de Mason me
fez parar de repente, poucos centímetros antes de trombar com o seu corpo alto e forte.
— Ah, meu Deus! — A risada que escapou do fundo da minha garganta foi de pura
surpresa e um pouco de nervosismo.
— Desculpa. Assustei você?
— Só um pouco. — Sorri de verdade e olhei rapidamente à nossa volta, procurando por
meu irmão, mas não havia sinal dele. — O que está fazendo aqui?
— Patinando — Mason respondeu o óbvio e eu me senti uma estúpida. Ele riu e se
aproximou, tomando a minha mão na sua. — Cheguei faz pouco tempo e vi você aqui na pista
com o seu irmão. Fiquei me perguntando se eu deveria me aproximar.
— Veio sozinho? — A pergunta pulou da minha boca sem que eu pudesse conter e Mason
sorriu de forma mais aberta.
Será que ele estava pensando que eu estava com ciúmes ou algo assim? Eu tinha certeza
de que não estava, sentia apenas curiosidade, e aquilo me abalou um pouco. Eu deveria me sentir
enciumada, certo? Estávamos conhecendo um ao outro, fomos a um encontro na noite passada,
eu estava interessada nele.
Ainda assim, aquela era a primeira vez naquele dia que eu pensava em nosso encontro ou
em Mason. Alguns alertas se acionaram em minha cabeça.
— Sim, vim sozinho, mas vou me encontrar com um colega de curso aqui. Na verdade, eu
mandei uma mensagem para você mais cedo, perguntando se queria vir patinar comigo, mas não
recebi nenhuma resposta.
— Minha nossa, Mason. — Tirei a mão da dele e peguei meu celular no bolso interior do
meu casaco. Meus dedos estavam levemente dormentes pelo frio, mas consegui mexer na tela e
ver a notificação da sua mensagem. — Sinto muito! Logan me chamou para almoçar e não
peguei o celular desde então. Estamos fazendo um programa de irmãos.
— Não tem problema, eu entendo. Só queria saber se está tudo bem depois de ontem à
noite. Como está a avó de James?
— Está bem. Foi só uma queda de pressão. — Olhei novamente à minha volta e senti meu
coração ficar acelerado ao ver Logan voltando para a pista. Insegura, olhei para Mason. — Se
você puder não comentar sobre ontem à noite perto do Logan...
— Não vou falar nada. — Mason me deu um sorriso seguro e eu me senti como uma
criança escondendo uma estripulia do pai. Era ridículo. — Mas acha que ele vai me dar um soco
por estar aqui falando com você?
Senti que Mason queria aliviar o clima e me permiti sorrir.
— Não, meu irmão não é tão homem das cavernas assim.
Mason pousou a mão sobre o peito e me deu um olhar divertido.
— Fico aliviado. Ele está se aproximando.
Meu irmão parou ao meu lado um momento depois e, para a minha surpresa, abriu um
sorriso para o tight end do time conforme esticava a mão para cumprimentá-lo.
— Mason, que coincidência encontrar você aqui.
— Sim. Nicholas, um dos meus colegas de curso, me falou sobre o centro de patinação e
senti vontade de conhecer, marcamos de nos encontrar aqui. — Sua resposta foi para o meu
irmão, mas seus olhos mal saíram de cima de mim.
— Você e minha irmã já se conhecem? — Logan olhou de Mason para mim e não soube
identificar se ele suspeitava de algo ou não. Fui rápida em responder:
— Claro que sim, ele foi à festa de comemoração do título do Crimson Tide lá em casa,
lembra?
— Isso mesmo, nós nos conhecemos lá, James nos apresentou — acrescentou o jogador.
Fiquei feliz por ele ter deixado a história da maconha de lado. Mason pareceu olhar para alguém
às minhas costas e acenou. — Nicholas chegou. Foi bom ver vocês, principalmente você, Norah.
— Ele piscou para mim e eu senti um frio na barriga de nervosismo e emoção. — Nos vemos na
segunda, Logan.
Mason acenou e se afastou e eu o acompanhei com o olhar até se aproximar de um cara
ruivo que aparentava ter a mesma idade que a dele. Eles se cumprimentaram com um sorriso e
um tapinhas nas costas.
— Mason está a fim de você — Logan afirmou, me fazendo piscar e tirar os olhos de cima
do jogador.
— O quê?
— Você ouviu. — Meu irmão me fez passar o braço pelo dele e fomos juntos até a saída
da pista. — Mas prometemos não falar sobre homens ou namoros hoje, certo?
— Sim — respondi meio aturdida.
— Então, vou cumprir com a minha promessa.
— Você também prometeu que não ia mais colocar medo nos garotos, Logan.
— Estou cumprindo essa promessa também. Se eu tivesse colocado medo em Mason, ele
nem chegaria perto de você.
— Talvez, ele não sinta medo de você.
— Pode ser. — Logan segurou as minhas mãos, me ajudando a sair da pista de gelo. —
Mas ele vai sentir medo se, por um acaso, desapontar você e machucar o seu coração.
— Machucar o meu coração? — Eu ri, mas meu irmão falava sério. — Logan, não sou
uma mocinha indefesa, sei cuidar de mim mesma.
— Eu sei e confio em você, vou tentar ser um irmão menos troglodita e controlador. —
Ele deu um beijo em minha têmpora. — Confie em mim também.
Mordi o lábio, ficando com peso na consciência e o peito apertado por estar escondendo
coisas do meu irmão. Logan estava se esforçando, talvez, eu pudesse realmente confiar nele.
Fiquei com isso em mente conforme caminhávamos em direção aos armários para pegar os
nossos sapatos e sair dali.
— Mason está de olho na minha irmã.
Eu parei com o garfo a caminho da minha boca e Benjamin quase se engasgou com o café
enquanto Logan se sentava no banco em frente à ilha central da cozinha e cruzava os braços
como um garotinho mimado de sete anos de idade. Ben me encarou com os olhos arregalados e
eu forcei a panqueca, que ainda estava em minha boca, a descer pela minha garganta.
— Por que você acha isso? — perguntei depois de um tempo, tentando adivinhar o que
passava pela cabeça de Logan.
— Eu não acho, tenho certeza.
— Por quê? — Benjamin questionou. Ele ainda vestia a roupa da noite passada e chegara
em casa há uns vinte minutos. — Sua irmã comentou alguma coisa com você?
Eu franzi o cenho, pois não tinha pensado naquela possibilidade e nem acreditava que
Norah falaria algo sobre Mason para Logan, do contrário, esconder do irmão que ela estava
conhecendo melhor o novo jogador do Crimson não faria o menor sentido. Logan bufou.
— Claro que não, acredito que Norah só falaria algo comigo se o babaca quisesse
namorar com ela ou algo assim.
— E a culpa disso é sua — falei, vendo seus olhos chocados se encontrarem com os meus.
— Se você não fosse tão controlador com ela, Norah se sentiria mais confortável para conversar
sobre isso com você.
— Controlador? Não sou controlador, sou apenas um irmão protetor.
— Protetor até demais — comentou Ben.
— E isso é um crime?
— Não, não é um crime, mas você sabe que exagera, Avalon até puxou a sua orelha sobre
isso.
— Valente puxa a minha orelha por qualquer coisa — reclamou ele, mas eu apenas sorri,
pois não havia raiva em seu tom de voz.
— Você ainda não explicou por que acha que Mason esteja a fim da sua irmã — lembrou
Benjamin.
Logan coçou a cabeça e fez uma careta.
— Norah e eu passamos a tarde juntos ontem e encontramos com Mason no centro de
patinação. Eu tinha ido ao banheiro e, quando voltei, vi os dois conversando e percebi o olhar do
idiota para a minha irmã. Não sei se Norah notou, mas ficou bem claro para mim que ele está
interessado.
A panqueca pareceu pesar em meu estômago assim que Logan se calou e eu não entendi o
porquê. Sabia que Norah e Mason estavam saindo, era óbvio que o jogador olharia para ela com
interesse. E duvidava muito que Norah não notara o sentimento em Mason. Como um idiota
curioso, quis saber sobre o que conversaram, se marcaram outro encontro. Perguntaria a Norah
depois.
— Mason parece ser uma boa pessoa — falei depois de um tempo em silêncio, sentindo
um gosto amargo em minha boca conforme sentia o olhar de Logan e Benjamin sobre mim. —
Não ouvimos nada estranho sobre ele desde que chegara ao Alabama, ele é comprometido com o
time e responsável... Talvez seja o cara ideal para a sua irmã.
Logan apoiou os cotovelos na mesa e esfregou os olhos. Ele parecia preocupado de
verdade e senti um aperto no peito, a culpa se instalou na boca do meu estômago. Eu não deveria
esconder nada do meu melhor amigo, era errado pra caralho. Por mais que fosse um pouco sem
noção quando o assunto era Norah, Logan era o melhor irmão do mundo para ela e eu sabia que
era protetor ao extremo porque não queria que Norah se machucasse.
Quase abri a boca e contei tudo, mas, então, me lembrei do olhar suplicante de Norah e de
como ela se sentia sufocada pelo cuidado excessivo do irmão. Senti-me em um cabo de guerra,
sendo fiel à garota que era tão especial para mim e um traidor para o meu melhor amigo.
Duraria pouco tempo, só até Norah decidir se ficaria de verdade com Mason ou não.
Logan me perdoaria quando visse sua irmã feliz, eu tinha certeza. Só esperava que Mason
realmente a fizesse feliz, ficando com ela ou não. Se ele machucasse Norah, eu arrebentaria a
cara do babaca.
— É, talvez ele seja, mas, e se não for? — Logan olhou para mim e para Ben,
completando baixinho: — Não quero que minha irmã corra o risco de ter o coração partido por
algum filho da puta.
— Logan, nós sabemos o quanto você ama Norah e como luta para protegê-la, mas nem
sempre você vai conseguir. Sua irmã é adulta, ela tem o direito de fazer suas próprias escolhas.
Nem sempre ela vai acertar, talvez quebre a cara e se machuque em algum momento, porque isso
faz parte da vida. Caberá a você apenas cuidar dela e ser um bom irmão — disse Benjamin. Ele
poderia ser o mais festeiro e mulherengo entre nós três, mas, às vezes, sabia dar conselhos como
ninguém.
— Ben tem razão, o que é raro — brinquei para aliviar o clima e os dois riram antes de
Benjamim me dar o dedo do meio. — Mostre para Norah que você respeita as escolhas dela e
que sempre irá apoiá-la. Quando ela entender isso, com certeza vai se abrir e não esconderá mais
nada de você.
Logan suspirou e pareceu mais tranquilo.
— É, vocês têm razão.
— É claro que nós temos. O que seria de você sem a gente? — Benjamin zombou, se
esticando para bagunçar o cabelo do QB.
— Eu seria bem feliz, tenho Avalon agora, não preciso de mais nada.
— É mesmo? Então por que não foi encher os ouvidos dela com essa merda? —
questionei em tom de risada.
— Porque Avalon já está cansada de me alertar sobre a minha irmã, decidi dar um
descanso para ela. — Ele riu, mas parou de repente e estreitou os olhos para mim. — Espere um
segundo, você disse que se Norah visse a minha mudança, não esconderia mais nada de mim.
Que merda é essa? Minha irmã está escondendo alguma coisa de mim?
Benjamin me encarou como se eu fosse o maior idiota do século e foi exatamente daquela
forma que me senti enquanto buscava alguma resposta decente para dar para Logan. Forçando
uma risada, eu sacodi a cabeça.
— Foi só modo de dizer, Logan. Você mesmo disse que se Norah estivesse interessada em
Mason, só te contaria quando quisesse algo sério com ele — respondi, talvez um pouco rápido
demais, mas Logan pareceu se convencer e desamarrou a cara.
— Verdade, você tem razão — murmurou. — Espero que ela leve em consideração a
forma como agi ontem. Não fui um troglodita e nem comentei sobre a minha suspeita de que
Mason está a fim dela.
— Já é um grande passo, QB! — Benjamin comemorou com um sorriso tenso.
— Sim, estou até impressionado comigo mesmo — disse Logan. — Vou subir, prometi
que iria tomar café com Valente e Aub e já estou atrasado. Obrigado por me ouvirem. E eu
estava brincando, ok? Preciso ter vocês dois na minha vida.
— Nós não acreditamos em você nem mesmo por um segundo, estrelinha dourada —
assegurei, vendo-o rir e sair da cozinha. Benjamin deu um soco em meu ombro assim que
ficamos sozinhos. — Ei, o que foi isso?
— Você não sabe mentir, porra! Se Logan fosse um pouquinho mais esperto, sacaria na
hora que você está acobertando a Norah.
— Está chamando Logan de burro?
— Sim, e você de idiota e péssimo mentiroso.
— Que ótimo amigo você é — ralhei, vendo-o cruzar os braços.
— Sou mesmo um ótimo amigo e sinto que vou me foder quando Logan descobrir a
verdade e ficar puto com você.
— Logan não ficará puto comigo, porque Norah e Mason formarão um casal apaixonado.
No final, ele vai me agradecer, estou cuidando da irmã dele.
— Torça mesmo para isso acontecer, babaca. — O idiota deu um soco mais leve em meu
ombro. — Vou dormir. Fiquei mais cansado com essa conversa do que por ter passado a noite
acordado entre as pernas de uma garota.
— Claro, você fode mal pra cacete.
— Como você sabe? Nunca fodi você.
— Ouvi boatos por aí... — Dei de ombros, segurando um sorriso, mas Ben apenas riu.
— Lembra do que eu disse? Você é um péssimo mentiroso, James McHugh.
Eu nem pude o contestar, porque Benjamin tinha razão.

Aproveitei que Benjamin e Norah estavam dormindo e que Logan saíra para poder ficar
em meu quarto, dando um jeito na bagunça de roupas e sapatos espalhados. Eu não me orgulhava
do fato de não ser muito organizado, mas também não gostava de viver na bagunça. Pelo menos
minhas câmeras estavam intactas, ocupando um lado inteiro do meu closet. Foi a elas que me
dirigi assim que terminei de colocar as roupas limpas nas gavetas.
Peguei minha câmera Nikon D850, a última que adquiri no final do ano passado. Ela era
excelente, uma lente poderosa, resolução de 45,7 megapixels, perfeita para fotos em ambientes
externos e internos. Provavelmente não se tornaria a minha fiel companheira como a Canon
EOS-1DX, que era excepcional para fotos em movimento, mas eu já tinha em mente o momento
perfeito para usá-la pela primeira vez.
Duas batidas na porta do meu quarto me fizeram sair do closet. Encontrei Norah abrindo a
porta e um sorriso bonito se abriu em seus lábios quando pedi para que entrasse.
— Estou atrapalhando?
— Claro que não. Estava só babando nessa belezinha — falei, erguendo a câmera em
minha mão.
Norah se aproximou e pegou a câmera com cuidado. Ela sabia que uma parte vital da
minha vida estava em suas mãos naquele momento. Eu cuidava de cada uma das minhas câmeras
como se elas fossem bebês recém-nascidos.
— É linda. Quer dizer, parece como todas as outras que você tem, mas é linda — disse ela,
me arrancando uma risada.
— Ela não é nada parecida com as outras, cada uma tem um elemento especial.
— E qual é o elemento especial dessa aqui? — perguntou conforme posicionava o visor
ocular da câmera na frente do olho direito, fechando o esquerdo.
— Ela é excelente em autofoco rápido e disparo contínuo em alta velocidade, sem contar
que é poderosa na resolução.
— Hum... — Norah fez um biquinho, muito concentrada enquanto girava o anel de zoom.
Ela desceu o rosto lentamente com a câmera ainda posicionada na frente do olho direito. —
Realmente, a resolução dela é muito boa. Agora eu tenho certeza de que você tem seis gominhos
no abdômen.
Eu pousei a mão aberta na frente da minha barriga nua, sem saber se ria ou se lutava para
ignorar a sensação esquisita que tomou conta do meu corpo com as palavras de Norah. A garota
já tinha me visto sem camisa milhares de vezes, assim como vira Benjamin, portanto, nunca
passou pela minha cabeça que prestasse atenção no meu corpo. Saber daquilo mexeu comigo,
mas não quis pensar muito sobre aquilo. Aproximando-me, tomei a câmera das mãos dela.
— Ei, me devolva isso. Queria tirar uma foto sua.
— Uma foto minha? Por quê?
— Porque... — Norah parou por um momento, parecendo buscar a resposta certa, me
deixando curioso. — Porque eu quero aprender a mexer na câmera. Você poderia me explicar.
Não parecia ser a resposta que ela realmente queria me dar, mas deixei passar.
— Sim, posso fazer isso um dia — falei, posicionando o visor ocular em meu olho. Ajustei
o zoom e foquei no rosto dela, seus olhos castanhos reluziam sob a luz amarela do meu quarto e
seus cabelos caíam em cascatas em uma profusão de cachos rebeldes. Norah estava linda. —
Mas quero fotografar você agora.
— Me fotografar? Nem pensar! — Ela se aproximou e colocou a mão na frente da lente da
câmera. — Eu estou horrível, acabei de acordar. A única coisa que fiz foi escovar os dentes e
tirar a remela dos olhos.
— E, mesmo assim, você está linda — falei, abaixando a câmera. — Você não precisa de
maquiagem ou qualquer outra coisa para destacar a sua beleza, Norah. É deslumbrante
exatamente do jeito que é.
Seus lábios se abriram, sem palavras, e eu me obriguei a dar um passo para trás, tentando
entender que merda estava acontecendo comigo. Não era como se eu nunca tivesse elogiado
Norah, pelo contrário, sempre deixei bem claro o quanto a achava bonita, mas sabia que minhas
palavras soaram de forma diferente.
E eu não fazia ideia do que aquele diferente significava.
Não significa nada. Não surta, James.
Limpei a garganta e continuei antes que ela respondesse alguma coisa:
— Para provar que não estou exagerando, quero fazer um convite para você.
— Um convite? — Sua voz soou levemente ofegante, mas eu ignorei.
Eu ignoraria tudo de esquisito que estava acontecendo naquele dia.
— Sim. Na verdade, é um favor. — Pousei a câmera sobre a bancada onde ficava o meu
laptop e me virei para Norah. — Ou a cobrança de uma dívida. — Sorri.
— Cobrança de uma dívida? O que estou devendo para você?
— Esqueceu que me fez uma proposta semanas atrás, baixinha? Eu ajudaria e acobertaria
você com Mason e você me faria um favor em troca.
Norah fez uma careta antes de bater os cílios. Garotinha esperta.
— É verdade. Acredita que acabei me esquecendo da promessa de levar café da manhã na
cama para você?
— Pois é. Se esqueceu das massagens também.
— Isso é mentira! Fiz massagem em você semana passada.
— Se esqueceu das massagens. No plural.
Seus olhos se reviraram, como de costume, e eu ri.
— E esse é o convite que você tem para me fazer? Está me convidando para levar café da
manhã na cama para você e fazer massagem nos seus ombros?
— Não. O que eu quero é mais específico. — Encostei-me na bancada e cruzei os braços,
ignorando o olhar de Norah em meus músculos rígidos. — Quero que pose para mim.
Seus olhos voaram dos meus bíceps e se chocaram com os meus, arregalados. Seus lábios
bonitos voltaram a se abrir de novo e ficaram daquele jeito por alguns segundos.
— O quê?
— Quero que pose para mim — repeti.
— Posar como? Nua?
— Norah! — Não consegui conter o susto e a risada que explodiu no fundo da minha
garganta, fruto de um nervosismo que eu nem sabia de onde vinha. — Claro que não. De onde
tirou isso?
— Eu... Eu não sei. — Ela se sentou na beirada da minha cama, parecendo confusa. Suas
bochechas ficaram vermelhas e eu achei adorável. — Só veio isso na minha cabeça. Desculpa.
Eu me aproximei e me sentei ao seu lado, colocando um cacho atrás da sua orelha.
— As fotos são para um projeto da faculdade. Eu me mataria antes de deixar qualquer foto
sua nua ser exposta por aí.
— Isso quer dizer que você quer me fotografar nua, mas não vai mostrar para ninguém?
— Norah, não! — Eu ri e toquei em sua bochecha, fazendo questão de que olhasse para
mim. — Não haverá fotos nuas, entendeu? Você estará vestida.
— Ah... — Norah desviou os olhos dos meus e piscou rápido duas vezes antes de abrir um
sorriso meio forçado. — Que bom. Imagina, seria esquisito ficar pelada na sua frente.
— Sim, seria.
— Pois é, seria muito esquisito. Esquisito mesmo — reforçou, me fazendo ficar confuso.
Mais do que nunca, eu queria estar na cabeça dela naquele momento. — E como serão as fotos?
— Eu ainda estou rascunhando o ensaio. O tema do projeto é um editorial de moda.
— Editorial de moda? Sabia que a mãe de Mason foi editora-chefe da Burn Fashion por
muitos anos?
— É mesmo? — Aquilo era uma surpresa para mim. Até onde sabia, Mason era herdeiro
de uma rede de hotéis.
— Sim! Que coincidência, não é? Se eu a conhecer antes da sessão de fotos, posso pedir
algumas dicas para ela.
Conhecer a mãe de Mason. Caramba. Então Norah estava mesmo gostando do tight end e
queria algo sério com ele. Engoli o bolo que se formou em minha garganta e sorri.
— Sim, seria incrível. Isso significa que você aceita posar para mim?
— Eu poderia negar? Não disse que estou em dívida com você?
— Claro que você poderia negar, no fundo, sabe que eu nunca exigiria nada de você —
admiti e Norah riu, me abraçando forte pelo pescoço.
— Por isso que eu te amo! E é claro que eu aceito. No fundo, eu nunca conseguiria dizer
não para você. — Ela piscou para mim, praticamente repetindo as minhas palavras, e se afastou,
levantando-se da minha cama. — Vou tomar um banho. Por que você não pede alguma coisa
para almoçarmos? Vou pular o café da manhã.
Eu concordei e a vi sair do meu quarto, fechando a porta atrás de si. Fiquei um tempo
sentado em minha cama, repassando a nossa conversa em minha cabeça. Como podemos passar
de fotos nuas da Norah para ela citando que poderia conhecer a mãe de Mason?
Sua futura sogra.
Resolvi ignorar aquilo e entrei no aplicativo de comida em meu celular.
Posar nua para James.
De onde aquela ideia maluca surgira?
Parada no meio do meu quarto, ainda de pijama, eu tentava encontrar uma resposta para
aquela pergunta. Perdi cinco minutos da minha vida e não cheguei a lugar algum. Minha mente
simplesmente se calou após colocar aquele pensamento louco em minha cabeça e ter me feito
verbalizá-lo na frente de James. Senti-me uma idiota e cobri o rosto com as mãos, tentando
reencontrar o meu equilíbrio.
Foi apenas um pensamento intruso, como aqueles que a gente tinha quando via uma ponte
e sentia vontade de jogar o celular lá de cima. Não era algo consciente, nem tinha nada a ver com
algum desejo oculto que eu mantinha escondido em algum lugar esquecido em minha mente.
Porque eu não queria posar nua para James, aquilo era óbvio.
Nós éramos apenas amigos. O fato de eu ter tido uma quedinha boba por ele quando era
mais nova não tinha nada a ver com isso.
E James era o melhor amigo do meu irmão.
Se Logan me ouvisse falando aquele tipo de sandice, me colocaria em um manicômio.
Para a minha sorte, James levara tudo na brincadeira, chegou a rir de mim quando a
pergunta absurda escapou da minha boca. Ele não fazia a menor ideia de que, em um momento
muito curto da minha adolescência, eu senti algo diferente por ele, então, não pensaria que eu
sentia vontade de ficar pelada na frente dele.
Porque eu não sentia. Era óbvio que não.
Soltando um suspiro resignado, me joguei na cama e peguei o meu celular. Vi que recebi
uma mensagem de Mason, o que me deixou com um friozinho na barriga, mas não abri a
conversa e resolvi mandar uma mensagem para John.
Eu: Ei, já chegou em casa? Como foi conhecer os seus sogros?
John e Peter, seu namorado, viajaram naquele final de semana para a casa dos pais de
Peter em Washington. Meu amigo estava nervoso, apesar de Peter ter afirmado que seus pais não
tinham qualquer preconceito e estavam ansiosos para conhecê-lo.
John: Acabamos de chegar! Foi incrível, Norah, eu preciso te contar todos os
detalhes. Os pais de Peter são maravilhosos e a mãe dele faz a melhor comida do mundo, eu
juro!
Fiquei sorrindo como uma boba ao ver o seu entusiasmo, muito feliz por pelo menos os
seus sogros serem pessoas incríveis, já que seus pais não aceitavam a sua orientação sexual. John
morava em uma república e decidira se assumir no primeiro ano de faculdade. Segundo ele, estar
morando longe de casa, sem a pressão constante dos pais, que eram muito religiosos, lhe dera a
coragem que precisava para se livrar das amarras que ainda o prendiam.
Eu sentia muito orgulho de John. Ele era uma das pessoas mais incríveis que eu conhecia,
era gentil, companheiro, sempre tinha os melhores conselhos e era extremamente talentoso.
Costumávamos falar que, um dia, performaríamos juntos na Broadway e eu não duvidava nem
por um segundo de que o nosso sonho iria se realizar.
Eu: John, estou tão feliz! Você merece ter um namorado maravilhoso e sogros
melhores ainda.
John: Namorado maravilhoso e gostoso! Juro que tentei me comportar durante esse
final de semana, mas Peter não me deixou em paz. Ainda bem que as paredes da casa dos
pais dele não eram finas.
Eu: Que sorte a de vocês, seria terrível se os pais de Peter ficassem traumatizados
com a sua visita.
John: Eu seria expulso da família antes mesmo de entrar.
Sua mensagem me arrancou uma risada.
John: Agora eu preciso saber como foi o seu encontro com o novo jogador gostoso!
Quero detalhes, Norah Miller!
Pensei na minha noite de sexta-feira e em como tudo terminou de uma maneira inesperada.
Eu não imaginava exatamente como terminaria, mas pensei que rolaria alguma coisa a mais entre
mim e Mason, talvez um beijo, mas vovó Emory passando mal no meio do restaurante fez com
que o nosso jantar tomasse um rumo diferente.
No fundo, mesmo sem querer admitir, eu estava um pouco aliviada. Não que não quisesse
ficar com Mason ou ser beijada por ele, mas porque eu sentia que colocara muita pressão em
mim mesma naquela noite. Estava nervosa, insegura, com medo de falar ou fazer algo errado.
Mason era um homem, não um garoto como os que eu costumava sair e beijar escondido quando
era adolescente. Aparentemente, ele gostou do nosso jantar e, no rápido encontro que tivemos no
dia anterior, demonstrou interesse em sair comigo novamente.
John: E você quer sair com ele de novo?
Fiquei alguns segundos encarando a tela do celular, pensando na pergunta que John
enviara depois de eu ter contado detalhes do jantar com Mason e do nosso encontro inesperado.
Eu: Sim, eu quero.
John: Quer mesmo? Você não parece tão animada assim.
Eu: O quê? Não, eu estou muito animada! Estou animada de verdade! Mason é
muito gentil, simpático, além de lindo e gostoso, como você mesmo disse. Claro que estou
animada.
John: Está falando tudo isso para mim ou para si mesma?
Eu: Para você, que não está confiando em mim.
John: Confio em você, mas, acima tudo, eu conheço você. Sabe o que senti enquanto
me contava sobre a noite de sexta-feira?
Eu: O quê?
John: Que você ficou mais animada ao passar a madrugada jogando com James.
Eu fiquei boquiaberta e me sentei no meio da cama, sentindo meu coração ficar acelerado.
Eu: Claro que não. Devo ter passado essa impressão porque fiquei feliz por ter
ganhado de James.
John: Você sempre ganha dele, Norah.
Eu: Uma vitória não anula a outra. E James está conhecendo Alicia, se esqueceu
disso?
John: Conhecendo é uma palavra muito forte, eles tiveram um encontro apenas.
Eu: Nada os impede de se encontrarem de novo.
O impacto das minhas próprias palavras me pegou de uma forma inesperada. Engoli em
seco, tentando ignorar o incômodo ao pensar em James e Alicia saindo juntos mais uma vez. Fui
eu que arranjei o encontro dos dois, então, por que me sentia assim agora? Se tivesse que ser
honesta comigo mesma, estava me sentindo daquela forma desde sexta-feira à noite.
John: Tem razão. Sabe se James quer sair com ela mais uma vez?
James não parecia tão animado assim, mas Alicia era uma mulher muito bonita e eu sabia
que James não negaria se ela demonstrasse interesse em mais um encontro.
Eu: Acredito que sim.
John: Vocês dois parecem tão animados quanto eu quando era obrigado a ouvir os
sermões homofóbicos do líder da igreja que meus pais frequentam. Sabe o que eu acho?
Eu: Tenho até medo de perguntar...
John: Que vocês dois, juntos, se bastam. Tem certeza de que são apenas amigos?
Eu: Vou ignorar essa sua pergunta sem cabimento e ir tomar banho, John.
John: Não ignore, apenas pense sobre ela. Amo você, minha atriz favorita.
Eu: Também amo você, meu ator favorito.
Deixei o celular em minha cama e corri para o banheiro, indo na contramão do conselho
de John. Não pensei sobre a sua pergunta, simplesmente fingi que ele nunca a fizera para mim,
ignorando o aperto em meu peito e a confusão imensa em minha cabeça.
Acordei mais tranquila naquela segunda-feira, decidida a ignorar aquele domingo confuso.
Passara boa parte da madrugada trocando mensagens com Mason e a forma como ele conseguia
arrancar risadinhas de mim me deixou mais animada. Isso demonstrava que John estava errado
nas mensagens que trocamos no dia anterior.
Encontrei a cozinha agitada com Logan, James e Benjamin preparando shakes de proteína
e Avalon e Aubrey, que dormiram em nossa casa naquela noite, fazendo uma montanha de ovos
mexidos. Comi junto com eles, rindo das besteiras que diziam, e não permiti que meus olhos
vagassem muito para James. Talvez, as palavras de John tivessem mexido mais comigo do que
eu imaginara — isso e a forma ridícula como agi ontem, quando James me propôs posar para ele.
Ainda podia sentir as minhas bochechas ficarem quentes de vergonha a cada vez que me
lembrava da palavra “nua”.
Meu Deus, eu queria me matar.
— Quer uma carona? — James perguntou assim que peguei a minha bolsa de cima do
sofá.
— Não precisa, vou de carro. Hoje temos a primeira reunião com a professora de Prática
de Cena, vamos começar a ver todos os detalhes para a peça que iremos encenar no final do
semestre.
— Você não tinha me contado nada sobre isso! — Logan apareceu na sala de repente
junto com Avalon e Aubrey, me dando um sorriso animado. — Vamos poder assistir à peça?
— Claro que sim, será no teatro da faculdade.
— Eu também? Ou só os alunos? — Aubrey perguntou, parecendo ansiosa.
— Todo mundo. Confesso que estou nervosa.
— Não fique, você vai arrasar, eu tenho certeza — afirmou James.
— Nós temos certeza! Já sabe qual será a peça e o seu papel? — perguntou Avalon.
— Não, acredito que Sra. O’Neal vai nos contar os detalhes hoje durante a reunião.
— Se tiver alguma atriz gostosa escalada, passa meu número para ela — disse Benjamin
de repente, descendo a escada. — Não o meu número oficial, ok? O meu número das garotas.
Benjamin era aquele tipo de homem que meu irmão lutava para manter longe de mim. O
que pegava e não se apegava, que tinha pavor de relacionamentos e que, mesmo sem querer,
deixava um rastro de corações quebrados pelo campus.
— Número das garotas? O que é isso? — Aubrey deu um olhar confuso para Benjamin.
— Você não vai querer saber o que é isso — Logan comentou com desagrado. — Aliás,
por que a minha irmã tem o seu número das garotas?
— Na verdade, eu quero saber sim. O que isso significa? — Aubrey insistiu.
Benjamim soltou um suspiro pesado, bem falso, e se aproximou de Aub, tocando nos
ombros dela.
— Princesa, um homem precisa saber escolher entre a guerra e a paz. Eu escolhi a paz, por
isso tenho um número de celular só para as garotas, entendeu? Assim, elas ficam separadas da
minha vida privada e eu posso escolher se vou falar com elas ou não.
Aubrey ficou um tempo olhando fixamente para Benjamin, antes de fazer uma careta de
desprezo e tirar as mãos dele dos seus ombros.
— Você é nojento!
— Eu já disse isso para ele — James comentou, parando ao meu lado.
Meu coração idiota disparou do nada.
— Não sou nojento, princesa, sou inteligente.
— Não, você é nojento. Um homem de verdade não faz esse tipo de coisa!
— Um homem de verdade? — Benjamin riu, como se Aubrey não tivesse a menor ideia
do que estava falando.
— Sim! Você pode ser um pegador e respeitar as mulheres ao mesmo tempo — disse ela
com a cara amarrada, muito parecida com Avalon. Seu rosto estava vermelho como a cor dos
seus cabelos.
— Mas eu respeito as mulheres! — Benjamin pareceu quase ofendido.
— Não entendo esse tipo de respeito, onde você pode transar com elas, mas elas não
podem ter acesso a sua “vida privada”, que de privada não tem nada. Todo mundo conhece a sua
fama, Ben.
— Está bem, Aub. — Avalon tocou o braço da irmã, puxando-a para perto de si. — Já
chega.
— Mas você não acha isso um absurdo, Ava?
— Benjamin é um homem adulto, capaz de cuidar da própria vida. Não devemos nos
meter.
— Isso mesmo, sua irmã tem razão, eu sou um homem adulto e você, princesa, é uma
criança.
Foi a vez de Aubrey parecer ofendida.
— Eu não sou uma criança! Vou fazer quinze anos mês que vem!
— Ok, é uma adolescente.
— E sou mais ética e responsável do que você!
Eu me sentia assistindo um jogo de ping-pong, olhando de um para o outro conforme
discutiam. Não sabia se ria por Benjamin estar se importando de fato com as palavras de Aubrey
ou se ficava chocada por ela estar dando uma surra verbal nele, porque era lógico que eu
concordava com a irmã da minha cunhada.
— Já chega! Vá para o carro, Aubrey! — Avalon ordenou, usando aquela sua voz de mãe.
Aubrey estreitou os olhos para Benjamin, fez um biquinho irritado e nos virou as costas, saindo
de casa. Avalon sacudiu a cabeça. — Desculpa, Ben. Aubrey tem uma mania irritante de achar
que é sempre dona da razão e que é mais velha do que a sua idade.
— Mas ela tem razão — disse meu irmão e Avalon deu um olhar sério para ele. — Quer
saber? Vou para o carro acalmar a minha cunhada.
Meu irmão deixou um beijo em minha testa e saiu, logo sendo acompanhado por Avalon
após ela se despedir da gente. Com as mãos na cintura, Benjamin se virou para mim e para
James.
— São seis e meia da manhã de uma segunda-feira e eu acabei de levar um esporro de
uma adolescente que nem deve ter beijado na boca ainda. Mereço isso?
— Merece — falei, arrumando a alça da minha bolsa em meu ombro. — Porque Aubrey
tem razão e, no fundo, você sabe disso. Essa história de ter um número para garotas é ridícula,
Benjamin Ryan. Cresça! Um bom dia para vocês.
Soprei um beijo para os dois e saí de casa. Fui dirigindo até a faculdade e, assim que
estacionei, ouvi meu celular anunciar uma notificação. Fiquei surpresa ao ver que eram
mensagens de Benjamin. Do seu número oficial.
Ben: Excluí o número das garotas.
Ben: Não foi fácil, doeu no meu peito, mas vocês estão certos.
Eu: Aubrey está certa, foi ela quem esfregou isso na sua cara.
Ben: Ela acha que pode falar qualquer coisa para mim, igual a Avalon fala para o
Logan, só porque eu a chamo de princesa. Essa menina está muito mal-acostumada, mas eu
gosto da pirralha.
Eu ri ao ler a sua mensagem e fiquei aliviada por Aubrey ser apenas uma garota de quase
quinze anos, o que significava que ela ficaria longe da mira de Benjamin.
Sorte a dela.
A peça escolhida pela Sra. O’Neal foi o clássico Romeu e Julieta, de Shakespeare. Não
seria um musical, o que John e eu suspeitávamos desde o início, mas eu estava animada mesmo
assim. Com o roteiro e algumas falas de Julieta em mãos, deixei a sala de reunião ao lado do meu
amigo depois de ter me inscrito para ser a protagonista. Os testes para o elenco aconteceriam no
próximo mês.
— Tenho certeza de que iremos passar e viveremos Romeu e Julieta nos palcos! — John
disse, animado, me fazendo passar o braço pelo seu conforme saíamos do prédio.
— Está pronto para escalar as trepadeiras e subir até a sacada do meu quarto, querido
Romeu?
— Claro, minha querida Julieta. Vamos fugir juntos e viver o nosso amor proibido longe
das nossas famílias!
Ele colocou a mão sobre o peito, na altura do coração, já incorporando o personagem e me
fazendo rir. Aquela estava bem longe de ser uma história cômica, mas John sabia dar um toque
de humor em tudo o que fazia.
— Minha primeira aula de hoje foi com Alicia e ela não parou de falar sobre James nem
por um segundo — disse ele, mudando completamente de assunto. — Além de ter mencionado
mil vezes o quanto ele é bonito, coisa que eu já sei, pois tenho dois olhos que funcionam muito
bem, ela também afirmou que ele foi muito simpático e galante com ela. Pelo jeito que estava
animada, se James a convidar para sair, Alicia vai correndo.
— Que... Que bom — murmurei, mas limpei a garganta em seguida, me obrigando a dar
uma resposta mais firme. — Vou contar isso para James, tenho certeza de que ele vai adorar
saber.
— Se gostou de sair com Alicia, com certeza ele vai ficar animado. — John deu dois
tapinhas em minha mão atrelada ao seu braço. — Seja sincera, eles formariam um casal bonito,
não é?
— Sim. Eu acho que sim.
— Sim, com certeza formariam. Isso se James estiver mesmo interessado em Alicia...
Desvencilhei-me do seu braço e parei à sua frente, dando a John um olhar estreito. Estava
frio do lado de fora do prédio e precisaríamos caminhar até o estacionamento, mas eu queria
encarar meu amigo e observar de perto a sua expressão quando fosse responder o que eu estava
prestes a perguntar:
— Aonde quer chegar com tudo isso, John?
— Eu? Não quero chegar a lugar algum...
— Você é um excelente ator, mas não me engana. Somos amigos desde o início da
faculdade, o conheço muito bem. Seja sincero comigo.
John soltou um suspiro e me olhou com um pouco mais de seriedade.
— Sabe o que Alicia me disse? Além de tudo o que já te contei?
— Não. O que ela disse?
— Disse que James, apesar de ter sido muito caloroso com ela, parecia estar com a cabeça
longe, e vivia olhando para o celular. Quando recebeu a ligação, pareceu quase aliviado.
— Aliviado? Impossível. Mason ligou para avisar que a avó dele estava passando mal.
— Sim, ele pareceu aliviado antes de descobrir o motivo da ligação.
Sacodi a cabeça, sem entender o que aquilo queria dizer, muito menos aonde John queria
chegar.
— Isso não faz o menor sentido.
— Faz sentido na minha cabeça. James a levou para jantar com Mason, acho que ele não
relaxou durante o jantar com Alicia, porque ficou pensando em você.
— Pensando em mim? John...
— Sim, ele deve ter ficado preocupado com você — John me interrompeu. — Como
amigo.
Estreitei os olhos.
— Da forma como você está falando, não parece uma preocupação de amigo.
— Isso é você que está dizendo. — John me deu um sorrisinho antes de voltar a ficar
sério. — Desculpa, eu não quero confundir você, Norah, só que não consegui parar de pensar na
nossa conversa ontem e depois do que Alicia me contou, acabei juntando alguns pontos...
— Que pontos?
— E se você e James não sentirem apenas amizade um pelo outro?
— Norah?
Eu me virei a tempo de ver Mason se aproximando de onde John e eu estávamos, ainda em
frente ao prédio onde tivemos a reunião. Meu coração disparou por inúmeros motivos, o primeiro
deles foi a teoria louca de John, que eu ainda não sabia de onde surgira, e, o segundo, foi a
aparição repentina de Mason. Ele olhou para mim e depois para John com o semblante meio
confuso antes de abrir um sorriso.
Meu Deus, será que ele ouviu alguma coisa do que John disse?
— Oi, Mason! — Aproximei-me dele e o cumprimentei com um abraço antes de dar um
passo para o lado. A mão dele permaneceu em minha cintura. — O que faz aqui?
— Seu irmão deixou escapar que você teria uma reunião hoje. Ele está orgulhoso,
espalhando para todo mundo que você vai encenar a primeira peça na faculdade.
Eu sorri com o peito aquecido. Podia mesmo imaginar Logan fazendo aquilo.
— Talvez eu não passe no teste e fique auxiliando todo mundo na coxia.
— Ela está sendo modesta, porque sabe que vai passar e será a protagonista — disse John
dando um passo em nossa direção.
— Eu tenho certeza de que sim — Mason murmurou, me olhando com aquele sorrisinho
despretensioso.
Mordi o lábio e respirei fundo, me sentindo subitamente nervosa. Lembrei-me da boa
educação que minha mãe me deu e resolvi apresentar formalmente os dois.
— Mason, este é John, meu amigo e, John, esse é Mason, o novo tight end do time.
— E futuro namorado dela. — Mason piscou conforme estendia a mão para apertar a de
John, que soltou uma risada efusiva enquanto eu corava até a raiz dos cabelos.
— Boa sorte para passar por Logan e James — disse meu amigo enquanto cumprimentava
o jogador.
— James eu já conquistei. Ele é praticamente o nosso cupido.
— Dizem que ele é um pouco ciumento com a Norah...
— Isso é mentira — cortei John, vendo-o arquear uma sobrancelha e me dar um sorrisinho
idiota. — John está apenas brincando.
— Sim, eu estou brincando — confirmou ele, dando um passo para trás. — Preciso ir
agora, Peter está me esperando para irmos para a sua casa. Nos vemos amanhã, Norah?
— Claro que sim. — Aproximei-me dele e o abracei, sussurrando em seu ouvido: —
Vamos ter uma conversa bem séria amanhã, engraçadinho.
— Então talvez eu falte — sussurrou de volta antes de se afastar com um sorriso. — Até
mais, Mason. Cuide bem da minha amiga, não é apenas o James que se preocupa com ela.
Meu Deus, eu mataria John!
— Norah não corre qualquer risco comigo — garantiu Mason ao voltar a me abraçar pela
cintura.
John acenou e se afastou, me deixando sozinha com Mason. Alguns poucos alunos
transitavam por ali, mas como estávamos bem longe do centro de treinamento, eles não ligavam
muito para o fato de o novo jogador do time estar parado em frente ao prédio onde ficava o teatro
da faculdade. Virei-me de frente para Mason e toquei em seus ombros fortes, sentindo suas mãos
agora em minha cintura.
— Fiz mal em vir até aqui?
— Claro que não. Eu estou surpresa, mas adorei a visita.
— Se está surpresa, é porque não deixei claro o bastante o meu interesse por você. — Seus
olhos desceram pelo meu corpo e eu me senti esquisita. Um pouco invadida, mas aquilo era uma
besteira sem tamanho, obviamente, pois Mason nunca foi nada além de maravilhoso comigo. —
Aceita almoçar comigo?
Eu estava faminta e comeria um lanche rápido na cafeteria da faculdade antes de ir para
casa, então, o convite de Mason chegara em boa hora. Seria incrível passar mais um tempo ao
seu lado e faria com que as palavras de John parassem de me deixar confusa.
— Claro! Se quiser, posso sugerir o restaurante.
— Eu ia pedir exatamente isso. Ainda não conheço muita coisa por aqui. — Começamos a
andar juntos com a sua mão na minha. Senti seu olhar sobre mim. — E quero descobrir quais são
os seus lugares favoritos.
— Você vai ser um namorado dedicado. — Arrisquei a brincar, esperando que Mason não
notasse que minha mão estava suando frio.
— Você não imagina o quanto.
Eu apenas sorri e segui com ele até o estacionamento.

Deixei o centro de treinamento sentindo cada músculo do meu corpo rígido e dolorido
após a mudança que o treinador fizera no treino de cardio. Eu tinha uma ótima resistência para
corrida, mas o treinador parecia estar ainda mais sádico ao montar a grade de exercícios para a
nova temporada. Segundo ele, precisávamos estar preparados para o início dos treinos dentro de
campo.
— Estou morto de fome, vamos parar em algum lugar para almoçar antes de ir para casa?
— Benjamin perguntou assim que me alcançou a caminho do estacionamento. — Logan foi
encontrar com Avalon, porque você sabe que ele não consegue respirar direito quando está longo
dela.
A risada que soltei foi muito mais pela careta de Benjamin do que pelo fato de que ele
estava certo. Logan já não sabia mais como viver longe da Valente dele.
— Você soa quase com inveja.
— O quê? Inveja? Você tá maluco. — Sua expressão de horror me divertiu.
— Fala verdade, está doido para conhecer uma Valente também.
— Nem fodendo. Olha, podemos não falar sobre mulheres hoje? Ainda estou sensível por
ter excluído o número das garotas.
— Não acredito que você realmente fez isso.
Benjamin fechou a cara, quase parecendo arrependido, e eu podia jurar que estava mesmo.
Ele não era extremamente babaca, não enganava as garotas e, aquelas que insistiam em tentar
conquistar de verdade o running back, faziam aquilo por sua conta e risco. Nenhuma nunca
conseguiu. Benjamin parecia ser realmente blindado contra o amor, talvez por tudo o que
vivenciou na infância e adolescência, e eu não sabia ao certo o que pensar sobre aquilo.
Me encantei por Megan, me apaixonei por ela e quebrei a cara. Por algum tempo, fiquei
como Benjamin, meio amargurado, sem querer pensar em me envolver sério com alguém de
novo, mas eu sentia que havia superado aquilo. Já não pensava mais em Megan nem na sua
traição. Obviamente, era algo que sempre me acompanharia, pois eu acreditava que não nos
esquecíamos daqueles que, um dia, brincaram com os nossos sentimentos, mas eu não era radical
como Ben.
E, no fundo, nunca amei Megan de verdade. Ter aquela certeza dentro de mim era o que
me provava que, um dia, eu poderia me apaixonar de novo e viver um relacionamento verdadeiro
como o dos meus pais.
— Sim, eu fiz. Fiquei me sentindo mal com o que Aubrey me falou, sabe? — Benjamin
bufou. — Não acredito que uma pirralha me atingiu desse jeito.
— É porque você se importa com ela. Sempre levamos em consideração a opinião de
quem nos importamos.
— Sim, eu gosto dela, acho a garota uma fofa e gostei que usou a minha camisa na final,
para me dar apoio moral. — Ben riu. Ainda me lembrava da sua cara de surpresa quando Aubrey
apareceu vestida com a sua camisa no dia anterior ao jogo e afirmou que a usaria durante a
partida. — Ela disse que me daria sorte e deu mesmo.
— E todas as outras garotas que usaram a sua camisa naquele dia?
— Elas deram sorte para o meu pau. Ele se divertiu muito na festa da vitória.
— Você é um idiota do caralho — ralhei, dando um soquinho em seu ombro e ouvindo a
sua risada.
— Não tenho culpa se você foi dormir sozinho naquela noite, mesmo estando cercado por
garotas que estavam doidas para ir para a sua cama.
Eu apenas dei de ombros, sem saber como responder àquilo. Curti muito naquela noite,
bebi demais, mas não estava no clima para ficar com ninguém. Benjamin pareceu que ia
continuar o assunto, mas franziu o cenho e parou no início do estacionamento, me fazendo parar
também. Um assobio saiu da sua boca.
— Parece que Mason está mesmo investindo na Norah.
Eu segui o seu olhar e vi Mason e Norah se dirigindo para o carro dela de mãos dadas. A
garota sorria de algo que o jogador havia acabado de falar e eu engoli em seco, surpreso por
encontrá-los juntos em plena segunda-feira. Nem mesmo tinha visto Mason deixar o centro de
treinamento, como já estava grudado em Norah daquele jeito?
— Acha que vai rolar algo sério entre eles? — Ben perguntou ao meu lado.
— Não sei. — Minha resposta saiu meio anasalada. Eu sentia um bolo na garganta
conforme os observava.
Mason parou com Norah em frente ao Audi dela e os dois trocaram mais algumas
palavras. Senti meu peito ficar apertado, meu coração começar a disparar, quando ele tomou o
rosto dela nas mãos e começou a se aproximar. O babaca iria beijá-la? Bem ali, na frente de todo
mundo, em plena luz do dia? Sem pensar direito, dei um passo para frente, mas Benjamin
segurou o meu braço e me encarou com confusão.
— O que está fazendo? — Eu olhei para ele, depois para Mason e Norah. — Não está
pensando em dar uma de Logan e ir até lá atrapalhar o lance da Norah, está?
O lance da Norah.
Norah não era uma garota para se ter um lance, porra! E não, eu não estava querendo ir até
lá para agir como Logan, eu estava... Eu nem sabia ao certo o que estava prestes a fazer, mas
segurei a minha respiração mesmo assim quando Mason aproximou o rosto do dela e... beijou a
sua bochecha.
Soltei todo o ar que estava em meus pulmões, a ponto de sentir meus ombros relaxarem. O
tight end deu um passo para trás e se afastou de Norah, acenando para ela e atravessando para
entrar em sua BMW. Eles não iriam sair juntos. Ótimo.
Deixaria para pensar depois sobre o porquê de me sentir tão aliviado sobre aquilo.
— James? — Virei-me para Benjamin, encontrando-o com o cenho franzido. — O que
está acontecendo?
— Nada. — Limpei a minha garganta para que a minha voz saísse mais firme. — Não está
acontecendo nada. Vamos embora? Eu faço o almoço.
Benjamin continuou a me dar um olhar especulativo, cheio de desconfiança, e eu fiquei
me perguntando sobre o que estava passando pela sua cabeça. Era melhor que eu não soubesse,
afinal. Minha mente já estava confusa o suficiente. Por fim, Ben apenas assentiu.
— Vamos logo, estou morrendo de fome.
Fomos cada um para o seu carro e, já ocupando o lugar do motorista, vi que Norah não
tinha saído ainda e resolvi mandar uma mensagem rápida para ela.
Eu: Omelete ou macarrão com queijo para o almoço? Aproveita que estou te dando a
chance de escolher.
Sua resposta chegou momentos depois:
Norah: Estou indo almoçar com Mason.
Porra. Meu coração sofreu um solavanco no peito e o alívio que senti simplesmente
desapareceu. Como um idiota, perguntei:
Eu: Agora?
Norah: Sim. Ele veio me encontrar no prédio onde eu estava tendo a reunião com a
professora O’Neal e me convidou.
Eu: Seu irmão linguarudo entregou a sua localização.
Norah: Sim, Mason me contou.
Logan era um fofoqueiro do caralho! Respirei fundo e me obriguei a parar de surtar. Que
merda estava acontecendo comigo, afinal? Eu sabia que Mason era um cara legal, ele parecia
realmente interessado em Norah e ela parecia retribuir o sentimento. Não precisava me preocupar
com nada, nem sentir aquele aperto esquisito no peito.
Eu: Tudo bem, então. Divirta-se. Qualquer coisa, você sabe que pode me ligar.
Norah: Eu sei disso. Faça macarrão com queijo, vou comer no jantar.
Eu: Vou pensar no seu caso.
Deixei o meu celular de lado após mandar beijos para ela e coloquei meu carro em
movimento, me obrigando a ignorar toda aquela merda que estava acontecendo comigo em
relação a Norah.
Levei Mason a um restaurante que se parecia com os pubs europeus e serviam o melhor
peixe com fritas do Alabama, além de ser conhecido por vender a autêntica cerveja Guinness.
Nós pegamos uma mesa mais afastada dos clientes e rapidamente fizemos os nossos pedidos. Eu
não queria beber, mas Mason pediu uma cerveja e eu acabei aceitando.
— A nós dois. — Mason sorriu, animado, erguendo o copo em minha direção.
— A nós dois.
Brindamos e dei um gole na bebida escura e levemente adocicada. Era a cerveja favorita
da minha mãe, mas não quis pensar demais nela e acabar me emocionando na frente de Mason.
— Nem acredito que estou sozinho com você de novo. — Mason esticou a mão sobre a
mesa até entrelaçar os dedos nos meus. — Não consegui parar de pensar em você durante o final
de semana inteiro.
Eu abri a boca e, por um momento, quase falei que também não consegui parar de pensar
nele, mas seria mentira. Não era certo começar uma relação com mentiras, por mais inocentes
que fossem.
— Também senti a sua falta e queria ver você de novo.
— É mesmo?
— Sim.
— Que bom, porque estou gostando mesmo de você, Norah — disse Mason e senti o tom
da conversa mudar um pouco, ficar mais séria. — Sei que pode parecer rápido demais, mas eu
sinto tudo com intensidade, sempre fui assim. Quando quero uma coisa, faço de tudo para
conseguir.
— Isso é... bom — murmurei, tentando encontrar as palavras certas.
Aquilo era bom, não era? Ser obstinado, focado em seus objetivos, ter certeza do que
queria e não desistir no meio do caminho.
— Por isso gosto de honestidade, gosto de saber que não sou o único a estar me
entregando enquanto a outra parte não está na mesma página que eu. — Seus olhos claros
ficaram mais sérios e eu senti a minha garganta subitamente seca. — Eu ouvi o que John
perguntou quando estava me aproximando de vocês.
— O que ele perguntou? Sobre...
— Sobre você e James.
Fechei os olhos por um segundo. No fundo, eu sabia que Mason ouvira, ele estava
próximo demais quando anunciou a sua presença e John havia acabado de fazer aquela pergunta
sem sentido.
— Mason, não dê ouvidos para John. Ele tem essa mania de ver coisas onde não existem.
— Será mesmo? Ou você e James nutrem sentimentos um pelo outro e eu estou me
intrometendo? Se for isso, Norah, prometo me afastar e seremos apenas amigos.
Mason ameaçou afastar a mão da minha, mas eu a segurei mais forte, colocando minha
outra mão por cima das nossas ainda entrelaçadas.
— Não! James e eu somos apenas amigos, nós nos conhecemos desde que eu era criança,
não há nada entre nós dois.
— Tem certeza?
— Claro que sim!
— Porque, na festa de comemoração do time, ele foi bem territorial com você e disse que
você era a garota dele.
Meu estômago ficou agitado com a lembrança, como se mil formigas estivessem andando
no interior da minha barriga, e minha pele ficou arrepiada. Eu me lembrava daquilo. Da forma
como James me abraçou pelos ombros e pareceu estufar o peito quando Mason disse que um dia,
talvez, eu usasse a camisa dele e não mais a do wide receiver.
— James estava bêbado. Foi apenas um ciúme bobo, como de um irmão.
— Nunca ouvi Logan falando que você é a garota dele — Mason insistiu com os olhos
levemente estreitos.
Eu suspirei, me sentindo em um beco sem saída. Como faria Mason acreditar que entre
mim e James não existia nada além de amizade?
Porque realmente não existia.
Dormimos de conchinha duas vezes? Sim.
Senti-me incomodada quando ele saiu com Alicia? Sim.
Eu babava em seu corpo quase todos os dias? Sim.
Tive uma paixão boba por ele quando era adolescente? Sim.
Mas isso não queria dizer que entre nós dois havia mais do que amizade ou que eu sentisse
algo mais por James. Eu não sentia. Nem poderia sentir. Logan jamais perdoaria James se ele
tocasse de qualquer outra forma em mim e eu nunca me perdoaria se colocasse em risco amizade
dos dois.
— Juro que não há nada mais do que amizade entre James e eu, Mason — afirmei com a
voz mais firme, torcendo para que acreditasse em mim, porque aquela era a única verdade que eu
conhecia. — Somos muito unidos porque nos conhecemos há anos, mas é só isso.
— Então, o que há entre mim e você pode continuar acontecendo?
— Sim. — Eu sorri e acariciei o dorso da sua mão com o meu polegar. — Também estou
muito interessada em você e não quero que nada fique entre nós dois.
Mason sorriu, parecendo satisfeito, e tomou mais um gole da cerveja. Seu olhar percorreu
todo o meu rosto, desde a minha testa até parar em meus lábios.
— Que bom, Norah, porque conhecer você naquela festa trouxe um novo sentido à minha
vinda para o Alabama.
Suspirei, me sentindo encantada com as suas palavras, mas ao mesmo tempo pressionada.
Ignorei aquele sentimento fora de hora e sorri, tentando aproveitar o almoço e a companhia do
jogador.

