DISCIPLINA: FISIOLOGIA HUMANA PROFESSOR: HIRAN REIS SOUSA DISCENTES: ANA BEATRIZ DAMASCENO MARINHO, ANA VITÓRIA FERREIRA GUILHON E ÉVILA BIANCA SAMPAIO BARBOSA DATA: 16/09/2023
RESUMO CRÍTICO
COCHAR-SOARES, N.; DELINOCENTE, M. L. B.; DATI, L. M. M. Fisiologia do
envelhecimento: da plasticidade às consequências cognitivas. Revista Neurociências, [S. l.], v. 29, 2021. DOI: 10.34024/rnc.2021.v29.12447. Disponível em: https://periodicos.unifesp.br/index.php/neurociencias/article/view/12447. Acesso em: 16 set. 2023. Natália Cochar Soares é uma mestre em Gerontologia pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar (2020-2022). Ela faz parte do Grupo de Pesquisa Epidemiologia e Envelhecimento (GEPEN), certificado pelo CNPQ e localizado no Departamento de Gerontologia da UFSCar, onde trabalha na linha de pesquisa “Transtornos mentais neurocognitivos: epidemiologia, fatores associados e instrumentos de avaliação.” Seu foco de atuação envolve as áreas de diabetes, hipertensão e cognição (desde 2016). Natália possui uma graduação em Gerontologia pela UFSCar (2016-2020) e foi bolsista FAPESP de Iniciação Científica (2018-2019) e de Mestrado (2020-2022), além de ter recebido o Prêmio “Melhor Tema Livre Gerontologia – 2º Lugar” por sua apresentação oral no 11º Congresso Paulista de Geriatria e Gerontologia.
Maicon Luis Bicigo Delinocente é um graduado em Gerontologia pela
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Durante seu tempo na universidade, ele participou da atividade de extensão “Acompanhamento Gerontológico na Prevenção de Quedas e Promoção da Saúde na Atenção Básica” de 2015 a 2016, sendo bolsista da Pró-Reitoria de Extensão (ProEx). Além disso, ele desempenhou um papel ativo no Projeto IdosONline, em parceria com o Centro de Referência do Idoso Vera Lucia Pilla (CRI-VLP) em São Carlos-SP. Este projeto tinha como objetivo principal ajudar os idosos a usar computadores, acessar a internet e as redes sociais, promovendo assim a inclusão social, a autonomia digital e a troca de conhecimentos, ocorrendo em 2017.
Lívia Mendonça Munhoz Dati é uma profissional com formação em
Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades (2008) e concluiu seu mestrado em Fisiopatologia Experimental na Universidade de São Paulo (2012). Ela obteve seu doutorado na mesma universidade em 2017, com foco na Doença de Parkinson e receptores de cininas, purinérgicos e TRPM7. Entre 2019 e 2021, Lívia foi Professora Visitante na Universidade Federal de São Paulo, onde contribuiu para a disciplina de Neurociências no departamento de Neurologia e Neurocirurgia. Em 2021, iniciou um pós-doutorado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, trabalhando em um projeto relacionado à vacina nasal para COVID-19. Atualmente, ela desempenha o papel de Tecnologista da Produção, concentrando-se em pesquisas envolvendo animais para testar formulações vacinais.
O artigo “Fisiologia do envelhecimento: da plasticidade às consequências
cognitivas”, é um trabalho desenvolvido para o curso "Neurociência em Pauta", ministrado pelo Programa de Pós-Graduação em Neurologia/Neurociências da Escola Paulista de Medicina, Unifesp, São Paulo. Teve sua publicação na Revista de Neurociências em 2021 e compreende um total de 28 páginas. Adicionalmente, sua estrutura abarca diversas seções, a saber: resumo, palavras-chave (senescência; cognição; envelhecimento) introdução, metodologia, desenvolvimento (abordando o processo de envelhecimento até a neurogênese), e, por fim, as considerações finais. Este abrangente estudo proporciona uma análise abalizada das implicações do envelhecimento na função cerebral e cognitiva.
