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BRINCANDO E

EXPLORANDO OS
4 ELEMENTOS DA NATUREZA,
RELATO DE PROPOSTAS
DESENVOLVIDAS
Renata Muriel da Rosa Schneider1
Retiele da Cunha Rodrigues2

RESUMO

O presente artigo tem como finalidade relatar o projeto desenvolvido nas turmas do
maternal 3C e 3D, de uma EMEI da Rede Pública de Novo Hamburgo, cujo objetivo é
proporcionar a exploração, a experimentação, a criação e a investigação dos elementos
da natureza como matéria prima natural, instigando a curiosidade e o interesse das
crianças pelos processos científicos. A escola busca, com essas práticas, contribuir
com o desenvolvimento das crianças, colocando-as como protagonistas de seus
saberes e conhecimentos, em busca de experiências direto com a natureza, sem deixar
de fazer uso consciente dos recursos que ela disponibiliza. As ideias aqui discutidas
embasam-se em Gandhy Piorski (2016), Stela Barbieri (2012) e Maria Barros (2018),
que buscam na natureza o imaginário e o brincar. A partir deste estudo, constatou-se
que o professor precisa realizar suas propostas de acordo o centro de interesses das
crianças, transformando-os em protagonistas de sua história, a partir do brincar e do
lúdico. Trabalhar os quatro elementos da natureza permite que a criança amplie seus
repertórios, vivências e experiências naturais, enriquecendo o universo, exercitando os
seus direitos e estabelecendo contato com os campos de experiência.

Palavras- chaves: Educação Infantil; Brincar; Natureza e aprendizado.

1 Graduada em Pedagogia pela FACCAT. E-mail: renatamuriel.rosa@gmail.com. Professora da Rede Municipal de Ensino de Novo
Hamburgo, lotada na EMEI Vila das Flores, RS, Brasil.
2 Pós-Graduada em Orientação e Supervisão Escolar (Faculdade de Educação São Luís). E-mail: retielecunha@gmail.com. Professora
e atualmente Coordenadora Pedagógica da Rede Municipal de Ensino de Novo Hamburgo, lotada na EMEI Vila das Flores, RS, Brasil.

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Renata Muriel da Rosa Schneider e Retiele da Cunha Rodrigues

INTRODUÇÃO

As crianças precisam, desde cedo, estar em contato constante com diversas


experiências. Sendo assim, neste artigo será apresentada a descoberta dos quatro
elementos da natureza por um grupo de crianças, com a intenção de ampliar as
possibilidades de experimentação. Como a turma em questão está frequentando
pela primeira vez a Escola de Educação Infantil, decidimos trazer o diferente para as
propostas diárias.
De acordo com os Kishick (2019, n. p., grifo do autor3), “as forças mais profundas
que vivem no íntimo da criança só podem ser tocadas e avivadas pelo brinquedo
mais sadio do mundo: o brinquedo chamado natureza”. Partindo dessa perspectiva,
as propostas a serem desenvolvidas devem visam a auxiliar no desenvolvimento das
crianças de modo significativo, explorando os ambientes da escola, pois

Cada escola nos traz diferentes possibilidades. [...] A materialidade está sempre por ser
inventada, retomada, investigada. Ela depende de conseguirmos olhar em volta e perceber
como podemos usar materiais, substâncias e objetos inusitados (BARBIERI, 2012, p.72).

Esses materiais podem ser conhecidos ou não pelas crianças. Ainda, de acordo
com Barbieri,

Todos os lugares são lugares de aprender. Cidades, florestas, quintais, territórios a serem
investigados, com árvores, rios, clareiras, praças e praias. A natureza é um manancial de
possibilidades para a formação estética, não só para as crianças, como para todos os seres
humanos (2012, p.115).