Passei um bom tempo deitada em minha cama assim que cheguei em casa, pensando no
almoço com Mason. Era engraçado como o nosso corpo podia reagir de formas semelhantes, mas
por motivos completamente diferentes. Perto de Mason eu sentia as mãos suarem frio, meu
coração se acelerar um pouco, a timidez me dominar, mas tudo proveniente de um certo
nervosismo que eu não sabia explicar de onde vinha.
Mason era um cara maravilhoso. Bonito, divertido, carinhoso. Ele me dava olhares
intensos, que mexiam comigo, e sempre me pegava de surpresa quando me tocava, fosse na mão
ou na cintura. Ainda podia sentir o seu beijo em minha bochecha e o certo receio que me atingiu
quando pensei que ele beijaria a minha boca.
Era aquilo que me deixava confusa. Eu deveria querer o beijo dele, não o temer. Sentei-
me na cama, soltando um suspiro de frustração. O que estava acontecendo comigo?
Senti vontade de ir até James para conversar com ele, mas fiquei com um pouco de
vergonha. De alguma forma, conversar sobre Mason com James parecia estranho para mim,
outra coisa que eu não entendia, pois foi para ele que contei quando dei o meu primeiro beijo
quando ainda era uma menina.
Mas, naquela época, você ainda o via apenas como um amigo.
Silenciei a voz em minha cabeça e saí de vez da cama. Vovó me enviara uma mensagem
mais cedo, pedindo para que eu fosse jantar com ela, pois meu pai estava viajando e ela estava
sozinha em casa. Perguntei se Logan também deveria ir, mas, segundo a matriarca, seria um
jantar apenas de meninas. Sorri com aquilo, sentindo ainda mais falta da minha mãe, mas vovó
ocupava bem aquele espaço materno em meu peito.
Tomei um banho rápido e me vesti, encontrando James e Benjamin no sofá. Ben dormia e
James se levantou assim que me viu.
— Aonde vai toda bonita desse jeito?
— Jantar com a minha vó — falei e James pareceu surpreso. Talvez acreditasse que eu
fosse me encontrar com Mason de novo. — E obrigada pelo elogio, nem me arrumei direito.
— Você está sempre linda para mim. — O jogador tomou a minha mão e me levou até a
cozinha. — Como foi o almoço com Mason?
— Foi ótimo. Ele parece mesmo interessado em mim e eu estou tentando me acostumar
com isso.
James deixou o celular sobre a ilha da cozinha e abriu a geladeira. Eu não consegui desviar
o olhar da sua bunda dura bem-marcada sob a calça de moletom cinza que caía com perfeição em
sua cintura. Era uma pena que ele estivesse usando uma camiseta naquele momento. Mordi a
língua, obrigando o pensamento inapropriado a sair da minha cabeça. James pegou uma garrafa
de água dentro da geladeira, um copo sobre a bancada, e voltou para perto de mim na ilha
central.
— Tentando se acostumar? Como assim?
— Os homens, geralmente, não demonstram interesse por mim, eles apenas fogem com
medo do meu irmão.
James deu um sorrisinho e sacodiu a cabeça conforme tomava um gole da água gelada.
— Não são homens, são covardes — disse ele.
— E Mason não parece ser covarde.
James parou com o copo a caminho da boca, ficando sério de repente, seus ombros se
tensionando. Por um momento, me perguntei se eu havia falado algo de errado.
— Sim, ele não parece ser covarde — concordou baixinho, franzindo levemente o cenho.
Senti que iria falar mais alguma coisa, mas seu celular vibrou sobre a bancada de granito
com uma nova notificação de mensagem. O nome de Alicia na tela me causou um rebuliço por
dentro, me pegando completamente de surpresa, mesmo sabendo que não deveria. Eles saíram
juntos e estavam se conhecendo, era óbvio que deveriam estar trocando mensagens. Obriguei-me
a não ficar pensando sobre o que conversavam, se estavam marcando de sair novamente, talvez
para transar. Afastei-me da ilha e James arregalou um pouco os olhos, dando a volta para me
encontrar.
— Preciso ir, vovó tem o costume de jantar cedo.
Seu celular vibrou de novo e James olhou com certa irritação para o aparelho, me
deixando confusa. Por fim, apenas concordou com a cabeça.
— Claro. Tome cuidado na pista, estava chovendo agora há pouco.
— Pode deixar, irmãozinho.
Ele riu e se aproximou para deixar um beijo em minha testa, fazendo meu coração ficar
acelerado por um motivo completamente diferente de quando Mason se aproximava de mim.
— Estou bem longe de ser o seu irmão, Norah. — Sua voz soou grave e meio rouca, me
deixando arrepiada. — Se precisar de alguma coisa, me liga.
James se afastou e eu engoli em seco, torcendo para que meus mamilos não despontassem
sob a minha blusa, porque eles simplesmente endureceram. Droga, aquilo era ruim. Era ruim pra
caramba. Acenei para ele e saí quase correndo de casa, respirando o ar frio do lado de fora a
caminho do meu carro.
Fiz o caminho até a mansão tentando não pensar naquelas reações do meu corpo a James.
Sempre reagi a ele, mas nunca daquela forma tão... intensa e inapropriada. Nem poderia colocar
a culpa no frio, porque o aquecedor estava ligado dentro de casa e ele funcionava muito bem. A
culpa era totalmente minha e do meu sistema nervoso traidor.
Cheguei à minha antiga casa com o céu já escurecendo e fiquei surpresa ao ouvir vozes
vindas da sala de estar. Sorri ao encontrar vovó Meredith acompanhada por vovó Emory, as duas
conversando e tomando um drinque. Nada de chá para elas, pelo visto.
— Por que começaram a beber sem mim? — perguntei, anunciando minha presença.
As duas se levantaram e abracei bem forte cada uma, sentando-me entre elas no sofá.
Vovó pediu para que servissem uma taça de cosmopolitan para mim e apontou para vovó Emory.
— Foi ela que me influenciou a tomar um drinque em plena noite de segunda-feira.
— Estamos velhas, não mortas, sua avó precisa entender isso. E eu não aguento mais
tomar chá, estou bem longe de ser a Rainha da Inglaterra para tomar chá o dia todo — disse vovó
Emory, me fazendo rir.
— A senhora está certa, mas deveria mesmo estar bebendo depois de passar mal na sexta-
feira?
— Disse bem, isso aconteceu na sexta-feira, eu já estou ótima e minha saúde está perfeita!
— Ela deu dois tapinhas em meu joelho. — Obrigada por se preocupar comigo, querida.
Eu apenas balancei a cabeça, querendo dizer que não precisava me agradecer, e aceitei o
drinque que a governanta me entregou. Precisei me levantar para cumprimentá-la com um
abraço, e logo voltei a ficar sozinha com minhas duas avós, a de sangue e a de coração.
— Emory me contou que a encontrou no restaurante com um rapaz... — Eu sabia que
vovó puxaria aquele assunto.
— Um rapaz bonito — comentou vovó Emory. — Mas meu James é mil vezes mais
bonito do que ele, não é, Norah?
Quase cuspi a bebida ante à sua pergunta, mas consegui controlar a minha surpresa. Engoli
sem me engasgar e sorri.
— Os dois são bonitos...
— Mas James é mais — concluiu ela e, bem, vovó Emory não mentia. James era mesmo
mais bonito, mas como eu poderia falar aquilo sem que soasse estranho?
— Conte-me mais sobre o rapaz com quem estava jantando — pediu minha avó, me
salvando de responder.
— O nome dele é Mason e é o novo jogador do time de futebol, nós estamos ficando mais
próximos.
— Próximos? O que isso significa? — vovó Emory perguntou com olhos de águia sobre
mim.
Pensei no almoço com Mason e em nossa conversa, na forma clara como foi comigo e
demonstrou o seu interesse. Ele queria algo sério e eu também queria aquilo. Queria me
apaixonar, namorar, viver um romance como do meu irmão com Avalon. Eu a via sorrindo e
suspirando quando achava que ninguém estava observando, tão apaixonada por meu irmão
quanto ele era por ela. Será que me sentiria daquela forma por Mason em algum momento?
— Estamos conhecendo melhor um ao outro. Aquele jantar foi o nosso primeiro encontro.
— E como foi? Você gostou de passar um tempo com ele? — perguntou minha avó.
— Sim, eu gostei. — As duas senhoras se encararam rapidamente, parecendo desconfiadas
da minha resposta, e eu decidi ser mais enfática: — Gostei muito! Mason é um cara incrível e
parece estar mesmo gostando de mim.
— E você está gostando dele? — vovó Emory questionou.
— Estou. Como eu disse, ainda estamos nos conhecendo, mas estou gostando dele, sim.
— Você não parece tão entusiasmada, querida — minha avó comentou.
— Eu estou entusiasmada! Nós almoçamos hoje novamente e foi ótimo.
— Eles ainda estão se conhecendo, Meredith — disse vovó Emory, tocando em minha
mão. — Para se conquistar confiança e afeto demora um tempo.
Eu concordei com a cabeça, com um entusiasmo verdadeiro, quase aliviada pelas palavras
de vovó Emory. Eu precisava falar aquilo para mim mesma. Que os sentimentos, às vezes,
demoravam para surgir, e que eles iam muito além de uma simples atração. Porque era claro que
eu me sentia atraída por Mason. Ele era um homem lindo, chamou a minha atenção desde a
nossa primeira interação, e foi o único cara com coragem suficiente para se aproximar de mim
sem medo do meu irmão.
— Tem razão, mas quando conheci meu falecido Logan, eu simplesmente tive certeza de
que ele era o homem certo. Ele fazia o meu coração ficar acelerado apenas por estar ao meu lado
ou olhar para mim, seu toque me deixava com um frio na barriga delicioso e a sua voz... Eu
ficava arrepiada apenas em ouvi-la.
Fiquei presa às palavras da minha avó, à expressão saudosa em seu rosto, o brilho em seus
olhos. Novamente, me peguei pensando em como nosso corpo podia reagir de maneira
semelhante, ainda que por sentimentos diferentes. E fiquei assustada. Porque não me sentia
daquela forma por Mason, mas sentia por Jam...
Não. Pare com isso, Norah! Pare agora mesmo!
— Era dessa forma que eu me sentia por Joseph. — Foi a vez de vovó Emory sorrir. —
Sei que parece uma bobagem dita por duas velhas, mas acredite, Norah, nosso coração
simplesmente sabe quando o homem certo está por perto. Ele nos avisa. Nem sempre sabemos
interpretar os seus sinais, às vezes demoramos um pouco para ouvi-lo, mas ele sempre sabe.
— Esse rapaz, Mason, causa algo parecido em você?
Abri e fechei a boca, sem saber o que responder. Talvez o meu silêncio já fosse uma
resposta, mas eu precisava dizer alguma coisa. Qualquer coisa.
— Ele me causa frio na barriga, sim, e meu coração se acelera um pouco — murmurei,
querendo fugir do olhar delas e, ao mesmo tempo, simplesmente confessar que não era Mason
quem me causava todas as reações que descreveram.
Mas eu não poderia falar nada porque, primeiro, James jamais sentiria qualquer uma
daquelas coisas por mim e, segundo, ele era o melhor amigo do meu irmão. Ficar com Mason
escondida de Logan era uma questão de sobrevivência da minha independência, mas pensar em
fazer algo parecido com James? Seria uma traição.
E eu nem precisaria me preocupar com aquilo, pois nunca ficaríamos juntos daquele jeito.
Sabia daquilo quando me apaixonei rapidamente por James quando mais nova e continuava
sabendo agora.
— Acho que todos esses sentimentos que descreveram vão surgir com o tempo, com a
convivência. Nem todo mundo tem a sorte de vocês duas de se apaixonar à primeira vista —
brinquei e elas sorriram.
— Pode ser que tenha razão, mas você nunca sentiu isso por ninguém? — vovó Emory
perguntou, olhando dentro dos meus olhos.
— Nunca — menti, desviando do olhar dela.
— Tem certeza? — perguntou minha avó.
— Sim. — Terminei o meu drinque e fiquei aliviada quando anunciaram que o jantar já
estava servido. — Vamos comer? Estou morrendo de fome!
Nós nos levantamos e fui com as duas senhoras até a sala de jantar, torcendo para que
mudassem de assunto durante a refeição.
As últimas duas semanas passaram praticamente se arrastando entre as aulas na faculdade,
treinos físicos intensos e reuniões com os técnicos do time. Estávamos em fevereiro, mas os
meses passavam em um piscar de olhos e o tempo sempre parecia correr contra a gente.
Precisávamos estar preparados, tanto física quanto mentalmente, para o início da temporada, e
aquele era o momento de dar o nosso sangue para podermos apresentar a melhor performance
quando os jogos começassem.
Nosso time era unido e até mesmo os novatos, como Mason, já haviam se enturmado. O
tight end era o tipo de cara que se tornava rapidamente o amigo de todos, até mesmo Logan, que
desconfiava do interesse do jogador por sua irmã, ia com a cara dele. Eu não tinha nada contra
Mason, pelo contrário, fui eu mesmo que incentivei Norah a dar uma chance para ele, mas me
sentia cada vez mais incomodado com a sua presença, o que era uma idiotice tremenda da minha
parte.
No fundo, uma voz em minha cabeça alertava que eu estava com ciúmes, mas eu não dava
muita bola para ela.
Norah e Mason estavam cada vez mais próximos, almoçavam quase todos os dias juntos e
Norah vivia trocando mensagens com ele. Não sabia se eles já haviam se beijado, pois não tive
coragem de perguntar para Norah, mas sentia que, se ainda não havia acontecido, em algum
momento, aconteceria. A garota parecia entusiasmada com o jogador e eu só podia ficar feliz por
ela finalmente estar vivendo a sua vida como tanto queria.
O problema, era que eu não estava tão feliz assim.
Ciúmes. Você está com ciúmes, James McHugh. Está perdendo a sua garota para Mason.
Minha garota.
Eu falava aquilo para Norah, mas nunca com segundas intenções. Ela era minha garota por
ser especial, por eu a ter visto crescer, por ter sido o escolhido por ela para saber os seus
segredos e guardá-los comigo. Ela não era minha no sentido amoroso. E o ciúme que eu sentia
também não tinha nada a ver com aquilo, era só um sentimento bobo de amizade. Estava com
medo de perder a intimidade que tinha com Norah, apenas isso, e sentia que esse medo não era
infundado.
Ela parecia distante de mim. Desde a conversa que tivemos em meu quarto, Norah estava
estranha, hesitante, e eu não sabia o motivo.
Não queria perdê-la e era apenas por isso que me sentia daquele jeito sobre ela e Mason.
Estacionei em frente ao Maeve’s e atravessei a rua correndo até o bar. Era sábado à noite,
o lugar já estava praticamente cheio, mas eu não precisava de uma mesa. Logan guardara um
banco ao seu lado em frente ao balcão, seu lugar cativo para ficar perto de Avalon. O
quarterback era aquele tipo de namorado e eu ainda me pegava rindo ao pensar em como ele
babava em cima da sua Valente.
— Ainda não acredito que dispensou uma festa em pleno sábado à noite para ficar
tomando cerveja comigo — disse assim que me sentei ao seu lado.
Estava mesmo rolando uma festa na casa de um dos alunos populares da UA, Benjamin
havia até mesmo postado stories do lugar lotado, mas não senti vontade de ir. Fiquei em casa,
jogado no sofá, sem muito ânimo para sair, até ser surpreendido por Norah descendo a escada
toda arrumada. Ela estava linda usando uma calça jeans muito justa, uma blusa preta levemente
transparente, colada ao corpo, e botas de salto médio. Uma jaqueta de couro estava pendurada
em seu braço.
Eu sabia por que ela havia se arrumado daquela forma, mas perguntei do mesmo jeito.
R ecebi um sorriso nervoso dela enquanto me respondia:
— Mason me chamou para sair com ele, parece que descobriu um pub parecido com
aquele que costumamos frequentar e quer conhecê-lo comigo.
Eu engoli em seco e assenti, sem conseguir tirar os olhos dela.
— Não vai precisar da minha ajuda para encobrir os seus rastros de Logan? — Fiz de tudo
para que a pergunta saísse da minha boca em um tom de brincadeira e Norah acreditou em mim,
pois riu.
— Não será preciso, meu irmão já está no Maeve’s e disse que vai dormir com a Avalon.
— Ela ficou em silêncio por um segundo e eu senti que suas próximas palavras cairiam como
uma bomba em meu colo. — Acho que está chegando a hora de parar de me esconder do meu
irmão.
Foi realmente como se uma bomba tivesse explodido, mas não no meu colo. Foi dentro de
mim e eu fiquei assustado pra caramba.
Eu sentia que aquilo aconteceria em algum momento. Via a movimentação de Mason para
cima da Norah, a intimidade crescendo entre eles. Porra, eu a incentivei a conhecer melhor o
jogador, praticamente dei o aval para que ele se aproximasse dela. Norah era uma mulher linda,
inteligente e amorosa, Mason não seria idiota de deixá-la escapar. E não deixou. Ele a conquistou
e eu me sentia...
Eu me sentia estranho e confuso pra caralho.
Ainda assim, forcei um sorriso.
— Que bom, Norah. Você merece isso, de verdade.
O peito de Norah subiu e desceu com uma respiração profunda e eu nunca me senti tão
longe dela quanto naquele momento, ainda que poucos metros a mantivessem afastada de mim.
— Não daria certo se você não tivesse me ajudado no início de tudo.
Pois é, eu ajudei mesmo. Se Norah estava pensando em contar para o irmão que estava se
envolvendo com Mason, era porque eu agira de maneira correta. Precisava me lembrar disso
mais vezes, até a minha mente se acostumar com aquela nova realidade.
Norah estava prestes a namorar sério. Ela já não era mais a minha garota.
Para a minha surpresa, Norah se aproximou até onde eu estava no sofá e deixou um beijo
estalado em minha bochecha, me dando a oportunidade de sentir mais de perto o cheiro do seu
perfume. Meu peito se apertou, como se já estivesse sentindo a sua falta.
— Eu te amo, James McHugh. Nunca se esqueça disso.
— Por que eu esqueceria?
— Porque quando você namorou com a Megan, eu quase me esqueci de que você ainda
me amava e não quero que isso aconteça com você.
Eu estreitei os olhos para ela e forcei um novo sorriso.
— Você ainda não está namorando com Mason... Ou está?
— Ele não fez o pedido.
— Então, ainda não está — afirmei e aquilo, mesmo sem querer, me deixou um pouco
aliviado. — Mas pode ficar tranquila, não vou me esquecer de que você me ama profundamente,
a ponto de quase não conseguir respirar.
Norah soltou uma gargalhada e eu acabei rindo também, sentindo saudades de apenas
passar um tempo com ela. A última vez que ficamos sozinhos de verdade foi naquela manhã em
meu quarto, onde ela achou que posaria nua para mim. Aquela conversa sempre ficava se
repetindo em minha mente.
— Não precisa exagerar desse jeito. — Uma buzina soou do lado de fora e Norah se
afastou de mim. — Estou indo. Procure algo para fazer, não fique sozinho em casa.
— Sim, senhora. Mais alguma recomendação?
— Seja consciente e use camisinha.
— Não pretendo transar e espero que você também não!
Eu me ergui do sofá a tempo de ver Norah caminhar até a porta de casa, seus cachos
longos chegando à cintura fina e quase batendo em sua bunda gostosa moldada pelo jeans. Ela
tocou a maçaneta e virou apenas o rosto em minha direção.
— Não vai ser hoje que eu vou perder a virgindade, pode ficar tranquilo.
E foi naquele momento que eu descobri que meu coração era forte pra caralho, pois se não
tive um ataque fulminante naquele exato segundo, era porque o órgão era mais resistente do que
eu imaginava.
Sentei-me no sofá me sentindo um pouco atordoado. Eu desconfiava que Norah era
virgem, mas nunca tive certeza, afinal, não convivia com a garota vinte e quatro horas por dia e
passamos a morar juntos apenas no ano passado. O fato de ela nunca ter namorado não queria
dizer nada. Perdi a virgindade com uma garota que também era virgem e nunca namoramos.
Ter aquela certeza me deixou com o coração acelerado e uma gota de suor gelado desceu
pela minha nuca. Norah era virgem e Mason que teria o privilégio de ser o primeiro homem dela.
Caralho, eu não queria pensar naquilo.
Por isso, enviei uma mensagem para Logan, apenas para confirmar se ele estava no
Maeve’s, e entrei em meu carro logo depois de ele responder. Dirigi meio aéreo até o bar e ainda
me sentia assim conforme Avalon colocava uma long neck na minha frente e Logan aguardava
pela minha resposta.
— Eu sou um bom amigo, não queria te deixar esperando pela sua Valente sozinho. —
Pisquei para Avalon, apenas para irritar o QB, e ela riu enquanto ele estalava a língua no céu da
boca.
— Para de roubar meu apelido, James!
— Não vou parar, a maior diversão da minha vida é te deixar puto, estrelinha dourada.
— Você precisa arrumar outra fonte de diversão. Uma namorada, talvez? — Logan
sugeriu e a imagem de Norah apareceu em minha mente.
Ah, não.
Não mesmo, porra!
Dei um gole longo na cerveja, esperando que o álcool dominasse a minha cabeça.
— Por que todo casal apaixonado acha que os solteiros precisam começar a namorar?
— Porque a gente quer que vocês tenham a mesma felicidade que a gente — Avalon
respondeu, apoiando os braços no balcão. — Não tem ninguém na sua mira, jogador?
— Não — respondi bem rápido, antes que Norah aparecesse em minha mente de novo. —
E eu estou muito bem assim, curtindo a minha solteirice.
— Curtindo como, se está aqui comigo? Eu sei que sou bonito e gostoso, mas já tenho
dona. — Logan apontou para Avalon, dando um sorriso safado para ela.
— Essa é a sua forma discreta de dizer que é para eu ir embora?
— Não, estou feliz por ter você aqui, tem tempo que não tomamos uma cerveja juntos e
apenas relaxamos um pouco. — Logan encostou a garrafa na minha e deu um gole na bebida. —
Só falta o Ben, mas o idiota é guiado pelo pau.
— Aposta quanto que ele vai reclamar quando descobrir que bebemos juntos hoje? —
perguntei com uma risada. Benjamin não dispensava uma festa, a não ser para passar um tempo
comigo e com Logan. Se tivéssemos planejado melhor, ele estaria conosco naquele momento.
— Claro que vai reclamar, ele ama um drama. Ainda está resmungando pelos cantos por
ter excluído o número das garotas. — Logan revirou os olhos e eu ri, me lembrando do sermão
de Aubrey para cima de Benjamin.
Avalon se afastara para encher canecas de chope, mas foi olhando para ela que eu respondi
ao QB:
— Aub não nega de quem é irmã.
— Verdade. — Logan abriu um sorriso bobo. — Eu amo essa mulher, sabe? Amo pra
caralho. E Aubrey... Ela é como minha irmãzinha, sou doido por aquela garota, e já estou com
medo de como será o futuro quando ela entrar para a faculdade. — Eu gargalhei alto ao ouvir
aquilo, desviando da tampinha da garrafa de cerveja que Logan jogou em minha direção. — Isso
não tem graça, idiota.
— Desculpa, mas tem sim. Só você se preocuparia com isso, Logan. Aubrey é uma criança
ainda, preserve a saúde do seu coração, cara.
— Eu sei disso, mas ela quer ser líder de torcida. Como posso ficar tranquilo?
— Pode ficar tranquilo vivendo o presente e parando de se preocupar com o futuro.
— No presente, eu tenho a minha irmã para cuidar, e sei que Norah está aprontando
alguma coisa... — Ele bateu com o dedo na própria têmpora. — Meu sexto sentido está me
avisando.
— É mesmo? E o que ele está dizendo?
— Que Norah está conhecendo alguém, talvez o Mason... Sabe de alguma coisa?
Observei bem os olhos de Logan e sua expressão, procurando por qualquer indício de que
estivesse suspeitando de mim, mas não encontrei nada. Aquilo me deixou aliviado e culpado ao
mesmo tempo.
— Não. — Mentir para ele foi terrível, mas eu não trairia a confiança de Norah, nunca. —
Mas se sua irmã realmente estiver conhecendo Mason e se sentir que algo sério pode acontecer
entre eles, ela vai te falar, Logan. Confie nela.
— Estou confiando, por isso que não estou tentando descobrir nada. E porque Valente
disse que faria greve de sexo se eu me intrometesse demais na vida de Norah.
Eu ri de novo, sem conseguir me conter. Parecia que não era apenas Benjamin que era
guiado pelo pau.
— Avalon sabe como convencer você.
— Sim, ela sempre usa aquela porra de boceta mágica. — Logan bufou e se ergueu do
banco enquanto eu ainda ria. — Vou ao banheiro, não deixe ninguém batizar a minha bebida.
— Fique tranquilo, vou ficar de olho para que Valente não coloque nenhuma pílula azul na
sua cerveja.
O quarterback me deu o dedo do meio e se afastou, me deixando sozinho no meio daquela
multidão, mas não por muito tempo. Logo senti alguém parar ao meu lado e fiquei surpreso ao
ver que era John, amigo de curso de Norah. Ele sorriu para mim e nos cumprimentamos
rapidamente enquanto Avalon se aproximava para pegar o pedido dele.
— James, que surpresa o encontrar por aqui. Achei que estaria na festa de Carter.
— Não sou tão previsível assim. — Sorri. — Mas por que você não está lá?
— Peter e eu não estávamos a fim de ouvir música alta e sentir o cheiro de maconha hoje
— disse ele, apontando para o namorado que estava em uma mesa ao fundo do bar. Acenei para
Peter quando nossos olhos se encontraram. — Vou querer duas cervejas, Avalon. Mesma marca
de sempre.
— Vou pegar para você.
Avalon se afastou e John se virou para mim.
— E por que você não foi para a festa?
— Acho que pelo mesmo motivo que você — respondi, porque não tinha mesmo outra
explicação.
— Mas você deveria estar lá.
— Deveria? Por quê?
Avalon voltou com as cervejas e ficou por ali, passando um pano no balcão e recolhendo
porta-copos abandonados.
— Porque Norah está lá com Mason e sei que ela não gosta muito de festas assim. Vai se
sentir melhor se você estiver lá.
Eu franzi o cenho ao ouvir aquilo.
— Norah não está lá, ela me disse que iria a um pub com Mason.
— Parece que eles mudaram de ideia no meio do caminho.
Aquilo me deixou mais confuso ainda. Norah não era do tipo que mudava de ideia de uma
hora para a outra e, como John mesmo dissera, não gostava muito daquele tipo de festa. Senti os
olhos de Avalon sobre nós dois.
— Mas Mason é um cara legal, não é? Ele vai cuidar dela, tenho certeza. — John sorriu e
pegou as cervejas. — Obrigado, Avalon, daqui a pouco Peter aparece aqui para pedir mais duas.
O amigo de Norah se afastou e Avalon manteve os olhos sobre mim. Não soube ler a sua
expressão.
— Será mesmo que Norah está na festa de Carter?
— Não sei, mas John não teria motivos para inventar isso.
— Então, talvez seja mesmo melhor você ir até lá. Não vou falar nada sobre isso para
Logan, pode ficar tranquilo.
— Vai mentir para ele?
— Mentir? Não, omitir. — Avalon sorriu. — Eu sei, mais ou menos, sobre a proposta que
Norah fez para você, até a incentivei, acho que ela precisa começar a viver e Logan a prende
muito.
Fiquei surpreso ao ouvir aquilo, não imaginava que Avalon soubesse.
— Agora estou aliviado por ter aceitado ajudar Norah — falei, vendo Avalon sorrir.
— Você fez bem, é um amigo maravilhoso para ela, James.
— Espero mesmo que eu seja — murmurei.
— Você é, por isso eu sei que vai sair daqui e ir até a festa de Carter confirmar se Norah
está lá.
Porra, a garota estava namorando com Logan há menos de um ano, mas já conhecia cada
um de nós como ninguém. Confirmei com a cabeça e me levantei, deixando o dinheiro para
pagar a cerveja sobre o balcão.
— Eu vou. Obrigado por tudo, Avalon.
Ela apenas sorriu e eu saí do Maeve’s. Dirigi tenso, sem entender direito por que Mason e
Norah mudaram os planos para aquela noite e o que aquilo significava. Talvez, eles quisessem
apenas curtir uma festa, dançar, fazer algo diferente e eu estivesse me preocupando à toa. De
qualquer forma, eu me certificaria de que Norah estava bem.
Não tinha vaga na rua de Carter e precisei estacionar na rua de trás e ir até a sua casa a pé.
Da esquina, eu já conseguia ouvir a música alta e o falatório de quem ocupava a calçada. Vi
copos vermelhos jogados pela grama assim que me aproximei e pessoas espalhadas em frente à
residência imponente de aluno da UA, conversando e fumando. Estava prestes a entrar, quando
um casal do outro lado da rua me chamou a atenção.
Meu estômago ficou gelado quando os reconheci.
Norah estava encostada em uma BMW, carro que eu sabia ser de Mason, e o jogador
estava à sua frente, com as duas mãos no rosto dela. Senti-me novamente no estacionamento da
faculdade, com a mesma apreensão, mas com a certeza de que, daquela vez, eu não veria apenas
um beijo no rosto. As mãos de Norah estavam na cintura do tight end e os dois conversavam
baixinho, Mason falou algo que arrancou um sorriso da garota.
Mesmo de longe, eu conseguia ver tudo, e não sabia se isso era um privilégio ou uma
maldição, nem o que significava a dormência na ponta dos meus dedos, o coração acelerado e o
bolo que se formou em minha garganta, conforme observava Mason aproximar o rosto do de
Norah, seu nariz tocar o dela, até seus lábios se encontrarem.
Mason a beijou. Não tinha ideia se era a primeira vez que o jogador fazia aquilo, mas, com
certeza, era a primeira vez que eu me sentia paralisado daquele jeito.
Nem mesmo ao pegar Megan na cama com o seu primo eu me senti daquela forma.
Naquela noite, eu me senti traído e enganado, e tive a certeza de que tudo o que havia entre nós
dois chegara ao fim.
Agora, eu me sentia diferente. Não me sentia traído ou enganado. Porra, eu nem tinha o
direito de me sentir daquela forma. Eu sentia como se estivesse perdendo algo muito importante.
Algo que sempre foi meu e nunca dei o devido valor.
Assustado, dei um passo para trás e esbarrei em alguém. Mãos femininas pousaram em
meu ombro e o rosto de Alicia apareceu em meu campo de visão.
— Vem comigo — ela pediu.
Eu apenas peguei a sua mão e a segui.
A casa de Carter estava lotada, como era o esperado, e Alicia me guiou até o quintal
imenso do estudante, onde havia mais pessoas. Puffs estavam espelhados pelo local e nos
dirigimos para um deles, onde Alicia me colocou sentado como se eu fosse um boneco sem
cérebro. Era daquele jeito que eu me sentia, tendo em vista que apenas uma parte de mim
reparava em meu entorno e tinha consciência sobre onde estava, todo o resto ainda estava do
lado de fora da casa, observando Norah ser beijada por aquele filho da puta.
— Vou pegar uma cerveja e já volto.
Alicia se afastou e aproveitei que estava sozinho para tentar sair daquele torpor. Minhas
têmporas pulsaram por conta da música alta e do cheiro de maconha e vodca derramada, e senti
uma vontade imensa de simplesmente sair dali. E levar Norah junto comigo.
— Pare com isso — exigi para mim mesmo em voz baixa, passando os dedos pelos meus
cabelos. — Controle-se, James! Que merda está acontecendo com você?
— Voltei! — Alicia se aproximou e, para a minha surpresa, simplesmente se sentou de
lado em meu colo. Segurei a cerveja que estendeu para mim e a observei sem reação. — Beba
um pouco, James, vai te fazer bem.
Quis que ela saísse de cima de mim, mas não consegui falar nada. Dei um gole na cerveja,
que infelizmente não estava tão gelada quanto deveria, e olhei fixamente para a porta por onde
Norah e Mason teriam que passar, caso quisessem acessar o quintal da residência.
— James? — Alicia tocou em meu rosto, fazendo com que eu olhasse para ela de novo. —
O que está acontecendo?
Como eu poderia explicar para a garota sentada em meu colo que eu estava morrendo de
ciúmes da sua amiga? Porque aquela era a verdade, ainda que eu não quisesse admitir. Eu estava
cheio de ciúmes, porra! Dei mais um gole na bebida, me sentindo incomodado com Alicia, com
a festa, com tudo aquilo.
— Nada.
— Você disse que não viria para a festa e, de repente, eu o encontro do lado de fora,
observando Norah com Mason... John comentou comigo que você era bastante protetor com ela,
assim como o quarterback, mas não acreditei que fosse extremo desse jeito.
Alicia e eu trocávamos mensagens de vez em quando e eu sentia que a garota queria que
eu a convidasse para um encontro de novo. A questão era que eu não sentia vontade de passar
um tempo sozinho com ela. Não porque Alicia não fosse bonita ou interessante, eu apenas não
estava a fim de me envolver com alguém naquele momento. Aquela sensação era estranha
demais e eu não sabia como lidar com ela.
Nunca fui um mulherengo como Benjamin, mas também não negava sexo quando me era
oferecido, e eu sabia que Alicia passaria uma noite comigo sem que eu precisasse me esforçar
muito para convencê-la. Ela estava claramente atraída por mim e o James que eu conhecia não
desperdiçaria aquela chance. Mas esse James esquisito, que estava morrendo de ciúmes de Norah
e que só conseguia pensar na caçula do seu melhor amigo, repudiava a ideia de se envolver com
a garota sentada em meu colo — ou com qualquer outra.
— Eu decidi vir de última hora. Não esperava encontrar Norah por aqui, fiquei surpreso —
menti sem olhar nos olhos dela.
— E por que não me avisou que viria? — Havia um sorrisinho sedutor em seus lábios.
Suas unhas desceram lentamente pelo meu pescoço, mas eu não senti nada. Sua boca tocou a
minha orelha. — Quis me fazer uma surpresa?
Deixei a cerveja de lado e pousei minhas mãos na cintura de Alicia, prestes a tirá-la do
meu colo. Precisava colocar um ponto final naquilo, pois eu não me sentia interessado por ela e
era injusto deixar que a garota interpretasse errado os meus sinais. Em nossas mensagens, nunca
dei a entender que queria me encontrar com ela de novo ou lhe dei esperanças, mas talvez Alicia
estivesse entendendo tudo errado. Era meu dever ser honesto com ela.
— Alicia, eu não quero...
— Acalme-se, jogador. Deixe-me mostrar para você como podemos ser bons juntos.
Eu abri a boca para negar, mas Alicia foi mais rápida e colou os lábios nos meus. Fiquei
por um momento sem reação, os olhos ainda abertos conforme Alicia fechava os dela. Suas mãos
me seguraram firmes pelo pescoço e sua língua pedindo passagem em minha boca foi o que me
fez reagir. Levantei-me sem que ela esperasse, afastando-a de mim pela cintura. Alicia me
encarou com os olhos arregalados, seu rosto ficando vermelho.
— James, o que foi? Não quer o meu beijo?
— Eu...
Meus olhos se detiveram em um par de pupilas cor de mel e um rosto pálido. Norah estava
bem ali, sozinha, a poucos passos de onde eu estava, com os lábios entreabertos e uma expressão
chocada. Ela piscou, parecendo voltar à realidade, e me deu as costas, começando a se afastar.
— Você gosta dela.
Voltei a olhar para Alicia e percebi que seu olhar intercalava entre mim e onde Norah
estava um segundo atrás.
— Alicia, eu não...
— Tudo faz sentido agora! Como não percebi antes? Você foi muito educado e simpático
comigo em nosso primeiro encontro, mas parecia distante, o tempo todo olhando para o celular.
Norah estava com Mason naquela noite, certo? Ela comentou comigo e com John que se
encontraria com o jogador e você sabia.
Engoli em seco, me sentindo um babaca, ainda que não tivesse dado esperanças para
Alicia.
— Sim, eu sabia, mas você está entendendo tudo errado...
— Estou? — Alicia soltou uma risadinha amarga e tocou em meu peito com o dedo
indicador. — Acho que é você que não está entendendo nada, James, nem mesmo os seus
próprios sentimentos.
Foi a minha vez de rir.
— Você mal me conhece, não pode falar sobre o que sinto ou não.
— Tem razão, mas eu sei reconhecer quando um homem não está interessado em mim e,
sim, em outra garota. — Alicia suspirou e deu um passo para trás. — Agora entendo por que
nunca deu a entender que queria sair comigo de novo. Só respondia as minhas mensagens para
ser educado, não é?
— Alicia, você é uma garota incrível. — Tomei as suas mãos nas minhas, querendo muito
que acreditasse em mim. — Tenho certeza de que ainda vai encontrar o cara perfeito para se
relacionar, mas esse cara não sou eu. Estou em outro momento da minha vida agora.
— Sim, você tem razão em tudo. Eu sou mesmo uma garota incrível e você jamais vai
conseguir se interessar por mim ou por qualquer outra pessoa, porque está de quatro pela Norah.
— Não havia maldade ou ressentimento em seu tom de voz. — Só que eu acho que você deu
espaço demais para que Mason avançasse, James. Norah parece gostar dele de verdade.
Eu havia entendido aquilo nas últimas semanas, que Norah estava se apaixonando pelo
jogador, mas ouvir da boca de outra pessoa pareceu deixar tudo mais real e a dor que senti em
meu peito foi diferente de qualquer outra que já tenha me atingido. Tentei ignorar a sensação,
mas não consegui, apenas disfarcei como me sentia em frente à Alicia.
— Quero que Norah seja feliz, acredite em mim quando falo que ela é apenas minha
amiga. — Apertei o ombro da garota e forcei um sorriso. — Talvez possamos ser amigos
também, Alicia.
— Sim, talvez. Você é um homem incrível, James. Espero que Norah perceba isso.
Alicia me deu um beijo na bochecha e se afastou sem olhar para trás, me deixando sozinho
no meio da multidão. Olhei à minha volta à procura de Norah, mas não a encontrei em lugar
algum. Teria ido embora com Mason? Para a nossa casa ou para a casa dele? Minha dor de
cabeça pareceu aumentar. Norah afirmou que não iria para a cama com o jogador, mas, e se
mudasse de ideia? E se ele fosse sedutor e insistente?
— James? Por que não me avisou que viria para a festa, seu babaca? — Benjamin me
abraçou pelo pescoço de repente e o cheiro da cerveja se misturava ao seu perfume. Meu amigo
já estava mais embriagado do que sóbrio.
— Viu Norah por aí?
Benjamin se afastou e parou na minha frente, me dando um olhar desconfiado, apesar de
pesado pelo álcool.
— Não me diga que resolveu dar uma de Logan e veio até aqui atrás da garota?
Talvez Ben estivesse mais sóbrio do que embriagado, afinal.
— Não. Quer dizer, sim. Norah disse que iria para um pub com Mason, mas parece que os
dois resolveram vir para cá.
— E daí?
— E daí que Norah não gosta muito de festas assim, você sabe disso. Vim aqui para me
certificar de que ela está bem.
Benjamin franziu o cenho e me deu um olhar ainda mais desconfiado enquanto apoiava as
duas mãos na cintura.
— Você tá esquisito.
— Como é que é? — Forcei uma risada, querendo que ele parasse com aquela
especulação.
— É isso mesmo, você tá esquisito pra caralho desde que Norah passou a sair com o tight
end.
— Impressão sua, Ben...
Comecei a me afastar, mas Benjamin me segurou pelo pulso, parando na minha frente.
— É melhor mesmo que seja uma impressão minha, porque se não for, James... Você vai
estar fodido pra caralho. — Ben se aproximou de mim e me segurou pelos ombros, seus olhos
levemente bêbados sondando os meus. — E você não quer estar fodido pra caralho, quer?
— Claro que não. — Desvencilhei-me dele e forcei um sorriso. — Pode ficar tranquilo,
minha preocupação com a Norah é puramente fraternal.
— Fraternal? Mas não foi você que disse para Norah que estava bem longe de ser o irmão
dela?
Minha boca caiu aberta e me vi sem palavras, lembrando-me da conversa rápida que tive
com Norah na cozinha semanas atrás, antes de ela ir jantar com sua avó. Benjamin estava
dormindo na sala! Como ele sabia daquilo?
— Seu idiota! Você não estava dormindo porra nenhuma!
— Tenho o sono leve. — O running back sorriu. — E ouvidos que funcionam bem
demais.
— Apenas quando você quer — acusei.
— Pode ser, mas não é isso que está em discussão aqui. — Benjamin voltou a apertar o
meu ombro, ficando mais sério. — Cuidado, James. Entendo que se preocupe com a Norah,
afinal, a viu crescer e ela sempre foi especial para você, mas não confunda as coisas. É melhor
voltar a vê-la como uma irmãzinha, acredite em mim, vai evitar muito problema no futuro. —
Ele deu dois tapinhas em meu ombro e falou antes de se afastar: — E sim, eu a vi aqui na festa,
mas ela já foi embora com Mason há uns cinco minutos.
Porra! Por que aquele idiota não me disse nada antes?
Benjamin se afastou de vez e eu fui embora quase correndo, minha mente escolhendo
ignorar o aviso do meu melhor amigo por enquanto. Eu sabia que Ben estava certo, mas, naquele
momento, eu não estava sendo muito racional. Entrei em meu carro e pensei em enviar uma
mensagem para Norah, mas a imagem de seus olhos arregalados ao me verem com Alicia me fez
desistir.
Pensei por um momento para onde ela e Mason iriam. Estava cedo ainda, passava da meia-
noite e era sábado. Será que teriam ido ao pub ou para algum outro lugar? Tentei não pensar na
casa do jogador e resolvi arriscar. Fui direto para nossa casa e encontrei a sala escura assim que
entrei, apenas a luz da cozinha acesa da mesma forma que deixei antes de sair.
No segundo pavimento, parei em frente à porta de Norah e respirei fundo antes de bater.
Recebi apenas o silêncio como resposta e meu coração pareceu se partir no peito. Minha garota
não estava em casa. Ela ainda estava com Mason e talvez aquele fosse o recado do universo para
que eu simplesmente parasse de me sentir daquele jeito terrível, como se fosse um cachorro
abandonado. Não tinha o direito de ficar daquele jeito. Porra, eu não tinha direito a nada quando
o assunto era Norah!
Afastei-me do seu quarto e fui em direção ao meu, mas parei antes de entrar ao ouvir o
barulho da porta sendo aberta lá embaixo. Sabia que não era Logan, pois ele dormiria com
Avalon, e com certeza não era Benjamin, pois duvidava muito que ele chegaria em casa antes das
sete da manhã. Virei-me em direção à escada e desci quase correndo, encontrando a sala
iluminada e Norah tirando a jaqueta de couro que usara naquela noite.
Nossos olhos se encontraram e ela pareceu surpresa em me ver. Eu havia guardado o carro
na garagem, portanto, não tinha como Norah saber que eu já estava em casa. Por um momento,
apenas olhamos um para o outro, um mundo de sentimentos e palavras girando dentro de mim e
simplesmente querendo sair pela minha boca, mas me contive, porque ainda não os entendia. Eu
não fazia ideia do que realmente estava acontecendo comigo nem o porquê.
Norah sempre fora importante para mim. Eu a amava e aquilo era inegável, sempre me
importei com ela, era uma das poucas pessoas por quem eu daria a minha vida se precisasse, mas
eu faria o mesmo por Logan e por Benjamin, pelos meus pais e minha avó. Nem por isso, sentia
ciúmes deles ou queria rasgar a minha pele ao vê-los sendo beijados por outro alguém. Mas eu
me sentia daquele jeito por Norah e era inadmissível, pois nunca me senti daquele jeito por ela.
Norah já beijou outros rapazes antes, eu não era idiota. E ela tinha o direito de viver a
própria vida. O único que não tinha direito a alguma coisa era eu.
— Achei que ainda estaria na festa, não sabia que você iria — disse ela, sua voz ecoando
dentro de mim.
— Fui por sua causa.
— Minha causa? — Norah arqueou uma sobrancelha e quase sorriu, ironia tomando conta
da sua expressão. — Não parecia ser por minha causa enquanto a sua boca estava colada na de
Alicia.
— E a sua boca estava colada na de Mason — retruquei, o ciúme falando mais alto do que
deveria. — Acha que eu não vi?
Norah ergueu o queixo e seu pescoço fino e bonito começou a ficar avermelhado.
— Não me importo se você viu.
— Não se importa? É sério? Pensei que fôssemos amigos, Norah.
— E nós somos — ela respondeu com os ombros caindo aos poucos. — Somos amigos,
apenas amigos. Precisamos nos lembrar disso, James.
A garota bonita ia passar por mim, mas eu fui mais rápido e tomei sua cintura fina em
minhas mãos, fazendo com que parasse na frente do meu corpo. Seu cheiro me deixou levemente
embriagado, mexeu com meu sistema nervoso e quase me impeliu a enfiar o rosto em seu
pescoço e sentir o aroma mais de perto.
— Se esqueceu disso em algum momento? De que somos amigos?
Diga que sim.
Diga que sente o mesmo que eu, que está tão confusa quanto eu estou.
Mas Norah me jogou um balde de água fria.
— Claro que não, só quis reforçar que não há mais nada entre nós dois além de amizade.
— Um sorriso forçado apareceu em seus lábios antes de ela acariciar meus braços e se afastar. —
Boa noite, James.
Norah me deu as costas e me senti o maior idiota do mundo por ter a deixado partir.
Eu estava enlouquecendo!
Era assim que me sentia conforme chutava minhas botas no meio do quarto e começava a
tirar as roupas. O tecido parecia arranhar a minha pele sensível, eu me sentia quente e irritada,
com vontade de bater em alguma coisa. Nunca fui uma pessoa violenta, mas depois do choque
que senti ao ver James e Alicia aos beijos, com ela no colo dele, o frio que me congelou no lugar
e me impediu de piscar enquanto os via, cedeu lugar a um calor incessante conforme saía do
quintal de Carter e ia atrás de Mason.
O tight end não entendeu nada quando pedi para que me levasse embora. Com duas
cervejas nas mãos, no meio da cozinha lotada de pessoas bêbadas, Mason pareceu confuso e
chegou a me perguntar se tinha feito alguma coisa de errado. A culpa que senti por estar sendo
uma idiota com ele não fez nada para que a minha raiva passasse, ainda assim, tentei ser gentil e
menti. Falei que minha menstruação tinha descido de repente e que precisava ir para casa, pois
não tinha absorvente comigo.
Eu teria rido da expressão de susto de Mason se não estivesse com os sentimentos tão à
flor da pele. O jogador deixou as cervejas na hora e me pegou pela mão, saindo comigo da festa.
Em seu carro, foi gentil ao perguntar se eu não queria passar em uma farmácia, mas neguei,
alegando que tinha tudo em casa e que só precisava chegar o mais rápido possível, pois estava
com medo de sujar a minha roupa. Eu me sentia uma farsa a cada vez que uma nova mentira
saltava da minha boca e a irritação comigo mesma apenas crescia.
Estava com raiva de mim e de James por me fazer sentir daquele jeito.
Conscientemente, eu sabia que ele não tinha culpa, muito menos Mason. Eu que era uma
bomba prestes a explodir, confusa, meio acuada, parecendo viver uma vida que não era minha.
Amava atuar, mas não fora dos palcos. A Norah que obriguei a me tornar nas últimas semanas
estava bem longe de ser eu de verdade.
Mason parou em frente à minha casa e me deu um olhar gentil, que só me fez ficar ainda
pior.
— Tem certeza de que está tudo bem? Você ficou calada depois que nos beijamos.
Eu havia me esquecido completamente do nosso beijo quando vi James beijando Alicia.
Uma dor intensa pulsou em minha cabeça, a culpa me golpeando bem forte.
— Sim, está tudo bem. Eu amei o beijo, Mason.
— Que bom, porque eu estava ansioso para finalmente beijar você. — Mason tocou em
meu rosto com delicadeza, mas me puxou para mais perto de si quando seus dedos se fecharam
em minha nuca. — E quero muito mais do que apenas beijá-la, Norah, mas sou um homem
paciente.
Ele tomou a minha boca de novo, em um beijo diferente do que me deu naquela noite. Foi
mais intenso, violento até, e eu não soube direito como retribuir, pois me pegou de surpresa.
Toda aquela sua impetuosidade me tocou de uma forma que não gostei. Tentei me afastar, mas
Mason me manteve firme pela nuca, desacelerando aos poucos, até me beijar com mais gentileza,
sem pressionar os dentes em meus lábios. Ele finalizou o beijo com um selinho demorado, que se
estendeu pela minha bochecha até parar em minha orelha esquerda.
— Vá, não quero que você fique constrangida por sujar o banco do meu carro. — O
jogador riu e eu apenas pisquei, sem saber como reagir. — Já estou sentindo a sua falta.
— Eu... eu também — murmurei, dando um beijo rápido em sua bochecha antes de sair da
BMW.
Chegar em casa e encontrar com James foi algo muito inesperado. Eu podia jurar que ele
encerraria aquela noite na cama de Alicia, mas vê-lo bem ali, descendo as escadas e se
aproximando de mim, me pegou completamente de surpresa. Nossa conversa também foi
estranha, e eu acabei perdendo o pouco controle que tinha sobre as minhas emoções.
A forma como falei com ele sobre o beijo que deu em Alicia na festa... Onde eu estava
com a cabeça?! Que direito eu tinha de jogar aquilo na cara de James?
Nenhum. Você não tem direito nenhum, Norah!
Eu deveria estar pulando de felicidade por finalmente ter beijado Mason depois de duas
semanas saindo com ele. O jogador era lindo e, como mesmo dissera, paciente. Não fez qualquer
avanço sem que eu permitisse e, naquela noite, perguntou se poderia me beijar antes de tocar os
meus lábios com os seus. Foi um beijo bom, delicado, que eu nem imaginava que um homem do
tamanho de Mason pudesse dar. Por que eu não estava obcecada por aquele momento especial
como estava pelo choque que senti ao ver James com Alicia?
Fui eu que insisti para que os dois saíssem juntos! Praticamente joguei James no colo de
Alicia, pelo amor de Deus!
Irritada, fui até o banheiro e entrei debaixo do chuveiro. A água quente só me irritou um
pouco mais, por isso, mudei para a água gelada mesmo estando no inverno, com a esperança de
que a baixa temperatura diminuísse a sensação de um caldeirão prestes a explodir dentro de mim.
Não adiantou muita coisa. Saí do banho ainda nervosa, escovei os dentes e me deitei, ignorando
meu celular ao lado do travesseiro.
Assim que fechei os olhos, vi James com Alicia em seu colo na minha mente. As mãos
dele estavam na cintura dela! As mesmas mãos que tocaram a minha cintura quando cheguei em
casa, como se ele tivesse o direito de me tocar, de me deixar confusa daquele jeito, enquanto
permanecia como o rei do Alabama, intocável. Se James ainda sentisse pelo menos um por cento
do que me causava, eu estaria feliz, o problema era que eu sabia que o jogador só me via como
uma irmãzinha. Eu deveria passar a vê-lo daquele jeito também.
Afastar-me um pouco de James foi a forma que encontrei para tentar organizar os meus
sentimentos. Ficar comparando as minhas reações a ele com a forma como Mason fazia eu me
sentir estava me deixando muito confusa. Também não era justo com o outro jogador o que o
meu peito insistia em me fazer sentir. Realmente acreditei que a minha queda por James ficara no
passado, mas estava começando a me perguntar se eu não havia me enganado durante todo
aquele tempo.
Não importava. James continuaria a ser o meu amigo e Mason estava me conquistando. Eu
deveria me agarrar àquilo e parar de me importar com o que James fazia com outras garotas ou
com a forma como ele me fazia sentir.
Rolei na cama por boa parte da madrugada e acordei tarde no domingo, me sentindo
cansada pela noite maldormida. Enrolei para sair do quarto e soltei um suspiro de alívio quando
encontrei apenas Benjamin na cozinha, parecendo cheio de ressaca enquanto tomava uma xícara
de café.
— Bom dia, dorminhoca. Não acredito que acordei antes de você mesmo tendo chegado
em casa com o dia já raiando.
Sorri e deixei um beijo na bochecha de Ben antes de me dirigir até a cafeteira.
— Não cansa dessa vida de cafajeste, Benjamin?
— Claro que não, essa é a melhor parte da faculdade, depois do futebol, é claro. — Seus
olhos me acompanharam enquanto eu me sentava ao seu lado em frente ao balcão da cozinha. —
Vi você com Mason ontem à noite.
Assoprei o café e dei um gole, tentando entender aonde Benjamin queria chegar com
aquilo.
— Sim, nós resolvemos dar uma passadinha na festa ontem.
Foi Mason quem mudou os nossos planos assim que entrei em seu carro na noite passada.
Segundo ele, não tinha conseguido reserva no pub e, por ser uma casa nova na cidade, estava
lotada. Estranhei, pois não era preciso reservar uma mesa em locais como aquele, mas resolvi
não discutir e aceitei quando ele perguntou se eu não queria ir à festa, já a caminho da casa de
Carter.
Não era o meu tipo de entretenimento favorito, mas pensar em ir com Mason àquela festa
cheia de alunos da UA me causou certa comoção, porque eu sabia que qualquer outro cara do
campus hesitaria antes de ser visto comigo por causa do meu irmão. Mason era mesmo diferente
de todos os outros.
— Mas logo sumiram... Ou eu fiquei bêbado demais e a perdi de vista?
— Não sei se você ficou bêbado demais, porque viemos embora cedo — respondi com
uma risada. — Eu não o vi por lá.
— Deveria ter procurado por mim onde havia uma aglomeração de mulheres. Elas ficam
ao meu redor como abelhas em torno do mel.
— Pelo amor de Deus, Benjamin! — Ouvir aquilo me arrancou uma risada sincera e o
running back riu comigo por um tempo. — Você consegue mesmo conquistar alguma garota com
essas cantadas idiotas?
— Mas é claro que sim! Nenhuma delas resiste a mim.
— Parece que elas não têm muito critério para homens, na verdade — brinquei e
Benjamin colocou a mão sobre o peito, fazendo uma careta de dor.
— Nossa, Norah, você acabou de quebrar o meu coração.
— Desculpe-me. Ligue para algum dos seus contatos, com certeza terá alguém para cuidar
de você. — Arqueei uma sobrancelha. — Quer dizer, você tem algum contato depois de ter
excluído o número das garotas?
— Não fale sobre isso, é um tópico sensível para mim.
— Ainda não superou, Ben?
— Como vou superar o fato de que uma pirralha me colocou contra a parede daquele
jeito? Sério, eu espero que vocês nunca comentem sobre isso por aí, vai acabar com a minha
reputação.
— E todos nós sabemos que a sua reputação já não é muito boa... — comentei com uma
risada.
— Minha reputação é ótima! Do trio formado por mim, Logan e James, eu sou o melhor,
sabe por quê?
— Por quê?
— Porque, mesmo sendo taxado de mulherengo, eu consigo conciliar muito bem o sexo e
o futebol na minha vida. Logan está se ajustando agora que conheceu Avalon e está apaixonado,
mas James, por exemplo, não deve ver uma boceta desde o ano passado e está começando a ficar
confuso sobre algumas coisas.
Eu fiquei paralisada ao ouvir aquilo, a xícara com café a caminho da minha boca, meus
olhos sem piscar sobre Benjamin. Estava chocada com aquela revelação. James não estivera com
nenhuma garota ainda? Estávamos no segundo mês do ano, para homens como ele, era tempo
demais.
— Tem certeza disso? — perguntei baixinho.
— Disso o quê?
— Que James não esteve com ninguém ainda.
— Não é como se eu fosse o segurança particular do pau dele, mas sou seu amigo, sempre
saímos juntos... A não ser que esteja comendo alguma garota no sigilo, James parece ter virado
um monge.
Pensei em Alicia, mas não acreditava que ela e James tivessem chegado tão longe, pois
com certeza ela contaria para John. Éramos amigas, mas Alicia era mais próxima de John do que
de mim, já que faziam mais aulas juntos.
— E sobre o que ele está confuso?
— Como? — Benjamin pareceu não entender a minha pergunta, dei um desconto a ele por
saber que estava com ressaca.
— Você disse que James está começando a ficar confuso sobre algumas coisas... Que
coisas são essas?
Ben arregalou um pouco os olhos e se levantou de repente, deixando a xícara vazia sobre a
bancada de granito.
— Ainda estou meio bêbado e sempre falo demais quando tem álcool correndo solto pelo
meu organismo — disse ele, fugindo da minha pergunta. — Mas pode ficar tranquila, não vou
comentar sobre a sua presença na festa ao lado de Mason para Logan.
Eu nem mesmo tinha pensado sobre aquilo. Ter aparecido na festa com Mason com
certeza geraria burburinhos e chegaria aos ouvidos do meu irmão. Respirei fundo, tentando
conter o nervosismo. Estava mesmo na hora de parar de esconder o meu envolvimento com
jogador.
— Obrigada por isso, mas não tem problema se Logan descobrir. Pretendo conversar com
ele em breve.
— É mesmo? — Benjamin pareceu surpreso de verdade. — Então, o que está rolando
entre você e Mason é sério — concluiu.
— Não posso chamar de namoro, mas, sim, é sério. — Sorri, tentando parecer mais
animada do que realmente me sentia. — Vai me ajudar a conter o meu irmão se ele ficar
enchendo o meu saco?
Benjamin riu e concordou com a cabeça.
— Claro que sim, sabe que pode contar comigo sempre. Não quero relacionamentos para
mim, mas não tenho nada contra quem quer se amarrar a uma pessoa só.
Estreitei os olhos para o jogador, achando graça de tudo aquilo.
— Você ainda vai se apaixonar, Benjamin Ryan, e eu estarei de camarote assistindo tudo.
— Que Deus me proteja desse tipo de maldição. — O running back fez o sinal da Cruz,
mesmo estando bem longe de ser um homem religioso. — Vou voltar a dormir, aproveite a casa
só para você.
— Só para mim? Onde está James?
— Saiu cedo, disse que passaria o dia na casa dos pais.
Benjamin me deixou sozinha na cozinha e eu senti um peso sair do meu peito, aliviada por
James estar longe, ao mesmo tempo em que sentia a sua falta de maneira absurda. Disposta a não
pensar sobre aquilo, decidi que faria o mesmo que ele e passaria o dia com meu pai e minha avó.

O teste de elenco para a peça da Sra. O’Neal aconteceria no dia seguinte e eu estava
nervosa pra caramba. Era John que, apesar de também estar escalado para fazer o teste de
protagonista, conseguia tirar um pouco da minha tensão quando estávamos juntos. No intervalo
das aulas daquela segunda-feira, nós decidimos ir até a cafeteria tomar algo quente, porque as
temperaturas estavam baixas naquele dia, e colocar um pouco do papo em dia. Eu sentia que ele
queria me falar alguma coisa, mas estava hesitante.
Pegamos dois caramelos latte e nos sentamos em uma mesa perto da janela fechada, onde
o sol fraco entrava pelo vidro. John me olhou com certo receio, mas respirou fundo e falou tudo
o que parecia entalado em sua garganta.
— Sei que você provavelmente vai querer me matar, mas fui eu que contei para James que
você estava na festa do Carter.
— O quê? — Apoiei o copo na mesa e o encarei boquiaberta. — John, por que fez isso?
— Porque não gostei de Mason ter resolvido te levar para aquela festa sem nem ao menos
conversar com você antes!
— Mas ele não resolveu nada sozinho, perguntou se eu queria ir e concordei.
John me deu um olhar condescendente.
— Norah, talvez você não perceba, porque parece um pouco enfeitiçada pelo jogador, mas
foi ele quem resolveu, sim, que vocês iriam para a festa. Como Mason foi capaz de deixar para te
avisar sobre as mudanças de plano para a noite que passariam juntos quando você já está dentro
do carro dele?
Pisquei ao ouvir aquilo, atônita. Não havia pensado por aquele lado, mas John parecia
estar exagerando.
— Pela forma como está falando, parece que ele planejou tudo de modo calculado.
— Não sou ninguém para afirmar que Mason agiu com maldade, nem tenho motivos para
isso. Ele nunca foi rude com você, pelo contrário, parece ser um príncipe, mas nem mesmo o
mais gentil dos homens está imune de cometer um erro. Como seu amigo, achei prudente checar
se você estava mesmo segura.
— E resolveu fazer isso mandando James ir atrás de mim no seu lugar?
John riu por cima do copo de café.
— Achei que você gostaria mais de ver o seu amigo gostoso do que o seu amigo gay.
Dei um tapinha no braço dele, fazendo de tudo para não rir, pois aquele era um assunto
sério.
— Saiba que James fez tudo, menos checar a minha segurança. O encontrei aos beijos com
Alicia na festa.
A boca de John caiu aberta conforme ele pousava o copo sobre a mesa.
— Está falando sério?
— Muito sério.
— Mas Alicia não comentou nada comigo sobre esse beijo. Tivemos aula juntos agora há
pouco. — Ele franziu o cenho. — Que estranho. Ela estava tão animada sobre James, por que
não me falou que se beijaram no sábado?
— Não faço ideia, mas sei muito bem o que vi. — Suspirei, tentando tirar a imagem dos
dois juntos da minha cabeça. — Mas agradeço por ter se preocupado comigo, mesmo sendo
desnecessário. Mason e eu nos beijamos.
— O quê?! — John praticamente gritou, chamando a atenção de todo mundo na cafeteria,
e eu quase me joguei sobre ele para poder calar a sua boca. — Como só me diz isso agora?
Deveria ter me contado sobre o beijo ainda no sábado à noite! Como conseguiu esperar por tanto
tempo para compartilhar isso comigo?
Eu ri, mas aquilo acendeu um novo alerta em minha cabeça, porque John tinha razão.
Quando estávamos eufóricos, não esperávamos por um encontro presencial para contar qualquer
novidade. Eu esperei porque simplesmente não me sentia tão eufórica quanto deveria.
— Queria ver a sua empolgação pessoalmente — respondi, torcendo para que ele
acreditasse. John arqueou uma sobrancelha.
— E onde está a sua empolgação?
— Bem aqui! — Sorri mais abertamente. — Estou feliz! Acho que finalmente encontrei o
cara certo, sabe? E sinto que meu irmão não vai arrumar problema com Mason, eles se dão bem
no time e o jogador tem uma reputação impecável. Não há qualquer motivo para Logan tentar
atrapalhar a nossa relação.
John esticou as mãos sobre a mesa e tocou as minhas, entrelaçando os nossos dedos.
— Norah, você tem certeza de que é isso mesmo que quer?
— Claro que sim. Você me conhece, sabe que desejo me apaixonar e viver um romance há
bastante tempo. Finalmente me sinto pronta para isso.
— Não duvido que se sinta pronta, apenas estou perguntando se é mesmo com Mason com
quem você quer ficar.
Engoli em seco o bolo que ameaçou se formar em minha garganta e fui mais forte do que
o peso em meu peito ou o meu subconsciente, que ameaçou formar a imagem de James em
minha cabeça.
— Sim, é com ele que quero ficar. — Sorri, torcendo para que John acreditasse em mim.
E, o mais importante de mim, torcendo para que eu acreditasse em mim mesma.
Acelerei a velocidade na esteira, querendo descontar toda frustração que eu sentia nas
passadas rápidas, castigando os meus músculos. O suor escorria pelo meu corpo, ameaçava
entrar em meus olhos, mas eu apenas passava as mãos pela testa e prosseguia, sentindo falta da
violência dentro de campo, onde às vezes era preciso empurrar jogadores com o peso do nosso
corpo para poder chegar à end zone o mais rápido possível.
O que eu queria mesmo, era poder dar uns socos. Em minha casa, na academia que usei
durante toda a minha adolescência, tinha um saco de pancadas que seria perfeito agora. Era
apenas segunda-feira e eu já me sentia um merda.
— Ei, cara, tá tudo bem?
Tensionei a mandíbula ao ouvir a voz de Mason ao meu lado. Pela minha visão periférica,
o vi subir na esteira que antes estava desocupada e começar um trote leve. Onde estava Logan ou
Benjamin e por que os idiotas não estavam usando aquela esteira ao meu lado?
— Tudo ótimo. — Obriguei-me a responder sem ofegar.
— Parece que você está fugindo e não correndo. — Mason riu. — Posso até apostar por
que está assim.
Ah, ele não podia mesmo. Ou talvez, sim, ele pudesse. Olhei-o rapidamente, me
questionando se Mason imaginava que eu estava com raiva por ele estar tocando em Norah,
sendo que fui eu mesmo que a entreguei em uma bandeja de prata em suas mãos.
— É mesmo? Qual é o seu palpite?
— Mulher. — A sobrancelha de Mason se arqueou conforme me dava um sorrisinho. —
Eu o vi com uma garota na festa de Carter no sábado. O que houve? Ela não beijava bem? Ou foi
o contrário, te beijava tão bem que o deixou com gostinho de quero mais?
Eu me apoiei nos braços da esteira e pisei nas laterais, parando de correr por um momento.
Olhei para Mason sem qualquer humor, tentando entender o que aquele idiota queria de verdade.
— O que o faz pensar que tem intimidade o suficiente comigo para me perguntar esse tipo
de coisa?
Mason arregalou os olhos, parecendo ofendido, mas não gostei do que vi neles. Havia algo
diferente em seu olhar naquele dia, parecia dissimulado, assim como a sua postura ao imitar a
minha posição na esteira.
— Estou com Norah agora, pensei que pudéssemos ser amigos.
— Até onde sei, você e Norah estão se conhecendo apenas.
Aquele sorrisinho irritante voltou a moldar a boca do infeliz.
— Nós passamos dessa fase, já nos conhecemos muito bem, se é que me entende.
Eu parei a esteira com um aperto tão forte que quase afundou o botão e me aproximei
daquele idiota, fazendo de tudo para não meter a mão na sua cara.
— Se você tem qualquer apreço pela porra desse seu rostinho, vai parar de falar sobre
Norah com esse tom de merda! Você me entendeu? Ou, da mesma forma que abri caminho para
que se aproximasse dela, eu posso mandá-lo para bem longe.
O tight end engoliu em seco e olhou à nossa volta, mas não tirei meus olhos de cima dele.
Não me importava com quem estivesse por perto, nem mesmo Logan. Não gostei da forma como
Mason falou, não estava gostando nada daquele seu olhar de malandro e o tom cheia de segundas
intenções. Ele desligou a esteira e me olhou sem o cinismo de antes.
— James, você me interpretou mal, eu jamais desrespeitaria Norah, em qualquer
circunstância. O que quis dizer, é que...
— Não importa o que você quis dizer, importa apenas o que eu entendi, e não gostei dessa
merda, Mason!
— Certo, me desculpe — pediu em um tom de arrependimento que fez a minha raiva
apaziguar um pouco. — Por isso e por achar que poderíamos ser amigos. Você é o melhor amigo
da minha garota, pensei que talvez pudéssemos começar uma amizade também.
Minha garota.
Puta merda, eu queria tanto socar aquele babaca! Mas como não podia, apenas respirei
fundo, ainda ofegante pela corrida, e concordei com a cabeça.
— Não sou contra a iniciar uma amizade com você. Se você e Norah realmente ficarem
juntos de verdade, vamos conviver bastante, não é mesmo?
— No que depender de mim, Norah será a minha namorada. Estou apaixonado por ela,
James.
Outros jogadores conversavam pela academia, uma música de fundo tocava, mas não
consegui ouvir nada, só a voz de Mason em minha cabeça, afirmando que queria namorar com
Norah e que estava apaixonado por ela. Que homem na face da Terra não estaria? Norah era
maravilhosa, linda, esperta, inteligente, espirituosa e talentosa. Brilhava tanto que, às vezes, me
cegava. Me cegava para muitas coisas, inclusive para o sentimento que fazia o meu coração bater
mais forte a cada dia que passava.
— Foi isso mesmo que ouvi? Está apaixonado pela minha irmã, Mason?
A academia caiu em silêncio de verdade quando a voz de Logan se propagou pelo
ambiente. Ergui os olhos e o encontrei atrás de Mason, com Benjamin ao seu lado, ambos suados
por estarem fazendo exercícios como todos nós. Mason se virou e desceu da esteira, me
impelindo a segui-lo. Busquei no olhar de Logan a sua raiva por mim, pois isso deixaria claro
que ele ouvira parte da minha conversa com o tight end, mas não encontrei nada. Talvez Logan
tivesse ouvido apenas a última frase de Mason. Parei ao seu lado, esperando pela resposta do
jogador.
— Sim, é isso mesmo que você ouviu, Logan. Estava pensando em chamar você para ter
uma conversa séria.
— Uma conversa séria? O que isso deveria significar? — Logan cruzou os braços,
intimidador. Ele era poucos centímetros mais alto do que Mason, mas aquela diferença se tornou
gritante. — Não sou idiota, desconfiava de que estava saindo com a minha irmã e já ouvi os
boatos de que vocês foram vistos juntos na festa de Carter na noite de sábado.
Era óbvio que a fofoca rolaria solta pelo campus. Todo mundo sabia como Logan era
protetor com Norah e nenhum outro babaca teve colhão suficiente para enfrentá-lo e se
aproximar dela. Saber que Mason foi o único que teve aquela coragem me deixou com um gosto
amargo na boca.
— Sim, Norah e eu estamos saindo juntos, não há motivo para negar isso. Estávamos
conhecendo melhor um ao outro.
— E em nenhum momento você pensou em pedir o meu aval para se aproximar de Norah?
— James concordou comigo de que não haveria problema em sair com ela antes de falar
com você.
Aquele filho de uma puta!
Logan se virou em minha direção lentamente, seus olhos sérios e sua expressão
indecifrável me atingindo como um soco. Precisei me agarrar à raiva que sentia por Mason para
não sucumbir ao olhar do meu melhor amigo.
— James não é nada da Norah, eu sou — Logan disse aquilo olhando em meus olhos e eu
abri a boca, sem palavras. O que ele havia acabado de falar.... Porra, me machucou pra caralho.
O quarterback voltou a olhar para Mason. — E você deveria, sim, ter falado comigo antes de
sequer pensar em se aproximar da minha irmã!
Mason abaixou a cabeça, sua arrogância habitual simplesmente desaparecendo conforme
concordava com Logan.
— Sim, eu sei disso. Me desculpe, Logan, de verdade. Estava entusiasmado demais com a
ideia de conhecer melhor a sua irmã e todo mundo me alertou sobre como você sempre foi muito
protetor com ela. Fiquei com receio de que me proibisse de chegar perto dela.
Estreitei os olhos, tentando enxergar se havia falsidade naquele seu discurso. Não vi nada
demais em seus olhos e percebi que Mason parecia mesmo estar sendo sincero. Era eu que estava
procurando coisa onde não existia, querendo qualquer motivo plausível para mandar aquele
babaca para longe de Norah.
— Juro que tenho a melhor intenção do mundo com Norah. Sua irmã é a mulher mais
maravilhosa que conheço e, desde que cheguei ao Alabama, fiquei encantado com ela. Não vai se
arrepender de me dar uma chance de provar que estou sendo verdadeiro.
Todo mundo dentro da academia ficou tenso, esperando pela resposta de Logan. Os
treinadores não estavam conosco naquela manhã, então, aquela conversa estava sendo a atração
do momento para os jogadores. Eu fiquei mais tenso do que todos eles juntos, esperando pela
resposta de Logan e sem saber como ele iria reagir a mim quando tudo aquilo terminasse.
— Vou conversar com Norah primeiro para saber o que ela sente por você, depois,
voltamos a conversar. — Logan olhou para o Apple Watch em seu pulso e começou a se afastar.
— Nosso treino acabou.
Passei por Mason como um raio e consegui entrar no vestiário logo atrás de Logan,
sentindo Benjamin atrás de mim. O QB abriu o armário com um safanão e soube que estava com
raiva. Raiva de mim.
— Logan...
— Agora não, James.
— Qual é, Logan, vamos conversar...
Logan bateu o armário após pegar suas roupas e me olhou com a mandíbula tensa e olhos
prestes a saltar fogo.
— Eu disse que agora não, porra!
Ele me deu as costas e Benjamin parou ao meu lado, apertando meu ombro com
solidariedade.
— Você o conhece, James, sabe que Logan precisa de um tempo quando está com raiva —
disse baixinho, pois outros jogadores começaram a entrar no vestiário, seus olhos voando para
cima de mim. — Ele vai ouvir você quando estiver pronto.
O problema era saber quando Logan estaria pronto. Eu o conhecia muito bem, o babaca
era orgulhoso e gostava de remoer seus sentimentos antes de explodir. Frustrado, segui o
exemplo de Benjamin e fui tomar banho, ignorando Mason, que estava no canto do vestiário,
mexendo em seu armário. Se aquele filho da puta ousasse olhar em minha direção, voltaria para
casa com um olho roxo.

