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Crescimento e

Desenvolvimento
Humano
Crescimento e
Desenvolvimento
Humano

Alexandre Schubert
© 2015 por Editora e Distribuidora Educacional S.A

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Caldeira, Alexandre Schubert


C146c Crescimento e desenvolvimento humano / Alexandre
Schubert Caldeira – Londrina: Editora e Distribuidora
Educacional S. A., 2015.
192 p.

ISBN 978-85-8482-114-3

1. Fundamento. 2. Métodos. I Título.

CDD 575
Sumário

Unidade 1 | Visão Geral 7


Seção 1 - Alguns nomes na área de estudo do crescimento e do
desenvolvimento humano 11

Seção 2 - Teorias do desenvolvimento humano 15

Seção 3 - Conceitos básicos 19

Unidade 2 | Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do


Recém-Nascido 37

Seção 1 - Desenvolvimento humano – Desenvolvimento pré-natal 41


1.1 | Desenvolvimento Pré-Natal 41
1.2 | Má Nutrição Placentária 45
1.3 | Má Nutrição Fetal 46
1.4 | Má Nutrição da Mãe 46

Seção 2 - Desenvolvimento Humano – Desenvolvimento Pós-Natal 63


2.1 | Desenvolvimento Pós-Natal 63

Seção 3 - Desenvolvimento motor 69


3.1 | Movimentos Reflexos 69
3.2 | Movimentos Reflexos Primitivos 70
1.3 | Movimentos Reflexos Posturais 71

Unidade 3 | Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos


Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvi-
mento Humano 83

Seção 1 - Variáveis Envolvidas na Apuração do Lucro 87


1.1 | Estabilização 89
1.2 | Manipulação 91
1.3 | Locomoção 95

Seção 2 - Desenvolvimento dos movimentos fundamentais – fases


do desenvolvimento motor 99
2.1 | Fase dos Movimentos Reflexivos 101
2.2 | Fase dos Movimentos Rudimentares 102
2.3 | Fase Dos Movimentos Fundamentais 103
2.4 | Fase Motora Especializada 106
Seção 3 - Aspectos que influenciam o desenvolvimento motor 109
3.1 | Individual 111
3.2 | Tarefa 114
3.3 | Ambiente 115
3.4 | O Desenvolvimento a partir de uma Perspectiva Dinâmica de Sistemas 119

Unidade 4 | Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação


da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capaci-
dades Motoras 133
Seção 1 - Métodos de estudo em desenvolvimento humano e méto-
dos de estudo da maturação biológica 137
1 | Métodos de Estudo em Desenvolvimento Humano e Métodos de Estudo da
Maturação Biológica 137
1.1 | Método Descritivo 139
1.2 | Método Experimental 139
1.3 | Revisão Sistemática 140
1.4 | Meta Análise 140
1.5 | Observacional 141
2 | Métodos de Estudo da Maturação Biológica 147

Seção 2 - Sistemas corporais 161

Seção 3 - Capacidades motoras 177


Apresentação
Querido(a) aluno(a)!

É um prazer poder dividir com vocês o conteúdo desse livro que faz parte do
material da disciplina de Crescimento e Desenvolvimento Humano.

Nesse livro vamos conhecer os primeiros estudiosos que despertaram a


curiosidade sobre como ocorre o desenvolvimento humano. Vamos perceber que
foram criadas muitas teorias no decorrer do tempo que tentam explicar como nós
nos desenvolvemos e o que pode nos influenciar nesse processo.

Vamos poder encontrar aqui importantes conceitos que nos permitem


compreender a diferença entre crescimento e desenvolvimento. Também vamos
falar sobre os diferentes aspectos relacionados com esses processos e suas
definições. Compreenderemos nessa leitura que não existe como realizarmos um
planejamento adequado e elaborarmos estratégias e metodologias de ensino sem
o conhecimento dos aspectos teóricos e dos conceitos de tudo o que envolve o
crescimento e o desenvolvimento humano.

O livro também nos permitirá conhecer o processo de crescimento e de


desenvolvimento humano desde a sua gênese até próximo do final da adolescência,
que é quando o indivíduo está terminando sua primeira etapa de estudos ainda
dentro do ambiente da escola.

Falaremos um pouco sobre as capacidades motoras e perceberemos que essas


capacidades estão presentes em todos os indivíduos, mas que mesmo estando
presentes em cada um de nós, ainda existem fatores que determinam as diferenças
na performance de cada um dos nossos alunos.

Em outra unidade, você poderá entender como acontece o início dos


movimentos humanos e quais são as fases pelas quais cada um passa até o
desenvolvimento final e quais são os aspectos que exercem algum tipo de
influência no processo de desenvolvimento motor.

Outro importante conteúdo desse livro é a apresentação dos métodos mais


usados para o desenvolvimento de estudos na área de desenvolvimento motor e das
diferentes maneiras de identificarmos o processo maturacional dos indivíduos. Vamos
poder entender de que forma podemos identificar em que fase do desenvolvimento
físico um indivíduo se encontra. Também vamos poder relembrar um pouco
dos conteúdos do Ensino Médio, estudando novamente os sistemas corporais e
compreendendo como acontece o processo de desenvolvimento desses sistemas.

Para finalizar, vamos discutir sobre um importante conteúdo, que são as


capacidades motoras. O conhecimento desse conteúdo mostra-se fundamental
no processo de planejamento de todas as atividades envolvidas nas aulas de
Educação Física, já que tanto as atividades lúdicas, esportivas, de dança, de lutas e
recreativas, têm como base essas capacidades.

Espero que sua leitura seja bastante proveitosa.

Além de adquirir conhecimento sobre a história da Educação Física, vamos


oportunizar a você, leitor, um resgate acerca das formas de manifestações corporais
ao longo do tempo. Veremos, nas unidades de estudo, como aconteceu a influência
que os contextos cultural, histórico, político, econômico e social exerceram na
estruturação das práticas corporais e na evolução das aulas de Educação Física.

Também vamos poder observar, no decorrer da leitura, como se deu o


processo de formação de professores de Educação Física desde o início. Veremos
quais foram as primeiras escolas responsáveis pela formação de profissionais, as
resoluções e como foram elaborados os primeiros currículos que determinaram o
perfil do profissional no início da implantação dos cursos de graduação.

Também vamos poder ler a respeito da história do esporte e como essa atividade
foi incorporada nas aulas de Educação Física. Conheceremos como os procedimentos
metodológicos do esporte podem auxiliar o professor na intervenção pedagógica dentro
da escola. Entenderemos em nossa leitura que esporte é um fenômeno multicultural
que faz parte de quase todas as sociedades, com diferentes objetivos. Por isso, torna-
se fundamental entender suas dimensões e sua relevância no processo de formação,
para que o professor possa usar o esporte com princípios pedagógicos, coerentes e
compatíveis com a faixa etária e com o nível de desenvolvimento dos alunos.

Você irá perceber, em sua leitura, que é necessário propor a busca pelo conhecimento
contínuo e a reflexão acerca dos diversos pontos de vista que a Educação Física identificou
ao longo de sua história, buscando facilitar e analisar qual é o objeto de estudo para cada
proposta estudada, e, consequentemente, entender melhor o conceito estrutural de
Educação Física como disciplina escolar na formação do ser integral.

Para finalizar, vamos abordar aqui aspectos da formação profissional. Você


perceberá que existe um amplo processo de mudanças acontecendo na formação
do profissional que atuará junto à escola, e isso é o resultado do avanço cada vez
mais rápido da ciência e da tecnologia, que consequentemente vem alterando a
estrutura do sistema de produção e da construção do conhecimento.

O impacto final desse livro é fomentar a reflexão crítica sobre o papel do


professor de Educação Física no processo de ensino-aprendizagem, assim como
sua função dentro do contexto da escola.

Desejamos a vocês uma boa leitura.


Unidade 1

VISÃO GERAL

Alexandre Schubert

Objetivos de aprendizagem: Nessa unidade, você irá conhecer os


personagens que iniciaram os estudos sobre o processo de crescimento e
desenvolvimento humano e como esses estudos se deram.

Também irá identificar as diferentes linhas de estudo dessa área e como


elas foram se integrando, se divergindo e evoluindo.

E, por último, irá identificar conceitos que se integram para que possamos
melhor compreender os processos de crescimento e desenvolvimento
humano.

Seção 1 | Alguns nomes na área de estudo do crescimento


e do desenvolvimento humano
O objetivo dessa seção é apresentar alguns nomes que foram precursores
na área de estudo de crescimento e de desenvolvimento humano. Mostrar
a importância das descobertas desses pesquisadores e de que forma esses
estudos influenciaram todo o conhecimento gerado posteriormente.

Seção 2 | Teorias do desenvolvimento humano


Esta seção abordará as diferentes teorias do desenvolvimento humano
e seus criadores. Mostrará basicamente qual é a ideia central dessas teorias
e algumas diferenças entre elas.
U1

Seção 3 | Conceitos básicos


Esta seção apresentará a você, leitor, alguns conceitos fundamentais
que lhe ajudarão a compreender as diferenças entre crescimento e
desenvolvimento, além de lhe mostrar alguns conceitos que irá perceber
que sempre aparecem quando tratamos de assuntos relacionados ao
processo de crescimento e desenvolvimento humano.

Você entenderá, nessa seção, a importância da integração dos


conhecimentos que estão de alguma forma associados ao crescimento e
ao desenvolvimento humano.

10 Visão Geral
U1

Introdução à unidade

Querido(a) aluno(a)! Nessa unidade iremos conhecer quem foram os grandes


nomes que deram início aos estudos que influenciaram o conhecimento acerca
dos processos de crescimento e de desenvolvimento humano. Esses autores foram
precursores de estudos nessa área e mostraram a importância de compreendermos
de que forma acontece esse processo.

Também iremos conhecer como esses pesquisadores iniciaram seus estudos,


o que os motivou, o que foram descobrindo na medida em que encontravam
informações valiosas sobre como aconteciam esses processos.

Abordaremos, de forma bastante básica, algumas teorias que tentam explicar o


processo de desenvolvimento e suas diferenças.

Também veremos, nessa unidade, os diversos conceitos que nos permitem


entender a diferença entre crescimento e desenvolvimento e por que devemos ter
muito cuidado em não confundi-los. Também serão apresentados, nessa unidade,
os demais conceitos que se relacionam e que completam o entendimento sobre
crescimento e desenvolvimento humano.

Visão Geral 11
U1

12 Visão Geral
U1

Seção 1

Alguns nomes na área de estudo do


crescimento e do desenvolvimento humano

Convido você a conhecer alguns nomes que foram precursores nos estudos
sobre desenvolvimento humano.

É essencial que você entenda qual a origem de todas as pesquisas acerca dos
aspectos relacionados ao processo de crescimento e desenvolvimento humano.
Compreender de onde vieram as ideias, as dúvidas e as divergências.

O entendimento desse conteúdo permitirtá a você, leitor, verificar de onde vêm


as diferentes propostas pedagógicas que são apresentadas pelas escolas.

Há mais de 100 anos, o crescimento e o desenvolvimento físico vêm sendo


estudados por profissionais das mais diversas áreas, como a biologia, a psicologia e
a pedagogia, entre outras. O objetivo desses estudos geralmente estava direcionado
a conhecer profundamente os processos físicos, cognitivos e psicológicos pelos
quais os indivíduos passam no decorrer da vida e identificar quais são os fatores que
exercem influência sobre eles. Tais estudos tentam identificar também a sequência
pela qual um indivíduo passa desde que foi gerado até a fase da velhice e como
ocorrem esses processos.

Havia pouco interesse nesta área de estudo até por volta da década de 70,
quando finalmente os estudos tomaram corpo.

Entretanto, foi ainda muito cedo que o alemão Dietrich Tiedemann, em 1781,
iniciou, assim por dizer, a observação sobre o desenvolvimento humano. Tiedemann
observou o comportamento do seu filho recém-nascido até por volta dos dois
anos e posteriormente publicou suas observações como monografia em 1871. O
pesquisador fez descrições sobre as mudanças comportamentais e questionou se
os primeiros movimentos do seu bebê eram voluntários baseando-se na evolução
da transição dos movimentos reflexivos para os movimentos voluntários do gesto de
preensão manual. O pesquisador relatou ainda que os bebês pareciam demonstrar
prazer quando sentiam os movimentos corporais (CONNOLLY, 2000).

Connolly (2000) relata ainda que, semelhante a Tiedemann, Darwin, assim que
teve seu primeiro filho, passou a fazer anotações sobre o comportamento do seu

Visão Geral 13
U1

bebê e posteriormente também publicou suas anotações em uma revista chamada


Mind, em 1877.

Outro trabalho importante foi o de Preyer em 1880, que em dois volumes


descrevia o desenvolvimento infantil baseado na observação de seus filhos
recém-nascidos e de outras duas crianças. O pesquisador deu maior ênfase em
suas pesquisas no desenvolvimento do comportamento e da linguagem. Preyer
baseou-se nas pesquisas de seu amigo Haeckel na Universidade de Jena. Para o
autor, a mesma linha de raciocínio que era usada para explicar o desenvolvimento
embrionário também deveria ser usada para compreendermos o comportamento
humano, sendo que as duas linhas de pesquisa deviam se complementar, e defendia
que o desenvolvimento humano tinha sua base na hereditariedade (GOUVEIA, 2008).

Preyer, em 1882, publicou uma importante obra, chamada: “A Mente da


Criança” (Die Seele des Kindes). Baseado nos estudos que ele desenvolveu foi
criado um programa de ações práticas que posteriormente foi amplamente usado
na mudança educacional alemã no século XIX (FERREIRA; ARAÚJO, 2009).

Após este período, no final dos séculos XXVII e XIX, houve um declínio no
interesse nessa área de estudos, voltando a sua retomada no final da década de
20. Nas décadas de 30 e 40, Gessel e McGraw eram os grandes nomes nesta área
de estudo, sendo que neste período os autores ainda tratavam a maturação como
sinônimo de crescimento (ARAÚJO, 2009).

O livro de Gessel, The embriology of behaviour, tinha como objetivo trazer


conhecimento relacionado à saúde dos bebês, na medida em que se considera
que um bom comportamento motor da fase infantil seria um importante indicativo
de bom desenvolvimento da criança. Já Myrtle McGraw (1899-1988) descreveu
em seus estudos o desenvolvimento dos movimentos voluntários associando
com o crescimento e o desenvolvimento do cérebro e determinou alguns marcos
referenciais motores, como é o caso da locomoção bipedal. (CONNOLLY, 2000).

A partir daí, o que se passou a perceber foi que alguns estudiosos, com o intuito
de identificar como ocorrem os processos de desenvolvimento humano, passaram
a estabelecer que em determinados períodos da vida podem ser esperados
alguns tipos de comportamento padrão entre os seres humanos. É claro que
também foi verificado, nesses estudos, que cada ser humano pode apresentar
determinados comportamentos em ritmos diferentes, uns mais rápidos, outros
mais devagar. Entretanto, a maioria desses comportamentos segue uma sequência
predeterminada. Isso foi confirmado a partir do momento em que testes motores
passaram a ser usados para identificar as diferentes fases pelas quais todos passam
nesse processo evolutivo.

Gesell, McGraw’s e Shirley’s, por exemplo, criaram um método de avaliação que


usava fotos e filmagens para analisar parâmetros de referência dos movimentos

14 Visão Geral
U1

infantis. Shirley’s pintava os pés das crianças e solicitava que elas caminhassem
sobre papéis para que ela pudesse analisar os padrões de caminhada (ARAÚJO,
2009). Esses autores foram os primeiros a designar “fases” ou “estágios” para o
desenvolvimento infantil e determinar que qualquer alteração de comportamento
que não fosse compatível com esses períodos poderia indicar uma possível
anormalidade ou, até mesmo, um sinal de possíveis patologias.

Esses achados foram de certa forma de grande utilidade para o conhecimento


acerca dos processos de crescimento e de desenvolvimento humano. Tais
estudos levaram então ao estímulo de criação de vários métodos de análise do
desenvolvimento infantil, como a criação de testes que pudessem avaliar esses
processos desenvolvimentistas. Baseados nesse raciocínio surgiram os testes de
Bayley Scales, Denver Test, Oseretsky Test e o ABC, que são usados até o momento
para analisar aspectos do desenvolvimento humano.

O processo avaliativo se mostra tão importante que Virgínia Apgar, em 1953,


desenvolveu um teste que ainda é usado para avaliarmos o recém-nascido
imediatamente após o parto. Falaremos mais sobre esse importante teste mais adiante.

A avaliação dos níveis de desenvolvimento nos capacita observar os estágios


em que os indivíduos se encontram e, desta forma, identificar se há atraso no
desenvolvimento e, assim, elaborar estratégias de ensino-aprendizagem que possam
fazer com que esse indivíduo em atraso possa alcançar um nível de desenvolvimento
que seja compatível com o seu período de vida (GALLAHUE; OZMUN, 2003).

Você acredita que novas pesquisas mostrarão descobertas


inéditas ou que não existe muita coisa para ser descoberta
mais nessa área?

Para saber mais sobre a importância do Teste de Apgar, acesse o link:


<http://www.medicinaintensiva.com.br/apgar.htm>.

Visão Geral 15
U1

Acredito que já podemos responder a algumas questões


acerca do conteúdo visto. A partir do conteúdo exposto nesta
seção, responda às questões abaixo:

1. Qual é a importância das anotações feitas por Tiedemann


acerca do desenvolvimento do seu filho para os estudos nessa
área?

2. Quais foram os outros estudiosos que iniciaram suas


pesquisas observando o comportamento dos seus filhos?

16 Visão Geral
U1

Seção 2
Teorias do desenvolvimento humano
Após verificarmos quem foram os precursores dos estudos em desenvolvimento
humano, aprenderemos sobre as principais teorias que tentam esclarecer como
acontece esse processo.

Vamos identificar que existem diferentes teorias tentando explicar o


desenvolvimento humano e que a maioria delas, de alguma forma, tenta justificar,
de forma enfática, porque ela se mostra mais coerente que as demais.

Entretanto, você, leitor, perceberá que todas, em algum momento, apresentam


instabilidade e inconsistência, pois não há entre elas uma que não apresente
alguma fragilidade.

Quando falamos acerca das teorias do desenvolvimento humano, provavelmente


encontraremos muitos artigos e material relacionado à condição cognitiva.
Frequentemente, esse conhecimento apresenta-se relacionado a aspectos da
aprendizagem e não usualmente à condição motora ou física.

Veremos então a seguir, de forma bastante resumida, quais são algumas das
principais teorias relacionadas ao desenvolvimento humano e seus criadores.

A teoria Psicanalítica acredita que as mudanças ocorrem em razão da influência


das emoções e das necessidades internas (BOYD; BEE, 2011).

1. Teoria psicossocial de Freud: Freud levava em consideração a afetividade


como critério correspondente do comportamento humano e dizia que tudo o que
o ser humano fazia tinha como alvo a busca pelo prazer. As fases eram nominadas
de acordo com a parte do corpo que tinha como finalidade a busca pelo prazer, e
a cada fase o objeto do prazer mudava seu alvo.

2. Teoria Psicossocial de Erikson: teve como base a teoria de Freud, mas


acreditava que a criança se desenvolvia por meio de “estágios psicossociais”, nos
quais os instintos se relacionavam com as exigências da cultura, moldando a
personalidade (BOYD; BEE, 2011).

Essas teorias apresentavam basicamente uma forte relação entre os responsáveis


pela criança e a criança em formação, isso determinaria, juntamente com outros
fatores, como o indivíduo iria se desenvolver. Também mostravam que a cada fase
ou estágio, as necessidades humanas vão se alterando em função ou da necessidade

Visão Geral 17
U1

de prazer ou das “crises” que surgem em razão de situações de enfrentamento, o


que gera a necessidade de tomada de decisão sobre a questão geradora da crise.

A teoria da aprendizagem acredita que os indivíduos em formação podem e são


treinados para ser e fazer determinadas coisas. Essas mudanças de comportamento
são geradas por influências externas, somente, sem influências de necessidades
internas. O criador dessa teoria foi o psicólogo John Watson.

1. Condicionamento Clássico: Essa proposta tem como fundamento que o


comportamento (aprendizagem) é o resultado de uma associação de estímulos e
respostas a esses estímulos, principalmente para respostas a estímulos emocionais.
Nessa teoria, assim como nas demais, o período da primeira infância é determinante.

2. Condicionamento operante de Skinner: Nessa teoria, o autor aponta que o


desenvolvimento está relacionado ao indivíduo a aprender que deve interromper ou
continuar, mantendo algum tipo de comportamento em razão das consequências
geradas por ele. Nesse caso, temos o “reforço”, que é muito importante. O reforço
pode ser considerado como um ato ou uma atitude que serve para estimular ou
inibir um comportamento.

3. Teoria sociocognitiva de Bandura: Criada por Albert Bandura, essa teoria


indica que o reforço nem sempre se faz necessário e que, muitas vezes, o
aprendizado acontece pela imitação de atitudes dos outros. Essas atitudes, muitas
vezes, recebem punição ou reforço e geram nos indivíduos que estão observando
atitudes de imitação e/ou inibição, dependendo do resultado final.

A teoria Cognitiva acredita que os aspectos mentais, com o raciocínio e a lógica,


podem influenciar no desenvolvimento pela relação entre o estímulo e a resposta.

Para Moreira (1999), o cognitivismo tem como preocupação o processo de


entendimento, de alteração de informação, de como essa informação fica
armazenada e como ela é usada pelo indivíduo.

1. Teoria cognitivo-desenvolvimentista de Piaget: O autor aponta que nossa mente


funciona de forma equilibrada, adaptando-se constantemente ao meio em que o
sujeito está vinculado, e quando acontece um desequilíbrio por meio de experiências,
a mente tem que fazer uma reestruturação, construindo novos “esquemas”, se
readaptando. Esse processo se chama: assimilação, adaptação e acomodação.

2. O construtivismo de Vygotsky: Para Vygotsky, a aprendizagem acontece


de forma muito semelhante à proposta de Piaget, com a diferença de que ela
geralmente é influenciada por um adulto, irmão mais velho ou uma criança com
maior habilidade, entretanto a necessidade de oportunidades é muito importante
nesse tipo de aprendizagem.

As teorias ecológicas ou biológicas indicam que, para que os processos aconteçam,

18 Visão Geral
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se faz necessária a interação entre os aspectos fisiológicos e os ambientais.

1. Genética do comportamento: Estuda a influência da herança genética no


comportamento humano.

2. Teoria biológica: Essa teoria aponta que o desenvolvimento do indivíduo se


dá pela relação entre o sujeito e o ambiente em que ele está inserido (família,
escola, bairro, cultura, crenças e valores).

É claro que as teorias têm explicações muito mais complexas do que as descritas
aqui nessa seção. Entretanto, como falar sobre essas teorias não é o foco principal
desse livro, e sim somente apresentá-las a vocês, leitores, deixamos aqui apenas
uma sucinta descrição de alguns aspectos que as envolvem.

Devemos entender também que muitos autores criticam e não aceitam


determinadas teorias, pois a alegação que sustenta essa visão é que, para que uma
teoria possa ser válida, ela tem que oferecer a possibilidade de ser amplamente
testada. Entretanto, algumas teorias apresentam muita dificuldade em relação a
esse ponto, como é o caso das teorias ecológicas e genéticas.

Outro fator de importância que impulsiona o valor de uma teoria é sua


capacidade de estimular a reflexão e também novas pesquisas, seja apoiando ou
refutando seus conceitos.

Sendo assim, o importante é a análise de cada teoria de forma criteriosa,


sem minimizar sua importância, mas sim, refletir sobre suas possibilidades de
oferecer informações valiosas sobre o complexo processo de crescimento e
desenvolvimento humano e os aspectos que os envolvem.

Você acredita que existe uma teoria que se sobreponha às


outras? Se você pudesse elaborar sua própria teoria usando
apenas os melhores argumentos das teorias que conheceu,
quais usaria?

Para saber mais sobre a teoria ecológica, acesse o link: Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/pdf/epp/v4n1/v4n1a06.pdf>.

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1. Como eram nominadas as fases da Teoria psicossocial de


Freud?
2. A teoria da aprendizagem, mais especificamente o
Condicionamento Clássico, tinha como proposta teórica:

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U1

Seção 3
Conceitos básicos

Nessa seção iremos compreender a importância do conhecimento teórico


para fundamentar as nossas ações práticas.

Você já pensou que sem o conhecimento teórico não temos como sustentar
nosso planejamento e nem as atividades que pretendemos desenvolver em nossas
aulas?

Fique atento aos conceitos apresentados nessa seção para que cada vez mais
possamos ter entendimento e não nos confundirmos a respeito da terminologia
usada nos processos de ensino e aprendizagem.

Quando falamos em Educação Física, devemos entender que por trás da


prática existem conceitos que a sustentam e que direcionam todo o entendimento
voltado ao planejamento das ações que a norteiam.

Existem em todas as profissões diversos termos científicos e técnicos que


embasam as ações do profissional, e compreender e definir um termo usado
dentro da profissão na qual se propôs atuar é fundamental. A partir do momento
em que se conhecem as diferenças terminológicas das palavras que fazem parte
do repertório de um profissional, percebe-se que este profissional compreende
o que está falando e diferencia-se dos demais no momento em que planeja,
prescreve e orienta as atividades levando em conta o conhecimento que detém.

Cada profissional deve, então, ter pleno domínio do conhecimento a que


se propôs estudar, pois a partir desse conhecimento técnico-científico, poderá,
de forma séria e criteriosa, fundamentar suas ações e atitudes com base em
conhecimento profissional adquirido no seu processo de formação profissional.
Caso contrário, o profissional cai no que chamamos de “senso comum”, e passa
não a utilizar o conhecimento científico, que é elaborado com base na ciência e
em estudos previamente testados, mas simplesmente em conhecimento popular.

Visão Geral 21
U1

Será que uma pessoa sem formação profissional que atua


junto à criança na escola pode, com seu conhecimento de
“senso comum”, oferecer a mesma qualidade na condição
do desenvolvimento dessa criança que um profissional com
formação técnico-científica? Reflita sobre isso.

Para saber mais sobre a importância do conhecimento teórico


e a sua associação com a prática, leia o artigo de Bertini Junior
e Tassoni. <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1807-
55092013000300013&script=sci_arttext>.

Para saber mais: A lei que regulamenta a profissão de professor de Educação


Física é a Lei nº 9.696, de 1 de setembro de 1998. Procure conhecê-la.

Nesse sentido, vamos então nos colocar a par das definições que envolvem os
estudos em crescimento e desenvolvimento humano.

Diante disso, o que se percebe é que existe um complexo sistema que


envolve todo este processo e que muitos são os fatores que podem influenciar
o desenvolvimento humano como um todo. Sabe-se também que estes fatores
de influência exercem seu poder nas fases iniciais da infância e adolescência,
perdurando por toda a vida.

Nesse sentido, observa-se que entender este processo e dominá-lo fornece


subsídios para que um bom profissional possa encontrar métodos adequados para
avaliar, identificar atrasos e elaborar estratégias de ensino compatíveis com as fases

22 Visão Geral
U1

de desenvolvimento, favorecendo desta forma o crescimento e o desenvolvimento


humano como um todo, potencializando suas capacidades e habilidades não só nas
atividades esportivas, mas também nas AVDs (atividades de vida diária), auxiliando o
indivíduo a realizar suas tarefas do cotidiano com autonomia e competência.

Existem na literatura diversas definições sobre crescimento e sobre


desenvolvimento humano. Entretanto, o que se percebe é que muitos profissionais
ainda insistem em acreditar que esses termos são a mesma coisa. Porém, um bom
profissional sabe que, por mais que esses termos possam ser confundidos entre
si, eles não são a mesma coisa, pois se referem a aspectos que se interagem e se
completam, mas que são completamente distintos.

Para Guedes e Guedes (1997), o crescimento refere-se ao aumento no tamanho


do corpo causado pela multiplicação ou pelo aumento do número de células.

Para Malina e Bouchard (2002), o crescimento é um aumento no tamanho do


corpo como um todo ou aumento do tamanho de partes específicas do corpo.
Para Gallahue e Ozmun (2003), o crescimento físico refere-se à totalidade da
alteração física, é o aumento da estrutura do corpo causado pela multiplicação
ou pelo aumento de células.

Outros autores, como Haywood e Getchell (2004), definem crescimento como


o aumento quantitativo ou da magnitude (grandeza), é o aumento no tamanho ou
na massa corporal.

Percebemos que quando os diferentes autores vistos definem “crescimento”,


todos ressaltam em suas definições que, quando nos referimos ao crescimento,
essas definições estão diretamente ligadas ao aumento na estrutura corporal.
Nenhum dos autores, em momento algum, descreve ou faz qualquer comentário
a respeito do funcionamento dos sistemas corporais, e somente mencionam a
estrutura física do corpo. Nesse sentido, percebemos que quando falamos em
crescimento, devemos deixar claro que estamos nos referindo a um aumento nas
dimensões corporais. Mais adiante falaremos sobre como ocorre este processo.

Sobre o desenvolvimento, podemos dizer que as definições de diferentes


autores também se assemelham. Vejamos.

Para Guedes e Guedes (1997), desenvolvimento pode ser considerado como


um conjunto de fenômenos que permitem uma sequência de alterações evolutivas
que vão desde a concepção até o fim da vida.

Para Gallahue e Ozmun (2003), o desenvolvimento refere-se a alterações no


nível de funcionamento de um indivíduo ao longo do tempo. Oliveira (2006)
diz que o desenvolvimento refere-se a alterações nas funções orgânicas de um
indivíduo ao longo do tempo.

Visão Geral 23
U1

Haywood e Getchell (2004) afirmam que o desenvolvimento é o processo


sequencial e contínuo relacionado à idade, pelo qual o comportamento motor se
modifica. Gallahue e Ozmun (2003), ainda se referindo sobre o desenvolvimento,
porém agora sobre o desenvolvimento motor, dizem que o desenvolvimento motor
é uma alteração contínua no comportamento motor ao longo do ciclo da vida.

Podemos observar que os autores citados anteriormente mencionam nas suas


definições acerca do desenvolvimento humano, que este refere-se aos níveis
de funcionamento, ou seja, o desenvolvimento humano está sempre associado
à palavra “mudança”, o que nos indica que para que ocorra desenvolvimento
humano em qualquer área (cognitiva, afetiva, social ou motora), devemos perceber
se houve algum tipo de alteração, seja ela de ordem fisiológica, motora, cognitiva,
social ou afetiva no comportamento desse indivíduo.

Malina e Bouchard (2002) apontam que o conceito de desenvolvimento pode


ser usado de duas formas. A primeira se refere à condição biológica e a outra é
quando nos referimos à condição voltada ao comportamento.

Percebemos agora porque às vezes os termos se confundem, já que o


termo desenvolvimento pode ser usado para aspectos biológicos, assim
como o termo crescimento. Porém, somente o termo desenvolvimento
deve ser usado apenas para aspectos comportamentais.

Como pudemos então observar, analisando as diferentes definições,


conseguimos então agora perceber que quando falamos sobre o crescimento
de uma pessoa, estamos nos referindo a um aumento no corpo desse indivíduo,
mas quando falamos em desenvolvimento, estaremos falando de mudança no
funcionamento do corpo.

Outros importantes conceitos estão agregados ao processo de crescimento


e de desenvolvimento humano. Sem os conceitos que veremos a seguir, ficaria
difícil explicar todo o processo que ocorre no nosso corpo e que nos faz evoluir
para níveis superiores de funcionamento.

Outra definição que veremos a seguir e que acompanha as definições já vistas


é a definição de maturação.

Maturação, para Haywood e Getchell (2004), refere-se ao progresso em direção

24 Visão Geral
U1

à maturação física, a um ótimo estado de integração dos sistemas do corpo de


uma pessoa e a capacidade de reprodução dela. Malina e Bouchard (2002) dizem
que maturação é o processo de tornar maduro ou o progresso pelo estado de
amadurecer.

Gallahue e Ozmun (2003) afirmam, sobre maturação, que são alterações


qualitativas que capacitam o indivíduo a progredir para níveis mais altos de
funcionamento.

Para Malina, Bouchard e Bar-Or (2004), maturação pode ser considerada como
um processo evolutivo que leva o corpo a atingir a forma e a obter as funções de
um indivíduo adulto.

Observando as diferentes definições, percebemos que quando falamos de


maturação, devemos entender que este termo se refere, na sua concepção, ao
processo pelo qual cada indivíduo passa que o capacita, após essa transição, a elevar-
se de um nível menos adiantado a um nível mais elevado de desenvolvimento, tanto
nos aspectos físicos, cognitivos, afetivos, sociais e motores. Esse processo indica
que um indivíduo evoluiu nessas diferentes áreas e que a partir do momento em
que houve a maturação, seu comportamento avançou.

É importante ressaltar aqui que o processo maturacional se difere entre pessoas


do mesmo sexo e, principalmente, entre os gêneros masculino e feminino. Essa
diferença pode acontecer em razão das influências de aspectos genéticos e
também de aspectos ambientais.

Outro importante conceito relacionado ao crescimento e ao desenvolvimento


humano é o conceito de idade cronológica.

A idade cronológica refere-se ao período entre o nascimento até o período


da vida em que o indivíduo se encontra. No caso da fase pré-natal (período que
antecede ao nascimento), conta-se em semanas o desenvolvimento da célula
ovo ou zigoto, passando pelo período embrionário até tornar-se feto. Após o
nascimento, conta-se em dias, meses e anos.

Para Tourinho Filho e Tourinho (1998), a idade cronológica pode ser considerada
como a diferença que existe entre um determinado dia escolhido e o dia em que
o indivíduo nasceu.

Podemos observar que a idade cronológica, pela definição dos autores, se refere
à nossa idade em anos, e é claro que, quando tratamos com recém-nascidos, se
refere à quantidade de horas, dias ou meses desse indivíduo.

Visão Geral 25
U1

Tabela 1.1 | classificação de idade cronológica

Fonte: Gallahue e Ozmun (2003, p. 15)

Entretanto, devemos compreender que a idade cronológica é a forma mais


usada para determinarmos em qual período da vida o indivíduo se encontra,
mas devemos sempre nos lembrar de que indivíduos da mesma idade podem
apresentar níveis de crescimento e de desenvolvimento físico, afetivo, cognitivo e
social completamente distintos.

Será que a idade cronológica é o melhor meio de


classificarmos os indivíduos, já que eles podem apresentar
níveis de desenvolvimento em todas as áreas (física, afetiva,
social e cognitiva) completamente diferente uns dos outros?

26 Visão Geral
U1

Diante disso, podemos então aceitar que o desenvolvimento humano, assim


como o crescimento, estará sempre associado à idade cronológica, mas que eles
não dependem dela, como afirmam Gallahue e Ozmun (2003).

Mais adiante, nos capítulos seguintes, quando falarmos sobre idade biológica,
apresentaremos outras formas de classificação dos indivíduos que talvez fossem
mais adequadas.

Outro termo frequentemente associado ao crescimento e ao desenvolvimento


humano é desenvolvimento motor.

Podemos dizer que este termo está muito mais vinculado ao desenvolvimento,
como o próprio nome já diz, do que ao termo crescimento. Vamos ver a seguir
algumas definições.

Desenvolvimento motor é o processo sequencial e contínuo relacionado à idade,


pelo qual o comportamento motor se modifica (HAYWOOD; GETCHELL, 2004)

Para Gallahue e Ozmun (2003), o desenvolvimento motor é uma alteração


contínua no comportamento motor ao longo do ciclo da vida.

