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Plágio é crime.
Olá, tudo bom?!
Ah, se quiser saber mais sobre mim, a história ou o que vem por aí,
dá uma olhada nas minhas redes sociais:
https://linktr.ee/thainarro
Das muitas situações que passei na minha vida, nunca imaginei que
em algum momento seria ameaçado por uma mulher uns vinte centímetros a
menos que eu, segurando uma ampulheta, e me olhando como se quisesse
me matar. Seria engraçado, se eu não precisasse mesmo de algum lugar para
ficar.
Suspiro resignado, não vai ter acordo, então é melhor que eu saia
logo daqui antes que ela tenha algum colapso nervoso e realmente seja
necessário chamar a ambulância. Como eu explicaria a minha presença?
— Eu prometo — Garanto, indo em direção à porta.
Mas um barulho de explosão vem da cozinha, ela grita tão alto quanto
consegue, sequer acredito que ela percebeu. Mas algo que eu não esperava
acontece, ela trava no lugar por milésimos de segundos, e quando percebo
já estou em sua direção para impedir que caia direto no chão.
Todo o momento caótico vale a pena quando sinto ela nos meus
braços, impedindo sua queda. Quem não se agrada disso é o meu braço
ferido, sinto o machucado se abrindo e xingo baixo, mas pelo menos ela não
se machucou.
Deito-a com cuidado no sofá e caminho em direção à cozinha, está
uma bagunça, mas depois me preocupo com isso, apenas desligo o fogo.
Quero dizer, ela se preocupa com isso, eu só tenho que acordá-la e garantir
que ela está bem. Eu não me preocupo com todas as pessoas que encontro
no caminho, mas ela está assim por minha culpa.
Molho uma toalha de mesa e volto rapidamente para a sala. Coloco-a
na testa dela, confiro sua respiração, e me perco por um segundo
observando seu rosto. Ela é linda. Balanço a cabeça espantando o
pensamento enquanto levanto suas pernas para melhorar a circulação de
sangue. O que dá certo, o problema é que ela acorda gritando, e me faz
gritar junto dela.
— Você quase me matou do coração! — Exclamo me afastando dela.
— Eu quase te matei? — Ela grita assustada — Você está me
tocando! E continua aqui!
— Você desmaiou quando eu estava saindo — Retruco, ainda com a
mão sobre o peito. E respiro fundo — Como você está?
— Em pânico! — Ela exclama com obviedade — Você é um doido.
Eu só quero que você saia da minha casa. O que estava fazendo comigo?
— Você precisava de circulação do sangue para acordar, garota, eu já
disse que não sou um tarado, só queria que você ficasse bem — Justifico
impaciente.
— E você quer que eu acredite nisso? — Ela questiona me encarando
séria.
— Eu não estou te dizendo que sou uma boa pessoa, só estou dizendo
que, apesar da situação, você me deu abrigo — Ela arqueia a sobrancelha
— E só queria garantir que você ficaria bem antes de ir.
Ela me olha semicerrando os olhos e com uma expressão séria, apesar
de ainda parecer assustada. Então respira fundo, resignada, como se
estivesse em um grande dilema.
— O que aconteceu com o seu braço? Por que tem sangue na sua
camisa? — Ela questiona em um tom tão ameno que me pega desprevenido.
— Quando eu te segurei, as feridas abriram, mas isso não é
importante — Dou de ombros.
— Acho que tô ficando maluca para um caramba — Ela diz andando
de um lado para o outro com as mãos nas têmporas. — O que aconteceu
que fez aquele barulho?
— Uma das suas panelas de vidro explodiu — Explico e ela arregala
os olhos.
— O QUÊ? — Ela grita e bufa ao mesmo tempo — Que dia horrível.
Eu vou chorar.
— Não precisa chorar, já estou indo embora, você está bem, só
perdeu uma panela — Ela parece tão desnorteada e assustada que estou de
fato preocupado.
— Não saia desse lugar, eu vou pegar suas coisas — Ela diz
bagunçando o cabelo enquanto caminha em direção à escada, mas para e me
olha, tem algo levemente perturbador no olhar dela. Acho que ela está
surtando de verdade — Acho que você precisa fazer um curativo nesse
braço.
— Não tem que se… — Minha fala é interrompida pelo barulho da
campainha e meus olhos vão em direção à porta.
— Alguém pode ter chamado a polícia por causa do barulho — Ela
sugere — Vou abrir.
— Não me entrega, é tudo que eu te peço — Respiro fundo — Por
favor. Vou esperar na cozinha, por favor.
Ela não diz nada, apenas caminha em direção à porta da sala
enquanto vou em direção contrária, indo para a cozinha. Terei que confiar
nela, como espero que ela confie em mim.
Dois desconhecidos.
Se for a polícia, eu deveria entregá-lo. Certo? É isso que pessoas
sensatas fazem, entregam criminosos invasores de casa para a polícia na
primeira oportunidade. Puxo o ar devagar para dentro dos meus pulmões
enquanto encaro a porta ainda fechada. Por que de repente estou me
sentindo tão… tão… empática? E se ele me matar porque não o entreguei?
Vou fazer o que tenho que fazer, como uma pessoa sensata. Porque eu
sou sensata, né?
A campainha toca novamente e eu abro a porta, mas sou inundada por
uma sensação estranha de... alívio? Não, mas estou caótica demais para
entender o que eu realmente estou sentindo. O ponto é que as pessoas à
minha frente não são da polícia. É meu ex namorado, Dylan, e minha ex
amiga, Patrícia.
E eles são ex porque me traíram, e ficaram juntos. O que esses dois
estão fazendo aqui?
— Não vai falar nada? — Patrícia pergunta e sopro um pouco de ar
para fora, tentando ficar calma.
— Não, porque estou, nesse momento, torcendo para que vocês sejam
uma alucinação, e não que tenham tido a cara de pau de vir na minha casa
— Digo irritada, cogitando só bater a porta e fingir que não os vi aqui.
— Você não pode agir assim para sempre, Sarah — Dylan contesta e
eu deixo uma risada irônica escapar. Ele não está falando sério, né? —
Somos amigos, apesar de tudo.
— Por favor, vão embora — É tudo o que digo e começo a fechar a
porta, mas a Patrícia impede. — Tá ficando maluca?
— Sarah, sei que tudo que aconteceu foi ruim, mas acho que
devemos pôr uma pedra no passado, por isso estamos aqui hoje — Ela fala
com falsa simpatia e eu reviro os olhos — Podemos entrar?
— Não, não podem — Respondo de imediato.
— Sarah, só vamos tomar cinco minutos do seu tempo — Dylan
insiste.
— Que seja — Patrícia dá de ombros e abre mais a porta, passando
por mim sendo seguida pelo Dylan.
Vai todo mundo invadir a minha casa hoje?
— O que vocês acham que estão fazendo? — Pergunto irritada.
— Viemos te fazer um convite e você nos trata assim? Sarah, você
precisa superar o passado, fomos amigos a vida inteira, você precisa ser
mais doce, mais alegre — Patrícia reclama e eu a olho entediada. Meu dia
não pode ficar pior.
— Não somos mais amigos, não somos mais nada, o que querem? —
Digo, sentindo uma raiva crescente dentro de mim.
— Nós vamos nos casar, e viemos te convidar — Dylan diz sorrindo
e segura a mão da Patrícia e eu respiro fundo. Sempre tem como ficar pior.
— O seu convite é individual, você ficará na mesa da família, já que
você não tem ninguém mesmo — Estava demorando ela começar a soltar o
veneno — Mas você é muito importante para nós, e adoraríamos você lá.
— Adorariam? — Pergunto irônica.
— Faz um ano que você e o Dylan terminaram, você acabou se
afastando um pouco, não queremos que você fique solitária. Nem mesmo
arrumou alguém…
— Quem disse que não? — Interrompo e ela arqueia a sobrancelha.
— Você está com alguém? Por que nunca vimos? — O Dylan
questiona.
— Porque a minha vida não é da conta de vocês — Retruco e ele
revira os olhos.
— Está mentindo, não está? — Patrícia pergunta com um sorriso
debochado.
— Acha que preciso mentir sobre isso? — Devolvo a pergunta, mas
sim, estou mentindo sobre isso, eles só não precisam saber disso — Mas é
melhor mantê-lo bem longe dos seus olhos, né? Vai que por acidente você
cai pelada na cama dele também.
— Você precisa me superar — Dylan diz e eu puxo o ar com força.
— Pensando bem, ele não é um traidor mau-caráter, mesmo que
qualquer uma passasse pelada na frente dele, ele nem olharia porque é
completamente apaixonado por mim — Falo um pouco irritada, ciente de
que estou me enrolando em uma mentira.
— É mesmo? — Ela ironiza — E cadê esse homem perfeito?
— Está aqui — O que eu estou fazendo? — Está preparando nosso
almoço, ele não cansa de me agradar.
— Você está mentindo — Patrícia ri debochada.
— Eu jamais inventaria uma história dessa — Reviro os olhos — Vou
apresentá-lo para vocês, esperem aqui.
— Pode parar com essa mentira agora, está ficando feio — Ela diz
com um falso pesar e eu sorrio de lado, mantendo a pose.
Eu nem mesmo sei se o invasor ainda está na minha casa, e mesmo
que esteja, não deveria mentir sobre ter um namorado quando não tenho.
Mas estou me sentindo tão irritada, Patrícia me tira do sério. Qual a porra
do problema deles? Por que vir até a minha casa? Meu dia só fica pior a
cada segundo. Eu vou sair daqui direto para uma clínica de reabilitação
psicológica. E como eu vou falar que o cara que invadiu a minha casa é
meu namorado? E se ele não topar mentir? Ele me deve isso, invadiu a
minha casa.
Eu não deveria ter voltado para casa. Será muito vergonhoso se der
tudo errado.
Entro na cozinha e já sinto meu coração batendo mais forte, não
avisto o invasor por lugar nenhum do cômodo. Mas para o meu alívio, ele
aparece vindo da dispensa. Não tem como eu desistir agora e ver a Patrícia
me humilhando outra vez.
— Eu preciso que você venha comigo — Declaro e ele me olha
arqueando a sobrancelha.
— Achei que você não iria me entregar — Ele sussurra, mas começa
a ir em direção à porta da cozinha que dá para fora da casa — Mas se acha
que eu vou deixar a polícia me levar, está muito enganada.
— Espera, não é a polícia — Eu peço em um tom de voz baixo e ele
me olha desconfiado — Preciso que você faça um favor para mim.
— O que…
— Não aguentei esperar — A voz da Patrícia chega até os meus
ouvidos me causando um pequeno susto — Então é ele?
— O que tem eu? — O invasor pergunta completamente na
defensiva.
— Você já teve um gosto melhor — Dylan desdenha e eu jogo a
cabeça para trás, puxando o ar devagar. Que vontade de expulsar os três.
— O que está acontecendo? — O invasor pergunta e eu suspiro,
preciso resolver isso.
— Então, meu bem — Falo enquanto me aproximo do invasor —
Esses são Dylan e Patrícia, eles vão se casar e vieram nos convidar para o
casamento.
— Nos convidar? — Ele pergunta arqueando a sobrancelha.
— Sim, porque é óbvio que eu não vou ao casamento do meu ex
traidor sozinha — Sorrio forçada e ele arqueia a sobrancelha me encarando
e depois olha para o casal.
— Nós não sabíamos que a Sarah estava com alguém — Patrícia diz
indiferente — Ela é tão solitária.
— Está, agora ela tem um homem de verdade na vida dela — Ele diz
e me abraça firme pela cintura — Quando é o casamento?
— Em quatro meses. Será o maior evento de toda São Francisco —
Patrícia responde em um tom arrogante que combina bem com ela.
— Verei nossa disponibilidade para ir, se não tivermos nada melhor
para fazer, talvez passaremos lá — O invasor diz com desdém, e eu engulo
o sorriso.
— Acho que vocês já podem ir embora, chega disso né? — Falo me
afastando sutilmente do invasor.
— Espera, você nem disse o nome do seu namorado — Dylan
comenta e eu arregalo os olhos e me viro para o invasor, que tem um sorriso
pequeno nos lábios, de um jeito debochado, quase arrogante.
— É que não é muito do meu feitio falar meu nome para pessoas tão
insignificantes, e como não parecem serem importantes para minha
princesa, não são para mim — Ele diz sério, e eu acabo sorrindo.
— Vamos embora, Patrícia, chega disso — Dylan fala irritado
enquanto agarra o braço da noiva para saírem.
— Por favor, não voltem mais — Peço, sabendo que eles vão ignorar
meu pedido.
Nenhum dos dois respondem, apenas seguem o caminho até a porta, e
a fecham em uma batida seca que me provoca um sobressalto. Eu respiro
fundo e sento em uma cadeira próxima da mesa, sinto uma enorme vontade
de chorar, de gritar. Eu tenho até medo de pensar, de novo, que não tem
como piorar e ficar ainda pior.
— Bebe — Escuto a voz do invasor e levanto o rosto, e o vejo
estendendo um copo de água.
— Tem veneno?
— Acha que eu envenenaria minha namorada — Ele debocha e eu
suspiro.
— Talvez eu quisesse o veneno — Respondo dando de ombros e
aceito o copo.
— Você precisa de terapia, isso não é saudável — Ele me aconselha e
eu começo a rir, rir como se minha vida dependesse disso — Você está
bem?
— Não! Eu não estou bem! — Me levanto e caminho até o faqueiro,
sentindo o olhar dele sobre mim e pego a maior faca que eu tenho e me viro
para ele — Eu vou subir para o meu quarto, vou tomar um banho, se você
tentar invadir e fazer alguma coisa comigo, vou te esfaquear até não sobrar
nenhuma gota de sangue no seu corpo.
— Ficarei o mais longe possível — Ele responde saindo do meu
caminho, enquanto levanta as mãos espalmadas para mostrar que é
inofensivo.
Seguro firme a minha faca e caminho em direção à escada para ir
para o meu quarto, me trancar e tentar esquecer que eu enlouqueci
completamente.
Deixo a água morna cair sobre o meu corpo como se eu tivesse que
sair desse banho nunca mais. Eu só quero relaxar um pouco e esquecer que
tem um homem que eu nem sei o nome dentro da minha casa. Homem esse
que em breve todo mundo achará que é meu namorado.
Eu só queria ter chegado em casa, tomado um banho e me jogado no
sofá para descansar. Só isso. Por que nada na minha vida parece dar certo?
Não me importo com as lágrimas que escorrem pelo meu rosto
misturadas com a água do chuveiro. Estou me sentindo exausta. Fecho o
registro e suspiro, preciso resolver essa situação urgentemente. Pego minha
faca e minha toalha e vou para o quarto, simplesmente amo o fato de ter um
banheiro só para mim, pelo menos assim garanto minha privacidade.
Eu só preciso mandá-lo embora, digo que terminei o namoro e
pronto. Mas ele está ferido, o que será que aconteceu? Ele não deve ter para
onde ir já que precisou invadir uma casa. Ele claramente está precisando de
cuidados. O que eu deveria fazer?
Escuto algumas batidas na porta e acabo gritando sem me controlar.
Coloco a mão sobre o peito sentindo meu coração disparado. Não posso
ficar assustada assim o tempo inteiro, vou acabar infartando com 23 anos.
— Você está bem? — Escuto a voz dele e respiro fundo, eu só queria
ficar quieta um pouco — Desculpa te interromper, realmente queria ficar
longe de você e sua faca, mas seu celular não para de tocar, achei que você
gostaria de atender.
Ele diz calmo e eu bufo. Estou atordoada, confusa e me sentindo
perdida. Mas ele está certo, eu quero mesmo o meu celular, eu tinha que ter
avisado a Ellen, minha melhor amiga, que eu já estou em casa.
— Deixa o telefone no chão, e se afasta — resmungo alto o suficiente
para que ele escute.
— Estarei na sala para quando estiver bem e calma para
conversarmos, ok? — Ele sugere e eu suspiro exaurida.
— Ok — É tudo que eu consigo responder.
Segurando firme na minha faca, vou até a porta e a abro devagar. Ele
realmente só deixou o celular e foi para sala. Melhor assim. Talvez ele não
seja um assassino, nem que vá realmente fazer algo de ruim comigo. Se
fosse o caso, ele já teria feito, eu acho.
Pego o meu celular e vejo que já são 8 chamadas perdidas e 10
mensagens não lidas da Ellen. Será que ela já está sabendo sobre meu
namoro? Patrícia já deve ter feito até postagem sobre o assunto.
Antes que eu considere retornar a ligação, meu celular começa a tocar
novamente.
— Finalmente, já estava quase chamando a polícia — Escuto a voz
da Ellen irritada pelo telefone — Por que não me avisou quando chegou?
Que história é essa de namorado?
— Como você já sabe dessa história? — Questiono me jogando na
cama.
— Patrícia postou no grupo que você tinha um namorado muito
estranho, Camille tirou print e me mandou, e eu fiquei tipo “aí meu Deus,
que história é essa?”, mas não falei né? Porque achei que elas iam estranhar
eu não saber de nada, então pensei “melhor confirmar tudo” e disse que
sabia sobre seu namoro, mas que você era uma pessoa reservada — Ela ri e
continua — você não é reservada, a questão é que você não tem namorado,
tem?
— É uma história engraçada, sabe?! — Digo sem graça e consigo até
imaginar ela fechando a expressão enquanto me encara.
— Sarah, pode começar a falar ou eu vou aparecer aí na sua casa para
entender isso melhor — Ela faz uma pequena pausa, e bufa baixo. Ellen
tende a ser bastante tagarela quando fica nervosa — não precisa falar nada,
estou indo.
— Não! — Exclamo tão rápido que nem sequer tive tempo de pensar.
— Não? Por que não?
— É que… que eu cheguei hoje de viagem, estou muito cansada —
Forço um bocejo — Amanhã, ok?
— Eu não acredito que você está aprontando e não quer me contar,
somos amigas, está no contrato da amizade “contar tudo uma para a outra”,
ou você esqueceu dessa parte? — Ela questiona e suspiro.
— Estou realmente cansada, amanhã, Ellen, amanhã — Peço. Estou
realmente me sentindo tão sem forças.
— Até amanhã, se cuida e Sarah, não esquece que eu sempre estarei
aqui com você — Ela diz e desliga em seguida.
Fecho os olhos absorvendo a situação e tentando compreender todas
as coisas que estou sentindo. Meu dia foi caótico e esgotou tudo em mim.
Eu só preciso de um momento para mim e depois sei que posso resolver
qualquer situação.
A
impressão que eu tenho é que o meu corpo simplesmente apagou. Desligou
como um aparelho eletrônico sem bateria. Porque dormi umas dez horas
direto, não sai do quarto desde que entrei nele no dia anterior.
Tenho a sensação que ontem foi um pesadelo. Não teve invasor, não
teve convite de casamento, não teve nada. E quando eu sair do quarto para
fazer o meu café da manhã, estarei sozinha.
Respiro fundo, conto até dez e finalmente abro a porta. Levo a faca
comigo, nunca se sabe quando vai precisar se defender, ou talvez eu ainda
esteja levemente surtada. Não o vejo pelo caminho até a cozinha, e está
tudo impecavelmente arrumado. Como ele arrumou tudo se estava
machucado? Por que eu estou preocupada?
— Bom dia — Ele diz assim que piso dentro da cozinha e eu assusto
— Você tem problema de coração? Estou começando a ficar preocupado.
— Se está preocupado não deveria me assustar — Reclamo e escuto a
risada dele. — Está rindo do quê?
— Do seu mau-humor matinal — Ele dá de ombros — Senta, fiz café
da manhã.
— Até parece que eu vou comer algo que você preparou e eu não vi
— desdenho e ele sorri tranquilo.
— Você não acha que se eu tivesse a intenção de fazer algo com
você, já não teria feito? — Ele questiona enquanto coloca um copo de suco
e um prato com torrada e ovos na minha frente.
— Vai que você está armando seu plano ainda — digo resignada e ele
senta na outra cadeira.
— Deveria confiar mais no seu namorado — Ele sorri de lado
preparando o próprio prato — Aliás, o que foi aquilo?
— Dylan foi meu namorado por dois anos, mas nos conhecíamos
desde a infância, incluindo a Patrícia, éramos um grande grupo de amigos,
mas um dia eu viajei, mas voltei mais cedo para casa, e encontrei os dois na
cama — suspiro cansada e bebo um pouco do suco, e ele continua me
olhando atento — Eu surtei e terminei com ele, os dois começaram a
namorar, bem clichê sabe?
— E por que eles continuam na sua vida? — Sua expressão é confusa
enquanto se senta.
— Meu pai é sócio do pai do Dylan, e a Patrícia… Patrícia é minha
prima — Dou de ombros e ele arregala os olhos e a boca, surpreso.
— Que fofoca boa! — Ele exclama e eu reviro os olhos.
— Que bom que a desgraça da minha vida alegrou o seu dia —
Resmungo e ele ri.
Eu fecho os olhos por um segundo, respirando fundo, o dia mal
começou e eu já me sinto estressada, é muita coisa para a minha cabeça em
um curto período de tempo. Simplesmente não dá.
— Você vai acabar passando mal — Ele diz e eu abro os olhos para
encará-lo — A gente começou com o pé esquerdo, deixa eu me apresentar,
meu nome é Luke, tenho 33 anos e só entrei porque precisava de um lugar
para descansar, não quero te roubar ou fazer qualquer coisa ruim com você.
Luke tem uma expressão tranquila, pensando bem, quase o tempo
todo ele parece estar de bom humor. Certo que tem menos de vinte e quatro
horas que eu o conheço, mas foi em uma situação muito estressante para
mim. Ele tem olhos verdes, o cabelo preto desalinhado, e seu machucado
parece um pouco melhor.
— Você invadiu a minha casa, não tem como eu pensar algo bom
sobre isso. Não consigo confiar que você não vá fazer nada — suspiro —
Como você se machucou inteiro assim? Está fugindo de alguém?
— Tem detalhes que você não precisa pensar — Ele desconversa —
Você tem razão, não é bom confiar nas pessoas, seu namorado e sua amiga
te traíram mesmo os conhecendo a vida toda. Todos os dias vemos notícias
de pessoas matando outras pessoas que conviveram a vida toda, passaram
cinco, dez, vinte anos com a pessoa e ela foi lá e matou. Qual o parâmetro
então? Nunca dá para saber em quem confiar.
— Sabe que isso não ajudou em nada, né? — Questiono com os olhos
arregalados.
— O ponto é que eu preciso que você me deixe ficar até que eu esteja
cem porcento bom, ninguém mais precisa saber que estou aqui, ou podemos
usar a história do namorado, o que for melhor para você — Ele pede —
depois que eu for, prometo que nunca mais irá me ver.
— Isso é loucura!
— Sim, mas eu realmente preciso de ajuda agora — Ele justifica e eu
respiro fundo, indecisa — Mas se ainda preferir que eu vá embora, já deixei
minha mochila pronta.
Eu o encaro, minha mente parece estar pipocando de pensamentos
confusos. Estou consciente do quanto tudo isso é completamente arriscado
para mim, para a minha segurança, mas é certo deixar alguém ferido e sem
abrigo assim? E quando a Ellen aparecer para saber do meu namorado, o
que eu vou dizer? Preciso ser consciente e tomar a melhor decisão.
— Você pode ficar, mas terá que fingir que é meu namorado, e
quando você estiver melhor, eu falo que a gente terminou — Digo, cedendo
ao pedido dele de ficar, mas só porque falei que ele era meu namorado.
— Está ótimo para mim, namorada — Ele responde com um sorriso
aberto.
— Mas vai ter regras — Aviso e ele assente — Não pode cometer
nenhum tipo de crime enquanto estiver aqui, principalmente contra mim. Só
encostará em mim se for necessário para mentirmos para alguém, como
para a minha melhor amiga que vai aparecer aqui a qualquer momento. E
tudo que você bagunçar, terá que arrumar, e por último, as vasilhas da janta
sempre serão suas para lavar e guardar.
— É sério? — Ele pergunta rindo.
— Estou falando muito sério, dá para parar de rir? — Eu reclamo e
ele respira fundo, tentando esconder o riso.
— Certo, estou de acordo — Ele diz, mas continua com um sorriso
irritante no rosto.
Deixo escapar uma lufada de ar, e começo a comer a comida que ele
preparou. Observo-o enquanto isso, e me lembro que ele estava com alguns
machucados sangrando ontem, será que ele fez o curativo da maneira
correta?
— Você está bem? — Pergunto e ele arqueia a sobrancelha — ontem
você estava ferido.
— Já resolvi isso, estou bem agora — Ele responde tranquilo, talvez
eu não tenha que me preocupar.
Quero dizer, tem tanta coisa que eu deveria me preocupar e
simplesmente estou ignorando tudo. Se ele não me matar, talvez eu deva
procurar mesmo um psicólogo e tratar essa falta de senso de segurança. Mas
por agora, é ver onde isso dará.
— Você vai passar mal, eu não sou médico para ficar te socorrendo
não — Luke diz e eu olho séria para ele — Você tem que resolver todo esse
seu mau-humor, acho que ainda não vi você dar um sorriso sequer.
— Quer me ver sorrindo para quê? — Pergunto e ele levanta as mãos,
voltando a olhar para televisão.
Ellen ligou avisando que estava chegando para o jantar. Se o
fingimento passar batido pela minha melhor amiga, vai passar pelos outros,
mas não é como se eu fosse sair por aí apresentando o Luke e esfregando
para todo mundo que agora eu tenho um namorado. Não tenho que provar
nada para ninguém.
Se eu não tenho que provar nada para ninguém, porque inventei essa
mentira?
A campainha toca e eu caminho nervosamente até a porta, e faço uma
pequena pausa para respirar fundo antes de abrir. Tenho que me lembrar que
fui eu quem começou com essa mentira.
— Finalmente — Ellen exclama enquanto entra na minha casa —
Achei que você ia me ignorar do lado de fora de casa.
— Não seja exagerada — Falo dando um sorriso pequeno e a abraço
— Como você está?
— Bem e curiosa — Ela responde baixo — E você?
— Bem, foi tudo bem na viagem — Garanto, mas ela me olha
desconfiada.
