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Neuropsicologia Tronco Cerebral e Sistema

Límbico

Introdução

O Cérebro é a parte do sistema nervoso central dos vertebrados,


que fica dentro do crânio. Na espécie humana, pesa 1,3 kg e é uma
massa de tecido cinza-róseo, composto por cerca de 100 biliões de
células nervosas, conectadas umas às outras e responsáveis pelo
controle de todas as funções mentais. Além das células nervosas
(neurónios), o cérebro contém células da glia (células de
sustentação), vasos sanguíneos e órgãos secretores.

O cérebro é o centro de controlo do movimento, do sono, da


fome, da sede e de quase todas as actividades vitais necessárias à
sobrevivência. Todas as emoções humanas, como o amor, o ódio, o
medo, a ira, a alegria e a tristeza, também são controladas pelo
cérebro. Ele está encarregado ainda de receber e interpretar os
inúmeros sinais enviados pelo organismo e pelo exterior.

A partir do exterior, o cérebro divide-se nas seguintes partes


distintas, mas conectadas: o telencéfalo, o diencéfalo, o cerebelo e o
tronco cerebral. O cérebro é protegido pelo crânio e, além disso, é
recoberto por três membranas chamadas meninges (a dura-máter, a
aracnóide e a pia-máter).

Neste trabalho iremos abordar:

1) O Tronco cerebral, dividido em três partes: o bulbo raquidiano,


a ponte de Varólio ou a protuberância anular e o mesencéfalo.

2) O Sistema límbico que inclui estruturas como o Tálamo, o


Epitálamo, o Hipocampo, o Hipotálamo, as Amígdalas, o Cíngulo e a
região do Septo.

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1. TRONCO CEREBRAL

O tronco cerebral é uma estrutura que se estende desde a


medula espinhal até à lâmina terminal. Actua como área de
passagem para feixes sensitivos e motores, feixes estes que podem
ter origem no próprio tronco e descem para a medula ou sobem para
regiões mais rostrais.

Possui três funções gerais; (1) recebe informações sensitivas de


estruturas cranianas e controla os músculos da cabeça; (2) contém
circuitos nervosos que transmitem informações da medula espinhal
até outras regiões encefálicas e, em direção contrária, do encéfalo
para a medula espinhal; (3) regula a atenção, função esta que é
mediada pela formação reticular (agregação mais ou menos difusa de
neurônios de tamanhos e tipos diferentes, separados por uma rede de
fibras nervosas que ocupa a parte central do tronco encefálico).

Dos 12 pares de nervos cranianos, 10 fazem conexão no tronco


encefálico.

Os tractos descendentes que passam pelo Tronco Cerebral são


exactamente os mesmos que os da medula. No que diz respeito aos
tractos ascendentes, os que se encontram no tronco cerebral são os
que se encontravam já na medula mais o Lemnisco Medial, que se
dirige ao tálamo, o Lemnisco Trigemial, responsável pela condução
da sensibilidade somática da cabeça e termina no tálamo, e o
Lemnisco Lateral que se origina nos núcleos cocleares e termina no
corpo geniculado medial.

O Tronco Cerebral encontra-se dividido em três partes: Bulbo,


Ponte ou Protuberância e Mesencéfalo.

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1) O Bulbo é uma zona transacional que conecta a medula


espinhal (estrutura menos diferenciada) a estruturas mais
diferenciadas do encéfalo. O bulbo é a parte menor e mais caudal do
tronco encefálico. Deriva do mielencéfalo embrionário.

O Bulbo é uma estrutura muito importante para a vida uma vez


que é o centro de controlo e regulação das funções vitais. É também,
um órgão elaborador de actos reflexos.

Localizado logo abaixo da ponte, controla importantes funções do


nosso organismo, entre elas: a respiração, o ritmo dos batimentos
cardíacos e os já falados actos reflexos tais como a deglutição, o
vomito, a tosse e o piscar dos olhos.

