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Neuroanatomia

Sistema Nervoso Central: Telencéfalo

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Dr.ª Aliny Antunes

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Sistema Nervoso Central: Telencéfalo

• Sistema Nervoso Central: Telencéfalo;


• Anexo I.


OBJETIVO

DE APRENDIZADO
• Conhecer as características morfológicas do telencéfalo;
• Descrever os principais sulcos e giros da superfície dos hemisférios;
• Caracterizar o córtex cerebral e classificá-lo por diferentes critérios.
UNIDADE Sistema Nervoso Central: Telencéfalo

Sistema Nervoso Central: Telencéfalo


O cérebro é a maior parte do encéfalo, situado nas fossas anterior e média do
crânio e ocupando toda a concavidade da calvária, é derivado de duas das vesículas
embrionárias encefálicas – o diencéfalo (que forma a zona central) e o telencéfalo
(que forma os hemisférios cerebrais).

Os dois hemisférios (direito e esquerdo) são separados incompletamente (dada


à presença do corpo caloso) pela fissura longitudinal do cérebro, e possui uma
cobertura de substância cinzenta, o córtex, e massas internas de substância cinzenta,
os núcleos da base, e um ventrículo lateral.

Essa estruturação fundamenta-se nas suas importantes contribuições clínicas,


cirúrgicas e imagenológicas.

O telencéfalo é a parte mais recentemente desenvolvida do cérebro humano e a


base para as aptidões intelectuais especiais do homem. Ele controla a linguagem e a
comunicação, é o ponto central de controle dos movimentos voluntários e da sensi-
bilidade e controla ou influencia as emoções. É também a parte do cérebro essencial
para a formação da consciência, bem como da memória.

Figura 1 – Vista medial do hemisfério direito, onde, além dos sulcos e


giros, observam-se também o corpo caloso e as estruturas diencefálicas
Fonte: LAROSA (2011)

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Figura 2 – Vista medial do hemisfério direito, onde, além dos sulcos e
giros, observam-se também o corpo caloso e as estruturas diencefálicas
Fonte: LAROSA (2011)

Conexão Clínica
O encéfalo de um recém-nascido é especialmente sensível à carência de oxigênio
ou excesso de oxigênio. Se surgirem complicações durante o parto e o suprimento
de oxigênio do sangue da mãe ao feto for interrompido enquanto ele ainda está no
canal do parto, a criança pode nascer morta ou sofrer dano cerebral que pode resul-
tar em paralisia cerebral, epilepsia, paralisia ou retardo mental. Oxigênio excessivo
administrado a um recém-nascido pode causar cegueira.

Lobos Cerebrais
A superfície de cada hemisfério cerebral, apresenta 1 polo frontal, 1 polo occi-
pital e 1 polo temporal, e pode ser dividida em regiões denominadas lobos, toman-
do-se como pontos de referência os sulcos relacionados a essa região.

Para facilitar a descrição, costuma-se dividir cada hemisfério em lobos, que são deno-
minados, em sua maioria, de acordo com os ossos cranianos sob os quais se localizam.

Sendo assim, dividimos o telencéfalo em 5 lobos (frontal, parietal, occipital,


temporal e insular).

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Figura 3 – Divisão do cérebro em lobos cerebrais.Observe a localização é os limites dos lobos


Fonte: Adaptado de NORTON, 2018

Sulcos e Giros
O telencéfalo, ao ser examinado macroscopicamente, apresenta-se de forma en-
rugada ou pregueada. O volume do córtex cerebral é aumentado devido a circunvo-
luções denominadas giros, com depressões chamadas de sulcos.

Cerca de 2/3 do córtex formam as paredes dos sulcos. Denominamos Fissura 


uma fenda que separa grandes componentes do encéfalo.

Supostamente, acredita-se que a ocorrência de giros e de sulcos está associada à


necessidade de conseguirmos o maior número de neurônios em espaço limitado, ou
seja, no espaço intracraniano. 

No encéfalo adulto, o número de giros limitados pelos sulcos é muito variado de


indivíduo para indivíduo mesmo entre os dois hemisférios.

Somente alguns sulcos que chamamos de principais ou fissuras estão sempre


presentes com posições definidas. Esses sulcos, de número e posição fixos, são os
primeiros a aparecer no córtex (lisencefálico) do feto humano, por volta dos três me-
ses de vida intrauterina, e sua falta ou distribuição anômala incorrerá em patologia.

