Você está na página 1de 380

Copyright 2023 Thaiza Narro

Todos os direitos reservados.

Capa: Lane Guedes


Diagramação: Thaiza Narro
Essa é uma obra fictícia e tudo descrito nela é fruto da imaginação da
autora.

É proibida a reprodução dessa obra por qualquer meio sem a autorização


da autora. Também fica proibida a distribuição de pdf´s ou por quaisquer
outros meios.

Plágio é crime.
Olá, tudo bom?!

Gostaria de agradecer por estar aqui, e dizer que me diverti muito


durante o processo de escrita, por isso espero que para você também seja
muito empolgante.

Gostaria de deixar ressaltado que o livro contém alguns gatilhos:


Violência Explicita
Conteúdo sexual

Ah, se quiser saber mais sobre mim, a história ou o que vem por aí,
dá uma olhada nas minhas redes sociais:

https://linktr.ee/thainarro

Desejo que você se divirta com a leitura! Beijinhos!


Para todas aquelas que acreditam que impossível é possível, e não
desistem de seguir em frente, mesmo quando existe dor.
Depois de uma semana longe de casa em uma viagem que eu preferia
nem ter feito, tudo que eu quero é entrar na minha casa e ter um pouco de
sossego, de paz. Quero esquecer o pequeno desastre que aconteceu na
minha vida e relaxar por pelo menos três dias seguidos.
Me despeço do motorista do táxi que me trouxe do aeroporto até em
casa e respiro fundo ao puxar minha mala pela calçada. Antes de entrar
confiro a caixa do correio, mas não tem quase nada, o que é realmente
estranho, mas depois penso melhor sobre isso, preciso mesmo entrar na
minha casa.
Me sinto aliviada de estar em casa, de estar no meu local seguro.
Estou cansada demais e depois que eu ligar avisando que cheguei bem, vou
me jogar na cama e dormir um bom sono.
Largo minha mala na sala e vou para a cozinha com o celular na mão,
conferindo o que perdi durante o caminho até em casa. Mas travo no lugar
ao ouvir o barulho de panelas no fogo e a torneira ligada. Diversas coisas
começam a passar na minha mente em milésimos de segundo.
Talvez eu tenha entrado na casa errada;
Talvez alguém tenha vindo me visitar sem avisar;
Talvez alguém tenha invadido a minha casa.
E principalmente, eu preciso sair daqui e entender o que está
acontecendo. Acho que deveria ligar para o 911 e pedir para que alguém
venha até a minha casa e veja o que está acontecendo. Me recuso a andar
por qualquer outro cômodo.
Tenho que sair daqui. Agora!
Me viro, voltando por onde entrei. Meu coração está acelerado dentro
do peito. As minhas mãos estão tremendo levemente. Acho que terei uma
síncope a qualquer segundo. E tudo que eu queria era ficar tranquila dentro
da minha própria casa. MAS TEM ALGUÉM AQUI!
Tento tirar o celular da minha bolsa e tropeço nos meus próprios pés.
Não me preocupo em pegar a minha mala, só quero sair de dentro dessa
casa o mais rápido possível.
— Entendo que esteja nervosa, mas vamos conversar — Eu
definitivamente não estava pronta para me deparar com um homem enorme
entre mim e a porta de sair. Quase caio para trás e posso escutar o meu
próprio grito saindo pela garganta. E ele continua falando — Respira fundo
e fica calma.
Ele só pode ser um maluco! Ficar calma? Que tipo de piada é essa?
Ele dá um passo na minha direção e eu dou dois para trás, com a mão
ainda dentro da bolsa, continuo vasculhando-a em busca do meu celular.
Será que consigo correr? Será que… Droga, eu realmente não sei como agir
agora.
— Por favor, me dá dois minutos para explicar — Ele pede e eu deixo
uma risada anasalada escapar.
— Você tá completamente maluco se acha que vou deixar você fazer
alguma coisa — Falo, e percebo que a minha voz está um pouco mais aguda
do que eu gostaria — Sai da minha casa agora, ou vou ligar para a polícia.
— Não liga, por favor, não liga — Ele pede, parece uma súplica.
— Claro, porque o mais seguro a fazer é escutar a pessoa que invadiu
a casa da outra — Falo nervosa, tirando o celular da bolsa e andando para
trás.
— Eu sei o que parece, mas eu só vi que essa casa estava vazia e
precisava de um lugar para me esconder, não posso ir para um hospital, não
tenho nenhum um lugar para ir — Ele para levantando as mãos, como se
quisesse me mostrar que é inofensivo — Eu não queria ser morto — Ele
suspira — Por favor, me deixa falar.
Olho bem para ele, decorando toda sua expressão. Ele é um homem
bonito, o rosto é tão bem desenhado que me pergunto se ele tem alguma
cirurgia para deixar assim, os traços alinhados, os olhos verdes, barba por
fazer, mas seu rosto está ferido. Seu olho parece inchado. E só então
percebo que os braços dele estão com faixas. Será que ele foi muito ferido?
O que aconteceu?
Esquece! Balanço a cabeça espantando os pensamentos. Não importa,
não im-por-ta. Ainda é um homem desconhecido dentro da minha casa.
— Não! — Exclamo assustada — Vou ligar para a polícia, sai da
minha casa.
Não importa se ele é bonito, se ele está machucado. Preciso focar que
ele é um desconhecido e que ele está dentro da minha casa. Preciso ter em
mente que ele pode ser perigoso, um criminoso do pior tipo. Ele pode ser
um abusador, e eu não vou me colocar em risco assim.
— Deixa eu pelo menos pegar minha mochila? — Ele pergunta em
um tom cuidadoso — Vou embora sem olhar para trás.
— Há quanto tempo tá… deixa para lá — Solto uma lufada de ar,
completamente nervosa — Eu não deveria confiar em você. Pegar suas
coisas? Quê coisas? Você pode ser um assassino, um tarado, um criminoso!
— Eu não sou um tarado! — Ele nega quase como se estivesse
ofendido.
— VOCÊ VAI NEGAR SÓ ISSO? — Grito, perdendo de vez o
controle. E agarro o primeiro objeto que alcanço, uma ampulheta que
decora minha sala, e o seguro como se isso fosse me ajudar a me defender
se eu precisasse.
— Não, nego tudo — Ele responde rápido balançando as mãos. —
Fica calma, por favor.
— Não manda eu ficar calma, não se aproxima — Digo entredentes
— Só vai embora.
— Eu vou entrar, pegar minha mochila…
— Não! — corto a fala dele — E se você tiver uma arma lá? Daí para
o lado de fora.
Ele me encara e eu seguro a ampulheta com mais força. Se ele tentar
se aproximar, eu jogo isso nele e ligo para a polícia. Meu coração está
batendo tão rápido com todo esse estresse que estou com medo de infartar a
qualquer segundo.
Melhor morrer de infarto do que nas mãos de um assassino
mequetrefe que invadiu a minha casa.
— Não tenho uma arma, pode ficar tranquila — Ele insiste e eu
semicerro os olhos — Então será que podemos fazer assim…
— Não podemos — Interrompo.
— Você coloca minha mochila para o lado de fora depois que eu sair
— Ele pede resignado — Eu realmente preciso das minhas coisas, dos meus
documentos, roupas, dinheiro.
Prenso os lábios, olhando-o fixamente. Ele está certo nesse ponto,
talvez não seja tão ruim fazer isso, assim me livro dele, mas isso também
significa que ele ficará rodando a minha casa até que as coisas estejam do
lado de fora. E ainda acho que o certo seria ligar para a polícia. Bom, eu
posso falar para ele sair e ligar quando ficar sozinha.
Ou talvez, eu deva passar uns dias longe de novo. Só para garantir.
— Se você ligar para a polícia, eu não serei preso — Ele diz sério,
mais do que em qualquer outro momento da conversa — Serei morto, e,
mesmo que não pareça uma opção tão ruim no momento, não posso morrer
agora, não com tanta coisa por fazer.
— Não vai me fazer acreditar em uma palavra sequer — retruco
firme, mas respiro fundo — Você vai esperar do lado de fora… e não vai
tentar invadir e nem me atacar.
— Eu prometo — Ele garante e começa a ir em direção à porta.
Simultaneamente, escuto um barulho alto, como se algo estivesse
explodindo. Sequer tenho tempo de reagir, pensar ou entender o que está
acontecendo, porque a minha mente entra completamente em pane e eu
apago.
Apago no meio da sala de estar…
Apago no meio da sala de estar com um completo desconhecido
comigo.
Muitas vezes estive sob a mira de uma arma. Muitas vezes estive tão
perto de ir para o outro lado que até conseguia ver a luz no final do túnel. A
morte sempre foi uma presença tão eminente na minha vida que até a
reconhecia pelo cheiro, como uma amiga próxima.
Mas mesmo que agora tudo pareça completamente arruinado, mesmo
que o meu peito esteja carregado de uma dor que nunca senti antes e que
meu corpo esteja completamente ferido, ainda me manterei em pé. Ainda
terei vingança.
Quando tudo isso acabar, vejo o que realmente sobrará de mim.
Porém, antes de qualquer coisa, preciso achar um lugar para me
esconder, um lugar que eu possa me recuperar de todos esses machucados
sem contar para ninguém. Não posso ir ao hospital, não posso sair da cidade
ferido assim. Como se eu tivesse algum lugar no mundo para ir, de qualquer
forma.
Até respirar fundo dói meu peito. Aqueles caras realmente me
pegaram de jeito. Caminho pelas ruas me escondendo dentro do meu
moletom preto, que felizmente esconde o sangue do meu braço baleado.
Caralho! Eu tô muito fodido mesmo.
Sento na calçada, me sentindo completamente exausto, mas ainda
preciso observar bem ao meu redor, ser seguido ainda é um perigo que não
estou livre. Sei que eles virão atrás de mim, mais cedo ou mais tarde. E eu
espero que seja mais tarde, porque não vou conseguir escapar daqueles
merdas se eles vierem agora.
— Acho que ela está viajando! — Escuto uma mulher dizer, e olho
em direção a ela, que segue falando ao telefone escandalosamente — Eu já
disse que ela não está! Não está! Volto depois, é até melhor.
Ela desliga o celular e olha com certo desdém para casa.
Provavelmente não é amiga da pessoa que mora ali. Mas o que importa é
que a dona da casa está viajando. Não me importa quem seja, não importa
quando voltará, por hoje o que importa é que eu terei um lugar para me
recuperar e fazer alguns curativos.
Espero mais alguns minutos no lugar, apenas para ter certeza que a
mulher foi embora. Então me levanto e círculo a casa, torcendo para
nenhum vizinho aparecer e chamar a polícia, isso me traria grandes
problemas.
Não é tão fácil como eu esperava, certo de que estou com os
movimentos bem limitados, mas consigo entrar na casa, e sem a polícia
chegar, pelo menos por agora.
Ficarei aqui, depois penso em como vou me reerguer.

Das muitas situações que passei na minha vida, nunca imaginei que
em algum momento seria ameaçado por uma mulher uns vinte centímetros a
menos que eu, segurando uma ampulheta, e me olhando como se quisesse
me matar. Seria engraçado, se eu não precisasse mesmo de algum lugar para
ficar.
Suspiro resignado, não vai ter acordo, então é melhor que eu saia
logo daqui antes que ela tenha algum colapso nervoso e realmente seja
necessário chamar a ambulância. Como eu explicaria a minha presença?
— Eu prometo — Garanto, indo em direção à porta.
Mas um barulho de explosão vem da cozinha, ela grita tão alto quanto
consegue, sequer acredito que ela percebeu. Mas algo que eu não esperava
acontece, ela trava no lugar por milésimos de segundos, e quando percebo
já estou em sua direção para impedir que caia direto no chão.
Todo o momento caótico vale a pena quando sinto ela nos meus
braços, impedindo sua queda. Quem não se agrada disso é o meu braço
ferido, sinto o machucado se abrindo e xingo baixo, mas pelo menos ela não
se machucou.
Deito-a com cuidado no sofá e caminho em direção à cozinha, está
uma bagunça, mas depois me preocupo com isso, apenas desligo o fogo.
Quero dizer, ela se preocupa com isso, eu só tenho que acordá-la e garantir
que ela está bem. Eu não me preocupo com todas as pessoas que encontro
no caminho, mas ela está assim por minha culpa.
Molho uma toalha de mesa e volto rapidamente para a sala. Coloco-a
na testa dela, confiro sua respiração, e me perco por um segundo
observando seu rosto. Ela é linda. Balanço a cabeça espantando o
pensamento enquanto levanto suas pernas para melhorar a circulação de
sangue. O que dá certo, o problema é que ela acorda gritando, e me faz
gritar junto dela.
— Você quase me matou do coração! — Exclamo me afastando dela.
— Eu quase te matei? — Ela grita assustada — Você está me
tocando! E continua aqui!
— Você desmaiou quando eu estava saindo — Retruco, ainda com a
mão sobre o peito. E respiro fundo — Como você está?
— Em pânico! — Ela exclama com obviedade — Você é um doido.
Eu só quero que você saia da minha casa. O que estava fazendo comigo?
— Você precisava de circulação do sangue para acordar, garota, eu já
disse que não sou um tarado, só queria que você ficasse bem — Justifico
impaciente.
— E você quer que eu acredite nisso? — Ela questiona me encarando
séria.
— Eu não estou te dizendo que sou uma boa pessoa, só estou dizendo
que, apesar da situação, você me deu abrigo — Ela arqueia a sobrancelha
— E só queria garantir que você ficaria bem antes de ir.
Ela me olha semicerrando os olhos e com uma expressão séria, apesar
de ainda parecer assustada. Então respira fundo, resignada, como se
estivesse em um grande dilema.
— O que aconteceu com o seu braço? Por que tem sangue na sua
camisa? — Ela questiona em um tom tão ameno que me pega desprevenido.
— Quando eu te segurei, as feridas abriram, mas isso não é
importante — Dou de ombros.
— Acho que tô ficando maluca para um caramba — Ela diz andando
de um lado para o outro com as mãos nas têmporas. — O que aconteceu
que fez aquele barulho?
— Uma das suas panelas de vidro explodiu — Explico e ela arregala
os olhos.
— O QUÊ? — Ela grita e bufa ao mesmo tempo — Que dia horrível.
Eu vou chorar.
— Não precisa chorar, já estou indo embora, você está bem, só
perdeu uma panela — Ela parece tão desnorteada e assustada que estou de
fato preocupado.
— Não saia desse lugar, eu vou pegar suas coisas — Ela diz
bagunçando o cabelo enquanto caminha em direção à escada, mas para e me
olha, tem algo levemente perturbador no olhar dela. Acho que ela está
surtando de verdade — Acho que você precisa fazer um curativo nesse
braço.
— Não tem que se… — Minha fala é interrompida pelo barulho da
campainha e meus olhos vão em direção à porta.
— Alguém pode ter chamado a polícia por causa do barulho — Ela
sugere — Vou abrir.
— Não me entrega, é tudo que eu te peço — Respiro fundo — Por
favor. Vou esperar na cozinha, por favor.
Ela não diz nada, apenas caminha em direção à porta da sala
enquanto vou em direção contrária, indo para a cozinha. Terei que confiar
nela, como espero que ela confie em mim.
Dois desconhecidos.
Se for a polícia, eu deveria entregá-lo. Certo? É isso que pessoas
sensatas fazem, entregam criminosos invasores de casa para a polícia na
primeira oportunidade. Puxo o ar devagar para dentro dos meus pulmões
enquanto encaro a porta ainda fechada. Por que de repente estou me
sentindo tão… tão… empática? E se ele me matar porque não o entreguei?
Vou fazer o que tenho que fazer, como uma pessoa sensata. Porque eu
sou sensata, né?
A campainha toca novamente e eu abro a porta, mas sou inundada por
uma sensação estranha de... alívio? Não, mas estou caótica demais para
entender o que eu realmente estou sentindo. O ponto é que as pessoas à
minha frente não são da polícia. É meu ex namorado, Dylan, e minha ex
amiga, Patrícia.
E eles são ex porque me traíram, e ficaram juntos. O que esses dois
estão fazendo aqui?
— Não vai falar nada? — Patrícia pergunta e sopro um pouco de ar
para fora, tentando ficar calma.
— Não, porque estou, nesse momento, torcendo para que vocês sejam
uma alucinação, e não que tenham tido a cara de pau de vir na minha casa
— Digo irritada, cogitando só bater a porta e fingir que não os vi aqui.
— Você não pode agir assim para sempre, Sarah — Dylan contesta e
eu deixo uma risada irônica escapar. Ele não está falando sério, né? —
Somos amigos, apesar de tudo.
— Por favor, vão embora — É tudo o que digo e começo a fechar a
porta, mas a Patrícia impede. — Tá ficando maluca?
— Sarah, sei que tudo que aconteceu foi ruim, mas acho que
devemos pôr uma pedra no passado, por isso estamos aqui hoje — Ela fala
com falsa simpatia e eu reviro os olhos — Podemos entrar?
— Não, não podem — Respondo de imediato.
— Sarah, só vamos tomar cinco minutos do seu tempo — Dylan
insiste.
— Que seja — Patrícia dá de ombros e abre mais a porta, passando
por mim sendo seguida pelo Dylan.
Vai todo mundo invadir a minha casa hoje?
— O que vocês acham que estão fazendo? — Pergunto irritada.
— Viemos te fazer um convite e você nos trata assim? Sarah, você
precisa superar o passado, fomos amigos a vida inteira, você precisa ser
mais doce, mais alegre — Patrícia reclama e eu a olho entediada. Meu dia
não pode ficar pior.
— Não somos mais amigos, não somos mais nada, o que querem? —
Digo, sentindo uma raiva crescente dentro de mim.
— Nós vamos nos casar, e viemos te convidar — Dylan diz sorrindo
e segura a mão da Patrícia e eu respiro fundo. Sempre tem como ficar pior.
— O seu convite é individual, você ficará na mesa da família, já que
você não tem ninguém mesmo — Estava demorando ela começar a soltar o
veneno — Mas você é muito importante para nós, e adoraríamos você lá.
— Adorariam? — Pergunto irônica.
— Faz um ano que você e o Dylan terminaram, você acabou se
afastando um pouco, não queremos que você fique solitária. Nem mesmo
arrumou alguém…
— Quem disse que não? — Interrompo e ela arqueia a sobrancelha.
— Você está com alguém? Por que nunca vimos? — O Dylan
questiona.
— Porque a minha vida não é da conta de vocês — Retruco e ele
revira os olhos.
— Está mentindo, não está? — Patrícia pergunta com um sorriso
debochado.
— Acha que preciso mentir sobre isso? — Devolvo a pergunta, mas
sim, estou mentindo sobre isso, eles só não precisam saber disso — Mas é
melhor mantê-lo bem longe dos seus olhos, né? Vai que por acidente você
cai pelada na cama dele também.
— Você precisa me superar — Dylan diz e eu puxo o ar com força.
— Pensando bem, ele não é um traidor mau-caráter, mesmo que
qualquer uma passasse pelada na frente dele, ele nem olharia porque é
completamente apaixonado por mim — Falo um pouco irritada, ciente de
que estou me enrolando em uma mentira.
— É mesmo? — Ela ironiza — E cadê esse homem perfeito?
— Está aqui — O que eu estou fazendo? — Está preparando nosso
almoço, ele não cansa de me agradar.
— Você está mentindo — Patrícia ri debochada.
— Eu jamais inventaria uma história dessa — Reviro os olhos — Vou
apresentá-lo para vocês, esperem aqui.
— Pode parar com essa mentira agora, está ficando feio — Ela diz
com um falso pesar e eu sorrio de lado, mantendo a pose.
Eu nem mesmo sei se o invasor ainda está na minha casa, e mesmo
que esteja, não deveria mentir sobre ter um namorado quando não tenho.
Mas estou me sentindo tão irritada, Patrícia me tira do sério. Qual a porra
do problema deles? Por que vir até a minha casa? Meu dia só fica pior a
cada segundo. Eu vou sair daqui direto para uma clínica de reabilitação
psicológica. E como eu vou falar que o cara que invadiu a minha casa é
meu namorado? E se ele não topar mentir? Ele me deve isso, invadiu a
minha casa.
Eu não deveria ter voltado para casa. Será muito vergonhoso se der
tudo errado.
Entro na cozinha e já sinto meu coração batendo mais forte, não
avisto o invasor por lugar nenhum do cômodo. Mas para o meu alívio, ele
aparece vindo da dispensa. Não tem como eu desistir agora e ver a Patrícia
me humilhando outra vez.
— Eu preciso que você venha comigo — Declaro e ele me olha
arqueando a sobrancelha.
— Achei que você não iria me entregar — Ele sussurra, mas começa
a ir em direção à porta da cozinha que dá para fora da casa — Mas se acha
que eu vou deixar a polícia me levar, está muito enganada.
— Espera, não é a polícia — Eu peço em um tom de voz baixo e ele
me olha desconfiado — Preciso que você faça um favor para mim.
— O que…
— Não aguentei esperar — A voz da Patrícia chega até os meus
ouvidos me causando um pequeno susto — Então é ele?
— O que tem eu? — O invasor pergunta completamente na
defensiva.
— Você já teve um gosto melhor — Dylan desdenha e eu jogo a
cabeça para trás, puxando o ar devagar. Que vontade de expulsar os três.
— O que está acontecendo? — O invasor pergunta e eu suspiro,
preciso resolver isso.
— Então, meu bem — Falo enquanto me aproximo do invasor —
Esses são Dylan e Patrícia, eles vão se casar e vieram nos convidar para o
casamento.
— Nos convidar? — Ele pergunta arqueando a sobrancelha.
— Sim, porque é óbvio que eu não vou ao casamento do meu ex
traidor sozinha — Sorrio forçada e ele arqueia a sobrancelha me encarando
e depois olha para o casal.
— Nós não sabíamos que a Sarah estava com alguém — Patrícia diz
indiferente — Ela é tão solitária.
— Está, agora ela tem um homem de verdade na vida dela — Ele diz
e me abraça firme pela cintura — Quando é o casamento?
— Em quatro meses. Será o maior evento de toda São Francisco —
Patrícia responde em um tom arrogante que combina bem com ela.
— Verei nossa disponibilidade para ir, se não tivermos nada melhor
para fazer, talvez passaremos lá — O invasor diz com desdém, e eu engulo
o sorriso.
— Acho que vocês já podem ir embora, chega disso né? — Falo me
afastando sutilmente do invasor.
— Espera, você nem disse o nome do seu namorado — Dylan
comenta e eu arregalo os olhos e me viro para o invasor, que tem um sorriso
pequeno nos lábios, de um jeito debochado, quase arrogante.
— É que não é muito do meu feitio falar meu nome para pessoas tão
insignificantes, e como não parecem serem importantes para minha
princesa, não são para mim — Ele diz sério, e eu acabo sorrindo.
— Vamos embora, Patrícia, chega disso — Dylan fala irritado
enquanto agarra o braço da noiva para saírem.
— Por favor, não voltem mais — Peço, sabendo que eles vão ignorar
meu pedido.
Nenhum dos dois respondem, apenas seguem o caminho até a porta, e
a fecham em uma batida seca que me provoca um sobressalto. Eu respiro
fundo e sento em uma cadeira próxima da mesa, sinto uma enorme vontade
de chorar, de gritar. Eu tenho até medo de pensar, de novo, que não tem
como piorar e ficar ainda pior.
— Bebe — Escuto a voz do invasor e levanto o rosto, e o vejo
estendendo um copo de água.
— Tem veneno?
— Acha que eu envenenaria minha namorada — Ele debocha e eu
suspiro.
— Talvez eu quisesse o veneno — Respondo dando de ombros e
aceito o copo.
— Você precisa de terapia, isso não é saudável — Ele me aconselha e
eu começo a rir, rir como se minha vida dependesse disso — Você está
bem?
— Não! Eu não estou bem! — Me levanto e caminho até o faqueiro,
sentindo o olhar dele sobre mim e pego a maior faca que eu tenho e me viro
para ele — Eu vou subir para o meu quarto, vou tomar um banho, se você
tentar invadir e fazer alguma coisa comigo, vou te esfaquear até não sobrar
nenhuma gota de sangue no seu corpo.
— Ficarei o mais longe possível — Ele responde saindo do meu
caminho, enquanto levanta as mãos espalmadas para mostrar que é
inofensivo.
Seguro firme a minha faca e caminho em direção à escada para ir
para o meu quarto, me trancar e tentar esquecer que eu enlouqueci
completamente.
Deixo a água morna cair sobre o meu corpo como se eu tivesse que
sair desse banho nunca mais. Eu só quero relaxar um pouco e esquecer que
tem um homem que eu nem sei o nome dentro da minha casa. Homem esse
que em breve todo mundo achará que é meu namorado.
Eu só queria ter chegado em casa, tomado um banho e me jogado no
sofá para descansar. Só isso. Por que nada na minha vida parece dar certo?
Não me importo com as lágrimas que escorrem pelo meu rosto
misturadas com a água do chuveiro. Estou me sentindo exausta. Fecho o
registro e suspiro, preciso resolver essa situação urgentemente. Pego minha
faca e minha toalha e vou para o quarto, simplesmente amo o fato de ter um
banheiro só para mim, pelo menos assim garanto minha privacidade.
Eu só preciso mandá-lo embora, digo que terminei o namoro e
pronto. Mas ele está ferido, o que será que aconteceu? Ele não deve ter para
onde ir já que precisou invadir uma casa. Ele claramente está precisando de
cuidados. O que eu deveria fazer?
Escuto algumas batidas na porta e acabo gritando sem me controlar.
Coloco a mão sobre o peito sentindo meu coração disparado. Não posso
ficar assustada assim o tempo inteiro, vou acabar infartando com 23 anos.
— Você está bem? — Escuto a voz dele e respiro fundo, eu só queria
ficar quieta um pouco — Desculpa te interromper, realmente queria ficar
longe de você e sua faca, mas seu celular não para de tocar, achei que você
gostaria de atender.
Ele diz calmo e eu bufo. Estou atordoada, confusa e me sentindo
perdida. Mas ele está certo, eu quero mesmo o meu celular, eu tinha que ter
avisado a Ellen, minha melhor amiga, que eu já estou em casa.
— Deixa o telefone no chão, e se afasta — resmungo alto o suficiente
para que ele escute.
— Estarei na sala para quando estiver bem e calma para
conversarmos, ok? — Ele sugere e eu suspiro exaurida.
— Ok — É tudo que eu consigo responder.
Segurando firme na minha faca, vou até a porta e a abro devagar. Ele
realmente só deixou o celular e foi para sala. Melhor assim. Talvez ele não
seja um assassino, nem que vá realmente fazer algo de ruim comigo. Se
fosse o caso, ele já teria feito, eu acho.
Pego o meu celular e vejo que já são 8 chamadas perdidas e 10
mensagens não lidas da Ellen. Será que ela já está sabendo sobre meu
namoro? Patrícia já deve ter feito até postagem sobre o assunto.
Antes que eu considere retornar a ligação, meu celular começa a tocar
novamente.
— Finalmente, já estava quase chamando a polícia — Escuto a voz
da Ellen irritada pelo telefone — Por que não me avisou quando chegou?
Que história é essa de namorado?
— Como você já sabe dessa história? — Questiono me jogando na
cama.
— Patrícia postou no grupo que você tinha um namorado muito
estranho, Camille tirou print e me mandou, e eu fiquei tipo “aí meu Deus,
que história é essa?”, mas não falei né? Porque achei que elas iam estranhar
eu não saber de nada, então pensei “melhor confirmar tudo” e disse que
sabia sobre seu namoro, mas que você era uma pessoa reservada — Ela ri e
continua — você não é reservada, a questão é que você não tem namorado,
tem?
— É uma história engraçada, sabe?! — Digo sem graça e consigo até
imaginar ela fechando a expressão enquanto me encara.
— Sarah, pode começar a falar ou eu vou aparecer aí na sua casa para
entender isso melhor — Ela faz uma pequena pausa, e bufa baixo. Ellen
tende a ser bastante tagarela quando fica nervosa — não precisa falar nada,
estou indo.
— Não! — Exclamo tão rápido que nem sequer tive tempo de pensar.
— Não? Por que não?
— É que… que eu cheguei hoje de viagem, estou muito cansada —
Forço um bocejo — Amanhã, ok?
— Eu não acredito que você está aprontando e não quer me contar,
somos amigas, está no contrato da amizade “contar tudo uma para a outra”,
ou você esqueceu dessa parte? — Ela questiona e suspiro.
— Estou realmente cansada, amanhã, Ellen, amanhã — Peço. Estou
realmente me sentindo tão sem forças.
— Até amanhã, se cuida e Sarah, não esquece que eu sempre estarei
aqui com você — Ela diz e desliga em seguida.
Fecho os olhos absorvendo a situação e tentando compreender todas
as coisas que estou sentindo. Meu dia foi caótico e esgotou tudo em mim.
Eu só preciso de um momento para mim e depois sei que posso resolver
qualquer situação.

A
impressão que eu tenho é que o meu corpo simplesmente apagou. Desligou
como um aparelho eletrônico sem bateria. Porque dormi umas dez horas
direto, não sai do quarto desde que entrei nele no dia anterior.
Tenho a sensação que ontem foi um pesadelo. Não teve invasor, não
teve convite de casamento, não teve nada. E quando eu sair do quarto para
fazer o meu café da manhã, estarei sozinha.
Respiro fundo, conto até dez e finalmente abro a porta. Levo a faca
comigo, nunca se sabe quando vai precisar se defender, ou talvez eu ainda
esteja levemente surtada. Não o vejo pelo caminho até a cozinha, e está
tudo impecavelmente arrumado. Como ele arrumou tudo se estava
machucado? Por que eu estou preocupada?
— Bom dia — Ele diz assim que piso dentro da cozinha e eu assusto
— Você tem problema de coração? Estou começando a ficar preocupado.
— Se está preocupado não deveria me assustar — Reclamo e escuto a
risada dele. — Está rindo do quê?
— Do seu mau-humor matinal — Ele dá de ombros — Senta, fiz café
da manhã.
— Até parece que eu vou comer algo que você preparou e eu não vi
— desdenho e ele sorri tranquilo.
— Você não acha que se eu tivesse a intenção de fazer algo com
você, já não teria feito? — Ele questiona enquanto coloca um copo de suco
e um prato com torrada e ovos na minha frente.
— Vai que você está armando seu plano ainda — digo resignada e ele
senta na outra cadeira.
— Deveria confiar mais no seu namorado — Ele sorri de lado
preparando o próprio prato — Aliás, o que foi aquilo?
— Dylan foi meu namorado por dois anos, mas nos conhecíamos
desde a infância, incluindo a Patrícia, éramos um grande grupo de amigos,
mas um dia eu viajei, mas voltei mais cedo para casa, e encontrei os dois na
cama — suspiro cansada e bebo um pouco do suco, e ele continua me
olhando atento — Eu surtei e terminei com ele, os dois começaram a
namorar, bem clichê sabe?
— E por que eles continuam na sua vida? — Sua expressão é confusa
enquanto se senta.
— Meu pai é sócio do pai do Dylan, e a Patrícia… Patrícia é minha
prima — Dou de ombros e ele arregala os olhos e a boca, surpreso.
— Que fofoca boa! — Ele exclama e eu reviro os olhos.
— Que bom que a desgraça da minha vida alegrou o seu dia —
Resmungo e ele ri.
Eu fecho os olhos por um segundo, respirando fundo, o dia mal
começou e eu já me sinto estressada, é muita coisa para a minha cabeça em
um curto período de tempo. Simplesmente não dá.
— Você vai acabar passando mal — Ele diz e eu abro os olhos para
encará-lo — A gente começou com o pé esquerdo, deixa eu me apresentar,
meu nome é Luke, tenho 33 anos e só entrei porque precisava de um lugar
para descansar, não quero te roubar ou fazer qualquer coisa ruim com você.
Luke tem uma expressão tranquila, pensando bem, quase o tempo
todo ele parece estar de bom humor. Certo que tem menos de vinte e quatro
horas que eu o conheço, mas foi em uma situação muito estressante para
mim. Ele tem olhos verdes, o cabelo preto desalinhado, e seu machucado
parece um pouco melhor.
— Você invadiu a minha casa, não tem como eu pensar algo bom
sobre isso. Não consigo confiar que você não vá fazer nada — suspiro —
Como você se machucou inteiro assim? Está fugindo de alguém?
— Tem detalhes que você não precisa pensar — Ele desconversa —
Você tem razão, não é bom confiar nas pessoas, seu namorado e sua amiga
te traíram mesmo os conhecendo a vida toda. Todos os dias vemos notícias
de pessoas matando outras pessoas que conviveram a vida toda, passaram
cinco, dez, vinte anos com a pessoa e ela foi lá e matou. Qual o parâmetro
então? Nunca dá para saber em quem confiar.
— Sabe que isso não ajudou em nada, né? — Questiono com os olhos
arregalados.
— O ponto é que eu preciso que você me deixe ficar até que eu esteja
cem porcento bom, ninguém mais precisa saber que estou aqui, ou podemos
usar a história do namorado, o que for melhor para você — Ele pede —
depois que eu for, prometo que nunca mais irá me ver.
— Isso é loucura!
— Sim, mas eu realmente preciso de ajuda agora — Ele justifica e eu
respiro fundo, indecisa — Mas se ainda preferir que eu vá embora, já deixei
minha mochila pronta.
Eu o encaro, minha mente parece estar pipocando de pensamentos
confusos. Estou consciente do quanto tudo isso é completamente arriscado
para mim, para a minha segurança, mas é certo deixar alguém ferido e sem
abrigo assim? E quando a Ellen aparecer para saber do meu namorado, o
que eu vou dizer? Preciso ser consciente e tomar a melhor decisão.
— Você pode ficar, mas terá que fingir que é meu namorado, e
quando você estiver melhor, eu falo que a gente terminou — Digo, cedendo
ao pedido dele de ficar, mas só porque falei que ele era meu namorado.
— Está ótimo para mim, namorada — Ele responde com um sorriso
aberto.
— Mas vai ter regras — Aviso e ele assente — Não pode cometer
nenhum tipo de crime enquanto estiver aqui, principalmente contra mim. Só
encostará em mim se for necessário para mentirmos para alguém, como
para a minha melhor amiga que vai aparecer aqui a qualquer momento. E
tudo que você bagunçar, terá que arrumar, e por último, as vasilhas da janta
sempre serão suas para lavar e guardar.
— É sério? — Ele pergunta rindo.
— Estou falando muito sério, dá para parar de rir? — Eu reclamo e
ele respira fundo, tentando esconder o riso.
— Certo, estou de acordo — Ele diz, mas continua com um sorriso
irritante no rosto.
Deixo escapar uma lufada de ar, e começo a comer a comida que ele
preparou. Observo-o enquanto isso, e me lembro que ele estava com alguns
machucados sangrando ontem, será que ele fez o curativo da maneira
correta?
— Você está bem? — Pergunto e ele arqueia a sobrancelha — ontem
você estava ferido.
— Já resolvi isso, estou bem agora — Ele responde tranquilo, talvez
eu não tenha que me preocupar.
Quero dizer, tem tanta coisa que eu deveria me preocupar e
simplesmente estou ignorando tudo. Se ele não me matar, talvez eu deva
procurar mesmo um psicólogo e tratar essa falta de senso de segurança. Mas
por agora, é ver onde isso dará.
— Você vai passar mal, eu não sou médico para ficar te socorrendo
não — Luke diz e eu olho séria para ele — Você tem que resolver todo esse
seu mau-humor, acho que ainda não vi você dar um sorriso sequer.
— Quer me ver sorrindo para quê? — Pergunto e ele levanta as mãos,
voltando a olhar para televisão.
Ellen ligou avisando que estava chegando para o jantar. Se o
fingimento passar batido pela minha melhor amiga, vai passar pelos outros,
mas não é como se eu fosse sair por aí apresentando o Luke e esfregando
para todo mundo que agora eu tenho um namorado. Não tenho que provar
nada para ninguém.
Se eu não tenho que provar nada para ninguém, porque inventei essa
mentira?
A campainha toca e eu caminho nervosamente até a porta, e faço uma
pequena pausa para respirar fundo antes de abrir. Tenho que me lembrar que
fui eu quem começou com essa mentira.
— Finalmente — Ellen exclama enquanto entra na minha casa —
Achei que você ia me ignorar do lado de fora de casa.
— Não seja exagerada — Falo dando um sorriso pequeno e a abraço
— Como você está?
— Bem e curiosa — Ela responde baixo — E você?
— Bem, foi tudo bem na viagem — Garanto, mas ela me olha
desconfiada.
— Depois — Eu sorrio e indico o Luke nos olhando do meio da sala
— Vem, deixa eu te apresentar ele.
— Quando você conheceu um homem tão gato assim? — ela sussurra
e eu acabo rindo mais alto do que deveria.
— Meu bem, essa é a minha amiga, Ellen, já te falei dela — Digo em
um tom doce e ele sorri para mim — Ellen, esse é o meu namorado, Luke.
— Você não falou dele para mim — Ela aponta e eu dou de ombros.
— Minha culpa — Luke se apressa em dizer — Nós queríamos que
ficasse entre nós até a mudança ficar completa.
— Que mudança? — Minha amiga pergunta confusa, mas eu também
estou.
— Estamos morando juntos — Ele anuncia sorrindo, sinto meu peito
borbulhando de raiva, mas sorrio.
— Pois é, mas agora ele está aqui e veio para ficar — confirmo
sorrindo e indo até ele, que envolve a minha cintura no mesmo instante —
Estou tão feliz.
— De onde você era? Morava na cidade mesmo? — Ellen pergunta
enquanto vamos nos sentar.
— Eu sou de Los Angeles, mas há alguns anos me mudei para cá,
ainda bem — Ele responde sorrindo para mim.
— Ainda bem — concordo e escuto a Ellen suspirar.
— Muito fofos — Ela comenta e eu sorrio para ela.
— Eu vou olhar as panelas, e acho que vocês precisam conversar a
sós — Luke diz se levantando e nos deixando sozinhas em seguida.
— Ele está fazendo o jantar?
— Por que você acha que eu estou namorando ele? Um cozinheiro de
mão-cheia — Respondo em um tom divertido e ela ri.
— Poderia muito bem ser pela beleza — Ela dá de ombros, me
fazendo rir. Ellen está certa, Luke é um homem bonito, apesar de todo o
caos desde ontem, eu notei como ele é alto, forte, musculoso, notei que ele
tem algumas tatuagens e até me pergunto se tem mais algumas escondidas
sob a camisa.
— Acho que é todo o conjunto — brinco com um sorriso de lado.
— Amiga, se você está feliz, eu também fico feliz — Ellen diz
sentando ao meu lado — Fiquei muito preocupada com você, Patrícia disse
que ele parecia um criminoso e que tinha sangue na roupa dele, apesar dele
ser muito bonito, tem mesmo uns machucados visíveis e…
— Está tudo bem, de verdade — Eu a interrompo e ela respira fundo
— Ele sofreu um acidente, e ontem eu o machuquei por acidente minutos
antes da Patrícia aparecer, ele é um cara legal que me faz feliz. Ele está na
minha casa, acha mesmo que eu deixaria um estranho morar aqui?
— Você nunca teve muito senso de segurança — Ela pondera por um
segundo.
— Ellen!! — Exclamo e ela ri.
— Calma, calma — Ela brinca e segura a minha mão — E a viagem?
— Não foi como o planejado, mas não quero falar disso — Digo
tentando esconder o desânimo. Acho que toda essa semana foi horrível.
— O jantar está servido, venham — Luke nos chama, me salvando de
ter que responder mais alguma pergunta da Ellen.
Apesar de tudo, eu posso esquecer os problemas e aproveitar o jantar,
não preciso ficar com o pensamento a mil o tempo todo. Como se eu
pudesse simplesmente controlar esse tipo de pensamento. Reviro os olhos
para mim mesma, tenho que aprender a ser mais tranquila.
Nos sentamos à mesa de jantar, além de bonita, a comida está
realmente cheirosa. Aparentemente, Luke realmente sabe cozinhar, isso é
bom. Acho que estou mesmo precisando de uma comida gostosa para me
ajudar a relaxar.
— Quando vai à casa dos seus pais? — Ellen pergunta e eu quase
engasgo com a comida — Tudo bem?
— To… to bem — Digo bebendo um pouco de suco — O que eu
tenho que fazer na casa deles?
— Apresentar o Luke — Ela diz como se fosse óbvio, mas ele acaba
engasgando também.
— Por que eu faria isso? — Pergunto levemente alarmada.
— Porque vocês estão morando juntos, e com certeza eles vão ficar
sabendo, acha mesmo que a Patrícia não contou para todo mundo que pôde?
— Ela pergunta e eu suspiro frustrada.
— Não havia pensado nisso — Resmungo — Vou deixar rolar.
— Minha princesa, se quiser ir falar com os seus pais, eu acho que
está tudo bem — Luke diz carinhoso enquanto segura a minha mão — nós
realmente demos um passo importante ao morarmos juntos, talvez seja bom
falar com seus pais.
Encaro-o sentindo vontade de pular no seu pescoço. Que filho da
puta!
— Não, nós vamos evitar isso o máximo possível — Nego rápido e
olho para a Ellen — Deixa eles me procurarem.
— Você que sabe — Ela dá de ombros — Mas saiba que eu estou ao
seu lado, qualquer coisa que precisar, meu apoio é todo seu.
— Obrigada, isso é o suficiente — Respondo sorrindo, porque eu
realmente precisaria. — Vamos esquecer esse assunto e comer, a comida
está maravilhosa.
— É verdade, inclusive, parabéns, Luke — Ela elogia e os dois
começam a conversar sobre temperos e tempo de cozimento.
Só preciso manter essa história de namoro falso até o Luke estar bem
e convencer de que era de verdade, mas acabou naturalmente, porque
relacionamentos não dão certo. É isso. Respiro fundo e sorrio prestando
atenção na conversa dos dois, sem pensar nessa coisa de falar com os meus
pais.
Não tem sido uma convivência ruim, hoje completam quatro dias
morando juntos, não conversamos muito, não sei nada da vida dele. E
sinceramente, não tenho certeza se quero saber. Porém, preciso destacar que
ver ele sem camisa foi uma das melhores visões que tive em semanas. E eu
realmente espero que ele não tenha notado eu o encarando por um minuto
inteiro.
Suspiro e balanço a cabeça, voltando a me concentrar na tela do meu
notebook, preciso fazer essas pesquisas o quanto antes, tenho que correr
contra o tempo, é nisso que preciso pensar.
— Você está aqui há horas, precisa comer — Luke diz colocando um
copo de leite e um sanduíche de geleia com pasta de amendoim na mesa ao
lado do notebook. — Não tem veneno, antes que você pergunte.
— Obrigada — Agradeço, e bebo um pouco do leite.
— Estava pensando, você não tem um emprego? Não faz faculdade?
— Ele questiona e eu respiro fundo — já são quatro dias sem fazer nada em
casa, fiquei curioso.
— Mesmo que eu não fizesse nada, isso ainda não seria da sua conta
— Retruco, enquanto reviro os olhos.
— Eu sei que não, mas estou curioso — Ele dá de ombros.
— Você não vai me contar sobre a sua vida, vai? — Arqueio a
sobrancelha — Também estou curiosa.
— Quanto menos você souber sobre a minha vida, melhor — Ele diz
em um tom sério — Mas acredito que não exista problema em eu saber
sobre a sua.
— Acho que existe uma injustiça aqui.
— Tudo bem, já entendi, você não faz nada da vida — Ele provoca e
sorri — Deve ser bom não ter responsabilidades.
— Eu tenho responsabilidades! — Exclamo com os olhos
semicerrados.
— Quais?
— Você é insuportável, sabia?
— Acho que faz parte do meu charme — Ele dá de ombros — Só
queria te conhecer um pouco mais.
— Eu tinha um emprego, mas me demiti — Respondo fechando o
notebook, me sentindo completamente vencida — Satisfeito?
— Não, por que se demitiu? — Ele insiste e eu pondero por um
segundo se vale mesmo a pena ficar negando contar alguma coisa se no
final eu vou dizer.
Ele é muito persuasivo, tenho que ficar mais esperta.
— Eu sou publicitária, e trabalhava em uma agência ótima, mas nessa
última viagem meu colega de trabalho roubou meu projeto e apresentou
como se fosse dele, mesmo eu provando que era meu, o meu chefe, ex
chefe, ignorou completamente e deixou aquele idiota ficar com o meu
trabalho, ficar com a bonificação que deveria ser minha, era algo importante
para a minha carreira — Suspiro chateada, mas, ao mesmo tempo, aliviada
de estar falando sobre isso — Então, eu pedi demissão, e voltei da viagem.
— Mas você não tinha mais ninguém para recorrer? — Ele pergunta
parecendo preocupado.
— Não, eles estavam bem alinhados, estávamos em outra cidade e
meu chefe é sobrinho do dono da agência, não daria em nada — Dou de
ombros — Mas me irrita muito isso.
— Eles mereciam aprender uma lição — Ele diz quase sombrio e
depois sorri — Por que você não monta sua própria agência?
— É meu sonho — suspiro —, mas precisa de muito investimento, e
até conseguir clientes, estabilidade, manter as contas, preciso manter um
capital de giro.
— Entendo — Ele diz pensativo — Você tem algum plano?
— Estou pensando em ser freelancer, ou algo assim — Digo
indiferente — Ainda não sei, mas não vou desistir do meu sonho, talvez até
realize algum empréstimo.
— E seus pais?
— Meus pais não são ricos, tem uma condição financeira boa, mas
meu pai acha que tenho que ir trabalhar para ele e eu não quero isso —
Explico e ele assente, acho que ele ficou realmente pensativo sobre o que
falei.
Mas antes que ele possa dizer mais alguma coisa, meu celular começa
a tocar e eu vejo o nome “pai” na tela e suspiro. Acho que falar sobre ele
atraiu.
— Preciso atender — Aviso enquanto me afasto para poder falar com
o meu pai.
— Boa tarde, Sarah — Ele diz assim que atendo a chamada — Não
queria estar fazendo essa ligação, porque acredito que você quem deveria
ter ligado.
— Boa tarde, pai, estou bem e o senhor, como está? — Questiono
ignorando tudo que ele falou.
— Sem tempo para as suas gracinhas — Ele responde seco —
Quando ia me contar que está morando com um homem qualquer?
— Não ia contar, e não estou morando com “um homem qualquer” —
imito o tom de voz dele no final, e mesmo que eu esteja morando com um
homem qualquer, não devo satisfações a ele.
A quem eu quero enganar? Não vejo um momento da vida que meus
pais vão perguntar algo e eu não vou “dar satisfação”.
— Sua mãe irá preparar um jantar para vocês, venha e o traga junto
— Ele diz firme e eu suspiro.
— Quando? — Questiono sabendo que não terei como evitar isso.
— Amanhã, as seis horas, não se atrase — Ele me informa — Odeio
atrasos.
— Tudo bem, pai, estaremos aí — Garanto me sentindo derrotada
mais uma vez. Eu não canso de perder?
— Só quero ter certeza que ele é o homem certo para você — Ele diz
e eu solto uma risada anasalada.
— Eu sei escolher bem, não se preocupe — Respondo — Até
amanhã.
— Até — Ele desliga.
Olho para a tela por um minuto inteiro, como deixei a minha vida
chegar a esse ponto? Como vou resolver tantos problemas? Não foi assim
que imaginei a vida adulta, e eu só tenho 23 anos.
— Está tudo bem? — Luke pergunta e eu já conheço o tom de
preocupação na sua voz.
— Nós temos um jantar amanhã — Respondo me virando para ele —
Tenho que te apresentar para os meus pais.
Sarah é uma mulher linda, mas o que tem de beleza tem de mau-
humor. Se ela fosse um animal, seria um daqueles cachorrinhos pequenos
que se tremem inteiros, mas que ainda assim é agradável estar na presença.
Meu corpo está melhorando, e isso é bom. Quanto antes eu puder ir
embora, melhor. Tanto para mim, quanto para ela. Não quero que ela corra
algum risco por minha causa.
Eu não achei que fosse conseguir ficar aqui, mas até que essa história
de namoro de mentira é divertida. Sarah parece que vai ter um colapso
desde o momento que falou com o pai ontem. Eu não deveria me envolver
tanto na vida dela dessa forma, mas ela quem pediu.
— Acha que estou bonita? — Sarah pergunta ao descer a escada.
— Você está linda — Respondo sincero.
Sarah está em um vestido longo, azul, com uma fenda na perna. Seu
cabelo está solto caindo em ondas por seus ombros, seus lábios estão
vermelhos devido ao batom. Todo o seu corpo parece ter sido
milimetricamente esculpido, talvez seja indelicado, mas não pude deixar de
reparar como sua bunda é redonda e farta e seus seios sempre marcam suas
blusas, e hoje estão deliciosamente destacados no decote.
— Aquele seu ex foi maluco de te trocar — Digo indo até ela, com
um sorriso contido — Você está tão linda que não me importaria de ser seu
de verdade.
— Muito engraçado — Ela desdenha — mas precisamos convencer
meus pais que estamos juntos e felizes.
— Eu estou muito feliz — Provoco e ela revira os olhos — Você eu
não tenho tanta certeza.
— Você não entende, eu amo meu pai, mas ele é difícil de lidar às
vezes — Ela suspira — Ainda bem que a minha mãe está lá, espero que ela
segure ele um pouco.
— Eu posso ser um bom ator — Consolo-a, que fecha os olhos
respirando fundo. Tão nova e tão impaciente.
— Eu não deveria ter me metido nessa confusão — Ela abre os olhos
e me encara séria — Isso é tudo culpa sua!
— Minha?
— Se você não tivesse invadido a minha casa, nada disso estaria
acontecendo. — Ela explica enquanto aponta o dedo para mim.
— Mas foi você quem inventou essa história de namoro, eu estava
quietinho — Me defendo e ela rola os olhos — Não pode me culpar pelo
que você fez.
— Eu estava nervosa e assustada, acha que eu estava pensando
direito? Eu tinha acabado de desmaiar, por culpa sua — Ela aponta e respira
fundo — Não adianta ficar contestando os fatos, se estou dizendo que a
culpa é sua, é porque é.
— Alguém já disse que você é muito autoritária? — Questiono e ela
semicerra os olhos para mim — Você é!
— Vamos logo antes que a gente se atrase — Ela muda o assunto e
desvia de mim indo em direção à porta, mas se vira parecendo preocupada
— Você não terá problemas saindo? De alguém te ver ou coisa assim?
— Preocupada comigo? — Abro um sorriso sacana.
— Se está com humor para piadinhas, não deve ter problema nenhum
— Ela responde e volta a caminhar em direção à porta. — Vem logo!
Deixo uma risada anasalada escapar e a sigo até a garagem. Ela tem
um carro pequeno, branco, e entra no lado do motorista e eu sento no banco
do passageiro. Não conversamos durante o percurso, apesar de achar que
deveríamos alinhar algumas coisas, mas como ela não diz nada, também
não digo. Bom que as coisas podem ficar mais divertidas assim.
Graças ao mundo em que vivo, aprendi a valorizar os momentos
leves da vida. Esses dias têm sido bons, não esqueci nada do que me fez
chegar até aqui, mas aproveitar esse… descanso tem sido bastante
agradável. Sarah tem sido uma boa anfitriã, mesmo que nossa companhia
tenha sido praticamente forçada. E pelo menos parou de achar que eu vou
matá-la a qualquer minuto.
Acho que eu teria problemas com alguém que tentasse machucá-la,
Sarah é gentil e empática, um pouco sem senso de segurança, porque
mesmo que tenha sido bom para mim poder ficar em sua casa, não é algo
que ela deveria deixar acontecer.
— Estamos chegando — Ela avisa e eu vejo seus dedos apertarem
levemente o volante.
— Vai dar tudo certo, ninguém vai desconfiar de nada, e você vai
poder esfregar na cara da sua família que agora tem um namorado — A
consolo e ela ri em meio a um suspiro.
— Sua positividade me encanta — Ela ironiza enquanto estaciona o
carro.
— Eu acho que não somos os únicos convidados — Comento,
notando a quantidade de carros ali.
— Seria uma surpresa se fôssemos — Ela suspira — tenho uma
família muito fofoqueira.
— Fica tranquila, a gente vai se sair bem, minha princesa — Falo e
ela me olha de canto.
— Só vamos logo.

Ela segura a minha mão enquanto caminhamos até a entrada da casa.