Como podemos observar nas duas classificações apresentadas, o


desenvolvimento motor está associado às alterações motoras que ocorrem no
decorrer do processo de aquisição dos movimentos, sejam eles básicos, como
comer, andar ou apenas segurar uma colher, até os movimentos mais complexos,
como combinações de movimentos incluindo gestos de coordenação motora
mais ampla, como chutar uma bola.

O termo desenvolvimento motor engloba questões ligadas ao desenvolvimento


de gestos de locomoção, manipulação e estabilização.

Existem etapas ou fases determinadas por alguns autores que indicam,


pela sua classificação, em que período de desenvolvimento cada indivíduo se
encontra. Alguns dos testes citados na seção 1 desta unidade servem, como já foi
mencionado anteriormente, para avaliar as fases de desenvolvimento de bebês,
crianças e jovens.

O termo comportamento motor nos leva a ter que compreender outra


importante definição, que é o que chamamos de controle motor.

O controle motor pode ser definido como sendo o controle do sistema nervoso
e da musculatura para que os movimentos sejam harmoniosos, feitos de forma
coordenada e com certa habilidade (HAYWOOD; GETCHELL, 2004).

Outra definição, de Shumway-Cook e Wollacott (2003), pode ser considerada


como a capacidade que temos de regulação dos diferentes mecanismos envolvidos

Visão Geral 27
U1

no movimento humano.

Observamos, nas definições acima, que os diferentes autores retratam em


seus conceitos aspectos relacionados aos mecanismos corporais que estão
diretamente envolvidos no processo de controle dos movimentos. Dentre esses
mecanismos podemos citar o sistema nervoso central (SNC), o sistema sensorial e
a musculatura (sistema motor).

O desenvolvimento motor está intimamente ligado a um eficiente sistema de


controle motor, mas, com exceção do movimento involuntário, para que um
indivíduo desenvolva um controle motor eficaz dos movimentos voluntários, ele
deverá, em algum momento, receber indicações instrutivas acerca da melhor
maneira de realizar o movimento, de forma que ele possa atingir níveis mais elevados
de controle motor. Dessa forma, cada sujeito pode passar então de movimentos
básicos e simples a movimentos combinados e de maior complexidade.

Para que isso aconteça se faz necessário que exista um processo de


aprendizagem motora, que pode acontecer de diversas formas (insight, tentativa
e erro, raciocínio, observação, condicionamento simples ou outros tipos de
aprendizagem).

Sendo assim, se faz necessário que entendamos o conceito de aprendizagem


motora.

A aprendizagem motora é definida por Magill (1984) como uma mudança no


que acontece internamente nos indivíduos, causando uma melhora relativamente
permanente no desempenho de tarefas motoras provenientes de prática constante.

Para Schmidt e Wrisberg (1993), a aprendizagem motora é um processo


que, juntamente com a prática e com a experiência, realiza algumas mudanças
parcialmente permanentes na capacidade de execução de movimentos habilidosos.

Fonseca (2008) diz que a aprendizagem é uma mudança que ocorre de forma
permanente no comportamento humano e é geralmente provocada pela vivência
(experiência), e tem como finalidade adquirir algum tipo de habilidade ou competência.

Podemos observar, nas definições de aprendizagem motora, que quando nos


referimos a esse termo estamos dizendo que a aprendizagem nos conduz a mudanças,
e essas mudanças nos padrões de movimento nos levam ao desenvolvimento motor,
por isso dizemos que existe uma forte relação entre esses dois conceitos.

Existem muitas influências na aquisição de movimentos. Essas influências


podem ser de ordem filogenética ou ontogenética. Isso significa que o movimento
pode ter sua origem automática e natural, sem ensino, como é o caso da transição
do gesto de se arrastar para o gesto de engatinhar (filogenética), ou ainda pelo
processo de ensino-aprendizagem (ontogenética), como é o caso da fala e da

28 Visão Geral
U1

escrita, que são habilidades que necessitam de ensino para serem aprendidas.

Citamos no parágrafo anterior o termo "habilidade motora". Essa palavra


também se relaciona com o crescimento e com o desenvolvimento humano.
As habilidades motoras, que podem receber duas classificações quanto à sua
definição, têm muito a ver com o processo de aquisição de movimento e com o
desenvolvimento motor. Para que um indivíduo avance para níveis mais elevados de
desenvolvimento motor, ele deve desenvolver e/ou aperfeiçoar suas habilidades.

O conceito de habilidade se confunde um pouco, porque esse termo pode


ser usado de duas formas distintas. A primeira se refere ao termo como um gesto
ou como uma tarefa motora. Nesse caso, poderíamos dizer que um indivíduo
que aprendeu a andar desenvolveu uma habilidade que é “andar”, ou que quando
esse mesmo indivíduo aprendeu a comer, ele desenvolveu uma habilidade que é
“comer”. Nesse sentido, entendemos que habilidade aqui diz respeito apenas ao
gesto motor que é andar ou comer.

No outro sentido, o termo habilidade é geralmente usado para definir um nível


de funcionamento de determinado movimento quando esse padrão está muito
acima da média. Se dissermos que um jogador de futebol tem muita habilidade
para outra pessoa, essa pessoa irá entender que ele joga muito bem, que sua
capacidade de jogar futebol é acima da média. Se dissermos que uma pessoa tem
habilidade de cozinhar, as pessoas entenderão que essa pessoa deve cozinhar
muito bem, muito melhor que a maioria.

Vamos entender então o que a literatura diz sobre habilidade motora.

Para Gallahue e Donnelly (2008), habilidades motoras podem ser consideradas


como um padrão de movimentos que, quando realizados, são feitos com alto grau
de exatidão e precisão.

Para Tani, Kokubun e Manoel (1998), habilidade motora pode ser considerada a
capacidade de realizar movimentos de forma eficiente.

Observamos, nas definições acima, que os autores destacam que quando


falamos de habilidades motoras (como forma de rendimento), estamos nos
referindo a algo que é feito com maestria, com alto nível de performance e em um
nível de execução que poucos conseguem fazer.

Para entendermos melhor as condições que levam alguém a executar uma


tarefa com alto grau de habilidade, devemos compreender que existem fases no
processo de aprendizagem motora e que apenas indivíduos que atingem a última
fase da aprendizagem é que são capazes de alcançar alto grau de competência
motora e, consequentemente, habilidade.

Outro importante aspecto que devemos levar em consideração é que temos

Visão Geral 29
U1

ouvido que muitos profissionais relatam que alguns indivíduos têm um “dom” para
determinadas tarefas motoras. Entretanto, é importante ressaltar que não existe
“dom”, e sim o que podemos chamar de “inteligência motora”.

A ciência não deve tratar a condição motora de um indivíduo que está acima
da média de execução com uma explicação “divina”, e sim, responder baseado
em estudos, e a explicação científica responde esse fato. Diante disso, o ideal é
considerar que determinadas pessoas têm uma condição motora acima da média
simplesmente pelo fato de que essa é a inteligência que mais se destaca para ela,
em detrimento aos outros tipos de inteligência existentes.

Para saber mais sobre as diferentes inteligências, leia a teoria das


inteligências múltiplas, de Howard Gardner, e assistam a esse vídeo.
<http://www.youtube.com/watch?v=FDCGcekPhss>.

A teoria de Gardner nos apresenta uma melhor condição de compreendermos


porque determinadas pessoas são mais habilidosas em determinadas tarefas do
que outras.

Por último, outro conceito muito importante que devemos entender que está
associado ao desenvolvimento motor é o conceito de capacidades motoras.

As capacidades motoras, para Magill (2000), são características gerais,


relacionadas com o potencial individual de aprendizagem e do rendimento em
diversas habilidades motoras.

Schmidt e Wrisberg (2001) definem capacidades motoras como sendo traços


duradouros, herdados e relativamente estáveis, que suportam o rendimento
individual em diversas habilidades motoras.

Para Manno (1994), as capacidades motoras ou capacidades físicas são as


condições endógenas que permitem a realização das diversas ações motoras.

Como pudemos observar, quando falamos das capacidades motoras, temos


que ter muito claro que elas são responsáveis por todas as ações motoras que
fazemos, independente de onde essas ações são realizadas (esporte, lazer ou
atividades do dia a dia).

30 Visão Geral
U1

Diante disso, temos que aceitar que as capacidades motoras estão presentes em
todos nós. Todas as pessoas são providas de capacidades motoras, o que muda é
o nível de qualidade dessas capacidades motoras. Por exemplo, se compararmos a
coordenação motora geral de uma criança de quatro anos, de uma pessoa adulta
e de um jogador de basquete, veremos uma grande diferença, entretanto, temos
que aceitar que todos têm coordenação motora, mas o que difere um sujeito do
outro em relação a isso é a qualidade dessa capacidade.

Qual é a importância do conhecimento teórico?


Podemos dizer então, baseado nos conceitos vistos, que
pode haver desenvolvimento sem crescimento?

1. Existem diversas características que fazem parte das


diferentes teorias do desenvolvimento. Quando dizemos
que o processo de desenvolvimento humano recebe grande
influência das relações estabelecidas com a família, com o
bairro onde mora, com a cultura na qual está inserido e com
os valores de uma sociedade, podemos dizer que essa teoria
tem uma característica;

a. Construtivista.
b. Sociointeracionista.
c. Biológica.
d. Psicossocial.
e. Aprendizagem.

2. Podemos dizer que a definição: “[...] refere-se ao aumento


no tamanho do corpo como um todo ou aumento do tamanho
de partes específicas do corpo”, é uma definição de:

a. Maturação.
b. Crescimento.
c. Desenvolvimento.

Visão Geral 31
U1

d. Idade cronológica.
e. Idade biológica.

3. Existem diferentes formas de definirmos o termo habilidade.


Esse termo pode ser definido como nível de performance
e como um ato ou uma tarefa motora. Quais dos exemplos
abaixo se referem a essas classificações, respectivamente?

a. O drible de um jogador muito bom e andar de bicicleta.


b. Jogar vôlei e executar um salto mortal.
c. Dar um chute e realizar malabarismo na corda bamba do circo.
d. Andar e saltar.
e. Engatinhar e arremessar uma bola na cesta de basquete.

32 Visão Geral
U1

Um dos grandes desafios dos profissionais de Educação Física


é dominar os conhecimentos teóricos e práticos, além de
conseguirem fazer a aplicação dos conteúdos teóricos na prática
diária. Um profissional competente tem a capacidade de fazer essa
associação. Conseguir utilizar o domínio dos conteúdos no seu dia
a dia, estimulando o desenvolvimento do seu aluno como um todo.

Para que a Educação Física consiga sua legitimidade e passe


a ser vista de forma positiva pela sociedade, inclusive por
profissionais que atuam dentro da escola de forma conjunta
e multidisciplinar, mostrando que podemos ir muito além da
prática, ele deve mostrar que seu conhecimento pode e vai
muito além da prática.

Diante disso, procure ler o máximo que puder, estudar assuntos


não só relacionados a exercícios ou a jogos e brincadeiras, mas
também conhecer as leis, entender de planejamento, teorias
de aprendizagem e tudo o que envolve o processo de ensino e
aprendizagem.

Visão Geral 33
U1

1. Leia as frases abaixo, colocando V se for verdadeiro e F se for


falso o que está escrito, depois assinale a alternativa correta.

( ) Muitos profissionais, já há muito tempo, vêm despertando


interesse na área de estudo sobre o desenvolvimento humano.
Profissionais de áreas como a biologia, psicologia e pedagogia
estão entre os que mais estudam esses fenômenos.

( ) Os primeiros estudos nessa área foram feitos por estudiosos


que analisaram os comportamentos dos seus filhos.

( ) A teoria Psicanalítica é aquela que acredita que as mudanças


nos indivíduos acontecem pela influência das emoções e das
necessidades internas.

( ) Quando falamos de crescimento, estamos nos referindo


ao funcionamento do corpo, enquanto quando falamos de
desenvolvimento estamos nos referindo ao aumento no
tamanho do corpo.

( ) Não existe relação entre o desenvolvimento com a


aprendizagem.

a. V, V, F, F, F.
b. V, F, V, F, V.
c. F, V, F, V, F.
d. F, F, F, V, V.
e. V, V, V, F, F.

2. Leia as alternativas abaixo e responda.

X) Crescimento refere-se ao aumento do tamanho do corpo.

Y) A idade cronológica está associada aos períodos de vida do


indivíduo e geralmente é descrita pelos dias, meses ou anos vividos.

Z) O crescimento e o desenvolvimento sempre caminham juntos.

34 Visão Geral
U1

a. Apenas a alternativa X está incorreta.


b. Apenas a alternativa Y está incorreta.
c. Apenas a alternativa Z está incorreta.
d. As alternativas X, Y e Z estão corretas.
e. As alternativas X, Y e Z estão incorretas.

3. A capacidade de domínio individual que temos sobre os


movimentos corporais é chamada de:

a. Aprendizagem motora.
b. Maturação.
c. Desenvolvimento motor.
d. Controle motor.
e. Habilidade.

4. Qual é a linha de pensamento teórico do desenvolvimento que,


dentre outros fatores, associa o processo evolutivo à genética?

a. As teorias ecológicas ou biológicas.


b. Teoria cognitiva.
c. Teoria da aprendizagem.
d. Teoria do Big Bang.
e. Teoria psicanalítica.

5. Podemos dizer que habilidade e capacidade motora, segundo


as definições apresentadas nessa unidade, são, respectivamente:

a. Habilidades motoras podem ser consideradas como um


padrão de movimentos que quando realizados são feitos com
alto grau de exatidão e precisão, enquanto as capacidades
motoras são características gerais, relacionadas com o potencial
individual de aprendizagem e do rendimento em diversas
habilidades motoras.

b. Capacidades motoras podem ser consideradas como um


padrão de movimentos que quando realizados são feitos com
alto grau de exatidão e precisão, enquanto as habilidades
motoras são características gerais, relacionadas com o potencial
individual de aprendizagem e do rendimento em diversas
habilidades motoras.

Visão Geral 35
U1

c. Habilidades motoras podem ser consideradas como um


padrão de movimentos realizados sem nenhum grau de
exatidão, enquanto as capacidades motoras são características
de determinadas populações ditas normais, relacionadas com
o potencial individual de aprendizagem e do rendimento em
atividades voltadas ao rendimento esportivo.

d. Capacidades motoras podem ser consideradas como um


padrão de movimentos realizados sem nenhum grau de
exatidão, enquanto as habilidades motoras são características
de determinadas populações ditas normais, relacionadas com
o potencial individual de aprendizagem e do rendimento em
atividades voltadas ao rendimento esportivo.

e. Capacidades motores são movimentos especializados,


enquanto habilidades motoras são movimentos fora do padrão
de normalidade.

36 Visão Geral
U1

Referências

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em crianças de 03 a 24 meses. 2009. Dissertação (Mestrado em Ciências do
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Visão Geral 37
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38 Visão Geral
Unidade 2

DESENVOLVIMENTO HUMANO
E DESENVOLVIMENTO MOTOR
DO RECÉM-NASCIDO

Alexandre Schubert

Objetivos de aprendizagem: Nessa unidade vamos relembrar como


ocorrem os processos de crescimento e de desenvolvimento humano
desde a fecundação.

Veremos também quais são os fatores que podem influenciar o


crescimento e o desenvolvimento de forma negativa.

Também iremos conhecer de que forma acontece o desenvolvimento


motor desde o ventre materno até o início dos movimentos voluntários.

Seção 1 | Desenvolvimento humano – Desenvolvimento


pré-natal
Nessa seção vamos lembrar como acontece a fecundação e como o
indivíduo cresce e se desenvolve nesse período dentro do ventre materno.

Veremos como as células se desenvolvem e quais são os fatores


negativos que afetam esse processo e a importância de fatores externos.

Seção 2 | Desenvolvimento humano – Desenvolvimento


pós-natal
Aqui veremos como ocorre o desenvolvimento humano após seu
nascimento. Qual é a relação entre o crescimento e o desenvolvimento
nesse período e os fatores que podem auxiliar nessa etapa.
U2

Seção 3 | Desenvolvimento motor


Iniciaremos aqui os estudos do desenvolvimento motor do bebê.
Perceberemos como se iniciam os movimentos partindo de movimentos
reflexivos até alcançar os movimentos voluntários. Veremos como se
dividem os movimentos reflexivos e a importância desses movimentos
para o desenvolvimento motor posterior.

40 Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido


U2

Introdução à unidade

Olá, nessa unidade vamos relembrar de conteúdos já vistos nas aulas de ciências
ou de biologia que tivemos na escola nos anos do Ensino Fundamental e Médio.

Vamos rever também como ocorre o processo de crescimento e de


desenvolvimento humano, desde a concepção, passando por cada fase de
desenvolvimento.

Também iremos aprender sobre o movimento humano. Quando ele se inicia,


os fatores que determinam sua evolução e os aspectos que influenciam o início
dos movimentos voluntários.

Veremos as fases pelas quais passamos para conseguirmos chegar a esse


mundo, desde a fecundação do óvulo até o nascimento.

As unidades aqui vistas irão demonstrar que as influências ambientais são muito
importantes nesse processo, e que a cada dia mais, alguns comportamentos de
risco da gestante podem determinar problemas que vão desde a constituição física,
passando pela parte motora e também pela parte cognitiva. Iremos constatar, após
essa unidade, que muitos são os fatores que determinam o aprendizado e a formação
dos indivíduos. Por isso, a missão de conhecer como ocorre o crescimento e o
desenvolvimento humano é tão importante, pois as ações de identificar atrasos
e elaborar estratégias de ensino voltadas à recuperação dos marcos referenciais
motores são essenciais no planejamento das aulas de Educação Física.

Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido 41


U2

42 Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido


U2

Seção 1
Desenvolvimento humano – Desenvolvimento
pré-natal
Vamos começar a entender como o processo de crescimento e de
desenvolvimento acontece. Nessa seção vamos compreender de que maneira o
desenvolvimento humano se inicia e quais são os fatores de risco que podem de
alguma forma afetar esses processos positiva e negativamente.

Compreenderemos que em cada fase ou etapa os acontecimentos se


desenvolvem de forma diferenciada quanto ao crescimento e ao desenvolvimento.
Perceberemos que desde muito cedo eles não são paralelos e não dependem um
do outro, mas que de alguma forma se relacionam.

1.1 Desenvolvimento pré-natal


Alguns séculos atrás, era praticamente impossível saber o que acontecia dentro
do útero materno desde a fecundação até a concepção. As mulheres estavam
muitas vezes à mercê da sorte e do conhecimento empírico das pessoas que
acompanhavam a gravidez.

Com a evolução da ciência e a criação de equipamentos modernos como o


ultrassom, por exemplo, essa realidade passou a mudar. O acompanhamento de cada
fase do crescimento e do desenvolvimento humano passou a ser realizado de forma
muito mais eficiente, determinando assim um relato real da vida uterina do bebê.

O ciclo menstrual da mulher dura 28 dias em média, mas alguns estudos


mostram que o ciclo pode variar entre 21 e 35 dias (DIAS; SIMÃO; NOVAES, 2005).
O ciclo se divide em três períodos ou fases: folicular, ovulatória e lútea (CHAVES;
SIMÃO; ARAÚJO, 2002). Nas duas primeiras fases existe uma grande quantidade de
hormônio estrogênio sendo secretada, e na fase lútea o hormônio que predomina
é a progesterona. A progesterona aumenta significativamente na fase lútea e seu
pico se dá logo após a ovulação, o que faz com que a temperatura corporal basal
permaneça elevada nesse período.

Na fase final do ciclo, o corpo lúteo vai se soltando e os níveis hormonais


diminuem, e com isso um novo ciclo recomeça (VANDER; SHERMAN; LUCIANO,
2001). A concepção acontece no período fértil da mulher, que geralmente ocorre
entre o 11º dia e o 17º, sendo o 14º dia o mais fértil. Nesse período a chance de
engravidar é de aproximadamente 25%, entretanto isso não é uma regra.

Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido 43


U2

Figura 2.1 | Relação dos hormônios femininos e o ciclo menstrual

Fonte: Disponível em: <http://www.shutterstock.com/pic-162580292.html>. Acesso em: 5 de nov. 2014.

Para saber um pouco mais sobre como acontece o processo de


fecundação, acesse o link: <http://www.youtube.com/watch?v=tfxZm-
SqAfw>.

O crescimento pré-natal apresenta três períodos:

Germinativo (Concepção até a primeira semana)

Embrionário (Segunda semana até o segundo mês)

Fetal (Terceiro mês até o oitavo mês)

Após a fecundação, que ocorre nas Trompas de Falópio, iniciam-se então


os processos de crescimento e de desenvolvimento humano. O ovo fertilizado
começa a se multiplicar por meio do processo de mitose, onde a célula se divide
carregando uma carga genética igual à sua para uma nova célula, formando uma
célula com característica semelhante (MALINA; BOUCHARD, 2002). Neste período
há uma rápida multiplicação celular e muitos fatores externos podem alterar
as características dessas células em multiplicação, gerando alguma anomalia
genética. Por isso, nos estágios iniciais da gestação, a atenção e os cuidados
devem ser redobrados para que nenhum fator ambiental possa gerar qualquer tipo
de problemas para a criança. Nesse sentido, passamos a perceber a importância
do acompanhamento pré-natal por um profissional especializado.

Após aproximadamente três dias da fecundação, a multiplicação celular formou


um conjunto de células, que unidas têm o formato parecido com o de uma amora,
conhecido por mórula.

44 Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido


U2

Figura 2.2 | Desenvolvimento do embrião

Fonte: Disponível em: <http://www.shutterstock.com/cat.mhtml?lang=pt&language=pt&ref_site=photo&search_


source=search_form&version=llv1&anyorall=all&safesearch=1&search_tracking_id=Jj6aCC8hSkHFUeWPCS17WA
&searchterm=c%C3%A9lula%20%20%20m%C3%B3rula&show_color_wheel=1&orient=&commercial_ok=&media_
type=images&search_cat=&searchtermx=&photographer_name=&people_gender=&people_age=&people_
ethnicity=&people_number=&color=&page=1&inline=213649015>. Acesso em: 5 de nov. 2014.

O ovo, ou zigoto, caminha lentamente em direção ao útero e após cinco ou


seis dias se implanta em uma camada especialmente criada para recebê-lo (corpo
lúteo). Quando a gravidez ocorre, a liberação do corpo lúteo fica impedida pelo
aumento de um hormônio chamado de gonadotrofina coriônica humana.

O início do período embrionário e o término do período germinativo são definidos


por um processo de alteração celular conhecido como diferenciação. No processo
de diferenciação celular acontecem mudanças nas camadas celulares, fazendo
com que cada uma dessas camadas celulares existentes (mesoderme, ectoderme e
endoderme embrionária) altere seu formato, formando órgãos específicos.

Quadro 2.1 | Camadas celulares e desenvolvimento dos sistemas


CAMADAS SISTEMAS
• Sistema digestivo;
ENDODERME (Camada Interna) • Sistema respiratório;
• Sistema glandular;
• Fígado e pâncreas.
• Sistema muscular;
• Sistema esquelético;
MESODERME (Camada Mediana) • Sistema circulatório;
• Sistema reprodutivo;
• Músculo liso visceral;
• Revestimento dos vasos sanguíneos.
• Sistema nervoso central e periférico;
ECTODERME (Cobertura Externa) • Órgãos sensoriais terminais;
• Pele, cabelo e unhas;
• Tecidos conjuntivos da cabeça.
Fonte: Adaptado de Gallahue e Ozmun (2003)

Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido 45


U2

Esse crescimento dos órgãos e tecidos ocorre por meio de três processos:
hiperplasia, hipertrofia e acreção.

O crescimento dos órgãos tecidos ocorre por meio de três diferentes processos:
pela multiplicação celular (hiperplasia), pelo aumento do tamanho da célula
(hipertrofia) e a acreção (aumento das substâncias intracelulares orgânicas, como
proteínas, carboidratos, lipídios e vitaminas) e inorgânicas (água e sais minerais).

Fonte: O autor (2014)

Esses fatores são influenciados por diversas ações que acontecem no processo
de formação do indivíduo e que são influenciadas por uma condição multifatorial.

Acredita-se que os problemas de má formação em bebês tenham causas de


origem genética (25%), ambientais (10%) e também de fatores não identificados
(65%) (MOORE, 2000).

Existem, então, muitos fatores que podem afetar o crescimento e o


desenvolvimento do bebê positivamente, mas que também podem afetar
negativamente, gerando algum tipo de anomalia. Existem dois tipos de causas
geradoras de anomalias no processo formativo do bebê:

• Fatores genéticos;

• Causas extrínsecas.

A esses fatores de influência externa damos o nome de “teratógenos”.

No período embrionário, o bebê ainda em formação apresenta uma maior


predisposição de desenvolver algum tipo de defeito congênito em razão da
influência dos teratógenos (MALINA; BOUCHARD, 2002; HAYWOOD; GETCHELL,
2004; GALLAHUE; OZMUN, 2003).

É importante sabermos que os teratógenos podem ter influência negativa


não somente no período de desenvolvimento do bebê, mas também devemos
compreender que alguns defeitos relacionados a esse tipo de influência ambiental

46 Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido


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só irão aparecer mais tarde. Os defeitos congênitos mais frequentes costumam


aparecer primeiramente no Sistema Nervoso Central (SNC), pois a formação desse
sistema antecede o processo embrionário (RIBEIRO, 2008).

Diante disso, percebemos que alguns distúrbios de aprendizagem ou transtornos


relacionados a dificuldades no desenvolvimento motor podem estar associados a
problemas ocorridos ainda no processo de formação do SNC.

De acordo com Dicke (1989), teratógeno pode ser definido como alguma
substância, organismo, agente físico ou estado de deficiência na vida do embrião
ou do feto embrionário ou fetal que pode causar algum tipo de alteração na
estrutura em formação.

Outra definição de teratógenos é dada por Haywood e Getchell (2004), que


dizem que teratógenos são quaisquer tipos de drogas ou agentes químicos que
podem, de alguma forma, causar anormalidades no desenvolvimento do feto.

Os teratógenos geralmente agem conduzindo a célula à morte, ou alterando


o crescimento dos tecidos (hiperplasia e hipoplasia), causando crescimento e
desenvolvimento assincrônico (quando não há sincronia), gerando algum tipo de
interferência na diferenciação da célula ou alterando outros processos morfológicos.

Outros fatores, intrínsecos, também podem influenciar o desenvolvimento fetal


e também são considerados teratógenos (GALLAHUE; OZMUN, 2003). São eles:

• MÁ NUTRIÇÃO PLACENTÁRIA: Surge com problemas associados ao


fornecimento e transporte de nutrientes da placenta para o feto. O feto depende
do fornecimento de sangue da mãe e da ação da placenta e do cordão umbilical
para seus nutrientes;

• MÁ NUTRIÇÃO FETAL: Está relacionada com a inabilidade do feto em aproveitar


os nutrientes que lhe são oferecidos via cordão umbilical;

• MÁ NUTRIÇÃO DA MÃE: Por deficiências na ingestão de nutrientes da mãe ou


pelo excesso de alimentação da mãe.

Vamos ver como cada um desses fatores influencia de forma negativa no


processo de crescimento e de desenvolvimento do bebê.

1.2 Má nutrição placentária


A placenta apresenta no desenvolvimento fetal algumas importantes funções
e pode ser considerado um filtro onde ocorrem trocas gasosas, envio de água,
eliminação dos resíduos excretados pelo bebê, secreção de hormônios, e uma
das principais funções é a de assegurar uma alimentação adequada ao bebê no

Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido 47


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período de crescimento e de desenvolvimento. Ela é considerada um órgão misto,


que se forma por meio de tecidos do próprio feto e também por tecidos da mãe.

De acordo com Sizer e Whitney (2003), em relação à placenta, caso ela exerça
sua função de maneira adequada, o bebê apresentará um crescimento adequado
em todos os períodos de crescimento e desenvolvimento; entretanto, caso isso não
aconteça, será inviável crer que o bebê se desenvolverá dentro dos padrões esperados.

A placenta apresenta uma classificação de três graus que indica a maturidade em


que ela se encontra. Podemos dizer que quanto maior o número, mais envelhecida
a placenta se encontra, sendo o grau 3 o mais próximo ao final da gestação. Essa
classificação também ajuda a indicar quanto de alimento e de oxigênio o bebê pode
estar recebendo, ou seja, quanto mais nova, mais nutrientes, e consequentemente
mais eficiente será o crescimento e o desenvolvimento do bebê.

É importante saber que o grau da placenta não irá acelerar o parto, mas as
condições em que ela se encontra é que vão determinar o nascimento. Caso ela
esteja em grau avançado, porém bem, nada irá afetar o bebê. Contudo, caso ela
comece a se calcificar, ficando mais dura, existe na maioria dos casos a necessidade
de agendamento do parto, pois nessas condições ela passa a limitar o transporte
de oxigênio e de nutrientes ao bebê, elevando o risco de morte.

Existem diversos fatores que podem acelerar o envelhecimento da placenta.


Aspectos como o fumo, alguns tipos de bactérias, diabetes ou pressão alta
influenciam muito essa condição. O aumento na ingestão de antioxidantes pode
auxiliar no combate ao envelhecimento precoce da placenta. As vitaminas E, C e
betacaroteno se mostraram muito eficientes no auxílio ao combate a esse mal.

1.3 Má nutrição fetal


Quando nos referimos à má nutrição fetal, estamos nos referindo à condição
do bebê de não conseguir aproveitar o alimento enviado a ele por parte da mãe.
Isso pode acontecer em razão de algum tipo de complicação no metabolismo
da criança ou na incapacidade de funcionamento de algum órgão específico de
forma adequada (GALLAHUE; OZMUN, 2003).

1.4 Má nutrição da mãe


Diversas causas são apontadas como fatores de possível interferência na
evolução gestacional, segundo Costa e Oliveira Neto (1999). Os autores destacam
os fatores associados a uma gestação no período da adolescência, porém, tais
fatores podem também ser associados à gravidez de uma mulher adulta. São eles:

• Fatores econômicos: sendo se o local da moradia apresenta condições

48 Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido


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adequadas de saneamento, acesso a posto de saúde e cuidados médicos.

• Fatores psicossociais: que determinam a condição de aceitação dessa gravidez


e a relação com o pai, sendo esse um aspecto positivo relacionado com uma boa
gestação.

• Cuidados pré-natais: a participação de programas de acompanhamento pré-


natal e também a qualidade do atendimento prestado.

• Infecções: estão relacionados a algum tipo de doença causada por infecções


maternas.

• Estado nutricional: a desnutrição da mãe, que pode ocasionar diversos tipos


de problemas ao bebê em desenvolvimento.

• Peso materno: o peso adquirido pela mãe no período da gestação.

• Idade cronológica: a idade da mãe, que pode não ser uma variável de grande
influência quando se controlam as demais variáveis de influência.

• Idade biológica: o incompleto desenvolvimento físico da mãe pode ser


considerado fator de influência, pois pode comprometer o envio de nutrientes ao
feto, em razão das necessidades nutricionais da mãe serem maiores do que as do
bebê para suportar o crescimento físico.

• Alimentação: o acesso da mãe ao conhecimento sobre alimentação é ideal


nesse período, além da atitude e da disciplina, buscando uma alimentação adequada.

Podemos observar que dos nove itens destacados, três se referem à alimentação.
Diante disso, podemos perceber a importância da alimentação da mãe nesse
período (MELO et al., 2007). A alimentação adequada deve ser equilibrada e
contendo todos os nutrientes necessários para que o bebê possa se desenvolver.
Estados de desnutrição materna podem prejudicar o bebê, por isso torna-se
importante compreendermos a diferença entre “desnutrição” e “subnutrição”.

Quando nos referimos à desnutrição, devemos saber que uma pessoa que se
encontra nesse estado é uma pessoa que, apesar de ter disponibilidade de alimentos,
não ingere a quantidade de nutrientes adequada. No caso da desnutrição, é muito
comum que ela aconteça em razão da adesão de algumas pessoas a algum tipo
de dieta muito radical e com pouca diversificação de alimentos.

Em relação à subnutrição, o que se pode dizer é que uma pessoa nesse estado
come uma menor quantidade de comida do que precisaria, não consumindo a
quantidade de calorias necessárias diária. Na maioria dos casos a subnutrição é
resultado da pobreza e falta de recursos para aquisição de alimentos de qualidade
e adequados. Observa-se essa situação, na maioria das vezes, em pessoas de baixa

Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido 49


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renda e em países com estado de pobreza elevado.

Programas de saúde voltados aos cuidados da alimentação da gestante podem


auxiliar na diminuição dos altos índices de crianças recém-nascidas com peso e
altura abaixo dos percentuais considerados dentro dos padrões. É muito comum
observar que as mães de famílias de classe social de baixa renda apresentam um
índice maior de filhos com problemas congênitos ao nascer do que mães de classes
sociais mais elevadas. Entretanto, devemos considerar que não é somente a classe
social que influencia na questão de bebês nascendo com problemas congênitos
em razão da dieta inadequada da mãe, mas também o nível de conhecimento e de
disciplina da mãe sobre aceitar a gravidez e optar por uma dieta equilibrada e sem
riscos (GALLAHUE; OZMUN, 2003).

Na África, por exemplo, quando houve a inclusão de alguns nutrientes na dieta


de populações de baixa renda, em especial na dieta de crianças, percebeu-se uma
redução de 10% dos índices de mortalidade em determinadas regiões (MONTE,
2000). Isso mostra que políticas públicas simples, de fornecimento de informação
e de nutrientes básicos na dieta da população, podem ajudar a evitar problemas
em relação aos índices de mortalidade infantil de recém-nascidos ou de recém-
nascidos com problemas congênitos.

Alguns tipos de vitaminas têm se mostrado de vital importância para o bebê


no seu processo de crescimento e de desenvolvimento no período gestacional.
A falta de vitamina C, ou do complexo B, D, E e K, bem como de alguns tipos
de proteínas, pode resultar em danos físicos ou mentais graves para o bebê
(GALLAHUE; OZMUN, 2003).

A carência de vitamina D pode ser um fator predisponente ao risco de parto antes


do programado, além de resultar em baixo peso do recém-nascido, diminuição do
crescimento e do desenvolvimento do bebê ao nascer (BASILE, 2014).

O cálcio também se mostra de grande importância nesse período, pois estudos


nos mostram que a ausência desse mineral na alimentação materna pode ser a
causa da má-formação do tubo neural, com possibilidade de anemia megaloblástica
do recém-nascido (NASCIMENTO; SOUZA, 2002).

O que se pode dizer é que, com informação adequada, problemas relacionados


a esse fator de influência podem ser facilmente solucionados, mesmo que com
poucos recursos financeiros. Por exemplo, vitamina C pode ser facilmente
encontrada em alguns alimentos como acerola, frutas cítricas, tomates, vegetais
folhosos, legumes e frutas. A vitamina B também pode ser encontrada em alimentos
como fígado, vísceras, pescados, gema de ovo, folhas verdes, cereais integrais,
levedura, leite e derivados (queijo e requeijão), carnes magras e leguminosas.

Alguns estudos têm mostrado que a suplementação com ácido fólico (vitamina

50 Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido


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B9) no início da gestação pode reduzir o risco de algumas doenças congênitas em


até 75% (SCHIERI et al. 2000; OLIVEIRA et al, 2007.)

Diante disso, o que podemos perceber é que levar conhecimento e cultura à


população gestacional acerca da alimentação correta nesse período poderia ser
de grande ajuda.

