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CHRISTOPHER LANCASTER
Pensar na faculdade me causava calafrios.
Eu nunca sabia o que esperar depois que as férias passavam, e isso me
deixava um pouco ansioso.
Ela podia ser uma surpresa, como no semestre passado, em que meu
irmão se apaixonou pela garota mais popular do campus, e hoje viviam um
relacionamento, podia também ser algo monótono ou simplesmente triste.
Diante dessas três opções, eu preferia algo monótono.
Surpresas nunca me agradaram, porque dificilmente eram algo positivo
para alguém como eu. Enquanto a tristeza, era algo que já vivenciava
diariamente e que não precisava de um plus, como se fosse a droga de um
crédito para um cartão recarregável.
Monótono era a melhor saída.
Que esse semestre seja monótono.
Dessa forma, tudo seria calmo, e eu conseguiria me concentrar apenas
nos estudos. Sem aproximações de outras pessoas estranhas, sem confusões e,
principalmente, sem bullying.
Eu sabia que não estávamos mais na escola e que a faculdade era um
lugar mais “maduro” do que o ensino médio, mas ainda sentia medo.
Os ambientes poderiam ser diferentes, incluindo as pessoas, que eram
mais velhas, porém alguns resquícios ainda permaneciam.
Como os cochichos entre os meus colegas.
Algumas risadinhas, que eu sentia serem direcionadas a mim.
A falta de aproximação das pessoas.
Tudo era silencioso e passivo, muito diferente das agressões físicas e
verbais que recebia na escola.
Contudo, ainda era suficiente para me fazer ter vontade de voltar a
morar com a minha mãe e desistir do meu sonho de me formar, trabalhar com
livros e abrir uma grande editora futuramente.
— Filho! — Pisquei duas vezes, ao ver dedos estalarem na minha
frente. — Onde você estava? Com certeza não era no seu jogo e nem na
nossa conversa.
Olhei para a partida perdida de Free Fire e suspirei. Havia morrido por
bobagens.
— Tenho certeza de que estava pensando na volta às aulas — Trevor,
que pelo visto havia chegado do passeio com sua namorada, adivinhou o que
estava acontecendo. — Ele sempre fica assim quando estamos perto de
começar um semestre.
Caitlin, minha cunhada e a única que senti que era seguro que se
aproximasse de mim há quatro meses, se aproximou com um sorriso fraco
nos lábios e se sentou ao meu lado.
— Por quê? Costuma ficar nervoso? Fica tranquilo, será a mesma coisa
de sempre — ela assegurou, com sua voz calma e seu jeito simpático de ser.
Eu gostava dela.
Gostei de Caitlin assim que a conheci pela primeira vez, deitada na
cama do meu irmão, com uma ressaca terrível devido à bebedeira, que a fez
desmaiar de sono no colo dele antes de voltar para o seu dormitório. Ela era
alguém divertida e fez com que meu irmão esquecesse um pouco de mim, o
que era muito satisfatório e libertador.
Trevor sempre foi um irmão protetor, exatamente como o nosso pai,
mas isso aumentou quando sofremos o acidente que me deixou mudo, há
pouco mais de dez anos, multiplicando quando ele descobriu sobre o bullying
que sofria na nossa escola.
Sua proteção excessiva nunca foi por mal. Trevor conhecia muito bem
minhas fraquezas e tinha medo de que as pessoas me magoassem, como
aconteceu na nossa adolescência. Ele sabia muito bem como os alunos
reagiam às deficiências e como as pessoas eram cruéis com quem não se
importavam, então seguia sendo uma pessoa mais receosa e protetora.
Existia também o nosso passado — envolvendo o homem que causou o
nosso acidente e a sua mulher, que acobertou tudo —, que estava o deixando
doente, de tanto acompanhá-los. Mesmo que eu dissesse que era uma perda
de tempo e que só servia para machucá-lo, Trevor se mantinha preso naquilo,
tentando achar uma forma de ferrar com a vida daquelas duas pessoas que
nos tiraram tudo e nos descartaram como um nada.
Até Caitlin entrar em sua vida.
Eu soube que ela o mudou, assim que ele entrou naquele quarto me
contando sobre o acordo que os dois fizeram de um namoro falso, que o
ajudaria a escapar das vistas de uma garota que estava muito a fim dele. É
claro que eu soube que aquilo nunca daria certo e que acabariam se
envolvendo de verdade, porém apenas concordei sem dizer nada e assisti ao
filme dos dois, repleto de drama, comédia e mistérios, totalmente gratuito e
de forma vip.
— Estou bem — garanti, com minhas mãos na língua de sinais. —
Falta uma semana para as aulas começarem, e estou só pensando em tudo o
que tenho que fazer para me preparar para o primeiro dia.
Era uma mentira. Materiais, meu trabalho na biblioteca e minha agenda
não estavam fazendo parte dos meus pensamentos nesse momento.
Talvez eles soubessem disso, entretanto decidiram ignorar por agora.
Caitlin sorriu e levantou a mão direita, para que eu fizesse um toque
com ela.
— Entendi perfeitamente o que você disse!
Aquilo quase me provocou um sorriso.
Bati a palma da minha mão na sua e concordei com a minha cabeça,
orgulhoso de onde ela havia chegado, em tão pouco tempo, com a língua de
sinais.
Quando descobriu que eu, minha mãe e meu irmão levamos poucos
meses para falar e entender o essencial da língua de sinais, Caitlin decidiu
que passaria as férias com a gente, aprendendo diretamente comigo, e não
com Aurora. Ela tinha uma persistência admirável, de querer entender tudo o
que eu falava, e aquilo era tão genuíno, que não fazia com que me sentisse
mal.
Passamos as férias todas conversando por telefone e gesticulando,
agora era perceptível o seu desenvolvimento.
— O tempo passou tão rápido — minha mãe comentou, soltando um
suspiro triste, sentada do outro lado da sala. — Gostaria de ter ficado mais
tempo com vocês.
Trevor riu.
— Mãe, nós ficamos aqui por quase dois meses — lembrou. — Você
nem aguenta mais ver as nossas caras.
Ela revirou os olhos.
— Não diga bobagens, criança!
— Tenho até a impressão de que deve ter até se arrependido de ter me
convidado — Caitlin provocou a minha mãe.
— Você, senhorita — Jules apontou para a minha cunhada —, deixe de
aprender a como me provocar com o seu namorado! Eu amei ter você aqui. Já
é uma filha para mim, e proíbo vocês dois de terminarem.
Caitlin riu e estendeu a mão, para que Trevor se sentasse ao seu lado.
Movi meu corpo um pouco para a outra ponta do sofá, para dar espaço
para ele.
— Acho difícil isso acontecer — Cat respondeu.
Aquilo era óbvio que dificilmente aconteceria.
Aqueles dois passaram junho e julho inteiros se amando de uma forma
um pouco invejável. Sabia que eles eram recém-namorados e por isso
estavam com amor sobrando, mas em alguns momentos, até pedi para
pararem com tanta breguice.
Pessoas apaixonadas se tornam idiotas. Infelizmente, eu tive certeza
disso nessas férias.
— Ainda falta uma semana para as aulas começarem — Trevor
lembrou a todos. — Vamos aproveitar mais um pouco com você, mãe.
— Vocês não precisam ir antes, pegar o Melvin?
O nome do irmão de Caitlin me trouxe outro calafrio.
Ainda me lembrava perfeitamente de ele aparecendo na minha frente e
socando a minha cara, por conta de um ciúme bobo da sua namorada, que
conversava comigo.
Ele estava sob efeito de drogas, o que o confundiu completamente, o
deixava irritado e o fazia perder o controle, ainda assim, era impossível de
controlar o que sentia ao me lembrar daquele acontecimento.
Senti como se tivesse voltado à época da escola, onde voltei a me
tornar um saco de pancadas e ter meu nome sussurrado por todos os
corredores, alguns com pena, e outros dizendo que eu merecia aquilo.
Aquele final de semestre foi horrível, e talvez por isso estivesse tão
ansioso para o que estava por vir.
Melvin voltaria a estudar.
Eu estava mais próximo de Aurora.
Como isso seria? Tudo o que eu sabia sobre o irmão de Caitlin, é que
ele estava no processo de ser uma nova pessoa. Suas sessões de terapia iriam
continuar, e seu tratamento dentro de uma clínica de reabilitação estava
concluído, agora ele só precisava respeitar os limites que havia combinado
com os médicos, para não voltar àquela rotina viciosa de se drogar.
— Hoje é sexta, e iremos buscar Melvin na próxima sexta-feira, as
aulas começam na segunda seguinte — Trevor disse, parecendo tranquilo
quanto a isso. Achava que finalmente ele havia perdoado o seu cunhado.
Caitlin voltou a prestar atenção em mim.
— Ele se sente muito mal pelo que fez — ela falou.
Eu sabia.
Soube assim que ele me olhou em choque e foi por conta disso que o
perdoei muito mais rápido do que meu irmão, que era um poço de rancor.
— Eu sei — respondi em sinais.
— Mas já falamos sobre ele não se aproximar do Chris novamente —
Trevor lembrou, demonstrando que ainda era o mesmo de sempre.
Se ele soubesse que conversava por mensagens com Aurora, ficaria
com tanto medo dessa volta à faculdade, que aumentaria seu lado protetor.
— Se Chris o perdoou, e Melvin está se esforçando para ser alguém
melhor, está na hora de fazermos o mesmo — minha mãe sugeriu, com um
sorriso singelo nos lábios.
Meu irmão suspirou.
— Já fiz isso, só não confio totalmente nele — ele admitiu.
Caitlin não pareceu ficar magoada com isso, talvez até ela desconfiasse
do próprio irmão.
— É como Maeve — meu irmão continuou a expor seus pensamentos.
— Não acho que ela esteja mudando, e essas férias só confirmaram isso. O
que ela fez durante todos esses meses? Mal respondeu Caitlin e se recusou a
encontrá-la.
Se havia alguém que era hater número um de Maeve Hood, esse
alguém era Trevor Lancaster.
Tudo bem que ela não era uma boa pessoa.
Maeve era uma garota um pouco perversa, louca por atenção e que
amava ganhar, independentemente do que estivesse em jogo. Isso era o que a
internet toda dizia, e que ela deixava confirmado através de atitudes
duvidosas, como apostas que fazia, seu senso crítico e agressivo direcionado
a pessoas que nem faziam parte do seu círculo, e seu jeito arrogante de falar
com qualquer um, como se fosse superior a todos.
Em um resumo, Maeve era malévola.
Eu mesmo queria me ver longe dela, e isso até seria possível, se não
fosse pelo namoro de Caitlin com meu irmão. Elas eram muito amigas, ainda
que Maeve fosse estúpida com ela e Aurora muitas vezes.
— Acho que ela está passando por problemas — Cat murmurou, quase
inaudível, mas como estava do meu lado, escutei bem o que disse. — É
complicado...
— Sou contra as pessoas que descontam seus problemas nas que só
querem ajudar. Você virou o quê? Saco de pancadas? — Trevor resmungou.
— Ela não está sendo grossa e nem nada do tipo, só está sumida... —
Caitlin suspirou e me olhou. — Você falou com ela, Chris?
Comecei a tossir do nada.
Até mesmo senti minha garganta arder com o movimento. Por que essa
pergunta estava sendo feita justamente para mim?
— Você está bem?
Coloquei minha mão sobre o meu coração, o sentindo bater
normalmente, e só quando me senti melhor, sinalizei:
— Por que eu falaria com ela?
— É... Por que Chris falaria com ela? — Trevor questionou.
Caitlin deu de ombros.
— Vocês pareciam estar próximos no final do semestre.
Neguei rapidamente. Aquela garota e eu?
— Sei que ela é sua amiga, mas realmente, quero distância dela.
— Entendo... — Cat respondeu.
— E eles nem estavam próximos, Maeve que estava perturbando
Christopher — Trevor disse o que não era uma mentira.
— Essa Maeve... como ela é? — minha mãe questionou, com um olhar
diferente direcionado a nós, do outro lado da sala. — Não é aquela garota do
Melvin?
— A garota do Melvin é a Aurora — Cat explicou. — Maeve é nossa
amiga e como uma irmã para mim.
— E por que não quer ser próximo dela, filho? Me diga... ela é bonita?
— Mãe! — Trevor ralhou com ela. — Nem comece com isso.
— Eu não fiz nada!
— Conheço você. Se for para Chris namorar com alguém, tem que ser
com uma garota menos complicada.
— Ei! — Caitlin o olhou. — Acho que Chris pode escolher com quem
namora, não acha? Seja complicada ou não, isso cabe a ele.
Minha mãe sorriu e piscou para a sua nora. Não era apenas Trevor que
havia se apaixonado por Caitlin, e a mulher de meia idade à minha frente, não
deixava de demonstrar isso a cada oportunidade que tinha.
— Podemos mudar de assunto? Não é como se eu quisesse me
relacionar algum dia — pedi, sentindo o olhar de reprovação da minha mãe
em minha direção. Não por conta da minha resposta, mas sim pelo motivo
que havia tomado aquela decisão, ainda na adolescência. — O que acham de
uma maratona dos filmes da Marvel? Caitlin está me devendo.
Eu vi que meu irmão e minha mãe estavam prestes a falar o mesmo de
sempre, até que Caitlin tomou a frente:
— Você deve estar falando dos filmes da Marvel, já que disse que
estou devendo — interpretou o que eu disse, ao não entender totalmente os
sinais. — Por que eu fiz essa promessa? Se forem entediantes, serei obrigada
a cancelar você, Christopher.
Evitei revirar os olhos, porque um: era falta de respeito; e dois: ela era
a melhor cunhada que meu irmão poderia ter me arrumado, tudo porque
estava me ajudando a fugir dos sermões da minha mãe e do seu namorado.
— Apenas assista ao primeiro antes de criticar, Cat. Vai ser a melhor
experiência cinematográfica da sua vida, depois de Star Wars, e ainda irá
me agradecer por ela.
Ela semicerrou seus olhos verdes em minha direção.
— Melhor do que Halloween?
— São gêneros diferentes, mas sim, muito melhor. Já falei que
Halloween não é bom.
— Trevor, faça alguma coisa, seu irmão está ofendendo a minha saga
de filmes favorita.
— Você sabe que é apenas um homem maluco correndo atrás de
pessoas para matar, né? O melhor filme de terror é Psicose, e críticos
concordam com isso.
Minha mãe riu e se levantou.
— Acho que irei preparar a pipoca, a discussão pelo melhor filme
parece estar prestes a começar — disse, saindo da sala a caminho da cozinha.
— Psicose não deixa de ser diferente, né? — Cat continuou.
— Deveria assistir a série, não deixa de ser boa também e tem muito
mais explicação sobre Norman Bates.
Trevor abraçou Caitlin e beijou a sua bochecha.
— Por que estão iniciando essa discussão novamente? Na última vez,
ninguém venceu sobre qual é o melhor filme de terror já produzido.
— Porque você não votou! — Caitlin rebateu.
— Desculpe por não fazer ideia do que vocês estavam falando, eu
detesto filmes de terror, e você sabe disso.
Minha cunhada lançou um sorriso cheio de significados, que só eles
entendiam — e que permanecesse assim —, e eu fiz uma careta.
— Nem comecem com isso! — avisei. — Inclusive, me deixem sentar
no meio de vocês, assim desgrudam um pouco e não deixam minha mãe e eu
de vela.
Eles riram.
Achavam que eu estava brincando? Aquilo era sério!
Meu irmão se tornava um bobo quando Caitlin estava por perto, e ela
não era muito diferente. Levantei-me do sofá e forcei meu corpo no pequeno
espaço entre eles, fazendo com que eles fossem obrigados a me darem
espaço.
— Muito melhor.
Como o bom grudento que Trevor era, ele me abraçou apertado e
deixou um beijo na minha cabeça. Não evitei a careta, ouvindo sua risada.
— Amamos você, pirralho — disse ele, usando o apelido que eu
odiava.
Caitlin assentiu, sorrindo.
Não reclamei do apelido.
Não fiz mais nenhuma careta.
Apenas me senti feliz e escondi o sorriso, quando Cat apoiou seu braço
junto ao Trevor ao redor dos meus ombros. Permaneci ali, sentindo o abraço
de lado que eles me davam e um alívio pequeno tomar o meu peito.
O semestre seria monótono, e mesmo de vela, eu estaria na melhor
companhia do mundo, com esses dois do meu lado.
Nada mudaria.
Eles dizem que eu fiz algo ruim
Então, por que foi tão bom?
I DID SOMETHING BAD – TAYLOR SWIFT
MAEVE HOOD
Mais uma vez, encarei a todos no evento sem graça que minha mãe
estava patrocinando. Eu não fazia ideia do que se tratava, tudo o que sabia,
era que se referia a duas marcas de luxo — Hood e Duar — conversando
sobre negócios, com mídias contratadas em cima da gente, tirando fotos para
sair em revistas e sites de notícias pagos para atrair a atenção do público.
Tudo era esquematizado e falso, igualzinho à minha vida.
Forcei mais um sorriso, para não sair com a cara fechada nas fotos que
estavam tirando, e bebi um pouco de champanhe. O gosto era horrível, mas
pelo menos era melhor do que aturar os falatórios da minha mãe e Camille
Moreau, a grande CEO da marca de roupas e bolsas Duar.
Tinha quase certeza de que elas fariam uma parceria.
Hood e Duar eram concorrentes fortes, por produzirem os mesmos
produtos, porém, as duas donas nunca viram aquilo como uma forma de
serem inimigas, e sim de usarem como oportunidade para futuramente
usufruírem de uma parceria. Parecia encantador a visão de negócios, e até
admitia que era, entretanto tinha tanto ranço daquelas duas mulheres, que
achava até as vozes delas enjoativas.
Sabia que era péssimo pensar isso da minha própria mãe, contudo,
ultimamente vinha me perguntando se ela realmente era merecedora de ser
chamada assim por mim.
— Sua filha está cada dia mais linda, Bonnie — Camille elogiou, me
trazendo de volta para o presente. — Ela e Tom fariam um ótimo par.
Minha sorte era não estar com o champanhe na boca ou então teria me
engasgado. Aquele filho idiota dela? Não, obrigada.
— Ela não está, Camille? — Minha mãe me olhou com um sorriso tão
forçado quanto o meu. — É uma excelente aluna e jogadora.
Que bom que ela não deu conversa sobre uma relação minha com o
filho.
— Eu assisti à temporada passada — Camille contou, e eu senti
vontade de sumir desse lugar, ao ter aquele assunto tocado bem aqui, com
pessoas ao nosso redor. — É uma pena que vocês tenham chegado tão longe
e não ganhado.
Observei o rosto da minha mãe quase se transformar em uma feição
mais zangada, no entanto ela pareceu se tocar de onde estávamos, pois
esperou um pouco para responder.
— Maeve teria conseguido, se todas jogassem como ela — disse minha
mãe, se aproveitando da falta de conhecimento de Camille em jogos de vôlei.
Eu não estava ruim na temporada passada, mas também não estava
entre as melhores. Qualquer um que conhecesse um pouco sobre o esporte,
notaria isso perfeitamente.
— É uma pena que não exista vôlei de uma pessoa — a mulher
retrucou, bebericando sua bebida, antes de sorrir. — Tenho certeza de que
irão bem nessa temporada.
— É claro que vão! Maeve está para se tornar um grande destaque,
sabia? Ela ainda irá jogar profissionalmente e assim que se aposentar, cuidará
dos negócios da família.
Sorri de lado e de forma falsa para o meu futuro programado pelas
mãos da mulher.
— E quanto a namorado? Algum pretendente?
Não me dei ao trabalho de responder, quando minha mãe já abria a
boca para fazer isso por mim.
— Maeve está muito focada na faculdade agora... sabe como é, ela é
muito popular.
— Eu vejo pelas fotos — Camille concordou, com os olhos brilhando
para mim.
No mesmo momento, Tom, o seu filho, apareceu, vestindo um terno
todo branco com uma gravata preta. O garoto era uma cópia masculina de
Camille. Tinha uma altura média, em torno de 1,75cm, enquanto seu cabelo
era loiro, e seus olhos bem azuis, não era à toa que ele era considerado o
príncipe dos negócios.
A carinha de anjo podia enganar, porém ele era tão terrível quanto eu.
— Oi, filho — Camille cumprimentou, o olhando como se fosse um
Deus na terra. — Estava aqui comentando o quanto Maeve é linda.
O desgraçado me olhou de cima a baixo e não disfarçou ao morder o
canto dos seus lábios, tentando de uma forma inútil, ser sexy. Será que ele
sabia quem eu era? Com o tanto que já havia vivido nos últimos anos, aquele
gesto não me passava de uma cena que me causava vergonha alheia.
— Oi, Maeve. É bom ver você — ele cumprimentou de volta.
— Oi — respondi secamente.
Ele já havia dado em cima de mim algumas vezes, e por mais que eu
gostasse de curtir, ainda tinha consciência e sabia que me envolver com
alguém como ele, só me traria problema. Nossas mães eram muito amigas, e
não queria me ver presa a esse garoto irritante. Fora que ele não me atraía
nenhum pouco.
— Tom está indo muito bem na faculdade também — Camille se
gabou. — É popular, quarterback do time de futebol e tem excelentes notas.
— Os boatos dizem que ele adora uma festa — minha mãe comentou,
olhando demais para ele.
— Eles dizem o mesmo sobre a sua filha — Camille retrucou.
Senti-me como um rato em uma gaiola, sem qualquer oportunidade de
conseguir me comunicar, para conseguir salvar o meu destino.
Não éramos invisíveis.
A marca Hood estava ganhando cada dia mais destaque, e eu era muito
popular na UCLA, o que de certa forma, não era ruim. Amava a popularidade
e amava dar assuntos para as pessoas falarem sobre mim, o que acontecia
com frequência, porque fosse em uma festa ou em uma partida de vôlei, a
atenção sempre acabava se voltando para mim, mesmo que minhas amigas
fossem muito melhores do que eu.
Contudo, sabia que Camille não estava falando sobre ir em festas. Ela
provavelmente estava sabendo da reputação que eu tinha na UCLA e queria
achar espaço para alfinetar a minha mãe com aquilo.
Mal sabia ela, que Bonnie Hood havia me criado para ser exatamente
essa vadia má.
— Eles precisam se divertir, não acha? — minha mãe respondeu,
passando o braço ao redor da minha cintura, como se fosse uma maneira
carinhosa de dizer que me apoiava em tudo. — Desde que não esqueçam seus
compromissos.
— É o que eu sempre digo para Tom.
O idiota parecia muito mais relaxado do que eu, e só podia se dar ao
fato de que ele não parava de olhar para o meu decote.
— Estou um pouco cansada — falei, pouco me importando em parecer
inconveniente. Aquilo estava mesmo entediante. — Será que posso ir para
casa?
Não consegui entender o olhar da minha mãe em minha direção, porém
quando ela soltou o seu braço do redor da minha cintura, senti um alívio
percorrer o meu corpo.
— Já está tarde, talvez fosse melhor eu acompanhar você — ela
respondeu.
Não era o que eu queria, entretanto, não tinha muita escapatória.
— Pensei que ficariam um pouco mais, ainda nem servimos a
sobremesa — Camille disse.
— Chegamos hoje em Paris, estamos um pouco cansadas — minha
mãe explicou, me surpreendendo por parecer tão benevolente. — Mas iremos
nos encontrar amanhã para almoçar, tenho certeza de que estaremos mais
dispostas a tratar de negócios.
Camille voltou a sorrir.
— Será um prazer, Bonnie.
Nos despedimos da mãe e do filho, pousamos para mais algumas fotos,
que provavelmente apareceriam em algum site de fofoca, e finalmente
entramos no carro que partiria em direção ao hotel onde estávamos
hospedadas.
Vir para Paris faltando menos de uma semana para o começo das aulas,
não estava nos meus planos, mas infelizmente, não tive outra opção, além de
aceitar que deveria acompanhar minha mãe nessa sessão de eventos que teria
por aqui.
— Ou eu nos tirava daquele jantar ou você me faria passar vergonha
com essa cara forçada — minha mãe quebrou o silêncio do carro algum
tempo depois. — Custa você ao menos fingir que gosta de tudo isso?
— Eu estava sorrindo!
— Até mesmo Camille percebeu que você estava sendo falsa e ela é
uma sonsa — minha mãe disse, pouco se importando em ofender uma de suas
melhores amigas.
Ela era assim.
Ela não se importava com nada, além da sua imagem e dos seus
negócios.
— Desculpa — murmurei, sabendo que não adiantaria iniciar uma
discussão que não venceria.
Estava muito cansada para isso.
— É melhor sua cara melhorar amanhã, ouviu bem?
— Por que me trouxe? — questionei. — Você sabe que eu não queria
vir.
Foi uma hora errada para falar aquilo, e eu soube, assim que ela me
olhou atravessado e respirou bem fundo.
— Conversamos no quarto.
CHRISTOPHER LANCASTER
Poderia passar de semestre a semestre, o campus nunca mudava. Eu
havia chegado na noite anterior na UCLA, porque decidi aproveitar mais o
final de semana com minha mãe, já que Trevor e Caitlin foram embora na
sexta, para buscar Melvin na clínica de reabilitação. E desde então, notei a
movimentação intensa por toda parte desse lugar.
Não era só a volta às aulas, e sim, o início de um ano letivo. Muitos
calouros estavam iniciando seus cursos nesse semestre, enquanto eu me
encaminhava para o quinto de Literatura.
— Deveria vir com a gente — meu irmão convidou mais uma vez,
provavelmente se referindo à cafeteria, onde iriam se encontrar agora pela
manhã.
— Eu deveria? Passamos todas as férias juntos, acho que estou
precisando de espaço.
Trevor semicerrou seus olhos em minha direção.
— Deixa de ser engraçadinho — rebateu, abrindo a porta do nosso
quarto. — Vai vir ou não?
Suspirei, sentindo uma vontade súbita de tomar cafeína.
— Irei, porque diferente de você, eu aprecio um café.
Passei por ele e senti sua mão na minha nuca, a apertando, e logo em
seguida, seu braço estava ao redor dos meus ombros.
— Já percebeu que você está mais grudento do que o normal, depois
que começou a namorar? — provoquei.
Ele revirou os olhos.
— Eu até dormi abraçado com você no semestre passado e nem estava
namorando! Pare de implicar com o meu namoro.
Dei risada.
Eu gostava de implicar com ele.
Havia algo bom em ter um irmão, e pelo menos essas implicâncias
entre nós, nunca mudavam, nem mesmo quando sofremos aquele acidente,
que tirou a minha voz e matou nosso pai.
— Melvin vai estar lá? — perguntei, pois aquele havia sido o motivo
inicial que me fez negar o convite para ir tomar café com eles.
— Não, acha que sou idiota? — Ele leu a minha resposta no meu rosto
e aproveitou para me apertar contra ele. — Você que é!
Nós rimos.
— Ele não vai estar, precisa organizar muita coisa na administração,
por conta do final do semestre passado que perdeu — relatou, enquanto
andávamos pelo campus até a cafeteria. — Você está bem com isso? Ele não
vai mais machucar você, mas é impossível não nos esbarrarmos por aí, agora
que estou namorando sério com Caitlin.
— É claro que sim! Estou bem desde aquele dia.
Não era mentira, eu só não sabia o que esperar de Melvin, agora que
ele estava sóbrio, e que Aurora e eu éramos amigos.
Não estava nos meus planos ter uma amizade com a garota, porém
antes de ser socado pelo seu namorado, trocamos números de telefone, e após
Melvin ser internado, ela me mandou mensagem, perguntando como eu
estava e fazendo o mesmo que Caitlin: se desculpando por ele.
Eu perguntei como ela estava e quando notei, estávamos de novo
trocando indicações e falando sobre livros de suspense que já havíamos lido,
o que acabou criando uma amizade improvável entre nós. Aurora era alguém
divertida, e conforme fui a conhecendo mais, mesmo que virtualmente,
consegui entender melhor o quanto ela amava Melvin.
Ela sempre arrumava uma forma de falar sobre ele em nossas
conversas, e aquilo era admirável, considerando o pouco que eu sabia sobre o
relacionamento conturbado que eles tiveram. Não havia rancor ou raiva por
parte dela, Aurora era alguém paciente e tinha certeza de que o namorado
sairia da clínica de reabilitação bem mentalmente, para que eles pudessem
recomeçar.
— Oi, namorado. — Caitlin se aproximou da gente e deixou um beijo
rápido nos lábios de Trevor. Ela sorriu, quando seus olhos caíram em mim.
— Oi, Chris.
— Oi, Caitlin — cumprimentei de volta.
— Como foi a volta ontem? Tranquila? — ela perguntou, à medida que
voltávamos a percorrer o caminho para a cafeteria.
— Depois de prometer de mindinho para minha mãe que voltaríamos o
mais rápido possível? — Sinalizei um pouco mais devagar, porque sabia que
ela ainda estava aprendendo. — Tudo foi tranquilo.
Ela riu.
— Eu gosto da mãe de vocês. Ela é um amor.
Caitlin estava certa. Minha mãe era a melhor do mundo, e nisso,
ninguém era capaz de competir. Aquela mulher teve que recomeçar do zero
em um lugar completamente novo, viúva, com a dor da perda do marido e
com a dor que a minha situação também causava nela, ao passo que
trabalhava para nos dar o melhor possível.
Nos aproximamos da cafeteria e entramos. Estava lotada de
universitários, mas conseguimos achar um lugar vago bem perto da janela e o
ocupamos rapidamente.
— O que vocês vão pedir?
Antes que eu pudesse falar sobre os meus pedidos para Trevor ir fazer,
um ser ruivo entrou no meu campo de visão, se sentando bem na minha
frente.
Maeve Hood.
Não só Trevor e eu ficamos surpresos, como Caitlin também.
— Eu sei — a garota malévola disse, sem olhar para ninguém em
específico. — Fui uma péssima pessoa praticamente ignorando vocês nessas
férias.
Trevor e eu não fazíamos parte das pessoas que ela estava ignorando,
porque nem conversávamos com ela, porém tinha quase certeza de que além
de Cat, Aurora também fazia parte daquilo.
— Eu deveria me desculpar por mais uma vez ter sido cuzona?
— Você deveria — meu irmão respondeu, chamando a sua atenção. —
Mas melhor do que isso, deveria parar de tratar mal as pessoas que amam
você. Caitlin ficou extremamente preocupada com o seu silêncio.
Maeve olhou para Caitlin, que naquele momento, não tinha muito o
que dizer. Pelo que entendi, Maeve mais as ignorou nessas férias, do que
conversou, então minha cunhada sabia que seria ridículo defender a amiga
das farpas que meu irmão direcionava a ela.
— Por que você sumiu? Se não fossem suas postagens no Instagram,
acharia que algo sério estava acontecendo com você — Caitlin questionou.
— Eu sei, me desculpa — pediu, e mesmo não a conhecendo, notei que
parecia estar arrependida. — Aconteceram algumas coisas..., e mesmo que
não devesse ignorar vocês, tudo se tornou muito insuportável.
Caitlin suspirou, e só pelo seu olhar, notei que perdoaria Maeve aqui
mesmo.
— Vamos conversar depois? — sugeriu.
A ruiva assentiu e olhou para mim.
Fazia um bom tempo que não ficávamos próximos dessa forma. A
última vez que estivemos no mesmo ambiente, foi nessa cafeteria, onde eu
fugi depois de dizer a ela que estava tentando ser legal comigo apenas por
pena.
— Ei, Chris! É bom ver você, como foram suas férias? Aliás, como
foram as férias de todos vocês?
Pisquei duas vezes e rapidamente, sentindo a mudança brusca de
assunto que ela acabou causando.
— Já caiu na real de que somos um grupo agora? — Maeve me
questionou, com um sorrisinho sarcástico nos lábios.
Claro que ela lembrava daquilo.
— Nossas férias foram divertidas — Caitlin respondeu por nós. —
Ficamos em São Francisco, na casa da mãe deles.
Maeve me olhou.
— Então você foi vela? — ela indagou, arqueando as sobrancelhas e
sorrindo de lado, de uma forma que não me deixava dúvidas de que falaria
algo que não prestava. — Droga, eu deveria ter passado as férias com vocês,
seria mais divertido e não teria deixado você sozinho.
Meu irmão tossiu, e Caitlin prendeu o riso, enquanto eu... bem, estava
tentando entender o que ela realmente queria dizer com aquilo.
— Eu poderia dar uma resposta para você, mas acho melhor ir fazer os
nossos pedidos — Trevor disse, se levantando. — O que vai querer, Chris?
— Americano e um sanduíche.
— E eu...
Meu irmão saiu, antes que Maeve pudesse falar o que queria. Ela bufou
e cruzou os braços.
— É oficial. Eu o odeio — disse e olhou para Caitlin. — Ainda estão
apaixonados?
— Para! Ele é meu namorado, e sim, estou completamente apaixonada
— Cat respondeu. — Vocês deveriam parar de brigar e se darem uma chance
de serem amigos.
— Ele me odeia.
— Trevor não a odeia, e você sabe o motivo de ele a tratar assim.
Maeve deu de ombros e voltou sua atenção para mim.
— Por que está quieto?
Antes que eu me controlasse, já estava respondendo:
— Porque eu não tenho voz.
As piadas pesadas sobre mim mesmo, faziam parte de mim há muito
tempo. Era divertido rir da minha própria desgraça, mesmo que os outros
achassem lamentável.
— Sério? Você entendeu do que eu estava falando — ela respondeu,
porém não pareceu brava pela resposta afiada. — Ainda me deve duas
respostas.
Eu quase havia me esquecido o quanto ela era insistente.
Também havia me esquecido o quanto ela me assustava.
Nunca entenderia como, quando ou o motivo que a fez querer ter
algum tipo de proximidade comigo. Maeve era muito diferente de mim, desde
o seu estilo de vida, até sua personalidade de malévola, e quando se
aproximava de mim dessa maneira, falando coisas sem sentido e às vezes,
com duplo sentido, me deixava muito nervoso, a ponto de ficar assustado.
Tinha certeza de que aquilo era um jogo.
Ela amava jogar.
Lembrava perfeitamente das atrocidades que li sobre ela no semestre
passado.
A primeira, era seu comportamento no time de vôlei feminino da
universidade. Não era dos melhores, e algumas pessoas, que entendiam
melhor do que eu sobre o jogo, diziam que o time só não conseguia ganhar,
porque elas não eram unidas e não tinham uma excelente capitã, que no caso,
era Maeve.
A segunda, foi sobre a aposta, que fez todos de uma festa saberem que
era organizada por ela, só para chamar atenção e ser considerada uma
admiração para pessoas tão idiotas quanto ela. Não conhecia muito bem o
alvo daquela brincadeira estúpida, mas soube que era um nerd recluso da área
de computação.
Maeve havia desafiado Caitlin a ficar com ele, e depois que minha
cunhada aceitou aquilo, ela disse para o garoto, e por um motivo que eu não
gostaria de saber, todos da festa descobriram.
Fiquei muito desconfiado de Caitlin na época e até pedi para Trevor se
manter afastado, entretanto senti que havia algo a mais nela e resolvi dar uma
chance.
Minhas intuições estavam certas, no final de tudo.
Caitlin odiava tanto aquela realidade quanto Trevor e encontrou no
meu irmão, a fuga para sair daquele círculo.
Enquanto a garota ruiva na minha frente... não conseguia sentir nada.
Tudo era nublado.
Ela dizia que queria mudar, porém eu não confiava.
Ela parecia querer que fôssemos um grupo, eu queria me ver longe
dela.
Éramos mesmo opostos.
— Você já sabe como foram as minhas férias — respondi, antes que
viajasse mais em pensamentos.
— E sobre sermos um grupo? Já caiu em si?
— Sou o cunhado de Caitlin, apenas.
— Você é difícil... — Ela sorriu. — Ok, amanhã eu estarei aqui,
fazendo a mesma pergunta.
Ela piscou para mim, ao mesmo tempo que Caitlin dava um tapa fraco
em seu braço.
— Pare de perturbar! Chris é tímido.
— Por isso mesmo, estou o deixando à vontade.
Trevor surgiu em nossa mesa com nossos pedidos.
— Como eu não sou uma pessoa ruim, trouxe um Americano para
você. — Ele entregou um copo de café para Maeve.
— Obrigada, diminuiu 1% o meu ranço por você.
Prendi o riso, pegando o meu sanduíche e dando uma mordida nele.
Minha quase risada não passou despercebida por Maeve, que esperou meu
irmão se sentar ao meu lado, para falar:
— Sinta-se à vontade para rir, somos amigos aqui, entendeu?
Ela não iria desistir desse negócio de amigo, né?
— E como somos todos amigos, preciso dizer algo a vocês —
complementou e bebericou um pouco do café, antes de continuar: —
Primeiro, onde Aurora se enfiou? Era para ela estar aqui.
Caitlin pegou o celular e pareceu ler algo.
— Está com Melvin, acabei de ler a mensagem dela.
Maeve revirou os olhos.
— É claro que está. Enfim, depois eu falo para ela... — Olhou para
mim. — Eu mudei o meu curso para Artes.
— O quê? — Caitlin perguntou, um pouco chocada. — Artes? Mas
você fazia...
— Eu sei o que fazia, Cat — disse, voltando-se para ela. — Mas eu
não estava feliz com o meu curso, então resolvi mudar.
— Não vai levar mais tempo para se formar?
— Talvez eu atrase alguns semestres, mas de qualquer forma, farei o
que gosto.
Caitlin pareceu compreender, já eu, estava surpreso com a informação
de que ela pintava. Era claro que ela já tinha um talento artístico, porque fazia
Moda, contudo, a pintura era bem mais complexa do que roupas.
— E eu não sei se irei continuar jogando — Maeve jogou a bomba,
dessa vez, fazendo com que Caitlin arregalasse seus olhos.
— Você está brincando, né?
— Não estou — pareceu muito sincera. — Estou pensando em largar o
esporte. Por mais que eu goste, não é algo que eu ame e nem que quero levar
para frente. Cansei de ser um estorvo para vocês.
— Mas, e a sua... mãe — Caitlin disse baixinho a última palavra,
entretanto eu a ouvi perfeitamente.
— Ela está uma fera, mas eu parei de prestar atenção no que ela sente.
— Tem certeza?
Havia algo ali, apenas entre elas, que confessava que me deixou um
pouco curioso, mesmo que se referisse à Maeve.
— Sim — a ruiva afirmou. — Esse semestre vai ser diferente.
Caitlin sorriu fraco.
— Não estou tão feliz com sua indecisão sobre o time, mas irei apoiá-
la em tudo o que fizer.
Maeve a olhou por alguns segundos, e consegui enxergar um pouco de
comoção no seu olhar, o que me deixou um pouco sem jeito. Desviei meus
olhos para o sanduíche com apenas uma mordida na minha mão.
— Aqueles são Melvin e Aurora? — Trevor questionou ao meu lado.
Olhei rapidamente para onde ele olhava. Pela janela, vi o casal
atravessando a rua em direção à cafeteria onde estávamos.
Peguei meu café e me levantei depressa.
Como eu não podia falar, e minhas mãos estavam ocupadas, apenas
direcionei um olhar para o meu irmão, que entendeu na hora o que eu queria
dizer, e caminhei em direção à saída, antes que Aurora e Melvin alcançassem
a porta.
Ainda não era a hora para uma aproximação minha e dele.
Todo mundo me diz para ser boazinha
Todos julgam, mas não param de bisbilhotar
Mas meu corpo não pertence, não-uh-uh, a nenhum deles
TALLY – BLACKPINK
MAEVE HOOD
— O que aconteceu? — Caitlin perguntou, e eu acompanhei com o
olhar Chris sair da cafeteria rapidamente.
— É por causa do Melvin, certo? — apenas quis confirmar, já que me
parecia bem óbvio.
Ainda não havia perdoado o babaca pelo que havia feito semestre
passado. Um belo foda-se para o que ele estava sentindo, aquilo não dava
direito de machucar alguém que nem estava no nosso meio.
— Ele não quer trazer nenhum sentimento ruim para o seu irmão logo
agora no início das aulas — Trevor respondeu para Cat, mas aquilo não me
pareceu ser tudo.
O único problema é que mesmo que Melvin e Aurora não tivessem se
aproximado da nossa mesa naquele momento, Trevor ainda não falaria para
mim, porque me detestava.
— Olha quem resolveu aparecer — Aurora disse, parecendo feliz ao
lado de Melvin e com os olhos graúdos e azuis caídos em mim. — Sabia que
Caitlin e eu ficamos preocupadas?
— Prometo que vou explicar tudo depois — respondi, já me
levantando. — Melvin, é bom ver que você parece melhor. Não cometa mais
tolices, e tudo vai ser melhor do que antes, não como antes, porque o nosso
passado não era um dos melhores, entende? Agora eu preciso ir, vejo vocês
depois?
Melvin soltou uma risada fraca.
— É bom ver que você continua a mesma.
Eu não queria continuar a mesma, porém estava um pouco atrasada
para iniciar uma conversa tosca sobre isso com eles. Apenas dei as costas,
ouvindo Caitlin dizer alguma coisa, entretanto sem compreender ao certo o
que.
Saí da cafeteria e procurei por Christopher de longe, o encontrando
perto do prédio de Literatura. Ainda estava cedo para a sua primeira aula,
então tentei apressar os meus passos para alcançá-lo e até teria conseguido
isso, se um garoto alto, de pele negra, incrivelmente lindo e que eu chamava
de melhor amigo, não tivesse atravessado a minha frente.
— Porra, Barry! — estressei-me e nem fiz o favor de disfarçar. — O
que você quer?
— Caramba, gatinha, eu não vejo você há três meses e recebo esse
tratamento? — Ele abriu seus braços. — Espero de você, no mínimo, um
abraço.
Por baixo dos seus braços, vi Christopher entrando no prédio de
Literatura e soube que havia perdido a chance naquela hora.
Olhei para o ser à minha frente com tédio.
— Que tanto grude, hum? Não vou transar com você.
Ele revirou os seus olhos e me puxou para um abraço, me apertando
com seus braços fortes e musculosos de atleta e deixando um beijo no topo da
minha cabeça.
— Por que está tão nervosa no nosso primeiro dia? E nem tudo se
resume a sexo, gatinha. Sou seu amigo, esqueceu?
Deixei que me abraçasse e até o abracei de volta, para em seguida, me
afastar dele e olhá-lo.
— Estava apenas indo para a aula — respondi e pensando melhor,
resolvi contar: — Mudei de curso, agora estou fazendo Artes.
— Isso é sério? E sua mãe? — Barry questionou e se colocou ao meu
lado. — Vamos até o prédio de Artes, e você me conta mais sobre isso, o que
acha?
Barry sabia um pouco da confusão que eu vivia com a minha mãe,
porque um dia havia me pegado discutindo com ela. Meu amigo nunca
concordou com a maneira como eu lidava com os meus problemas, mas ele
sempre esteve ao meu lado, me dando o suporte que eu precisava.
Desconfiava que Caitlin sabia de algumas coisas também, porém
estava respeitando o momento em que eu me abriria para elas também. Era
fofo da parte delas.
— Tudo o que eu posso dizer, é que cansei — fui bem sincera. — Falei
que viveria pensando em mim a partir de agora, e ela ameaçou cortar minha
faculdade e meu dormitório.
— Acha que ela faria isso?
— É claro que não. Minha mãe nunca me prejudicaria dessa forma,
afinal, isso poderia acabar vazando e causando um escândalo.
— Bonnie Hood não parece gostar de escândalos.
Concordei com ele.
— Você ficou sumida nessas férias — constatou. — Fiquei um pouco
preocupado, mas ao ver que estava nos eventos de Moda com a sua mãe,
entendi tudo o que estava acontecendo. Deve ter sido um mar de pressão,
hum?
Eu não disse que ele me entendia? Barry era um ótimo amigo.
— Foi horrível — murmurei. — Sorria para isso. Finja aquilo. Não
pergunte nada. E assim por diante.
— Sinto muito que a sua mãe seja uma vaca mal-amada — Barry falou
com tanta sinceridade, que me arrancou uma risada.
— Tanto que nem meu pai a aguentou.
— Sabe que ainda dá tempo de procurá-lo, né?
O olhei bem séria. Barry sabia que aquilo era quase impossível.
— Depois do que eu fiz para ele? Meu pai nunca mais me procurou,
Barry. É óbvio que ele me odeia.
— Isso é você supondo — ele respondeu. — Você era nova demais e
não entendia muita coisa. Seu pai mora aqui perto... pense, seria uma boa
aproximação, agora que está tentando se manter livre daquela mulher.
— Meu pai está bem com a nova família dele, tenho certeza de que ele
não gostaria de uma visita do passado — fui firme em minha fala. — E eu
também estou bem assim! Deixe de ser metido.
Barry deu de ombros.
— Não é à toa que conquistei sua amizade.
Sorri de lado. Era verdade.
Nossa amizade não era como as outras entre garotos e garotas. Nos
pegávamos às vezes, mas tudo porque sabíamos que nossos sentimentos
nunca mudariam. Nossas personalidades não batiam, para que acabássemos
nos apaixonando um pelo outro, entretanto tínhamos uma boa química, que
aproveitávamos quando não queríamos sexo com outros.
Nos conhecíamos desde o ensino médio, e vinha sendo assim desde
aquela época.
Contudo, senti que algo mudaria entre nós, assim que ele me olhou
diferente nessa manhã.
— Você não perguntou como foram as minhas férias, mas irei falar
mesmo assim. — Revirei meus olhos de brincadeira, porque aquilo era o que
perguntaria a seguir. — Conheci uma garota.
Arqueei minhas sobrancelhas.
— Você está me dizendo que se apaixonou?
Ele deu de ombros, sorrindo meio tímido, e o que eu chamaria de meio
apaixonado. Que visão e tanto!
— Ela estuda aqui, sabia? — comentou, como quem não queria nada.
Aquilo era um sim para estar apaixonado?
— Eu conheço?
— Todos nós a conhecemos — revelou, um pouco misterioso. — Eu
só tive a chance de conhecê-la melhor nas férias.
— Quem é? Pare de esconder e revele logo!
— Lembra da Tiffany?
Minhas pernas pararam de andar, antes que eu tivesse um controle
maior sobre elas. Encarei Barry um pouco surpresa com a revelação
bombástica. Nunca, em nenhuma hipótese, pensaria nos dois juntos.
— A garota que era apaixonada por Trevor?
— Ela não era apaixonada, só achava que era.
Sorri com a defesa do garoto à minha frente.
— Deixa eu adivinhar, já estão namorando? Porque ela é um tanto
quanto emocionada.
Barry me empurrou pelos ombros, rindo e indicando que
continuássemos a caminhar. Passamos pelo prédio de Literatura, onde Chris
estudava, e eu olhei para o interior, que a grande porta de entrada deixava
visível, por alguns segundos. Não havia sinal dele, provavelmente já havia
entrado na sala de aula.
— Não estamos namorando ainda, mas pretendo pedi-la em namoro —
contou sua ideia, me fazendo entender que estava mesmo apaixonado.
— Como você e Tiffany acabaram juntos? — Aquilo ainda me parecia
improvável.
— Eu a vi na praia, mais especificamente, na fila para comprar uma
bebida. Ela esqueceu a carteira, e eu paguei uma água de coco para ela, desde
então, começamos a conversar e nos aproximar cada vez mais.
— Que cena de filme! Nem para ser algo mais emocionante para o
primeiro amor?
Ele deu uma risadinha.
— Às vezes, o descomplicado é melhor.
Meu amigo tinha razão. O descomplicado era sempre o melhor, só que
era menos eletrizante, na minha opinião.
— Tiffany gosta de você?
— Sabe que sou um cara experiente, né? Tenho 99% de certeza que ela
gosta de mim.
— Me conte como será o pedido de namoro e não me afaste de você ou
irei cortar suas bolas no meio da noite.
Automaticamente, o idiota colocou as mãos em frente ao pau.
— Para! Irei precisar delas.
Nós rimos ao mesmo tempo que nos aproximamos do prédio de Artes,
onde eu passaria a estudar a partir de agora.
— Estou feliz por você — nós dois dissemos em uníssono e voltamos a
rir.
— Você é um cara legal, Barry — elogiei meu amigo. — Será um
excelente namorado.
— E você está finalmente saindo da bolha em que sua mãe a colocou,
quem sabe, não abre o coração para alguém também?
— A minha pessoa provavelmente deve me odiar por quem eu sou —
comentei, pensando em ninguém específico, até que o silêncio por parte do
garoto ao meu lado, me fez encará-lo. — O que foi?
— Está me dizendo que existe alguém? Quem é? Algum atleta que eu
conheço? Um amigo do time...
— Cala a boca, Barry! Eu falei hipoteticamente — disfarcei,
apontando para o prédio à nossa frente. — É melhor eu ir.
— Saber que você já me parece aberta ao amor, já ganha metade do
meu dia; o restante, eu ganho com o sim da Tiffany — confessou, com o
sorriso meigo de sempre nos lábios.
— Você é brega! — Dei um empurrão em seus ombros. — Falo com
você depois? Me conte tudo!
Barry fez uma continência engraçada para mim, enquanto eu me
afastava.
Dei as costas para o meu amigo, me sentindo feliz por ele estar
seguindo aquela nova etapa da sua vida. Só esperava que a cheerleader não
quebrasse o seu coração, porque meu amigo era mesmo alguém que se
entregava às emoções e certamente ficaria muito mal, caso ela fizesse algo
idiota.
No entanto, era melhor não pensar em negatividade.
Diria isso para mim mesma em relação à minha vida também. Ainda
existiam muitas coisas para organizar nessa etapa de transição,
principalmente, pessoas para conquistar a confiança.
O nerd de respostas afiadas e que queria se ver longe de mim, era uma
das prioridades.
Não reclamei quando o meu próximo destino teria que ser a biblioteca,
era quase como se o mundo estivesse facilitando a minha aproximação com
Christopher.
Precisava arrumar alguns livros sobre Arte Moderna, para preparar um
bom seminário para apresentar daqui duas semanas. Era incrível como a
faculdade não dava tempo de nos adaptarmos, primeiro dia de aula, e já
estávamos nos fodendo.
Não que eu estivesse reclamando 100%.
Pelo menos agora, estava me fodendo com um curso que gostava.
Entrei na biblioteca, que já estava lotada de universitários. Christopher
não estava à vista, então optei por procurá-lo nos corredores entre as grandes
estantes do lugar.
O encontrei repondo alguns livros no último corredor, que era muito
mais estreito comparado aos outros. Neste, só havia espaço para uma pessoa
de uma estante para a outra, e Christopher parecia ainda maior do que ele já
era, no meio de tantos livros.
Ele não notou a minha presença, e eu aproveitei esses segundos para
observá-lo um pouco melhor.
Christopher parecia um personagem saído direto de um filme
romântico, com aquela camisa surrada de cor creme e o colete de tricô bege
por cima. Era a primeira vez que eu o via sem um moletom ou camiseta de
algum elemento nerd que ele gostava, e isso me impressionou um pouco
mais.
Ele podia não saber o motivo, mas havia me chamado a atenção.
E nem era apenas pela sua beleza, que ainda conseguia me tirar um
pouco do fôlego.
Christopher havia se destacado em minha mente, através do seu
silêncio.
Desde aquela tarde em que me ajudou, sem ao menos saber quem eu
realmente era, o garoto conseguiu alugar um triplex imenso na minha cabeça,
que só me fez querer ficar mais próxima dele.
Contudo, como a vida não era nada fácil, e o carma nunca falhava, ele
odiava quem eu era e talvez, até eu mesma.
Por isso, nunca fiz questão de que soubesse que aquela garota chorona,
que ajudou no semestre passado, havia sido eu. Não era algo tão incrível e
que mudaria a forma como ele me enxergava, porém, se um dia eu tivesse a
oportunidade de ser mais próxima dele, diria que ele foi o único que
conseguiu me fazer sorrir naquele dia de merda que estava vivendo.
Notei que estava o encarando demais e resolvi, mais uma vez, me
aproximar. Quem sabe se eu o ganhasse no cansaço, ele deixaria que eu ao
menos, fizesse parte da sua vida? Ele era tão sozinho quanto eu, mesmo que
tivesse um irmão e uma mãe que pareciam ser amorosos.
— Ei, trevo de quatro folhas! — Ele deu um pulo no lugar e me
encarou, assustado. — Desculpa.
Sorri inocentemente.
— O que está fazendo?
Ele largou o livro que segurava e sinalizou:
— Trabalhando, o que está fazendo aqui?
Como esperado, não parecia muito feliz em me ver, estranhamente,
isso só me animava mais para chamar sua atenção.
— Vim alugar alguns livros — respondi e me aproximei dele, para não
falar tão alto, o que acabou o afastando automaticamente. Ao mesmo tempo
que era engraçado, também era um pouco triste a maneira como ele me temia.
— Não posso gritar aqui.
— Você pode sinalizar, já que sabe falar a minha língua.
Ele tinha um bom ponto.
Aquilo era algo pelo qual eu sempre seria grata à minha mãe: ter me
colocado no máximo de cursos possíveis quando ainda era criança. Se não
fosse por ela, nunca teria aprendido ASL[1].
— Um passarinho me contou que você gosta de ouvir a nossa voz.
O passarinho se chamava Caitlin e havia me contado depois que eu
perguntei, despretensiosamente, se Chris preferia que falássemos a língua de
sinais com ele ou com nossa voz.
Ele pareceu perceber quem era o passarinho, pois suspirou.
— Aqui ficam os livros de ficção científica, não acho que seja isso que
esteja procurando.
— Não, mas você poderia me ajudar?
Ele segurou o crachá amarelo e em seguida, voltou a movimentar as
mãos:
— Sou encarregado de organizar a biblioteca, atendimento é com os
funcionários de crachá azul.
— Mas eu prefiro você — admiti, o deixando um pouco
desconcertado. Sua expressão abobalhada deixou bem claro isso. — Por que
não pode me ajudar?
Christopher se virou para mim, e eu me senti bem pequena na sua
frente, mesmo com os meus 1,80cm. Qual deveria ser a sua altura? 2m? De
qualquer forma, não era aquilo que mais me deixava impactada.
Ele estava mais próximo, e eu consegui notar um pouco mais dele por
completo.
Os ombros largos e braços fortes, que me lembravam do dia em que o
encontrei com seu irmão na academia. Christopher estava fazendo um bom
trabalho em malhar, mesmo que eu não enxergasse um pedaço deles melhor,
para comprovar.
O rostinho que passava uma índole inocente, mas ao mesmo tempo
delicada. As três pintinhas do lado esquerdo do seu rosto, que faziam um
triângulo na sua bochecha e que só o deixavam mais fofo, junto do cabelo
castanho com fios meio lisos, meio enrolados, jogados despojadamente em
frente à testa e que davam um ar mais sério para ele.
Christopher poderia ser alguém fofo e sexy na mesma medida, e
achava que ele não sabia disso.
— O que você quer de mim?
A forma brusca como perguntou aquilo com suas mãos enormes, só
quebrou todo o meu encantamento. Voltei a olhar para ele e senti nos seus
olhos, o quanto parecia estar perdido, nervoso e com... medo?
— Como assim? — Sorri um pouco, para aliviar o clima.
— Eu não sou um brinquedo como aquele garoto daquela festa, Maeve
— disse de uma vez, me fazendo sentir um enjoo de uma hora para a outra. —
Por que quer se aproximar de mim? O que você acha que eu sou?
— Não acho que aqui seja o lugar ideal para falarmos sobre isso...
— Não vamos voltar a nos ver com frequência! Não somos amigos.
— Porque você não deixa eu me aproximar de você! — revidei,
controlando-me para não alterar meu tom de voz.
— E por que você quer isso? — Notei suas mãos estremecerem. — É
por que eu sou mudo? É por que você está mudando? Conquistar minha
amizade fará com que você se sinta melhor? Como um prêmio de
consolação?
Aquilo, ao mesmo tempo que me magoou, também me irritou de
incontáveis maneiras.
— O quê? Você se acha um prêmio de caridade?
Ele não me respondeu, o que apenas me estressou ainda mais.
— Eu mudar, não tem nada a ver com querer a sua amizade, muito
menos com essas merdas que acabaram de ser gesticuladas pelas suas mãos
agora! Por que é tão difícil acreditar que alguém gostaria de ser próximo de
você, apenas porque quer isso? Por que tudo tem que se resumir à sua
mudez? Ela não define você!
Ele não riu, porém seus olhos brilharam com algo perto disso. Como se
eu tivesse dito algo engraçado.
— Você está errada! Ela me definiu todos esses anos, e não vai ser
diferente agora. É melhor voltar para o seu mundo, Maeve. Comece
procurando pelo que veio buscar aqui, eu irei voltar a trabalhar.
Christopher pegou o livro que antes segurava e colocou na estante à
sua frente, depois pegou outra obra e fez o mesmo.
Bufei.
— Vai me ignorar?
Sem respostas.
— Certo — quase cuspi a palavra.
Irritada pra um caralho.
Odiava meu passado.
Odiava minha mãe.
Estava me odiando nesse momento.
Eu até poderia odiar o garoto à minha frente, mas era incapaz disso,
visto que suas atitudes eram apenas reflexo das minhas.
Merda!
Contudo, eu nunca saía por baixo, então deixei que as palavras finais
o acertassem precisamente:
— Irei fazer exatamente o que me pediu, Christopher, porque diferente
do que pensa, eu não preciso de você para provar algum ponto, eu apenas
queria que você se sentisse bem ao meu lado, mas é melhor deixar para lá,
né? Minha reputação é muito mais importante, do que dar uma chance para
eu me redimir. — Seus ombros ficaram tensos, o que me provou que ele
estava ouvindo perfeitamente o eu que dizia. — Só é infeliz você pensar isso
de si mesmo, tudo o que irá conseguir com esse pensamento, é afastar todas
as pessoas que quiserem se aproximar de você.
Antes de dar as costas, finalizei:
— Não irei voltar a me aproximar de você, além do seu limite.
Eu tenho um problema a menos sem você
Eu tenho um problema a menos sem você
(Um a menos, um problema a menos)
PROBLEM – ARIANA GRANDE FEAT. IGGY AZALEA
CHRISTOPHER LANCASTER
Deixei o livro de qualquer jeito na estante à minha frente e respirei
fundo diversas vezes, me sentindo muito nervoso.
Como eu consegui dizer tudo aquilo para Maeve? Eu nunca me
defendia. Durante todos esses anos, deixei que as pessoas brincassem
comigo, enchessem minha paciência e fizessem o que bem entendessem,
então por que não a esperei acabar o que quer que estivesse tramando?
E por que sentia que havia sido um pouco estúpido?
Não podia ser verdade o que ela disse sobre mim.
Afinal, o que ela poderia ter visto em um garoto mudo, nerd e
completamente estranho, como eu? Aquilo nem fazia sentido!
Maeve só queria atenção, ela era assim, não era? Foi melhor ter
coragem e pará-la, antes que algo de ruim acontecesse comigo nessa
faculdade e eu virasse assunto novamente, exatamente como aconteceu
quando Melvin me deu um soco.
Assim como era melhor esquecer o que havia acabado de acontecer e
toda essa situação envolvendo Maeve. Hoje era o primeiro dia de um novo
semestre, que eu queria desesperadamente que fosse monótono, e não triste.
Peguei outro livro e iria colocá-lo na estante, até que vi que se tratava
de Neuromancer de William Gibson. Esse livro estava na minha lista há
meses, e aproveitei a circunstância para separá-lo em um canto. O pegaria
emprestado para ler.
Ultimamente, vinha lendo apenas mangás e estava sentindo falta de um
livro, então aquela seria uma ótima chance de curar a saudade.
Peguei meu celular e tirei uma foto da capa do livro, depois entrei na
conversa com Aurora e a enviei, com a seguinte legenda:
Eu: Você deveria tentar ficção científica. Irei começar essa leitura, se
for bom, indico para você.