É uma casa grande, com uma entrada bonita, mas antes que ela bata na
porta, ela é aberta. Uma mulher muito parecida com a Sarah quem abre,
mas seus traços deixam claro que ela é bem mais velha, provavelmente a
mãe. As duas se abraçam por um momento, e a senhora me olha como se
estivesse tentando ler a minha alma.
— Boa noite, senhora Carver — a cumprimento educadamente, mas
mantém o olhar desconfiado sobre mim.
— Boa noite, você não é como imaginei — Ela comenta, mas não
consigo definir se foi um elogio ou uma crítica — Mas se está fazendo
minha filha feliz, eu fico feliz.
Com certeza foi uma crítica.
— Fazê-la feliz é tudo que eu mais quero — Digo com a voz suave, e
deixo meu olhar ir para a Sarah, que sorri para mim.
— Vamos que o James está esperando vocês — A senhora diz e
começa a nos guiar.
Me aproximo de Sarah, segurando sua mão e fazendo ela desacelerar
um pouco, porque percebi algo muito crucial, eu não sei o nome dos pais
dela, e acho que ela deveria ter me dito isso. Ela me olha confusa e eu
sorrio pequeno.
— Qual o nome do seu pai? E da sua mãe? — Questiono
sussurrando.
— Ela é Abigail, ele é James — Ela sussurra de volta e suspira —
Por favor, tenha calma e paciência.
— Como assim? — Questiono confuso, mas ela não tem tempo para
responder porque já estamos na sala.
Acredito que James seja o homem de barba branca, sentado na
poltrona, ele me encara como se estivesse me avaliando. É justo, porque eu
faria o mesmo se tivesse uma filha e ela aparecesse com um cara, mesmo
que ele tente me intimidar, não vai funcionar. Mas a parte curiosa, é que na
sala tem mais dois homens, incluindo o ex dela.
— Boa noite! Sarah cumprimenta sendo respondida em seguida por
eles, mas ela se vira para o homem na poltrona — pai, esse é o Luke, meu
namorado — ela se volta para mim, seu nervosismo já está visível — Luke,
este é o meu pai, James Carver.
— Você não tem sobrenome? — É a primeira coisa que “meu sogro”
questiona e eu sorrio tranquilo.
— Claro que sim, senhor, meu sobrenome é Turner — estendo a mão
e ele aceita — É uma honra conhecer o pai da mulher mais incrível do
mundo.
— É bom que pense assim — Ele diz sério apertando a minha mão. O
aperto dura pouco, mas me mantenho firme. É até divertido tudo isso.
— Esses são Gavin, ele é meu tio, e esse você já conheceu — Sarah
diz educadamente, mas consigo notar o desgosto dela ao falar.
— Eu não acreditei que viriam — Escuto a voz de uma mulher, e
quando levanto o olhar vejo a Patrícia.
— Não começa — Sarah fala entredentes.
— Se o seu noivo não cumpre com os compromissos dele com você,
não ache que isso se repete com a Sarah, é um problema seu — Falo com
certo desdém.
— Não fale assim com a minha noiva — Dylan fica de pé, me
encarando e eu sorrio cínico.
— Acha que um projeto de homem como você pode mesmo me
encarar? — Questiono arqueando uma sobrancelha.
— Parem com isso agora! — Abigail exclama entrando entre nós. —
É um jantar de família, é para ser agradável. Não quero brigas.
— Peço desculpas por me exaltar dessa forma, mas fico pessoalmente
ofendido quando tentam ofender a Sarah — Sorrio gentil para a senhora que
parece amolecer um pouquinho — Ela é a mulher da minha vida, meu bem
mais precioso, preciso cuidar bem dela.
— Claro — Minha “sogra” responde em um tom doce — E está
certo.
— Para mim, parece apenas um brutamontes — Patrícia desdenha
dando de ombros.
— Não faça eu me arrepender de ter deixado você vir, Patrícia —
Abigail diz séria.
— Não vamos nos exaltar — Gavin diz — Estamos aqui para
conhecer o rapaz, e ainda nem sabemos nada sobre ele.
— Exatamente — James concorda — Sentem-se todos, vamos
conversar enquanto esperamos o jantar.
— Vou pedir para trazerem uma bebida — Abigail se afasta, e a
Sarah me guia para o sofá contrário ao que o Gavin e Dylan estão.
— Então, Luke, qual sua profissão? — James questiona com um
olhar afiado — Não imagino muitos lugares que um homem com seu porte
possa atuar.
— Eu sou químico, trabalho em uma indústria farmacêutica —
Respondo tranquilo, não é uma mentira completa. Sarah me olha tentando
disfarçar a surpresa.
— Achei que fosse lutador ou algo assim — Gavin comenta — Qual
a sua empresa?
— Infelizmente tenho um contrato de confidencialidade, não posso
contar muito sobre meu emprego, nem mesmo qual empresa — Argumento,
o que não é outra mentira total.
— Você é de alguma gangue? Participa de lutas ilegais? — James é
incisivo ao perguntar — Dylan nos contou que quando o conheceu estava
com rosto ferido.
— Não foi uma luta, senhor, me envolvi em um acidente de trânsito e
meu carro deu perda total, foi um milagre que eu tenha ficado vivo —
Agora foi uma mentira completa.
— Oh! Pobrezinho, ainda bem que não aconteceu nada grave —
Abigail diz gentil e eu sorrio para ela.
— Foi realmente horrível, mas fiquei tão aliviada quando o vi bem —
Sarah segura a minha mão fazendo carinho nela.
— Por isso estão morando juntos? — Patrícia pergunta venenosa.
— Vocês já estão morando juntos? — James indaga nervoso, posso
até ver a veia saltando em sua testa.
— Percebemos que temos que viver juntos e intensamente nosso
amor, a vida é um sopro — Sarah justifica — E assim também seria mais
fácil para eu ajudar a cuidar dele.
— Isso é um pouco precipitado, mas não podemos interferir nas
decisões dela — Abigail fala antes que o James possa dizer alguma coisa.
Acho que a Sarah teve a quem puxar sobre ser autoritária.
Uma funcionária aparece e conversa rapidamente com a Abigail.
Enquanto isso, Sarah e Patrícia se encaram como se fossem se matar a
qualquer segundo. E felizmente, o foco da conversa virou o noivado do
Dylan.
— Vocês irão na nossa festa de noivado, certo priminha? — Patrícia
pergunta com um sorriso falso.
— Acho que nós podemos fazer essa caridade de estar presente na
sua festa — Sarah responde e eu não seguro o riso, nem mesmo quando o
pai da Patrícia me olha sério.
— Acho que vocês duas deveriam se dar bem, são primas, são família
— Gavin reclama.
— Acho que o senhor deveria dizer isso para sua filha, ou esqueceu
que foi ela quem dormiu com o meu namorado? — Sarah pergunta ácida —
Mas foi um livramento, agora estou muito melhor.
Eu beijo o cabelo da Sarah com carinho e ela sorri para mim. Tenho
certeza que todos estão acreditando fielmente que somos, sim, namorados.
— Venham, a mesa de jantar foi servida — Abigail anuncia e nós nos
levantamos.
Todos os outros seguem a nossa frente, Sarah parece preferir ir mais
devagar e eu a acompanho, esse é o momento dela, estamos no meio da
família dela. Vou seguir o ritmo que ela determinar.
A comida está uma delícia, como sempre. Apesar de ter uma
funcionária que a ajuda em tudo, eu sei que a minha mãe sempre faz a
comida quando tem visitas. E não existe comida melhor que a dela.
Também não há barulho além dos talheres se chocando nos pratos. E
talvez seja melhor assim. Não foi possível ter uma conversa agradável, mas
fica difícil quando uma pessoa tão venenosa e que tanto me odeia está
junto.
Não sei como ou quando nasceu esse ódio da Patrícia por mim.
Éramos amigas, ou eu achava que éramos. Na mesma época que descobri
que ela era amante do Dylan, descobri as coisas horrorizadas que ela falava
de mim. Mas não importa, porque de qualquer forma, isso é passado para
mim.
— Eu estava aqui pensando, e lembrei de uma coisa — Patrícia diz
em um tom inocente, mas eu a conheço o suficiente para saber que não deve
ser nada inocente o que vai falar.
— O quê? — Minha mãe pergunta curiosa.
— O que você vai fazer da sua vida agora que perdeu o emprego,
Sarah? — Ela questiona e eu respiro fundo, sabia que vinha algo.
— Você perdeu seu emprego? — Meu pai pergunta abismado.
— Não perdi o emprego — respondo e o vejo respirar aliviado—,
mas pedi demissão, é diferente.
— Sarah…
— Não começa, pai, não estou aqui pedindo dinheiro para nada e
nem emprego, sou uma mulher adulta e posso me cuidar sozinha — o
interrompo antes que comece com algum discurso.
— Esse papo não funciona Sarah, sei que saiu do emprego porque
fracassou em um projetinho — Patrícia desdenha, e meu sangue ferve.
— Se era para fracassar dessa forma, não deveria ter tentado
desbravar o mundo desse jeito. O mundo é difícil, e agora que já aprendeu
sua lição, deveria voltar para a empresa — James diz sério. Não escapei do
discurso.
— Com todo respeito, senhor Carver, mas a Sarah não está sozinha
ou abandonada, ela tem a mim — Luke diz segurando a minha mão — E,
estão completamente enganados ao dizer que ela fracassou. Sarah é
brilhante, e tem um potencial enorme, mesmo que vocês não enxerguem
agora, serão obrigados a ver quando ela estiver no topo.
— Não alimente a cabeça dela com essas bobagens — Meu pai nega.
Me sinto abalada porque é um tema delicado para mim. Publicidade
era o meu sonho, mesmo que meu pai quisesse que eu fizesse administração
e fosse para a empresa, mas eu lutei pelo meu sonho. E mesmo que o Luke
seja só o invasor, foi tão bom ouvi-lo falando assim de mim.
— Seria uma bobagem se ela não acreditasse no próprio potencial —
Ele se levanta — E esse ambiente está intragável, deveriam respeitar a filha
de vocês e não obrigá-la a ficar em um ambiente tão hostil assim — Ele me
olha e eu estou completamente sem reação — Vamos embora?
Não consigo formular uma palavra sequer, então apenas assinto e
deixo que ele segure a minha mão e me guie. Escuto vozes ao fundo, mas
parecem desconectadas e distantes, apenas deixo que ele me leve. Eu já
queria ir embora desde o momento que cheguei, e quis mais ainda quando
tocou em um assunto que dói.
— Me dá a chave do carro, quero te levar em um lugar — Ele pede
com a mão aberta.
— Tudo bem — concordo e coloco a chave na mão dele. Eu deveria
confiar tanto assim nele?
Ele abre a porta do passageiro e eu entro no carro e o observo dar a
volta no veículo e sentar no banco do motorista. E o deixo me levar para
longe dali.

Ele estaciona o carro e dá a volta para abrir a porta para mim,


estamos na entrada da ponte Golden Gate, me sinto um pouco confusa, mas
o deixo me guiar.
— Você não vai me jogar da ponte, né? — Pergunto só para garantir a
minha integridade física.
— Não, não vou — Ele responde em meio às risadas — Achei que já
tivesse entendido que não tenho a intenção de te fazer mal.
— Só queria ter certeza — dou de ombros — O que estamos fazendo
aqui?
— Acho que caminhar um pouco olhando a paisagem pode te fazer
bem — Ele explica e eu sorrio um pouco. Ele está preocupado comigo.
— Faz tempo que não venho aqui — Comento enquanto caminhamos
— No máximo de passagem, sem reparar em nada.
— Quando moramos em algum lugar com pontos como esse, a gente
se acostuma e passa a vida sem aproveitar a beleza do que temos — Ele
responde parecendo distante — Por isso temos que aproveitar tudo, cada
segundo, registrar em nós o que tudo uso significa.
— Acho que você tem razão — Concordo, olhando para a lua que já
enfeita a noite de São Francisco. — Mas não imaginei que você pensaria
assim.
Ele abre um sorriso pequeno, mas não diz mais nada, e eu prefiro
ficar em silêncio também. É estranho que eu me sinta tão confortável ao
lado do Luke, só nos conhecemos há cinco dias, e não foi em uma situação
normal. E é mais estranho ainda pensar que a presença dele no jantar foi o
que me deixou mais segura. Eu realmente devo estar louca.
Olho para ele caminhando ao meu lado, e no mesmo instante ele me
olha. Seus olhos estão brilhantes, e isso me faz sorrir. Não seja louca, Sarah.
Não é porque ele é lindo, gostoso, com mais de 1,80 de altura, com braços
enormes e um peito bem definido, além de uma personalidade cativante,
que eu tenho que me sentir balançada por ele.
Luke é só o invasor da minha casa. Eu não o conheço realmente.
— Quer falar sobre o jantar? — Ele pergunta me tirando do meu
pequeno devaneio.
— Não tem muito o que falar — Digo indiferente.
— O último assunto parece ter te deixado muito desconfortável —
Ele pontua e eu suspiro.
— Tem certeza que quer ouvir uma história clichê de família que não
aceita o filho que escolhe a própria vida? — Pergunto tentando soar
engraçada, mas ele não esboça nenhuma reação.
— Tenho, a menos que você fique desconfortável para falar sobre
isso — ele responde parando no lugar e olhando diretamente nos meus
olhos — E não precisa fingir que algo não dói, se doer, não estou aqui para
julgar você ou como se sente sobre algo.
— Que tipo de criminoso sentimental que você é? — Pergunto
sentindo uma enorme vontade de chorar.
— Não se iluda, não sou assim com todo mundo — Ele responde
tranquilamente — Você é um caso especial.
Tento sorrir, mas logo se desfaz. Minha mente está confusa, e ele me
olhando desse jeito e sendo tão gentil me deixa ainda mais desnorteada. Se
eu pensar bem, talvez seja bom falar com ele, em breve ele sairá da minha
vida e colocar tudo para fora será bom para mim. Volto a caminhar para não
ter que falar tudo olhando diretamente para ele.
— Meu pai queria que eu cursasse administração e trabalhasse com
ele. Assim como ele, também achava que o Dylan era o cara ideal para
mim, e quando tudo aconteceu, digo a traição, ainda fui a culpada porque
não dava atenção para o idiota. Eu realmente estava muito ocupada, mas
estava estudando e trabalhando, só tem um ano que estou formada — Faço
uma pausa para respirar fundo, porque não quero chorar, e continuo: — Não
é que meu pai seja ruim, mas ele tem perfil muito controlador, e não aceita
bem que eu viva como quero, na profissão que quero.
— E a sua mãe? — Ele pergunta, atento a tudo que eu digo.
— Ela me apoia, ainda bem, ou eu surtaria completamente. —
Respondo rápido — Mas não sei, às vezes é tudo bem ruim, não gostaria de
ter que conviver com a Patrícia ou o Dylan, mas o pai dela é irmão do meu
pai, e o pai do Dylan é sócio do meu pai. Sempre nos encontramos em
reuniões, jantares, tudo que envolve a família.
— E sobre o seu trabalho na agência publicitária? — Ele pergunta e
eu suspiro, esse assunto fica ainda mais delicado.
— Não é que sempre tenha sido um problema, mas eu era a novata,
só tenho um ano de formada e mesmo assim comecei a ter um destaque, o
Paul não gostou muito disso, nossas disputas pelos projetos começaram a
ficar mais acirradas, mas o nosso chefe começou a passar qualquer projeto
para ele, só ele estava tendo oportunidades de apresentar as propostas para
os clientes e por fim, ele acabou roubando o meu projeto — Bufo irritada
— Foi desgastante e muito estressante, sei que lidar com o mercado de
trabalho não é nada fácil, mas puxar o tapete alheio é demais.
— Como é o nome deles? — Ele pergunta e eu deixo escapar uma
pequena risada — Só estou curioso.
— Paul Miller, era o meu colega de trabalho e Harry Davis, o nosso
gerente e chefe — Puxo o ar lentamente — Mas tudo bem, agora vou me
reconstruir.
— Você vai, sim, eu acredito muito no seu potencial — Ele concorda
e eu rio um pouco.
— Você nunca viu nenhum projeto meu — Digo negando.
— Claro que vi — Ele afirma e eu olho para ele confusa — Estava
muito entediado, acabei mexendo um pouco nas suas coisas e vi trabalhos
ótimos.
— Isso é invasão de privacidade, eu posso ligar para a polícia —
Brinco e ele ri revirando os olhos.
Eu estremeço um pouquinho quando um vento frio passa por nós, e
sem dizer nada, ele tira a jaqueta e a coloca sobre os meus ombros. Sorrio
agradecida para ele, hoje parece especialmente mais frio que o normal.
— Acho que está na hora de voltarmos para casa — Ele informa e eu
faço bico.
— A noite está tão bonita — Suspiro —, eu ficaria aqui um pouco
mais.
— Nós sempre podemos voltar — Ele diz enquanto coloca uma
mecha do meu cabelo no lugar — Vamos?
— Sim — concordo, mas ele tem razão, sei que ele está se
escondendo de alguém, então ficar na rua é um pouco estúpido, e seria
muito inocente da minha parte não pensar sobre isso — Luke?
— Hum?
— Obrigada, caminhar realmente me fez bem — Agradeço e ele sorri
para mim.
Essa noite terminou muito melhor do que pensei que seria, ainda bem
que ele estava aqui.
— Eu estava pensando, seu sobrenome é realmente Turner? — Sarah
pergunta enquanto senta na poltrona da sala e me encara.
Percebi que ela tem ficado cada vez mais a vontade comigo, acho que
isso é bom, porque eu ainda estou em recuperação. É triste ter que admitir
que levei uma surra. E o pior ferimento é o meu braço que foi baleado, mas
eu vou fazer questão de devolver esse tiro.
Agora, já estou bem o suficiente para ir para outro lugar, mas ficar
aqui com ela é confortável, divertido, e definitivamente, ninguém me
procuraria aqui.
— Talvez — Dou de ombros e ela ri.
— Seria justo que você me dissesse pelo menos o seu nome — Ela
argumenta em um tom divertido.
— Você está bem? — Pergunto arqueando a sobrancelha.
— Estou, muito bem — ela responde juntando as sobrancelhas em
uma clara confusão — Por quê?
— Não me lembro de ter te visto de bom humor antes — Explico e
ela revira os olhos, se fazendo de indignada.
— Muito engraçado, ha-ha — Ela debocha e eu sorrio, é bom ver o
senso de humor dela intacto — Caminhar ontem me fez bem.
— Fico feliz por isso, acho que deveríamos jantar pizza hoje para
comemorar esse momento raro de alegria, o que acha? — Sugiro em tom de
provocação.
— Acho que você está muito piadista hoje — Ela rebate rindo —
Mas eu topo.
O celular dela começa a tocar e ela olha para a tela com uma
expressão estranha, então respira fundo e levanta pedindo licença. Isso me
causa um incômodo, quem era e porque ela mudou a expressão tão rápido?
Sei que não deveria, mas me levanto devagar e vou atrás dela para
tentar entender o que aconteceu, ou com quem ela está falando. Ouvir atrás
da porta não é algo correto a se fazer, mas não é como se eu ligasse para
isso.
— Do que está falando?… o que ele fez? … tem certeza disso? —
Queria muito escutar o que a outra pessoa está falando e entender todo o
contexto — Paul deveria ter ficado satisfeito por eu ter saído apenas, nem o
processei por roubar o meu trabalho, de qualquer forma não me surpreende
que ele esteja fazendo isso — Ela diz séria e eu fico irritado, esse cara de
novo? Já fiquei puto com tudo que ela tinha me falado — Não se preocupa
amiga, isso não vai destruir minha carreira… obrigada por me avisar, não se
preocupa, não vou falar com ninguém que você me alertou, obrigada de
novo.
Ela fica em silêncio, escuto apenas o som de sua respiração, é como
se ela estivesse tentando se controlar, se acalmar um pouco. Mas de repente
ela ri de uma maneira estranha.
— A quem eu quero enganar, é lógico que isso vai acabar comigo —
Sua voz está embargada, e logo escuto os seus passos, mas ela abre a porta
antes que eu consiga sair de fininho — Nunca disseram para você que é feio
ouvir atrás da porta?
— Provavelmente, sim, mas não é como se me importasse — Dou de
ombros — O que aconteceu?
— Paul roubou o meu projeto, mas agora está dizendo a todos que eu
saí porque fui eu quem tentou o roubar o projeto dele, que era sempre assim
— Ela suspira frustrada — É claro que isso vai me prejudicar, ele já tinha
um nome antes de mim, e eu nem estou mais na agência para me defender,
mesmo que eu entre com um processo isso se estenderia por anos.
— Sempre há algo que possa ser feito — Digo e ela sopra uma risada.
— Será mesmo? Acho que estou cansada de ser derrotada pela vida,
esquece a pizza, perdi o apetite — Ela diz completamente desanimada.
Ela desvia de mim subindo as escadas em passos lentos. Eu não tinha
a intenção de aparecer novamente ainda, mas não posso deixar essa situação
dessa forma. Vê-la tão desanimada e com os olhos cheios de lágrimas me
causa uma raiva quase desconhecida.
E eu já estou com muita raiva guardada dentro de mim.

Coloco o capuz do moletom enquanto caminho pelas ruas, não vai ser
difícil achar um shopping ou uma loja aberta para que eu possa comprar um
celular novo, bom que assim me informo sobre o que está acontecendo
também.
Eu tenho uma conta aberta, e vou derramar muito sangue para pagá-
la.
Entro no primeiro lugar que vejo aberto e compro um aparelho, e já
saio da loja discando um número que conheço bem e que vai poder me
auxiliar no que preciso para agora.
— Alô? — Ele atende desconfiado. Alex é um hacker que conheci há
alguns anos, ele precisava de ajuda e eu precisava de alguém que pudesse
confiar. Fizemos uma troca justa.
— Alex, sou eu, Luke — Digo e o escuto exclamando um “ooh” —
Antes de tudo, preciso que você cuide da segurança desse aparelho.
— Eu achei que estivesse morto — Ele diz com a voz fraca, mas seu
tom muda de repente — Cara, você tá vivo! Fiz tudo que podia para te
achar, mas…
— Alex, segurança primeiro — Eu o interrompo, mas é bom saber
que alguém está feliz por mim.
— Cinco minutos — Ele avisa.
No momento atual, Alex é uma das poucas pessoas em quem confio.
E é até bom que os outros pensem que morri, até porque ainda não estou
completamente bem e quando eu começar a resolver meus problemas, não
poderei parar, sequer terei tempo para isso.
— Pronto, agora podemos conversar — Ele avisa — O que
aconteceu? Quero dizer, eu sei que o aconteceu, mas como você está? Onde
você está?
— Agora não é o momento para falarmos sobre isso, preciso que
você faça um trabalho para mim.
— Claro, o que precisa? — Ele pergunta atento.
— Preciso do endereço de Paul Miller, e preciso que você hackeie
todos os aparelhos dele e destrua tudo, faça ele ter perda total de tudo,
principalmente que envolva trabalho, e faça o mesmo com Harry Davis —
explico e já consigo escutar o barulho das teclas, sabia que ele não perderia
tempo — Quero que seja impossível que eles recuperem qualquer dado.
— Isso é moleza — Ele responde — Mas estou curioso, o que dois
publicitários fizeram para você estar com tanto ódio deles assim?
— Não gosto de gente desonesta — esclareço em um tom divertido e
escuto a risada dele ecoar.
— Tudo estará pronto em uma ou duas horas, já te enviei o endereço
do cara por e-mail — Ele avisa — e cara, sabe que qualquer coisa pode
entrar em contato, certo?
— Eu sei, obrigado — É realmente bom ter com quem contar.
— Luke, eu sinto muito pelo que aconteceu, também estarei aqui
quando você estiver de volta — Ele diz sério.
— Não vou demorar, mas também não quero falar sobre isso —
Respiro fundo, se eu pensar muito sobre isso, irei perder o foco — Nos
falamos em breve.
Desligo a chamada antes que ele insista em mais algum assunto que
estou querendo evitar. Não é culpa dele, mas até que eu possa me vingar
como quero, vou aliviar minha raiva destruindo quem fez a Sarah chorar,
até que os meus inimigos caiam, farei os dela cair.
É completamente irresponsável entrar de cara limpa na casa de
alguém, mas eu não tenho culpa se ele é um idiota e ainda mora em um
bairro com uma segurança tão baixa. Ele quem deveria ser mais cuidadoso.
Entrar na casa dele foi muito mais fácil do que entrar na casa da
Sarah, esse homem realmente não se preocupa com a segurança da casa.
Mas acho que hoje ele aprenderá uma lição valiosa.
Caminho por toda a casa, entrando nos quartos, olhando tudo. Quero
ter certeza de quê não há outra pessoa na casa, meu único alvo é o Paul, e
para a minha sorte, ele parece morar sozinho.
Espero ele chegar para dar uma lição pessoalmente ou apenas
queimo tudo?
Estou na cozinha já começando a transformá-la em uma bomba
usando o gás do fogão, e escuto a porta sendo aberta, me aproximo
lentamente da porta e vejo Paul entrando mexendo no celular. Ainda bem
que o Alex lembrou de mandar uma foto desse desgraçado, ou não saberia
como é o rosto dele.
— Você deveria ter mais cuidado com sua própria casa — Aviso me
aproximando, enquanto estralo os dedos da mão.
— Que-quem é você? Como entrou aqui? — Ele pergunta enquanto
se treme inteiro — Vou ligar para a polícia!
É engraçado ver como ele parece muito mais assustado que a Sarah.
Ele está tremendo tanto, que não duvido que vá mijar nas calças a qualquer
segundo. Certo que com ela eu só queria que ela se acalmasse, ele eu quero
triturar como se fosse lixo descendo pelo ralo.
— Para alguém que não se importa em destruir outras pessoas, você é
muito medroso — Digo debochado enquanto me aproximo, tomo o celular
dele e arremesso contra a parede — Acho que antes que eu quebre sua cara,
nós podemos ter uma conversinha.
— Eu nem sei quem é você, nunca te fiz nada — Ele choraminga e eu
sorrio.
— Mas para o seu azar, eu sei quem é você — Digo maldoso e ele
tenta se afastar, mas eu o seguro pelo pescoço. É ótimo ter a vantagem do
tamanho — Você não vai contar para ninguém que eu estive aqui, ou a
minha próxima visita não vai te deixar vivo. Entendeu?
— Si-sim — Ele gagueja.
— Se for na polícia, eu saberei e isso não será nada bom, porque eu
não vou só te matar, vou te torturar por horas e horas, até que eu fique
entediado, você não quer isso, quer? — pergunto friamente, ele começa a
balançar a cabeça negando e chorando.
— O que você quer de mim?
— Quero que você confesse tudo o que fez na agência, quero que
desminta tudo o que inventou — Explico e ele arregala os olhos.
— Quem te mandou aqui? Foi aquela vagabunda da Sarah? — Ele
quase grita e instantaneamente leva o primeiro soco na cara, caindo no
chão.
— Cuidado com o que você diz — Chuto a barriga dele — Você é o
único merda aqui.
Eu seguro na camisa dele e dou mais um soco em seu rosto e o deixo
caído no chão, ele é muito mais fraco do que pensei que seria.
— Ninguém me mandou aqui, esteja ciente disso, também esteja
ciente que eu posso voltar, então é melhor se desculpar pelo que fez e não
ousar dizer uma palavra sequer a alguém — Aviso-o.
— Isso não vai ficar assim — Ele tosse sangue.
— Claro que vai, tem certeza que vai querer que eu volte? —
Questiono arqueando a sobrancelha.
Ele se encolhe no chão assustado, e eu sorrio de lado. Não confio que
ele vá ficar quieto, mas nesse caso realmente terei que voltar para matá-lo.
— A Sarah não me mandou aqui, ela é boa demais para querer que
até um lixo como você se machucasse ou sua casa pegasse fogo por causa
de alguma vingança…
— Fogo? — Ele me interrompe com os olhos arregalados.
— Mas eu não tenho problema nenhum com isso — continuo como
se ele não tivesse falado nada — Entendidos?
— Si-sim — Ele acena e eu sorrio, foi divertido.
— Cuidado, qualquer mínima faísca vai fazer pelo menos parte da
sua casa explodir — Aviso, apreciando sua expressão de terror — Tenha
uma boa noite, Paul Miller.
Saio da casa tranquilo, mas usando o capuz, sei que ele não
conseguirá escapar da explosão. Caminho algumas quadras até conseguir
um táxi e ir para o shopping.
Preciso comprar outras roupas, uma pizza e alguns potes de sorvete,
tenho certeza que isso animará a Sarah ou pelo menos diminuir o desânimo.

A pizzaria é o último lugar que passo. E enquanto espero o meu


pedido ficar pronto, disco o número de uma pessoa que poderá resolver a
parte final desse problema na vida da Sarah.
— Thomas, sou eu, Luke — Digo assim que a chamada é atendida.
— Estou ocupado, o que quer?
— Preciso de um favor — Sou direto — Preciso que contrate uma
pessoa para o setor de publicidade da sua empresa.
— Como? Ficou louco, Luke?
— Eu confio no potencial dessa pessoa, é claro que você vai poder
avaliar o portfólio dela — Argumento e ele fica em silêncio — E eu vou
ficar te devendo um favor.
— Essa parte me interessa — Ele responde ponderando.
— E então?
— Eu tenho alguns contatos, vou descobrir quem está com alguma
vaga em aberto, mas preciso de um portfólio, me envie isso até amanhã —
Ele exige e eu reviro os olhos — Derek está atrás de você.
— Assim que possível, falarei com seu irmão — Respondo — O
portfólio estará amanhã no seu e-mail, pode voltar a curtir sua noite.
Desligo a chamada antes dele dizer mais alguma coisa. Thomas é um
empresário muito influente e o filho do meio do governador da Califórnia, e
meu primo.
Depois de procurar pela casa, desisto e sento nos degraus da escada,
com os braços apoiados nas pernas e a cabeça nas mãos. Será que o Luke
foi embora? Ele me avisaria que estava indo embora, ele só deve ter saído
um pouco.
Escuto a porta sendo aberta e sinto um sorriso involuntário se
formando no meu rosto. Ele está de volta. Acho que me acostumei mais do
que deveria com ele.
— Onde você estava? — pergunto quando o vejo passar diante das
escadas, em direção à cozinha.
Luke está carregando uma sacola e uma caixa de pizza que ele quase
derruba com o susto. Até o escuto xingar baixo antes de me olhar.
— Isso não é lugar de ficar — Ele me repreende e eu dou de ombros.
— Estou na minha casa, posso ficar onde eu quiser — Retruco —
Onde você foi? Por que não me avisou que ia sair?
— Fui comprar nossa pizza — Ele balança a caixa — Vem.
Ele continua o caminho dele até a cozinha e eu suspiro. Não é como
se eu pudesse fazer alguma coisa sobre ele sair, mas acho que ele tem que
ter consideração comigo, me avisar. Não estou tentando controlá-lo nem
algo do tipo.
O sigo até a cozinha também, ele deixou a pizza sobre a mesa e está
colocando sorvete no congelador. Eu pego os pratos e coloco na mesa, é
estranho sentir como se fazermos as coisas juntos fosse alguma rotina, só
foram alguns dias dele aqui.
— Quero conversar sério com você — Luke diz no momento em que
sentamos.
— Sobre o quê? — Pergunto desconfiada, olhando-o atentamente e
noto que a mão dele está machucada — O que aconteceu com sua mão?
— Minha mão? — Ele pergunta confuso olhando sua mãe direita e
depois dá de ombros — Não é nada, e não é o foco agora.
— Certo — Respondo desconfiada — qual o foco?
— Eu estava pensando sobre a sua vida…
— A minha vida? — questiono o interrompendo.
— Quando você se sentir pronta para ter sua agência, me avise, vou
te apoiar financeiramente — Ele explica.
O encaro em silêncio, processando o que ele me propôs. Minha mente
está pipocando de perguntas. E eu preciso que cada um desses
questionamentos tenham respostas, mesmo que ele não goste muito de falar
de si, vai ter que fazer isso.
— Por que faria isso? Você tem dinheiro para isso? — Semicerro os
olhos o encarando ainda.
— Já disse que acredito no seu potencial, e claro que eu tenho — Ele
ri um pouco. Mas eu não sei porque isso seria tão óbvio, ele invadiu uma
casa. — Você pode considerar isso como um agradecimento por ter me
deixado ficar aqui.
— Se você tem dinheiro, por que precisou invadir uma casa? Você
poderia ter pagado algum lugar para ficar.
— Eu estava muito ferido, precisava de um lugar imediato para me
esconder, para me recuperar, só tinha dois dias que eu tinha entrado na sua
casa quando você chegou — Esclarece com calma — E depois, bom, é
interessante ficar na sua companhia enquanto minhas feridas se curam.
Respiro fundo me sentindo confusa, não gosto de não saber nada
dele, seria errado aceitar isso? Acho que sim, acho que não posso aceitar.
Seria hipocrisia dizer que não tenho gostado da companhia dele também.
Já é tarde da noite e eu não quero perder meu sono enquanto me
reviro na cama com problemas que não posso solucionar.
— Eu agradeço, mas não quero — Nego — E também não quero
falar sobre isso, ok?
— Tudo bem não falarmos, apenas pense sobre isso enquanto estou
aqui — Ele responde e eu aceno concordando.

Termino de vestir a minha camisola para deitar, mas o pensamento


sobre a mão dele não sai da minha cabeça, será que ele se machucou em
outro lugar? E o que ele fez para se machucar? Será que ele bateu em
alguém? Tudo isso é muito suspeito.
Pego um kit para fazer curativos e saio do quarto, completamente
movida pelas minhas emoções. Como se isso fosse alguma novidade, estou
sempre me deixando levar e raramente pensando racionalmente sobre as
minhas ações.
Bato na porta do quarto de hóspedes, me sentindo um pouco tensa,
enquanto balanço minha maletinha de curativos. É engraçado, porque desde
que ele chegou aqui, sei que ele está machucado, mas essa e a primeira vez
que me disponibilizo a vir até ele.
— Está tudo bem? — Ele pergunta ao abrir a porta. Luke está apenas
com uma calça de moletom, e essa é a primeira vez que eu o vejo de tão
perto e sem camisa. Sua barriga é completamente definida, e ele tem uma
tatuagem de aranha na costela. Minhas mãos formigam com vontade de
tocá-lo, mas também reparo que ele está cheio de hematomas roxos
espalhados, e que o corte no seu braço está em processo de cicatrização. —
Sarah?
— Si-sim — Sinto meu rosto esquentando ao perceber que gaguejei e
ele segura o riso — Vim ver como você está, sua mão, sabe?
— Minha mão?
— Eu vim fazer um curativo para você — Balanço meu kit, ele dá um
meio sorriso e dá espaço para que eu entre no quarto.
— Muito gentil da sua parte — Ele diz, indicando a cama para eu
sentar.
— Você está machucado assim por causa de um acidente mesmo? —
questiono enquanto senta na minha frente.
— Melhor acreditar que é isso — Ele responde enquanto pego a mão
dele e limpo para colocar um band aid. — Eu não vou ficar aqui muito
tempo ainda, você não precisa ser envolvida em problemas que não são
seus.
— Você não acha que só o fato de estar aqui me colocaria “em
problemas”? — Faço as aspas com os dedos.
— Eu não vou deixar que nenhum problema meu chegue até você —
Ele acaricia meu rosto com a outra mão — Eu já disse que você é um caso
especial.
Me perco olhando nos olhos verdes do Luke. Sinto meu coração
disparando, nem saberia dizer se estou respirando neste momento. Eu disse
para mim mesma que deveria ser sensata, mas não acho que estou sendo.
Acho que não fui sensata em nenhum segundo desde que olhei para Luke
pela primeira vez.
— Eu preciso ir — Digo, mas não me movo do lugar.
— Pode ir — Ele responde, mas ele também não se afasta.
— Luke… — Eu começo a dizer e travo, quando seu rosto começa a
se aproximar do meu.
— Tenha uma boa noite, Sarah — Ele diz quase sussurrado e beija a
minha testa.
Tenho a sensação que algo está explodindo dentro de mim e me
afasto de supetão. Ele me olha com a sobrancelha arqueada, mas um sorriso
pequeno nos lábios. Puxo o ar com força para oxigenar bem meu corpo e eu
volte para a racionalidade.
— Vou chamar uma amiga médica aqui amanhã — Falo caminhando
para fora do quarto — Boa noite, Luke.
Saio antes que ele me diga alguma coisa e já fecho a porta atrás de
mim. Estou ficando maluca, completamente maluca. Essa é a única
explicação.
É claro que eu não estou gostando do cara que invadiu a minha casa.
Começo a escutar o barulho do meu celular tocando e gemo frustrada.
Não era assim que eu pretendia acordar hoje, principalmente porque queria
levantar mais tarde. Suspiro abrindo os olhos, já que o aparelho continua
tocando.
Alcanço-o que está na mesa de cabeceira e vejo o nome da Ellen na
tela, juro que se não for um assunto importante, vou desligar na cara dela.
— Finalmente você atendeu — Ela reclama — Bom dia.
— Não está sendo bom dia, você me acordou — Resmungo e escuto
a risada dela.
— Realmente, mas não está sendo um bom dia para o Paul — Ela diz
me deixando confusa — Acorda que eu tenho uma fofoca quentíssima para
te contar.
— Não quero falar sobre o Paul — Bufo — Quero esquecer que ele
existe.
— Estou chegando na sua casa, beijinhos — Ela desliga e eu suspiro.
Me levanto contrariada e caminho em direção ao banheiro, é bom que
a fofoca seja quentíssima mesmo.
Entro na cozinha e está tudo do mesmo jeitinho de ontem, significa
que o Luke continua dormindo. Me pego suspirando ao pensar no nome
dele e balanço a cabeça como se isso fosse tirá-lo da minha mente.
Coloco o café para preparar na cafeteira e começo a preparar a massa
de panquecas para o café da manhã enquanto espero a Ellen. O que será que
ela quer falar sobre o Paul? Queria esquecer a existência dele.
Escuto a campainha da casa, mas quando chego na porta entre a
cozinha e a sala vejo o Luke recebendo a Ellen.
— Bom dia, eu já tinha esquecido que te encontraria aqui — A Ellen
o cumprimenta.
— Bom dia, eu posso deixá-las a sós, isso não é um problema —
Luke responde educadamente enquanto ela entra.
— Não é necessário — Ellen nega e me nota observando-os — está
tudo bem ele ouvir, né?
— Claro, inclusive ele adora uma fofoca — Brinco e o vejo dar de
ombros.
— Melhor falar da vida dos outros do que da minha vida — Ele se
defende e a Ellen ri.
— Finalmente você arrumou um namorado que preste — Ellen brinca
e eu reviro os olhos rindo.
— Sem comentários, vem pra cozinha que estou preparando o café da
manhã — Indico — O que aconteceu com o Paul?
— A casa dele pegou fogo — Ela diz e eu me viro espantada.
— Como?
— Parece que foi uma explosão porque houve um vazamento de gás,
mas ainda não tenho os detalhes — Ela explica e eu fico estarrecida
encarando ela.
— E ele? — Apesar de odiá-lo, deve ser horrível perder tudo assim.
— Estava dentro da casa.
— O quê? — Pergunto chocada e preciso me sentar para absorver a
notícia — Ele morreu?
— Sim, não sobrou nada — Ela explica.
— Como você soube disso? — Pergunto encarando a minha amiga.
— As notícias correm, mas de qualquer forma, saiu uma matéria no
jornal das sete — Ela responde sentando na outra cadeira.
— Achei que você iria me contar uma fofoca e não um obituário —
Aponto e ela dá de ombros.
— Eu achei com cara de fofoca — Luke dá de ombros enquanto
serve café em uma xícara.
— Ela já te falou sobre ele? — Ellen questiona e ele acena
positivamente — Paul te atormentou desde que você entrou naquela
agência, Sarah, não é que eu esteja feliz com uma morte, mas eu chamo isso
de carma.
— Ellen…
— Estou falando sério, nós sabemos que ele não era uma boa pessoa,
não é porque a pessoa morreu que ela magicamente vira santa — Ela
argumenta e eu suspiro.
— Vou voltar a fazer as minhas panquecas — Falo me levantando,
ainda me sentindo um pouco atordoada.
— Eu acho que você está certa, Ellen — Luke comenta e eu arqueio a
sobrancelha — Se a pessoa era um merda, por que fingir que não depois
que morre? Acho uma besteira.
— Exatamente — Ela acena concordando.
Eu suspiro observando a interação. Não sei como me sinto sobre isso.
Acho que só é estranho saber que ele está morto, porque eu o conhecia.
Lamento pela família, mas Ellen e Luke estão certos, ele me atormentava,
roubou meu trabalho, não é como se eu fosse sentir falta dele.
Coloco a frigideira no fogo e começo a preparar as panquecas, olho
para o lado quando escuto a risada escandalosa da Ellen. Prefiro nem
imaginar a pauta, mas noto que o Luke já está picando os morangos.
— Ellen, você tem uma amiga médica, certo? — Pergunto.
— Sim, está sentindo alguma coisa? — Ela pergunta preocupada.
— Não, é para olhar os hematomas do Luke, por causa do acidente —
Explico.
— Não é melhor ir ao hospital? — Ela pergunta confusa encarando
ele — lá eles podem fazer os exames mais completos.
— Eu me sentiria melhor se alguém viesse até aqui, uma avaliação
rápida é o suficiente — Luke diz em um tom suave, enrolando a Ellen.
— Vou ligar para a Lauren — Ela concorda e eu sorrio.
— Ótimo, ela é uma excelente médica — elogio e a Ellen arqueia
uma sobrancelha me olhando.
— E por que você não falou com ela? — Ela indaga e eu abro um
sorrisinho.
— Porque eu sei que você tem mais contato com ela — digo
colocando as panquecas na mesa — Sendo mais clara, você tem mais
contato com todo mundo.
— Então você é popular? — Luke pergunta soando divertido.
— Popular é muito forte, eu conheço umas pessoas aí — Ela dá de
ombros.
Reviro os olhos porque sei que a Ellen é muito popular, ela sempre
foi. A mãe dela sempre disse que se deixasse, a Ellen faria amizade até com
o vento. O que foi bom para mim, já que não sou tão extrovertida e tive a
sorte de tê-la como melhor amiga.
Sento à mesa com eles e nós tomamos nosso café da manhã, enquanto
a Ellen conta sobre um caso no qual está trabalhando. Ela é advogada, uma
das melhores.
Fico feliz por ela ter aparecido, deixou minha manhã mais animada
do que teria sido.

Suspiro cansada olhando para a tela do notebook. Preciso resolver a


minha vida profissional, não quero ter que pedir ajuda para o meu pai e
ouvi-lo jogando na minha cara que fracassei. Não fracassei, apenas estou
em uma fase ruim.
Eu tenho um sonho e um dia vou realizá-lo.
Mas por enquanto deslizo a tela procurando por alguma vaga, alguma
oportunidade de trabalho, se eu continuar sem fazer nada acabarei
enlouquecendo. E a minha reserva financeira não durará para sempre.
Olho em direção à cozinha, onde o Luke está, será que ele estava
falando sério sobre aquela proposta? Será que estou pronta para algo assim?
Ter minha agência é meu sonho, mas parte de mim sabe que tudo tem um
momento para acontecer.
Meu celular começa a tocar e eu vejo o nome do Harry na tela, o que
esse homem quer comigo?
— Alô? — Atendo um pouco desconfiada.
— Sarah? Oi, como você está? — Ele pergunta gentil, com a voz
suave, e isso me deixa ainda mais desconfiada.
— Estou bem e você?
— Não muito, está tudo um caos hoje.
— Eu soube sobre o Paul, sinto muito — Digo em consolo, mas ainda
não entendo porque ele está me ligando.
— Sim, trágico isso, mas não era sobre esse assunto que eu estava
falando — ele nega.
— Não estou te entendendo. O que está acontecendo? Por que me
ligou? — Pergunto de uma vez, toda essa enrolação está me deixando
nervosa.
— Alguém invadiu o sistema da agência e destruiu tudo, todos os
arquivos, projetos, foi tudo apagado — ele explica e eu fico surpresa —
Preciso de você para conseguir cumprir meus prazos.
— Harry, como eu iria recuperar esses arquivos? Precisa falar com
quem entenda de tecnologia a esse ponto.
— Acha que não tentei isso? — ele pergunta ríspido — Preciso que
venha para refazer os projetos.
— O quê? — A pergunta escapa pelos meus lábios.
— Você estava envolvida em vários deles, tentei conseguir algo do
login do Paul, mas não tem nada e agora ele é inútil — Fico chocada
ouvindo-o falar assim — Então venha, pegue seu cargo de volta, até
deixarei que você assine como auxiliar.
Me sinto completamente incrédula escutando-o. Como alguém pode
ser tão sem escrúpulos dessa forma? Só consigo sentir nojo dele.
— Não, não vou e não quero trabalhar para alguém tão nojento como
você — Nego — Seu colaborador morre e é assim que se refere a ele? Só
sinto nojo de você, Harry, e não tente me ligar novamente que seu número
será bloqueado.
Desligo o celular antes que ele me diga mais alguma coisa. Ainda
bem que eu saí daquele lugar horrível, espero que a próxima agência que eu
trabalhe seja melhor.
— Você está bem? — Luke pergunta e só então o noto aqui.
— O dia está ruim, mas estou na esperança que melhore — Tento
sorrir, mas falho.
— Quer conversar? — Ele indaga cauteloso, e eu acho isso muito
fofo.
— Não — Suspirando fechando notebook — Você pode me abraçar
um pouco?
— Tem certeza que quer isso? — Luke questiona, mas se
aproximando.
— Absoluta — Afirmo com muita certeza.
Luke se junta a mim no carpete do chão da sala e me envolve em seus
braços, me puxando contra seu peito e eu me sinto estranhamente aquecida.
Me encolho mais, como se estivesse me aninhando nele e fecho os olhos na
tentativa de esquecer o mundo um pouco.
Mas, de tudo, a parte que eu mais gosto é que posso sentir seu
coração. E ele está tão acelerado quanto o meu.
Caminho de um lado para o outro na sala de estar. Não sei porque
estou me sentindo tão nervosa. Eu queria ter ido com a Lauren e o Luke
para o quarto para acompanhar a avaliação dele, mas ela não deixou.
Ela demorou dois dias para vir, e quando vem, me proíbe de fazer
coisas dentro da minha casa! Um completo absurdo!
— Você está me deixando tonta — Ellen reclama e eu olho séria para
ela — Ela só está avaliando ele, fica calma.
— Estou calma, muito calma — Afirmo e escuto a risada dela.
— Estou vendo — Ela ironiza — Sei que você tem histórico de
corna, mas não conhecia esse seu lado possessivo.
— Não estou sendo possessiva e não tem nada a ver com meu
“histórico de corna” — Reviro os olhos — Só não entendo porque não pude
acompanhar.
— Possessiva — Ela me provoca e eu mostro a língua para ela.
Não estou sendo possessiva, nunca fui assim, só estou preocupada
com ele, gostaria de saber como ele está. Suspiro me jogando no sofá.
Queria poder ajudá-lo mais, mas para isso eu precisaria saber como ele
realmente está.
— Amiga, ele está bem, olha a postura que ele tem normalmente,
logo, logo ele estará completamente bem — Ellen tenta me confortar, e eu
sorrio para ela.
“Logo ele estará completamente bem.”
É claro que eu quero isso, mas isso também significa que ele vai
embora quando acontecer. E pensar isso faz uma aflição gigante se
aglomerar no meu peito. Acho que estou ficando louca, era só um tempo e
eu me acostumei demais.
Preciso ser clara comigo mesma. Mesmo que, hipoteticamente, eu
desenvolvesse algum sentimento por ele, é óbvio que isso não seria
recíproco. Ele não se envolveria comigo, não tem como.
E eu não sei nada da vida dele. Luke pode ter alguém, e eu estou aqui
criando fantasias completamente malucas.
— Sarah! — Ellen exclama e eu me assusto um pouco, acho que eu
realmente me distrai — Está me escutando?
— Agora estou — Respondo com um sorriso amarelo. — O que você
disse?
— Vai à festa de noivado da Patrícia e do Dylan exibir seu
namorado? — Ela repete a pergunta.
— Quando é mesmo? — Pergunto interessada, com um plano já em
mente.
— Pulando o próximo final de semana, no outro — Ela me recorda e
eu assinto.
— Vou, ela convidou, certo? — sorrio de lado — Vai ser divertido.
— Se eu tivesse um atual gostoso, também iria à festa do ex causar
caos — Ela ri e eu dou de ombros.
— Eu não planejo causar nenhum caos — Rio e respiro fundo —
Quanto tempo demora uma consulta?
— Já terminamos — Escuto a voz do Luke e me viro vendo os dois
terminarem de descer as escadas, sentindo o meu rosto esquentar
completamente.
— Como foi? Como você está?
— Ele está bem, mandarei entregar alguns remédios aqui — Lauren
responde — Mas não precisa se preocupar, é só para cicatrizar mais rápido
e ele não sentir mais dor.
— Você tem sentido dor? — Pergunto estarrecida, como eu não
percebi.
— Não a ponto de ser uma preocupação — Ele diz se aproximando
de mim — Em alguns dias estarei completamente bem, minha princesa.
Ele sorri para mim, mas não consigo evitar esse sentimento de
apreensão. Ele me abraça e eu suspiro. Eu o quero bem, claro que quero,
mas também sei o que isso significa, e eu não gosto dessa parte.
— Estou ficando carente aqui — Escuto a voz da Lauren e me afasto
do Luke rindo.
— Foi sem querer — Me desculpo e o Luke beija meu cabelo.
— Vamos embora, Lauren, o casal está ocupado — Ellen provoca e
eu reviro os olhos.
— Vamos, está muito difícil ficar aqui — Lauren suspira
dramaticamente.
— Muito engraçado — Eu resmungo e elas riem.
— Eu preciso mesmo ir, tenho que ir para o hospital — Lauren diz.
— Também tenho que ir — Ellen concorda — nos vemos depois.
— Obrigada por virem — Luke agradece educadamente.
Também agradeço e me despeço delas em seguida. Volto para a sala
depois de as acompanhar até a porta e olho para o Luke que está sentado na
poltrona. Ele é tão lindo, acho que nunca vou me acostumar com esse rosto,
ou esse corpo perfeito que ele tem.
— No que está pensando enquanto me olha desse jeito? — Luke
pergunta e eu sorrio sem graça — Pagaria para saber o que te deixou
vermelha assim.
— Eu não estava pensando em nada — Nego, me sentando no sofá e
evitando olhar para ele.
— Sarah, olhe para mim — Ele pede e eu viro o meu rosto em sua
direção — Nós temos que conversar.
— Sobre o quê? — Pergunto desconfiada, mas já imagino o assunto,
só não tenho certeza se quero falar sobre isso.
— Quando eu ficar completamente bem, eu vou embora — Ele diz
sério — Minha vida está parada, e preciso resolver minhas pendências.
— Claro, seria até estranho se você não tivesse uma vida — Digo
com um sorriso pequeno, mas aquele incômodo dentro de mim parece ainda
maior — Mas você ainda vai comigo no noivado, certo? Você precisa
completar sua parte no acordo.
— Claro, estarei lá com você — Ele confirma — Ficarei até o
noivado, combinado?
— Combinado — Eu concordo e respiro fundo. — Vou preparar algo
para comer, você quer?
— Quero, vou te ajudar — Ele diz começando a se levantar.
— Não precisa — Nego rápido, porque eu preciso ficar sozinha um
pouco e se ele ficar junto de mim não vou conseguir colocar meus
pensamentos em ordem — Pode esperar aqui, daqui a pouco seu remédio
chega, você já o recebe.
— Tem certeza? — Ele pergunta me observando com as sobrancelhas
juntas, desconfiado.
— Tenho, tenho sim — Respondo indo em direção à cozinha.
Meu coração está acelerado, e eu respiro fundo. Se eu ignorar meus
pensamentos, se eu ignorar meus sentimentos e fingir que está tudo bem,
talvez realmente fique tudo bem dentro de mim.
Eu nunca pensei que o tique taque do relógio poderia me afetar tanto.
Como se fosse culpa do relógio todo esse mar revolto de pensamentos que
está me engolindo. Só que eu sei que a cada minuto que passa, cada dia que
se vai, mais perto estamos do fim.
“Mas fim do quê?” Quase escuto uma voz ecoando dentro da minha
cabeça.
E não há nada para chegar ao fim, porque nada foi iniciado. Eu queria
que ele fosse embora, até tentei mandá-lo embora. Não é como se eu tivesse
me apaixonado ou algo assim em alguns dias, eu nem sei se seu nome é
realmente Luke.
Apenas me acostumei com a sua presença, seu humor tranquilo. É
fácil conversar com ele, é fácil rir com ele, é fácil. Dividir o espaço com ele
é leve de um jeito que eu nunca imaginei que seria.
Mas ainda preciso me lembrar que ele, provavelmente, é um
criminoso. E eu não sei quais tipos de coisas horríveis ele deve fazer por aí.
E, principalmente, ele nunca disse se tinha alguém.
Sinto uma mão tocando o meu ombro e deixo um pequeno grito
escapar dos meus lábios. Luke se afasta no mesmo instante e eu esbarro a
mão na caneca que estava na mesa, ela cai quebrando em vários pedaços.
Tudo aconteceu tão rápido que me deixa surpresa, olho para os cacos no
chão e só consigo pensar que talvez seja mau presságio.
— Sarah? Acho que você não está me escutando — A voz do Luke
ecoa e eu levanto meu olhar para ele — Você está bem? Por que está
assustada assim?
— Estava distraída — Explico e puxo o ar devagar me acalmando —
Preciso limpar o chão.
— Eu limpo — Ele me impede de ir pegar o material ficando na
minha frente — Seu celular estava tocando, acho que você nem notou.
— Quê? Eu não ouvi nada — Digo confusa e escuto a risada dele.
— Você estava viajando — Luke pontua — você fica fofa distraída
assim, mas talvez seja importante.
— Ah… — Sinto meu rosto esquentar, mas antes que eu consiga
formular uma frase inteira para responder, meu celular volta a tocar.
Me afasto para poder conversar ao telefone com um pouco mais de
privacidade, mesmo que eu não saiba quem é e nem sobre o que se trata.
— Bom dia, eu gostaria de falar com Sarah Carver — Uma mulher
diz em um tom bastante formal.
— Bom dia, está falando com ela — Respondo um pouco
desconfiada — Quem gostaria?
— Eu sou a Luna, representante da WM Entretenimentos. — Ela se
apresenta — Nós recebemos o seu portfólio e temos uma vaga no setor de
marketing, você teria como vir à empresa hoje,
às duas horas da tarde, para uma entrevista?
— Claro! Estarei aí no horário — confirmo animada, não tenho ideia
de como isso aconteceu, mas não vou deixar essa oportunidade passar.
— Combinado, quando chegar, basta dar seu nome na recepção e será
encaminhada para a sala da entrevista — Ela explica — Até mais tarde.
— Até mais tarde, e muito obrigada — Respondo me sentindo
emocionada.
Luna desliga a chamada e eu fico alguns segundos olhando para o
celular em choque, emocionada, mal sei o que pensar. É uma oportunidade
incrível, mas como eles receberam meu portfólio? Não me cadastrei em
nada.
— A ligação deve ter sido boa, pela sua cara — Luke comenta
atraindo a minha atenção.
— Foi excelente — Concordo animada — Recebi uma oportunidade
de entrevista da WM entretenimentos. Já pensou se eu consigo trabalhar lá e
por acaso conheço a Laura Belvior? Eu ia zerar a vida.
— Quem? — Ele pergunta sorrindo, mas com as sobrancelhas juntas
pela confusão — E essa seria a única vantagem desse lugar?
— Laura é uma atriz incrível, mas não, essa não seria a única
vantagem, eles têm um setor de publicidade e marketing incrível para os
atores e produções dele, seria um sonho conseguir essa vaga — Esclareço e
suspiro — mas não vou criar tanta expectativa, sou muito iniciante para
eles.
— Mas é muito dedicada, eles não te chamariam por nada, tiveram
acesso ao seu portfólio, certo? — ele indaga e eu aceno um sim — Vai dar
tudo certo.
— Como eles conseguiram meu portfólio? — Inquiro e o Luke dá de
ombros — Você tem algo a ver com isso?
— O importante é que…
— Obrigada — o interrompo enquanto jogo meus braços ao seu
redor, abraçando-o.
Ele não diz nada, mas também não precisa. Luke me aperta
sutilmente contra o seu peito e eu sorrio, sentindo o meu peito borbulhar de
sentimentos que não quero e não posso pensar muito a respeito. Por
enquanto, vou só aproveitar o momento.