— Depois — Eu sorrio e indico o Luke nos olhando do meio da sala
— Vem, deixa eu te apresentar ele.
— Quando você conheceu um homem tão gato assim? — ela sussurra
e eu acabo rindo mais alto do que deveria.
— Meu bem, essa é a minha amiga, Ellen, já te falei dela — Digo em
um tom doce e ele sorri para mim — Ellen, esse é o meu namorado, Luke.
— Você não falou dele para mim — Ela aponta e eu dou de ombros.
— Minha culpa — Luke se apressa em dizer — Nós queríamos que
ficasse entre nós até a mudança ficar completa.
— Que mudança? — Minha amiga pergunta confusa, mas eu também
estou.
— Estamos morando juntos — Ele anuncia sorrindo, sinto meu peito
borbulhando de raiva, mas sorrio.
— Pois é, mas agora ele está aqui e veio para ficar — confirmo
sorrindo e indo até ele, que envolve a minha cintura no mesmo instante —
Estou tão feliz.
— De onde você era? Morava na cidade mesmo? — Ellen pergunta
enquanto vamos nos sentar.
— Eu sou de Los Angeles, mas há alguns anos me mudei para cá,
ainda bem — Ele responde sorrindo para mim.
— Ainda bem — concordo e escuto a Ellen suspirar.
— Muito fofos — Ela comenta e eu sorrio para ela.
— Eu vou olhar as panelas, e acho que vocês precisam conversar a
sós — Luke diz se levantando e nos deixando sozinhas em seguida.
— Ele está fazendo o jantar?
— Por que você acha que eu estou namorando ele? Um cozinheiro de
mão-cheia — Respondo em um tom divertido e ela ri.
— Poderia muito bem ser pela beleza — Ela dá de ombros, me
fazendo rir. Ellen está certa, Luke é um homem bonito, apesar de todo o
caos desde ontem, eu notei como ele é alto, forte, musculoso, notei que ele
tem algumas tatuagens e até me pergunto se tem mais algumas escondidas
sob a camisa.
— Acho que é todo o conjunto — brinco com um sorriso de lado.
— Amiga, se você está feliz, eu também fico feliz — Ellen diz
sentando ao meu lado — Fiquei muito preocupada com você, Patrícia disse
que ele parecia um criminoso e que tinha sangue na roupa dele, apesar dele
ser muito bonito, tem mesmo uns machucados visíveis e…
— Está tudo bem, de verdade — Eu a interrompo e ela respira fundo
— Ele sofreu um acidente, e ontem eu o machuquei por acidente minutos
antes da Patrícia aparecer, ele é um cara legal que me faz feliz. Ele está na
minha casa, acha mesmo que eu deixaria um estranho morar aqui?
— Você nunca teve muito senso de segurança — Ela pondera por um
segundo.
— Ellen!! — Exclamo e ela ri.
— Calma, calma — Ela brinca e segura a minha mão — E a viagem?
— Não foi como o planejado, mas não quero falar disso — Digo
tentando esconder o desânimo. Acho que toda essa semana foi horrível.
— O jantar está servido, venham — Luke nos chama, me salvando de
ter que responder mais alguma pergunta da Ellen.
Apesar de tudo, eu posso esquecer os problemas e aproveitar o jantar,
não preciso ficar com o pensamento a mil o tempo todo. Como se eu
pudesse simplesmente controlar esse tipo de pensamento. Reviro os olhos
para mim mesma, tenho que aprender a ser mais tranquila.
Nos sentamos à mesa de jantar, além de bonita, a comida está
realmente cheirosa. Aparentemente, Luke realmente sabe cozinhar, isso é
bom. Acho que estou mesmo precisando de uma comida gostosa para me
ajudar a relaxar.
— Quando vai à casa dos seus pais? — Ellen pergunta e eu quase
engasgo com a comida — Tudo bem?
— To… to bem — Digo bebendo um pouco de suco — O que eu
tenho que fazer na casa deles?
— Apresentar o Luke — Ela diz como se fosse óbvio, mas ele acaba
engasgando também.
— Por que eu faria isso? — Pergunto levemente alarmada.
— Porque vocês estão morando juntos, e com certeza eles vão ficar
sabendo, acha mesmo que a Patrícia não contou para todo mundo que pôde?
— Ela pergunta e eu suspiro frustrada.
— Não havia pensado nisso — Resmungo — Vou deixar rolar.
— Minha princesa, se quiser ir falar com os seus pais, eu acho que
está tudo bem — Luke diz carinhoso enquanto segura a minha mão — nós
realmente demos um passo importante ao morarmos juntos, talvez seja bom
falar com seus pais.
Encaro-o sentindo vontade de pular no seu pescoço. Que filho da
puta!
— Não, nós vamos evitar isso o máximo possível — Nego rápido e
olho para a Ellen — Deixa eles me procurarem.
— Você que sabe — Ela dá de ombros — Mas saiba que eu estou ao
seu lado, qualquer coisa que precisar, meu apoio é todo seu.
— Obrigada, isso é o suficiente — Respondo sorrindo, porque eu
realmente precisaria. — Vamos esquecer esse assunto e comer, a comida
está maravilhosa.
— É verdade, inclusive, parabéns, Luke — Ela elogia e os dois
começam a conversar sobre temperos e tempo de cozimento.
Só preciso manter essa história de namoro falso até o Luke estar bem
e convencer de que era de verdade, mas acabou naturalmente, porque
relacionamentos não dão certo. É isso. Respiro fundo e sorrio prestando
atenção na conversa dos dois, sem pensar nessa coisa de falar com os meus
pais.
Não tem sido uma convivência ruim, hoje completam quatro dias
morando juntos, não conversamos muito, não sei nada da vida dele. E
sinceramente, não tenho certeza se quero saber. Porém, preciso destacar que
ver ele sem camisa foi uma das melhores visões que tive em semanas. E eu
realmente espero que ele não tenha notado eu o encarando por um minuto
inteiro.
Suspiro e balanço a cabeça, voltando a me concentrar na tela do meu
notebook, preciso fazer essas pesquisas o quanto antes, tenho que correr
contra o tempo, é nisso que preciso pensar.
— Você está aqui há horas, precisa comer — Luke diz colocando um
copo de leite e um sanduíche de geleia com pasta de amendoim na mesa ao
lado do notebook. — Não tem veneno, antes que você pergunte.
— Obrigada — Agradeço, e bebo um pouco do leite.
— Estava pensando, você não tem um emprego? Não faz faculdade?
— Ele questiona e eu respiro fundo — já são quatro dias sem fazer nada em
casa, fiquei curioso.
— Mesmo que eu não fizesse nada, isso ainda não seria da sua conta
— Retruco, enquanto reviro os olhos.
— Eu sei que não, mas estou curioso — Ele dá de ombros.
— Você não vai me contar sobre a sua vida, vai? — Arqueio a
sobrancelha — Também estou curiosa.
— Quanto menos você souber sobre a minha vida, melhor — Ele diz
em um tom sério — Mas acredito que não exista problema em eu saber
sobre a sua.
— Acho que existe uma injustiça aqui.
— Tudo bem, já entendi, você não faz nada da vida — Ele provoca e
sorri — Deve ser bom não ter responsabilidades.
— Eu tenho responsabilidades! — Exclamo com os olhos
semicerrados.
— Quais?
— Você é insuportável, sabia?
— Acho que faz parte do meu charme — Ele dá de ombros — Só
queria te conhecer um pouco mais.
— Eu tinha um emprego, mas me demiti — Respondo fechando o
notebook, me sentindo completamente vencida — Satisfeito?
— Não, por que se demitiu? — Ele insiste e eu pondero por um
segundo se vale mesmo a pena ficar negando contar alguma coisa se no
final eu vou dizer.
Ele é muito persuasivo, tenho que ficar mais esperta.
— Eu sou publicitária, e trabalhava em uma agência ótima, mas nessa
última viagem meu colega de trabalho roubou meu projeto e apresentou
como se fosse dele, mesmo eu provando que era meu, o meu chefe, ex
chefe, ignorou completamente e deixou aquele idiota ficar com o meu
trabalho, ficar com a bonificação que deveria ser minha, era algo importante
para a minha carreira — Suspiro chateada, mas, ao mesmo tempo, aliviada
de estar falando sobre isso — Então, eu pedi demissão, e voltei da viagem.
— Mas você não tinha mais ninguém para recorrer? — Ele pergunta
parecendo preocupado.
— Não, eles estavam bem alinhados, estávamos em outra cidade e
meu chefe é sobrinho do dono da agência, não daria em nada — Dou de
ombros — Mas me irrita muito isso.
— Eles mereciam aprender uma lição — Ele diz quase sombrio e
depois sorri — Por que você não monta sua própria agência?
— É meu sonho — suspiro —, mas precisa de muito investimento, e
até conseguir clientes, estabilidade, manter as contas, preciso manter um
capital de giro.
— Entendo — Ele diz pensativo — Você tem algum plano?
— Estou pensando em ser freelancer, ou algo assim — Digo
indiferente — Ainda não sei, mas não vou desistir do meu sonho, talvez até
realize algum empréstimo.
— E seus pais?
— Meus pais não são ricos, tem uma condição financeira boa, mas
meu pai acha que tenho que ir trabalhar para ele e eu não quero isso —
Explico e ele assente, acho que ele ficou realmente pensativo sobre o que
falei.
Mas antes que ele possa dizer mais alguma coisa, meu celular começa
a tocar e eu vejo o nome “pai” na tela e suspiro. Acho que falar sobre ele
atraiu.
— Preciso atender — Aviso enquanto me afasto para poder falar com
o meu pai.
— Boa tarde, Sarah — Ele diz assim que atendo a chamada — Não
queria estar fazendo essa ligação, porque acredito que você quem deveria
ter ligado.
— Boa tarde, pai, estou bem e o senhor, como está? — Questiono
ignorando tudo que ele falou.
— Sem tempo para as suas gracinhas — Ele responde seco —
Quando ia me contar que está morando com um homem qualquer?
— Não ia contar, e não estou morando com “um homem qualquer” —
imito o tom de voz dele no final, e mesmo que eu esteja morando com um
homem qualquer, não devo satisfações a ele.
A quem eu quero enganar? Não vejo um momento da vida que meus
pais vão perguntar algo e eu não vou “dar satisfação”.
— Sua mãe irá preparar um jantar para vocês, venha e o traga junto
— Ele diz firme e eu suspiro.
— Quando? — Questiono sabendo que não terei como evitar isso.
— Amanhã, as seis horas, não se atrase — Ele me informa — Odeio
atrasos.
— Tudo bem, pai, estaremos aí — Garanto me sentindo derrotada
mais uma vez. Eu não canso de perder?
— Só quero ter certeza que ele é o homem certo para você — Ele diz
e eu solto uma risada anasalada.
— Eu sei escolher bem, não se preocupe — Respondo — Até
amanhã.
— Até — Ele desliga.
Olho para a tela por um minuto inteiro, como deixei a minha vida
chegar a esse ponto? Como vou resolver tantos problemas? Não foi assim
que imaginei a vida adulta, e eu só tenho 23 anos.
— Está tudo bem? — Luke pergunta e eu já conheço o tom de
preocupação na sua voz.
— Nós temos um jantar amanhã — Respondo me virando para ele —
Tenho que te apresentar para os meus pais.
Sarah é uma mulher linda, mas o que tem de beleza tem de mau-
humor. Se ela fosse um animal, seria um daqueles cachorrinhos pequenos
que se tremem inteiros, mas que ainda assim é agradável estar na presença.
Meu corpo está melhorando, e isso é bom. Quanto antes eu puder ir
embora, melhor. Tanto para mim, quanto para ela. Não quero que ela corra
algum risco por minha causa.
Eu não achei que fosse conseguir ficar aqui, mas até que essa história
de namoro de mentira é divertida. Sarah parece que vai ter um colapso
desde o momento que falou com o pai ontem. Eu não deveria me envolver
tanto na vida dela dessa forma, mas ela quem pediu.
— Acha que estou bonita? — Sarah pergunta ao descer a escada.
— Você está linda — Respondo sincero.
Sarah está em um vestido longo, azul, com uma fenda na perna. Seu
cabelo está solto caindo em ondas por seus ombros, seus lábios estão
vermelhos devido ao batom. Todo o seu corpo parece ter sido
milimetricamente esculpido, talvez seja indelicado, mas não pude deixar de
reparar como sua bunda é redonda e farta e seus seios sempre marcam suas
blusas, e hoje estão deliciosamente destacados no decote.
— Aquele seu ex foi maluco de te trocar — Digo indo até ela, com
um sorriso contido — Você está tão linda que não me importaria de ser seu
de verdade.
— Muito engraçado — Ela desdenha — mas precisamos convencer
meus pais que estamos juntos e felizes.
— Eu estou muito feliz — Provoco e ela revira os olhos — Você eu
não tenho tanta certeza.
— Você não entende, eu amo meu pai, mas ele é difícil de lidar às
vezes — Ela suspira — Ainda bem que a minha mãe está lá, espero que ela
segure ele um pouco.
— Eu posso ser um bom ator — Consolo-a, que fecha os olhos
respirando fundo. Tão nova e tão impaciente.
— Eu não deveria ter me metido nessa confusão — Ela abre os olhos
e me encara séria — Isso é tudo culpa sua!
— Minha?
— Se você não tivesse invadido a minha casa, nada disso estaria
acontecendo. — Ela explica enquanto aponta o dedo para mim.
— Mas foi você quem inventou essa história de namoro, eu estava
quietinho — Me defendo e ela rola os olhos — Não pode me culpar pelo
que você fez.
— Eu estava nervosa e assustada, acha que eu estava pensando
direito? Eu tinha acabado de desmaiar, por culpa sua — Ela aponta e respira
fundo — Não adianta ficar contestando os fatos, se estou dizendo que a
culpa é sua, é porque é.
— Alguém já disse que você é muito autoritária? — Questiono e ela
semicerra os olhos para mim — Você é!
— Vamos logo antes que a gente se atrase — Ela muda o assunto e
desvia de mim indo em direção à porta, mas se vira parecendo preocupada
— Você não terá problemas saindo? De alguém te ver ou coisa assim?
— Preocupada comigo? — Abro um sorriso sacana.
— Se está com humor para piadinhas, não deve ter problema nenhum
— Ela responde e volta a caminhar em direção à porta. — Vem logo!
Deixo uma risada anasalada escapar e a sigo até a garagem. Ela tem
um carro pequeno, branco, e entra no lado do motorista e eu sento no banco
do passageiro. Não conversamos durante o percurso, apesar de achar que
deveríamos alinhar algumas coisas, mas como ela não diz nada, também
não digo. Bom que as coisas podem ficar mais divertidas assim.
Graças ao mundo em que vivo, aprendi a valorizar os momentos
leves da vida. Esses dias têm sido bons, não esqueci nada do que me fez
chegar até aqui, mas aproveitar esse… descanso tem sido bastante
agradável. Sarah tem sido uma boa anfitriã, mesmo que nossa companhia
tenha sido praticamente forçada. E pelo menos parou de achar que eu vou
matá-la a qualquer minuto.
Acho que eu teria problemas com alguém que tentasse machucá-la,
Sarah é gentil e empática, um pouco sem senso de segurança, porque
mesmo que tenha sido bom para mim poder ficar em sua casa, não é algo
que ela deveria deixar acontecer.
— Estamos chegando — Ela avisa e eu vejo seus dedos apertarem
levemente o volante.
— Vai dar tudo certo, ninguém vai desconfiar de nada, e você vai
poder esfregar na cara da sua família que agora tem um namorado — A
consolo e ela ri em meio a um suspiro.
— Sua positividade me encanta — Ela ironiza enquanto estaciona o
carro.
— Eu acho que não somos os únicos convidados — Comento,
notando a quantidade de carros ali.
— Seria uma surpresa se fôssemos — Ela suspira — tenho uma
família muito fofoqueira.
— Fica tranquila, a gente vai se sair bem, minha princesa — Falo e
ela me olha de canto.
— Só vamos logo.
Coloco o capuz do moletom enquanto caminho pelas ruas, não vai ser
difícil achar um shopping ou uma loja aberta para que eu possa comprar um
celular novo, bom que assim me informo sobre o que está acontecendo
também.
Eu tenho uma conta aberta, e vou derramar muito sangue para pagá-
la.
Entro no primeiro lugar que vejo aberto e compro um aparelho, e já
saio da loja discando um número que conheço bem e que vai poder me
auxiliar no que preciso para agora.
— Alô? — Ele atende desconfiado. Alex é um hacker que conheci há
alguns anos, ele precisava de ajuda e eu precisava de alguém que pudesse
confiar. Fizemos uma troca justa.
— Alex, sou eu, Luke — Digo e o escuto exclamando um “ooh” —
Antes de tudo, preciso que você cuide da segurança desse aparelho.
— Eu achei que estivesse morto — Ele diz com a voz fraca, mas seu
tom muda de repente — Cara, você tá vivo! Fiz tudo que podia para te
achar, mas…
— Alex, segurança primeiro — Eu o interrompo, mas é bom saber
que alguém está feliz por mim.
— Cinco minutos — Ele avisa.
No momento atual, Alex é uma das poucas pessoas em quem confio.
E é até bom que os outros pensem que morri, até porque ainda não estou
completamente bem e quando eu começar a resolver meus problemas, não
poderei parar, sequer terei tempo para isso.
— Pronto, agora podemos conversar — Ele avisa — O que
aconteceu? Quero dizer, eu sei que o aconteceu, mas como você está? Onde
você está?
— Agora não é o momento para falarmos sobre isso, preciso que
você faça um trabalho para mim.
— Claro, o que precisa? — Ele pergunta atento.
— Preciso do endereço de Paul Miller, e preciso que você hackeie
todos os aparelhos dele e destrua tudo, faça ele ter perda total de tudo,
principalmente que envolva trabalho, e faça o mesmo com Harry Davis —
explico e já consigo escutar o barulho das teclas, sabia que ele não perderia
tempo — Quero que seja impossível que eles recuperem qualquer dado.
— Isso é moleza — Ele responde — Mas estou curioso, o que dois
publicitários fizeram para você estar com tanto ódio deles assim?
— Não gosto de gente desonesta — esclareço em um tom divertido e
escuto a risada dele ecoar.
— Tudo estará pronto em uma ou duas horas, já te enviei o endereço
do cara por e-mail — Ele avisa — e cara, sabe que qualquer coisa pode
entrar em contato, certo?
— Eu sei, obrigado — É realmente bom ter com quem contar.
— Luke, eu sinto muito pelo que aconteceu, também estarei aqui
quando você estiver de volta — Ele diz sério.
— Não vou demorar, mas também não quero falar sobre isso —
Respiro fundo, se eu pensar muito sobre isso, irei perder o foco — Nos
falamos em breve.
Desligo a chamada antes que ele insista em mais algum assunto que
estou querendo evitar. Não é culpa dele, mas até que eu possa me vingar
como quero, vou aliviar minha raiva destruindo quem fez a Sarah chorar,
até que os meus inimigos caiam, farei os dela cair.
É completamente irresponsável entrar de cara limpa na casa de
alguém, mas eu não tenho culpa se ele é um idiota e ainda mora em um
bairro com uma segurança tão baixa. Ele quem deveria ser mais cuidadoso.
Entrar na casa dele foi muito mais fácil do que entrar na casa da
Sarah, esse homem realmente não se preocupa com a segurança da casa.
Mas acho que hoje ele aprenderá uma lição valiosa.
Caminho por toda a casa, entrando nos quartos, olhando tudo. Quero
ter certeza de quê não há outra pessoa na casa, meu único alvo é o Paul, e
para a minha sorte, ele parece morar sozinho.
Espero ele chegar para dar uma lição pessoalmente ou apenas
queimo tudo?
Estou na cozinha já começando a transformá-la em uma bomba
usando o gás do fogão, e escuto a porta sendo aberta, me aproximo
lentamente da porta e vejo Paul entrando mexendo no celular. Ainda bem
que o Alex lembrou de mandar uma foto desse desgraçado, ou não saberia
como é o rosto dele.
— Você deveria ter mais cuidado com sua própria casa — Aviso me
aproximando, enquanto estralo os dedos da mão.
— Que-quem é você? Como entrou aqui? — Ele pergunta enquanto
se treme inteiro — Vou ligar para a polícia!
É engraçado ver como ele parece muito mais assustado que a Sarah.
Ele está tremendo tanto, que não duvido que vá mijar nas calças a qualquer
segundo. Certo que com ela eu só queria que ela se acalmasse, ele eu quero
triturar como se fosse lixo descendo pelo ralo.
— Para alguém que não se importa em destruir outras pessoas, você é
muito medroso — Digo debochado enquanto me aproximo, tomo o celular
dele e arremesso contra a parede — Acho que antes que eu quebre sua cara,
nós podemos ter uma conversinha.
— Eu nem sei quem é você, nunca te fiz nada — Ele choraminga e eu
sorrio.
— Mas para o seu azar, eu sei quem é você — Digo maldoso e ele
tenta se afastar, mas eu o seguro pelo pescoço. É ótimo ter a vantagem do
tamanho — Você não vai contar para ninguém que eu estive aqui, ou a
minha próxima visita não vai te deixar vivo. Entendeu?
— Si-sim — Ele gagueja.
— Se for na polícia, eu saberei e isso não será nada bom, porque eu
não vou só te matar, vou te torturar por horas e horas, até que eu fique
entediado, você não quer isso, quer? — pergunto friamente, ele começa a
balançar a cabeça negando e chorando.
— O que você quer de mim?
— Quero que você confesse tudo o que fez na agência, quero que
desminta tudo o que inventou — Explico e ele arregala os olhos.
— Quem te mandou aqui? Foi aquela vagabunda da Sarah? — Ele
quase grita e instantaneamente leva o primeiro soco na cara, caindo no
chão.
— Cuidado com o que você diz — Chuto a barriga dele — Você é o
único merda aqui.
Eu seguro na camisa dele e dou mais um soco em seu rosto e o deixo
caído no chão, ele é muito mais fraco do que pensei que seria.
— Ninguém me mandou aqui, esteja ciente disso, também esteja
ciente que eu posso voltar, então é melhor se desculpar pelo que fez e não
ousar dizer uma palavra sequer a alguém — Aviso-o.
— Isso não vai ficar assim — Ele tosse sangue.
— Claro que vai, tem certeza que vai querer que eu volte? —
Questiono arqueando a sobrancelha.
Ele se encolhe no chão assustado, e eu sorrio de lado. Não confio que
ele vá ficar quieto, mas nesse caso realmente terei que voltar para matá-lo.
— A Sarah não me mandou aqui, ela é boa demais para querer que
até um lixo como você se machucasse ou sua casa pegasse fogo por causa
de alguma vingança…
— Fogo? — Ele me interrompe com os olhos arregalados.
— Mas eu não tenho problema nenhum com isso — continuo como
se ele não tivesse falado nada — Entendidos?
— Si-sim — Ele acena e eu sorrio, foi divertido.
— Cuidado, qualquer mínima faísca vai fazer pelo menos parte da
sua casa explodir — Aviso, apreciando sua expressão de terror — Tenha
uma boa noite, Paul Miller.
Saio da casa tranquilo, mas usando o capuz, sei que ele não
conseguirá escapar da explosão. Caminho algumas quadras até conseguir
um táxi e ir para o shopping.
Preciso comprar outras roupas, uma pizza e alguns potes de sorvete,
tenho certeza que isso animará a Sarah ou pelo menos diminuir o desânimo.
Meu coração está batendo tão rápido que tenho medo de cair dura no
meio da entrevista. Essa é uma oportunidade incrível para o meu
crescimento profissional. Essa empresa é tão linda.
Sigo a recepcionista pelos corredores, e não deixo de reparar em cada
detalhe, cada escultura, cada quadro na parede, e até mesmo os tons de
tintas que usaram nas paredes. E paredes de vidro dão uma belíssima visão
da cidade. Viver em São Francisco é uma dádiva.
Eu não sei como Luke conseguiu essa entrevista para mim, mas darei
o meu melhor, mesmo sendo novata, sei que sou competente, sei que posso
conseguir provar o meu potencial.
— Chegamos — Ela abre uma porta para mim — Pode sentar-se,
logo será chamada.
— Muito obrigada — Leio seu nome no crachá — Rose.
— Boa sorte, Sarah — Rose deseja e sorri para mim, o que faz seus
olhos estreitos ficarem ainda menores. E então se afasta, retornando para a
recepção.
Escolho uma das poltronas beges que compõem a sala de espera e me
sento. Tento controlar minha respiração a fim de contornar a ansiedade que
já está me corroendo. Eu me conheço, sei que tenho capacidade, mas ainda
assim é muito difícil ser avaliada.
Bato o meu pé no chão, e as pontas dos dedos na minha coxa
enquanto aguardo. A secretária parece bem concentrada no seu trabalho, só
para por um instante para me oferecer algo para beber e me pedir para
aguardar mais um pouco. Eu aguardaria aqui o dia todo se fosse necessário.
— Senhorita Carver, poderia me acompanhar, por gentileza? —
Secretária me chama, ficando de pé.
— Claro — Me levanto no mesmo instante.
Ela caminha em direção a uma grande porta de madeira marrom e eu
a sigo, meu coração bate ainda mais forte, quase me preocupo se ele não
acabará saindo do meu peito como em um desenho animado.
— Com licença, Luna — Olivia, como diz no crachá agora que me
aproximei o suficiente para ler, pede ao abrir a porta — A senhorita Carver.
— Claro, pode entrar — Luna indica a cadeira a sua frente —
Obrigada, Olívia.
Olívia faz um leve aceno formal e fecha a porta depois que eu passo,
mas eu ainda agradeço sussurrado antes que se feche completamente.
Caminho até a cadeira, e já sinto a minha mão suando, torço para que eu
não comece a tremer do nada.
Luna fica de pé para me receber, ela é uma mulher alta com o cabelo
black, e está usando um terninho branco muito bonito. Ao mesmo tempo
que esbanjam elegância, seu sorriso desperta muita simpatia.
— Fico muito feliz que tenha aceitado nosso convite para essa
entrevista — Luna diz gentilmente.
