Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A periferia no centro
Visão Geral
O trato córtico-nuclear
2
Capítulo 8 – Nervos Cranianos
isso": ele não mais será chamado nervo, já que "nervo" é uma estrutura do
SNP. Tem-se então o seguinte fato: as fibras que partem dos neurônios
secundários (no bulbo olfatório) para dar continuidade à via olfatória, por mais
que veiculem as mesmas informações trazidas pelo "nervo olfatório", formam o
que passa a ser chamado trato olfatório (trato, indicando ser um feixe que
teve início já no SNC). Há um trato olfatório de cada lado, como há também
um bulbo olfatório de cada lado. Esses tratos percorrem a base do telencéfalo
em sentido ventro-dorsal até que cada um se divide em dois novos feixes, as
estrias olfatórias laterais (uma esquerda e uma direita) e mediais (uma
esquerda e uma direita). A região onde essa divisão acontece em cada trato
olfatório é chamada trígono olfatório. Esse nome pode ser entendido vendo-se
qualquer imagem que ilustre a referida divisão: o formato triangular é evidente.
As estrias olfatórias seguem então para o rinencéfalo, terminando assim a via
olfatória. O rinencéfalo, ou "córtex olfatório", é um agrupamento de estruturas
da região anterior do lobo temporal, divisão do telencéfalo que ainda será
estudada. A estria lateral de cada lado é ipsilateral, isto é, alcançará o
rinencéfalo do mesmo lado que o bulbo olfatório de onde teve origem. A estria
medial é contralateral – cruza na comissura anterior (estrutura que será vista
no estudo do diencéfalo) para chegar ao rinencéfalo do lado oposto.
4
Capítulo 8 – Nervos Cranianos
5
Capítulo 8 – Nervos Cranianos
olho misturadas com as da metade temporal do outro), essas fibras – que são
AS MESMAS que vinham desde a retina pelo "nervo" óptico – passam a
constituir um trato óptico de cada lado. Agora se assume o nome de estrutura
do SNC ("trato"), embora neste caso continue sendo basicamente a mesma
coisa que já era antes, histologicamente. Para entender a via basta guardar a
sequência: nervo óptico -> quiasma óptico (cruzamento de fibras) -> trato
óptico. O trato óptico dá a volta no diencéfalo e continua até chegar na região
posterior do tálamo, onde desemboca no corpo geniculado lateral. É aí onde
fica efetivamente o núcleo do II NC. Ou seja: o núcleo do nervo óptico fica no
diencéfalo, diferentemente de todos os outros nervos cranianos. Do tálamo,
partem fibras que seguem por radiações talâmicas (nome genérico dado aos
feixes que partem do tálamo ao córtex cerebral) para o córtex visual, localizado
no lobo occipital do telencéfalo.
7
Capítulo 8 – Nervos Cranianos
8
Capítulo 8 – Nervos Cranianos
Figura 8.1 – Trajeto da via óptica e seus principais pontos de lesão. (Ilustrações: Anuska M. O.
Lagrotta Pittella)
9
Capítulo 8 – Nervos Cranianos
1
Rotação externa (ou lateral, ou extorção) dos olhos: movimento de ajuste automático feito
pelo olho direito quando inclinamos a cabeça para a esquerda, ou com o esquerdo quando
inclinamos a cabeça para a direita. Na rotação interna (ou medial, ou intorção) acontece o
contrário.
10
Capítulo 8 – Nervos Cranianos
Síndromes:
Na lesão do IV NC há diplopia acentuada ao olhar para baixo. Isso
acontece porque o m. reto inferior sozinho não consegue puxar a pupila em
linha reta para baixo: há sempre um desvio medial, que tende a convergir os
olhos. O responsável por corrigir isso seria o m. oblíquo superior, que ao
empurrar a pupila para baixo faz nela também um desvio lateral, que se
neutraliza com o efeito do m. reto inferior. Na ausência do nervo troclear,
portanto, o doente conseguirá voltar apenas um de seus olhos para baixo,
enquanto o outro ficará "vesgo" nesta posição e causará a diplopia. Esse sinal
11
Capítulo 8 – Nervos Cranianos
12
Capítulo 8 – Nervos Cranianos
13
Capítulo 8 – Nervos Cranianos
14
Capítulo 8 – Nervos Cranianos
terço inferior da cabeça (fibras que estão "vindo"). O terceiro tipo de fibra
que o percorre está também "indo", mas neste caso para estruturas viscerais:
são as fibras pós-ganglionares do gânglio submandibular, responsáveis por
inervar as glândulas submandibular e sublingual, e do gânglio ótico,
responsáveis pela glândula parótida.