Logan provavelmente foi passar o dia com Avalon, pois não foi para casa conosco e
simplesmente não atendia qualquer ligação minha ou respondia minhas mensagens. Decidi seguir
o conselho de Benjamin e dar tempo para ele, mas começou a anoitecer e fui ficando ansioso.
Logan e eu nunca brigamos de verdade. Éramos amigos literalmente desde o nascimento, nossas
avós eram amigas, sempre estudamos na mesma escola, ele era o irmão que nunca tive. Ser
ignorado por ele daquela forma era algo que eu não sabia direito como lidar.
Norah chegou em casa com o céu já escuro depois de ter passado a tarde ensaiando para o
teste da peça de teatro na casa de John e fiquei esperando pelo que iria falar. Mason com certeza
devia ter conversado com ela e contado o que acontecera na academia, no entanto, não vi nada
diferente em sua expressão. Bom, nada diferente do seu novo habitual, sempre um pouco distante
de mim.
— O que houve? — Ela deixou o casaco no gancho atrás da porta e se aproximou. —
Parece tenso.
Ela não sabia de nada. Mason não contara nada para ela? Abri a boca para responder, mas
a porta de casa se abriu de repente e Logan entrou, seguido por Avalon. Eu me ergui do sofá e o
observei passar pela irmã como se mal a tivesse visto e parar bem na minha frente com a
expressão fechada. Ele ainda estava com raiva de mim, o que era compreensível.
— Desde quando você se tornou um traidor do caralho, porra?!
— Logan... — Avalon se aproximou e tocou no ombro do namorado, mas o QB não tirou
os olhos de cima de mim. — Lembre-se do que conversamos.
— Sei muito bem o que conversamos, mas agora chegou a vez de conversar com esse
mentiroso!
— Ei! — Norah correu em nossa direção, quase parando entre nós dois. — O que está
acontecendo? Por que está falando com James assim?
Logan finalmente se virou para Norah e ela deu um passo para trás ao ver a raiva em seus
olhos. Aquilo me deixou puto e tirou parte da ansiedade que eu sentia.
— Com você eu converso depois!
— Você não vai ser um merda com ela, Logan! — falei, entrando na frente de Norah. —
Desconte a sua raiva em mim.
— Mas é em você mesmo que vou descontar! Você mentiu para mim, porra!
— Sobre o quê? — Norah perguntou baixinho parando ao meu lado, mas eu nem
precisava olhar para ela para ter certeza de que a garota já sabia a resposta.
— Sobre você e Mason! — Logan cuspiu, apontando para a irmã e depois para mim. —
Quantas vezes eu te perguntei se sabia algo sobre os dois e você disse que não, James? Mentiu na
minha cara, porra!
— Sim, eu fiz isso. Menti para você, Logan — confidenciei sem raiva em meu tom de voz,
pois sabia que havia errado. — Mas foi por uma boa causa...
— Boa causa? — Logan riu com escárnio. — Existe mentira boa agora?
— Você mentiu que estava namorando com Avalon e conheceu a mulher da sua vida,
então, sim, existe mentira boa — Norah rebateu e Logan trincou a mandíbula.
— Isso é diferente!
— Não, não é diferente! Norah pediu a minha ajuda e eu dei. Amo você, Logan, sabe
disso, mas também amo muito a sua irmã e estarei do lado dela sempre que precisar de mim.
Porque eu posso não ser nada dela, como você mesmo disse para Mason hoje de manhã, mas
sentimento é algo que não se compra, é algo que não tem nada a ver com sangue. Pensei que
soubesse disso, afinal, sempre afirmou que éramos irmãos.
— Irmãos não mentem um para o outro — Logan murmurou entredentes, parecendo
abalado, mas não querendo dar o braço a torcer.
— Tem razão, não estou aqui para fingir que não errei. Sim, eu errei em mentir para você,
mas não me arrependo. — Olhei para Norah e vi seus olhos cheios de lágrimas em cima de mim.
Tentei sorrir para ela. — Norah parece feliz. Ela está vivendo pela primeira vez, está se
aventurando, se apaixonando, e eu faria tudo de novo, ainda que machucasse a mim mesmo ao
saber que estaria mentindo para você, apenas para vê-la desse jeito. Não mudaria nada do que fiz.
Norah ofegou e algumas lágrimas caíram pela sua bochecha sem que ela precisasse piscar.
Senti vontade me aproximar dela e secá-las, de socar Logan por fazê-la chorar, de tirá-la dali e
simplesmente ficar sozinho com ela, em qualquer lugar. Éramos bons juntos, fosse apenas
conversando, sentados lado a lado em uma sala de cinema ou jogando videogame, onde ela
sempre gargalhava ao vencer de mim. Eu sentia falta daquilo. Porra, eu sentia falta de tanta
coisa!
Sentia falta dela. Caramba, sentia uma falta absurda de Norah em minha vida.
Mas ela não era minha. Nunca foi e jamais seria.
— Bom saber que você mentiria de novo se fosse necessário. Fico me perguntando que
tipo de amizade é essa onde mentiras são aceitas!
Norah se virou para Logan e o encarou de cima a baixo, seu rosto passando da palidez
para a vermelhidão em poucos segundos.
— Não posso acreditar que mesmo depois de ouvir tudo isso, mesmo depois de ter
conhecido Avalon, de estar feliz em um relacionamento, você continua sendo tão egoísta, Logan!
— Egoísta? — Logan pareceu ofendido e Avalon tentou falar alguma coisa, mas ele a
interrompeu. — Eu estou sendo egoísta?! Meu amigo é um traidor e minha irmã não confia em
mim para contar as coisas, mas eu sou egoísta?!
— Já parou para pensar por que eu não confio em você? — Norah perguntou, dando um
passo para perto dele. — Será que em algum momento você realmente olhou para mim ou
sempre se escondeu atrás desse discurso idiota de que só queria me proteger?
— Eu quero proteger você! Sei como são os homens, Norah, e você é importante demais
para mim, não quero nunca que se machuque.
— Mas você me machucou e nem mesmo percebeu! — Ela gritou e eu senti vontade de
abraçá-la. Sua mágoa vinha do fundo da alma. — Nunca olhou para mim como uma pessoa,
sempre como a sua irmãzinha, nunca levou em consideração o que eu queria, o que eu pensava!
Parece que você nunca olhou para mim de verdade, Logan, e eu nunca pensei em julgá-lo sobre
isso. Você sempre viveu em um impasse com o papai, depois, nós perdemos a nossa mãe, e eu
abri mão de tudo para estar do seu lado. Nunca me importei sobre isso. Passei o último ano
ignorando tudo para cuidar de você, para te manter vivo, porque não suportaria perdê-lo! Eu
senti medo de que você me deixasse também, como a mamãe me deixou. Senti medo de que
morresse.
— Norah...
Logan estava pálido, boquiaberto, e quando tentou tocar em Norah, ela deu um passo para
trás.
— Quando Avalon entrou em nossas vidas e eu vi que ela estava conseguindo acessar uma
parte do seu coração que eu jamais conseguiria, fiquei feliz. E quando percebi que vocês se
amavam e que você não corria mais riscos de fazer uma besteira, eu me senti em paz, mas
também me senti perdida. Qual era o sentido da minha vida, afinal? Sempre me vi entre você e
meu pai, fosse antes da morte da mamãe ou depois, sempre me vi agindo mais como a sua irmã
mais velha do que o contrário. Então, de repente, eu já não precisava mais ir a festas apenas para
poder tomar conta de você ou acordar no meio da madrugada para te resgatar bêbado de algum
lugar. Pela primeira vez na vida, eu podia viver por mim, mas não sabia como fazer isso, Logan.
Sempre vivi às suas sombras e nunca me importei, de verdade, mas entendi que eu queria
começar a viver por mim e James me ajudou a fazer isso.
Norah se virou para mim e sorriu em meio às lágrimas, tomando a minha mão.
— Recorri a ele porque você me sufocou, não com a sua dor ou o seu luto, nunca com
isso, mas com a sua proteção exagerada. Eu amo o seu lado protetor, mas não preciso me
esconder atrás dele. Eu sou uma mulher adulta, que simplesmente quer viver. Eu posso errar e
me machucar, isso faz parte da vida, ninguém pode evitar, nem mesmo você. Preciso que
entenda que eu quero e mereço ser livre, e não posso ser livre se você continuar querendo me
prender. — Norah soltou a minha mão e se aproximou de Logan, secando uma lágrima que acho
que nem mesmo ele percebeu que havia caído. — Deixe-me encontrar um outro sentido para a
minha vida que vai além de você, Logan. Porque até mesmo quando tenta me proteger, está
pensando mais em você do que em mim.
Norah se afastou e simplesmente subiu os degraus que a levariam para o seu quarto. Eu a
acompanhei com o olhar até ela sumir de minhas vistas, querendo ir até ela e simplesmente
abraçá-la, tomar aquela dor que eu nem imaginava que ela sentia.
Logan se sentou no sofá e coçou os olhos com força para tentar impedir que as lágrimas
voltassem a cair, mas foi em vão. Avalon se sentou ao lado dele e acariciou as suas costas com
pesar.
— Sou um irmão de merda! — Ele resmungou com a voz rouca e embargada, dando um
soco de leve na própria cabeça. — Sou um irmão ruim pra caralho!
— Claro que não, Logan. Você é um bom irmão, só que errou como qualquer outra pessoa
é capaz de errar — Avalon falou.
— Errei a minha vida toda, pelo visto! — O QB riu sem humor. — Como não percebi
como Norah se sentia? Como não dei valor aos sentimentos dela? — Seus olhos vermelhos se
chocaram com os meus. — Você tem razão, afinal, sempre teve. Sangue não quer dizer nada.
Você é para Norah um irmão bem melhor do que eu. — Logan se ergueu e, para a minha
surpresa, tocou a minha nuca antes de encostar a testa na minha. — Obrigado por isso. Obrigado
por ter visto o que eu não vi e por ter cuidado tão bem dela. Eu te devo um pouco mais da minha
vida agora.
— Pare de besteira, Norah te ama e você sempre será o melhor irmão do mundo para ela.
— Não como você. — Não havia inveja em sua voz, apenas um pesar que apertou o meu
coração.
Logan estendeu a mão para Avalon e foi com ela em direção à escada. Eu os acompanhei
com o olhar, assim como acompanhei Norah, e me senti um merda quando me vi sozinho no
meio da sala.
Porque Logan estava errado.
Nunca fui como um irmão para Norah, porque dentro do meu peito não havia mais
qualquer sentimento fraternal por ela.
Eu amava Norah, mas de uma forma completamente diferente do que o meu melhor amigo
imaginava.
Duas batidas na porta do meu quarto me fizeram erguer a cabeça do travesseiro, onde
havia me enterrado desde o momento em que me afastei de Logan. Engoli em seco, pensando
que poderia ser o meu irmão, mas a voz do outro lado me tranquilizou.
— Sou eu, James. Posso entrar?
Limpei as lágrimas que ainda insistiam em descer e respondi que sim. James entrou em
meu quarto com o semblante abatido, mas tentou sorrir. Eu me senti ainda mais culpada ao ver a
tristeza em seus olhos, pois com certeza James era a última pessoa que merecia estar no meio de
tudo aquilo. Ele se aproximou de mim e se sentou ao meu lado na cama, puxando a minha mão e
entrelaçando os nossos dedos.
Por um momento, ficamos apenas em silêncio, sua companhia diminuindo gradativamente
o meu nervosismo. Parecia bobagem, mas senti medo durante aquele tempo em que me obriguei
a ficar afastada de James. Medo de perdermos a nossa amizade, o nosso companheirismo, porque
eu não fazia ideia de como lidar com a tormenta que ele causava em meu coração.
— Sinto muito. — Fui a primeira a falar, mas não tive coragem de encará-lo enquanto as
palavras deixavam a minha boca. — Sinto muito por ter feito aquela proposta idiota para você,
por ter pedido para que mentisse para o meu irmão. Sei o quanto Logan é importante na sua vida,
o quanto você o ama, e agora estão brigados por minha causa.
James tocou em meu queixo, um costume que tinha desde quando eu era mais nova, e me
fez olhar em seus olhos. Vi que ele não me culpava, mas aquilo não fez com que o sentimento
deixasse o meu peito.
— Não se desculpe, baixinha. Não ouviu nada do que eu disse para Logan? Eu faria tudo
de novo, Norah, mil vezes, apenas para te ver feliz.
Meu queixo tremeu e me senti ainda pior, porque eu não estava feliz de verdade. Não
conseguia ficar, ainda que tentasse muito, porque entendi que não era por Mason que eu estava
apaixonada. Tive a real noção dos meus sentimentos quando James falou tudo aquilo para Logan
olhando em meus olhos.
Eu vi aquele homem lindo, alto, forte, com um coração enorme, gentil e amoroso,
simplesmente enfrentando o seu melhor amigo de infância, seu irmão de alma, por mim.
Afirmando que me amava e que não se arrependia de ter me ajudado, mesmo sabendo que
colocaria em risco a sua relação com Logan. Meu coração... Pensei que ele fosse saltar pela
minha garganta, de tão rápido que batia. Ele parecia gritar em meu peito, berrar com uma força
que nunca ouvi antes, que nunca senti antes, e exigia que eu o ouvisse. Não me deixou mais
ignorá-lo. Esfregou em minha cara que eu amava James como homem e tirou a venda dos meus
olhos.
Ter aquela percepção, aquela certeza, me deixou abalada, me fez repensar em toda a
minha vida até aquele momento. E me fez querer chorar, porque eu sabia que um relacionamento
entre mim e James era impossível. Ele me amava como uma irmã e, mesmo se não amasse, havia
Logan em nosso caminho. Se meu irmão agiu daquela maneira apenas porque James me ajudou a
chegar perto de Mason, o que faria se sonhasse que eu estava apaixonada pelo seu melhor
amigo?
Não queria imaginar. Não queria pensar naquilo.
— Eu o agradeço por isso — falei, levando sua mão até a minha boca e dando um beijo
nos nós dos seus dedos. — Mas não quero que faça mais nada por mim. Não quero nunca mais
colocar em risco a sua amizade com Logan, eu sei o quanto se amam, não podem perder tudo o
que construíram até aqui por minha causa.
— Não vamos perder nada, seu irmão é cabeça-dura, mas você deu um choque de
realidade nele com tudo o que falou. — James soltou a minha mão e passou o braço pelos meus
ombros até ter a minha cabeça encostada em seu peito. Seu coração batia tão forte quanto o meu.
— Seu discurso foi devastador. Não imaginava que se sentia daquele jeito.
Mordi o lábio para impedir que mais lágrimas se derramassem, porque não aguentava mais
chorar. Foi em vão, no entanto, pois elas se acumularam em meus olhos e caíram mesmo assim.
— Acho que nem eu tinha dimensão do que realmente sentia. Eu apenas... explodi. Amo
meu irmão, James, amo profundamente, mas estava tão cansada. Venho me sentindo cansada há
muito tempo e nem percebi.
— Você passou por muita coisa no último ano, perdeu a sua mãe e não conseguiu
processar direito o luto, focou em Logan e esqueceu de cuidar de si mesma, mas isso acaba
agora. — James deu um beijo longo em minha testa e solucei em meio ao choro. Minha alma se
aqueceu por ele não ter pedido para que eu parasse de chorar. — Está na hora de pensar em você,
Norah, exatamente como vem fazendo. Precisa viver a sua vida sem culpa, por mais que seja
difícil após essa briga com o seu irmão. Acredito que Logan finalmente entendeu que a proteção
dele te sufocava e vai tentar mudar.
— E você e ele? E se a relação de vocês nunca mais voltar a ser a mesma? Nunca vou me
perdoar se isso acontecer, James.
— Acho que seu irmão já não está tão bravo comigo, antes de subir, me agradeceu por ter
cuidado de você. — Havia algo diferente em seu tom de voz ao falar aquilo, mas não consegui
identificar ao certo o que era. Mal conseguia lidar com os meus sentimentos naquele momento.
— Só espero que tudo isso tenha valido a pena, que Mason seja o cara certo para você. Se aquele
babaca sequer pensar em te machucar, eu juro por Deus, Norah, que vou arrebentar a cara dele,
acabar com a sua carreira e fazer com que se arrependa do dia em que pensou em chegar perto de
você.
Ergui-me do peito de James e fiquei surpresa ao ver o brilho da raiva em seus olhos. O
wide receiver era uma das pessoas mais calmas que eu conhecia. Pouca coisa era capaz de
realmente tirar James do sério, por isso, não entendi de onde surgira aquele sentimento tão feroz
dentro dele.
— Por que está falando isso? Descobriu algo sobre Mason que eu não sei?
— Não, não descobri nada sobre ele, mas essa é uma promessa que estou fazendo para
você agora. — James tomou meu rosto em suas mãos, limpando delicadamente as minhas
lágrimas com o polegar. — Não serei como Logan, jamais irei te sufocar ou cortar as suas asas,
quero que seja livre, quero que viva cada experiência que quiser, porque não há no mundo uma
pessoa que mereça mais isso do que você. — Os olhos dele ficaram rasos de lágrimas. — Mas
sempre estarei por perto, cuidando de você, sendo o homem que você precisa que eu seja. Seu
amigo, seu irmão, qualquer coisa que quiser de mim, você terá, entende isso?
Eu ofeguei e, por um segundo de loucura, eu quase implorei para que ele simplesmente
fosse o meu homem. Meu homem e de mais ninguém, mas não podia fazer aquilo, não tinha
aquele direito e não suportaria ouvir de James que ele não me via como nada além de sua irmã
mais nova.
— Você entende, Norah? — perguntou mais uma vez, sondando os meus olhos.
— Sim — sussurrei em resposta, segurando seus pulsos. Eram grossos demais, meus
dedos não se encontravam ao redor deles. — Sim, eu entendo. Sempre estarei do seu lado
também, James, sendo... sendo a sua irmã. — Doeu intensamente dentro de mim dizer aquilo. —
Sua melhor amiga.
James fechou os olhos por um segundo e respirou fundo, como se absorvesse minhas
palavras. Quando voltou a erguer as pálpebras, um sorrisinho bonito se abriu no canto dos seus
lábios.
— Para sempre? — perguntou.
— Sim, para sempre.
O jogador me puxou novamente de encontro ao seu peito e foi a minha vez de fechar os
olhos enquanto o abraçava com força. Respirei fundo, querendo guardar o seu cheiro dentro de
mim, o calor do seu corpo em minha pele, o toque gentil das suas mãos grandes em minhas
costas, porque não sabia quando teria outra oportunidade de estar tão perto e íntima de James
outra vez.
Pensei que não conseguiria dormir naquela noite, mas estava tão emocionalmente exausta,
que apaguei sem nem ao menos perceber. Acordei antes do toque do despertador, apenas porque
senti que não estava mais sozinha. Ao abrir os olhos, encontrei Logan deitado ao meu lado,
fazendo um cafuné em minha cabeça com o cenho levemente franzido.
Ele forçou um sorriso assim que percebeu que eu despertara, mas ficou um tempo sem
falar nada, como se estivesse me dando alguns minutos para decidir se iria expulsá-lo ou não.
Jamais faria algo do tipo. Logan e eu nunca brigamos e, por mais que eu tivesse falado demais na
noite anterior, não queria que ficasse um clima ruim entre nós dois. Eu o amava e apenas queria
que Logan me entendesse e me visse de verdade.
— Oi — ele murmurou depois de prolongar o silêncio.
— Oi.
— Você me odeia?
Havia uma preocupação genuína nos olhos de Logan e aquilo me fez rir baixinho.
— Não, eu não te odeio. Jamais seria capaz de odiar você.
Meu irmão soltou a respiração que estava prendendo e me puxou para um abraço muito
forte. Beijou os meus cabelos tantas vezes, que cheguei a perder a conta. Senti-me tão bem em
seus braços, tão acolhida e amada, que as lágrimas que voltaram a encher os meus olhos tinham
um significado completamente diferente da noite anterior.
— Sabe o que eu senti quando fiquei mais velho e finalmente entendi que você era a
minha irmãzinha e não uma intrusa que queria roubar os meus pais de mim?
— Não — respondi com um sorriso em meio às lágrimas. — Mas estou esperando você
me contar.
— Eu senti... Senti que eu nunca estaria sozinho no mundo, que eu tinha que ser forte para
poder cuidar de você, porque você não era apenas a minha irmã, era um presente. Um presente
que não pedi, mas que nossos pais me deram mesmo assim. Acreditei tanto nisso, Norah, que não
consegui ver que você já não era mais a garotinha que eu precisava ficar correndo atrás, evitando
que caísse de cara no chão quando resolvia correr ou andar de bicicleta. Simplesmente não vi
quando você cresceu, não percebi quando se tornou madura, nem mesmo quando tomou as
rédeas quando me perdi e cuidou tão bem de mim. Você tem razão, nossos papéis se inverteram
e fui egoísta demais para não perceber. Mesmo quando eu queria cuidar de você, acabava
pensando mais em mim, no meu papel de irmão mais velho, na promessa que fiz aos nossos pais
de protegê-la para sempre. Eu não queria falhar, principalmente com você, mas falhei. Falhei por
um tempo longo demais.
Eu fiquei quieta, deixando que Logan falasse, pois sentia que ele precisava desabafar
assim como eu desabafei na noite anterior. Nós permanecemos abraçados, com a minha cabeça
em seu peito, da forma mais fraternal e sincera que poderia existir.
— Mas não quero continuar falhando. Não quero ser o seu opressor, pelo contrário, quero
ser o seu melhor amigo, assim como você é minha melhor amiga. Talvez eu não mereça, sei que
fui um idiota por muito tempo, que não levei em consideração os seus sentimentos e as suas
vontades, mas prometo que vou me esforçar e provar para você que pode confiar em mim. Sou o
seu irmão e não quero... — A voz dele embargou, mas Logan limpou a garganta e prosseguiu: —
Não quero perder o presente que nossos pais me deram.
Sentei-me na cama e obriguei Logan a fazer o mesmo, pois queria olhar em seus olhos.
Eram tão bonitos quanto os do nosso pai. Na verdade, Logan se parecia muito mais com o Sr.
Miller II, enquanto eu era uma cópia da minha mãe, mesmo assim, nos completávamos. Eu não
poderia viver sem ele e sabia que meu irmão também não conseguiria viver sem mim.
— Você nunca vai me perder — garanti, entrelaçando os nossos dedos. — Nunca, ouviu
isso?
— Mesmo eu sendo um idiota?
— Você não é idiota, apenas age como um às vezes, o que é um defeito, mas eu amo mais
as suas qualidades. Você é altruísta e tem um coração enorme, Logan, também sabe reconhecer
quando erra e não hesita em se redimir. Eu amo você e confio na sua palavra, sei que vai cumprir
com tudo o que me disse.
— Eu prometo a você — garantiu e eu vi a verdade em seus olhos. — Me perdoa por ter
sido o pior irmão de todos os tempos?
— Nem se quisesse muito, você conseguiria ser o pior irmão de todos os tempos — ri e ele
me deu aquele sorriso bonito que eu tanto amava e que fazia Avalon suspirar pelos cantos. —
Mas eu te perdoo, sim. Com uma condição.
— Qual?
— Que você converse com James e o perdoe por ter mentido, ele só fez aquilo porque
implorei, não teve culpa de nada, Logan.
Meu irmão ficou um tempo em silêncio, mas logo concordou com a cabeça, me fazendo
sentir um alívio imenso.
— Sim, eu vou conversar com ele, também preciso me desculpar por algumas merdas que
falei.
— Ótimo. Não quero que vocês briguem, principalmente por minha causa.
— Não vamos mais brigar. E sobre Mason... Eu já desconfiava que vocês estavam saindo
juntos. Não fiquei com raiva por causa disso, Norah, mas porque James mentiu para mim. Agora
eu entendo que mentiu porque estava sendo fiel a você e sinto que preciso agradecer a ele por ser
tão leal e por te amar como eu te amo.
Te amar como eu te amo. Como um irmão. Lutei para não deixar aquilo me abalar.
— Então vai logo atrás dele fazer as pazes — exigi e Logan riu.
— Eu vou. — Meu irmão beijou as minhas mãos e se levantou da minha cama. — Desça
para tomar café da manhã com a gente.
— Encontrarei com vocês em alguns minutos.
Logan deixou o meu quarto e eu me joguei de costas na cama, sentindo como se um rolo
compressor tivesse passado por cima de mim, mas tranquila por ter a certeza de que nada
abalaria a minha relação com o meu irmão ou a sua amizade com James.
Abri a porta do meu quarto e dei de cara com Logan no corredor, com o punho erguido
como se estivesse prestes a bater e anunciar a sua presença. Por um momento, fiquei sem reação,
mas o QB foi rápido em quebrar o gelo e pedir:
— Podemos conversar?
Como eu diria não? Se Logan não estivesse ali, eu com certeza iria atrás dele em algum
momento. Confirmei com a cabeça e entramos juntos em meu quarto. Observei sua sobrancelha
se arqueando lentamente conforme dava uma olhada à nossa volta.
— Você continua o mesmo bagunceiro de sempre.
Eu não poderia negar. Havia roupas e sapatos espalhados, mas eu arrumaria tudo em
breve.
— É um dom que eu tenho, você sabe. Se soubesse que ia receber visita, eu teria dado um
jeito em tudo isso.
Logan estreitou os olhos para mim.
— Se tivesse arrumado a porcaria do seu quarto para me receber, eu ficaria ofendido. Já
tirei muita toalha de cima da sua cama apenas para ficar sentado ao seu lado enquanto jogávamos
videogame quando éramos mais novos. — O QB sorriu e se aproximou de mim. — E essas são
sempre as minhas melhores lembranças, as tardes que passávamos juntos jogando e vendo vídeo
na internet, falando sobre futebol e garotas, fazendo planos com o que faríamos com o nosso
dinheiro quando entrássemos para um time profissional.
— Planejamos nossa viagem para Vegas, lembra disso?
— Sim. Nós fecharíamos vários cassinos e viraríamos a noite em festas, com muita bebida
e sexo. — Nós gargalhamos com a lembrança e senti algo agridoce enquanto voltávamos ao
passado.
— Isso não vai mais acontecer, não é? Pelo menos não a parte do sexo com mulheres
diferentes a cada noite.
— Sinto muito por ter frustrado os nossos planos, mas o meu coração falou mais alto. —
Logan enfiou as mãos nos bolsos e me deu um olhar levemente saudoso. — Ainda podemos
fazer isso, sabe? Podemos ir para Vegas, eu aproveito e me caso com Valente tendo o cover do
Elvis como celebrante e, durante a nossa noite de núpcias, você e Ben podem se divertir com as
mulheres desconhecidas.
— É um bom plano — falei, sem querer pensar muito no fato de que eu queria uma
mulher muito conhecida por nós dois.
— Minha irmã também vai, é claro, provavelmente com o idiota do Mason, mas acredito
que até lá eu já vou ter me acostumado a ter o jogador como meu cunhado.
— É, acredito que sim — murmurei, querendo desesperadamente trocar de assunto. —
Isso significa que ainda sou o seu melhor amigo?
Logan me olhou por um tempo, as mãos ainda no bolso da calça jeans, nossas lembranças
nos rondando. Eu não conseguia me recordar de algum momento em que não tive aquele babaca
na minha vida e simplesmente não podia imaginar viver sem a amizade de Logan. Não existiria
James sem aquele quarterback teimoso e talentoso ao meu lado.
— Você sempre foi, James, e sempre vai ser. Acredito que não há nada que você ou eu
possamos fazer que será capaz de acabar com a nossa irmandade. Porque não somos apenas
amigos, somos irmãos. Esqueça o que eu falei ontem, sangue nunca quis dizer nada e nós
sabemos disso. Eu fui um idiota. Você pode me perdoar?
Perdoá-lo? Puta merda! Se Logan ao menos imaginasse tudo o que eu sentia, as coisas que
passavam em minha cabeça em relação a Norah, jamais abriria a boca para me fazer aquela
pergunta. Era eu que precisava do seu perdão. Aproximei-me e o abracei bem forte, sentindo-o
retribuir rapidamente.
— Não preciso perdoar você por nada, pelo contrário. Preciso pedir perdão para você. Eu
menti, Logan, e...
— Foi por uma boa causa, agora entendo isso. — Meu amigo deu um passo para trás e
apertou os meus ombros. — Não tem motivo para me pedir perdão. E eu preciso agradecer mais
uma vez por ter cuidado da minha irmã e estado ao lado dela quando fui idiota demais para não
fazer isso. Sei o quanto se importa com Norah, você é como um irmão para ela e acredito que
jamais deixaria Mason se aproximar se não tivesse a certeza de que ele é um cara digno da minha
irmã.
— Nunca, Logan. Só a apoiei nessa ideia maluca depois de ir atrás de informações sobre
Mason. Ele tem a reputação impecável, nenhum escândalo envolvendo garotas e, desde que
chegara ao Alabama, mal foi visto com outras meninas em festas. Aparentemente, o babaca é o
homem perfeito.
— Ele nunca será perfeito o suficiente para a minha irmã.
— Concordo com você.
— Mas se Norah gosta dele como você diz, só me resta conhecer melhor o jogador e dar
um voto de confiança para ele.
Concordei com a cabeça, sem saber ao certo o que falar sobre aquilo. No fundo, um lado
egoísta queria que Logan fosse bem duro com Mason, a ponto de fazer o babaca desistir de
Norah, mas eu o ignorei. Era apenas o meu ciúme falando alto e eu deveria aprender a controlar
aquele sentimento.
Nós trocamos mais algumas palavras e descemos juntos, encontrando Avalon e Benjamin
conversando na cozinha. O running back nos encarou com os olhos arregalados.
— Vocês não vão se matar, vão? Avalon acabou de me contar tudo o que aconteceu
ontem. Não acredito que resolveram fazer barraco justo no dia em que eu não estava em casa!
— Não, a gente não vai se matar, pode ficar tranquilo — Logan respondeu conforme se
aproximava de Avalon e a abraçava por trás. — Já fizemos as pazes.
— Tão rápido assim? Você já foi mais durão, QB. — Benjamin riu e eu estreitei os olhos
para ele.
— Devo contar ao Logan que você sabia de tudo?
— O quê? Você sabia, Benjamin?
Ben arregalou os olhos, erguendo rapidamente as mãos.
— Eu não sabia de tudo. Quer dizer, sim, eu sabia, mas era mais ou menos. Bem mais ou
menos. E falei para James que era uma loucura.
O quarterback se afastou da namorada e parou na frente de Ben com os braços cruzados.
— Em nenhum momento você pensou em me contar?
— E tirar o doce da boca da Norah? Ah, não, a garota não merecia isso... — Benjamin
forçou uma risada ao ver os olhos estreitos de Logan. — Eu só fui um bom amigo para ela, ok? E
se James está vivo, com todos os membros ainda grudados ao corpo, você não tem o direito de
tocar em mim.
Logan sacodiu a cabeça e se afastou indo em direção à geladeira.
— Estou cercado por traidores. Vocês têm sorte por eu amar cada um, do contrário, faria
picadinho de vocês.
— Não, eles têm sorte por você namorar uma mulher incrível como eu, que sempre coloca
a sua cabeça no lugar — disse Avalon e eu não pude deixar de concordar.
— Obrigado, Valente. — Benjamin segurou a mão de Avalon e deu um beijo no momento
em que Logan se virou para os dois. Eu comecei a rir.
— Saia de perto da minha mulher, seu idiota!
— Foi só um beijo inocente!
— O soco que vou dar na sua cara não vai ser nada inocente!
— Pelo menos ele está brigando com você só por causa do beijo e não por a ter chamado
de Valente — falei e Benjamin me deu o dedo do meio.
— Você é meu fã ou hater, seu babaca?
Soprei um beijo em sua direção e me virei assim que senti a presença de Norah entrando
na cozinha. Tentei não olhar para ela como um idiota apaixonado, mas acredito que falhei,
porque ela parecia ainda mais bonita naquela manhã, com o cabelo preso em um rabo de cavalo
que me deu ideias que nem sequer deveriam passar pela minha cabeça. Como meu pulso
enrolado nele, puxando-a em minha direção para que eu pudesse beijar a sua boca enquanto a
comia de quat...
— Se estão rindo desse jeito, é porque acredito que fizeram as pazes.
Foi o som da voz dela que me trouxe de volta, mas o meu pau já tinha sofrido as
consequências da imagem que minha mente criou. Pigarreei e resolvi ir até a geladeira pegar
tudo o que eu precisava para bater o meu shake de proteína, torcendo para que o ar gelado do
aparelho ajudasse a diminuir a ereção que ameaçava se formar em minha calça.
— Depende, estou pensando em enfiar essa faca na jugular do Benjamin — disse Logan,
erguendo a faca de passar manteiga.
— Você não teria essa coragem, QB.
— Quer apostar?
— Valente, controle o seu namorado!
Pude ouvir Avalon começar a rir enquanto Logan e Benjamin ainda fingiam discutir.
Coloquei tudo na bancada onde ficava a pia e senti Norah parar ao meu lado, me estendendo uma
banana.
— Sei que vai precisar disso. — Ela piscou para mim e deixou a fruta na bancada, me
fazendo engolir em seco. Seus lábios estavam rosados e brilhantes e eu sabia que o gloss que
usava tinha cheiro de morango, porque sempre que ela o passava em meu carro, o aroma fluía
pelo ar. Quis muito descobrir como seria a mistura do morango com o sabor da sua boca. —
James, está tudo bem?
— Sim. — Forcei uma risada e olhei rapidamente para trás. — Contei para Logan que Ben
sabia da nossa mentirinha, por isso os dois estão desse jeito.
— Agora tudo faz sentido. — Norah riu e fiquei feliz por vê-la daquele jeito. Parecia em
paz, apesar de haver uma sombra em seus olhos.
— Está tudo bem agora, Norah. Não precisa mais se preocupar com nada.
A garota bonita me olhou por um tempo, o sol fraco do inverno entrando pela janela
fechada que ficava atrás da pia e deixando suas írises cor de mel ainda mais claras e intensas.
Havia algo misterioso em Norah naquele momento e fiquei curioso para desvendar cada um dos
seus pensamentos. Por fim, ela apenas sorriu e soltou um suspiro profundo.
— Sim. — Seus olhos se desviaram dos meus e senti falta deles. — Está tudo bem agora.

O treinador Coben apontou para o slide projetado no quadro branco, explicando uma série
de novas estratégias que havia criado para o time junto com o treinador Fred, responsável pela
defesa. Ao mesmo tempo em que me sentia ansioso para voltar a treinar em campo, sabia que
meu pai só estava esperando por isso para voltar a me mandar mensagens todos os dias, exigindo
um relatório do meu rendimento, que eu quase nunca enviava. Amava meu pai, mas sempre me
perguntava se eu seria um filho ruim se bloqueasse o seu número da minha agenda telefônica.
— Você e Logan chegaram juntos no centro de treinamento, conversando e sorrindo. — A
voz de Mason soou baixa ao meu lado. Nem percebi quando o jogador irritante se sentou na
cadeira vazia ao lado da minha. Mantive meu olhar para frente. — Fiquei feliz por isso. Não
queria que brigassem, James.
— É mesmo? Não foi o que pareceu.
Tive tempo para refletir ontem à noite e voltar à conversa entre Mason e Logan na manhã
anterior. Não esperava que o tight end continuasse a esconder o seu envolvimento com Norah,
tendo em vista que se autointitulava apaixonado por ela, mas realmente não esperava que ele me
citasse e contasse para Logan que eu sabia de tudo. Não por achar que ele me protegeria de certa
forma, mas por acreditar que protegeria Norah. Uma coisa era ela sair com ele sem o
conhecimento do irmão mais velho, outra, era ela esconder isso dele com a ajuda de outra
pessoa.
Mason não me pareceu tão corajoso naquele momento, praticamente se escondendo atrás
do meu aval para que se aproximasse de Norah. E a forma como me entregou para Logan soava
quase maldosa a cada vez que eu me lembrava da situação na academia.
— Claro que não queria que vocês brigassem. O que eu ganharia com isso, James?
Virei meu rosto em sua direção. A sala de reunião estava escura para que pudéssemos
enxergar melhor o slide, mas tinha iluminação suficiente para que eu conseguisse olhar na cara
daquele babaca.
— Me diz você. — Joguei contra ele. Mason soltou uma risadinha.
— Eu não ganharia nada, é claro.
— Será, Mason? Ou tem medo da influência que eu tenho sobre Logan e acreditou que
seria mais fácil convencê-lo a deixar que você fique com Norah se me tirasse do caminho?
— Não entendi... Você é uma ameaça ao meu relacionamento com Norah?
— Não sou. — Observei bem de perto a sua reação, o sorriso já havia desaparecido dos
seus lábios. — Por enquanto.
A mandíbula dele ficou cerrada e gostei de ter provocado uma reação no jogador que não
tivesse nada a ver com o seu excesso de confiança, que quase beirava a arrogância, e o seu
sorrisinho cínico.
— Por enquanto? O que isso quer dizer?
— Quer dizer que é melhor você tomar cuidado, porque se cometer um deslize com
Norah, eu serei uma ameaça ao relacionamento de vocês. Agora volte a usar o seu título de
jogador impecável e preste atenção na explicação do treinador Coben.
Voltei a olhar para frente, mas fiquei bem atento a Mason. Ele ficou em silêncio, ainda
olhando para mim durante um tempo, antes de sair da cadeira ao meu lado e voltar para o lugar
de onde não deveria ter saído.
Sentei-me ao lado de John no teatro da faculdade e entrelaçamos os nossos dedos. A Sra.
O’Neal estava sentada à mesa em frente ao palco junto com o seu ajudante de direção e o diretor
de elenco. Os três seriam os responsáveis pela escolha do elenco e estavam deliberando agora
que os testes haviam terminado.
Estava nervosa. A discussão com Logan na noite passada me desconcentrou totalmente
para o teste de hoje e, apesar de termos feito as pazes e o clima entre ele e James ter voltado ao
normal, eu ainda sentia os efeitos dos últimos acontecimentos. Estava morrendo de medo de não
ter ido bem no teste. John não podia me dar o seu veredito, pois todos os candidatos esperavam
do lado de fora pela sua vez, e no teatro ficavam apenas as três pessoas que tinham o meu destino
nas mãos naquele semestre.
Queria muito o papel de Julieta. Estar nos palcos era o meu maior sonho e conquistar
aquela protagonista seria apenas o início da estrada que eu queria tanto trilhar.
A Sra. O’Neal subiu no palco com a sua prancheta em mãos e nos deu um sorriso
animado. Ela era baixinha, usava óculos de grau pequeno na ponte do nariz e sempre se vestia
com muitas roupas coloridas. Era, com certeza, a minha professora favorita. Além disso, ela era
inteligente e justa. Já tinha ouvido histórias de alunos que passaram meses puxando o saco dela
para serem escolhidos para as suas famosas peças na UA, mas, apesar de tratá-los bem, Sra.
O’Neal nunca se deixou ser influenciada pelo tratamento dos alunos para com ela.
A professora era muito ética e por isso que era tão respeitada e admirada, além do seu
currículo extenso e maravilhoso.
— Tenho aqui o resultado do teste de elenco. Preciso ressaltar que todos vocês foram
maravilhosos em cena, o que dificultou bastante a minha vida e a dos meus amigos ali sentados.
— A professora apontou para os dois homens à mesa e uma série de risadinhas nervosas e
ansiosas explodiu pelo teatro. — E que estou muito orgulhosa por ter alunos tão talentosos. Uma
salva de palmas para vocês.
John e eu nos encaramos ao soltar a mão suada um do outro e batemos palmas junto com
os outros alunos. Um tempo se passou e voltamos a dar as mãos quando a Sra. O’Neal avisou
que começaria a falar os resultados. Ela anunciaria primeiro os personagens secundários, para o
nosso tormento.
— Sinto que vou ter uma síncope a qualquer momento — John sussurrou em meu ouvido.
— Principalmente porque você ainda não me contou detalhes do que aconteceu ontem.
Eu havia comentado por alto com John sobre a discussão com Logan, porque queria contar
tudo pessoalmente. Seria também uma forma de desabafar sobre tudo o que vinha acontecendo
dentro de mim. Confiava em John e sabia que para ele eu poderia parar de mentir sobre os meus
verdadeiros sentimentos — afinal, meu amigo parecia já desconfiar de cada um deles.
— Eu vou contar, só preciso descobrir se serei ou não a Julieta antes.
— É claro que você será! Eu não aceito outra Julieta para o meu Romeu. — John se
inclinou um pouco mais em minha direção. — Até porque, sua maior concorrente é a Heather e
nós dois sabemos o quanto essa garota é metida.
— John! — Dei um tapinha em seu braço e abafei uma risada conforme ouvia a
comemoração discreta daqueles que estavam sendo escolhidos para o elenco. — Ela é talentosa.
— E metida. — Ele fez uma careta. — E você é mil vezes mais talentosa do que ela.
— Opinião de amigo não conta.
— Claro que conta, ou você me fez acreditar que o Romeu seria meu apenas por ser minha
amiga?
— Lógico que não! Não há outro ator melhor do que você para esse papel.
— E não há outra atriz melhor do que você para ser Julieta.
Sorri para o meu melhor amigo e voltamos a prestar atenção no anúncio de Sra. O’Neal. A
escalação dos personagens secundários chegou ao fim e ela logo iniciou o dos personagens
principais da trama. Os primeiros a serem revelados foram os senhores Capuleto, pais de Julieta,
seguidos pelos Montecchio, pais de Romeu. O frio se intensificou em minha barriga. Estava
chegando a hora.
Após o anúncio de quem faria Frei Lourenço, Nurse — ama de Julieta —, Tybalt Capuleto
— primo de Julieta —, Benvólio Montecchio — primo de Romeu —, e Mercúrio, que era amigo
de Romeu, chegou o momento de anunciar quem faria o papel principal. Eu mal conseguia ouvir
a professora por causa da força com a qual o meu coração batia e parecia retumbar em meus
ouvidos.
Apertei a mão de John com força, sentindo-o fazer a mesma coisa comigo, e fechei os
olhos quando a Sra. O’Neal começou a dar o resultado.
— Romeu será interpretado por... — A filha da mãe fez suspense, mas eu não abri os
olhos. — John Fitzgerald.
— Ah, meu Deus! — John gritou ao meu lado, me puxando para um abraço e eu retribuí
ainda de olhos fechados, sorrindo para ele.
— E, finalmente, nossa eterna Julieta será interpretada por... — Sentia que eu poderia
desmaiar a qualquer momento. — Norah Miller!
— Eu sabia! Eu sabia, caramba! — gritou o meu amigo.
John me puxou pelos pulsos e me fez ficar de pé para me abraçar com força, mas eu quase
não tinha reação. Estava em choque. Sabia que havia um sorriso em meu rosto, que fazia minhas
bochechas doerem de tão grande que ele era, mas eu mal conseguia raciocinar. John pegou meu
rosto entre as mãos e olhou em meus olhos com os dele rasos de lágrimas.
— Nós passamos, Norah! Nós passamos, porra! — sussurrou no final e eu quase me
engasguei com a risada histérica que surgiu no fundo do meu peito.
— Nós passamos mesmo. Não é mentira.
— Claro que não. Esse é só o primeiro de muitos papéis que faremos ao longo da nossa
carreira. É melhor o mundo se preparar para nós dois, porque estamos chegando com tudo!
Eu o abracei com força, minha ficha finalmente começando a cair. Foi inevitável pensar na
minha mãe, no quanto ela sempre me incentivou e apoiou. Eu sabia que estava olhando por mim
onde quer que estivesse e esperava que se sentisse orgulhosa. Aquela era só a primeira de muitas
conquistas.
Após passar a euforia da revelação, Sra. O’Neal pediu para que fôssemos ao palco e falou
algumas palavras, reafirmou o quanto éramos talentosos e se disse orgulhosa do nosso elenco.
Momentos depois, ressaltou como aquele era um trabalho sério e que, pelos próximos meses,
estaríamos imersos em ensaios constantes e desafiadores. Eu me sentia preparada para tudo
aquilo e estava ansiosa para que pudéssemos começar. A primeira reunião de elenco ficou
marcada para a semana seguinte e logo fomos liberados.
John e eu saímos de mãos dadas do teatro, rindo como duas crianças, e ele logo pegou o
celular dentro do bolso da calça jeans quando chegamos ao lado de fora do prédio.
— Preciso avisar ao Peter!
Meu amigo se afastou já com o celular na orelha e eu corri para pegar o meu dentro da
minha bolsa. Não pensei muito na hora de ir até as chamadas recentes e ligar para a única pessoa
que fazia o meu coração bater de forma tão descompassada. A voz grave de James soou do outro
lado da linha e um arrepio de desejo e felicidade levantou todos os pelinhos do meu corpo.
— Oi, baixinha.
— Eu passei! Eu passei, James!
— No teste de elenco? Era hoje?
— Sim! E eu serei a Julieta!
— Puta merda, Norah! Eu sabia, porra! Sabia que esse papel seria seu, meu amor! —
James praticamente gritava do outro lado da linha, tão feliz pela minha conquista quanto eu
fiquei por ele quando ganhou a temporada de futebol ao lado dos meninos no ano passado. —
Parabéns! Você merece isso e muito mais. Esse será o primeiro papel de muitos na carreira
brilhante que você está construindo.
— Obrigada. — Eu funguei, me sentindo uma boba. — Que droga, eu vou chorar!
— São lágrimas de alegria, você merece se emocionar. Precisamos comemorar! Conte ao
seu irmão, vamos sair juntos hoje à noite.
— Sim, eu sinto que preciso beber alguma coisa para ver se a ficha cai de verdade.
James riu e eu senti o meu peito apertar de saudade dele. Se estivesse aqui agora, eu
estaria jogada em seus braços fortes, sentindo o cheiro da sua pele com a minha cabeça
pressionada contra o seu peito.
— Faremos isso mais tarde, então. — Ele ficou em silêncio por um segundo, mas logo
voltei a ouvir a sua voz: — Norah?
— Sim?
— Estou orgulhoso pra caralho de você. Eu te amo.
Daquela vez, eu não fiquei triste ao ouvir aquilo, pois simplesmente ser amada por James,
da maneira que fosse, já me deixava feliz.
— Eu também te amo.
Nós desligamos e John voltou a se aproximar com um sorriso gigante. Ele me abraçou e
rodopiou comigo, sem se importar com os alunos que passavam à nossa volta e nos olhavam
como se fôssemos malucos. Assim que me colocou no chão, perguntou:
— O que vamos fazer hoje à noite para comemorar?
— Não sei, mas com certeza faremos alguma coisa! Acabei de falar com James e...
— James? Pensei que estivesse falando com Mason. — John arqueou uma sobrancelha e,
antes que eu pudesse perguntar para ele o que aquela expressão em seu rosto significava, ele
apontou para algo atrás de mim com o queixo. — De qualquer forma, acho que não conseguirá
mais fugir do seu futuro namorado agora. Mason está vindo.
Eu me virei a tempo de ver Mason se aproximando. Pelo menos ele não nos pegara de
surpresa daquela vez. John acenou para o jogador assim que ele fechou a nossa distância e se
afastou depois de deixar um beijo em minha bochecha, avisando que encontraria com Peter no
estacionamento.
— Me mande uma mensagem avisando sobre o que faremos mais tarde! — disse em voz
alta conforme se distanciava.
— O que ele quis dizer? Já tem planos para mais tarde e não me avisou? — Mason tocou a
minha cintura e me puxou em sua direção com pouca delicadeza, um contraste com a forma
como tocou os lábios nos meus em um beijo calmo e sem língua. — Estava pensando que
poderíamos sair hoje à noite.
— Eu fiz o teste para viver a Julieta hoje e passei!
Não contara para ninguém que o teste seria naquele dia, portanto, a surpresa nos olhos de
Mason era compreensível, mas ele logo franziu o cenho.
— Por que não me disse que era hoje?
— Eu não disse para ninguém, fiquei com medo de ficar mais nervosa com a expectativa
de todo mundo sobre mim.
— É compreensível... — Ele deu um sorrisinho e enrolou um cacho do meu cabelo em seu
dedo. — Mas eu não sou ninguém, sou?
— Claro que não, Mason...
— Então, você deveria ter me avisado. — Engoli em seco com a pressão que estava
jogando sobre mim. Por fim, Mason sorriu abertamente. — Eu teria acampado aqui na frente,
espalhado cartazes pelo campus, apenas para mostrar a minha torcida por você.
Meu coração desacelerou um pouco, mas eu ri mais de nervosismo do que por achar
engraçado o que acabara de falar.
— Não preciso de nada disso...
— Mas eu faria, porque você merece todo apoio do mundo. — Ele me deu um outro beijo,
estalado daquela vez. — Vi que estava no celular enquanto me aproximava. Estava tentando ligar
para mim? Deixei meu celular no carro.
— Não, eu estava falando com James.
— Com James? — Mason inclinou um pouco o rosto e apertou um pouco mais a minha
cintura. — Ele te ligou?
— Não, fui eu que liguei para ele para contar que passei no teste.
— E ligou para mim também?
— Eu ligaria agora, mas você está aqui na minha frente. — Sorri, mas Mason não sorriu.
Ele parecia tenso e acariciei o seu peito. — O que foi?
— Você contou para mais alguém que passou no teste?
— Não, por enquanto, apenas você e James sabem. E John, é claro, porque ele fez o teste
comigo, inclusive, vai viver o Romeu ao meu lado, não é incrível?! Estou muito animada, John e
eu somos amigos, sonhamos com o momento de contracenar juntos e está acontecendo! — Eu
estava tão empolgada, que demorei um pouco para entender que Mason parecia não acompanhar
a minha euforia. Ele continuava sério, quase enigmático enquanto me dava um olhar
desconfiado. — O que houve? Por que está me olhando assim?
— Você passou no teste, está realizando um sonho, e James foi a primeira pessoa em
quem você pensou para contar essa notícia? Não eu, que sou o cara com quem você está no
momento? — Mason apertou um pouco mais a minha cintura e eu me assustei.
— Mason, não foi por maldade... Eu nem pensei sobre isso...
— O que torna tudo pior e me faz pensar que, talvez, John tinha razão quando perguntou
se há apenas amizade entre você e aquele babaca.
— O quê? Babaca? Não chame James assim! — Apoiei minhas mãos em seu peito e o
empurrei para trás. — Me solta, Mason!
— Soltar você? Nós estamos juntos, Norah!
— E podemos deixar de ficar juntos agora mesmo se você não fizer o que eu pedi.
Mason piscou, parecendo surpreso com a minha atitude, e deu um passo para trás,
erguendo as mãos. Havia raiva em seu olhar, mas seu semblante logo relaxou.
— Desculpa. Estou sendo um idiota.
— Sim, está. James é meu amigo e não quero que o insulte dessa forma, ouviu bem?
Nunca mais!
— Não vou fazer mais isso. Não tenho nada contra James, Norah, eu juro, mesmo quando
ele me ameaça quando ninguém está vendo ou quando você pensa primeiro nele e depois em
mim.
— James está ameaçando você?
Aquilo não fazia o menor sentido. Mason apertou a ponte do nariz por um tempo,
parecendo arrependido por ter soltado aquela informação. Por fim, voltou a olhar para mim e se
aproximar de onde eu estava.
— Esqueça o que eu disse, tudo bem? Acho que estou com ciúmes, apenas isso.
— E inventou essa história de ameaça por causa disso?
— Não inventei. — Mason tocou o meu rosto e suspirou. — James está estranho comigo e
hoje disse que pode ser um problema para nós dois. Sinceramente, não sei por que está agindo
assim, acho que ele ficou com raiva por Logan ter descoberto que ele nos ajudou a ficar juntos,
mas, pelo que percebi, eles não brigaram. O clima entre eles está ótimo. Não sei o que está
acontecendo.
— Eles discutiram ontem, mas já fizeram as pazes. Logan entendeu que James só queria
me ajudar.
— Que bom, fico feliz em ouvir isso, eles são amigos desde crianças, não é mesmo? Não é
certo que briguem por nossa causa. — O jogador voltou a tomar a minha cintura nas mãos e
sorriu. — Você me desculpa por ser um idiota ciumento? Prometo que isso não vai mais
acontecer, só agi assim porque já estava tenso com essa situação com James e descobrir que ele
foi a primeira pessoa em quem você pensou para contar que passou no teste me deixou, sei lá,
um pouco inseguro.
Sondei os seus olhos, vendo que parecia sincero, e concordei com a cabeça. No fundo, me
senti um pouco culpada, porque Mason tinha razão. Eu estava com ele agora, mas foi em James
que eu pensei para contar a novidade antes de qualquer outra pessoa. Qualquer homem ficaria
com ciúmes. Se eu estivesse em seu lugar, talvez também ficasse desconfortável.
— Eu desculpo você, mas só se me se desculpar por ter ligado para James primeiro.
— Vamos esquecer isso. — Mason sorriu e tocou o nariz no meu. — E comemorar a sua
vitória mais tarde.
Deixei que voltasse a me beijar, mas já não me sentia tão feliz quanto antes.
Escolhemos comemorar no pub que Norah e Mason não conseguiram conhecer no sábado.
O local estava cheio para uma terça-feira, mas conseguimos uma mesa que comportasse todo
mundo. Eu mal conseguia tirar os meus olhos da garota exultante à minha frente. Norah estava
tão feliz, que o sentimento chegava a ser contagioso. Logan estava morrendo de orgulho da irmã,
mas ele não era o único.
Eu sentia que não a havia abraçado o suficiente desde que a vi mais cedo em nossa casa.
Sentia que eu deveria ter feito mais do que apenas verbalizar como eu estava orgulhoso
dela.
Quando nos vimos mais cedo, senti vontade de cometer uma loucura e simplesmente
beijar a sua boca. O desejo surgiu de repente, em um rompante tão poderoso, que eu quase deixei
que me dominasse, mas fui mais forte. Apenas a abracei com força, por um longo tempo,
ouvindo a sua risada feliz enquanto me contava todos os detalhes sobre o teste e o nervosismo
que sentiu.
Não fiquei chateado por Norah não ter me contado que o teste seria realizado naquela
manhã, porque entendia que estava ansiosa e respeitava a sua escolha de querer se concentrar
sem precisar se preocupar com qualquer elemento externo. Aquilo provava como ela era
responsável e focada em seu futuro, preocupada com o seu trabalho, como sempre se esforçava
para dar o seu melhor. Ela pareceu quase insegura ao perguntar se eu estava chateado por ter
guardado segredo sobre o teste, mas ficou aliviada quando garanti que não. Apenas um idiota
ficaria chateado por daquilo.
Passamos uma parte da tarde juntos e agora estávamos no pub com Logan, Avalon,
Benjamin, John, Peter e Alicia. Esta última estava sentada ao lado de John e seu namorado e me
cumprimentou com um sorriso e um beijo no rosto. Não parecia chateada comigo e fiquei feliz
ao notar aquilo. Também percebi os olhos atentos de Norah sobre nós dois e a confusão que
tomou conta do seu semblante quando Alicia escolheu se sentar perto do casal e não próxima a
mim.
Provavelmente, acreditava que eu ainda estava me envolvendo com a sua amiga. Não
tivemos tempo para conversar sobre o que ela viu no sábado à noite, mas eu explicaria que não
havia mais nada entre mim e Alicia. Na verdade, nunca houve nada entre nós dois.
Avalon se sentou ao meu lado com um sorriso alegre no rosto e deu um gole em seu
drinque enquanto olhava para Norah e Logan. Os dois estavam em uma videochamada com o
pai, que estava viajando em uma conferência e só retornaria na próxima semana.
— Parece que foi Logan quem ganhou em um prêmio, ele está tão feliz! Estou aliviada por
ver os dois unidos de novo depois de ontem à noite — comentou a ruiva.
— Eu também estou. Senti medo de que brigassem de verdade. Eu me sentiria ainda mais
culpado.
— Sabe que não precisa sentir qualquer culpa, não é? Você apenas agiu como um amigo
verdadeiro para Norah e Logan entendeu isso.
— Eu sei, mas é inevitável. Logan sempre confiou em mim, odiei ter que mentir para ele.
— Como disse Norah, a mentira foi por uma boa causa. — Avalon olhou para frente e
sorriu, arqueando uma sobrancelha. — Vamos ver como Logan vai se comportar de agora em
diante.
Eu segui a direção do seu olhar e vi Mason entrando no pub com aquela sua pose
confiante. Seus olhos percorreram o local até encontrar a nossa mesa e bateram em mim antes de
seguirem para Norah. Um sorriso infeliz se abriu em seus lábios ao contemplá-la de cima a
baixo.
Minha garota... Norah estava linda demais naquela noite, usando um vestido azul colado
ao corpo, que terminava centímetros demais acima dos seus joelhos e com um decote que ia até o
meio das suas costas. Com os cabelos soltos, ele quase não era visível, mas minha mão coçava
para tocar a pele exposta por debaixo dos seus cachos sedosos. Saber que Mason teria aquele
privilégio tornou ainda mais amargo o gole que dei na cerveja.
O jogador se aproximou completamente e Logan o seguiu com o olhar. Ele já havia
encerrado a videochamada com o pai, poderia ter se afastado da irmã, mas não foi isso que fez.
Ficou ao lado de Norah e o meu lado racional e ciumento quase me fez abrir a boca para pedir
que não se afastasse dela, que ficasse ao lado da garota o tempo todo, mas me controlei.
Permaneci calado enquanto Mason parava ao lado de Norah e cercava a sua cintura com o
braço, pousando a mão no quadril dela, perto demais da sua bunda. O tight end sortudo do
caralho deu um beijo no canto dos seus lábios, sussurrou algo em seu ouvido que a fez sorrir, e
só depois se virou para Logan, estendendo a mão para o QB.
— Obrigado por não ter me proibido de estar com Norah hoje à noite.
Logan o encarou com uma sobrancelha arqueada e apertou a mão dele com uma força
exagerada, mas Mason fingiu que não sentiu nada.
— Minha irmã gosta de você, meu melhor amigo garantiu que você não é um babaca,
então, vou te dar um voto de confiança, mas se pensar em magoá-la, vou fazer com que se
arrependa de ter olhado para Norah.
Eu garanti que ele não era um babaca? Porra, garanti mesmo. Senti como se eu tivesse
aberto ainda mais espaço para ser atacado pelo time adversário.
— Logan, controle-se — Norah pediu com um sorriso tenso. — Essa é para ser uma noite
feliz e não cercada por ameaças.
— Não foi uma ameaça, foi apenas um aviso. — Por fim, Logan sorriu e deu um beijo na
testa da irmã antes de se afastar.
Vi de relance o QB se sentar ao lado da namorada, mas meus olhos permaneceram fixos
em Norah e Mason. O tight end se aproveitou do aval de Logan e cercou Norah com as duas
mãos em sua cintura, falando algo baixinho que não consegui ouvir. Tentei ler os seus lábios,
mas a sensação de queimação em meu estômago, que se espalhou rapidamente pelos membros
do meu corpo, me impediu de me concentrar o suficiente.
Não vi ou ouvi mais nada ao meu redor. Mal consegui piscar e observei, como que em
câmera lenta, Mason aproximar o rosto do de Norah até ter a boca dela na sua. Cada músculo do
meu corpo se retesou. Senti-me ser atingido e nem sabia direito de onde tinha vindo o golpe.
Na verdade, eu sabia sim.
O golpe viera daquele jogador filho de uma puta, que estava com a minha garota nos
braços! E o pior de tudo? Era que a culpa por ele ter conseguido se aproximar dela e ganhar
espaço, era toda minha.
Dei Norah de bandeja nas mãos dele, exatamente como minha avó alertou semanas atrás.
Sentia como se a minha conversa com ela tivesse acontecido há milênios, pois o James que a
confrontou naquele dia, que afirmou com todas as letras que não sentia nada por Norah, não se
parecia em nada com o James que estava morrendo de ciúmes agora.
Levantei-me da cadeira de repente e me afastei a passos largos dali, antes que eu perdesse
o pouco do controle que ainda me restava. Fui até o banheiro e joguei água gelada em meu rosto,
observando meu semblante furioso no espelho, a mandíbula cerrada e o cenho franzido. Tinha
consciência de que eu não deveria me sentir daquele jeito, mas conseguiria controlar um
sentimento que não era nada racional?
— Cara, que merda está acontecendo com você?
Vi Benjamin atrás de mim pelo reflexo do espelho e respirei fundo, puxando duas folhas
de papel para poder secar o meu rosto.
— Nada.
— Nada? — Meu amigo riu com certo espanto. — Acha mesmo que me engana? Ou que
vai conseguir enganar qualquer pessoa dentro desse pub?
Virei-me para Benjamin, dividido ainda entre os ciúmes, a raiva e o medo que começou a
me deixar gelado.
— Estou falando a verdade.
— Está falando porra nenhuma! Acha que ainda não saquei o que está acontecendo,
James? — Ben se aproximou de mim e cruzou os braços. — Eu te fiz uma pergunta.
— Então me dê a resposta. O que acha que está acontecendo, Benjamin?
O running back sorriu com incredulidade.
— Precisa mesmo que eu diga, não é? Porque não consegue falar em voz alta.
Não, eu não conseguia mesmo. Não contara a ninguém sobre os meus sentimentos,
simplesmente porque eu sabia que, quando o fizesse, eles não seriam mais um segredo. Se
tornariam reais e eu temia perder o controle de tudo caso isso acontecesse.
— Está gostando da Norah — Ben finalmente disse e minha garganta ficou seca. Ele
sacodiu a cabeça. — Não, não é apenas isso, certo? Está apaixonado por ela.
— Benjamin...
— Você está. Não sei se percebeu, mas eu não fiz uma pergunta.
— E eu não ia negar à sua afirmação.
Ben abriu a boca, sem palavras, e eu senti uma parte do peso que carregava indo embora,
simplesmente evaporando do meu peito. Respirar se tornou um pouco mais fácil. Não imaginava
que dividir aquele segredo com alguém me faria sentir aquilo. Benjamin correu as mãos pelos
cabelos e me olhou como se eu fosse insano.
— Como você deixou isso acontecer?
— Acha que eu sei? Nem percebi quando comecei a me apaixonar, Benjamin! Não é como
se eu pudesse controlar os meus sentimentos.
— Ah, você pode sim! Era só ter um pouco de força de vontade, porra!
— Força de vontade? O que você acha? Que eu simplesmente decidi me apaixonar pela
irmã do meu melhor amigo, porra?! — A pergunta saiu por entre os meus dentes, tão baixo
quanto eu poderia falar. Sentia medo de que Logan aparecesse no banheiro de repente e ouvisse
tudo. — Eu amo Norah, sempre amei, mas não era desse jeito! Tudo mudou de repente dentro de
mim e eu não consigo explicar o porquê!
— Será que foi de repente mesmo? Ou você já estava apaixonado por ela antes e só não se
deu conta disso porque não tinha que se preocupar com a concorrência?
— Pare de falar desse jeito, Norah não é uma mercadoria para ter concorrência!
— Sei que sou um babaca, mas você sabe muito bem o que eu quis dizer, James! —
Benjamin estava sério como nunca vi antes. — Norah sempre esteve ao seu lado, literalmente à
distância de uma mão, mas isso mudou agora. Ela quis começar a viver e deixou outro cara se
aproximar. Um cara que não era você. Era muito fácil ignorar o que sentia quando podia dormir
de conchinha com ela sem peso na consciência, certo? Mas não vai mais poder fazer isso agora,
porque Norah já não é mais sua.
Porra, eu quis socar a cara de Benjamin pela primeira vez na vida, porque ele tinha razão
em tudo o que havia acabado de falar, eu apenas não tinha pensado por aquele lado.
Minha avó sempre teve razão, afinal. Havia, sim, sentimentos diferentes dentro de mim
por Norah, eu que não tinha prestado atenção nisso, porque, como Benjamin acabara de esfregar
na minha cara, a garota bonita sempre esteve ao meu lado e eu não corria o risco de perdê-la para
ninguém. Só que eu perdi e não sabia como lidar com isso.
— Estou fodido — murmurei, encostando-me à bancada da pia. — Estou fodido pra
caralho, Ben!
— Sim, você está. — Benjamin era conhecido por nunca dourar a pílula. — E vai fazer o
que sobre isso?
Ergui minha cabeça e olhei para ele com confusão.
— Não é óbvio?
— Não para mim.
— Vou ficar no meu canto e deixar Norah viver a vida dela. Mason e ela estão
apaixonados e vão continuar juntos.
— E como você pretende esconder o que sente por ela? Não vai poder ficar agindo como
se quisesse quebrar a cara do jogador a cada vez que ele beijar a boca de Norah, ou esse seu
segredo vai se tornar público rapidinho, James.
— Eu vou me controlar, pode ficar tranquilo.
— Tranquilo? Eu estou tudo, menos tranquilo! Se Logan descobre essa merda...
— Ele só vai descobrir se você contar.
Benjamin apoiou as mãos na cintura e olhou para o teto enquanto respirava fundo.
— Achei que eu estava livre dos seus segredos agora que Logan descobriu que você estava
ajudando Norah, mas pelo visto, eu não posso ter um segundo de paz, não é?
— Benjamin, por favor. — Desencostei-me da bancada e me aproximei do meu amigo,
tocando em seus ombros. — Sei que estou pedindo muito...
— É, está mesmo.
— Mas você não pode contar para o Logan. Estou apaixonado por Norah? Sim, mas não
farei nada sobre isso, não tem por que ele saber.
— É óbvio que eu não vou contar, seu idiota! Acha que quero ver meus melhores amigos
brigados? — Benjamin deu um soquinho em meu braço quando voltei a dar um passo para trás.
— Mas você precisa se controlar, James, ou Logan vai perceber o que está acontecendo e não vai
querer saber se você tocou em Norah ou não. Essa sempre foi a primeira regra dele, que nós dois
nos mantivéssemos longe da sua irmã nesse sentido.
— Sei disso, cresci ouvindo essa merda, mas nunca pensei que eu me tornaria um filho da
puta que deseja quebrar a principal regra da nossa amizade. — Bufei, me sentindo cansado. —
Vou me controlar, eu juro.
— Ótimo. — Benjamin me olhou por mais tempo, ainda sério, mas acabou sorrindo. — E
eu pensando que a minha dor de cabeça tinha acabado quando Logan conheceu Avalon e se
apaixonou. Por que tive que arrumar amigos tão problemáticos?
— Não sou tão problemático assim.
— Não, só está correndo o risco de o Logan arrancar a sua cabeça, e nem estou falando da
de cima. — Ben passou o braço pelo meu ombro e me levou em direção à porta. — Vamos sair
logo daqui, antes que comecem a pensar que você está me pagando um boquete.
— Vai se foder, idiota.
Benjamin riu e eu me afastei conforme voltávamos para a nossa mesa. Tomei novamente o
meu lugar ao lado de Avalon e Ben ocupou a cadeira vazia ao lado da minha. Logan me olhou
com o cenho franzido.
— Está se sentindo mal?
Eu estava me sentindo mal pra caralho, mas, obviamente, não foi o que respondi.
— Não, eu estou bem.
— Tem certeza? — Foi Avalon quem perguntou, seus olhos maquiados com delineador
preto me encarando profundamente. Depois de Benjamin ter entendido tudo com tanta rapidez,
estava com medo de que mais alguém à mesa tivesse feito o mesmo. — Você se levantou tão de
repente, pensei que estivesse passando mal.
— Ele só queria mijar, Valente, não se preocupe — Ben respondeu por mim.
— E você foi lá segurar o pau dele? — Logan perguntou com um sorrisinho.
— Nunca ouviu falar em mão amiga? — Ben retrucou.
— Vocês são nojentos! — Avalon resmungou com uma risada.
— Não ligue para eles, Ava, são dois porcos — falei e dei um gole em minha cerveja, que
já estava quente, tentando relaxar.
— Três com você, idiota. — Benjamin me deu um cutucão com o cotovelo.
Dei a ele um sorriso de agradecimento e respirei fundo, decidindo parar de ignorar o casal
à minha frente. Mason e Norah estavam sentados do outro lado da mesa e o jogador parecia
monopolizar a sua atenção com um braço sobre os seus ombros delicados e a outra mão com os
dedos entrelaçados nos dela. Em algum momento, Avalon pediu licença para ir ao banheiro e
senti Logan se aproximar de mim.
— Também não consigo parar de olhar para eles. É esquisito ver minha irmã namorando,
não é?
— Você não imagina o quanto — murmurei e senti o olhar de Benjamin sobre mim. Sabia
que ele queria que eu me controlasse, mas não consegui me segurar: — Eles ainda não estão
namorando.
— O babaca não fez o pedido oficial, mas acredito que fará em breve. — Logan soltou um
suspiro. — Vou ter um cunhado. Pelo menos ele gosta de futebol tanto quanto eu e minha irmã
está feliz ao seu lado. Isso é tudo o que importa. Estou feliz por Norah.
Claro que estaria, Mason era, aparentemente, o par perfeito para a sua irmã. Eu apenas
sorri para Logan e não consegui comentar mais nada. Havia um limite para mentiras e eu sentia
que estava vivendo uma farsa naquela noite.
James estava estranhamente calado.
Eu tinha Mason ao meu lado, meus amigos e irmão estavam comigo, mas meus olhos
sempre iam para cima do wide receiver do Crimson Tide. Sentado à minha frente, James bebia
uma cerveja e ria de vez em quando de alguma besteira que Benjamin soltava em voz alta. Sentia
seus olhos em mim, intensos de uma forma diferente, mas sempre que eu o olhava de volta,
James os desviava. Era como se quisesse me esconder alguma coisa e fiquei me questionando se
tinha algo a ver com Alicia.
John e eu a convidamos naquela noite e, enquanto me arrumava, me preparei
psicologicamente para ver ela e James juntos. Realmente acreditei que sentariam lado a lado e
talvez trocassem uns beijos, mas fiquei surpresa quando ela apenas o cumprimentou quando
chegou e se dirigiu para perto de John. O bichinho da curiosidade só faltava me devorar
enquanto eu os observava tão distantes um do outro e James parecendo mal notar que Alicia
estava entre nós.
— Aquele dia foi tão insano! O time adversário parecia disposto a nos derrubar em campo,
mas nós conseguimos derrotá-lo! Foi surreal ver a derrota estampada na cara daqueles idiotas,
principalmente na de Gavin Foster.
— Gavin Foster? Quem é esse? — perguntei para Mason, me obrigando a parecer mais
empolgada do que realmente me sentia ao ouvir as suas aventuras com o time do ensino médio
da escola.
— É o atual quarterback do Clemson Tigers. Jogamos por times rivais durante todo o
ensino médio apenas para nos encontrarmos na universidade. — Mason sorriu. — Não posso
afirmar que somos amigos.
— Por quê?
— Gavin não é uma pessoa muito social. Tem poucos amigos... Ele é esquisito.
— Meu irmão também tem poucos amigos, isso não quer dizer nada.
— É diferente, Gavin parece não fazer questão de se aproximar dos outros jogadores. É
um metido do caralho. — Mason deixou a cerveja sobre a mesa e se aproximou ainda mais de
mim. Ele parecia mais solto agora depois de ter tomado algumas cervejas. — A gente podia fazer
algo juntos no sábado, o que acha? Você não conheceu o meu apartamento ainda.
O apartamento dele.
Eu poderia não ter muita experiência com relacionamentos, mas não era burra, sabia muito
bem o que significava quando um homem convidava uma mulher para a casa dele — uma casa
onde ele morava sozinho. Acho que Mason viu o receio em meu olhar, pois abriu um sorriso e
colocou delicadamente alguns cachos do meu cabelo para trás.
— Não precisa ficar assim, não vai acontecer nada que você não queira, Norah. Eu dou a
minha palavra.
O problema era que eu deveria querer, não? Mason era quase meu namorado agora, era um
homem bonito, beijava muito bem, tinha um olhar e um sorriso sedutor, mas meu corpo não
parecia reagir a ele como deveria e aquilo me deixava insegura. Como eu poderia ir para a cama
com ele se ainda não me sentia cem por cento confortável?
Senti um par de olhos castanho-escuros sobre mim. Virei meu rosto em direção a James e,
daquela vez, ele não desviou o olhar. Percebi que cercava a garrafa de cerveja apoiada na mesa
com as duas mãos e que seus dedos estavam tensos. Ele não piscou e eu senti que precisava
responder algo para Mason antes que o jogador notasse meu olhar para James e voltasse a pensar
que havia algo entre nós que ia além de amizade.
— Eu vou pensar sobre isso. — Estiquei-me e deixei um beijo em seus lábios antes de me
afastar. — Vou ao banheiro rapidinho.
— Quer que eu vá com você? Fico esperando na porta.
— Não precisa.
Sorri para Mason e deixei a mesa sem olhar para trás. Foi como respirar pela primeira vez.
Desde que chegara, o jogador não tirava as mãos de cima de mim, mal pude conversar com as
outras pessoas à mesa. Sem contar que Mason parecia gostar muito de falar sobre si mesmo,
contou-me quase todos os seus feitos no time da escola e eu não aguentava mais ouvir falar sobre
futebol. Morava em uma casa com três jogadores e nunca me senti sufocada daquele jeito.
Usei o reservado, pois realmente estava apertada, e fiquei surpresa ao encontrar com
Alicia do lado de fora, lavando as mãos na pia. Ela me viu pelo reflexo do espelho e me deu um
sorriso caloroso.
— Norah, nem conseguimos conversar!
— Desculpa, mal estou conseguindo dar atenção para vocês — falei com uma careta de
pesar enquanto usava a pia ao lado dela. — Mas estou muito feliz com a sua presença, Alicia.
— E eu estou feliz por terem me convidado. — Nós duas secamos as mãos, mas não tive
pressa para sair do banheiro. Queria ficar um pouco mais por ali antes de voltar para perto de
Mason. — Não julgo você por estar um pouco dispersa hoje, afinal, tem uma companhia muito
mais atraente ao seu lado.
Eu ri ao ouvir aquilo.
— Mason é mesmo muito bonito, não é?
— Sim, mas não acho que exista algum homem feio nesse time. Deus parece ter escolhido
cada um a dedo. — Ela mordeu o lábio e se aproximou de mim como se fosse me contar um
segredo. — Estou saindo com Thomas Brown.
— O inside linerbacker[1]?
— Ele mesmo! — Alicia me deu um sorriso animado. — Nos conhecemos no sábado na
festa de Carter.
Não consegui disfarçar a minha confusão ao descobrir aquilo.
— Você e James não estavam juntos na festa de Carter? Eu vi vocês dois se beijando no
quintal.
— James é um homem maravilhoso, mas nosso encontro não deu muito certo. E está tudo
bem, sabe? Não fiquei magoada por ele não ter querido continuar a sair comigo.
— James disse isso para você?
— Sim, com todas as letras depois que eu o beijei. Pensar nisso me deixa um pouco
arrependida. Estava claro na expressão dele que não me queria, mas acabei forçando mesmo
assim. O que importa, foi que eu entendi tudo quando James interrompeu o beijo.
— Entendeu o quê? Que ele não queria continuar a sair com você?
— Sim, mas foi além disso. Entendi que James está apaixonado por outra pessoa.
Alicia me deu um olhar sugestivo, mas eu apenas fiquei ainda mais confusa. E em choque.
James estava apaixonado? Por quem? A imagem de Megan voltou à minha mente, mas eu não
quis acreditar que era por aquela traidora que ele ainda nutria sentimentos. James mal falava
sobre ela e, quando a infeliz era citada, ele não demonstrava qualquer reação.
— Torço para que ele tome coragem e demonstre para ela o que sente — Alicia voltou a
falar, chamando a minha atenção. — Eu acredito que não há nada mais poderoso do que um
sentimento verdadeiro e que o amor é a única força capaz de unir qualquer pessoa, mesmo
aquelas que são proibidas uma para a outra.
— Então você sabe por quem ele está apaixonado?
— Eu? Ah, não, claro que não, James não me disse o nome dela. — Alicia sorriu, mas a
intensidade em seu olhar não diminuiu nem um pouco. — Mas com certeza é uma mulher muito
especial para ter despertado o coração do jogador.
— Sim... — murmurei ainda em choque, sem saber o que pensar sobre tudo aquilo. —
Com certeza ela é muito especial.
— Tente descobrir mais sobre ela, Norah. — Suas mãos tocaram as minhas com carinho.
— Talvez você possa se surpreender.
Alicia se afastou depois de me dar um sorriso e me deixou sozinha no banheiro. Encarei-
me no espelho e percebi como estava pálida. Sentia minhas mãos geladas e meu estômago se
retorcendo com nervosismo. James estava mesmo apaixonado? Por quem? E por que não percebi
aquilo?
— Talvez Alicia possa ter entendido tudo errado — falei para mim mesma, mas logo tive
um choque de realidade. — No entanto, se ela estiver certa, você não tem nada a ver com isso,
Norah. Está com Mason agora e James não é nada seu além de melhor amigo.
Fazendo de tudo para deixar de lado o choque que aquela revelação me causou, saí do
banheiro e tomei um susto ao ver James deixando o banheiro masculino. Ele sorriu ao perceber
que era eu e senti vontade de jogar um monte de perguntas em seu colo. Quem era ela? Eu a
conhecia? Ela era da faculdade? Eles já haviam transado?
Benjamin estava enganado, afinal. James não havia se tornado um monge coisa nenhuma!
Pensar naquilo me deixou com raiva.
— Está curtindo a sua noite, baixinha?
— Claro! Mason e eu estamos juntos, Logan não está surtando por causa disso... Como eu
não estaria curtindo?
James pareceu surpreso e até um pouco abalado com a minha resposta, me deixando um
pouquinho culpada. Só um pouquinho, porque logo me lembrei da conversa que tive com Alicia
e do que ela me contou. Eles mal se conheciam, se Alicia sabia que James estava apaixonado, era
porque ele contara aquilo para ela. Como tinha coragem de falar algo daquela magnitude para a
minha colega de curso e não para mim, que era, segundo as suas palavras, sua melhor amiga?
— Tem razão, Mason e você estão juntos mesmo, afinal, ele mal te deixa respirar. Está em
cima de você como um tarado — comentou ao cruzar os braços, o couro da sua jaqueta quase
estourando para conter seus músculos.
— Isso demonstra como ele me deseja. — Sorri com certa raiva, querendo... Querendo que
James sentisse por mim o mesmo ciúme que me causava. Ele descruzou os braços e ficou muito
sério de repente. — Ou acha que o nosso namoro vai ser como o do século passado e que só
vamos transar depois do casamento?
James veio para cima de mim de repente, me obrigando a encostar contra a parede às
minhas costas. Suas mãos pousaram uma de cada lado da minha cabeça e eu não me senti nem
um pouco presa ou sufocada por ele. Apenas senti o meu corpo começar a arder, como se o fogo
lambesse a minha pele de dentro para fora.
— Acho que você deveria pensar melhor nas coisas que fala para mim.
— Por quê? Te incomoda saber que Mason vai tocar em mim?
A respiração de James ficou mais rápida e ele estava tão perto, que eu podia sentir o seu
peito tocar o meu. Poucos centímetros separavam as nossas bocas e eu nunca me senti tão
próxima a ele antes e tão distante ao mesmo tempo. Se eu apenas me esticasse um pouco em sua
direção, poderia finalmente sentir a textura dos seus lábios e...
Não, Norah! Nem pense nisso!
— Sim, me incomoda. Me incomoda pra caralho! — James respondeu baixinho, sua voz
saindo ainda mais grave e rouca. Meus mamilos endureceram e, daquela vez, eu não achava que
passaria despercebido por ele. — Não quero imaginar aquele filho da puta colocando as mãos em
você ou tirando as suas roupas, Norah!
— Por quê? — Minha voz saiu em um tom parecido com o dele.
Eu senti sede, mas era uma sede diferente. Não queria água ou qualquer coisa alcoólica, eu
queria algo que apenas James poderia me dar, ainda que ele não imaginasse aquilo. O frio em
minha barriga deu lugar a um calor que desceu pelo meu baixo ventre e se alojou em minha
calcinha. Senti meu clitóris ficar sensível como o bico dos meus seios e aquilo era um sinal de
como James conseguia me deixar prestes a explodir sem ao menos me tocar, enquanto Mason
não me causava qualquer faísca.
— É melhor que você não saiba a resposta. — O jogador encostou a testa na minha e
fechou os olhos, respirando bem fundo, como se quisesse guardar o meu cheiro em sua memória.
— Preciso ir embora. Curta o resto da sua noite.
James deixou um beijo em minha testa e se afastou de repente. Só naquele momento
percebi o risco que corríamos, com pessoas saindo e entrando nos banheiros feminino e
masculino. Um dos nossos amigos poderia ter nos flagrado daquele jeito. Mason e Logan
poderiam ter nos flagrado em uma posição que deixava muita margem para suposições.
Afastei-me da parede me sentindo zonza e com os sentimentos à flor da pele. O desejo
ainda corria solto por minhas veias e eu não estava acostumada a sentir nada tão intenso quanto
aquilo. Como poderia disfarçar diante de todo mundo o que acabara de acontecer? Enchi os meus
pulmões de ar e o expeli lentamente, tentando reencontrar o meu equilíbrio e me preparar para
voltar à mesa.
James cumprira com o que me disse no corredor do banheiro. A primeira coisa que
percebi, era que ele não estava mais no pub quando voltei ao salão, e senti um aperto no peito.
Minha mente começou a girar com inúmeras possibilidades de para onde ele teria ido ou quem
ele iria encontrar. Tentei tirar aquilo da cabeça e forcei um sorriso ao me sentar ao lado de
Mason.

