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ARTIGO ORIGINAL

INFLAMAÇÃO EM DOENÇAS NEURODEGENERATIVAS

INFLAMMATION IN NEURODEGENERATIVE DISEASE

Rafael Rodrigues LIMA2, Ana Maria Rabelo COSTA 3,Renata Duarte DE SOUZA 4 e Walace GOMES-LEALs

RESUMO

Objetivo: e,çtudo de,çcritivo sobre a atuação do proces~'o inflamatório em doença,ç neurodegenerativas, com
ênjàse no,Çdoi~'principais' tipos celulares envolvido.v: neutrófilo e macrófago, Método: pesquisa do tema na~'
fontes bibliogrqficas na base de dado,çPUBMED/ MEDLINE, Con,5ideraçõesFinais: existem diversas evidências
na literatura que mo,çtram que, embora o,çmecanismos inflamatórios participem dosfenômeno.v de reparação
tecidual, também, estão envolvidos em processos de degeneração secundária em doenças agudas e crônicas do
sistema nervoso central.

DESCRITORES: neutrófilos, macrófagos, neurodegeneração

INTRODUÇÃO para o recrutamento de células para o sítio de inflamação.


As primeiras células a chegar ao parênquima lesado são
Inflamação é uma resposta de defesa que ocorre os neutrófilos e, subseqlientemente, os macrófagos
apósdano celular causadopor micróbios, agentesfisicos teciduaisl.
(radiação, trauma, queimaduras), químicos (toxinas, As respostasde defesa,incluindo inflamação, são
substâncias cáusticas), necrose tecidual e/ou reações geralmente benéficas ao organismo, agindo para limitar a
imunológicas1.2,A reaçãoinflamatória agudacaracteliza- sobrevivência e proliferação dos patógenos invasores,
sepor uma série de eventos inter-relacionados, entre os promover a sobrevivência do tecido, reparo e
quais aumento no fluxo sanguíneo e permeabilidade recuperação, e conservar a energia do organismo.
vascularna região afetada, exsudaçãode fluido (edema), Entretanto, uma inflamação extensiva,prolongada ou não
dor localizada, migração e acúmulo de leucócitos regulada é altamenteprejudicial ao organismo. Processos
inflamatóriosdos vasossanguíneospara dentro do tecido, pró- inflamatórios sãoreguladospor uma sérieequivalente
formação de tecido de granulação e reparo teciduall.2, de processosanti-inflamatórios teciduaisl,2.
A resposta inflamatória inclui a participação de Muitas doençasenvolvem inflamação e estapode
diferentes tipos celulares, tais como neutrófilos, ser a causa de dano tecidual como ocorre na esclerose
macrófagos, mastócitos, tinfócitos, plaquetas, células múltipla, doençade Alzheimer, artrite reumatóide, lúpus
dendríticas,célulasendoteliaise fibroblastos, entre outras, eritematoso sistêmico, lesãodo cérebro e medula espinal
Durantea infecção, a quimiotaxia é um importante evento e acidentevascular encefálico3.

Recebido em 18.10.2006 -Aprovado em 11.04.2007


I Trabalho realizado no Laboratório de Neuroproteção e Neuroregeneração Experimental do Centro de Ciências Biológicas da
Universidade Federal do Pará (CCB-UFPA)
2Cilurgião-Dentista, Mestre em Neurociências e Biologia Celular (UFPA), Discente do Programa de Pós-Graduação em Odontologia
da UFPA e Doutorando em Neurociências e Biologia Celular (ufpa)
3 Farmacêutica-Bioquímica, Mestre em Neurociências e Biologia Celular (UFPA)
4 Fisioterapeuta e Cirurgiã-Dentista, Mestre em Neurociências e Biologia Celular (UFPA)
j Biomédico. Mestre e Doutor em Neurociências (NeuropatologiaExperimental- Doutorado sanduiche Universidade de Southampton,
UK), Professor Adjunto e Chefe do Laboratório de Neuroproteção e Neuroregeneração Experimental do Departamento de Morfologia,
CCB-UFPA.

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OBJEnvo Inflamação e Doenças Neurodegenerativas

Descrever a atuação do processo inflamatório em Apesar de trabalhos que sugerem o encéfalo como
doenças neurodegenerativas, com ênfase nos dois um órgão com "privilégio imunológico", muitos estudos

principais tipos celulares envolvidos: neutrófilos e mostram que esse privilégio não é total. Existem fortes
evidências na literatura que a inflamação no SNC está
macrófagos.
envolvida na patogênese de doenças neurodegenerativas
agudas e crônicas, incluindo doenças de Parkinson,
MÉTODO
Alzheimer, esclerose lateral amiotrófica, trauma do cérebro
Pesquisabibliográfica na basede dadosPUBMED e medula espinhal e acidente vascular encefálico3.
(US National Library ofMedicine e lnstitute ofHealth)/ A neurodegeneração mediada por inflamação
MEDLINE. envolve ativação dos macrófagos residentes no encéfalo
(micróglia), que liberam fatores neurotóxicos e pró-
PESQUISA NA LITERATURA inflamatórios, incluindo citocinas, radicais livres, óxido
nítrico e eicosanóides que podem lesar neurônios e células
Inflamação no Sistema Nervoso Central gliais3. Além dos macrófagos residentes, neutrófilos e
O encéfalo possui características peculiares que macrófagos derivados de monócitos da corrente sanguínea
distinguem a suarespostainflamatória da de outros órgãos. podem induzirneurodegeneração9,1°,ll.
Confinado dentro da caixa cranianae com uma vasculatura Em um modelo de lesão aguda da medula espinhal

apresentando junções fechadas, a barreira de ratos, demonstrou-se, recentemente, a escala temporal

hematoencefálica,a entradade grandesmoléculase células dos padrões de ativação microglial e astrocitária após lesão

circulantes é limitada. Essas características levaram ao excitotóxical2. Células da microglia são ativadas
precocemente e podem contribuir para o início do processo
conceito do encéfalo como um órgão possuindo um
lesivo na substância cinzental2. Esses mesmos autores
"privilégio imunológico"4. Por exemplo, estímulos com
afirmam que os neutrófilos são as primeiras células
lipopolissacarídeosbacterianosem roedoresinduzem uma
inflamatórias recrutadas durante inflamação aguda, tanto
rápida e elevada invasão de neutrófuos na pele, mas uma
em tecidos neurais como em tecidos não neurais e que
respostalimitada e tardia no encéfalo5.O pico máXimo de
este fenômeno é mais tardio no SNC1.
recrutamentode neutrófilos em tecidos não neuraisfoi em
Neutrófilos agem, fisiologicamente, como células
torno de 6-8 h, enquanto no sistema nervoso central foi
fagocitárias, mas, acredita-se que os mesmos podem
em aproximadamente 24 h2,6,7,8.
contlibuir para o agravamento do processo lesivo durante
Os padrõesde intensidadeda respostainflamatória
trauma tecidual, tanto em tecidos neurais como em tecidos
também diferem paradiferentescompartimentosdo SNC7, não neurais, em seres humanos e em animais de
Estudos com lesão mecânica no encéfalo e na medula experimentação 14,15.
espinhal de ratos mostraram uma marcada diferença no Os mecanismos pelos quais os neutrófilos podem
número e distribuição de neutrófilos recrutados na área induzir lesão ao tecido neural foram mais investigados em
da lesãoapósum dia7,Enquanto no encéfalo,essascélulas modelos experimentais de trauma da medula espinhal]4,15.
estavam restritas às margens da lesão e em pequena Após lesão da medula espinhal em ratos, a lesão
quantidade,na medula espinhal houve intensa infiltração endotelial parece ser um evento importante subjacente à
no parênquima medular, A presença de macrótàgos/ degeneração neuronal secundária'5,'6. Neutrófilos podem
micróglia também foi mais robustana medula espinhalque liberar elastases, espécies reativas derivadas do oxigênio
no córtex cerebrar . e metaloproteinases, as quais podem induzir necrose
A)guns autores acreditam que esse privilégio hemorrágica durante lesão da medula espinhaI15,,6. O
imunológico é conquistado ao longo da vida, portanto, rompimento da barreira hematoencefálica pode ser uma
ratos jovens possuem maior susceptibilidade à reação consequência plausível da atividade patológica de
inflamatória após dano no SNC imaturo. Demonstrou-se leucócitos7. Schnell et al. (1999)7 demonstraram que a
que após lesão excitotóxica no encéfalo de ratos, ocorre resposta inflamatória na ME é mais intensa do que no
uma maior quantidade de neutrófilos recrutados no cérebro e que este fato é acompanhado por uma
parênquima de ratos jovens comparados aos adultos6,O recuperação mais rápida das alterações de permeabilidade
rompimento da barreira hemato-encefálica também foi da barreirahematoencefálica no cérebro, do que na medula

maior em ratosjovens que em ratos adultos, 8 horas após espinhal. O recrutamento mais intenso de neutrótllos após

a administração de N-Metil-D-Aspartato (NMDA)6, lesão medula espinhal pode ser um fator importante para

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o fato de que a recuperação da medula seja mais lenta macrófagos são asprincipais células efetoras da resposta
nestaregião do SNC. imune1,18.
Ainda não está determinado se os resultados Apesar da sua enorme importância fisiológica,
experimentaisd~scritosacimapossuemalguma relevância acredita-se que macrófagos podem causar lesão em
para lesão de medula espinhal em seres humanos. No tecidos normais durante diversas condições patológicas,
entanto,contagensde célulasda respostainflamatória no entre as quais a doença de Gaucher, atrrite reumatóide,
líquidocefalorraquidiano de sereshumanos revelaram tuberculose, malária cerebral, AIDS, arteriosclerose e
concentrações elevadas de células brancas do sangue, trauma da ME e do cérebro1,18.O pressuposto que
principalmente, linfócitos e células polimorfonucleares, consolida estaidéia é que macrófagospossuemum grande
acercade uma semanaapós a lesão iniciall7. número de enzimas extremamente lesivas dentro de seus
lisossomas (por exemplo, proteases neutras,
metaloproteinasese elastases)e essasenzimas podem ser
Macrófagos liberadas para o parênquima tecidual intacto durante a
DUrat1teo processoinflamatório, monócitos que são atividade destas células, causando degradação de
célulasnão diferenciadas, recrutados para o parênquima colágeno, elastina e fibrina9,!0,11,13,19,
tecídual,onde são ativados para setomarem células com Macrófagos podem liberar citocinas inflamatórias
função fagocítica, passando a ser chamadas de (por exemplo, FNT-a), radicais livres (e.g, radicais
macrófagos, onde podem ser fixas ou apresentarem hidroxiJa) e NO, os quais podem mediar a lesão tecidual
capacidadede deslocamento amebóide, podendo ainda, relacionada à respostainflamatória'!8,!9.
em condiçõespatológicas, seapresentaremisoladas,com Monócitos são recrutados para o SNC em
padrãoepitelióide (quando agrupadas,semelhantemente, condiçõespatológicasagudas,tais como acidentevascular
a um colar) ou de células gigantes multinucleadas (fusão cerebral, trauma cerebral e da medula espinaI9,2°e
de várias células), dependendo do desafio fagocíticoJ. condições neurodegenerativas crônicas como esclerose
Além dosmacrófagosderivadosdosmonócitossanguíneos, múltipla21,22.No parênquima do SNC, os monócitos se
há uma população de células residentes que recebe diferenciam, são ativados e se tomam macrófagos. Esse
denominaçõesespecífi.cas,dependendodo tipo de tecido fenômeno envolve alteraçõesmorfológicas e o aumento
onde sãoencontradas. da expressãode diversos receptoresde membranas,entre
Macrófagos residentes são chamados células de os quais alguns antígenosna membrana2!,22 de lisossomas
Kupffer no fígado, macrófagos alveolares no pulmão, e o receptor C3 do complemento23. Durante trauma
osteoclastosno osso e micróglia no sistema nervoso. Os cerebral e da medula espinhal, o pico de recrutamento de
macrófagos residentes possuem papéis fisiológicos macrófagos é em tomo de 3 dias, portanto mais lento
importantes, tais'como a absorção óssea pelos quando comparado a tecidos não neurais7,9,20,24.
osteoclastose, geralmente, participam na fase final do Como uma espécie de efeito colateral de suas
processoinflamatório agudo, fagocitando patógenos(no atividadesnormais,acredita-seque macrófagose micróglia
casode infecção), detritos celulares ou contribuindo para ativados possamcontribuir para exacerbaçãoda lesão no
o reparo tecidual através da liberação de citocinas que SNC durante condições patológicas neurais7,9,20,24.
induzem heovascularização ou recrutamento de Demonstrou-se que a depleção do recrutamento de
fibroblastos com formação subseqi.iente da matriz macrófagos com pó de sílica13ou clodronato9 diminui a
extracelularl,18. área de lesão secundária e melhora o prognóstico de
Existe,também,uma inter-relaçãoentrea atividade recuperação motora após lesão da medula espinhal em
demacrófagose a ativaçãode linfócitos durantea resposta roedores.Injeção intraperitonealde pó de sílica induz uma
imune específica. Na maioria dos tecidos não neurais, forte respostainflamatórialocal,tomandomonócitosmenos
macrófagos são células apresentadoras de antígenos, disponíveis em outros tecidosl3. Por sua vez, os animais
significando que as mesmas, ao expressarem antígenos que receberam injeção de clodronato apresentaram
estl.anhosem suas membranas, estimulam linfócitos melhora das funções motoras acompanhadas por
específicos para os antígenos em questão. Linfócitos T diminuição da cavitação no eixo rostrocaudal, além de
secretamcitocinas,asquaispodem ativar mais macrófagos, regeneraçãoaxonal9.
portanto, amplificando a resposta imune. Finalmente, Além disso,relatou-seque a injeção de altas doses
macrófagos podem reconhecer, fagocitar e degradar do anti-inflamatório metilprednisolonaproduz diminuição
bactérias opsonizadas (envolvidas por proteínas do da área de lesão secundária e induz maior recuperação
complemento) duranteum processoinfeccioso. Portanto, motora em ratos submetidos à lesão da medula
espinhaI25,26.Essadroga, hoje utilizada para o tratamento

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de sereshumanos que sofreram lesão aguda da ME, tem durante a fase de cicatrização de lesões feitas por bisturi
seusefeitos neuroprotetoresexplicadospor suasaçõesanti- em porquinhos da Índia.
inflamatórias e por seusefeitos anti-oxidantes15,26. No SNC, existem evidências na literatura de que a
Nas condições experimentais relatadas acima, atividade pode ser benéfica aos processos de reparo e
macrófagos derivados da cor..ente sanguinea parecem regeneraçãoJo.O aparenteparadoxo levou alguns autores
contribuir para a degeneraçãoneuronal secundária, após a sugeriremque existeum conflito entre a inflamação que é
lesão da medula espinhal, provavelmente, pela liberação prejudicial aos mecanismos de manutenção, reparo e
de citocinas inflamatórias, radicais livres, enzimas regeneração do tecido neural e aquela necessária a estes
proteolíticas e aminoácidos excitatórios (e.g, quinolinato )
propósitos4.
ou mesmo através da secreção de inibidores de Em uma revisão recente, Schwartz et al. (2001)4
regeneração. Concentrações elevadas de neurotoxinas relataram que macrófagos podem ser de fundamental
inflamatórias e citocinas sãoencontradasapósLME, onde impo.rtânciapara os mecanismosde reparo e regeneração,
os ma,crófagos podem estar associados na síntese e mas que no SNC a atividade destas células seria inibida
liberação da maior palie dessasmoléculas17.18. por um ambiente hostil à regeneração.Em outro estudo, a
Apesar das evidências experimentais descritas aplicação local de macrófagos ativados derivados do
acima favorecerema noção de que macrófagoscontribuem sistema nervoso periférico, à ME de ratos que sofreram
para degeneração neural; em certas condições transecçãomedular,propiciou recuperaçãomotora parcial
experimentais, estas células parecem, também, estar nestesratos que, de outro modo, ficariam paraplégicos e a
envolvidas em processosneuroregenerativos. recuperaçãofuncional manifestou-sepela aquisiçãoparcial
Leibovich & Ross (1975)29 primeiramente de atividade motoraJO.
sugeriram quê macrófagos poderiam participar do Nos estudosmencionados acima, acredita-se que
fenômenode cicatrizaçãodurantelesãofeita com um bisturi a fagocitose de mielina sofrendo degeneração,bem como
na pele dQrsalde porquinhos da Índia. Após a efetivação
a sínteseou indução da síntesede fatores de crescimento,
da lesão experimental, estes autores causaram
poderiam explicar o papeldos macrófagosnos mecanismos
monocitopenia (diminuição dos níveis de monócitos
de reparo e regeneração no SNC e SNp3°. Acredita-se
sanguíneos) com injeçã~ subcutânea de acetato de
que a atividade inflamatória no SNC tenha sido restringida
hidrocortisona e com a utilização de um anticorpo
durante o processo evolutivo, a fim de proteger o
antimacrófagos.Usando esteprocedimento,com uma série
parênquima neural de lesão subseqliente a uma resposta
de grupos controles apropriados, estes autores
inflamatória exacerbada4.
demonstraram que nos animais monocitopênicos e com
depleçãode macrófagos,os níveis de fibrina foran1elevados
CONSIDERAÇÕES FINAIS
e que ~ etiminação de rmrina, neutrófilos e detritos do
processo lesivo foi retardada. O aparecimento e a Existem diversas evidências na literatura que
proliferação defibroblastos durante o desenrolar da lesão mostram que, embora os mecanismos inflamatórios
foram mais lentos nos animais com depleção de participem dos fenômenosde reparaçãotecidual, também,
inacrófagos. Baseados nesses resultados, os mesmos estãoenvolvidos em processosde degeneraçãosecundária
autoressugeriramum papel fundamental para macrófagos em doenças agudas e crônicas do SNC.

