Você está na página 1de 28

Neuroanatomia

Sistema Nervoso Central: Tronco Encefálico,


Cerebelo e Medula Espinal

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Dr.ª Aliny Antunes

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
Sistema Nervoso Central: Tronco
Encefálico, Cerebelo e Medula Espinal

• Introdução;
• Tronco Encefálico;
• Medula Espinal;
• Cerebelo.


OBJETIVOS

DE APRENDIZADO
• Estudar a anatomia de superfície do tronco encefálico;
• Conhecer a estrutura e a função da formação reticular;
• Caracterizar a anatomia macroscópica e microscópica do cerebelo.
UNIDADE Sistema Nervoso Central:
Tronco Encefálico, Cerebelo e Medula Espinal

Introdução
O tronco encefálico situa-se entre a medula espinal e o diencéfalo, ventralmente,
ao cerebelo. É anatomicamente dividido em mesencéfalo, ponte e bulbo. A medula
espinal é uma continuação do bulbo, correspondendo à porção caudal do tubo neural,
com poucas modificações em seu desenvolvimento embriológico. Medula significa
miolo, indicando o “que está por dentro”; referindo o fato de estar por dentro do
canal vertebral. O cerebelo situa-se na fossa craniana posterior e é coberto superior-
mente pelo tentório do cerebelo, é a maior parte do metencéfalo e localiza-se poste-
riormente ao quarto ventrículo, à ponte e ao bulbo. Nesta Unidade, estudaremos a
morfologia dessas três estruturas que compõem o sistema nervoso central.

Figura 1 – Hemisfério encefálico, seccionado medialmente,


evidenciando características do tronco encefálico e cerebelo
Fonte: NOURELDINE (2019)

Tronco Encefálico
O tronco encefálico humano possui três componentes: o mesencéfalo, que é deri-
vado, embriologicamente, do mesencéfalo; a ponte, que é derivada do metencéfalo,
uma subcategoria do rombencéfalo; o bulbo, que é derivado do mielencéfalo, que
também é uma subclassificação do rombencéfalo.

O tronco cerebral abriga muitos dos centros de controle para funções vitais do
corpo, como deglutição, respiração e controle vasomotor. Todos os núcleos do nervo
craniano, exceto aqueles associados à olfação e visão, estão localizados no tronco
cerebral, fornecendo função motora e sensorial às estruturas do crânio, incluindo os
músculos faciais, língua, faringe e laringe, além de suprirem os sentidos de gosto,

8
equilíbrio e audição. O tronco cerebral também possui núcleos importantes para
funções autonômicas simpáticas e parassimpáticas.
No tronco encefálico, da mesma maneira que na medula espinhal, a substância
cinzenta dispõe-se internamente em relação à substância branca. Porém, enquanto
na medula a substância cinzenta é contínua em toda a sua extensão (e tem em cortes
transversais uma forma característica, semelhante à letra H), a do tronco encefálico é
fragmentada, transversal e longitudinalmente, originando muitos “núcleos” – agrupa-
mentos neuronais – que são áreas de substância cinzenta envolvidas por substância
branca no interior do SNC (análogo aos “gânglios” localizados no SNP).
Alguns desses núcleos no tronco encefálico têm relação com os nervos crania-
nos, isto é, são constituídos por neurônios motores, cujos axônios irão formar aque-
les nervos ou são os locais em que terminam as fibras de nervos cranianos com
função sensorial.
Em toda a extensão do tronco encefálico, encontramos, ainda, regiões constituídas
por um emaranhado de células e fibras nervosas, com uma estrutura intermediária
entre as substâncias branca e cinzenta. Essas áreas são conhecidas, em conjunto,
pelo nome de formação reticular (um conjunto de células e fibras nervosas, com
características próprias, ocupantes de toda a região central do tronco encefálico, do
bulbo ao mesencéfalo).

Mesencéfalo
O componente mais superior do tronco encefálico é conhecido como mesencé-
falo, está localizado entre a ponte e o diencéfalo. Semelhante ao bulbo e à ponte, o
mesencéfalo também contém tratos e núcleos.