Meu coração está batendo tão rápido que tenho medo de cair dura no
meio da entrevista. Essa é uma oportunidade incrível para o meu
crescimento profissional. Essa empresa é tão linda.
Sigo a recepcionista pelos corredores, e não deixo de reparar em cada
detalhe, cada escultura, cada quadro na parede, e até mesmo os tons de
tintas que usaram nas paredes. E paredes de vidro dão uma belíssima visão
da cidade. Viver em São Francisco é uma dádiva.
Eu não sei como Luke conseguiu essa entrevista para mim, mas darei
o meu melhor, mesmo sendo novata, sei que sou competente, sei que posso
conseguir provar o meu potencial.
— Chegamos — Ela abre uma porta para mim — Pode sentar-se,
logo será chamada.
— Muito obrigada — Leio seu nome no crachá — Rose.
— Boa sorte, Sarah — Rose deseja e sorri para mim, o que faz seus
olhos estreitos ficarem ainda menores. E então se afasta, retornando para a
recepção.
Escolho uma das poltronas beges que compõem a sala de espera e me
sento. Tento controlar minha respiração a fim de contornar a ansiedade que
já está me corroendo. Eu me conheço, sei que tenho capacidade, mas ainda
assim é muito difícil ser avaliada.
Bato o meu pé no chão, e as pontas dos dedos na minha coxa
enquanto aguardo. A secretária parece bem concentrada no seu trabalho, só
para por um instante para me oferecer algo para beber e me pedir para
aguardar mais um pouco. Eu aguardaria aqui o dia todo se fosse necessário.
— Senhorita Carver, poderia me acompanhar, por gentileza? —
Secretária me chama, ficando de pé.
— Claro — Me levanto no mesmo instante.
Ela caminha em direção a uma grande porta de madeira marrom e eu
a sigo, meu coração bate ainda mais forte, quase me preocupo se ele não
acabará saindo do meu peito como em um desenho animado.
— Com licença, Luna — Olivia, como diz no crachá agora que me
aproximei o suficiente para ler, pede ao abrir a porta — A senhorita Carver.
— Claro, pode entrar — Luna indica a cadeira a sua frente —
Obrigada, Olívia.
Olívia faz um leve aceno formal e fecha a porta depois que eu passo,
mas eu ainda agradeço sussurrado antes que se feche completamente.
Caminho até a cadeira, e já sinto a minha mão suando, torço para que eu
não comece a tremer do nada.
Luna fica de pé para me receber, ela é uma mulher alta com o cabelo
black, e está usando um terninho branco muito bonito. Ao mesmo tempo
que esbanjam elegância, seu sorriso desperta muita simpatia.
— Fico muito feliz que tenha aceitado nosso convite para essa
entrevista — Luna diz gentilmente.
— Eu que agradeço essa oportunidade — Respondo com um sorriso
nervoso e puxo o ar devagar, preciso demonstrar segurança, eu amo
publicidade.
— Eu que guiarei a sua entrevista, sou representante do setor de
marketing, mas também diretora regional. Vou te explicar como funcionará
e já daremos início, ok?
— Claro, estou pronta — Garanto com um pouco mais de segurança.
— Isso é ótimo! — Exclama enquanto eu puxo o ar, muito atenta para
sua explicação — Precisamos de alguém criativo, que pense rápido e
amplamente, por isso, apresentarei ideias, e você terá um tempo para
elaborar uma pequena proposta de publicidade para a ideia. Cada nível que
você passar, menor será o tempo. Por exemplo, na primeira ideia, você terá
vinte minutos, na segunda, quinze. E assim sucessivamente. Entendeu?
— Sim, perfeitamente.
— Isso também significa que a entrevista poderá levar algumas horas,
é um problema para você?
— Não, de maneira nenhuma.
— Ótimo, então podemos começar. — Ela começa a pegar um
material e eu fecho os olhos por um segundo, apenas para ficar um pouco
mais centrada.
Não é só uma entrevista, já é um teste junto, mas tudo bem, sei que
posso conseguir. Darei o meu melhor e vou voltar para casa empregada.
Não em qualquer emprego, mas no emprego dos sonhos.
Eu vou me sair bem, terei uma excelente notícia para dar ao Luke
quando retornar para casa.

Piso fora da empresa e noto que o sol já está se pondo, essa foi, com
certeza, a entrevista mais longa de toda a minha vida. Não que eu tenha um
histórico muito grande de entrevistas. Mas me sinto especialmente ansiosa
para chegar em casa e contar cada detalhe para o Luke, afinal, foi ele quem
me ajudou com isso.
Só que uma vozinha caçoa de mim, lá, no fundo da minha mente, me
lembrando que o Luke logo irá embora, e que eu não deveria ter me
acostumado tanto a ele. Um lembrete que ele é só um invasor.
Peço um táxi, não vim dirigindo porque estava me sentindo ansiosa
demais para conseguir dirigir. Acho que nem agora estaria bem o suficiente
para dirigir, mas de qualquer forma, só quero chegar logo em casa.
Caminho em passos lentos até a porta da minha casa, depois eu penso
sobre quem ele é fora daqui, depois eu penso sobre ele estar prestes a ir
embora, depois eu penso sobre esse sentimento que está vagarosamente me
consumindo. Agora, eu só quero comemorar que eu consegui a vaga.
Quando eu abro a porta, me deparo com balões espalhados e um
grande cartaz escrito “Parabéns”. Luke me olha com expectativa, e eu sorrio
para ele, ignorando a forma que meu coração está batendo.
— Eu consegui! — Exclamo, e vejo sua expressão mudando para
uma alegria sincera.
— Eu sabia que você conseguiria — Ele diz vindo em minha direção.
Abro os braços para receber o seu abraço, ele me gira no ar e eu deito
o meu rosto em seu peito. É bom tê-lo aqui para dividir esse momento. Me
sinto completamente extasiada. Sei que me deixar levar por essas emoções
é perigoso, mas o que eu posso fazer? Deixa queimar, deixa que tudo isso se
exploda dentro de mim. Depois.
— Como você preparou tudo isso? — Pergunto quando ele se afasta
— E esse cartaz, como sabia?
— Eu não tive informações privilegiadas, se é a sua dúvida, mas não
duvidei de você nem por um segundo, sabia que você ia conseguir a vaga
por ser uma pessoa tão talentosa e dedicada — Ele diz firme olhando nos
meus olhos e eu sinto o meu rosto esquentar um pouco. — Nunca duvide de
você mesma, Sarah, você é uma mulher excepcional, capaz de conquistar o
mundo.
Será que eu seria capaz de te conquistar, se tentasse?
— Não vou esquecer disso — Garanto, e mordo o lábio inferior para
limitar o meu sorriso.
— Comprei vinho para comemorarmos — Ele avisa, me puxando
para o meio da sala, segurando a minha mão.
— O que você faria se eu não tivesse conseguido? — Pergunto
curiosa, olhando para o cartaz.
— Não pensei nessa possibilidade, tinha certeza que você voltaria de
lá com a vaga — Ele esclarece enquanto caminha em direção à cozinha.
— Gosto da forma como você acredita em mim — Confidencio.
— É a verdade, não dá para mudar os fatos, você é excepcional —
Ele reforça. E mesmo que eu tentasse, não conseguiria desfazer o sorriso
que está enfeitando o meu rosto.
Escuto o tintilar do vidro, ele deve estar pegando as taças. Deixo
minha bolsa de lado e desfaço o rabo de cavalo, deixando meu cabelo cair
sobre os ombros. Uma sensação de leveza invade o meu peito e eu poderia
chorar de tão feliz. Levanto os olhos e vejo o Luke parado na porta entre a
sala e a cozinha, me encarando, e sorrio para ele.
Sou tão grata por toda essa invasão que ele fez na minha vida.
Eu nunca me preocupei muito com as outras pessoas, meu leque de
pessoas importantes sempre foi pequeno, muito pequeno. Seria até hipócrita
dizer que sou benevolente ou qualquer besteira assim, mas a Sarah
realmente se tornou uma pessoa importante para mim nessas poucas
semanas que estou aqui. Ela tem sido o alívio da minha verdadeira dor.
Sendo sincero, ela tem sido muito mais que isso.
Escolho taças adequadas para a comemoração, assim como o vinho.
Tinha certeza que ela conseguiria, Sarah é fenomenal. Também me sinto
aliviado, é tranquilizante ver a vida dela caminhando, e espero que continue
assim, logo não estarei mais aqui, mas quero que ela sempre cresça e
consiga ter o melhor para si.
Volto para a sala a tempo de ver a Sarah soltando o cabelo. Ela é linda
pra caralho. Gosto como seu cabelo cai sobre seus ombros como uma
tempestade preta, ou como seus olhos escuros parecem carregar todas as
estrelas do céu mais iluminado, e como seu sorriso me lembra um coração.
Olhar para ela é como contemplar o que há de mais bonito no universo.
— Espero que você goste de vinho tinto — Digo balançando a
garrafa.
— Eu gosto muito — Ela diz, mas seus olhos não estão na bebida,
estão nos meus olhos — obrigada.
— Pelo quê? — Pergunto começando a servir as taças.
— Por ter me indicado, pelos balões e o cartaz, pela bebida que eu
gosto — Ela faz uma pausa, mordendo o lábio por um segundo e sorri —
por estar aqui.
— Eu que agradeço por ter me deixado ficar — muito mais do que ter
deixado eu ficar em sua casa, mas também na sua vida. Mas essa parte eu
guardo só em meu pensamento.
Entrego a taça dela e ela dá um gole generoso, e eu acabo servindo
um pouco mais de bebida para ela, o que resulta em uma risada alta, um
som magnífico de ouvir. Pego a minha própria taça e a escuto contar sobre a
entrevista, ela não poupa detalhes e eu prefiro assim. Acompanho todas as
suas expressões, seus gestos, Sarah é muito expressiva, quase transparente
quando o assunto é demonstrar o que está sentindo.
Tenho certeza que ela conseguirá se adaptar a essa empresa, mesmo
que não seja o maior sonho dela, é o melhor caminho para que ela consiga o
que deseja. Ela precisa de experiência, de prática e dos seus próprios
contatos, e uma empresa como a que ela conseguiu entrar trará tudo isso
para ela. Sinto orgulho de quem ela é e da profissional gigante que ela será.
Mesmo que eu não esteja aqui para assistir.
— E mesmo sendo tão longa e me obrigando a pensar em tantas
estratégias tão rápido, não me sinto cansada, me sinto energizada — Ela
comenta suspiro.
— Ou talvez toda essa energia seja por causa da terceira ou quarta
taça de vinho que você tomou — Provoco e ela abre a boca e os olhos em
uma falsa indignação.
— Luke!
— Estou brincando — me defendo rindo, quando ela me joga uma
almofada.
— Estou energizada porque estou feliz — Ela diz, mas suas
bochechas já estão coradas, talvez a gente não chegue na segunda garrafa,
mesmo que a primeira já esteja no fim.
— Vamos dançar? — A convido ficando de pé e estendo a mão, ela
encara a minha mão um pouco confusa — Vai ser divertido, vem.
— Okay — Ela ri dando de ombros, e pega na minha mão.
Ajudo-a a se levantar, seguro sua mão direita e a outra mão vai na sua
cintura, ela sorri para mim e eu devolvo o sorriso. Começo a guiá-la,
dançando pela sala, Sarah deixa uma risada escapar quando a giro um
pouco e logo a puxo para perto, a envolvo nos meus braços e ela quase deita
no meu peito, dançando lentamente.
— Não estamos ouvindo nenhuma música — Sarah comenta e eu
acaricio suas costas com cuidado.
— Isso é só um detalhe — Respondo — O importante é que estamos
nos divertindo.
— Sim, isso que importa — Ela concorda.
Sarah se afasta de mim o suficiente para olhar diretamente nos meus
olhos. Linda. Eu poderia beijar cada centímetro do seu rosto, e ainda
acharia pouco. Eu gostaria de poder tocar cada parte do seu corpo, tratá-la
com a devoção que merece. Fazer com que ela tenha a melhor e mais
intensa noite da sua vida. Deixar a minha marca na sua vida.
— No que está pensando? — Ela indaga, e eu sinto suas mãos
segurarem um pouco mais firme em mim.
— Nos seus olhos.
— Meus olhos? — ela pergunta, achando divertido.
— Sim, parece que você roubou todas as estrelas do céu e colocou
neles, e é por isso que brilham tanto — Explico e sorrio ao ver seu rosto
ficar ainda mais vermelho.
— Eu… Eu… — Ela respira fundo, e fecha os olhos, como se
estivesse tentando organizar os pensamentos — acho que está na hora de
irmos dormir.
— Tudo bem — Concordo, mas não movo um centímetro para me
afastar dela — Vamos só esperar essa música acabar.
— Certo, só mais essa — Ela assente e encosta seu rosto no meu
peito.
Continuo a guiando pela sala, na nossa dança lenta, abraçados como
se precisássemos disso para nos aquecer. Por só mais uma música, mesmo
que não houvesse nenhuma sendo tocada.

Não sei por quanto tempo ficamos dançando a última música, mas
logo o sono atingiu a Sarah e eu a ajudei a chegar na cama, onde ela apenas
se jogou na cama. Com muito cuidado para não ultrapassar nenhum limite,
a ajudei a se cobrir. Sorrio observando seu rosto tranquilo enquanto dorme,
e me retiro do quarto, apagando a luz antes de sair.
Eu sei que todas as lembranças dela ficarão gravadas na minha
memória.
Entro no quarto de hóspedes e me sento na cama. Minha mente está
caótica, eu estou fodido. Como posso estar me deixando sentir algo assim?
Não tenho esse direito, acho que sequer tenho o direito de estar vivendo
esses dias tranquilos, não enquanto as aquelas pessoas não pagarem pelo
que me fizeram.
Meu celular começa a tocar e eu vejo o nome do Alex na tela, não é
como se muitas pessoas tivessem meu atual contato. Atendo a chamada
enquanto me levanto, ele não estaria ligando tão tarde da noite sem motivo.
— Pode falar — digo assim que atendo.
— Tenho uma boa notícia — Alex anuncia — encontrei o Stefan.
— Eu quero o endereço dele, quero saber exatamente que horas ele
estará lá, e se vai ter mais alguém com ele. — Exijo sério — Quero cada
detalhe que você tiver desse filho da puta, ele não é o primeiro da minha
lista, mas está em uma posição alta.
— Eu tenho o relatório completo, como me pediu, mas você precisa
se preparar agora — Esclarece — Ele irá embora em dois dias, e eu não sei
para onde, então tem que ser agora.
— Não vou perder um minuto, já estou bem o suficiente, está na hora
de mostrar para eles que vão precisar de muito mais para me matar —
Respondo decidido — Me envie o relatório completo, só preciso ir em um
lugar antes para conseguir o armamento correto.
— Certo, e pode contar comigo para tudo o que precisar — Ele
garante e desliga a chamada.
Caminho em direção ao banheiro, vou tomar um banho frio para me
livrar dos vestígios de álcool que ainda tem em mim, depois disso vou caçar
o primeiro desgraçado. Stefan.
Trabalhamos juntos por anos para o mesmo filho da puta, Carl,
sempre me rendeu muito dinheiro e isso era o suficiente. Carl é o chefe de
um cartel de drogas, nunca teve nome ou força o suficiente para realmente
dominar os negócios no estado, até porque eu sei muito bem quem
realmente controla o tráfico aqui, mas era grande o suficiente para se
manter impune.
Impunidade essa que sempre foi me garantida. Até tentei a vida
trabalhando para uma indústria farmacêutica de fato, mas o tráfico rendia
muito mais, e eu ainda podia irritar o lado da família que não gosto, como o
meu pai. Mas nos últimos meses as coisas saíram completamente do
controle.
Meu trabalho era desenvolver drogas que fossem lucrativas, e eu
fazia isso muito bem, apesar de ter aprendido muitas coisas trabalhando no
mercado ilegal. Até Carl achar que não era o suficiente e pensar que seria
uma boa ideia ameaçar a pessoa mais importante da minha vida. Até matar
a minha mãe por causa desse negócio.
Eu planejo destruir tudo do Carl, ele vai perder todo o seu negócio,
vai ver todo seu negócio ruir, e todos aqueles desgraçados que vivem ao
redor dele morrerem um por um. Até chegar nele, até que eu o faça sangrar
até a última gota de sangue.
Stefan foi o encarregado de matar a minha mãe, Mary Turner. O farei
sofrer tanto que ele vai implorar para ir logo para o inferno, mas não irá
poder, não até que eu sinta que a minha raiva esteja novamente controlada.
Termino de me arrumar, pego a minha mochila e coloco as minhas
coisas essenciais dentro. Não era o planejado, mas não vou perder a chance
de começar a minha vingança, já adiei demais. Saio do quarto com cuidado,
não quero acordar a Sarah, mesmo que eu ache que ela só irá acordar
amanhã e com uma grande ressaca.
Caminho até a porta da sala, pronto para ir embora. Sarah está bem,
feliz, conseguiu um emprego muito bom, sinto que já fiz tudo o que podia
por ela, acho que estamos equilibrados até aqui. Coloco a mão na maçaneta,
pronto para sair e me lembro do noivado da prima dela em alguns dias, não
posso deixar que ela passe por isso sozinha.
Vou até a cozinha e colo um recado na porta da geladeira e só então,
finalmente, saio da casa da Sarah. É hora de voltar para o meu mundo e
resolver tudo que ficou pendente.
Pego o meu celular e digito o número do Derek, irmão do Thomas, e
faço a ligação enquanto caminho pelas ruas, eu poderia conseguir o que
preciso sem ele, mas ter o apoio do maior mafioso do estado, ou melhor, do
país, é de grande valia.
— Derek, soube que queria me encontrar — Falo firme — Eu tenho
tempo agora e só agora.
— Onde você está? — Ele questiona — Vou mandar alguém te
buscar.
— Estarei esperando.
Sempre preferi evitar a família Armstrong, nunca tive uma boa
relação com o meu pai, muito menos com os meus irmãos. Minha mãe foi
um caso para ele, e eu apenas o filho fora do casamento. Nunca me importei
com isso, nunca tentei me aproximar, e espero sinceramente que nunca
precise ficar cinco minutos no mesmo ambiente que George Armstrong.
Mas, apesar de não poder dizer que sou íntimo, sempre tive uma boa
relação com o meu tio, Dominic Armstrong, governador da Califórnia. Ele
sempre apareceu para verificar como estávamos, apesar de saber que essas
visitas era medo de que ela revelasse tudo e de alguma forma manchasse o
nome da família, e atrapalhasse o caminho político que estavam trilhando.
Essas visitas de Dominic também propiciaram que eu mantivesse
algum contato com o Thomas e Derek, mas poucas vezes vi a irmã mais
nova deles. Nossa relação sempre foi baseada em algumas trocas de
favores, nunca quis me envolver ao ponto de entrar para os negócios, apesar
de Derek já ter insistido nisso algumas vezes.
Mas sei que hoje isso irá mudar.
Chego no local escolhido por Derek, um galpão grande, afastado.
Com certeza um dos pontos que ele usa para o trabalho. Sou guiado por
dois homens armados por todo o galpão até chegar em um escritório bonito,
todo em tons de marrom escuro e madeira escura.
Derek me recepciona com um sorriso amigável, mas atrás dele,
Edgar, meu irmão, me olha com certa superioridade, mas respiro fundo para
não me irritar com a presença dele. Não tenho tempo para isso agora. E nem
em nenhum outro momento.
— É muito bom te ver — Derek diz sorrindo, levantando os braços
como se estivesse comemorando — Soube que tinha morrido, mas fiquei
muito feliz quando o Thomas disse que você tinha entrado em contato.
— Eu não — Edgar resmunga atrás do Derek.
— Soube que algumas pessoas acham que morri — dou de ombros
— Mas não é para dar notícia da minha vida que estou aqui.
— Claro, claro — Derek concorda, essa falsa animação dele me irrita
um pouco — Mas antes de começarmos, sente-se, quer beber alguma coisa?
— Não quero, podemos conversar logo? — Olho para o Edgar com
certo desdém — Ele precisa mesmo ficar aqui?
— Você sabe que eu sou o conselheiro, se eu não estiver aqui, não vai
poder falar o que quer — Edgar diz com um sorriso de canto, me olhando
com o que ele acha que é superioridade.
— Sem brigas, somos uma única família — Derek repreende e eu
reviro os olhos.
— Vou direto ao assunto, quero dar fim no Carl, em tudo dele —
Esclareço sério — E quero começar pelas pessoas que vivem em volta dele.
— Sabe que algo desse tamanho inclui matar todos? Até a família
dele — Derek pontua, mais sério do que quando eu cheguei aqui.
— Quero matar todos, quero deixar ele por último propositalmente,
quero que os negócios dele sejam destruídos — Sou ainda mais incisivo.
— E você quer que a gente cuide disso? — Edgar pergunta arqueando
a sobrancelha.
— Não, ele quer apoio, armamento, e a barra limpa sempre — Derek
quem responde, mas ele está certo — O que ganharíamos com isso? Só vejo
gastos.
— Eu venho trabalhar no seu laboratório — Respondo simples —
tenho meus termos quanto a isso, mas estarei pronto para começar assim
que acabar com o Carl.
— Termos? Ainda acha que pode exigir algo? — Edgar debocha.
— Eu resolvi o problema daquela fórmula que me entregou, Derek —
Aviso, olhando para o meu primo e ignorando meu meio-irmão, e vejo um
brilho ambicioso no olhar dele.
— O que aconteceu? — Derek questiona com o cenho franzido,
intrigado — Você nunca quis trabalhar conosco, escolheu o inútil do Carl, e
agora vem querendo que a gente te dê apoio para acabar com ele logo após
surgir um boato que estava morto. Tem algo errado.
— Quem é a garota? — Edgar pergunta inclinando o pescoço e me
olhando com olhos cerrados — Thomas contou sobre a vaga de emprego
para ela.
— Ninguém que te interessa — Digo ríspido — O assunto aqui não é
ela, e não tem nada a ver com ela.
— Acho que perdi a aposta e você não é gay — Ele diz com falsa
tristeza e eu respiro fundo, quase perdendo a paciência.
— Mesmo se fosse o caso, a minha vida particular não é da sua conta,
Edgar, se mantenha longe — Aviso em tom rude.
— Não comecem, o assunto realmente não é esse — Derek intervém
— mas eu ainda quero saber o que aconteceu com você.
— Também acho que isso não vem ao caso — Me nego a responder.
— Então nesse caso, nós estamos fora, mesmo que isso signifique
que você não venha trabalhar com a gente — Ele responde em uma falsa
lástima.
Encaro o Derek, sentindo o ódio percorrer o meu corpo, não era isso
que eu esperava que acontecesse. Mas tudo bem, ainda posso resolver meus
problemas sozinho, tenho dinheiro e tenho contatos, só planejava ir pelo
caminho mais rápido. Quero começar e terminar tudo isso o mais rápido
possível.
— Tenham uma boa noite — Respondo me levantando para ir
embora.
— Droga! Achei que conseguiria fazer você falar — Derek bufa —
Quero certeza que depois você vai trabalhar para mim.
— Quer um contrato? — Pergunto debochado.
— Seria interessante — Ele dá de ombros, mas me olha sério, sem
nenhum pingo de humor na voz — Se não cumprir sua parte, vindo
trabalhar para mim, eu mato você.
— Sempre cumpro com a minha palavra — Garanto, ficando de pé.
— Eu preciso de algumas coisas para agora.
— Felipo irá te auxiliar em tudo o que você precisar — Derek me
informa e eu assinto — Mas assim que você terminar o que está indo fazer,
você retorna para começar a trabalhar aqui, não quando tudo acabar.
— Não, só depois que eu tiver resolvido todas as pendências —
Nego, semicerrando os olhos.
— Pensa comigo, você não vai poder fazer tudo em um único dia, ou
talvez em dois. Então, entre uma ação e outra, poderá trabalhar — Ele diz
firme — Por caso você morra nessa loucura, eu não saio no prejuízo.
— Eu não vou morrer fazendo isso, Derek — Desdenho, revirando os
olhos.
— Não seja prepotente, Luke, você não é imortal — Ele diz como se
estivesse me aconselhando — Ou você começa imediatamente, o que até
facilita para planejarmos as partes técnicas da derrubada do Carl, ou ficará
difícil concordarmos com isso.
Avalio a situação em silêncio, ele está certo no que pontuou, não
posso acabar com tudo em um único dia, mas isso também significa que
não poderei voltar para perto da Sarah, não posso arriscar colocá-la em
perigo dessa forma. Começar a trabalhar agora não seria necessariamente
um problema.
Mas infelizmente não poderei cumprir com a promessa deixada na
porta da geladeira.
— Certo, estou de acordo — Concordo, mesmo que não seja
exatamente a minha pretensão inicial.
— Já enviei uma mensagem para Felipo, informando que ele tem
autorização para pegar tudo o que você precisar — Derek avisa colocando o
celular dentro do bolso do paletó — E Luke, mesmo que você não conte
agora, mais cedo ou mais tarde, nós saberemos o que aconteceu. As notícias
correm.
— Eu sei.
— Se tiver algo que a gente deva saber para se preparar, também é
importante que a gente saiba. Está fazendo isso apenas porque quer sair do
negócio dele? — Derek insiste, mas inclina o pescoço me avaliando —
Não, isso é muito mais pessoal.
— Eu preciso ir, quando eu terminar, discutimos melhor meus termos
— Falo ignorando tudo o que ele disse.
— Claro — Ele concorda e eu me viro, caminhando em direção à
porta — Até breve.
— Mande lembranças para a sua mãe — Edgar diz e eu travo por um
segundo no lugar e depois continuo andando como se não tivesse entendido
o recado.
Eles devem saber, mas querem que eu diga e isso não vai acontecer.
Eu sei que as notícias correm, e se chegou até que eu estava morto, era
óbvio que o assunto inteiro chegaria. Derek está em uma posição na qual
informação faz parte do poder e ele tem muitos contatos e meios para que
qualquer notícia chegue em primeira mão para ele.
Me render, e trabalhar para os Armstrong tem suas vantagens, apesar
de preferir que as coisas nunca tivessem chegado a esse ponto. Derek tem
razão, eu escolhi trabalhar para o Carl, nunca deveria ter tomado uma
atitude tão estúpida quanto essa e agora eu também carrego parte da culpa
pela morte da minha mãe e eu nunca vou me perdoar por isso.
Eu deveria ter sido mais responsável com ela. Deveria ter estado lá
com ela. Não sou mais criança, nem um adolescente impulsivo. Mas eu
prometo que todos eles sangrarão lentamente até estarem mortos.
Confiro se o Felipo me entregou realmente tudo o que pedi, e tudo
está aqui. Desde os produtos químicos até as armas, sorrio satisfeito porque
tenho planos para cada uma dessas coisas. Entro no carro, e começo a
dirigir, conferindo o endereço que o Alex me enviou, se trata de uma casa a
alguns quilômetros da cidade.
Uma das coisas que aprendi no crime foi ser um exímio assassino.
Devo admitir que a vida no crime me causou um pequeno fascínio e eu
decidi aprender o máximo de coisas possíveis, como matar sem ser
identificado, meu curso de química me ajudou em algumas coisas, mas
também decidi aprender a usar uma sniper, ser silencioso e preciso.
Inclusive, muitos dos favores que fiz a Thomas eram sobre matar alguém
silenciosamente, ou produzir alguma droga que não fosse identificada para
que ele mesmo fizesse isso.
Acho que ser criminoso é de família.
É até cômico como nenhum dos integrantes dessa família trabalha
com algo realmente legal, e mesmo assim estão todos em posição de poder.
E são nocivos à sociedade. Nesse ponto, não posso nem negar o meu
sangue, pois sou assim também.
Meu celular toca e eu vejo o nome do Alex na tela e atendo a
chamada pelo viva voz do carro para não perder a concentração na estrada.
— Onde você está? — Ele questiona.
— Dentro de um carro, indo para o endereço que você me enviou.
— Certo, eu consegui entrar no sistema de segurança da casa. Tem
alguns homens com ele lá, seguranças — Ele esclarece — E eu acho que ele
adiantou a viagem, porque vi algumas malas.
— Estou a caminho, esse desgraçado não vai escapar — Falo
deixando o ódio escorrer pelo timbre da minha voz.
— Quando terminar, me liga, preparei um lugar para você ir como me
pediu por mensagem — Alex avisa — Você não pode voltar para a casa
daquela garota, nem para visita, sabe disso, certo?
— Não tinha a intenção de voltar — Não tenho motivos para mentir,
mas mesmo assim o faço. — Até depois.
Desligo a chamada e respiro fundo. Gostaria de voltar para vê-la,
nunca deveria ter deixado que as minhas emoções escapassem para fora de
mim dessa forma, minha vida é perigosa demais para que eu volte para
perto dela. A mim, resta guardar na memória o som da sua risada, o doce do
seu perfume, e o calor que vinha dela para mim.
Sarah será só uma boa lembrança.
Vejo o sol brilhando acima de mim e respiro fundo, percebendo que
passei a noite em claro e ainda vem um longo dia pela frente. Mas pelo
menos estarei fazendo algo que ansiei muito nas últimas semanas. Me
vingando.
Não me importo se um sorriso sádico enfeita o meu rosto, nunca
pensei em mim como um mocinho, estar perto da Sarah até trouxe um
pouco de paz para a tempestade destrutiva em mim, mas eu facilmente
poderia ser chamado de vilão.
Deixo o carro afastado da localização exata da casa, não quero chegar
anunciando a minha presença. Já não sou uma pessoa que passa facilmente
despercebida pelos outros por causa da minha altura, e tamanho, mesmo
que a intenção seja chegar causando um estrago. Também seguro a minha
pistola com o silenciador, não posso vacilar nenhum segundo, estou no
território dele.
Antes de sair do carro, li todas as informações que o Alex me enviou,
sei quantas pessoas estão ao todo na casa e tenho noção do que devo esperar
quando perceberem o ataque, mas quando eu acabar, não sobrará nenhum
para contar o que houve, nem mesmo a casa continuará existindo.
Carl foi estúpido quando mandou sequestrar a minha mãe para tentar
me coagir, foi um tiro no próprio pé desde o início, mas eu estava disposto a
entregar a maldita fórmula que ele queria, mesmo sendo contra a produção
de uma droga tão nociva. Mesmo sendo quem sou, e fazendo o que faço,
ainda tenho alguns princípios. Só que antes de colocar a fórmula nas mãos
dele, chegou a notícia do que o Stefan havia feito.
Ela nunca deveria ter sido envolvida em nenhum problema meu.
Sinto tanta raiva quando penso sobre isso. Sinto tanta dor. Eu nem mesmo
tive a chance de me despedir dela e fazer um velório decente.
Avisto a casa e respiro fundo limpando os meus pensamentos, não
posso deixar meus sentimentos enquanto ajo, ou não terei foco o suficiente
para fazer o que tenho que fazer. Caminho em passos lentos, e atiro direto
na cabeça de um homem que está em pé perto de um carro, seu corpo cai no
chão em um baque seco. Um de dez.
Caminho até perto do carro e confiro se ele está mesmo morto, então
com um canivete rasgo os dois pneus do carro próximo a mim. Enquanto
caminho em direção ao segundo carro, vejo outro homem na varanda da
casa e atiro direto em sua cabeça, sua queda é um pouco mais barulhenta,
mas espero que não o suficiente para atrair muita atenção. Dois de dez.
Destruo os pneus do segundo carro, ainda tem mais dois carros, não
quero deixar nenhum inteiro para que eles não tenham como escapar, pelo
menos não de maneira rápida. De qualquer forma, não terão tempo para
fazer isso.
Atiro nos pneus do terceiro carro e sou notado, ele grita alguma coisa
que eu não entendo e atira, me escondo atrás do carro e atiro de volta. A
troca de tiros começou mais cedo do que eu esperava, mas pelo menos
assim as coisas ficaram ainda mais emocionantes.
Devolvo os tiros e escuto o baque dele caindo, mas eu sei que tem
mais.
— Você não vai sair vivo daí, é melhor se render logo — Escuto
alguém gritando e rio silenciosamente. Até parece que alguns inúteis como
esses conseguiriam me matar.
Olho por baixo do carro e vejo dois deles se aproximando e atiro
assim, atingindo os calcanhares. Saio de trás do carro e atiro neles antes que
tenham algum tempo para reagir e corro em direção à casa, agora que eles
já sabem que estou aqui, não me importo de atirar no último carro repetidas
vezes até estar bem ruim.
Entro na casa pela porta dos fundos e dou de cara com um segurança,
ele tenta vir para cima de mim, mas seu movimento é frustrado quando eu
desvio e envio o canivete direto em seu pescoço, ele cai no chão tremendo e
eu sigo entrando na casa. Eles são bem poucos agora, logo será apenas eu e
o meu alvo. E aí eu poderei agir com calma.
Ainda faltam três seguranças até que chegue no Stefan.
— Luke, eu sei que é você quem está aqui — Escuto a voz do Stefan
e fico escondido atrás do balcão da cozinha, enquanto os escuto na sala —
Sabia que você viria atrás de mim, mas não imaginei que seria estúpido de
fazer isso sozinho.
Reviro os olhos ouvindo-o, Stefan é um idiota. Percebo a
movimentação, e começo a me mover devagar porque sei que o confronto
cara a cara agora não seria bom. Até sinto vontade de responder, mas sei
que isso só vai acelerar que venham até mim.
Não conhecer a estrutura da casa me atrapalha um pouco, e tudo
acontece rápido. Um dos homens me acha, ele aponta a arma para mim e eu
chuto sua perna, fazendo ele cair e atiro no seu peito e na sua cabeça. Mudo
de cômodo quando escuto os outros se aproximando.
Sinto algo batendo nas minhas costas, quando me viro, sinto um soco
me atingindo, mas revido no mesmo instante, socando–o sem parar, quando
o último segurança aparece, seguro o corpo do que me atacou como
proteção e ele é alvejado no meu lugar. E empurro o corpo em cima do
outro, o que me dá tempo para atirar nele.
Agora só falta um, o próprio Stefan.
Conheço-o o suficiente para saber que ele não terá coragem de me
encarar e tentará fugir, felizmente já adiantei o serviço e sei que os carros
não poderão ser usados. Stefan tem que morrer hoje, e não rápido como
esse capangas incompetentes que ele arrumou, não. A morte dele será lenta
e dolorosa, talvez eu fique aqui o dia todo apenas lhe provocando dor.
Nunca fui o tipo sádico que curte o momento da tortura, acho que
uma morte limpa é mais prática e não gasta tanto tempo, mas esse é um
caso especial.
— Não estava dizendo que eu não sairia daqui vivo, Stefan, venha me
pegar — Falo alto, provocando-o — Ou não consegue lidar com alguém do
seu tamanho.
— Você é muito arrogante para um quimicozinho de merda — Ele
responde e eu sorrio de lado, ele caiu como um patinho, quanto mais ele
fala, mais fácil ficar de achá-lo — Deveria aceitar a morte quietinho, assim
como sua mamãe fez.
Mordo a parte interna da minha bochecha e respiro fundo. Ele não vai
me desestabilizar, mas está me deixando com ainda mais raiva, nem
imaginei que seria possível. Eu vou fazê-lo pagar por cada palavra que está
dizendo.
— Então vem aqui tentar — Provoco e escuto a porta da frente
batendo, desgraçado.
Caminho até a porta, pronto para sair, mas isso pode ser uma
armadilha e ele estar do lado de fora apenas esperando para atirar em mim.
Não vou dar esse vacilo. Esse filho da puta não vai conseguir me pegar com
um plano tão estúpido.
Saio do rumo da porta e atiro várias vezes nela, e escuto o Stefan
gritando. Ele realmente achou que eu seria burro de sair assim. Atiro mais
algumas vezes e só então abro a porta, com cuidado e bastante atento à
movimentação. Vejo o Stefan caído no chão, ele mira a arma em mim e eu
me escondo, pego a minha arma com um calmante, tenho disparos, e só
preciso que um acerte ele.
— Você é um desgraçado, Luke, acha que vai conseguir algo com
isso? Você não tem nada, e continuará sem nada — Stefan grita, e tem dor
na sua voz por causa do tiro que o acertou — Você deveria ter fugido
enquanto pode, logo estará morto.
— Talvez eu morra no processo, mas você terá morrido bem antes —
Debocho, e pela janela, eu atiro um dardo tranquilizante nele.
Agora é só esperar fazer efeito.

Termino de colocar meus produtos e armas na mesa. Stefan está bem


amarrado em uma cadeira no meio da sala. Precisei mudar algumas coisas
de lugar para que ficasse exatamente como eu queria, mas agora está tudo
pronto.
Aplico uma injeção de adrenalina nele para que acorde. Não tenho
tempo a perder. Stefan abre os olhos atordoado, confuso. Então levanta as
sobrancelhas compreendendo a situação e eu sorrio apreciando seu
desespero. Era isso que eu queria ver.
— O que vai fazer comigo? — Ele pergunta ainda grogue.
— Eu vou te dar uma amostra do que vai enfrentar quando estiver
queimando no inferno — Explico, deixando meu sorriso sádico transparecer
enquanto brinco com o canivete.
— As coisas não precisam ser assim — Ele tenta argumentar
enquanto se agita, tentando se soltar.
— Ainda nem comecei, Stefan, há tanta coisa que quero fazer —
Enfio o canivete na sua coxa, e ele grita de dor — Acho que podemos
aproveitar bem essa linda manhã, não concorda comigo?
— Foi um acidente! — Ele grita, tentando se debater na cadeira —
Não era para ela ter morrido, mas eu perdi o controle por acidente, a
intenção era só te dar um susto.
— Isso era para amenizar alguma coisa? — Questiono com os olhos
cerrados — Enquanto eu pico sua carne, e queimo seus ossos com ácido,
pense nisso como um acidente também.
— Luke, você enlouqueceu? — Seu tom de voz é estridente, consigo
ver o puro medo em seu olhar.
— Enlouqueci, e o primeiro a descobrir o que faço na minha loucura,
será você — Falo com o rosto impassível e me viro para a mesa, para
escolher o primeiro ácido — Vamos começar com algo leve.
— Não, me mata de uma vez, me dá um tiro, porra, corta minha
garganta — Ele se desespera ainda mais — Não faz isso, caralho!
— Sabe qual é a parte boa de você ter escolhido se esconder em um
lugar tão afastado? — Pergunto e começo a jogar o ácido em sua perna, e
ele grita de dor, se contorcendo — É que ninguém vai nos escutar.
Foi uma excelente ideia ter trago todo esse material, poderei testar
algumas misturas nele e me vingar da forma como imaginei. Matar todos
eles não irá trazer minha mãe de volta, mas me trará alívio saber que todos
estarão mortos.
Hoje será só o começo.
Me mexo na cama sem nenhuma vontade de levantar. Minha cabeça
dói, e eu acho que fui atropelada por um caminhão, mas sei que foi o vinho
que bebi como se não houvesse amanhã. O problema é que houve amanhã e
aqui estou, completamente derrotada e nem abri os olhos realmente, ainda
bem que só começo a trabalhar na próxima segunda-feira.
Suspiro, me sentindo vencida pela dor, é melhor que eu levante logo,
tome um banho quentinho e beba um remédio forte o suficiente para
anestesiar um cavalo, e coma alguma coisa. Tomara que o Luke já tenha
acordado e resolvido ir para a cozinha. Ele bebeu muito menos vinho que
eu, se a divisão tivesse sido justa, eu não estaria nessa situação decadente.
Sorrio pequeno lembrando de ontem, acho que nem todo o vinho do
mundo poderia apagar as memórias que fiz ontem. Da gente dançando,
rindo, bebendo. Foi um momento único na minha vida, e eu quero guardar
essa lembrança para sempre. Sei que logo ele irá embora, mas talvez… eu
não sei… talvez eu peça ele para ficar, ou para que ele volte. Eu não sei
nada sobre ele, mas não tenho pressa em descobrir, desde que ele continue
aqui.
Termino de me arrumar e saio do quarto, pondero bater na porta do
quarto do Luke, mas e se ele estiver dormindo ainda? Ele sempre acorda
cedo, mas melhor não, talvez ele já esteja na sala ou cozinha. Desço as
escadas devagar, realmente preciso tomar um remédio, vou direto para
cozinha e faço biquinho ao ver que não tem nenhum café da manhã posto.
Eu tinha esperanças.
Só quando paro diante da geladeira é que vejo que há um bilhete. Não
queria admitir, mas foram poucas palavras, mas juro que pude ouvir meu
coração trincando.
“Sinto muito, precisei ir. Prometo que eu volto.”
Sento na cadeira me sentindo um pouco desnorteada, nem sei se
tenho o direito de me sentir assim, mas quem manda nos sentimentos? Eu
sabia que ele iria embora em algum momento, mas acreditava que pelo
menos ele iria se despedir. Nem passou pela minha cabeça que um dia
acordaria e o Luke não estaria mais aqui.
Mas pensando bem, foi assim que ele surgiu na minha vida. Do nada.
Era óbvio que seria assim que ele sairia também.
Fecho os olhos e me concentro no som da minha respiração, preciso
limpar a mente. Talvez eu esteja sendo precipitada, ele prometeu no bilhete
que voltaria, tenho certeza que ele cumprirá com a palavra dele. Luke não
mentiria dessa forma para mim. Acredito nisso.

Talvez eu não esteja mais acreditando tanto assim.


Já fazem dois dias que ele foi embora, depois de amanhã será meu
primeiro dia no trabalho e eu não vou poder contar para ele como foi. Nem
sei de onde vem essa vontade de contar para ele cada detalhe, acho que é só
porque aprendi a gostar muito de conversar com ele sobre tudo. Passar o
tempo com o Luke era bom.
Isso ia acontecer, eu sabia que aconteceria. Dizem que é melhor tirar
o band-aid de uma vez, talvez seja verdade.
Meu celular começa a tocar e eu não sinto nenhuma vontade de
atender, estou muito ocupada, sentindo saudade de alguém que nunca, nem
por um segundo, foi meu. E quando foi, era de mentirinha. Mas é a Ellen
ligando, e ela sabe que estou em casa, isso significa que continuaria tocando
até ser atendida.
— Oi, Ellen — Atendo um pouco cansada.
— Oi, amiga, quase tive que sentar, esse desanimo seu me atingiu e
eu só ouvi duas palavras — Ela fala rindo e eu suspiro, muito bom humor,
não estou no pique. — O que aconteceu?
— Não precisa acontecer nada para eu estar assim — Desvio o
assunto, mas aconteceu, sim, fui abandonada pelo meu falso namorado.
— Isso é verdade — Ela concorda depois de pensar um pouco e eu
acabo suspirando de novo. Luke não reclamava muito do meu péssimo
humor — Liguei para convidar você e o Luke para jantar aqui em casa,
estou reunindo alguns amigos para uma noite da pizza, assim é bom que
você já apresenta ele para todo mundo.
— Amiga, você quem conhece todo mundo — Rio, e posso até
imaginar ela dando de ombros, como se não fosse nada — Mas, não vai dar
para irmos hoje.
— Por quê? Vai ser divertido — Ela argumenta — Além disso, você
é minha melhor amiga, se eu faço um evento na minha casa, minha melhor
amiga tem que estar presente.
— Seus argumentos são ótimos, mas não vou poder ir ainda assim —
Nego novamente — Luke não está se sentindo bem, outro dia a gente faz
alguma coisa.
— Ah! Tudo bem, então — Ela concorda, mas posso perceber a
reticência em sua voz — Manda melhoras para ele.
— Mando, sim, e divirta-se por nós, amiga — Desejo e me despeço.
Assim que ela desliga, eu jogo o celular de volta no sofá e continuo jogada
no chão.
Durante esses dois dias não pensei sobre isso, mas o que eu vou
dizer? “Então, meu namorado sumiu” ou “Meu namorado me abandonou
silenciosamente no meio da noite”. Deixo uma lufada de ar escapar, será
que já devo começar a pensar em desculpas para um término? De alguma
forma preparar uma história para dizer que nós acabamos?
Eu não sei o que fazer.
Uma enorme vontade de chorar me invade e eu sinto uma lágrima
escorrendo pelo canto do olho. Eu não deveria estar me sentindo assim, não
deveria ter essa droga de dor dentro de mim. Ele é só o cara que invadiu a
minha casa. Só um invasor e nada mais.
Não me importo se ele mentiu ou não quando disse que voltaria.

A quem eu quero enganar? É claro que eu me importo.


Suspiro me olhando no espelho. Gostaria que ele estivesse aqui para
me desejar sorte, mas ele foi embora. Já é o quinto dia e ele não mandou
mais nenhum recado, nenhum sinal de vida. Espero que pelo menos ele
esteja bem, e não tenha invadido a casa de nenhuma outra mulher.
Eu tenho que parar de pensar nessas coisas, Luke foi embora e levou
minha sanidade junto? Eu não sou assim, sou calma e sensata. E não estou
sendo sensata pensando nessas coisas. Que diferença faz se ele tiver
invadido a casa de outra mulher? Se ele estiver fazendo outra sorrir? Se ele
estiver dançando com outra no meio da sala? Nada disso é da minha conta.
Pego minha bolsa e caminho em passos duros até a porta de casa,
onde um táxi já está me esperando. Eu vou para o meu emprego
maravilhoso e nem lembrarei que um dia o Luke apareceu na minha frente
com aquele sorriso bonito, e aqueles olhos verdes encantadores. Ele é um
criminoso.
Preciso seguir a minha vida.
— Bom dia, Rose — Cumprimento a recepcionista — Fui contratada!
— Bom dia — Ela responde com um sorriso aberto — Parabéns, seja
muito bem-vinda a empresa!
— Obrigada — Agradeço, contendo um pouco a animação — Me
disseram para pegar meu crachá aqui, quando eu chegasse.
— Claro, só um instante — Ela pede e vai até o outro lado do balcão
e volta com algumas coisas — Aqui é seu kit, tem seu crachá que libera sua
entrada nos setores, você ainda não pode circular por todos os lugares, mas
aqui — Ela mostra uma agenda e um livrinho — Tem todas as informações
que vai precisar, normas da empresa, princípios e valores, recomendo que
leia.
— Claro, vou ler tudo, muito obrigada — Agradeço, vendo que no kit
está incluso duas canetas e um papel adesivo de várias cores, e um
chocolate — Nos vemos por aí.
— Boa sorte no seu primeiro dia — Ela deseja sendo simpática.
Caminho em direção ao elevador, sentindo uma ansiedade boa dentro
de mim. Estou um pouco nervosa de como as coisas serão, mas sei que
consigo. Eu conquistei essa vaga demonstrando as minhas habilidades, sei
que tenho muito para aprender, mas sei que também tenho conhecimento e
capacidade para a agregar.
As portas do elevador se fecham, e eu suspiro. Queria que o Luke
ainda estivesse lá quando eu voltasse para poder contar sobre hoje, mas
tudo bem, terei um dia incrível e vou esquecer que ele existiu.
Não conseguiria conter a animação que está dentro de mim nem se eu
quisesse. Foi simplesmente incrível. Um dia aqui e já melhor que um ano
inteiro na outra agência. Fui tratada com respeito, minhas dúvidas foram
tiradas com educação. Parece que entrei em algum portal e cai direto em um
sonho.
Agora só quero chegar em casa e falar sobre isso com… com a Ellen.
— Vai descer? — Um homem pergunta quando o elevador pára no
meu andar, ele é alto, olhos verdes, mas mesmo sendo diferente do Luke,
me faz pensar nele. — E então?
— Sim, sim, vou descer — Confirmo, voltando para a realidade.
— Pode entrar — Ele diz dando uma risadinha e eu fico um pouco
sem graça, acho que estou viajando nos pensamentos.
Entro no elevador e vejo que o térreo já está selecionado. Bato o pé
no chão, me sentindo um pouco nervosa, e tento não olhar para o homem
que está comigo aqui. São só seis andares.
— Você é nova aqui? — Ele pergunta e eu levo meu olhar até ele —
É a primeira vez que te vejo.
— Sou, sim, hoje foi o meu primeiro dia — Respondo sorrindo —
Você trabalha aqui?
— Não, vim para uma reunião — Ele explica.
— Aah! — Exclamo assentindo, sem saber como continuar o assunto.
— Como é o seu nome? — Ele pergunta, acho que não preciso pensar
em um assunto porque ele já está fazendo isso.
— Sarah, e o seu?
— Edgar — Ele abre um meio sorriso, quase enigmático — É um
prazer te conhecer.
— É um prazer te conhecer também — Sorrio para ele, e as portas se
abrem exatamente nesse momento — A gente se vê na próxima vez que
você vier para alguma reunião.
— Tomara que eu tenha essa sorte — Ele responde.
Eu aceno um “tchau” para ele enquanto saio do elevador,
cumprimento a Rose pelo caminho, ela também parece estar indo embora.
Me apresso para conseguir pegar o ônibus. Preferia pegar um táxi, mas não
é como se eu pudesse ficar andando só de táxi.
De qualquer forma, eu tenho um carro, mas estava ansiosa demais
para conseguir me concentrar no trânsito, era mais seguro assim.
Quando chego na calçada, escuto alguém falando o meu nome, me
viro e vejo o Edgar vindo na minha direção. Não consigo disfarçar a
expressão confusa que ocupa o meu rosto. E nem consigo deixar de reparar
o quanto ele é bonito.
— Sarah, me desculpa interromper seu caminho — Ele pede e
continua — Mas enquanto eu te observava saindo, tive um pensamento, por
que deixarmos para depois?
— Como assim?
— Não precisamos deixar para nos ver quando nos encontrarmos por
acaso, podemos ir tomar um café juntos — Ele explica parecendo animado
com a ideia.
— Bom… — Começo a falar, mas paro, refletindo. Eu até tinha a
intenção de negar, mas qual o problema de tomarmos um café agora e
conversarmos um pouco? Acho que preciso conhecer pessoas, de uma
forma tradicional — Acho que tudo bem, podemos ir.
— Aqui perto tem uma cafeteria excelente, podemos ir caminhando
até lá e depois eu te deixo em casa, o que acha? — Ele pergunta, me
olhando com certa expectativa.
Aperto os lábios em uma linha fina, enquanto reflito sobre o convite.
Tudo bem tomar o café, mas me deixar em casa? Eu nem o conheço, seria
muito arriscado entrar em um carro com um desconhecido. Como se eu já
não tivesse feito coisa muito pior.
— Tudo bem — Dou de ombros.
Mal andamos cinco passos quando um carro preto, de vidros escuros,
para abruptamente ao nosso lado. O susto que levo é tão grande, que só
percebo que perdi o equilíbrio quando sinto as mãos do Edgar me
segurando. O susto só não foi maior que a minha surpresa ao ver que o
Luke era o motorista. Ele está com uma roupa completamente preta, e tem
uma expressão fechada, quase como se estivesse tentando conter uma fúria.
— Que porra você pensa que está fazendo? — Ele diz um pouco alto,
rude, seu punho está fechado. Me sinto completamente sem reação — Tira
suas patas dela, agora!
Quê?
— Você não é dono dela, e não manda em mim — Edgar responde, e
eu percebo que suas mãos ainda estão em mim.
Está tudo muito confuso e caótico.
— Eu te avisei para não se aproximar dela — Luke me puxa, com
cuidado, para perto, mas eu me afasto ficando entre os dois. Estou confusa e
quero entender o que está acontecendo aqui.
— Onde você estava? — Questiono o Luke — De onde se
conhecem?
— Ele é um descontrolado — Edgar quem responde, segurando
minha mão. E vejo o Luke ficar com o rosto vermelho de raiva — Vamos
continuar nosso caminho.
— Eu disse para não tocar nela — Luke sibila e soca o rosto do Edgar
com força o suficiente para o derrubar no chão — Não tenho medo de você,
seu verme, e não ache que alguma coisa me impediria de te matar.
— Luke?! — Me sinto assustada, e um pouco sem reação. E piora
quando o Edgar começa a rir.
— Você não me mataria, mas tudo bem, entendo que esteja bravo por
saber que sou melhor e que ela facilmente se interessaria muito mais por
mim — Edgar diz em um tom arrogante e eu arqueio a sobrancelha. Que
diabos está acontecendo aqui? — Você é só um fodido, enquanto eu sou…
— Um merda, isso que você é — Luke corta a fala dele e me olha
sério — Entra no carro.
— Não vou entrar no carro de ninguém, hoje foi meu primeiro dia e
agora estão brigando bem na porta do meu trabalho — Acuso revoltada.
— Sarah, entra na porra do carro — Luke repete em um tom baixo e
autoritário.
— Não — Me nego de novo.
— Vem comigo, Sarah, eu te deixo em casa — Edgar propõe e eu
reviro os olhos.
— É extremamente babaca que você tenha me convidado para
provocar ele, mesmo que eu ainda não tenha entendido qual o problema de
vocês — Esbravejo ainda mais revoltada, entendendo o que está
acontecendo, então me viro para o Luke — E você é um imbecil, só está
aqui porque ele apareceu? Vai tomar… foda-se!
Me viro revoltada, batendo o pé no chão enquanto me afasto daqueles
dois idiotas, não importa se nem tive tempo de conhecer o Edgar, tive prova
o suficiente de que ele é um tremendo babaca.
De repente a minha caminhada é interrompida e o meu corpo laçado
por dois braços grandes e eu grito quando percebo que o Luke me colocou
em seu ombro e está me levando em direção ao carro. Esse homem
enlouqueceu?
— ME SOLTA! — Grito, mas ele não se importa e continua indo em
direção ao carro.
— Não, eu vou te deixar em casa — Ele insiste e abre a porta do
carro — Ficaria grato se cooperasse.
— Nem no inferno! — Exclamo tentando impedir que ele me coloque
no veículo.
— Sarah, facilita a minha vida — Ele pede e eu rio com raiva.
— Estou ligando para a polícia para denunciar um sequestro —
Escuto a voz do Edgar e olho para ele estarrecida. Polícia? Não precisamos
da polícia aqui.
— Pode ligar para quem você quiser, não me importo — Luke
responde debochado — Estou apenas levando a minha mulher para casa em
segurança.
— Quero ver você explicar isso para a polícia — Edgar rebate.
— Eu vou ter que socar você de novo, filho da puta — Luke fala
começando a ir em direção ao Edgar, me deixando sentada no banco do
carro, mas eu o impeço segurando em sua camiseta e ele me olha confuso.
— Vamos embora — Eu chamo em um tom quase apático — Entra
nessa porcaria de carro, e vamos.
Luke olha mais uma vez para o Edgar, tenho certeza que se ele
tivesse algum poder mental, usaria para matar o outro. Eu não sei o que foi
isso, não sei porque se odeiam, mas é melhor que o Luke me explique. Ele
bate a porta do carro ao entrar e começa a dirigir rápido.
— Está querendo nos matar no trânsito? — Pergunto colocando o
cinto — Dirige direito.
— Sarah…
— Eu estou muito irritada com você, muito — Interrompo — Eu
preciso de um tempo ou vou te xingar inteiro.
— Então é melhor que faça, porque eu vou apenas te deixar em casa
— Ele esclarece em um tom calmo, enquanto se eu pudesse, voaria no
pescoço dele agora.
— Como assim? Não vai me contar por que sumiu? Não vai me
explicar por que agiu daquela forma? — Questiono e ele continua em
silêncio — Qual o seu problema com o Edgar?
— Ele não é para você, é só um idiota mesquinho, te procurou porque
sabia que isso ia me irritar — Ele explica, mas ainda não faz muito sentido.
— Como ele sabia quem eu sou? Como ele sabia que isso ia te irritar?
Por que isso te irritaria? — Indago nervosa — Tem falado sobre mim por
aí? Deveria me preocupar com isso?
— Você não pode sair com outros para tomar café, estamos
namorando, lembra? — Ele pergunta e eu deixo uma risada escapar.
— Além de não me responder, ainda vem com essa — Reviro os
olhos — Nosso namoro é de mentirinha! E me responde, Luke.
— Sua identidade está segura…
— Não é o que parece — Debocho, mas não é como se eu estivesse
mesmo pensando na minha segurança nesse momento.
— Ele é meu irmão, e eu estou trabalhando com ele e nosso primo,
mas não nos damos muito bem — Luke explica, ainda que seja uma versão
resumida — não posso te explicar além disso.
Ele estaciona o carro na porta da minha casa, me sinto chateada,
irritada e triste. Não quero me despedir dele, quero que ele entre em casa e
fique comigo. Mas, não somos nada além de namorado de mentira, não
posso exigir que fique. Sequer consigo abrir a boca para pedir isso.
Solto o cinto do carro, e olho para o Luke, seu olhar está cravado em
mim, será que ele está pensando em todas as coisas que deveríamos
esclarecer também?
— Luke…
— Me desculpa pelo que fiz na porta do seu trabalho, perdi o controle
quando vi aquele imbecil com você — Ele me interrompe — eu prometi
que nada da minha vida te atingiria, e não fui muito bom em cumprir.
— Não aconteceu nada demais, ele só conversou comigo por um
momento — Acalmo-o, que segura a minha mão me olhando nos olhos.
— Já foi o suficiente pra me deixar fora de mim — Ele suspira — Eu
gostaria de poder ficar, queria saber como foi seu primeiro dia, mas preciso
ir.
— Está me mandando sair do carro? — Pergunto em um misto de
indignação e tristeza.
— Não interprete assim, mas eu preciso ir para voltar ao trabalho —
Ele se justifica e eu puxo a minha mão.
— Tempo para brigar na rua você tinha, para conversar comigo não.
Belo “namorado” que você é — Puxo minha mão — Tenha uma boa noite.
— Sarah… — Ele começa a falar, mas eu ignoro saindo do carro.
Bato a porta com força, e caminho em direção à porta de casa, parte
de mim espera que ele venha atrás de mim, que me abrace e explique tudo o
que aconteceu. Que me conte um pouco mais sobre si. Mas quando
destranco a porta e olho para trás, o vejo indo embora.
Pelo menos dessa vez, eu vi.
Me jogo no sofá e esperneio no ar, revoltada. Minha mente me
atormenta com várias coisas que ainda não tinha pensado. Como ele sabia
que o Edgar estava ali comigo? Estava passando na rua ou estava me
vigiando? Ele é a porra de um stalker? Mas ele tem tempo de me vigiar, por
que não falar comigo direito? E mais, que tipo de relação estranha é essa
que ele tem com o irmão que até o ameaçou de morte?
Suspiro frustrada porque tenho certeza que minhas dúvidas nunca
terão respostas.
Pensando bem, até o argumento dele foi péssimo. Me impedir de sair
com alguém porque somos namorados, ridículo. É óbvio que não estou
sorrindo enquanto penso nisso e percebo que ele estava morrendo de
ciúmes. Foi um péssimo comportamento.
Rio um pouco, balançando as pernas. Não que eu esteja
comemorando alguma coisa, mas se ele estava com ciúmes é porque ele
sente algo por mim.
Foco, Sarah, deixa de ser maluca, foi um péssimo comportamento.
Suspiro abraçando a almofada. Esse homem vai me deixar
completamente doida.
Pisco meus olhos algumas vezes tentando me livrar do sono. Preciso
de mais um café, já o meu terceiro e ainda não são nem dez horas da
manhã. Nem quando Luke dormiu a primeira noite na minha casa, eu dormi
mal dessa forma. Me revirei pela cama enquanto um milhão de
pensamentos borbulhavam na minha mente. Estou cansada, com sono, e
sem nenhuma conclusão.
Ele tinha obrigação de ter sido mais claro.
Caminho pelo escritório da agência seguindo a Heather, ela já
trabalha aqui a mais de três anos, ela é publicitária, mas também tem
formação em designer, e por enquanto eu ficarei na equipe dela, quem sabe
no futuro eu tenha minha própria equipe, mas um passinho de cada vez.
Estou feliz de estar aqui, e de ter a oportunidade de aprender e me
desenvolver em uma empresa tão renomada.
Mas queria que a minha vida pessoal também estivesse indo bem,
parece que é impossível deixar tudo realmente arrumado.
— Sarah, você está bem? — Heather pergunta, colocando uma mecha
do seu cabelo verde para trás. Não que o cabelo inteiro seja verde, mas tem
muitas mechas dessa cor no meio dos fios pretos. — Você parece um pouco
letárgica.
— Eu só preciso de mais um pouco de café — Garanto e ela
semicerra os olhos para mim.
— Você vai passar mal ingerindo tanta cafeína — Ela pontua — Mas
não sou sua mãe para te impor limites de nada, só não passe mal porque
temos muito o que fazer.
— Não vou passar mal, só não dormi muito bem noite passada, mas
pode ter certeza que nada disso irá atrapalhar o meu desenvolvimento no
trabalho, não precisa se preocupar — Reforço e ela assente satisfeita.
Hoje é só o meu segundo dia de trabalho, não posso demonstrar
falhas e muito menos cometer algum erro. E tudo isso é culpa do Luke, se
ele tivesse ficado comigo, tenho certeza que nada disso estaria acontecendo,
eu teria tido uma linda e confortável noite de sono.
— Uau, quem será a sortuda ou sortudo? — Escuto a Heather falar ao
meu lado e olho ao redor, me deparando com a Rose carregando um enorme
buquê de rosas na nossa direção.
— Está vindo para cá, pode ser você — Sugiro, e ela ri negando.
— Nem minha mãe me mandaria flores — Ela nega. Não rebato, mas
acho o apontamento inválido. Heather é bonita, seu cabelo colorido desce
até pouco abaixo dos ombros, tem um estilo casual fino, e sempre usa cores
que contrastam com sua pele retinta de maneira fascinante. Mas não só isso,
nesses dois dias pude perceber que ela é inteligente e uma boa líder — Pode
ser para você.
— Não, acho que não — Desdenho da hipótese, mas será que o Luke
me mandaria flores?
Balanço o pensamento e volto a ler o documento que a Heather me
entregou assim que voltamos para a mesa. Ficamos em um espaço aberto,
com várias pessoas e mesas, as quais são divididas entre três, quatro ou
cinco pessoas. É um setor bem grande, e isso se deve ao fato da empresa no
geral ser sobre entretenimento, possuir muitos artistas, é necessário um
grande gerenciamento publicitário e campanhas para muitas pessoas e
produtos.
— Sarah — Escuto a voz da Rose ao meu lado, ela tem um sorriso
cortando o rosto — As flores são para você.
— Para mim? — Pergunto confusa e ela confirma em um aceno. O
Luke me mandou flores, sinto meu coração aquecendo com essa notícia.
— Obrigada — Agradeço sorrindo, enquanto me levanto para receber
as flores.
— Lê o cartão primeiro — Rose diz animada, me entregando o
pequeno envelope vermelho, e ainda mantendo as minhas flores em seus
braços.
— Certo — respondo pegando o papel.
— Lê alto — Quem pede é a Heather, que parece tão curiosa quanto a
Rose.
Eu nego com um aceno e me volto para o bilhete. Abro o pequeno
envelope sentindo uma corrente elétrica percorrendo dentro de mim, o sono
que eu estava sentindo se extinguiu completamente.
O bilhete começa com ‘Querida Sarah…’, semicerro os olhos
achando estranho, Luke não escreveria assim. Ignoro o pensamento e
continuo a minha leitura.
“Querida Sarah,
Sinto muito por tudo o que aconteceu ontem, as coisas saíram um
pouco do controle.
Espero que ainda aceite o meu convite, mas agora, ao invés de um
café,
me daria a honra de ter sua companhia para um jantar?
Com carinho, e muitas expectativas,
Edgar Armstrong.”
Sinto como se um balde de água gelada tivesse caído sobre a minha
cabeça. Eu realmente achei que ele poderia ter me mandado flores. Não
consigo disfarçar a careta de decepção que toma conta do meu rosto, sequer
quero pegar o buquê. Rose tem o cenho franzido enquanto me encara, e eu
puxo o ar lentamente, me recompondo.
— E então? — Heather pergunta.
— Não quero essas flores — Sento novamente, as duas se olham
rapidamente e me olham — Rose, você as coloca no lixo para mim?
— Está falando sério? — Ela indaga surpresa.
— Sim, mas pode ficar com elas também, não me importo — Falo
indiferente, e ela continua me olhando um pouco atônita — Sério, pode
ficar.
— Você parecia tão animada… não são de quem pensou? — Heather
sonda e eu suspiro, não quero falar da minha vida pessoal, mas, ao mesmo
tempo, sinto que se eu começar a falar, não vou parar.
— Não — Nego — São de uma pessoa que não quero ver.
— Eu vou ficar com elas, é um crime jogar um buquê bonito desse
no lixo — Rose diz abraçando o buquê.
— Você devia ter amor-próprio e não aceitar as flores de outra mulher
— Heather a repreende, mas Rose não parece se importar, isso me faz rir
um pouco.
— Você está muito amarga, flores são flores — Rose dá de ombros e
retira uma das rosas e coloca na mesa, diante da Heather — Para perfumar o
seu dia.
— Você não tem trabalho na recepção, não? — Heather pergunta
fingindo de brava.
— Tenho, tchauzinho para vocês, obrigada pelas flores — Ela acena e
começa a se afastar.
Sorrio de toda essa interação, e empurro para dentro de mim a
chateação que me atingiu quando percebi que as flores não vieram do Luke.
Criei expectativas sozinha, deveria ter lido o bilhete antes de pensar que era
dele. Mas foi ele quem me chamou de “minha mulher”
Admito que minha pele arrepia só de pensar nele falando assim, sua
voz grossa e possessiva.
— Quer conversar sobre isso? — Heather pergunta, me tirando do
meu pequeno devaneio.
— Não, isso não é importante — Jogo o bilhete no lixo antes que eu
esqueça e olho para a Heather — Temos muito trabalho para fazer, melhor
deixar isso para lá.
Ela acena concordando e não toca mais no assunto. Fico grata por
isso porque tenho certeza que eu falaria mais do que deveria, e não posso
vacilar assim, preciso focar no meu trabalho porque de caótica basta a
minha vida pessoal.
E quanto mais eu pensar em trabalho, menos tempo terei para criar
paranoias na minha cabeça.

