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1 SUMÁRIO

2 INTRODUÇÃO......................................................................................... 3

3 HISTÓRIA DA PSICOMOTRICIDADE ..................................................... 4

4 PSICOMOTRICIDADE ............................................................................ 7

5 DESENVOLVIMENTO MOTOR DA CRIANÇA........................................ 9

6 ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR ............................ 12

6.1 Alguns sintomas relacionados ao esquema corporal mal


estabelecido............................................................................................................13

6.2 Sugestões de atividades para desenvolver o esquema corporal: ... 14

7 LATERALIDADE .................................................................................... 15

7.1 Alguns sintomas relacionados a lateralidade mal estabelecida: ..... 16

7.2 Sugestões de atividade para desenvolver a lateralidade: ............... 17

8 ESTRUTURA ESPACIAL ...................................................................... 18

8.1 Alguns sintomas da estrutura espacial mal estabelecida: ............... 18

8.2 Sugestões de atividades para desenvolver a estrutura espacial: .... 19

9 ESTRUTURA TEMPORAL .................................................................... 20

9.1 Alguns sintomas da estrutura temporal mal estabelecida: .............. 20

9.2 Algumas sugestões de atividades para desenvolver a estrutura


temporal:............................................................................................................21

10 COORDENAÇÃO GLOBAL, FINA E ÓCULO-MANUAL ........................ 22

10.1 Sugestões de atividades para desenvolver a coordenação motora


global: .........................................................................................................23

10.2 Sugestões de atividades para desenvolver a coordenação motora


fina: .........................................................................................................24

10.3 Sugestões de atividades para desenvolver a coordenação óculo-


manual: .................. ......................................................................................... 25

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11 PERCEPÇÃO VISUAL E AUDITIVA...................................................... 26

11.1 Sugestões de atividades para desenvolver a percepção visual: ..... 28

11.2 Sugestões de atividades para desenvolver a percepção auditiva: .. 28

12 A PSICOMOTRICIDADE NA FASE ESCOLAR ..................................... 29

13 APRENDIZAGEM E PSICOMOTRICIDADE ......................................... 38

13.1 O papel da educação psicomotora na escola ................................. 43

14 RELAÇÃO ENTRE AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM E A


EDUCAÇÃO PSICOMOTORA .................................................................................. 48

15 TRANSTORNO PSICOMOTOR ............................................................ 51

15.1 Características Clínicas Gerais dos Transtornos Psicomotores ...... 51

16 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................... 54

17 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 55

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2 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável -
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum
é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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3 HISTÓRIA DA PSICOMOTRICIDADE

Fonte: educacaopublica.rj.gov.br

A educação pelo movimento ao longo do tempo contribuiu para que cientistas


e precursores analisassem a evolução da motricidade humana como um todo. Os
gregos analisavam o corpo negligente em função da mente, acreditava-se que a
mente não tinha relação com o corpo e seus sentidos. Dessa forma, marcos históricos
estimularam profissionais ousados a novos desafios no século XIX.

A Psicomotricidade surgiu na França (1900-1940), em Paris, sendo Dupré o


seu precursor ao evidenciar a “Síndrome da Debilidade Motora”. Verificou que
existia uma estreita relação entre anomalias psicológicas e anomalias
motrizes, levando em consideração a recordação do corpo passado, a
valorização do corpo presente e a reabilitação do corpo futuro (FERNANDES,
2015, apud CANAVER, 2018 p. 64).

Historicamente o termo ‘psicomotricidade’ aparece a partir do discurso médico,


mais precisamente neurológico, quando foi necessário, no início do século XIX,
nomear as zonas do córtex cerebral situadas mais além das regiões motoras. Com o
desenvolvimento e as descobertas da neurofisiologia, começa a constatar-se que há
diferentes disfunções graves sem que o cérebro esteja lesionado ou sem que a lesão
esteja claramente localizada. São descobertos distúrbios da atividade gestual, da
atividade práxica. Portanto, o esquema anátomo-clínico que determinava para cada
sintoma sua correspondente lesão focal já não podia explicar alguns fenômenos
patológicos. É, justamente, a partir da necessidade médica de encontrar uma área
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que explique certos fenômenos clínicos que se nomeia, pela primeira vez, a palavra
PSICOMOTRICIDADE, no ano de 1870.
O corpo passa a ser estudo de profissionais das áreas: neurológica,
psiquiátrica e psicológica, na intenção de compreender o corpo e as estruturas
cerebrais, na necessidade de clarear os fatores patológicos, da síndrome de
debilidades motrizes e debilidades mentais. Dupré integrou os movimentos às funções
psicológicas superiores, à inteligência e à afetividade. Ele estabeleceu uma relação
entre o cérebro e o comportamento sobre a debilidade motora, associado a lei do
paralelismo psicomotor, relacionado ao desenvolvimento motor e intelectual.
Dupré (1913), contradiz a separação corpo – mente, estabelece seus conceitos
da Psicomotricidade: mente - movimento, dessa forma contribui para outros desafios
importantes no nível do desenvolvimento funcional cognitivo, motor e afetivo. A partir
dessa contradição, vários autores seguiram a etiologia de Dupré como Head,
Esquema Corporal; Shlider, imagem do corpo; Piaget, desenvolvimento das crianças
e Wallon (1925), emoções e tônus.
Wallon como médico e psiquiatra, consolidou seu interesse em conhecer a
organização biológica do homem. A partir desse conceito fundou um laboratório de
pesquisa junto à escola francesa com o objetivo em atender crianças “anormais”,
localizada na periferia de Paris. Devido sua dedicação nos atendimentos clínicos e o
interesse pela psicologia da criança, em 1939 ele se muda para sua própria sede.
Wallon, ao longo de sua carreira analisou o estudo da criança como um recurso para
conhecer o psiquismo humano, debruçou com atenção e engajamento no processo
de desenvolvimento infantil.
Dessa maneira, impulsionou médicos, neuropsiquiatras, pedagogos,
psicólogos e outros profissionais às primeiras tentativas de estudos da reeducação
psicomotora, na concepção de agregar como processo básico de intervenção tônica,
mental, motora e afetiva como meio de relação da ação com o outro.
Os estudos consagraram importantes nomes como: Ajuriaguerra, Guilmain,
Erickson, Bérges, Soubiran e Stambak, envolvidos com o trabalho no hospital Henri
Rouselle, na França, onde contribuíram para os primeiros terapeutas psicomotores,
além de desenvolver uma intensa atividade científica propagada pelos projetos de
Wallon. Na França, em 1967, pela equipe Ajuriaguerra com a proposta da Dra. Giselle

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Soubiran, criou o primeiro ISRP (Instituto Superior Reeducação Psicomotor), assim
sendo, em 1974 houve o reconhecimento da saúde como profissão que culminou o
Primeiro Diploma Estadual – Psicorreducador.

Em 1985 foi substituído pelo Diploma Estadual Psicomotricista em docência


de formação. Em 1970, Simone Raiman chega ao Brasil, com suas
experiências psicocinéticas seguindo o mesmo intuito da escola francesa. No
ano 1979 o Ministério da Educação convida a Dra. Dalila Costallat e Dra.
Gisele Soubiran para virem ao Brasil divulgar sua pesquisa: a
Psicomotricidade como processo de reabilitação em pessoa com deficiência
mental. (COSTALLAT, 2009, apud FERNANDES, 2015, P. 3).

Por meio da Dra. Beatriz Loureiro, a Psicomotricidade conseguiu estabilidade


no Brasil, surgiu à fundação GAE - Grupo de Atividades Especializadas em São Paulo,
com o objetivo em atender crianças com dificuldade psicomotoras. Partindo do seu
empenho estabeleceu formação universitária pública e particular, cursos de Pós-
graduação, intercâmbio entre os países Brasil/França.
A expansão da disciplina progrediu na América do Sul, América do Norte,
América Central e em outros países, sendo hoje bem representada na França pelos
presidentes das Delegações OIPR – Organização Internacional da Psicomotricidade
e Relaxação. No Brasil, a Dra. Beatriz Loureiro postulou as formações e atuações de
ontem, hoje e certamente de amanhã. Desde 1996 foi criada em São Paulo a O.N.P -
Ordem Nacional dos Psicomotricistas de São Paulo.

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4 PSICOMOTRICIDADE

Fonte: cpp.org.br

A psicomotricidade caracteriza-se por uma educação que se utiliza do


movimento para atingir outras aquisições mais elaboradas, a exemplo das intelectuais.
A inteligência é uma adaptação ao meio ambiente e para que isto ocorra necessita
primeiramente da manipulação e estímulos adequados, pelo indivíduo, dos objetos
que estão ao seu redor.

Entende-se “psicomotricidade” como uma ciência que se estuda o indivíduo


por meio do seu movimento; movimento esse que exprime, em sua ação,
aspectos motores, afetivos e cognitivos, e que é resultado da relação do
sujeito com seu meio social. O movimento psicomotor está carregado de
intenção, pois é resultado de uma ação planejada (psico) voltada a um fim
determinado. (Gonçalves, 2010, apud ROCHA, 2012, p. 14.).

Portanto, a psicomotricidade preocupa-se com o movimento, ela atua como um


meio, um suporte que auxilia a criança a adquirir o conhecimento do mundo que a
rodeia. Por meio de seu corpo, de suas percepções e sensações, por intermédio da
manipulação constante de materiais que a cercam, ela adquire oportunidades de
descobrir-se.
Quando uma criança percebe os estímulos do meio valendo-se de seus
sentidos, de suas sensações e seus sentimentos, e quando age sobre o mundo e
sobre os objetos que o compõem, por meio do movimento de seu corpo, está
experienciando, ampliando e desenvolvendo suas funções intelectivas. Por outro lado,
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para que a psicomotricidade se desenvolva, é necessário também que a criança tenha
um nível de inteligência suficiente para fazê-la desejar experienciar comparar,
classificar, distinguir os objetos.
Não resta dúvida de que certas crianças apresentam algumas dificuldades em
determinadas tarefas escolares porque não realizam os movimentos adequados. Isso
não significa que a educação psicomotora esteja interessada somente na execução
correta desses movimentos, na aquisição de gestos automáticos. É muito mais do que
isso, pois o interesse maior encontra-se no pensamento que está por trás dessas
ações. Já que o desenvolvimento de uma criança é o resultado da interação de seu
corpo com os objetos de seu meio, com as pessoas com quem convive e com o mundo
onde estabelece relações afetivas e emocionais.
Todo ser constrói o seu mundo com base em suas próprias experiências
corporais. Sabe-se que para uma criança agir segundo seus aspectos psicológicos,
psicomotores, emocionais, cognitivos, sociais, ela precisa ter um corpo organizado.
Esta organização de si mesma é o ponto de partida para descobrir as diversas
possibilidades de ação. O corpo é o ponto de referência que o ser humano possui para
conhecer e interagir com o mundo, e este servirá de base para o desenvolvimento
cognitivo e para a aprendizagem de conceitos tão importantes para a alfabetização.
A psicomotricidade procura, então, proporcionar ao educando condições
mínimas necessárias a um bom desempenho escolar. Neste sentido, ela pretende
aumentar o potencial motor do aluno, dando-lhe recursos e ferramentas para que
desenvolva com maior grau de satisfação suas potencialidades cognitivas e
pedagógicas. Na medida em que dá condições à criança de se desenvolver melhor
em seu ambiente, a psicomotricidade é vista como preventiva. E, também, como
reeducativa, quando trata de indivíduos que apresentam dificuldades cognitivas e
motoras desde o mais leve retardo motor até problemas mais sérios.
Vale destacar a importância de que o aspecto funcional se una ao afetivo, pois
os dois têm que caminhar lado a lado. Por aspecto afetivo ou relacional pode-se
entender a relação da criança com o adulto, com o ambiente físico e com outras
crianças. É muito importante que os educadores demonstrem carinho e aceitação
integral do aluno, para que este passe a confiar mais em si mesmo. Por aspecto
funcional estamos atendendo a forma como um indivíduo reage e se modifica diante

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dos estímulos do meio. O aluno se sentirá bem na medida em que se desenvolver por
meio de suas próprias experiências, pela manipulação adequada e constante dos
materiais que o cercam e também pelas oportunidades de descobrir-se. E isso será
mais fácil de ser atingido, se suas necessidades afetivas estiverem satisfeitas, sem
bloqueios e sem desequilíbrios tônicos emocionais.

5 DESENVOLVIMENTO MOTOR DA CRIANÇA

Fonte: sidrolandianews.com.br

É na gestação que se iniciará o desenvolvimento motor da criança. Até o sexto


mês de vida intrauterina existe apenas a motricidade reflexa e é a partir do sétimo mês
que começa a funcionar a formação reticular inferior do tronco cerebral e é nesta fase
que aparecem os movimentos tônicos limitados à cabeça e ao pescoço e depois à raiz
dos membros. Mais tarde, com a maturação dos núcleos extrapiramidais pros-
encefálicos, surgem os movimentos diferenciados atingindo as extremidades mais
distais dos membros.
Durante os primeiros anos de vida a maturação e todo processo neuromotor
ocupará um espaço considerável. O desenvolvimento mental infantil tem uma
profunda relação com o desenvolvimento motor; permitindo assim, que a criança seja
capaz de controlar seu próprio corpo, sendo desta forma ideal que a criança possa
integrar cada um de seus processos antes de incorporar um novo.