Durante o desenvolvimento embrionário, o mesencéfalo surge da segunda vesícula,


também conhecida como mesencéfalo, do tubo neural. Ao contrário das outras duas
vesículas (o prosencéfalo e o rhombencéfalo), o mesencéfalo permanece indiviso
pelo restante do desenvolvimento neural. Ele não se divide em outras áreas do cére-
bro enquanto o prosencéfalo, por exemplo, se divide no telencéfalo e no diencéfalo.
Ao longo do desenvolvimento embrionário, as células do mesencéfalo se multiplicam
e comprimem continuamente aqueduto cerebral. A obstrução parcial ou total do
aqueduto cerebral durante o desenvolvimento pode levar à hidrocefalia congênita.
O mesencéfalo compreende duas metades laterais, chamadas de pedúnculos cere-
brais; em cada pedúnculo, observamos um pilar do cérebro (anterior) e um tegmento
(posterior). O aqueduto do mesencéfalo conecta o terceiro e o quarto ventrículos; pos-
terior ao arqueduto, temos o teto (corpos quadrigêmeos), que possui quatro pequenas
tumefações na superfície, que denominamos de colículos, que são eminências arre-
dondadas divididas em um par superior e um inferior por sulcos vertical e transverso.
Os colículos superiores são centros para reflexos visuais e os colículos inferiores
são centros auditivos caudais. Na linha média, embaixo dos colículos inferiores, os
nervos trocleares emergem. Esses são nervos de pequeno diâmetro que contornam
a face lateral do mesencéfalo e entram na parede lateral do seio cavernoso.

9
9
UNIDADE Sistema Nervoso Central:
Tronco Encefálico, Cerebelo e Medula Espinal

Conexão clínica
A síndrome de Weber é comumente produzida por oclusão de um ramo da artéria ce-
rebral posterior que supre o mesencéfalo, resulta em necrose do tecido cerebral envol-
vendo o nervo oculomotor e o pilar do cérebro. Há oftalmoplegia ipsilateral e paralisia
contralateral da parte inferior da face, língua, braço e perna. O globo ocular desvia-se
lateralmente em virtude da paralisia do músculo reto medial; há queda (ptose) da pál-
pebra superior, e a pupila está dilatada e não reativa à luz e acomodação.

Importante!
O núcleo do nervo oculomotor está localizado no mesmo nível do colículo superior e se
relaciona com o fascículo longitudinal medial. Pode ser dividido em uma parte somática
e outra visceral. A porção somática faz a inervação dos músculos reto superior, reto infe-
rior, reto medial e levantador da pálpebra. A porção visceral é composta pelos neurônios
pré-ganglionares e realiza a inervação do músculo ciliar e do músculo esfíncter da pu-
pila. O nervo oculomotor (CNIII) é visto saindo dos pedúnculos, enquanto o trato óptico
corre em torno da borda superior do mesencéfalo.

Figura 2 – Mesencéfalo
Fonte: WASCHKE (2018)

10
Ponte
A ponte é outro segmento relativamente curto do tronco cerebral que reside na
fossa craniana posterior. A ponte, do latim, pons, devido à sua conectividade com o
cerebelo (anterior a este), é para fins de descrição, a ponte é comumente dividida em
uma parte posterior, o tegmento, e uma parte basilar anterior pelas fibras de orien-
tação transversal do corpo trapezoide. Localiza-se entre o bulbo e o mesencéfalo, e
seu nome é bem característico, pois realmente funciona como uma ponte, unindo
partes diferentes do encéfalo entre si. Essas uniões, ou conexões, são realizadas por
feixes de axônios. Os limites da ponte são claramente marcados: o sulco pontino
superior e os pedúnculos cerebrais, além dos pedúnculos cerebelares médios – seu
limite lateral – e o sulco bulbo pontino constitui o limite inferior, e deste emergem
os pares cranianos VI (mais próximo à linha média, logo acima das pirâmides bulba-
res), VII e VIII (mais lateralmente, próximo ao flóculo do cerebelo). O VII par surge
medialmente ao VIII e guarda relações anatômicas íntimas com ele. Entre os dois,
emerge o nervo intermédio, que é a raiz sensitiva do VII par (este par craniano é
majoritariamente motor).

Figura 3 – Face anterior do tronco encefálico para mostrar a ponte


Fonte: SNELL (2010)

11
11
UNIDADE Sistema Nervoso Central:
Tronco Encefálico, Cerebelo e Medula Espinal

Figura 4 – Face posterior do tronco encefálico para mostrar a ponte. O cerebelo foi removido
Fonte: SNELL (2010)

Na base da ponte, é possível observar os feixes de fibras e os núcleos celulares.


