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BASES MORFOLÓGICAS E
FUNCIONAIS DO SISTEMA
NERVOSO
2

Marisa Martin Crivelaro Romão

BASES MORFOLÓGICAS E FUNCIONAIS DO


SISTEMA NERVOSO
1ª edição

São Paulo
Platos Soluções Educacionais S.A
2021
3

© 2021 por Platos Soluções Educacionais S.A.

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Cristiano da Rosa

Editorial
Alessandra Cristina Fahl
Beatriz Meloni Montefusco
Carolina Yaly
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


_________________________________________________________________________________________
Romão, Marisa Martin Crivelaro
R761b Bases morfológicas e funcionais do sistema nervoso /
Marisa Martin Crivelaro Romão, – São Paulo: Platos
Soluções Educacionais S.A., 2021.
45 p.

ISBN 978-65-89965-47-3

1.Estruturas. 2. Região cerebral. 3. Funções. I. Título.

CDD 612.8
____________________________________________________________________________________________
Evelyn Moraes – CRB-8 SP-010289/O

2021
Platos Soluções Educacionais S.A
Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César
CEP: 01418-002— São Paulo — SP
Homepage: https://www.platosedu.com.br/
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BASES MORFOLÓGICAS E FUNCIONAIS DO SISTEMA


NERVOSO

SUMÁRIO

Aspectos microscópicos do Sistema Nervoso: o neurônio ____ 05

Sistema nervoso: aspectos macroscópicos ___________________ 20

Lobos do cérebro: Frontal, Temporal, Parietal, Occiptal, Insular e


Límbico_______________________________________________________ 35

Estruturas cerebrais e funções cognitivas_____________________ 53


5

Aspectos microscópicos do
Sistema Nervoso: o neurônio
Autoria: Marisa Martin Crivelaro Romão
Leitura crítica: Cristiano da Rosa

Objetivos
• Propiciar o conhecimento das estruturas da unidade
básica de parte central do sistema nervoso: o
neurônio.

• Permitir o conhecimento dos tipos de neurônios


existentes na parte central do sistema nervoso.

• Introduzir o conceito de neuroplasticidade cerebral e


algumas de suas implicações.
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1. Aspectos microscópicos do sistema nervoso:


o neurônio

A função cerebral é responsável pela regulação da função voluntária e


involuntária, possibilitando respostas físicas e emocionais aos estímulos
externos. É por meio do sistema nervoso que se pode perceber e
interagir com o ambiente e, assim, sermos o que somos. Ele é dividido
em parte central do sistema nervoso, composto pelo encéfalo e pela
medula espinal, e parte periférica do sistema nervoso, composto
pelos nervos, gânglios e terminações nervosas. A parte central do
sistema nervoso é responsável pelo processamento e integração das
informações e a parte periférica do sistema nervoso pela condução
de informações entre órgãos receptores de estímulos, a parte central
do sistema nervoso e órgãos efetores, como os músculos (KREBS;
WEINBERG; AKESSON, 2013).

Figura 1 – Diagrama da divisão do sistema nervoso central (SNC)

Fonte: elaborada pela autora.

As células do sistema nervoso central são a base construtora para


funções complexas que ele desempenha e essas células excitáveis são
denominadas de neurônios. Estima-se que existam, aproximadamente,
86 bilhões de neurônios no cérebro humano e 20 milhões de neurônios
na medula espinal. Calcula-se que ocorram no mínimo 100 trilhões de
conexões neurais no cérebro humano adulto, ou seja, cada neurônio
tem contato com mais de mil outros neurônios. A complexidade da
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comunicação é ainda mais agravada pela maneira como os neurônios se


comunicam (KREBS; WEINBERG; AKESSON, 2013; FUENTES et al., 2008).

1.1 Componentes celulares do sistema nervoso

Em uma visão evolucionista darwinista, ao longo da evolução, o sistema


nervoso (SN) foi se desenvolvendo por meio da aquisição de estruturas
funcionais que possibilitaram a organização cada vez mais complexa dos
organismos vivos com o meio ambiente. É a elaboração de respostas
adaptativas frente às modificações tanto do meio externo quanto do
meio interno desses organismos, como: imagens, sons, mudanças de
temperatura, estímulos dolorosos, posição das articulações, alteração
de pressão arterial, níveis plasmáticos de hormônios etc. (FUENTES et al.,
2008).

O neurônio é a célula localizada na parte central do sistema nervoso,


mas encontrado também na parte periférica do sistema nervoso em
estruturas chamadas gânglios (órgãos esféricos, protegidos por cápsulas
de tecido conjuntivo e associados a nervos). O seu conjunto está
relacionado com a propagação do impulso nervoso, sendo considerada
a unidade básica desse sistema. Os neurônios se comunicam uns com os
outros por sinapses, formando redes funcionais para o processamento
e armazenamento das informações. Uma sinapse apresenta três
componentes básicos: o terminal axonal de uma célula, o dendrito
da célula receptora e um processo de célula glial. Segundo Ferrari
et al. (2001), a fenda sináptica é o nome dado ao espaço entre esses
componentes.

Os dendritos são prolongamentos do neurônio que garantem a


recepção dos estímulos, levando o impulso nervoso em direção ao
corpo celular. A grande maioria dos neurônios apresenta uma grande
quantidade de dendritos. Os axônios são o prolongamento que garante
a condução do impulso nervoso, também conhecido como potencial de
8

ação. Cada neurônio possui apenas um axônio, o qual é, geralmente,


mais longo que os dendritos. Há duas variáveis de axônios: os mielínicos
e os amielínicos.

Envolvendo o axônio mielínico há um isolamento elétrico chamado


de bainha de mielina, que auxilia a transmitir o impulso nervoso
mais rapidamente. A bainha de mielina é produzida por dois tipos
celulares: oligodendrócitos, na parte central do sistema nervoso, e
células de Schwann, na parte periférica do sistema nervoso. Os locais
onde há espaços entre as bainhas são chamados de Nodo de Ranvier.
Segundo Moreira (2013), por sua vez, o corpo celular consiste no local
do neurônio onde está presente o núcleo, grande parte das organelas
celulares e de onde partem os prolongamentos dessa célula.

Nesses locais, entre um neurônio e outro, são lançados


neurotransmissores que atuam no transporte das informações de
um neurônio para outra célula. Ao neurônio que está passando a
informação dá-se o nome de célula pré-sináptica e à célula que recebe o
sinal dá-se o nome de célula pós-sináptica (OLIVEIRA; NETO, 2015).

Figura 2 – Imagem dos componentes do neurônio


Dendrito
Terminal do Axônio

Nodo de Ranvier

Corpo Celular

Célula de Schwann
Axônio
Bainha de Mielina
Núcleo Celular

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Neurono-ido.svg. Acesso em: 6 jul. 2021.


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1.2 Tipos de neurônios

O sistema nervoso surgiu a partir de três vesículas primitivas


(prosencéfalo, mesencéfalo e rombencéfalo) e executa funções no
intuito de manter ou alterar as funções orgânicas a partir dos estímulos
externos e internos. Assim, ele recebe a seguinte classificação funcional:
sensorial, integrativa e motora. São ditas sensoriais ou aferentes
quando recebem os estímulos e os envia para a parte central do sistema
nervoso; interneurônios quando estabelecem conexões entre um
neurônio e outro; e motores ou eferentes quando conduzem impulsos
da parte central do sistema nervoso para outras partes do organismo
(CAIXETA; PINTO, 2014).

O sistema nervoso também possui dois tipos de substâncias nervosas:


branca e cinzenta. A substância branca se refere a um conjunto de
células com funções de apoio, sustentação, isolamento elétrico ou
nutrição dos neurônios e gânglios. A sua cor é devido à presença de
mielina, sendo principalmente os axônios mielínicos e células gliais
(OLIVEIRA; NETO, 2015). Já a substância cinzenta compõe a parte central
do sistema nervoso e são constituídas de corpos de neurônio, células da
glia (astroglia e oligodendrócitos), axônios e dendritos (OLIVEIRA; NETO,
2015).

Assim, o tecido nervoso é constituído de células nervosas, os


neurônios e de células da glia ou neuroglia. Os grupos de neurônios
que estabelecem conexões entre si por meio de sinapses constituem
os circuitos neuronais. A maioria dos neurônios segue o mesmo
plano estrutural geral, mas a estrutura de neurônios individuais
varia e se adapta à função específica dada ao neurônio. Desse modo,
considerando a enorme complexidade do sistema nervoso e o grande
número de tarefas que ele executa, diferentes tipos de neurônios
apresentam grande diversidade de tamanho e forma (FUENTES et al.,
2008).
10

Os diversos tipos de neurônios podem ser classificados de acordo com


seu tamanho, sua morfologia ou os neurotransmissores que utilizam.
Os neurônios multipolares são mais abundantes na parte central do
sistema nervoso e são encontrados no encéfalo e na medula espinal.
Os dendritos se ramificam diretamente do corpo celular e um axônio
único surge a partir do cone axonal. Os neurônios pseudounipolares
são encontrados nos gânglios sensitivos do nervo espinal e apresentam
um ramo periférico do axônio que recebe a informação sensorial da
periferia e a envia para a espinal sem passar pelo corpo celular. Eles
retransmitem a informação sensorial de um receptor periférico ao
sistema nervoso central sem modificar o sinal, e os neurônios bipolares
são encontrados principalmente na retina e no epitélio olfatório. Então,
eles apresentam um único dendrito principal, o qual recebe input
sináptico e é transportado para o corpo da célula e para a camada
celular seguinte. A diferença entre a célula pseudounipolar e célula
bipolar reside na quantidade de processamento que ocorre em cada
uma delas (KREBS; WEINBERG; AKESSON, 2013).

Figura 3 – Imagem dos tipos de neurônios

Fonte: Vitalli Duma/iStock.com.


11

Além dos neurônios, existem as células de glia que funcionam como


suporte físico dos neurônios, auxiliando nas ligações durante o período
embrionário; fornecem nutrientes aos neurônios enquanto outras
consomem partículas estranhas e resíduos alimentares; é responsável
pela manutenção dos níveis iônicos à volta dos neurônios. Segundo
Moreira (2013), os principais tipos de células da glia são os: a) astrócitos
têm a forma de estrela e grande quantidade de prolongamentos, com
função de sustentação; b) oligodendrócitos têm prolongamentos que
envolvem os axônios e produzem a bainha de mielina; c) micróglia são
pequenas células com poucos prolongamentos e são células fagocitárias;
d) células de Schwann se localiza em volta da parte periférica do sistema
nervoso e tem a mesma função dos oligodendrócitos, de sustentação.

Assim, as células de Schwann se localizam na parte periférica do sistema


nervoso e os oligodendrócitos na parte central do sistema nervoso.
De acordo com Moreira (2013), elas não possuem axônios e, por isso,
não são capazes de transmitir impulsos nervosos, mas conseguem se
comunicar entre si eletricamente através de gap junction, possibilitando
o fluxo iônico entre as células.

1.3 Sistemas de interação dos neurônios

Os processos de comunicação intercelular mediados quimicamente


podem ocorrer entre células próximas (ações parácrinas clássicas) ou
distantes por meio de mediação química feita pelo líquido cerebrospinal.
Eventos eletrofisiológicos também podem mediar a passagem de
informações entre células vizinhas mediados por um meio condutor
ou de sinapses elétricas baseadas em estruturas celulares constituídas
pelas conexinas. A função da parte central do sistema nervoso também
pode ser modificada ou modulada pela ação química sistemática, como
os hormônios que atravessam a barreira hematoencefálica e interagem
com as células do sistema nervoso (CIPOLLA-NETO et al., 2012).
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Existem sinapses químicas e elétricas, sendo rara a última


em mamíferos. Na sinapse elétrica, não há participação dos
neurotransmissores e o sinal elétrico é conduzido diretamente de uma
célula a outra através das junções comunicantes (gap junctions) por
canais ionizantes, gerando diretamente o potencial de ação. Já a sinapse
química consiste no contato entre o neurônio e a célula glial, outro
neurônio ou outra estrutura responsiva. Ela envolve os neurônios pré
e pós-sinápticos e esse conjunto sináptico é envolvido por processos
celulares de células gliais que participam de maneira ativa para
manutenção do funcionamento sináptico adequado (CIPOLLA-NETO et
al., 2012).