Na parte anterior do Bulbo observa-se a continuação da fissura


mediana anterior e dos sulcos laterais anteriores. Entre a fissura
mediana anterior e o sulco lateral anterior, de cada lado, localiza-se
uma eminência, denominada pirâmide. As pirâmides são constituídas
por fibras que descem de áreas motoras do cérebro em direcção à
medula espinhal. Essas fibras cruzam o plano mediano na região
caudal do bulbo, obliterando a fissura mediana anterior: é a
decussação das pirâmides. Graças a esse cruzamento o hemisfério
cerebral esquerdo controla a musculatura do lado direito do corpo,
ocorrendo o inverso com o hemisfério cerebral direito. Lateralmente
ao sulco lateral anterior existe uma saliência de forma oval, a oliva,
que corresponde a um agrupamento de neurónios (o núcleo olivar
inferior) existente internamente. O bulbo é separado da ponte por um
sulco horizontal, o sulco bulbo-pontino.

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No Bulbo nascem sete dos doze nervos cranianos:

- Nervo Hipoglosso (12º par craniano) entre a pirâmide e a oliva.

- Nervo Glossofaríngeo (9º par craniano), Nervo Vago (10º par


craniano) e Nervo Acessório (11º par craniano) do sulco lateral
posterior, lateramente à oliva.

- Nervo Abducente (6º par craniano), Nervo Facial (7º par


craniano) e Nervo Vestibulococlear (8º par craniano), que se
originam do sulco bulbo-pontino.

Na parte mais caudal do Bulbo, estão presentes os sulcos laterais


posteriores, intermédios, e mediano posterior, bem como os
fascículos grácil e cuneiforme. Estes dois fascículos são constituídos
por fibras que sobem na medula e irão terminar nos núcleos grácil e
cuneiforme, representados na superfície do Bulbo sob a forma de
duas saliências denominadas, respectivamente, tubérculo do núcleo
grácil e tubérculo do núcleo cuneiforme.

Logo acima dos tubérculos, há a abertura do 4º ventrículo que


faz com que eles se afastem lateralmente. Acima do núcleo grácil e
do núcleo cuneiforme estão presentes dois feixes de fibras, um de
cada lado, que constituem os pedúnculos cerebelares inferiores. Eles
delimitam lateralmente o assoalho do quarto ventrículo e são
constituídos por fibras que do Bulbo se dirigem ao cerebelo.

É de notar que a maior parte do contorno posterior do tronco


encefálico é constituída pelo assoalho do 4º ventrículo que ocupa
regiões do Bulbo e da ponte. O 4º ventrículo é uma cavidade cujo
tecto é constituído essencialmente pelo cerebelo.

O 4º ventrículo comunica: a) com o 3º ventrículo através do


aqueduto cerebral; b) com o canal central da medula; c) com o
espaço subaracnóideo através das aberturas mediana e laterais do 4º
ventrículo.

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2) A Protuberância como o seu nome indica é uma saliência,


sendo limitada inferiormente pelo sulco bulbo-protuberancial ou sulco
bulbo- pôntico. O limite superior é o sulco ponto-peduncular, que a
separa do mesencéfalo, especificamente dos pedúnculos cerebrais. É
também conhecida por ponte de varólio, nome que resulta da sua
função.

É a ponte das vias que atravessam este nível e têm um percurso


longitudinal (descendente ou ascendente) ou transversal (para o
cerebelo), sendo visível, exteriormente uma estriação transversal,
causada por numerosos feixes de fibras que convergem de cada lado
para formar os pedúnculos cerebelares médios (dos quais mais
adiante falaremos) que penetram no cerebelo. Entre a ponte e o
pedúnculo cerebral médio localiza-se a emergência do nervo
trigêmio, 5º par craniano.

A ponte apresenta anteriormente um sulco longitudinal mediano,


o sulco basilar, que aloja a artéria basilar.

Ao nível microscópico apresenta um conjunto de condensações


de neurónios que correspondem aos núcleos dos nervos cranianos e
um conjunto de vias ou feixes, organizados segundo três tipos:

a) Vias ascendentes, que transportam todas as informações da


periferia vindas da medula e dirigindo-se para o tálamo.

b) Vias descendentes, que transportam informação vinda dos


níveis superiores e dirigindo-se para a medula (como, por
exemplo, as fibras córtico-medulares, que conduzem informação
do córtex para a medula, as fibras córtico- nucleares e córtico-
núcleo-pônticas, ou os feixes córtico- medulares, córtico-núcleo-
pônticos).

