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Biofísica dos sistemas integradores

Prof. Romildo Nogueira

1. As células nervosas e musculares

Os elementos celulares do sistema nervoso são as células gliais e os neurônios. Embora


seja dada atenção quase exclusivamente aos neurônios, as células gliais existem em maior
número (são, numa estimativa grosseira, 1013 células gliais para 1012 neurônios).

As células gliais não conduzem potencial de ação nem formam sinapses funcionais com
outras células, embora possam ser polarizadas passivamente pela atividade neural adjacente.
As funções dessas células são complexas e não totalmente compreendidas. Em geral, fornecem
uma sustentação aos neurônios. É provável que as células gliais desempenhem funções
metabólicas e nutritivas. Essas células podem: contribuir na regulação do fluxo sanguíneo
cerebral; atuar como escoadouro (sink) ou fonte (source) de íons; isolar eletricamente os
axônios e as sinapses e fagocitar fragmentos neurais após lesão.

Um desses tipos de células, os oligodendrócitos, formam a bainha de mielina, ao se


enrolarem várias vezes em torno de um axônio. Essa bainha não apenas isola os axônios uns
dos outros, porém principalmente limita o fluxo de corrente através do axolema, exceto nos
nodos de Ranvier. Como a corrente flui efetivamente através da membrana apenas nos nodos
de Ranvier, o potencial de ação é conduzido em saltos. Essa condução é muita mais veloz do
que se não existisse a mielina. Os oligodendrócitos são encontrados sobretudo entre os axônios
mielinizados do cérebro e da medula espinhal. As células de Schwann formam as bainhas de
mielina, de maneira muito parecida, nos nervos periféricos.

Além dos oligodendrócitos existem mais quatro tipos de células gliais, são eles:
astrócitos; células ependimais; micróglia e células de Schwann. Os astrócitos, abundantes em
todo cérebro e medula espinhal, tem seus múltiplos prolongamentos circundando os neurônios
e seus axônios, e com freqüência, terminam nas paredes de vasos sanguíneos. É provável que
essas células desempenhem funções metabólicas e nutritivas para os neurônios, além de
formarem o arcabouço mecânico. Além disso, muitas sinapses são envolvidas por
prolongamentos astrocitários que separam e, talvez, isolem eletricamente as sinapses uma das
outras. As células ependimais revestem as superfícies dos ventrículos cerebrais e o canal da
medula espinhal, mas sua função não é bem conhecida. As micróglias, atuam fagocitando e
eliminando fragmentos do tecido cerebral quando lesado.

Os neurônios são as células responsáveis pelo processamento e transmissão de


informação no sistema nervoso. Com a exceção de determinados interneurônios que não tem
axônios longos, os neurônios possuem axônios que conduzem potenciais de ação por distâncias
consideráveis. Os neurônios se comunicam entre si por meio de sinapses.

Um neurônio típico é composto de: soma (ou corpo celular), prolongamentos dendríticos
e do axônio. O corpo celular é a “usina” metabólica do neurônio. Muitos dendritos brotam do
soma, porém apenas um axônio sai dele. A bainha de mielina, quando existente, começa perto
do soma, logo após o cone axônico. No final do axônio a bainha de mielina termina e se
originam ramos desmielinizados que vão formar sinapses com outros neurônios, fibras
musculares, etc. Em alguns neurônios, o soma e os dendritos e, possivelmente, as porções pré-
terminais do axônio não são excitáveis eletricamente. Nesses casos, a excitabilidade elétrica e a
capacidade de propagar potencial de ação são propriedades limitadas ao axônio. Os dendritos
e o soma comportam-se como cabos elétricos passivos, caracterizados pela baixa resistência do
axoplasma e meio extracelular e pelo circuito RC de membrana, onde R é a alta resistência da
membrana e C a sua capacitância.

Nesses neurônios, as sinapses aferentes mesmo quando ocorre em dendritos mais periféricos
não distam mais que uma constante de espaço do segmento inicial do axônio, e desta forma
todas as sinapses podem influenciar a freqüência da atividade da célula pós-sináptica. Assim,
os potencias eletrotônicos excitatórios (PPSEs) e inibitórios (PPSIs) ao se propagarem, e
serem somados algebricamente no segmento inicial do axônio, podem (ou não) (dependendo
desse estimulo ser (ou não) supralimiar) disparar no axônio um potencial de ação. Embora o
potencial de ação, possivelmente, cesse antes de invadir os ramos axônicos pré-terminais, a
despolarização resultante desloca-se eletrotonicamente para as sinapses, onde vai liberar o
transmissor.

Em muitos neurônios soma e dendritos sofrem alterações de condutância dependentes de


voltagem a íons específicos, e isso representa uma reação ativa e não–linear aos sinais
elétricos, bastante diferentes da reação passiva e linear de um cabo passivo. Da mesma forma,
tem-se percebido que nem toda transferência de informações entre as sinapses e o segmento
inicial do axônio precisa ser conduzida de forma eletrotônica.

O músculo

A contração muscular é o mais familiar e o mais conhecido de todos os tipos de movimento


dos animais. Nos vertebrados, por exemplo, movimentos como correr, caminhar, nadar e
voar, dependem da contração rápida da musculatura esquelética sobre o seu suporte ósseo.
Movimentos voluntários, tais como batimento cardíaco e peristaltismo intestinal, por outro
lado, dependem, respectivamente, da contração da musculatura cardíaca e lisa.
As fibras musculares longas e finas da musculatura esquelética são células gigantes formadas,
durante o desenvolvimento, pela fusão de muitas células isoladas. Todos os núcleos foram
mantidos logo abaixo da membrana plasmática. A massa do citoplasma (dois terços do peso
seco da célula) é formado por miofibrilas, que são os elementos contráteis da célula muscular.
São estruturas cilíndricas com 1 a 2 m de diâmetro, tendo, freqüentemente, o mesmo
comprimento da célula.

Cada miofibrila consiste de uma cadeia de unidades contráteis finas, ou sarcômeros, cada um
com 2,2 m de comprimento, o que confere a aparência estriada as miofibrilas dos
vertebrados. Em cada sarcômero pode ser vista, em maior aumento, uma série de bandas
largas claras e escuras; uma linha densa no centro de cada banda clara separa um sarcômero
do seguinte, sendo conhecida como linha Z ou disco Z.