Como trabalhamos diariamente com crianças pequenas, devemos estar atentos ao


que elas demonstram curiosidade e ter um olhar sensível para perceber o centro de interesse
delas. Para esse momento, percebemos a necessidade de desenvolvermos o projeto aqui
apresentado, que nada mais é do que aprofundar a exploração dos quatro elementos da
natureza, a partir de possibilidades, de brincadeiras, de leis que ampliam o olhar do professor
nas suas salas referência, criando cantinhos possíveis. Como na nossa sala já existem vários
elementos da natureza, percebemos que as crianças ficam encantadas com eles e assim
vimos a importância de enraizá-los nos ambientes que nos cercam.
O projeto teve como objetivo geral proporcionar a exploração, a experimentação,
a criação e a investigação dos elementos da natureza como matéria prima natural,
instigando a curiosidade e o interesse das crianças pelos processos científicos.
No decorrer deste texto, abordamos temáticas valiosas e ricas na Educação
Infantil, tendo em vista que, no segundo capítulo há uma breve descrição sobre o
papel do professor versus curiosidades das crianças, contemplando reflexões teóricas
sobre o olhar do docente para com ela, considerando-a como protagonista da sua
aprendizagem. O terceiro capítulo descreve a importância dos quatro elementos da
natureza: a água, o ar, o fogo e a terra. O quarto capítulo apresenta a organização
metodológica da pesquisa.

3 Citação tirada de blog, sendo que não contém paginação.

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Nas linhas que seguem o quinto capítulo, estão embasados os resultados e


discussões fundamentadas no referencial teórico e nas reflexões das professoras.
Por fim, no penúltimo capítulo, apresentamos as considerações finais, baseadas nas
observações e nas experiências vividas no decorrer desta pesquisa com as crianças. E,
para finalizar, indicam-se as referências e fontes de consulta e pesquisa que permearam
as reflexões deste artigo.

BREVE DESCRIÇÃO SOBRE O PAPEL DO PROFESSOR


VERSUS CURIOSIDADES DAS CRIANÇAS

Na Educação Infantil, o ensino deve estar conectado ao tempo da criança, assim


como as propostas devem ser do seu interesse e permear seu cotidiano. Como relata
Barbieri (2012, p. 25), “as crianças são sinestésicas, ou seja, todos os seus sentidos
estão despertos a cada momento. Estas são chamadas por aquilo que lhes interessa, por
uma curiosidade que as coloca em movimento”.
E cada criança tem uma maneira singular de se expressar. Como comenta
Barbieri (2012, p. 27): “Quanto mais tivermos escuta e abertura, propondo situações
em que sejam protagonistas, tanto mais contaremos com o envolvimento e alegria de
cada menino e menina”. Propor experiência é nosso papel. Para Barbieri (2012, p.
27), “o papel do professor é ajudar a criança a realizar suas ideias”. Além disso, cada
experiência que temos é única e, portanto, intransferível, podendo ser compartilhada,
mas jamais transferida para outras pessoas. Nessa perspectiva, o docente deve estar
atento a tudo e a todos, pois cada um tem uma necessidade diferente. De acordo com
Barbieri (2012, p. 31):

Muitas vezes, [...] perdemos a possibilidade de fazer propostas significativas para as


crianças. Às vezes, procuramos materiais ou técnicas requintadas e aquilo não fala com
os meninos. [...] Em vários momentos, uma ação muito simples, como materiais acessíveis
funciona melhor.

Trabalhar com elementos da natureza possibilita ampliar as visões, repertórios e


conhecimentos, sendo de grande significado para as crianças. As propostas são ricas
e simples, de acordo com o interesse de cada uma, favorecendo e enriquecendo o seu
desenvolvimento cognitivo e corporal.

A IMPORTÂNCIA DOS QUATRO ELEMENTOS DA


NATUREZA

Ao brincar com os quatro elementos da natureza (água, terra, fogo e ar) as crianças
abrem um leque de caminhos para a imaginação. Alcançam os sentidos escondidos, por
meio de suas produções materiais, gestuais e narrativas. O inconsciente das crianças
é trabalhado, dessa maneira. Como relata Piorski (2016, p. 19), “uma imaginação que
estabelece vínculo entre a criança e a natureza e tem capacidades específicas e maior
plasticidade: é transformadora, regeneradora”.

