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Bases biológicas das emoções e afetos, sua relação com o processo cognitivo e
com a modelagem de agentes de software cognitivos

Conference Paper · September 2004

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Luciana Campos Henrique Elias Borges

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Bases Biológicas das emoções e afetos, sua relação com o processo cognitivo e com
a modelagem de agentes de software cognitivos
Renata B. Oliveira, Luciana M. A. Campos, Henrique E. Borges
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais
Laboratório de Sistemas Inteligentes
Av. Amazonas, 7675- Nova Gameleira - Belo Horizonte MG- Brasil
{renata, luciana, henrique}@lsi.cefetmg.br

Resumo em todos esses trabalhos, e de resto, em grande parte das

Através da capacidade de autoconsciência, nos
reconhecemos como seres pensantes, racionais e
emotivos, que vivemos e aprendemos no nosso dia-a-dia
a lidar com as mais variadas situações. Este aprendizado
é demonstrado ao exibirmos um comportamento de certa
forma controlado. Mas este controle é moldado pela
nossa capacidade de auto-regulação da razão, das
emoções, em conjunto com os conhecimentos adquiridos.
Portanto, quanto maior o equilíbrio entre estes fatores,
melhor é nosso comportamento e melhores são nossas
oportunidades de aprendizagem. Nesse contexto, este
trabalho discute até que ponto as emoções
experienciadas pelo indivíduo afetam seu aprendizado e
de que forma emoções poderão ser implementadas em um
Agente de Software Cognitivo e Situado (ASCS). Assim,
da mesma forma que uma emoção experienciada por um
indivíduo guia suas decisões, propõe-se que seja
construído um mecanismo emocional-motivacional-
atencional artificial que atribuirá valor às experiências
de um ASCS, por meio de interações com o mecanismo
de correlações sensório motoras deste.
Palavras-chave: Emoções; Afetos; Cognição; Agentes
Cognitivos; Agentes inteligentes.
1. Introdução
O surgimento de novas tecnologias de imageamento
cerebral, como a tomografia por emissão de pósitrons
(PET) e a imagem de ressonância magnética funcional
(FMRI), que permitem observar em detalhes e em tempo
real o funcionamento do cérebro humano, vem
impulsionando as pesquisas em todas as áreas da
neurociência. Assim, vem sendo objeto de intenso estudo
a interdependência que existe entre o sistema nervoso
central e o sistema imunológico [1], as diferenças
cognitivas e de comportamento entre homens e mulheres
[1,2], a relação mente-corpo e o problema da consciência
[3-7], os mecanismos emocionais/atencionais e sua
relação com o processo cognitivo [3-12], dentre inúmeros
outros temas de pesquisa correlatos. O que há de comum
pesquisas recentes em neurociência, filosofia e ciências
cognitivas, é o surgimento de um interesse específico em
estudar as bases biológicas, ou fisiológicas, desses
processos cerebrais, o que só tem sido possível graças às
técnicas de imageamento mencionadas anteriormente.
Atualmente, há um grande consenso acerca do papel
essencial que as emoções – num sentido bem abrangente
do termo – desempenham na compreensão de uma
extraordinária gama de fenômenos que ocorrem no
cérebro e corpo humano [3,8,9]. De fato, as emoções e
afetos influenciam até mesmo em situações nas quais é
observado um comportamento, que até pouco tempo atrás
era tido como tipicamente racional, e.g., resolver um
problema de matemática. No entanto, raramente as
pessoas têm consciência do fato de que são as emoções
que guiam o seu viver [3,9].
Um outro ponto crucial que se destaca na literatura
recente das ciências cognitivas e neurociências, e que, a
cada dia ganha novas evidências experimentais, é que, ao
que parece, nada no cérebro pode ser considerado plano,
monolítico, uniforme [3,8] tanto do ponto de vista
anatômico quanto funcional. Ou seja, qualquer que seja a
área anatômica do cérebro que se queira analisar (córtex,
hipocampo, gânglios basais, etc), ela se estrutura, do
ponto de vista funcional, em níveis hierárquicos. Nessa
hierarquia de níveis funcionais que surge, os níveis mais
altos têm a função de coordenar as funções dos níveis
inferiores. Assim é com os níveis de consciência [6], com
o processo cognitivo [3,10,14, 16], e também com as
emoções [8].