15
Capítulo 8 – Nervos Cranianos
16
Capítulo 8 – Nervos Cranianos
ramos V2 e V3), causando uma dor relatada na literatura como uma das mais
excruciantes. Pouco se conhece sobre sua causa. O curso vascular aberrante da
artéria cerebelar superior, cruzando o trigêmeo, é uma causa geralmente
citada.
Síndromes:
A lesão do nervo abducente causa estrabismo convergente no olho
afetado. Há diplopia em qualquer posição ocular, exceto ao olhar para o
lado oposto ao da lesão, pois neste caso a posição do olho normal coincide
com a do olho comprometido.
As causas disso podem ser várias: distensão por aumento da pressão
intracraniana, tumor encefálico, aneurisma no círculo arterial cerebral (polígono
de Willis), trombose de seio venoso. Uma causa digna de nota é a pressão do
seio cavernoso pela artéria carótida interna, que será explicada a seguir.
17
Capítulo 8 – Nervos Cranianos
Teste de memória: o que foi dito para você não se esquecer alguns
parágrafos acima? Parabéns para você que pensou: "que o nervo facial emite
alguns ramos antes de sair do canal facial". Pois bem, chegamos a eles: trata-
se da função parassimpática do nervo facial. Como dito, há dois núcleos
parassimpáticos que usam o nervo facial para transportar suas fibras pré-
ganglionares (este detalhe é importante; entenda mais sobre ele na seção
"entendendo a divisão craniana do sistema parassimpático"). Pelo núcleo
lacrimal (no interior da ponte) saem fibras que irão percorrer o seguinte
caminho: nervo intermédio -> gânglio geniculado (apenas passando, sem fazer
sinapse) -> nervo petroso maior 2 (ramo emitido no interior do canal facial, se
você guardou bem) -> nervo do canal pterigóideo (ao se juntar com o nervo
petroso profundo) -> gânglio pterigopalatino. Tem-se assim o fim de um
quebra-cabeça deixado incompleto no estudo do ramo maxilar do nervo
trigêmeo: se lembrarmos bem, do gânglio pterigopalatino (onde essas fibras
pré-ganglionares do nervo facial farão sinapse com os neurônios pós-
ganglionares) partem as fibras levadas pelo V2 para as glândulas lacrimais e
nasais. Essas glândulas são inervadas, portanto, por um trabalho conjunto
entre os nervos V e VII. O mesmo tipo de trabalho conjunto acontece também
com a outra via parassimpática do VII NC: do núcleo salivatório superior
(também na ponte) saem fibras parassimpáticas que cursam pelo nervo
intermédio -> gânglio geniculado -> nervo corda do tímpano (outro ramo
emitido no interior do canal facial) -> nervo lingual -> gânglio
submandibular. Mesmo raciocínio, com a diferença que agora as fibras pós-
ganglionares serão transportadas pelo ramo mandibular (V3) do trigêmeo,
como já foi dito no estudo do V NC, até as glândulas submandibulares e
sublinguais.
Conclusão sobre as funções parassimpáticas do VII NC: é correto afirmar
que o nervo facial inerva as glândulas lacrimais, nasais, submandibulares e
sublinguais? Não. Ele apenas faz a primeira metade deste trabalho, conduzindo
as fibras pré-ganglionares de cada uma dessas vias até os seus respectivos
gânglios. Para entender isso melhor, consulte a seção "entendendo a divisão
craniana do sistema parassimpático".
Se você não entendeu algo sobre o nervo facial, os resumos
esquematizados abaixo podem ajudar.
2
"Mas é preciso decorar os nomes de todos esses ramos/nervos?" De forma alguma. Mas é de
grande utilidade entender esses caminhos. Se não estiver conseguindo entender o conteúdo
deste parágrafo, tente acompanhá-lo juntamente com uma figura do nervo facial de um atlas
de anatomia. Acompanhe e entenda o que é dito, sem a necessidade de decorar nada disso.
Grave apenas o que está em negrito.
20
Capítulo 8 – Nervos Cranianos
3
Lembre-se da consideração feita na segunda nota de rodapé (²).
4
São os mesmos "nervo lingual" e "nervo corda do tímpano" citados nas vias parassimpáticas.
Eles levam as fibras parassimpáticas para o gânglio submandibular e trazem as fibras gustativas
da língua. Isso acontece porque a língua e o gânglio submandibular são extremamente
próximos.