— Eu que agradeço essa oportunidade — Respondo com um sorriso
nervoso e puxo o ar devagar, preciso demonstrar segurança, eu amo
publicidade.
— Eu que guiarei a sua entrevista, sou representante do setor de
marketing, mas também diretora regional. Vou te explicar como funcionará
e já daremos início, ok?
— Claro, estou pronta — Garanto com um pouco mais de segurança.
— Isso é ótimo! — Exclama enquanto eu puxo o ar, muito atenta para
sua explicação — Precisamos de alguém criativo, que pense rápido e
amplamente, por isso, apresentarei ideias, e você terá um tempo para
elaborar uma pequena proposta de publicidade para a ideia. Cada nível que
você passar, menor será o tempo. Por exemplo, na primeira ideia, você terá
vinte minutos, na segunda, quinze. E assim sucessivamente. Entendeu?
— Sim, perfeitamente.
— Isso também significa que a entrevista poderá levar algumas horas,
é um problema para você?
— Não, de maneira nenhuma.
— Ótimo, então podemos começar. — Ela começa a pegar um
material e eu fecho os olhos por um segundo, apenas para ficar um pouco
mais centrada.
Não é só uma entrevista, já é um teste junto, mas tudo bem, sei que
posso conseguir. Darei o meu melhor e vou voltar para casa empregada.
Não em qualquer emprego, mas no emprego dos sonhos.
Eu vou me sair bem, terei uma excelente notícia para dar ao Luke
quando retornar para casa.
Piso fora da empresa e noto que o sol já está se pondo, essa foi, com
certeza, a entrevista mais longa de toda a minha vida. Não que eu tenha um
histórico muito grande de entrevistas. Mas me sinto especialmente ansiosa
para chegar em casa e contar cada detalhe para o Luke, afinal, foi ele quem
me ajudou com isso.
Só que uma vozinha caçoa de mim, lá, no fundo da minha mente, me
lembrando que o Luke logo irá embora, e que eu não deveria ter me
acostumado tanto a ele. Um lembrete que ele é só um invasor.
Peço um táxi, não vim dirigindo porque estava me sentindo ansiosa
demais para conseguir dirigir. Acho que nem agora estaria bem o suficiente
para dirigir, mas de qualquer forma, só quero chegar logo em casa.
Caminho em passos lentos até a porta da minha casa, depois eu penso
sobre quem ele é fora daqui, depois eu penso sobre ele estar prestes a ir
embora, depois eu penso sobre esse sentimento que está vagarosamente me
consumindo. Agora, eu só quero comemorar que eu consegui a vaga.
Quando eu abro a porta, me deparo com balões espalhados e um
grande cartaz escrito “Parabéns”. Luke me olha com expectativa, e eu sorrio
para ele, ignorando a forma que meu coração está batendo.
— Eu consegui! — Exclamo, e vejo sua expressão mudando para
uma alegria sincera.
— Eu sabia que você conseguiria — Ele diz vindo em minha direção.
Abro os braços para receber o seu abraço, ele me gira no ar e eu deito
o meu rosto em seu peito. É bom tê-lo aqui para dividir esse momento. Me
sinto completamente extasiada. Sei que me deixar levar por essas emoções
é perigoso, mas o que eu posso fazer? Deixa queimar, deixa que tudo isso se
exploda dentro de mim. Depois.
— Como você preparou tudo isso? — Pergunto quando ele se afasta
— E esse cartaz, como sabia?
— Eu não tive informações privilegiadas, se é a sua dúvida, mas não
duvidei de você nem por um segundo, sabia que você ia conseguir a vaga
por ser uma pessoa tão talentosa e dedicada — Ele diz firme olhando nos
meus olhos e eu sinto o meu rosto esquentar um pouco. — Nunca duvide de
você mesma, Sarah, você é uma mulher excepcional, capaz de conquistar o
mundo.
Será que eu seria capaz de te conquistar, se tentasse?
— Não vou esquecer disso — Garanto, e mordo o lábio inferior para
limitar o meu sorriso.
— Comprei vinho para comemorarmos — Ele avisa, me puxando
para o meio da sala, segurando a minha mão.
— O que você faria se eu não tivesse conseguido? — Pergunto
curiosa, olhando para o cartaz.
— Não pensei nessa possibilidade, tinha certeza que você voltaria de
lá com a vaga — Ele esclarece enquanto caminha em direção à cozinha.
— Gosto da forma como você acredita em mim — Confidencio.
— É a verdade, não dá para mudar os fatos, você é excepcional —
Ele reforça. E mesmo que eu tentasse, não conseguiria desfazer o sorriso
que está enfeitando o meu rosto.
Escuto o tintilar do vidro, ele deve estar pegando as taças. Deixo
minha bolsa de lado e desfaço o rabo de cavalo, deixando meu cabelo cair
sobre os ombros. Uma sensação de leveza invade o meu peito e eu poderia
chorar de tão feliz. Levanto os olhos e vejo o Luke parado na porta entre a
sala e a cozinha, me encarando, e sorrio para ele.
Sou tão grata por toda essa invasão que ele fez na minha vida.
Eu nunca me preocupei muito com as outras pessoas, meu leque de
pessoas importantes sempre foi pequeno, muito pequeno. Seria até hipócrita
dizer que sou benevolente ou qualquer besteira assim, mas a Sarah
realmente se tornou uma pessoa importante para mim nessas poucas
semanas que estou aqui. Ela tem sido o alívio da minha verdadeira dor.
Sendo sincero, ela tem sido muito mais que isso.
Escolho taças adequadas para a comemoração, assim como o vinho.
Tinha certeza que ela conseguiria, Sarah é fenomenal. Também me sinto
aliviado, é tranquilizante ver a vida dela caminhando, e espero que continue
assim, logo não estarei mais aqui, mas quero que ela sempre cresça e
consiga ter o melhor para si.
Volto para a sala a tempo de ver a Sarah soltando o cabelo. Ela é linda
pra caralho. Gosto como seu cabelo cai sobre seus ombros como uma
tempestade preta, ou como seus olhos escuros parecem carregar todas as
estrelas do céu mais iluminado, e como seu sorriso me lembra um coração.
Olhar para ela é como contemplar o que há de mais bonito no universo.
— Espero que você goste de vinho tinto — Digo balançando a
garrafa.
— Eu gosto muito — Ela diz, mas seus olhos não estão na bebida,
estão nos meus olhos — obrigada.
— Pelo quê? — Pergunto começando a servir as taças.
— Por ter me indicado, pelos balões e o cartaz, pela bebida que eu
gosto — Ela faz uma pausa, mordendo o lábio por um segundo e sorri —
por estar aqui.
— Eu que agradeço por ter me deixado ficar — muito mais do que ter
deixado eu ficar em sua casa, mas também na sua vida. Mas essa parte eu
guardo só em meu pensamento.
Entrego a taça dela e ela dá um gole generoso, e eu acabo servindo
um pouco mais de bebida para ela, o que resulta em uma risada alta, um
som magnífico de ouvir. Pego a minha própria taça e a escuto contar sobre a
entrevista, ela não poupa detalhes e eu prefiro assim. Acompanho todas as
suas expressões, seus gestos, Sarah é muito expressiva, quase transparente
quando o assunto é demonstrar o que está sentindo.
Tenho certeza que ela conseguirá se adaptar a essa empresa, mesmo
que não seja o maior sonho dela, é o melhor caminho para que ela consiga o
que deseja. Ela precisa de experiência, de prática e dos seus próprios
contatos, e uma empresa como a que ela conseguiu entrar trará tudo isso
para ela. Sinto orgulho de quem ela é e da profissional gigante que ela será.
Mesmo que eu não esteja aqui para assistir.
— E mesmo sendo tão longa e me obrigando a pensar em tantas
estratégias tão rápido, não me sinto cansada, me sinto energizada — Ela
comenta suspiro.
— Ou talvez toda essa energia seja por causa da terceira ou quarta
taça de vinho que você tomou — Provoco e ela abre a boca e os olhos em
uma falsa indignação.
— Luke!
— Estou brincando — me defendo rindo, quando ela me joga uma
almofada.
— Estou energizada porque estou feliz — Ela diz, mas suas
bochechas já estão coradas, talvez a gente não chegue na segunda garrafa,
mesmo que a primeira já esteja no fim.
— Vamos dançar? — A convido ficando de pé e estendo a mão, ela
encara a minha mão um pouco confusa — Vai ser divertido, vem.
— Okay — Ela ri dando de ombros, e pega na minha mão.
Ajudo-a a se levantar, seguro sua mão direita e a outra mão vai na sua
cintura, ela sorri para mim e eu devolvo o sorriso. Começo a guiá-la,
dançando pela sala, Sarah deixa uma risada escapar quando a giro um
pouco e logo a puxo para perto, a envolvo nos meus braços e ela quase deita
no meu peito, dançando lentamente.
— Não estamos ouvindo nenhuma música — Sarah comenta e eu
acaricio suas costas com cuidado.
— Isso é só um detalhe — Respondo — O importante é que estamos
nos divertindo.
— Sim, isso que importa — Ela concorda.
Sarah se afasta de mim o suficiente para olhar diretamente nos meus
olhos. Linda. Eu poderia beijar cada centímetro do seu rosto, e ainda
acharia pouco. Eu gostaria de poder tocar cada parte do seu corpo, tratá-la
com a devoção que merece. Fazer com que ela tenha a melhor e mais
intensa noite da sua vida. Deixar a minha marca na sua vida.
— No que está pensando? — Ela indaga, e eu sinto suas mãos
segurarem um pouco mais firme em mim.
— Nos seus olhos.
— Meus olhos? — ela pergunta, achando divertido.
— Sim, parece que você roubou todas as estrelas do céu e colocou
neles, e é por isso que brilham tanto — Explico e sorrio ao ver seu rosto
ficar ainda mais vermelho.
— Eu… Eu… — Ela respira fundo, e fecha os olhos, como se
estivesse tentando organizar os pensamentos — acho que está na hora de
irmos dormir.
— Tudo bem — Concordo, mas não movo um centímetro para me
afastar dela — Vamos só esperar essa música acabar.
— Certo, só mais essa — Ela assente e encosta seu rosto no meu
peito.
Continuo a guiando pela sala, na nossa dança lenta, abraçados como
se precisássemos disso para nos aquecer. Por só mais uma música, mesmo
que não houvesse nenhuma sendo tocada.
Não sei por quanto tempo ficamos dançando a última música, mas
logo o sono atingiu a Sarah e eu a ajudei a chegar na cama, onde ela apenas
se jogou na cama. Com muito cuidado para não ultrapassar nenhum limite,
a ajudei a se cobrir. Sorrio observando seu rosto tranquilo enquanto dorme,
e me retiro do quarto, apagando a luz antes de sair.
Eu sei que todas as lembranças dela ficarão gravadas na minha
memória.
Entro no quarto de hóspedes e me sento na cama. Minha mente está
caótica, eu estou fodido. Como posso estar me deixando sentir algo assim?
Não tenho esse direito, acho que sequer tenho o direito de estar vivendo
esses dias tranquilos, não enquanto as aquelas pessoas não pagarem pelo
que me fizeram.
Meu celular começa a tocar e eu vejo o nome do Alex na tela, não é
como se muitas pessoas tivessem meu atual contato. Atendo a chamada
enquanto me levanto, ele não estaria ligando tão tarde da noite sem motivo.
— Pode falar — digo assim que atendo.
— Tenho uma boa notícia — Alex anuncia — encontrei o Stefan.
— Eu quero o endereço dele, quero saber exatamente que horas ele
estará lá, e se vai ter mais alguém com ele. — Exijo sério — Quero cada
detalhe que você tiver desse filho da puta, ele não é o primeiro da minha
lista, mas está em uma posição alta.
— Eu tenho o relatório completo, como me pediu, mas você precisa
se preparar agora — Esclarece — Ele irá embora em dois dias, e eu não sei
para onde, então tem que ser agora.
— Não vou perder um minuto, já estou bem o suficiente, está na hora
de mostrar para eles que vão precisar de muito mais para me matar —
Respondo decidido — Me envie o relatório completo, só preciso ir em um
lugar antes para conseguir o armamento correto.
— Certo, e pode contar comigo para tudo o que precisar — Ele
garante e desliga a chamada.
Caminho em direção ao banheiro, vou tomar um banho frio para me
livrar dos vestígios de álcool que ainda tem em mim, depois disso vou caçar
o primeiro desgraçado. Stefan.
Trabalhamos juntos por anos para o mesmo filho da puta, Carl,
sempre me rendeu muito dinheiro e isso era o suficiente. Carl é o chefe de
um cartel de drogas, nunca teve nome ou força o suficiente para realmente
dominar os negócios no estado, até porque eu sei muito bem quem
realmente controla o tráfico aqui, mas era grande o suficiente para se
manter impune.
Impunidade essa que sempre foi me garantida. Até tentei a vida
trabalhando para uma indústria farmacêutica de fato, mas o tráfico rendia
muito mais, e eu ainda podia irritar o lado da família que não gosto, como o
meu pai. Mas nos últimos meses as coisas saíram completamente do
controle.
Meu trabalho era desenvolver drogas que fossem lucrativas, e eu
fazia isso muito bem, apesar de ter aprendido muitas coisas trabalhando no
mercado ilegal. Até Carl achar que não era o suficiente e pensar que seria
uma boa ideia ameaçar a pessoa mais importante da minha vida. Até matar
a minha mãe por causa desse negócio.
Eu planejo destruir tudo do Carl, ele vai perder todo o seu negócio,
vai ver todo seu negócio ruir, e todos aqueles desgraçados que vivem ao
redor dele morrerem um por um. Até chegar nele, até que eu o faça sangrar
até a última gota de sangue.
Stefan foi o encarregado de matar a minha mãe, Mary Turner. O farei
sofrer tanto que ele vai implorar para ir logo para o inferno, mas não irá
poder, não até que eu sinta que a minha raiva esteja novamente controlada.
Termino de me arrumar, pego a minha mochila e coloco as minhas
coisas essenciais dentro. Não era o planejado, mas não vou perder a chance
de começar a minha vingança, já adiei demais. Saio do quarto com cuidado,
não quero acordar a Sarah, mesmo que eu ache que ela só irá acordar
amanhã e com uma grande ressaca.
Caminho até a porta da sala, pronto para ir embora. Sarah está bem,
feliz, conseguiu um emprego muito bom, sinto que já fiz tudo o que podia
por ela, acho que estamos equilibrados até aqui. Coloco a mão na maçaneta,
pronto para sair e me lembro do noivado da prima dela em alguns dias, não
posso deixar que ela passe por isso sozinha.
Vou até a cozinha e colo um recado na porta da geladeira e só então,
finalmente, saio da casa da Sarah. É hora de voltar para o meu mundo e
resolver tudo que ficou pendente.
Pego o meu celular e digito o número do Derek, irmão do Thomas, e
faço a ligação enquanto caminho pelas ruas, eu poderia conseguir o que
preciso sem ele, mas ter o apoio do maior mafioso do estado, ou melhor, do
país, é de grande valia.
— Derek, soube que queria me encontrar — Falo firme — Eu tenho
tempo agora e só agora.
— Onde você está? — Ele questiona — Vou mandar alguém te
buscar.
— Estarei esperando.
Sempre preferi evitar a família Armstrong, nunca tive uma boa
relação com o meu pai, muito menos com os meus irmãos. Minha mãe foi
um caso para ele, e eu apenas o filho fora do casamento. Nunca me importei
com isso, nunca tentei me aproximar, e espero sinceramente que nunca
precise ficar cinco minutos no mesmo ambiente que George Armstrong.
Mas, apesar de não poder dizer que sou íntimo, sempre tive uma boa
relação com o meu tio, Dominic Armstrong, governador da Califórnia. Ele
sempre apareceu para verificar como estávamos, apesar de saber que essas
visitas era medo de que ela revelasse tudo e de alguma forma manchasse o
nome da família, e atrapalhasse o caminho político que estavam trilhando.
Essas visitas de Dominic também propiciaram que eu mantivesse
algum contato com o Thomas e Derek, mas poucas vezes vi a irmã mais
nova deles. Nossa relação sempre foi baseada em algumas trocas de
favores, nunca quis me envolver ao ponto de entrar para os negócios, apesar
de Derek já ter insistido nisso algumas vezes.
Mas sei que hoje isso irá mudar.
Chego no local escolhido por Derek, um galpão grande, afastado.
Com certeza um dos pontos que ele usa para o trabalho. Sou guiado por
dois homens armados por todo o galpão até chegar em um escritório bonito,
todo em tons de marrom escuro e madeira escura.
Derek me recepciona com um sorriso amigável, mas atrás dele,
Edgar, meu irmão, me olha com certa superioridade, mas respiro fundo para
não me irritar com a presença dele. Não tenho tempo para isso agora. E nem
em nenhum outro momento.
— É muito bom te ver — Derek diz sorrindo, levantando os braços
como se estivesse comemorando — Soube que tinha morrido, mas fiquei
muito feliz quando o Thomas disse que você tinha entrado em contato.
— Eu não — Edgar resmunga atrás do Derek.
— Soube que algumas pessoas acham que morri — dou de ombros
— Mas não é para dar notícia da minha vida que estou aqui.
— Claro, claro — Derek concorda, essa falsa animação dele me irrita
um pouco — Mas antes de começarmos, sente-se, quer beber alguma coisa?
— Não quero, podemos conversar logo? — Olho para o Edgar com
certo desdém — Ele precisa mesmo ficar aqui?
— Você sabe que eu sou o conselheiro, se eu não estiver aqui, não vai
poder falar o que quer — Edgar diz com um sorriso de canto, me olhando
com o que ele acha que é superioridade.
— Sem brigas, somos uma única família — Derek repreende e eu
reviro os olhos.
— Vou direto ao assunto, quero dar fim no Carl, em tudo dele —
Esclareço sério — E quero começar pelas pessoas que vivem em volta dele.
— Sabe que algo desse tamanho inclui matar todos? Até a família
dele — Derek pontua, mais sério do que quando eu cheguei aqui.
— Quero matar todos, quero deixar ele por último propositalmente,
quero que os negócios dele sejam destruídos — Sou ainda mais incisivo.
— E você quer que a gente cuide disso? — Edgar pergunta arqueando
a sobrancelha.
— Não, ele quer apoio, armamento, e a barra limpa sempre — Derek
quem responde, mas ele está certo — O que ganharíamos com isso? Só vejo
gastos.
— Eu venho trabalhar no seu laboratório — Respondo simples —
tenho meus termos quanto a isso, mas estarei pronto para começar assim
que acabar com o Carl.
— Termos? Ainda acha que pode exigir algo? — Edgar debocha.
— Eu resolvi o problema daquela fórmula que me entregou, Derek —
Aviso, olhando para o meu primo e ignorando meu meio-irmão, e vejo um
brilho ambicioso no olhar dele.
— O que aconteceu? — Derek questiona com o cenho franzido,
intrigado — Você nunca quis trabalhar conosco, escolheu o inútil do Carl, e
agora vem querendo que a gente te dê apoio para acabar com ele logo após
surgir um boato que estava morto. Tem algo errado.
— Quem é a garota? — Edgar pergunta inclinando o pescoço e me
olhando com olhos cerrados — Thomas contou sobre a vaga de emprego
para ela.
— Ninguém que te interessa — Digo ríspido — O assunto aqui não é
ela, e não tem nada a ver com ela.
— Acho que perdi a aposta e você não é gay — Ele diz com falsa
tristeza e eu respiro fundo, quase perdendo a paciência.
— Mesmo se fosse o caso, a minha vida particular não é da sua conta,
Edgar, se mantenha longe — Aviso em tom rude.
— Não comecem, o assunto realmente não é esse — Derek intervém
— mas eu ainda quero saber o que aconteceu com você.
— Também acho que isso não vem ao caso — Me nego a responder.
— Então nesse caso, nós estamos fora, mesmo que isso signifique
que você não venha trabalhar com a gente — Ele responde em uma falsa
lástima.
Encaro o Derek, sentindo o ódio percorrer o meu corpo, não era isso
que eu esperava que acontecesse. Mas tudo bem, ainda posso resolver meus
problemas sozinho, tenho dinheiro e tenho contatos, só planejava ir pelo
caminho mais rápido. Quero começar e terminar tudo isso o mais rápido
possível.
— Tenham uma boa noite — Respondo me levantando para ir
embora.
— Droga! Achei que conseguiria fazer você falar — Derek bufa —
Quero certeza que depois você vai trabalhar para mim.
— Quer um contrato? — Pergunto debochado.
— Seria interessante — Ele dá de ombros, mas me olha sério, sem
nenhum pingo de humor na voz — Se não cumprir sua parte, vindo
trabalhar para mim, eu mato você.
— Sempre cumpro com a minha palavra — Garanto, ficando de pé.
— Eu preciso de algumas coisas para agora.
— Felipo irá te auxiliar em tudo o que você precisar — Derek me
informa e eu assinto — Mas assim que você terminar o que está indo fazer,
você retorna para começar a trabalhar aqui, não quando tudo acabar.
— Não, só depois que eu tiver resolvido todas as pendências —
Nego, semicerrando os olhos.
— Pensa comigo, você não vai poder fazer tudo em um único dia, ou
talvez em dois. Então, entre uma ação e outra, poderá trabalhar — Ele diz
firme — Por caso você morra nessa loucura, eu não saio no prejuízo.
— Eu não vou morrer fazendo isso, Derek — Desdenho, revirando os
olhos.
— Não seja prepotente, Luke, você não é imortal — Ele diz como se
estivesse me aconselhando — Ou você começa imediatamente, o que até
facilita para planejarmos as partes técnicas da derrubada do Carl, ou ficará
difícil concordarmos com isso.
Avalio a situação em silêncio, ele está certo no que pontuou, não
posso acabar com tudo em um único dia, mas isso também significa que
não poderei voltar para perto da Sarah, não posso arriscar colocá-la em
perigo dessa forma. Começar a trabalhar agora não seria necessariamente
um problema.
Mas infelizmente não poderei cumprir com a promessa deixada na
porta da geladeira.
— Certo, estou de acordo — Concordo, mesmo que não seja
exatamente a minha pretensão inicial.
— Já enviei uma mensagem para Felipo, informando que ele tem
autorização para pegar tudo o que você precisar — Derek avisa colocando o
celular dentro do bolso do paletó — E Luke, mesmo que você não conte
agora, mais cedo ou mais tarde, nós saberemos o que aconteceu. As notícias
correm.
— Eu sei.
— Se tiver algo que a gente deva saber para se preparar, também é
importante que a gente saiba. Está fazendo isso apenas porque quer sair do
negócio dele? — Derek insiste, mas inclina o pescoço me avaliando —
Não, isso é muito mais pessoal.
— Eu preciso ir, quando eu terminar, discutimos melhor meus termos
— Falo ignorando tudo o que ele disse.
— Claro — Ele concorda e eu me viro, caminhando em direção à
porta — Até breve.
— Mande lembranças para a sua mãe — Edgar diz e eu travo por um
segundo no lugar e depois continuo andando como se não tivesse entendido
o recado.
Eles devem saber, mas querem que eu diga e isso não vai acontecer.
Eu sei que as notícias correm, e se chegou até que eu estava morto, era
óbvio que o assunto inteiro chegaria. Derek está em uma posição na qual
informação faz parte do poder e ele tem muitos contatos e meios para que
qualquer notícia chegue em primeira mão para ele.
Me render, e trabalhar para os Armstrong tem suas vantagens, apesar
de preferir que as coisas nunca tivessem chegado a esse ponto. Derek tem
razão, eu escolhi trabalhar para o Carl, nunca deveria ter tomado uma
atitude tão estúpida quanto essa e agora eu também carrego parte da culpa
pela morte da minha mãe e eu nunca vou me perdoar por isso.
Eu deveria ter sido mais responsável com ela. Deveria ter estado lá
com ela. Não sou mais criança, nem um adolescente impulsivo. Mas eu
prometo que todos eles sangrarão lentamente até estarem mortos.
Confiro se o Felipo me entregou realmente tudo o que pedi, e tudo
está aqui. Desde os produtos químicos até as armas, sorrio satisfeito porque
tenho planos para cada uma dessas coisas. Entro no carro, e começo a
dirigir, conferindo o endereço que o Alex me enviou, se trata de uma casa a
alguns quilômetros da cidade.
Uma das coisas que aprendi no crime foi ser um exímio assassino.
Devo admitir que a vida no crime me causou um pequeno fascínio e eu
decidi aprender o máximo de coisas possíveis, como matar sem ser
identificado, meu curso de química me ajudou em algumas coisas, mas
também decidi aprender a usar uma sniper, ser silencioso e preciso.
Inclusive, muitos dos favores que fiz a Thomas eram sobre matar alguém
silenciosamente, ou produzir alguma droga que não fosse identificada para
que ele mesmo fizesse isso.
Acho que ser criminoso é de família.
É até cômico como nenhum dos integrantes dessa família trabalha
com algo realmente legal, e mesmo assim estão todos em posição de poder.
E são nocivos à sociedade. Nesse ponto, não posso nem negar o meu
sangue, pois sou assim também.
Meu celular toca e eu vejo o nome do Alex na tela e atendo a
chamada pelo viva voz do carro para não perder a concentração na estrada.
— Onde você está? — Ele questiona.
— Dentro de um carro, indo para o endereço que você me enviou.
— Certo, eu consegui entrar no sistema de segurança da casa. Tem
alguns homens com ele lá, seguranças — Ele esclarece — E eu acho que ele
adiantou a viagem, porque vi algumas malas.
— Estou a caminho, esse desgraçado não vai escapar — Falo
deixando o ódio escorrer pelo timbre da minha voz.
— Quando terminar, me liga, preparei um lugar para você ir como me
pediu por mensagem — Alex avisa — Você não pode voltar para a casa
daquela garota, nem para visita, sabe disso, certo?
— Não tinha a intenção de voltar — Não tenho motivos para mentir,
mas mesmo assim o faço. — Até depois.
Desligo a chamada e respiro fundo. Gostaria de voltar para vê-la,
nunca deveria ter deixado que as minhas emoções escapassem para fora de
mim dessa forma, minha vida é perigosa demais para que eu volte para
perto dela. A mim, resta guardar na memória o som da sua risada, o doce do
seu perfume, e o calor que vinha dela para mim.