Os feixes de fibras podem ser longitudinais ou transversais. E podemos citar o trato
corticoespinal de localização ventral, cujas fibras são originadas nas áreas motoras
corticais e se dirigem aos neurônios motores localizados no corno anterior da medula
espinal; o trato corticonuclear, com fibras que partem das regiões motoras corticais
e cursam junto com o trato corticoespinal, porém, como se dirigem aos núcleos
motores dos pares cranianos no tronco encefálico; o trato corticopontino, cujas fi-
bras surgem em várias regiões corticais e cursam junto com o trato corticoespinal,
destacando-se do feixe para inervar os neurônios dos núcleos pontinhos; as fibras
pontocerebelares, que são originadas nos núcleos da base da ponte e têm direção
transversal, cruzando o plano mediano para penetrar no cerebelo pelo pedúnculo
cerebelar médio.

No teto da ponte, observamos núcleos de nervos cranianos e substância cinzenta


própria da ponte. Podemos destacar os núcleos do trigêmio, abducente, facial, coleares,
vestibulares, olivar superior, corpo trapezoide e o salivatório superior.

De modo geral, podemos resumir que a função da ponte é abrigar os núcleos


pontinos e facilitar a comunicação córtico-ponto-cerebelar. Também permite a
comunicação entre os hemisférios esquerdo e direito do cerebelo.

12
Figura 5 – A ponte é limitada superiormente pelo sulco pontino
superior e inferiormente sulco bulbo-pontino transverso
Fonte: WASCHKE (2018)

Na superfície anterior, dominam os feixes de fibras transversais. Medianamente, en-


contra-se o sulco basilar onde passa a artéria basilar. À direita e à esquerda deste sulco,
estão duas eminências longitudinais, projetadas pelas fibras do trato piramidal dispos-
tas longitudinalmente. Lateralmente a essas fibras, emerge, de cada lado, na transição
da ponte com o pedúnculo cerebelar médio, o nervo trigêmeo com a raiz motora e a
raiz sensitiva; anteriormente à margem inferior da ponte emerge o nervo abducente e
da margem inferior lateral da ponte emergem o nervo facial e o nervo vestibulococlear.
A superfície posterior se torna visível somente após a remoção do cerebelo.

Conexão clínica
No tronco encefálico, é digno de nota um feixe de associação, o fascículo longitudinal
medial. Ele associa diversas regiões do tronco encefálico, sendo particularmente im-
portante na ligação entre os núcleos vestibulares e os centros que controlam os mo-
vimentos do globo ocular. Essa ligação possibilita que movimentos reflexos dos olhos
compensem os movimentos da cabeça, dando estabilidade ao mundo visual. O tronco
encefálico integra, ainda, um grande número de reflexos, alguns relativamente sim-
ples, outros bem complexos. A título de exemplo, pode-se citar o reflexo corneopalpe-
bral, responsável pelo fechamento do olho quando um objeto estranho toca a córnea.

13
13
UNIDADE Sistema Nervoso Central:
Tronco Encefálico, Cerebelo e Medula Espinal

Figura 6
Fonte: COSENZA (2012)

Bulbo
O bulbo deriva embrionariamente do mielencéfalo, estando situado entre a me-
dula espinal (inferiormente) e a ponte (superiormente). Tem a forma de um cone
(semelhante a medula espinal) e não apresenta limites precisos com a medula espi-
nal. pode ser dividido em uma porção caudal (porção fechada) e uma porção rostral
(porção aberta), com base na ausência ou presença do quarto ventrículo.
O limite superior é definido por um sulco horizontal, visível na face anterior – o sulco
bulbopontino, enquanto o limite inferior corresponde ao nível do forâmen magno ou,
mais especificamente, a um plano axial que passa imediatamente acima do primeiro
filamento radicular do primeiro nervo cervical (C1). Contém todos os tratos sensitivos
(ascendentes) e motores (descendentes) que se estendem da medula espinal às outras
partes do encéfalo. Na face anterior do bulbo, observamos a fissura mediana, que é a
mesma que se continua na medula espinal. É possível observar, lateralmente à fissura,
2 saliências denominadas pirâmides que contêm 2 tipos de fibras corticais: coticospinal
e corticonucleares do bulbo. Na face posterior, observamos 2 sulcos medianos (poste-
riores e posterolaterais), sendo observado entre os mesmos 2 protuberâncias descritas
como grácil e cuneiforme (que dão origem a fascículos e núcleos de mesmo nome).
Na porção caudal do bulbo, 75 a 90% dessas fibras cruzam obliquamente o plano
mediano em feixes interdigitados que constituem a decussação das pirâmides. Lateral-
mente às pirâmides e estendendo-se até 2 cm abaixo da ponte, existem 2 proeminências
ovoides, as olivas (olivas bulbares ou eminências olivares), cada uma delas formada por
uma grande massa de substância cinzenta, que reflete a presença, em posição subja-
cente, dos núcleos olivares inferiores. Ventralmente à oliva, emergem do sulco lateral
anterior as radículas (filamentos radiculares) do nervo hipoglosso (XII par craniano).
Do sulco lateral posterior, emergem as radículas que se unem para formar os nervos
glossofaríngeo (IX par) e vago (X par). As radículas que constituem a raiz crania- na ou
bulbar do nervo acessório (XI par) encontram-se caudalmente às radículas do nervo
vago. No entanto, elas situam-se ao longo de uma linha contínua com essas radículas,
estendendo-se até a medula espinal cervical superior, onde irão unir-se à raiz espinal.

