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Introdução

O atraso do desenvolvimento psicomotor (ADPM) é definido


como um atraso significativo em várias domínios do
desenvolvimento como sejam a motricidade fina e/ou
grosseira, a linguagem, a cognição, as competências sociais e
pessoais e as actividades da vida diária. Qualquer destes
domínios pode estar mais ou menos comprometido e assim o
ADPM é uma entidade heterogénea, não apenas na sua
etiologia mas também no seu perfil fenotípico. A prevalência
é em grande medida desconhecida mas estimada em 1 a 3%
das crianças abaixo dos cinco anos. Define-se um atraso
significativo o que se situa dois desvios-padrão abaixo da
média das crianças da mesma idade.
A primeira fase da intervenção médica numa criança com
ADPM é o seu reconhecimento. Sem negligenciar o papel dos
pais e educadores, a responsabilidade desta identificação cabe
ao médico comunitário que acompanha a saúde da criança,
seja pediatra ou médico de família. Estabelecer o diagnóstico
de um atraso do desenvolvimento pode constituir um difícil
desafio. A muito grande variação nas aquisições entre
crianças normais pode tornar difícil a detecção de alterações
subtis mas com significado.
Conceitos de Motricidade e Psicomotricidade
Primordialmente, é possível entender a motricidade como uma
definição de expressão corporal que acontece desde a parte
orgânica até a parte psíquica, entretanto, sabe-se que essa
divisão é meramente didática, pois o indivíduo é complexo e
não pode ser dividido em emocional e físico.
Motricidade é tudo o que antecede à ação motora e que
propicia o gesto complexo como resultado da linguagem
visual, das impressões sinestésicas e articulares.
O agir e pensar vai muito além da configuração físico-
química, e se estrutura como base na evolução filogenética
(evolução das espécies) e na evolução ontogenética (evolução
ou construção do indivíduo). Deve-se ter uma compreensão da
motricidade como aspecto central do desenvolvimento
humano, possuindo estreita relação com os processos de
aprendizagem em geral (FONSECA; MENDES, 1995). A
motricidade pode ser compreendida como a síntese dialética
entre funções motoras, neuromotoras, psicomotoras e
perceptivo-motoras (FONSECA; MENDES, 1987).
Para a Associação Brasileira de Psicomotricidade (ABP), é
uma ciência que estuda o ser humano por intermédio do seu
corpo em movimento.

A psicomotricidade é um termo utilizado como ideia de


movimento organizado e integrado, resultado de experiências
intencionais vivenciadas, marca indelével da individualidade
que também possui como pano de fundo a linguagem e a
socialização. (FONSECA; MENDES, 1995).

Atraso no desenvolvimento psicomotor da criança


Durante a primeira infância, a criança pode demonstrar alguns
traços que indiquem o atraso psicomotor.

Ao vermos o corpo em movimento, percebemos a ação dos


braços, pernas e músculos gerada pela ação da mente, por isso
é necessário, educar o movimento pela mente.
A psicomotricidade integra várias técnicas trabalhando todas
as partes do corpo, relacionado com afetividade, o
pensamento e o nível de inteligência, enfocando a unidade da
educação dos movimentos, pondo em jogo as funções
intelectuais.O desenvolvimento psicomotor envolve o
desenvolvimento funcional de todo corpo e suas partes, sendo
através dele que a criança deixa de ser a criatura frágil da
primeira infância e se transforma numa pessoa livre e
independente do auxílio alheio.Até os 3 anos, a inteligência é
função imediata do desenvolvimento relativo a nervos e
músculos. Mais tarde, esta associação é rompida e a
inteligência e a motricidade tornam-se independentes. E
mantém- se somente nos casos de retardamento mental.
Um desenvolvimento psicomotor normal apresenta qualidades
nos movimentos que se integram numa certa ordem, seguindo
às seguintes etapas:

*precisão:dos 0 aos 7 anos;


*rapidez: dos 7 aos 10 anos;
*força muscular: dos 10 aos 15 anos.

A coordenação geral do indivíduo alcança seu


desenvolvimento definitivo aproximadamente aos 15 anos,
facilitando assim uma educação progressiva e normal.
Na evolução motora da criança ocorrem dois processos que se
complementam e se inter-relacionam, a diferenciação e a
integração. Elas acontecem de forma recíproca e simultânea,
resultando em aumento de força, de rapidez, de precisão e
facilidade de movimento.
Uma evolução psicomotora normal permite à criança passar
dos movimentos globais aos mais
específicos e do movimento espontâneo ao movimento
consciente. Os movimentos subdividem-se em:
*estáticos: movimentos que envolvem equilíbrio;
*dinâmicos: movimentos de grupos musculares diferentes, em
ação simultânea, que resultam numa
movimentação voluntária mais ou menos complexa. Podem
ser gerais, quando envolvem os membros
inferiores e/ou superiores (saltar, arremessar bolas, correr etc)
e manuais (movimentos de ambas as mãos).

TIPOS DE DISTÚRBIOS Psicomotores


O distúrbio psicomotor traz problemas na totalidade do
indivíduo. Como os distúrbios psicomotores e afetivos estão
ligados, que se influenciam e se reforçam mutuamente, as
dificuldades afetivas refletem-se no comportamento, criando
novas dificuldades.
Não é necessária a presença de uma grave lesão orgânica para
que se instale um distúrbio de psicomotricidade. Ele pode se
originar de uma disfunção cerebral mínima, de um problema
físico ou de um problema emocional.
Os sintomas mais característicos, além de problemas motores
de maior ou menor gravidade, são
transtornos na área do ritmo, da atenção, do comportamento,
esquema corporal, orientação espacial e temporal, lateralidade
e maturação (retardos).