Enquanto ela não respondia, aproveitei o tempo para terminar de repor
os livros de uma vez, ainda tinham mais algumas caixas no estoque, e
precisava fazer tudo hoje.
Não me importava muito, trabalhar na biblioteca era uma das minhas
coisas favoritas na universidade. Era o lugar onde eu costumava relaxar,
mesmo que estivesse no meio de tantos alunos. Talvez os livros fossem uma
grande influência nisso, pois eles tinham a capacidade de me transportar para
um lugar melhor, mesmo que estivessem fechados.
Uma mensagem vibrou no meu celular.
Aurora: Ei, me parece uma boa ideia. Diga-me se for bom!
Eu: Como está a volta do Melvin?
Aurora: Ele está se adaptando às coisas, mas ainda não tivemos uma
conversa sobre nós. Estou com um pouco de medo. Ao mesmo tempo que ele
parece o mesmo Melvin por quem me apaixonei, também me parece
diferente.
Pensei por um momento, tentando interpretar aquilo e ajudá-la como
conseguia, e com a pouca experiência que tinha. Não era muito bom nessa
coisa de ser amigo, porque fazia anos que não tinha alguém além do meu
irmão, e nossa intimidade era bem diferente da minha e da Aurora.
Eu: Ele deve estar arrumando uma boa forma para falarem sobre o
futuro de vocês. Melvin a ama, Aurora! Eu senti isso naquele soco.
Aurora: kkkkkkkkk! Isso foi péssimo, sabia? Inclusive, ele queria
encontrá-lo para pedir desculpas, mas você já tinha ido embora.
Eu: Eu já o desculpei... ele não precisa se incomodar com isso.
Aurora: Acho que ele só vai se sentir melhor, se pedir olhando nos
seus olhos.
Eu estaria bem com isso, desde que ele estivesse mesmo querendo ser
alguém melhor. Diferente de Maeve, Melvin era alguém que eu veria com
mais frequência, por conta do seu parentesco com Caitlin.
Eu: Tudo bem.
Aurora: Eu não contei que conversamos bastante nessas férias e que
acabamos criando um tipo de amizade, então... tudo bem para você que ele
não soubesse por agora? Não quero magoá-lo.
Entendia o ponto de vista de Aurora, mesmo que achasse um pouco
ruim essa situação de esconder as coisas. Não estávamos fazendo nada de
errado, eu nunca a enxerguei de uma maneira romântica, então por que
precisávamos esconder? O medo de que Melvin descobrisse e criasse uma
cena, se fez presente, me fazendo sentir um pouco da ansiedade me dominar.
Eu: Claro.
Talvez fosse melhor voltar para o meu mundinho antissocial.
Era menos complicado que isso, e dessa forma, não me sentiria
humilhado, como da outra vez.
MAEVE HOOD
“Sabe como somos rigorosos com tudo dentro da UCLA, Maeve. Você
tem até o final da próxima semana, para acertar com a tesouraria o valor
devedor.”
O aviso claro, junto da ameaça escondida em cada espaço de uma
palavra para a outra, voltou à minha cabeça enquanto dirigia até o meu
apartamento fora do campus.
Minha mãe havia feito o que prometeu, sem se importar em como
aquilo seria recebido pela universidade, tamanha a raiva que ela sentia de
mim.
Meu semestre estava atrasado há duas semanas, e como eu era de uma
família muito importante, que todos sabiam que estava indo bem nos
negócios, a universidade não demorou a cobrar.
Fiquei tão envergonhada, ao explicar para a senhora Bennet, a diretora
financeira, que provavelmente minha mãe havia esquecido, que quase me
enfiei na lata de lixo minúscula que existia na sua sala.
Merda! O que eu faria? Me negava a voltar para os braços da minha
mãe, mas também não existia uma forma de eu pagar os milhares de dólares
que a UCLA cobrava pelo meu curso.
Deixei o meu carro no estacionamento e caminhei em direção ao
elevador que me levaria para o oitavo andar, onde meu pequeno apartamento
ficava. À medida que esperava, senti meu celular vibrar no bolso da minha
calça e assim que o peguei, revirei os meus olhos, ao ver a malévola em
pessoa me ligando.
— Por que você está fazendo isso? — foi a primeira coisa que
questionei, assim que atendi.
A sua risada fria me causou arrepios bem na região da minha nuca.
— O que você descobriu? O semestre da UCLA atrasado ou o contrato
do seu apartamento cancelado?
O quê?
— Você cancelou o contrato do meu apartamento? Está me expulsando
da minha própria casa? — aproveitei para gritar, já que o estacionamento
estava vazio.
— Minha casa, você quer dizer — ela corrigiu, não escondendo o seu
deboche. — Era eu que pagava.
— Você não tinha esse direito...
— Eu falei o que faria, caso você continuasse com esses excessos de
rebeldia, não falei? Sabe como tive que mentir sobre a sua ausência na
semana passada em Paris? Inventei que você pegou uma virose e não poderia
comparecer!
— Deveria ter dito que voltei para Los Angeles!
Ouvi sua respiração agitada do outro lado.
— Vai continuar com essa rebeldia? Eu posso ir ainda mais fundo, e
você sabe disso — ameaçou. — Volte para o seu curso e me acompanhe no
desfile no próximo final de semana, que acontecerá em Paris, dessa forma,
tudo irá voltar ao normal.
Soltei uma risada repleta de sarcasmo, que com certeza só a deixou
mais irritada.
— Nos seus sonhos.
— Maeve Hood! — ela gritou. — Eu não estou brincando! Lembre-se
que fui eu que a criei e que não pode me vencer.
Suas palavras frias só acenderam mais a raiva dentro de mim.
— Já pensou que a criação pode superar o criador? Não? É por isso
que as pessoas que entendem de negócios, dizem que você pensa pequeno. —
Foi como ouvir um touro bufar do outro lado do telefone. — Você não disse
que era para esquecer que existia, assim que passasse por aquela porta? Eu
esqueci, mãe.
— Até você se lembrar do meu dinheiro.
— Eu vou dar um jeito, caso não se lembre, eu ainda tenho um pai...
Ela soltou outra risada debochada, e antes que atormentasse mais os
meus pensamentos, desliguei o telefone na sua cara e em seguida, desliguei o
aparelho. Não queria ouvir a sua voz pelas próximas horas, pelos próximos
dias, pelos próximos meses.
Como ela podia ser tão... estúpida?
Recusava-me a chorar por aquela idiota, mesmo que sentisse o aperto
tomando o meu peito de uma forma devastadora.
Apertei a chave do meu carro entre os meus dedos e voltei para ele,
com um caminho em mente.
MAEVE HOOD
A casa do meu pai era tão grande quanto a que vivia com minha mãe.
Existiam dois andares, e no primeiro, ficavam a sua gigante sala de estar, sala
de jantar e cozinha. Pelo menos, foi o que contei ao inspecionar tudo o que
estava ao meu redor aqui, sentada no sofá branco macio.
— Me conte sobre você — meu pai pediu, iniciando um assunto,
depois de mais uma onda de silêncio constrangedor entre a gente. — Está
namorando? Quem são seus amigos?
— Pensei que soubesse sobre a minha vida na universidade.
Ele me olhou sério, e eu soube que havia sido um pouco ríspida. Meu
pai só queria saber sobre mim, não é como se ele estivesse cometendo um
crime.
— Força do hábito — justifiquei rapidamente. — Não estou
namorando, mas é por opção, porque alguns garotos brigariam por mim.
Richard fez uma careta, ao processar o que havia dito. Não era uma
mentira, eu era mesmo muito popular, juntamente de Cailtin, Aurora e todo o
restante da Elite. Isso, combinado com a minha beleza, só era uma grande
tentação para os atletas da UCLA.
— Informação demais, Maeve — ele brincou, tornando o ambiente um
pouco mais agradável. — Para mim, você ainda é uma garotinha.
Arqueei as sobrancelhas e cruzei os braços.
— Tenho vinte anos, pai — o lembrei. — Quase vinte e um.
— É, eu sei disso.
Ele também deveria saber que minha vida universitária costumava ser
bem agitada até o semestre passado. Festas, bebidas, que ainda não tinha
idade suficiente para beber, casos de apenas uma noite.
Ia além das brincadeiras de mau gosto, e estava tudo nas redes sociais
de perfis do campus da UCLA, não era difícil de achar.
Minha reputação estava mesmo uma merda.
— Mas você tem uma garotinha — comentei, trazendo a minha irmã à
tona. — Ariana é linda.
— Ela se parece com você em alguns aspectos, é tão atrevida quanto
me lembro que você era.
Sorri fraco, lembrando-me da pequena garotinha.
— Quantos anos ela tem?
— Oito.
— Ela é surda ou muda? — questionei, querendo entender um pouco
mais sobre a minha irmãzinha.
— Ari nasceu surda — esclareceu. — Foi uma tremenda surpresa para
nós, quando descobrimos, pois não sabíamos nada sobre a língua de sinais.
Felizmente, tivemos auxílio para nos ajustar a essa nova realidade
rapidamente.
Automaticamente, me lembrei de Christopher. Sua realidade foi
mudada bruscamente também, por conta de um acidente, não sabia muitos
detalhes, porque Caitlin não havia me contado tudo, mas ele não havia
nascido mudo.
— Todos deveriam saber a falar a língua de sinais — murmurei,
pensativa sobre o assunto. — Eles já devem se sentir excluídos naturalmente,
por usarem a linguagem de sinais, imagina com as pessoas não sabendo?
— É um raciocínio que todos deveriam ter — meu pai concordou. —
Fez aulas de ASL?
Assenti.
— E de francês, espanhol e português — completei. — Preciso
agradecer pelas aulas de ASL, ou então não conseguiria me comunicar com
Ariana e nem com o cunhado de Caitlin.
— Ele é surdo?
Neguei.
— Christopher é mudo, perdeu a capacidade de falar em um acidente.
— São amigos?
Achava que não consegui disfarçar minha cara de emburrada, porque
antes mesmo de responder, meu pai falou:
— Ex-namorado?
— Não. Ele me odeia! Christopher só quer viver nas sombras daquela
universidade e não deixa que ninguém se aproxime, principalmente uma
garota como eu, que ama brincar com garotos estranhos como ele.
Meu pai pareceu entender que aquela não era a nova realidade que eu
gostaria de ter, porém era o que Christopher pensava. Ele nem havia me dado
uma chance de provar o contrário! Por que alguém como ele, que já havia me
provado que era uma pessoa gentil, não conseguia ter a capacidade de confiar
em mim? Havia passado a semana toda me sentindo uma merda por conta
disso.
— Talvez ele tenha sido magoado por pessoas antes e perdeu a
capacidade de confiar — meu pai comentou, parecendo saber do assunto. —
Ari aparece chorando pelo menos uma vez por semana, por causa de alguma
brincadeira idiota de um coleguinha.
A merda do bullying. Senti-me extremamente mal ao descobrir o que
uma garotinha inocente como ela estava sofrendo na escola, por algo que nem
deveria ser julgado.
Eu era muita coisa nessa vida, mas pelo menos, tinha a noção de
quando estava sendo estúpida. Lembrava-me perfeitamente de quando resumi
Christopher a uma pessoa estranha, sem saber toda a sua história.
Foi a última vez que fui tola daquela forma.
— Se você me der o endereço, posso acidentalmente esbarrar meu
cotovelo nas caras deles.
Meu pai riu, ao mesmo tempo que Ariana entrou correndo na sala. Ela
se atirou nos braços de Richard, que a segurou com a experiência de um pai
que sabia o que estava por vir.
— Pai, o bolo está pronto — ela anunciou com um sorrisinho e em
seguida, me olhou. — Posso falar com a minha irmã?
Meu pai assentiu e sinalizou:
— Ela está entendendo tudo o que você está falando, querida.
Os olhos de Ariana brilharam em minha direção, e ela se ajeitou no
colo do nosso pai, virando-se de frente para mim. Resolvi dar o primeiro
passo e acenei para ela.
— Oi, Ari — sinalizei. — Eu sou a Maeve.
— Papai me falou sobre você — disse com suas mãos. — Você é
mesmo muito ocupada? Demorou demais para vir nos ver, achei até que
tinha esquecido da gente.
Olhei para o meu pai, sem saber o que ela sabia. Ele deu uma risada
fraca e deixou um beijo na bochecha de Ari.
— Nunca escondi de Ari sobre você. Costumava dizer que você era
muito ocupada com os estudos e morava em outra cidade, por isso não tinha
disponibilidade para nos ver — ele esclareceu. — Nos últimos meses, estava
achando que teria que dizer a verdade.
— Ela sabe que sou filha de outra mãe?
— Sim.
— Por que vocês estão falando? Eu não escuto!
Meu pai levantou as mãos e as movimentou:
— Desculpe, querida.
Barulho de saltos ocuparam o ambiente, e eu me virei a tempo de ver
Suzy entrando na sala de forma hesitante. Ela me encarou e sorriu, mostrando
as covinhas, uma de cada lado das suas bochechas.
Nunca havia a visto pessoalmente, a conhecia apenas por fotos, mas
ela era tão linda quanto o que a internet mostrava.
Suzy não trabalhava mais ativamente como modelo, achava que ela
fazia algumas publicidades de marcas famosas ainda, porém nada como
antes, quando estava no auge da juventude. Não que ela estivesse velha
agora… sua idade deveria estar por volta de trinta e sete anos, pois havia se
aposentado quando tinha trinta e cinco.
— Oi, Maeve — ela cumprimentou, juntando as mãos em frente ao
corpo escondido dentro de um vestido branco justo e fino. Ela tinha
praticamente o mesmo corpo que o meu, e aquilo deveria ser invejável para
mulheres da sua idade. — Como tem passado? É uma honra recebê-la em
nossa casa.
Costumava pensar que nunca conseguiria olhar para ela sem querer
vomitar nos seus pés, mas aqui estava eu, admirando até cada fio do seu
cabelo escuro como um carvão. A mulher parecia uma boneca.
— Oi, Suzy! Estou bem, e você?
— Muito bem.
Ari pulou do colo do pai e ficou na frente da sua mãe.
— Mãe, a irmã Maeve vai jantar com a gente, né?
Suzy me olhou e respondeu:
— Se ela quiser, será bem-vinda.
Ari me olhou e com o atrevimento que meu pai disse pertencer
inteiramente a mim, se aproximou.
— Você vai? Quero conhecer você.
Mesmo se eu tivesse escolha, não conseguiria recusar um pedido tão
fofo como aquele, por isso, assenti.
— Também quero conhecê-la.
CHRISTOPHER LANCASTER
Pausei Resident Evil 4, antes que fosse morto por um inimigo, e prestei
atenção na figura em frente à televisão, de braços cruzados e olhos afiados
em minha direção.
Larguei o controle no sofá.
— O que foi? Está atrapalhando meu jogo.
— É melhor ir trocar de roupa e me acompanhar ou então irei para
cima de você — ameaçou. — Caitlin já está chegando.
Não escondi a minha frustração, ao fazer uma careta. Ele não entendia
que não queria acompanhá-lo com toda a Elite em um passeio? Diferente do
meu irmão, não havia mudado nada em mim desde o semestre passado. Eu
não pertencia àquela realidade de ter amigos, socializar e tudo o que os
circulava.
— Preciso matar Salazar — justifiquei, me referindo ao grande chefe e
inimigo principal do jogo. — Estou quase chegando nessa parte, inclusive.
— Você já o matou no início do ano — meu irmão rebateu. — É
apenas um piquenique no parque, Chris. Não é nada anormal.
— Até semestre passado, você não queria fazer parte desse círculo —
não me importei em jogar na sua cara, o que só o irritou. — Eles são amigos
da sua namorada, não meus.
Trevor suspirou e se aproximou, se sentando ao meu lado.
— Sei como você se sente e não estou pedindo para ir e socializar,
estou pedindo para ir, para que não fique aqui sozinho — explicou. — Eu
também não queria ir, mas Caitlin acabou me convencendo. É um sábado
ensolarado de verão ainda, por que ficaríamos presos nesse quarto?
— Sempre ficamos, Trevor — o lembrei, caso houvesse batido a
cabeça e esquecido. — As únicas pessoas de quem gosto naquele grupo, são
Caitlin e Aurora.
— Eu também e estou indo. Vai mesmo perder essa luta para um
rancoroso como eu?
— Vai mesmo me fazer almoçar com o cara que socou a minha cara?
E com a garota que vive me atormentando?
Meu problema nem era com Melvin, porque uma hora ou outra iríamos
nos encontrar, e ele provavelmente falaria comigo. A questão, no entanto, era
Maeve e o que aconteceu na biblioteca, do que meu irmão não tinha ideia de
nada.
— Está jogando sujo comigo, né? Perguntando isso para que eu desista
de te arrastar junto da gente.
Sorri de lado. O lado negativo de ter um irmão que te conhecia tanto,
era que ele sempre saberia quando você estava trapaceando.
— Olha... eu também não gosto muito de Melvin e Maeve, mas eles
são os únicos amigos de Caitlin, e mais do que isso, são mesmo como uma
família, desde o caos até o amor. Não posso simplesmente ser um idiota,
quando minha namorada afirma que eles estão tentando mudar — revelou,
me fazendo enxergar o quanto estava amadurecendo nos últimos meses. —
Apenas fique longe de Maeve, e não teremos nenhum problema.
Eu ri fraco.
— Decida, você quer que eu vá ou não?
— Você entendeu o que eu quis dizer. — Bagunçou meu cabelo, me
fazendo revirar os olhos. — O interesse dela em você me assusta.
Também me assusta, irmão.
Tanto, que eu não faço questão de ir a um lugar em que ela vai estar,
porque além de assustado, também me sinto envergonhado pelo que fiz na
segunda-feira.
Caitlin entrou no quarto no mesmo momento e nos encarou, surpresa.
— Por que Chris não está pronto?
— Ainda estou o convencendo a ir — Trevor respondeu à namorada,
se levantando para se aproximar dela.
Minha cunhada cruzou os braços em frente ao corpo.
— Eu não permito que você fique sozinho aqui no quarto — decidiu,
bem determinada. — Antes, vocês podiam ser antissociais, mas agora vocês
têm a mim.
Pelo visto, aquilo mudava muita coisa na sua perspectiva.
Trevor riu e deixou um beijo na sua bochecha, me olhando logo em
seguida.
— Vamos?
Não é como se eu tivesse outra escolha.
Eles haviam decidido se reunir no Grand Park, em uma área não tão
movimentada, perto de algumas árvores que faziam sombras em conjunto de
mesas e cadeiras cor de rosa. Era quase como estar no mundo da Barbie
naquela área verde e bem cuidada do parque.
Morava em Los Angeles há dois anos e nunca havia colocado os pés
aqui, não era, no mínimo, estranho?
— Finalmente vocês apareceram — Barry disse, segurando duas
sacolas de uma hamburgueria que não conhecia e as colocando em cima da
mesa. — Vamos poder comer os hambúrgueres quentinhos e beber as Coca-
Cola geladinhas.
Passei meu olhar por Melvin e Aurora, sentados lado a lado ao redor da
mesa, e por último, vi Maeve na ponta, com seus olhos presos em mim.
Desviei no mesmo momento, me sentindo um pouco nervoso. Por que
sempre me sentia dessa forma na presença dela?
— Estou cheia de fome — Caitlin quebrou o silêncio, respondendo
Barry e se aproximando dele de mãos dadas com Trevor. — Que bom que
veio, Barry. Faz tempo que não nos vemos.
— Ando meio ocupado ultimamente — ele disse e me olhou. — Esse é
o irmão do Trevor?
Senti os olhares de todos em mim e engoli em seco. Com meu irmão, e
até mesmo com Caitlin, era fácil ser sarcástico e brincalhão, mas com pessoas
de quem não era íntimo, sempre me deixava com medo. Principalmente,
pessoas como eles.
— Ei, Christopher — Melvin cumprimentou e se levantou. Ele pareceu
mais alto do que da última vez em que o vi, mesmo que soubesse que era
apenas coisa da minha cabeça, ainda éramos da mesma altura. — Podemos
conversar?
Encarei meu irmão, sem saber o que responder ao seu cunhado à minha
frente. Ele me encarou de volta, parecendo transmitir no seu olhar que estava
tudo bem eu seguir Melvin. Trevor provavelmente sabia o que ele falaria
comigo.
Por fim, concordei com a cabeça.
— É um prazer conhecer você, Chris — Barry falou, me lançando um
sorriso gentil.
Eu apenas devolvi o sorriso, um pouco sem graça. Olhei de volta para
Melvin, ao mesmo tempo que ele indicava para nos afastarmos um pouco
deles, para conversarmos em particular.
— Todos devem ter falado para você como me sinto, mas não acho
justo me recusar a falar pessoalmente com você, depois do que fiz no
semestre passado — ele começou a dizer. — Sinto muito pela merda que fiz,
não deveria ter batido em você. Era óbvio que não estava dando em cima de
Aurora, e que estavam apenas conversando, mas eu acabei perdendo a minha
linha de raciocínio. Costumava odiar ver homens perto dela, principalmente
tão próximos como vocês estavam naquele dia, porque achava que eles
sempre a tirariam facilmente de alguém como eu.
Relacionamentos eram estranhos.
Eles podiam ser lindos como um conto de fadas ou aterrorizantes como
uma história de terror.
E não havia nada que pudesse avisar, antes de vivenciá-los, para que ao
menos se soubesse o que esperar de algo tão imprevisível.
Aurora havia me falado pouco sobre seu relacionamento com Melvin,
porém sabia que no último ano, ele não era um dos mais bonitos e que estava
tão ruim, que a fez acabar com tudo. O término aconteceu antes do loiro
sofrer a overdose.
— Eu passei todos esses dias me sentindo um merda pela forma como
reagi com você e até falei sobre isso na terapia. Não acho que um pedido de
desculpas vai fazer com que o que fiz seja superado de uma hora para a outra,
mas quero que saiba da minha boca o quanto me sinto mal por ter sido um
babaca daquela forma. — Ele parecia muito sincero, dava para notar pelo seu
olhar meio desesperado por uma resposta minha. — Prometo que estou
melhorando muitas atitudes minhas, e que se permitir, ainda podemos nos dar
bem futuramente.
Peguei meu celular no bolso, tendo consciência de que ele não sabia
nada sobre língua de sinais, e digitei uma resposta no bloco de notas:
Tudo bem. Eu sei que no fundo não era a sua intenção... espero que
agora esteja bem. Aurora o ama muito, e tenho certeza de que vão ser felizes
e saudáveis juntos, se seguirem o caminho certo.
Entreguei o telefone para Melvin, que leu a resposta silenciosamente,
perdendo um pouco da postura ao ler o final da resposta. Para a minha
surpresa, seus olhos marejaram, e ele disfarçou a emoção piscando algumas
vezes.
— Obrigado — agradeceu, me entregando o celular. — Espero que
possamos nos dar bem.
Como um mudo e um ex-quarterback que não sabia a língua de sinais
poderiam se dar bem, a ponto de serem próximos? Ele era idiota?
Foi o que me perguntei, cheio de ironia, com sua resposta.
Apenas concordei com Melvin, porque não queria digitar a tolice que
estava passando pela minha cabeça.
— Vem, vamos comer — convidou, caminhando de volta para o seu
lugar.
Não deixei de observar o quanto ele parecia diferente. Eu não o
conhecia bem e a única vez em que estive próximo dele, foi quando recebi
um soco na cara, ainda assim, notei o quanto Melvin parecia estar mais
inseguro. Parecia até receoso de cada ato e esperto para cada movimento ao
seu redor.
Como seria a volta para alguém como ele? Melvin ainda sentia vontade
de se drogar? Não sabia em que estado do vício ele estava, entretanto não
deixei de me preocupar com o irmão de Caitlin. Esperava, do fundo do meu
coração, que ele e Aurora finalmente encontrassem a felicidade que queriam,
já que eram muito novos para sofrerem tanto.
Aproximei-me da mesa, onde todos já estavam sentados ao redor, e
notei, com muita dor, que o único lugar, junto do único hambúrguer intocado
dentro de uma caixinha, era bem ao lado de Maeve.
— O que está olhando, Chris? Sente-se ou vou comer seu hambúrguer
— Aurora que disse, com um sorriso brincalhão nos lábios.
Ela parecia estar tranquila e relaxou mais, quando Melvin soltou um
riso baixinho ao seu lado.
Caminhei até o lugar vago e me sentei na cadeira rosa, sentindo os
olhos verdes da ruiva, afiados sobre mim. Todos, exceto ela, estavam
conversando sobre a volta às aulas e a nova grade curricular que tinham esse
semestre, então a atenção deles nem estava em nós.
— Pensei que não viria — ela disse, enquanto eu abria a caixinha do
meu hambúrguer. — Desculpa... me esqueci.
A olhei sem entender, notando, com a claridade batendo diretamente
no seu rosto, as inúmeras sardas que ela tinha abaixo dos seus olhos e na
região das bochechas. Diferente de sempre, quando a olhava, Maeve não
estava usando maquiagem, e fiquei um pouco surpreso por encontrar uma
pele bem cuidada e muito mais bonita do que normalmente.
Costumava imaginar que quando tirasse o tanto de maquiagem que
usava, uma bruxa feia seria revelada, igualzinha à sua personalidade, mas
talvez os contos de fadas estivessem errados, e as bruxas fossem bonitas o
suficiente para hipnotizarem homens tolos, como os inúmeros universitários
da UCLA.
— Não posso dirigir a palavra para você, né? — sussurrou, apenas para
que eu ouvisse, cheia de rancor em cada palavra dita. — Estou ultrapassando
o limite.
Não tinha uma resposta para aquilo, por isso apenas bebi um pouco da
minha Coca-Cola. Deveria ser mal-educado e ignorá-la? Não era do meu
feitio.
— Estuda Literatura, Chris? — Barry acabou salvando-me do
momento constrangedor.
Assenti.
— Fiz um pouco de aulas de ASL quando era criança, ainda lembro de
alguns gestos — ele revelou, me surpreendendo, e sinalizou perfeitamente:
— O hambúrguer está bom?
Barry parecia ser gentil, e eu me senti um pouco mais confortável.
— Sim.
Trevor estava do meu lado e piscou para mim.
— Agora me diga, por que está sumido, Barry? — Caitlin perguntou,
curiosa a respeito do amigo. — Não me diga que arrumou uma namorada.
— Eu arrumei. — Ele riu, concordando. — E vocês vão dar risada
quando descobrirem quem é.
— Espera aí! — Maeve interveio. — Tiffany aceitou?
Todos, até mesmo eu, olhamos assustados para Barry.
— Tiffany? — Aurora indagou.
— A mesma que estava a fim do Trevor?
— Tem coisas de que não precisa me lembrar! — Barry reclamou. —
Sim, é ela mesma. Acabamos nos conhecendo melhor nas férias, e essa
semana a pedi em namoro.
Caitlin riu fraco, tão chocada como nós com a novidade. Eu ainda
pensava que aquela garota estava apaixonada por Trevor, mas não, ela já
estava em outro, não disse que relacionamentos eram estranhos?
— Quem poderia imaginar? — indagou minha cunhada. — Espero que
sejam felizes juntos.
— Eu também.
Maeve, ao meu lado, ergueu sua latinha de refrigerante.
— Um brinde ao meu melhor amigo e ex-sexo fixo.
Ela disse aquilo bem na hora em que estava engolindo um pedaço do
hambúrguer e antes que previsse, estava me engasgando com a naturalidade
com que falou aquelas palavras e, principalmente, com a normalidade com
que todos, exceto eu, a receberam.
Ouvi sua risada, e um tapa fraco foi dado nas minhas costas, tanto por
ela quanto por meu irmão. Peguei a lata da minha Coca-Cola.
— Você não consegue controlar a língua, né? — Barry riu e apontou
para mim, que me recuperava aos poucos, com pequenos goles de
refrigerante. — Não escute as bobagens que ela fala, Chris. Maeve é impura!
— Não é como se ele quisesse estar próximo de mim — ela implicou,
me desafiando com o olhar a respondê-la.
— Meu irmão não está tão errado — Trevor se meteu na conversa.
Maeve fez uma cara de tédio para ele.
— Nem havia percebido que você estava aqui, nerd.
— Maeve — Caitlin usou o tom de voz, para repreendê-la apenas com
o seu nome. — Vamos apenas nos divertir.
Ela levantou as mãos em forma de rendição.
— Eu estou me divertindo. — Seus olhos caíram em mim. — Até fiz
Christopher ficar vermelho.
Toquei meu pescoço e em seguida minha bochecha, sentindo minha
pele quente. Ela realmente havia conseguido me deixar envergonhado.
— Já que a atenção está em vocês dois, tenho algo a perguntar. — A
voz da Aurora veio do fim da mesa, e eu temi pelo que ela falaria. —
Conseguiu alguém para desenhar para você, Chris?
— Desenhar? — meu irmão questionou.
Olhei para o hambúrguer com só uma mordida nas minhas mãos. Eu só
queria comê-lo sem que a atenção estivesse em mim, era tão difícil?
— Ele tem um projeto para fazer, que envolve a criação de uma
história em formato de Graphic Novels, mas Chris não sabe desenhar bem, e
a coordenadora liberou ter ajuda nessa parte artística com alunos do curso de
Artes, assim nós conseguimos horas complementares — Aurora explicou por
mim. — Eu irei ajudar uma colega de Chris, e ele precisa de alguém para
ajudá-lo. Maeve poderia fazer isso, não poderia?
Encarei Maeve, que me olhava com diversão brilhando em seus olhos.
Não era nenhum pouco próximo dela, porém quase conseguia ler os seus
pensamentos através deles.
Olha onde o destino nos trouxe. Você precisando de mim.
Era isso que o brilho orgulhoso nos seus olhos dizia.
— Até poderia, mas ultrapassaríamos o limite — Maeve respondeu à
amiga, que nos encarou sem entender nada.
— Limite? — Caitlin questionou, confusa.
— Irei falar com a coordenadora na segunda-feira — sinalizei, não
deixando que ela respondesse. — Não quero incomodar a Maeve.
— Tenho certeza de que não iria incomodar — Aurora se meteu mais
uma vez. — Ela não trabalha, está pensando em sair do time de vôlei e está
no primeiro semestre de Artes, que é moleza perto dos outros.
— Ei! Assim você me ofende — Maeve disse, não parecendo nada
ofendida. — Parece até que sou uma não faz nada.
Aurora riu.
— Existem outros colegas de Artes que podem ajudar o Chris, não? —
Trevor questionou. — Ele não precisa necessariamente da Maeve.
— Não colegas que saibam falar língua de sinais — Aurora falou. — E
Maeve já está próxima, eles teriam mais facilidade para desenvolver o
projeto.
Trevor não escondeu o quanto estava insatisfeito com aquela resposta.
— Não é melhor ir procurar a coordenadora do curso?
Apenas assenti, porque era exatamente aquilo que falaria e pediria para
ter o meu trabalho mudado para um conto. Usaria as minhas condições — ser
mudo — ao meu favor pela primeira vez.
Observei o olhar de Maeve vacilar em direção a nós, e ela encarar seu
hambúrguer inacabado sem qualquer emoção.
— E você, irmão? Pretende voltar para o futebol? — Barry questionou
Melvin, mudando de assunto. — Todos os caras estão ansiando pela sua
volta.
— Ainda não sei — admitiu Melvin. — Claire disse que eu preciso
evitar o máximo de gatilhos que me levem a querer voltar a me drogar, e
infelizmente, o jogo se tornou um grande gatilho no último ano.
Aquela situação de não poder fazer o que amava, porque acabaria te
prejudicando, deveria ser uma merda.
— Você vai conseguir no tempo certo — Caitlin o encorajou. — Só
precisa ter paciência.
— Sabe que não é o meu forte, né, irmãzinha? Mas pelo menos agora,
estou na terapia — brincou.
— E vocês estão juntos? — Apontou de Aurora para Melvin.
Ela abaixou o rosto, desviando de responder e deixando que Melvin
cuidasse daquilo.
— Nós ainda não conversamos sobre isso.
— Por quê? Não estão mais apaixonados? — Barry insistiu.
Ouve um silêncio ensurdecedor na mesa, que me fez questionar a mim
mesmo o que estava acontecendo ali entre os dois.
— Esse hambúrguer está muito bom — Caitlin elogiou, dando uma
outra mordida no seu lanche. — Deveria trazer Tiffany na próxima vez.
— O que é isso? Vai trazer a sua antiga rival para a mesa? — Maeve
debochou, parecendo voltar do transe em que estava antes.
— Ela nunca foi minha rival, engraçadinha.
— Ela queria seu namorado, Caitlin, deixa de ser trouxa!
Caitlin riu e mostrou a língua para a amiga.
— Agora ela está namorando o seu ex.
Maeve fez uma careta em direção a Barry.
— Ele nunca foi meu namorado, credo!
— Graças a Deus, nunca me apaixonei por você — Barry a provocou
do outro lado.
Dessa vez, foi Maeve que mandou a língua para ele, e eu bebi um
pouco do meu refrigerante, para conter a risada. Eles pareciam crianças que
se provocavam a todo momento, bem estilo amigos universitários. Quem
poderia imaginar?
A informação de que eles tinham algo voltou à minha mente, e eu
engoli um grande gole da minha bebida, tentando não pensar naquilo.
Era estranho.
Como poderiam ser amigos, se já haviam ficado de forma mais íntima?
Parecia que não eram apenas relacionamentos amorosos que eram
estranhos, mas os amigáveis também.
Ou melhor, qualquer tipo de relacionamento era peculiar.
Até mesmo o de alguém como eu, que não a queria por perto, com
alguém como ela, que me queria próximo, era excêntrico, pois mesmo com
todos esses fatos, ainda me sentia pensativo com a informação sobre os dois,
que havia descoberto à mesa.
Eu posso sair todas as noites
(Sim, sim, sim)
Ninguém está me segurando
(Sim, sim, sim)
Eu posso fazer o que eu gosto
(Sim, sim, sim)
Mas eu não posso me apaixonar sem você
I Can't Fall In Love Without You – Zara Larsson
CHISTOPHER LANCASTER
Negado.
Foi isso que tive, ao explicar para a coordenadora do meu curso os
motivos detalhados que me levavam a querer mudar de Graphic Novels para
conto no meu trabalho de Criatividade. Se eu levasse a mudança aprovada
para o professor, seria muito mais fácil, porém ela pareceu não entender nada
do que eu sinalizei, e tinha certeza de que ela entendia muito bem a língua de
sinais.
Expliquei que a única pessoa que sabia se comunicar comigo era
Aurora, e ela já ajudaria uma colega, que foi muito mais rápida do que eu no
quesito ir atrás, mas adivinhe só o que aquela mulher fez? Provou me odiar,
ao tirar uma pasta guardada em uma gaveta do seu armário e me mostrar o
currículo de todos os alunos que sabiam falar a língua de sinais.
“Se essa é a sua dificuldade, aqui está a solução.”
Maeve Hood estava lá em uma foto 3x4, junto de mais três alunos.
“— Acredito que a única que vai conseguir te ajudar é Maeve — foi o
que a coordenadora falou. — Ela está começando o semestre agora e deve
estar precisando de horas complementares.”
Derrotado, eu apenas saí daquela sala, agradecendo à sua boa vontade
de achar uma solução rápida para mim.
Solução.
Aquilo estava mais para martírio.
Como eu encararia Maeve e pediria para que me ajudasse, quando
havia sido tão estúpido com ela? Não sei se ela riria na minha cara e diria o
quão idiota eu sou ou apenas revelaria que era isso mesmo que ela queria e
continuaria a sua brincadeira inicial comigo, afinal, o que ela pretendia desde
o início?
Olhei para a cópia do documento dos alunos que sabiam falar ASL e
pensei por um momento. Seria melhor tentar com eles e deixar Maeve como
última opção? Parecia uma boa ideia para alguém que não tinha um pingo de
vergonha na cara, já para mim, que nunca vi essas pessoas na vida, era um
pouco mais difícil.
Além da minha mudez, havia herdado o grande dom de não ser bom
em falar com estranhos.
Não é como se eu falasse muito, sabe? Então com o tempo, meio que
me escondi no meu próprio casulo.
Talvez também seja por isso que sofri tanto bullying na escola.
Olhando pelo lado engraçado dessa tragédia, eu era o “alvo perfeito”.
Respirei fundo e olhei para o céu ensolarado dessa manhã de segunda-
feira. Nos filmes, os protagonistas geralmente obtinham as respostas assim,
então por que eu não recebia nada?
— Você parece perdido.
Não era bem essa resposta que eu queria.
Olhei em direção à voz feminina, já sabendo de quem se tratava.
Maeve estava sentada em um dos vários bancos espalhados pelo
campus da universidade, segurando um caderno aberto em uma página branca
lisa no colo, com um lápis na mão e Airpods nos ouvidos. Ela usava uma
calça jeans clara e rasgada nos joelhos, com uma regata branca de alcinha
bem fina, deixando à mostra uma tatuagem, que não fazia ideia que tinha, no
ombro direito.
Era uma frase pequena e que não conseguia identificar, pela distância
em que estávamos. Eu podia não ser míope que nem meu irmão, mas algumas
coisas eram impossíveis de ler por conta do tamanho e da distância.
— Por que você está em frente ao prédio em que eu estudo?
Estava tão atordoado com o que tinha que fazer, que acabei andando
duas quadras e chegado ao prédio de Artes sem nem perceber.
O rosto de Maeve se iluminou, como se lembrasse de algo.
— O trabalho... — Ela realmente havia se lembrado. — Conseguiu
alguém?
Neguei com a cabeça.
— Imagino que esse papel na sua mão seja algo importante.
Olhei para a folha com o currículo escolar dos quatro alunos que
podiam me ajudar. Uma estava aqui na minha frente, e por mais que não nos
conhecêssemos bem, tinha uma certa liberdade com Maeve que me deixava à
vontade — tudo bem que só tinha testado isso quando a mandei se afastar —,
muito diferente do que seria com os outros, que ainda precisava conhecer e
criar um laço confortável, para trabalharmos juntos.
O que eu faria?
A encarando como um idiota que não lhe dava nenhuma resposta,
tomei uma decisão e me aproximei, sabendo que em algum momento no
futuro, me arrependeria disso.
— Você poderia me ajudar?
Maeve leu minhas mãos e pensou por um momento, antes de levantar
seu olhar para mim novamente. Com ela sentada no banco, me senti muito
maior do que meus 1,95cm.
— Não sei, eu deveria?
Sentei-me ao seu lado, porque já estava me sentindo um pouco
intimidado com o olhar de alguns curiosos sobre nós. Não tinha dúvidas de
que logo o falatório começaria, e aquilo não me agradava nenhum pouco. Vi
perfeitamente o que aconteceu com Trevor, quando começou a se relacionar
com Caitlin, desde os comentários bons até os ruins.
Eu podia não estar me relacionando com a popular ao meu lado, mas
era homem, enquanto ela era mulher com uma fama considerável na
faculdade. Isso já era o suficiente para explodir na bolha de fofoqueiros da
UCLA.
— Sei que talvez não queira mais me ajudar, por conta do que falei
para você na semana passada...
Parei minhas mãos, sem saber por onde continuar. Pediria desculpas,
mesmo desconfiando das suas intenções comigo? Tentaria confiar nela e na
sua mudança?
— Sabe o que eu percebi? Seria mais fácil se eu tivesse algum
problema maior, para que as pessoas confiassem na minha palavra — ela
comentou casualmente. — Aparentemente, eu ter errado, percebido isso e
estar tentando melhorar, não é o suficiente para você e seu irmão, muito
diferente de Melvin, que bateu em você e não recebe mais respostas grossas
de Trevor.
Senti-me um pouco mal por ela, e a verdade que não havia percebido
até agora, no que disse.
— Não que eu esteja me vitimizando, é só um raciocínio egoísta que
passou pela minha cabeça.
— Por que decidiu querer mudar agora? — perguntei e a olhei, a
pegando concentrada em minhas mãos.
— Primeiro, minhas amigas me fizeram entender que só estava as
magoando, em uma conversa que durou até altas horas da madrugada. Foi um
pouco esclarecedor e me fez pensar nas minhas atitudes, e na pessoa que
ultimamente mais abomino — explicou, e por mais estranho que parecesse,
senti honestidade quando seus olhos encontraram com os meus no momento
seguinte. — Estava me tornando parecida com ela e mesmo que desse tudo o
que ela queria, ainda não era suficiente. Prometi a mim mesma que tentaria
viver sem essa obrigação de ser uma vadia má e me dar uma chance para
realmente descobrir quem eu sou.
Existia muito mais em quem o “ela” escondia, e eu soube ao ver um
pouco de mágoa passar pelo seu rosto. Quem será que era essa pessoa? Uma
amiga? Uma tia? Sua mãe? Inúmeras opções surgiram em minha cabeça, e eu
me peguei querendo entender porque Maeve era uma malévola, quando
parecia esconder alguém melhor dentro de si.
— Não deveria ter sido idiota com você, sem ouvir seus motivos.
Ela deu de ombros e sorriu.
— Eu deveria simplesmente seguir em frente e não ajudá-lo.
Ela faria isso? Senti que estava nas mãos de Maeve nesse instante e
não sabia se gostava disso.
— Não vai me ajudar?
— Me diga você. — Observou-me da forma natural e provocativa dela.
— Eu deveria ajuda-lo? Você foi um idiota comigo.
Aquela foi a resposta que eu precisava.
Só me irritava um pouco o fato de ela estar sim, se vitimizando quanto
ao acontecimento. No fim, o que havia feito, era apenas uma forma de defesa
— que surpreendentemente surgiu em mim —, por conta de tudo o que já
vivi nas mãos de pessoas como ela.
— Ok. — Levantei-me.— Obrigado pelo seu tempo, de qualquer
maneira.
Droga... eu ia ter que falar com estranhos e me humilhar por uma ajuda
durante um semestre inteiro. Isso era tão ruim e difícil, quanto derrotar
Salazar em Resident Evil 4.
Dei um passo para me afastar de Maeve de vez, quando ela surgiu na
minha frente, ficando tão próxima, que me assustou e me fez dar um passo
em falso para trás. Provavelmente teria tropeçado, se não fossem as mãos da
garota me segurando pela camiseta preta do Star Wars que eu usava.
Juntamente à minha força e a dela, consegui me equilibrar perfeitamente.
— Não queria assustar você — ela disse, ainda próxima a mim.
Hoje, Maeve usava maquiagem, e eu não conseguia ver nenhuma das
sardinhas que estavam à mostra no sábado. Não era nada forte ao redor dos
olhos, porém era uma camada intensa daquelas bases para tapar perfeitamente
cada uma das manchinhas, o que era uma pena, pois elas não a deixavam feia.
Seus olhos verdes estavam bem marcados pelos cílios bem
preenchidos, e os fios do cabelo ruivo estavam parcialmente presos, com
algumas mechas soltas atrás. Esse penteado dava mais destaque ao seu rosto
oval, e que só nesse momento, percebi que também era um pouco delicado.
Desci meu olhar pelo seu pescoço liso, sem nenhum colar, até seus
ombros praticamente nus, com as alcinhas finas da regata branca.
Born to shine.
Era o que a tatuagem com traços delicados e letra cursiva dizia.
Maeve seguiu meu olhar, notando antes que eu desviasse, no que
estava prestando atenção.
— Todos nós nascemos para brilhar, não acha? — perguntou. — Pode
parecer meio brega essa frase, mas precisei tatuar nas férias, para que me
lembrasse o motivo de ter vindo parar nesse mundo idiota.
A forma natural com que disse isso, me deixou muito curioso e um
pouco impactado com aquele tipo de pensamento.
Dei dois passos para trás novamente — dessa vez, sem tropeçar —, a
fim de colocar um pouco de espaço entre nós. Sentia aquele nervosismo
voltando a nascer em mim.
— É bonita — elogiei a tatuagem.
— O quê? Eu? — Sorriu com uma inocência em que não acreditei
nenhum pouco. — Eu sei que sou.
Quase dei risada do seu convencimento.
— A tatuagem — apontei e voltei a sinalizar. — Por que me impediu
de ir embora, se não vai me ajudar?
— Eu não disse que não o ajudaria, eu perguntei se deveria ajudá-lo. É
diferente.
Por que eu sentia que qualquer uma das suas respostas, não daria um
resultado bom no final?
— Talvez fosse melhor que eu procurasse os outros universitários da
lista, você deve estar ocupada com...
Ela segurou minhas mãos, impedindo que eu falasse. Seu toque me
pegou de surpresa e fez com que tudo o que conseguisse, fosse olhar para as
nossas mãos encostadas, sem saber como reagir perante isso.
Engoli em seco.
— Vou ajudar você, trevo de quatro folhas, e em troca, você vai me
deixar, ao menos, conhecê-lo.
O quê? Por que ela queria me conhecer?
Afastei minhas mãos das suas e sinalizei:
— Por que tem essa insistência em mim?
Não era possível que ela gostasse de alguém como eu, então qual era o
plano?
— Se você fosse um pouco mais seguro de si, saberia a resposta
rapidamente — disse, sem me explicar muita coisa. — Não vou dizer agora,
acho que está cedo para isso.
Ela foi até o banco e guardou seu caderno na mochila preta, junto do
lápis. Em seguida, voltou a se aproximar e assim que parou na minha frente,
sorriu.
— Vejo você que horas? — Pegou seu celular do bolso e me entregou.
— Anote seu número, para eu mandar uma mensagem.
Fiz o que ela pediu, ainda pensativo sobre suas intenções com aquela
resposta.
— Agora preciso ir, porque minha aula está prestes a começar.
A minha também deveria estar bem próxima de iniciar.
— Ok... nós marcamos depois um horário para conversar — foi o que
eu consegui dizer.
Ela assentiu e acenou, dando as costas e seguindo para dentro do
prédio da sua primeira aula. Antes que fosse para a minha, recebi uma
mensagem, que me trouxe o nervosismo junto de um tipo de ansiedade que
não sentia desde que tinha nove anos.
Maeve: É melhor ser criativo ao salvar o nome do contato da garota
que vai mudar a sua vida, trevo de quatro folhas.
Quando a chuva para
Você brilha em mim
Sua luz é a única coisa
Que mantém o frio longe
Christmas Tree – V
MAEVE HOOD
Entrei no ginásio em que costumávamos treinar todos os dias da
semana pela primeira vez nesse semestre, encontrando todas as minhas
colegas de time reunidas ao redor do treinador Anderson.
— Oi — cumprimentei a todos, notando que todas estavam vestidas
com roupas normais, que não faziam parte do uniforme do time. — Por que
não estão prontas para treinar?
— Hoje é dia de exames, você saberia se tivesse comparecido em
algum treino da semana passada — Jocelyn falou, não disfarçando o quanto
repudiava a minha atitude.
— Calma, Jocelyn — Lilian pediu. — Não vamos tornar isso um clima
tenso.
Caitlin e Aurora vieram para perto de mim.
— Não acho que devemos passar a mão na cabeça da Maeve mais uma
vez — foi Cindy que deu sua opinião dessa vez, olhando diretamente para
mim. — Você mandou uma mensagem no grupo, dizendo que não
compareceria nos treinos da semana passada e nem explicou os motivos,
sendo que sabe que perdemos justamente por sua causa.
Antes que eu calasse a sua boca, Caitlin se intrometeu:
— Não é bem assim, Cindy. Perdemos, porque o outro time foi melhor,
e chegamos até a final da temporada com Maeve ao nosso lado.
Aurora concordou, movendo a cabeça para cima e para baixo.
— É claro que vocês vão defende-la, são tudo amiguinhas — Jocelyn
retrucou, brava. — Por que estamos aqui de novo, se iremos perder?
— Não vamos perder!
— E por que você está sendo tão pessimista? Se está incomodada,
deveria sair do time — falei de uma vez. — Já percebi que errei em deixar
vocês sem a minha presença essa semana, mas isso não é motivo para
ficarmos brigando.
Caramba! Eu ainda estava aprendendo a pensar nos outros e não só em
mim mesma. Aquilo era muito mais complexo do que eu imaginava, não que
eu fosse simplesmente me justificar dessa forma, porque sabia que era
frescura e não valia a pena.
— Por que você não sai do time, se odeia fazer parte dele? — Jocelyn
parecia ter engolido um papagaio inteiro nessa tarde, pois não parava de falar
por um minuto. — Talvez assim, o treinador percebesse que é melhor
arrumar nova capitã, uma que guie a gente e não que pense apenas no próprio
umbigo.
Arqueei as sobrancelhas.
— Você quer meu lugar? Pois então pegue, eu não preciso mais dele.
— Treinador — Caitlin interveio. — Podemos começar? Maeve já
chegou, e não acho que essa discussão vai servir para alguma coisa.
— Na verdade, eu acho o contrário, Caitlin, é bom discutir às vezes.
Somos um time, não somos perfeitos, temos personalidades completamente
opostas e devemos aprender em cima de cada erro. Por isso, discussão é bom,
desde que não ultrapasse o limite. — Ele olhou de Jocelyn para mim. — Não
foi bonito da sua parte ficar uma semana sem comparecer ao treino, Maeve.
— Voltou-se para Jocelyn. — E não é como se só a Maeve estivesse ruim,
Jocelyn. A única que não errou no último jogo, foi Caitlin, mas ela não pode
levar esse time sozinha.
Todas ficaram em silêncio, até mesmo as meninas da reserva, que já
eram mais quietas naturalmente, estavam chocadas com o corte seco que o
treinador deu.
— Houve falhas bobas que fizeram o Texas ganhar fácil — ele
continuou a dizer sua lógica. — Vamos reassistir aquele jogo diversas vezes,
até que vocês entendam de uma vez por todas, o que não pode ser cometido
em um jogo como aquele.
Ninguém pareceu feliz pelo castigo, porém não era algo que podíamos
ir contra.
— Não tem mais nada para discutirem? — Ele recebeu o mesmo
silêncio. — Ótimo, agora que já expressaram seus sentimentos de frustração,
quero que saibam que não irão vencer de novo, não quando não são um time
de verdade.
— A maior culpa disso é minha, treinador, e eu reconheço — assumi,
surpreendendo Jocelyn. — Fui uma péssima capitã nos últimos tempos.
Ele não discordou, mas também não concordou.
— A verdade é que eu sempre me senti pressionada a ser a melhor
aqui, que acabei esquecendo do verdadeiro espírito desse esporte.
— Se você reconheceu que errou, está na hora de melhorar, Maeve,
mas infelizmente não posso mais deixar você como capitã — ele disse o que
eu já imaginava que aconteceria. — Estou passando essa responsabilidade
para Caitlin.
Minha amiga arregalou os olhos.
— O quê?
Dei uma cotovelada fraquinha nela, para que me olhasse, e pisquei
para ela, sorrindo de lado.
— Apenas aceite — incentivei. — Você é melhor do que eu.
— Mas...
— Eu também tenho mais uma coisa a dizer... — Respirei fundo,
voltando a atenção para mim e nem deixando que Caitlin terminasse. — Não
quero continuar no time.
Todos se surpreenderam, até mesmo o treinador.
— Como assim não quer? Sua mãe falou que o seu sonho...
— Ela estava enganada — o cortei, antes que mencionasse aquela
mulher. — Estou saindo e acho que Tammy vai ser ótima no meu lugar.
Claro que a minha reserva estava confusa, mas com certeza, ela ficaria
feliz em virar uma titular nesse semestre.
— Tem certeza disso? — o treinador questionou.
Havia pensado sobre aquilo o final de semana inteiro e ainda que
tivesse um pouco de incerteza, não queria mais prejudicar as meninas. Era
estranho abandonar algo a que vivi presa a minha vida toda, e admitia que um
pouco disso era porque não sabia o que o vôlei realmente significava para
mim.
Toda a minha vida, joguei pela minha mãe.
Ao mesmo tempo que sentia que o esporte não era meu, também me
sentia um pouco vazia com essa decisão.
Era confuso, igualzinho à minha vida.
Apenas concordei.
— Tudo bem... eu acho. — Anderson parecia atordoado. — Depois
conversamos sobre isso, precisamos iniciar os exames agora, antes que as
enfermeiras terminem o turno.
Como não iria fazer nada, fui me sentar no banco da arquibancada,
para esperar que a sessão de agulhas e consultas terminasse.
Observei Cindy ir primeiro para a sala de primeiros socorros.
— Tem mesmo certeza, amiga? — Aurora perguntou, se sentando ao
meu lado. — Você é uma excelente jogadora e poderia nos ajudar a ganhar
essa temporada.
— Ou poderia ferrar com tudo — brinquei. — É melhor assim.
Também aceitei trabalhar no projeto com Christopher, me manterei muito
ocupada esse semestre.
Joguei no ar, entretanto elas não eram nenhum pouco bobas e se
viraram no mesmo instante para mim.
— O quê? — Caitlin indagou. — Ele foi por livre e espontânea
vontade?
— Diria que por livre e espontânea pressão, mas sim, é verdade.
Aurora sorriu.
— Ai que bom, estava me sentindo mal por ter aceitado ajudar outra
pessoa e não ele, mas até foi bom que eu tinha essa menina para ajudar, não
quero confusão com Melvin.
Fiz uma careta.
— Por que você teria confusão com o Melvin? Endoidou, foi?
— Ele poderia ficar com ciúmes da minha amizade com Chris.
Evitei revirar os olhos.
Estou tentando ser uma boa pessoa, Deus, mas às vezes é difícil, e tudo
o que eu quero é dar uns tapas na minha amiga.
— Primeiro, vocês não estão namorando. Segundo, relacionamento
não é prisão, pode ser amiga de quem quiser — falei da forma mais gentil
possível.
Caitlin concordou.
— Tudo bem que Chris é um homem, e você uma mulher, mas até para
o ciúme tem limite, Aurora.
— Eu sei, meninas. Só não quero provocar nenhum gatilho nele —
explicou, dando um pouco mais de sentido àquilo. — Tudo é muito recente
ainda. Chris e eu estávamos até sendo um pouco amigos, mas pedi para não
revelarmos agora, por conta disso.
Quase mordi a minha língua para não falar coisas estúpidas.
— Eu tenho algo para falar, mas não irei falar porque respeito você,
porém, saiba que eu tenho algo para falar — resmunguei, e Caitlin apenas me
olhou, confusa.
Jura que ela não sabia?
Nossa amiga ainda estava presa àquele relacionamento conturbado que
eles viveram nos últimos meses, e nem Cat percebia? Ou estava se fazendo
de louca?
— Caitlin, é a sua vez — o treinador chamou.
Ela foi para a salinha e me deixou a sós com Aurora, antes que
pensasse, estava perguntando:
— Como você e Chris ficaram próximos?
— Eu gosto de alguns livros de suspense que ele também gosta, e
acabou acontecendo, depois que mandei uma mensagem perguntando como
estava, após o que aconteceu com Melvin — explicou. — Ele foi de uma
grande ajuda nas férias, um bom amigo, que me ouvia sempre que precisava
desabafar sobre minha saudade do Melvin e esperanças.
Então era àquilo que a amizade deles se resumia? Parecia bem fraco.
— E quais são suas intenções com Chris?
Fingi que não fazia ideia do que ela estava falando, quando a olhei nos
olhos.
— Que intenção? Irei ajuda-lo num trabalho, deveria perguntar quais
são as intenções dele.
— Chris é inocente, você que é a diabinha — minha amiga definiu, e
eu não gostei da forma como julgou Chris. O máximo que ele era, é
inexperiente em tudo nessa vida, e tudo bem, havia coisas que também não
havia experimentado. — Desde o semestre passado, está interessada nele.
— Interessada? É só divertido incomodá-lo.
Não queria dar detalhes, porque só faria com que a romântica
incorrigível pensasse em vestidos de noivas, casamento triplo e tudo mais.
— Só não faça merda e o magoe, ok? — perguntou, como se falasse
com uma criança. — Ele parece ter sofrido demais nos últimos dez anos.
— Você acha que eu sou o quê? Uma sem coração?
— Na verdade, acho que o seu coração é o mais puro de todos, e você
estava tentando escurecê-lo com suas atitudes ruins.
Sua definição mexeu comigo e me deixou um pouco sem jeito. Era
assim que ela me via?
— Aurora, você é a última — o treinador chamou.
Caitlin voltou para perto de mim, e Aurora foi para a salinha.
Peguei o meu celular, quando vi Caitlin fazer o mesmo, e vi que tinha
uma mensagem não respondida de Christopher.
Trevo de 4 folhas: Pode me encontrar na biblioteca às 19h? Ela
costuma ficar mais tranquila nesse horário, e podemos resolver sobre o meu
trabalho lá.
Nenhuma resposta sobre a minha mensagem anterior. Será que ao
menos havia salvado o meu contato?
Que garoto difícil!
Eu: Encontro você lá, trevo de quatro folhas. Posso saber como
salvou o meu contato?
Ele visualizou um minuto depois, mas não mexeu os pontinhos de
digitação em uma resposta para mim.
Ok, teria que descobrir sozinha.
Christopher mal imaginava que eu podia ser muito insistente quando
queria.
MAEVE HOOD
Depois de deixar Aurora o melhor que ela podia estar no seu
dormitório, fui encontrar Christopher na biblioteca em que ele trabalhava. A
essa hora, o local não estava cheio, como ele mesmo disse, e a recepcionista
que ficava aqui até as dez da noite estava no tédio, mexendo no celular,
quando entrei.
Christopher ainda não estava, o que indicava que havia ido para o
dormitório quando saiu do seu horário de serviço. Sentei-me em uma das
cadeiras de frente para uma grande mesa redonda e pensei na situação da
minha amiga, enquanto o esperava.
Sabia que um filho não era brincadeira e que aquele bebê poderia
atrasar muito a vida da minha amiga, assim como também sabia que Aurora
era muita nova para ser responsável por uma vida, quando não era nem pela
sua.
Droga! Como isso foi acontecer?
Não no sentido literal, mas como eles foram deixar que isso
acontecesse?
Uma mão grande balançou na minha frente, e eu pisquei, assustada.
Olhei para Christopher, sem saber o exato momento em que ele entrou na
biblioteca.
— Você chegou — constatei. — Oi.
Ele acenou e se sentou ao meu lado.
— Sinto muito pelo atraso. — Ele sinalizou, e eu olhei no celular, eram
apenas sete e dez. — Não estava achando meu caderno de anotações.
Assenti.
Christopher retirou da mochila o tal caderno, um estojo cheio e uma
garrafa de água. Acabei deixando um sorriso escapar, quando notei os fios
desgrenhados do seu cabelo molhado e a camiseta preta simples que usava.
Era um pouco contraditório o quanto ele ficava bonito, mesmo com esse
estilo de garoto simples que não sabia se vestir.
Respirei fundo, tentando sentir um pouco do seu perfume, porém,
infelizmente ele estava longe demais para isso. Estava um pouco curiosa
quanto àquilo, e ninguém podia me julgar por ser uma sem-vergonha.
— Como foi o trabalho hoje? — iniciei um assunto.
Ele não esperava pela pergunta e acabou ficando um pouco atônito.
— Foi normal — respondeu. — Sobre o trabalho, preciso fazer uma
história. Eu tenho um enredo curto e que acho que pode ser criativo, mas
ainda não comecei a desenvolvê-lo, por isso pensei em terminar a história, e
depois você a desenharia.
Ele ia mesmo direto ao ponto.
— Não iremos trabalhar juntos?
— Vamos, mas separados no sentido...
— Nada de separados — interrompi, o fazendo parar as mãos no ar. —
Me conte qual é a história na sua cabeça.
— Pensei em um garotinho que tem superpoderes através da sua voz e
com ela faz justiça contra os inimigos que rondam a cidade onde ele mora.
Parecia uma história fofa e cheia de aventuras, que com certeza uma
criança amaria ler, entretanto evitei dizer isso a Christopher ou ele poderia
ficar chateado com o meu julgamento.
— Gosto da ideia do heroísmo, mas talvez poderíamos mudar algumas
coisas, o que acha?
Ele pareceu curioso, e aquela reação, juntamente dos seus olhos
concentrados em mim, me deixou mais animada para explicar a ideia que se
passava na minha cabeça.