Sarah será só uma boa lembrança.
Vejo o sol brilhando acima de mim e respiro fundo, percebendo que
passei a noite em claro e ainda vem um longo dia pela frente. Mas pelo
menos estarei fazendo algo que ansiei muito nas últimas semanas. Me
vingando.
Não me importo se um sorriso sádico enfeita o meu rosto, nunca
pensei em mim como um mocinho, estar perto da Sarah até trouxe um
pouco de paz para a tempestade destrutiva em mim, mas eu facilmente
poderia ser chamado de vilão.
Deixo o carro afastado da localização exata da casa, não quero chegar
anunciando a minha presença. Já não sou uma pessoa que passa facilmente
despercebida pelos outros por causa da minha altura, e tamanho, mesmo
que a intenção seja chegar causando um estrago. Também seguro a minha
pistola com o silenciador, não posso vacilar nenhum segundo, estou no
território dele.
Antes de sair do carro, li todas as informações que o Alex me enviou,
sei quantas pessoas estão ao todo na casa e tenho noção do que devo esperar
quando perceberem o ataque, mas quando eu acabar, não sobrará nenhum
para contar o que houve, nem mesmo a casa continuará existindo.
Carl foi estúpido quando mandou sequestrar a minha mãe para tentar
me coagir, foi um tiro no próprio pé desde o início, mas eu estava disposto a
entregar a maldita fórmula que ele queria, mesmo sendo contra a produção
de uma droga tão nociva. Mesmo sendo quem sou, e fazendo o que faço,
ainda tenho alguns princípios. Só que antes de colocar a fórmula nas mãos
dele, chegou a notícia do que o Stefan havia feito.
Ela nunca deveria ter sido envolvida em nenhum problema meu.
Sinto tanta raiva quando penso sobre isso. Sinto tanta dor. Eu nem mesmo
tive a chance de me despedir dela e fazer um velório decente.
Avisto a casa e respiro fundo limpando os meus pensamentos, não
posso deixar meus sentimentos enquanto ajo, ou não terei foco o suficiente
para fazer o que tenho que fazer. Caminho em passos lentos, e atiro direto
na cabeça de um homem que está em pé perto de um carro, seu corpo cai no
chão em um baque seco. Um de dez.
Caminho até perto do carro e confiro se ele está mesmo morto, então
com um canivete rasgo os dois pneus do carro próximo a mim. Enquanto
caminho em direção ao segundo carro, vejo outro homem na varanda da
casa e atiro direto em sua cabeça, sua queda é um pouco mais barulhenta,
mas espero que não o suficiente para atrair muita atenção. Dois de dez.
Destruo os pneus do segundo carro, ainda tem mais dois carros, não
quero deixar nenhum inteiro para que eles não tenham como escapar, pelo
menos não de maneira rápida. De qualquer forma, não terão tempo para
fazer isso.
Atiro nos pneus do terceiro carro e sou notado, ele grita alguma coisa
que eu não entendo e atira, me escondo atrás do carro e atiro de volta. A
troca de tiros começou mais cedo do que eu esperava, mas pelo menos
assim as coisas ficaram ainda mais emocionantes.
Devolvo os tiros e escuto o baque dele caindo, mas eu sei que tem
mais.
— Você não vai sair vivo daí, é melhor se render logo — Escuto
alguém gritando e rio silenciosamente. Até parece que alguns inúteis como
esses conseguiriam me matar.
Olho por baixo do carro e vejo dois deles se aproximando e atiro
assim, atingindo os calcanhares. Saio de trás do carro e atiro neles antes que
tenham algum tempo para reagir e corro em direção à casa, agora que eles
já sabem que estou aqui, não me importo de atirar no último carro repetidas
vezes até estar bem ruim.
Entro na casa pela porta dos fundos e dou de cara com um segurança,
ele tenta vir para cima de mim, mas seu movimento é frustrado quando eu
desvio e envio o canivete direto em seu pescoço, ele cai no chão tremendo e
eu sigo entrando na casa. Eles são bem poucos agora, logo será apenas eu e
o meu alvo. E aí eu poderei agir com calma.
Ainda faltam três seguranças até que chegue no Stefan.
— Luke, eu sei que é você quem está aqui — Escuto a voz do Stefan
e fico escondido atrás do balcão da cozinha, enquanto os escuto na sala —
Sabia que você viria atrás de mim, mas não imaginei que seria estúpido de
fazer isso sozinho.
Reviro os olhos ouvindo-o, Stefan é um idiota. Percebo a
movimentação, e começo a me mover devagar porque sei que o confronto
cara a cara agora não seria bom. Até sinto vontade de responder, mas sei
que isso só vai acelerar que venham até mim.
Não conhecer a estrutura da casa me atrapalha um pouco, e tudo
acontece rápido. Um dos homens me acha, ele aponta a arma para mim e eu
chuto sua perna, fazendo ele cair e atiro no seu peito e na sua cabeça. Mudo
de cômodo quando escuto os outros se aproximando.
Sinto algo batendo nas minhas costas, quando me viro, sinto um soco
me atingindo, mas revido no mesmo instante, socando–o sem parar, quando
o último segurança aparece, seguro o corpo do que me atacou como
proteção e ele é alvejado no meu lugar. E empurro o corpo em cima do
outro, o que me dá tempo para atirar nele.
Agora só falta um, o próprio Stefan.
Conheço-o o suficiente para saber que ele não terá coragem de me
encarar e tentará fugir, felizmente já adiantei o serviço e sei que os carros
não poderão ser usados. Stefan tem que morrer hoje, e não rápido como
esse capangas incompetentes que ele arrumou, não. A morte dele será lenta
e dolorosa, talvez eu fique aqui o dia todo apenas lhe provocando dor.
Nunca fui o tipo sádico que curte o momento da tortura, acho que
uma morte limpa é mais prática e não gasta tanto tempo, mas esse é um
caso especial.
— Não estava dizendo que eu não sairia daqui vivo, Stefan, venha me
pegar — Falo alto, provocando-o — Ou não consegue lidar com alguém do
seu tamanho.
— Você é muito arrogante para um quimicozinho de merda — Ele
responde e eu sorrio de lado, ele caiu como um patinho, quanto mais ele
fala, mais fácil ficar de achá-lo — Deveria aceitar a morte quietinho, assim
como sua mamãe fez.
Mordo a parte interna da minha bochecha e respiro fundo. Ele não vai
me desestabilizar, mas está me deixando com ainda mais raiva, nem
imaginei que seria possível. Eu vou fazê-lo pagar por cada palavra que está
dizendo.
— Então vem aqui tentar — Provoco e escuto a porta da frente
batendo, desgraçado.
Caminho até a porta, pronto para sair, mas isso pode ser uma
armadilha e ele estar do lado de fora apenas esperando para atirar em mim.
Não vou dar esse vacilo. Esse filho da puta não vai conseguir me pegar com
um plano tão estúpido.
Saio do rumo da porta e atiro várias vezes nela, e escuto o Stefan
gritando. Ele realmente achou que eu seria burro de sair assim. Atiro mais
algumas vezes e só então abro a porta, com cuidado e bastante atento à
movimentação. Vejo o Stefan caído no chão, ele mira a arma em mim e eu
me escondo, pego a minha arma com um calmante, tenho disparos, e só
preciso que um acerte ele.
— Você é um desgraçado, Luke, acha que vai conseguir algo com
isso? Você não tem nada, e continuará sem nada — Stefan grita, e tem dor
na sua voz por causa do tiro que o acertou — Você deveria ter fugido
enquanto pode, logo estará morto.
— Talvez eu morra no processo, mas você terá morrido bem antes —
Debocho, e pela janela, eu atiro um dardo tranquilizante nele.
Agora é só esperar fazer efeito.
Paro o meu carro perto da casa da Sarah, mas não muito para que ela
não me veja e fico observando o lugar. Sinto uma enorme vontade de bater
em sua porta e perguntar se ela gostou da surpresa, beber o vinho com ela, e
dançar a nossa música. Mas não posso fazer isso ainda, não posso explicar
sobre a minha vida e trazê-la ao meu mundo.
Pelo menos, não enquanto ainda está tão caótico.
Ela sabe que eu sou um criminoso, mas tenho certeza que ela não
imagina o quanto estou envolvido, e nem como estou envolvido. Parte de
mim tem medo que ela não entenda, não queira que eu fique quando souber
a verdade. E outra parte, se questiona se eu deveria explicar isso para ela. E
uma parte ainda menor, torce para que ela aceite até meu lado mais
sombrio.
Eu não deveria ter me deixado levar pelas emoções, mas é tarde
demais para pensar sobre isso. Estou dentro de um carro me contentando
apenas em olhar para a casa e imaginar como seria bom estar lá, com ela.
Meu celular começa a tocar, me tirando do meu devaneio. Vejo o
nome do Alex na tela e atendo rápido, espero que ele tenha boas notícias,
quanto antes eu acabar com o Carl, mais rápido posso voltar para a Sarah.
— Tenho uma notícia boa e outra ruim — Alex diz sério.
— Começa pela ruim — Peço, um pouco impaciente.
— Perceberam que estavam sendo monitorados, estou colocando um
pouco mais de segurança nos sistemas deles — Ele esclarece e eu bufo.
— E a boa?
— Eu sou excelente no que faço, mesmo assim consegui informações
sobre quando o próximo carregamento deles chegará, e onde será o ponto
de recebimento — Ele responde orgulhoso de si.
— Como eles sabem que estão sendo monitorados, você pode ter
algum problema? — Questiono preocupado — Posso mudar seu endereço
para um mais seguro.
— Eu estou bem, se algo acontecer, te informarei no mesmo instante,
mas se quiser me proporcionar um aumento, aceito — Ele responde rindo.
— Me manda todas as informações que conseguiu, farei uma análise
para me preparar — Peço — Vou providenciar esse aumento.
— Por isso que é bom ser amigo do chefe — Ele ri e eu reviro os
olhos — Estará tudo no seu celular em minutos. Até breve.
Desligo a chamada e vejo a Sarah na porta de casa recebendo um
pedido de comida. Sorrio por ter a sorte de vê-la. Seria ainda melhor se eu
pudesse tocá-la. Espero que em breve.
Meu celular apita com as mensagens do Alex chegando. Vou
trabalhar, porque quanto antes eu esmagar o Carl, mais rápido posso vir
para a Sarah.
Todas as informações que o Alex passou eram extremamente claras e
detalhadas, isso facilitou muito o trabalho, por isso conseguimos passar os
últimos dois dias monitorando o local e nessa noite poderemos interceptar o
carregamento e destruir o local.
Carl mudou seus três principais pontos, mas agora que localizamos o
primeiro, achar os outros será fácil, de qualquer forma, não tenho a intenção
de ficar enrolando muito. Logo após, quero fazer um ataque mais direto, se
preciso for, ainda mais brutal.
Mas por hoje, só quero acabar com isso a tempo de me preparar, pois
amanhã eu tenho um compromisso com a Sarah.
— Sabe que não precisa ir hoje, Luke — Derek diz se aproximando
— Nossos homens são capazes de resolver esse problema.
— É uma questão pessoal para mim — Respondo enquanto termino
de colocar o meu colete à prova de balas.
— Você quem sabe — Ele dá de ombros.
Sozinho seria difícil completar o trabalho dessa noite, por isso
solicitei que alguns dos soldados fossem comigo. E Derek resolveu
aproveitar que o ataque seria no momento do recebimento de uma carga,
para roubar a carga. No fim, todos sairemos no lucro.
Felipo irá me acompanhar, planejamos tudo, cada passo, cada
movimento. O plano inclui não deixar que ninguém ali saia vivo.
— O que fez para o Edgar? — Derek questiona e eu rio.
— Ainda nada, mas não teria problema em fazer algo — Desdenho
com indiferença.
— Como é lindo o amor de irmãos — Ele provoca e eu reviro os
olhos.
— Edgar não é meu irmão e eu estou muito ocupado agora — Digo
impaciente e ele ri.
— Boa sorte — Derek deseja — Volta vivo e inteiro, você ainda não
acabou de produzir a substância que eu preciso.
Conto até dez mentalmente ignorando o Derek, eu tenho uma missão
essa noite e vou cumpri-la com êxito. Nada e nem ninguém irá conseguir
tirar o meu foco.
— Está tudo pronto — Felipo avisa.
— Ótimo, podemos ir — Respondo firme, pego minha pistola e
coloco no coldre. Hora de massacrar alguns desgraçados.
Não é a primeira vez que participo de algo assim, e tenho certeza que
não será a última. Mas hoje, mais do que em qualquer outra vez, meu peito
está queimando com raiva.
O plano segue exatamente como o imaginado, mesmo que estivessem
em maior número, o que me faz pensar que talvez eles tenham reforçado
ainda mais a segurança por saber da possível ameaça à espreita. Eles
descobriram que estavam sendo monitorados, era óbvio que algo assim
poderia acontecer.
Mas para o azar deles, ainda não foi o suficiente.
Vejo o galpão pegando fogo e sorrio, destruir cada coisa do Carl me
traz satisfação. Anseio pelo momento em que vou matar ele, mas quero que
ele sofra antes.
E ele vai sofrer.
Eu não vou ao noivado. Me recuso a passar por essa humilhação.
Eu poderia pensar em algumas desculpas para o Luke não estar aqui,
mas eu não sei onde ele está ou o que está fazendo. E se eu for pega na
mentira? Sem pensar que seria ridículo aparecer no noivado do meu ex, que
me traiu, logo depois de ser abandonada pelo namorado.
Certo que eu não fui abandonada, e que ele não é meu namorado, mas
ainda assim é demais para mim.
Sento no sofá da sala e ligo a tv, faltam duas horas para o evento
começar. Eu vou pedir comida, assistir um filme qualquer, desde que não
tenha romance, e esquecer que estou solitária aqui. Será que esse é o meu
destino? Será que não vai ter quem fique comigo de verdade? Será que fui
feita para ficar sozinha? Será?
Acho melhor não ficar pensando sobre isso, ou vou acabar deprimida.
E não quero isso. Eu não preciso de ninguém, não preciso do idiota do Luke
aqui. Não vou me lamentar por quem decidiu sumir. Limpo uma lágrima
que tenta descer pelo meu rosto. Se eu ignorar esses sentimentos que estão
me incomodando, logo eles deixarão de existir.
Meu celular toca e eu suspiro, será que devo atender a minha mãe?
Isso é algo que eu definitivamente não quero fazer, não quero ouvir ela
falando sobre esse noivado, não quero ter que ir, ainda mais sozinha. Se o
Luke estivesse aqui, tenho certeza que seria divertido estar lá, mas agora?
Vou só ignorar.
Mas depois de três chamadas, está mais que claro que a minha mãe
não tem a intenção de esquecer.
— Espero que já esteja pronta para o noivado da sua prima —
Abigail diz e eu rolo os olhos.
— Eu não vou — Informo calmamente.
— Como assim? Você já tinha confirmado a sua presença e a do
Luke, não pode desistir agora — Ela diz estarrecida.
— Não entendo essa surpresa, Patrícia pode ser minha prima, mas
dormiu com o meu namorado, que por acaso é o noivo, qual seria o sentido
de eu ir ao noivado que nasceu da minha cornice? — Questiono tentando
não alterar a minha voz.
— Achei que já tivesse superado isso, Sarah, e que iria com seu
namorado novo, mostrando que está bem — Posso escutar ela respirando
fundo — Cadê o Luke? Deixa eu falar com o seu namorado.
— A senhora não tem que falar com ninguém, eu tomo as minhas
próprias decisões — Retruco chateada, será que ela acha que eu preciso de
alguém para decidir algo?
— Se não aparecer lá, eu vou te buscar — Ela ameaça e eu reviro os
olhos novamente.
— Mãe, eu não quero ir, ok? Luke viajou a trabalho — Minto, nem
sei o que ele tem feito — Não vou sozinha, chega desse assunto, vá se
arrumar e pronto.
— Eu vou te buscar, você vai sim! — Ela determina — Também seria
bom se você e a Patrícia fizesse as pazes, família tem que ficar unida.
— Às vezes, eu me questiono se a senhora escuta as coisas que fala
— Suspiro cansada.
— Se arruma, daqui a uma hora e meia eu vou te buscar — Ela
reforça e desliga a chamada.
Eu nem precisei sair de casa para que a sessão de humilhação
começasse. Pode vir ela, meu pai ou até o Papo, se eu disse que não vou, eu
não vou. Eu tenho vinte e três anos, moro sozinha, pago as minhas próprias
contas e não vou só porque a minha mãe mandou.
Mãe <3
Não espera eu chegar aí para começar a se arrumar
Beijos, te amo (04:08 p.m)
Ignoro a mensagem, e volto a atenção para a televisão, vou só
esquecer esse assunto, é o melhor que posso fazer.
Mas, talvez não possa fazer parecer que eu estou abalada com esse
noivado, e sendo bem sincera, já esqueci aqueles dois há muito tempo. Eu
posso ir sozinha, nunca precisei de homem para nada, muito menos para
mostrar que estou bem. Vou lá só para mostrar que estou excelente.
Desligo a televisão e vou para o meu quarto e escolho um vestido
azul-celeste longo, delicado, com alças longas de renda e semiabertos, a
parte superior fica bem ajustada, o tecido é fluido, sinto como se estivesse
em uma roupa de fadas, mas ele ainda é elegante.
Vou ao banheiro tomar banho e me preparar. Mas eu irei para esse
noivado porque eu quero ir.
Suspiro me olhando no espelho, estou bonita, vestida adequadamente
para um noivado, e principalmente confusa.
O que eu estou fazendo da minha vida?
Sei que já estou atrasada, e definitivamente não me importo, mas
realmente achei que a minha mãe viria. Ninguém apareceu para me buscar,
o Luke não veio, minha mãe me ameaçou e não veio. Acho que tô
começando a me sentir rejeitada. Suspiro sentindo um certo aperto no peito.
Queria ele aqui…
Saio do quarto em passos lentos e começo a descer as escadas. Então,
quando olho ao final do degrau e sinto meu coração batendo forte, um
sorriso involuntário tomando conta dos meus lábios, e uma pequena chama
se acendendo dentro de mim.
Luke está aqui. Ele veio.
Ele me olha, e eu consigo ver o brilho dos seus olhos de esmeralda.
Ele está vestindo um terno, e eu ainda não tinha o visto tão formal, e ele
ficou ainda mais bonito assim. Seus braços fortes se destacam na roupa,
seus ombros largos o deixam com um ar imponente. Ele parece uma força
poderosa da natureza me atraindo para perto. E eu quero ser levada para
perto.
Quando chego no último degrau, sinto sua mão tocando suavemente
meu rosto em um carinho leve. Até esqueço por um momento que eu estava
brava com ele. Acho que são seus olhos me hipnotizando.
— Você está linda — Ele sussurra — Parece um anjo.
Sua voz rouca me atinge em cheio e meu corpo inteiro se arrepia.
Droga! Eu queria tanto beijá-lo agora, abraçá-lo como se a minha vida
dependesse disso. Inspiro e expiro, antes que eu me esqueça que preciso
respirar, mas não me importaria de perder o fôlego se fosse com ele.
Seu rosto se aproxima do meu e eu sinto meu coração acelerando, sua
respiração quente atinge o meu rosto, meu corpo queima em expectativa,
mas seus lábios atingem a minha testa e sinto uma inundação de frustração
me atingindo, não era isso que eu queria.
— Estamos atrasados — Ele lembra, e segura a minha mão —
Vamos?
— Achei que você não viria — Sussurro, ainda sem sair do lugar.
— Eu disse que estaria com você — Ele responde calmamente —
Não te deixaria sozinha agora.
— Pode me abraçar um pouco antes de irmos? — Pergunto com a
voz baixa, mas sem tirar os olhos dele.
Luke não me responde, apenas me envolve nos seus braços. Eu me
sinto segura quando ele me envolve em seus braços assim. Tem muitas
coisas que eu quero que ele me explique, admito que até estou com vontade
de brigar um pouco, mas agora, só quero sentir seu calor se misturar com o
meu.
Depois eu penso sobre todas as outras coisas.
Luke me guia até um carro luxuoso, não era o mesmo que ele havia
usado para me trazer em casa, onde será que ele arruma esses carros? Vi um
filme de um homem que ficava usando carros roubados, será que é esse
caso?
Olho para ele e não contenho o suspiro. Como ele consegue ficar
ainda mais gostoso enquanto dirige?
— Apreciando a vista? — Ele provoca e eu rio.
— Estava pensando se esse carro é roubado — Suspiro
exageradamente, reflexiva — Se a polícia nos parar, vou presa junto?
Ele ri alto, eu reviro os olhos. Como ele pode não levar a sério o meu
questionamento? É uma dúvida completamente válida. Porém, admito que
ouvir a risada dele me fez sorrir um pouco.
Estou tão ferrada.
— Esse carro não é roubado, e não existe motivo para a polícia nos
prender — Ele tenta me tranquilizar, mas percebo a diversão em sua voz.
— Sei que você é um criminoso com uma vida perigosa, isso me abre
um leque enorme de coisas para cogitar — pondero — E como você não me
dá nenhuma resposta sobre nada, sou obrigada a inventar.
— Isso não faz muito sentido — Ele ri e me olha rapidamente, já que
está dirigindo — Não deveria estar inventando teorias, o que você sabe não
é o suficiente?
— Eu não sei nada sobre você — Retruco, mas a minha voz sai mais
baixa do que gostaria, quase abalada. Mas me causa uma chateação enorme
não saber.
Ele fica em silêncio e eu volto meus olhos para a rua. Patrícia
escolheu uma casa um pouco mais afastada, com vista para o mar, por causa
das fotos. Só espero que não me irrite ao ponto de querer jogá-la dentro da
água. Aposto que sentirei vontade de fazer isso.
Olho de canto para o Luke, e respiro fundo impaciente, tudo isso está
me deixando louca, esse aperto no meu peito me deixa atordoada.
— Pode me fazer perguntas, o que eu não puder responder, vou pular
— ele diz quebrando o silêncio e me surpreendendo — Até chegarmos lá.
— Mas estamos chegando — Resmungo e ele dá de ombros. — Isso
não é justo.
— É, acho melhor perguntar logo — Ele dá um sorriso pequeno e eu
bufo.
— Ok, por que você chegou todo machucado na minha casa? —
Pergunto a primeira coisa que vem à minha mente.
— Tentaram me matar, eu estava ferido e precisava não ser
localizado, precisava de um tempo para ficar bem, e me reestabelecer,
qualquer lugar que eu precisasse apresentar documentos colocaria um alerta
sobre mim — Ele explica e eu assinto, absorvendo a informação.
— Você continua sendo procurado? É pela polícia?
— Próxima — Ele pula a pergunta e eu reviro os olhos.
— Que tipo de crimes você comete? — Pergunto e ele ri — Eu já sei
que você é um criminoso, Luke, é a única coisa que faz sentido.
— E você não se importa de estar no carro de um criminoso? — Ele
pergunta em um tom divertido.
— Sou eu quem faz as perguntas, não tenta me enrolar — Semicerro
os olhos — Não me respondeu.
— Nós chegamos — Ele diz estacionando o carro.
— Luke!! — Exclamo chateada, odeio ficar nesse breu de
informações.
Acho que seria justo eu ter informações sobre a vida dele, mas mais
do que isso, queria que ele permitisse que eu o conhecesse de verdade. Só
que ele insiste nessa barreira, ao mesmo tempo que me sinto próxima, me
sinto tão distante.
— Depois a gente continua, tudo bem? — Ele diz soltando o cinto, e
me olhando nos olhos.
— Depois… — repito indignada — Aposto que vai me enrolar para
eu esquecer, saiba que eu não vou.
— Tenho certeza que não — Ele diz como se estivesse se divertindo
— Espere um pouco.
Fico confusa com o pedido e o vejo sair do carro, acompanho-o
dando a volta no veículo com os olhos, e não consigo evitar sorrir quando
ele abre a porta para mim. Luke segura a minha mão e toma cuidado para
que eu não tropece ou bata a cabeça saindo do carro.
Coração, não se derreta, ele nem responde nossas dúvidas.
— Ah, esqueci de comentar, vi sua mãe. — Ele comenta segurando a
minha mão.
— Quando? — Pergunto confusa.
— Assim que eu cheguei, ela estava indo te buscar porque,
aparentemente, eu estava viajando a trabalho e você não queria ir sozinha
— Ele explica e eu aperto os lábios formando uma linha — Eu confirmei,
mas disse que consegui adiantar o serviço para não deixar minha namorada
sozinha.
— Ainda bem — Respondo e sinto meu rosto esquentando — Seria
muito ruim ser pega na mentira.
O evento foi organizado do lado de fora da casa alugada. O jardim
estava decorado com flores brancas, várias mesas estavam organizadas para
o jantar, e a mesa principal ficava centralizada e era a única retangular.
Também havia algumas mesas afastadas com doces e salgados pequenos, e
um bar.
Até gostaria de começar a beber agora, mas conheço a minha
resistência a álcool e eu não quero passar vergonha aqui.
A pior parte de chegar atrasada em algum lugar é como todo mundo
nota, mas o que estou passando é surreal. Todos os olhares voltaram-se para
mim, Luke aperta a minha mão me dando um pouco de apoio. Eu pude até
ver de canto de olho a prima da minha mãe cutucando a filha e apontando
para mim, acho que nesse momento estou a própria definição de “centro das
atenções”.
— Eles não são muito discretos — Luke comenta baixo em um tom
divertido.
— Não deveríamos ter atrasado, é culpa sua — Acuso e ele ri baixo.
— É culpa sua que é a mulher mais linda desse lugar, mesmo se
tivéssemos chegado na hora, você ainda chamaria toda a atenção para si,
porque é impossível tirar os olhos de você — Ele diz firme e meu coração
acelera.
O jeito que o Luke sempre parece saber o que dizer me deixa fraca.
Respiro fundo, ignorando o rubor que deve estar surgindo no meu rosto.