A membrana plasmática do neurônio é uma estrutura responsável


pela produção e propagação de impulsos elétricos, com diferentes
tipos de canais iônicos capazes de filtrar seletivamente a passagem
de íons para dentro e para fora da célula, gerando uma diferença de
cargas elétricas entre os dois lados da membrana e dando origem
em um meio intracelular negativo se comparado com ao extracelular,
com potencial elétrico chamado potencial de repouso. No entanto, os
neurônios podem apresentar alteração nesse potencial de membrana
pela abertura seletiva e consecutiva de canais de Na+ e K+, provocadas
por estímulos específicos (por exemplo, mudança de temperatura,
substâncias químicas etc.), causando uma inversão de polaridade
elétrica da célula (despolarização) e fazendo com que o meio intracelular
se torne provisoriamente positivo em relação ao extracelular. Em
seguida, ocorre a repolarização com redistribuição dos íons entre os dois
lados da membrana e o retorno ao estado de repouso (FUENTES et al.,
2008).

Há receptores que produzem abertura de canais de cloreto Cl- e


tornam a célula ainda mais negativa, exercendo uma ação inibitória
sobre a célula pós-sináptica. Portanto, as células recebem diferentes
mensagens excitatórias e inibitórias que se os estímulos somados
13

forem suficientemente despolarizados, um impulso nervoso é gerado


(FUENTES et al., 2008).

Esse sinal elétrico é o impulso nervoso ou o potencial de ação que se


propaga pelo axônio e é conduzida de uma extremidade a outra do
neurônio. Ao chegar ao axônio, o impulso nervoso é transmitido de
um neurônio a outro através do mecanismo de neurotransmissão nas
sinapses. O impulso nervoso de um neurônio é transmitido a outro
pela ação de uma substância química, o neurotransmissor (KREBS;
WEINBERG; AKESSON, 2013).

Figura 4 – Ilustração da sinapse química

Fonte: ttsz/iStock.com.
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1.4. Neurotransmissores

Os neurotransmissores são moléculas liberadas pelos neurônios pré-


sinápticos e são o meio de comunicação em uma sinapse química.
Eles se ligam aos receptores de neurotransmissores, podendo se
acoplar a um canal iônico (receptores ionotrópicos) ou a um processo
de sinalização intracelular (receptores metabotrópicos). O neurônio
pré-sináptico (transmissor) produz um neurotransmissor e faz seu
empacotamento, formando as chamadas vesículas sinápticas. Assim,
quando um impulso nervoso chega à terminação do axônio, há a
liberação por exocitose dos neurotransmissores que se difundem
pela fenda sináptica e chegam até a célula pós-sináptica. Os
neurotransmissores são específicos para o receptor em que se ligam
e provocam uma resposta específica nos neurônios pós-sinápticos,
resultando em um sinal excitatório ou inibitório (KREBS; WEINBERG;
AKESSON, 2013).
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Quadro 1 – Resumo de alguns neurotransmissores

Fonte: elaborado pela autora.

O glutamato consiste no neurotransmissor mais comum da parte central


do sistema nervoso. Ele é sintetizado nos neurônios pelos precursores
da glutamina, que é fornecida pelos astrócitos que a produzem a partir
do glutamato captado na fenda sináptica. A dopamina está envolvida
em muitos circuitos no cérebro e relaciona-se às emoções, motivação e
recompensa. Já a serotonina está ligada ao humor e a noradrenalina ao
estado de vigília e atenção (KREBS; WEINBERG; AKESSON, 2013).
16

1.5. Neuroplasticidade

Durante a embriogênese, um alto número de neurônios é gerado,


mas que geneticamente é regulado através de um processo de morte
celular. Após o nascimento, em períodos considerados críticos no
desenvolvimento, ocorrem regulação da população e do circuito
neuronal. Assim, sobrevivem somente aqueles neurônios que
conseguiram estabelecer sinapses eficientes e mantê-las. Segundo
Oliveira (2015), a regulação se dá através da coordenação entre as
atividades dos neurônios pré e pós-sinápticos, garantindo a plasticidade
do neurônio.

As alterações fisiológicas celulares pós-sinápticas provocadas pelo


neurônio pré-sináptico sobre o pós-sináptico e é resultado da sinapse
química, permite a ocorrência da plasticidade. Isso porque são possíveis
modificações funcionais em neurônios sinapticamente interligados e
que resultam em mudanças de circuitos neuronais e, por conseguinte,
mudanças funcionais. Segundo Cipolla-Neto (2012), a plasticidade
neuronal é a responsável pela capacidade adaptativa do sistema nervoso
humano, permitindo-o ao longo do desenvolvimento ontogenético,
estruturar-se e modificar-se a partir da interação ativa do indivíduo ao
meio em que vive.

A neurociência se constitui em uma disciplina cientifica cujo princípio


básico é a determinação do ambiente físico e social na atividade de
células neurais, e que, por conseguinte, determina o comportamento.
Assim, o ambiente fornece estímulos/informações que ao serem
captados pelos receptores sensoriais são convertidos em impulsos
elétricos, analisados e utilizados pela parte central do sistema nervoso
para produzirem respostas vegetativas, motoras e cognitivas (CIPOLLA-
NETO et al., 2012).

As pesquisas em plasticidade neural envolvem o entendimento


neuroquímico que das possíveis alterações funcionais nas sinapses,
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investigando processos/mecanismos que aumentam a síntese


de neurotransmissores, a liberação de neurotransmissores ou a
potencialização das respostas pós-sinápticas em decorrência de
situações estimuladoras, de aprendizagem ou de lesões. Já estudos
morfológicos buscam a maior compreensão das modificações possíveis
na estrutura das sinapses e neurônios, tais como a regeneração e
ramificação de axônios, aumento do tamanho de corpos celulares, do
número de dendritos, do número de neurônios e de sinapses (FERRARI
et al., 2001).

Alguns autores afirmam que se o indivíduo perdeu as oportunidades


de aprendizagem nos períodos mentais mais suscetíveis (críticos),
desde que haja um esforço muito maior para o indivíduo aprender, os
circuitos neuronais ainda permanecem ativos e novas sinapses podem
ser produzidas pela vida inteira, havendo sempre oportunidades de
aprendizagem. Já para outros estudiosos, devido aos períodos de
amadurecimento e processamento dos neurônios uma vez perdidos a
oportunidade de aprender no período crítico não há mais como ocorrer
o aprendizado (FERRARI et al., 2001).

Quando o cérebro sofre traumatismos, causados por pancadas ou


lesões decorrentes de disfunções circulatórias, como em casos de
acidentes vasculares cerebrais ou de intervenções cirúrgicas, podem
ocorrer perdas neuronais e distúrbios funcionais nessa rede neural.
Nesses casos, as alterações de função ocorrem não apenas nas
áreas diretamente afetadas, mas em outras regiões neurais direta
ou indiretamente conectados a elas, com consequentes prejuízos
comportamentais e cognitivos (CAIXETA; TEIXEIRA, 2014).

Na base dos processos de memória e aprendizagem e das estratégias


de reabilitação, nesses casos de perda estrutural e/ou funcional por
lesões, está à capacidade de neuroplasticidade cerebral através da
reorganização do sistema nervoso. Portanto, a aquisição de novos
comportamentos depende da organização dos circuitos neurais, sendo
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maior durante o desenvolvimento e diminui gradativamente ao longo da


vida adulta (FUENTES et al., 2008).

A neuroplasticidade pode ser regenerativa quando há o recrescimento


de axônio após ocorrência de lesão na parte periférica do sistema
nervoso. Os estímulos ambientais ativam os neurônios, desencadeiam
processos bioquímicos celulares e culminam na ativação de fatores de
transcrição gênica necessárias para modificação na estrutura sináptica
e formação de novas conexões, que ocorrem geralmente durante o
desenvolvimento. A neuroplasticidade sináptica ocorre pelo aumento
ou diminuição da transmissão de sinapses e é base celular para certos
tipos de memória. Já a plasticidade somática consiste na regulação da
proliferação e morte de células nervosas durante o desenvolvimento
embrionário (FUENTES et al., 2008).

A neuroplasticidade ou plasticidade cerebral consiste na capacidade de


mudança morfológica e funcional da parte central do sistema nervoso
em resposta aos estímulos ambientais. A reabilitação do cérebro
lesado pode promover reconexão de circuitos neuronais lesados ou
a habilidade será desenvolvida de modo compensatório por meio da
reconexão da área cerebral não atingida. No entanto, a todo tempo, de
modo involuntário, a neuroplasticidade ocorre adaptativamente também
em cérebros saudáveis (CAIXETA; TEIXEIRA, 2014).

Nesse contexto, os processos mentais humanos são sistemas funcionais


complexos “localizados” nas áreas do cérebro, cujas estruturas cerebrais
operam em verdadeiro concerto, cada uma das quais concorre com
sua própria contribuição particular para a organização desse sistema
funcional (FUENTES et al., 2008). Apesar da individualidade inerente a
cada sujeito, conhecer a função e saber quais as regiões do sistema
nervoso relacionadas a ela contribui muito para o raciocínio clínico
e diagnóstico do profissional para a elaboração de uma abordagem
terapêutica e prognóstica.
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Referências
CAIXETA, L.; TEIXEIRA, A. L. Neuropsicologia geriátrica. Porto Alegre: Artmed, 2014.
CIPOLLA-NETO, J. et al. The role of the retrochiasmathic area in the control of pinel
metabolism. Neuroendocrinoly, [s.l.], v. 69, p. 97-104, 2012.
FERRARI, E. A. M. et al. Plasticidade neural: relações com o comportamento
e abordagens experimentais. Psicologia-teoria e pesquisa, Campinas,
v. 17, n. 2, ago. 2001. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ptp/a/
ysvrdSJm8fSR5fTsdYjMFXM/?lang=pt#:~:text=nervous%20system%3B%20
learning-,Plasticidade%20Neural%3A,Comportamento%20e%20
Abordagens%20Experimentais%201&text=RESUMO%20%2D%20
As%20intera%C3%A7%C3%B5es%20entre%20os,diferentes%20
situa%C3%A7%C3%B5es%20e%20individualidade%20comportamental. Acesso em:
23 set. 2021.
FUENTES, D. et al. Neuropsicologia: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed, 2008.
KREBS, C.; WEINBERG, J.; AKESSON, E. Neurociência ilustrada. Porto Alegre:
Artmed, 2013.
MIOTTO, E. C.; LUCIA, M. C. S.; SCAFF, M. Neuropsicologia clínica. São Paulo: Roca,
2012.
MOREIRA, C. M. Neurônio. Revista de Ciência Elementar, São Paulo, v. 1, n. 1, dez.
2013. Disponível em: https://rce.casadasciencias.org/rceapp/art/2013/008/. Acesso
em: 22 set. 2021.
OLIVEIRA, A. A.; NETO, F. H. C. Anatomia e Fisiologia: a incrível máquina do corpo
humano. Fortaleza: Educacional, 2015.
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Sistema nervoso: aspectos


macroscópicos.
Autoria: Marisa Martin Crivelaro Romão
Leitura crítica: Cristiano da Rosa

Objetivos
• Conceituar e diferenciar as estruturas das partes
central e periférica do sistema nervoso.

• Introduzir as funções das estruturas da parte


periférica do sistema nervoso.

• Fornecer o conhecimento morfofuncional do sistema


nervoso.
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1. Sistema nervoso macroscópico

O sistema nervoso se constitui em um dos sistemas do corpo humano e


é responsável pela captação dos estímulos do ambiente e
processamento das suas informações com o objetivo de gerar respostas,
ou seja, um comportamento. Sendo assim, ao longo da vida e das
experiências, o indivíduo é capaz de perceber e identificar as condições
externas do ambiente e interna do próprio corpo para elaboração de
respostas adaptadas a essas condições (FUENTES et al., 2008).

Didaticamente, para uma melhor compreensão do funcionamento


do corpo humano, o sistema nervoso é formado por tecido nervoso,
dividido em duas partes diferentes conforme sua localização, mas que
se relacionam entre si: a parte central e periférica do sistema nervoso
(FUENTES et al., 2008).

1.1 Formação do sistema nervoso

O sistema nervoso participa direta e indiretamente da regulação e


controle de todos os outros sistemas do corpo humano, de modo
consciente e autônomo. Esse processo se chama homeostase e ocorre
por meio do recebimento e envio de estímulos neurais, bem como pela
produção de hormônios pelo próprio sistema nervoso. Desse modo, sua
organização é determinada por fatores genéticos e ambientais (SERAFIM;
ROCCA; GONÇALVES, 2020).

O funcionamento harmônico do sistema nervoso desde a infância até


a fase adulta depende do seu desenvolvimento correto durante as
etapas de ontogênese (FUENTES et al., 2008). Já a formação do cérebro
ocorre a partir das três primeiras semanas, com a formação do tubo
neural, que se origina do ectoderma ao longo da parte posterior do
embrião e a proliferação de neuroblastos e células da glia. A partir
da sétima semana, o embrião tem cerca de dois centímetros e as
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circunvoluções se tornarão o tronco encefálico, o cerebelo e o cérebro.