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c) Vias de associação, que ligam diferentes níveis do Sistema


Nervoso, nomeadamente o córtex como cerebelo. Para além destas
vias, existem também, na organização da ponte, agregados ou
núcleos celulares, formados por corpos celulares de neurónios
que têm uma função comum, como, por exemplo, os que
comandam os músculos expiratórios da grade costal, os que
formam o locus coeruleus (implicado no desencadeamento das
produções oníricas), os que constituem o núcleo terminal do
nervo auditivo, os que constituem o núcleo de origem do nervo
óculo-motor externo e facial e a parte motora do trigémeo, etc.

Em termos funcionais, a protuberância não é muito rica,


desempenhando o papel de charneira na distribuição da informação
ascendente, descendente e de associação, para além do seu papel de
controladora de funções vitais.

3) Finalmente, em posição rostral à Ponte, localiza-se o


Mesencéfalo, o mais curto segmento do tronco encefálico, estende-
se da ponte até o diencéfalo e ao terceiro ventrículo. A parte dorsal,
ou tecto do mesencéfalo, consiste em quatro pequenas elevações, os
pares dos colículos inferiores e dos colículos superiores,
separados por dois sulcos perpendiculares em forma de cruz. Na
parte anterior do ramo longitudinal da cruz aloja-se o corpo pineal,
que entretanto, pertence ao diencéfalo.

O Mesencéfalo é também representado pelos pedúnculos


cerebrais, duas colunas de fibras que penetram no cérebro e
delimitam entre si um espaço, denominado fossa interpeduncular.
Nesta, ocorre a emergência do nervo oculomotor: 3º par craniano.

Os pedúnculos cerebrais, estão situados acima da protuberância


e dirigindo-se para os hemisférios cerebrais, enquanto que a face
posterior fica encoberta com o cerebelo. Nos pedúnculos cerebrais
existem vários agregados, núcleos celulares, sendo o mais
importante, o Núcleo Rubro. Este localiza-se na parte mais espessa

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dos pedúnculos, tem esse nome porque apresentam uma cor rosada
em cortes feitos em peças não fixadas. É um núcleo de forma oval
situado no tegmento mesencefálico. Ao núcleo rubro chegam
principalmente fibras vindas do cerebelo e do córtex motor. Dele
partem fibras que se dirigem ao núcleo olivar inferior e nele se origina
também o trato rubro-espinhal. O núcleo rubro é responsável pelo
controlo da tonicidade muscular, abrangendo sobretudo músculos
esqueléticos e o sistema extra-piramidal.

Se removermos os pedúnculos cerebrais surgem os tubérculos


quadrigémeos, que constituem dois conjuntos de saliências de cada
lado da linha média, um localizado mais anteriormente – Tubérculos
Quadrigémeos Anteriores ou Colículos Superiores e outro mais
posteriormente – Tubérculos Quadrigémeo Posteriores ou Colículos
Inferiores. Logo abaixo dos Colículos Inferiores, ocorre a emergência
do Nervo Troclear: 4º par craniano. Os tubérculos quadrigémeos
estão ligados a funções reflexas, nomeadamente à reflexologia
pupilar (TQA) e à reflexologia primária ligada à estimulação acústica
(TQP). Estas formações codificam as posições visuais e auditivas em
intensidades de comando musculares com vista a orientar os
receptores na direcção dos estímulos. A reflexologia pupilar, para
além de permitir uma adaptação às diferentes intensidades luminosas
do ambiente, constitui também um indicador da actividade do
Sistema Nervoso Autónomo, dadas as suas conexões com estruturas
Diencéfalo-Telencefálicas; pelas conexões com os núcleos dos nervos
óculo-motores os tubérculos quadrigémeos anteriores também
participam na orientação e direccionamento dos movimentos
oculares. Quanto à reflexologia acústica, e no que concerne à sua
implicação em processos comportamentais complexos, está ainda
pouco explorada.

Podemos dizer que o mesencéfalo apresenta as seguintes


funções:

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. Conduz informação da medula espinhal ao prosencéfalo e vice-


versa;
. Possui neurónios envolvidos com o sistema sensorial, controle
do movimento e várias outras funções.
. O mesencéfalo contém axónios que descem do córtex cerebral
até o tronco encefálico e medula espinhal.

