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CRESCIMENTO,

DESENVOLVIMENTO
E ENVELHECIMENTO
HUMANO

Alexandre Machado Lehnen


Idosos: desenvolvimento
físico, cognitivo e
psicossocial
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Reconhecer os diferentes aspectos dos desenvolvimentos físico, cog-


nitivo e psicossocial de idosos.
„„ Listar os elementos fundamentais do desenvolvimento das principais
características do idoso.
„„ Identificar o compromisso da Educação Física para o desenvolvimento
físico, cognitivo e psicossocial em idosos.

Introdução
Pessoa ‘idosa’ ou ‘velha’ são expressões generalizadas que significam, para
muitos, sinônimos de carga social, de inutilidade ou, ainda, de nulidade.
O tempo passa para todos, mas os processos de desgaste do corpo estão
intimamente ligados a decisões individuais, tomadas ao longo da vida. O
idoso apresenta um declínio cognitivo e passa por uma reorganização
na forma de raciocinar, além de apresentar dificuldades motoras devido
a menor atividade do sistema nervoso e à diminuição da qualidade
muscular. No âmbito social, o círculo de relações é reduzido, seja de
amigos ou de familiares. Estes fatores levam muitas pessoas acima de 65
anos de idade a um sentimento de inutilidade, apesar de sabermos que
são pessoas que carregam consigo uma sabedoria que muitos adultos
jovens e de meia-idade não possuem.
Neste capítulo, você aprenderá a reconhecer os diferentes aspec-
tos dos desenvolvimentos cognitivo, psicossocial e físico da população
idosa. Além disso, você será capaz de listar os elementos fundamentais
das principais características do desenvolvimento humano nesta faixa
etária e, por fim, compreenderá o compromisso da Educação Física com
2 Idosos: desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial

o desenvolvimento psicomotor, relacionado aos aspectos cognitivos e


psicossociais em idosos.

Os desenvolvimentos físico, cognitivo e


psicossocial de idosos
O envelhecimento é um processo inerente ao ser humano que corresponde ao
desgaste fisiológico do corpo, apresentando declínio em vários aspectos. O
ponto de corte da faixa etária de idosos pode variar de acordo com o local e a
referência adotada. Neste capítulo, abordaremos o idoso de 65 anos ou mais.
Existem opiniões contrastantes sobre a questão de o idoso se tornar menos
inteligente em comparação às outras etapas da vida, considerando os declínios
decorrentes da idade avançada. Este tema requer, inicialmente, a observân-
cia de que não existe apenas um tipo de inteligência. Portanto, determinar
que o idoso apresenta declínio em todos os aspectos e que isso afeta tipos
de inteligência é leviano. Contudo, o que esses debates buscam discutir é a
inteligência cognitiva, ou seja, aquela ligada à função executiva: a capaci-
dade de planejar, de sequenciar e de executar atividades cognitivas, além do
automonitoramento. Nesse cenário, a função executiva engloba processos de
planejamento, organização, criação de estratégias, sequenciamento, memória
operativa, abstração e insight.
No entanto, é comum algumas habilidades diminuírem, principalmente
tarefas não verbais e solução de problemas desconhecidos. Em alguns aspectos
como o vocabulário, as mudanças são pouco perceptíveis ou praticamente
inexistentes. É preciso levar em consideração que a individualidade biológica
é determinante na vida do idoso, considerando que essa etapa é o resultado
de estímulos sofridos e decisões tomadas ao longo da vida.
Em geral, relaciona-se a perda ou falha de memória aos sinais de enve-
lhecimento. Existe uma área não especificada de diagnóstico envolvendo
a perda gradativa da atividade cognitiva, ou seja, uma lentificação natural
das atividades como um todo (senescência) daquela relacionada a problemas
de demência (senilidade), com maior prevalência em idosos acima dos 70
anos de idade. No cenário de senescência, as perdas decorrentes da idade
são mais marcantes em tarefas de memorização secundárias (memorização
de números, listas de compras, endereços) e de recuperação da informação
associada à memória contextual. Por exemplo, lembrar o nome de alguém, o
local de encontro, objetos ao seu redor e qual o assunto conversado pode se
tornar dificultoso. Este fato é ainda proeminente em situações espontâneas,
Idosos: desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial 3

que fogem ao cotidiano do idoso. Deve-se tomar cuidado quando este esque-
cimento, independente da origem, tem relação com tarefas do dia a dia que
apresentam risco à saúde e ao bem-estar, como esquecer o fogão aceso, não
fechar uma torneira, não fechar a casa ou esquecer a chave do carro.