Muitas são as informações a respeito da importância da alimentação da mãe no


processo de crescimento e de desenvolvimento do bebê, entretanto, como já foi
dito, esse é apenas um dos muitos fatores de influência.

Resgatando as definições dos autores Dick (1989) e Haywood e Getchell (2004),


é importante lembrar que teratógenos também são substâncias químicas que
podem gerar alguma anormalidade ou algum tipo de defeito congênito no bebê.

Sendo assim, vamos ver, no quadro a seguir, alguns desses teratógenos e suas
possíveis causas.

Quadro 2.2 | Teratógenos e seus efeitos sobre a criança


TERATÓGENOS POSSÍVEIS EFEITOS NO FETO

DEFICIÊNCIAS NUTRICIONAIS Influência geral sobre todos os aspectos do crescimento e do


Vitaminas A, E, riboflavina, desenvolvimento, incluindo baixo peso ao nascer, possíveis
Ácido graxo e glicose. efeitos sobre a função da placenta e má-formação do feto.

HIPERVITAMINOSE Retardo mental, defeitos cardíacos e anormalidades sensoriais.


Excesso de vitamina D
Crescimento retardado, irritabilidade aumentada, rigidez e
DROGAS aumento de chances de morte infantil súbita.
Cocaína / Crack
Anomalias faciais, deformação no ouvido, anomalia cardiovascular
Ácido retinoico (usado para e dano no sistema nervoso central.
tratamento de acne)
Vício na criança.
Morfina/heroína
Desordem sensorial e surdez.
Antibióticos
Baixo peso no nascimento, deformidades físicas, retardo mental
Álcool e crescimento refreado.

Retardo de crescimento, baixo peso ao nascer, aborto espontâneo


Tabagismo e nascimento prematuro.

INFECÇÕES Altura, peso e circunferência da cabeça abaixo do terceiro


HIV percentil, anormalidade da cabeça e da face.

Rubéola Defeitos cardíacos, crescimento prejudicado, retardo mental,


catarata e surdez.

Fonte: Adaptado de Haywood e Getchell (2004)

Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido 51


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Esses tipos de agentes químicos podem chegar ao bebê de várias formas.


Algumas vezes eles podem chegar pela própria placenta, que é porosa e permite
a entrada desse tipo de agente, ou pela própria ingestão da mãe, como é o caso
das drogas legais e ilegais.

Oliveira et al. (2007) apontam que o potencial de ação do teratógeno no indivíduo


irá depender de quanto tempo o sujeito ficou exposto ao agente teratogênico, o
tamanho da dose disponível e a própria constituição genética do indivíduo exposto.

Diferentes tipos de teratógenos, como vimos anteriormente no quadro acima,


podem gerar diferentes respostas em diferentes indivíduos. Vimos apenas algumas
das possibilidades de ação dos teratógenos no quadro acima, porém, é preciso
aceitar que existem muitos outros teratógenos, e mesmo os que foram apresentados
no quadro acima podem ter outros efeitos colaterais no bebê em formação.

Vejamos como esses teratógenos podem agir sobre o crescimento e sobre o


desenvolvimento.

Hipervitaminose: Algumas vitaminas em excesso podem acarretar problemas


não somente para a mãe, mas também para o bebê em formação (PARIZZI;
FONSECA, 2010). Abaixo, apresentamos um quadro que mostra alguns problemas
que podem ser gerados pelo excesso de alguns tipos de vitaminas e minerais.

Quadro 2.3 | Minerais e vitaminas e sua toxidade para o feto


MINERAIS VITAMINAS TOXIDADE PARA O FETO
Vitamina C Alterações metabólicas.
Malformação do feto (Cefaleia; lesões cutâneas e hipertensão
Vitamina A
intracraniana).
Vitamina D Pode ser um fator etiológico de hipoplasia dentária primária no feto.
Vitamina Doses elevadas podem ser tóxicas para o fígado.
Poliúria, noctúria, fraqueza, artralgia, perturbações do aparato sensorial
Cálcio
e da memória.
Cobre Amenorreia; aborto espontâneo.
Iodo Irritação gástrica; lesões, cutâneas; malformações, fetais, congestão nasal.
Ferro Hemocromatose.
Magnésio Insuficiência respiratória e parada cardíaca.

Pode induzir dificuldades respiratórias e diminuição do tônus muscular


Magnésio
no recém-nascido.
Fonte: Adaptado de Parizzi e Fonseca (2010).

Álcool: Nos últimos anos, percebeu-se uma mudança do comportamento


socialmente aceito pela sociedade em relação às mulheres. Muitas mulheres
passaram a adotar um estilo de vida muito parecido com o dos homens no que se
refere a comportamento de risco. A diferença entre homens e mulheres no que

52 Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido


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se refere ao consumo de álcool vem diminuindo bastante (ELBREDER et al. 2008).

O consumo de álcool para mulheres oferece mais agravantes do que o


consumo pelos homens, principalmente em períodos específicos, como é o caso
do período gestacional. Para Fonseca (2008), o uso de álcool durante o período
gestacional pode acarretar sérios problemas de saúde, tanto para a gestante
quanto para o bebê.

A quantidade permitida de ingestão de álcool pela mulher no período gestacional


de forma segura ainda permanece indefinida. Diante disso, aconselha-se que a
gestante nesse período abstenha-se totalmente do consumo de bebidas alcóolicas
(FREIRE et al. 2005; MESQUITA; SEGRE, 2010).

Alguns estudos mostram que quando a gestante consome álcool, aumenta o


risco de bebês nascerem prematuros, com algum tipo de malformação, com peso
abaixo da média esperada e problemas mentais. Isso ocorre em decorrência do que
chamamos de Síndrome do Alcoolismo Fetal (MORAES; REICHENHEIM, 2007).

Tabaco: De acordo com Menezes (2004), nos países desenvolvidos, o cigarro


mata mais que todas as mortes causadas por situações que poderiam ser evitadas
(cocaína, heroína, álcool, incêndios, AIDS e suicídios).

A incidência no consumo de tabaco pelas mulheres tem aumentado muito no


decorrer dos anos (MACHADO; LOPES, 2009).

Entretanto, outros autores contestam a informação anterior e afirmam que o número


de fumantes vem diminuindo nos últimos anos, caindo por volta de 33% entre 1989 e
2004 (CAVALCANTE, 2005). Lombardi et al. (2001) apresentam dados que comprovam
que entre as mulheres, o consumo também reduziu em todas as faixas etárias.

Gráfico 2.1 | Prevalência de tabagismo nas mulheres por idade no Brasil (1989 e 2003)

Fonte: Lombardi et al. (2011)

Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido 53


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Existem diversas diferenças no consumo de tabaco pela população feminina


que vão desde o motivo até a forma de consumo (LOMBARDI et al., 2011). O
consumo de tabaco para o gênero feminino se mostra muito perigoso em todas
as idades e fases da vida, contudo, é no período gestacional que os riscos e a
gravidade aumentam, não somente para a mãe, como também para o bebê
(LEOPERCIO; GIGLIOTTI, 2004; MACHADO; LOPES, 2009).

Existem muitos perigos que a utilização de tabaco no período gestacional


podem trazer para o bebê em desenvolvimento. Destacam-se entre esses
problemas o baixo peso ao nascer, morte súbita, parto prematuro e problemas
no desenvolvimento do sistema nervoso central, anemia, malformações e baixo
índice de APGAR (MAUAD FILHO; GROSS; AQUINO, 1992; MACHADO; LOPES,
2009; NAKAMURA; ALEXANDRE; SANTOS, 2004).

Medicamentos: Algum tempo atrás acreditava-se que a utilização de


medicamentos por parte da mãe no período gestacional não influenciaria o
desenvolvimento do feto (CASTRO; PAUMGARTTEN; SILVER, 2004). Medicamentos
como a Talidomida (sedativo), a Isotretinoina (tratamento da acne), Dilantin e
Fenobarbital (epilepsia) também podem ter grande influência na geração de
crianças com algum tipo de anomalia.

Cada droga, em razão dos possíveis efeitos colaterais gerados por ela, pode
fazer com que aumente o potencial de geração de células com defeito. Contudo,
esse potencial gerador é muito individual, pois não existe uma regra geral, podendo
diferir o percentual de risco de indivíduo para indivíduo.

O que se deve considerar em relação à ingestão de algum tipo de medicamento


é o período gestacional em que esse medicamento foi ingerido, a dose que foi
usada e por quanto tempo a gestante fez uso dessa medicação. Esses fatores de
análise são fundamentais para podermos avaliar o risco da utilização da droga para
o desenvolvimento do bebê.

De acordo com Gallahue e Ozmun (2003), a droga pode afetar o bebê de formas
diferentes. Pode alterar a divisão celular assim como a sua diferenciação, pode alterar
a disponibilidade de oxigênio para o bebê em razão da alteração da placenta e pode
exercer sobrecarga no fígado (responsável pelos resíduos do sangue – bilirrubina),
dificultando a excreção desse componente, pode gerar a Icterícia.

Para saber mais sobre a icterícia, acesse: <http://www.utineonatal.med.


br/novo_site/artigos_ictericia_neonatal.html>.

54 Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido


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Drogas ilícitas: Portela et al. (2013) relatam que houve um grande aumento no
consumo de drogas (maconha, anfetamina, crack e cocaína) nos últimos anos.
Os autores afirmam que esse aumento ocorreu em razão das facilidades nos dias
atuais da aquisição de qualquer tipo de droga pela sociedade.

Em relação às gestantes, essa realidade não é diferente, pois o que se percebe


é que a cada ano o número de mulheres grávidas envolvidas com algum tipo de
droga ilícita só aumenta. Contudo, tem sido muito difícil detectar a prevalência
desse consumo, em razão da omissão de informações por parte das grávidas
usuárias (LOPES et al., 2011). Os mesmos autores ressaltam ainda que a droga mais
utilizada pelas gestantes é a maconha, em seguida vem a cocaína e em terceiro
o crack. Entretanto, outras drogas, como as anfetaminas, os opioides e o etanol,
também são muito usadas pelas gestantes.

A utilização de drogas, por si só, já se torna preocupante e se mostra um


grande problema de saúde pública. Quando nesse contexto está inserida uma
gestante, a situação torna-se ainda mais alarmante, pelo fato de que o bebê, um
consumidor sem opção, fica dependente do bom senso da mãe para não se tornar
um consumidor por obrigação.

As consequências do uso de drogas pela mãe são devastadoras em todos os


sentidos (SILVA, 2014). A autora reforça ainda que a utilização de drogas ilícitas na
gestação pode não só comprometer o bebê temporariamente até que cesse o
uso, mas pode acarretar em consequências a longo prazo que podem perdurar
pelo resto da vida.

Como temos visto, é consenso que o uso de qualquer tipo de droga, seja ela
lícita ou ilícita, pode trazer algum tipo de risco ao bebê em desenvolvimento.
Também é importante lembrar que quando alguma área de desenvolvimento
do bebê é afetada, o reflexo disso pode vir tardiamente, no ambiente escolar,
dificultando tarefas motoras simples de realizar, ou dificultando o desenvolvimento
do raciocínio lógico, impossibilitando que cognitivamente a criança possa se
desenvolver de forma compatível com o padrão esperado em cada fase da vida, ou
ainda, repercutir no desenvolvimento das capacidades e das habilidades motoras.

Gallahue e Ozmun (2003) apresentam em seu livro uma série de estudos feitos
em períodos distintos de gestação, com diferentes tipos de populações, que
mostram que existem cada vez mais crianças nascidas que foram expostas a algum
tipo de droga. Esses autores apresentam dados que mostram que a maconha,
por exemplo, quando atravessa a placenta e alcança o bebê, afeta a produção de
testosterona, inibe a síntese de DNA, aumentando o potencial de mutação.

Moore et al. (1986) afirmam que o consumo de cocaína pela gestante afeta
diretamente a irrigação sanguínea do bebê, causando uma vasoconstrição, o
que impede o bebê de receber oxigênio adequado, podendo causar insuficiência

Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido 55


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útero-placentária, acidose fetal e hipoxemia.

Em relação ao uso de crack, o bebê tem grande possibilidade de desenvolver


microcefalia, defeitos no tubo neural, além de apresentar crescimento abaixo
do esperado, problemas relacionados ao comportamento, falta de padrões
cardiorrespiratórios e convulsões (WHITE; LAMBE, 2003; GOMELLA, 2006).

Muitas outras drogas se mostram presentes no dia a dia da gestante,


principalmente de baixa renda e que não faz acompanhamento pré-natal, o que
serve para agravar ainda mais a situação e aumentar o risco binômio mãe-bebê.

Diante disso, políticas públicas efetivas que possam auxiliar mulheres grávidas
que são usuárias de alguns tipos de drogas seriam adequadas para evitarmos
crianças nascendo com problemas.

Para Oliveira et al. (2007), os defeitos congênitos recebem algumas classificações


quanto ao tipo de dano que podem causar. São elas:

Má-formação: são anormalidades que acontecem em algum órgão ou em


determinadas partes do corpo que podem acontecer em decorrência do processo
de desenvolvimento anormal (retardado, alterado ou interrompido). Nesse caso,
acontece a interrupção no processo de formação de algumas estruturas ou estas
simplesmente não se formam.

Deformação: são alterações na estrutura do feto. Geralmente acometem


partes específicas do corpo (cartilagens, ossos ou articulações). Podem gerar pelve
reduzida, útero bicorno e feto com constituição anormal.

Perturbação: é quando um órgão ou uma parte dele apresenta algum tipo de


defeito morfológico.

Displasia: ocorre quando alguma estrutura celular apresenta desorganização,


mistura de tipos de tecidos diferentes, gerando um aspecto de tumor. O angioma
é um exemplo desse tipo de problema.

Algumas drogas podem prejudicar o desenvolvimento e


o funcionamento do fígado, responsável pelos produtos
residuais do sangue chamado “Bilirrubina”. A incapacidade
dos dutos biliares em excretar a Bilirrubina de forma eficiente
resulta em “Icterícia ou Amarelão”. Esta em excesso pode
causar “Kernicterus”, que é uma Icterícia grave (porém rara) e

56 Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido


U2

levar a uma grave lesão cerebral ou até mesmo à morte.

Diante disso, você acredita que uma criança que teve em


sua formação algum tipo de influência teratogênica pode
apresentar dificuldade de aprendizagem em razão disso?

Outros fatores extrínsecos também podem exercer forte influência no bebê


e também são considerados agentes teratogênicos. São eles: alta ou baixa
temperatura excessiva (como febre na mãe), exposição ao Raio X, mudança
de pressão e poluentes ambientais (monóxido de carbono, dióxido de enxofre,
chumbo, mercúrio etc.).

Infecções maternais: algumas infecções podem causar algum tipo de


alteração no processo de multiplicação celular do bebê em desenvolvimento.
Doenças sexualmente transmitidas, como a AIDS, ou a herpes, sífilis, gonorreia, se
enquadram nesse caso (GALLAHUE; OZMUN, 2003).

Outras infecções, como o citomegalovírus (que também pode ser adquirido


por contato sexual), ou a rubéola, igualmente apresentam altos índices de
periculosidade ao feto.

Esses tipos de infecção geram no feto diferentes tipos de problemas, como


lesão cerebral, lesões oculares, cegueira, bebês prematuros, gestação ectópica,
incapacidade sensorial motora e cognitiva, surdez, retardamento mental.

Para saber mais sobre a gravidez ectópica acesse: <https://www.


youtube.com/watch?v=qrIFCCTou7A>.

O citomegalovírus, por exemplo, aparece como uma das causas mais comuns
de infecção, por volta de 1% de todos os recém-nascidos, mas esses dados podem
variar de região para região e de país para país (OLIVEIRA et al., 2011).

Em relação à rubéola, causada por um vírus bastante contagioso,


aproximadamente 90% das mães que contraem esse vírus o transmitem para
seus bebês (MINUSSI et al., 2007). Porém, os mesmos autores apresentam dados
em seu estudo de que, em razão do acesso da população à vacina, a infecção
entre mães e bebês apresenta atualmente índices bastante reduzidos, mas assim

Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido 57


U2

como as demais causas de infecção, merece sempre uma atenção e cuidados por
parte da mãe. A criança nascida de mãe que teve rubéola nos primeiros meses de
gestação pode apresentar grande possibilidade de desenvolver surdez, cegueira
ou algum tipo de retardo mental, além de problemas sensoriais e cognitivos.

Outro problema muito comum relacionado a infecções vem do vírus da AIDS.


Felizmente, estudos mostram que a transmissão de mãe para filho do vírus HIV se
tornou passível de prevenção, diminuindo o risco de 30% para zero a 3%, desde
que essas medidas passaram a ser adotadas em 1996 (SOUZA JUNIOR et al., 2004;
FARIA; PICCININI, 2010).

Dentre os problemas mais frequentes com o bebê portador de síndrome, é muito


comum se observar na criança infecções que podem ocorrer até o primeiro ano de
vida, em especial as bacterianas, como infecções pulmonares e a pneumocistose.

Exposição a Raio X: Um problema pouco divulgado, mas muito perigoso, é a


exposição do feto a doses de radiação. A atuação da radiação (ionizante) na célula
pode gerar alterações físicas e químicas nas moléculas da célula, alterando dessa
forma suas características. Dentre as alterações mais prováveis em fetos expostos
à radiação, podemos destacar: óbito, má-formação, distúrbio de crescimento e de
desenvolvimento, mutações e câncer (D’IPPOLITO; MEDEIROS, 2005).

Poluentes químicos: Alguns estudos têm feito uma associação entre poluentes
químicos ambientais e defeitos congênitos em crianças (GALLAHUE; OZMUN, 2003;
JUNGER; LEON, 2007). Os mesmos autores (JUNGER; LEON, 2007) afirmam que
essas evidências foram confirmadas pela análise do sangue do cordão umbilical de
bebês, filhos de mães que moravam em regiões industrializadas e que não faziam
uso de tabaco.

Em diversos países, em regiões industrializadas, onde se percebe uma grande


quantidade de partículas de poluentes químicos no ar (enxofre, óxidos e dióxidos de
nitrogênio, monóxido de carbono e outros agentes químicos), é comum perceber
bebês recém-nascidos com peso abaixo do percentil esperado ao nascer, retardo
do crescimento intrauterino, câncer, intoxicação do fígado e dificuldades de
desenvolvimento neural.

Para saber mais sobre a gravidez e poluentes, assista ao vídeo: <http://www.


youtube.com/watch?v=ADt_p06SJmo>.

Existe um período de maior suscetibilidade para que os teratógenos influenciem


o desenvolvimento do bebê negativamente. Veja o quadro a seguir.

58 Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido


U2

Quadro 2.4 | Períodos de maior suscetibilidade de influência de teratógenos

Fonte: O autor (2014)

No período embrionário se iniciam alguns eventos:

• Os batimentos começam por volta da quarta semana.

• Olhos, botões dos ouvidos, dedos das mãos e dos pés são formados por volta
da oitava semana.

• O seu crescimento duplica, e o feto se parece com um cavalo marinho, ou


seja, sua cabeça é muito maior que seu tronco.

• Os orifícios da boca e do nariz já são perceptíveis.

• Ao lado do tronco os membros estão começando a se desenvolver.

• Órgãos como o aparelho digestivo, fígado, pâncreas e rins estão se formando


e alguns já estão em funcionamento.

Como já foi dito anteriormente, é importante ressaltar que esse período é o de


maior risco de anomalias, em função do alto grau de multiplicação celular.

Nesse período, algumas mães podem não ter conhecimento da gravidez, ou


dos cuidados necessários com a gestação. Diante disso, há um grande risco da
influência dos teratógenos no crescimento e no desenvolvimento do bebê. O
acompanhamento de profissionais nessa fase se torna de vital importância, para que
as gestantes recebam importantes informações preventivas acerca dos cuidados
necessários para evitar que algum comportamento de risco possa prejudicar o
desenvolvimento do bebê.

Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido 59


U2

Após o período embrionário se inicia o período fetal (terceiro mês em diante).


Vamos observar quais mudanças acontecem nessa fase.

Período fetal inicial (terceiro mês até o sexto mês):

• Aparecem as saliências para dentição.

• Estômago e rins começam a funcionar.

• As cordas vocais aparecem.

• Iniciam-se as primeiras ações reflexas (3º mês).

• O feto abre e fecha a boca, engole e cerra os punhos.

• Nascem os primeiros cabelinhos, os cílios e as sobrancelhas.

• Formam-se as trompas e o útero e os órgãos genitais masculinos.

• O esqueleto ainda não é formado por ossos, ele é transparente e gelatinoso


(modelo de cartilagem).

• O bebê é nutrido pelo sangue materno.

• A vernix caseosa (secreção gordurosa que protege a pele) forma-se por meio
das células epiteliais.

No quarto mês o ritmo de crescimento do bebê é mais rápido, pois o bebê


dobra seu comprimento, e no quinto mês o feto já atingiu 50% do seu tamanho.
Entretanto, em relação ao seu peso, ele tem apenas 10% do peso que atingirá no
final do seu desenvolvimento (GALLAHUE; OZMUN, 2003).

Os mesmos autores supracitados afirmam ainda que o bebê que nasce prematuro
no sexto mês tem pouca perspectiva de vida, pois nesse período ele não tem muito
controle da sua respiração e também o controle da temperatura corporal.

Nessa fase não se observa quase nenhuma nova característica, são perceptíveis
apenas as transformações nas estruturas já existentes.

A partir do sétimo mês se inicia o processo final de desenvolvimento do bebê


e começa a preparação para o seu nascimento. Vejamos alguns acontecimentos
comuns nesse período.

Final do período fetal (sétimo até o nono mês):

• Do sétimo mês ao termo (nascimento) o feto triplica seu peso.

• A lanugem (pelo que recobre grande parte do corpo) começa a cair.

60 Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido


U2

• A vernix caseosa diminui.

• As unhas crescem demasiadamente.

• Pode acontecer um período de grande silêncio.

• A coloração vermelha da pele diminui pela maior distribuição da gordura.

O vernix caseoso, que é uma substância gordurosa que protege a pele do


bebê, é formado por um conjunto de células epiteliais. Entretanto, essas
áreas onde o vernix atua podem se tornar irritadas se o vernix permanecer
ali indefinidamente, e, portanto, ele deve ser removido até 48 horas.
As várias propriedades benéficas dessa substância para a pele fizeram
com que fosse despertado o interesse para o uso deste material
para fins cosméticos. Estudos estão sendo feitos para que cremes de
rejuvenescimento sejam criados a partir desse componente. Alguns
especialistas não concordam com a remoção do vernix logo após o parto,
pois acreditam que, além da pele perder a sua proteção antibacteriana,
pode trazer prejuízos no controle de temperatura por parte do bebê.

Figura 2.3 | Desenvolvimento humano no decorrer das semanas

Fonte: Disponível em: <http://www.shutterstock.com/pt/s/human+embryonic+development/search.


html?page=1&thumb_size=mosaic&inline=180187964>. Acesso em: 19 nov. 2014.

Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido 61


U2

É importante ressaltar que interpretar de forma eficiente o risco real que um


determinado componente teratogênico pode exercer sobre o desenvolvimento da
criança acarreta segurança nesse processo, pois evita que, subestimando o risco
real, o bebê possa correr risco de desenvolver algum tipo de anomalia.

Em um estudo apresentado por Embiruçu et al. (2005), os autores mostram


que, muitas vezes, o risco real de determinado teratógeno é desconhecido até
mesmo pelo profissional responsável pelo acompanhamento da gestação. Veja na
tabela abaixo o risco real e a interpretação dada por diferentes indivíduos.

Tabela 2.1 | Percentual de acerto do risco real de efeito teratogênico entre os grupos analisados

Fonte: Embiruçu et al. (2005)

Como podemos perceber na tabela acima, muitos profissionais classificam


que determinados agentes teratogênicos não são tão agressivos quando, na
verdade, são o contrário. Também pode acontecer de o risco de um teratógeno
ser superestimado quando, na verdade, ele não apresenta um risco muito grande.

Vamos usar como exemplo o caso da cocaína. Na tabela, a cocaína apresenta


um risco de mais de 15% de teratogenia, entretanto, os profissionais que estão
finalizando o curso de Medicina, os clínicos gerais e os ginecologistas afirmam que
o consumo de cocaína na gravidez não apresenta risco nenhum ao bebê. Apenas
os alunos no início do curso acreditam que a cocaína apresenta um risco ao bebê.
Diante disso, percebemos que existe um risco de interpretação, já que alguns
profissionais apresentam dificuldade de identificar o risco real de determinados

62 Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido


U2

teratógenos, o que pode causar um erro de orientação, levando a um percentual


de risco elevado para o desenvolvimento do bebê.

O processo de crescimento e de desenvolvimento nessa fase é fundamental e


pode influenciar todos os demais períodos da vida do indivíduo.

É importante lembrar que nem toda doença ou problema que acontece com a
criança tem origem externa.

Algumas doenças, como, por exemplo, a progéria, são consideradas de etiologia


idiopática (que tem origem desconhecida ou de causa obscura).

Para saber mais sobre a Progéria, assista ao vídeo: <http://www.


youtube.com/watch?v=lSz-YzXTl3w>.

De que forma podemos auxiliar as mulheres em período


gestacional a evitarem algum tipo de problema no processo
de crescimento e de desenvolvimento do bebê?
Será que somente a influência dos teratógenos pode causar
algum tipo de dano ao bebê, ou existem outros fatores que
não controlamos?
Quando percebemos alguma criança com dificuldade
motora, cognitiva, sensorial ou afetiva, temos sempre que
atribuir essa dificuldade a alguma influência no período
gestacional?

Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido 63


U2

Acredito que já estamos aptos para responder a algumas


questões acerca do conteúdo visto. A partir do conteúdo
exposto nesta seção, responda às questões abaixo:
1. De que maneira podemos evitar o desenvolvimento de bebês
com problemas em razão da influência dos teratógenos?

2. Existem, dentre os teratógenos, dois fatores de livre acesso


que são os maiores responsáveis pelas anomalias causadas nos
bebês. Em qual das alternativas abaixo encontramos esses dois
fatores?
a. Álcool e medicamentos.
b. Drogas e álcool.
c. Drogas e alimentação.
d. Álcool e tabaco.
e. Tabaco e alimentação.

64 Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido


U2

Seção 2
Desenvolvimento Humano – Desenvolvimento
Pós-Natal
A partir dessa seção poderemos verificar como acontece o desenvolvimento
humano após o nascimento.

Perceba que quase todo o desenvolvimento humano nessa fase está voltado
para a parte motora. Vamos ver, nessa seção, os diferentes tipos de comportamento
nas diferentes fases da infância.

2.1 Desenvolvimento pós-natal


Existem classificações para os diferentes períodos de desenvolvimento pós-
natal (após o nascimento), essas fases ou períodos são determinados pela idade
cronológica (idade em anos).

O objetivo dessas classificações, na maioria das vezes, é tentar determinar, por


meio das fases em que o indivíduo se encontra, qual o tipo de comportamento que
se espera. Entretanto, devemos nos lembrar que o tipo de comportamento pode
estar relacionado à idade, mas não depende dela. A classificação que veremos a
seguir é de Gallahue e Ozmun (2003).

Figura 2.4 | Classificação etária do desenvolvimento humano

Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido 65


U2

Fonte: Gallahue e Ozmun (2003)

Podemos observar que em determinado período (adolescência) existe uma


subdivisão que mostra uma diferença de idade entre os meninos (M) e as meninas
(F). Mais adiante entenderemos por que existe essa divisão.

Será que as meninas, em algum período, podem ter seu


desenvolvimento físico (força, agilidade, coordenação
motora etc.) igual ou superior ao dos meninos?
Em caso de afirmativa, como isso pode acontecer? Quais
seriam os fatores que determinariam isso?

Quando falamos de desenvolvimento pós-natal, é importante lembrar que


já após o primeiro minuto do nascimento, importantes comportamentos são
usados para analisar a vitalidade dos recém-nascidos. O teste usado foi criado pela
anestesista inglesa Virgínia Apgar em 1953 (SANTOS; PASQUINI, 2009).

Essa avaliação, que recebe o nome de Teste de APGAR (sobrenome da sua


criadora), acontece no primeiro minuto logo após o nascimento e é repetida
após cinco minutos de vida. No teste são avaliados cinco sinais considerados
fundamentais para determinar o bem-estar do bebê, descartando possíveis
problemas neurais. Os itens avaliados são:

• Frequência cardíaca;

• Respiração;

• Tônus muscular;

• Movimentos reflexos;

66 Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido


U2

• Tonalidade da pele.

Cada um desses itens recebe uma nota de 0 a 2 pontos. Um bebê que recebe
nota máxima alcançará 10 pontos. Após cinco minutos, o teste é repetido e o
bebê que atingir sete pontos é considerado dentro do esperado; quatro pontos ou
menos indicam que sua adaptação deverá ser observada e que este bebê necessita
de um cuidadoso acompanhamento (SANTOS; PASQUINI, 2009).

Abaixo vemos a classificação e a pontuação de cada item de acordo com a sua


condição.

Figura 2.5 | Classificação e pontuação do teste de Apgar

SINAL 0 1 2

Frequência Cardíaca Ausente Lenta (Abaixo de 100 BPM) Maior que 100 BPM

Respiração Ausente Lenta / Irregular Boa / Chorando

Alguma flexão nas


Tônus Muscular Flácido Movimento ativo
extremidades

Irritabilidade Reflexa Sem resposta Careta Tosse / Espirro / Choro

Corpo rosado/ Extremidades


Cor da Pele Azul / Pálido Completamente rosado
azuis

Fonte: Bertoldi (2010)

Após o nascimento, o processo de crescimento e desenvolvimento se inicia em


uma sequência previsível. A primeira etapa vai de zero a dois anos, ou até três anos,
como alguns preferem estabelecer, e se chama primeira infância.

O período neonatal, que vai do nascimento até o fim do primeiro mês, apresenta
algumas características próprias. Nesse período, o bebê tem um corpo ainda
desproporcional. A cabeça representa um quarto do tamanho total do corpo
(GALLAHUE; OZMUN, 2003). Os mesmos autores relatam que os olhos têm somente
metade do tamanho final. O peso tem se mostrado variável, mas sempre associado
à condição socioeconômica da mãe. É muito comum também que o bebê perca
aproximadamente 10% do seu peso corporal após o nascimento e aos poucos irá
recuperando essa perda. Esse é um fenômeno muito comum de adaptação.

Geralmente, o que se percebe é que os meninos ao nascer são aproximadamente


4% mais pesados do que as meninas do mesmo padrão. Quando bebês nascem com
baixo peso, estratégias de intervenção para corrigir e compensar esse fator podem fazer
com que, com o tempo, essa criança alcance sem problemas seus companheiros.

Esse é um período muito delicado, pois o bebê se mostra completamente


dependente da mãe, pai ou do cuidador. Após o nascimento, tudo o que se

Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido 67


U2

passa na rotina do bebê passa a ter um importante papel no seu desenvolvimento


cerebral, pois o número de novos neurônios (neurogênese) aumenta, assim como
as conexões entre eles (sinaptogênese) (HERNÁNDEZ; MULAS; MATTOS, 2004;
IZQUIERDO; OLIVER; MALMIERCA, 2009).

No início desse (primeiro mês) período o bebê pode dormir até por volta de 17
horas ao todo durante o dia. O sono é o segundo evento mais importante nessa
fase e só perde para a alimentação. Também nessa fase, o bebê só consegue
receber e assimilar estímulos de um sentido de cada vez.

Nessa fase, em geral, as crianças apresentam um acelerado crescimento e


desenvolvimento corporal, com pouco desenvolvimento na área motora em razão
da falta de domínio dos movimentos, o que só vai ocorrer mais tarde.

Existem curvas de crescimento que são divulgadas por organizações como a


Organização Mundial da Saúde (WHO), que apresentam valores específicos de peso
e altura para meninos e meninas em diferentes períodos etários, que servem de
comparação dos índices de desenvolvimento. Essas curvas podem ser usadas para
analisar se existe algum motivo de preocupação para um determinado indivíduo se
encontrar abaixo do seu percentil.

Na idade de dois anos, os meninos atingem por volta de 50% da sua estatura
final e as meninas por volta de 53%. Aos seis meses de idade, o tórax já é maior que
a cabeça em crianças normais, porém, nas crianças com má nutrição a cabeça
ainda prevalece sendo maior que o tórax (GALLAHUE; OZMUN, 2003).

Entre o primeiro e o segundo ano, os mesmos autores citados acima relatam


que o crescimento continua acelerado, porém mais lento que no primeiro ano. O
desenvolvimento motor ainda continua em um processo (céfalo cauda e próximo
distal – falaremos disso mais adiante).

A segunda fase é conhecida como Infância ou segunda infância e vai dos dois
aos dez anos. Alguns autores, como Gallahue e Ozmun (2003), subdividem essa
fase em três períodos:

2 a 3 anos – período do aprendizado

3 a 5 anos – infância precoce

6 a 10 anos – infância intermediária ou avançada

Nesse período podemos observar muitas características novas e alguns detalhes


importantes que se relacionam com a saúde da criança:

• Por volta dos 4 anos a criança já duplicou seu crescimento desde o nascimento.

• O ganho anual de altura em países desenvolvidos da infância até a puberdade

68 Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido


U2

gira em torno de 5 cm ao ano.

• Os ganhos em peso são em média de 2,3 kg ao ano, mas podem variar de


região para região.

• Começam a aparecer diferenças entre o peso e a estatura de meninos e


meninas, mas são mínimas.

• O cérebro atinge cerca de 75% do seu peso adulto por volta dos três anos e
quase 90% por volta dos seis anos.

• A mielinização não está completa ao nascer.

• A pupila ainda não atingiu o seu tamanho total.

• O paladar se torna mais apurado, pelo fato de as crianças nesse período (pré-
escolar) apresentarem maior número de papilas gustativas.

• O Tubo de Eustáquio que conecta a garganta à parte intermediária do ouvido


é mais curto e mais achatado, o que acaba provocando um maior número de
infecções de ouvido e retenção de fluidos.

Nessa fase o crescimento se mantém mais estável e o que se percebe é um


rápido desenvolvimento muscular e motor. Isso acontece porque nessa etapa a
criança é muito ativa fisicamente, e por causa da sua autonomia de locomoção e
manipulação, explora um ambiente repleto de possibilidades que favorecem esse
desenvolvimento.

Vejamos no quadro abaixo algumas das principais alterações que ocorrem


nesses três períodos.

Quadro 2.5 | Características físicas, motoras e sociais nos diferentes períodos de


desenvolvimento

PERÍODO PRINCIPAIS ASPECTOS DESENVOLVIDOS

• Formação da estrutura corporal básica


Estágio pré-natal • Crescimento mais acentuado de todos os períodos
• Vulnerável às influências ambientais

• O crescimento físico e o desenvolvimento das habilidades


motoras são rápidos
Primeira infância
• A autoconsciência se desenvolve no segundo ano de vida
• O interesse por outras crianças aumenta

• Força e habilidades motoras simples e complexas aumentam


• Imaturidade cognitiva auxilia a ideia de um mundo sem lógica
Segunda infância (início – 2 • Criatividade, as brincadeiras e a imaginação tornam-se mais
a 5 anos) elaboradas
• Independência, autocontrole e cuidado próprio aumentam
• Amigos são importantes mas a família ainda é o núcleo da vida

Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido 69


U2

• Crescimento físico desacelera


• Força e habilidades se aperfeiçoam
• Egocentrismo diminui
Segunda infância (final – 6 a
• Começam a pensar com mais lógica
10 anos)
• Linguagem e memória aumentam
• Autoimagem se desenvolve e passa a afetar a autoestima
• Amigos aumentam a sua importância

Fonte: Adaptado de Gallahue e Ozmun (2003)

Para saber mais sobre o desenvolvimento pós-natal na primeira


infância, assista ao vídeo: Disponível em: < http://www.youtube.com/
watch?v=216U-_r5QCc>.