A fissura longitudinal do cérebro separa os hemisférios entre si, e a foice do cére-


bro estende-se ao interior da fissura.

O corpo caloso, que constitui a principal comissura cerebral, atravessa de um


hemisfério a outro na altura da fissura longitudinal. A  fissura transversa do cére-
bro localiza-se entre os hemisférios cerebrais, superiormente, e o cerebelo, o mesen-
céfalo e o diencéfalo, inferiormente. 

O sulco central é de grande importância porque o giro situado anterior a ele con-
tém as células motoras que desencadeiam os movimentos do lado oposto do corpo.

O  sulco lateral é uma fenda profunda encontrada, principalmente, nas faces


inferior e lateral do hemisfério cerebral. Consiste em um tronco curto que se divide
em três ramos.

O tronco surge na face inferior e, ao atingir a face lateral, divide-se no ramo anterior
horizontal e ramo anterior ascendente e contínua como o ramo posterior.

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Uma área do córtex chamada de ínsula localiza-se no fundo do sulco lateral profun-
do e não pode ser vista da superfície, a menos que os lábios do sulco sejam afastados.

O  sulco parieto-occipital  começa na margem superior medial do hemisfério,


cerca de 5cm anterior ao polo occipital, segue para baixo e para a frente na face
medial até encontrar o sulco calcarino.

O sulco calcarino é encontrado na face medial do hemisfério, começa embaixo


da extremidade posterior do corpo caloso e se encurva para cima e para trás até
alcançar o polo occipital, onde termina.

Esse sulco recebe em ângulo agudo o sulco parieto-occipital, aproximadamente,


na metade da sua extensão.

Os sulcos e os giros auxiliam da delimitação dos lobos cerebrais.

O lobo frontal está limitado posteriormente pelo sulco central e, inferiormente,


pelo sulco lateral. Resumidamente, consideramos a face lateral do lobo frontal consti-
tuída por quatro giros: frontais superior, médio e inferior e pelo giro pré-central com
os sulcos limitantes.

Esse lobo realiza o controle motor voluntário dos músculos esqueléticos, perso-
nalidade, processos intelectuais mais elevados (por exemplo, concentração, planeja-
mento e tomar decisões) e comunicação verbal.

O lobo parietal estende-se desde o sulco central até a linha que define o sulco
parieto-occipital.

Esse sulco é muito visível na face medial do cérebro e continua lateralmente.


Nesse lobo, observamos o giro pós-central, o giro parietal superior e o giro parietal
inferior. No lobo parietal, situam-se diferentes centros sensoriais, compreensão da
fala e formulação de palavras para expressar pensamentos e emoções, interpretação
de texturas e formas.

O lobo temporal situa-se sob a fissura lateral (sulco lateral) de ambos os hemisfé-


rios cerebrais e passa sob o lobo parietal rostralmente, sem um limite claro

É constituído pelos três giros temporais: superior, médio e inferior. Esse lobo se


relaciona a áreas auditivas, bem como ao armazenamento (memória) de experiências
auditivas e visuais.

O  lobo occipital  corresponde à área cortical que se estende do sulco parieto-


-occipital até o polo posterior do cérebro, sendo constituído por três pequenos giros
occipitais: superior, médio e inferior.

Em particular, o lobo occipital representa a área do córtex envolvida com o siste-


ma visual, ou seja, realiza a integração dos movimentos de focalização dos olhos, a
correlação de imagens visuais com experiências visuais prévias e outros incentivos
sensoriais e a percepção consciente de visão.

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O  lobo ínsular  está situado profundamente no hemisfério cerebral, na região


mais medial do sulco lateral. A ínsula tem forma aproximadamente triangular.

Nessa região do cérebro, particularmente, são processadas informações sensitivas


viscerais gerais, em especial, a recepção do paladar, por exemplo.

Está envolvido com a memória e integração com outras atividades cerebrais.

Conexão Clínica
O número de giros é variado de indivíduo para indivíduo, mesmo entre os dois
hemisférios, dentro de certos limites. Se os giros são muito amplos (paquigiria) ou
muito estreitos (microgiria), temos anomalias que estão relacionadas ao retardo
mental e à epilepsia.

