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05/12/2022 21:23 Descomplica

Reabilitando idosos

A Neuropsicologia vem contribuindo com o estudo, diagnóstico e


tratamento de idosos em processos demenciais há bastante
tempo, embora recentemente o interesse tenha aumentado
devido à transição demográfica que o mundo está vivenciando, a
exemplo do Brasil. As ferramentas e os instrumentos oferecidos pela
Neuropsicologia são importantes aliados nestes casos, auxiliando na
identificação dos perfis cognitivos associados a padrões de
envelhecimento e identificando possíveis períodos de transição entre o
envelhecimento saudável e o desenvolvimento inicial de uma doença
neurodegenerativa.

A determinação do limiar entre o declínio cognitivo associado ao


envelhecimento típico e o início de um declínio problemático, deflagrador
de uma condição degenerativa, é um dos principais tópicos de interesse
da pesquisa científica deste tema, cercado de debates e controvérsias.
Recentes estudos longitudinais vêm sugerindo que os declínios que são,
muitas vezes, atribuídos à idade, podem ser apresentações de estágios
iniciais de demência, em alguns casos. Ou seja, é extremamente frágil o
limiar entre o normal e o patológico nestes casos.

Os quadros demenciais que atingem idosos são caracterizados


como casos de declínio cognitivo global. Geralmente, são irreversíveis e
atrapalham as atividades instrumentais e complexas do dia a dia do
paciente, sobretudo em estágios mais avançados, em que há maior
comprometimento e maior necessidade de ajuda. Etiologicamente, ainda
não foi encontrado um marcador biológico que explique o

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desenvolvimento e a evolução desses quadros. Por tal motivo, o


diagnóstico é baseado na avaliação clínica do paciente, nos resultados
dos exames de neuroimagem e na avaliação neuropsicológica.

Deve-se apontar que o conceito de “reabilitação” é amplamente


questionado entre alguns cientistas quando se trata das intervenções no
envelhecimento e nas doenças degenerativas. Tais condições são
caracterizadas por uma perda progressiva das habilidades, das memórias
identitárias e da personalidade. Conceitualmente, não há reabilitação de
uma doença progressiva, já que ela gradativamente degenera o sistema,
impossibilitando o retorno a uma situação pré-mórbida. Nestes casos, as
intervenções e os tratamentos que vão além do cunho farmacológico são
considerados “intervenções não farmacológicas”, dentre elas a
intervenção neuropsicológica.

A maioria das condições demenciais são crônico-degenerativas: isto é,


não há cura. Por tal motivo, a abordagem de intervenção mais adequada
é a abordagem multifatorial, segundo um modelo holístico, que preze pela
associação entre intervenção medicamentosa e intervenção não
medicamentosa. O modelo holístico parte de uma integração entre a
cognição, a emoção e o comportamento, todos sob o contexto
sociocultural vivenciado pelo indivíduo. Nos casos de intervenção
neuropsicológica de idosos em processos demenciais, além de tornar
mais funcionais as habilidades cognitivas rebaixadas, o modelo holístico
estará atento aos aspectos emocionais, motivacionais e sociais.

Dentre os principais processos demenciais, a Doença de Alzheimer (DA) é


a mais prevalente entre os idosos. Trata-se de uma desordem cerebral
degenerativa caracterizada por uma perda progressiva da memória,
principalmente, e de outras funções como as funções executivas, o que
influencia as atividades da vida diária do paciente e seu desempenho
sócio-ocupacional. A doença tem seu início a partir de uma falha no

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processamento de algumas proteínas, que se tornam tóxicas dentro dos


neurônios e no espaço circundante, causando perda progressiva de
neurônios em determinadas regiões corticais, como o hipocampo, que
exerce um papel fundamental na memória.

A DA pode ser dividida em três fases. Na fase leve há perdas cognitivas


sutis na memória prospectiva explícita, dificuldades de aprender novos
conteúdos e alguma outra função rebaixada (atenção, controle inibitório,
planejamento da ação). Há uma leve queda no desempenho das tarefas
instrumentais da vida diária, mas a pessoa ainda é capaz de executar
suas atividades básicas e ser independente, com pouco
comprometimento a nível social. Na fase moderada, o comprometimento
é maior e a pessoa se torna dependente para as principais atividades do
dia a dia. Nesta fase também é comum o aparecimento de uma gama
multivariada de problemas comportamentais e psiquiátricos. Na fase
grave, a fala torna-se extremamente comprometida e o paciente
geralmente fica acamado, amplamente dependente, com inabilidades
motoras para comer, locomover-se, etc.

Outra doença neurodegenerativa bastante comum é a Doença de


Parkinson, ou Mal de Parkinson, que afeta os movimentos e é
caracterizada por tremores, lentidão do movimento, rigidez muscular,
desequilíbrio e gradativos rebaixamentos na linguagem oral e escrita.
Ocorre por causa da degeneração das células da substância negra, que
produzem o neurotransmissor dopamina, afetando os movimentos do
corpo.