Cada sarcômero compreende uma unidade altamente organizada, de filamentos paralelos e


parcialmente sobrepostos. Os filamentos finos, compostos por actina com proteínas
associadas, estão ligadas ao disco Z nas duas extremidades do sarcômero, estendendo-se até a
sua parte mediana, onde se sobrepõem aos filamentos grossos, formados por isoformas
musculares específicas de miosina-II. Um corte transversal da região de sobreposição (em
microscopia eletrônica) mostra que os filamentos de miosina estão organizados numa trama
regular hexagonal, com filamentos de actina distribuídos regularmente entre eles.

A contração acontece quando os filamentos de actina e de miosina deslizam uns pelos outros.

O encurtamento do sarcômero é resultante do deslizamento dos filamentos de miosina pelos


filamentos de actina sem mudança no seu comprimento. Neste modelo do filamento deslizante
quando o músculo se contrai, os filamentos de actina e de miosina são puxados uns sobre os
outros pelas pontes transversais (cabeças de miosinas) que atuam ciclicamente, como uma
série de finos remos.

Energeticamente, a contração muscular é dirigida pela interação entre as cabeças de


miosina_II e os filamentos de actina adjacentes, e isto ocorre com a hidrólise do ATP. Esta
hidrolise seguida da dissociação dos seus produtos (ADP e Pi) produz uma série ordenada de
alterações alostéricas na conformação da miosina. Como resultado, parte da energia liberada
é acoplada a produção de movimento.

Além do músculo esquelético, dois outros estão presentes nos vertebrados, são eles os
músculos cardíaco e liso. O músculo cardíaco tem uma alta atividade contrátil, contraindo-se
cerca de 3 bilhões de vezes durante uma vida média humana e, o músculo liso, produz as
contrações lentas e prolongadas características de órgãos como os intestinos. Os mecanismos
moleculares envolvidos nas contrações desses três diferentes músculos são semelhantes, em
todos eles a contração ocorre devido ao deslizamento dos filamentos de actina sobre os da
miosina-II.

As células do músculo cardíaco, ao contrário do esquelético, não são sinciciais, possuindo


núcleos individuais. São unidas pelas extremidades por meio de estruturas especiais chamadas
discos intercalares, que possuem, pelo menos três funções: (1) Unem as células adjacentes
pelos desmossomos. (2) Conectam os filamentos de actina das miofibrilas de células adjacentes
(realizando uma função análoga a dos discos Z). (3) Contém junções espaçadas que permitem
a propagação rápida do potencial de ação de uma célula para seguinte, sincronizando as
contrações do músculo cardíaco.
O músculo liso forma as partes contráteis do estômago, do intestino, do útero, das paredes
das artérias e de muitas outras estruturas nas quais é necessária uma contração lenta e
mantida. Esse músculo é formado por camadas de células mononucleadas, bastante alongadas
e em forma de fuso. As células contêm filamentos de actina e miosina-II, mas estes não estão
estruturados de acordo com o padrão ordenado encontrado nos músculos estriados e não
formam miofibrilas características. Ao invés disso, os filamentos formam uma maquinaria
contrátil com uma estrutura mais frouxa, mais ou menos alinhada com o eixo mais longo da
célula. Essa estrutura contrátil fixa-se obliquamente a membrana plasmática por junções
semelhantes a discos que conectam células adjacentes.

2. Geração e condução da informação elétrica nas células nervosas: os potenciais


eletrotônico e de ação.

Uma característica encontrada no sistema nervoso das diferentes espécies animais é a


sua capacidade de conduzir informação com rapidez e eficiência. No homem, por exemplo, o
sistema nervoso funciona como uma rede de comunicação entre o sistema nervoso central e
as várias partes do organismo. Estas informações são codificadas, através da modulação em
freqüência de um sinal elétrico que é o impulso nervoso propagado. Este sinal propagado no
nervo se caracteriza do ponto de vista elétrico por uma abrupta alteração do potencial de
repouso celular. Esta alteração rápida do potencial transmembrana é denominado de
potencial de ação e as correntes iônicas transmembrana que dão origem a esta variação do
potencial são as correntes de ação.

As formas de potenciais de ação encontradas nos diferentes tecidos excitáveis


(motoneurônio e músculos esquelético e cardíaco), podem ser registrados com
microeletródios intracelulares.

Os eventos que iniciam um potencial de ação nas células excitáveis são denominados de
estímulos. Estes estímulos podem ser de origem elétrica, hormonal, térmica, mecânica,
eletromagnética, química e outros. Contudo, seja qual for a origem dos estímulos, todos eles
sofrem um processo de transdução nos receptores para um sinal elétrico. Este sinal elétrico
é o agente responsável pelo disparo da atividade elétrica nos tecidos excitáveis. Assim,
estímulos que são capazes de disparar potenciais de ação propagados são aqueles cuja
intensidade e duração estão acima de um certo valor denominado de limiar de
excitabilidade celular. Os estímulos com essas características são denominados de estímulos
supralimiar e aqueles com intensidade e duração insuficientes para produzir um potencial
de ação são denominados de sublimiares.
O limiar de excitabilidade permite a célula funcionar como um discriminador de sinal
elétrico. Assim, apenas estímulos com intensidade e duração que permitam disparar um
potencial de ação produzem transferência de informação nas células excitáveis.

Os estímulos sublimiares apesar de não iniciar um potencial de ação induzem alterações


no potencial de membrana que são denominados de respostas locais ou sublimiares. Estas
respostas elétricas locais, denominadas eletrotônicas, são dependentes da intensidade do
estímulo que a gerou e depende das propriedades resistiva e capacitiva da membrana e
resistiva do fluido celular. Este tipo de resposta- que é uma propriedade das células em geral
e não unicamente daquelas que são excitáveis- se atenuam à medida que se propaga ao longo
de uma fibra de maneira semelhante a um cabo elétrico, e daí a denominação de
propriedades de cabo das células.

O potencial de ação, ao contrário, é do tipo “tudo ou nada”, isto quer dizer que o
estímulo ou é suficiente para atingir o limiar de excitabilidade e disparar um potencial de
ação que se propaga ao longo da fibra excitável sem variação da forma de onda e com
velocidade constante (tudo) ou então o estímulo é sublimiar e neste caso, não dispara um
potencial de ação (nada).