INSTABILIDADE PSICOMOTORA
• Instabilidade psicomotora – É o tipo mais complexo e que
causa uma série de trastornos pelas reações apresentadas.
Nesse quadro predomina uma atividade muscular contínua e
incessante.
As crianças com instabilidade psicomotora revelam:
• instabilidade emocional e intelectual;
• falta de atenção e concentração;
• atividade muscular contínua (não terminam as tarefas
iniciadas);
• falta de coordenação geral e motora fina;
• equilíbrio prejudicado, hiperatividade;
• altos e baixos em provas psicométricas e idade mental baixa
nas provas de desenho;
• deficiência na formulação de conceitos e no processo da
percepção: discriminação de tamanho, orientação espaço-
temporal, discriminação da figura-fundo etc;
• alteração da palavra e da comunicação, atraso na linguagem
e distúrbios da palavra;
• alteração da função motora: atraso nos níveis de
desenvolvimento motor e na maturidade geral;
• alterações emocionais: são impulsivas, explosivas,
destruidoras, sensíveis, frustram-se com facilidade;
• características durante o sono: movimentam-se
excessivamente enquanto dormem, fazem movimentos
rítmicos com o corpo ou a cabeça no travesseiro, apresentam
terror noturno;
• alterações no processo do pensamento:dificuldade para
abstrair, pensamento desorganizado,memória pobre, atenção
deficiente;
• características sociais: têm dificuldade de adaptação a
situações novas e facilmente deixam-se influenciar por outras
crianças;
• escolaridade: dificuldades na leitura, escrita e na aritmética
(discalculia); lentidão nas tarefas; dificuldade de copiar do
vertical para o plano horizontal (da lousa para o caderno);
• babam excessivamente quando pequenas, chupam o dedo,
roem unhas, têm dificuldade no controle dos esfíncteres e são
de fácil fatigabilidade; • problemas disciplinares graves na
família, na escola e na sociedade.

DEBILIDADE PSICOMOTORA
Debilidade psicomotora – caracteriza-se pela presença da
paratonia ou da sincinesia.
Paratonia – É a persistência de uma certa rigidez muscular,
que aparece nas quatro extremidades do corpo ou somente em
duas. Apresenta uma deselegância geral na posição estática ou
em movimento. A paratonia pode ser observada por meio da
comparação do comportamento motor da criança paratônica
com o de uma criança normal.
Sincinesia- É a participação de músculos em movimentos aos
quais eles são necessários. Ou seja, quando se coloca um
objeto numa das mãos da criança com debilidade motora e
pede-se a ela que o aperte fortemente, sua mão oposta também
se fechará, assim como ficar num pé só, o que para ela é
impossível. Notamos ainda, descontinuidade dos gestos,
imprecisão dos movimentos nos braços e pernas; dificuldades
nos movimentos finos dos dedos.
Crianças com debilidade psicomotora apresentam:
• distúrbios de linguagem (articulação, ritmo e simbolização);

• hábitos manipuladores: enrolar o cabelo, chupar os dedos;


• tremores na língua, nos lábios ou nas pálpebras, bem como
nos dedos quando iniciam uma atividade ou fazem força com
eles;
• disciplina difícil;
• atenção deficiente e coordenação motora pobre;
• dificuldade de realizar movimentos finos;
• afetividade e intelectualidade comprometidas (seu aspecto
habitual
não é de sofrimento, mas de indiferença e apatia, confundido
freqüentemente com o de deficientes intelectuais);
• sonolência maior que a de outras crianças;
• enurese noturna e até diurna por muitos anos;
• isolamento social e crises de birra ou de ansiedade ao
enfrentarem
situações difíceis;
• dificuldade na aprendizagem da leitura, escrita e aritmética
.
INIBIÇÃO PSICOMOTORA
Inibição psicomotora- Estão presentes nesse quadro, com uma
distinção fundamental: na inibição psicomotora existe
presença constante da ansiedade.
A inibição psicomotora apresenta:
• estado de ansiedade constante: sobrancelhas franzidas,
cabeça baixa;
• problemas de coordenação motora;
• distúrbios de conduta;
• distúrbios glandulares, de pele, circulatórios e tiques, além
de
enurese e encoprese;
• rendimento superior ao das crianças com debilidade
psicomotora,
mas fracassam em provas individuais (exames, chamadas
orais) por causa da ansiedade.

LATERALIDADE CRUZADA
Lateralidade cruzada- Quando as dominâncias do indivíduo
não se apresentam do mesmo lado. Até os 18 meses é nítido o
ambidestrismo, ou seja, o uso indiscriminado de ambos os
lados. A partir dos 2 anos é que a criança define sua
lateralidade.
Quando há dominância direita ou esquerda, não ocorre
nenhuma perturbação no esquema corporal, mas quando a
lateralidade é cruzada, os distúrbios psicomotores são
evidentes e resultam em deformação no esquema corporal.
A lateralidade cruzada pode apresentar :

• mão direita dominante versus olho esquerdo dominante;


• mão direita dominante versus pé esquerdo dominante;
• mão esquerda dominante versus olho direito dominante;
• mão esquerda dominante versus pé direito dominante.
É importante lembrar que na análise da lateralidade excluem-
se as deficiências de visão e audição.
As crianças com a lateralidade cruzada apresentam os
seguintes problemas:
• alto índice de fadiga;
• freqüentes quedas (é desajeitada e desastrada);
• coordenação pobre, não conseguindo desenvolver
satisfatoriamente
as habilidades manuais;
• atenção instável;
• problemas de linguagem, especialmente as dislalias,
linguagem
enrolada e rápida;
• distúrbios do sono;
• escrita repassada, espelhada e de cabeça para baixo ou
ilegível
(apresenta omissões de letras ou sílabas e lentidão);
• leitura também comprometida;
• intranqüilidade, sensações de inadequação ou de
inferioridade.
IMPERÍCIA
Imperícia- O portador da imperícia possui inteligência normal,
evidenciando apenas uma frustração pelo fato de não
conseguir realizar certas tarefas que requerem uma apurada
habilidade manual.
Suas características são:
• dificuldade na coordenação motora fina;
• quebra constantemente objetos;
• letra irregular;
• movimentos rígidos;
• alto índice de fadiga.
Em sua maioria os distúrbios psicomotores apresentam
dificuldades na
coordenação motora ampla e fina.

COORDENAÇÃO MOTORA
Coordenação é o ato de coordenar. A coordenação motora
global abrange as coordenações motoras ampla, fina, digital,
visual e visomotora.