14
A metade caudal, ou porção fechada do bulbo, é percorrida por um estreito canal,
continuação direta do canal central da medula espinal. Esse canal abre-se posterior-
mente para formar o quarto ventrículo.

Importante!
Uma grande área no bulbo é ocupada pela sua formação reticular, caracterizada por
neurônios de vários tamanhos e formas. Está localizada entre as pirâmides e o assoalho
do quarto ventrículo. Esse espaço compreende toda a área não ocupada pelos núcleos
mais compactos. É na formação reticular do bulbo que está localizado o centro respira-
tório, o qual regula o ritmo da respiração. Nesse mesmo local, também encontramos o
centro vasomotor e o do vômito.

Figura 7 – Destacando o Bulbo: (A) Vista anterior, (B) Vista posterior.


Observe que o teto do quarto ventrículo e o cerebelo foram removidos
Fonte: SNELL (2010)

15
15
UNIDADE Sistema Nervoso Central:
Tronco Encefálico, Cerebelo e Medula Espinal

Conexão clínica – Síndrome Bulbar Medial


A parte medial do bulbo é suprida pela artéria vertebral. Trombose do ramo bulbar
produz os seguintes sinais e sintomas: hemiparesia contralateral (trato piramidal),
comprometimento contralateral das sensações de posição e movimento e discrimi-
nação tátil (lemnisco medial) e paralisia ipsilateral dos músculos da língua com des-
vio para o lado paralisado quando a língua é esticada (nervo hipoglosso).

Vamos praticar:
• Caso clínico 06: Mulher de 25 anos de idade apresenta histórico de diplopia há 2 meses.
No exame físico, observou-se que os olhos em repouso estavam desviados para baixo e
lateralmente, sendo a paciente incapaz de mover os olhos para cima ou medialmente, com
as pálpebras superiores caídas (ptose). O exame das pupilas evidenciou midríase, e elas não
se constringiam à luz. Os movimentos e a sensibilidade faciais e dos membros superiores e
inferiores eram normais. Usando seu conhecimento de neuroanatomia, qual local ou locais
que você acredita que possa haver uma lesão que justifique esses sinais e sintomas?
Observe a imagem abaixo e identifique as estruturas destacadas pelas letras A, B, C, D, E.

Figura 8
Fonte: Adaptado de MARTIN (2013)

Medula Espinal
A coluna vertebral compõe-se de 33 vértebras – 7 cervicais, 12 torácicas, 5 lom-
bares, 5 sacrais (fundidas formando o sacro) e 4 coccígeas (as 3 inferiores estão co-
mumente fundidas). Como é segmentada e composta de vértebras, articulações e co-
xins de fibrocartilagem denominados discos intervertebrais, é uma estrutura flexível.
Os discos intervertebrais perfazem cerca de um quarto do comprimento da coluna.
Dentro do forames vertebrais em uma continuação do bulbo, correspondendo à por-
ção caudal do tubo neural, localizamos a medula espinal estendendo-se do forame
magno até a borda mais baixa da primeira vértebra lombar.

O encéfalo e a medula espinal são envolvidos por 3 membranas de tecido conjuntivo –


dura-máter, aracnoide-máter e pia-máter – denominadas meninges, que protegem e fixam
essas estruturas do sistema nervoso central (SNC).