Estaciono o carro ansiando chegar logo em casa e me jogar na cama.


Até queria sair para beber e esquecer o quanto estou frustrada, mas sei que
sou fraca para bebida, e não posso ter problemas para ir trabalhar. Saio do
carro e caminho em direção à entrada da minha casa, quando escuto a Ellen
me chamar.
— Sarah! Me espera — Ela pede e eu paro na entrada, esperando ela
me alcançar.
— Aconteceu alguma coisa? — Pergunto quando ela se aproxima.
— Muitas coisas, temos que colocar a conversa em dia — Ela afirma
— Vai ter que colocar o Luke no quarto e deixar ele lá.
— Isso não vai ser problema — Problema vai ser explicar onde ele
está.
Abro a porta e fico travada no lugar por causa do choque
momentâneo. Meu coração erra uma batida, e eu lembro que preciso
respirar, mas não consigo acreditar no cenário diante dos meus olhos. A
minha sala está repleta de flores, não um ou dois buquês, mas vários.
Algumas são flores ainda no vaso, acho até fofo.
— É seu aniversário e eu esqueci? — Ellen pergunta ao meu lado. Já
tinha até esquecido que ela estava aqui.
— Não é meu aniversário — Rio negando, mas ainda estou com o
coração palpitando por causa da surpresa, é como se uma bomba de alegria
tivesse explodido em mim.
Dessa vez, com certeza, foi ele.
— Aquele homem está realmente na sua — Ela comenta andando
pela casa, enquanto eu continuo olhando cada buquê, eu poderia chorar —
Sarah, acho que você deveria vir aqui na cozinha.
— Por quê? — Pergunto já indo até ela.
— É que sua surpresa não acabou — Ela responde, mas já estou do
lado dela na porta.
Na mesa tem dois baldes refrigerando duas garrafas de vinho, assim
como também tem chocolates, morangos e uvas. Ele estava realmente
disposto a fazer eu esquecer que estava chateada. E ele foi muito
competente nisso.
— Será que tem bilhete? — Pergunto começando a procurar.
— Por que teria um bilhete se vocês moram juntos? — Ellen pergunta
confusa — To achando que é melhor eu ir, depois nós nos falamos.
— Mas você disse que tinha muitas coisas para me contar — Protesto
e ela nega com um aceno.
— Você precisa curtir com seu homem, olha tudo isso! — Ela
gesticula com as mãos indicando as flores e chocolates, e abre um sorriso
malicioso — Quando você subir, com certeza encontrará o restante da
surpresa.
— Ellen!
— Vai aproveitar amiga, até depois — Ela se despede, saindo sem me
dar tempo de nada, pelo menos não vou ter que inventar nenhuma desculpa,
ela já fez isso.
Volto para sala olhando buquê por buquê até encontrar o bilhete, eu
sabia que teria um.
“Sarah,
Sei que toda essa situação pode ser frustrante, mas não posso te dar
as respostas agora.
Minha vida é perigosa, e não quero mais nada dela te atinja. Preciso
ficar longe.
Você é especial para mim, e eu não estou disposto a te perder.
Espero que me compreenda.
Não sei quando volto.
Com carinho, Luke.
Ps: Beba com moderação, não estou aí para cuidar de você.”
— Você é um idiota, Luke — Engulo o nó que se formou na minha
garganta — Um completo idiota.
É claro que não estou triste por isso, é claro que meu coração não está
doendo, porque é óbvio que eu nunca me apaixonaria por alguém tão idiota
como o Luke.
Dessa vez não precisei invadir a casa da Sarah, já que ela me deu uma
cópia da chave, mas também não seria um problema se eu tivesse que fazer.
O importante é que ela goste da surpresa que preparei para ela. Sarah não
imagina o tamanho da importância que tem na minha vida.
Saio do carro ao estacioná-lo na garagem do galpão que estou
trabalhando, estou terminando de produzir a primeira amostra que o Derek
pediu, mas não vou entregar a fórmula para ele, mantê-la comigo e de uma
forma que seja muito difícil de reproduzir me dá muitas garantias.
Caminho até a minha sala, antes de ir para o laboratório, mas quando
abro a porta me deparo com o George ali, era a última pessoa que eu
esperava ver. De preferência, não esperava vê-lo nunca.
— O que faz aqui? — Pergunto seco, minhas mãos se fecham em
punhos, enquanto minha expressão se fecha.
— Precisamos conversar, eu soube o que aconteceu com a Mary —
Ele diz se levantando da poltrona.
— Não temos nada o que conversar, e você não deveria colocar o
nome da minha mãe nessa boca imunda — Nego ríspido, sentindo o ódio
pulsar dentro de mim.
— Eu sou seu pai, deveria me respeitar — George exige e eu solto
uma risada irônica, ele não pode estar falando sério.
— Você não é nada além de um verme, não quero que fale comigo ou
tente se aproximar. Não sei as suas intenções e também não me importo
com elas — Dito sério, só de olhar o George perco completamente a
paciência — Não sou mais um menino, sou um homem, independente do
que houve com a minha mãe, não preciso de você.
— Eu não sou só seu pai, sou um senador importante, é claro que
precisa de mim, não só de mim como da nossa família — Ele levanta o
queixo com arrogância — a prova disso é que está aqui.
— Dominic é uma pessoa que eu considero da família, Derek e
Thomas também, você e seus filhos, eu quero mais que todos desapareçam
— encaro George — Você, George, deixou de ter importância no momento
em que virou as costas para a minha mãe, então não aja como um pai
arrependido, porque sei que você não é. Não ache que pode me convencer
de algo, porque não pode. Então só saia da minha sala e suma da minha
frente.
— Você é só moleque petulante, todo esse tamanho, mas agindo
como um menino birrento — George desdenha.
— Você é um velho, mas age como um bebê irritante — Debocho.
Nos encaramos, George tem quase a minha altura, os olhos tão verdes
quanto o meus. Odeio que eu tenha puxado tantas características dele.
Odeio tudo que venha dele. Se ele sumisse do mundo, seria algo que eu
comemoraria sem qualquer peso na consciência. E quando estou prestes a
afastá-lo de mim de uma maneira nada educada, a porta se abre.
— Cinco minutos juntos, e vocês brigam, impressionante — Dominic
brinca, mas é a verdade.
— Boa tarde, tio, como o senhor está? — Questiono educado,
ignorando completamente George — O que faz aqui?
— Passei para ver você, soube da sua mãe, sinto muito — Dominic
diz complacente — Se precisar de qualquer coisa, sabe que pode contar
comigo.
— Sei disso, obrigado — Respondo — Já conversei com o Derek,
temos um acordo.
— Acho que demorou muito para vir até nós, rapaz, somos família, e
deveria estar conosco desde o começo. — Ele pontua — De agora em
diante não esqueça que é um Armstrong, e que essa família se importa com
você, e te dá apoio em sua vingança.
— Deveria me tratar com essa mesma educação — George comenta e
eu reviro os olhos, ignorando-o.
— Vamos embora, George — Dominic o chama e me olha — Só
viemos prestar nossas condolências.
— Obrigado — Agradeço novamente ao Dominic, por quem eu tenho
certo nível de respeito, então olho para George, expressando todo o meu
desprezo — E você não apareça mais na minha frente.
— Tão gentil — Escuto a voz debochada do Edgar. Esse dia
simplesmente não pode piorar.
Tudo o que eu esperava era entrar na minha sala, colocar meus epi’s e
ir para o laboratório trabalhar, enquanto aguardo o momento para o meu
próximo movimento contra o Carl, mas agora estou aqui perdendo tempo
com diversas pessoas que sequer queria ver, falando de um assunto que
preferia não falar.
— Eu preciso trabalhar — Ignoro-os.
— Estamos indo embora — Dominic diz e eu assinto, mas ele parece
se surpreender ao olhar para o Edgar e notar o roxo em seu rosto — O que
aconteceu com você?
— Luke me socou por causa de uma mulher — Ele explica, mas eu o
ignoro, melhor assim ou terei que socar ele novamente — Mas eu o
entendo, por uma mulher como aquela, seria capaz de socar qualquer um.
— Não me provoca, Edgar, seu rosto ainda tem muito espaço para
roxos — Ameaço-o.
— Quem é essa mulher? — George pergunta olhando para mim e
depois para o filho.
— Sarah Carver, uma boneca que eu vou adorar ter nas mãos — Ele
diz com um sorriso malicioso — Mandei flores para ela hoje, tenho certeza
que irá aceitar meu convite.
— Não se aproxime dela — Minha fala sai entredentes e eu só
percebo que fui para cima do Edgar, quando o Dominic me segura.
— Se acalma, Luke, quem é essa mulher? — Dominic pergunta ainda
me segurando.
Eu poderia me soltar dele, mas precisaria o machucar no processo,
mas o Edgar ainda vai ter o que está pedindo se continuar me provocando
dessa forma.
— Sarah é minha mulher, se você se aproximar dela novamente,
Edgar, eu juro que te mato — Aponto o dedo na cara dele e vejo o seu
sorriso prepotente morrer — Não teste a minha paciência, porque você sabe
muito bem que eu não tenho. Não vou aceitar ninguém mexendo com ela.
— Eu te proíbo de continuar com isso — Dominic diz ao Edgar,
enquanto me solta.
— O quê? — Edgar indaga indignado.
— Estou falando sério, não se aproxime mais dessa mulher. Você é
burro? — Dominic pergunta impaciente, pegando até a mim de surpresa.
— Seu tio está certo — George concorda e eu arqueio a sobrancelha,
ficou todo mundo louco.
— E por que eu deveria obedecer? — Edgar desdenha.
— Porque eu vou te matar se você continuar me provocando — Eu
quem respondo, olhando friamente para ele.
— Edgar, presta atenção no que está fazendo, Luke é o melhor
assassino que conhecemos e você está mexendo com a mulher dele, logo
após a mãe dele morrer, tem certeza que está pensando em suas ações? —
Dominic pontua.
Edgar fica em silêncio e eu percebo seu rosto empalidecendo aos
poucos, como se a compreensão estivesse lhe atingindo. Eu realmente não
teria problemas em matá-lo, não me importo que ele é meu meio-irmão de
sangue, nunca tivemos nenhum sentimento fraterno um pelo outro. Seria só
um idiota a menos no mundo.
— Vamos embora — Edgar diz, virando-se e saindo.
Em seguida, Dominic se despede mais uma vez e vai embora junto de
George. Passo as mãos no cabelo, sentando em uma das poltronas, espero
que o Edgar tenha entendido o recado, e não faça mais nenhuma gracinha.
Sarah é minha, e só minha. Não vou aceitar ninguém achando que
pode se aproximar.

Paro o meu carro perto da casa da Sarah, mas não muito para que ela
não me veja e fico observando o lugar. Sinto uma enorme vontade de bater
em sua porta e perguntar se ela gostou da surpresa, beber o vinho com ela, e
dançar a nossa música. Mas não posso fazer isso ainda, não posso explicar
sobre a minha vida e trazê-la ao meu mundo.
Pelo menos, não enquanto ainda está tão caótico.
Ela sabe que eu sou um criminoso, mas tenho certeza que ela não
imagina o quanto estou envolvido, e nem como estou envolvido. Parte de
mim tem medo que ela não entenda, não queira que eu fique quando souber
a verdade. E outra parte, se questiona se eu deveria explicar isso para ela. E
uma parte ainda menor, torce para que ela aceite até meu lado mais
sombrio.
Eu não deveria ter me deixado levar pelas emoções, mas é tarde
demais para pensar sobre isso. Estou dentro de um carro me contentando
apenas em olhar para a casa e imaginar como seria bom estar lá, com ela.
Meu celular começa a tocar, me tirando do meu devaneio. Vejo o
nome do Alex na tela e atendo rápido, espero que ele tenha boas notícias,
quanto antes eu acabar com o Carl, mais rápido posso voltar para a Sarah.
— Tenho uma notícia boa e outra ruim — Alex diz sério.
— Começa pela ruim — Peço, um pouco impaciente.
— Perceberam que estavam sendo monitorados, estou colocando um
pouco mais de segurança nos sistemas deles — Ele esclarece e eu bufo.
— E a boa?
— Eu sou excelente no que faço, mesmo assim consegui informações
sobre quando o próximo carregamento deles chegará, e onde será o ponto
de recebimento — Ele responde orgulhoso de si.
— Como eles sabem que estão sendo monitorados, você pode ter
algum problema? — Questiono preocupado — Posso mudar seu endereço
para um mais seguro.
— Eu estou bem, se algo acontecer, te informarei no mesmo instante,
mas se quiser me proporcionar um aumento, aceito — Ele responde rindo.
— Me manda todas as informações que conseguiu, farei uma análise
para me preparar — Peço — Vou providenciar esse aumento.
— Por isso que é bom ser amigo do chefe — Ele ri e eu reviro os
olhos — Estará tudo no seu celular em minutos. Até breve.
Desligo a chamada e vejo a Sarah na porta de casa recebendo um
pedido de comida. Sorrio por ter a sorte de vê-la. Seria ainda melhor se eu
pudesse tocá-la. Espero que em breve.
Meu celular apita com as mensagens do Alex chegando. Vou
trabalhar, porque quanto antes eu esmagar o Carl, mais rápido posso vir
para a Sarah.
Todas as informações que o Alex passou eram extremamente claras e
detalhadas, isso facilitou muito o trabalho, por isso conseguimos passar os
últimos dois dias monitorando o local e nessa noite poderemos interceptar o
carregamento e destruir o local.
Carl mudou seus três principais pontos, mas agora que localizamos o
primeiro, achar os outros será fácil, de qualquer forma, não tenho a intenção
de ficar enrolando muito. Logo após, quero fazer um ataque mais direto, se
preciso for, ainda mais brutal.
Mas por hoje, só quero acabar com isso a tempo de me preparar, pois
amanhã eu tenho um compromisso com a Sarah.
— Sabe que não precisa ir hoje, Luke — Derek diz se aproximando
— Nossos homens são capazes de resolver esse problema.
— É uma questão pessoal para mim — Respondo enquanto termino
de colocar o meu colete à prova de balas.
— Você quem sabe — Ele dá de ombros.
Sozinho seria difícil completar o trabalho dessa noite, por isso
solicitei que alguns dos soldados fossem comigo. E Derek resolveu
aproveitar que o ataque seria no momento do recebimento de uma carga,
para roubar a carga. No fim, todos sairemos no lucro.
Felipo irá me acompanhar, planejamos tudo, cada passo, cada
movimento. O plano inclui não deixar que ninguém ali saia vivo.
— O que fez para o Edgar? — Derek questiona e eu rio.
— Ainda nada, mas não teria problema em fazer algo — Desdenho
com indiferença.
— Como é lindo o amor de irmãos — Ele provoca e eu reviro os
olhos.
— Edgar não é meu irmão e eu estou muito ocupado agora — Digo
impaciente e ele ri.
— Boa sorte — Derek deseja — Volta vivo e inteiro, você ainda não
acabou de produzir a substância que eu preciso.
Conto até dez mentalmente ignorando o Derek, eu tenho uma missão
essa noite e vou cumpri-la com êxito. Nada e nem ninguém irá conseguir
tirar o meu foco.
— Está tudo pronto — Felipo avisa.
— Ótimo, podemos ir — Respondo firme, pego minha pistola e
coloco no coldre. Hora de massacrar alguns desgraçados.
Não é a primeira vez que participo de algo assim, e tenho certeza que
não será a última. Mas hoje, mais do que em qualquer outra vez, meu peito
está queimando com raiva.
O plano segue exatamente como o imaginado, mesmo que estivessem
em maior número, o que me faz pensar que talvez eles tenham reforçado
ainda mais a segurança por saber da possível ameaça à espreita. Eles
descobriram que estavam sendo monitorados, era óbvio que algo assim
poderia acontecer.
Mas para o azar deles, ainda não foi o suficiente.
Vejo o galpão pegando fogo e sorrio, destruir cada coisa do Carl me
traz satisfação. Anseio pelo momento em que vou matar ele, mas quero que
ele sofra antes.
E ele vai sofrer.
Eu não vou ao noivado. Me recuso a passar por essa humilhação.
Eu poderia pensar em algumas desculpas para o Luke não estar aqui,
mas eu não sei onde ele está ou o que está fazendo. E se eu for pega na
mentira? Sem pensar que seria ridículo aparecer no noivado do meu ex, que
me traiu, logo depois de ser abandonada pelo namorado.
Certo que eu não fui abandonada, e que ele não é meu namorado, mas
ainda assim é demais para mim.
Sento no sofá da sala e ligo a tv, faltam duas horas para o evento
começar. Eu vou pedir comida, assistir um filme qualquer, desde que não
tenha romance, e esquecer que estou solitária aqui. Será que esse é o meu
destino? Será que não vai ter quem fique comigo de verdade? Será que fui
feita para ficar sozinha? Será?
Acho melhor não ficar pensando sobre isso, ou vou acabar deprimida.
E não quero isso. Eu não preciso de ninguém, não preciso do idiota do Luke
aqui. Não vou me lamentar por quem decidiu sumir. Limpo uma lágrima
que tenta descer pelo meu rosto. Se eu ignorar esses sentimentos que estão
me incomodando, logo eles deixarão de existir.
Meu celular toca e eu suspiro, será que devo atender a minha mãe?
Isso é algo que eu definitivamente não quero fazer, não quero ouvir ela
falando sobre esse noivado, não quero ter que ir, ainda mais sozinha. Se o
Luke estivesse aqui, tenho certeza que seria divertido estar lá, mas agora?
Vou só ignorar.
Mas depois de três chamadas, está mais que claro que a minha mãe
não tem a intenção de esquecer.
— Espero que já esteja pronta para o noivado da sua prima —
Abigail diz e eu rolo os olhos.
— Eu não vou — Informo calmamente.
— Como assim? Você já tinha confirmado a sua presença e a do
Luke, não pode desistir agora — Ela diz estarrecida.
— Não entendo essa surpresa, Patrícia pode ser minha prima, mas
dormiu com o meu namorado, que por acaso é o noivo, qual seria o sentido
de eu ir ao noivado que nasceu da minha cornice? — Questiono tentando
não alterar a minha voz.
— Achei que já tivesse superado isso, Sarah, e que iria com seu
namorado novo, mostrando que está bem — Posso escutar ela respirando
fundo — Cadê o Luke? Deixa eu falar com o seu namorado.
— A senhora não tem que falar com ninguém, eu tomo as minhas
próprias decisões — Retruco chateada, será que ela acha que eu preciso de
alguém para decidir algo?
— Se não aparecer lá, eu vou te buscar — Ela ameaça e eu reviro os
olhos novamente.
— Mãe, eu não quero ir, ok? Luke viajou a trabalho — Minto, nem
sei o que ele tem feito — Não vou sozinha, chega desse assunto, vá se
arrumar e pronto.
— Eu vou te buscar, você vai sim! — Ela determina — Também seria
bom se você e a Patrícia fizesse as pazes, família tem que ficar unida.
— Às vezes, eu me questiono se a senhora escuta as coisas que fala
— Suspiro cansada.
— Se arruma, daqui a uma hora e meia eu vou te buscar — Ela
reforça e desliga a chamada.
Eu nem precisei sair de casa para que a sessão de humilhação
começasse. Pode vir ela, meu pai ou até o Papo, se eu disse que não vou, eu
não vou. Eu tenho vinte e três anos, moro sozinha, pago as minhas próprias
contas e não vou só porque a minha mãe mandou.
Mãe <3
Não espera eu chegar aí para começar a se arrumar
Beijos, te amo (04:08 p.m)
Ignoro a mensagem, e volto a atenção para a televisão, vou só
esquecer esse assunto, é o melhor que posso fazer.
Mas, talvez não possa fazer parecer que eu estou abalada com esse
noivado, e sendo bem sincera, já esqueci aqueles dois há muito tempo. Eu
posso ir sozinha, nunca precisei de homem para nada, muito menos para
mostrar que estou bem. Vou lá só para mostrar que estou excelente.
Desligo a televisão e vou para o meu quarto e escolho um vestido
azul-celeste longo, delicado, com alças longas de renda e semiabertos, a
parte superior fica bem ajustada, o tecido é fluido, sinto como se estivesse
em uma roupa de fadas, mas ele ainda é elegante.
Vou ao banheiro tomar banho e me preparar. Mas eu irei para esse
noivado porque eu quero ir.
Suspiro me olhando no espelho, estou bonita, vestida adequadamente
para um noivado, e principalmente confusa.
O que eu estou fazendo da minha vida?
Sei que já estou atrasada, e definitivamente não me importo, mas
realmente achei que a minha mãe viria. Ninguém apareceu para me buscar,
o Luke não veio, minha mãe me ameaçou e não veio. Acho que tô
começando a me sentir rejeitada. Suspiro sentindo um certo aperto no peito.
Queria ele aqui…
Saio do quarto em passos lentos e começo a descer as escadas. Então,
quando olho ao final do degrau e sinto meu coração batendo forte, um
sorriso involuntário tomando conta dos meus lábios, e uma pequena chama
se acendendo dentro de mim.
Luke está aqui. Ele veio.
Ele me olha, e eu consigo ver o brilho dos seus olhos de esmeralda.
Ele está vestindo um terno, e eu ainda não tinha o visto tão formal, e ele
ficou ainda mais bonito assim. Seus braços fortes se destacam na roupa,
seus ombros largos o deixam com um ar imponente. Ele parece uma força
poderosa da natureza me atraindo para perto. E eu quero ser levada para
perto.
Quando chego no último degrau, sinto sua mão tocando suavemente
meu rosto em um carinho leve. Até esqueço por um momento que eu estava
brava com ele. Acho que são seus olhos me hipnotizando.
— Você está linda — Ele sussurra — Parece um anjo.
Sua voz rouca me atinge em cheio e meu corpo inteiro se arrepia.
Droga! Eu queria tanto beijá-lo agora, abraçá-lo como se a minha vida
dependesse disso. Inspiro e expiro, antes que eu me esqueça que preciso
respirar, mas não me importaria de perder o fôlego se fosse com ele.
Seu rosto se aproxima do meu e eu sinto meu coração acelerando, sua
respiração quente atinge o meu rosto, meu corpo queima em expectativa,
mas seus lábios atingem a minha testa e sinto uma inundação de frustração
me atingindo, não era isso que eu queria.
— Estamos atrasados — Ele lembra, e segura a minha mão —
Vamos?
— Achei que você não viria — Sussurro, ainda sem sair do lugar.
— Eu disse que estaria com você — Ele responde calmamente —
Não te deixaria sozinha agora.
— Pode me abraçar um pouco antes de irmos? — Pergunto com a
voz baixa, mas sem tirar os olhos dele.
Luke não me responde, apenas me envolve nos seus braços. Eu me
sinto segura quando ele me envolve em seus braços assim. Tem muitas
coisas que eu quero que ele me explique, admito que até estou com vontade
de brigar um pouco, mas agora, só quero sentir seu calor se misturar com o
meu.
Depois eu penso sobre todas as outras coisas.
Luke me guia até um carro luxuoso, não era o mesmo que ele havia
usado para me trazer em casa, onde será que ele arruma esses carros? Vi um
filme de um homem que ficava usando carros roubados, será que é esse
caso?
Olho para ele e não contenho o suspiro. Como ele consegue ficar
ainda mais gostoso enquanto dirige?
— Apreciando a vista? — Ele provoca e eu rio.
— Estava pensando se esse carro é roubado — Suspiro
exageradamente, reflexiva — Se a polícia nos parar, vou presa junto?
Ele ri alto, eu reviro os olhos. Como ele pode não levar a sério o meu
questionamento? É uma dúvida completamente válida. Porém, admito que
ouvir a risada dele me fez sorrir um pouco.
Estou tão ferrada.
— Esse carro não é roubado, e não existe motivo para a polícia nos
prender — Ele tenta me tranquilizar, mas percebo a diversão em sua voz.
— Sei que você é um criminoso com uma vida perigosa, isso me abre
um leque enorme de coisas para cogitar — pondero — E como você não me
dá nenhuma resposta sobre nada, sou obrigada a inventar.
— Isso não faz muito sentido — Ele ri e me olha rapidamente, já que
está dirigindo — Não deveria estar inventando teorias, o que você sabe não
é o suficiente?
— Eu não sei nada sobre você — Retruco, mas a minha voz sai mais
baixa do que gostaria, quase abalada. Mas me causa uma chateação enorme
não saber.
Ele fica em silêncio e eu volto meus olhos para a rua. Patrícia
escolheu uma casa um pouco mais afastada, com vista para o mar, por causa
das fotos. Só espero que não me irrite ao ponto de querer jogá-la dentro da
água. Aposto que sentirei vontade de fazer isso.
Olho de canto para o Luke, e respiro fundo impaciente, tudo isso está
me deixando louca, esse aperto no meu peito me deixa atordoada.
— Pode me fazer perguntas, o que eu não puder responder, vou pular
— ele diz quebrando o silêncio e me surpreendendo — Até chegarmos lá.
— Mas estamos chegando — Resmungo e ele dá de ombros. — Isso
não é justo.
— É, acho melhor perguntar logo — Ele dá um sorriso pequeno e eu
bufo.
— Ok, por que você chegou todo machucado na minha casa? —
Pergunto a primeira coisa que vem à minha mente.
— Tentaram me matar, eu estava ferido e precisava não ser
localizado, precisava de um tempo para ficar bem, e me reestabelecer,
qualquer lugar que eu precisasse apresentar documentos colocaria um alerta
sobre mim — Ele explica e eu assinto, absorvendo a informação.
— Você continua sendo procurado? É pela polícia?
— Próxima — Ele pula a pergunta e eu reviro os olhos.
— Que tipo de crimes você comete? — Pergunto e ele ri — Eu já sei
que você é um criminoso, Luke, é a única coisa que faz sentido.
— E você não se importa de estar no carro de um criminoso? — Ele
pergunta em um tom divertido.
— Sou eu quem faz as perguntas, não tenta me enrolar — Semicerro
os olhos — Não me respondeu.
— Nós chegamos — Ele diz estacionando o carro.
— Luke!! — Exclamo chateada, odeio ficar nesse breu de
informações.
Acho que seria justo eu ter informações sobre a vida dele, mas mais
do que isso, queria que ele permitisse que eu o conhecesse de verdade. Só
que ele insiste nessa barreira, ao mesmo tempo que me sinto próxima, me
sinto tão distante.
— Depois a gente continua, tudo bem? — Ele diz soltando o cinto, e
me olhando nos olhos.
— Depois… — repito indignada — Aposto que vai me enrolar para
eu esquecer, saiba que eu não vou.
— Tenho certeza que não — Ele diz como se estivesse se divertindo
— Espere um pouco.
Fico confusa com o pedido e o vejo sair do carro, acompanho-o
dando a volta no veículo com os olhos, e não consigo evitar sorrir quando
ele abre a porta para mim. Luke segura a minha mão e toma cuidado para
que eu não tropece ou bata a cabeça saindo do carro.
Coração, não se derreta, ele nem responde nossas dúvidas.
— Ah, esqueci de comentar, vi sua mãe. — Ele comenta segurando a
minha mão.
— Quando? — Pergunto confusa.
— Assim que eu cheguei, ela estava indo te buscar porque,
aparentemente, eu estava viajando a trabalho e você não queria ir sozinha
— Ele explica e eu aperto os lábios formando uma linha — Eu confirmei,
mas disse que consegui adiantar o serviço para não deixar minha namorada
sozinha.
— Ainda bem — Respondo e sinto meu rosto esquentando — Seria
muito ruim ser pega na mentira.
O evento foi organizado do lado de fora da casa alugada. O jardim
estava decorado com flores brancas, várias mesas estavam organizadas para
o jantar, e a mesa principal ficava centralizada e era a única retangular.
Também havia algumas mesas afastadas com doces e salgados pequenos, e
um bar.
Até gostaria de começar a beber agora, mas conheço a minha
resistência a álcool e eu não quero passar vergonha aqui.
A pior parte de chegar atrasada em algum lugar é como todo mundo
nota, mas o que estou passando é surreal. Todos os olhares voltaram-se para
mim, Luke aperta a minha mão me dando um pouco de apoio. Eu pude até
ver de canto de olho a prima da minha mãe cutucando a filha e apontando
para mim, acho que nesse momento estou a própria definição de “centro das
atenções”.
— Eles não são muito discretos — Luke comenta baixo em um tom
divertido.
— Não deveríamos ter atrasado, é culpa sua — Acuso e ele ri baixo.
— É culpa sua que é a mulher mais linda desse lugar, mesmo se
tivéssemos chegado na hora, você ainda chamaria toda a atenção para si,
porque é impossível tirar os olhos de você — Ele diz firme e meu coração
acelera.
O jeito que o Luke sempre parece saber o que dizer me deixa fraca.
Respiro fundo, ignorando o rubor que deve estar surgindo no meu rosto.
Vejo minha mãe vindo em minha direção com um sorriso pequeno,
deixando Patrícia e Dylan para trás. Sendo acompanhada por Grace, a mãe
da Patrícia.
— Vai começar o caos — Sussurro para o Luke que me olha confuso,
mas não tem a chance de responder, já que elas chegam até nós.
Minha mãe me abraça com carinho e beija minha testa e eu sorrio
para ela, me deixando ser envolvida por seu afeto, já Grace não me olha
com uma expressão muito boa, mesmo assim a cumprimento com
educação, hoje é dia de ser paciente e calma. Pelo menos até onde der.
— Você está linda, meu amor — Minha mãe diz gentil e olha para o
Luke — Você está lindo também, estão um casal estonteante.
— Só esqueceram que o centro da festa não são vocês — Grace
reclama.
— Foi minha culpa o atraso, peço desculpas por isso — Luke diz
educadamente, mas tem um mínimo sorriso.
— Chegaram atrasados, e eu não vi sequer um presente para os
noivos — Ela resmunga.
Preciso contar até cinco mentalmente para não rir desse absurdo,
como se eu fosse gastar meu dinheiro para dar presente para esses dois.
— Meu presente para a Patrícia foi o noivo, tia — Respondo com um
sorriso doce.
— Não comecem, vamos apenas festejar — Abigail corta o assunto
— Precisamos ir conferir as mesas, o buffet, não queremos que nada dê
errado hoje.
— Exatamente, minha filha está noivando e esse é um momento
importante para ela — Grace diz com um ar arrogante, e eu deixo escapar
uma risada soprada. — Não adianta ficar com esse olhar de superioridade,
Sarah, você só prova que não superou nada, se arrumou mais do que a
própria noiva, chega chamando atenção, é uma atitude infantil.
— Tia, eu não vou discutir com a senhora, mas não sou quem estou
dizendo que estou mais bonita que sua filha, é a senhora que acha isso e
está reafirmando — Digo baixo, sem muita gentileza — Dá próxima vez
que sua filha for fazer um noivado, lembra ela que precisa se arrumar, e não
sair de casa como se estivesse indo comprar uma pizza na esquina.
— Sarah…
— Chega, vamos, Grace — Minha mãe interrompe e sai puxando a
outra pelo pulso, impedindo que surja uma discussão.
Reviro os olhos vendo as duas afastarem-se. Sabia que vir a esse
evento não seria tranquilo, mas não esperava que o primeiro ataque
chegasse tão rápido. Grace também não gosta muito de mim, talvez seja por
isso que a Patrícia não gosta, mas de qualquer forma, não me importo.
A minha presença aqui nunca foi uma boa ideia. Tenho certeza que a
intenção da Patrícia ao me convidar, e insistir tanto, para que eu viesse é
que ela esperava que isso me humilhasse de alguma forma, mas agora,
vendo-a me olhando de longe, tenho certeza que já se arrependeu dessa
decisão. Sei que a minha mãe tinha boa intenção quando insistiu para que
eu viesse, ela tem esperança de que a família seja unida.
Mas algumas famílias não são, e tudo bem.
Para mim, é o suficiente ter o amor dela e do meu pai, e da vó Diana,
mesmo que nos vejamos pouco, só tenho boas lembranças. E espero que ela
esteja aqui hoje, pelo menos para vê-la, terá valido a pena ter vindo aqui.
Diana é mãe do meu pai, seu nome é inglês por ter nascido lá, na Inglaterra,
e quando nosso avô morreu, ela decidiu que voltaria para seu país de
origem porque queria ser enterrada na mesma cidade que veio ao mundo,
Londres.
— Acho que eu preciso de uma bebida — Digo, olhando para o bar.
— Posso buscar para você — Luke oferece, já começando a se afastar
de mim, mas eu o seguro. — Não quer?
— Agora não, até preciso, mas sei que se eu começar a beber agora,
não vou durar uma hora — Suspiro chateada, será difícil manter a calma.
— Terei que concordar — Ela responde rindo.
Eu abraço o Luke, que imediatamente me envolve nos seus braços,
por um segundo esqueço onde estou e quase posso sentir paz. Quase.
— Vocês vieram — Escuto a voz da Patrícia e nos viramos, vendo-a
se aproximar com um sorriso falso no rosto — Achei que tinha desistido.
— Como eu ia deixar de prestigiar esse amor tão puro e sincero,
nascido em tanto respeito — Respondo com falsidade — Temos que
celebrar.
— Tia Abigail disse que você viria sozinha — Ela desdenha e o Luke
envolve minha cintura.
— Até apostamos se você já tinha sido abandonada — Dylan destila,
e eu reviro os olhos, como eu pude namorar uma pessoa tão patética quanto
o Dylan? — Sei como é difícil conviver com você.
— Conviver com a Sarah é uma das melhores coisas que existem, ela
é engraçada, gentil, com um humor maravilhoso. Sou sortudo de poder estar
ao lado dela — Luke responde, e eu sorrio feliz, uma vozinha dentro da
minha cabeça tenta sussurrar que ele está dizendo essas coisas pelo teatro,
mas eu a ignoro. Ele não é assim — Eu só deixaria a Sarah se ela pedisse
isso, e ainda assim tentaria a reconquistar de novo. Ela é única e
incomparável.
— A Sarah engraçada e humor maravilhoso? — Dylan questiona
debochado, e eu reviro os olhos. Mas não posso deixar de concordar que
não sou conhecida pelo meu bom humor — todos conhecemos ela.
— Talvez não a conheçam de verdade — Ele rebate.
— E Dylan, você não sabe como é conviver comigo, porque eu
arrumava qualquer desculpa para ficar bem longe, nem precisava de todas
aquelas horas extras ou matérias extras — Desdenho, mantendo o tom falso
amistoso — Mas não estamos aqui para falar do que não existe, e sim desse
amor lindo de vocês.
— Exatamente, eu sou foco dessa festa — Patrícia bufa irritada —
No noivado da Sarah, falamos dela.
— Não, porque apesar do adorável convite, vocês não estarão na
nossa festa — Luke avisa com desprezo, e é maravilhosa a expressão de
indignação dos dois.
— Ao invés de estarem aqui, me enchendo o saco, deveriam ir falar
com quem realmente gosta de falar com vocês — Digo com um sorriso de
deboche — Se é que existe alguém que goste.
Patrícia bufa, ficando vermelha de raiva e eu rio na cara dela. Ela é
tão patética.
Talvez eu não esteja sendo uma pessoa sensata, mas deveria? Não
importa se a nossa relação nunca foi muito boa, ela, como minha prima, não
deveria ter ido para a cama com o meu namorado. Esses dois se merecem
mesmo.
— Seu pai está nos chamando — Luke diz baixo, indicando o meu
pai que está com o irmão, pai da Patrícia, e o sócio, pai do Dylan.
— Correção, ele está te chamando — Nego no mesmo instante — Vai
lá, e faça isso por mim.
— Como assim? — Ele pergunta confuso, mas, ao mesmo tempo,
divertido.
— Se você acha que eu vou me juntar àqueles três para conversar
sobre qualquer coisa, está muito enganado — Ele arqueia a sobrancelha me
encarando — Amo meu pai, mas não vou participar de qualquer que seja o
diálogo.
— E eu tenho que ir?
— Claro, você é o genro — Sorrio — Boa sorte.
— Isso não é justo, Sarah — Ele reclama e eu rio.
— Não disse que era — Dou de ombros, começando a me afastar.
Tenho certeza que Luke irá se sair bem, eles sempre querem falar
sobre trabalho, empresas, bolsa de valores. São assuntos que eu conseguiria
me manter em uma conversa? Provavelmente, mas a questão é que eu não
quero. Também não quero ter que lidar com o machismo que estará nas
entrelinhas, e talvez, nem tão nas entrelinhas assim. O quanto eu puder me
poupar, me pouparei.
Peço uma taça de champanhe no bar e agradeço, mas quando me viro,
me deparo com a Camille me olhando irritada, mas sequer lembro a última
vez que falei com ela. Camille é a melhor amiga da Patrícia, me
impressiona que ela consiga ter uma amiga, tenho certeza que se ela está
aqui não é para uma conversa amigável. Será que eu conseguirei conversar
adequadamente com alguma pessoa aqui?
— O que você quer? — Pergunto completamente entediada, me
afastando do bar, para não atrapalhar o caminho de quem quisesse chegar
lá.
— Você não tem um pingo de noção — Ela acusa e eu respiro fundo.
Paciência, Sarah, paciência.
— Do que você está falando, Camille? — bebo um gole da minha
bebida.
— Você ter vindo até aqui, ninguém quer a ex do noivo no noivado
— Ela diz como se fosse óbvio e eu rio. Apesar do tom baixo, dá para sentir
a indignação na voz.
— Se ela não me quisesse aqui, não tinha me convidado, e devo
destacar que convidou várias vezes — Reviro os olhos — Ela achava que ia
me rebaixar, me humilhar — Mudo o meu tom de voz, para imitar
debochadamente, a voz da Patrícia — “tadinha da priminha que foi corna
agora tem que assistir o noivado do ex com a melhor prima da família,
sozinha e esquecida”
— Isso é ridículo — Ela bufa.
— Completamente ridículo — Patrícia completa, parando junto a nós.
Tenho certeza que qualquer pessoa nos observando poderia acreditar
que estamos tendo uma conversa agradável, mas a minha vontade é de jogar
bebida na cara da Patrícia e pisar no pé da Camille. Às vezes, eu não sou
muito madura.
— Não tente mentir para mim, Patrícia, você nunca gostou de mim,
não sei porque insistiu nisso aqui — Acuso e ela semicerra os olhos para
mim.
— Eu estava tentando manter uma boa relação — Ela se defende.
— Por favor, Patrícia, não força — Reviro os olhos — Você fodeu
com o meu namorado, na cama que eu dormia com ele, e sabe-se lá quanto
tempo você fez isso, mas sinceramente, ainda bem que você pegou esse lixo
para você.
— Está desdenhando, mas sei que você chorou por muito tempo —
Ela diz sorrindo.
— Minha dor que te causa felicidade? — Rio — Deixa eu te contar
uma coisa, chorei mesmo porque uma traição dói muito, mas não se
preocupa, porque sua vez vai chegar.
— Como você é baixa! — Camille exclama indignada — jogando
praga no dia do noivado dela.
— Isso é inveja! — Patrícia fala, com certa irritação.
— Não estou jogando nada em ninguém, mas pensem comigo —
Faço uma pausa na esperança que consigam acompanhar minha linha de
raciocínio — Eu era a namorada, e fui traída. A amante virou noiva. Isso
significa que uma vaga na vida dele está em aberto.
— Ele nunca me trairia — Patrícia nega, mas não tem firmeza na voz,
mas o que me surpreende mesmo é o olhar um pouco mais arregalado e o
fato da respiração da Camille ter falhado por um momento. Acho que essa
vaga já está ocupada.
— Eu também acreditava nisso — Dou de ombros.
— Ela é uma maluca amargurada. Sarah só quer te ver abalada e
destruída, veio até mais bonita que você para te provocar de propósito —
Ela consola a Patrícia, mas não sei bem se isso é um consolo — Ele te ama,
está nítido para todo mundo ver.
— Você tem razão, ele me ama — Patrícia repete e a Camille suspira
quase aliviada.
— Eu cansei de vocês — Desdenho, e me afasto as deixando para
trás. Elas se merecem, e é até um pouco divertido saber que a Patrícia
pagará o que me fez com juros. Esses dois nunca vão conseguir ser felizes.
Há alguns minutos estava me perguntando como a Patrícia ainda
tinha amigas, a verdade é que ela não tem, são apenas um ninho de cobras
em que uma está engolindo a outra. Definitivamente, preciso me manter
longe para a minha segurança e saúde mental.
Vejo que o Luke ainda está com os três, mas com o adicional de que o
Dylan também está lá. Mesmo sem muita animação, caminho em direção ao
pequeno grupo de homens, ficar com o Luke é melhor do que ficar sozinha
ou com qualquer outra pessoa nessa festa, ainda não vi a Ellen, mas depois
eu a procuro.
Luke envolve minha cintura no exato segundo que paro ao seu lado, e
eu sorrio para ele. Ele se inclina, beijando o meu cabelo com carinho. Ele
parece um pouco entediado do assunto, mas nem posso o julgar, ainda não
entendi sobre o que estão falando e já estou entediada também.
— É bom que o filho do senador esteja aqui, isso traz status para a
família — Gavin comenta.
— Quem é o filho do senador? — Pergunto confusa.
— O namorado da Camille — Meu pai responde — Ela foi esperta.
— Namorado? — Escuto o Luke sussurrar em um tom divertido, mas
não entendo o porquê.
— Não sabia que ela tinha um namorado — Comento confusa, será
que errei ao pensar sobre ela e o Dylan? Ou será que ela está traindo
também?
— Ela escolheu bem antes de se envolver com alguém, muito esperta
— James diz e eu reviro os olhos, até parece que esse tipo de coisa importa
mesmo.
Luke me puxa para mais perto dele, me afastando um pouco deles. É
até bom um pouco de espaço, preciso respirar um pouco antes de continuar
aguentando todos esses assuntos. Estou desgastada.
— Você está bem? — Luke pergunta preocupado.
— Acho que preciso de outra bebida — Respondo e ele assente,
começando a me guiar para irmos juntos pegar algo para beber.
— Você parece pensativa — Ele comenta.
— Eu conversei com a Camille e a Patrícia, e tenho a suspeita de que
ela está tendo algo com o Dylan, mas agora sabendo que ela tem um
namorado, fiquei mais na dúvida — Explico — Se eu tivesse tempo, faria
uma mini investigação.
— E faria o que com a informação que conseguisse? — Ele questiona
interessado, e eu o espero pegar duas taças na bandeja do garçom para
continuar falando.
— Eu teria dado um jeito de colocar no telão dos noivos, bem na hora
do discurso — Digo com um sorrisinho maldoso — Não é nada nobre, mas
eu me sentiria vingada.
— Por causa da traição?
— Também, mas por me fazerem engolir esses dois como se o que
tivesse acontecido não fosse nada, e a dor que eu senti irrelevante. Já não
sinto nada, mas não significa que eu goste de toda essa convivência —
Esclareço e suspiro — é cansativo.
— Quando esse noivado acabar, não volte a conviver com eles,
mantenha só quem você realmente gostar por perto — Luke diz sério —
não se fira por causa de outras pessoas, independente de quem elas são.
Ninguém além de você sente a dor quando seu coração sangra.
— Luke…
— Estou falando sério — Ele faz carinho no meu rosto — Você é
preciosa demais para se deixar quebrar de alguma forma, pense nos seus
sentimentos, porque eles estão pensando apenas neles mesmos.
— Vou fazer tudo que puder para me cuidar — Garanto e ele beija a
minha testa.
— Isso me deixa orgulhoso — Ele sussurra e eu sinto meu coração
errar uma batida.