O Bulbo, a Ponte e o Mesencéfalo, referidos colectivamente como


Tronco Cerebral, medem então uma ampla variedade de funções. O
Tronco Cerebral contém vários conjuntos de corpos celulares
chamados de núcleos dos nervos cranianos. Alguns destes núcleos
recebem informações da pele e dos músculos da cabeça e também
grande parte da informação dos sentidos especiais, da audição,
equilíbrio e gosto. Outros núcleos controlam a saída motora para os
músculos da face, pescoço e olhos. Outra estrutura chave no Tronco
Cerebral é a difusa formação reticular, esta é ao nível das vias, a
mais importante, é constituída por um conjunto de células e fibras
nervosas com características próprias e que ocupam toda a região do
Tronco Encefálico, do Bulbo ao Mesencéfalo, preenchendo os espaços
não ocupados pelos núcleos e feixes de fibras bem individualizados,
os quais já referimos anteriormente.

A grosso modo, pode-se dividir a FR em uma zona reticular


medial onde podem ser encontradas grandes células, particularmente
no bulbo e na ponte, caracterizando uma região gigantocelular e uma
zona reticular lateral, com células menores, ocupando o terço lateral.

Relativamente às conexões (aferentes e eferentes) é necessário


ter em conta que a FR não é uma estrutura homogénea dado que os
seus diferentes “núcleos” têm diferentes conexões e funções.

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A extremidade inferior desta formação está em continuidade com


os inter neurónios medulares, através do feixe espino-reticular. Dessa
maneira a FR tem acesso a informações sensoriais que penetram na
medula pelos nervos espinhais. Por outro lado, núcleos de nervos
cranianos, como os núcleos do trigémeo, núcleos vestibulares e o
núcleo do trato solitário, também se projectam para a FR. Uma das
conclusões que podemos tirar é que, para ela parecem convergir
fibras portadoras das diferentes modalidades sensoriais.

A FR recebe ainda, fibras originadas no cerebelo, no córtex


cerebral e no corpo estriado. O Hipotálamo e partes do sistema
límbico também se projectam para esta, principalmente para a sua
chamada “Área Límbica Mesensefálica”

Relativamente às conexões eferentes a FR envia fibras para a


medula espinhal através de tratos retículo-espinhais. Outras conexões
se fazem com os núcleos de nervos cranianos, com o cerebelo, com o
corpo estriado e com o hipotálamo e áreas do sistema límbico. A FR
projecta-se ainda para o tálamo mais especificamente para os seus
núcleos intralaminares. Sendo que estes últimos se irão projectar
para o córtex cerebral, completando o circuito retículo-talâmico-
cortical .

Vimos que a FR é constituída por vários núcleos dispersos, no


entanto, alguns deles, encontram-se reagrupados em núcleos
específicos como: n. Vestibular; Locus Níger; Núcleo Rubro (já
mencionado anteriormente); n. Intersticial e Presticial e Corpo de
Luys. De uma maneira geral estes núcleos não são considerados
como fazendo parte da formação reticular propriamente dita, no
entanto têm conexões específicas e estreitas com esta formação,
comportando-se como centro de controlo pré-programados para
movimentos estereotipados.

Em termos funcionais podemos dizer que a FR é uma área


integradora do sistema nervoso. Para ela convergem as mais diversas

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informações de numerosas estruturas neurais, e dela partem


projecções para praticamente todo o resto do SNC. Tem sido
associada também a uma grande variedade de mecanismos,
incluindo: activação geral, nocicepção, habituação, antecipação da
recompensa, medo do choque, sono REM e processamento sensorial
multimodal, entre outros.

SISTEMA LIMBICO

O Sistema Límbico actua no controle das nossas actividades


emocionais e comportamentais, assim como nos impulsos
motivacionais.

Em 1978, o neurologista francês Paul Broca observou que na


superfície medial do cérebro dos mamíferos, logo abaixo do córtex,
existe uma região constituída por núcleos de células cinzentas
(neurónios) a qual ele deu o nome de lobo límbico (que traduz a ideia
de círculo, anel, em torno de). Uma vez que ela forma uma espécie
de borda ao redor do tronco encefálico, este conjunto de estruturas
foi mais tarde denominado Sistema Límbico, e surgiu com a
emergência dos mamíferos inferiores. É este sistema que comanda
certos comportamentos necessários à sobrevivência de todos os
mamíferos.