1. Existem classificações para os períodos de desenvolvimento


após o nascimento e esses períodos são determinados pela
idade cronológica. Qual é o objetivo dessas classificações?

2. A segunda fase, conhecida como Infância ou segunda


infância, compreende as idades:
a. De zero até cinco anos.
b. Dos dois aos dez anos.
c. Dos sete aos 14 anos.
d. Dos três aos 11 anos.
e. Do primeiro ano ao nono.

70 Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido


U2

Seção 3

Desenvolvimento motor

Aqui vamos estudar um pouco sobre o desenvolvimento motor. Vamos


compreender como e quando os movimentos se iniciam e como eles vão
adquirindo melhor qualidade.

Conheceremos a diferença entre os movimentos voluntários e os involuntários e


identificaremos de que forma podemos auxiliar os bebês a evoluírem nesse processo.

Também vamos identificar quais são os aspectos necessários que influenciam


a melhora da qualidade motora.

3.1 Movimentos reflexos


“Os reflexos são as primeiras formas de movimento humano e fornecem
esclarecimentos interessantes sobre o processo de desenvolvimento motor”
(GALLAHUE; OZMUN, 2003).

Desde o quarto mês de vida fetal até por volta do quarto ou quinto mês da
primeira infância os movimentos dos bebês são reflexivos. Estes estímulos e suas
respectivas reações servem como base para a formação do estágio de reunião
de informações e para o estágio de codificação de informações. Neste estágio,
os movimentos reflexivos servem como referência e são armazenados no córtex
ainda em desenvolvimento.

Alguns estudiosos apontam na direção de que esses movimentos reflexivos servem


como base para os movimentos voluntários e são usados posteriormente na medida
em que os movimentos reflexivos vão desaparecendo. Em contrapartida, outros
autores discordam dessa afirmação, já que os movimentos voluntários são controlados
por uma região cerebral totalmente distinta da região de controle voluntário.

À medida que os centros cerebrais se desenvolvem, os movimentos reflexos


são inibidos e substituídos por movimentos voluntários.

Dividimos os movimentos reflexivos em:

 Reflexos Primitivos: associados à obtenção de alimento e proteção do bebê;

Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido 71


U2

 Reflexos Posturais: associados ao comportamento motor voluntário posterior.

Nos primeiros meses, uma análise da presença, e da maneira como o


bebê reage em relação aos movimentos reflexos, pode ser usada para
avaliar o SNC e descobrir possíveis problemas neurológicos. Entretanto,
caso alguns desses movimentos permaneçam por um período em que
os movimentos voluntários já deveriam estar presentes, também pode
indicar algum tipo de anormalidades no processo de desenvolvimento.

Devemos lembrar que no teste de APGAR, que é realizado no recém-nascido, no


primeiro e no quinto minuto de vida, visto no começo dessa seção, os movimentos
reflexivos são um dos cinco itens que são usados para analisar a vitalidade dos
recém-nascidos.

Vamos ver abaixo quais são e como são os diferentes tipos de movimentos
reflexivos.

3.2 Movimentos reflexos primitivos


Reflexo de Moro

Tocando levemente no abdômen do bebê, pela tosse, pelo espirro, ou ainda


criando um sentimento de insegurança deixando a cabeça do bebê cair levemente
para trás, o bebê irá distender o braço e estender os dedos (do braço e perna) para
depois retornar à posição inicial (flexionada) contra o corpo.

Reflexo Tônico Assimétrico

O bebê é colocado de lado e os braços assumem uma posição semelhante


à de um esgrimista, ou seja, a cabeça se volta para o lado para o qual o braço
estendido está voltado. Enquanto o outro braço permanece em uma posição
flexionada junto com a perna do mesmo lado flexionada.

Reflexo Simétrico Tônico do Pescoço

Pode ser provocado tanto em posição sentada ou apoiada. A distensão da cabeça

72 Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido


U2

e do pescoço provoca a distensão dos braços e flexão das pernas. Se a cabeça e o


pescoço estiverem flexionados, os braços flexionam-se e as pernas se estendem.

3.3 Movimentos reflexos posturais


Reflexo de endireitamento

Ao inclinar a criança em decúbito ventral, a criança vai reagir a fim de manter a


cabeça sempre ereta.

Reflexo de levantamento

Quando colocado sentado e inclinado para trás, o bebê involuntariamente irá


flexionar seus braços a fim de permanecer ereto.

Reflexo de engatinhar

Quando colocado em decúbito ventral e pressionada a sola do pé, o bebê


iniciará o gesto de engatinhar reflexivamente, com membros superiores e inferiores.

Reflexo básico de marcha

Quando sustentado ereto em uma superfície plana, realizará o movimento


básico de caminhada.

Para visualizar alguns movimentos reflexivos, acesse: <http://www.


youtube.com/watch?v=V7ywGJnC7cs>.

Esses movimentos reflexivos são considerados como marcos referenciais


motores que servem para determinar o início ou o fim de um período de
desenvolvimento do indivíduo.

Existem períodos considerados críticos tanto para o surgimento quanto para


o desaparecimento dos movimentos reflexivos, e eles variam muito. Vejamos, no
quadro a seguir, alguns desses diferentes períodos.

Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido 73


U2

Quadro 2.6 | Períodos de início e término dos principais movimentos reflexivos

Fonte: Gallahue e Ozmun (2003)

Quando uma criança vai melhorando sua capacidade motora e,


consequentemente, avançando em direção a um padrão motor maduro, ela deixa
para trás padrões de movimentos completamente inadequados. Entretanto, para
que isso aconteça existe a necessidade de que algumas alterações ocorram.

Para a transição dos movimentos reflexivos para os movimentos voluntários,


devem ocorrer as seguintes alterações:

a) Maturação do SNC;

b) Desenvolver força e resistência muscular;

c) Desenvolver postura e equilíbrio;

d) Melhorar o processamento sensorial.

Para que os movimentos passem a ser controlados deixando de ser involuntários,


o SNC precisa amadurecer. Isso significa que a mielinização precisa estar em
um estágio avançado para que a informação processada seja rápida e eficiente.
Também é necessário que as conexões neurais (sinaptogênese) estejam em

74 Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido


U2

harmonia, pois quanto melhor a troca de informações entre os neurônios, maior


será a chance de sucesso na tarefa.

Outro importante aspecto a ser considerado é a necessidade de estimular o


desenvolvimento da força e também da resistência muscular. Mesmo com o SNC
em perfeito estado de funcionamento, recebendo os estímulos, enviando-os para
o cérebro e recebendo as informações acerca dos comandos que devem ser
enviados aos músculos e às articulações, é importante que a criança desenvolva
força suficiente para conseguir manter o corpo em pé.

Alguns bebês, por questões de privação, ou seja, por não serem estimulados
a sozinhos realizarem tarefas motoras, como se arrastar, engatinhar, ficar em pé
ou gestos manipulativos, muitas vezes apresentam atrasos motores. Isso se dá em
razão dos pais terem receio de a criança se machucar. Entretanto, o ideal seria
criar um local seguro para que, junto ao cuidador, o bebê seja estimulado a realizar
tarefas básicas de gestos comuns do dia a dia, para que ele possa desenvolver suas
capacidades motoras.

O mesmo acontece em relação à postura e ao equilíbrio. Sem estímulo


necessário, torna-se difícil que o bebê desenvolva a sua percepção de equilíbrio
e tente manter uma postura compatível com o movimento que está realizando,
se ela não tem condições de “experimentar”. A única forma do bebê melhorar
a postura e o equilíbrio é sendo estimulado a usar os órgãos dos sentidos para
“treinar” essas capacidades.

Como foi dito anteriormente, os órgãos do sentido fornecem importantes


informações por meio dos sensores espalhados por todo o corpo (proprioceptores),
para que o cérebro possa assimilar essas informações e usá-las sempre que a
mesma postura for solicitada. Porém, para isso é muito importante que esses
proprioceptores sejam estimulados por meio de vivências motoras diversas.

Com esses aspectos sendo constantemente estimulados, fica mais fácil crer
que uma criança possa melhorar sua condição motora, obtendo, com o passar do
tempo, controle motor compatível com o seu desenvolvimento.

1. Sobre os movimentos reflexivos, podemos dizer:


X) São considerados por estudiosos como a base dos
movimentos voluntários posteriores.

Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido 75


U2

Y) São divididos em posturais e primitivos.


Z) Podem ser usados como uma importante ferramenta para se
diagnosticar eficientemente a integridade do sistema nervoso
central.

a. Apenas a alternativa X está incorreta.


b. Apenas a alternativa Y está incorreta.
c. Apenas a alternativa Z está incorreta.
d. As alternativas X, Y e Z estão corretas.
e. As alternativas X, Y e Z estão incorretas.

2. Uma criança depende de alguns fatores para conseguir fazer


a transição dos movimentos reflexivos para os movimentos
voluntários. Um dos principais fatores é:
a. Adquirir melhor coordenação óculo pedal.
b. A maturação do SNC.
c. Desenvolver capacidade de manipulação para apoiar-se
sobre os braços.
d. Ampliar sua percepção de estímulos auditivos.
e. Adquirir percepção espacial e temporal.

3. No processo de crescimento e de desenvolvimento do bebê,


em determinado momento as células (endoderme, mesoderme
e ectoderme) alteram seu formato e se transformam em
sistemas. A esse processo chamamos de:
a. Mutação.
b. Clonagem.
c. Alteração.
d. Constituição.
e. Diferenciação.

4. Hiperplasia é um processo celular onde ocorre:


a. Aumento na disposição das células.

76 Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido


U2

b. Aumento no tamanho das células.


c. Aumento no número de células.
d. Aumento na espessura das células.
e. Existe mais de uma alternativa correta.

5. O reflexo de nadar é considerado:


a. Um reflexo postural.
b. Um reflexo de alimentação.
c. Um reflexo primitivo.
d. Um reflexo de susto.
e. Um movimento voluntário.

Será que meninas e meninos têm períodos diferentes de


desenvolvimento dos movimentos reflexivos e posturais?
Quando um bebê nasce a pré-termo, o desenvolvimento
dos seus movimentos passa a contar a partir da data de
nascimento ou a partir da data em que ele nasceria?

Nessa unidade já pudemos compreender como ocorre


o processo de crescimento e de desenvolvimento físico.
Verificamos que existe uma grande diferença entre esses dois
conceitos na Unidade 1, mas aqui pudemos compreender por
que eles realmente se diferem.

Falamos aqui também de como os sistemas se formam, que


é a partir das camadas celulares, sobre hipertrofia, hiperplasia
e acreção, e de que maneira fatores externos, que são
conhecidos como teratógenos, podem exercer algum tipo de

Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido 77


U2

influência nesse processo de crescimento.

Vimos também os eventos que acontecem com o bebê em


cada uma das muitas fases do desenvolvimento.

Aprendemos que em cada uma das fases (período pré-natal,


pós-natal, infância e primeira infância) existem alterações
físicas e motoras e que em cada período a ênfase em cada
um desses aspectos é diferente.

Após essas informações, verificamos como se dá o início do


processo de aquisição de movimento, iniciando desde os
movimentos reflexivos involuntários, até o momento em que
esses movimentos passam a ser inibidos e aos poucos vão
se tornando movimentos voluntários, e passam então a ser
controlados pelo bebê.

Diante dessa grande quantidade de conhecimento que foi vista,


pudemos refletir e perceber quando um indivíduo em idade
escolar apresenta algum tipo de dificuldade em seu processo
de desenvolvimento físico, motor, cognitivo, afetivo ou social.
Devemos considerar que, talvez, em algum momento no seu
processo de crescimento e de desenvolvimento inicial, ele
pode ter sofrido algum tipo de interferência externa.

Vimos, nessa unidade, importantes informações que nos levam


a refletir que, em algumas vezes, o aluno com dificuldades nos
processos de ensino e aprendizagem de aspectos cognitivos ou
motores pode ter sua limitação determinada no início do seu
processo de formação, influenciado por diferentes fatores.

Esses fatores, que podem ser genéticos ou ambientais, muitas


vezes podem trazer consequências negativas para esses
processos, e de alguma maneira certamente os influenciarão.

Diante disso, é importante que o profissional responsável busque


informações acerca do perfil do aluno sob sua orientação e,
certamente, após analisar as características de cada um deles, use

78 Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido


U2

seu conhecimento para elaborar seu planejamento com estratégias


que sejam eficientes e auxiliem o educando a atingir níveis de
desenvolvimento compatíveis com o período onde se encontra.

Existe uma maneira de identificarmos se as dificuldades


de aprendizado do nosso aluno estão associadas a fatores
externos ou internos?
Por que é necessário elaboramos estratégias de ensino e de
avaliação diferenciadas para nossas aulas?

1. Leia abaixo e responda.

X) O ciclo menstrual da mulher dura 28 dias em média, mas


alguns estudos mostram que o ciclo pode variar entre 21 e 35
dias.
Y) São três períodos de desenvolvimento pré-natal:
Germinativo, Embrionário e Fetal.
Z) A fecundação ocorre nas Trompas de Eustáquio.

a. Somente a alternativa X está incorreta.


b. Somente a alternativa Y está incorreta.
c. Somente a alternativa Z está incorreta.
d. As alternativas X, Y e Z estão incorretas.
e. As alternativas X, Y e Z estão corretas.

2. No início do período embrionário e no término do período


germinativo, alguns eventos são muito importantes para o
desenvolvimento do bebê. Um dos eventos que acontecem
nesse período é a alteração das células do seu formato
original para criação de órgãos específicos. Esse processo é
conhecido como:

Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido 79


U2

a. Mutação.
b. Diferenciação.
c. Alteração.
d. Comutação.
e. Compactação.

3. O crescimento dos órgãos tecidos ocorre por meio de


diferentes processos: pela multiplicação celular, pelo aumento
do tamanho da célula e pelo aumento das substâncias
intracelulares orgânicas (proteínas, carboidratos, lipídios e
vitaminas) e inorgânicas (água e sais minerais). Chamamos os
dois principais processos descritos aqui de:

a. Mineração e Acreção.
b. Hiperplasia e Mineração.
c. Hipertrofia e Acreção.
d. Hipotrofia e Acreção.
e. Hiperplasia e Hipertrofia.

4. Sabemos que existem diferentes causas que podem levar


um bebê a desenvolver anomalias e ter seu desenvolvimento
intrauterino comprometido. Em determinadas regiões do país
a poluição ambiental é um forte fator de influência negativa no
desenvolvimento dos bebês já no útero materno. Essas anomalias
não são consideradas fatores genéticos, mas sim ambientais
(extrínsecas). Como chamamos esses fatores de influência?

a. Teratógenos.
b. Anômalos.
c. Compostos.
d. Citocromos.
e. Diferenciadores.

5. A avaliação do bebê no primeiro minuto pós-natal é


fundamental para podermos avaliar a condição de nascimento
da criança. O teste usado para analisarmos essa condição se
chama Apgar e analisa alguns itens. Qual dos itens abaixo não
é avaliado no teste de Apgar?

a. Frequência cardíaca.
b. Respiração.
c. Coloração ocular.
d. Irritabilidade reflexa.
e. Coloração da pele.

80 Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido


U2

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84 Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Motor do Recém-Nascido


Unidade 3

PRINCÍPIOS BÁSICOS
DO MOVIMENTO,
DESENVOLVIMENTO
DOS MOVIMENTOS
FUNDAMENTAIS E ASPECTOS
QUE INFLUENCIAM O
DESENVOLVIMENTO HUMANO
Alexandre Schubert

Objetivos de aprendizagem: Nessa unidade veremos quais são os


princípios que servem como base para a formação de todos os movimentos.

Também vamos conhecer quais são os aspectos que influenciam o


desenvolvimento motor, além de compreendermos de que forma esses
fatores o influenciam.

Seção 1 | Princípios básicos do movimento humano


O objetivo dessa seção é apresentar os conceitos básicos sobre a
formação dos movimentos. Vamos compreender que são três elementos
que formam todos os demais movimentos que produzimos e executamos.
Vamos verificar também que existe uma sequência de evolução dos
movimentos e que esses movimentos podem ser direcionados para três
finalidades distintas.
U3

Seção 2 | Desenvolvimento dos movimentos fundamentais


– fases do desenvolvimento motor
Esta seção abordará como se dividem as etapas do desenvolvimento
motor. Irá apresentar a você, leitor, cada fase, cada etapa pela qual o
indivíduo passa até conseguir alcançar um padrão de movimento que
seja compatível com a sua idade. Veremos que cada etapa também tem
subdivisões e que cada uma dessas etapas tem uma característica distinta.

Seção 3 | Aspectos que influenciam o desenvolvimento


motor
Aqui nessa seção vamos entender que existe uma diversidade de fatores
que podem determinar a aquisição ou não de determinados movimentos.

Veremos também por que alguns movimentos são mais comuns do


que outros em determinadas culturas, ou seja, por que percebemos uma
quantidade maior de pessoas realizando determinados movimentos e outros
movimentos não são tão executados.

86 Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano
U3

Introdução à unidade

Querido estudante! Nessa unidade iremos conhecer quais são os princípios


que formam a base de sustentação dos movimentos. Vamos aprender que, para
que qualquer movimento seja formado, ele precisa estar amparado em três pilares
fundamentais: a locomoção, a manipulação e a estabilização.

Vamos perceber nessa unidade, também, que existe uma sequência de


desenvolvimento dos movimentos, e que essa sequência pode ser previsível, mas que
não é determinada pela idade cronológica e, sim, por muitos outros fatores.

Iremos constatar que existem fases de desenvolvimento dos movimentos e que


para que um indivíduo avance para a etapa seguinte, conseguindo melhorar o padrão
motor, será necessário que alguns eventos aconteçam.

Também constataremos que as influências que geram alterações motoras


também podem influenciar outras áreas do desenvolvimento, como a afetiva, a social
e a cognitiva.

Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano 87
U3

88 Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano
U3

Seção 1

Princípios básicos do movimento humano

Nessa seção iremos verificar que existem alguns importantes princípios


que embasam o movimento humano. Esses princípios devem ser amplamente
trabalhados já dentro do ambiente familiar, antes da inserção da criança no ambiente
escolar. Entretanto, é natural que no planejamento das atividades escolares esses
princípios sejam ainda mais enfatizados, principalmente na educação infantil.

Princípios básicos do movimento humano

“Embora relacionada à idade, a aquisição de habilidades motoras fundamentais


maduras não é dependente da idade, mas de numerosos fatores, da tarefa em si,
do indivíduo e do ambiente” (GALLAHUE; OZMUN, 2003, p. 36).

Conforme vimos na Unidade 1, as habilidades motoras podem receber duas


conotações distintas. A primeira se refere ao nível de funcionamento do indivíduo,
ou seja, quando alguém tem um gesto motor com tamanha qualidade, que é
considerado acima da média do grupo, é o sujeito “habilidoso”. A outra situação em
que esse termo pode ser usado é quando ele se refere apenas a um ato motor, ou
seja, quando simplesmente algum indivíduo consegue realizar uma tarefa motora
qualquer (habilidade de escrever).

Aqui nessa seção vamos tratar de habilidades motoras como gesto motor, e na
seção seguinte, quando formos falar das fases do desenvolvimento motor, aí sim,
iremos nos referir a esse termo como qualidade de movimento.

Diante disso, se torna importante saber que todos os movimentos realizados


por nós têm como base três princípios fundamentais. Esses princípios levam em
consideração, entre outros fatores, o domínio corporal sobre a ação da gravidade,
a nossa capacidade de controle da musculatura, a nossa percepção espacial e
temporal, e também a combinação dos movimentos. Esses princípios serão usados
sempre que qualquer gesto motor for realizado. São eles:

Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano 89
U3

 ESTABILIZAÇÃO

 LOCOMOÇÃO

 MANIPULAÇÃO

Esses princípios básicos são usados de alguma maneira nos movimentos que
realizamos todos os dias e podem servir para três finalidades: utilização permanente
na vida diária AVDs, para recreação e para competição. Todo e qualquer movimento
produzido por nós é direcionado para alguma finalidade específica. O atleta precisa
dos movimentos, pois esse é o trabalho dele; nós, quando fazemos alguma tarefa,
seja ela qual for, também usamos o movimento.

Diante disso, temos que aceitar que, quando estamos trabalhando conteúdos
práticos nas aulas de Educação Física, sejam conteúdos relacionados à dança,
às lutas, às atividades gímnicas, ao esporte ou alguma atividade recreativa, esses
conteúdos têm que ser direcionados não para o rendimento, mas sim para que o
aluno possa trabalhar suas capacidades cognitivas, afetivas, motoras e sociais, por
meio dos movimentos formados pelos elementos básicos.

O intuito dessas atividades práticas deve ser sempre estimular o indivíduo,


para que ele consiga ter pleno conhecimento do seu corpo, das suas limitações,
conhecer suas qualidades físicas e motoras, para que num futuro distante esse
conhecimento possa ser aproveitado nas suas tarefas diárias, sejam elas quais
forem.

Devemos entender que todos os movimentos, ou o desenvolvimento daquilo


que a execução deles gera (conhecimento de espaço, de tempo, de força, de
equilíbrio, de ritmo etc.), proporciona condições para que cada indivíduo possa
ter uma vida com mais qualidade, com níveis de aptidão física que possam gerar
autonomia e independência.

90 Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano
U3

Quadro 3.1 | Princípios básicos do movimento, suas divisões e aplicações

Fonte: Gallahue e Ozmun (2003)

Como podemos ver no quadro acima, é ainda na fase da infância que os


movimentos fundamentais são desenvolvidos. Esses movimentos iniciais têm
como sustentação os três princípios básicos que citamos anteriormente e podem
ser usados no planejamento de qualquer atividade programada aos alunos.

Vamos ver como os movimentos iniciam seu processo de desenvolvimento


usando esses princípios como fundamento inicial.

1.1 Estabilização
A estabilização envolve a disposição de manter em equilíbrio a relação corpo/
força da gravidade.

Autores como Gallahue e Donnelly (2008) definem estabilidade como a


capacidade de percepção de que algumas partes do corpo mudaram sua posição,

Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano 91
U3

alterando o equilíbrio e forçando o indivíduo a ajustar rapidamente o corpo a essa


nova condição com movimentos compensatórios.

Para Cook e Woollacott (2003), a estabilidade é a capacidade de manter o


corpo em equilíbrio, dentro da sua base de apoio.

Isso mostra que, quando nos referirmos à estabilidade, estamos falando na


capacidade de mantermos o controle do nosso corpo sem causar desequilíbrio,
perdendo assim qualidade no padrão do movimento. A estabilidade não se refere
apenas ao corpo como um todo, mas também a partes dele. Quando estamos
andando, o movimento padrão de caminhada deve ter estabilidade, pois sem isso
o movimento fica feio, fora do adequado e sem equilíbrio. Se compararmos o
gesto de caminhada de uma criança que está aprendendo a caminhar com o de
uma pessoa adulta, veremos que a pessoa adulta apresenta estabilidade. O mesmo
acontece com o gesto de comer. Caso o bebê não tenha estabilidade nos braços
e mãos no gesto simples de segurar a colher, provavelmente a comida irá se
espalhar pelo chão. Isso só mudará quando ele conseguir dominar a estabilidade
dos membros que são usados na manipulação.

A estabilidade inicia-se pela obtenção do controle sobre a cabeça, depois do


pescoço, continuando para baixo em direção às pernas (CÉFALO CAUDAL).

É muito importante guardarmos a informação do parágrafo anterior. A criança


sempre iniciará o domínio dos movimentos começando pelo controle da cabeça
e seguindo para baixo em direção às pernas.

Sendo a manipulação envolvida em todos os movimentos,


podemos dizer que dos três princípios básicos ela é a mais
importante?

Quando falamos em instabilidade e desequilíbrio, podemos dizer que os movimentos


axiais são quase sempre os grandes responsáveis por esse tipo de situação.

Movimentos axiais são definidos como movimentos não locomotores, em que


o eixo do corpo gira sobre um eixo específico (GALLAHUE; DONNELLY, 2008).
Poderíamos dizer que são movimentos do corpo ou de partes específicas do
corpo, mas com o corpo se mantendo em posição parada.

MOVIMENTOS AXIAIS: Movimentos como rotações, virar, curvar, balançar e

92 Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano
U3

rolar são considerados movimentos axiais.

Como dissemos anteriormente, a busca pelo equilíbrio e pela estabilidade


inicia-se pelo controle da cabeça e depois vai em direção dos membros inferiores.
Vejamos abaixo como se opera essa sequência:

Controle da cabeça e pescoço:

Ao nascer, o bebê não consegue sustentar a cabeça, porque ela ainda é muito
pesada e desproporcional e os músculos do pescoço não têm força suficiente
para poder sustentar esse peso, por isso a cabeça deve estar sempre apoiada.

Após o primeiro mês ele ganha o controle destes músculos, e já consegue


manter a cabeça reta quando o pescoço está apoiado.

Controle do tronco:

Após dominar os movimentos da cabeça através dos músculos do pescoço,


inicia-se o controle dos movimentos do tronco (região toráxica e lombar).

Após o segundo mês, quando colocado em decúbito ventral, o bebê já é capaz


de erguer o peito acima do solo (posição de gato).

Por volta do sexto mês já consegue se sentar.

Após o quarto mês é capaz de sentar-se com apoio da região lombar, e no


sétimo mês já se torna independente.

Por volta do nono ou décimo mês é capaz de ficar em pé apoiado aos móveis,
e entre o décimo e o décimo segundo mês é capaz de ficar em pé.

1.2. Manipulação:
As atividades manipulativas são movimentos corporais gerais em que a força é
exercida e recebida dos objetos (GALLAHUE; DONNELLY, 2008). Para os mesmos
autores, as atividades manipulativas não se desenvolvem automaticamente, pois
dependem de motivação e prática.

Os movimentos manipulativos se subdividem em:

a) Movimentos Propulsores: É quando um objeto é movimentado para longe


do corpo.

Ex.: Arremessar uma bola, bater com um taco, chutar e rolar um objeto.

Todos os movimentos propulsores vistos têm como objetivo impulsionar algum

Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano 93
U3

tipo de objeto para longe do corpo, seja usando apenas as mãos ou outro objeto,
como é o caso de um taco, mas todos empurrando o objeto mantendo-o distante
do corpo.

b) Movimentos Amortecedores: É quando o corpo ou parte do corpo é


colocado no caminho de um objeto em movimento com o propósito de parar
ou desviar o objeto.

Ex.: Apanhar uma bola, desviá-la com um chute ou cabeceio, rebater e quicar.

Quando algum objeto é enviado na nossa direção e tentamos segurá-lo ou


desviá-lo com o nosso corpo (cabeceio), consideramos que esse foi um movimento
amortecedor, pois teve como função receber o objeto para junto de nós.

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE:

 Pela manipulação o indivíduo é capaz de explorar a relação do objeto no


espaço.

 Os movimentos manipulativos auxiliam na projeção de distância, precisão,


velocidade e trajetória.

Para que a manipulação se desenvolva adequadamente, é necessário que exista


uma relação muito forte do sistema sensorial, pois o sistema sensorial (principalmen-
te o visual) proporciona condições de avaliar o espaço (distância) do corpo para o
objeto. O sistema motor, por meio dos proprioceptores localizados nos músculos
e nas articulações, também envia informações a respeito do objeto (textura, peso,
tamanho etc.) ao cérebro, para que o cérebro analise essas informações e envie a
mensagem ao músculo do que deve ser feito (quantidade de fibras musculares que
devem ser recrutadas para que o indivíduo possa levantar o objeto).

Chamamos de via aferente a que envia informações para o cérebro e via efe-
rente a que leva a informação para a periferia do corpo, no caso dos movimentos
para os músculos e aos tendões.

Essas informações proporcionam condições de que três aspectos básicos da


manipulação aconteçam. São aspectos básicos que envolvem a manipulação:

 Alcançar
 Segurar

94 Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano
U3

 Soltar

Para que a manipulação eficiente e madura ocorra, existe uma sequência lógica
que acontece de forma próximo distal.

A sequência próximo distal nos permite verificar que o desenvolvimento da mani-


pulação começa pelo braço como um todo e segue em direção à mão, até finalizar
com movimentos de coordenação motora fina, como é o caso do pinçamento.

Alcançar algum objeto torna-se possível somente após o 4º ou 5º mês de vida


pós-natal, porque até então a ação motora de segurar um objeto é puramente
reflexiva e vai até por volta do 4º mês.

Esse período etário de início e fim do encerramento dos movimentos reflexivos,


passando posteriormente para movimentos voluntários, não é fixo, mas sim a mé-
dia do que se percebe na maioria dos bebês. Para que o desenvolvimento do mo-
vimento de preensão aconteça, como já foi dito, é necessário que o mecanismo
sensório-motor esteja totalmente desenvolvido para que o alcance e o contato
com o objeto se tornem eficientes.

Gallahue e Ozmun (2003) relatam que Halverson, um pesquisador que es-


tudava o desenvolvimento motor de crianças, identificou alguns estágios do
desenvolvimento da preensão e a sua relação com os períodos etários, e os des-
creveu como segue abaixo.

 No quarto mês de vida o bebê não consegue realizar esforço voluntário


para preensão de qualquer objeto, pois os movimentos ainda são reflexi-
vos e, portanto, involuntários.

 No quinto mês ele já pode alcançar e fazer contato com os objetos, mas
ainda de forma bastante grosseira, pois a sua condição perceptivo-moto-
ra ainda é bastante ineficiente, principalmente por falta de prática.

 No sétimo mês a criança já é capaz de coordenar a palma das mãos com


os dedos. Diante disso, a sua preensão é bastante ineficiente, mas o indi-
víduo já consegue segurar objetos apesar do padrão de movimento estar
bastante distante do ideal.

 Por volta do nono mês a criança já é capaz de usar o indicador no ato de


segurar, o que já melhora muito o padrão do movimento.

 No décimo segundo mês o polegar e o indicador já são mais eficientes,


fazendo com que o padrão se aproxime bastante do padrão adulto.

Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano 95
U3

 No décimo quarto mês a preensão já é similar à de um adulto.

Porém, como já foi dito anteriormente, esses períodos etários determinados


pelo autor do estudo devem ser vistos com certo cuidado, pois não devem ser
entendidos como períodos fixos e, sim, como períodos médios. Esses períodos
podem se alterar para mais ou para menos meses, em razão de fatores externos
como motivação, estímulo do cuidador e também por oportunidade.

Outro estudo apresentado por Eckert (1987) no livro de Gallhue e Ozmun (2003)
resumiu os atos de desenvolvimento da preensão mostrando como é a sequência
que precede o gesto como um todo, que vai desde o momento de visualização
do objeto até o ato de alcançá-lo. Também mostra as etapas de refinamento do
movimento, quando o indivíduo atinge a fase madura do movimento. Essas etapas
acontecem da seguinte forma:

1º) O indivíduo identifica o objeto que quer alcançar.

2º) Tenta fazer a transição de coordenar o estímulo visual e o manual, tentando


identificar a distância entre a mão e o objeto.

3º) Começa a aprimorar o movimento na tentativa de economizar esforço.


Diminui a amplitude dos movimentos.

4º) Inicia a transição da atividade proximal (ombros/braços) para os dedos. No


início o braço todo é usado para pintar um pequeno pedaço de papel, e a pintura
sai do limite. Nessa etapa, o indivíduo começa a usar apenas o antebraço, depois
passa a usar punho e, por último, somente os dedos.

5º) Nessa fase inicia-se o controle de preensão usando apenas a combinação


de dois dedos. A isso damos o nome de pinçamento.

6º) A última fase é a dominância lateral definida. Nessa etapa, a criança define
qual o lado do corpo (mão) será usado nas tarefas manuais.

Para saber sobre a preensão manual e as etapas pelas quais cada


indivíduo passa até alcançar o estágio adulto, acesse o artigo do link:
<http://www.revistas.usp.br/jhgd/article/viewFile/38136/40869>.

96 Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano
U3

1.3 Locomoção
É o aspecto relacionado ao ato de movimentar-se efetiva e eficientemente pelo
ambiente (GALLAHUE; OZMUN, 2003).

De acordo com os autores, o gesto de locomoção parece ser muito mais


abrangente do que parece, pois eles não indicam que quando falamos de locomo-
ção estamos apenas nos referindo ao gesto de caminhar.

Devemos lembrar que, para um indivíduo portador de necessidades especiais,


como um cadeirante, o gesto de caminhar não atende à definição dos autores,
pois esse indivíduo não se desloca quando sem seu equipamento dessa forma.

Nesse sentido, é correto dizer que quando falamos de locomoção, devemos


considerar que o gesto de locomoção pode ser: andando, se arrastando, pulando,
engatinhando e outras formas que nos conduzam de um lugar para outro.

Existem algumas etapas previsíveis do gesto de locomoção. Vamos ver a seguir


como esse processo acontece.

Etapas do desenvolvimento de locomoção:

• ARRASTAR-SE: Evolui na medida em que o bebê ganha controle dos músculos


da cabeça, pescoço e tronco.

Quando o bebê consegue controlar seu tronco, e já desenvolveu força sufi-


ciente para poder manter seus braços sustentando seu pequeno corpo, ele já é
capaz de ficar na “posição de gato” e arrastar seu corpo pelo chão.

Esse gesto de arrastar pode aparecer já no sexto de mês de vida.

Figura 3.1 | Posição de gato ou “Papi”

Fonte: Disponível em: <http://www.shutterstock.com/pt/pic-176026793/stock-photo-gorgeous-baby-laughing.ht


ml?src=lBT2EX0jmp2sPzC4wdT6-A-1-8>. Acesso em: 5 nov. 2014.

Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano 97
U3

• ENGATINHAR: É a evolução do arrastar-se, pois emprega braços e pernas na


locomoção. Os bebês que engatinham com maior eficiência utilizam um padrão
de movimento denominado “contra lateral” (braço direito com perna esquerda).

Após o arrastar-se, o bebê já consegue elevar-se ficando apoiado em quatro


apoios (joelhos e braços). Quando isso acontece, ele já será capaz de se locomover
no gesto de engatinhar. Não existe apenas um padrão no gesto de engatinhar,
mas o gesto considerado de maior eficiência é o contra lateral (braço e pernas
cruzados). Esse padrão é o mesmo usado quando caminhamos, o braço oposto e a
perna se encontram como em um “X”. Dificilmente um bebê consegue engatinhar
sem passar pelo gesto de se arrastar, mas pode acontecer.

• POSTURA ERETA: As primeiras tentativas do bebê caminhar acontecem por


volta do décimo ao décimo quinto mês, com um padrão de movimentos
totalmente diferente do normal.

Diferente do padrão usado pelo adulto, o gesto de locomoção do bebê, geral-


mente, apresenta braços exageradamente abertos, postura bastante insegura e rit-
mo bem lento. O bebê ainda precisa, no início, fortalecer pernas, desenvolver equi-
líbrio e percepção espacial para que seu gesto de locomoção comece a melhorar.

Shirley (1931) apud Gallahue e Ozmun (2003) mostra que existe um tempo mé-
dio para que alguns eventos relacionados à locomoção aconteçam. A proposta da
autora é que existem quatro estágios para o aprendizado de caminhar sem auxílio.
Vejamos a seguir:

1º) Período precoce (3/6 mês).