Figura 4
Fonte: GIROY, 2017

A anatomia de superfície do telencéfalo pode ser dividida macroscopica-


mente em quatro lobos: frontal, parietal, temporal e occipital depressões (sul-
cos). Os contornos superficiais do telencéfalo são definidos por convoluções
(giros) e depressões (sulcos).

Citoarquitetura Cortical
O córtex cerebral recobre toda a superfície do cérebro. Junto com os núcleos pro-
fundos, o córtex compreende a substância cinzenta do cérebro e é onde estão locali-
zados os corpos celulares dos neurônios. Abaixo (mais central) está a espessa camada
de substância branca do cérebro, constituída de fibras nervosas (axônios) mielinizadas.

As áreas do córtex são ligadas entre si por feixes de fibras subcorticais, que in-
cluem fibras de associação que passam entre as zonas dentro de um hemisfério,

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fibras comissurais que ligam um hemisfério ao outro e fibras de projeção ascenden-
tes ou descendentes que passam do ou para o córtex para interligá-lo a áreas mais
caudais do SNC.

Histologicamente, o córtex é uma estrutura em camadas. A citoarquitetura corti-


cal, ou o arranjo das células, é um reflexo das diferentes áreas funcionais do córtex,
pois é nessa região que chegam informações com diferentes características (visuais,
auditivas, táteis, dolorosas, gustatórias e olfatórias) provenientes da periferia e aí são
processadas. É no córtex que os estímulos se tornam conscientes, são interpretados
e podem ser armazenados. Devido às suas conexões aferentes e conexões eferentes,
o córtex cerebral é essencial para funções sensitivas, coordenação motora e funções
cognitivas superiores.

Importante!
Conexões Aferentes e Eferentes
Aferentes: axônios que chegam a determinada estrutura do Sistema Nervoso Central
trazendo informações provenientes de outra estrutura (periférica ou central);
Eferentes: axônios cujos corpos celulares encontram-se em uma determinada estrutura
do SNC da qual eles se afastam, dirigindo-se a outra estrutura neural ou não neural.

O estudo do córtex cerebral pode seguir vários critérios, como, por exemplo,
critérios filogenéticos, morfológicos e funcionais. Do ponto de vista filogenético,
classificamos o córtex cerebral em:
• Arquicórtex;
• Paleocórtex;
• Neocórtex.

Em humanos, o neocórtex ocupa a maior extensão da superfície cortical e abriga


desde funções primárias até funções cognitivas complexas. Assim, descreveremos
com mais detalhes sua organização laminar em seis camadas (molecular, granular
externa, piramidal externa, granular interna, piramidal interna ou ganglionar
e multiforme).
• Camada I ou Camada molecular: É a camada mais externa, recoberta, por-
tanto, pela pia-máter. Nela predominam prolongamentos de neurônios pirami-
dais (dendritos) e glia e poucos corpos celulares de neurônios;
• Camada II ou Camada granular externa: Contém neurônios piramidais
pequenos (predominantemente) e neurônios granulares;
• Camada III ou Camada piramidal externa: Formada majoritariamente por
neurônios piramidais médios. Os axônios dos neurônios piramidais médios pro-
jetam para áreas corticais distantes dentro do mesmo hemisfério (formando as
fibras de associação intra-hemisféricas) ou para o outro hemisfério (formando as
comissuras ou fibras de associação inter-hemisféricas);

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UNIDADE Sistema Nervoso Central: Telencéfalo

• Camada IV ou Camada granular interna: Predominam os neurônios granula-


res, em cujos dendritos fazem sinapse os axônios dos neurônios talâmicos;
• Camada V ou Camada piramidal interna: Observamos predomínio dos neu-
rônios piramidais grandes, cujos axônios se dirigem para regiões subcorticais,
como o tronco encefálico e a medula espinal, compondo, portanto, as grandes
vias descendentes;
• Camada VI ou Camada de células polimorfas: Nessa camada, existem vários
tipos de neurônios sem predomínio de nenhum deles. Essa é a razão para ser
chamada de Camada de células polimorfas. A maioria dos neurônios da camada
VI emite um axônio que descende no encéfalo, contribuindo para as grandes
vias descendentes.
Sendo assim, as células nervosas que compõem o córtex cerebral se organizam
em padrões caracterizados por diferentes arranjos laminares e colunares verti-
cais, cujos prolongametos e conexões caracterizam a intimidade da complexa
circuitaria neural.

