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MÓDULO 1
Tema 6

Os distintos Níveis de Ser


e
a Auto-Observação Psicológica
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Os distintos Níveis de Ser e
a Auto-Observação Psicológica

Introdução

Na lição anterior estudamos que a Essência sozinha pode


crescer por si mesma e sem ajuda, em pequeníssimo grau. O
crescimento espontâneo e natural da Essência só é possível
durante os primeiros três, quatro e cinco anos de idade; isto é, na
primeira etapa da vida...

A partir dessas idades, se inicia a segunda etapa, que


corresponde ao crescimento da Personalidade. O que acontece
então, é que devido à forma equivocada de viver que a
humanidade tem, cria-se um desajuste no equilíbrio que deveria
existir entre a Essência e a Personalidade: a formação da
Personalidade se produz a expensas (à custa) da Essência. De
maneira que esta última fica inativa e estancada no seu
desenvolvimento.

Em geral, o homem passa o resto de sua vida na segunda


etapa, de onde a Personalidade e o Eu pluralizado continuam se
robustecendo, ficando a Essência quase sem nenhum tratamento...
Porém, quando um homem chega a conhecer o Trabalho interior,
pode iniciar uma terceira etapa na vida: retomar o crescimento
da Essência, neste caso a expensas (à custa) da Personalidade e o
Eu pluralizado. Esta terceira etapa é para os “poucos” que
trabalham sobre si mesmos.

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O Ser e o Saber

O crescimento interior da Essência de um homem segue duas linhas


de desenvolvimento que são a Linha do Saber e a Linha do Ser.

O que um homem sabe pertence a linha do saber. O que um homem


é, pertence a linha do ser.

No crescimento correto, a linha do saber e a linha do ser deveriam se


desenvolver simultaneamente, de forma paralela e se ajudando
mutuamente; de outro modo se produz um desequilíbrio prejudicial para
o homem. Por exemplo, se a linha do saber for muito à frente (adiante) da
linha do ser, ou vice-versa, o desenvolvimento da Essência do homem é
incorreto e cedo ou tarde acaba se estancando.

Devemos compreender que ser e saber são diferentes. As pessoas


sabem o que significa “saber”, e entendem a possibilidade de que existam
diferentes níveis de saber em um homem. Porém, não o entendem em
relação ao ser. O ser, para muitos, significa simplesmente a “existência”,
ao que se opõe, a “não-existência”. Não entendem que o ser ou a não-
existência possam ser de níveis e categorias muito diferentes. Tomemos,
como exemplo, o ser de um mineral e o de uma planta. São seres
diferentes. O ser de uma planta e o de um animal voltam a ser de novo
seres diferentes. O ser de um animal e o de um homem são distintos.
Porém, o ser de duas pessoas também podem variar de uma para outra,
inclusive mais do que varia o ser de um mineral e o de um animal, no
entanto isso demora mais para se compreender.

O ser e o saber no homem podem ter diferentes níveis, e ocorre


geralmente que o ser do homem está muito abaixo do saber. Exemplo:
alguém pode saber muito de mecânica, ou pode conhecer muito sobre
medicina, ou sobre arquitetura, ou pode ter estudado em diversas escolas
de tipo psudoesotérico e pseudo-ocultista e possuir uma grande erudição
filosófica, porém poderia ocorrer que essa pessoa tivesse uma moral muito
baixa.

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Na cultura ocidental, sobretudo, considera-se normal que um homem
possua um grande saber, que possa ser um cientista competente, realizar
descobertas importantes, fazer que a ciência progrida e, ao mesmo tempo,
possa ser um homem mesquinho, egoísta, crítico, cruel, tacanho, invejoso,
arrogante (presunçoso), ingênuo, distraído etc., no entanto, tal é o seu
ser... A realidade desse homem, por mais eminente que seja no campo do
saber, é o que ele é.

Hoje em dia, outorga-se um


grande valor ao nível de
conhecimento de um homem,
porém não se valoriza do mesmo
modo o nível do ser de um homem,
muitos não se envergonham do
baixo nível de seu próprio ser. Nem
sequer compreendem o que isso
significa. De modo que as pessoas
não sabem que o grau do saber de
um homem depende do grau de seu
ser.

O conceito do valor e da
importância do nível do ser está
completamente esquecido. E se
esquecem que o nível do saber está
determinado pelo nível do ser. Em
realidade, em um nível dado do ser,
as possibilidades de conhecimento
são finitas e limitadas. Dentro dos
limites de um determinado ser, a
qualidade do saber não se pode
mudar. Uma mudança na natureza
do saber só é possível com uma
mudança na natureza do ser.

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O saber e a “compreensão”
Por outra parte, o que é importante entender em tudo isto é a relação
do saber e do ser com a “compreensão”: “O saber é uma coisa, a
compreensão é outra”.

As pessoas costumam confundir estes dois conceitos e não entendem


com clareza qual é a diferença que existe entre eles. O saber, por si só, não
proporciona compreensão. Nem aumenta a compreensão ao aumentar
somente o saber. A compreensão depende da relação do saber com o ser.
A compreensão é o que resulta do saber e do ser. A compreensão é o
resultado da conjunção matemática entre o nível do saber com o nível do
ser. A “labareda (chama, flama) da compreensão” brota quando algo que
estudamos e aprendemos teoricamente está ao nível de nosso ser (quer
dizer, quando se vivencia ou experimenta conscientemente esse saber).