AMPLA- Movimentar-se livremente, de sentir-se bem à


vontade e permite que a criança execute movimentos.
Na avaliação não observamos se esses movimentos estão em
harmonia, com um bom equilíbrio e bem coordenados de
acordo com a idade cronológica. Atividades- arrastar-se no
chão, passar por baixo de cadeiras, rolar de lado
como se a criança descesse uma ladeira.
Andar: normal por cima de objetos colocados no chão;
engatinhar; e pular. Corridas:livres; revezamento de
obstáculos; amarelinha; jogos de bola (
lançar e apanhar).
FINA- São os movimentos que exigem dissociação digital
fina, onde há
preensão delicada como principal objetivo. Pode-se ilustrar
como sendo a coordenação dos detalhes.
O objetivo para se observar na criança é a destreza com que
usa certos objetos, harmonia dos movimentos.
Atividades- misturar vários canudos coloridos cortados em
pedaços, pedindo que os separe pela cor; enfiar objetos finos e
furados em um barbante; recortar figuras e fazer colagens;
cópia de um trecho escolhido.
DIGITAL- Os movimentos digitais puros são aqueles em que
prevalece a atividade digital com escassa participação de
deslocamento manual, são os movimentos de amplitude
restrita, ou nula, características de tarefas de muita precisão,
onde a agudeza da cor da nação visomotora se põe em jogo,
ao máximo e se realiza por meio de finas dissociações
exclusivamente digitais.
Atividades- separar fichas conforme a cor; jogo de varetas;
dobradura de papel.
Observar sempre a destreza, harmonia, os movimentos
desnecessários e/ou sincinesias.
VISOMOTORA- é a capacidade de coordenar a visão com os
movimentos do corpo de uma parte ou de partes do corpo.
O objetivo é: realizar as atividades de vida diária, como
vestir-se e comer; participar de jogos e esportes; facilitar a
pintura r o recorte, a colagem e a modelagem; ter uma boa
aprendizagem da leitura e da escrita.
Quando a criança anda, pula ou joga peteca, seus olhos
dirigem os movimentos de seus pés; ao realizar tarefas da vida
diária, como vestir-se e tomar banho seus olhos trabalham em
conjunto com seu corpo. Assim, a realização de toda ação
depende, em parte, de uma adequada coordenação visomotora.
Atividades- traçar linhas retas, sinuosas, cobrir pontilhado,
ligar pontos e pedir a criança que pontilhe dentro de um
quadrado.
VISUAL- O terapeuta observa a coordenação visual da
criança o tempo todo,por ser uma visão global e não
específica, como a coordenação visomotora.
Apesar de estarmos olhando para um determinado ponto, não
deixamos de observar o que esta ao nosso lado e redor.
O desenvolvimento psicomotor tanto de crianças normais
quanto de crianças portadoras de distúrbios requer o auxílio
constante do professor,através da estimulação em sala de aula
e do encaminhamento, quando necessário.

Na área da educação, a psicomotricidade abrange um campo


preventivo e o ideal seria que todos os educadores tivessem
conhecimentos básicos do assunto.
A ação educativa consistirá em desenvolver a espontaneidade
adaptada ao ambiente. Para isso é necessário que o professor
tenha conhecimento do ritmo de desenvolvimento da criança e
crie as condições para o seu progresso. É importante ver na
atividade lúdica da criança em idade escolar o tipo de
atividade criadora necessária para a expressão da
personalidade e a maturação da imagem do corpo. A educação
psicomotora na idade escolar deve ser antes de tudo uma
experiência ativa de confrontação com o meio. A ajuda
educativa proveniente dos pais e do meio escolar tem a
finalidade não de ensinar à criança comportamentos motores,
mas sim de permitir-lhe exercer a sua função de ajustamento,
individualmente ou com outras crianças.
Todos os jogos e brincadeiras infantis, que parecem apenas
passatempos, na verdade preparam o terreno para um
aprendizado posterior. É através de atividades lúdicas que a
maioria das dificuldades podem ser solucionadas.

.
Como identificar os distúrbios psicomotores
Para detectar um problema de psicomotricidade, é necessário submeter a
criança a uma avaliação psicomotora através de exercícios específicos, que
verifiquem aspectos como:
qualidade tônica (rigidez ou relaxamento muscular);
qualidade gestual (dissociação manual e dos membros superiores e
inferiores);
agilidade;
equilíbrio;
coordenação;
lateralidade;
organização espaço temporal;
grafomotricidade.
A avaliação pode revelar na criança, respeitadas as características próprias
do seu desenvolvimento, se existem atrasos no desenvolvimento motor e
perturbações de equilíbrio, coordenação, lateralidade, sensibilidade,
esquema corporal, estrutura e orientação espacial, grafismo, afetividade,
etc.

Estes problemas podem ser identificados na pré-escola ou nas séries


iniciais do primeiro grau.

Sinais de Alerta:
- Motricidade global: não rebola, não puxa, não fica de pé, não anda em
idade própria
- Motricidade fina: não segura, não junta as mãos, não faz construções,
tem dificuldades de preensão;
- Linguagem: não palra, não diz palavras, não constrói frases, não
compreende, não fala de um modo inelegível;
- Cognição: não procura, não se interessa por jogos, não categoriza
semelhanças, não sabe o nome próprio ou apelido, não sabe contar, não
sabe as cores ou letras;
- Psicossocial: não ri, não estranha, não se consola nem aceita mimos,
agride sem provocação, não brinca com outras crianças, ...
As crianças com atraso global do desenvolvimento psicomotor devem ser
sinalizadas e orientadas, usufruindo de medidas pedagógicas e de
reabilitação apropriadas, assim como, mantendo um acompanhamento
clínico ativo como medida de prevenção.