SUMMARY

INFLAMMATION IN NEURODEGENERATIVE DISEASE

Rafael Rodrigues I"IMA, Ana Maria Rabelo COSTA, Renata Duarte de SOUZA e Walace GOMES-LEAL

Objective: to describe the performance of the il?flammatol}' process in neurodegenerative disease, with emphasis
in the two main involved cellular type.s: neutrophil and macrophage. Method: through bibliographical .search in
the databases PUBMED/ MEDLINE. Final Considerations: diverse evidences in literature exi.s't showing that even
so the inflammatory mechani,sm,sparticipate of the phenomena qf tecidual repairing, also are involved in proce.sses
of .s'econdary degeneration in acute and chronic disease of the central nervous system.

KEY WORDS: neutrophils, macrophages, neurodegeneration.

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Endereço para correspondência
Rafael Lima
Conjunto Panorama XXI Quadra 31 Casa 17
Nova Marambaia CEP 66625-01 Q Belém -Pará -Brasil
Tel: (91) 8137-0833 e.mail: rafalima@ufpa.br

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Marcia de Miguel, Durval Campos Kraychete, Roberto José Meyer Nascimento

ARTIGO DE REVISÃO
ISSN 1677-5090
© 2010 Revista de Ciências Médicas e Biológicas

O sistema imunológico na dor neuropática: uma revisão

The immune system in neuropathic pain: a review

Marcia de Miguel1 Durval Campos Kraychete2, Roberto José Meyer Nascimento3


1
Mestranda em Processos Interativos dos Órgãos e Sistemas – ICS/UFBA; 2Professor Adjunto de Anestesiologia –
Fac.de Medicina/UFBA; 3Professor Titular de Imunologia – ICS/UFBA

Resumo
Introdução: A dor neuropática representa uma condição debilitante e, na maior parte das vezes, difícil de tratar. A
compreensão de seus mecanismos fisiopatológicos e a disponibilidade de tratamentos efetivos ainda representa um
desafio aos especialistas. Evidências recentes têm demonstrado que o sistema imunológico desempenha um importante
papel no aparecimento e na perpetuação da dor neuropática. Objetivo: Revisar a literatura sobre a relação entre a dor
neuropática e o sistema imunológico. Metodologia: Foi realizada busca na base de dados Medline de artigos de revisão
publicados nos últimos dez anos, utilizando os termos “neuropathic pain” e “immune system”. Os artigos selecionados
foram analisados e novas buscas foram realizadas através das referências bibliográficas. Resultado: As evidências
mostraram uma intensa relação entre a gênese e manutenção da dor neuropática e o sistema imunológico, abrangendo
células e mediadores pró-inflamatórios. Conclusão: Ainda há muito que se esclarecer sobre o papel do sistema imunológico
na dor neuropática, no entanto, nos últimos dez anos, as pesquisas sobre essa interação produziram destacado
conhecimento que pode subsidiar a busca por tratamentos mais efetivos.
Palavras-chave: Dor. Sistema Imunológico.

Abstract
Introduction: Neuropathic pain is a debilitating condition and, in most cases, difficult to treat. Understanding its
pathophysiological mechanisms and the availability of effective treatments still represents a challenge to experts. Recent
evidence has shown that the immune system plays an important role in the onset and perpetuation of neuropathic pain.
Objective: The purpose of this article is to review the literature on the relationship between neuropathic pain and immune
system. Methodology: Search was performed in database Medline for review articles published in the last ten years,
using the terms “neuropathic pain” and “immune system”. The articles chosen were analysed and new searches were
performed using references. Result: the evidence showed an intense relationship between the onset and maintenance
of neuropathic pain and the immune system, including inflammatory mediators and cells. Conclusion: there is still a lot
to clarify the role of the immune system in neuropathic pain, however, over the past ten years, the research on this
interaction produced highlighted knowledge that could help in the search for more effective treatments.
Keywords: Pain.Immune System.

INTRODUÇÃO
O conhecimento sobre o caminho do estímulo tratamento. A dor neuropática pode acometer o sistema
doloroso da periferia até o sistema nervoso central, nervoso central (lesão medular, esclerose múltipla)
ativando os núcleos corticais e originando as diversas tanto quanto o periférico (neuropatia diabética, herpes
dimensões da dor, desenvolveu-se substancialmente zoster, amputações (BARON, 2006). A dor neuropática
nas últimas décadas. No entanto, quando se trata da pode persistir mesmo após a resolução da causa inicial
dor crônica, a limitação dos tratamentos disponíveis e tornar-se mais que um sintoma, uma doença. Além do
indica que ainda temos que aprimorar esse conheci- sofrimento físico, a dor crônica frequentemente
mento. desencadeia depressão, ansiedade, falta de motivação
A dor desempenha um importante papel e prejuízos nas atividades laborativas e sociais (MACHEL-
fisiológico de proteção frente a um estímulo danoso ou SKA, 2011). As alterações neuronais responsáveis pela
nocivo, tornando-se essencial à sobrevivência dor neuropática também são bem conhecidas e
(MACHELSKA, 2011). Na dor neuropática, iniciada por englobam a geração de impulsos ectópicos, o
lesões ou doenças que afetam o sistema somato- brotamento de fibras nervosas degeneradas em locais
sensitivo, as propriedades fisiológicas normais do nervo não usuais, o brotamento de fibras do sistema nervoso
se perdem e dá-se origem a condições de difícil periférico simpático, a diminuição da atividade ou perda
dos neurônios inibitórios, a intensificação da atividade
Recebido em 29/06/2012; revisado em 20/08/2012. facilitadora descendente e a diminuição da atividade
Correspondência / Correspondence: Secretaria do Programa de inibitória descendente da transmissão dolorosa
Pós-graduação Processos Interativos dos Órgãos e Sistemas.
(LEONARD et al., 2009). Essas alterações são
Instituto de Ciências da Saúde. Universidade Federal da Bahia.
Av. Reitor Miguel Calmon s/n - Vale do Canela. CEP 40.110-100. acompanhadas por mudanças na síntese de
Salvador, Bahia, Brasil. Tel.: (55) (71) 3283-8959, Fax: (55) (71) neurotransmissores e na expressão e na sinalização
3283-8894. E-mail - ppgorgsistem@ufba.br de receptores e canais iônicos, levando à sensibilização

228 R. Ci. med. biol., Salvador, v.11, n.2, p.228-233, mai./set. 2012
O sistema imunológico na dor neuropática: uma revisão

periférica e central, que se caracteriza pela diminuição histamina e outros mediadores como, citocinas pró-
do limiar doloroso e aumento da resposta aos estímulos inflamatórias, e pelo recrutamento de outras células
centrais e periféricos (MACHELSKA, 2011). As alterações imunológicas também secretoras dessas citocinas
estruturais e químicas das fibras nervosas não são as (MACHELSKA, 2011).
únicas responsáveis pela perpetuação da dor
neuropática. Por algum tempo se considerou que os Neutrófilos
mediadores inflamatórios produzidos pelas células A invasão do nervo danificado por neutrófilos
imunológicas poderiam contribuir para a persistência ocorre entre 24 e 72 horas (LABUZ et al., 2009; PERKINS,
da dor, porém evidências dessa relação emergiram TRACEY, 2000; ZUO et al., 2003). Os neutrófilos se mantêm
apenas recentemente (MARCHAND, PERRETTI, McMAHON, concentrados no local da lesão e não se observa a
2005), indicando uma comunicação entre os sistemas invasão nos nervos intactos. A depleção de neutrófilos
imunológico e nervoso (SAFIEH-GARABEDIAN et al., 2002). circulantes no momento da lesão reduziu o
A interferência das células imunológicas no processo aparecimento da dor neuropática, porém não conseguiu
de inflamação, caracterizado por calor, rubor, edema e reverter o quadro já instalado, sugerindo que os
dor, há muito foi compreendida e, a partir de então, os neutrófilos estão mais envolvidos na indução que na
antiinflamatórios passaram a fazer parte do arsenal manutenção da dor neuropática (PERKINS, TRACEY, 2000).
terapêutico com sucesso. No entanto, dados mais
recentes indicam que tais células podem desempenhar Macrófagos
um importante papel na modulação da dor associada a Os macrófagos são encontrados nos nervos
lesões em nervos periféricos e no sistema nervoso danificados após transecção completa, lesão por
central (MARCHAND, PERRETTI, McMAHON, 2005). A lesão constrição crônica e ligadura parcial do nervo isquiático
inicial de uma fibra nervosa também obedece à cascata (3, ROOIJEN, TRACEY, 2000; LABUZ et al., 2009). A injeção
inflamatória que resulta no aumento da perfusão local, intravenosa de condronato, iniciada no momento da
no aumento da permeabilidade capilar e na lesão nervosa, reduziu em 30% o número de macrófagos
concentração e ativação das células imunológicas no nervo lesionado, atenuando discretamente a
inatas. No entanto, substâncias imuno-ativas liberadas hiperalgesia térmica após a ligadura parcial do nervo
no local da lesão podem iniciar uma reação imunológica isquiático (LIU, ROOIJEN, TRACEY, 2000). No entanto, em
sistêmica pela ativação das células da micróglia e os outro estudo não foi observada a redução da alodínia
astrócitos, células gliais localizadas na medula mecânica após a injeção intraperitoneal de um
espinhal e no cérebro, que parecem ter grande bloqueador da ativação de macrófagos denominado CNI-
importância na nocicepção (VALLEJO et al., 2010). 1493 ou após a aplicação intravenosa de condronato,
ambos administrados antes da lesão nervosa produzida
2 PRINCIPAIS TIPOS CELULARES ENVOLVIDOS por ligadura do nervo espinhal (RUTKOWSKI et al., 2000).
Mastócitos Além disso, a aplicação direta de macrófagos ativados
Os mastócitos são importantes iniciadores e e inativados em um nervo intacto não induziram alodínia
efetores da imunidade inata (GALLI, NAKAE, TSAI, 2005). mecânica, sugerindo um papel limitado dos macrófagos
Existe uma população residente nos nervos periféricos no aparecimento da dor neuropática (RUTKOWSKI et al.,
que sofre degranulação no local da lesão nervosa (ZUO 2000). Essas inconsistências podem refletir diferenças
et al., 2003). Os grânulos contêm mediadores como no envolvimento dos macrófagos nos mecanismos
histamina e citocinas, que são capazes de sensibilizar subjacentes à hiperalgesia e à alodínia, ou até mesmo
e ativar neurônios (GALLI, NAKAE, TSAI, 2005). Em animais discrepâncias entre as metodologias dos estudos
submetidos à ligadura parcial do nervo ciático, ocorre (MACHELSKA, 2011). Dessa forma, sugere-se que os
maciça degranulação no local da lesão (SMITH ET al., macrófagos podem estar relacionados ao aparecimento
2007). Evidências sugerem que a degranulação dos da dor neuropática, provavelmente envolvendo diversos
mastócitos pode causar o aparecimento da dor mecanismos, incluindo a liberação de mediadores
neuropática uma vez que, em animais submetidos à pronociceptivos. Em uma posição especial entre a
ligadura parcial do nervo isquiático, houve a supressão resposta inflamatória adaptativa e o sistema
do desenvolvimento da dor neuropática, bem como a imunológico, os macrófagos são um alvo na tentativa
redução de macrófagos e neutrófilos no local da lesão de se estabelecer as interações neuroimunológicas
com a estabilização dos mastócitos com cromoglicato associadas à dorneuropática (MACHELSKA, 2011).
de sódio (ZUO et al., 2003). Assim como o bloqueio dos
receptores histaminérgicos 1 e 2 (ZUO et al., 2003), Linfócitos T
injeções intraperitoneais únicas ou repetidas de Os linfócitos T constituem-se na população de
antagonista do receptor histaminérgico 4, iniciadas linfócitos responsáveis pela mediação da imunidade
após a lesão nervosa, conseguiram reverter a alodínia celular. A identificação de linfócitos T no local da lesão
mecânica após ligadura parcial do nervo ciático e após nervosa em diversos estudos em animais sugere o
lesão por constrição crônica. Por outro lado, injeções envolvimento dessas células na gênese da dor
repetidas do mesmo antagonista, aplicadas na pata de neuropática (THACKER et al., 2007). Em ratos
ratos antes da lesão nervosa, potencializaram congenitamente atímicos, com ausência de linfócitos T,
discretamente a hiperalgesia mecânica produzida por observou-se a atenuação da alodínia e da hiperalgesia
ligadura parcial do nervo ciático (SMITH et al., 2007). mecânicas e térmicas (MOALEM, XU, YU, 2004). Um estudo
Dessa forma, sugere-se que os mastócitos contribuem recente também mostrou a redução da alodínia
para a hiperalgesia neuropática pela liberação de mecânica em camundongos nocauteados para linfócitos

R. Ci. med. biol., Salvador, v.11, n.2, p.228-233, mai./set. 2012 229
Marcia de Miguel, Durval Campos Kraychete, Roberto José Meyer Nascimento

T funcionais e submetidos à lesão do nervo ciático com espinhal são ativadas após uma lesão nervosa
preservação do ramo sural (COSTIGAN et al., 2009). No periférica (VALLEJO et al., 2010). A ativação dessas células
entanto, por conta da heterogeneidade dos linfócitos produz alterações em marcadores de superfície e em
T, com subpopulações de auxiliares (CD4) e citotóxicos proteínas de membrana (RAGHAVENDRA, TANGA, DELEO
(CD8), subdivididas em tipo 1 e tipo 2, de acordo com o 2004). Além disso, a ativação da microglia promove a
perfil de citocinas expressas, o papel dessas células secreção de vários peptídeos sinalizadores, como
na dor neuropática ainda não parece muito claro. A citocinas, fatores neurotróficos e quimiocinas, que
transferência de linfócitos T auxiliares do tipo 1, levam à ativação dos astrócitos vizinhos (WATKINS,
produtores de citocinas pró-inflamatórias, aumentou a MILLIGAN, MAIER, 2003). Uma vez ativados, os astrócitos
dor em ratos atímicos submetidos à lesão por constrição sofrem hipertrofia, se proliferam e aumentam a
crônica. Por outro lado, a transferência de linfócitos T expressão de marcadores de ativação específicos, o que
auxiliares tipo 2 produziu uma discreta redução da dor promove a interação com o processo de apresentação
(MOALEM, XU, YU, 2004). Outro estudo mostrou a de antígenos aos linfócitos B e pode ajudá-los a cruzar
ausência da alodínia mecânica em camundongos a barreira hematoencefálica (VALLEJO et al., 2010). A
deficientes em linfócitos T e a discreta diminuição da interleucina-1beta (IL-1 beta) e possivelmente a
alodínia mecânica em camundongos deficientes em interleucina 18 (IL-18), secretadas pela microglia ativada,
linfócitos T CD4. Vale destacar que tanto a ausência de ligam-se aos receptores na membrana do astrócito,
alodínia no grupo de deficientes em linfócitos T induzindo uma série de eventos que termina com a
(observada entre cinco a 14 dias após a lesão) quanto a ativação da célula (MIYOSHI et al., 2008). O receptor toll-
redução da hipersensibilidade nos animais com like (TLR), expresso na microglia, pode desencadear a
ausência de linfócitos T CD4 (observada entre 14 e 21 síntese de IL-18, via ativação da proteína cinase
dias após a lesão) não parecem relacionar-se com a ativadora de mitógeno p38 (p38MAPK), conhecida por
expressão dos linfócitos T (CAO, DELEO, 2008). Baseado induzir a expressão de citocinas inflamatórias tais como
nesses e outros achados, parece que a redução da IL-1 beta e IL-6. Esses eventos intracelulares resultam
hipersensibilidade não está associada somente à na secreção de IL-1 beta, IL-6 e fator de necrose tumor á
ausência dos linfócitos T (CAO, DELEO, 2008). (TNF- alfa) pelos astrócitos, bem como na expressão da
Recentemente foi observada a ausência de correlação óxidonitrícosintetase (NOS), o que ajuda a propagar
entre o limiar mais elevado de sensibilidade mecânica ainda mais a resposta inflamatória e prolongar o estado
e a expressão temporal de linfócitos T em camundongos de dor (MIYOSHI et al., 2008). Os astrócitos ainda são
com imunodeficiência combinada grave após lesão por responsáveis pela desativação da atividade
constrição crônica (LABUZ et al., 2010). Dessa forma, os glutamaérgica e, opostamente, pela síntese de
estudos mostram que a deficiência de linfócitos T, glutamato utilizando a glicose. O glutamato, que é o
independente da espécie animal ou linhagem, modelo principal neurotransmissor excitatório do sistema
de dor neuropática ou tipo de teste para dor, resulta na nervoso central, está aumentado nocorno dorsal da
diminuição da dor. No entanto, os efeitos geralmente medula espinhal na dor crônica. Ainda, a enzima
são moderados e não parecem ser exclusivamente piruvatocarboxilase, envolvida na síntese de glutamato,
atribuíveis à ausência dos linfócitos T, mas é expressa apenas nos astrócitos, mas não nos
provavelmente às alterações secundárias relacionadas neurônios. O glutamato ativa vários receptores de
à deficiência genética dessa célula, como por exemplo, membrana, entre eles o receptor ionotrópico N-metil-
a expressão de outros tipos celulares. D-aspartato (NMDA), que tem papel crucial na
sensibilização dos neurônios nociceptivos e na ativação
Células da glia dos astrócitos por meio do influxo do íon cálcio (Ca 2+ )
As modificações periféricas ocorridas após a (VALLEJO et al., 2010). O influxo de Ca 2+ tem grande
lesão nervosa produzem um meio inflamatório que pode importância na sinalização da dor, promovendo a
causar a ativação da microglia e dos astrócitos na liberação de neurotransmissores e modulando a
medula espinhal e no encéfalo. Tal ativação parece ter excitabilidade da membrana celular (HOGAN, 2007). A
um importante papel na gênese da dor neuropática. As ativação da microglia e dos astrócitos após uma lesão
células da glia, também chamadas de neuroglia, nervosa periférica envolve a liberação, pelos neurônios,
formam, juntamente com os neurônios, o sistema de neurotransmissores como a proteína relacionada
nervoso, e são responsáveis pela nutrição, proteção e geneticamente à calcitonina (CGRP), a substância P, o
isolamento dos neurônios do sistema nervoso central. glutamato o ácido gama-aminobutírico (GABA), a
Algumas delas também modulam a neurotransmissão serotonina e o trifosfato de adenosina (ATP). No entanto,
nas sinapses. As células gliais constituem 70% das ainda não está claro por qual o mecanismo exato pelo
células no sistema nervoso central e se subdividem em qual essa ativação ocorre. Uma possibilidade seria que
microglia, que representam 5% a 10% da neuroglia, e os mediadores químicos como a substância P, o CGRP, o
macroglia, que inclui astrócitos e oligodendrócitos óxido nítrico, o ATP e o glutamato liberados no momento
(VALLEJO et al., 2010). Astrócitos e microglia da lesão nervosa poderiam ser transportados através
desempenham um importante papel no aparecimento, ou entre os neurônios aferentes, não somente afetando
propagação e potencialização da dor neuropática a transmissão sináptica, mas também ativando as
(McMAHON, CAFFERTY, MARCHAND, 2005, RAGHAVENDRA, células da glia (GUO et al., 2007; VALLEJO et al., 2010). O
TANGA, DELEO, 2004). Apesar de a microglia se distribuir ATP liberado pelos neurônios aferentes causaria a
de forma homogênea no sistema nervoso central, migração e a ativação da microglia num raio de 50 a
somente as células gliais localizadas na medula 100µm, produzindo o aumento intracelular de Ca2+ e do