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Ao mesmo tempo, a relação
do saber com o ser não muda com
um simples aumento do saber.
Somente muda quando o ser
cresce simultaneamente com o
saber. Em outras palavras, a
compreensão só surge e cresce no
homem, com o desenvolvimento
do ser.

*****

Em todo caso, ser e saber são


distintos, completamente
diferentes, e isso é algo que nós
devemos tratar de compreender
cabalmente. Se o saber se
sobressai ao ser, este se volta
teórico e abstrato e ineficiente,
(insuficiente, inútil) à vida, e se é cabível, (admissível, aceitável,
adequado), resulta verdadeiramente prejudicial; porque ao invés de servir
à vida e ajudar as pessoas a lutar melhor contra as dificuldades que
encontram, começam a complicar a vida do homem, ocasionando novas
dificuldades, novos problemas e calamidades que não existiam antes. A
razão disso é que esse saber, que não está em concordância com o ser, não
pode ser o bastante (suficientemente) grande nem se adaptar o suficiente
às verdadeiras necessidades do homem.

O ser e o saber também são distintos na forma de defini-los no


homem. De alguém que tem um conhecimento, por exemplo, em
cosmografia, poderíamos dizer que o que conhece é verdadeiro ou é falso.
De alguém que tem um grande conhecimento em geografia, diríamos que
seu conhecimento é exato ou equivocado; porém em questões do ser não
cabe isso de “verdadeiro” ou “falso”, “equivocado” ou “exato”, senão
“bom” ou “mal”: “fulano de tal é um bom homem”, “cicrano é um mau
homem” ... Assim pois, os termos para designar os graus do ser ou do
conhecimento, não demonstram que ser e saber são muito diferentes.

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Inquestionavelmente, o mais importante para nós, os gnósticos, é o
SER. De que serviria possuir uma grande erudição e saber muitas coisas, se
não temos desenvolvido o ser interno, se possuímos defeitos
horripilantes? De nada serviria isso. Alguém que tenha estudado muitas
obras espirituais e no entanto é capaz de roubar, é capaz de fornicar, de
adulterar, etc., obviamente pode saber muito de Yoga ou pode ter lido
muito sobre Teosofia, porém, de que serve isso? O importante é o Ser!

Por isso é necessário compreender o labor que estamos realizando


sobre nós mesmos na Gnosis. Por exemplo, se pegarmos uma pessoa
comum e corrente, uma pessoa ignorante para fazer dela algo melhor, por
onde teríamos que começar? No primeiro momento acharíamos que essa
pessoa na realidade não sabe nada; no segundo, descobriríamos que o Ser
dessa pessoa não tem nenhum desenvolvimento íntimo. Necessitamos
ver esse duplo aspecto na Essência do homem... Se se quiser fazer um bom
trabalho no desenvolvimento da Essência, temos que começar pelo Ser.

Devemos compreender, também, que, no caso do saber, o que


importa é o saber verdadeiro. Tenhamos em conta que o saber que
geralmente (normalmente) o homem possui na vida é adquirido, pertence
à Personalidade: não lhe é próprio. É um saber passageiro que se perderá
com a morte; não se funde une, liga, fusiona) com seu ser; não chega à
Essência, e por tanto não se torna próprio...
O verdadeiro saber pertence à Essência, ao Ser: Quem somos? De
onde viemos? Para onde vamos? Para que vivemos? Por que vivemos?

Lamentavelmente, como já dissemos em outras lições, o homem não


só não sabe, como também nem se quer sabe que não sabe... o pior de
tudo é a situação tão difícil e tão estranha (esquisita) em que nos
encontramos, ignoramos o segredo de todos nossos sofrimentos e no
entanto estamos convencidos de que sabemos tudo...

Normalmente, imaginamos que o homem pode crescer e se


desenvolver numa forma a que poderíamos chamar naturalmente normal,
simplesmente pela educação, o exemplo, o estudo, a cultura, etc. O
homem pensa que pode se desenvolver maravilhosamente na vida
mediante os manuais de urbanidade, estudos primários, secundários,
bacharelado, universidade, o bom “prestígio do papai” etc.
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Desafortunadamente, por trás de tantas letras e bons modos, títulos e
dinheiro, bem sabemos que qualquer dor de estômago nos entristece e
que, no fundo, continuamos sendo infelizes e ignorantes.

O homem pensa de si mesmo o melhor; porém basta ler a História


Universal para saber que somos os mesmos bárbaros de antigamente e
que, em muitos aspectos, ao invés de melhorarmos, nós nos tornamos
piores... O passado século XX com toda sua espetacularidade, guerras,
prostituição, sodomia mundial, degeneração sexual, drogas, álcool,
crueldade exorbitante, perversidade extrema, monstruosidade, etc., é o
espelho no qual devemos olhar o Nível do Ser desta humanidade; não
existe, pois, razão de peso (um bom motivo) para nos vangloriarmos de
termos chegado a uma “etapa superior de desenvolvimento”.