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A função muscular traduz o primeiro modo de expressão do embrião e
aparece bem antes de ser capaz de responder a um estímulo sensorial
externo, portanto o sistema motor é capaz de desencadear e manter sua
própria atividade sem necessidade de um estímulo sensorial. No recém-
nascido há a elevação do tono devido ao estado de necessidade originando
as descargas musculares impulsivas, por gritos e estados de prazer que é
paralelo a diminuição do tono. (LE BOULCH, 1992, apud TASSI, 2014, p.4).

Alguns fatores como de ordem psicológica ou afetiva, neonatal, debilidade


intelectual, estado físico, oportunidade para desenvolver o controle muscular e
incentivo para desenvolver o desenvolvimento colaboram para a falta de habilidade
da criança A estimulação precoce, por meio da família, escola e de todos os adultos
que cuidam da criança durante seu desenvolvimento, é de suma importância, pois
incentiva a cadeia muscular a adquirir destreza e reflexos, no entanto, temos que levar
em consideração o amadurecimento das estruturas neurais dos ossos, tendões e
tecidos corpóreos que juntos desencadeiam a coordenação motora, não devemos
exigir que faça movimentos prematuros ,ou seja, além da fase de desenvolvimento,
porque poderíamos desencadear efeitos desfavoráveis.

“À medida que se colocam maneiras diferentes e novas para executar o


movimento anteriormente conhecido, a criança se vê desorganizada e todo
um sistema cerebral é ativado [...]”. (GONSALVES, 2009, apud TASSI, 2014,
p.5).

Todos nós executamos movimentos reflexos, involuntários, inconscientes que


somente cabe a nós mesmos sentir e modificar o próprio movimento em função da
situação. Sendo assim, é importante colocar a criança à busca de novas situações
para que ela coloque seu cérebro em funcionamento em busca de um resultado
desejado, assim contribuirá não apenas para o desenvolvimento cognitivo, mas
também para sua organização motora, sua autonomia e criatividade.
Diante disto, podemos afirmar que a aprendizagem inclui sempre o corpo,
porque inclui o poder agir associado ao poder sentir, o prazer em pegar um objeto, de
lança-lo, deslocá-lo, pois a participação do corpo no processo de aprendizagem se dá
pela ação e pela representação.
O movimento tem o motivo de obter um resultado concreto que depende das
circunstâncias presentes no meio ambiente, dos objetos, da posição, da projeção no
espaço, do tempo, dos outros, sendo assim, o movimento torna-se comportamento. A
motricidade entendida nos seus vários fatores psicomotores (tonicidade, equilíbrio,
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lateralização, estruturação espacial-temporal, organização práxica fornece
indicadores funcionais sobre a integridade dos substratos neurológicos e dos
processos psicológicos envolvidos na sua regulação e execução.

“É a partir do ato que o homem estrutura seu pensamento, integrando e


integrando-se em um envolvimento social, isto é, se transforma em um ser
único e integrado” (FONSECA, 2008, apud TASSI, 2014, p.5).

É importante diferenciar o desenvolvimento psicomotor e a psicomotricidade. O


primeiro compreende como a interação existente entre o pensamento, consciente ou
não, e o movimento efetuado pelos músculos, com a ajuda do sistema nervoso. Assim,
tem uma interação entre o cérebro e os músculos fazendo com que a criança evolua
progredindo no plano do pensamento e motricidade.
O desenvolvimento psicomotor e a aprendizagem da criança dependem das
interações entre o biológico e o social. Assim o desenvolvimento psicomotor da
criança passa pelas seguintes fases: reflexos, locomoção, preensão, práxia,
linguagem falada, linguagem escrita, sistema perceptivo; e para que a educação tenha
resultado e o ensino funcione com mais eficácia é preciso compreender como as
crianças se desenvolvem e aprendem.
A maior parte do desenvolvimento psicomotor ocorre na fase do pré-escolar.
Sendo assim, a faixa etária que compreende o nascimento até completar oito anos é
muito importante para trabalhar em todos os aspectos do desenvolvimento motor,
intelectual e socioemocional.
Quanto à psicomotricidade, vários autores, estudiosos apontam como uma
ciência que toma como objeto de estudo o corpo e suas manifestações nas dimensões
motora, emocional e cognitiva, demonstrando assim, uma profunda relação entre a
atividade psíquica e atividade motora, bem como suas possibilidades de perceber,
atuar, agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo. Está relacionada ao
processo de maturação e é, portanto, um termo empregado para uma concepção de
movimento organizado e integrado devido as experiências vividas, pois para crescer
e aprender a criança precisa conhecer seu meio e vivê-lo plenamente.

”[...] sendo assim, ela busca por meio da ação motora, estabelecer o equilíbrio
desse ser, dando-lhe possibilidades de encontrar seu espaço e de se
identificar com o meio em qual faz parte”. (GONSALVES, 2009, apud TASSI,
2014, p.6).

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Desta forma, a psicomotricidade envolve toda a ação realizada pelo indivíduo
focando aspectos afetivos, motores e cognitivos, é a integração entre e o psiquismo e
a motricidade que leva o indivíduo à tomada de consciência do seu corpo por meio do
movimento.

6 ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR

1ª etapa: “corpo vivido” (até 03 anos de idade). Começa nos primeiros meses
de vida, onde o bebê ainda não tem noção do próprio corpo, a consciência do "eu".
Nesta fase ele se confunde com o meio, se encontra em total simbiose e não consegue
se perceber. No início desta fase os movimentos são ações motoras que não são
pensadas para serem executadas, pensa-se fazendo, ou seja, suas ações são
espontâneas. A criança quando nasce não tem noção do seu corpo. Seu
conhecimento de corpo vai sendo construído à medida que ela é tocada, acariciada
ou mesmo quando se machuca. Assim, vai percebendo, sentindo, “lendo” o mundo
com seu corpo, e aos poucos, organizando-o e organizando-se. Dessa forma, a ação
motora nos primeiros anos de vida se torna extremamente importante para esta troca
com o meio.
Enquanto a criança brinca, ela observa seus pares, se olha no espelho e por
prática dessas ações aprende. Aprendem pela experiência, nesta fase tem-se uma
necessidade grande de movimento e é através dele que ampliará sua experiência
motora e cognitiva. No decorrer do processo quando a criança evolui por meio de suas
experiências de exploração do corpo, do espaço e do tempo, torna-se possível
construir a primeira imagem do corpo, separando-o do mundo e dos objetos, o que
caracteriza a próxima etapa do desenvolvimento psicomotor.
2ª etapa: “corpo percebido” (03 a 06 anos de idade). Começa aproximadamente
por volta dos três anos, quando a criança passa a se perceber iniciando assim a
tomada de consciência do "eu". Nessa fase ela se diferencia do meio e organiza seu
corpo, quando organiza o espaço, que é determinado pela posição que o corpo ocupa.
O corpo agora é o ponto de referência para se situar e situar os objetos em seu espaço
e tempo. Nesta etapa a criança descobre sua dominância lateral, os conceitos
espaciais como perto, longe, acima ou embaixo começam a ser discriminados.

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Noções temporais aparecem é e possível agora entender a duração dos intervalos de
tempo, de ordem e sucessão de eventos (antes, depois, durante).
A característica desta fase é que o mundo é organizado sobre um ponto de
referência bastante individualizado, a noção do "eu" está mais estruturada, é uma fase
onde o egocentrismo se faz presente. Corresponde à organização do esquema
corporal devido à maturação da "função de interiorização" que é definida como a
possibilidade de deslocar sua atenção do meio ambiente para seu próprio corpo a fim
de levar à tomada de consciência.
3ª etapa: “corpo representado” (06 a 12 anos de idade). Começa
aproximadamente por volta dos seis anos quando a criança já tem noção do todo e
das partes de seu corpo, fala, usa e o desenha de forma elaborada, assume seus
movimentos e os controlam se locomove no espaço com autonomia e independência.
É capaz de atuar por representação. A representação mental da imagem de corpo no
início desta etapa é estática. Mais tarde, a imagem mental adquire movimento,
tornando-se estrutura cognitiva, ou seja, operatória.
No final desta fase a criança já tem uma imagem de corpo operatória, usa o
corpo para efetuar e programar mentalmente ações, isto é, o corpo é estruturado em
pensamento e não precisa necessariamente que a ação motora esteja presente, ela
programa, projeta, imagina e executa com o pensamento a ação do corpo.
O objetivo principal da educação psicomotora é precisamente auxiliar a criança
a chegar a esta imagem de corpo operatório, quando a mesma se torna capaz de
efetuar e programar suas ações em pensamento, sendo também capaz de organizar-
se e de combinar diversas orientações. O ponto de referência já não é mais o próprio
corpo; como pode executar, operar no nível mental, é possível se orientar agora por
objetos exteriores a si e os pontos de referência podem ser escolhidos.

6.1 Alguns sintomas relacionados ao esquema corporal mal


estabelecido:

1) Seu desenho é pobre para a sua idade.


2) A criança executa seu desenho por meio de uma justaposição de
detalhes; como por exemplo, começa desenhando as orelhas, depois os
braços etc.
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3) Insuficiência de percepção ou de controle de seu corpo.
4) Incapacidade de controle respiratório.
5) Má equilíbrio e coordenação dos movimentos.
6) Dificuldade em se locomover em um espaço predeterminado e em situar-
se em um tempo.
7) Lentidão na realização de gestos harmoniosos simples, não consegue
vestir um casaco ou ainda precisa refletir para executar seus gestos ou
ainda, quer agir muito rapidamente, cogira o botão em todas as direções
e só por acaso consegue abotoar sua casa.
8) Falta de domínio de seu corpo em ação. Inicia bem o movimento, mas
sem perceber se distrai.
9) Impossibilidade de se adquirirem os esquemas dinâmicos que
correspondem ao hábito visomotor intervindo na leitura e escrita, como
por exemplo não se dispor bem e nem obedecer aos limites de uma
folha.
10) Confusão em relação as diversas coordenadas de espaço, como em
cima e embaixo, ao lado, linhas horizontais e verticais, sentido de
direção entre a direita e a esquerda.
11) Não desenvolvimento dos instrumentos adequados para um bom
relacionamento com as pessoas e com seu meio ambiente.

6.2 Sugestões de atividades para desenvolver o esquema corporal:

Robô de botões: As crianças sentarão no chão, em círculo e um estará no


meio. Um deles será o robô que ficará no centro, imóvel, outro ficará afastado
enquanto as outras crianças combinam qual será o botão (ponto do corpo: braço,
cabeça, mão, orelha, barriga etc) que será tocado, para que ele se movimente.
Senhor Gelatina: Crianças em círculo; o professor pergunta para elas: “Vocês
conhecem gelatina? Então a gelatina faz assim. ” E o professor faz um gesto bem
engraçado com o corpo e as crianças tentarão imitá-lo.
Caracol: risca-se um caracol dividido em 10 partes e o professor orientará a
criança a passar por cada parte de acordo com seu comando (passos largos, passos
curtos, na ponta do pé, com os braços esticados, andar abaixado, com a mão na
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cintura, com a mão na cabeça, andar segurando o tornozelo, saltitando, mãos para
trás, andar com as pernas abertas).
Encosta, encosta: Andar livremente cantando:
Anda, anda, anda, anda vai andando.
Anda, anda, anda, parar!
Ordem: Cabeça com cabeça. (Em dupla, encostar no colega a parte citada).
Continua a brincadeira nomeando outras partes do corpo.
Vestir a boneca: Entregar uma boneca de pano a criança e algumas peças de
roupa e pedir para que a vista. Poderá conter na nas roupinhas velcro, botões,
elásticos.
Saquinho pelo corpo: No pátio cada criança recebe um saquinho com areia,
que sob o comando do professor, deve andar livremente equilibrando-o na cabeça, no
ombro, na palma da mão, nas costas da mão, sobre o pé, engatinhando com o
saquinho nas costas, entre os joelhos etc.