230 R. Ci. med. biol., Salvador, v.11, n.2, p.228-233, mai./set. 2012
O sistema imunológico na dor neuropática: uma revisão

fator neurotrófico derivado do encéfalo (BDNF), que Interleucina6


resulta na ativação do fator nuclear kappa B (NK-kB), e, A IL-6 é sintetizada por fagócitos mononucleares,
por conseguinte, na expressão de agentes pró- células endoteliais, fibroblastos e outras células em
inflamatórios. O ácido nítrico também apresenta essa resposta a IL-1beta, TNF-alfa e prostaglandinas. Central-
ação sobre o NK-kB. A substância P causaria a ativação mente, a IL-6 é produzida por neurônios, astrócitos e
das células gliais por meio da ativação dos receptores microglia (VALLEJO et al., 2010). Experimentos em
para neurocinina-1 (NK-1) e outros mediadores, como animais produziram evidências de que a IL-6 está
ATP e glutamato, as ativariam pela interação com envolvida nos mecanismos da dor neuropática,
receptores de membrana específicos (GUO et al., 2007; mostrando uma correlação entre a alodínia mecânica e
BRAHMACHARI, FUNG, PAHAN, 2006). Outro possível o aumento da imunorreatividade da IL-6 no local da
mecanismo seria as alterações nas concentrações de lesão nervosa (THACKER et al., 2007). Observou-se
íons nos meios intra e extracelular, como a elevação de também o aumento do RNAm da IL-6 no gânglio da raiz
K+, resultando na despolarização da membrana e na dorsal após lesão por constrição crônica (MURPHY et
ativação dos astrócitos (HANSSON, 2006). A ativação de al., 1999). Camundongos nocauteados para IL-6
astrócitos supra-espinhais pode potencializar a dor apresentam diminuição da expressão da substância P
neuropática pela ativação das células da glia por vias no gânglio da raiz dorsal e no corno posterior da medula
descendentes. A migração de macrófagos periféricos, espinhal, bem como a atenuação da hiperalgesia
permitida pelo aumento da permeabilidade da barreira térmica e da alodínia mecânica, quando comparados
hematoencefálica após uma lesão neuronal, poderia com camundongos selvagens após lesão por contrição
estar associada à proliferação dessas células e posterior crônica. Após ligadura do nervo espinhal, também foi
diferenciação em células gliais ativadas no encéfalo observado aparecimento tardio de alodínia mecânica
(CAO, DELEO, 2008). em camundongos nocauteados para IL-6, o que foi
correlacionado à diminuição do brotamento de ramo
Mediadores pró-inflamatórios adrenérgico (THACKER et al., 2007). No entanto, não foi
A dor neuropática originada da lesão nervosa observada alteração quanto à alodínia térmica. Com
periférica resulta no aumento da excitabilidade dos um efeito excitatório direto sobre os neurônios
neurônios como conseqüência da sensibilização. nociceptivos, o brotamento de ramos adrenérgicos
Estuda-se se esta sensibilização ocorre nos comparti- induzidos pela IL-6 pode ser outro mecanismo pelo qual
mentos periféricos ou centrais do sistema nervoso, ou a IL-6 contribui para a produção da dor neuropática. Em
ambos. Estudos apoiam a hipótese de que o micro- oposição, foi demonstrado que a administração de IL-6
ambiente inflamatório e a liberação de media-dores, tem efeitos antinociceptivos (FLATTERS, 2004). A
em vez da lesão nervosa, são fundamentais para o aplicação espinhal de IL-6 induz a inibição dose-
desenvolvimento da dor neuropática. Tais mediadores dependente de resposta neuronal após ligadura do
incluem os eicosanoides, serotonina, neurotrofinas, nervo espinhal (THACKER et al., 2007), sugerindo o caráter
citocinas, quimiocinas e espécies reativas de oxigênio bimodal da IL-6 na dor neuropática.
(LEUNG, CAHILL, 2010). Esses mediadores não são
originados exclusivamente das células do sistema Fator de necrose tumoral alfa
imune/inflamatórias, mas também das células de TNF-alfa inicia a cascata de ativação de várias
Schwann e das células da glia da medula espinhal citocinas e fatores de crescimento, parecendo estar
(THACKER et al., 2009). diretamente envolvido no desenvolvimento de dor em
muitos modelos de lesão nervosa. Tanto o RNAm quanto
Citocinas o próprio TNF- alfa estão regulados para cima no local
Dentre as citocinas pró-inflamatórias associadas da lesão nervosa e o TNF-alfa é transportado axonal-
à dor neuropática, as mais estudadas são IL-1beta, IL-6 mente e acumulado nos neurônios sensoriais de
e TNF- alfa. pequeno e grande calibre do gânglio da raiz dorsal após
lesão por constrição contínua LEUNG, CAHILL, 2010. Além
disso, os receptores para TNF-alfa foram encontrados
Interleucina1beta
nas células do gânglio da raiz dorsal e em nervos
A IL-1beta é uma potente citocina pró-
lesionados (MACHELSKA, 2011). Após lesão por contrição
inflamatória e sua expressão é regulada para cima após
contínua e esmagamento, observou-se a expressão
a lesão nervosa (SCHAFERS et al., 2001). Os receptores
aumentada dos receptores tipo 1 e 2 (THACKER et al.,
dessa citocina (IL-1R) são encontrados no sistema
2007). A aplicação direta de TNF- alfa no nervo ciático
nervoso central e periférico e a interação citocina/
de roedores aumentou das descargas ectópicas nas
receptor induz uma cascata de eventos intracelulares
fibras aferentes (SORKIN et al., 1997) e a injeção
que envolve a expressão de outra citocina pró-
endotelial de TNF-alfa produziu compor-tamentos de
inflamatória, a IL-6, a p38MAPK e o NFêB, responsáveis
dor neuropática (LEUNG, CAHILL, 2010). Ainda, a
pela indução da expressão do gene da ciclooxigenase-
diminuição da sinalização do TNF- alfa atenuou a
2 (COX-2) e da fosfolipase A2 tipo II, o que produz a
hiperalgesia/alodínia após uma lesão nervosa em
sensibilização dos nociceptores (VALLEJO et al., 2010).
vários modelos experimentais (THACKER et al., 2007). O
Na periferia, a IL-1beta resulta em hiperalgesia
efeito do TNF- alfa sobre os neurônios do gânglio da
prolongada e alodínia após administração intraplantar
raiz dorsal parece ser mediado direta ou indiretamente
(THACKER et al., 2007), intraperitoneal e intraneural
pela fosforilação da p38MAPK, que pode mediar a
(ZELENKA, SCHAFERS, SOMMER, 2005).

R. Ci. med. biol., Salvador, v.11, n.2, p.228-233, mai./set. 2012 231
Marcia de Miguel, Durval Campos Kraychete, Roberto José Meyer Nascimento

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105, n. 3, p. 838-847, 2007.

R. Ci. med. biol., Salvador, v.11, n.2, p.228-233, mai./set. 2012 233
ARTIGO DE REVISÃO

Rodrigo Siqueira-Batista1, Andréia


Patrícia Gomes1, Larissa Calixto-
Sepse: atualidades e perspectivas
Lima2, Rodrigo Roger Vitorino3,
Mario Castro Alvarez Perez4, Sepsis: an update
Eduardo Gomes de Mendonça5,
Maria Goreti de Almeida Oliveira5,
Mauro Geller3

1. Departamento de Medicina e RESUMO variadas e dependem do local primário


Enfermagem, Universidade Federal de da infecção. A identificação precoce dos
Viçosa – UFV, Viçosa (MG), Brasil. O objetivo do presente artigo é sinais e sintomas é de crucial importância
2. Serviço de Nutrição, Instituto oferecer uma atualização dos principais para a instituição de medidas terapêuticas
Nacional do Câncer - INCA, Rio de ­aspectos da sepse, complicação infecciosa que se baseiam, fundamentalmente, em
Janeiro (RJ), Brazil. extremamente importante do ponto de reposição volêmica, antibioticoterapia,
3. Curso de Graduação em Medicina, vista da clínica e da saúde pública. Algumas emprego de costicosteróides, tratamento
Centro Universitário Serra dos Órgãos – hipóteses têm sido propostas para explicar anticoagulante, medidas de manutenção
UNIFESO, Teresópolis (RJ), Brasil. sua gênese, as quais encerram aspectos da viabilidade biológica e suporte
4. Universidade do Estado do Rio de referentes a interação microrganismo/ nutricional.
Janeiro – UERJ, Rio de Janeiro (RJ), sistema imune inato, a inflamação/
Brasil. mediação imunológica e o sistema de Descritores: Sepse/fisiopatologia;
5. Departamento de Bioquímica e coagulação. As manifestações clínicas são Sepse/diagnóstico; Sepse/terapia
Biologia Molecular, Universidade
Federal de Viçosa – UFV, Viçosa (MG),
Brasil.
INTRODUÇÃO

Estudo realizado no Departamento O conceito de sepse abrange as situações nas quais se estabelece síndrome de
de Medicina e Enfermagem e no resposta inflamatória sistêmica (SIRS, do inglês systemic inflammatory response
Departamento de Bioquímica e Biologia ­syndrome) desencadeada por infecção suspeita ou confirmada.(1-3) Do ponto de vista
Molecular da Universidade Federal de clínico, a apresentação da sepse se relaciona às múltiplas possibilidades de intera-
Viçosa (UFV), Viçosa (MG), Brasil, e ção entre homem e microrganismos,(4) distinguindo-se, desta feita, situações como
no Curso de Graduação em Medicina do
­infecção, SIRS, sepse, sepse grave, choque séptico e disfunção de múltiplos órgãos e
Centro Universitário Serra dos Órgãos
sistemas (Quadro 1).(5-7) Estas delimitações conceituais foram propostas no ano de
(UNIFESO), Teresópolis (RJ), Brasil.
1991, em uma conferência de consenso entre o American College of Chest Physicians
Conflitos de interesse: Nenhum. (ACCP) e a Society of Critical Care Medicine (SCCM),(5) realizada na cidade de
­Chicago (EUA). Dez anos após, em nova conferência, tais conceitos foram revistos,
Submetido em 19 de Julho de 2010 de acordo com o exposto no quadro 1.
Aceito em 21 de Março de 2011 A sepse tem grande relevância em termos de saúde pública. Com efeito, Angus
et al. (2001) estudaram 192.980 casos de sepse grave, compreendidos em uma coor-
Autor correspondente: te de mais de 6,5 milhões de pacientes internados em 847 hospitais em sete estados
Rodrigo Siqueira-Batista estadunidenses e estimaram sua incidência, custo e prognóstico. A incidência de
Universidade Federal de Viçosa sepse grave foi de três casos por mil habitantes (751.000 casos/ano para a população
Departamento de Medicina e dos Estados Unidos da América – incidência que se tornou um parâmetro comum
Enfermagem (DEM)
nos ensaios sobre sepse), superando a da síndrome da imunodeficiência adquirida
Avenida P. H. Rolfs s/n - Campus
(AIDS) e a dos principais tipos de câncer, o que resultaria em 215.000 mortes/ano
Universitário
CEP: 36571-000 – Viçosa (MG), Brasil.
(28,6% dos casos).(8) Os achados relativos aos países membros da União Européia não
E-mail: rsbatista@ufv.br diferem muito deste panorama, estimando-se a ocorrência de 150.000 óbitos/ano
devido à sepse.(9) No Brasil, os aspectos epidemiológicos da sepse têm sido investiga-

Rev Bras Ter Intensiva. 2011; 23(2):207-216


208 Siqueira-Batista R, Gomes AP, Calixto-Lima L,
Vitorino RR, Perez MCA, Mendonça EG et al.

Quadro 1 - Definições úteis ao entendimento da sepse.