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O exterior é o reflexo do interior
A massa é a soma dos indivíduos; o que é o indivíduo, é a massa. A
massa é pois a extensão do indivíduo; não é possível a transformação das
massas, dos povos, da humanidade, se o indivíduo, se cada pessoa, não se
transforma.

Certamente o que importa é o modo de ser de cada pessoa; alguns


sujeitos serão bêbados, outros abstêmios, aqueles honrados e estes outros
sem vergonha (desonestos); de tudo há na vida. Assim como ninguém pode
negar que existem distintos níveis sociais: Existem pessoas de igreja e de
prostíbulo; de comércio e de campo, ricos e pobres, etc. Assim também
existem distintos Níveis do Ser. O que internamente somos, esplêndidos
ou mesquinhos, generosos ou tacanhos, violentos ou pacíficos, castos ou
luxuriosos, atrai as diversas circunstâncias da vida...

Um luxurioso atrairá sempre cenas, dramas e até tragédias de lascívia


nas quais se verá metido. Um bêbado atrairá bêbados e se verá metido
sempre em bares e cantinas, isso é óbvio. O que atrairá o agiota, o egoísta?
Quantos problemas, cárceres, desgraças?

No entanto, a pessoa ressentida, cansada de sofrer, tem vontade de


mudar, virar a página de sua história. Pobres pessoas! Querem mudar e

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não sabem como; não conhecem o procedimento; estão dentro de um
beco sem saída. O que lhes aconteceu ontem lhes acontece hoje e lhes
acontecerá amanhã; repetem sempre os mesmos erros e não aprendem as
lições da vida nem a tiros de canhão. Todas as coisas se repetem em sua
própria vida: dizem as mesmas coisas, fazem as mesmas coisas, lamentam
as mesmas coisas. Essa repetição aborrecedora de dramas, comédias e
tragédias continuará enquanto carreguemos em nosso interior os
elementos indesejáveis da Ira, Cobiça, Luxúria, Inveja, Orgulho, Preguiça,
Gula, que marcam nosso nível de ser ...

Qual é o nosso nível moral? Ou melhor caso disséssemos: Qual é


nosso nível de ser? Enquanto o nível do ser não mude radicalmente,
continuará a repetição de todas nossas misérias, desgraças e infortúnios.
Todas as coisas, todas as circunstâncias que ocorrem fora de nós, no
cenário deste mundo, são exclusivamente o reflexo do que levamos
interiormente.

Com justa razão podemos afirmar solenemente, que o “exterior é o


reflexo do interior”. Quando alguém muda interiormente e tal mudança é
radical, o exterior, as circunstâncias, a vida, mudam também.

A Escada do Ser
Temos que almejar uma mudança verdadeira, sair desta rotina
aborrecedora, desta vida meramente mecanicista, farta (irritante,
instável)... Para isso, o que primeiro devemos compreender com inteira
clareza é que cada um de nós, seja burguês ou proletariado, abastado ou
de classe média, rico ou miserável, encontra-se realmente em tal ou qual
nível do ser, e se queremos desenvolver nossa Essência, devemos nos
elevar nos níveis do ser.

Imaginamos um escada que se estende de baixo para cima,


verticalmente e com muitíssimos degraus. Inquestionavelmente, em
algum degrau destes nos encontramos; degraus abaixo, haverá pessoas
piores que nós; degraus acima, encontrar-se-ão pessoas melhores que nós.

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Nesta vertical
extraordinária, nesta escada
maravilhosa, é claro que
podemos encontrar todos os
níveis de ser. Cada pessoa é
diferente e isso ninguém pode
refutar... Não estamos falando
agora de caras feias ou bonitas,
nem tampouco se trata de
questões de idade. Nesta
“escada do ser” há pessoas
jovens e idosas, anciãos que já
estão para morrer e crianças
recém nascidas. A questão do
tempo e dos anos, isso de
nascer, crescer, desenvolver-
se, casar-se, reproduzir-se,
envelhecer e morrer, é
exclusiva da linha horizontal.
Na “escada maravilhosa”, na
vertical, não cabe o conceito
tempo. Nos degraus de tal escada só podemos encontrar “níveis de ser”.

A esperança mecânica das pessoas não serve para nada em tudo isso;
as pessoas creem que, com o tempo, as coisas serão melhores; assim
pensavam nossos avós e bisavós; os fatos precisamente vêm demonstrar o
contrário. O “nível de ser” é o que conta e isso é vertical: nós nos
encontramos em um degrau, porém podemos subir para outro degrau...

A “escada maravilhosa” da qual estamos falando e que se refere aos


distintos “níveis de ser”, certamente nada tem a ver com o tempo linear.
Um “nível de ser” mais alto está imediatamente acima de nós de instante
a instante. Não está em nenhum remoto futuro horizontal, senão (mas sim)
aqui e agora, dentro de nós mesmos: na vertical.