16
Na região cervical, onde dá origem ao plexo braquial, e nas regiões torácica inferior
e lombar, onde dá origem aos plexos lombossacrais, a medula espinal exibe aumentos
fusiformes; os aumentos são chamados de intumescências cervical e lombossacral.
Inferiormente, a medula espinal afila-se no cone medular, composto principalmente
de tecido glial e conjuntivo, que, por sua vez, atravessa o saco lombar entre as raízes
posteriores e anteriores dos nervos espinhais, coletivamente denominadas cauda equi-
na (“rabo de cavalo”) e, em seguida, prende-se à superfície dorsal do cóccix. A medula
possui uma fissura longitudinal profunda chamada de fissura mediana anterior na linha
média anterior e um sulco raso chamado de sulco mediano posterior na face posterior
A superfície da medula apresenta, em toda a sua extensão, os seguintes sulcos
longitudinais: sulco mediano posterior, fissura mediana anterior, sulco lateral pos-
terior e sulco lateral anterior, existindo ainda o sulco intermédio posterior que se
continua como septo intermédio posterior no funículo posterior da medula cervical.
Os sulcos lateral anterior e lateral posterior fazem conexão com as raízes ventrais
e dorsais dos nervos espinais. Emergindo da medula espinhal, estão 31 pares de
raízes nervosas anterior e posterior. As porções cervical, torácica, lombar e sacral
da medula espinhal são definidas de acordo com a divisão segmentar da coluna
vertebral e dos nervos espinhais. Existem oito cervicais (7 vértebras cervicais, pois
o primeiro par de nervo espinhais cervicais sai acima da primeira vertebra cervical,
logo abaixo do crânio), doze torácicos, cinco lombares, cinco sacrais e um coccígeo.
Em cada nível, um par anterior de raízes nervosas carrega nervos motores, enquan-
to um par posterior de raízes nervosas carrega apenas nervos sensoriais. As raízes
anterior e posterior se unem para formar dois nervos espinhais, um de cada lado da
coluna, que saem do canal vertebral através do forame intervertebral. Uma vez fora
do forame intervertebral, eles formam nervos periféricos.

Figura 9 – Medula espinal: (A) Vista posterior, mostrando as intumescências cervical e lombossacral,
(B) Três segmentos da medula espinal mostrando as coberturas de dura-máter, aracnoide-máter e pia-máter.
Fonte: Adaptado de SNELL (2010)

17
17
UNIDADE Sistema Nervoso Central:
Tronco Encefálico, Cerebelo e Medula Espinal

Importante!
Os traumatismos raquimedulares são comuns e podem advir de acidentes com automó-
veis e motocicletas, quedas, lesões desportivas e feridas por projéteis de armas de fogo.
O dano à medula espinal e aos nervos espinais também pode estar associado a fraturas
vertebrais, infecções vertebrais, tumores vertebrais primários e secundários e herniação
de discos intervertebrais.

No SNC, há uma segregação entre os corpos celulares dos neurônios e os seus


prolongamentos, o que faz com que sejam reconhecidas 2 porções distintas: subs-
tância cinzenta e substância branca. A substância cinzenta é formada, predominante-
mente, por corpos celulares dos neurônios e por células da glia, mas também contém
fibras, principalmente amielínicas. Tem coloração acinzentada quando observada
macroscopicamente, devido à predominância dos corpos celulares dos neurônios.
A substância branca é constituída por fibras mielínicas e por células da glia, sendo
assim chamada em função da grande quantidade de mielina, que é esbranquiçada,
envolvendo os axônios dos neurônios (fibras nervosas).

Na medula espinal, em um corte transversal, a substância cinzenta pode ser vista


internamente (com uma forma que lembra a letra H), enquanto a substância branca
se dispõe externamente.

Importante!
O sistema nervoso central contém numerosas células não neuronais e não excitáveis.
A maior classe dessas células é neuroglia ou “cola nervosa”, um nome retirado do grego.
Os principais tipos de células da glia são astrócitos, oligodendrócitos, ependima e mi-
croglia. Astrócitos, juntamente com oligodendrócitos e ependima, desenvolvem-se a
partir do neuroectoderma, enquanto a micróglia é considerada derivada de monóci-
tos sanguíneos.