Em título introdutório, os autores exploram o estudo do envelhecimento,
dividindo-o em duas áreas: envelhecimento humano e envelhecimento populacional. Eles ressaltam as diferenças entre países desenvolvidos e em desenvolvimento quanto às mudanças demográficas e desafios de saúde relacionados ao envelhecimento. Destaca a transição epidemiológica com o aumento de doenças crônicas em idosos e a necessidade de estratégias para enfrentar esses problemas. Em última análise, o texto sublinha a importância de entender essas tendências demográficas e de saúde, com ênfase na prevenção de transtornos neurocognitivos para melhorar a qualidade de vida na velhice, destacando a necessidade de planejamento e intervenções adequadas no contexto do envelhecimento populacional.
Já na metodologia, os autores expõem que a revisão foi preparada visando
atender aos requisitos da Revista Brasileira de Neurociências. Como base para a pesquisa, elaboração e desenvolvimento deste conteúdo, os artigos foram selecionados a partir das bases de dados Pubmed, Scielo e Google Acadêmico. Foi utilizada uma lista de palavras-chave tanto em português quanto em inglês, que inclui o envelhecimento e suas vertentes. Os artigos foram escolhidos de forma a abordar esses temas específicos e, consequentemente, enriquecer nossas discussões, proporcionando uma visão geral e atualizada do assunto, com preferência por estudos mais recentes.
O artigo começa destacando a plasticidade cerebral, ou seja, a capacidade do
cérebro de se adaptar e mudar ao longo da vida. Isso é importante porque desafia a visão tradicional de que o envelhecimento é caracterizado apenas por uma deterioração constante das funções cognitivas. A plasticidade cerebral sugere que, mesmo na velhice, o cérebro pode se adaptar e aprender coisas novas. Essa perspectiva otimista é um dos pontos fortes do artigo, pois destaca a importância de manter um estilo de vida ativo e mentalmente estimulante à medida que envelhecemos, para que então tais atividades cerebrais não sejam completamente comprometidas.
No entanto, o artigo também aborda as mudanças fisiológicas que ocorrem no
envelhecimento, incluindo a diminuição da densidade neuronal, a redução do volume cerebral e a diminuição do fluxo sanguíneo cerebral. Essas mudanças podem contribuir para o declínio cognitivo observado em muitos idosos. A discussão dessas mudanças é importante para fornecer um contexto completo sobre o tema, mas o artigo poderia ter se aprofundado mais em algumas das complexidades envolvidas, como as variações individuais na taxa de envelhecimento e os fatores de risco que podem acelerar o declínio cognitivo.
Neste, também explora o impacto das doenças neurodegenerativas, como o
Alzheimer, no envelhecimento cognitivo. Isso é crucial, pois muitos idosos enfrentam essas condições debilitantes, e entender sua fisiopatologia é fundamental para desenvolver estratégias de prevenção e tratamento.
Assim, o processo de envelhecimento é relatado no texto como um processo
natural e irreversível, destacando ser é um fenômeno, que envolve modificações fisiológicas, onde o indivíduo pode ou não ter perca da autonomia. Ele ressalta também a importância de um estilo de vida saudável, na busca por um envelhecimento bem-sucedido. No entanto, também enfatiza que, apesar dos esforços para manter tal estilo, algumas alterações biológicas inerentes ao envelhecimento, como o aumento das citocinas inflamatórias que deprimem o sistema imunológico, podem resultar em prejuízos à saúde, tornando os indivíduos mais vulneráveis a doenças físicas e psicológicas. Além disso, o texto discute as mudanças sensoriais e psicomotoras que ocorrem com o envelhecimento, afetando o equilíbrio e a capacidade funcional.
Ao envelhecer, além das mudanças na função e no pensamento, também se
observa um aumento na quantidade de radicais livres. Isso pode prejudicar o DNA das células, causando estresse oxidativo, diminuindo da produção de ATP nas mitocôndrias. Outro fator contribuinte para o declínio da longevidade e do bem-estar na vida de um indivíduo, é o isolamento social, acarretando em diversos fatores negativos para a saúde mental e física. Entretanto, visto que a perca dos papéis perante a sociedade, como a aposentadoria, têm contribuído para a “morte social”, evidencia-se a importância de reinserir esse indivíduo a funções que ainda são possíveis para execução, de modo estrategista, para que uma melhor qualidade de vida possa ser ofertada.