7 LATERALIDADE

Fonte: colegiobeneditino.com.br

A lateralidade corresponde a dados neurológicos, relacionada à predominância


de um hemisfério cerebral sobre o outro. Cada hemisfério tem funções próprias e
especializadas e quando ocorre a dominância do hemisfério esquerdo sobre o direito,

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temos o indivíduo destro; quando ocorre a dominância do hemisfério direito sobre o
esquerdo, temos o indivíduo canhoto e quando não tem predomínio claro usando
discretamente os dois lados, temos o indivíduo ambidestro.
Lateralidade é tradução de uma assimetria funcional que incide na prevalência
motora de um lado do corpo. Ao perceber seu corpo e seu eixo corporal e seus dois
lados, a criança consegue transpor esse conhecimento para além de seu corpo, isto
é, para a linguagem oral e, finalmente, a linguagem escrita, então perceberá que um
“p” é diferente de um “q” ou “d”.
Todas as noções espaciais básicas como as de em cima- embaixo, por cima-
embaixo, frente atrás, antes depois, e outras, estão estruturalmente dependentes da
noção de lateralidade. Aos 6 a 8 anos é habitual que a criança já tenha noção de
direita e esquerda e dos dois lados do corpo assim, como perceber que direita e
esquerda não dependem apenas uma da outra, mas também, da posição do outro e
do seu deslocamento.

“O conhecimento estável da esquerda e da direita só é possível aos cinco ou


seis anos e a reversibilidade (possibilidade de reconhecer a mão direita ou
esquerda de uma pessoa a sua frente) não pode ser abordada antes dos seis
anos, seis anos e meio”. (De Meur & Staes 1991, TASSI, 2014, p.13).

Ao dominar a lateralidade, a criança aprenderá o gesto gráfico, a reprodução


de formas de escrita e, o encadeamento de modelos gráficos como base necessária
para à aprendizagem da escrita.

7.1 Alguns sintomas relacionados a lateralidade mal estabelecida:

1) Dificuldades de reconhecimento da esquerda-direita.


2) A criança não adquiriu direção gráfica.
3) Dificuldades de discriminação visual, apresenta confusão nas letras de
direções diferentes como p, b, p, q.
4) Má postura que pode ser resultar em um desestímulo decorrente do
esforço que precisa para fazer para escrever.
5) Dificuldades de coordenação motora fina devido a imprecisão dos
movimentos finos.
6) Ritmo da escrita mais lento e às vezes a escrita se torna ilegível.

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7) Perturbações afetivas que podem ocasionar reações de insucesso, falta
de estímulos, para a escola, baixo autoestima.
8) Distúrbios de linguagem, do sono e da gagueira.
9) Aparecimento de maior número de sincinesias (comprometimento de
alguns músculos que participam e se movem, sem necessidade, durante
a execução de outros movimentos envolvidos em determinada ação).

7.2 Sugestões de atividade para desenvolver a lateralidade:

Batata que passa: Crianças em círculo, uma de posse de bola que passará da
direita para a esquerda, enquanto todas cantam: Batata que passa, passa batata que
já passou. Quem está com a batata, coitadinho já dançou! Ao terminar de cantar, quem
estiver com a posse de bola, dançará no meio da roda.
Estafeta de bastões: As crianças em fila, o primeiro com dois bastões e uma
lata, um em cada mão para empurrar a lata que está no chão, devendo levá-la a um
ponto determinado. Após ter ido e voltado, entregar ao segundo da fila até que todos
tenham participado.
Lata barulhenta: O professor faz uma risca no chão e coloca três cadeiras,
uma distante da outra. Ao sinal, a criança sai chutando a lata com os pés,
acompanhando à risca que passa por trás da primeira cadeira, por baixo da segunda,
e dá a volta na terceira, voltando pelo mesmo percurso.
Pé de pau: O professor confeccionará o pé de pau utilizando dois pedaços de
madeira com 20 cm e fará dois furos e prenderá o barbante de modo que fique à altura
dos braços da criança. Deixará que se desloquem livremente e depois comandará o
deslocamento sobre determinadas linhas, entre obstáculos, sobre obstáculos etc.
Pega a bola: A criança deverá pegar a bola (plástica/leve) utilizando-se de um
balde plástico, que o professor jogará sempre de maneira diferente, ora de um lado,
ora do outro, levando o aluno a ter movimentos diferentes.

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8 ESTRUTURA ESPACIAL

Por meio do espaço e das relações espaciais nos situamos no meio em que
vivemos, fazemos observações, estabelecemos relações entre as coisas,
comparando-as, combinando-as. Toda a nossa percepção do mundo é uma
percepção espacial, na qual o corpo é o termo de referência. A escrita, por exemplo,
depende da manipulação das relações espaciais entre os objetos e esta relação é
mantida por meio do desenvolvimento de uma estrutura do espaço.
A estruturação espacial leva a tomada de consciência pela criança e permite
conscientizar-se do lugar e da orientação no espaço que pode ter em relação as
pessoas e as coisas, leva a organizar-se perante o mundo que a cerca, assim pode
prever e antecipar situações em seu meio espacial.
O mundo espacial da criança constrói-se paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor, à medida que cresce a gestualidade e a importância dos
fatores que criam o espaço da comunicação.

“[...], portanto a estruturação espacial é parte integrante de nossa vida; aliás


é difícil dissociar os três elementos fundamentais da psicomotricidade: corpo-
espaço-tempo [...]”. (De Meur & Staes, 1991, TASSI, 2014, p.16).

“[...] a inter-relação dos dados espaciais com os corporais é, efetivamente, o


ponto de partida da construção de uma noção espacial estável, sem a qual
nenhuma função mental complexa pode ser atingida”. (FONCECA, 1995,
apud TASSI, 2014, p.16).

Sendo assim, ter uma noção espacial estável é muito importante, pois é por
meio do espaço e das relações espaciais que observamos as relações entre coisas e
objetos que nos cercam, a percepção da forma, de sua estrutura, composição é por
sua vez dependente da noção desta condição.

8.1 Alguns sintomas da estrutura espacial mal estabelecida:

1) Limitação de seu desenvolvimento mental e psicomotor, incapacidade


de orientar-se.
2) Prejuízo na função de interiorização devido não desenvolver a noção de
esquema corporal.

18
3) Dificuldade de representação mental em diversas situações, dificilmente
encontra suas coisas, pois sua noção de lugar não é nítida.
4) Dificuldade para estabelecer uma progressão (de grandezas).
5) Dificuldade na discriminação visual.
6) Insuficiência ou déficit da função simbólica, incapacidade de associar
termos abstratos como direita e esquerda, convencionais, ao que sente
ao nível proprioceptivo.

8.2 Sugestões de atividades para desenvolver a estrutura espacial:

Pinguim maluco: As crianças espalhadas pela sala ou quadra, em círculo,


começam a imitar um pinguim, e uma é apontada e deverá fazer outro movimento
para que todas a imitem. Logo em seguida todos voltam a imitar o pinguim. Nesta
atividade, todos participam ativamente e pode-se imitar outros bichos.
Carteiro: As crianças ficam sentadas em círculo e o professor inicia falando:
“O carteiro mandou uma carta... (suspense) só para quem está de camiseta branca! ”
Todos que estiverem de camiseta branca trocam de lugar rapidamente, mas não
podem ir para o lugar do lado. Quem não consegue trocar de lugar com outro fica fora
da brincadeira. A brincadeira prossegue com comandos variados. (Só para quem
estiver de cabelo preso, solto, de anel, tênis preto etc).
Brincadeiras com pneu -Com pneus usados (preferencialmente pequenos),
pintados ou não, servindo como obstáculos, barreiras, alvos. - A criança rola o pneu
livremente pelo pátio, andando ou correndo atrás. - Pneus enfileirados para a criança
passar entre eles; saltar dentro; passar entre eles em zig-zag, segurando na cintura
do colega formando um trenzinho. - Rolar o pneu ao companheiro. - Arremessar o
saquinho de areia dentro do pneu.
A procura: Dispersos no pátio, o professor fala uma cor, material ou objeto e
todos correm e tocam. Aquele que primeiro encontrar e tocar deve informar qual o
próximo item a ser informado.
Fuga dos pássaros: Formação em círculo, duas crianças no centro do círculo;
cantar uma canção e quando terminar de cantar os pássaros tentarão fugir (crianças
do centro) e as outras, de mãos dadas tentarão impedir. Quando todos fugirem,
escolhe-se outros dois alunos para serem os pássaros e continua a brincadeira.
19
9 ESTRUTURA TEMPORAL

Para entender o movimento humano, as noções de corpo, espaço e tempo têm


que estar intimamente ligadas, pois o corpo coordena-se, movimenta-se dentro de um
espaço determinado em função do tempo. Desta forma a orientação espaço-temporal
está integrada respondendo as funções de análise, processamento e armazenamento
da informação. Um indivíduo deve ter capacidade para lidar com os conceitos de
ontem, hoje e amanhã. A criança percebe a sequência dos acontecimentos, não
consegue extrapolar suas ações para o passado ou o futuro, ela vive seu presente.

A estruturação temporal é a capacidade de situar-se em função da sucessão


dos acontecimentos como antes, após e, durante; da renovação cíclica de
certos períodos; do caráter irreversível do tempo. (De Meur & Staes, 1991,
apud TASSI, 2014, p.18).

Por meio da estruturação temporal a criança tem consciência da sua ação, o


seu passado conhecido e atualizado, o presente experimentado e o futuro
desconhecido é antecipado. A palavra escrita necessita orientação no papel utilizando
as linhas e o espaço próprio a ela e a palavra falada emitir palavras de forma ordenada
e sucessiva, obedecendo um certo ritmo, uma atrás da outra em um determinado
tempo. A orientação temporal é composta de quatro etapas, são elas:
1) Ordem e sucessão: o que se passa antes, depois e agora.
2) Duração dos intervalos: noções de tempo decorrido, a diferença entre
uma hora e um dia, deverá perceber o que passa depressa, o que dura
muito tempo.
3) Renovação cíclica de certos períodos: os dias (manhã, tarde, noite), as
semanas, as estações.
4) Ritmo: noção de ordem, de sucessão, de duração, de alternância.

9.1 Alguns sintomas da estrutura temporal mal estabelecida:

1) Dificuldade na organização do tempo, não prevendo suas atividades, se


perde no tempo durante a realização da tarefa.
2) Dificuldade em perceber os intervalos de tempo, o que vai mais depressa
e mais devagar.
20
3) Não se organiza na direção esquerda-direita.
4) Falta de padrão constante de ritmo ocasionando falta de coordenação
motora na realização dos movimentos.
5) Apresenta confusão na ordenação e sucessão dos elementos de uma
sílaba, isto é, não percebe o que é primeiro e o que é o último;
escrevendo porblema em vez de problema.
6) Escreve as palavras de forma interrupta, sem espaço entre elas, mistura
os fatos.

9.2 Algumas sugestões de atividades para desenvolver a estrutura


temporal:

Bola ao alto: No pátio as crianças ficam em pé com uma bola de meia na mão.
A um sinal, cada um deve jogar a bola para o alto e bater uma palma e apanhá-la,
depois jogá-la e bater duas palmas, três, até onde conseguirem.
Pêndulo: Em pé a criança deve fazer um pêndulo para frente e para trás, com
os braços e em um tempo rápido, devendo mantê-los por alguns segundos. O
professor irá orientando para desacelerar lentamente e voltar a acelerar.
Tambor: O professor marca uma série de percussão em um tambor e as
crianças se deslocam conforme as batidas devendo ter muita atenção quanto a batida
podendo acelerar, diminuir o ritmo, manter, espaçar.

21
10 COORDENAÇÃO GLOBAL, FINA E ÓCULO-MANUAL

Fonte: pinterest.com

Para que uma pessoa possa manipular objetos de modo satisfatório do


ambiente em que vive, necessita de algumas habilidades essenciais. Precisa ter o
domínio dos gestos e do instrumento, assim como do equilíbrio e habilidades. Saber
movimentar-se no espaço e tempo com desenvoltura que, para tanto, dependem da
maturação do sistema nervoso. A partir das primeiras explorações motoras, a criança
descobre-se a si própria e, simultaneamente, descobre o mundo a sua volta.

Somente por meio de uma coordenação dinâmica adequada a criança


consegue estabelecer relações de ação e movimento que serão o carro-chefe
da educação de sua motricidade. (BUENO,1988, apud TASSI, 2014, p.19).
Coordenação global é a coordenação geral do corpo e da motricidade e
interação, precisão e harmonia dos padrões posturais e locomotores onde
participam os grandes músculos. (FONSECA, 2008, apud TASSI, 2014,
p.19).

É por meio da movimentação e da experimentação que a criança vai se


adaptando e buscando, cada vez mais, um equilíbrio mais harmonioso,
consequentemente vai se conscientizando das suas posturas e de seu corpo.
Envolve, portanto, atividades dos grandes músculos e, leva a criança a
desenvolver a capacidade de realizar múltiplos movimentos ao mesmo tempo. Ao
chegar à idade escolar, a criança já deve possuir uma certa coordenação global do
movimento e o professor da Educação Infantil deve observar caso a criança apresente

22
dificuldades em relação a postura e controle corporal, por exemplo, se apresenta
cansaço ou deficiência na realização do movimento, precisa corrigir as posturas
inadequadas a fim de adquirir uma coordenação mais satisfatória.