A codificação da intensidade e duração do estímulo supralimiar é realizada através do


intervalo de tempo entre os potenciais de ação, uma vez que os potenciais de ação têm
amplitude constante. Assim, a transferência de informação no sistema nervoso se faz por
modulação em freqüência e não em amplitude.

Os receptores, por sua vez, funcionam como transdutores de amplitude para freqüência.

Os estímulos sublimiares apesar de não produzirem potenciais de ação podem sofrer


somação com um outro estímulo sublimiar e atingir o limiar de excitabilidade da célula e,
com isto, disparar um potencial de ação.

Uma característica interessante das células excitáveis é a sua incapacidade de


responder a novos estímulos durante a fase inicial do potencial de ação. O intervalo de
tempo no qual este fenômeno ocorre, é denominado de período refratário absoluto. Após
este período, um potencial de ação pode ser deflagrado,porém em resposta a estímulos
muito intensos. Este período é denominado de período refratário relativo.

Quais os íons responsáveis pelo fenômeno do potencial de ação?


Durante a fase inicial do potencial de ação, denominada de despolarização, são
observados primeiro um aumento da permeabilidade da membrana ao íon sódio e
posteriormente uma redução desse parâmetro. Desta forma, o fenômeno do ponto de vista
iônico, caracteriza-se pelo fluxo rápido de sódio para o interior da célula. Esta corrente de
sódio para o interior celular ocorre através de canais iônicos dependentes de voltagem, que
se encontram na membrana plasmática e são conhecidos como canais de sódio. Uma
característica desses canais é que eles são ativados e posteriormente inativados durante o
processo de despolarização da célula. O resultado final desse processo é uma mudança de
polaridade através da membrana.

A fase final do potencial de ação , denominada de repolarização, é caracterizada pelo


retorno do potencial transmembrana ao seu valor de repouso. Isto ocorre devido ao aumento
da permeabilidade da membrana ao íon potássio. Este aumento da permeabilidade ao
potássio ocorre devido à abertura de canais de potássio dependentes de voltagem na
membrana plasmática. Através dessas vias a corrente de potássio repolariza a membrana.
Esta corrente de potássio para o exterior da célula cessa devido o fechamento dos canais de
potássio em valores de voltagem próximos ao potencial de repouso.

Um modelo para o controle da permeabilidade através de vias especializadas na


membrana para o transporte dos íons sódio e potássio foi proposta por Hodgkin &
Huxley, em 1952. Neste modelo os autores sugeriram que partículas n, m e h controlariam a
condutância da membrana aos íons sódio e potássio. Assim, no caso da condutância ao
potássio a partícula carregada n sentiria a voltagem da membrana e se deslocaria de uma
posição a outra do canal, permitindo a sua abertura.

Quanto à condutância ao íon sódio, pode-se imaginar que a partícula m, ao sentir


voltagem , desloca-se no interior da membrana e abre uma via condutiva ao íon sódio. A
partícula de inativação h também sensível à voltagem , ao contrário, age inativando os
canais de sódio e inibindo a passagem deste íon através da via hidrofílica.

A inativação do canal só ocorre depois de passado um intervalo de tempo em relação a


sua ativação. Isto se deve ao fato de que as partículas h apesar de também sentirem
voltagem, se movem mais lentamente que as partículas de ativação m.
Transporte de íons de Potássio Transporte de íons de
Sódio

Estes dois processos atuando, simultaneamente, na membrana permitem o aumento


abrupto da sua condutância, seguido de um decréscimo para um valor igual aquele que a
membrana tinha em repouso, como observado durante o fenômeno do potencial de ação.

O potencial de ação se propaga como uma onda que se desloca com velocidade constante a
partir do local do estímulo para as regiões adjacentes da membrana. Isto ocorre porque no
local do estímulo, gera-se uma despolarização e, em virtude da diferença de potencial entre
este ponto e os pontos adjacentes da membrana, ocorrem fluxos de íons que vão despolarizar
aquelas regiões. Além dessas correntes longitudinais, tem-se a corrente através da
membrana, fechando o circuito que denominamos de “circuitos locais de corrente”.

3. Transmissão sináptica

A sinapse é o local onde um impulso é transmitido de uma célula a outra. Há dois tipos
de sinapse: elétrica e química. Na sinapse elétrica as células excitáveis se comunicam
através da passagem direta da corrente elétrica entre elas e essa é a transmissão
eletrotônica. As junções abertas (gap junctions) ligam células acoplando-as eletricamente,
devido à presença, nessas junções, de vias de baixa resistência elétrica entre essas células.
Há poucos exemplos bem estudados de transmissão eletrotônica no sistema nervoso central
(SNC) de vertebrados.

Com maior freqüência, a informação é transferida entre as células excitáveis por meio
de sinapses químicas. Na sinapse química, um potencial de ação provoca a liberação de
substância transmissora pelo neurônio pré-sináptico. O transmissor se difunde, através da
fenda sináptica extracelular, e liga-se a receptores na membrana da célula pós-sináptica,
provocando alteração de suas propriedades elétricas. A junção neuromuscular é uma
sinapse química de vertebrados que melhor se conhece. Por esta razão, será iniciado o
estudo das sinapses químicas pela junção neuromuscular.
Junções neuromusculares

As sinapses entre os axônios dos motoneurônios e as fibras musculares esqueléticas são


denominadas junções neuromusculares, junções mioneurais ou placa motora.

A estrutura da junção neuromuscular

Próximo à junção neuromuscular, o nervo motor perde sua bainha de mielina,


dividindo-se em delicados ramos terminais. Esses ramos terminais do axônio penetram nas
depressões sinápticas, na superfície das células musculares. A membrana plasmática da
célula muscular, que reveste a depressão, forma numerosas pregas juncionais. Nas
terminações axônicas encontram-se muitas vesículas sinápticas, com cerca de 400 A de
diâmetro, contendo acetilcolina. A terminação axônica e a célula muscular são separadas
por uma fenda sináptica.

As moléculas receptoras de acetilcolina concentram-se perto das aberturas das pregas


juncionais. A acetilcolinesterase (enzima que hidrolisa a acetilcolina) parece estar
distribuída, de modo regular, por toda a superfície externa da membrana pós-sináptica.

As etapas da transmissão neuromuscular:

1. O potencial de ação é conduzido pelo axônio motor em direção às terminações axônicas


pré-sinápticas.