2º) Ficar em pé com auxílio (6/10 mês).

3º) Caminhar amparado (9/12 mês).

4º) Caminhar sozinho (12/15 mês).

O padrão de caminhar da criança, segundo Mariano (2008) e Chagas (2010),


se mostra diferente do padrão do adulto até por volta dos quatro anos de idade.
Quanto maior o número de experiências que estimulem o desenvolvimento do
gesto de caminhar, melhor para o bebê.

98 Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano
U3

Figura 3.2 | Andando amparado

Fonte: Disponível em: <http://www.shutterstock.com/pt/pic-99544901/stock-photo-the-happy-boy-doing-first-


steps-at-home.html?src=y3SG1gJnKtj-zr5kEC55qQ-1-89>. Acesso em: 19 nov. 2014.

Se você quer saber mais sobre a visão da Sociedade Brasileira de


pediatria a respeito dos andadores para crianças, acesse o link <http://
www.conversandocomopediatra.com.br/website/paginas/materias_
gerais/materias_gerais.php?id=128&content=detalhe>.

Qual é a importância da família no processo inicial de


aquisição de movimentos básicos? Como e quando deve
iniciar o processo de estimulação dos movimentos?
Será que equipamentos como o “disquinho”, usado por
muitos pais para que a criança fique em pé, ajudam ou
atrapalham o processo de desenvolvimento da locomoção?

Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano 99
U3

1. A afirmativa “Embora relacionada à idade, a aquisição de


habilidades motoras fundamentais maduras não é dependente
da idade, mas de numerosos fatores, da tarefa em si, do
indivíduo e do ambiente” (GALLAHUE; OZMUN, 2003) refere-
se a quê?

a. Condição de que todos os indivíduos de idades semelhante


se desenvolvem de forma igual.
b. Capacidade de desenvolvimento motor baseada apenas no
ensino.
c. A condição de que a obtenção das habilidades motoras
fundamentais maduras é o reflexo da necessidade do indivíduo
em si em aprender algum movimento novo.
d. A condição de que mesmo tendo idades iguais ou se
encontrarem em períodos de desenvolvimento igual aos
seus pares, o desenvolvimento motor não acontece de forma
igualitária.
e. Capacidade de desenvolvimento das habilidades motoras
baseada no processo de ensino.

2. Existem duas vias de transmissão de informações entre o


sistema nervoso central e os músculos, de forma que todas
as informações que são recebidas pelos diferentes órgãos são
enviadas ao cérebro, e o cérebro responde a elas enviando
informações de volta ao órgão (músculo voluntário) que
enviou essa informação.
Essas vias de troca de informações que levam a informação ao
cérebro e que recebem informação do cérebro são chamadas,
respectivamente, de:

a. Via afora e via adentro.


b. Via alta e via baixa.
c. Via sobe e via desce.
d. Comando de ida e comando de volta.
e. Via aferente e via eferente.

100 Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano
U3

Seção 2
Desenvolvimento dos movimentos fundamentais
– fases do desenvolvimento motor
Aqui vamos aprender que os movimentos podem ser divididos em fases e que
cada fase é determinada pela idade cronológica. Vamos verificar também que
existe uma forte relação de dependência entre as diferentes fases, fazendo com
que cada etapa seja base de sustentação para a fase seguinte. Isso nos mostra o
quanto uma etapa mal desenvolvida irá trazer dificuldades de desenvolvimento da
fase posterior, influenciando inclusive aspectos emocionais, como a autoestima e
a percepção de competência.

Diante disso, devemos levar em conta que em nosso planejamento das


atividades para nossas aulas devemos nos atentar a criar atividades que estimulem
ao máximo nossos alunos, a fim de alcançarem os níveis de desenvolvimento
esperados em cada etapa.

Fases do desenvolvimento motor


Para entendermos a evolução do desenvolvimento motor do período pré-
natal até a idade adulta, devemos observar que existe uma série de fatores
intrínsecos e extrínsecos que determinarão ou não o sucesso do indivíduo dentro
dos padrões esperados para cada movimento. Como vimos na seção anterior,
existem elementos básicos que determinam a aquisição dos movimentos, que
são: estabilização, manipulação e locomoção.

Entretanto, para que os indivíduos atinjam os padrões adequados de cada


movimento, é necessário que cada fase do desenvolvimento motor seja vivenciada e
estimulada ao máximo. Essas fases são determinadas pela idade cronológica, porém,
podemos encontrar sujeitos dentro de uma fase que não atingiram ainda o padrão
exigido para aquele período de desenvolvimento, assim como podemos encontrar
sujeitos que, mesmo estando com idade abaixo do esperado para determinado padrão
de movimento, já atingiram um nível de performance motora bem acima da média.

As fases, como já foi dito anteriormente, são estabelecidas pela idade


cronológica, mas devemos lembrar que o desenvolvimento não depende dela.

Muitos autores criaram teorias que indicam em que momento da vida de cada
indivíduo eles se encontram em cada fase. Gallahue e Ozmun (2003) indicam que

Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano 101
U3

existem quatro fases de desenvolvimento, que vão desde o ventre materno, até
por volta dos 14 anos. Após 14 anos, os autores indicam que os movimentos já
deveriam estar no estágio maduro.

Entretanto, na seção 3 veremos que existem diversos fatores que podem


influenciar o desenvolvimento motor e conseguiremos entender porque muitos
indivíduos, mesmo atingindo a última fase do desenvolvimento motor, ainda não
apresentam todos os movimentos no estágio maduro.

Gallahue e Ozmun (2003) sugerem que existe um modelo de desenvolvimento


motor que pode ser representado por uma ampulheta, e que, de acordo com esses
autores, esse processo pode receber dois tipos de influência sobre o indivíduo:
ambiental e genético.

Vejamos a seguir como é feita essa proposta dos autores.

Figura 3.3 | Fases do desenvolvimento motor

Fonte: Gallahue e Ozmun (2003)

Vejamos então, a seguir, quais são essas fases e quais são as características de
cada uma delas.

102 Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano
U3

Se você quer saber mais sobre padrões motores fundamentais e


como eles podem ser aplicados na educação infantil, acesse: <http://
www.luzimarteixeira.com.br/wp-content/uploads/2010/05/padroes-
motores-fundamentais.pdf>.

2.1 Fase dos movimentos reflexivos:


Esta fase se inicia ainda no período intrauterino, e de acordo com Gallahue e
Ozmun (2003), serve de base para todas as outras fases seguintes.

Nessa fase, os estímulos externos, como o toque, os sons, a luz ou outros


fatores estimulantes, são capazes de gerar algum tipo de reação no bebê que é
expressa por meio de movimentos reflexivos (involuntários).

Como já vimos na Seção 3 da Unidade 2, os movimentos reflexivos se iniciam


por volta do quarto mês de vida pré-natal e começam a cessar por volta do quarto
mês de vida pós-natal.

Eles se dividem em dois grupos, os movimentos reflexivos primitivos (que estão


associados à alimentação e proteção) e os posturais (que estão associados a
movimentos voluntários posteriores).

A fase dos movimentos reflexivos é subdividida em dois estágios: estágio de


codificação de informação e estágio de decodificação de informação.

a) Estágio de codificação de informações: Reúne informações dos movimentos


reflexivos. É caracterizada por movimentos involuntários até por volta do quarto mês.

Para entendermos melhor esse estágio, poderíamos fazer uma analogia


com um sistema de computador. Seria como dizer que nessa etapa, todas as
informações acerca dos diferentes tipos de estímulo que o bebê recebe entram
no cérebro, mas ainda não são catalogadas e guardadas em locais específicos,
elas apenas são guardadas para que posteriormente possam ser armazenadas em
locais específicos.

b) Estágio de decodificação: Inicia-se por volta do quarto mês de vida pós-


natal. Começa o processo de inibição de reflexos na medida em que os centros
cerebrais começam a desenvolver-se e amadurecer.

Nesse estágio, as informações que anteriormente foram armazenadas no


cérebro, agora são decodificadas e enviadas a locais específicos. Aqui, começa
então o processo de processamento das informações armazenadas e a utilização
delas. Os centros cerebrais estão amadurecendo e se desenvolvendo, com isso

Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano 103
U3

as reações involuntárias que aconteciam em razão dos estímulos anteriormente


recebidos, para que aconteçam agora é preciso que exista processamento das
informações guardadas.

Como vimos na Seção 3 da Unidade 2, alguns movimentos reflexivos vão sendo


inibidos por volta do quarto mês de vida pós-natal, mas não existe uma regra,
pois alguns movimentos reflexivos já desapareceram no terceiro mês de vida pós-
uterina, enquanto outros aparecem por volta do sexto ou sétimo mês de vida e vão
desaparecer somente por volta de um ano.

De que forma os movimentos reflexivos podem ser


estimulados pelos pais?

2.2 Fase dos movimentos rudimentares


Este período inicia-se após o nascimento e é o início do período em que os
indivíduos começam a controlar seus movimentos.

Nessa fase, os movimentos ainda são bastante grosseiros, sem precisão,


exagerados e completamente fora do padrão normal de um indivíduo adulto.
Nessa etapa é importante o estímulo para que a criança possa “experimentar” novas
experiências e vivenciar situações que permitam melhorar a percepção dos estímulos,
fazendo com que o indivíduo comece a querer controlar seus movimentos.

A sequência de controle desses movimentos é altamente previsível, porém, o


ritmo pode ser bastante variado, pois a velocidade do desenvolvimento depende
bastante da oportunidade de prática.

a) Estágio de inibição de reflexos: O desenvolvimento do córtex e a diminuição


de certas restrições ambientais fazem com que vários reflexos sejam inibidos e
gradualmente desapareçam, passando a comportamentos motores voluntários.

Nesse estágio existe uma condição em que a criança parece entender melhor a
dinâmica de controle de movimento, porém, o envio de informações via aferente
e eferente ainda não é completamente eficiente, em razão da falta de assimilação
da informação e de outros fatores biofisiológicos. Diante disso, há certa dificuldade
em administrar a informação recebida e a capacidade de envio de informações
adequadas para a musculatura.

b) Estágio de pré-controle: Por volta de um ano inicia-se o processo de


precisão e controle sobre seus movimentos. Inicia-se a integração das informações

104 Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano
U3

perceptivas e motoras. Aprendem a locomover-se, manipular objetos e melhoram


a estabilidade e o equilíbrio corporal.

Nesse estágio, as informações dos sistemas motor e perceptivo estão muito


mais integradas e eficientes. O amadurecimento do SNC provoca uma melhora
no controle dos movimentos e a sequência de desenvolvimento céfalo caudal se
inicia de forma ainda grosseira, mas com rápida evolução.

Nesse estágio, as possibilidades de exploração do meio em que vive


proporcionam um importante senso de autonomia para criança.

para saber um pouco mais sobre estimulação de crianças, acesse o


link <http://www.youtube.com/watch?v=oAzdj3K-tzM>, lá você irá
encontrar uma entrevista com o Dr. Marcelo Reibscheid (pediatra),
explicando um pouco sobre a importância da estimulação para o
desenvolvimento motor das crianças.

2.3 Fase dos movimentos fundamentais


Esse período marca a melhora da capacidade de autonomia motora. A criança já
domina em parte os movimentos básicos e começa a “aperfeiçoá-los”. Esse processo
de aperfeiçoamento geralmente se inicia dentro de casa, com o estímulo dos pais.

a) Estágio inicial: Representa a primeira tentativa de desempenhar uma habilidade


motora fundamental. O movimento tem características de falta de elementos ou
pelo uso exagerado do corpo. A coordenação e o ritmo ainda são ineficientes.

Nessa etapa, que acontece aproximadamente aos dois anos de idade, a criança
já se mostra com certo grau de domínio dos elementos básicos do movimento
(manipulação, estabilidade e locomoção).

Entretanto, o ritmo e o padrão ainda se encontram abaixo do adequado. Aqui


nesse estágio, a criança começa a se tornar mais confiante, ativa, o que favorece a
velocidade do ganho de desenvolvimento.

b) Estágio elementar: Envolve melhor controle e melhor coordenação rítmica.


Inicia-se por volta dos três ou quatro anos e revela inúmeros movimentos no
estágio elementar.

Nessa etapa, além de melhorar a qualidade dos movimentos produzidos, a


criança produz significativamente uma maior quantidade de movimentos, saindo dos
movimentos básicos para arriscar a realização de movimentos mais complexos, que

Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano 105
U3

envolvem principalmente a coordenação motora e espacial. Entretanto, a quantidade


desses movimentos ainda é pequena se compararmos com indivíduos adultos. Por
mais que o repertório motor esteja sendo ampliado, ele ainda é pequeno.

É interessante ressaltar que a maioria das pessoas adultas não evolui muito além
desse estágio de desenvolvimento motor em movimentos mais complexos. Muitas
pessoas, por falta de prática, permanecem nesse estágio.

c) Estágio maduro: É caracterizado por desempenho eficiente coordenado e


controlado. Acredita-se que em média as crianças atingem o estágio maduro por
volta dos cinco ou seis anos de idade.

Nessa etapa, os movimentos já se mostram mais eficientes e coordenados, além


de apresentarem um ritmo mais harmônico. O indivíduo já se mostra mais confiante
e seguro, em razão da sua condição perceptiva ser mais eficiente e a sua condição
física (força) já ser mais desenvolvida, o que auxilia a qualidade do controle motor.

Figura 3.4 | Em busca do estágio maduro

Fonte: Disponível em: <http://www.shutterstock.com/pt/pic-209210668/stock-photo-happiness-father-and-son-


on-the-bicycle-outdoor.html?src=BeRWkzTSY0QmbJGUHroqjg-2-20>. Acesso em: 5 de nov. 2014.

Nesse período, já em idade escolar, a educação física poderia, por meio de


estratégias de ensino bem planejadas e que contemplassem a diversidade, com
tarefas voltadas às práticas da dança, das lutas, das ginásticas e das atividades
esportivas, auxiliar no bom desenvolvimento do controle motor, proporcionando,
dessa forma, a aquisição de habilidades motoras de qualidade.

Entretanto, quando verificamos o que se chama de “tempo engajado”, que se refere


ao tempo real de prática motora dentro das aulas de Educação Física, verificamos que o
tempo real se mostra incapaz de poder proporcionar um bom desenvolvimento motor.

Tempo engajado é definido como sendo o período em que o aluno encontra-

106 Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano
U3

se envolvido em alguma atividade nas aulas de Educação Física (GRAHAM; HOLT-


HALE; PARKER, 1992).

Metzler (1990) apud Yldirim (2003) afirma que nas aulas de Educação Física
as crianças permaneciam ativas somente entre 25% a 40% do tempo. Em outro
estudo recente realizado por Kanan e Gzhagzhah (2007), os autores encontraram
o tempo médio ativo nas aulas de Educação Física de 9,5%.

Carniel e Toigo (2003), em estudo semelhante, verificaram que o tempo


engajado nas aulas de Educação Física em algumas escolas de Porto Alegre não
ultrapassava 30% do total da aula.

Se considerarmos aulas de Educação Física de 50 minutos, perceberemos


que pelos estudos aqui apresentados, o tempo de prática de um aluno durante a
aula seria entre 12 minutos e meio e 20 minutos, o restante seria composto pelo
deslocamento até o local da aula, atividades administrativas (chamada e recados),
explicação e organização das atividades.

Sendo assim, talvez a Educação Física, da maneira como está sendo trabalhada,
precisa ser revista, mas essa discussão fica para outro momento.

Gallahue e Ozmun (2003) apresentam diferenças entra os diferentes padrões


de movimento. No estágio inicial os movimentos são exagerados, o indivíduo tem
uma aparência bastante rígida no momento da execução, é muito impreciso, lento
e precisa constantemente interromper seu movimento para pensar qual a ação
seguinte. É tímido, pois tem ciência da sua incapacidade e muitas vezes age com
indecisão. Apresenta muitos erros e erros bastante grosseiros.

Aquele que se encontra no estágio elementar já apresenta um gesto motor de


padrão mais relaxado que no estágio inicial. O indivíduo, nessa etapa, é um pouco
mais preciso e mais consistente nos seus movimentos.

Apresenta um movimento mais fluente sem precisar interromper o movimento


na execução, pois sua confiança torna-se mais evidente. Tem uma melhor tomada
de decisão e consegue se adaptar a novas situações. Entretanto, ainda não está
completamente adaptado e precisa aperfeiçoar seus movimentos, refinando-os
ainda mais.

Na última etapa, dos movimentos maduros, etapa essa em que poucos


conseguem atingir com maestria, os movimentos se tornam automáticos e com
alta precisão. Existe uma maior fluência, pelo fato de o sujeito estar mais seguro
na sua execução.

Sua tomada de decisão torna-se praticamente automática, pelo fato de o indivíduo


nesse estágio estar completamente adaptado, o que o torna muito mais eficiente.

Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano 107
U3

2.4 Fase Motora Especializada


Nessa fase, que é o resultado da fase anterior, os movimentos passam a ser
utilizados de uma forma natural, sem mais existir a necessidade de análise e ajuste
para sua execução.

Aqui, já acontece o refinamento dos movimentos e a criação de “estilos


próprios”. Os movimentos nessa etapa passam a atender a uma necessidade mais
exigente de combinações que são utilizadas nas mais diversas tarefas motoras de
recreação, esporte e da vida diária.

Entretanto, nessa etapa, cada vez mais as influências ambientais se mostram


presentes, assim como os movimentos passam a ser minuciosamente escolhidos
pelo executante, também mostrando que os fatores individuais e as necessidades
da tarefa influenciam essa etapa. Vejamos os estágios dessa etapa.

a) Estágio transitório: Nesta fase o indivíduo começa a combinar e aplicar as


habilidades motoras fundamentais nas atividades esportivas e recreativas, tornando-
as habilidades especializadas. São apenas aplicações de padrões de movimento
em formas mais específicas e complexas.

O que vemos nesse período é que, por volta de sete ou oito anos de idade, a
educação física escolar passa a influenciar os tipos de movimentos que serão mais
usados no dia a dia. Temos observado que, geralmente, as atividades esportivas
com bola têm prevalecido no planejamento das atividades escolares dentro das
aulas de Educação Física, o que prejudica muito a formação de um repertório
motor amplo, capaz de futuramente atender às necessidades dos indivíduos que
contemplem o desenvolvimento motor na aplicação da vida diária.

É um período de muita descoberta e de muita frustração, pois muitos não têm a


mesma habilidade para determinadas tarefas motoras, e se não forem devidamente
motivados, existe uma tendência de desistência da prática.

Importantíssimo, nesse período, é a não especialização, seja ela em uma


atividade esportiva específica ou numa mesma função dentro de uma atividade.
Quanto mais variável for a exploração dos movimentos, maior a possibilidade de
formação de um indivíduo com grandes possibilidades motoras e com autoestima
elevada para tarefas motoras.

b) Estágio de aplicação: Por volta dos 11 aos 13 anos a criança se encontra


nesta fase. Esta etapa permite o indivíduo a tomar decisões, estas baseadas na
necessidade da tarefa, nas condições ambientais e nas capacidades individuais.
Procuram-se os aspectos quantitativos do movimento.

Aqui nesse período, o indivíduo busca geralmente aquela tarefa motora em


que percebe ter maior aptidão. Também é muito comum que a criança inicie a

108 Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano
U3

tarefa de fazer escolhas e de tomar decisões acerca das atividades. Ela já não quer
mais a prática pelo lazer e sua escolha está vinculada à possibilidade de sucesso
e satisfação (GALLAHUE; OZMUN, 2003). Sendo assim, essas escolhas passam,
na maioria das vezes, a limitar o repertório motor, pela falta de variabilidade de
oportunidades de vivenciar movimentos em atividades distintas.

c) Estágio de utilização permanente: Esse estágio se inicia por volta dos 14


anos e continua por toda a vida adulta. Muitos fatores, como tempo, condição
socioeconômica, limitações físicas e mentais afetam este estágio. A participação dos
indivíduos nas atividades dependerá do seu talento, habilidade e motivação pessoal.

Sendo esse o último estágio, o indivíduo já se encontra na fase de aperfeiçoamento


dos movimentos já existentes no repertório motor. Aqui praticamente não se
“experimenta” quase nada novo. A busca passa a ser especificamente a precisão e
o volume dos movimentos. A busca frenética é voltada para a perfeição, qualidade
e também quantidade.

No entanto, diversos fatores passam a ser limitantes nessa fase. A condição de


poder experimentar já se torna um problema, pois nem todos conseguem, fora
do contexto escolar (que já está restrito às atividades esportivas geralmente por
falta de planejamento do profissional de Educação Física), ter a possibilidade de
vivenciar novas possibilidades motoras em atividades diferenciadas.

Fora do ambiente escolar, a limitação financeira, a falta de acesso a novas


modalidades disponíveis apenas em grandes centros, as dificuldades financeiras
e a desmotivação pessoal que pode ter sido gerada em etapas anteriores,
quando a frustração pela falta de habilidade e a falta de estratégias por parte do
profissional para auxiliar o praticante a atingir êxito, favoreceram a fuga da prática
de determinadas atividades, limitando o desenvolvimento motor.

Figura 3.5 | Estágio elementar

Fonte: Disponível em: <http://www.shutterstock.com/pt/pic-102252502/stock-photo-boy-swimming-in-outdoor-


pool.html?src=9uBFg0tq6nnoFvmeBaHA-Q-1-12>. Acesso em: 5 nov. 2014.

Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano 109
U3

Para saber um pouco mais sobre a influência da Educação Física no


desenvolvimento motor de crianças, acesse o link abaixo: http://
www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/39319/000825524.
pdf?sequence=1.

Qual seria a estratégia para que a Educação Física conseguisse


cumprir uma das suas funções, que é a de auxiliar no
desenvolvimento motor dentro da escola? Como devemos
planejar nossas atividades, nossas aulas, quando temos em nossa
turma de alunos algum aluno com algum tipo de necessidade
especial? Nivelando-o pela maioria ou a maioria por ele?

1. É uma característica do estágio de decodificação de informações:


a. Apenas armazenar as informações enviadas por meio dos
estímulos ao cérebro.
b. Iniciar o processo de armazenamento das informações
separando-as por afinidade.
c. Favorecer os movimentos voluntários e os involuntários.
d. Estimular o desaparecimento dos movimentos voluntários.
e. Fazer o mais rápido possível a transição de fases.

2. Tempo engajado se refere:


a. Ao tempo real de prática motora dentro das aulas de Educação
Física, verificamos que o tempo real se mostra incapaz de poder
proporcionar um bom desenvolvimento motor.
b. Ao tempo em que o aluno passa ativo nas atividades interdisciplinares.
c. Tempo que o aluno passa em atividades recreativas no
intervalo da aula.
d. Tempo inativo nas aulas de Educação Física.
e. Tempo sedentário na escola, apenas.

110 Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano
U3

Seção 3
Aspectos que influenciam o desenvolvimento motor

Como já foi dito anteriormente, existem muitos outros fatores que podem
determinar o sucesso ou o fracasso em determinada tarefa motora.

A maneira como cada um realiza seus movimentos, assim como as opções de


movimentos que cada indivíduo escolhe, estão relacionadas a algumas condições.
A interação entre diferentes aspectos pode e vai exercer algum tipo de influência
no desenvolvimento motor, de forma positiva ou negativa.

Veremos nessa seção quais são esses aspectos e de que forma eles exercem
essa influência na aquisição dos movimentos.

Como foi dito na Unidade 1, existe uma forte relação entre o desenvolvimento
motor e alguns outros aspectos. Vamos relembrar alguns conceitos já vistos e
entender essa relação.

APRENDIZAGEM MOTORA

Uma mudança no estado interno do indivíduo, que é inferida de uma melhora


relativamente permanente no desempenho como resultado da prática (MAGILL, 1984).

Podemos dizer que em determinados períodos de desenvolvimento,


principalmente em relação às habilidades motoras ontogenéticas (que são aquelas
que necessitam de oportunidades de aprendizado), a aprendizagem motora é
fundamental para o desenvolvimento desses movimentos.

Nesse sentido, começamos a compreender que o desenvolvimento motor, apesar


de ser previsível, depende de um tutor para que possa acontecer, e essa função se
inicia dentro de casa e no decorrer da vida passa para a escola, na função do professor.

CONTROLE MOTOR

Refere-se ao controle do sistema nervoso e dos músculos para permitir


movimentos habilidosos e coordenados. (GALLAHUE e OZMUN, 2003).

Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano 111
U3

Como pudemos perceber acima, o controle motor e o desenvolvimento de


habilidades motoras, para que o indivíduo possa atingir níveis mais elevados de
funcionamento, dependem da aprendizagem. Diante disso, o controle motor, para
que cada indivíduo atinja níveis maduros de movimentos, está sujeito à interferência
do profissional que conduz o planejamento e que consegue elaborar estratégias de
ensino que procurem auxiliar cada um a atingir níveis compatíveis de controle motor
para a sua idade.

MATURAÇÃO

Refere-se às alterações qualitativas que capacitam o indivíduo a progredir para


níveis mais altos de funcionamento. (GALLAHUE e OZMUN, 2003).

Além da aprendizagem, para obtenção de um bom controle motor dos


movimentos, como já dissemos anteriormente, existe a necessidade de que o
processo de maturação física, cognitiva, afetiva e social aconteça, caso contrário,
a evolução será mais lenta do que se espera.

A maturação neurológica também é muito importante, pois, sem ela,


dificilmente aspectos relacionados à percepção dos estímulos e à forma de como
lidar com eles serão eficientes, o que certamente acarretará prejuízos relacionados
à evolução do processo de desenvolvimento.

Sendo assim, vamos conhecer quais são e de que forma diferentes aspectos
podem influenciar o desenvolvimento motor.

Figura 3.6 | Aspectos que influenciam o desenvolvimento motor

Fonte: Adaptado de Gallahue e Ozmun (2003)

É muito importante considerar a relação entre esses três fatores, pois sem essa
relação o desenvolvimento pode não atingir os padrões esperados de desenvolvimento.
Vamos compreender como esses aspectos influenciam o desenvolvimento motor.

112 Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano
U3

3.1 Individual:
 Fatores hereditários: a influência da genética
Todos nós sabemos que existe, por meio dos genes, a transferência de uma série
de características, principalmente as físicas, que são passadas de geração a geração.
Características anatômicas como a altura, a envergadura ou o comprimento das
pernas podem influenciar de alguma forma na opção por determinada tarefa
motora, pois quando essas características se mostram presentes, logo se faz uma
associação entre tais características com algum tipo de modalidade esportiva.

Alguns estudos, como o de Malina e Bouchard (2002), mostram que a influência


do genótipo na estatura final é de 60%, o restante é determinado pelo ambiente
externo. Em relação ao peso e à condição genética, os mesmos autores afirmam
que apenas 40% são de origem genética. Para a resistência aeróbica, os valores
chegam a 50%.

Em relação aos aspectos psicológicos, Plomin e Thompson (1993) afirmam


que é provável que características psicológicas também sejam influenciadas
indiretamente pelos genes.

Sendo assim, poderíamos pensar em uma determinada situação. Por exemplo,


se pensarmos que um indivíduo com aproximadamente 1,66 metro de altura nos
procura em nossa escolinha de basquete dizendo que seu grande sonho seria
jogar como atleta da NBA (National Basketball Association – Associação Nacional
de Basquetebol), provavelmente nós pensaríamos que esse sujeito estaria louco.

A Liga Americana de Basquete (NBA) detém atletas de altíssimo nível, que não
só dispõem de grande habilidade, mas também de estatura, o que é fundamental
para um bom desempenho nessa modalidade.

Porém, temos que entender que algumas características físicas, mesmo sendo
de grande importância para determinadas tarefas, não podem impedir indivíduos
que não as possuem de realizá-las.

Digo isso porque existem na Liga Americana de Basquete sujeitos como Spud
Webb, que media 1,68 metro (alguns dizem 1,70), ou como Muggsy Bogues –
1,66 metro, ou outros com aproximadamente 1,70 ou pouco mais que isso, e que
tinham um desempenho incrível nessa modalidade dentro da NBA, que podemos
considerar uma “terra de gigantes”.

Nesse sentido, temos que aceitar que uma limitação do ponto de vista genético
pode, sim, proporcionar certa dificuldade para certas tarefas, mas não as impede
de serem executadas.

Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano 113
U3

IMPORTANTE:

“A genética influencia, mas não determina o sucesso em certas atividades


físicas”. Alexandre Schubert

Para saber um pouco mais sobre os baixinhos da NBA, acesse <http://


torcedores.com/noticias/1343-conheca-os-menores-jogadores-
do-nba>.

Qual seria a nossa atitude caso algum aluno despertasse


interesse por alguma atividade para a qual ele não mostra
características físicas compatíveis com ela?

 Biológicos: características relacionadas às funções biológicas

Algumas características biológicas, como o ganho de peso, ou funções


relacionadas ao funcionamento dos sistemas corporais, como no caso a secreção
hormonal pelo sistema endócrino, podem exercer algum tipo de influência no
desenvolvimento motor também.

Se considerarmos um indivíduo que, por alguma dificuldade, seja ela relacionada


à produção de hormônios (hormônios da tireoide), que controlam o ganho de peso,
ou pela própria incapacidade de se manter dentro do peso esperado adequado,
esse sujeito, certamente, irá ter que optar por atividades em que o ganho fácil de
peso não se torne um problema.

Atividades com características de concentração, como é o caso do tiro, ou do


arco e flecha, ou atividades com essas mesmas características, poderão fazer parte
das opções de exercício físico, entretanto, o peso excessivo pode limitar alguns
movimentos, mas não impedi-lo de fazer.

Um exemplo que nos mostra que pessoas com sobrepeso podem exercer funções
importantes no esporte de rendimento é o caso do jogador de futebol Walter, do

114 Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano
U3

Goiás, que recentemente passou a jogar pelo Fluminense; da jogadora de vôlei


Suelen Santana, do goleiro de futebol Neville Southall (futebol inglês), que receberam
duras críticas sobre o excesso de peso, mas que mostraram grande competência em
modalidades em que o excesso de peso pode ser considerado um fator negativo.

Esses fatores biológicos de alguma forma podem desestimular a prática de


certas atividades físicas, principalmente no ambiente escolar, o que limitaria o
desenvolvimento motor e o controle motor eficiente de indivíduos com excesso
de peso. Entretanto, devem ser vistos com certo cuidado como fator de limitação
para atividades esportivas. O incentivo pelo profissional e o cuidado em estabelecer
metas possíveis de serem alcançadas podem proporcionar condições muito
favoráveis ao desenvolvimento adequado.

 Fatores intrínsecos: características psicológicas e emocionais

Outros importantes fatores a se considerar como de grande importância quanto


à sua influência no processo de desenvolvimento motor são os fatores emocionais e
psicológicos. Cada um de nós lida com esses aspectos de forma distinta. Alguns de
nós nos sentimos extremamente motivados diante de uma situação de desafio; outros,
diante da mesma situação, podem se sentir desmotivados em relação à sensação de
medo, pois acreditam que podem não conseguir cumprir a tarefa proposta.

Fatores como o estresse, gerado em razão do medo do fracasso, da ansiedade,


ou do medo de se machucar, podem limitar o aprendizado de determinados
movimentos, o que limitaria o desenvolvimento motor.

O medo de se machucar é muito comum nas idades iniciais, e a esse medo


damos o nome de Cinesiofobia.

Cinesiofobia é definida por Kori, Miller e Todd (1990) como sendo o medo
excessivo e irracional de se machucar ou de se movimentar.

Sendo assim, conhecer a característica emocional de cada faixa etária é


extremamente importante para planejarmos atividades que sejam compatíveis
com a idade e com os níveis de desenvolvimento emocional.

É comum percebermos situações em que crianças são colocadas para


participarem de competições com outras crianças mais velhas pelo fato da sua
condição física ser acima do esperado para o seu grupo. Porém, devemos sempre
considerar, em situações como essas, que por mais que fisicamente uma criança
apresente características acima dos seus pares da mesma idade, ela não deve ser
sujeita a participar de atividades com outras crianças mais velhas, em razão da
sua condição emocional, que permanece com a do seu grupo etário. Por isso,
devemos sempre avaliar os benefícios de incluir crianças em eventos esportivos
com grupos mais velhos, se isso não irá causar ansiedade e frustração. Respeitar as
etapas é muito importante.

Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano 115
U3

3.2 Tarefa
 Fatores físicos: características relacionadas às capacidades motoras

Quando relatamos as influências relacionadas aos fatores físicos e a sua associação


com o desenvolvimento motor, estamos nos referindo às capacidades motoras.

É importante lembrar que as capacidades motoras fazem parte da constituição


de todos os indivíduos, sem exceção. Todos nós, independente de raça, gênero,
condição cognitiva ou motora, somos dotados de todas as capacidades motoras,
entretanto o que pode variar de pessoa para pessoa é o nível de performance.

Se observarmos uma criança portadora da Síndrome de Down, podemos nos


questionar se ela também apresenta as mesmas capacidades motoras que uma
criança normal. O que vamos constatar é que a Síndrome de Down é um fator
limitante para que crianças nessa condição desenvolvam um potencial acima do
esperado. O que vamos verificar é que elas possuem todas as capacidades, mas o
seu grau de desenvolvimento é limitado. Qual seria esse limite? Não se sabe, pois a
cada dia percebemos que crianças nessa situação têm se superado e surpreendido
os profissionais e os pais que lidam com elas.

Podemos exemplificar uma situação em que um indivíduo de 60 anos queira


vencer em uma prova de velocidade o jamaicano Usain Bolt. É claro que ambos
possuem a capacidade motora “velocidade”, mas, provavelmente, o jamaicano
levará vantagem e vencerá a prova por uma infinidade de fatores que o favorecem.
Sendo assim, entendemos que todas as pessoas possuem a velocidade nas suas
características, mas muitos não chegarão a campeão do mundo.

Esse raciocínio nos mostra que, mesmo tendo todas as capacidades motoras,
nem sempre conseguimos desenvolvê-las ao máximo. Algumas pessoas podem
ter uma tendência ao desenvolvimento de capacidades motoras específicas, o que
irá favorecer o desenvolvimento motor de determinados movimentos, enquanto
outros terão mais possibilidades de desenvolvimento de outras capacidades.
Por isso, a transferência de aprendizagem, nas aulas de Educação Física, é tão
importante e deve ser constantemente estimulada no planejamento, pois facilita a
aquisição de novos movimentos e também o aperfeiçoamento de outros, além de
estimular o desenvolvimento motor.

 Fatores mecânicos: características relacionadas a limitações mecânicas

Quando falamos em fatores mecânicos que podem oferecer algum tipo de


influência ao processo de desenvolvimento, estamos nos referindo às limitações
por algum tipo de deficiência. Essas deficiências podem ser físicas, quando
falamos de indivíduos com algum tipo de prótese ou órtese, ou pode ser cognitiva,
relacionada a algum tipo de dano neurológico que pode afetar a compreensão e

116 Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano
U3

o processo de aprendizagem.

Esses indivíduos, como já foi dito anteriormente, possuem todas as capacidades


motoras, sendo fator limitante apenas o grau de performance que eles atingirão.

Muitos profissionais e também as pessoas, de um modo geral, têm a tendência


de acreditar que esses indivíduos jamais conseguiriam desenvolver algumas
habilidades. No entanto, esse preconceito vem diminuindo com o passar do
tempo, com a divulgação de grande quantidade de material mostrando o que
essas pessoas podem fazer, apesar das suas limitações.