A coordenação motora fina “[...] ilustra a coordenação fina da mão e dos


dedos em tarefas que implicam funções corticais superiores, envolvendo
destrezas como o construir, o manusear, o recepcionar e o projetar de
objetos, assim como o desenhar, o escrever [...]. ” (FONSECA, 2008, apud
TASSI, 2014, p.20).

Portanto, a coordenação motora fina diz respeito à habilidade e destreza


manual e, para atingir uma coordenação motora fina é necessário que haja também
um controle ocular, ou seja, a visão associada acompanhando os gestos da mão. Esta
ação é denominada de coordenação óculo-manual ou visomotora, refere-se, então,
em movimentos baseados na percepção visual.

Em relação a coordenação óculo-manual, ou visomotora, é a “ capacidade de


coordenar a visão com produção de respostas grafomotoras, como no
desenho, na cópia ou na escrita, ou até mesmo nas atividades lúdicas de
manipulação. ” (GONSALVES, 2009, apud TASSI, 2014, p.20).

Como facilitador da fixação da atividade entre o campo visual e a motricidade


da mão e dos dedos, encontram-se as experiências dinâmicas de lançar-pegar que
são também muito importantes para a escrita provocando uma maior coordenação
óculo-manual.

10.1 Sugestões de atividades para desenvolver a coordenação motora


global:

O astronauta distraído: Riscar círculos no chão, de modo que fique um


participante sem círculo. Quando o professor gritar “estrelas”, os participantes devem
correr para ocupar um círculo; o que não conseguir será o que gritará “universo”, todos
os participantes saem correndo pelo pátio. Ao sinal “estrelas” todos voltam ao círculo.
Arrebata balão: Um aluno com um balão cheio, preso a um cinto, ao sinal do
professor os colegas o perseguem para tirar-lhe o balão; quem conseguir pegar o
balão prenderá o cinto e continua a brincadeira.
Lenço atrás: Sentados em círculo, um colega do lado de fora do círculo
segurando um lenço; o aluno de posse do lenço anda em volta do círculo e deixa cair
23
um lenço atrás de um colega, este sai correndo atrás dele que deverá ocupar o lugar
vazio; o aluno de posse do lenço continua a brincadeira.
Andar ao som do pandeiro: O professor risca no chão uma linha circular, um
oito, um caracol para realizar esses exercícios e determina em qual dos espaços as
crianças irão realizar as atividades, podendo variar de um espaço a outro. Enquanto
o professor estiver balançando o pandeiro, ele deve mudar a posição ou fazer um
gesto que será imediatamente imitado pelos alunos. Depois recomeçar a balançar o
pandeiro e os alunos continuam caminhando. O exercício se repete sucessivamente.
Exemplo para variar em cada batida: - dar meia volta, - dar um salto, -agachar, - formar
estátuas etc.
Andar transportando objetos: Os alunos ficam em pé sobre a linha. Uma
criança recebe um objeto para equilibrar e leva-o até um colega que está do outro lado
da linha. Este, por sua vez, sai do seu lugar e transporta o objeto para outra criança e
assim sucessivamente. (Colher com ovo, copo plástico com água, pilha de blocos
lógicos etc)
Chute ao alvo: O professor dá o sinal e as crianças dispostas lado a lado e
cada um em posse de uma bola de meia se coloca em cima da linha de dando um
chute na bola de meia tentando derrubar a garrafa que está a sua frente; caso não
derruba deve buscar a bola, se posicionar e tentar novamente.

10.2 Sugestões de atividades para desenvolver a coordenação motora


fina:

Massinha: Modelar livremente podendo utilizar forminhas de plástico, joguinhos


de panelinhas, estimulando a brincadeira do Faz de Contas (fazer bonecos, bichos,
biscoitos, bolinhos, letras, números, etc.). Amassar papel com uma mão, depois
comas duas mãos e abrir. Recortar pedacinhos de papel, EVA, TNT e colar livremente
no papel kraft. Prender pregadores na beira da caixa. Colar grãos variados em cima
de várias linhas.

24
10.3 Sugestões de atividades para desenvolver a coordenação óculo-
manual:

Chuvinha de papel: Crianças dispostas pela sala, sendo colocados 4 cestos


de lixo nos cantos da sala. Distribuir uma folha de jornal para cada criança pedindo
que façam bolinhas e arremessem. A seguir colocar uma música e incentivá-las a
pegarem as bolinhas do chão e jogá-las dentro do cestinho de lixo, até que não tenha
mais nenhuma bolinha no chão. Repita a brincadeira se as crianças gostarem.
Acerte o alvo: Crianças organizadas em fila tendo de posse uma bola. A frente
garrafas espalhadas sendo intercaladas umas próximas a outras. Ao sinal cada
participante deverá acertar o alvo, tentando derrubar a maior quantidade possível. As
garrafas podem ser enchidas com água, corante e glíter com auxílio das crianças.
Acerte o alvo com caixinhas: As crianças organizadas em fila tendo como
posse uma bola. A frente deverá conter várias caixinhas coloridas que deverão estar
empilhadas uma sobre as outras sendo intercaladas umas próximas das outras. Ao
sinal cada participante tentará derrubar a maior quantidade possível de caixinhas.
Acerte o círculo: Marcar uma linha no chão onde ficarão as crianças e
desenhar 3 círculos a uma distância de uns 4 metros da linha; cada criança atira 3
moedas com a intenção de que fiquem dentro do círculo que lhe interessar. Após as
tentativas passar a vez ao outro.
Boliche: As crianças, com a ajuda da professora, colocam as garrafas plásticas
em pé e aglomeradas; recebem uma bola e de um determinado local tentam acertar
e derrubar as garrafas rolando a bola. Poderá dispor as garrafas coloridas, lado a lado
e pedir para que tentem derrubar uma cor específica.

25
11 PERCEPÇÃO VISUAL E AUDITIVA

Fonte: profjfrias.com.br/

Considera-se a discriminação visual como sendo a diferenciação de figuras, de


letras, de formas, de números, etc., produzindo classificações e categorizações; e
define-se a percepção visual como a capacidade de perceber, interpretar e integrar o
que os olhos veem, cita como exemplo, processar significados a partir de símbolos
visuais, como na leitura e na escrita. A exploração visual é verificada logo após do
nascimento destacando papel significativo da visão na interação com o meio envolvido
tornando assim, o canal sensorial mais importante de comunicação interpessoal com
o outro.

[...]“inicialmente, a criança explora o objeto com a mão, e mais tarde, com a


visão, fazendo com que a informação visual seja controlada e categorizada
com a informação motora”. (FONSECA, 2008, apud TASSI, 2014, p.23).

À medida que o sistema nervoso da criança vai amadurecendo, seu aparelho


visual também acompanha esse processo fazendo com que ela consiga distinguir o
objeto e pessoas. Isso se dá por meio da associação com outros dados receptores,
no entanto, precisa aprender a controlar os movimentos dos olhos e mesmo com uma
estrutura muscular do olho perfeita é preciso construir padrões de impulsos
neurológicos que consequentemente auxiliará a desenvolver uma maior percepção
tátil.

26
Uma boa discriminação visual auxilia a criança a se desenvolver
adequadamente fazendo com que apresente uma visão periférica; percepção da
profundidade; relação entre os objetos em movimento; julgar uma distância entre
objetos; conscientização da esquerda e direita etc.
Uma das causas da discriminação visual pobre é a desordem da movimentação
do olho o que faz com que a criança não consiga mantê-lo na mesma direção quando
lê e como consequência ao ler pulam frases ou leem novamente a mesma linha sem
perceber; pode apresentar confusão de letras como d e b, f e t, h e b etc., também
apresentar supressão de letras e deformações em letras aglutinadas tornando a leitura
lenta, cópia com muitos erros e disortografia, demonstrando assim, falta de controle
ocular. Tanto o aparelho visual quanto o auditivo são de suma importância para a
aquisição da leitura e escrita.

[...] é por meio do aparelho auditivo que recebemos uma infinidade de sons
imprescindível para o reconhecimento de mundo, sendo a audição um
sistema sensorial básico indispensável para a estruturação do sistema
simbólico humano. (GONSALVES, 2008, apud TASSI, 2014, p.24).

O bebê apresenta uma imensa capacidade para o tratamento dos sons da


linguagem que são essenciais para o contato com o meio, gratificações e
conhecimentos.

”[...] a criança deve ser capaz de identificar os sons e ter compreendido a


significação da passagem do som ao sinal gráfico”. (Le Boulch, 1987, apud
TASSI, 2014, p.24).

Desta forma, a discriminação auditiva é a capacidade em diferenciar à


similaridade ou diferenças entre os sons que formam a língua oral e está intimamente
ligada à atividade motora, principalmente à escrita e ao ditado. Ao aprender a ler a
criança terá que associar o som percebido à grafia, além da decodificação,
simbolização e a memorização. A decodificação se concretiza quando acontece o
significado ao som que ouve. Uma criança que apresenta falha na discriminação
auditiva está propensa a confundir algumas letras pelo som como p por b (pombo-
bombo), j por ch (tijoloticholo), d por t (dado-tato), g por c (gato-cato), j por x (janela-
xanela) etc.

27
11.1 Sugestões de atividades para desenvolver a percepção visual:

 Reproduzir desenhos usando legos, blocos lógicos, cubos, brinquedos


de construção.
 Proporcionar figuras e objetos concretos de formas, cor, tamanhos iguais
e diferentes, classificar, selecionar.
 Procurar em revistas formas, letras, objetos solicitados. Jogo dos 7
erros, jogo da memória.
 Criar formas e letras com massinha, areia, tecido, lixa, creme de barbear
e outros meios sensoriais.

11.2 Sugestões de atividades para desenvolver a percepção auditiva:

 Explorar sons, movimentos e acompanhar ritmos lentos e rápidos:


 Provocar sons com o próprio corpo como soprar, estalar, bater pés no
chão, bater um pé no outro, bater palmas, bater as mãos no próprio
corpo, bater as mãos em objetos.
 Manipular objetos que provoquem ruídos como sacudindo, batendo,
raspando, amassando, apertando.
 Fazer movimentos como andar, saltar ao som de um estímulo sonoro;
quando este cessar as crianças cessam o movimento (música, palmas,
apito, tambor, instrumento de percussão).
 Dançar e parar sucessivamente, seguindo um estímulo sonoro.
 Entregar um instrumento musical a cada criança para explorarem o som.
Num segundo momento, somente são explorados o barulho e o silêncio,
isto é, com o comando do professor eles devem tocar os instrumentos e
com um novo comando parar de tocá-los. Como variação pede-se para
cada criança tocar o seu instrumento. Explorar o “silêncio” e pedir que
ouçam com atenção e relatem os barulhos externos.
 Reconhecer sons (passos, campanha, relógio,) vozes (pessoas e
animais), instrumentos; adivinhar o que o colega faz (bater palmas,
tossir, rasgar o papel, amassar o papel).

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12 A PSICOMOTRICIDADE NA FASE ESCOLAR

Fonte: solarcolegios.org.br

O primeiro contato do ser humano com o mundo é pelo movimento. Durante


toda a vida a pessoa possui uma visão de si própria influenciada pela percepção de
seu corpo e suas peculiaridades de força e habilidades em atividades físicas.
O movimento é um dos fatores que dá ao homem o desenvolvimento físico que
o acompanhará por toda a sua vida, desde a sua infância até no desempenho
funcional nas diversas atividades profissionais que os indivíduos irão exercer na
sociedade. Por meio da fala, dos gestos, dos olhares, dos movimentos e da emoção,
e também através da linguagem verbal e corporal é que ele se faz entender em relação
as suas necessidades de sobrevivência.
A Psicomotricidade proporciona ao indivíduo um melhor domínio do seu corpo,
sendo fator essencial e indispensável ao desenvolvimento global e uniforme da
criança. Deve-se destacar a importância do desenvolvimento psicomotor bom como
também do desenvolvimento cognitivo.
A base do o processo intelectivo e da aprendizagem da criança está na
estrutura da Educação Psicomotora, onde a sua evolução parte do geral para o
específico, caso a criança apresente problema, na maioria das vezes, este ocorrerá
no nível das bases do desenvolvimento psicomotor, por isso, torna-se necessário a
utilização dos elementos básicos da psicomotricidade, sendo fundamentais na

29
aprendizagem do desenvolvimento do Esquema Corporal, da Lateralidade, da
Estruturação Espacial, da Orientação Temporal e da Pré-Escrita, tendo em vista que
se ocorrer algum problema de ordem psicomotora, a aprendizagem poderá ser
prejudicada.
A formação das habilidades físicas do indivíduo acontecerá ao longo da sua
interação com o mundo social. Ao dominar o uso de um número cada vez maior de
objetivos, ele ao mesmo tempo aprenderá a agir em situações mais complexas,
buscando identificar os significados e situações nas ações vivenciadas.