Figura 5 – Camadas do córtex cerebral


Fonte: ROYDEN, 2013

Sistema Límbico
O hipotálamo, o núcleo talâmico anterior, o giro cingulado, o hipocampo
e suas interconexões constituem um mecanismo harmonioso que pode ela-
borar as funções da emoção central e participar da expressão emocional.
(PAPEZ, J., 1937)

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O Sistema Límbico é uma agregação de estruturas cerebrais que, geralmente, estão
localizadas lateralmente ao tálamo, abaixo do córtex cerebral e acima do tronco cerebral. 

Em 1878, Paul Broca foi o primeiro a nomear essa região geral como o cérebro
do  grande lóbulo lombar. Mais tarde, em 1949, o médico e neurocientista america-
no Paul D. MacLean o chamou de lobo límbico.

O Sistema Límbico – também conhecido como o círculo de Papez (ou Circuito


de Papez) é constituído pelo lobo límbico (componente cortical) e pelas estruturas
subcorticais a ele relacionada.

É considerado o epicentro da expressão emocional e comportamental, proces-


sando informações sensoriais do ambiente externo e interno para determinar, por
meio da memória e da motivação, as respostas emocionais, autonômicas, motoras e
cognitivas importantes para a autopreservação e a sobrevivência. 

Devido aos avanços na Neurociência, as estruturas incluídas no Sistema Límbico


sofreram redefinição várias vezes.

Esse Sistema se forma a partir de diferentes componentes que sobem do mesen-


céfalo, do diencéfalo e do elencéfalo. Seus componentes se enquadram em duas
categorias: estruturas subcorticais, e muitas são partes do córtex cerebral (compo-
nente cortical).

As regiões corticais envolvidas no sistema límbico incluem o hipocampo, além


de áreas do neocórtex, incluindo o lobo insular, o lobo frontal orbital, o giro subca-
loso, o giro cingulado e o giro para-hipocampal.  

Porções subcorticais do sistema límbico incluem bulbo olfativo, hipotálamo, amíg-


dala, núcleos septais e alguns núcleos talâmicos, inclusive o núcleo anterior e, possi-
velmente, o núcleo dorsomedial.

Essas estruturas também têm similaridades funcionais interdependentes associa-


das à formação de memórias e à expressão de uma variedade de emoções

Conexão Clínica
Em 1953, um paciente conhecido como “HM” teve os dois terços anteriores do hipocampo
ressecados, na tentativa de curar sua epilepsia. O terço restante de seu hipocampo atro-
fiou após a cirurgia. Enquanto ele experimentou uma redução parcial de sua epilepsia,
pelo resto de sua vida, ele foi incapaz de formar novas memórias (SCOVILLE, 1957).

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Figura 6 – Face medial do hemisfério cerebral direito


mostrando as estruturas que formam o sistema límbico
Fonte: SNELL, 2010

A amígdala em forma de amêndoa (corpo amigdaloide) está localizada no lobo


temporal anterior dentro do uncus, fazendo conexões recíprocas com muitas regi-
ões do cérebro, incluindo tálamo, hipotálamo, núcleos septais, córtex frontal orbital,
giro cingulado, hipocampo, giro para-hipocampo e tronco encefálico.  

A amígdala é um centro crítico para coordenar respostas comportamentais, auto-


nômicas e endócrinas a estímulos ambientais, especialmente aqueles com conteúdo
emocional, sendo importante para as respostas coordenadas ao estresse.

Ela integra muitas reações comportamentais envolvidas na sobrevivência do indi-


víduo ou da espécie, particularmente ao estresse e à ansiedade. 

As lesões da amígdala reduzem as respostas ao estresse, particularmente, as res-


postas emocionais condicionadas. A estimulação da amígdala produz excitação com-
portamental e pode produzir reações de raiva direcionadas.

Figura 7 – Representação das conexões da amígdala


Fonte: Dartmouth Medical School

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• B = tronco cerebral; 
• T = tálamo;
• S = núcleo septal;
• Hip = hipocampo;
• PHG = giro para-hipocampal;
• H = hipotálamo;
• OF = córtex frontal orbital;
• GC = giro cingulado.