Senescência é um processo de envelhecimento natural e saudável, sem o com-


prometimento das necessidades básicas de vida. O idoso senescente consegue se
alimentar sozinho, se locomover e fazer a higiene pessoal, mesmo que apresente uma
dificuldade natural para realizar essas atividades, o que é comum à idade. O idoso
ainda mantém traços característicos de relacionamento interpessoal. Este processo
também é conhecido como esquecimento senescente benigno.
Senilidade é o processo de envelhecimento associado a alterações decorrentes
de doenças crônicas, como o diabetes melito, a hipertensão arterial ou a insuficiência
cardíaca. Essas condições tornam um idoso senil por determinar incapacidades fun-
cionais que denotam falta de autonomia e podem levá-lo à morte.

A menor eficiência de memorização está associada à falta de estratégias de


eficiência ligadas à função executiva. Tais estratégias correspondem à criação
de métodos ou esquemas que lançamos mão para ajudar no processo de memo-
rização. Pesquisadores definem essa questão não como uma incapacidade, mas
como desuso da memória. Já outros pesquisadores defendem que a memória
tem plasticidade semelhante a um músculo esquelético: o músculo responde aos
estímulos por ele aplicados e, se esses estímulos não são aplicados ao músculo,
ele também irá responder, mas de forma negativa, atrofiando-se. A memo-
rização, então, deve ser exercitada para que se desenvolva uma plasticidade
favorável (adaptação benéfica). Analogamente, se não estimularmos o cérebro
com exercícios de memorização, haverá perda cognitiva. Criar estratégias de
menor esforço é válido, dependendo da importância da tarefa. Por exemplo,
o uso de listas de compras, de remédios e seus horários, de telefones e outros.
Lembranças de longo prazo também se tornam menos acessíveis e razões
biológicas têm sido mencionadas como as maiores responsáveis por essa
dificuldade. O cérebro se deteriora fisicamente com a idade, perde líquido e
nutrição, o metabolismo energético se torna mais lento e, com isso, as sinapses
perdem velocidade. Coletivamente, essas alterações afetam o hipocampo, res-
ponsável pela consolidação de novas informações na memória de longo prazo.
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Outro aspecto importante da vida do idoso, além da memorização, é a


atenção e o foco. Evidências demonstram que pessoas idosas apresentam maior
prevalência de crises de desatenção, principalmente em situações de duas ou
mais tarefas concomitantes (IRIGARAY; GOMES FILHO; SCHNEIDER,
2012). As distrações, muitas vezes irrelevantes à tarefa do momento, causam
maior dificuldade para retomar o foco original.
Muitos pesquisadores defendem que o déficit cognitivo dos idosos se
desenvolve primariamente como resultado das condições socioambientais e
de estímulos aplicados, incluindo o da etapa de vida atual, do que em razão
da idade em si (OLIVEIRA; SALINA; ANNUNCIATO, 2001). Assim, o
nível de saúde física, os graus educativo e cultural e a motivação de vida
têm maior influência que os efeitos da idade cronológica sobre o declínio
cognitivo. Destacam-se, nesse sentido, a importância de se praticar exercícios
físicos (ao menos três vezes por semana), não fumar, beber com moderação e
manter hábitos alimentares e sono com quantidade e qualidade adequadas. É
importante ressaltar que hábitos deficitários, estabelecidos durante a juventude,
são difíceis de se desfazer e seus efeitos costumam ser cumulativos na vida
adulta e na vida do idoso.
Um dos maiores temores para o idoso é a demência, mais precisamente, a
doença de Alzheimer (ou demência de Alzheimer). Há dificuldade no diagnós-
tico da doença, pois os primeiros estágios da demência apresentam alterações
cognitivas semelhantes às alterações de um idoso senescente. Além disso,
não é raro que idosos apresentem condições socioambientais que interferem
em sua cognição, como uso o constante e múltiplo de medicamentos, déficits
sensoriais (maior ainda para visão e audição) e o isolamento social.