Os nervos cranianos e espinais também começam a se desenvolver. Já
com 11 semanas, o cérebro aumenta de tamanho e os olhos e orelhas
amadurecem (TORTORA; DERRICKSON, 2016).

O tecido da crista neural, junto com a parte anterior do tubo neural,


se expande desenvolvendo constrições que originam o aparecimento
de três regiões conhecidas como vesículas encefálicas primárias:
prosencéfalo, mesencéfalo e rombencéfalo. O rombencéfalo e o
prosencéfalo se dividem e formam as vesículas encefálicas secundárias.
O prosencéfalo origina o telencéfalo e diencéfalo, já o rombencéfalo
dá origem ao metencéfalo e ao mielencéfalo (TORTORA; DERRICKSON,
2016).

O telencéfalo forma o cérebro e os ventrículos laterais; o diencéfalo


origina o tálamo, hipotálamo, epitálamo e terceiro ventrículo; o
mesencéfalo forma uma estrutura com o mesmo nome e o aqueduto
do mesencéfalo; o metencéfalo dá origem à ponte, cerebelo e parte
superior do quarto ventrículo; e o mielencéfalo forma o bulbo e a parte
inferior do quarto ventrículo (TORTORA; DERRICKSON, 2021).

O tecido nervoso é formado pelas paredes dessas regiões encefálicas,


ao passo que os ventrículos são transformações do interior oco do tubo.
Esse tecido da crista neural é importante para o desenvolvimento da
cabeça e a maioria das estruturas protetoras do encéfalo, ou seja, ossos
cranianos, tecidos conjuntivos associados e meninges são formados por
este tecido (TORTORA; DERRICKSON, 2016).

Mesmo após o nascimento, o cérebro continua se desenvolvendo


pelo aumento da complexidade dos sulcos e giros. Os neurônios são
formados até o sexto mês gestacional, mas ainda não se encontram
amadurecidos. A quantidade de neurônios do bebê equivale à de um
adulto (FUENTES et al., 2008).
23

A calota e as meninges cranianas envolvem e protegem o encéfalo. As


meninges do crânio com as meninges espinais apresentam a mesma
estrutura básica e recebem a mesma nomenclatura: dura-máter
(camada externa), aracnoide-máter (camada média) e pia-máter (camada
interna). A dura-máter encefálica é formada por duas camadas e a dura-
máter por apenas uma camada. As duas camadas durais, conhecidas
como camada periosteal (externa) e camada meníngea (interna), estão
unidas envolvendo o encéfalo, com exceção de quando se separam
para formar os seios da dura-máter (canais venosos revestidos pelo
endotélio) que drenam o sangue do encéfalo para as veias jugulares
internas. Não existe espaço epidural ao redor do encéfalo. Portanto,
os vasos sanguíneos que entram no tecido encefálico passam pela
superfície e conforme penetram no tecido são recobertos por uma fina
camada de pia-máter (TORTORA; DERRICKSON, 2016).

Parte do encéfalo é separada por três projeções da dura-máter: a foice


do cérebro que divide os dois hemisférios cerebrais, foice do cerebelo
que divide os dois hemisférios cerebelares e o tentório do cerebelo que
separa o telencéfalo (cérebro) do cerebelo (TORTORA; DERRICKSON,
2016).

1.2 Estrutura do sistema nervoso central e periférico

A parte central do sistema nervoso é dividida em encéfalo e medula


espinal e a parte central do sistema nervoso se comunica com as
demais partes do corpo através da parte periférica do sistema
nervoso. Já a parte periférica do sistema nervoso é formada por fibras
nervosas e corpos celulares fora da parte central do sistema nervoso e
tem a função de conduzir os impulsos que chegam ou saem da parte
central do sistema nervoso. Os nervos podem ser definidos como
feixes de fibras nervosos paralelamente dispostos e cobertas por tecido
conjuntivo. Cada fibra é formada por um axônio e envolta pela bainha
de mielina (TORTORA; DERRICKSON, 2021).
24

A parte periférica do sistema nervoso é organizada em nervos que unem


a parte central às estruturas periféricas. Ela é composta por 12 pares de
nervos cranianos responsáveis pela conexão com o encéfalo, localizados
nas estruturas da cabeça e do pescoço; e 31 pares de nervos espinais
responsáveis por inervar o tronco, os membros e as regiões específicas
da cabeça que fazem a ligação com a medula espinal (TORTORA;
DERRICKSON, 2016).

Além dos nervos, há presença dos gânglios nervosos que se constituem


em um conjunto de corpos de células nervosas fora da parte central
do sistema nervoso. Elas podem ser definidas como acúmulos de
neurônios e há gânglios motores (autônomos) e sensitivos (TORTORA;
DERRICKSON, 2016).

Os nervos cranianos também são classificados em motores (eferentes),


sensitivos (aferentes) ou mistos. Os motores são aqueles que carregam
os impulsos dos centros nervosos para os órgãos efetores, como os
músculos e as glândulas. Os sensitivos transmitem os impulsos dos
órgãos sensoriais para os centros nervosos, já os mistos possuem fibras
aferentes e eferentes (OLIVEIRA et al., 2015).

Os sinais elétricos são enviados da parte central do sistema nervoso


através dos nervos cranianos. A maioria sai do encéfalo e o conecta aos
órgãos dos sentidos e músculos, principalmente àqueles localizados
na região da cabeça, mas outros também encaminham o impulso
originado na parte central do sistema nervoso em direção aos órgãos
alvos. Segundo Fuentes et al. (2008), temos os seguintes tipos de nervos
cranianos:

I. Nervo olfatório: nervo sensitivo que transmite impulsos


relacionados ao olfato.
II. Nervo óptico: as suas fibras se relacionam com os impulsos
visuais.
25

III. Nervo oculomotor: inerva os Mm. extrínsecos do bulbo do olho,


exceto oblíquo superior e reto lateral e os Mm. intrínsecos do
bulbo do olho (mm.ciliar e esfincter da pupila).
IV. Nervo troclear: é o menor dos nervos cranianos e inerva o
músculo oblíquo superior do olho.
V. Nervo trigêmeo: é um nervo misto, em que sua parte sensitiva está
relacionada com Impulsos extereoceptivos do couro cabeludo,
fronte, face, conjuntiva, córnea, íris e corpo ciliar, mucosa dos
seios paranasais e das cavidades nasal e bucal, dentes, 2/3 ant.
língua, parte ant. da orelha, face lateral da memb. timpânica e
dura-máter. Imp. proprioceptivos dos mm. da mastigação e ATM.
Enquanto a parte motora está relacionada com a inervação dos
Mm. da mastigação, milo-hióideo, ventre anterior do digástrico,
tensor do tímpano e tensor do véu palatino.
VI. Nervo abducente: é um nervo motor que inerva o músculo reto
lateral do bulbo do olho.
VII. Nervo facial: fornecem impulsos relacionados com a expressão
facial e liberação de lágrimas e saliva. As fibras sensitivas são
responsáveis pela gustação e é um nervo misto.
VIII. Nervo vestibulococlear: é um nervo sensitivo, em que sua parte
sensitiva está relacionada inervação da parte posterior das
cavidades nasais e face superior do palato mole. Com a gustação
do 2/3 ant. da língua. Enquanto a parte motora está relacionada
com a inervação da glândula lacrimal, submandibular, sublingual
e glândulas do palato. Bem como dos Mm. da face, estilo-hióideo,
ventre post. do digástrico e estapédio.
IX. Nervo glossofaríngeo: é um nervo misto, em que sua parte
sensitiva está relacionada inervação/gustação de 1/3 posterior
língua, faringe, úvula palatina, tonsilas, tuba auditiva, seio e corpo
caróticos. Enquanto a parte motora, está relacionada com a
inervação da Glândula parótida e do M. estilofaríngeo.
26

X. Nervo vago: está relacionado com os batimentos cardíacos,


funcionamento dos pulmões, sistema digestório, fala e deglutição.
É do tipo misto.
XI. Nervo acessório: é um nervo motor, que inerva a musculatura lisa
das vísceras torácicas juntamente com fibras vagais, bem como a
inercação dos Mm. Trapézio e esternocleidomastóideo / Mm. Do
palato mole, da faringe e da laringe através dos ramos faríngeos e
laríngeo recorrente do n. vago.
XII. Nervo hipoglosso: é um nervo motor, que inerva a musculatura da
língua.

Figura 1 – Os doze pares de nervos cranianos

Fonte: https://es.wikipedia.org/wiki/Archivo:Brain_human_normal_inferior_view_with_
labels_es.svg. Acesso em: 24 jun. 2021.
27

O encéfalo é constituído pelo cérebro, cerebelo e o tronco encefálico.


Ele se localiza dentro da calota craniana e a medula espinal no interior
da coluna vertebral. O encéfalo e a medula espinal são formados por
células da glia e pelos neurônios (FUENTES et al., 2008).

A camada externa do encéfalo (córtex cerebral) tem cor cinzenta e


é formada pelos neurônios. A parte interna com coloração branca
constituída pelos dendritos e axônios é chamada de substância
encefálica. As fibras são revestidas pela bainha de mielina e, por isso,
tem a cor branca. Na medula espinal ocorre o contrário, a substância
branca é externa e a substância cinzenta interna (FUENTES et al., 2008).

O tronco encefálico é formado pelo bulbo, ponte e mesencéfalo. O bulbo


se localiza na parte superior da medula espinal e forma a parte inferior
do tronco encefálico; a ponte se situa acima do bulbo e anterior ao
cerebelo e liga partes do cérebro entre si; e o mesencéfalo se estende da
ponte ao diencéfalo. Grande parte do tronco encefálico é constituída por
pequenos aglomerados de neurônios (substância cinzenta) espalhados
entre pequenos feixes de axônios mielinizados (substância branca). Essa
região recebe o nome de formação reticular (TORTORA; DERRICKSON,
2016).

Lateralmente, há uma fissura mediana anterior na área anterior do


bulbo, encontra-se eminências alongadas chamadas de pirâmides.
Elas são formadas por feixes de fibras que conectam as áreas motoras
cerebrais e os neurônios motores da medula. Na região mais terminal
do bulbo, as fibras se cruzam e formam a decussação das pirâmides,
ocasionando o fenômeno da lateralidade apresentada pelo cérebro,
ou seja, o lado esquerdo controla o lado direito e vice-versa (TORTORA;
DERRICKSON, 2016).

A formação reticular está envolvida no controle da respiração,


manutenção do ciclo sono vigília, sistema vestibular e extrapiramidal e
controle do sistema autônomo.
28

O cerebelo é a segunda maior estrutura encefálica depois do telencéfalo


(cérebro) e se localiza nas regiões inferior e posterior da cavidade
craniana. Ele ocupa um décimo da massa encefálica, mas contém
metade dos neurônios do encéfalo. Ele se situa posteriormente ao bulbo
e à ponte e, inferiormente, à parte posterior do telencéfalo (TORTORA;
DERRICKSON, 2016).

O encéfalo não é constituído apenas pelo cérebro, embora seja uma


parte importante de sua constituição. Ele é formado pelo telencéfalo
(que representa os hemisférios cerebrais), diencéfalo (divide-se
em epitálamo, tálamo, hipotálamo e subtálamo), cerebelo e tronco
encefálico (formado pelo mesencéfalo, ponte e bulbo) (FUENTES et al.,
2008).

Figura 2 – Estrutura do encéfalo

Fonte: Pikovitt44/iStock.com.

Quanto à propagação do impulso, o sistema nervoso é dividido em


sistema nervoso somático e sistema nervoso autônomo. O sistema
29

nervoso somático inclui as fibras nervosas sensitivas (aferente) e


motoras (eferentes) que controlam os músculos esqueléticos de forma
voluntária. É o sistema nervoso da vida de relação, em que relaciona o
organismo com o meio ambiente. Os neurônios transmitem aferências
dos receptores para os sentidos somáticos (sensibilidades táteis,
térmicas, dolorosas e proprioceptivas) e para os sentidos especiais
(visão, audição, gustação, olfato e equilíbrio). Esses sentidos são
percebidos conscientemente, por outro lado, os movimentos reflexos
e voluntários são gerados pelos neurônios motores somáticos que
inervam os músculos esqueléticos. Quando um neurônio motor
somático estimula um músculo, ele se contrai e o efeito é de excitação. Já
se os neurônios motores somáticos interrompem o estímulo muscular, o
músculo fica paralisado e sem tônus (TORTORA; DERRICKSON, 2016).