— Não acredito que estou carregando a minha irmãzinha bêbada para a cama!
A voz de Logan soou bem longe em meus ouvidos e eu ri abafado contra o seu peito. Ele
havia me pegado no colo em algum momento e nem percebi que havíamos saído do carro em
frente à nossa casa.
— Essa é... a minha vingança contra... vo-você — solucei e alguém riu alto às costas do
meu irmão.
— Está certíssima, Norah! Já colocou a bunda bêbada de Logan muitas vezes na cama,
chegou a hora dele. — Foi Ben quem comentou.
Acho que meu irmão respondeu alguma coisa, mas meus olhos estavam muito pesados e
não consegui os manter abertos por muito tempo. Tinha a sensação de que tudo à minha volta
rodava e não conseguia me lembrar de muita coisa das últimas horas, apenas que perdi um pouco
o controle sobre a bebida depois que James fora embora.
Pensar nele me fez abrir os olhos e percebi que estava deitada em uma cama. Com a visão
meio embaçada, notei Logan tirando minhas sandálias com um sorrisinho divertido.
— James está... em casa?
— O quê? — Logan perguntou ao se aproximar de mim.
— James... Ele foi embora... Me deixou sozinha no bar...
— Ele não te deixou sozinha, nós estávamos com você.
— Eu sei, mas James é im-importante para mim. — Senti meus olhos se encherem de
lágrimas e uma parte levemente consciente do meu cérebro me alertou sobre eu ser uma bêbada
patética. — E ele foi embora... Eu não quero bri-brigar com ele, Logan, nunca...
— Ei... — Senti as mãos do meu irmão em meu rosto enquanto ele soltava uma risada. —
Vocês não brigaram, Norah. James não estava se sentindo bem, por isso precisou ir embora. Eu
vou pedir para ele vir aqui, ok?
— Tá bom... Logan... — Chamei meu irmão assim que ele se levantou. — Vo-você acha
que James vai abandonar a gente se na-namorar de novo?
Solucei mais uma vez e senti a bile se alojar em minha garganta. Ah, não. Eu odiava
vomitar.
— Que tipo de pergunta é essa, Norah? — Logan continuou a rir. Eu era uma bêbada
divertida para ele, pelo visto. — Você não está falando coisa com coisa, maninha. Vou chamar o
James.
Ouvi o clique suave da porta se fechando e meus olhos acabaram indo pelo mesmo
caminho, mesmo que eu estivesse lutando muito para controlá-los. Minha mente ficou oscilando
entre a consciência e a inconsciência, até que senti dedos delicados tocarem o meu rosto e o meu
cabelo. Lutei para abrir os olhos e sorri ao ver James sentado ao meu lado.
Então me lembrei de que ele realmente tinha ido embora do pub e parei de sorrir.
— Você me abando-donou. — Minha voz saiu em sussurro e ouvi meu irmão dizendo ao
longe:
— Eu falei que ela não estava fazendo muito sentido.
— Deixa comigo, vou fazer de tudo para entender o que ela quer dizer.
— Sei disso. — Logan parecia sorrir, mas eu não conseguia ver onde ele estava. — Vou
para o meu quarto, qualquer coisa, é só me chamar.
Ouvi a porta se fechando novamente e os olhos de James voltaram para mim. Ele afastou o
meu cabelo dos ombros e desceu os dedos pelo meu braço, me deixando toda arrepiada, até pegar
a minha mão.
— Você estava dizendo que eu te abandonei... — disse ele, e entendi que queria que eu
continuasse a falar.
Sentia minha mente confusa, mas logo me lembrei do sentimento de indignação que me
acompanhava desde cedo.
— Sim! Vo-você — solucei de novo e James deixou a minha mão para acariciar as minhas
costas, aproveitando que eu estava deitada de lado na cama. — Você disse que ia embora e foi de
ve-verdade.
— Eu estava com dor de cabeça, Norah, por isso vim embora. Sinto muito, não sabia que
ficaria chateada.
— Mentira — sussurrei e, pela forma como ele arregalou os olhos, entendi que eu não
havia errado em minha suposição. — Você decidiu ir em-embora porque está apaixonado.
— O quê? — Mesmo com a minha visão embaçada, consegui ver quando seus olhos se
arregalaram ainda mais. — Quem te disse isso?
— Alicia. Você co-contou isso para ela e não para mim. Isso é traição, James!
James ficou um tempo em silêncio antes de sacodir a cabeça.
— Não contei nada para ela, Alicia que deduziu isso.
— Mentira sua. A verdade, é que Ben se enga-ganou.
— Benjamin se enganou com o quê? — James parecia meio desesperado agora.
— Ele disse que você tinha se tornado um mo-monge, que não fazia mais sexo, mas é me-
mentira! Você faz se-sexo e está apaixonado por alguma garota!
— Norah... — Havia um tom de risada na voz de James. — Não estou transando com
ninguém, se é isso que te preocupa.
Queria dizer mais uma vez que era mentira, no entanto, meus olhos pesavam demais e eu
sentia que estava perdendo a luta para o sono e o álcool. Foi então que me lembrei de que
precisava falar mais uma coisa e voltei a abrir um pouco as pálpebras.
— Mason quer fazer sexo comigo no sábado à noite...
— Como é que é? — Já não parecia mais haver risada alguma no tom de voz de James.
— Ma-mas eu não quero fazer sexo com ele... Não me deixe sair com ele no sábado,
James...
Minha língua pareceu pesar ainda mais do que os meus olhos e desisti de continuar a falar.
Dormi tranquila ao saber que James estava comigo naquele momento e não com outra garota.
Mal consegui dormir.
Depois que Norah fechou os olhos e pareceu pegar definitivamente no sono, a cobri com o
edredom e saí do seu quarto. Fui interceptado por Logan no meio do corredor, mas garanti que
sua irmã estava bem e que não precisava se preocupar. Falei que ela estava chateada por eu ter
ido embora mais cedo e que me desculpei. O QB não parecia preocupado, pois acabou rindo no
final e me desejou boa noite antes de voltar para o seu quarto.
No silêncio, sentado em minha cama, eu fiquei repassando aquela conversa estranha com
Norah em minha cabeça. Por um momento, ela pareceu estar com ciúmes, mas aquilo só podia
ser coisa da minha imaginação.
Ficou óbvio que ela realmente estava sentida por eu ter ido embora, e tinha que confessar
que me arrependi assim que cheguei em casa, me sentindo o maior idiota do mundo por ter me
afastado quando, na verdade, eu deveria ficar por perto para manter um olho nela e em Mason,
mas eu não suportava mais ver aquele filho da puta em cima dela, mal a deixando respirar. Se
ficasse mais um pouco ali, perderia a cabeça, principalmente depois da nossa conversa no
corredor do banheiro.
Conseguia me lembrar nitidamente do momento em que perdi a luta que travava comigo
mesmo e cerquei Norah sem pensar nas consequências. Qualquer um poderia nos ver daquela
forma, mas eu não me importei. Ela estava tão perto de mim, que eu podia sentir o seu hálito
quente, com um cheiro doce por conta da bebida que tomava, tocando em minha bochecha. O
calor do seu corpo pequeno envolvia o meu e o tesão misturado com a raiva pelo que Norah me
falava se tornou um componente poderoso dentro das minhas veias.
Queria calar a boca dela com a minha, até que o nome daquele jogador infeliz nunca mais
saísse dos seus lábios! Eu veneraria Norah bem ali, naquele corredor, com a minha língua, as
minhas mãos e o meu pau, apagaria Mason da sua memória e o babaca nunca mais seria uma
ameaça. A questão era que Norah não me queria.
Porque, se ela me quisesse, eu teria esquecido da minha promessa a Logan, da sua
principal regra, e tomaria a sua irmã naquele momento.
Passei as mãos pelos cabelos, precisando me levantar da cama. Andei de um lado para o
outro no meio do quarto, me sentindo enjaulado, meu peito apertado, minha mente jogando
teorias de um lado para o outro. Fui embora do pub com a certeza de que havia tomado a decisão
certa de me manter afastado do novo casal, pois era uma tortura vê-los juntos e tentar suportar o
ciúme que eu sentia, agora, eu já não tinha certeza de nada.
Norah estava com ciúmes de mim? Ou eu estava louco?
E aquela história de que Mason queria transar com ela, porra?!
Eu daria um soco no idiota se ele estivesse na minha frente naquele momento. Era óbvio
que eu sabia que o jogador queria levar Norah para cama, mas evitava pensar sobre aquilo.
Imaginar os dois juntos daquele jeito me dava vontade quebrar alguma coisa, incendiar uma
cidade, e nunca me senti daquele jeito. Gostava de pensar que eu era um homem racional em
relação aos meus sentimentos, mas com Norah eu sentia tudo de forma mais intensa. Era como se
eu nunca tivesse me apaixonado verdadeiramente antes.
“Ma-mas eu não quero fazer sexo com ele... Não me deixe sair com ele no sábado,
James...”
Suas palavras meio emboladas, ditas naquela voz baixinha e quase vulnerável, deixaram o
meu peito apertado. Norah estava sendo verdadeira, eu sabia disso, pois o álcool geralmente nos
dava coragem para colocar para fora alguns segredos que guardávamos. O medo que eu sentia
agora, era de que Norah resolvesse dar uma de corajosa e aceitasse ir para cama com Mason
mesmo sem vontade. Eu não fazia ideia se entre quatro paredes aquele idiota agiria como um
homem de caráter ou pararia caso minha garota pedisse.
De qualquer forma, eu não deixaria Norah correr aquele risco. Ela me fez um pedido,
talvez nem se lembrasse dele na manhã seguinte, mas eu o atenderia. Aquele filho da puta não
tocaria nela no sábado — nem ousaria chegar perto de levá-la para cama antes que Norah se
sentisse verdadeiramente preparada. Aquilo eu iria garantir.
Acabei voltando para a cama e dormi com o céu já ficando claro. Tive menos de duas
horas de sono, mas acordei motivado. Na cozinha, encontrei Benjamin e Logan já preparando o
café da manhã e tirei das mãos do meu melhor amigo o remédio e a água que segurava.
— Eu levo isso para Norah, pode deixar — falei para Logan.
— Sempre tão prestativo, James McHugh... — Benjamin comentou, mas apenas eu notei a
segunda intenção em sua voz.
— Faça isso, algo me diz que Norah vai gostar mais de ver você do que a mim — disse
Logan.
— Claro, quem fica feliz ao acordar sendo obrigado a encarar essa sua cara feia? Só
Avalon é corajosa o suficiente para aturar isso...
Benjamin se abaixou quando Logan jogou uma casca de ovo nele e eu ri ao deixá-los para
trás. Entrei no quarto de Norah e a encontrei ainda dormindo. Provavelmente, nem sequer ouvira
o toque do despertador. Deixei tudo o que carregava sobre a mesinha de cabeceira e me sentei ao
seu lado na cama, sacudindo de leve os seus ombros. Assim que abriu os olhos, um gemido
doloroso escapou da sua boca.
— Apague essa luz, por favor. Minha cabeça quer me matar.
— Isso se chama ressaca — falei com uma risada. — E sinto muito, mas só Deus pode
transformar o dia em noite, meu amor.
— Foi para isso que Ele fez o homem inventar as cortinas — ela resmungou.
— A culpa não é minha se você se esqueceu de fechá-las ontem à noite. — Peguei o copo
e o analgésico sobre a mesinha de cabeceira, apontando-os para ela. — Sente-se e tome isso, não
vai fazer um milagre na sua vida, mas com certeza vai ajudá-la a se levantar para tomar um
banho e ir para a faculdade.
Norah se sentou de repente e arregalou os olhos.
— Ah, meu Deus, hoje ainda é quarta-feira!
— Sim.
Ela tomou o copo da minha mão e enfiou o analgésico na boca, secando a água em
seguida. Uma careta surgiu em sua expressão.
— Como vocês conseguem agir normalmente depois de passarem a noite enchendo a cara?
— É um dom adquirido por aqueles que não podem extrapolar a média mínima de faltas,
ou seriam expulsos do time. — Toquei em seu cabelo com carinho e me levantei. — Sei que é
difícil, mas precisa reagir. Ou quer que eu ligue para John e diga a ele que você vai faltar hoje?
— Não, eu sou uma garota responsável. — Norah aceitou a mão que estendi e saiu da
cama. Ela ainda usava o vestido da noite anterior e ele parecia mais curto em suas coxas naquele
momento. Desviei o olhar. — Tenho uma vaga de lembrança de ver você aqui no meu quarto
ontem à noite...
— Você chegou chorando com saudades de mim e eu vim aqui garantir que estava vivo e
bem.
A boca de Norah caiu aberta, sem palavras, e a vermelhidão começou a subir pelo seu
pescoço em direção ao rosto.
— Isso é mentira.
— Juro que é verdade, pode perguntar ao seu irmão.
— Que droga! — Ela escondeu o rosto com as mãos por um segundo antes de erguer a
cabeça novamente. — Falei alguma besteira?
— Quase nada.
Eu havia decidido não citar sobre a proposta de Mason. Meu plano era, basicamente,
empatar a foda do babaca sem deixar claro que eu sabia quais eram os seus planos, pois não
queria que Norah ficasse constrangida.
— Quase nada? O que eu disse, especificamente?
Sorri para ela e me aproximei até nossos corpos ficarem bem próximos um do outro.
Norah pareceu prender a respiração quando toquei na lateral do seu rosto e aquela foi a primeira
vez que me permiti observar de verdade a sua reação à minha proximidade e ao meu toque. O
desejo me atacou com força quando percebi que eu a abalava. Não era loucura da minha cabeça
e, agora, a garota nem poderia colocar a culpa no álcool. Por mais que ele ainda estivesse em sua
corrente sanguínea, ela já não estava mais bêbada.
Desci a ponta dos meus dedos pela sua mandíbula até chegar ao pescoço bonito, onde os
pelinhos mais sensíveis estavam arrepiados. Olhando em seus olhos e descendo-os para a sua
boca, falei em voz baixa:
— Você estava preocupada.
— Eu... eu estava? — Norah ofegou, cambaleando um pouco. Segurei a sua cintura com
uma mão, apenas para estabilizá-la, mas não consegui me afastar. Mantive meus dedos ali. —
Com o quê?
— Com a possibilidade de eu estar apaixonado ou transando com alguém. — Sua boca
voltou a se abrir e eu sorri, lambendo meus lábios subitamente secos. Meu pau estava semiereto
na calça e eu sentia as minhas bolas doloridas de desejo por aquela garota. Não sabia ao certo o
que eu estava fazendo naquele momento, mas abaixei minha cabeça e sussurrei em seu ouvido
mesmo assim. — Não precisa se preocupar, Norah. Não estou trepando com ninguém.
Passei a ponta do meu nariz pelo seu pescoço e pude jurar que Norah soltou um gemido
baixinho. Seus dedos apertaram a minha camisa na altura da cintura e eu pensei que me afastaria,
mas ela não o fez. Manteve-me no lugar e eu respirei o seu cheiro mais uma vez. Mesmo
misturado ao cheiro do álcool, ainda era o aroma que eu mais amava na porra do mundo inteiro.
— Por que está me falando isso? — perguntou baixinho.
— Porque você perguntou.
— E não me deu a sua... resposta ontem? — Ela estava nervosa, mas não com medo, e
aquilo me fez sorrir com o rosto ainda perto demais do seu pescoço fino e arrepiado.
— Dei, mas achei que seria melhor reforçar, fiquei com medo de que não se lembrasse ao
acordar.
Ergui a minha cabeça e encarei seus olhos pesados, não por causa da bebida, mas por
minha causa. Porra! Se eu me aproximasse apenas mais um pouco de Norah, ela entenderia
exatamente como mexia comigo. Meu pau estava duro pra caralho e eu sentia que precisaria
tocar uma punheta pensando nela pela primeira vez na vida. Norah mordeu o lábio, seu rosto
ainda corado, e respondeu:
— Eu... eu me lembro muito bem.
— Ótimo. — Deixei um beijo em sua bochecha, perigosamente perto da boca, e me
afastei. Torci para que Norah não olhasse para baixo, pois tinha certeza de que a minha ereção
grossa estava visível sob a calça. — Tome um banho, baixinha, eu te dou uma carona até a
faculdade.
Norah concordou com a cabeça, seus olhos se arregalando, e eu me virei para sair do seu
quarto. Assim que toquei a maçaneta da porta, pude ouvir a sua pergunta soando levemente
ofegante:
— E sobre estar apaixonado, James? Qual foi a resposta que me deu?
Parei por um momento, sendo pego completamente de surpresa. Virei apenas o meu rosto
para ela e fui sincero:
— Eu não respondi nada.
— E o que isso quer dizer? Que Alicia interpretou errado os seus sinais?
Olhei em seus olhos brilhantes, pensei na forma como reagiu a mim naquele momento,
como pareceu enciumada na noite passada, e tomei uma decisão definitiva.
— Não, Alicia não interpretou nada errado. Estou realmente apaixonado, Norah, só não
posso ficar com a garota que desejo.
Ainda.
A palavra brilhou em minha mente, quase escapou pela minha boca, mas eu fui mais forte
do que ela e permaneci calado enquanto saía de seu quarto.
Precisava de um plano para conquistar Norah e o principal: sair vencedor da guerra que
precisaria travar para tê-la ao meu lado.

Norah permaneceu quieta durante o nosso trajeto para a faculdade, alegando estar com dor
de cabeça e, pela sua expressão, parecia realmente estar incomodada com a enxaqueca que a
ressaca causava. Pensei em acompanhá-la até o prédio onde estudava, mas dei de cara com
Mason assim que saí do carro no estacionamento. Ele me deu um olhar de poucos amigos, mas
sorriu ao abrir a porta do lado do carona e estender a mão para ajudar Norah a sair.
— É bom te ver, meu amor. — Ele a beijou na boca por um tempo longo demais e eu
fechei as mãos em punhos diante da sua provocação. Porque, pelo seu olhar, aquela porra foi
uma provocação. — Obrigado por ter dado uma carona para Norah, James. Eu mesmo a teria
buscado, mas ela disse que você foi mais rápido do que eu em se oferecer para trazê-la.
— Cuido de Norah desde antes de você sonhar em conhecê-la, Mason — falei, dando a
volta no carro e parando ao lado da garota que olhava para nós dois um pouco chocada. Toquei
em seu queixo e fiz com que olhasse para mim. — Está se sentindo melhor?
— Sim, eu estou. — Norah forçou um sorriso. — Obrigada pela carona.
— Sabe que não precisa me agradecer por nada, nunca — afirmei olhando em seus olhos e
deixei um beijo em sua bochecha. Os lábios de Norah tremeram com um sorriso verdadeiro
quando me afastei. — Tenha uma boa aula.
Afastar-me e deixar Norah com Mason me custou muito, mas eu sabia que não podia
simplesmente atacar de uma vez. Diferente do futebol, com relação a Norah, eu deveria ser
cauteloso. Demorei vinte e dois anos para entender a verdadeira importância da garota em minha
vida, então, teria que exercitar a paciência para desfazer a merda que fiz e tirá-la das mãos
daquele sanguessuga idiota.
Ao final das aulas, precisei me reunir rapidamente com o meu grupo de Fotografia
Editorial para poder discutir sobre as ideias que tive para a minha parte do projeto e ouvir as
ideias deles. Aprovamos e ajustamos o que não estava encaixando e soube que eu tinha o motivo
perfeito para atender ao pedido de Norah e impedir que se encontrasse com Mason no sábado à
noite.
Após o treino pesado na academia, onde Mason se manteve o mais distante possível de
mim, o treinador Coben nos chamou para uma reunião de última hora. Com a sua inseparável
prancheta em mãos, ele esperou que todos nós nos acomodássemos antes de começar a falar:
— Uma ONG que financia o tratamento de pessoas com câncer está precisando de ajuda
financeira e alguns empresários apoiadores da causa se juntaram para criar um final de semana
solidário, onde as atrações principais serão os jogos de futebol. Todo o valor arrecadado com os
ingressos será revertido em doação para a ONG e nós recebemos o convite hoje de manhã para
participar. É um evento beneficente, portanto, vocês não são obrigados a participar, mas acredito
que não irão negar. Conheço cada um nesta sala e tenho orgulho de ser treinador desse time
porque confio no caráter de vocês. Preciso que se inscrevam na lista para poder confirmar a
participação do Crimson Tide no evento.
Ninguém ousou negar aquele convite. Não era a primeira vez que nosso time era
convidado para participar de ações beneficentes e, pelo menos para mim, era sempre um prazer
poder jogar por uma causa nobre. Após deixar os nossos nomes na lista, o treinador Coben
avisou que o treino em campo seria adiantado em uma semana, pois o jogo aconteceria dali a um
mês. Precisávamos nos preparar, apesar de ainda não sabermos qual seria o nosso adversário.
Ainda que fosse um evento solidário, nós queríamos vencer, sempre.
Estava a caminho do estacionamento quando ouvi meu celular anunciar uma nova
mensagem. Tirei o aparelho do bolso e franzi o cenho ao ver que era de um número que não
estava em meus contatos.
ID Desconhecido: James, preciso muito falar com você, é urgente.
Parei de caminhar e senti um medo repentino de que aquela mensagem fosse de Norah. E
se ela tivesse perdido o celular e estivesse enviando a mensagem através do aparelho de outra
pessoa? Cauteloso, perguntei:
Eu: Quem é?
ID Desconhecido: Megan.
Li a mensagem sem poder acreditar que depois de todo aquele tempo, Megan estava
mesmo me mandando uma mensagem. Irritado, fui logo nas configurações para bloquear. Não
dei tempo para que me enviasse mais nada. Megan estava no meu passado e eu estava focado em
resolver o meu futuro e ficar com a mulher que eu amava.
Passei o resto daquela semana tentando descobrir quem era a garota por quem James
estava apaixonado. Sim, eu sabia que não deveria me importar com aquilo, eu estava com
Mason, apesar de ainda não termos oficializado nada, e precisava me esquecer do que James me
fazia sentir, mas simplesmente não conseguia controlar a curiosidade e a porcaria dos ciúmes!
Mason e eu nos víamos todos os dias. Ele se comprometeu a me buscar em casa na quinta
e na sexta-feira, mesmo que eu tivesse um carro, alegando que queria passar o máximo de tempo
possível comigo. Eu gostava dele, mas estava começando a me sentir sufocada a cada vez que
ficava em sua presença. Em seu carro, ele dirigia com uma mão no volante e a outra em minha
perna e o seu toque não me causava qualquer reação. Quando ele me abraçava e me beijava, eu
ficava esperando sentir aquele arrepio que James me causava, a sensibilidade em minha pele,
mas nunca sentia nada.
Estava começando a me perguntar se eu fizera a escolha certa em permanecer com Mason.
Poderia ter usado a reação de Logan com a descoberta sobre nós dois para poder me afastar, não
parecia certo insistir em ficar com o jogador quando ele não me causava as reações certas. As
mesmas reações que James me causava. Sabia que era injusto comparar os dois, afinal, eu tinha
consciência de que nutria pelo wide receiver sentimentos que Mason parecia bem longe de
causar em mim, mas eu esperava que pelo menos na questão física, o outro jogador me fizesse
sentir alguma coisa a mais.
As pessoas se envolviam apenas sexualmente e não pareciam ter qualquer problema
quanto a isso. Benjamin era uma dessas pessoas. Por que eu não conseguia simplesmente me
sentir excitada com os toques e os beijos de Mason? Qual era o meu problema?
— Norah? Está me ouvindo?
Pisquei duas vezes para espantar os pensamentos que me consumiam e encarei John.
Estávamos mais uma vez na cafeteria da faculdade, aproveitando os minutinhos de intervalo.
— Desculpa, não estou sendo uma companhia muito presente hoje, não é?
— Sim, sua cabeça parece estar longe. Quer falar sobre isso?
Tomei um gole do meu café, que já estava morno àquela altura, e tentei pensar sobre o que
eu falaria primeiro. Eram muitas questões, muitas dúvidas, e eu me sentia em um beco sem saída.
— Mason me chamou para conhecer o apartamento dele amanhã. — Observei a reação de
John e ele apenas arqueou as sobrancelhas.
— E você não parece nem um pouco animada para conhecer a cama dele. — Meu amigo
se aproximou de mim, inclinando-se do outro lado da mesa. — Porque nós sabemos o que esse
convite significa.
Apenas concordei com a cabeça e olhei pela janela ao nosso lado. Os alunos iam e vinham
pelo campus, a maioria apressada para não chegar atrasada na próxima aula, com certeza com
problemas bem mais sérios que os meus. No entanto, eu não poderia ser negligente comigo
mesma. Transar para mim não era tão simples, eu era virgem e sentia que não estava pronta para
dar aquele passo ainda. Pelo menos não com Mason.
— Não quero ir — murmurei para John ainda olhando para a janela. — Mas estou com
vergonha de negar.
Mason parecia ansioso demais por aquele momento. Em todos os nossos encontros, ele só
falava sobre isso, chegou a me perguntar o que eu queria comer e beber, pois providenciaria tudo
do meu gosto. Tinha certeza de que qualquer outra mulher ficaria lisonjeada, mas eu só queria
fugir. John tocou em minhas mãos e eu tomei coragem para encará-lo.
— Se você não quer ir, não vá. Está estampado na sua testa que você não se sente
confortável com a ideia de ficar sozinha com ele naquele apartamento, Norah, que ainda não está
pronta para dar esse passo tão importante. Lembre-se de uma coisa: você não é obrigada a fazer
uma coisa apenas para agradar um homem ou quem quer que seja. Se Mason realmente gosta de
você, vai entender isso.
As palavras de John tiraram um pouco do peso que eu sentia pressionando o meu peito.
Meu amigo tinha razão, eu não precisava fazer nada que não queria e não iria fazer.
— Você está certo, vou falar com ele e recusar o convite. Podemos fazer outra coisa, não é
mesmo? Sair para comer ou dançar, sem que eu precise conhecer as partes íntimas dele.
John começou a rir e apertou os meus dedos, me fazendo sorrir também.
— É isso aí, garota! Mas continue, sei que não é apenas isso que está a perturbando.
— Consegue ler mentes agora?
— Ainda não, mas conheço você. Está estranhamente calada desde a nossa comemoração
no pub e sei que é porque tem algo a incomodando.
Eu respirei fundo e contei o realmente não me deixava em paz desde a noite de terça-feira.
— Alicia me disse que James está apaixonado e ele confirmou.
A boca de John caiu aberta e eu contei todos os detalhes daquela história. Voltar à manhã
de quarta-feira sempre mexia comigo, pois a forma como James me olhou, como me tocou,
pareceu diferente de todas as outras vezes em que interagimos. Eu já era acostumada com o seu
toque, mas não daquele jeito, sua mão possessiva em minha cintura, seu nariz em meu pescoço,
seu corpo enorme tão próximo do meu. Sua voz rouca e sussurrada em meu ouvido ainda me
causava arrepios. Eu sentia que podia me liquefazer em suas mãos.
Até ele soltar a bomba de que estava apaixonado e jogar um balde de água fria sobre mim.
— Ele não disse o nome dela?
— Não! — Bufei de frustração e me recostei na cadeira, cruzando os braços. — Não faço
ideia de quem essa garota seja e isso está me enlouquecendo!
— Por quê? James é apenas seu amigo, a vida amorosa dele não deveria te abalar dessa
forma — John comentou com um sorrisinho. Ele me olhava como se conseguisse enxergar
dentro de mim e eu cansei de mentir. Estava na hora de contar o que eu sentia pelo menos para
uma pessoa em que eu confiava.
— Gosto dele, John — falei baixo, quase em um tom de lamento, porque estar apaixonada
por alguém proibido não era algo sensual como em livros e filmes. Era triste. — Tentei negar
para mim mesma por muito tempo, coloquei em minha cabeça que não sentia mais nada por
James e comecei a me envolver com Mason para garantir que eu tinha razão, para provar que o
melhor amigo do meu irmão não ocupava um espaço enorme em meu peito, mas foi tudo em
vão. Eu sou uma farsa.
— Norah... — John esticou as mãos sobre a mesa e eu as segurei, sentindo o seu toque
solidário. — Eu entendo você, realmente entendo. Acha que James não sente algo parecido por
você, não é?
— Não acho, eu tenho certeza. Ele nunca demonstrou nada, John.
— A forma como James olhava para você e Mason no pub pareceu uma demonstração
bem real para mim. — Eu franzi o cenho. Eu senti o olhar de James sobre mim no bar, mas não
interpretei da mesma forma que John. — James estava morrendo de ciúmes, Norah. Confesso
para você que até agora eu não entendi como Logan não percebeu, pois era nítido para qualquer
um naquela mesa.
— Não... — murmurei, incrédula. — Você está enganado.
— Não estou, tenho certeza do que vi. E sabe o que eu acho, Norah? — Apenas olhei para
John e esperei que ele continuasse. — Que a garota por quem James está apaixonado é você.

John colocou mais um problema em minha cabeça, como se eu já não estivesse louca o
suficiente. Mal consegui prestar atenção na última aula e, quando deixei a sala, me misturei entre
os alunos já pedindo um carro de aplicativo para ir embora o mais rápido possível. Não queria
ver Mason naquele momento, não com a dúvida que John implantara em minha cabeça horas
atrás.
Mandei uma mensagem para o jogador, inventando uma desculpa de que não pude esperá-
lo para ir embora porque recebi uma mensagem da minha avó pedindo para ir visitá-la, e fui
direto para casa. Passei o resto da tarde em meu quarto, dedilhando o meu violão que estava
perdido dentro do meu closet e tentando usar a música para silenciar o turbilhão em minha
cabeça. Perdi noção do tempo, como sempre acontecia quando eu estava estudando peças e
canções, e só me dei conta de que estava anoitecendo quando ouvi batidas em minha porta e
olhei pela janela antes de pedir para que entrassem.
Meu coração disparou quando James abriu a porta e sorriu para mim. Seus olhos correram
pelo violão em meu colo e algumas partituras que eu espalhara pela cama.
— Não acredito que está cantando e não me chamou para ser o seu expectador. Sabe que
sou seu fã número um — disse ele ao se sentar na minha frente.
— Deixe Logan ouvir você falando isso.
— Logan precisa aceitar a verdade.
James tocou em alguns dos papéis espalhados e eu não consegui tirar os meus olhos dele.
Era o homem mais bonito que já vi na vida. Sua pele negra era exuberante, o maxilar forte e bem
cortado o deixava com aspecto ainda mais masculino, e os cachos em seu cabelo faziam minhas
mãos pinicarem para tocá-lo. O jogador ergueu a cabeça, me pegando no flagra quase babando
nele, e tentei disfarçar conforme desviava o olhar.
— Vim aqui cobrar a minha dívida — James disse de repente, capturando a minha
atenção. — Já tenho um esboço para aquele trabalho da faculdade que te falei e queria saber se
você está livre amanhã à noite para que possamos tirar algumas fotos. Não serão as fotos oficiais
do projeto, mas apenas um ensaio para que eu possa ter certeza de que a minha ideia está boa ou
se precisarei alterar alguma coisa.
Mesmo sem saber, James havia acabado de me dar a desculpa perfeita para que eu
recusasse o convite de Mason. Um sorriso de alívio se abriu em meus lábios e eu me segurei para
não deixar o violão de lado e me jogar sobre ele para demonstrar a minha gratidão.
— Claro! Estou livre. Nossa, eu estou super livre! — Talvez eu estivesse um pouquinho
entusiasmada ao dar a resposta, mas James apenas riu antes de se levantar da minha cama.
— Ótimo. Vamos precisar escolher algumas roupas suas para as fotos. — Ele me estendeu
a mão e eu deixei meu violão de lado para poder segurá-la. Assim que fiquei de pé, o filho da
mãe me deu um sorrisinho nada inocente. — Afinal de contas, você não estará nua como tanto
deseja.
Senti meu rosto pegar fogo e soltei sua mão para der um tapinha em seu peitoral
musculoso.
— Não quero posar nua para você.
Passei por ele a caminho do meu closet e soltei um gritinho de surpresa quando James
segurou minha cintura por trás e me puxou de encontro ao seu corpo, deixando o meu coração
acelerado e me fazendo estremecer. Sua voz soou mais baixa e pecaminosa do que deveria em
meu ouvido:
— Não foi o que pareceu quando conversamos naquele dia.
— Eu... eu apenas entendi errado quando você me falou sobre as fotos.
— Em nenhum momento eu dei a entender que você precisaria ficar sem roupa na minha
frente, gatinha. — James parecia sorrir às minhas costas conforme me fazia andar até o closet.
Ele não tirou as mãos da minha cintura e eu estava começando a acreditar que o seu toque era
capaz de romper o lado racional do meu cérebro. — Essa sua mente pervertida que criou isso.
Virei-me de frente para James quando entramos em meu armário, infelizmente fazendo
com que o jogador tirasse as mãos de mim. Senti falta do seu toque imediatamente.
— Não tenho a mente pervertida.
— Isso é questionável. — James sorriu e se aproximou de mim até minhas costas se
encontrarem com as prateleiras onde ficavam os meus sapatos. — Mas eu prometo que não vou
contar para ninguém sobre o seu desejo de ficar peladinha na minha frente.
Abri a boca para negar, mas a verdade, era que eu queria mesmo ficar sem roupa alguma
na frente de James. Em nossa primeira conversa sobre as fotos eu ainda não tinha ciência disso,
mas meu subconsciente parecia muito certo do que queria. James pareceu desistir de continuar a
me provocar, mas manteve o sorriso no rosto conforme andava pelo meu closet e mexia em
minhas roupas. Eu limpei a garganta e me forcei a ter um diálogo normal com o melhor amigo
do meu irmão.
— Diga-me qual é a sua ideia, talvez eu possa ajudar na escolha do figurino.
— Quero fazer um ensaio totalmente em tons brancos, roupas, cenário, plano de fundo.
Quero mostrar como as cores claras conseguem se destacar sem que uma se sobreponha sobre a
outra.
— Vai ficar incrível, James — falei, já conseguindo visualizar mais ou menos o que ele
queria. — E como você pensa no cenário?
— Se o nosso ensaio de amanhã der certo, vamos precisar ir para a minha casa em Aspen.
Meu quarto tem uma parede toda em vidro, com as montanhas cobertas de neve ao fundo,
acredito que ficará perfeito.
— Com o seu talento para fotografia, qualquer coisa que fizer ficará perfeito.
James sorriu para mim, parecendo tímido como sempre ficava quando recebia elogios
relacionados à sua paixão por fotografia, e logo se voltou para as minhas roupas. Eu o ajudei a
pegar todas as peças brancas que eu tinha no armário e, depois de selecionarmos as que se
encaixariam melhor com a ideia que ele tinha mente, James me deixou sozinha.
Eu corri até o celular jogado em minha cama e me preparei para mandar uma mensagem
para Mason, recusando o seu convite para ir até o seu apartamento na noite seguinte. Expliquei
que eu precisaria ajudar James em um trabalho da faculdade e torci para que o jogador não
ficasse muito chateado. A resposta que recebi me provou que a minha torcida não valera de nada.
Mason: Você vai me trocar pelo James, foi isso que entendi?
Eu: Não vou trocá-lo, Mason. Eu já tinha combinado com James que o ajudaria
nesse trabalho, só não sabia que dia seria.
Mason: E precisa mesmo ser amanhã? Ele não pode marcar para outro dia?
Eu: Não, não pode.
Mason: Então venha ao meu apartamento hoje. Quero muito passar um tempo com
você, Norah.
Eu respirei fundo, me obrigando a não ficar irritada com a sua insistência.
Eu: Não posso, marquei de jantar com a minha avó.
Mason: Mas você não a viu hoje quando saiu da faculdade?
Droga, havia me esquecido da desculpa que dei para ele mais cedo.
Eu: Sim, mas ela pediu para que eu voltasse mais tarde e aceitei. Vovó se sente muito
solitária quando meu pai está viajando.
Mason: Sabe o que está parecendo, Norah? Que você não quer me ver e está me
dando uma desculpa atrás da outra.
Enterrei meu rosto no travesseiro e soltei um gemido frustrado, me sentindo culpada,
porque era exatamente aquilo. Eu não queria ver Mason.
Mason: Eu fiz alguma coisa que você não gostou?
Eu: Não, Mason, você não fez nada, eu juro.
Mason: Então estou começando a acreditar que James é mais importante para você
do que eu e o pior, Norah, ele sabe disso e está tentando te afastar de mim.
Eu: Claro que não, James jamais faria isso.
Mason: Ele faria, tenho certeza. Um homem sabe quando alguém está interessado na
sua mulher.
Quase respondi falando que eu não era a mulher dele, mas consegui me impedir. Eu não
queria brigar, muito menos por causa de uma suposição de Mason.
Eu: Acho melhor a gente se falar depois, Mason.
Mason: Sim, aproveite a companhia do seu “amigo” e cuidado para Logan não
começar a pensar o mesmo que eu. Acho que ele não perdoaria James tão fácil de novo.
Deixei meu celular de lado e voltei a gemer de frustração, querendo acalmar meu coração
que batia rápido demais no peito por um motivo completamente errado.
Ele batia com esperança de que Mason estivesse certo.
Passei a tarde de sábado ajudando James a montar o cenário em seu quarto. Ele tinha uma
parede branca onde sua TV ficava afixada, mas ao lado do aparelho havia um espaço livre onde
colocamos uma cortina branca para usar como plano de fundo para as fotos. Ajeitamos toda a
iluminação com o refletor parabólico[2] e fontes de luz contínua, e quando terminamos, fui tomar
um banho e me arrumar para o ensaio.
Estava nervosa. Nunca havia posado e confiava em James, mas precisaria controlar o meu
coração teimoso e o friozinho de expectativa em minha barriga. Preparei a minha pele do jeito
que ele pediu, caprichando um pouco mais no pó translúcido para diminuir qualquer ponto de
oleosidade, e não passei sombra nos olhos, apenas máscara de cílios.
Vesti a primeira roupa que separamos — e que não tinha nada a ver com as peças que ele
tirou do meu armário. Uma blusa social branca de James e uma cueca boxer da mesma cor nunca
usada por ele. Olhei-me no espelho após prender os cabelos e me senti... sensual. Sexy de uma
forma diferente ao vestir as roupas de James. A blusa ainda guardava um aroma residual do seu
perfume, me dando a sensação de que eu estava em seus braços.
Tirei aquilo da minha cabeça e segui direto para o seu quarto, ouvindo apenas o silêncio
que se propagava pela casa, já que Benjamin e Logan não estavam. Entrei no quarto de James
após bater na porta e o encontrei configurando uma das suas inúmeras câmeras. O jogador havia
separado pelo menos quatro delas para usar naquela noite.
Seus olhos fitaram os meus por um segundo antes de descerem lentamente pelo meu
corpo. Eu estava vestida, mas, por um momento, me senti nua sob o seu olhar atento e poderoso.
Uma expressão diferente tomou conta do rosto de James enquanto ele passava a língua
rapidamente pelos lábios bem-desenhados, me deixando arrepiada, quase como se ele estivesse
me acariciando mesmo estando tão distante. Eu não usava sutiã e temi que meus mamilos
ficassem muito aparentes, pois já os sentia intumescer.
— Norah, você está linda. — James deixou a câmera de lado e se aproximou de mim,
pegando em minha mão e me fazendo dar uma voltinha. — Jogue todas as suas roupas fora e use
apenas as minhas agora.
Eu soltei uma risada, sentindo parte da minha ansiedade ceder.
— Por quê? Acha que eu combino mais com um estilo masculino?
— Acho que você fica gostosa pra caralho com as minhas roupas.
Eu não esperava pela sua resposta e fiquei um momento sem reação. James estava agindo
diferente comigo desde a manhã em que admitiu que estava apaixonado. Lembrar daquilo me fez
dar um passo para trás.
— Sinto muito, mas não vou me desfazer do meu closet.
— Não tem problema, você pode usar as minhas roupas apenas quando estiver sozinha
comigo, ou pode não usar nada e satisfazer o seu desejo de ficar nua para mim.
O calor que me invadiu no pub quando James me encurralou contra a parede começou a
surgir em meu interior, me deixando excitada por conta das coisas que o jogador dizia. Sacodi a
cabeça e sorri para ele enquanto revirava os olhos.
— Você nunca vai esquecer disso?
— Nunca. — James sorriu e voltou a pegar em minha mão, levando-me para o cenário que
montamos. — Sente-se, por favor, vou bater uma foto sua só para ter certeza de que não preciso
mudar nada no cenário.
Sentei-me em uma das banquetas que pegamos na cozinha e James se afastou para pegar a
câmera fotográfica. Ele se posicionou a alguns metros de mim e eu mordi o lábio, ficando um
pouco nervosa.
— O que você quer que eu faça?
— Apenas olhe para mim — pediu, tirando rapidamente a câmera da frente do rosto. Seu
olhar sério e sensual me atingiu, deixando-me sem ar. — Você não faz ideia do quanto é bonita,
Norah. Não precisa fazer qualquer esforço para destacar a sua beleza.
— Não precisa ficar me enchendo de elogios, eu não vou fugir, James. — Brinquei, mas
James me deu apenas um sorrisinho e disse:
— Olhos em mim.
Eu lambi os lábios e arrumei melhor a minha postura, olhando para a câmera — para ele.
Meu coração pulsava intensamente e, só naquele momento, percebi que tocava uma música ao
fundo. Sua batida sensual me envolveu e só notei que James batera a foto quando o clique suave
da câmera se misturou ao som da canção. O jogador olhou a foto no visor e sorriu conforme se
aproximava de mim.
— Veja isso e me diga se estou mentindo sobre você ser a mulher mais linda que meus
olhos já viram.
Peguei a câmera das suas mãos com cuidado e olhei para o visor digital, ofegando
baixinho. James havia capturado apenas o meu rosto em um ângulo perfeito e, por um momento,
não reconheci a garota ali. Era eu, logicamente, mas havia uma diferença da minha imagem ali
do que a que eu via todos os dias ao me olhar no espelho. Não me achava feia, mas, na câmera de
James, eu realmente estava linda.
Havia um destaque para os meus olhos, que pareciam mais claros por conta da luz branca,
meus lábios rosados pelo batom que passei e as bochechas em um tom parecido com a minha
boca. Minha pele estava muito bonita, com um brilho diferente por conta da iluminação artificial,
e eu sabia que a foto só tinha aquele resultado porque James estava por trás da câmera. Um
sorriso se abriu em meu rosto e James tocou em meu queixo com delicadeza, me fazendo olhar
para ele.
— Gostou?
— Sim. James... Tem noção do quão talentoso você é? Não estamos em um estúdio
profissional e, mesmo assim, você conseguiu esse resultado.
— Não ficaria tão incrível se a minha modelo não fosse você — disse ele e eu quase
suspirei. Seus olhos correram para o visor da câmera antes de voltarem para mim. — Espero que
entenda que essa é a forma como eu te vejo, Norah. Como o mundo vê você.
Caramba.
Havia algo realmente diferente em James, no seu olhar, na forma como falava comigo, no
seu toque, e as palavras de John voltaram com força total em minha cabeça. Será que ele estava
certo? James estaria... apaixonado por mim? Engoli em seco quando ele tomou a câmera da
minha mão e se afastou, deixando-a sobre a sua cama antes de voltar a se aproximar de mim.
— Preciso ajeitar um pouco a blusa, quero que o seu ombro fique exposto, tudo bem?
— S-sim, claro.
Senti-me meio idiota por gaguejar, mas eu estava assustada pra caramba com a
possibilidade de que John estivesse certo e mal conseguia ter um pensamento coerente naquele
momento. James olhou em meus olhos e abriu alguns botões da blusa, quase chegando à curva
dos meus seios. Ele deve ter notado a minha pele arrepiada e, pior do que isso, meus mamilos
duros sob o tecido quando desceu o olhar para o meu colo, mas não disse nada. Estremeci de leve
quando seus dedos resvalaram em minha pele ao afastar a gola da camisa e arrumá-la do jeito
que queria, abrindo-a e deixando meu ombro esquerdo exposto.
Eu não estava indecente, pelo contrário. James era muito alto, portanto, sua camisa
terminava na altura das minhas coxas e, mesmo tendo aberto alguns botões, não dava para ver os
meus seios, mesmo assim, a forma como ele me olhou me fez sentir novamente como se eu
estivesse nua. Precisei morder o lábio para não soltar um gemido sem querer, sentindo aquela
onda de calor se espalhar em meu baixo ventre e descer até a vagina.
— Quero você assim — disse ele com a voz grossa antes de se afastar. Só naquele
momento percebi como o calor do seu corpo envolvia e aquecia o meu. James pegou a câmera e
voltou a se posicionar. — Olhos em mim por enquanto, ok? Você pode virar um pouco de lado e
levantar o ombro se quiser, mas sem curvar o corpo.
— Sim, senhor — respondi em tom de brincadeira, tentando dissipar a tensão que eu
sentia, e James sorriu.
Ele voltou a posicionar a câmera na frente do rosto e eu tentei relaxar um pouco mais a
postura, inclinando apenas o meu tronco para o lado direito enquanto elevava um pouco o ombro
esquerdo.
— Isso, está linda.
Ouvi o clique da câmera novamente, mas, daquela vez, James não parou. Ele continuou a
tirar várias fotos, capturando ângulos diferentes enquanto eu me mantinha na pose. Segui sua
orientação quando me pediu para abrir um pouco os lábios e olhar para o lado, sem virar o rosto.
Ouvi mais cliques e mudei novamente de posição. Alguns minutos se passaram antes que ele
voltasse a se aproximar, deixando a câmera pendurada em seu pescoço.
— Posso deixar o outro ombro livre?
Eu apenas concordei com a cabeça, sentindo minha garganta ficar seca ao pensar em sentir
as suas mãos em mim de novo. James afastou a manga da blusa do meu ombro direito e seus
dedos me tocaram durante todo o processo, descendo desde o osso da clavícula até o início do
meu braço. Seus olhos seguiram o trajeto, como se ele também não pudesse piscar enquanto
mantinha as mãos em mim.
Sem que eu esperasse, James se inclinou e deixou um beijo em meu ombro desnudo, me
arrancando um ofego que saiu alto demais.
— Linda — sussurrou em meu ouvido antes de se afastar.
Aquilo... Aquilo era um golpe muito baixo! Abri a boca para puxar o ar com mais
eficiência para dentro dos meus pulmões, aproveitando que James ainda estava de costas para
mim, e me ajeitei melhor no banco. A cueca de James que eu usava estava molhada e o jogador
não tinha feito praticamente nada. Ao mesmo tempo, ele fizera tudo diferente do nosso normal.
James não beijava o meu ombro.
Não me olhava como se estivesse cheio de desejo.
Não sussurrava em meu ouvido com aquela voz rouca e que pingava desejo sexual.
Eu me sentia prestes a enlouquecer.
Como se não tivesse feito nada e fosse o rei do autocontrole, o jogador se virou para mim.
— Vamos continuar.
Eu concordei silenciosamente e, então, desci meus olhos pelo seu corpo. James usava uma
blusa de meia-manga azul-escura e uma calça de moletom preta. Vestia roupas comuns de ficar
em casa naquela época de inverno, mas eu notei que havia algo diferente bem ali, na região do
seu...
James estava com uma ereção. Ou pelo menos com o início de uma ereção.
O volume na sua região pélvica era visível, mas por conta do tecido grosso e escuro,
poderia passar despercebido se eu não tivesse olhado com tanta atenção. Fiquei chocada,
levemente boquiaberta, e meu clitóris pulsou com uma força que me fez estremecer. James não
parecia ter notado que eu percebi, concentrado ao mexer em alguma função da câmera, mas eu
tinha visto muito bem.
Continuava a ver agora e não fazia a menor noção de como prosseguir com aquela sessão
de fotos depois de notar que o jogador estava tão excitado quanto eu.
— Fique de pé, Norah, por favor. — Fiz como pediu e James se aproximou e foi para trás
de mim. Virei-me a tempo de ver ele mexer rapidamente na cortina e voltei a ficar de frente para
as luzes. De repente, o senti bem atrás do meu corpo, afastando a baqueta. Dei um pulinho
quando seus dedos tocaram em meus cabelos. — Vou apenas bagunçar um pouco os cachos para
que eles apareçam mais na foto, ok?
— Cla-claro.
James parou de repente com os dedos enfiados em meu cabelo e perguntou:
— Está tudo bem, Norah?
Como ele tinha coragem de me perguntar aquilo enquanto estava de pau duro por mim?
Mordi a língua para não deixar a pergunta escapar.
— Sim, tudo. Por que não estaria?
— Está muito quieta.
— É porque estou concentrada. Não quero que o fotógrafo se arrependa de ter me
escolhido para ser a sua modelo.
James riu atrás de mim e tocou em minha nuca com cuidado. Eu fechei os olhos, sentindo
cada músculo do meu corpo ficar mole de repente. Sua voz soou muito próxima do meu ouvido
novamente:
— Me arrependo de muitas coisas, Norah, tanto sobre o que fiz e o que deixei de fazer por
ser estúpido demais para não enxergar o que estava bem na minha frente, mas nunca vou me
arrepender de ter escolhido você.
Eu abri os olhos e senti que as palavras de James tinham um significado maior do que
aparentavam. Elas me tocaram tão profundamente que não pude me segurar. Virei-me em sua
direção e encontrei suas írises castanhas e intensas sobre mim. Por um momento, não consegui
falar nada e James também não. Apenas suas mãos se moveram lentamente, descendo pelos
meus ombros nus até os meus braços cobertos pela sua camisa, parando em minhas mãos.
— Por que está me dizendo isso? — perguntei baixinho, quase com medo de ouvir a sua
resposta.
— Porque é como eu me sinto. — James deu um passo em minha direção e tocou em meu
rosto com a ponta dos dedos. — Estou cansado de lutar contra algo que percebi que não tenho o
menor controle, Norah. E, quer saber de uma coisa? Eu não quero ter controle.
Suas duas mãos tomaram o meu rosto e eu perdi o fôlego quando o seu corpo se colou ao
meu. Eu senti tudo. Sua respiração levemente ofegante, seu cheiro maravilhoso, seu pau muito
duro em minha barriga. Minhas mãos tremeram quando as ergui para tocar em sua cintura e o
mundo pareceu parar de rodar quando entendi o que aconteceria.
O que finalmente aconteceria.
James ia me beijar.
Eu apenas fechei os olhos e aguardei. Meu coração pulando como um louco no peito,
minhas pernas tremendo, cada parte de mim ansiando por aquele momento. Estremeci quando
senti seu nariz tocar o meu, antes de seus lábios passearem sobre o meu rosto como o toque leve
de asas de borboleta. Pelo menos um milhão delas voavam pelo meu estômago naquele
momento, me provando o que eu já sabia.
Nenhum outro homem me causou algo como aquilo. Nenhum outro homem seria capaz de
me fazer sentir daquele jeito.
— James... — Seu nome escapou dos meus lábios sem controle algum e James soltou um
gemido rouco quando finalmente me beijou.
Foi suave e forte ao mesmo tempo. Um encontro de lábios que me fez perder
completamente o controle sobre o meu corpo, sobre as minhas emoções. Quase pude sentir as
lágrimas se acumularem em meus olhos conforme retribuía, querendo sentir muito mais do que
aquilo. Eu queria a língua de James dentro da minha boca, suas mãos por todo o meu corpo, seu
pau dentro de mim. Era para ele que eu estava pronta, para mais ninguém.
Meu coração, meu corpo e minha alma o queriam, e quando pensei que finalmente o teria
apenas para mim, a voz alegre de Benjamin soou alta demais do lado de fora do quarto, fazendo-
nos dar um passo para trás, ofegantes e assustados.
— A festa estava horrível e resolvi voltar mais cedo. Alguém quer pizza?
Eu mataria Benjamin com as minhas próprias mãos!
Antes que eu pudesse imaginar qual método de tortura usaria, o filho da mãe entrou em
meu quarto sem bater na porta, olhando para a tela do celular. Norah deu mais um passo para
trás, afastando-se de mim, e Benjamin ergueu a cabeça. Tanto ele quanto Logan sabiam que eu
tiraria fotos de Norah naquela noite para um trabalho da faculdade, por isso, Ben não estranhou o
cenário montado em meu quarto ou a minha proximidade com a caçula dos Miller.
Esperava que ele continuasse distraído e não percebesse o meu pau duro pra caralho
dentro da calça.
— E então, vão querer pizza? Estou pensando em pedir duas de pepperoni e uma
marguerita.
Não consegui responder, se abrisse a boca, seria para xingar aquele empata beijo do
caralho. Foi Norah quem nos salvou de um silêncio constrangedor.
— Eu acho ótimo, estou mesmo ficando com fome e tenho certeza de que James também
está.
— Ok, vou pedir. Querem uma cerveja? Vou lá embaixo pegar umas pra gente.
Benjamin nos deu as costas antes que pudéssemos responder e saiu, deixando a porta do
meu quarto aberta. Norah se virou lentamente para mim com o rosto ficando vermelho e uma
risada nervosa querendo escapar da sua boca.
— Ah, meu Deus... — Ela riu e se sentou na banqueta que coloquei ao lado do cenário que
montamos. Um segundo depois, escondeu o rosto com as mãos. — Minha nossa, James...
— Ei... — Aproximei-me dela a passos largos e fiz com que erguesse a cabeça para que eu
pudesse olhar em seus olhos. — Está tudo bem.
— Mas... nós nos beijamos — sussurrou como se as paredes pudessem ouvir.
— Vamos conversar sobre isso depois, quando estivermos sozinhos, ok?
Norah puxou uma respiração profunda e eu quis mais do que nunca tomar a sua boca na
minha de novo. Mal consegui sentir o sabor dela, porra! Benjamin ainda me pagaria por aquilo.
— Tudo bem.
— Só preciso que saiba que não foi um erro. — Minhas palavras a pegaram de surpresa,
pude ver em seus olhos. — E que eu queria fazer muito mais do que apenas beijar a sua boca. —
Ouvi os passos de Benjamin se aproximando no corredor. — Não se esqueça disso.
Pisquei para Norah e me afastei um momento antes de Benjamin entrar em meu quarto
carregando três latinhas de cerveja.
— Vou ficar aqui acompanhando a sessão de fotos — disse ele após deixar duas latinhas
sobre a bancada do meu quarto e abrir a sua. Em seguida, se sentou na beira da minha cama.
— Vai ficar aqui nos atrapalhando, você quer dizer.
— Nunca! Vocês nem ouvirão o som da minha voz.
— Disso eu duvido muito, Ben — comentou Norah com uma risada.
— Está querendo dizer que eu falo demais?
— Sim. — Aproveitei o momento para trocar de câmera e o encarei com uma sobrancelha
erguida. — Você tem uma língua que mal cabe na boca.
— Talvez isso seja verdade, afinal, nenhuma garota reclamou da minha língua, pelo
contrário, muitas me chamam de o rei do sexo oral.
Norah gargalhou e eu revirei os olhos, prendendo uma risada. Era difícil ficar com raiva
daquele idiota, mesmo quando ele atrapalhava o meu primeiro beijo com a minha garota.
— Elas com certeza não tinham um parâmetro melhor — resmunguei.
— E quem seria o parâmetro melhor? Você? — Eu apenas o encarei com um sorrisinho e
Benjamin fez uma careta. — Duvido que você seja melhor chupando uma boceta do que eu.
— Pode respeitar a Norah, por favor? — pedi, mas a garota se divertia ao ouvir o nosso
embate.
— Foi mal, Norah.
— Já estou acostumada com esse tipo de conversa vindo de vocês — disse ela. — Acha
que é fácil morar em uma casa com três homens?
— Imagino que seja difícil, ainda mais quando um deles é gostoso pra caralho. —
Benjamin apontou para si mesmo e Norah riu mais alto. Eu o encarei bem sério.
— Você não disse que nós não ouviríamos o som da sua voz?
— Sim, mas vocês nem estão trabalhando.
— Vamos começar agora — avisei, voltando para perto de Norah depois de regular a
câmera do jeito que eu queria.
— Ok, vou ficar quieto e fingir que você está tirando foto de Norah e não inventando uma
desculpa para ficar olhando para ela. — Virei-me para Benjamin e daquela vez ele sentiu que eu
estava ficando puto de verdade. Esticando o pescoço, ele pareceu procurar por Norah, já que eu
estava entre eles dois. — É brincadeira, Norah!
Sacodi a cabeça e me virei para Norah, encontrando-a com as sobrancelhas arqueadas e
um sorrisinho desenhando seus lábios bonitos. Lábios que beijei pela primeira vez na vida e que
me deixaram viciado. Decidi retomar o foco.
— Fique de pé por favor, gatinha, e posicione-se novamente.
Norah fez o que pedi e eu voltei a fotografá-la.

