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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA – UNISUL

PROFº: Me. Jairo Balsini

Equipe: Bruna Alves de Souza, Thainá de Aguiar Martins, Lairi Nandi Modolon, Débora S.
Patel, Isadora S. R. Leite, Isadora dos Santos, Pedro Antonio Machado da Silva, Flávio Silva,
Gislane Rosa, Diego Agostinho, Diego Ribeiro, Agata Cardoso, Gabriel Cardoso, Kainã
Silva, Pedro Lucas Hawerroth, Anna Karla Hendges Müller, Samira Nagel, Melanie Militão,
Alice Glyniadakis, Rebeca B. Souza.

CLÍNICA MÉDICA DE CÃES E GATOS

Tubarão, 12 de Abril de 2023


Fisiopatologia:
Após a inalação, a partícula viral alcança o epitélio do trato respiratório superior em
24 horas iniciando a multiplicação nos macrófagos teciduais, o que leva a uma infecção
inicial das tonsilas palatinas e dos linfonodos bronquiais. Entre o segundo e o quarto dia de
infecção, por meio de macrófagos e linfócitos infectados, o vírus se espalha para outros
órgãos linfoides, como o baço, o timo, retrofaríngeos linfonodos e medula óssea.
Entre o sétimo e o décimo quarto dia, o animal pode produzir uma resposta humoral e celular
e se recuperar sem maiores transtornos, dependendo de sua condição imune e da cepa
envolvida. Animais com imunidade comprometida irão desenvolver a doença, causando a
disseminação do vírus por todo o trato digestório, respiratório e nervoso central.
Há variações na severidade e localização das lesões no Sistema Nervoso Central. A infecção
pode ser fatal em poucos dias, evoluir durante semanas e tornar-se letal, ou se estabilizar sem
implicação maior.
Aparentemente, as estirpes virais que induzem a doença de curso agudo fatal se
substância cinzenta e determinam destruição neuronal, resultando em encefalomalacia. Já as
que causam a doença crônica geram lesões que tendem a se localizar na substância branca,
promovendo a desmielinizacão.
Estudos sobre a patogenia da infecção pelo Centro de diagnóstico veterinário no SNC
consideram dois estágios de desenvolvimento da desmielinização, um agudo e outro crônico.
A desmielinização inicial ocorre em torno da terceira semana pós infecção e não tem a
participação de resposta imune inflamatória, presente no estágio crônico da infecção.

Neuropatogenia

Os mecanismos de neuroinvasão do VCC

O VCC geralmente é transmitido por aerossol para o trato respiratório superior, se


replica em tecidos linfóides e afeta células de defesa imunológica. Alguns cães se recuperam
da infecção, outros animais podem desenvolver comprometimentos mais graves, havendo
disseminação para os tecidos epiteliais e para o SNC.
A entrada do VCC no SNC ocorre predominantemente por meio da via hematogênica,
havendo a infecção das células ependimárias e subependimárias, através do líquido
cefalorraquidiano. O VCC atinge as células da meninge e pode ser detectado nos capilares do
SNC e endotélio venoso em 5 a 6 dias após infecção cerebral. O VCC infecta o plexo coróide
e se dissemina para a substância branca em 10 dias após a infecção, com o vírus atingindo
primeiro a substância cinzenta e posteriormente a substância branca.

Estágio agudo da infecção neurológica da cinomose

No estágio agudo da infecção, uma grande quantidade de células CD8 + estão


presentes em lesões desmielinizantes agudas no parênquima cerebral, causadas pela atividade
do VCC. A ativação de células da microglia (constituem as células imunes do SNC), podem
induzir a proliferação de células T, no SNC, desse modo, as células CD8 estão presentes nas
lesões desmielinizantes no parênquima cerebral e no liquor.

A atividade viral causa lesões na substância branca e na cinzenta podendo ocorrer


necrose, resultando em polioencefalomalacia. As lesões na substância branca geram a
desmielinização, na substância cinzenta ocorre a infecção neuronal e necrose do tecido
nervoso. A reatividade astrocítica ocorre junto com a presença de inclusões citoplasmáticas e
nucleares. A diminuição da síntese de mielina, ativação de células da microglia e disfunção
metabólica em oligodendrócitos infectados pelo VCC, contribuem nas lesões agudas no SNC.

As lesões iniciais causadas pelo VCC no estágio agudo da doença, durante o período
de imunossupressão grave, são a desmielinização induzida pelo Morbillivirus, ocorre durante
o processo de replicação do VCC nas células gliais da substância branca.

Por sua vez as células infectadas são astrócitos e oligodendrócitos (células produtoras
de mielina). A infecção aguda da substândia branca por VCC interfere em alterações
metabólicas em oligodendrócitos, favorecendo a desmielinização. Outros danos na mielina
são causados por fatores tóxicos, liberados por células da microglia. As lesões agudas são
caracterizadas por vacuolização, havendo edema nas bainhas de mielina e hipercelularidade
da substância branca em astrócitos e células da microglia. É observado nesta fase, os corpos
de inclusão eosinofílicos intranucleares e/ou intracitoplasmáticos junto a uma leve
diminuição da densidade da bainha de mielina por causa da vacuolização do neurópilo.