Já o sistema nervoso visceral funciona independentemente da vontade


do indivíduo e da maior parte do cérebro, as suas células se encontram
próxima da coluna vertebral. O seu funcionamento se dá pelos
movimentos reflexos, como os batimentos cardíacos e os movimentos
respiratórios, e se divide em duas partes: aferente e eferente
(autônomo). No entanto, embora o ato de respirar não seja consciente
em sua maior parte, os músculos responsáveis pela movimentação
ventilatória também são músculos esqueléticos controlados por
neurônios motores somáticos. Assim, se os neurônios motores
respiratórios param, a respiração também é cessada (OLIVEIRA et al.,
2016).

A eferência do sistema nervoso autônomo apresenta duas partes: a


parte simpática e a parte parassimpática. A maioria dos órgãos também
tem dupla inervação, ou seja, recebem impulsos tanto de neurônios
simpáticos quanto parassimpáticos. A parte parassimpática é conhecida
como a parte de repouso e suas eferências são direcionadas para os
músculos lisos, tecido glandular do sistema digestório e respiratório
ao passo que a parte simpática é excitatória (TORTORA; DERRICKSON,
2016).
30

O sistema nervoso periférico autônomo simpático e o sistema


nervoso periférico autônomo parassimpático liberam diferentes
neurotransmissores que estimulam, enquanto o outro inibe
determinado órgão. O sistema nervoso periférico autônomo simpático,
entre outras atividades, libera noradrenalina, adrenalina ou acetilcolina
que permitem resposta a situações de estresse, como a aceleração do
batimento cardíaco ou aumento da pressão sanguínea. Já o sistema
nervoso periférico autônomo parassimpático libera acetilcolina para
a redução da pressão sanguínea e do ritmo cardíaco (OLIVEIRA et al.,
2015).

Os atos voluntários são comandados pela substância cinza do cérebro,


que parte para a substância branca da medula espinal, passa para os
nervos espinais (nervos mistos) e atingem o órgão efetor, produzindo
uma reação (FUENTES et al., 2008).

O chamado ato reflexo medular consiste em uma emissão de resposta


a um dado estímulo recebido por um nervo, por meio de um processo
excitatório e que ocorre somente na medula, sem a participação das
estruturas do encéfalo. Essa ocorre de forma inconsciente (TORTORA;
DERRICKSON, 2016).

Por outro lado, o córtex motor primário se constitui na região que


trabalha associada a outras áreas motoras, como o córtex pré-motor, a
área motora suplementar, o córtex parietal posterior e outras regiões
subcortical, com o objetivo de planejar e executar os movimentos
(OLIVEIRA et al., 2015).

O encéfalo e a medula espinal são protegidos pelos ossos e por três


camadas sobrepostas de tecido conjuntivo chamado de meninges. Essas
estruturas recebem o nome de dura-máter, aracnoide e pia-máter. Os
vasos sanguíneos necessários para a nutrição e oxigenação do sistema
nervoso central estão localizados na pia-máter. Entre as trabéculas da
31

aracnoide, há um espaço preenchido pelo líquido cerebrospinal que tem


como função proteger de choques mecânicos (OLIVEIRA et al., 2015).

Figura 3 – Estruturas das meninges

Fonte: nmfotograf/iStock.com.

1.3 Neuroimagem estrutural e funcional

A parte central do sistema nervoso é plástico e adaptativo tanto em nível


pré-sináptico quanto pós-sináptico. Quanto mais jovem é o indivíduo,
maior é a sua plasticidade cerebral. Em uma mesma faixa etária também
há diferenças individuais do modo como processam cognitivamente as
tarefas e enfrentam doenças degenerativas, conforme as experiências e
aprendizados singulares (CAIXETA; TEIXEIRA, 2014).

O conceito de reserva cognitiva significa a capacidade do cérebro


armazenar por períodos longos as habilidades que foram adquiridas
durante a vida e resistir aos prejuízos de um quadro demencial, evitando
32

o surgimento de sintomas clínicos significativos no início da doença.


Quanto maior as habilidades adquiridas pelo indivíduo, maior a chance
de possuir reserva cognitiva (CAIXETA; TEIXEIRA, 2014).

Nas últimas décadas, houve um grande avanço em relação ao


diagnóstico por imagem complementar a outros exames para
investigação demencial e/ou prejuízo cerebral. Tanto a anatomia normal
quanto as alterações morfológicas e funcionais do sistema nervoso
central podem ser demonstradas com excelente qualidade e sem ser
um método invasivo. Por sua vez, os principais métodos de imagem
utilizados são a tomografia computadorizada e a ressonância magnética
(MIOTTO; LUCIA; SCAFF, 2012).

A ressonância magnética é, hoje, a modalidade de neuroimagem mais


utilizada para a avaliação in vivo de quadros demenciais, pois fornece
informações detalhadas sobre estrutura cerebral e permite uma
distinção clara entre substância cinzenta, substância branca e líquido
cerebrospinal. Com ela é possível caracterizar a atrofia cerebral regional
subjacente aos sintomas demenciais e descartar a presença de outras
lesões que podem estar na base do declínio cognitivo (MIOTTO; LUCIA;
SCAFF, 2012).

Além das alterações neuroanatômicas, avanços recentes na


neuroimagem proporcionaram o reconhecimento do papel da presença
de disfunções cerebrais de redes de conexão cerebral nas alterações de
comportamento de idosos com doenças neurodegenerativas. Por meio
das tomografias por emissão de pósitrons (PET) e computadorizada por
emissão de fóton único (SPECT), usando traçadores para o metabolismo
de glicose (com PET) ou para mapeamentos de fluxo sanguíneo
cerebral, são característicos os achados de hipoatividade funcionais nas
regiões temporoparietais e do cíngulo posterior em casos de doença
de Alzheimer inicial. Esses achados de hipoatividade cerebral regional
são diretamente proporcionais à gravidade dos déficits cognitivos
característicos da doença. Tais déficits neurofuncionais podem proceder
33

ao surgimento dos achados de atrofia cerebral identificáveis por meio de


ressonância magnética em caso de suspeita de demência de Alzheimer
(FUENTES et al., 2008).

Além das técnicas de PET e SPECT, conta-se atualmente com exames


de ressonância magnética funcional, em que são avaliadas flutuações
espontâneas da atividade funcional em diferentes regiões cerebrais na
presença de um estímulo explicito. Na doença de Alzheimer, exames
de ressonância funcional detectam disfunções em sistemas complexos
de interconexões de regiões cerebrais, diretamente relacionados aos
problemas cognitivos (memória, atenção, linguagem, visioespaciais e
funções executivas) e sintomas neuropsiquiátricos (apatia, depressão,
agitação, desinibição e outros) presentes na doença. Assim, a
neuroimagem funcional permite a associação entre anormalidades do
funcionamento cerebral em regiões circunscritas e alterações específicas
do comportamento e da cognição em transtornos neurodegenerativos
(MIOTTO; LUCIA; SCAFF, 2012).

Apesar das diferenças existentes entre os indivíduos em decorrência


dos fatores genéticos e heterogeneidade da interação ambiental,
o entendimento geral por parte dos profissionais da saúde acerca
das estruturas subjacentes ao funcionamento cerebral se torna
imprescindível para um melhor diagnóstico e intervenção terapêutica
subsequente. Atualmente, diferentes recursos com comprovação
científica baseados em estímulo cognitivo de outras áreas
compensatórias àquela habilidade lesionada ou perdida têm sido
adotados.

Apesar das diferenças existentes entre os indivíduos em decorrência


dos fatores genéticos e heterogeneidade da interação ambiental,
o entendimento geral por parte dos profissionais da saúde acerca
das estruturas subjacentes ao funcionamento cerebral torna-se
imprescindível para um melhor diagnóstico e intervenção terapêutica
subsequente.
34

Referências
FUENTES, D. et al. Neuropsicologia: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed, 2008.
MIOTTO, E. C.; LUCIA, M. C. S.; SCAFF, M. Neuropsicologia clínica. São Paulo: Roca,
2012.
MOURÃO-JÚNIOR, C. A.; OLIVEIRA, A. O.; FARIA, E. L. B. Neurociência cognitiva e
desenvolvimento humano. Temas em educação e saúde, Araraquara, v. 7, 2017.
Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/tes/article/view/9552. Acesso em:
27 set. 2021.
OLIVEIRA, A. A.; NETO, F. H. C. Anatomia e Fisiologia: a incrível máquina do corpo
humano. Fortaleza: Educacional, 2015.
SERAFIM, A. P.; ROCCA, C. C. A.; GONÇALVES, P. D. Intervenções neuropsicológicas
em saúde mental. Baueri: Manole, 2020.
TORTORA, G. F.; DERRICKSON, B. Princípios de anatomia e fisiologia. Rio de
Janeiro: E. Guanabara Koogan, 2016.
35

Lobos do cérebro: Frontal,


Temporal, Parietal, Occiptal,
Insular e Límbico
Autoria: Marisa Martin Crivelaro Romão
Leitura crítica: Cristiano da Rosa

Objetivos
• Conceituar e diferenciar as estruturas de cada lobo
cerebral.

• Introduzir as funções dos principais lobos cerebrais,


ínsula e outras estruturas cerebrais relacionadas à
cognição.

• Propiciar o entendimento global do funcionamento


dos lobos cerebrais e sua interligação para a geração
de comportamento.
36

1. Lobos do cérebro

Envolto pelo neurocrânio temos algumas estruturas, como o telencéfalo.


Ele é conhecido como “sede da inteligência”, pois corresponde a
capacidade do indivíduo falar, escrever, ler e fazer cálculos. Além
disso, o telencéfalo (cérebro) possui a importante função de recordar
do passado, planejar o futuro e pela criatividade. Ele é constituído
externamente pelo córtex cerebral, núcleos de substância cinzenta
situados na substância branca e uma área interna de substância branca
(TORTORA; DERRICKSON, 2016).

Na face externa do telencéfalo se localiza uma região de substância


cinzenta chamada córtex cerebral. Ele apresenta apenas 2 a 4 mm de
espessura, mas contém bilhões de neurônios organizados em camadas.
Durante o processo embrionário, quando o encéfalo se desenvolve
rapidamente, a substância cinzenta do córtex cerebral se desenvolve
ainda mais rápido do que a substância branca, o que acaba ocasionando
dobras sobre si mesmo para que possa caber dentro da calota craniana.
Essas dobras formam pregas conhecidas como giros ou circunvoluções,
as fendas mais profundas entre os giros recebem o nome de fissuras e
as mais superficiais de sulcos (TORTORA; DERRICKSON, 2016).

A fissura mais profunda, chamada fissura longitudinal, separa o


telencéfalo em duas metades que recebem o nome de hemisférios
cerebrais. Já a foice do cérebro se situa na fissura longitudinal. Esses
hemisférios são internamente conectados pelo corpo caloso, uma
região de substância branca que contém axônios projetados entre os
hemisférios (TORTORA; DERRICKSON, 2016).

Embora o encéfalo seja quase simétrico, existem diferenças anatômicas


sutis entre os dois hemisférios. Por sua vez, essa assimetria surge no
feto humano durante a trigésima semana de gestação. Há também
diferenças fisiológicas, pois, embora os dois hemisférios compartilhem
várias funções, cada hemisfério pode desempenhar funções específicas.
37

Esta assimetria funcional é conhecida como lateralização hemisférica


(TORTORA; DERRICKSON, 2016).

Apesar de existirem algumas diferenças significativas nas funções dos


dois hemisférios, observa-se uma variação considerável de uma pessoa
para outra. Além disso, a lateralização parece ser menos profunda em
mulheres do que em homens, tanto para linguagem no hemisfério
esquerdo quanto para habilidades visuais e espaciais no hemisfério
direito (TORTORA; DERRICKSON, 2016).

1.1 Estruturas do encéfalo: definição e funcionalidade

A clássica divisão de cada hemisfério cerebral em cinco lobos (frontal,


parietal, occipital, temporal e insular) toma como principais limites
o sulco central, a fissura lateral ou silviana e uma linha imaginária
que une a emergência superomedial do sulco parieto-occipital com a
incisura pré-occipital, que se situa na borda inferolateral, a cerca de
5 cm anteriormente ao polo occipital, e nomeia as diferentes regiões
superficiais conforme o osso craniano com que se relaciona. A mais
recente concepção considera os giros pré e pós-central como um lobo
(lobo central) e as estruturas corticais e nucleares que envolvem o
diencéfalo como outro lobo isolado (lobo límbico) (MENESES, 2015).

Portanto, o telencéfalo se divide em sete lobos cerebrais, com atividades


especializadas e específicas em cada uma e que recebem o nome
conforme os ossos que recobrem: Lobo Frontal, Lobo Occipital, Lobo
Temporal, Lobo Parietal, Lobo Ínsular, Lobo Límbico e Lobo Central
(TORTORA; DERRICKSON, 2016).