No envelhecimento cerebral, é enfatizado a necessidade da compreensão das
mudanças que ocorrem no cérebro como, a redução da massa cinzenta (atrofia cerebral), nas regiões do córtex pré-frontal, lobo temporal e hipocampo. Tal condição pode ser proveniente da morte neuronal, diminuição no tamanho dos neurônios, densidade sináptica e acúmulo de beta amiloide (proteína), que é comum entre pacientes com Alzheimer, em idosos com deficiência cognitiva moderada e até mesmo em saudáveis, segundo estudos recentes. Np entanto, surge o alerta, pois o comprometimento cognitivo pode se desenvolver com o passar do tempo. A mudança do volume e a atrofia do hipocampo, influenciam de maneira negativa no desempenho da memória episódica e da função executiva.
O envelhecimento neuronal causa diversas alterações nos neurônios, incluindo
diminuição no tamanho, nas espinhas dendríticas e na comunicação entre eles. Receptores como o AMPA diminuem com a idade, afetando memória e aprendizado. O receptor NMDA é crucial para o SNC e o envelhecimento cerebral, incluindo a memória. Em vista disso, o envelhecimento cerebral é multifatorial, com aumento do estresse oxidativo, inflamação crônica e alterações no metabolismo de glicose. Seu desempenho declina a partir dos 50 anos de idade, com atrofia cerebral, alterações na neurotransmissão e no fluxo sanguíneo cerebral. Os axônios também encurtam, afetando a comunicação entre áreas cerebrais. Com tal senescência, os neurotransmissores relacionados à depressão e ansiedade diminuem. Assim como a acetilcolina influencia na memória, e sua disfunção afeta o hipocampo. Já os astrócitos e micróglias são essenciais para a homeostase do SNC, mas sua perda está ligada ao envelhecimento cerebral e a doenças neurodegenerativas. Já os problemas cerebrovasculares, estão relacionados a diminuição da substância branca, afetando o fluxo de informações e causando neuroinflamação. Por fim, sabe-se que ao decorrer do envelhecimento cerebral acontece perda contínua de neurônios e redução do volume cerebral e que a disfunção do sistema nervoso tem relação com processos patológicos.
A função cognitiva é descrita pelo autores, como complexa e influenciada por
diversos fatores. A redução de células nervosas, juntamente com a deterioração da matéria branca e cinzenta no lobo frontal e temporal, prejudica a função cognitiva, afetando tarefas como coordenação, planejamento, memória, pensamento e julgamento. A cognição abrange domínios como memória, aprendizagem, função executiva, linguagem, atenção, perceptomotor e cognição social, sendo crucial para atividades diárias e qualidade de vida. Observou-se que menor volume do córtex pré- frontal está associado a um desempenho executivo inferior. A atrofia do hipocampo e a redução do volume cerebral estão relacionadas a problemas de memória, com lapsos de memória sendo uma queixa comum entre os idosos.
As doenças neurodegenerativas são evidenciadas no referido artigo como
condições de grande relevância no contexto da saúde cerebral e do envelhecimento. No que tange às demências, essas patologias têm sua origem na degeneração das áreas corticais e do hipocampo, áreas cruciais para funções cognitivas. Entre os diversos tipos de demência, destaca-se a Doença de Alzheimer, que é a mais comum globalmente. Esta enfermidade degenerativa caracteriza-se pela perturbação da memória, desorientação espacial, além de influenciar o humor e o comportamento dos afetados. É importante compreender que o processo de envelhecimento desempenha um papel significativo na redução do fluxo sanguíneo para órgãos vitais, podendo resultar em atrofia e perda de função.