— Sua ideia é ótima, mas ainda é um clichê, sabe? Por que não
fazemos esse garotinho ser um homem e que com o seu poder da voz quer
eliminar seus inimigos? Principalmente, uma mulher que ele odeia e que acha
que é a mandante de todo o caos que está acontecendo na cidade. — Segurei
o seu caderno e desenhei rapidamente a silhueta de uma heroína. — Ele não
saberia num primeiro momento, mas ela é uma anti-heroína, que só quer
livrar a cidade do verdadeiro inimigo, mas de formas erradas.
— E quando ele soubesse? — Pelo menos, ele parecia interessado.
— Já estaria apaixonado por ela.
Chris desviou seus olhos para o caderno.
— Não gosto de romances.
— Por quê? Todo mundo gosta.
— Nem todo mundo — disse. — E eu não sou todo mundo.
Quase dei risada da forma defensiva como ele disse aquilo.
— Acho que o professor gostaria muito mais da minha versão —
gabei-me, largando o lápis ao lado do caderno. — Traz mais vida para a
história.
— Por que eu escreveria sobre algo assim? Se ele a abomina, não tem
como acabar apaixonado por ela.
Sorri de lado e procurei seu olhar, nos mantendo presos um ao outro
dessa maneira.
— Nunca ouviu falar em enemies to lovers? Acredite, existe uma
chance de ele estar apaixonado por ela desde o início — defendi meu estilo
favorito de filmes.
— Como eu disse... não gosto de romances.
Claro que ele tinha que ter algum defeito.
— É melhor continuarmos com a minha ideia — Christopher sinalizou.
— Não saberia escrever a sua.
— Posso ajudar.
Notei um certo divertimento passar pelo seu olhar, assim que ele
interpretou o que eu disse.
— Já escreveu alguma vez? — Neguei. — Já leu algum livro por pura
vontade e não por pura pressão?
Fiz que não com a cabeça novamente.
— Então é melhor deixar que apenas eu escreva.
Ele tinha um bom ponto.
Contudo, o único problema era que eu queria a história da anti-
heroína e não me importaria de incomodá-lo até que aceitasse.
— Por que não dá uma chance? — insisti, e ele fez que não com a
cabeça. — Apenas tente, se você tem o dom com as palavras, eu posso dizer
apenas como imagino a história, sabe? Eu sou uma garota criativa. Não é à
toa que faço pinturas.
Christopher pareceu se lembrar de algo com o que eu disse.
— Você tem um portifólio? Preciso conhecer o seu trabalho, para
saber se quero trabalhar com você. — A forma como ele disse aquilo, de
maneira tão sincera e natural, me fez sorrir. — O quê?
— Você é fofo — admiti em voz alta meus pensamentos, e do seu
pescoço começou a subir uma vermelhidão, que segundos depois, estava no
seu rosto. Ele ficava ainda mais agradável com essa mistura de desconcertado
com envergonhado. — Eu tenho um portifólio, mas está no meu quarto. Quer
ir ver?
Ele negou rapidamente, com seus olhos levemente arregalados.
Christopher arranhou a garganta e desviou o olhar para o caderno à nossa
frente.
— Você pode trazer na próxima vez que nos encontrarmos.
— Ele é pesado, seria melhor que você fosse no meu quarto.
— Não costumo sair do campus.
— Como sabe que não moro no campus?
Christopher me olhou como se tivesse feito uma pergunta idiota,
porém não consegui me sentir burra, e sim eufórica. Ele estava seguindo uma
conversa comigo, finalmente!
— Todos sabem que você não mora no campus.
— Então acompanha as fofocas sobre os populares da UCLA?
— Não por querer — disse, o que não me convenceu muito. Seu olhar
tinha muita culpa para alguém que estava falando a verdade. — As fofocas
que chegam até mim.
Acabei dando risada da sua desculpa.
— Não se esqueça que vamos passar um semestre inteiro juntos, e para
eu continuar gostando de você, deve me contar todas as fofocas — falei, o
deixando estático. — O que foi?
— Não precisamos passar o semestre inteiro juntos, apenas deixe que
eu escreva a história, e nos encontramos no meio do semestre para...
— Achei que já havíamos decidido que trabalharemos juntos nisso —
o cortei, fingindo que estava um pouco entediada, por voltar naquele assunto.
— Como espera que trabalhemos separados, quando a arte é tudo sobre
sentimentos?
— Sentimentos?
— É — afirmei, e não pareceu convencê-lo. — Preciso ver você
desenvolvendo a história e desenhá-la ao mesmo tempo, pegando toda a
essência que você quer passar. Esse trabalho exige muito da nossa
comunicação e aproximação, entendeu? Portanto, vai ter que me aguentar por
seis meses inteiros.
Achava que ele havia finalmente notado do que se tratava aquele
projeto que estava prestes a começar a fazer, porque de repente, Christopher
estava transparecendo no seu semblante, o quanto estava incerto.
Já havia notado que ele era alguém bem expressivo.
— Eu ainda não vi seus desenhos — lembrou. — Posso não gostar
deles.
Que garoto abusado!
Pois eu ia mostrar o que era arte de verdade!
Peguei meu celular e abri a galeria de fotos, indo direto para a pasta em
que eu tinha algumas pinturas. Selecionei a última que havia pintado. Ela
havia ficado totalmente pronta nas férias e era a que mais vinha me
representando nesses últimos meses.
Virei o celular para Christopher, observando-o passar seus olhos pela
pintura. Ele não escondeu o quão surpreso ficou com o que viu, o que só
massageou meu orgulho.
A pintura que Christopher estava vendo, era de um mar revolto com
ondas altas em um dia tempestuoso e tinha um farol bem no centro, onde uma
garota estava no topo, com os cabelos molhados pela tempestade e sem
nenhum rosto, entretanto, qualquer um que tivesse o mínimo de inteligente,
percebia que ela sentia algo forte e que estava perdida.
Era uma obra triste, mas havia se tornado a minha favorita.
— E então? Minha arte deixou você sem palavras?
Ele me olhou por um instante e voltou a olhar para a pintura.
— Por que ela está sem rosto?
Dei de ombros.
— Ela nasceu assim na minha cabeça.
Christopher parecia muito impressionado com cada detalhe, e
conseguia enxergar isso só pela forma como ele olhava para a fotografia no
meu celular. Sorri, me sentindo bem com seu elogio silencioso. Eu era
mesmo boa em pintar, era uma pena que a pessoa que deveria me apoiar, não
entendia nada disso.
— Em que momento você vai dizer que essa é a arte mais bonita que já
viu nos últimos tempos? Preciso me preparar para o elogio.
Christopher me olhou, parecendo não acreditar no que havia acabado
de falar. Ele devolveu meu celular sem dar um sorrisinho. Como deveria ser o
seu sorriso?
— Você não é nenhum Picasso.
Sua resposta me chocou.
— Está me comparando com um pintor morto?
— Não estava comparando.
Mordi meus lábios, para não soltar um xingamento.
— Meu desenho é ruim?
— Não.
— Então meu desenho é bom?
— Seu desenho vai servir para o trabalho. — Desviou para o caderno
na sua frente. — No qual precisamos nos concentrar.
Sorri fraco, o vendo fazer um esforço para prestar atenção no que
começava a rabiscar na folha do caderno. Achava que aquilo seria o máximo
que conseguiria de elogio da sua parte, mas eu era uma diabinha que adorava
ter o que queria, por isso aproximei um pouco o meu rosto do seu ouvido.
— A próxima vez que nos encontrarmos, pode ser no meu
apartamento, e então mostro para você todas as pinturas que tenho, você vai
me elogiar.
Ele teve um sobressalto e me olhou com os olhos afiados.
— Não vamos para o seu apartamento, iremos nos encontrar aqui.
— Não vou desenhar aqui, gosto de trabalhar no conforto da minha
casa — rebati sua resposta rapidamente.
Christopher suspirou silenciosamente.
— É por isso que podemos arrumar uma forma de trabalhar
separados.
Juntei meus lábios em um bico, atraindo sua atenção para eles por
míseros segundos.
— Não quer ficar ao meu lado? Está partindo o meu coração, trevo de
quatro folhas.
Tenho quase certeza de que ele iria revirar os olhos, porém se segurou,
ao fechá-los por um tempo e abri-los em minha direção.
— Não vou trabalhar no seu apartamento.
Ele parecia decidido, e eu também estava.
— Não vou trabalhar na sua biblioteca.
Christopher deve ter visto a determinação em mim, da mesma forma
que eu enxergava desafio brilhar em si mesmo.
— Estou falando sério.
Eu assenti, apertando meus lábios para não rir.
— Eu também estou.
— Não vejo motivos para trabalhar nisso no seu apartamento — ele
teimou. — A biblioteca é um local de estudos.
Fiz uma careta.
— Não seja tão certinho. Estou nessa faculdade há dois anos e posso
contar em uma mão quantas vezes entrei nela, e tenho quase certeza de que
nenhuma delas foi para estudar. — Achava que causaria um infarto no garoto
aqui mesmo. — Fui aprovada em todos os semestres, estudando na minha
casa.
— Não.
— Diga-me, Christopher... — Aproximei meu rosto do seu. — Existe
algum motivo para não querer fazer isso no meu apartamento?
Ele não respondeu, parecia estar procurando uma boa desculpa que me
convencesse.
— Não é como se eu fosse agarrá-lo ou fazer coisas... sujas com você
— comentei casualmente, o deixando vermelho.
Havia algo maravilhoso em deixá-lo envergonhado, só não sabia se era
apenas a sua carinha vermelha, que ficava mais fofa, ou como ele parecia ser
inocente, quando não deveria ser tanto assim.
— E então? — questionei.
— Não estava pensando nisso!
— Está decidido o lugar?
Ele negou, só que eu o ignorei.
— Ótimo!
Peguei meu celular e comecei a digitar o endereço do meu
apartamento.
— Me mande uma mensagem primeiro, porque as vezes ainda não saí
da faculdade e posso te dar uma carona.
Enviei o endereço, e seu celular iluminou a tela. Não era a minha
intenção ser enxerida, mas quando vi, já estava lendo a palavra curta que
havia colocado como nome do meu contato.
— Perturbação? — Eu ri.
Christopher arregalou os olhos e bloqueou o celular, o segurando e
escondendo em seu bolso. Todo seu rosto ficou ainda mais vermelho do que
há alguns segundos.
— Que tipo de perturbação eu sou? — indaguei.
Estranhamente, não me sentia ofendida com o apelido, que poderia ter
justamente esse propósito.
Mesmo com ele me evitando e demonstrando que não gostava nenhum
pouco de mim, havia colocado, assim mesmo, um nome diferente de Maeve
salvo no contato.
Observei Christopher se levantar rapidamente, juntar seu estojo e
caderno na velocidade da luz e guardá-los na sua mochila.
— Marcamos de nos encontrar amanhã.
— Por quê? Ainda temos tempo, sente-se.
Ele negou.
— Preciso... falar algo com Trevor.
Não parecia ser verdade, mas até alguém como eu, sabia quando era
hora de recuar. Levantei meu braço e acenei para ele.
— E Christopher — chamei, antes que se virasse. — Vou mostrar para
você que posso ser uma perturbação incrível na sua vida.
Tive medo do seu rosto pegar fogo. Nem tive tempo de perguntar se
estava bem ou explicar o que quis dizer, porque um segundo depois,
Christopher estava saindo a passos largos da biblioteca.
Eu ri sozinha.
Esse semestre seria divertido.
Você me leva a lugares que destroem minha reputação
Manipula minhas decisões
Amor, não há nada me impedindo
Não há nada me impedindo
THERE'S NOTHING HOLDIN' ME BACK – SHAWN MENDES
CHRISTOPHER LANCASTER
“Let It Be dos Beatles tocava a todo volume no carro, enquanto eu,
meu pai e meu irmão esperávamos a chuva passar, estacionados no
acostamento da estrada.
Eu cantarolava com a minha voz desafinada, ao passo que Trevor me
mandava calar a boca, porque a voz da banda era muito melhor do que a
minha, e meu pai dava risada. Nos olhando daquela forma amorosa de
sempre.
Aquele era um dia cansativo para ele, porque era um sábado.
Papai sempre chegava cansado nesses dias, porque era o último dia
de trabalho da semana.
No entanto, ele ainda estava ali, me buscando em um aniversário,
tarde da noite, em que estava prevista uma chuva forte, desde o início da
semana. Tudo porque ele me amava.
Eu também o amava.
— Acho que podemos voltar para casa — Dean disse, assim que a
chuva começou a passar.
Sua música favorita, Sweet Child O’ Mine do Guns N’ Roses, começou
a tocar, e ele sorriu, aumentando o volume do rádio.
— E ainda em ótima companhia.
Meu pai começou a movimentar o carro na faixa deserta, seguindo o
caminho para a nossa casa, e meu irmão se virou para mim.
— Coloque o cinto, pivete.
— Já estamos chegando em casa — eu falei.
— Mesmo assim... vocês dois deveriam colocar — Trevor rebateu, se
voltando para o motorista ao seu lado. — Pai?
O homem na direção apenas piscou e cantarolou sua música favorita.
Eu sabia um pouco dela, então comecei a cantar também, o que causou uma
revirada de olhos em Trevor.
— Ok, então...
Ele podia ser um pouco rabugento, mas não conseguia ficar bravo
conosco por muito tempo. Segundos depois, estava cantando com a gente e
nos zombando, por ter a voz um pouco melhor do que a nossa.
Até que uma luz veio com tudo em nossa direção.
Uma batida me desequilibrou no banco de trás, e eu girei, girei, girei e
girei.
Quando finalmente percebi que não era apenas eu que estava girando,
e sim o carro todo, eu gritei, com o medo tomando cada parte de mim e,
principalmente, pela dor que cada parte do meu corpo sentia, conforme me
debatia no carro.
Até que veio a maior dor do mundo.
A mais insuportável e que me fez apagar.”
“— Você tem que comer, filho — minha mãe falou, entrando no quarto
com uma bandeja de almoço. — Só tomou uma xícara de leite no café da
manhã.
Estávamos em outro estado, entretanto, não mudava nada do que
havia acontecido no Alaska.
Meu pai estava morto.
Meu irmão estava mal-humorado.
Minha mãe estava triste.
E eu não tinha mais voz.
Eu já estava bem para começar a estudar na minha nova escola em
Los Angeles, mas não queria sair do quarto. Tudo seria diferente, porque
não existia mais em mim uma das coisas mais importantes de um ser
humano.
Como eu poderia me comunicar com os outros? Como iria fazer
amigos?
— Você precisa sair dessa cama, filho — minha mãe soou
desesperada.
Já fazia mais de uma semana que eu estava naquele estado.
Senti seu corpo sentar-se na ponta da cama e estremeci sob o seu
toque, quando sua mão tocou a minha.
— O seu silêncio não vai mudar quem você é — tentou me encorajar.
— Nós o amamos da mesma forma, filho. Seu irmão tem estado estressado,
ansioso e triste. Todos nós estamos sofrendo nossas dores, por favor, não se
isole. Você só tem nove anos.
Eu não queria mais nada além da minha voz.
— Nós vamos conseguir nos comunicar, filho — ela insistiu. — Existe
uma escola que dá aula de sinais, tenho dinheiro para matricular nós três.
Vai ser mais fácil.
Como ela tinha dinheiro para isso, se até mês passado não tinha para
comprar o meu jogo favorito? Eu não conseguia entender mais nada.
— Por favor...
Ela me abraçou daquele jeito, com minhas costas viradas para ela e
bem apertado, para que não corresse o risco de afastá-la.
Foi o choro mais alto que já ouvi na minha vida, que me fez chorar
junto a ela.”
Abri meus olhos, dando de cara com o teto escuro do dormitório que
compartilhava com meu irmão. Senti todo meu rosto molhado, indicando que
havia chorado durante as lembranças que me visitaram durante o sono.
Nunca teria paz daquilo.
Minha mente sempre acabava me levando para os piores momentos da
minha vida e aproveitava para fazer aquilo sempre quando eu não conseguia
controlá-la: durante o sono.
Olhei para o relógio do meu celular e soltei um suspiro, ao ver que
ainda eram duas horas da madrugada. Peguei o aparelho e abri o Spotify,
colocando na playlist dos Beatles, antes que enlouquecesse sozinho.
Meu irmão havia ido dormir com Caitlin, porque queria aproveitar que
Aurora iria dormir na casa dos pais naquela noite, e eu nem quis saber ou
pensar no que essa palavra significava para ele agora.
Pelo menos, ele estava feliz.
Eu conseguia ficar contente por ele, mesmo que no fundo do meu
coração, sentisse uma pontada de inveja.
Nunca conseguiria ter alguém que me olhasse da forma que Caitlin
olhava para ele.
Nunca conseguiria saber como é estar apaixonado.
Nunca encontraria alguém por quem me abriria.
Eu tentava permanecer forte todos os dias, porque havia sido essa a
promessa que fiz para minha mãe, quando vi nos olhos dela o quanto ela
tinha medo de me perder também, mas eram nessas horas, de madrugada e
completamente sozinho, onde eu me encontrava apenas com os meus
pensamentos e as minhas inseguranças, que eu colocava uma música e
chorava para aliviar o peso.
O peso de ter virado um nada.
Um nada enquanto passava pelos corredores da faculdade.
Um nada enquanto estava trabalhando na biblioteca.
Um nada quando precisava usar o telefone para me comunicar com
alguém que não conseguia me entender.
Eu era um nada.
MAEVE HOOD
Precisei me controlar para não segurar o rosto de Christopher e roubar
um beijo seu. Seria muito sem-vergonha se fizesse isso e eu sabia, e era por
conta do pingo de noção que existia em mim, que apenas dei risada da sua
reação atrapalhada após ouvir o que saiu da minha boca.
Ele se tornava mais adorável quando suas bochechas ficavam
avermelhadas de vergonha e quando não escondia no rosto expressivo, o
quanto ficava atordoado com minhas frases de duplo sentido.
Um exemplo, era a sua reação de agora.
Christopher tirou da sua mochila o mesmo caderno de ontem e acabou
derrubando seu estojo, demonstrando claro nervosismo. A sorte é que não
estava aberto para espalhar tudo o que carregava ali pelo meu escritório.
— Não estava brincando — fui sincera, observando-o ficar mais
envergonhado. — É só não revirar os olhos para mim de novo.
Só notei-o engolindo em seco, porque estava o observando demais, e
isso, ninguém poderia me julgar. Christopher era muito bonito para não ser
admirado, e não conseguia entender como ele não percebia isso.
— Podemos nos concentrar no trabalho?
Ele sinalizou, ao mesmo tempo que eu perguntava:
— Ainda está indo na academia?
Christopher me olhou abismado. Sorri inocentemente.
— O que foi? Estou curiosa — respondi. — Vou todos os dias e nunca
mais o encontrei.
— Vou um dia sim e um dia não com meu irmão — sinalizou e bateu
no seu caderno. — Podemos?
— O quê? — me fiz de desentendida. — Fazer academia juntos? Acho
perfeito.
Tenho quase certeza de que ele não revirou os olhos, porque se
lembrou do que eu havia acabado de falar caso fizesse isso, mas foi ainda
mais engraçado vê-lo segurar aquela atitude, que parecia ser comum quando
não sabia reagir a algo ou alguma coisa o tirava do sério.
Pelo menos, eu estava o fazendo sentir alguma coisa.
— O trabalho, Maeve — sinalizou, de forma séria. — Preciso ir para
o dormitório, porque já está ficando tarde.
Não eram nem oito horas da noite, porém não iria mais incomodá-lo ou
podia ultrapassar o limite, que aos poucos vinha aumentando entre nós.
— Nós já decidimos o trabalho, iremos fazer a história de amor entre
uma anti-heroína e um herói — falei, bem decidida, como se o projeto fosse
meu.
Em minha defesa, eu só queria que ele tirasse uma excelente nota.
— Por que está insistindo nessa ideia?
— Além de ser muito melhor do que a sua? — gabei-me, o deixando
estático. — Gosto das histórias das anti-heroínas.
— Isso é por que você se identifica?
Sorri largamente.
— Se eu sou a anti-heroína, você é meu herói? — joguei as palavras
sem pensar, trazendo cor para o seu rosto novamente.
Aquilo era muito mais forte do que eu.
— Não sou... — Ele não sabia o que responder, e a vontade de apertá-
lo contra mim só aumentou. Se um beijo saísse disso, seria ainda mais
interessante. Como seria? Alguma vez ele já havia beijado? — Eu já falei que
não escrevo romances.
Estava viajando em pensamentos sobre aquele tópico que havia
acendido em minha mente, que quase não consegui entender o que sinalizou.
— Não escreve por que nunca viveu um?
— Não gosto do gênero — ele desconversou, não me dando a resposta
certa.
— Pode aprender a gostar com esse projeto — insisti, porque
dificilmente eu dava para trás. — Vamos apenas imaginar juntos, e se não
gostar do resultado, nós mudamos, o que acha?
Christopher pensou por um momento, provavelmente na sua cabeça
passava se valia a pena discordar de mim, pois estava bem óbvio que ele
queria continuar com a sua ideia inicial.
— Você é mesmo insistente — respondeu com suas mãos, e eu sorri,
sabendo que havia vencido aquela batalha. — Vamos testar sua ideia.
Virei-me para ele, ficando de frente para o seu corpo, ao cruzar minhas
pernas uma na outra. Eu estava usando um short curto, e com o movimento,
ele subiu um pouco mais, e tive plena noção de que Christopher notou, pois
seus olhos seguiram para as minhas coxas, mas ele foi tão rápido em desviar
para o caderno que segurava no seu colo, que nem tive tempo de entender sua
reação.
Ele estava nervoso ou era uma impressão minha?
— Não precisa ficar nervoso na minha presença — falei, chamando a
sua atenção para mim novamente e sorri gentilmente. — Estou desde o início
tentando diminuir essa tensão estranha que existe entre nós dois, para que se
sinta confortável.
— Está?
Assenti, dando de ombros.
— Do meu jeito apocalíptico de ser. — Pisquei e indiquei o caderno
em suas mãos com minha cabeça. — Vamos começar?
Ele concordou com aquele tom vermelho fraco, que agora mais parecia
rosado, nas suas bochechas.
Existia uma coisa que eu achava que todo ser humano tinha em
comum, e ela se chamava curiosidade.
Quando entrei no prédio onde minhas amigas dormiam e caminhei até
o quarto delas, tive a sensação de que algo estava acontecendo lá dentro, ao
ouvir uma voz masculina. Pensei ser Trevor com Caitlin e jurava por Deus
que nunca tentaria ouvir algo que aqueles dois estivessem fazendo sozinhos
ali, mas ao reconhecer a voz de Aurora, soube que não se tratava do nerd
arrogante, e sim de Melvin.
Será que ela finalmente iria contar que estava grávida?
— Você primeiro — ela mandou, e eu agradeci por ter pegado o
assunto que se iniciaria ali desde o início.
Droga, Aurora! Você deveria ser a primeira a falar sobre o que estava
acontecendo.
Melvin respirou tão fundo, que eu senti de fora do quarto que algo
tenso estava acontecendo ali dentro.
— Você deixou seu celular comigo, e eu vi sua conversa com
Christopher.
O quê?
Aquele maldito loiro tóxico e abusivo! Eu o esquartejaria! Foda-se!
Seria um pai para aquela criança, a titia pai! Quem precisa de um homem
nessa vida...
— Melvin, eu iria falar...
— Não — Melvin a interrompeu. Que bom! Ela e Chris eram só
amigos, não eram? Ou não eram? De repente, fui eu que senti um gosto
amargo na boca. — Vocês se tornaram amigos, e tudo bem, me sinto muito
inseguro com essa relação, mas eu vi o quanto você falava sobre mim e o
quanto tinha amor em cada uma daquelas mensagens, mesmo depois de tudo
o que fiz com você.
Pelo menos, ele era inteligente.
— Aurora, eu ferrei com sua cabeça — assumiu a culpa, me deixando
muito surpresa. — A ponto de você se afastar de um garoto que tem uma vida
solitária, só para que eu não surtasse com você.
— Não é bem assim... eu não queria causar nenhum gatilho em você.
— Eu sei, eu sei — Melvin disse. — E eu amo você por isso, mas não
é o certo, sabe? Ciúmes é normal, mas não quando ficamos obcecados com
isso.
Olha... ele agora tinha noção também.
— Não podemos construir um relacionamento assim, Aurora, não
quando você está machucada por tudo o que eu causei, e quando estou me
tratando da depressão. Eu amo muito você, mas não posso depender de você,
não da forma como estou dependendo...
— Está desistindo de nós? — Aurora fungou.
— Não, estou tomando coragem e dando o tempo que a gente precisa
— respondeu, com a voz embargada. — Tudo o que causaríamos um no
outro seria mais dor, Aurora, e infelizmente, você é o meu maior gatilho
agora.
Aquilo sim era pesado.
Puta que pariu! Como Aurora deveria estar com aquelas palavras?
— Sinto muito, Sunshine — Melvin falou com a voz mansa, usando
um apelido que não usava com ela desde o ensino médio. — Promete para
mim que irá buscar tratamento também? Promete que daqui a alguns anos,
iremos olhar para trás e rir de toda essa merda?
Ainda atrás da porta, consegui enxergar o quanto eles eram péssimos
um para o outro no momento. Melvin estava a afastando, porém queria
promessas.
— Vai embora — ela mandou, sem responder qualquer uma das suas
perguntas.
Aurora estava triste.
— Aurora...
— Preciso processar isso, Melvin. — Ela fungou, parecendo se segurar
para não chorar ali mesmo. — Eu sei que o que vivemos no último ano não
foi saudável, mas achei que agora que saiu da clínica, as coisas iriam
melhorar...
— Eu sei. Sabe o quanto é difícil para mim admitir que estamos
doentes? Eu amo você, Aurora, mais do que já amei qualquer coisa na minha
vida, e deixar você ir por um tempo pode nunca mais trazê-la de volta para
mim. Sabe como me sinto com isso?
Engoli em seco, sentindo um caroço estranho na garganta.
— Acho melhor você sair agora — mandou, e ouvi um soluço vindo
dela.
Merda... ela estava mal, provavelmente por saber que ele estava certo.
Eram os hormônios.
Puta que pariu! A porra da gravidez!
Aurora não contaria?
Eu me afastei da porta, entretanto, ainda fiquei parada na frente e
quando Melvin saiu, notei no seu estado o quanto aquela decisão havia sido a
mais difícil da sua vida. Ele estava acabado.
Destruído.
Deplorável.
— Você fez o certo — murmurei o que achava que deveria ser dito.
Melvin pareceu ter um alívio mínimo com a minha resposta.
— Ela precisa de você — foi o que ele disse, antes de ir embora.
Eu sou o único que se tornou um tolo nessa porra de mundo
Sem rumo, perdido no caminho
Eu sou o único que se tornou tolo
A partir de agora vou lutar pela minha vida
F*CK MY LIFE – SEVENTEEN
MAEVE HOOD
Entrei no quarto em silêncio, vendo pela primeira vez na vida, minha
amiga tão destruída daquela forma. Ela estava sentada na cama, abraçando a
sua barriga, enquanto soluçava alto, a ponto de molhar sua roupa com
lágrimas e atrapalhar toda a sua respiração.
Eu me aproximei e me sentei ao seu lado.
Ela me encarou com o rosto encharcado, e apenas abri meus braços, a
trazendo para perto. Abracei seu corpo pequeno e alisei suas costas, tentando
pensar em maneiras de falar palavras que a confortassem, quando imaginava
que nenhuma faria sentido na sua cabeça agora. De uma forma ou de outra,
Aurora havia sido deixada, e para quem havia deixado na última vez, aquilo
doía muito mais.
— Sinto muito — foi o que saiu da minha boca.
Ela me abraçou mais apertado.
— Ele foi um idiota — murmurou, fungando.
Como poderia explicar para a minha amiga, que ele não havia sido? Os
dois precisavam desse tempo, mas ela estava de cabeça quente, e eu não
falaria isso agora. Sabia que estava grávida e que o bebê mudava tudo, ainda
assim, não tinha parado para pensar como seria a situação do relacionamento
deles com um neném no meio.
Talvez piorasse o que eles tinham.
Talvez melhorasse.
Tudo era um risco, o qual eles não podiam correr, porque precisavam
ser responsáveis agora.
Um barulho da porta se abrindo, chamou a minha atenção.
— O que aconteceu? — Caitlin entrou no quarto e se assustou ao ver
nossa amiga chorando nos meus braços. — Aurora? Maeve?
Ela fechou a porta.
— Melvin terminou com ela.
— O quê?
Era mesmo surpreendente, já que Melvin nunca aceitou que o que eles
tinham era ruim. Aquela decisão só mostrava o quanto ele estava
conseguindo amadurecer com a terapia e com o tratamento que havia feito em
uma clínica de reabilitação.
— Você contou que está grávida? — Caitlin perguntou, largando sua
bolsa na sua cama e se ajoelhando na nossa frente.
Ela segurou o rosto de Aurora e tentou limpá-lo, mas tudo o que a
nossa amiga loira fazia, era chorar mais, principalmente agora que Caitlin
havia mencionado o bebê.
— Não — respondi. — Ela não teve tempo.
— Vou pegar Melvin pelas orelhas...
— É melhor esperar — interrompi Caitlin. — Assim que ele souber, os
dois irão arrumar uma forma de cuidarem disso juntos.
— Ele... t-terminou comigo, M-Maeve — ela gaguejou entre soluços.
— E você acha que ele terminou com o bebê também? Não esconda
dele essa responsabilidade!
— Maeve está certa — Caitlin concordou comigo. — Quando você se
acalmar, irá falar com ele.
Não era fácil, e eu mesma não me imaginava em uma situação como
essa.
Nunca havia pensado em casamento e filhos, porque era nova demais
para aquilo, mal pensava sobre namorados, porque todos os que tive não
duraram mais do que dois meses. Eles eram muito idiotas, e foi por conta das
suas idiotices, que preferi ter apenas lances casuais.
Era mais divertido e menos problemático.
Também não conseguia imaginar a dor que Aurora estava sentindo, da
mesma forma que não soube ser muito prestativa com Caitlin, quando Trevor
rompeu tudo com ela no semestre passado.
Eu nunca havia me apaixonado.
Acreditava que o amor existia, mas que ainda não havia me encontrado
e eu estava bem com esse fato. Como mencionei, era muito nova para pensar
em coisas tão sérias, porém, a inexperiência nesses assuntos, não me impedia
de ser menos inconveniente.
Digamos que a maneira direta com que eu falava, às vezes podia
magoar.
— Eu não quero vê-lo agora — Aurora disse.
— Não vai fazer isso agora, fará isso essa semana — dei um prazo
maior. — É melhor ele não saber por outra boca ou pelo seu próprio corpo
que está grávida.
— Vocês contaram para mais alguém? — perguntou, tentando limpar
as lágrimas que ainda escorriam.
Nós duas negamos, e eu fiquei surpresa por Caitlin não ter aberto a
boca para o seu namorado.
Aurora suspirou.
— O que eu faço da minha vida? — murmurou tão fraco, que quase
não escutei. — Grávida e deixada pelo namorado.
— Vocês ainda vão voltar, Aurora — garanti. — Só precisam de um
tempo.
Ela não respondeu e foi abraçada por Caitlin.
— Vai ficar tudo bem.
Logo ela estava chorando de novo, e sem saber muito bem o que fazer,
a abracei também.
— Obrigada por estarem comigo — ela agradeceu.
— Vamos sempre estar aqui — Caitlin garantiu.
Eu concordei.
Achava que o para sempre era impossível com alguém, mas depois de
tudo o que havíamos vivido nesses seis anos de amizade, tinha certeza de que
nada mais poderia nos separar.
CHRISTOPHER LANCASTER
Pausei a minha leitura de Homem-Aranha, Carnificina Total para
descansar meus olhos, porque desde que havia pegado a história em
quadrinhos para ler, não havia parado nem para beber um copo de água.
Peguei meu celular para verificar as horas, e não havia se passado nem
uma hora desde que comecei a leitura, e já me encontrava na metade da
história. Era impressionante como meu ritmo de leitura vinha aumentando
ultimamente.
Dez anos enfiado em livros e histórias em quadrinhos, fazia algum
sentido no final de tudo.
Com a tela do celular desbloqueada, abri o Twitter e sem pensar muito
bem, entrei na comunidade do campus da UCLA. Muitos alunos estavam
empolgados com o novo semestre, alguns só estavam reclamando da vida
acadêmica, enquanto a maioria usava seus perfis fakes para fazer fofocas.
Como sempre, os atletas estavam no topo delas.
Uma festa ocorreu na noite anterior, e todos estavam falando sobre.
Pelos tweets, descobri que Barry havia assumido o seu namoro com Tiffany e
que aquele era o assunto do momento por ali, junto de mais dois: o caso da
noite de um atleta do hockey, Joe Pattinson, e o sumiço da Elite das festas
nesse início de semestre.
Cliquei em um dos tweets que tinha várias respostas.
@Ucla_fnews: Apenas Barry apareceu hoje e acompanhado de
Tiffany, confirmando os rumores de namoro, que estavam surgindo por cada
canto do campus desde o início do semestre. Onde estão os outros?
@ssyu_: Ouvi dizer que Melvin não pode comparecer a uma festa, por
causa da sua recuperação. Caitlin está namorando aquele nerd que nunca
frequentou festas, e Maeve tem estado estranha desde o final do semestre
passado.
@youandyou: Maeve estava bem ativa nas redes sociais nas férias,
mas agora até de lá sumiu.
@dawnyyy: Vi ela com o outro nerd, irmão daquele Trevor. Aquele
alto e esquisito, será que ela caiu de amores por ele, como a melhor amiga?
Eu podia ter parado naquilo, mas a curiosidade era uma falha do ser
humano, por isso desci um pouco mais.
@youandyou: Eu também vi. Ela estava até sorrindo... será que
cansou de ser uma vadia má e agora está fazendo caridade?
@dawnyyy: Ela ainda é uma vadia má. Soube que não compareceu a
semana inteira no treino do vôlei e que não deu nenhuma satisfação. As
meninas estão furiosas com ela.
@ssyu_: Como pode alguém ser tão irresponsável? Se fosse qualquer
uma de nós, já teria levado expulsão do time, mas ela é Maeve Hood, né?
Não é tão fácil assim julgá-la como um ser humano normal.
@youandyou: Não é à toa que eles são da Elite.
@ssyu_: Mas confesso que sinto saudade da presença dela nas festas.
Ela sabe animar bem aquele lugar.
@dawnyyy: Odiamos Maeve Hood no mesmo tanto que a amamos. Ela
é o quê? A nossa Blair Waldorf?
@ssyu_: Agora faz um pouco mais de sentido, com essa comparação.
Não havia mais respostas ali, e eu preferi bloquear o aparelho antes
que lesse algo que continuasse a não me agradar.
Agora eu era caridade, além do cara alto e esquisito.
Por que mesmo aqui, em uma universidade, as pessoas não me
deixavam em paz?
Fazia de tudo para não ser visto, porém a minha aproximação
obrigatória com Maeve dava munição para eles continuarem a falar de mim
nas minhas costas. Talvez ela tivesse razão no final de tudo e fosse muito
melhor trabalhar no seu apartamento, do que em qualquer lugar do campus.
— Parou de ler? — Trevor perguntou, saindo do banheiro com uma
toalha ao redor do pescoço.
— Estou descansando um pouco — respondi em sinais.
Ele se sentou na sua cama e começou a secar seu cabelo. Observei, na
pouca distância entre nós, o quanto meu irmão estava mais leve, e acabei
sorrindo fraco.
Achava que finalmente ele tinha deixado o passado no seu lugar.
Trevor se tornou obcecado demais pelo nosso passado quando éramos
adolescentes, achando que em algum momento, iria conseguir buscar justiça
pela morte do nosso pai naquele acidente. Acontece que o homem bêbado
que nos derrubou naquele penhasco, tinha uma mulher que acobertava tudo o
que ele fazia, e além de ela ter ameaçado nossa mãe, e dado dinheiro para que
saíssemos do Alaska, havia excluído qualquer prova que poderíamos ter para
voltarmos àquele passado e termos a justiça que merecíamos.
Não existiam meios legais para provar nosso acidente.
Nem mesmo o delegado que acobertou tudo estava vivo.
No entanto, meu irmão não entendia e os acompanhava todos os dias,
parecendo torcer por uma falha que nunca vinha. Aqueles dois apenas
cresciam.
E toda aquela situação me machucou tanto, que era difícil de colocar
em palavras.
Além de ficar nessa situação para sempre, meu irmão estava entrando
em um estado doentio, que eu não sabia nem como definir em palavras.
E ele quase voltou àquilo, quando descobriu que Caitlin era filha
daquele casal, porém, o amor que sentiam era mais forte do que aquela
mágoa e eles estavam conseguindo superar aquilo.
Dia após dia.
E era por isso que eu ficava feliz quando o enxergava.
Não sentia mais o peso e a dor de antes, apenas uma leveza profunda
emanava dele.
— Por que está me olhando assim?
— Você parece bem — fui verdadeiro. — Estou feliz por você.
Ele deixou a toalha em cima da cama e se levantou, caminhando até
mim.
— Não tente me distrair, quero saber como estão as coisas com Maeve.
Ela não está passando dos limites? Não está o magoando com palavras
ofensivas?
Respirei fundo.
Infelizmente, sua superproteção não havia ido embora.
— Não estou tentando distraí-lo, estou sendo um irmão bonzinho —
sinalizei. — Maeve está sendo Maeve, não se preocupe.
— Como pede para não me preocupar, se ela está sendo ela mesma? —
indagou. — Chris, eu não quero que você volte a se fechar no seu mundinho,
por conta de ofensas idiotas e...
— Ela não está me ofendendo, pare de achar que estou 100% do meu
dia sofrendo bullying, Trevor — mandei, levantando-me da cama. — Volte a
cuidar do seu namoro.
— Onde você vai?
— Preciso encontrar com Maeve em uma hora, irei tomar um banho.
— A essa hora? — indagou e ao ver a minha cara, suspirou. — Ok...
Só se cuide, está bem?
— Tenho quase vinte e um anos, não se preocupe.
— Pivete... você está bem longe de fazer vinte e um.
Sorri, sentindo que as coisas estavam voltando para a leveza de
sempre.
— Faltam quase sete meses.
— Está contando?
— É claro, é o único período em que tenho a sua idade — o lembrei.
— E não devo tanto respeito a você.
Antes de levar um travesseiro na cara, entrei no banheiro, dando risada.
Trevor podia ser um chato com a sua preocupação constante em mim,
mas sabia que ele fazia isso apenas por cuidado.
Quando entrei na escola, fui alvo de muitos comentários maldosos e
até mesmo de violência, por ser assim, mudo. Eu era alvo de brincadeiras
estúpidas e o brinquedinho favorito de garotos que amavam zombar com tudo
o que enxergavam pela frente.
Eu guardei tudo para mim, até que Trevor acabou descobrindo.
Ele enfureceu e acabou sendo expulso da escola, quando bateu no
garoto que havia me batido.
Foi uma confusão tremenda, que minha mãe tentou resolver nos
colocando em uma nova escola.
Contudo, eu estava quebrado demais com tanto bullying, que apenas
me isolei mais, o que acabou trazendo uma onda mais forte de maldades
contra mim.
Meu irmão também descobriu, e minha mãe nos trocou de escola de
novo.
Foi na terceira que consegui ter paz da violência, só que não dos
sussurros conversados entre colegas, ao passo que me olhavam como se eu
fosse de outro planeta.
Aquilo machucava, mas era melhor do que o que havia vivido nas
últimas escolas.
Não imaginava Maeve falando qualquer uma daquelas ofensas para
mim, mesmo que não soubesse suas intenções por trás de tantas provocações.
De onde ela havia tirado que eu revirar meus olhos ou franzir minha
testa eram motivos para me beijar? Maeve Hood era completamente louca, e
o pior de tudo era que eu estava caindo naquela armadilha como um tonto.
Primeiro, foi com a premissa do projeto, que já estava pronta, da forma
como ela havia idealizado.
Depois, foi comigo dando conversa para ela e surgindo no seu
apartamento, quando disse que aquele era um lugar em que não iria.
Estava me tornando mais idiota do que o normal!
Precisava me cuidar para acabar não revirando os meus olhos ou
franzindo minha testa, ações quase automáticas que ela provocava em mim e
que não podiam mais serem feitas ou acabaria tendo o meu primeiro beijo
roubado.
Não queria beijar.
Muito menos, beijar Maeve Hood.
Eu nem sabia fazer isso! E deveria permanecer assim para sempre.
Afinal, por que alguém como eu merecia beijar alguém como ela?
Maeve podia ter a personalidade duvidosa, porém sabia reconhecer que era
demais para mim.
Ela era linda, enquanto eu era... mudo.
O jantar com Maeve havia sido mais agradável do que imaginava que
seria, e apesar de ela ser muito insistente e metida, deu uma pausa de suas
provocações no horário da refeição e deixou que eu comesse sem precisar
parar para sinalizar uma resposta para cada frase que saía da sua boca.
Era educado da sua parte, tinha que admitir.
Saímos da pizzaria depois de comermos toda a pizza, e mesmo
insistindo, Maeve venceu na batalha de quem pagaria a conta.
— Você pode pagar no segundo encontro — disse ela, quando nos
aproximamos do carro.
— Isso não foi um encontro.
Maeve riu.
— Você é bem difícil, sabia?
Na verdade, era ela que era atrevida demais.
— Mas quanto mais dificuldade eu acho em você, mais motivada fico.
— Não é difícil de perceber, sabia?
Ela enfiou o braço entre o meu e os entrelaçou, como se tivéssemos
intimidade para tal coisa.
— Vamos dar uma caminhada, enquanto me fala sobre a premissa.
Tentei me afastar do seu braço fechado no meu e principalmente da
nossa proximidade, mas Maeve dobrou sua força, e como eu não queria
machucá-la, decidi apenas encará-la, assustado.
— É assim que devemos andar por aqui.
— Por quê? — Não era óbvio para mim.
— Porque estamos em um encontro.
Eu nem tentei negar, porque sabia que seria em vão, por isso, apenas
deixei que imaginasse coisas sem sentido. Eu, em um encontro com Maeve
Hood? Era tão ridículo, quanto a minha voz voltar.
— O que preparou para a premissa? — perguntou, à medida que
caminhávamos pela calçada iluminada da rua.
Levantei minhas mãos para sinalizar, e seu braço ainda ficou cruzado
com o meu.
— Decidi seguir a sua ideia e estruturei algo — comecei a dizer. —
Jonas é um super-herói que cuida de Oxfyu, uma cidade fictícia que acabei
inventando enquanto pensava na história. Ele cuida dela seguindo as leis do
local, e todos o conhecem, assim como os bons o admiram. Lila é uma jovem
mulher com poderes, que perdeu os pais para um assassino em série dos
anos 90. Ela tem se mantido nas sombras, mas quando um assassinato
começa a ocorrer a cada semana, seguindo o mesmo perfil do que aconteceu
com seus pais, ela quer buscar justiça da forma dela.
— Eu gosto muito dessa ideia — ela pareceu sincera nas suas palavras.
— E o romance?
Claro que ela queria saber dessa parte.
— Eles vão viver um ódio no início, por causa dos conflitos que eles
têm, mas um romance irá acabar saindo disso.
Maeve sorriu.
— O famoso enemies to lovers — suspirou, parecendo apaixonada. —
Gosto desse estilo.
— Irei apresentar amanhã para o professor e só então irei saber se é
boa o bastante.
— Acredite! Ela é ótima.
Um telefone tocou, impedindo que nossa conversa continuasse, e
Maeve afastou o braço de mim para pegar o aparelho no bolso da sua calça.
Estava longe de ser um enxerido, porém acabei vendo o nome da sua
mãe na tela do celular, antes de ela recusar a ligação e bloquear o aparelho.
Também notei o brilho sumir do seu rosto, assim como qualquer
divertimento que antes estava tendo ao meu lado.
— Tudo bem? — acabei perguntando.
Ela levantou o rosto, ficando tão próxima do meu, que senti meu
coração acelerar um pouco. Maeve não usava maquiagem tão forte hoje, e
dava para ver as manchinhas espalhadas pelas bochechas e nariz.
Ela sorriu, atraindo rapidamente a minha atenção para a sua boca,
entretanto foi muito rápido, porque antes de qualquer coisa que viesse a
sentir, notei que seu sorriso lançado havia sido diferente dos das outras vezes.
Dessa vez, ele não havia alcançado seus olhos.
— Sim, está. Onde estávamos?
Não era do meu estilo ser insistente, por isso, apenas continuei:
— Você disse que havia gostado da premissa.
— E preciso dizer que irei amar desenha-la, como eles serão de
aparência? Uma versão minha e sua em quadrinhos?
Nós já estávamos parados mesmo, e agradeci por isso ou teria
tropeçado.
Maeve riu e sem que eu esperasse, apertou minhas bochechas.
— Não leve tão a sério tudo o que eu digo — mandou, me causando
um aumento frenético no coração, ao ficar tão próxima e alisar as minhas
bochechas daquela forma. — Ou leve, você que sabe.
Notei que ela parecia estar voltando ao normal aos poucos.
Afastei suas mãos da minha pele e me afastei dela.
— Pode me levar para o dormitório?
Precisava me manter afastado de Maeve, pois não gostava das
sensações que ela estava começando a me causar. Meu coração ainda
continuava meio acelerado, minhas mãos pareciam moles, e eu ficava sempre
nervoso.
Maeve era muito provocadora, e eu não fazia ideia nem de como reagir
a qualquer uma das suas jogadas, sem parecer um tolo.
E eu não queria fazer parte do que quer que ela estivesse planejando.
— Ok.
Ela não teimou, e eu agradeci em pensamentos por isso.
Tudo que eu sei é que isso poderia partir o meu coração ou trazê-lo de volta à vida
Tenho um pressentimento de que o seu toque elétrico poderia encher de vida esta cidade
fantasma
E eu quero você, quero precisar de você para sempre
No calor do seu toque elétrico
ELECTRIC TOUCH – TAYLOR SWIFT
MAEVE HOOD
Nem tudo eram flores e maravilhas.
A sexta-feira chegou e com ela, o jantar com a família do meu pai.
Não era que eu não gostasse deles, pois havia os conhecido na semana
passada, só que ainda me sentia estranha no mesmo lugar que eles.
Porém, não tinha como evitar aquele encontro. Na manhã, antes de ir
para a aula, meu pai já estava me mandando mensagem, querendo confirmar
a minha presença e deixando bem claro que não aceitava um não.
Sem escolhas, me preparei mentalmente o dia todo para essa noite,
ignorando durante cada hora dessa sexta-feira, minha mãe me ligando. Eu
não queria atendê-la, mas também não tinha coragem de simplesmente
bloqueá-la.
Bonnie provavelmente havia notado que minha mensalidade estava
paga e que o apartamento que alugava estava no nome do meu pai agora, e
deveria estar surtando com esses últimos acontecimentos.
Para esta noite, havia desligado o telefone, porque realmente não
queria ser incomodada por ela.
Olhei para a sacola em minha mão e me perguntei o que estava
fazendo da minha vida. Eu, geralmente, não era assim.
No caminho até a casa do meu pai, havia passado na frente de uma loja
de brinquedos e ao invés de seguir o caminho, sem me importar com aquele
estabelecimento, fiz o retorno mais próximo e estacionei em frente a ele.
Acabei comprando uma boneca Barbie para Ariana, uma bem diferente
das que ela tinha na sua coleção. Essa era de uma nova coleção chamada
Barbie Fashionista, negra e com cadeira de rodas.
Esperava que ela gostasse.
— Você chegou — Richard disse, ao abrir a porta gigante da sua casa.
— Como está, filha?
Sem que eu esperasse, ele me puxou para um abraço, que acabou
ficando todo desajeitado, porque não soube como reagir ao afeto. Não podia
reclamar que meu pai não estava tentando passar uma borracha em tudo o que
havia acontecido com a gente no passado, assim como não podia mentir que
não era estranho ter a ele me chamando de filha, quando não ouvia isso há
um bom tempo.
— Bem — respondi, assim que ele me soltou. — E você?
— Achei que não viria, mas você está aqui — constatou. — Estou feliz
com isso.
Ariana surgiu no topo da escada e desceu os degraus correndo.
— Meu Deus, filha! — Meu pai exclamou e em seguida, usou suas
mãos para sinalizar: — Já falei para você tomar cuidado nas escadas.
— Eu sei me cuidar, pai — ela sinalizou com suas mãos e me olhou,
ou melhor, olhou diretamente para a sacola em minha mão. — Isso é um
presente?
Sorri para ela e assenti.
Meu pai a cutucou, para chamar sua atenção, e disse:
— O que já falei sobre ficar cuidando o que as pessoas trazem para a
nossa casa? Nem sempre é um presente.
Ari fez um beicinho fofo com os lábios.
— Mas a Maeve disse que é.
Antes que ela tivesse uma crise de choro — porque eu nunca entendia
como uma criança podia chorar do nada por absolutamente qualquer coisa —,
balancei a sacola na sua frente.
Ela a segurou quase que imediatamente.
— É para você.
Ariana não escondeu o sorriso e me olhou com os olhos cheios de
agradecimento.
Ela foi para o meio da sala, enquanto eu entrava na casa. A primeira
coisa que senti foi o cheiro gostoso que vinha da cozinha, tinha um aroma tão
familiar, que mesmo não sentindo há muitos anos, consegui reconhecer.
— Suzy está fazendo a nossa janta. Espero que goste de costelas de
porco com molho barbecue — meu pai falou, apontando para o sofá da sala.
— Costuma ser um dos pratos mais elogiados da minha esposa.
Eu não era muito fã de carne de porco, mas faria esse sacrifício por
eles hoje. Era muito melhor do que dar uma de enjoada logo no primeiro
encontro oficial com meu pai, minha madrasta e minha irmãzinha, que por
falar nessa última... Ela observava a nova Barbie completamente apaixonada.
Ariana deixou a boneca na mesinha de centro da sala e se aproximou
de mim.
— Eu amei, Maeve.
Sem que eu esperasse, ela me abraçou forte pela cintura.
Olhei para o meu pai, que apenas sorriu, parecendo perdido no abraço
que Ariana estava me dando. Antes que ela se afastasse, me curvei e passei
meus braços ao redor do seu corpinho pequeno e magro.
Notei que ela ficou feliz em ser retribuída e me abraçou mais forte.
Toquei seu cabelo liso escorrido como o da mãe, em um carinho que já
havia visto em filmes e ao menos, sabia como dar.
Era estranho.
Tudo era estranho demais, mas eu gostava dessa aproximação.
Ariana levantou a cabeça e se afastou para dizer:
— Estou feliz que você está aqui agora, sempre quis tê-la por perto.
Eu não estava na TPM, então não entendi porque meus olhos
marejaram com o que ela havia sinalizado. Ariana nem me conhecia direito,
entretanto isso não parecia motivo para não me querer por perto.
Minha irmã era completamente diferente de mim.
Sua bondade estava em cada pedacinho dela, muito diferente de mim.
Se Ariana soubesse que na escola, eu era o lado ruim, que brincava e
ria das pessoas introvertidas, ainda iria me querer por perto?
Nunca cheguei a brincar com pessoas que tinham alguma deficiência,
porque eu não era escrota a esse ponto, porém o que aquilo as diferenciava
das outras?
A aposta que fiz ano passado com meus amigos, só para chamar
atenção e ser maligna.
As meninas que queriam ser minhas amigas na época da escola, e eu
apenas dava risada.
Os momentos daquela época, em que eu julgava todo mundo que era
inferior a mim e os afastava de pessoas que queriam ter amizade com eles.
O bullying que eu não cheguei a cometer, mas que não fazia nada para
interromper, quando tinha influência de sobra para isso.
Como tudo aquilo podia ser diferente? Eu era ruim. Muito ruim.
E não podia colocar a culpa disso no fato da minha mãe não gostar de
mim, porque ela havia me criado para ser exatamente daquela forma.
— Maeve? — meu pai me chamou, me acordando dos meus
pensamentos. — Tudo bem?
Pisquei, deixando que algumas gotas de lágrimas escorressem pelos
meus olhos. Assenti para a sua pergunta, olhando para baixo e encarando
uma Ariana confusa.
— Por que estava chorando? Não gosta de abraços?
Sorri fraco para ela.
— Gosto, eu só... — O que eu diria? Pensei rapidamente. — Também
queria conhecê-la.
Não era uma mentira, mas também não era uma verdade, porque nunca
mais havia pensado neles.
Minha resposta pareceu deixar Ariana mais feliz.
— Vou guardar a Barbie com as outras.
Ela pegou a boneca e subiu as escadas correndo, provando a mim que
amava desobedecer ao nosso pai.
— Vem, vamos nos sentar. — Richard me abraçou pelos ombros e me
levou em direção ao sofá. — Como está a faculdade? Fiz os pagamentos na
segunda e consegui reverter a situação do apartamento a tempo.
Eu sabia.
Ele havia me ligado na segunda, para pedir orientação sobre como
proceder em tudo.
— Obrigada — agradeci.
Meu pai sorriu e apontou para cima.
— Ariana não parou de falar de você durante toda a semana. Ela gosta
de você.
— Me conte sobre ela — pedi, achando uma maneira de me aproximar
mais dele e de entender um pouco mais sobre Ari. — Disse que ela nasceu
surda e que foi difícil para vocês, que não sabiam a língua de sinais, mas não
me contou como é agora.
Richard pareceu feliz e admirado com o meu interesse sincero em
Ariana.
— Sua irmã é muito inteligente. Acho que deveria começar com isso.
— Sorriu, orgulhoso da sua filha mais nova. — Até os três anos, nos
comunicávamos com ela pela linguagem de sinais, mas fomos orientados a
torná-la apta ao uso de aparelho auditivo. Desde então, Ari o usa para ter uma
vida mais confortável lá fora.
— Ari também não gosta muito do aparelho, mas faz esse sacrifício
para ter uma vida social com os amigos na escola — Suzy surgiu falando
atrás de mim e ao aparecer na minha frente, sorriu da mesma forma simpática
da semana passada. — Oi, Maeve. É bom que tenha vindo.
— Oi, Suzy.
Ela se sentou no outro sofá, e eu acabei perguntando:
— Por que a colocaram em uma escola comum, se tem idiotas que a
tratam mal?
— Nós queríamos que Ari tivesse aula particular ou que estudasse em
uma escola própria para surdos, nós chegamos até a matriculá-la em uma,
mas um dia Ari viu muitas crianças brincando em uma praça da escola em
que está hoje e preferiu estudar nela — meu pai explicou. — Ela disse que
prefere um lugar cheio a um com poucas crianças.
Então ela queria ter muitos amigos.
— Mas esses pequenos idiotas não são amigos dela — respondi o
óbvio para mim.
Suzy sorriu.
— É uma minoria que ataca Ari com essas brincadeiras estúpidas, a
maioria ela já conseguiu converter a seu amigo — contou. — Na escola em
que estuda, tem o ensino de ASL e Ari ajuda todos os amigos a se
comunicarem melhor com ela, pois o seu objetivo é não precisar usar o
aparelho auditivo no futuro.
— É claro que isso não a exclui de se sentir frustrada e magoada às
vezes. Os que não querem aprender, costumam ser idiotas com ela — meu
pai complementou. — É difícil, e ela é só uma menina de oito anos com uma
determinação gigantesca para ser ouvida em um mundo de ignorantes.
— No outro dia, ela está com um sorriso no rosto e tentando
novamente — Suzy finalizou.
E eu não consegui evitar de achar algumas coisas bizarras.
— Ela está sofrendo bullying, e vocês a deixam na mesma escola? —
Por um motivo óbvio, aquilo estava me enfurecendo.
— Nós já falamos com os pais e com a direção da escola sem que Ari
soubesse, porque também nos preocupamos, mas ela não queria que nos
envolvêssemos nisso — meu pai disse, e eu não pude deixar de ficar chocada.
— Eu sei, ela é muito madura para a sua idade.
— Eu chamo de bem desenvolvida — minha madrasta disse. — Ari só
quer viver normalmente e está lutando por isso com apenas oito anos. Não
tenho dúvidas de que fará aquela turma falar por sinais com ela até o final do
ano.
Meu pai riu, concordando.
Talvez fosse isso que eu estivesse estranhando.
Ariana era muito determinada a se mostrar orgulhosa de quem ela era,
muito diferente de Christopher, que era mudo, falava por sinais e se escondia
a cada oportunidade que enxergava.
Não julgava nenhum dos dois e conseguia apoiar os dois lados.
Coragem não era uma coisa que se conquistava do dia para a noite,
requeria tempo e confiança, que era outro processo que não era tão fácil de se
conseguir.
Ouvi os passos de Ariana chegando na sala, e seu corpinho logo
ocupou o lugar vago ao meu lado.
— Quer brincar de Barbie comigo depois? — ela questionou.
Sorri e assenti.
— Nunca brinquei, mas acho que vai ser interessante.
Seu olhar passou de feliz a espantado com minha resposta.
— Como você nunca brincou de Barbie?
— Não costumava brincar muito quando era criança.
Em outras palavras: eu não havia tido uma infância normal como os
outros. Meu pai percebeu na hora o que estava acontecendo e pareceu ficar
triste com a lembrança.
Suzy acenou para Ari, chamando a sua atenção.
— Já lavou as mãos? O jantar já está quase pronto.
Ari fez um bico com a boca, mas com o olhar de Suzy, acabou
suspirando e se levantando de novo.
— Já volto.
— Por que não me ajuda a arrumar a mesa, Richard? — Suzy
perguntou, ao se levantar também.
— Por que não pede para Maeve?
— Porque hoje ela é visita.
Meu pai me olhou.
— Você não escapa da próxima vez, Maeve.
— São ricos e precisam de alguém para cozinhar e arrumar a mesa? —
acabei questionando.
Eles prenderam a risada, e um do lado do outro, consegui perceber o
quanto combinavam.
— Temos uma senhora que trabalha para nós durante o dia e cozinha o
almoço, mas a janta de sexta-feira é da família — meu pai disse,
demonstrando o quão brega havia ficado. — Fazemos tudo. Desde cozinhar
até lavar louça.
— Tenho certeza de que nisso Maeve irá me ajudar — Suzy comentou,
com divertimento.
— Eu nunca sequei um prato! — deixei claro aos dois. — Prefiro
continuar sendo a visita.
Eles riram e foram em direção à cozinha.
Aproveitei o momento sozinha e peguei meu celular. Não havia
mensagem de Aurora e nem de Caitlin, o que significava que as duas loiras
estavam aprontando.
Aurora, provavelmente não havia falado da gravidez para Melvin
ainda.
E Caitlin deveria estar dando para o namorado.
Só de uma coisa eu conseguia sentir inveja, e não era da mamãe do
ano.
Não que eu quisesse foder com Trevor.
Eca!
Sentia ânsia de vômito só de pensar em um absurdo daqueles.
No entanto, sentia saudade de transar.
A última vez que havia ficado com um cara, tinha sido em Paris e não
podia nem recorrer a um sexo fácil e sem dramas, porque Barry estava
comprometido.
Mesmo se estivesse, não sabia se acabaria recorrendo a ele... não
quando estava com uma vontade louca de Christopher Lancaster. Quão errada
eu era por estar de olho em um garoto inexperiente, que me queria longe e
que arriscaria dizer, inocente? Eu iria para o inferno, tinha certeza disso!
Contudo, o que fazer quando a forma como me olhou no carro ainda
estava na minha cabeça?
Não sabia como definir, mas havia me deixado toda arrepiada. Dos pés
à cabeça! E eu nem pude fazer nada, porque dirigia a droga do carro.
Entrei na minha conversa com o meu nerd favorito e pensei no que
enviar para perturbá-lo.