No processo cognitivo, reconhece-se essa
coordenação através do processo conhecido como meta-
cognição [14], onde o reconhecimento das emoções
experienciadas em tempo real proporciona ao indivíduo a
capacidade de lidar com essas emoções, definindo, assim,
a característica auto-regulativa da cognição.
Atualmente, existem várias tentativas, em
desenvolvimento, de se construir mecanismos artificiais
de acordo com essa nova compreensão que se tem do
processo cognitivo e meta-cognitivo [11,17]. Porém, para
adotar esta nova abordagem no desenvolvimento de
agentes de software é necessário considerar alguns
princípios que serão discutidos neste trabalho. Sendo
assim, alguns conceitos básicos relacionados às emoções
e afetos serão apresentados na seção 2. Também será
discutido o papel das emoções no processo cognitivo e
meta-cognitivo na seção 3. Em seguida, na seção 4, uma
teoria sobre as bases biológicas das emoções e dos afetos
é exposta. O entrelaçamento entre os circuitos afetivos e
sensório-motores, e a influência mútua entre eles são
discutidos na seção 5. Finalmente, as possibilidades de
como esses afetos biológicos podem influenciar na
construção de agentes de software cognitivos são
discutidas na seção 6.
2. Aspectos conceituais: afetos, emoções
motivação.
Afetos e emoções são conceitos próximos, porém
distintos entre si.
As emoções podem ser definidas como disposições
corporais dinâmicas que especificam os domínios de
ações nos quais os animais, em geral, e seres humanos,
em particular, operam em um instante [9]. Dito de outra
forma, as emoções são disposições para a ação. Por ação,
se quer dizer que tudo o que é feito, é feito em um
domínio operacional, e.g., pensar, andar, refletir, falar e
bater. Sendo assim, toda e qualquer ação acontece sempre
em um domínio específico o qual é definido por uma
emoção, ou por um conjunto delas [9].
As emoções se referem a sentimentos e pensamentos
distintos, estados psicológicos e biológicos e também a
uma gama de tendências para agir. Pode-se dizer que
existem centenas de emoções, juntamente às suas
combinações, variações e matizes [10]. As emoções são
vistas como sendo baseadas em sistemas estruturados
biologicamente que são adaptações filogenéticas, ou seja,
são inatas em uma dada espécie.
Já os afetos podem ser definidos como mecanismos
biológicos motivacionais primários que imprimem um
sentido de urgência para as iniciativas [12]. Pode-se dizer
que os afetos compreendem alterações neuroquímicas,
que produzem reações corporais, a percepção destas
reações e a experiência de prazer ou desprazer.
Estabelecendo uma analogia, Buck [8] argumenta que
o relacionamento entre emoção e afeto é como o da
matéria e energia na física. Energia é um potencial que
não se manifesta em si mesmo, mas sim através na
matéria. O afeto é conceitualizado como um potencial que
se manifesta na emoção.
As emoções e os afetos fazem parte do processo de
definição individual da motivação para o agir. Sendo
assim, a motivação pode ser vista como sendo uma
obstinação, que depende de características emocionais
como: entusiasmo e persistência diante dos reveses. A
ausência de motivação é observada quando as emoções
subtraem a concentração. Neste caso, o que está sendo
subtraído é a capacidade de ter em mente toda a
informação relevante para o agir [10].
3. O papel das emoções e dos afetos no
processo cognitivo
Para se definir o termo cognição, há que se considerar
a emoção, os afetos e a motivação, de vez que são
conceitos interdependentes, ou seja, motivação, cognição
e emoção se entrelaçam de forma imbricada, o que vem
sendo aceito consensualmente pelos neurocientistas,
filósofos, etc [1,3,4,6,9]. Esta interdependência é
reconhecida porque a cognição é, na verdade, o
conhecimento envolvido na experiência do indivíduo,
porém este é guiado pelos sistemas motivacionais-
emocionais, que espontaneamente reestruturam o
conhecimento no curso desta experiência [13].