Na fase aguda da cinomose, as lesões na substância branca, ativação de células


microgliais, progressão da reação imune e a desmielinização somadas a uma modulação
associada à doença da neurogênese hipocampal resultam em convulsões sintomáticas e / ou
epilepsia crônica nos cães acometidos, além disso, os cães podem desenvolver edema
cerebral em decorrência da infecção (encefalite aguda).
Estágio crônico da infecção neurológica da cinomose

As lesões crônicas ocorrem entre 29 a 63 dias do início da infecção pelo VCC e


apresentam desmielinização e inflamações linfo-histiocíticas nos espaços perivasculares,
além de perda progressiva de reatividade em processos oligodendrogliais em lesões por VCC
e perda significativa da bainha de mielina (substância rica em gordura que envolve os axônios
de alguns neurônios). Os mecanismos imunomediados, anticorpos anti-mielina, formação de
imunocomplexos e persistência da infecção pelo VCC contribuem para a desmielinização
crônica. As infecções crônicas apresentam malácia, redução de gemistócitos e de astrócitos,
gliose, inflamação severa, infiltrado e manguitos perivasculares compostos de linfócitos e
células plasmáticas, além de desmielinização focal, geralmente os cães mais idosos
apresentam maiores chances de desenvolver uma inflamação diretamente no cérebro
(encefalite crônica).

Ao ocorrer a infiltração do vírus, uma hipersensibilidade tardia mediada por CD4 + e


células T CD8 + citotóxicas, favorece a perda de mielina na fase crônica. As áreas de necrose
liquefativa estão presentes em áreas de desmielinização com forte presença de astrócitos
gemistocíticos e perivasculares, indicando que a infecção se tornou crônica. Estas células
expressaram MIF, MMP-9, GFAP e MHC-II.

As lesões crônicas apresentam uma desmielinização severa, podendo haver


preservação dos axônios ou lesões com necrose da bainha de mielina. Observa-se nessas
lesões um infiltrado perivascular de células mononucleares com proeminência de 29
macrófagos e mudanças astrogliais.

A persistência viral no SNC induz mecanismos imunomediados na fase crônica com


leucoencefalomielite marcante. Os fatores que favorecem a persistência incluem infecção não
citolítica e pouca disseminação do VCC pela limitação de expor o antígeno viral ao sistema
imunológico local.

Mioclonia:
Mioclonia é uma condição no qual um músculo ou mais grupos musculares, se
contraem de maneira grossa, repetitiva, involuntária e rítmica. Essas contrações anormais
ocorrem devido à disfunção nervosa e geralmente afetam grupos de músculos envolvidos na
mastigação e/ou em qualquer músculo esquelético dos membros, quando muito intensa, gera
redução drástica da qualidade de vida do paciente, com quadros muito dolorosos. A
mioclonia em si não é uma doença passível de transmissão, pois trata-se de uma alteração
neurológica em consequência de uma causa primária. Alguns estudos sugeriram que lesões
focais na substância cinzenta da medula espinhal, podem ocorrer as mioclonias do pescoço,
tronco e membros que foram geradas por lesões no neurônio motor inferior. Outra sugestão
seria que as lesões nos núcleos basais podem gerar a mioclonia e funcionar como um
marca-passo na medula espinhal ou tronco encefálico (para as mioclonias localizadas na
cabeça), mantendo o movimento muscular. Durante o sono a mioclonia continua presente.
Já na cinomose, a mioclonia pode ocorrer durante a fase aguda da doença, e normalmente
está relacionada a lesão nos núcleos basais, porém é observada com mais frequência na fase
crônica, e está relacionada com a hiperexcitabilidade dos neurônios motores inferiores.
Através de estudos foi possível observar que as mioclonias dos músculos temporais estejam
relacionadas com lesões no nervo trigêmeo. Em um estudo foi relatado que as mioclonias
cessam com a estimulação elétrica do córtex motor frontal contralateral, pedúnculos
cerebelares e pirâmides. Porém, concluiu-se que o mecanismo das mioclonias na cinomose
ainda não é bem compreendido.

Tratamento

O tratamento de cinomose é sintomático e de suporte, consiste primeiramente no


isolamento do animal e fluidoterapia com Ringer Lactato. A paciente apresentava feridas na
pele e foi indicado a aplicação de neomicina, além de um antiviral: ribavirina 30mg/kg a cada
24 horas (SID) durante 15 dias. Uso de ampicilina 20mg/kg a cada 8 horas (TID) durante 7
dias como antimicrobiano para combater infecções oportunistas causadas por
imunossupressão. É indicado também tratamento com fisioterapia e acupuntura que estimula
os pontos reflexos e visa restabelecer o equilíbrio e age sobre o sistema nervoso autônomo e
sistema endócrino. Poderia ser utilizado como tratamento experimental o levodopa, um
medicamento antiparkinsónico que atua no cérebro onde é sintetizada e convertida em
dopamina, substância necessária para o movimento do corpo.

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