[...] a interação com o meio social é o primeiro espaço em que a criança


conhece e reconhece seu corpo, onde as noções de proximidade, separação,
vizinhança, continuidade estarão organizadas numa relação de oposição
(parte/todo, pequeno/grande, parecido/diferente, dentro/fora), sendo estas,
elaboradas de acordo com as suas explorações táteis e cinestésica. (SMOLE,
1996

Acreditava-se que o pensamento da criança e a organização de seu esquema


corporal constituem-se paralelamente, desde o nascimento e nas demais fases, onde
que o pensamento só ocorrerá com a interação de suas ações físicas com o ambiente,
na mais tenra idade, a criança utiliza o corpo como ferramenta operacional e
relacional.
A criança desde o nascimento tem como característica principal o progressivo
domínio da atividade motriz voluntária, sendo o homem o ser que possui o período
mais prolongado de imaturidade relativa a outros animais. O movimento é uma das
características principais, que o diferencia dos outros animais, fazendo que se
produza uma maturação de atitudes para seu desenvolvimento psicológico. A
característica principal da criança, durante sua primeira infância é o progressivo
domínio da atividade motriz voluntária que se verifica com a diminuição das
sincinesias, onde consegue o controle voluntário do movimento, sendo que estes se
tornam cada vez mais corretos.

A importância do desenvolvimento das habilidades básicas pode ser vista de


uma maneira mais sistemática na pré-escola, que tem a função de fornecer à
criança os pré-requisitos necessários para a aprendizagem da leitura e da
escrita (MEUR; 2001, apud FONTANA 2012, p. 21).

Até os dez anos pode se verificar a segunda etapa de desenvolvimento motor,


onde ocorre um aperfeiçoamento gradativo dos movimentos dos anos anteriores,
30
durante o período de sete a oito anos das atividades iniciadas no ano anterior, é neste
tempo que se adquiri a precisão dos movimentos. No período de oito a dez anos,
ocorre à mecanização dos movimentos habituais e aceleração natural dos mesmos,
até ficaram ágeis. Os padrões motores fundamentais parece adquirirem formas
maturas por volta dos seis aos sete anos de idade, desde que a criança tenha tido
acesso a uma estimulação adequada, o autor coloca que “[...] os padrões motores
fundamentais parecem adquirir formas maturas por volta dos seis/sete anos de idade
desde que a criança tenha tido acesso a uma estimulação adequada”.
O controle voluntário é tão complexo, que é necessários mais de vinte anos
para se crescer física e mentalmente. Sendo que dos cinco a dez anos, segundo
alguns autores a crianças faz parte de uma posição intermediária, tanto no sentido
biológico como no sentido cultural. Este período caracteriza-se de grande importância,
pois ela passa a diferenciar movimentos e sensações, lhe permitindo ação e
representação do seu próprio corpo.
Ao entrar na escola, ou mesmo, até antes da escolarização, a criança domina
uma série de movimentos que lhe são úteis, usando-os de acordo com as
necessidades que enfrenta. A influência da psicologia sobre a pedagogia, tornou-se
mais intensa a partir das pesquisas psicológicas e do desenvolvimento de métodos
de observação, a aprendizagem se intensifica quando há possibilidades de que as
crianças manuseiam o material. Quando Piaget criou o modelo piagetiano, que
chamou de método clínico, deu aos educadores uma grande contribuição. Este
método vem apontando um caminho e uma proposta pedagógica que teve como
objetivo deixar a criança aprender, expondo a maneira pela qual está concebendo e
compreendendo a realidade.
Segundo suas pesquisas, o conhecimento é constituído através de interações
do sujeito com o objeto, onde o desenvolvimento cognitivo dar-se-á pela assimilação
do objeto de conhecimento e estruturas anteriores presentes no sujeito e pela
acomodação dessas em função do que vai ser assimilado. O desenvolvimento e
aprendizagem são processos que se influenciam reciprocamente de modo que,
quanto mais aprendizagem, mais desenvolvimento.

Todas as experiências da criança (o prazer, a dor, o sucesso ou fracasso)


são sempre vividas corporalmente. Se acrescentarmos valores sociais que o
meio dá ao corpo e a cerção de suas partes, este corpo termina por ser

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investido de significações, de sentimentos e de valores muito particulares e
absolutamente pessoais (VAYER, 1984, apud FONTANA 2012, p. 22).

O movimento humano vai além do deslocamento do corpo no espaço, ele


possui uma linguagem que permite às crianças agirem sobre o meio físico, atuando
sobre o ambiente, e assim tendo mais intencionalidade nas ações. Tanto as ideias de
Piaget, Wallon, Gesell e Pierre Vayer, destacam-se por compreender que o
movimento é uma significação expressiva e intencional, uma manifestação
importantíssima do ser humano, sendo fundamental a sua intencionalidade, pois
envolve o ser humano no mundo. A psicomotricidade neste caso é pensada como a
relação entre o pensamento e a ação, onde as emoções estão envolvidas.

Corpo e mente deve ser entendida como componentes que integram um


único organismo. Ambos devem ter um assento na escola, não um (a mente)
para aprender e o outro (o corpo) para transportar, mas ambos para se
emancipar. Por causa dessa concepção de que a escola só deve mobilizar a
mente, o corpo fica reduzido a um estorvo que, quanto mais quieto estiver,
menos atrapalhará (FREIRE; 1989, apud FONTANA 2012, p. 22).

Os profissionais da área de Educação Física há várias décadas vem buscado


aprimorar seus conhecimentos sobre a criança e o movimento através de estudos,
incorporando em sua prática, mudanças significativas para o bom desempenho da
criança, sendo que até pouco tempo a preocupação destes profissionais estava
centrada nos adultos. Segundo algumas literaturas o termo psicomotricidade, data do
início do século XX, onde o assunto era apenas abordado excepcionalmente,
afirmando-se aos poucos, e chegando ao seu ápice, a partir do momento que foi
evoluindo nos seus diversos aspectos, ou seja, cognitivos motores e afetivos,
passando a ver a criança no seu todo.

A criança passa a ser vista como um ser historicamente situado, dona de um


saber que é importante para sua vida em sociedade, tem capacidade crítica
para situar-se no mundo, para ser por ele modificada e para transformá-lo
(GALLARDO; apud FONTANA 2012, p. 23).

É necessário um trabalho sério que colabore no desenvolvimento dos alunos,


e que este trabalho possa ser iniciado nas escolas infantis, que possibilitem sua
continuidade em toda a escolarização da criança. O trabalho com a educação
psicomotora deve ser baseado na educação, objetivando o desenvolvimento das

32
capacidades e rendimento, visando à eficiência e adequando aos diferentes níveis de
habilidade, respeitando a personalidade e vontade e a motivação do educando. Este
trabalho de base tem como objetivo favorecer o desenvolvimento dos gestos e
movimentos, desenvolver equilíbrio, aprimorar e aumentar a capacidade de percepção
do corpo, visando uma melhora no desenvolvimento da coordenação global e fina.

A educação psicomotora deve ser considerada como uma educação de base


na escola primária. Ela condiciona todas as aprendizagens pré-escolares e
escolares; leva a criança a tomar consciência de eu corpo, da lateralidade, a
situar-se no espaço, a dominar seu tempo, adquirir habilmente a coordenação
de seus gestos e movimentos. A educação psicomotora deve ser praticada
desde a mais tenra idade; conduzida com perseverança, permite prevenir
inadaptações difíceis de conduzir quando já instaladas (LE BOULCH; 1988,
apud FONTANA 2012, p. 24).

A educação psicomotora neste início da vida escolar possibilita uma melhora


organizacional, bem como, dá ao educando melhores possibilidades na resolução de
exercícios de análises lógicas e de relação entre os números. Os responsáveis pela
escolarização devem procurar desenvolver a psicomotricidade (de controle e
aprimoramento dos movimentos), a percepção (diferenciações visuais e auditivas), os
diversos tipos de linguagem e o raciocínio lógico, além de estimular a criatividade das
crianças.
As lições de psicomotricidade na escola, serão principalmente centradas em
uma noção, muito frequentemente repetidas, em que elas manipulem materiais de
toda espécie. Para que se tenha um desenvolvimento adequado nas escolas de
primeiro grau é necessário um trabalho sério que colabore no desenvolvimento dos
alunos.
Qualquer que seja o nível de ensino considerado, a educação deve em cada
momento, levar o aluno a um maior grau de desenvolvimento possível. Os conteúdos,
as tarefas, as atividades de aprendizagem, as interações do professor e todas as
decisões didáticas devem ser valorizadas, segundo seu maior ou menor grau de
adequação para alcançar os objetivos, que é o da aprendizagem. Não existem limites
inferiores de idade para o começo do desenvolvimento das qualidades motoras.
Existem apenas métodos e meios adequados para isso, períodos de
desenvolvimento mais intensos e outros de relativa estagnação. Nas últimas décadas
vários profissionais têm buscado aprimorar seus conhecimentos incorporando, em sua
prática, mudanças significativas para o bom desempenho do aluno. Com a evolução
33
da psicomotricidade, a criança passou a ser vista como um todo, no seu aspecto
cognitivo, motor e afetivo. O papel da escola no desenvolvimento da criança, a
interação pedagógica, pretende que cada criança atinja mais cedo e em melhores
condições aquilo que naturalmente seria de esperar no seu desenvolvimento, do que
deixá-la livre aos seus próprios investimentos e envolvimento. A escola proporcionará
meio, através de atividades diferenciadas, que exigirá novas experiências, tarefas a
nível cognitivo, onde a criança deverá transferir algo interiorizado através de gestos
mecânicos, até produzir à escrita.

Toda a ação torna-se possível porque houve uma ação coordenada que ligou
os movimentos em função de um objetivo, ou seja, o gesto mecânico produz
uma ação com objetivo, e só é possível porque houve a coordenação, que
nada mais é que o saber corporal. A essa ligação entre o saber e a ação
denomina-se psicomotricidade (FREIRE; 1989, apud FONTANA 2012, p. 24).

O estímulo ao desenvolvimento motor é de tal importância que quando ocorrem


falhas no desenvolvimento motor, falhas podem ocorrer no processo de aprendizagem
da criança, tais como: dificuldade na aquisição da linguagem verbal e escrita. A falta
de um repertório de vivências concretas para a criança, que faz parte do universo
simbólico constituído na linguagem, consequentemente contribuirá para afetar o
processo de aprendizagem.
Quando o desenvolvimento psicomotor é mal constituído, a criança poderá
apresentar problemas sérios na fase de alfabetização. A educação psicomotora deve
ser considerada como uma educação de base na educação infantil e séries iniciais.
Ela influência e torna-se requisito para o processo de alfabetização. Levando a criança
a tomar consciência de seu corpo, de sua lateralidade, a situar-se no espaço, a
dominar seu tempo, adquire a prática de agir, como também, a coordenação de seus
gestos e movimentos.
A criança precisa ser estimulada desde cedo, pela família, pela escola ou por
ambas. A educação psicomotora envolve e comanda todo o processo de aprender,
tanto na coletividade ou no individual. A própria psicomotricidade quem auxilia o
educando no processo de aprendizagem e que contribui no processo de apreensão
nas atividades escolares, dando a base para o desenvolvimento intelectual, sendo
desenvolvidas, a partir primeiramente de experiências motoras, exigindo para sua

34
realização o uso das funções cognitivas, tornando a psicomotricidade um
procedimento que permite e auxilia no desenvolvimento da inteligência humana.
Alguns psicólogos acreditam que quanto mais cedo à criança frequentar a
escola, melhor será seu desenvolvimento total, pois, a escola torna-se uma
experiência enriquecedora para a criança, principalmente por ser um período onde ela
passa por uma série de mudanças físicas, cognitivas e afetivas, e a escola poderá
propiciar o contato com o mundo.
Aprendizagem se intensifica quando existe a possibilidade de que as crianças
manuseiam materiais. A necessidade da educação psicomotora baseada no
movimento. Sendo a educação psicomotora preventiva, os problemas detectados e
tratados pela reeducação não ocorreriam se houvessem por parte da escola, atenção
à educação psicomotora, ou seja, a educação psicomotora deveria ter na escola a
mesma importância que as demais disciplinas do currículo.
O autor considera a psicomotricidade um importante elemento educativo, como
um instrumento indispensável para aguçar a percepção, desenvolver formas de
estimular a atenção e estimular e os processos mentais. Sendo assim, quanto mais
rápido for estimulado a psicomotricidade da criança, melhor será seu desempenho na
aprendizagem. Não existe limite inferior de idade para o começo do desenvolvimento
das qualidades motoras.
Para um trabalho adequado, precisam ser utilizados métodos e meios
adequados. A utilização de métodos e de meios adequadamente irão contribuir para
o desenvolvimento da criança, e quanto mais se aprende, maiores serão os benefícios
para o se desenvolvimento.

“[...] O desenvolvimento da aprendizagem é processo que se influenciam


reciprocamente de modo que, quanto mais aprendizagem, mais
desenvolvimento”. (VYGOSTSK, 1989, apud DAVIS, 1994, p. 56).