O sulco central separa o lobo frontal do lobo parietal. Um giro


importante, o giro pré-central – localizado imediatamente anterior
ao sulco central – contém a área motora primária do córtex cerebral.
Outro giro importante, o giro pós-central, o qual se situa imediatamente
posterior ao sulco central contém a área somatossensitiva primária.
38

O sulco cerebral lateral separa o lobo frontal do lobo temporal. Já


o sulco parietoccipital separa o lobo parietal do lobo occipital. Uma
quinta porção do telencéfalo, o lobo ínsular, não pode ser vista
superficialmente, porque se encontra dentro do sulco cerebral lateral
profundamente aos lobos parietal, frontal e temporal (TORTORA;
DERRICKSON, 2016).

Figura 1 – Estrutura dos Lobos cerebrais

Fonte: VikiVector/iStock.com.

A substância branca cerebral é constituída por axônios mielinizados


organizados em três tipos de trato: fibras de associação, fibras
comissurais e fibras de projeção (TORTORA; DERRICKSON, 2016).

As fibras de associação contêm axônios responsáveis pela condução


de impulsos nervosos entre os giros do mesmo hemisfério (TORTORA;
DERRICKSON, 2016).
39

Já as fibras comissurais possuem axônios que transportam impulsos de


giros de um hemisfério cerebral para o giro correspondente no outro
hemisfério. São exemplos importantes o corpo caloso (o maior feixe de
fibras encefálicas, contendo cerca de 300 milhões de fibras), a comissura
anterior e a comissura posterior (TORTORA; DERRICKSON, 2016).

As fibras de projeção são constituídas por axônios condutores de


impulsos nervosos do telencéfalo para partes inferiores da parte central
do sistema nervoso (tálamo, tronco encefálico e medula espinal) ou
vice-versa. Um exemplo é a cápsula interna, faixa espessa de substância
branca formada por axônios ascendentes e descendentes (TORTORA;
DERRICKSON, 2016).

Dentro de cada hemisfério cerebral existem três núcleos (aglomerados


de substância cinzenta) denominados de núcleos da base. Os núcleos da
base se situam lado a lado, laterais ao tálamo: o globo pálido, localizado
mais próximo do tálamo; e o putame, situado mais próximo do córtex
cerebral. Juntos, esses núcleos originam o núcleo lentiforme. O terceiro
dos núcleos da base é o núcleo caudado, que tem uma grande “cabeça”
ligada a uma “cauda” menor por meio de um longo “corpo” em forma
de vírgula. Os núcleos lentiforme e caudado formam juntos o corpo
estriado, que recebe esse nome porque se refere à aparência estriada
da cápsula interna ao passar entre os núcleos da base. A substância
negra do mesencéfalo e os núcleos subtalâmicos do diencéfalo estão
funcionalmente conectados aos núcleos da base. Já os axônios da
substância negra terminam no núcleo caudado e no putame e os
núcleos subtalâmicos se comunicam com o globo pálido (TORTORA;
DERRICKSON, 2016).

O claustro, por sua vez, se constitui em uma lâmina fina de substância


cinzenta lateral ao putame e pode ser considerada uma subdivisão dos
núcleos da base. A função do claustro ainda não foi esclarecida, mas
parece estar envolvida com a atenção visual (TORTORA; DERRICKSON,
2016).
40

Os núcleos da base apresentam várias conexões entre si e recebem


aferências do córtex cerebral e produzem eferências para partes
motoras do córtex por meio dos núcleos mediais e ventrais do
tálamo. Eles apresentam a função de ajudar na regulação do início e
término dos movimentos. A atividade neuronal no putame precede ou
antecipa movimentos corporais; no núcleo caudado acontece antes
dos movimentos oculares. O globo pálido ajuda na regulação do tônus
muscular necessário para movimentos corporais específicos. Os núcleos
da base também controlam contrações subconscientes dos músculos
esqueléticos (TORTORA; DERRICKSON, 2016).

Além disso, os núcleos da base auxiliam no início e no término de alguns


processos cognitivos – como a atenção, a memória e o planejamento
– e podem atuar no sistema límbico na regulação de comportamentos
emocionais. Os transtornos como a doença de Parkinson, o transtorno
obsessivo-compulsivo, a esquizofrenia e a ansiedade crônica envolvem
disfunções dos circuitos entre os núcleos da base e o sistema límbico
(TORTORA; DERRICKSON, 2016).

1.1.1. Lobo Límbico

O termo lobo límbico foi inicialmente utilizado por Pierre Paul Broca,
neurologista francês do século XIX, ao observar que determinadas
estruturas mediais que se dispunham em forma de C em torno da região
diencefálica se relacionavam com a fisiologia das emoções. Segundo
Meneses (2015), o termo límbico é de origem latina e significa borda,
margem.

Na face interna do telencéfalo e no assoalho do mesencéfalo,


circundando a parte superior do tronco encefálico e o corpo caloso,
existe um conjunto de estruturas que formam o sistema límbico. Os
principais componentes do sistema límbico são o lobo límbico, o giro
denteado e o corpo amigdaloide (TORTORA; DERRICKSON, 2016).
41

O lobo límbico consiste em uma margem do córtex cerebral na face


medial de cada hemisfério; é onde está localizado o chamado giro do
cíngulo, acima do corpo caloso e o giro para-hipocampal, situado no
lobo temporal. O hipocampo faz parte do giro para-hipocampal que se
estende até o assoalho do quarto ventrículo (TORTORA; DERRICKSON,
2016).

O giro denteado se localiza entre o hipocampo e o giro para-hipocampal.


O corpo amigdaloide é composto por vários grupos de neurônios
situados próximo à cauda do núcleo caudado (TORTORA; DERRICKSON,
2016). O sistema límbico auxilia no processo de memória por meio de
várias estruturas interligadas. Essas estruturas são os núcleos septais,
corpos mamilares do hipotálamo, dois núcleos talâmicos (anterior
e medial), os bulbos olfatórios, o fórnice, a estria terminal, a estria
medular, o fascículo medial do telencéfalo e o fascículo mamilotalâmico
(TORTORA; DERRICKSON, 2016).

Os núcleos septais estão localizados na área septal, formada por regiões


abaixo do corpo caloso e do giro paraterminal (um giro cerebral).
Os corpos mamilares do hipotálamo são duas massas arredondadas
próximas da linha média e dos pedúnculos cerebrais. Por sua vez,
os bulbos olfatórios consistem em estruturas achatadas pertencentes à
via olfatória que estão localizados sobre a lâmina ceribriforme. O fórnice,
a estria terminal, a estria medular, o fascículo medial do telencéfalo e
o fascículo mamilotalâmico são feixes de axônios mielinizados que se
conectam entre si (TORTORA; DERRICKSON, 2016).

O sistema límbico é apelidado por alguns autores como “cérebro


emocional”, pois, sua função primária se relaciona a uma série de
emoções. Além disso, se relaciona com o olfato e com a memória
(TORTORA; DERRICKSON, 2016).

Em experimentos com animais, quando diferentes áreas de sistemas


límbicos dos animais foram ativadas, as suas reações sugeriram a
42

sensação de dor intensa ou prazer extremo. Docilidade e afeto foram


produzidos após a estimulação de outras áreas do sistema límbico dos
animais. A estimulação do corpo amigdaloide ou de certos núcleos
hipotalâmicos de um gato produz um padrão comportamental
conhecido como raiva – o gato mostra suas garras, eleva sua cauda,
abre seus olhos, sibila e cospe. Por outro lado, a remoção do corpo
amigdaloide faz com que o animal não sinta medo ou demonstre
agressividade. Já o indivíduo que apresenta lesão no corpo amigdaloide
não consegue reconhecer expressões de medo nas demais pessoas ou
sentir medo em situações em que seria esperada esta reação, como ao
ser atacado por um animal (TORTORA; DERRICKSON, 2016).

Descobriu-se que uma lesão no sistema límbico afeta a memória, logo,


o sistema límbico em conjunto com outras áreas do telencéfalo possui
funções na memória. Uma porção do sistema límbico, o hipocampo,
apresenta uma característica não encontrada em outras estruturas da
parte central do sistema nervoso, que são as células que passam pelo
processo de mitose. Assim, a parte do encéfalo que é responsável por
alguns aspectos da memória pode desenvolver novos neurônios, mesmo
em pessoas idosas (TORTORA; DERRICKSON, 2016).

1.1.2. Lobo Frontal

O lobo frontal se situa na região anterior ao sulco central. Segundo


Barbin (2018), é formado por várias áreas funcionalmente distintas,
sendo responsável pelo planejamento de ações e pensamento abstrato.

O córtex frontal decide quais são e a ordem das sequências de


movimento necessárias, analisando os resultados diante de uma tarefa
difícil. Eles são responsáveis pela fluidez do pensamento e da área da
linguagem, pelas emoções, julgamento social, volição, atenção seletiva,
pensamento abstrato e criatividade. De acordo com Barbin (2018),
lesões nessa área levam o indivíduo a apresentar rigidez mental para
43

estratégias necessárias frente a mudanças e/ou não conseguir executar


uma sequência de ações de modo correto.

Em regiões diferentes do córtex cerebral são processados tipos


específicos de sinais sensitivos, motores e integradores. As áreas
sensitivas recebem as informações sensitivas, ou seja, diz respeito
à percepção e consciência de uma sensação. As áreas motoras são
responsáveis pelo controle dos movimentos voluntários e as áreas
associativas integram as funções mais complexas, como a memória, as
emoções, o raciocínio, a volição, a crítica, a personalidade e a inteligência
(TORTORA; DERRICKSON, 2016).

A área motora primária situa-se no giro pré-central do lobo frontal.


Assim como na área somatossensitiva primária, um “mapa” de todo
o corpo está presente na área motora primária, ou seja, cada região
controla as contrações voluntárias de músculos específicos ou de
grupos musculares. Os estímulos elétricos em qualquer ponto da
área motora primária causam a contração de fibras musculares
esqueléticas específicas no lado oposto do corpo. Já os diferentes
músculos apresentam diferentes representações nessa área e uma área
cortical maior é dedicada para os músculos envolvidos em movimentos
complexos ou delicados. Por exemplo, a região cortical relacionada aos
músculos que movimentam os dedos das mãos é maior que a região
envolvida com os dedos dos pés. Esse mapa muscular distorcido é
conhecido como homúnculo motor (TORTORA; DERRICKSON, 2016).

A área de Broca está localizada no lobo frontal, próxima ao sulco


cerebral lateral. Assim, falar e compreender a linguagem são atividades
complexas que envolvem muitas áreas sensitivas, associativas e
motoras do córtex. Em grande porcentagem da população, essas áreas
de linguagem se situam no hemisfério esquerdo. O planejamento e
a produção da fala ocorrem no lobo frontal esquerdo da maioria dos
indivíduos. Já os impulsos nervosos originados na área de Broca passam
para as regiões pré-motoras que controlam os músculos da laringe,
44

da faringe e da boca. Os impulsos da área pré-motora resultam em


contrações musculares específicas coordenadas, simultaneamente,
os impulsos se propagam da área de Broca para a área motora
primária. Desse ponto, os impulsos também controlam os músculos
ventilatórios para que possam regular o fluxo de ar pelas pregas vocais.
As contrações coordenadas dos músculos relacionados com a fala e a
ventilação possibilitam a expressão dos pensamentos. As pessoas que
sofrem um acidente vascular encefálico (AVE) na área de Broca ainda
conseguem ter pensamentos coerentes, mas não conseguem formar
palavras, esse fenômeno é conhecido como afasia motora (TORTORA;
DERRICKSON, 2016).

As áreas associativas do telencéfalo são formadas por grandes


regiões dos lobos occipitais, parietais e temporais e dos lobos frontais
anteriormente às áreas motoras. As áreas associativas estão conectadas
entre si por tratos associativos (TORTORA; DERRICKSON, 2016),

A área de associação somatossensitiva se situa posterior à área


somatossensitiva primária e recebe aferências dessa área, bem como do
tálamo e de outras áreas do encéfalo. Essa área determina a forma e a
textura exatas de um objeto, determina a orientação de um objeto em
relação a outro e perceba a relação de uma parte do corpo com outro.
Além disso, ela apresenta a função de armazenamento de experiências
sensitivas somáticas, o que permite a comparação das sensações atuais
com as experiências prévias. Por exemplo, segundo Tortora e Derrickson
(2016), a área de associação somatossensitiva permite o reconhecimento
de objetos, como um lápis ou um clipe, simplesmente pelo tato.