Eu: Oi, trevo de quatro folhas. O que está fazendo? Tem pensado em
mim? Estou curiosa, não o vi o dia todo.
Ele visualizou no mesmo segundo, e isso me fez sorrir.
Trevo de quatro folhas: Estou começando a história. O professor
aprovou a premissa e está ansioso para ler a Graphic Novel.
Eu: Não falei que ele iria preferir essa história? Sempre tenho razão.
Agora precisa me dar uma recompensa por tê-lo ajudado nisso.
Trevo de quatro folhas: O trabalho é nosso. Você está nos ajudando.
Ri da maneira como frisou a palavra nós.
Eu: Quando iremos nos encontrar? Não pode começar sem mim.
Trevo de quatro folhas: É importante ter algum conteúdo para você
começar a ilustrar, não acha?
Eu entendia, porém queria passar mais tempo com ele.
Eu: Escreva do meu lado, talvez sua inspiração fique melhor perto da
Lina verdadeira.
Trevo de quatro folhas: É Lila, e você não é ela.
Eu: É claro que sou. Você é meu Jonas, e eu sou sua Lila, mas ainda
estamos na parte do enemies.
Trevo de quatro folhas: Eu não a odeio, e você, com certeza, não me
odeia. Vive me perturbando.
Eu: Mas você também não me ama.
Dei risada mais uma vez, enviando um gif de uma garotinha chorando.
Antes que esquecesse, acrescentei:
Eu: Não revire os olhos para mim ou você já sabe.
Trevo de quatro folhas: Você não está me vendo, estou seguro.
Eu: Não me desafie, trevo de quatro folhas, ou eu posso beijá-lo sem
nenhuma prova.
— A pessoa com quem você está conversando parece ser muito
especial para fazê-la rir dessa forma — meu pai comentou, me trazendo para
a realidade e quase me causando um susto. — É um cara?
— É — respondi. — O nome dele é Christopher.
— O que você comentou sobre ser mudo? — Assenti. — Por que não
traz ele aqui para conhecermos? Quero saber das intenções dele com a minha
filha.
— Pai!
— O que foi? Quero conhecê-lo e o mais rápido possível!
Revirei meus olhos.
— Christopher não é um garoto muito social — falei. — Sabe quanto
tempo levei para conseguir uma aproximação sequer com ele? E ainda nem
devo os créditos totalmente a mim, e sim à UCLA.
Richard riu.
— O que a universidade tem a ver com isso?
— Estamos fazendo um trabalho juntos.
— Ele também faz Artes?
— Literatura, mas precisava de mim para desenhar uma história, algo
parecido com uma HQ.
Meu pai assentiu, parecendo entender.
— De qualquer forma, quero conhecê-lo — disse e apontou para a sala
de jantar. — Vamos comer?
Eu concordei, me levantando.
No entanto, antes de acompanhá-lo, olhei a última mensagem de
Christopher.
Trevo de quatro folhas: Eu correria de você antes que pudesse.
Soltei uma risada baixinha para evitar chamar a atenção do meu pai,
amando cada vez mais a versão de Christopher confortável com a minha
presença. Sua resposta poderia causar insegurança em qualquer um, porém só
consegui enxergá-la como mais um desafio.
E eu costumava amar um desafio.
E Assim Vai...
Te vejo no escuro
Todos olham pra você, meu mágico
Todos olham pra nós
Você faz todo mundo desaparecer, e
SO IT GOES – TAYLOR SWIFT
MAEVE HOOD
Acordei no sábado com meu celular tocando de uma forma tão
irritante, que me fez ter vontade de jogá-lo contra a parede.
Estava tendo um sonho tão gostoso, onde eu estava prestes a beijar
Christopher. Não queria ter acordado logo no momento em que saberia — ao
menos em sonho — como era beijar aquela boquinha linda.
Inferno!
Deveria ser o preço de estar provocando um garoto inocente.
Consegui atender a chamada com meus olhos semiabertos e nem dei
importância para quem estava do outro lado da linha.
— Que foi?
— Bom dia para você também, Maeve Hood — Caitlin soou risonha
no celular. — Acordei você?
— É claro que sim — respondi, ainda sonolenta. — Por que está me
ligando cedo em um sábado?
— Porque já não é mais cedo. Vamos almoçar todos juntos hoje, o que
acha?
Aquilo me fez abrir os olhos rapidamente.
— Almoçar juntos? O que viramos? É tipo um almoço em família? —
acabei debochando. — Aurora e Melvin nem estão mais juntos, Caitlin.
Barry, desde que disse que era o mais normal do nosso grupo, foi viver sua
normalidade longe de nós.
— Aurora precisa ver Melvin para lembrar do que está guardando —
Caitlin contou seu plano. — E Chris vai ir.
— Por que está me contando isso?
— Porque você gosta dele.
Soltei uma risada fraca, já me levantando da cama.
— Não da forma que você está pensando — rebati, porque sabia o que
o amor tinha feito com aquela garota: a tornado uma romântica incorrigível.
— Onde vai ser o nosso almoço em família?
— Pare de debochar! Sobre o restaurante, mando o endereço daqui a
pouco.
A voz de Trevor surgiu no fundo do telefone.
— Quem é que gosta de quem?
— Ninguém — sua namorada respondeu. — Maeve, preciso desligar
agora.
Caitlin desligou, antes que eu pudesse responder qualquer coisa.
Até foi melhor assim ou teria que aguentar o humor rancoroso de
Trevor a essa hora da manhã, e isso provavelmente estragaria o meu dia.
Preferia mil vezes seu irmão.
E era por conta disso, que eu iria naquele almoço onde aguentaria um
casal apaixonado e outro completamente rompido.
CHRISTOPHER LANCASTER
As coisas estavam meio estranhas desde que Aurora anunciou sua
gravidez na mesa do nosso almoço no último sábado.
Trevor e Caitlin pareciam desnorteados, sem saberem muito bem o que
fazer. Minha cunhada tinha uma mania de querer ajudar e unir todos, o que
combinava perfeitamente com meu irmão, que era um verdadeiro protetor no
quesito cuidar das pessoas que eram importantes para ele ou para quem
amava.
Arrisquei mandar uma mensagem para Aurora no início da semana,
perguntando como ela estava, mas não havia recebido nenhuma resposta.
Durante os dias que passavam, apenas a via no campus, com o sorriso
falso e congelado, que direcionava a todos que a cumprimentavam pela
universidade.
Os rumores estavam surgindo todos os dias, por conta do afastamento
de Aurora dos jogos, alguns inventavam que ela tinha brigado com Maeve, só
porque não haviam as visto juntas nos últimos dias, outros falavam que
Melvin não a deixava mais jogar ou que ela não queria mais fazer parte da
equipe de vôlei, porque tinha inveja de Caitlin.
Nenhum pensou na possibilidade de ela estar grávida, o que era cada
vez mais óbvio — pelo menos para mim — com as roupas mais largas que
estava vestindo.
Hoje era quarta-feira, e ao invés de ficar resistindo a ir fazer o trabalho
com Maeve, saí do meu trabalho um pouco mais cedo e peguei um táxi até o
seu apartamento.
Não é que eu estivesse a evitando, porém precisava de um tempo para
afastar as últimas sensações que ela estava me causando e fazer um estudo do
que precisava para escrever um romance enemies to lovers.
Não entendia nada sobre aquilo e acabei pegando o clássico de Jane
Austen “Orgulho e Preconceito” para ler e ter alguma referência, entretanto
tudo o que consegui sentir durante a leitura, foi tédio com Senhor Darcy.
Ele era um chato e muito implicante. Como Elizabeth conseguiu se
apaixonar por alguém como ele? Não entendia mesmo como definir aquele
sentimento. Na minha visão, eles não tinham qualquer coisa em comum que
podia tornar aquele amor duradouro.
Contudo, tinha o tal do enemies, e foi naquilo que foquei durante toda
a leitura, anotando ideias em um bloco de notas, para conseguir desenvolver
melhor a história de Jonas e Lila.
— Eu já estava achando que você faria o trabalho sozinho — Maeve
disse, ao abrir a porta do seu apartamento. — Por que demorou tanto?
Entrei, observando que o local continuava o mesmo da semana
passada.
Virei-me para a ruiva, prestando atenção no que ela vestia, antes de dar
uma resposta. Maeve estava com uma saia marrom xadrez, com uma blusa
marrom da mesma cor por cima e sandálias rasteirinhas simples.
Ela devia ter voltado há pouco tempo do campus, pois havia me
mandado uma mensagem, dizendo que o treino com as meninas hoje era até
mais tarde.
— Caso não saiba, eu trabalho e estudo também.
Minha resposta provocou um sorriso fraco nos seus lábios.
— Achei que estava fugindo de mim.
Isso também.
Pensei ao mesmo tempo que a acompanhava até o seu escritório. Hoje,
ele estava bagunçado, comparado ao último dia em que estive aqui.
— Também não posso demorar, já está quase noite.
— Eu posso levar você para o campus. — Apontou para o sofá atrás de
mim. — Estava pintando de manhã, por isso que esse lugar está bagunçado,
não tive tempo de arrumar.
Meus olhos caíram no cavalete, que deveria estar apoiando um quadro
com uma pintura incompleta nesse momento.
— Onde está?
Ela se sentou ao meu lado, desnecessariamente perto de mim, o que me
fez trancar a respiração, principalmente quando senti o seu perfume floral
cheiroso.
— O quê?
Voltei a respirar, porque não conseguia ficar tanto tempo assim
trancando a própria respiração, e tentei ignorar sua proximidade com a minha
resposta.
— Seu quadro.
Pela primeira vez, Maeve pareceu o mais próximo de sem graça que
alguém como ela conseguia ficar, só percebi porque ela desviou o olhar, algo
que dificilmente fazia comigo.
— Quando estiver pronto, mostro para você — respondeu, voltando a
me encarar. — Antes de você assumir a pose de nerd e evitar falar sobre
qualquer coisa que não seja o projeto, tenho um convite para você.
Esperei pela próxima atrocidade que viria da sua boca. Dificilmente
seria um convite simples, como uma sugestão para o nosso projeto.
— Vai a uma festa comigo?
Quase não acreditei no que ela perguntou. Pensei que havia deixado
bem claro que não gostava de frequentar lugares como esses, mas aqui estava
ela, ignorando o que falei na semana passada.
— Antes que responda um não, tenho melhorias nesse segundo convite
— ela disse, levantando um dedo. — Número um: não vamos em uma festa
que os universitários frequentam. — Ela levantou um segundo dedo. —
Número dois: dou a certeza de que iremos nos divertir.
— Caso não se lembre, ainda não temos vinte e um anos, e mesmo se
tivéssemos, eu não iria.
— O dono do lugar é meu amigo e está me devendo um favor, então
podemos ir, e sobre a sua falta de disposição, confie em mim, você vai se
divertir comigo. — Ela estava confiante. — Disse que não ia em festas,
porque não queria ser assunto no outro dia, mas ninguém da faculdade vai
estar lá, então não haverá fofocas sobre você.
Maeve viu que eu negaria, pois segurou as minhas mãos e quase se
virou para mim. Não o fez porque estava de saia e meu corpo a impedia.
— Por favor — implorou.
Qual era a necessidade de ir em uma festa comigo? Ela estava
tramando alguma coisa? Senti-me péssimo por pensar algo do tipo, porém
minha confiança ainda não era 100% certa.
— Você nunca foi em uma festa, não pode dizer com tanta certeza que
odeia frequentá-las.
Ela não desistiria tão facilmente.
Afastei suas mãos das minhas e sinalizei:
— Quando?
— Amanhã, após o jogo.
— Quinta-feira? Tenho aula na sexta.
Maeve claramente não se importava com aquilo.
— É comum ter festa até na segunda-feira. Prometo que assim que
você quiser ir embora, nós iremos.
Eu sabia que não tinha uma outra saída, apesar de parecer que tinha.
Maeve era muito insistente, e quanto mais eu negava, mais ela conseguia me
dobrar por inteiro e dias, ou até horas depois, arrancar um sim das minhas
mãos.
— Ok.
Ela não esperava por uma confirmação tão rapidamente, pois seus
olhos arregalaram, e quase dei risada de como ficou paralisada por um
segundo inteiro, provavelmente estava arrumando formas de me convencer e
ao ver que não precisaria, foi pega totalmente desprevenida.
Não consegui esboçar qualquer reação, porque foi ela que me
surpreendeu, ao soltar um gritinho e pular no meu colo, me derrubando para
trás tão rapidamente, que acabei segurando na sua cintura por puro reflexo.
Meu coração já não batia normalmente como deveria quando
estávamos juntos, mas essa atitude, me trouxe a sensação mais próxima de ter
um ataque cardíaco. Pensei que havia sido por conta do susto e até poderia
ser um pouco por causa disso, entretanto era porque Maeve estava jogada em
cima de mim, vestindo uma minúscula saia e me abraçando com seus braços
finos em uma animação inocente que não fazia o tipo dela.
Parecia que havia dado uma notícia bombástica, e não que aceitei seu
pedido feito de forma insistente.
Quando seus olhos encontraram os meus, nossos rostos ficaram mais
próximos, e eu senti meu corpo esquentar completamente. Não era apenas
meu pescoço ou minhas bochechas, era por completo. Tudo parecia fora do
controle, especialmente, quando Maeve não disfarçou ao descer o olhar para
a minha boca.
Tinha quase certeza de que ela ouvia o som do meu coração.
Tum, tum, tum.
— Vai ser divertido, trevo de quatro folhas. Eu prometo — sussurrou,
subindo seu olhar lentamente para os meus olhos. — Estou feliz que aceitou.
Estava impossibilitado de dar qualquer resposta.
Minhas mãos estavam presas na sua cintura, e eu estava em um estado
de paralisação.
Nunca havia ficado com alguém tão próximo de mim assim e admitia
que era impossível controlar a curiosidade que tomou o meu corpo, e me fez
notar cada sensação de tê-la desse jeito, ao invés de simplesmente afastá-la.
Maeve era magra, mas forte.
Não pesava muito, comparado aos pesos que já havia conseguido
carregar uma vez na academia.
Não sentia nenhuma parte da sua pele, contudo tinha quase certeza de
que ela era quente como uma brasa.
Não conseguia ver direito, no entanto era de se esperar que sua saia
tivesse subido com a posição em que ela se encontrava em cima de mim
agora.
Todo meu corpo estava estranho.
Ao mesmo tempo que eu queria desesperadamente afastá-la, queria
também mantê-la perto.
— No que está pensando?
Nem percebi que não a encarava mais no rosto, e sim o seu corpo —
com uma visão até a sua cintura — em cima do meu.
Eu não a respondi.
Não ousei soltar sua cintura.
— Você me olhando assim, só me dá mais vontade de beijá-lo, sabia?
Ela era direta.
O que queria dizer com: “eu a olhando assim”? Como eu estava a
olhando? E por que não a afastava, antes que ela entendesse essa proximidade
de outra forma?
Cometi mais um dos erros que estava cometendo sempre que Maeve
insinuava que me beijaria: olhei para a sua boca.
Eu nunca havia beijado e nunca pensei na possibilidade de isso
acontecer algum dia, muito menos havia sentido vontade antes, mas agora,
sentia uma eletricidade tomar meu corpo quente, minha boca seca, e olhar
para os seus lábios era bem parecido com olhar para um copo cheio de água
gelada, que refrescaria minha boca.
O que era isso, vindo de uma hora para a outra?
Eu estava entrando em um tipo de ilusão onde Maeve me beijaria e eu
gostaria de ser beijado por ela? Estava achando que viveria experiências mais
românticas com ela, quando eu era desse jeito?
Não podia esquecer de quem eu era.
Um nada.
Um mudo.
O rosto de Maeve se aproximou, e antes que aquela coisa ridícula
acontecesse, eu a afastei tão rápido, que temi tê-la machucado.
Ela me olhou, surpresa pela maneira abrupta com que a mandei para
longe, porém pareceu compreender, assim que prestou atenção em mim.
— É melhor nos concentrarmos no trabalho — sinalizei, ainda
sentindo minhas mãos bambas.
Parecia que ainda a segurava contra mim.
Maeve concordou, se ajeitando ao meu lado.
— Desculpa ter ultrapassado seu limite — me surpreendeu. — Era
para ser só um abraço.
Senti a vergonha dominar todo meu rosto, que antes já estava quente e
que agora pegava fogo.
— Foi só um abraço.
Mesmo que ainda a sentisse em cima de mim e o pouco que senti da
sua cintura nas minhas mãos.
— Amanhã começa o amistoso, e o primeiro jogo é aqui na UCLA —
ela informou, mudando completamente de assunto. — Você vai ir, né?
Peguei meu caderno, que tinha o pouco que escrevi durante esses dias
da nova história, e coloquei no meu colo.
— Por que eu iria?
Maeve sorriu e apontou o dedo indicador na minha testa.
— Porque você é meu trevo de quatro folhas, esqueceu? Precisa me
dar sorte.
Lá vinha ela com esse negócio de sorte de novo.
— Ok.
Ela arqueou as sobrancelhas e sem que eu esperasse, colocou a mão na
minha testa.
— Tudo bem? Não vai nem tentar recusar? Já estamos na era lovers?
Ri fraco.
— Existe uma forma de discordar de você e vencer?
Ela negou.
— Só estou adiantando as coisas. Não estamos nisso que você está
dizendo, somos...
Procurei as palavras exatas, sendo alvo do seu olhar curioso.
— Somos o quê?
— Parceiros de projeto.
Maeve fez uma careta.
— Poderíamos ser outro tipo de parceiros, mas você me odeia —
murmurou baixinho, só que eu escutei perfeitamente.
Estranhamente, aquilo me fez prender a risada e não me sentir nervoso
como em todas as vezes que ela vinha dando em cima de mim.
— Aqui está o pouco que escrevi.
Entreguei o caderno para Maeve, mas antes de ela observá-lo,
expliquei:
— Li Orgulho e Preconceito para ter um pouco de inspiração.
Ela fez uma careta fofa.
— A premissa não é nada parecida, como você tiraria inspiração de
uma obra mais velha do que minha mãe?
— O livro é muito elogiado, achei que seria uma boa referência.
— Vamos assistir algo juntos? É mais rápido e prático.
— Deve ser por isso que você nunca leu nada na vida. — A
provocação saiu antes que eu me controlasse.
— Eu já li! — Fez uma cara de indignada, que não combinava em nada
com ela. — Muitas coisas.
Semicerrei meus olhos em sua direção.
— Tipo?
— Livros que era obrigada na escola e que sou obrigada na
universidade — respondi. — Isso conta, sabia?
Dei risada. Era o que eu imaginava.
— O que achou do livro? Foi seu primeiro contato com romance?
— Foi — afirmei. — Não entendi o apelo que existe para o Sr. Darcy.
Ele é chato!
— Já vi o filme e concordo com você — ela respondeu. — Mas Caitlin
é apaixonada pelo cosplay dele, então é possível que pessoas gostem dessa
personalidade.
— Está chamando meu irmão de chato?
— Você sabe que ele é, trevo de quatro folhas, nem ouse teimar.
Eu não faria isso.
Trevor era o melhor irmão do mundo, porém sabia admitir quando
tinha algumas atitudes chatas até para mim.
— Você vai olhar o que escrevi ou não?
Ela segurou o meu caderno e começou a ler. Não tinha muita coisa
escrita, era apenas o início, onde resolvi apresentar Jonas pensando no dia em
que conheceu Lila, para dar mais sentido à sua suspeita de que ela estava por
trás dos assassinatos.
— Eu gostei disso — ela admitiu, presa nas linhas restantes do meu
texto. — Ela gosta de provoca-lo. Finalmente admitiu que somos nós dois?
Maeve me olhou por trás do caderno com os olhos cheios de
atrevimento, e eu apenas desviei, voltando a me sentir nervoso.
— Lila só nasceu assim.
Era verdade.
A resposta pareceu agradar Maeve, que continuou lendo o restante.
Assim que terminou, ela moveu sua cabeça para baixo e para cima,
assentindo para algo que só se passava na sua cabeça.
— Gostei do início, acho que posso criar algo legal. Quer ver?
Olhei para a janela do quarto. O tempo havia passado tão rápido, que
nem percebi que a noite já tinha chegado.
— Eu levo você para o dormitório — ela adivinhou os meus
pensamentos. — Não precisa ficar gastando com táxi.
Acabei concordando, pois precisávamos adiantar cada vez mais esse
trabalho.
— Ótimo! — Ela se levantou. — Vamos começar nosso trabalho!
Maeve se afastou, animada com a ideia de começar a trabalhar com o
que claramente ela amava, e eu me vi um pouco contagiado com essa
animação, ainda que não conseguisse me esquecer completamente do seu
corpo colado ao meu.
Alguns garotos estão tentando demais, mas ele nem sequer tenta
Mais novo do que meus ex-namorados, mas age como um homem feito, então
Não vejo nada melhor, manterei ele para sempre
Como uma vingança-ça
...READY FOR IT? – TAYLOR SWIFT
MAEVE HOOD
Dia de jogo era sempre um martírio.
Tudo ficava difícil na universidade, desde o acesso ao estacionamento
até ir fazer um simples lanche durante a tarde. Não que eu tivesse o luxo de
me preocupar com o último em dias como esse. Para nós que jogávamos, era
descanso parcial e reunião com todas, para relembrar as estratégias da
partida.
Todo jogo era importante.
Nosso treinador vivia dizendo isso.
Hoje jogaríamos em casa, e o ginásio onde aconteceria a partida estava
lotado. O lugar tinha capacidade para mais de dez mil pessoas, e os ingressos
haviam esgotado em apenas cinco minutos. Era bom saber que tínhamos
apoio, mesmo com a decepção que causamos no semestre passado.
Todas nós do time estávamos prontas para a partida, assim como o
nosso adversário: a Universidade da Pensilvânia. No entanto, ainda faltavam
em torno de trinta minutos para o jogo começar, e por isso, muitas pessoas
estavam chegando agora.
Olhei para Aurora, sentada no primeiro banco da arquibancada. Ela
parecia estar fazendo um esforço para ficar feliz por nós, quando tudo o que
estava passando dentro dela era ansiedade, nervosismo e medo.
Caitlin e eu estávamos tentando ser o mais presente possível na sua
vida, e sabia que Melvin estava tentando passar uma força também. Eles já
tinham marcado exames e contariam juntos para os pais de Aurora, nesse
final de semana.
Por mais que eu tivesse noção das responsabilidades que uma criança
carregava, esperava que os pais de Aurora não fossem duros com ela. No
momento, o que nossa amiga mais precisava, era de apoio.
— Trevor e Christopher chegaram! — Caitlin falou ao meu lado e um
segundo depois, já não estava mais por perto.
Ela correu para os braços do namorado, antes que eu a impedisse.
Observei um pouco de longe Christopher varrer o local com os olhos,
demonstrando toda a insegurança que guardava dentro de si, em pé e sem
saber o que fazer, já que Trevor e Caitlin estavam presos no mundinho deles.
Foi aquele olhar, que me impediu de beijá-lo na noite de ontem.
Pular no seu colo foi uma resposta feliz ao seu sim, mas ter suas mãos
me segurando com força na cintura, não deixando que eu escapasse, e seu
corpo abaixo do meu, muito mais forte e definido do que eu imaginava sob
aquelas roupas, fizeram com que eu esquecesse por míseros segundos o
motivo pelo qual não podia ultrapassar os limites ainda.
Por sorte, eu olhei para os seus olhos e não cedi àquela boca que me
implorava para ser beijada pela primeira vez, o que se tornava mais difícil,
conforme o tempo passava e a frequência com que nos encontrávamos era
mais constante.
Eu ainda teria Christopher só para mim, mas precisava ter paciência.
Ele não era um garoto qualquer, que se renderia ao desejo facilmente. Sua
insegurança era muito maior do que qualquer outra emoção.
Aproximei-me dos três, atraindo a atenção de Christopher para o meu
uniforme, que modéstia à parte, me deixava incrivelmente gostosa.
Será que ele pensava isso de mim? Ou seus pensamentos eram muito
inocentes para não assumir o que achava da minha aparência?
— Oi, trevo de quatro folhas — cumprimentei. — Estou feliz porque
veio. Vai me dar sorte!
Ele corou um pouco e acenou em cumprimento.
Olhei para Trevor, que havia parado de prestar atenção na sua
namorada e me encarava com aquele semblante sério de sempre.
— Oi, nerd — cumprimentei, sabendo que só o irritava mais.
— Oi, Maeve — ele fez um esforço para parecer educado.
Aquilo me provocou uma risada sincera. Voltei minha atenção para o
seu irmão, muito mais interessante que ele.
— Tudo certo para hoje?
Estava animada para pisar em uma festa de novo e, principalmente,
pela companhia de Christopher. Seria divertido, e eu não tinha dúvidas disso.
Meu amigo sabia como organizar uma festa, não era à toa que tinha um
espaço famoso só para isso em Los Angeles.
— O que tem hoje? — Trevor e Caitlin perguntaram ao mesmo tempo.
Pela forma como Christopher me lançou um olhar desesperado, tinha
suspeitas de que ele não havia comentado nada com o irmão e até imaginava
o motivo.
— Vamos trabalhar no projeto depois do jogo — menti.
Trevor franziu a testa.
— Por que hoje? Vai ser tarde, a biblioteca nem estará aberta.
Soltei um risinho, que poderia ser considerado debochado, em sua
direção, o que só o deixou zangado.
— Quem disse que é na biblioteca?
Caitlin me fuzilou com o olhar, e eu dei de ombros.
Ele tinha que superar que eu estava mais próxima de Christopher.
Trevor preferiu não falar nada, e até achei bom da sua parte, porque
não queria acabar discutindo com ele, pela sua forma estressante de ser
extremamente protetor com seu irmão. Eu sei que não era uma pessoa
confiável, mas Christopher também precisava viver.
— Precisamos nos juntar com as meninas — Caitlin disse para mim.
— Vamos?
Eu assenti e teria a acompanhado, se uma voz feminina muito
conhecida por mim não tivesse me chamado e me causado calafrios por todo
corpo.
— Podemos conversar?
Virei-me para Bonnie Hood, sentindo um enjoo dominar meu
estômago, ao sustentar seu olhar. Ela estava vestida daquele jeito elegante e
rico dela de sempre, com uma postura de dar inveja e uma confiança que
ultrapassava o dobro do seu tamanho.
Seus olhos diziam que eu não deveria recusar aquela conversa, e não
querendo causar uma cena, fiz que sim com a cabeça e a segui para a porta de
entrada restrita do ginásio, que nos levava para um corredor branco e frio,
lugar do qual me lembrava perfeitamente, por causa do tapa que havia
marcado o meu rosto na última vez em que nos encontramos aqui.
— Por que não atende as minhas ligações? — ela perguntou com a voz
contida, assim que fechou a porta.
— Tenho estado ocupada — respondi simplesmente.
Eu não mostrava o quanto nossa relação me afetava.
Eu permanecia a olhando, fingindo que o ódio direcionado a mim não
me afetava.
E eu sabia ser a grande filha da puta que ela havia me criado para ser.
O que só a deixava mais e mais irritada.
— Com seu pai e aquela vadia? — Irritei-me com a forma como se
referiu à Suzy. — Notei que ele pagou o semestre e assumiu o contrato do
apartamento. O tempo passou, mas ele continua o mesmo trouxa de sempre.
— Só por ter me perdoado? Você nunca entenderia isso, porque ele é
mais pai em um curto espaço de tempo na minha vida, do que você já foi mãe
durante toda ela.
Bonnie iria me bater, porém sua mão parou no ar, e ela desceu seus
olhos pelo meu uniforme.
— É bom que continua jogando — disse, achando que ainda tinha
algum poder sobre mim. — Sabe como tem que ser naquela quadra.
— Não estou fazendo isso por você — cuspi as palavras na sua cara,
notando sua mão descer mais um pouco. Sorri falsamente. — Por que não me
bate, se é isso que tanto quer?
Ela queria, entretanto não podia.
Aquilo chamaria atenção, e Bonnie odiava ser o centro dela
negativamente.
— Lembre-se que estarei no primeiro banco, observando você como
tenho observado cada passo — falou casualmente. Trazendo um sentimento
ruim para o meu peito. — Está sendo divertido ser a irmã mais velha perfeita
de uma surdinha, a filha reconquistando o coração do pai e a putinha de um
garoto pobre e mudo? — Bonnie riu, e pela primeira vez, quis desferir um
tapa no seu rosto. — Vou deixar você se divertir, Maeve, mas não por muito
tempo. Aproveite cada segundo, porque você nunca sabe quando ele será o
último.
A segurei pela gola da sua camisa cara de seda, não dando a mínima
para a marca que deixaria.
— Está me ameaçando?
Ela permaneceu com o sorriso falso e maldoso congelado no rosto.
— Considere da forma que achar melhor.
Sua mão segurou a minha e com sua força, a arrancou da sua roupa.
— Você não é uma boa pessoa, Maeve Hood, deveria voltar a se
lembrar disso — ela continuou falando. — Ou você irá quebra-los, antes de
eu fazer qualquer coisa.
Bonnie deu as costas, me deixando completamente sozinha no
corredor, que havia acabado de se tornar mais frio com suas palavras.
Um nó tomou minha garganta ao mesmo tempo que o sentimento de
medo tomava todo o meu corpo.
Ela sabia sobre Christopher.
Eu não suportaria que ela fizesse algo contra ele.
— Maeve! — Ouvi a voz das minhas melhores amigas.
Pisquei, derrubando algumas lágrimas sem controle algum, e as olhei.
Caitlin e Aurora estavam preocupadas.
— Tudo bem? — Cat perguntou.
Apenas assenti.
— Depois conversamos — Aurora avisou. — O treinador quer todas
vocês reunidas na quadra.
O jogo.
Eu precisava me concentrar para dar o melhor de mim naquele jogo.
Era minha chance.
Bonnie só queria manipular a minha cabeça e trazer aquele sentimento
assustador que sempre me causou.
Ela não faria nada.
Eu estava no controle aqui.
CHRISTOPHER LANCASTER
“Eles não me olhavam com pena, eles me olhavam com ódio.
Não sabia o que havia feito para que fosse encurralado naquela sala
fria, nem havia ido jogar com eles, como o professor insistiu, então por que
esses meninos estavam aqui? Eu sentia medo, eles não entendiam a minha
língua, mesmo que houvesse aula de ASL toda a semana, eles a ignoravam.
— Olha como ele está se borrando de medo — um deles disse. Seu
nome era Dustin, e ele era sempre o mais malvado. — Tão ridículo.
Bati minhas costas na parede, quando sua mão se aproximou do meu
rosto, mas não consegui evitar que ele segurasse meu queixo.
— Olhe para mim, seu nada. — Dustin riu, apertando com força meu
queixo. Aquilo doía muito, por isso eu o olhei, sentindo meus olhos
marejarem. — Isso, bom menino.
— Dustin... não acha que está sendo cruel demais? — Oliver
perguntou. — O irmão dele estava nos cuidando.
— Trevor é outro merdinha! — Dustin gritou. — Por que não some,
hein, garoto? Deveria ter morrido, ao invés de perder só a sua voz!
Se eles soubessem que eu queria aquilo. Todos os dias. A todo
momento.
— Podemos fazer esse favor... afinal, quem poderia querer alguém
como você? Deve ser um fardo para a sua mãe, para o seu irmão... — Ele
riu, negando para algo que estava apenas na sua cabeça. — E ainda acha
que pode conquistar uma garota com esse seu jeito? Kaylee nunca vai querer
você.
Dustin estava falando da nossa colega? Por que eu iria querer isso?
Não conseguia entender, principalmente o motivo de me odiarem tanto.
— Olha só para você... magro, feio e mudo. — Riu, dando um tapa no
meu rosto. — Você é um nada.
Senti as lágrimas se formando nos meus olhos. Todos os dias, eles
riam de mim e faziam piada comigo, porém essa era a primeira vez que
Dustin me colocava contra a parede assim.
Já não conseguia mais enxergar seu rosto, por conta das lágrimas, o
que só pareceu deixa-lo mais irritado.
Ele me bateu mais uma vez no rosto.
— Por que não fala nada? Ah, é verdade... você não pode. — Outro
tapa. — Preciso ensinar uma lição, para que aprenda o seu lugar.
— Dustin...
— Cala a boca, Oliver. Se não quiser ver, é só sair dessa sala, porra!
— Ele só emprestou uma caneta para Kaylee — Oliver disse, me
lembrando do que havia feito na aula de matemática de mais cedo.
— E sorriu para ela! Esse maldito sorriso feio. — Mais um tapa.
Minha bochecha ardeu. — Acha que pode ficar com uma garota linda como
ela? Se Kaylee ficasse com você, seria por pena, mas acredito que ela tenha
amor à vida.
As lágrimas já escorriam livremente pelo meu rosto.
Cada dia que passava, eu sabia mais do meu lugar no mundo. Dustin
estava certo, eu não era alguém para ter qualquer tipo de afeto das pessoas
ao meu redor. Até mesmo para a minha mãe e para o meu irmão, havia me
tornado um fardo.
— E não consegue nem me ver, por conta dessas lágrimas. — Senti
quando cuspiu na minha cara. — Além de tudo, é um fraco!
Ele me largou, e eu achei que iria embora, mas tive uma surpresa
desagradável quando senti um soco acertar meu rosto. Eu caí com a força,
sentindo minha mandíbula tão dolorida, que temi ter deslocado.
Eu queria gritar, entretanto nem isso conseguia fazer.
Minha boca estava aberta, porém não saía som.
Tudo o que conseguia fazer, era chorar.
Era ainda mais ridículo.
Senti um chute forte em meu estômago, que me fez contorcer no chão.
— Você me dá nojo, Christopher — Dustin disse com tanta raiva, que
eu tive certeza disso. — Fique longe da minha frente ou irei espancá-lo até
morrer. Seu nada!”
— Christopher! — uma voz feminina e distante soou. — Acorde!
Seu nada!
Seu nada!
Seu nada!
— Christopher! — a mesma voz gritou, e mãos delicadas seguraram o
meu rosto, limpando as lágrimas que estavam escorrendo. — Ei, trevo de
quatro folhas.
Maeve.
Era ela.
Eu não tinha mais catorze anos.
Dustin não fazia mais parte da minha vida.
Abri meus olhos, sentindo meu coração acelerado com o pesadelo.
Olhei em volta, tentando entender o que acontecia ao meu redor.
Maeve me olhava cheia de preocupação, enquanto minha cabeça era
segurada no seu colo, e minhas mãos agarravam a blusa fina que usava com
tanta força, que as pontas dos meus dedos estavam muito brancas.
— Você está bem?
Tentei me afastar, mas ela me segurou mais forte contra o seu corpo.
Não entendi o que estava acontecendo comigo, porém nesse momento,
Maeve teve mais força do que eu, o que acabou me impedindo de me
locomover para outro lugar.
— Você estava assustado — ela constatou. — Não parava de se
contorcer na cama, como se estivesse...
Apanhando.
Essa não era a primeira vez que tinha sonhos assim.
— Não sei explicar — Maeve murmurou. — Foi um pesadelo?
Eu não gostava da forma como ela me olhava. Era muito diferente de
qualquer olhar que já havia recebido durante toda a minha vida, e tinha muito
medo da confusão que toda essa minha nova relação com Maeve podia me
causar, entretanto, não consegui desviar meu olhar do seu. Depois de toda
essa lembrança, eu gostava de estar aqui nos seus braços e pela primeira vez,
quis seguir o que queria, não o que deveria.
Eu não me afastei.
Assenti em resposta à sua pergunta, largando a sua blusa para sinalizar:
— Desculpa ter acordado você.
Ela negou e sem que eu esperasse, tocou meu cabelo, acariciando a
minha cabeça como se tivéssemos algo mais íntimo. Isso não diminui as
batidas aceleradas do meu coração, contudo, achava que lhe deu outra razão
para bater desse jeito.
— Quer conversar sobre?
Neguei. Tudo o que eu não queria, era falar para ela o que aconteceu
comigo durante toda a minha adolescência. Temia que Maeve me visse com
outros olhos ou que percebesse que eu era mesmo um nada, que não merecia
a atenção que estava me dando todo esse tempo.
Ainda assim, quase fechei meus olhos com o cafuné que estava
recebendo da sua mão.
— Tudo bem — ela murmurou, parecendo meio em dúvida se insistia
ou não. — Já é manhã... como está a sua cabeça?
Não sentia dor, mas sua pergunta me fez lembrar da noite anterior, e
rapidamente, senti meu rosto esquentar. Havia mesmo dançado sozinho? A
convidado para dançar, depois de ter ficado duro na nossa primeira dança?
Onde havia ido parar a minha vergonha? Estava cada vez mais achando que
não a tinha.
— O que foi? Por que está corando?
— Eu bebi bastante.
— Não o suficiente para me beijar — disse, e diferente de
normalmente, apenas ri do seu atrevimento. — Olha... você já está sorrindo.
Esse maldito sorriso feio.
A voz de Dustin gritou na minha cabeça, e eu fechei meu sorriso,
sentindo vontade de me esconder de todos novamente.
— Já passamos da fase que você não sorri mais para mim, trevo de
quatro folhas — ela chamou minha atenção, divertida como sempre, sem
perceber que não havia parado de sorrir pelo que disse, e sim por conta do
meu passado.
Perguntei-me, enquanto a observava seriamente, que tipo de dor
Maeve escondia, para parecer tão inerte a ela quase toda vez que me
aproximava. A única vez que vi algo parecido com mágoa, foi ontem depois
do jogo e mesmo assim, não consegui descobrir muita coisa.
— Quem disse? — perguntei, me referindo à sua confiança sobre um
avanço na nossa relação.
Ela levou aquilo como uma provocação. Talvez fosse.
— Você dormiu a noite abraçadinho em mim, já somos quase
namorados.
Eu, ainda assim conseguia ficar surpreso com o que saía da sua boca.
Arregalei meus olhos e me sentei em um pulo, sentindo a falta dos seus dedos
afundados em meu cabelo imediatamente. Isso não podia ser verdade, né?
— Precisamos ir para a aula — me lembrei desse grande detalhe.
— É cedo, não são nem sete horas — revelou. — Você está mesmo
bem?
Eu assenti.
— Ok, então irei preparar um café, enquanto você se lava no banheiro.
Maeve nem esperou que eu respondesse, saiu da cama e correu para
fora do quarto, me deixando com essa ordem a obedecer.
CHRISTOPHER LANCASTER
Consegui pegar um táxi assim que saí do prédio em que Maeve
morava. O beijo — se é que podia chamar assim — permanecia na minha
cabeça, quando queria esquecer aquele episódio o mais rápido possível, para
conseguir seguir em frente.
Por que deixei que aquilo acontecesse? Era de Maeve que estávamos
falando, uma malévola linda, que sabia enfeitiçar a maioria e que eu jurava
não surtir efeito em mim. Até mês passado, não pensava em beijar ninguém,
nem em encostar um dedo sequer em um corpo feminino e agora, estava com
essas vontades estranhas, que deixavam todo o meu corpo estranho, desde o
coração até meu pênis.
Não podia esquecer que havia ficado duro ontem naquela festa e o
sentia sofrer espasmos dentro da minha cueca por qualquer movimento mais
sexy que Maeve fazia. Eu não deveria estar sentindo essas sensações por uma
garota como Maeve.
A razão por estar dessa forma, era porque ninguém nunca havia
prestado tanta atenção em mim durante todos esses anos. Só isso explicava
essa confusão que vinha sentindo. Precisava me lembrar que a qualquer
instante, Maeve se cansaria de mim, isso se já não estava... Por que ela não
me beijou como beija normalmente? Apesar da vergonha e do
arrependimento por me deixar levar, não conseguia parar de me perguntar
isso.
“Acha que pode ficar com uma garota linda como ela?”
A voz de Dustin gritou na minha cabeça, e meu peito se apertou
juntamente de uma frieza que invadiu o banco de trás do táxi, me deixando
totalmente arrepiado.
Eu era apenas uma distração para ela.
A certeza com que essa conclusão chegou até a minha mente, trouxe
um gosto amargo à minha boca.
— Chegamos, filho — o taxista chamou minha atenção, me lançando
um olhar solidário pelo retrovisor.
Paguei a corrida e saí do carro.
Já deveria estar perto de começar a aula, pois havia muitos alunos
saindo do alojamento em que eu ficava com Trevor. Passei por todos com a
mesma invisibilidade de sempre e segui para o meu dormitório.
Esperava que meu irmão não estivesse ali dentro ou teria que inventar
uma desculpa que explicasse bem o motivo de estar tão disperso. Ele me
conhecia muito bem para acreditar em qualquer mentira.
Como não parecia ser um dia de sorte, meu irmão estava sentado na
cama, lendo um livro da saga de Harry Potter. Ele havia visto o primeiro
filme com Caitlin nas férias e desde então, quis ler os livros, antes de
continuar com os filmes. Assim que me viu entrando no quarto, fechou o
livro e se sentou na ponta do colchão.
— Estava esse tempo todo com Maeve?
Movi minha cabeça para cima e para baixo, indo para a minha cama.
Senti seu olhar queimar as minhas costas por todo o caminho.
— Por que dormiu na casa dela? Sabe o quanto me deixou
preocupado?
— Acabei dormindo e não consegui avisar — sinalizei e me deitei na
cama.
Retirei meus tênis com os pés e me virei para a parede, de costas para
Trevor. Estava pensando em faltar aula pela primeira vez na universidade. As
disciplinas de hoje estavam em dia, e eu tinha facilidade de recuperar o
conteúdo, não seria tão ruim faltar nesse dia. Seria uma boa forma de evitar
Maeve também.
Meu único problema era o trabalho na biblioteca. Eu não podia faltar a
ele também.
— O que aconteceu com você? — Trevor perguntou.
O que eu responderia? Não podia dizer que estava com sono, porque
ele perguntaria o motivo de não ter dormido, e nem pensava em dizer a
verdade, porque o conhecia o suficiente para saber que me encheria os
ouvidos com sua proteção extremamente desnecessária.
— Ei! — Ouvi a sua voz mais próxima e olhei de canto de olho para
trás, o vendo ao meu lado. — Chega para o canto, e vamos conversar.
Droga! Era isso que eu queria evitar.
— Estamos atrasados para a aula.
Inventei a desculpa, porém Trevor nem deixou que eu me levantasse e
aproveitou meu movimento na cama, para se deitar ao meu lado.
— Vamos conversar?
Neguei com a cabeça, ouvindo seu suspiro.
— Muitas coisas estão passando pela minha cabeça agora, mas eu vou
deixar muitas delas de lado e ser um bom irmão para você.
Levantei minhas mãos e sinalizei:
— Você é um bom irmão.
— Então por que não quer conversar comigo?
Acabei virando de barriga para cima.
— Por que acha que preciso conversar?
Ele sorriu e me olhou como se fosse óbvio, por trás daqueles óculos.
— Conheço você a vinte anos, acha mesmo que não sei quando precisa
conversar? — Era por isso que existiam pontos negativos em se ter um irmão.
— Fale o que aconteceu... Maeve fez alguma coisa? Eu posso resolver isso
rapidamente, não é porque ela é mulher, que não posso dirigir algumas
palavras e...
Eu ri.
— Pare com isso! Você mal conseguia intimidar Dustin e os amigos
dele.
— Não me lembre daquele idiota! Sinto vontade de bater nele e nem
sou um cara violento.
Depois que meu irmão descobriu o que Dustin e os amigos estavam
fazendo comigo, ele até tentou ser um irmão protetor e intimidá-los, ao
ensinar uma lição, entretanto acabou levando uma surra dos garotos. Era
difícil vencê-los, eles eram três, enquanto meu irmão era apenas um.
Foi então que decidimos mudar de escola mais uma vez.
— Pode parar de mudar de assunto e me contar o que está
acontecendo?
Trevor não desistiria tão fácil, e eu não podia simplesmente dizer que
havia ganhado um beijo de Maeve. Tinha 100% de certeza que meu irmão
surtaria e me faria ficar o mais distante possível da ruiva, mesmo quando
tinha um projeto para entregar no final do semestre que dependia dela.
Droga.
Eu nem podia simplesmente ignorá-la.
— Por que dormiu na Maeve? Até mês passado, você queria estar o
mais distante possível dela.
— Eu até tentei, mas preciso ser aprovado na disciplina de
Criatividade.
— Sei dos motivos que o fazem estar com ela agora, mas por que sinto
que existe muito mais do que uma relação de colegas fazendo um trabalho
juntos?
— Porque ela é a Maeve — falei, abaixando minhas mãos e tocando
minha barriga.
O que meu irmão realmente acharia, se eu dissesse tudo o que estava
acontecendo? Precisava de alguém para desabafar, alguém que não fosse
surtar e me deixar mais inseguro com o que estava acontecendo.
— Ela dá muito em cima de você, percebeu, né? — Se ele soubesse
que ela fazia muito mais do que isso. — Isso tem deixado você confuso?
Assenti sem pensar, e Trevor suspirou.
— Tenho medo disso, Chris — admitiu, não surtando, para a minha
surpresa. — Você passou por muitas coisas, para acabar se envolvendo com
alguém tão instável quanto ela.
Engoli o nó que se formou na minha garganta, ao mesmo tempo que
curtas memórias voltaram à minha mente, do que realmente Trevor queria
dizer com aquilo.
— Acha que Maeve iria se envolver com alguém como eu? — Sorri
falsamente. — Ela é muito para mim, Trevor.
Ele arqueou as sobrancelhas, e antes que evitasse, estava me dando um
tapa na testa. Bati em sua mão, sentindo minha pele do rosto arder. Tão
idiota! Eu quase conseguia odiá-lo na mesma proporção em que o amava,
isso seria possível se não tivéssemos essa conexão de irmãos entre nós.
— Quem disse isso? Você é lindo, muito mais bonito do que eu —
disse, e eu quis rir. — Não me olhe com essa cara, sabemos que é verdade.
Nem vai para a academia com tanta frequência e tem esse tanquinho quase
todo definido.
Para completar seu amor por mim, ele me deu um tapa na barriga.
Dessa vez, mais fraco, mas ainda implicante da maneira dele.
— Por que está perguntando isso sobre Maeve? Não me diga que está
mesmo interessado nela. — Conseguia ver o seu surto, muito antes de ele
iniciá-lo. — Você nem queria se envolver com alguém antes.
— Eu não quero!
— Mas?
— Não tem nada de mas, Trevor — tentei desconversar, procurando
outro assunto para falar. — Onde está Caitlin?
— Está com Aurora, tem prestado um pouco mais de apoio, para que
ela tenha força de contar aos seus pais o quanto antes — explicou, me
lembrando que eu tinha que mandar uma mensagem para Aurora. Não sabia
se me responderia dessa vez, porém, ao menos deveria tentar. — Não mude
de assunto, me diga o que está acontecendo.
— Por que você é tão chato?
Ele deu de ombros e não escondeu o sorriso.
— Só estou sendo o irmão mais velho perfeito, e você precisa
conversar com alguém, quem melhor do que eu para isso?
— Obrigado por jogar na minha cara que não tenho mais ninguém.
Trevor revirou os olhos, me fazendo lembrar automaticamente do beijo
que recebi de Maeve. Fechei meus olhos e esfreguei minhas pálpebras,
tentando fazer com que a imagem de mais cedo saísse da minha frente.
— O que você tem? — Trevor segurou minhas mãos e me fez abrir os
olhos. — O que Maeve fez?
Afastei minha mão do seu aperto e sem pensar, soltei:
— Ela me beijou, satisfeito?
Meu irmão ficou em choque e nem se tentasse, conseguiria disfarçar
sua insatisfação ao ver o que minhas mãos sinalizaram. Conseguia sentir suas
asas protetoras se abrindo aqui mesmo e eu me preparei para ouvir tudo o que
já sabia.
— Como você deixou ela te beijar? — perguntou e respirou fundo,
parecendo pensar no que mais dizer. — O que aconteceu depois? Ela fez
algo?
— Eu fugi.
Meu irmão não pareceu tão surpreso com minha resposta. Talvez ele já
tivesse tão perplexo com o que contei, que nada mais o surpreenderia depois
disso.
— Ela o forçou a algo?
Suspirei e o encarei, sério.
— O que acha que eu sou? Uma criança?
— Quando se trata de relacionamentos mais íntimos, você é —
rebateu, me deixando sem resposta. — Só quero ajudar você.
— Acho melhor irmos para a aula.
Tentei me levantar, porém sua mão me empurrou de novo para cama.
— Não vamos mesmo! Vamos faltar aula, e vai me dizer tudo o que
está acontecendo entre vocês, antes que eu incorpore o irmão chato.
— Ainda não incorporou?
Ele semicerrou os olhos para mim.
— Pestinha!
Preferi me sentar na cama e apoiar minhas costas na parede, pois sabia
que essa conversa duraria, no mínimo, mais trinta minutos.
— Maeve me provoca muito, e você sabe disso, era o principal motivo
que me fazia ficar longe dela — comecei a falar, e ele assentiu. — Ela
consegue me deixar muito nervoso também, e ontem... nós fomos em uma
festa fora do campus. — Meu irmão fechou os olhos, parecendo buscar uma
paciência que ele não tinha nesse momento. — Eu me diverti, sabia? Por
incrível que pareça...
Isso sim o surpreendeu.
— Se divertiu? Mesmo?
Trevor odiava festas. Ele era muito antissocial, mas diferente de mim,
era por opção.
— Foi legal... eu também provei bebida.
— Meu Deus! — Trevor murmurou. — Diga algo coerente, para eu
não ir pedir satisfação para Maeve agora mesmo.
— Não comece! Você disse que queria ouvir, e eu sou adulto,
esqueceu disso?
— Na verdade, você não tem idade para beber — lembrou, me
deixando sem respostas. — Nem para entrar em uma festa. Como
conseguiram isso?
— Maeve tinha um contato.
Trevor negou com a cabeça.
— É claro que ela tinha.
— Ninguém nos pegou, e pareceu um lugar seguro para eu me
divertir, sem ser piada no dia seguinte.
Meu irmão sabia do que eu estava falando, por isso não criou
problemas com aquilo. Pelo menos, não nesse instante. Havia algo mais
específico que ele queria saber.
— Ela o beijou bêbado? Porque se ela se aproveitou de você, irei...
— Pelo amor de Deus, Trevor! Pode não pensar o pior de Maeve? Ela
não é tão ruim assim.
Tanto ele quanto eu, nos surpreendemos com o que sinalizei. Não fazia
tanto tempo que eu estava mais próximo de Maeve e não imaginava que já
confiava nela dessa forma.
— Estão mais próximos do que imaginei — meu irmão concluiu. —
Está gostando dela?
Neguei rapidamente.
— Ela só... bagunça todos os meus pensamentos e me faz sentir coisas
mais estranhas por todo meu corpo, mas eu não gosto dela.
Meu irmão riu fraco.
— Ainda — frisou, fazendo com que um arrepio subisse por toda a
minha coluna. — Se beijaram hoje?
Assenti.
— Não dou um mês para estar apaixonado, mesmo que eu ainda ache
completamente estranho o fato de alguém conseguir se apaixonar por aquela
garota...
— Trevor! — chamei sua atenção. — Não quero me apaixonar, não
quero sentir essas coisas. Eu deixei que ela me beijasse, porque não
conseguia parar de pensar como seria e tenho reparado muito nela, coisas
que nunca reparei antes, e meu corpo... — Senti meu rosto ficar vermelho. —
Eu não tenho controle de nada.
— Ficou excitado?
Fiquei ainda mais vermelho.
— Ontem. Enquanto dançávamos.
— Espera! Você dançou? O que está acontecendo com você?
— É disso que estou falando! Não consigo ter controle de nada.
Repeti os sinais, para ver se ele entendia o que eu estava falando, e
soltando outro dos seus suspiros, meu irmão me olhou com um carinho que
eu não pensava ver tão cedo, depois de tudo o que contei.
— Sabe o quanto amo você? — Assenti devagar. — E que sempre vou
protegê-lo? — Novamente, concordei. — Já falei meus motivos para não
gostar da Maeve e sei que você tem noção de tudo o que poderia acontecer se
se deixasse se envolver com ela, então vou ser bem claro.
Odiava a forma como ele conseguia envelhecer uns dez anos, quando
falava comigo assim.
— Você já é responsável pelo que sente, pelo que acontece ao seu
redor e pelos seus sentimentos, mas se não se sentir confortável com isso... se
afaste, ok? Dane-se o projeto, nós podemos dar um jeito. É melhor do que
gatilhos serem acionados nessa cabecinha, o fazendo voltar para o que era
antes.
Desviei meu olhar para as minhas mãos, me sentindo mais vulnerável
do que quando Maeve me beijou.
— Não foi um beijo de verdade, como o que você troca com Caitlin —
admiti o que tinha mais atenção nos meus pensamentos. — Foi um selinho.
Maeve nem quis me beijar como faz com os outros caras.
Notei pela careta que meu irmão fazia nesse momento, que estava
prestes a soltar um palavrão.
— Não deveria estar preocupado, porque dessa forma é melhor, eu
não quero mesmo me envolver com ninguém, só que isso não sai da minha
cabeça.
— Queria que ela tivesse te beijado de verdade?
Essa pergunta me travou. Eu queria? Não deveria querer, mas então
por que parecia tão desapontado com o que aconteceu?
— Quer que eu fale com ela?
Fui eu que fiz uma careta, ao ouvir a pergunta.
— É claro que não! Primeiro, que vocês só brigariam; e segundo, não
preciso disso... — garanti. — Preciso apenas pensar em como irei encará-la
na próxima vez que nos virmos.
— Já sabe o que irá falar?
— Para não confundir as coisas, que não sou um brinquedo e não
penso nela desse jeito.
A última parte era uma mentira bem descarada.
— Seu corpo ainda vai continuar pensando nela desse jeito,
principalmente se ela continuar te provocando... está sentindo desejo pela
primeira vez, Chris — meu irmão esclareceu o que eu já sabia. — É difícil
resistir.
— E o que devo fazer?
Se ele não havia percebido, eu estava completamente perdido.
— Você tem duas opções, uma burra, e outra inteligente. Qual prefere?
— Eu não sou burro.
Trevor sorriu, como se soubesse de algo que eu não fazia ideia.
— Então se afaste. — Ele se levantou e olhou no relógio do pulso. —
Não posso me atrasar para a segunda aula, você vai?
Neguei.
— Vai você.
Voltei a me deitar na cama e preferi dar as costas para o meu irmão,
me virando novamente para a parede branca ao lado da minha cama e
pensando em tudo o que havia conversado com Trevor nesse quarto.
Ele não havia me ajudado em nada!
Tentando o máximo não ouvir, mas eles falam muito alto
Os seus barulhos penetrantes enchem meus ouvidos, tentam me encher de dúvidas
Embora eu saiba que o objetivo é evitar que eu me apaixone
Mas nada é melhor que a adrenalina que vem com seu abraço
BLEEDING LOVE – LEONA LEWIS
MAEVE HOOD
— Está prestando atenção em alguma coisa que estou falando, Maeve?
— o treinador chamou a minha atenção para a realidade que estava vivendo
nesse instante.
Eu não estava.
Mas aquilo parecia óbvio.
Percebi ao olhar para o rosto de todas as meninas me olhando com
desapontamento. Até mesmo Caitlin.
— Desculpa — pedi. — Vou tentar me concentrar.
— Mais uma vez, ela se desculpa; e mais uma vez, perdemos —
Jocelyn trouxe à tona sua implicância. — Quando iremos substitui-la?
Perdemos no nosso primeiro jogo, você sabe o quanto isso é vergonhoso.
— Caitlin — o treinador chamou minha amiga, ignorando o veneno de
Jocelyn. — Você é a capitã agora, ou seja, é uma líder, que deve liderar seu
time. Na liderança, está incluído união, e é isso que eu espero de vocês
quando a temporada começar oficialmente.
— Está dizendo que não vai expulsar a Maeve? — Cindy questionou.
— Ela arruinou o nosso jogo ontem, e você nem a trocou pela reserva!
— Não era um jogo tão importante, e eu sabia que perderiam. Para
falar a verdade, eu queria que vocês perdessem — admitiu, me
surpreendendo um pouco com a forma mais arrogante de falar. — Sentiram a
vergonha? Viram quão péssimas estão como um time? Ótimo. A temporada
começa daqui três semanas, e é apenas esse curto espaço de tempo que vocês
têm para organizarem as coisas.
Todas permaneceram em silêncio.
— Podemos começar com vocês dando cinco voltas completas ao
redor da quadra, e depois façam cinquenta abdominais — ordenou, e
enquanto as minhas colegas reclamavam, eu agradecia em silêncio.
Dessa forma, poderia colocar meus pensamentos em ordem.
Comecei a correr primeiro do que as outras e conseguia sentir os olhos
das meninas que não eram minhas amigas, queimarem minhas costas, porém
apenas as ignorava. Eu podia ser um pouco difícil, admitia isso, entretanto
não tentaria uma conversa, quando claramente não adiantaria.
Meu maior problema estava na pessoa que não saía da minha cabeça
desde as aulas, onde tive que fazer um esforço para me concentrar, de mais
cedo: Christopher Lancaster.
A vontade de bater a minha testa contra uma parede para ter noção,
estava bem forte, mas eu ainda não era maluca, mesmo que minha mãe
fizesse quase o impossível para que me tornasse uma.
Por que beijei Christopher, quando ele não estava preparado para isso?
Eu sei que estava há boas semanas sem contato com um garoto, entretanto
havia virado mais safada do que o normal? Que necessidade era essa?
Pensei um pouco.
Tudo bem. Nem foi um beijo, foi apenas um selinho. Não precisava
exagerar assim, eu ainda tinha um pouco de noção.
Seria mais fácil de consertar.
Só precisava me aproximar dele, dizer o quanto ele era irresistível para
mim e que por isso, acabei beijando a sua boca como uma criança beija seu
primeiro namoradinho. Por sorte ou por insistência, ele me perdoaria, e eu
conseguiria melhorar o caminho, até poder beijá-lo de verdade.
Precisava me lembrar que Christopher era inexperiente em tudo, até
mesmo nas emoções. Ainda me lembrava do quanto ficou envergonhado,
assustado e desconfortável quando percebeu que havia ficado duro ao dançar
comigo naquela festa.
— Você está bem? — Caitlin surgiu ao meu lado, correndo comigo. —
Parece estar no mundo da lua.
Respirei um pouco mais fundo. Essa era o quê? A nossa terceira volta?
— Estou bem.
— Sua mãe falou merda ontem? — Parecia quase como uma
afirmação.
Droga, Cat. Eu nem estava lembrando da minha mãe!
— Mesmas coisas de sempre, mas eu a ignorei.
— Não totalmente... você jogou mal, porque ela estava lá.
Ri com um pouco de deboche, sentindo o meu humor piorar com o
assunto.
— Experimenta jogar com uma mãe babaca no primeiro banco, para
tentar me entender.
Percebi que havia sido uma filha da puta, assim que soltei aquelas
palavras.
— Caitlin...
— Tudo bem, não é como se ela fosse aparecer, né? — Riu fraco. —
Estou bem quanto a isso, mas não faça a mesma piada na frente do Melvin.
Simplesmente, havia me esquecido do seu passado difícil com os pais.
Conseguia ser ainda pior do que o meu.
Ela foi desacelerando, e eu fiz o mesmo, provavelmente já havíamos
dado as cinco voltas, e como estava com minha cabeça em Christopher, nem
percebi. Caminhei até o banco onde estavam as mochilas e peguei minha
garrafa de água.
— Dois minutos para descansar e fazer a nova série de exercícios — o
treinador gritou do outro lado da quadra.
— Não sei o que fazer, Maeve — Caitlin disse ao meu lado. — Quanto
ao time... nós estamos muito afastadas.
— Eu até poderia dizer que uma festa resolveria tudo, mas elas me
odeiam — respondi. — Você vai conseguir, Cat. É muito melhor do que eu.
— Pare de dizer essas coisas!
Sorri.