A demência é uma síndrome que se caracteriza pelo de-


clínio da memória associado ao déficit de pelo menos
outra função cognitiva (linguagem, lógica ou funções
executivas), com intensidade suficiente para interferir no
desempenho social ou profissional do indivíduo.
Acesse o link a seguir ou o código ao lado para ler o
artigo “Demência no idoso: aspectos neuropsicológicos”
de Rachel Schlindwein-Zanini.

https://qrgo.page.link/bTVm
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Na doença de Alzheimer, a região do cérebro mais prejudicada está as-


sociada ao lobo frontal, assim como o processo de envelhecimento. Estudos
compararam a atividade metabólica cerebral de indivíduos idosos sem evidência
de declínio cognitivo a jovens normais e foi verificada redução do metabolismo
cortical nos lobos frontais, incluindo o córtex pré-frontal. Essa região do cére-
bro afeta o pensamento abstrato e criativo, além da atenção seletiva, também
relacionada à diminuição da integração entre os tipos de memória operativa,
prospectiva e contextual. A tendência é que o pensamento do idoso volte a
forma de pensar mais concreta (mundo real), principalmente a partir dos 70
anos. É natural, nesse caso, que a inflexibilidade ao mudo abstrato determine
menor capacidade de se adaptar a novas situações e a grandes mudanças de
ambiente. Por esta razão, a maioria dos idosos não se sente segura em viagens
para lugares desconhecidos, por exemplo, mas sim em casa, por se tratar de
um ambiente real e amplamente dominado por eles. Situações em que o idoso
sai de casa, mas logo em seguida externa a vontade de retornar são comuns.

Memória operativa: sistema de manipulação temporária de informação. Funciona


como um buffer para a execução de funções cognitivas, incluindo a aprendizagem.
Memória prospectiva: envolve o planejamento, a organização e a monitoração de
informações para projetar o futuro (prospecção).
Memória declarativa: a informação que é adquirida e armazenada, geralmente em
longo prazo, embora possa ser de curto-médio prazo. As informações de curtíssimo
prazo para execução de tarefas são armazenadas no buffer da memória operativa.
Memória contextual: situações que envolvem contextualização, como lembrar
quem forneceu uma informação, onde foi o local, qual foi a situação e os aspectos
ambientais envolvidos.

O declínio súbito na cognição é um indicativo inicial e marcante da doença


de Alzheimer, muito pelas condições deletérias do córtex pré-frontal. Contudo,
a atrofia cerebral não se dá somente nesta região, mas também nos lobos
temporais e parietais. Isso confirma dificuldades nas atividades da vida diária
apresentadas pelos idoso no início do Alzheimer, como conversas com mais
de uma pessoa ou em lugares com distrações (barulhos, sons, muitas pessoas).
Como o diagnóstico dessa condição ainda é dificultoso, pesquisadores sugerem
a combinação de uma escala funcional (avaliação de atividades da vida diária)
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a um teste cognitivo qualquer (por exemplo, mini exame do estado metal). A