Na promoção da cognição (estimulo cognitivo), como sugerido pelos autores, é
descrita como um exercício mental, o que substancialmente melhora o desempenho cognitivo de maneira geral, preservando assim a maleabilidade cerebral e possibilitando a aquisição de novos conhecimentos ao longo do tempo. Essa promoção é vantajosa e pode auxiliar na prevenção de distúrbios neurocognitivos, uma vez que são utilizadas táticas e práticas que aprimoram as diversas facetas da cognição.
O conceito de reserva cognitiva traz uma perspectiva promissora. Esta reserva
refere-se à capacidade do cérebro de armazenar habilidades adquiridas ao longo da vida, o que pode atenuar os efeitos adversos das doenças neurodegenerativas. Além da reserva cognitiva, é crucial reconhecer o impacto positivo dos hábitos de vida saudáveis na prevenção da demência. A prática regular de exercícios físicos, o estímulo cognitivo por meio de atividades como leitura, jogos de raciocínio, aprendizado de novos idiomas ou música, bem como a manutenção de vínculos sociais, desempenham um papel fundamental na preservação da saúde mental e na redução do risco dessas doenças. Portanto, é imperativo que se promova um estilo de vida que fortaleça tanto a reserva cognitiva quanto a saúde cerebral como um todo.
No contexto do envelhecimento cognitivo saudável, é notado que no que diz
respeito às habilidades mentais, como vocabulário e linguagem, estas permanecem praticamente inalteradas à medida que a pessoa envelhece e podem até mesmo melhorar com o passar dos anos, se forem estimuladas e aprimoradas. A promoção do envelhecimento saudável envolve a implementação de intervenções relacionadas aos padrões de comportamento e a um estilo de vida saudável que inclui atividade física e uma alimentação de qualidade. Todos esses elementos são relevantes para preservar a plasticidade cerebral, fortalecer as sinapses e os receptores dendríticos, bem como para modular e aprimorar o sistema imunológico em relação aos processos neuroinflamatórios e neurodegenerativos, como no caso do Alzheimer.
As considerações finais, é pautada pela abordagem do processo de
envelhecimento e suas consequências para o Sistema Nervoso Central (SNC). O texto salienta que o envelhecimento é um fenômeno diversificado e influenciado por diversos fatores, como biológicos, psicológicos e sociais, o que faz com que ele seja experimentado de maneira única por cada indivíduo. Além disso, o texto destaca a importância da influência do SNC no corpo humano durante o processo de envelhecimento, incluindo mudanças na função motora, sensitiva e cognitiva, que podem resultar em restrições físicas e uma redução na qualidade de vida. Também é enfatizada a relevância da neuroplasticidade, que se refere à capacidade do SNC de se adaptar a essas mudanças, e como a estimulação cognitiva e um estilo de vida saudável podem desempenhar um papel fundamental em promover um envelhecimento mais saudável e bem-sucedido.
Comentários:
O artigo “Fisiologia do envelhecimento: da plasticidade às consequências
cognitivas” em questão se destaca pela sua riqueza em informações sobre o envelhecimento e sua interconexão com as funções biológicas e sociais. De forma abrangente, ele ilustra como o processo de envelhecimento é intrinsecamente pessoal, moldado por uma variedade de fatores que vão desde as escolhas individuais até as particularidades da função fisiológica. Além disso, o texto evidencia a influência direta do convívio social, ou da falta dele, no bem-estar e na qualidade de vida dos idosos, sublinhando que o isolamento pode desencadear um declínio significativo na sua qualidade de vida. Desse modo, esse artigo se revela como uma fonte valiosa de conhecimento, trazendo à tona a complexidade do processo de envelhecimento e suas implicações tanto biológicas quanto sociais, fornecendo assim para o leitor uma base de entendimento estendida e necessária sobre o assunto colocado. No entanto, o artigo poderia ter se aprofundado mais na discussão sobre intervenções terapêuticas específicas e estratégias de cuidados a longo prazo para aqueles que vivem com doenças neurodegenerativas, para que se faça possível a ampliação dos cuidados e na prestação de assistência nos casos de ocorrência das doenças.