É ostensível e qualquer um pode compreender que estas duas linhas


de que estamos falando – horizontal e vertical –encontram-se de
momento a momento em nosso interior psicológico e formam uma cruz.
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O Caminho Horizontal e o Caminho Vertical
Existem dois caminhos ou linhas na vida, uma poderíamos chamá-la
de “horizontal”, a outra de “vertical”, e formam uma cruz dentro de nós
mesmos, aqui e agora; nem um segundo mais adiante, nem um segundo
mais atrás. Necessitamos objetivar um pouco estas duas linhas.

A horizontal começa com o nascimento e termina com a morte. Diante


de cada berço existe a perspectiva de um sepulcro; tudo o que nasce deve
morrer. Na horizontal, estão todos os processos do nascer, crescer,
reproduzir-se, envelhecer e logo morrer; na horizontal, estão os vãos
prazeres da vida, licores, fornicações, adultérios, etc.; na horizontal, está a
luta pelo pão de cada dia, a luta por não morrer, por existir sob a luz do
Sol; na horizontal, estão todos esses sofrimentos íntimos da vida prática,
do lar (casa, lugar), da rua, do escritório, etc. Nada maravilhoso pode nos
oferecer a linha horizontal.

A Personalidade se
desenvolve e se estende na linha
horizontal da vida. Nasce e morre
dentro de seu tempo linear; é
perecedora, não existe nenhum
amanhã para a Personalidade do
morto; não é o Ser...

A vertical é diferente. Na
vertical estão os distintos níveis
do ser, estão as faculdades
transcendentais e transcendentes
da consciência, os poderes
esotéricos, as virtudes que
divinizam. Nesta linha está a
Revolução da Consciência. Com
as forças da vertical nós podemos
influir positivamente sobre os aspectos horizontais da vida prática;
podemos mudar totalmente nosso destino, fazer de nossa vida algo

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totalmente diferente do que temos sido, do que somos, do que temos
conhecido em nossa amarga existência.

Os níveis de ser, o Ser mesmo não é do tempo, nada tem a ver com a
linha horizontal; encontra-se dentro de nós mesmos, agora, na vertical...
Resultaria manifestadamente absurdo buscar a nosso próprio Ser fora de
nós mesmos.

Portanto, existe um ponto matemático dentro de nós mesmos.


Inquestionavelmente tal ponto jamais se encontra no passado, nem
tampouco no futuro. Quem quiser descobrir esse ponto misterioso deve
buscá-lo aqui e agora, dentro de nós mesmos, exatamente neste instante,
nem um segundo adiante, nem um segundo atrás.

Os dois paus (as duas varas), vertical e horizontal da cruz, se


encontram neste ponto. Nós nos encontramos pois, de instante a instante
diante de dois caminhos: o horizontal e o vertical.

É ostensível que o
horizontal é muito
piegas, por ele anda
“Vicente e toda gente”,
“Villegas e tudo que
chega”, “Dom
Raimundo e todo o
mundo”. É evidente
que o vertical é
diferente; é o caminho
dos rebeldes
inteligentes, dos
revolucionários.

Quando alguém se
recorda de si mesmo,
quando trabalha sobre
si mesmo, quando não se identifica com todos os problemas e penas da
vida, de fato vai pela senda da vertical. Certamente, jamais resulta tarefa
fácil eliminar as emoções negativas, perder toda a identificação com nosso
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próprio trem da vida: problemas de toda índole, negócios, dívidas,
pagamentos, hipotecas, telefone, água, luz, etc.

Os desempregados, aqueles que por tal ou qual motivo perderam o


emprego, o trabalho, evidentemente sofrem por falta de dinheiro e,
esquecer seu caso, não se preocupar nem se identificar com seu próprio
problema, resulta de fato espantosamente difícil. Os que sofrem, os que
choram, aqueles que foram vítimas de alguma traição, de um revés na vida,
de uma ingratidão, de uma calúnia ou de alguma fraude, realmente se
esquecem de si mesmos, de seu real Ser íntimo, identificam-se
completamente com sua tragédia moral.

O Trabalho sobre si mesmo é a característica fundamental do


caminho vertical. Ninguém poderia trilhar a Senda da Grande Rebeldia, se
jamais trabalhasse sobre si mesmo. O Trabalho ao que estamos nos
referindo é de tipo psicológico: trata-se de certa transformação do
momento presente em que nos encontramos. Necessitamos aprender a
viver de instante a instante...

Por exemplo, uma pessoa que se encontra desesperada por algum


problema sentimental, econômico ou político, obviamente se esqueceu de
si mesma. Tal pessoa, se se detiver um instante, observa a situação e tratar
de recordar de si mesmo e logo se esforça em compreender o sentido de
sua atitude. Se refletir um pouco, se pensar que “tudo passa”; que a vida é
ilusória, fugaz e que a morte reduz a cinzas todas as vaidades do mundo.
Se compreende que seu problema no fundo não é mais que um “fogo de
palha”, um fogo fátuo que logo se apaga, logo verá com surpresa que tudo
mudou...

