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Capítulo 2 – Tecido Nervoso

Augusto Valadão Junqueira


Lauren Mourão Poças

Introdução

O tecido nervoso apresenta dois principais componentes: 1) os


neurônios, que são células com longos prolongamentos com capacidade de
responder a estímulos e 2) as células da glia, que apresentam a função de
defesa, revestimento e isolamento, ocupando o espaço entre os neurônios, e
ainda participam de outras funções importantes abordadas mais adiante neste
capítulo.
No sistema nervoso central (SNC) há uma segregação entre os corpos
celulares dos neurônios e seus prolongamentos, fazendo com que sejam
reconhecidas duas porções distintas, denominadas substância branca e
substância cinzenta. A substância cinzenta é formada principalmente por corpos
celulares de neurônios, células da glia e prolongamentos de neurônios
amielínicos. A substância branca não contém corpos celulares de neurônios,
sendo constituída por prolongamentos de neurônios mielinizados e por células
da glia.
Dos principais componentes do tecido nervoso, o primeiro a ser
abordado será o neurônio.

Neurônios

Os neurônios são células nervosas altamente excitáveis, formadas por


um corpo celular, que aloja o núcleo e do qual partem prolongamentos. Quase
todos os neurônios apresentam 3 componentes básicos:
1) Corpo Celular: é o centro trófico da célula, sendo também capaz de receber
estímulos;
2) Dendritos: prolongamentos numerosos especializados na função de receber
os estímulos do meio ambiente, de células epiteliais sensoriais ou de outros
neurônios;
3) Axônio: prolongamento único especializado na condução de impulsos que
transmitem informações do neurônio para outras células (nervosas, musculares
e glandulares por exemplo).

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Vale ressaltar que os corpos celulares dos neurônios localizam-se


somente na substância cinzenta. A substância branca não apresenta corpos de
neurônios, mas apenas prolongamentos destes. No SNP os corpos dos
neurônios são encontrados em gânglios e seus prolongamentos constituem os
nervos.

Corpo Celular

É o centro metabólico do neurônio, responsável pela síntese de todas as


proteínas neuronais, bem como pela maioria dos processos de degradação e
renovação de constituintes celulares, inclusive de membrana. As funções de
síntese e degradação justificam a presença das varias organelas envolvidas nas
tais funções como riqueza em ribossomos, Reticulo Endoplasmático Rugoso e
Liso, Complexo de Golgi e abundância em mitocôndrias relacionadas à síntese;
e à riqueza em lisossomas chamados grânulos de lipofuscina comprovam a
função de degradação.
A forma e o tamanho do corpo celular são variáveis. Por exemplo: os
grânulos cerebelares situados no córtex do cerebelo estão entre os corpos de
menor diâmetro do corpo humano medindo apenas 4-5μm, enquanto nesse
mesmo córtex, as células de Purkinje estão entre as maiores com diâmetro
entre 50-80μm. Quanto a forma, o corpo celular pode se apresentar em
formato estrelado, piramidal ou arredondado.

Dendritos

Em geral, são curtos assemelhando-se com galhos de árvore devido à


ramificação profusa destes. Os dendritos aumentam, e muito, a superfície
receptora dos neurônios, possibilitando a captação de grande variedade de
estímulos, traduzindo-os em alterações do potencial de repouso da membrana.
Axônio

A grande maioria dos neurônios, senão todos, possui apenas um axônio,


que apresenta um formato cilíndrico de comprimento e diâmetro variáveis que
se origina do corpo ou de um dendrito principal, em região denominada cone
de implantação. Estruturalmente, apresenta o axolema (membrana plasmática)
e o axoplasma (citoplasma axônico) contendo microtúbulos, neurofilamentos,
retículo endoplasmático liso, mitocôndrias e vesículas. É capaz de gerar, em seu
segmento, um potencial de ação ou impulso nervoso que significa uma
alteração do potencial de membrana, capaz de repetir-se ao longo do axônio
conservando sua amplitude de 70-110mV até atingir a terminação axônica.
Entretanto, podemos concluir que o axônio é especializado na geração e
condução do potencial de ação. Tal especialização da membrana plasmática se
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deve à presença de canais de sódio e potássio sensíveis à voltagem, isto é,


canais que permanecem fechados no potencial de repouso da membrana e se
abrem quando despolarizações de pequena amplitude os atingem.

Morfologia

De acordo com sua morfologia, os neurônios podem ser classificados nos


seguintes tipos:
1) Neurônios Multipolares: apresentam mais de 2 prolongamentos celulares
(vários dendritos e um axônio);
2) Neurônios Bipolares: possuem um dendrito e um axônio (ex: neurônios
bipolares da retina e do gânglio espiral do ouvido interno);
3) Neurônios Pseudo-unipolares: próximo ao corpo celular, apresentam um
prolongamento único, mas este logo se divide em dois, dirigindo-se um ramo
para periferia formando a terminação nervosa sensitiva, e outro ramo para o
SNC, estabelecendo contatos com outros neurônios.

Neuróglia

São as células mais freqüentes do tecido nervoso que se relacionam com


os neurônios tanto do SNC como do SNP, com funções estruturais e
metabólicas.
No SNC, a neuróglia compreende os astrócitos, oligodendrócitos,
micróglia e células ependimárias.