As Estruturas Cerebrais do Sistema Límbico envolvidas na


formação das Emoções são as seguintes:

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1. Amígdala

A destruição experimental das Amígdalas (são duas, uma para


cada um dos hemisférios cerebrais) faz com que o animal se torne
dócil, sexualmente indistinto, afectivamente descaracterizado e
indiferente a situações de risco. O estímulo eléctrico agindo nestas
estruturas provoca crises de violenta agressividade. Em humanos, a
lesão da Amígdala faz, entre outras coisas, com que o individuo perca
o sentido afectivo da percepção de uma informação vinda de fora,
como a visão de uma pessoa conhecida. Ele sabe quem está a ver
mas não sabe se gosta ou desgosta da pessoa em questão.
Localizada na profundidade de cada lobo temporal anterior, a
Amígdala funciona de modo íntimo com o Hipotálamo. É o centro
identificador de perigo, gerando medo e ansiedade e colocando o
animal em situação de alerta, preparando-o para fugir ou lutar.

2. Hipocampo

Está envolvido com os fenómenos da memória de longa duração.


Quando ambos os Hipocampos (direito e esquerdo) são destruídos,
nada mais é gravado na memória. Um Hipocampo intacto possibilita
ao animal comparar as condições de uma ameaça actual com
experiências passadas similares, permitindo-lhe, assim, escolher qual
a melhor opção a ser tomada para garantir a sua preservação.

3. Tálamo

As lesões ou estimulações do dorso medial e dos núcleos


anteriores do Tálamo estão correlacionadas com a reactividade
emocional do homem e dos animais. A importância dos núcleos na

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regulação do comportamento emocional, possivelmente decorre, não


de uma actividade própria, mas das conexões com outras estruturas
do Sistema Límbico. O núcleo dorso-medial do Tálamo conecta-se
com as estruturas corticais da área pré-frontal e com o Hipotálamo.
Os núcleos anteriores ligam-se aos corpos mamilares no Hipotálamo
e, através destes, via Fórnix, com o Hipocampo e com o Giro
Cingulado. Assim, tem como principal função a integração sensório-
motora.

4. Hipotálamo

É parte mais importante do Sistema Límbico. Além dos seus


papéis no controle do comportamento, esta área também regula a
função de abastecimento do sistema endócrino através de uma
glândula localizada no seu assoalho, a Hipófise, e processa inúmeras
informações necessárias à constância do meio-interno corporal
(homeostasia). Coordena, por exemplo, a temperatura, o impulso
para comer e beber, a pressão arterial, os ritmos biológicos, etc.
Estas funções são, em conjunto, denominadas funções vegetativas do
encéfalo, e o seu controle está relacionado com o comportamento. O
Hipotálamo mantém vias de comunicação com todos os níveis do
Sistema Límbico.

O Hipotálamo desempenha, ainda, um papel nas emoções.


Especificamente, as partes laterais parecem envolvidas com o prazer
e a raiva, enquanto que a porção mediana parece mais ligada à
aversão, ao desprazer e à tendência ao riso (gargalhada)
incontrolável.

De um modo geral, contudo, a participação do Hipotálamo é


mais importante na expressão e manifestações sintomáticas dos
estados emocionais do que na génese destes. A via ou trajectória dos
estímulos emocionais faz-se em dois sentidos, tomando-se o

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Hipotálamo como ponto de referência. Passam pelo Hipotálamo,


vindo do Sistema Límbico (Amígdala) e dirigem-se aos órgãos
efectores (glândulas), porém, retornam ao Sistema Límbico, vindos
do próprio Hipotálamo aos centros límbicos e, destes, aos núcleos
pré-frontais, aumentando, por um mecanismo de feed-back negativo,
a ansiedade, podendo até chegar a gerar um estado de pânico.

O Hipotálamo controla a actividade das vísceras ou seja, controla


o SNA, através do Tronco Cerebral. Isto é realizado de duas formas:
Primeiramente, ele projecta-se para três importantes regiões do
Tronco Cerebral e da Medula Espinhal: 1 - projecta-se para o núcleo
do trato solitário, o principal recipiente dos influxos sensoriais
provenientes das vísceras; 2- projecta-se para regiões do Tronco
Cerebral no Bulbo Ventral Rostral, que controla a saída (pré-
glangionar) importante do SNA simpático e 3 – projecta-se
directamente para o fluxo da saída autonómica da Medula Espinhal.