Transformar reações mecânicas é possível mediante a confrontação


lógica e a autorreflexão íntima do Ser. É evidente que as pessoas reagem
mecanicamente diante as diversas circunstâncias da vida. Pobre gente!
Costumam sempre se converterem em vítimas: quando alguém elogia,
sorriem; quando humilham, sofrem. Insultam se for insultado; ferem se
forem feridos; nunca são livres; seus semelhantes têm poder para levá-los
da alegria à tristeza, da esperança ao desespero. Cada pessoa dessa que
vai pelo caminho horizontal, parece-se com um instrumento musical no
qual cada um de seus semelhantes toca o que tiver vontade...
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Quem aprende a transformar as reações mecânicas, de fato entra pelo
caminho vertical. Isso representa uma mudança fundamental no nível de
ser, resultado extraordinário da “rebeldia psicológica”.

Assim pois, a vertical é maravilhosa, é revolucionária por natureza, e


para transitar por ela é necessário possuir inquietudes espirituais ou
“ânsias de ser”. Na senda vertical, nós nos propomos, antes de tudo,
conhecermo-nos a nós próprios, porque somente nos autoconhecendo
podemos conhecer o Universo e suas maravilhas.

Neste trabalho, temos que fazer um inventário psicológico de nós


mesmos, para saber quanto temos, quanto nos falta, para conhecer quem
somos, de onde viemos e para onde vamos. Temos muitas coisas que
devemos eliminar e ainda nos falta muito por conquistar.

As pessoas trabalham diariamente, lutam para sobreviver, querem


existir de alguma forma, mas não são felizes. Isso da felicidade está escrito
em chinês (como dizem por ali). O mais grave é que as pessoas não o
sabem, porém em meio a tantas amarguras parece que não perdem a
esperança de conseguirem a dita felicidade algum dia, sem saberem nem
como nem de que maneira. Quanto sofrem! Contudo querem seguir
vivendo, temem perder a vida. Se entendêssemos algo sobre Psicologia
Revolucionária, possivelmente até se pensaria diferente; mas em verdade,
nada se sabe, queremos sobreviver em meio desta desgraça e isso é tudo.

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Existem momentos prazerosos e muito agradáveis na vida, porém isso
não é felicidade; as pessoas confundem prazer com felicidade. “Farra”,
“noitada” (balada), bebedeira, orgia, etc., é prazer, mas não é felicidade
verdadeira. Também há festinhas sãs, sem bebedeiras, sem bestialidades,
sem álcool, etc., porém isso também não é felicidade... Tudo isto pertence
à linha horizontal. Passamos a vida buscando a felicidade por todas as
partes e morremos sem haver encontrado. A linha horizontal nunca nos
trará a felicidade...
São muitos os que têm
esperanças de tirar algum dia o
prêmio gordo da loteria, creem que
assim alcançarão a felicidade; alguns
conseguem ganhar o prêmio, mas
nem por isso alcançam a tão ansiada
felicidade. Quando se é jovem,
sonha-se com a mulher ideal,
alguma princesa das “mil e uma
noites”, algo extraordinário; depois
vem a crua realidade dos fatos:
mulher, crianças para sustentar,
difíceis problemas econômicos que
crescem e até se tornam
impossíveis. Resumo, neste mundo
cruel em que vivemos não existem
pessoas verdadeiramente felizes;
todos os pobres seres humanos são
infelizes em tal ou qual grau.

Na vida, conhecemos muitas pessoas com dinheiro cheias de


problemas, pleitos (processos judiciais) de toda espécie, sobrecarregadas
de dificuldades, etc. Não são felizes. De que serve ser rico se não se tem
boa saúde? Às vezes, são mais desgraçados que qualquer mendigo.

Tudo nesta vida é passageiro: passam as coisas, as pessoas, as ideias...


Os que têm dinheiro passam, os que não têm também, e ninguém conhece
a autêntica felicidade. Muitos querem escapar de si mesmos por meio das
drogas ou do álcool, mas não só não conseguem escapar, senão, o que é
pior, ficam presos entre o inferno da dependência e a escravidão.
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Fugindo do “Mim mesmo”, do “Eu mesmo”, não (se) alcança a
felicidade. Interessante seria saber caminhar pela senda da linha vertical.

Na senda vertical, está a Revolução da Consciência. Quando alguém


admite que tem uma psicologia própria, indubitavelmente, começa a
Trabalhar sobre si mesmo; então é óbvio que entra pela senda vertical.

Somos um verdadeiro enigma para nós mesmos, um enigma que há


de se decifrar, um enigma que há de se resolver, um enigma que há de se
romper. Não nos conhecemos, lamentavelmente, ainda que acreditemos
que sim, que nos conhecemos; necessitamos ser sinceros com nós
mesmos, necessitamos fazer a dissecação do “Mim mesmo”, do “Si
mesmo”, do “Eu mesmo”.

Facilmente se admite que temos um corpo físico provido de órgãos,


um organismo, mas poucos compreendem de verdade que temos uma
psicologia particular. Quando alguém entende que tem uma psicologia,
começa a trabalhar sobre si mesmo, aqui e agora; quando alguém
compreende que tem uma psicologia, começa com processos da auto-
observação psicológica. Quem começa a observar a si mesmo se converte
de fato em um indivíduo diferente, distinto de todos, completamente
distinto.

Mas as pessoas têm tendência para admitir somente a questão física,


o tridimensional, o corpo denso porque podem ver, ouvir, tocar e apalpar;
poucos de verdade são aqueles que sinceramente aceitam ter uma
psicologia de tipo bem particular. Quando alguém a aceita, de fato começa
a se observar e isso o torna diferente de seus semelhantes. Se observar
para se conhecer, é o melhor do melhor...