— Só estou dizendo a verdade.
— Acha que uma conversa só entre nós adiantaria? — Ela parecia
receosa.
— Você é a líder agora, tem que seguir o que sua intuição manda. Não
era você que adorava dar suas opiniões quando não era capitã? Chegou a sua
hora de brilhar!
Caitlin balançou a cabeça.
— Precisamos ganhar essa temporada!
— Se Aurora estivesse aqui... — falei, deixando a conclusão óbvia no
ar.
— Ela vai falar para os pais sobre a gravidez nesse final de semana —
Caitlin contou.
Assenti.
— E Melvin?
— Ele parece estranhamente bem — minha amiga disse, franzindo a
testa. — Nem parece que é sobre um filho que estamos falando.
— Acha que ele voltou a se drogar?
Ela negou.
— Acho que ele está bem.
Uma mudança tão rápida assim? Infelizmente, eu não confiava que
alguém como Melvin conseguiria ficar bem tão rápido, ainda mais somando
ao fato de que seria pai com vinte e um anos.
— Por que ainda estão paradas? Comecem a série de abdominais!
Revirei meus olhos e me lembrei de Christopher.
Precisava encontrá-lo e explicar o que aconteceu, porém como
conseguiria fazer isso, sem parecer uma maluca perseguidora? Eu também
queria dar o tempo que ele precisava, porque sabia que aquele pequeno
selinho tinha diferentes significados para nós dois.
Enquanto para mim, era simples demais e me fazia querer mais dele.
Para Christopher, era um pequeno contato mais íntimo e que o
assustava.
Droga! Deveria ter mantido minha safadeza contida. E se ele não
quisesse mais ficar próximo de mim? Não sabia nem como reagiria com um
tipo de comportamento assim.
CHRISTOPHER LANCASTER
Perguntei-me durante todo o caminho até o apartamento de Maeve, se
aquilo era o certo a se fazer. Tudo era muito recente ainda, mal havia
conseguido me concentrar no meu trabalho na biblioteca, porque a cada aluno
que entrava pela porta, eu tinha a sensação de que era a ruiva ao meu lado,
mas ela não foi me procurar, e aquilo era um pouco estranho, porque se
tratava de Maeve Hood, a garota que era tão insistente quanto foi malévola
durante a vida toda.
Sua mensagem no final do dia me deixou mais confuso quanto ao que
ela queria comigo, e sem pensar muito, decidi vir até o seu apartamento.
Lembrei-me no caminho da promessa que havia deixado em aberto antes do
nosso beijo e pensei muito em voltar para o meu dormitório, porém acabei
deixando o taxista me levar até Maeve.
Agora estamos aqui, em completo silêncio, no seu carro.
Nem se eu tentasse, conseguiria fazer algum barulho, ainda assim, era
estranho.
O carro parou, e eu olhei ao redor, me deparando com uma grande casa
branca com um jardim impressionante na parte da frente. Era tão verde e bem
cuidado, que tinha quase certeza de que pagavam muito mais do que eu
ganhava para alguém deixá-lo dessa forma.
— Não dá tempo de desistir, trevo de quatro folhas — Maeve disse,
chamando minha atenção. Ela sorriu, e meus olhos foram atraídos para sua
boca, trazendo a lembrança do quanto seus lábios eram macios quando me
beijou. — Vamos?
Assenti, voltando a ficar nervoso. Por que vim parar aqui? Como ela
mesmo disse, não dava tempo de desistir. Por isso, saí do carro ao mesmo
tempo que Maeve e esperei que tomasse a frente, para acompanhá-la até a
entrada da casa.
— Vai gostar do meu pai — garantiu ela, subindo as poucas escadas
até a área aberta da frente da residência. Fiz o mesmo, quase colando o meu
corpo ao seu, quando ela parou de repente. — Depois desse jantar... Podemos
conversar?
Maeve não precisava me dizer sobre o que queria falar, seus olhos já
me diziam tudo, e ainda que soubesse que aquele momento chegaria, não
sabia dizer um sim sem sentir todo o meu rosto começar a esquentar. Apenas
assenti em resposta, provocando um sorriso de lado dela.
Mais tarde, seria a assinatura do meu constrangimento oficial. Eu
sentia.
— Filha! — Ouvi uma voz masculina distante e olhei na direção,
observando um homem alto, com poucos cabelos grisalhos, se aproximar de
nós. — Você trouxe o Christopher.
— Ele conseguiu vir — Maeve respondeu, parecendo um pouco
desconfortável, quando seu pai a abraçou apertado.
Se o homem percebeu, ignorou por completo e se afastou para vir até
mim.
— Sou Richard Beaver, o pai dessa ruivinha — ele se apresentou,
estendendo a mão para mim. — Maeve me falou muito sobre você.
Tinha até medo das coisas que ela tinha para falar sobre mim.
Apertei a mão de Richard e sinalizei em seguida:
— É um prazer conhecê-lo.
— Vamos entrar. — Sem que eu esperasse, ele me abraçou pelos
ombros e fez o mesmo com Maeve, nos guiando para a porta grande da sua
casa. — Ari está alucinada porque ganhou uma casinha da Barbie, então não
repare na bagunça, Chris. Minha filha esqueceu que tem um quarto.
— Tudo bem — respondi.
A porta de entrada era tão larga, que conseguimos passar por ela ao
mesmo tempo, sem precisar esmagar o corpo um do outro. Quando entramos
na sala, Richard nos soltou e foi até uma pequena garotinha de cabelo longo
escorrido, que estava agachada, de costas para nós e brincando com uma
grande casinha de boneca. Era interessante o quanto o mundo infantil havia
evoluído. Agora eles faziam casas da Barbie gigantes.
— Sua irmã e o amigo dela estão aqui — ele sinalizou para a
garotinha.
Ela se virou rapidamente e abriu um sorriso grande no rosto, se
levantando e vindo correndo até nós. Assim que tinha um espaço bom o
suficiente, ela pulou no colo de Maeve, que a resgatou a tempo.
Percebi que o sorriso que a mais velha lançou para a irmã, foi muito
mais confortável do que para o pai.
— Chega a ser impressionante o quanto Ariana se apegou à irmã mais
velha — Richard comentou, olhando para a cena com um brilho paternal no
olhar.
Prestei atenção na garotinha, que estava prestes a sinalizar:
— Mamãe me deu uma casinha da Barbie, e estou brincando com a
boneca que você me deu semana passada. Ela é uma grande pintora, que
nem você vai se tornar algum dia.
Maeve não esperava por aquilo, consegui notar pela surpresa que
tomou seu rosto, juntamente de uma emoção diferente de qualquer coisa que
já havia visto.
— Acha que vou ser uma grande pintora? — Maeve questionou.
Ariana assentiu com confiança.
— Você me mostrou seu trabalho no celular, não lembra? É muito
bonito. — A irmã mais nova me encarou. — Você é o Christopher?
Fiz que sim com a cabeça e sem esperar, já estava sendo abraçado
pelos braços curtinhos da garotinha.
— Ela é um pouco emocionada, Chris, não se preocupe — Richard
comentou de forma divertida. — Muito espontânea também.
— Posso não escutar, mas tenho certeza de que meu pai está falando
algo sobre minha personalidade — Ari disse, ao se afastar. Ela olhou para o
pai. — Você é tão previsível.
— Pestinha — o pai sinalizou, a fazendo rir. — Chame a sua mãe,
vamos conversar na sala, enquanto o jantar não está pronto.
Ela fez um sinal de continência e saiu correndo até o que eu imaginava
ser a cozinha.
Richard riu.
— Essa garotinha... tenho a sensação de que quando completar quinze
anos, não terei mais nenhum controle.
— Não pode esquecer de quem ela é irmã — Maeve o provocou,
recebendo um olhar assassino do pai. — O que foi? Só estou lembrando
desse fato importante.
— Isso me faz lembrar que... — Richard olhou para mim. — É ótimo
que Christopher esteja aqui, assim irei saber tudo o que está aprontando
naquela universidade.
Eu? Arregalei os meus olhos, quando as mãos de Richard me
empurraram gentilmente em direção a um sofá. Sentei-me nele, juntamente
do pai de Maeve.
— O que aconteceu com o contato que passava todas as informações
sobre mim? Morreu? — ela questionou.
— Eu mesmo procurava saber — Richard respondeu. — Mas hoje não
tem muita coisa.
— Isso significa que não estou mais aprontando — Maeve falou, como
se fosse óbvio.
— Ou está aprontando escondido... — Richard me olhou. — Diga-me,
Chris, Maeve está se comportando?
Tirando o fato de que eu havia virado alvo das suas provocações?
Acreditava que sim, ela estava se comportando. Seu novo passatempo
favorito agora, era me desconcertar, mas não achava que aquilo era o que
Richard queria ouvir.
Senti os olhos de Maeve me queimarem, parecia estar ansiosa para
ouvir minha resposta.
— Sim — sinalizei e complementei em seguida: — Ela só tem focado
nos estudos, vôlei e em me ajudar no projeto que estamos montando juntos.
— Maeve me falou sobre isso. Ela está desenhando a história que você
está escrevendo, né? — ele buscou a confirmação com suas mãos.
Ignorei o sentimento ruim que sempre sentia quando alguém me
respondia em sinais e assenti, tentando parecer tranquilo para o homem à
minha frente. Ele estava acostumado com a filha surda, que tinha uma forma
de comunicação muito diferente da que eu tinha.
— Que interessante — Richard comentou. — É legal da parte da
universidade unir os dois cursos dessa forma.
Ariana surgiu na sala de mãos dadas com uma mulher jovem, alta e
com cabelos tão escuros quanto os da pequena. Provavelmente, era a mãe
dela e madrasta de Maeve.
— Você deve ser Christopher. — Ela sorriu e estendeu a mão para
mim, que a apertei. — Ari foi correndo me dizer que Maeve e o amigo bonito
haviam chegado. Eu sou Suzy.
Senti meu rosto corar com o elogio.
Elas se juntaram à Maeve no sofá menor, e mesmo estando há poucos
minutos nessa casa, consegui notar como as duas ainda pareciam muito
distantes uma da outra. Não era ódio, como uma filha geralmente tinha pela
madrasta, era apenas um grande desconforto.
Agora entendia um pouco melhor o motivo para Maeve insistir que eu
viesse.
MAEVE HOOD
Os olhos de Christopher não deixaram os meus por um longo tempo,
brilhando com uma intensidade forte, que fazia todo meu corpo responder a
ela e um calor crescer entre as minhas coxas.
Esperei o primeiro segundo passar, depois o próximo e o seguinte,
tentando não me perder nas contas e ser injusta com ele.
Tive a certeza da sua resposta, quando passei pelos vinte segundos, e
Christopher ainda estava dentro do carro, me observando e esperando que eu
comandasse o próximo passo.
Aquilo me deixou mais excitada.
— Trinta segundos — murmurei, mas com o silêncio que fazia ao
redor de nós, ele conseguiu ouvir. — Você fez essa escolha e não pode voltar
atrás, sabe disso?
Movi meu corpo um pouco mais para perto e aproximei meu rosto do
seu, ignorando a posição desconfortável dentro do veículo propositadamente.
Eu iria beijar Christopher, quem se importava com o desconforto?
Tudo bem que subir no seu colo seria muito melhor, porém ainda era
muito para uma primeira vez. Eu podia ir para o céu por pensar em tudo,
entretanto não acho que iriam me aceitar naquele lugar, com o tanto de
pensamentos pecaminosos que estava surgindo na minha cabeça nesse
momento.
Não queria parar só no beijo com Christopher. Queria muito mais e
esperava que ele quisesse também.
Christopher desviou o olhar para a minha boca e se aproximou
instintivamente, voltando para os meus olhos logo em seguida. Toquei sua
nuca, o puxando para mais perto, a ponto de sentir sua respiração agitada
bater no meu rosto e se misturar com a minha, tão instável quanto a dele.
Desci meu olhar para seus lábios e mordi os meus, ao assisti-lo os umedecer
com a língua.
Aquela onda de calor me golpeou mais forte, descendo por todo o
corpo e umedecendo a minha calcinha.
Antes que eu tomasse a atitude de beijá-lo, Christopher encostou os
lábios nos meus, me encarando com medo, misturado com o desejo e algo
parecido com insegurança, antes de fechar os olhos e deixar que eu ditasse
como fazer.
Fiz o mesmo com os meus e agarrei mais forte a sua nuca, movendo
meus lábios nos seus, saboreando da textura da sua boca. Queria dar a
sensação completa para ele, então não me apressei em colocar a minha língua
na jogada. Usei dos poucos segundos que tínhamos para isso, até que um
tempo depois, senti mãos hesitantes tocarem meu pescoço.
Ele tocou a veia palpitante sob seus dedos, sentindo como minhas
batidas estavam frenéticas com o simples contato.
Sua boca se afastou levemente da minha, e eu abri meus olhos,
encontrando os seus mais escuros do que normalmente. Peguei sua outra mão
e a coloquei na minha cintura.
— Relaxe.
Pedi em um sussurro contra os seus lábios e vi seus ombros um pouco
menos tensos do que antes.
Voltei a fechar minha boca na sua e dessa vez, não enrolei por muito
tempo, passei minha língua entre seus lábios e o senti abri-los, ao mesmo
tempo que uma lufada de ar saiu entre eles. Era como um gemido. Um
gemido silencioso, que me fez querer tirar minhas roupas aqui mesmo, só
para sentir cada toque, cada beijo e cada parte do seu corpo em mim. Minha
língua entrou na sua boca, e encontrei a sua sem saber muito o que fazer,
entretanto não deixei que aquilo me acovardasse, usei da minha experiência
com beijos, para dar o melhor beijo da sua vida.
Christopher apertou mais forte meu pescoço. Duvidava muito que ele
soubesse o quanto isso me deixava mais louca por ele.
O beijei com mais intensidade, tentando saciar meu próprio desejo por
mais dele, que não viria ter essa noite, e gemi quando sua mão na minha
cintura me trouxe para mais perto.
Eu tentava ser uma boa garota, mas a diabinha em mim era muito
maior do que qualquer inocência que pudesse existir aqui dentro. Foi com
essa clareza, que acabei indo parar no colo de Christopher, bem no lugar em
que disse que não poderia me sentar hoje. O que o tesão não faz com a gente,
não é mesmo?
Christopher já repetia os mesmos movimentos com a língua em minha
boca e pareceu nem perceber que estava no seu colo, não até o momento em
que me puxou mais para si e me fez sentir, entre todas as camadas de roupas,
o quanto estava duro. Nossos olhos se abriram no mesmo instante, e ele
tentou reagir com a cabeça de cima, para me afastar, só que quando suguei
sua língua e rebolei contra o seu pau, Christopher perdeu a capacidade de
raciocinar.
Gemi contra a sua boca, sentindo novamente aquele suspiro escapar
entre seus lábios. Eu podia estar quase sem ar, porém não queria terminar o
beijo, que se tornava cada vez mais profundo.
Tudo era tão íntimo e gostoso, que me fazia perder a capacidade de
falar. Então apenas senti.
Senti a onda de orgulho me dominar, quando Christopher me segurou
com mais força contra ele.
Senti meu peito se encher de emoções indecifráveis, conforme seu
beijo ia desacelerando.
E claro, senti minha boceta extremamente dolorida, por não ter aquele
pau que estava sob ela.
Infelizmente, sua boca se afastou da minha, mas felizmente, a mão de
Christopher ainda me agarrava firmemente contra ele. O encarei ofegante, me
deliciando com a visão dos seus olhos fechados e boca entreaberta. Essa era
uma visão da qual eu nunca me esqueceria, nem em 1000 anos.
Sem controle algum, pressionei mais uma vez meus quadris contra o
seu pau duro, sentindo minha boceta pulsar. Christopher abriu a boca e soltou
um gemido silencioso, abrindo seus olhos escuros como uma noite de lua
nova e me encarando.
Sem que eu esperasse, ele colou sua boca na minha novamente,
entrelaçando seus dedos nos fios do meu cabelo e me fazendo gemer com a
mísera ideia de tê-lo os puxando. Pressionei meu clitóris contra sua ereção e
senti quando Christopher apertou seus dedos entre eles, ao mesmo tempo que
beijava mais profundamente. Se eu continuasse com isso, gozaríamos
rapidamente.
Podia parar, só que era tão gostoso senti-lo assim.
Christopher tinha um tamanho incrível, muito mais proporcional à sua
altura do que eu imaginava, e eu conseguia sentir isso apenas me esfregando
mais e mais nele.
Porém, tudo que era bom durava muito pouco, e eu ouvi um barulho de
buzina distante, o que fez com que nós dois despertássemos do tesão que
estávamos sentindo aqui dentro do carro.
Afastei minha boca e trouxe meu corpo para trás, só para evitar a
tentação. Desviei meu olhar para baixo. O volume enorme dentro da sua
calça, não podia ser ignorado nem se eu quisesse.
Voltei a encará-lo e o encontrei um pouco desnorteado, com a boca
avermelhada e as bochechas quase alcançado o mesmo tom.
— Não deveríamos continuar isso aqui — expliquei baixinho, tocando
seu pescoço, passando por seu braço, até chegar na sua mão na minha cintura.
— Você gostou?
Ele assentiu, timidamente.
— Pense que quando estivermos juntos dessa forma... — Segurei sua
mão e o fiz tocar por baixo da minha camisa. Estremeci com seus dedos
quentes na minha barriga gelada. — Você sempre pode me tocar.
Ele acariciou minha barriga, me causando mais uma descarga elétrica
pelo corpo, que correu diretamente para a minha boceta. Olhei para a sua
boca tão convidativa e me aproximei para beijá-lo, mas um barulho de motor
soou do lado de fora e bem próximo a nós. Era um carro estacionando a umas
três vagas de distância do meu.
Suspirei.
— Acho melhor eu ir.
Christopher afastou sua mão da minha cintura, e odiei a falta que
aquilo me fez sentir.
— Vamos nos encontrar amanhã? — ele perguntou, mais tímido do
que antes.
— É claro. — Sorri. — Pego você aqui?
Ele assentiu.
Antes de sair do seu colo, beijei a sua boca de novo. Foi mais rápido,
porque não queria acabar me distraindo com o seu corpo novamente, ainda
mais no estado em que o meu estava necessitando do dele.
— Até amanhã, trevo de quatro folhas.
Pulei para o banco do motorista e esperei que ele saísse do carro.
Christopher acenou e sorriu, saindo do veículo. Demorei um pouco para
começar a dirigir em direção ao meu apartamento, porque ainda estava presa
em tudo o que havia acontecido entre nós naquele curto espaço de tempo.
CHRISTOPHER LANCASTER
Era normal pensar em beijar Maeve a cada minuto do meu dia?
Nunca pensei que um pensamento como esse fosse me consumir em
menos de vinte e quatro horas depois de dar o meu primeiro beijo. Pensando
melhor, eu nem pensava que um dia isso aconteceria comigo, mas aqui estava
eu, dentro de um elevador com a garota que não saía da minha cabeça e com
um garoto que morava no sexto andar do prédio em que Maeve tinha o
apartamento, sabia disso porque ele havia apertado o botão assim que entrou.
Maeve havia passado no alojamento onde eu ficava para me trazer,
conforme combinamos ontem, e durante o caminho não trocamos muita
conversa, porque ela precisava se manter focada no trânsito intenso de Los
Angeles.
Saímos do elevador quando chegamos ao oitavo andar, onde Maeve
morava, e a segui para a sua porta, sentindo um certo tipo de ansiedade me
dominar. Não havíamos nos beijado desde ontem, e eu nem queria pensar no
motivo que me fazia querer repetir aquela sensação.
Deveria estar fugindo, não entrando no apartamento dela.
— Gosta de praia? — foi o que ela perguntou, assim que entramos no
seu apartamento. Parecia um questionamento muito aleatório para mim, que
estava perdido em pensamentos.
Olhei para Maeve, me lembrando da sensação de ter seu corpo em
cima do meu e da sua boca na minha, me beijando como se eu fosse o único
homem do mundo. As reações corporais que me causou ainda eram novas
para mim, porque nunca havia sentido nada parecido, porém não era por falta
de conhecimento, pois não era um cara burro. Podia não saber os detalhes do
que deveria fazer com uma mulher nessas circunstâncias, entretanto sabia o
suficiente para entender que meu pênis ficaria duro por Maeve durante
qualquer beijo mais intenso que fôssemos trocar.
O maior problema nisso, era como fazer com que voltasse ao normal.
Eu nunca havia me tocado e nem pensei em fazer isso ontem, enquanto
esperava baixar durante o banho.
Será que nos beijaríamos novamente?
— Você pode me beijar, se é isso que quer — Maeve me trouxe de
volta para a realidade, ao dizer aquelas palavras, e eu desviei meu olhar para
a sua boca, só para subir minhas írises até as suas novamente. — O que foi?
Não quer?
Estava tão óbvio assim?
O que estava acontecendo comigo?
— Precisamos fazer o trabalho — sinalizei, desviando minha atenção
para a porta do seu escritório. — Vamos?
Ajustei a alça da minha mochila no ombro e caminhei em direção à
sala em que sempre trabalhávamos juntos, ignorando a vontade que sentia de
puxá-la para um beijo. Não iria cair nessa tentação estranha que estava me
tomando, era apenas o início de um ciclo vicioso, que podia ser cortado antes
de se tornar pior.
Agora que havia provado de um beijo — o qual nunca esteve nos meus
planos —, precisava lembrar de quem eu era e seguir em frente. Se fosse
necessário ver no histórico quem Maeve também era, usaria isso a meu favor.
Não servia para um romance.
Não servia para algo casual.
Eu era um nada.
E meu maior medo era esquecer disso.
Um barulho de click de foto sendo tirada chamou a minha atenção, e eu
olhei para Maeve, que apontava a câmera do celular para o quadro no
cavalete em frente à janela.
— O que estava pintando? — perguntei, me aproximando para ver
melhor.
Era uma mulher usando calça e um casaco sobretudo, ao lado de um
homem que também vestia aquele tipo de roupa, com o adicional de um
distintivo no lado direito do seu peito, como se fosse algum policial. Não
havia pintura ainda neles, mas conseguia ver pelos rabiscos, o quanto eles
pareciam determinados.
— Lila e Jonas — revelou, pegando um avental que estava atirado no
sofá de cor azul e o colocando. — Pode amarrar atrás para mim?
Assenti.
Ela se virou de costas, para que eu conseguisse amarrar. Peguei as tiras
do avental e fiz um nó fácil de desamarrar depois.
— Gostou? — ela perguntou, se virando para mim, porém não se
afastando. — Vou pinta-los enquanto você escreve os primeiros capítulos, e
quando estiver pronto, pode me dizer se é assim que os imagina também.
Concordei com um aceno de cabeça novamente, parecia uma ideia boa,
apesar de não entender porque ela estava usando do seu tempo para fazer um
desenho que nem iria para a história em quadrinhos.
— Gostei do distintivo dele — comentei.
Maeve sorriu, orgulhosa.
— Pensei nisso, já que você disse que Jonas é respeitado e ajuda a
polícia.
Fazia sentido e me deixava um pouco mais tranquilo ver que ela tinha
prestado atenção nisso.
— Nunca me disse que gostava de Beatles — disse Maeve, com os
olhos cravados na camiseta da minha banda favorita, a qual eu usava. — Eles
eram muito bons.
— Gosta também?
Ela negou.
— Prefiro uma música mais pop, mas sei reconhecer um talento. —
Segurou cada lado da minha jaqueta cinza, que estava aberta, e me puxou
para mais perto. Quase tropecei nos meus pés com o movimento feito do
nada, abrindo mais meus olhos, ao ver Maeve levantar seu rosto em minha
direção. Meus olhos foram atraídos para a sua boca. — Igual o seu, ao dar o
primeiro beijo ontem.
E aqui estava ela, me provocando de novo.
— Por que não me respondeu sobre o meu sonho? — Fingiu uma cara
de magoada.
Lembrei das mensagens que trocamos mais cedo e senti um calor
invadir o meu corpo sem permissão. Assim que li aquele sonho malicioso que
ela me mandou, havia sentido o mesmo e ao continuar lendo em tempo real o
que Maeve mandava, consegui ter mais uma ereção.
Minha imaginação sempre foi muito criativa, porque eu lia livros e
mangás desde pequeno, por isso não foi possível impedir minha mente de
imaginar exatamente o que ela dizia naquelas palavras maliciosas.
Levantei minhas mãos e respondi:
— Precisamos trabalhar.
Ela sorriu de lado.
— Certeza de que não quer fazer nada antes disso?
Eu queria. Muito.
Parecia como uma necessidade fisiológica, e eu tinha certeza de que
beijar não estava na lista do que o ser humano precisava, entretanto havia
provado que era bom, o que me fazia pensar se futuramente aquilo não seria
adicionado, por puro desejo das pessoas.
Sem pensar muito no que estava fazendo, levei minha mão até o seu
rosto e toquei sua bochecha, notando como ele era pequeno comparado a ela.
Maeve não esperava pelo toque, contudo seus olhos ainda me olharam com
tanto carinho, que eu senti uma forte onda de emoções, completamente
diferente das que estava sentindo ultimamente, atravessar meu peito como
uma estaca.
Percebi que nunca ninguém havia me olhado assim antes.
Não era um olhar maternal como o de minha mãe.
Não era um olhar amoroso como o do meu irmão.
E nem como Caitlin me olhava.
Era unicamente nosso.
Isso não me assustou, pelo contrário, me fez abaixar o meu rosto até
que meus lábios encostassem nos seus. Maeve arquejou com o toque e colou
seu corpo no meu, deixando que eu a beijasse dessa vez.
Não sabia muito bem o que fazer, mas lembrava de cada detalhe do
que havia acontecido ontem, por isso, movi a mão que tocava o seu rosto para
sua nuca e a segurei firme, ao mesmo tempo que subia a outra para suas
costas e a tocava carinhosamente ali. Entreabri minha boca e pedi passagem
com minha língua, sendo concedida pelos seus lábios se entreabrindo.
Com meus olhos fechados, mergulhei na sensação indescritível de
mover minha língua dentro da sua boca. Maeve me ajudou com a sua,
agarrando meus ombros e colocando pressão no nosso beijo, tirando qualquer
ar que pudesse aspirar ao nosso redor.
Era ainda melhor do que a primeira vez.
Meu coração acelerava a cada movimento conectado das nossas
línguas, e eu sentia uma necessidade ainda maior de tocá-la. Isso era normal?
Experimentei subir minha mão pelas suas costas e as acariciei, suspirando ao
sentir seu corpo distensionar diante do meu toque. Suas mãos subiram pelo
meu pescoço e agarraram minha cabeça, aprofundando o beijo com sua
língua e explorando cada parte do interior da minha boca.
Uma descarga elétrica atravessou o meu corpo, e meu pênis voltou a
crescer dentro da calça, pulsando com uma necessidade que eu não deveria
querer saciar. Foi por causa disso que encerrei o beijo minuto.
Abri meus olhos e encarei os seus mais brilhantes do que antes.
— Cuidado, estou pensando em ir mais longe com você da próxima
vez — ela avisou com a voz baixinha, mas eu ouvi perfeitamente. — Precisa
me dizer até onde está confortável para ir.
O que ela queria dizer com isso?
Maeve desceu as mãos pelo meu pescoço, causando arrepios em cada
parte que seus dedos tocavam, e seguiu até meu peitoral, as deslizando
demoradamente por ali. Isso não servia para o meu pênis abaixar.
— Você é gostoso.
Seu elogio me deixou ainda mais desconcertado.
— Vai me dizer ou não?
Foi necessária uma grande força, para segurar suas mãos e afastá-la um
pouco de mim. Maeve olhou diretamente para o meio das minhas pernas,
trazendo a vermelhidão para o meu rosto, ao se voltar para mim e sorrir
maliciosamente.
— Você podia não olhar, sabia? — pedi por um pouco de senso, coisa
que dificilmente ela tinha.
— Por quê? Não precisa ter vergonha de mim! É incrível saber que o
deixo assim — disse, como se não estivéssemos falando do meu pênis duro.
— Eu poderia ajudá-lo com isso, sabia?
Ela deu um passo em minha direção, e eu dei dois para trás. O
pensamento de como conseguiria me ajudar, invadiu minha mente,
juntamente da lembrança do que fez no meu colo na noite anterior, e fez meu
pau pulsar.
— Preciso ir ao banheiro.
Eu corri dela, antes que me alcançasse.
MAEVE HOOD
— Meu próximo jogo é na terça, você vai ir, né? — busquei a
confirmação de Christopher, levando um pouco do macarrão que fiz de
última hora à boca.
Até que havia ficado gostoso para alguém que mal sabia fritar um ovo
direito.
Ele assentiu, e não escondi o meu sorriso por ter conseguido o seu sim
com mais facilidade dessa vez.
— Sua mãe vai estar?
Estremeci com sua pergunta.
Dificilmente eu pensava naquela mulher, nas raras vezes em que
acontecia, era quando perguntavam sobre ela. Achava difícil Bonnie aparecer,
depois do vexame que havia causado no último jogo.
Ela deveria estar furiosa com tudo saindo do seu controle, e mesmo
que estivesse mais tranquila longe dela, seu silêncio ainda era um pouco
perturbador para mim.
— Provavelmente não — respondi sua dúvida, bebendo um gole de
suco.
— Por que continua no time se não gosta?
Alguém estava muito curioso hoje. Tudo bem, eu gostava dessa versão.
— Quem disse que eu não gosto? Meu único problema é com minha
mãe, que sempre foi uma vadia obcecada por ganhar. — Não tive problemas
em ofendê-la. — Ela sempre quis ser jogadora de vôlei profissional, mas
nunca teve êxito na carreira e acabou jogando todos os seus sonhos frustrados
em mim. Acontece que durante todos esses anos, o esporte esteve comigo,
sabe? Ele e eu criamos uma conexão, apesar de não querer trabalhar com isso
no futuro.
— Conexão? — Pareceu não entender.
— Imagine como um escape, por mais irônico que seja eu ter um
refúgio onde era mais cobrada.
— Acho que consigo entender — sinalizou, enquanto mastigava sua
comida. — Por que não convida seu pai para o jogo?
— Por que eu convidaria?
Ele deu de ombros.
— Disse que ainda fica desconfortável perto dele, e isso deve se dar
devido ao tempo que estão longe um do outro. Criar relações é importante,
sabia? E se quiser que ele seja mais próximo de você, é bom deixá-lo entrar.
Sorri de lado.
— Não conhecia esse seu lado conselheiro, gostei.
Ele devolveu o sorriso, um pouco envergonhado.
— A verdade é que não sei se preciso de um pai — admiti e ao
perceber que estava sendo hipócrita, consertei: — Digo, além do dinheiro
dele, sabe? Tirando essa parte financeira, que sempre tive que depender deles,
sempre estive sozinha. Talvez tenha sido isso que me fez tão amargurada com
a vida.
Ri baixinho do meu próprio histórico, comendo mais do meu macarrão.
— Não sente falta? Sabe... se eu pudesse ter meu pai de volta, não
tenho dúvidas de que o escolheria, ao invés da minha voz.
Sua confissão me deixou um pouquinho surpresa, porque sabia o
quanto a mudez afetava o Christopher de hoje. Ele parecia odiá-la, mas o
amor pelo seu pai era muito maior, e era isso que ele me mostrava agora.
— Como foi o acidente? Eu só sei que sofreu um, por causa de Caitlin.
— Preferi não responder à sua pergunta, pois não sabia a resposta.
Sua feição mudou com o meu questionamento para uma mais triste, e
eu tratei de complementar:
— Não precisa me falar se não quiser.
— Não é nada tão misterioso assim, mas é uma lembrança que eu
gostaria de esquecer — admitiu, desviando os olhos para o prato quase vazio
na sua frente. — Eu tinha nove anos, e era aniversário do meu amigo, era de
noite, e meu pai foi me buscar com Trevor. Na volta começou a chover muito,
e ele parou no acostamento para esperar a chuva acalmar. Meu pai sempre
foi cauteloso, sabe? — Christopher parecia um pouco perdido nas
lembranças. — Quando o tempo acalmou, nós voltamos a andar, e um
bêbado acabou vindo em nossa direção, nos derrubando para fora da
estrada. Eu estava sem cinto e acabei atravessando o vidro, fiquei preso
entre os cacos, enquanto meu pai... Eu nem consigo me lembrar o que
aconteceu com ele, porque fui levado para o hospital desacordado.
Saí do meu lugar ao ver seus olhos marejados e sem pensar muito, me
aproximei dele e o abracei. Christopher não esperava pelo contato, por isso
não achei estranho quando ficou estático, sem saber o que fazer com suas
mãos. Apenas o abracei mais forte, em forma de solidariedade e algo mais,
que enchia o meu coração a cada pouco que eu o conhecia.
— Sinto muito. — Eu realmente sentia.
Se o pai de Caitlin fosse um cara bom, ele não teria saído bêbado
naquela noite e matado um homem de família. Se aquele homem que nunca
agiu como um pai para a minha amiga, tivesse arrependimento, ele ao menos
teria se entregado para a polícia e não, apoiado a sua mulher a dar dinheiro
para a família de Christopher sumir da cidade, ameaçando prejudicá-los.
Eles sofreram muito mais do que um luto.
Sofreram injustiça, e falando como uma pessoa rancorosa, entendia um
pouco a raiva que Trevor, o único que não foi afetado naquele acidente,
sentia. No entanto, nunca aceitaria o que ele fez com Caitlin quando
descobriu que ela era filha daqueles idiotas, porque minha amiga nunca teve
culpa.
Os braços de Christopher circularam ao meu redor, e seu rosto se
afundou em meu pescoço, como se estivesse em um lugar seguro agora. O
que senti quando processei o abraço, foi muito parecido com isso, como se o
que estivéssemos fazendo aqui fosse certo.
De alguma forma maluca, ele e eu nos entendíamos.
Através dos olhares, dos gestos, do silêncio.
Não sei quanto tempo ficamos nessa posição, sentia sua respiração
bater no meu pescoço e arrepiar toda a minha nuca, mas não o afastei. Não
tive coragem de fazer isso nem para olhar como ele estava ou ver seus sinais.
Isso bastava.
Sabia muitas coisas de Christopher, porque ele não escondia quem era,
porém não fazia ideia de nenhum detalhe, e a curiosidade esmagadora
começou a me incomodar. Como foi a sua vida depois do acidente? Como foi
na escola? O que os idiotas fizeram para deixa-lo tão inseguro da forma que
era hoje? Talvez eu não devesse saber.
Chamando minha atenção para o presente, Christopher desfez o abraço
e me olhou. Seus olhos estavam bem molhados, só que nenhuma lágrima caía
pelo seu rosto.
— Tudo bem? Não quis causar nenhuma dor em você ao relembrar
isso.
— Eu nunca esqueço — sinalizou e apontou para a sua garganta, antes
de esclarecer: — Tenho uma marca permanente que me impede.
Suspirei.
A maneira enojada e debochada com que ele falava sobre si mesmo,
era só o reflexo do quanto se sentia excluído e odiava sua mudez.
— Posso te fazer uma pergunta?
Ele nunca perguntava quando a pergunta era simples, então imaginava
que era algo que precisaria me preparar para responder, igual aconteceu na
noite passada, quando nos beijamos.
— Pode.
— Ainda é cedo para responder por que tem essa insistência em mim?
Pensei um pouco, tentando entender ao que ele se referia. Até que me
lembrei do dia em que me perguntou o motivo de insistir tanto nele e da
minha resposta. Não vi motivos para não dizer agora, que o conhecia um
pouco melhor.
— Não sei você lembra, mas uma vez ajudou uma garota que estava
chorando na biblioteca. Deu um bilhete para ela, lembra?
Christopher assentiu.
— Era eu. — Sorri de lado, observando seu rosto surpreso. — Você
disse que a única que podia mudar o que estava acontecendo era eu mesma, e
aqui estou eu, tomando minhas próprias escolhas. Claro que demorou um
pouco, acabei magoando minhas amigas nas férias, por causa das minhas
indecisões, mas no final de tudo, segui o que você disse.
— Estava chorando muito aquele dia... lembro de ter pensado que seu
coração estava partido por causa de um garoto — sinalizou. — Não pensei
em olhar entre o vão dos livros para saber quem era, porque me parecia
muito inadequado.
— Você foi um fofo e me abriu os olhos sem saber. Foi a partir dali,
que comecei a prestar um pouco mais de atenção em você. — Bati de leve em
seu ombro. — Também tem toda a sua beleza. Como poderia resistir?
Suas bochechas começaram a ficar rosadas.
— Não diga bobagens.
— Estou falando muito sério.
— Nunca imaginei que aquela garota seria você — voltou ao assunto.
— Não teria me ajudado se fosse? — brinquei.
— Não foi isso que quis dizer, só estou surpreso em saber que você
estava tão... vulnerável em um lugar onde todos poderiam vê-la.
— Briguei feio com minha mãe naquele dia e estava tão cansada, que
acabei desabando quando entrei naquele corredor — expliquei, me sentindo
um pouco sem graça por falar algo tão complicado como aquilo. Apostava
que Christopher tinha uma mãe incrível, muito diferente de mim. — Eu
queria desaparecer e achei que a biblioteca era um bom lugar para não ser
vista.
— O que ela fazia com você? — buscou explicar, ao ver meu olhar
confuso: — Sua mãe.
Ele também queria saber mais sobre mim.
— Ela nunca foi uma mãe amorosa, Bonnie sempre foi rigorosa com
tudo, principalmente nas cobranças que exigia em mim. Se minhas notas não
eram boas, eu recebia uma dolorosa lição... — Apontei para a minha
bochecha. — O lugar favorito dela de me bater.
Christopher arregalou os olhos.
— Eu achava que era normal, até porque uma mãe tem que educar o
filho, não é? Mas as exigências foram multiplicando. De repente, não era só
com notas que tinha que me preocupar, eu tinha que ser a melhor no vôlei,
tinha que ser uma garota popular e acima de todos na escola. Precisava me
destacar em tudo o que fazia, até mesmo na minha aparência — confessei, me
sentindo muito exposta por estar sendo aberta dessa forma para alguém pela
primeira vez. — Com o tempo, uma personalidade de Regina George se criou
em mim, sabe? Só percebi o quanto aquilo não era bonito, quando me senti
perdida.
— Sinto muito... não imaginava que passasse por isso.
— Tudo bem... Eu tenho muita culpa, mas me arrependo dos meus
erros e estou tentando melhorar, acho que isso é o bastante, né?
Ele assentiu, sorrindo de lado.
— Você está indo bem.
Arqueei as sobrancelhas.
— Estou?
— Confio em você, isso é um início, não acha?
Meus lábios se abriram em um sorriso.
— Finalmente! — Segurei cada lado do seu rosto. — Eu já estava
pensando que teria que fazer um grande gesto para que confiasse em mim.
Seus olhos brilharam em diversão.
— Grande gesto?
— Não me pergunte qual seria, não tinha chegado nessa parte do plano
ainda. — Olhei para os seus lábios. — Podemos aproveitar o restante da tarde
apenas nos beijando?
Ele olhou para a minha boca, parecendo um pouco hesitante ainda,
porém eu aproveitei o momento para fechar os meus olhos e encostar nossos
lábios. Christopher esqueceu qualquer protesto, quando nossas línguas se
tocaram.
Provavelmente teríamos que voltar a trabalhar no projeto, só que eu
não perderia a oportunidade de sentir cada vez mais do seu beijo.
CHRISTOPHER LANCASTER
Era impressionante e triste o poder que Bonnie Hood tinha sobre
Maeve. Na sua ausência durante o jogo, consegui sentir como ela foi muito
melhor durante os sets.
Maeve conseguiu marcar uma boa quantidade de pontos e contribuiu
com a vitória do time.
— Sua namorada não é uma excelente capitã, Trevor? — Aurora
surgiu do meu lado, perguntando ao meu irmão.
Ele estava com aquela cara de bobo apaixonado, observando a minha
cunhada, que mais uma vez, havia dado tudo de si no jogo e se destacado.
Não sabia como essas coisas funcionavam, mas tinha quase certeza de que
em breve, ela seria chamada para jogar profissionalmente por um daqueles
olheiros.
— Ela é a melhor — meu irmão falou, com os olhinhos miúdos e
brilhantes por trás das lentes.
Era um bobinho mesmo!
— Oi, Chris — Aurora se dirigiu a mim. — Desculpa não ter
respondido as suas mensagens, eu meio que estava surtando com tudo o que
estava acontecendo.
— Tudo bem, tenho certeza de que não está sendo fácil — sinalizei. —
Sei que a pergunta pode parecer insensível, mas você está bem?
— Estou um pouco melhor agora — respondeu, daquela forma dócil
dela de sempre. — Ontem, eu tive a primeira consulta, sabia?
— Como foi?
Deveria ter sido assustadora.
Aurora era jovem ainda para ter uma experiência tão madura como
aquela, esperava que Melvin tivesse a acompanhado. Sabia que eles não
estavam juntos, porém eles ainda precisavam cuidar daquele bebê como
amigos.
— Muito estranho, mas esclarecedor. Agora sei o que é melhor para
comer, o que preciso fazer para esse bebê nascer saudável e forte, também já
marquei a primeira consulta pré-natal para essa semana.
— Vai ouvir os batimentos dele?
Ela assentiu, e notei pelo seu semblante, que parecia mais animada
com aquela ideia.
— Você parece melhor.
— Acho que estou criando uma relação com essa criança que está
crescendo aqui — explicou, colocando as mãos na sua barriga, que não tinha
tanto volume. Ela parecia apenas uma mulher um pouco estufada com
comida, e não grávida. — Agora que o susto passou, eu só consigo pensar em
pegá-lo no colo e viver essa experiência como mãe. Imagino que vai ser
muito difícil, mas quando eu penso que esse bebê é a prova viva do amor que
vivi com Melvin, tudo se torna um pouco mais suportável.
Notei que o ginásio estava esvaziando aos poucos e que meu irmão já
não estava do meu lado. Procurei com o olhar e o vi abraçado com Caitlin,
enquanto ela falava com as meninas do time.
Existiam mesmo várias formas de amor, até mesmo dentro do
romance.
Caitlin e Trevor, que viviam sempre juntos em um mundo paralelo do
amor, onde não deixavam coisas externas os afetarem mais; e Melvin e
Aurora, que viveram o pior do romance porque um deles estava muito
quebrado para amar uma pessoa, mas que ainda assim, se amavam o bastante
para terem esperanças.
— Como vocês estão?
Eu sempre escutei Aurora durante as férias.
Sabia a história dos dois, porque várias vezes em nossas conversas,
Aurora relembrava o que viveram.
Melvin e Aurora viveram algo incrível quando eram adolescentes. Ele
não era um garoto tóxico, tanto é que o apelido dela na escola era “a princesa
do quarterback”, porque ele a tratava como tal.
Mas então, Melvin ficou doente.
E Aurora deu tudo de si para curá-lo.
Acontece que o amor não cura, e eles acabaram apenas se machucando
mais dentro daquele círculo vicioso.
— Devo dizer que estamos bem? — Sua expressão ficou mais triste, e
seus braços caíram de cada lado do seu corpo. — É estranho não vê-lo a cada
momento, depois dos anos que passamos juntos.
Imaginava que deveria ser horrível amar uma pessoa tanto e saber que
viverem juntos não era uma boa opção.
— Sinto muito.
Ela assentiu e apontou com a cabeça para algo na quadra, segui seu
olhar e vi Maeve nos olhando.
— Por que minha melhor amiga não para de olhar para nós?
Maeve estava reunida com as meninas do time, entretanto achava que
não prestava atenção no que Caitlin estava falando. Ela nos olhava de forma
ansiosa.
— Como está o andamento do projeto? — Aurora quis saber,
entendendo que eu não tinha resposta para a sua primeira pergunta.
— Adiantamos um pouco no sábado, mas com a semana de provas,
não tivemos como nos encontrar de novo.
— Estou curiosa para ler a novela, tenho certeza de que vocês vão
arrasar. É um suspense?
— Romance.
Aurora arqueou as sobrancelhas.
— Pensei que você não gostasse de romances.
— Maeve acabou insistindo.
Ela sorriu, parecendo entender.
— Minha amiga sabe como ser irritante, né?
— Muito.
Nós rimos.
— Sabe que está sendo parte da mudança dela, né? — Franzi a testa,
sem entender aonde Aurora queria chegar com isso. — Maeve sempre foi
muito fechada, mas com você, ela consegue encontrar uma versão melhor de
si mesma, e venho percebendo isso a cada dia que passa.
Eu não consegui responder àquilo rapidamente e nem tive tempo de
fazer, pois um braço feminino, com o qual eu estava familiarizado, se
enroscou no meu pescoço.
— Sobre o que estavam rindo? — questionou Maeve.
— Seria sem graça se eu contasse para você — Aurora respondeu, de
olho no braço da amiga ao redor de mim. — Acho que vou ir para o
dormitório. Vejo você amanhã?
— Café? — Maeve sugeriu.
Aurora concordou.
— Tchau!
Ela se afastou, e rapidamente a atenção da garota ao meu lado estava
em mim.
— O que era?
Ela ainda queria saber sobre o que estávamos rindo.
— Por que está me abraçando? — indaguei, me afastando do seu
abraço.
Não queria que ninguém inventasse boatos constrangedores a nosso
respeito.
— Por que não posso abraçar você? — Cruzou os braços em frente ao
corpo, me fazendo notar que ainda estava com o uniforme do time.
Por que essas roupas eram tão curtas?
O short não ia até a metade das suas coxas, e Maeve tinha um volume
de pernas que chamava atenção, até para um garoto que nunca procurou
prestar atenção nisso na vida.
Voltei a olhar para o seu rosto, que demonstrava o quanto ela esperava
uma resposta.
— Porque as pessoas podem entender errado.
Foi o que sinalizei e assim que descansei minhas mãos, Maeve segurou
uma delas e me puxou em direção à uma porta, que eu não fazia ideia de para
onde nos levava.
Entramos em uma salinha pequena e escura, que reconheci ser a sala
que controlava os painéis eletrônicos da pontuação do jogo. Ninguém mais
estava aqui a essa hora.
Maeve acendeu a luz.
— Por que estamos aqui? — perguntei, com medo de sermos pegos.
— Porque eu quero dar uns amassos em você sem sermos vistos, não
posso?
Eu não sei se algum dia conseguiria me acostumar com sua forma
direta e provocativa de ser. Senti todo meu rosto começar a esquentar,
provando que eu não tinha controle algum sobre minhas reações, nem se
quisesse.
Maeve levantou a cabeça e aproximou sua boca da minha, atraindo
meu olhar automaticamente. Ignorando o risco de sermos pegos e quase não
me reconhecendo, cedi a ela facilmente.
Nem pensei e a beijei.
Não havíamos nos encontrado desde sábado, e era sufocante admitir
que me vi ansiando por esse jogo, só para vê-la. Vinha constantemente
pensando em beijar Maeve, tocá-la, sentir mais do seu corpo e me jogar além
dos meus limites no que estava acontecendo entre nós dois.
Meu corpo vibrou como se uma corrente elétrica estivesse passando
por ele no instante em que nossas línguas se tocaram. O beijo iniciou calmo e
foi se intensificando a cada segundo de contato.
Senti uma vontade viva dentro de mim de senti-la mais perto e deslizei
minhas mãos pelo seu corpo, enquanto o nosso beijo ficava mais profundo.
Maeve colocou suas mãos sobre as minhas e me fez descer mais, as deixando
abertas em sua bunda. Foi como se meu pênis tivesse sentido suas nádegas
firmes contra ele, pois o senti endurecer dentro da minha cueca.
— Sinta — Maeve murmurou contra os meus lábios, seu tom soando
meio desesperado.
Eu apertei sua bunda e engoli seu gemido com minha boca, tomando a
sua mais uma vez. Maeve sugou minha língua, agarrando mais forte minha
nuca e causando uma onda mais forte de excitação em mim. Meu corpo
parecia pegar fogo, e já não conseguia deixar minhas mãos paradas, uma
delas desceu mais pela sua perna, e consegui sentir mais da sua pele macia
nos meus dedos, conforme enchia a palma da minha mão com ela.
Maeve era linda e me fazia arder de desejo.
Eu me via querendo experimentar todos os tipos de prazeres com ela.
Como seria transar pela primeira vez? Como seria sentir seu corpo conectado
ao meu? Eu não conseguia controlar meus pensamentos.
Senti as mãos de Maeve entrarem por baixo da minha camiseta, e o
contato das suas unhas arranhando minha barriga, fez com que meu pau
pulsasse contra sua barriga. Seus lábios afastaram-se dos meus, e nossas
testas se tocaram. Abri meus olhos e encontrei os seus dilatados em minha
direção.
— Não me disse seu limite — Maeve falou baixinho, ofegante.
Até mesmo sua voz, me deixou mais necessitado dela.
Podia responder, mas minhas mãos ainda estavam divididas entre sua
coxa e sua bunda.
Maeve desceu mais com uma de suas mãos, me causando um
estremecimento, ao perceber para onde ela se dirigia. Seus olhos não
desgrudaram dos meus quando ela me tocou lá embaixo por cima da calça.
Meus lábios se abriram em um gemido silencioso.
Meu pênis pulsou, e uma vontade desesperadora de sentir sua mão
diretamente nele, tomou conta de mim. Isso era normal? Eu não sabia de
nada.
— Já fez isso? — Ela esfregou sua mão sobre a calça, não me
deixando raciocinar direito.
Neguei. Eu não tinha experiência nenhuma.
— Nunca bateu uma? Se tocou?
Neguei novamente, ofegante, sentindo minha boca cada vez mais seca,
com os movimentos lentos que ela fazia no meu pênis.
— Onde está Maeve? — uma voz feminina soou alto do outro lado da
porta, quebrando toda a atmosfera que estava acontecendo aqui dentro.
Merda!
O que eu tinha na cabeça?
Maeve pareceu acordar do transe também, pois afastou sua mão da
minha calça, deixando meu pênis ainda mais dolorido dentro da cueca.
— O que vai fazer hoje? — ela perguntou.
Levou um tempo para que eu conseguisse levantar minhas mãos e
sinalizar:
— Estudar.
Ela me olhou, incrédula.
— É sério? Depois de me deixar excitada desse jeito? A sua sorte é que
é um fofo ou eu poderia xingá-lo até a morte. — Ela não parecia brava, só
divertida.
No entanto, isso não me impediu de olhar para todo o seu corpo.
Maeve estava excitada como eu!
— Vamos estudar juntos — ela se ofereceu.
Mesmo com minha ereção à mostra e sentindo a dor de ficar daquela
forma, neguei.
— Não me parece uma boa ideia, não iríamos estudar, e eu tenho
prova amanhã.
Maeve praguejou baixinho, quase me fazendo rir. Estava muito tenso
para me divertir com tudo isso.
— Ok, certinho. Vou ver o que as outras meninas querem de mim,
antes que entrem aqui e vejam meu futuro brinquedo favorito. — Ela olhou
para baixo, em direção ao meu pênis e depois para mim, lançando uma
piscada. — Vejo você amanhã.
Para o bem da minha sanidade, ela não se aproximou para se despedir e
saiu porta afora, antes que eu pudesse responder algo, me deixando preso na
sala por mais alguns minutos, pois teria que esperar aquela droga abaixar.
Maldita necessidade humana.
Trevor havia mandado uma mensagem para mim, dizendo que havia
saído com Caitlin depois do jogo e que era para eu chegar em segurança no
dormitório, e ligar para mamãe, que havia feito uma ligação para ele, dizendo
que estava com saudade.
Apenas mandei uma mensagem para dona Jules, dizendo que estaria
estudando até tarde e que não conseguiria falar com ela hoje. Evitando
qualquer contato com aquela mulher que me conhecia melhor do que eu
mesmo. Não queria que ela me perguntasse as novidades, e eu não
conseguisse omitir que havia dado meu primeiro beijo.
Minha mãe era uma mestra em pegar as coisas no ar e com certeza,
veria que algo está acontecendo, quando eu ligasse.
Saí do ginásio quando ninguém mais olharia para mim e veria uma
grande ereção no meio das minhas pernas, e aproveitei para ir à biblioteca,
em busca de estudos para ocupar minha cabeça. Era verdade que tinha uma
prova amanhã e como não queria acabar reprovando, aproveitei até a meia-
noite para tirar algumas dúvidas nos livros.
O campus estava calmo como imaginava que ficava em todo início de
madrugada, principalmente quando a universidade entrava em semanas de
provas. Caminhei em direção ao meu dormitório, tentando me concentrar em
apenas um pensamento, diante de tantas coisas que estavam acontecendo em
minha vida, mas fui impedido antes de ao menos tentar, por uma figura
masculina familiar sentada no chão, em frente ao prédio de Ciências.
Melvin.
Ele não estava só sentado.
Melvin segurava uma garrafa quase vazia de whisky, e sua cabeça
estava entre seus joelhos, em uma posição de dar pena.
Por que ele estava aqui e bebendo? O que aconteceu? Fazia alguns dias
que eu não o via, porque nossos cursos eram totalmente opostos.
Aproximei-me dele e o cutuquei.
Melvin levantou a cabeça em um pulo, assustado com o toque. Seus
olhos semicerraram em minha direção, e quando sua boca se abriu para se
dirigir a mim, senti o quanto estava bêbado.
— Christopher!
Ele tentou se levantar, mas não conseguiu.
— A-cho que estou bêbado — murmurou e riu em seguida.
Suspirei.
Eu podia simplesmente deixá-lo aqui e não seria julgado por isso, né?
Afinal, ele tinha me dado um soco semestre passado. Estava muito perto de
fazer isso, pois nem sabia como lidar com um bêbado, quando Melvin falou:
— E-eu v-vou ser pai. — Sua voz soou desesperada em meio aos
gaguejos. — Eu não sei ser pai.
Se eu sinalizasse algo, ele nem entenderia, então apenas me aproximei
de Melvin e me sentei na escadaria ao seu lado.
— Obrigado por me o-ouvir.
Apenas assenti.
— Aurora precisa de mim, mas... eu não sei se consigo fazer isso. —
Melvin soluçou. — M-meu pai era um p-péssimo pai, como vou ser um bom
p-pai?
Fiquei um pouco perdido na quantidade de vezes que ele disse a
palavra pai na pergunta, mas entendi que era coisa de bêbado, quando Melvin
levou o restante da bebida à boca.
Ele soltou um som de satisfação ao terminar com a garrafa e me pegou
de surpresa, ao deitar a cabeça no meu ombro logo em seguida. Ele estava
mesmo bêbado!
— Não quero ser... um pai ruim, é por isso que nunca quis ter filhos.
— Notei que sua voz estava embargada. — Como eu vou conseguir criar uma
criança, se não consigo cuidar nem da minha n-namorada? Aurora me odeia.
Neguei.
— E-ela deveria odiar — choramingou. — Depois de tudo o que fiz.
Ele fungou, me fazendo questionar se estava mesmo chorando.
— E se eu for como ele?
A quem ele estava se referindo? Ao seu pai?
Melvin começou a estremecer ao meu lado, se derramando em tantas
lágrimas, que me vi engolindo em seco, sem saber como reagir diante
daquilo. Eu era bom apenas em confortar o meu irmão, nunca havia tentado
isso com um estranho, que nem entendia um sinal do que eu sinalizava.
Há quanto tempo ele estava guardando essa tristeza dentro dele? Não
o conhecia o suficiente para saber, mas pela forma como chorava, me parecia
ser muito.
Percebi que Melvin não precisava de palavras, ao tê-lo se
aconchegando em mim, como se eu fosse uma figura mais velha que o
confortaria, ele apenas precisava de uma companhia que ficasse em silêncio,
enquanto ele se desmanchava em lágrimas.
E eu fui o que ele precisava nessa noite.
Mesmo que sua dor fosse quase insuportável de ser ouvida.
Mesmo que minha jaqueta ficasse manchada das suas lágrimas.
Eu fiquei.
Você tem um fetiche pelo meu amor
Eu te afasto e você volta
Não vejo motivo para culpá-lo
Se eu fosse você, eu também me pegaria
FETISH – SELENA GOMEZ
CHRISTOPHER LANCASTER
Acordei sentindo uma pontada na minha cabeça, como se tivesse
ficado acordado até tarde e dormido pouco durante a noite. Abri meus olhos e
lembrei que aquilo realmente havia acontecido, quando olhei para o outro
lado e encontrei Melvin dormindo na cama de Trevor.
Esperava que meu irmão não me matasse por ter emprestado a sua
cama para o seu cunhado.
Peguei meu celular ao lado da cama para ver a hora e suspirei aliviado
ao ver que faltava mais de uma hora para começar a minha aula. Na aba de
notificações, também havia uma mensagem de Trevor, que dizia que cedo ele
e Caitlin estariam aqui para saber como Melvin estava.
Na noite anterior, experimentei pela primeira vez o mais próximo da
sensação de ser um ombro amigo, tirando o fato de que Melvin não era meu
amigo. Ele estava extremamente bêbado e necessitava de atenção, então
apenas dei o meu melhor, sendo um ouvinte para seus desabafos.
Melvin estava morrendo de medo.
E eu tinha um pouco de medo de que voltasse a ficar perdido.
Era óbvio que ele não estava curado e ontem, enquanto perguntava
diversas vezes se conseguiria ser um bom pai, tive certeza. Diferente de
Caitlin, Melvin ainda não conseguia viver sem a sombra do seu passado.
Levantei-me da cama e fui para o banheiro, me arrumar para a
faculdade. Era provável que Trevor e Caitlin chegassem daqui a pouco, e
claro que meu irmão iria querer usar o chuveiro.
Tomei um banho, escovei meus dentes e vesti um par de roupas
simples para esse dia, como em todos os outros. Ouvi vozes antes de sair do
banheiro e nem precisei esperar do lado de dentro para ter certeza de que
eram Caitlin e Trevor.
— O que você tinha na cabeça, Melvin? — minha cunhada perguntou,
assim que eu saí do banheiro. — Oi, Chris.
Acenei para os dois, que encaravam Melvin sentado em cima da cama.
— Não grita, Cat, estou com dor de cabeça. — Melvin colocou as duas
mãos no topo da sua cabeça.
— Não estou gritando — ela retrucou, sendo sincera. — Só quero
saber o que deu em você, para Christopher achá-lo bêbado no meio do
campus.
Melvin me olhou.
— Obrigado por me trazer para um lugar seguro, Christopher. Sei que
não merecia sua empatia, mesmo que tenha me perdoado pela idiotice que fiz.
Assenti, para que ele entendesse que estava tudo bem, e o vi se virar
para Caitlin.
— Era a bebida ou cocaína, Cat — confessou, me deixando mexido
com a sinceridade com que sua frase saiu. — Eu senti falta de sair dessa
realidade, porque... tudo tem estado uma bagunça de novo. Mil vezes pior!
Deveria estar aliviado por ele não ter recorrido às drogas, mesmo
sabendo que a bebida era uma também?
— Foi só essa vez, eu consegui marcar uma consulta de emergência
com Claire ontem, antes de esvaziar a garrafa.
Caitlin suspirou e se sentou ao seu lado.
— Você vai ser um bom pai, Melvin — ela garantiu aquilo a ele, o
abraçando de lado. — O exemplo que você teve com o nosso, é o que não irá
seguir, entende?
Os olhos do irmão dela voltaram a marejar, ao mesmo tempo que
Trevor se aproximava de mim.
— Como foi ontem? — ele sussurrou a pergunta.
— Ele só chorou, enquanto perguntava diversas vezes se seria um bom
pai.
— Como pode ter tanta certeza disso? — Melvin questionou sua irmã,
chamando a minha atenção.
— Porque eu conheço o seu coração — Cat disse, sorrindo de lado
para ele. — Não é como o do nosso pai.
Melvin suspirou e me olhou.
— Meu pai não foi apenas um filho da puta com a gente, não estou
seguindo o mesmo exemplo?
— Você estava — Cat corrigiu. — Mas está melhorando. Reconhecer
todos os seus erros com Aurora, já foi um grande avanço.
