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Homem, 65 anos, não tabagista, foi trazido por familiares ao Serviç o de Urgência com
quadro infeccioso compatível com Covid-19 – cansaço, dispneia, tosse seca, cefaleia e
mialgias; associado a alteração do estado mental. O diagnóstico foi confirmado pela
transcrição reversa seguida de reação em cadeia da polimerase em tempo real (RT-
PCR) para SARS-CoV-2 positivo no exsudado naso e orofaríngeo. Exames
complementares revelaram discreta elevação dos parâmetros inflamatórios e o exame
do líquor/punção lombar não apresentou crescimento bacteriano e foi negativo para
vírus herpes simplex 1 e 2, vírus varicela zoster e vírus do Nilo Ocidental. A
tomografia (TC) de crânio mostrou imagem hipodensa em estruturas diencefálicas
bilateralmente, com angioTC normal; e a ressonância magnética (RM) cerebral mostra
lesões hemorrágicas com captação de contraste nesta topografia, bem como em lobos
temporais mediais e regiões subinsulares. Ao exame neurológico, havia rebaixamento
de consciência, sem interação adequada, mas mobilizava os membros e reagia aos
estímulos álgicos. Delírios e alucinações também foram evidenciados pela constante
desorganização de pensamento e fala. Exames complementares indicaram
encefalopatia necrosante aguda (ENA), uma complicação rara descrita na influenza e
de outras infecções virais que envolve ruptura da barreira hemato-encefálica (sem
invasão viral direta, nem desmielinização parainfecciosa), resultante de uma
tempestade de citocinas. Neuroimagens revelaram lesões de estruturas diencefálicas
multifocais simétricas, podendo também acometer tronco encefálico, substância
branca cerebral e cerebelo. Este paciente foi tratado com imunoglobulina intravenosa,
sendo evitada pulsoterapia com corticoide devido a preocupações sobre o
comprometimento respiratório, e antipsicóticos atípicos para alívio do quadro
psicótico. A partir do relato de caso acima e dos seus conhecimentos em
AnatomoFisiologia Cerebral, responda:
(b) Tálamo, particularmente pela sua localização no lobo occipital que permite com
que ele receba informações da principal fonte de origem da inter-relação do ambiente
com o organismo, a visão.
(c) Hipotálamo, especialmente pela sua localização na Insula que contribui para a
passagem de todos os inputs sensoriais, exceto olfato, para sua filtragem, modulaçã o
e distribuição ao córtex.
(d) Hipófise, principalmente pela sua intima relação facilitada pela sua localização
abaixo do hipotálamo e liberação de hormônios que promovem o filtro de aferentes
sensoriais.
Epitálamo, mediado especialmente pela sua localização no ventro-medial que regula
a passagem de informações aferentes sensoriais pela liberação do hormô nio
melatonina.
Referências:
CRUNFLI, Fernanda et al. Morphological, cellular and molecular basis of brain in-
fection in COVID-19 patients. 2022. Disponível em:
https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.10.09.20207464v5.full.pdf. Acesso em:
14 mai 2022.
ABREU, Maria Eduarda Ledo de. Infecção por SARS-COV-2 no sistema nervoso
central pode estar relacionada ao desenvolvimento de ansiedade, depressão e
problemas cognitivos. 2020. Disponível em:
https://www.rededorsaoluiz.com.br/instituto/idor/infeccao-por-sars-cov-2-no-sistema-
nervoso-central-pode-estar-relacionada-ao-desenvolvimento-de-ansiedade-depressao-
e-problemas-cognitivos/ . Acesso em: 12 mai 2022.
DEPRESSÃO e ANSIEDADE
Dalgalarrondo (2019) explica que a Organização Mundial da Saúde (OMS)
considera a depressão como sendo uma das doenças que impactam a qualidade da
"vida produtiva" negativamente e causam morte prematura.
Do ponto de vista psicopatológico, os elementos mais comuns e presentes nas
síndromes depressivas são: o desânimo e o humor triste desproporcionais - mais in -
tenso e duradouros - do que nas respostas normais à momentos tristes. (Apud Del
Pino, 2003 em Dalgalarrondo, 2019).
Ainda de acordo com Dalgalarrondo (2019) outros sintomas ligados às sín-
dromes depressivas são: apatia, tédio, irritabilidade, angústia, lentificação psicomo-
tora, insônia, fadiga, ruminações, ideias de morte e diminuição da libido. Além disso,
a depressão pode desencadear diversas doenças e condições físicas como diabetes,
AVC, obesidade e problemas cardíacos.