2. Despolarização da membrana plasmática da terminação axônica pré-sináptica.

3. Aumento transitório da condutância aos íons cálcio e entrada de cálcio, ao longo do seu
gradiente eletroquímico, para dentro das terminações axônicas.

4. Influxo do íon cálcio faz com que as vesículas se fundam com a membrana plasmática e
liberem a acetilcolina para fenda sináptica por exocitose.

5. A acetilcolina se difunde através da fenda sináptica e combina-se com o receptor


colinérgico (uma proteína receptora específica para acetilcolina) na superfície externa
da membrana plasmática muscular da placa motora.

6. A combinação da acetilcolina ao seu receptor produz um aumento transitório da


condutância da membrana pós-juncional aos íons sódio e potássio.
7. As correntes iônicas (Na+ e K+) resultam em despolarização momentânea da região da
placa motora (potencial de placa motora - PPM). O PPM é transitório porque a atuação
da acetilcolina termina com a sua hidrólise em colina e acetato. A hidrólise é catalisada
pela enzima acetilcolinesterase, existente em altas concentrações na membrana pós-
juncional.

Como a transmissão do sinal elétrico para membrana pós-juncional induz a contração


muscular?

A membrana plasmática pós-juncional da junção neuromuscular não é excitável


eletricamente e não gera potencial de ação. Após a despolarização da placa motora, as
regiões adjacentes da membrana celular do músculo despolarizam-se por condução
eletrotônica. Quando essas regiões atingem seu limiar, são gerados potencias de ação na
célula muscular. Esses potenciais de ação propagam-se ao longo da fibra muscular, com
alta velocidade e promovem a contração das células musculares.

Na célula muscular o potencial de ação se espalha rapidamente por uma série de dobras
membranosas, denominadas de túbulos transversos ou Túbulos T. Esses túbulos T se
estendem da membrana plasmática para o interior do músculo envolvendo as miofibrilas.
O sinal elétrico ao chegar próximo ao retículo sarcoplasmático induz a abertura de canais
de cálcio no retículo. Esses canais são ativados, possivelmente, por acoplamento mecânico
entre proteínas sensíveis a voltagem do túbulo T e proteínas do retículo. A liberação de íons
cálcio do retículo induz a abertura de mais canais de cálcio amplificando a resposta. Essa
entrada de íons cálcio no citoplasma inicia a contração das miofibrilas.

Todas as miofibrilas se contraem ao mesmo tempo porque o sinal proveniente da


membrana plasmática da célula muscular é transmitido, para cada sarcômero, num
intervalo de milissegundos . O aumento da concentração de íon cálcio é transitória pois o
íon é recaptado para o retículo sarcoplasmático pela Ca ++-ATPase existente na membrana
do retículo. Em 30 milissegundos a concentração do íon cálcio alcança níveis de repouso e
as miofibrilas relaxam.

Qual o mecanismo pelo qual o íon cálcio induz a contração?


A dependência do Ca++ para a contração do músculo esquelético dos vertebrados e,
portanto sua dependência dos comandos motores transmitidos via nervos, é inteiramente
devida a um grupo de proteínas acessórias associadas aos filamentos de actina. Uma dessas
proteínas é a tropomiosina, uma molécula em formato de bastão, que se liga no sulco da
hélice de actina. Outra proteína acessória importante é a troponina, formada por um
complexo de três polipeptídios – troponinas T, I e C (assim denominadas devido a ligação a
Tropomiosina, atividade Inibitória e de ligação ao Cálcio). O complexo da troponina
apresenta uma forma alongada, na qual as subunidades C e I formam uma região globular
e a T, uma longa calda. A calda da troponina T liga-se a tropomiosina e, imagina-se que
seja a responsável pelo posicionamento do complexo no filamento fino. A troponina I liga-
se a actina e, em presença da troponina T e tropomiosina, forma um complexo que inibe a
interação da actina com a miosina, mesmo em presença de Ca++. A presença da troponina C
completa o complexo tornando-o sensível ao Ca++. A troponina C liga-se a quatro íons Ca++,
liberando, assim, a inibição da ligação da miosina a actina provocada pelos outros dois
componentes da troponina. Esta proteína está intimamente relacionada com a calmodulina,
que medeia as respostas dependentes de Ca++ em todas as células, inclusive a ativação da
miosina do músculo liso. A troponina C pode ser vista como uma forma especializada de
calmodulina que desenvolveu sítios para ligação permanente das troponinas T e I ,
assegurando com isso, uma resposta extremamente rápida da miofibrila a um aumento na
concentração do Ca++.

Em um filamento de actina existe somente um complexo de troponina para cada sete


monômeros de actina. Estudos estruturais sugerem que a ligação da troponina I com a
actina, num músculo em repouso, move a tropomiosina para uma posição sobre os
filamentos de actina que é aquela ocupada pela cabeça de miosina num músculo em
contração, porém mantem inibida a interação entre a actina e a miosina. Quando o nível de
Ca++ é aumentado, a troponina C promove a liberação da troponina I da actina,
permitindo, com isso, uma leve mudança de posição da tropomiosina, favorecendo a ligação
da cabeça da miosina ao filamento de actina.

Síntese e liberação da acetilcolina

Os motoneurônios sintetizam acetilcolina. A enzima colina-O-acetiltransferase do


motoneurônio catalisa a condensação de acetil coenzima A com colina. A acetil coenzima A
é produzida pelo neurônio, enquanto a colina, que não pode ser sintetizada por esse
neurônio motor, é captada ativamente do líquido extracelular.
A liberação quântica da acetilcolina

Mesmo quando o motoneurônio não é estimulado, pequenas despolarizações da célula


muscular pós - juncional ocorrem espontaneamente. Estas pequenas despolarizações
espontâneas são conhecidas como potenciais miniatura de placa motora (PMPM) e ocorrem
aleatoriamente, com freqüência média em torno de 1 Hz (1 / 1s). Cada PMPM despolariza
a membrana pós-juncional por apenas 0,4 mV em média, porém tem a mesma duração de
um PPM produzido por um potencial de ação na terminação nervosa. A freqüência dos
PMPM varia com o decorrer do tempo, porém suas amplitudes se mantem praticamente
constante. O PMPM é causado pela liberação, provavelmente, de apenas uma vesícula de
neurotransmissor na fenda sináptica.

É necessária a presença de Ca++ extracelular para a liberação de neurotransmissor.