Alguns guias e protocolos sobre como conviver e vivenciar processos


demenciais são disponibilizados por sistemas de saúde na internet. Em
geral, determina-se que o tratamento deverá incluir terapia farmacológica
(inibidores de colinesterase), manejo de comorbidades, tratamento dos
sintomas comportamentais e distúrbios do humor e apoio ao paciente e

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seus familiares. As intervenções não farmacológicas estariam mais


direcionadas ao manejo dos distúrbios comportamentais e apoio aos
cuidadores e familiares. Não há uma única recomendação para a
reabilitação neuropsicológica de pacientes em processos demenciais.

Em geral, a primeira queixa de idosos em início de processos demenciais


é relativa à memória. As falhas de memória são queixas de 2/3 dos
idosos em atendimento geriátrico, segundo alguns autores. Contudo,
apenas metade desses idosos apresentam uma diminuição da
capacidade funcional em resposta a uma alteração neurológica. Grande
parte das queixas são relativas ao esquecimento de palavras (nomes,
objetos, atividades). Esses idosos costumam se lembrar de detalhes do
conteúdo, mas não o nome, gerando estresse e ansiedade. No entanto,
idosos demenciados esquecem não apenas o nome, como o contexto e
os detalhes, aproximando-se de um possível transtorno de linguagem
(anomia, parafasias semânticas).

A memória é nossa existência em forma de histórias de nossas


experiências gravadas em nossos cérebros. Essas experiências estão
intimamente relacionadas à aprendizagem. Ou seja, a memória é parte
integrante e fundamental da aprendizagem. Durante os estágios de
codificação e decodificação da memória, há um processo de organização
química e elétrica entre um neurônio e outros neurônios (sinapses), que
ligam um conteúdo ao outro em nosso cérebro, formando mapas
mnemônicos. Entretanto, não poderíamos nos lembrar de tudo, caso
contrário, nosso sistema entraria em colapso. Felizmente, há um processo
de esquecimento programado desde o período gestacional, que constitui
um “esquecimento adaptativo” ao longo da vida.

O psicólogo Daniel L. Schachter, em seu livro “7 pecados da memória”.


Neste, constam 7 “pecados”/características da memória. Tais
características são propostas como consequências do processo

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adaptativo e, portanto, não devem ser vistas necessariamente como


falhas da memória, são elas:

• Transitoriedade: esquecer-se com o tempo – descarte de informações


irrelevantes.

• Distração: protege a manutenção do sistema dividindo-o com a


atenção (somente nos atentamos ao que definimos como mais
importante).

• Bloqueio: ligado à falta de uso (parte auxiliar na desconexão entre o


conceito e a fonologia da informação).

• Atribuição errada, Sugestionabilidade e Distorção: ocorrem em


função de generalizações (descarta os detalhes para promover
adaptação à situação exigida).

• Persistência da falha: a persistência de uma falha está ligada a


questões emocionais, ou pouco emocionais, perdendo o efeito pós-
consolidação.

Abrisqueta-Gomez e Santos (2006) discutem que “somente um


estudo clínico técnico-científico completo do idoso pode determinar se as
alterações da memória são originárias de alguma doença degenerativa ou
de algum outro fator, como má qualidade de vida, depressão e outras
doenças”. Devido às controvérsias em relação ao limiar entre o normal e o
patológico em termos de declínio cognitivo e envelhecimento, é de crucial
importância um diagnóstico e um tratamento adequado e abrangente, que
garanta uma anamnese minuciosa dos problemas atuais e dos níveis de
funcionamento cognitivo e funcional, exames físicos e neurológicos,
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avaliações psicológicas e neuropsicológicas, técnicas de neuroimagem e


eletroencefalograma, acompanhamento longitudinal e atenção e
psicoeducação dos cuidadores e da família. Neste sentido, a intervenção
neuropsicológica poderá fornecer instrumentos para facilitar e melhorar a
vida de idosos convivendo com processos demenciais e seus familiares.

Atividade Extra

No quadro “Dráuzio Comenta”, o médico brasileiro Dráuzio Varella


responde a perguntas usualmente feitas a respeito da Doença de
Alzheimer.

“Doença atinge o paciente e também aqueles que estão ao seu redor.


Carinho neste momento é fundamental.”

Fonte: Drauzio Varella

Assista ao vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=ArFbR6-wKSI

Referência Bibliográfica

ABRISQUETA-GOMEZ, J. Reabilitação neuropsicológica: ab.


interdisciplinar e modelos conceituais na prática clínica. Artmed
Editora, 2009. Disponível em: https://bit.ly/3jbeRXM

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