Termo Conceito
Colonização Refere-se à presença de microrganismos em um determinado local, sem que esteja ocorrendo dano ao hospedeiro.
Presença de um determinado agente que esteja causando dano ao hospedeiro (está presente resposta inflamatória
Infecção
ao microrganismo).
Ocorrência de bactérias viáveis no sangue, podendo ser transitória; por extensão, é possível caracterizar-se
Bacteremia
viremia, fungemia e parasitemia.
Caracterizada por ser uma resposta inespecífica do organismo a uma variedade de situações que geram
inflamação - infecção, queimaduras, pancreatite aguda, trauma, e outras. Para sua detecção, são necessárias duas
Síndrome
das seguintes condições:
de resposta
Temperatura > 38,0 ºC ou < 36,0 ºC
inflamatória
Freqüência cardíaca > 90 bpm
sistêmica (SIRS)
Freqüência respiratória > 20 irpm ou PaCO2 < 32 mmHg
Leucócitos > 12.000/mm3 ou < 4.000/mm3 ou > 10% de bastões
Sepse SIRS desencadeada por infecção bacteriana, viral, fúngica ou parasitária.
Hipotensão Pressão arterial sistólica < 90mmHg ou uma redução de 40mmHg da pressão “basal”.
Aquela associada com disfunção orgânica, hipoperfusão tissular (caracterizada, entre outros aspectos, por
Sepse grave
oligúria, distúrbio mental agudo e/ou acidose láctica) ou hipotensão arterial.
Hipotensão (não atribuível a outra causa) com hipoperfusão tecidual ocasionada por sepse. Pode ser precoce,
Choque séptico quando dura menos de uma hora (em resposta à infusão de solução cristalóide, 0,5-1 litro), ou tardio, com
duração maior que uma hora e/ou necessidade de uso de aminas vasoativas.
Alterações da função de órgãos de um enfermo grave, de modo que a homeostase não pode ser mantida sem
Disfunção de
intervenção terapêutica. É primária se conseqüente à própria injúria (p. ex., insuficiência respiratória secundária à
múltiplos órgãos e
pneumonia comunitária grave) e secundária, se oriunda não da injúria, mas da resposta orgânica do hospedeiro à
sistemas (DMOS)
condição mórbida (p. ex., síndrome do desconforto respiratório agudo em enfermo com pancreatite aguda necrótica).
Fontes: American College of Chest Physicians/Society of Critical Care Medicine Consensus Conference: definitions for sepsis and organ failure and
guidelines for the use of innovative therapies in sepsis. Crit Care Med. 1992;20(6):864-74. Levy MM, Fink MP, Marshall JC, Abraham E, Angus D,
Cook D, Cohen J, Opal SM, Vincent JL, Ramsay G; SCCM/ESICM/ACCP/ATS/SIS. SCCM/ESICM/ACCP/ATS/SIS International Sepsis Definitions
Conference. Crit Care Med. 2003;31(4):1250-6.

dos, destacando-se BASES Study (Brazilian Sepsis­Epidemiolo- tamento, tem se mostrado decisivo para um desenlace mais
gical Study) – estudo de coorte multicêntrico e ­observacional favorável da sepse. Com base nestas considerações, revisitar
realizado em cinco unidades de terapia intensiva públicas e os principais aspectos da sepse – especialmente sua etiologia,
privadas –, no qual se identificou uma densidade de incidên- patogênese, clínica, diagnóstico e tratamento –, com vistas ao
cia de sepse de 57,9 por 1000 pacientes-dia (95% IC 51,5- oferecimento de elementos teóricos para uma melhor aborda-
65,3).(10) A taxa de letalidade de pacientes com SIRS (inde- gem dos enfermos, é o objetivo do presente artigo.
pendente se devido a sepse ou outra causa), sepse, sepse grave
e choque séptico foi 24,2%, 33,9%, 46,9%, e 52,2%, respec- MÉTODOS
tivamente. É importante comentar que outras investigações
como o SEPSE Brasil(11) e o COSTS,(12) apontam para taxas O texto foi construído a partir de revisão da literatura
de letalidade similares. De forma ainda mais preocupante, o com estratégia de busca definida. Os artigos foram procu-
estudo multicêntrico PROGRESS(13) – do qual fizeram par- rados na Scientific Electronic Library Online (SciELO) e na
te sete unidades de tratamento intensivo (UTIs) nacionais –, U. S. National Library of Medicine (PubMed), no período de
revelou que as taxas de letalidade nas UTIs no Brasil foram 01/01/2000 a 30/06/2010, elegendo-se apenas estudos reali-
maiores (56%) que aquelas de outros países em desenvolvi- zados em seres humanos. Os termos utilizados foram:
mento (45%) e de países desenvolvidos (30%), apesar de não Estratégia 1 – sepse (sepsis) + fisiopatologia (pathophy-
existirem diferenças nas idades medianas de cada grupo, nem siology);
nos escores de prognóstico e de disfunção orgânica. Estratégia 2 – sepse (sepsis) + diagnóstico (diagnosis);
A definição terminológica tem auxiliado na investigação Estratégia 3 – sepse (sepsis) + tratamento (treatment).
científica e na detecção precoce de casos à beira do leito. Este Além da utilização de artigos, também foram consultados
último elemento, associado à instituição de adequado tra- livros-texto de clínica médica, infectologia e terapia intensiva,

Rev Bras Ter Intensiva. 2011; 23(2):207-216


Sepsis 209

como parte integrante do levantamento bibliográfico. não-próprias, cabendo destaque aos chamados padrões mo-
A busca empreendida permitiu a obtenção de citações leculares relacionados aos patógenos (PMRP), estruturas
distribuídas de acordo com o exposto no quadro 2. Do total moleculares não-variáveis expressas por grupos de patógenos,
de artigos encontrados, foram selecionados 40 textos - resul- as quais são, habitualmente, cruciais para a virulência e/ou
tantes de investigações empíricas e de revisões da literatura, sobrevivência do agente. Os PMRM são identificados pelos
com foco principal nos aspectos fisiopatológicos e clínico-­ receptores de reconhecimento de padrão (RRP), os quais são
terapêuticos da sepse, os quais subsidiaram a presente inves- expressos por células do sistema imune inato.(15)
tigação. Os artigos foram lidos e as informações organizadas As endotoxinas de bactérias gram-negativas - derivadas da
em diferentes seções – (1) aspectos etiológicos, (2) aspectos parede celular destas células e formadas principalmente por
fisiopatológicos: imunidade, inflamação e coagulação, (3) lipopolissacarídeos (LPS) - estão entre os mais bem estudados
diagnóstico, (4) tratamento e (5) considerações finais. PMRP. Estas moléculas são transferidas aos receptores CD14
e TLR4 (este último, um representante da família Toll-like)
Quadro 2 – Número de artigos obtidos na pesquisa - existentes na superfície de monócitos, macrófagos, células
bibliográfica. dendríticas e neutrófilos(16) - por uma proteína plasmática li-
Estratégia de busca Base consultada gadora de LPS chamada LBP (LPS-binding protein). O TLR4
Pubmed* Scielo parece também estar envolvido no reconhecimento de algu-
Estratégia 1 (sepse + fisiopatologia) 1.488 11 mas proteínas virais e do ácido lipoteicóico (Staphylococcus
Estratégia 2 (sepse + diagnóstico) 10.856 82 aureus), embora este antígeno também seja reconhecido por
Estratégia 3 (sepse + tratamento) 12.663 103 outra molécula da família Toll-like (TLR2).(17) De modo simi-
*Para pesquisa na base de dados PUBMED – empregando termos lar, outras moléculas da família Toll-like estão implicadas nes-
em língua inglesa – foram utilizados os seguintes limites: artigos em
humanos, adultos (maiores de 19 anos), publicados entre 01/01/2000
te momento primeiro da resposta imune inata, como TLR3
e 30/06/2010. (presumivelmente relacionado à identificação de RNA de
dupla hélice), TLR5 (capaz de identificar flagelina) e TLR9
ASPECTOS ETIOLÓGICOS (responsável por distinguir sequências CpG não-metiladas
do DNA bacteriano).(15) Nas infecções por bactérias gram-
A sepse pode sobrevir como conseqüência de diferentes -positivas, outra proteína Toll-like, o TLR2, é responsável pela
processos infecciosos com distintas “portas de entrada” (focos sinalização da presença dos proteoglicanos destas bactérias.
iniciais), os quais podem ser identificados através de uma É importante comentar que polimorfismos nestes receptores
cuidadosa anamnese e de um minucioso exame físico. Todavia, parecem ter implicação decisiva na possibilidade - ou não - de
há situações em que os sinais e sintomas de sepse são as primeiras evolução para sepse grave e choque séptico.(18)
manifestações da doença do paciente. Identificar a plausível Após esta fase de reconhecimento, sucedem-se vários
origem da infecção é importante para se pensar na provável eventos de ativação celular e produção de citocinas, cujo
etiologia de um quadro de sepse, o que tem importância resultado é a SIRS.
vital para a estimativa da sensibilidade do microrganismo aos
antimicrobianos (por exemplo, diferenciando-se a infecção Inflamação e mediação imunológica
como comunitária ou hospitalar).(1,14) Ato contínuo à ligação entre PMRP e os receptores
­Toll-like, acionam-se diferentes vias celulares de sinaliza-
ASPECTOS FISIOPATOLÓGICOS: IMUNIDADE, ção, incluindo a participação das proteínas intracelulares
INFLAMAÇÃO E COAGULAÇÃO NOD (nucleotid-binding oligomerization domain) e MyD88
(myeloid differentiation protein 88).(19) A interação de MyD88
O desenvolvimento da sepse depende das relações estabe- com a enzima IRAK (quinase associada ao receptor de inter-
lecidas entre o microrganismo e o hospedeiro,(1) destacando- leucina-1, uma serina-treonina-quinase) leva a ativação das
-se que muitos dos elementos relativos ao desencadeamento quinases IκKa e IκKB, as quais formam o dímero IkK, que,
desta entidade nosológica permanecem obscuros, provavel- por sua vez, “desconecta” a proteína IkB (inibidor de NF-κB)
mente pela falta de uma compreensão mais adequada das ligada ao fator de transcrição nuclear NF-κB (fator nuclear
­interseções entre imunidade, inflamação e coagulação.(4) κB), responsável pela ativação de genes para transcrição de
inúmeras citocinas partícipes da SIRS (relacionada à infecção
Interação patógeno/hospedeiro: a resposta imune inata ou não).(20)
A interação entre microrganismos e hospedeiro se inicia Essa sequência - culminando na liberação de NF-κB -,
pelo reconhecimento das substâncias do agente etiológico, determinam a produção e secreção de inúmeras citocinas

Rev Bras Ter Intensiva. 2011; 23(2):207-216


210 Siqueira-Batista R, Gomes AP, Calixto-Lima L,
Vitorino RR, Perez MCA, Mendonça EG et al.

pró-inflamatórias, tais como interleucinas 1 (IL-1), 2 (IL-2), na liberação de C3a e C5a, os quais induzem vasodilatação,
6 (IL-6), 8 (IL-8), 12 (IL-12), TNF-a (fator de necrose tu- aumento da permeabilidade vascular, potencialização da
moral alfa) e TNF-b (fator de necrose tumoral beta), evento agregação plaquetária e ativação/agregação de neutrófilos,
considerado crucial no desenvolvimento de sepse. Vale ressal- eventos que concorrem para a instalação das alterações
tar que alguns enfermos evoluem para o óbito precocemen- ­microvasculares do choque séptico. As endotoxinas também
te, em decorrência de intensa reação inflamatória sistêmica. levam à liberação de calicreína, cininogênio e bradicinina
Entretanto, citocinas antiinflamatórias, como as interleucinas (pela ativação do fator XII - fator de Hageman), sendo
4 (IL-4), 5 (IL-5), 10 (IL-10), 11 (IL-11) e 13 (IL-13), são esta última um potente agente vasodilatador e hipotensor.
igualmente produzidas - especialmente em situações nas quais Vale ressaltar que a ativação do fator XII pode acionar a
o enfermo sobrevive aos distúrbios relacionados à i­nflamação via intrínseca da coagulação, resultando em coagulação
sistêmica -, possibilitando o desenvolvimento de anergia e intravascular disseminada (CID).(24)
alentecimento da resposta aos agentes etiológicos, em um Pode ser destacado, igualmente, o papel do óxido nítrico -
contexto típico de imunossupressão,(3) o qual, na sepse­ , no âmbito das alterações vasculares -, identificando-se maior
recebe diferentes denominações: imunoparalisia, janela de síntese desta substância nos enfermos com sepse, com conse-
imunodeficiência, ou síndrome da resposta antinflamatória quente vasodilatação, a qual pode ser antagonizada pelo uso
compensatória (CARS).(7) A regulação deste equilíbrio pró/ de inibidores da enzima óxido nítrico sintetase.(25)
antiinflamatório é complexa, cabendo destaque à atuação dos
monócitos/macrófagos como ativadores da resposta imune O sistema de coagulação
adaptativa; ao fagocitarem células necróticas ou bactérias, os A ativação do sistema de coagulação - desencadeada a par-
macrófagos induzem os linfócitos a assumir um fenótipo Th1, tir da expressão do FT (fator tecidual), evento mediado por
o que leva à liberação de substâncias pró-inflamatórias, como proteínas de microrganismos e por citocinas proinflamatórias
interferon alfa (INF-a), interferon delta (INF-δ) e IL-2; se - e a inibição dos fatores anticoagulantes endógenos - anti-
fagocitam células apoptóticas, ativam o fenótipo linfocitário trombina III, proteína C, proteína S e o inibidor do caminho
Th2, que leva à produção de IL-4 e IL-10, as quais reduzem a do fator tecidual (TFPI, do inglês, tissue factor pathway inhi-
resposta pró-inflamatória.(21) Ademais, tem sido demonstrado bitor), os quais modulam a coagulação e aceleram a fibrinó-
que disfunções na atuação dos neutrófilos – especialmente a lise - têm papel decisivo na fisiopatologia da sepse grave e do
migração destas células, relacionada à redução da expressão choque séptico.(26) Tal cenário pode culminar na instalação da
de moléculas de adesão e do receptor de quimiocinas CXCR2 CID - caracterizada por (1) ativação intravascular da coagula-
por estas células, consequente à intensa liberação de media- ção, (2) formação e deposição de fibrina na microvasculatura,
dores pró-inflamatórios – é um dos fatores responsáveis pela (3) consumo de plaquetas e (4) alterações na fibrinólise - é
instalação de quadros de maior gravidade.(22) Com base nes- classicamente encontrada nessas situações, sendo importan-
tas considerações, propõe-se que o balanço entre mediadores te preditora do êxito letal. A conseqüência é a obstrução do
pró/antiinflamatórios – podendo-se chegar a uma situação de fluxo vascular para órgãos e tecidos, com contribuição para
intensa “dissonância imunológica”, denominada MARS, na a instalação de má perfusão tissular (já esperada pela hipo-
qual ocorrem SIRS e CARS no mesmo paciente(7) – é a chave tensão arterial crítica) e falência de órgãos e sistemas. Além
explicativa para a evolução dos quadros de sepse. disso, o consumo de fibrina e de plaquetas (devido à ativação
Nesta complexa teia fisiopatogênica, o TNF-a tem intravascular da coagulação) pode desencadear hemorragias
um papel relevante, ao estimular os leucócitos e as células graves, complicando ainda mais este panorama.
endoteliais a liberarem outras citocinas (bem como mais
TNF-a), a expressar moléculas de adesão na superfície celular Desenlaces fisiopatogênicos
e a aumentar o turnover de ácido aracdônico.(23) Além disso, A progressão da sepse pode levar a disfunções em mui-
a interação entre TNF-a e IL-1 - por estimulação recíproca tos órgãos e sistemas. O mecanismo provável resulta da lesão
-, propicia o desenvolvimento de um estado pró-coagulante ­endotelial disseminada, com extravasamento de fluidos e, em
através da inibição da trombomodulina, além de promover consequência, edema intersticial e hipovolemia, além dos já
uma série de alterações hemodinâmicas encontradas na sepse, descritos distúrbios da coagulação (com formação de micro-
tais como aumento da permeabilidade vascular, diminuição trombos, que diminuem o aporte de oxigênio e nutrientes
da resistência vascular periférica e inotropismo negativo. para os tecidos atingidos). Ademais, há na sepse um incre-
Distúrbios vasculares podem ser também produzidos dire­ mento na liberação de hormônios contra-insulínicos (gluca-
tamente pelas endotoxinas - através da ativação da cascata do gon, corticosteróides, catecolaminas e hormônio do cresci-
complemento, usualmente pela via alternativa -, resultando mento), resultando em hipermetabolismo, com aumento da

Rev Bras Ter Intensiva. 2011; 23(2):207-216


Sepsis 211

glicogenólise e da gliconeogênese hepática, aumento da lipó- da sepse, embora com limitações.(27-29) Mais recentemente,
lise e do catabolismo protéico muscular, intestinal e do tecido as tentativas de demonstrar a utilidade clínica como bio-
conjuntivo. Todos esses mecanismos, em conjunto, levam à marcadores de sepse foram documentadas para uma ampla
hipóxia tissular, acidose láctica - a hiperlactatemia associa-se variedade de moléculas, incluindo a proteína do grupo de
com gravidade da doença - e a morte celular. alta mobilidade (HMGB-1) e receptores de gatilho expressos
em células mielóides (TREM-1). Alguns biomarcadores de
DIAGNÓSTICO sepse, como as citocinas, também são considerados impor-
tantes mediadores da sepse e a modulação dessas substâncias
O diagnóstico é sugerido pelos achados clínicos e labora- é de importância terapêutica.(30) Além disso, aposta-se que a
toriais inespecíficos (Quadro 3) e confirmado, posteriormen- delimitação de um uso conjunto de múltiplos marcadores
te, pelo isolamento do agente etiológico (utilizando-se cultu- moleculares e/ou escores de prognósticos mais precisos da
ras de diferentes materiais biológicos). Métodos de imagem - gravidade poderá permitir a previsão do desfecho da sepse.(31)
como a radiografia, a ultrassonografia, o ecocardigrama, a Métodos de análise proteômica podem ser usados para
tomografia computadorizada e a ressonância magnética -, investigar perfis protéicos em pacientes com sepse e choque
­podem ser de grande utilidade, não só para o diagnóstico, séptico, caracterizando, assim, diferenças no mapeamento
mas também para a avaliação evolutiva. protéico eletroforético entre enfermos que sobrevivem e que
Um grande número de substâncias biológicas tem sido evoluem para o óbito. Análise proteômica pode ser considera-
investigado como biomarcadores candidatos e/ou mediado- da para triagem de peptídeos com o objetivo de documentar
res da sepse. Proteína C reativa (CRP), procalcitonina, inter- a distribuição global de proteínas nas células, nos órgãos ou
leucina 6 (IL-6) e interleucina 18 (IL-18) são consideradas em outras amostras, identificando e caracterizando proteínas
úteis no diagnóstico, bem como na classificação de gravidade individuais de interesse, para, finalmente, elucidar as suas

Quadro 3 – Critérios diagnósticos: clínicos e laboratoriais para a sepse.*


Variáveis Características
Temperatura: febre (temperatura > 38,3 oC) ou hipotermia (temperatura < 36,0 oC)
Freqüência cardíaca > 90 bpm ou > 2 DP acima do valor normal para a idade
Freqüência respiratória: taquipnéia
Gerais
Alteração do sensório
Edema importante ou BH positivo (> 20ml/kg/24 horas)
Hiperglicemia (excluída a possibilidade de diabetes mellitus): glicemia > 120mg/dl
Leucometria: leucocitose (LT > 12.000 células/mm3) ou leucopenia (LT < 4.000 células/mm3) ou LT normal
mas com mais de 10% de formas imaturas
Inflamatórias
Proteína C reativa plasmática > 2 DP acima do valor normal
Procalcitonina plasmática > 2 DP acima do valor normal
Pressão arterial: hipotensão – PAs < 90mmHg, PAm < 70mmHg ou redução da PAS > 40mmHg em
adolescentes; ou PAs/PAm < 2 DP abaixo do normal para a idade
Hemodinâmicas
Saturação de oxigênio venoso misto: > 70%**
Índice cardíaco > 3,5 litros/min**
Lactato sérico: hiperlactatemia (> 2,5mmol/l)
Perfusão tecidual
Enchimento capilar reduzido
Gasometria arterial: hipoxemia (PaO2 / FiO2 < 300)
Função renal: oligúria aguda (diurese < 0,5ml/kg/h) e creatinina sérica > 0,5mg/dl
Disfunção orgânica Coagulação sangüínea: INR > 1,5 ou TTP > 60s ou plaquetopenia (< 100.000/mm3)
TGI: íleo paralítico (ausência de ruídos hidroaéreos)
Bilirrubinas: hiperbilirrubinemia (BT > 4mg/dl)
Fonte: Levy MM, Fink MP, Marshall JC, Abraham E, Angus D, Cook D, Cohen J, Opal SM, Vincent JL, Ramsay G; SCCM/ESICM/ACCP/ATS/
SIS. SCCM/ESICM/ACCP/ATS/SIS International Sepsis Definitions Conference. Crit Care Med. 2003;31(4):1250-6.
BH - balanço hídrico; BPM - batimentos por minuto; BT - bilirrubina total; DP - desvio-padrão; FiO2 - fração inspirada de oxigênio; INR -
international normalized ratio; LT - leucometria total; PAm - pressão arterial média; PAO2 - pressão parcial de oxigênio no sangue arterial; PAS -
pressão arterial sistólica;TGI - trato gastrintestinal; TTP - tempo de tromboplastina parcial. * Para caracterização da sepse, é necessária a presença de
um destes critérios em associação a infecção documentada ou suspeitada. ** Parâmetros não válidos para crianças.