Eu queria gritar para o mundo inteiro ouvir que James havia me beijado. Estava tão
eufórica, que poderia sair pulando pelo quarto ou flutuando como um balão de gás, mas, como
não podia, simplesmente passei parte da madrugada alugando John e surtando com o meu amigo.
“Eu disse que era por você que ele estava apaixonado, Norah! EU DISSE!”
Aquela foi a frase que mais li — e ouvi em seus áudios — e, a cada vez que John a
enviava, eu soltava gritinhos de animação e incredulidade com a cara enfiada no travesseiro. A
forma como James me olhou, como me tocou, tudo o que me disse, rodopiava pela minha
cabeça. Algo em meu peito me dizia que John não estava louco em supor que era por mim que
James estivesse apaixonado, porque eu vi cada sentimento bem ali, refletido nos olhos escuros do
jogador. Conhecia James desde o meu nascimento e ele nunca olhara daquele jeito para mim.
Nossos abraços eram inocentes, os beijos que dava em minha testa e minha bochecha, também.
Mas aquele beijo?
Ele não teve nada de inocente, mesmo que sua língua nem tivesse entrado em minha boca.
Fiquei imaginando o que teria acontecido se Benjamin não tivesse chegado bem naquele
momento. Senti o desejo de James por mim com o seu pau duro pressionado contra a minha
barriga e minha boceta ficou tão melada, que eu sabia que não recuaria se o jogador me
colocasse em sua cama. Eu iria até o fim com James simplesmente porque o amava e desejava.
Pensei em Mason e senti culpa, mesmo sabendo que eu não poderia mandar em meus
sentimentos. Realmente tentei sentir por ele tudo o que sentia por James, mas não consegui.
Precisava conversar com o tight end e terminar tudo entre nós dois.
Dormi bem tarde, mas não fiquei enrolando muito na cama e logo me levantei. Fiquei
surpresa ao encontrar todo mundo já de pé na cozinha, inclusive Aubrey, que dormiu em nossa
casa naquela noite.
— Bom dia, dorminhoca! Nosso pai ligou. Ele já está de volta e quer que almocemos com
ele — disse Logan assim que pisei na cozinha.
Meus olhos percorreram o cômodo até encontrarem James de costas para mim na pia. Ele
se virou e veio em minha direção carregando um potinho de vidro com frutas vermelhas e o
entregou para mim, deixando um beijo em minha bochecha.
— Bom dia. Morangos e mirtilos, sei que você gosta. — O jogador piscou para mim e se
afastou, me deixando com o rosto prestes a pegar fogo.
Droga, eu deveria disfarçar melhor. James ser atencioso comigo e piscar para mim era
normal. Tão normal que Logan nem pareceu perceber o que acabara de acontecer, continuou
devorando seus ovos com bacon sentado entre Avalon e Aubrey. Esta última observava tudo com
aqueles olhos espertos e só os tirou de cima de mim quando Ben parou ao seu lado e a abraçou
pelos ombros.
— Engraçado... Você recebeu frutas vermelhas nas mãos, princesa?
— Não.
— Pois é, nem eu. Parece que James tem uma pessoa favorita nessa casa. — Havia um
tom de provocação na voz de Benjamin que me deixou alerta.
Será que ele percebera alguma coisa? Torci muito para que não.
— Eu nunca neguei isso, ou acha que minhas pessoas favoritas são você e Logan?
— Não deveríamos ser? Somos seus melhores amigos!
— Vocês são insuportáveis, isso sim.
— Ele fala isso, mas, no fundo, nós sabemos a verdade. Ele não viveria sem a gente, Ben
— comentou meu irmão com uma risada.
— Acordaram carentes hoje? Benjamim eu até entendo, porque voltou para casa cedo e
chupando dedo, mas você, Logan? — James provocou. — Não cuidou dele essa noite, Valente?
— Meus ouvidos estão sangrando! — Aubrey reclamou e Benjamin gargalhou ao seu lado
ainda a abraçando pelos ombros.
— Cuidar quer dizer dormir abraçadinhos de conchinha — disse Avalon, claramente
querendo perturbar a irmã mais nova.
— Ah, sim, e eu ainda sou uma criancinha que acredita em Papai Noel — reclamou ela
enquanto revirava os olhos.
— Mas você é uma criancinha... — Ben zombou e soltou um gemido em meio à risada
quando Aubrey deu uma cotovelada de leve em suas costelas.
— Sai daqui, Ben!
O running back finalmente parou de perturbar a garota e nós tentamos tomar o café da
manhã no meio daquele caos. Assim que terminamos, eu decidi subir para tomar um banho e me
preparar para ir para a casa do meu pai, mas fui interceptada no corredor em frente ao meu quarto
por James. Ele parou na minha frente, fazendo-me encostar contra a parede, e colocou um cacho
do meu cabelo atrás da orelha.
— Como você está?
Surtando, querendo me agarrar em você e nunca mais soltar.
— Bem. — Foi tudo o que respondi com a respiração ficando meio ofegante. — E você?
— É difícil responder a essa pergunta. Estou sentindo e quero fazer muita coisa, mas ainda
não posso, não sem antes conversar de verdade com você.
— Vamos fazer isso mais tarde. Benjamin deve sair e Logan com certeza vai passar um
tempo com a Ava no Maeve’s.
— Sim. — Os olhos de James sondaram os meus e desceram até a minha boca. Senti sua
mão se espalmar na lateral do meu pescoço e subir lentamente até a linha da minha mandíbula.
Quando seu polegar tocou o meu lábio, eu estremeci, ficando arrepiada dos pés à cabeça. — A
próxima vez que eu beijar a sua boca, vai ser com a certeza de que você é só minha.
Ofeguei, sendo pega de surpresa com a intensidade das suas palavras, e fechei os olhos
quando James deixou um beijo demorado em minha bochecha. Ele se afastou em seguida, pois
também iria almoçar com os pais naquela tarde, e eu entrei em meu quarto, precisando me
encostar contra a porta e pressionar a mão em meu peito. Senti medo de que meu coração pulasse
de lá a qualquer momento de tão incontrolável que batia.
Logan foi dirigindo até a casa do nosso pai e fiquei observando como ele parecia feliz
quando Avalon, Aubrey e eu estávamos reunidas. Um sorrisinho não saía do seu rosto enquanto
batucava o volante ao ritmo da música que tocava no sistema de som do carro, seus olhos voando
para mim e Aub pelo retrovisor enquanto conversávamos com Ava. Eu não queria imaginar qual
seria a sua reação se descobrisse que James e eu nos beijamos na noite passada e preferia ignorar
o medo que sentia ao pensar naquilo.
O almoço com o papai e a vovó era sempre maravilhoso, mas naquele dia tínhamos um
motivo a mais para comemorar. Meu pai ergueu um brinde à minha conquista e pareceu
emocionado enquanto olhava para mim. Quase chorei, mas consegui conter a emoção enquanto
tomava um gole do vinho branco que ele tirara de sua adega apenas para aquele almoço. Logan
Miller II era um apreciador da bebida e tinha safras especiais que custavam uma fortuna. Ele e
minha mãe adoravam viajar pelas vinícolas italianas juntos.
Foi pensando nela que entrei na nossa biblioteca, onde havia uma estante cheia de porta-
retratos. Peguei um onde ficava a última foto que tirara com ela, no Natal de 2021. Como poderia
imaginar que a perderia poucas semanas depois? Se eu soubesse, a teria abraçado mais e repetido
mil vezes o quanto a amava. Senti meu pai parar ao meu lado e passar o braço pelos meus
ombros. Com a outra mão, ele acariciou o rosto da minha mãe na foto.
— Pode ter certeza de que ela está muito orgulhosa de você.
Não consegui conter as lágrimas ao ouvir aquilo.
— Isso é golpe baixo — comentei enquanto encostava minha cabeça em seu peito. Meu
pai soltou uma risada emocionada.
— Sei disso, mas é a verdade. Sua mãe sempre se orgulhou muito de você e do seu irmão
e me arrependo por ter perdido tanto tempo tentando mudar o destino de Logan e ignorando os
avisos dela de que eu deveria o apoiar na carreira que escolhesse. Quero que saiba que eu apoio
você, Norah, e que tenho orgulho do caminho que está trilhando.
— Obrigada, pai. Ouvir isso é importante demais para mim.
— Sim, tenho consciência disso, porque também foi importante para mim quando meu pai
olhou nos meus olhos e deixou claro que se sentia orgulhoso pelas minhas conquistas. — Papai
se afastou e secou as minhas lágrimas com delicadeza. — Você e seu irmão são a melhor parte
de mim, Norah. Não o meu legado como advogado, o império que construí ou o dinheiro que
conquistei, mas vocês. Quero apenas que sejam felizes.
— Nós somos felizes apenas por ter um pai incrível como o senhor — falei e meu pai
sorriu.
— Sei que sou cabeça-dura às vezes...
— Só às vezes?
— Tudo bem, quase sempre, mas estou tentando melhorar. Por exemplo, seu irmão me
disse que você está conhecendo um rapaz na faculdade e eu nem a pressionei para me passar a
ficha completa do idiota que está tentando conquistar a minha filha.
Revirei os olhos ao ouvir aquilo, apesar de ainda sentir graça.
— Acho que está me pressionando agora.
— Eu estou? Sinto muito, não percebi.
— Você nunca foi tão dissimulado, Sr. Miller II!
— Talvez eu saiba uma técnica ou outra sobre atuação — disse ele com as sobrancelhas
arqueadas. — Só me diga se ele é um homem decente e se está a tratando bem.
Não foi em Mason que eu pensei para responder àquilo, mas, sim, em James. E percebi
que, depois de ontem, talvez eu pudesse continuar a pensar nele daquele jeito, como o homem
que, um dia, eu apresentaria ao meu pai. Não seria fácil, eu sabia, tínhamos um enorme obstáculo
no caminho que se chamava Logan Miller III, mas uma garota podia sonhar.
— Ele é o homem mais incrível que já conheci.
Meu pai ficou calado por um tempo, olhando dentro dos meus olhos. Fiquei tentando
entender o que ele queria encontrar, mas, por fim, ele respondeu.
— Você está apaixonada.
— Sim. — Finalmente dei um sorriso sincero ao confirmar aquilo. — Eu estou
perdidamente apaixonada por ele, papai.
— Bom... — O Sr. Miller II coçou a cabeça como se não soubesse lidar com aquilo. —
Quando se sentir preparada, apresente-me a ele. Quero conhecer o homem que roubou o coração
da minha filha.
Eu fiquei aliviada ao ouvir aquilo e concordei. Meu pai era muito mais tranquilo do que
Logan e eu me senti feliz por aquilo, pois não sabia se conseguiria aguentar a pressão dos dois
homens Miller na minha vida.
Já estava anoitecendo quando recebi uma mensagem de James perguntando se poderíamos
jantar juntos e conversar. Eu nem pensei em negar. Inventei uma desculpa para a minha família,
avisando que encontraria com John, e me despedi de todos. Papai insistiu para que eu pegasse
um dos seus carros esportivos na garagem, mas o tempo estava muito feio, com nuvens
carregadas no céu, e eu tinha um certo trauma de dirigir na chuva depois do acidente da minha
mãe, por isso, resolvi pedir um carro de aplicativo.
Senti-me ansiosa, com aquelas borboletas voando sobre o meu estômago de novo. Dentro
do carro, recebi uma nova mensagem, daquela vez de Mason. Não nos falávamos desde sexta-
feira e meu peito ficou apertado com a culpa.
Mason: Norah, podemos conversar? Não precisa ser no meu apartamento, eu só
quero olhar para você e assegurar que está tudo bem entre nós dois. Me desculpe por ser
um babaca ciumento.
Mason: Meu pai está na cidade e eu estou em um dos seus hotéis visitando-o, ficarei
aqui até mais tarde. Venha me encontrar, por favor. Vou te passar o endereço.
O carro parou em frente ao restaurante e eu pensei se deveria responder ou não. Decidi que
faria aquilo depois que conversasse com James, apesar de, no fundo, eu saber que terminaria com
Mason de qualquer maneira, pois não era justo prendê-lo a mim quando eu estava apaixonada
por outro homem. Agradeci ao motorista e saí do carro, tomando um susto ao ver James na porta
do restaurante conversando com uma mulher. Ela tocava em seu braço e parecia tentar segurar a
sua mão.
Curiosa, aproximei-me um pouco, mas a distância não me permitia ouvir o que falavam,
por isso, apenas observei. Um casal saiu do restaurante e a luz vinha que do interior do
estabelecimento me permitiu reconhecer quem estava com James. Dei um passo para trás ao
perceber que era Megan. Ela parecia agitada, mas James estava de costas para mim e eu não
conseguia saber qual era a sua expressão. Fiquei sem saber o que fazer. Deveria me aproximar ou
não? Megan me deu a resposta quando se aproximou completamente de James e tomou o rosto
dele nas mãos, ficando na ponta dos pés.
Ah, meu Deus. Eles iam se beijar.
Antes que eu testemunhasse aquilo acontecendo, dei as costas para os dois e tirei o meu
celular do bolso. Sem pensar direito, coloquei o endereço que Mason me mandou por mensagem
e pedi um carro de aplicativo. Pingos grossos de chuva começaram a cair e quase deixei o celular
ir ao chão. Minhas mãos tremiam.
— Norah!
Ouvi a voz de James atrás de mim e o que me fez virar em sua direção foi a raiva que
começou a inflamar as minhas veias. Megan ainda estava parada em frente à porta do restaurante
enquanto o jogador se aproximava a passos rápidos de mim e havia uma expressão de
arrependimento no rosto dela.
— Norah, o que está fazendo? Saia da chuva.
— Eu estou indo embora. Não vou mais atrapalhar você e a Megan.
Um trovão estourou no céu e a chuva começou a cair pra valer, gelada e grossa. James
arregalou os olhos e sacodiu a cabeça com desespero, se aproximando ainda mais de mim.
— Não sei o que você pensa que viu, mas posso assegurar que entendeu errado, Norah.
— Entendi errado? Vocês estavam prestes a se beijar!
— O quê? Não! — James tentou me tocar, mas eu me afastei. — Norah, me escute...
— Não quero ouvir nada, James! Eu pensei... — Parei por um momento, mal conseguindo
o enxergar por conta da chuva. — Acreditei que era por mim que você estava apaixonado, mas
sempre foi por ela, não é? Você nunca a esqueceu!
— Norah, não é nada disso... — Dei as costas para James quando vi o carro se aproximar
da calçada, mas ele me segurou pela mão me impedindo de prosseguir. O ciúme estava me
corroendo e foi a ele que me agarrei para não começar a chorar como uma idiota na frente do
jogador. — Vamos para casa, você está encharcada, depois nós conversamos.
Desvencilhei-me dos seus braços e o olhei com raiva quando vi Megan correndo em nossa
direção no meio da chuva. Aquela vaca! Se eu ficasse ali por mais um segundo, perderia
completamente o controle das minhas emoções.
— Estou indo me encontrar com Mason.
Não fiquei para saber qual seria a reação de James. Entrei no carro e pedi para o motorista
sair dali o mais rápido possível.
Um trovão enorme estourou no céu quando Norah escapou das minhas mãos e entrou no
carro. Por um segundo, eu fiquei completamente atônito, apenas observando-a fechar a porta do
veículo e desaparecer das minhas vistas após me falar que se encontraria com Mason. Então, foi
só pensar em Norah nos braços daquele filho da puta, deixando que ele beijasse a boca que
deveria ser apenas minha, que eu senti uma descarga de adrenalina explodir em minhas veias e
reagi.
— James! Espera, por favor!
O carro em que Norah estava arrancou na calçada e eu corri em direção a minha Range
Rover que estava estacionada poucos metros à frente. Senti Megan atrás de mim, mas não parei
para olhar para ela ou ouvi-la. Não entendia por que estava tão obstinada a me perseguir quando
deixei claro que não queria ter mais nenhum tipo de contato com ela, mas não perderia o meu
tempo naquele momento nem mesmo para mandá-la ficar distante de mim.
Entrei em meu carro e pisei firme no acelerador. A chuva torrencial mal me permitia
enxergar o veículo da frente, mas coloquei meus limpadores de para-brisa para trabalharem ao
máximo e consegui visualizar que havia um carro entre o meu e o veículo onde Norah estava.
Dei seta para a esquerda, querendo ultrapassá-lo, mas o filho da puta não me deu passagem, me
obrigando a fazer uma loucura sem pensar muito nas consequências.
O semáforo fechou, mas o carro de Norah conseguiu passar antes que ficasse vermelho.
Aproveitando que não vinha nenhum carro no sentido contrário, ultrapassei o babaca na minha
frente e passei pelo sinal sem nem olhar para os lados. Conscientemente, eu sabia que corria o
risco de ter causado um acidente, mas estava além da racionalidade naquele momento. Só
conseguia pensar no olhar ferido e cheio de raiva de Norah enquanto acreditava que Megan e eu
quase nos beijamos. Eu jamais beijaria a boca daquela víbora novamente, porra!
Mas conseguia entender Norah e a sua insegurança. Ela ainda não sabia o que eu sentia e
deveria estar confusa com a minha mudança de atitude, com o beijo que dei nela na noite
anterior. Eu explicaria tudo se Megan não tivesse atravessado o meu caminho de novo com a sua
insistência em querer falar comigo.
Consegui me aproximar da traseira do carro do Uber e buzinei. Estava chovendo demais e
eu só queria que Norah aceitasse entrar no meu carro e que me deixasse levá-la para casa. Ela
estava vulnerável e com raiva de mim e eu não confiava em Mason para ficar ao seu lado com
ela naquele estado, principalmente depois da sua insistência disfarçada de convite para levá-la
para a cama.
O motorista do Uber acelerou ao invés de diminuir a velocidade, me obrigando a fazer o
mesmo. Buzinei mais uma vez e só não meti meu carro na frente do dele porque sabia que a pista
estava escorregadia demais e não colocaria Norah em perigo. Cheguei perto da sua traseira
novamente e tomei um susto quando meu celular começou a tocar. O atendi pelo sistema digital
do carro, meu coração disparando ainda mais ao ver que era Norah me ligando.
— Pare com isso, James!
— Norah, por favor, vamos conversar. Peça para que o motorista pare no acostamento e
venha para o meu carro.
— Eu quero que você pare com isso! A pista está perigosa, não quero que se meta em um
acidente! Você ultrapassou um sinal vermelho, porra!
Apesar do nervosismo, eu sorri. Minha garota poderia estar puta comigo, mas ainda se
preocupava.
— Acho que não faz a menor ideia das coisas que eu faria por você, Norah. — Eu a ouvi
ofegar do outro lado da linha e voltei a insistir. — Por favor, saia do carro, nem que seja para me
bater e me xingar, ainda que eu não mereça.
— Você merece sim!
Norah desligou de repente, sem se despedir, e eu vi o veículo da frente dar seta para a
direita. Estávamos em uma rua cheia de prédios comerciais, fechados àquela hora, e apenas um
carro ou outro passava ao nosso lado. O Uber finalmente estacionou e eu parei logo atrás dele,
saindo do carro no mesmo instante em que Norah. Precisei dar crédito ao motorista quando ele
saiu do carro também, mesmo em meio à tempestade, me dando um olhar desconfiado.
— A senhora tem certeza de que quer mesmo fazer isso?
— Sim, eu tenho. Obrigada por se preocupar.
O motorista ainda nos encarou por mais alguns segundos antes de entrar no carro e partir.
Um outro trovão estourou no céu e as luzes dos postes se apagaram, provavelmente por conta de
uma queda de energia, mas os faróis do meu carro iluminavam Norah e o seu semblante fechado.
Sabia que ela estava com raiva de mim, por isso, me aproximei devagar.
— Não ouse tocar em mim! — Gritou, dando um passo para trás.
— Tudo bem, mas se você quiser me bater, vai ter que chegar mais perto do que isso. —
Sorri, o que pareceu a enfurecer.
— Está achando que eu estou brincando, James?! Só desci do carro porque fiquei com
medo de que você provocasse um acidente!
— Eu nunca colocaria a sua vida em risco.
— Mas pareceu querer colocar a sua vida em risco quando ultrapassou o sinal daquele
jeito! — Norah finalmente se aproximou e, pegando-me de surpresa, espalmou as mãos em meu
peito, tentando me empurrar. — O que você tem na cabeça?!
— Você — falei, tomando seu rosto em minhas mãos. Seus cabelos caíam em cascatas
pelos seus ombros e alguns fios se grudavam em sua bochecha. Tirei-os do meio do caminho. —
Eu tenho você em minha cabeça, Norah.
— Mentiroso! — Ela deu um soquinho em meu peito, seguido por outro e mais um. —
Você é um mentiroso! Eu o vi com a Megan, eu...
— O que você viu? — questionei, ficando mais sério. Não havia mais graça em nada
daquilo. — Diga-me, Norah, o que você viu?
— Vi vocês dois prestes a se beijar.
— Não... — Peguei-a pela cintura quando tentou escapar, colando seu corpo molhado ao
meu. — Você viu Megan desesperada para me tocar, não eu prestes a beijá-la.
— Você não parecia nada incomodado com o toque dela! — Sua voz saiu por entredentes
enquanto voltava a me empurrar. — Me solta, James!
Eu soltei e foi como perder uma parte intrínseca de mim. Norah e eu nunca brigamos e
agora que eu parecia estar tão perto de tê-la, aquela merda acontecia? Não, eu não iria aceitar!
— Se você me deixar explicar...
— Explicar o quê? Que, no fundo, você ainda ama Megan e nunca a esqueceu? Ainda me
lembro das vezes em que chegou em casa bêbado, às vezes sendo carregado por Ben, porque
estava sofrendo por ela! Eu mesma já fui te resgatar em um bar porque você mal conseguia
andar! Deveria ter me lembrado disso mais vezes, assim, eu não teria me enganado nem deixaria
que chegasse perto de mim como fez ontem!
Fiquei em choque ao ouvir aquilo, mas não deixei que Norah saísse vencendo naquela
discussão. Seus argumentos eram válidos, principalmente sobre eu ter enchido a cara algumas
vezes após descobrir a traição, mas todo o resto não era. Aproximei-me dela, fechando mais uma
vez a nossa distância.
— Sim, eu fiz mesmo tudo isso, porque gostava de Megan e descobrir que estava sendo
traído daquele jeito me machucou, Norah! O que queria que eu fizesse? Que eu desse pulos de
alegria por ter descoberto que minha namorada trepava com o próprio primo pelas minhas
costas?!
Norah finalmente demonstrou algo diferente de raiva e pareceu arrependida. Seu rosto
estava vermelho de raiva e passou a ficar mais pálido.
— Não. Você tinha o direito de sofrer e ficar com raiva — murmurou.
— Sim, eu tinha, mas isso passou, Norah! Eu não sinto mais nada por Megan, seja dor,
paixão ou raiva, sabe por quê? — A garota apenas balançou a cabeça com os olhos arregalados e
a respiração ofegante. Pisquei para espantar a água da chuva torrencial que queria me impedir de
enxergar e tomei seu rosto em minhas mãos. — Porque nunca cheguei perto de sentir por Megan
o que só sinto por você! Eu amo você, Norah, só você! Será que entende isso? Será que sabe o
que isso significa?
Eu podia jurar que ouvi um soluço escapar da garganta de Norah, mas o barulho da
tempestade me impediu de ter certeza. Ela entreabriu os lábios bonitos e molhados pela chuva,
seus olhos arregalados demais não deixando os meus.
— Não sei exatamente quando o meu amor por você mudou, mas sei com toda certeza que
não posso mais viver sem você, sem o seu toque, seu olhar, seu cheiro, sem a porra do seu beijo
que eu mal consegui provar! Nada mais importa para mim do que você! Eu estou disposto a
enfrentar tudo para tê-la ao meu lado, mas não posso fazer isso se não confiar na minha palavra,
se não acreditar em mim.
Tomei a sua cintura com uma mão e enfiei a outra nos cabelos da sua nuca, puxando-a
completamente de encontro ao meu corpo. Norah precisou se segurar em meus ombros para se
apoiar e pude sentir seu hálito quente tocar os meus lábios.
— Megan não significa mais nada para mim, Norah, e eu não tive a menor pretensão de
beijá-la hoje ou qualquer outro dia depois que descobri que ela me traía. A única mulher capaz
de me deixar louco de desejo, de vontade de beijá-la e de me enfiar bem fundo na sua boceta, é
você!
A minha voz saiu rouca no final e eu não pude mais me segurar. Mandei a calma e a
paciência para a puta que pariu e beijei Norah exatamente do jeito que queria ter feito na noite
passada, firme, intenso, enfiando minha língua na boca dela e implorando para que me
entregasse tudo de si. Para a minha felicidade, a garota não se conteve. Norah me agarrou firme
pela nuca e me beijou com tanta força, que a chuva gelada caindo sobre as nossas cabeças
pareceu se tornar lava derretida em minha pele.
Eu me sentia prestes a pegar fogo no meio daquela estrada deserta e escura, com Norah em
meus braços e o mundo desabando em forma de água.
Seu sabor explodiu com força em meu cérebro e me fez desejar mais. Era ainda melhor do
que eu imaginara, tão viciante quanto pensei que seria, e soube que não conseguiria mais viver
sem o sentir todos os dias.
Um novo trovão explodiu no céu, iluminando tudo e fazendo Norah estremecer. Sem
pensar muito, puxei-a para o meu colo segurando firme em sua bunda deliciosa e caminhei em
direção ao meu carro, abrindo a porta traseira e entrando com ela ainda agarrada a mim.
Coloquei-a deitada sobre o banco e pairei acima do seu corpo, voltando a tomar a sua boca assim
que bati a porta com força atrás de mim.
Finalmente pude ouvir Norah gemer entre os meus lábios e o meu pau pulsou dentro da
calça, endurecendo completamente. O desejo me golpeou com força, me fazendo esquecer de
onde estávamos ou do perigo que corríamos. A única coisa que eu sabia, era que o interior do
carro estava quente o suficiente por conta do aquecedor e que a boca de Norah na minha era a
porra do paraíso.
Mordi seu lábio com um pouco mais de delicadeza depois do meu ataque repentino e segui
uma trilha pelo seu queixo e lateral da mandíbula. Queria sentir o gosto da sua pele. Mais do que
isso, eu queria sentir o gosto da sua boceta, mas por aquilo eu poderia esperar. Norah estremeceu
abaixo do meu corpo, roçando a bocetinha por cima do meu pau coberto pelas roupas quando
lambi o seu pescoço cheiroso e ainda molhado pela chuva, capturando cada gotinha em minha
língua, antes de deixar um chupão em cima da sua jugular.
— Ah, meu Deus, James...
Norah gemeu mais alto, jogando cabeça para trás e me dando acesso a tudo. Sua blusa
tinha um decote arredondado, que deixava à mostra o início da curva dos seus seios, e foi lá onde
enfiei o meu nariz, respirando forte o seu cheiro e lambendo o vale entre os seus peitos até onde
minha língua alcançava. Senti suas unhas em minhas costas por cima da minha jaqueta e foi a
minha vez de estremecer.
— Quero mais — Norah pediu com a voz ofegante, me surpreendendo ao tomar meu rosto
em suas mãos e me puxar novamente em direção à sua boca. — Quero sentir você, James. —
Sua mão direita alcançou a minha e foi a minha vez de gemer quando pressionou minha palma
contra o seu seio. — Toque-me. Faça o que quiser comigo.
— Não me diz isso. — Minha voz saiu mais rouca do que antes, quase irreconhecível, e
meus lábios roçaram os dela no processo. — Não vou tirar a sua virgindade dentro desse carro,
no meio de uma estrada, Norah. Quero estar em um local seguro quando for fazer amor com
você.
Um sorriso se abriu em seus lábios.
— Fazer amor? Então você é romântico, James McHugh?
— Só com você, mas não se engane. — Passei meus lábios pelos dela lentamente e
sussurrei: — Ser romântico não quer dizer que eu não estou louco para conhecer cada detalhe da
sua boceta e te ver delirando sobre o meu pau enquanto goza gostoso para mim.
Norah abriu os lábios para puxar a próxima respiração e eu aproveitei para beijá-la, antes
que eu perdesse a cabeça. Corri minha palma aberta pelo seu seio, sentindo o bico durinho por
baixo da roupa, e soube que precisava ter ao menos o gosto dos seus peitos bonitos em minha
boca. Ergui um pouco o meu tronco, o máximo que dava dentro do carro, e tirei o seu casaco
pesado pela água da chuva. Senti seu ventre tremer sob o meu toque quando comecei a levantar a
sua blusa encharcada e Norah se ergueu apenas o suficiente para que eu conseguisse tirar a roupa
do seu corpo. Surpreendendo-me, levou as mãos às costas e desabotoou o sutiã.
Nunca senti tanta raiva da escuridão como naquele momento! A pouca luz que entrava
pelas janelas não era nada, mas aquilo não pareceu desanimar Norah. Ela segurou a minha mão e
voltou a se deitar no banco, arrastando a ponta dos meus dedos pela sua barriga nua até chegar ao
seu seio direito.
Eu me apoiei com a outra mão em cima da sua cabeça e tomei o peito todo entre os meus
dedos, sentindo como era durinho, com a pele arrepiada. Norah ofegou e ergueu o quadril em
direção ao meu, provavelmente desesperada para sentir o meu toque também no meio das suas
pernas. Eu chegaria lá naquela noite, não com o meu pau, mas com os meus dedos. Só sairia
daquele carro depois de fazer aquela garota gritar o meu nome enquanto gozava.
Acariciei o mamilo sensível com o meu polegar, bem devagar, e desci de boca em direção
ao outro, fazendo Norah gemer de prazer e surpresa. Rodeei-o com a língua e o suguei entre os
meus lábios, mamando firme enquanto acariciava o outro lentamente, confundindo-a com o
ritmo do meu toque e da minha sucção. Norah arranhou o couro da minha jaqueta em desespero e
soltou um choramingo que me fez sorrir conforme eu ia para o outro peito e o tomava em minha
boca.
Meu pau doía de tão duro enquanto eu imaginava tudo o que iria fazer com ela e minha
mente duelava entre o desejo e o choque por tudo aquilo estar mesmo acontecendo. Não era um
sonho, eu estava mesmo com Norah, mamando gostoso no seu peito enquanto descia minha mão
pela sua barriga até levantar a saia que ela usava. Havia uma meia-calça grossa no meio
caminho, própria para aquela época de inverno, mas Norah me ajudou a descer a peça pelas suas
pernas, deixando-a enrolada na altura da sua coxa. Ergui minha cabeça e pairei sobre os seus
lábios, sentindo sua respiração e a minha se encontrarem.
— Ainda quer isso? — Precisei perguntar, mesmo desconfiando de qual seria a sua
resposta.
— Sim. Eu quero tudo com você, James. — Norah passou a mão pelo meu rosto e eu quis
muito enxergar os seus olhos cor de mel naquele momento.
— Tudo?
— Tudo.
Eu não queria estragar aquele momento, mas a pergunta escapou da minha boca sem que
eu tivesse qualquer controle:
— E o Mason?
— Nunca cheguei perto de sentir por Mason o que só sinto por você — Norah repetiu as
minhas palavras e eu fechei os olhos por um momento, encostando minha testa na dela. — Eu te
amo. Sempre amei você, James. Só você.
Eu não fazia ideia do que tinha feito para merecer aquilo — para merecer aquela garota
—, mas eu agradecia. Porra, eu agradecia e venceria qualquer guerra para tê-la comigo.
A forma com que beijei Norah foi tão intensa e feroz como o beijo que trocamos do lado
de fora do carro, mas teve um sabor diferente, especial. Eu me senti um sortudo do caralho por
tê-la só para mim, por saber que Norah estava tão apaixonada por mim quanto eu por ela. Ainda
com a sua boca na minha, toquei o meio das suas coxas e subi até a virilha, encontrando a
calcinha de renda que cobria a bocetinha intocada. Estava encharcada e eu sabia que não era
apenas pela água da chuva. Quando a coloquei de lado, tive a certeza.
A boceta de Norah estava quente e toda babada para mim, desde os lábios até o clitóris
inchado e sensível, que pulsou contra o meu dedo quando o toquei. A garota gemeu de encontro
a minha boca, desesperada, e tentou abrir mais as pernas, me dando todo acesso possível. Não a
desapontei. Acariciei a bocetinha toda com a minha mão, que parecia ser enorme comparada a
ela, e afastei ainda mais os pequenos e grandes lábios, tocando-os para cima e para baixo com os
meus dedos médio e indicador abertos como se fosse uma tesoura.
Norah mordeu a minha boca e desceu uma mão até a minha cintura, alcançando o meu pau
duro por cima da calça jeans. Ela apenas o massageou e choramingou em meus lábios enquanto
eu gemia rouco e cheio de tesão, me segurando para não gozar.
— James, por favor, me faz gozar...
Ouvir Norah implorar para que lhe desse um orgasmo com certeza entrou para o top 1 das
coisas que eu mais amava escutar. Tomei sua boca na minha em um novo beijo e parei de
torturá-la, finalmente acariciando o seu clitóris durinho com os meus dedos. Meu pau pulsou de
encontro à sua mão, louco para sair do cativeiro da calça, mas eu o ignorei, focado em minha
garota e nos seus gemidos, no rebolar lento do seu quadril e na forma como aquela bocetinha
babava gostoso para mim, cheia de tesão.
Arrisquei sondar a sua entrada e enfiei o dedo indicador, ouvindo Norah gemer mais alto.
Ela não reclamou de dor e eu continuei. Comecei a foder a sua boceta por dentro e por fora, meu
dedo em seu interior escorregadio e muito apertado, e a minha palma cuidando do clitóris
sensível.
A garota largou a minha boca para gemer mais alto e eu senti que estava muito perto de
gozar quando sua bocetinha começou a sofrer espasmos, seu canal vaginal sugando meu dedo
para dentro enquanto o grelinho pulsava bastante. Acelerei meus movimentos, sabendo que era
disso que Norah precisava, e ela explodiu em um orgasmo poderoso, gemendo alto o meu nome,
rebolando contra a minha mão e meu dedo, melando a minha pele com o seu tesão.
Seus dedos finos apertaram o meu pau por cima da calça conforme perdia o controle em
meio ao orgasmo e foi a minha vez de gemer, sentindo um arrepio descer pela base da minha
coluna e se concentrar em minhas bolas. Fiquei teso, ainda mais duro sob o jeans, e gemi rouco
de encontro ao pescoço de Norah quando simplesmente perdi a batalha e me entreguei ao
orgasmo, gozando forte dentro da calça como a porra de um adolescente.
As palavras de Logan voltaram com tudo à minha mente e, por mais que fosse estranho
pra caralho pensar no meu amigo naquele momento, principalmente porque era a sua irmã que
estava debaixo de mim, eu não consegui controlar a risada silenciosa que explodiu no fundo da
minha garganta enquanto ainda sentia os tremores causados pelo orgasmo.
“Você ainda vai encontrar alguma garota que vai te deixar com tanto tesão, que também
vai gozar na calça.”
Eu duvidei, mas Logan estava certo. Eu encontrei a garota e ela era a mulher da minha
vida. Por Norah, eu gozaria na calça quantas vezes fossem necessárias.
Eu a beijei firme, saindo do seu interior e tocando apenas no clitóris, mas Norah riu
baixinho e tentou fechar as pernas. Não obteve muito sucesso, afinal, eu estava entre elas, mas
entendi que estava sensível e deixei a sua boca antes de tirar a mão da sua boceta melada. Não
sabia se Norah conseguia me enxergar direito em meio à penumbra, por isso, fiz questão de
gemer enquanto levava meus dedos à minha boca e sentia o seu sabor único na ponta da minha
língua. Meu pau sofreu um espasmo terrível dentro da calça, como se eu não tivesse acabado de
gozar.
— Porra, como você é deliciosa — murmurei com a voz grossa e me abaixei sobre ela. —
Sinta. — Beijei a sua boca e Norah gemeu ao sentir o seu gosto mais íntimo em minha língua.
Afastei-me o suficiente para sussurrar: — Mal posso esperar para provar tudo isso de novo com a
minha boca bem enterrada no meio da sua boceta.
— Minha nossa, James...
— Vou passar minha língua lentamente por cada dobrinha antes de mamar bem gostoso no
seu clitóris durinho — murmurei com a boca roçando na dela.
Norah apertou mais um pouco o meu pau e eu gemi, já imaginando tudo, querendo
começar naquele instante, mas sabia que não podia. Já havíamos corrido risco demais, por isso,
dei um beijo em sua boca e tirei a sua mão do meu pau.
— Não, James...
— Precisamos ir — falei, tateando pelo chão do carro até achar o seu casaco. — Já
passamos tempo demais aqui e você precisa tirar essa roupa molhada e tomar um banho quente.
— Mas você... Você não gozou.
Eu sorri com a sua preocupação e dei um beijo estalado em seus lábios antes de me erguer
e ajudá-la a se sentar no banco. Estiquei-me e acendi a luz no painel do carro, observando seu
rosto vermelho e os lábios inchados pelos meus beijos.
— Acha mesmo que não gozei?
Os olhos de Norah desceram até a altura do meu quadril. Eu sabia que o fato de a calça
estar molhada pela água da chuva não permitia que ela visse a mancha de sêmen no tecido, mas
seus olhos brilharam mesmo assim conforme passava a língua pelos lábios.
— Você gozou?
— Pra caralho. — Inclinei-me levemente sobre ela e rocei minha boca em seus lábios. —
Sabe quando foi a última vez que gozei na calça, Norah?
— Não. — Sua voz saiu em um sussurro. — Mas também não sei se quero saber. — Sua
honestidade me arrancou uma risada.
— Eu era um adolescente no início da puberdade e descobri que passar a mão por cima do
meu pau duro me causava uma sensação muito boa. Só depois eu entendi que era um orgasmo e
que deveria gozar fora da calça, assim, a sujeira se tornava menor.
Norah riu baixinho e afastou um pouco o rosto do meu.
— Então, não foi por causa de uma garota?
— Não, nunca foi por causa de uma garota. Só você tem esse poder sobre mim.
Eu tomei a sua boca na minha em um beijo que me deixou de pau duro mais uma vez e
decidi que era hora de irmos para casa.
Ajudei-a a vestir o casaco e o fechei até o seu pescoço. Queria ter alguma peça de roupa
seca por ali, mas não tinha nenhuma, infelizmente. Pulamos para os bancos da frente e a puxei
para mais um beijo antes de dar partida no carro e sair dali.
Eu me sentia uma pedra de gelo conforme corria com James para dentro de casa, mas
mesmo tremendo da cabeça aos pés, um sorriso de euforia — e incredulidade, precisava
confessar —, se recusava a sair do meu rosto. Caía uma garoa fina e muito gelada agora, mas
logo ficamos protegidos pelo telhado da nossa casa enquanto James abria a porta. Ele me
permitiu entrar primeiro e não paramos em qualquer outro cômodo, fomos direto para o segundo
pavimento e entramos em meu quarto.
— Tire logo essa roupa molhada e tome um banho quente, ok? — pediu o jogador depois
de me deixar no banheiro.
Sim, eu precisava mesmo tirar aquela roupa e ir para debaixo do chuveiro, mas meus olhos
ávidos por James desceram lentamente pelo seu corpo alto e forte, parando na ereção que ainda
marcava a sua calça jeans escura. Ela parecia se recusar a ceder, mesmo depois de James afirmar
que tinha gozado junto comigo. Observá-la me encheu de ideias e me deixou excitada mais uma
vez. Antes que o jogador pudesse sair do meu banheiro, caminhei em sua direção, observando o
sorrisinho no canto dos seus lábios. Só parei quando as suas costas se encontraram com a parede.
— Quero algo antes de tomar banho.
— É mesmo? — James me puxou em sua direção pela cintura, enfiando a outra mão em
meus cabelos. — O quê?
Ele sabia o quê, não era bobo, mas queria que eu falasse. Eu estava surpresa com a minha
desenvoltura e coragem. Só havia sido tocada da forma que James fizera comigo por um garoto
no final do ensino médio e foi horrível. Ele parecia não saber o que estava fazendo e eu também
não sabia como o ensinar. Acreditava que havia ido bem na punheta, porque ele gozou, mas não
sabia se eu era realmente boa naquilo ou se o fato de estarmos escondidos dentro do banheiro, no
meio do baile de formatura, o ajudou a chegar lá mais rápido para não sermos pegos.
O fato era que, depois daquele dia, nunca mais tive um momento íntimo com um homem
até hoje à noite no carro com James. Sempre que eu pensava em sexo, me sentia tímida, e tinha
certeza de que não teria coragem de abrir a boca para externar o que eu sentia, mas com James eu
me senti tão segura, que em momento algum pensei em inibir os meus sentimentos ou controlar o
meu desejo. Eu pedi para que ele me tocasse, para que me fizesse gozar, não tive vergonha de me
entregar e mesmo agora, em um ambiente iluminado, vendo os seus olhos sobre mim, eu ainda
me sentia corajosa. Por isso, falei:
— Fazer você gozar fora da calça dessa vez.
Nunca pensei que conseguiria fazer um homem do tamanho e da força de James
estremecer, mas foi o que aconteceu. Os músculos do peitoral do jogador sofreram um abalo
sobre as minhas mãos e um gemido baixo e rouco escapou do fundo da sua garganta quando
comecei a descer meus dedos na direção da sua calça. James não me deteve. Ele me olhava como
se eu fosse uma deusa, quase como se não pudesse acreditar que aquilo estava mesmo
acontecendo, espelhando as minhas emoções.
Eu tiraria um tempo antes de dormir para pensar em tudo o que acontecera antes de ele me
pegar no colo e me levar para o seu carro. Agora, eu só queria desabotoar o seu jeans e tocá-lo.
Olhei para James quando cheguei à sua calça e ele passou a língua pelos lábios antes de me
responder.
— Faça isso. Faça o que quiser comigo, Norah. Sou todo seu. — Mordi o lábio com força,
ficando excitada novamente, e James pediu antes que eu prosseguisse: — Tire o seu casaco,
quero ver os seus peitos bonitos enquanto toca punheta para mim.
Não pensei, simplesmente tirei as mãos dele e comecei a desabotoar meu casaco, dando-
lhe um sorriso.
— Você não sabe se eles são bonitos, não conseguiu ver nada dentro do carro.
— Eu tenho certeza de que eles são tão bonitos e sensuais quanto você.
Era por isso que eu não me sentia insegura com James. Ele afirmava com palavras o que
eu via em seus olhos, me dando a certeza de que não estava mentindo para me agradar. Empurrei
o casaco dos meus ombros e senti meus mamilos enrijecerem ainda mais quando fiquei nua da
cintura para cima. A temperatura dentro de casa estava muito agradável por conta do aquecedor,
portanto, não era por causa do frio que meus seios estavam tão sensíveis.
Eu sentia os bicos mais inchados do que o normal, culpa do que James fizera comigo no
carro. Como se não pudesse se conter, o jogador se aproximou e tomou meus seios em suas
mãos, me fazendo fechar os olhos por um segundo por conta do golpe de prazer que irradiou pelo
meu corpo e se espalhou pela minha boceta.
— Lembra do que eu te disse ontem enquanto tirava as fotos? — James perguntou
baixinho, me impelindo a abrir os olhos e encará-lo. Ele abaixou o rosto, até o seu nariz tocar o
meu.
— Você... disse muitas coisas — murmurei com a respiração ofegante. James acariciou os
meus mamilos com o polegar e precisei apertar as coxas uma contra a outra.
— Sim, mas teve algo em específico que fiz questão de afirmar. — Seus lábios fizeram
uma trilha pela minha bochecha até a minha orelha direita. — Eu disse que você é a mulher mais
linda que meus olhos já viram e eu não menti, Norah. — Seus olhos voltaram a se encontrar com
os meus e vi muitos sentimentos brilhando em suas irises castanhas. — Ter você assim na minha
frente é um privilégio, um que não vou desperdiçar.
Minha garganta pinicou e lágrimas quase vieram aos meus olhos, mas eu me recusava a
chorar em um momento como aquele, por isso, segurei James pelo pescoço e tomei a sua boca
pela primeira vez na vida. Aquele beijo sensual e gostoso foi iniciativa minha e, meu Deus, foi
perfeito. Tudo entre nós dois era perfeito. James me permitiu tirar a sua camisa molhada e me
puxou com tudo para dentro dos seus braços, fazendo meus mamilos roçarem em sua pele lisa,
nossos corações batendo forte e perto demais um do outro.
Nosso beijo foi longo e me deixou toda excitada. Eu sentia que poderia gozar de novo com
apenas um toque de James entre as minhas pernas, mas queria dar prazer a ele naquele momento
e me afastei, voltando a tocar no fecho do seu jeans. Seu pau parecia mais marcado no tecido,
como se aquilo fosse possível, e me vi ansiosa quando terminei de desabotoar e descer o zíper da
sua calça, até revelar o início da sua cueca boxer cinza também úmida pela chuva. Ergui meus
olhos e James apenas sorriu conforme tocava novamente em meus seios.
— Sou todo seu, Norah — repetiu com a voz pingando desejo.
Eu acreditei nele. Acreditei em James ainda sob a tempestade e sabia que, após aquela
noite, nossa vida nunca mais seria a mesma.
Arrastei minhas unhas pela sua barriga trincada e enfiei a mão direita em sua cueca,
arregalando um pouco os olhos ao tocar a sua ereção toda melada e descobrir que, assim como
acontecia quando eu tocava em seus pulsos, meus dedos não se encontravam em volta do
membro grosso. Puxei seu pau para fora e lambi os lábios ao observá-lo. A pele escura e sedosa
envolvia o membro grosso e coberto de veias, estendendo-se pelo comprimento longo. A cabeça
era bem-desenhada e bruta, em um vermelho muito forte no tom cereja, e expelia uma gota de
lubrificação, que começou a escorrer lentamente pela sua extensão.
James não mentiu. Ele gozou mesmo no carro, seu pau ainda estava melado pelo orgasmo
recente e eu senti minha vagina pulsar e ficar ainda mais lubrificada.
Eu fiquei sem palavras por um momento. Não tinha visto muitos paus na minha vida —
apenas um antes de James e outros pela internet —, mas com certeza o do wide receiver era o
mais bonito e sensual de todos. Eu senti vontade de simplesmente me ajoelhar e adorá-lo com a
minha boca, mas senti medo de fazer algo errado, portanto, o envolvi com a minha mão e o
toquei lentamente, sentindo a pele sedosa e quente. Era como seda envolvendo aço, suavidade e
dureza juntas.
— Porra... — James jogou a cabeça para trás enquanto gemia e empurrou o quadril em
minha direção. Sua cabeça melada tocou a minha barriga nua e eu senti a minha boceta babar de
encontro à calcinha. Meu clitóris doía, sensível e excitado.
— Você é lindo — afirmei, dando um beijo em seu peito bem na altura do coração. Seu
pau pulsou em minha mão, me fazendo rir, e James segurou meu cabelo perto da nuca com uma
mão até ter meus olhos nos seus mais uma vez.
— E você é perfeita pra caralho.
— Não sou. Nem sei direito o que estou fazendo.
— Norah, não tem como você fazer nada errado. Estou me segurando para não gozar
apenas por saber que sua mão está no meu pau. — James pareceu verdadeiro e eu acelerei um
pouco mais o movimento, antes de passar o polegar pela sua glande e espalhar a lubrificação que
escorria pela sua extensão. O jogador gemeu mais uma vez. — Você sabe muito bem o que está
fazendo.
— Estou seguindo os meus instintos. — Fui sincera e James sorriu.
— Então eu também vou seguir os meus.
Sua boca cobriu a minha e James nos virou de repente, fazendo as minhas costas ficarem
contra a parede. Gemi em sua boca ao sentir suas mãos descerem pela lateral do meu corpo até a
minha saia. Ele a ergueu e encontrou a minha meia-calça, descendo-a pelas minhas coxas junto
com a calcinha daquela vez. Senti seus dedos subindo lentamente pela parte interna da minha
coxa, encontrarem a virilha e seguirem por entre os meus lábios sensíveis até o meu clitóris.
Gememos juntos daquela vez e ter suas mãos entre as minhas pernas me impeliu a
aumentar a velocidade do meu toque em seu pau. Usei a outra mão para tocar as suas bolas
pesadas e James mordeu meu lábio, chamando meu nome baixinho antes de abaixar a cabeça em
direção aos meus seios e meter um mamilo na boca. Não consegui fechar os olhos, mesmo os
sentindo pesados pelo prazer, pois queria ver James fazer aquilo. E eu vi. Ele me olhou conforme
lambia meu bico duro e inchado e enfiava um dedo em minha boceta, até o fundo.
Eu não sentia dor, apenas um prazer alarmante, que se espalhava pela minha vagina e
atingia cada ponto do meu corpo. Quando James mordiscou meu mamilo, eu vi estrelas.
— Gostosa.
Sua voz saiu em um grunhido conforme ia para o outro peito e usava o polegar para
massagear meu clitóris em movimentos circulares e intensos. Eu empurrei meu quadril em sua
direção e James acelerou os movimentos do dedo em meu interior.
— Rebola para mim, Norah... — O jogador subiu com os lábios pelo meu pescoço até
parar em minha boca e eu obedeci. — Imagine que é o meu pau dentro de você, te comendo bem
gostoso, bem enterrado no seu interior enquanto você rebola.
— Ah, James...
Fechei os olhos, sem suportar o prazer, visualizando tudo o que ele me dizia. Eu quase
podia sentir a pressão da cabeça bruta do seu pau pedindo passagem em meu interior e me
enlouquecendo de desejo. Precisei segurar a sua ereção com as minhas duas mãos para não
perder o ritmo da punheta. O membro grosso e enorme pulsou com força e James movimentou o
quadril em minha direção mais uma vez.
— Imagine, Norah, ele indo até o fundo e voltando, arrombando essa bocetinha pequena e
delicada que você tem — sussurrou enquanto me comia com mais força com o dedo, indo até o
fundo e voltando, seu polegar não deixando meu clitóris em paz. — Está tão ansiosa quanto eu
para que isso aconteça?
Abri os olhos e encarei o sorriso safado em seus lábios. Um gemido rouco escapou por
eles quando eu aumentei a velocidade da punheta, sentindo seu pau enrijecer ainda mais, ficar
duro como uma barra de ferro.
— Sim, eu estou ansiosa. Quero viver tudo com você, James.
— E você vai — garantiu, me segundo mais firme pelos cabelos perto da nuca. —
Estamos apenas começando, Norah.
James selou a promessa com um beijo e eu me perdi na sensação dos seus lábios nos
meus, dos seus dedos em minha boceta, me comendo, tocando meu clitóris inchado e sensível, a
velocidade aumentando gradativamente e minando a minha consciência. Deixei de ser racional e
me entreguei a James, tocando seu pau com mais força, sentindo-o melar a minha barriga e
pulsar em minhas mãos.
Nós gememos juntos e o orgasmo me pegou de repente, me fazendo perder a força nas
pernas. James tirou a mão dos meus cabelos e me agarrou pela cintura, me mantendo firme entre
o seu corpo e a parede enquanto eu gozava em sua mão, meu canal vaginal sugando seu dedo
para dentro de mim, meu clitóris pulsando sem parar. James não parou de me beijar e ter a sua
língua na minha só potencializou a sensação enlouquecedora do orgasmo.
Quando a onda avassaladora passou, eu mordi seu lábio inferior e me afastei, olhando para
baixo. A glande de James estava mais inchada e lubrificada, e sua voz rouca soou em meu
ouvido assim que ele terminou de mordiscar o lóbulo da minha orelha.
— Vou gozar, Norah.
Minha boceta sofreu um espasmo como se eu não tivesse acabado de ter um orgasmo, e
James gemeu, sentindo tudo, pois ainda mantinha o dedo bem enterrado dentro de mim. Ele
encostou a testa na minha e lambeu os meus lábios, movimentando o quadril, gemendo grave e
baixinho, até meu nome sair mais alto dos seus lábios e o primeiro jato do seu esperma molhar as
minhas mãos e barriga.
Eu gemi com ele, surpresa e cheia de desejo, e não pude piscar enquanto James gozava e
gemia rouco, roçando a glande em minha barriga e me cobrindo com a sua porra grossa,
branquinha e quente. Ele não parou. Permaneceu duro enquanto jorrava, e tomou a minha boca
na sua quando terminou, me dando um beijo firme com muita língua e mordidinhas.
Eu continuei a tocá-lo por mais um tempo, assim como James permaneceu com a mão
entre as minhas pernas. Não queria me afastar dele, mas sabia que precisava. Logan chegaria em
breve e sabia que James e eu tínhamos muita coisa para conversar. Ele deixou a minha boca e
encostou a testa na minha, ofegante e suado, se recuperando do orgasmo assim como eu.
— Vou terminar tudo com Mason — soltei de repente, ainda com o seu pau em minhas
mãos e seu dedo enterrado em minha boceta.
James afastou o rosto do meu e o alívio que vi em sua expressão me tocou profundamente.
— Isso significa que você acredita em mim? Sobre Megan?
— Se eu não acreditasse, não estaria com você agora. — James soltou uma respiração
profunda assim que me calei. — Sempre confiei em você, James, só fiquei insegura e com
ciúmes. Pensei que eu tinha entendido tudo errado sobre os seus sentimentos por mim.
James tirou lentamente o dedo do meu interior, me fazendo gemer baixinho, pois estava
sensível, e segurou a minha cintura com a mão que antes estava entre as minhas pernas.
— Eu entendo, nós não tínhamos conversado ainda, eu esperava contar tudo para você no
restaurante, mas Megan surgiu de repente um pouco antes de você chegar. Ela me mandou uma
mensagem essa semana por um número desconhecido, mas eu bloqueei, e hoje à noite, não quis
ouvir o que tinha para me dizer. Ela tocou meu rosto na tentativa de me fazer ouvi-la, mas eu não
quero mais nada com Megan, Norah. Nunca quis desde aquela noite em que rompi tudo com ela.
— Eu sei disso. — Subi minhas mãos pelo seu corpo até tocar o seu peitoral. — Como ela
sabia que você estava no restaurante?
— Não faço ideia, mas o pai dela é o prefeito da cidade e tem muitos seguranças, talvez
ela tenha colocado um deles para seguir os meus passos.
— Isso é muito preocupante, James. O que acha que ela quer com você depois de todo
esse tempo?
Megan e James estavam separados há quase um ano e, desde então, ela nunca mais tentou
entrar em contato com ele, nem mesmo nas primeiras semanas após o término para tentar uma
reconciliação.
— Não faço ideia, mas também não tenho a menor a vontade de descobrir. Se ela aparecer
no meu caminho de novo, vou denunciá-la para a polícia. Talvez Megan pense que eu não vou
fazer nada apenas porque aceitei manter segredo sobre a sua traição e por ser filha de quem é,
mas está enganada. Minha condição para não colocar a boca no mundo naquela época,
justamente quando o seu pai estava prestes a ser eleito, foi a promessa dela de se manter longe do
meu caminho. Se ela quebrar isso, eu não serei tão condescendente de novo.
— Sim, você está certo. Ela precisa parar com essa perseguição.
James concordou com a cabeça e tocou em meu rosto, olhando bem fundo dentro dos
meus olhos.
— Só você importa para mim, Norah, nada mais. Sei que temos um caminho a percorrer e
que não será fácil por conta do seu irmão, mas não vou desistir de você.
— Também não vou desistir de você — garanti, mesmo que sentisse medo da reação de
Logan e que a amizade entre ele e James corresse perigo.
— Eu te amo — sussurrou o jogador e eu suspirei, ainda sem acreditar que o seu amor era
como o meu.
— Eu te amo — retribuí a declaração e o beijei.
Marquei um encontro com Mason na cafeteria da faculdade, mas ele insistiu para que
almoçássemos juntos e decidi aceitar. Sentia que devia aquilo a ele, uma conversa justa e não um
encontro rápido em um café. Eu estava triste por saber que provavelmente iria magoá-lo, mas se
antes eu já sentia que precisava colocar um ponto final em nosso envolvimento, agora que James
e eu nos declaramos um para o outro, eu tinha certeza.
Pelo menos ter passado aquela manhã com John e contado tudo para ele me ajudou a ficar
mais calma. Meu amigo só faltou gritar no meio do campus que sabia que tinha razão desde o
início sobre James e eu, me arrancando uma série de risadinhas, e me acalmou sobre Mason. O
fato de não termos começado a namorar me deixava menos aflita. Teria sido bem pior se o tight
end tivesse me feito o pedido oficial.
Após a primeira reunião de elenco com a Sra. O’Neal, eu fui direto para o restaurante em
um dos hotéis do pai de Mason. O maître me levou até a mesa onde o jogador já esperava por
mim. O sorriso alegre que Mason me deu ao me ver me deixou com um aperto no peito, que
piorou quando eu esquivei o rosto e não permiti que beijasse a minha boca, algo que já estava
acostumado a fazer todas as vezes que nos encontrávamos. Nós nos sentamos de frente para o
outro e observei a confusão em sua expressão.
— Aconteceu alguma coisa?
Esperei que o garçom deixasse o cardápio conosco e se afastasse antes de responder:
— Preciso ter uma conversa séria com você, Mason.
— Norah, se for sobre a nossa última conversa, preciso que você me deixe falar primeiro.
— Pensei em negar, afinal, seria inútil ouvir qualquer coisa que ele tivesse para me dizer, mas
Mason tocou a minha mão sobre a mesa e insistiu: — Por favor.
Fiquei sem graça de negar e acabei concordando enquanto afastava minha mão da dele,
que tentava a todo custo entrelaçar os nossos dedos.
— Tudo bem.
— Eu sinto muito pelo que falei para você naquelas mensagens, Norah. Sei que me excedi
e fui um idiota ao sentir ciúmes de James. Vocês são amigos há anos e eu não tenho o direito de
desconfiar da relação que há entre ele e você, mas acabei perdendo a cabeça e sendo mais
passional do que racional. Gosto muito de você e não quero colocar em risco o que temos por
conta de algo tão bobo. Você pode me desculpar?
Eu fiquei um tempo em silêncio, sem saber ao certo como responder aquilo, porque, no
fundo, Mason tinha razão em sentir ciúmes. Talvez, assim como John, ele conseguisse enxergar
algo entre mim e James que eu me obrigava a ignorar e aquilo me deixou ainda mais culpada. Se
eu não tivesse insistido em mentir para mim mesma, jamais teria me relacionado com Mason e
não me sentiria uma babaca agora por estar prestes a terminar tudo com ele.
— Não há nada para desculpar, Mason.
— Claro que há, eu fui um imbecil naquelas mensagens, Norah, não confiei em sua
palavra, mesmo me garantindo diversas vezes que só existe amizade entre você e James.
Existia. Tudo mudou desde sábado à noite, mas eu não contaria aquilo para Mason.
Terminaria com ele deixando meu envolvimento com James de fora da nossa conversa, primeiro,
porque não queria magoar o jogador e, segundo, porque James e eu estávamos juntos em segredo
ainda.
— Mason, está tudo bem, eu juro.
— Tem certeza?
— Sim, eu tenho.
— Que bom, Norah! — Mason sorriu e voltou a tentar pegar a minha mão, mas fui mais
rápida daquela vez e pousei as duas sobre o meu colo. Ele franziu o cenho. — Se está mesmo
tudo bem, por que não quer que eu toque em você?
— Porque, como eu disse antes, nós precisamos conversar.
O garçom voltou a se aproximar para anotar os nossos pedidos, mas Mason o mandou se
afastar apenas com um gesto arrogante de mão. O homem saiu em silêncio e eu fiquei em choque
ao observar a sua falta de educação.
— Sobre o que quer conversar?
Fiquei um pouco irritada. Aquele não era o jeito correto de tratar qualquer pessoa. Respirei
fundo para não me deixar ser influenciada por aquele sentimento, mas ele me ajudou a ir direto
ao ponto.
— Não podemos mais ficar juntos.
Observei atentamente a reação de Mason e esperei que me dissesse alguma coisa, mas ele
ficou por um tempo em silêncio, apenas me olhando com as sobrancelhas ainda franzidas. Não
consegui identificar em sua expressão o que ele pensava e, por mais que seus olhos continuassem
tão azuis quanto o céu em um dia de verão, eles não me passaram nada.
— O quê? — Foi tudo o que me perguntou.
— Não podemos mais...
— Deixe-me reformular a minha pergunta — pediu conforme apoiava os cotovelos sobre a
mesa e se aproximava de mim. — Por quê? Acho que eu tenho o direito de saber o motivo,
certo?
— Claro que sim e eu vou explicar.
— Ótimo. — Ele voltou a se recostar na cadeira e me deu um olhar sério, quase tão
arrogante quanto o gesto de mão para o garçom. — Estou curioso para ouvir.
— Sinto que estamos indo rápido demais e meus sentimentos parecem não estar
acompanhando o que vem acontecendo entre nós dois, Mason. O que sinto por você não é forte o
suficiente para que comecemos um relacionamento sério.
Era o melhor que eu podia fazer, pois não queria ser uma estúpida com Mason e afirmar
com todas as letras que eu estava bem longe de estar apaixonada por ele. Mais um tempo se
passou e percebi como o jogador parecia diferente naquele dia. Geralmente, Mason era efusivo,
falava muito e era compreensivo. Seu jeito calado e quase enigmático estava me pegando de
surpresa.
— E você descobriu tudo isso nesses três dias em que ficamos afastados?
— Foi o único momento que eu tive para pensar.
— Para pensar sozinha ou com a ajuda de alguém?
— O quê?
— Eu acredito que as pessoas à nossa volta influenciam muito a nossa forma de pensar e
agir. Por que você acha que casais apaixonados não conseguem ficar longe um do outro, Norah?
Porque o fato de estarem juntos faz com que o sentimento ganhe força. — Mason voltou a apoiar
os cotovelos na mesa e me deu um sorriso parecido com todos os outros que sempre me dava,
gentil e amável. — Acredito que você está confusa, linda, justamente por estarmos afastados
nesses últimos dias. Vamos fazer o seguinte. Meu pai vai passar a semana na cidade e seu jatinho
estará disponível durante o final de semana. Que tal viajarmos juntos? Tenho certeza de que essa
dúvida sobre o que sente por mim vai passar rapidinho.
Eu pisquei, me sentindo confusa de verdade ao ouvir aquele discurso sem sentido de
Mason. Ele me olhava como se tivesse acabado de ter a melhor ideia do século e eu me sentia
incrédula, processando suas palavras em minha cabeça. Percebi que eu deveria ser mais clara
com ele.
— Mason, acho que não me entendeu. Eu não estou confusa.
— Sim, você está.
— Não, Mason. Eu simplesmente não estou apaixonada por você.
O sorriso sumiu gradativamente dos seus lábios, seus olhos deixaram aquele brilho
perspicaz de lado. Eu me senti culpada, mas, ao mesmo tempo, um peso saiu das minhas costas.
Eu não precisava mais enganar a mim mesma em relação a Mason.
— Está mentindo — Mason acusou. Não foi uma pergunta, mas uma afirmação.
— Por que eu mentiria sobre isso?
— Não sei, mas percebe que não faz sentido, Norah? Estamos saindo juntos há semanas,
eu mal consigo tirar você da minha cabeça, falei para mim mesmo que eu poderia conciliar o
futebol com o nosso relacionamento, passei por cima das regras do seu irmão para poder ficar
com você e agora vira para mim, do nada, e diz que não sente o mesmo que eu? Isso não pode
ser verdade!
Eu senti o sangue ser drenado do meu rosto aos poucos, ficando realmente arrependida por
ter entrado no caminho de Mason, apesar de saber que eu não fiz nada de forma proposital.
Acreditei de verdade que eu poderia me apaixonar por ele, que o sentimento se tornaria real em
meu peito conforme o tempo fosse passando, mas simplesmente não aconteceu.
— Mason, eu sinto muito, de verdade. Nunca quis magoar você e é justamente por isso
que estou aqui agora, sendo sincera sobre os meus sentimentos antes de darmos o próximo passo
sobre o que estava acontecendo entre nós dois.
— “Estava acontecendo entre nós dois”. — Ele soltou uma risadinha amarga e jogou o
guardanapo de pano em cima da mesa com frustração. — Você já está falando no passado,
Norah. Quer mesmo que eu acredite que se importa com os meus sentimentos?
— É claro que eu me importo, Mason. Você é especial para mim. Sei que é um cara
maravilhoso, sempre me tratou bem e foi incrível comigo...
— Mesmo assim, você não conseguiu se apaixonar por mim.
— Ninguém manda no coração, Mason.
— E se mandasse, você escolheria se apaixonar por mim? — Eu fiquei em silêncio,
porque sabia que Mason não gostaria da minha resposta. Apesar disso, ele entendeu muito bem
qual seria e riu mais uma vez. — Eu devo ser mesmo um idiota.
— Não, você não é. — Insisti e, daquela vez, fui eu que toquei a sua mão. — Eu apenas
não sou a garota certa para você, Mason. Tenho certeza de que ainda vai encontrar alguém
especial.
— Não quero outra pessoa, Norah, eu quero você! — Ele entrelaçou nossos dedos com
uma força desnecessária, desesperado. — Por favor, reconsidere. Me dê mais uma chance. Nós
vamos no seu ritmo, prometo que nunca mais irei insistir para que passemos a noite juntos,
esqueça meu convite sobre a viagem de final de semana, esqueça tudo de idiota que já fiz e aceite
ficar comigo de novo, por favor.
— Eu não posso — murmurei, puxando minha mão de volta. Mason trincou a mandíbula e
fechou as mãos em punhos.
— É por causa de James, não é? Eu nunca me enganei, você realmente gosta dele.
— Mason...
Eu ainda tentei negar, mas Mason ergueu a mão, fazendo eu me calar.
— Não precisa mentir ou assumir nada, Norah, eu já sei. Qualquer idiota que observasse
com um pouquinho mais de atenção, perceberia a verdade, mas eu quis me enganar.
— Você está errado.
— Não estou. — Mason se ergueu de repente e o barulho da cadeira se arrastando no chão
ecoou pelo restaurante chique. — Seu irmão permitiu que eu me aproximasse porque eu não era
nada para ele, mas James? — Mason quase sorriu ao sacodir a cabeça. — Acho difícil que Logan
entenda que seu melhor amigo está apaixonado pela sua irmãzinha.
Pegando-me completamente de surpresa, Mason saiu de trás da mesa e deu a volta até
parar ao meu lado. Deixou um beijo em minha bochecha e sussurrou em meu ouvido:
— Boa sorte, Norah, você vai precisar.
O jogador saiu e me deixou sozinha no meio do restaurante, completamente atônita e, se
fosse sincera comigo mesmo, com medo. Porque, no fundo, Mason tinha razão em cada palavra
que disse.