Fiz que sim novamente com a cabeça, já que era o único sinal que ele
conhecia.
— Vou acompanhar Aurora no pré-natal essa semana, irei fazer de
tudo para ser uma boa pessoa, mas... estou com medo, Cat.
Minha cunhada o abraçou forte e fez com que ele deitasse a cabeça no
seu peito. Olhei para o irmão, sabendo que esse momento tinha que ter o
máximo de privacidade possível e sinalizei:
— Vou passar na cafeteria antes de ir para a aula.
Trevor assentiu.
— Combinei de estudar com Caitlin depois do trabalho, então devo
voltar tarde — ele informou. — Ligou para a mãe?
Neguei.
— Ligue hoje, ok?
Peguei minha mochila e a coloquei nas minhas costas.
— Não sou mais criança.
Acenei com a minha maior cara de deboche para ele e saí do quarto em
direção à cafeteria. Depois de todas as últimas horas, uma cafeína era tudo o
que eu precisava, antes de enfrentar a primeira prova do semestre.
CHRISTOPHER LANCASTER
Remexi o meu jantar sem fome alguma, pensando no semblante de
Maeve ao sair do quarto mais cedo. Eu havia falado alguma coisa errada?
Não era como se ela... Maeve não gostava de mim dessa forma ou gostava?
Era impossível.
Ela até poderia gostar, porque agora eu era uma novidade, mas em
algum momento, isso acabaria, e eu seria um nada na sua vida também.
E mesmo se só estivesse sendo pessimista e me menosprezando, ainda
sabia a pressão que seria namorar uma garota como Maeve. Não havia me
esquecido que ela era popular, era herdeira de uma grande marca de luxo e
até mês passado, tinha uma vida ativa nas redes sociais, onde todo mundo
opinava sobre tudo que ela postava.
— Chris, você está bem? Não tocou na comida. — A voz de Caitlin me
despertou dos meus pensamentos.
Sorri de lado, tentando passar que estava bem.
— Só não estou com fome.
— Por que Maeve estava no nosso quarto?
Caitlin deu uma cotovelada em Trevor, que chegou a doer em mim.
— Ai, pimentinha!
Fiz uma careta.
Que apelido cafona!
— Já não conversamos sobre Chris e Maeve?
Olhei de Cat para Trevor, tentando entender o que estava acontecendo.
— Como assim, já falaram sobre a gente?
— Apenas falei para ele parar com esse ranço em cima da Maeve,
afinal, ela está te ajudando, e você não parece incomodado na presença dela
— Caitlin explicou.
Ah.
Era só isso.
Tomei um gole do meu refrigerante.
— Maeve está bem diferente — Caitlin continuou a falar e olhou para
Trevor. — Até seu irmão já percebeu isso.
— Vocês estão tendo alguma coisa?
Engoli em seco e a primeira coisa que fiz foi negar, ignorando tudo o
que fizemos hoje de tarde.
Minha cunhada sorriu para mim.
— Gosta dela?
— Você está mentindo! — Trevor acusou. — Beijou ela outra vez?
— Espera! Vocês já se beijaram? Por que você não me contou?
— Eu não posso sair falando a vida privada do meu irmão, pimentinha.
Pelo menos, ele tinha um pouco de noção.
— E por que não está surtando? Achei que quando isso acontecesse,
esse mundo iria partir com o seu surto.
Ele fingiu uma risada.
— Engraçadinha. — Caitlin deu um rápido selinho nos seus lábios, e
Trevor sorriu como um bobo. — Eu tive que respirar fundo inúmeras vezes
para não surtar.
— Estou orgulhosa de você. — Minha cunhada se virou para mim. —
Você e Maeve... Eu nem estou surpresa, só estava esse tempo todo tentando
preparar esse esquentadinho aqui.
— Nós...
Não finalizei os sinais, porque senti o meu cérebro parar. O que eu
falaria? Que não estávamos juntos, depois do que fizemos? A gente não
estava, mas estava ao mesmo tempo. Era estranho definir.
— Estão namorando? — Trevor parecia mais vermelho do que o
normal.
Neguei.
— Ainda — Caitlin completou.
— Não, ele pode ver que isso é a maior burrada da vida dele e
simplesmente cair fora, antes de entrar em um relacionamento.
— Para de ser chato! Chris merece ser feliz, e nada melhor do que uma
garota completamente diferente dele. Tenho certeza de que a vida dele nem é
mais monótona desde a chegada da Maeve. — Caitlin parecia muito animada,
igualzinho eu ficava dias antes de um jogo que eu queria muito, lançar.
Ela estava certa.
Minha vida não era mais monótona. Eu deveria estar surtando com
tudo isso, não? Tudo estava saindo do controle e do meu estilo de vida.
— Por que você parece tranquilo? — perguntei para Trevor, porque
apesar do ranço por Maeve, ele não estava surtando.
— Você já tem idade suficiente para cuidar do seu umbigo, não tenho
o direito de dizer o que é ou não melhor para você, só tenho que alertá-lo de
todos os riscos, e como Maeve tem provado que está melhorando, estou
dando um voto de confiança para ela também.
— Finalmente, viu? Doeu muito? — Caitlin o provocou.
— Você não faz ideia.
Os dois riram, mas eu nem consegui acompanha-los.
— Eu beijei pela primeira vez — falei aos dois, me sentindo um pouco
envergonhado, porque Cat estava aqui, porém como já a amava como uma
irmã, não quis esconder isso dela também. — Maeve tem sido incrível
comigo, de verdade. Ela me entende e é paciente.
Trevor tocou o lado externo do seu ouvido.
— Não acredito que estou ouvindo isso. — Ele me olhou com
divertimento. — Meu irmãozinho está crescendo.
Semicerrei meus olhos em sua direção.
— Não me trate como uma criança.
— Você é mais novo do que eu!
— Onze meses!
Caitlin bateu na mesa, para chamar a nossa atenção.
— Vocês poderiam focar? — pediu, impaciente. — Eu quero saber o
que está acontecendo no coração de Christopher, não a diferença gritante de
idade entre vocês.
Sorri, orgulhoso porque ela estava mesmo entendendo a língua de
sinais.
— Gosta dela, Chris?
— Não sei — fui sincero. — E acho que a deixei chateada antes de
vocês chegarem.
— Por quê?
Expliquei em sinais o que aconteceu, e Trevor ajudou, lendo alguns de
que Caitlin não se lembrava em voz alta.
— Ela gosta de você? Por que aquela idiota não me conta nada? — Cat
resmungou.
— Maeve não gosta de mim...
— Mas ela pode estar gostando — Caitlin rebateu. — Por isso ficou
chateada quando você disse isso.
Maeve estava mesmo gostando de mim?
— Pensa nela a todo momento? — Trevor questionou e não me deixou
responder, continuando: — Sente saudade dela quando não estão juntos? Tem
reparado mais nela do que normalmente fazia? Pegado todos os dias detalhes
que não pegou no anterior? Se for sim para todas as perguntas, irmão, então
seu coração já foi capturado.
Pensei um pouco nas respostas daquelas perguntas, porém preferi
manter para mim o que estava sentindo, juntamente das lembranças que
invadiram meus pensamentos.
Nos últimos dias em que estava sozinho ou sem ver Maeve por uma
grande quantidade de horas, acabava pensando nela, no que estava fazendo e
em uma forma de entrar em contato. Eu nunca achava alguma, porque não
entendia muito bem o que era aquela vontade, quando tudo o que aquela
garota fazia era me provocar.
Percebi que sentia falta dela hoje, quando ficamos alguns dias sem nos
ver.
Eu gostava de observá-la pintar, porque era nesses momentos que seu
rosto se iluminava, como se tivesse tudo o que precisava bem ali na sua
frente. Não existia problemas com a mãe, desempenho ruim no vôlei ou a
distância com o pai. Era apenas ela, seu silêncio, tintas e pinceis. Maeve
transpirava arte quando estava pintando, e eu gostava de admirá-la.
— Amar é bom, principalmente quando a gente ama quem nos ama de
volta — Caitlin falou, parecendo perceber minha incerteza. — E se está
inseguro quanto à Maeve, não fique. Eu sou amiga dessa garota desde o
ensino médio, e se tem uma coisa que ela nunca vai mudar, é a persistência.
Não sabia se havia entendido certo.
— Como assim?
— Quero dizer que ela nunca vai desistir de você, não enquanto
continuar sendo bom para ela — Cat explicou e sorriu tristemente. — E ainda
se, em um universo alternativo, você fosse ruim, ela ainda persistiria por um
tempo. Da mesma forma que fez com a mãe.
Isso era muito mais esclarecedor para mim, do que Caitlin imaginava.
Conseguia entender melhor o motivo de Maeve ter aguentado a sua mãe até
entrar no seu modo “foda-se” todo mundo do semestre passado.
Lembrei do que Aurora disse sobre ela estar descobrindo uma versão
melhor de si mesma ao meu lado e me levantei, um pouco nervoso com toda
aquela conversa.
— Tudo bem? — Trevor perguntou.
— Eu acho que vou para o quarto — sinalizei rapidamente,
esquecendo que ainda precisava ir com calma, por causa de Caitlin. —
Amanhã preciso acordar cedo.
— Mas...
Nem esperei o que meu irmão tinha a dizer e dei as costas, saindo do
refeitório.
No caminho até o meu dormitório, recebi uma nova mensagem de
Maeve.
Maeve: Combinei com meu pai de pegar Ariana na escola amanhã.
Quer vir comigo? Podíamos trabalhar na história no meu apartamento
depois.
Ela parecia estar normal.
Será que eu havia entendido as coisas errado?
Sem pensar muito, respondi:
Eu: Amanhã parece bom.
MAEVE HOOD
— Vocês dois foram incríveis — Ari disse com suas mãos, mastigando
um pedaço do hambúrguer que havia comprado para ela.
Tinha passado no drive thru do Mcdonald's, porque segundo minha
própria irmã, era o melhor lanche do mundo. Eu não concordava e sabia que
ela nem tinha mais idade para ser comprada por um McLanche feliz, então
deveria amar mesmo aquela rede de fast food.
— Me avise se aqueles idiotas continuarem te atormentando, ok?
Ari tomou um pouco do seu refrigerante.
— Eu não me importo com eles, mas sim, eu aviso.
— As brincadeiras deles podem acabar passando dos limites, Ari —
sinalizei, preocupada com ela. — Esse bullying pode passar a ser algo mais
severo, conforme vocês vão envelhecendo.
— Duvido que agora que eles sabem que eu tenho uma irmã bruxa,
irão continuar. — Ela parecia mesmo tranquila com aquilo. — Não ache que
não me importo, Maeve. Existem noites em que até acabo chorando com as
minhas Barbies, mas acontece que se eu demonstrar minha fraqueza, só vai
fazer com que eles pensem que estão certos.
Eu estava mesmo falando com uma criança de oito anos? Porque
estava um pouco chocada com a linha de raciocínio dela.
— No final do dia, quem são frustrados são eles, porque têm que
diminuir alguém que julgam ser inferior, para se sentirem superiores.
Olhei para Christopher, que estava tão impressionado como eu.
— Você tem uma força impressionante, Ariana — ele a elogiou.
Minha irmãzinha sorriu.
— Existiam idiotas incomodando você na sua época de escola?
Ele assentiu.
— Viu, Maeve? O problema não sou eu, são eles.
Os olhos de Christopher marejaram, e ele se virou para frente, para não
ser pego no flagra por Ari. Quase conseguia ler seus pensamentos. Uma
garotinha de oito anos tinha mais confiança do que um adulto de vinte.
Eu nunca o criticaria por ser quem ele era.
Nem todos nascem com a força da minha irmã, e estava tudo bem, não
era fácil, mas também não podia deixar que isso o afetasse socialmente, como
eu enxergava que acontecia com Christopher.
— Já comeu, mocinha? Podemos ir para casa? — perguntei, mudando
de assunto.
Minha irmã assentiu, parecendo feliz ao colocar o último pedaço de
batata na boca.
Voltei a olhar para Christopher, que estava distraído olhando para a
rua. Ele não estava mais com os olhos marejados, mas parecia perdido em
pensamentos. Preferi não incomoda-lo e segui até a casa do meu pai apenas
com a música baixinha que tocava no rádio.
Não demoramos mais do que quinze minutos para chegar. Ariana saiu
a saltos de dentro do carro e correu para abraçar meu pai, que estava deitado
na espreguiçadeira, curtindo o sol do final da tarde, enquanto lia algum livro.
— Criança, você ainda vai me matar! — Ele riu, a abraçando apertado.
Ari devolveu o abraço, se aconchegando no seu colo, para poder usar
as mãos para sinalizar:
— Maeve assustou os garotos que brincavam comigo! O senhor tinha
que ver as caras deles, pai. Quase se mijaram! — Ari ria, à medida que
sinalizava.
Meu pai me olhou, sério.
— Você fez alguma coisa com eles? — ele perguntou.
— Não, o que você acha que eu sou?
Christopher, que estava ao meu lado, sinalizou:
— Foi feito tudo da maneira certa, senhor.
— Ótimo, Christopher. Em você, eu confio.
Era óbvio que ele estava brincando, pois havia voltado para o tom
divertido que quase sempre usava com a gente. Ari olhou para ele com os
olhos semicerrados, e só percebi agora que ainda usava o aparelho de audição
no ouvido.
— Pode confiar na Maeve também, ela e Chris só me deram mais
coragem hoje.
Sorri, olhando para um Christopher sem jeito ao meu lado.
Meu pai respondeu em sinais:
— Tenho certeza, querida. — Ele nos olhou. — Vão ficar para o
jantar?
Neguei.
— Precisamos fazer um pouco do trabalho, mas amanhã estarei aqui
para jantar — respondi.
Ele concordou.
— Vai ir me buscar de novo, Maeve? — Ari questionou, esperançosa.
— Quem sabe outro dia? Cuidarei de você sempre que puder fazer
isso.
Minha irmã pareceu feliz com esse tipo de cuidado, muito diferente de
mim, que nunca gostava quando minha mãe ia me buscar na escola. Não
havia cuidado, eram apenas cobranças.
Isso me fazia pensar no jogo que tive essa semana e na mensagem que
recebi de Bonnie. Ela estava sempre me vigiando, e isso não me deixava
menos tranquila, porque não sabia o que esperar daquela mulher.
No entanto, esse medo era algo com que eu teria que lidar para o resto
da minha vida. Pelo menos, até que minha mãe finalmente entendesse que eu
não voltaria para debaixo das suas asas.
E como ela estava sempre me vigiando...
— O que acham de aparecer no meu jogo na segunda?
— Sério? — Ari pulou do colo do nosso pai. — Na torcida?
Assenti, sorrindo.
— Vou arrumar os ingressos amanhã, se toparem, mas o jogo não vai
acontecer na UCLA, será em San Diego.
Ari olhou para o nosso pai.
— Nós vamos, pai?
Richard sorriu e piscou para minha irmãzinha.
— Estaremos lá, torcendo por sua irmã.
— Não acredito que irei ver Maeve jogar! — Ela pulou no meu colo.
Eu ri, a segurando e a abraçando. No meu peito, crescia cada vez mais
um carinho por essa mini garotinha. Sentia que esse sentimento só
aumentaria, conforme o tempo passasse e eu tinha certeza de que mesmo
tendo perdido oito anos da sua vida, estaria com ela até que envelhecesse.
Era estranho sentir esse tipo de coisa por alguém que eu só conhecia a
um mês, talvez fosse o nosso laço sanguíneo falando mais alto.
Olhei para o meu pai, que estava com os olhos brilhando tanto em
nossa direção, que arriscaria dizer que ele estava emocionado.
— Obrigado — agradeceu.
Meu pai não explicou o porquê, mas eu sabia o motivo. Ele estava me
agradecendo por deixá-lo participar de algo pessoal meu, quando nunca teve
essa chance.
Sorri de volta, deixando um beijinho no topo da cabeça da garotinha
agarrada a mim. Ari se afastou e me olhou.
— Como eu tenho que me vestir? — perguntou.
— Coloque o conjunto mais bonito do seu guarda-roupa.
— Acho que sei qual roupa irei usar. — Ela sorriu.
— Agora eu tenho que ir, ok? Vejo você amanhã.
Ariana sorriu e acenou para Chris.
— Obrigada por hoje, namorado da Maeve.
Ela sabia o nome dele e achava que também sabia que nós ainda não
éramos namorados, mas como uma boa causadora do caos como eu, estava o
provocando. Pisquei para Ari e me virei para Chris, o notando sem graça.
— Vamos, trevo de quatro folhas.
Acenei para o meu pai e enrosquei meu braço no garoto ao meu lado, o
levando em direção ao carro.
CHRISTOPHER LANCASTER
Meu pau estava tão duro, que eu sentia dor, mas olhar para Maeve e ter
a certeza de que tinha ido bem, superava qualquer coisa. Ela mantinha um
semblante satisfeito, e sua pele brilhava, muito além do pouco de suor que
tinha na sua testa e pescoço.
Ela estava brilhando por mim.
Isso me enchia de uma sensação parecida com alívio.
Maeve abriu seus olhos, e senti aquele brilho me atingir diretamente no
coração. Ela era a garota mais linda do mundo, e eu estava feliz por não tê-la
magoado na nossa última conversa.
Tudo era muito confuso e novo, estava passando por um lento processo
de mudança e não sabia como reagir a essas novas emoções. O medo de que
em algum momento ela acordasse e enxergasse o tempo que estava perdendo
comigo era presente dentro de mim e me fechava para muitas situações.
— O que foi? — ela perguntou.
Nada.
Eu não queria falar sobre isso.
Apenas neguei e sorri para ela.
Maeve desceu seus olhos pelo meu corpo lentamente, me trazendo
aquela sensação parecida com a de alguns minutos atrás, quando me viu
despido pela primeira vez. Era como se eu fosse o homem mais gostoso do
mundo, sendo que tinha certeza de que ela já havia ficado com vários atletas
melhores daquele campus.
Ok. Era melhor eu não pensar nisso.
Não quando Maeve estava me empurrando pelos ombros, me fazendo
sentar no sofá e se levantando. Estava pronto para perguntar o que aconteceu,
mas ela me respondeu, ao se ajoelhar na minha frente.
— Acho que não é cedo para dar um presente por você ter me feito
gozar com seus dedos — ela disse, abrindo o zíper da minha calça e me
arrancando um suspiro, só de tocar levemente meu pau sob a calça.
Ela iria... Ela iria mesmo fazer aquilo? Me tocar?
Só de pensar nas suas mãos em contato direto com meu pênis, o sentia
doer mais de ansiedade.
Levantei meus quadris e a ajudei tirar minha calça e cueca. Minha
ereção pulou para fora e foi alvo da atenção de Maeve. Para mim, sempre foi
uma parte normal do meu corpo, mas a forma como ela o olhava agora... era
com sede e só me deixava mais excitado.
— Estou doida para sentar no seu pau, Christopher — ela confessou e
o segurou, arrancando um gemido silencioso dos meus lábios.
Seu toque era muito melhor do que o meu.
Seus dedos eram delicados e estavam fechados ao redor do meu pau.
Maeve começou a movê-los para cima e para baixo, me tirando a capacidade
de respirar regularmente com os movimentos rápidos e ágeis.
— Você pode agarrar meus cabelos, é muito gostoso.
Só consegui entender o que ela quis dizer com aquilo, quando seu rosto
se aproximou da ponta da minha ereção, e sua língua lambeu todo o líquido
que saía dali. Eu gemi, o ar saindo dos meus lábios, e meus olhos quase se
fechando, com a sensação mais incrível da minha vida.
Eu queria de novo. Minhas mãos se fecharam em seu cabelo, e tomado
pela vontade de sentir aquilo novamente, puxei Maeve em direção ao meu
pau, e dessa vez, ela colocou toda a cabeça dele na boca. Minha boca se
abriu, e uma rajada de ar saiu pelos meus lábios, ao sentir o interior pequeno
dela me engolindo como se eu fosse um doce.
Maeve fazia sucções intensas com sua boca, cada vez me levando mais
fundo, e eu senti que estava muito perto de explodir. Apertei mais forte os
fios do seu cabelo, levantando meu quadril automaticamente, com a vontade
de sentir mais disso.
Era incrível.
Não havia nada mais incrível do que isso.
Ela gemeu entrecortado, com os lábios ao redor do meu pau e me
olhando de uma forma tão fatal, que senti todo o meu corpo estremecer e
aquela sensação deliciosa de prazer imenso tomar conta de mim.
Fechei os meus olhos, tentando recuperar minha respiração e meu
batimento, porém não durei muito tempo, porque Maeve me fez abri-los com
o movimento da sua boca engolindo tudo o que saía de mim. Afrouxei
minhas mãos do seu cabelo, notando que havia os puxado demais. Será que
havia a machucado?
Gemi, um pouco sensível, quando sua boca largou o meu pau sem
nenhuma gota do meu orgasmo.
— Como eu fui? — Ela sorriu para mim, voltando a se sentar ao meu
lado.
Deitei minha cabeça no encosto do sofá e sinalizei:
— Perfeita.
Seu sorriso se tornou mais convencido, e ela deitou a cabeça no meu
peito.
— Antes de começarmos a trabalhar, irei precisar de um banho, por
que não vem comigo?
Neguei.
— É melhor não.
Ela fez um biquinho.
— Não seja tão tímido!
Eu ri.
— Não estou sendo... — Retirei algumas mechas do seu cabelo da
frente do seu rosto, para vê-la melhor. — Puxei muito forte seu cabelo? Está
doendo?
Maeve negou.
— Entenda que você pode me jogar contra uma parede e me fazer
gozar em minutos, sem me machucar.
Eu ri, a achando inacreditável, ao mesmo tempo que pensava que
aquela ideia parecia um pouco atraente. O que estava acontecendo? Era muita
convivência com ela!
— Obrigado por ser paciente comigo, Maeve Hood.
— Bom... desde que você seja meu no final disso tudo, irá valer a
pena.
E aqui estava ela.
Falando essas coisas que me assustavam, na mesma medida que me
davam esperança.
Apenas sorri e baguncei seus cabelos.
— É melhor ir tomar um banho logo.
Ela riu, mas concordou baixinho. Maeve pegou a blusa que eu tirei do
seu corpo e a vestiu por cima, sem sutiã mesmo.
— Eu já volto!
Ela se inclinou e beijou meus lábios rapidamente, antes de correr em
direção ao quarto.
Subi minha cueca e a calça, fechando o zíper em seguida.
Na minha cabeça, só passavam imagens do que fizemos aqui, me
fazendo ter certeza de que seria muito difícil me concentrar no projeto.
Fazia alguns dias que meu irmão e eu não tínhamos um momento a sós
para jogar videogame, então resolvemos aproveitar essa sexta-feira de noite,
que não teríamos compromissos, para jogar como nos velhos tempos.
Maeve estava jantando com pai a essas horas, e por mais que tenha
pedido para eu ir, preferi deixa-la ter esse tempo com eles.
Caitlin estava com Melvin, lhe fazendo um pouco de companhia. Ela
estava com medo de que ele fosse beber demais novamente e acabar voltando
para um círculo vicioso, então meio que estava de babá, o convencendo de
que seria um bom pai.
— Ok... eu vou ter que perguntar. — Trevor pausou o jogo bem na
hora que meu carro iria passar do dele. — Até que ponto você e Maeve já
foram?
Senti meu rosto ficar vermelho.
— O quê? Pare de arrumar desculpas para parar o jogo e dê play,
porque irei ganhar de você.
— É sério, Chris! Você nunca quis ouvir sobre sexo, o que deve saber
é só o que a escola explica. Me deixou naquela reunião constrangedora da
mamãe colocando uma camisinha na banana sozinho! Como espera que eu
não me preocupe? É meu dever de irmão mais velho ajudar você — explicou,
largando o controle ao nosso lado. — E mesmo que eu ainda não goste tanto
assim da Maeve, não quero que você passe vergonha na frente dela.
Ele tinha um bom ponto, porém não conhecia Maeve o suficiente para
saber que ela nunca me deixaria constrangido com minha inexperiência.
— Mamãe enfiou uma camisinha na banana? Que bom que eu não
precisei ver isso.
Trevor continuou me olhando.
— Eu não vou falar o que já tive com Maeve. É íntimo!
— Então vocês já tiveram algo? — Riu fraco. — É claro que já. É da
Maeve que estamos falando.
— Ei!
Dei um tapa nas suas costas.
— Calma aí, pivete, não estou a ofendendo. Não precisa ser tão
protetor assim.
Larguei o controle ao lado do dele, desistindo do jogo também.
— Tem alguma dúvida?
Eu tinha várias, mas também tinha vergonha de perguntar a ele.
— Sou seu irmão, posso ajudar você.
Não pensei muito e simplesmente sinalizei:
— O que mais acontece, além da penetração?
Ele assentiu para si mesmo, como se entendesse porque essa era a
minha dúvida. Talvez até soubesse, Trevor me conhecia muito bem.
— Sexo é muito mais do que penetração, Chris... Me diga, você ainda
é virgem? — Eu fiz que sim com a cabeça. — Então vocês devem ter feito
preliminares... Droga! Isso é difícil até para mim.
— Foi você que se ofereceu!
— Eu sei, porra! — Riu. — Você tocou nela?
Mesmo com o rosto quente de vergonha, assenti.
— Ela te tocou? — Novamente, acenei que sim. — Você... fez sexo
oral nela?
— Tipo...
— Boca, Christopher. — Fez um V com os dedos e colocou a língua no
meio, a balançando e me fazendo soltar uma careta. — É, pela sua cara, não.
Não que a ideia disso fosse estranha, só era nova, só que a imagem do
meu irmão sim, era muito... nojenta. Eca!
— Isso também acontece? — perguntei, mesmo sendo óbvio.
Ela havia me chupado.
— Assim como ela pode fazer em você... existem tantas coisas no sexo
que tornam tudo mais interessante, mas você só vai descobrir com o que
sente prazer, conforme for avançando nas experiências.
— Nós não chegamos nesse nível ainda, mas eu gosto de tudo o que a
gente está fazendo, Trevor — afirmei. — Maeve é paciente comigo.
Meu irmão sorriu fraco.
— Isso me tranquiliza.
— Tenho um pouco de medo de acabar a cansando. Às vezes, pareço
um sonso a tocando, e outras vezes, é como se eu soubesse o que estivesse
fazendo.
— Sexo é tudo sobre confiança, pivete. — Ele se aproximou e
bagunçou o meu cabelo. — Você não pode nascer um fodedor incrível, tem
uma longa caminhada até lá.
Bati seu ombro no meu.
— Obrigado.
— Tem mais alguma dúvida?
— Como se faz sexo oral?
Trevor arregalou os olhos, e eu ri.
— Você está brincando, né?
Assenti, abraçando a minha barriga, de tanto rir com o pânico que ele
teve ao pensar que teria que explicar tudo para mim. Trevor me deu um tapa
na perna e resmungou alguma coisa, porém foi cortado pela porta do nosso
quarto se abrindo abruptamente.
Maeve, Caitlin e Melvin entraram, mais pálidos do que o normal.
— O que aconteceu? — Trevor perguntou, preocupado.
Sentei-me direito no sofá, vendo Maeve pegando o controle e mudando
para um canal de noticiário. Ela se sentou ao meu lado e segurou a minha
mão, trazendo uma preocupação maior para o meu peito.
— É melhor vocês olharem o noticiário.
Caitlin e Melvin ficaram próximos de Trevor. Foquei minha atenção na
televisão e na repórter que estava na tela.
— Eu sou Maude e falo diretamente de Sitka, cidade do Alasca, onde o
prefeito e candidato a governador, Angus Gage, estava sendo julgado por
corrupção. Hoje, aconteceu a terceira audiência, onde o juiz decretou a
prisão, com a prova final sendo apresentada no tribunal... Angus Gage está
condenado a dezesseis anos de prisão sob a lei...
Eu parei de escutar.
Meus ouvidos haviam parado completamente de ouvir o que o
jornalista dizia.
Ele estava preso.
O homem que dirigiu bêbado e causou o meu acidente, estava preso.
— Alanna Gage está sendo investigada por ser cúmplice do marido,
mas até agora, não há nenhuma prova concreta que a incrimine.
Nem tudo era vitória.
Aquela mulher merecia estar atrás das grades também.
Mas talvez, esse não fosse ser o seu destino, o castigo daquela mulher
era ver tudo o que ela mais prezava ruir, completamente fora do seu controle.
Eu não fazia ideia de quando essas investigações haviam começado, porque
prometemos para minha mãe que deixaríamos aquilo no passado, só que eles
haviam, enfim, recebido o que mereciam.
Olhei para o meu irmão, e sentindo que era observado, ele me olhou de
volta.
Aquilo, finalmente, havia acabado.
Não pelos meios certos, porém havia dado um ponto final, de qualquer
forma.
E eu me sentia totalmente aliviado, como se um peso que nem tinha
noção que existia nos meus ombros, houvesse, por fim, saído de cima de
mim.
Não me deixe te amando, amor
O que quer que você faça, querida
Não me deixe te amando, amor
Ooh, amor
LMYL – JACKSON WANG
MAEVE HOOD
Eu não era muito ligada em noticiários, apesar de saber que isso era
uma grande falha minha e que deveria mudar, agora que estava ficando mais
adulta. Por conta disso, fiquei um pouco chocada quando vi a prévia do
noticiário que passaria mais tarde sobre o final do julgamento da lista de
políticos corruptos do Alasca, e que o pai da minha melhor amiga estava
envolvido.
Tive que pedir licença para o meu pai e Suzy e sair da casa deles em
direção ao dormitório da minha amiga. Não soube se era uma coisa boa ou
ruim Melvin estar com ela quando cheguei, mas acabei contando por cima o
que eu sabia, e ao pesquisarmos mais um pouco sobre o assunto na internet,
descobrimos que haviam achado um desvio de dinheiro no início do ano, e a
investigação havia começado a mais ou menos três meses atrás, o que fazia
sentido a gente não saber, pois foi na época em que Melvin e Trevor, os
únicos que ainda procuravam saber sobre eles, prometeram não pesquisar
mais.
Caitlin decidiu que era melhor que Trevor e Christopher soubessem
disso, e eu concordei. Foi assim que viemos parar aqui, ouvindo a repórter
terminar de fazer a sua reportagem, informando mais detalhes sobre a prisão
dos homens corruptos.
Aquela merda de pai finalmente havia sido julgada, não por tudo o que
fez, que com certeza aumentaria seus anos na cadeia, porém ainda era um
castigo.
— Como vocês estão? — Trevor tomou a iniciativa de quebrar o
silêncio que se instaurou quando a repórter parou de falar sobre eles.
Olhei para Melvin e Caitlin.
Minha amiga parecia normal, entretanto meu amigo... ele parecia
perdido.
— Não sei o que pensar... — Caitlin confessou. — Nunca imaginei que
ele fosse corrupto.
Não era tão difícil assim de se imaginar.
Alguém que é mau para a família, não assume a culpa do que fez e é
cheio de erros malignos, roubar não é um grande caso.
— Você está bem? — perguntei para Christopher, soltando a sua mão
para que pudesse sinalizar.
— Me sinto aliviado.
Ele olhou para Melvin.
— Pergunte a ele se está bem com tudo isso.
Eu assenti, achando fofa sua preocupação.
— Melvin, você está bem? — perguntei, parecendo acorda-lo dos seus
pensamentos.
— É só que... — Ele suspirou, levando a mão até seu cabelo e
bagunçando os fios loiros. — Nosso pai é mesmo uma decepção.
Seus olhos marejaram, e ele tentou esconder aquilo com um sorriso
forçado nos lábios. Caitlin se aproximou mais dele e o abraçou apertado,
quase o fazendo desmoronar nos seus braços aqui mesmo.
— Como você consegue, Cat? — ele perguntou, alisando suas costas.
— Como você conseguiu fechar essa porta para eles? Eu a invejo.
— Quando nossa mãe fechou a porta para mim e disse que eu estava
morta para eles — Caitlin respondeu, também alisando suas costas. — Você
está indo bem, Melvin. Cada um consegue lidar com a dor de uma forma
diferente, e não me inveje, não é como se eu não sentisse nada.
Melvin não a respondeu, apenas se manteve abraçado à irmã.
— Agora você consegue ver que o problema nunca foi a gente, e sim
eles? — ela perguntou, e ele assentiu. — Ótimo!
— Acha que ela vai ser presa também? — Melvin perguntou.
Era sobre a mãe deles.
— Não sei, mas iremos saber em breve.
Melvin deixou um beijo na testa dela e a afastou.
— Obrigado.
Voltei a olhar para Christopher e lancei um sorriso fraco, e que o
confortasse. Gostaria que ele soubesse que estaria aqui, para caso quisesse
conversar comigo.
— E o jantar com seu pai?
— Ele não entendeu muita coisa, quando deixei a minha refeição no
prato e saí da sua casa, falando que explicava depois, mas não é como se ele
fosse tóxico como minha mãe — brinquei, o fazendo sorrir mais à vontade.
Eu amava esse sorriso. — Os três estarão no jogo segunda, e acho que nem se
importam com mais nada, depois desse convite.
— Falei que eles ficariam felizes com isso. — Chris bateu o seu ombro
no meu, me provocando.
E ele estava orgulhoso de mim.
Não havia me esquecido desse detalhe, mesmo que parecesse que sim.
Ninguém nunca havia ficado orgulhoso de mim antes.
— Por que está me olhando assim? — ele perguntou, e eu desviei meu
olhar para meus amigos e Trevor ao meu redor.
Eles estavam falando sobre Angus e Alanna, mas nem havia prestado
atenção. Cada vez mais, tinha certeza de que estava com alguma coisa dentro
de mim, dirigida especialmente a Christopher.
Alguém bateu na porta, e Aurora entrou no quarto.
— Recebi a mensagem que Maeve enviou. — Ela andou a passos
largos até Melvin. — Como vocês estão?
Quase ri. Ela podia estar perguntando para todos, porém era com
Melvin que ela se importava mais, e eu não achava aquilo mais tão ridículo.
— Oi, você veio — Melvin murmurou, os olhos voltando a brilhar,
quando Aurora parou na sua frente.
— É claro que eu viria... Quer conversar? Nós podemos comer sorvete
enquanto isso, acho que estou sentindo meu primeiro desejo de grávida. —
Ela sorriu, colocando a mão na barriga.
Não conseguia ver nada ainda, porque Aurora estava vestindo uma
camisa larga, o que me lembrava do que ela havia dito na semana passada em
um dos nossos encontros para tomar café da manhã, sobre não querer que as
pessoas que nos acompanhavam soubessem ainda.
Aquilo com certeza, geraria um falatório.
A princesinha da Elite grávida do ex-namorado viciado.
Era assim que eles chamariam, e eu já conseguia ver os sem nada para
fazer falando merda sobre aquela situação, que era muito mais delicada do
que eles imaginavam. Era por isso que não entrava mais nas redes sociais
para saber o que estavam falando sobre mim ou meus amigos. Eu queria me
desprender de tudo a que a Maeve antiga era presa, e a imagem era uma
delas.
— Vamos lá. Querem ir junto? — Melvin convidou a gente.
Nós negamos. Parecia que todos sabiam que aquele encontro era
importante para eles construírem uma amizade depois do término.
Aurora e Melvin saíram, e Caitlin veio se sentar próxima de mim e de
Trevor no sofá.
— Por que não assistimos um filme de terror para distrair?
Fiz uma careta, ao mesmo tempo que Trevor fazia a mesma cara.
— Você não se cansa desses filmes assustadores? — perguntei para a
minha amiga.
— Vou ter que concordar com a Maeve — Trevor disse.
Coloquei a mão no peito, fingindo estar muito emocionada.
— Você está concordando comigo? O que é isso? Um sonho?
Ele revirou os olhos.
— Controla a sua namorada, Christopher.
Mostrei a língua para ele, da minha forma bem madura, e me aninhei a
Christopher, deitando a minha cabeça no seu ombro.
— Seu irmão ainda não fez o pedido.
Caitlin riu, mas em seguida fechou a cara e me deu um tapa na coxa,
que me fez gritar.
— Ai! Que merda tem de errado com você?
— Isso é por você não me dizer que estava se envolvendo com
Christopher.
Fiz um beicinho.
— Não era para nenhum de vocês saber — Chris sinalizou.
Trevor nos olhos com uma cara de deboche.
— Vocês estão fazendo um ótimo trabalho em esconder.
Minha amiga riu.
— Só não estou tão chateada, porque já imaginava que isso
aconteceria.
Parece que todo mundo já imaginava, e para falar bem a verdade, no
fundinho do meu coração e da minha boceta, eu também queria aquilo desde
o início.
— Você só tem que fazer o pedido, Chris — Caitlin falou.
Olhei para Christopher, que estava totalmente desconfortável por ser o
foco da conversa, e decidi mudar de assunto, antes que ele se sentisse
pressionado a algo.
— Qual filme você quer assistir, criatura estranha? Não pode ser tão
aterrorizante assim.
— Vamos assistir Rua do Medo? Prometo que não é tão terror assim.
Claro. O filme tinha a palavra medo no nome de enfeite.
Apenas concordei, me dando por vencida. Não havia o que conversar
sobre o que descobrimos, e era bom ter um momento mais amizade com eles,
para se distrair dessa tensão toda que entrou no quarto assim que aqueles
nomes foram mencionados. Qualquer pavor que eu sentisse, tinha
Christopher ao meu lado, para agarrar no meio do filme.
CHRISTOPHER LANCASTER
Durante as férias de verão, ouvi uma discussão boba de Caitlin e
Trevor, porque meu irmão estava com ciúmes de um cara que deu em cima
dela na praia. Lembro de ter achado tão ridículo aquele sentimento, que fiquei
uma semana provocando Trevor por causa disso.
Nunca achei que o carma fosse me cobrar tão cedo.
Observei Barry rindo de algo que Maeve estava falando e ela o
acompanhando na risada, sustentando o braço dele ao redor dos seus ombros.
Eu sabia que eles eram amigos, e estava tudo bem ela ter amizades, mas
também sabia que eles já haviam transado no passado, e era isso que me
trazia uma sensação de inferioridade absurda.
Senti-me completamente inferior a ele.
Achava que ninguém explicava tamanha insuficiência que você sentia,
quando o ciúme tomava o seu coração.
Olhar para Barry e Maeve me fazia pensar porque eu continuava me
envolvendo cada vez mais naquela relação que só me machucaria. Vê-la com
um cara que tinha intimidade o suficiente para abraça-la livremente, me fazia
perceber o que eu era.
Um nada.
Alguém que nunca seria tão vivo quanto Barry ou qualquer cara que
gostava dela nesse campus, e eu sabia que havia muitos.
Maeve era linda e popular.
Ou pelo menos era, já que nesses últimos dias, estava tentando se
esconder na própria sombra, como eu fazia.
— É ele, não é? — Uma voz soou baixinha atrás de mim, porém eu
consegui entender perfeitamente a pergunta. — Será que eles estão juntos?
Não me virei, porque sabia que era de mim que estavam falando, eu
sentia olhares me queimando.
— Uma garota disse na comunidade que eles faziam trabalho juntos,
mas no último jogo, Maeve estava cheia de sorrisinhos para ele.
— Ele não é surdo?
Não, eu estou escutando muito bem.
— E surdos não podem namorar, amiga? Que pensamento é esse?
— É claro que podem, mas não acha estranho alguém como Maeve
ficar com alguém como esse garoto? Tenho pena dele no futuro.
Uma delas riu.
— Tenho certeza de que ela vai quebrar o coração dele.
— Não é ela com Barry lá? Acho que Maeve já está quebrando.
— É melhor irmos para a biblioteca, ela está vindo para essa direção.
Ouvi os passos delas se afastando e foquei minha atenção em Maeve,
que se aproximava de mim nesse momento. Não tive nem tempo de fingir
que não havia a visto com Barry, porque só percebi sua aproximação agora,
de tão focado que estava na conversa alheia.
Aquelas meninas estavam falando sobre nós. Deveriam ser duas das
pessoas que adoravam cuidar da vida dos atletas do campus como se eles
fossem ídolos.
— Ei! — Maeve agarrou os dois lados do meu rosto e antes que se
aproximasse para fazer algo, eu me afastei. — Você está bem?
Assenti e lancei um sorriso, que tenho certeza que soou falso.
— Preciso ir para o dormitório trabalhar no projeto.
— Ótimo! Vamos para o meu apartamento e trabalhamos juntos.
Ela segurou a minha mão e tentou caminhar comigo, entretanto eu não
movi um passo para acompanhá-la. Maeve olhou para mim, confusa, eu soltei
sua mão e tentei explicar:
— Preciso ir para o meu dormitório.
Precisava ficar um pouco sozinho.
— Quer me falar o que está acontecendo? É por causa do Barry?
Desviei meu olhar, me sentindo pequeno por me importar tanto com
aquilo.
— Estava apenas conversando com meu amigo — ela explicou o que
até para mim era óbvio, mas que ainda me deixava terrivelmente triste. Ele
era muito melhor do que eu... será que ela sentia falta de estar com ele como
antes? — O Barry, que está namorando a Tiffany, lembra?
Maeve perguntou com um tom divertido, e sua mão tocou meu queixo,
atraindo meu olhar para ela.
— Está com ciúmes?
O que eu diria? Além de me sentir insuficiente, agora me sentia
envergonhado por aquela cena.
— Só preciso mesmo ir para o meu dormitório.
— Por que está fugindo de mim de novo? Achei que tínhamos passado
dessa fase.
— Desculpa... — pedi, me sentindo péssimo.
Podia dizer que não estava fugindo, porém era exatamente isso que
estava fazendo, porque não queria lidar com o fato de que talvez estivesse
gostando dessa garota mais do que deveria.
Não sabia lidar com esse sentimento e com todas as outras emoções
que ele me fazia sentir, ao mesmo tempo que eu queria Maeve
desesperadamente, me lembrava de quem eu era, e nada fazia mais sentido na
minha cabeça.
— Você não precisa sentir ciúmes dele — ela disse, se aproximando de
mim até ficar quase colada ao meu corpo. — Lembra do que eu disse sobre
gostar de você? — Assenti. — Não é mais o mesmo gostar de antes.
Ela não sentia o mesmo por mim.
Eu quase conseguia sentir o meu coração se partindo com suas
palavras, até que Maeve completou:
— Estou apaixonada por você, trevo de quatro folhas, e a última coisa
que eu quero que faça é que fuja de mim.
Ela...
Meus olhos arregalaram, ao mesmo tempo que um sorriso se abria nos
seus lábios.
Como Maeve poderia estar apaixonada por mim? Entendia
perfeitamente eu estar louco por ela, contudo, essa reciprocidade de
sentimentos ainda era uma surpresa.
Percebi que estava parado que nem um idiota e que ela provavelmente
queria uma resposta para o que acabou de falar, mas o que eu diria? A
verdade?
Maeve voltou a segurar a minha mão.
— Você não precisa me dizer nada, e novamente, não estou o
pressionando a nada. Vamos com calma. — Nesse momento, eu gostei ainda
mais dela. — Não queria falar agora, mas também conheço um pouco de
você, para saber que seu ciúme não é igual ao dos outros caras.
Não era.
Enquanto um cara no meu lugar iria marcar território e provavelmente
arrumar uma briga, por causa de um sentimento tão desnecessário, eu
procurava formas de me esconder e me colocar para baixo.
Afastei minha mão da sua e sinalizei:
— Obrigado.
Por ser sincera.
Por ser paciente.
Por gostar de mim.
Meus olhos marejaram, e não sabia dizer se foi o reflexo ou os seus
também estavam iguais aos meus, tudo o que vi, foi ela disfarçando com um
sorriso de lado e entrelaçando o seu braço no meu.
Eu amava a maneira como nos entendíamos apenas com olhares.
— Vamos para o meu apartamento?
Assenti.
Eu iria para qualquer lugar que ela fosse.
Maeve desenhava mais uma das cenas que havia escrito no caderno de
desenho que estávamos usando para criar a história de Jonas e Lila. Ela
estava tão concentrada na arte que pintava, que nem percebeu que eu havia
parado de escrever há uns bons minutos, apenas para observá-la.
Maeve não parecia ter ficado brava com o meu silêncio.
Ela teria quanto mais de paciência para lidar comigo?
Era assustador que ninguém mais conseguisse me entender tão bem
quanto ela em um curto espaço de tempo, como o que tínhamos.
— Sinto minha pele queimando com o seu olhar, trevo de quatro folhas
— ela comentou e me olhou, sorrindo para mim. — O que foi? Perdeu a
inspiração com a sua Lila de verdade bem aqui?
Eu amava quando ela me provocava.
— Por que se apaixonou por mim?
Ela riu fraco, largando o lápis que desenhava e o caderno em cima da
mesinha.
— Esqueceu de tudo o que eu disse sobre tê-lo visto pela primeira vez?
— perguntou, se levantando e se aproximando de mim. — Não lembra o que
escreveu para mim aquela vez?
— Lembre-se que apenas você é capaz de tirá-la dessa dor que está
sentindo.
Ela concordou e se sentou de lado no meu colo. Abracei sua cintura,
observando seus braços fazerem o mesmo com o meu pescoço.
— Você me salvou da prisão em que eu estava vivendo naquele dia, e
desde então, cada passo, atitude e proximidade, contribuíram para eu me
apaixonar por você.
Queria perguntar tantas coisas, mas os sinais não vinham na minha
cabeça, apenas consegui prestar atenção no seu rosto, na sua beleza e no fato
de que ela gostava de mim.
Como uma mulher gosta de um homem.
Eu vivi os meus últimos dez anos fugindo de caminhos que poderiam
me levar a esse fim, porque achava que ninguém gostaria de alguém mudo e
com um péssimo senso de humor.
No entanto, aqui estava ela, no meu colo e no meu coração.
Aproximei minha boca da sua e a beijei, sentindo o órgão no meu peito
acelerar as batidas, como sempre acontecia quando nos beijávamos. Meu
coração já não batia normalmente, desde que ela confessou seus sentimentos
por mim, não podia esperar que ele desacelerasse agora.
Era tão gostoso sentir o seu sabor, que só conseguia aperta-la mais nos
meus braços. Nossas línguas brincavam uma com a outra de forma calma e
com tanta paixão, que trazia uma emoção a mais para dentro de mim.
Maeve encerou o beijo com pequenos selinhos e sorriu para mim.
Levantei minhas mãos com a ideia certa do que eu queria para esse
final de tarde, do que eu queria desde que a toquei nessa semana.
— Podemos ir até o fim dessa vez?
Ela olhou das minhas mãos para mim, e notei em tempo real, o brilho
apaixonado receber uma dose grande de luxúria.
— Está dizendo que quer me foder hoje?
Meu pau reagiu às suas palavras, endurecendo dentro da cueca. Ela
fazia transar parecer muito mais maliciosos do que era, mesmo depois de ter
se declarado para mim, e o mais impressionante era que eu amava aquilo.
Maeve estava me enlouquecendo com todas as emoções novas que estava me
fazendo sentir.
Eu assenti para a sua pergunta e agarrei a sua nuca, só esperando uma
resposta positiva, que pudesse me fazer continuar.
— Você pode fazer o que quiser comigo, Christopher, ou esqueceu
disso? — ela sussurrou.
Tomei seus lábios nos meus, pedindo passagem com a minha língua e
arrancando um suspiro, que foi engolido pelo nosso beijo. Maeve agarrou
meu rosto e sugou a minha língua, causando um espasmo no meu pau, que
me fez respirar fundo e agarrar mais forte sua cintura.
Deixei todos os meus medos de lado e a segurei firmemente, antes de
me levantar com seu corpo e caminhar até a porta de saída do seu escritório.
O quarto de Maeve ficava bem em frente e foi nele que eu entrei, ainda
beijando a sua boca, completamente viciado nos movimentos da sua língua
na minha.
Deitei o corpo de Maeve delicadamente na cama e deslizei minha boca
pelo seu pescoço. Beijei sua pele, pedaço por pedaço, ouvindo seu suspiro
satisfeito, que me deixava mais confiante sobre o que eu estava fazendo.
Maeve agarrou a minha camiseta e a puxou para cima, me afastei, para
que a peça de roupa deslizasse para fora do meu corpo, e quando ela a jogou
em algum lugar do quarto, voltei para o seu pescoço. Mordisquei sua pele e
experimentei chupar, como ela fazia em minha língua, e aquilo arrancou um
gemido mais alto de Maeve.
Suas mãos alisaram meu peito e deslizaram por todo meu abdômen, me
causando um arrepio gostoso. Minha ereção ficou mais rígida, e eu me vi
louco para tirar a calça e a cueca, mas não fiz.
Segurei a barra da regata que Maeve usava e a puxei para cima. Ela
levantou os braços, facilitando a retirada da roupa do seu corpo. Seus seios
estavam escondidos em um sutiã com rendas da cor azul, quase do mesmo
tom dos seus olhos. Antes de tocá-la, aproximei minhas mãos do fecho da sua
calça e abri o botão, com meus olhos fixos nos dela.
Maeve levantou os quadris quando abri o zíper do jeans, e segurei o
pano da sua calcinha e da calça, deslizando-as para fora do seu corpo.
Ela era a garota mais linda do mundo.
Eu não tinha dúvidas disso.
Ainda a observando, eu tomei coragem de me despir na sua frente, para
facilitar as coisas, me sentindo um pouco nervoso por ser alvo do seu olhar
intenso.
Quando fiquei completamente nu, me sentei ao seu lado e sinalizei:
— Você é perfeita.
Pela primeira vez, eu vi Maeve ficar sem graça. Seu rosto não chegou a
corar, porém ela fechou seus olhos e sorriu fraco, como se não soubesse
responder àquilo. Aproveitei para me colocar em cima dela, e antes que
abrisse seus olhos, eu a beijei, sentindo seu corpo sob o meu relaxar com o
contato. Os braços dela me abraçaram, enquanto minha língua voltava a
instigá-la.
Com uma mão apoiando meu corpo sobre o dela, usei a outra para
contornar seu seio, engolindo o suspiro fraco que quis sair da sua boca. Seu
mamilo estava duro sob os meus dedos, e quando o esfreguei com o meu
polegar, Maeve mordeu meu lábio inferior, me fazendo soltar o ar em um
gemido silencioso.
— Me toque, beije todo o meu corpo...
Meu pau pulsou, batendo na sua coxa, com o tom desesperado que saiu
da sua boca. Nunca pensei que nossos desejos fossem tão maleáveis assim,
mas vinha descobrindo com Maeve, que até a sua voz podia mexer com todos
os meus sentidos.
Aproximei minha boca do seu seio e tomei cuidado em repetir tudo o
que fiz da última vez, porque havia sido prazeroso para ela e para mim.
Lambi o seu mamilo, antes de colocá-lo na boca e começar a chupá-lo.
Maeve gemeu alto, apertando suas unhas no meu ombro e, provavelmente,
deixando marcas, como da última vez.
Levei minha mão ao seio direito e o apalpei, à medida que continuava
com as sucções no esquerdo. Depois de um tempo, troquei os papéis, a
fazendo estremecer sob o meu toque.
Eu queria dar o máximo de prazer para Maeve, porque era prazeroso
para mim e foi com essa ideia, que desci minha boca pela sua barriga,
mordiscando e passando a língua pela sua pele.
Ela estava com as pernas abertas ao redor do meu corpo, e quando
aproximei minha boca do seu umbigo, elas se abriram mais para mim.
Levantei meu olhar para vê-la e vi a expectativa brilhar em seu rosto.
— Não precisamos fazer isso agora, se não quiser.
Eu queria.
Algo muito forte dentro de mim e que eu não sabia explicar o que era,
me dizia que deveria beijá-la ali.
— Estou extremamente molhada e não sei se vou conseguir explicar
direito...
Maeve perdeu o próprio raciocínio, quando abri os grandes lábios da
sua vagina e enfiei minha língua entre eles. Senti suas mãos segurarem
firmemente meu cabelo, ao mesmo tempo que eu a beijava ali embaixo, como
se fosse a sua boca. O gosto era surpreendentemente bom, e os gemidos que
saíam dela tornavam tudo melhor.
— Christopher... mais para cima, meu clitóris — ela gemeu no pedido.
Eu sabia do que ela estava falando e entendi perfeitamente que aquele
era o ponto, quando coloquei o nervo na boca e o chupei. Maeve soltou um
gemido tão alto, que não atingiu apenas os meus ouvidos, como também o
meu pau, que batia contra o colchão, ansioso por um alívio.
Maeve conseguia me guiar perfeitamente com suas mãos no meu
cabelo, se esfregando mais em mim, conforme eu aumentava as sucções.
— Mais forte... — Arfou. — Continue.
Fiz o que ela pediu, a chupando mais forte e sentindo seu clitóris cada
vez mais rígido entre meus lábios e língua. Será que era como o meu pau?
Logo ela gozaria, e eu beberia gota por gota? A curiosidade me fez acelerar o
processo, e para isso, subi uma das minhas mãos até o seu seio e o apertei
entre meus dedos. Já havia reparado que Maeve gostava quando eu enchia
minha mão com ele e achava que aquilo poderia ajudar no seu próprio ápice
de prazer.
Ela choramingou.
— Christopher... eu estou perto, quero você aqui dentro.
Eu também queria, entretanto não parei como ela esperava.
Continuei a chupá-la como havia feito comigo naquele dia, e depois de
algum tempo, Maeve se desmanchou na minha boca em um líquido viscoso.
Levantei meu rosto e a primeira coisa que vi, foi a satisfação e o brilho lindo
que ela mantinha no olhar, direcionado apenas a mim.
Sorri de volta e subi devagar, até estar cara a cara com ela.
Meu pau estava todo melado e mais duro do que uma pedra. Parecendo
perceber isso, Maeve levou o braço até a gaveta e tirou de lá uma camisinha.
— Espero que sirva, grandinho — ela brincou, me fazendo soltar um
riso fraco, que logo foi substituído por um gemido, ao sentir sua mão me
tocando lá embaixo. — É bem provável que você entre em mim e não demore
a gozar, porque nunca teve uma relação sexual antes e nem ao menos se
masturbava... O tempo vai ser curto, mas não se preocupe comigo, ok? Eu
tive um orgasmo incrível com essa sua boca maravilhosa.
Aquilo fazia um pouco mais de sentido.
Já havia notado que Maeve demorava mais do que eu para ter um
orgasmo, e tudo deveria vir da sua experiência.
Ela abriu a embalagem da camisinha com os dentes e segurou o meu
pau, deslizando-a pelo meu comprimento, ao mesmo tempo que eu evitava
não fechar os olhos com o leve contato.
— Estou pronta quando você estiver pronto — sussurrou contra os
meus lábios.
Um misto de ansiedade e nervosismo voltou a invadir o meu corpo,
porém eu ignorei ambas as emoções e abri mais as pernas da garota à minha
frente. Segurei o meu pau e o posicionei na sua entrada. Olhei nos olhos de
Maeve, voltando àquela nossa comunicação que tínhamos apenas com o
olhar, e a penetrei apenas um pouco, sentindo meu pau ser esmagado pela sua
entrada apertada e a vontade esmagadora de ir fundo com tudo.
— Devagar — ela pediu, estragando toda a minha ambição. — Você é
grande para ir tão rápido na primeira vez.
Senti o suor correr pela minha pele, tamanha dificuldade que estava
sendo me controlar. Mordi meus lábios e enfiei mais um pouquinho.
Abri minha boca ao mesmo tempo que ela gemia e deixei que o ar
saísse, atingindo o rosto de Maeve. Ela conseguia ouvir o meu gemido? Ela
conseguia entender o que aquilo significava para mim?
Maeve me abraçou com suas pernas longas ao redor do meu quadril e
tocou minhas costas.
— Pode continuar.
Seu sussurro nunca pareceu tão erótico como nesse momento.
Eu a penetrei, invadindo seu espaço centímetro a centímetro, até
chegar no limite. Meu corpo todo paralisou, assim como o dela. Eu senti
todas aquelas sensações pela primeira vez.
Pensei que a boca de Maeve no meu pau era a coisa mais incrível do
mundo, mas estava enganado. Estar dentro dela, sentindo seu interior me
apertar cada vez mais, era a melhor sensação que já experimentei nesses vinte
anos de vida.
Os olhos de Maeve me encaravam com admiração e tornavam o
momento mais único.
Não havia mundo exterior aqui, éramos apenas nós e um sentimento
poderoso, que se comunicava entre a gente através do silêncio.
— Tudo bem? — ela perguntou, cuidadosa como sempre.
Assenti, sorrindo.
Queria agradecer, porém minhas mãos estavam ocupadas.
— Então continue, porque eu estou louca para sentir seu pau se
enfiando cada vez mais fundo em mim.
Merda!
Senti-o latejar dentro da sua vagina.
Comecei a me movimentar, saindo e entrando devagar, a vendo quase
se contorcer de prazer sob mim.
Eu estava fazendo isso com Maeve. Apenas eu.
Acelerei minhas estocadas, assim que vi que ela já estava bem para
isso, e ganhei a resposta em meus ouvidos, com seus gemidos entrecortados
preenchendo todo o ambiente em que estávamos. Meus olhos não se
desviaram dos dela nem por um segundo. Não queria perder nenhum detalhe
do seu rosto. Maeve também não desviava o olhar do meu, parecendo querer
a mesma coisa.
A sensação de penetrá-la só melhorava, conforme eu saía e entrava
com mais força.
Maeve agarrou mais forte as minhas costas e abraçou com mais força
meu quadril com suas pernas, elevando-o quando arremeti com a mesma
intensidade de antes. O prazer que senti foi mais forte e não tive controle
nenhum para segurar o meu orgasmo, que acertou a camisinha segundos
depois.
Caí por cima de Maeve, apoiando apenas um pouco do meu peso na
minha mão, que ainda permanecia ao lado do seu corpo. Sentia-me esgotado,
mas completamente satisfeito.
Nada poderia substituir o que havia sentido e vivido hoje com Maeve
nesse quarto, e admitia que por mim, viveria para sempre nesse lugar ao seu
lado.
Meu castelo desmoronou da noite para o dia
Trouxe uma faca para um tiroteio
Eles pegaram a coroa, mas está tudo bem
CALL IT WHAT YOU WANT – TAYLOR SWIFT
MAEVE HOOD
Christopher puxou o lençol e cobriu nossos corpos, voltando a se deitar
ao meu lado. Sorri com o seu cuidado e não me importei em colocar uma
roupa, para me aproximar do seu corpo e abraçar sua cintura.
Acomodei minha cabeça em seu peito, enquanto as lembranças das
últimas horas invadiam a minha mente sem controle algum.
Não esperava que fosse tão bom fazer sexo com alguém por quem eu
estava apaixonada. Cada toque que senti de Christopher nessa última hora foi
intenso e nada comum, como se ele conseguisse me marcar com sua mão e
sua boca. Seria difícil conseguir esquecer do que aconteceu aqui e de como
me senti.
Foi uma confirmação que meu coração vinha buscando há muito
tempo.
Ele era meu.
Eu era dele.
E nada poderia destruir isso.
A não ser, é claro, se ele não sentisse o mesmo por mim.
Era por isso que eu não tinha intenção de me declarar agora, porque
tudo parecia estar acontecendo muito rápido e poderia assustá-lo, mas quando
o vi incomodado com o meu encontro com Barry, preferi dizer e assegurá-lo
de que meu coração o pertencia, do que afastá-lo de mim.
Parecia ter sido a coisa certa a se fazer, já que viemos parar aqui, nus
sob lençóis e em um silêncio extremamente confortável entre nós, depois de
uma transa incrível que tivemos.
Porém, por mais que estivesse ansiosa para saber como ele se sentia
em relação a mim, deixei claro que não queria que ele falasse algo agora tão
cedo. Eu conviveria bem com o fato de que havia dito primeiro, se
Christopher me confessasse que sentia o mesmo daqui um tempo.
Caso o contrário... Eu provavelmente teria que me mudar de cidade,
para superar esse tipo de coração partido.