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212 Siqueira-Batista R, Gomes AP, Calixto-Lima L,
Vitorino RR, Perez MCA, Mendonça EG et al.

i­nterações e papéis na função biológica da célula. Desde esta o controle glicêmico, (6) o suporte ventilatório e (7) medidas
perspectiva, as investigações na área de proteômica apontam terapêuticas adicionais.
para dois resultados importantes:(31-33) (1) a análise proteômi-
ca é um instrumento viável para excluir alterações precoces Reposição volêmica
na expressão da proteína em pacientes com choque séptico; A condução dos casos de sepse (independentemente de
e (2) há alterações de proteínas específicas entre sobreviven- sua gravidade) passa necessariamente por uma fase inicial de
tes e não-sobreviventes no 28º dia, em um estágio inicial de reposição volêmica. Em 2001, foi introduzida a estratégia da
choque séptico. Isto pode ser verificado em amostras obtidas terapia precoce guiada por metas (EGDT, do inglês, early goal
durante as primeiras 12 horas após o diagnóstico de choque directed therapy), a qual utiliza objetivos da terapia conven-
séptico. Entretanto, a fase inicial da sepse revelou diferen- cional da sepse — reposição volêmica vigorosa a cada 30 mi-
ças significativas na expressão da proteína em pacientes que nutos, até se atingir uma pressão venosa central (PVC) entre
­sobreviveram à sepse e ao choque séptico em comparação 8 e 12mmHg, uma pressão arterial média (PAM) entre 65 e
com não-sobreviventes. Por exemplo, o segmento BB do 90mmHg e um débito urinário ≥ 0,5 ml/kg/hora, evitando-
Fator B - um membro da via alternativa do sistema de comple- -se, assim, os danos causados pelo estado de perfusão tissular
mento que fornece uma primeira linha de resposta à infecção, inadequada – em associação a condutas que visem manter a
participando da citotoxicidade mediada por monócito inde- SVO2 (saturação venosa central de oxigênio) acima de 70%
pendente de anticorpos, propagação de macrófagos, ativação (utilizando, por exemplo, hemotransfusão, aminas vasoativas,
do plasminogênio e proliferação de linfócitos B - encontra-se suporte ventilatório e outras intervenções).(38) Demonstrou-
fortemente ativado em enfermos que sobreviveram à sepse. -se uma significativa redução na letalidade no grupo aborda-
Na avaliação e no acompanhamento do enfermo com sep- do em conformidade com a EGDT, de modo que esta tem
se, pode-se utilizar o escore Acute Physiologic Chronic H ­ ealth sido considerada o padrão-ouro para a abordagem inicial do
Evaluation (APACHE II) — criado para avaliar a mortali- paciente com sepse grave e choque séptico.(38)
dade hospitalar, sendo baseada na avaliação fisiológica para Nas situações em que a reposição volêmica não surte
determinação da gravidade de doenças — ainda que a melhor o efeito desejado - restauração da pressão sanguínea e da
estratégia, para esta finalidade, seja o escore Sequential Organ perfusão de órgãos e sistemas - devem ser empregados
Failure Assessment (SOFA), o qual abrange variáveis respirató- vasopressores, destacando-se que a noradrenalina vinha sendo
rias, hematológicas, hepáticas, cardiovasculares, neurológicas considerado o fármaco de escolha.(38) Todavia, recentemente,
e renais.(34) Recentemente, tem-se ponderado que a associação demonstrou-se não haver diferença significativa entre a
de biomarcadores de inflamação a estes escores possa ampliar letalidade de enfermos com diagnóstico de choque, tratados
a avaliação prognóstica nos enfermos com sepse.(35) com dopamina e noradrenalina, ainda que esta última tenha
Outro importante referencial para a avaliação dos um menor risco de ocorrência de eventos adversos.(39)
­enfermos com sepse é o conceito PIRO, fundamentado em
elementos multivariados, incluindo condições predispo- Abordagem da infecção
nentes (P = predisposição), natureza e extensão da injúria As diretrizes da Surviving Sepsis Campaign sustentam a
(I = insulto), tipo e magnitude da resposta do hospedeiro importância de a antibioticoterapia adequada ser iniciada em
(R = resposta deletéria) e grau da disfunção orgânica resul- até uma hora após o reconhecimento da sepse na UTI e em
tante ou pre-existente (O = falência orgânica).(36) O conceito até três horas, nos casos atendidos nas unidades de emergência
PIRO é útil para a classificação dos pacientes sépticos, visan- e enfermarias.(40) A escolha inicial do esquema terapêutico
do o desenvolvimento de estudos para a compreensão da fi- deve albergar o maior espectro possível para cobrir todos os
siopatologia e o aprimoramento da terapêutica.(37) possíveis microrganismos relacionados ao foco suspeito(1,41)
-além de possuir uma boa penetração no provável foco
TRATAMENTO infeccioso -, já que há sólidas evidências de que uma terapia
antimicrobiana inicial inadequada está relacionada com um
A abordagem terapêutica do enfermo com diagnóstico de pior prognóstico, mesmo quando posteriormente corrigida.
sepse continua a ser um desafio para o médico, a despeito de A terapia inicial deve sempre ser revista após 48-72h, quando
todo o avanço da ciência contemporânea. O tratamento da os resultados das culturas costumam estar disponíveis,
sepse, da sepse grave, do choque séptico e da disfunção de sendo reajustada com o objetivo de redução do espectro, da
múltiplos órgãos e sistemas (DMOS) incluem (1) as manobras toxicidade e dos custos.(40)
de reposição volêmica, (2) a abordagem da infecção, (3) o Em associação ao uso correto de antimicrobianos, todo
emprego de corticosteróides, (4) a terapia anticoagulante, (5) paciente admitido com diagnóstico de sepse deve ser avaliado

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Sepsis 213

quanto à possível presença de um foco infeccioso que neces- a mortalidade entre adultos em unidade de terapia intensiva,
site de intervenção cirúrgica. O chamado controle do foco devendo-se propor como meta a glicemia de 180 mg/dl.(46)
deve sempre ser feito, através da drenagem de abscessos, des- Vale ressaltar que a hipoglicemia, quando diagnosticada, deve
bridamento de tecidos necróticos, remoção de dispositivos ou ser prontamente tratada.
próteses infectadas, dentre outras medidas cabíveis.
Suporte nutricional
Corticosteróides A alimentação por via oral dificilmente é utilizada no pa-
O uso de corticosteróides (hidrocortisona 200-300 ciente séptico, pois uma gama de fatores torna sua utilização
mg/dia, administrado a cada oito horas, por sete dias) é limitada - por exemplo, o estado mental do paciente, as alte-
recomendado para os pacientes com choque séptico, que se rações gastrintestinais e outras. Assim, vias alternativas para
mantenham hipotensos após reposição volêmica vigorosa, o suporte nutricional tornam-se necessárias para esses enfer-
necessitando de fármacos vasopressores para manter uma mos - desde que os mesmo não estejam hemodinamicamente
pressão arterial satisfatória.(42) Vale ressaltar, entretanto, os instá­veis, o que contraindica a terapia nutricional - minimi-
resultados do estudo CORTICUS, no qual se demonstrou zando o risco de instalação/agravamento da desnutrição.(47)
que a hidrocortisona não ampliou a sobrevida e não A nutrição enteral (NE) é a via preferida de administração
aumentou a reversão do choque em enfermos sépticos, ainda de nutrientes, pois apresenta grandes vantagens em relação
que tenha permitido uma reversão mais rápida deste último à nutrição parenteral, dentre elas,(47,48) (1) a manutenção da
nos enfermos que responderam a este fármaco.(43) integridade do trato digestório, (2) a redução da freqüência
de complicações, (3) a minimização do risco de translocação
Terapia anticoagulante bacteriana e (4) o menor custo.
A proteína C, quando ligada ao seu receptor em células O emprego da nutrição parenteral (NP) reserva-se para as
endoteliais e em leucócitos (receptor celular para proteína C), situações nas quais a via enteral não for suficiente para aten-
tem um reconhecido papel antiinflamatório. O complexo der as necessidades nutricionais estimadas - uso combinado
‘proteína C/receptor’ desloca-se até o núcleo, desencadeando NE/NP - ou nos contextos em que a utilização do trato gas-
múltiplos efeitos:(44) (1) diminuição da geração de trombina; trintestinal estiver impossibilitada (uso isolado de NP).
(2) redução da produção de citocinas inflamatórias, através do Recentemente tem se recomendado a suplementação com
bloqueio da ação intracelular do NF-κB; (3) impedimento da glutamina, por via intravenosa, a qual tem efeito de ativação
ligação do lipopolissacarídeo ao seu receptor de membrana da resposta efetora Th1 nas células do sistema imunológico e
CD14; (4) diminuição da expressão do fator tecidual; (5) Th2 nos enterócitos.(48)
minimização da expressão de moléculas de adesão; (6)
redução da transcrição de genes pró-apoptóticos; e (7) Suporte ventilatório
aumento da produção de RNA mensageiro a partir de genes A ventilação mecânica (VM) está indicada para muitos
anti-apoptóticos. enfermos com sepse, em decorrência de insuficiência
O uso da proteína C ativada humana recombinante respiratória aguda relacionada à moléstia de base ou por
(drotrecogina alfa) reduziu a letalidadede enfermos com alto efeitos da SIRS no aparelho respiratório, incluindo a
risco de morte quando administrada de modo precoce, ainda síndrome da angústia respiratória do adulto (SARA). Nestas
que com risco de ocorrência de graves eventos hemorrágicos. situações, os pacientes devem ser acoplados à VM sob sedação
Deste modo, a despeito de sua recomendação pela Surviving otimizada e com parâmetros respiratórios adequadamente
Sepsis Campaign,(40) uma avaliação mais criteriosa está sendo ajustados. Para os enfermos com SARA, recomenda-se uma
realizada no bojo do estudo PROWESS-SHOCK, cujos ventilação protetora, caracterizada por volumes correntes
resultados deverão ser publicados em breve.(45) iniciais reduzidos, de 6 ml/kg de peso, em conjunto com a
manutenção de pressão de pico inspiratória < 30 cm H2O.
Controle glicêmico (49)
Uma certa quantidade de pressão expiratória positiva final
A manutenção de um estado de controle glicêmico rigoroso - (PEEP) deve ser mantida - acima de 8cmH20, se o objetivo for
perpetuação de uma glicemia < 150 mg/dl, idealmente o recrutamento alveolar -, para impedir o colapso pulmonar e
entre 80 e 110 mg/dl - era apontada, até recentemente, permitir oxigenação adequada.
como uma meta a ser atingida, havendo evidências de maior
sobrevida nestas circunstâncias. Sem embargo, o estudo Medidas terapêuticas adicionais
NICE-SUGAR, publicado em 2009, demonstrou que o As diferentes complicações que podem ocorrer nos
controle intensivo da glicemia - 81 a 108 mg/dl - aumenta pacientes com sepse - incluindo insuficiência renal aguda,

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214 Siqueira-Batista R, Gomes AP, Calixto-Lima L,
Vitorino RR, Perez MCA, Mendonça EG et al.

Quadro 4 – Sumário terapêutico na sepse


Condição Terapêutica proposta
Febre, calafrios, mialgias Analgésicos, antitérmicos
Reposição de volume guiada por metas (PVC de 8-12mmHg, PAM entre 65 e 90mmHg e débito
Hipotensão
urinário ≥ 0,5 ml/kg/hora) e aminas vasoativas
Hipoxemia Oxigênio suplementar, ventilação não-invasiva ou ventilação mecânica (se necessária)
Intubação orotraqueal, ventilação mecânica (volume corrente inicial = 6 ml/kg de peso e pressão de pico
SARA
inspiratória < 30 cm H2O) com PEEP (> 8cmH20)
Acidose metabólica Hidratação adequada; avaliar bicarbonato (pH < 7,1)
Insuficiência renal aguda Manejo de fluidos e eletrólitos e instituição de terapia dialítica; corrigir fármacos pelo clearance de creatinina
Trombocitopenia Transfusão de plaquetas
CID Transfusão de plasma fresco e plaquetas; uso de drotrecogina-alfa
Trombose Uso de heparina
HDA Aspiração nasogástrica, bloqueadores H2 ou da bomba de prótons; hemotransfusão se necessária
Hiperglicemia Insulina regular (deve-se manter glicemia, idealmente, entre 80-150 mg/dl)
Hipoglicemia Infusão contínua de glicose a 10%
Disfunção cardíaca Aminas vasoativas (dobutamina e fenilefrina)
Suporte nutricional, preferencialmente com dieta enteral; deve-se evitar a sobrecarga de calorias, sob o
Hipercatabolismo
risco de hiperalimentação
SARA - síndrome da angústia respiratória do adulto; CID - coagulação intravascular disseminada; HDA - hemorragia digestiva alta; PVC - pressão
venosa central; PAM - pressão arterial média

a acidose metabólica, a CID, a hemorragia digestiva alta CONTRIBUIÇÕES DOS AUTORES


(HDA) e a trombose venosa profunda (TVP) - devem ser
abordadas em termos terapêuticos e profiláticos,(1,50) tal qual Siqueira-Batista R, Gomes AP, Calixto-Lima L, Vitorino
o apresentado no quadro 4 RR, Perez MCA e Mendonça EG elaboraram, em conjunto,
as diferentes partes do artigo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Oliveira MGA e Geller M realizaram a revisão crítica e as
correções finais do texto
Apesar da expressiva produção de conhecimento acerca da
fisiopatologia e do tratamento, a sepse ainda permanece uma
ABSTRACT
entidade de difícil manejo clínico. As possíveis intervenções
na resposta inflamatória e na coagulação - com o objetivo de This paper aims to provide an update on the main aspects of
reduzir a morbidade e a mortalidade, bem como melhorar o sepsis, a very relevant health care issue. A number of hypotheses have
prognóstico da sepse - têm sido extensamente investigadas. been proposed to explain its origin, involving interactions between
Avanços significativos - como a early goal directed therapy - microorganisms and the innate immune system, inflammation/
já foram obtidos, mas, um amplo universo de possibilidades immune mediation and the coagulation system. The clinical features
permanece por ser explorado. of sepsis are variable and depend on the primary site of infection.
Não se pode minimizar, entretanto, o necessário pleno The identification of early signs and symptoms is crucial for starting
therapeutic measures fundamentally based on volume resuscitation,
cuidado ao paciente. De fato, na atualidade, o diagnóstico
antibiotic therapy, use of steroids, anticoagulant therapy, biologic
precoce - a partir de uma elevada suspeição clínica - e o trata-
viability maintenance interventions and nutritional support.
mento adequado - incluindo-se todos os aspectos menciona-
dos - permanecem como a melhor garantia de boa evolução Keywords: Sepsis/pathophysiology; Sepsis/diagnosis; Sepsis/
dos sujeitos vitimados pela sepse. therapy

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aRtiGo de ReVisÃo | ReVieW aRticle