Caso os níveis extracelulares de Ca++ sejam reduzidos , a amplitude do PPM produzido pela
estimulação do motoneurônio diminui bastante. Nessas condições, ocorrem variações
espontâneas da amplitude dos PPM produzidos por uma mesma estimulação. A amplitude
do PPM não varia de forma contínua, mas em pequenos degraus, que correspondem à
amplitude de um único PMPM.

O mecanismo iônico do PPM

Os canais catiônicos, abertos pela acetilcolina na membrana pós-juncional, diferem dos


canais catiônicos dos nervos e músculos pelo fato de exibirem uma discreta dependência de
voltagem. Esses canais pós-juncionais são controlados pela ação da acetilcolina e não pelo
potencial transmembrana. Os canais catiônicos acetilcolina – dependentes são pouco
seletivos em relação a pequenos cátions. Os íons Na +, K+, Rb+ e NH4+ passam por eles
facilidade relativamente equivalente.

O potencial da membrana da placa motora pode ser determinado pela média ponderada
(pelos valores das condutâncias da membrana a cada um dos íons que contribuem para
formação do potencial), dos potencias gerados pelos íons sódio e potássio. Formalmente,

Em = (g K / (g K + g Na)) EK + ( g Na / ( g K + g Na)) ENa,

Os parâmetros g K e g Na são as condutâncias do canal colinérgico aos íons sódio e


potássio e EK e ENa são os valores dos potenciais de equilíbrio desses íons.
Mantendo-se fixada em diferentes valores a voltagem da membrana da placa motora,
observa-se que a corrente de placa pode fluir para dentro ou para fora da célula muscular,
dependendo do valor da voltagem transmembrana. O potencial de reversão (valor de
voltagem para o qual a corrente é nula) da placa motora é cerca de 0 mV.

O receptor de acetilcolina

Experiências com g-bungarotoxina (uma sustância que se liga fortemente ao receptor


colinérgico) sugerem a existência de 107 a 108 locais de ligação por placa motora. Nas junções
neuromusculares de diafragma de camundongo, os locais de ligação a acetilcolina ficam
concentrados perto das aberturas das pregas pós-juncionais e atingem densidade de
aproximadamente 20.000 / m2 . Isso sugere uma grande condensação dos receptores
colinérgicos, pois a densidade máxima possível é cerca de 50.000 / m2 .

A proteína receptora para acetilcolina é uma proteína integral de membrana,


profundamente embebida na matriz lipídica hidrofóbica da membrana pós-juncional. Esta
proteína é constituída por cinco subunidades, duas idênticas, de modo que há quatro cadeias
polipeptídicas distintas. A subunidade duplicada é a subunidade  (peso molecular = 40.000).
Os locais de ligação com a acetilcolina situam-se nas unidades . As outras subunidades são a
 (50.000), a  (60.000) e a  (65.000). Em algumas espécies, o pentâmero2  é a
forma predominante do receptor para a acetilcolina. Em outras espécies, dois pentâmeros
estão ligados por uma ponte dissulfídica, entre suas subunidades . A função dessas duas
formas é aparentemente idêntica. Os genes de cada uma das subunidades já foram clonados e
suas seqüências apresentam significativa homologia seqüencial.

A análise da estrutura tridimensional do receptor de acetilcolina na membrana, revelou


que as cinco unidades circundam um canal iônico central. Todas as subunidades atravessam
a membrana, com a maior parte da molécula projetando-se para face extracelular da
membrana. As subunidades se organizam de maneira a formar um canal em forma de funil
com a boca maior voltada para o meio extracelular. Os dados experimentais sugerem que a
ligação da acetilcolina provoca uma alteração da conformação da subunidade , que produz
variações conformacionais das outras subunidades, abrindo o canal iônico.

Sinapses entre neurônios

As sinapses entre neurônios podem ser elétricas ou químicas. Nas sinapses elétricas, uma
variação do potencial de membrana de uma célula é transmitida a outra célula pelo fluxo
direto de corrente. Como a corrente flui diretamente entre as duas células, que formam uma
sinapse elétrica, não existe, praticamente, retardo sinaptico. As sinapses químicas apresentam
tipicamente um retardo sinaptico de aproximadamente 0,5 ms. De modo geral, as sinapses
elétricas permitem a condução em ambas às direções, ao contrário das químicas, que são
obrigatoriamente unidirecionais. Determinadas sinapses elétricas conduzem mais facilmente
numa direção do que em outra, propriedade esta denominada retificação.

As células formadoras de sinapses elétricas são unidas por junções abertas, onde as
membranas plasmáticas das células pareadas estão muito próximas (menos de 30 A) e podem
ser identificadas proteínas intramembranosas dispostas regularmente. Essas proteínas
consistem em seis subunidades que circundam um canal aquoso central. Essa disposição
hexagonal é denominada conexon. Cada uma das seis subunidades é uma proteína simples
denominada conexina (peso molecular = 25.000). Na junção aberta, os conexons das células
acopladas estão alinhados, formando canais. O canal que comunica as duas células acopladas
são formados por doze conexinas. Os canais permitem a passagem de moléculas
hidrossolúveis com pesos moleculares de até 1200 a 1500 de uma célula para outra e são as
vias para o fluxo de corrente elétrica entre as células.

Sinapse Elétrica

As células eletricamente acopladas podem ser desacopladas pelo fechamento dos canais dos
conexons. Esses canais podem fechar-se em resposta ao aumento do Ca++ ou H+ intracelular
em uma das células ou em resposta a despolarização de uma ou ambas as células. Um modelo
é proposto para o mecanismo de fechamento dos canais.

Já foram descritas numerosas sinapses elétricas nos sistemas nervosos central e periféricos de
vertebrados e invertebrados. As sinapses elétricas parecem ser particularmente úteis nas vias
reflexas, onde é necessária a transmissão rápida entre as células (pequeno retardo sináptico),
ou a resposta sincrônica de alguns neurônios. Entre as muitas células não-neuronais ligadas
por junções abertas estão os hepatócitos, as células miocárdicas, as células da musculatura lisa
intestinal e as células epiteliais do cristalino.