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É possível observar suas linguagens, colocando a criança como protagonista.


Os quatros elementos da natureza são um código de expressão da vida imaginária.
Como descreve Piorski (2016, p. 19):

[...] Imaginar pelo fogo é criar imagens e narrativas quentes, calóricas, agitadas, guerreiras,
apaixonadas, acolhedoras (se fogo íntimo) e amorosas. Imaginar pela água faz vicejar uma
corporeidade fluida, entregue, emocional, saudosa e até melancólica, cheia de sentimentos,
lacrimosa pela alegria ou pela saudade. Imaginar pelo ar é construir uma materialidade das
levezas, da suspensão, dos vôos, fazer brinquedos expansivos, com coisas leves, penas,
setas, sublimações do brincar. Imaginar pela terra é fazer coisinhas enraizadas no mundo,
na vida social, no interior das formas, buracos, miniaturas, esconderijos, numa busca pela
estrutura da natureza.

O brinquedo livre, construído pela própria criança, é o centro da importância do


brincar em contato direto com a natureza. Em contato com os elementos da natureza,
a criança tem despertado seu interesse pelas formas, sons, gestos, cores, texturas,
sabores e passa, assim, a desejar explorar e examinar, observar detalhadamente tudo
que é existente.
A natureza oferece infinitas possibilidades. que vão além daquilo que os olhos
veem, assim como relata Barros (2018, p. 86):

A presença da natureza no espaço escolar e em outros territórios educativos, aliada à


liberdade para brincar, contribui com processos de aprendizagem que contemplam a
autoria, a criatividade e autonomia da criança.

Esses territórios educativos aumentam o repertório de brincadeiras pois permitem


a realização de atividades diversificadas, de movimento. Sentir-se bem traz sentido e
interesse, além de proporcionar um vínculo positivo com a vida.

METODOLOGIA

O projeto foi desenvolvido em uma escola pública do município de Novo


Hamburgo, no estado do Rio Grande do Sul. No primeiro momento, em uma roda
de conversa, foi realizada uma sondagem com as crianças para descobrir o que
sabiam sobre os quatro elementos da natureza, o planeta terra, seus significados
e importância.
Após essa sondagem e questionamentos, exploramos alguns elementos e
seus sons. Reproduzimos sonorizações utilizando o corpo, identificamos outros
sons de água escorrendo na cascata, chuva, ondas da praia, vento, tornado, furacão
e até mesmo algumas sonoridades de animais. Partindo dessas experiências,
fomos descobrindo os elementos e suas curiosidades. Durante o desenvolvimento
da temática, as crianças desfrutaram de muitos momentos de aprendizagem.

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NA PRÁTICA: BRINCANDO E EXPLORANDO COM OS


QUATROS ELEMENTOS

A BNCC assegura seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento na Educação


Infantil, a partir dos quais as crianças constroem significados sobre si, os outros e o
mundo social e natural. Conforme orienta a BNCC (2017, p.38):

Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando diferentes
linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e
às diferenças entre as pessoas. Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes
espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando
seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade,
suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e
relacionais. Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento
da gestão da escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das
atividades da vida cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos
ambientes, desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo
e se posicionando. Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras,
emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na
escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura em suas diversas modalidades:
as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia. Expressar, como sujeito dialógico, criativo
e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas,
opiniões, questionamentos, por meio de diferentes linguagens. Conhecer-se e construir
sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma imagem positiva de si e de seus
grupos de pertencimento, nas diversas experiências de cuidados, interações, brincadeiras
e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em seu contexto familiar e comunitário.

É dever do professor criar suas práticas pedagógicas a partir do centro de


interesse da criança, levando em consideração suas vivências e contextos, e baseando-
se nas leis que regem seu fazer. A partir dos seis campos de experiências, podemos
trabalhar, refletir, selecionar, organizar, planejar, mediar e monitorar o conjunto de práticas
e interações, garantindo a pluralidade de situações que promovam o desenvolvimento
pleno das crianças.