Vejo minha mãe vindo em minha direção com um sorriso pequeno,
deixando Patrícia e Dylan para trás. Sendo acompanhada por Grace, a mãe
da Patrícia.
— Vai começar o caos — Sussurro para o Luke que me olha confuso,
mas não tem a chance de responder, já que elas chegam até nós.
Minha mãe me abraça com carinho e beija minha testa e eu sorrio
para ela, me deixando ser envolvida por seu afeto, já Grace não me olha
com uma expressão muito boa, mesmo assim a cumprimento com
educação, hoje é dia de ser paciente e calma. Pelo menos até onde der.
— Você está linda, meu amor — Minha mãe diz gentil e olha para o
Luke — Você está lindo também, estão um casal estonteante.
— Só esqueceram que o centro da festa não são vocês — Grace
reclama.
— Foi minha culpa o atraso, peço desculpas por isso — Luke diz
educadamente, mas tem um mínimo sorriso.
— Chegaram atrasados, e eu não vi sequer um presente para os
noivos — Ela resmunga.
Preciso contar até cinco mentalmente para não rir desse absurdo,
como se eu fosse gastar meu dinheiro para dar presente para esses dois.
— Meu presente para a Patrícia foi o noivo, tia — Respondo com um
sorriso doce.
— Não comecem, vamos apenas festejar — Abigail corta o assunto
— Precisamos ir conferir as mesas, o buffet, não queremos que nada dê
errado hoje.
— Exatamente, minha filha está noivando e esse é um momento
importante para ela — Grace diz com um ar arrogante, e eu deixo escapar
uma risada soprada. — Não adianta ficar com esse olhar de superioridade,
Sarah, você só prova que não superou nada, se arrumou mais do que a
própria noiva, chega chamando atenção, é uma atitude infantil.
— Tia, eu não vou discutir com a senhora, mas não sou quem estou
dizendo que estou mais bonita que sua filha, é a senhora que acha isso e
está reafirmando — Digo baixo, sem muita gentileza — Dá próxima vez
que sua filha for fazer um noivado, lembra ela que precisa se arrumar, e não
sair de casa como se estivesse indo comprar uma pizza na esquina.
— Sarah…
— Chega, vamos, Grace — Minha mãe interrompe e sai puxando a
outra pelo pulso, impedindo que surja uma discussão.
Reviro os olhos vendo as duas afastarem-se. Sabia que vir a esse
evento não seria tranquilo, mas não esperava que o primeiro ataque
chegasse tão rápido. Grace também não gosta muito de mim, talvez seja por
isso que a Patrícia não gosta, mas de qualquer forma, não me importo.
A minha presença aqui nunca foi uma boa ideia. Tenho certeza que a
intenção da Patrícia ao me convidar, e insistir tanto, para que eu viesse é
que ela esperava que isso me humilhasse de alguma forma, mas agora,
vendo-a me olhando de longe, tenho certeza que já se arrependeu dessa
decisão. Sei que a minha mãe tinha boa intenção quando insistiu para que
eu viesse, ela tem esperança de que a família seja unida.
Mas algumas famílias não são, e tudo bem.
Para mim, é o suficiente ter o amor dela e do meu pai, e da vó Diana,
mesmo que nos vejamos pouco, só tenho boas lembranças. E espero que ela
esteja aqui hoje, pelo menos para vê-la, terá valido a pena ter vindo aqui.
Diana é mãe do meu pai, seu nome é inglês por ter nascido lá, na Inglaterra,
e quando nosso avô morreu, ela decidiu que voltaria para seu país de
origem porque queria ser enterrada na mesma cidade que veio ao mundo,
Londres.
— Acho que eu preciso de uma bebida — Digo, olhando para o bar.
— Posso buscar para você — Luke oferece, já começando a se afastar
de mim, mas eu o seguro. — Não quer?
— Agora não, até preciso, mas sei que se eu começar a beber agora,
não vou durar uma hora — Suspiro chateada, será difícil manter a calma.
— Terei que concordar — Ela responde rindo.
Eu abraço o Luke, que imediatamente me envolve nos seus braços,
por um segundo esqueço onde estou e quase posso sentir paz. Quase.
— Vocês vieram — Escuto a voz da Patrícia e nos viramos, vendo-a
se aproximar com um sorriso falso no rosto — Achei que tinha desistido.
— Como eu ia deixar de prestigiar esse amor tão puro e sincero,
nascido em tanto respeito — Respondo com falsidade — Temos que
celebrar.
— Tia Abigail disse que você viria sozinha — Ela desdenha e o Luke
envolve minha cintura.
— Até apostamos se você já tinha sido abandonada — Dylan destila,
e eu reviro os olhos, como eu pude namorar uma pessoa tão patética quanto
o Dylan? — Sei como é difícil conviver com você.
— Conviver com a Sarah é uma das melhores coisas que existem, ela
é engraçada, gentil, com um humor maravilhoso. Sou sortudo de poder estar
ao lado dela — Luke responde, e eu sorrio feliz, uma vozinha dentro da
minha cabeça tenta sussurrar que ele está dizendo essas coisas pelo teatro,
mas eu a ignoro. Ele não é assim — Eu só deixaria a Sarah se ela pedisse
isso, e ainda assim tentaria a reconquistar de novo. Ela é única e
incomparável.
— A Sarah engraçada e humor maravilhoso? — Dylan questiona
debochado, e eu reviro os olhos. Mas não posso deixar de concordar que
não sou conhecida pelo meu bom humor — todos conhecemos ela.
— Talvez não a conheçam de verdade — Ele rebate.
— E Dylan, você não sabe como é conviver comigo, porque eu
arrumava qualquer desculpa para ficar bem longe, nem precisava de todas
aquelas horas extras ou matérias extras — Desdenho, mantendo o tom falso
amistoso — Mas não estamos aqui para falar do que não existe, e sim desse
amor lindo de vocês.
— Exatamente, eu sou foco dessa festa — Patrícia bufa irritada —
No noivado da Sarah, falamos dela.
— Não, porque apesar do adorável convite, vocês não estarão na
nossa festa — Luke avisa com desprezo, e é maravilhosa a expressão de
indignação dos dois.
— Ao invés de estarem aqui, me enchendo o saco, deveriam ir falar
com quem realmente gosta de falar com vocês — Digo com um sorriso de
deboche — Se é que existe alguém que goste.
Patrícia bufa, ficando vermelha de raiva e eu rio na cara dela. Ela é
tão patética.
Talvez eu não esteja sendo uma pessoa sensata, mas deveria? Não
importa se a nossa relação nunca foi muito boa, ela, como minha prima, não
deveria ter ido para a cama com o meu namorado. Esses dois se merecem
mesmo.
— Seu pai está nos chamando — Luke diz baixo, indicando o meu
pai que está com o irmão, pai da Patrícia, e o sócio, pai do Dylan.
— Correção, ele está te chamando — Nego no mesmo instante — Vai
lá, e faça isso por mim.
— Como assim? — Ele pergunta confuso, mas, ao mesmo tempo,
divertido.
— Se você acha que eu vou me juntar àqueles três para conversar
sobre qualquer coisa, está muito enganado — Ele arqueia a sobrancelha me
encarando — Amo meu pai, mas não vou participar de qualquer que seja o
diálogo.
— E eu tenho que ir?
— Claro, você é o genro — Sorrio — Boa sorte.
— Isso não é justo, Sarah — Ele reclama e eu rio.
— Não disse que era — Dou de ombros, começando a me afastar.
Tenho certeza que Luke irá se sair bem, eles sempre querem falar
sobre trabalho, empresas, bolsa de valores. São assuntos que eu conseguiria
me manter em uma conversa? Provavelmente, mas a questão é que eu não
quero. Também não quero ter que lidar com o machismo que estará nas
entrelinhas, e talvez, nem tão nas entrelinhas assim. O quanto eu puder me
poupar, me pouparei.
Peço uma taça de champanhe no bar e agradeço, mas quando me viro,
me deparo com a Camille me olhando irritada, mas sequer lembro a última
vez que falei com ela. Camille é a melhor amiga da Patrícia, me
impressiona que ela consiga ter uma amiga, tenho certeza que se ela está
aqui não é para uma conversa amigável. Será que eu conseguirei conversar
adequadamente com alguma pessoa aqui?
— O que você quer? — Pergunto completamente entediada, me
afastando do bar, para não atrapalhar o caminho de quem quisesse chegar
lá.
— Você não tem um pingo de noção — Ela acusa e eu respiro fundo.
Paciência, Sarah, paciência.
— Do que você está falando, Camille? — bebo um gole da minha
bebida.
— Você ter vindo até aqui, ninguém quer a ex do noivo no noivado
— Ela diz como se fosse óbvio e eu rio. Apesar do tom baixo, dá para sentir
a indignação na voz.
— Se ela não me quisesse aqui, não tinha me convidado, e devo
destacar que convidou várias vezes — Reviro os olhos — Ela achava que ia
me rebaixar, me humilhar — Mudo o meu tom de voz, para imitar
debochadamente, a voz da Patrícia — “tadinha da priminha que foi corna
agora tem que assistir o noivado do ex com a melhor prima da família,
sozinha e esquecida”
— Isso é ridículo — Ela bufa.
— Completamente ridículo — Patrícia completa, parando junto a nós.
Tenho certeza que qualquer pessoa nos observando poderia acreditar
que estamos tendo uma conversa agradável, mas a minha vontade é de jogar
bebida na cara da Patrícia e pisar no pé da Camille. Às vezes, eu não sou
muito madura.
— Não tente mentir para mim, Patrícia, você nunca gostou de mim,
não sei porque insistiu nisso aqui — Acuso e ela semicerra os olhos para
mim.
— Eu estava tentando manter uma boa relação — Ela se defende.
— Por favor, Patrícia, não força — Reviro os olhos — Você fodeu
com o meu namorado, na cama que eu dormia com ele, e sabe-se lá quanto
tempo você fez isso, mas sinceramente, ainda bem que você pegou esse lixo
para você.
— Está desdenhando, mas sei que você chorou por muito tempo —
Ela diz sorrindo.
— Minha dor que te causa felicidade? — Rio — Deixa eu te contar
uma coisa, chorei mesmo porque uma traição dói muito, mas não se
preocupa, porque sua vez vai chegar.
— Como você é baixa! — Camille exclama indignada — jogando
praga no dia do noivado dela.
— Isso é inveja! — Patrícia fala, com certa irritação.
— Não estou jogando nada em ninguém, mas pensem comigo —
Faço uma pausa na esperança que consigam acompanhar minha linha de
raciocínio — Eu era a namorada, e fui traída. A amante virou noiva. Isso
significa que uma vaga na vida dele está em aberto.
— Ele nunca me trairia — Patrícia nega, mas não tem firmeza na voz,
mas o que me surpreende mesmo é o olhar um pouco mais arregalado e o
fato da respiração da Camille ter falhado por um momento. Acho que essa
vaga já está ocupada.
— Eu também acreditava nisso — Dou de ombros.
— Ela é uma maluca amargurada. Sarah só quer te ver abalada e
destruída, veio até mais bonita que você para te provocar de propósito —
Ela consola a Patrícia, mas não sei bem se isso é um consolo — Ele te ama,
está nítido para todo mundo ver.
— Você tem razão, ele me ama — Patrícia repete e a Camille suspira
quase aliviada.
— Eu cansei de vocês — Desdenho, e me afasto as deixando para
trás. Elas se merecem, e é até um pouco divertido saber que a Patrícia
pagará o que me fez com juros. Esses dois nunca vão conseguir ser felizes.
Há alguns minutos estava me perguntando como a Patrícia ainda
tinha amigas, a verdade é que ela não tem, são apenas um ninho de cobras
em que uma está engolindo a outra. Definitivamente, preciso me manter
longe para a minha segurança e saúde mental.
Vejo que o Luke ainda está com os três, mas com o adicional de que o
Dylan também está lá. Mesmo sem muita animação, caminho em direção ao
pequeno grupo de homens, ficar com o Luke é melhor do que ficar sozinha
ou com qualquer outra pessoa nessa festa, ainda não vi a Ellen, mas depois
eu a procuro.
Luke envolve minha cintura no exato segundo que paro ao seu lado, e
eu sorrio para ele. Ele se inclina, beijando o meu cabelo com carinho. Ele
parece um pouco entediado do assunto, mas nem posso o julgar, ainda não
entendi sobre o que estão falando e já estou entediada também.
— É bom que o filho do senador esteja aqui, isso traz status para a
família — Gavin comenta.
— Quem é o filho do senador? — Pergunto confusa.
— O namorado da Camille — Meu pai responde — Ela foi esperta.
— Namorado? — Escuto o Luke sussurrar em um tom divertido, mas
não entendo o porquê.
— Não sabia que ela tinha um namorado — Comento confusa, será
que errei ao pensar sobre ela e o Dylan? Ou será que ela está traindo
também?
— Ela escolheu bem antes de se envolver com alguém, muito esperta
— James diz e eu reviro os olhos, até parece que esse tipo de coisa importa
mesmo.
Luke me puxa para mais perto dele, me afastando um pouco deles. É
até bom um pouco de espaço, preciso respirar um pouco antes de continuar
aguentando todos esses assuntos. Estou desgastada.
— Você está bem? — Luke pergunta preocupado.
— Acho que preciso de outra bebida — Respondo e ele assente,
começando a me guiar para irmos juntos pegar algo para beber.
— Você parece pensativa — Ele comenta.
— Eu conversei com a Camille e a Patrícia, e tenho a suspeita de que
ela está tendo algo com o Dylan, mas agora sabendo que ela tem um
namorado, fiquei mais na dúvida — Explico — Se eu tivesse tempo, faria
uma mini investigação.
— E faria o que com a informação que conseguisse? — Ele questiona
interessado, e eu o espero pegar duas taças na bandeja do garçom para
continuar falando.
— Eu teria dado um jeito de colocar no telão dos noivos, bem na hora
do discurso — Digo com um sorrisinho maldoso — Não é nada nobre, mas
eu me sentiria vingada.
— Por causa da traição?
— Também, mas por me fazerem engolir esses dois como se o que
tivesse acontecido não fosse nada, e a dor que eu senti irrelevante. Já não
sinto nada, mas não significa que eu goste de toda essa convivência —
Esclareço e suspiro — é cansativo.
— Quando esse noivado acabar, não volte a conviver com eles,
mantenha só quem você realmente gostar por perto — Luke diz sério —
não se fira por causa de outras pessoas, independente de quem elas são.
Ninguém além de você sente a dor quando seu coração sangra.
— Luke…
— Estou falando sério — Ele faz carinho no meu rosto — Você é
preciosa demais para se deixar quebrar de alguma forma, pense nos seus
sentimentos, porque eles estão pensando apenas neles mesmos.
— Vou fazer tudo que puder para me cuidar — Garanto e ele beija a
minha testa.
— Isso me deixa orgulhoso — Ele sussurra e eu sinto meu coração
errar uma batida.
Recebo uma mensagem da Ellen avisando que foi buscar uma pessoa,
mas logo voltaria e que eu veria esperar até que ela estivesse aqui. Luke
pediu um minuto para fazer uma ligação. Ele retorna com um sorriso
divertido no rosto, cara de quem estava aprontando algo.
— Quer voltar para perto do seu pai? — Luke pergunta ao se
aproximar.
— Querer não é exatamente o sentimento, mas acho que podemos ir
até lá — Dou de ombros.
Quando estamos nos aproximando, noto a minha mãe abraçando a
Camille e reviro os olhos, talvez eu seja um pouco ciumenta. Por que essa
garota está sendo parabenizada?
— Seria lindo se ele já te pedisse em noivado — Grace diz com uma
voz sonhadora.
— Mãe, esse é o meu noivado — Patrícia reclama.
— Mas Camille está namorando o filho do senador, seria bom para
ela — Abigail contesta a sobrinha.
— Engraçado que tô vendo vocês falando desse cara e até agora não
o vi — Eu comento e a Camille revira os olhos para mim.
— Não precisa ficar com inveja só porque estou melhor que você —
Camille debocha.
— Até parece que eu teria inveja logo de você, e eu estou muito bem
acompanhada — Passo meu braço ao redor do Luke — Não existe homem
que seja melhor em todos os quesitos, Luke é único.
— Sarah! — Meu pai me repreende e eu dou de ombros.
De repente um rapaz alto, cabelos escuros e olhos castanhos
esverdeados surge, colocando o braço ao redor dos ombros da Camille, esse
deve ser o namorado, visto que ela sorri com certa arrogância. Até parece
que ele é algum troféu.
— Me desculpem, tive que atender a ligação — Ele se desculpa e seu
sorriso se abre ao olhar na direção do Luke — Maninho, não imaginei que
te encontraria aqui.
— Ethan…
— Ah, essa deve ser sua mulher, Edgar falou dela — ele interrompe o
Luke, e ri, vindo na nossa direção — Como você está, Luke, eu soube…
— Ethan! — Luke exclama, interrompendo o que o Ethan ia dizer, o
que será que ele soube?
E mais, eles são irmãos?
— De qualquer forma, você é a Sarah, certo? — Ethan pergunta,
parando na minha frente.
— Sou eu, sim — Respondo, acenando positivamente junto.
— Tô feliz de conhecer a minha cunhada — Ele me dá um abraço
rápido. Ser espaçoso é de família?
— É um prazer te conhecer também — Respondo um pouco
atordoada e o Luke o puxa, afastando Ethan de mim.
— Chega — Luke resmunga.
Ethan parece mais novo, na faixa dos vinte e cinco anos, ou menos.
Olhando bem, ele até lembra o Luke e o Edgar um pouco. Me sinto um
pouco atônita, definitivamente não estava preparada para conhecer ninguém
da família do Luke, acho que ele nem queria isso.
— Estou um pouco confusa, você e ele — Camille indica o Luke com
desdém, mas eu não sou a única percebo, já que o sorriso do Ethan diminui
— São irmãos?
— Somos, ele é um dos meus irmãos mais velhos — Ethan responde
tranquilo e o Luke bufa.
— Mas o Luke disse que o sobrenome dele era outro, Turner — Meu
pai diz desconfiado e o Ethan ri.
— Ele sempre faz isso, mas esse é o nome da mãe dele — Ethan
explica tranquilo, ficando ao lado do Luke e com a mão em seu ombro.
— Ethan, fecha a boca — Luke diz sério e ele dá de ombros,
tranquilo.
Eu tô quase tendo uma síncope aqui, e sequer posso falar alguma
coisa, enquanto os dois estão tranquilos. Quero dizer, Luke parece um
pouco bravo. Quero explicações mais claras, quero detalhes, quero entender
tudo isso, mas terei que esperar para conseguir conversar adequadamente
com o Luke.
— Como você namora com o filho do senador e não diz nada? —
Abigail pergunta me encarando, e eu suspiro.
— Isso não é importante, para mim, o que vale é a forma que o Luke
me trata, o amor que ele tem por mim, não de quem ele é filho —
Respondo, mesmo que seja verdade, eu teria gostado de saber por ele, mas
eu só conheço a sua família por acaso.
— Poderia ter dito antes, no jantar, assim não estaríamos surpresos
agora — Gavin resmunga.
— O foco agora não é a Sarah, por que o assunto sempre volta para
ela? — Patrícia reclama — Esse é o meu noivado!
— Relevância — Dou de ombros e sorrio ao ver ela ficando
vermelha.
— Diana chegou! — Minha mãe exclama, impedindo a Patrícia de
dizer qualquer coisa.
Camille aproveita o momento e se afasta puxando o Ethan com ela, e
ele só sai depois de se despedir do Luke pedindo para ele ligar depois. Luke
fecha os olhos por um segundo respirando fundo, enquanto isso o pai do
Dylan também se afasta, indo direto para a mesa da família dos noivos.
— Mamãe! — Meu pai cumprimenta a minha avó, e eu sorrio
observando.
— Aaah como é bom estar em família — Ela diz sorrindo — Estão
todos ainda mais bonitos — Ela nota o Luke e arqueia as sobrancelhas,
completamente indiscreta — Você bonitão, quem é?
— Prazer em conhecê-la, sou Luke Turner, namorado da Sarah —
Luke responde educadamente.
— Ele é filho do senador — Meu pai comenta e eu reviro os olhos.
— Formado em química pela Harvard — Dessa vez é a minha mãe
quem diz.
— Finalmente você escolheu um homem, Sarinha, melhor que aquele
outro — Minha avó diz e eu rio ao escutar a Patrícia bufar.
— Vó! Dylan é meu noivo — Patrícia reclama, enquanto abraça o
Dylan — Hoje é nosso noivado, estou feliz que a senhora tenha conseguido
vir.
— Mas é seu noivado e você não se arrumou direito? Olha como a
Sarah está linda parecendo uma fada, e você uma secretária — Diana diz e
olha para o Dylan de cima embaixo — Eu já não gostava dele antes, não
gosto agora, mas torço para ser feliz, porque vai precisar de sorte.
— Incrível como todo mundo fica contra mim, até no meu dia! Eu
estou linda, vó, linda! — Ela fala com voz de choro e se afasta com pressa.
— Se não iam respeitar a noiva, não deveria ter vindo — Grace diz
séria indo atrás da filha. E o Dylan acompanha a sogra em silêncio.
Talvez esse noivado tenha ficado ainda mais caótico do que eu tinha
imaginado que seria, mas até que algumas coisas foram mais engraçadas do
que o esperado, e mais surpreendentes também. E a noite ainda nem
acabou.
A minha avó adorou o Luke, e ele foi muito paciente com ela, mesmo
ela sendo muito desbocada para uma senhora de setenta e cinco anos. Ou
talvez seja a idade que a tenha deixado assim. De qualquer forma, foi fofo
vê-lo conversando com ela.
Tive que deixá-los sozinhos para vir ao banheiro. Lavo as mãos e
retoco o meu batom, olhando o meu reflexo no espelho, estou realmente
bonita, pelo menos me sinto assim.
Guardo o batom e me confiro mais uma vez antes de sair. Dou três
passos no corredor que vai para o lado lateral da casa, antes de chegarmos
no espaço da festa, e me deparo com o Dylan me esperando. Tento desvair
dele, mas o idiota insiste em se manter a minha frente.
— Você está me atrapalhando, sai do meu caminho — Peço irritada,
mas ele não se move.
— Sarah, para de fazer charme, sei que a razão pela qual você veio
arrumada assim é que você me quer — Ela diz com a voz leve, ele está
tentando o quê? Me seduzir? Nojento…
— Não seja ridículo — Desdenho.
— Eu sempre preferi você, não era para você ter chegado mais cedo
aquele dia, Patrícia poderia ter continuado como amante — Ele diz sério e
eu fico chocada com a canalhice dele — Mas você poderia aproveitar que
está aqui, e me dar um presente, a gente escapa para um dos quartos…
— Você nunca mais vai encostar em mim, eu tenho nojo de você, sai
da minha frente! — Exclamo enojada e com raiva.
— Seja franca, Sarah, você ainda fica toda se doendo por causa de
mim — Ele diz com arrogância e eu rio.
— Você é um nojento, foi um livramento essa traição, e você quer
sinceridade? Ok — Arqueio a sobrancelha com um sorriso debochado —
Luke é muito melhor que você em tudo, muito mais bonito, legal,
simpático, inteligente, ele, sim, sabe me fazer gozar, coisa que você nunca
fez, e ainda nesse tópico, ele também tem o pau maior que seu miudinho.
Então, melhor parar com esse showzinho e sair da minha frente.
Fui completamente sincera? Não, afinal, sequer beijei o Luke, mas eu
não ia deixar a chance passar.
— Vou te mostrar o que meu pau pode fazer — Ele fala com raiva,
vindo para cima de mim e eu arregalo os olhos, assustada.
Antes que ele chegue até mim, ele é interceptado. Luke segura no
pescoço do Dylan pela nuca, e pela careta que ele faz, Luke não está sendo
nada delicado. Luke o joga contra a parede e para na minha frente,
encarando o Dylan, suas mãos estão fechadas em punho e ele parece muito
irritado.
— Isso aqui não é um “showzinho”, é assédio — Luke diz baixo,
com raiva — Vou te mostrar como eu lido com isso.
— Você não pode fazer nada comigo, eu sou o noivo e esse é meu
noivado — Dylan responde tentando se afastar.
— Você cometeu o erro de tentar encostar na minha mulher, e eu
odeio que mexam no que é meu — Luke diz firme, ameaçador.
Luke se aproxima do Dylan e soca seu estômago, Dylan até tenta
lutar contra, mas não tem habilidade e nem força para isso. Nem tempo. Já
que o Luke repete uma sequência de socos e o larga, deixando o Dylan cair
no chão como o saco de bosta que ele é.
Luke é mais alto que o Dylan, e tem muito mais músculos, mas ainda
assim não sinto nem um pingo de dó dele. Se o Luke não tivesse aparecido,
o que ele pretendia fazer? Abusar de mim? Quero mais é que ele se foda
mesmo.
— Se você ousar se aproximar da Sarah novamente, o que eu fiz hoje
será carinho, comparado ao que eu vou fazer com você, entendeu? — Luke
se abaixa, dando alguns tapas na cara do Dylan, que tenta se arrastar para
longe.
— Eu vou te denunciar para a polícia — Dylan ameaça gemendo de
dor.
— Você vai ficar quietinho, não vai querer me encarar — Luke se
levanta, olhando para o Dylan com desprezo.
— Isso não vai ficar assim!
— E você vai fazer o quê? — Pergunto me aproximando do Luke —
Se abrir queixa contra o Luke, vou testemunhar deixando bem claro que ele
estava apenas me defendendo do seu assédio.
— Como se isso fosse ao menos chegar a um tribunal — Luke
desdenha, e segura a minha mão — Vem.
Desviamos do Dylan que ainda fica no chão, resmungando algumas
coisas que eu não compreendo, mas também não faço questão de entender.
Olho para o Luke nos guiando de volta para a festa, mas a verdade é que a
minha mente está um pouco confusa.
— Você está bem? — Ele questiona e eu suspiro, negando. — Eu não
queria te assustar, mas você é minha, e eu vou te proteger sempre que
necessário.
— Luke, eu sou sua? — Pergunto um pouco atônita.
— Sim — Ele acaricia meu rosto e me envolve em um abraço, e eu
encosto meu rosto em seu peito.