Suas mãos se levantaram, atraindo minha atenção para o que ele iria
dizer.
— Como eu fui? Sei que não tenho experiência nenhuma, então pode
ser sincera.
Eu não estava o olhando, porque minha cabeça permanecia descansada
em seu peito, entretanto quase conseguia vê-lo, com os olhos inseguros
aguardando a minha resposta. Aninhei-me mais em seu corpo, o abraçando
mais apertado.
— Foi a melhor transa da minha vida.
Seu peito vibrou com uma de suas risadas silenciosas.
— Não diga bobagens, eu sei que não fui tão bem assim.
Dei um tapa na sua cintura, onde minha mão pousava, e levantei meu
rosto para encará-lo.
— Nunca transei com alguém por quem estivesse apaixonada antes,
então essa também foi a minha primeira vez, e por isso foi perfeita — admiti,
o observando ficar desnorteado com minhas palavras. — Tem também o fato
de que seu pau é muito gostoso.
Ele riu, relaxando sob meu corpo.
— E para você... foi como esperava?
Christopher me encarava, como se não acreditasse na minha pergunta.
— O que foi? Pode ter sido horrível!
— Talvez eu devesse tapar a sua boca, porque você está falando
muitas bobagens.
Levantei mais o meu rosto.
— Conheço uma forma ótima de você tapar a minha boca, é só me
beijar. — Fiz um biquinho com os meus lábios, arrancando uma risada sua.
Eu era apaixonada por esse sorriso.
Ele segurou o meu rosto e aproximou a sua boca da minha, avançando
em um beijo que me impossibilitou de seguir com qualquer linha de
raciocínio.
Era lento, me causava frio na barriga e deixava as minhas pernas
bambas, como sempre.
E no meio de tudo isso, me senti extremamente feliz por estar sentindo
esse amor crescer dentro do meu coração por esse garoto, porque tinha um
forte instinto de que seríamos a segurança um do outro no futuro.
MAEVE HOOD
Suzy foi responsável por dirigir no caminho de volta até Los Angeles.
Meu pai insistiu em ficar ao meu lado no banco de trás, segurando a minha
mão, enquanto eu tinha uma crise existencial do meu papel como filha.
A viagem até a casa deles foi em um completo silêncio, apenas comigo
tentando controlar as minhas lágrimas, para poder chorar sozinha no meu
apartamento mais tarde.
Estava segurando isso há muito tempo.
As palavras da minha mãe ressoavam em minha cabeça, não
diminuindo a tristeza que eu sentia. Por que ela havia dito aquilo? Por que
estava magoada comigo, quando fez da minha vida um inferno? Por que eu
me sentia a pior pessoa do mundo por estar aqui com meu pai, e não a
consolando?
— Filha, chegamos. — Richard apertou minha mão, e eu prestei
atenção ao redor de nós.
— Por que estamos na sua casa? Achei que vocês me largariam no
apartamento.
Suzy se virou para nós e tocou meu joelho.
— Não vamos deixar você sozinha essa noite — informou ela. — Vou
fazer um chá para você se acalmar um pouquinho, ok?
A lembrança de quando minha mãe a chamava de inúmeras palavras
feias, inclusive de bruxa, veio à minha cabeça, e foi o suficiente para um
soluço sair da minha boca, ao mesmo tempo que eu deixava as lágrimas
caírem pelo meu rosto, sem controle algum para interrompê-las.
Suzy estava longe de ser uma bruxa.
Meu pai me abraçou forte, e eu caí com a cabeça em seu ombro, sendo
muito bem amparada por ele.
— Vamos para dentro e lá conversamos com chá e pipoca. Você deve
estar com fome.
Eu neguei.
Tudo o que eu não sentia era fome nesse momento.
Meu pai abriu a porta do carro, e eu saí ainda abraçada a ele.
Caminhamos juntos até estarmos dentro da sua casa, em frente ao seu grande
e confortável sofá. Ouvi o som da porta sendo fechada, da chave do carro
sendo largada em algum lugar sólido e de passos se afastando, enquanto era
sentada no sofá com Richard, ainda em meio às lágrimas.
— Tem segurado essa dor por muito tempo, querida. — Ele alisou os
fios do meu cabelo e deitou minha cabeça em seu ombro. — Quer conversar?
Não consegui responder, porque era impossível formular uma frase no
estado em que eu estava. Afundei meu rosto em seu peito e me encolhi no
sofá, sentindo minha cabeça pesar com tantos pensamentos e perguntas, que
só me deixavam pior.
Por que ela tinha que aparecer e estragar tudo?
Por que eu ainda derramava lágrimas por aquela mulher?
E por que ainda me importava?
Quando fechei aquela porta de hotel há dois meses em Paris, pensei
que estava me livrando de tudo, e aquilo durou por um pouco mais de um
mês inteiro, mas estava cobrando o preço agora, com aquele embate curto e
tenso que tivemos.
Ela me queria de volta, e eu podia me ajoelhar aqui mesmo nessa sala,
prometendo que voltaria, se ela fosse uma mãe de verdade para mim.
Quem trocou suas fraldas?
Quem cuidou de você por todo esse tempo?
Quem deu comida para você?
Quem a educou?
Quem trabalhou a noite toda para poder dar uma boa vida para você?
Suas perguntas vinham com mais questionamentos na minha cabeça e
só serviam para me deixar pior.
E se ela fosse tão complicada quanto eu? Sempre achei que esse fosse
o principal motivo para ela me tratar daquele jeito.
— Você tem a mim agora, filha — meu pai lembrou. — Farei o meu
melhor para ser um pai e uma mãe que você nunca teve, pelo restante das
nossas vidas.
Como se fosse possível, eu chorei mais com aquela promessa.
— Chore o quanto você conseguir, uma vez me falaram que é bom
colocar para fora, você vai se sentir mais leve.
Eu fiz o que ele sugeriu.
Chorei tanto em seus braços, até não ter mais lágrimas para derramar.
Até sentir meu peito doer com a força, porém o meu coração aliviar,
como se um peso tivesse saído dali de dentro. Meu pai tinha razão, e eu me
senti um pouco mais leve, só que não menos incomodada com o que
aconteceu naquela noite.
— Tome, querida — Suzy surgiu na minha frente, me entregando uma
xícara com o chá que prometeu fazer para mim.
— Obrigada.
Tomei um gole, não reconhecendo o sabor do chá.
— É de camomila — ela contou. — É uma erva que ajuda a dormir, se
acalmar e entre outros benefícios que não me lembro agora.
— Tem um gosto bom.
Suzy apontou para o lugar vago ao meu lado.
— Posso me sentar aqui?
Assenti.
— Onde está Ari? — perguntei, dando falta da minha maninha.
Ela provavelmente deve ter se assustado com a minha situação de
agora.
— Coloquei-a para assistir um desenho, porque teríamos uma conversa
de adultos — Suzy disse, demonstrando o quanto era boa para ela. — Ari só
concordou, porque eu prometi que você ficaria bem.
— Ela é sempre ótima — murmurei.
Tomei mais um pouco do meu chá.
— Se sente melhor? — meu pai perguntou, preocupado.
Fiz um gesto positivo com minha cabeça, entretanto, achava que não
havia convencido nem a mim.
— Não pensei que sua mãe teria coragem de aparecer lá, mas ela não
mudou nada nesses últimos anos, ainda continua inconveniente — meu pai
resmungou. — Não leve a sério o que ela disse, filha.
— Ela nunca chorou... e se realmente se sentir arrependida?
Meu pai suspirou.
— Quando tivemos uma de nossas brigas, Bonnie chorou, dizendo que
se arrependia de tudo o que havia feito nos últimos anos e que iria melhorar
— ele contou, parecendo irritado só de se lembrar. — No outro dia, ela estava
voltando a fazer as mesmas coisas.
Entendia aonde ele queria chegar com aquilo.
— Ela está tentando manipular você, querida. Bonnie é boa nesses
jogos e fez isso a vida toda, não consegue perceber?
— O senhor não me acha uma filha ruim? — perguntei, o olhando.
— Por se libertar de alguém que estava te fazendo mal? Acho você
uma garota impressionante, por ter percebido isso a tempo.
Senti um toque hesitante no meu braço e olhei para Suzy, que parecia
estar buscando as palavras para se dirigir a mim. Ela deveria ter medo de eu
acabar surtando com ela, como minha mãe fez no passado.
— Onde está aquela mulher decidida que entrou aqui no mês passado?
Decidida a mudar? — perguntou, me lançando um sorriso reconfortante.
— Ela foi embora quando ouvi minha mãe hoje — admiti.
Suzy negou e sem que eu permitisse, colocou uma mecha do meu
cabelo atrás da minha orelha e descansou sua mão no meu rosto, o
acariciando devagar com o seu polegar.
Meus olhos marejaram de novo.
Esse era o toque mais maternal que eu já tive na vida, vindo de uma
mulher que ainda era uma estranha para mim.
— Você só está confusa, o que é normal para uma garota que está
entrando na vida adulta agora e que tem uma mãe como Bonnie — disse,
carinhosamente. — Não se perca. Você precisa seguir seus sonhos, ter
pessoas que te apoiem e que a amam pelo que você é, não seguir uma vida
triste e infeliz, apenas porque acha que fará Bonnie feliz, porque acredite,
querida, não irá. Ela ainda vai achar uma forma de criticá-la.
Pensei em Christopher e no seu silêncio sobre como se sentia em
relação a mim.
— Será que alguém pode me amar pelo que eu sou? Meu passado... Ele
me condena.
Meu pai esfregou sua mão no meu ombro, chamando a minha atenção.
— Eu sou um ninguém para você? A amo desde que estava na barriga
da sua mãe e nem quando estava tendo atitudes parecidas com as dela, deixei
de amá-la.
No entanto, de alguma forma ele havia me deixado, não?
Por minha culpa.
Era bom que eu me lembrasse disso.
— Sexta, você tem outro jogo e precisa ser a melhor porque quer isso,
não porque sua mãe ou eu estaremos lá — meu pai continuou a falar. — Eu
espero que ela não esteja, mas precisa estar preparada para tudo. Não é fácil a
decisão que está tomando, querida, e até estava estranhando você estar tão
tranquila quanto a ela. Só saiba que estou aqui para apoiá-la sempre.
O puxei para um abraço.
— Obrigada, pai.
— Durma aqui em casa essa noite, está bem? — pediu, alisando
minhas costas. — Prometo fazer panquecas no café da manhã de amanhã.
— Continua as fazendo deliciosas? — indaguei.
— As melhores que já comi a minha vida inteira — Suzy respondeu
pelo marido.
— Então eu fico.
Eles riram, enquanto eu me afundava mais nos braços do meu pai, me
sentindo um pouco melhor.
Maeve: Cadê a sua mensagem? Vou cobrar meus parabéns com juros,
trevo de quatro folhas.
Maeve: Bom dia, trevo de quatro folhas. Aconteceu algo? Por que não
está respondendo? Dormi no meu pai, mas já estou indo para o campus.
Podemos nos ver quando eu chegar?
A mensagem nem foi entregue, me deixando preocupada. Achava que
quando pegasse o telefone na noite anterior, teria mensagens de Christopher,
mas ele não havia me mandado, como prometido, e agora de manhã também
não havia me respondido.
— As panquecas não são mais boas, querida? — meu pai perguntou.
Larguei meu telefone e olhei para ele. Minhas panquecas estavam
intocadas no prato, e eu me senti um pouco mal por isso.
— Desculpa, pai... É só que Christopher não me respondeu, e estou
achando um pouco estranho.
Comi um pedaço de panqueca, sentindo o sabor delicioso da massa
bem feita que meu pai fazia. Não havia percebido que sentia falta daquela
refeição, até esse momento.
— Gosta mesmo dele, né?
Sorri, assentindo.
— Olha... ela já está até sorrindo — Suzy pontuou. — Gosto do que o
amor é capaz de nos proporcionar.
— Trague ele aqui outro dia, para eu poder tratá-lo oficialmente como
um genro — meu pai convidou. — Gostei daquele garoto, ele parece ser bom
para você.
— Ele consegue ser o melhor — fiz questão de deixar claro. — Ari já
foi para a escola?
Suzy assentiu.
— Ela estava animada para uma apresentação que teria que fazer e
queria treinar com as coleguinhas de novo antes da aula, então a deixei mais
cedo na escola.
— Ela perguntou de você, não sei se acreditou totalmente que estava
bem, talvez seria melhor você vir vê-la antes de sexta — meu pai comentou.
— Posso passar aqui qualquer dia desses.
Continuamos a tomar o nosso café sem falar sobre o que aconteceu na
noite anterior. Depois que finalizei, me despedi dos dois com um beijo na
bochecha e saí de casa, antes que me atrasasse para encontrar com
Christopher. A essa hora, ele deveria estar no dormitório, e eu queria chegar
antes que ele saísse.
Chamei um táxi e durante o caminho, entrei na comunidade do
campus, para ver qual era o assunto do momento.
Existiam vários.
Uma festa aconteceu ontem depois do nosso jogo, e algumas meninas
haviam pegado atletas. Muitos estavam perguntando sobre o meu paradeiro,
porque não aparecia em uma festa do campus há alguns meses, e acabei
esbarrando em comentários desagradáveis a respeito de Christopher.
Ela está com aquele garoto estranho agora.
Ela seguiu o mesmo caminho de Caitlin e está namorando um nerd.
Sério? O que ela viu naquele garoto mudo?
Saí da rede social e só para afrontar, abri meu Instagram e resolvi
postar algo depois de semanas. Apontei minha câmera para a minha mão e
deixei apenas meu dedo do meio apontado. Cliquei para tirar a foto e na
legenda, coloquei “Fuck you”.
Aquilo era muito mais do que para os alunos que me seguiam naquela
rede social e que queriam se meter na minha vida.
Era para todos que achavam que tinham algum controle sobre mim.
Postei a foto e nem esperei para ver as reações, saí da rede social bem a
tempo de ver uma nova mensagem de Christopher subir na barra de
notificações. A abri imediatamente.
Trevo de quatro folhas: Sinto muito. Não tenho como começar isso
falando outra coisa, a não ser que realmente sinto muito. Usei o tempo
afastado de você ontem, para colocar os meus pensamentos e sentimentos em
ordem, e cheguei a uma conclusão, Maeve. Você me deu tempo para dizer
como me sentia, e aqui vai... eu não sinto o mesmo. Não gosto de você do
mesmo jeito. Não quero me relacionar com alguém, nem mesmo com você, e
espero que me entenda. Não me procure agora, seria difícil para mim dizer
isso pessoalmente, você sabe... eu sou péssimo até com isso. Vamos viver
nossas vidas apenas como conhecidos. Não irei entregar o trabalho esse
semestre, então podemos desistir desse projeto que estávamos fazendo juntos.
De qualquer forma, obrigado... por tudo. Você ainda foi a melhor coisa que
aconteceu comigo nos últimos vinte anos.
Este amor está contaminado
Eu preciso de você e eu odeio isso
Você está preso entre um sonho
E uma cena de filme
FOOL FOR YOU – ZAYN
MAEVE HOOD
— Onde está Christopher? — foi a primeira coisa que perguntei, assim
que me aproximei de Aurora, Caitlin, Barry, Tiffany e Melvin sentados em
uma mesa embaixo de uma árvore no campus.
Eles estavam conversando animadamente, até enxergarem o meu
desespero.
— Ei, o que aconteceu? — Aurora perguntou.
— Você está bem, Maeve? Parece que viu um fantasma — Barry se
preocupou.
— Eu só preciso saber onde está Christopher, nem ele e nem Trevor
estavam no dormitório.
— Trevor precisou passar na secretaria para resolver algumas
pendências da sua bolsa, mas Chris... eu não o vejo desde ontem — Caitlin
respondeu. — Quer nos dizer o que está acontecendo?
Não.
Eu provavelmente choraria como uma patética por causa disso.
Ele não podia estar terminando comigo assim, do nada, por mensagem.
Não quando vivemos momentos mágicos nesses últimos dias, especialmente
no final de semana.
— Maeve, você está pálida — Tiffany constatou e me estendeu uma
garrafinha de água. — Você não parece bem.
O que ela estava fazendo aqui? Bem... ok, ela era namorada do Barry.
Não daria importância para isso agora. Aceitei sua garrafinha de água, a abri
e mesmo sem sede, tomei alguns goles.
— Ele terminou comigo — falei, sentindo um caroço muito conhecido
por mim, dominar minha garganta. — Por mensagem, como se eu estivesse
numa droga de filme ruim da Netflix.
Todos na mesa me olharam tão assustados como eu, quando li aquela
mensagem. Caitlin se levantou e ficou ao meu lado.
— Como assim? Não é possível, alguma coisa deve ter acontecido.
— Eu descobriria, se ele não estivesse se escondendo de mim.
Ela me abraçou, tentando me consolar com um carinho muito parecido
com o que o meu pai fazia em mim na noite anterior.
Essa situação toda parecia irreal.
Não era possível que eu estava vivendo algo que nunca me imaginei
vivendo com Christopher, depois de uma noite terrível. Parecia que estava em
um tipo de pesadelo maroto.
Contudo, era real.
Aquela mensagem era real.
Por que Christopher estava terminando comigo? Por que ele não
gostava de mim da mesma forma? Eu pensava que tínhamos alguma coisa!
Como tudo o que vivemos podiam ser ilusões da minha cabeça?
— Ele pode estar confuso, sabe? — Aurora tentou entender a situação,
me olhando com pesar. — Impossível Christopher se deixar envolver com
você, para depois te dar um fora. Isso não faz sentido.
Mas e se fizesse?
E se depois do que vivemos, ele havia percebido que não valia a pena
amar alguém como eu? Na minha cabeça, essa situação também começava a
fazer sentido. Senti meus olhos marejarem e aproveitei que ainda estava
abraçada à Caitlin, e escondi meu rosto em seu pescoço, para que ninguém ao
redor me visse chorar.
— Vai ficar tudo bem.
— Liguei para ele, mas não atende — foi Melvin que havia dito, e eu
tentei entender como ele tinha o número do Chris.
— Vou ligar para Trevor — Aurora falou.
— Não precisa. — A voz do namorado da minha amiga se tornou
presente, e eu levantei o meu rosto, mesmo que algumas lágrimas já tivessem
escorrido. — O que você fez com Christopher?
O que eu fiz?
Como se fosse possível, além de toda a tristeza que estava sentindo,
consegui sentir raiva do idiota à minha frente. Caitlin me segurou, antes que
eu partisse para cima do carinha por quem ela era apaixonada.
— Ele não atende as minhas chamadas, depois de me enviar uma
mensagem dizendo que precisava de um tempo.
Cat suspirou.
— Chris terminou com Maeve.
Soltei-me do seu aperto, me sentindo muito presa. Muito triste. Muito
irritada. Muito confusa. Estar aqui com eles, não estava ajudando em nada.
Eu só queria encontrar Christopher.
— O quê? — Trevor parecia chocado.
— Tem alguma ideia de onde ele está? — perguntei, não querendo me
enrolar aqui.
— Não, foi por isso que achei que algo entre vocês havia acontecido.
— Trevor suspirou e pegou seu telefone, parecendo tentar contato com Chris.
Ele achava que eu havia feito algo.
— Vou procura-lo — avisei.
— Quer companhia? — Cat perguntou.
— Eu vou junto — Trevor se ofereceu.
— Não — neguei para ambos. — Preciso fazer isso sozinha.
Sabia que Christopher era irmão do Trevor, e que agora seu irmão mais
velho estava preocupado com esse sumiço dele, mas não suportaria alguém
do meu lado agora.
— Só nos avise qualquer coisa — ele pediu e balançou o celular. —
Estarei tentando contato com ele por aqui.
Concordei com seus termos e me afastei, decidida a achar Christopher.
CHRISTOPHER LANCASTER
Eu era um idiota.
Um estúpido que não sabia nem fugir direito.
Chutei as pedrinhas no chão durante o caminho até o parque em que
um dia viemos todos, para fazer piquenique. Sentei-me em um dos bancos,
atirando a minha mochila na mesa. Precisava esperar o anoitecer para voltar
para o campus e pegar a minha carteira, onde todos os meus cartões e
documentos estavam. Só dessa forma, conseguiria comprar minha passagem
para São Francisco.
Não podia arriscar ir à tarde para o meu dormitório, porque a chance de
encontrar Maeve era certa.
Eu estava fazendo a coisa certa.
Disse para mim mesmo novamente, sentindo meu peito doer com
aquela afirmativa, que vinha dizendo para mim mesmo desde a noite anterior.
Peguei um livro dentro da minha mochila, para tentar me concentrar na
leitura e não nos últimos acontecimentos. Recusava-me a chorar de novo por
aquela decisão que eu mesmo tomei.
No entanto, me concentrar na história à minha frente foi a última coisa
que fiz.
Minha mente foi preenchida com a lembrança horrível da visita
inesperada que tive, quando estava saindo do meu trabalho na biblioteca na
noite anterior.
“Enviei uma mensagem para Maeve, afirmando que torceria por ela e
assistiria ao jogo só para poder parabenizá-la quando ganhasse, e guardei o
telefone no bolso da minha calça. Precisava chegar no meu dormitório,
tomar banho e estudar para o teste que teria amanhã.
— Christopher Lancaster? — uma voz feminina chamou o meu nome.
Levou um segundo para que eu a reconhecesse.
Não sabia o que Bonnie Hood estava fazendo aqui no campus e ainda
por cima chamando o meu nome, e não queria saber, porém seria muita falta
de educação minha, simplesmente ignorá-la.
— Eu sei que você não é surdo, então vire-se para mim, porque
preciso falar algo bem sério sobre o que está acontecendo.
Preocupei-me com Maeve e por isso me virei para ela.
Bonnie estava de braços cruzados, vestindo um de seus vestidos de
luxo, que tinha quase certeza ser da sua marca.
— Não vou demorar, só estou aqui para dar alguns avisos, enquanto
clareio a sua cabecinha de pobre iludido — disse, e eu engoli em seco, me
sentindo muito intimidado. — O que se passa na sua cabeça, para achar que
tem um futuro com a minha filha?
Ela riu. Um riso maldoso, que há muito tempo não escutava de
alguém.
— Espera! Eu acho que sei... É por causa do dinheiro? Se for isso,
posso te pagar. Quanto você precisa para se manter longe da minha filha?
Eu neguei.
Minha mãe já havia passado por aquilo, e eu me negava a passar de
novo.
— Nem tente falar a sua língua, porque eu não farei ideia do que irá
dizer — Bonnie foi rude ao dizer aquelas palavras. — Pessoas como você, só
precisam escutar, entendeu?
Engoli em seco, odiando me encolher sob seu olhar, quando já era um
adulto e não mais uma criança.
— Se não é dinheiro, e acredita que está mesmo apaixonado... — Ela
riu, parecendo desacreditada. — Vou falar algumas palavras, me permite?
Eu não queria permitir, queria apenas dar o fora dali.
Contudo, eu permaneci em silêncio, a aguardando.
— Tudo pode parecer mágico agora, porque Maeve está em uma fase
rebelde da vida dela, querendo mudar, quando tem apenas vinte anos e não
faz ideia de quem é. Eu já passei por isso na minha adolescência, mas sabe
para onde eu voltei depois que vi todas as dificuldades? Para casa, para as
pessoas que me criaram para ser a melhor, porque eles sim, sabiam o que
era bom para mim. — Ela se aproximou a passos lentos de mim. — Deixa eu
lhe dizer o que irá acontecer, Christopher. Maeve vai perceber que o que
está fazendo não tem sentido e irá voltar para mim, porque eu sou o futuro
dela, entende? Acha mesmo que pode continuar ao lado dela? Maeve Hood é
a herdeira de uma das maiores marcas de luxo do mundo, e você é apenas
um... — Olhou-me de cima a baixo. — Ninguém? Um nada?
Sua mão segurou o meu queixo com uma força até que desnecessária,
e ela sorriu ao ver o efeito das suas palavras em mim. Meus olhos estavam
marejados, e minha respiração já estava lenta, aceitando toda aquela
verdade depositada nos meus ombros.
— Como espera que os outros vejam isso? A linda Maeve Hood,
incrível jogadora de vôlei e futura dona do império Hood, namorando com
um formado em Literatura? Só falta me dizer que quer ser escritor também.
Bonnie largou o meu queixo como se eu fosse a coisa mais nojenta que
ela já tinha segurado, e eu senti minha mandíbula doer ao mesmo tempo que
meu coração.
— É claro que talvez nem chegasse nesse nível, porque Maeve com
certeza perceberia isso e terminaria com você. — Ela colocou a mão no
coração e fez uma cara de comovida. — Olha eu aqui, sendo totalmente
solidária com você e o avisando antes de ter o coração partido.
Minhas lágrimas escorreram pelo meu rosto, enquanto lembranças do
meu passado invadiam minha mente sem permissão alguma. Todas as
ofensas que recebi dos colegas que adoravam me perturbar, todas as vezes
que acabava sendo levado para uma sala escura e intimidado por ser dessa
forma, e todas as risadinhas e piadas com a minha falta de voz.
Nada havia mudado.
Ela estava aqui, fazendo o mesmo comigo.
— Termine com ela, criança. Nós sabemos que é o melhor. —
Diferente de mim, ela estava confiante disso.
Eu neguei.
Não conseguia imaginar a minha vida sem Maeve, não agora que
estávamos tão próximos e apaixonados. Ela podia não saber o que eu sentia,
entretanto queria que soubesse e que fosse em um momento especial.
— Então você é egoísta? Eu sou ainda mais, Lancaster — disse,
firmando seus olhos raivosos em mim. — Termine com Maeve ou eu irei
acabar com a vida dela. É isso que você quer?
Eu neguei novamente.
— Então você sabe que estou certa?
Fiz um gesto positivo com a cabeça, derramando mais lágrimas.
Ela deu dois tapinhas no meu rosto e sorriu, parecendo orgulhosa.
— Bom garoto.”
Limpei as lágrimas que insistiam em cair depois de eu ter tomado a
decisão mais acertada sobre mim e Maeve.
Não tinha outra opção melhor.
Bonnie estava certa, no final das contas.
Nessas últimas semanas, acabei me esquecendo quem Maeve era e de
que família fazia parte. Ela podia estar brava com a mãe e seguindo seu
próprio caminho agora, só que Bonnie sempre seria a sua mãe, e Maeve
sempre seria alvo de olhares de fora quando a marca de luxo que elas tinham
estivesse em evidência.
Como eu poderia ficar ao lado dela?
Eu não era ninguém, e a minha vida inteira seria assim.
Provavelmente nunca poderia realizar o meu sonho de abrir a minha
editora, porque tudo em mim era resumido à minha deficiência.
Olhei para o livro com as palavras embaçadas por causa das minhas
lágrimas e o fechei, desistindo da minha leitura.
Ficar aqui, matando o meu tempo e sofrendo por quem era, parecia ser
a melhor opção.
Como Maeve estava?
Aquela pergunta adentrou minha cabeça, eu estava preocupado. Meu
telefone apenas vibrava com suas chamadas feitas a cada minuto. Ela havia
cansado das mensagens e mesmo sabendo que se eu atendesse, não
conseguiria falar nada, porque ela não ouviria, estava tentando as ligações,
como uma forma de chamar a minha atenção.
Sabia que não conseguiria evitá-la pelo resto da vida e justamente por
conta disso, queria ir para São Francisco, tirar uma semana longe da UCLA,
mesmo arriscando minhas notas com as cinco primeiras faltas que teria no
meu histórico da faculdade.
Não conseguiria olhar nos seus olhos e ver o tanto que a magoei,
porque acredite, eu tinha certeza de que havia feito isso com aquela
mensagem estúpida que enviei.
Mas eu não podia.
Por favor.
Implorei em pensamentos, com os meus olhos cheios de lágrimas.
Me perdoe, Maeve.
Funguei, usando as minhas mãos para esconder o meu rosto dos outros
que passavam ao meu redor.
Talvez em outra vida, se a reencarnação existir e o laço de amor for
tão poderoso assim, possamos ficar juntos.
Essa era a única confiança que eu me permitia sentir.
MAEVE HOOD
Ele gostava de mim.
Eu nunca duvidei disso, mesmo que aquela mensagem tenha me
deixado confusa e com medo de ter entendido os sinais errados. Christopher e
eu sempre fomos bons em nos comunicarmos, por isso, acreditei que existia
uma chance de ele estar apenas inseguro e com medo.
Não sei por quanto tempo ficamos abraçados e chorando, eu, ainda
presa nas últimas horas mais angustiantes da minha vida, onde pensei tê-lo
perdido, e Christopher parecendo mais fragilizado, como se algo a mais o
perturbasse no coração, e ele tinha a chance de chorar aqui, comigo.
Não prestei atenção quando nos sentamos na sua cama abraçados,
porém quando senti, já tinha o colchão sob nossos corpos.
— Você está bem? Conversa comigo — pedi, me sentindo um pouco
mais calma. — Por que me mandou aquilo, se gosta de mim dessa forma?
Chris se afastou e limpou o rosto, antes de olhar para mim. Ele parecia
em dúvida se falava ou não, e aquela reação me deixou mais nervosa. Então
havia alguma coisa que o fez fazer aquilo, algum gatilho, algum idiota que
estava cuidando da nossa vida.
— Foram os comentários sobre nós, que estão circulando nas redes
sociais? Não devemos nos importar com eles, são todos uns idiotas que não
sabem o que estão falando.
— Sua mãe esteve aqui ontem.
Meu corpo e alma gelaram ao mesmo tempo que meus olhos
arregalavam. Bonnie esteve aqui? Mas ela estava no jogo... A não ser que não
tivesse o assistido inteiro.
— O que ela disse para você? Fala, Christopher! — implorei, me
sentindo mais nervosa do que antes.
— Ela mandou eu me afastar de você, disse que uma hora ou outra,
você iria voltar para os braços dela e que no seu mundo, não havia espaço
para alguém como eu. — Suas mãos pararam no ar, e seus olhos marejaram,
enquanto eu sentia a raiva consumir cada parte do meu coração. — Ela tem
razão, Maeve. Você, um dia irá assumir o que é dela, e como espera fazer
isso comigo ao seu lado? Sou um nada, que é vítima de olhares julgadores o
tempo todo.
Segurei o seu rosto e neguei.
— Por favor, não continue dizendo essas coisas. Isso é o que as
pessoas ruins que entraram na sua vida querem que você acredite, não lembra
do que Ari disse? — Acariciei sua bochecha. — Sinto muito por ela ter
falado essas coisas para você e ter mexido em uma ferida que nunca irá se
fechar completamente, mas essa é a mulher que me pariu... maldosa a nível
extremo.
Tinha que me controlar para não explodir aqui na sua frente mesmo.
Como Bonnie teve coragem de fazer isso? Eu não deveria estar surpresa, por
tudo o que já havia vivido nas suas mãos e agora, sabendo do motivo de ela
ter aparecido no jogo apenas no final dele, entendia suas lágrimas da noite
anterior.
Ela queria que Christopher terminasse comigo, e eu voltasse para os
seus braços, arrependida e com o coração partido.
Bonnie sabia que aquilo poderia acontecer se Chris me deixasse,
porém não contava com o apoio insubstituível que estava recebendo do meu
pai.
Ele estava certo.
Tudo o que minha mãe fazia, era manipular.
— Eu não consigo deixar de pensar nisso — ele admitiu. — Mas eu
amo você, Maeve, e acho que esse amor é egoísta o suficiente para prender
você comigo pelo resto da minha vida.
Em meio à raiva que estava sentindo, consegui sorrir com sua
confissão. Isso me parecia ser o suficiente para estarmos juntos agora.
— Nunca vou me sentir presa enquanto estiver com você. Uma mulher
como eu, não pode ficar sem o seu amuleto mais precioso. — Aproximei
mais o meu rosto do seu e olhei bem nos seus olhos. — Eu prometo nunca
deixa-lo, trevo de quatro folhas, mas você precisa fazer o mesmo por mim.
Precisa me prometer que passaremos juntos por qualquer dificuldade.
Ele assentiu.
Senti meu peito ficar um pouco mais aliviado.
Vencemos essa!
Sorri, antes de puxá-lo para um beijo do qual meus lábios estavam
necessitando desde a noite anterior. Eu não conseguiria viver sem isso e
esperava que ele entendesse de uma vez por todas. Christopher estava
impregnado em mim, desde que o vi pela primeira vez, entretanto, só
consegui notar sobre esse período hoje, enquanto achava que morreria com a
dor que estava sentindo.
Eu nunca mais queria passar por aquilo.
Senti uma das suas mãos segurar a minha nuca, ao passo que a sua
língua brincava com a minha apaixonadamente. Ficamos nos beijando até que
o ar nos faltasse, e mesmo quando aconteceu, Christopher me deitou com
delicadeza na cama e ficou sobre mim, deslizando sua boca pelo meu pescoço
daquela forma que me deixava molhada por ele.
Eu não pretendia sair desse quarto hoje, e que bom que ele também
parecia ter a mesma intenção.
Resolveria meus problemas amanhã, porque hoje eu só queria sentir
seu corpo, seu coração, sua boca, ele por completo. Segurei sua camiseta e a
puxei para cima, o afastando do meu pescoço para que a peça deslizasse para
fora.
Olhei para todo aquele tanquinho incrível na minha frente e não resisti,
inverti nossas posições, ficando por cima e me sentando sobre o seu pau, que
já sustentava o início de uma ereção.
Aproximei meu rosto e beijei sua boca, sentindo sua mão subir pelas
minhas pernas nuas, em uma carícia que fazia eu me sentir especial. Nosso
beijo era intenso, e, inevitavelmente, seu toque também se tornou. Senti suas
mãos apertarem minhas coxas, quando suguei a sua língua e desci minha
boca pelo seu pescoço, pronta para me deliciar com o seu corpo gostoso.
— Tão bom saber que você me pertence por inteiro — admiti no seu
ouvido, o vendo sorrir de lado.
Beijei a pele do seu pescoço e abri meus lábios, alternando entre
chupadas e mordidas, o fazendo liberar o ar pela sua boca, em um gemido
silencioso pelo qual eu era apaixonada. Passei para o outro lado e repeti o que
fiz, descendo mais minha boca pelo seu corpo.
Lambi seu peito e senti suas mãos me apertarem de maneira forte.
Sorri para ele como incentivo e toquei seu mamilo com minha língua,
sentindo seu pau crescer em direção à minha boceta.
Eu estava usando saia, e ela já estava no início das coxas com a
posição em que estávamos agora, senti-lo duro sem uma camada de um jeans,
só me deixava mais pronta para ele.
Christopher tornou o aperto de suas mãos em minhas coxas mais forte,
quando eu chupei seu mamilo, raspando meus dentes logo em seguida. Seus
olhos estavam dilatados, e eu quase conseguia enxerga-lo perdendo o
controle e se enfiando em mim aqui mesmo.
Minha boceta já latejava, louca por aquilo.
Passei para o outro mamilo e repeti os movimentos, chupando mais
forte. Christopher largou o ar, subindo sua mão até a minha bunda. Ele
paralisou ali, mas ao me olhar nos olhos, a apertou contra o seu pau. Um
gemido saiu dos meus lábios, e eu me esfreguei mais contra ele, sentindo meu
clitóris inchar contra a fivela do cinto que ele usava.
Isso era tão delicioso quanto ter seu pau dentro de mim.
Eu queria tudo.
Christopher segurou a barra da minha blusa e a forçou para cima, a
tirando do meu corpo em segundos. Levei minhas mãos para as costas e abri
meu sutiã, o jogando em algum lugar do quarto.
Christopher se sentou na cama e me segurou pela nuca, voltando a me
beijar. Arfei contra seus lábios, quando senti sua mão tocar meu seio direito.
Ele esfregou o polegar no meu mamilo, e eu movi meu quadril com mais
força contra sua ereção, buscando um alívio para a excitação que só crescia
na minha boceta.
Ele desceu a boca pelo meu pescoço, mordiscando minha pele e a
lambendo devagar, acelerando o meu coração e contraindo todo o meu corpo,
me fazendo latejar mais.
— Chris... — gemi seu apelido, ao mesmo tempo que ele me deitava
na cama novamente e se colocava por cima. Sua boca abocanhou meu seio
sem preparo nenhum, e eu agarrei seu cabelo, revirando os olhos de prazer.
— Isso!
Seus dentes raspavam pelo meu mamilo sensível, tornando a sucção
ainda mais gostosa. Ele lambeu e chupou, passando para o outro e fazendo o
mesmo, com um tempo de dedicação ainda maior.
Levantei meu quadril automaticamente, sentindo a falta do seu pau
contra a minha boceta, mas as mãos de Christopher me alcançaram. Ele
desabotoou o zíper da minha saia, ainda com a boca no meu seio, e com uma
mão só, retirou a peça de roupa do meu corpo.
Agradeci a sua agilidade, principalmente quando fez o mesmo com a
minha calcinha.
Comigo totalmente nua, ele desceu sua boca pela minha barriga lisa e
sem desviar o olhar do meu, beijou acima do meu umbigo, antes de abrir
mais as minhas pernas e aproximar seu rosto da minha boceta.
Meu coração acelerou mais com a expectativa de sentir sua boca em
mim outra vez. Ainda me lembrava da sensação deliciosa da nossa primeira
vez, e só aquela lembrança já era o suficiente para que entrasse em mim e me
fodesse.
Christopher tocou meu clitóris com a ponta da sua língua, e eu gemi
mais alto, desviando meu olhar para o teto, quando seus lábios se fecharam
sobre meu nervo e o sugaram com mais experiência do que da última vez.
Joguei minha cabeça para trás, presa na sensação da sua boca me
engolindo mais forte a cada sucção, e agarrei os lençóis da cama, para não
fechar os meus olhos. Queria ver o que estava fazendo comigo, não apenas
sentir. Por isso, levantei minha cabeça de novo e encontrei seus olhos
dilatados em minha direção.
Christopher tinha a força de me foder apenas com aquele olhar, ele só
não sabia disso ainda.
Sua língua passou entre os grandes lábios da minha vagina, e eu senti
dois dos seus dedos me penetrarem de repente, me fazendo tapar meu próprio
grito.
— Não para — implorei, apertando-me mais contra ele. — Isso é tão
bom...
Ele continuou, tão firme e intenso, até que não restasse mais nada de
mim, e eu me desmanchasse em sua boca em um orgasmo tão forte como da
última vez.
Respirei fundo, uma, duas, três vezes, tentando buscar fôlego.
Observei Christopher retirar sua calça e sua cueca, libertando aquele
pau gostoso, que adivinhe? Eu também amava.
Não perdi meu tempo e mandei o descanso para outro momento.
Segurei sua mão e o puxei para cama, voltando a ficar em cima dele.
— Tem camisinha?
Seus olhos arregalaram, e ele negou, como eu imaginava.
— Nunca transei sem camisinha. Estou limpa e você? — perguntei,
aproximando minha boca da sua.
Christopher assentiu em resposta, agarrando a minha cintura.
Beijei sua boca e segurei suas mãos, só para deslizá-las até a minha
bunda. Ele apertou as minhas nádegas, e eu arrastei minha boceta molhada
até o seu pau grosso e ereto. Levantei o suficiente para encaixá-lo, ainda com
meus lábios nos seus, e deslizei com cuidado sobre o seu comprimento.
Nós dois paramos o beijo para gemer.
Porra!
Christopher tinha o tamanho e a largura perfeitos para me deixar
completamente viciada.
E ele era perfeito.
De corpo e coração.
Voltei a me movimentar e descer mais sobre o seu pau, até chegar no
fim. Senti-me ser aberta de todas as formas, e uma dorzinha fraca tentou me
incomodar, por conta da nossa diferença de tamanho, porém não dei atenção
e me esfreguei nele, gemendo com a sensação prazerosa que se apoderou de
mim.
As mãos de Christopher na minha bunda me apertaram e me
incentivaram a ir mais forte. Não queria que ele gozasse rápido, então
continuei com movimentos lentos, arrastando meu clitóris no seu osso púbico
e provocando a nós dois com o vai e vem gostoso.
Depois de alguns minutos assim, comecei a subir e descer pelo seu
pau. Christopher me encarava como se eu fosse uma miragem, e nesse
momento, eu me senti sendo pintada pelos seus olhos brilhantes em cada
parte do meu corpo, acompanhando cada movimento.
Não havia nada mais poderoso do que isso.
Não era apenas sexo.
Era amor, era perdão, era pertencimento.
Cada vez que o deslizava para dentro, me sentia ser tocada de uma
forma que nunca havia sido na vida. Ninguém nunca seria capaz de me
proporcionar o que Christopher me proporcionava.
Ele também era único para mim.
Encontrei sua boca com a minha e o beijei, enquanto continuava com
os movimentos. Christopher elevou os quadris, indo mais fundo em mim,
quando desci pela sua ereção, e me fazendo gemer na sua boca.
Sentia que estava muito próxima de gozar e tinha certeza de que ele
também estava, por isso levantei meu tronco e fui com um pouco mais de
força, sentindo seu pau tocar mais fundo, quando ele também estocava em
mim.
Não levou muito tempo para sentir seu corpo tremer sob o meu, e
gozarmos ao mesmo tempo.
Caí sobre o seu corpo, agora sim, me sentindo completamente sem
forças.
— Eu amo você — admiti novamente, beijando seu coração acelerado.
Senti as mãos de Christopher subirem e alisarem o meu cabelo com
tanto carinho, que senti ali, o quanto ele me amava também.
Só tive tempo de sentir seu pau sair de mim, antes de cair em um sono
profundo e satisfeito.
O tempo se acumula sobre o amor que precisa ser pago
O preço da despedida se torna cada vez mais caro
Eu só quero deixar para lá
Por que você simplesmente não me deixa ir, me deixa ir?
BILLS – ENHYPEN
MAEVE HOOD
Observei a casa em que vivi boa parte da minha vida por longos
minutos antes de passar pelo portão grande de entrada e estacionar o meu
carro em frente à escadaria que levava à porta, tão grande quanto a do meu
pai.
O céu ainda estava amanhecendo, porém já havia pessoas trabalhando
no jardim que minha mãe priorizava o cuidado, não porque se importava com
as plantas, mas porque fazia parte da área externa da sua casa, e até nesses
casos, aparência era tudo com o que ela se importava.
Desci do carro e andei a passos lentos até a porta de entrada. Toquei a
campainha e esperei ser atendida pela governanta que trabalhava com a gente
há mais de dez anos. O nome dela era Cameron, e eu gostava muito dela,
mesmo que às vezes puxasse minhas orelhas por causa do meu
comportamento.
Ela sempre quis que eu fosse diferente da minha mãe, entretanto nunca
deixou isso claro, porque prezava por seu emprego, agora conseguia enxergar
isso.
Olhei a hora no meu celular e vi que ainda tinha trinta minutos. Era o
suficiente para ter uma conversa franca com minha mãe.
Talvez não chegasse a tempo de pegar Christopher na cama ainda,
contudo, o encontraria na saída do dormitório, e voltaríamos a viver na nossa
bolha apaixonada de antes, dessa vez, com nós dois sabendo perfeitamente o
que um sentia pelo outro, e talvez, arrastaríamos nossos amigos para ela,
porque eles sim, eram a minha família.
— Maeve? — Cameron abriu a porta e me encarou com surpresa. —
Não esperava vê-la tão cedo, senhorita. Quer que eu prepare o café com a sua
mãe, ela está...
Sua fala se perdeu no meio do caminho, quando meus braços
circularam a sua cintura em um abraço apertado de tirar o fôlego.
— Obrigada por sempre ter cuidado de mim quando eu ainda era uma
idiota com você. — Beijei sua bochecha, com ela ainda paralisada. — Você
foi a primeira a acreditar que existia uma versão boa dentro de mim.
Ela relaxou dentro do meu abraço e me abraçou de volta.
— Vejo que esses dias longe de casa lhe trouxeram mudanças. —
Alisou minhas costas, igual como uma mãe orgulhosa faria. — Sempre soube
que você não era um projeto mirim da sua mãe.
Ela disse a última parte bem baixinho no meu ouvido, e nós rimos.
— Bonnie está? — perguntei.
— Tomando o café de sempre, ela parece muito tranquila, comparado
aos últimos dias — Cameron contou.
Afastei-me dela e entrei na sala.
É claro que minha mãe estava tranquila. Ela achava que havia ganhado
aquele jogo, ao afastar Christopher de mim e me deixar visivelmente mal no
jogo dessa semana.
— Tem certeza de que ir vê-la?
A voz na sala de jantar soou alta:
— Quem está aí, Cameron?
— Pode deixar comigo — falei. — Preciso vê-la.
— Estarei na cozinha, caso precise de mim. — Assenti e antes de ir
encontrar minha mãe, ela segurou a minha mão. — Você parece feliz, e isso
já me deixa mais tranquila.
— Quando eu começar a trabalhar, vou levar você para ficar comigo.
Ela riu.
— Até lá, já estarei aposentada e viajando pelo mundo. — Cameron
piscou. — Mas quem sabe, eu não faça um dinheiro extra cuidando da sua
futura casa nos finais de semana?
— Eu exijo isso!
Dei risada, e ela me acompanhou.
— Agora preciso ir conversar sério com Bonnie Hood — declarei. —
Obrigada de novo, Cameron.
— Pode contar comigo sempre, querida.
Assenti e a deixei, andando até a sala de jantar, onde minha mãe estava
tomando o seu café da manhã. Ao entrar no lugar, a encontrei tomando seu
café calmamente, enquanto lia o jornal do dia.
Ela sentiu minha presença assim que parei a alguns metros de distância
e levantou o rosto tranquilamente, não parecendo surpresa quando olhou para
mim. Um sorriso fraco se abriu em seus lábios, e ela apontou com o queixo
um dos lugares vagos na mesa de doze lugares.
— Sente-se, irei pedir para Cameron servir o seu café.
— Não quero comer.
Ela olhou para algo atrás de mim e depois se voltou para o meu rosto.
— Onde estão suas malas?
Balancei minha cabeça, achando inacreditável a sua tremenda cara de
pau. Como essa mulher ainda conseguia ter algum efeito sobre mim? Como
eu ainda conseguia sentir pena e culpa por ela?
— Não vim para ficar, eu vim para deixar claro algumas coisas —
expliquei, mantendo a calma. — Quero você longe da minha vida.
Minha mãe se assustou um pouco com as minhas palavras, pois seus
olhos se abriram um pouco mais, e seu rosto ficou perplexo.
— Está surpresa? Seu plano não deu certo — revelei. — Você não
pode destruir o que Christopher e eu temos. Eu juro que estava quase caindo
na sua cena de mãe arrependida, porque percebi que uma parte de mim
gostaria que você se arrependesse dos seus erros e recomeçasse comigo, mas
acordada essa noite, percebi que nesse mundo, existem dois tipos de pessoas.
Nos seus olhos não passava nenhum tipo de emoção, o que só me
deixava mais magoada.
— Pessoas como eu, que vão errar e irão aprender com seus erros, para
não cometê-los mais; e pessoas como você, que irão persistir nas falhas,
achando que estão certas.
Minha mãe soltou uma risada anasalada e bebeu mais um pouco do seu
café, me olhando por sobre a xícara com deboche.
— Já acabou com o show?
Ela era inacreditável.
— Falhas? Arrependimento? — Ela negou. — Está aprendendo essas
tolices com o seu pai? Ele sempre foi um frouxo mesmo, e consigo imaginar
perfeitamente esse discurso saindo da sua boca.
— Deixa o meu pai fora dessa conversa!
— Como eu poderia? Você está com ele agora.
— Que bom que mencionou, porque é exatamente isso, eu estou com
ele e não quero mais que você faça parte da minha vida, ouviu bem?
Minha mãe bateu a xícara no pires, se ela tivesse colocado mais força,
teria quebrado as duas louças.
— Eu sou sua mãe!
Neguei.
— Você deixou de ser há muito tempo — afirmei, tanto para ela
quanto para mim, algo que era óbvio e que eu só havia me esquecido. —
Tudo o que sempre precisei foi de uma mãe que você nunca foi para mim,
Bonnie. Sempre jogando seus sonhos frustrados em mim, querendo me
modelar como se eu fosse uma boneca nas suas mãos, mas adivinha? Sou
humana e queria que você também fosse, só para me amar como uma mãe
deve amar uma filha.
Ela se levantou, elegante como sempre em um vestido branco da sua
marca, e andou a passos rápidos em minha direção.
— Amor? Agora é isso que você preza? Nesse mundo, o amor só torna
as pessoas burras e emotivas, Maeve. Não lembra de nada do que eu te
ensinei?
Bonnie agarrou o meu queixo, me fazendo encará-la sem desviar os
meus olhos.
— Acha que vai ser feliz com aquele garoto medíocre?
— Não fale assim dele! — gritei na sua cara. — Christopher é o garoto
por quem estou apaixonada!
Ela riu, largando o meu rosto com tanta força, que o virou para o lado.
— Você tem vinte anos e está dizendo que um moleque é o amor da
sua vida... Vai me dizer que a puta da Suzy é a sua mãe dos sonhos?
Eu não diria que a minha madrasta havia sido um bom suporte quando
eu precisei naquela noite, pois isso não precisava ser dito. Bonnie não
precisava saber toda a dor que me causava com essas atitudes.
— Não me provoque e volte para a casa, estou sem paciência para os
seus atos de rebeldia!
Andei até ela, quase grudando o meu corpo no seu, e com os meus
olhos já cheios de lágrimas, gritei:
— Eu odeio você, entendeu? Eu não quero mais fazer parte da sua
vida, entendeu? Eu não vou me tornar uma jogadora de vôlei, muito menos
assumir essa sua empresa de merda, será que você consegue me entender? —
Mesmo com os olhos marejados e não a enxergando 100% nitidamente na
minha frente, conseguia sentir o quanto estava furiosa. — Irei viver a minha
vida, não a sua!
Foi então que eu senti a maior força que aquela mulher poderia ter em
um tapa, direcionado no meu rosto. O impacto foi tão grande, que eu caí no
chão, sem controle algum das minhas lágrimas e do meu próprio corpo.
Ela nunca me entenderia.
Por que eu ainda tentava?
— Eu criei você e o mínimo que exijo é respeito! — ela gritou,
esquecendo da etiqueta. — Ainda sou responsável por você ou esqueceu
disso?
— Faço vinte e um anos em dezembro — murmurei, com a voz já
começando a ficar fraca. Ela sugava toda a minha energia. — Sabe o que é
engraçado, mãe? — Usei do tom de deboche que antes direcionava a pessoas
que não mereciam. — Você queria que eu fosse igual a você, não se importou
com os meus sentimentos, se importava apenas com a minha aparência e em
me criar rigorosamente para ser uma vadia sem sentimentos. Você deve estar
me odiando agora, porque todos os seus planos deram errado, mas adivinha
só? — Sorri com sarcasmo em meio às minhas lágrimas, que só desciam cada
vez mais. — Também sente inveja de mim.
Ela riu fraco, revirando os olhos, enquanto eu me levantava e voltava a
me aproximar do seu rosto.
— Inveja? De você? — perguntou.
— Eu encontrei alguém capaz de me amar pelo que sou, alguém que
viu a verdade em mim e não me afastou quando estava no meu pior
momento, diferente de você, que foi trocada. — Desviei do tapa que iria
acertar em mim novamente. — Sabe o que é uma pena? Que você seja tão
frustrada e amargurada com o seu fracasso, que tenha que descontar nas
pessoas ao seu redor.
Seu rosto se transformou diante de mim.
Ela parecia furiosa, não só irritada.
— Isso não faz você perceber que é a pior mãe do mundo?
— Chega, Maeve! Eu não aguento mais esse seu show de horrores! A
partir de hoje, você não sai mais dessa casa — gritou bem na minha cara,
exatamente da forma descontrolada que eu sabia que ela reagiria.
Neguei.
— Você disse que me criou, não é mesmo? Pelo menos algumas coisas
úteis eu consegui tirar dessa criação. — Retirei meu celular do bolso, que
ainda estava gravando toda a briga que estávamos tendo nesses últimos
minutos. — Acha que pode me vencer? — Balancei o celular na sua frente,
vendo o medo brilhar pela primeira vez em seus olhos. — Um clique, e todo
o mundo exterior que nos acompanha, irá saber qual é o nosso tipo de
relacionamento. Eu não tenho medo de ser julgada, mas e você, que sempre
priorizou a imagem acima de qualquer coisa?
— Me dê esse celular, Maeve.
Ela tentou pegar, porém eu me afastei a tempo.
— Parada! — gritei. — Ou eu vou postar.
Bonnie paralisou.
— Você vai se arrepender disso — disse, sendo repetitiva.
— Prefiro arriscar da mesma forma — rebati e com a outra mão,
limpei meu rosto. — Obrigada por me criar, se estou respirando é porque
você fez algo bom em meio à sua maldade, mas eu irei continuar vivendo a
minha vida e espero que você seja feliz do seu jeito, vivendo a sua longe de
mim.
Algumas lágrimas ainda deslizavam pelo meu rosto, o alívio misturado
à dor de algo que nunca tive com ela, estavam presentes em meu peito. Um
dia, eu iria superar isso, só esperava que fosse rápido.
— Viva a sua vida medíocre e esqueça que eu existo, se é isso que
sonha — ela mandou, com o tom de voz ainda alterado. — Eu estarei
esquecendo que você existe.
Aquelas palavras doeram muito mais do que eu imaginava que
doeriam.
Consegui ver nos seus olhos escuros, que ela estava desistindo de mim
como um objeto descartável, tudo porque estava a ameaçando.
Era exatamente o que eu queria, contudo, não me fazia sentir menos
mal.
— Adeus, Bonnie.
Foram minhas últimas palavras, antes de dar as costas e sair daquela
casa pela última vez na minha vida.
Não sei como cheguei à faculdade a salvo.
Eu havia desmoronado o caminho todo até aqui, onde meu rosto era
uma mistura de lágrimas por toda parte e concentração para não acabar
provocando um acidente. Não é que eu não me sentisse bem com a decisão
que havia tomado, mas ainda doía no peito não ter uma mãe normal.
Por que Bonnie tinha que ser assim?
Queria poder estar indo em direção a Christopher agora, porém ainda
precisava de um tempo para encarar todos que me encaravam nessa
universidade. Não queria que soubessem que estava chorando, por isso
respirei fundo, tentando parar com o choro que não me levaria a lugar algum.
Meu telefone tocou, e eu só atendi porque Christopher estava do outro
lado da linha.
Era uma chamada de vídeo.
Limpei o meu rosto e a atendi.
— Oi — cumprimentei, tentando sorrir e com a voz embargada.
Christopher estava preocupado, era notório pelo seu semblante.
— Onde você está? O que aconteceu? Por que está chorando?
— Calminha... São muitas perguntas e que podem ser resumidas a uma
resposta, trevo de quatro folhas. Fui ver a minha mãe.
— E onde você está agora?
— No estacionamento, estou indo encontrar...
— Estou indo até você, me espera aí, ok?
Parecendo não haver outra escolha, apenas tive tempo de assentir,
antes de ele desligar a chamada.
Encostei minha cabeça no vidro do carro e esperei por Christopher,
enquanto tentava colocar meus pensamentos em ordem. Não sabia se havia
sido o certo fazer aquilo com Bonnie, mas foi a única solução maldosa que
encontrei para mantê-la longe de mim.
Meu maior medo é que ela voltasse a assombrar Christopher, que ainda
era fragilizado por causa do seu passado. Sabia que correria menos riscos de
isso acontecer, se usasse a coisa que ela mais presava para ameaçá-la.
Eu só queria paz. Era difícil de ter isso?
Minha vida era uma merda antes, e eu só não estava totalmente infeliz,
porque tinha amigos bons e um garoto incrível, que me amava do jeito que
nunca pensei ser amada.
Meu pai era bom pra mim e não me odiava, como minha mãe me fez
acreditar por boa parte da minha vida.
Ouvi uma batida no vidro do lado do passageiro e quando olhei,
Christopher estava entrando no carro e se sentando ao meu lado. Ele me
olhou todo preocupado dentro daquele moletom dos Beatles que amava usar.
— Você está bem?
A simples pergunta me fez ter vontade de chorar de novo. Neguei e fui
puxada para o conforto do seu abraço, movimento suficiente para me fazer
voltar a derramar lágrimas. Agarrei o tecido do seu moletom, como se
estivesse me agarrando a ele.
— Eu... nunca pensei que teria que fazer o que f-fiz — solucei,
sentindo meus ombros tremerem.
Chris me apertou bem nos seus braços e beijou o topo da minha
cabeça.
— E-eu nunca tive mãe, trevo de quatro folhas, mas tê-la afastado de
vez ainda dói.
— Eu estou aqui — ele me afastou, para conseguir sinalizar. —
Prometo nunca mais deixá-la.
Meu coração achou uma forma de se aquecer, em meio à dor que
estava sentindo. Aquilo era tudo o que eu queria de Christopher.
Que ele nunca me deixasse.
Que fôssemos o significado de para sempre.
Tudo o que eu quero ser, tudo o que eu sempre quero ser, sim, sim
É alguém para você
Tudo o que eu quero ser, tudo o que eu sempre quero ser, sim, sim
É alguém para você
SOMEBODY TO YOU – THE VAMPS
CHRISTOPHER LANCASTER
Era estranho estar na posição de consolar, quando sempre fui a pessoa
que era consolada. Enquanto Maeve chorava nos meus braços, por não ter
uma mãe que prestava o suficiente para ser merecedora do amor dela, eu
sentia algo poderoso crescer dentro de mim.
Eu estava aqui para ajudá-la em tudo o que precisava, para ser seu
amigo, seu amor, seu confidente, literalmente para tudo.
Ela sabia e confiava em mim.
Diante todo o amor que eu vinha sentindo se fortalecer entre nós a cada
minuto que passava, também senti a coragem de enfrentar o mundo por essa
garota. Não conseguiria viver sem ela e achava que acabaria percebendo isso,
quando voltasse da viagem que pretendia fazer para fugir de qualquer embate.
Obrigada por confiar por nós dois, Maeve.
— Por que está me olhando assim? — ela perguntou, com o rosto
levantado e os olhos em minha direção.
Sorri de lado, notando que as lágrimas já haviam cessado. Levei
minhas mãos ao seu rosto e o sequei, antes de respondê-la.
— Nada demais... Você está melhor?
— Me diga — pediu, beijando meu braço, que estava parado bem na
sua frente e próximo à sua boca. — Preciso me distrair.
Provavelmente já havíamos perdido a primeira aula e ainda tínhamos
uns quarenta minutos até a próxima, foi por conta disso e porque ela
precisava de outra coisa descansando em sua mente, que confessei:
— Estava pensando que sou grato por estar tendo a oportunidade de
ser nesse momento, o que você tem sido para mim nas últimas semanas.
— Um tipo de suporte?
Eu fiz um gesto positivo com a cabeça.
— Obrigado por ter sido paciente por nós dois, mesmo quando estava
quebrada — agradeci, aproximando o meu rosto do seu e deixando um
selinho nos seus lábios. — Obrigado por ter sido insistente em relação a mim
no início. — Dei um selinho na sua boca novamente. — Obrigado por me
querer, quando eu nem fazia ideia do quanto necessitava de você em minha
vida.
Seus olhos voltaram a marejar, e ela segurou o meu rosto.
— Estou emotiva, não pode me falar essas coisas e esperar que eu não
tire minhas roupas aqui, e suba em você.
Dei risada, ignorando o que aquelas palavras faziam com o meu pau, e
Maeve me acompanhou.
— Uma coisa não tem nada a ver com a outra, e você sabe disso.
— Quem falou? Minhas emoções estão ligadas diretamente à minha
boceta.
Tapei a sua boca com a minha mão, ao ouvir vozes de algum grupo de
universitários próximo a nós. Maeve a tirou algum tempo depois, com um
brilho divertido no seu olhar. Não era tão cheio de vida como o de antes, mas
eu sabia que ela voltaria àquele modo, só precisava de um tempo.
