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DISFUNÇÃO COGNITIVA E ENVELHECIMENTO SAUDAVEL EM CÃES

Trabalho realizado no âmbito da unidade curricular de Temas Emergentes em Fisiologia


Veterinária, pertencente ao primeiro semestre do segundo ano da Licenciatura e Mestrado
Integrado em Medicina Veterinária.

Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

Faculdade de Medicina Veterinária

Lisboa

2023

Docente: Professor Miguel Remondes


Discentes: Alexandra Relíquias a22205067
Diogo Afonso a22302671
Fábio Rocha a22202755
Tiago Lagarto a22203230
INTRODUÇÃO

A idade de um organismo refere-se, geralmente, ao tempo de existência do indivíduo


(Boron & Boulpaep, n.d.).
O envelhecimento é um processo natural que traz consigo inúmeras mudanças
fisiológicas e comportamentais. Estas mudanças são progressivas e deteriorantes e
ocorrem durante a vida adulta (Boron & Boulpaep, n.d.). Durante o envelhecimento o
organismo dos cães idosos sofre alterações em diversos sistemas, nomeadamente o
cardiovascular, musculoesquelético, imunológico e, especialmente, o sistema nervoso
central.
No que diz respeito à saúde cognitiva, os cães idosos podem apresentar sinais de declínio
mental semelhantes aos observados em humanos. Este fenómeno é conhecido como
disfunção cognitiva canina (DCC) ou síndrome da disfunção cognitiva (SDC). A
disfunção cognitiva canina (DCC) é o análogo canino da doença de Alzheimer humana
(DA). A fisiopatologia do DCC/DA é multifacetada. (Dewey et al., 2019)
A disfunção cognitiva associada ao envelhecimento em cães tem sido amplamente
estudada, uma vez que é o fenómeno natural que mais se parece com a DA humana. Até
à data, estima-se que a prevalência da DCC na população mundial canina varie entre 14%
e 35%.
A compreensão da disfunção cognitiva é fundamental, visto que tem havido um
envelhecimento da população canina. Este envelhecimento deve-se essencialmente ao
aumento da consciencialização mundial relativa aos cuidados com os animais de
estimação, que levou a um subsequente avanço na área da medicina veterinária,
incentivando a pesquisa e o desenvolvimento de abordagens terapêuticas para lidar com
esta disfunção.
DESENVOLVIMENTO

Envelhecimento saudável x envelhecimento patológico


Embora os proprietários de cães considerarem muitas alterações fisiológicas e
comportamentais em cães idosos como parte do processo normal de envelhecimento, é
fundamental saber diferenciar o envelhecimento saudável do envelhecimento patológico,
dado que as alterações comportamentais podem ser a primeira indicação de declínio da
saúde e do bem-estar em cães idosos.
O envelhecimento é um fenómeno natural que envolve diversos fatores e que leva ao
declínio das funções da maioria dos órgãos e tecidos.
Várias teorias foram apresentadas, até à data, sobre os mecanismos biológicos que levam
ao envelhecimento, também chamados de Hallmarks, incluindo danos induzidos por
radicais livres, reticulação molecular, encurtamento dos telómeros, presença de genes de
senescência no DNA, alterações epigenéticas, disfunção mitocondrial, instabilidade
genómica, perda de proteostase e exaustão das células tronco.
Mais recentemente, foi proposta uma teoria do envelhecimento que abrange as principais
teorias do envelhecimento. A Teoria dos Radicais Livres do envelhecimento fornece
explicações para o fenómeno do envelhecimento, incluindo as conexões entre a
expectativa de vida média dos mamíferos e as suas taxas metabólicas basais.(Chapagain
et al., 2018). A produção de radicais livres pode levar um aumento do dano oxidativo de
biomoléculas que, por sua vez, podem causar uma disfunção a nível dos neurónios. O
dano oxidativo acumula-se progressivamente no cérebro envelhecido e as moléculas
danificadas podem comprometer as funções neuronais e aumentar a vulnerabilidade ao
desenvolvimento da DA.
Nos cães as diferentes fases da vida são acompanhadas por diferentes características
comportamentais e cognitivas, incluindo alterações na brincadeira ou na capacidade de
concentração e aprendizagem. Pesquisas em cães de laboratório, assim como em
humanos, relataram um declínio na aprendizagem, na memória e no controlo com o
aumento da idade, e alguns estudos recentes em cães de estimação investigaram como o
aumento da idade altera a capacidade de resposta social, a curiosidade em relação a novos
objetos, a atenção e a memória (Tapp et al., 2003).
Considerando essas mudanças comportamentais e cognitivas ao longo da vida, surge a
questão de quando começa exatamente o envelhecimento nos cães. Tal como já foi
referido anteriormente, o envelhecimento é um processo que envolve inúmeros fatores,
pelo que a altura em que o envelhecimento começa varia de acordo com a raça, tamanho
e peso do indivíduo. Diferentes autores sugeriram idades diferentes (Golini et al.
relataram 7 anos, enquanto Neilson et al. indicaram 11 anos).
Alguns cães envelhecem de uma forma que pode não afetar diretamente o seu
funcionamento diário ou as suas atividades e relacionamento com os seus proprietários,
enquanto que para outros o seu desempenho decadente pode comprometer essas funções.
Outra parte da população canina em envelhecimento desenvolve disfunções cognitivas e
demência semelhante ao envelhecimento neuropatológico em humanos. Portanto, é
fundamental saber diferenciar entre envelhecimento saudável e envelhecimento
patológico. Mudanças comportamentais podem ser a primeira indicação do declínio da
saúde e do bem-estar de cães idosos e podem ajudar a entender se o animal é afetado por
um envelhecimento saudável ou patológico.