Respiro fundo tentando me acalmar. Luke sempre faz meu coração
bater mais forte. E sempre me deixa confusa, eu quero ser dele, mas ele
também é meu?
— A Ellen está acenando para nós, vamos até lá — Luke diz, me
tirando do meu pequeno momento de distração.
— Acho que deveríamos ir embora — Suspiro, já estou cansada de
toda essa festa.
— Vamos falar com a sua amiga primeiro, e eu tenho uma surpresa
para você depois — Ele fala, sorrindo como quem está escondendo alguma
coisa.
— Que surpresa? — Pergunto desconfiada e ele dá de ombros.
— Se eu contar, perde a graça — Ele sorri de lado, segurando minha
mão e entrelaçando nossos dedos.
Ele começa a me guiar em direção a Ellen, minha amiga está próxima
a uma mesa de convidados, tomara que eu tenha ficado na mesma mesa que
ela. Enquanto caminhamos, olho para a minha mão junto da mão do Luke e
sorrio, meus sentimentos estão confusos, mas não muda o fato de que gosto
muito de estar com ele.
E eu ainda preciso me esforçar para ignorar a voz no fundo da minha
mente dizendo que tudo é sobre o teatro, e ele apenas um invasor.
Mas e quando dançamos juntos? Luke acabou de dizer que eu era
dele. Não vou me confundir.
Luke coloca a sua mão na minha cintura, e eu me pergunto como
seria se ele estivesse apertando, mas sem nenhuma roupa no caminho para
que eu pudesse sentir seu calor direto em minha pele.
Ignoro todos os pensamentos pecaminosos que começam a ocupar a
minha mente, não é hora e nem lugar para deixar a minha mente se perder
assim.
— Achei que você não viria — Ellen comenta assim que nos
aproximamos — Quero dizer, que vocês não viriam, mas ainda bem que
estão aqui.
— Não vamos ficar muito tempo — Respondo e olho para a mesa —
Estamos na mesma mesa ou é livre?
— Estamos na mesma mesa, e é essa — Ela indica e olha para o Luke
— Você está melhor? Fiquei preocupada quando a Sarah disse que estava
doente, ainda mais porque sofreu um acidente recente.
— Eu estou bem, Sarah cuidou bem de mim — Luke mente sem
perder a pose por nenhum segundo.
Um excelente mentiroso. Isso me faz pensar em tantas coisas.
— Acho que já podemos nos sentar, né? — Pergunto cansada, não
quero ficar fazendo cena.
— Você pode qualquer coisa — Luke sorri para mim, enquanto puxa
a cadeira para que eu me sente.
— Espera — A Ellen pede e eu a olho confusa — Quero te apresentar
uma pessoa, eu ia falar sobre ela no dia que você recebeu aquelas flores,
mas sei que vocês tiveram outras prioridades.
— Ellen! — Exclamo repreensiva e ela ri maliciosa.
— Não se faça de puritana, que eu sei que você não é — Ela acusa e
eu reviro os olhos. Será que é errado cometer um crime contra a própria
melhor amiga?
— Quem você vai nos apresentar? — Pergunto mudando de assunto.
— Ela está chegando — Ellen diz um pouco nervosa — Quero dizer,
ela já está aqui, mas foi atender uma ligação — Ela respira fundo — Estou
me sentindo tensa.
— Amiga, está tudo bem, de verdade — A conforto, tentando
compreender.
— Ela está vindo — Ellen olha em direção a uma mulher,
definitivamente não a conheço, está usando um vestido marrom, seu cabelo
preto está preso em um coque elegante, tem uma maquiagem leve e os
olhos são estreitos — Sarah, Luke, essa é a JiHye, minha namorada.
— É um prazer conhecê-la, Ellen fala muito bem de você — Ela me
cumprimenta simpática, percebo um pouco de sotaque em sua voz, mas não
sei de onde ela veio. Sorrio de volta, espero estar escondendo bem a
surpresa.
— É um prazer conhecê-la também — Respondo educada, mas sorrio
ao ver a Ellen olhando-a encantada.
— Seu nome é diferente, de onde você é? — Luke pergunta
estendendo a conversa.
— Sou coreana — Ela responde e isso explica o sotaque — Vim para
trabalhar e acabei conhecendo a Ellen por trabalhar para um cliente dela.
— O destino é uma loucura — Comento sorrindo.
— Eu acho que são os deuses cuidando de nós, e nos levando em
direção a nossa alma gêmea — Ela responde, mas seus olhos estão na Ellen.
— Você tem razão — Luke comenta e aperta a minha cintura um
pouco — Sempre somos levados para a nossa pessoa especial.
Meu coração acelera quando me perco no olhar intenso do Luke. Até
a minha pele se arrepia, como se estivesse mergulhando em um sentimento
profundo e desconhecido, e eu me deixando afundar.
— Acho que agora podemos nos sentar — A Ellen comenta e eu
assinto.
Luke puxa minha cadeira e senta ao meu lado, Ellen e JiHye sentam
lado a lado também. Não é a primeira vez que vejo a Ellen com uma garota,
mas é a primeira vez que a vejo namorando. E só de vê-la felizinha com a
JiHye, me sinto feliz também, porque eu quero muito que a minha melhor
amiga tenha as melhores coisas sempre, incluindo, é claro, felicidade.
JiHye é editora em uma editora de livros, conheceu a Ellen quando
ela trabalhou em um processo de direitos que a editora moveu. É muito
fofo, até parece que a história delas saiu diretamente de um livro.
— Não acredito! — Exclamo rindo tanto que preciso esconder a boca
com a mão.
— É a verdade! — JiHye retruca — Fomos ver o filme, e na hora do
lanche Ellen derrubou um copo de milkshake em mim, e a pior parte é que
eu estava de roupa branca.
— Ellen não foi Isso que eu te ensinei — Brinco e ela revira os olhos.
— Foi um acidente! — Ela se defende, mas eu continuo achando
engraçado.
— No primeiro encontro? — Luke pergunta também achando
divertido.
— Sim, acho que foi esse jeitinho desastrado dela que me conquistou
— JiHye brinca, e a Ellen revira os olhos, vermelha. Tão fofas.
Elas ainda contam sobre o segundo encontro, mas esse deu tudo
certo. E sobre e o pedido de namoro. É impossível não reparar como elas
parecem estar se atraindo o tempo inteiro, se tocando sutilmente, mesmo
que só as mãos, no braço… toques tão sutis e delicados que passariam
facilmente despercebidos.
— O pedido de namoro foi no meu apartamento, não foi um grande
evento a ser assistido, era só nosso — Ellen comenta suspirando.
Visivelmente uma mulher apaixonada.
— Foi especial, foi sincero, e nos pertence — JiHye diz firme, mas
sorrindo — O que importa é estarmos juntas.
Sorrio para elas, mas me distraio ao sentir a mão do Luke segurando
a minha. Eu não sou uma mulher pequena, tenho uma estatura padrão, 1,65
de altura, mas quando estou perto do Luke, parece que fico menor. Ele não
é só alto, ele tem praticamente 1,90 de altura, mas ele é musculoso, seus
ombros são largos, seus braços grossos e suas mãos grandes.
Um belíssimo colar, sorrio distraída.
— Acho melhor deixar os pensamentos impuros para depois — Luke
sussurra no meu ouvido.
— Quê? — Pergunto surpresa, não pode estar tão estampado no meu
rosto assim.
Ele ri soprado, mas não responde. Será que a minha expressão estava
entregando tanto os meus pensamentos? Realmente espero que não.
— Estava aqui pensando, o Luke já conheceu seus pais, a família
inteira, mas você já conheceu a família dele? — Ellen pergunta de repente,
nos pegando de surpresa. Não me preparei para esse tipo de pergunta.
— Conheci o irmão — Respondo, não é uma mentira completa,
afinal, eu conheci o Edgar. — Dois irmãos, Ethan, o rapaz acompanhando a
Camille também é irmão dele.
— O filho do senador? — Ellen pergunta levantando as sobrancelhas,
surpresa
— Esse mesmo — Concordo assentindo.
Eu olho para o Luke, sua expressão está impassível, eu não sei o que
pensar ou o que falar. Ele nunca me disse nada sobre sua família, nem sobre
o Edgar que conheci antes, não entendo esse voto de silêncio sobre a
família. Sinto que o clima ficou um pouco mais pesado, então volto a minha
atenção para a Ellen novamente.
Não importa o que eu esteja sentindo, não importa se o meu coração
bate acelerado sempre que ele se aproxima de mim. Isso ainda é um namoro
falso. Ele ainda vai embora para não voltar.
— Logo vamos resolver me apresentar para família dele — Minto,
com a primeira coisa que vem à minha cabeça. — Não tenho pressa para
que isso aconteça.
Ellen até abre a boca para continuar o assunto, mas nossa atenção é
chamada para começarem os discursos e eu não evito revirar os olhos. Na
primeira oportunidade, puxarei o Luke para irmos embora daqui.
Grace fez um discurso sobre como almas gêmeas sempre se
encontram, e que às vezes o destino anda por caminhos estranhos para que
dois corações apaixonados se unam. Achei uma interessante junção de
palavras para dizer que eles ficaram juntos traindo outra pessoa.
— Isso está muito chato — Reclamo baixo, apenas para o Luke.
— Espera só um minuto — Ele diz sorrindo travesso.
— O que você está aprontando? — Pergunto, mas ele só mantém o
sorriso sem me responder.
Patrícia começa um discurso sobre o amor dela e do Dylan, e eu
reviro os olhos. Ela realmente acha que a história deles é pura e intensa?
Será que esse teatro vale mesmo a pena? Não que eu me importe com eles.
Mas a verdade é que o amor deles não brotou com uma nascente de
rio, foi na lama.
— E por isso, por todo amor que existe entre nós, que eu preparei
uma surpresa — Patrícia diz com a voz embargada, ao mesmo tempo que o
Luke sussurra “é agora”
Ela se afasta para todos os convidados poderem ver bem o telão, mas,
definitivamente, não estava preparada para a foto que surge diante dos meus
olhos. Dylan beijando a Camille. Mas não só uma foto, várias.
Algumas das imagens pareciam tiradas de câmeras de segurança e
mostravam belíssimos jantares românticos, carícias e beijos. Outras fotos
pareciam íntimas, como se tivessem vindas direto do celular dos dois,
felizmente não apareceu nenhuma imprópria
— Como você fez isso? — Pergunto completamente chocada
— Eu tenho meus contatos — Ele dá de ombros. — Vamos apenas
apreciar o caos, principalmente porque não estamos no centro dele.
Luke me envolve em seus braços para assistirmos à cena que se
desenrola. Até me sentiria mal de estar rindo da desgraça dos outros, mas
eles não merecem minha compaixão.
Patrícia arremessa o microfone no Dylan, que não consegue desviar,
ela grita todos os xingamentos possíveis. Grace tenta conter a filha, mas não
funciona bem, já que ela começa a caminhar em direção a melhor amiga, ou
talvez, ex melhor amiga.
Camille está andando atrás do Ethan, que está apenas ignorando ela.
Ele caminha até uma garota loira, conversa algo em seu ouvido, e acena
concordando, os dois saem juntos apesar dos berros da Camille. Ele
simplesmente a deixou e foi embora com outra, não consigo disfarçar a
risada.
Patrícia consegue interceptar Camille, antes que ela continue
perseguindo Ethan. A noiva dá um tapa na cara da amante, o barulho é tão
alto que consigo escutar. Camille olha chocada para a Patrícia e pula sobre
ela, e as duas começam a rolar na grama brigando.
— Entretenimento de qualidade — A Ellen comenta e eu rio.
Algumas pessoas se juntam para separar as duas que estão gritando
ofensas uma para a outra, até que a Patrícia se solta, caminha até o Dylan e
dá uma joelhada no meio das pernas dele.
Ela olha para todas as pessoas assistindo à cena, olha para o telão que
ainda tem uma foto do Dylan com a Camille e sai correndo chorando.
— Agora podemos ir — Luke diz segurando a minha mão e ficando
de pé, e eu o acompanho.
— Vamos para casa? — Pergunto enquanto ele me guia, meus olhos
estão nele, sequer vejo qualquer pessoa tentando me cumprimentar.
— Ainda não — Luke me olha de canto e eu sorrio pequeno.
Eu não sei como o Luke conseguiu fazer isso tão rápido, mas foi
extremamente satisfatório ver todos os envolvidos se ferrando. Vir a esse
noivado foi muito diferente do que eu imaginei que seria, e por isso não me
arrependo mais de ter vindo.
Ninguém se importa com os convidados saindo, só os fofoqueiros
mais ávidos estão ficando para entender o que aconteceu. Depois eu
pergunto para a Ellen, sei que ela tentará descobrir tudo o que puder.
Luke sorri para mim e beija meu cabelo com carinho enquanto
caminhamos para fora. Ele me ajudou com uma vingancinha. Parte de mim
sente como se ele fosse um verdadeiro companheiro, que me apoiaria em
tudo, e isso é mais uma coisa que faz com que eu me sinta atraída por ele.
Quero o Luke.
Sei que só o meu querer não é o suficiente. Ele precisa querer
também. Qualquer relação precisa reciprocidade, tem que ser comigo que o
seu coração acelera, que sua voz fica rouca, e por mim que as borboletas no
estômago voem.
Mas preciso reforçar, mesmo que só para mim, que só o meu querer
não é o suficiente.
— Foi mais tranquilo do que imaginei — Luke comenta enquanto
abre a porta para mim
— Qual parte? — Pergunto rindo, enquanto entro no carro.
— O ‘gran finale’, acho que merecia um pouco mais de briga e
humilhação pública — Luke responde rindo enquanto fecha a porta e eu rio
junto.
Aproveito os segundos que ele leva até entrar no carro pelo lado do
motorista e respiro fundo algumas vezes. Meu coração está completamente
descompensado. O jeito que ele mexe comigo é único, nenhum outro me
balançou tanto quanto ele.
— Para onde vamos? — Pergunto quando ele começa a dirigir.
— Caminhar sob a lua, na ponte — Ele explica e eu sorrio pequeno,
vai ser bom andar um pouco.
E assim como da outra vez, nós passearemos na ponte. Será bom para
espairecer a mente, talvez eu devesse criar coragem e falar, ao menos um
pouco, sobre as coisas que estou sentindo e que tanto tem me afligido. Se eu
tivesse alguma certeza, mesmo que fosse doer, pelo menos essa sensação de
estar afundando na areia se acabaria.
Apesar do silêncio até chegarmos, não achei que ficaremos calados
quando estivéssemos caminhando, mas já faz alguns minutos e ninguém
disse nenhuma palavra. Olho para o céu, apesar de não ter tantas estrelas, a
lua está fascinante hoje.
Olho para o Luke e suspiro, ele é ainda mais fascinante. E eu estou
completamente ferrada.
— Você gostaria de saber sobre a minha família? — Luke indaga de
repente, quebrando o silêncio.
— Gostaria — Afirmo — Gostaria de saber tudo sobre você, sinto
como se não conhecesse de verdade, mas sendo sincera, eu até entendo que
não me fale nada.
— Entende?
— Sim, você, de um jeito ou de outro, sempre deixa claro que vai
embora, e não falar nada é como se você não me deixasse espaço para
realmente fazer parte da sua vida — Eu aperto os dedos tentando conter o
nervosismo — É como se fosse tudo pela farsa.
— O que você quer dizer com tudo? — Ele pergunta, não consigo
reconhecer o sentimento em sua voz, mas sei que está me encarando.
Enquanto eu só consigo fitar o chão, enquanto falo como se tivesse acabado
de abrir uma torneira.
— Quando me abraça, quando me defende de alguém e diz todas
aquelas coisas, me sinto confusa — suspiro — Eu nunca sei o que esperar, e
tento me convencer que não devo sentir nada, porque você é só um invasor
— Acabo rindo uma vez sem humor — E estou aqui, nesse exato segundo
confessando que sinto algo.
— Eu também sinto — ele diz parando na minha frente, seus dedos
deslizam pelo meu rosto até que ele segura o meu queixo, me fazendo olhar
em seus olhos — Eu também sinto algo, e todas as coisas que eu disse sobre
você são verdadeiras, você é a mulher mais bonita que coloquei e colocarei
os olhos, você tem um humor maravilhoso, um sorriso lindo, uma
inteligência fascinante e é realmente esperta.
— Você disse para o Edgar que eu sou sua mulher — Lembro
baixinho e ele sorri de canto.
— E isso também é verdade — Ele confirma e meu coração erra a
batida — Mas a minha vida é perigosa, e eu tenho medo que você corra
algum perigo por estar tão perto de mim.
— Eu acho que é tarde demais para pensar sobre essa proximidade —
Sussurro, contendo a vontade de me jogar nos braços dele.
— É tarde demais para pensar em muitas coisas, principalmente sobre
o que eu sinto — Luke diz com a voz rouca e a minha pele se arrepia —
Posso te beijar?
— Pode — Respondo sentindo todo o meu corpo queimar em
antecipação.
Luke se inclina, tua mão segura o meu rosto com cuidado, e eu me
perco olhando em seus olhos. Sinto sua respiração quente atingir minha
pele, que se arrepia. Sinto uma necessidade absurda de ter seus lábios nos
meus, quase emergente.
Então ele me beija. Um selar simples, mas o suficiente para que eu
sinta o meu sangue correndo mais rápido, ele me faz sentir muito com tão
pouco. Sua boca se encaixa na minha aos poucos, seus lábios macios e
quentes se movem contra os meus, e eu queimo. E quando sua língua pede
passagem, eu cedo. Cederia a qualquer coisa que ele quisesse, porque o
quero tanto.
Sua boca tem um gosto doce, quente, quase como se estivesse
apimentado, e eu quero continuar provando dela incansavelmente, mesmo
se minha mandíbula ficasse dormente. Luke segura na minha cintura e me
puxa para mais perto dele, e eu passo meus braços ao redor do seu pescoço,
mesmo que isso signifique que eu tenha que ficar um pouco nas pontas dos
pés.
— Vamos para casa — Falo decidida, apesar da minha voz sair baixa
e a minha respiração estar ofegante.
Cada segundo dentro do carro parece uma eternidade. Cada vez que a
mão do Luke desliza sobre a minha perna, me sinto mais quero, minha pele
formiga sentindo necessidade de senti-lo. Acho que nunca senti tanto
desejo.
Luke me olha toda vez que paramos em algum sinal vermelho, e eu
consigo enxergar a luxúria em seus olhos. Ele quer isso tanto quanto eu.
Seu gosto ainda está na minha língua, mas ainda quero tudo.
— Sarah, você tem certeza que quer isso? — Luke pergunta assim
que estaciona o carro, e seu olhar queima sobre mim — assim que
entrarmos, eu tenho autorização de tocar como quero? Poderei percorrer
cada centímetro do seu corpo com as minhas mãos? Com a minha boca?
Eu puxo o ar lentamente, enquanto minha se arrepia, quero muito
ficar nas mãos de Luke. Estou completamente entregue.
— Eu tenho certeza que quero isso — afirmo veementemente.
Luke sorri malicioso e se aproxima, ele segura na minha nuca e me
beija. Sua boca é exigente, sua língua domina a minha. É um beijo
possessivo e quente, antecipando o que está por vir, e me deixando
completamente ansiosa.
— Você não vai se arrepender — Ele diz se afastando
milimetricamente de mim, e me dá um selinho antes de sair do carro.
Puxo o ar lentamente, minha boca está seca, Luke sai do carro e dá a
volta para abrir a porta para mim. Esse homem vai me deixar louca e ainda
nem tirou a minha roupa.
Ele abre a porta e me ajuda a sair, mesmo que eu não precise, e me
guia para dentro de casa, mas no momento em que fechamos a porta, ele me
empurra contra ela e me beija.
Nada de beijos lentos e calmos, é feroz. Luke me beija como se
estivesse ansioso para fazer isso, como se estivesse necessitado de mim.
Ele me pega no colo e começa a subir as escadas, e eu me agarro
nele, sentindo o meu coração acelerar ainda mais. Como se fosse possível.
Talvez eu esteja infartando. Ele entra no meu quarto, e me coloca no chão
em pé.
— Você está tão linda com esse vestido, mas estou doido para ver
você sem ele — Ele beija o meu ombro e me vira, para poder abrir o vestido
— quero mapear cada centímetro do teu corpo, aprender tudo o que você
gosta.
— Luke… — suspiro baixinho, sentindo os beijos dele se espalhando
pelo meu ombro.
— O que você deseja? — Ele pergunta, sussurrando no meu ouvido
— Estou aqui pelo seu prazer.
Ofego, sentindo meu corpo se aquecer apenas com a promessa
pecaminosa. Ele sopra no meu pescoço depois de deixar uma mordida leve,
enquanto um gemido escapa de minha boca. Seus dedos tateiam o meu
corpo até alcançarem o zíper do vestido, e ele o abre lentamente. Suas mãos
quentes entram sob o tecido, tocando a minha pele e deixando um rastro de
calor.
Luke me puxa, pressionando seu corpo contra o meu, enquanto suas
mãos sobem até meus seios, e os aperta, ela lambe o meu pescoço, e eu
estremeço sob seu toque. E ainda estamos vestidos.
— Você já está tão rendida — Ele diz com a voz rouca, e a minha
pele se arrepia.
Sinto as alças do meu vestido deslizando sobre os meus ombros, e o
vestido para fora do meu corpo, ficando aos meus pés, me deixando apenas
de calcinha. Luke continua atrás de mim, sua mão aperta a minha cintura, e
eu consigo sentir seu pau duro ainda por baixo do tecido de sua roupa.
— Você está me tirando a sanidade — Resmungo com a voz baixa, e
escuto seu riso único e soprado.
— Não acho que você tenha alguma — Ele brinca e eu reviro os
olhos, mas ofego ao sentir sua mão indo em direção a minha intimidade —
Mas quero te deixar completamente louca essa noite.
Luke me vira, deixando-me de frente para ele. Ele sobe uma mão pela
minha nuca, prendendo seus dedos no meu cabelo, a outra segura a minha
cintura, me puxando para mais perto dele, até que a sua boca se choca
contra a minha. Seus lábios macios me beijam duro, sua língua desliza pela
minha completamente exigente, como se tivesse uma sede infinita do meu
beijo. Ele me beija de novo.
E de novo.
E de novo.
Completamente insaciável. E eu me sinto igual.
Luke me levanta, passando as minhas pernas por sua cintura, me
prendo a ele. Almejando ser dele, completamente dele. Sinto o meu corpo
sendo preso contra a parede, minhas mãos apertam sua camisa, enquanto
sua boca ainda se deleita da minha, e eu suspiro entro o beijo, esquecendo
até que preciso de fôlego.
— Preciso de você — Peço, sentindo o meu corpo queimar.
— Eu estou aqui — Ele responde, beijando o meu pescoço.
— Luke, você sabe o que eu estou pedindo — Resmungo, excitada
demais para elaborar, mas Luke me olha nos olhos com um sorriso sacana
nos lábios.
— Quero que você diga com todas as letras — Ele diz com um tom
autoritário tão gostoso, me deixa aturdida e ainda mais excitada.
— Quero que você me foda, Luke, quero sentir seu pau entrando e
saindo com força da minha buceta — Lambo os lábios, sem tirar os meus
olhos dos dele — Quero que você me faça gozar até revirar os olhos e passe
uma semana lembrando que você esteve dentro de mim.
— Eu vou saborear você, Sarah, primeiro vou me divertir com você
— Ele morde meu lábio inferior e sorri — Depois vou te deixar rouca de
tanto que vai gemer o meu nome.
Ele caminha comigo em seu colo até a cama, e senta nela, ainda me
mantendo em seu colo. Eu retiro primeiro sua gravata, jogando ela na cama,
então abro botão por botão, também sei provocar. Mas ele segura na minha
cintura e me pressiona pra baixo, já que estou sentada sobre seu pau. Eu
suspiro e olho para seu rosto, que está exibindo um sorriso sacana.
Luke termina de se livrar da sua camisa, minhas unhas arranham
levemente seu peitoral bem definido.
— Está apreciando a vista? — Ele pergunta sacana e eu assinto —
Acho que eu estou muito mais.
Sua mão alcança meu seio, sua boca ataca o meu pescoço e eu
arqueio o meu corpo, inclinando a minha cabeça para trás, para que ele
tenha mais espaço para me tocar como quiser. Sua língua quente desliza
sobre e minha pele, seus toques me tiram do eixo, e eu gemo.
Rebolo no seu pau, imaginando como será gostoso quando essa rola
grossa estiver dentro de mim, me fodendo. Escuto seu gemido rouco e isso
me deixa ainda mais excitada. É como se eu fosse feita de pólvora, e ele
tivesse a chama para me incendiar, explodir. E eu tenho estoque o suficiente
para queimarmos a noite inteira.
— Luke… eu quero te chupar — Falo gemendo e ele sorri malicioso.
— Vou adorar sentir você se engasgando no meu pau, mas eu quero te
provar primeiro — Ele responde e me vira na cama, ficando sobre mim —
Vou passar a minha língua em cada centímetro do teu corpo, e foder sua
buceta com a boca.
Ele desce os beijos até meus seios, apertando-os, e enquanto sua boca
se ocupa de um peito, sua mão de ocupa da outra, e ele provoca o meu
corpo, deixando meus peitos sensíveis. Minha sanidade vai se dissolvendo,
não consigo pensar em frases coerentes, só sinto e no momento, sinto muito
prazer.
É como se o Luke tivesse lido um manual do que fazer para me
deixar completamente excitada, trêmula de prazer, e estivesse seguindo a
risca.
Sinto seu rosto perto da minha intimidade, ele beija e lambe a minha
vagina por cima do tecido da calcinha. De repente ele aspira, como se
estivesse sentindo o melhor dos perfumes e me olha com um sorriso sacana.
— Melhor perfume que já senti na vida — Ele lambe a borda da
minha calcinha na divisa da perna, no interior da coxa e sorri sacana —
Tenho certeza que o melhor sabor que provarei na vida, é o seu.