combinação de múltiplas evidências contribui para o aumento da sensibilidade
e da especificidade dos testes para se diagnosticar a doença de Alzheimer.
No âmbito psicossocial, as mudanças de papéis e relações são bastante
significativas, tanto quanto as alterações cognitivas. Bee e Boyd (2011) afirmam
que existe uma transição de papéis entre o adulto jovem, de meia-idade e o
idoso. Enquanto no adulto jovem os papeis assumidos perante a sociedade são
complexos e exigem maior dedicação, os papéis na meia-idade (40–65 anos)
são redefinidos e renegociados, principalmente quanto ao tempo de dedicação.
Por fim, os papeis assumidos, inicialmente no adulto jovem, são colocados de
lado e quase esquecidos na vida do idoso.
No final da vida adulta, grande parte dos papeis que vinham sendo exercidos
ao longo da existência não tem mais razão de ser, como ser filho, profissional,
cônjuge e, até mesmo, líder de entidades específicas: papéis que são essenciais
na vida adulta, mas que, muitas vezes, para o idoso já não têm mais sentido.
Dessa forma, a revisitação desses papéis sociais no idoso resulta em reestru-
turação de rotinas pessoais, que podem ser tanto positivas quanto negativas.
Esta reorganização de papeis e de rotina afetam principalmente as relações
sociais do idoso. No casamento, o componente mais valorizado é o compa-
nheirismo, que muitas vezes se manifesta por demonstrações de cuidados e
assistência entre os cônjuges. As relações com os filhos, os netos e a família
depende de fatores como localização geográfica, apego familiar, satisfações
ou insatisfações anteriores — desentendimentos familiares ao longo da vida.
Já as relações com os amigos na velhice se tornam um importante ponto de
satisfação geral e de autoestima. Essas relações costumam ser frutos da vida
adulta cultivados até a velhice e, por isso, são mais valorizadas. À medida
que os amigos morrem ou perdem a autonomia, a rede de relações se torna
cada vez mais frágil, pois nessa faixa etária é mais dificultoso estabelecer
novas amizades.
Um importante acontecimento social para o idoso é a aposentadoria. Embora
a idade para se aposentar varie, em países desenvolvidos essa transição aparenta
ser menos turbulenta e mais respeitada, como em países de origem oriental,
onde idosos são mais respeitados de forma geral. Em países em desenvolvi-
mento, a aposentadoria é geralmente acompanhada por dois sentimentos: a
sensação de incapacidade por não ter mais uma responsabilidade laboral e a
preocupação financeira, devido à diminuição de proventos.
Em relação à personalidade, não há evidências de que haja alterações
nesse âmbito. O principal ponto é que o idoso adquire consciência de sua
condição limitada, ou seja, percebe sua própria situação. Esta percepção só
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é alcançada em estado de espírito elevado e é maior do que qualquer outra


medida de cunho social ou econômico. Ainda nesse cenário, o idoso muitas
vezes reconhece a necessidade de ir para uma casa de repouso a partir do
momento em que não tem mais condições de ficar sozinho, sem o auxílio dos
familiares ou de um cuidador.
Em relação à condição física, o idoso é fortemente acometido pelo desgaste
dos sistemas fisiológicos, a começar pelo próprio cérebro. A diminuição
do fluxo sanguíneo no cérebro e a perda de líquidos cerebrais resultam na
diminuição de massa e de volume do cérebro. Uma menor taxa metabólica
cerebral também influencia na menor velocidade das sinapses. Estes fatores
determinam uma menor resposta motora, incluindo o tempo de reação e de
resposta cognitiva. A recepção de informações (visuais ou auditivas) também
é mais lenta, o que contribui para uma resposta tardia.
Em relação à visão, as alterações de foco são mais frequentemente obser-
vadas em adultos de meia-idade. Em idosos (acima de 65 anos), as doenças
oculares mais recorrentes são a catarata, o glaucoma e a degeneração macular
senil, que consiste na deterioração da retina e pode levar à cegueira. O quadro
piora drasticamente se o idoso apresenta diabetes melito tipo 2 (DM2). Já
na audição, a debilitação começa com a inabilidade de escutar sons puros,
como a campainha de uma porta, e evolui para a dificuldade de ouvir a fala
de outras pessoas (ou a própria). A dificuldade para os sons da fala tange os
timbres mais agudos e os sons consonantais, tornando difícil a identificação
de certas palavras. Esse declínio é observado em 40–45% das pessoas acima
dos 65 anos de idade. Em relação à aparência, as alterações mais marcantes
são na pele e no cabelo. A pele perde a capacidade de hidratação, ficando
seca, fina e menos elástica. É comum o aparecimento de manchas escuras e
uma maior evidência dos vasos sanguíneos, que ficam bem visíveis sobre as
mãos. Os cabelos também sofrem mudanças, tornando-se finos e grisalhos.
No sistema cardiovascular, as artérias são comprometidas pela diminuição
da vasodilatação, especialmente a endotélio-dependente, o que torna as arté-
rias menos complacentes e mais resistentes, impactando na pressão arterial.
Concomitantemente, o miocárdio perde em força contrátil. Da mesma forma,
o sistema renal é mais deficitário e a regulação hídrica se torna um problema.
Todas essas características resultam em hipertensão arterial sistêmica, que
carrega 40% mais chances de acidente vascular cerebral ou de infarto agudo
do miocárdio.
No âmbito metabólico, a taxa metabólica basal é menor, fato inerente à idade
e à diminuição de massa magra (músculo), componente de maior consumo
energético do nosso corpo. O metabolismo energético está diretamente ligado
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às questões hormonais. Assim, o declínio na ação da insulina e seu hormônio