1º ELEMENTO: ÁGUA, PARA QUE SERVE?

O título dessa categoria de análise serve de ponto de partida para nossas


explorações. No começo do ano, sempre é muito quente. Por isso, nada melhor que
começar com o elemento água, tendo como objetivo colocar em prática noções de
higiene, como dar banho nos brinquedos. Essa atividade exercita a importância do uso
consciente da água, de uma forma lúdica e prazerosa.
Diante de cada proposta pode-se contemplar diferentes campos de experiências,
de acordo com a intencionalidade do professor e também com o interesse e a curiosidade
da criança.
O primeiro campo de experiência, “O eu, o outro e nós”, é assim descrito pela
BNCC (2017, p.48):

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É na interação com os pares e com adultos que as crianças vão constituindo um modo
próprio de agir, sentir e pensar e vão descobrindo que existem outros modos de vida,
pessoas diferentes, com outros pontos de vista. [...] Ao mesmo tempo que participam
de relações sociais e de cuidados pessoais, as crianças constroem sua autonomia e
senso de autocuidado, de reciprocidade e de interdependência com o meio. [...] Nessas
experiências, elas podem ampliar o modo de perceber a si mesmas e ao outro, valorizar
sua identidade, respeitar os outros e reconhecer as diferenças que nos constituem como
seres humanos.

Diante das interações e relações, há a importância da documentação pedagógica,


sendo elas realizadas por meio de registro, utilizando-se dos recursos fotográficos,
observações e anotações, possibilitando acompanhar efetivamente a participação e
envolvimento das crianças.
Imagens 1 e 2 - crianças, sem distinção de gênero,
proporcionando banho às bonecas

Fonte: acervo das autoras.

Dessa experiência do banho, surgiram vários questionamentos, como por


exemplo: “Professora, como é feito o gelo? ”, “Como a água vai parar na nuvem?”.
Aprendemos e discutimos os estados físicos da água: líquido, sólido e gasoso. Logo,
fizemos a técnica de colocar num pote brinquedos que ali coubessem, preenchê-lo
com água colorida feita com corante alimentício e colocá-lo no congelador. Depois
de congelado o experimento, as crianças experimentaram observar o degelo.
Utilizamos o borrifador com água morna para testar outras possibilidades, e o sol
foi um grande protagonista dessa experiência.

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Imagens 3 e 4 - brinquedos congelados na água colorida:


e agora, como faço para descongelar?

Fonte: acervo das autoras.

Observou-se que o grande interesse das crianças foi voltado ao banho de


chuva, pois demonstraram apreço em vivenciar essa liberdade. No inverno, faz muito
frio no Rio Grande do Sul, com pancadas de chuva frequentes. As crianças passam
grandes horas dentro das salas, observando essa beleza da mãe natureza, muitas
vezes não podendo ir para o pátio ou à pracinha, com a justificativa de evitar que
fiquem doentes. As crianças necessitam aproveitar as grandes sensações e emoções
que a chuva permite.
Tudo que a criança vive, experimenta, sente e aprecia a acompanhará pela
sua vida, como relata Augusto (2013, p.112):

A experiência é fruto de uma, elaboração, portando, mobiliza diretamente o sujeito, deixa


marcas, produz sentidos que podem ser recuperados na vivência de outras situações
semelhantes, portanto constitui um aprendizado em constante movimento.

Então, para essa experiência, pedimos com antecedência às famílias guarda-


chuvas e galochas de borracha, para fazer a tão esperada proposta de passeio
na chuva, algo que contagiou e envolveu todas as crianças, que expressaram
sentimentos múltiplos e principalmente alegria, observada no sorriso de cada uma
que participou e até mesmo de quem estava de longe a observar. As crianças
ficavam olhando para as nuvens, tentando ver a chuva cair. Aquela sensação das
gotas pingando no rosto e a de poder pisar nas poças de água, sem se importar
com negativas e tempos determinados. Quanto mais os pequenos exploravam a
chuva, mais imersos na natureza estavam.