Ele puxa a minha calcinha para o lado, sua língua percorre toda a
minha vulva e eu gemo, ele brinca com o meu clítoris. Beija cada pedacinho
da minha intimidade e sorri ao ver o quanto estou afetada.
— Eu poderia tirar sua calcinha, mas ela é linda, vou te chupar com
ela de lado — ele diz brincando com a peça, e comigo.
— Você pode fazer o que quiser — Digo exasperada — desde que me
faça gozar.
Ele não responde, apenas sorri com aquela expressão de que me fará
enlouquecer. Ele coloca sua boca quente, molhada, sua língua habilidosa, de
volta na minha boceta, sinto até ele me penetrando um pouquinho com ela,
então volta a me chupar.
Eu gemo sentindo o prazer percorrer pelas minhas veias, como se
tivessem me injetado uma injeção de pura dopamina e serotonina.
De repente o sinto me penetrando com um dedo e deixo um gemido
alto escapar, logo ele coloca dois e eu arqueio a pélvis sem conseguir me
controlar, mas ele me segura com a mão livre, me chupando ainda mais
intensamente.
Meu corpo estremece, vibrando, aperto os lençóis com uma mão,
enquanto a outra prendo os dedos nos fios curtos de Luke. Meu corpo
parece estar entrando em convulsão, mas é apenas a sensação deliciosa do
orgasmo me atingindo.
Sinto seus beijos percorrendo a minha barriga, passando por entre os
meus seios, até chegar em meu pescoço. Enquanto estou deitada sobre a
cama tentando recuperar o fôlego e organizar os meus pensamentos, porém
não tenho certeza se vou conseguir. Quero continuar me perdendo nos seus
toques quentes, quero continuar queimando.
Ele inicia um beijo intenso, como se tivesse fome de mim e
precisasse tentar se saciar, quase selvagem e eu retribuo. Sinto o meu gosto
em sua boca, mas não me importo, quero mais dele, quero beijá-lo até a
minha mandíbula ficar dormente, o gosto do seu beijo é o meu sabor
favorito. E quero continuar provando por toda a minha vida.
— Eu quero te chupar — Falo entre o beijo, um pouco ofegante.
— Tudo o que você quiser — Ele diz com um sorriso sacana e sai de
cima de mim, Luke fica em pé e se livra da sua calça, e liberta seu pau me
fazendo lamber os lábios enquanto aprecio a visão que estou tendo.
— Estou ficando ansiosa aqui — Provoco, lambendo os lábios
vagarosamente.
— Vamos resolver isso agora — Ele sorri malicioso, vindo por cima
de mim e nos vira na cama, me deixando por cima dele e se encostando na
cabeceira da cama, comigo sentada no seu colo.
Colo meu corpo no dele, esmagando meus seios contra seu peito e o
beijando voracidade, enquanto rebolo no seu pau, apenas me esfregando
nele e gememos entre o beijo. Luke aperta minha cintura e não deixa que eu
me afaste até que nosso fôlego cesse.
Saio do colo do Luke e me afasto, sentando na frente dele sobre as
minhas pernas. Primeiro, seguro seu pênis, o masturbando devagar e sorrio
quando ele ofega, então me inclino para frente colocando só a glande na
boca e chupando. Minha língua circula toda a circunferência e eu lambo a
fenda, recolhendo o pré-gozo que está escorrendo ali. Sem tirar meus olhos
dos dele.
— Eu quero te ver engolindo o meu pau inteiro, e depois a minha
porra — Ele diz autoritário, enrolando o meu cabelo em sua mão.
— Sim, senhor — Respondo maliciosa.
Começo a engolir o pau dele, tomando cuidado para não passar os
dentes. Ele começa a guiar a minha cabeça, me fazendo colocar o máximo
que consigo dentro da boca, até sinto a glande tocando a minha garganta e
forço um pouco mais, quase me engasgando e tiro.
Repito o movimento, chupando ele cada vez mais rápido enquanto
vislumbro sua expressão de prazer, os seus gemidos me enchem o ouvido.
Luke é uma delícia. Eu poderia ficar horas apenas me divertindo com o pau
dele na boca, mas ele não tem toda essa ciência.
Luke me segura no lugar e começa a foder a minha boca, sinto seu
pau ficando um pouco mais grosso e sorrio, sem quebrar o contato visual,
quando sinto o primeiro jato de porra atingindo o céu da boca. E faço
questão de engolir cada gota.
Sento nas minhas pernas novamente e abro a boca, mostrando para
ele antes de engolir, com um sorriso pequeno e safado.
— Ah! Sarah… — Ele toca meu rosto com carinho, sua voz está
ainda mais rouca e a minha pele se arrepia — você tem uma carinha de boa
moça, mas é uma pervertida na cama.
— Não gosta? — Pergunto arqueando a sobrancelha e ele ri.
— Pelo contrário — Ele desliza o dedão pelo meu lábio — Eu gosto
muito.
Sarah é uma deusa e eu serei para sempre seu devoto.
Contemplo seu corpo sobre o meu com fervor. Ela é linda, sexy e
quente. Seu sorriso malicioso enquanto encaixa o meu pau em sua buceta
me deixa louco, e ela senta devagar. Ela é quente e apertada, meu pau pulsa
dentro dela de puro tesão.
Sarah espalma as mãos sobre o meu peito para se apoiar e começa a
subir e descer devagar, me provocando, ela quer acabar com a minha
sanidade e vai conseguir. Ela rebola sem me tirar de dentro dela, seu rosto
demonstra toda sua excitação e ela geme. Seus gemidos são como música
para mim. E eu preciso de mais, acho que nunca estarei saciado do prazer
que ela me proporciona.
— Luke… — Ela geme meu nome e eu tenho certeza que esse é o
som mais bonito que já escutei em toda a minha vida.
— Você é tão perfeita — Elogio com a voz trêmula.
Seguro na sua cintura e começo a me mover entrando e saindo com
força dela. Sarah joga sua cabeça para trás, gemendo, seus seios balançam e
eu suspiro banhado pelo prazer. Cada segundo com ela é como visitar o
paraíso enquanto peco como se merecesse o inferno.
Nos viro na cama, ficando por cima dela e entre as suas pernas.
Seguro sua coxa e a penetro devagar, e começo a estocar. Aperto sua bunda
ainda sem parar de me mover, Sarah parece completamente perdida nas
sensações que estou provocando nela, e isso me deixa ainda mais motivado
a continuar.
Deslizo a minha mão livre sobre o seu corpo, até chegar no seu
pescoço. Seus olhos castanhos brilham em pura luxúria, como se me
dissessem “sim” e eu fecho a minha mão e sorrio. Perfeita, essa é a única
descrição possível para ela. Aperto um pouco seu pescoço, cortando a sua
respiração por alguns segundos e depois a liberto.
— Luke, e-eu… isso… — Ela geme tentando formular uma frase,
mas não consegue e eu repito a ação novamente.
— Eu sei o que você quer, e vou te dar, meu amor — Falo baixo, com
a voz rouca.
A provocar deixa tudo ainda mais gostoso, mas eu não estou muito
diferente dela. Sinto como se estivesse mergulhado no prazer em sua mais
pura essência. Por cada centímetro de mim parece correr uma deliciosa e
satisfatória sensação de deleite.
— Você é minha, Sarah, sempre será minha — Falo possessivo,
investindo com mais intensidade, fazendo ela gritar enquanto geme, se
contorcer de prazer.
— Sua, só sua — Ela responde ofegante.
Saio de dentro de sua buceta e a viro, colocando-a de quatro e ela
coopera prontamente. Sarah fica com a bunda bem empinada para mim, é
mesmo uma visão do céu.
Seguro no seu quadril e começo a penetrá-la, logo estou entrando e
saindo com força e acerto um tapa em sua bunda, ela geme alto e rebola.
Implorando por mais. Insaciável. Sarah geme e eu gemo junto. Seu corpo é
a minha perdição e eu faço questão de me perder.
Serei para sempre súdito dela.
Mudo nossa posição novamente, quero olhar no rosto da Sarah no
momento que ela gozar. Quero ver todas as suas expressões de prazer, pois
sei que ela ficará ainda mais linda. Fico em pé ao lado da cama e volto a
fodê-la com força.
Tudo no quarto me deixa ainda mais excitado, o barulho dos nossos
corpos se chocando, os sons dos gemidos, o cheiro de sexo e a visão do seu
corpo embaixo do meu. É lindo ver meu pau entrando e saindo da sua
buceta e sentir como ela me recebe bem. Como se tivesse sido feita
especialmente para mim.
— eu vou gozar — ela geme arranhando os meus braços.
— Venha para mim, meu amor, goza no meu pau — Eu falo baixo,
como se realmente estivesse dando uma autorização.
Seu corpo estremece embaixo do meu, vejo seus olhos revirando e
sorrindo, indo mais fundo nela. Sarah goza e eu tenho o meu orgasmo junto
ao dela, nos completando.
Deito ao seu lado, a acolhendo em meus braços e ela se aninha em
mim. Minha respiração está ofegante, meu coração está descompassado e
eu tenho certeza que amo essa mulher.
— Preciso dormir — Ela resmunga já sonolenta.
— Pode dormir, minha princesa, eu cuido de você — Digo suave,
apesar de estar ofegante e faço carinho nela até que esteja completamente
apagada de sono.
Com cuidado, a deito sobre a cama e começo a trocar os lençóis e
limpar o seu corpo. Começo a cuidar dela, me sentindo feliz e completo.
Sarah é o amor da minha vida.
Eu teria certeza que essa noite foi um delírio, mas estou
deliciosamente dolorida.
Mesmo já estando acordada, continuo de olhos fechados, sentindo o
cheiro dele nos meus lençóis. Talvez eu esteja sendo um pouco emocionada,
mas se antes eu já estava me sentindo envolvida, agora tenho certeza que
estou. Se ele acha que sou dele, agora ele pode ter certeza sobre isso.
Estico meu braço sobre a cama, mas percebo que o Luke não está
deitado comigo. Abro os olhos enquanto me sento, ele não está no quarto
também. Será que ele foi embora? Ele não faria isso comigo, não depois
dessa noite.
Sei que ele já fez uma vez, mas agora é diferente.
Me levanto e vou até o banheiro, lavo o meu rosto e coloco um robe
por cima do pijama. Pijama que ele colocou em mim, já que fiquei
completamente sem forças essa noite. Saio do quarto sentindo o meu
coração apertado, minha mente projetando diversos cenários. E em todos
estou sozinha dentro dessa casa, e eu não quero isso.
Quando chego nas escadas, vejo o Luke subindo com uma bandeja na
mão. Sou inundada por uma sensação avassaladora de alívio.
Definitivamente, eu ficaria destruída se ele tivesse partido sem se despedir
novamente.
Corrigindo, ficaria destruída se ele partisse.
— Você estragou o seu café da manhã na cama — Ele reclama e eu
sorrio animada.
— Não tem problema, eu volto para a cama — Dou de ombros e
começo a caminhar em direção ao quarto. Ele está aqui.
— Não é a mesma coisa — Ele resmunga e eu rio — Eu ia colocar a
bandeja na cama, te acordar com muitos beijos, e depois tomaríamos café,
mesmo sendo hora do almoço.
— Eu gosto muito dos beijinhos — entro no quarto, deixando a porta
aberta para ele — E é ainda melhor porque eu já escovei e estou sem bafo.
Luke coloca a bandeja na cama e me puxa para perto dele. Primeiro,
ele começa beijando a minha testa, depois as minhas bochechas e então
beija a minha boca. É um beijo lento, mas ainda assim, faz o meu coração
bater mais rápido.
— Bom dia — Ele sussurra enquanto sua mão acaricia meu rosto —,
espero que tenha tido uma boa noite de sono.
— Bom dia, tive uma excelente noite de sono — Respondo, sem
conseguir desviar os olhos — espero que você também.
— A melhor em muito tempo — Ele afirma e me dá um beijo rápido
— Agora vem, você precisa se alimentar para começarmos o dia.
Sentamos na cama, deixando a bandeja entre nós. Ele é cuidadoso na
hora de comer para não derrubarmos nada e não fazermos bagunça. Luke
entrou na minha vida de uma maneira nada convencional, e saber que ele é
possivelmente envolvido com crime, deveria me fazer querer distância dele,
mas eu só quero estar cada vez mais próxima.
Queria que déssemos um rótulo verdadeiro para o que temos.
Queria conseguir nomear o que sinto.
Quero que ele seja meu.
— O que você está pensando? — Luke pergunta, seus olhos estão um
pouco cerrados, como se estivesse me analisando.
— Ontem você disse que eu era sua, e isso me deixou com algumas
dúvidas — Confesso, sentindo as pontas dos meus dedos ficarem dormentes
devido ao nervosismo.
— Quais dúvidas? — Ele pergunta sério, atento.
— Você disse isso por causa da farsa do namoro? Você sente algo por
mim? — Respiro fundo, disparando as perguntas antes que a minha
coragem acabe — Se eu sou sua, você é meu?
— Eu não disse isso pela farsa, eu te quero de verdade, e achei que
essa noite isso tinha ficado claro…
— Sexo pode ser apenas sexo — Eu o interrompo.
— Mas não é o caso — Ele nega — Eu quero ser seu, Sarah, quero
nosso relacionamento passe a ser algo real, que você seja só minha, assim
como serei só seu.
Prenso os lábios formando uma linha fina enquanto o encaro. Meu
coração parece estar saltando dentro do peito, e a minha vontade é de me
jogar em cima dele, mas a minha mente me lembra que, apesar dos
sentimentos, existem outras coisas que devem se faladas, mesmo que eu
queira deixar para depois.
— Quero saber mais sobre você, para que nós tenhamos um
relacionamento real, acho que eu deveria te conhecer um pouco mais, saber
sobre quem você é, mas por você — Mordo o lábio inferior por um
segundo, me sentindo ainda mais nervosa — Eu só sei que você tem irmãos
porque eles se apresentaram, e você claramente não queria isso.
— Não era importante — Ele desdenha.
— Quando eu conhecerei você? — Pergunto começando a sentir uma
chateação… não, uma mágoa, brotar em mim.
Ele me encara em silêncio, talvez eu esteja sendo um pouco emotiva,
mas acho que tenho o direito de ser. Poxa, não estou pedindo muito, só
quero saber mais sobre ele, sobre quem ele é, de onde ele veio. Não quero
continuar sendo pega de surpresa, não quero, sei lá, acordar e descobrir que
isso é só uma mentira vazia.
— Vou começar por onde você já sabe…
— Você vai me contar sobre você? — Pergunto para ter certeza,
sentindo um sorriso involuntário brotar no meu rosto.
— Eu já sou capaz de qualquer coisa por você, posso ter invadido sua
casa, Sarah, mas você invadiu o meu coração — Ele diz se aproximando de
mim, ele segura o meu rosto com cuidado e me beija — Se você quer saber
quem eu sou, eu direi.
Minha respiração fica pesada e eu me perco por um segundo olhando
os olhos de esmeralda do Luke, então ele se afasta, primeiro ele retira a
bandeja da cama, depois se deita, me puxando para que eu fique aninhada
sobre o seu peito. Sei que é muita coisa para eu processar, mas que se dane,
só quero saber e viver o agora.
— Edgar é alguns meses mais velho que eu, e o Ethan tem vinte e
quatro, e eles são meus irmãos, mas apenas por parte de pai, por isso que a
minha diferença de idade com o Edgar é tão pequena — Ele explica antes
que eu fique confusa — E sim, isso significa que eu sou o filho fora do
casamento.
— Eu ainda não havia feito essa conta — Comento e ele ri, deixando
um beijo na minha cabeça. — Por isso que você não falou deles?
— Não gosto de relacionar o meu nome ao deles, não gosto que as
pessoas saibam sobre nossa ligação, não quero que exista a chance da
mídia, de alguma forma, me encontrar — Ele explica — Minha relação com
o meu pai não é das melhores.
— E com seus irmãos? Não me pareceu muito boa com o Edgar, mas
não foi tão ruim com o Ethan.
— O Ethan não estava dando em cima de você — Ele dá de ombros e
eu reviro os olhos — Ethan sempre foi muito tranquilo, leva tudo de boa,
faz o que quer e quando quer, porque sabe que pode fazer isso. Edgar,
entrou cedo nos negócios da família, sempre foi responsável nesse ponto,
mas sempre foi um pé no saco, implicante e espaçoso.
— Talvez ser espaçoso seja de família — Eu rio e o vejo revirando os
olhos — Mas e você? Porque você falou sobre o Ethan e o Edgar. Você não
vai me enrolar.
— O clássico, sou o filho fora do casamento, cresci sabendo disso,
tenho uma relação boa e ruim com a família do meu pai, quero dizer, me
dou bem com o meu tio George, e os filhos dele — Ele explica. Luke fala
de todos, menos dele mesmo ou dos pais.
— E sua mãe? Quem ela é? O que ela faz? — Pergunto curiosa, e
vejo sua expressão se contorcer um pouco, e não gosto disso.
— Minha mãe chamava Mary — chamava? — Ela era uma mulher
incrível, se dedicava intensamente a tudo que se propunha fazer, ela tinha
uma loja de doces, e amava a vida.
— Ela… é que você está dizendo tudo no passado… é… — Tento
formular a pergunta, mas acabo me perdendo, não sei como questionar isso
sem parecer indelicada, mesmo que eu já esteja sendo.
— Ela morreu — Ele responde à pergunta que não consegui formular,
sua voz parece quebrada, triste, me viro sobre a cama, sentando sobre as
minhas pernas para poder olhar em seu rosto, seu olhar parece distante e eu
sinto uma enorme vontade de o abraçar.
— Você quer falar sobre isso? — Pergunto, tentando ser delicada.
— Foi um dia antes de eu invadir a sua casa — Ele diz e eu começo a
calcular o tempo — a mesma pessoa que fez isso com ela, foi quem me
feriu daquela forma, por isso eu precisava ficar um tempo escondido onde
eu não precisasse dar meu nome, um hotel teria que me registrar e eu ficaria
no radar.
— Isso foi a pouco mais de um mês — Comento estarrecida — Você
ainda está no luto.
Eu o abraço, deixando meu corpo sobre o dele, e deitando a minha
cabeça em seu ombro. Meu peito dói, e eu sinto vontade de chorar. Ele me
envolve em seus braços, me apertando levemente contra ele.
— Eu sinto muito por sua perda, sinto muito — Digo baixo e ele
acaricia minhas costas.
— Está tudo bem — Ele diz baixo, mas apenas pelo seu tom de voz,
sei que não é verdade. — Eu acho que vocês teriam se dado bem.
— Tenho certeza que sim — Respondo, abraçando-o ainda mais.
Fico aninhada em seus abraços, em silêncio por um tempo. Então me
afasto o suficiente apenas para olhar em seu rosto e dou um selinho nele,
me deitando ao seu lado, para ficarmos de frente.
— O que aconteceu? Por que a mataram? Por que tentaram te matar?
— Pergunto. Luke coloca mão na minha cintura, e seus olhos se encontram
com os meus, quantos segredos ele ainda esconde?
— Eu realmente sou um criminoso, e isso é tudo que vou explicar —
Ele diz por fim.
— Quando quiser me contar tudo, estou aqui — Garanto.
Ele abre um sorriso pequeno e me abraça. Sei que no momento não
há o que ser dito, por isso apenas retribuo o abraço, deixando um silêncio
confortável nos envolver.
Quando retorno para a minha sala, Edgar já se foi, para o meu alívio.
Escolhi os responsáveis pela segurança da Sarah, que trabalharam
revezando, dessa forma, nenhum trabalhará cansado demais a ponto de
perdê-la de vista um segundo que seja. Também não planejo falar sobre isso
com ela, pelo menos não por enquanto.
Meu celular começa a tocar e eu atendo assim que vejo ser o Alex,
estava esperando essa ligação.
— Onde você está? — Ele pergunta um pouco nervoso.
— Estou trabalhando, o que está acontecendo? — Indago
preocupado.
— Preciso que você venha me ajudar, e que venha agora — Ele diz
sério, e eu já começo a sair da sala com a minha arma e a chave do carro —
Lembra que eu disse que eles estavam sabendo estarem sendo monitorados?
— Lembro.
— Acho que eles me identificaram, preciso sair desse apartamento
em segurança — Ele pede — Vem o mais rápido que você conseguir, já
estou juntando tudo o que preciso levar.
— Estou a caminho, chegarei rápido — Garanto e ele desliga a
chamada.
Grito com três soldados do galpão que trabalho para irem comigo, e
eles se armam correndo e indo para um segundo carro. Quando estou
saindo, vejo o Derek, mas o ignoro completamente, no momento eu preciso
chegar no meu amigo antes daquele filho da puta do Carl.
Alex deveria ter me ouvido quando sugeri que se mudasse, mas é
muito teimoso. Piso no acelerador, ignoro todos os sinais, até os vermelhos,
passo pelos carros fazendo zig-zag. Não tenho tempo a perder. Não tenho
mais nada a perder.
Chego na rua do Alex e estaciono o carro de qualquer jeito perto da
calçada e salto do carro, percebendo que ainda não nenhuma
movimentação. Ou talvez seja tarde demais. Espero estar errado.
Dois dos três soldados me acompanham, o outro fica de guarda na
entrada. Alex, apesar de amar tecnologia, mora em um prédio pequeno, e
sem muita tecnologia, nem mesmo elevador. O que nos obriga a subir até o
terceiro andar pela escada. O que fazemos correndo.
Bato na porta do Alex, mas não fico parado na frente, não escuto
nenhum som e por isso bato mais uma vez.
— Alex, sou eu, Luke — Digo alto e finalmente escuto passos.
Fico para o lado da porta, atento. Um dos soldados está atento a
escada, pronto para atirar e o segundo está mirando na porta, prontos para
disparar a qualquer sinal de ataque. E eu realmente espero que nada disso
seja necessário. E que ainda tenhamos chegado a tempo.
— Finalmente você chegou — Alex diz com alívio, ao me ver.
— Pega suas coisas, vou te levar para um lugar seguro — Digo sério.
— Eu não estou sozinho — Ele diz e, ao mesmo tempo, vejo uma
menina de no máximo dois anos correndo até o Alex — Descobri essa
semana que sou pai, preciso que seja realmente seguro sair daqui.
— Será, eu garanto. — Afirmo, olhando para a criança — Pega suas
coisas, só que precisa levar.
Alex volta para dentro do apartamento e escuto passos fortes vindo da
escada. Merda, merda, merda.
Fecho a porta e dou a ordem de atirar no primeiro segundo que
tiverem certeza de que não se trata de moradores. E é nesse momento que as
coisas ficam complicadas.
O primeiro disparo acontece e uma troca de tiros começa a acontecer.
Escuto gritos pelo andar, mas ignoro todos. Por estarmos no alto da escada,
temos vantagem, mas também sei que será muito complicado para sairmos,
não poderemos fazer o caminho pelo qual entramos.
— Alex, existe outro caminho para sairmos daqui? — Questiono alto.
— Ainda precisaríamos sair pela escada — Ele responde e eu olho
para os soldados.
— Os disparos acabaram, precisaremos descer de qualquer jeito —
Um deles diz — Provavelmente o Monteiro já está morto.
— Preciso fazer uma coisa — Digo e começo a retirar o colete.
— Não pode ficar sem colete, chefe — O soldado diz sério.
— A criança precisa de alguma proteção — Digo não dando chance
para que esse assunto se estenda. E bato na porta — Alex, coloque isso da
sua filha.
Ele abre a porta e pega o colete ficando confuso, mas não temos
tempo para nada, temos que agir rápido. Quero ir embora antes que eu tenha
que lidar com a polícia, além desses idiotas.
— Pronto — Ele diz saindo do apartamento, a menina ficou
praticamente “embalada” dentro do coleto, mas pelo menos é uma
segurança adicional.
— Nós descemos na frente e vocês vão limpando o caminho,
chegando no térreo nos separamos, eu vou para a saída do fundo com o
Alex, e um de vocês, e o outro vai para a entrada principal — organizo —
Não acho que estejam aqui.
— Sim, senhor — Eles respondem juntos.
Os dois vão à frente, mantenho Alex, que segura sua filha em seu
colo e uma mochila nas costas, bem atrás de mim. Minha mente trabalha
sobre como vamos sair daqui, talvez eu tenha que roubar um carro, e depois
abandonar. Minha raiva do Carl só aumenta, não vejo a hora de colocar as
minhas mãos nesse desgraçado.
Escutamos alguns passos, me preparo para atirar, mas quem surge no
meu campo de visão é o Felipo, o que me deixa muito confuso. Descemos
rapidamente pelas escadas, e muito atentos a qualquer possível ataque.
— Fui mandado para ser o reforço, cheguei um pouco atrasado, mas
já limpamos a área aqui embaixo — Ele diz calmamente, quando chegamos
no térreo.
— E o Monteiro? — Um dos soldados pergunta e eu observo os
corpos sendo retirados por homens mascarados.
— Morto — Felipo responde seco — Vou ficar para limpar a
bagunça, o senhor pode ir.
— Certo, como veio até aqui? — Pergunto com os olhos cerrados.
— Senhor D. mandou após o senhor sair correndo — Ele explica e eu
assinto.
Saio do prédio guiando o Alex e a filha até o meu carro. Ele entra no
banco de trás com ela, tentando acalmá-la, porque está chorando muito.
Então isso, tento lidar com a adrenalina que está percorrendo todo o meu
corpo. E penso para qual lugar levar o Alex.
— Tem ideia de para onde quer ir? — Pergunto ao Alex, preciso
saber o que ele quer.
— Só preciso de um lugar seguro, no momento — Ele responde e eu
assinto.
— Vou te levar para o meu novo apartamento, no prédio da família —
Decido — Depois você pensa com calma sobre o que quer fazer, dinheiro
não será problema para você.
— A questão é que agora não sou só eu — Ele diz e eu olho para ele
pelo retrovisor. Alex está com a filha no colo, e ela está quase calma, mas
deitada sobre seu ombro.
— Estou realmente surpreso com isso — Comento e ele ri baixo, para
não assustá-la.
— Uma garota que eu ficava há muito tempo apareceu falando que a
Aimée era minha filha, fiz o teste de DNA e deu positivo, logo em seguida
ela sumiu me deixando com a bebê — Ele explica — E logo em seguida
percebi a movimentação do Carl, não tive muito tempo.