O hipocampo é uma área antiga do córtex cerebral, localizado medialmente ao


lobo temporal, formando a parede medial do ventrículo lateral nessa área. 

A palavra hipocampo significa “cavalo-marinho”, em grego. A formação do hipo-


campo no lobo temporal possui três zonas distintas: o giro dentado, o hipocampo
propriamente dito e o subículo.

O hipocampo é uma estrutura trilaminada com uma camada molecular externa,


uma camada piramidal média e uma camada polimórfica interna.  Com base nas
diferenças de citoarquitetura e conectividade, o hipocampo possui quatro campos
(nomeados por Lorente em 1934): CA1, CA2, CA3 e CA4 (CA: Cornu Ammonis).

O hipocampo tem várias funções: ajuda a controlar a produção de corticosteróides e


tem contribuição significativa para a compreensão das relações espaciais no ambiente. 

Além disso, o hipocampo está criticamente envolvido em muitas funções de me-


mória declarativa. Ele não é apenas ativo na codificação de memórias, mas também
na recuperação delas. 

A ativação do hipocampo pode ser vista ao se aprender sobre novos arredores e


recuperar direções.

Figura 8
Fonte: Adaptado de MARTINEZ, 2014; LADD et. al., 201

(A) Vista lateral do hemisfério esquerdo, onde, por transparência, observa-


-se a localização anatômica do hipocampo profundamente no lobo tempo-
ral e suas características anatômicas. Justaposta ao hipocampo, observa-se
também a amígdala; (B) Detalhes do hipocampo em uma secção coronal
evidenciando sua estrutura e camadas.

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UNIDADE Sistema Nervoso Central: Telencéfalo

O córtex pré-frontal é anterior ao córtex pré-motor. O córtex frontal orbital é a


porção sobre as órbitas.  Essa parte do córtex é extremamente bem desenvolvida
nos seres humanos e é fundamental para o julgamento, o insight, a motivação e o
humor, sendo também é importante para reações emocionais condicionadas. 

O córtex pré-frontal recebe informações de outras áreas do córtex límbico, da


amígdala e do núcleo septal e possui conexões recíprocas com cada uma dessas
áreas e com o núcleo dorsomedial do tálamo.

Os danos à área pré-frontal produzem dificuldades com o raciocínio abstrato, hu-


mor de julgamento e resolução de quebra-cabeças. 

O efeito do dano do lobo frontal no humor depende da parte específica do córtex­


pré-frontal danificado.  O comportamento do paciente é frequentemente descrito
como sem tato. Além disso, essa parte do córtex também pode ser fortemente afe-
tada pelo álcool.

A função do córtex pré-frontal é anormal nos transtornos do humor. A depres-


são é mais frequentemente associada ao aumento da atividade em porções do lobo
frontal, especialmente, nas regiões mediais, incluindo a porção subgenual do córtex
cingulado anterior e a diminuição da atividade no giro cingulado posterior.

As regiões de corpos mamilares, tálamo, subtálamo, epitálamo e hipotálamo se-


rão discutidas no Capítulo que se refere ao diencéfalo.

Núcleos da Base
O termo gânglios basais, ou núcleos de base, refere-se a um núcleo cortical que tem
importante papel na coordenação e na regulação de movimentos originados no córtex.

Situados na porção ventral do telencéfalo estão os núcleos da base, fortemente


correlacionados com a função motora.

São eles: caudado, putâmen (a combinação dos dois é chamada de corpo ou


núcleo estriado), globo pálido (a combinação do globo pálido com o putâmen é de-
nominada núcleo lentiforme), claustro e accumbens.

Os núcleos da base fazem parte fundamental das vias extrapiramidais da nossa


motricidade automática.

Deve-se citar que muitas das conexões dessas vias incluem a substância negra e o
núcleo subtalâmico, situados no mesencéfalo e no tálamo, estudados no diencéfalo.

Os núcleos da base desempenham papel importante no controle da postura e dos


movimentos voluntários.

Corpo estriado é considerado a área receptora dos gânglios da base, pois recebe im-
pulsos de inúmeras áreas cerebrais. É constituído pelo núcleo caudado e pelo putâmen.

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O núcleo caudado é, conforme seu nome indica, um núcleo alongado que apre-
senta cabeça dilatada, localizada anteriormente, justaposta ao corno anterior do ven-
trículo lateral.