Recebo uma mensagem da Ellen avisando que foi buscar uma pessoa,
mas logo voltaria e que eu veria esperar até que ela estivesse aqui. Luke
pediu um minuto para fazer uma ligação. Ele retorna com um sorriso
divertido no rosto, cara de quem estava aprontando algo.
— Quer voltar para perto do seu pai? — Luke pergunta ao se
aproximar.
— Querer não é exatamente o sentimento, mas acho que podemos ir
até lá — Dou de ombros.
Quando estamos nos aproximando, noto a minha mãe abraçando a
Camille e reviro os olhos, talvez eu seja um pouco ciumenta. Por que essa
garota está sendo parabenizada?
— Seria lindo se ele já te pedisse em noivado — Grace diz com uma
voz sonhadora.
— Mãe, esse é o meu noivado — Patrícia reclama.
— Mas Camille está namorando o filho do senador, seria bom para
ela — Abigail contesta a sobrinha.
— Engraçado que tô vendo vocês falando desse cara e até agora não
o vi — Eu comento e a Camille revira os olhos para mim.
— Não precisa ficar com inveja só porque estou melhor que você —
Camille debocha.
— Até parece que eu teria inveja logo de você, e eu estou muito bem
acompanhada — Passo meu braço ao redor do Luke — Não existe homem
que seja melhor em todos os quesitos, Luke é único.
— Sarah! — Meu pai me repreende e eu dou de ombros.
De repente um rapaz alto, cabelos escuros e olhos castanhos
esverdeados surge, colocando o braço ao redor dos ombros da Camille, esse
deve ser o namorado, visto que ela sorri com certa arrogância. Até parece
que ele é algum troféu.
— Me desculpem, tive que atender a ligação — Ele se desculpa e seu
sorriso se abre ao olhar na direção do Luke — Maninho, não imaginei que
te encontraria aqui.
— Ethan…
— Ah, essa deve ser sua mulher, Edgar falou dela — ele interrompe o
Luke, e ri, vindo na nossa direção — Como você está, Luke, eu soube…
— Ethan! — Luke exclama, interrompendo o que o Ethan ia dizer, o
que será que ele soube?
E mais, eles são irmãos?
— De qualquer forma, você é a Sarah, certo? — Ethan pergunta,
parando na minha frente.
— Sou eu, sim — Respondo, acenando positivamente junto.
— Tô feliz de conhecer a minha cunhada — Ele me dá um abraço
rápido. Ser espaçoso é de família?
— É um prazer te conhecer também — Respondo um pouco
atordoada e o Luke o puxa, afastando Ethan de mim.
— Chega — Luke resmunga.
Ethan parece mais novo, na faixa dos vinte e cinco anos, ou menos.
Olhando bem, ele até lembra o Luke e o Edgar um pouco. Me sinto um
pouco atônita, definitivamente não estava preparada para conhecer ninguém
da família do Luke, acho que ele nem queria isso.
— Estou um pouco confusa, você e ele — Camille indica o Luke com
desdém, mas eu não sou a única percebo, já que o sorriso do Ethan diminui
— São irmãos?
— Somos, ele é um dos meus irmãos mais velhos — Ethan responde
tranquilo e o Luke bufa.
— Mas o Luke disse que o sobrenome dele era outro, Turner — Meu
pai diz desconfiado e o Ethan ri.
— Ele sempre faz isso, mas esse é o nome da mãe dele — Ethan
explica tranquilo, ficando ao lado do Luke e com a mão em seu ombro.
— Ethan, fecha a boca — Luke diz sério e ele dá de ombros,
tranquilo.
Eu tô quase tendo uma síncope aqui, e sequer posso falar alguma
coisa, enquanto os dois estão tranquilos. Quero dizer, Luke parece um
pouco bravo. Quero explicações mais claras, quero detalhes, quero entender
tudo isso, mas terei que esperar para conseguir conversar adequadamente
com o Luke.
— Como você namora com o filho do senador e não diz nada? —
Abigail pergunta me encarando, e eu suspiro.
— Isso não é importante, para mim, o que vale é a forma que o Luke
me trata, o amor que ele tem por mim, não de quem ele é filho —
Respondo, mesmo que seja verdade, eu teria gostado de saber por ele, mas
eu só conheço a sua família por acaso.
— Poderia ter dito antes, no jantar, assim não estaríamos surpresos
agora — Gavin resmunga.
— O foco agora não é a Sarah, por que o assunto sempre volta para
ela? — Patrícia reclama — Esse é o meu noivado!
— Relevância — Dou de ombros e sorrio ao ver ela ficando
vermelha.
— Diana chegou! — Minha mãe exclama, impedindo a Patrícia de
dizer qualquer coisa.
Camille aproveita o momento e se afasta puxando o Ethan com ela, e
ele só sai depois de se despedir do Luke pedindo para ele ligar depois. Luke
fecha os olhos por um segundo respirando fundo, enquanto isso o pai do
Dylan também se afasta, indo direto para a mesa da família dos noivos.
— Mamãe! — Meu pai cumprimenta a minha avó, e eu sorrio
observando.
— Aaah como é bom estar em família — Ela diz sorrindo — Estão
todos ainda mais bonitos — Ela nota o Luke e arqueia as sobrancelhas,
completamente indiscreta — Você bonitão, quem é?
— Prazer em conhecê-la, sou Luke Turner, namorado da Sarah —
Luke responde educadamente.
— Ele é filho do senador — Meu pai comenta e eu reviro os olhos.
— Formado em química pela Harvard — Dessa vez é a minha mãe
quem diz.
— Finalmente você escolheu um homem, Sarinha, melhor que aquele
outro — Minha avó diz e eu rio ao escutar a Patrícia bufar.
— Vó! Dylan é meu noivo — Patrícia reclama, enquanto abraça o
Dylan — Hoje é nosso noivado, estou feliz que a senhora tenha conseguido
vir.
— Mas é seu noivado e você não se arrumou direito? Olha como a
Sarah está linda parecendo uma fada, e você uma secretária — Diana diz e
olha para o Dylan de cima embaixo — Eu já não gostava dele antes, não
gosto agora, mas torço para ser feliz, porque vai precisar de sorte.
— Incrível como todo mundo fica contra mim, até no meu dia! Eu
estou linda, vó, linda! — Ela fala com voz de choro e se afasta com pressa.
— Se não iam respeitar a noiva, não deveria ter vindo — Grace diz
séria indo atrás da filha. E o Dylan acompanha a sogra em silêncio.
Talvez esse noivado tenha ficado ainda mais caótico do que eu tinha
imaginado que seria, mas até que algumas coisas foram mais engraçadas do
que o esperado, e mais surpreendentes também. E a noite ainda nem
acabou.
A minha avó adorou o Luke, e ele foi muito paciente com ela, mesmo
ela sendo muito desbocada para uma senhora de setenta e cinco anos. Ou
talvez seja a idade que a tenha deixado assim. De qualquer forma, foi fofo
vê-lo conversando com ela.
Tive que deixá-los sozinhos para vir ao banheiro. Lavo as mãos e
retoco o meu batom, olhando o meu reflexo no espelho, estou realmente
bonita, pelo menos me sinto assim.
Guardo o batom e me confiro mais uma vez antes de sair. Dou três
passos no corredor que vai para o lado lateral da casa, antes de chegarmos
no espaço da festa, e me deparo com o Dylan me esperando. Tento desvair
dele, mas o idiota insiste em se manter a minha frente.
— Você está me atrapalhando, sai do meu caminho — Peço irritada,
mas ele não se move.
— Sarah, para de fazer charme, sei que a razão pela qual você veio
arrumada assim é que você me quer — Ela diz com a voz leve, ele está
tentando o quê? Me seduzir? Nojento…
— Não seja ridículo — Desdenho.
— Eu sempre preferi você, não era para você ter chegado mais cedo
aquele dia, Patrícia poderia ter continuado como amante — Ele diz sério e
eu fico chocada com a canalhice dele — Mas você poderia aproveitar que
está aqui, e me dar um presente, a gente escapa para um dos quartos…
— Você nunca mais vai encostar em mim, eu tenho nojo de você, sai
da minha frente! — Exclamo enojada e com raiva.
— Seja franca, Sarah, você ainda fica toda se doendo por causa de
mim — Ele diz com arrogância e eu rio.
— Você é um nojento, foi um livramento essa traição, e você quer
sinceridade? Ok — Arqueio a sobrancelha com um sorriso debochado —
Luke é muito melhor que você em tudo, muito mais bonito, legal,
simpático, inteligente, ele, sim, sabe me fazer gozar, coisa que você nunca
fez, e ainda nesse tópico, ele também tem o pau maior que seu miudinho.
Então, melhor parar com esse showzinho e sair da minha frente.
Fui completamente sincera? Não, afinal, sequer beijei o Luke, mas eu
não ia deixar a chance passar.
— Vou te mostrar o que meu pau pode fazer — Ele fala com raiva,
vindo para cima de mim e eu arregalo os olhos, assustada.
Antes que ele chegue até mim, ele é interceptado. Luke segura no
pescoço do Dylan pela nuca, e pela careta que ele faz, Luke não está sendo
nada delicado. Luke o joga contra a parede e para na minha frente,
encarando o Dylan, suas mãos estão fechadas em punho e ele parece muito
irritado.
— Isso aqui não é um “showzinho”, é assédio — Luke diz baixo,
com raiva — Vou te mostrar como eu lido com isso.
— Você não pode fazer nada comigo, eu sou o noivo e esse é meu
noivado — Dylan responde tentando se afastar.
— Você cometeu o erro de tentar encostar na minha mulher, e eu
odeio que mexam no que é meu — Luke diz firme, ameaçador.
Luke se aproxima do Dylan e soca seu estômago, Dylan até tenta
lutar contra, mas não tem habilidade e nem força para isso. Nem tempo. Já
que o Luke repete uma sequência de socos e o larga, deixando o Dylan cair
no chão como o saco de bosta que ele é.
Luke é mais alto que o Dylan, e tem muito mais músculos, mas ainda
assim não sinto nem um pingo de dó dele. Se o Luke não tivesse aparecido,
o que ele pretendia fazer? Abusar de mim? Quero mais é que ele se foda
mesmo.
— Se você ousar se aproximar da Sarah novamente, o que eu fiz hoje
será carinho, comparado ao que eu vou fazer com você, entendeu? — Luke
se abaixa, dando alguns tapas na cara do Dylan, que tenta se arrastar para
longe.
— Eu vou te denunciar para a polícia — Dylan ameaça gemendo de
dor.
— Você vai ficar quietinho, não vai querer me encarar — Luke se
levanta, olhando para o Dylan com desprezo.
— Isso não vai ficar assim!
— E você vai fazer o quê? — Pergunto me aproximando do Luke —
Se abrir queixa contra o Luke, vou testemunhar deixando bem claro que ele
estava apenas me defendendo do seu assédio.
— Como se isso fosse ao menos chegar a um tribunal — Luke
desdenha, e segura a minha mão — Vem.
Desviamos do Dylan que ainda fica no chão, resmungando algumas
coisas que eu não compreendo, mas também não faço questão de entender.
Olho para o Luke nos guiando de volta para a festa, mas a verdade é que a
minha mente está um pouco confusa.
— Você está bem? — Ele questiona e eu suspiro, negando. — Eu não
queria te assustar, mas você é minha, e eu vou te proteger sempre que
necessário.
— Luke, eu sou sua? — Pergunto um pouco atônita.
— Sim — Ele acaricia meu rosto e me envolve em um abraço, e eu
encosto meu rosto em seu peito.
Respiro fundo tentando me acalmar. Luke sempre faz meu coração
bater mais forte. E sempre me deixa confusa, eu quero ser dele, mas ele
também é meu?
— A Ellen está acenando para nós, vamos até lá — Luke diz, me
tirando do meu pequeno momento de distração.
— Acho que deveríamos ir embora — Suspiro, já estou cansada de
toda essa festa.
— Vamos falar com a sua amiga primeiro, e eu tenho uma surpresa
para você depois — Ele fala, sorrindo como quem está escondendo alguma
coisa.
— Que surpresa? — Pergunto desconfiada e ele dá de ombros.
— Se eu contar, perde a graça — Ele sorri de lado, segurando minha
mão e entrelaçando nossos dedos.
Ele começa a me guiar em direção a Ellen, minha amiga está próxima
a uma mesa de convidados, tomara que eu tenha ficado na mesma mesa que
ela. Enquanto caminhamos, olho para a minha mão junto da mão do Luke e
sorrio, meus sentimentos estão confusos, mas não muda o fato de que gosto
muito de estar com ele.
E eu ainda preciso me esforçar para ignorar a voz no fundo da minha
mente dizendo que tudo é sobre o teatro, e ele apenas um invasor.
Mas e quando dançamos juntos? Luke acabou de dizer que eu era
dele. Não vou me confundir.
Luke coloca a sua mão na minha cintura, e eu me pergunto como
seria se ele estivesse apertando, mas sem nenhuma roupa no caminho para
que eu pudesse sentir seu calor direto em minha pele.
Ignoro todos os pensamentos pecaminosos que começam a ocupar a
minha mente, não é hora e nem lugar para deixar a minha mente se perder
assim.
— Achei que você não viria — Ellen comenta assim que nos
aproximamos — Quero dizer, que vocês não viriam, mas ainda bem que
estão aqui.
— Não vamos ficar muito tempo — Respondo e olho para a mesa —
Estamos na mesma mesa ou é livre?
— Estamos na mesma mesa, e é essa — Ela indica e olha para o Luke
— Você está melhor? Fiquei preocupada quando a Sarah disse que estava
doente, ainda mais porque sofreu um acidente recente.
— Eu estou bem, Sarah cuidou bem de mim — Luke mente sem
perder a pose por nenhum segundo.
Um excelente mentiroso. Isso me faz pensar em tantas coisas.
— Acho que já podemos nos sentar, né? — Pergunto cansada, não
quero ficar fazendo cena.
— Você pode qualquer coisa — Luke sorri para mim, enquanto puxa
a cadeira para que eu me sente.
— Espera — A Ellen pede e eu a olho confusa — Quero te apresentar
uma pessoa, eu ia falar sobre ela no dia que você recebeu aquelas flores,
mas sei que vocês tiveram outras prioridades.
— Ellen! — Exclamo repreensiva e ela ri maliciosa.
— Não se faça de puritana, que eu sei que você não é — Ela acusa e
eu reviro os olhos. Será que é errado cometer um crime contra a própria
melhor amiga?
— Quem você vai nos apresentar? — Pergunto mudando de assunto.
— Ela está chegando — Ellen diz um pouco nervosa — Quero dizer,
ela já está aqui, mas foi atender uma ligação — Ela respira fundo — Estou
me sentindo tensa.
— Amiga, está tudo bem, de verdade — A conforto, tentando
compreender.
— Ela está vindo — Ellen olha em direção a uma mulher,
definitivamente não a conheço, está usando um vestido marrom, seu cabelo
preto está preso em um coque elegante, tem uma maquiagem leve e os
olhos são estreitos — Sarah, Luke, essa é a JiHye, minha namorada.
— É um prazer conhecê-la, Ellen fala muito bem de você — Ela me
cumprimenta simpática, percebo um pouco de sotaque em sua voz, mas não
sei de onde ela veio. Sorrio de volta, espero estar escondendo bem a
surpresa.
— É um prazer conhecê-la também — Respondo educada, mas sorrio
ao ver a Ellen olhando-a encantada.
— Seu nome é diferente, de onde você é? — Luke pergunta
estendendo a conversa.
— Sou coreana — Ela responde e isso explica o sotaque — Vim para
trabalhar e acabei conhecendo a Ellen por trabalhar para um cliente dela.
— O destino é uma loucura — Comento sorrindo.
— Eu acho que são os deuses cuidando de nós, e nos levando em
direção a nossa alma gêmea — Ela responde, mas seus olhos estão na Ellen.
— Você tem razão — Luke comenta e aperta a minha cintura um
pouco — Sempre somos levados para a nossa pessoa especial.
Meu coração acelera quando me perco no olhar intenso do Luke. Até
a minha pele se arrepia, como se estivesse mergulhando em um sentimento
profundo e desconhecido, e eu me deixando afundar.
— Acho que agora podemos nos sentar — A Ellen comenta e eu
assinto.
Luke puxa minha cadeira e senta ao meu lado, Ellen e JiHye sentam
lado a lado também. Não é a primeira vez que vejo a Ellen com uma garota,
mas é a primeira vez que a vejo namorando. E só de vê-la felizinha com a
JiHye, me sinto feliz também, porque eu quero muito que a minha melhor
amiga tenha as melhores coisas sempre, incluindo, é claro, felicidade.
JiHye é editora em uma editora de livros, conheceu a Ellen quando
ela trabalhou em um processo de direitos que a editora moveu. É muito
fofo, até parece que a história delas saiu diretamente de um livro.
— Não acredito! — Exclamo rindo tanto que preciso esconder a boca
com a mão.
— É a verdade! — JiHye retruca — Fomos ver o filme, e na hora do
lanche Ellen derrubou um copo de milkshake em mim, e a pior parte é que
eu estava de roupa branca.
— Ellen não foi Isso que eu te ensinei — Brinco e ela revira os olhos.
— Foi um acidente! — Ela se defende, mas eu continuo achando
engraçado.
— No primeiro encontro? — Luke pergunta também achando
divertido.
— Sim, acho que foi esse jeitinho desastrado dela que me conquistou
— JiHye brinca, e a Ellen revira os olhos, vermelha. Tão fofas.
Elas ainda contam sobre o segundo encontro, mas esse deu tudo
certo. E sobre e o pedido de namoro. É impossível não reparar como elas
parecem estar se atraindo o tempo inteiro, se tocando sutilmente, mesmo
que só as mãos, no braço… toques tão sutis e delicados que passariam
facilmente despercebidos.
— O pedido de namoro foi no meu apartamento, não foi um grande
evento a ser assistido, era só nosso — Ellen comenta suspirando.
Visivelmente uma mulher apaixonada.
— Foi especial, foi sincero, e nos pertence — JiHye diz firme, mas
sorrindo — O que importa é estarmos juntas.
Sorrio para elas, mas me distraio ao sentir a mão do Luke segurando
a minha. Eu não sou uma mulher pequena, tenho uma estatura padrão, 1,65
de altura, mas quando estou perto do Luke, parece que fico menor. Ele não
é só alto, ele tem praticamente 1,90 de altura, mas ele é musculoso, seus
ombros são largos, seus braços grossos e suas mãos grandes.
Um belíssimo colar, sorrio distraída.
— Acho melhor deixar os pensamentos impuros para depois — Luke
sussurra no meu ouvido.
— Quê? — Pergunto surpresa, não pode estar tão estampado no meu
rosto assim.
Ele ri soprado, mas não responde. Será que a minha expressão estava
entregando tanto os meus pensamentos? Realmente espero que não.
— Estava aqui pensando, o Luke já conheceu seus pais, a família
inteira, mas você já conheceu a família dele? — Ellen pergunta de repente,
nos pegando de surpresa. Não me preparei para esse tipo de pergunta.
— Conheci o irmão — Respondo, não é uma mentira completa,
afinal, eu conheci o Edgar. — Dois irmãos, Ethan, o rapaz acompanhando a
Camille também é irmão dele.
— O filho do senador? — Ellen pergunta levantando as sobrancelhas,
surpresa
— Esse mesmo — Concordo assentindo.
Eu olho para o Luke, sua expressão está impassível, eu não sei o que
pensar ou o que falar. Ele nunca me disse nada sobre sua família, nem sobre
o Edgar que conheci antes, não entendo esse voto de silêncio sobre a
família. Sinto que o clima ficou um pouco mais pesado, então volto a minha
atenção para a Ellen novamente.
Não importa o que eu esteja sentindo, não importa se o meu coração
bate acelerado sempre que ele se aproxima de mim. Isso ainda é um namoro
falso. Ele ainda vai embora para não voltar.
— Logo vamos resolver me apresentar para família dele — Minto,
com a primeira coisa que vem à minha cabeça. — Não tenho pressa para
que isso aconteça.
Ellen até abre a boca para continuar o assunto, mas nossa atenção é
chamada para começarem os discursos e eu não evito revirar os olhos. Na
primeira oportunidade, puxarei o Luke para irmos embora daqui.
Grace fez um discurso sobre como almas gêmeas sempre se
encontram, e que às vezes o destino anda por caminhos estranhos para que
dois corações apaixonados se unam. Achei uma interessante junção de
palavras para dizer que eles ficaram juntos traindo outra pessoa.
— Isso está muito chato — Reclamo baixo, apenas para o Luke.
— Espera só um minuto — Ele diz sorrindo travesso.
— O que você está aprontando? — Pergunto, mas ele só mantém o
sorriso sem me responder.
Patrícia começa um discurso sobre o amor dela e do Dylan, e eu
reviro os olhos. Ela realmente acha que a história deles é pura e intensa?
Será que esse teatro vale mesmo a pena? Não que eu me importe com eles.
Mas a verdade é que o amor deles não brotou com uma nascente de
rio, foi na lama.
— E por isso, por todo amor que existe entre nós, que eu preparei
uma surpresa — Patrícia diz com a voz embargada, ao mesmo tempo que o
Luke sussurra “é agora”
Ela se afasta para todos os convidados poderem ver bem o telão, mas,
definitivamente, não estava preparada para a foto que surge diante dos meus
olhos. Dylan beijando a Camille. Mas não só uma foto, várias.
Algumas das imagens pareciam tiradas de câmeras de segurança e
mostravam belíssimos jantares românticos, carícias e beijos. Outras fotos
pareciam íntimas, como se tivessem vindas direto do celular dos dois,
felizmente não apareceu nenhuma imprópria
— Como você fez isso? — Pergunto completamente chocada
— Eu tenho meus contatos — Ele dá de ombros. — Vamos apenas
apreciar o caos, principalmente porque não estamos no centro dele.
Luke me envolve em seus braços para assistirmos à cena que se
desenrola. Até me sentiria mal de estar rindo da desgraça dos outros, mas
eles não merecem minha compaixão.
Patrícia arremessa o microfone no Dylan, que não consegue desviar,
ela grita todos os xingamentos possíveis. Grace tenta conter a filha, mas não
funciona bem, já que ela começa a caminhar em direção a melhor amiga, ou
talvez, ex melhor amiga.
Camille está andando atrás do Ethan, que está apenas ignorando ela.
Ele caminha até uma garota loira, conversa algo em seu ouvido, e acena
concordando, os dois saem juntos apesar dos berros da Camille. Ele
simplesmente a deixou e foi embora com outra, não consigo disfarçar a
risada.
Patrícia consegue interceptar Camille, antes que ela continue
perseguindo Ethan. A noiva dá um tapa na cara da amante, o barulho é tão
alto que consigo escutar. Camille olha chocada para a Patrícia e pula sobre
ela, e as duas começam a rolar na grama brigando.
— Entretenimento de qualidade — A Ellen comenta e eu rio.
Algumas pessoas se juntam para separar as duas que estão gritando
ofensas uma para a outra, até que a Patrícia se solta, caminha até o Dylan e
dá uma joelhada no meio das pernas dele.
Ela olha para todas as pessoas assistindo à cena, olha para o telão que
ainda tem uma foto do Dylan com a Camille e sai correndo chorando.
— Agora podemos ir — Luke diz segurando a minha mão e ficando
de pé, e eu o acompanho.
— Vamos para casa? — Pergunto enquanto ele me guia, meus olhos
estão nele, sequer vejo qualquer pessoa tentando me cumprimentar.
— Ainda não — Luke me olha de canto e eu sorrio pequeno.
Eu não sei como o Luke conseguiu fazer isso tão rápido, mas foi
extremamente satisfatório ver todos os envolvidos se ferrando. Vir a esse
noivado foi muito diferente do que eu imaginei que seria, e por isso não me
arrependo mais de ter vindo.
Ninguém se importa com os convidados saindo, só os fofoqueiros
mais ávidos estão ficando para entender o que aconteceu. Depois eu
pergunto para a Ellen, sei que ela tentará descobrir tudo o que puder.
Luke sorri para mim e beija meu cabelo com carinho enquanto
caminhamos para fora. Ele me ajudou com uma vingancinha. Parte de mim
sente como se ele fosse um verdadeiro companheiro, que me apoiaria em
tudo, e isso é mais uma coisa que faz com que eu me sinta atraída por ele.
Quero o Luke.
Sei que só o meu querer não é o suficiente. Ele precisa querer
também. Qualquer relação precisa reciprocidade, tem que ser comigo que o
seu coração acelera, que sua voz fica rouca, e por mim que as borboletas no
estômago voem.
Mas preciso reforçar, mesmo que só para mim, que só o meu querer
não é o suficiente.
— Foi mais tranquilo do que imaginei — Luke comenta enquanto
abre a porta para mim
— Qual parte? — Pergunto rindo, enquanto entro no carro.
— O ‘gran finale’, acho que merecia um pouco mais de briga e
humilhação pública — Luke responde rindo enquanto fecha a porta e eu rio
junto.
Aproveito os segundos que ele leva até entrar no carro pelo lado do
motorista e respiro fundo algumas vezes. Meu coração está completamente
descompensado. O jeito que ele mexe comigo é único, nenhum outro me
balançou tanto quanto ele.
— Para onde vamos? — Pergunto quando ele começa a dirigir.
— Caminhar sob a lua, na ponte — Ele explica e eu sorrio pequeno,
vai ser bom andar um pouco.
E assim como da outra vez, nós passearemos na ponte. Será bom para
espairecer a mente, talvez eu devesse criar coragem e falar, ao menos um
pouco, sobre as coisas que estou sentindo e que tanto tem me afligido. Se eu
tivesse alguma certeza, mesmo que fosse doer, pelo menos essa sensação de
estar afundando na areia se acabaria.
Apesar do silêncio até chegarmos, não achei que ficaremos calados
quando estivéssemos caminhando, mas já faz alguns minutos e ninguém
disse nenhuma palavra. Olho para o céu, apesar de não ter tantas estrelas, a
lua está fascinante hoje.
Olho para o Luke e suspiro, ele é ainda mais fascinante. E eu estou
completamente ferrada.
— Você gostaria de saber sobre a minha família? — Luke indaga de
repente, quebrando o silêncio.
— Gostaria — Afirmo — Gostaria de saber tudo sobre você, sinto
como se não conhecesse de verdade, mas sendo sincera, eu até entendo que
não me fale nada.
— Entende?
— Sim, você, de um jeito ou de outro, sempre deixa claro que vai
embora, e não falar nada é como se você não me deixasse espaço para
realmente fazer parte da sua vida — Eu aperto os dedos tentando conter o
nervosismo — É como se fosse tudo pela farsa.
— O que você quer dizer com tudo? — Ele pergunta, não consigo
reconhecer o sentimento em sua voz, mas sei que está me encarando.
Enquanto eu só consigo fitar o chão, enquanto falo como se tivesse acabado
de abrir uma torneira.
— Quando me abraça, quando me defende de alguém e diz todas
aquelas coisas, me sinto confusa — suspiro — Eu nunca sei o que esperar, e
tento me convencer que não devo sentir nada, porque você é só um invasor
— Acabo rindo uma vez sem humor — E estou aqui, nesse exato segundo
confessando que sinto algo.
— Eu também sinto — ele diz parando na minha frente, seus dedos
deslizam pelo meu rosto até que ele segura o meu queixo, me fazendo olhar
em seus olhos — Eu também sinto algo, e todas as coisas que eu disse sobre
você são verdadeiras, você é a mulher mais bonita que coloquei e colocarei
os olhos, você tem um humor maravilhoso, um sorriso lindo, uma
inteligência fascinante e é realmente esperta.
— Você disse para o Edgar que eu sou sua mulher — Lembro
baixinho e ele sorri de canto.
— E isso também é verdade — Ele confirma e meu coração erra a
batida — Mas a minha vida é perigosa, e eu tenho medo que você corra
algum perigo por estar tão perto de mim.
— Eu acho que é tarde demais para pensar sobre essa proximidade —
Sussurro, contendo a vontade de me jogar nos braços dele.
— É tarde demais para pensar em muitas coisas, principalmente sobre
o que eu sinto — Luke diz com a voz rouca e a minha pele se arrepia —
Posso te beijar?
— Pode — Respondo sentindo todo o meu corpo queimar em
antecipação.
Luke se inclina, tua mão segura o meu rosto com cuidado, e eu me
perco olhando em seus olhos. Sinto sua respiração quente atingir minha
pele, que se arrepia. Sinto uma necessidade absurda de ter seus lábios nos
meus, quase emergente.
Então ele me beija. Um selar simples, mas o suficiente para que eu
sinta o meu sangue correndo mais rápido, ele me faz sentir muito com tão
pouco. Sua boca se encaixa na minha aos poucos, seus lábios macios e
quentes se movem contra os meus, e eu queimo. E quando sua língua pede
passagem, eu cedo. Cederia a qualquer coisa que ele quisesse, porque o
quero tanto.
Sua boca tem um gosto doce, quente, quase como se estivesse
apimentado, e eu quero continuar provando dela incansavelmente, mesmo
se minha mandíbula ficasse dormente. Luke segura na minha cintura e me
puxa para mais perto dele, e eu passo meus braços ao redor do seu pescoço,
mesmo que isso signifique que eu tenha que ficar um pouco nas pontas dos
pés.
— Vamos para casa — Falo decidida, apesar da minha voz sair baixa
e a minha respiração estar ofegante.
Cada segundo dentro do carro parece uma eternidade. Cada vez que a
mão do Luke desliza sobre a minha perna, me sinto mais quero, minha pele
formiga sentindo necessidade de senti-lo. Acho que nunca senti tanto
desejo.
Luke me olha toda vez que paramos em algum sinal vermelho, e eu
consigo enxergar a luxúria em seus olhos. Ele quer isso tanto quanto eu.
Seu gosto ainda está na minha língua, mas ainda quero tudo.
— Sarah, você tem certeza que quer isso? — Luke pergunta assim
que estaciona o carro, e seu olhar queima sobre mim — assim que
entrarmos, eu tenho autorização de tocar como quero? Poderei percorrer
cada centímetro do seu corpo com as minhas mãos? Com a minha boca?
Eu puxo o ar lentamente, enquanto minha se arrepia, quero muito
ficar nas mãos de Luke. Estou completamente entregue.
— Eu tenho certeza que quero isso — afirmo veementemente.
Luke sorri malicioso e se aproxima, ele segura na minha nuca e me
beija. Sua boca é exigente, sua língua domina a minha. É um beijo
possessivo e quente, antecipando o que está por vir, e me deixando
completamente ansiosa.
— Você não vai se arrepender — Ele diz se afastando
milimetricamente de mim, e me dá um selinho antes de sair do carro.
Puxo o ar lentamente, minha boca está seca, Luke sai do carro e dá a
volta para abrir a porta para mim. Esse homem vai me deixar louca e ainda
nem tirou a minha roupa.
Ele abre a porta e me ajuda a sair, mesmo que eu não precise, e me
guia para dentro de casa, mas no momento em que fechamos a porta, ele me
empurra contra ela e me beija.
Nada de beijos lentos e calmos, é feroz. Luke me beija como se
estivesse ansioso para fazer isso, como se estivesse necessitado de mim.
Ele me pega no colo e começa a subir as escadas, e eu me agarro
nele, sentindo o meu coração acelerar ainda mais. Como se fosse possível.
Talvez eu esteja infartando. Ele entra no meu quarto, e me coloca no chão
em pé.
— Você está tão linda com esse vestido, mas estou doido para ver
você sem ele — Ele beija o meu ombro e me vira, para poder abrir o vestido
— quero mapear cada centímetro do teu corpo, aprender tudo o que você
gosta.
— Luke… — suspiro baixinho, sentindo os beijos dele se espalhando
pelo meu ombro.
— O que você deseja? — Ele pergunta, sussurrando no meu ouvido
— Estou aqui pelo seu prazer.
Ofego, sentindo meu corpo se aquecer apenas com a promessa
pecaminosa. Ele sopra no meu pescoço depois de deixar uma mordida leve,
enquanto um gemido escapa de minha boca. Seus dedos tateiam o meu
corpo até alcançarem o zíper do vestido, e ele o abre lentamente. Suas mãos
quentes entram sob o tecido, tocando a minha pele e deixando um rastro de
calor.
Luke me puxa, pressionando seu corpo contra o meu, enquanto suas
mãos sobem até meus seios, e os aperta, ela lambe o meu pescoço, e eu
estremeço sob seu toque. E ainda estamos vestidos.
— Você já está tão rendida — Ele diz com a voz rouca, e a minha
pele se arrepia.
Sinto as alças do meu vestido deslizando sobre os meus ombros, e o
vestido para fora do meu corpo, ficando aos meus pés, me deixando apenas
de calcinha. Luke continua atrás de mim, sua mão aperta a minha cintura, e
eu consigo sentir seu pau duro ainda por baixo do tecido de sua roupa.
— Você está me tirando a sanidade — Resmungo com a voz baixa, e
escuto seu riso único e soprado.
— Não acho que você tenha alguma — Ele brinca e eu reviro os
olhos, mas ofego ao sentir sua mão indo em direção a minha intimidade —
Mas quero te deixar completamente louca essa noite.
Luke me vira, deixando-me de frente para ele. Ele sobe uma mão pela
minha nuca, prendendo seus dedos no meu cabelo, a outra segura a minha
cintura, me puxando para mais perto dele, até que a sua boca se choca
contra a minha. Seus lábios macios me beijam duro, sua língua desliza pela
minha completamente exigente, como se tivesse uma sede infinita do meu
beijo. Ele me beija de novo.
E de novo.
E de novo.
Completamente insaciável. E eu me sinto igual.
Luke me levanta, passando as minhas pernas por sua cintura, me
prendo a ele. Almejando ser dele, completamente dele. Sinto o meu corpo
sendo preso contra a parede, minhas mãos apertam sua camisa, enquanto
sua boca ainda se deleita da minha, e eu suspiro entro o beijo, esquecendo
até que preciso de fôlego.
— Preciso de você — Peço, sentindo o meu corpo queimar.
— Eu estou aqui — Ele responde, beijando o meu pescoço.
— Luke, você sabe o que eu estou pedindo — Resmungo, excitada
demais para elaborar, mas Luke me olha nos olhos com um sorriso sacana
nos lábios.
— Quero que você diga com todas as letras — Ele diz com um tom
autoritário tão gostoso, me deixa aturdida e ainda mais excitada.
— Quero que você me foda, Luke, quero sentir seu pau entrando e
saindo com força da minha buceta — Lambo os lábios, sem tirar os meus
olhos dos dele — Quero que você me faça gozar até revirar os olhos e passe
uma semana lembrando que você esteve dentro de mim.
— Eu vou saborear você, Sarah, primeiro vou me divertir com você
— Ele morde meu lábio inferior e sorri — Depois vou te deixar rouca de
tanto que vai gemer o meu nome.
Ele caminha comigo em seu colo até a cama, e senta nela, ainda me
mantendo em seu colo. Eu retiro primeiro sua gravata, jogando ela na cama,
então abro botão por botão, também sei provocar. Mas ele segura na minha
cintura e me pressiona pra baixo, já que estou sentada sobre seu pau. Eu
suspiro e olho para seu rosto, que está exibindo um sorriso sacana.
Luke termina de se livrar da sua camisa, minhas unhas arranham
levemente seu peitoral bem definido.
— Está apreciando a vista? — Ele pergunta sacana e eu assinto —
Acho que eu estou muito mais.
Sua mão alcança meu seio, sua boca ataca o meu pescoço e eu
arqueio o meu corpo, inclinando a minha cabeça para trás, para que ele
tenha mais espaço para me tocar como quiser. Sua língua quente desliza
sobre e minha pele, seus toques me tiram do eixo, e eu gemo.
Rebolo no seu pau, imaginando como será gostoso quando essa rola
grossa estiver dentro de mim, me fodendo. Escuto seu gemido rouco e isso
me deixa ainda mais excitada. É como se eu fosse feita de pólvora, e ele
tivesse a chama para me incendiar, explodir. E eu tenho estoque o suficiente
para queimarmos a noite inteira.
— Luke… eu quero te chupar — Falo gemendo e ele sorri malicioso.
— Vou adorar sentir você se engasgando no meu pau, mas eu quero te
provar primeiro — Ele responde e me vira na cama, ficando sobre mim —
Vou passar a minha língua em cada centímetro do teu corpo, e foder sua
buceta com a boca.
Ele desce os beijos até meus seios, apertando-os, e enquanto sua boca
se ocupa de um peito, sua mão de ocupa da outra, e ele provoca o meu
corpo, deixando meus peitos sensíveis. Minha sanidade vai se dissolvendo,
não consigo pensar em frases coerentes, só sinto e no momento, sinto muito
prazer.
É como se o Luke tivesse lido um manual do que fazer para me
deixar completamente excitada, trêmula de prazer, e estivesse seguindo a
risca.
Sinto seu rosto perto da minha intimidade, ele beija e lambe a minha
vagina por cima do tecido da calcinha. De repente ele aspira, como se
estivesse sentindo o melhor dos perfumes e me olha com um sorriso sacana.
— Melhor perfume que já senti na vida — Ele lambe a borda da
minha calcinha na divisa da perna, no interior da coxa e sorri sacana —
Tenho certeza que o melhor sabor que provarei na vida, é o seu.
Ele puxa a minha calcinha para o lado, sua língua percorre toda a
minha vulva e eu gemo, ele brinca com o meu clítoris. Beija cada pedacinho
da minha intimidade e sorri ao ver o quanto estou afetada.
— Eu poderia tirar sua calcinha, mas ela é linda, vou te chupar com
ela de lado — ele diz brincando com a peça, e comigo.
— Você pode fazer o que quiser — Digo exasperada — desde que me
faça gozar.
Ele não responde, apenas sorri com aquela expressão de que me fará
enlouquecer. Ele coloca sua boca quente, molhada, sua língua habilidosa, de
volta na minha boceta, sinto até ele me penetrando um pouquinho com ela,
então volta a me chupar.
Eu gemo sentindo o prazer percorrer pelas minhas veias, como se
tivessem me injetado uma injeção de pura dopamina e serotonina.
De repente o sinto me penetrando com um dedo e deixo um gemido
alto escapar, logo ele coloca dois e eu arqueio a pélvis sem conseguir me
controlar, mas ele me segura com a mão livre, me chupando ainda mais
intensamente.
Meu corpo estremece, vibrando, aperto os lençóis com uma mão,
enquanto a outra prendo os dedos nos fios curtos de Luke. Meu corpo
parece estar entrando em convulsão, mas é apenas a sensação deliciosa do
orgasmo me atingindo.
Sinto seus beijos percorrendo a minha barriga, passando por entre os
meus seios, até chegar em meu pescoço. Enquanto estou deitada sobre a
cama tentando recuperar o fôlego e organizar os meus pensamentos, porém
não tenho certeza se vou conseguir. Quero continuar me perdendo nos seus
toques quentes, quero continuar queimando.
Ele inicia um beijo intenso, como se tivesse fome de mim e
precisasse tentar se saciar, quase selvagem e eu retribuo. Sinto o meu gosto
em sua boca, mas não me importo, quero mais dele, quero beijá-lo até a
minha mandíbula ficar dormente, o gosto do seu beijo é o meu sabor
favorito. E quero continuar provando por toda a minha vida.
— Eu quero te chupar — Falo entre o beijo, um pouco ofegante.
— Tudo o que você quiser — Ele diz com um sorriso sacana e sai de
cima de mim, Luke fica em pé e se livra da sua calça, e liberta seu pau me
fazendo lamber os lábios enquanto aprecio a visão que estou tendo.
— Estou ficando ansiosa aqui — Provoco, lambendo os lábios
vagarosamente.
— Vamos resolver isso agora — Ele sorri malicioso, vindo por cima
de mim e nos vira na cama, me deixando por cima dele e se encostando na
cabeceira da cama, comigo sentada no seu colo.
Colo meu corpo no dele, esmagando meus seios contra seu peito e o
beijando voracidade, enquanto rebolo no seu pau, apenas me esfregando
nele e gememos entre o beijo. Luke aperta minha cintura e não deixa que eu
me afaste até que nosso fôlego cesse.
Saio do colo do Luke e me afasto, sentando na frente dele sobre as
minhas pernas. Primeiro, seguro seu pênis, o masturbando devagar e sorrio
quando ele ofega, então me inclino para frente colocando só a glande na
boca e chupando. Minha língua circula toda a circunferência e eu lambo a
fenda, recolhendo o pré-gozo que está escorrendo ali. Sem tirar meus olhos
dos dele.
— Eu quero te ver engolindo o meu pau inteiro, e depois a minha
porra — Ele diz autoritário, enrolando o meu cabelo em sua mão.
— Sim, senhor — Respondo maliciosa.
Começo a engolir o pau dele, tomando cuidado para não passar os
dentes. Ele começa a guiar a minha cabeça, me fazendo colocar o máximo
que consigo dentro da boca, até sinto a glande tocando a minha garganta e
forço um pouco mais, quase me engasgando e tiro.
Repito o movimento, chupando ele cada vez mais rápido enquanto
vislumbro sua expressão de prazer, os seus gemidos me enchem o ouvido.
Luke é uma delícia. Eu poderia ficar horas apenas me divertindo com o pau
dele na boca, mas ele não tem toda essa ciência.
Luke me segura no lugar e começa a foder a minha boca, sinto seu
pau ficando um pouco mais grosso e sorrio, sem quebrar o contato visual,
quando sinto o primeiro jato de porra atingindo o céu da boca. E faço
questão de engolir cada gota.
Sento nas minhas pernas novamente e abro a boca, mostrando para
ele antes de engolir, com um sorriso pequeno e safado.
— Ah! Sarah… — Ele toca meu rosto com carinho, sua voz está
ainda mais rouca e a minha pele se arrepia — você tem uma carinha de boa
moça, mas é uma pervertida na cama.
— Não gosta? — Pergunto arqueando a sobrancelha e ele ri.
— Pelo contrário — Ele desliza o dedão pelo meu lábio — Eu gosto
muito.
Sarah é uma deusa e eu serei para sempre seu devoto.
Contemplo seu corpo sobre o meu com fervor. Ela é linda, sexy e
quente. Seu sorriso malicioso enquanto encaixa o meu pau em sua buceta
me deixa louco, e ela senta devagar. Ela é quente e apertada, meu pau pulsa
dentro dela de puro tesão.
Sarah espalma as mãos sobre o meu peito para se apoiar e começa a
subir e descer devagar, me provocando, ela quer acabar com a minha
sanidade e vai conseguir. Ela rebola sem me tirar de dentro dela, seu rosto
demonstra toda sua excitação e ela geme. Seus gemidos são como música
para mim. E eu preciso de mais, acho que nunca estarei saciado do prazer
que ela me proporciona.
— Luke… — Ela geme meu nome e eu tenho certeza que esse é o
som mais bonito que já escutei em toda a minha vida.
— Você é tão perfeita — Elogio com a voz trêmula.
Seguro na sua cintura e começo a me mover entrando e saindo com
força dela. Sarah joga sua cabeça para trás, gemendo, seus seios balançam e
eu suspiro banhado pelo prazer. Cada segundo com ela é como visitar o
paraíso enquanto peco como se merecesse o inferno.
Nos viro na cama, ficando por cima dela e entre as suas pernas.
Seguro sua coxa e a penetro devagar, e começo a estocar. Aperto sua bunda
ainda sem parar de me mover, Sarah parece completamente perdida nas
sensações que estou provocando nela, e isso me deixa ainda mais motivado
a continuar.
Deslizo a minha mão livre sobre o seu corpo, até chegar no seu
pescoço. Seus olhos castanhos brilham em pura luxúria, como se me
dissessem “sim” e eu fecho a minha mão e sorrio. Perfeita, essa é a única
descrição possível para ela. Aperto um pouco seu pescoço, cortando a sua
respiração por alguns segundos e depois a liberto.
— Luke, e-eu… isso… — Ela geme tentando formular uma frase,
mas não consegue e eu repito a ação novamente.
— Eu sei o que você quer, e vou te dar, meu amor — Falo baixo, com
a voz rouca.
A provocar deixa tudo ainda mais gostoso, mas eu não estou muito
diferente dela. Sinto como se estivesse mergulhado no prazer em sua mais
pura essência. Por cada centímetro de mim parece correr uma deliciosa e
satisfatória sensação de deleite.
— Você é minha, Sarah, sempre será minha — Falo possessivo,
investindo com mais intensidade, fazendo ela gritar enquanto geme, se
contorcer de prazer.
— Sua, só sua — Ela responde ofegante.
Saio de dentro de sua buceta e a viro, colocando-a de quatro e ela
coopera prontamente. Sarah fica com a bunda bem empinada para mim, é
mesmo uma visão do céu.
Seguro no seu quadril e começo a penetrá-la, logo estou entrando e
saindo com força e acerto um tapa em sua bunda, ela geme alto e rebola.
Implorando por mais. Insaciável. Sarah geme e eu gemo junto. Seu corpo é
a minha perdição e eu faço questão de me perder.
Serei para sempre súdito dela.
Mudo nossa posição novamente, quero olhar no rosto da Sarah no
momento que ela gozar. Quero ver todas as suas expressões de prazer, pois
sei que ela ficará ainda mais linda. Fico em pé ao lado da cama e volto a
fodê-la com força.
Tudo no quarto me deixa ainda mais excitado, o barulho dos nossos
corpos se chocando, os sons dos gemidos, o cheiro de sexo e a visão do seu
corpo embaixo do meu. É lindo ver meu pau entrando e saindo da sua
buceta e sentir como ela me recebe bem. Como se tivesse sido feita
especialmente para mim.
— eu vou gozar — ela geme arranhando os meus braços.
— Venha para mim, meu amor, goza no meu pau — Eu falo baixo,
como se realmente estivesse dando uma autorização.
Seu corpo estremece embaixo do meu, vejo seus olhos revirando e
sorrindo, indo mais fundo nela. Sarah goza e eu tenho o meu orgasmo junto
ao dela, nos completando.
Deito ao seu lado, a acolhendo em meus braços e ela se aninha em
mim. Minha respiração está ofegante, meu coração está descompassado e
eu tenho certeza que amo essa mulher.
— Preciso dormir — Ela resmunga já sonolenta.
— Pode dormir, minha princesa, eu cuido de você — Digo suave,
apesar de estar ofegante e faço carinho nela até que esteja completamente
apagada de sono.
Com cuidado, a deito sobre a cama e começo a trocar os lençóis e
limpar o seu corpo. Começo a cuidar dela, me sentindo feliz e completo.
Sarah é o amor da minha vida.
Eu teria certeza que essa noite foi um delírio, mas estou
deliciosamente dolorida.
Mesmo já estando acordada, continuo de olhos fechados, sentindo o
cheiro dele nos meus lençóis. Talvez eu esteja sendo um pouco emocionada,
mas se antes eu já estava me sentindo envolvida, agora tenho certeza que
estou. Se ele acha que sou dele, agora ele pode ter certeza sobre isso.
Estico meu braço sobre a cama, mas percebo que o Luke não está
deitado comigo. Abro os olhos enquanto me sento, ele não está no quarto
também. Será que ele foi embora? Ele não faria isso comigo, não depois
dessa noite.
Sei que ele já fez uma vez, mas agora é diferente.
Me levanto e vou até o banheiro, lavo o meu rosto e coloco um robe
por cima do pijama. Pijama que ele colocou em mim, já que fiquei
completamente sem forças essa noite. Saio do quarto sentindo o meu
coração apertado, minha mente projetando diversos cenários. E em todos
estou sozinha dentro dessa casa, e eu não quero isso.
Quando chego nas escadas, vejo o Luke subindo com uma bandeja na
mão. Sou inundada por uma sensação avassaladora de alívio.
Definitivamente, eu ficaria destruída se ele tivesse partido sem se despedir
novamente.
Corrigindo, ficaria destruída se ele partisse.
— Você estragou o seu café da manhã na cama — Ele reclama e eu
sorrio animada.
— Não tem problema, eu volto para a cama — Dou de ombros e
começo a caminhar em direção ao quarto. Ele está aqui.
— Não é a mesma coisa — Ele resmunga e eu rio — Eu ia colocar a
bandeja na cama, te acordar com muitos beijos, e depois tomaríamos café,
mesmo sendo hora do almoço.
— Eu gosto muito dos beijinhos — entro no quarto, deixando a porta
aberta para ele — E é ainda melhor porque eu já escovei e estou sem bafo.
Luke coloca a bandeja na cama e me puxa para perto dele. Primeiro,
ele começa beijando a minha testa, depois as minhas bochechas e então
beija a minha boca. É um beijo lento, mas ainda assim, faz o meu coração
bater mais rápido.
— Bom dia — Ele sussurra enquanto sua mão acaricia meu rosto —,
espero que tenha tido uma boa noite de sono.
— Bom dia, tive uma excelente noite de sono — Respondo, sem
conseguir desviar os olhos — espero que você também.
— A melhor em muito tempo — Ele afirma e me dá um beijo rápido
— Agora vem, você precisa se alimentar para começarmos o dia.
Sentamos na cama, deixando a bandeja entre nós. Ele é cuidadoso na
hora de comer para não derrubarmos nada e não fazermos bagunça. Luke
entrou na minha vida de uma maneira nada convencional, e saber que ele é
possivelmente envolvido com crime, deveria me fazer querer distância dele,
mas eu só quero estar cada vez mais próxima.
Queria que déssemos um rótulo verdadeiro para o que temos.
Queria conseguir nomear o que sinto.
Quero que ele seja meu.
— O que você está pensando? — Luke pergunta, seus olhos estão um
pouco cerrados, como se estivesse me analisando.
— Ontem você disse que eu era sua, e isso me deixou com algumas
dúvidas — Confesso, sentindo as pontas dos meus dedos ficarem dormentes
devido ao nervosismo.
— Quais dúvidas? — Ele pergunta sério, atento.
— Você disse isso por causa da farsa do namoro? Você sente algo por
mim? — Respiro fundo, disparando as perguntas antes que a minha
coragem acabe — Se eu sou sua, você é meu?
— Eu não disse isso pela farsa, eu te quero de verdade, e achei que
essa noite isso tinha ficado claro…
— Sexo pode ser apenas sexo — Eu o interrompo.
— Mas não é o caso — Ele nega — Eu quero ser seu, Sarah, quero
nosso relacionamento passe a ser algo real, que você seja só minha, assim
como serei só seu.
Prenso os lábios formando uma linha fina enquanto o encaro. Meu
coração parece estar saltando dentro do peito, e a minha vontade é de me
jogar em cima dele, mas a minha mente me lembra que, apesar dos
sentimentos, existem outras coisas que devem se faladas, mesmo que eu
queira deixar para depois.
— Quero saber mais sobre você, para que nós tenhamos um
relacionamento real, acho que eu deveria te conhecer um pouco mais, saber
sobre quem você é, mas por você — Mordo o lábio inferior por um
segundo, me sentindo ainda mais nervosa — Eu só sei que você tem irmãos
porque eles se apresentaram, e você claramente não queria isso.
— Não era importante — Ele desdenha.
— Quando eu conhecerei você? — Pergunto começando a sentir uma
chateação… não, uma mágoa, brotar em mim.
Ele me encara em silêncio, talvez eu esteja sendo um pouco emotiva,
mas acho que tenho o direito de ser. Poxa, não estou pedindo muito, só
quero saber mais sobre ele, sobre quem ele é, de onde ele veio. Não quero
continuar sendo pega de surpresa, não quero, sei lá, acordar e descobrir que
isso é só uma mentira vazia.
— Vou começar por onde você já sabe…
— Você vai me contar sobre você? — Pergunto para ter certeza,
sentindo um sorriso involuntário brotar no meu rosto.
— Eu já sou capaz de qualquer coisa por você, posso ter invadido sua
casa, Sarah, mas você invadiu o meu coração — Ele diz se aproximando de
mim, ele segura o meu rosto com cuidado e me beija — Se você quer saber
quem eu sou, eu direi.
Minha respiração fica pesada e eu me perco por um segundo olhando
os olhos de esmeralda do Luke, então ele se afasta, primeiro ele retira a
bandeja da cama, depois se deita, me puxando para que eu fique aninhada
sobre o seu peito. Sei que é muita coisa para eu processar, mas que se dane,
só quero saber e viver o agora.
— Edgar é alguns meses mais velho que eu, e o Ethan tem vinte e
quatro, e eles são meus irmãos, mas apenas por parte de pai, por isso que a
minha diferença de idade com o Edgar é tão pequena — Ele explica antes
que eu fique confusa — E sim, isso significa que eu sou o filho fora do
casamento.
— Eu ainda não havia feito essa conta — Comento e ele ri, deixando
um beijo na minha cabeça. — Por isso que você não falou deles?
— Não gosto de relacionar o meu nome ao deles, não gosto que as
pessoas saibam sobre nossa ligação, não quero que exista a chance da
mídia, de alguma forma, me encontrar — Ele explica — Minha relação com
o meu pai não é das melhores.
— E com seus irmãos? Não me pareceu muito boa com o Edgar, mas
não foi tão ruim com o Ethan.
— O Ethan não estava dando em cima de você — Ele dá de ombros e
eu reviro os olhos — Ethan sempre foi muito tranquilo, leva tudo de boa,
faz o que quer e quando quer, porque sabe que pode fazer isso. Edgar,
entrou cedo nos negócios da família, sempre foi responsável nesse ponto,
mas sempre foi um pé no saco, implicante e espaçoso.
— Talvez ser espaçoso seja de família — Eu rio e o vejo revirando os
olhos — Mas e você? Porque você falou sobre o Ethan e o Edgar. Você não
vai me enrolar.
— O clássico, sou o filho fora do casamento, cresci sabendo disso,
tenho uma relação boa e ruim com a família do meu pai, quero dizer, me
dou bem com o meu tio George, e os filhos dele — Ele explica. Luke fala
de todos, menos dele mesmo ou dos pais.
— E sua mãe? Quem ela é? O que ela faz? — Pergunto curiosa, e
vejo sua expressão se contorcer um pouco, e não gosto disso.
— Minha mãe chamava Mary — chamava? — Ela era uma mulher
incrível, se dedicava intensamente a tudo que se propunha fazer, ela tinha
uma loja de doces, e amava a vida.
— Ela… é que você está dizendo tudo no passado… é… — Tento
formular a pergunta, mas acabo me perdendo, não sei como questionar isso
sem parecer indelicada, mesmo que eu já esteja sendo.
— Ela morreu — Ele responde à pergunta que não consegui formular,
sua voz parece quebrada, triste, me viro sobre a cama, sentando sobre as
minhas pernas para poder olhar em seu rosto, seu olhar parece distante e eu
sinto uma enorme vontade de o abraçar.
— Você quer falar sobre isso? — Pergunto, tentando ser delicada.
— Foi um dia antes de eu invadir a sua casa — Ele diz e eu começo a
calcular o tempo — a mesma pessoa que fez isso com ela, foi quem me
feriu daquela forma, por isso eu precisava ficar um tempo escondido onde
eu não precisasse dar meu nome, um hotel teria que me registrar e eu ficaria
no radar.
— Isso foi a pouco mais de um mês — Comento estarrecida — Você
ainda está no luto.
Eu o abraço, deixando meu corpo sobre o dele, e deitando a minha
cabeça em seu ombro. Meu peito dói, e eu sinto vontade de chorar. Ele me
envolve em seus braços, me apertando levemente contra ele.
— Eu sinto muito por sua perda, sinto muito — Digo baixo e ele
acaricia minhas costas.
— Está tudo bem — Ele diz baixo, mas apenas pelo seu tom de voz,
sei que não é verdade. — Eu acho que vocês teriam se dado bem.
— Tenho certeza que sim — Respondo, abraçando-o ainda mais.
Fico aninhada em seus abraços, em silêncio por um tempo. Então me
afasto o suficiente apenas para olhar em seu rosto e dou um selinho nele,
me deitando ao seu lado, para ficarmos de frente.
— O que aconteceu? Por que a mataram? Por que tentaram te matar?
— Pergunto. Luke coloca mão na minha cintura, e seus olhos se encontram
com os meus, quantos segredos ele ainda esconde?
— Eu realmente sou um criminoso, e isso é tudo que vou explicar —
Ele diz por fim.
— Quando quiser me contar tudo, estou aqui — Garanto.
Ele abre um sorriso pequeno e me abraça. Sei que no momento não
há o que ser dito, por isso apenas retribuo o abraço, deixando um silêncio
confortável nos envolver.