A ansiedade, comumente relacionada a quadros de depressão, também tem sido
relatada com bastante frequência em pacientes com sequelas da SARS-CoV-2. Dal-
galarrondo (2019) cita alguns sintomas da ansiedade parecidos com os da depressão:
irritabilidade aumentada, insônia, angústia e cansaço fácil. Frequentes sintomas físicos
como: falta de ar, suor, tremores, formigamento, tonturas, náuseas e dores musculares
também são mencionados. Dalgalarrondo (2019) ainda enfatiza a importância de
averiguar se os sintomas causam sofrimentos clinicamente significativos e prejudicam
a vida da pessoa e o quanto é importante estes pacientes serem tratados para evitarem
outras crises subsequentes como a TAG (transtorno de ansiedade generalizada) e o TP
(transtorno do pânico).
Fica, portanto, claro a importância do tratamento desses transtornos num pro-
cesso pós-SARS-CoV-2, para que o paciente reaja e não desenvolva um quadro mais
intenso ou até mesmo crônico.
Além da medicação, muitas vezes essencial em quadros mais graves, através
da fala, a psicoterapia buscará amenizar o sofrimento causado pela depressão e an -
siedade (FIOCRUZ, 2022).
Durante as sessões de psicoterapia individual, o psicólogo, por meio de escuta
empática e conversas construtivas, vai explorar a razão pela qual os medos, a angústia
e a tristeza excessiva foram desencadeados. A busca pela compreensão e o processo
de conscientização do que pode estar errado poderá ajudar o paciente a sair do “fundo
do poço” e começar a fazer parte do seu próprio processo de cura, sempre levando em
conta que cada paciente é único. Uma importante ferramenta na Psicologia Profunda é
a palavra, elevar o nível de conhecimento do verdadeiro “eu" do paciente e comen -
tários responsáveis feitos pelo psicólogo, podem incentivar o paciente a desenvolver
atitudes e hábitos saudáveis e ajudá-lo no processo de cura.
A utilização de outras ferramentas terapêuticas como a escrita: manter um
diário para se expressar quando sentir vontade de “verbalizar" seus sentimentos; a
arte: procurar explorar os sentimentos através da música, dança, pintura e/ou desenho;
atividades físicas: esportes, caminhadas, pilates; e qualquer outra atividade que possa
aliviar o paciente de sua dor poderão ser explorada por terapeuta e paciente.
Paralelamente, a terapia em grupo pode ajudar na troca de experi ências e a en-
frentar o trauma e problemas causados pela doença e pela epidemia. Com a ajuda do
terapeuta, o grupo pode, inclusive, criar um vínculo além dos momentos formais de
terapia e passar a se ajudar mutuamente, de uma maneira mais informal e descon -
traída. Programas como caminhadas em parques, café da manhã com picnics em áreas
abertas e rodas de leituras e conversas em espaços abertos podem ser de extrema moti -
vação e desempenhar um papel importante, uma vez que ao interagirem, os pacientes
possam vir a se sentir mais integrados e menos sozinhos.
Talvez, um grupo de apoio no what’s up, por exemplo, possa ser criado, com
regras claras e específicas, para os pacientes se apoiarem e aumentarem o vínculo en -
tre eles.
MEMÓRIA
Considerando que a memória musical é processada em um sistema neurológico
específico e independente de outros sistemas de memória, durante as sessões seriam
reproduzidas músicas significativas no histórico do paciente, que evocam a recordação
de memórias de experiências afetivas do paciente. O paciente será encorajado a cantar
junto com a gravação e comentar sobre as lembranças que a música lhe traz.
COORDENAÇÃO MOTORA
Treino de habilidades motoras com instrumentos simples de percussão
(chocalho, pandeiro e cajon estariam disponíveis durante a sessão), onde o paciente irá
ouvir uma música e ser estimulado a acompanhar o ritmo no instrumento, bem como
criar memória muscular ao longo das sessões.
ATENÇÃO
Uma excelente ferramenta para ativar a atenção e a concentração é o uso de
instrumentos rítmicos (percussão) no treino musical. Contar o tempo da música e
marcar o ritmo num instrumento percussivo ajudam na manutenção da atenção e a fazer
com que o paciente permaneça no aqui-agora.
LINGUAGEM
Cantar sua música predileta junto com a gravação durante as sessões promove a
melhora a articulação, entonação, o estímulo da funcionalidade dos órgãos
fonoarticulatórios num primeiro momento na voz cantada e, posteriormente, na voz
falada. O treinamento rítmico da fala também permitirá o paciente se comunicar de
forma mais efetiva e fortalecer as funções neuropsicológicas.
Estas são apenas algumas das possibilidades por nós levantadas como ferramen-
tas clínicas práticas possíveis de serem submetidas a pacientes com sequelas causadas
pela infecção por SARS-CoV-2, mas entendemos que os recursos são muito mais nu-
merosos e abrangentes. Um excelente tema para uma monografia ou um aritgo cientí-
fico, que poderá ser explorado no futuro.
REFERÊNCIAS
DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais.
2019, 3a ed. Porto Alegre, RS: Artmed, 2019