Sabe-se menos sobre as alterações associadas ao envelhecimento do que sobre o próprio


processo de envelhecimento. A maioria das pesquisas sobre envelhecimento cognitivo
em cães tem se centrado nas abordagens translacionais do envelhecimento humano e da
doença de Alzheimer (DA) (Chapagain et al., 2018).
O cérebro é responsável pelo processamento sensorial, movimento, cognição, processos
emocionais e pela regulação de comportamentos normais e sociais. Cada parte do cérebro
é responsável por funções específicas.
As habilidades cognitivas dos cães alteram-se ao longo da vida, sofrendo uma diminuição
à medida que os cães envelhecem, independentemente de todos os fatores que são
considerados. Isto é, independentemente da raça, peso ou tamanho, a partir do momento
em que entram na fase adulta e à medida que a idade aumenta, sofrem sempre uma
diminuição das suas habilidades cognitivas.
Foram realizados estudos em que se utilizaram testes neurocognitivos que relataram que
cães mais jovens apresentam melhor desempenho em tarefas de aprendizagem e funções
executivas quando comparados com cães mais velhos. Além disso, os testes
neurocognitivos foram capazes de subclassificar cães idosos em deficientes cognitivos e
deficientes não cognitivos.
O envelhecimento cognitivo patológico pode afetar cães com mais de 8 anos de idade e
é caracterizado por alterações neurodegenerativas progressivas no córtex cerebral e no
hipocampo que levam a um declínio nas funções cognitivas e são clinicamente expressas
como alterações distintas no comportamento e nas rotinas diárias dos cães (Chapagain et
al., 2018).

Disfunção cognitiva canina


A disfunção cognitiva canina (DCC) é o análogo canino da doença de Alzheimer humana
(DA). Embora não exista ainda cura, sabe-se que o tratamento, realizado numa fase
precoce, permite atrasar a progressão da doença e, por vezes, melhorar o quadro clínico
do animal (Dewey et al., 2019; Ilda Maria Neto Gomes Rosa, n.d.)
A disfunção cognitiva canina (DCC) é um termo relacionado à senilidade onde existe
deterioração das habilidades cognitivas, e é caracterizada por mudanças no
comportamento.

Estudos apontam que a DCC, ainda que seja um problema comum em cães idosos, é
subdiagnosticada em até 85% dos casos. No entanto, tratando-se de uma doença tão
debilitante e que tanto degrada a qualidade de vida do animal e do seu detentor, é
surpreendente que seja, ainda hoje, tão evidentemente subdiagnosticada (Salvin et al.,
2010). Torna-se por isso, e também face à crescente tendência de aparecimento desta
síndrome, importante compreender o que leva a esta falha de deteção e diagnóstico. Este
conhecimento permitiria assim combater a sua progressão e o desfecho clínico
desfavorável a que se assiste frequentemente e, eventualmente, possibilitaria também um
aumento das atitudes preventivas (Ilda Maria Neto Gomes Rosa, n.d.). Pensa-se que parte
desta falha na deteção se deva ao desconhecimento desta síndrome por parte do detentor,
fazendo com que estes não reconheçam os sinais clínicos, ou que os considerem como
parte integrante do normal envelhecimento do seu animal.
A DCC afeta diretamente a qualidade de vida dos cães idosos e a interação com seus
tutores, além de dificultar a comunicação entre o cão e seu detentor. Além disso, também
foi relatado que cães com esta disfunção apresentam padrões de locomoção erráticos, uma
frequência aumentada de comportamentos sem objetivo e mudanças na capacidade de
resposta social, como uma resposta diminuída ao isolamento social e à interação humana
(Chapagain et al., 2018).