Sobre o Sistema Endócrino o Hipotálamo exerce a sua influência


directa e indirectamente. Directamente esta influência dá-se através
da secreção de produtos neuroendócrinos directo na circulação
sanguínea a partir da porção posterior da glândula Hipófise.
Indirectamente a influência dá-se pela secreção dos chamados
hormônios reguladores, os quais actuam liberando ou inibindo outras
glândulas do organismo, tais como as supra-renais, tiróide,
paratiróides e sexuais.

Assim, podemos dizer que o Hipotálamo tem uma importância


inversamente proporcional ao seu tamanho, já que ocupa menos de
1% do volume total do cérebro humano.

5. Giro do Cíngulo

O Giro do Cíngulo está situado na face medial do cérebro entre o


sulco cingulado e o corpo caloso, que é um feixe nervoso que liga os
2 hemisférios cerebrais.

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Há ainda muito por conhecer a respeito deste giro, mas sabe-se


que a sua porção frontal coordena odores e visões com memórias
agradáveis de emoções anteriores. Esta região participa ainda, na
reacção emocional à dor e na regulação do comportamento
agressivo. A ablação do giro cingulado (cingulectomia) em animais
selvagens domestica-os totalmente. A simples secção de um feixe
desse giro (cingulomia), interrompendo a comunicação neural do
circuito de Papez, reduz o nível de depressão e de ansiedade pré-
existentes.

6. Tronco Cerebral

O Tronco Cerebral também é uma região responsável pelas


reacções emocionais, porém, de forma mais primitiva. Na verdade,
apenas respostas reflexas, de vertebrados inferiores, como répteis e
os anfíbios. O Tronco Cerebral compõe-se da Formação Reticular e do
Locus Coeruleus, que é uma massa concentrada de neurónios
secretores de noradrenalina. É importante assinalar que, até mesmo
em humanos, estas estruturas primitivas continuam a participar, não
só dos mecanismos de alerta, vitais para a sobrevivência, mas
também da manutenção do ciclo vigília-sono.

7. Área Tegmental Ventral

Grupo de neurónios localizados numa parte do tronco cerebral


que secreta dopamina. A descarga espontânea ou a estimulação
eléctrica dos neurónios da região dopaminérgica mesolímbica
produzem sensações de prazer, algumas delas similares ao orgasmo.

Indivíduos que apresentam, por defeito genético, redução no


número de receptores das células neurais desta área, tornam-se
incapazes de se sentirem recompensados pelas satisfações comuns
da vida e buscam alternativas "prazerosas" atípicas e nocivas como,

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por exemplo, alcoolismo, cocainomania, compulsividade por


alimentos doces e pelo jogo desenfreado.

8. Septo

Situado à frente do Tálamo, por cima do Hipotálamo. A


estimulação de diferentes partes deste septo pode causar muitos
efeitos comportamentais distintos. Na frente do Tálamo, situa-se a
área septal, onde estão localizados os centros do orgasmo (quatro
para mulher e um para o homem). Certamente por isto, esta região
se relaciona com as sensações de prazer, sobretudo aquelas
associadas às experiências sexuais.

9. Área Pré-Frontal

Não faz parte do circuito límbico tradicional, mas as suas


intensas conexões com o tálamo, amígdala e outras áreas sub-
corticais, explicam o importante papel que desempenha na
expressão dos estados afectivos.

Quando o córtex da Área Pré-Frontal é lesado, o indivíduo perde


o senso das suas responsabilidades sociais, bem como a capacidade
de concentração e de abstracção. Em alguns casos, a pessoa,
mantém intactas a consciência e algumas funções cognitivas, como a
linguagem, mas não consegue resolver problemas mais elementares.

Quando se praticava a lobotomia pré-frontal, para tratamento de


certos distúrbios psiquiátricos, os pacientes entravam em estado de
"tamponamento afectivo", e não demonstravam mais quaisquer

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sinais de alegria, tristeza, esperança ou desesperança. Nas suas


palavras ou atitudes não se via mais quaisquer resquícios de
afectividade.