As etapas da transmissão elétrica:

1. O potencial de ação na membrana pré-sináptica gera o estimulo elétrico.

2. Os canais das conexinas são abertos.

3. Gera-se circuito local de corrente entre as duas células acopladas.

4. Despolarização da membrana pós - sináptica.


As etapas envolvidas nas sinapses químicas entre neurônios são bastante semelhantes àquelas
descritas para junção neuromuscular, e podem enumeradas como segue:

1. Despolarização pré-sináptica

2. Aberturas de canais de Ca++ na membrana pré-sináptica.

3. Fusão das vesículas de neurotransmissores – induzida pelo Ca++ - e conseqüente liberação


do neurotransmissor para dentro da fenda sináptica.

4. Moléculas do neurotransmissor difunde-se através da fenda sináptica e ligam-se as


moléculas receptoras específicas na membrana pós-sináptica.

5. O complexo transmissor-receptor abre canais iônicos na membrana pós-sináptica, através


dos quais a membrana pós-juncional pode ser hiperpolarizada (PPSI) ou despolarizada
(PPSE).

6. Este potencial na membrana pós-sináptica, gera correntes que podem disparar ou inibir a
propagação de um potencial de ação na célula pós-sináptica.

Sinapse Química

Mecanismos iônicos dos potenciais pós-sinápticos nos motoneurônios espinhais

O PPSE no motoneurônio espinhal do gato é provocado pelo aumento transitório da


condutância da membrana pós-sináptica aos íons sódio e potássio. A influxo de sódio e o
efluxo de potássio na célula pós-sináptica gera o PPSE. O valor do potencial resultante da
passagem dessas correntes iônicas na membrana pós-sináptica é controlado pelo aumento
transitório da condutância a esses íons.

O PPSI em motoneurônios espinhais de gato é provocado pelo aumento da condutância ao


cloreto na membrana pós-juncional. O valor deste potencial hiperpolarizante é controlado
pelo aumento transitório da permeabilidade da membrana pós-juncional ao cloreto. Em
alguns tipos de sinapses o PPSI é provocado pelo aumento da condutância ao potássio.

Transmissores no sistema nervoso

Várias substâncias agem como neurotransmissores no sistema nervoso central. A acetilcolina,


como já descrito, é o transmissor utilizado por todos os axônios motores oriundos da medula
espinhal. A acetilcolina tem papel central no sistema nervoso autonômico, sendo o transmissor
de todos os neurônios pré-ganglionares e também das fibras pós-ganglionares
parassimpáticas. A acetilcolina é o transmissor de grande número de vias centrais.

Uma outra classe de neurotransmissores são as aminas biogênicas entre elas estão a
norepinefrina, a epinefrina, a dopamina, a serotonina e a histamina.

Dopamina, norepinefrina e epinefrina são catecolaminas. Os neurônios que contém alto teor
de dopamina são abundantes nas regiões mesencefálicas, conhecidas como substâncias negra e
tegmento ventral. Alguns dos axônios desses neurônios vão para o prosencéfalo, onde
participam das respostas emocionais. Outros axônios dopaminérgicos terminam no corpo
estrido, onde são tidos como importantes no controle dos movimentos complexos.
Norepinefrina é o transmissor principal dos neurônios pós-ganglionares simpáticos. No
cérebro, os corpos celulares que contêm norepinefrina são encontrados no lócus cerulens. Os
neurônios do lócus cerulens se projetam para o córtex, o hipotálamo, o cerebelo e a medula
espinhal. Os neurônios adrenérgicos do cérebro estariam envolvidos na ativação, na regulação
do humor e nos sonhos.

Os neurônios que contêm serotonina são abundantes nos núcleos da rafe (localizados na linha
média do tronco cerebral) e se projetam para muitas regiões do cérebro e da medula espinhal.
Os neurônios serotonérgicos estariam envolvidos na regulação da temperatura, na percepção
sensorial, no início do sono e no controle do humor e a histamina é encontrada em
determinados neurônios do hipotálamo.

Alguns aminoácidos agem como neurotransmissores. A glicina é um neurotransmissor


inibitório liberado por determinados interneurônios espinhais. O glutamato e o aspartato tem
fortes efeitos excitatórios sobre muitos neurônios cerebrais. Talvez sejam os transmissores
excitatórios mais prevalentes no cérebro.

O ácido -aminobutírico (GABA) não é incorporado as proteínas, nem é encontrado em todas


as células (como ocorre com os outros aminoácidos naturais). O GABA é produzido por uma
descarboxilase especícica, encontrada apenas no sistema nervoso central. Entre as células que
contém GABA estão algumas células dos gânglios da base, as células de Purkinje cerebelares e
determinados interneurônios espinhais. Em todos os casos conhecidos, o GABA atua como
transmissor inibitório. Trata-se do transmissor mais comum no cérebro e até um terço das
sinapses cerebrais o tem como seu neurotransmissor. O GABA parece ser importante em
muitas vias distintas de controle central.O GABA também estaria envolvido no controle do
humor e das emoções.

Além desses transmissores clássicos tem sido observado que determinadas células liberam
peptídios, que atuam em concentrações baixas, para excitar ou inibir neurônios.

4. Lógica da organização do sistema nervoso nos diferentes tipos de animais

O sistema nervoso central (SNC) no homem e nos outros vertebrados pode ser encarado
como um sistema integrador que analisa os sinais provenientes das vias sensoriais e utiliza
essas informações para gerar sinais de comando, transmitidos pelas vias motoras até os
músculos ou efetores. Assim, o sistema nervoso percebe e avalia o meio ambiente de modo a
gerar uma resposta adequada ao ambiente. Todas essas interações com o meio ambiente
precisam passar pelas unidades periféricas, que são os receptores sensoriais ou transdutores e
unidades motoras. São elas as interfaces entre o sistema nervosos e o meio ambiente.
Mesmos animais mais simples, não vertebrados, apresentam sistemas receptores sensoriais
para interfacear a comunicação entre seu sistema nervoso com o seu meio ambiente. Esta é
lógica comum usada pelos diferentes animais para sua integração com o meio em que vive.

5. Receptores sensoriais ou transdutores

Para codificar o ambiente sensorial, a energia dos sinais ambientais (luz, calor, tato, etc.)
precisa ser convertida em energia eletroquímica, que pode ser usada para gerar sinais
neurais. Isso é feito por meio de transdutores. Cada transdutor é capaz de converter um
determinado tipo de energia do estímulo do ambiente num potencial lento e graduado,
denominado potencial gerador.