A fisiopatologia da DCC é bastante semelhante à fisiopatologia da Alzheimer humana.


Diversas pesquisas indicam a ocorrência de perda de células nervosas e,
consequentemente, uma atrofia cerebral generalizada, com um agravamento progressivo,
principalmente no córtex, tal como destacado por Scuderi et al. (2021). A extensão dessa
atrofia está diretamente relacionada com o nível de disfunção cognitiva manifestada pelo
animal. Esta impacta o córtex pré-frontal aproximadamente entre os 8 e 11 anos, afetando
o hipocampo após os 11 anos. É importante ressaltar que a atrofia em todas as regiões
cerebrais só se torna visível após os 12 anos de idade, conforme observado em estudos de
Barry et al. (2021), Head (2013) e Pugliese et al. (2010).

Semelhantemente à Alzheimer humana, na DCC ocorre a deposição e consequente


acumulação de proteína beta-amilóide, assim como a ocorrência de doença vascular
cerebral e de lesões oxidativas.

Pode encontrar-se também, a nível cerebral, o engrossamento das meninges, a disfunção


da microglia com gliose (aumento do número e tamanho dos astrócitos), dilatação
ventricular, disfunção, mitocondrial neuronal, comprometimento do metabolismo
neuronal de glucose (principal fonte de energia cerebral), entre outros (Cotman and Head
2008; Dewey et al. 2019).

É no cérebro que surgem as grandes transformações provocadas pela doença, havendo


uma alteração nas células que nele se encontram, estruturas essas que são responsáveis
pelo correto funcionamento cerebral (Penney et al. 2020). Estas alterações celulares
encontram-se resumidas na figura 1.
Figura 1- As diferentes células cerebrais e as principais alterações sofridas no decorrer da doença de
Alzheimer. Adaptado a partir do trabalho de Penney et al. (2020)

O cérebro, que consome aproximadamente 20% do oxigénio total do corpo, possui níveis
mais baixos de antioxidantes endógenos em comparação com outros tecidos, tornando-se
mais vulnerável à lesão oxidativa. Durante a fosforilação oxidativa, o oxigénio é reduzido,
formando radicais livres de maneira fisiológica. No entanto, essa formação também pode
ocorrer de maneira patológica devido à radiação, processos inflamatórios ou à exposição
a metais, fármacos e produtos químicos.

Os radicais livres tornam-se altamente reativos, podendo lesar o local de formação ou


migrar para locais distantes. Isso leva a um estado de stresse oxidativo, caracterizado pelo
desequilíbrio entre radicais livres e as defesas antioxidantes do organismo. As lesões
resultantes podem afetar lípidos, proteínas e ácidos nucleicos, contribuindo para mutações
genéticas e lesões celulares.
Estudos indicam que o tecido cerebral de cães com DCC apresenta uma diminuição na
concentração de vitamina E, que é um antioxidante muito importante para o organismo.
Além disso, as mitocôndrias desempenham um papel significativo na oxidação, pelo que
o envelhecimento está associado à disfunção mitocondrial. As alterações morfológicas e
funcionais das mitocôndrias podem estar relacionadas com a deposição de substância Aβ
(beta-amilóide).

O declínio na atividade mitocondrial contribui para um aumento na produção de radicais


livres, exacerbando as lesões encontradas. A gravidade das alterações na atividade
mitocondrial está diretamente relacionada com a extensão das lesões oxidativas e com o
declínio comportamental observado nestes cães.

Como referido, juntamente com a lesão oxidativa que ocorre ao longo do envelhecimento,
ocorre também a deposição de substância amilóide. Esta deriva da clivagem da proteína
percursora amilóide (PPA) dando origem às placas encontradas no cérebro afetado pela
disfunção cognitiva. A PPA pode ser clivada por uma das seguintes vias: uma via não
amiloidogénica (fisiológica) ou uma via amiloidogénica (patológica). É nesta última que
ocorre a formação de Aβ, tal como se encontra esquematizado na figura 2 (Haass et al.
2012; Heppner et al. 2015).