Retardo Mental/Deficiência Mental


A definição da AAMR (American Association of Mental Retardation) para
retardo mental, denominada por eles de “Deficiência mental, é considerada
pertinente nos que apresentam forma diferente de se portar, desde muito
cedo, em seu ambiente, trazendo consigo déficits intelectuais e de
comportamento adaptativo” (LUCKASSON et al., 2002; ALMEIDA,
2004).
As características apresentadas são o desenvolvimento mental afetado com
comprometimento da linguagem, dos aspectos motores e da vida social;
tendo as habilidades como autocuidado, acadêmicas, de lazer, trabalho,
entre outras, debilitadas. Sua etiologia advém de múltiplos motivos pré-,
peri- ou pós-natal, como: trauma, infecções, prematuridade etc.
(GRUSPUN, 1999; ALMEIDA, 2004; GUERRA, 2002).
A Organização Mundial da Saúde a classifica em profunda, grave,
moderada e leve; com QI (coeficiente de inteligência) menor que 70
(Figura 6) (GRUSPUN, 1999; ALMEIDA, 2004; GUERRA, 2002). Muito
embora valha a pena ressaltar aqui o alerta de Fonseca (1995b) e
Herculano-Houzel (2009), de que o próprio Alfred Binet, ao elaborar o
teste de QI, já ressaltava a necessidade de sua utilização como meio de
plotar tão somente a limitação momentânea do sujeito nos tópicos
mensurados.
Por isto, parece ser interessante a utilização desta escala com cuidado de
não rotular o sujeito que está sendo mensurado em um dado momento
(FONSECA, 1995b), pois conforme os avanços das neurociências, a
inteligência não é estática (HERCULANO-HOUZEL, 2009), e além disso,
como destaca Gardner (apud BARRETO, 2010), temos múltiplas
inteligências.

Síndrome de Down (SD)


A Síndrome de Down (SD) é encontrada em crianças que apresentam
trissomia do cromossomo 21, ou seja, ao invés de terem 46 cromossomos,
como acontece com todos nós chamados de normais, elas têm 47
cromossomos. É a mais comum das afecções genéticas, caracterizando-se
por diferenças, mais ou menos evidentes, na estrutura corporal
(ALMEIDA et al., s.d; OLIVEIRA, s.d; MOREIRA; EL HANI;
GUSMÃO, 2000; RELVAS, 2010; SILVA; KLEINHANS, 2006;
FOGAÇA et al., 2011).
Tendo por base as contribuições dos autores supracitados, podemos
afirmar que as características mais comuns da SD são: a) achatamento da
parte de trás da cabeça; b) inclinação anormal das fissuras palpebrais; c)
macroglossia (língua maior que o normal); d) curvatura anormal dos
lábios; e) Ponte nasal achatada; f) Hipertelorismo (olhos afastados); g)
Hipotonia; h) braquidactilia (dedos pequenos com o polegar mais grosso);
i) tendência a hipotonia.
Conforme publicação da Pediatric Database (1994), há um conjunto
de alterações que necessita de exames mais específicos para ser detectado,
como: anomalias de audição (em cerca de 80% dos casos), alterações
ortodônticas (80%), anomalias da visão (50%), anomalias cardíacas (40%
a 50%), alterações endocrinológicas (15% a 25%), anomalias do aparelho
locomotor (15%), anomalias do aparelho digestivo
(12%), alterações neurológicas (8%), alterações hematológicas (3%),
dentre muitas outras que, se não detectadas e tratadas, vão interferir no
desenvolvimento da criança (MOREIRA; EL HANI; GUSMÃO, 2000;
SILVA; KLEINHANS, 2006, FOGAÇA et al., 2011).
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A Síndrome de Down (SD) é encontrada em crianças que apresentam
trissomia do cromossomo 21, ou seja, ao invés de terem 46 cromossomos,
como acontece com todos nós chamados de normais, elas têm 47
cromossomos. É a mais comum das afecções genéticas, caracterizando-se
por diferenças, mais ou menos evidentes, na estrutura corporal
(ALMEIDA et al., s.d; OLIVEIRA, s.d; MOREIRA; EL HANI;
GUSMÃO, 2000; RELVAS, 2010; SILVA; KLEINHANS, 2006;
FOGAÇA et al., 2011).

Diferentemente do
autista, o portador de SD é geralmente sociável e afetivo. Já sua condição
neurológica também varia conforme o indivíduo afetado, mas sem uma
divisão de leve a grave. As crianças com SD têm deficiência nas estruturas
neuronais (FOGAÇA et al., 2011) e em suas comunicações,
o que acaba comprometendo seu desenvolvimento cognitivo e de
linguagem.
O autismo pode ser compreendido como um distúrbio do
desenvolvimento que se caracteriza principalmente por significativas
alterações presentes desde idade muito precoce, tipicamente antes dos três
anos de idade, com impacto múltiplo e variável em áreas nobres do
desenvolvimento psicomotor e humano (áreas de comunicação, interação
social, aprendizado e capacidade de adaptação).
Diferentemente do autista, o portador de SD é geralmente sociável e
afetivo. Já sua condição neurológica também varia conforme o indivíduo
afetado, mas sem uma divisão de leve a grave. As crianças com SD têm
deficiência nas estruturas neuronais (FOGAÇA et al., 2011) e em suas
comunicações, o que acaba comprometendo seu desenvolvimento
cognitivo e de linguagem.
Quanto mais precoces forem os estímulos oferecidos ao portador da
Síndrome, mais evolução será conquistada (BARRETO; ZOBOLI apud
FOGAÇA et al., 2011).
Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)
Esse transtorno costuma ser evidenciado nos cinco primeiros anos de uma
criança e tem características de repetição e estereotipação. Interfere na
socialização e comunicação, assim como agrupa diferentes transtornos
relacionados ao espectro autista: a psicose, a Síndrome de Rett, de
Asperger, de Kanner e as psicoses infantis.
Autismo e Síndrome de Asperger (SA)
O autismo e a Síndrome de Asperger são os mais conhecidos entre os
transtornos invasivos do desenvolvimento (TID). Tais transtornos são
marcados pelo início precoce de atrasos e desvios no desenvolvimento das
habilidades sociais, comunicativas e demais habilidades.
a) O autismo
Em cartilha disposta no site da Associação Brasileira de Autismo (ABRA),
encontramos uma definição para autismo. De acordo com Jerusalinsky
(1984), Barreto e Almeida (2005) e Melo (2007), o autismo pode ser
compreendido como um distúrbio do desenvolvimento que se caracteriza
principalmente por significativas alterações presentes desde idade muito
precoce, tipicamente antes dos três anos de idade, com impacto múltiplo e
variável em áreas nobres do desenvolvimento psicomotor e humano (áreas
de comunicação, interação social, aprendizado e capacidade de adaptação).
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Capítulo 5 Patologias e Perturbações Motoras