contrarregulador (glucagon) aliado a um menor nível de atividade física e
menor ou maior ingestão calórica aumenta a condição de DM2.
Sobre as estruturas ósseas, as mulheres apresentam uma tendência maior
para desenvolver osteoporose (menor densidade de massa óssea), tornando-
-as mais frágeis. Em homens, a osteoporose é menos prevalente, mas a perda
de massa muscular é maior (sarcopenia). Como a musculatura em si já não
responde com tanta rapidez e a estrutura óssea se torna frágil, as quedas são
uma das maiores preocupações entre os idosos. Fraturas complexas com dano
ósseo grave são relativamente comuns entre idosos.

Sarcopenia é definida como uma síndrome caracterizada pela perda progressiva e


generalizada de massa e força muscular, podendo levar a deficiências físicas, baixa
qualidade de vida e morte. Antigamente, a sarcopenia era avaliada apenas sobre a
massa muscular, mas atualmente a força resultante também é avaliada e computada
em seu diagnóstico.

As alterações no desenvolvimento humano do idoso são bastante variadas e


parecem estar associadas às etapas anteriores da vida. As mulheres, entretanto,
são mais resistentes às enfermidades e são mais longevas que os homens. Em
resumo, neste período da vida o corpo sofre um desgaste natural dos sistemas
orgânicos, levando à desaceleração da fala, do metabolismo, da eficiência
cardíaca, da locomoção, do tempo de reação, entre outras características. Este
processo é inerente ao envelhecimento (BERGER, 2003). A seguir, você verá
os elementos que contribuem para as alterações cognitivas, psicossociais e
físicas dos idosos.

Elementos fundamentais para


o desenvolvimento das principais
alterações em idosos
Diferente de adultos jovens e de meia-idade, que têm os aspectos socioculturais
como elementos mais influentes no desenvolvimento cognitivo, psicossocial
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e físico, para o idoso, esses elementos tangem condições socioambientais.


As condições que circundam o idoso são mais relevantes que suas relações
psicossociais. Em muitos casos, os idosos dependem de ajuda para uma ou mais
tarefas do cotidiano (cuidados do lar, alimentação, deslocamento) e a condição
da interação entre o cuidador e o idoso é primordial para o desenvolvimento
humano nessa faixa etária.
A alimentação contribui para o desenvolvimento cognitivo e físico em todas
as faixas etárias e, para o idoso, essa relação não é diferente. Nesse sentido, é
importante observar que a pessoa idosa já carrega consigo um hábito alimentar
próprio. Querer que o idoso mude sua alimentação de forma drástica, nesse
estágio da vida, é um tanto que inadequado. Portanto, é preciso entender e
respeitar as opções de alimentação do idoso, desde que sejam equilibradas com
a saúde. Como nessa faixa etária a dependência de terceiros é considerável, é
importante observar a forma como se cozinha. A quantidade e a qualidade do
sono para o idoso não produzem efeitos deletérios ao desenvolvimento humano.
Como o processo de envelhecimento é caracterizado pelo desgaste fisio-
lógico do corpo humano e propicia o desenvolvimento de doenças, é comum
que esta população necessite de assistências médica e hospitalar. Quando os
idosos dependem de assistências gratuitas em países em desenvolvimento,
como é o caso do Brasil, o tempo de espera é excessivamente longo e pode
gerar consequências drásticas no processo de desenvolvimento do idoso. Dessa
forma, as condições financeiras estão estritamente ligadas a este cenário,
proporcionando uma associação direta e importante entre o desenvolvimento
humano e as condições socioambientais.