Alguns pesquisadores [6,7,8,10] argumentam que um
estímulo, ao ser percebido, se desdobra e estimula várias
áreas distintas do sistema nervoso simultaneamente.
Usualmente, a resposta mais rápida, ainda que
inconsciente, é a que resulta dos estímulos dos sistemas
emocionais. Naturalmente, outras respostas mais lentas
poderão surgir devido à percepção cognitiva do evento.
Considerando que a cognição se dará nas interações [9],
percebe-se uma grande influência das emoções e afetos
neste processo.
A figura 1 procura ilustrar, de forma simplificada, a
interdependência entre os sistemas sensório-efetor,
emocional-motivacional-atencional e de propósitos
genéricos na percepção de um estímulo em uma interação
do organismo, conforme proposto por Buck [8]. O
sistema emocional-motivacional-atencional em sua
operação guia o sistema de propósitos genéricos, de
forma a possibilitar o processo cognitivo, o aprendizado,
a linguagem e comportamentos mais flexíveis. Estas
interações estão representadas na figura 1 por linhas
tracejadas.
SEMA
Possibilita
Estímulo
percebido processo cognitivo
aprendizado e
linguagem.
SSE SPG
SEMA ⇒ Sistema Emocional-Motivacional-Emocional
SSE ⇒ Sistema Sensório-Efetor
SPG ⇒ Sistemas de Propósitos Genéricos
Figura 1: Interdependência dos sistemas na
cognição

Note-se também que o sistema emocional-motivacional-
atencional é estimulado pelo sistema sensório-efetor e
também o estimula. Neste sentido, do ponto de vista
funcional, esta interdependência se traduz em um sistema
integrado, guiado pelo sistema emocional-motivacional-
atencional e auto-regulado pelo processo da meta-
cognição [7,8].
Meta-cognição é um termo amplo que abrange tanto a
cognição quanto a regulação da atividade cognitiva
[14,15]. A meta-cognição é importante, pois é através
dela que se torna possível reconhecer as emoções
vivenciadas em tempo real, isto é, enquanto estão
acontecendo numa situação. E reconhecendo-as, torna-se
possível lidar com elas, ora acalmando-as, quando se
tratam de emoções aflitivas, ora afastando-as, impedindo
que estas assumam o controle, evitando assim uma reação
“explosiva” ou “irracional”. Esta regulação das emoções
permite ao indivíduo motivar-se, para o alcance de um
objetivo e permitirá também reconhecer emoções em
outros indivíduos (empatia). Através dessa interação
especial, é possível modificar o curso de uma ação, à
medida que ela se desenvolve, modificando
conseqüentemente o conhecimento a ser envolvido nessa
experiência. Nesse sentido, vê-se que a emoção também é
fundamental para se compreender o fenômeno da
consciência [4,5,7].
Através do processo da meta-cognição, o indivíduo
vivencia afetos de alta ordem, pois o reconhecimento de
uma emoção pode, de acordo com seus conceitos morais
e éticos, co-determinar o surgimento de outras emoções
recorrentes. Um exemplo disso seria quando um
indivíduo em uma determinada situação vivencia um
afeto de inveja. Através do mecanismo de meta-cognição
ele reconhece que sentiu inveja e para este individuo
(conforme seus conceitos, ou melhor, sua história de
vida), a inveja é um afeto vergonhoso, elicitando então o
novo afeto da vergonha.
O que deve ficar claro é a relação intrínseca e
imbricada existente entre as emoções, motivação, o
processo cognitivo, meta-cognição e consciência.