A área de associação visual, situada no lobo occipital, recebe impulsos


sensitivos da área visual primária e do tálamo. Ela envolve experiências
visuais presentes com as passadas e é imprescindível para o
reconhecimento e avaliação do que está sendo vivenciado. Por exemplo,
essa área possibilita o reconhecimento de um objeto, como uma colher,
apenas ao enxergá-la (TORTORA; DERRICKSON, 2016).
45

A área de associação facial, localizada no lobo temporal inferior, recebe


impulsos da área de associação visual. Essa área armazena informações
sobre expressões faciais e permite o reconhecimento de pessoas através
de suas faces. A área de reconhecimento facial no hemisfério direito é,
geralmente, dominante em relação à área correspondente no hemisfério
esquerdo (TORTORA; DERRICKSON, 2016).

A área de associação auditiva, localizada inferior e posteriormente à área


auditiva primária no córtex temporal, permite o reconhecimento de um
som específico, como uma fala, um ruído ou uma música (TORTORA;
DERRICKSON, 2016).

O córtex orbitofrontal, que se situa na parte lateral do lobo frontal,


recebe impulsos sensitivos da área olfatória primária. Nesse sentido,
essa área cortical permite identificar e discriminar vários odores.
Durante o processamento olfatório, o córtex orbitofrontal do
hemisfério direito tem maior atividade que a região correspondente do
lado esquerdo (TORTORA; DERRICKSON, 2016).

A área de Wernicke, que corresponde a uma grande região nos


lobos temporal e parietal esquerdos, interpreta o significado da fala
por meio do reconhecimento das palavras faladas. Ela está ativa
quando você transforma palavras em pensamentos. As regiões do
hemisfério direito que correspondem às áreas de Broca e Wernicke no
hemisfério esquerdo também contribuem com a comunicação verbal
por meio do acréscimo de emoções, como raiva ou alegria, nas palavras
faladas. Ao contrário dos indivíduos com AVE na área de Broca, as
pessoas que sofrem AVE na área de Wernicke ainda conseguem falar,
mas não conseguem ordenar as palavras de modo coerente. Esse
fenômeno recebe o nome de afasia sensitiva ou “salada de palavras”
(TORTORA; DERRICKSON, 2016).

A área integradora comum é delimitada pelas áreas de associação


somatossensitiva, visual e auditiva. Ela recebe impulsos nervosos
46

dessas áreas, da área gustativa primária, da área olfatória primária,


do tálamo e de partes do tronco encefálico. Já essa área integra
interpretações sensitivas das áreas de associação e impulsos de outras
áreas, permitindo a formação de pensamentos baseados em uma série
de aferências sensitivas. Após a integração dessas informações, essa
área transmite sinais para outras partes do encéfalo para que seja
elaborada a resposta apropriada às informações sensitivas interpretadas
(TORTORA; DERRICKSON, 2016).

O córtex pré-frontal ou área frontal de associação é uma grande região


localizada na parte anterior do lobo frontal muito desenvolvida em
primatas, especialmente em humanos. Desse modo, essa área tem
muitas conexões com outras áreas corticais, tálamo, hipotálamo, sistema
límbico e cerebelo. O córtex pré-frontal está relacionado com uma
série de funções, como a formação da personalidade de um indivíduo,
inteligência, capacidades de aprendizado complexo, lembrança de
informações, iniciativa, juízo crítico, antevisão, raciocínio, consciência,
intuição, humor, planejamento do futuro e desenvolvimento de ideias
abstratas. Um indivíduo que apresente lesões em ambos os córtices pré-
frontais tende a se tornar rude, insensível, incapaz de aceitar conselhos,
temperamental, desatento, menos criativo, incapaz de planejar o
futuro e incapaz de antecipar as consequências de comportamentos ou
palavras grosseiras e inapropriadas (TORTORA; DERRICKSON, 2016).

A área pré-motora é uma área de associação motora que está


imediatamente anterior à área motora primária. Os neurônios dessa
região se comunicam com o córtex motor primário, as áreas de
associação sensitiva no lobo parietal, os núcleos da base e o tálamo.
A área pré-motora é responsável pelas atividades motoras adquiridas
que sejam complexas e sequenciais, como a escrita. Segundo Tortora e
Derrickson (2016), essa região também serve como um banco de registro
para tais movimentos.
47

A área dos campos oculares frontais, localizada no córtex frontal, é por


vezes incluída na área pré-motora. Ela controla os movimentos oculares
voluntários de perseguição, sendo muito usada ao se fazer a leitura de
uma frase, por exemplo (TORTORA; DERRICKSON, 2016).

1.1.3. Lobo Occipital

Posteriormente, os lobos occipitais posicionados são separados dos


lobos parietal e temporal pelo plano do sulco parietoccipital, visível
na face medial do cérebro em uma hemissecção do encéfalo. O ponto
posterior extremo do lobo occipital, que se projeta posteriormente, é
o polo occipital. Já os hemisférios ocupam toda a parte supratentorial da
cavidade do crânio. Segundo Meneses (2015), os lobos frontais ocupam
as fossas anteriores do crânio, os lobos temporais ocupam as partes
laterais das fossas médias do crânio, e os lobos occipitais estendem-se
posteriormente sobre o tentório do cerebelo.

Na superfície medial do hemisfério, por sua vez, o lobo occipital é


delimitado e definido por sulcos e giros bem definidos e constantes. O
seu sulco principal é a fissura calcarina, que se dispõe pouco acima da
margem inferomedial do hemisfério. A fissura calcarina se inicia sob
o esplênio do corpo caloso, delimitando inferiormente o istmo do giro
cíngulo, e se estende posteriormente constituindo uma leve curvatura de
convexidade superior de cujo ponto mais alto emerge, superiormente,
o sulco parieto-occipital, que delimita anteriormente o lobo occipital na
face medial do hemisfério. Posteriormente, a fissura calcarina ultrapassa
a margem superomedial, estendendo-se para a superfície superolateral
do hemisfério cerebral (MENESES, 2015).

O ponto de emergência do sulco parieto-occipital divide a fissura


calcarina nos segmentos proximal e distal, e, entre esse último e o sulco
parieto-occipital, dispõe-se o lóbulo cuneal ou cuneus, que recebe essa
denominação devido à sua forma de cunha (MENESES, 2015).
48

1.1.4. Lobo Temporal

O lobo temporal se situa inferiormente à fissura silviana e,


posteriormente, é delimitado pela linha arbitrária que une a
extremidade superomedial do sulco parieto-occipital com a incisura
pré-occipital. A sua superfície lateral apresenta dois sulcos paralelos
ao ramo posterior da fissura silviana: os sulcos temporais superior e
inferior, que delimitam, respectivamente, os giros temporais superior,
médio e inferior nas proximidades do polo temporal e terminam
posteriormente aos limites desse lobo. No entanto, ao contrário do sulco
temporal superior, o sulco temporal inferior é geralmente descontinuo e
composto por dois ou mais segmentos (MENESES, 2015).

O plano polar tem o seu assoalho constituído por giros transversos


curtos, inclinação oblíqua a partir do giro temporal superior e o seu
limite inferior é dado pelo segmento inferior do sulco circular da ínsula
que se dispõe na profundidade da fissura silviana. O plano temporal,
por sua vez, tem forma triangular com vértice interno que corresponde
justamente ao vértice posterior da profundidade da fissura silviana, local
em que o segmento superior do sulco circular da ínsula se encontra
com o seu segmento ou porção inferior. De acordo com Meneses (2015),
dispõe-se horizontalmente e confronta a superfície inferior do giro
supramarginal, como que sustentando a porção mais anterior desse
giro.

O Lobo Temporal envolve o processamento dos estímulos auditivos


para que o reconhecimento dos tipos diferentes de sons ocorra. As
informações são processadas por associação, isto é, quando a área
auditiva primária é estimulada, os sons são produzidos e as enviados
à área auditiva secundária, que interage com outras zonas do cérebro,
atribuindo um significado e permitindo ao indivíduo reconhecer o que
está ouvindo (MIOTTO; LUCIA; SCAFF, 2012).
49

Os Lobos Temporais são responsáveis pela percepção auditiva,


linguagem receptiva, memória declarativa e visual e emoção. Uma lesão
no lobo temporal direito leva à perda de sensibilidade para estímulos
auditivos não verbais, como a música. Já lesões do lobo temporal
esquerdo acarretam comprometimento do reconhecimento, na
memória e na formação da linguagem (MIOTTO; LUCIA; SCAFF, 2012).

1.1.5. Lobo Parietal

O lobo parietal é constituído por giros particularmente serpiginosos,


curvos, denominados lóbulos. Na superfície superolateral, o lobo
parietal é delimitado, anteriormente, pelo sulco pós-central e,
posteriormente, pela linha imaginária que une o ponto de emergência
do sulco parieto-occipital, na borda superomedial, com a incisura pré-
occipital, situada na borda inferolateral, a cerca de 5 cm anteriormente
ao polo occipital. Nessa superfície, destaca-se o sulco intraparietal,
que geralmente se inicia a meia altura do sulco pós-central, dispõe-se
predominantemente de forma longitudinal e, posteriormente, penetra
no lobo occipital, onde costuma conectar-se em ângulo reto a um sulco
occipital transverso (MENESES, 2016).

Segundo Meneses (2016), na superfície medial do hemisfério, o lóbulo


denominado pré-cuneus tem forma quadrangular é delimitado,
anteriormente, pelo ramo marginal do sulco do cíngulo, posteriormente
pelo sulco parieto-occipital e inferiormente pelo sulco subparietal,
posteriormente ao qual se conecta com o istmo do giro do cíngulo e com
o giro para-hipocampal.

Na porção anterior dos lobos parietais, localiza-se o giro para-


hipocampal responsável pela integração dos estímulos sensoriais no
corpo para reconhecimento e lembrança da textura, forma e peso dos
objetos. É a parte mais sensível e maior que região posterior devido ao
número de informações que são captados e processados pelos órgãos
50

dos sentidos. As lesões no giro para-hipocampal podem ocasionar


dificuldade de reconhecimento de objetos pelo tato e é chamado de
astereognosia. A zona posterior é uma área secundária e responsável
pela análise, interpretação e associação das informações recebidas pelo
córtex somatossensorial primário. Assim, o indivíduo consegue se situar
no espaço e reconhecer um objeto pelo tato, por exemplo (MIOTTO;
LUCIA; SCAFF, 2012).

As áreas posterolaterais ao giro pós-central são responsáveis pelas


funções visuoespaciais e as integram com outras sensações para gerar
consciência das trajetórias de objetos em movimento. Elas também são
mediadoras da propriocepção, ou seja, percepção da posição das áreas
do corpo (MIOTTO; LUCIA; SCAFF, 2012).

As partes do lóbulo parietal superomedial, no hemisfério


dominante, estão relacionadas às habilidades como cálculo, escrita,
lateralidade e reconhecimento dos dedos. Já as lesões no giro angular
ocasionam comprometimento no cálculo, na escrita e lateralidade,
sendo conhecido como anosognosia. As grandes lesões no Lobo Parietal
direito podem levam o indivíduo a não reconhecer uma paralisia do
lado oposto, já indivíduos com traumas menores podem ocasionar
maior dificuldade para a realização de atividades de vida diária (AVD),
como por exemplo, se vestir e/ou tomar banho sozinho, gerando um
comprometimento manual-espacial denominada apraxia (MIOTTO;
LUCIA; SCAFF, 2012).

1.1.6. Lobo Ínsular

O lobo ínsular é um lobo localizado no fundo do sulco lateral no córtex


cerebral. Ele desempenha um papel em determinadas funções de
linguagem. Lesão nesta área pode levar a um quadro de afasia. (BARBIN,
2018, p.80)
51

Na década de noventa, por meio do avanço nas técnicas de análise e


diagnóstico, descobriu-se a sua função de empatia e percepção de si
próprio. A partir dos estudos também se descobriu que ela influencia no
cotidiano ao influenciar as demais estruturas cerebrais para uma reação
positiva ou negativa das experiências. Ela atua na volição, vícios, afetos,
gosto, tomada de decisões etc. Segundo Barbin (2018), as lesões nessa
área cerebral podem provocar profunda apatia, ou seja, incapacidade do
indivíduo aproveitar qualquer aspecto de sua vida ou mesmo diferenciar
funções básicas como de “repulsa” em relação a um alimento estragado,
por exemplo.

A ínsula é constituída por uma superfície cortical invaginada sob os


seus opérculos frontal, frontoparietal e temporal, de modo a constituir
o assoalho da fissura silviana, que se situa entre os mencionados
opérculos. Essa situação topográfica se deve ao maior crescimento
dessas áreas corticais subjacentes que acabaram por recobri-la durante
os seus desenvolvimentos embriológicos (MENESES, 2016).