Sabrina Ribeiro (2010) descreve o autismo como crônico, que se
caracteriza por agravos nas áreas características ao desenvolvimento
humano. Para José Salomão Schwartzman (2010) e Mello (2007), um dos
primeiros descritores sobre autismo infantil foi Kanner, em 1943, ao
identificar danos nessas áreas, principalmente nas de comunicação,
comportamental e de relacionamento social. Fazendo uma diferenciação
entre crianças com danos nessas áreas específicas das crianças com
deficiência mental, propondo ser o autismo algo sem uma etiologia
conhecida, causado, talvez, por determinantes exógenos
(SCHWARTZMAN, 2010; MELLO, 2007).
Divergindo do citado acima quanto à etiologia, Relvas (2010) afirma que o
autismo advém de lesão encefálica e genética. Seguindo na mesma linha
de pensamento, Oliver (2010) descreve a causa como uma variação no
cérebro. Tal variação afeta a comunicação entre meio externo e o
indivíduo, alienando-o em relação ao meio que o cerca, em alguns casos
trazendo atraso mental ou extrema inteligência, mudez, atrasos de
linguagem, padrões repetitivos de comportamento, entre outras
características. Pode ser considerado ainda um distúrbio dividido em leve,
moderado ou severo (RIBEIRO, 2010; OLIVER, 2010).
Em alguns aspectos, Mello (2007) concorda com os autores acima ao
evidenciar a ligação entre a causa do autismo com irregularidades em
determinada área do cérebro e/ou possível origem de causas genéticas.
Somando a essas possíveis causas, ainda, influências exógenas
relacionadas à vivência uterina ou do processo do parto.
As características de crianças autistas são diversas e nem sempre são as
mesmas ou ocorrem todas ao mesmo tempo (MELLO, 2007; RIBEIRO,
2010; OLIVER, 2010; SCHWARTZMAN, 2010). Como principais
características apresentadas pelos autistas, segundos os autores
consultados, temos: a) calmaria e sonolência; b) choro compulsivo
intermitente; c) rejeição a carinho ou colo; d) não compartilhamento de
sentimentos; e) falta de contato ocular; f) estereotipias; g) movimentos
repetitivos; h) agressividade; i) balanceio; j) atos incomuns em relação a
objetos (ex.: lamber e cheirar uma bola); j) em alguns casos, epilepsia.
Assim, podemos definir e caracterizar o autismo, em concordância com os
autores supracitados, definindo-o como Jerusalinsky (1984), Souza da
Fonseca, Magalhães e Ribeiro (2012), tendo por base Falkenbach, Diesel e
Oliveira (2010), que por sua vez se basearam na clássica descrição de Leo
Kanner (1943), os quais descrevem que o autismo pode ser compreendido
como um transtorno na linha das psicoses, caracterizado principalmente
por isolamento extremo, alterações de linguagem representadas pela
ausência de finalidade comunicativa, rituais do tipo obsessivo, com
tendência à mesmice e movimentos estereotipados.
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Em alguns aspectos, Mello (2007) concorda com os autores acima ao
evidenciar a ligação entre a causa do autismo com irregularidades em
determinada área do cérebro e/ou possível origem de causas genéticas.
Somando a essas possíveis causas, ainda, influências exógenas
relacionadas à vivência uterina ou do processo do parto.

A Síndrome de Asperger (SA) caracteriza-se por prejuízos na interação


social, bem como interesses e comportamentos limitados, como foi visto
no autismo, mas seu curso de desenvolvimento precoce está marcado por
uma falta de qualquer retardo clinicamente significativo na linguagem
falada
ou na percepção da linguagem, no desenvolvimento cognitivo, nas
habilidades de autocuidado e na curiosidade sobre o ambiente.

Como já dissemos anteriormente, o autismo apresenta graus de afecção


que vão de leve a grave (RIBEIRO, 2010; OLIVER, 2010; CAMARGOS
JÚNIOR, 2012). No mais grave podemos considerar que o autista
apresenta refreamento cognitivo, tendo leve melhora com
acompanhamento sistemático. Em direção aos casos leves, o autista
apresenta as características que já descrevemos anteriormente, mas com
potencial até mesmo para se alfabetizar e conviver, com inteligência
normal ou até mesmo superior em algumas áreas (JERUSALINSKY,
1984, MELLO, 2007; RIBEIRO, 2010; OLIVER, 2010; CAMARGOS
JUNIOR, 2012), havendo inclusive aqueles que frequentam o Ensino
Superior, sendo um dos critérios de avaliação dos cursos na atualidade,
assim como a acessibilidade e LIBRAS para as licenciaturas e optativa
para os bacharelados.
Assim como um tipo de autismo que é chamado de Síndrome de Asperger
(SA), no qual o sindrômico por vezes nem sabe que é um autista; não
apresenta atraso na fala, nem deficiência cognitiva ou outras características
para autismo (CAMARGOS JUNIOR, 2012).
b) Síndrome de Asperger (SA)
Em 1944, um pediatra, Hans Asperger, denominou a Síndrome de
Asperger (SA) como uma psicopatia do autismo. Passando a ser utilizado
mais frequentemente o termo Síndrome de Asperger por volta da década
de 1980. Foi incluída nos transtornos do desenvolvimento, como uma
vertente do autismo no que diz respeito à característica de alto
funcionamento.
Assim como Orrú (2010), Klin (2006) define a síndrome e a inclui nos
transtornos de desenvolvimento. Para ele, a Síndrome de Asperger (SA)
caracteriza-se por prejuízos na interação social, bem como interesses e
comportamentos limitados, como foi visto no autismo, mas seu curso de
desenvolvimento precoce está marcado por uma falta de qualquer retardo
clinicamente significativo na linguagem falada ou na percepção da
linguagem, no desenvolvimento cognitivo, nas habilidades de autocuidado
e na curiosidade sobre o ambiente. Interesses circunscritos intensos que
ocupam totalmente o foco da atenção e tendência a falar em monólogo,
assim como incoordenação motora (dispraxia), são típicos da condição,
mas não são necessários para o diagnóstico.
Além disso, é incluída, também, “nos critérios dos Transtornos Globais do
Desenvolvimento (TGD), de acordo com a OMS (1994)” (ORRÚ, 2010, p.
1). A diferença entre a Síndrome de Asperger e o autismo é que a
linguagem não é afetada e não ocorre atraso intelectual (ibid).
102