Conexão clínica
A esclerose lateral amiotrófica (doença de Lou Gehrig) é uma doença confinada aos
tratos corticospinais e aos motoneurônios das colunas cinzentas anteriores da me-
dula espinal. Raramente é familiar e hereditária em cerca de 10% dos pacientes.
É uma doença crônica progressiva de etiologia desconhecida. Tipicamente, ocor-
re no final da meia-idade e é inevitavelmente fatal em 2 a 6 anos. Os sinais do
neurônio motor inferior de atrofia muscular progressiva, paresia e fasciculações
se superpõem aos sinais e sintomas da doença do neurônio motor superior com
paresia, espasticidade e sinal de Babinski. Os núcleos motores dos nervos cranianos
também são acometidos.

18
Figura 10 – (A) Seção transversal da medula espinal ao nível do quinto segmento cervical,
(B) ao nível do segundo segmento torácico (C) ao nível do quarto segmento lombar
Fonte: SNELL (2010)

19
19
UNIDADE Sistema Nervoso Central:
Tronco Encefálico, Cerebelo e Medula Espinal

Vamos praticar:
• Caso clínico 07: Homem de 18 anos de idade, após um acidente automobilístico grave, foi
encontrado por moradores locais que, ao prestarem os primeiros socorros, ligaram para a
emergência e foram orientados a não deslocar o jovem, pois o mesmo poderia ter sofrido
uma fratura na coluna vertebral. Usando seus conhecimentos de neuroanatomia, por que
não podemos movimentar uma vítima sob tal suspeita?
Identifique as estruturas apontadas na imagem abaixo:

Figura 11
Fonte: SNELL (2010)

Cerebelo
O cerebelo, que em latim significa pequeno cérebro, é uma região do encéfalo
oriundo do rombencéfalo pertencente ao sistema nervoso suprassegmentar. O ce-
rebelo é um componente vital no cérebro humano, pois desempenha um papel na
regulação dos movimentos motores e no controle do equilíbrio. O cerebelo coordena
a marcha e mantém a postura, controla o tônus muscular e a atividade muscular
voluntária, mas é incapaz de iniciar a contração muscular. O dano a essa área em hu-
manos resulta em uma perda na capacidade de controlar movimentos finos, manter
a postura e o aprendizado motor. Está localizado na fossa craniana posterior, atrás
do quarto ventrículo, da ponte e do bulbo.

20
Figura 12 – Seção sagital através do tronco encefálico e verme do cerebelo
Fonte: SNELL (2010)

É composto por dois hemisférios unidos por vermis e é subdividido em três lobos
– anterior (é limitado anteriormente pelos pedúnculos cerebelares e posteriormente
pela fissura primária, associa-se à medula espinal, atuando nos movimentos grossei-
ros da cabeça e do corpo; é também chamado paleocerebelo), posterior (estende-se
entre as fissuras primária e posterolateral, associa-se ao neocórtex e controla os mo-
vimentos finos dos membros; é também chamado neocerebelo) e flocculonodular
(situa-se entre a fissura posterolateral e os pedúnculos cerebelares; associa-se ao sis-
tema vestibular, sendo, portanto, importante no controle do equilíbrio e do balanço; é
também chamado arquicerebelo). Esses lobos são separados por duas fissuras trans-
versais. Outras fissuras mais superficiais e orientadas transversalmente subdividem os
lobos anterior e posterior em dez lóbulos. Cada lobo é formado por lóbulos do verme
cerebelar, sendo que a maioria é contínua lateralmente com lóbulos hemisféricos.
Cada um dos dez lóbulos é formado por agrupamento de folhas, e cada folha consiste
ainda de múltiplas pequenas subfolhas. Os lóbulos I a V formam o lobo anterior, os
lóbulos VI a IX constituem o lóbulo posterior e o lóbulo X é o lobo floculonodular.

No adulto, o cerebelo apresenta cerca de 144 cm3, 150 g (10% do peso total do
encéfalo), sua área de superfície constitui 40% do córtex encefálico, contendo cerca
de metade do número total de neurônios intraencefálicos, evidenciando, assim, a sua
complexidade sináptica.

Conexão clínica
O verme cerebelar pode ser afetado por várias doenças, incluindo distúrbios dege-
nerativos, toxinas e tumores, entre outros. Em particular, o abuso crônico e grave de
álcool causa atrofia cerebelar (perda de volume), que geralmente é mais proemi-
nente na parte superior do verme. As lesões ao verme resultam em marcha e postu-
ra anormais. Sinais característicos de uma doença cerebelar incluem a hipotonia, a
perda de equilíbrio e a ataxia.