Inflamação na doença renal crônica: papel de citocinas


Inflammation in chronic kidney disease: the role of cytokines

Autores resumo abstract


Heloisa R Vianna 1 A doença renal crônica (DRC) é um gra- Chronic kidney disease (CKD) is a serious
Cristina Maria ve problema de saúde pública cuja preva- public health problem whose prevalence
Bouissou Morais lência tem aumentado nos últimos anos. has increased in the last few years. Its
Soares2 Apresenta caráter progressivo e está asso- progression is associated with high mor-
Marcelo S Tavares2 ciada à elevada morbidade e mortalidade. bidity and mortality. Several factors are
Mauro Martins Inúmeros fatores estão associados à ins- associated with the onset and progres-
Teixeira3 talação e progressão da DRC, tais como sion of CKD, such as obesity, hyperten-
Ana Cristina Simoes e obesidade, hipertensão arterial e diabetes sion and diabetes mellitus. Beyond these
Silva2 mellitus. Além desses fatores, existem evi- factors, there is evidence of a pathophy-
1
Programa de Pós-gra- dências de inflamação na fisiopatologia siological role for inflammation in CKD.
duação em Ciências da da DRC. Diversas citocinas e quimiocinas Several cytokines and chemokines have
Saúde – Saúde da Crian- têm sido detectadas no plasma e urina de been detected in the plasma and urine
ça e do Adolescente da
Faculdade de Medicina pacientes em estágios precoces da DRC e of patients at early stages of CKD, and
da Universidade Federal também relacionadas às complicações da have also been related to CKD compli-
de Minas Gerais – UFMG. doença. A expressão desses mediadores e cations. The expression of these media-
2
Unidade de Nefrologia
Pediátrica – Departamen-
a lesão renal sofrem interferência de fár- tors and renal injury may be influenced
to de Pediatria – Hospital macos como inibidores de enzima conver- by drugs such as angiotensin-converting
das Clínicas da UFMG. sora de angiotensina (ECA), estatinas e enzyme inhibitors, statins and antago-
3
Departamento de Bio-
antagonistas de receptores de citocinas. A nists of cytokine receptors. Modulation
química e Imunologia
– Instituto de Ciências modulação da resposta imuno-inflamató- of the immune-inflammatory response
Biológicas da UFMG. ria pode se tornar alvo para tratamento da can become a target for CKD treatment.
DRC. O objetivo deste artigo de revisão The aim of this study was to review the
foi resumir as evidências científicas do pa- scientific evidence on the role of inflam-
pel da inflamação na DRC, destacando-se mation in CKD, especially the effects of
os efeitos de citocinas e quimiocinas. cytokines and chemokines.
Palavras-chave: Citocinas. Quimiocinas. Keywords: Cytokines. Chemokines.
Data de submissão: 29/04/2011
Data de aprovação: 14/08/2011
Inflamação. Falência renal crônica. Inflammation. Kidney failure, chronic.

Correspondência para:
Ana Cristina Simões e Silva
Avenida Bernardo Introdução período de 1999-2004.1,3 A prevalência
Monteiro 1.300/1.104 de DRC estágios 3 a 5 apresentou-se em
Belo Horizonte (MG) – A doença renal crônica (DRC) tem au-
Brasil torno de 5%, baseando-se nos dados do
mentado, de forma epidêmica em todo
CEP: 30150-281 NHANES 1999-2004 nos Estados Unidos
E-mail: acssilva@hotmail. o mundo, sobretudo em função do au-
com mento global na prevalência das princi- e em estudos realizados na Austrália,
O referido estudo foi pais causas de DRC como hipertensão China e Índia.1,3 Associado a isso, o nú-
realizado na Unidade de mero de pacientes com DRC terminal que
Nefrologia Pediátrica do arterial sistêmica (HAS), diabetes melli-
Departamento de Pediatria tus (DM) e obesidade.1-3 Segundo da- necessita terapia dialítica ou transplante
da Faculdade de Medicina renal, também tem aumentado significa-
da UFMG.
dos do National Health and Nutrition
Examination Surveys (NHANES), a pre- tivamente nos países desenvolvidos e em
Os autores declaram a
inexistência de conflitos de
valência de DRC (excluindo a DRC termi- desenvolvimento.3 Em janeiro de 2009,
interesse. nal) nos Estados Unidos foi de 13,1% no segundo dados da Sociedade Brasileira de

351
Citocinas na doença renal crônica

Nefrologia, o número estimado de pacientes em di- Este artigo de revisão tem por objetivo resumir as
álise no Brasil foi de 77.589, o que representou um evidências científicas referentes ao possível papel de
aumento de 6,7% em relação ao ano de 2007 (73.605 mediadores imuno-inflamatórios na fisiopatologia da
pacientes) e de 31,2% em relação ao ano de 2004 DRC, independentemente da etiologia. Nesse senti-
(59.104 pacientes).4-5 As estimativas das taxas de pre- do, o papel da inflamação na progressão da DRC é
valência e de incidência de doença renal crônica em evidenciado nas glomerulopatias, doenças nas quais
tratamento dialítico em nosso país foram de 405 e o processo inflamatório é classicamente reconhecido,
144 pacientes por milhão da população, respectiva- bem como nas malformações congênitas dos rins e
mente.5 O número estimado de pacientes que inicia- trato urinários, enfermidades cujo principal meca-
ram tratamento em 2009 foi de 27.612 e a taxa anual nismo de lesão era tradicionalmente relacionado ao
de mortalidade bruta foi de 17,1%.5 processo de obstrução mecânica. O potencial de al-
Recentemente, tem-se considerado o papel da in- gumas citocinas e quimiocinas como biomarcadores
flamação subclínica na progressão das doenças crô- de progressão da DRC, tais como o fator de transfor-
nico-degenerativas.6-7 A inflamação é um processo mação de crescimento do tipo beta (TGF-β), a prote-
fisiológico em resposta a diferentes estímulos como ína quimiotáxica para monócitos do tipo 1 (MCP-1/
infecções, alterações físico-químicas e antigênicas ou CCL2) e a interleucina-8 (IL-8/CXCL8) também são
danos traumáticos. A resposta inflamatória necessita enfatizadas.
ser precisamente regulada, uma vez que deficiências
ou excessos dessa resposta estão diretamente relacio- Inflamação e doença renal crônica
nados com mortalidade e morbidade.8. Nesse contex-
to, existem evidências de ativação do sistema imune De forma genérica, considera-se inflamação ou pro-
em estágios precoces e tardios da DRC.9-11 Por outro cesso inflamatório a resposta do organismo a qualquer
lado, alguns estudos sugerem uma relação negativa tipo de agressão sofrida.8 Entende-se como agressão
entre níveis circulantes de mediadores de inflamação qualquer processo capaz de causar lesão celular ou
e o estágio da doença.10 Sabe-se também que, em pa- tecidual. Esta resposta padrão é comum a vários tipos
cientes portadores de DRC terminal ou não, a presen- de tecidos e é mediada por diversas substâncias pro-
ça de inflamação é um fator preditor independente de duzidas pelas células danificadas e células do sistema
mortalidade.7,12-14 imunitário que se encontram eventualmente nas pro-
Há que se considerar também que a doença car- ximidades da lesão.6,8,20 A ativação do sistema imune,
diovascular (DCV) é, atualmente, a principal cau- decorrente da lesão tecidual, quando ocorre de forma
sa de morbidade e mortalidade em portadores de exacerbada, com aumento excessivo do processo in-
DRC.7,13,15 Estudos mostram que a inflamação au- flamatório, pode favorecer a instalação e a progressão
menta o risco cardiovascular e a mortalidade dos de doenças.6 A exacerbação da resposta inflamatória
pacientes com DRC terminal.13,14 Postula-se ainda leva à perda de tolerância periférica aos componen-
que os fatores de risco tradicionais para a DCV tais tes dos próprios tecidos, que se tornam antigênicos e
como HAS, DM, dislipidemia e obesidade não se- desencadeiam inflamação local.20 A estimulação imu-
riam suficientes para elevar de tal forma a incidência nológica é contínua e o processo se prolonga até a
de complicações cardiovasculares nos pacientes com completa destruição tecidual.21 Assim, em consequên-
DRC terminal.16 Sendo assim, o processo inflamató- cia da ativação inicial, as substâncias mediadoras da
rio, associado aos efeitos do estresse oxidativo, da resposta inflamatória agem sobre as células alvo, que
resistência à insulina e da disfunção endotelial são podem estar localizadas em qualquer compartimento
considerados fatores de risco para DCV nos pacien- do corpo, levando a diferentes processos mórbidos,
tes com DRC.17 tais como a DRC.20-22
A via final comum da DRC é caracterizada pela Especificamente em relação ao tecido renal, a in-
progressiva fibrose glomerular e/ou túbulo-intersti- flamação participa de forma ativa dos mecanismos
cial, lesão capilar peritubular por hipóxia e perda de de progressão da lesão renal em doenças de diversas
funcionamento dos néfrons por esclerose glomerular etiologias.9,17,18,21,22 Por exemplo, nas doenças de aco-
e atrofia tubular, independentemente do mecanismo metimento glomerular, postula-se resumidamente a
primário que desencadeou a lesão renal.18 Nesse pro- seguinte sequência de eventos:3,9,18,22
cesso fisiopatológico de progressão da lesão renal tem 1) a lesão glomerular persistente produz hipertensão
sido cada vez mais detectada a participação dos me- capilar, aumento da filtração glomerular e passa-
canismos inflamatórios.19 gem de proteínas para o fluido tubular;

352 J Bras Nefrol 2011;33(3):351-364


Citocinas na doença renal crônica

2) a proteinúria de origem glomerular aumenta a evidenciado em malformações congênitas do trato


produção de angiotensina (Ang) II e promove li- urinário, tais como as uropatias obstrutivas (para
beração de mediadores inflamatórios (citocinas e revisão, ver Chevalier et al.23). De forma resumida,
quimiocinas), que induzem o acúmulo de células os seguintes mecanismos fisiopatológicos têm sido
mononucleares no interstício renal; propostos para explicar a progressão da DRC nas
3) o recrutamento inicial de neutrófilos é substituído uropatias obstrutivas (Figura 1):
por macrófagos e linfócitos T, que desencadeiam 1) aumento do diâmetro e proliferação das células
resposta imune, produzindo nefrite intersticial; tubulares dos rins obstruídos;
4) as células tubulares respondem a este processo in- 2) estiramento mecânico das células tubulares pelo
flamatório por meio de lesão da membrana basal processo obstrutivo que promove recrutamento
e pela transição epitelial-mesenquimal se transfor- de células inflamatórias e liberação de citocinas e
mando em fibroblastos intersticiais; quimiocinas no tecido renal;
5) os fibroblastos formados produzem colágeno, 3) apoptose das células tubulares seguida de apopto-
que, por sua vez, lesa os vasos e os túbulos renais, se do compartimento intersticial;
eventualmente determinando a formação de uma 4) transição epitelial-mesenquimal das células tu-
cicatriz acelular. bulares e intersticiais levando à formação de
Além das glomerulopatias e doenças autoimunes, fibroblastos;
nas quais o papel da inflamação é evidente, os es- 5) proliferação progressiva de fibroblastos e recruta-
tudos têm mostrado que, também em outras etio- mento contínuo de células inflamatórias;
logias de DRC, a resposta inflamatória contribui 6) síntese de colágeno pelos fibroblastos com con-
para a progressão da lesão renal.3,9,17,18,21,22 Nesse sequente deposição de matriz extracelular e fi-
contexto, o papel do processo inflamatório tem sido brose renal.

Figura 1. Células e mediadores envolvidos na progressão da doença renal crônica (adaptado de Chevalier et al. 23).

1 - Hipertensão glomerular e
proteinúria -> ativação SRA

Albumina
Ang - li Patofisiologia da progressão da lesão renal
ROS
TGF - ȕ1

2 - Aglomeração de células
mononucleares intersticiais
relacionadas à proteinúria
5 - Transformação epitélio-mesenquimal
NF - Įȕ
IL - 8
RANTES Fatores de
MCP - 1 crescimento Fibroblastos
TGF - ȕ1

Fibrose
4 - Ativação Linfócito T
intersticial

TGF - ȕ1
2 - Apoptose
MCP - 1
3 - Citocinas e TNF - Į
quimiocinas IL - 1 Perda de
RANTES nefrons
Perda Atrofia
capilar tubular
peitubular Perda
glomerular

J Bras Nefrol 2011;33(3):351-364 353


Citocinas na doença renal crônica

Diversos estudos clínicos corroboram a importância mortalidade em pacientes nos estágios 3 e 4 de DRC.32,33
da inflamação na fisiopatologia da DRC.7,9,10,12-14,16,17,22 Foi também detectada associação entre os níveis de PCR
O estado inflamatório crônico observado na DRC se as- e citocinas pró-inflamatórias, especialmente IL-6.34-37 Em
socia à elevação dos níveis séricos de proteínas inflama- crianças portadoras de DRC secundária às mais diversas
tórias de fase aguda, como a proteína C reativa (PCR), e causas, as excreções urinárias de endotelina (ET-1), de
de uma variedade de mediadores imuno-inflamatórios, TGF-β1 e do fator de crescimento derivado do endo-
tais como citocinas, componentes do sistema de comple- télio vascular (VEGF) mostraram-se significativamente
mento, prostagladinas e leucotrienos.24-31 Dessa forma, elevadas em relação aos controles pareados.38 O aumen-
a mensuração dos níveis circulantes de PCR, dos me- to da excreção desses mediadores correlacionou-se com
diadores imuno-inflamatórios, bem como a avaliação de a diminuição da taxa de filtração glomerular (TFG) e foi
polimorfismos dos genes que codificam esses mediado- mais evidente nos pacientes com uropatias obstrutivas,
res imuno-inflamatórios têm mostrado que os pacientes refletindo o impacto da lesão túbulo-intersticial sobre a
com DRC apresentam um fenótipo pró-inflamatório função renal global.38
que se acentua na medida em que a lesão renal segue
rumo a seu estágio terminal.24-31 Nesse sentido, os es- Citocinas e quimiocinas
tudos mostram a detecção de níveis elevados de PCR Citocinas são proteínas solúveis, de baixo peso mole-
ultrassensível (entre 47,6 e 76,2 nmol/L) em 30 e 60% cular, secretadas pelos leucócitos e outras células do
de todos os pacientes portadores de DRC nos Estados organismo, principalmente em resposta a estímulos
Unidos (EUA), Canadá e países europeus (para revisão, antigênicos, que atuam como mensageiros do siste-
ver Krane e Wanner25). Além disso, tem sido mostrado ma imune. As citocinas podem receber denominações
que alguns polimorfismos de genes que codificam me- específicas que se referem ao tipo celular que predo-
diadores inflamatórios estão associados a pior evolução minantemente as sintetizam e aos seus mecanismos de
de pacientes com DRC.24 Para exemplificar, Rao et al. ação. Sendo assim, as citocinas predominantemente
mostraram que a substituição G/C no códon 25 do gene sintetizadas por fagócitos mononucleares são deno-
que codifica o TGF-β associou-se ao risco aumentado minadas monocinas, enquanto as produzidas princi-
de morbimortalidade cardiovascular em pacientes com palmente por linfócitos são linfocinas. Citocinas que
DRC terminal.24 Acredita-se, assim, que fatores gené- agem em outros leucócitos são denominadas interleu-
ticos, ambientais e culturais como o hábito alimentar cinas (IL). As IL estão envolvidas na resposta e na
influenciem no perfil inflamatório dos pacientes com apresentação de antígenos, principalmente pelos lin-
DRC.13,14,24,25 fócitos T auxiliares.39 As citocinas com função de con-
Por outro lado, os mecanismos pelos quais a infla- trolar o tráfego basal e inflamatório de leucócitos por
mação produz deterioração da função renal ainda não meio de quimiotaxia são chamadas de quimiocinas,
estão totalmente elucidados. Sabe-se que os mediadores ou seja, citocinas quimiotáxicas.39 A movimentação é
imuno-inflamatórios modulam a função endotelial, ade- propriedade fundamental das células imunes e as qui-
são e migração das células circulantes do sistema imune miocinas são importantes facilitadoras desse proces-
(monócitos, leucócitos ou neutrófilos) para o interstício, so. Além da quimiotaxia, as quimiocinas apresentam
além de serem capazes de ativar fibroblastos residentes.18- efeito pró-angiogênico e promovem degranulação de
19
A deterioração da função renal tem sido associada ao leucócitos. Dessa forma, a resposta imune final con-
aumento dos níveis séricos de PCR, de citocinas e dos siste em uma combinação de funções biológicas.26
receptores solúveis para estas citocinas nos diferentes As duas principais famílias de quimiocinas são
estágios da DRC.17,28-30,32,33 Postula-se que as citocinas, as quimiocinas CC, dotadas de dois resíduos de
ao interagirem com seus receptores localizados na mem- cisteína adjacentes e as quimiocinas CXC, dotadas
brana celular, regulem a transcrição de inúmeros genes e de resíduos de cisteína separados por um aminoá-
determinem modificações do comportamento das célu- cido.39 As quimiocinas podem ser classificadas em
las presentes no tecido renal.29 Dentre as citocinas pró- induzíveis, quando sua síntese é estimulada por
inflamatórias que têm sido associadas à fisiopatologia qualquer fator que altere a homeostase celular; e
da doença renal destacam-se a interleucina-1 (IL-1), in- em constitutivas, que são responsáveis pelo tráfego
terleucina-6 (IL-6) e o fator de necrose tumoral-α (TNF- leucocitário basal e pela formação da arquitetura
α).30 Na população adulta, há evidências de ativação do de órgãos linfóides secundários.6
sistema imune em estágios precoces da DRC.10,11 Níveis Conforme mencionado na seção anterior, existem
elevados de PCR foram associados a todas as causas de evidências clínicas e experimentais que corroboram a