Porém, para que esses indivíduos possam conseguir atingir bons níveis de
desenvolvimento motor mesmo com essas limitações, existe a necessidade de
que o profissional, juntamente com as demais pessoas que convivem com esses
indivíduos, elaborem estratégias adequadas de ensino, além de trabalhar bastante
os aspectos motivacionais dessas pessoas.

Conheça Daniel Dias, o nosso campeão paraolímpico e seus feitos


na piscina. Acesse o link: <http://www.youtube.com/watch?v=fIU_
PQEovnU>.

Como deve ser o planejamento de uma aula inteira voltada


para deficientes físicos?
De que forma podemos inserir um cadeirante em uma aula
voltada a modalidades esportivas com bola?

3.3 Ambiente
 Experiência: a experiência trazida do dia a dia para a prática formal

Quando tratamos da influência ambiental, devemos compreender que o


ambiente, nesse caso, não é o ambiente externo, o local da prática, a quadra, a

Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano 117
U3

sala de aula ou outros locais, mas sim, aquelas pessoas envolvidas no processo
de aprendizagem que, de alguma forma, ditam as normas e regras do que vai ser
aprendido e de que forma.

No que se refere à experiência, temos que aceitar que as experiências não


formais de aprendizagem que temos no nosso dia a dia acabam por influenciar as
tarefas motoras formais que iremos aprender no ambiente formal.

Jogos e brincadeiras que realizamos na rua, ou em lugares em que não havia um


tutor para que o processo de ensino acontecesse, podem e devem ser usados como
transferência de aprendizado das atividades formais vistas no ambiente escolar.

Essas experiências são muito importantes como fatores de influência.

 Aprendizado: refere-se à influência daqueles que determinam o que vai


ser ensinado ou não.

Muitos são os envolvidos nesse processo, mas a verdade é que ele começa
ainda dentro de casa. Se pensarmos bem, vamos nos lembrar de muitas atitudes
que temos que são o reflexo das atitudes dos nossos pais ou daqueles que nos
criaram. Isso se deu pelo fato da influência que eles de alguma forma exercem
sobre nós. É muito comum crianças que não realizam exercícios físicos porque os
pais também não o fazem. Crianças que não têm gosto pela leitura porque não
foram estimuladas dentro de casa.

Diante disso, percebemos o quanto somos, na idade adulta, parte daquilo que
nossos pais são e das escolhas que eles fazem por nós.

O segundo local de influência é o lugar onde moramos, seja a rua, o bairro, a


cidade, o estado e até mesmo o país.

É comum observar o quanto uma cultura nos influencia. Na rua onde moramos,
se nossos amigos gostam de jogar voleibol, participamos com eles, mesmo que
não sejamos assim tão apaixonados por esse esporte. Talvez a nossa motivação
para a prática seja estar junto ao grupo, ser aceito socialmente ou apenas fazer
amigos. Então, de alguma forma, passamos a desenvolver, por esse tipo de
influência, maior habilidade dos membros superiores do nosso corpo.

Caso venhamos a nos mudar para uma outra região, onde a prática do futebol
predomine, para sermos novamente aceitos passamos a participar das atividades,
só que agora prevalecerá o desenvolvimento dos membros inferiores, em razão
das influências de uma modalidade esportiva em que predominam as habilidades
dos membros inferiores.

Percebemos, nessa situação, que o local onde moramos e os amigos que


fazemos, de uma forma indireta, acabam influenciando nossa decisão de prática e

118 Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano
U3

nosso desenvolvimento motor.

O incentivo da mídia em relação a determinadas práticas esportivas acentua a


opção de algumas pessoas na sua escolha por certos tipos de comportamento.
Percebemos que o Brasil é o país do futebol, pela quantidade de programas
esportivos que dividem de forma bastante desigual o tempo voltado a outras
modalidades esportivas. Diante disso, é comum perceber o quanto o nosso povo
é muito mais influenciado a praticar futebol do que outras modalidades esportivas.

Programas sociais também são considerados como influência ambiental nesse


processo. Em algumas regiões é muito comum a oferta de programas de atividade
física promovidos pelas prefeituras, governos, ONGs e empresas particulares.

Esses programas, geralmente, impulsionam a realidade local a uma prática


motora baseada na oferta da atividade oferecida pelo programa. Por exemplo, na
cidade de Joinville existe a conceituadíssima Escola do Teatro Bolshoi no Brasil. Essa
escola é a única Escola do Ballet Bolshoi oferecida fora da Rússia. A escola oferece
um maravilhoso programa de dança para muitas crianças que residem na cidade.
Essa cidade foi escolhida em razão da sua forte ligação com a dança, por causa
do conceituado Festival de Dança de Joinville, que recebe as companhias mais
importantes do mundo. Sendo assim, a influência da dança no desenvolvimento
motor das crianças, jovens e adultos da cidade tornou-se notória.

Esse é apenas um dos casos em que programas sociais acabam influenciando


o processo de desenvolvimento motor. Outro importantíssimo ambiente de
influência (não só motora, mas também de outros aspectos) é a escola.

É na escola, mais precisamente pela influência do professor, que o


desenvolvimento motor recebe sua principal influência. O planejamento das
atividades programadas é feito pelo professor, que, baseado na ementa da
disciplina, deveria designar de forma igualitária os conteúdos programáticos.
Entretanto, isso nem sempre acontece, por uma condição de comodismo, pois
alguns profissionais insistem somente na programação de atividades esportivas,
sem incrementar suas aulas com atividades diferenciadas. O que se alega é que os
alunos não têm gosto por atividades diferentes dos esportes. Porém, percebemos
que alguns profissionais conseguem inovar no seu planejamento, criando aulas
extremamente motivadoras e com conteúdos diferenciados.

Conheça algumas propostas de aulas bastante diferenciadas:


1. Esgrima: <http://www.youtube.com/watch?v=ORxXaLpN5x4>

Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano 119
U3

2. Golfe: <http://www.youtube.com/watch?v=SnSoOWvHvUI>
3. Skate: <http://www.youtube.com/watch?v=gDs0YHhFRpM>.

Gallahue e Ozmn (2003) apresentam um esquema baseado ainda na ampulheta


(modelo heurístico), que mostra que para que cada indivíduo possa avançar de uma
fase para outra no desenvolvimento motor, ele recebe constantemente influências
ambientais e também hereditárias, e isso provoca alteração no controle motor.

Figura 3.7 - Modelo de desenvolvimento motor no ciclo da vida

Fonte: Gallahue e Ozmun (2003)

Adicionalmente, o modelo acima, da ampulheta de Gallahue e Ozmun (2003),


ilustra a relação entre tais fatores e a maneira como eles podem exercer influência
nos indivíduos em fases de desenvolvimento motor, favorecendo-os na transição
das fases menos especializadas para fases mais especializadas, na medida em que
essa influência é exercida.

120 Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano
U3

3.4 O desenvolvimento a partir de uma perspectiva dinâmica de


sistemas
Temos que entender que o desenvolvimento motor está sempre associado a
condições positivas (recursos) e a restrições (limitadoras de ritmo) dentro da tarefa,
do indivíduo e do ambiente.

Figura 3.8 | Fatores de influência


Exigências do 
Fatores anatômicos; 
Oportunidade para
desempenho; prática;

Fatores fisiológicos;

Formação do 
Encorajamento/
padrão motor; 
Fatores mecânicos; Motivação;


Graus de liberdade. 
Fatores motor 
Indicações
perceptivos. Instrutivas;


Ecologia (ambiente).

PARÂMETROS DE
CONTROLE

MUDANÇA DE FASE

CONTROLE MOTOR E
COMPETÊNCIA MOTORA

Fonte: Adaptado de Gallahue e Ozmun (2003)

É importante ressaltar que quando existe necessidade de aprendizado da tarefa,


ou seja, quando temos obrigatoriamente que aprender alguma habilidade, como
o ato de escrever, por exemplo, as oportunidades de prática são fundamentais
(exigência de desempenho), e o reflexo disso é a formação de um padrão motor
do gesto de escrita. Esses padrões são determinados por aquele que é responsável
pela instrução (professores, pais ou cuidadores), porém para que os indivíduos
avancem para níveis mais elevados de funcionamento, atingindo o estágio de
utilização permanente, é necessário que o tutor da aprendizagem permita ao
aprendiz “criar” seu estilo, e para isso há a necessidade de que nas atividades
propostas exista certo grau de liberdade nas execuções dos movimentos, ou pelo
menos o estímulo da criação de variações.

Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano 121
U3

Em relação ao indivíduo, o que podemos dizer é que todos os sistemas


(anatomia, fisiologia, biomecânica e a percepção por meio do sistema sensorial)
determinam a evolução e a formação do padrão motor.

Quanto ao ambiente, o tipo de instrução que será transmitida ao aprendiz,


sendo elas de acordo com a capacidade cognitiva e motora em cada fase, a
oportunidade de variação das atividades propostas no processo de ensino,
a motivação e o encorajamento por parte do tutor, sempre estimulando a
participação e reforçando os pontos positivos e as conquistas daquele que está
aprendendo, e também o ambiente de relação entre professor e aluno e entre os
demais aprendizes, irão influenciar sempre de forma positiva esse processo.

Verificamos que sem que exista uma integração de todos esses aspectos,
provavelmente será difícil para o indivíduo atingir pleno desenvolvimento motor,
mas ele pode, mesmo assim, fazer a mudança de uma fase menos especializada
para outra mais especializada. Entretanto, o que iremos perceber é que os
movimentos dificilmente se encontrarão dentro do padrão adequado, pois passar
por alguma dessas etapas sem tê-la vivenciado ao máximo, e ter atingido o que
se espera em cada período, ocasiona defasagem do padrão motor adequado para
alcançar a próxima fase com sucesso.

O reflexo disso é uma geração limitada e pobre no que se diz respeito ao


desenvolvimento motor, com controle e competência motora abaixo do esperado.
Lembrando que a importância de um bom desenvolvimento motor não está somente
relacionada à prática esportiva, mas também às atividades de vida diária e ao lazer.

Quando crescemos e nos desenvolvemos, os sistemas corporais (ósseo,


cardiovascular, muscular e outros) também vão se alterando, melhorando seu
funcionamento à medida que o corpo passa a exigir mais deles. Esse processo é
gradativo, pois depende de muitos outros fatores externos, que irão favorecer esse
desenvolvimento ou então retardar o processo, dependendo do estilo de vida adotado.

Entretanto, mesmo que o estilo de vida adotado não seja o ideal para que o
organismo tenha um desenvolvimento adequado, esse processo vai acontecer,
porém com níveis abaixo do esperado em relação às tabelas normativas existentes.
O desenvolvimento, de uma forma geral, não acontece somente na área motora,
mas também em outras áreas do desenvolvimento humano. Contudo, devemos
lembrar que quando nos referimos às outras áreas do comportamento humano
que se alteram, devemos sempre usar o termo “desenvolvimento”, pois não existe
crescimento cognitivo, afetivo ou social e, sim, apenas “desenvolvimento”.

122 Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano
U3

Figura 3.9 - Áreas que são influenciadas

Fonte: Adaptado de Gallahue e Ozmun (2003)

AS ÁREAS DO COMPORTAMENTO HUMANO QUE SE ALTERAM COM O


DESENVOLVIMENTO SÃO:

 PSICOMOTORA
 COGNITIVA
 AFETIVA
 SOCIAL

Devemos compreender que essas áreas do desenvolvimento humano são


tratadas separadamente para melhor entendimento. Entretanto, devemos
considerar que elas se relacionam e se complementam.

Sempre que evoluímos de fase, o desenvolvimento social, afetivo e cognitivo


também acontece, porém e nem sempre esses eventos acontecem paralelamente.
Por isso, sempre, no planejamento das atividades, temos que lembrar o quanto
é importante identificar as características de cada fase, para podermos elaborar
estratégias de ação adequadas e compatíveis com o grau de desenvolvimento
também dessas outras características.

Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano 123
U3

Figura 3.10 - Ciclo para transição de fase nas diferentes áreas

Fonte: Adaptado de Gallahue e Ozmun (2003)

No esquema acima, podemos ver a interação entre diferentes aspectos que


ajudam a transição de fases em todos os aspectos.

Não é possível que um indivíduo consiga fazer a transição de fases sem


adquirir experiência, pois pela experiência ele consegue aperfeiçoar o que está
aprendendo. Diante disso, “praticar” atitudes, gestos motores e situações torna
cada um de nós mais capaz de evoluir. Após a prática, por meio das experiências
vividas, temos que assimilar tudo o que foi visto e vivido e nos adaptarmos. Aquele
que não consegue se adaptar dificilmente irá amadurecer sua condição em cada
etapa, e se não amadurece, possivelmente não estará apto a fazer a transição de
fase e começar um novo ciclo, como mostra o esquema acima.

Podemos Destacar Alguns Paradigmas De Desenvolvimento


Humano
Conforme vimos na Unidade 1, muitos autores sugerem teorias ou modelos de
como ocorre o processo de desenvolvimento. Relembrando, basicamente a Teoria
Psicanalítica de Sigmund Freud (1927), que embora seja centrada na personalidade
e no funcionamento anormal do adulto, pode ser considerado um modelo de
desenvolvimento. Essa teoria tem como base os estágios de desenvolvimento
psicossocial, que determina a existência da busca constante pela gratificação
de forma inconsciente. Freud sugere que os estágios de desenvolvimento são
determinados por áreas do corpo humano que entram em atividade em faixas

124 Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano
U3

etárias diferentes (oral, anal, fálica, latente e genital).

Essa teoria acabou recebendo muitas críticas, mas abriu caminho para muitas
pesquisas sobre o desenvolvimento humano. Erik Erikson (1963) concentrou sua
pesquisa na influência da sociedade no desenvolvimento humano ao invés do sexo.
Sua Teoria Psicossocial descreve oito estágios do ciclo da vida humana e evidencia
não fatores hereditários, mas sim fatores ambientais como geradores de tais alterações.

Outra forte teoria de desenvolvimento é a de Jean Piaget (1969), que enfatiza a


aquisição de processos de pensamentos cognitivos. Essa teoria funciona a partir da
integração de três estruturas; a) Estrutura, b) Função e c) Conteúdo. Piaget sugere que
a inteligência se manifesta por meio das nossas ações, que são geralmente aplicadas
a várias situações-problemas. Outra característica é que existe planejamento nas
nossas ações, o que é uma característica crescente da inteligência.

Uma teoria também bastante conhecida é a Teoria Ecológica de Bronfenbrenner


(1979). Essa teoria sugere que não é o ambiente comportamental que determina
o comportamento, mas a interpretação que o indivíduo faz do ambiente. Essa
teoria é uma das mais aceitas pelos desenvolvimentistas. Vejamos a Figura 3.11 que
exemplifica os fatores que influenciam o desenvolvimento.

Figura 3.11 | Divisão ecológica de Bronfenbrenner

Fonte: Adaptado de Gallahue e Ozmun (2003)

Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano 125
U3

No esquema proposto por Bronfenbrenner, verificamos que a divisão dos fatores


em sistema nos permite visualizar todos os tipos de interferência no processo de
desenvolvimento humano.

A história cultural e social de um povo, a maneira como uma nação vê


determinados conceitos, as diferenças entre essas culturas em que para uma o
sábado é sagrado e para outra não, a diferença em como os governos controlam
as pessoas e como outros permitem manifestações de expressão das diferentes
ideias, enfim, isso tudo acaba por influenciar escolhas e afeta nosso processo
desenvolvimentista.

Nossas crenças e nossa religião, de alguma forma, nos influenciam. A crença


na sorte ou no azar caso eu não use a minha “meia da sorte” no jogo de uma final
de campeonato, ou a reza “forte” antes de uma partida, podem mexer com o meu
emocional, acarretando fracasso e me influenciando de alguma forma nas minhas
atitudes futuras.

O incentivo de programas sociais propostos por ONGs ou pelas organizações


governamentais. A escolha do que e como vai ser ensinado determinado
conteúdo, de alguma maneira me influencia. E, por último, os fatores já vistos
anteriormente, que participam da nossa vida diária e que nos influenciam muito
mais. Nossa família, nossos colegas, o bairro onde moramos e a escola. Todos
esses, de alguma maneira, são determinantes para nossa evolução.

Diante do que foi visto, percebemos que o processo de crescimento e de


desenvolvimento humano depende de uma infinidade de fatores, mas nós, como
profissionais, devemos nos certificar de que as influências nesse processo sejam
de alguma forma positiva, para que um futuro promissor repleto de perspectivas
possa ser a realidade de todos e não de uma minoria.

Lembrando que não somente os aspectos motores acabam sendo


influenciados por muitos fatores, entre eles o professor, como devemos
pensar nossas atividades de maneira que elas comtemplem também
aspectos sociais, afetivos e cognitivos? Tente pensar qual é a relação
entre aprendizagem motora e o controle motor.

126 Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano
U3

Para saber mais sobre os aspectos que influenciam o


desenvolvimento humano, leia o artigo desse link: <http://
www.scielo.br/pdf/paideia/v17n36/v17n36a03.pdf>.

1. Podemos dizer:

X) Quando um indivíduo tem problemas físicos, podemos


dizer que seu desenvolvimento está sendo limitado por um
fator relacionado à tarefa.
Y) Quando um indivíduo tem problemas de desenvolvimento
por ser muito baixo, podemos dizer que seu desenvolvimento
está sendo limitado por um fator individual.
Z) Quando um indivíduo tem problemas de desenvolvimento
por ter um profissional que não o orienta da maneira adequada,
podemos dizer que seu desenvolvimento está sendo limitado
por um fator ambiental.
a. Apenas a alternativa X está incorreta.
b. Apenas a alternativa Y está incorreta.
c. Apenas a alternativa Z está incorreta.
d. As alternativas X, Y e Z estão corretas.
e. As alternativas X, Y e Z estão incorretas.

2. São fatores que influenciam o desenvolvimento motor:


a. A herança genética, o tipo de instrução que se recebe e suas
capacidades físicas.
b. Fatores intrínsecos, o lugar onde se vive e as capacidades
físicas.
c. A biologia, a experiência e fatores mecânicos.

Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano 127
U3

d. A hereditariedade, o aprendizado e fatores físicos.


e. Existe mais de uma alternativa correta.

3. Quando falamos em mudanças nos aspectos físicos, motores


e sensório-perceptivos relacionados ao desenvolvimento, a
que nos referimos?
a. Evolução muscular e óssea, alterações nos aspectos motores
e melhora da capacidade visual.
b. Melhora de massa muscular e do sistema respiratório,
mudança nas habilidades motoras básicas e ampliação do
sistema cinestésico.
c. Evolução do sistema neural e endócrino, ampliação das
habilidades motoras básicas e específicas e ampliação da
capacidade auditiva.
d. Ampliação do sistema adiposo e cardiorrespiratório, melhora
das habilidades motoras básicas, específicas e evolução da
capacidade cinestésica.
e. Existe mais de uma alternativa correta.

4. O desenvolvimento humano acontece em um processo:


a. Disto-proximal.
b. Próximo-distal.
c. Caudo-cefalal.
d. Membro-caudal.
e. Próximo caudal.

5. Os movimentos de drible executados no basquete são


considerados:
a. Axiais.
b. De estabilidade.
c. Manipulativos.
d. De locomoção.
e. De axiação.

128 Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano
U3

Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano 129
U3

130 Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano
U3

1. Assinale pelo menos dois sistemas em que ocorrem


alterações físicas em razão do processo de desenvolvimento.
a. Endócrino e adiposo.
b. Cálcio e ferro.
c. Muscular e territorial.
d. Velocidade e cognitivo.
e. Social e afetivo.

Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano 131
U3

2. Assinale pelo menos dois princípios básicos do


desenvolvimento humano.
a. Mãos e pés
b. Locomoção e força.
c. Estabilidade e coordenação.
d. Manipulação e estabilidade.
e. Agilidade e flexibilidade.

3. Quais são as etapas do gesto de locomoção, respectivamente?


a. Arrastar, caminhar e rastejar.
b. Caminhar, saltar e arrastar.
c. Arrastar, engatinhar e caminhar.
d. Engatinhar, arrastar e caminhar.
e. Engatinhar, caminhar sem amparo e caminhar com amparo.

4. Quais são as fases do desenvolvimento motor sugeridas por


Gallahue e Ozmun (2003)?
a. Reflexiva, espontânea, rudimentar e especializada.
b. Espontânea, rudimentar, fundamental e motora.
c. Motora, elementar, madura e complexa.
d. Reflexiva, motora, rudimentar e especializada.
e. Reflexiva, rudimentar, fundamental e madura.

5. Leia e responda a seguir.


X) O estágio maduro é caracterizado por desempenho
eficiente coordenado e controlado. Acredita-se que em média
as crianças atingem o estágio maduro por volta dos cinco ou
seis anos de idade
Y) No esquema proposto por Bronfenbrenner, verificamos que
a divisão dos fatores em sistema não nos permite visualizar
todos os tipos de interferência no processo de desenvolvimento
humano.
Z) Usar a transferência de aprendizagem nas aulas de Educação
Física é muito importante e deve ser constantemente
estimulada no planejamento, pois facilita a aquisição de novos
movimentos e também o aperfeiçoamento de outros, além de
estimular o desenvolvimento motor.

a. Apenas a alternativa X está incorreta.


b. Apenas a alternativa Y está incorreta.
c. Apenas a alternativa Z está incorreta.
d. As alternativas X, Y e Z estão corretas.
e. As alternativas X, Y e Z estão incorretas.

132 Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano
U3

Referências

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134 Princípios Básicos do Movimento, Desenvolvimento dos Movimentos Fundamentais e Aspectos que Influenciam o Desenvolvimento Humano
Unidade 4

MÉTODOS DE ESTUDO
EM DESENVOLVIMENTO,
MÉTODOS DE AVALIAÇÃO
DA MATURAÇÃO BIOLÓGICA,
DESENVOLVIMENTO DOS
SISTEMAS CORPORAIS E
CAPACIDADES MOTORAS
Alexandre Schubert

Objetivos de aprendizagem: Conhecer quais são os métodos de estudo


em desenvolvimento humano.

Identificar quais são os métodos utilizados para avaliação da maturação


biológica.

Conhecer a relação dos processos de crescimento e de desenvolvimento


com os sistemas biológicos.

Conhecer o que são capacidades motoras e entender como acontece o


processo de desenvolvimento dessas capacidades.

Seção 1 | Métodos de estudo em desenvolvimento


humano e métodos de estudo da maturação biológica
Nessa seção vamos abordar alguns métodos de estudo que
são frequentemente usados em pesquisas sobre crescimento e
desenvolvimento.

Esses métodos apresentam algumas diferenças, mas todos servem


U4

para levantamento de dados que auxiliam o profissional a verificar como


se encontram os índices de crescimento e de desenvolvimento de uma
população.

Esses dados são depois analisados e em determinados casos servem


para elaboração de tabelas de referência para comparação entre grupos.

Também veremos quais são os métodos de estudo para identificarmos


se um indivíduo já amadureceu biologicamente.

Seção 2 | Sistemas corporais

Aqui nessa seção vamos ver como os diferentes sistemas corporais se


desenvolvem, desde a fecundação até a idade adulta.

Vamos aprender que determinados sistemas se desenvolvem de forma


mais rápida nos meninos e outros de maneira mais rápida nas meninas,
por diversos fatores de influência.

Seção 3 | Capacidades motoras

Aqui, vamos entender o que são capacidades motoras. Estudaremos


como essas capacidades motoras se dividem e por que elas são divididas
dessa forma.

Também vamos estudar os conceitos de cada uma delas. Entender o


processo de desenvolvimento e verificar as diferenças evolutivas dessas
capacidades no crescimento e no desenvolvimento entre meninos e
meninas.

Ao final, veremos alguns estudos que nos mostram os melhores


períodos de desenvolvimento dessas capacidades, tanto para meninos
quanto para meninas, em cada faixa etária.

136 Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras
U4

Introdução à unidade

Caro aluno, nessa unidade iremos entender como são realizados os estudos em
desenvolvimento humano.

Conheceremos as dificuldades de realização de estudos com cada método de


pesquisa, suas características, as vantagens e as desvantagens de cada um, assim
como os critérios que são utilizados nesses estudos.

Veremos que esses métodos estabelecem critérios bastante rigorosos e


proporcionam condições de se estabelecer padrões de referência que são utilizados
como critério de comparação entre diferentes populações. Dessa forma, podemos
identificar atrasos desenvolvimentistas e estabelecer estratégias por meio de políticas
públicas adequadas para resgatarmos os padrões esperados.

Também iremos entender um pouco do processo maturacional e conheceremos


como podemos identificar em que estágio de desenvolvimento biológico o
indivíduo se encontra. Veremos os diferentes métodos de possibilidade da análise da
maturação e o que isso implica para o planejamento das atividades.

Outro assunto que abordaremos nessa unidade é acerca dos diferentes sistemas
corporais (sistema ósseo, muscular, endócrino, adiposo e outros), para que possamos
entender como eles se desenvolvem no decorrer do processo de desenvolvimento.

Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras 137
U4

138 Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras
U4

Seção 1
Métodos de estudo em desenvolvimento humano
e métodos de estudo da maturação biológica
Nessa seção vamos conhecer os métodos de estudo que utilizamos para
realizar pesquisas na área de crescimento e de desenvolvimento.

Também vamos aprender de que forma podemos identificar se um indivíduo


se encontra em fase maturacional e quais são as vantagens e as desvantagens de
cada método.

1. Métodos de estudo em desenvolvimento humano e métodos


de estudo da maturação biológica
Há muito tempo que o processo de crescimento e desenvolvimento humano
desperta grande interesse por parte de estudiosos de diferentes áreas, como a
biologia, a pedagogia, a psicologia e a epidemiologia.

Como vimos na Unidade 1 deste livro, diversos estudiosos, como Tiedemann,


Darwin e Preyer, em estudos que se iniciaram a partir de 1781 e que relatavam
aspectos do desenvolvimento dos seus filhos, mostraram que o interesse em
compreender de que forma evoluímos já vem de muitos anos atrás.

Na década de 30, Gessel deixava claro que um bom comportamento motor


da criança na fase infantil era um indicador de bom desenvolvimento dela. O
pesquisador descobriu isso analisando o comportamento de algumas crianças.

Essa necessidade em compreender os processos evolutivos e tudo o que se refere


a eles nos proporcionou condições de identificarmos de que forma crescemos,
como nós nos desenvolvemos fisicamente, cognitivamente e emocionalmente.
Também nos permitiu entendermos e aceitarmos que existem diversos fatores que
podem interferir nesses processos, de forma positiva ou negativa.

A partir daí, muitas teorias surgiram e apontavam para diversas direções sobre
como esses processos ocorriam. Essas teorias, muitas vezes, se mostravam uma
contrária à outra ou todas de alguma forma se complementando.

Diante disso, começamos então a compreender a importância de se estabelecer


certos critérios que pudessem comprovar alguns estudos e estabelecer parâmetros

Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras 139
U4

de conhecimento e referências para entendermos todos esses processos.

Sendo assim, as pesquisas que passaram a ser feitas adotaram métodos de estudo
que pudessem ser replicados por outros estudiosos, para que, dessa forma, fosse
possível verificar se as respostas que aconteciam em determinada população eram
as mesmas que eram encontradas em populações com características diferentes.
Quando as respostas encontradas passaram a ser diferentes, começaram então as
buscas no sentido de identificar quais eram os fatores responsáveis por essas diferenças.

Em desenvolvimento humano, os estudos passaram a mostrar a evolução de


diversas características das populações em todas as suas faixas etárias. Peso, altura,
capacidades motoras, aspectos emocionais e fisiológicos, enfim, uma infinidade
de fatores que mereciam ser estudados com o intuito de determinarmos o que é
padrão, e após isso, estabelecermos o que é normal e o que é risco.

Entender as mudanças que ocorrem no nosso processo evolutivo é


fundamental, de acordo com Haywood e Getchell (2004). Para isso existem formas
de identificarmos tais alterações de modo real, e outras maneiras de deduzirmos
de que forma elas acontecem.

Como já foi dito anteriormente, critérios foram estabelecidos e diferentes


métodos de estudo foram criados. Reis et al. (2002) mostram alguns desses
métodos de estudo. Vamos ver a seguir alguns deles.

Figura 4.1 | Tipos de métodos de estudo mais usados nas pesquisas em desenvolvimento humano

Fonte: Reis et al. (2002)

140 Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras
U4

Como observamos, existem diversos métodos de estudo que servem para


alguns tipos de observações específicas. Conforme a nossa necessidade de
pesquisar algo e a maneira como faremos esse estudo, para fazermos nossa
escolha de como faremos devemos levar em conta diversos aspectos, como:
tempo, custo, população a ser estudada e quais fatores queremos pesquisar, para,
depois dessa análise reflexiva, optarmos por um ou por outro método. Vamos ver
a seguir um pouco de cada um dos métodos acima citados, para depois falarmos
mais especificamente daqueles mais usados em desenvolvimento humano.

1.1 Método descritivo: As pesquisas descritivas têm como característica


projetar opiniões e fazer projeções futuras sobre determinado assunto. Elas se
baseiam na concepção de que, quando descrevemos de forma fiel o problema
e analisamos suas características, temos como apontar a direção de soluções
adequadas. Geralmente, as técnicas usadas nesse tipo de método são os
questionários e as entrevistas. (THOMAS e NELSON, 2002)

Os mesmos autores acima citados complementam dizendo ainda que a pesquisa


descritiva é amplamente usada nos estudos das ciências comportamentais.

Os métodos de pesquisa descritiva mais usados são: o Survey e Estudo de Caso.

a) Survey: Esse tipo de estudo pode ser feito por meio de uma entrevista com
o entrevistado pessoalmente, pelo telefone ou por algum tipo de questionário que
pode ser enviado pelo correio, atualmente também pode ser realizado por correio
eletrônico. Um exemplo de pesquisa desse tipo pode ser um levantamento por
meio de ligação telefônica para as famílias de uma determinada região sobre as
características dessa família, como: condição financeira, número de filhos, quantos
estudam, se eles estudam em escola pública ou particular, etc.

b) Estudo de caso: No estudo de caso, a investigação científica de um fenômeno


ou de uma situação específica é analisada de forma bastante minuciosa, para
comparação com outros casos parecidos. O objetivo é detalhar da melhor forma
possível o que está acontecendo para depois se elaborar teorias sobre o porquê
desse fenômeno estar acontecendo e também para fazer possíveis predições futuras.

Um exemplo desse tipo de estudo poderia ser quando uma criança com
comprometimento cerebral apresenta um comportamento nada comum frente
a uma determinada situação e pesquisadores avaliam esse comportamento na
tentativa de identificar causas e elaborar possíveis teorias sobre qual a razão desse
comportamento.

1.2 Método experimental: As pesquisas experimentais tentam estabelecer


uma relação de causa-efeito entre duas variáveis. Quando esse tipo de pesquisa
é feito, o pesquisador tenta manipular algumas variáveis (chamadas de variáveis
independentes) na tentativa de verificar qual é o efeito dessas variáveis sobre outra

Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras 141
U4

(variável dependente).

Entretanto, de acordo com Thomas e Nelson (2002), é necessário muito


cuidado ao tentar fazer tais associações na tentativa de afirmar que um evento
ocorre por influência de outro, pois uma análise estatística se torna fundamental
para excluir o que se chama de “hipótese nula”.

Entretanto, não vamos abordar questões estatísticas aqui nesse livro, já que esse
não é o objetivo desse material. Porém, se faz necessário, no momento oportuno,
que o leitor busque aprofundamento sobre estatística, para melhor lhe auxiliar no
entendimento da relação entre os métodos de pesquisa e a estatística.

a) Ensaio clínico: No ensaio clínico o objetivo é usar um determinado produto


específico (que pode ser uma vacina, um medicamento ou ainda um método
de intervenção), com o intuito de observarmos a eficiência desse produto e sua
eventual segurança como fator de combate ao problema.

Para Hochman et al. (2005), um ensaio clínico envolve a utilização de um


experimento específico com o intuito de buscar o melhor tipo de tratamento
para uma doença e apresentar uma perspectiva de cura para possíveis pacientes
portadores do mesmo mal.

Que tipo de pesquisa poderíamos realizar dentro da escola,


com nossos alunos, de maneira que os resultados obtidos
poderiam nos auxiliar em nosso planejamento?
Que tipo de levantamento pelo método Survey de coleta de
dados poderíamos fazer com os pais de nossos alunos a fim
de obtermos informações importantes acerca de como eles
veem a educação física na escola?

1.3 Revisão sistemática: Nesse tipo de estudo, os pesquisadores avaliam


uma grande quantidade de trabalhos publicados, analisando e integrando todos os
conteúdos e informações dessas publicações com a finalidade de chegar a uma
conclusão comum. A forma de investigação da revisão sistemática é a análise dos
trabalhos feitos, mesmo que esses apresentem dados e resultados conflitantes ou
coincidentes (SAMPAIO; MANCINI, 2007).

1.4 Meta análise: Esse tipo de estudo é frequentemente confundido entre


leigos com a revisão sistemática, por também usar como base de pesquisa a
revisão de estudos anteriormente produzidos.

142 Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras
U4

Contudo, nesse tipo de pesquisa é utilizada a revisão de diversos estudos que


apresentam similaridade metodológica e de população, mas que podem apresentar
resultados independentes, e que de forma combinada e sintetizada por meio de
análise estatística, produzem um único resultado (SAMPAIO; MANCINI, 2007).

Para saber um pouco mais sobre a diferença entre revisão sistemática e


meta análise, vamos ver esses dois artigos que têm essas características.
Revisão sistemática: <http://www.ceap.br/material/
MAT23022012201228.pdf>.
Meta análise: <http://portalrevistas.ucb.br/index.php/RBCM/article/
viewFile/3715/3076>.

Apesar de no esquema apresentado antes da explicação dos métodos o


método observacional se encontrar em segundo lugar na apresentação, deixamos
esse método por último, pelo fato de que os estudos que se encontram nele são
os mais usados nas pesquisas em crescimento e desenvolvimento humano.

1.5 Observacional: Aqui nesse tipo de estudo o pesquisador é apenas


um observador passivo, que observa e descreve os acontecimentos. Quando o
observador descreve esses acontecimentos, torna-se um estudo observacional
de caráter descritivo; e analítico quando ele estabelece hipóteses ou associações
sobre as possibilidades do ocorrido.

A pesquisa observacional também tem suas divisões, mas aqui nesse livro
abordaremos apenas aquelas mais utilizadas em crescimento e desenvolvimento
humano.

a) Método longitudinal: Nesse tipo de estudo, que pode ser realizado com um
indivíduo ou com um grupo específico de indivíduos, realizamos as observações
de acompanhamento do evento escolhido para nosso estudo por um período de
tempo longo.

Quando realizamos um estudo longitudinal, temos como objetivo poder


observar as mudanças que acontecem nos indivíduos ou no grupo de indivíduos
com o passar do tempo. Por exemplo, podemos observar crianças recém-nascidas
por um período longo, com a finalidade de identificar o período em que esse
indivíduo ou esse grupo começa a caminhar.

O método de estudo longitudinal tem algumas desvantagens sobre os demais


métodos. Vejamos a seguir:

Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras 143
U4

Figura 4.2 | Limitações do método de estudo longitudinal

Fonte: O autor (2014)

Como podemos observar na figura acima, existem fatores que podem


impossibilitar esse tipo de estudo. O tempo é um dos principais fatores limitantes,
pois caso o pesquisador não tenha disponível um período de tempo longo para
aguardar as mudanças acontecerem, esse tipo de estudo não deve ser usado.