O opérculo frontal se dispõe entre os ramos horizontal e ascendente


anterior do giro frontal inferior, correspondendo, portanto, à sua parte
triangular e relacionando-se com o ramo anterior ou eixo da fissura
silviana. O opérculo frontoparietal se dispõe entre o ramo ascendente
anterior e o ramo ascendente posterior da fissura silviana, relacionando-
se, portanto, com o ramo posterior dessa fissura. É constituído pela
parte opercular do giro frontal inferior, pelas porções mais inferiores dos
giros pré e pós-centrais e pela porção também mais inferior da parte
anterior do giro supramarginal. O opérculo temporal, já mencionado
e descrito em conjunto com o lobo temporal, é constituído pelo giro
temporal superior. A superfície da ínsula tem a forma de uma pirâmide
invertida, com o limen insula e formando o seu ápice e apontando para
a substância perfurada anterior. Ela constitui a cobertura externa do
claustrum e do putame. A sua superfície é, geralmente, formada por
cinco giros, sendo os três anteriores os giros curtos da ínsula e os dois
52

posteriores os seus giros longos; esses últimos estão separados pelos


sulcos pré-central, central e pós-central da ínsula (MENESES, 2016).

Referências
BARBIN, I. C. C. Anatomia e fisiologia humana. Londrina: Educacional, 2018.
MENESES, M. S. Neuroanatomia aplicada. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2015.
MIOTTO, E. C.; LUCIA, M. C. S.; SCAFF, M. Neuropsicologia clínica. São Paulo: Roca,
2012.
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Princípios de anatomia e fisiologia. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.
53

Estruturas cerebrais e funções


cognitivas
Autoria: Nome do autor da disciplina
Leitura crítica: Nome do leitor da disciplina

Objetivos
• Propiciar o conhecimento de um breve histórico dos
estudos sobre as estruturas cerebrais e as funções
cognitivas.

• Introduzir as principais funções cognitivas e suas


estruturas cerebrais relacionadas.

• Proporcionar uma visão geral dos processos


cognitivos e funcionamento cerebral.
54

1. Estruturas cerebrais e funções cognitivas

Há muito tempo, o cérebro humano desperta a curiosidade das


pessoas, principalmente após a descoberta da unidade básica do
cérebro, o neurônio. Desde então surgiram muitas pesquisas sobre o
funcionamento cerebral e a localização de suas funções cognitivas sob
uma perspectiva localizacionista e holista.

O entendimento e a compreensão do funcionamento cerebral por


parte da neurociência são essenciais para um entendimento global
e aprofundado do indivíduo, para propiciar novos tratamentos mais
eficazes em prol da melhoria de qualidade dos indivíduos acometidos
ou não por alguma enfermidade. Além disso, é onde a neuropsicologia
passa a se desenvolver e se afirmar como ciência.

1.1 Um breve histórico

No século XIX, o conhecimento do cérebro humano se dava por meio da


análise dos cérebros após o falecimento do indivíduo e da observação
clínica do comportamento do indivíduo depois de uma lesão no
cérebro. Dessa forma, ocorreu após o acidente em uma estrada de ferro
americana em que um jovem chamado Phineas Gage teve seu cérebro
atravessado por uma barra de ferro em consequência de uma explosão.
Inicialmente, não foi observada nenhuma alteração, dado que o jovem
continuou andando comendo e se comunicando. No entanto, segundo
Maranhã-Filho (2014), com o tempo, se notou uma mudança drástica
em sua personalidade, com comprometimento significativo em seguir a
regra social.

A partir deste incidente, acreditou-se que com a análise do cérebro seria


possível compreender a sua função cognitiva, dando origem ao conceito
de Frenologia. O funcionamento cerebral passa a ser compreendido
de modo fragmentado e cada região é responsável por uma função
55

cognitiva específica. Gall propôs que, conforme o uso do cérebro, o seu


uso o faria aumentar de tamanho assim como se aumenta os músculos
com exercício físico. Ele também acreditava que as circunvoluções
da superfície do cérebro refletiam a propensão a determinadas
características de personalidade, como a timidez, a destrutividade e a
generosidade (MOURÃO-JÚNIOR; ABRAMOV, 2011).

Os trabalhos de Paul Broca sobre o centro de controle da fala e Karl


Wernicke a respeito da área de compreensão da fala corroboraram
com essa visão localizacionista da atribuição das faculdades mentais a
determinadas áreas específicas (MOURÃO-JÚNIOR; ABRAMOV, 2011).

As pesquisas de Broca descreviam o caso de um paciente que conseguia


entender o que lhe era dito, mas não era capaz de falar, embora
não apresentasse problema motor (língua, boca e cordas vocais). Ele
conseguia expressar oralmente palavras isoladas e cantar, mas era
incapaz de falar frases completas e escrever suas ideias. Após seu
falecimento, a análise de seu cérebro revelou uma lesão na região
posterior do lobo frontal esquerdo, região que recebeu o nome de área
de Broca. Depois foi realizada a análise de mais de oito pacientes com
queixas semelhantes que confirmaram essa área como responsável pela
expressão motora da fala (MOURÃO-JÚNIOR; ABRAMOV, 2011).

Em 1870, o fisiologista Gustav Fritsch e o psiquiatra Eduard Hitzig


descobriram, por meio de estimulação elétrica em cães, que a
estimulação em determinadas áreas cerebrais produzia movimentos
específicos dos membros de modo lateralizado. Assim, a mão direita que
é utilizada para a escrita seria comandada pelo hemisfério esquerdo do
cérebro na maioria dos indivíduos. (MOURÃO-JÚNIOR; ABRAMOV, 2011).

Por sua vez, o hemisfério esquerdo tem a função de pensamento lógico


e comunicação, já o hemisfério direito é responsável pelo pensamento
simbólico e criatividade. Nos canhotos, as funções mentais ocorrem de
modo contrário (MOURÃO-JÚNIOR; ABRAMOV, 2011).
56

Figura 1 – Hemisférios direito e esquerdo e suas funções específicas

Fonte: cienpies/iStock.com.

Wernicke propôs uma hipótese após a análise de uma vítima de acidente


vascular cerebral (AVC), em que postula sobre uma afasia relacionada
à alteração de compreensão e não da execução. Os pacientes de
Broca entendiam, mas não conseguiam falar. O paciente de Wernicke
conseguia falar, mas não compreendia o que dizia, então, para ele, as
funções cognitivas estão localizadas de modo difuso por todo o córtex
cerebral, mostrando a primeira evidência de processamento distribuído,
ideia atual de funcionamento cerebral (MOURÃO-JÚNIOR; ABRAMOV,
2011).
57

Em oposição ao localizacionismo, Jackson propõe uma divisão


hierárquica do sistema nervoso, surgindo o conceito chamado de
holismo. Nesta visão, todas as áreas cerebrais colaboram em um
determinado momento para a execução de determinada tarefa
(MAXEWELL, 2013).

Segundo Maxewell (2013), em seus estudos, Luria postulou o conceito


de “sistemas funcionais”, cujas funções elementares estariam localizadas
em áreas específicas do cérebro, mas os processos mentais englobam
sistemas que funcionam em conjunto, situando-se em áreas diferentes
do cérebro.

Norman e Shallice, por sua vez, propõe a noção de funcionamento


em cascata mesmo em sistemas centrais como o Sistema Atencional
Supervisor (SAS).

No século XX foi possível a observação menos intrusiva de um cérebro


humano vivo, em funcionamento, por meio dos exames de Ressonância
Magnética (RM), tomografia computadorizada por emissão de pósitrons
(PET Scan) ou por fóton único (SPECT), magnetoencefalografia (MEG) e
traçadores de atividade neuronal baseados em expressão gênica (c-Fos)
(MOURÃO-JÚNIOR; ABRAMOV, 2011).

Nas últimas décadas, os métodos de diagnóstico por imagem


apresentaram grande desenvolvimento, por meio de técnicas novas de
imagem incorporadas aos instrumentos diagnósticos (MIOTTO; LUCIA;
SCAFF, 2012).

A tomografia computadorizada possibilita a realização de imagens


seccionais do encéfalo. Hoje, esse é o método de imagem mais
utilizado no mundo para o estudo da parte central do sistema por ser
amplamente disponível, menos caro e mais rápida. A indicação mais
comum está no cenário dos traumatismos cranioencefálicos, pois, ele
58

consegue avaliar a presença de fratura e hemorragias intracranianas


(MIOTTO; LUCIA; SCAFF, 2012).

A ressonância magnética é um método não invasivo de diagnóstico


por imagem que permite a realização de imagens multiplanares, não
utiliza radiação ionizante e não apresenta efeitos nocivos aos indivíduos
(MIOTTO; LUCIA; SCAFF, 2012).

O desenvolvimento de novas técnicas de imagem por ressonância


magnética tem sido muito intenso nos últimos anos, permitindo uma
avaliação tanto morfológica como funcional do cérebro (MIOTTO; LUCIA;
SCAFF, 2012).

A ressonância magnética funcional é um método de avaliação funcional


indireto da atividade neural, pois se baseia no princípio de acoplamento
neurovascular (MIOTTO; LUCIA; SCAFF, 2012).

Figura 2 – Exemplo de ressonância magnética

Fonte: trifonov_evegni/iStock.com.
59

Assim, desde então, o interesse se voltou ao conhecimento dos circuitos


cerebrais em vez das funções especificas de localização das funções
cognitivas do cérebro. A partir de um entendimento dos substratos do
cérebro e seu funcionamento, já é possível descrever as principais áreas
e estruturas associadas aos processos cognitivos.

1.2 Atenção

Quanto à sua neuroanatomia, a atenção é formada por várias estruturas


corticais e subcorticais, além de sistemas de redes neurais. A partir do
estado de alerta se inicia a captação das informações advindas dos
órgãos sensoriais. Segundo Maxewell (2013), no tronco encefálico, na
formação reticular, é onde se dá a regulação da resistência.

No entanto, o sistema ativador reticular ascendente (SARA) permite


a ativação do córtex, a manutenção do alerta e vigília e a escolha das
respostas comportamentais. A ativação inicial do córtex parietal na
recepção de informações sensoriais, os núcleos da base e do colículo
superior com as informações motoras, além das informações límbicas
advindas do giro do cíngulo e do corpo amigdalóide são reguladas pela
formação reticular (MAXEWELL, 2013).

As capacidades de seleção de informações relevantes e inibição de


estímulos irrelevantes são fatores fundamentais para o processo de
aprendizagem (MAXEWELL, 2013). A atenção seletiva está relacionada
com três estruturas: o córtex parietal superior está associado com a
representação espacial do meio; o córtex pré-motor lateral tem a função
de orientar e parte motora da exploração do ambiente; e parte anterior
do giro do cíngulo, que está relacionado com a monitoração da resposta
(MAXEWELL, 2013).

O córtex pré-frontal é responsável pelo controle voluntário da atenção,


o córtex fronto-parietal; e os núcleos da base tem o papel de integrar
as novas informações; e o núcleo pulvinar é responsável pela seleção
60

de estímulos relevantes das irrelevantes e engajamento. De modo


contrário, segundo Maxewell (2013), a inibição de estímulos irrelevantes
está associada à estrutura do sistema límbico, por meio dos aspectos
afetivos e de motivação, o córtex parietal pela inibição do foco do
estímulo e as áreas frontais com a substituição dos processos inibitórios.

Para que todos os componentes funcionem de modo harmonioso é


necessário um gerenciador de atividades nos processos atencionais,
pois várias regiões cerebrais são acionadas e atuam de modo integrado.
Esse controle e organização executiva da atenção são fundamentais
para a manutenção da ação, controle inibitório, planejamento de metas
e autorregulação das ações. De acordo com Maxewell (2013), ela está
relacionada com as áreas anteriores do cérebro, nas áreas pré-frontais e
órbito-frontais.

A atenção sustentada está envolvida com o Tálamo, o Córtex frontal na


região anterior e a atenção dividida está associada com o córtex parietal
anterior, córtex pré-frontal e pelo Tálamo (MAXEWELL, 2013).

1.3 Memória

A memória não se situa apenas em uma região, mas suas funções estão
distribuídas por várias estruturas conforme a sua especificidade.