354 J Bras Nefrol 2011;33(3):351-364


Citocinas na doença renal crônica

participação de citocinas e quimiocinas em diferentes O estresse oxidativo, a inflamação e a disfunção en-


mecanismos de lesão ao tecido renal.24-38 Especificamente dotelial secundária favorecem a instalação e a pro-
no tecido renal, as citocinas induzem proliferação local gressão DRC.42 Knight et al. mostraram que tanto a
de células tubulares e intersticiais, síntese de matriz sinvastatina, uma estatina, quanto o 4-hidroxi-tem-
extracelular, atividade pró-coagulante do endotélio, pol, uma substância com ação similar à enzima supe-
formação de espécies reativas de oxigênio e aumento róxido desmutase, apresentaram efeitos antioxidantes
da expressão de moléculas de adesão e lípides biologi- através da diminuição da produção de 8-isoprostano
camente ativos.24-31 A liberação de citocinas também se em modelo animal de hipertensão e obesidade.43 Esses
relaciona aos efeitos hemodinâmicos e locais da ativa- autores verificaram também que somente o tratamen-
ção do sistema renina angiotensina (SRA). A seguir, o to com 4-hidróxi-tempol, e não com sinvastatina,
papel da obesidade e do SRA na relação entre DRC e promoveu redução da resposta inflamatória no tecido
inflamação são sumariamente comentados. renal por meio de redução da excreção urinária da
quimiocina MCP-1/CCL2 e da infiltração tecidual de
Obesidade, doença renal crônica e macrófagos. Dessa forma, a redução da lesão renal de
inflamação ratos obesos e hipertensos em resposta ao tratamento
com 4-hidróxi-tempol se deve, pelo menos em parte, à
A obesidade é um fator de risco independente para DRC.
inibição do processo inflamatório no tecido renal.43
Pacientes norte-americanos obesos têm risco quatro ve-
zes maior de desenvolver DRC que pacientes não obesos
e, nesta mesma população, a hipertensão responde por
Sistema renina angiotensina, doença renal
crônica e inflamação
25% dos casos de DRC.40 Sabe-se que a obesidade in-
duz alterações fisiopatológicas que contribuem para a O SRA exerce papel central nos processos de sinali-
lesão renal.2 O acúmulo de lípides nos macrófagos pode zação intracelular das citocinas possivelmente modu-
alterar o fenótipo dessas células e favorecer o surgimen- lando a resposta inflamatória associada à progressão
to de um ambiente pró-inflamatório responsável pelas da doença renal e a susceptibilidade para a disfunção
modificações fisiopatológicas do rim associadas à obesi- cardiovascular.18 Polimorfismos genéticos do SRA e
dade.2 Diversas citocinas pró-inflamatórias produzidas de citocinas podem determinar expressão alterada de
pelo tecido adiposo e por células inflamatórias têm sido citocinas inflamatórias e, consequentemente, promo-
relacionadas às lesões renais induzidas pela obesidade. verem a progressão da doença renal e o surgimen-
Dentre esses mediadores, merecem menção o inibidor to de alterações cardiovasculares em pacientes com
da ativação do plasminogênio-1 (PAI-1), a quimiocina DRC.24,44 A relação de todos os polimorfismos gené-
MCP-1 e a resistina.2 Os níveis circulantes dessas ci- ticos da via SRA-citocinas associados à progressão da
tocinas estão aumentados em pacientes com síndrome DRC e às complicações cardiovasculares está além
metabólica e se relacionam com resistência insulínica, do escopo desta revisão (para revisão, ver a listagem
aumento das lipoproteínas circulantes, aterogênese e completa que pode ser encontrada no sítio eletrônico
trombogênese, efeitos esses que direta ou indiretamente do National Center for Biotechnology Information
afetam a estrutura e a função renal.2 Nesse contexto, SNP database45). Tais variações genéticas podem ser
Eddy et al. mostraram que o aumento da expressão do as responsáveis pelas diferenças observadas na pro-
PAI-1, induzido no tecido adiposo e nas células glome- gressão das disfunções renal e cardiovascular no pa-
rulares de pacientes obesos, é fator de risco independente ciente com DRC.18,24,44
para fibrose renal ao inibir a degradação local de matriz Para exemplificar a interação entre alterações ge-
extracelular e recrutar células inflamatórias.41 néticas do SRA e modulação da expressão de cito-
Outro mecanismo provavelmente envolvido no de- cinas, Yvan-Charvet et al. detectaram aumento do
sencadeamento da DRC, em pacientes obesos, é a for- RNA mensageiro para TNF-α, IL-6 e IL-1 no tecido
mação aumentada de espécies reativas de oxigênio.42 adiposo de camundongos com superexpressão do an-
Os níveis elevados de colesterol podem estimular a giotensinogênio.46 Além disso, já foi mostrado que a
produção de superóxido que, por sua vez, contribuem Ang II é capaz de ativar células tubulares ou glomerula-
para a disfunção renal observada em pacientes obe- res e induzir a liberação de TGF-β, MCP-1/CCL2 e re-
sos.42 O aumento dos radicais superóxido pode elevar gulated on activation normal T cell expressed and secre-
a produção endógena da enzima superóxido desmuta- ted RANTES/CCL5.47 O SRA participa ativamente da
se e induzir, consequentemente, lesão renal por meio regulação do tônus vasomotor e da proliferação celular,
da redução da biodisponibilidade de óxido nítrico.42 podendo afetar a função e estrutura renais, bem como

J Bras Nefrol 2011;33(3):351-364 355


Citocinas na doença renal crônica

promover alterações cardiovasculares.48 Ensaios expe- Três processos são fundamentais para a lesão renal
rimentais e estudos clínicos têm mostrado que tanto a obstrutiva: a morte celular por apoptose e outras formas,
inibição da ECA quanto o bloqueio dos receptores an- a inflamação e a fibrose intersticial.23 O estiramento me-
giotensinérgicos do tipo 1 (AT1) retardam a progressão cânico dos túbulos dilatados por obstrução ao fluxo de
da doença renal não só por controlarem a HAS como urina promove apoptose ou transição epitélio-mesen-
também por exercerem efeitos anti-inflamatórios, anti- quimal das células epiteliais tubulares e intersticiais. As
proliferativos a anti-oxidativos.47-52 células epiteliais lesadas produzem infrarregulação do
Os tratamentos com inibidores da ECA e com blo- fator de crescimento epidérmico e ativam o SRA.55 Essas
queadores do receptor AT1 da Ang II preveniram e/ou duas alterações estimulam a expressão do TGF-β1 e a
atenuaram a regulação para cima de diversos genes pró- geração de espécies reativas de oxigênio, que, por sua
inflamatórios em modelo experimental de nefrectomia vez, levam ao recrutamento de macrófagos intersticiais
sub-total.47 A redução dos níveis de TGF-β1 em modelo e à produção de MCP-1/CCL2, moléculas de adesão e
animal, em pacientes transplantados renais e em por- TNF-α.23 Esta sequência de eventos resulta em atrofia tu-
tadores de nefropatia diabética também tem sido des- bular e lesão de capilares peritubulares e glomérulos.23,55
crita após uso destas drogas.49-51 Amann, Tinzmann e Além disso, alterações fenotípicas transformam células
Angelkort mostraram que o uso de inibidor de ECA, em epiteliais em miofibroblastos, que promovem fibrose in-
diabéticos tipo 2 portadores de nefropatia, reduziu os tersticial através da expansão da matriz extracelular.23
níveis urinários de MCP-1/CCL2 e determinou melho- O resultado final é a perda progressiva de todas as estru-
ra da função renal.51 O bloqueio da Ang II também se turas do néfron, conforme mostrado na Figura 1.
mostrou capaz de reduzir excreção urinária de albumina O aumento da produção tubular de TGF-β1 contri-
oxidada, sem alterar a excreção urinária total de prote- bui significativamente para a fibrose túbulo-intersticial
ínas e os níveis pressóricos.42 A excreção urinária de al- por meio de ativação do fator nuclear de transcrição NF-
bumina oxidada correlacionou-se positivamente com os κB e consequente deposição de matriz extracelular.56 A
níveis urinários de MCP-1/CCL2, reforçando a impor- atividade do NF-κB é também estimulada pela albumi-
tância da interação entre inflamação e estresse oxidativo na, o que explica a correlação entre a proteinúria, infla-
na progressão da DRC.52 mação túbulo-intersticial e fibrose renal.56 Em modelo
experimental de obstrução ureteral unilateral, a inibição
Inflamação na nefropatia obstrutiva da ECA ou o bloqueio do receptor AT1 atenuam a lesão
renal, evidenciando o papel da Ang II na progressão da
Conforme mencionado anteriormente, a DRC pode ser
DRC nas nefropatias obstrutivas.57
oriunda de diversas etiologias cujos mecanismos fisio-
Dessa forma, mesmo em malformações congênitas
patológicos são, consequentemente, muito diferentes.3,18
dos rins e do trato urinário, evidências clínicas e experi-
As principais causas de DRC podem ser subdivididas em
mentais mostram que o processo inflamatório, mediado
dois grandes grupos: congênitas e adquiridas. Dentre as
por citocinas e quimiocinas, também participa da insta-
causas congênitas, as malformações dos rins e do trato
lação e da progressão das lesões renais.
urinário assumem grande importância não só por sua
elevada frequência, bem como por serem capazes de
produzir DRC já nos primeiros meses de vida.53 As mal-
Inflamação nas glomerulopatias

formações dos rins e do trato urinário normalmente as- A relação entre glomerulopatia e inflamação já está
sumem maior gravidade quando associadas à obstrução tradicionalmente bem estabelecida na literatura.10,17,22
do trato urinário, como ocorre nos casos de válvula de Ressalta-se ainda que as doenças glomerulares determi-
uretra posterior.23 Até recentemente, considerava-se que nam deterioração mais rápida da função renal quando
as nefropatias obstrutivas produziam lesão renal unica- comparadas a outras etiologias de DRC.58 A lesão glo-
mente em decorrência dos efeitos mecânicos da obstru- merular pode ser deflagrada por diversos mecanismos
ção ao fluxo de urina.54. No entanto, atualmente se sabe imunológicos, tais como deposição de imunocomplexos
que as nefropatias obstrutivas podem lesar o tecido renal circulantes no tecido renal, formação local de anticorpos
mesmo após alívio do processo obstrutivo, produzindo com agressão direta a estruturas glomerulares, ativação
inflamação, fibrose intersticial e atrofia tubular.23,55. Em local da cascata do complemento com liberação de me-
geral, as lesões permanentes se devem a apoptose tubu- diadores inflamatórios e lesões mediadas por células (re-
lar e fibrose renal.23. A apoptose de células tubulares re- ações de hipersensibilidade tardia).59 Independentemente
nais e a fibrose são mediadas por citocinas tais como o do mecanismo imunológico subjacente da lesão glome-
TGF-β1 e o TNF-α.56 rular, ocorre, inicialmente, produção de mediadores

356 J Bras Nefrol 2011;33(3):351-364


Citocinas na doença renal crônica

inflamatórios como citocinas, quimiocinas, espécies re- dos achados em animais de experimentação, algumas
ativas de oxigênio e lípides que promovem ativação de citocinas pró-inflamatórias também já foram detecta-
leucócitos, macrófagos e células intrínsecas do gloméru- das em tecido glomerular humano.62,67,68 Foram detec-
lo renal. Posteriormente, há amplificação da resposta tados aumentos dos RNAs mensageiros para o TNF-α
inflamatória por meio de influxo de linfócitos e macró- e para a IL-1 na glomerulopatia crescêntica humana
fagos mediado pelo aumento da produção de citocinas e maior expressão de TNF-α em células epiteliais tu-
e quimiocinas, oriundas tanto das células inflamatórias bulares de pacientes portadores de glomerulopatias
recrutadas quanto das células glomerulares intrínsecas.59 proliferativas.62,67,68 Em relação ao possível papel das
Paralelamente, ocorre ativação das células mesangiais quimiocinas no desencadeamento de alterações glome-
que pode ser desencadeada pelo processo imunológico rulares iniciais, foi observada excreção urinária aumen-
subjacente, bem como por estímulo de mediadores lo- tada de IL-8/CXCL8 em pacientes portadores de doença
cais liberados pelas células inflamatórias e pelas células glomerular primária.69,70 Esta elevação correlacionou-se
residentes.29 A ativação das células mesangiais determi- à excreção urinária de proteínas em pacientes com sín-
na a alteração fenotípica dessas células, que se transfor- drome nefrótica primária e mostrou-se reduzida durante
mam em fibroblastos capazes de liberar proteases, cito- a remissão da proteinúriae nos pacientes submetidos à
cinas e mediadores oxidativos,29 tais como IL-1, MCP-1/ pulsoterapia.69,70
CCL2, RANTES/CCL5, fator de crescimento derivado
de plaquetas, óxido nítrico, TGF-β.47 A liberação dessas Citocinas e quimiocinas como
citocinas pró-inflamatórias fibrogênicas pelos fibroblas- biomarcadores da doença renal crônica
tos oriundos de células mesangiais que sofreram mudan- IL-1 – A família da IL-1 consiste em duas citocinas pró-
ças fenotípicas contribui para a glomeruloesclerose e a inflamatórias, IL-1α e IL-1β e um agente anti-inflama-
fibrose túbulo-intersticial.29,59 A lesão das células endo- tório natural, o antagonista do receptor solúvel de IL-1
teliais glomerulares também promove glomeruloesclero- (IL-1Ra). A relação entre os níveis plasmáticos de IL-1
se27 por meio de aumento da expressão de PAI-1, molé- e IL-1Ra exerce papel significativo na susceptibilidade e
culas de adesão intracelular-1 (ICAM-1), IL-1, TNF-α, gravidade de inúmeras doenças. Estudos mostram que
IL-8/CXCL8 e MCP-1/CCL2.60 Dessa forma, a via final esta relação prediz a evolução de doenças cardiovascu-
comum da DRC secundária às glomerulopatias também lares, bem como o estabelecimento de glomerulopatias
é caracterizada pela fibrose intersticial progressiva, lesão e mortalidade na DRC.71 A IL-1 é também considerada
capilar peritubular por hipóxia e perda de funcionamen- um mediador da fibrose túbulo-instersticial.71 O aumen-
to dos néfrons por esclerose glomerular e atrofia tubular to da expressão de IL-1 foi detectado em biópsias renais
(Figura 1).18 de pacientes com vasculite62 e no tecido renal remanes-
Existem evidências clínicas e experimentais que cor- cente de ratos submetidos à nefrectomia subtotal.47 Além
roboram o papel das citocinas e quimiocinas na insta- disso, a administração de antagonistas de IL-1 inibiu a
lação e progressão da DRC nas doenças glomerulares. fibrose túbulo-intersticial em modelo animal de DRC.61
61,62
Em modelo animal de glomerulopatia, Border et al. IL-6 – A IL-6 é uma citocina pró-inflamatória pro-
mostraram que a citocina fbrogênica TGF-β1 estimula duzida por diversas células incluindo monócitos e célu-
a proliferação celular mesangial e posterior instalação las renais mesangiais.9,39 IL-6 induz a diferenciação de
da fibrose.63 Vários estudos mostraram que o uso de linfócitos B em células produtoras de anticorpos e a pro-
antagonista de receptor de IL-1 melhora a lesão renal dução de proteínas de fase aguda como PCR e fibrino-
em modelo experimental de glomerulopatia crescêntica, gênio.46 Além disso, esta citocina estimula a proliferação
sugerindo a participação da IL-1, uma citocina pró-in- de células renais mesangiais e exerce papel fundamental
flamatória, na patogênese desta glomerulopatia.61,64,65 na glomerulopatia proliferativa mesangial.72 Alguns es-
Em relação às evidências clínicas, Honkanen et al. tudos têm sugerido a participação de IL-6 na fisiopa-
mostraram excreção urinária elevada de TGF-β1 em pa- tologia da nefrite lúpica, principalmente pela indução
cientes com glomerulopatia membranosa, a correlação da produção de anticorpos nefritogênicos e pela proli-
positiva dos níveis desta citocina com índices morfoló- feração mesangial.73 No entanto, Li et al., ao avaliarem
gicos de cronicidade e sua diminuição após tratamento uma coorte de pacientes com lúpus, não evidenciaram
imunossupressor.66 Os achados desses autores sugerem aumento significativo de IL-6 nos casos com nefrite ati-
que os efeitos fibrogênicos desta citocina contribuem va quando comparados aos pacientes sem nefrite.74
para as alterações estruturais do tecido renal de pacien- IL-8 – A primeira citocina quimioatraente a ser
tes com glomerulopatia membranosa.66 À semelhança descoberta foi a IL-8/CXCL8, considerada, por