21
21
UNIDADE Sistema Nervoso Central:
Tronco Encefálico, Cerebelo e Medula Espinal

Figura 13 – Anatomia macroscópica do cerebelo


Fonte: NOURELDINE (2019)

(A) Aqui é mostrada a superfície medial de um cerebelo hemissecionado; (B) o


mesmo cerebelo antes da hemissecção vistos dos pontos de vista superior
(C) posterior e (D) anterior. Similar ao encéfalo, a parte externa do cerebelo é
dobrada, sendo as dobras mais estreitas do que aquelas vistas na superfície en-
cefálica e quase paralelas entre si, dando ao cerebelo uma aparência em faixas.

Conexão clínica
Quem é portador de Nistagmo tem como sintoma o movimento involuntário dos
olhos. São movimentos repetitivos e não controlados, que variam de intensidade,
indo da mais fraca até às mais bruscas. Nistagmo, que é essencialmente ataxia dos
músculos oculares, é uma oscilação rítmica dos olhos. É demonstrado mais facil-
mente quando os olhos são desviados em direção horizontal. Essa oscilação rítmica
dos olhos pode ter a mesma velocidade nas duas direções (nistagmo pendular) ou
ser mais rápida em uma direção do que na outra (nistagmo rítmico). Na última situ-
ação, os movimentos são descritos como uma fase lenta para longe do objeto visual,
seguida por uma fase rápida de volta em direção ao alvo. Usa-se a fase rápida para
descrever a forma do nistagmo. Por exemplo, diz-se que um paciente tem nistagmo
para a esquerda se a fase rápida for para a esquerda e a fase lenta para a direita. O
movimento do nistagmo pode ser confinado a um plano e ser horizontal ou vertical,
ou ocorrer em muitos planos, quando é chamado de nistagmo rotatório. A postura
dos músculos oculares depende principalmente da função normal de dois grupos de
vias aferentes. A primeira é a via visual, através da qual o olho vê o objeto de inte-
resse, e a segunda via é muito mais complicada e envolve os labirintos, os núcleos
vestibulares e o cerebelo. Esses movimentos involuntários acarretam a redução da
capacidade de enxergar, dificultando a fixação do olhar no objeto. Essa síndrome
impacta também psicologicamente os pacientes, uma vez que a autoestima é com-
prometida de forma negativa devido aos problemas estéticos.

22
O cerebelo conecta-se ao tronco encefálico bilateralmente por três pedúnculos cere-
belares que contêm todas as fibras nervosas aferentes e eferentes associadas ao cerebelo.
Apresenta, na sua superfície, uma camada de substância cinzenta, o córtex cerebelar,
abaixo do qual se encontra a substância branca ou corpo medular do cere- belo de
onde se irradiam as lâminas brancas para a superfície cortical (córtex cerebelar) e os
pedúnculos cerebelares superior, médio e inferior, por onde transitam as fibras aferentes
e eferentes cerebelares.
No interior desse corpo medular, há, novamente, substância cinzenta, sob a forma
dos núcleos centrais do cerebelo: o núcleo denteado, mais lateral, o núcleo in- terpósito
e o núcleo fastigial, mais medial. O núcleo interpósito é subdividido nos núcleos em-
boliforme e globoso. Por sua vez, o córtex cerebelar apresenta três camadas celulares
que são, de fora para dentro: a camada molecular (camada mais externa do cór-
tex cerebelar, onde estão presentes as células em cesto e estreladas), a camada das
células de Purkinje (camada intermediária do córtex cerebelar formada por neurônios
de Purkinje) e a camada granular (Camada mais interna do córtex cerebelar formada
por neurônios granulares, os menores neurônios do nosso corpo, e células de Golgi).

Figura 14 – Micrografias de cortes histológicos de cerebelo


Fonte: MARTINEZ (2014)
Evidenciando em A o córtex cerebelar e a substância branca (SB) e em B as três
camadas do córtex: camada molecular (CM), camada de células de Purkinje
(seta) e camada de células granulares (CG), (Coloração: Luxol Fast Blue).