Luke me dá um selinho e volta para perto do fogão, e eu sorrio o


observando.
Ele decidiu que faria o jantar, e tudo que eu deveria fazer era sentar
aqui e observá-lo. Por isso abri uma garrafa de vinho para acompanhar o
momento. O cheiro espalhado no ambiente está maravilhoso.
Realmente estou criando muitas expectativas.
— Sabe que se você faz tudo, as vasilhas do jantar também —
Comento e escuto sua risada ecoando.
— Acho que essa parte já estava nos termos — Ele responde e eu dou
de ombros, dando mais um gole no vinho.
— Só para garantir — Aponto e ele ri.
Depois do clima tenso pela manhã. Luke pediu comida para o
almoço, e passamos o dia juntinhos, rimos um pouco dos acontecimentos do
noivado e vimos um filme, até a hora de comermos novamente. Acho que
eu deveria me matricular em uma academia.
Primeiro que o Luke me mostrou que preciso de muita energia na
cama com ele, e segundo porque estamos comendo como se não houvesse
amanhã, e eu preciso cuidar de mim.
— Enquanto a comida está terminando de ficar pronta, vem aqui —
Ele me puxa e começamos a dançar no meio da cozinha.
Não há música, mas não importa porque quando estou nos braços
dele, tudo ao nosso redor parece deixar de existir. O silêncio é nossa
música. Ele me beija suavemente. Quanto mais sinto seus lábios nos meus,
mais quero senti-los.
— Preciso arrumar os pratos — Ele beija minha testa e se afasta.
— Eu posso fazer isso — Digo, indo até o armários dos pratos, mas
ele me segura pela cintura.
— Você pode sentar no seu lugar e esperar — Ele beija meu pescoço
— Eu cuidarei de tudo.
— Tem certeza? — Pergunto sentindo a minha pele arrepiada.
— Absoluta — Ele garante e me guia de volta para a mesa — Você
espera aqui, irei te servir a noite inteira.
— A noite inteira? — Pergunto sorrindo maliciosa.
— Sarah… — Ele diz meu nome em tom de aviso, mas isso só faz
meu sorriso se abrir ainda mais.
Me sento no meu lugar novamente, e o observo colocando a mesa.
Luke me mudou. Ele entrou na minha casa, correção, ele invadiu a minha
casa, e me bagunçou inteira. Abalou meus sentimentos, e me faz sentir
coisas que nunca senti. E isso tudo parece bom, sinto que é.
Mas, ao mesmo tempo, sinto como se devesse amá-lo agora, porque
talvez amanhã ele não esteja aqui. Tentei fingir que não me abalou quando
acordei e ele tinha ido embora deixando um único recado na porta da
geladeira, mas foi como se um inverno inteiro tivesse adentrado o meu
peito.
— Eu quero o número do seu telefone — Eu peço e ele me olha
arqueando a sobrancelha — Você sumiu e eu não sabia como falar com
você, não quero que isso aconteça novamente.
— Sarah, ainda quero te proteger do meu mundo, não ter como entrar
em contato comigo quando estou lá, também é uma forma de te proteger —
Ele diz firme — Eu não vou abrir mão das coisas que eu puder fazer para
que você fique bem.
— Ou é porque você tem uma esposa, daí você sai daqui e vai viver
com a esposa, tem uma vida dupla e eu sou a amante — Eu olho séria para
ele — Eu não quero ser amante de ninguém, Luke, me passe o número do
seu celular.
Ele me encara por alguns segundos e começa a rir, explodindo em
gargalhadas, e eu semicerro os olhos, mantendo a minha expressão séria.
— Estou falando sério, Luke Turner, por que eu não posso ter seu
número? Se eu te ligar, sua esposa vai atender, é isso? — Arqueio a
sobrancelha e ele me dá um selinho, ainda sorrindo.
— Sinceramente, eu não esperava por uma teoria como essa — Ele
fala se divertindo — Vamos jantar, antes que esfrie.
— Está me enrolando novamente — Reclamo, mas quando levo o
garfo até a boca, suspiro de tão boa que está a comida.
A carne está macia e bem temperada, os acompanhamentos estão
seguindo o mesmo padrão de qualidade, acho que essa é a melhor refeição
que faço em muito tempo. Coloco mais um pouco na boca, está realmente
muito bom. Acho que ele está querendo me conquistar pela barriga também.
— O que achou? — Ele questiona com expectativa.
— Está simplesmente incrível, nunca imaginaria que você cozinharia
tão bem assim — Elogio sincera.
— Estou perdoado? — Ele pergunta, e eu semicerro os olhos para ele.
— Estou pensando sobre isso — Dou de ombros.
Ele sorri divertido, e eu finjo virar a cara. É claro que eu sei que ele
não tem uma esposa, como ele passaria um mês longe de casa e essa mulher
não o procuraria? Mas não entendo, é só um número no celular, como isso
poderia me deixar desprotegida?
Não quero atrapalhar o momento, mas não posso deixar de pensar
que temos uma conversa séria para ter. Há muitas coisas que ainda quero
esclarecer, não gosto de sentir como se estivesse tentando caminhar sobre
areia movediça e que a qualquer momento serei engolida.
Mas uma coisa de cada vez e eu sei que tudo será esclarecido.
Luke me deixa sozinha no quarto para atender o celular, sinto um
aperto estranho no peito enquanto olho para porta, esperando ele voltar. Sei
que será o momento de termos a conversa que eu queria deixar para depois.
Quando a porta é aberta, puxo o ar devagar, me sentindo nervosa. E
piora quando eu noto a expressão em seu rosto. Abro a boca uma, duas, três
vezes, mas não digo nada, não sei o que dizer ou perguntar. Um sentimento
de insegurança me domina, por que eu tenho tanto medo de perdê-lo? Ainda
me sentindo apreensiva, espero que ele fale algo.
Luke senta na cama comigo, já estávamos prontos dormir quando ele
saiu para atender a ligação.
— Acho que você já imaginava isso, mas eu vou precisar passar uns
dias fora novamente — Ele diz segurando a minha mão com cuidado. Eu
assinto concordando, era por imaginar isso que eu queria o número dele —
Eu vou, mas volto.
— Você tem que ir agora? — Pergunto, puxando delicadamente as
minhas mãos e abraçando as minhas pernas.
— Posso ir de manhã. Você está bem? — Ele pergunta preocupado.
— Estou, só que tenho a sensação de que você não vai voltar, sempre
que você saí parece a última vez — Confesso, mesmo me sentindo um
pouco vulnerável por isso.
— Eu sempre, sempre, vou voltar para você — Ele afirma
veementemente.
— Você promete? — Pergunto olhando nos olhos dele.
— Prometo — Ele responde no mesmo momento — Vamos dormir?
— Sim, vamos — Concordo.
Fico deitada sobre o peito dele, sentindo seus dedos deslizarem
carinhosamente pelos meus cabelos. Fecho meus olhos, não quero pensar
nos contras, não quero pensar em nada, só descansar sentindo ele aqui,
comigo.
Meu despertador toca me lembrando que eu preciso ir trabalhar.
Passo a mão na cama e o Luke não está mais aqui. E dessa vez, sei que não
vou encontrá-lo nas escadas, no corredor ou na cozinha. Ele não está aqui.
Tudo bem, eu ainda tenho uma vida para cuidar, não é como se agora
ele fosse o centro do meu mundo apenas porque me sinto completamente
apaixonada por ele. Não é assim que funciona. Sou uma mulher
independente e completamente capaz de cuidar de mim mesma.
Me arrumo para o trabalho rápido, não quero me atrasar, mesmo se eu
não fosse uma iniciante, não gostaria disso. Decido ir dirigindo, acho que
vai ser bom fazer tudo o que estiver ao meu alcance para não pensar em
nada, não ficar pensando nele.
Sorrio ao encontrar com a Heather na garagem da empresa. É hora de
esquecer os problemas que são de fora da empresa, e focar totalmente no
trabalho.
— Bom dia — Ela me cumprimenta com um sorriso agradável.
— Bom dia, como foi o final de semana? — Pergunto enquanto
caminhamos em direção ao elevador.
— Longo, muito longo — Ela suspira cansada — Recebi visita, e o
seu?
— Curto, muito curto — Respondo suspirando também, e acabamos
rindo.
— Você tinha um noivado para ir, né? Como foi? — Ela pergunta
curiosa, e eu acabo rindo lembrando.
— Em resumo teve briga, exposição de chifre, mais briga e eu não sei
se os noivos continuam noivos — Respondo de maneira muito resumida e
ela arregala os olhos surpresa.
— Não é o que eu espero de um noivado — Ela ri um pouco chocada
— E eu preciso de cada detalhe desse acontecimento.
— Nós temos que trabalhar — Eu respondo negando, e ela faz bico
fingindo estar triste. — No intervalo?
— Perfeito, se você não me contar o que aconteceu, estará deixando
um enorme buraco em meu peito — Ela fala de maneira dramática e eu rio.
— Está sendo exagerada, Heather — Provoco e ela dá de ombros,
enquanto saímos do elevador.
— Não, estou sendo sincera — Ela nega.
Reviro os olhos rindo enquanto entramos no escritório. Sinto que será
um dia bom, e está tudo bem. Vou apenas focar no trabalho que tenho para
fazer.
Perto do final da hora do almoço, meu celular começa a tocar e eu me
afasto para atender ao ver o nome da minha mãe na tela. Vou para o
corredor entre os escritórios para ter um pouco de privacidade.
— Oi, mãe, estou no trabalho, aconteceu alguma coisa? — Pergunto
preocupada.
— Oi, meu amor, não aconteceu nada, só estou te ligando para saber
porque não nos disse que estava namorando o filho do senador Armstrong
— Ela diz e eu suspiro.
— Isso não é importante — Respondo — É importante a forma como
ele me trata, como ele cuida de mim e me respeita. Só isso que importa.
— Mas saber quem são seus sogros também importa — Ela
argumenta, e eu suspiro, não é como se eu fosse conseguir vencer qualquer
discussão com ela.
— Saber, eu sei, não achei que deveria contar isso como alguma
vantagem. E pode esquecer esse assunto, não faz diferença — Eu aviso,
torcendo para que ela me escute.
— É, mas a gente poderia estar exibindo nosso genro, e você nos
impediu de fazer isso — Abigail reclama — Por isso, quero fazer um jantar
com toda a família para apresentar o Luke.
— Não vai acontecer, minha vida não é um show e eu não estou
tentando provar nada para nenhum desses nossos parentes. — Nego no
mesmo instante — Nós não vamos participar disso.
— Ele tem que conhecer a família! — Ela justifica e eu preciso
respirar fundo para continuar calma ao responder.
— Para quê? — Pergunto indignada — Alimentar a fofoca? O que
aconteceu no noivado da Patrícia não foi o suficiente? Não vou expor a
minha vida pessoal para ninguém, me deixa quietinha aqui na minha. Não
tenta fazer isso acontecer, porque não vai acontecer.
— Você está sendo muito ruim comigo — Ela reclama — Um jantar,
só isso.
— Não, mãe, a senhora está querendo exibir o Luke como se ele
fosse algum tipo de troféu, só porque é filho de político, então por favor,
não insiste — Eu peço, quase em tom de súplica.
— Não quero exibir ele como um troféu, só quero mostrar como
agora você está muito melhor — Ela diz como se fosse uma ideia genial.
— Mãe, por favor — Peço mais uma vez e a escuto bufando. — Eu
preciso desligar, tenho que voltar ao trabalho.
— Você está sendo dramática, mas depois eu ligo para terminarmos
essa conversa — Ela responde e desliga a chamada, o jeito vai ser evitar a
minha mãe uns dias até que ela esqueça essa ideia horrível.
Seria uma situação péssima, ainda mais depois de tudo o que
aconteceu no noivado da Patrícia. Prefiro me poupar de qualquer situação
estressante, não tenho que provar nada para ninguém. Eles não pensaram no
meu bem-estar, em como eu me sentiria, não pensaram em mim, quando
insistiam para que eu participasse de quaisquer coisas nas quais o Dylan e a
Patrícia estavam envolvidos. Também não quero e não preciso provar nada
para ninguém.
Ainda não me adaptei a estar com o Luke, sei que ele é um
trabalhador ilegal, sei que ele vai, mas volta. Sei que tenho um sentimento
enorme por ele, sei que estamos namorando. Mas ainda não sei a
constância, não sei quando ele volta, não sei sequer o número do celular
dele. E nem entendo como isso poderia prejudicar a minha segurança.
— Está tudo bem? — Heather pergunta preocupada, se aproximando
da minha mesa.
— Está, sim, só me distraí um pouco — Respondo com um sorriso
pequeno — Já vou terminar aquela parte que me pediu para agilizar.
— Claro, qualquer coisa me avisa — Ela responde, mas no instante
que olho para a porta, vejo o Edgar e por isso me abaixo, me escondendo
debaixo da mesa — Sarah?
— Heather, ta vendo aquele homem de terno na porta? — Pergunto e
ela assente — Se ele perguntar por mim, não estou aqui, despacha ele para
mim.
— Mas ele é investidor da empresa, como assim? — Ela pergunta e
eu suspiro — Ele está vindo.
— Por favor! — Insisto e ela semicerra os olhos, mas coloca uma
cadeira na minha frente, atrapalhando a visão sobre mim, mas ainda
permitindo que eu conseguisse ter uma boa visão de tudo.
Não quero ter que lidar com o Edgar, ele claramente está tentando me
usar para provocar o Luke. A relação dos dois é, com certeza, caótica e eu
não quero ficar no meio disso. Já estou com muita coisa dentro da minha
mente para lidar com irmãos que não se acertam.
— Boa tarde, estou procurando pela Sarah, me disseram que ela
estava aqui — Edgar diz educadamente, mas olhando ao redor.
— Boa tarde, ela estava, mas precisou sair para resolver algumas
coisas para mim — Heather responde, desviando a atenção dele.
— Tudo bem, eu espero — Edgar responde puxando uma cadeira
para se sentar — Você trabalha aqui há muito tempo, certo? Já te vi algumas
vezes.
— Eu não posso ficar conversando com o senhor, a menos que seja
sobre trabalho — Heather corta o assunto — Não aconselho que fique
esperando a Sarah, ela provavelmente irá demorar.
— Estou com o dia livre hoje — Ele dá de ombros. Eu não acredito
que ele vá mesmo ficar aqui. — Posso esperar.
— Então o senhor terá que ir para a sala de espera…
— Não preciso, já avisei ao presidente que estaria bem aqui — Ele
sorri e eu vejo a Heather fechar a expressão um pouco. Ainda bem que não
sou eu que estou tendo que lidar com ele.
— Certo, então irei voltar para a minha mesa para trabalhar, mas seria
interessante que o senhor soubesse que esse comportamento não é adequado
— Ela diz comedida.
— Não é adequado? — Ele pergunta com um sorriso divertido no
rosto.
— Cerca uma mulher no seu ambiente de trabalho, Sarah não está
aqui, pode voltar depois ou a procurar em outro lugar. E, caso ela esteja te
dando um fora, apenas aceitar que ela não te quer — Heather o aconselha
calmamente, e eu sou obrigada a segurar a risada, mas o Edgar não a
impede de sair alta.
— Acho que você está entendendo errado — Ele sorri de canto —
Não tenho esse tipo de interesse na Sarah, ela é apenas a minha cunhada.
— Cunhada? — Heather pergunta surpresa e ele assente.
— Sim, estou querendo apenas estabelecer bons laços, já que agora
somos da mesma família — Ele explica suavemente. E eu continuo
duvidando que ele quer estabelecer bons laços, ainda acho que é provocar o
Luke.
— Ainda não é um comportamento adequado — Heather diz negando
— Se são da mesma família, por que não entrou em contato com ela pelo
celular antes de vir? Saberia que ela não está aqui. Recomendo que volte
em outro momento.
— O que acha de fazermos um acordo — Edgar sugere, e a Heather
cruza os braços sobre o peito arqueando a sobrancelha. — Não precisa ficar
na defensiva, é um bom acordo.
— Eu não vou avisar sobre quando ela estiver aqui — Ela nega antes
mesmo de escutá-lo.
— Não é isso, eu vou embora agora, mas você aceita sair comigo —
ele propõe.
— Não está falando sério, né? — Ela questiona, após deixar uma
risada soprada escapar.
— É uma boa ideia — Ele argumenta e ela nega.
— É uma péssima ideia, que tal a minha sugestão. Você vai embora, e
não atrapalha a tarde de ninguém só porque você está com tempo livre,
quando todos os outros nessa sala não estão — Ela diz firme e ele sorri de
lado.
— Tudo bem, não vou te contrariar, hoje — Ele responde levantando,
mas sem tirar os olhos dela — Mas, com certeza, vir aqui hoje não foi
tempo perdido.
— Tenha uma boa tarde — Ela diz, ignorando a fala dele.
— Você é tão mandona, te deixa ainda mais bonita — Ele a elogia
sorrindo, enquanto começa a se afastar.
Heather me olha abismada e depois volta a encarar o Edgar até que
ele tenha ido embora. Ainda espero um pouco para ter certeza de que ele
não voltará e me sento no meu lugar novamente, agora conseguirei
trabalhar.
— Você é cunhada do Edgar Armstrong? — Ela questiona me
olhando surpresa.
— Sou, mas não quero falar sobre isso — Dou de ombros — Edgar
Armstrong te chamou para sair, por que não aceitou?
— Porque não faz sentido o que ele propôs, e sair comigo não é fácil
assim — Ela dá de ombros — vamos trabalhar.
— Vamos — Respondo rindo.
Volto a me concentrar no trabalho, está tudo indo bem, não tenho com
o que me preocupar.
Retorno para a minha sala após avaliar os testes feitos com a nova
fórmula, os resultados estão quase como eu esperava. Mas preciso avaliar
ainda sobre os efeitos pós o uso, por isso ainda manterei as cobaias mais
alguns dias para avaliação geral.
Abro a porta da minha sala e me deparo com o Edgar sentado em
uma das poltronas com um copo de uísque na mão. Reviro os olhos já
impaciente. Nunca tive muito tato para lidar com o Edgar, desde criança,
quando ele aparecia para nos visitar com o tio George, ele era uma criança
irritante, implicante. Sempre testou minha paciência, o problema é que eu
nunca fui muito paciente, e por isso sempre brigamos muito.
— Demorou muito, maninho — Edgar diz e eu reviro os olhos mais
uma vez.
— O que você quer aqui? — Pergunto, sem dar muita moral para ele.
— Ethan conheceu sua namorada, acho que já está na hora de você
fazer uma apresentação formal para a família — Edgar diz e eu olho para
ele — Acho que podemos marcar para o final de semana, o que acha?
— Acho que você tem que ficar longe dela, por que esse interesse
todo? — Pergunto deixando a prancheta na mesa e cruzando os braços
sobre o peito.
— Você nunca esteve com ninguém, sério, acho que esse evento
merece uma comemoração — Ele provoca e eu respiro fundo. — E quem
sabe assim, ela para de fugir quando eu tentar falar com ela.
— Como assim? — Arqueio uma sobrancelha.
— Estive na empresa dela ontem, e a Sarah se escondeu embaixo da
mesa, como se fosse um excelente esconderijo — Ele ri — Mas apesar
disso, foi ótimo ter ido até.
— Para de rodear a Sarah, Edgar, não me faça perder a paciência com
você novamente, ou eu vou socar sua cara de novo — Ameaço irritado, mas
o idiota só sorri.
— Não vai perguntar porque eu gostei tanto de ir até lá? — Ele
questiona em um tom divertido.
— Não, porque eu não me importo — Dou de ombros — Só quero
que você vá embora.
— Certo, como você está muito interessado, vou te falar — Ele diz
me ignorando completamente — Primeiro, ela tem uma colega de trabalho
muito bonita, serei obrigado a aparecer lá mais vezes apenas para vê-la,
infelizmente esqueci de perguntar o nome dela, se puder me fazer o favor de
falar com a Sarah e perguntar o nome da garota de mechas roxas, facilitaria
meu trabalho.
— Eu não vou fazer isso, você que se vire para saber — Sento na
minha cadeira, desistindo de o colocar para fora a força.
— Mas ela é amiga da sua mulher — Ele insiste e depois revira os
olhos — Por isso o Ethan é meu irmão favorito.
— Meu coração está partido com essa revelação — Debocho com
desdém — Até acho melhor você ir embora depois dessa.
— Mas eu ainda nem disse o segundo motivo pelo qual foi bom ter
ido até lá — Ele argumenta.
— Qual foi? — Pergunto. Edgar me vence pelo cansaço.
— Sarah é muito acessível — Ele responde e eu franzo o cenho,
confuso.
— Do que está falando?
— Ela não tem a mínima segurança, e particularmente, acho que
nenhum senso de autopreservação, já que aceitou ir tomar café comigo
segundos depois de me conhecer, qualquer um, facilmente, se aproxima
dela — Ele explica e eu fico em silêncio, pensativo — Deveria colocar um
segurança com ela, mesmo que ela não fique sabendo.
Como pude ser tão estúpido ao ponto de deixar algo tão básico passar
batido? Eu tenho ficado muito tempo com ela. Tenho que fazer isso e
mantê-la segura a qualquer custo e farei isso agora. Acho que além do
segurança, a melhor coisa a fazer é não aparecer mais com ela em lugar
nenhum, e ser muito discreto ao ir visitá-la.
— Vou resolver isso — Digo me levantando.
— Deveria descobrir o que eu pedi, como recompensa pela minha
dica — Ele me provoca e eu reviro os olhos.
— Vai embora da minha sala, quando eu voltar, não quero mais você
aqui — Aviso enquanto me retiro. O Edgar é meio-irmão mais insuportável
que existe.
— Tomara que você consiga descobrir sobre essa mulher, quem sabe
você se ocupa e para de encher a paciência — Reclamo e escuto a risada
dele.
Mesmo que faça pouco tempo que a Sarah entrou na minha vida, não
lidaria nada bem se algo acontecesse com ela, por isso farei o que for
necessário para mantê-lo bem, segura, e viva. E enquanto meu conflito com
o Carl estiver acontecendo, não posso errar dessa forma. Erros podem
custar muito caro, e eu não estou disposto a pagar por isso. De novo.

Quando retorno para a minha sala, Edgar já se foi, para o meu alívio.
Escolhi os responsáveis pela segurança da Sarah, que trabalharam
revezando, dessa forma, nenhum trabalhará cansado demais a ponto de
perdê-la de vista um segundo que seja. Também não planejo falar sobre isso
com ela, pelo menos não por enquanto.
Meu celular começa a tocar e eu atendo assim que vejo ser o Alex,
estava esperando essa ligação.
— Onde você está? — Ele pergunta um pouco nervoso.
— Estou trabalhando, o que está acontecendo? — Indago
preocupado.
— Preciso que você venha me ajudar, e que venha agora — Ele diz
sério, e eu já começo a sair da sala com a minha arma e a chave do carro —
Lembra que eu disse que eles estavam sabendo estarem sendo monitorados?
— Lembro.
— Acho que eles me identificaram, preciso sair desse apartamento
em segurança — Ele pede — Vem o mais rápido que você conseguir, já
estou juntando tudo o que preciso levar.
— Estou a caminho, chegarei rápido — Garanto e ele desliga a
chamada.
Grito com três soldados do galpão que trabalho para irem comigo, e
eles se armam correndo e indo para um segundo carro. Quando estou
saindo, vejo o Derek, mas o ignoro completamente, no momento eu preciso
chegar no meu amigo antes daquele filho da puta do Carl.
Alex deveria ter me ouvido quando sugeri que se mudasse, mas é
muito teimoso. Piso no acelerador, ignoro todos os sinais, até os vermelhos,
passo pelos carros fazendo zig-zag. Não tenho tempo a perder. Não tenho
mais nada a perder.
Chego na rua do Alex e estaciono o carro de qualquer jeito perto da
calçada e salto do carro, percebendo que ainda não nenhuma
movimentação. Ou talvez seja tarde demais. Espero estar errado.
Dois dos três soldados me acompanham, o outro fica de guarda na
entrada. Alex, apesar de amar tecnologia, mora em um prédio pequeno, e
sem muita tecnologia, nem mesmo elevador. O que nos obriga a subir até o
terceiro andar pela escada. O que fazemos correndo.
Bato na porta do Alex, mas não fico parado na frente, não escuto
nenhum som e por isso bato mais uma vez.
— Alex, sou eu, Luke — Digo alto e finalmente escuto passos.
Fico para o lado da porta, atento. Um dos soldados está atento a
escada, pronto para atirar e o segundo está mirando na porta, prontos para
disparar a qualquer sinal de ataque. E eu realmente espero que nada disso
seja necessário. E que ainda tenhamos chegado a tempo.
— Finalmente você chegou — Alex diz com alívio, ao me ver.
— Pega suas coisas, vou te levar para um lugar seguro — Digo sério.
— Eu não estou sozinho — Ele diz e, ao mesmo tempo, vejo uma
menina de no máximo dois anos correndo até o Alex — Descobri essa
semana que sou pai, preciso que seja realmente seguro sair daqui.
— Será, eu garanto. — Afirmo, olhando para a criança — Pega suas
coisas, só que precisa levar.
Alex volta para dentro do apartamento e escuto passos fortes vindo da
escada. Merda, merda, merda.
Fecho a porta e dou a ordem de atirar no primeiro segundo que
tiverem certeza de que não se trata de moradores. E é nesse momento que as
coisas ficam complicadas.
O primeiro disparo acontece e uma troca de tiros começa a acontecer.
Escuto gritos pelo andar, mas ignoro todos. Por estarmos no alto da escada,
temos vantagem, mas também sei que será muito complicado para sairmos,
não poderemos fazer o caminho pelo qual entramos.
— Alex, existe outro caminho para sairmos daqui? — Questiono alto.
— Ainda precisaríamos sair pela escada — Ele responde e eu olho
para os soldados.
— Os disparos acabaram, precisaremos descer de qualquer jeito —
Um deles diz — Provavelmente o Monteiro já está morto.
— Preciso fazer uma coisa — Digo e começo a retirar o colete.
— Não pode ficar sem colete, chefe — O soldado diz sério.
— A criança precisa de alguma proteção — Digo não dando chance
para que esse assunto se estenda. E bato na porta — Alex, coloque isso da
sua filha.
Ele abre a porta e pega o colete ficando confuso, mas não temos
tempo para nada, temos que agir rápido. Quero ir embora antes que eu tenha
que lidar com a polícia, além desses idiotas.
— Pronto — Ele diz saindo do apartamento, a menina ficou
praticamente “embalada” dentro do coleto, mas pelo menos é uma
segurança adicional.
— Nós descemos na frente e vocês vão limpando o caminho,
chegando no térreo nos separamos, eu vou para a saída do fundo com o
Alex, e um de vocês, e o outro vai para a entrada principal — organizo —
Não acho que estejam aqui.
— Sim, senhor — Eles respondem juntos.
Os dois vão à frente, mantenho Alex, que segura sua filha em seu
colo e uma mochila nas costas, bem atrás de mim. Minha mente trabalha
sobre como vamos sair daqui, talvez eu tenha que roubar um carro, e depois
abandonar. Minha raiva do Carl só aumenta, não vejo a hora de colocar as
minhas mãos nesse desgraçado.
Escutamos alguns passos, me preparo para atirar, mas quem surge no
meu campo de visão é o Felipo, o que me deixa muito confuso. Descemos
rapidamente pelas escadas, e muito atentos a qualquer possível ataque.
— Fui mandado para ser o reforço, cheguei um pouco atrasado, mas
já limpamos a área aqui embaixo — Ele diz calmamente, quando chegamos
no térreo.
— E o Monteiro? — Um dos soldados pergunta e eu observo os
corpos sendo retirados por homens mascarados.
— Morto — Felipo responde seco — Vou ficar para limpar a
bagunça, o senhor pode ir.
— Certo, como veio até aqui? — Pergunto com os olhos cerrados.
— Senhor D. mandou após o senhor sair correndo — Ele explica e eu
assinto.
Saio do prédio guiando o Alex e a filha até o meu carro. Ele entra no
banco de trás com ela, tentando acalmá-la, porque está chorando muito.
Então isso, tento lidar com a adrenalina que está percorrendo todo o meu
corpo. E penso para qual lugar levar o Alex.
— Tem ideia de para onde quer ir? — Pergunto ao Alex, preciso
saber o que ele quer.
— Só preciso de um lugar seguro, no momento — Ele responde e eu
assinto.
— Vou te levar para o meu novo apartamento, no prédio da família —
Decido — Depois você pensa com calma sobre o que quer fazer, dinheiro
não será problema para você.
— A questão é que agora não sou só eu — Ele diz e eu olho para ele
pelo retrovisor. Alex está com a filha no colo, e ela está quase calma, mas
deitada sobre seu ombro.
— Estou realmente surpreso com isso — Comento e ele ri baixo, para
não assustá-la.
— Uma garota que eu ficava há muito tempo apareceu falando que a
Aimée era minha filha, fiz o teste de DNA e deu positivo, logo em seguida
ela sumiu me deixando com a bebê — Ele explica — E logo em seguida
percebi a movimentação do Carl, não tive muito tempo.
— Você vai primeiro para o meu apartamento, depois arrumamos um
para você — Falo sério, sem espaços para brincadeiras — Depois te
colocarei para trabalhar comigo, a menos que você tenha outros planos.
— Acho que essa é a melhor opção — Ele responde e solta uma
lufada de ar, e volta a consolar a filha.
Quanto mais demoro para finalizar com o Carl, mais ele atrapalha o
meu caminho, não posso continuar permitindo que coisas assim aconteçam.
Eu já tenho uma ideia do que fazer, e amanhã mesmo farei uma reunião
com o Derek.
Isso vai chegar ao fim.
Eu já tive muitos relacionamentos, nenhum deles foram intensos, nem
mesmo com o Dylan. Eu gostava dele, mas não sentia cada célula do meu
corpo vibrar ao pensar nele.
Apesar da traição ter me deixado mal, afinal, traições doem muito,
minha vida não parou e nem pararia por ele. E, sendo muito sincera, eu
achava que nunca encontraria alguém me fizesse sentir como se borboletas
voassem dentro de mim, e as minhas mãos soassem, que eu ansiasse pelo
momento que chegaria em casa e estaria com essa pessoa.
Até o Luke chegar na minha vida. Ele disse que eu invadi seu
coração, mas ele invadiu o meu também. Ele faz com que eu sinta muito,
que eu transborde. Acho que tempo é realmente irrelevante quando se trata
de sentimentos.
Abro a porta da minha casa, e solto uma lufada de ar. Pessoas
apaixonadas realmente vivem o tempo a sua própria maneira, bem que
Einstein disse que o tempo é relativo, pois só fazem dois dias que não vejo
o Luke e já estou com saudades.
— Dia difícil? — Levanto os olhar no mesmo instante e vejo o Luke
no meio da minha sala. Um sorriso involuntário se forma na minha boca —
Vem, estou fazendo o jantar para nós.
Eu não consigo dizer nenhuma palavra, apenas vou em direção a ele
que já me recebe de braços abertos, eu me aperto contra ele, percebendo
que estou me enchendo de alívio. Ele beija meu cabelo com carinho e eu
suspiro. É tão bom tê-lo aqui.
— Também senti sua falta — Ele diz baixo e eu sorrio, por ele dizer o
que não consegui expressar em palavras.
— Vai ficar hoje? — Pergunto me afastando dele um pouco.
— Vou, mas vou precisar ir amanhã — Ele diz sério e suspira, me
puxando para sentarmos no sofá — Temos que conversar sobre isso.
— Parece anuncio de notícia ruim — Falo com os olhos
semicerrados, desconfiada.
— Talvez seja um pouco, mas é importante falarmos sobre isso —
Ele responde segurando a minha mão. Mordo o lábio inferior me sentindo
agitada por dentro, não gosto disso.
— Então podemos conversar depois do jantar — Decido enquanto me
levanto, me afastando um pouco — Mesmo que seja importante, falamos
sobre isso depois.
— Tudo bem — Ele concorda ficando de pé também.
— Eu vou me lavar e já venho te acompanhar — Aviso, enquanto me
direciono até a escada.
O lado ruim de sentir tanto é que tudo fica ainda mais intenso, como a
saudade, como a dor que essa ausência causa. Sei que estou sendo
dramática, e um pouco exagerada, mas o que me deixa tão angustiada é não
saber o que ele realmente faz.
Não é como se o trabalho dele consistisse em ir para uma empresa, ou
sei lá. Ele me confessou que é realmente um criminoso, e isso abre um
grande leque de coisas que ele pode fazer para ser um, mas essas coisas
poderiam matá-lo.
Mataram a mãe dele, e tentaram fazer isso com ele. E se um dia ele
for e não voltar? Não porque ele decidiu não voltar, mas porque… Só de
pensar nessa possibilidade sinto uma pontada dolorida em meu coração.
Luke, o que você fez comigo?

Paro na porta da cozinha e fico em silêncio, apenas o observando. Ele


tem uma consciência absoluta de seu corpo e da sua presença, e vê-lo se
movimentando é uma cena linda, quase como assistir uma cena de um filme
com uma fotografia impecável. Luke é impecável. Uma beleza fascinante.
Sua existência é a prova de que existe perfeição no mundo.
— A comida está muito cheirosa — Elogio enquanto entro na
cozinha.
— Chegou na hora — Ele avisa e eu percebo que ele está colocando a
mesa.
— Melhor momento — Respondo sorrindo animada e indo para o
meu lugar — Teremos vinho de bebida?
— Não, depois temos que conversar, e eu não quero você sob o efeito
do álcool — Ele nega e eu faço biquinho, tentando convencê-lo — Não vai
funcionar.
— Valia a tentativa — Dou de ombros — Vi seu irmão hoje, o Edgar.
— Soube que você se escondeu dele — Ele diz, divertido. E eu
arqueio a sobrancelha — Embaixo da mesa, não sei se é um bom
esconderijo, acho que na próxima vez você precisa ser mais criativa.
— Ele estava me vendo o tempo todo? — Questiono incrédula e ele
assente rindo — Não acredito que me prestei a esse papel ridículo à toa!
— Posso te dar umas dicas para a próxima vez — Ele provoca e eu
reviro os olhos.
— Odiei, não quero uma próxima vez — Resmungo — Fala para ele
não me procurar, por que ele foi até lá?
— Para implicar comigo — Ele responde e eu suspiro chateada — E,
ele vai voltar.
— Como tem tanta certeza? Ele pode desistir depois de perceber que
eu prefiro ficar embaixo da mesa a ter que falar com ele — Argumento.
— Porque não é com você que ele quer falar — Ele esclarece e a
compreensão me atinge.
— Aaaah… Agora eu entendi — Falo sorrindo pequeno — Acho que
ela tem interesse também.
Levo um pouco de comida a boca e suspiro com o sabor maravilhoso
que toma conta do meu paladar. Esse jantar está sendo perfeito, além da
comida maravilhosa, a conversa está divertida, e eu o tenho aqui, perto,
fazendo o meu coração bater ainda mais forte.
Não sinto como se dependesse dele emocionalmente, mas sinto que
ficaria destruída se, ou quando, tudo der errado. Não posso contar com a
sorte na minha vida, mas estou contando com a promessa dele de que
sempre voltará para mim.
Espero que essa pequena aflição que está brotando dentro de mim por
causa dessa conversa séria, seja apenas a minha ansiedade, e não um sinal
de distância.
Estou me esforçando para ser positiva.

Não quero mais ser positiva.


Luke passa a mão no cabelo, jogando os fios curtos para trás e eu
continuo sentada no meio da cama com as pernas cruzadas, como se fosse
meditar, talvez eu realmente devesse fazer isso. Estou precisando
reorganizar as minhas energias, manter a plenitude e a calma.
— Você me disse que sempre voltaria. — Digo baixo — Você me
prometeu!
— E eu voltarei para você, Sarah, você é quem dá brilho à minha
vida. Com você, consigo enxergar o meu mundo colorido, mesmo que ele
sempre tenha sido monocromático! — Ele exclama exasperado — Eu só
preciso que você entenda que será para o seu bem!
— Para o meu bem — Repito deixando escapar uma risada
debochada — Você aparece, me faz sentir coisas que nunca senti, e depois
se despede, quando se despede, de uma forma que faz duvidar se você vai
voltar ou não. Não é justo comigo.
— Essa será a última vez — Ele diz sentando-se na cama comigo —
Eu prometo. Amanhã eu irei e terminarei de resolver todas as minhas
pendências, e depois, quando tudo estiver bem, estarei aqui com você.
Porra, não há nenhum lugar no mundo que eu queira estar além do seu lado.
— Sempre existirá alguém que não goste de você, Luke, mesmo que
eu não saiba exatamente o que você faz, eu sei que é assim que funciona —
Protesto, minha voz está quebradiça e um pouco mais aguda do que eu
gostaria, mas não consigo disfarçar a minha chateação.
— É o melhor, o mais seguro — Ele se aproxima de mim, sua voz
está suave e eu sinto vontade de chorar — Essa não é a opção que eu
escolheria, mas é a melhor opção no momento.
— Luke…
— Vai ficar tudo bem, confia em mim — Ele diz ameno, levando sua
mão até o meu rosto e eu sinto seus dedos limpando uma lágrima que
escorre pelo meu rosto sem a minha permissão — Me sinto assim também.
— Vai ser a última vez que você se despede dessa forma? A última
vez que sai sem data para voltar? — Questiono olhando nos olhos dele,
queria enxergar sua alma além das duas esmeraldas que encaram de volta
— Promete que não vai quebrar meu coração?
— Eu prometo — Ele diz firme, acredito que sincero — Prometo que
quando isso acabar estarei com você, prometo que não vou quebrar seu
coração.
— Não esqueça nunca dessa promessa — Digo séria, enquanto me
ajoelho na cama.
— Nunca esquecerei nada sobre você — Ele diz como quem faz uma
jura.
Luke coloca a mão na minha cintura, me puxando para perto dele.
Minhas mãos estão em seu rosto e eu sorrio para ele me aproximando
lentamente. Beijo sua testa, suas bochechas e finalmente beijo os seus
lábios.
O beijo é calmo. Tudo o que preciso é senti-lo.
Luke me deita na cama, ficando sobre o meu corpo, ele se afasta um
pouco e eu abro os olhos, fitando-o. Estamos tão próximos que consigo
sentir sua respiração tocando a minha pele e arrepiando-a. Deslizo minha
mão por sua bochecha, e suspiro.
Não precisamos dizer nada, já estamos sentindo tudo.
Sua boca se choca na minha novamente, um pouco mais exigente.
Sua mão desliza sob a minha blusa, o calor do seu corpo me envolve. Com
ele sinto que posso queimar, quero queimar. Quero aproveitar a intensidade
de emoções avassaladoras que me envolvem a cada toque, a cada beijo, a
cada centímetro da minha pele que ele desbrava com seu toque.
Suas digitais marcam a minha pele, a nossa troca se sentimentos,
marcam a minha alma.
Ele puxa a minha blusa para cima, revelando os meus seios, mas
antes de voltar a me beijar, ele retira a própria camisa. Ele se inclina sobre o
meu corpo, beija o meu pescoço e arranha a minha pele com os dentes. Sua
língua quente e macia percorre o caminho até meu peito e começa a sugá-lo
e eu gemo alto, sua mão desliza para dentro do meu short e me sinto ainda
mais instigada.
Ele passa a dar atenção para o meu seio, sinto os que os bicos estão
rígidos e sensíveis. Minha buceta está ficando cada vez mais molhada,
anseio pelo momento que ele me satisfará por completo.
Meu coração está batendo ainda mais rápido, minha respiração está
descompassada e eu ofego ao sentir sua língua deslizando pela minha
barriga. Ele morde o cós do meu short e lambe por cima do tecido. Aperto
os lençóis começando a me perder nas sensações que me percorrem inteira.
— Você é tão linda, Sarah — Ele diz e eu sinto seu hálito me
atingindo — Caralho, como você é cheirosa e gostosa.
— Luke… — Gemo ao sentir ele beijando a parte interna da minha
coxa.
Ele puxa o meu short e a minha calcinha me despindo por completo e
abre um pouco as minhas pernas. Minha respiração está pesada, meu corpo
está eletrizado pelo sentimento de antecipação, estou ansiosa para senti-lo
dentro de mim, sentir seu peso me empurrando e me levando a loucura.
— Porra! Essa é a visão mais linda do mundo — Ele elogia com gana
e eu suspiro.
— E você é o único que pode contemplar — Digo com um meio
sorriso, levando as minhas mãos até meus seios para massageá-los.
— Eu poderia matar qualquer homem que tentasse se aproximar de
você — Ele diz entredentes, sua voz rouca de excitação — Você é minha, só
minha.
— Completamente sua — Confirmo suspirando.
Vejo-o retirando sua calça e a cueca e lambo os lábios. Seu pau é
grande, tem veias destacadas e a cabeça rosada. Ele é perfeito. Gostoso. E
meu. Aprecio a vista enquanto ele coloca a camisinha e vem em minha
direção.
— Eu vou te foder devagar, minha princesa, porque quero te sentir
com calma, quero apreciar cada gemido seu — Ele diz rouco, enquanto se
encaixa no meio das minhas pernas.
— Preciso sentir tudo de você, Luke — Minha frase sai arrastada,
gemida.
— Você vai sentir — Ele garante, colocando seu pau lentamente de
mim.
Sua boca alcança a minha, seu beijo é quente, doce, excitante. Ele
começa a se mover devagar e eu gemo. Ele vai tirar a minha sanidade
assim, mas eu não me importo, sendo sincera, até gosto. Luke pode fazer o
que quiser comigo em cima da cama, porque sei que vou gozar até estar
exausta.
Suas estocadas lentas, mas fortes, seu corpo quente e sobre o meu, me
dão ainda mais certeza disso.
Deixar a Sarah não era o que eu queria fazer, mas sei que era o
necessário, não perder outra mulher que amo. E preciso ir para vingar quem
perdi.
Caminho pelos corredores do galpão principal para a reunião que
marquei com o Derek e o Edgar. Eliminar o Carl do mapa essa semana é
fundamental, quero ver o sangue dele no chão logo depois dele ter a vida
destruída. Mesmo que isso ainda seja pouco, ele merecia sofrer ainda mais.
— Bom dia — Alex me cumprimenta. Também o chamei para a
reunião, já que ele quem me passa as principais informações sobre o Carl.
— Bom dia, conseguiu se organizar no apartamento?
— Sim, estou considerando comprar um lugar para mim lá mesmo —
Ele responde — Mesmo que tenhamos ficado lá só um dia, ainda assim, foi
muito mais seguro do que antes.
— Podemos aproveitar para resolver isso ainda hoje, nessa reunião, já
que se trata de um prédio da família — Pondero, Alex é o meu melhor
amigo, talvez o único que tenho.
— Seria bom — Ele concorda — Ainda preciso pensar em como dar
segurança e uma boa educação para uma criança de dois anos.
— Onde você a deixou?
— Contratei a filha do porteiro para cuidar dela hoje — Ele explica e
eu assinto, é uma boa escolha, porque tenho certeza que toda a família do
porteiro foi investigada para poderem trabalhar lá.
Abro a porta da sala de reuniões, não me surpreende que além das
pessoas que eu esperava encontrar, também estão George e Dominic. Até o
Thomas está aqui. Parte de mim acha estranho, mas talvez seja melhor
assim, porque tudo já pode ser alinhado de uma só vez.
Após cumprimentar todos, apresento o Alex e sento no lugar indicado
para mim, essa reunião também será mais longa do que havia imaginado.
— Essa será uma reunião da família, terá que esperar lá fora, depois
você retorna — Derek avisa, olhando para o Alex e eu arqueio a
sobrancelha.
— Certo, aguardarei lá fora — Alex concorda, se retirando de
imediato.
— Não era esse o combinado — Digo cruzando os braços sobre o
peito.
— O que você tem em mente? — Derek questiona com uma
expressão séria.
— Quero que seja organizado um ataque único, a todos os pontos
dele, de forma que ele seja exterminado e sua existência completamente
apagada — Respondo no mesmo tom — Já sabemos os principais lugares
dele, Alex se responsabilizará pela parte digital do processo de eliminação.
Quero ter armas e gente para ir até lá.
— Sabe que o preço disso é assumir seu lugar na família, certo? —
Dominic pergunta, arqueando a sobrancelha.
— Quer que eu apareça na mídia como o filho perdido? — Debocho
e ele revira os olhos.
— Se quiser assim — Dominic responde e eu rio com escárnio.
— Mas não é sobre isso que estamos falando, Luke — Derek
responde firme e eu deixo uma risada soprada escapar.
— Nós já alinhamos isso antes, não há porque falarmos sobre esse
ponto novamente, trabalharei aqui — Relembro.
— Trabalhar aqui e ter seu lugar são coisas diferentes, você não é um
soldado, é um Armstrong, tem poder e voz. Terá o controle de todo um
setor, essa é a sua posição aqui — George diz sério, com um olhar duro —
Nós protegemos os nossos, Luke, sempre fizemos isso por você. Carl
sempre foi um incômodo, mas até deixamos que ele tivesse algum espaço
por sua causa.
— Você também sempre veio quando alguém precisou, nunca deixou
ninguém na mão, sempre tive certeza que se eu precisasse de você para
algum problema, você estaria ali por mim — Thomas completa e abre um
sorriso debochado — Até matou o homem que colocou a vida do Edgar em
risco.
— Foi ele? — Edgar pergunta surpreso e eu reviro os olhos.
— Por que estamos colocando isso em pauta agora? — Questiono
com os olhos cerrados.
— Porque dessa vez você veio até nós, e achamos que deve ficar —
Dominic responde sério — Não tive uma relação boa com a Mary, mas
também acho que fui relapso com a segurança dela. Deveríamos ter tido
essa conversa antes.
— Agora você tem outra pessoa para proteger, Luke, sabe que ser só
o químico, mesmo que ganhe muito dinheiro, e coloque milhões na conta,
mudando sua posição, terá muito mais segurança — Edgar diz sério, sem
qualquer piadinha ou provocação.
— Tenho trinta e três anos, nunca vivi como um Armstrong, toda a
minha vida eu fui Turner. Tio George sempre esteve presente e só. Agora
querem agir como se eu tivesse renegado a família e não o contrário? —
Pergunto negando com um aceno de cabeça, incrédulo com a situação.
— Não é possível mudar o passado, Luke, apenas o agora — George
diz — Você é ou não um Armstrong? Vai ou não passar a viver como um?
— Não foi marcada essa reunião para falarmos sobre isso — Me
nego a responder — ou voltamos para o assunto principal ou vou me retirar.
Ninguém respondeu. E eu também não responderei. Agora não é o
momento para discutir laços familiares, o que fizeram ou deixaram de fazer,
ou o que fiz. Essa é uma pauta que não levarei adiante, prefiro sair daqui e
ir resolver sozinho.
O passado é realmente imutável, não sou mais o adolescente que fui
em um momento, não sou mais a criança que espera. Sou um homem adulto
e consigo ver com clareza toda essa situação, e eu não vejo sentido em me
declarar algo que nunca fui. Sempre foi uma troca de favores justa, e agora,
também será mais uma troca, eles fazem algo por mim e eu por eles.
— Certo — Derek quebra o silêncio que se instalou na sala de
reuniões — Mas pense sobre isso, Luke, você tem uma família.
— Podemos falar sobre o fim do Carl agora? — Pergunto com a
sobrancelha arqueada. Farto desse assunto, a ponto de sair deixando-os para
trás.
— Acho que o plano é claro e objetivo — Edgar diz — Atacamos os
pontos ao mesmo tempo, eles não terão como se defender.
— Já cuidei da questão de negócios, ele não está conseguindo fechar
acordos — Derek completa.
— Essa noite será possível iniciar, já fiz um mapeamento com o Alex
— Aviso, e eles assentem.
— Felipo trabalhará com você para coordenar tudo, nós não nos
envolveremos diretamente — Derek avisa sério — Essa é a sua vingança.
— Eu vou executar o Carl com minhas próprias mãos. — Afirmo,
sentindo aquela raiva guardada dentro de mim queimar.

O plano é sair no meio da noite, por isso diversas coisas já estão


prontas, os soldados que estarão lá, já foram avisados. Essa noite, a cidade
de São Francisco irá pegar fogo.
Mas antes de ir, eu precisava ver a Sarah mais uma vez. Prometi para
ela que eu voltaria, mas não sei como as coisas acontecerão essa noite, não
sei se eu voltarei. E por isso também que apenas encosto o carro, um
diferente que ela ainda não viu, próximo a sua casa, esperando ela chegar.
Ela se tornou tão importante para mim, eu poderia passar horas
agarrado ao seu corpo, aspirando o perfume de sua pele, sentindo o gosto
doce do seu beijo, sentindo seu calor.
Eu nunca me apaixonei antes, nunca amei ninguém. E não esperava
que acontecesse, ainda mais em um momento que parte de mim está tão
quebrada. Sarah é um ponto de luz na escuridão do meu mundo. Sorrio
lembrando da forma como ela mexe em seus cabelos, ou como ela faz uma
dancinha animada quando saboreia uma comida que acha gostosa.
Estou tão habituado as suas pequenas manias que não sei se gostaria
de viver sem. Não vejo a hora de poder dançar na sala, dividir um vinho.
Dividir a vida.
É, acho que estou apaixonado.
Finalmente o carro da Sarah estaciona. É maravilhoso apreciar sua
beleza. Ela é linda, naturalmente linda. O jeito como seus fios balançam ao
vento, como seu rosto para desenhado pelas mãos de anjo, nem mesmo
Michelangelo conseguiria esculpir algo tão perfeito como as curvas do
corpo de Sarah.
Acompanho-a com o olhar, até que ela esteja dentro de casa. Olho ao
redor e observo o segurança, é bom mesmo que ele esteja aqui, porque é
fundamental que ela fique segura. Não posso ficar mais aqui, mas logo eu
voltarei.
São Francisco é uma cidade realmente bonita, e gosto que a minha
história se misture com a dela. Minha mãe amava essa cidade, visitou cada
lugar, assistiu diversos dos filmes que foram gravados aqui. Ela dizia morar
em um “Cartão Postal”, e ao contrário das miliares de pessoas que precisam
viajar para estarem aqui, ela tinha apenas que sair de casa.
Também sinto raiva daqui, apesar de soar controverso. Mas foi nessa
cidade que a vida de Mary foi tirada, sempre será aqui que velarei ela. E
essa noite, o sangue dos culpados também serão derrubados sobre esse solo.
— Chefe, estamos chegando no local — Recebo a mensagem.
— Destrua tudo, mate quem não se render — Respondo seco.
— Sim senhor.
Levanto o olhar e vejo que também estou chegando no meu ponto de
parada. É hora de destruir tudo.
Ao contrário dos outros que foram para os galpões, eu vim para a
casa do Carl. Teoricamente, ele deve estar aqui, e eu realmente espero que
todas as informações que temos estejam corretas, porque preciso acabar
com isso hoje.
— Atenção — Falo no rádio para que os homens no outro carro
recebam a mensagem — Matem todos que ficarem no caminho, façam o
que quiser com as coisas valiosas que encontrarem, mas o Carl é meu.
A mansão é cercada por um muro alto, e a única entrada é um portão
que fica com três seguranças, como se isso fosse o suficiente. Assim que o
segurança se aproxima para verificar de quem se trata, disparo um tiro em
sua cabeça, seu corpo cai no chão em um baque seco e uma troca de tiros
com os outros dois se inicia, mas cuidamos disso rapidamente.
Em seguida o portão é aberto por dentro, por um dos dois soldados
que mandei um pouco antes para que entrassem pelo muro. E logo entraram
no segundo carro.
Abri a janela o suficiente apenas para colocar a metralhadora para
fora, assim como os outros, e atiramos em todos os que estavam tentando
chegar até o carro, enquanto o motorista dirigia em alta velocidade até a
entrada da casa.
O cheiro de pólvora é a única coisa que chega até meu olfato, assim
como os disparos e gritos são tudo o que estou conseguindo ouvir. Apesar
da minha raiva, mantenho o foco. Tenho uma missão aqui e vou cumpri-la
como tem que ser.
Saio do carro e atinjo o rosto do segurança que tenta me atingir, estou
completamente vestido por uma roupa a prova de balas, até o capacete.
Caminho até a porta e a abro em um chute e já atiro, escuto alguns gritos,
mas não de quem eu esperava encontrar.
— Se esconda em algum lugar e fique quieta lá — Eu mando e a
mulher uniformizada, que estava encolhida no chão, levanta e corre em
direção à cozinha.
Começo a subir as escadas rápido, mas atento. Os soldados estão
lidando com qualquer um que apareça tentando atrapalhar. Entro no
primeiro cômodo e não tem ninguém. Vou invadindo um a um, até os
quartos estão vazios. Será que esses desgraçados sabiam de algo? Não tem
como, o plano estava perfeito.
Chuto a porta de um dos quartos do segundo corredor e me deparo
com Dustin, o filho do Carl, só de toalha e na cama uma garota que parece
nova demais para estar aqui.
— O que está acontecendo aqui? — Ele pergunta assustado ao me ver
com a arma em sua direção e a garota grita se encolhendo na cama.
— Onde estão Carl e Ava? — Pergunto seco, sem tirá-lo da mira. Até
porque ele está na minha lista.
— Não estão e nem vai achá-los — Ele responde nervoso e eu atiro
na sua perna e ele grita de dor — Que porra você está fazendo? Eu vou te
matar, seu desgraçado.
— Não, eu vou te matar, Dustin. — Respondo friamente — Meu
problema é com o seu pai, mas eliminar um traficante de pessoas de merda
como você, é um favor que faço para a humanidade. Aquela adolescente ali
é só a prova do lixo que você é — Atiro na outra perna dele.
— Eu sou um criminoso, foda-se — Ele grita em meio a dor — Mas
você também é, porra!
— É verdade, mas eu ainda tenho alguns princípios — Atiro no peito
dele repetidas vezes e olho para um dos soldados — Garanta que ela
chegará bem em casa, arrume dinheiro o suficiente para ela não falar sobre
o que viu.
— Eu vou ficar quietinha, calada, eu juro — Ela grita desesperada e
eu saio do quarto.
Três soldados chegam correndo, me sinto ainda mais irritado que
antes. Não acredito que deu errado e que eles escaparam. Preciso os rastrear
antes que tenham a chance de fugir para outro lugar. Carl tem que morrer.
— Senhor, já vasculhamos a casa, alguns dos homens dele se
renderam, mas não há sinal do Carl ou de sua esposa — Um dos soldados
avisa e eu respiro fundo e soco a parede com raiva.
Começo a caminhar saindo da casa, resolver a situação aqui foi mais
rápido do que pensei que seria, mas isso porque aquele desgraçado não está
aqui, mas pelo menos consegui acabar com o desgraçado do Dustin, já
estava querendo colocar as minhas mãos nele a algum tempo.