Astrócitos

São as maiores células de neuróglia e sua proximidade morfológica a


uma estrela fez com que fosse atribuída a esse tipo de células, seu nome. São
caracterizadas por inúmeros prolongamentos que se dirigem no sentido da
superfície dos órgãos do SNC (encéfalo e medula), onde irão formar uma
camada localizada na superfície do tecido nervoso, logo abaixo da pia-máter.
Os astrócitos são reconhecidos por dois tipos: (1) astrócitos
protoplasmáticos, localizados na substância cinzenta e; (2) astrócitos fibrosos,
encontrados na substância branca. Ambos os tipos de astrócitos, através de
expansões conhecidas como pés vasculares, apóiam-se em capilares
sanguíneos. Pode-se dizer que estas células são de fundamental importância na
constituição de barreira hematoencefálica. Seus processos contatam também os
corpos neuronais, dendritos e axônios e, de maneira especial, envolvem as
sinapses, isolando-as. Participam também do controle dos níveis de potássio
extra neuronal, captando esse íon e, desta forma, contribuindo na manutenção
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de sua baixa concentração extracelular. Compreendem o principal sítio de


armazenagem de glicogênio no SNC havendo evidências de que podem liberar
glicose para uso dos neurônios.
As cicatrizes que se formam no espaço deixado pelos neurônios do SNC
mortos por doenças ou acidentes são constituídas por astrócitos e decorrem de
hiperplasia (proliferação) e da hipertrofia (aumento de volume) dessas células.
Esse processo de proliferação de células de glia chama-se gliose.

Oligodendrócitos

São menores que os astrócitos e apresentam poucos prolongamentos.


Essas células são encontradas tanto na substância branca quanto na cinzenta,
apresentando-se nessa última, principalmente na proximidade dos corpos
celulares dos neurônios, constituindo células satélites que formam uma
simbiose com os neurônios. As células satélites dos gânglios nervosos (SNP)
têm morfologia diferente e não são consideradas células da glia. Já na
substância branca, os oligodendrócitos dispõem-se em fileiras, entre as fibras
nervosas (oligodendrócitos interfasciculares) e são responsáveis pela formação
da mielina em axônios do SNC.

Micróglia

As células da micróglia são macrofágicas, fazendo parte do sistema


mononuclear fagocitário com funções de remoção, por fagocitose de células
mortas, detritos e microorganismos invasores; aumentam no caso de
inflamação, especialmente pelo novo aporte de monócitos, vindos pela corrente
sanguínea Nesse caso, são denominados microgliócitos reativos, podendo estar
repletos de vacúolos digestivos, contendo restos celulares.
O corpo dessas células é alongado e pequeno, com núcleo denso e
também alongado. São pouco numerosas, sendo encontradas tanto na
substância branca como na cinzenta.

Células Ependimárias

Estas células derivam do revestimento interno do tubo neural


embrionário e se mantêm em arranjo epitelial, enquanto as demais daí
originadas se diferenciam em células da neuróglia. São células que forram,
como epitélio, as paredes dos ventrículos cerebrais e do canal central da
medula espinhal e estão em contato com o líquido cefalorraquidiano encontrado
nessas cavidades.
Nos ventrículos cerebrais, um tipo de célula ependimária modificada
recobre tufos de tecido conjuntivo, rico em capilares sanguíneos, que se
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projetam da pia-máter, constituindo os plexos coriódeos, responsáveis pela


formação do líquido cefalorraquidiano.

A neuróglia periférica (do SNP) compreende as células satélites e as


células de Schwann derivadas da crista neural. As primeiras envolvem pericários
dos neurônios dos gânglios sensitivos e do Sistema Nervoso Autônomo
enquanto as células de Schwann circundam os axônios, formando sua bainha
de mielina.

Fibras Nervosas

As fibras nervosas são constituídas por um axônio e suas bainhas


envoltórias. Grupos de fibras nervosas formam os feixes ou tratos do SNC e os
nervos do SNP.
Todos os axônios do tecido nervoso do adulto são envolvidos por dobras
únicas ou múltiplas formadas por uma célula envoltória. Nas fibras nervosas
periféricas, estas células são as de Schwann. No SNC as células
envoltórias são os oligodendrócitos. Axônios de pequeno diâmetro são
envolvidos por uma única dobra da célula envoltória, constituindo as fibras
nervosas amielínicas. Nos axônios mais calibrosos a célula envoltória forma um
dobra enrolada em espiral em torno do axônio. Quanto mais calibroso o axônio,
maior o número de envoltórios concêntricos provenientes da célula de
revestimento. O conjunto desses envoltórios concêntricos é denominado bainha
de mielina e as fibras são chamadas fibras nervosas mielínicas. A condução do
impulso nervoso é progressivamente mais rápida em axônios de maior diâmetro
e com bainha de mielina mais espessa. A bainha de mielina é descontínua, pois
se interrompe em intervalos regulares, formando os nódulos de Ranvier. O
intervalo entre dois nódulos é chamado de internódulo.

Nervos

Logo aos sair do tronco encefálico, da medula espinhal ou de gânglios


sensitivos, as fibras nervosas motoras e sensitivas reúnem-se em feixes que se
associam a estruturas conjuntivas (fibras colágenas), constituindo nervos
espinhais e cranianos. Devido à cor da mielina, os nervos são esbranquiçados,
exceto os raros nervos muito finos formados somente por fibras amielínicas.
O tecido de sustentação dos nervos é constituído por uma camada
fibrosa mais externa de tecido conjuntivo denso, o epineuro, que reveste o
nervo e preenche os espaços entre os feixes de fibras nervosas. Cada um

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desses feixes é revestido por uma bainha de várias camadas de células


achatadas, justapostas, o perineuro. Dentro da bainha perineural encontram-
se os axônios, cada um envolvido pela bainha das células de Schwann (já que
nervo existe apenas no SNP), com sua lâmina basal e um envoltório conjuntivo
constituído principalmente por fibras reticulares, chamado endoneuro.

Referências
1. Junqueira LC, Carneiro J. Histologia básica. 9th Ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; 1999.

2. Machado CRS. Tecido nervoso. In: Machado ABM. Neuroanatomia funcional.


São Paulo: Atheneu; 2002.17-33.

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