Seu corpo descreve uma curva dorsalmente, acompanhando o corpo do ventrículo la-
teral e, finalmente, assume uma trajetória descendente para terminar em sua cauda, pró-
xima ao corno inferior do ventrículo lateral, onde guarda íntima relação com a amígdala.

Formado por cabeça, corpo e cauda, a cabeça do núcleo caudado constitui a pa-
rede lateral do corno frontal do ventrículo lateral, causando um abaulamento carac-
terístico, que é avaliado nos estudos de imagem em busca da normalidade do núcleo.

Em doenças extrapiramidais que se manifestam por Coreia (Doença de Huntington),


confirma-se a atrofia dele.

O núcleo caudado é fortemente conectado ao putâmen, um núcleo globoso, situ-


ado mais lateral e posteriormente a ele, próximo ao córtex da ínsula.

Por entre as pontes celulares formadas entre o caudado e o putâmen passam fi-
bras da cápsula interna, que separam, portanto, incompletamente, esses dois núcleos,
dando-lhes um aspecto fenestrado, denominando-se esta união de núcleo estriado.

O putâmen e o globus pallidus (globo pálido) são chamados coletivamente de


núcleo lentiforme, que recebe esse nome por lembrar uma lente triangular.

Encontra-se situado lateralmente à cápsula interna, separado pelo ramo anterior


da cabeça do núcleo caudado e do tálamo pelo joelho e pelo ramo posterior da cáp-
sula interna. Lateralmente, é limitado pela cápsula externa, que o separa do claustro.

O núcleo é dividido em duas porções: o putâmen, lateralmente separado pela lâ-


mina externa do globo pálido. O globo pálido, em posição medial, apresenta, como
sugere o nome, uma coloração menos intensa e é subdividido pela lâmina interna.

Sua função está associada à motricidade extrapiramidal, nas chamadas alças mus-
culoesquelética e límbica. Nas patologias que comprometem o núcleo lentiforme,
particularmente o globo pálido, temos, como exemplo, a Doença de Parkinson, com
comprometimento das vias dopaminérgicas.

Globo Pálido e Substância Negra são núcleos estimuladores e de função motora,


mas a substância negra também é responsável pelos movimentos oculares e pelas
emoções e fornece dopamina para o caudado e para o putâmen.

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UNIDADE Sistema Nervoso Central: Telencéfalo

Figura 9 – Secção coronal do encéfalo, onde se evidenciam os núcleos da base


Fonte: MARTINEZ, 2014

Conexão Clínica
A Doença de Parkinson é caracterizada por lentidão ou ausência de movimento
(bradicinesia ou acinesia), rigidez e tremor em repouso (especialmente, nas mãos e
nos dedos). Os pacientes têm dificuldade em iniciar os movimentos e, uma vez ini-
ciados, os movimentos são anormalmente lentos. A causa da Doença de Parkinson é
a perda dos neurônios dopaminérgicos na substância negrapars compacta. A partir
do conhecimento dos efeitos da via nigrostriatal nas vias direta e indireta, torna-
-se simples perceber por que a perda dessa via resulta na pobreza de movimento
sintomática da doença de Parkinson. Como a via nigrostriatal excita a via direta e
inibe a via indireta, a perda dessa entrada inclina o equilíbrio em favor da atividade
na via indireta. Assim, os neurônios GPint são anormalmente ativos, mantendo os
neurônios talâmicos inibidos. Sem a entrada talâmica, os neurônios do córtex motor
não são tão excitados e, portanto, o Sistema Motor é menos capaz de executar os
planos motores em resposta à vontade do paciente.

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Anexo I
Vamos Praticar
Caso clínico 1
Mulher, 65 anos, sem história prévia de hipertensão arterial ou outras comorbi-
dades, foi levada à emergência pela filha, apresentando perda súbita da consciência
após episódio de crise convulsiva e desvio da comissura labial para a direita. Após
despertar, apresentou-se afásica, com paresia grau III, hipoestesia e arreflexia em
membro superior esquerdo, além de paralisia facial central do mesmo lado.
Realizada Ressonância Magnética, evidenciaram-se múltiplas áreas hiperintensas
em região frontotemporal e frontoparietal à direita e temporoccipital à esquerda.
Após outros exames, foi feito diagnóstico de Acidente Vascular Encefálico (AVE)
hemorrágico, associado à angiopatia amiloide (PEZZI, 2017).