Entro no meu carro completamente transtornado e ligo para o Alex,


preciso entender em qual momento as informações podem ter ficado erradas
ou como isso pode ter dado errado. Estava tudo certo, era para eles estarem
aqui. E também tenho que saber como está indo o restante da operação.
— Estou ouvindo — Ele diz no exato momento que atende.
— Eles não estão aqui — Digo entredentes — Quero a localização
exata deles, agora.
— Vou fazer uma busca agora mesmo — Ele responde parecendo
surpreso — Todas as informações que temos dizia que ele estaria aí.
— Nem que eu tenha que quebrar essa cidade inteira, vou achar esse
filho da puta — Esbravejo com raiva e desligo.
Passo a mão no cabelo nervoso, após tirar o capacete a prova de balas
que estava usando e começo a dirigir, voltando para o galpão. Queria ver a
Sarah, precisava tê-la agora. Mas tenho que resolver isso primeiro.
Recebo uma mensagem do Felipo, avisando que a operação nos
outros pontos foram um sucesso. Carl não tem mais nada além da vida
inútil dele, mas isso também não vai durar muito tempo. Logo o chão estará
tingido com o vermelho do sangue dele.
Uma semana e meia sem o Luke e eu estou me sentindo a própria
Isabella Swan quando o Edward Cullen a deixa no segundo livro da saga.
Será que me transformei em uma adolescente apaixonada e cheia de
hormônios?
A diferença é que eu não posso ficar jogada no meu quarto,
depressiva. E sendo sincera, nem quero. Mas ainda existe uma sensação de
vazio dentro do meu peito, e Luke disse que voltaria, espero que ele cumpra
a palavra dele. Espero… acho que isso é tudo o que posso fazer, esperar.
— O que planeja fazer hoje, Sarah? — Heather pergunta enquanto
arrumamos nossas coisas para irmos para casa. Finalmente sexta-feira e o
expediente já está no fim.
— Acho que vou ver um filme e pedir pizza — Dou de ombros —
Nada além disso.
— O que acha de irmos a um barzinho? — Ela sugere animada.
— Acho que é uma boa ideia, to precisando beber um pouco —
Concordo sorrindo animada — Vou ligar para uma amiga, tudo bem?
— Claro, quanto mais gente melhor — Ela concorda, ficando de pé
— Vou chamar a Rose.
— Então pode esperar aí, porque ela já está vindo — Indico a Rose
vindo com um buquê ainda maior que o dá última vez, mas agora as rosas
são roxas. — Eu acho que são para você.
— Por quê? — Ela indaga confusa, mas vejo um sorrisinho em seu
rosto.
— Combinam com as mechas do seu cabelo — Explico e o sorriso
dela se abre um pouquinho mais.
Rose se aproxima saltitante e estende as flores para a Heather que as
recebe com um sorriso aberto. Ela deixa o buquê sobre a mesa, para ler o
cartão. Seu olhar brilha, e sua respiração se altera um pouco. Ela já gosta
dessa pessoa?
— E então? — Rose pergunta curiosa, e eu fico grata por ela
perguntar, também estou curiosa — Quem mandou?
— Edgar mandou, me convidando para sair hoje — Ela responde
com um sorriso tímido — mas não sei se vou.
— Por que não? — Rose pergunta.
— Vocês têm conversado? — Eu pergunto, cansada de esconder
minha curiosidade.
— Trocamos algumas mensagens, mesmo que eu não tenha ideia de
como ele conseguiu meu número — Ela dá de ombros — E eu acho que é
muito cedo para sair com ele.
— Chama ele para o bar — Sugiro — Vai ter muita gente, e mesmo
que ainda seja um encontro, não será tão íntimo quanto um jantar.
— Você podia chamar seu namorado, então. Eles são irmãos —
Heather pondera um pouco — É, é uma boa ideia.
— Ele está viajando — Explico, sentindo uma enorme vontade de
suspirar, queria que ele fosse comigo a lugares com meus amigos, só
comigo, acho que nunca tivemos um encontro de verdade — Quando ele
voltar, podemos organizar alguma coisa.
— Encontro de casais — A Rose sugere e eu rio quando a Heather
arregala os olhos.
— Eu e o Edgar não somos um casal — Ela nega rápido.
— Não são ainda, mas se continuarem nesse ritmo… — insinuo e a
Rose concorda.
— Vou enviar uma mensagem para ele e podemos ir daqui para o bar,
direto — Heather diz enquanto se com o celular em mãos.
— Eu vou fechar meu turno para ir também — Rose avisa e vai
embora em seguida.
Sento em minha cadeira novamente, será bom sair para espairecer um
pouco, é disse que eu estou precisando. Seria realmente melhor se o Luke
estivesse aqui, mas não posso ficar parada esperando ele voltar para que eu
possa viver. Tenho muito o que fazer, conhecer e curtir.
Pego o meu celular e vou ao contato da Ellen, começo a digitar uma
mensagem, mas desisto e faço uma ligação, quanto mais praticidade,
melhor.
— Oiii, tudo bem? — Ellen pergunta assim que atende.
— Estou ótima, inclusive, por estar bem, estou ligando para te
chamar pra ir ao bar comigo hoje — A convido — Vamos?
— Iiih, hoje não posso, vou conhecer os pais da Jihye — Ela explica
— Mas na próxima eu vou, nós vamos.
— Boa sorte com os pais dela, espero que eles a tratem muito bem —
Desejo, sendo sincera — E qualquer coisa, é só me ligar, estou aqui para
você.
— Obrigada amiga, e a recíproca é verdadeira.
— Eu sei, sou grata por isso. — Nos despedimos e eu guardo o
celular.
Como vamos direto para o bar, deixo minha pasta e meu notebook na
minha gaveta, é mais seguro do que eu acabar perdendo ou sendo roubada.
Melhor prevenir. Vejo a Heather pegando a bolsa dela e já pego a minha
também, guardando o celular.
Por um breve momento, tenho a sensação que hoje eu deveria ficar
em casa mesmo e ver meu filme, e sair já não parece uma boa ideia, mas
logo espanto o pensamento, deve ser só frustração. Ou saudade do Luke,
mas não posso deixar minhas ações girarem em torno dele.
— Pronta? — Heather pergunta parando ao lado da minha mesa.
— Pronta.

O bar fica em um ponto badalado da cidade, visitado por muitos


turistas e por ser sexta-feira, parece haver ainda mais pessoas aqui.
Caminhamos até o bar e cada uma pega uma garrafa de cerveja e
escolhemos uma mesa.
Rose começa a comentar sobre a quantidade de homens bonitos que
tem ali e escolher em qual deles ela vai dar em cima. Me pergunto se ela
realmente quer alguém ou se faz parte da diversão dela esse jogo de tentar
conquistar, conversar, sair. São muitas as possibilidades.
— Acho que vou dar uma festa quando eu arrumar um namorado —
Ela diz séria, mas eu e a Heather rimos — É sério, será um evento que deve
ser comemorado.
— Às vezes acho que você fala essas coisas brincando — Comento e
a Heather concorda comigo.
— Me apresenta alguém que me queira para ver se eu tô falando sério
— Ela fala em tom de desafio, e eu rio — Nem vocês me levam a sério.
— Acho que eu sou o inverso que você — Heather comenta
pensativa — Não quero namorar.
— E o Edgar? — Pergunto confusa.
— Estou atraída por ele, mas namorar? Não sei — Ela suspira —
Acho que namorar é dar brecha para os sentimentos entrarem e nos destruir
na saída. Acho muito mais seguro evitar tudo isso.
— E você, Sarah? — Rose pergunta me encarando reflexiva — É a
única de nós que tem um relacionamento, o que pensa sobre isso?
— Acho que namorar é um risco, amar é um risco, a gente não tem
como saber se a pessoa é recíproca ou não, se vai ser fiel, vai amar,
respeitar e cuidar da mesma forma que a gente, tudo o que nós podemos ter
é esperança que sim — Reflito — E amar, como o coração pede enquanto
existir o que amar, a quem amar.
— Você foi tão fofa que eu fiquei realmente emocionada — Rose diz
limpando os olhos, só não sei se ela está fingindo ou se emocionou mesmo.
E quando olho para a Heather ela está igual.
Rio negando e bebo mais um pouco da minha cerveja, e logo vejo o
Edgar se aproximando. Heather também nota e eu vejo seu olho brilhar. Eu
não sei como Edgar se sente sobre ela e essa relação que estão construindo,
mas com esse medo que ela expôs, eles terão muita coisa com o que lidar.
— Boa noite, — Edgar nos cumprimenta e senta-se ao lado da
Heather — Desculpa a demora, tive um pequeno imprevisto.
— Tudo bem, ainda estamos na primeira — Heather sorri para ele e
eu me sinto segurando vela.
Ele devolve o sorriso e então levanta a mão e um garçom
rapidamente chega até ele, acho que são as vantagens de ser alguém
conhecido. Edgar pede sua bebida e após negarmos sobre querer alguma
coisa, o garçom vai embora.
Edgar e a Heather entram em uma bolha, conversando baixo, acho
que ele sequer perceberam o que fizeram, ou perceberam. Tanto faz. Rose
está ocupada tentando chamar a atenção de um cara que está no bar, mas
acho que ele ainda não a viu.
— Acho que você deveria ir sentar no banco vazio ao lado dele —
Sugiro e ela me olha desconfiada.
— Mas aí eu estarei dando o primeiro passo, ele que tem que vir até
aqui — Ela responde insegura.
— Você não vai falar com ele, vai sentar ao lado dele e pedir uma
bebida, mas nem olhe para ele — Instruo e ela morde o lábio pensativa.
— Acho que a gente também podia mexer um pouco no seu visual —
Heather comenta, e eu sequer vi que ela estava prestando atenção na
conversa.
— Vamos ao banheiro? — Rose pergunta e a Heather assente ficando
de pé.
— Vou esperar aqui — Aviso e as duas saem.
Olho para a minha long neck quase vazia e suspiro pensando na fila
do bar, mas logo aparece um garçom e troca para mim. Levanto o olhar e
vejo o Edgar me encarando. Será que ele tem notícias do Luke? A relação
deles não aparece boa a última vez que os vi juntos. Certo que foi a única,
mas não foi bom.
— O que você quer saber? — Ele pergunta sendo direto.
— Como o Luke está? Viu ele? — Deixo as perguntas escaparem
pela minha boca antes que a coragem escape.
— Ele está bem, pode ficar tranquila quanto a isso — Ele responde
tranquilo e eu assinto, prensando meus lábios.
— Só quanto a isso? Tem mais alguma coisa que eu deveria saber? —
Pergunto depois de um pequeno momento em silêncio.
— Tenho certeza que ele irá te contar quando achar que é o momento
— Ele responde enigmático e eu bufo, Luke nunca parece achar que é o
momento para contar algo.
Rose e Heather voltam e nós damos mais alguns conselhos para a
Rose, até o Edgar diz algumas coisas. Ela respira fundo e vai para o lugar
que dissemos, ficamos observando um tempo e logo ela começa a conversar
com o rapaz. Acho que irá dar tudo certo para ela essa noite. Para a Heather
também.
Olho a minha segunda garrafa quase vazia. Para mim, não vai dar
tudo certo essa noite.
— Vou para casa, aproveitem a noite — Aviso, ficando de pé.
— Está cedo — Heather faz bico e eu sorrio, divertida.
— Então aproveita bastante — Pisco para ela e rio — Até segunda,
Heather e tchau Edgar.
Eles se despedem de mim e eu começo a sair. Acho que ainda dá
tempo de pedir uma pizza ou algum lanche. Foi divertido vir,
principalmente, foi ótimo saber que o Luke está bem.
Meu caminho é interrompido por uma mulher que surge segurando
em mim. Minha primeira reação é me afastar, mas logo vejo que ela está
passando mal e isso me faz ficar no lugar, e preocupada.
— Acho que bebi demais — Ela diz com a voz enrolada e soluçando
— Me ajuda a chegar no carro do aplicativo, está me esperando lá fora.
— Ajudo, mas você está bem para andar sozinha assim? Vai chegar
bem? — Pergunto preocupada com ela — Compartilhou a viagem com
alguém?
— Sim, mandei para o meu namorado — Ela responde se apoiando
em mim — Só preciso chegar lá sem cair no chão.
Continuo ajudando-a a andar, ela cheira a cerveja e uísque. Tenho a
sensação que alguém gritou o meu nome, e apesar de olhar ao redor
rapidamente, não vejo ninguém. A mulher indica o carro preto parado
exatamente na frente do bar.
Assim que abro a porta de trás do carro, me deparo com um homem
apontando uma arma para mim, sua expressão é séria e eu entro em pânico,
sentindo o meu corpo travar de tão tensa que fico no mesmo instante. O que
está acontecendo?
— Entra no carro sem alarde — A mulher diz com a voz normal. Eu
fui enganada?
— Ou você entra agora, ou eu vou atirar na sua cabeça — O homem
ameaça e eu tenho certeza que ele está falando sério.
Antes que eu consiga ter uma reação, ela me empurra para dentro do
carro sem cuidado nenhum, falando algo como “lerda demais”, sinto uma
pancada na minha cabeça, não sei como e nem de onde veio, apenas sinto
uma dor absurda, que combina bem com o medo enorme que estou sentido.
E sem eu perceber o que está havendo, a minha consciência se esvai.
Sempre fui muito controlado com as minhas emoções, não sou de me
deixar levar. Gosto de pensar em cada coisa que faço, em cada decisão que
tomo antes de executar, mas ultimamente tem sido muito difícil. Eu, que
sempre soube controlar a minha raiva, estou sendo controlado por ela. Meus
momentos de paz comigo mesmo só acontecem quando estou do lado de
fora da casa da Sarah.
É por isso que estou prestes a pegar meu carro e ir até lá.
Meu celular toda quando já estou com a mão na maçaneta, reviro os
olhos ao ver o Edgar ligando, e pondero se realmente quero falar com ele. O
que me faz repensar é a mensagem dele que leio pela barra de notificação.
Como o assunto pode ser urgente e envolver a Sarah?
— O que aconteceu? — Pergunto sério — Se for alguma gracinha…
— Ela foi sequestrada — Ele me interrompe, sua voz indica
exasperação.
Não… Não… De novo não.
— O quê?
— Ela saiu com as amigas, e eu vim me encontrar com a Heather,
estava no bar quando vi ela ser abordada pela Ava, mulher do Carl, tentei
alcançá-la a tempo, mas não consegui e ela foi levada — Ele explica —
Tudo que eu tenho é placa do carro.
— Eles vão matá-la! — Eu grito irritado — Porra! Você deveria ter
feito algo, caralho! — Chuto o carro com força — CARALHO! Eu deveria
ter feito algo nessa merda.
— Foca, porra — Ele grita — Te mandei mensagem com o número
da placa, logo estarei no galpão.
— Vai fazer o que aqui?
— Ajudar você a resgatar sua mulher — Ele desliga antes que eu diga
alguma coisa.
Olho para o meu celular completamente incrédulo. Tento ligar para a
Sarah, mas o telefone não completa a chamada, o que aumenta a minha
fúria. Ligo então para o segurança que deveria estar com ela, mas o celular
toca várias vezes e não é atendido. Eu vou matar alguém nessa merda.
Respiro fundo algumas vezes, preciso manter a minha cabeça no
lugar para conseguir resgatá-la, não será como da outra vez, eu não vou
perder a mulher que eu amo.
— Luke? O que houve? — Alex pergunta ao atender a chamada.
— Preciso que rastreie a placa que eu te mandei por mensagem,
também preciso que rastreie a Sarah pelo celular dela — Digo firme, com a
voz seca — E precisa ser agora.
— Já estou ligando os computadores — Ele responde de imediato —
O que aconteceu?
— A Sarah foi sequestrada, não posso perder tempo, tenho que achar
ela agora — Respondo com a voz grossa pela raiva. Carl sofrerá lentamente
as consequências disso.
— Em menos de dez minutos te ligo para dar uma resposta — Ele
avisa e desliga a chamada.
Isso é culpa minha, assim como a morte da Mary também foi. Eu faço
mal as pessoas que amo. Carl não teria ido atrás delas se eu tivesse
resolvido isso logo no começo, quando me neguei a fazer o que ele mandou.
Deixei ir longe demais e agora elas estão pagando o preço. Deveria ter
articulado melhor minhas ações e assim ele não teria escapado naquela
invasão.
Eu errei, se a Sarah morrer serei eu o culpado. Eu entrei na vida dela
e baguncei tudo. Fui egoísta demais quando percebi que tinha me apegado.
Deveria ter ido embora assim que ela chegou. Deveria ter a protegido, mas
tudo o que fiz foi arrastá-la para o meu caos.
Chuto a porta do carro, arremesso uma cadeira contra a parede, cego
de raiva. Entorpecido pela fúria que me consome.
— Luke, se acalma — Me viro e vejo o Derek se aproximando com
cautela — Edgar me ligou e avisou, eu estava por perto e vim logo.
— Não me pede calma, porra — Eu grito irritado, passando a mão no
cabelo.
— Sei que o momento é complicado, mas precisa manter a
racionalidade — Ele pontua sério — Se agir de maneira descontrolada, não
terá foco para o que é preciso fazer.
— Não me diga como agir — Respondo entredentes — E não finja se
importar.
— Luke, não somos mais adolescentes, se eu estou aqui e estou
disposto a te ajudar é porque me importo, nós somos uma família, não
importa o quão cruéis podemos ser com as pessoas de fora. Dentro do nosso
núcleo familiar, cuidamos uns dos outros — Ele diz sério vindo até mim e
colocando a mão no meu ombro — Vamos achar a Sarah, e ela ficará
segura.
— Você não tem que lidar com isso sozinho — Escuto Edgar dizendo
ao chegar.
Nunca senti como se tivesse uma família, de verdade, além da minha
mãe. Uma boa relação baseada em trocas de favores nunca foi o meu
conceito de família, e sempre foi assim que eu os vi, mas agora, nesse exato
momento, estou me questionando sobre isso. Será que eu sou um
Armstrong?
Além do nome e do sangue correndo em minhas veias, será que eu
pertenço a esse núcleo familiar?
— Já mandei algumas mensagens e deixei nosso pessoal avisado —
Edgar avisa, enquanto o Derek se afasta de mim — Também recebi a
notícia que o segurança dela foi morto.
— Caralho! — Exclamo irritado, mas entendendo por que não fui
atendido.
— Fez as buscas com a placa? — Meu irmão indaga.
— Alex deve me ligar a qualquer momento, assim como também
mandei que buscasse pelo celular da Sarah — Esclareço. Me sinto um
pouco mais calmo, não menos furioso, apenas mais focado.
— Isso é bom — Derek diz assentindo, com uma expressão pensativa
— Podemos separar equipes para fazer uma busca, usar o que for necessário
para que as pessoas nos deem informações.
— Vou fazer outra ligação — Edgar diz se afastando.
Me sinto atordoado, furioso, desejando aliviar a minha raiva matando
alguém. Alguém muito específico. Carl sabe a merda que esta fazendo e eu
vou fazê-lo ter ainda mais noção do erro absurdo que está cometendo.
Também espero que a Sarah consiga ficar bem até que eu chegue até ela.
Sarah ainda tem uma vida inteira pela frente, muitos sonhos e planos para
realizar. Não pode perder tudo por minha culpa.
Ela precisa viver, precisa ser feliz.
Meu celular começa a vibrar na minha mão, mas não é o contato que
estou esperando. O número desconhecido na tela faz meu corpo borbulhar
em ódio puro, mesmo antes de atender eu já tenho certeza da voz que vou
ouvir, da pessoa por trás do telefone.
— Carl — Digo cada letra com muito ódio.
— Estava esperando a minha ligação? — Ele diz debochado — Até
que você foi rápido para alguém que não estava cuidando do que é seu.
— Se você encostar nela…
— Se eu encostar? — Ele ri e meu sangue ferve — Você não tem
noção das coisas que eu vou fazer com ela. Luke, você tirou tudo de mim,
matou meu filho, não vai sair ileso dessa.
— Quando eu colocar as mãos em você, vai se arrepender do dia que
cruzou com o meu caminho a primeira vez, eu vou arrancar a sua pele com
uma tesoura — Eu ameaço irritado, quero esmagar esse verme o quanto
antes.
— Essa é uma boa ideia, um segundo — Escuto passos enquanto ele
fala — Baby, precisamos de uma tesoura.
— Para quê? — Escuto Ava perguntar.
— Luke deu uma ideia excelente, podemos usar e colocar na
gravação — Carl responde.
Eu, definitivamente, não vou ficar aqui só esperando, enquanto esse
demônio está com a Sarah em suas mãos. Falhei em protegê-la, mas não
falharei em salvá-la. Farei o que for preciso, passarei em cima de qualquer
pessoa que tente ficar no meu caminho.
— Eu vou matar você, seu desgraçado, vou matar a puta da sua
mulher também, e me agradeça esse favor, porque assim vai poder
encontrar o verme do seu filho no inferno — Minha voz sai grossa, e sinto
vontade de socar algo, ou alguém.
— A única coisa que você colocará as mãos, será no vídeo da sua
mulher sendo morta, vou gravar os últimos momentos dela para você, cada
segundo de tortura lenta e dolorosa, vamos a machucar tanto que ela vai
implorar para morrer, talvez até enlouqueça no processo — Ele debocha, e
eu vou adorar arrancar cada dente desse desgraçado para compensar cada
deboche dele. — Escuta só isso.
A chamada fica alguns segundo em silêncio, mas de repente os gritos
da Sarah começam a ecoar pela chamada, assim como o som de algo
batendo. Ela está implorando para pararem, implorando para não a
matarem. Me sinto afundando no lugar, como se estivesse sendo sugado por
uma lama ou uma areia movediça, mas preciso me recompor, não posso
permitir que isso continue.
A última coisa que escuto da chamada é a risada alta e clara do Carl.
Olho para o meu celular sem reação por alguns segundos e arremesso
o celular contra a parede, não vou ficar aqui parado esperando por alguma
pista, vou encontrá-los se eu estiver nas ruas, procurando. E a cada
informação que eu receber, sigo, até achar a Sarah.
— Nem que eu precise colocar fogo nessa cidade inteira, eu vou
achar a Sarah essa noite — Aviso, indo em direção a um carro que não
esteja com a porta amassada.
Entro no banco do motorista e o Edgar entra pela porta do passageiro,
não tenho tempo para discutir nada, e por isso apenas ligo o carro e saio.
Aguenta só um pouco, Sarah. Meu amor.
Minha cabeça dói muito, sequer consigo compreender meus
pensamentos e entender o que está acontecendo, eu estava ajudando uma
mulher e fui sequestrada. Sequestrada… meu Deus, eu fui sequestrada?
Sinto um tapa arder no meu rosto e tento em mexer, percebo que
estou amarrada a uma cadeira com as pernas presas juntas. Estou fodida pra
caralho.
— Acorda sua vadia, tá na hora de morrer — A mulher que eu estava
ajudando fala com raiva e meus olhos se enchem de lágrimas.
— O que está acontecendo? Por que estou aqui? — Questiono em um
sopro de voz, sentindo um nó enorme se formar na minha garganta.
Ela me olha sem expressão e sai me deixando sozinha. Está escuro e
um pouco frio, mas a segunda pior parte é a dor. Minha cabeça dói como o
inferno, meu rosto está ardendo tanto que eu acho que ela me acordou no
tapa, meus braços amarrados aos braços da cadeira também doem.
E a pior parte é que eu não sei o que está acontecendo. Por que estou
aqui? Será que eu vou ser traficada? Será que querem traficar meus órgãos?
Mas eu nem bebo água direito, duvido que meu rim preste, ou que meu
fígado valha alguma coisa, já que gosto muito de um vinhozinho.
E eu não quero morrer.
Escuto passos, e apesar da pouca luz, vejo-a retornando. Ela coloca
uma câmera em um tripé na minha direção e meu pânico aumenta. Que
merda é essa?
— O que vão fazer comigo? — Pergunto em um sussurro de voz,
aterrorizada.
— Fica calada, sua puta — Ela grita comigo, e eu me encolho
chorando silenciosamente.
Surge o homem falando ao telefone, o mesmo que apontou a arma
para mim dentro do carro, ele está ao telefone e parece se divertir enquanto
fala. Mas eu só consigo compreender o que ele diz quando realmente se
aproxima de nós.
Ele disse para o Luke que vai usar uma tesoura em mim? Meus olhos
se arregalam e meu coração bate errado. Essa câmera é para eu ser filmado
enquanto sou torturada até a morte? Eu não quero sentir dor, não quero
morrer, muito menos de uma forma tão brutal. O que eu fiz para merecer
isso?
O Luke prometeu que me protegeria, sinto as lágrimas descendo pelo
meu rosto, prometeu que voltaria.
Por que eu estou sozinha agora?
Sinto meu rosto sendo atingido por mais tapa, e depois outro e outro,
eu grito por causa da dor que só aumenta. Sinto o gosto ferroso de sangue
na minha boca e meu estômago embrulha. Quando percebo, estou
implorando para que ela pare e não me mate. Esse vai ser o meu fim?
Ela se afasta de mim e eu tenho dúvidas se vou conseguir mexer
qualquer músculo do rosto, dói tanto que me pergunto se descolou a minha
pele. Sempre fui mole, mas agora todos os meus limites foram
extrapolados.
Fecho os meus olhos tentando ignorar tudo e organizar os meus
pensamentos. Será que se eu tivesse ido para casa ao invés do bar, isso teria
acontecido? Respiro fundo refletindo, claro que sim. Eles vieram atrás de
mim de maneira específica, mesmo se eu tivesse em casa, eles fariam algo
para me sequestrar, estão me usando para afetar o Luke.
Ele me disse que a mãe dele foi assassinada, e que tentaram o matar.
Será que foram essas pessoas? Por que estão tão focados em fazer mal para
o Luke? O que eu tenho a ver com tudo isso?
— Onde eu estou? — Pergunto baixo, mas eles me ignoram.
Respiro com dificuldade, sinto as lágrimas escorrendo pelo meu
rosto, e a minha pele arder. Tenho a sensação que os meus braços estão
ficando dormentes, acho que nunca senti tanto medo na minha vida. Quero
acreditar que não morrerei aqui, quero acreditar que antes que esses loucos
façam alguma coisa comigo, Luke encontrará uma forma de me salvar.
— Temos que matar ela agora, Carl, que porra você está pensando?
— Ela fala alto e eu inclino o meu rosto para encará-los. Pelos assim vou
saber o que será de mim.
— Não, Ava, não vamos matar essa vadia agora, tenho certeza que o
Luke virá atrás dela, ele se importa com ela, ou não teria um segurança —
Eu tinha um segurança? Ele não fez um bom trabalho — Não vou deixar
aquele desgraçado vivo, ele matou nosso filho, destruiu todos os meus
negócios e tem que pagar com vida.
— Tenho certeza que uma vida depois de ter perdido as pessoas que
ama é muito pior, eu to sentindo isso agora, meu filho foi morto! — Ela
grita com raiva — É arriscado, não quero morrer, quero ir embora, mas
antes quero matar ela para me vingar daquele desgraçado.
Luke matou o filho deles? Qual a idade dessa pessoa? Quantos anos
será que esses dois tem? Tento ver bem a fisionomia deles para chegar à
alguma conclusão, mas a pouca luz não ajuda, porém diria que eles estão na
casa dos cinquenta, o que me tranquiliza um pouco. Luke não machucou
uma criança, isso seria horrível.
— Eu a mato depois, baby, pode ir embora e eu cuido de tudo — Ele
diz segurando no rosto dela.
— Sou eu que tenho que matar ela, essa tem que ser a minha
vingança — Ela responde séria.
Espero que eles continuem brigando por muito tempo e esqueçam de
mim. Também não quero ser torturada, nesse caso, prefiro que me matem
logo. Meu Deus! Que tipo de escolhas são essas que estou tendo que pensar
agora? Nunca fui nem assaltada na rua, e agora estou presa em uma cadeira
em um lugar frio e fedido pensando qual a melhor forma de morrer.
— Você ainda pode se distrair torturando ela, deixando a gravação
para enviarmos para ele — Carl diz, maldoso. Meu desespero aumenta e eu
choro ainda mais — Você é boa nisso, e ele será torturado para sempre com
as imagens, os gritos. Eu te conheço, Ava, você é uma sádica, quer isso
também.
— Quero, mas ainda acho que você está sendo estúpido, quanto mais
ficamos aqui, mais eles podem se aproximar. — Ela raivosa — Eu avisei
para você não contratar aquele imbecil, mas foi idiota.
A expressão do Carl muda e acerta um tapa no rosto da Ava, o
impacto é tão forte que ela cai no chão. Ele se abaixa e segura no seu rosto,
não consigo ver se está pondo força ou não, mas acredito que sim, duvido
que ele seria delicado logo após estapear o rosto dela assim.
— Presta bem atenção, baby, eu mando aqui, não importa o que tem
acontecido. Eu falo, você obedece, sempre foi assim e continuará assim. —
Sua voz é grossa e eu a escuto fungar — Se tentar me desafiar de novo,
serei obrigado a te dar uma lição e eu tenho certeza que você não quer isso.
— Não quero — Ela responde rápido.
Sendo sincera, sequer sinto dó dela, por mim, eles que ficassem o
resto da noite nessa discussão deles. Essa mulher me enganou, me
sequestrou, já bateu tanto no meu rosto que ele está ardendo e doendo de
uma forma que nunca sentir antes. Só queria ser salva daqui, não me
importo com o que vai acontecer com eles, desde o destino para eles não
seja a liberdade.
— Melhor assim — Carl empurra a cabeça dela contra o chão
enquanto se levanta, então seus olhos se viram para mim — E você vai
pagar a dívida do Luke comigo, no momento certo.
Ava fica no chão por alguns segundos ainda. Quando se levanta,
posso notar a marca no seu rosto e sua expressão de raiva. Na hora de me
dar tapa na cara tava gostando, aí leva um fica com raiva, e ainda me olha
irritada, como seu eu que tivesse batido nela. Eu não aprovo a violência, e
defendo que as mulheres não devem continuar com homens abusivos e
agressivos, mas nesse caso específico, eu bem que eu queria ser a pessoa
batendo nela, mas estou amarrada e por isso vou ficar calada. Pelo menos
pensar, eu posso.
— Eu vou matar você, bem devagar — Ava me ameaça, seu olhar
parece perturbado, meu corpo estremece de medo.
— Eu não fiz nada para você, nem te conheço — Argumento, mesmo
achando que ela não vai me escutar — Me deixar ir embora.
— Te deixar ir? — Ela pergunta exibindo um sorriso sarcástico —
Luke precisa sofrer, e você vai me ajudar a causar isso.
— Você está enganada, não vai fazer o Luke sofrer me matando, fará
a minha mãe sofrer, ela quem vai perder a filha. Você perdeu seu filho, não
se compadece da dor de outra mãe? — Tento outro argumento. Ava para no
lugar, parecendo pensar.
— Não, a única dor que me incomoda é a minha — Ela sorri
maldosa.
— Você acha mesmo que o Luke se importa comigo? — Pergunto em
desespero, e ela arqueia a sobrancelha — Se ele gostasse de mim, não teria
me deixado sozinha. Nem lembro a última vez que eu o vi.
— Está mentindo — Ela semicerra os olhos — Nós sabemos de tudo.
— Vocês podem ter se enganado, informações confusas podem causar
isso, me deixa livre, por favor — súplico, estou tão agitada que me debato
na cadeira.
Desespero puro, quase como se estivesse liquefeito e injetado no meu
sangue. É a primeira vez que sinto tanto medo.
— Então preciso te matar para te descartar — Ela conclui e eu choro,
não era essa a minha intenção.
— Por favor, não faz isso comigo, não quero morrer — Imploro, mas
não acho que é o suficiente.
Cada segundo que passa me deixa ainda mais irritado e preocupado.
Eles podem fazer qualquer coisa com a Sarah, e eu não vou suportar isso.
Mesmo que depois eu coloque as mãos neles, porque invariavelmente, eu
irei fazer isso, nada a traria de volta para mim. Eu prometi que a protegeria.
Mapeamos a cidade e procuramos por lugares próximos à região do
bar que ela estava para começarmos a procurar. Já passamos por um
barracão abandonado e não tinha nada, nenhum rastro de que alguém sequer
havia passado ali, e por isso estamos indo para o segundo endereço. Edgar
está traçando uma rota rápida, para caso o segundo lugar não seja o local
que estamos procurando.
Meu celular começa a tocar e eu atendo rápido. Dessa vez eu sei que
se trata do Alex, espero que ele já tenha informações concisas.
— A placa é falsa, não consigo achar nenhuma identificação, e nem
rastrear por ela, mas o celular foi jogado fora a cinco quilômetros de onde
vocês estão — Ele explica, e como a chamada está no viva-voz do carro, o
Edgar também está escutando — Enviei o endereço no celular dos dois.
— Acha que eles jogaram para um lado e foram para outro? —
Questiono enquanto o Edgar encara o próprio celular.
— Eles te ligaram muito rápido, não acho que tenha dado tempo de
ficar dando voltas — Edgar pondera — Essa localização é próxima a um
galpão nosso que foi abandonado, acho que devemos refazer a rota e ir
direto para lá.
— Então não vamos perder tempo — Respondo, já mudando a rota
do carro. Estou com o pé no acelerador no máximo que o carro consegue ir,
já que estamos na autoestrada e não terei problemas com outros carros.
— Vou avisar os soldados para onde devem ir — Edgar diz já
fazendo a ligação.
— Estarei a postos para qualquer coisa que precisarei, estarei fazendo
buscas nos nomes dele para achar qualquer indício de fuga deles — Alex
avisa e desliga a chamada.
— Não teremos tempo para esperar alguém aparecer, assim que
chegarmos lá, eu vou sair desse carro e procurar com ela, você pode esperar
aqui, mas eu não vou esperar — Aviso, muito sério do que estou dizendo,
não vou perder tempo. Cada segundo é muito importante e crucial nesse
momento.
— Não vim até aqui para te deixar sozinho — Edgar revira os olhos
— Vamos salvar ela, e voltar para casa após matarmos esses idiotas.
O sangue parece correr ainda mais rápido em minhas veias, meu
coração está pulsando forte, sendo bombeado por um ódio puro. E medo.
Tenho medo de perder a Sarah, medo que ela se fira gravemente, medo que
ela nunca mais olhe para mim novamente depois de tudo.
O GPS avisa quando passamos pelo celular, apago o farol e continuo
o caminho seguindo para o galpão que o Edgar falou. Foram idiotas demais
em deixar o celular no caminho, mas isso foi muito melhor para mim.
Tempo é algo que não tenho.
— Não acho que tenha muitos seguranças com eles depois de termos
destruído tudo — Edgar comenta e eu assinto concordando — Vamos
chegar com calma.
Estaciono o carro no escuro e coloco o silenciador na minha arma.
Puxo o ar devagar, colocando a minha cabeça no lugar, eu preciso estar
focado, não posso deixar a raiva me dominar. Sempre fui um excelente
atirador, só me manter centrado.
Caminhamos em direção ao galpão, logo na entrada vemos um
homem armado e isso me dá certeza de que viemos para o lugar certo. E me
dá mais ânsia para acabar com essa angústia. Meu peito está apertado e
doendo, não quero e não vou ficar pensando sobre a minha vida se a Sarah
morrer, porque tenho certeza que ela ainda está viva.
Edgar se afasta de mim, dando a volta para chamar a atenção do
segurança, e eu me aproximo por trás e atiro na sua nuca. Seguro o corpo
antes que ele caia no chão para não chamar a atenção. Edgar avisa que irá
dar a volta e eu entro pela porta da frente. Não entro direto no espaço
aberto, tenho que passar por um corredor.
Enquanto caminho, um segurança surge eu atiro em sua cabeça no
mesmo segundo e passo por cima do seu corpo. Quando findo o corredor, a
cena que surge diante dos meus olhos é a Sarah amarrada em uma cadeira e
a Ava, a sua frente, segurando uma faca com um sorriso diabólico no rosto.
Não importa o que esteja acontecendo, preciso impedir.
Disparo três vezes direto no peito da Ava, que é empurrada para trás
pelo impacto dos tiros. Sarah grita e eu corro em sua direção, um tiro atinge
o chão perto de mim, mas o atirador é atingido por uma bala e cai do
segundo andar e eu vejo o Edgar na porta oposta.
Tiro a minha faca do coldre e me aproximo da cadeira, sinto raiva e
sinto dor ao ver a Sarah machucada. Seu rosto está marcado e inchado, e ela
tem um corte no ombro. Começo a cortar as cordas para tirar ela daqui, já
que estamos no centro do galpão.
— Você veio — Ela diz com a voz baixa, quebrada. E muitas
lágrimas escorrem pelo seu rosto.
— Eu nunca te deixaria — Afirmo sincero, olhando em seus olhos —
Vai ficar tudo bem.
— Eu achei que… que… — Ela tenta falar, mas soluça sem
conseguir completar a frase por causa do choro.
— Está tudo bem, eu vou te levar daqui e cuidar de você — A
conforto e liberto a suas pernas — Não se preocupa, você vai ficar bem.
Ela assente para mim, ainda sem conseguir dizer algo. Olho ao redor,
procurando alguém que possa tentar fazer algo enquanto caminho. Ainda
não vi o Carl, mas tenho certeza que ele está aqui em algum lugar. Ajudo a
Sarah a levantar, e apoio todo o seu peso, a segurando pela cintura. Acho
um pouco arriscado colocá-la nas minhas costas ou a pegar no colo agora.
— É só até chegarmos nele — Eu indico o Edgar e ela assente.
— Vocês não vão sair daqui! — Escuto Carl gritar — Vou matar
todos vocês e vou embora.
— Você será morto, e serei eu a te matar — Respondo, escondendo a
Sarah com o meu corpo e a sinto se agarrando em mim. A voz do Carl vem
do andar de cima, passo os meus olhos por cada centímetro do corrimão,
procurando por ele.
— Esse é o seu fim, Luke — Ele grita e eu me viro no exato
momento, identificando a direção e acerto a sua perna e escuto o baque dele
caindo no chão e gritando de dor — Não vou lidar com você agora, mas nos
encontramos depois.
Pego a Sarah no colo com cuidado, ciente de agora acabou tudo.
Preciso apenas cuidar dela e garantir que ela ficará bem. Depois encontro o
Carl para fazê-lo pagar por cada coisa que me fez, pagar pela dor que
causou na minha mãe e na Sarah. Ele desejará conhecer o diabo o mais
breve possível.
— Já estão chegando, levarei o Carl para o nosso galpão e cuidarei
para que ele aguente até você poder ir até ele — Edgar avisa e eu assinto.
— Vou levar a Sarah para o hospital — Aviso, sem parar para
conversar.
Sarah está encolhida no meu colo, completamente fragilizada. E é por
minha culpa. Eu não posso voltar no tempo e impedir o que já aconteceu,
mas preciso pensar bem no que farei daqui para frente. Olhando-a agora, só
consigo pensar que amar é ir embora para não ferir. E por minha causa ela
está ferida.
Coloco-a com cuidado no banco do carro, e beijo com carinho sua
testa, reforçando que tudo vai ficar bem. Espero que minha palavra ainda
valha alguma coisa para ela. E entro no carro, começando a dirigir rápido,
mas com muita atenção.
— Luke, não me deixa sozinha no hospital, não me deixa sozinha —
Ela pede chorando, mas vejo de canto de olho que seus olhos estão quase
fechados — Por favor.
— Você não vai ficar sozinha, mas fica acordada — Eu peço, em
desespero — Fala comigo!
— Está doendo muito, eu quero dormir e esquecer a dor — Ela
choraminga e eu seguro a sua mão, que está um pouco fria.
— Sarah, não é hora de dormir, estamos quase lá — Eu imploro, não
posso perdê-la. Não posso.
Estaciono o carro com tudo na entrada para ambulância e saio do
carro gritando para virem logo. Os médicos correm com uma maca, mas a
Sarah não está mais acordada. E só quando o médico pergunta o que
aconteceu, se eu também estou ferido, é que noto as minhas mãos
ensanguentadas. Ela tinha mais feridas e eu não vi.
Corro atrás da maca dela, e vejo sua roupa cheia de sangue. Ela tinha
mais feridas além do corte no ombro. Sou impedido por dois médicos de
continuar acompanhando a Sarah pelos corredores. Não posso ter chegado
tarde demais.
Sento no chão completamente atordoado, dilacerado. Ela precisa
resistir.
Eu nunca vou me perdoar pelo que aconteceu essa noite. Todo esse
sofrimento é culpa minha, Sarah poderia estar vivendo sua vida
normalmente, mas eu entrei na sua vida e causei isso. Olho a porta que
encaminha direto para a cirurgia.
Sarah precisa ficar bem.
Me sinto estranhamente sonolenta, como se todo o meu corpo ainda
estivesse dormente, mas felizmente a dor se foi. Pensando bem, nesse
momento parece que não estou sentindo nada. Puxo o ar devagar, sentindo
meu pulmão se encher e depois solto o ar lentamente. Forço meus olhos
para abrirem, mas a claridade me incomoda um pouco, me fazendo piscar
repetidamente. Tento falar, mas a minha boca parece muito seca. Acho que
estou no hospital.
Finalmente abro os olhos, confirmando a minhas suspeitas. Mexo a
minha cabeça devagar e vejo o Luke sentado numa poltrona, ele tem os
olhos fechados e parece muito cansado, acho que também não foi fácil para
ele.
Me lembro do que aconteceu e do quanto foi aterrorizante cada
segundo que passei naquele lugar, sinto uma enorme vontade de voltar a
chorar. Senti tanta dor que nunca conseguirei colocar em palavras. Seque
acredito que exista alguma palavra que consiga descrever o que foi aquilo.
Talvez uma prova do que é o inferno.
— Luke — o chamo com a voz baixa, parece doer só de tentar forçar
a garganta, mas felizmente não preciso fazer esforço, já que o Luke acorda
no mesmo momento.
— Como você está? O que você está sentindo? — Ele pergunta
nervoso, vindo para perto da cama — Precisa de alguma coisa?
— Estou com sede — Aviso — pega água para mim, por favor.
— Preciso conferir com o médico se você já pode beber água — Ele
aperta um botão na mesa de equipamentos e se aproxima de mim,
segurando a minha mão com carinho — O que está sentindo?
— Me sinto dormente, mas no mais, não sinto nada — Suspiro. Nem
sei o que deveria sentir depois de um momento como esse — Há quanto
tempo estou aqui?
— Um pouco mais de um dia — Ele responde e eu assinto devagar,
absorvendo a informação. Mais de um dia internada. — Você teve uma
ferida na barriga que foi um pouco mais grave, mas felizmente não atingiu
nenhum órgão, mas ainda precisou fazer uma cirurgia. O médico vai te
explicar melhor.
— Tudo bem — mordo o lábio inferior, me sentindo um pouco
apreensiva. Eu fiz uma cirurgia? Abro a boca para fazer mais perguntas,
mas uma médica bate na porta e entra.
— Ela pode beber água? — Luke pergunta antes que o médico abra a
boca.
— Pode, pouca e devagar — A médica instrui e o Luke se afasta para
pegar minha água, o médico me olha para mim e para a prancheta — Como
está se sentindo?
— Anestesiada — Respondo um pouco nervosa — Terei que ficar
aqui muito tempo?
— Não, amanhã você poderá ir, mas hoje preciso que fique aqui em
observação — Ela explica e se aproxima de mim — Terei que tocar em
você para fazer algumas avaliações, ok?
— Tudo bem — Concordo.
A médica faz várias avaliações. Coloca a luz de uma lanterninha no
meu olho, testa os meus reflexos, afere minha pressão e minha temperatura.
Ela também me explica que não foi uma cirurgia de risco, só precisaram ter
certeza que eu não havia sido atingida em algum órgão e me fecharam, e
mal ficaria uma cicatriz, também falou sobre meu corte no ombro que foi
leve, e logo ficaria bem. Ficar bem é o que eu mais quero. E no final, avisa
que logo o enfermeiro vem para trocar meu curativo e meu remédio para
dor, então pede licença e sai, nos deixando a sós novamente.
— Vou te ajudar a beber a água — Luke diz se aproximando, ele
mexe no controle da cama, e ela fica inclinada, me deixando ficar um pouco
sentada. Então ele me ajuda a beber a água, moderando a quantidade e a
velocidade.
— Obrigada — Agradeço quando vira para jogar o copo fora —
Como você está?
— É você quem precisa responder isso — Ele faz carinho no meu
rosto — Fiquei muito preocupado com você.
— Desculpa, não foi minha intenção — Digo, tentando soar
divertida, mas ele apenas suspira.
— Não peça desculpas nem brincando, isso tudo foi culpa minha —
Ela solta uma lufada de ar — Mas depois pensamos sobre isso, o foco agora
é sua recuperação e seu bem-estar.
— Você sempre fala que depois conversamos, mas só me enrola —
Semicerro os olhos e ele suspira.
— Quando você estiver bem, eu prometo — Ele beija a minha testa e
eu suspiro — Seus pais estão vindo aqui.
— O quê? — Pergunto assustada, como eu vou explicar tudo isso?
— Falamos que você sofreu um acidente de carro — Ele avisa e eu
fico mais alarmada ainda — Essa é a explicação para estar aqui, você
precisa confirmar.
— Tudo bem — Respondo assentindo, mas ainda me sentindo um
pouco atordoada.
Luke acaricia a minha mão com carinho e eu sorrio para ele. O que eu
poderia fazer? É muito melhor contar que sofri um acidente de trânsito do
que contar que fui sequestrada e o porquê fui. De qualquer forma, me sinto
aliviada por estar viva, eu tive tanto medo de que não sobreviver, tanto
medo que ela me torturasse, além do que chegou a fazer.
Mas eu sabia que ele viria, ele me prometeu.
O enfermeiro chega e faz todo o procedimento de trocar meus
curativos e arrumar o soro com o remédio que estou tomando para dor.
Melhor completamente anestesiada do que sofrendo qualquer coisa. Quando
ele vai embora, Luke toma seu lugar novamente, segurando a minha mão.
— Luke, você nunca vai quebrar sua promessa, certo? — Pergunto
me sentindo grogue pelo remédio — Continuará sempre voltando para mim.
— Você precisa descansar, deixa o remédio fazer efeito, logo iremos
para casa — Ele responde e beija minha testa.
Sinto vontade de contestar, mas não tenho forças para isso, estou
sonolenta demais. Ainda me forço a ficar o máximo de tempo olhando para
ele, até ser derrotada pelo sono.
Acordo me sentindo melhor que da primeira vez, só não estou
sozinha no quarto porque a uma enfermeira está comigo. Ela sorri gentil,
empurrando seu carrinho com um prato de comida. Olho ao redor
procurando pelo Luke e sinto um aperto quando não o vejo aqui.
— Sua acompanhante foi ao toalete, mas já deve estar retornando —
A enfermeira me avisa, gentil — Vou servir seu almoço.
— Você disse “a acompanhante”? — Pergunto confusa e ela acena
concordando.
— Sim, inclusive ela me pediu para ficar com você até que retornasse
— Ela explica enquanto acopla a bandeja na minha cama, para que não
ocorra nenhum acidente enquanto como — Quando estiver satisfeita, pode
me chamar pelo botãozinho que venho recolher os pratos.
— Obrigada — Olho para a comida um pouco desconfiada, é uma
sopa sem sólidos, uma torrada, água para acompanhar e uma gelatina de
sobremesa, não parece muito apetitoso.
— Você acordou! — Escuto a voz da Vó Diana e olho em direção à
porta no mesmo instante, sentindo meus olhos encherem de lágrimas, mal
escuto a enfermeira pedindo licença e saindo — Oh, minha menina, está
tudo bem agora.
— Eu achei que ia morrer — Digo com a voz embargada.
— Você é uma Carver, você é forte, resiliente, não seria um acidente
como este que te tiraria de nós — Ela me consola, segurando a minha mão e
fazendo carinho no meu rosto — Eu fiquei tão preocupada com você
quando o Luke ligou para avisar.
— Eu não deveria ter saído aquele dia — Fungo um pouco e ela seca
a lágrima que está começando a escorrer.
— Acidentes acontecem, e tudo bem. Você se machucou um pouco,
mas em pouco tempo estará completamente bem e pronta para retornar a
sua rotina — Ela diz firme, mas com um sorriso doce para mim — Você
sempre nos surpreende de um jeito bom, é uma joia.
— Obrigada, vovó — Agradeço, a abraçando um pouco, do jeito que
consigo por causa do acesso no braço. Quando nos afastamos, ela me
encara como se estivesse me analisando e eu suspiro.
— O que está te afligindo? — Ela pergunta com os olhos cerrados.
— Luke…
— Ele está te tratando mal por que você bateu o carro dele? — Ela
pergunta parecendo que já está se irritando.
— Não, ele está cuidando bem de mim, mas, ao mesmo tempo, tenho
a sensação de que ele está estranho. Acho que não consigo esclarecer o que
estou sentindo — Tento explicar sem me enrolar, mas não tenho certeza se
consigo.
— Talvez não seja consciente, ele quase perdeu a mulher que ama,
precisa de um tempo para absorver o que aconteceu também. Quando falei
que estava aqui para te ver, me disseram que seu acompanhante havia
ficado completamente transtornado quando deu entrada no hospital tão
ferida — Ele conta e eu inspiro um pouco — Você precisa se recuperar, e
ele também, mas se essa sua sensação durar, converse com ele. Relações
maduras precisam de diálogo.
— Eu vou falar com ele — Respiro fundo, tentando me recompor.
— Vai ficar tudo bem, meu amor, só nunca esqueça de quem você é,
independente do que sinta por ele — Ela me aconselha e passa a mão
gentilmente no meu cabelo — Sei que você ainda vai ser muito feliz, e tem
um futuro brilhante.
— Vou fazer isso, cuidar de mim e de quem eu sou. E amar o Luke,
desde que ele me ame também, como eu sou — Afirmo decidida.
— Isso, agora você precisa se alimentar — Ela indica o prato e eu
suspiro. Não parece nem um pouco apetitoso.
— Vó, onde ele está? — Pergunto timidamente.
— Ele disse que precisava finalizar um assunto pendente, mas
voltaria antes que você tivesse alta — Ela explica e eu assinto, e abro a
boca para receber a primeira colherada de sopa, já que aparentemente
minha avó acha que voltei a ser criança.
Me lembro do Luke ameaçando alguém enquanto ele me tirava
daquele lugar horrível. Sempre me perguntei que tipos de crimes ele
cometia, mas acho que era melhor quando eu estava no escuro. Ainda tenho
a visão do corpo da Ava sendo baleado. Me sinto confusa sobre muitas
coisas, mas nenhuma delas é sobre o que eu sinto pelo Luke.
A culpa está me correndo de uma maneira completamente agressiva.

Sarah está tão fragilizada, tão vulnerável e eu me sinto tão impotente


diante disso. Quero proteger e cuidar de suas feridas, tanto do corpo como da
alma, mas como posso fazer isso se eu sou culpado por ela estar nessa situação?
Preciso descontar toda a minha raiva e frustração em algo, e eu tenho a
pessoa ideal para fazer isso. Carl.
Tenho certeza que a Sarah ficará bem no hospital com a avó. Durante o
noivado pude perceber que ela era a única que parecia realmente se importar com
a Sarah e seus sentimentos, e concordar que aquele noivado era uma palhaçada.
Aqueles noivos são os palhaços.
Mandei uma mensagem mais cedo para o Felipo deixar tudo pronto
quando eu chegasse, não quero perder tempo com os preparativos, pois quero
gastar cada segundo fazendo o Carl se arrepender por todas as suas ações contra
mim. Agiu como se não me conhecesse, como se fosse tão poderoso que nada
iria o atingir, mas esqueceu de quem eu sou.
Estaciono o carro ao chegar no galpão e encontro o Felipo já me
esperando, já que ele vai me acompanhar.
— Já está tudo pronto, senhor — Ele me informa, enquanto mostra o
caminho até a sala de tortura para que eu esmague o Carl de uma vez.
— Certo, mas quero ficar sozinho na sala com ele — Aviso, não quero
ninguém me incomodando enquanto encerro esse assunto.
— Sim, senhor, se precisar de alguma coisa, basta me chamar — Ele
responde e indica a porta.
Abro a porta sentindo o ódio correr pelas minhas veias como o sangue que
me mantém vivo. Carl está preso a correntes tanto nos braços que estão elevados,
quanto pelas pernas, o mantendo no lugar. Ele tem uma faixa, na perna, um
enorme curativo para o tiro que levou. Está mais pálido, mas ainda aguenta
bastante coisa, e temos longas horas pela frente.

— Você é um traidor, Luke, um lixo — Ele diz com raiva ao me ver —


Você que deveria estar preso no meu lugar.
— O que te faz pensar assim? — Pergunto com deboche.
— Você trabalhava para mim, precisava seguir as minhas ordens, mas pelo
contrário, além de me desafiar, se virou contra mim visando me destruir — Ele se
debate e geme de dor.

— Você perdeu o controle de si, Carl, deveria ter apenas me deixado sair
como eu queria, sem brigas, sem desavenças. Eu estava prestes até a deixar a
fórmula da droga que você queria, mesmo sendo contra a produção dela — conto
e vejo sua expressão de surpresa — Mas você é um maníaco que não sabe o seu
lugar e achou que poderia me vencer machucando alguém importante para mim.
— E agora ela está morta, posso ter perdido, mas você também perdeu —
Ele debocha.
— É, você tem razão, eu também perdi. E foi por isso que eu tirei tudo de
você. Matei o Stefan, matei seu filho e sua esposa, e no processo destruí tudo o
que você construiu. Você não será nem lembrado por alguém, será como se você
nunca tivesse existido — Falo caminhando até ele com uma faca pequena na mão
— Qual a sensação de perder tudo, Carl?
— Desgraçado! Você é um desgraçado! — Ele grita com raiva, mas eu
apenas rio — Traidores não tem lugar no nosso mundo, e você é um. Você, logo
será destruído.
— Eu já tenho um lugar, sou um Armstrong, Carl — O informo e ele
arregala os olhos, sempre fui muito bom em esconder meu nome, mas agora sinto
como se eu realmente fosse um — Eu já tenho um lugar bem definido nesse
mundo.
Enfio a faca no ombro do Carl, e ele grita e eu puxo a lâmina de volta,
enfiando no outro ombro. Caminho de volta até a mesa, escutando os gritos do
Carl se espalhando pelo cômodo. Deveria ter pedido um fone, ele é muito
escandaloso.