Era difícil olhar para Logan sabendo que eu estava o enganando de novo — daquela vez,
de um jeito ainda mais sério e profundo. Nem mesmo para Benjamin eu quis contar que estava
me envolvendo com Norah, porque decidimos esperar um pouco mais para conversar com o seu
irmão e eu não queria que Ben se sentisse culpado por estar nos acobertando.
Eu queria conversar com Logan e contar tudo, assim como Norah, mas nós dois chegamos
a um acordo tácito de que queríamos aproveitar, pelo menos um pouco, aquela fase de mudança
do nosso relacionamento antes que a bomba explodisse e tivéssemos que lidar com o
temperamento explosivo do quarterback. No entanto, eu sabia que não conseguiria manter
segredo por muito tempo, porque Logan era meu melhor amigo e esconder algo tão sério dele me
dava vontade de cortar meus próprios pulsos.
Aquela semana foi difícil. Eu estava dividido entre ser um filho da puta com o meu melhor
amigo e tentar controlar o desejo que sentia pela minha garota. Estar no mesmo cômodo que
Norah e não poder beijar a sua boca ou tocá-la de forma íntima estava acabando comigo.
Aproveitávamos qualquer momento sozinhos para curtir um pouco mais o outro, mas não
chegamos tão longe quanto nós dois queríamos.
Eu sentia que tudo mudaria quando fôssemos juntos para a minha casa em Aspen, mas a
culpa por querer viajar com Norah por um motivo além do que apenas tirar fotos suas para o
trabalho da faculdade, estava me matando. Eu sabia que não podia desabafar com Benjamin e,
fora ele, eu confiava apenas em Logan para falar sobre a minha vida privada — além de Norah,
que era o centro de toda aquela questão —, e precisava muito conversar com alguém e colocar
todas as minhas dúvidas para fora. Por isso, fui atrás da minha avó.
Saí do treino de campo naquela quarta-feira gelada e fui direto para a casa dos meus pais.
Os dois estavam fora, mas minha avó já aguardava por mim, pois eu mandara uma mensagem
para ela mais cedo, avisando que a visitaria. Assim que me viu, ela ergueu aquelas sobrancelhas
bem-feitas e me olhou com atenção, parecendo enxergar dentro de mim. Nós nos abraçamos e
me sentei ao seu lado no sofá.
— Diga-me, o que aconteceu?
— Vovó, desse jeito fica parecendo que eu só venho visitá-la quando preciso de alguma
coisa.
— Deixe de besteira, sabe que isso não é verdade. Eu apenas sei quando meu neto vem
atrás de mim em busca de um conselho.
Eu sorri, me dando conta de que minha avó tinha uma sabedoria única. Ela poderia ser
implacável quando queria alguma coisa, gostar de tudo à sua maneira, mas parecia sempre saber
o que estava acontecendo à sua volta. Como ela mesma dizia, via coisas que ninguém mais
conseguia ver.
— A senhora tinha razão. Eu amo a Norah, vovó. — Seus olhos se arregalaram e sua boca
caiu aberta. Sua expressão de surpresa me deixou confuso. — Por que está me olhando assim? A
senhora mesmo deixou claro diversas vezes que já sabia disso.
— Sim, eu sabia. Estou chocada com o fato de você ter descoberto isso antes que Norah
completasse dez anos de casada com outro homem e estivesse prestes a parir o terceiro filho
dele!
— Meu Deus, vovó. — Eu gargalhei, mesmo sendo um assunto sério. — A senhora não
existe, sabia?
— Eu existo sim, meu querido, e estou feliz por estar viva e com saúde para ver você
conquistando o amor da sua vida. — Ela sorriu e deu um tapinha em minha mão. — Norah já
sabe? Porque aquela menina é louca por você, se ainda não contou para ela, está perdendo o seu
tempo aqui comigo.
— Sim, ela já sabe.
— Mas isso é um milagre! Você fez tudo sem que eu precisasse armar mais nenhum plano
para juntar os dois! Não acredito nisso, preciso contar para Meredith!
— Vovó, por favor, deixe que Norah decida quando contar para a avó dela.
— Sim, é claro, você tem razão. — Ela balançou a mão, como se tivesse extrapolado na
empolgação, mas eu tinha certeza de que ligaria para a avó de Norah e contaria tudo assim que
eu fosse embora. — E por que está aqui e não com a sua garota, James?
— Porque ainda não contamos para Logan.
— Isso é óbvio, se tivessem contado, eu saberia.
— Claro, a senhora e a avó de Norah não param de fofocar nem por um segundo.
— Não fofocamos, apenas trocamos informações. Agora, me diga, vai deixar que mais
tempo se passe ficando longe de Norah, quando poderia estar agora mesmo com ela?
— Como eu disse, ainda não contamos para Logan e...
— E daí? Logan tem a vida dele, que está muito bem resolvida, inclusive! Você precisa
focar na sua vida e no seu relacionamento com Norah.
— Mas a senhora sabe o que Logan pensa sobre isso, vovó. Estou com medo da reação
dele quando contarmos tudo.
— Você vai contar para ele agora?
— Não agora, mas em breve.
— Então, deixe para se preocupar com isso quando o momento chegar. — Minha avó
segurou a minha mão. — Meu pai sempre foi muito rígido comigo sobre garotos. Na minha
época era tudo diferente, não era certo uma menina beijar a boca de um rapaz que não fosse seu
namorado e, mesmo quando firmavam compromisso, sexo só poderia acontecer depois do
casamento. Era terrível! Sabe o que fiz?
— Não, mas juro que não ficarei surpreso quando me contar.
Minha avó riu.
— A janela do meu quarto dava para a lateral da minha casa e a construção era baixa,
portanto, eu conseguia fugir sem que meus pais percebessem. Uma noite, eu escapei pela janela,
entrei no carro do seu avô e fizemos amor pela primeira vez no banco de trás do veículo. Foi um
dos momentos mais especiais da minha vida. Por ele, sempre valeu a pena correr todo tipo de
risco, porque eu sabia que seu avô era o amor da minha vida. Ele não me desonrou ao tirar a
minha virgindade, ele me amou naquela noite e continuou a me amar até o seu último dia de
vida.
Vovó se emocionou e eu beijei a sua mão.
— Estou te contando isso para que saiba que, quando fazemos algo por amor, tudo vale a
pena. Ficar com Norah nesse momento não é uma traição a Logan, é ser fiel aos seus
sentimentos. Pare de pensar um pouco nas outras pessoas e pense em si mesmo e na garota que
você ama, James. Deixe para se preocupar com os problemas quando eles baterem na sua porta.
Eu concordei com a cabeça, sentindo parte da minha culpa desaparecer. Ela ainda existia,
é claro, mas minha avó tinha razão. Passei tempo demais ignorando meus sentimentos por Norah
por causa da minha fidelidade a Logan, mas agora que eu confessara para mim mesmo e para a
minha garota o que eu sentia, não perderia mais tempo. Eu agarraria cada chance que tinha para
ficar com ela antes que a tempestade chegasse.
— A senhora tem razão.
— Claro que eu tenho. Os mais velhos sempre têm razão. Agora saia daqui e vá ficar com
Norah!
— Farei isso, preciso apenas de um favor da senhora antes.
Saí da casa dos meus pais com a chave da casa de Aspen em mãos e a certeza de que faria
com que aquele final de semana fosse tão memorável para mim e para Norah, quanto aquela
noite especial era para a minha avó.
Eu havia ido apenas duas vezes na mansão de inverno dos McHugh em Aspen, no
Colorado, quando era criança. Tinha poucas memórias do lugar, mas uma delas era especial.
Com a ajuda de Logan e James, eu consegui fazer o meu primeiro boneco de neve e ainda
conseguia me recordar da alegria infantil que senti quando enfiei uma cenoura no centro do seu
rosto. Lembrar daquele momento enquanto entrava na casa luxuosa, toda em madeira e vidro, me
trouxe um sorriso no rosto e uma sensação indescritível de saudosismo.
Olhei para James enquanto ele deixava as nossas malas em um canto na sala e me dei
conta, mais uma vez, de como ele sempre esteve em minha vida, fosse nos momentos mais
importantes ou não. Como pude, um dia, pensar que o sentimento que eu tinha por ele
permaneceria igual com o passar dos anos? Era óbvio que eu me apaixonaria por aquele homem
incrível quando me tornasse mais velha, simplesmente porque não podia ser diferente.
Meu coração jamais escolheria outra pessoa para amar que não fosse James.
Ele começou a caminhar em minha direção com um sorriso desenhando seus lábios
bonitos. Havia uma tranquilidade nos olhos de James que eu não via há bastante tempo e aquilo
me acalmava. Eu sabia que estávamos apenas adiando o momento em que precisaríamos encarar
meu irmão, mas queria deixar para me preocupar com aquilo quando chegasse a hora de contar
tudo para Logan.
Naquele momento, há muitos quilômetros de distância do Alabama, em uma casa que
ficava em meio a montanhas cobertas por neve, eu queria apenas me entregar para James e
aproveitar cada segundo ao seu lado. Suas mãos cercaram a minha cintura e me puxaram de
encontro ao seu corpo alto e forte.
— O que você quer fazer agora? Andar um pouco pela cidade ou tirar essa roupa e pousar
nua para mim?
Eu não consegui segurar a risada.
— Posar nua para você? Até onde me lembro, você disse que eu posaria com roupa.
— Isso foi antes de você me seduzir.
— Eu o seduzi? Como?
— Com esses olhos bonitos. — James aproximou a boca das minhas pálpebras, me
fazendo fechá-las para que pudesse deixar um beijo sobre os meus olhos. — Essas bochechas
que ficam coradas quando você está excitada ou com vergonha. — Ele deixou um beijo sobre
elas e abri os olhos a tempo de ver o seu sorriso. — Essa boca esperta e deliciosa, que sempre diz
coisas que tiram a minha paz e me deixam de pau duro.
James me beijou lentamente, de uma forma sensual e que espalhou arrepios pelo meu
corpo. Eu não podia mentir, estava excitada desde o momento em que saímos de casa e entramos
no jatinho da sua família. A expectativa pelo que aconteceria naquele final de semana estava me
deixando ansiosa, mas não nervosa. Eu sabia que não voltaria virgem para o Alabama e o medo
que sempre senti ao pensar em minha primeira vez, simplesmente havia desaparecido, pois eu
sabia que me entregaria para o homem da minha vida.
Meus lábios escaparam da boca de James após ele deixar uma série de mordidinhas nele e
tomei a minha decisão.
— Acho melhor concluirmos o seu trabalho agora, porque algo me diz que você nem vai
tirar suas câmeras da mala se eu ficar nua na sua frente.
Foi a vez de James gargalhar e a sua risada ecoou pela sala grande onde estávamos.
— Entendeu agora por que eu falei que sua boca é esperta? — Ele tocou em meu lábio
inferior antes de me dar mais um beijo e se afastar. — Vamos comer alguma coisa e aproveitar o
resto da luz do dia para tirar as fotos.
F oi o que fizemos. Não éramos os melhores cozinheiros do mundo, mas nos
divertimos na cozinha da mansão enquanto preparávamos um almoço rápido. Macarrão com
queijo, nosso prato preferido quando crianças. Após deixarmos todas as louças dentro da
máquina de lavar, subimos até o seu quarto e eu perdi o fôlego com a vista para as montanhas.
Como James dissera, havia uma parede toda de vidro no cômodo e eu poderia ficar
sentada na poltrona que estava ali por perto por horas, apenas admirando a neve caindo e as
montanhas altas pintadas de branco. Aproximei-me para observar melhor e senti os braços fortes
de James cercarem a minha cintura, seu corpo quente e cheiroso tocando as minhas costas.
— É lindo, James. Não me lembrava dessa vista.
— Quando você veio aqui com seus pais e Logan, meu quarto ainda era no segundo
pavimento da casa. Apenas quando fiquei mais velho foi que pedi para que meu pai
transformasse o sótão no meu quarto.
— Que bom que ele permitiu, é o cômodo mais lindo da mansão.
— Sim, por isso que pensei em fazer as fotos aqui. A neve caindo lá atrás vai apenas
complementar a sua beleza — sussurrou em meu ouvido, me fazendo rir.
— Você é tão brega quando está apaixonado.
— Não sou brega, sou romântico! — Seu tom era quase ofendido, mas eu sabia que estava
apenas brincando. Virei-me em seus braços e encontrei seu sorriso.
— Gosto dessa sua versão romântica — confessei, ficando na ponta dos pés para beijá-lo,
mas James afastou um pouco o rosto.
— Pelo seu olhar, imagino que goste mais da minha versão que sussurra putaria no seu
ouvido enquanto toco essa bocetinha gostosa que você tem.
Senti meu rosto ficar quente de vergonha e tesão.
— Isso eu não posso negar.
James sorriu e finalmente me deixou beijá-lo, descendo as mãos enormes até a minha
bunda. Seus dedos apertaram cada nádega com intensidade, grudando ainda mais o meu corpo ao
seu e me permitindo sentir o início da sua ereção. Senti minha calcinha ficar ainda mais pegajosa
com a lubrificação que voltou a escorrer do meu canal vaginal.
— Vai logo colocar a roupa que escolhemos enquanto eu arrumo tudo por aqui, Norah, ou
juro que vou te jogar na minha cama e só deixarei você escapar quando precisarmos voltar para
casa — sussurrou em minha boca com aquela voz enrouquecida que me deixava ainda mais
excitada.
Escapei dos seus braços e fui correndo abrir a minha mala. Pelos próximos minutos, fiquei
me arrumando em seu banheiro enorme, que tinha até uma jacuzzi onde caberia facilmente
quatro pessoas. Precisei desviar meus olhos dela, pois minha mente já começou a imaginar James
e eu lá dentro, completamente nus.
Vesti a saia longa que escolhemos, em um tecido leve e quase transparente. Ela tinha
fendas nas duas pernas, que começavam bem acima do início das minhas coxas. Era sensual, mas
não vulgar, assim como o top rendado que fazia conjunto com a saia. Suas mangas eram mais
grossas e ficavam caídas em meus braços.
Deixei o meu cabelo solto a pedido de James e repeti a mesma maquiagem do primeiro
ensaio que fizemos em casa. Quando deixei o banheiro, encontrei o cenário praticamente
finalizado. Daquela vez, James havia coberto o chão, que era de madeira, com um cobertor
branco e grosso. Parte da roupa de cama cobria um puf que ele tinha no quarto, formando uma
espécie de encosto para quando eu me sentasse no chão.
Seus olhos encontraram os meus assim que me aproximei e senti um friozinho delicioso se
espalhar pela minha barriga ao reconhecer o desejo em sua expressão. James deixou a câmera
fotográfica pendurada em seu pescoço e se aproximou de mim.
— Porra, você está uma deusa, Norah! — Ele me beijou, mas quando tentou enfiar a
língua em minha boca, o afastei.
— Vai borrar o meu batom!
— Não importa, você passa de novo...
Tentou se aproximar de mim, mas não deixei, escapando dos seus braços.
— Vamos perder a luz do dia. Você é o fotógrafo e sou eu que preciso te lembrar disso?
— Levando em consideração que sua beleza está me distraindo, acho justo que você tente
colocar a minha cabeça no lugar.
— Qual das duas?
James me encarou meio boquiaberto e com a sobrancelha arqueada. Eu ri, excitada e com
vergonha, bem do jeito que ele parecia gostar.
— Não me provoque desse jeito, Norah, ou vai descobrir rapidinho onde minha cabeça
está doida para ficar.
Estremeci com a nossa conversa cheia de duplo sentido e fiquei mais ansiosa ainda para
que James me mostrasse tudo.
Nós voltamos a ficar sérios e o ajudei a ligar todas as luzes e deixar tudo pronto para o
início das fotos. Daquela vez, eu estava menos nervosa e foi mais fácil começar a posar. James
era muito comprometido e realmente amava a fotografia — talvez tanto ou até mais do que o
futebol. Ele me ajeitou no cenário, posicionando-me como queria, e começou a sessão, me
deixando livre para mudar de pose e pegando diversos ângulos comigo de pé.
Perdi o fôlego ao ver o resultado de algumas fotos, percebendo que estava ainda mais
bonito que eu imaginara. O cenário era mesmo todo branco, mas os tons diferentes se mesclavam
e não apagavam um ao outro. A neve caindo do lado de fora, o céu coberto de nuvens, a cor do
edredom no chão, minha roupa ganhando destaque com a luz natural e artificial do ambiente,
formaram um conjunto espetacular.
James tinha um talento único, algo que não tinha como ser ensinado de fato. Era um dom
que ele apenas aprimorava na faculdade. Não consegui me controlar e o beijei, muito orgulhosa,
arrancando um sorriso dele ao elogiá-lo. Ele sempre ficava meio tímido quando alguém
reconhecia o seu talento para a fotografia.
— Quero tirar mais algumas fotos com você sentada agora, pode ser? Use o puf como
apoio para as costas.
Eu concordei e me sentei. James se aproximou e arrumou o meu cabelo, jogando-o por
cima do edredom e espalhando os cachos como se fossem um manto, em seguida, voltou a se
erguer e parou acima do meu corpo.
— Olhos em mim — pediu conforme colocava a câmera na frente do rosto. — Pode
erguer o joelho esquerdo, por favor? Isso... Você é perfeita, Norah.
Segurei um sorriso e ouvi os cliques suaves da câmera conforme James batia as fotos. Ele
me deixou livre para usar os braços como queria e comecei a me sentir cada vez mais sensual
conforme ele afastava a máquina fotográfica para me olhar. Seus olhos pareciam ter vida própria
e corriam lentamente pelo meu corpo, deixando-me mais uma vez excitada e me fazendo perder
parta da concentração.
Decidi que não queria mais posar para o seu trabalho de faculdade e sim para James. Ele
voltou a bater as fotos e, pegando-o de surpresa, levei minhas mãos até as alças que, agora,
estavam sobre os meus ombros. Desci cada uma lentamente, tirando primeiro o braço esquerdo
de dentro dela, em seguida, o direito. James afastou a câmera do rosto e me encarou com certa
confusão, arregalando os olhos quando levei minhas mãos às minhas costas e desabotoei o top,
que fechava como se fosse um sutiã.
— Norah... — Sua voz saiu mais grave quando a peça escorregou pela minha barriga,
desnudando meus seios. — O que está fazendo?
— Posando para você.
Ergui meus quadris e me apoiei nas pontas dos pés para poder tirar a minha saia. James
pareceu engolir em seco e eu sorri quando me livrei da peça de roupa, ficando apenas com a
calcinha branca de renda, que era pequena e deixava muito pouco para a imaginação.
— Norah... — Seu tom soou quase como um aviso e meus mamilos ficaram ainda mais
rígidos. Eu sentia meus seios pesados, como se o sangue estivesse todo concentrado naquela
parte do meu corpo, além do clitóris intumescido escondido pela minha calcinha.
— Continue, James — pedi, tomando coragem e tocando meus seios. Gemi baixinho com
o golpe de prazer, desejando que fosse seu toque e não o meu. Desci meus dedos pela minha
barriga. — Eu quero posar nua para você.
Observei o volume crescendo rapidamente no centro da sua calça e fiquei ainda mais
excitada. James limpou a garganta e voltou a posicionar a câmera na frente do rosto.
— Ninguém nunca vai ver essas fotos — garantiu e eu apenas concordei com a cabeça.
— Eu sei disso, confio em você.
O primeiro clique soou pelo quarto e eu fechei os olhos por um segundo, sentindo o desejo
me levar à loucura. Mordi o lábio e voltei a massagear meu seio com a mão esquerda, descendo a
outra em direção a minha boceta. James soltou um gemido rouco quando enfiei meus dedos
dentro da calcinha e rebolei ao me tocar, abrindo os olhos e o encontrando ainda com a câmera
na frente do rosto. Ele mexeu no que pensei ser zoom da máquina e meu gemido se misturou à
nova série de cliques que soou pelo cômodo.
Meu dedo resvalou em meu clitóris melado e vi estrelas, me sentindo mais sexy do que
nunca. James se ajoelhou de repente entre as minhas pernas e pediu baixinho:
— Afaste a calcinha. Deixe-me ver o que você está fazendo com essa boceta gostosa,
Norah.
Meu peito subiu e desceu com a respiração ofegante conforme eu obedecia. Tirei a mão do
meu seio e afastei a renda da peça íntima, revelando meus dedos entre os lábios escorregadios da
minha vagina. James soltou um gemido grave e lambeu os lábios. Sua mão esquerda tocou o
interior da minha coxa, subindo lentamente até a virilha. Sem que eu esperasse, enfiou um dedo
em minha boceta, me fazendo jogar a cabeça para trás com o assalto de prazer que se espalhou
pelo meu corpo, e voltou a fotografar enquanto me comia.
— James... — Chamei por ele em um gemido cheio de necessidade. Meus quadris se
ergueram sozinhos em sua direção, minha boceta engolindo o seu dedo e meu clitóris ficando
cada vez mais sensível.
— Porra, você está escorrendo, Norah... — disse ele, afastando a câmera do rosto.
— Sim... Eu preciso de você — confidenciei o que James já sabia. Ergui meu tronco e tirei
as mãos do meio das minhas coxas para tocar em seu rosto. — Quero que me faça sua, James.
Agora.
James não perguntou se eu tinha certeza, porque ele sabia que era aquilo que eu queria.
Que foi por ele que esperei todo aquele tempo, mesmo que não tivesse consciência daquilo. Sem
o menor cuidado, o jogador tirou a corda da máquina do seu pescoço e a deixou de lado, tirando
o dedo da minha boceta e me puxando com tudo para cima do seu colo. Sua boca atacou a minha
em um beijo faminto, cheio de um desejo primitivo e sensual, que arrancou o pouco fôlego que
eu tinha e me deixou em uma corda bamba.
Eu sentia que podia explodir a qualquer momento, mesmo tendo uma rasa consciência de
que estávamos apenas começando.
James desceu as mãos pela minha cintura até a minha bunda, apertando com força as
nádegas e me fazendo roçar em sua ereção dura ainda escondida sob a calça jeans. Gemi com a
fricção poderosa em meu clitóris, rebolando sobre o seu colo enquanto o beijava com paixão,
meu coração batendo forte no peito, uma fina camada de suor cobrindo a minha pele, mesmo que
lá fora o mundo estivesse congelando.
Devagar, James me deitou sobre o edredom e mordeu o meu lábio inferior antes de se
afastar. Ele pairou sobre mim e desceu o olhar pelo meu corpo, em uma carícia ainda mais íntima
do que quando me tocava. Eu fiquei arrepiada apenas por ser o alvo do seu desejo mais íntimo e
profundo. Senti minha alma se conectando à dele naquele momento quando seus olhos voltaram
a encontrar os meus.
— Eu não sabia que ansiava tanto por esse momento até agora, Norah — sussurrou. Seus
dedos tiraram alguns fios de cabelo do meu rosto e meus olhos ficaram rasos d’água. — Não
fazia ideia de que passei todos esses anos apenas aguardando a hora certa para amar você e te
fazer minha, muito menos que eu já era seu desde o dia em que entrou em minha vida. Mas aqui
estamos agora e eu nunca abrirei mão de você. Estaremos juntos pela eternidade, Norah, até
depois que eu fechar os meus olhos e nunca mais os abrir. Essa é a dimensão do meu amor por
você.
Meu queixo tremeu e não pude impedir que algumas lágrimas escorressem pela lateral do
meu rosto. James as secou com os lábios e eu aproveitei para tomar seu rosto em minhas mãos e
falar olhando em seus olhos:
— Eu sou sua, James. Para sempre.
Seus lábios voltaram a encontrar os meus e nosso beijo foi repleto de amor e saudosismo.
Um saudosismo que me fazia lembrar do tempo que passamos lado a lado, mas aprisionando o
que sentíamos verdadeiramente um pelo outro. Foi emocionante e sincero, um dos beijos mais
bonitos que já trocamos, mas logo se transformou em mais. Meu sangue parecia fogo líquido em
minhas veias e me senti ansiosa para ir até o fim.
Ajudei James a se despir, livrando-o da blusa de manga comprida que usava e seguindo
para a sua calça e cueca. Ele ficou completamente nu, a luz do dia que entrava pela parede de
vidro fazendo sua pele negra brilhar bem diante dos meus olhos e parecendo deixar o seu pau
grande e grosso ainda mais imponente. Eu o toquei, sentada sobre o edredom com James
ajoelhado entre as minhas pernas, e ele voltou a me beijar, gemendo baixinho e rouco conforme
sentia minhas mãos em seu membro duro e pulsante.
Sua cabeça babava e parecia ainda mais inchada e sensível naquele dia, pois James
estremeceu quando meu polegar rodeou aquela parte em específico. Espalhei a sua lubrificação e
toquei para cima e para baixo, sentindo as veias dilatadas espalhadas pelo seu pau.
Eu ficaria daquele jeito por muito mais tempo, apenas masturbando-o e ouvindo seus
gemidos, mas James logo voltou a pesar o corpo sobre o meu e me fez voltar a deitar sobre o
edredom. Sua boca desceu lentamente pelo meu pescoço, espalhando chupões e mordidas, até
seus lábios se encontrarem com meus seios. O jogador não teve pressa, roçou meus mamilos
sensíveis com os dentes antes de mordiscar cada um, e só depois fechou os lábios sobre o bico
duro, me fazendo arquear as costas em sua direção.
Eu olhei para a neve caindo do lado de fora e gemi, ficando com a visão embaçada pelo
prazer conforme James mamava em cada um dos meus seios e levava a outra mão ao meio das
minhas pernas. Pensei que iria me tocar, mas ele fez melhor do que isso. Tomou seu pau na mão
e fez a glande acariciar a minha boceta por cima da calcinha, roçando a renda melada em meu
clitóris.
— Meu Deus, James...
O filho da mãe sorriu e eu quase gozei. Estava com tanto tesão, que meu corpo sofria
espasmos. Senti meus olhos começarem a pesar com a sensação avassaladora de prazer, mas
James segurou o meu cabelo perto da nuca e ergueu um pouco a minha cabeça.
— Abra os olhos — pediu de repente, seus lábios roçando em minha bochecha. Lutei para
atender o seu pedido e encontrei seu rosto pairando sobre o meu. Minhas mãos estavam em suas
costas e nem tinha me dado conta de que minhas unhas estavam fincadas em sua pele. — Quero
que afaste a calcinha e deixe essa bocetinha nua para o meu pau, Norah. — Seus dentes
morderam o meu lábio devagar. James sussurrou entre eles: — Vamos, faça isso.
Minha mão estava trêmula, mas fiz como pediu e afastei minha calcinha para o lado.
James enfiou a língua em minha boca e me deu um beijo rápido e intenso, antes de se erguer
entre as minhas pernas e voltar a tomar o pau grande em sua mão. Mordi o lábio e gemi abafado
quando roçou a cabeça inchada e bruta entre os lábios da minha vagina, pressionando levemente
a minha entrada antes de subir em direção ao meu clitóris.
O contato tão íntimo me deixou sem fôlego, o prazer me pegando completamente de
surpresa. A visão era pornográfica e a sensação que eu tinha, era de que não suportaria a carícia
por muito tempo. Sua glande lisa escorregou para cima e para baixo em meu ponto mais sensível
e excitado, me deixando à beira de um orgasmo avassalador. James gemeu junto comigo e subiu
a outra mão até o meu pescoço, inclinando-se um pouco sobre o meu corpo e me aprisionando
com o seu calor e o seu pau entre as minhas pernas.
— Essa bocetinha é minha, Norah. Sabe disso, não é? — Eu apenas concordei com a
cabeça, mas James não pareceu satisfeito. Ele parou a carícia do seu pau em meu clitóris, me
deixando desesperada por mais. — Responda, gatinha. Quero ouvir a sua voz.
— Sim. — Toquei em sua cintura estreita, arranhando seus quadris com as unhas. — Você
sabe que sim. Continue, James, por favor.
— Você nunca precisa implorar para mim — disse baixinho, inclinando-se ainda mais
para roçar a boca na minha. — Estarei sempre pronto para comer você e te fazer gozar, Norah. É
só me olhar e eu arrumarei um jeito de estar dentro de você no minuto seguinte.
Eu ofeguei, porque sabia que James cumpriria aquela promessa safada sem nem pensar
uma segunda vez. Ele me beijou novamente, voltando a roçar o pau em meu clitóris, e eu movi o
quadril em sua direção, sentindo-o soltar a base do membro e deitar o corpo sobre o meu, sem
soltar o seu peso, e começar a acompanhar os movimentos do meu quadril.
Senti que James estava me comendo sem estar dentro de mim. Seu pau agora estava
pressionando completamente entre os lábios sensíveis da minha boceta, indo para cima e para
baixo, me permitindo sentir cada espasmo que sofria, a curva bem-desenhada da sua cabeça bruta
acariciando meu clitóris com intensidade.
Minha entrada piscou, jorrando lubrificação, e senti que iria gozar. James gemeu comigo,
mordeu meus lábios, meu queixo, meu pescoço, até desaparecer de cima do meu corpo e enfiar o
rosto entre as minhas coxas. Ele tirou a minha calcinha em menos de um segundo e eu soltei um
grito quando senti sua língua golpear o meu clitóris em uma lambida longa e deliciosa.
Ainda tentei segurar, mas quando ele começou a me chupar, simplesmente explodi em um
orgasmo que me fez tremer da cabeça aos pés de encontro ao edredom. James soltou um gemido
satisfeito, mas não parou de sugar o feixe de nervos inchado para dentro dos lábios e aumentou a
intensidade do meu orgasmo ao enfiar dois dedos em minha boceta. Eu os suguei para dentro,
sensível, mas muito excitada, e senti uma nova onda de prazer me atingir, gozando de novo em
pouquíssimos segundos. Foi tão potente, que os músculos da minha barriga ficaram rígidos e
doeram, meu corpo tensionou, meus quadris se ergueram do chão apenas para esfregar minha
boceta em seu rosto.
Eu me sentia escorrer entre as pernas e James segurou minha cintura com cuidado,
parando de chupar meu clitóris e começando a lamber toda a minha boceta. Cada pelinho do meu
corpo estava arrepiado e me sentia muito sensível lá embaixo, mas o jogador parecia saber disso,
pois evitou o ponto onde eu pulsava e apenas manteve os dedos dentro de mim em um vai e vem
leve e constante enquanto corria a língua por cada dobrinha da minha vagina.
Toquei em sua cabeça com a mão trêmula, enfiando meus dedos nos cachos sedosos do
seu cabelo, e James ergueu o rosto para me fitar, deixando um beijo delicado em cima do meu
clitóris e sorrindo ao me ver estremecer.
— Quero passar o dia aqui — disse ele e respirou fundo, parecendo querer guardar o meu
cheiro mais íntimo dentro de si. — Chupando essa bocetinha e fazendo você perder a voz de
tanto gozar.
— Eu aceito. — Minha voz estava mesmo rouca de tanto gritar por conta dos orgasmos
poderosos que James me dera. — Mas só depois que você fizer amor comigo.
— Estou fazendo amor com você.
— Só depois que você me comer. — Fui mais explícita e ele sorriu.
— Estou comendo você, Norah. — O filho da mãe passou a língua pelo meu clitóris e
enfiou os dedos até o fundo em meu canal estreito e melado, me deixando ainda mais excitada.
— Me comer com o seu pau, James McHugh. — Ele arqueou uma sobrancelha. — Acha
que só você pode falar putaria?
— Não, mas eu amo ouvir cada palavra suja que sai dessa sua boca bonita. — James se
ergueu sobre o meu corpo, mas não tirou os dedos de dentro de mim. Seu pau ainda mais duro e
melado tocou o meu ventre. — Quer mesmo ir adiante?
— Você sabe que sim. — Tomei seu rosto em minhas mãos e passei meu polegar pelos
seus lábios que ainda brilhavam com o meu gozo. — Faz amor comigo, James. Seja o primeiro e
único homem da minha vida.
James respirou fundo e pude sentir o seu coração bater tão forte contra o meu quando
começou a me beijar. Meu gosto estava por toda a sua boca, meu cheiro estava em sua pele e eu
nunca me senti tão viva e pertencente a qualquer outra pessoa. Todo pensamento se esvaiu, se
transformou em fumaça em minha mente, e meu corpo se abriu quando senti James substituir
seus dedos pelo seu pau, sua glande roçando a minha entrada com cuidado.
Não senti medo da dor, ainda assim, ela me atingiu e minha vagina se retraiu quando
James começou a me penetrar, cedendo espaços aos poucos para o seu membro tão grande. Foi
doloroso, mas sua boca na minha, seu toque em meu corpo, seu peso acolhedor sobre o meu, me
distraiu, tornou tudo suportável, e James foi até o fim, tão lento e paciente quanto era possível,
parando no fundo da minha boceta com o pau todo enterrado em meu interior.
Lágrimas escaparam dos meus olhos e percebi que não eram por conta da sensação ardida
lá embaixo e, sim, porque eu estava emocionada. Porque aquele momento realmente estava
acontecendo e não era mais parte de um sonho que eu acreditava ser louco e impossível de se
realizar. James ergueu a cabeça e secou minhas lágrimas com o polegar. Seus olhos também
brilhavam e havia uma emoção muito semelhante à minha dentro deles.
— Eu te amo — sussurrou bem pertinho da minha boca, seu nariz acariciando o meu
lentamente. — Prometo que vou viver o resto dos meus dias para honrar esse presente que está
me dando, Norah.
— A minha virgindade? — perguntei em tom de brincadeira, mas James ergueu
novamente o rosto e olhou em meus olhos.
— O seu coração.
Ofeguei, surpresa e emocionada, completamente sem palavras. Puxei James para um beijo
e ele me deixou ditar o ritmo, a intensidade e a duração, gemendo junto comigo e pulsando em
meu interior. Bem baixinho, pedi para que se movimentasse com os meus lábios entre os seus e
James me obedeceu, saindo lentamente do meu interior e voltando, começando a fazer amor
comigo com delicadeza e paixão.
Doía, eu não podia negar, mas havia muito mais do que a pontada de dor que me atingia.
Havia um prazer diferente, que crescia conforme James roçava o osso púbico em meu clitóris e
meu canal vaginal sofria espasmos, apertando-o dentro de mim, lutando para contê-lo. Desci
minhas mãos pela sua nuca, suas costas definidas e levemente suadas, até chegar em sua bunda
dura, puxando-o ainda mais para dentro de mim, querendo que fosse mais rápido e intenso.
James parecia entender os meus sinais e me comeu mais rápido, sem nunca tirar a boca da
minha. Não precisávamos de palavras naquele momento, não precisávamos de mais nada do que
aquilo ali, seu corpo dentro do meu, suas estocadas deliciosas e levemente dolorosas em meu
interior, minha boceta melada o acolhendo e o meu clitóris recebendo suas carícias ritmadas.
Sem que eu esperasse, James substituiu seu osso púbico pelos seus dedos em meu grelinho
inchado e senti minha mente rodar, todo o meu corpo se conectar com o que estava acontecendo
entre as minhas pernas.
Seu ritmo se tornou mais cadenciado e firme, seus dedos acariciaram meu clitóris com
mais vontade e eu o arranhei, sentindo dor e prazer, meu coração se acelerando, tudo se
avolumando dentro de mim. Uma sensação diferente se apoderou do meu baixo ventre, não tão
intensa quanto quando James me chupou, mas ainda assim deliciosa, e entendi que iria gozar.
Rebolei de encontro ao seu corpo, com seu pau dentro de mim, e James gemeu mais alto, chupou
a minha língua, me comeu com mais força e eu explodi.
O orgasmo me atingiu e eu chamei por James com sua boca ainda na minha. Ele não me
soltou, não tirou a mão do meio das minhas pernas, apenas rebolou em meu interior, me fazendo
sentir um novo tipo de prazer e gozar ainda mais gostoso. Quando senti tudo dentro de mim se
acalmar, James tomou meu rosto entre as suas duas mãos, me beijou mais firme e começou a me
comer bem forte e rápido, gemendo sem parar, sua barriga dura roçando a minha, seu osso
púbico voltando a roçar em meu clitóris, seu pau parecendo endurecer um pouco mais e exigir
mais espaço em meu interior.
Eu o deixei extravasar todo o seu prazer, pois sabia o que aconteceria em instantes. Ansiei
por aquilo, por sentir James explodindo como eu explodi e, quando aconteceu, pude jurar que eu
gozei com ele novamente, pois estremeci de encontro ao seu corpo ao sentir o primeiro jato do
seu esperma quente jorrar dentro de mim. James meteu de forma quase violenta em minha boceta
conforme gozava forte, me enchendo de tesão, derramando-se em meu interior por segundos que
pareceram durar horas.
Eu não queria que acabasse nunca. Poderia sentir James gozar daquele jeito intenso pelo
resto da minha vida.
Ele se acalmou depois de um tempo, assim como eu, mas não saiu de dentro de mim.
Toquei de leve as suas costas suadas, sua nuca, e quando subi para o seu rosto, James afastou a
boca da minha e ergueu a cabeça para olhar em meus olhos. Ficamos daquele jeito por longos
minutos, o silêncio sendo preenchido com o nosso amor. Então, lentamente, James saiu de dentro
de mim e se deitou ao meu lado, puxando-me de encontro ao seu peito.
Fechei os olhos e sorri, desejando nunca mais sair dos seus braços e ser amada daquela
forma por ele para sempre.
Senti o mundo voltar a girar lentamente conforme meu coração diminuía as suas batidas.
Do lado de fora, o dia cedia lugar para a noite e, dentro daquele quarto, eu sentia a minha vida
mudar irremediavelmente. Se antes eu achava que não poderia viver sem Norah, agora, eu tinha
certeza. Provar seu sabor mais íntimo, sentir seu corpo se entregar completamente ao meu, estar
dentro dela, vê-la gozar tão gostoso diversas vezes, e poder gozar dentro dela mudou tudo de
figura.
Fechei os olhos por um momento, acariciando suas costas e sentindo seus dedos
passearem por meu peito. Então, algo soou em meu cérebro, como um alerta tardio, e eu me
ergui, colocando a cabeça de Norah apoiada no edredom. Desci meus olhos pelo seu corpo,
notando rapidamente a expressão confusa em seu rosto, e parei no centro das suas coxas
levemente afastadas. Meu pau sofreu um espasmo. O filho da mãe ainda estava semiereto e o
senti endurecer progressivamente enquanto eu via a minha porra escorrendo de dentro da boceta
de Norah.
— Não usamos camisinha. — Encontrei os seus olhos e os vi levemente arregalados,
como se Norah só tivesse se dado conta disso naquele momento, assim como eu. Senti-me um
idiota irresponsável. — Norah, sinto muito por não ter lembrado. Estou limpo, fiz meus exames
recentemente por conta do time e não estive com ninguém desde então, mas isso não é
justificativa. Estou me sentindo um imbecil por ter esquecido o preservativo!
— Ei, tudo bem, James. — Norah sorriu e se sentou. Suas mãos tocaram em meu pescoço
e depois o meu rosto, tentando me acalmar. — Eu também esqueci, a responsabilidade não era
apenas sua, mas nossa.
— Eu sei disso. — Encostei minha testa na dela, fechando os olhos por um segundo
conforme tocava a sua cintura. — Mas era a minha obrigação ter lembrado.
— Era minha obrigação também, mas não estou preocupada com isso. Confio em você e
estou protegida, não corremos o risco de uma gravidez... A não ser que meu anticoncepcional
falhe, mas não acredito que isso vá acontecer.
Fiquei mais tranquilo em ouvir aquilo. Eu queria ser pai dos filhos de Norah, mas não
agora. Éramos novos demais, tínhamos uma vida para conquistar. Precisávamos dar um passo de
cada vez.
— Mesmo assim, se quiser que usemos camisinha, precisa me falar.
— Você quer usar? — perguntou ela com uma sobrancelha arqueada.
— Não importa o que eu quero, apenas o que você quer.
— Claro que importa o que você quer. Somos um casal agora, apesar de você não ter me
pedido em namoro oficialmente, e precisamos decidir tudo juntos.
Eu ri alto com a sua indireta disfarçada e a fiz se deitar novamente no edredom, pairando
acima do seu corpo com as minhas mãos ao lado da sua cabeça.
— Eu pretendia fazer isso hoje à noite, em um jantar romântico, mas você é muito
apressadinha.
— É verdade? — Seus olhos se arregalaram de surpresa.
— Sim, é verdade. Reservei horário em um dos melhores restaurantes da cidade... Não
acredito que está estragando a minha surpresa, Norah!
— Ai, que droga! — Ela escondeu o rosto entre as mãos enquanto ria. — Esqueça o que
eu disse e eu vou esquecer sobre o pedido de namoro durante o jantar, o que acha?
— Acho que agora é tarde demais. Espere aqui.
Deixei um beijo em sua boca e me levantei, caminhando até a minha mochila no canto do
quarto. Peguei uma caixa vermelha de veludo em tamanho retangular e voltei para onde Norah
estava, observando seus olhos descerem pelo meu corpo e pararem em meu pau duro,
simplesmente ignorando o presente em minhas mãos. Safada. Podia jurar que aquela bocetinha,
mesmo estando dolorida, já estava com saudade de ser comida por mim.
A garota finalmente percebeu o que eu segurava quando voltei a me ajoelhar ao seu lado.
Ela se sentou e ficou alternando o olhar entre a caixa em minhas mãos e o meu rosto.
— Ainda não é um anel, mas foi uma forma que encontrei para tornar esse nosso final de
semana ainda mais especial.
Abri a caixa e revelei o colar que comprara para ela no dia anterior. Era uma corrente de
ouro, bem fina, com um pingente de coração cravejado com pequenas esmeraldas. Elas me
lembravam os olhos de Norah, que, apesar de serem cor de mel, tinham pequenos raios verdes
espalhados pelas irises.
— Minha nossa, James... — Ela tocou no colar com reverência. — É maravilhoso. Eu nem
sei o que dizer.
— Apenas me diga se aceita namorar comigo, mesmo sabendo que precisaremos enfrentar
o seu irmão em breve.
— É claro que eu aceito! — Ela subiu sobre as minhas coxas, deixando a bocetinha
melada de porra muito perto da minha ereção. Dei risada quando Norah começou a espalhar
beijos pelo meu rosto. — Eu aceito tudo com você, James!
— Tudo?
— Tudo. — Seus olhos bonitos pareciam brilhar ainda mais enquanto ela sorria. — Eu te
amo, James McHugh, e só sairei do seu lado se um dia você não me quiser mais.
— Esse dia nunca vai chegar — garanti. Tirei o colar da caixa e pedi para que levantasse
os cabelos longos para que eu pudesse colocar a joia em seu pescoço. Prendi em sua nuca e o
pingente ficou no meio do seu colo bonito. — Ficou perfeito em você.
— Ele nunca mais sairá daqui — prometeu.
Eu acreditei em sua palavra e a puxei para um novo beijo, me segurando para não começar
a fazer amor com ela de novo. Sabia que devia estar dolorida e não queria machucá-la. Nós
ficamos daquele jeito por um tempo, apenas trocando beijos e carícias, mas quando percebi que o
céu já estava totalmente escuro do lado de fora, pedi para que fosse se arrumar, pois não queria
perder a reserva no restaurante.
Meu plano era jantar, fazer o pedido de namoro e depois fazer amor com a minha garota,
mas gostei da nossa mudança de rota. Combinava muito mais conosco simplesmente não seguir
um roteiro.
Saímos de casa duas horas depois e fomos direto para o restaurante italiano que era
intimista e pequeno, muito concorrido na região, principalmente por casais naquela época de
inverno. Só consegui uma mesa porque o filho do dono era um velho conhecido da minha
família, do contrário, teria que levar Norah para outro lugar.
Ela estava esplendorosa com um vestido manga longa preto colado ao corpo e sapatos de
salto fino. Também me vesti adequadamente, quebrando o estilo esportivo da minha calça jeans
com um sobretudo azul-escuro.
Eu mal conseguia tirar os olhos de cima de Norah, mesmo depois de termos escolhido o
vinho e os nossos pratos. Minhas mãos procuravam as suas constantemente por cima da mesa e o
colar em seu pescoço estava me dando ideias. Eu a queria na minha cama, usando apenas ele,
com as pernas abertas para mim e aquela bocetinha pequena babando na minha boca.
— Por que está me olhando assim? — Norah perguntou, me trazendo de volta à realidade.
Tomei um gole do vinho e me ajeitei sobre a cadeira, ficando aliviado pelo guardanapo de
pano estar em cima do meu colo, escondendo o início da minha ereção.
— Assim como?
Observei as bochechas de Norah ficarem coradas e, assim como eu, ela deu um gole no
vinho para disfarçar.
— Você sabe como.
— Acho que eu não sei. Por que você não me diz?
Os olhos de Norah correram pelo restaurante. Uma música suave tocava ao fundo e, apesar
de ser pequeno e acolhedor, havia uma distância segura entre uma mesa e outra. Ninguém nos
ouviria e eu estava ansioso para ouvir aquela boquinha soltando putaria.
— Você está me olhando como se... estivesse com fome — murmurou no final e meu pau
terminou de endurecer dentro da calça.
— Deve ser porque eu estou.
— De comida? — Sua sobrancelha se arqueou.
A filha da mãe sabia muito bem a resposta, mas queria ouvir em voz alta. Tomei sua mão
na minha sobre a mesa e a fiz ficar com a palma aberta e virada para cima. Tracejei um caminho
lentamente desde a área descoberta do seu pulso até o centro da palma pequena e delicada. Norah
estremeceu.
— Estou com fome de você, Norah — falei olhando em seus olhos, mas os dela estavam
fixos nos movimentos do meu dedo no centro da sua mão. Comecei a fazer círculos pequenos na
palma, bem lentamente. — Estou morrendo de vontade de sentir o seu gosto na minha língua de
novo, sua bocetinha melando a minha boca enquanto você rebola para mim e implora para gozar.
— James... — Norah se movimentou na cadeira, provavelmente apertando a coxa uma na
outra. Meu pau começou a babar de encontro à cueca.
— Sabe eu quero, Norah?
— O quê? — Sua respiração estava levemente ofegante e eu quase podia ver seus mamilos
duros sob o tecido grosso do vestido.
— Quero você montada em mim, quicando no meu pau enquanto mamo gostoso nos seus
seios. — Voltei a correr meu dedo até o seu pulso e subi lentamente de volta para a palma. Seus
dedos sofreram leves espasmos. — Usando apenas o colar que te dei hoje e gozando bem
gostoso para mim.
— Vamos embora — ela pediu de repente, fechando a mão ao redor do meu dedo. —
Vamos fazer isso, James.
Eu sorri e tentei relaxar sobre a cadeira, excitado pra caralho e doido por ela.
— Não, precisamos jantar antes.
— Não estou com fome.
— Claro que está, apenas almoçamos hoje — respondi com um sorriso e Norah pareceu
quase irritada. Seus olhos se estreitaram para mim.
— Você não pode me falar tudo isso e simplesmente achar que eu ficarei aqui sentada,
esperando para comer um prato de macarrão!
— Não é qualquer macarrão, conheço o chef desse restaurante e ele faz um ravioli
espetacular.
— É mesmo? — Sua sobrancelha voltou a se arquear. — Então acho que eu preciso dar
uma passadinha rápida no banheiro e cuidar da situação em que você me deixou antes que o
prato chegue.
Eu arregalei os olhos quando ela tirou a mão sob a minha e arrastou a cadeira, prestes a se
levantar.
— Norah, o que você...
— Já volto, James.
A filha da mãe soprou um beijo para mim e saiu da mesa rebolando aquela bunda bonita
sob o vestido colado ao corpo. Eu fiquei boquiaberto por um segundo, sem acreditar que Norah
estava indo ao banheiro para se masturbar.
Ela não faria aquilo, certo?
Levantei-me em um impulso e fechei o sobretudo na frente do meu corpo para que a
minha ereção não escandalizasse os clientes. Consegui alcançar Norah a tempo de vê-la entrar no
corredor vazio onde ficavam os banheiros. Ela se virou, como se soubesse que eu a seguiria, e
soltou uma risadinha ao entrar no banheiro para cadeirantes, deixando a porta encostada para
mim. Encontrei-a perto da pia, mordendo o lábio inferior. Passei a chave na porta e estreitei os
olhos.
— Você entrou no banheiro errado — disse ela, colocando para jogo o seu talento como
atriz.
— Você também, ou não viu a placa informando que esse banheiro é exclusivo para
cadeirantes?
Norah arregalou os olhos, falsamente chocada.
— Não percebi! Eu me enganei.
— E me enganou também quando deu a entender que viria para o banheiro se masturbar?
— Eu dei a entender isso?
Eu me aproximei a passos lentos, mas parei centímetros antes de o meu corpo cercar o
dela.
— Sim, você deu. Vim aqui apenas para ver se eu não me enganei.
Pensei que Norah continuaria sendo dissimulada, mas ela apenas sorriu e, para a minha
surpresa, ergueu o vestido até a cintura, revelando a calcinha de renda que usava. Era verde
daquela vez e o centro estava mais escuro por conta da sua lubrificação. Seus dedos colocaram a
lingerie de lado e meu pau doeu quando ela começou a tocar o clitóris vermelhinho e inchado,
separando os lábios melados da boceta.
— Não se enganou, mas já que está aqui... Você poderia me ajudar, não é?
Abafei com a mão em sua boca o gemido alto que quase ecoou pelo banheiro quando a
virei de costas para mim, deixando-a de frente para o espelho acima da pia. Tirei a mão da sua
cintura e joguei seu cabelo longo para o lado, apenas para poder fechar minha boca sobre o seu
pescoço e chupar a pele delicada e cheirosa. Os joelhos de Norah se dobraram levemente e ela
voltou a gemer abafado por conta do chupão e do meu pau duro pressionando sua bunda.
— Garotinha safada! Eu queria que tivéssemos um jantar romântico, mas você está louca
por uma putaria, não é, Norah? — Ela me olhou pelo espelho e concordou com a cabeça, me
fazendo soltar uma risada baixa. — Acho que criei um monstro. — Desci a minha mão da sua
boca para o seu pescoço e puxei seu rosto em minha direção, colando minha boca na dela. —
Controle o volume da sua voz, porque seus gemidos são só meus. Não sou um homem que gosta
de compartilhar.
Tomei sua boca na minha e abri o zíper da minha calça, colocando o meu pau para fora
antes de descer a calcinha pelas suas coxas. A peça parou em seus tornozelos e Norah liberou um
deles da tira fina para poder abrir as pernas para mim quando sentiu minha glande em sua
entrada.
— Continue tocando a bocetinha, prometo ir bem devagar, não quero machucar você.
— Você nunca me machucaria — ela sussurrou, me deixando mais duro e cheio de tesão
com a sua confiança em mim.
Beijei a sua boca para abafar nossos gemidos e curvei um pouco o seu corpo sobre a
bancada para poder penetrá-la. Fui o mais lento possível, sentindo-a muito apertada, apesar de
escorregadia, seus músculos do assoalho pélvico se contraindo sem parar. Substituí seus dedos
pelos meus em seu clitóris e usei a outra mão para segurar a sua cintura. Fui até o fundo e parei
bem enterrado em sua boceta, deixando meus dedos trabalharem no grelinho inchado.
— Está doendo muito?
Norah era virgem até poucas horas atrás, nós nem devíamos estar transando tão rápido de
novo, mas ela me enlouquecia. Observei seus olhos pesados de tesão pelo espelho e um sorriso
se abriu em seus lábios inchados pelos meus beijos.
— Um pouco, mas não quero que pare. — A filha da mãe deu uma reboladinha gostosa,
me fazendo trincar a mandíbula para não gemer. — Continue, James. Você disse que eu não
precisaria implorar.
— E não precisa mesmo — garanti em seu ouvido, saindo do seu interior e estocando de
leve. Norah mordeu o lábio com força e eu esfreguei seu clitóris com vontade, acelerando apenas
um pouco o movimento do meu quadril. — Pode me pedir para parar quando quiser, amor.
— Não vou pedir.
Algo dentro de mim me dizia que Norah realmente não pediria. Ela fechou os olhos e se
entregou completamente, gemendo baixinho como pedi e encontrando meus movimentos. Eu
meti gostoso em sua boceta apertada, ficando ainda mais excitado com a visão maravilhosa do
meu pau sumindo e voltando todo melado com os fluidos dela e meus, nossa essência mais
íntima unida daquela forma.
Norah mordeu a própria mão e eu senti que, apesar de provavelmente estar dolorida,
afinal, eu era grosso e grande demais e ela era pequena e apertada, a garota estava com tanto
tesão por mim, que estava prestes a gozar. Caprichei no toque dos meus dedos em seu clitóris
durinho, meti firme em sua boceta, sem violência ou exagero, e precisei me segurar quando
minhas bolas começaram a pulsar em necessidade, um arrepio gostoso se espalhando pelo meu
corpo e anunciando meu orgasmo.
Levantei minha mão da sua cintura para o seu pescoço e a fiz encostar a cabeça em meu
peito, deixando-a na altura ideal para receber minha língua em sua boca.
— Goza para mim, meu amor. Pode gemer do jeito que quer, não vou deixar nenhum filho
da puta te ouvir.
Tomei sua boca na minha e Norah se segurou em mim pela nuca, arranhando a minha pele
e choramingando mais alto em meus lábios quando começou a gozar. Não parei de comer a sua
boceta ou de acariciá-la, engolindo seu prazer, sentindo seus espasmos em meu pau muito duro e
sensível dentro dela. Explodi em seu interior com força, apertando seu pescoço e beijando a sua
boca com violência, enchendo aquela bocetinha deliciosa com o meu sêmen mais uma vez.
Eu viveria para aquilo, para deixar Norah toda melada com a minha porra, marcada por
mim.
Liberei a sua boca com o pau ainda agasalhado em sua boceta e Norah me encarou pelo
espelho com a respiração ofegante e toda vermelha, uma expressão deliciosa de quem havia sido
bem comida. Sorri e beijei o seu pescoço suado, saindo lentamente do seu interior e vendo a sua
careta. Aquilo me preocupou.
— Machuquei você? — perguntei, virando-a de frente para mim.
— Não, mas estou dolorida de verdade agora. Acho que você não vai poder entrar aqui
mais tarde.
Eu sorri ao ver o desapontamento em sua expressão e beijei a sua boca antes de me
ajoelhar na sua frente e colocar novamente a sua calcinha. Subi com a lingerie pelas suas pernas
bonitas, dando um beijo na junção dos lábios da sua bocetinha antes de escondê-la das minhas
vistas e voltar a me erguer.
— Isso não vai me impedir de fazer você gozar mais algumas vezes essa noite. Eu tenho
dedos muito habilidosos e uma boca que está morrendo de vontade de chupar você.
— Talvez a minha boca esteja com vontade de fazer o mesmo com você — disse ela e
meu pau, que mal tinha perdido a ereção, parecia pronto para endurecer de novo. — Mas nunca
paguei um boquete antes, você vai ter que me ensinar.
— Eu sou um ótimo professor, sabia disso? — perguntei, descendo seu vestido.
— É mesmo? Vamos testar isso mais tarde, Sr. McHugh. Agora eu acho melhor sairmos
daqui.
— Está com medo? Você parecia tão corajosa quando saiu da mesa.
— Não achei que você me seguiria.
— Norah, você pode ser uma excelente atriz, mas nunca vai conseguir mentir para mim.
Você tinha certeza de que eu a seguiria.
Ela riu e guardou o meu pau dentro da calça, ficando na ponta dos pés para me beijar.
Apesar de estar de salto, sua cabeça ainda batia na altura dos meus ombros.
— Sim, eu tinha certeza. Não tenho culpa se você é previsível.
— Previsível? Isso é uma ofensa. — Dei um tapa em sua bunda e Norah tentou conter a
risada. — Só por causa disso, vai passar o resto do jantar toda melada com a minha porra. Não
vai se limpar antes de sairmos daqui.
Norah arqueou uma sobrancelha para mim e se dirigiu para a porta, me dando um olhar
sobre o ombro antes de sair.
— E quem disse que eu queria me limpar?
A garota me deixou sozinho dentro do banheiro e eu precisei ajeitar o meu pau na calça
enquanto ria e dava um tempo para que ela pudesse chegar à mesa antes de mim.
Ainda bem que meu coração era forte, ou eu não sabia se continuaria vivo por mais tempo
ao lado de Norah.
Acordei naquele domingo com uma vontade imensa de nunca mais sairmos daquela casa.
Sabia que em algumas horas teríamos que voltar à realidade, mas acordar com Norah em meus
braços, depois de ter passado a noite sendo livre ao seu lado e fazendo amor com ela era a única
realidade que eu queria.
Observei a neve cair lá fora e a abracei mais apertado, sentindo sua cabeça em meu peito.
A única certeza que eu tinha, era que não abriria mão de Norah, nem mesmo pela amizade de
Logan. Ele teria apenas duas opções quando descobrisse sobre nós dois: aceitar o nosso amor ou
me odiar para sempre. Não queria perder a sua amizade, Logan era o irmão que meus pais não
me deram, mas se eu tivesse que escolher, não havia a menor sombra de dúvida de que Norah
seria a minha única opção.
Eu esperava que não precisássemos chegar àquele ponto. Logan podia sentir raiva de mim,
poderia até mesmo se sentir traído por eu ter quebrado a sua confiança, mas teria que entender
que o meu amor pela sua irmã não era um desrespeito a ele. Torcia para que o quarterback
tivesse aprendido algo após a discussão com Norah e que entendesse que nem tudo girava ao
redor do seu umbigo, apesar de ele ser, sim, importante demais para mim e para a sua irmã e de
eu ter negado o que sentia por bastante tempo apenas porque não queria desrespeitar a nossa
amizade.
— Está acordado há muito tempo?
Tomei um susto ao ouvir a voz de Norah e sorri ao encontrá-la acordada com a cabeça
sobre o meu peito.
— Não muito. Acabei perdendo o sono quando percebi que uma garota linda estava
dormindo nos meus braços.
Norah riu baixinho e acariciou o meu peito.
— Você é tão galanteador, James McHugh. Quem diria?
— Aprendi com a minha avó, ela sempre disse que um homem precisa ser romântico com
a sua garota.
— Lembre-me de agradecer à vovó Emory por isso. — Os olhos claros de Norah focaram
em meu peito antes de encontrarem os meus. — Não quero voltar para casa.
— Eu estava pensando isso agora mesmo. — Afundei meus dedos em seus cachos até
tocar a sua nuca. — Mas não podemos fugir, Norah, não agora que estamos juntos.
— Eu sei, mas podemos aproveitar mais um tempinho em segredo? Eu quero conversar
com o meu irmão, mas, ao mesmo tempo, tenho medo da reação dele e de que a nossa relação
fique abalada por conta disso.
— Não precisa se preocupar sobre nós dois. Não importa qual seja a reação de Logan, nós
continuaremos juntos, Norah. A não ser que você não me queira mais.
— É claro que eu vou querer você, essa não é a questão, mas sei que será difícil
convivermos como um casal enquanto meu irmão não nos aceitar.
— Então eu vou procurar outro lugar para ficar. — Os olhos de Norah se arregalaram. —
Não me olhe assim. Aquela casa é muito mais do seu irmão e sua do que minha, se Logan e eu
tivermos uma discussão séria, eu vou sair, Norah.
— Claro que não, James. Aquela casa é tão sua quanto nossa e de Benjamin. Você não
sairá de lá nem o meu irmão.
Talvez Norah não entendesse, mas, ainda que nós três fôssemos os donos daquela casa,
afinal, a compramos juntos, eu seria visto por Logan como o errado naquela história. Era o seu
melhor amigo, sabia desde sempre que ele não queria que eu me metesse com a sua irmã e, ainda
assim, estava com ela agora. Não suportaria ficar na mesma casa que ele sabendo que me odiava.
— Vamos deixar para nos preocupar com isso quando o momento chegar, ok?
Norah subiu em meu corpo, acomodando a bocetinha nua bem em cima do meu pau, e
cercou a minha cabeça com as mãos. Meus olhos desceram até os seus seios bonitos e o colar em
seu colo. Senti o início de uma ereção, mas tentei me conter, pois sabia que Norah ainda estava
dolorida.
— Estou falando muito sério, James. Se você pensar em sair de casa, eu vou com você.
— Não vai, não, seu irmão só vai me odiar ainda mais se isso acontecer — falei, tocando
em sua cintura sob o edredom grosso.
— Isso é problema dele, não meu.
Eu ri com a sua resposta.
— Pensei que você acordaria mais calma depois de ter gozado duas vezes na minha boca
antes de dormir.
— Eu estou calma. — Norah sorriu e, para o meu desespero, rebolou sobre o meu colo,
roçando a boceta em meu pau semiereto. — Mas vou ficar nervosa e fazer greve de sexo se você
pensar em sair de casa.
— Como é que é?
Eu gargalhei ao ouvir aquilo e Norah se sentou completamente sobre o meu colo,
pegando-me de surpresa ao arrastar a bunda gostosa até o início das minhas coxas, deixando
espaço suficiente para tomar meu pau nas mãos. Ela me acariciou delicadamente, me fazendo
ficar completamente duro.
— É isso mesmo que você ouviu. Vivi durante vinte anos sem sexo, posso muito bem
fazer um voto rápido de castidade.
— Depois de ter dado essa boceta para mim? Eu duvido, gatinha. — Toquei em seus seios
e Norah mordeu o lábio para não gemer e me dar razão.
— Eu vou conseguir, sim.
— Preciso lembrá-la de como você estava ontem? Deu para mim no banheiro de um
restaurante e aquela foi só a segunda vez que fez sexo, Norah. Você é uma safada que não vai
saber viver sem o meu pau.
— Isso é mentira. — Ela ofegou, mas não conseguia parar de sorrir. — E não se esqueça
de que eu estou com o seu pau na minha mão agora, posso ser bem malvada com ele se eu quiser.
— Ele é todo seu, assim como eu. Pode fazer o que tiver vontade.
— Posso mesmo? — Norah apertou um pouco mais a base e subiu apertado até a cabeça.
Minha glande começou a babar e meu corpo ficou arrepiado com o tesão.
— Você sabe que sim.
A garota sorriu e passou o polegar pela cabeça sensível do meu pau, me fazendo latejar de
desejo e apertar com um pouco mais de força os seus mamilos. Gememos juntos e minha boca
caiu aberta quando Norah levou o polegar melado pelo meu pré-gozo até os lábios, chupando o
dedo de uma forma quase pornográfica.
— É gostoso, mas... — A filha da mãe lambeu o lábio, deixando-os brilhantes com a sua
saliva. — Eu acho que deve ficar ainda melhor se eu provar direto do seu pau, não é?
Sem me dar tempo para responder, Norah se ajoelhou entre as minhas pernas e segurou
meu pau com as duas mãos, colocou a língua para fora e deu uma lambida lenta em minha
glande, me fazendo chamar o seu nome em um gemido rouco e longo. Os músculos da minha
barriga se retesaram e Norah me deu um sorriso safado antes de murmurar:
— Nunca fiz isso antes, você sabe, então, me diga se eu fizer alguma coisa errada.
— Impossível você errar — falei de um jeito meio desesperado e toquei em seu rosto. —
Só tome cuidado com os dentes.
Norah concordou com um aceno e eu perdi o fôlego quando vi seus lábios bonitos
cobrirem a cabeça do meu pau. Ela poderia nunca ter pagado um boquete na vida — e o meu
lado territorial gostava pra caralho disso —, mas era curiosa e, com certeza, já tinha visto alguns
vídeos por aí, pois soube direitinho como sugar a minha glande e me fazer tremer sobre a cama
conforme descia a boca pelo meu pau.
Eu era grande e mais grosso do que a maioria, não esperava que Norah me engolisse, mas
ela pareceu disposta a ir até onde seu limite permitia. Segurou meu pau com uma mão e passou a
outra pelo meu abdome, meu peitoral, e desceu até as minhas bolas quando começou realmente a
me chupar, subindo e descendo a cabeça lentamente pelo meu membro conforme me sugava, sua
saliva escorrendo pela minha pele escura e sensível, me deixando ainda mais duro e louco de
prazer.
Segurei a sua nuca sob os cabelos e abri um pouco mais as minhas pernas. Senti uma
vontade imensa de meter em sua boca, mas não podia ser afoito e não queria assustá-la. Queria
que Norah brincasse comigo como desejasse e ela parecia ansiosa para isso. Seus olhos não
deixaram os meus e quando a mão que segurava a base do meu pau começou a me masturbar, eu
vi estrelas.
— Caralho, que delícia, gatinha... — Minha voz saiu rouca e Norah acelerou o movimento
de sucção, deixando as bochechas levemente côncavas conforme subia com a boca pelo meu pau.
Liberei mais pré-gozo, ficando ainda mais duro e sensível. — Não vou durar muito, Norah.
Não queria demorar para gozar, pois sabia que meu pau era grande e não queria que Norah
ficasse desconfortável me chupando por uma eternidade. Seus olhos brilharam, espelhando o
desejo que eu sentia, e sua língua voltou a circular minha glande novamente, me fazendo fechar
os olhos por um segundo apenas. Eu não queria perder o espetáculo que era Norah com o meu
pau na boca. Ela voltou a chupar mais forte daquela vez, fazendo o barulho de sucção e coisa
melada ecoar pelo quarto, e eu me senti prestes a perder a batalha.
— Como você mama gostoso, Norah, puta que pariu.
Apertei seus cabelos entre os meus dedos, sem forçar demais a sua cabeça em direção ao
meu membro duro. Norah gemeu abafado e eu senti minhas bolas enrijecerem, meu pau sofrendo
leves espasmos em sua boca.
— Vou gozar — avisei, deixando a encargo dela engolir ou não. Norah apenas me olhou e
me chupou com vontade, me fazendo sorrir. — Quer que seja na sua boca? — Ela respondeu
com um aceno de cabeça e eu enrijeci, já imaginando como seria. — Caralho, você me deixa
louco, Norah.
Pude jurar que vi um sorriso em seus lábios cheios pelo meu pau, mas foi passageiro, pois
Norah começou a dar tudo de si. Sua mão subiu e desceu mais rápido pela minha ereção,
apertando bem gostoso a base e me fazendo enlouquecer, enquanto metia meu pau na boca até
onde conseguia, mamando e me deixando todo melado com a sua saliva. Seus dentes encostaram
duas vezes no meu pau, mas eu já estava com a cabeça longe demais para sentir qualquer dor,
sendo invadido pela sensação do orgasmo que me fez esporrar com força dentro da boca gulosa.
Norah arregalou os olhos com o primeiro jato, tomando um susto, e afastou os lábios
melados de porra do meu pau, apenas para voltar um segundo depois e me chupar enquanto
engolia. Eu gravei cada detalhe daquela cena em minha cabeça, gemendo seu nome e gozando
gostoso enquanto a garota me dava um olhar cheio de tesão, com meu sêmen escorrendo pela sua
boca até o pescoço.
Senti que eu poderia gozar de novo em tempo recorde, sem nem mesmo amolecer.
Puxei Norah para mim pelas axilas quando terminei de esporrar e montei em seu corpo,
recolhendo a minha porra da sua pele até beijar a sua boca. Meu cheiro e gosto estavam
impregnados nela e tive certeza de que eu não perderia a ereção nunca mais enquanto Norah
estivesse por perto. Ficaria sempre duro e pronto para ela, onde quer que estivéssemos.
Ela gemeu em minha boca, afastando bem as pernas para que eu me acomodasse entre as
suas coxas, e deixei meu pau roçar em sua bocetinha toda melada. Norah estremeceu sob mim,
rebolando o quadril de encontro ao meu, toda excitada e gostosa, me deixando maluco.
— Quero você — pediu desesperada entre os meus lábios, arranhando a minha nuca e
minhas costas. — Por favor, James.
Como eu poderia dizer não?
Tomei meu pau ainda duro pra caralho em minha mão e meti lentamente em sua boceta,
acolhendo seu gemido em minha boca. Fui tão devagar quanto era possível, mas Norah não
pareceu sentir dor, apenas um leve desconforto, que sumiu da sua expressão quando parei no
fundo apertado e melado da sua bocetinha.
Esperei que se acostumasse comigo, beijando seus lábios, seu pescoço cheiroso, seus seios
bonitos, e comecei a me mover em seu interior quando sua voz ofegante soou pelo quarto,
implorando para que eu a fodesse.
E eu fodi.
Pela primeira vez fui mais rápido e mais firme, tomando seus cabelos em minhas duas
mãos e deixando sua boca bem perto da minha, observando sua expressão bêbada de prazer
conforme eu a comia bem gostoso. Norah me acompanhou, erguendo os quadris, roçando o
clitóris inchado em meu osso púbico, e senti que ela não duraria muito. Estava excitada demais
depois de mamar no meu pau e eu, que tinha acabado de gozar em sua boca, já me sentia pronto
para deixar aquela boceta cheia de porra de novo.
Norah jogou a cabeça para trás em minhas mãos, deixando o colo exposto com o pingente
do colar um pouco acima dos seus seios e eu perdi a cabeça, querendo marcá-la como minha não
só naquele momento, como pelo resto da eternidade. Soube, naquele exato segundo, que eu não
esperaria muito para fazer com que Norah se tornasse completamente minha.
Aquela garota seria minha esposa.
Ela seria mãe de todos os meus filhos.
Ela dormiria e acordaria ao meu lado, tendo a certeza de que seria amada para sempre,
fosse com o meu corpo, com as minhas mãos, minha língua, meu pau, meu coração ou a minha
alma.
Como se soubesse exatamente sobre a dimensão dos meus pensamentos, Norah voltou a
me olhar nos olhos e segurou o meu rosto entre as suas mãos. Não disse nada, mas não foi
preciso. Senti seu amor por mim em seu olhar e na forma como chamou o meu nome em
desespero ao gozar gostoso no meu pau, se liquefazendo sob o meu corpo e me apertando em seu
interior, praticamente me sugando como a sua boca fizera momentos antes.
Não me segurei e a segui, gozando bem agasalhado em sua boceta e tomando sua boca na
minha em um beijo que disse muito mais do que qualquer palavra poderia.