A psicomotricidade deve estar na formação de base, proporcionando uma


melhor capacitação ao aluno, sendo que o mesmo terá uma melhor e maior
assimilação das aprendizagens escolares, pois este é requisito indispensável para a
criança.
A psicomotricidade, em sua prática quer afirmar que o homem é o seu corpo,
sem divisões. Assim sendo, não restringe em só educar o corpo, e sim, propõe-se a

35
educação integral, proporcionando ao ser humano, mais precisamente a criança na
escola, o desenvolvimento das habilidades motoras e cognitivas.
A psicomotricidade ao promover o movimento humano, movimento este
contextualizado, associado ao ambiente, à cognição, à emoção e às significações,
proporciona o desenvolvimento integral do ser. Esta educação integral só ocorrerá se
a escola valorizar o seu ambiente.
A psicomotricidade é influenciada pela percepção de seu corpo e suas
peculiaridades de força e em habilidades em atividades físicas. A formação de tais
habilidades ocorre com a interação do indivíduo com o mundo social. Nesta interação,
ele irá dominar o uso de um número maior de objetivos, irá aprender a agir em
situações mais complexas, bem como, a identificar objetivos e situações.
A escola na sua totalidade pode proporcionar um grande leque de atividades
que possam estimular o aluno a um grau de desenvolvimento possível, então cabe à
escola infantil ter a consciência da necessidade de alfabetizar a linguagem corporal
antes de trabalhar os conteúdos escolares. A psicomotricidade deve ser colocada
como caráter preventivo, com a exploração do corpo em seus potenciais, possibilita à
evolução das possibilidades psicomotora, e assim contribuindo para a melhora no
desenvolvimento do ensinoaprendizagem dos alunos.
A educação psicomotora é indispensável na aprendizagem escolar, é por essa
razão que é proposta inicialmente à escola materna. Não se pode desprezar a
educação psicomotora no momento que a criança inicia sua vida escolar, pois esta
ajuda a organizar-se lhe propiciando melhores possibilidades de resolver os exercícios
de análise de lógica e de relações entre os números.
A escola impõe o objetivo de alfabetizar, isto é, ensinar a ler e escrever, e tem-
se aos sete anos como ideal para o início das atividades escolares, segundo
estudiosos, é nesta fase que a criança se encontra em estágio de maturação
psicomotora adequada para tal fim. Ao associar os objetivos educacionais ao
movimento estar-se criando relações e situações apropriadas à aprendizagem.

Procure estruturar condições para ocorrência de interações professor-aluno,


objetivo de estudo, que levem à apropriação do conhecimento. Estas
considerações, em conjunto, têm sérias implicações para a Educação:
procede-se na aprendizagem, do social para o individual, através de
sucessivos estágios de internalizarão, com auxílio de adultos ou de
companheiros mais experientes (DAVIS; OLIVEIRA, 1994, apud FONTANA
2012, p. 28).
36
A aprendizagem ocorre na vivência do dia a dia, entretanto, a escola sendo
uma instituição social que se apresenta como responsável pela educação sistemática
das crianças, jovens e adultos, deve dar clareza e segurança dos objetivos e
atividades propostas.
É necessário distinguir as experiências genuinamente educativas, das
experiências descuidadas, ocasionais e rotineiras. Pois o ato de pensar começa com
as experiências vividas, e quando as crianças são colocadas diante de problemas e
de situações que a levem a tentar fazer alguma coisa.
Ao entrar na fase escolar, o desenvolvimento da criança deve ser
acompanhado e trabalhado pelos responsáveis de sua educação, procurando
proporcionar para os alunos qualidades para o desenvolvimento como ser participativo
da sociedade e atuante na mesma. Para se obter um bom planejamento de ensino,
deve-se levar em conta, a realidade do educando, quanto a sua maturidade, suas
necessidades, aspirações, seu preparo e as suas possibilidades de aprendizagem. O
professor como educador tem um papel a cumprir, para isso é fundamental:

Ele procura estruturar condições para ocorrência de Interações professor


aluno, que levem à apropriação do Conhecimento.... Estas considerações em
conjunto, têm sérias implicações para a Educação: procede-se na a
aprendizagem do social para o individual, através de sucessivos estágios de
internalização, com auxílio de adultos ou companheiros mais experientes
(DAVIS; OLIVEIRA, apud FONTANA 2012, p. 28).

A tarefa do professor é ampla e complexa, cabe a ele perceber o caminho que


o aluno está construindo para poder descobrir ou construir meios para ajudá-lo a
crescer, a se conhecer como sujeito, a integrar-se à sociedade, a apropriar-se dos
conhecimentos produzidos pela humanidade e não apenas mera reprodução, e assim
propiciar um ambiente em que cada criança possa desenvolver suas potencialidades.
É necessário que os educadores compreendam os elementos do movimento a serem
utilizados, para isso deve-se ter em mente os estágios do desenvolvimento motor
(psicomotricidade) e os estágios de aprendizagem. O professor na educação infantil
precisa ter sólido conhecimento do domínio psicomotor que o habilite ao planejamento
das atividades próprias nesse domínio.

37
13 APRENDIZAGEM E PSICOMOTRICIDADE

Fonte: demoleque.com.br

O ser humano comunica-se por meio da linguagem verbal e corporal. A criança


nos primeiros dias de vida até o início da linguagem verbal se faz entender por meio
de gestos, pois os movimentos constituem a expressão global de suas necessidades.
O movimento é importante no desenvolvimento da criança porque está ligado às
emoções e por ser um veículo de transmissão do equilíbrio do estado interior do
recém-nascido.
Esse movimento possibilita o relacionamento da criança com o mundo e com
as demais características inerentes da condição humana. Conforme a criança cresce,
vai organizando sua capacidade motora de acordo com sua maturidade nervosa e
com os estímulos do meio que a rodeiam. A organização motora é fundamental para
o desenvolvimento das funções cognitivas, das percepções e dos esquemas sensório-
motores da criança.
A falta de atenção da escola ao movimento dos indivíduos se fundamenta na
concepção dualista do homem, segundo a qual a mente predomina sobre o corpo.
Apesar dos vários estudos mostrarem a importância desta área, as escolas continuam
deixando em segundo plano a prática psicomotora, pois pensam no ato de escrever
como sendo um ato motor que, repetido várias vezes, por meio de movimentos
mecânicos e sem sentido, pode ser fixado. Portanto, a grande preocupação dos

38
educadores durante o processo de aprendizagem limita-se ao treinamento das
habilidades responsáveis pelos aspectos figurativos da escrita, como coordenação
motora, discriminação visual e organização espacial. No entanto, o autor considera a
escrita um ato essencialmente motor, destacado de qualquer outra esfera do
desenvolvimento, seja afetiva, cognitiva ou social.
As aprendizagens escolares básicas devem ser os exercícios psicomotores, e
sua evolução é determinante para a aprendizagem da escrita e da leitura, provocando-
se o aumento do potencial psicomotor da criança, amplia-se também as condições
básicas para as diversas aprendizagens escolares. Em um estudo sobre o grau de
influência dos aspectos psicomotores sobre prontidão para ler e escrever em escolas
de classes de alfabetização do ensino infantil, é necessário, desde o ensino pré-
escolar, serem oferecidas atividades motoras direcionadas para o fortalecimento e
consolidação das funções psicomotoras, fundamentais para o êxito nas atividades do
bom aprendizado da leitura e escrita.

A escola constitui um contexto diversificado de desenvolvimento e


aprendizagem, isto é, um local que reúne diversidade de conhecimentos,
atividades, regras e valores e que é permeado por conflitos, problemas e
diferenças (MAHONEY, 2002 apud FARIA, p 6, 2017).

As crianças com nível mais alto de desenvolvimento psicomotor e conceitual


são as que apresentam os melhores resultados escolares. Dentre as dificuldades de
aprendizagem às que são relacionadas ao desenvolvimento psicomotor e, a partir
disso, desenvolveu uma investigação mostrando como o desenvolvimento adequado
da psicomotricidade pode auxiliar para que alguns dos pré-requisitos para a escrita
sejam alcançados.
Reafirma-se então a importância do desenvolvimento dos conceitos
psicomotores, ressaltando que as dificuldades de aprendizagem em crianças de
inteligência média podem se manifestar quanto à caracterização de letras simétricas
ela inversão do sentido direita-esquerda, como, por exemplo, b, p, q ou por inversão
do sentido em cima em baixo, d, p, n, u, ou ainda por inversão das letras oar, ora, aro.
A compreensão de conceitos como perto, longe, dentro, fora, mais perto, bem longe,
atrás, embaixo, alto, mais alta será facilitada com série de ações no espaço, com o
corpo em movimento.

39
É muito importante estimular o desenvolvimento psicomotor das crianças, pelo
fato deste ser fundamental para a facilitação das aprendizagens escolares, pois é por
meio da consciência dos movimentos corporais e da expressão de suas emoções que
a criança poderá desenvolver os aspectos motor, intelectual e sócio emocional.
Para escrever é preciso que se tenha orientação espacial suficiente para situar
as letras no papel, para adequá-las em tamanho e forma ao espaço de que se dispõe.
E, além disso, precisa-se dirigir o traçado da esquerda para a direita, de cima para
baixo, controlando os movimentos de maneira a não segurar o lápis nem com muita
força nem com pouca força, é necessário que a escola ofereça condições para a
criança vivenciar situações que estimulem o desenvolvimento dos conceitos
psicomotores.
Essas restrições podem levar a criança a dificuldades de aprendizagem,
repercutindo no desempenho escolar. As dificuldades de aprendizagem vivenciadas
pelas crianças “são decorrentes de todo um todo vivido com seu próprio corpo, e não
apenas problemas específicos de aprendizagem de leitura, escrita, etc.” Assim, os
aspectos psicomotores exercem grande influência na aprendizagem, pois as
limitações apresentadas pelas crianças na orientação espacial podem tornar-se um
fator determinante nas dificuldades de aprendizagem.
A escrita é uma atividade que obedece a exigências precisas de estruturação
espacial, pois a criança deve compor sinais orientados e reunidos de acordo com as
leis, depois deve respeitar essas leis de sucessão que fazem destes sinais palavras e
frases tornando a escrita uma atividade espaço-temporal.
Um objeto situado a determinada distância e direção é percebido porque as
experiências anteriores da criança levam-na a analisar as percepções visuais que lhe
permitem tocar o objeto. É por meio dessas que resultam as noções de distância e
orientação de um objeto com relação a outro, e assim a criança começa a transpor
essas noções gerais a um plano mais reduzido, que será de extrema importância
quando na fase do grafismo. Na aprendizagem da leitura e escrita a criança deverá
obedecer ao tempo de sucessão das letras, dos sons e das palavras, fato este que
destaca a influência da estruturação temporal para a adaptação escolar e para a
aprendizagem.

40
Além dessas dificuldades inerentes ao ato de escrita, existe ainda a dificuldade
que os professores têm em diagnosticar as dificuldades de aprendizagem e relacioná-
las ao desenvolvimento psicomotor. Em sala de aula, os professores trabalham a
motricidade infantil como uma atividade mecanizada do movimento das mãos e as
aulas de educação física parecem se restringir a atividades de recreação nas quais o
movimento parece ter um fim em si mesmo. Até mesmo o professor de Educação
Física tem mostrado dificuldades em perceber a importância do movimento para o
desenvolvimento integral da criança.
O desenvolvimento corporal é possível graças a ações, experiências,
linguagens, movimentos, percepções, expressões e brincadeiras corporais dos
indivíduos.
As experiências e brincadeiras corporais assumem um papel fundamental no
desenvolvimento infantil, pois enfatizam a valorização do corpo na constituição do
sujeito e da aprendizagem, assim a pré-escola necessita priorizar, não só atividades
intelectuais e pedagógicas, mas também atividades que propiciem seu
desenvolvimento pleno.

A psicomotricidade contribui para o processo de alfabetização à medida que


procura proporcionar ao aluno as condições necessárias para um bom
desempenho escolar, permitindo ao homem que se assume como realidade
corporal e possibilitando-lhe a livre expressão. A psicomotricidade
caracteriza-se como uma educação que se utiliza do movimento para
promover aquisições intelectuais. (OLIVEIRA, 1996, apud PEREIRA, 2007, p.
1601).

A inteligência pode ser considerada uma adaptação ao meio ambiente e para


que esta aconteça é necessário que o indivíduo apresente uma manipulação
adequada dos objetos existentes ao seu redor, esta educação deve começar antes
mesmo que a criança pegue um lápis na mão.
O ponto de referência que os seres humanos têm para conhecer e interagir com
o mundo é o corpo. Este elemento serve como base para o desenvolvimento cognitivo
e conceitual, incluindo os presentes para a aprendizagem de conceitos na atividade
de alfabetização. Por essa razão, o desenvolvimento do movimento por meio da
psicomotricidade auxilia a criança a adquirir o conhecimento do mundo que as rodeia.
O desenvolvimento psicomotor não é o único fator responsável pelas
dificuldades de aprendizagem, mas um dos que podem desencadear ou agravar o

41
problema. As dificuldades de aprendizagem relacionadas à escrita alteram o
rendimento escolar. Crianças com dificuldades de escrita podem apresentar disfunção
nas habilidades necessárias para uma aprendizagem escolar efetiva, e estes fatores
podem ser acentuados pelos déficits psicomotores. Sabe-se que atualmente
condições socioculturais fazem com que as crianças sejam privadas do movimento.