Importante!
O cerebelo exerce um papel muito importante no controle da postura e dos movimentos
voluntários. Influencia inconscientemente a contração uniforme dos músculos volun-
tários e coordena cuidadosamente suas ações, bem como o relaxamento de seus anta-
gonistas. Curiosamente, a organização cerebelar é compatível com um nível funcional.
O arquicerebelo, também conhecido como o vestibulocerebelo, é uma conexão íntima
com o sistema vestibular, controlando, assim, os movimentos da cabeça e dos olhos.
O paleocerebelo, ou o espinocerebelo, recebe informações sensoriais proprioceptivas da
medula espinal e controla a marcha e a postura, coordenando os movimentos do tron-
co e das pernas. Quanto ao neocerebelo, também conhecido como cerebrocerebelo ou
pontocerebelo, encontra-se em estreita interação como córtex cerebral contralateral e é
responsável pelos movimentos finos e rápidos dos membros superiores.

23
23
UNIDADE Sistema Nervoso Central:
Tronco Encefálico, Cerebelo e Medula Espinal

Conexão clínica
Perturbações dos Movimentos Oculares Nistagmo, que é essencialmente ataxia dos
músculos oculares, é uma oscilação rítmica dos olhos. É demonstrado mais facil-
mente quando os olhos são desviados em direção horizontal. Essa oscilação rítmica
dos olhos pode ter a mesma velocidade nas duas direções (nistagmo pendular) ou
ser mais rápida em uma direção do que na outra (nistagmo rítmico). Na última situ-
ação, os movimentos são descritos como uma fase lenta para longe do objeto visual,
seguida por uma fase rápida de volta em direção ao alvo. Usa-se a fase rápida para
descrever a forma do nistagmo. Por exemplo, diz-se que um paciente tem nistagmo
para a esquerda se a fase rápida for para a esquerda e a fase lenta para a direita. O
movimento do nistagmo pode ser confinado a um plano e ser horizontal ou vertical,
ou ocorrer em muitos planos, quando é chamado de nistagmo rotatório. A postura
dos músculos oculares depende principalmente da função normal de dois grupos de
vias aferentes. A primeira é a via visual, através da qual o olho vê o objeto de inte-
resse, e a segunda via é muito mais complicada e envolve os labirintos, os núcleos
vestibulares e o cerebelo.

Vamos praticar:
• Caso clínico 08: Homem de 20 anos foi levado ao neurologista apresentando ataxia dos
músculos oculares, é uma oscilação rítmica dos olhos, ele informou que foi dianosticado
com nistagmo. Explique o fenômeno de nistagmo. Por que os pacientes com doença cere-
belar exibem nistagmo?
Observe a Figura 15 e identifique as seguintes estruturas cerebelares: hemisfério direito, hemis-
fério esquerdo, fissura primária, lobo anterior, lobo posterior, incisura cerebelar posterior, corpo
do cerebelo e Verme.

Figura 15
Fonte: Adaptada de MARTINEZ (2014)

24
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Fundamentos de Neuroanatomia
COSENZA, M. R. Fundamentos de Neuroanatomia. 4. ed. Rio de Janeiro: Grupo
GEN, 2012.

Vídeos
Neuroanatomia – Tronco Encefálico (Tronco Cerebral)
Aula de neuroanatomia: Tronco encefálico (tronco cerebral) – anatomia macroscópica
do mesencéfalo, ponte e bulbo.
https://youtu.be/LIWlVIVTXlA
Cerebelo – Prof. Roberto Fabri – Visão Geral e Macroscopia
https://youtu.be/KuVvftQbNJM
A medula espinhal e os nervos raquidianos
https://youtu.be/OfaDSy7IqUI

25
25
UNIDADE Sistema Nervoso Central:
Tronco Encefálico, Cerebelo e Medula Espinal

Referências
COSENZA, M. R. Fundamentos de Neuroanatomia. 4. ed. Rio de Janeiro: Grupo
GEN, 2012.

JOTZ, G. P. et al. Neuroanatomia clínica e funcional: anatomia, fisiologia e pato-


logia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017.

MARTIN, J. H. Neuroanatomia: Texto e Atlas. Porto Alegre: AMGH editora, 2014.

MARTINEZ, A.; ALLODI, S.; UZIEL, D. Neuroanatomia Essencial. Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 2014.

MENESES, M. S. Neuroanatomia Aplicada. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara


Koogan, 2011.

NOURELDINE, M. Neuroanatomia Básica e Clínica. 2019.

PAULSEN, F.; WASCHKE, J. Sobotta: atlas de anatomia humana. 24. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.

SCHMIDT, A. G.; PROSDÓCIMI, F. Manual de Neuroanatomia Humana – Guia


Prático. Rio de Janeiro: Grupo GEN, Roca, 2014.

SNELL, R. S. Neuroanatomia Clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.

26

Você também pode gostar