4. Bases Biológicas das Emoções e dos Afetos
Através das novas técnicas de imageamento cerebral
já é possível observar, embora seja tecnicamente difícil,
quais alterações fisiológicas ocorrem, inclusive no
cérebro (os denominados correlatos neurais) [24], quando
o indivíduo vivencia uma emoção, sendo que essas
alterações são responsáveis por preparar o corpo para
diferentes tipos de resposta.
Do ponto de vista biológico, os afetos podem ser
definidos como leituras filogenéticas estruturadas em
sistemas motivacionais-emocionais primários, associados
a sistemas neuroquímicos específicos. A relação dos
fatores biológicos com afetos sociais de alto nível,
cognitivos e morais, embora real, é indireta [8].
Analisando esta base biológica das emoções e dos
afetos, podem-se identificar regiões no cérebro que são
responsáveis por gerar comportamentos emotivos. Há
evidências [8] que, do ponto de vista biológico, é possível
classificar hierarquicamente as emoções. Note-se que,
para um certo afeto se manifestar, são necessárias, em
geral, várias regiões do cérebro atuando, ou seja, há mais
de uma região correspondendo ao mesmo tipo de
comportamento.
Buck [8] propôs uma tipologia dos afetos organizada
biologicamente de acordo com a anatomia do cérebro.
Segundo esta tipologia, os afetos podem ser classificados
em quatro níveis hierárquicos.
No primeiro nível do sistema motivacional-emocional
primário estão envolvidos os sistemas de estímulo e de
aproximação-repulsa que são associados aos sistemas
neuroquímicos da base da hierarquia anatômica e
correspondem evolucionariamente aos afetos de nível
mais baixo.
Já o segundo nível envolve os sistemas de punição-
recompensa, ataques defensivos e ofensivos, submissão,
ligação afetiva e sexual. Estes sistemas, por sua vez, estão
associados a sistemas neuroquímicos no hipotálamo.
O terceiro nível envolve sistemas de sexo reptiliano e
agressão. Estes estão associados com os sistemas
neuroquímicos nas estruturas sub-corticais da massa
cinzenta que compreende os gânglios basais.
No quarto nível estão envolvidos os sistemas de
ativação e inibição associados a afetos de alegria, tristeza,
e ansiedade; do sistema agonístico-egoísta associado a
afetos de medo, raiva e aversão e do sistema cooperativo-
pro-social associado com afetos de submissão, luxúria,
ligação sentimental e de união prazerosa. Estes estão
associados com o sistema neuroquímico no cérebro dos
paleomamíferos ou com o sistema límbico.
Porém, o fenômeno emocional, não pode ser
confinado ao sistema límbico ou a nenhuma outra parte
do cérebro, pois ele está intimamente integrado tanto nas
funções básicas, quanto nas funções de nível mais alto do
cérebro [7,8]. Desta forma, pode-se observar que os
afetos de nível mais alto surgem através de composições e
estímulos provenientes das manifestações dos afetos de
nível mais baixo. Sendo assim, afetos de nível mais alto
são resultantes da operação de um determinado circuito
neurológico.
Deve-se ressaltar que essa organização hierárquica
não implica em estímulos de nível mais alto sendo
ativados por estímulos de nível mais baixo, mas sim, em
um verdadeiro processo de reorganização, onde os
estímulos se organizam mutuamente de forma dinâmica.
[18].
5. Entrelaçamento dos circuitos afetivos e
Áreas mapeáveis Áreas não mapeáveis
sensório-motores
Considerando os aspectos biológicos dos afetos e
também a influência das emoções no processo cognitivo,
resta saber como esta base biológica atua no
desenvolvimento da consciência do ser humano.