No link a seguir ou no código ao lado, você encontra o


Estatuto do Idoso (Lei nº. 10.741, de 1º de outubro de 2003).
Um rico material que aborda os direitos fundamentais,
assim como aspectos de previdência e assistência social,
de habitação e de transporte, entre outros. Por fim, o
documento apresenta as medidas de proteção ao idoso:

https://qrgo.page.link/8kfL
10 Idosos: desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial

Os elementos que mais agregam benefícios para os idosos incluem os


estímulos cognitivo e físico. Os estímulos da memória e de demais atividades
cognitivas podem ser realizados de diversas formas, com jogos de cartas,
palavras cruzadas, leitura e compreensão de textos, aulas de arte ou línguas.
Dentro do possível, é importante evitar fazer listas, que têm sua importância,
mas não propiciam um exercício para a memória do idoso.
A ciência que estuda o exercício físico atesta os benefícios dos mesmos
sobre o corpo humano como um todo, incluindo o caso da pessoa idosa. O
fortalecimento muscular é a estratégia primária para incrementar a autonomia,
associada a atividades da vida diária. Os exercícios de característica aeróbia,
mais direcionados ao sistema cardiovascular, também devem ser recomendados
ao idoso como adjuvante a sua saúde. É importante promover a socialização
dessa população. Assim, independente da modalidade de exercício físico, é
preciso promover situações em grupos que atuem nas relações interpessoais.
Em relação à prática regular de exercícios físicos, deve-se priorizar o
trabalho do profissional de Educação Física, pois a partir da relação humana e
do conhecimento técnico, este profissional desempenha um papel importante
na atenção ao idoso. A seguir, você estudará o compromisso da Educação
Física com o processo de envelhecimento.

O compromisso da Educação Física com


o desenvolvimento físico, cognitivo e
psicossocial do idoso
Na vida do idoso, as valências relacionadas à força, potência e resistência
muscular (qualidade muscular) talvez sejam os aspectos físicos mais rele-
vantes. Assim, grande parte dos programas e das condutas da Educação
Física para os idosos se refere a trabalhos que melhorem a força muscular, ou
que ao menos atenuem a perda da mesma. Dados indicam que o idoso de 75
anos perde aproximadamente 50% da força muscular em comparação a um
adulto de 30 anos, independente do sexo. Grande parte da força e da potência
perdida é atribuída às fibras do tipo IIb. Partindo do pressuposto de que a
força muscular é essencial para o desempenho motor de qualquer padrão de
movimento, esta magnitude de perda compromete movimentos básicos de
atividades da vida diária (AVDs). Além da diminuição da força, o controle
muscular também é afetado, ou seja, o ajuste fino do movimento é compro-
metido. Concomitantemente, o idoso apresentar diminuição da flexibilidade
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(aproximadamente 50%). O resultado é o comprometimento mais acentuado


da capacidade funcional, risco iminente de quedas, dificuldade nas AVDs e
diminuição da qualidade de vida.

As fibras musculares podem ser classificadas de diferentes formas. Uma das mais comuns
é pela velocidade de contração, em associação aos aspectos metabólicos. Assim, as
fibras do tipo I são lentas quanto à velocidade de contração, não apresentam taxa
elevada de hipertrofia e não produzem grande quantidade de força. São excelentes
para trabalhos de resistência (tolerantes à fadiga). As fibras do tipo II (principalmente
IIb), são rápidas quanto à contração, com excelente produção de força e potência,
mas muito suscetíveis à fadiga.