Outro fator, também relacionado ao tempo, é que, quando optamos por esse
tipo de estudo, no decorrer do processo podemos ter uma perda do número de
avaliados, por uma infinidade de fatores. Alguns podem desistir do processo de
avaliação, podem se mudar, ficar doentes ou ainda incapacitados, e isso reduziria
o número da amostra.

Também é comum nesse tipo de estudo, em razão do tempo em que se


permanece avaliando o grupo ou o indivíduo, que ocorra troca dos avaliadores, o
que faria aumentar o erro na postura de avaliação. É importante ressaltar que o erro
já acontece quando um mesmo avaliador faz a coleta num mesmo indivíduo, mas
esse erro aumenta quando existe a troca de avaliadores.

Um avaliador mais experiente apresenta menor erro do que um avaliador com


menos tempo de prática, portanto é importante manter o mesmo avaliador durante
o processo de acompanhamento, o que é bastante difícil.

O erro intra-avaliador é considerado o erro que pode acontecer quando um

144 Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras
U4

mesmo avaliador faz as medidas em um mesmo indivíduo em datas distintas; e


o erro interavaliadores é o erro que acontece na comparação da variação das
medidas feitas por dois avaliadores diferentes em um mesmo indivíduo ou grupo
de avaliados. (OLIVEIRA FILHO et al., 2007).

O tempo nesse tipo de estudo é fundamental, pois, como já foi dito antes,
em alguns casos os investimentos nesses estudos se tornam elevados, o que
dificulta que eles sejam realizados com financiamento próprio e sem incentivos
de instituições governamentais ou particulares que têm algum interesse nos
resultados finais, que serão encontrados quando a pesquisa for concluída.

A vantagem nesse tipo de estudo é que se observa a realidade da mudança, quais


os fatores que a influenciaram e que são responsáveis pelas alterações de forma real,
sem necessidade de dedução ou levantamento de hipóteses do porque ocorreu.

Para saber um pouco mais sobre pesquisa longitudinal, acesse esse


estudo que foi realizado com dois irmãos autistas num período de
quatro anos. <http://www.scielo.br/pdf/rsbf/v15n1/22.pdf>.

b) Método transversal: Nesse tipo de estudo, que também pode ser realizado
com um indivíduo ou com um grupo específico de indivíduos, as observações
dos eventos que se escolhe estudar são feitas num mesmo momento. Alguns
estudiosos dizem que nesse tipo de pesquisa é como se “tirássemos uma
fotografia” do avaliado, pois a coleta é feita num único momento.

Haddad (2004) confirma a afirmação anterior quando diz que esse tipo de
pesquisa se apresenta como uma se fosse uma fotografia de uma população ou
de um indivíduo em um só determinado momento.

Aqui, o procedimento usado quando se estuda o desenvolvimento motor é


a coleta dos dados de uma série de indivíduos com idades diferentes em um
mesmo momento. O principal objetivo nesse tipo de pesquisa é conhecer as
variações de um determinado comportamento entre as diferentes faixas etárias.
O que se descobre com esse método são as diferenças médias de determinadas
características entre os grupos estudados.

Nesse tipo de estudo existem, assim como o método longitudinal, vantagens e


desvantagens.

Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras 145
U4

Figura 4.3 | Limitações da pesquisa utilizando o Método Transversal

Fonte: O autor

Como podemos observar na figura acima, quando usamos esse tipo de estudo
não temos condições de avaliar as realidades, pois, pelo fato das populações se
encontrarem com faixas etárias distintas, apenas deduzimos que tal comportamento
é comum daquela idade e que, conforme o indivíduo avança em idade, apresentará
comportamento semelhante ao que observamos nos grupos que se encontravam
com essa idade quando foram avaliados.

Podemos usar como exemplo um grupo de bebês que foram avaliados aos
11 meses e que começaram a desenvolver o gesto de caminhada sem auxílio
nesse período. Poderíamos dizer que qualquer grupo de crianças com as mesmas
características iniciará o gesto de locomoção sem auxílio nesse período. Isso se
chama dedução e pode ser perigosa, pois criamos uma expectativa que pode não
acontecer, por uma série de motivos não considerados nessa população.

Entretanto, temos que considerar que nesse tipo de estudo temos mais
vantagens do que desvantagens.

Aqui, os custos são muito mais baixos, pois não é necessário que o
acompanhamento seja demorado, já que em um único sujeito se faz apenas uma
avaliação. Outro fator é que em razão do tempo curto, não temos desistência da
amostra, pois não há necessidade de reavaliação. Os avaliadores nesse tipo de
estudo raramente são trocados, o que diminui o erro interavaliadores.

Acesse o link para conhecer um estudo que utilizou o método de


pesquisa transversal: <http://www.scielo.br/pdf/rpp/v31n1/12.pdf>.

c) Método Misto: Esse método surgiu com a necessidade dos pesquisadores


em reduzir as fraquezas que os dois estudos apresentam quando são feitos de
forma isolada (GALLAHUE; OZMUN, 2003).

146 Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras
U4

A combinação de pesquisas com características mistas favorece uma análise


mais criteriosa dos eventos que acontecem no processo de desenvolvimento,
combinando o que cada método apresenta de bom. Nesse sentido, conseguem
observar todas as mudanças que ocorrem no decorrer do tempo e observar as
diferenças nesse processo entre os grupos, ou seja, como cada grupo passa por
cada fase e se essa passagem é igual ou diferente.

Basicamente, quando se usa esse tipo de estudo, se faz um acompanhamento


transversal dos participantes, mas esses participantes também são acompanhados
por um período de tempo bastante longo (GALLAHUE; OZMUN, 2003).

“A avaliação de vários aspectos do comportamento motor de um indivíduo


torna possível ao especialista monitorar alterações desenvolvimentistas,
identificar atrasos e obter esclarecimentos sobre estratégias de instrução”
(GALLAHUE; OZMUN, 2003, p. 46).

Como podemos observar na citação acima, pesquisas nos capacitam a entender


como os processos ocorrem, verificar quais são os fatores que podem exercer
influência nesse processo e, também, nos ajudar na elaboração dos paradigmas,
que são as referências, os modelos, os padrões de referência.

Esses modelos servem como referência de avaliação, pois quando temos os


padrões que se esperam para cada faixa de idade (média), de cada movimento
ou comportamento, podemos, ao avaliarmos cada indivíduo, identificar esses
atrasos e tentar elaborar um planejamento na tentativa de trazê-los para níveis de
normalidade no seu desenvolvimento.

Sendo assim, os modelos de pesquisa sempre utilizam algum tipo de instrumento


avaliativo, que pode ser um teste motor capaz de identificar o estágio de um gesto
como o de caminhar.

Esses instrumentos de pesquisa são dotados de algumas características que,


sem elas, o processo avaliativo provavelmente não conseguiria acontecer de
forma adequada, invalidando os dados.

Vamos entender melhor. Quando avaliamos uma pessoa, com o intuito de


identificar se ela obteve algum avanço em algum aspecto do seu desenvolvimento
em razão de alguma metodologia usada para melhorar sua condição, precisamos,
entre outras coisas, poder repetir o mesmo teste que usamos antes de aplicarmos
tal metodologia, para que assim possamos comparar o antes e o depois. Se o
teste muda a sua característica, ou se ele é realizado de forma diferente, como
saberemos se houve melhora, já que o teste mudou?

Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras 147
U4

Diante disso, percebemos que quando usamos um teste para avaliarmos alguém,
esse teste tem que ter algumas características muito importantes. Vejamos então.

Vamos entender o que cada uma dessas características significa.

a) Confiabilidade: Quando falamos de confiabilidade, estamos no referindo


à possibilidade de um outro pesquisador realizar pesquisa semelhante e com
possibilidade de chegar a resultados parecidos (PAIVA JUNIOR, 2011).

b) Validade: A validade se refere à capacidade que os métodos utilizados numa


pesquisa propiciam à consecução fidedigna de seus objetivos, ou seja, de medir o
que se propõe (PAIVA JUNIOR; LEÃO; MELLO, 2011; LIMA et al., 2004).

Diante disso, é possível criamos um teste que talvez não seja aceito para a
ciência no que se refere a publicações científicas, entretanto, atende aos critérios
anteriormente vistos e que pode ser usado nas nossas aulas para avaliarmos a
evolução dos nossos alunos.

Outro importante aspecto dos estudos voltados ao desenvolvimento motor


é o direcionamento da pesquisa para o que se pretende avaliar. Geralmente, os
estudos em desenvolvimento motor são direcionados para obtenção de dados
voltados ao produto ou ao processo de desenvolvimento.

Quando nos referimos ao produto, entendemos que nesse tipo de análise o


que importa para o avaliador é o resultado final. Esse tipo de avaliação quantitativa
visa compreender se houve melhora em aspectos como a distância do arremesso,
a diminuição do tempo da tarefa, ou aspectos do tipo. Nesse caso, não se analisa
o movimento, apenas o resultado final gerado por ele.

Entretanto, quando falamos em processo, temos que entender que nesse


tipo de análise o que vale é o movimento. Nesse caso, o que se observa é se os
movimentos gerados estão dentro das referências, dos padrões corretos. Aqui,
pouco importa se o arremesso foi longe, mas sim se ele foi realizado dentro do
que se espera biomecanicamente.

Quando devemos usar a análise por produto e quando


devemos usar por processo dentro do contexto escolar?
Por que realizar coleta de dados de nossos alunos se mostra
tão importante no processo de planejamento?

148 Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras
U4

2. Métodos de estudo da maturação biológica


No processo de crescimento e de desenvolvimento humano, observamos dois
períodos com crescimento mais acentuado. Um deles acontece dos seis aos oito
anos (estirão infantil de crescimento) e o segundo no período pubertário que, em
média, vai dos 11 aos 16 anos (MALINA; BOUCHARD, 2002).

Como vimos na Unidade 1, alguns autores definem maturação de formas


diferentes, mas com os mesmos significados.

Maturação, para Haywood e Getchell (2004), refere-se ao progresso em direção


à maturação física, a um ótimo estado de integração dos sistemas do corpo de uma
pessoa e a capacidade de reprodução dela. Malina e Bouchard (2002) dizem que
maturação é o processo de tornar maduro ou o progresso pelo estado de amadurecer.

Gallahue e Ozmun (2003) afirmam sobre maturação que são alterações qualitativas
que capacitam o indivíduo a progredir para níveis mais altos de funcionamento.

Para Malina; Bouchard e Bar-Or (2004), maturação pode ser considerada como
um processo evolutivo que leva o corpo a atingir a forma e a obter as funções de
um indivíduo adulto.

Esses conceitos têm como finalidade tentar relacionar a idade cronológica


convencional com a idade do corpo.

Diante disso, se torna muito importante identificarmos se o processo


maturacional já está em andamento e associá-lo à idade convencional, pois uma
criança que matura cedo demais pode ter perdas na estatura final. Outro aspecto
importante que devemos considerar em relação à avaliação da maturação é que,
ao avaliarmos o processo maturacional, podemos identificar se uma determinada
melhora no desempenho físico ou motor pode ser atribuída à maturação ou à
habilidade de determinado indivíduo naquela atividade.

Sendo assim, vamos ver quais são os diferentes métodos de avaliação da


maturação biológica.

Apesar de não fazer parte da maturação biológica, temos que saber exatamente
qual a idade cronológica do nosso avaliado. Para isso, usamos dois métodos
bem simples. O primeiro usa uma tabela e necessita a realização de fórmulas
matemáticas por parte do avaliador.

Para calcularmos a idade cronológica (centesimal) dos sujeitos, são sugeridas


diversas fórmulas matemáticas. A Tabela 4.1 a seguir apresenta uma maneira simples
de realizarmos esse cálculo. Vejamos então como este cálculo pode ser realizado.
Digamos que um sujeito nasceu no dia 19 de março de 1978 e foi avaliado no dia
18 de novembro de 2010.

Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras 149
U4

Tabela 4.1 | Frações milesimais direcionadas ao cálculo da idade cronológica

Fonte: Guedes e Guedes (2006)

Para fazermos esse cálculo, colocamos o ano da avaliação, seguido de vírgula


e do número da tabela que corresponde ao dia e ao mês da avaliação.

No caso acima, dia 18 de novembro, na tabela corresponde ao número 879.


Após isso, colocamos abaixo para fazermos a subtração, o ano de nascimento do
avaliado, seguido do número da tabela que corresponde ao dia de nascimento do
avaliado, no caso, dia 19 de março (211).

O Cálculo para descobrir a idade deste sujeito ficaria assim:

18 de novembro de 2010 = 2010, 879

19 de março de 1978 = 1978, 211

Então: 2010,879

1978,211

32,668 anos

150 Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras
U4

Após isso, fazemos a subtração e encontramos a idade centesimal do avaliado


(32, 668 anos).

Outra fórmula mais simples e fácil de fazermos essa avaliação é usando um


programa de computador chamado Excel.

Para este cálculo, colocamos na primeira linha da planilha: nome, data de


nascimento, data da coleta e idade fórmula. Na segunda linha e primeira coluna da
planilha, os nomes dos avaliados, na segunda coluna a data de nascimento separada
por barra (dia/mês/ano), sendo que o ano tem que ser os quatro números. Na
terceira coluna colocamos a data da coleta da mesma maneira como foi colocada
a data de nascimento (dia/mês/ano) e na quarta coluna a seguinte fórmula:

=DIAS360(B2;C2)/360

Após a inserção dos dados, quando damos o enter aparecerá na coluna “Idade
Fórmula” a idade cronológica com as frações (idade centesimal).

Devemos lembrar que, ao inserirmos a fórmula na coluna “idade fórmula”, para


que a fórmula se repita nas demais linhas temos que:

a) clicar no quadrado da fórmula (deixando as bordas todas em negrito;

b) colocar o cursor sobre a quina do quadrado na parte direita inferior;

Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras 151
U4

c) após esse procedimento, arrastar o quadradinho para baixo em todas as


linhas onde existem nomes de avaliados.

Qualquer uma das fórmulas está correta, porém, a segunda é mais viável pela
sua praticidade, contudo, sabemos que muitas pessoas ainda não têm acesso a
computadores e, sendo assim, sugerimos a utilização da primeira fórmula, que
apesar de ser manual, também é precisa e aceita pela literatura.

Entretanto, quando falamos de avaliação da maturação biológica, temos que


nos lembrar de que estamos nos referindo somente à análise dos aspectos que nos
mostram se esse indivíduo já atingiu um grau elevado de funcionamento, que seus
sistemas corporais já estão amadurecidos e ele já tem perspectivas de procriação.

Para constatarmos isso, existem três métodos bastante usados. São eles:

Figura 4.4 | Tipos de idade biológica


Baseada na 
Baseada no 
Baseada no
troca dos dentes fechamento das aparecimento das
descíduos epífises de ósseas. características
pelos dentes sexuais secundárias.
permanentes.

Fonte: O autor (2014)

Vamos ver, a seguir, de que forma essas avaliações são feitas.

1) Idade dental: A idade dental é marcada pelo surgimento dos primeiros


dentes e pelo período de troca dos “dentes de leite” pela dentição permanente.
Os primeiros dentes que surgem são conhecidos como “dentes de leite”. Essa
dentição começa a surgir em média por volta dos seis a oito meses, entretanto
existem casos de bebês que iniciam este processo antes desse período. A dentição
temporária, também conhecida como Descídua, é composta pelo surgimento de
20 dentes, sendo 10 superiores e 10 inferiores.

A troca dos dentes temporários pelos permanentes começa por volta dos seis
anos, iniciando essa troca pelos primeiros molares. O final da dentição permanente
ocorre entre os 12 e os 14 anos. Os últimos dentes a surgirem são os terceiros
molares, que não erupcionam antes dos 17 anos de idade.

152 Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras
U4

Figura 4.5 | Cronologia de erupção e perda da dentição temporária e permanente

Fonte: Guedes e Guedes (2006)

2) Idade óssea: A idade óssea é marcada pela proliferação cartilaginosa e a sua


conversão em tecido ósseo. Ela ocorre em fases e se dá com o aparecimento de
diferentes centros de ossificação (fechamento das epífises de crescimento).

A idade óssea parece ser, segundo alguns autores, o melhor meio de avaliação
da idade biológica (GUEDES; GUEDES, 2006; MALINA; BOUCHARD, 2002).

Esse tipo de avaliação se baseia no fato de que cada osso começa seu processo
de ossificação partindo de um modelo de cartilagem e, posteriormente, alcança
sua forma final em um processo de remodelação óssea, até finalmente atingir o
desenvolvimento total com o evento de fechamento das epífises, sendo que esse
processo se inicia ainda no ventre materno e termina no período da adolescência.

Esse processo pode ser facilmente monitorado, por meio de radiografias que

Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras 153
U4

são tiradas de tempos em tempos para análise. Essa avaliação se baseia em três
pontos cruciais:

a) A quantidade de ossos apresentados e o início do processo de transformação


dos modelos de cartilagem em centros ósseos;

b) A definição do formato dos ossos (pincipalmente o aparecimento das epífises


dos ossos longos);

c) O número de fechamento de epífises.

Após poucos meses depois do nascimento já é possível identificar os processos


de desenvolvimento ósseo acontecendo; entretanto, já nessa fase é possível
identificarmos as diferenças entre crianças de uma mesma faixa etária.

A normatização da análise usa o desenvolvimento ósseo de punho e mão,


mais precisamente, da mão esquerda. Outras áreas já foram e podem ser usadas
para essa avaliação também, como apontam Malina e Bouchard (2002). Ossos
do joelho, pé e tornozelo também podem ser usados, mas o que geralmente se
observa é a análise usando o punho da mão esquerda.

A evolução é facilmente percebida, pois na medida em que crescemos e


desenvolvemos, é visível o processo de desenvolvimento ósseo.

Os autores do método de avaliação da maturação óssea mais utilizado até o


momento foram Greulich e Pyle. Esse método é também chamado de “atlas” ou
de “inspecional”. Esses autores afirmam que o sistema esquelético é um sistema
útil de avaliação da maturação geral do indivíduo, pois pode ser usado desde o
nascimento até o completo desenvolvimento de todo o sistema ósseo (HAITER
NETO; ALMEIDA; LEITE, 2000).

Também existe outro método, chamado de TW1, em razão das iniciais de


seus criadores, Tanner e Whitehouse, também conhecido como “abordagem
específica”. Depois de algum tempo esse método foi revisado e passou a ser
chamado de TW2.

154 Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras
U4

Figura 4.6 - Processo de desenvolvimento ósseo

Fonte: Guedes e Guedes (2006)

Na figura acima podemos observar como ocorre o processo de desenvolvimento


do sistema ósseo, desde o início da sua formação até o final do período de
crescimento. Como podemos observar, no início, a imagem do raio x mostra
grande espaçamento entre os ossos, pois o sistema de raio x não consegue captar
as imagens das cartilagens, mas com o passar do tempo, as figuras mostram que os
espaços diminuem e que o número de ossos aumenta gradativamente, à medida
que caminhamos para o final do nosso desenvolvimento.

O maior problema desse tipo de análise, segundo Guedes e Guedes (2006), é a


necessidade e anuência médica, pois somente um profissional especializado pode
fazer a solicitação dos exames e a análise, que é bastante criteriosa e difícil, além
do alto custo, pois nem todos possuem acesso tão fácil a um sistema de saúde que
possibilite essa análise anualmente. Também não se descarta a exposição contínua
do avaliado ao raio x, exame que é feito por meio de ondas de radiação.

Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras 155
U4

Por que é tão difícil para o profissional de Educação Física


fazer o acompanhamento do processo maturacional por
meio do método de maturação óssea?
Qual é a importância desse tipo de análise para o
desenvolvimento do indivíduo?

Para saber mais sobre a importância da avaliação da maturação para a


atividade física e para o esporte para crianças, assista ao vídeo:
<http://www.youtube.com/watch?v=zcn3QwANVs8>.

3) Idade sexual: A idade sexual nos ajuda a identificar em que estágio da


maturação biológica o avaliado se encontra, pois é no período de maturação sexual
que ocorre um incremento significativo no crescimento e no desenvolvimento
humano, em razão da alta liberação hormonal. Outro objetivo da avaliação da
maturação sexual pode ser de minimizar possíveis erros de interpretação na
análise do desempenho motor, identificando, como já foi dito anteriormente, se a
melhora no desempenho em determinadas atividades motoras estão relacionada
ao processo maturacional ou ao tipo de intervenção proposta pelo profissional.

Utilizando esse tipo de avaliação, podemos identificar então se a diferença no


resultado de um determinado teste motor de dois jovens com a mesma idade
cronológica possa ter ocorrido devido ao fato de um dos avaliados se encontrar em
um estágio mais avançado de maturação sexual que o outro, ou se essa diferença
pode ter ocorrido em razão de um dos sujeitos ter uma capacidade diferenciada
para a atividade física ou esportiva (MARTIN et al., 2001).

A avaliação da idade sexual é realizada por meio da análise das características


sexuais secundárias. As características primárias são o aparecimento do ovário,
útero e testículos, que é o que determina o sexo do bebê, e a idade sexual
secundária é marcada pelo aparecimento das características sexuais secundárias
(aumento dos seios, aumento dos testículos, aparecimento dos pelos pubianos
e faciais, alteração da voz, menarca e espermarca). A essas alterações damos o
nome de dismorfismo sexual externo e elas ocorrem de maneira mais intensa no

156 Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras
U4

período da puberdade ou adolescência.

Para a avaliação dessas características a técnica mais comum é realizada


principalmente pela análise da pilosidade pubiana, entretanto outras formas
de avaliação da maturação sexual também são aceitas, apesar de serem mais
complexas. Para essa avaliação é necessária muita cautela, pois esbarramos nas
questões culturais quando o nome “avaliação sexual” está presente, pelo fato de
causar certo constrangimento ao avaliado.

Essa avaliação geralmente é realizada por um médico ou então pelos pais,


juntamente com criança ou adolescente. Entretanto, estudos usando autoanálise
também comprovaram que após determinada idade essa análise tem uma margem
de erro muito pequena quando realizada dentro dos procedimentos adequados
(MARTIN et al., 2001).

Este processo de análise se dá pela observação e pela comparação da pilosidade


pubiana em ambos os sexos, pelo desenvolvimento das mamas nas meninas,
da genitália e do testículo nos meninos. A análise da pilosidade pubiana é feita
pelo método proposto por Reynolds e Wines (1948) e popularizado mais tarde por
Tanner (1962). Malina (1988), baseado nos cinco estágios propostos por Tanner
(1962), classificou os indivíduos avaliados em cinco estágios.

Vejamos quais são os estágios propostos por Malina (1988):

NÍVEIS CARACTERÍSTICAS FASE

NÍVEL 1 Ausência de pelos (pré-púbere)

NÍVEL 2 Crescimento esparso de pelos longos (início do período púbere)

NÍVEL 3 Pelos mais escuros e espessos (período intermediário - início)

NÍVEL 4 Tipo adulto com menos distribuição (período intermediário - fim)

NÍVEL 5 Tipo adulto com total distribuição (período final)

Entretanto, a utilização de fotografias para autoanálise, em razão da cultura,


era bastante constrangedora para o avaliado. Diante disso, em 1980, Morris e
Uldry, após confirmarem que a avaliação por meio de fotos trazia uma situação
desagradável pelo fato de as fotos serem impactantes ao avaliado, propuseram a
mesma avaliação por meio de desenhos. Atualmente essa proposta se tornou mais
viável e menos impactante, tanto para quem avalia quanto para quem é avaliado
(entende-se quem avalia como aquele que está à frente do estudo). Abaixo
podemos visualizar uma proposta de avaliação por desenho.

Para as meninas:

Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras 157
U4

Figura 4.7 | Maturação sexual da genitália feminina

Fonte: Adaptado de Guedes e Guedes (2006)

Para os meninos:

Figura 4.8 | Maturação sexual da genitália masculina

158 Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras
U4

Fonte: Adaptado de Guedes e Guedes (2006)

Figura 4.9 | Maturação


sexual das mamas

Como pudemos verificar, essa é uma ficha que explica


ao avaliado quais são as características de cada estágio,
para que ele possa identificar suas características e
assinalar a alternativa com que ele mais se identifica.
Outra maneira bastante usada para as meninas é por
meio da avaliação do desenvolvimento das mamas.
Vejamos ao lado:

Para as moças, quando se utiliza o desenvolvimento


mamário como forma de análise da maturação sexual,
observa-se a forma, o tamanho e a aréola das mamas.
De cima para baixo os estágios são enumerados de um
a cinco.

Fonte: Guedes e Guedes


(2006)

Entretanto, é importante ressaltar que existe uma variação entre meninas para
o desenvolvimento das características citadas acima. Essa variação pode ocorrer
tanto dentro de regiões diferentes num mesmo país, ou entre países. O estudo de
Duarte (1993) nos mostra alguns dados de diferentes países, vejamos:

Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras 159
U4

Tabela 4.2 – Estágios de mamas e pelos pubianos em amostras de meninas do


Brasil e de outros países.

Fonte: Duarte (1993)

Como podemos observar, usando como exemplo o M5 (estágio cinco de


desenvolvimento de mamas), o que corresponderia ao último estágio, quando o
processo maturacional está quase acabando, percebemos que no Brasil, as meninas,
em média, atingem esse estágio aos 16 anos; porém, no Chile as meninas atingem esse
mesmo estágio por volta dos 10,6 anos; já nos EUA, as meninas atingem esse mesmo
estágio entre 14 e 15 anos. Diante disso, podemos crer que existem muitos fatores que
podem intervir no processo maturacional e por isso acontecem essas diferenças.

Para os meninos, outra opção de autoanálise acontece por meio do


desenvolvimento escrotal, que é uma dessas opções. Por meio da análise do
volume testicular também é possível fazer essa avaliação.

Para isso, o método usado é fazer a avaliação tendo como base um instrumento
conhecido como “Orquidômetro de Prader”.

Figura 4.10 – Orquidômetro de Prader

Fonte: Guedes e Guedes (2006)

160 Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras
U4

Com esse instrumento, o avaliado faz a apalpação com uma das mãos enquanto
segura o orquidômetro com a outra. O Orquidômetro de Prader é composto por
12 modelos em forma elipsoide, de madeira ou plástico, com tamanhos e volumes
variados que representam os diferentes tamanhos do escroto. O volume inicial é de
1ml (tamanho do testículo ao nascer) e o último é de 25 ml (tamanho do testículo na
idade adulta). Entretanto, pelo fato desse método ser realizado por meio de apalpação,
ele é menos utilizado. Guedes e Guedes (2006) sugerem que esse método só deve
ser usado em caso de suspeita de disfunções associadas à maturação.

Qual dos métodos apresentados você acredita que seria ideal para
avaliar a maturação biológica da população onde você mora?

Para saber mais sobre maturação sexual de crianças brasileiras, leia o


artigo do link: <http://www.scielosp.org/pdf/csp/v9s1/08.pdf>.

1. O método de estudo que tem como característica a coleta


de dados por um período de tempo bastante longo se chama:

a. Longitudinal.
b. Diagonal.
c. Transversal.
d. Paralelo.
e. Misto.

Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras 161
U4

2. Qual método de avaliação da maturação biológica é mais


adequado para o uso dos professores de Educação Física, em
razão da sua facilidade de análise e interpretação?

a. Peça análise da idade cronológica.


b. Peça análise da idade dental.
c. Peça análise da idade sexual.
d. Peça análise da idade morfológica.
e. Peça análise da idade óssea.

162 Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras
U4

Seção 2
Sistemas corporais
Introdução à seção
Nessa seção vamos falar um pouco sobre os sistemas corporais. Entenderemos
qual a relação entre eles e como acontece o processo de crescimento e de
desenvolvimento desses sistemas.

Também veremos alguns fatores que podem influenciar de forma positiva ou


negativa o processo de desenvolvimento dos sistemas, assim como o ritmo de cada um.

Sistemas corporais
Os diferentes sistemas corporais desenvolvem-se em períodos distintos num
mesmo indivíduo. Alguns desses sistemas se desenvolvem mais rapidamente, enquanto
outros levam um tempo maior para estarem totalmente finalizados. Isso ocorre porque
esses sistemas têm influências multifatoriais. Em relação aos sexos, alguns sistemas
desenvolvem-se mais rapidamente nos meninos, enquanto outros mais rapidamente
nas meninas. Vejamos como cada um dos principais sistemas se desenvolvem.

Figura 2.7 | Recursos da atividade interpretativa

Fonte: Malina e Bouchard (2002)

Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras 163
U4

Como podemos verificar na figura acima, os sistemas corporais não apresentam


um desenvolvimento sincrônico (ao mesmo tempo), entretanto, é importante saber
que, mesmo que eles não sejam simultâneos, eles têm uma forte ligação.

Vamos ver como os principais sistemas do nosso corpo se desenvolvem.

1) SISTEMA ÓSSEO: O sistema ósseo é formado pela mesoderme, como já foi


visto anteriormente pelo processo chamado de diferenciação (processo pelo qual
as células alteram seu formado formando órgãos e tecidos específicos). Os ossos
formam, juntamente com as articulações, cartilagens e ligamentos, o suporte
corporal (sustentação). Eles também são responsáveis pela fixação muscular e
pela proteção de alguns órgãos, como é o caso das costelas e da caixa craniana.
Também são importantes depósitos de cálcio e de fósforo.

O sistema ósseo passa por muitas alterações no decorrer da vida, e essas


mudanças são determinadas por fatores genéticos e também ambientais.

No início do desenvolvimento fetal, o sistema ósseo ainda não é como o de um


adulto. O modelo existente nesse período é formado por cartilagens e é a partir daí
que se inicia o processo de ossificação. Alguns ossos chatos, como é o caso do
crânio e da escápula, são formados a partir de membranas fibrosas, entretanto, a
maioria se desenvolve a partir das cartilagens hialinas.

Com dois meses de idade fetal, os centros de ossificação primários surgem na


parte medial dos ossos longos e começam a formar as células ósseas.

O segundo centro de desenvolvimento ósseo acontece após o nascimento,


no período chamado de pós-natal. Esses centros de ossificação secundários
localizam-se no final da diáfise, em um local denominado de placa epifisária.

Na fase final do processo de ossificação, a diáfise se funde com a epífise,


evento esse que é apontado pela maioria dos estudos ocorrendo entre 14 e 18
anos. Todavia, existem estudos que comprovam que alguns indivíduos mantêm
seu crescimento estatural além da segunda década de vida, até por volta dos 22
anos (WILMORE; COSTIL, 2001). O problema é que os estudos relacionados ao
crescimento físico, na maioria das vezes, são interrompidos após os 17 ou 18 anos,
em razão da população estudada adentrar o ensino superior, o que dificulta o
acompanhamento dos índices de crescimento estatural além desta faixa etária.

O aumento da circunferência do osso é chamado de crescimento ósseo


oposicional e acontece quando o periósteo (camada externa do osso) recebe
camadas e, tal como uma árvore, adiciona circunferência sob sua casca.

O processo de desenvolvimento ósseo ocorre por meio de dois tipos de formação:

1. Formação intramembranosa: desenvolve-se a partir do mesênquima (células

164 Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras
U4

embrionárias). O osso intramembranoso inclui a maior parte dos ossos chatos


(crânio, escápula, etc.).

2. Formação endocondral: desenvolve-se a partir das cartilagens. Inclui todos


os ossos do esqueleto após o craniano e alguns ossos cranianos, como é o caso
da mandíbula.

Nos primeiros dois anos após o nascimento, o crescimento é muito rápido e


é quando a criança chega a atingir 50% da sua estatura final, caso ela não tenha
tido nenhuma doença ou privação que possa atrapalhar esse processo. Após esse
período ocorre uma diminuição da velocidade do crescimento, e esse aumento só
volta a acontecer novamente próximo à puberdade.

Malina e Bouchard (2002) nos mostram a idade mediana em que ocorrem o


início e o término dos processos de ossificação dos diferentes ossos do corpo.

Tabela 4.3 – Idades medianas (em meses) para o início (I) e o término (T) da ossificação dos
centros secundários nos principais ossos longos de crianças de Denver

Fonte: Malina e Bouchard (2002)

 No recém-nascido: o sistema esquelético é responsável por 15%


da massa corporal.
 Ao nascermos, no interior dos nossos ossos produzimos as células do
sangue (hemácias, leucócitos e plaquetas), através da medula vermelha.
 Com a passagem dos anos (geralmente após os 25 anos), a maior

Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras 165
U4

parte da medula vai perdendo sua função, sendo substituída por tecido
gorduroso, que passa a ser chamada de medula amarela.
 Na infância a formação óssea é maior que a reabsorção, e a remodelação
óssea é intensa. Destacam-se dois períodos de aceleração do crescimento:
• Nos dois primeiros anos de vida
• Na adolescência (entre 11 e 14 anos nas meninas e entre 13 e 17 anos
nos meninos).
 80% da estatura final depende da influência genética (raça, sexo,
hormônios), entretanto os fatores externos (doenças, alimentação,
atividade física) determinam se isso vai ocorrer ou não.

O hormônio da paratireoide (PTH) e a vitamina D estão entre os principais


reguladores da homeostase do cálcio no organismo, pela sua função no processo
de absorção desses minerais. Por isso, sempre dizemos que o desenvolvimento
dos sistemas corporais tem uma condição multifatorial que inclui a genética, a
alimentação, doenças, exercícios físicos, comportamentos de risco e outros.

Sendo assim, a ingestão de cálcio diariamente é de suma importância para esse


sistema. Existem algumas diretrizes nutricionais que indicam o que seria ideal em
algumas faixas de idade. Vejamos:

Tabela 4.4 | Quantidades diárias de cálcio recomendadas por faixa etária

Fonte: Campos et al. (2003)

A ingestão da alimentação rica em cálcio é de extrema importância no processo


de construção das células ósseas. Campos et al. (2003) mostram uma tabela em que
podemos verificar a quantidade de cálcio em alguns alimentos. Vejamos na tabela a seguir.

De que forma podemos auxiliar a população infantil e


adolescente sobre a importância da alimentação adequada
no processo de crescimento e de desenvolvimento humano?

166 Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras
U4

Tabela 4.5 | Fontes alimentares ricas em cálcio

Fonte: Campos et al. (2003)

Como podemos observar, a ingestão adequada para uma criança de um a dez


anos que se encontra na fase escolar pode ser facilmente suprida com um iogurte
com frutas e dois copos de leite diários. Entretanto, nem todos têm acesso a alguns
tipos de alimentos com teor de cálcio adequado, o que pode acabar prejudicando
a ingestão necessária de cálcio para um bom desenvolvimento do sistema ósseo.
Entretanto, levar conhecimento à população acerca dos fatores importantes para
um bom crescimento e desenvolvimento ósseo é fundamental.

 Existem algumas doenças de etiologia idiopática (que não sabemos a


causa) que podem acometer crianças em determinadas idades. Algumas
delas têm cura, outras somente controle, e algumas, infelizmente, não
têm cura. Para conhecê-las melhor procure ler sobre:
• Osteogênese imperfecta;
• Osteoporose juvenil idiopática;
• Acromegalia.

2) SISTEMA ENDÓCRINO: O sistema endócrino é responsável por controlar


as funções biológicas do organismo e para isso faz uso de substâncias químicas
denominadas hormônios. Este sistema é formado pelas “glândulas de secreção
interna”. Essas glândulas não têm um ducto excretor, mas são capilarizadas por
vasos sanguíneos, que recolhem as substâncias de alta importância para as funções
biológicas do organismo.