21
Capítulo 8 – Nervos Cranianos
5
Como o nervo corda do tímpano é emitido pelo facial antes que este saia do canal facial, o
referido ramo acaba saindo por uma abertura própria, chamada fissura petrotimpânica (vimos
que o canal facial fica no interior da porção "petrosa" do osso temporal – daí o nome).
22
Capítulo 8 – Nervos Cranianos
seja: o córtex motor de cada lado inerva os neurônios do núcleo motor do facial
que irão inervar ambos os lados da metade superior da face. Por outro lado,
Figura 8.3 – Paralisias faciais. X.1 representa a área afetada pela lesão em 1 (paralisia facial central),
enquanto X.2 representa a área afetada pela lesão em 2 (paralisia facial periférica).
23
Capítulo 8 – Nervos Cranianos
24
Capítulo 8 – Nervos Cranianos
25
Capítulo 8 – Nervos Cranianos
Síndromes:
As lesões do VIII NC (isto é, lesões que afetem o nervo já unificado,
após ter atravessado o meato acústico interno) causam zumbido e queda da
audição (pela compressão das fibras vindas do nervo coclear) e vertigem
(pela compressão das fibras vindas do nervo vestibular). Se a lesão for na
região do meato acústico interno ou no ângulo ponto-cerebelar, é provável que
haja também comprometimento dos nervos facial e intermédio (VII NC).
As lesões isoladas das fibras do nervo coclear podem causar
diferentes tipos de perda auditiva. A lesão periférica, isto é, quando se lesa o
próprio nervo coclear, causa surdez ipsilateral, pois o ouvido do lado lesado
não conseguirá mais captar nenhum som. Isso pode ocorrer, por exemplo, por
uma compressão tumoral. Existem dois tipos de surdez: a surdez de
condução (em que a lesão está na orelha externa ou média, como acontece
nos casos de otite média ou qualquer inflamação severa desta região) e a
surdez neurossensorial (quando o problema está na própria cóclea ou nas
vias auditivas). A lesão central das vias auditivas apenas reduz a audição de
ambos os lados, visto que são vias bilaterais desde a comunicação dos núcleos
cocleares com os núcleos do colículo inferior. A causa de uma lesão central
pode ser um AVE ou crescimento tumoral.
26
Capítulo 8 – Nervos Cranianos
Síndromes:
As lesões do IX NC são raras e geralmente imperceptíveis. Pode haver
perda do paladar no 1/3 posterior da língua, perda do reflexo do vômito no lado
lesado ou ainda piora na deglutição pela fraqueza ipsilateral do m.
estilofaríngeo.
Geralmente é acometido juntamente com os nervos cranianos X e XI
(que, como será dito, também atravessam o forame jugular), caracterizando a
síndrome do forame jugular.
A neuralgia do glossofaríngeo é rara e de causa desconhecida. Consiste
em uma dor intensa abrupta desencadeada pela deglutição, protusão da língua,
fala ou toque da tonsila palatina.
O vago é o mais longo dos nervos cranianos, e por isso tem esse nome:
significa errante, pois ele percorre sozinho as cavidades torácica e abdominal.
É também um nervo misto: é motor (eferente visceral especial), sensitivo
(aferente geral e especial) e parassimpático (eferente visceral geral). Emerge
do sulco lateral posterior do bulbo inferiormente ao nervo glossofaríngeo e
atravessa o forame jugular, formando aí seu gânglio superior. Um pouco
mais abaixo, forma também o gânglio inferior. O funcionamento é o mesmo
dos gânglios do IX NC.
O núcleo do trato solitário, no bulbo, tem duas divisões. A parte
superior é também conhecida como núcleo gustatório, pois recebe as
27
Capítulo 8 – Nervos Cranianos
Síndromes:
Como o nervo vago é longo e repleto de ramos com finalidades
diferentes, suas lesões podem causar sintomas variados.
Uma lesão do nervo laríngeo superior (ramo do vago) causa
anestesia da parte superior da laringe e paralisia do músculo cricotireóideo, o
que faz o paciente ficar com voz fraca que gera um grande desgaste.
Lesão do nervo laríngeo recorrente, se for unilateral, causa
disfonia (rouquidão) por paralisar as cordas vocais. Se a lesão for bilateral,
há afonia (perda completa da voz) e estridor inspiratório (ruído rude e
agudo sempre que o doente inspira). As causas mais comuns de lesão do n.
laríngeo recorrente são: aneurisma do arco da aorta, cirurgias do pescoço,
câncer da laringe ou da tireóide.