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A Auto-Observação Psicológica

Assim como existe o sentido da visão, que nos permite ver e observar
o que acontece à nossa volta, também existe um sentido psicológico que
nos permite ver e observar a nós mesmos. Em nossos estudos o
chamamos: o Sentido da Auto-observação Psicológica.

Observar e auto-observar são diferentes:

Observar e observar a si mesmo são duas coisas completamente


diferentes, contudo, ambas exigem ATENÇÃO:

Na observação a ATENÇÃO é orientada para fora, para o mundo


exterior, através das janelas dos sentidos.

Na observação de si mesmo, a ATENÇÃO é orientada para dentro e


por isso os sentidos de percepção externa não servem, motivo este mais
que suficiente para que seja difícil ao neófito a observação de seus
processos psicológicos íntimos.

O ponto de partida da ciência oficial em seu lado prático, é o


observável. O ponto de partida do Trabalho sobre si mesmo, é a auto-
observação, o auto-observável.

Inquestionavelmente estes dois pontos de partida nas linhas citadas


acima, nos levam a direções completamente diferentes. Poderia alguém
envelhecer enfrascado entre os dogmas intransigentes da ciência oficial,
estudando fenômenos externos, observando células, átomos, moléculas,
sóis, estrelas, cometas, etc., sem experimentar dentro de si mesmo
nenhuma mudança radical.

A classe de conhecimento que transforma interiormente a alguém,


jamais poderia alcançar-se mediante a observação externa. O
conhecimento que realmente pode originar em nós uma mudança interior,
tem por embasamento a auto-observação direta de si mesmo.

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Conhecer e Observar também são diferentes

Conhecer e observar são diferentes. Muitos confundem a observação


de si, com o conhecer. Se conhece que estamos sentados em uma cadeira
em uma sala, mas isto não significa que estamos observando a cadeira.
Conhecemos que, em um dado instante, nós nos encontramos em um
estado negativo, talvez com algum problema ou preocupados por este ou
aquele assunto ou em estado de desassossego ou incerteza, etc., porém
isto não significa que o estamos observando.

Por exemplo, você sente antipatia por alguém? Certa pessoa lhe cai
mal? A pergunta chave é, por que? Você dirá que conhece essa pessoa...
Por favor! Observe; conhecer nunca é observar; não confunda o conhecer
com o observar...

A observação de si, que é cem por cento ativa, é um meio de mudança


de si, enquanto o conhecer, que é passivo, não é. Certamente conhecer
não é um ato de atenção. A atenção dirigida para dentro de si mesmo,
para o que está acontecendo em nosso interior, sim, é algo positivo, ativo...

No caso de uma pessoa por quem se tem antipatia assim porque sim
(sem motivo), porque nos deu vontade e muitas vezes sem motivo algum,
quando alguém se auto-observa, repara na multidão de pensamentos
quese acumulam na mente, o grupo de vozes que falam e gritam
desordenadamente dentro de si mesmo, o que estão dizendo, as emoções
desagradáveis que surgem em nosso interior, o sabor desagradável que
tudo isso deixa em nossa psique, etc., etc., etc.

Obviamente, em tal estado, nós nos damos conta também de que


interiormente estamos tratando muito mal a pessoa por quem temos
antipatia. Mas, para ver tudo isso, necessita-se inquestionavelmente de
uma atenção dirigida intencionalmente para dentro de si mesmo; não de
uma atenção passiva.

A atenção dinâmica provém realmente do lado observante, enquanto


os pensamentos e as emoções pertencem ao lado observado. Tudo isto

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nos faz compreender que o conhecer é algo completamente passivo e
mecânico, em contraste evidente com a observação de si que é um ato
consciente.

Não queremos com isso dizer que não exista a observação mecânica
de si, mas tal tipo de observação nada tem a ver com a auto-observação
psicológica a que estamos nos referindo.

Pensar também não é observar


Pensar e observar resultam também muito diferentes. Qualquer
sujeito pode se dar ao luxo de pensar sobre si mesmo tudo o que quiser,
porém isso não quer dizer que esteja se observando realmente.

Pensar sobre si mesmo é uma forma de auto-observação mecânica


que não produz nenhum resultado. Para nos auto-observarmos,
necessitamos nos recordarmos de nós mesmos, só assim a auto-
observação se torna consciente.

É necessário recordar
agora uma frase do Mestre
Samael, incluída na lição
número 2: “Ainda que pareça
incrível, quando o estudante
observa a si mesmo não se
recorda de si mesmo. Os
aspirantes, fora de toda
dúvida, realmente não se
sentem a si mesmos, não são
conscientes de si mesmos.
Parece algo inverossímil que
quando o aspirante gnóstico
auto-observa sua forma de rir,
falar, caminhar, etc., se
esquece de si mesmo, isto é
incrível, porém certo. No
entanto é indispensável tratar

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de se recordar de si mesmo enquanto se auto-observa; isto é fundamental
para conseguir o Despertar da Consciência. Auto-observar sem esquecer
de si mesmo é terrivelmente difícil, porém urgente para lograr o Despertar
da Consciência”.