— Você vai primeiro para o meu apartamento, depois arrumamos um
para você — Falo sério, sem espaços para brincadeiras — Depois te
colocarei para trabalhar comigo, a menos que você tenha outros planos.
— Acho que essa é a melhor opção — Ele responde e solta uma
lufada de ar, e volta a consolar a filha.
Quanto mais demoro para finalizar com o Carl, mais ele atrapalha o
meu caminho, não posso continuar permitindo que coisas assim aconteçam.
Eu já tenho uma ideia do que fazer, e amanhã mesmo farei uma reunião
com o Derek.
Isso vai chegar ao fim.
Eu já tive muitos relacionamentos, nenhum deles foram intensos, nem
mesmo com o Dylan. Eu gostava dele, mas não sentia cada célula do meu
corpo vibrar ao pensar nele.
Apesar da traição ter me deixado mal, afinal, traições doem muito,
minha vida não parou e nem pararia por ele. E, sendo muito sincera, eu
achava que nunca encontraria alguém me fizesse sentir como se borboletas
voassem dentro de mim, e as minhas mãos soassem, que eu ansiasse pelo
momento que chegaria em casa e estaria com essa pessoa.
Até o Luke chegar na minha vida. Ele disse que eu invadi seu
coração, mas ele invadiu o meu também. Ele faz com que eu sinta muito,
que eu transborde. Acho que tempo é realmente irrelevante quando se trata
de sentimentos.
Abro a porta da minha casa, e solto uma lufada de ar. Pessoas
apaixonadas realmente vivem o tempo a sua própria maneira, bem que
Einstein disse que o tempo é relativo, pois só fazem dois dias que não vejo
o Luke e já estou com saudades.
— Dia difícil? — Levanto os olhar no mesmo instante e vejo o Luke
no meio da minha sala. Um sorriso involuntário se forma na minha boca —
Vem, estou fazendo o jantar para nós.
Eu não consigo dizer nenhuma palavra, apenas vou em direção a ele
que já me recebe de braços abertos, eu me aperto contra ele, percebendo
que estou me enchendo de alívio. Ele beija meu cabelo com carinho e eu
suspiro. É tão bom tê-lo aqui.
— Também senti sua falta — Ele diz baixo e eu sorrio, por ele dizer o
que não consegui expressar em palavras.
— Vai ficar hoje? — Pergunto me afastando dele um pouco.
— Vou, mas vou precisar ir amanhã — Ele diz sério e suspira, me
puxando para sentarmos no sofá — Temos que conversar sobre isso.
— Parece anuncio de notícia ruim — Falo com os olhos
semicerrados, desconfiada.
— Talvez seja um pouco, mas é importante falarmos sobre isso —
Ele responde segurando a minha mão. Mordo o lábio inferior me sentindo
agitada por dentro, não gosto disso.
— Então podemos conversar depois do jantar — Decido enquanto me
levanto, me afastando um pouco — Mesmo que seja importante, falamos
sobre isso depois.
— Tudo bem — Ele concorda ficando de pé também.
— Eu vou me lavar e já venho te acompanhar — Aviso, enquanto me
direciono até a escada.
O lado ruim de sentir tanto é que tudo fica ainda mais intenso, como a
saudade, como a dor que essa ausência causa. Sei que estou sendo
dramática, e um pouco exagerada, mas o que me deixa tão angustiada é não
saber o que ele realmente faz.
Não é como se o trabalho dele consistisse em ir para uma empresa, ou
sei lá. Ele me confessou que é realmente um criminoso, e isso abre um
grande leque de coisas que ele pode fazer para ser um, mas essas coisas
poderiam matá-lo.
Mataram a mãe dele, e tentaram fazer isso com ele. E se um dia ele
for e não voltar? Não porque ele decidiu não voltar, mas porque… Só de
pensar nessa possibilidade sinto uma pontada dolorida em meu coração.
Luke, o que você fez comigo?
— Você perdeu o controle de si, Carl, deveria ter apenas me deixado sair
como eu queria, sem brigas, sem desavenças. Eu estava prestes até a deixar a
fórmula da droga que você queria, mesmo sendo contra a produção dela — conto
e vejo sua expressão de surpresa — Mas você é um maníaco que não sabe o seu
lugar e achou que poderia me vencer machucando alguém importante para mim.
— E agora ela está morta, posso ter perdido, mas você também perdeu —
Ele debocha.
— É, você tem razão, eu também perdi. E foi por isso que eu tirei tudo de
você. Matei o Stefan, matei seu filho e sua esposa, e no processo destruí tudo o
que você construiu. Você não será nem lembrado por alguém, será como se você
nunca tivesse existido — Falo caminhando até ele com uma faca pequena na mão
— Qual a sensação de perder tudo, Carl?
— Desgraçado! Você é um desgraçado! — Ele grita com raiva, mas eu
apenas rio — Traidores não tem lugar no nosso mundo, e você é um. Você, logo
será destruído.
— Eu já tenho um lugar, sou um Armstrong, Carl — O informo e ele
arregala os olhos, sempre fui muito bom em esconder meu nome, mas agora sinto
como se eu realmente fosse um — Eu já tenho um lugar bem definido nesse
mundo.
Enfio a faca no ombro do Carl, e ele grita e eu puxo a lâmina de volta,
enfiando no outro ombro. Caminho de volta até a mesa, escutando os gritos do
Carl se espalhando pelo cômodo. Deveria ter pedido um fone, ele é muito
escandaloso.
— Estou testando algumas substâncias novas, acho que você seria uma
excelente cobaia — Pondero com deboche, e me viro, contemplando sua
expressão de terror — Vamos começar.
— Não, não faz isso — Ele grita nervoso — Poupa nosso tempo, me mata
logo e acaba com isso.
— Carl, você não merece uma morte rápida. Eu preferia levar dias para
acabar com isso, mas tenho outras prioridades, por isso vou descobrir o quanto
você aguenta enquanto aplico minhas drogas testes e arranco cada parte da sua
carne — Eu balanço uma tesoura e ele arregala com olhos gritando em
desespero. Era assim que eu queria vê-lo — com uma tesoura.
— Não faça isso! — Ele grita, mas isso faz eu rir com frieza.
— Vamos começar a brincadeira…
Meses para chegar até aqui, mas felizmente, hoje encerro a minha
vingança, e espero que a minha mãe agora possa descansar em paz. Eu ainda
preciso fazer mais uma coisa, mas para isso, quero a Sarah do meu lado, ela
compreenderá os meus sentimentos e ficará ao meu lado, mesmo se eu chorar.
Termino de me arrumar. Depois que acabei com o Carl, precisava me
arrumar antes de ir para o hospital. Já amanheceu e em breve ela terá alta e eu
preciso estar lá com ela. Já estou longe há muito tempo.
Como vou me distanciar dela, se apenas algumas horas e eu já sinto falta?
Dirijo pela cidade em direção ao hospital, foco completamente no trânsito
para pensar em qualquer coisa que não seja sobre ir para longe da Sarah, e nem
os motivos pelos quais eu deveria ir. Quando o querer e o certo a se fazer entram
em conflito, fica muito difícil chegar a uma solução.
Caminho pelos corredores do hospital em direção ao quarto da Sarah, mas
quando estou prestes a abrir a porta, a abrem primeiro. Me deparo com a avó,
Diana, saindo do quarto. Primeiro ela exclama pela surpresa e depois abre um
sorriso gentil.
— Bom dia, meu jovem, ainda bem que você chegou — Ela comenta,
fechando a porta atrás de si, mas ficando no caminho — Estava começando a
duvidar sobre isso.
— Eu não deixaria a Sarah sozinha, cumpro com a minha palavra —
Respondo sério.
— Se cumpre tão bem com sua palavra, por que a Sarah é tão insegura
sobre você? — Ela pergunta com seriedade, mas a sensação que eu tenho é que
levei um soco no estômago — Não precisa me responder, apenas quero que
pense sobre isso.
— Sim, senhora — Respondo educado. Isso realmente ficará no meu
pensamento, que já está completamente caótico.
— Vocês são jovens…
— Eu já tenho mais de trinta anos — A corrijo e ela ri, e balança a mão no
ar como se eu tivesse falado uma bobagem.
— Eu tenho mais de setenta — Ela dá de ombros e continua — Vocês são
jovens, e jovens cometem erros, mesmo quando amam. Sei que pode estar
inseguro, ela se machucou no seu carro, mas não foi você quem a machucou, não
se culpe por coisas que não são sua culpa.
Se ela soubesse a verdade, ainda diria essas coisas?
— Está tudo bem — Afirmo, mas não tenho tanta certeza disso.
— Espero que seja verdade — Ela suspira — Não quebre o coração da
Sarah, ela não merece isso e você nunca encontrará outra garota como ela.
— Tenho certeza que não, ela é única — sou sincero ao concordar com ela,
Sarah é única para mim.
— Não seja imprudente — Diana diz em tom de aviso e sai da frente da
porta, finalmente liberando a passagem.
Sarah está dormindo pacificamente. Ela é tão linda. Mesmo com alguns
hematomas, sua beleza é única e incomparável. Ela é perfeita por dentro e por
fora.
E eu a amo.
— Bom dia — Sussurro quando percebo que ela está acordando.
— Bom dia — Ela responde um pouco rouca de sono.
— Pronta para receber alta? — Pergunto e ela sorri acenando.
— Ansiosa para ir para casa — Ela afirma e suspira sonolenta.
Logo a médica aparece e dá a alta para a Sarah, também deixa uma receita
com as medicações e cuidados básicos que ela irá precisar até estar
completamente recuperada. Guardo a receita comigo, pois me certificarei de
comprar e dar cada remédio para garantir que ela está seguindo tudo como o
recomendado.
— Minha avó acabou de me mandar uma mensagem avisando que foi para
casa de táxi — Sarah fala um pouco surpresa — Achei que ela ia com a gente.
— Talvez ela quisesse ir para casa logo — Dou de ombros e continuo
ajudando ela a se trocar — E talvez seja até melhor assim.
— Por quê? — Ela pergunta confusa, enquanto eu coloco o vestido nela.
— Quero passar com você em um lugar antes, preciso fazer uma coisa —
Explico, e ela assente ainda com as sobrancelhas juntas de confusão — Logo
você irá entender.
— Estou bonita? — Ela pergunta dando uma voltinha bem devagar.
— Está perfeita, sempre está — A elogio sincero. — Está pronta?
— Sim! — Ela exclama sorrindo e eu indico a cadeira de rodas para ela
sentar, e ela suspira perdendo o sorriso — Eu posso andar.
— Poder não significa que deve, você pode ir até o carro na cadeira de
rodas ou no meu colo, você escolhe — Sorrio e ela revira os olhos — Não tem
outra opção.
— Vou na cadeira — Ela senta um pouco emburrada, mas eu acho fofo —
temos que passar na recepção ou na administração para resolver sobre a minha
conta.
— Para quê? — Pergunto confuso.
— Eu tenho certeza que isso aqui não foi de graça — Ela diz sarcástica e
eu rio.
— Já está pago.
— Você realmente tem dinheiro?
— Isso ainda não estava óbvio? — Devolvo a pergunta rindo.
— Quando eu te conheci, você era um sem teto — Ela dá de ombros rindo.
— Muito engraçado, Sarah — Respondo revirando os olhos, mas achando
divertido.
Paro a cadeira de rodas ao lado do carro e abro a porta, e a ajudo sentar no
banco do passageiro. Abro a porta de trás e pego um buquê de flores para ela,
que as recebe sorrindo.
— São lindas, obrigada — Ela agradece abraçando as flores. Eu do a volta
no carro e entro no banco do motorista e a Sarah está me olhando com a
sobrancelha arqueada — E aquele outro buquê?
— São para outra pessoa — Respondo começando a dirigir.
— Quem?
— Quando o sequestraram a minha mãe e a mataram, também cremaram o
seu corpo e eu não pude velar ou me despedir. Precisava me vingar, e sinto muito
por ter te envolvido no processo — Suspiro, e olho para ela rapidamente e vejo
sua expressão de compreensão — Minha mãe amava a ponte de Golden Gate.
— As flores são para ela — Ela não pergunta, afirma.
Luna explicou tudo com muitos detalhes, sobre salário, cargo, e até
mesmo avisou que inicialmente, e se eu quisesse, poderia ficar em um
prédio da empresa para funcionários. O cargo seria similar ao da Heather, o
que significa que não seria só uma transferência, mas uma promoção
também. É uma oportunidade excelente para a minha carreira como
publicitária, e dentro da empresa. E tenho três dias para responder.
Caminho de um lado para o outro na minha sala de estar, me sentindo
confusa e por isso decido ligar para a Ellen, preciso da minha melhor
amiga.
— Amiga, preciso de conselhos — Digo assim que ela atende, me
sentindo a beira do desespero.
— Estou aqui e ouvindo — Ela responde rápido, e preocupada —
Quer que eu vá para a sua casa?
— Está tudo bem, só preciso que você me escute e me aconselhe, mas
tem que ser agora — Explico enquanto me sento no sofá.
— Pode falar, o que aconteceu? — Ela pergunta mantendo a voz
calma.
— Recebi uma proposta de promoção, mas em Los Angeles —
Resumo tudo, me sentindo muito apreensiva — Não sei o que fazer.
— A proposta é ruim?
— Não, vai dar um salto da minha carreira.
— E o que te impede de ir? — Ela pergunta e eu fico em silêncio —
O que São Francisco tem que te segura aqui?
— Ellen… — Suspiro sentindo minha garganta fechar pela vontade
de chorar — Eu não sei.
— Você sabe, mas precisa pensar bem no que vai te fazer feliz a
longo prazo. E, o meu conselho, ele foi embora, Sarah, vá também. Não
perde nenhuma oportunidade por uma esperança presa no fundo do seu
coração — Ela diz em um tom suave, me consolando e aconselhando —
talvez recomeçar em outro lugar seja exatamente o que você precisa.
Respiro fundo, mas acabo fungando porque as lagrimas já estão
correndo pelo meu rosto. Eu preciso pensar em mim e em me reconstruir,
não posso travar a minha vida por medo, por saudade, por nada. Tudo bem
não ter sorte no amor, mas pelo menos sei que a minha carreira não
prometera ficar comigo e irá partir um dia.
— Eu vou para Los Angeles — Afirmo com a voz embargada.
Colo Depois de me decidir a noite passada, e chorar até dormir, mas
agora tenho certeza do que quero fazer. Vou para Los Angeles. Ellen e
Heather tem razão quando dizem que essa é a minha chance para um
recomeço de mim. Preciso juntar os pedaços que ficou depois que o Luke
foi embora e me reconstruir. Sempre fui forte, e continuarei sendo.
— Tomo sua decisão? — Heather pergunta após me cumprimentar ao
entrar no elevador.
— Tomei, vou aceitar a proposta, é isso que tenho que fazer por mim,
esse é o melhor para mim — Respondo, sorrindo — Mas vou sentir muita
falta daqui.1
— Nós também vamos — Ela responde me abraçando.
Saímos do elevador e eu vou direto para a sala da Luna, porque sei
que ela já está aqui. Cumprimento a Olivia que logo libera a minha entrada
na sala da Luna, que me recebe com um sorriso muito simpático.
— Bom dia, tudo bom? — Ela me cumprimenta.
— Bom dia, estou bem e você? — Pergunto e ela assente, indicando a
cadeira para que eu me sente — Eu já tenho uma resposta.
— Excelente, e qual é? — Ela questiona com um sorriso educado.
— Eu aceito, tenho certeza que será ótimo profissionalmente e
pessoalmente, o que só torna tudo melhor — Respondo e ela abre um
sorriso.
— Perfeito, tenho certeza que você não irá decepcionar — Ela fala
com segurança — você pode ir ao final de semana?
— Em três dias? — Pergunto surpresa, mas quanto antes, melhor —
Posso.
— Você pode ir organizar suas coisas, tudo será enviado para você
por e-mail, incluindo a passagem, as orientações e seu endereço — Ela
explica e eu assinto — Estamos com urgência na unidade de Los Angeles.
— Estarei lá em três dias — Garanto — Muito obrigada pela
oportunidade.
— Agradeça dando o seu melhor — Ela responde e eu sorrio,
garantindo que farei isso.
Me despeço dos meus colegas de trabalho e pego todos os meus itens
pessoais. Heather deseja muito sucesso na minha nova jornada e eu desejo o
mesmo para ela. Heather se tornou mais do que uma boa colega de trabalho,
se tornou uma amiga muito querida.
Mando uma mensagem para a minha mãe avisando que tenho um
assunto importante para falar, e pedindo para ela preparar um jantar no dia
seguinte para conversarmos. Sei que ela vai ficar curiosa, mas terá que
esperar um dia para saber, só vou contar no jantar.
Arrumei todas as minhas malas e caixas que vou levar, ficará muita
coisa para trás, mas tudo bem. É um recomeço e essa é a parte importante.
Respiro fundo, me preparando para o jantar. Eu queria que fossem apenas
meus pais e a avó Diana que ainda está aqui novamente, mas tenho certeza
que terá mais gente, minha mãe com certeza chamou todo mundo.
Estaciono o carro e respiro fundo algumas vezes, é só uma despedida,
amanhã estarei indo para Los Angeles, a cidade é muito próxima, está tudo
bem. É o meu destino.
Saio do carro e após alguns passos me deparo com a Patrícia e o
Dylan, ela está… grávida? Como eu não fiquei sabendo disso? Ela tem
olheiras e parece muito irritada, o Dylan não está muito diferente. Acho que
o relacionamento perfeito deles não aguentou um chifre.
— Que foi, caralho? — Patricia pergunta irritada e eu seguro irritada.
— Boa noite, priminha, parabéns pela gravidez — Sorrio irônica e
sigo o meu caminho para dentro de casa, ignorando-os completamente. A
vida está os levando ladeira abaixo.
Toco a campainha e minha mãe abre a porta me abraçando carinhosa
assim que me vê. Retribuo, ciente que sentirei falta dela. Eu a amo tanto.
Vamos juntas para o interior da casa, onde está meu pai, o tio Gavin e sua
esposa, e sorrio ao ver a vó Diana.
Cumprimento todos e logo arrumo um lugar para me sentar.
— Estou muito curiosa, qual é a notícia? — Minha mãe pergunta e eu
respiro fundo.
— Se for que você foi abandonada pelo seu namorado, a gente já
sabe — Escuto a voz da Patrícia e reviro os olhos.
— Sabe, para alguém que está grávida do noivo que a traiu, ainda
com a sua melhor amiga. Briga na porta de casa, e está completamente
destruída, está muito arrogante — Sorrio com falsidade — No seu lugar, eu
teria vergonha.
— Você já esteve no meu lugar — Ela contesta e eu rio.
— Não, não estive, porque no momento que esse lixo me traiu, eu o
deixei para trás e continuei a minha vida. De fato, também não estou com o
Luke, mas não sou menos independente e bem resolvida por isso — Sorrio
com um pouco de prepotência, acho que eu posso — Inclusive, esse jantar
foi marcado porque fui promovida e estou indo embora amanhã para Los
Angeles.
— Como assim? — Minha mãe pergunta e eu ignoro a Patrícia dando
piti e o Dylan reclamando.
— Exatamente isso, mãe, fui promovida e estou de mudança —
Respiro fundo ficando de pé — Estou em uma nova fase da minha vida,
será bom para a minha carreira e por isso aceitei.
— Estou feliz por você — Minha mãe diz e vejo meu pai inspirando
fundo.
— Parabéns, você realmente conseguiu — Meu pai comenta e eu
conto até dez mentalmente.
— O senhor não parece muito feliz por mim — Comento chateada,
mas ele nega.
— Eu estou feliz por você, minha filha, feliz que esteja trilhando seu
caminho e crescendo tão bem — Ele me abraça e eu me sinto emocionada,
está sendo mais tranquilo do que pensei que seria.
Mas admito que preferiria que a família da Patrícia não estivesse
aqui.
— Estou muito, muito orgulhosa de você, meu amor — Minha avó
diz, me abraçando no momento em que o meu pai me solta.
— É, parabéns — Minha tia diz, e eu sorrio forçada, é querer muito
que ela seja sincera em algo ou fique feliz por alguém.
— Então vamos comer para comemorar — Minha mãe diz, nos
chamando para a cozinha.
Patrícia e Dylan demoraram a ir para a cozinha, porque estavam
discutindo na sala. Meus tios não falam muito, acho que eles não estavam
esperando por isso. Mas o importante é que os meus pais ficaram felizes por
mim, e era isso que eu queria. E precisava.
Minha mãe chorou um pouco enquanto eu me despedia dela, mas eu
também. Meu pai me abraçou apertado e eu me senti protegida. Queria que
fosse sempre assim. Minha avó decidiu me acompanhar até o carro e agora
caminhamos em silêncio uma do lado da outra.
— Obrigada, vovó — Agradeço com um sorriso pequeno.
— Você vai se curar e ser muito feliz, tenho certeza disso — Ela diz e
me abraça rápido — A vida vai te recompensar sempre por ser uma pessoa
tão boa.
— Eu não sei se “tão boa” me define, mas espero que sim. —
Respondo e ela sorri um pouco.
— Faça uma boa viagem e não esqueça que eu te amo — Ela me
abraça e eu retribuo, por um segundo, me sentindo como uma criança de
novo.
— Onde viu ela? — Pergunto, não me aguentando. Sinto tanta falta dela
que não consigo me conter.
— Ela parece mais magra do que antes, mais distraída também. — Ele
comenta e eu fico preocupado. Será que ela não tem se alimentado direito? Eu
deveria ir até ela?
Mas o que eu diria? Só estou procurando qualquer desculpa para me
aproximar o suficiente para sentir o perfume dela, quem sabe até tocá-la. Me
sinto em privação, sinto como se eu fosse colapsar por ela a qualquer momento.
Será que tomei uma atitude precipitada?
Soco o volante do carro irritado ao perceber o que o Edgar fez, ele já sabia
por isso disse ter algo para me contar, mas não ia. Aquele idiota foi me provocar,
mas não deu a notícia inteira. Desgraçado.
— Devo ficar lisonjeado com a sua ligação? — Ele diz ao atender e eu
reviro os olhos.
— Você sabia que a Sarah tinha se mudado, por que não me contou? —
Pergunto irritado — Para onde ela foi?
— Descobriu mais rápido do que achei que demoraria — Ele fala em um
tom divertido — Não vou falar, você que está interessado, deve ir atrás das suas
próprias informações.
— Edgar…
— Foi muito bom falar com você, maninho, boa sorte — o filho da puta
desliga. Respiro fundo e faço uma chamada para o Alex.
Vou encontrar a Sarah e recuperar o amor da minha vida, nem que para
isso eu tenha que revirar o globo inteiro.
Arrumo o meu fone de ouvido enquanto o elevador sobe para o meu
andar. Três dias em Los Angeles e eu sinto que posso passar a minha vida
inteira aqui. Foi uma boa escolha.
Ainda sinto um enorme vazio no peito, sinto tanta falta do Luke que
às vezes parece que estou sem ar, mas vou me acostumar a viver sem ele,
vou me acostumar com essa ferida aberta. Um dia, eu sei que um dia, vou
me curar.
Estranho o fato da porta do meu apartamento estar só encostada,
tenho certeza que eu tinha trancado quando saí para ir ao mercado. Olho ao
redor, e noto que tem algumas coisas fora do lugar e começo a me sentir
apreensiva, entraram na minha casa? De novo?
Largo as compras no sofá e pego minha ampulheta, a trouxe por
causa da lembrança, mas olha ela sendo útil mais uma vez.
— Tem alguém aqui? — Pergunto me sentindo um pouco boba.
— Respira fundo, fica calma — Escuto a voz do Luke e o vejo
surgindo pelo corredor — Se você me der dois minutos para explicar.
— Eu vou chamar a polícia — provoco-o, porque lembro desse
momento, mas estou sentindo vontade de chorar.
— Eu posso só pegar o que é meu? Prometo que não quero te fazer
mal — Ele responde se aproximando de mim.
— Sua palavra não está valendo muito, você quebrou o meu coração
— Respondo, puxando o ar devagar — O que está fazendo aqui, Luke?
— Estou aqui para te implorar perdão, eu cometi um erro com você,
com nós — Ele segura a minha mão desocupada — Ir embora foi uma
péssima escolha, eu te amo, e quero poder ficar com você. Sem idas, sem
distância, apenas eu e você vivendo uma história, a nossa história.
— Por que eu deveria confiar em você? Eu já fiz isso uma vez e olha
onde estamos — Argumento, mas minha vontade é de me jogar nos braços
dele e me aconchegar — Eu não quero mais viver confusa sem saber o que
somos, o que você sente, se você vai ficar ou vai embora.
— Sinto muito por ter feito você se sentir assim, eu só conseguia
pensar no medo que tinha de perder para sempre que optei por isso. Foi
horrível. — Ele acaricia o meu rosto com carinho — A única forma de te
provar que eu estou falando a verdade é se você me deixar ficar, e eu só
preciso de uma chance para isso. Farei você feliz por toda a vida, eu
prometo.
— Você é um idiota, você vem quando quer, some quando dá na
telha…
— Não irei a lugar algum, se me aceitar de volta.
— E acha que é só invadir a minha casa e dizer algumas palavras
bonitas que está tudo bem, minha vontade é de socar você — Eu falo
irritada.
— Se vai te deixar melhor, pode bater — Ele dá de ombros.
— Você é mesmo um idiota — Reclamo e puxo ele para mais perto
— Sua sorte é que eu te amo.
— Me perdoa por tudo, vai ser diferente dessa vez. — Ele pede, seus
olhos brilham em expectativa.
— Vou te dar só uma chance — Eu aviso e ele sorri aberto.
— É tudo o que eu preciso.
Luke me beija, e eu sinto como se pudesse explodir. Senti tanta falta
dos beijos dele, da sua mão me segurando firme, do seu gosto. Seu beijo é
voraz, como se ele estivesse tentando me devorar, minha pele se arrepia e
eu me entrego.
Essa é a verdade, sempre vou me entregar para ele.
>FIM<