Segundo a teoria de Edelman (Theory of Neuronal
Group Selection – TNGS), coordenações e
conceitualizações são realizadas no cérebro através de
mapas neurais, que se organizam segundo uma ordem
evolucionária. [11]
Estes mapas neurais podem ser diferenciados em
locais e globais, sendo que um mapa local é a base do
processo de memória e correlaciona diferentes circuitos
sensório-motores primitivos. Eles são funcionalmente
especializados e distintos entre si. Já os mapas globais são
construídos, por exemplo, na formação de conceitos,
quando o cérebro constrói mapas de sua própria Afetos
atividade. Um mapa global é um mapa de mapas locais. É Neurônios
uma estrutura dinâmica que possui vários mapas locais
reentrantes que são capazes de interagir com áreas não- Grupos Neuronais
mapeáveis do cérebro, como o hipocampo, cerebelo e Mapas Locais
gânglios basais. Algumas dessas áreas não-mapeáveis Circuito neuronal
são, do ponto de vista funcional, responsáveis pelos Mapas Globais associado a um afeto
aspectos emocionais/motivacionais/atencionais, que se
manifestam por meio da formação de circuitos afetivos, Figura 2 – Acoplamento entre áreas não-mapeáveis
que na verdade são entrelaçados1 com os circuitos com o córtex.
sensório-motores.
Desta forma, percebe-se, a nível estrutural a idéia da 6. Afetos biológicos e sistemas
cognição situada, por deixar claro que a percepção computacionais cognitivos
emerge da atividade sensório-motora através de uma
seleção continua em mapas locais de mapas globais. Os sistemas computacionais cognitivos podem ser
Como já dito, uma ação acontece sempre em um domínio modelados de acordo com dois grandes grupos teóricos
definido pela emoção, e conforme a teoria de Edelman das Ciências Cognitivas: o da objetividade e o da não-
(TNGS) pode-se estabelecer como isto ocorre sob o ponto objetividade. De forma geral, os dois grupos podem ser
de vista biológico. Na figura 2, fica clara a integração de diferenciados através da forma como “surge” o
áreas não-mapeáveis do cérebro com o córtex (área conhecimento. No primeiro, existe a separação
mapeável) no sentido da TNGS, definindo como o sujeito/mundo, assim, o saber e o conhecimento são
sistema emocional/motivacional/atencional modula, e é vistos como representações internas de um mundo
modulado por categorizações emergentes nos circuitos externo. Já no segundo, o conhecimento e o aprendizado
neuronais, através de ligações sinápticas bidirecionais, surgem das interações do sujeito com o mundo do qual
reentrantes e dinâmicas. faz parte. Sendo assim, o mundo não é pré-dado e,
portanto, não existem representações internas de uma
realidade externa [19].
Os Agentes de Software Cognitivos e Situados
(ASCS) são agentes inteligentes construídos em
conformidade com a abordagem não-objetivista,
genericamente denominada cognição situada.
Os componentes que fazem parte da organização do
ASCS podem ser classificados de acordo com a sua
1 função em: cognitivos e não-cognitivos [19]. Fazendo
Por entrelaçados se quer dizer que os subsistemas uma analogia grosseira com o ser humano, o sistema
emocional/motivacional/atencional e o sensório-motor são acoplados
dinamicamente de forma reentrante e imbricada, i.e, sua operação não cognitivo do ASCS desempenha o mesmo papel que o
pode ser compreendida separadamente. sistema nervoso, enquanto que o sistema não-cognitivo
do ASCS desempenha papel semelhante ao sistema
somático (corpo).
Sub-sistema cognitivo
CE CA
CM
CSM
CNC
Sub-sistema
não-cognitivo
CE ⇒ Componente Emocional.
CM ⇒ Componente Motivacional.
CA ⇒ Componente Atencional.
CSM ⇒ Componente Sensório-Motor.
CNC ⇒ Componente Não-Cognitivo
Figura 3 – Arquitetura resumida do ASCS
Dentre os componentes cognitivos do ASCS, podem-
se destacar os componentes sensório-motores,
atencionais, motivacionais e emocionais, conforme
esboçado na figura 3. Há evidências [25] que o próprio
corpo tem um papel importante na interação corpo-
cérebro, interação essa de natureza diferente do sistema
nervoso central. No entanto, no escopo do presente
trabalho, esta interação direta com o corpo não será
tratada. Será considerada somente a inter-relação entre os
sistemas sensório-motores e emocional-motivacional-
atencional, que são partes do sistema nervoso central.