A partir do descrito:
1. Descreva a organização do telencéfalo. Delimite os lobos cerebrais e seus
principais giros e sulcos;
2. Identifique os lobos acometidos nesse caso. Cite as principais funções de
cada lobo cerebral.

Caso clínico 2
Homem de 40 anos de idade queixou-se ao seu médico de movimentos rápidos
e bruscos envolvendo os membros superiores e inferiores. O problema começou
há 6 meses e estava piorando progressivamente. Ele disse que estava preocupadís-
simo com sua saúde porque seu pai apresentara sintomas similares 20 anos atrás
e morreu em uma instituição mental. Sua esposa contou que ele também sofria de
episódios de depressão extrema, e ela percebeu que ele passava por períodos de
irritabilidade e comportamento impulsivo. O médico definiu o diagnóstico de Coreia
de Huntington. (SNELL, 2010).
1. Usando seu conhecimento de neuroanatomia, explique quais e como
essa doença acomete os núcleos da base;
2. Com o auxílio de um Atlas de Neuroanatomia ou Anatomia, identifique
as estruturas anatômicas destacadas no Roteiro Prático 1.

Roteiro Prático 1
Observe imagens dos encéfalos inteiros e das secções sagitais, frontais e transver-
sais de encéfalos.
• Na fase superior do encéfalo:
» Fissura longitudinal do cérebro;

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UNIDADE Sistema Nervoso Central: Telencéfalo

• Na face súpero-lateral do hemisfério cerebral:


» Sulco central e sulco lateral;
» Lobo frontal e o giro pré-central;
» Lobo parietal e o giro pós-central;
» Lobo occipital;
» Lobo temporal;
» Lobo insular e seus giros;
• Na face medial e inferior do hemisfério cerebral:
» Sulco parietoccipital;
» Lobo frontal e lobo parietal;
» Lobo occipital e o sulco calcarino;
» Lobo temporal;
» Giro do cíngulo, giro parahipocampal e unco;
» Corpo caloso: rostro, joelho, tronco e esplênio;
» Comissura anterior;
» Fórnice;
» Ventrículo lateral
» Hipocampo (visualizado somente em cortes frontais, horizontais e parassagitais).
• Os núcleos da base e estruturas pertinentes (em cortes frontais e horizon-
tais do cérebro):
» Núcleo caudado: cabeça, corpo e cauda;
» Putâmen;
» Globo pálido;
» Cápsula interna: ramo anterior, joelho e ramo posterior;
» Claustro;
» Cápsula externa.

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Figura 10 – Vista lateral do hemisfério cerebral esquerdo
Fonte: SNELL, 2010

• Identifique, na Figura 11, os sulcos e giros destacados e pinte de vermelho o


lobo frontal, de azul o parietal, de amarelo para destacar o lobo temporal e de
verde o occipital.

Figura 11 – Face medial do hemisfério cerebral direito


mostrando as estruturas que constituem o Sistema Límbico

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UNIDADE Sistema Nervoso Central: Telencéfalo

• Identifique as estruturas destacadas na Figura 12 a seguir.

Figura 12 – Secção axial do cérebro


Fonte: SNELL, 2010

• Identifique as estruturas numeradas na figura abaixo.

Figura 13
Fonte: SNELL, 2010

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• Identifique os lobos numerados na figura abaixo.

Figura 14
Fonte: Adaptado de Getty Images

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UNIDADE Sistema Nervoso Central: Telencéfalo

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Leitura
Sistema límbico e as emoções
BARRETO, J. E. F. et al. Sistema límbico e as emoções. Revista neurociências,
v. 18, n. 3, p. 386-394, 2010.
https://bit.ly/307lnpC
Perda de memória recente após lesões bilaterais do hipocampo
SCOVILLE, W. B., MILNER B. Perda de memória recente após lesões bilaterais
do hipocampo. J. Neurol. Neurocirurgião Psiquiatria,  v. 20, n. 1, p. 11-21, 1957.
https://bit.ly/2EmwIcF
Atlas Sistema Límbico
https://bit.ly/2CY89Td
Atlas de Neuroanatomia
https://bit.ly/30Yl9QA

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Referências
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