Os transdutores apresentam alto grau de especificidade modal, ou seja, são relativamente


sensíveis a um tipo de estímulo e não o são a outros. Todavia, essa especificidade é relativa.
Um fotorreceptor na retina tem baixo limiar do potencial gerador para a energia fótica, mas
também apresentará potenciais geradores à estímulos suficientemente intensos de outros
tipos. A compressão do globo ocular, se intensa o bastante, excita esses fotorreceptores. Entre
as várias classes de transdutores encontrados nos mamíferos estão os mecanorreceptores
envolvidos nos sistemas somatossensorial, auditivo e vestibular; os fotorreceptores na visão;
os termorreceptores para os estímulos envolvidos com a sensação de frio e quente; os
quimiorreceptores usados no olfato e no paladar, assim como na percepção da composição do
sangue; e os nociceptores envolvidos na dor.

Os receptores sensoriais localizam-se na periferia ou perto dela, quase sempre em estruturas


especializadas, como a retina ou o órgão de Corti. Alguns, entretanto, localizam-se
profundamente, no tecido conjuntivo, nas articulações e nos principais vasos sanguíneos.
Esses receptores podem ser porções especializadas das extremidades distais de neurônios
aferentes primários ou células especializadas não-neurais que formam sinapses com os
aferentes primários. Cada aferente primário está associado a um transdutor ou um número
bem pequeno de transdutores de um mesmo tipo. O potencial gerador produzido pelo
transdutor, se for grande, promove potenciais de ação nos aferentes primários.

Um transdutor bastante bem estudado é corpúsculo de Pacini, um mecanorreceptor


localizado na pele e nos tecidos profundos, e responsáveis pela sensação de pressão ou
vibração. O corpúsculo de Pacini consiste de um corpo constituído por camadas concêntricas,
semelhante a uma cebola, onde penetra a extremidade distal de uma fibra aferente primária.
O soma dessa fibra aferente situa-se no gânglio da raiz dorsal da medula espinhal e seu axônio
penetra na medula espinhal pela raiz dorsal. A pressão aplicada no corpo (cebola) gera um
potencial gerador graduado no axônio. Sua amplitude aumenta de forma monotônica com o
aumento da pressão e, se essa pressão for suficientemente intensa para ultrapassar o limiar do
axônio, surge um potencial de ação. Quando o potencial gerador é sublimiar, um potencial
eletrotônico é gerado porém decresce em amplitude à medida que se propaga, não levando
informações a medula espinhal. A extremidade distal do axônio, e não o corpo, é o transdutor
real, ou seja, quando o corpo é “descascado”, a força aplicada à terminação nervosa produz
um potencial gerador. Quando a força é aplicada em qualquer outro local do axônio nenhum
potencial gerador é disparado. Do ponto de vista iônico, é proposto que a distorção mecânica
da membrana “abre” canais iônicos, sobretudo os de sódio. A pasagem desses íons, seguindo
seus gradientes eletroquímicos, despolariza os axônios, o que produz o potencial gerador.

Embora não seja o transdutor real, o corpo tem importante função mecânica de conferir ao
corpúsculo de Pacini a sua característica de um transdutor fásico ou de adaptação rápida, ou
seja, o potencial gerador retorna rapidamente à linha de base. Esse potencial só ocorre
durante as variações rápidas da pressão, como o início ou o término do estímulo. Todavia, se o
corpo é retirado e a força é aplicada diretamente sobre a terminação nervosa, o potencial
gerador passa a ser tônico ou de adaptação muito lenta, mantendo-se com uma lenta queda
temporal enquanto atuar o estímulo. Aparentemente, o corpo por suas propriedades
viscoelásticas, age como um filtro temporal de limiar alto para os estímulos mecânicos,
transformando-os de tal forma que apenas alterações transitórias da pressão atingem a
terminação nervosa. É interessante observar que os potenciais de ação só são gerados durante
as alterações rápidas do potencial gerador, mesmo que o local onde a força é aplicada se
mantenha despolarizado.

As respostas fásicas, como as exemplificadas pelo corpúsculo de Pacini, têm papel importante
no processamento sensorial. A atividade fásica é o indicador mais sensível das preparações
temporais de um estímulo. Como uma resposta tônica ou um potencial gerador tônico
aumenta ou diminui monotonicamente com a intensidade do estímulo, variações pequenas do
estímulo seriam difíceis de serem detectadas nessas respostas. Os transdutores fásicos só
geram um potencial quando ocorrem essas variações e, portanto assinalam mais
dramaticamente essas alterações. Não obstante, as células fásicas são pouco adequadas à
percepção quantitativa da magnitude dessas alterações. Essas células também são pouco
adequadas para distinguir entre aumentos e diminuições das intensidades estímulos. Por esses
motivos, são necessários transdutores tônicos ou de adaptação lenta.

Um mecanorreceptor tônico é aquele a partir do qual o potencial gerador produzido é


mantido enquanto durar o estímulo com adaptação apenas discreta. Se o potencial gerador
exceder o limiar do axônio sensorial, surgirão potenciais de ação. Quanto mais o potencial
gerador persistente ultrapassar esse limiar, mais cedo o limiar pode ser atingido de novo após
um potencial de ação. Por conseguinte, quanto maior o potencial gerador, maior a freqüência
dos potenciais de ação. Um código neural é gerado através da relação entre a intensidade do
estímulo e a freqüência dos potenciais de ação gerados.

Receptores auditivos

O sentido da audição e da manutenção do equilíbrio (balance) podem ser classificados como


mecanorreceptores. Esses sentidos são transduzidos pelas células de cabelo (hair cells) que se
encontram na cóclea e no aparelho vestibular. As células de cabelo possuem uma superfície
apical com feixes de estereocílios (stereocilia), arranjados de forma hexagonal e de
comprimentos graduados. Os estereocílios são compostos de uma densa actina paracristalina
e estão ligados entre si nas suas extremidades e fixados a uma base rígida de actina da matriz
celular, conhecida como placa cuticular. Além desses estereocílios, as células também
apresentam microtúbulos, contendo quinocílios (kinocilia) que se estendem diretamente da
membrana plasmática.

As células de cabelo liberam transmissor continuamente, porém a deflexão mecânica na


direção do estereocílio maior abre canais iônicos na membrana plasmática, produzindo a
despolarização (potencial gerador) e excitação das fibras aferentes que fazem sinapses com as
células de cabelo. A deflexão na direção oposta resulta na hiperpolarização e decréscimo na
liberação do transmissor (o glutamato). A deflexão do quinocílio não mostra nenhum efeito na
transdução de informação nessas células.