Os componentes do subsistema cognitivo do ASCS
devem operar de forma entrelaçada, semelhante aos
afetos biológicos, como descrito nas seções anteriores.
Para isso propõe-se que se utilize a teoria dos sistemas
dinâmicos acoplados [20-23] através da utilização de
redes neurais artificiais dinâmicas, auto-organizáveis, que
se estruturam hierarquicamente.
A teoria de sistemas dinâmicos presta-se bastante bem
e já vem sendo utilizada há longo tempo para estudar
sistemas complexos, com grande número de componentes
[21,23]. Essa abordagem proporciona meios, inclusive
matemáticos, para se analisar o comportamento global
emergente de um sistema, sem a necessidade de se ter que
conhecer detalhes da dinâmica interna de seus
componentes. As redes neurais acopladas apresentam
precisamente essas características de serem sistemas não-
lineares, com grande número de componentes que,
através de uma dinâmica interna local, produzem efeitos
globais emergentes que são características do sistema
como um todo.
Cada rede neural deverá desempenhar um papel
funcionalmente específico, sendo organizada
hierarquicamente, desta forma, cada rede neural é um
sistema dinâmico que deverá acoplar-se dinamicamente a
outras redes neurais, produzindo então uma rede neural
hierarquicamente acoplada.
Considerando o que foi exposto, pretende-se
implementar os componentes emocional, motivacional e
atencional, através de um conjunto de redes neurais
especializadas, onde cada uma delas isoladamente
corresponda ao correlato neural de um afeto primitivo. O
acoplamento dinâmico dessas redes neurais, via sinapses
reentrantes, possibilitará o surgimento de efeitos
emergentes (correlações de ordem mais alta), neste
conjunto de redes acopladas, que por sua vez,
corresponderão aos correlatos neurais associados aos
afetos de nível mais alto. Portanto, os afetos de nível mais
alto irão se manifestar através de correlações dos afetos
de nível mais baixo, analogamente aos afetos biológicos
[8].
O componente sensório-motor será modelado de
forma similar aos demais componentes do subsistema
cognitivo, porém, as redes neurais artificiais dos níveis
mais baixos, estarão associadas a coordenações sensório-
motoras primitivas.
A utilização de redes neurais hierarquicamente
acopladas para implementação tanto do mecanismo do
componente sensório-motor quanto dos componentes
emocionais, motivacionais e atencionais, já vem sendo
estudada na literatura [20,22,23,26].
7. Conclusão
Este trabalho buscou conceituar as emoções e afetos,
destacando a relação existente entre eles, cujos conceitos
são muito próximos e complementares. Discutiu-se,
ainda, a interdependência das emoções e afetos com o
processo cognitivo e meta-cognitivo. Posteriormente, foi
descrita uma teoria que propõe uma hierarquização das
emoções sob o ponto de vista biológico e não
psicológico. Esta teoria busca estabelecer uma
classificação hierárquica dos afetos. O entrelaçamento
existente entre os circuitos sensório-motores e os
circuitos afetivos, em que um modula e é modulado
dinamicamente pelo outro foi discutido em seguida. A
partir deste quadro, foi indicada a possibilidade de se
embutir afetos em um Agente de Software Cognitivo e
Situado. Os circuitos sensório-motores serão modelados
em conformidade com a teoria de seleção dos grupos
neuronais [6,16]. Por outro lado, a modelagem dos
circuitos afetivos se baseará em uma taxonomia dos
afetos proposta por Buck [8]. De acordo com esta
 taxonomia, serão estabelecidos os diversos circuitos
afetivos, os quais serão implementados via redes neurais
hierarquicamente acopladas. Além disso, propõe-se que o
acoplamento necessário entre os circuitos afetivos e os
sensório-motores seja implementado através de
mecanismos de acoplamento dinâmico de redes neurais
auto-organizáveis [26]. Estudos nesse sentido já vêm
sendo desenvolvidos no Laboratório de Sistemas
Inteligentes (LSI) do Centro Federal de Educação
Tecnológica de Minas Gerais [27].
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