Por que devemos nos auto-observar


A auto-observação é um meio para modificar as condições mecânicas
do mundo. A auto-observação interior é um meio para mudar
intimamente.

Devemos compreender que existem duas classes de conhecimento: o


externo e o interno; e que, a menos que tenhamos em nós mesmos o
centro magnético que possa diferenciar as qualidades do conhecimento,
essa mistura dos dois planos ou ordens de ideias poderiam levar-nos à
confusão. Por exemplo, sublimes doutrinas pseudoesotéricas com
marcado cientificismo de fundo, pertencem ao terreno do observável, no
entanto são aceitas por muitos aspirantes como conhecimento interno;
isso é estar confundidos...

Estes dois tipos de conhecimento pertencem aos dois mundos nos


quais permanentemente nos encontramos: o exterior e o interior. O
primeiro destes é percebido pelos sentidos de percepção externa; o
segundo só pode ser perceptível mediante o sentido da auto-observação
interna.

Pensamentos, ideias, emoções, anelos, esperanças, desenganos, etc.,


são interiores, invisíveis para os sentidos ordinários comuns e correntes e
no entanto são, para nós, mais reais que a mesa de jantar ou as poltronas
de uma sala. Certamente nós vivemos mais em nosso mundo interior que
no exterior; isso é irrefutável, irrebatível. Em nosso mundo interno, em
nosso mundo secreto, amamos, desejamos, suspeitamos, bendizemos,
maldizemos, anelamos, sofremos, gozamos, somos desiludidos,
premiados, etc., etc., etc.

Inquestionavelmente os dois mundos, interno e externo, são


verificáveis experimentalmente. O mundo exterior é o observável. O

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mundo interior é o auto-observável em si mesmo e dentro de si mesmo,
aqui e agora.

Quem quiser conhecer de verdade os “mundos internos” do planeta


Terra ou do Sistema Solar ou da Galáxia em que vivemos, deve conhecer
previamente seu mundo íntimo, sua vida interior particular, seus próprios
“mundos internos”. “Homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás o
Universo e os Deuses”.

Quanto mais se explore este mundo interior chamado “si mesmo”,


tanto mais se compreenderá que se vive simultaneamente em dois
mundos, em duas realidades: a exterior e a interior. E do mesmo modo
que para nós é indispensável aprender a caminhar no “mundo exterior”
para não cair em um precipício, não se perder nas ruas da cidade,
selecionar as amizades, não se relacionar com perversos, não comer
veneno, etc., assim também, mediante o Trabalho psicológico sobre si
mesmo, aprendemos a caminhar no “mundo interior” o qual é explorável
mediante a auto-observação de si.

Realmente, o sentido de
auto-observação de si
mesmo se encontra
atrofiado na raça humana
desta época decadente em
que vivemos. À medida que
se persevera na auto-
observação de si mesmo, o
sentido de auto-observação
íntima irá desenvolvendo-se
progressivamente.

Conclusão: A auto-
observação íntima é o meio
prático para lograr o
conhecimento de si mesmo e
conseguir o
desenvolvimento de nossa
Essência.
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Como devemos auto-observar
Se alguém de verdade e muito sinceramente começa a se observar
internamente, resulta se dividindo em dois: Observador e Observado.

Se tal divisão não se


produzisse, é evidente que
nunca daríamos um passo
adiante na via maravilhosa
do autoconhecimento.
Como poderíamos observar
a nós mesmos se
cometêssemos o erro de não
querer nos dividir entre
Observador e Observado? Se
tal divisão não se verificasse,
é óbvio que nunca daríamos
um passo adiante no
caminho do conhecimento
de nós mesmos.

Indubitavelmente,
quando esta divisão não
acontece continuamos identificados com todos os processos do Eu
Pluralizado. E quem se identifica com os diversos processos do Eu
Pluralizado, é sempre vítima das circunstâncias. Como poderia modificar
circunstâncias e deixar de ser vítima das circunstâncias aquele que não
conhece a si mesmo? Como poderia conhecer a si mesmo quem nunca se
observou internamente? De que maneira poderia alguém se auto-observar
se não se divide previamente em Observador e Observado?

A separação interior
Quem sempre acredita ser “um”, nunca será capaz de se separar de
seus próprios elementos indesejáveis; considerará a cada pensamento,
sentimento, desejo, emoção, paixão, afeto, etc., etc., etc., como
funcionalismos diferentes, imodificáveis, de sua própria natureza e até se

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justificará ante os demais dizendo que tais ou quais defeitos pessoais são
de caráter hereditário...

É muito claro e não resulta difícil compreender que quando alguém


começa a observar a si mesmo seriamente desde o ponto de vista de que
não é “um” senão “muitos”, começa realmente a trabalhar sobre tudo isso
que carrega dentro. Quando se continua com a absurda convicção que se
é “um”, de que se possui um Eu permanente, resulta algo mais que
impossível o trabalho sério sobre si mesmo.