O lobo temporal (região medial), principalmente o Hipocampo, é uma


das estruturas mais relevantes para a produção de memória recente,
integração e consolidação de estímulos sensoriais isoladamente
e transferência da memória de curto prazo para longo prazo. O
Hipocampo tem a função de produzir a memória declarativa, o corpo
amigdaloide está associado à memória afetiva, dando uma tonalidade
emocional à informação apreendida. Segundo Maxewell (2013), outras
estruturas se relacionam com as memórias não declarativas.
61

Em 1953 ocorreu uma descoberta importante para o entendimento da


memória, após uma intervenção cirúrgica. O paciente conhecido com H.
M., portador de epilepsia temporal refratária, à ablação do Hipocampo
e do lobo Temporal (região medial) bilateralmente, foi submetido a
uma cirurgia. Apesar de tudo ter corrido bem, foi gerado um efeito
colateral inesperado. O paciente ficou incapaz de reter na memória
fatos ocorridos após a cirurgia. Ele manteve as capacidades intelectuais
e sua memória de curto prazo normal, mas perdeu a capacidade de
aprendizagem de fatos novos de forma durável. Além disso, ele perdeu
a capacidade de memória em tarefas que envolviam conhecimento
consciente de pessoas, lugares e coisas, mas manteve sua memória
inconsciente de habilidades motora intacta. Esses estudos evidenciaram
a separação entre memória implícita (armazena dados relacionados
à aquisição de habilidades mediante a repetição de uma atividade
que segue sempre o mesmo padrão sem consciência da pessoa) e
explícita (memorização por meio do esforço consciente para memorizar
imagens ou textos), a existência de sistemas de memória distintos que
constituíram a dupla dissociação (MOURÃO-JÚNIOR; ABRAMOV, 2011).

Na memória de procedimentos (também chamada implícita), observa-


se o envolvimento dos Núcleos da base. O Cerebelo é importante no
aprendizado envolvido com a parte motora e o corpo amigdaloide se
associa às respostas afetivas. Já os aprendizados não associativos estão
associados com as vias reflexas sensoriais, ou seja, à memória sensorial
ultracurta relacionada aos órgãos sensoriais e às percepções registradas
(MAXEWELL, 2013).

Assim, as estruturas cerebrais envolvidas em cada componente da


memória operacional (um conjunto de processos que nos permite
armazenar e manipular informações temporárias e realizar tarefas
cognitivas complexas como a compreensão da linguagem, a leitura,
a aprendizagem ou o raciocínio) englobam várias regiões do sistema
nervoso. No entanto, o córtex pré-frontal desempenha um papel crucial
no processamento desse tipo de memória (MAXEWELL, 2013).
62

Segundo Maxewell (2013), na maioria dos indivíduos, a alça fonológica


(função de armazenamento e manipulação das informações advindas
da fala) tem suas estruturas localizadas no hemisfério esquerdo, em que
o armazenador se relaciona ao córtex parietal posterior, enquanto o
mecanismo de ativação dos neurônios que guardam a representação da
experiência ocorre na Área de Broca e no córtex pré-motor.

O esboço visuoespacial (informações referentes aos objetos e às


relações espaciais) é constituído pelo armazenador visual, situado no
córtex pré-frontal (região inferior), e pelo mecanismo espacial, situado
no córtex occipital (região anterior), córtex parietal (região posterior) e o
córtex pré-motor, ambos no hemisfério direito (MAXEWELL, 2013).

O executivo central tem representações no córtex cerebral e está


associado ao córtex frontal região dorso-lateral e ao córtex pré-frontal
(MAXEWELL, 2013). No modelo de memória operacional proposto por
Norman e Shallice, o controle da ação se dá pelo sistema atencional
supervisor (SAS), cujas ações aprendidas e automatizadas são guiadas
por esquemas adquiridos por treinamento prévio disparado por
conjuntos de estímulos ou contextos. Um exemplo é o andar de bicicleta
que envolve esquemas que ativam sub-rotinas como pedalar, inclinar,
virar, equilibrar e brecar. Segundo Caixeta (2014), eventuais conflitos
ou obstáculos entre as atividades de diferentes esquemas seriam
solucionados rotineiramente por um “catalogador de conflitos” também
anteriormente treinado. No entanto, quando o estímulo desafiador é
apresentado o SAS assume o controle da ação.
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Figura 3 – Divisão anatômica do cérebro e suas estruturas

Fonte: Vectomine/iStock.com.

1.4 Linguagem

O processamento da linguagem é complexo, ocorrendo em estruturas


específicas e localizações determinadas. O hemisfério esquerdo,
em grande porcentagem das pessoas, se relaciona à articulação e
compreensão da linguagem e no reconhecimento da palavra; e o direito
com aspectos oratórios e afetivos da linguagem (MAXEWELL, 2013).

De acordo com Maxewell (2013), quanto à linguagem expressiva, o


Cerebelo é responsável pela sequência dos movimentos na fala e pela
monitoração da fonação; o córtex motor (giro pré-central) é responsável
pelos atos motores de fonação; alguns nervos cranianos motores
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monitoram a motricidade dos órgãos fonoarticulatórios e músculos


da face; e os núcleos da base são responsáveis pelo controle do
automatismo motor.

A área de Broca é responsável pelo planejamento motor da linguagem,


na articulação e no conteúdo da fala. Na maioria das pessoas, os
aspectos não verbais, como a prosódia e pragmática, estão associados
ao hemisfério direito. No entanto, o giro do cíngulo e outras estruturas
límbicas estão associados à motivação (MAXEWELL, 2013).

Por sua vez, as funções receptivas englobam as áreas auditivas, situada


no lobo temporal, e as áreas visuais estão localizadas no lobo occipital. A
área de Wernicke, situada na porção medial e superior do lobo temporal
esquerdo, na maior parte das pessoas, tem o papel da compreensão da
linguagem (MAXEWELL, 2013). Segundo Maxawell (2013), o giro angular
localizado no lobo parietal é responsável pela decodificação da escrita e
leitura.

Figura 4 – Visão cortical do cérebro e estruturas da linguagem

Fonte: ttsz/iStock.com.
65

1.5 Habilidades visoconstrutivas

O hemisfério direito está associado à configuração global de uma


informação e o hemisfério esquerdo se relaciona à discriminação de
suas estruturas. Além de uma diferenciação hemisférica, as habilidades
visuoconstrutivas dependem de regiões corticais posteriores, como o
córtex occipital fundamental na análise e integração dos componentes
visuais (formas, cores e tamanho) e córtex parietal (giro angular e
supramarginal), relacionado aos componentes espaciais do estímulo e
questões visuoespaciais da grafia (MAXEWELL, 2013).

Em relação à elaboração da representação mental, as áreas frontais


são ativadas no planejamento da ação motora. Por fim, segundo
Maxewell (2013), a execução de qualquer tarefa visuoconstrutivas exige
a participação das áreas do córtex motor seja para a construção ou para
reprodução de algum padrão visual.

1.6 Função executiva

A função executiva está associada às diferentes áreas dos lobos


frontais, distribuídas em uma grande rede cerebral. Ela é constituída
por estruturas subcorticais e vias do Tálamo. O córtex pré-frontal é a
região mais associada ao funcionamento executivo e tem a função de
coordenar e integrar os diferentes processos emocionais e cognitivos
(MAXEWELL, 2013).

O córtex pré-frontal possui características únicas que sugerem ser


um mediador e o controlador do funcionamento executivo. Segundo
Maxewell (2013), trata-se da área que contém mais regiões cerebrais
conectadas a elas, além de receber diretamente entrada de outras
regiões heteromodais associativas.

O córtex pré-frontal é o maior alvo neocortical das informações que


são processadas nos circuitos límbicos e nas projeções dos circuitos.
66

Portanto, é a única região cortical que tem a capacidade de integrar


a motivação, memória, emocional, estímulos somatosensoriais e
sensações do meio, de modo unificado e com objetivos preestabelecidos
(MAXEWELL, 2013).

De acordo com Maxewell (2013), o córtex frontal se organiza conforme


a natureza do material a ser processado ou o tipo de processamento
requerido. O desempenho das funções executivas está relacionado a
três importantes circuitos, que se originam no lobo frontal e enviam
projeções para os Núcleos da base e para o Tálamo (MAXEWELL, 2013).

O primeiro é o circuito córtex pré-frontal dorsolateral que se localiza


na parte dorsolateral do núcleo caudado e recebe conteúdo do córtex
parietal e da área pré-motora. É uma área multimodal, responsável
pelo planejamento, estabelecimento de metas, flexibilidade cognitiva,
fluência, memória de trabalho verbal e visuoespacial, autorregulação e
tomada de decisão (MAXEWELL, 2013).

O circuito órbito-frontal lateral tem origem no córtex pré-frontal na


região latero-inferior e ventral, com projeção para o núcleo caudado
ventromedial e recebe informações de outras áreas corticais. Essa
região recebe estímulo das áreas de processamento visual e auditivo
dos lobos occipital e temporal. No córtex orbitofrontal, há ligação com
as regiões de processamento cognitivo e emocional. Portanto, ele está
associado ao comportamento social como controle inibitório, empatia e
cumprimento de regras sociais (MAXEWELL, 2013).

O circuito da região anterior do giro do cíngulo/córtex pré-frontal (região


medial) se projeta para o núcleo estriado ventral, recebe estímulos do
córtex de associação paralímbico, continuando até o núcleo talâmico
dorsomedial. Esse circuito tem o papel de monitorar o comportamento,
a motivação, o controle executivo da atenção, a seleção e o controle
de respostas, recebendo conteúdo do Hipocampo e a Amígdala
(MAXEWELL, 2013).
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Como os aspectos múltiplos de estruturas das tarefas e multifacetados


não possibilitam o isolamento de uma única habilidade cognitiva,
não há certeza em relação às localizações cerebrais referentes ao
funcionamento executivo. No entanto, segundo Maxewell (2013), a
sua grande quantidade de conectividade com diversas áreas cerebrais
mostra o quão ela é importante no controle da função executiva e outras
funções cognitivas.

O lobo pré-frontal também pode ser comparado a um “comitê


executivo” constituído por cinco sistemas sub-corticais-e-posteriores: o
apreendedor, o verbalizador, o motivador, o atentivo e o coordenador.
Cada componente desse comitê está associado a um sistema pré-frontal
e às habilidades cognitivas específicas (MAXEWELL, 2013).

Já o apreendedor, via pré-frontal ventro lateral recebe informações


básicas para discriminar e identificar objetos e situações. O sistema
verbalizador, via ventro lateral, também recebe informações sobre
objetos e o ambiente e a relaciona com a comunicação. O sistema
motivador, via ventromedial orbital, recebe informações diretamente da
parte perceptual, aprimorando as informações do sistema apreendedor
e verbalizador. Além disso, recebe sensações do corpo e respostas
emocionais (MAXEWELL, 2013).

O sistema atentivo, via dorso medial, recebe e processa informações


básicas dos objetos e do ambiente, está ligado ao foco de atenção.
Segundo Maxawell (2013), o coordenador, via dorso lateral, recebe
informações espaciais e de todos os outros sistemas.

Outro modelo de funções executivas, proposto por Lezak et al. (2004),


sugere a existência de um processo composto por etapas sucessivas e
interdependentes. Nesse modelo, a função executiva apresenta quatro
componentes principais: a volição (relacionada ao comportamento
intencional, envolvendo a formulação de objetivos e motivação), o
planejamento (identificação das etapas necessárias para se para se
68

alcançar determinado objetivo), a ação proposital (transição da intenção


para o comportamento) e o desempenho afetivo (autorregulação do
comportamento e monitoração do desempenho afetivo (FUENTES et al.,
2013).

Não existe uma definição única para as funções executivas, mas elas
incluem: controle inibitório, planejamento, flexibilidade cognitiva,
tomada de decisões, flexibilidade cognitiva, memória operacional,
atenção e fluência (FUENTES et al., 2013).

Desse modo, explicar os modelos de cognição normal e suas respectivas


áreas cerebrais e circuitarias continuam sendo um desafio devido
à complexidade do processamento cognitivo. Por esse motivo, as
funções complexas precisam ser divididas em processos mais simples e
gerais, assim como serem anatomicamente isoladas para uma melhor
compreensão de seu papel.

Referências
CAIXETA, L. Doença de alzheimer. Porto Alegre: Artmed, 2012.
FUENTES, D. et al. Neuropsicologia: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed, 2008.
LEZAK, M. et al. Neuropathology for neuropsychologists. In: LEZAK, M.
Neuropshychological Assessment. New York: Oxford University Press, 2004. p.
157-285.
MARANHÃO-FILHO, P. Mrs. Phineas Gages e o acidente que deu novo rumo à
neurologia. Revista Brasileira de Neurologia, [s.l.], v. 50, n. 2, p. 33-35, 2014.
Disponível em: http://files.bvs.br/upload/S/0101-8469/2014/v50n2/a4213.pdf.
Acesso em: 23 set. 2021.
MAXEWELL. Funções cognitivas: bases neuroanatômicas e circuitarias. Rio de
Janeiro: PUC-RJ, 2013. p. 25-37
MIOTTO, E. C.; LUCIA, M. C. S.; SCAFF, M. Neuropsicologia clínica. São Paulo: Roca,
2012.
MOURÃO-JÚNIOR, C. A.; ABRAMOV, D. M. Fisiologia essencial. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2011.
69

BONS ESTUDOS!

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