28
Capítulo 8 – Nervos Cranianos
Síndromes:
Lesões do nervo acessório causam queda do ombro.
Síndromes:
Lesões do nervo hipoglosso causam paralisia da metade ipsilateral
da língua. Há desvio da língua para o lado paralisado, pelo mesmo
raciocínio do que acontece com a mandíbula na lesão do trigêmeo: o lado
intacto permanece em contração, enquanto o lado lesado "amolece"; a
estrutura então se rebaixa pendendo para o lado em que a falta de tração gera
falta de apoio.
29
Capítulo 8 – Nervos Cranianos
30
Capítulo 8 – Nervos Cranianos
31
Capítulo 8 – Nervos Cranianos
Reflexos integrados
33
Capítulo 8 – Nervos Cranianos
colículo superior pelo trato tecto-espinhal (já estudado) até os núcleos motores
no corno anterior da medula, para a realização de movimentos corporais.
O reflexo vestíbulo-ocular começa no ouvido interno. Os receptores
nas cristas dos canais semicirculares do ouvido interno detectam o movimento
da endolinfa e geram uma aferência que segue pela via vestibular tradicional:
gânglio vestibular --nervo vestibular-(passagem pelo meato acústico interno)-
nervo vestibulococlear--> núcleos vestibulares. Dos núcleos vestibulares partem
fibras pelo fascículo longitudinal medial para os núcleos dos nervos envolvidos
com os movimentos oculares: núcleos do nervo oculomotor (III NC), troclear
(IV NC) e abducente (VI NC). Por esses nervos partirá a eferência motora que
ajustará os olhos. Este reflexo serve para manter a fixação do olhar mesmo que
a cabeça se mova. Se o estímulo for exagerado, poderá haver nistagmo
(movimento ocular oscilante).
O reflexo fotomotor tem um raciocínio parecido com o de piscar: o
estímulo se dá pela luz, e portanto a aferência é pelo nervo óptico. "Motor" se
refere à constrição da pupila (miose) diante do estímulo luminoso. A eferência
é, portanto, pelo nervo oculomotor, que parte do núcleo de Edinger-Westphal
(ou núcleo visceral do oculomotor) para fazer a inervação parassimpática da
pupila, chegando ao músculo esfíncter da pupila. A particularidade da via deste
reflexo é que as fibras da retina, embora cheguem ao corpo geniculado lateral,
passam por ele sem fazer sinapse e ganham o braço do colículo superior para
chegar aos chamados neurônios pré-tectais. A importância desses neurônios é
que eles enviam fibras de duas formas: a) de forma direta para o núcleo de
Edinger-Westphal do mesmo lado, gerando o chamado reflexo fotomotor
direto (do mesmo lado estimulado); b) de forma cruzada – cruzando pela
comissura posterior, estudada no capítulo do diencéfalo – para o núcleo de
Edinger-Westphal do lado oposto, gerando o reflexo fotomotor indireto (ou
consensual). Sendo portanto uma via bilateral, o raciocínio das lesões deste
reflexo é o mesmo do reflexo corneano. Se há lesão de um nervo óptico, além
de haver cegueira monocular, haverá também abolição do reflexo fotomotor
(tanto direto quanto indireto) quando se ilumina o olho do lado lesado, pois não
mais haverá aferência por esse estímulo; o estímulo no olho do lado
preservado, por outro lado, causará miose reflexa nos dois olhos (pelo
cruzamento na comissura posterior). Se a lesão for em um nervo oculomotor, a
miose reflexa será abolida no olho do lado lesado independentemente de qual
olho seja estimulado, ao passo que a pupila do olho do lado preservado
continuará a se contrair mediante estimulação de qualquer um dos olhos.
O reflexo do vômito começa por aferência principalmente dos nervos
IX (glossofaríngeo) e X (vago), que levam estímulos de possíveis agressões ao
núcleo do trato solitário. Este núcleo se comunica com os neurônios de uma
região vizinha a ele, chamada área postrema (o "centro do vômito"), de onde
partem informações para três destinos: núcleo dorsal do vago, formação
34
Capítulo 8 – Nervos Cranianos
Referências
1. Machado ABM. Neuroanatomia Funcional. 2nd ed. São Paulo: Atheneu; 2006.
2. Moore KL, Dalley AF. Anatomia Orientada para a Clínica. 5th ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan; 2007.
3. Rubin M, Safdieh JE. Netter Neuroanatomia Essencial. 1st ed. Rio de Janeiro:
Elsevier; 2008.
35