Estávamos a duas semanas do jogo beneficente que aconteceria no estádio do Crimson


Tide e, naquela segunda-feira, o treinador Coben anunciou que enfrentaríamos o Clemson
Tigers. Parecia uma coincidência irônica do destino o fato de que jogaríamos contra o antigo
time de Mason. Os jogadores o zoaram no meio da reunião antes do treino em campo, mas o
treinador logo pediu silêncio e começou a falar dos pontos fortes do nosso time adversário.
Eu conhecia muito bem o Clemson Tigers, apesar de nosso time não fazer parte da mesma
conferência[3]. Os Tigers eram, com certeza, o único time que conseguia confrontar o nosso e
aquilo nos deixou ansiosos para o jogo, apesar de sabermos que era apenas uma ação beneficente
e não um campeonato. Aquilo, no entanto, não fazia diferença para nenhum de nós naquela sala.
Éramos competitivos e depois de quase três meses fora do campo, queríamos sair como
vencedores daquela disputa.
Após estudarmos os pontos fortes e fracos do nosso time adversário — com a ajuda de
Mason, infelizmente, afinal, ele jogara no time pertencente à Carolina do Sul antes de chegar ao
Alabama — fomos direto para o campo. Nos aquecemos e o treinador Coben se aproximou junto
com um de seus assistentes. Ele chamou por mim e por Mason, explicando-nos sua estratégia
para nós dois no jogo e adiantando nossas posições.
Agi da forma mais profissional e ética possível, deixando de lado qualquer desavença
entre mim e o jogador, e ouvi atentamente os planos do treinador. Basicamente, teríamos que
jogar juntos em uma rota combinada, para confundirmos a defesa do outro time. Que sorte a
minha. Posicionamo-nos na área marcada pelo treinador em campo e esperamos enquanto ele ia
falar com Logan sobre aquele novo plano de jogo para o ataque.
— Esqueci de te dar os parabéns — Mason falou ao meu lado assim que ficamos sozinhos.
Eu o encarei, sentindo que viria alguma provocação da sua parte, mas perguntei mesmo assim:
— Parabéns? Pelo quê?
— Você sabe pelo quê. — Mason sorriu e colocou o capacete, mas não o protetor de
dentes, para o meu azar. Aquilo o impediria de ficar falando merda no meu ouvido. —
Conseguiu o que queria, não é? Tem Norah apenas para você agora, soube até que viajaram
juntos. — Seus olhos encontraram os meus sob o capacete e senti vontade de afundar o apetrecho
de segurança em sua cabeça. — Logan comentou sobre isso comigo no bar da Maeve, fiquei
surpreso por ele ainda não saber que sua irmã rompeu comigo. Talvez Norah tenha ficado com
medo de falar e ele acabar descobrindo que ela está com você.
— Cale a boca — ordenei com a voz baixa, mas séria. — Se Norah terminou com você,
isso significa que você não tem mais nada a ver com a vida dela.
— Ainda assim, ela está me usando de escudo para que o irmão não descubra que vocês
estão juntos.
— É nisso que acredita? Que Norah e eu estamos juntos?
— Eu tenho certeza. Ao contrário do QB, eu não sou um idiota que acredita que meu
melhor amigo não fica de pau duro para a minha irmã.
Eu quase empurrei Mason ali e tirei aquele capacete da sua cabeça para dar um soco na
sua cara, mas me segurei. Não valeria a pena ser suspenso do time por causa dele. Aquele merda
não conseguiria o queria comigo.
— O que você acha ou deixa de achar não importa para mim, muito menos para Norah.
Entenda uma coisa, Mason. — Aproximei-me dele, até não restar quase nenhum centímetro entre
mim e aquele filho da puta. — Norah não gosta de você. Quanto antes aceitar isso, melhor.
— Melhor para quem? Para você?
— Não, para você, porque se não tirar Norah da cabeça ou se pensar em desrespeitar a
decisão dela de se manter afastada de você, eu vou quebrar a porra da sua cara e fazer com que se
arrependa de um dia ter olhado na direção dela.
Afastei-me de Mason sem dar a ele qualquer chance de resposta e voltei a me concentrar
no treino.
Os ensaios para a peça começaram naquela semana e eu estava simplesmente encantada
com o texto preparado pela Sra. O’Neal e os dois alunos selecionados para serem os seus
assistentes de roteiro. Aquela seria uma releitura um pouco mais moderna de Romeu e Julieta,
mas sem perder a verdadeira essência clássica da obra mais famosa de Shakespeare.
Poder trabalhar com John estava sendo incrível e todo o elenco escalado era maravilhoso.
Nos entrosamos rapidamente e marcamos o primeiro encontro oficial com todo mundo no
Maeve’s Bar naquele final de semana. Cheguei feliz, mas cansada pra caramba em casa naquela
sexta-feira, segurando o meu caderno pesado com o texto para a peça. Alguns alunos mantinham
tudo arquivado digitalmente em tablets e celulares, mas eu era adepta à moda antiga e gostava de
ter tudo impresso, para poder esmiuçar o roteiro e fazer anotações à mão. Sentia que eu absorvia
melhor todo o conteúdo daquela maneira.
Logan se levantou do sofá assim que me viu entrar em casa e me ajudou com a minha
bolsa pesada e o texto da peça, segurando tudo para que eu pudesse tirar o meu casaco.
— O que está carregando aqui dentro? Chumbo? — perguntou enquanto deixava tudo em
cima do sofá.
— Material impresso sobre Romeu e Julieta. Quer ler tudo comigo?
— Não, eu passo essa tarefa incrível. — Meu irmão riu e se jogou no sofá. — Estou
quebrado. Duas semanas treinando em campo e sinto que meu corpo já não aguenta mais.
— Nunca pensei que você fosse tão molenga, QB — falei, me sentando ao seu lado. — Se
eu espalhar essa fofoca pelo campus, a sua reputação vai por água abaixo.
— Por isso que você tem que manter essa boquinha fechada. — Logan tocou em meu
nariz. — Mas o treinador está pegando pesado. O Clemson Tigers é um time forte demais e o
quarterback deles se destacou muito no ano passado.
— Mason chegou a comentar comigo sobre o jogador, parece que eles não se davam muito
bem.
— Por quê? — Meu irmão arqueou uma sobrancelha. — Detalhes sobre os bastidores de
outros times sempre me agradam muito.
— Porque você é um fofoqueiro!
— Fofoqueiro não, curioso. Mason não te falou o motivo?
— Não especificamente. Ele disse que sempre jogaram em times rivais durante o ensino
médio, mas que acabaram juntos jogando pelo Tigers. Segundo Mason, eles não eram amigos.
— Deve ser por conta da rivalidade dos times de colégio — refletiu Logan.
— Provavelmente. — Fiquei um tempo em silêncio ao lado do meu irmão e percebi que eu
já não precisava mais esconder aquela informação dele. — Terminei tudo com Mason.
Logan arregalou os olhos e eu sabia que o pegara completamente de surpresa.
— O quê? Quando? Por quê?
— Calma. — Ri baixinho da sua confusão. — Semana passada.
— Semana passada? E resolveu me contar só agora?
— Estava digerindo a minha decisão ainda.
Aquilo não era mentira. Precisei de um tempo para me recompor no meio daquela bagunça
que minha vida sentimental se transformara. A discussão com James, nossa declaração um para o
outro, romper com Mason, assumir meus sentimentos pelo melhor amigo do meu irmão... Tudo
aquilo exigiu muito de mim e só me senti verdadeiramente em paz depois de passar aquele final
de semana incrível com James em Aspen.
— E agora está se sentindo pronta para me contar? — Logan me deu um olhar
compreensível, que apertou o meu peito.
Não queria magoar o meu irmão, nunca, mas sabia que era daquela forma que ele se
sentiria quando soubesse o que de fato estava acontecendo na minha vida.
— Sim, estou. Terminei com Mason porque entendi que eu não estava apaixonada por ele,
Logan.
— Tem certeza? Quer dizer, é claro que você deve ter certeza, são os seus sentimentos,
mas vocês dois pareciam tão entrosados no pub naquela noite. Pensei que sentisse algo especial
por ele.
— Eu me forcei a acreditar nisso enquanto estávamos juntos, mas percebi que estava me
enganando. Mason é uma ótima pessoa, não pense que ele fez algo errado comigo, só não é o
homem certo para mim.
— E existe algum homem certo para você? Eu duvido muito. — Logan resmungou em
tom de brincadeira, me fazendo rir. — Ele não comentou nada sobre o rompimento de vocês
quando nos encontramos no Maeve’s na semana passada.
— Vocês se encontraram?
— Sim. Eu até comentei sobre a sua viagem com James para Aspen. Pensando melhor
agora, Mason pareceu um pouco surpreso, mas não fez qualquer comentário sobre vocês terem
terminado, apenas disse que sabia que você estava ajudando James em um trabalho da faculdade.
— Sim, ele sabia disso, comentei que serviria como modelo para James, mas rompi com
ele antes de James acertar os detalhes da viagem.
Logan ficou um tempo calado e quis muito entender o que estava passando pela sua
cabeça, mas ele apenas sorriu e me puxou para um abraço.
— Fico feliz que ele não tenha roubado o seu coração.
— Logan, não seja ridículo.
— Estou brincando. — Ele riu quando dei um soquinho em seu estômago. — Obrigado
por ter confiado em mim para contar tudo isso. Se Mason por acaso não respeitar a sua decisão,
me avise, e eu vou resolver tudo com ele.
— Deixe a sua versão sanguinária de lado, estrelinha dourada. Você não vai precisar fazer
nada — afirmei, deixando um beijo em sua bochecha. — Eu sei me defender muito bem, caso
precise.
— Eu sei que sim, mas sou seu irmão, pelo menos essa parte você precisa me deixar
desempenhar.
— A parte em que defende a minha honra? — Eu ri.
— Exatamente.
— Você sabe que estamos no século XXI, certo?
— Sim, eu sei, mas não ligo para essa merda. Sou seu irmão e sempre estarei por perto
para defender você quando precisar de mim.
Eu sabia que sim. Apesar de ser chato e ciumento, Logan era o melhor irmão do mundo
para mim. Esperava que ele continuasse tão compreensivo quando chegasse a hora de James e eu
contarmos sobre o nosso envolvimento para ele.
Como se soubesse que era alvo dos meus pensamentos, o wide receiver desceu a escada
usando apenas uma calça de moletom branca caindo de forma pecaminosa em sua cintura. Tentei
controlar meus olhos gulosos sobre ele, mas não consegui. Ainda sentia James dentro de mim,
me comendo bem forte naquela madrugada, após entrar escondido em meu quarto. Queria me
jogar em seus braços e começar tudo de novo agora mesmo.
— Suas camisas rasgaram, por acaso? — perguntou meu irmão e eu pisquei, me obrigando
a tirar os olhos de cima de James, apesar de saber que o filho da mãe queria andar pela casa
daquele jeito apenas para me provocar.
— Elas estão apertadas em mim. Acho que estou mais musculoso, o que acha, Norah?
Eu abri a boca a boca para responder quando parou na minha frente e fez um muque com o
braço, mas meu irmão foi mais rápido:
— Não infle ainda mais o ego desse idiota, por favor.
— Eu só quero saber a opinião dela, cara.
— Não, você quer arrancar um elogio da minha irmã, mas Norah é inteligente demais para
cair no seu papinho. — Logan se levantou e apontou para o meu material sobre o sofá. —
Aproveita toda essa autoestima e prove que está mais forte levando as coisas de Norah para o
quarto dela. Vou subir, porque preciso finalizar um trabalho para entregar na segunda-feira.
Meu irmão foi para o andar de cima e James esperou para ouvir a porta dele se fechando
antes de beijar rapidamente a minha boca, acariciando sua língua na minha e me deixando
excitada.
— Diga a verdade, eu não estou mais gostoso do que ontem?
— Não sei, acho que preciso ver você sem roupa para poder dar o meu veredito.
— Norah... Seu irmão ficaria chocado com as coisas que saem dessa sua boca.
— Acho que ele ficaria chocado com que vem entrando na minha boca quase todas as
noites.
James me deu um olhar atônito pela minha ousadia e eu ri, empurrando o seu ombro para
poder me levantar do sofá. O jogador me pegou firme pela cintura antes que eu pudesse escapar.
— Não acredito que teve coragem de falar isso.
— Foi você quem me provocou — defendi-me. — Não jogue a culpa em mim.
— Você é a única culpada por isso aqui. — James pressionou o início da sua ereção em
minha barriga e mordi o lábio para não soltar um gemido. Ele se inclinou e sussurrou em meu
ouvido: — Não vou conseguir esperar até mais tarde para estar dentro de você. Se eu te comer
agora, promete gemer baixinho?
— Sim — respondi sem precisar pensar uma segunda vez e James deixou um beijo em
meu pescoço antes de se afastar e pegar meu material em cima do sofá.
— Vamos, gatinha. Preciso de você.
Eu também precisava dele, por isso, logo o segui. Entramos em meu quarto e só tive
tempo de passar a chave na porta antes de James me puxar pela cintura e beijar a minha boca.
Minhas roupas e as dele foram parar no chão em poucos segundos e precisei abafar meu gemido
com um travesseiro quando o jogador me fez deitar na cama e caiu de boca no meio das minhas
pernas.
James lambeu meu clitóris e desceu até enfiar a língua em minha entrada, usando o nariz
para acariciar o ponto em que eu pulsava a ponto de doer. Suas mãos tomaram os meus seios,
manipulando os mamilos, e quando pensei que iria gozar com os seus lábios chupando meu
clitóris inchado, James agarrou a minha cintura e me fez virar de bruços na cama, parando entre
as minhas pernas afastadas e tampando a minha boca ao entrar com tudo em minha boceta.
Fechei os olhos com força para não gemer alto demais, pois mesmo com sua mão em
minha boca, tive medo de que Logan pudesse ouvir alguma coisa, caso resolvesse passar em
frente à porta do meu quarto naquele momento. James espalhou o meu cabelo para o lado sobre a
cama e lambeu a minha nuca, meu pescoço, subiu até a minha orelha e mordiscou o lóbulo antes
de começar a me comer bem rapidinho, mal tirando o pau do meu interior.
Choraminguei, tentando rebolar contra ele e arrastando meu clitóris excitado na cama.
— Sou louco por você — sussurrou no pé do meu ouvido, me deixando toda arrepiada. —
Não consigo mais respirar sem estar ao seu lado, Norah, sem sentir o seu cheiro, seus beijos, ou o
calor dessa bocetinha apertada em volta do meu pau. — Gemi mais um pouco, arranhando a
cama, e James arrastou os lábios pela minha bochecha. — Eu te amo pra caralho.
Eu também o amava, mas James não parecia querer ouvir aquilo agora, porque ele já sabia
sobre os meus sentimentos. Ele sentia a cada vez que me olhava ou que estava dentro de mim.
Substituindo a sua mão pelos seus lábios, o jogador me beijou, segurando-me firme pelo pescoço
e apoiando a outra mão na cama acima da minha cabeça.
Eu o sentia tão grande e grosso dentro de mim, que cada terminação nervosa ficou sensível
pelo atrito do seu pau em meu interior. A sensação de explosão se avolumou em meu baixo
ventre, concentrou-se em meu clitóris, que eu ainda roçava em minha cama, e me fez entrar em
combustão quando comecei a gozar. James respirou forte, me beijou mais firme e me seguiu
momentos depois, gozando junto comigo e me marcando como sua mais uma vez.

Reservamos uma mesa enorme no Maeve’s Bar e aquela era, provavelmente, a primeira
vez que alunos da UA, que não eram necessariamente fãs do Crimson Tide, se reuniam por um
motivo que não tinha nada a ver com futebol. Nós brindamos ao sucesso do nosso elenco e da
primeira semana de ensaio, e pude sentir os olhos de James sobre mim quando dei o primeiro
gole em minha cerveja. Ele estava sentado em frente ao balcão ao lado de Logan e Benjamin, a
poucos metros de onde eu estava.
— Se não quer que seu irmão perceba que está rolando algo entre você e James, acho
melhor parar de ficar olhando para ele a cada cinco segundos — John sussurrou em meu ouvido
e eu senti meu rosto ficar quente por ser pega no flagra pelo meu melhor amigo.
— Não consigo. Já viu como James é lindo? E o melhor de tudo, ele é todo meu.
— Eu sei disso, sua filha da mãe sortuda! — John me deu um tapinha na bunda, me
fazendo rir. — E James parece pensar o mesmo de você, já que não consegue desviar o olhar.
Não sei como seu irmão ainda não notou o que está acontecendo. Logan é cego ou se faz de
idiota?
— Ei, não fale assim do meu irmão!
— Desculpa, mas é tão nítido! Quando vocês vão contar a verdade para ele?
— Em breve.
— Sabe que essa resposta é muito relativa, certo? Em breve pode ser daqui a poucas horas
ou daqui a dois anos.
— Não vamos demorar tudo isso. — Resolvi ficar de costas para James, apenas para não
cair em tentação e ficar babando sobre ele de novo. — James está esperando apenas porque eu
pedi. Sei que estou sendo covarde, John, mas não quero que eles percam a irmandade que
criaram desde que eram crianças, sabe? Falei para James que queria aproveitar um pouco mais os
nossos momentos juntos, e isso é verdade, mas, no fundo, estou me sentindo culpada por saber
que a amizade dois vai sofrer um abalo enorme por minha causa.
Meu maior medo era que a amizade de James e Logan rachasse definitivamente. Conhecia
meu irmão, ele era orgulhoso demais e muito cabeça-dura. Se ficou daquela forma quando
descobriu que James me ajudou a ficar mais próxima de Mason, como reagiria ao saber que
estávamos juntos?
— Norah, você precisa confiar no sentimento que une os dois. Seu irmão pode ficar
chateado, mas ele conhece James melhor do que ninguém, sabe que ele nunca brincaria com os
seus sentimentos, e que se resolveu passar por cima da lealdade a ele para ficar com você, é
porque te ama de verdade.
— O problema é que Logan não é tão racional assim. Ele é impulsivo e, na hora da raiva,
diz coisas terríveis. Tenho medo de que acabe falando alguma coisa que pode abalar para sempre
a amizade dos dois.
— Sabe o que eu acho? — John perguntou e eu apenas neguei com a cabeça. — Que você
está sofrendo por antecipação. Pode pensar em inúmeras maneiras sobre como seu irmão vai
reagir, mas, a verdade, é que não tem como saber. Só vai descobrir quando contar a ele. Se eu
fosse você, pararia de esconder o que está acontecendo e contaria tudo de uma vez, antes que
Logan descubra de outra forma e seja pior.
Respirei fundo, sentindo um aperto no peito, pois John tinha razão. Seria melhor encarar
de uma vez o meu irmão e acabar logo com aquele sofrimento, até porque, eu me sentia péssima
a cada vez que me lembrava que estava escondendo algo tão sério dele e sabia que James se
sentia pior do que eu. Não era justo obrigá-lo a mentir ainda mais para Logan por causa da minha
covardia.
— Farei isso — concordei e John sorriu.
— Isso aí, garota, mas não hoje! Nós viemos comemorar essa noite, então, esqueça todos
os seus problemas e beba comigo!
Nós brindamos mais uma vez e eu virei pelo menos três cervejas antes de precisar escapar
da minha nova rodinha de amigos para poder ir ao banheiro. Aliviei-me em um dos reservados e
saí logo depois de lavar as mãos, dando de cara com James no corredor. Ele me encurralou
contra a parede, como naquela noite no pub, e eu ri, levemente embriagada e começando a ficar
excitada.
— O que está fazendo? Alguém pode aparecer a qualquer momento.
— Eu sei, só precisava fazer isso. — James tomou minha cintura em uma mão e o meu
rosto em outra antes de me dar um beijo delicioso de língua, que durou pouco mais de dez
segundos. Sua testa tocou a minha por um momento. — É terrível ficar tão perto e tão longe de
você ao mesmo tempo, sabia? Principalmente quando aquele babaca está respirando o mesmo ar
que o seu.
Afastei meu rosto para poder olhar para ele.
— De quem está falando?
— De Mason, ou preciso me preocupar com algum outro idiota e não estou sabendo disso?
— Ele me deu um sorriso provocador e eu ri, me sentindo alegre por conta da bebida e um pouco
mais excitada por saber que James estava com ciúmes.
— Nem sabia que Mason estava aqui.
— Que bom. Ele não ousou chegar perto de você e espero que continue assim. — James
me deu um selinho rápido e se afastou. — Volte para os seus amigos, mais tarde eu cuidarei
dessa sua bundinha bêbada.
— Não estou bêbada!
— Mas vai ficar, eu sei disso.
Eu apenas ri e soprei um beijo para ele antes de me afastar, já sentindo uma falta absurda
do calor do seu corpo perto do meu.
Mason se manteve completamente afastado de mim e eu fiz o mesmo, saindo do caminho
dele sempre que cruzávamos no centro de treinamento. Infelizmente, precisávamos nos falar em
campo ou nas reuniões do time, mas, fora isso, não tínhamos qualquer interação. Eu sentia que
Logan percebia que nós não nos dávamos bem, mas ele nunca comentou nada comigo.
Acreditava que o QB pensava que rolava algum tipo de inimizade entre nós dois porque
Mason dera com a língua nos dentes sobre eu ter conhecimento do envolvimento dele com Norah
e, por isso, não estranhava o fato de não conversarmos nada além do essencial quando éramos
obrigados a estar juntos.
Ainda assim, eu sentia o olhar de Mason sobre mim quando pensava que eu não estava
prestando atenção, cheio de raiva contida. Ele tinha certeza de que eu estava com Norah e
parecia não aceitar aquilo muito bem. O que me tranquilizava, era saber que ele não se
aproximara novamente da minha garota desde que romperam semanas atrás. Norah havia me
garantido que nem mesmo por mensagem Mason tentou manter contato com ela e eu esperava
que continuasse assim.
Em três dias nós jogaríamos contra o Clemson Tigers e eu já podia sentir a pressão do meu
pai sobre mim. Ele me ligara no início daquela semana, afirmando que não apenas estaria no
jogo, como a nossa empresa doara alguns milhares de dólares para a ONG e seria uma das
patrocinadoras do evento beneficente. Acabei descobrindo por ele que o pai de Mason, que era
dono de uma rede de hotéis, também aceitara patrocinar, e que o prefeito da cidade estaria
presente.
A preocupação do meu pai era de que eu não focasse o suficiente no jogo, pois Megan
com certeza acompanharia seus pais. Eu quase revirei os olhos ao ouvir aquilo. Megan já não
significava mais nada para mim, mas meu pai sempre achava que sabia de tudo sobre a minha
vida e acreditava que eu ainda estava apaixonado por ela. Jonathan McHugh não poderia estar
mais enganado.
— Encare esse jogo como se fosse o início da temporada, James. O Clemson Tigers deve
vir com tudo esse ano e com certeza usará esse jogo para provar isso. Você não pode falhar,
filho!
Perdi um pouco da ansiedade e adrenalina pela partida após aquele telefonema. Deitado ao
lado de Norah em sua cama, contei tudo para ela no meio da madrugada e fui sincero sobre como
me sentia pressionado pelo meu pai. Apesar de Logan suspeitar sobre aquilo, nunca me permiti
me abrir o suficiente para ele como estava fazendo para Norah agora. Seus dedos acariciaram o
meu cabelo conforme eu desabafava com a cabeça deitada em seu peito.
— Às vezes, eu tenho vontade de simplesmente sair do time e desistir de tudo. — Senti
Norah parar com o carinho em minha cabeça, provavelmente surpresa com a minha sinceridade.
— Amo o futebol, Norah, mas meu pai acaba sufocando esse sentimento com a sua exigência
pela perfeição. Não importa se eu fizer a melhor partida da minha vida, se eu for elogiado por
críticos do esporte, ele sempre tem algum comentário para tecer sobre a minha atuação em
campo, geralmente acompanhado de uma crítica, e isso vem me deixando cansado.
— James, eu não imaginava que você se sentisse assim.
— Sei disso, ninguém imagina, talvez apenas Logan, mas nunca fui sincero dessa forma
com ele. Nós temos um sonho desde pequenos, Norah, seu irmão e eu. Jogarmos juntos em um
time da NFL e conquistar o mundo. — Sorri ao lembrar de nós dois ainda moleques, planejando
todo o nosso futuro. — Como posso contar para Logan que me sinto assim? Não quero
desapontá-lo. Na verdade, eu não quero desapontar ninguém.
— Deite-se no travesseiro e olhe para mim. — Fiz como pediu e Norah se virou para ficar
de frente para mim. Sua mão tocou a minha bochecha com carinho. — Às vezes, precisamos
parar de pensar nas outras pessoas, James. Você precisa fazer o que te faz feliz. Meu irmão vai
entender isso, porque ele te ama mais do que ama o futebol, e seu pai precisará entender isso
também, porque esse esporte não pode ter mais importância na vida dele do que você.
— Não sei. Meu pai nunca superou o fato de ter sido obrigado a se afastar do futebol por
causa da morte do meu avô. Ele assumiu os negócios porque precisava e, quando nasci, jogou
sobre mim o sonho que não pôde realizar. Não posso falhar com ele, entende?
— Sabe o que eu entendo? Que não é certo que você se sinta se dessa forma por causa do
seu pai. Eu sei que você ama o futebol, eu sinto isso a cada vez que te vejo em campo, sempre
dando o melhor de si, mas seu pai está fazendo você perder o encanto pelo esporte que ama,
James. O sonho do seu pai está ofuscando o seu.
As palavras de Norah me acertaram como um murro e fizeram com que a fumaça que
insistia em embaçar a minha visão, simplesmente se dissipasse. Finalmente entendi o que estava
acontecendo comigo em relação ao futebol, como eu de fato me sentia.
Eu amava a fotografia. Aquela era, com certeza, uma das minhas maiores paixões, mas o
futebol era o que eu amava de verdade, sempre foi a minha verdadeira vocação, só que a
cobrança do meu pai estava fazendo aquele sentimento começar a se apagar. Não poderia deixar
aquilo acontecer. Eu me tornaria um jogador profissional, mas nos meus termos, dando o melhor
de mim porque eu queria, não porque precisava satisfazer o lado crítico e sempre insatisfeito de
Jonathan McHugh.
Não deixaria o sonho dele ofuscar o meu, como Norah dissera. Éramos pessoas diferentes
e não era minha obrigação realizar o seu sonho frustrado, mas, sim, realizar o meu sonho, do
jeito que eu queria. Se meu pai realmente me amasse, como eu acreditava que amava, entenderia
aquilo e sentiria orgulho de mim.
Norah soltou um gemidinho assustado quando eu a puxei para mim e a beijei com força,
arrancando uma risadinha do fundo da sua garganta.
— Você tem toda razão!
— Geralmente, eu sempre tenho razão.
— Isso é questionável.
— Questionável? — Norah estreitou os olhos para mim. — Diga isso mais uma vez e eu
vou colocar você para fora do meu quarto, Sr. McHugh.
— Você não faria isso. — Subi sobre o seu corpo e afastei a coberta, deixando-a toda
exposta para mim. Beijei seu pescoço, lambi cada um dos seus mamilos e comecei a descer pela
sua barriga. — Não quando eu estou louco para passar os próximos minutos chupando a sua
bocetinha.
— Serão minutos longos? — perguntou levemente ofegante, afastando as coxas para me
dar espaço suficiente entre as suas pernas. — Ou curtos? Se forem curtos, é melhor nem
começar.
Arqueei uma sobrancelha quando cheguei à sua virilha.
— Está exigente, futura Sra. McHugh.
Norah me encarou boquiaberta e eu dei uma lambida em seu clitóris enquanto sorria.
— O que... do que você me chamou?
— De futura Sra. McHugh. — Dei mais uma lambida em seu clitóris e Norah estremeceu,
apesar do choque em sua expressão. — Porque é isso que você é. Um dia, será minha esposa e
mãe dos meus filhos, Norah. Essa é a única certeza que eu tenho na vida.
Deixei um beijo sobre a sua barriga, onde um dia ela geraria o nosso bebê, e voltei a dar
atenção à bocetinha que eu amava, vendo o seu sorriso emocionado e ouvindo seu gemido
baixinho ao se entregar para mim.

— Acho que merecemos uma bebida depois do dia de hoje! — disse Ben ao colocar dois
packs de cerveja sobre a bancada da cozinha. — O treinador só faltou comer o nosso cu, estou
todo quebrado!
— Cadê o seu porte de atleta? — questionei com uma risada enquanto grelhava uns
hambúrgueres na frigideira. Prometi para Norah que ela encontraria fritas e hambúrguer quando
chegasse em casa e eu era um namorado que não desapontava a sua garota.
— Deve ter ficado perdido no meio do campo — Logan que respondeu ao entrar na
cozinha e se aproximar de mim. — Como adivinhou que estou com vontade de comer
hambúrguer? Você é o melhor amigo de todos os tempos!
— Estou preparando isso para a sua irmã.
— Norah tem o estômago de uma formiga, ela não vai comer tudo isso. — Apontou para
os dois hambúrgueres na frigideira e mais dois em cima da pia ainda congelados na embalagem.
— Talvez eu esteja fazendo alguns para vocês, mas só se Benjamin garantir que a cerveja
vai ficar gelada a tempo de os sanduíches ficarem prontos.
— Isso eu posso garantir! — disse o running back já colocando as bebidas no freezer. —
Vou tomar um banho enquanto isso, quero tudo pronto quando eu descer.
— Não quer um boquete também não? — perguntei e Benjamin riu.
— Boquete e boceta a gente nunca nega.
— Você é nojento, caralho, sai daqui! — Logan xingou enquanto gargalhava e Benjamin
nos deixou sozinhos na cozinha. — Que tal fritar mais alguns hambúrgueres? Avalon está de
folga hoje, pensei em passar a noite com ela, mas acho melhor pedir para que venha para cá com
Aubrey.
— Claro, farei isso.
— Ótimo! Vou ligar para ela.
Logan se afastou da cozinha e eu fui pegar mais hambúrgueres no congelador. Norah
chegaria em casa um pouco mais tarde naquele dia, pois começariam a pegar as medidas dos
atores para a confecção do figurino da peça, e eu já estava com saudades. Sentia-me como um
idiota insuportavelmente apaixonado e que não sabia viver sem a sua garota. Muito parecido com
Logan, na verdade.
— Pode me emprestar o seu celular? Acho que deixei o meu na bolsa de Valente quando
almoçamos mais cedo.
— Está aí em cima do balcão, você sabe a senha — avisei, colocando mais carne para
grelhar.
— Espero que Avalon escute tocar. Acho melhor ligar para o celular dela, tem o número
dela na agenda?
— Claro que sim. Adicionei o contato dela como Valente — ri ao encará-lo e Logan me
deu o dedo do meio.
— Vai se foder, idiota. — Logan voltou a mexer em meu celular e eu virei a carne. Estava
no ponto que eu gostava, bem macia suculenta. — Mas que porra é essa?
— O quê? — Virei-me para Logan com um sorriso. — Não acredito que você está
procurando o contato da sua namorada em meu celular com o apelido que deu para ela, Logan.
Eu estou brincando. — Ri alto, mas achei estranho Logan não me acompanhar. Ele continuou a
olhar sério para o meu celular e eu senti o meu sangue começar a ficar gelado nas veias. Apaguei
o fogo e me aproximei dele. — Logan, o que houve?
— Você está comendo a minha irmã?
Seus olhos golpearam os meus e eu parei no meio do caminho, a ilha da cozinha ficando
entre nós dois. Abri a boca, sem palavras, e Logan se ergueu da banqueta onde se sentara
minutos antes, ainda com o meu celular na mão. Ele apertou o aparelho com tanta força, que as
juntas dos seus dedos ficaram brancas.
— Me responde, James, você está comendo a minha irmã, porra?!
— Logan... Se acalme...
— Me acalmar? Você está pedindo para eu me acalmar?! — Ele gritou e se aproximou de
mim, contornando o móvel que nos separava e jogando o celular em minha direção. Agarrei o
aparelho no ar por puro reflexo. — Me explique que porra é essa antes de eu poder dar o soco
que quero na sua cara!
Senti minhas mãos trêmulas quando virei a tela do celular para cima e vi as mensagens
que Norah enviara dois minutos atrás. Dois minutos. Cento e vinte segundos que simplesmente
mudariam toda a minha vida. Era uma foto dela, apenas de lingerie na frente de um espelho de
corpo todo. Parecia estar em um provador.
Norah: Estou aqui tirando as medidas para o figurino e esqueci de contar que
comprei uma lingerie nova pensando em você. Gostou?
Norah: Talvez eu deixe você tirá-la do meu corpo mais tarde.
Norah: Te amo!
Fechei os olhos por um segundo, me sentindo o maior idiota do século por ter deixado
Logan se aproximar do meu celular. Minhas mensagens com Norah já não tinham mais qualquer
inocência e até nudes trocamos algumas vezes — sempre em visualização única, o que eu
agradecia agora. Como pude me esquecer disso e nos colocar em risco daquele jeito?
Eu sabia o porquê. Logan e eu sempre tivemos acesso a tudo na vida um do outro, ele
usava meu celular quando precisava, assim como eu pegava seu aparelho às vezes, porque
éramos melhores amigos. Não tínhamos segredos, até agora. Até eu estragar tudo.
— Logan...
Seu punho foi com tudo na minha cara e eu deixei que me batesse porque merecia. Não
por estar com Norah, mas por quebrar a sua confiança, por ter permitido que ele descobrisse
sobre nós dois daquela maneira tão ridícula, praticamente reduzindo o meu relacionamento com
a sua irmã em sexo, quando era muito mais do que isso.
Meu celular caiu no chão e eu me apoiei na bancada atrás de mim, sentindo o gosto de
sangue explodir em minha língua. A lateral da minha boca estava cortada, mas me preparei para
um novo golpe de Logan, que não veio. Ele preferiu chutar as banquetas e derrubá-las no chão.
— Eu sabia, porra! Eu sabia que tinha alguma coisa errada entre vocês, mas não quis
acreditar! — Logan gritou, chutando mais uma banqueta no chão. — Não quis acreditar que meu
melhor amigo estava trepando com a minha irmã bem debaixo do meu nariz!
— Logan, me escuta, não é nada disso...
— Não é nada disso? — Logan se aproximou de mim com o rosto vermelho de raiva e
apontou para o celular no chão. — Tem coragem de olhar na minha cara e mentir para mim
depois da mensagem que Norah acabou de te enviar?
— Que porra é essa? — Benjamin apareceu todo molhado, com uma toalha enrolada na
cintura. Seus olhos se arregalaram ao ver as banquetas no chão e a minha boca sangrando. — O
que está acontecendo aqui?
— Você sabia! — Logan acusou, se aproximando de Benjamin e o empurrando pelos
ombros. — Você sabia, porra!
— Sabia do quê? — Benjamin gritou de volta sem entender nada e eu me aproximei dos
dois, colocando-me entre eles.
— Pare com isso, Logan, Benjamin não sabia de nada!
— Então não vai mais mentir sobre estar comendo a minha irmã? — Questionou o QB em
um grito furioso e eu senti Benjamin enrijecer atrás de mim.
— Puta merda, James... Você está fazendo isso?
Eu apenas engoli em seco, sentindo tanta coisa, que mal sabia por onde começar. Logan
riu sem humor e me deu um olhar atordoado, cheio de raiva e incredulidade.
— Sim, ele está! Esse traidor falso do caralho!
Logan ia sair da cozinha, mas percebi que eu não podia deixar que ele se afastasse daquele
jeito. Precisava me explicar e fazer com que entendesse que o que havia entre mim e Norah era
muito mais do que sexo ou uma traição à nossa amizade. Fui atrás dele e o segurei pelo pulso,
esquivando-me do novo soco que tentou dar em mim.
— Pare, Logan! Me escute, por favor!
— Não tenho nada para escutar de você! — Ele conseguiu soltar o pulso da minha mão e
me empurrou. Tínhamos a mesma altura, mas Logan estava cheio de raiva e isso o deixou mais
forte, conseguindo me fazer dar um passo para trás. Aquilo não me deteve e voltei a me
aproximar.
— Sei que está com raiva de mim e tem razão em se sentir assim...
— Tenho? Caramba, James, obrigado por me permitir sentir raiva de você!
— Mas eu amo a sua irmã! — Gritei mais alto do que ele, ignorando seus insultos e
pegando-o pela camisa para que calasse a boca me escutasse. — O que está acontecendo entre
nós dois é amor, Logan, você sabe o que é isso, ama a Avalon, sei que vai me entender.
— Entender você? — Logan soltou uma risadinha cheia de raiva. — Sabe o que eu
entendo, James? Que você é um filho da puta traidor que fez a única coisa que pedi para que não
fizesse desde o início da nossa amizade. E entendo que é um covarde, porque se realmente
amasse a minha irmã como diz, se não quisesse apenas trepar com ela bem debaixo do meu
nariz, teria me encarado como homem e contado isso para mim! Essa é a única coisa que eu
entendo.
Logan me obrigou a soltá-lo e eu o fiz, atônito, sem saber como reagir às suas palavras que
me atingiram com mais força do que o soco que deu na minha cara. Ele pegou a chave do seu
carro sobre a mesinha de centro e saiu, batendo a porta atrás de si, deixando apenas o estrondo da
madeira e das batidas do meu coração ecoarem pela sala.
— Não acredito nisso, James... — Benjamin comentou ao parar na minha frente.
— Vá atrás dele — pedi, me dando conta de que Logan estava nervoso demais para dirigir
e que poderia se meter em um acidente. Se alguma coisa acontecesse com ele... Porra, eu nunca
iria me perdoar. — Vá atrás dele, Ben, por favor.
Benjamin apertou o meu ombro em solidariedade e foi correndo para o quarto colocar uma
roupa. Saindo do torpor, voltei à cozinha e peguei o meu celular do chão, ligando para Avalon
para avisar sobre a forma como Logan saíra de casa e torcendo para que ele estivesse indo para a
casa dela.
Entrei no Maeve’s Bar tão furioso, que simplesmente esqueci que Valente estava de folga
naquela noite e só me lembrei quando já estava em frente ao balcão, procurando por ela. Antes
que eu pudesse dar meia-volta e ir para o seu apartamento, ela surgiu do nada, vindo ao meu
encontro sem a maquiagem pesada de costume, usando apenas um short jeans muito curto que
sempre me deixava de pau duro e uma blusa escura com estampa xadrez que terminava acima do
seu umbigo.
— Logan! O que aconteceu? — perguntou ao parar na minha frente e tomar meu rosto em
suas mãos.
— Como sabia que eu estava vindo para cá?
— James me ligou, disse que você saiu nervoso de casa, mas não me explicou o motivo. O
que houve? É algo com a sua avó ou seu pai? Sua irmã?
Aquele filho da puta! Só em pensar no nome de James, eu sentia vontade de voltar para
casa e dar mais um soco na sua cara de traidor. Tomei a mão de Avalon, disposto a ir para sua
casa, mas fomos interceptados de repente quando Benjamin parou na nossa frente, descabelado e
ofegante.
— Porra, nunca mais me dê um susto como esse, entendeu? Como sai de casa daquele
jeito? Podia ter sofrido um acidente, Logan!
— Saia da minha frente, não quero falar com você. — Minha voz saiu por entredentes
quando tentei passar por ele, mas Benjamin era teimoso demais quando queria e voltou a se
colocar em meu caminho.
— Eu não sabia de nada, Logan, juro para você!
— Sabia sobre o quê? Alguém pode me explicar o que está acontecendo? — perguntou
Avalon soltando a minha mão e cruzando os braços. — Qual dos dois vai abrir a boca e falar?
— James e Norah estão juntos — Ben respondeu e ouvir aquilo me deixou mais furioso
ainda.
— Juntos é o caralho, aquele filho da puta está apenas comendo a minha irmã!
— Meu Deus! — Avalon colocou a mão na frente da boca, chocada. Por que ela não
estava com raiva como eu? — Acho que todos nós precisamos de uma bebida. Por que não
pegam aquela mesa ali no canto e esperam por mim?
Benjamin tentou tocar em meu cotovelo para me levar em direção à mesa, mas eu me
soltei e segui sozinho, aceitando apenas porque precisava mesmo de álcool para digerir aquilo —
e porque Valente havia sugerido. Sentei-me e cruzei os braços, furioso, balançando a perna para
cima para baixo. Avalon voltou com uma garrafa de uísque, um balde pequeno de gelo e três
copos sobre uma bandeja, deixando-a sobre a mesa e se sentando ao meu lado.
Eu me servi, ignorando o gelo e dando um gole generoso na bebida forte, sentindo-a
descer queimando.
— Devagar, Logan, não faça com que eu me arrependa de ter trazido uísque! — pediu
Valente e eu apenas concordei com a cabeça, tocando em sua perna por debaixo da mesa. Só em
ter a sua presença ao meu lado eu já me sentia um pouco menos irritado. — Como descobriu
sobre essa história de James e Norah?
— Da pior forma possível, vendo uma mensagem da minha irmã para aquele filho da puta!
Ela enviou uma foto quase pelada para ele, porra!
— Que merda! — Benjamin murmurou enquanto servia uma dose para ele e Avalon. —
Precisa se acalmar, Logan, e me ouvir.
— Ouvir o quê? Se não sabia que eles estavam juntos, então, não tem nada para me falar!
Eu queria muito, mas não acreditava nem por um segundo que Benjamin não sabia
daquela merda. Se ele soube sobre Mason, o que impedia que ele soubesse sobre James estar
tocando na minha irmã? Na minha irmãzinha, porra! Servi mais uma dose e bebi sob o olhar
sério de Avalon.
— Eu disse a verdade, não sabia que eles estavam juntos, mas sabia que James estava
apaixonado pela Norah.
Eu ri alto e senti os olhos de alguns poucos clientes sobre mim. Ainda era cedo, mal
anoitecera, mas eu sabia que em breve o lugar estaria lotado e eu seria o centro das atenções.
Ótimo!
— Apaixonado? Como James estava apaixonado por Norah se a ajudou a ficar com Mason
dois meses atrás, porra?! Está achando que eu sou idiota?
— Claro que não, Logan...
— Mas é o que parece se acha mesmo que vou acreditar nisso. A verdade é que James
resolveu passar por cima da nossa amizade, de toda a nossa história, porque começou a desejar a
minha irmã! Eu via os olhares dele para cima dela, a forma diferente como a estava tocando e
tratando, sempre tentando disfarçar, mas mal conseguindo! Só que eu não quis acreditar que ele
estava sendo canalha a ponto de estar... Não, eu nem quero repetir essa merda em voz alta!
Trepando com a irmã.
Aquele filho da puta, que se dizia ser o meu melhor amigo, estava comendo a minha irmã!
O pensamento me deixava com a sensação de que havia uma corda em meu pescoço, me
deixando sufocado.
— Não acho que James faria isso, Logan — disse Valente, chamando a minha atenção. —
Não acredito que ficaria com a sua irmã se não tivesse sentimento envolvido.
— Havia sentimento envolvido, sim. Era tesão reprimido que aquele babaca sentia por ela!
— Não, Logan. Se parar de ser cabeça-dura e me ouvir, vai entender que não é nada
disso...
— Por que está aqui? — perguntei para Benjamin, interrompendo-o. — Porque James te
mandou, é isso? Ele é tão covarde que precisou mandar você aqui em sua defesa para poder me
convencer de que ama a minha irmã?
— Não, Logan, James só me pediu para vir atrás de você porque nós dois ficamos
preocupados com a forma como saiu de casa. Eu estou tentando conversar com você
simplesmente porque vocês dois são os meus melhores amigos e não quero que fiquem brigados
por conta de uma besteira.
— Besteira?! Ele estar comendo a minha irmã é uma besteira para você, Benjamin?
— Logan, fique calmo! — Valente tocou em meu peito, me fazendo recostar na cadeira de
novo. — Olhe para mim — pediu bem séria e eu obedeci. — Sei que está com raiva e que
quando fica assim não quer ouvir ninguém, mas precisa parar de agir dessa maneira impulsiva e
ouvir o que as pessoas têm a dizer para você. Escute Benjamin, ele é seu melhor amigo e se está
aqui, é porque se importa com os seus sentimentos.
Eu respirei fundo e concordei com a cabeça, sabendo que Avalon tinha razão. Ela sempre
tinha, afinal. Vi Ben dar um olhar agradecido para ela e tomar um gole de uísque antes de
começar a falar.
Ele explicou sobre a proposta que minha irmã fizera para James e o momento em que o
babaca aceitou ajudá-la a se aproximar de Mason. Sobre aquela história eu já sabia, mas se
Benjamin achava necessário me contar tudo de novo, eu iria ouvir, exercitando a minha
paciência. Chegou ao momento em que Norah e o jogador começaram a sair juntos e sobre a
forma como James passou a reagir àquilo.
— No início, eu tinha apenas uma suspeita de que James estava com ciúmes e achei que
era porque sempre foi muito apegado a Norah. Apenas naquela noite no pub foi que entendi que
o que ele sentia não era nada fraternal e o confrontei no banheiro sobre o que sentia por sua irmã
e James confirmou que estava apaixonado por ela.
— Você sabia disso durante todo esse tempo e nem pensou em me contar?
— Não cabia a mim, Logan. Precisa me entender, sou seu amigo, mas também sou amigo
de James, se eu contasse para você, estaria quebrando a confiança dele.
— Mas pôde quebrar a minha confiança ao esconder isso de mim?
— Escondi de você porque, até aquele momento, James apenas estava apaixonado e não
tinha nada com Norah. Eu acredito que ele não me contou que estava com ela porque não queria
pedir que eu mantivesse segredo de você.
— Ou simplesmente porque era mais fácil transar com a minha irmã sem precisar dar
explicação para ninguém — retruquei.
— Não, Logan. Você conhece James há muito mais tempo do que eu, foram criados
praticamente como irmãos, sabe que ele jamais tocaria em Norah se realmente não a amasse. Eu
vi o dilema dele naquela noite, como estava sofrendo e dividido entre os ciúmes que sentia ao ver
sua irmã com Mason, a descoberta de que estava apaixonado por ela e a lealdade a você.
— Vamos supor que tudo isso seja verdade. Por que James não veio conversar comigo
sobre o que sentia pela Norah?
— Por que ele sabia que você reagiria assim? — Foi Avalon quem perguntou e eu a
encarei sem demonstrar que estava abalado. — James te conhece melhor do que ninguém,
Logan, ele sabia que você reagiria mal e que, provavelmente, nem ia querer ouvir o que ele tinha
para dizer.
— Isso não é verdade! — defendi-me, mas Valente estreitou os olhos para mim.
— Não é verdade? Tem certeza? Eu te amo e você sabe, não estou falando isso para te
magoar, mas você é muito cabeça-dura, Logan! E quando o assunto é sua irmã, sempre passou
por ela como um rolo compressor. Estamos aqui discutindo sobre James, mas já parou para
pensar em Norah? Em como ela se sente? Sua irmã te ama e jamais aceitaria ficar com James se
não nutrisse sentimentos verdadeiros por ele, pois ela com certeza pensou na sua reação quando
descobrisse tudo. Talvez tenha sido ela que pediu para que James mantivesse segredo, já pensou
nisso?
Eu fiquei quieto por um tempo, sentindo meu peito se revolver. Avalon ter citado Norah
me fez perceber que em nenhum momento eu pensei nos sentimentos dela. De novo. Será que eu
estava sendo egoísta mais uma vez? Mesmo depois de ter prometido a minha irmã que eu iria
mudar?
— Acredito que Norah possa mesmo amar James — falei depois de alguns minutos, sendo
observado de perto por Valente e Benjamin. — Mas não consigo acreditar que ele sinta o mesmo
por ela.
— Por quê? Acha que sua irmã não é digna de ser amada por um homem como James? —
perguntou Avalon e suas palavras me atingiram com força.
— O quê? É claro que não! Norah é digna de todo o amor do mundo! — Defendi a minha
irmã, confuso com a pergunta de Valente. — E o que quer dizer sobre “ser amada por um
homem como James”?
— Um homem honesto, íntegro, que sempre a tratou com muito amor e respeito e que é o
melhor amigo do mundo para você desde que os dois eram moleques e ainda usavam fraldas! —
Avalon me deu um olhar meio condescendente, como se não acreditasse que estava precisando
me falar o óbvio.
— Avalon tem razão, Logan. James é mesmo tudo isso e você sabe. Sei que está com
raiva, principalmente pela forma como descobriu tudo, mas não pode apagar da sua mente o cara
incrível que aquele babaca é apenas porque está se sentindo traído por ele e por sua irmã.
Voltei a cruzar os braços e não consegui impedir o filme que começou a passar pela minha
cabeça. James e eu juntos desde crianças, aprendendo a jogar futebol, correndo pela minha casa,
jogando videogame no quarto dele, ficando mais velhos e começando a falar sobre garotas. Foi
para ele que contei quando transei pela primeira vez e foi para mim que James confessou estar
apaixonado por uma menina da nossa escola. Nós sempre estivemos juntos, eu conhecia a sua
alma e me sentia sufocado naquele momento por estar duvidando da lealdade dele, da nossa
amizade de anos.
Só que Avalon e Benjamin tinham razão. James era mesmo um cara incrível e, talvez...
Talvez.
Ele fosse o cara certo para a minha irmã.
— Merda... — Abri a garrafa de uísque e olhei para Avalon ao meu lado. — Desculpa,
Valente, mas eu preciso beber.
Avalon apenas concordou com a cabeça, como se soubesse que eu precisava extravasar de
alguma forma, e ficou ao meu lado junto com Benjamin enquanto eu dava um gole atrás do outro
no uísque. Senti meu corpo começar a pesar e minha mente ficar mais aérea, trazendo mais
lembranças à tona. A forma como Norah sempre olhou para James como se ele fosse a pessoa
mais especial do universo, o cuidado que ele tinha com a minha irmã, a forma como era protetor.
Porra, minha irmã confiava mais em James do que em mim! Aquilo me pegou bem fundo
de repente e funguei, virando o rosto para o lado.
— Logan? — Avalon tocou em meu rosto, mas me recusei a olhar para ela ou para Ben.
— Você está chorando?
— Não — resmunguei, sentindo minha língua mais pesada por conta da bebida. A
gargalhada de Benjamin machucou os meus ouvidos.
— Você está chorando sim, cara! Não acredito nisso!
— Sou eu que n-não acredito — solucei — que isso está acontecendo. É a minha
irmãzinha, Ben! Valente. — Virei-me para a minha garota e minha mente bêbada ignorou o fato
de que ela queria rir de mim. — Imagina se, de repente, o Ben... — Apontei para o meu amigo.
— Decide que quer na-namorar a Aub? Entende como isso não faz sentido?
— Não faz sentido mesmo, até porque, minha irmã tem quatorze anos, Logan.
— Vamos supor que ela seja ma-mais velha. — Revirei os olhos.
— Vamos supor merda nenhuma, você sabe que eu não quero me amarrar a ninguém e
agora quer usar a Aubrey como exemplo? Mesmo se eu quisesse muito me apaixonar, jamais
tocaria na garota que você considera a sua irmã mais nova, Logan — Benjamin comentou com
uma risada, como se eu estivesse louco. Estreitei os olhos.
— James também me prometeu que nunca tocaria na minha irmã e olha só o que
aconteceu. Agora o babaca está apaixonado por ela!
— Isso quer dizer que você acredita nos sentimentos dele? — Avalon jogou a pergunta em
meu colo.
Tomei mais um gole do uísque e observei a garrafa abaixo da metade sobre a mesa. Eu
não queria admitir, mas agora que estava mais calmo — e bem menos sóbrio —, precisava ser
honesto. Eu conhecia James, por mais que estivesse com raiva dele agora, e sabia que não seria
tão baixo a ponto de tocar em Norah se não a amasse. E minha irmã era a garota mais incrível e
doce que eu conhecia. Como meu melhor amigo não se apaixonaria por ela?
— Sim — murmurei e ouvi Benjamin falar “graças a Deus”. — Mas ainda estou puto e
não quero falar com aquele babaca tão cedo.
— James vai respeitar isso e dar um tempo para você processar tudo — Benjamin
garantiu.
— Ligue para ele. — Vi a surpresa nos olhos do meu amigo e da minha namorada com o
meu pedido. — E peça para colocar uma bolsa de gelo naquela boca. Eu o soquei, sabia,
Valente? Isso é uma droga. Isso é ruim pra caralho...
Sacodi a cabeça, me sentindo péssimo, e Avalon me abraçou pelo pescoço, deixando um
beijo no canto da minha boca.
— James vai te perdoar.
— Não quero o… perdão dele — resmunguei.
— Claro que quer, e você vai perdoá-lo também. A amizade de vocês não vai acabar
nunca.
Fechei os olhos ao ouvir as palavras de Avalon e torci para que estivesse certa.
Logan passou os últimos dois dias na casa de Avalon e eu decidi dar um tempo para que
meu irmão esfriasse a cabeça, apesar de estar louca para falar com ele, abraçá-lo e lhe dar uns
tapas por ter socado James e ser tão teimoso.
Demorei para entender o que havia acontecido quando cheguei em casa duas noites atrás e
encontrei James sentado no sofá com uma expressão de derrota no rosto e a boca sangrando. Ele
me contou cada detalhe com a voz embargada e uma tristeza no olhar que partiu o meu coração
em mil pedaços. Foi inevitável me sentir culpada por tudo aquilo — por causar uma briga entre
ele e meu irmão e por ter sido imprudente ao enviar aquela mensagem para James, mesmo que
aquele tipo de conversa fizesse parte do nosso “novo normal”.
Apesar de James garantir que não me culpava, acabei chorando em seus braços enquanto
processava tudo o que acontecera. Acabei ligando para Avalon em certo momento da noite, para
me certificar de que Logan estava bem, e ela me tranquilizou ao contar que ele ouvira tudo o que
Benjamin dissera a nosso favor e deixou claro que acreditava nos meus sentimentos e nos de
James. Ela me disse que meu irmão estava bêbado — o que me preocupou muito —, mas
garantiu que ele estava usando a bebida apenas porque estava com dor de cotovelo e que cuidaria
dele.
Só fiquei tranquila quando Benjamin chegou em casa com um semblante calmo e riu ao
dizer que Logan pediu para que James colocasse gelo na boca — coisa que eu já havia feito mais
cedo. O olhar que James me deu reconstruiu uma parte do meu coração, pois vi a esperança
neles. Esperança de que sua amizade com o meu irmão não estivesse perdida para sempre.
O jogo beneficente aconteceria naquela tarde de domingo e James acordou bem cedo para
poder ir para o centro de treinamento. Eu o encontrei debaixo do chuveiro antes das sete da
manhã e tirei a minha roupa antes de entrar no box e o abraçar por trás, dando um beijo em seu
ombro forte. Ele se virou em minha direção com um sorriso e tomou meu rosto nas mãos, dando
um beijo delicado em minha boca.
— Ainda é muito cedo, não deveria estar acordada.
— Senti a sua falta na cama. Como está se sentindo?
James estava muito calado naqueles dias, não que estivesse me ignorando, mas estava o
sentindo mais introspectivo, assim como eu estava também. Sentia que só voltaríamos à
normalidade depois que conversássemos de verdade com o meu irmão.
— Queria dizer que estou tranquilo, mas seria mentira. Estou ansioso para ver Logan. Não
faço ideia de como irá reagir na minha presença.
— Acho que ele não vai te dar outro soco — brinquei e deu certo, pois James riu.
— Também acho que não, mas se ele der, vou aceitar calado.
— Nada disso, um soco já foi um exagero, se Logan pensar em te dar outro, eu vou ter que
dar um soco nele por você.
— Desde quando você se tornou tão violenta?
— Só me torno violenta para defender aqueles que eu amo — falei, ficando na ponta dos
pés para que nossos lábios se encontrassem. — E eu amo você.
Beijei a sua boca com amor e sua língua dançou sensualmente com a minha, me deixando
sem fôlego e cheia de desejo. Não fizemos amor desde a confusão com Logan e eu sentia uma
saudade absurda de James. Acho que ele sentia o mesmo, pois aprofundou o beijo, arrancando
um gemido do fundo da minha garganta, e desceu as mãos enormes pelas minhas costas até
chegar em minha bunda. Ele me impulsionou, fazendo minhas pernas rodearem a sua cintura.
— Também amo muito você. — Sua voz saiu em um sussurro e eu ofeguei em seus lábios
ao sentir a cabeça gostosa do seu pau pressionar a minha entrada. — Mais do que já amei
qualquer outra pessoa em minha vida, Norah.
Eu sabia que James estava sendo sincero e a forma como suas palavras me tocaram, como
seu pau me invadiu até o fundo, me trouxe lágrimas aos olhos. Porque eu tinha certeza de que,
mesmo que aquilo quebrasse o seu coração, James abriria mão da sua amizade com Logan
apenas para ficar comigo se fosse preciso. Mas não seria. Eu jamais permitiria que chegasse
àquele ponto.
James fez amor comigo como se estivesse desesperado para me sentir e eu retribuí o seu
sentimento, beijando a sua boca e arranhando a sua nuca, acolhendo-o dentro de mim quando
começou a acelerar seus movimentos. Seu pau me tocou bem no fundo da boceta, me fazendo
ver estrelas ao olhar para o teto do banheiro, e o prazer me fez gemer o seu nome sem qualquer
pudor.
Com as minhas costas pressionadas contra o azulejo gelado, James me segurou firme pela
bunda, apertando com força as minhas nádegas, e me comeu com fome, olhando em meus olhos,
compartilhando seu ar, seu amor, sua alma comigo. Eu fui pega de surpresa pelo orgasmo
quando beijou a minha boca e o senti extravasar sem qualquer controle, metendo com muita
força em minha boceta enquanto gozava dentro de mim.
James me marcou naquela manhã, mais uma vez, e quando terminou, eu o encarei com um
sorriso emocionado.
— Não precisa se sentir ansioso por hoje, meu irmão te ama e vai nos aceitar — garanti,
simplesmente sentindo uma certeza que vinha do fundo do meu peito. — Jogue com a sua alma,
mostre para todo mundo o profissional incrível que você é e não permita que ninguém deixe você
duvidar da sua capacidade e da sua lealdade — falei bem sério, olhando em seus olhos. James
sabia que eu estava falando sobre seu pai, sobre Logan, sobre como ele se sentia no mais íntimo
do seu ser.
Seus olhos se encheram de lágrimas e vi algo brilhar em suas írises escuras. Gratidão.
— Eu não seria nada sem você, preciso que saiba disso — confidenciou e eu acreditava,
pois também não seria nada sem ele. — Eu te amo.
— Eu te amo.
Dei um beijo em sua boca e torci para que aquele fosse um dos melhores dias da sua vida.

A primeira pessoa que vi ao entrar no vestiário já cheio do nosso time, foi Logan. Ele
estava mais ao fundo, concentrado perto de Benjamin. Como se sentisse a minha presença, seus
olhos se encontraram com os meus e o lugar pareceu entrar em um silêncio profundo enquanto
eu encarava o meu melhor amigo. Não consegui ler muita coisa em sua expressão, mas fiquei
tranquilo ao perceber que já não parecia sentir tanta raiva de mim.
Se alguém percebeu como estávamos distantes, não disse nada. Eu duvidava que os
jogadores do time perderiam tempo observando minha relação com QB, mas não deixei
transparecer que estávamos abalados. Era importante que todo mundo acreditasse que estava
tudo normal, para que não estremecesse a confiança do time.
Nós nos arrumamos e, para a minha surpresa, Logan se aproximou de mim antes que
saíssemos do vestiário, perto da hora do jogo.
— Precisamos ter uma conversa muito séria mais tarde.
— Eu sei disso, só estava esperando que você estivesse pronto, Logan — murmurei de
volta para ele.
Logan apenas concordou com a cabeça e saiu. Benjamin começou a caminhar ao meu lado
e me deu um sorriso confiante.
— Vai ficar tudo bem, seu idiota. Na verdade, precisa ficar tudo bem, porque não aguento
mais aturar vocês dois choramingando.
— Não estou choramingando.
— Está, sim. Nunca pensei que diria isso, mas vocês conseguem ser mais insuportáveis
separados do que juntos.
Aquilo me arrancou uma risada sincera e dei um soco de leve no braço de Ben, abaixo do
nosso equipamento de proteção.
— E você está morrendo de saudade da gente, pode confessar.
— Talvez. — Benjamin ergueu o punho para mim e toquei o meu com o dele. — Vamos
vencer hoje.
— Vamos vencer hoje — repeti nosso lema e segui em frente ao seu lado.
O Bryant-Denny Stadium, estádio do Crimson Tide, estava lotado. Nós nos posicionamos
no lugar indicado e observamos o time do Clemson Tigers surgir no campo. Nos
cumprimentamos com apertos de mãos e eles logo foram para o seu lugar marcado, esperando,
assim como todos nós, pelo discurso do dono da ONG.
Eu sentia orgulho de jogar por causas tão especiais quanto aquela e sabia que meus
companheiros mais próximos se sentiam da mesma forma. Era sempre um prazer colocar o nosso
talento em campo para impulsionar boas ações. Enquanto o dono discursava, eu encontrei minha
família na primeira fileira da arquibancada ao lado do pai e da avó de Logan, e ignorei o olhar
atento do meu pai, agarrando-me às palavras de Norah.
Sorri ao ver que minha garota usava a minha camisa. Mesmo que Norah sempre a usasse
— substituindo-a, às vezes, pela camisa de Benjamin quando ele reclamava —, daquela vez, o
sentimento que me invadiu foi diferente. Eu sabia que ela estava usando a minha camisa porque
era a minha mulher agora e não mais a minha amiga. Ao seu lado, estava Avalon com a camisa
de Logan e Aubrey com a camisa de Benjamin. Eles fizeram as pazes depois que o idiota contou
a ela que excluiu o número das garotas.
O jogo começou e meu pai não mentiu quando disse que o Clemson Tigers viria com tudo
para cima do nosso time. Por estarmos em casa, a multidão nos impulsionava, cantando o nosso
grito de guerra, e eu fiz como Norah pediu. Dei tudo de mim naquele jogo.
A partida começou com Clemson Tigers atacando. Nosso time de defesa se posicionou e
foi rápido em impedir que Gavin Foster arremessasse a bola, pelo menos cinco dos nossos
jogadores se jogando em cima do quarterback forte e alto. Foi literalmente por milésimos de
segundos, caso contrário, Gavin teria conseguido lançar a bola para o wide receiver que estava a
postos.
Eles se reorganizaram para a segunda jogada e, daquela vez, o quarterback conseguiu
lançar a bola para o running back, que começou a correr pelo campo. Nós gritamos e senti
vontade de entrar em campo para fazer alguma coisa, mas respirei com mais tranquilidade
quando o jogador foi interceptado por outros dois jogadores da linha de defesa do Crimson antes
de se aproximar demais da end zone.
Nossa sorte não durou muito, infelizmente, pois os Tigers conseguiram marcar um ponto
ao acertar o goal post ao final do primeiro quarto. Estávamos apenas começando e tinha certeza
de que aquele jogo seria nosso. O QB do time adversário poderia ser ágil e talentoso, mas nós
tínhamos Logan Miller III ao nosso lado e eu sabia que ninguém mais amava aquele time como o
meu melhor amigo.
Logan me deu um olhar firme quando nos posicionamos e eu retribuí, fazendo o mesmo
com Benjamin. Éramos um trio, por mais que houvesse outros jogadores importantes ao nosso
redor. Senti Mason ao meu lado, posicionado da forma como o treinador Coben ordenou, mas
ignorei a sua presença.
A partida começou e Logan rapidamente recebeu a bola, lançando-a no ar para mim. Eu a
peguei e corri com ela debaixo da axila, batendo com os ombros em três jogadores que tentaram
me cercar enquanto meu time tentava bloqueá-los — Mason entre eles, o que me surpreendeu um
pouco, pois cheguei a pensar que nosso ódio mútuo o faria prejudicar o desempenho do time.
O pensamento sobre o tight end passou bem rápido pela minha cabeça, pois dei o máximo
do meu corpo e da minha agilidade para me aproximar da end zone do Clemson Tigers. Senti
mais dois jogadores tentando me derrubar, mas passei por eles como um flash, usando as
palavras de Norah naquela manhã como o meu maior incentivo. Eu quase podia ouvir a sua voz
gritando o meu nome no meio da multidão e lancei a bola para a end zone marcando um
touchdown para ela.
Meus olhos a encontraram no meio do público que berrava e os meus companheiros de
time vieram correndo para cima de mim comemorar. Nós nos separamos em poucos segundos e
nos preparamos para continuar minutos depois.
O resto do jogo passou por mim como um borrão. Eu estava tão concentrado, que mesmo
depois de termos marcado mais um ponto acertando o goals post, eu não relaxei. Apenas quando
chegamos ao final, com o placar inegavelmente a nosso favor, foi que me permiti comemorar
com o meu time e senti braços demais me cercando.
Aquela vitória era nossa, mas ia além disso. Era uma vitória pessoal. Não era um jogo da
temporada, eu sabia disso, mas foi o primeiro jogo em anos em que me entreguei sem pensar nas
possíveis críticas do meu pai e sem sentir o peso que ele exercia sobre mim. Sorri e abracei
Benjamin com força, nós dois já sem o capacete. Ele havia marcado um touchdown incrível, que
nos permitiu desempatar com o Clemson na última rodada.
— Você foi foda pra caralho! Estou orgulhoso! — disse ele, como se soubesse que aquele
jogo fora diferente para mim.
— Também estou orgulhoso demais de você!
Nós nos abraçamos mais uma vez e senti uma falta terrível de Logan. Ele estava
comemorando com outros dois jogadores e Ben me deu um olhar solidário.
— Vocês ainda vão comemorar essa vitória hoje à noite, acredite em mim!
Agarrei-me às suas palavras com toda a minha força. Nós voltamos a nos reunir em campo
quando o dono da ONG se aproximou para nos cumprimentar. Assim que ele se afastou, eu fui
falar com os jogadores do Clemson e apertei firme a mão do quarterback quando fechei a nossa
distância. Eu simpatizava com ele, talvez, por saber que também não ia com a cara de Mason.
— Você foi foda em campo, parabéns!
— Você também. O que foi aquele touchdown? — Gavin sorriu. — Admiro muito o time
de vocês, de verdade. Mereceram ganhar a última temporada. Espero que permitam que um outro
QB tome uma cerveja com vocês mais tarde.
Eu sorri para ele e concordei com a cabeça.
— Você e os outros jogadores serão mais do que bem-vindos hoje à noite.
— Vou levar apenas os melhores comigo. — Ele se aproximou um pouco mais de mim,
como se fosse contar um segredo. — Nem todos prestam fora de campo.
Pensei em Mason e entendi rapidamente o que ele quis dizer.
— Vou esperar por você e pelos melhores jogadores dentro e fora de campo, então.
Nós sorrimos e eu fui cumprimentar aqueles com quem não tinha falado ainda. Momentos
depois, voltei a me reunir com o meu time e o dono da ONG fez mais um breve discurso e
anunciou que sua equipe de voluntários havia preparado um vídeo em homenagem a todos que
participaram daquela ação solidária.
Nos telões espalhados pelo estádio, um vídeo com as fotos dos patrocinadores começou a
passar. Vi meu pai entre eles e não pude deixar de me sentir orgulhoso, principalmente quando
percebi que ele era o único homem negro entre tantos empresários importantes. Ele poderia ser
exigente demais comigo, mas eu sentia muito orgulho do império que construiu, ainda mais em
um país tão racista quanto o nosso.
Após os patrocinadores, vieram fotos do prefeito, alguns organizadores, os reitores da
faculdade e, por fim, fotos dos dois times, primeiro do Clemson e, por último, o nosso. Senti
alguém parar ao meu lado, mas estava concentrado demais no vídeo, achando legal a
homenagem, portanto, só ouvi a voz de Mason:
— Emocionante, não? Ainda não acredito que vencemos, espero que o dinheiro
arrecadado ajude muitas pessoas.
Eu concordei, afinal, aquele era o desejo de todos que estavam ali. Pelo menos, eu
acreditava que sim.
— Vai ajudar, essa é uma ONG séria — afirmei, pois meu pai pesquisara bastante sobre a
instituição antes de aceitar o convite para ser um dos patrocinadores.
— Sei disso. Achei legal da parte deles fazer essa homenagem. Eles pediram uma foto
para você?
Virei-me para Mason e franzi o cenho.
— Não. Eles pediram para você?
— Sim. — Ele olhou para o telão e sorriu. — Ali está a foto que eu mandei para eles.
Voltei a olhar para o telão e senti uma onda de choque passar pelo meu corpo quando, ao
invés de encontrar uma foto de Mason, encontrei uma foto minha e de Norah aos beijos em
frente ao banheiro do Maeve’s. Ouvi alguns companheiros de time comentando sobre a foto tão
fora de contexto da homenagem e vi Logan se virar para mim com o cenho franzido em
confusão. Ao meu lado, Mason comentou com ironia:
— Achei que seria emocionante mostrar para todo mundo que há um novo casal
apaixonado entre nós.
Eu me virei para aquele filho da puta e vi a sua máscara finalmente cair bem na minha
frente. Havia maldade em seus olhos e logo entendi a sua intenção. Ele não queria que todo
mundo soubesse que Norah e eu estávamos juntos, mas apenas uma pessoa em específico:
Logan. Seus olhos correram para o quarterback, mas, antes que ele pudesse abrir aquela boca
imunda, eu o atingi com um soco tão forte, que Mason caiu no chão.
A multidão gritou, mas eu perdi completamente a minha razão e me joguei sobre Mason,
voltando a socar aquela sua cara de menininho mimado que não aceitava perder. Ele sorriu para
mim, mesmo com a boca ensanguentada e o nariz quebrado, e tentou falar alguma coisa, mas um
outro punho atingiu a sua cara, fazendo-o virar o rosto para o lado. Ergui os olhos e fiquei
chocado ao ver que era Logan.
— Quem esse filho da puta pensa que é para expor minha irmã e você assim, porra?! —
Logan gritou e eu me levantei de cima de Mason apenas para trazê-lo comigo pela camisa do
time.
O babaca se ergueu, tonto, e eu o atingi de novo, antes de ser agarrado por trás. Mason
cambaleou e quase caiu em cima de alguém atrás dele. Vi que era Gavin. O quarterback — que
poderia facilmente se tornar o meu mais novo melhor amigo — empurrou Mason com força e
deu um chute na parte de trás do seu joelho, fazendo o tight end perder o equilíbrio e cair
ajoelhado no chão.
— Eu não sei por que está apanhando, mas com certeza mereceu cada soco que levou. Na
verdade, você merece uma surra há muito tempo! — disse o QB do outro time e alguém logo o
segurou por trás. Percebi que quem me segurava era Benjamin e que Logan também estava sendo
contido.
Sem perder aquela arrogância que agora Mason parecia não querer mais disfarçar, ele
ergueu a cabeça com um olho inchado, o nariz torto e a boca sangrando, e sorriu para Gavin.
— Cuidado, Gavin, ou eu posso revelar o seu segredo e tornar você a chacota da Carolina
do Sul.
Gavin não se intimidou. Ele tentou se soltar, mas como não conseguiu, falou mesmo de
longe:
— É você que precisa ter cuidado, Mason, pois eu sei o que você fazia na Carolina do Sul
antes de ser transferido para o Alabama. Se eu revelar o seu segredo, posso acabar com a porra
da sua carreira!
Mason finalmente pareceu abalado e seguranças se aproximaram junto com a polícia,
médicos, os reitores da faculdade e todos os empresários importantes que estavam reunidos no
estádio. Eu não consegui tirar os olhos de cima de Mason e, enquanto ele era levado para receber
os primeiros socorros, só consegui pensar nas palavras de Gavin.
Fiquei tão chocada ao ver uma foto minha e de James aos beijos no telão, exposta de
forma horrível para que todos pudessem ver, que demorei a entender o que estava acontecendo
no meio do campo. Da distância em que eu estava, só vi James partir para cima de alguém e o
susto pela sua reação me deixou ainda mais assustada. Nunca vi James agir de forma violenta
com qualquer pessoa. Foi Avalon quem agarrou a minha mão, me fazendo sair da arquibancada e
entrar no campo ao lado do meu pai quando, de repente, Logan se ajoelhou ao lado de James no
chão e socou o jogador caído no meio da grama.
Só quando chegamos mais perto, foi que reconheci o homem ensanguentando. Mason
ficou de pé apenas porque James o ergueu, mas parecia sem equilíbrio e sorria de forma
arrogante. Seguranças não deixaram que a gente se aproximasse, mesmo com os protestos do
meu pai, e o falatório da multidão não me permitiu ouvir o que os jogadores diziam um para o
outro. Percebi que o quarterback do time adversário também se metera na briga e o lugar se
tornou um pandemônio quando a polícia se aproximou.
— Vamos esperar tudo se acalmar e depois entramos no vestiário — meu pai pediu,
levando Avalon e eu para um lugar mais seguro onde ficava a equipe técnica do Crimson.
Eu olhei para trás, tentando ter um vislumbre da confusão, mas perdi James de vista.
Seguranças, médicos, empresários que eu não conhecia e até mesmo os reitores da faculdade se
aproximaram de onde ele estava e aquilo me deixou nervosa. Os telões estavam apagados, mas
nossa foto juntos em frente ao banheiro do Maeve’s Bar, no final de semana em que comemorei
ao lado dos meus amigos de teatro, ainda estava em minha mente.
Mason tirara aquela foto e a colocara no telão? Por quê? Eu só conseguia pensar naquilo,
apesar de estar confusa. Pensei que ele tivesse aceitado o nosso término. Nunca mais me
procurou desde a nossa última conversa e eu não tinha conhecimento de qualquer briga entre ele
e James nos bastidores do time. Mas se o wide receiver chegara ao ponto de socá-lo, bem como o
meu irmão, era porque Mason merecia.
— Pai, sobre aquela foto... — Tentei me explicar, mas meu pai apenas apertou o meu
ombro.
— Não estou preocupado com o conteúdo da foto, Norah, mas com quem a tirou e fez com
que aparecesse naquele telão para que milhares de pessoas vissem. O filho da puta que fez isso
vai pagar. — Papai garantiu, dando um beijo rápido em minha testa.
Sequei minhas mãos suadas em minha calça jeans e Avalon passou o braço pelo meu.
— Acha que foi Mason? — perguntou baixinho para mim quando os dois times finalmente
começaram a sair de campo.
— Para James e Logan reagirem daquela forma, acredito que sim, mas não entendo por
que ele faria isso.
— Talvez você não o conheça da forma que imaginava.
Concordei com a cabeça, me sentindo muito mal, apesar de saber que a culpa não era
minha. Pelo menos, não totalmente. Como poderia imaginar que Mason faria algo tão covarde e
exporia James e eu daquela forma? Na minha cabeça, ainda não fazia sentido. Aquela ação não
combinava com o homem que ele se mostrou ser para mim.
Após a confusão passar, meu pai conseguiu que um dos funcionários do time nos levasse
até onde meu irmão e James estavam. Descobrimos que eles não estavam no vestiário com os
outros, mas em uma sala menor junto com o treinador Coben, um dos reitores da faculdade e
Jonathan McHugh, pai de James, que olhava para o filho com irritação. Meu irmão e namorado
estavam sentados, ambos de braços cruzados enquanto o treinador e o reitor disputavam para ver
quem falava mais alto. Assim que nos viram, os dois se levantaram.
Quis correr para os braços de James, mas vi em seus olhos o pedido para que eu tivesse
cautela, por isso, me mantive ao lado de Avalon. O reitor mal percebeu a nossa presença
enquanto falava que era um absurdo aquele tipo de comportamento, que aquele era um evento
que traria muita visibilidade para a universidade e que James e Logan precisavam de uma
punição severa, talvez, uma expulsão. Aquilo fez o meu coração ficar ainda mais acelerado.
— Acho que nenhuma medida definitiva tem que ser tomada agora — disse o treinador.
— E o senhor, por mais que seja o reitor da faculdade, não tem autoridade para expulsar
qualquer jogador do time. Isso fica a cargo da comissão técnica. — A voz do pai de James soou
irritada.
— Por que estão conversando sobre a punição deles e não sobre o crime que aconteceu lá
fora?
— Estamos falando sobre isso, agressão é crime, Sr. Miller! — O reitor estava com o rosto
vermelho.
— Expor uma foto íntima sem o consentimento das vítimas também é um crime, Sr.
Dawson.
— Está falando sobre aquela foto do beijo? Não entendi por que ela estava no vídeo, deve
ter sido um engano...
— Não foi um engano! Mason Goldberg deu um jeito de fazer aquela foto aparecer no
telão e foi por isso que parti para cima dele! Sei que errei, mas ele expôs a minha namorada na
frente de milhares de pessoas e assumiu isso para mim! O que queriam que eu fizesse?
— Nada! Você não tinha que ter feito nada, James! Deixasse para resolver isso depois! —
Jonathan ralhou.
— É claro, pai, porque para o senhor não existe nada mais importante do que o time ou o
futebol, mas para mim, Norah é mais importante do que tudo! Eu jamais ficaria quieto enquanto
aquele filho da puta ficava rindo com a expressão satisfeita por ter exposto a intimidade da
minha mulher na frente de todo mundo!
A sala caiu em silêncio e eu... Eu amei James ainda mais. Não pude me manter distante
por mais tempo e me aproximei sem que ele percebesse, o abraçando com força. Ele ainda usava
o equipamento de proteção sob o uniforme, mas aquilo não me incomodou nem me impediu e
tomar seu rosto suado em minhas mãos e beijar delicadamente a sua boca.
Não me importei se meu irmão estava vendo, meu pai, o reitor da faculdade, ninguém. Só
me importei com aquele homem incrível, que havia sido tão exposto quanto eu, mas que
colocava a minha honra acima de qualquer coisa, inclusive do futebol.
— Eu amo você — sussurrei entre os seus lábios para que apenas James ouvisse.
— Também amo você. — Ele tomou o meu rosto entre as mãos e me deu um olhar aflito.
— Me perdoe, Norah, nunca imaginei que aquele filho da puta seria tão baixo a ponto de tirar
uma foto escondido de nós dois e expor dessa forma...
— Eu sei disso, a culpa não é sua, James. Mason me enganou. Ele não é nada do que eu
pensei que fosse.
— Não, ele não é, mas conversamos sobre isso depois.
Percebi que James sabia sobre algo que eu não tinha conhecimento, mas concordei com a
cabeça e segurei a mão dele antes de voltar a encarar os homens naquela sala. Avalon agora
estava ao lado de Logan e meu pai retomou a palavra.
— Acredito que o certo a se fazer agora, é deixar James e Logan irem para o vestiário,
enquanto nós nos reunimos para conversar de maneira civilizada sobre tudo o que aconteceu.
— Concordo — disse o treinador.
O reitor fez um aceno positivo com a cabeça, parecendo um pouco mais calmo depois da
defesa de James, e eu dei mais um beijo no jogador antes de deixar que ele fosse para o vestiário
com o meu irmão. Assim que eles saíram, aproximei-me do meu pai.
— Por favor, pai, não deixe que eles sejam expulsos.
— Eles não serão, pode ficar tranquila — garantiu e a sua confiança me deixou mais
calma. — É melhor vocês duas irem para casa agora, não há mais nada que possam fazer aqui.
— Seu pai tem razão, Norah — disse Avalon, segurando a minha mão.
Nós nos despedimos do meu pai e eu dei um olhar sério para o reitor antes de sair. Aquele
velho filho da mãe! Se ele ousasse expulsar James e Logan do time, eu nem sabia o que seria
capaz de fazer. Nós saímos juntas da sala e logo encontramos o caminho que nos levaria direto
para o estacionamento de pessoas credenciadas, já que Avalon garantiu que Aubrey tinha ido
embora com a minha avó e a família de James quando a confusão começou.
— Ainda não acredito em tudo isso, Ava... — comentei quando saímos do estádio e fomos
em direção aonde meu carro estava estacionado.
— Também estou chocada, mas confio no seu pai, sei que ele não vai deixar que Logan e
James levem uma punição severa.
— Sim, também confio nele, mas...
— Norah?
Virei-me entre as fileiras de carros estacionados e tomei um susto ao encontrar com
Megan a alguns metros de onde eu estava. Ela saiu do lado de um automóvel vermelho e
conversível e simplesmente começou a se aproximar de mim.
— Quem é ela? — Avalon perguntou baixinho ao meu lado e só então me dei conta de que
ela nunca tinha visto a ex de James pessoalmente.
— Megan, a ex-namorada de James.
— E o que ela quer com você?
Bom, eu não fazia ideia, mas depois de James ter me dito que Megan vinha o perseguindo,
resolvi que estava na hora de descobrir. Esperei que ela se aproximasse completamente e cruzei
os braços, olhando-a de cima a baixo. Pelo menos ela não teve a cara de pau de usar a camisa de
James. Ao contrário da maioria das pessoas presente no jogo naquela tarde, ela não usava a
camisa de nenhum dos dois times.
— Oi. — Megan parecia quase sem graça. Seus cabelos pretos estavam presos em um rabo
de cavalo, evidenciando seu rosto bonito e sempre bem-maquiado.
— O que você quer, Megan? Nós não temos nada para conversar e acredito que você e
James também não tenham nenhum assunto para resolver.
— Realmente, nós não temos. — Sua resposta me pegou de surpresa e me deixou confusa.
— Mas eu precisava muito falar com ele depois que descobri que você e Mason estavam juntos,
Norah. Acho que agora não estão mais, depois daquela foto que apareceu no telão, mas sinto que
preciso contar sobre o que sei mesmo assim. Poderia me ouvir?
Olhei para Avalon em busca de um conselho e ela apenas concordou com a cabeça, apesar
do olhar desconfiado que dava para Megan. Apenas por curiosidade, resolvi aceitar.
— Tudo bem, mas o que tiver que me falar, vai ter que ser aqui, e depois eu quero que
suma da vida do James.
— Farei isso. Ao contrário do que pensa, não estou como louca atrás do James porque
quero reatar com ele...
Eu ri ao ouvir aquilo.
— James nunca vai querer reatar com você.
— Tenho consciência disso e, como falei, não quero ter nada com ele. — Megan respirou
fundo. — Pode não acreditar em mim, Norah, mas me arrependo do que fiz com James. Meu
primo e eu... Nós nos amamos e eu fui boba em acreditar que poderia apagar esse sentimento
ficando com outra pessoa. Agi como uma irresponsável quando aceitei namorar com James, não
me preocupei com os sentimentos dele e acabei o traindo e magoando profundamente. Sei que
nada do que eu fizer vai poder apagar a dor que causei a ele, mas acredito que estou fazendo o
certo ao estar aqui falando com você, contando tudo o que sei, porque James te ama, ele sempre
te amou, mesmo quando estava comigo. Ele poderia não saber disso, mas eu sentia.
Fiquei em choque com as suas palavras e, por um momento, quase me coloquei em seu
lugar. Eu também não resolvi ficar com Mason mesmo gostando de James? Mas logo tirei aquilo
da cabeça. Eu jamais me permitiria ficar com James ou ir para cama com ele caso estivesse em
um relacionamento sério com Mason. Sentimentos não eram uma escolha, mas traição, sim. E
Megan escolheu trair de James da forma mais suja possível.
— E o que você precisa me contar?
— Mason não é o bom-moço que acredito que ele demonstrou ser para você. — Eu fiquei
rígida e senti Avalon ficar tensa ao meu lado. — Ele não resolveu mudar de cidade e de
faculdade à toa, Norah. Mason fez isso porque estuprou a filha de um homem importante quando
ela estava na Carolina do Sul no final do ano passado e os pais dele fizeram um acordo
milionário para que esse homem não o denunciasse para a polícia.
Meu coração disparou com tanta força no peito, que eu cheguei a dar um passo para trás.
Fiquei ligeiramente tonta com aquela informação, minha mente jogando as palavras de um lado
para o outro. Avalon apertou a minha mão com força e perguntou:
— Como sabe disso? Quem é a garota que ele estuprou?
Megan nos deu um olhar profundo e vi medo dentro deles. Medo e coragem.
— Sei disso porque eu fui a vítima de Mason quando me hospedei no hotel do pai dele na
Carolina do Sul.