A deflexão no aparelho vestibular é causada pela inércia do fluído nos ductos quando o
ouvido está sujeito a aceleração angular, enquanto na cóclea o estereocílio cada célula de
cabelo ressona para uma determinada freqüência em função da sua posição na cóclea.
Fotorreceptores

Os seres humanos possuem dois tipos de fotorreceptores: os bastonetes e os cones. Os


bastonetes são, mais sensíveis, para a visão em preto-e-branco e os cones são, menos sensíveis,
para a visão de cores. Quando há pouca luz (iluminação escotópica), os cones não reagem e
apenas os bastonetes atuam , daí não ser possível a percepção de cores em ambientes pouco
iluminados. Na iluminação fotópica (luz clara e forte), os cones atuam e os bastonetes ficam
saturados, daí ser possível a visão de cores. Em níveis médios de iluminação (iluminação
mesópica), os cones e os bastonetes funcionam de forma associada. Esses fotorreceptores
transformam a energia fótica em potenciais geradores que são transmitidos, por meio de
sinapses, para os interneurônios retinianos.

Os cones e os bastonetes têm características morfológicas semelhantes (Figura 14, 6.5 Berne &
Levy). O segmento externo (cilíndrico nos bastonetes e cônico nos cones) está ligado a um
segmento interno e ao resto da célula por um delicado pedículo. O segmento externo é
ocupado por membranas paralelas empilhadas onde ficam os pigmentos fotossensíveis
(fotopigmentos). Nos bastonetes, o fotopigmento é a rodopsina (formado pelo derivado da
vitamina A, o retineno, ligado a uma proteína, a opsina).

Quando um fóton atinge a rodopsina, ele muda a isomerização da fração retineno da molécula
e isso acaba levando à degradação da rodopsina até o retineno ou vitamina A e opsina. Essa
degradação é conhecida como descoramento e é reversível. O descoramento é o primeiro
estágio de uma série que resulta no potencial gerador. Essas células têm a propriedade de
ficar hiperpolarizadas pela luz. No escuro, os íons sódio fluem para o interior dos
fotorreceptores. Essa é a corrente do escuro, que despolariza a célula. Em presença de luz, os
canais de sódio são bloqueados, a corrente do escuro diminui e a célula hiperpolariza. Essa
hiperpolarização assinala muito eficazmente a presença de luz para os neurônios retinianos.

A absorção da luz nos segmentos externos dos cones e bastonetes hiperpolariza a membrana
dessas células ( potencial gerador) e isto reduz a taxa espontânea de liberação de transmissor
(possivelmente o glutamato) nas sinapses efetuadas entre essas células e as células nervosas
bipolares e horizontais da retina.

Como ocorre a fototransdução?

A absorção do fóton pela rodopsina causa uma mudança conformacional nessa molécula que
permite a transducina (uma proteína G trimérica) ligar-se ao GTP. O GTP- ativado pela
transducina (T ) dissocia-se e ativa o cGMP fosfodiesterase (PDE). A hidrólise do cGMP
causa o fechamento dos canais de cátions dependentes de cGMP na membrana plasmática
dessas células. O decréscimo da entrada de Na + hiperpolariza a célula (potencial gerador) e
com isto reduz a liberação espontânea do transmissor nas sinapses entre segmentos internos
dos bastonetes e cones e as células neurais. A entrada dos íons cálcio através dos canais de
cátions também fica inibida e isto abaixa a concentração de cálcio interno. Este abaixamento
da concentração do íon cálcio ativa a guanilil ciclase (GC), que tem o papel de restaurar os
níveis de cGMP nos cones e bastonetes. A ativação da guanilil ciclase é resultado da ligação da
recoverina (rec) a GC. Duas outras enzimas, a arrestina e a rodopsina quinase, tem a
propriedade de desensibilizar a rodopsina, durante a alta exposição à luz. Isto ocorre devido
estas enzimas poderem dissociar a transducina da rodopsina. A Figura 15 (6.3 Nicholls)
mostra esquematicamente todas reações descritas acima.
Receptores químicos.

Os receptores químicos são responsáveis pelo cheiro e o sabor das substâncias da natureza.
Neste texto trataremos somente dos receptores olfatórios, devido a melhor compreensão que
se tem desse sistema.

O sistema olfatório dos mamíferos pode distinguir entre milhares de odores e podem detectar
um odor numa concentração tão baixa como 1 parte por trilhão. Os neurônios responsáveis
pela recepção do odor apresentam um único dendrito que se projeta para a superfície apical
do epitélio. Esse dendrito apresenta em seu terminal cílios que se projetam para dentro da
cavidade nasal. Na outra extremidade esse neurônio projeta o seu axônio para o bulbo
olfatório.

Nos cílios os odores podem ativar o neurônio por duas vias. Numa delas uma proteína G
olfatória é ativada por alguns odores e isto leva a ativação da Adenil Ciclase (AC). O cAMP
resultante ativa canais de cátions não-específicos, permitindo a entrada de Na + e Ca++ para
dentro da célula. Outros odores atuam via receptores que ativam a fosfolipase C (PLC),
resultando na formação do (1,4,5)-IP3 que ativa canais de Ca++, permitindo a entrada deste
íon para interior celular. Pode também ocorrer o cruzamento entre as duas vias, por exemplo,
via PKC ou Ca++/ calmodulina ativando a adenil ciclase e abrindo os canais de cátios não-
específicos pela ação do cAMP. A Figura 16 mostra um esquema dessas possíveis vias.

A desensibilização dos receptores de odores parecem ser mediadas por um mecanismo similar
aquele observado na transdução visual associado a uma regulação -adrenérgica , realizada
por fosforilação desse receptor por uma isoforma de - adrenoreceptor quinase e
desacoplamento da ativação da proteína G mediado pela arrestina. É sugerido que o óxido
nítrico (NO) e a NO-sintetase estejam envolvidos no mecanismo de desensibilização desses
receptores.

Receptores de temperatura

O princípio básico envolvido na recepção da sensação de “frio” e “quente” segue a mesma


lógica dos outros receptores que é a transdução do calor num potencial gerador, que possa
excitar um nervo que conduz a informação ao cérebro. No entanto, os mecanismos
moleculares que realizam esta transdução não estão ainda adequadamente elucidados na
literatura científica.

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