Figura 2- Representação esquemática da formação de placas Aβ. Adaptado a partir do trabalho de


Heppner et al. (2015)
Sinais clínicos da DCC
Os indicadores clínicos da DCC manifestam-se por meio de mudanças no
comportamento, que podem surgir de maneira mais discreta nas fases iniciais da
patologia, porém, tornam-se mais acentuadas à medida que a síndrome progride.

Tabela 3 - Principais sinais/alterações comportamentais associada à DCC


A manifestação dessas alterações comportamentais no animal varia consideravelmente
em intensidade, dependendo das características individuais e do grau de disfunção
apresentado (Landsberg et al.; Sordo et al. 2020). A implementação precoce de medidas
terapêuticas ou de controlo da patologia permite interromper ou desacelerar a progressão
da síndrome, resultando em melhorias na qualidade de vida e bem-estar do animal.

Diagnóstico da DCC
No caso da DCC, o diagnóstico é caracterizado como um "diagnóstico de exclusão", dado
que não existe um exame de diagnóstico específico para a condição. Diversas patologias
podem ocasionar os sinais observados, incluindo alterações comportamentais e cognitivas
(Denenberg et al., 2017; Benzal & Galán Rodríguez, 2016a; Sordo & Gunn-Moore,
2021).

Quando um animal idoso apresenta mudanças comportamentais e cognitivas relacionadas


à Síndrome Disfuncional Cognitiva, é necessário realizar uma avaliação cuidadosa. Esta
avaliação envolve uma revisão detalhada do histórico, um exame físico abrangente,
focando especialmente no exame neurológico e na observação dinâmica do
comportamento do animal no ambiente da consulta. Exames complementares, como
hemograma, bioquímica sérica e exames de imagem (raios X, ultrassonografia,
tomografia computadorizada), são recomendados para descartar outras causas médicas
que podem apresentar sintomas semelhantes. A Ressonância Magnética (RMI) é
destacada como o exame mais apropriado para confirmar o diagnóstico de DCC.

É crucial notar que o envelhecimento pode resultar em diversas alterações degenerativas,


gerando sinais comportamentais que podem ser confundidos com uma disfunção
cognitiva (Tabela 4).
Tabela 4 - Diagnósticos diferenciais de DCC

Tratamento da DCC
Devido à natureza degenerativa do Sistema Nervoso Central na DCC, as alterações
comportamentais e o declínio cognitivo tendem a agravar-se com o envelhecimento.
Nesse sentido, é crucial realizar um diagnóstico precoce para possibilitar o início imediato
do tratamento e retardar a progressão da doença, uma vez que, até o momento, não há
cura conhecida.
Além de reduzir as mudanças no comportamento e desacelerar o avanço da condição, o
tratamento visa aprimorar não apenas o bem-estar e a qualidade de vida do animal, mas
também fortalecer a conexão entre o animal e seu proprietário. Com esse propósito,
implementa-se uma abordagem terapêutica abrangente, incluindo estratégias como
enriquecimento do ambiente, intervenções farmacológicas e a incorporação de
suplementos nutricionais.
Essas medidas são coordenadas para produzir um efeito combinado benéfico,
promovendo um cuidado integral e personalizado para o animal. (Landsberg et al., 2011;
Miele et al., 2020; Benzal & Rodríguez, 2016a).

Tabela 5 - Principais suplementos que podem ser benéficos na disfunção cognitiva em cães

A abordagem farmacológica na gestão da DCC visa restaurar a homeostase nas


concentrações de neurotransmissores, procurando retardar a progressão da condição
neurodegenerativa. A personalização do tratamento é essencial, adaptando-o às
características individuais de cada animal (Andrews & Gordon, 2008; Fast et al., 2013).

Um marco significativo foi alcançado com a introdução da selegilina como o primeiro


medicamento aprovado e utilizado para o controlo da DCC em cães. Esse fármaco atua
como um inibidor seletivo e irreversível da enzima monoamina oxidase do tipo B,
responsável pelo catabolismo de neurotransmissores como dopamina, norepinefrina e
serotonina (Campbell et al., 2001).
Pesquisas indicam a eficácia do cloridrato de selegilina no controlo dos sinais clínicos
associados à DCC, evidenciando resultados positivos após quatro semanas de
tratamento(Campbell et al., 2001).
Caso clínico de Disfunção Cognitiva Canina
Paciente
O paciente é o Zico, um cão esterilizado da raça bretão spaniel, com 14 anos e 20 kg.
Apresenta ansiedade noturna, alteração no ciclo sono-vigília e ansiedade por separação.
No histórico, destaca-se diagnóstico prévio de arritmia, artrose nos cotovelos e cataratas.
Estava em tratamento com Fluoxetina, Cardisure, Lorazepam e Wejoint+.