Capítulo 5 Patologias e Perturbações Motoras


Como características apresentadas na SA estão (GRUNSPUN, 1999;
ORRÚ, 2010; RELVAS, 2010): a) detrimento de comunicação social; b)
interesses e comportamentos estranhos; c) falta de noção de sentimentos
alheios; d) podem apresentar depressão; e) linguagem arrogante e afetada;
f) desajeitados.
Paralisia Cerebral (PC)
Na menção de Daher (2012), a Paralisia Cerebral (PC) pode ser
compreendida como um grupo de desordens do desenvolvimento do
movimento e da postura, causando limitações nas atividades. São
atribuídas a distúrbios não progressivos que ocorrem no cérebro em
desenvolvimento.
As características encontradas nos portadores de PC são (ROSENBAUM
et al., 2007; DAHER, 2012): a) deficiências motoras; b) alterações
sensitivas; c) alterações de percepção; d) alterações na cognição; e)
deficiência para comunicar- se; f) alterações de comportamento; g) alguns
casos de crises convulsivas.
Motoramente a criança com PC pode apresentar hipo ou hipertonia,
espasticidade, atetose, e outros. Além disso, é classificada em quatro tipos
referentes aos locais em que se encontram as lesões cerebrais (BOBATH,
1978; BITENCOURT et al., 2011; DAHER, 2012):
1) Espástica: a criança apresenta hipertonia, reflexos de ordem patológica
e sua postura, assim como seus movimentos são anormais. É a mais
frequente dos quatro tipos e a lesão cerebral está localizada no córtex
(motoneurônio superior) ou vias descendentes. Pela presença de reflexo de
estiramento, seus movimentos tornam-se lentos e súbitos. Estão em
constante contração muscular e posição flexora, o que pode desenvolver
fixas contraturas sem o devido tratamento fisioterapêutico. Pode ser
também bi ou unilateral (tetraplegia, diplegia ou hemiplegia).
2) Atetoide: Primeiramente, a criança fica hipertônica em posição de
extensão; mais próximo aos 24 meses aparecem as hipercinesias difusas,
atrapalhando os poucos movimentos voluntários. Tem dificuldades para
engolir e mastigar, ou até mesmo não desenvolve essas habilidades.
Poucos são os casos de desenvolvimento da fala, e quando acontece, é
dificílima de ser entendível.
3) Atáxica: Essa paralisia é raramente apresentada entre as quatro, e está
intimamente relacionada a traumas de crânio, encefalites e tumores
cerebelares. As crianças com PC atáxica apresentam incoordenação tanto
em movimento como em repouso, algo quase inexistente devido aos
tremores
103

As características da criança dispráxica são: a) tensão muscular constante;


b) dificuldades em habilidades motoras; c) dificuldades
em atividades
de vida diárias – AVD (vestimenta, alimentação, higiene).
Desenvolvimento Psicomotor
de ação presentes. Elas apresentam tanto hipotonia quanto hipertonia,
entretanto, a hipotonia é dominante.
4) Mista: A criança apresenta mais de um tipo de PC acima citada.
A criança com PC, seja ele qual for, geralmente já nos vem com um
diagnóstico especificado pelo médico, e certamente a direção do local
onde estaremos desenvolvendo nosso trabalho nos apresentará de antemão
o caso para que possamos desenvolver uma linha de trabalho adequada.
Transtorno no Desenvolvimento Motor/Incoordenação: O Sindrômico
Desjeitoso
Nesse caso, a criança apresenta um prejuízo ao desenvolver-se
motoramente, em que as inabilidades do sistema motor estão ligadas a
retardos cognitivos, problemas neurológicos endógenos ou exógenos. Será
uma criança considerada dispráxica (NEGRINE, 1987; FONSECA,1995a;
BARRETO, 2010). A que não consegue estar igualitária em seus marcos
motores (andar, pular, saltar, correr), além de grafia débil e predisposta ao
desajeito (GRUNSPUN, 1999; GUERRA, 2002; DISPRAXIA, 2016).
“Alguém com dispraxia tem dificuldade de organizar seus processos de
pensamento (planejar o que fazer e como fazê-lo)” (DISPRAXIA, 2016,
s.p.).
De acordo com Grunspun, (1999, p. 16):
Encontramos imaturidades marcantes do desenvolvimento neurológico,
tais como movimentos coreiformes de membros, movimentos em espelho,
sincinesias e outros aspectos motores associados, como também sinais de
deficiente coordenação motora fina e grosseira.
Já que a parte cognitiva dessa criança não é afetada, pode-se ultrapassar as
dificuldades escolares, tendo voltado o maior foco nas áreas mais afetadas,
que são a de esquematização corporal e de orientação em tempo e espaço
(SÍNDROME, 2016).
Tendo por base Negrine (1987), Fonseca (1995a; 1995b), Barreto (2010) e
Dispraxia (2016), podemos afirmar que as características da criança
dispráxica são: a) tensão muscular constante; b) dificuldades em
habilidades motoras; c) dificuldades em atividades de vida diárias – AVD
(vestimenta, alimentação, higiene).