J Bras Nefrol 2011;33(3):351-364 357


Citocinas na doença renal crônica

isso, um marco na história da imunologia.6,26 A IL-8/ TGF-β1 medeia os efeitos do TGF-β2 e do TGF-β3.81
CXCL8 pertence à subfamília de quimiocinas CXC O TGF-β1 é classicamente conhecido por sua contri-
e exerce predominantemente efeito quimioatraen- buição à progressão da lesão renal através da expansão
te para neutrófilos.6,26 A excreção urinária de β2- da matriz extracelular e fibrose tecidual.50 O TGF-β1
microglobulina, IL-6 e IL-8/CXCL8 relaciona-se à induz a produção de PAI-1, regula o crescimento e di-
atividade inflamatória renal na nefrite lúpica.69,75 Há ferenciação celulares, promove a produção de matriz
evidência da elevação urinária de IL-8/CXCL8, em extracelular,18 além de interagir com vias de sinalização
pacientes portadores de nefrite lúpica ou nefropatia intracelular da Ang-II que estimulam a fibrose inters-
por imunoglobulina A (IgA).69 Observou-se redução ticial renal e progressão da DRC.19 Foram detectados
dos níveis urinários de IL-8/CXCL8 nos períodos de aumentos da expressão e dos níveis séricos e urinários
remissão da nefrite lúpica.69 Por outro lado, o estudo dessa citocina em pacientes com glomeruloesclerose
de Li et al. não confirmou este achado, pois, apesar de focal e segmentar,82-84 nefropatia diabética85 e em pa-
haver elevação dos níveis de IL-8/CXCL8 em pacien- cientes pediátricos com malformações congênitas do
tes com lúpus, não foi detectada diferença entre os ca- trato urinária associadas à redução da função renal à
sos com e sem comprometimento renal.74 Yokoyama cintilografia estática.86 O efeito benéfico de anticorpos
et al. mostraram o envolvimento de IL-8/CXCL8 na anti-TGF-β1 em modelos de uropatia obstrutiva e glo-
fase aguda da nefropatia por IgA caracterizada pela merulopatias corroboram o papel do TGF-β1 na pro-
proliferação endocapilar.76 No entanto, Huang et al. gressão da DRC.63
sugeriram a participação da IL-8/CXCL8 nas fases MCP-1 – O MCP-1/CCL2 é uma quimiocina da
avançadas por IgA, ao mostrarem níveis urinários au- família CC, que recruta células da linhagem monó-
mentados em comparação com estágios precoces da citos-macrófagos, estimula a liberação de histamina
doença e controles sadios.77 Foi também detectado que pelos basófilos e atua tanto nas fases iniciais, quanto
a IL-8/CXCL8 urinária eleva-se em fases iniciais da na progressão da lesão túbulo-intersticial renal.26,87 O
nefropatia diabética.11 Existem ainda evidências clíni- MCP-1/CCL2 induz fibrose túbulo-intersticial através
cas e experimentais de que essa quimiocina influencie do recrutamento e ativação de macrófagos que liberam,
a permeabilidade glomerular.70,78 Garin verificou que então, TGF-β1. Recentemente, foram demonstradas as
a administração IL-8/CXCL8 produz proteinúria, em significativas correlações entre o número de fibroblastos
animais, possivelmente através do aumento da perme- intersticiais, o número de macrófagos também intersti-
abilidade glomerular.78 Em pacientes pediátricos, Cho ciais e a excreção urinária de MCP-1/CCL2 na DRC.87
et al. detectaram níveis séricos e urinários aumenta- Existem inúmeras evidências do papel desta quimiocina
dos de IL-8/CXCL8 em portadores de síndrome ne- na DRC de diversas etiologias.88-90
frótica por lesão mínima em recidiva.79 Similarmente, Em ratos com obstrução ureteral unilateral, a excre-
Souto et al. mostraram uma correlação positiva entre ção urinária de MCP-1/CCL2 está aumentada e corre-
a excreção de IL-8/CXCL8 e de proteína na urina de laciona-se ao grau de obstrução.88 A presença de depo-
crianças com síndrome nefrótica primária.70 sição de colágeno dos tipos III e IV na região mesangial
TNF-α – O TNF-α é uma citocina pró-inflamatória e a infiltração intersticial de monócitos/macrófagos em
cuja produção é estimulada pela Ang II e associa-se à fi- modelo experimental de uropatia obstrutiva indicam o
brose intersticial pela diferenciação de miofibroblastos e papel de MCP-1/CCL2 em sua fisiopatologia.57
ativação do NF-κB.9,39 Em modelo experimental de glo- Estudos também corroboram a ação da quimiocina
merulopatia crescêntica, tanto a deficiência genética de MCP-1/CCL2, induzida por TGF-β, na deposição de
TNF-α quanto a inibição farmacológica dessa citocina matriz extracelular e na proteinúria de pacientes porta-
atenuam o desenvolvimento das lesões glomerulares.80 dores de alterações glomerulares, tais como a síndrome
Em crianças com síndrome nefrótica por lesões mínimas nefrótica córtico-resistente e a nefropatia diabética.11,51,52
observou-se também aumento da excreção urinária de No fluido inicial coletado do túbulo proximal de ratos
TNF-α.79 diabéticos, observou-se aumento da liberação de MCP-1/
TGF-β – Os TGF-β pertencem à superfamília CCL2 que foi bloqueado por anticorpos anti-TGF-β.92
TGF-β composta por três isoformas homólogas, TGF- Postula-se que a albuminúria ativa a expressão tubular
β1, TGF-β2 e TGF-β3, que são codificadas por dife- de quimiocinas no túbulo proximal através de meca-
rentes genes. O TGF-β1 é a isoforma predominante- nismo dependente de NF-κB.93,94 Wang et al. também
mente expressa pelo sistema imunológico.39,81 Yu et sugeriram papel da albuminúria após evidenciarem pro-
al. demonstraram efeitos fibrogênicos de todas as três dução de MCP-1/CCL2 por células tubulares.94 Alguns
isoformas do TGF-β sobre as células renais, porém o estudos têm indicado que o bloqueio do MCP-1/CCL2

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Citocinas na doença renal crônica

atenua a nefrite intersticial, a lesão tubular e a fibrose de doença em modelos animais.97 Tal achado é corro-
induzidas pela proteinúria.95 Além disso, animais com borado pelos estudos realizados em pacientes com ne-
ablação genética do receptor CCR2 para MCP-1/CCL2 frite lúpica.98-100 Os níveis urinários de MCP-1/CCL2
apresentaram menor elevação dos níveis pressóricos e em pacientes com nefrite lúpica encontravam-se mar-
menos lesão renal induzidas pela infusão de Ang II.96 cadamente elevados e relacionados com sua expressão
Níveis urinários de MCP-1/CCL2 estão aumentados intrarrenal.98-100 O artigo de revisão de Li et al. sugere
em diabéticos tipo 2 quando comparados à população que o MCP-1/CCL2 urinário possa ser considerado
geral, e este aumento mostrou-se progressivo conside- um biomarcador da nefrite lúpica por apresentar-se
rando-se os estágios de nefropatia.11 Nas doenças glo- significativamente elevado nos pacientes com acome-
merulares, houve redução de macrófagos e dos os níveis timento renal.74 Nesse contexto, Rovin et al. sugerem
urinários de MCP-1/CCL2 durante a fase de remissão que o MCP-1/CCL2 urinário possa ser um biomar-
induzida por corticóide.87 O MCP-1/CCL2 mostrou-se cador em pacientes com lúpus, independentemente
também elevado na fase crônica da nefropatia por IgA da presença de comprometimento renal e do uso de
na qual ocorre proliferação mesangial e infiltração celu- imunossupressão.89
lar intersticial.76 As Tabelas 1 e 2 resumem os resultados obtidos
Em relação às doenças autoimunes, a deficiência de em estudos experimentais e clínicos que dosaram ci-
MCP-1/CCL2 e de seu receptor atenua a manifestação tocinas e quimiocinas em doenças renais.

Tabela 1 Resumo dos principais estudos experimentais sobre citocinas e quimiocinas na doença renal crônica
Autor Modelo Citocina Resultado principal
Antagonista de receptor de IL-1 inibiu a formação de crescentes
Lan et al.64 Animal IL-1
glomerulares
Antagonista de receptor de IL-1 promoveu melhora da glomerulonefrite
Tang et al.65 Animal IL-1
anti-membrana basal glomerular
Presença de proteinúria estimulou a produção de MCP-1 por células
Wang et al.94 In vitro MCP-1
tubulares
Células renais intrínsecas foram a principal fonte de IL-1 em rins
Tesch et al.68 In vitro IL-1
normais e rins com glomerulonefrite
Border et al.63 Animal TGF-β1 Anticorpo contra o TGF-β1 suprime a glomerulonefrite experimental
Antagonista de receptor de IL-1 inibe a progressão de glomerulonefrite
Lan et al.61 Animal IL-1
crescêntica
Camundongos com ablação genética do receptor AT1 da Ang II
Hisada et al.48 Animal MCP-1
possuem menor expressão de MCP-1
Bloqueio do SRA com iECA ou com BRA reduz a expressão de MCP-1
Kato et al.49 Animal MCP-1
em modelo animal de diabetes mellitus
MCP-1,TGF- Aumento do RNA mensageiro para MCP-1, IL-1, TGF-β1 e TNF-α no rim
Taal et al.47 Animal
β1,IL-1,TNF-α remanescente de animais submetidos à nefrectomia subtotal
Donadelli et
Animal MCP-1/NF-kB Proteinúria estimula a lesão renal dependente de MCP-1 e NF-kB
al.93
Wang e TGF-β1 ultrafiltrado contribui para fibrose intersticial na nefropatia
In vitro TGF-β1
Hirschberg92 diabética experimental
Stephan et Níveis urinários e expressão do RNA mensageiro para MCP-1 como
Animal MCP-1
al.88 indicadores do grau de atrofia na obstrução ureteral parcial
TGF-β1, TGF-β1 induz a produção de MCP-1 e IL-8 em células de túbulo renal
Qi et al.91 In vitro
MCP-1, IL-8 proximal
Animais com ablação genética do receptor CCR2 para MCP-1
Liao et al.96 Animal MCP-1
apresentaram menos hipertensão e lesão renal induzida por Ang II
Tratamento com o antioxidante tempol reduziu os níveis urinários de
Knight et al.43 Animal MCP-1
MCP-1 em modelo animal de obesidade e hipertensão
Ang II – angiotensina II; iECA – inibidor da enzima conversora de angiotensina; SRA – sistema renina angiotensina; BRA – bloqueador de
receptor AT1 da angiotensina II

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Citocinas na doença renal crônica

Tabela 2 Resumo dos principais estudos clínicos sobre citocinas e quimiocinas na doença renal crônica
Faixa
Autor Ref n etária Citocina Resultado principal
(anos)
Noronha et al.62 62 22 10 – 74 TNF-α/IL-1 Produção no tecido renal de TNF-α e IL-1 em pacientes com
glomerulopatia ANCA-positiva
Wada et al.69 69 96 4 – 82 IL-8 Aumento da excreção urinária de IL-8 e de sua imuno-
histoquímica renal na doença glomerular ativa
Norris et al.100 100 48 Adultos MCP-1 Aumento da excreção urinária de MCP-1 em pacientes com
nefrite lúpica
Yamamoto et al.83 83 53 Adultos TGF-β1/ Aumento da expressão renal do TGF-β1 e do PAI-1 em
PAI-1 glomerulopatias humanas
Wada et al.98 98 42 Adultos MCP-1 Correlação entre os níveis urinários de MCP-1 e a atividade da
nefrite lúpica
Honkanen et al.66 66 64 25 – 69 TGF-β1 Aumento da expressão do RNA mensageiro para o TGF-β1 na
glomerulopatia membranosa humana
Rivarola et al.85 85 23 19 – 57 TGF-β1 Relação entre a atividade do TGF-β1 na urina de pacientes
com diabetes tipo 2 e nefropatia diabética
Yokoyama et al.76 76 49 16 – 70 MCP-1/ Aumento dos níveis urinários de MCP-1 e IL-8 de acordo com
IL-8 a atividade e as fases da nefropatia por IgA
Tsai et al.75 75 27 Adultos IL-6/IL-8 Aumento da excreção urinária de IL-6 e IL-8 em pacientes com
nefrite lúpica em atividade
Huang et al.77 77 27 19 – 55 IL-8 Associação entre o aumento dos níveis urinários de IL-8 e a
atividade da nefropatia por IgA
Tashiro et al.11 11 24 Adultos MCP-1/ Aumento dos níveis urinários de MCP-1 e IL-8 em pacientes
IL-8 com nefropatia diabética
Goumenos et al.82 82 25 51 ± 16 TGF-β1 Aumento da expressão do TGF-β1 no tecido renal de
pacientes com doença glomerular e proteinúria
Strehlau et al.84 84 53 Crianças TGF-β1 Aumento da transcrição renal do TGF-β1 em crianças com
glomerulosclerose focal e segmentar
Panichi et al.37 37 103 50 ± 6,3 IL-6 Relação entre níveis elevados de IL-6 e redução da função
renal na DRC pré-dialítica
Amann, Tinzmann 51 22 62,4 ± 10,9 MCP-1 Melhora da nefropatia diabética com uso de iECA em
e Angelkort51 decorrência de inibição de MCP-1 no tecido renal
Agarwal52 52 16 53 ± 9 MCP-1 Efeito renoprotetor dos BRA na nefropatia diabética por meio
de redução dos níveis urinários de MCP-1
August e 50 98 Adultos TGF-β1 Detecção de níveis urinários mais elevados de TGF-β1 em
Suthanthiran50 pacientes afro-americanos com DRC terminal comparados
aos pacientes brancos também com DRC terminal
Cho et al.79 79 19 2 – 15 IL-8/TNF-α Aumento dos níveis urinários de IL-8 e TNF-α na síndrome
nefrótica por lesões mínimas
Tucci et al.99 99 134 Adultos MCP-1 Associação de polimorfismo funcional em promotor do gene
do MCP-1 com a nefrite lúpica
Rovin et al.89 89 33 Adultos MCP-1/ Aumento dos níveis urinários de MCP-1 e IL-8 na nefrite lúpica
IL-8 em atividade
Grenda et al.38 38 303 11,5 ± 3,9 TGF-β1 Aumento da excreção urinária de TGF-β1 na DRC estágios II-IV
Eardley et al.87 87 110 20 – 87 MCP-1 Correlação entre níveis urinários de MCP-1 e relação
proteína:creatinina e piora da função renal na DRC
Souto et al.70 70 32 Crianças TGF-β1/ Correlação entre os níveis urinários de IL-8 e a proteinúria de
IL-8 24 h em crianças com síndrome nefrótica primária
Choudhary e 36 60 Adultos IL-6 Níveis circulantes de IL-6 se correlacionaram com proteinúria,
Ahlawat36 com os níveis de proteína C reativa e com o descontrole
glicêmico na nefropatia diabética
Stangou et al.90 90 33 18 – 65 MCP-1/ Níveis urinários de MCP-1 e IL-6 foram preditores da evolução
IL-6 na nefropatia por IgA
Vasconcelos et al.86 86 100 Crianças TGF-β1/ Aumento do TGF-β1 urinário em crianças com malformações
congênitas do trato urinário com captação renal reduzida na
IL-6/TNF- α
cintilografia renal estática
DRC – doença renal crônica; IgA – imunoglobulina A; PAI-1 – inibidor da ativação do plasminogênio-1; BRA – bloqueador de receptor
AT1 da angiotensina, n – número de casos estudados

360 J Bras Nefrol 2011;33(3):351-364


Citocinas na doença renal crônica

Conclusão 13. Zimmermann J, Herrlinger S, Pruy A, Metzger T,


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se impõem. Nesse contexto, a pesquisa de biomarca- 14. Nascimento MM, Pecoits-Filho R, Lindholm B, Riella
MC, Stenvinkel P. Inflammation, malnutrition and
dores tem assumido grande importância. Diante das atherosclerosis in end-stage renal disease: a global
evidências clínicas e experimentais, é incontestável o perspective. Blood Purif 2002;20:454-8.
papel da inflamação na DRC. Dessa forma, é funda- 15. Stenvinkel P, Carrero JJ, Axelsson J, Lindholm B,
mental o entendimento dos efeitos de quimiocinas e Heimbürger O, Massy Z. Emerging biomarkers for
evaluating cardiovascular risk in the chronic kidney
citocinas na instalação e progressão da lesão renal,
disease patient: how do new pieces fit into the uremic
tendo em vista a possibilidade de definir novos mar- puzzle? Clin J Am Soc Nephrol 2008;3:505-21.
cadores prognósticos e, talvez até, alvos terapêuticos 16. Cheung AK, Sarnak MJ, Yan G, Dwyer JT, Heyka
alternativos e mais eficientes. No entanto, apesar de RJ, Rocco MV, et al. Atherosclerotic cardiovascular
grande avanço no conhecimento dos mecanismos disease risks in chronic hemodialysis patients. Kidney
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fisiopatológicos que relacionam a resposta imuno- 17. Cheung WW, Paik KH, Mak RH. Inflammation and
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