Anamnese
- Adquirido aos 4 meses e meio.
- Corretamente vacinado e desparasitado.
- Alimentação com ração para sénior, vive em apartamento com a tutora e namorado.
- Apresenta episódios de destruição e falta de interesse em brincar.
- Histórico de ansiedade noturna e consulta anterior por esse motivo.
- Apresentava episódios de destruição de cartão, tapetes e cortinas quando deixado
sozinho.
- Há mais de dois anos que não demonstra interesse em brincar.

Avaliação
- Aplicação de questionário para disfunção cognitiva com pontuação de 62 (valor>50 –
alto risco).
- Bioquímica Sérica e Hemograma: sem alterações. Não se procedeu a mais exames
complementares.

Tratamento Instituído
- Manutenção da terapêutica, exceto Fluoxetina, substituída por Fluvoxamina.
- Adição de Gabapentina e Meloxicam.
- Tutora orientada a suspender medicação em caso de efeitos adversos.

Consulta de Acompanhamento
- Após seis semanas, tutora relata melhora significativa: O Zico dorme melhor e fica
menos ansioso quando fica sozinho.
Acompanhamento a longo prazo
- Nova consulta após três meses para reavaliação cognitiva e ajuste da medicação.

Discussão do Caso Clínico


- Possibilidade de Síndrome de Disfunção Cognitiva (SDC) devido a sintomas como
ansiedade noturna e alterações no ciclo sono-vigília.
- Cataratas podem influenciar o comportamento, sendo uma limitação para o diagnóstico
de SDC.
- Ansiedade aumentada por mudanças no ambiente (presença do namorado da tutora) e
dor devido à artrose nos cotovelos.
- O tratamento inclui terapia multifacetada: ambiental, farmacológica e suplementação
nutricional.
- A escolha de alimentar o Zico com uma dieta de alto padrão, rica em ácidos gordos
(ómega 3 e 6) e antioxidantes, destinada a animais idosos pode desempenhar um papel
significativo na promoção do seu envelhecimento saudável. Esta prática não procura
apenas prevenir, mas também atenuar a evolução da DCC.
- Substituição segura da Fluoxetina por Fluvoxamina, com adição de Gabapentina e
Meloxicam para ansiedade e dor.

Conclusões
A disfunção cognitiva canina (DCC) é um campo de estudo crucial para compreender o
envelhecimento em cães. O seu principal objetivo é identificar, compreender e diferenciar
entre o envelhecimento natural e os processos patológicos que afetam o sistema nervoso
central dos cães idosos. Este estudo enfatiza a importância de reconhecer os sinais
precoces da DCC, permitindo intervenções terapêuticas que possam retardar sua
progressão e melhorar a qualidade de vida dos animais afetados.

O trabalho destacou os marcadores fisiopatológicos da DCC, ressaltando sua semelhança


com a doença de Alzheimer humana. A progressiva degeneração neuronal, a atrofia
cerebral, a acumulação de proteína beta-amilóide e o estresse oxidativo são alguns dos
mecanismos centrais discutidos, evidenciando a complexidade desta síndrome.
A identificação dos sinais clínicos, embora desafiadora devido à ausência de um exame
diagnóstico específico, é fundamental. Comportamentos como desorientação, alterações
na interação social, distúrbios do sono, ansiedade e comprometimento da memória são
indicativos, mas exigem uma diferenciação cuidadosa de outras condições médicas que
possam apresentar sintomas semelhantes.

O diagnóstico diferencial, baseado em avaliação clínica, exames laboratoriais e, em casos


específicos, imagens cerebrais, é crucial para descartar outras doenças que podem se
manifestar de maneira semelhante à DCC. O tratamento, por sua vez, é multifacetado,
incluindo enriquecimento ambiental, suplementação nutricional e, em alguns casos,
terapia farmacológica.

O estudo do caso clínico do Zico, um cão com sintomas sugestivos de DCC, ilustra a
complexidade diagnóstica e terapêutica associada a esta síndrome.

Em suma, o objetivo deste trabalho foi explorar a disfunção cognitiva canina, desde os
seus mecanismos fisiopatológicos até ao diagnóstico e abordagens terapêuticas. O
entendimento da DCC é essencial para o reconhecimento precoce, tratamento eficaz e
melhoria da qualidade de vida de cães idosos afetados por esta síndrome, proporcionando
uma base sólida para a pesquisa contínua e o desenvolvimento de estratégias terapêuticas
mais eficazes.
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