Dei um copo de água para Megan e me sentei no sofá ao lado de Avalon. Resolvi convidar
a ex-namorada de James para nos acompanhar até em casa, pois era visível como ficou nervosa
após contar que foi vítima de Mason. Megan tremia e não deixei que dirigisse, a convenci de que
seria melhor aceitar vir comigo e Avalon em meu carro e aqui estávamos agora, com ela sentada
à nossa frente, mal conseguindo nos encarar.
Deixei de lado toda raiva que sentia dela por ter traído James quando ainda namoravam e
segurei sua mão assim que terminou de beber a água. Nem por um momento eu duvidei da
palavra de Megan ou me deixei ser influenciada por seu passado com James. Estava nítido em
seu olhar, em sua postura, que falava a verdade, e eu podia imaginar como devia ser difícil estar
na minha frente agora, me contando tudo aquilo, apenas porque queria me proteger daquele
predador disfarçado de bom-moço.
— Meus pais, como devem imaginar, não aceitam que eu seja apaixonada por Rob,
mesmo ele sendo o meu primo de segundo grau. Meu pai ficou furioso por James ter descoberto
a minha traição em época de eleição e me proibiu de chegar perto do meu primo. Mandou-o para
fora do país assim que James rompeu comigo e passou os próximos meses me apresentando a
filhos de aliados políticos e empresários. Foi em um desses eventos armados por meu pai, que
conheci Mason. Ele se mostrou um verdadeiro príncipe para mim e, juro, se eu não amasse tanto
Rob, provavelmente teria me apaixonado por ele.
Megan fez uma pausa e Avalon se aproximou dela, apertando levemente a sua mão na
minha. Podia imaginar como aquele assunto era delicado para a minha cunhada, mas ela em
momento algum demonstrou que sairia do lado da ex-namorada de James. Eu poderia entender
Megan, pois Mason também se apresentou como um homem incrível para mim, simpático e
carismático, muito gentil. Se eu não fosse tão apaixonada por James, provavelmente sentiria algo
mais profundo por Mason.
— Meu pai percebeu a nossa interação durante a festa e acabou aceitando um convite do
pai de Mason para assistirmos a uma partida do Clemson Tigers na Carolina do Sul e nos
hospedarmos no seu hotel. Após a partida, Mason me convidou para ir com ele à festa de
comemoração do time, pois ganharam naquela noite, e eu aceitei. A partir do momento em que
aceitei a bebida que ele me deu, minha memória começa a ficar difusa, mas sei o que ele fez
comigo. Lembro-me de me sentir muito tonta, enjoada, e pedir para que ele me levasse embora.
Então, tenho flashes de Mason me carregando para o elevador do hotel do seu pai e, depois, me
colocando na cama da suíte. Quando acordei no dia seguinte, estava sozinha. Eu sentia muita dor
na região íntima e estava... Estava suja com sêmen. Sêmen dele.
— Meu Deus, Megan... Eu sinto muito. — Minha garganta pinicou e lágrimas vieram aos
meus olhos. — Eu realmente sinto muito.
Sabia que minhas palavras eram inúteis naquele momento, que nada do que eu ou Avalon
disséssemos, tiraria de Megan aquela dor, o fato de ter sido violada de uma forma tão violenta,
sem nem ao menos ter a chance de se defender.
— A primeira coisa que fiz, foi ligar para a minha mãe. Eu me sentia mal fisicamente,
acredito que por causa da droga que Mason colocou em minha bebida, portanto, minha mãe
aceitou me levar para o hospital sem o conhecimento do meu pai. Os médicos detectaram que fui
abusada e drogada e minha mãe exigiu saber quem havia feito aquilo comigo. Eu contei para ela,
ela contou para o meu pai e quando pensei que eu poderia sair do hospital para ir a uma
delegacia, meu pai não permitiu. Disse que o pai de Mason estava investindo dinheiro na sua
candidatura, eles eram parceiros de negócio e não poderia colocar tudo em risco, principalmente
depois de ter vencido a eleição. Então, ele fez um acordo com o pai de Mason e cobrou dois
milhões de dólares para não denunciar aquele estuprador desgraçado.
— Eu não acredito. Isso é revoltante, Megan! Que tipo de pai faz algo assim? — Avalon
perguntou, mas logo pareceu arrependida. — Sinto muito, eu não queria...
— Você está certa. Eu me perguntei isso naquele momento e continuo me questionando
todos os dias. A revolta que eu sinto só não é maior do que o meu medo de que Mason faça mais
vítimas, porque eu não fui a primeira garota que ele estuprou. O babaca confessou para o pai que
já tinha feito aquilo mais duas vezes. Então, com a ajuda do meu pai, ele foi transferido
rapidamente para cá. Acredito que o pai daquele idiota ficou com medo de que as outras vítimas
do filho abrissem a boca e denunciassem aquele bastardo.
— Que absurdo! — Eu me levantei do sofá, pois estava nervosa demais para ficar sentada.
— Como não percebi que ele era esse monstro? Meu Deus, não acredito que fui tão burra!
— Não tinha como você saber, Norah, homens como Mason são mestres em enganar e
manipular — disse Avalon. — Não se culpe por ter acreditado na versão que ele mostrou para
você.
— Avalon tem razão, Norah. Quando uma amiga, que sabe tudo o que aconteceu comigo,
me contou que viu você e Mason juntos em um pub, eu me desesperei. Soube que precisava
contar para James quem Mason era de verdade e alertá-lo para que fizesse você se afastar dele.
Queria que alguém tivesse feito isso por mim.
— Obrigada — pedi, aproximando-me dela e me abaixando para poder abraçá-la. —
Obrigada por isso, Megan, pela sua coragem e por ter se preocupado.
— Não precisa agradecer e nem se culpar por ter confiado em Mason. Eu também me
enganei, confiei nele quando nos conhecemos, aceitei ir com ele para aquela festa... Eu me
arrependo, mas Rob me ajudou a entender que eu não tenho culpa. Ainda estou em um processo
para aceitar isso, confesso, me sinto uma burra por ter confiado em Mason, mas preciso começar
a acreditar que ele é o único culpado pelo que fez comigo.
— Sim, ele é, Megan — disse Avalon enquanto apertava a mão dela.
Eu fiquei em silêncio por um momento, revivendo cada encontro que tive com Mason, sua
facilidade em me fazer rir, todas as palavras certas que saíam da sua boca, a forma como se
aproximava de forma sorrateira, mas que parecia muito natural. Ele era o cara perfeito. Mas
então me lembrei de como seu olhar começou a mudar e me incomodar, como seu toque foi se
tornando mais agressivo, como suas palavras começaram a se tornar tendenciosas.
E a noite em que me levou para a festa de Carter. A mudança de planos sem me consultar,
a forma como me deixou no meio da casa lotada de estudantes bêbados para pegar uma bebida
para nós dois. Meu coração começou a ficar mais acelerado. Mason tinha a intenção de me dopar
naquela noite e abusar de mim?
Eu preferia não saber. A ignorância era uma benção às vezes e eu me agarraria a ela.
Ouvi a porta da frente se abrindo e me virei a tempo de ver James, Logan e Benjamin
entrando. Eu corri até o wide receiver e o abracei com toda a minha força, quase abrindo a boca
para agradecer por ter ouvido John naquela noite e ter ido atrás de mim na festa de Carter. Se eu
não tivesse encontrado James no quintal com Alicia e ficado chocada com o beijo dos dois,
provavelmente, me forçaria a ficar naquela festa mesmo sem querer e aceitaria a bebida de
Mason. Eu não queria imaginar o que poderia ter acontecido comigo.
— Norah... — James pegou meu rosto entre as mãos e deu um olhar confuso para Megan.
— O que está acontecendo?
Eu me virei para Megan e deixei nas mãos dela a decisão de contar sobre o seu maior
trauma ou não. Ela pareceu me entender e expôs Mason mais uma vez na frente de todos nós.
Fiquei um tempo debaixo do chuveiro, deixando a água quente cair com força sobre os
meus ombros que se recusavam a relaxar. As palavras de Megan, a dor em seus olhos,
simplesmente se recusavam a sair da minha cabeça. E eu não queria que elas desaparecessem. Eu
me lembraria delas todos os dias, para nunca mais deixar de confiar na minha intuição. Algo em
Mason sempre me acionou um alerta, desde a noite em que o encontrei com Norah em frente ao
banheiro da nossa casa na festa de comemoração do Crimson.
Ter pesquisado sobre a sua vida e não encontrado qualquer mácula acabou me fazendo
ignorar aquela vozinha que insistia em dizer que eu não deveria gostar ou confiar nele. Ao fazer
isso, deixei o caminho livre para que aquele filho da puta estuprador se aproximasse de Norah,
tocasse nela, a beijasse e quase firmasse um relacionamento. Se ele tivesse feito qualquer coisa
com ela... Eu o mataria com as minhas próprias mãos e jamais me perdoaria.
Todos nós ficamos comovidos com o trauma que Megan passou e eu não deixei que saísse
de nossa casa sem antes conversar seriamente com ela e perguntar se não queria denunciar
Mason. Eu sabia como o pai de Megan podia ser manipulador, convivi durante meses com
aquele homem sendo o meu sogro e vi a forma como agia.
Podia entender como conseguiu fazer com que Megan se calasse sobre o abuso sexual que
sofrera, mas aquele tipo de crime não poderia mais ficar impune. Homens como Mason
precisavam ser detidos, ter suas carreiras e vidas destruídas. Ele não poderia continuar a transitar
como um homem livre quando era a porra de um predador sexual!
E se já tivesse feito alguma vítima aqui no Alabama e não sabíamos? O dinheiro comprava
muita coisa, mas não podia mais comprar a liberdade daquele desgraçado.
Foi Avalon e Norah que conseguiram convencer Megan a sair das amarras do pai e
denunciar Mason. Talvez por saber do passado da namorada de Logan, Megan pareceu mais
confiante e percebi como ficou surpresa com o apoio incondicional de Norah. Não havia espaço
para qualquer mágoa do passado quando Megan decidiu passar por cima de tudo apenas para
alertar Norah sobre o perigo que corria nas mãos de Mason.
Fiquei ainda mais arrependido por não ter dado a ela a chance de me falar o que queria
quando tentou se reaproximar de mim. Norah não teria corrido mais riscos nas mãos daquele
filho da puta. Não tinha como voltar atrás, eu sabia, mas podíamos dar um basta naquela
situação. Megan foi embora após aceitar conversar com o pai de Norah no dia seguinte e eu
passei a próxima hora simplesmente agarrado a minha garota, como se quisesse garantir para
mim mesmo que estava tudo bem.
Sabia que precisava enfrentar uma série de coisas ainda, como a decisão da comissão
técnica do time sobre a minha agressão a Mason, a conversa que precisava ter com Logan, mas
deixei tudo de lado para ficar com ela. Apenas agora tinha conseguido me afastar e precisei de
um banho para tentar colocar a minha cabeça no lugar e entender tudo o que estava acontecendo.
Eu não descansaria até ver Mason atrás das grades, não apenas por tudo o que fizera com
Megan, mas pelo risco que fizera Norah correr no tempo em que ficaram juntos e pelas outras
vítimas que seu pai certamente calou, afinal, tinha poder, dinheiro e influência para jogar
qualquer ameaça contra Mason para debaixo dos panos.
Pensar naquilo me fez lembrar das palavras de Gavin no momento da briga. Naquela hora,
não entendi o que ele quis dizer, mas agora não conseguia deixar de me perguntar se, talvez,
fosse sobre os abusos de Mason que ele estivesse falando. Com isso em mente, saí do chuveiro e
peguei meu celular em cima da cama.
Eu não tinha o contato do quarterback do Clemson Tigers, mas sabia que Thomas, o
inside linerback do Crimson, tinha o número dele, pois se conheciam há algum tempo. Consegui
com ele o celular do jogador e não perdi tempo em ligar. Gavin atendeu após o segundo toque:
— Alô?
— Oi, Gavin, aqui é James McHugh, o wide...
— O cara que se tornou o meu ídolo por socar a cara do filho da puta do Mason
Goldberg — me interrompeu e eu acabei rindo enquanto me sentava na beira da cama.
— Posso dizer o mesmo para você, afinal, foi quem derrubou Mason de joelhos na nossa
frente.
— Ele merecia. Quer dizer, não sei exatamente o que fez para você, mas sei que o babaca
merecia uma surra há muito tempo.
— Tem a ver com algum caso de abuso na época em que ele ainda era jogador do
Clemson Tigers?
Gavin passou um tempo em silêncio, mas não me arrependi de ter ido direto ao ponto.
Cada minuto que perdíamos era um tempo a mais que Mason tinha para fazer novas vítimas.
— Como sabe disso?
— Conheci a história de uma de suas vítimas e me lembrei do que você disse para Mason
em campo. Acredito que tenha o mesmo pensamento que eu e que queira ver aquele estuprador
de merda atrás das grades. Se sim, poderia me encontrar amanhã para me contar tudo o que sabe
sobre ele?
— Claro que sim, pode contar comigo. — Gavin não hesitou. — Está na hora de fazer
Mason pagar por todo mal que já causou.
Eu respirei mais aliviado ao ouvir aquilo e agradeci antes de encerrar a ligação. Gavin era
um bom homem e isso explicava o porquê de Mason não gostar dele. Provavelmente, aquele
filho da puta só se tornava amigo de abusadores, afinal, um merda sempre reconhecia outro.
Estava terminando de me vestir no closet quando ouvi duas batidas na porta do meu
quarto. Pedi para que entrasse, achando que era Norah, mas paralisei ao encontrar Logan quando
saí de dentro do armário. Ele me encarou após dar uma olhada geral em meu quarto.
— Pouco tempo namorando com Norah e ela já o obrigou a manter o seu quarto
organizado?
Eu abri e fechei a boca por um segundo antes de tentar segurar uma risada. Como ele sabia
daquilo?
— Resolvi me policiar depois de ela ter me dado uma série de esporros sobre eu ser
bagunceiro e ter mania de deixar toalha molhada em cima da cama.
— Pelo menos ela está te colocando na linha, coisa que nunca consegui. — Logan me deu
um olhar levemente debochado e cruzou os braços antes de perder o tom de brincadeira. — Não
vou perguntar se você a ama, porque já sei disso. Eu sempre soube. Lógico que pensei que fosse
um amor de amigo ou forte o suficiente como o amor de um irmão e fui pego de surpresa com a
mudança dos sentimentos de vocês dois, mas preciso que saiba que eu acredito em você, James.
Sei que não tocaria em Norah se não a amasse.
Um peso enorme saiu dos meus ombros e eu precisei me segurar para não partir para cima
de Logan e dar um abraço apertado nele.
— É claro que eu a amo, Logan. Eu a amo tanto que mal posso começar a explicar.
— Então por que não me disse isso? Por que preferiu ficar escondido com a minha irmã ao
invés de falar comigo?
— Porque eu sabia que você ficaria puto e tive medo de estragar a nossa amizade.
— É claro que eu ficaria puto! Estamos falando da minha irmã e sempre pedi para que se
mantivesse longe dela, ainda assim, deveria ter me falado, James. Era só conversar comigo, eu
poderia demorar a entender, mas uma hora iria aceitar, assim como estou aceitando agora.
— É sério? — Arregalei os olhos, pois esperava por tudo, menos ouvir aquelas palavras
tão rapidamente.
— Sim, é sério. Posso ser cabeça-dura, como Valente adora esfregar na minha cara, mas
não sou idiota. Eu sei que não haverá no mundo um homem melhor para a minha irmã do que
você. Se não soubesse disso antes, teria descoberto hoje, quando o vi partir para cima de Mason
sem pensar nas consequências, colocando em risco toda a sua carreira apenas para defendê-la.
— Você também fez isso, socou Mason comigo para defender Norah.
— Não apenas para defender ela, mas você também. — Suas palavras me paralisaram. —
Aquele desgraçado expôs vocês dois daquele jeito porque pensou que eu não soubesse que
estavam juntos. E se eu tivesse descoberto naquele momento? Eu teria dado um soco na cara dele
mesmo assim, depois socaria você, é claro. E então, eu me arrependeria, assim como me
arrependi de ter socado você na nossa cozinha naquela noite. — Logan quase sorriu, mas logo
ficou sério. Eu, por outro lado, não consegui esconder tão bem as minhas emoções.
— Eu mereci aquele soco.
— Sim, você realmente mereceu, não por amar a minha irmã, mas por ter escondido tudo
de mim e por ter ido para cama com ela. Eu nunca vou te perdoar por isso, seu babaca. Ela é
minha irmãzinha! — A revolta de Logan me fez soltar uma risada. — Isso não é nada engraçado,
James.
— Você vai me perdoar, sabe por quê?
— Duvido muito disso, mas agora quero saber o porquê.
— Porque, um dia, Norah e eu vamos te dar muitos sobrinhos e você será o padrinho de
cada um deles — falei, aproximando-me de Logan. A raiva foi sumindo aos poucos da sua
expressão. — E então, você nem vai se lembrar do que Norah e eu precisamos fazer para trazer
cada criança ao mundo.
— Eu nem quero me lembrar! Já estou traumatizado o suficiente depois de ler aquela
mensagem. — Ele me olhou com uma sobrancelha arqueada. — Eu vou ser mesmo padrinho de
todas as crianças?
— Você tem a minha palavra.
— E desde quando a sua palavra vale de alguma coisa? Prometeu que nunca tocaria na
minha irmã e olha onde estamos agora.
— Você acabou de concordar que não há no mundo um homem melhor para Norah do que
eu.
— E daí? Como irmão mais velho, eu tenho o direito de ficar revoltado pelo tempo que eu
quiser.
— Para de ser idiota. — Eu ri e o segurei pelos ombros, voltando a ficar sério. — Me
desculpa por ter escondido tudo isso de você. Tem razão em tudo, Logan, em sentir raiva, em ter
se sentido traído por mim, até mesmo em ficar decepcionado por eu ter quebrado a promessa que
fiz para você quando ainda éramos moleques, mas preciso que saiba que, por Norah, eu faria
qualquer coisa. Eu a amo como nunca amei qualquer outra pessoa na minha vida e vou fazer da
sua irmã a mulher mais feliz do mundo, pode ter certeza disso.
— Se eu não tivesse essa certeza, não estaria aqui agora. — Logan me deu um sorrisinho.
— Eu desculpo você, seu babaca. E acho melhor parar de mentir, sei que está com Norah só
porque queria uma desculpa para se tornar meu irmão de verdade.
— Eu sou seu irmão de verdade e isso nunca vai mudar — falei com um sorriso enquanto
puxava Logan para um abraço apertado. — Amo você, idiota.
— Me ama mesmo? Então prova. Só volte a tocar na minha irmã depois do casamento —
disse ele ao se afastar.
— Desculpa, mas eu não te amo tanto assim.
Logan revirou os olhos, tentando manter a postura de durão, mas acabou se desarmando
quando Norah abriu uma frestinha da porta e revelou a sua presença e a de Avalon e Benjamin.
Eu comecei a gargalhar ao perceber que os três estavam ouvindo tudo no corredor.
— Agora que já fizeram as pazes, a gente pode entrar?
Eu concordei com a cabeça e Norah veio correndo para os meus braços com um sorriso
emocionado, sendo seguida por Avalon e Benjamin.
— Por que não entraram antes, já que ficaram com a orelha grudada na porta? —
perguntou Logan.
— Porque queríamos que vocês conversassem a sós — disse Avalon ao ser abraçada por
ele.
— Na verdade, elas queriam, por mim, eu estaria aqui dentro com um balde de pipoca e
ainda daria a minha opinião quando tivesse a oportunidade.
— Você não cansa de ser insuportável? — perguntei para Ben e ele pousou a mão no
peito, fingindo estar ofendido.
— Logan te perdoou por minha causa e é assim que você me trata?
— Na verdade, Logan o perdoou por minha causa — Avalon retrucou.
— Desculpa, Valente, mas eu tive o trabalho mais pesado...
— Claro que não! Eu que o aturei bêbado e chorando no meu ombro quando você foi
embora...
— Eu não chorei!
— Chorou sim — Benjamin e Avalon disseram praticamente juntos.
Deixei os dois discutindo, enquanto Logan tentava se defender, e abracei Norah com mais
força por um momento antes de tomar seu rosto em minhas mãos.
— Agora nada mais nos impede de ficar juntos. Está feliz?
— Muito! — Ela sorriu e o brilho em seus olhos me dizia tudo o que eu precisava saber.
— Mas confesso que só ficarei em paz quando Mason estiver na cadeia.
— Eu também. Ele não vai sair impune, Norah, pode ter certeza. Eu só sinto muito por ter
deixado aquele filho da puta se aproximar de você.
— Não se culpe, você não tinha como saber, James, assim como eu também não poderia
adivinhar que ele era esse monstro.
— Mas ele me deu sinais de que era um covarde e eu acabei ignorando. Até tentou colocar
Logan contra mim ao contar que eu sabia que você e ele estavam saindo juntos.
— Mason fez isso? — Norah franziu o cenho. — Por que não me disse?
— Não quis influenciar você na época, achei apenas que ele queria me afastar, pois estava
desconfiando dos meus sentimentos por você. Não imaginei que ele fosse um estuprador, isso
nunca passou pela minha cabeça.
— Como eu disse antes, você não tinha como saber. O que importa é que ele não
conseguiu fazer nada de ruim comigo e que vai pagar por todos os crimes que cometeu.
— Sim, isso é tudo o que importa.
Eu precisava pensar naquilo mais vezes para poder me livrar da culpa que sentia por ter
deixado aquele predador se aproximar da minha garota. Norah me deu um sorriso e eu a beijei,
finalmente podendo tocá-la como eu queria sem precisar esconder de ninguém. Ao fundo, ouvi
Logan dizer:
— Vocês podem me respeitar? Eu preciso de um tempo para me acostumar com a ideia de
que são namorados agora! — Eu apenas ergui o dedo do meio para ele enquanto sentia Norah
sorrir com a boca na minha. Benjamin gargalhou, assim como Avalon, e Logan resmungou: —
Vai se foder, James!
Continuei a beijar Norah sem qualquer preocupação ou peso na consciência.
Após Gavin Foster afirmar que acreditava que uma de suas colegas de curso foi vítima de
Mason, nós conseguimos contatá-la e conversar diretamente com ela. Seu nome era Brittany
Lovell e sua história era muito parecida com a de Megan, o que nos fazia acreditar que Mason
tinha um modus operandi. Eles se conheceram no campus e dias depois ele a convidou para ir a
uma festa de fraternidade. Lá, ele a drogou e cometeu o abuso sexual em um dos quartos da casa,
deixando-a sozinha logo depois.
Brittany nos contou que foi Gavin quem a ajudou a ir para casa de madrugada e que ele a
viu chegar na festa com Mason. Sua primeira reação foi negar quando o quarterback perguntou
se ela havia sido abusada pelo jogador, mas depois que o choque passou, Brittany resolveu ir
atrás do tight end e confrontá-lo.
A garota afirmou para Mason que sabia o que ele fizera com ela, mas o filho da puta
apenas riu e disse que ninguém acreditaria em sua palavra. A ameaçou com o poder e a
influência da sua família, alegando que a faria ser expulsa da faculdade caso o denunciasse ou
contasse para alguém sobre o que havia acontecido. O fato de Mason nem sequer ter tentado
negar me deixou ainda mais revoltado.
Brittany morava em uma república estudantil e conseguiu entrar na universidade porque
era bolsista. O medo de que Mason cumprisse com a sua ameaça a fez desistir de denunciar, mas
depois de conversar conosco, ela aceitou entrar com uma ação conjunta com Megan. O pai de
Norah as representaria e eu mal podia esperar para ver aquele desgraçado na cadeia.
Logan e eu fomos convocados para uma reunião com o comitê do time para prestar
explicações sobre a briga no final da partida. Apresentamos a nossa defesa alegando que Mason
expusera uma foto íntima minha e de Norah na frente de milhares de pessoas e o próprio dono da
ONG afirmou que, após uma investigação interna, feita a pedido do meu pai e do pai de Logan,
descobriu que o voluntário responsável por editar o vídeo de homenagem, foi contatado por
Mason e recebeu um valor do jogador para que colocasse a foto no vídeo.
A comissão pediu alguns minutos para avaliar a nossa defesa, mas eu estava confiante de
que não levaríamos uma punição severa e Logan também. No final, recebemos apenas uma
suspensão disciplinar e ficaríamos no banco durante duas semanas, proibidos de treinar e
participar de reuniões do time.
Assim que deixamos o prédio do comitê, meu pai pediu para que eu fosse com ele para
casa. Eu sabia que em algum momento ele ia querer conversar comigo, por isso, aceitei. O segui
de carro e, assim que chegamos, falei rapidamente com a minha avó e minha mãe, que me
bombardearam de perguntas sobre o meu relacionamento com Norah, e prometi que contaria
tudo para elas após conversar com o meu pai. Fui com ele até o seu escritório e permaneci quieto
quando se virou para mim com o semblante severo.
— Está feliz, James? Poderia ter sido expulso do time!
— Mas não fui expulso.
— Mas poderia ter sido! Não pensou nisso nem por um momento antes de agir com
violência dentro de campo?
— Não — respondi sem a menor hesitação e meu pai ficou ainda mais nervoso.
— Não é possível, James! Como tem coragem de olhar na minha cara e negar com a maior
tranquilidade? Você poderia ter arruinado completamente a sua carreira, o maior sonho da sua
vida, por causa de uma besteira!
— Uma besteira? — Eu perdi toda calma que estava sentindo. — Aquele filho da puta
expôs a minha intimidade e a de Norah na frente de milhares de pessoas e o senhor tem coragem
de falar que isso é uma besteira?
— Não tinha nada de mais naquela foto, vocês estavam apenas se beijando!
— E daí? Isso não dá a ele o direito de expor minha vida e a de Norah daquela forma!
— Assim como não dá o direito de você colocar em risco a carreira dos seus sonhos,
James!
— Dos meus sonhos ou dos seus sonhos, pai?
Meu pai parou no meio do escritório com as mãos na cintura e a mandíbula trincada. Seus
olhos se arregalaram e parte da sua ira desapareceu.
— Como é que é?
— O senhor ouviu muito bem a minha pergunta.
— Ouvi, mas não entendi aonde quer chegar. O futebol sempre foi o seu sonho, James!
— Tem razão, assim como sempre foi o seu sonho, um que nunca realizou.
— Não realizei porque precisei largar tudo para assumir os negócios da família! Eu era
apenas um garoto quando o seu avô morreu, se eu não tomasse a frente da empresa, tudo iria
ruir!
— Sim, eu sei disso, pai, e admiro muito a sua luta para cuidar dos negócios que meu avô
deixou e a sua força para triplicar o nosso patrimônio. A questão aqui não é essa.
— Então qual é a questão, James?!
— A questão é que o senhor incutiu o seu sonho frustrado em mim e quer que eu siga cada
um dos seus passos sem levar em consideração o que eu quero, pai! Eu amo o futebol, tenho o
sonho de ser um jogador profissional, mas pensei em desistir de tudo por sua causa.
Meu pai ficou pálido, o choque tomando conta de todo o seu rosto.
— Por minha causa? Por quê?
— Realmente não percebe o que faz comigo, não é? O que sempre fez comigo, pai.
Eu parei por um momento, me obrigando a conversar com ele e não mais gritar, como
estávamos fazendo segundos antes.
— O senhor coloca sobre mim uma pressão gigantesca. Não importa o que eu faça, o
quanto me dedique, aos seus olhos, eu sempre preciso melhorar e me superar. Na sua opinião, eu
não posso beber demais, curtir uma festa com os meus amigos, esquiar mesmo estando em
Aspen com a minha mãe, me apaixonar ou defender a honra da minha namorada quando um
babaca acha que tem o direito de a expor na frente de um monte de pessoas. O senhor quer que
eu seja um robô, sem sentimentos, sem vontade, sem liberdade, e que funcione apenas dentro de
campo para dar o meu melhor, porque eu não posso apenas realizar os meus sonhos, ter as
minhas conquistas, eu preciso fazer tudo isso pelo jovem Jonathan que precisou abrir mão do
esporte para poder se dedicar à família.
Os olhos do meu pai se arregalaram e ele perdeu completamente a postura rígida e
defensiva. Vi seus ombros caírem com o peso das minhas palavras.
— James, eu nunca...
— Nunca quis fazer isso? Acredite em mim, eu sei — afirmei, vendo a surpresa brilhar em
seus olhos. — Sei que não faz nada disso de propósito, pai, que nem ao menos percebe o quanto
é exigente comigo, mas cansei de ignorar a forma como o senhor me faz sentir, cansei de
carregar o peso de duas vidas sobre os meus ombros. Não quero realizar os seus sonhos, quero
realizar os meus, à minha maneira, sem precisar me preocupar se irei decepcioná-lo. Quero jogar
e dar o meu melhor por amor ao futebol e não porque sei que vou ser cobrado até a exaustão pelo
senhor quando a partida terminar. Não vou deixar que o meu amor pelo esporte desapareça por
conta da pressão que o senhor coloca em cima de mim.
Meu pai engoliu em seco e se sentou em um dos sofás do escritório. Eu apenas o observei
em silêncio, deixando que digerisse tudo o que falei. Amava o meu pai, ele era um dos homens
que eu mais admirava no mundo, sempre iria respeitá-lo, mas nunca mais deixaria que dominasse
a minha vida como fazia desde quando eu era um moleque.
— Nunca imaginei que se sentisse assim — disse ele depois de um tempo, voltando a ficar
de pé. — Eu juro, James, algo desse tipo nunca passou pela minha cabeça, mas sei que tem
razão. Sempre fui muito rígido com você, desde criança, e acho que isso tem a ver com a minha
vontade de o assistir trilhando os passos que eu queria dar quando tinha a sua idade. Eu não pude
fazer isso e depositei minha frustração em você. Não percebi como isso o magoava porque
sempre vi nos seus olhos o amor pelo futebol, o mesmo amor que eu sinto até hoje.
— Nós amamos o futebol, pai, mas eu sinto que a nossa relação está se desgastando
justamente por causa disso e eu não quero que isso continue a acontecer. Quero que o senhor
esteja ao meu lado me apoiando, me ajudando a tomar decisões importantes, mas não ditando a
minha vida como costuma fazer. Sou um homem adulto agora e quero dar orgulho ao senhor
sendo o jogador que eu quero ser e não um atleta moldado por você.
Pensei que meu pai continuaria a me olhar com espanto e arrependimento, mas foi a minha
vez de ficar surpreso ao ver a admiração tomar conta do seu rosto. Sem que eu esperasse, ele me
abraçou muito forte, de uma forma que não fazia há bastante tempo.
— Eu já sinto orgulho de você e sinto muito por não ter deixado isso claro a cada
oportunidade que tive, James. Você é o melhor jogador que conheço e me sinto um idiota por ter
feito você duvidar da sua capacidade em algum momento. Me perdoe, filho.
Eu não fazia ideia de que precisava ouvir o meu pai dizer aquilo até aquele momento.
Abracei-o mais forte por um tempo antes de dar um passo para trás.
— Não há o que perdoar, pai.
— Claro que há e nós dois sabemos disso, mas acredito que o tempo será o nosso aliado.
Eu vou me esforçar para o ser o pai que você merece, filho. Estarei do seu lado e prometo nunca
mais tentar passar por cima das suas decisões ou dos seus sonhos.
Meu pai tinha razão. Eu sabia que ele não mudaria de comportamento de uma hora para a
outra, mas ter sido sincero com ele e exposto tudo o que eu sentia me deixou aliviado e com
esperança de que a nossa relação se tornasse cada vez mais saudável com o passar do tempo.

Mason foi expulso do nosso time assim que a verdade sobre ele ser um estuprador saiu na
imprensa. Mesmo antes disso, o clima entre ele e todos os jogadores estava péssimo. Nós éramos
como uma família e era lógico que meus companheiros de time ficariam do meu lado e do lado
de Logan depois do babaca ter armado para que aquela foto aparecesse no vídeo feito pela ONG.
Durante o tempo em que infelizmente permanecera entre nós — após cumprir uma
suspensão mais rígida do que a minha e de Logan —, Mason ficou isolado e cada vez mais
irritadiço. Ele era expulso com frequência do treino pelo treinador Coben, pois vivia querendo
arrumar confusão comigo, e semanas antes da expulsão, ficou no banco, sem poder treinar.
Harry, o tight end reserva, tomou o seu lugar nos treinos e começou a fazer parte oficialmente do
time titular.
Após a notícia se espalhar, novas vítimas apareceram, inclusive duas estudantes da UA, e
Mason foi preso. Como uma avalanche, foi descoberto diversos esquemas ilícitos do seu pai,
como lavagem de dinheiro e empresas fantasmas. O pai de Megan, atual prefeito, também foi
envolvido na investigação, mas como Megan finalmente conseguiu se livrar das garras dele após
a denúncia, eu decidi não me inteirar dos detalhes.
O que importava de fato, era que Mason pagaria pelos seus crimes, assim como seu pai, e
nunca mais faria outras vítimas.
Com o babaca fora de cena, pude me dedicar ainda mais à faculdade e ao futebol. Meu
grupo e eu tiramos a nota máxima no projeto de Fotografia Editorial e recebi muitos elogios da
professora e dos profissionais que ela convidara para participar da banca examinadora. As fotos
de Norah ficaram incríveis, mas eu sabia que o resultado não seria o mesmo se não fosse ela a
posar para mim. Olhar para cada uma delas impressa sempre me fazia voltar à Aspen e à nossa
primeira vez juntos.
Os meses passaram depressa e entre os ensaios de Norah para a peça que estrearia dia
dezesseis de junho e a preparação para a nova temporada que começaria em setembro, eu quase
me esqueci do aniversário da minha garota, que cairia no dia seguinte à sua estreia nos palcos do
teatro da faculdade.
Passei um tempo pensando no que poderia dar para Norah. Ela era uma menina rica, tinha
tudo o que queria, portanto, algo material não seria memorável o suficiente e ela queria uma
surpresa. Provavelmente se esquecera do pedido que fez para mim meses atrás quando me
venceu no videogame, mas eu não deixaria de cumprir com a minha promessa.
Eu finalmente decidi como a surpreenderia quando estava andando pela rua e passei em
frente a uma loja. Um objeto me chamou a atenção e eu apenas o comprei sem pensar direito nas
consequências. Contei todo o meu plano para Logan, que quase morreu engasgado com um
pedaço de panqueca, e para Benjamin, que me chamou de maluco e riu da minha cara enquanto
batíamos nas costas do quarterback.
Precisei contar tudo para John também, pois precisaria da sua ajuda para surpreender
Norah. Ela nem percebeu a minha movimentação ou desconfiou de que eu estava armando
alguma coisa com o seu melhor amigo, pois estava ansiosa por causa da peça, estudando
metodicamente todo o roteiro, apesar de saber de trás para frente cada fala de Julieta.
Na noite da estreia, eu me sentei na primeira fileira junto com a nossa família e amigos e
vi a minha garota brilhar em cena. Norah era espetacular, mas disso eu já sabia. Sua confiança
em cima do palco conquistou não só a mim, mas a cada espectador presente no teatro lotado, e
sua química com John, o amor sofrido de Romeu e Julieta representado por eles, arrancou
lágrimas dos olhos da minha avó ao meu lado. Ela sabia de todo o meu plano e sorriu para mim
quando terminamos de ovacionar Norah e todos os atores no palco ao final da peça.
Aproveitei aquele momento de distração para poder sair do meio do público e fui até a
coxia. Peguei com um dos alunos, que fazia parte da equipe técnica, o buquê de rosas vermelhas
que pedi para John guardar para mim, junto com um microfone, e esperei a professora de Norah
terminar de fazer o seu discurso de agradecimento. Ao final, ela disse:
— Peço para que todos permaneçam no teatro, pois o nosso espetáculo ainda não acabou.
Preparamos uma surpresa como ato final.
Precisei pedir permissão para Sra. O’Neal, afinal, ela era a organizadora da peça teatral e
eu não poderia simplesmente invadir o palco sem o seu aval. A professora aceitou prontamente,
chegou a ficar emocionada com a minha ideia, e se posicionou em um lugar no palco de onde
conseguia me ver atrás da cortina pesada de veludo vermelho. Ela ergueu o polegar e eu respirei
fundo antes de entrar. Não estava nervoso, mas ansioso, e com um pequeno receio de que tudo
desse errado.
Foi John quem cutucou uma Norah confusa, que parecia não entender o que estava
acontecendo após o discurso da professora, e a fez olhar para mim. Um refletor me acompanhou
conforme eu caminhava em sua direção com o buquê nas mãos e Norah colocou as duas mãos na
frente da boca, em completo choque.
Ela estava linda com os cabelos soltos e um vestido branco e longo, que tinha um decote
ousado na altura das costelas e descia pelas suas pernas em um tecido levemente transparente. O
figurino seguia a formatação da peça que, apesar de ser um clássico, tinha um leve toque de
modernidade. Entreguei o buquê em suas mãos e sorri ao ver seus olhos já cheios de lágrimas
antes mesmo que eu abrisse a boca.
— Meu Deus, James! — ela sussurrou, abraçando o buquê com força, sem saber se olhava
para ele ou para mim.
— Eu sei que o seu aniversário é só amanhã, mas você me pediu para que eu preparasse
uma surpresa caso perdesse a nossa aposta, lembra disso? — perguntei usando o microfone.
Apesar de ter uma multidão nos observando no teatro lotado, eu olhava apenas para ela.
— S-sim — respondeu entrecortado com as lágrimas já descendo dos seus olhos.
— Eu confesso que fiquei um tempo pensando em que surpresa poderia fazer para você,
qual presente poderia te dar. Você merece o mundo, Norah, mas isso eu não posso te dar, pois sei
que você tem capacidade suficiente para conquistá-lo. Acho que todos aqui perceberam isso. —
O público gritou e Norah soltou uma risadinha nervosa e emocionada. — Foi então que eu
percebi que nenhum presente seria grandioso o bastante ou chegaria à altura do que você merece.
E entendi que, às vezes, nossas palavras e gestos contam muito mais do que qualquer outra coisa.
Você sabe bem disso, não é? Fez cada um de nós aqui presente se emocionar e sorrir ao contar a
história de um amor profundo e trágico.
Norah apenas concordou com a cabeça, tentando limpar as lágrimas com a ponta dos
dedos.
— Enquanto te assistia, percebi que nossa história também foi contada com palavras e
gestos que foram se moldando com o tempo, se expandindo, chegando a lugares que nenhum de
nós dois pensou que chegaria, assim como o meu amor por você. O sentimento inocente que
tomava conta do meu peito se transformou em algo tão grande, que já não cabia mais apenas em
mim. Eu precisava mostrar para você e para o mundo, tudo o que me fazia sentir. Tinha a
necessidade de que você entendesse que minhas palavras tinham um outro significado e que
meus gestos, cada toque, abraço e olhar, eram de um homem que te amava como nunca amou
outra pessoa na vida.
Aproximei-me dela e toquei em suas bochechas molhadas com carinho, sentindo que eu
também poderia chorar a qualquer momento.
— É por isso que estou aqui agora. Não encontrei um presente à sua altura, Norah, mas
tenho algo comigo que já é e sempre será seu, mesmo depois que meus olhos se fecharem e não
abrirem mais. O meu coração. — Eu me ajoelhei e Norah me olhou boquiaberta, seus olhos se
arregalando conforme me assistia tirar a caixinha de veludo do bolso. John correu em minha
direção e segurou o microfone perto do meu rosto. — Aceita se casar comigo?
Norah não precisava de um microfone, pois tinha um preso em seu vestido na altura do seu
busto, por isso, John apenas se afastou. Um sorriso enorme se abriu nos lábios da minha garota e
o meu coração, que sempre foi todo dela, disparou como um louco em meu peito.
— Sim! Sim, James, mil vezes sim!
Coloquei o solitário de diamante com pequenas esmeraldas em volta no seu dedo anelar e
me levantei apenas para tomá-la em meus braços. Ouvi aplausos, assovios e gritos, mas não
prestei atenção em absolutamente nada a nossa volta enquanto Norah olhava em meus olhos e
dizia com toda a emoção do mundo que me amava profundamente.
— O meu coração também é todo o seu, James. Para sempre.
Eu acreditei nela e tive a certeza de que a nossa eternidade estava apenas começando.
Las Vegas, janeiro de 2024

— A minha avó vai me matar! — Foi a primeira coisa que falei assim que me encarei no
espelho.
— Ela vai querer matar o Logan também — Avalon comentou ao meu lado enquanto
passava um delineador preto nos olhos.
— E acho que a avó de James vai matar todos vocês — Aubrey falou com uma risada e se
aproximou com o celular na mão. — Mas eu estou filmando tudo para a posteridade, então,
talvez elas não fiquem tão chateadas assim. Vocês estão lindas!
Observei meu vestido branco com alças leves caídas nos ombros e um corpete justo que
valorizava meu colo e minha cintura, cravejado com pequenas pedrinhas brilhantes. A saia descia
levemente rodada até os meus pés. O vestido de Avalon também era branco, no entanto, era mais
ousado, todo colado ao corpo, com uma fenda enorme na coxa esquerda, onde ela ostentava uma
meia-arrastão preta. Em seus pés estavam seus inseparáveis coturnos, enquanto nos meus, havia
sandálias prateadas de salto alto.
Em meu dedo anelar e no dela estava o nosso anel de noivado — Logan fizera o pedido há
dois dias, no meio do campo de futebol após o Crimson Tide vencer mais um campeonato — e
em meu pescoço estava o colar que James me dera no dia em que me pediu em namoro.
— Vocês estão lindas! — Aubrey comentou e, quando nos viramos em sua direção, ela
estava com lágrimas nos olhos. — Eu não estou chorando, ok? Foi só um cisco que caiu no meu
olho!
— Ah, Aub! — Avalon foi a primeira a abraçar a irmã e eu logo a segui, abraçando as
duas. — Eu te amo muito.
— Eu também te amo muito. Amo vocês duas. Não acredito que aceitaram a ideia maluca
daqueles dois!
— O amor nos faz cometer certas loucuras, Aub — falei, secando sua bochecha com a
ajuda de Avalon.
— Tipo fretar um jatinho e vir para Las Vegas apenas para se casar tendo um Elvis Presley
fake como celebrante? — perguntou ela com deboche e Avalon e eu gargalhamos.
A ideia da viagem não era exatamente aquela, mas se tornou quando um Logan bêbado na
noite após o jogo, lembrou a James que eles tinham planejado viajar para Vegas quando eram
mais novos. Meu noivo, que também estava embriagado, disse que estava na hora de realizarem
aquele sonho e Benjamin, que era provavelmente o mais bêbado dos três, começou a rir e disse
que tínhamos que fazer algo memorável naquela cidade, afinal, estaríamos em Las Vegas.
E foi então que James e Logan se olharam e gritaram que iriam se casar. Os dois cercaram
Avalon e eu com aquela ideia maluca e nós apenas rimos, mas, no dia seguinte, acordamos e os
encontramos na sala, cheios de ressaca, tentando fretar um jatinho. Quando entrei no avião
particular, ainda incrédula, comecei a rir e pensei que aquela ideia não era tão absurda assim.
Agora, Avalon e eu estávamos dentro de uma suíte do hotel mais caro da cidade do
pecado, vestidas de noiva após andar por todas as lojas à procura do traje perfeito, e com uma
adolescente de quinze anos usando um vestido rosa de seda, pois seria nossa dama de honra e
entraria com Benjamin levando nossas alianças — que eu esperava, do fundo do coração, que
James tivesse comprado, afinal, era a única missão que demos para ele e Logan, além de
encontrarem a capela perfeita para o casamento.
Ouvimos batidas na porta e Aubrey foi correndo atender. Benjamin entrou ajeitando a
gravata borboleta e fazendo uma careta.
— Estou parecendo um pinguim?
— Sim — Aubrey respondeu. — Mas um pinguim apresentável.
— Isso era para ser um elogio, princesa?
— Eu não preciso falar que você está bonito, seu ego já é inflado demais. — Aubrey sorriu
e Benjamin deu uma voltinha.
— Mas eu quero ouvir um elogio seu.
— Vai ficar querendo.
— Poxa, você machuca o meu coração assim, Aubrey. — Ben a encarou com uma
sobrancelha arqueada. — Você está linda, princesa. — Aub ficou com as bochechas coradas. —
Mas depois do casamento vai ficar trancada na suíte, porque vi muito moleque transitando pelo
hotel e não quero que nenhum deles fique de gracinha para cima de você.
Aubrey continuou com as bochechas vermelhas, mas de raiva daquela vez.
— Eu não vou ficar trancada coisa nenhuma!
— Veremos isso mais tarde.
— Avalon, eu não vou mais entrar com ele no casamento!
Eu ri ao observar a interação dos dois. Benjamin parecia sempre disposto a irritar a coitada
da Aubrey, que perdia facilmente a paciência com ele. Ben tomou o braço de Aubrey, fazendo-a
entrelaçar ao dele apesar da má vontade da garota.
— Desculpa, princesa, mas você não tem escolha. Vamos? Consegui uma limosine.
A boca de Aubrey caiu aberta. Foi ela quem pediu uma limusine, não nós, as noivas.
— Você conseguiu mesmo? — Benjamin apenas concordou com a cabeça, se achando.
Aubrey soltou um gritinho e deu beijo no rosto dele. — Você é o melhor, Ben! Deve ser incrível
ser rico! Vamos, garotas!
Nós saímos da suíte e observar a empolgação de Aubrey enquanto entrávamos no
automóvel luxuoso foi um dos pontos altos da noite. Ela ficou mexendo em tudo enquanto eu
sentia um frio na barriga e ria como uma boba. Estava mesmo prestes a me casar? Depois do
pedido de casamento de James, achei que esperaríamos pela formatura e só então pensaríamos
em oficializar a nossa relação, mas aqui estava eu, vestida de noiva, prestes a me casar com o
homem da minha vida em Vegas!
Nós chegamos à capela pequena e Benjamin nos ajudou a sair da limusine, entrando na
igrejinha com Aubrey um momento depois. Avalon e eu demos as mãos e sorrimos uma para a
outra quando Love Me Tender, de Elvis Presley, começou a tocar. Mal podia acreditar que estava
prestes a me casar com o homem que eu amava ao lado do meu irmão e da garota que se tornara
a minha melhor amiga e confidente. A vida nunca cansava de nos surpreender.
Entramos juntas e ver James no altar, esperando por mim, encheu o meu coração de amor
e gratidão. Nossa história passou como um filme pela minha cabeça e, como se fosse possível, eu
o amei ainda mais. Ele era muito mais do que o homem que se tornaria o meu marido; era meu
porto seguro, meu melhor amigo, meu confidente, o homem que me enlouquecia na cama e fora
dela. James era o único amor da minha vida.
Ele se aproximou junto com Logan quando chegamos perto do altar e deu um beijo em
minha boca, quebrando todo o protocolo, apesar do cover do Elvis não parecer muito preocupado
com isso. Na verdade, ele parecia estar levemente bêbado e aquilo me fez rir.
— Você sabe que precisaremos nos casar de novo, certo? Minha avó jamais aceitará isso
— James sussurrou em meu ouvido quando paramos em frente ao altar.
— Eu me casarei com você quantas vezes for preciso.
O jogador bonito sorriu para mim e nos viramos para o celebrante. Elvis falou sobre amor
e companheirismo, citou as letras de algumas músicas do cantor falecido, e até conseguiu
arrancar algumas lágrimas minhas no meio da cerimônia. Quando ele pediu as alianças,
Benjamin e Aubrey correram para fora da capela e voltaram segundos depois de braços dados ao
som de And I Love You So, também de Elvis, cada um carregando uma caixinha de veludo
preta.
Aubrey deu a dela para Logan e Benjamin entregou a sua para James. Nós nos viramos um
para o outro e repetimos as palavras do Elvis fake conforme trocávamos as alianças. Assinamos
os papéis e eu chorei mais um pouco, afinal, era meu casamento e tinha o direito de ficar
emotiva. Soltei um gritinho quando James me fez deitar sobre o seu braço e beijou a minha boca.
— O amor é lindo! — Aubrey gritou antes de jogar uma chuva de arroz sobre nós quatro.
— Agora só falta você, Benjamin.
— Você nunca vai me ver em um altar, princesa — disse ele com um sorriso sorrateiro
conforme jogava arroz junto com Aub.
— Nunca é um tempo muito longo, alguém ainda vai roubar o seu coração.
— Que coração? Eu nem sei se tenho um.
— Todos os homens que disseram isso dentro dessa capela, voltaram para se casar aqui —
disse o Elvis, tirando uma garrafa de uísque de trás do móvel do altar. Ele apontou para
Benjamin antes de dar um gole. — Você também vai voltar.
— Nada contra você, seu Elvis, mas eu não vou voltar, não.
— Tem certeza de que o casamento é válido? — Logan perguntou bem baixinho,
inclinando-se em nossa direção. — Estou achando esse Elvis muito esquisito.
— Como assim? Vocês não sabem se o casamento é real? — perguntei com os olhos
arregalados.
— James garantiu que seria real — Logan respondeu.
— Mas você é o advogado aqui, é quem entende das leis — disse James.
— Foi você que encontrou a capela! — Logan acusou.
— Eu pesquisei na internet e todo mundo estava falando muito bem — James se defendeu.
— Vocês nos trouxeram para casar em uma capela que encontraram no Google? —
Avalon perguntou alto demais e o Elvis se virou para nós quatro.
— Nós temos as melhores avaliações — disse ele. — Ninguém nunca se divorciou depois
de se casar aqui.
— É mesmo? Que interessante. Como o senhor sabe disso? Os casais voltam para contar
que permaneceram juntos? — Aubrey perguntou com verdadeira curiosidade.
— Não, eu sei disso, porque ninguém sai casado daqui. É tudo de mentirinha. — Ele deu
de ombros como se não tivesse dito nada de mais. Entregou os papéis de casamento falsos nas
nossas mãos e apontou para a porta ao final da capela. — Agora vocês precisam ir, outro casal
está chegando para realizar o seu sonho de se casar em Vegas!
Nós nos olhamos, seis pares de olhos estupefatos, e nos viramos quando um casal mais
bêbado do que o Elvis falso entrou cambaleando na capela.
— Agora eu entendi por que os homens voltam para se casar aqui. É porque não existe
casamento nenhum — Ben comentou tentando conter uma risada.
— Eu não acredito nisso! Logan Miller III, eu vou te matar!
Avalon ergueu o vestido e saiu pisando duro da capela, enquanto Logan corria atrás dela.
James me deu um olhar ainda chocado e, antes que eu pudesse controlar, comecei a gargalhar.
Simplesmente me deu uma crise de riso tão grande, que minha barriga começou a doer. Eu não
sabia se era de nervosismo, mas não consegui parar. James me puxou pela mão e saímos da
capela a tempo de ver Avalon entrando na limusine que ainda nos aguardava.
Assim que entrei no carro, ouvi Logan pedindo para que Avalon se acalmasse enquanto
pegava o celular.
— Se você me disser que vai pesquisar por outra igreja no Google, eu juro que vou pegar
um táxi e ir direto para o aeroporto, Logan!
— A culpa não foi minha, Valente, foi de James!
— Minha nada! Nenhuma avaliação na internet estava dizendo que a capela não realizava
casamento de verdade!
— De quem foi mesmo essa ideia de se casarem em Vegas? — Benjamin perguntou.
— Dele! — Logan e James responderam juntos, um apontando para o outro.
— Então vocês dois precisam dar um jeito nisso — respondeu ele, como se não fosse
óbvio.
— Não dá para encontrar uma igreja de verdade com outro Elvis falso? — Aubrey
perguntou.
— Já não sei mais se quero me casar — Avalon resmungou.
— Ah, você quer sim, Valente! Não vai me abandonar agora!
— Vamos ficar calmos, ok? — pedi, finalmente me controlando. Eu ainda queria rir, mas
segurei a emoção fora de hora. — Será que a recepção do hotel não pode nos indicar uma
capela? Porque muita gente se casa em Vegas, não é possível que todas as igrejas sejam falsas.
— Boa ideia, gatinha. Vou ligar para o hotel — disse James já tirando o celular do bolso,
mas Benjamin foi mais rápido.
— Deixa que eu faço isso, se por um acaso cairmos em um novo golpe, pelo menos vocês
dois ainda vão sair de Vegas com uma aliança de noivado no dedo.
Eu puxei James para um beijo, nem um pouco irritada com aquela situação maluca, e vi
Logan arrancar um sorriso de Avalon ao sussurrar algo no ouvido dela quando me afastei. Minha
cunhada pareceu menos irritada e Benjamin abaixou a divisória que nos separava do motorista.
— Siga para esse endereço, por favor. — Ben deu o nome da rua para o homem ao volante
e se virou para todos nós. — Acho que agora vai dar tudo certo. Nunca pensei que justamente eu
teria que arrumar o casamento dos meus melhores amigos. Sinceramente...
Eu voltei a rir e Aubrey nos fez tirar as alianças, guardando-as novamente na caixinha. Um
tempo se passou e finalmente paramos em uma nova capela. Os homens saíram para confirmar a
legalidade do casamento realizado no local e, após confirmarem que não era um golpe, Benjamin
voltou e nos ajudou a sair do carro.
Avalon e eu demos as mãos novamente e rimos ao entrarmos juntas na igrejinha,
encontrando um Elvis sóbrio daquela vez. A cerimônia foi mais emocionante, talvez porque o
celebrante não estava embriagado e, quando trocamos as alianças de novo, eu senti que poderia
fazer aquilo pelo resto da minha vida.
Eu aceitaria me casar com James quantas vezes fossem necessárias, em Vegas, no
Alabama ou na Antártica, naquela e em qualquer outra vida, se tivéssemos o privilégio de viver
mais de uma vez. Eu sabia que meu coração encontraria o dele e que nunca ficaria sozinha ou
perdida.
— Eu te amo, Norah McHugh — ele sussurrou em minha boca quando o Elvis sóbrio nos
declarou como marido e esposa.
— Eu te amo para sempre, James McHugh.
Nós nos beijamos e senti que aquela seria apenas uma das inúmeras aventuras e
felicidades que a vida nos reservava.
Que coisa boa poder escrever os agradecimentos desse livro que foi tão aguardado por
mim e por todos vocês, leitores que se apaixonaram por James e Norah em Acordo Perfeito.
Espero que tenham se encantado ainda mais por eles nesse livro e que já estejam ansiosos pelo
livro do Ben.
Meu primeiro agradecimento vai para Deus, porque eu sei que sem Ele, nada seria
possível. Obrigada por estar sempre ao meu lado, iluminando a minha mente, me dando
inspiração, me abençoando com esse dom e me guiando por um caminho melhor. Te amo, Deus.
Mãe, obrigada por estar sempre ao meu lado, mesmo estranhando quando eu te deixo
vendo filme sozinha aos domingos para poder escrever. Te amo muito, obrigada por todo o apoio
e ser a minha melhor amiga.
Luana, obrigada por estar comigo em todos os momentos, aturando os meus surtos quando
eu chego te contanto sobre um novo enredo, mesmo sabendo que eu só devo escrever em 2050.
Te amo, migs!
Minha família, sei que vocês não vão ler isso aqui (só minhas tias têm o hábito de leitura,
mas só leem livro físico) mas agradeço mesmo assim por todo o apoio e carinho. Amo vocês!
Minhas parceiras maravilhosas, obrigada por todo o apoio, divulgação e surtos! Ter vocês
ao meu lado tornou esse lançamento ainda mais especial.
Minhas meninas do WhatsApp, amo vocês!
E a você, leitor, que chegou até aqui. Muito obrigada por estar sempre comigo,
acompanhando e divulgando cada lançamento. É por você que escrevo. Espero te encontrar
novamente muito em breve.
Com amor, Tamires Barcellos.
Clique aqui e seja redirecionado aos meus outros romances. Espero que se apaixone por
cada um deles.
[1]
Faz parte da defesa do time. É o responsável por ocupar a parte central do campo e comandar o restante da equipe.
[2]
Um refletor grande em forma de cúpula, direcionando a luz de maneira controlada e concentrada.
[3]
As conferências atléticas agrupam escolas com interesses e localizações semelhantes. Cada conferência tem seu próprio
cronograma de competições e campeonatos.

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