De acordo com Malina e Bouchard (2002), geralmente os hormônios agem

Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras 167
U4

em regiões distantes da sua origem. Para que exista algum tipo de reação aos
hormônios existe a necessidade de que determinados tecidos sejam dotados de
receptores relacionados a esses hormônios, caso contrário não haverá reação. Para
entendermos melhor, é como se o hormônio fosse uma chave e os receptores uma
fechadura. Só somos capazes de abrir determinada fechadura com a chave certa.
Assim também funcionam os hormônios. Para que exista uma reação, somente o
hormônio certo no receptor certo poderá liberar a reação.

A interação entre o crescimento, o desenvolvimento e a maturação depende


muito do sistema endócrino, pois é esse sistema que realiza a regulação e o controle
dos processos, ditando tempo, hora e de forma como isso acontecerá. Por isso, é
tão importante entendermos a influência dos hormônios nesse processo.

Os hormônios são substâncias químicas que são produzidas por células


específicas. Essas substâncias são lançadas na circulação e servem para produzir
efeitos distintos (indução ou inibição).

Os hormônios têm basicamente três funções que são muito importantes para
o organismo (MALINA; BOUCHARD, 2002):

 Morfogênese: regulam o crescimento, a maturação, a maturação das


gônadas e das características sexuais secundárias.

 Integração: fazem a integração das atividades corporais em resposta aos


estímulos externos e ao estresse.

 Manutenção: agem sobre a manutenção ao ambiente interno, como o


equilíbrio dos nutrientes e outras funções.

Esse sistema é controlado por meio de um mecanismo de regulação que


identifica quando existe uma quantidade superior ao normal de determinado
hormônio. Quando isso acontece, o organismo envia um feedback negativo para o
centro que controla os hormônios de liberação (hipotálamo), indicando assim que
o organismo deve diminuir a produção. Quando existe uma baixa concentração de
determinado hormônio no organismo, ocorre o feedback positivo, que indica que
a glândula responsável por esse hormônio deve aumentar sua produção.

O sistema endócrino interage juntamente com o sistema nervoso, que


cata as informações externas para que o sistema endócrino regule as
respostas internas a essas informações.

168 Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras
U4

PRINCIPAIS PRODUTORES DE HORMÔNIOS


 HIPÓFISE
 TIREOIDE
 PARATIREOIDE
 PÂNCREAS
 ADRENAIS
 GÔNADAS

a) Hipófise: também conhecida como glândula pituitária, é chamada de glândula


“máster”, pela sua importância fundamental para o crescimento e para a maturação
corporal. Localiza-se na base do cérebro e tem essa relação de importância para
o crescimento e desenvolvimento humano em razão dos hormônios que secreta.
 Somatrotopina (hormônio do crescimento – GH);

 Corticotropina (hormônio adrenocorticotrópico);

 Tirotropina (hormônio que estimula a tireoide);

 Hormônio folículo estimulante;

 Hormônio luteinizante;

 Hormônio luteotrópico.

Cada um desses hormônios tem uma função específica. Tirando a somatrotopina,


os demais hormônios servem para estimular glândulas e manter outras glândulas
em atividade.

O sistema endócrino interage juntamente com o sistema nervoso, que


capta as informações externas para que o sistema endócrino regule as
respostas internas a estas informações.

A somatotropina ou somatotrofina tem muitas funções, como diminuir a taxa de


captação dos carboidratos e aumentar a utilização das gorduras como fonte energética.
Outra função é a estimulação das somatomedinas (IGF, que são substâncias produzidas
pelo corpo, especialmente pelo fígado), que estimulam a síntese das proteínas e a
multiplicação celular. A análise da quantidade de GH pode ser medida pela quantidade

Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras 169
U4

de somatomedina – C no organismo, pois existe uma forte relação entre a quantidade


dessa substância e o hormônio de crescimento. A função da somatomedina – C é
estimular a proliferação de células cartilaginosas nas placas de crescimento.

O hormônio do crescimento está presente no feto, mas não parece ser essencialmente
o mais importante para o crescimento pré-natal; contudo, ele aumenta gradativamente
após o nascimento e passa a ser um dos mais importantes nesse período.

Nas crianças essas descargas ocorrem mais frequentemente durante o dia,


enquanto nos adultos predominantemente no período noturno, durante as fases
três e quatro do sono profundo.

Para saber mais sobre as ações dos hormônios do crescimento no


processo de crescimento e desenvolvimento humano, leia o artigo do
link <http://www.scielo.br/pdf/abem/v47n4/a03v47n4.pdf>.

A queda fisiológica na secreção de GH se inicia ao redor dos 40 anos e evolui gradual


e progressivamente com a idade. Esse evento é conhecido como “somatopausa”.

A maior quantidade de secreção de GH acontece entre as idades de 12 a 16


anos, conforme o gráfico:

Gráfico 4.2 | Média de GH no sangue e sua relação com a idade cronológica

Fonte: Malina e Bouchard (2002)

De acordo com Phillip e Lazar (2003), as meninas na adolescência apresentam,


em média, aumento na quantidade de GH produzido na fase de desenvolvimento
mamário dois (M2) dos critérios estabelecidos por Tanner. Em relação aos meninos,

170 Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras
U4

o período de maior secreção parece ser quando eles se encontram nos estágios
três e quatro de desenvolvimento dos genitais (G3 e G4).

b) Tireoide: também conhecida como a “glândula metabólica do corpo”, em


razão das suas funções, a tireoide se localiza à frente e dos dois lados da traqueia,
logo abaixo da laringe.

A tireoide tem uma importante função de manter o controle sobre o metabolismo,


e dois hormônios têm essa importante função: tiroxina (T4), triiodotironina (T3).

Os hormônios da tireoide estimulam o consumo de oxigênio das células corporais


e ajudam a regular o metabolismo de carboidratos e de gorduras. Problemas com
esses hormônios podem causar sérios problemas de desequilíbrio nos sistemas
corporais, gerando problemas em relação à diminuição ou aumento excessivo
do metabolismo, cansaço, agitação, diminuição ou aumento da temperatura
corporal, tendência a desenvolver obesidade ou a dificuldade a ganhar peso. Esses
problemas são conhecidos como hipo ou hipertireoidismo.

Outro importante hormônio secretado pela tireoide é a calcitonina, que tem


como função ajudar na regulação do metabolismo de cálcio nos ossos e na
corrente sanguínea.

c) Paratireoide: Importante para o processo ósseo. São pequenas glândulas


que se localizam na região posterior da tireoide. Estimulam a remoção de cálcio
da matriz óssea, estimulam o intestino na absorção de cálcio dos alimentos e a
reabsorção de cálcio pelos tubos renais, aumentando assim a concentração de
cálcio no sangue. O hormônio produzido pela paratireoide responsável por esse
sistema é o paratormônio.

Juntamente com a calcitonina, o paratormônio controla a entrada e saída do


cálcio na matriz óssea, sendo de grande importância para o crescimento e para o
desenvolvimento do sistema ósseo.

d) Pâncreas: para o processo de crescimento e de desenvolvimento, tem


basicamente uma função de controlar os metabolismos de carboidratos, regulando
por meio da secreção dos hormônios “insulina” e “glucagon”.

A insulina melhora a taxa de açúcar no sangue transportando para dentro


do fígado e para os músculos o excesso de glicose (glicogênese), e estimula o
transporte dos aminoácidos para as células. O excesso é transformado em ácido
graxo que depois é transformado em triglicerídeos e, mais tarde, armazenado
como tecido adiposo.

O glucagon tem efeito contrário, pois tem como função aumentar o nível de glicose
no sangue, importante para a atividade muscular e manutenção vital do sistema.

Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras 171
U4

e) Adrenais: essas glândulas estão localizadas logo acima dos rins. Liberam
importantes hormônios, como a adrenalina e a noradrenalina. Esses hormônios
são importantes para o controle corporal (coração, veias, oxigênio e atividades do
metabolismo), em situações de estresse.

Também secretam o cortisol. Esse hormônio atua produzindo glicose por


meio de proteína e gordura. O cortisol aumenta a glicose disponível para que ela
possa ser usada como fonte de energia no caso de uma situação de estresse.
Outros hormônios também produzidos pelas adrenais têm como função regular o
equilíbrio hídrico e de sais no nosso organismo.

O excesso da produção de hormônios esteroides, pelas adrenais, pode acarretar


em interrupção do crescimento, pelo fato de interferir na proliferação das células
cartilaginosas, cessando o desenvolvimento ósseo em razão do fechamento das
epífises de crescimento.

f) Gônadas: as gônadas são as glândulas que comandam todo o processo


reprodutor, testículos e ovário. Geralmente, os hormônios produzidos por essas
glândulas têm uma função de “construção”, também conhecida como “anabolismo”
(WILMORE; COSTILL, 2001).

Os principais hormônios secretados pelas gônadas e que estão diretamente


ligados ao crescimento e ao desenvolvimento humano são a testosterona, que tem
como função controlar o desenvolvimento das características sexuais secundárias,
o processo de maturação do sistema ósseo e estimular o desenvolvimento
muscular, dentre outras funções.

Para as mulheres, os principais hormônios secretados pelos ovários são: a


progesterona e o estrogênio. Tais hormônios têm funções distintas. O estrogênio
responde pelo desenvolvimento das características sexuais secundárias femininas,
estimula a fase proliferativa do ciclo menstrual e algumas alterações que
acontecem durante a gestação. A progesterona promove a fase secrecional do
período menstrual, estimula as mamas no período de lactação e prepara o útero
no período gestacional.

Diante disso, podemos perceber que em relação ao crescimento e ao


desenvolvimento corporal, assim como todo o processo maturacional, o sistema
endócrino é que define e determina o tempo, a hora e a maneira como isso deve
acontecer. Sem o correto funcionamento do sistema, que controla todos os
hormônios e suas funções, provavelmente algum fator irá impedir que o processo
aconteça de forma harmônica e adequada.

2) SISTEMA MUSCULAR: a musculatura é o tecido que ocupa a maior massa no


corpo humano. Ela é dividida em três tipos: a esquelética ou estriada, a involuntária
(lisa) e a cardíaca.

172 Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras
U4

O músculo esquelético é composto por células musculares chamadas de fibras


musculares, que são mantidas juntas por uma bainha membranosa de tecido
conjuntivo, chamada fáscia.

O músculo é dividido em três partes:

 EPIMÍSIO: Bainha que envolve o músculo todo.


 PERIMÍSIO: Separam as fibras em feixes chamados fascículos.
 ENDOMÍSIO: Envolvem a membrana celular de cada fibra muscular.

EPIMÍSIO

PERIMÍSIO

ENDOMÍSIO

Fonte: O autor (2014)

As fibras musculares são divididas em dois tipos:

• Contração Lenta: adequadas a atividades de resistência.

• Contração Rápida: adequadas a atividade intensa de curta duração.

As fibras de contração rápida ainda se dividem em dois tipos: IIa e IIb. Os


músculos são ligados ao osso pelo tendão e seu crescimento longitudinal
acompanha o crescimento ósseo.

O desenvolvimento do tecido muscular ocorre da seguinte forma:

• Período fetal:

a) Aumento do número de fibras (hiperplasia).

b) Fibras musculares pequenas, em menor número e bem separadas umas das


outras.

c) No final da gestação aumenta o número, mas não o tamanho.

Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras 173
U4

• Pós-nascimento:

a) Aumenta o comprimento e a largura das fibras (hipertrofia) em razão da


necessidade de movimento, ou seja, pela relação da função muscular e a
sobrecarga de trabalho.

b) Nos adultos: as fibras musculares se tornam mais largas e com pequeno


espaço entre elas.

c) O aumento é mais pronunciado na espessura das fibras entre os 14 e 25


anos, provavelmente em razão do aumento dos hormônios sexuais.

No quadro abaixo podemos verificar como ocorre o processo de crescimento


e de desenvolvimento muscular.

Observando a figura, podemos constatar que em todos os períodos de


crescimento e de desenvolvimento (pré-natal, primeira infância, infância e
adolescência) existe hiperplasia e hipertrofia. Porém, temos que aceitar que, de
acordo com alguns estudos, o evento da hiperplasia após o segundo ano de
nascimento é contestado por alguns pesquisadores, que alegam que logo após o
nascimento ou ao final do primeiro ano de vida, isso não acontece mais.

Entretanto, é importante verificar que, de acordo com o gráfico abaixo, Malina e


Bouchard (2002) alegam que com o decorrer do tempo acontece uma diminuição
gradativa da hiperplasia e um aumento da hipertrofia, sendo o maior período de
aumento do tamanho das células na fase maturacional.

Gráfico 4.3 | Relação da hiperplasia e hipertrofia celular e fases do


desenvolvimento humano

Fonte: Malina e Bouchard (2002)

174 Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras
U4

Antes de 30 semanas de gestação, as fibras musculares ainda não se definiram quanto


ao tipo, porém, logo após o nascimento, a quantidade de fibras do tipo I já parece estar
determinada (MALINA; BOUCHARD, 2002; HAYWOOD; GETCHELL, 2004).

Malina e Bouchard (2002) afirmam ainda que até por volta dos oito anos de
idade existe pouquíssima diferença entre as porcentagens de fibras musculares
entre os sexos; entretanto, essa diferença aumenta gradativamente entre os sexos
até o final do período de crescimento, conforme o gráfico abaixo, período em que
as diferenças se acentuam.

O sistema endócrino interage juntamente com o sistema nervoso, que


capta as informações externas para que o sistema endócrino regule as
respostas internas a estas informações.

Gráfico 4.4 | Relação de evolução da massa muscular (MM) com a idade


cronológica

Fonte: Malina e Bouchard (2002)

2) SISTEMA ADIPOSO: apesar de não ser considerado um sistema como


os demais (sistema ósseo, sistema muscular, sistema cardiovascular, sistema
endócrino, etc.), vamos tratar o tecido adiposo como um sistema, para que
possamos entendê-lo didaticamente de forma mais fácil.

O tecido adiposo é um tipo especial de tecido conjuntivo que se caracteriza pela


presença de células especializadas em armazenar lipídios, conhecidas como adipócitos.

Existem dois tipos de tecido adiposo:

Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras 175
U4

• Tecido adiposo branco (ou amarelo)

• Tecido adiposo marrom (ou pardo)

Atualmente, já se sabe que os adipócitos exercem outro papel além da simples


função de armazenar lipídios. Foi descoberto que o tecido adiposo branco, por
exemplo, tem também funções relacionadas ao controle metabólico, fisiológico e
endócrino dos órgãos. Este tecido secreta algumas proteínas (adipocinas), e essas
proteínas têm atuação em diversas patologias, como a resistência à insulina e outras
complicações cardiovasculares, respiratórias e doenças inflamatórias autoimunes.

• Tecido Adiposo Branco

O tecido adiposo branco é composto por adipócitos que geralmente contêm uma
única, grande gotícula de lipídios. É encontrado de forma mais distribuída pelo corpo.

Constitui a principal reserva de energia, funciona como isolante térmico,


evitando a perda de calor e como "amortecedor" acolchoando algumas partes do
corpo. Suas células são grandes, as mitocôndrias são pequenas e desempenham
papel fundamental no fornecimento de energia para a manutenção do elevado
índice de atividade metabólica.

• Tecido Adiposo Marrom

O tecido adiposo marrom é composto por adipócitos que contêm diversas


gotículas de lipídios distribuídas pelo interior da célula. Esse tipo de gordura é mais
encontrado em recém-nascidos, tendo sua localização predominantemente na
região das costas e do pescoço, se prolongando até o peito. Nos adultos é pouco
encontrada, mas pode ser vista principalmente ao redor dos rins.

A figura 4.11 abaixo, mostra a diferença entre os dois tipos de gordura.

Fonte: Malina e Bouchard (2002)

176 Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras
U4

Ainda nos primeiros meses de gestação, a gordura corporal já se faz presente.


Por volta da 14a semana de gestação. Entretanto, é após a 23a semana de gestação
que a multiplicação celular do tecido adiposo torna-se mais frequente. O tecido
adiposo torna-se vital na transição do período pré-natal para o período pós-natal,
pois a gordura corporal auxilia o bebê no controle da temperatura e serve também
como fonte de energia.

Existem períodos críticos de acúmulo de gordura. São eles:

• Do nascimento aos dois anos (aproximadamente).

• No período púbere (entre dez e 16 anos).

A hiperplasia pode ocorrer de forma mais intensa nos primeiros anos de vida,
principalmente pelo excesso de alimentos que o bebê recebe.

A massa gorda absoluta aumenta gradativamente nos meninos desde a infância


até a adolescência. Entretanto, nas meninas, a massa gorda parece aumentar em
um ritmo mais veloz após os oito anos de idade e ao longo da adolescência. No
final da adolescência a massa gorda das meninas atinge o dobro da massa gorda
dos meninos. Ou seja, a massa gorda constitui-se um maior percentual de peso
corporal nas meninas do que nos meninos.

Na idade adulta, a gordura corporal recebe uma classificação quanto ao seu


local de acúmulo. Vejamos abaixo as duas maneiras de classificá-la:

GINOIDE (gordura corporal periférica): tem uma forte relação com estrogênio,
acumula-se na parte inferior do corpo (região da pélvis e coxa superior).

ANDROIDE (gordura corporal central): tem forte relação com a testosterona,


acumula-se nas regiões do abdome, tronco, cintura escapular e pescoço.

• Na infância a gordura interna (nas vísceras) aumenta mais rápido do


que a gordura localizada sob a pele.
• A gordura subcutânea aumenta para meninos e meninas até por volta
dos 12 ou 13 anos, após esse período as meninas continuam a aumentar,
enquanto os meninos têm uma tendência maior em perdê-la.
• Em geral as meninas tendem a acumular mais gordura nas pernas e
nos braços.
• Pessoas com predominância do tipo de gordura corporal androide
podem encontrar-se sob maior risco de doenças cardiovasculares,
quando comparadas com pessoas que apresentam uma gordura do
tipo ginoide.

Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras 177
U4

• A prevenção do excesso do componente de gordura resulta em maior


sucesso do que o seu tratamento, particularmente nos períodos
críticos de amento no número de células adiposas.
• Dos seis aos 12 anos de idade, os maiores depósitos de gordura
ocorrem fundamentalmente em razão do tamanho no número de
células adiposas, com pouca contribuição de sua proliferação em
termos de números dos adipócitos.

Em geral, de acordo com Gallahue e Ozmun (2003), os responsáveis pela


diminuição da gordura corporal nos meninos e a manutenção dessa mesma
gordura nas meninas são os hormônios, pois meninos e meninas têm quantidades
e tipos de hormônios com diferentes funções, sendo secretados principalmente
no período maturacional. Os hormônios femininos acabam por manter a
quantidade de gordura corporal, enquanto os meninos secretam hormônios
que predominantemente aumentam a massa muscular e acabam por diminuir a
quantidade de gordura corporal.

1. Pudemos observar, no gráfico da relação da hiperplasia e


hipertrofia celular e as fases do desenvolvimento humano, que
essas alterações celulares:
a. Não têm relação nenhuma com os hormônios.
b. Têm uma grande influência dos hormônios.
c. São iguais em todas as fases.
d. São iguais entre os sexos.
e. Acontecem simultaneamente entre todos os sistemas corporais.

2. Podemos dizer que quanto à localização da gordura


corporal, o pior tipo de gordura existente é:
a. Ginoide.
b. Branca.
c. Marrom.
d. Androide.
e. Amarela.

178 Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras
U4

Seção 3
Capacidades motoras
A infância e a adolescência são consideradas períodos críticos quanto às
solicitações motoras, tendo em vista a evidente influência que as capacidades
motoras podem exercer de forma positiva ou negativa sobre o processo fisiológico
do crescimento e do desenvolvimento do ser humano. Tais influências são
importantes pelo fato de poderem estabelecer um comportamento ativo ou não
para toda a vida.

Nesse sentido, identificar as capacidades motoras, conhecendo suas funções


no complexo processo de crescimento e desenvolvimento humano, torna-se
fundamental a um bom profissional. Outro aspecto pertinente é de que forma
se manifestam as capacidades e como elas evoluem nos indivíduos, além de
compreender que essa evolução é variável e dependente de múltiplos fatores.

As capacidades motoras também são conhecidas como capacidades físicas,


entretanto, o termo capacidades motoras é mais frequentemente utilizado.

Para Manno (1994), as capacidades motoras ou capacidades físicas são as


condições endógenas(a) que permitem a realização das diversas ações motoras.

a) Endógena: formada dentro do corpo.

Schmidt e Wrisberg, citados por Bragada (2002), definem capacidades motoras


como sendo traços duradouros, herdados e relativamente estáveis, que suportam
o rendimento individual em diversas habilidades motoras.

Os autores manifestam então que as capacidades motoras têm como


determinantes características genéticas, quando afirmam que são “herdadas”,
contudo, devemos aceitar que mesmo tendo uma forte influência genética, elas
dependem de fatores como a prática e/ou treinamento. Isso é confirmado quando
os autores colocam que tais capacidades são “relativamente estáveis”, ou seja,
dependem de prática ou treinamento para que se mantenham estáveis.

Outro ponto importante a observar é que os autores declaram que as


capacidades “suportam o rendimento individual em diversas habilidades
motoras”. Tal afirmação indica que as capacidades não são somente importantes
dentro do contexto esportivo, mas também nas atividades de vida diária AVDs.

Temos que entender que quando nos referimos às capacidades motoras, é

Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras 179
U4

porque elas são importantes na formação das ações.

Autores como Bragada (2002) e Guedes (2007) ressaltam que existe uma divisão
quando de capacidades motoras, baseados no pressuposto de que sua divisão se
dá em razão de princípios fisiológicos. Diante disso, vejamos como se dividem as
capacidades motoras e por que elas se dividem dessa forma.

As capacidades motoras são divididas em dois grandes grupos:

 Capacidades condicionais
 Capacidades coordenativas

Para Manno (1985), as capacidades condicionais são constituídas pelo conjunto


de capacidades que têm como fator limitante a disponibilidade de energia, e
consecutivamente as condições orgânicas musculares do indivíduo.

Sendo as capacidades condicionais a força (estática, explosiva – potência - e


dinâmica), a resistência, velocidade e flexibilidade.

O segundo grupo (capacidades coordenativas) ficaria responsável pela


organização e controle na realização dos movimentos, predominantemente
determinadas pelo funcionamento com base no SNC, decisivas no controle,
precisão, direção e alteração do movimento, segundo Bragada (2002). Sendo
capacidades coordenativas a coordenação geral (ou global), orientação espacial,
equilíbrio (estático, dinâmico e recuperado), tempo de reação, ritmo e agilidade.

Devemos nos atentar para o fato de que todos os componentes que fazem
parte das capacidades motoras também são considerados componentes da
aptidão física, sejam eles voltados ao desporto de alto rendimento ou à saúde e
qualidade de vida.

a) FLEXIBILIDADE

A flexibilidade pode ser definida, de acordo com Manno (1994), como sendo
a capacidade de realização de movimentos articulares os mais amplos possíveis,
tanto de forma ativa como passiva. Outra definição de Araújo (1983) diz que a
flexibilidade é a qualidade motriz que depende da elasticidade muscular e da
mobilidade articular, expressa pela máxima amplitude de movimentos necessária
para a perfeita execução de qualquer atividade física, sem que ocorram lesões.

Podemos observar que ambos os autores utilizam nas suas definições os


termos mobilidade articular e amplitude dos movimentos. Esses dois fatores são
determinantes quando se fala em flexibilidade, pois indicam uma ação muscular e

180 Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras
U4

articular muito acima do normal, entretanto sem lesões.

A flexibilidade é considerada uma importante capacidade motora, pelo fato de


que ela faz parte tanto dos componentes da aptidão física voltados para a saúde
como para o esporte.

Existem alguns componentes que determinam a capacidade de desenvolvermos


uma boa flexibilidade. São eles:

• Cápsula articular

• Músculo

• Tendões

• Pele

Alguns autores mostram evidências científicas de que a diminuição da


flexibilidade inicia-se já no começo da vida escolar, tanto para os meninos quanto
para as meninas. Essa diminuição acompanha todo o período pré-adolescência e
volta a aumentar gradativamente no período da adolescência. Após esse período
acontece um decréscimo que acompanha o indivíduo para toda a vida. Entretanto,
se houver um trabalho de exercícios de alongamento, essa diminuição pode
demorar a acontecer.

Existem diversos fatores que podem influenciar a aquisição da flexibilidade,


dentre eles podemos destacar:

• Fator genético;

• Sexo;

• Idade;

• Treinamento (atividade especializada);

• Articulação avaliada;

• Gordura corporal;

• Temperatura ambiente.

b) FORÇA

A força pode ser definida como a capacidade de exercer tensão contra uma
resistência, que ocorre por meio de diferentes ações musculares (BARBANTI,
2003). Algumas pessoas acreditam que a força muscular só tem importância

Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras 181
U4

dentro de um contexto esportivo ou de atividades físicas, entretanto devemos


lembrar que muitas das tarefas realizadas no nosso dia a dia necessitam de força
muscular. Lavar o carro, a louça, varrer a casa, abrir um pote de conserva, tudo isso
nos remete à dependência que temos da força muscular.

Existem ainda outros fatores que indicam a importância da força:

• Estabilidade postural

• Aumento da TMB (taxa metabólica basal)

• Melhora da PA em exercícios

• Manutenção da capacidade funcional

São três os tipos de força:

• Isométrica: Sem movimento

• Isotônica: Resistência constante, velocidade variada

• Isocinética: Resistência constante, velocidade constante

O ganho de força é linear, ou seja, acontece natural e proporcionalmente à


medida que os indivíduos vão crescendo e se desenvolvendo. Nesse sentido,
percebe-se que o ganho de força, muitas vezes, nas idades iniciais, não necessita
de treinamento específico, exceto em casos especiais associados a doenças ou
problemas musculares.

No período que antecede a adolescência, os meninos levam uma pequena


vantagem sobre as meninas, independente do tipo de força (máxima, explosiva e de
resistência). Isso pode ocorrer por diversos fatores, dentre eles podemos destacar
a motivação que os meninos têm nesta faixa etária para atividades mais intensas e
competitivas, ou ainda, por serem mais estimulados do que as meninas (cultura).

Existem diversas maneiras de se trabalhar a força muscular em crianças. Alguns


estudos demonstram que o trabalho com pesos, se bem orientado, pode auxiliar
no incremento da força em até 30%.

Nos indivíduos adultos, o que se observa em relação à força é que o ganho


após a maturação só ocorre em razão de treinamento. O declínio inicia-se por
volta da terceira década de vida e se acentua significativamente após os 50 anos,
sendo esta perda por volta de 10% a 15% por década (SILVA; FARINNATI, 2007).

Os mesmos autores ressaltam que a força em indivíduos adultos pode melhorar,


desde que participem de programas que contemplem essa capacidade.

182 Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras
U4

Diante disso, o ACSM, órgão que estuda e direciona as condutas de atividade


física nos EUA, aponta que o ideal para se obter um ganho de força em sujeitos
adultos seria a prática de exercícios com peso de dois a três dias por semana,
com uma sequência de oito a dez exercícios, com séries de dez a 12 repetições
(AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE, 2002).

c) RESISTÊNCIA CARDIORRESPIRATÓRIA

Cooper (1970) chamou a resistência cardiorrespiratória de “Capacidade Aeróbica”


e deu a seguinte definição: “Capacidade Aeróbica refere-se a uma variedade de
exercícios que estimulam a atividade do coração, dos pulmões durante um período
suficientemente longo para produzir mudanças benéficas para o corpo”.

Fernandes Filho (1999) define capacidade cardiorrespiratória como a condição


de realizar atividades físicas, de forma dinâmica, com o envolvimento de grandes
músculos e com alta intensidade, por um período de tempo longo.

Para Heyward (2004), é a capacidade de realizar exercícios dinâmicos


envolvendo grandes grupos musculares em intensidades moderada a alta, por
períodos prolongados.

Pitanga (2004) define a aptidão cardiorrespiratória como a capacidade do


nosso sistema orgânico de adaptar-se às atividades físicas moderadas, com o
envolvimento de grandes músculos, por um longo período de tempo.

Podemos observar que todos os autores enfatizam que a capacidade


cardiorrespiratória é a capacidade de realizar esforço físico por um período de
tempo longo, o que nos permite deduzir que, para que isso aconteça, a intensidade
da atividade deve ser de baixa a moderada.

Para outros autores, a capacidade cardiorrespiratória é um dos principais


componentes da aptidão física e sua importância está relacionada tanto para o
esporte quanto para a saúde.

Stabelini Neto et al. (2008) sugerem que altos níveis de aptidão cardiorrespiratória
durante a infância e adolescência estão relacionados à menor predisposição aos
fatores de risco cardiovasculares.

A resistência aeróbia evolui à medida que se avança em idade, sempre com os


meninos levando vantagem sobre as meninas, principalmente após a maturação.

Na idade adulta, os homens continuam a levar vantagem sobre as mulheres,


que apresentam 75% da capacidade cardiorrespiratória dos homens.

Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras 183
U4

d) COORDENAÇÃO MOTORA

Para Khiphard (1976), coordenação é a interação harmoniosa e econômica


do sistema músculo-esquelético, do sistema nervoso e do sistema sensorial,
com o fim de produzir ações motoras precisas e equilibradas; e reações rápidas
adequadas à situação. Para Gallahue e Ozmun (2003), a coordenação motora pode
ser considerada como uma habilidade de integrar, em padrões de movimento,
sistemas motores separados com modalidades sensoriais variadas.

Podemos observar que os autores concordam quando falam que existe


uma integração entre os diversos sistemas com o fim de realizar movimentos
simultâneos.

A coordenação motora está muito presente no nosso dia a dia, nas diversas
tarefas que realizamos. Ao dirigir, ao realizarmos exercícios físicos, nas nossas
atividades domésticas, assim como no nosso lazer.

A coordenação motora nos proporciona uma diversidade de benefícios,


vejamos alguns deles:

• Precisão (objetivo) e economia dos movimentos (menor gasto energético);

• Otimização do fluxo de movimento;

• Automatização demanda menor atenção dos centros nervosos superiores


– possibilidade de atenção para outras “dicas” do ambiente relevantes para o
desempenho da tarefa motora;

• Aumento da capacidade de aprendizagem motora (quanto maior o nível das


capacidades coordenativas, mais rápido podem ser aprendidos novos e complexos
movimentos);

• Profilaxia de acidentes e lesões (quanto mais coordenado, mais rápida será a


reação a situações inesperadas e rápidas, podendo evitar quedas e colisões).

Entendemos, então, que uma coordenação eficiente pode nos proporcionar uma
série de vantagens nas nossas tarefas, beneficiando-nos na qualidade de vida diária.

Dassel e Haag (1977) afirmam que em exercícios aeróbios, onde a coordenação


adequada está presente, pode haver até 15% de economia de VO².

A eficiência do controle de movimentos só é alcançada a partir dos seis ou sete


anos, quando se completa a maturação neuropercetiva motora, e aos 12 anos a
coordenação já deve estar completa.

O melhor período para o início do trabalho desta capacidade acontece por

184 Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras
U4

volta dos sete aos dez anos. Nessa faixa etária ocorre "[...] uma rápida maturação do
sistema nervoso central, verificando-se ao mesmo tempo um aumento da função
dos analisadores óptico e acústico, bem como um melhoramento na assimilação
das informações" (STAROSTA; HITZ, 1993, p. 115).

A coordenação motora aumenta linearmente com a idade, tendo o gênero


feminino superioridade ao masculino. Aos seis anos as meninas são 16 pontos
superiores aos meninos, e aos 10 anos, 10 pontos (LOPES et al., 2003).

Parece haver também uma estagnação ou mesmo uma regressão do


desenvolvimento da coordenação motora durante a puberdade (12-15 anos)
(WEINECK, 1989).

Na idade adulta, Tittel, Dirix e Knuttgen (1988) ressaltam que as mulheres


apresentam uma melhora de 10% em relação aos homens após os 18 anos de
idade, e 6 a 7% após os 30 anos de idade. Entretanto, Weineck (1991) diz que
homens e mulheres não possuem grande diferença no que diz respeito às
habilidades coordenativas.

Quando envelhecemos, há um declínio nesta capacidade. Acredita-se que 13%


dos idosos têm dificuldade com várias tarefas que exigem coordenação óculo-
manual simples, como, por exemplo, inserir uma chave na fechadura.

1. Pudemos aprender que as capacidades motoras são divididas


em dois grandes grupos. São eles:

a. Física e motora.
b. Condicional e capacitativa.
c. Capacitativa e coordenativa.
d. Condicional e coordenativa.
e. Física e operacional.

2. Leia e responda a seguir.


São três os tipos de força:

Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras 185
U4

• Isométrica: Sem movimento.


• Isotônica: Resistência constante, velocidade variada.
• Isocinética: Resistência constante.

a. Os três exemplos estão corretos.


b. Apenas o primeiro exemplo está correto.
c. Apenas o segundo exemplo está correto.
d. Apenas o terceiro exemplo está correto.
e. Nenhum exemplo está correto.

186 Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras
U4

Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras 187
U4

Qual é a diferença básica entre capacidades motoras


coordenativas e condicionais?
Cite um dos fatores que podem causar a diferença de
acúmulo de gordura entre homens e mulheres.

1. Qual método de estudo em desenvolvimento um profissional


de Educação Física deve usar na escola caso queira acompanhar
um grupo de alunos por um período de tempo longo?
a. Parcial.
b. Diagonal.
c. Transversal.
d. Longitudinal.
e. Misto.

188 Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras
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2. Um instrumento de coleta de dados motores, para ser usado,


deve ter algumas características. Quais das características
fazem parte desses critérios?
a. Confiabilidade e Validade.
b. Validade e Suplementação.
c. Objetividade e Suplementação.
d. Objetividade e Criterização.
e. Dialogicidade e Criterização.

3. Quais dos sistemas corporais se mostram mais influentes sobre os


demais no que diz respeito ao crescimento e ao desenvolvimento?
a. Sistema muscular.
b. Sistema ósseo.
c. Sistema adiposo.
d. Sistema excretório.
e. Sistema endócrino.

4. A força muscular é muito importante na nossa rotina diária,


pois nos auxilia na realização de diversas tarefas. Muitos são os
benefícios de uma boa capacidade de força. Qual das atividades
abaixo não é um dos benefícios relacionados à força muscular?
a. Estabilidade postural.
b. Aumento da TMB (taxa metabólica basal).
c. Melhora da capacidade aeróbica.
d. Melhora da PA em exercícios.
e. Manutenção da capacidade funcional.

5. Leia e responda a seguir.


X) No período que antecede a adolescência, os meninos levam
uma pequena vantagem sobre as meninas, independente do
tipo de força (máxima, explosiva e de resistência).
Y) Um dos benefícios de uma coordenação motora dentro dos
níveis de normalidade é a precisão (objetivo) e economia dos
movimentos (menor gasto energético).
Z) A força é considerada uma capacidade motora coordenativa.
a. Apenas a alternativa X está incorreta.
b. Apenas a alternativa Y está incorreta.
c. Apenas a alternativa Z está incorreta.
d. As alternativas X, Y e Z estão corretas.
e. As alternativas X, Y e Z estão incorretas.

Métodos de Estudo em Desenvolvimento, Métodos de Avaliação da Maturação Biológica, Desenvolvimento dos Sistemas Corporais e Capacidades Motoras 189
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