“[...] a escola, como responsável pela educação global deveria proporcionar


através das suas aulas atividades que levassem à criança condições para um
desenvolvimento harmonioso em termos psicomotores”. (FAVERO,2004,
apud PEREIRA, 2007, p. 1602).

A escrita exige o desenvolvimento de habilidades específicas e um esforço


intelectual proporcionalmente superior às aprendizagens anteriores da criança. Na
escrita ocorre a comunicação por meio de códigos que variam de acordo com a
cultura, e sua aprendizagem se dá pela realização da cópia, do ditado e na escrita
espontânea.
A escrita espontânea envolve um grau maior de dificuldade, pois o modelo
visual e auditivo está ausente e envolve a tomada de decisões acerca do que vai ser
escrito e como será escrito. Antes de se escrever algo é preciso gerar uma informação,
organizá-la de forma coerente para posteriormente escrevê-la e revisar o que foi
escrito. É preciso diferenciar as letras dos demais signos e determinar quais são as
letras que devem ser empregadas, além disso, a escrita pressupõe um
desenvolvimento motor adequado, pois certas habilidades são essenciais para que a
atividade ocorra de maneira satisfatória.
Nos estudos sobre aquisição da escrita, constata-se que esta aquisição não
deve ser restrita a simples decodificação de símbolos ou signos, pois o processo de
aquisição da língua escrita é complexo e anterior ao que se aprende na escola. A
grande dificuldade que os educadores enfrentam está em compreender os fatores que
diferenciam as crianças que conseguem dominar a linguagem escrita das que não
conseguem.
As dificuldades encontradas no processo de alfabetização vão desde o
desenvolvimento das habilidades de escrita (disgrafia) e erros de soletração até erros
na sintaxe, estruturação e pontuação das frases, bem como a organização de
parágrafos. No começo do processo de alfabetização o que mais se observa são:
confusão de letras, lentidão na percepção visual, inversão de letras, transposição de
42
letras, substituição de letras, erros na conversão símbolo-som e ordem de sílabas
alteradas, essa dificuldade pode se manifestar ao se soletrar ou escrever uma palavra
ditada ou copiada. É possível encontrar crianças com boa capacidade de expressão
oral, mas com dificuldades para escrever, alunos que se expressam oralmente com
dificuldade e escrevem as palavras mal e sujeitas que escrevem bem as palavras,
mas se expressam mal.
Essas dificuldades, se consolidadas ao longo da infância, tornam-se mais
evidentes no ambiente escolar, onde o processo de aprendizagem é
institucionalizado. A escrita envolve, além de habilidades cognitivas, as habilidades
psicomotoras, pois o ato de escrever está impregnado pela ação motora de traçar
corretamente cada letra e constituir a palavra. Quando se coloca em questão o
desenvolvimento motor, é necessário, além da maturação do sistema nervoso, a
promoção do desenvolvimento psicomotor, objetivando o controle, o sustento tônico e
a coordenação dos movimentos envolvidos no desempenho da escrita.
Não existe aprendizagem sem que seja registrada no corpo. A participação do
corpo no processo de aprendizagem se dá pela ação do sujeito e pela representação
do mundo. Todo conhecimento apresenta um nível de ação (fazer os movimentos) e
um nível figurativo (dado pela imagem pela configuração) que se inscreve no corpo.
Pensando no desenvolvimento da criança de forma integrada e buscando entender
aspectos físicos, afetivos, cognitivos e sociais, é necessário o estudo do
desenvolvimento psicomotor.

Estudos partem do pressuposto de que o baixo rendimento escolar pode ser


compreendido como uma manifestação das dificuldades de aprendizagem.
(SISTO, 1994, apud PEREIRA, 2007, p.1603).

Autores mostram a procedência de identificar entre as dificuldades de


aprendizagem às que são relacionadas ao desenvolvimento psicomotor e, a partir
desses dados, mostrar a necessidade de se abordar os esquemas motores nas
primeiras séries como prevenção à dificuldade de aprendizagem de escrita.

13.1 O papel da educação psicomotora na escola

Durante anos a Psicologia buscou compreender e solucionar o


desenvolvimento da criança na medida em que ela cresce e amadurece fisicamente,
43
pois sua inteligência também se desenvolve e muda seu comportamento social e
emocional. Assim, surge a educação psicomotora, entendida como uma metodologia
de ensino que instrumentaliza o movimento humano enquanto meio pedagógico para
favorecer o desenvolvimento da criança.

A educação psicomotora é uma técnica, que através de exercícios e jogos


adequados a cada faixa etária leva a criança ao desenvolvimento global de
ser. Devendo estimular, de tal forma, toda uma atitude relacionada ao corpo,
respeitando as diferenças individuais (o ser é único, diferenciado e especial)
e levando a autonomia do indivíduo como lugar de percepção, expressão e
criação em todo seu potencial. (NEGRINE, 1995, apud ROSSI, 2012, p.7).

No entanto, essa técnica não pretende realçar a automação, a eficácia, a


destreza motora ou o rendimento motor. Pretende, na verdade, transformar o corpo
em um instrumento de ação sobre o mundo, em que permitirá a interação com os
outros. Através de várias pesquisas, estudiosos do assunto acreditam que a
psicomotricidade auxilia e capacita melhor o aluno para uma melhor assimilação das
aprendizagens escolares.
Assim, buscou-se trazer seus recursos para a sala de aula, na modalidade da
educação psicomotora. Durante vários estudos, cientistas tentaram distinguir o
principal objetivo da educação psicomotora, destacando o aspecto fundamental dessa
técnica, que é ajudar a criança chegar a uma imagem do corpo operatório, permitindo
que ela se desenvolva da melhor maneira possível, tirando o melhor partido de todos
os seus recursos, preparando-a para a nova etapa do desenvolvimento motor e
consequentemente afetivo e cognitivo.
Além de apresentar esse objetivo, a educação psicomotora abrange algumas
metas, sendo elas: a aquisição do domínio corporal, definindo a lateralidade, a
orientação espacial, desenvolvimento da coordenação motora, equilíbrio e a
flexibilidade; controle da inibição voluntária, melhorando, o nível de abstração,
concentração, reconhecimento dos objetos através dos sentidos (auditivo, visual,
etc.), desenvolvimento sócio afetivo, reforçando as atitudes de lealdade,
companheirismo e solidariedade. Assim, Le Boulch destaca a importância de a
psicomotricidade ser trabalhada na escola nas séries iniciais:

A educação psicomotora deve ser enfatizada e iniciada na escola primária.


Ela condiciona todos os aprendizados pré-escolares e escolares; leva a
criança a tomar consciência de seu corpo, da lateralidade, a situar-se no

44
espaço, a dominar o tempo, a adquirir habilmente a coordenação de seus
gestos e movimentos, ao mesmo tempo em que desenvolve a inteligência.
Deve ser praticada desde a mais tenra idade, conduzida com perseverança,
permite prevenir inadaptações, difíceis de corrigir quando já estruturadas. (LE
BOULCH, 1984, apud ROSSI, 2012, p.8).

Percebe-se que o principal objetivo da educação psicomotora não se restringe


ao conhecimento da criança sobre uma imagem do seu corpo, ou seja, ela não se
prende apenas ao conteúdo, mas auxilia na descoberta estrutural da relação entre as
partes e a totalidade do corpo, formando uma unidade organizada, instrumento da
relação com a realidade. Assim, quando mais cedo abordado no ambiente escolar
mais os alunos poderão conhecer-se melhor, desenvolvendo a maturidade, a
consciência e a inteligência apropriada aos seres humanos. Le Boulch aponta o
objetivo central da educação psicomotora:

O objetivo central da educação pelo movimento é contribuir para o


desenvolvimento psicomotor da criança, da qual depende, ao mesmo tempo,
a evolução de sua personalidade e o sucesso escolar. (LE BOULCH, 1984,
apud ROSSI, 2012, p.8).

Um dos argumentos que justificam a educação psicomotora na educação


básica durante a fase pré-escolar é a evidência sobre seu papel na prevenção das
dificuldades de aprendizagem. Pois, é durante esse período que a personalidade de
cada indivíduo vai sendo moldada. É o momento em que a criança constrói os
principais instrumentos internos de que servirá primeiramente de maneira
inconsciente e depois conscientemente para interagir-se com a sua realidade externa.
Assim, através da interação com o meio, a criança descobre, inventa, resiste,
pergunta, argumenta e socializa-se. O que exige um bom acompanhamento daqueles
que estão presentes nessa construção simbólica (pais, professores, etc.) e no seu
desenvolvimento físico, cognitivo e afetivo. Le Boulch menciona que a educação
psicomotora é uma preparação para a vida das crianças:

A educação psicomotora na idade escolar deve ser, antes de tudo, uma


experiência ativa de confrontação com o meio. Dessa maneira, esse ensino
segue uma perspectiva de uma verdadeira preparação para a vida que se
deve inscrever no papel de escola, e os métodos pedagógicos renovados
devem, por conseguinte, tender a ajudar a criança a desenvolver-se da
melhor maneira possível, a tirar o melhor partido de todos os seus recursos,
preparando para a vida social. (LE BOULCH, 1984, apud ROSSI, 2012, p.9).

45
Compreendemos que a aprendizagem e o desenvolvimento estão inter-
relacionados desde que acriança passa a ter contato com o mundo ao seu redor. Pois,
a criança ao interagir com o meio físico e social, passa a se desenvolver de forma
mais abrangente e de maneira eficaz. Isto significa que a partir do envolvimento com
o meio social são desencadeados processos internos de desenvolvimento que
permitirão um novo patamar de aprendizagem. Diante da interação da criança com o
meio social.

A criança, por meio da observação, imitação e experimentação das instruções


recebidas de pessoas mais experientes, vivencia diversas experiências
físicas e culturais, construindo, dessa forma, o conhecimento a respeito do
mundo que a cerca. (NEGRINE, 1995, apud ROSSI, 2012, p.9).

Assim, podemos analisar que a educação psicomotora junto com o auxílio dos
pais e do meio escolar, tem a finalidade não de ensinar a criança comportamentos
motores, mas sim de permiti-lhe, mediante o jogo, exercer sua função de ajustamento,
individualmente ou com outras crianças. No estágio escolar, a prioridade constitui a
atividade motora lúdica, fonte de prazer, permitindo a criança prosseguir na
organização de sua “imagem de corpo” ao nível do vivido servindo de ponto de partida
na sua organização prática em relação ao desenvolvimento de suas atitudes de
análise perceptiva. Outro papel atribuído a educação psicomotora é a de prevenção,
esse que é argumentado por Fonseca:

A educação psicomotora pode ser vista como preventiva, na medida em que


dá condições à criança desenvolver melhor em seu ambiente. É vista também
como reeducativa quando trata de indivíduos que apresentam desde o mais
leve retardo motor até problemas mais sérios. É um meio de imprevisíveis
recursos para combater a inadaptação escolar (FONSECA, 2004, apud
ROSSI, 2012, p.9).

Entendemos que a educação psicomotora, aplicada na Educação Infantil, é


preponderante para o sucesso no sistema escolar. Entretanto, é fundamental que a
participação do o professor como pesquisador, principalmente nos assuntos
relacionados sobre psicomotricidade. Dessa maneira, é interessante que o docente
se inteire sobre a educação psicomotora, do que essa trata essa prática pedagógica;
conhecer sua estrutura, o desenvolvimento psicomotor, as implicações do sistema
nervoso e a importância da maturação neurológica; compreender como ocorre o
desenvolvimento infantil (etapas do desenvolvimento), as funções psicomotoras, as
46
dificuldades de aprendizagem presentes no ambiente escolar, para a organização,
planejamento e encaminhamentos acadêmicos. O educador precisa saber se sua
proposta de trabalho está de acordo com as necessidades dos alunos, que caminho
deve seguir e aonde pretende chegar. Então, cabe aqui compreendermos a
importância da psicomotricidade nas séries iniciais do Ensino Fundamental.
Os tipos de psicomotricidade
Os tipos de psicomotricidade estão ligados aos objetivos das técnicas
aplicadas. De forma geral, todos os exercícios de movimento corporal estão
relacionados ao desenvolvimento da aprendizagem. Contudo, alguns deles terão
como objetivo final o ensino, o processo de reeducação ou um tratamento terapêutico.
Desse modo, a psicomotricidade está dividida em:
Educativa: trabalha a descoberta infantil por meio dos movimentos,
envolvendo emoções, concentração e socialização;
Reeducativa: é voltada para crianças com dificuldades de aprendizagem ou
de movimentação. Aqui os exercícios servem para apresentar novas formas de ação;
Terapêutica: é voltada para o público com necessidades especiais, seja
pessoas com paralisia, autismo, síndrome de Down, entre outras.
Dentro da escola, o foco, quase sempre, será nas técnicas educativas. Para os
dois últimos casos citados, vale a pena investir na terapia psicomotora. Ela é realizada
por profissionais capacitados, como pedagogos, fisioterapeutas e psicólogos. É
possível ser realizada em consultórios ou no ambiente escolar, tornando assim, a
educação mais inclusiva.
Para saber mais informações confira o nosso artigo. Por que a terapia
psicomotora é importante no desenvolvimento infantil.