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Imagem 5 - passeio na chuva: pracinha nosso lugar favorito!

Fonte: acervo das autoras.

O radiante é ver as expressões nos rostos das crianças, podendo brincar na


pracinha mesmo com chuva, escutar os barulhos na água pingando na poça, sentir a
água molhando o rosto.
Imagens 6 e 7 - explorando a chuva

Fonte: acervo das autoras.

Mas antes de tomar banho de chuva, as turmas exploraram os guarda-chuvas


dentro da sala, a partir da música de FILIMINHOS (2010, n. p.): “Está chovendo, está
chovendo, o que fazer? O que fazer? Abre o guarda-chuva. Abre o guarda-chuva, para
se esconder, para se esconder” .
Estas propostas foram pensadas e refletidas partindo do interesse e das falas do
grande grupo, respeitando suas singularidades e desejos.

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Imagens 8 e 9 - o guarda chuva virou esconderijo

Fonte: acervo das autoras.

As crianças descobriram que, com a água, poderiam fazer diferentes


experiências, mas sempre com a consciência do uso adequado desse elemento.

2º ELEMENTO: AR, PODEMOS SENTI-LO?

Para trabalharmos esse segundo elemento, começamos com movimentos de


respiração. Imaginando ter em uma das mãos com uma rosa e na outra uma vela,
o primeiro movimento deveria ser cheirar a rosa, fazendo a inspiração, entrada do
ar, e depois soprar a vela, fazendo a expiração, saída do ar. Sobre esse elemento
vieram muitas dúvidas e questionamentos, como: “O ventilador faz vento?”,
“Podemos ver o vento?”, “Mas podemos sentir?”. Então, fomos descobrindo juntos
as respostas de todas essas perguntas, de forma prática e ao ar livre. No pátio da
escola e deitadas na grama, as crianças observaram o vento soprando as nuvens,
fazendo uma linda dança no céu, compreendendo, aos poucos, todo esse processo
da natureza.
Todas as propostas desenvolvidas exigiram tempo e, para proporcionarem
efetivamente uma experiência educativa, era necessário dar continuidade a elas.
Assim como relata Augusto (2013, p. 116), “a diversidade de experiências é o plano
de fundo para as elaborações das crianças, mas é a continuidade que promove a
exploração, a investigação, a sistematização de conhecimentos e a atribuição de
sentido”.
Logo, o ponto culminante desse elemento foi quando, depois de um dia chuvoso
e de pátio molhado, fizemos um barco de jornal e o colocamos na poça d’água. O
vento logo chegou e empurrou o barco para o outro lado. As crianças, todas admiradas
com esse movimento, lembraram que, soprando o barco, faziam vento e o barco iria
mais rápido. Juntar os dois elementos, água e ar, em uma proposta pedagógica foi
fantástico e muito significativo para os nossos pequenos, pois proporcionou grandes
aprendizados e a valorização do projeto desenvolvido.

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Imagem 10 - marinheiros de primeira viagem com seu barco de jornal

Fonte: acervo das autoras.

3º ELEMENTO: FOGO E SUAS CURIOSIDADES

Para trabalhar o fogo, nada melhor que uma fogueira. Num primeiro momento,
foi necessário pensar no que precisávamos para sua construção. Surgiram do
grupo grande ideias, bem como “gravetos”, “algo para acender o fogo”, “alguma
coisa no espeto para assar”, e assim uma resposta foi complementando a outra.
Fizemos a saída de campo ao lado da escola, em um terreno baldio, em busca de
gravetos para a nossa fogueira. Cada criança pegou a quantidade que conseguiu e,
chegando à escola, iniciamos a sua construção. Após esse movimento, acendemos
o fogo com fósforo e cada uma se aproximou com seu palito de Marshmallow,
saboreando essa deliciosa vivência. Essa proposta exigiu trabalho em equipe e o
esforço de todos para que alcançassem os objetivos almejados.

Imagens 11 e 12 - a busca por gravetos para


a construção da fogueira

Fonte: acervo das autoras.