O movimento corporal voluntário tem seu início no sistema nervoso central,


onde as unidades motoras são selecionadas com base na experiência e na
memória motora adquirida. A partir dessa seleção, os impulsos elétricos são
disparados pelos motoneurônios até a junção neuromuscular correspondente,
cujo efeito fisiológico é a contração muscular. O sistema nervoso central é
ligeiramente deficitário no idoso e a resposta motora também passa a ser,
muito mais pelas perdas morfofisiológicas da musculatura esquelética. Ou
seja, trata-se de um déficit neural em conjunto com um déficit muscular. Sendo
assim, pode-se elencar a importância do profissional de Educação Física para
prover o treinamento muscular adequado ao idoso. Contudo, ressalta-se que
o profissional, além de possuir conhecimento técnico, deve ser paciente e
respeitoso para tratar o idoso.
Uma grande discussão pode ser levantada quanto às características do
exercício físico. Por exemplo, deve-se usar implementos livres (com maior
componente proprioceptivo) ou pesos guiados (máquinas de musculação que
proporcionam maior segurança) com o idoso? Deve se optar por exercícios
isolados ou multiarticulares e complexos, que proporcionam maior desafio
cognitivo? Cada opção tem seus prós e seus contras, que devem ser avaliados
pontualmente pelo profissional de Educação Física e pelo entorno do idoso.
No entanto, é importante lembrar que a pessoa idosa apresenta um déficit
acentuado no equilíbrio e na manutenção da postura. Assim, atividades de
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propriocepção, desde que seguras, podem ser priorizadas, especialmente


aquelas próximas a atividades do dia a dia, que tentam induzir a perturbação
do equilíbrio e o rápido restabelecimento do mesmo.

Atividades proprioceptivas são aquelas cujo objetivo é proporcionar ao indivíduo


um desequilíbrio relativo, geralmente com transferência de massa corporal, para
que o próprio corpo se ajuste automaticamente e mantenha o equilíbrio (estático
ou dinâmico).

Sobre aspectos cardiometabólicos, os idosos têm maior risco de apresentar


aterosclerose, ou seja, placas de gorduras na região subendotelial que, se
aumentadas localmente ou instáveis (a ponto de se desprender e ir para a
corrente sanguínea), podem determinar um processo isquêmico em artérias
de menor calibre. Artérias importantes de menor calibre incluem aquelas no
miocárdio e no cérebro que podem originar, respectivamente, infarto agudo
do miocárdio (IAM) ou acidente vascular cerebral (AVC). A gênese da doença
aterosclerótica é complexa e multifatorial, mas é consenso que as lipoproteínas
de baixa densidade (LDL) e os triglicerídeos elevados, em conjunto com a
lesão do tecido endotelial, são fatores que precedem a aterosclerose. Neste
contexto, a pessoa idosa também apresenta hipertensão arterial sistêmica
(HAS), uma condição também multifatorial com forte tendência a maior
resistência vascular periférica. Embora o componente cardíaco (coração como
uma bomba) seja importante, o idoso apresenta chances maiores de sofrer um
comprometimento vascular em detrimento ao menor débito cardíaco. Assim,
a HAS está associada à aterosclerose e também ao IAM e ao AVC. Segundo
pesquisas, idosos hipertensos apresentam 40% mais chances de sofrer um
IAM ou um AVC em relação ao idoso com níveis pressóricos controlados.
O DM2 também é uma condição prevalente na população idosa. Segundo
publicação no International Diabetes Federation Atlas, o Brasil apresenta
uma prevalência de 8,5% de diabetes melito. A prevalência aumenta de acordo
Idosos: desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial 13

com a faixa etária, podendo a chegar a 12% em indivíduos acima dos 60


anos. Esta condição acomete o idoso a uma maior chance de sofrer IAM ou
AVC, doença renal crônica ou problemas de visão e risco de amputação não
traumática de membros inferiores. Em suma, esta é uma condição que inspira
muitos cuidados, justamente para uma população em uma faixa etária que
não costuma receber muita atenção.
A partir das condições clínicas de aterosclerose, da HAS e do DM2 que
acometem especialmente o idoso, a prática regular de exercícios físicos se torna
tão fundamental quanto as prescrições medicamentosas envolvidas nessas
doenças. Os profissionais de Educação Física devem estar atentos quanto à
dose ideal de exercícios físicos envolvidos nessas condições, considerando
também a fragilidade muscular dos idosos. Este cenário é preocupante e requer
atenção redobrada dos profissionais. Segundo o posicionamento da American
College of Sports Medicine, os benefícios do exercício podem ser baseados
em quatro pilares (ACSM, 2018):