Quem aceita a “doutrina dos muitos Eus”, compreende a base de


observação que cada desejo, pensamento, ação, paixão, etc., corresponde
a este ou outro Eu distinto, diferente... Qualquer atleta da auto-observação
íntima trabalha muito seriamente dentro de si mesmo e se esforça por
apartar de sua psique os diversos elementos indesejáveis que carrega
dentro, mediante a separação interior...

Se tudo o que acontece em nós lhe damos o sentimento de “Eu”, se


dizemos “Eu” a tudo o que pensamos, sentimos, dizemos ou imaginamos,
nada pode mudar. Se praticarmos a auto-observação sobre esta base, tudo
quanto observarmos será “Eu”, quando na verdade tudo em nós, falando
praticamente, é “alheio”. Em vez de “Eu”, seria mais próprio dizer “ele”.
No lugar de dizer “Eu penso”, devemos compreender que estaríamos
muito mais próximos da verdade se disséssemos “ele pensa”. E no lugar de
dizer “Eu sinto”, estaríamos muito mais corretos dizendo “ele sente”.

Se toda vez que tivermos uma emoção negativa dissermos: “eu me


sinto mal”; “eu me sinto enganado com fulano de tal”; “eu me zanguei por
isto ou por aquilo”... se dizemos “Eu” a tudo isto, significa que estamos tão
identificados com nós mesmos que é impossível nos separarmos
internamente do falso sentimento do “Eu”.

Podem evitar-se os pensamentos e os sentimentos negativos, se não


tomá-los como você mesmo, como “Eu”. Existem estados internos muito
destrutivos em nós que não deveríamos nos identificarmos com eles e que
é preciso evitá-los, de outro modo podem arruinar nossa vida. Não
devemos assumi-los como “Eu”. Tenhamos presente que os pensamentos
e as imagens mais estranhas podem surgir em nossa mente em qualquer
27
momento, e ao dizer “surgir”, nos referimos a que “aparecem”
involuntariamente, de uma forma mecânica. A pergunta é a seguinte: se
nós não “criamos”, se não pensamos voluntariamente, por que dizemos
“Eu” a todos eles? Se acreditamos que nós pensamos, então nos
atribuímos e por tanto têm pleno poder sobre nós. Então, como vamos
eliminar os diferentes Eus que em nosso interior carregamos, para que
fique somente nossa Realidade?

Por exemplo, suponhamos que estamos de pé sobre uma tábua e


tratamos de levantá-la e nos empenhamos para conseguir com toda nossa
força. Teremos êxito? Não, porque estamos querendo nos levantar a nós
mesmos e isso é impossível. Será necessário separarmo-nos da tábua, e,
uma vez separados, então sim poderemos levantá-la ou movê-la.

O mesmo acontece na auto-observação psicológica. Se estamos


identificados com tudo o que acontece em nosso interior, não podemos
observarmo-nos. Necessitamos nos separar internamente em Observador
(a parte que se recorda de si mesmo e se auto-observa) e Observado (os
pensamentos, sentimentos e ações que surgem em nós mecanicamente).

Ninguém pode começar a mudar radicalmente se não for capaz de


dizer: “Este desejo é um Eu animal que devo eliminar”; “este pensamento
egoísta é outro Eu que me atormenta e que necessito desintegrar”; “este
sentimento que fere meu coração é um Eu intruso que necessito reduzir a
poeira cósmica”; etc., etc., etc.

Quando nos dividirmos entre Observador e Observado, então


exclamaremos: “Mas o que este Eu está fazendo?”, “que está dizendo?”, “o
que é que ele quer?”, “por que me atormenta com sua luxúria?”, “com sua
ira?”, etc., etc., etc.

Naturalmente, isto é impossível para quem nunca se dividiu entre


Observador e Observado. Quem toma todos seus processos psicológicos
como funcionalismos de um único Eu, individual e permanente, se
encontra tão identificado com todos seus erros e os tem tão unidos a si
mesmo, que perdeu por tal motivo a capacidade pra separá-los de sua
psique. Obviamente, pessoas assim jamais podem mudar radicalmente,
são pessoas condenadas ao mais rotundo fracasso.
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PRÁTICA RECOMENDADA:
Aconselhamos que trate de se auto-observar psicologicamente
segundo as indicações que demos nesta lição. Estude e compreenda por
que e como se deve auto-observar; assim irá aprendendo como fazer.

Observe a si mesmo durante as atividades de sua vida cotidiana. A vida


de cada dia é um “ginásio psicológico” maravilhoso no qual podemos nos
conhecer interiormente. É na relação com nossos semelhantes, em casa,
no trabalho, na escola, etc., que os defeitos que levamos escondidos
afloram espontaneamente, e se
estamos alertas e vigilantes por
meio da auto-observação
psicológica, então
descobriremos. A auto-
observação é o meio para nos
conhecermos a nós mesmos.

Continuamos
recomendando o estudo do
livro TRATADO DE PSICOLOGIA
REVOLUCIONÁRIA; nele se
encontrarão as orientações
precisas, entregues pelo Mestre
Samael, para que você possa se
guiar no Trabalho Interior.

Na lição da semana que


vem ensinaremos para onde
devemos orientar a observação
interior; realizaremos um
estudo pormenorizado dos
Centros e Funções Psíquicas da
Máquina Humana.

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