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Após fazer nossa saída de campo, preparar a fogueira, organizar os doces,


pudemos desfrutar do Marshmallow assado. Por fim, essa se tornou uma proposta mais
do que coletiva, pois as outras turmas da escola também participaram do evento.

Imagens 13 e 14 - desfrutando do marshmallow assado

Fonte: acervo das autoras.

A partir dos gravetos da fogueira, surgiu outra ideia: “Professora, podemos usar
os galhos como pincel?”. Desse pensamento, fomos dando continuidade como grupo,
reaproveitando os galhos para as pinturas de obras de arte e utilizamos também tinta
natural de beterraba e cenoura. Com a consciência da preservação da natureza e
do ambiente que vivenciamos, utilizamos aqueles elementos caídos no chão para a
construção de lindas pinturas. As crianças sentiram-se grandes artistas de sua própria
obra.

4º ELEMENTO: TERRA

A partir do elemento terra, as brincadeiras estimularam o desenvolvimento


infantil, ampliaram as curiosidades das crianças e, consequentemente, seus
repertórios. Dentro desse campo de experiência, os interesses voltaram-se para
cavar buracos profundos na terra ou na areia para saber o que tem lá, se podemos
sair no outro lado e à procura de tesouros escondidos. Nas pracinhas onde têm
caixas de areia, é possível notar a concentração das crianças, colocando sua
imaginação na brincadeira. Nesses espaços, podemos encontrar grandes arquitetos
e suas construções arquitetando casas, pontes, castelos, dinossauros e monstros,
assim como grandes chefs de cozinhas, preparando deliciosas comidas, como
bolos, sorvetes e sobremesas, tudo decorado com folhas e flores. Um espaço único
e rico, construído pelas crianças, a partir dos elementos da natureza.

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Imagem 15 - as crianças têm a necessidade de colocar


o corpo todo na brincadeira

Fonte: acervo das autoras.

Esta é a magia do brincar na natureza: brinquedos naturais, que permitem


infinitas possibilidades de criar brinquedos e de inventar novas histórias, de acordo
com a realidade e o conhecimento de cada criança.
Muitos dos alimentos que consumimos vêm da terra. Por isso, conversamos
sobre o assunto e, partindo dos debates entre a turma, montamos uma horta,
adubamos e plantamos verduras e legumes, como tomate, alface, tempero verde,
couve, cenoura e beterraba. Para regar, utilizamos o elemento água. A partir
disso, colocamos cisternas embaixo do ar condicionado, para reutilizar a água
que cai dele. Todos os dias, nossos pequenos, com o auxílio das professoras e
das funcionárias da limpeza, molhavam a horta e regavam as flores, reutilizando a
água. Essa prática vem sendo mantida até hoje. No momento certo para a colheita,
nos reunimos, preparamos uma deliciosa salada e uma receita de bolo, utilizando
os produtos naturais que as crianças mesmas plantaram, sem agrotóxicos. A partir
da horta, nasce uma receita. E da receita, uma possibilidade de socialização com
outras turmas para degustação.
Nossa escola como um todo vem resgatando valores e hábitos sustentáveis
de proteção à natureza, aproximando-se das crianças em seu cotidiano, por meio
do plantio de árvores frutíferas, do reaproveitamento da água por meio de cisterna,
do cultivo de horta e de um canteiro de flores. Em todos os cantos da escola a
natureza está presente, seja dentro das salas de aula ou no pátio, espaços que dão
liberdade à criança para descobrirem o mundo que a cerca, além de proporcionar
um encontro sensível com a infância.