Devido à “incoordenação” motora (dispraxia) presente, apresentam


dificuldades em segurar o lápis e então a preensão falha acarreta também a
letra ilegível. Entretanto, existem outros problemas relacionados ao
desenvolvimento infantil, no qual a criança e a família sofrem, se
preocupam, e por vezes não sabem como identificar se é algo neurológico,
patológico ou psicológico.
Sabe-se que a maior parte do tempo do nosso desenvolvimento inicial
passamos em ambiente escolar, onde buscamos alcançar a capacidade de
adquirir conhecimento e desenvolvimento de diversas habilidades.
É na escola em que são mais constantemente observadas possíveis
dificuldades na aprendizagem da criança.
Dificuldades na Aprendizagem (DA)
Aqui podemos relacionar as dificuldades destacadas no ambiente escolar,
as quais se mostram mais evidentes nos âmbitos da: leitura, escrita e
matemática (FONSECA, 1995a; MORAIS, 1997; GUERRA, 2002;
RELVAS, 2010; BARRETO, 2010). Fonseca (1995a) e Barreto (2000;
2010) ainda acrescentam problemas refletidos na psicomotricidade. Para
Fonseca (1995a, p. 252), essa dificuldade pode ou não estar relacionada a
uma disfunção psiconeurológica, tendo suas características dificultosas nos
processos simbólicos. São dificuldades “no processo de informação, quer
em nível receptivo, quer ainda em nível integrativo e expressivo”.
De acordo com os autores consultados, as principais características das
crianças com DA são: a) desatenção; b) deficiência perceptiva; c) instáveis
emocionalmente; e) defasagem de memória.
Algumas das DA, segundo Fonseca (1995a), Morais (1997) e Barreto
(2000 e 2010), são: dislexia; disgrafia; disortografia; discalculia; dislogia.
Destacam-se a seguir as características principais destas DA, de acordo
com os autores consultados:
a) Dislexia
Na dislexia, as dificuldades aparecem pela falta de orientação temporal e
espacial, a não sequencialização racional, confusão lógico- estrutural,
inversões, falta ou acréscimo de letras; dificuldades presentes na hora de
escrever ou ler (FONSECA, 1995a; MORAIS, 1997; BARRETO, 2000;
2010; GUERRA, 2002; RELVAS, 2010). Os disléxicos,
105
Na dislexia, as dificuldades aparecem pela falta de orientação temporal e
espacial, a não sequencialização racional, confusão lógico-estrutural,
inversões, falta ou acréscimo de letras; dificuldades presentes na hora de
escrever ou ler (FONSECA, 1995a; MORAIS, 1997; BARRETO, 2000;
2010; GUERRA, 2002; RELVAS, 2010).

A disgrafia é a dificuldade em escrever, que, neste caso, “envolve


somente um problema de motricidade fina, de coordenação visomotora e
compreende a fase de execução ou a fase gráfica” (GUERRA, 2002, p.
58).p. 58).
Mmuitas vezes, passam por pessoas não inteligentes, o que é uma
inverdade; a pessoa disléxica pode apresentar uma inteligência acima da
média (BARRETO, 2000; 2010).
Tendo por base as contribuições de Fonseca (1995a), Morais (1997),
Mütschele (1988) e Dias (1990), citados por Barreto (2000), alguns erros
mais comuns que a criança disléxica costuma cometer, tanto na escrita
como na leitura, são: a) confusão de letras simétricas: q e p, n e u. Ex.:
esperda em lugar de esquerda; b) confusão de letras auditivamente
semelhantes: Ex.: ted, peb. Ex.: dadu para tatu; c) inversão de ordem da(s)
sílaba(s) na palavra: Ex.: Camer para Carmem; d) omissão de letras: Ex.:
giado para guiado; e) adição de letras e sílabas na palavra: Ex.: fiaque para
fique.
Esse tipo de DA, para Myklebust (apud GUERRA, 2002, p. 48),
apresenta- se em três tipos: a) A dislexia da linguagem interior: “Criança
repetidora de palavras”. b) A dislexia auditiva: “o que está afetado é a
auditorização dos grafemas”. c) A Dislexia visual: quando a criança não
reconhece as letras como tal.
De qualquer forma, é necessário lembrar que o disléxico precisa de
atenção precoce, e o desenvolvimento de suas habilidades escolares e de
vida depende de todo um conjunto de profissionais, atendimento
interdisciplinar e recepção proativa.
b) Disgrafia
Escrever é uma forma convencional de representar a fala simbolicamente.
Como dito anteriormente, passamos uma grande parte da nossa vida em
ambiente escolar, acadêmico. Para uma parte do sucesso nesse campo,
devemos estar alfabetizados e sermos capazes de transferir para o papel
algo que desejamos que seja compreendido pelo próximo a ler o que
escrevemos.
A disgrafia é a dificuldade em escrever, que, neste caso, “envolve somente
um problema de motricidade fina, de coordenação visomotora e
compreende a fase de execução ou a fase gráfica” (GUERRA, 2002,
Dias (apud BARRETO, 2000) descreve a criança com disgrafia
apresentando dificuldade em fantasiar, evidenciando atividades que
trabalhem a imagem corporal como técnica para o “resgate da fantasia”.
O disgráfico, por vezes, pode misturar letras devido a falhas posturais,
106

Capítulo 5 Patologias e Perturbações Motoras


dismetria, preensão palmar, pela velocidade da escrita, entre outras coisas
(BARRETO, 2000). Já Oliver (2010) descreve o disgráfico como um
indivíduo que apresenta incoordenação visual-motora, podendo apresentar
também graves problemas motores e de equilíbrio. Para ele, na maior parte
dos casos, a disgrafia está relacionada a distúrbios neurológicos.
c) Disortografia
Ajuriaguerra (1980) citado por Barreto (2000) apresenta a disortografia
como um resultado da dislexia ou ainda um transtorno presente em
crianças que não apresentam distúrbio de leitura. Para ele, a criança
disortográfica faz confusão entre as letras, as omite ou adiciona, inverte,
separa ou une as palavras de forma ilógica, podendo ter deficiências de
ordem psicomotora, cognitiva e inclusive acadêmicas.
Para Fonseca (1995a apud GUERRA, 2002, p. 59), a criança com
disortografia apresenta uma disgrafia pela afecção do sistema visomotor,
afetando a expressão de sua escrita “a ideação, a formulação e a produção,
bem como os níveis de abstração”.
d) Discalculia
Caracteriza-se pela dificuldade na aprendizagem da matemática. Johnson e
Myklebust (1987 apud GUERRA, 2002) descrevem as seguintes
dificuldades na discalculia: a) realizar correspondências unívocas, por
exemplo, a criança é incapaz de relacionar o número de cadeiras de uma
sala de aula com o número de alunos da mesma; b) associar símbolos
matemáticos grafados e verbalizados; c) aprender os sistemas de contagem
cardinais e ordinais; d) dificuldade na interpretação de gráficos e mapas; e)
compreensão de medidas e sinais de operação; f) dificuldade com a
solução de problemas de raciocínio matemático.
Resumindo: devido às dificuldades de percepção visuoespacial e de
experiências não verbais, a criança apresenta deficiência no entendimento
das relações de espaço, tamanho, ordem, distância e quantidade (ibid.).
Com essas crianças, indica-se o trabalho a partir de objetos e
representações concretas, o que facilita o pensamento numérico por
intermédio da experienciação.
Descreve Guerra (2002) que, por vezes, o Déficit de Atenção e
Hiperatividade (TDA; TDAH) está associado a DAs descritas acima.
Assim, vamos esclarecer um pouco mais este transtorno.
Um resultado da dislexia ou ainda um transtorno presente em crianças que
não apresentam distúrbio de leitura.
Caracteriza-se pela dificuldade na aprendizagem da matemática.
107

Desenvolvimento Psicomotor TDAH


No site da Associação Brasileira de TDAH, cujo presidente é Iane
Kestelman (2016), encontra-se como resposta para pergunta do que é o
TDAH:
O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um
transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e
frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se
caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. Ele é
chamado às vezes de DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção). Em inglês,
também é chamado de ADD, ADHD ou de AD/HD.