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14 RELAÇÃO ENTRE AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM E A EDUCAÇÃO
PSICOMOTORA

Fonte: futuroeventos.com.br

Atualmente as Dificuldades de Aprendizagem são evidenciadas nas salas de


aula com frequência, fator preocupante para o desenvolvimento do processo de
ensino. Os professores, hoje em dia, se deparam com uma sala de aula onde se
concentram alunos que não conseguem internalizar alguns conhecimentos, devido à
dificuldade no aprendizado, e outros, que já assimilaram e esperam por novos
conteúdos. Deste modo, o docente tem de saber trabalhar com estas realidades. Para
começar a tratar deste assunto faz-se necessário conhecer uma definição das
Dificuldades de Aprendizagem.

Dificuldades de Aprendizagem (DA) é um termo geral que se refere a um


grupo heterogêneo de desordens manifestadas por dificuldades significativas
na aquisição e utilização da compreensão auditiva, da fala, da leitura, da
escrita e do raciocínio matemático. Tais desordens, consideradas intrínsecas
ao indivíduo, presumindo-se que sejam devidas a uma disfunção do sistema
nervoso central, podem ocorrer durante toda a vida. Problemas na
autorregulação do comportamento, na percepção social e na interação social
podem existir com as DA. Apesar das DA ocorrerem com outras deficiências
(por exemplo, deficiência sensorial, deficiência mental, distúrbios
socioemocionais) ou com influências extrínsecas (por exemplo, diferenças
culturais, insuficiente ou inapropriada instrução, etc.), elas não são o
resultado dessas condições. (NJCLD,1988 apud FONSECA, 1995a, p. 71).

48
Pode-se observar com esta definição a existência de vários fatores que podem
gerar as Dificuldades de Aprendizagem, e estes, nem sempre estão ligados a uma
ordem neurológica, e sim, podem estar relacionados com o ambiente social em que o
indivíduo está inserido. Deste modo, constata-se que as Dificuldades de
Aprendizagem podem ser prevenidas, em determinados casos, se o ambiente cultural
do sujeito for estimulador para a aprendizagem desde os primeiros anos de vida. O
enfoque das DA está no indivíduo que não rende ao nível do que se poderia supor e
esperar a partir do seu potencial intelectual, e por motivo dessa especificidade
cognitiva na aprendizagem, ele tende a revelar fracassos inesperados.
Nesta perspectiva pode-se averiguar que as dificuldades de aprendizagem têm
ligações com o mau desenvolvimento cognitivo, o qual é de suma importância para o
processo de ensinoaprendizagem. O infante portador de DA pode sofrer com este
quadro, pois, por muitas vezes, é taxado de preguiçoso e desatento, é possível que a
falta de atenção e de esforço seja o resultado e não a causa da dificuldade de
aprendizagem.
Estas crianças não deixam de aprender por sua própria vontade, mas porque
possuem limitações em seu desenvolvimento. Quando o sujeito se movimenta por
meio de atividades direcionadas e planejadas por um mediador, seu cérebro é capaz
de internalizar conceitos imprescindíveis para o desenvolvimento de suas
capacidades. A aprendizagem humana é o resultado de uma experiência motora que
posteriormente se conserva no cérebro, através de uma experiência psicológica
reflexiva. A fase que se caracteriza como crucial para o desenvolvimento global do
sujeito (motor, intelectual, socioemocional) corresponde a faixa etária do nascimento
até os 8 anos aproximadamente.

É nesse período que se instalam as principais dificuldades em todas as áreas


de relação com o meio ao qual está inserido e que, se não forem exploradas
e trabalhadas a tempo, certamente trarão prejuízos como dificuldades na
escrita, na leitura, na fala, na sociabilização, entre outros. [...]. Observando o
indivíduo de forma global, a psicomotricidade faz-se necessária tanto para a
prevenção e tratamento das dificuldades quanto para a exploração do
potencial ativo de cada um (BUENO, 1998, apud MANEIRA, 2015, p. 16884).

Nesta perspectiva, observa-se claramente a importância do trabalho com a


Psicomotricidade, denominada de Educação Psicomotora que ministrada no âmbito
escolar pode vir a prevenir as Dificuldades de Aprendizagem. Para que este fator seja

49
evidenciado, faz-se necessário, a estimulação desde a primeira infância, pois quanto
mais cedo às capacidades da criança forem desenvolvidas, melhor será seu
desempenho nos anos subsequentes.
A psicomotricidade pode possibilitar meios de prevenção e intervenção nas
Dificuldades da Aprendizagem, além de poder ser um ótimo recurso para desenvolver
potenciais de aprendizagens, mas estes fatores somente poderão ser evidenciados
se a prática psicomotora for bem elaborada e estruturada. Assim sendo, observa-se a
importância em se desenvolver atividades psicomotoras que objetivem atender todas
as necessidades das crianças, pois estas dependem de bons mediadores para que o
processo de aprendizagem ocorra com êxito.
As Dificuldades de Aprendizagem estão cada vez mais presentes no cenário
educacional, deste modo se faz necessário implantar meios de intervenção, ou
melhor, de prevenção. Para isso, é imediata a conscientização da importância da
Educação Psicomotora desde os primeiros anos de vida, pois como já esclarecido
nesta pesquisa, quanto mais cedo se estimula o cérebro mais capacidades serão
desenvolvidas, assim sendo, o indivíduo terá uma menor probabilidade de apresentar
DA.

Uma das coisas mais óbvias a respeito das crianças é que elas aprendem
muito durante o decorrer da infância. Para que este aprendizado ocorra, a
criança deve ser equipada no nascimento com um sistema cognitivo que seja
capaz de aprender. [...]. Nos últimos trinta anos, o estudo do comportamento
dos bebês mostrou que a criança nasce com uma rica estrutura
organizacional para processar informações. (Dockrell, 2000, apud MANEIRA,
2015, p. 16885).

Por meio desta análise é possível perceber a importância crucial da


estimulação da criança desde o nascimento.

50
15 TRANSTORNO PSICOMOTOR

Fonte: neurosaber.com.br

Os distúrbios psicomotores se caracterizam como uma das causas de


dificuldades de aprendizagem, na medida em que crianças com instabilidade ou
inibição psicomotora são portadoras de precária visão espaço-temporal, coordenação
óculo-manual deficiente, dificuldades com a lateralidade e distorções na imagem
corporal. A educação Infantil é um período de grande desenvolvimento da criança em
diferentes aspectos além do motor, e tais perturbações neste âmbito são observadas
desde então, afetando diretamente o processo de aprendizagem, não só formal como
também informal.

15.1 Características Clínicas Gerais dos Transtornos Psicomotores

Algumas características são essenciais para o diagnóstico, que são:


 Dificuldade em dar continuidade às brincadeiras e às produções corporais;
 Dificuldade para inibir movimentos;
 Necessidade de estar sempre em movimento;
 Atitudes expansivas e explosivas;
 Inquietação e agitação;
 Incapacidade para relaxar e permanecer quietas;

51
 Descontrole emocional e neurovegetativos (sudorese nas mãos, dores de
barriga, vontade de urinar, rubor...)
 Tiques (involuntário, súbito, rápido e repetitivo). Existe nos tiques um período
de “luta”, de controle doloroso, seguido de uma explosão “liberadora” do
movimento, que se transforma em fonte de constrangimento.
 Paratonias (impossibilidade de relaxar voluntariamente um músculo)
Paratonia de fundo: refere-se aos tônus globais, e pode ser evidenciada através
de mobilizações passivas (ao mexer nos braços da criança, esta deveria deixá-los
bem relaxados), o que se observa é uma resistência permanente ao movimento, ou
seja, não existe uma disponibilidade à movimentação passiva.
Paratonia de ação: surge também a partir de uma movimentação passiva, só
que movimentos de uma limitada amplitude, não aparece no início do movimento e
sim no seu decorrer, interrupções, um refreamento brusco, definitivo ou transitório.
 Sincinesias intensas, difusas e de instalação rápida.
 Atividades desordenadas.
 Atenção dispersa, ocasionando alterações perceptivas; dificuldade para
focalizar a atenção;
 Pouca concentração ocasionando pouca eficiência durante trabalhos
prolongados.
 Nível mental normal.
 Alterações das relações interpessoais;
Os Transtornos Psicomotores não podem ser tratados como uma síndrome
unicamente motora, não pode deixar de se levar em consideração o desenvolvimento
psicoafetivo das crianças e suas relações com o meio ambiente e com os outros.
Excluem-se de tais transtornos as síndromes cuja sintomatologia indica a
existência de lesões focais precisas.
Em alguns casos com alto nível de hiperatividade, transtornos do sono e da
atenção considera-se uma indicação medicamentosa baseada no uso de anfetaminas
e psicotônicos, que deve ser dada pelo neuropediatra ou neurologista consultado pela
família.

52
Após vários estudos, é no início do séc. XX, que Dupré (1907) descreve a
Síndrome da Debilidade motora, Wallon (1925), Ajuriaguerra e posteriormente Jean
Bergès também realizam novas contribuições e classificações como supracitado.
Estudos feitos na área da educação mostram que ao desenvolver a
psicomotricidade na infância, o indivíduo passa a:
 Ter mais controle sobre a coordenação motora e consegue desenvolver
movimentos mais complexos, como aprender a andar de bicicleta;
 Trabalhar os músculos da mão, algo importante para aprender a escrever ou
recortar, por exemplo;
 Ter noção de ritmo, conseguindo aprender passos de dança ou entender notas
musicais;
 Diferenciar os movimentos realizados pelo lado esquerdo e direito do corpo;
 Entender o que é o presente e como as ações de agora afetam o meio externo,
entre outras coisas.
Sugestões de atividades
- Exercícios de equilíbrio estático (parado) e dinâmico (em movimento), por
exemplo: ficar parado num pé só (ambos os pés, com olhos aberto, fechados...), pular
com um pé só (ambos os pés, para frente, para trás, em cima de linhas retas, linhas
curvas...), na pré-escola costumo realizar estas atividades utilizando o encosto da
cadeira como apoio.
- Movimentos pendulares do corpo, por exemplo: balançar o corpo de um lado,
do outro, num pé só ir para frente, para trás...
- Passar o peso do corpo de um lado para outro;
- Exercícios de relaxamento;
- Subir e descer escadas;
- Pular amarelinha;
- Marchas;
- Pular corda.
Trabalhar também, o equilíbrio de objetos sobre o corpo, utilizando diferentes
objetos em diferentes partes do corpo, de quebra, trabalha esquema corporal. Realizo
estas brincadeiras de equilíbrio organizando um percurso onde as crianças deverão
percorrer, pode ser até na sala de aula.

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Sugestões de exercícios psicomotores
 Engatinhar,
 Rolar,
 Balançar dar cambalhotas,
 Se equilibrar em um só pé, andar para os lados,
 Equilibrar e caminhar sobre uma linha no chão e materiais variados (passeios
ao ar livre),
 Subir/ descer entre outras.
Pode-se afirmar, então, que a recreação, através de atividades afetivas e
psicomotoras, constitui-se num fator de equilíbrio na vida das pessoas, expresso na
interação entre cognição e corpo, a afetividade e a energia, o indivíduo e o grupo,
promovendo a totalidade do ser humano.

16 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ponto de partida e de chegada de uma prática está na ação e estas se


traduzem na intenção educativa de ampliar a capacidade do aluno em relação a:
expressar-se através de múltiplas linguagens, posicionar-se diante da informação,
interagir de forma crítica e ativa com meio físico social.
Busca-se alcançar com educação psicomotora, que a criança brinca com o
objeto e entre si, expressar-se com o corpo, construir-se no tempo e no espaço. Nas
atividades lúdicas extraclasse experiências corporais são vivenciadas brincadeiras,
jogos, danças que exploram lateralidade, agilidade, atenção, memória, coordenação
motora global, equilíbrio e percepção espaço temporal.
O trabalho da psicomotricidade vai além da motricidade, existindo uma
preocupação maior com os sentimentos da criança, na criação do vínculo afetivo entre
professor e aluno, como também na formação geral (emocional, psicológica, moral e
intelectual) do aluno.

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