— Estou testando algumas substâncias novas, acho que você seria uma
excelente cobaia — Pondero com deboche, e me viro, contemplando sua
expressão de terror — Vamos começar.
— Não, não faz isso — Ele grita nervoso — Poupa nosso tempo, me mata
logo e acaba com isso.
— Carl, você não merece uma morte rápida. Eu preferia levar dias para
acabar com isso, mas tenho outras prioridades, por isso vou descobrir o quanto
você aguenta enquanto aplico minhas drogas testes e arranco cada parte da sua
carne — Eu balanço uma tesoura e ele arregala com olhos gritando em
desespero. Era assim que eu queria vê-lo — com uma tesoura.
— Não faça isso! — Ele grita, mas isso faz eu rir com frieza.
— Vamos começar a brincadeira…

Meses para chegar até aqui, mas felizmente, hoje encerro a minha
vingança, e espero que a minha mãe agora possa descansar em paz. Eu ainda
preciso fazer mais uma coisa, mas para isso, quero a Sarah do meu lado, ela
compreenderá os meus sentimentos e ficará ao meu lado, mesmo se eu chorar.
Termino de me arrumar. Depois que acabei com o Carl, precisava me
arrumar antes de ir para o hospital. Já amanheceu e em breve ela terá alta e eu
preciso estar lá com ela. Já estou longe há muito tempo.
Como vou me distanciar dela, se apenas algumas horas e eu já sinto falta?
Dirijo pela cidade em direção ao hospital, foco completamente no trânsito
para pensar em qualquer coisa que não seja sobre ir para longe da Sarah, e nem
os motivos pelos quais eu deveria ir. Quando o querer e o certo a se fazer entram
em conflito, fica muito difícil chegar a uma solução.
Caminho pelos corredores do hospital em direção ao quarto da Sarah, mas
quando estou prestes a abrir a porta, a abrem primeiro. Me deparo com a avó,
Diana, saindo do quarto. Primeiro ela exclama pela surpresa e depois abre um
sorriso gentil.

— Bom dia, meu jovem, ainda bem que você chegou — Ela comenta,
fechando a porta atrás de si, mas ficando no caminho — Estava começando a
duvidar sobre isso.
— Eu não deixaria a Sarah sozinha, cumpro com a minha palavra —
Respondo sério.
— Se cumpre tão bem com sua palavra, por que a Sarah é tão insegura
sobre você? — Ela pergunta com seriedade, mas a sensação que eu tenho é que
levei um soco no estômago — Não precisa me responder, apenas quero que
pense sobre isso.
— Sim, senhora — Respondo educado. Isso realmente ficará no meu
pensamento, que já está completamente caótico.
— Vocês são jovens…
— Eu já tenho mais de trinta anos — A corrijo e ela ri, e balança a mão no
ar como se eu tivesse falado uma bobagem.
— Eu tenho mais de setenta — Ela dá de ombros e continua — Vocês são
jovens, e jovens cometem erros, mesmo quando amam. Sei que pode estar
inseguro, ela se machucou no seu carro, mas não foi você quem a machucou, não
se culpe por coisas que não são sua culpa.
Se ela soubesse a verdade, ainda diria essas coisas?
— Está tudo bem — Afirmo, mas não tenho tanta certeza disso.
— Espero que seja verdade — Ela suspira — Não quebre o coração da
Sarah, ela não merece isso e você nunca encontrará outra garota como ela.
— Tenho certeza que não, ela é única — sou sincero ao concordar com ela,
Sarah é única para mim.
— Não seja imprudente — Diana diz em tom de aviso e sai da frente da
porta, finalmente liberando a passagem.

Sarah está dormindo pacificamente. Ela é tão linda. Mesmo com alguns
hematomas, sua beleza é única e incomparável. Ela é perfeita por dentro e por
fora.
E eu a amo.
— Bom dia — Sussurro quando percebo que ela está acordando.
— Bom dia — Ela responde um pouco rouca de sono.
— Pronta para receber alta? — Pergunto e ela sorri acenando.
— Ansiosa para ir para casa — Ela afirma e suspira sonolenta.
Logo a médica aparece e dá a alta para a Sarah, também deixa uma receita
com as medicações e cuidados básicos que ela irá precisar até estar
completamente recuperada. Guardo a receita comigo, pois me certificarei de
comprar e dar cada remédio para garantir que ela está seguindo tudo como o
recomendado.

— Minha avó acabou de me mandar uma mensagem avisando que foi para
casa de táxi — Sarah fala um pouco surpresa — Achei que ela ia com a gente.
— Talvez ela quisesse ir para casa logo — Dou de ombros e continuo
ajudando ela a se trocar — E talvez seja até melhor assim.
— Por quê? — Ela pergunta confusa, enquanto eu coloco o vestido nela.
— Quero passar com você em um lugar antes, preciso fazer uma coisa —
Explico, e ela assente ainda com as sobrancelhas juntas de confusão — Logo
você irá entender.
— Estou bonita? — Ela pergunta dando uma voltinha bem devagar.
— Está perfeita, sempre está — A elogio sincero. — Está pronta?
— Sim! — Ela exclama sorrindo e eu indico a cadeira de rodas para ela
sentar, e ela suspira perdendo o sorriso — Eu posso andar.
— Poder não significa que deve, você pode ir até o carro na cadeira de
rodas ou no meu colo, você escolhe — Sorrio e ela revira os olhos — Não tem
outra opção.
— Vou na cadeira — Ela senta um pouco emburrada, mas eu acho fofo —
temos que passar na recepção ou na administração para resolver sobre a minha
conta.
— Para quê? — Pergunto confuso.
— Eu tenho certeza que isso aqui não foi de graça — Ela diz sarcástica e
eu rio.
— Já está pago.
— Você realmente tem dinheiro?
— Isso ainda não estava óbvio? — Devolvo a pergunta rindo.
— Quando eu te conheci, você era um sem teto — Ela dá de ombros rindo.
— Muito engraçado, Sarah — Respondo revirando os olhos, mas achando
divertido.
Paro a cadeira de rodas ao lado do carro e abro a porta, e a ajudo sentar no
banco do passageiro. Abro a porta de trás e pego um buquê de flores para ela,
que as recebe sorrindo.
— São lindas, obrigada — Ela agradece abraçando as flores. Eu do a volta
no carro e entro no banco do motorista e a Sarah está me olhando com a
sobrancelha arqueada — E aquele outro buquê?
— São para outra pessoa — Respondo começando a dirigir.

— Quem?
— Quando o sequestraram a minha mãe e a mataram, também cremaram o
seu corpo e eu não pude velar ou me despedir. Precisava me vingar, e sinto muito
por ter te envolvido no processo — Suspiro, e olho para ela rapidamente e vejo
sua expressão de compreensão — Minha mãe amava a ponte de Golden Gate.
— As flores são para ela — Ela não pergunta, afirma.

— São. — Estaciono o carro — Se sentir que não pode ficar em pé, só me


espera um pouco.
— Eu vou com você — Ela responde no mesmo instante.
Saímos do carro e caminhamos vagarosamente até a barra de proteção.
Fico olhando a água e minha mente se enche de lembranças da minha mãe. Mary
foi uma mulher incrível e viverá para sempre no meu coração. Sarah segura o
meu braço e eu jogo as flores.
Despedidas são dolorosas, mas pelo menos tenho a Sarah comigo.
A primeira semana em casa foi a pior. Senti falta do trabalho, odiei a
completa falta de mobilidade, mesmo o Luke sendo muito paciente comigo,
me ajudando com os curativos e simplesmente me impedindo de descer e
subir escadas sozinha, para que a ferida não fique pior.
— Onde você vai? — Luke questiona ao me ver levantar do sofá.
— Estou cansada — bocejo, os remédios me fazem sentir muito mais
somos e o Luke não me deixa esquecer nenhum — Preciso dormir.
— Então, vamos dormir — Ele também se levanta e me pega no colo,
já não me surpreendo mais. Luke simplesmente me carrega no colo todas às
vezes que preciso subir ou descer as escadas.
Durante os primeiros dias também recebi muitas visitas. Meus pais, a
Ellen, minha avó, e a Heather, o que me faz pensar em trabalho. Por duas
semanas eu tive atestado, além de não trabalhar, não consegui fazer mais
nada. Longos dias de tédio.
Quando esses dias cessaram, comecei a trabalhar de home office.
Luke também não tirou os olhos de mim, não entendi bem como ele estava
trabalhando, mas ele me explicou que estava administrando o serviço de
longe. Como não sei qual é o serviço, não consigo criar teorias.
Não tenho certeza se queria criar alguma teoria também, já
vislumbrei o que é a vida dele e não gostei. Faz parte, ninguém é perfeito.
Mas eu tenho certeza do meu amor por ele, tenho certeza que o quero
para sempre na minha vida.
E apesar de todo esse cuidado, de alguma forma que não consigo
colocar em palavras, Luke parece distante. Não queria me sentir confusa,
mas não consigo evitar. Luke não está sendo completamente claro com os
seus sentimentos e nem justo com os meus.

Desço as escadas sozinha e com um sorriso pequeno, mas um mês e


meio depois de tudo o que aconteceu, eu já estou bem. Já retirei os pontos e
não sinto mais dor, mesmo sem remédio. Mas acho que o Luke não aprova
muito bem a minha decisão, e penso isso pela sua expressão séria me
encarando. Sorrio para ele, mas a expressão dele não dissolve.
— Por que não me chamou? — Ele pergunta arqueando a
sobrancelha.
— Luke, eu já estou bem, você não pode ficar me carregando para
cima e para baixo desse jeito — Explico parando no penúltimo degrau, para
ficar um pouco mais “alta”.
— Claro que posso! — Ele responde sério, mas eu rio.
— Estou ótimo, ok? — Sorrio maliciosa, me apoiando nos ombros
deles e falo com a voz rouca — Estou ótima para outras coisas também.
— Sarah… — Ele fala em tom de aviso, mas não me impede de
beijá-lo.
O beijo é calmo, Luke está sendo muito cuidadoso. Logo ele me pega
no colo sem interromper o beijo e começa a me levar de volta para o quarto.
Eu já estava cansada de ficar no quarto, mas para ficar com ele, eu adoro
aquele quarto.
Luke abre a porta e me leva direto para a cama, sua mão está na
minha bunda e a aperta e eu ofego. Devagar, ele desce os beijos pelo meu
pescoço, fazendo a minha pele se arrepiar. Como eu quero esse homem, me
sinto queimando de desejo.
Ele se afasta um pouco, mas sua expressão não condiz com a que eu
esperava. Luke me dá um selinho e começa a se afastar de mim, mas eu o
seguro pelo braço.
— O que está fazendo? — Pergunto frustrada.
— Não vamos transar, Sarah, você ainda está de resguardo da
cirurgia, são sessenta dias e ainda não acabou o prazo — Ele explica,
fazendo carinho no meu rosto.
— Mas eu quero — Contesto — Faltam poucos dias para acabar os
sessenta dias.
— Faltam mais de dez dias, e mesmo que você não esteja preocupada
com a sua saúde, eu estou — Ele responde firme, e eu bufo soltando-o —
Depois eu te recompenso.
— Depois — Reviro os olhos
— Sarah, não fica emburrada — Ele diz em um tom divertido
enquanto ele beija meu ombro.
— Pode sair daqui se não terminar o trabalho — Resmungo
empurrando-o.
— Vou fazer o jantar — Ele levanta rindo.
— Ridículo esse seu comportamento — Reclamo mais uma vez e me
cubro para ignorá-lo.
— Não pode sozinha também, ouviu Sarah? — Ele me provoca e eu
reviro os olhos.
— Tchau, Luke, me deixa — Contesto e escuto a risada dele sumindo
pelo corredor.
Todo esse cuidado é fofo, mas se continuar assim, Luke vai me deixar
louca.

Fico olhando para o teto em silêncio por tempo demais, pensando


demais.
Me lembro das coisas que a minha avó disse “relações maduras
precisam de diálogo”. A minha relação com o Luke é madura, certo? Então
posso conversar com ele sobre as coisas que continuam me incomodando,
sobre como ele parece distante em muitos momentos.
Eu sinto que ele é verdadeiro comigo, mas ainda assim, me sinto
perdida às vezes. Parte de mim implora para que eu continue deixando para
depois, mas esconder só aumentará a ferida. Não dá mais para adiar.
Saio do quarto decidida a falar sobre isso, tenho certeza que ficará
tudo bem e que vamos resolver essa situação. A pior parte já passou, ele já
resolveu o problema dele e eu estou segura. O que poderia nos abalar?
— Eu estava indo te buscar — Ele reclama e eu sorrio para ele.
— Já disse que posso subir e descer essa escada — Reviro os olhos, e
piso no último degrau — precisamos conversar.
Luke me encara por um segundo, mantenho a expressão séria e seu
olhar continua me avaliando. Não quero estar sendo impulsiva, só quero
entender o que está acontecendo. Porque tem algo acontecendo.
— Sobre o quê? — Ele pergunta me guiando até o sofá para
sentarmos, já que ele se recusa a me deixar em pé por mais de cinco
minutos.
— Eu tenho respeitado seu tempo, e não quero parecer surtada, mas,
Luke, você precisa me contar as coisas. Mesmo com tudo o que aconteceu,
você nunca me disse sobre o seu trabalho. E não só isso, você tem agido
estranho, mesmo com todo cuidado e carinho, é como… eu não sei
explicar… — Respiro fundo procurando a palavra correta — É como se
você não tivesse certeza de algo. Você não tem mais certeza de mim?
— Não pense isso — Ele nega no mesmo instante e respira fundo —
Achei que não falar sobre o que eu faço seria uma forma de te proteger, e de
me proteger, porque tive medo que você não aceitasse.
— Eu te vi matando uma pessoa e ainda estou aqui.
— Ainda — ele suspira — Eu sou responsável pela produção de
drogas, químico, eu crio algumas novas fórmulas às vezes. E, também, sou
um assassino profissional.
— Do tipo que os outros contratam para matar? — Pergunto surpresa.
— Mais ou menos isso, eu só faço esse trabalho em específico para
um grupo muito pequeno de pessoas — Ele explica e eu assinto um pouco
estarrecida. — Está tudo bem?
— Estou absorvendo as informações, um minuto — Respondo
respirando fundo, e ele espera — Pronto, pode continuar.
— Eu trabalhava com o Carl, mas ele queria produzir uma droga
muito barata e ficaria muito nociva, eu me recusei e tivemos alguns
conflitos, para me pressionar, ele sequestrou Mary, minha mãe, as coisas
saíram do controle e ela foi morta. Como sabiam que eu não deixaria passar,
Carl armou uma emboscada e eu quase fui morto. Foi assim que parei na
sua casa — Ele explica com mais detalhes, o que já havia me falado antes.
— Sinto que você vai colocar um “mas” — Comento me sentindo
apreensiva e ele sorri pequeno, mas parece um sorriso triste.
— Eu não achei que ficando na sua casa, eu iria me apaixonar, nunca
me senti assim por ninguém. Mas sem eu perceber, você marcou seu lugar
no meu coração. Ainda que eu tivesse que ir para completar a minha
vingança, eu queria estar com você, me tornei um viciado no seu cheiro e
no seu perfume, em você — Ele segura a minha mão, meu coração está
completamente acelerado e eu engulo seco, o encarando — Eu te amo tanto,
achei que enlouqueceria quando você foi sequestrada, por minha culpa você
se machucou tanto.
— Não foi sua culpa — Nego imediatamente.
— Claro que foi, ele queria se vingar de mim e te usou e por isso
você viveu um momento horrível. Eu vejo como você fica agitada a noite
— Ele comenta e eu travo o maxilar — Eu não quero mais que isso
aconteça com você. Sarah, você é boa demais para viver sob perigo.
— Mas você completou sua vingança, eles… eles… — Respiro com
um pouco de dificuldade, entendendo o que ele está querendo fazer — Você
os matou, e eu não me importo que você seja um assassino. Você me ama,
eu te amo, e isso basta.
— Eu sempre terei inimigos, sempre terá alguém pronto para te ferir
para me atacar, não posso deixar que isso aconteça. — Ele acaricia o meu
rosto, e limpa uma lágrima que está escorrendo.
— Seja direto, Luke — Peço, sentindo o meu coração doer.
— Eu ta amo, e por isso, terei que ir embora — Ele diz suavemente e
eu engulo seco o nó formado na minha garganta — Eu só quero que você
fique bem, ter certeza que ficará bem depois…
— Depois que você me deixar, definitivamente? — Pergunto me
afastando dele — Você prometeu que sempre voltaria para mim!
— Não posso cumprir essa promessa se ela significa te colocar em
risco — Ele nega e eu levanto indo para longe dele — Sarah, não fica muito
tempo em pé, não vai te fazer bem.
— Você não pode me dizer o que fazer! — Eu grito com a voz
embargada — Que droga, Luke!
— Sarah… — Ele começa a falar vindo na minha direção, mas eu
nego.
— Não! Não se aproxima de mim, você acabou de romper comigo —
Eu rio triste, entre as lágrimas e a dor que me toma, nem a facada doeu
assim — Eu achei que agora ficaria tudo bem, sem sumiços, sem distância.
Até achei que finalmente teria o número do seu celular, mas é pior ainda.
— É para o seu bem — Ele argumenta. Luke está parado a uns dois
metros de mim, com um olhar triste, mas sou que estou quebrada. — Estou
fazendo isso porque te amo.
— Você não pode dizer que me ama e partir o meu coração —
Respondo com a voz quebrada, assim como me sinto — Você não pode
olhar nos meus e jurar amor enquanto me quebra, Luke, isso não é amor.
— Por favor, não interpreta as coisas assim — Ele suplica, mas como
eu entenderia a situação?
— Se você está mesmo disposto a sair da minha vida, vai agora. Não
perde mais seu tempo comigo, arruma tuas coisas e some — Tento dizer
firme, mas falho — Eu vou sentar nesse sofá e você faça sua decisão.
Ele me encara em silêncio. Minha mente e meu coração imploram
para que ele fique, mas eu não abro a boca, ele sabe como me sinto, sabe
como se sente. Tudo que deveria ser exposto já está sobre a mesa e as
decisões precisam ser tomadas.
— Eu sinto muito — Ele se aproxima de mim e beija a minha testa —
Nada vai mudar o meu amor por você.
Ele se afasta e começa a pegar algumas coisas dele que estão
espalhadas e depois sobe as escadas, enquanto eu fico sentada no sofá.
Minha vontade é de chorar como se não houvesse amanhã encolhida aqui,
mas não vou fazer isso na frente dele. Só depois que a porta fechar.
Luke desce com uma mochila e me olha uma última vez antes de
seguir até porta. Ele para com a mão na maçaneta, um segundo de
esperança que me quebra ainda mais quando ele segue o caminho dele. Me
deixando para trás e sozinha.
Finalmente eu choro, me encolhendo no sofá, tentando colocar para
fora toda a dor que está me corroendo, sentindo as minhas forças me
deixarem.
Nunca tive o coração quebrado dessa forma, nunca imaginei que
poderia sentir uma dor tão forte.
Me recuperei das feridas no corpo, mas não tenho ideia de quando ou
como conseguirei me curar. Eu não dependia emocionalmente no Luke, mas
me sinto como uma viciada em abstinência, me sinto sufocada por essa
saudade que fez chorar todas as noites por dois meses.
Dois meses sem o Luke, e sem esperanças que ele volte. Dessa vez,
ele não vai voltar.
Pelo menos no trabalho, agora que voltei a ir presencialmente,
consigo me distrair. E tenho me focado tanto que os projetos agora ocupam
quase todos os meus pensamentos. Não vou esquecê-lo assim, mas pelo
menos me mantenho ocupada.
— Alexa, música por favor — Peço assim que me levanto. Eu odeio
o silêncio.
O som da música começa a ressoar por toda a casa, sequer presto
atenção na letra, só preciso de um som para ocupar o espaço opressivo que
existe nessa casa. E eu não me lembre de nós dois dançando na sala de
estar, enquanto seus olhos me admiravam e seu calor me envolvia.
Coloco música o tempo todo para esquecer que o silêncio era a nossa
canção.
Não tomo café da manhã e vou direto para o carro, assim que começo
a dirigir coloco uma música qualquer para tocar e me concentro no trânsito.
Nunca achei que passaria tanto tempo tentando evitar os meus próprios
pensamentos, que faria de tudo para simplesmente não pensar.
Mas quanto mais tento esquecer, mais lembro. Droga, Luke!

Começo a digitar totalmente concentrada na tela do meu notebook,


quando sinto meu fone de ouvido sendo retirado e vejo um pequeno prato
sendo colocado na minha mesa, e um copo de suco. Olho para o lado, não
surpresa por ser Heather.
— Duvido que você se alimentou hoje — Ela diz séria — Você está
um caco.
— Bom dia, amiga, que bela forma de começarmos o dia, certo?
Como você está? — Pergunto divertida e ela revira os olhos.
— Estou falando sério, Sarah, come — Ela diz firme e puxa a cadeira
para perto da minha mesa — Sei que términos são ruins, mas não descuida
da sua saúde.
— Estou bem — Garanto, mas não tenho tanta certeza assim. Ela
semicerra os olhos para mim e eu pego meio sanduíche — Satisfeita?
— Só quando você estiver comendo — Ela avisa e eu mordo o lanche
— Tenho uma coisa para conversar com você, séria.
— Pode falar — Respondo após engolir e bebo um pouco do suco.
— Recebi uma proposta para ir trabalhar em Los Angeles, mas eu
não quero sair daqui, amo São Francisco e pretendo ficar aqui mais tempo
— Ela começa a explicar e eu fico confusa, ela não parece me dúvida sobre
o que fazer — Você sabe que, geralmente, transferências acontecem quando
o funcionário tem mais de um ano de empresa, certo?
— Certo, mas não estou te entendendo.
— Quando a Luna me chamou, eu expliquei meus motivos e estou
certa de que ficar é o melhor para mim, mas indiquei você para ir no meu
lugar, mesmo não tendo acabado o primeiro ano. Você é muito boa,
talentosa, esperta, tem tino — Ela vai esclarecendo e eu fico sem reação —
Eu gosto muito de você, é uma colega de trabalho muito boa e incrível
como amiga, mas acredito que se você recomeçar em outra cidade, talvez
também possa recomeçar por dentro.
— Heather, eu não sei…
— Pensa sobre o assunto, a Luna ainda irá te chamar para conversar,
mas eu tenho certeza que para a empresa, você é a melhor escolha. Agora,
você precisa pensar se para você, Los Angeles é a melhor escolha — Ela
sorri carinhosa — E termina de comer antes de voltar a trabalhar.
— Obrigada, pelo lanche e pela indicação — Agradeço sincera —
Vou pensar com calma sobre isso.
Heather volta para a sua mesa e eu tomo o café da manhã que ela
trouxe para mim. Será que ir embora é o melhor para mim? Será que devo
fazer isso? Respiro fundo várias vezes, como a psicóloga me ensinou, para
que eu me acalme. Luna ainda não falou comigo, talvez não considere a
indicação, não tenho tempo de empresa o suficiente para isso.
Levo o prato e o copo de volta para a copa e os lavo. Quando estou
voltando para o meu lugar, sou interceptada pela Olivia.
— Luna pediu para ir falar com ela — Olivia me avisa, e eu assinto,
sentindo meu coração disparar.
— Agora?
— Sim, de preferência — Ela responde afirmando e eu sorrio
concordando.
— Vamos lá.
Acompanho a Olivia até a sala da Luna. Ela realmente escutou a
indicação da Heather, mas se ela pedir uma resposta imediata, não vou ter.
Preciso ponderar e pensar bem.

Luna explicou tudo com muitos detalhes, sobre salário, cargo, e até
mesmo avisou que inicialmente, e se eu quisesse, poderia ficar em um
prédio da empresa para funcionários. O cargo seria similar ao da Heather, o
que significa que não seria só uma transferência, mas uma promoção
também. É uma oportunidade excelente para a minha carreira como
publicitária, e dentro da empresa. E tenho três dias para responder.
Caminho de um lado para o outro na minha sala de estar, me sentindo
confusa e por isso decido ligar para a Ellen, preciso da minha melhor
amiga.
— Amiga, preciso de conselhos — Digo assim que ela atende, me
sentindo a beira do desespero.
— Estou aqui e ouvindo — Ela responde rápido, e preocupada —
Quer que eu vá para a sua casa?
— Está tudo bem, só preciso que você me escute e me aconselhe, mas
tem que ser agora — Explico enquanto me sento no sofá.
— Pode falar, o que aconteceu? — Ela pergunta mantendo a voz
calma.
— Recebi uma proposta de promoção, mas em Los Angeles —
Resumo tudo, me sentindo muito apreensiva — Não sei o que fazer.
— A proposta é ruim?
— Não, vai dar um salto da minha carreira.
— E o que te impede de ir? — Ela pergunta e eu fico em silêncio —
O que São Francisco tem que te segura aqui?
— Ellen… — Suspiro sentindo minha garganta fechar pela vontade
de chorar — Eu não sei.
— Você sabe, mas precisa pensar bem no que vai te fazer feliz a
longo prazo. E, o meu conselho, ele foi embora, Sarah, vá também. Não
perde nenhuma oportunidade por uma esperança presa no fundo do seu
coração — Ela diz em um tom suave, me consolando e aconselhando —
talvez recomeçar em outro lugar seja exatamente o que você precisa.
Respiro fundo, mas acabo fungando porque as lagrimas já estão
correndo pelo meu rosto. Eu preciso pensar em mim e em me reconstruir,
não posso travar a minha vida por medo, por saudade, por nada. Tudo bem
não ter sorte no amor, mas pelo menos sei que a minha carreira não
prometera ficar comigo e irá partir um dia.
— Eu vou para Los Angeles — Afirmo com a voz embargada.
Colo Depois de me decidir a noite passada, e chorar até dormir, mas
agora tenho certeza do que quero fazer. Vou para Los Angeles. Ellen e
Heather tem razão quando dizem que essa é a minha chance para um
recomeço de mim. Preciso juntar os pedaços que ficou depois que o Luke
foi embora e me reconstruir. Sempre fui forte, e continuarei sendo.
— Tomo sua decisão? — Heather pergunta após me cumprimentar ao
entrar no elevador.
— Tomei, vou aceitar a proposta, é isso que tenho que fazer por mim,
esse é o melhor para mim — Respondo, sorrindo — Mas vou sentir muita
falta daqui.1
— Nós também vamos — Ela responde me abraçando.
Saímos do elevador e eu vou direto para a sala da Luna, porque sei
que ela já está aqui. Cumprimento a Olivia que logo libera a minha entrada
na sala da Luna, que me recebe com um sorriso muito simpático.
— Bom dia, tudo bom? — Ela me cumprimenta.
— Bom dia, estou bem e você? — Pergunto e ela assente, indicando a
cadeira para que eu me sente — Eu já tenho uma resposta.
— Excelente, e qual é? — Ela questiona com um sorriso educado.
— Eu aceito, tenho certeza que será ótimo profissionalmente e
pessoalmente, o que só torna tudo melhor — Respondo e ela abre um
sorriso.
— Perfeito, tenho certeza que você não irá decepcionar — Ela fala
com segurança — você pode ir ao final de semana?
— Em três dias? — Pergunto surpresa, mas quanto antes, melhor —
Posso.
— Você pode ir organizar suas coisas, tudo será enviado para você
por e-mail, incluindo a passagem, as orientações e seu endereço — Ela
explica e eu assinto — Estamos com urgência na unidade de Los Angeles.
— Estarei lá em três dias — Garanto — Muito obrigada pela
oportunidade.
— Agradeça dando o seu melhor — Ela responde e eu sorrio,
garantindo que farei isso.
Me despeço dos meus colegas de trabalho e pego todos os meus itens
pessoais. Heather deseja muito sucesso na minha nova jornada e eu desejo o
mesmo para ela. Heather se tornou mais do que uma boa colega de trabalho,
se tornou uma amiga muito querida.
Mando uma mensagem para a minha mãe avisando que tenho um
assunto importante para falar, e pedindo para ela preparar um jantar no dia
seguinte para conversarmos. Sei que ela vai ficar curiosa, mas terá que
esperar um dia para saber, só vou contar no jantar.
Arrumei todas as minhas malas e caixas que vou levar, ficará muita
coisa para trás, mas tudo bem. É um recomeço e essa é a parte importante.
Respiro fundo, me preparando para o jantar. Eu queria que fossem apenas
meus pais e a avó Diana que ainda está aqui novamente, mas tenho certeza
que terá mais gente, minha mãe com certeza chamou todo mundo.
Estaciono o carro e respiro fundo algumas vezes, é só uma despedida,
amanhã estarei indo para Los Angeles, a cidade é muito próxima, está tudo
bem. É o meu destino.
Saio do carro e após alguns passos me deparo com a Patrícia e o
Dylan, ela está… grávida? Como eu não fiquei sabendo disso? Ela tem
olheiras e parece muito irritada, o Dylan não está muito diferente. Acho que
o relacionamento perfeito deles não aguentou um chifre.
— Que foi, caralho? — Patricia pergunta irritada e eu seguro irritada.
— Boa noite, priminha, parabéns pela gravidez — Sorrio irônica e
sigo o meu caminho para dentro de casa, ignorando-os completamente. A
vida está os levando ladeira abaixo.
Toco a campainha e minha mãe abre a porta me abraçando carinhosa
assim que me vê. Retribuo, ciente que sentirei falta dela. Eu a amo tanto.
Vamos juntas para o interior da casa, onde está meu pai, o tio Gavin e sua
esposa, e sorrio ao ver a vó Diana.
Cumprimento todos e logo arrumo um lugar para me sentar.
— Estou muito curiosa, qual é a notícia? — Minha mãe pergunta e eu
respiro fundo.
— Se for que você foi abandonada pelo seu namorado, a gente já
sabe — Escuto a voz da Patrícia e reviro os olhos.
— Sabe, para alguém que está grávida do noivo que a traiu, ainda
com a sua melhor amiga. Briga na porta de casa, e está completamente
destruída, está muito arrogante — Sorrio com falsidade — No seu lugar, eu
teria vergonha.
— Você já esteve no meu lugar — Ela contesta e eu rio.
— Não, não estive, porque no momento que esse lixo me traiu, eu o
deixei para trás e continuei a minha vida. De fato, também não estou com o
Luke, mas não sou menos independente e bem resolvida por isso — Sorrio
com um pouco de prepotência, acho que eu posso — Inclusive, esse jantar
foi marcado porque fui promovida e estou indo embora amanhã para Los
Angeles.
— Como assim? — Minha mãe pergunta e eu ignoro a Patrícia dando
piti e o Dylan reclamando.
— Exatamente isso, mãe, fui promovida e estou de mudança —
Respiro fundo ficando de pé — Estou em uma nova fase da minha vida,
será bom para a minha carreira e por isso aceitei.
— Estou feliz por você — Minha mãe diz e vejo meu pai inspirando
fundo.
— Parabéns, você realmente conseguiu — Meu pai comenta e eu
conto até dez mentalmente.
— O senhor não parece muito feliz por mim — Comento chateada,
mas ele nega.
— Eu estou feliz por você, minha filha, feliz que esteja trilhando seu
caminho e crescendo tão bem — Ele me abraça e eu me sinto emocionada,
está sendo mais tranquilo do que pensei que seria.
Mas admito que preferiria que a família da Patrícia não estivesse
aqui.
— Estou muito, muito orgulhosa de você, meu amor — Minha avó
diz, me abraçando no momento em que o meu pai me solta.
— É, parabéns — Minha tia diz, e eu sorrio forçada, é querer muito
que ela seja sincera em algo ou fique feliz por alguém.
— Então vamos comer para comemorar — Minha mãe diz, nos
chamando para a cozinha.
Patrícia e Dylan demoraram a ir para a cozinha, porque estavam
discutindo na sala. Meus tios não falam muito, acho que eles não estavam
esperando por isso. Mas o importante é que os meus pais ficaram felizes por
mim, e era isso que eu queria. E precisava.
Minha mãe chorou um pouco enquanto eu me despedia dela, mas eu
também. Meu pai me abraçou apertado e eu me senti protegida. Queria que
fosse sempre assim. Minha avó decidiu me acompanhar até o carro e agora
caminhamos em silêncio uma do lado da outra.
— Obrigada, vovó — Agradeço com um sorriso pequeno.
— Você vai se curar e ser muito feliz, tenho certeza disso — Ela diz e
me abraça rápido — A vida vai te recompensar sempre por ser uma pessoa
tão boa.
— Eu não sei se “tão boa” me define, mas espero que sim. —
Respondo e ela sorri um pouco.
— Faça uma boa viagem e não esqueça que eu te amo — Ela me
abraça e eu retribuo, por um segundo, me sentindo como uma criança de
novo.

Despachei todas as minhas coisas pela manhã e mandei o meu carro


por uma transportadora também, agora estou dentro de um táxi indo para o
aeroporto. Também foi fácil resolver sobre o contrato da casa, a corretora
entendeu a situação e ainda me ofereceram um lugar em Los Angeles para
eu alugar, mas vou ficar no prédio da empresa mesmo, pelo menos por esse
tempo inicial.
E tenho certeza que logo terá outras pessoas na casa que eu morava.
Lá foi meu lar por tantos anos, cenário de tantos momentos da minha vida,
mas agora estarei recomeçando, criando novas lembranças e despertando
novos sentimentos. É para isso que estou me mudando.
Chego ao Aeroporto e coloco minha única mala no carrinho de malas
e começo a procurar a minha área de embarque, mas de repente me deparo
com a Ellen e a Heather e sorrio feliz. Elas vieram se despedir.
— Não podia deixar a minha melhor amiga ir embora sem me
despedir — Ellen diz me envolvendo em um abraço carinhoso.
— Eu me despedi da minha colega de trabalho, agora vou me
despedir da minha amiga — Heather fala, me abraçando no momento que a
Ellen me solta.
— Estou tão feliz por vocês estarem aqui — Comento emocionada.
— Viemos te desejar felicidade, e sucesso — A Ellen diz, e a Heather
concorda.
— Você merece tudo que existe de melhor no mundo — Heather
completa.
— Obrigada, de verdade — Respondo e limpo o canto dos olhos,
estou realmente feliz.
— Essa nova fase da vida vai ser emocionante, intensa e linda, tenho
certeza — Ellen comenta sorrindo — E eu nunca erro.
— Espero que você esteja certa — Suspiro, desejando que ela esteja
certa.
Escutamos o meu voo ser chamado. Nos abraçamos mais uma vez e
elas desejam boa viagem e eu sigo o meu caminho, muito esperançosa de
que tudo ficará bem.
Esse é o meu recomeço.
Já passei por muitos momentos dolorosos na minha vida, mas deixar a
Sarah segurando o choro naquele sofá me causou uma dor quase indescritível, e
ainda dói.

Meu trabalho tem sido a minha única ocupação, finalmente terminei de


reformular a droga que havia começado a produzir. Tenho certeza que com esse
produto novo, nós começaremos a dominar o mercado, só preciso analisar os
resultados em outras pessoas e comparar com as pessoas que já usaram.
Eticamente, isso não está correto, mas vender e fabricar drogas novas, também
não.
Vejo Edgar entrando no meu escritório e reviro os olhos, ele aparece aqui
dia sim e dia não. Tenho a sensação de que ele está me verificando. Como se eu
precisasse disso.
— O que está fazendo aqui? — Pergunto, fechando meu notebook para
encará-lo.

— Verificando se você ainda está vivo — Ele dá de ombros e vai até as


bebidas — Quando vai sair desse galpão e viver?
— Estou vivendo, inclusive tenho que trabalhar agora — Pego minha pasta
e me levanto — Saia da minha sala.
— Quando vai ficar menos na defensiva? — Ele pergunta enquanto se
senta — Achei que já tínhamos passado dessa fase.
— Nunca vamos passar dessa fase — Bufo e reviro os olhos — Veio aqui
só para isso?
— Ia contar que vi a Sarah, mas você não parece muito interessado em
conversar — Ele diz com um sorriso falso inocente e eu caminho até as bebidas.

— Onde viu ela? — Pergunto, não me aguentando. Sinto tanta falta dela
que não consigo me conter.
— Ela parece mais magra do que antes, mais distraída também. — Ele
comenta e eu fico preocupado. Será que ela não tem se alimentado direito? Eu
deveria ir até ela?
Mas o que eu diria? Só estou procurando qualquer desculpa para me
aproximar o suficiente para sentir o perfume dela, quem sabe até tocá-la. Me
sinto em privação, sinto como se eu fosse colapsar por ela a qualquer momento.
Será que tomei uma atitude precipitada?

Não, ela precisa ficar segura acima de tudo.


— Eu acho que você está sendo estúpido — Edgar fala de repente.
— O quê? — Pergunto arqueando a sobrancelha.
— Você está sendo estúpido — Ele repete devagar com um sorrido
debochado e eu reviro os olhos, não sei porque tenho parado para escutá-lo —
Não deveria ter deixado a mulher que você ama, agora ela está aí, livre para ficar
com quem quiser.
— Do que está falando? — Cerro os olhos o encarando — Sarah não tem
outra pessoa.
— Ainda, ou acha que uma mulher bonita como aquela vai ficar sozinha
por muito tempo? — El ri debochado e eu puxo o ar devagar — Você só tem
saído desse prédio para ir vigiar a casa dela.
— Eu não tenho ido à casa dela, e mesmo que tivesse, não sei como isso é
dá sua conta — Bufo irritado — Sequer pedi sua opinião.
— Eu sou seu irmão, não tenho que esperar você vir falar comigo para
poder falar com você — Ele diz com obviedade, e revira os olhos — E ainda
estou sendo legal de te avisar antes que seja tarde demais.
— Fica com ela é colocá-la em perigo — Repito, mas ele não parece estar
me escutando.

— Você acredita mesmo nisso? — Ele arqueia a sobrancelha — Achei que


todos dessa família fossem inteligentes.
— Não me irrita — Aviso e dou um gole na minha bebida, mas apesar dele
estar apenas tentando me irritar, ele está certo. Não saberei lidar com isso, caso
ou quando acontecer. Sarah é minha…
— Estou só começando — Ele sorri e passa a mão no cabelo — A próxima
vez que eu for sair com a Heather, falarei para ela chamar a Sarah e vou
apresentar algum amigo para ela.
— Não ouse — Digo sério, mas isso só o faz sorrir mais.
— Até onde eu sei, ela é solteira — Ele sorri e eu respiro fundo. — Você
deveria me escutar
Vou matar esse desgraçado, eu juro.
— Tem algo que acho que você deveria saber, mas você é teimoso demais,
vou esperar você descobrir sozinho — Ele diz e eu reviro os olhos — Preciso ir,
outro dia volto na sua toca para conferir se você continua vivo.
— Vai se foder, Edgar — Bufo e ele sai da minha sala rindo. Do que será
que esse imbecil estava falando?
Massageio as minhas têmporas me sentindo nervoso. Admito que não
pensei sobre isso quando terminei com a Sarah. Eu sinto que ela é minha, mas
também não posso impedi-la de continuar seguindo a vida dela. Ou… não, não
posso. Fui eu quem partir, ela precisa seguir uma vida normal que não a coloque
em risco.
Respiro fundo e decido que vou ver a casa dela pela última vez. Como uma
última despedida. Preciso deixar que ela siga em frente, preciso seguir em frente
também, mesmo que eu não queira mais me envolver com ninguém. Sarah
sempre será a única mulher no meu coração.
Ela está gravada em mim. Na minha alma.
Acho que, mesmo que exista outra vida, nunca amarei alguém tanto quanto
eu amo a Sarah.

Estaciono o carro um pouco mais perto que o convencional, Sarah estava


ouvindo muita música nas últimas vezes que estive aqui, e isso me surpreendeu
bastante. Todo o tempo que estive com ela, percebi que ela era bastante
silenciosa, mas agora, não.
Será que é culpa minha?
O silêncio me faz pensar nela, “a nossa música é o silêncio”, será que o
som alto é ela tentando me esquecer? Só de pensar na hipótese dói muito, é como
se houve um buraco dentro de mim que apenas aumenta. Eu preciso dar fim
nisso.
Da última vez que estive aqui, achei que nunca mais voltaria, mas só se
passou uma semana e eu gostaria tanto que ela aparecesse pelo menos um minuto
do lado de fora para que eu pudesse contemplá-la. Talvez eu devesse ir até lá…
Meu pensamento é interrompido por um barulho alto que escuto vindo
direto da casa da Sarah, não consigo identificar do que se trata. Quando percebo,
meu corpo está se movendo sozinho, e eu estou indo em direção à casa. Tantas
coisas podem ter acontecido, e se talvez alguém tiver invadido? Mesmo que soe
irônico vindo de mim.
E por vir de mim, é que sei a capacidade dela de aceitar um completo
estranho dentro de casa.
Tento usar a minha chave, mas ela foi trocada. Sério Sarah? Bufo, mas não
é como se isso me impedisse de entrar em algum lugar e ela deveria saber disso,
se eu entrei uma vez sem precisar de chave, posso fazer outras. Como agora.
Entro pela porta cozinha e caminho pela casa até chegar na sala, onde
encontro um homem subindo as escadas. Que porra é essa?
— Quem é você? — Pergunto seco e minha voz sai um pouco mais grossa.
E ele tropeça no degrau com o susto.
— Quem é você? — Ele devolve a pergunta, mas não estou com muita
paciência.
— Estou falando sério — Puxo ele escada a baixo, que me encara com
raiva e medo.
— Eu vou chamar a polícia, seu maluco! — Ele grita e eu soco o estomago
dele com raiva, quem ele pensa que é?
— O que está fazendo aqui? — Pergunto ainda mais irritado e escuto o
grito de uma mulher do alto da escada. — Quem são vocês e cadê a Sarah, porra?
— Não mora nenhuma Sarah aqui, larga meu marido — A mulher grita e
solto o homem no chão.
— Mora, do quê está falando? — Fecho ainda mais a expressão — Onde
está a Sarah?
— Se for a pessoa que morava antes aqui, ela se mudou, alugamos essa
casa ontem — Ela explica tremendo um pouco — por favor, não faz mal para a
gente.
— Sarah mudou? — Pergunto baixo, em um sussurro. E respiro fundo
olhando em volta, as fotos dela não estão em nenhum lugar e tem um gato no
sofá — Estou indo embora, foi um engano.
Começo a caminhar saindo da casa e o homem sai do meu caminho
enquanto passo. Eu perdi a Sarah? Não, não vou ficar sem ela. Vou descobrir
onde ela está e corrigir o erro que cometi. E perceber que ela pode simplesmente
desaparecer me causa uma aflição enorme.
Sarah é minha, meu amor.

Soco o volante do carro irritado ao perceber o que o Edgar fez, ele já sabia
por isso disse ter algo para me contar, mas não ia. Aquele idiota foi me provocar,
mas não deu a notícia inteira. Desgraçado.
— Devo ficar lisonjeado com a sua ligação? — Ele diz ao atender e eu
reviro os olhos.
— Você sabia que a Sarah tinha se mudado, por que não me contou? —
Pergunto irritado — Para onde ela foi?
— Descobriu mais rápido do que achei que demoraria — Ele fala em um
tom divertido — Não vou falar, você que está interessado, deve ir atrás das suas
próprias informações.
— Edgar…
— Foi muito bom falar com você, maninho, boa sorte — o filho da puta
desliga. Respiro fundo e faço uma chamada para o Alex.
Vou encontrar a Sarah e recuperar o amor da minha vida, nem que para
isso eu tenha que revirar o globo inteiro.
Arrumo o meu fone de ouvido enquanto o elevador sobe para o meu
andar. Três dias em Los Angeles e eu sinto que posso passar a minha vida
inteira aqui. Foi uma boa escolha.
Ainda sinto um enorme vazio no peito, sinto tanta falta do Luke que
às vezes parece que estou sem ar, mas vou me acostumar a viver sem ele,
vou me acostumar com essa ferida aberta. Um dia, eu sei que um dia, vou
me curar.
Estranho o fato da porta do meu apartamento estar só encostada,
tenho certeza que eu tinha trancado quando saí para ir ao mercado. Olho ao
redor, e noto que tem algumas coisas fora do lugar e começo a me sentir
apreensiva, entraram na minha casa? De novo?
Largo as compras no sofá e pego minha ampulheta, a trouxe por
causa da lembrança, mas olha ela sendo útil mais uma vez.
— Tem alguém aqui? — Pergunto me sentindo um pouco boba.
— Respira fundo, fica calma — Escuto a voz do Luke e o vejo
surgindo pelo corredor — Se você me der dois minutos para explicar.
— Eu vou chamar a polícia — provoco-o, porque lembro desse
momento, mas estou sentindo vontade de chorar.
— Eu posso só pegar o que é meu? Prometo que não quero te fazer
mal — Ele responde se aproximando de mim.
— Sua palavra não está valendo muito, você quebrou o meu coração
— Respondo, puxando o ar devagar — O que está fazendo aqui, Luke?
— Estou aqui para te implorar perdão, eu cometi um erro com você,
com nós — Ele segura a minha mão desocupada — Ir embora foi uma
péssima escolha, eu te amo, e quero poder ficar com você. Sem idas, sem
distância, apenas eu e você vivendo uma história, a nossa história.
— Por que eu deveria confiar em você? Eu já fiz isso uma vez e olha
onde estamos — Argumento, mas minha vontade é de me jogar nos braços
dele e me aconchegar — Eu não quero mais viver confusa sem saber o que
somos, o que você sente, se você vai ficar ou vai embora.
— Sinto muito por ter feito você se sentir assim, eu só conseguia
pensar no medo que tinha de perder para sempre que optei por isso. Foi
horrível. — Ele acaricia o meu rosto com carinho — A única forma de te
provar que eu estou falando a verdade é se você me deixar ficar, e eu só
preciso de uma chance para isso. Farei você feliz por toda a vida, eu
prometo.
— Você é um idiota, você vem quando quer, some quando dá na
telha…
— Não irei a lugar algum, se me aceitar de volta.
— E acha que é só invadir a minha casa e dizer algumas palavras
bonitas que está tudo bem, minha vontade é de socar você — Eu falo
irritada.
— Se vai te deixar melhor, pode bater — Ele dá de ombros.
— Você é mesmo um idiota — Reclamo e puxo ele para mais perto
— Sua sorte é que eu te amo.
— Me perdoa por tudo, vai ser diferente dessa vez. — Ele pede, seus
olhos brilham em expectativa.
— Vou te dar só uma chance — Eu aviso e ele sorri aberto.
— É tudo o que eu preciso.
Luke me beija, e eu sinto como se pudesse explodir. Senti tanta falta
dos beijos dele, da sua mão me segurando firme, do seu gosto. Seu beijo é
voraz, como se ele estivesse tentando me devorar, minha pele se arrepia e
eu me entrego.
Essa é a verdade, sempre vou me entregar para ele.

Sento na cama observando-o e ele segura a minha mão. Me sinto tão


bem, tão leve, tão feliz. Sei que estou me arriscando de novo, mas faz parte
da vida, tudo bem recomeçar a minha vida com ele ao meu lado.
— Como serão as coisas agora? — Pergunto um pouco ansiosa, ele
não mora aqui.
— Nós ficamos juntos, em breve nos casamos, temos um filho — Ele
sorri e eu sinto meu rosto esquentando.
— Estou falando de agora, você mora em São Francisco, e eu aqui —
Explico.
— Eu moro onde você morar, estou falando sério que não vou para
lugar nenhum que seja longe de você — Ele diz determinado e eu sorrio.
— Está falando sério?
— Em cada palavra — Ele senta, ficando na minha frente e olhando
nos meus olhos — Eu te amo. E preciso de você. Você me faz sentir como
se estivesse dentro de um sonho, você é minha calmaria e principalmente,
você é a cor que colore meu mundo monocromático.
— Eu te amo, todos os dias sem você foram difíceis, percebi que até
você entrar na minha vida, nunca tinha amado alguém. Eu te amo e seria
capaz de qualquer loucura para manter você na minha vida — Entrelaço os
nossos dedos. — Só quero que a gente fique junto até depois, pela
eternidade.
— É tudo o que eu quero também — Ele me dá um selinho — Mas
você precisa estar ciente que eu ainda vou trabalhar na máfia.
— Não me importo — dou de ombros e ele sorri, parecendo um
pouco aliviado — Eu só não quero me envolver, e se um dia você for preso,
vou alegar que não sabia de nada e que sou só uma jovem que foi enganada
por um homem grande e bonito.
— Sarah! — Ele exclama rindo e eu sorrio.
— Estou falando sério, e tem mais — Aviso e ele arqueia a
sobrancelha — Eu não vou te visitar na cadeia, me recuso a ir em presídio
ver homem, até te espero, mas ir até lá não vou. Mando um advogado.
— Eu também não gostaria que você fosse em um lugar assim, mas
não se preocupe, eu não vou ser preso — Ele afirma rindo.
— Qualquer criminoso pode ser preso — Eu argumento — Se me
trair ou me magoar, por exemplo, te denuncio para a polícia.
— Primeiro que isso não vai acontecer e segundo que eu tenho poder
e contatos o suficiente para não ser preso, não se preocupe — Ele sorri e me
deita na cama, ficando por cima de mim. — Mais alguma coisa?
— Sim — Afirmo e ele arqueia a sobrancelha — As vasilhas do
jantar serão sempre suas.
— Eu posso lidar com isso — Ele afirma sorrindo e beija meu
pescoço — Eu te amo.
— Eu te amo.
Ele me beija calmo e eu retribuo. Estou completamente entregue a
esse amor.
Ficar nesse apartamento sem a Sarah não tem a menor graça. E pensando
bem, aqui parece pequeno demais para nós dois, preciso dar um jeito nisso.
Todo esse tempo longe dela me fez perceber que o único lugar que eu quero
estar é com ela, e onde ela está.
Pego as chaves do carro, estou prestes a sair quando o meu celular
toca.
— Soube que está em Los Angeles — George comenta após me
cumprimentar — Tenho uma proposta para você.
— Qual? — Pergunto um pouco desconfiado, mas disposto a saber do
que ele está falando.
— Serei direto, preciso que alguém assuma os negócios aí, alguém
que seja de confiança e nada melhor que alguém da família para isso — Ele
explica e eu fico um pouco em silêncio. — Está ouvindo, Luke?
— Estou, como soube que eu estava aqui ou que vou ficar aqui?
— Edgar — Ele responde simples e eu respiro fundo — Não seja
cabeça dura, você sabe que será muito melhor, assuma logo sua posição
nessa família e nos negócios.
Quanto mais poder eu tiver, melhor para proteger a Sarah. Além de
muitas outras vantagens. E mesmo não colocando em palavras ou assumindo
em voz alta, eu já aceitei que sou um Armstrong, e que nunca terei uma boa
relação com o meu pai, mesmo que com os outros sim. Essa é a vida,
estamos sempre vivendo alguns pequenos e intermináveis conflitos.
— Eu aceito, mas ainda terei um laboratório — Afirmo, essa é a
melhor escolha.
— Estarei na cidade essa semana e nós vamos organizar tudo, você
pode ir para uma das casas da família — Ele faz uma pausa — Estou muito
feliz com a sua decisão, Luke, você é uma pessoa que eu tenho muito
apresso e que confio muito.
— Obrigado, acho que este é o momento de recomeçar a vida, será
bom — Agradeço sincero — e agradeço também a oferta da casa, mas estou
começando a minha vida com a Sarah, e quero que isso seja feito em um
lugar nosso.
— Tudo bem, como você preferir — Ele responde — Até breve, e
meus parabéns, você se tornou um homem incrível.
George desliga antes que eu possa responder, mas sou quem sou hoje,
porque tive uma mãe realmente incrível e que me ensinou tudo, e me apoiou,
mesmo quando não concordava com as minhas escolhas. Sempre irei sentir
falta dela e do seu amor. Tenho certeza que ela gostaria muito da Sarah e que
seriam amigas.
Balanço a cabeça, deixando a nostalgia para trás. E continuo o
caminho que eu estava fazendo antes da ligação, preciso encontrar o lugar
perfeito para viver com a Sarah, um lugar que transformemos em nosso lar.
— Para onde está me levando? — Pergunto pela décima vez, desde
que o Luke me colocou vendada dentro do carro — Estou começando a
ficar nervosa.
— Estamos quase chegando e eu não quero estragar a surpresa — Ele
responde e eu respiro fundo, fazendo biquinho — não adianta, eu não vou te
dar informações antes da hora.
— Isso é maldade! — Protesto e ele ri.
Duas semanas desde que o Luke me pediu perdão e eu não sinto mais
nenhuma dor, nenhum resquício de saudade. Estou verdadeiramente feliz. É
como se finalmente a minha vida estivesse alinhada e o universo estivesse
cooperando para a minha felicidade. E eu estou fazendo questão de
aproveitar cada segundo, cada minuto desse momento.
Momento esse que quero que seja para sempre.
Finalmente o Luke estaciona, estou ansiosa para a surpresa que ele
preparou. Minha sugestão é que ele preparou um café da manhã na praia, e
eu acho isso muito romântico. Quero que ele continue com esse pensamento
de me conquistar todos os dias, sempre.
— Cuidado — Ele pede, enquanto me auxilia a sair do carro — Está
pronta?
— Com certeza — Respondo sorrindo.
Percebo que a minha sugestão estava errada quando piso na grama ao
invés de areia. Minha mente se perde em confusão e eu decido apenas
acompanhar e aguardar para saber o que ele está planejando. Ele me para e
eu sinto todo o meu corpo queimando em expectativa.
— Pronto — Ele avisa e no mesmo instante, tiro a venda.
Estamos em uma sala enorme, o chão está forrado de pétalas de flores
espalhadas pelo chão, as paredes são de uma cor clara e eu olho ao redor,
mas o Luke sumiu. O que tudo isso quer dizer? Que lugar é esse?
Meu celular começa tocar e fico confusa, não reconheço o número. O
que está acontecendo?
— Não vai me atender? — Luke pergunta surgindo na porta com um
buquê e eu atendo a chamada.
— Alô? — Pergunto, sorrindo para ele. Ele finalmente me passou o
número dele.
— Estou falando com a Sarah Carver? — Ele pergunta e eu rio.
— Sim, quem gostaria?
— Meu nome é Luke Turner Armstrong, e eu tenho uma pergunta
muito importante para você — Ele diz sério, parando na minha frente.
— O quê? — Rio, achando tudo muito divertido, mas de repente ele
se ajoelha na minha frente e eu arregalo os olhos.
— Sarah, quer casar comigo? — Ele pergunta e eu inspiro fundo.
Meu coração acelera e eu preciso de alguns segundos para me
recuperar da surpresa, mas em seguida me jogo nele e nós caímos no chão.
— É claro que sim! — Ele me beija e coloca o anel no meu dedo —
É tão lindo.
— Feito para você — Ele me puxa, me abraçando.
— Que casa é essa? — Pergunto, me encolhendo contra ele.
— Comprei para nós — Ele responde sorrindo — Vamos começar
nossa vida aqui.
— Eu te amo — Falo sincera, olhando em seus olhos.
— Eu te amo.
Sorrio, sentindo meu coração transbordar, nunca pensei que o amor
da minha vida seria o cara que invadiu a minha casa, e olha só onde
estamos. Construindo nossa vida.

>FIM<

Você também pode gostar