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Veja algumas respostas no quadro abaixo:


Quadro 1 - Sondagem dos elementos

Menina Rosa (3 anos):


• “No planeta terra tem humano. Caminhar, brincar e o meu pai faz carinho”.
• “Temos um monte de água e o sapo vive na água”.
Menina Cravo (3 anos):
• “Podemos caminhar com a tartaruga. O ser humano é o pai da Rosa!”.
Menino Joca (3 anos):
• “Eu sou menino. O meu pai coloca azeite no fogo”.
• “A terra tem minhoca”.
Menino Juca (3 anos):
• “A nuvem faz o vento”.
• “Conseguimos ver o ar no ventilador”.
Menina Tulipa (3 anos):
• “Fogo serve para fazer o churrasco, coração e carne”.
• “A terra é marrom”.
Menina Girassol (3 anos):
• “O fogo queima”.
• “Água é chuva”.
• “Água vem do céu”.
Fonte: Arquivo Pessoal (2019).

Outra proposta simples que encantou os pequenos na sala foi brincar com
folhas secas de plátano, permitindo que percebessem vários aspectos, como textura,
quantidade, tamanho, cor, cheiro, peso e formas.
Imagens 16, 17 e 18 - aprendendo matemática com folhas secas de plátano

Fonte: acervo das autoras.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Levando em consideração os aspectos aqui relatados, a partir do projeto, foi


possível perceber o envolvimento das crianças diante das propostas desenvolvidas, pois
estiveram em interação com a natureza e seus pares, vivenciando experiências únicas
e verdadeiras, sendo protagonistas de sua aprendizagem e infância. Foi perceptível o
encantamento das crianças, mostrando a cada experiência suas potencialidades, além
de autonomia, criatividade, imaginação e conscientização sobre o meio em que estão
inseridas.
A brincadeira é, portanto, fundamental para a aprendizagem e o desenvolvimento
da criança, ainda mais se a natureza for vista como elemento como multiplicador de
experiências naturais, proporcionando que os pequenos enriqueçam seu universo,
exercitem os seus direitos e estabeleçam contato com os campos de experiência.
Esse projeto teve como propósito refletir sobre a Educação Infantil e seu real
significado na infância, valorizando o interesse de cada criança e suas particularidades,
para que repensemos constantemente nossas práticas pedagógicas. Seguiremos com a
proposta dando continuidade ao projeto, partindo do interesse das crianças, através de
pesquisas com o grupo e desafiando-nos a cada questionamento realizado.
Constatamos que o professor necessita ter intencionalidade pedagógica para
realizar um bom trabalho na escola e que para saber envolver as crianças deve-se
ter efetividade, saber envolver as crianças nas suas propostas, transformando-as em
protagonistas de seus conhecimentos. É preciso estar com o olhar e a escuta atentos
para os seus interesses, observando, estudando, preparando as propostas, integrando-
as ao meio e ao contexto em que vivemos, explorando os quatro elementos da natureza,
com liberdade e autonomia. A Educação Infantil é a etapa mais importante da vida da
criança, e por isso os professores devem pensar em como transformar a infância sem as
urgências do cotidiano.

REFERÊNCIAS

AUGUSTO, Silvana de Oliveira. A experiência de aprender na Educação Infantil.


In: FLORES, Maria Luiza Rodrigues; ALBUQUERQUE, Simone Santos de (Orgs.).
Implementação do Proinfância no Rio Grande do Sul: Perspectivas Políticas e
pedagógicas. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2015. p. 111–118.Disponível em: <http://editora.
pucrs.br/Ebooks/Pdf/978-85-397-0663-1.pdf>. Acesso em: 28 abril. 2020.

BARBIERI, Stela. Interações: Onde está a arte na infância? São Paulo: Blucher, 2012.

BARROS, Maria Isabel Amando de. Desemparedamento da infância: a escola como


lugar com a natureza. Rio de Janeiro: Criança e Natureza e Alana, 2018.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: 2017.


Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/download-da-bncc/>. Acesso
em: 28.04.2020.

90 Saberes em Foco  Revista da SMED NH  v.3 n.1  ago. 2020


Brincando e explorando os 4 elementos da natureza, relato de propostas desenvolvidas

FILMINHO, Bromélia. Está chovendo. Som Livre. Galinha Pintadinha 2: 2010.

PIORSKI, Gandhy. Brinquedos de chão: A natureza, o imaginário e o brincar. São Paulo:


Editora Petrópolis, 2016.

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