O Córtex Pré-Frontal, considerado por um lado, uma formação


recente na evolução das espécies e por outro, a sede da
personalidade e da vida intelectual, modula a energia límbica e tem a
possibilidade de criar comportamentos adaptativos adequados ao
tomar consciência das emoções.

Na ausência desta parte do Córtex, as emoções ficam fora de


controlo, são exageradas e persistem após cessar o estímulo que as
provocou, até que se esgote a energia nervosa. Por outro lado, o
Sistema Límbico através do Hipotálamo, pode exercer um efeito
supressor ou inibidor sobre o neocórtex, inibindo momentaneamente
a cognição e até o tônus muscular tônico, como se observa nas fortes
excitações emocionais.

A mais importante função associativa do Lobo Pré-Frontal parece


ser, efectivamente, integrar informações sensitivas externas e
internas, pesar as consequências de acções futuras para efectuar o
planeamento motor de acordo com as conclusões. Entende-se assim,
que o cortex cria uma resposta cognitiva (consciente) à informação
periférica (dos sentidos), resposta esta compatível com as
expectativas do indivíduo e do seu contexto social.

Circuito de Papez

Emoções e sentimentos, como ira, pavor, paixão, amor, ódio,


alegria e tristeza, são criações mamíferas, originadas no Sistema
Límbico. Este Sistema Límbico é também responsável por alguns
aspectos da identidade pessoal e por importantes funções ligadas à
memória. A parte do Sistema Límbico relacionada às emoções e seus
estereótipos comportamentais denomina-se CIRCUITO DE PAPEZ.

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Na década de 30, reflectindo sobre os trabalhos de Cannon e


Bard, o neurofisiologista Papez propôs que os diversos componentes
do Sistema Límbico mantinham numerosas e complexas conexões
entre si.

Assim, o neocórtex comunica-se com o Hipotálamo através de


conexões do Giro do Cíngulo, formando uma região chamada de
Hipocampo.
Pois bem, essa região, o Hipocampo, processa as informações
recebidas do córtex e projecta-as para os corpos mamilares do
Hipotálamo através de uma estrutura chamada Fórnix. Mais
precisamente, as emoções e memórias flúem da Amígdala e
Hipocampo para os corpos mamilares através do fórnix. Do fórnix
seguem para o núcleo anterior do Tálamo, via fascículo
mamilotalâmico, e do Tálamo para o Giro Cingulado, irradiando-se
para o neocórtex, colorindo emocionalmente a experiência cognitiva.
Do neocórtex estes estímulos voltam novamente para o Giro
Cingulado, retornando à Amígdala e Hipocampo.

Deste modo é modulada a resposta emocional. Este circuito


também está envolvido na formação dos sonhos e da experiência
inconsciente. De facto, a mente inconsciente não é nenhuma
realidade abstracta ou conceptual, mas fisiologicamente, é a
elaboração da vida ou dos estímulos que ela oferece organizados no
sistema Límbico-Hipotalâmico.

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Conclusão

Este trabalho foi-nos útil na procura de conhecimento do cérebro


assim como, suscitou-nos o gosto de saber mais sobre o seu
funcionamento.
A partir deste trabalho podemos aferir que o cérebro normal é
dotado de inúmeras e quase infinitas interconexões que permitem
compreender os mecanismos do comportamento humano.

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Assim, e fazendo uma síntese do que foi dito anteriormente


podemos considerar que:
1) O Tronco Cerebral é responsável pelas funções básicas para a
manutenção da vida como a respiração, o batimento cardíaco e a
pressão arterial.
2) O Sistema Límbico é responsável pelo controle das múltiplas
facetas do comportamento, incluindo as emoções, a memória, as
recordações.

Bibliografia
http://sites.uol.com.br/gballone/forense/cerebro.html
http://www.psiqweb.med.br/cursos/neurofisio.html
Rodrigues, Custódio; Manual de Psicologia/2. Motivação;
Contraponto Edições; 2ª Edição; 1998
Cosenza, M. Ramon; Fundamentos de Neuroanatomia;
Guanabara Koogan; 2ª Edição

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Límbico

Habib, Michel; Bases Neurológicas dos Comportamentos;


Climepsi Fundamental
Perkin. G; Atlas Mosby em cores e texto Neurologia; Editora
Manole LTDA

ISCS-N
20

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