1. Benefícios cardiovasculares: a maximização da qualidade cardio-


vascular e da qualidade de vida nos idosos é mais completa com a
introdução de atividades como caminhadas, pedaladas e atividades
em ambiente aquático. A intensidade recomenda é leve a moderada.
Embora essa intensidade apresente eficácia na redução da pressão
arterial, em longo prazo pode atenuar o desgaste fisiológico em vários
ângulos, incluindo o cognitivo.
2. Treinamento de força: é sabido que a intensidade baixa determina
somente modestos incrementos na força em idosos. Estudos têm
demonstrado que um estímulo adequado (moderados a intenso) de
treinamento de força em idosos, em conjunto a uma maior ingestão
proteica, apresentam ganhos de força similares ou superiores àqueles
de indivíduos jovens. Os resultados são duas a três vezes maiores na
força muscular em um período de três a quatro meses nesta população.
Os efeitos são muitos: aumento da taxa metabólica basal, aumento da
densidade óssea, melhora na autonomia, ajuda no controle de massa
corporal, é estratégia adjuvante à HAS e DM2 e melhora o equilíbrio
estático e dinâmico do idoso.
14 Idosos: desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial

3. Prevenção de quedas e flexibilidade: para se reduzir os riscos de


queda, deve-se incluir um programa amplo de exercícios de equilíbrio,
exercícios de força, caminhadas e transferência de peso. A frequência
e a intensidade adequadas ainda são incertas. Já a flexibilidade é um
componente importante na prevenção de lesão muscular e no risco de
quedas. Atividades como o método Pilates e alongamentos podem ser
incorporados.
4. Benefícios psicológicos: a atividade física e a função psicológica na
pessoa idosa estão estritamente relacionadas. O exercício físico produz
uma série de efeitos fisiológicos, incluindo aumento de serotonina
e outros hormônios, que conduzem o idoso à sensação de prazer e
bem-estar, além de uma maior percepção de controle. A função de
socialização durante as sessões de exercícios também agrega benefícios
ao estado psicológico do idoso. As atividades aeróbias de intensidade
leve a moderada têm se mostrado eficazes neste sentido.

Você pode observar facilmente que a prática regular de exercício físico


traz qualidade e benefícios incalculáveis ao idoso. O profissional de Educação
Física deve ser capaz de realizar um planejamento amplo e seguro para esta
população.

Antônia tem 70 anos e a disposição de uma adolescente: apresenta vigor físico, é


lúcida, faz todas as atividades da vida diária com autonomia. Seu marido faleceu há
três anos, mas ela carrega consigo todo o carinho que trocaram nos 41 anos em que
estiveram casados. Embora Antônia tenha independência e seja uma idosa senescente,
todas essas atividades são realizadas em um ritmo menos acelerado do que outrora.
O segredo de Antônia é levar uma vida regrada desde sempre, sem excessos. A idosa
realiza aulas de hidroginástica há mais de 10 anos, praticando a atividade regularmente,
de duas a três vezes por semana e tem no grupo de idosas sua maior força. Outra base
essencial para sua qualidade de vida é a família, com os filhos e os netos visitando-a
regularmente para ouvir suas histórias e aprender com sua sabedoria. Este exemplo
é uma raridade no mundo atual. Contudo, é necessário tê-lo como um objetivo a se
alcançar. O cenário é perfeitamente viável, como comprovado pela ciência. Para tal, é
necessário que o conjunto de ações benéficas comece na adolescência e transcorra
durante a vida adulta (20–65 anos), resultando em um envelhecimento senescente,
como o de Antônia.
Idosos: desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial 15

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