Concordam com essa definição Guerra (2002), Phelan (2005), Rohde e


Mattos (2003). Guerra (2002), Phelan (2005) e o responsável pelas
descrições sobre este transtorno da Associação Brasileira de TDAH
acreditam que acomete cerca de 3% a 5% das crianças e adolescentes no
mundo, acompanhando-as durante a vida adulta, em mais da metade dos
casos. Já Rohde e Mattos (2003) colocam que a taxa de prevalência varia
dentro de um mesmo país, e entre países, entre 2% a 9%.
O TDAH acomete mais meninos que meninas, em torno de 9 para 1. E os
sintomas mais comuns são a desatenção, hiperatividade e a impulsividade
(NEGRINE, 1987; FONSECA 1995a; BARRETO, 2000; 2010; ROHDE;
MATTOS, 2003).
É muito importante que a criança passe por um psicopedagogo antes de ser
diretamente encaminhada ao psiquiatra, pois, por vezes, a criança muito
ativa já é apontada como uma possível TDAH, podendo o mais experiente
profissional ficar em dúvidas com os sintomas (OLIVER, 2010).
Os passos a seguir, após o diagnóstico do TDAH, são a informação, a
psicoterapia e a medicação.

Todos esses transtornos, patologias ou dificuldades tornam o dia a dia da


criança quase que uma tortura, bem como para seus pais. Os profissionais
que os acolherão devem ter em mente que a cada dia há novas descobertas
e pesquisas sobre cada uma das supracitadas.

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Conclusão
Normalmente não se pode estabelecer uma única causa para os problemas
de desenvolvimento nas crianças, diversos fatores podem ser responsáveis
e contribuir para o efeito.
O desenvolvimento da criança está diretamente relacionado com as
características biológicas e as experiências oferecidas pelo meio ambiente,
fatores desfavoráveis nestas duas áreas podem alterar o seu ritmo normal.
A probabilidade de que isso possa ocorrer é chamada de risco para o
desenvolvimento.
De acordo com variados estudos, os riscos para os problemas no
desenvolvimento da criança estão classificados como biológicos e
ambientais. Os biológicos podem ser pré, peri e pós natais que originam
danos que podem aumentar a possibilidade de prejuízo no
desenvolvimento. Os biológicos estão relacionados com a prematuridade,
com a falta de oxigenação no cérebro, com as meningites e muito mais.
Também podemos inserir nos riscos biológicos as malformações genéticas,
as síndromes, os erros do metabolismo, entre outras.
Podemos considerar as experiências adversas da vida ligadas à família, ao
meio envolvente e à Sociedade como riscos ambientais, tais como as
condições precárias de saúde, a falta de recursos sociais e de educação, a
violência doméstica, o abuso, os maus- tratos, problemas de saúde mental
da mãe ou do cuidador, assim como a inadequação de cuidados e de
educação, entre outras.
Os fatores sociais cumprem influências de extrema significância no
desenvolvimento global do bebé e da criança.
Os pais são as pessoas que mais convivem com a criança, por isso são
aquelas que mais observam e também são eles que notam que algo não
está bem, principalmente e na sua maioria esta observação é feita pela
mãe. Hoje em dia, este tipo de observação também pode ter a ajuda dos
avós, tios, padrinhos e em alguns casos pelas amas e educadoras.
Normalmente esta observação é feita ao comparar com os irmãos e outras
crianças na mesma faixa etária.
Não é fácil detetar de imediato um problema na criança, a menos que seja
uma deficiência ou um síndrome que apresente aspetos físicos visíveis e
que possa ser identificada e já definida pelo médico, ou seja, quanto maior
a gravidade da alteração do desenvolvimento do bebé ou da criança, mais
fácil e mais rápido se torna a sua identificação pelo médico. Outro grande
exemplo está relacionado com as alterações no desenvolvimento
psicomotor que são mais facilmente identificáveis que as alterações da
linguagem e cognitivas. No entanto problemas da linguagem e cognitivos
apresentam maior probabilidade de comprometimentos futuros do que as
alterações na evolução do comportamento psicomotor.
Ainda que as deficiências graves possam ser reconhecidas nas primeiras
horas, dias ou meses de nascimento, as alterações da linguagem, a
hiperatividade e os transtornos emocionais só são diagnosticados a partir
dos três ou quatro anos de idade. Da mesma forma que as dificuldades de
aprendizagem só são identificadas na sua maioria no período de ingresso
da criança na escola. Para que a criança atinja todo o seu potencial de
desenvolvimento é necessário estarmos atentos a seu progresso normal e
aos fatores que possam intervir neste progresso. Neste sentido é de
fundamental importância o seu acompanhamento pelos familiares e por
profissionais que possam ajudar na identificação das alterações,
encaminhando o mais precocemente possível para uma possível
identificação, ou melhor, diagnóstico e um tratamento adequado.
Nunca se deve esperar por um diagnóstico preciso de um atraso no
desenvolvimento para se iniciar um tratamento, pois muitas vezes,
dependendo dos recursos disponíveis, leva-se muito tempo ou não se
consegue chegar a um diagnóstico preciso, mas as alterações
comportamentais já existem ou já são visíveis. São inúmeras as práticas
demonstrando que a estimulação nos três primeiros anos de vida, tanto
para crianças com atraso no desenvolvimento, quanto para aquelas com
risco de atraso, melhora a sua evolução, por isso deve ser estimulado o
mais cedo possível.
A Organização mundial de saúde (OMS) estima que 10% da população de
qualquer país é constituída por pessoas com algum tipo de deficiência.

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