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ISSN: 0874-4696
revista@sppsicossomatica.org
Sociedade Portuguesa de Psicossomática
Portugal
interna. De acordo com esta perspec- do, mesmo que ele seja constituído
tiva, interessa clarificar o que os múl- por palavras com uma valência posi-
tiplos estudos têm apontado quanto tiva (e.g., Blaney, 1986; Bower, 1981,
à influência que a emoção tem na 1987; Eich, 1989). Há também outros
memória. estudos em que a música pode funci-
Nesta dupla perspectiva que foi onar como indutor de emoções e
apresentada, e tendo em conta esta facilitador de recordações de informa-
necessidade de redução do largo cam- ções processadas enquanto os sujei-
po de estudo das emoções para con- tos ouvem novamente as melodias
textos controlados, desenvolveram-se (Balch & Lewis, 1996; Balch, Myers,
fundamentalmente três tipologias de & Papotto, 1999). Este efeito pode ser
estudos: (1) os estudos de memória considerado no âmbito das influên-
dependente do estado emocional; (2) cias do contexto na memória, e neste
os estudos de memória congruente; caso particular, um contexto interno
(3) e os estudos de memória para de- (e.g., Bullington, 1990; Kuiken, 1989;
terminados estímulos emocionais. Lewis & Williams, 1989).
Este tipo de estudos tiveram pou-
ca expressão até ao trabalho clássico
Estudos de memória dependente de Bower, Monteiro & Gilligan (1978).
do estado emocional Nele, os participantes aprenderam
duas listas de palavras durante uma
Os estudos sobre memória depen- sessão em que foram induzidos por
dente do estado emocional centram- hipnose estados de alegria e tristeza.
-se nas consequências que uma vivên- Seguidamente, os participantes foram
cia emocional intensa tem na recor- convidados a evocar as listas apren-
dação de informação. Este fenómeno didas, tendo sido induzidos os mes-
é notório quando um episódio passa- mos estados emocionais. O resultado
do é mais facilmente recordado pela fundamental manifesta-se no maior
presença, no momento actual, de um grau de retenção das palavras que
estado emocional semelhante ao que foram aprendidas sob efeito de um
foi sentido no momento em que esse estado emocional que é concordante
episódio ocorreu. Esta memória do com o estado emocional presente no
episódio estende-se a todas as infor- momento da recuperação da informa-
mações processadas nesse momento ção.
e não apenas aquelas que são con- Estes resultados pareciam espan-
gruentes com o estado emocional de tosos pela possibilidade de demons-
então e de agora. Em contexto labo- tração em laboratório de um fenóme-
ratorial, quando os sujeitos aprendem no que era relatado por uma grande
listas de palavras num estado de tris- quantidade de pessoas e que foram
teza, a indução dessa emoção mo- não só encontrados em estudos com
mentos depois da aprendizagem faz crianças (e.g., Bartlett, Burleson, &
recordar melhor o material aprendi- Santrock, 1982), como também repro-
estímulos que mudavam o tipo de le- Num outro estudo os sujeitos fo-
tra da fase de processamento para a ram induzidos em estados emocio-
de recuperação. Contudo, refira-se nais de alegria e tristeza através do
que este efeito só acontecia quando falso feedback do resultado de um tes-
se pedia aos sujeitos para atenderem te de personalidade. Alguns minutos
às características físicas dos estímu- depois pediram uma opinião aos su-
los, como o número de letras das pala- jeitos acerca de uma pessoa cujo com-
vras, o que era explicado pela transfe- portamento estava descrito num tex-
rência apropriada de processamento to. Os resultados vão também no sen-
(Morris et al., 1977). Este conceito foi tido esperado, ou seja os sujeitos ale-
então explorado para ilustrar e ajudar gres (por terem um feedback positivo
a compreender a memória con- no teste de personalidade) avaliam
gruente. mais positivamente a personalidade
Relembremos que o fenómeno ge- da pessoa descrita e posteriormente
ral de memória congruente só ocorre lembram-se mais das descrições po-
quando as operações cognitivas rea- sitivas presentes no texto (Forgas &
lizadas no momento do processamen- Bower, 1987).
to são igualmente activadas no mo- Ainda que possa parecer estranho
mento da recuperação da informação. que a reintegração tenha um papel
Será por isso necessário caracterizar central no desempenho das tarefas de
as operações cognitivas que estão en- evocação livre, teremos que ter em
volvidas nas tarefas de processamen- conta que Mandler (1980; 1988) refe-
to da informação. re que a elaboração e integração são
Num estudo de 1996, Bower & processos fundamentais do reconhe-
Kelley induziram nos participantes cimento, tarefa que é explícita. Ou
do seu estudo as emoções de tristeza seja, quando os sujeitos não têm dis-
ou alegria e posteriormente pediram- poníveis vias directas de recuperação
-lhes que analisassem fotografias e as baseiam-se na familiaridade ou facili-
avaliassem de acordo com os seus in- dade de processamento para fazerem
teresses. Metade dessas fotografias os seus reconhecimentos. Talvez seja
eram sobre cenas agradáveis e a ou- esta uma das razões das dissociações
tra metade sobre cenas desagradá- entre memória implícita e explícita,
veis. A variável dependente medida embora Macaulay, Ryan & Eich (1993)
foi o tempo que os sujeitos ocuparam não estejam de acordo. Para estes au-
a olhar para as fotografias, verifican- tores, a familiaridade e fluência de
do-se que os sujeitos tristes gastavam processamento facilitam a forma
mais tempo a olhar para as fotografi- como o contexto é recordado, o que
as desagradáveis e esta diferença, ao acontece em todo o tipo de tarefas de
nível da atenção e provavelmente do memória: para a memória explícita,
processamento, poderá ser responsá- um cheiro particular activa a recorda-
vel pelas diferenças notadas em rela- ção inesperada, mas consciente, de
ção à evocação da informação. um qualquer episódio vivido por
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