— Não quer ser visto comigo?
Havia muito mais do que divertimento naquela pergunta. Maeve
também estava um pouco insegura, por causa do que fiz a passar no dia
anterior. Insegurança era um sentimento que eu reconheceria até a dois
metros de mim.
— Não... É só que você estava falando palavras vulgares.
Ela riu fraco.
— Eles com certeza já ouviram piores.
Maeve aproximou seu rosto do meu e me roubou um beijo.
— Obrigada por ter me dado uma chance — ela também agradeceu.
E existia outra alternativa? Simplesmente não conseguia imaginar
uma.
— Quer me falar o que aconteceu? — perguntei, conseguindo
demonstrar que ainda estava preocupado com o quanto ela chorou nos
últimos minutos.
Maeve soltou um suspiro, que soou triste nos meus ouvidos.
— Acho que consegui fazer com que minha mãe nunca mais volte a
nos incomodar.
Então, ela começou a me contar sobre a discussão feia que teve com
Bonnie nessa manhã e a briga que a levou a mostrar que estava gravando toda
aquela situação.
— Eu a ameacei e consegui ver o medo no seu rosto. Nunca tinha a
visto tão apavorada — disse ela. — Bonnie não irá nos incomodar, agora que
tenho essa gravação.
— Sinto muito que tenha chegado a esse ponto.
— Eu também, Chris.
Essa foi uma das poucas vezes que ela falou o apelido que quase todos
usavam para me chamar. Ele saindo dos seus lábios, era ainda mais especial e
delicado.
— Por que está sorrindo assim?
Nem percebi que estava sorrindo como um bobo e até iria explicar,
porém uma mancha vermelha no seu rosto chamou a minha atenção e
quebrou meu sorriso. Agora que cada parte do seu rosto estava voltando à cor
normal, porque ela já não chorava mais, notei que uma vermelhidão forte não
saía da sua bochecha. Levei minha mão até ela e a toquei com cuidado,
sentindo seu corpo se esquivar de mim, como se ardesse.
Aquilo era...
— Ela bateu em você? — perguntei, sentindo todo meu sangue ferver
dentro do meu corpo.
— Ah, isso... — Maeve tocou seu rosto e fez uma careta. — Nada
demais, vindo de Bonnie.
Fechei minhas mãos em punho, sentindo mais raiva daquela mulher do
que na noite em que ela esteve na minha frente, me mandando sair da vida da
sua filha. Ela era o pior tipo de pessoa. Nenhum nome poderia definir
tamanha maldade que a compunha.
Maeve tocou minha mão e me forçou a abri-la. Seus dedos se
entrelaçaram nos meus, me fazendo notar a diferença que tínhamos de
tamanho nessa parte do corpo.
— Vai ficar tudo bem — garantiu. — Precisei chorar, porque estava
precisando disso há algum tempo e irei superar isso. Estou melhor sem ela,
do que com.
Não queria parar de segurar sua mão, então tomei a sua boca com a
minha, esperando que ela sentisse que estaria aqui para sempre a partir de
agora.
CHRISTOPHER LANCASTER
Maeve dizia que estava bem, mas eu a conhecia e sabia que não estava
por completo. Havíamos voltado de um dos nossos encontros com nossos
amigos nesse sábado, onde ela não foi a mesma de sempre. Parecia um pouco
distante, e aquilo me preocupava, pois os únicos momentos em que ela estava
melhor, era quando pintava ou estava a sós comigo.
Como agora.
Maeve desenhava mais uma cena do meu projeto, e eu estava sentado
ao seu lado, escrevendo mais um pouco para ser ilustrado por ela. Podia
continuar dessa forma, porém não conseguia guardar meus pensamentos e
minhas preocupações apenas para mim.
Cutuquei seu braço para chamar sua atenção e sinalizei assim que a
tinha:
— Você está bem? Parece um pouco abatida para quem ganhou o
jogo ontem.
Em outro momento, teria receio de que estivesse chateada por não ter
ido no seu jogo na noite anterior, só que como ficava em outro estado, e sabia
que Maeve entendia minhas condições financeiras, não me preocupava que
aquilo fosse o motivo. Além do mais, não era desde ontem que ela estava
assim.
— Estou bem, só um pouco chateada com os últimos acontecimentos
— admitiu, me lançando um sorriso melhor dos que os anteriores. — Ontem
foi o primeiro jogo em que tive a certeza de que ela não estaria me
observando, e apesar de eu jogar mais tranquila, e estar feliz com isso, ainda
não consigo deixar de me sentir irritada, por algo lá no fundo me afetar.
O que eu mais gostava nessa busca da Maeve em se tornar a melhor
versão de si, era que ela não escondia mais as suas emoções das pessoas
próximas e até de si mesma. Ela estava tentando se entender, ainda que fosse
confuso, difícil e estranho.
— O que eu posso fazer para você ficar melhor?
Não era como se eu pudesse tirar a mágoa que ela estava sentindo,
entretanto eu a entendia e talvez pudesse amenizá-la. Maeve só conseguiria
superar aquela dor da briga final com sua mãe com o tempo e não deveria se
sentir culpada por ter momentos em que se sentia bem longe dela, da forma
como eu imaginava que se sentia de vez em quando.
— Você é o único que tem me feito relaxar nos últimos dias, trevo de
quatro folhas — contou, me fazendo sorrir fraco. — É a melhor coisa que
aconteceu comigo.
Apontei com o queixo para a cena que estava desenhando.
— Se sente bem com as pinturas também.
Ela olhou para o desenho incompleto e assentiu.
— Isso me lembra uma coisa — disse, se levantando e andando até o
sofá. Ela se agachou do lado dele e pegou um quadro de tamanho médio que
estava escondido ali atrás. — Tenho um presente para você.
Aquilo me surpreendeu.
— Um presente?
Maeve escondeu o quadro, que continha uma pintura, a qual eu não
consegui identificar, porque seu movimento foi muito rápido, atrás das
costas.
— O que é?
Ela sorriu e levantou seu indicador, me chamando com ele. Sem muitas
escolhas e curioso, saí do meu lugar e andei até ela.
— Comecei esse desenho semestre passado, mas só consegui acabar no
final da semana passada.
Maeve tirou de trás das suas costas o quadro e o colocou na minha
frente, enfim mostrando do que se tratava o desenho que havia levado tanto
tempo para ficar pronto.
Pisquei algumas vezes, ficando mais surpreso a cada segundo que se
estendia comigo vendo aquele quadro.
Era eu.
Maeve havia me desenhado.
E nunca, em toda a minha vida, havia me achado tão... lindo, como
naqueles traços.
Ela havia me desenhado até um pouco abaixo dos ombros, com um
sorriso fechado e de lado, enquanto meus olhos se mantinham para baixo,
como se aquela fosse uma foto onde eu estivesse com vergonha de ser
fotografado. Na pintura, também havia um jogo de luzes claras ao redor, que
era quase como se uma luz saísse de mim, como se tivesse uma aura que me
cercava.
— Agora você consegue entender que sempre o vi assim? —
perguntou, atraindo a minha atenção.
Maeve parecia um pouco sem graça, porém confiante.
— É... — Minhas mãos pararam no ar, sem saber muito bem como
definir. — Perfeito.
Não consegui me segurar e me aproximei dela, a puxando para um
beijo. Maeve sorriu assim que seus lábios tocaram os meus e largou o quadro
no sofá, antes de circular seus braços no meu pescoço e atravessar sua língua
até encontrar a minha. Nos beijamos apaixonadamente por tantos minutos,
que senti meu peito arder um pouco.
— Eu amo você — falei, sentindo meus olhos marejarem. Não
imaginava que era possível, entretanto isso sempre acontecia quando me
declarava para ela. — Gostei do presente e irei pendurá-lo no meu quarto.
— Ótimo, porque ele foi mesmo trabalhoso — brincou, limpando os
cantinhos dos meus olhos com algumas lágrimas.
Ela parecia melhor, mas eu ainda queria fazer mais por essa garota.
— O que acha de sairmos hoje? — A ideia surgiu na minha cabeça, e
rapidamente compartilhei. — Você gostava de festas, jantar fora e se
divertir.
— Quer ir a uma festa comigo? — Ela parecia surpresa pelo convite
estar vindo de mim.
— Contanto que não seja no campus, eu irei a qualquer lugar com
você.
Maeve segurou o meu queixo e o balançou.
— Pare de ser fofo ou vou parecer aquelas idiotas apaixonadinhas. —
Beijou minha boca. — Eu topo ir à festa.
Balancei minha cabeça, afastando sua mão do meu rosto e voltando a
beijá-la, porque simplesmente amava quando minha boca estava grudada com
a sua.
Era tão viciante quanto transar com ela.
Contudo, nesse momento quis ignorar aquela última informação —
ainda que colocasse muito esforço para isso —, porque tínhamos um trabalho
inteiro para fazer, antes de sairmos de noite.
MAEVE HOOD
Christopher me beijou assim que acendi as luzes do banheiro. Só tive
tempo de verificar se havia alguma pessoa aqui dentro — por sorte, não — e
trancar a porta, para que ninguém nos incomodasse.
Sabia que não era o lugar certo para fazer um sexo gostoso com o
homem que eu amava e desejava 100% do meu tempo, porém um calor
crescia em mim cada vez que ele me olhava com desejo, parecendo querer
arrancar o vestido do meu corpo, mas sem ter coragem o suficiente para isso
ainda.
Tudo bem.
Daqui alguns meses, já sentia que Christopher se sentiria muito mais
confiante consigo mesmo na hora do sexo, eu vinha sentindo isso a cada vez
que transávamos.
Tudo piorou na região da minha boceta, quando ele sinalizou as
palavras: minha garota, para aquele babaca. Ver a coragem que ele teve de
enfrentar aquele idiota do seu passado para me proteger do olhar malicioso e
nojento que aquele verme estava me lançando, só me deixou mais louca por
ele.
Arrastá-lo para um banheiro depois de toda aquela onda de
magnetismo, era apenas a consequência.
Minha língua exigia mais da sua e brincava dentro da sua boca
profundamente, enquanto suas mãos estavam por toda parte, me apalpando,
me sentindo e me provocando.
— Me coloque na bancada — implorei entre o beijo, sentindo as mãos
de Christopher agarrarem minhas coxas e me colocarem sentada no mármore
gelado da pia do banheiro. Sua boca desceu pelo meu pescoço, e minhas
mãos se infiltraram dentro da sua camisa, arranhando o tanquinho gostoso
que pertencia a ele. — Chris...
Gemi com o chupão forte que senti na minha pele e me senti latejar
ainda mais lá embaixo.
— Não temos muito tempo. — Arfei, com sua boca no vão do meu
decote, entre meus seios. — Vou mostrar como podemos fazer isso rápido e
ainda ser prazeroso.
Segurei sua cabeça com as minhas mãos e a desci até tê-lo bem perto
da minha boceta. Instintivamente ou não, ele aspirou o meu cheiro, e suas
pupilas dilataram mais, fazendo meu clitóris latejar com a vontade de sentir a
sua boca novamente.
Era impressionante o quanto o meu corpo o desejava a cada segundo.
Christopher aprendia tudo muito rápido, porque era inteligente e me
provou mais uma vez, ao subir o meu vestido até acima da minha cintura e
me puxar para mais perto da beirada da bancada.
Observei a cena erótica dele se ajoelhando na minha frente e separando
minhas pernas. Sua boca beijou a minha coxa ao mesmo tempo que seus
dedos afastavam a minha calcinha fio dental extremamente molhada.
Eu não precisava mostrar nada para ele.
Tive certeza disso, quando sua boca tocou minha boceta.
Agradeci à música alta do lado de fora, por me permitir gritar ao sentir
sua língua acariciar o meio dos meus lábios vaginais, até chegar no clitóris.
Segurei firmemente alguns fios do seu cabelo e senti o prazer dominar meu
corpo, quando seus lábios se fecharam no meu clitóris.
Tombei a cabeça para trás, perdida entre assisti-lo e sentir toda a
sensação gostosa da sua boca em mim.
Christopher chupava, beijava e acariciava com sua língua, ainda
melhor do que fazia comigo quando me beijava na boca. Sentia meu controle
se esvaindo cada vez mais, e meu quadril começou a se mover, me
esfregando mais na sua cara, sentindo até a ponta do seu nariz me dar prazer.
Eu poderia gozar a qualquer momento.
— Chris... me fode agora — implorei.
E preferi quase arrancar o seu cabelo, ao puxá-lo para cima, ou iria
mesmo ter um orgasmo na sua boca.
Desci da bancada e abri o zíper da sua calça, sentindo minhas mãos
tremerem, com tanta vontade de ter aquele momento com ele. O pau duro
pulou da sua calça, e eu salivei. Não daria tempo de fazer um boquete, mas
não perderia essa oportunidade da próxima vez.
Virei-me de costas e o encarei pelo espelho.
— Dessa forma — murmurei, trazendo suas mãos para a minha
cintura. — Quero sentir você desse jeito.
Era uma posição nova para ele, por isso entendi porque, por um
segundo, ele paralisou.
Curvei-me sobre a bancada, empinando a minha bunda.
— Vai ser mais prazeroso para nós dois.
Christopher firmou suas mãos na minha cintura. Primeiro, senti seu
quadril encostar no meu, até que por fim, senti seu pau posicionado na minha
entrada. Ele me olhou pelo espelho, e presa àquele olhar, vi nossos
semblantes se transformarem, ao me penetrar pela primeira vez nessa
posição.
Christopher entrou com cuidado, como sempre, e observar sua
mandíbula cerrada, procurando uma forma de se controlar para não entrar
com tudo, só me fez amá-lo mais.
Ele era perfeito.
Gemi, quando o senti empurrar mais, até estar todo dentro de mim. A
sensação era única, e nessa posição, eu o sentia ainda maior na minha boceta.
— Pode... se mover — pedi, quase choramingando quando ele fez o
que pedi.
Apertei minhas mãos no mármore em que estava apoiada, sentindo,
gemendo e assistindo pelo espelho, Christopher me foder por trás no banheiro
da festa. Não havia nada mais erótico do que isso, e ele sabia disso. Seus
olhos não deixavam os meus, enquanto ele metia cada vez mais forte.
Porra!
Empinei ainda mais a minha bunda para ele, ao mesmo tempo que ele
estocava, intensificando mais o nosso prazer.
Merda!
Não queria fechar os meus olhos e perder aquela visão, mesmo que
fosse quase automático usar daquele movimento, quando estava recebendo
muitas sensações gostosas ao mesmo tempo.
O ar saindo da boca de Christopher e batendo diretamente no meu
pescoço, era o gemido mais gostoso que a minha pele já havia escutado.
Porque sim, eu o escutava.
Nos toques, nos beijos, nos olhares, nos movimentos.
Cada parte de mim, escutava cada parte dele.
Meu corpo tremeu, ao sentir Christopher entrar novamente em mim, e
meu gemido saiu mais alto, conforme sentia o ápice me atingir. Ele veio junto
comigo, caindo com sua cabeça em meu ombro, à medida que me apertava
mais contra ele.
Nossas respirações estavam agitadas, porém quando nossos olhos
voltaram a se encontrar através do espelho, conseguimos sorrir fraco.
— O que acha de darmos o fora daqui? — perguntei, ainda me
sentindo ofegante.
Ele concordou.
No mesmo momento, alguém bateu na porta com tanta força, que achei
que iria derrubá-la.
Chris e eu rimos.
Bem na hora!
A noite estava linda para uma caminhada, e como não estávamos com
sono, resolvemos entrar na praia que tinha a um quilômetro da festa em que
estávamos. Retirei meu salto antes de pisar na areia e estava os segurando,
enquanto caminhávamos pela beira do mar.
— Los Angeles é linda de noite, não acha? — indaguei, olhando para
os prédios bem iluminados, as ruas movimentadas e a praia limpinha diante
de nós.
— Quando minha mãe disse que moraríamos aqui, senti um certo
alívio por não ter que viver na mesma cidade em que nasci e que meu pai
morreu, mas mesmo sabendo da fama de Los Angeles, nunca tive vontade de
explorá-la, até agora.
Sorri, tocando meu ombro no seu braço.
— Temos muito o que explorar desse mundo juntos, trevo de quatro
folhas.
Ele concordou com um aceno de cabeça.
— Sinto que viverei muitas experiências com você ainda.
— Claro... como a nossa última, de alguns minutos atrás — provoquei,
me referindo ao sexo gostoso que fizemos. — Gostou?
— Nós quase fomos pegos!
Ele estava corando! Que fofo! Nem parecia que tinha me fodido tão
bem.
— Isso não torna as coisas mais excitantes?
Christopher balançou a cabeça, rindo e disfarçando que eu estava certa.
Tinha sido cômica a cara da garota que estava esperando do lado de fora do
banheiro, quando viu Christopher e eu saindo como se não tivéssemos feito
nada.
— Achei que encontraríamos Dustin quando saíssemos daquele
banheiro... Que bom que isso não aconteceu.
Só a menção daquele idiota, me deixava enjoada.
— Ele... fazia bullying com você?
Christopher assentiu, parecendo triste de repente. Eu não queria aquilo.
— Vamos esquecer esse idiota, tudo bem? Ele não traz nada de bom,
só coisas ruins para essa atmosfera linda e tranquila que estamos vivendo
agora.
Ele sorriu em meio à tristeza que sentiu em trazer aquele verme para o
nosso assunto.
— Sabe... Ele me intimidava, me humilhava e em algumas vezes, até
me bateu...
— Chris...
— Eu preciso falar isso. — Ele parou, me fazendo parar também.
Virei-me de frente para ele. — Dustin me fez acreditar que eu era um nada,
Maeve, e acho que você ter se infiltrado na minha vida, veio para me mostrar
o contrário. Passei os últimos dez anos apenas existindo, mas você me faz
viver e querer isso com toda a força do meu coração, e é por isso que preciso
de você para sempre em minha vida, mesmo que em alguns momentos eu me
sinta um nada novamente, saiba que no fundo, não posso perdê-la.
O que era aquilo, afinal? Meus olhos marejaram de repente, sentindo a
sinceridade em cada sinal que observava das suas mãos.
Olhei para ele de novo e o peguei sorrindo, também um pouco
emocionado como eu.
— Namora comigo para o resto das nossas vidas?
Sorri, sentindo as lágrimas deslancharem pelo meu rosto.
— A gente já não estava namorando?
— Segundo você, desde que coloquei meus pés no seu apartamento
pela primeira vez.
Encolhi os ombros.
— O que posso fazer, se queria você desde a primeira vez que o vi? —
Limpei um pouco o meu rosto com o meu braço. — Eu aceito, Christopher
Lancaster. Serei sua namorada, sua noiva, sua esposa, a mulher que sempre
estará ao seu lado.
Ele parecia mesmo aliviado com aquela resposta. Nem se vivêssemos
em um mundo alternativo, eu responderia de outra forma.
Christopher pegou do seu bolso uma caixinha pequena, muito parecida
com aquelas que guardam joias, e eu me preparei para o que enxergaria
quando ele a abrisse.
Nenhum preparo foi o suficiente.
Ali dentro, estavam duas correntinhas pratas, uma com o pingente da
lua, e outra com o do sol. Segurei a caixinha para que ele explicasse, ainda
encantada com a delicadeza daquelas joias.
— Somos opostos e não podemos negar isso — disse, meio sem graça
e parecendo ansioso. — Mas assim como o sol e a lua, não podemos viver um
sem o outro.
Senti uma pontada no meu coração e por um momento achei que
desmaiaria, no entanto, era apenas aquele órgão apaixonado acelerando mais,
conforme processava aquelas palavras e o gesto lindo e fofo de Christopher.
— Eu amei — consegui ao menos dizer isso, já que me derramei em
lágrimas logo em seguida.
Eu o amava tanto!
Christopher segurou a correntinha da lua e pediu para que eu me
virasse. Movimentei-me no automático, sentindo meu cabelo ser colocado de
lado, enquanto ele prendia o colar em mim.
Quando me virei, ele segurou o do sol e com uma rapidez
impressionante, prendeu ao seu pescoço.
— A partir de hoje, acho melhor chamá-la de moonlight do que de
malévola, não acha?
Sorri, ainda chorando de emoção.
Ninguém, e achava até conhecer Chris, que ninguém poderia me amar
tanto daquela maneira, mas ali estava ele, provando a cada gesto. Não
importava quantas vezes, eu lutaria por isso, da mesma forma como ele
lutava contra suas inseguranças.
Porque eu era a lua, e ele o sol, dois elementos da natureza que
pertenciam um ao outro, mesmo sendo opostos.
E se eu aparecesse com uma passagem de avião
E um anel de diamante bem brilhante com seu nome nele
Será que você iria querer fugir também?
Porque tudo que realmente quero é você
SHE LOOKS SO PERFECT - 5 SECONDS OF SUMMER
CHRISTOPHER LANCASTER
UM MÊS DEPOIS...
Eu costumava odiar academia com todas as minhas forças, mas
ultimamente vinha gostando de malhar, porque era mais um tempo que
conseguia compartilhar com Maeve ao meu lado.
Nas últimas duas semanas, estávamos tão atarefados com trabalhos e
testes dos nossos cursos, que aproveitávamos qualquer tempinho livre para
ficarmos juntos. O projeto que estávamos fazendo, estava quase acabando,
provavelmente conseguiríamos finalizar no final da próxima semana, e eu
teria tempo para revisar tranquilamente a história.
Em poucas horas, estaríamos voando para o Texas, lugar onde
aconteceria a final do jogo das meninas.
Não era minha intenção viajar para tão longe para assistir um jogo,
porém o pai de Maeve havia feito questão que eu, Trevor, Aurora e Melvin
fôssemos no jogo da filha e da melhor amiga, e como eu tinha a oportunidade
de ir sem gastar o dinheiro que nem tinha, aproveitei para aceitar.
Maeve vinha se esforçando tanto com as outras meninas, para darem o
melhor de si mesmas, que não gostaria nem de pensar se não conseguissem
ganhar a temporada. Foram dias de treinos, estudos sobre as jogadas dos
times adversários e estratégias para ganhar nessa final.
Tudo as trouxe para hoje, e estava orgulhoso de dizer que elas
pareciam muito melhores do que no início. Conseguia sentir que estavam
mais unidas, mais esperançosas e felizes.
Vinha descobrindo nessas últimas semanas, que um namoro não era
apenas beijos, abraços, sexo e carinho, também era conversas sobre nossos
cotidianos, que nos faziam ficar mais presentes na vida um do outro,
companhia quando estávamos atarefados com nossas próprias agendas e
ainda achávamos uma forma de ficarmos juntos. Tudo aquilo era um
relacionamento, e eu amava descobrir cada dia um pouco mais.
Sentia minhas costas arderem nesse momento, como se alguém
estivesse me secando, e por isso, guardei o peso de musculação e olhei para
trás, dando de cara com Maeve sentada e com os olhos fixos em mim.
— Você não veio para malhar?
Até porque, ela tinha enchido a minha cabeça com tanta insistência
para virmos hoje, quando já havíamos vindo no dia anterior.
— Ver você malhar é muito melhor do que fazer exercícios — disse,
com aquele sorriso atrevido que costumava lançar somente para mim. — Fiz
alguns minutos de esteira, é o suficiente para não me cansar para o jogo de
hoje.
— Então podemos ir?
— Não vai mais malhar para mim? — Fez um beicinho fofo com os
lábios, fingindo estar chateada. — Preciso de um incentivo para o dia cheio
de hoje.
Aproximei-me dela e esfreguei minha mão no topo da sua cabeça,
bagunçando seu cabelo.
— Acho que você já teve incentivo o suficiente.
Ela sorriu, segurando a minha mão e se levantando do banco em que
estava sentada.
— Vamos para o seu dormitório? Ainda tenho algumas horas para
passarmos juntos, antes de eu me encontrar com as meninas.
Eu concordei com a cabeça.
Mesmo com a academia quase vazia, ainda éramos alvo de olhares de
alguns universitários que estavam por perto. Eu não entrava mais nas
comunidades que existiam do campus nas redes sociais, porque não queria ler
nada que me deixasse mal. Sabia que Maeve era vista como muito para mim
e não vou mentir, existiam dias em que me sentia um nada perto dela.
Mas então ela demonstrava o quanto me amava, e toda a minha
insegurança ia embora como num passe de mágica.
Não cairia mais naquela fraqueza de ser insuficiente, quando nos
dávamos tão bem e o que tínhamos era apenas nosso.
— Como está a sua relação com Melvin? Ele ainda está te enviando
mensagens? — Maeve perguntou, quando saímos da academia.
Caminhávamos em direção ao meu dormitório agora.
Peguei meu celular no bolso da minha calça abrigo e abri minha
conversa com Melvin, entregando o aparelho para ela logo em seguida.
— Ontem, ele mandou esses vídeos do ultrassom, estava todo
emocionado porque seu filho estava chutando a barriga da Aurora quando
ele a tocava. Segundo a médica, é uma forma do bebê se comunicar.
Nunca, em hipótese alguma, eu imaginaria que Melvin acabaria
trocando mensagens comigo. Começou em torno de duas semanas atrás,
quando ele me pediu ajuda para um dever de Redação, ao descobrir que eu
era bom com textos em um dos nossos encontros com os amigos. Pensei que
o ajudando, estaria me livrando dele, mas assim que ele entregou a lição, veio
me agradecer e começou a conversar sobre o livro que estava lendo sobre
paternidade.
Ele estava levando muito a sério aquela responsabilidade, e chegava a
ser tranquilizador ver que Aurora não iria sofrer por causa do pai da criança
que estava carregando.
Não sabia se ele ainda tinha inseguranças em ser pai, como naquela
noite em que o encontrei bêbado, mas sabia que estava se esforçando na
terapia, no novo trabalho que arrumou, para não depender apenas da tia que
dava dinheiro, e na amizade, que aos poucos, estava conseguindo construir
com Aurora.
— Não acredito que você tem essas imagens, e eu não! — Maeve me
devolveu o telefone, emburrada. — A Aurora me odeia?
— Não seja tão dramática, ela está cada vez mais cheia de emoções
com a gravidez avançando mais.
Todos que acompanhavam a vida dos atletas, já sabiam sobre a
gravidez de Aurora, agora que não havia mais como ela disfarçar com uma
camisa grande. Parecia que no último mês, sua barriga havia crescido tudo o
que não cresceu nos primeiros meses, era muito maluco aquele processo de
gestação.
E a forma como alterava as emoções da mulher também.
Já havia presenciado Maeve com TPM, porém a gravidez era ainda
mais intensa.
No último sábado em que nos encontramos todos para almoçar, como
quase todo final de semana, Aurora estava com vontade de tomar suco de
morango e chorou quando o garçom disse que não havia mais frutas para
fazer a bebida.
Melvin teve que correr para comprar para ela, e o coitado pagou o soco
que me deu naquele dia, pois precisou ir até o final da cidade, para gastar
uma boa quantia em um suco que chegou quente para Aurora.
Ela não gostou e ficou bem chateada.
— Nem me fale! — Maeve revirou os olhos. — Acho que não quero
ser mãe, ela está mais chata do que eu era antes. Imagina como eu vou ficar?
Eu ri do seu desespero.
— Não é como se estivéssemos pensando nisso para agora.
Maeve assentiu.
— Mas você seria tão fofo como pai. — Apertou minha bochecha, sem
me dar tempo de desviar. — Imagino você correndo pelo nosso jardim com
nossos filhos no futuro. Eu provavelmente disputaria com eles quem ama
mais você.
Sorri, agora conseguindo enxergar aquela cena claramente na minha
cabeça. Saber que Maeve imaginava todo um futuro comigo era tão
emocionante, que me deixava sem raciocínio para dar-lhe uma resposta.
Entramos no meu dormitório no mesmo momento, e por isso, a puxei
pela nuca e a beijei.
Sempre era diferente quando a beijava.
Parecia que a cada contato, eu me apaixonava ainda mais por essa
garota.
Maeve estava se tornando uma mulher incrível desde que abandonou
seu passado e agora, que não pensava com tanta frequência em sua mãe,
estava vivendo um pouco melhor a sua vida comigo ao seu lado.
Ela não estava mais distante, nem pensativa a respeito do que fez, e seu
pai era incrível para nós dois.
Não havia mais dor, drama e cobranças.
Era apenas nós.
— Podemos tomar banho juntos? — Maeve me tentou, beijando meus
lábios repetidamente. — Hum?
Eu já estava quase convencido, quando a porta foi aberta, fazendo com
que eu me afastasse de Maeve como se estivesse cometendo um crime.
— Que bom que dessa vez, eu não vi nada demais — Trevor comentou
com um tom debochado, entrando no quarto com Caitlin.
Maeve revirou os olhos.
— Da outra vez, você também não viu nada.
Senti minhas bochechas ficarem vermelhas, ao me lembrar a que ele
estava se referindo.
Semana passada, Maeve e eu estávamos nesse quarto quase tirando
nossas roupas, quando Trevor e Caitlin entraram. Óbvio que foi o suficiente
para o meu irmão reclamar a semana toda sobre a visão terrível que teve do
seu irmão mais novo beijando a sua cunhada.
Ele era um dramático!
— Deixa eles — Cat mandou, piscando para mim. — Não é como se
não fizéssemos coisas piores.
Senti uma ânsia dominar o meu estômago. Eu, definitivamente não
precisava saber disso.
— Você não deveria estar com Aurora? — Maeve perguntou para a
amiga.
— Eu estava, mas ela precisou descansar para ir ver o jogo de hoje —
explicou. — Estava se sentindo enjoada.
— Faltam quantos meses para ela ganhar esse bebê? — Trevor
perguntou.
— Em torno de 4? 3? Estou um pouco perdida — Caitlin respondeu.
— Quatro meses — Maeve respondeu. — Estou contando os dias para
pegar meu sobrinho nos braços.
Sorri. Ela estava mesmo ansiosa por aquele momento.
— Chris, mamãe ligou exigindo que a gente vá para São Francisco no
próximo final de semana — Trevor contou. — Pensei em irmos na sexta, já
que as garotas não vão ter mais jogos.
Dona Jules estava tão ansiosa para conhecer Maeve pessoalmente, que
na nossa última ligação havia implorado para que fôssemos o mais rápido
para lá, então olhei para Maeve.
— Tudo bem para você?
Ela concordou.
— Estou ansiosa para conhecer sua mãe.
— Ótimo! Vamos fazer nossa primeira viagem de casais. — Caitlin
veio até nos e abraçou nossos corpos. — Torcer para o tempo ser bom, e
conseguirmos ir para a praia.
— Em pleno outubro? — Maeve fez uma careta, desmanchando o
abraço ao se afastar.
Caitlin deu de ombros.
— Milagres podem acontecer. — Olhou para a minha namorada. —
Está mais tranquila para o jogo?
— Um pouco — respondeu Maeve.
— Você vai ir bem, todas vocês vão — sinalizei.
As duas sorriram e concordaram com um gesto fraco de cabeça.
Elas tinham que ter confiança, porque aquele jogo não seria fácil, era
uma final afinal.
MAEVE HOOD
Observei o placar atual, sentindo um medo consumir todo meu corpo.
Nós havíamos vencido dois dos quatro sets jogados até agora,
enquanto o outro time acabou vencendo o último que jogamos há pouco
tempo, empatando com a gente.
— Estou nervosa — Cindy disse, bebendo um pouco de água,
enquanto estávamos na nossa pausa.
— Vamos conseguir — Caitlin permaneceu confiante.
O treinador se aproximou de nós e indicou que fizéssemos uma roda,
para que nossa conversa fosse mais privativa. Abraçamos os ombros umas
das outras, fechando um círculo em frente ao banco reserva.
— Jocelyn, precisamos usar nossa última jogada exatamente da forma
que treinamos — ele avisou para a nossa levantadora. — Caitlin, mantenha-
se marcando os pontos da forma que está fazendo. Se você usar seu elemento
surpresa mais vezes e de forma espaçada, vai marcar mais pontos.
Ambas concordaram.
— Maeve — eu o olhei —, você está indo muito bem.
Sorri fraco, recebendo um sorriso brilhante de Caitlin.
— Vocês chegaram até aqui, porque melhoram como um time, estão
unidas como nunca estiveram antes nessa quadra, porque lutam por um
prêmio juntas. Estou orgulhoso que aprenderam de vez isso. — Ele ajustou a
sua postura, a mantendo ereta. — Entrem naquela quadra e mostrem para o
que vieram.
Nós juntamos as nossas mãos e olhamos umas para as outras.
— Vamos conseguir, meninas! — Caitlin motivou.
Nós assentimos quase juntas e gritamos, ao levantar nossas mãos.
Era hora de vencer aquelas garotas.
Voltamos para a quadra e paramos em nossas posições, vendo o time
adversário fazer a mesma coisa. Levou alguns segundos para o juiz do jogo
liberar a nova partida do set, porém quando iniciou, a bola foi lançada em
nossa direção.
Nossa líbero passou o lance, passando para Caitlin que passou para
Joceyn. Ela lançou a bola para marcar um ponto, mas a líbero do outro time
defendeu, e a levantadora passou para a central, que marcou um ponto de
ataque.
Merda.
Os torcedores da UCLA estavam aflitos, eu conseguia sentir daqui a
tensão que eles sentiam. Olhei de relance para a plateia, na direção em que
nossos amigos, meu pai, minha irmã e Christopher estavam.
Eles pareciam mais calmos do que todos ao redor.
Chris sorriu para mim, e eu consegui retribuir, antes do apito soar para
mais uma jogada.
Elas lançaram a bola em nossa direção, alto e forte, para que não
conseguíssemos defender a tempo, mas conseguimos receber com precisão,
com Jocelyn levantando para Caitlin, que fez uma jogada excelente, ao
apontar a bola para uma direção e marca em outra.
O ponto era nosso.
Comemoramos o suficiente, para começar a jogar de novo.
Ainda faltavam catorze pontos.
E durante eles, senti tanta adrenalina consumir o meu corpo, que não
tive tempo de deixar que o desespero tomasse o meu corpo. O time
adversário completou dez pontos primeiro, entretanto quando completamos o
décimo primeiro e o décimo segundo, elas pareceram deixar que a
negatividade tomasse os seus corpos.
Quando a bola foi atacada por uma delas e voou em nossa direção,
Caitlin conseguiu marcar um ponto ao devolver a bola tão perto da central,
que ela só teve vontade de conseguir defender.
Aproveitei o desespero delas para bater a bola, quando voou em minha
direção, bem no canto da quadra, onde a ponteira achava que eu iria para o
centro, como Caitlin.
E aquilo foi o fim para elas, enquanto para nós era um recomeço.
Havíamos ganhado.
Nós. Conseguimos. Ganhar.
Senti braços me circularem e só reconheci ser Caitlin, pelo aconchego
com que seu abraço sempre me acolhia. O público gritava ao nosso redor, ao
passo que as outras meninas comemoravam entre si, mas tudo o que fiz foi
abraçar mais forte a minha melhor amiga.
A que acreditou em mim, quando eu era uma insensível.
A que viu em mim mais do que o superficial que eu mostrava a todos.
E foi quando senti braços fininhos me abraçarem sem jeito, por causa
do tamanho de uma barriga média, é que comecei a chorar.
Aurora também estava aqui, e nem quis entender como ela havia
surgido ao nosso lado, porque essa era uma conquista de nós três e
merecíamos estar juntas, comemorando.
Anos de uma falta de comunicação, que quase nos destruiu e nos
separou, se tornou parte do passado, porque agora éramos novas pessoas. Um
pouco mais maduras, mais inteligentes e responsáveis.
— Eu amo vocês — Aurora declarou. — E esse bebê também.
Cat e eu rimos, a colocando no nosso meio.
— Nós amamos vocês também — dissemos juntas e voltamos a
abraçá-la.
Meu pai estava tão orgulhoso, que resolveu pagar um jantar para mim
e para os meus amigos em um restaurante típico do Texas. Sentei-me ao lado
de Christopher e de Aurora, me sentindo feliz como em todos esses últimos
dias que estava vivendo.
— Um brinde às meninas, que arrasaram no jogo de hoje e levaram a
vitória, depois de anos sem conseguir. — Meu pai levantou a sua taça de
champanhe. — Não poderia estar mais orgulhoso da minha filha, que teve
uma caminhada difícil até chegar aqui.
Senti Christopher segurar a minha mão por baixo da mesa e entrelaçar
os nossos dedos.
Meu pai me olhava com o rosto tão iluminado, que me senti mais
emocionada do que antes, no final do jogo.
Alguém estava com orgulho de quem eu era.
Meu pai, o homem que eu afastei quando ainda era uma adolescente.
— Amo você, querida. — Seus olhos também marejaram.
Apenas ergui a taça e movi meus lábios em um “eu também”, porque
tinha certeza de que se minha voz saísse, minhas lágrimas também sairiam.
Todos nós brindamos àquele momento — até mesmo Ari, com sua taça
de suco —, e depois que todos voltaram a conversar ao mesmo tempo, eu me
aninhei a Christopher, deitando a minha cabeça em seu ombro, o sentindo tão
perto de mim, como todas as vezes.
— Me deu sorte hoje de novo — murmurei para que ele ouvisse. —
Ainda tem dúvidas de que é meu trevo de quatro folhas?
Ele riu fraco, afastando sua mão da minhas, para responder:
— Você conseguiu porque foi perfeita — elogiou, me fazendo sorrir.
— Não por causa de mim.
— Foi importante ter a sua força do outro lado.
— E como se sente, agora que voltou a jogar e venceu?
— Gosto de jogar sem ter uma pessoa me pressionando a viver disso
— admiti, lembrando a forma como fiquei mais tranquila nos últimos jogos.
— É legal jogar com Caitlin... E você? Continua sentindo orgulho de mim?
Seu sorriso se tornou sem graça.
— É claro ou você esperava outra resposta?
Eu poderia beijá-lo aqui mesmo e teria feito isso, se alguém
arranhando a garganta em cima de mim não tivesse me atrapalhado.
— Vidas solteiras também importam, sabia? — Aurora provocou. —
Por que não me acompanha ao banheiro?
Achava que minha cara explicava que eu não queria, por isso, Aurora
pegou a minha mão, se levantou e me puxou.
— Vou roubá-la um pouquinho de você, Christopher — disse ela,
quase me fazendo querer esganá-la.
Poxa. Não podia ficar um pouco com meu namorado?
Caitlin nos seguiu, e eu tive um pouco de medo daquela outra loira me
anunciar que estava grávida também. Ninguém podia me julgar, meninas só
iam juntas ao banheiro para fofocar.
— O que vocês têm? Já digo que só posso tomar conta de um sobrinho
de cada vez, então use camisinha, Caitlin.
Minha amiga fez uma careta.
— Estou bem segura aqui.
Ótimo.
— Então por que fui arrastada para o banheiro?
— Porque chegou a hora de resolver o meu drama — Aurora
choramingou, se encostando na bancada grande da pia. — Sei que você ainda
está se recuperando, mas é o mais próximo que já chegou do seu final feliz, e
eu tenho segurado isso aqui dentro todas essas semanas, porque não queria
estressar vocês duas com isso.
Primeiro, senti uma irritação por ela esconder algo de nós, achando que
iria nos estressar, porém assim que ela começou a falar, entendi o motivo
real.
Nem Aurora sabia o que estava se passando.
— Melvin e eu não podemos voltar, mas temos algo que nos liga para
sempre.
Caitlin suspirou e se colocou ao lado dela.
— E o que mais?
— Estamos tentando ser amigos. — Os seus olhos azuis se encheram
de lágrimas. — Mas isso é impossível quando ainda temos sentimentos um
pelo outro.
— Aconteceu algo?
— Nós quase nos beijamos na última vez em que ficamos sozinhos
juntos... Ele não estava bem na semana passada, e eu estava com vontade de
comer sorvete, então saímos no meio da noite, para melhorar ambas as
situações.
— Que merda, viu? — deixei escapar, recebendo um olhar afiado de
Caitlin. Suspirei. — Ok... Vocês não podem voltar, por que ele é obcecado e
possessivo? Não o vejo mais mijando em cima de você, acho que a terapia
tem o ajudado.
— Melvin está mudando lentamente, amiga. — Caitlin segurou a mão
da amiga, dando o ponto de vista do irmão. — Não acho que é hora para que
vocês voltem, talvez deveriam até permanecer amigos para sempre, ao invés
de arriscarem em um relacionamento... Eu não sei, só o tempo pode
responder isso.
Uma lágrima escorreu pela sua bochecha.
— E se ele conhecer outra garota?
— Você pode conhecer outro garoto — concluí em voz alta. — E antes
que me olhem com esse olhar julgador, eu estou falando do fundo do meu
coração, que conhece o que é o amor.
— Está? — Aurora não parecia acreditar facilmente.
— Se Christopher dissesse que não me queria, naquele dia em que
fugiu de mim, eu teria ficado muito magoada, mas não teria insistido mais.
Provavelmente, teria me mudado de país e vivido para sempre sozinha? Sim,
mas é completamente diferente, quando comparamos as nossas histórias —
comecei a falar, expondo o meu ponto de vista. — Você viveu momentos
incríveis ao lado de Melvin e sofreu muito no passado por causa dele
também. Às vezes, não compensa encerrar esse ciclo com o lindo ponto final
que está crescendo na sua barriga?
— Não sei se entendi — Aurora murmurou, tocando a sua barriga com
a mão livre.
— Vivam as suas vidas separados, conheçam mais sobre si mesmos
por um tempo e depois... deixe o bebê comigo, para sair e se divertir de
verdade, conhecer novas pessoas e assim, vai saber se ele — apontei para a
sua barriga —, é um ponto ou uma vírgula.
Aurora sorriu fraco e estendeu a mão para mim. A segurei, me
aproximando dela.
— Quando foi que você se tornou tão conselheira? — ela perguntou.
— Acho que o amor muda as pessoas mesmo — Cat provocou.
— É claro que muda! — Pisquei para elas. — Estamos resolvidas?
Ambas assentiram.
Nós ainda batemos um papo dentro do banheiro, antes de sairmos e
vermos uma cena que só deixou minha amiga ainda mais insegura e de
coração apertado.
Melvin estava no bar do restaurante bebendo um drink, e havia uma
garota quase querendo montar nele, que parecia muito desconfortável.
Contudo, assim que seus olhos se colocaram em Aurora ao meu lado,
tudo pareceu sumir ao seu redor, apenas para ela existir.
Ele não foi educado quando afastou a garota.
E eu soube que aquela história entre eles, dificilmente teria um ponto
final.
Estive fantasiando você, garota, a noite toda
Coloque sua calcinha pro lado se estiver tudo bem
ALL I WANNA DO – JAY PARK
CHRISTOPHER LANCASTER
Iríamos viajar essa noite para ir visitar a minha mãe, mas por ser final
da semana, precisei ficar até tarde na biblioteca, trabalhando em reorganizar
os livros.
Já não tinha nenhum aluno e funcionário aqui dentro, precisaria
entregar a chave para o segurança, assim que saísse. Faltava apenas uma
estante para terminar todo o serviço, ir para o meu dormitório e tomar um
banho para partir para São Francisco.
— Por que essa história não me parece estranha? — Maeve questionou
atrás de mim.
Olhei para trás e a vi deitada no sofá em frente à janela grande da
biblioteca. Ela segurava um mangá de ponta cabeça, e mesmo assim,
consegui identificar o nome.
— Porque Death Note é uma série de mangá famosa, e você não mora
em um buraco negro?
Ela semicerrou os olhos para mim e se endireitou no sofá, se sentando
nele e cruzando suas pernas despidas de calça.
— Está cheio de graça, Lancaster — comentou, dando batinhas ao seu
lado no sofá.
Ainda faltavam duas horas para sairmos do campus em direção ao
aeroporto, então me aproximei dela e me deitei no sofá, com minha cabeça
em seu colo. Estendi minha mão, e ela me entregou o mangá.
— Não é nem um pouco romântica essa história — ela comentou.
Sorri, deixando cair o mangá ao meu lado no sofá.
— Ela é um pouco macabra, mas é muito interessante.
— Teria coragem de matar alguém colocando o nome em um caderno
macabro desses? — perguntou ela, curiosa. — Cuidado com a sua resposta,
pode ficar sem namorada.
Eu ri, e ela me acompanhou.
Maeve tocou meu cabelo e começou uma carícia gostosa, enquanto eu
pensava na minha resposta.
— Você está pensando muito.
— Não teria coragem, apesar de entender um pouco da lógica do
personagem principal.
— Ele era o quê? Um tipo de anti-herói?
— Light queria livrar o mundo do mal, ainda que fosse da forma
errada. — Minhas mãos pararam no ar por um momento. — O que torna
uma pessoa anti-heroína? Ter um bom objetivo, mas seguir caminhos
errados?
Ela deu de ombros.
— É você que é o leitor aqui, nerd.
Revirei os meus olhos, rindo da sua forma de falar.
Seu rosto se aproximou do meu e me beijou rapidamente, sem que eu
pudesse evitar.
— Nossa regra permanece a mesma, se revirar os olhos, irei beijá-lo —
disse, me deixando completamente bobo por ela. — Agora sobre a sua
pergunta... Pode ser que esteja certo.
— Eu quase sempre estou.
— Convencido!
Ela tentou me empurrar pelo peito para fora do seu colo, mas segurei
sua mão sobre ele, levando a outra até a parte de trás do seu cabelo. Maeve
sorriu de lado, mantendo aquele brilho no olhar apenas para mim, ao passo
que permanecia com o carinho na minha cabeça.
Minha conexão com alguém nunca foi tão grande, e o que eu tinha com
Maeve, só crescia conforme os dias passavam.
Nunca entenderia o que uma garota como ela, viu em um garoto como
eu, porém seria sempre grato por Maeve ter me enxergado e me arrancado da
escuridão em que estava vivendo.
Puxei sua nuca, aproximando o seu rosto do meu e a beijei. Sentindo
os lábios macios sobre os meus da forma avassaladora de sempre. Nenhum
beijo poderia ser tão bom quanto o que ela me dava.
Eu a amava com todo o meu coração.
Senti sua mão adentrar a minha camiseta e tocar meu peito, trazendo
um arrepio por toda a minha pele à medida que o beijo ficava mais intenso do
que deveria.
Tinha plena consciência de onde estávamos e por isso, encerrei o beijo
e me levantei depressa.
— É melhor eu voltar a trabalhar! Você deveria vir me ajudar, ao
invés de ficar me distraindo.
Ela arqueou as sobrancelhas.
— Estou te distraindo? Não fiz nada.
Semicerrei meus olhos.
Maeve nunca teria vergonha na cara, e eu gostava disso.
Dei as costas e voltei a trabalhar na estante inacabada à minha frente.
Levou alguns minutos até que colocasse o último livro na prateleira, mas
consegui finalizar o trabalho a tempo.
Senti braços finos me abraçarem por trás e me virei a tempo de
sustentar o corpo que se jogou nos meus braços. Maeve circulou as pernas ao
redor da minha cintura e aproximou mais a sua boca da minha, com os olhos
fixos em mim.
— Temos tempo para nos divertir — murmurou, tão tentadora e
explícita, que meu pau reagiu dentro da cueca.
Nem conseguia dar uma resposta para ela, porque minhas mãos
estavam ocupadas a segurando, mas esperava que ela entendesse pelo meu
olhar, que esse lugar não era o ideal para isso.
E eu tinha certeza de que Maeve me entendia.
Ela só não gostava de me ouvir às vezes.
Seus lábios se fecharam sobre os meus, e como em todas as vezes em
que me beijava, não consegui recusar. A beijei intensamente, agarrando
fortemente suas pernas ao redor do meu quadril e já sentindo o calor que o
meio das suas pernas emanava. Havia descoberto que amava transar com
Maeve, era sempre eletrizante e melhor a cada experiência trocada.
Maeve afastou suas pernas do meu quadril e desceu do meu colo, sem
parar com o beijo. Senti suas mãos tocarem o cinto da minha calça e com
rapidez, ela o abriu, juntamente do botão e o zíper. Não tive tempo de
raciocinar, quando suas mãos puxaram minha camiseta para fora do meu
corpo e senti sua boca pelo meu peitoral, trilhando com sua língua um
caminho até o meu pau.
O ar escapava da minha boca, de forma ofegante e em gemidos
silenciosos. A hipótese de que poderíamos ser pegos aqui a qualquer
momento, só me deixava mais excitado, igualzinho àquela vez em que
fizemos isso na festa.
Maeve desceu a minha cueca, e meu pau pulou para fora.
Meu coração acelerou com a ansiedade de ter a sua boca nele
novamente, e quando a senti, meu pulmão ficou sem ar por alguns segundos.
Seus lábios se fecharam ao redor do meu membro, e ela usou a língua para
me causar mais excitação, antes de começar a me chupar.
Agarrei a prateleira da estante à minha frente e a apertei, observando
os nós dos meus dedos se tornarem brancos, conforme ela aumentava a
sucção.
Meus quadris se moviam instintivamente para frente, em direção à sua
boca, que me engolia o máximo que conseguia. Sua mão tocou o restante que
ficava de fora dos seus lábios, e permaneceu assim por minutos, me trazendo
a certeza de que gozaria a qualquer momento, se não a parasse.
Felizmente, Maeve percebeu isso e largou o meu pau extremamente
duro, se levantando e ficando com o rosto bem próximo ao meu.
Ela arrancou sua blusa e calça para fora do corpo rapidamente, ficando
apenas de calcinha e sutiã na minha frente.
— Vamos para o sofá. — Seu tom de voz estava tão desesperado
quanto eu.
Eu a puxei antes de chegarmos no sofá e a beijei, enquanto deitava o
seu corpo com cuidado no estofado. Aproveitei que esse canto era muito mais
escuro do que a parte das estantes e puxei seu sutiã para cima, tocando seu
seio com a minha mão.
Maeve arfou na minha boca, e eu soltei seus lábios, movendo os meus
até o seu seio esquerdo. Lambi seu mamilo duro e o enfiei na boca, sugando e
a deixando mais pronta para mim.
— Christopher... — gemeu, movendo-se sob mim, até conseguir
alcançar sua calcinha. A senti abaixar um pouco, mas não totalmente, porque
eu estava por cima dela. — Me fode... agora.
Eu queria tanto isso, que nem poderia contestá-la.
Retirei sua calcinha e me livrei das minhas peças de roupas, que
estavam nos meus pés só me atrapalhando. Voltei a ficar por cima de Maeve
e me posicionei na sua entrada.
Olhei nos seus olhos antes de penetrá-la de uma só vez, a fazendo
gemer alto. Aproveitei minha boca perto da sua, para abafar seu gemido ou
alguém poderia ouvir, e estaríamos mortos.
Senti todo meu pau ser apertado no seu interior em um prazer intenso,
como em todas as vezes que entrava nela.
Movi-me dentro de Maeve, saindo e entrando, a sentindo me apertar
cada vez mais. Seus gemidos fracos e nossas bocas se beijando eram os
únicos sons em que conseguia me concentrar.
Era tão mágico.
Apertei sua mão na minha, entrelaçando nossos dedos, conforme
arremetia dentro dela. Maeve se abriu mais para mim, circulando suas pernas
ao redor do meu quadril e me fazendo ir mais fundo, quando entrei
novamente no seu interior.
Ela gemeu mais alto.
— Isso... Eu amo você — ela disse, entre gemidos.
Abocanhei seu seio e rodeei minha língua no seu mamilo, a chupando,
enquanto investia mais forte com meu quadril. Passei para o outro seio e
trouxe as mesmas sensações a ela, sugando o seu biquinho duro com meus
lábios.
Repeti aquilo, uma, duas, três vezes, até sentir que estava prestes a
gozar. Rebolei meu quadril contra o dela, sentindo seu clitóris inchado. Ela
também estava quase gozando.
Fui fundo mais uma vez, e nos desmanchamos em um orgasmo
violento ao mesmo tempo, que levou quase todo o meu fôlego e disposição.
Caí com cuidado por cima do seu corpo e beijei seu coração acelerado,
usando da minha forma silenciosa, para dizer que também a amava.
Maeve me abraçou com seus braços finos, e eu tive a sensação de não
querer mais sair desse lugar para nada.
E eu sou uma idiota apaixonada pelo jeito que você se move, amor
E eu poderia tentar fugir, mas seria inútil
A culpa é sua
Apenas uma dose de você e eu soube que eu nunca seria a mesma
NEVER BE THE SAME – CAMILA CABELLO
MAEVE HOOD
Dei uma risada sincera, ao ver a foto de um mini Christopher puxando
os fios do cabelo do irmão mais velho, quando ainda eram crianças.
— Quantos anos ele tinha aqui? — perguntei para a mulher sorridente
ao meu lado.
— Apenas sete — Jules informou. — Viu como ele adorava pegar no
pé do irmão mais velho desde cedo?
— Continua sendo um chato — Trevor implicou, e eu o fuzilei. — O
que foi? Tenho a liberdade de falar assim. Ele é meu irmão.
— Ele é meu namorado!
Caitlin riu junto da minha sogra.
— Vai se acostumando, Jules... Esses dois vivem se implicando —
minha amiga avisou.
— Fico feliz que meu filho mais novo tenha arrumado uma namorada
tão protetora como você — Jules comentou, com seus olhos brilhantes em
minha direção. — Orei muito por isso, sabia?
— Pois o seu anjinho ouviu e sussurrou no meu ouvido para não deixar
Christopher passar — brinquei com ela.
Olhei para Christopher, que nos encarava com o rosto vermelho.
— O que foi?
— Por que você tem que mostrar o álbum de fotografia, mãe? Tem
fotos humilhantes aí.
Ele não superava mesmo isso, hum?
Havíamos chegado na noite anterior. Não consegui conhecer Jules,
porque chegamos tarde, e ela estava dormindo, mas assim que o dia
amanheceu, fui muito bem recepcionada pela mãe deles. Ela fez um café da
manhã gostoso para a gente, quis saber um pouco mais sobre mim e não
poupava elogios à minha aparência, me deixando até um pouco sem graça,
coisa difícil de acontecer.
Depois do café, viemos para a sala, e Jules resolveu mostrar o álbum
de fotografias da família. Christopher odiou a ideia, porém como eram dois
contra um, acabou perdendo a batalha facilmente.
— São fotos suas de quando era criança, menino! Deixa de ser
rabugento que nem o Trevor, você não é assim.
Ele revirou os olhos, e eu semicerrei os meus para ele.
Se não estivéssemos em frente à sua mãe...
— Olha essa, querida — Jules chamou a minha atenção. —
Christopher tinha oito anos e não sabia andar de bicicleta.
Olhei para o pequeno Christopher com as pernas cheias de curativos,
enquanto sustentava um bico fofo nos lábios. Parecia muito zangado e
frustrado.
— O biquinho dele continua o mesmo — comentei, a fazendo rir.
— Ele não mudou nadinha.
Christopher sinalizou do outro lado da sala:
— Mudei sim, você sabe. — Apontou para a sua voz.
Suspirei.
Ele e suas piadinhas sobre si mesmo.
Voltei a olhar para o álbum de fotografias e passei para a próxima
página.
— Esses foram nossos últimos registros. — O tom de voz de Jules
mudou para algo mais... entristecido. — Foi o último aniversário do Trevor
com o meu marido. Aqui ele... Lindo, não é mesmo?
O homem era alto, de cabelo castanho com um corte curtinho, e
ombros largos exatamente como seus filhos tinham. Não era à toa que
Christopher e até o traste do Trevor eram bonitos, o pai deles e a mãe ao meu
lado eram lindos.
— Sinto muito pelo que aconteceu.
Ela alisou minhas costas.
— Já passou, querida... E agora temos justiça por aqueles que nos
prejudicaram no passado. — Ela olhou para Cat. — Assim como temos um
tesouro, que veio do mesmo lugar que nós.
Minha amiga sorriu sem graça para Jules.
— Acho que poderíamos ir para a praia — Trevor comentou, se
levantando. — Quer ir, mãe?
— Irei ficar fazendo o almoço.
— Precisa de ajuda? — Cat e eu perguntamos ao mesmo tempo.
Ela negou.
— Apenas aproveitem esses dias o máximo possível.
Chris se levantou também.
— Vou me trocar... você vem?
— Vai na frente, querido... Quero falar em particular com a Maeve.
A olhei com um pouquinho de medo. O que ela queria falar comigo?
Pedi que Christopher me salvasse do que quer que fosse, entretanto ele me
olhou com diversão e acenou, andando em direção às escadas.
Desaforado!
Caitlin e Trevor o seguiram, me deixando a sós no meu primeiro dia
com a minha sogra. E se ela estivesse só fingindo? E se no fim, me odiasse?
— Querida...
— Juro que amo o seu filho e que não sou uma pessoa ruim, pelo
menos, não mais — falei, ao mesmo tempo que ela.
Jules riu fraco e colocou a mão sobre a minha.
— Trevor me contou sobre você... — O quê? Justo ele? —
Principalmente, sobre o quanto lutou para que meu filho se apaixonasse por
você.
— Am?
Quando ela disse que havia descoberto de mim por Trevor, já estava
imaginando que me mandaria ficar longe de Christopher, não que o mais
velho tivesse falado aquilo.
— Trevor é uma rocha por fora, mas esconde diamantes dentro dele,
ou acha que Caitlin o ama tanto por que motivo? — Sorriu como uma mãe
orgulhosa. — Eu liguei para ele quando a vi naquele quarto com meu filho na
chamada de vídeo. Como uma mãe que sempre sonhou em ver o filho mais
novo entregar o seu coração para alguém merecedor, me preocupei se você
era mesmo a certa, pois me lembrava vagamente de que Trevor não parecia
gostar muito da senhorita.
Ela apertou minha bochecha de leve, a alisando com carinho logo
depois.
— Ele me disse o que estava vendo de perto, que você era paciente,
irritante na arte de não deixar Christopher em paz, mas no bom sentido, e que
parecia precisar tanto do meu filho, como ele precisava de você.
Uau... Trevor disse aquilo mesmo?
— Eu sei, você está surpresa, né? Não conte para ele que te falei ou
então irá encher a minha cabeça pelo resto dos dias aqui.
Assenti, rindo ao concordar.
— Obrigada, querida. — Ela levou minha mão até o seu rosto e a
beijou com um afeto tão maternal, que fez meus olhos quase encherem de
lágrimas. — Sei que meu filho foi um desafio, porque conheço muito bem
aquela cabeça dura dele, mas vocês estão aqui hoje juntos, e meu coração está
muito descansado, porque finalmente o vejo percebendo o quanto pode viver
essa vida normalmente, sem se resumir à sua mudez.
Ela apertou a minha mão, enquanto lágrimas desciam pelo seu rosto.
— Ele esteve em negação sobre si mesmo por tanto tempo, que por um
momento, achei que nunca o veria feliz de verdade.
Agora sim, meus olhos encheram de lágrimas.
— Você não precisa me agradecer...
— Eu sei — ela interrompeu. — Você não está fazendo nenhuma
caridade, eu sei. Você ama meu filho.
Fiz um gesto positivo com a cabeça.
— Deveria ser eu agradecendo por ter me dado o seu filho —
comentei. — Ele foi e continua sendo muito importante para mim.
Ela colocou sua outra mão por cima da minha e me olhou.
— De um garoto silencioso para uma garota silenciosa, não é mesmo?
— afirmou, como se soubesse muito mais sobre mim do que havia dito.
Eu já havia pensado naquilo, em relação a mim e Chris.
Os braços de Jules me puxaram para um abraço apertado.
— Quero que saiba que sempre irá poder contar comigo. Assim como
Caitlin, você é uma filha para mim agora.
Sem qualquer forma de controlar, minhas lágrimas desceram mais
fortes, apenas com aquele gesto carinhoso de Jules. Aquilo era mais
importante, do que ela imaginava.
Eu era aceita.
Do jeitinho que era.
Com amor,
Nathalia Santos
Contatos:
Para falar comigo pode ser pelo Instagram ou por e-mail.
Pode me chamar que eu vou amar conversar com você.
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EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS