Você está na página 1de 12

AULA 38

O ser humano também está submetido à Entropia: ele se desgasta fisicamente. A esse desgaste físico
corresponde um desgaste na esfera anímica (espiritual). De todas as possibilidades que você tinha ao nascer,
algumas foram realizadas por você (as que realizou não pode realizar mais) e, mais ainda, elas deixam
marcas, conseqüências. Isso quer dizer que
as possibilidades que você tem na sua vida terrestre vão diminuindo com o tempo.
No começo, quando jovens, todos achamos que temos todas as possibilidades, que o mundo é um
supermercado em aberto onde podemos escolher o que quisermos.
Qualquer PESSOA ACIMA DOS QUARENTA ANOS entende que as possibilidades se fecharam gravemente,
ou seja, a sua vida física está, de fato, condenada ao declínio e à extinção. Deveria corresponder a isso,
porém, uma extinção concomitante das suas possibilidades espirituais? [0:20]
Uma coisa é o que você é no plano espaço-temporal, outra é o que você é no plano da eternidade. Para
que você seja algo no plano espaço-temporal, você tem de ser algo na eternidade, porque tudo aquilo
que é real tem de ser possível. CADA UM DE NÓ S QUE É ALGUMA COISA NESTE PLANO ESPAÇO-
TEMPORAL O É TAMBÉ M NO PLANO DA POSSIBILIDADE INFINITA, DA POSSIBILIDADE ETERNA. OU
SEJA, AS POSSIBILIDADES QUE VOCÊ TEM DURANTE A SUA VIDA TERRESTRE VÃ O SE ESGOTANDO.
MAS NÃ O CORRESPONDE A ISSO UM ESGOTAMENTO CONCOMITANTE DAS SUAS POSSIBILIDADES NA
ESFERA DA ETERNIDADE.

Muitos de vocês estão aí dentro deste meio compressivo, deprimente, pior do que um deserto (num deserto ao
menos não acontece nada, mas aí acontecem coisas que só levam vocês para trás), não têm estímulo nenhum pra
estudar, ao contrário, são cada vez mais e mais empurrados para baixo. Porém, existe alguma vantagem nisto:
vocês podem desenvolver alguma resistência que o estudante médio americano ou europeu não tem e que aquele
brasileiro transplantado para cá na juventude perde no primeiro mês.

Neste sentido, acho que vocês devem estudar as vidas daqueles brasileiros que produziram alguns dos
produtos mais dignos da nossa alta cultura, e que foram a vida toda vítimas desse ambiente
compressivo. Um deles é Lima Barreto. Quando analisamos sua vida, só há desprezo, isolamento,
discriminação, boicote, falta de chance e, no entanto, o sujeito escrevia uns livros que eram bem
melhores do que tudo o que os seus coetâneos faziam. Estudem estas coisas porque, de certo modo,
esta é a sua vida, é isso o que vai acontecer a vocês. Lutar contra isto e tentar preservar aí nesse meio a
concentração e objetivos elevados, vai lhes fazer muito bem, melhor do que ter uma bolsa de estudos para
Oxford.

Pelo fato de viverem no Brasil, vocês têm acesso a algumas das experiências mais deprimentes e terrificantes
que um ser humano pode passar no que diz respeito ao desenvolvimento espiritual. Só que essas possibilidades
que existem no Brasil estão se espalhando pelo mundo. Lentamente vemos certos sintomas de degradação
extrema que antes só se viam no Brasil, aparecerem aqui nos Estados Unidos, ou Inglaterra. Porém acontece o
seguinte: americanos e ingleses são totalmente indefesos ante estas coisas. Cem por cento indefesos e justamente
porque foram acostumados com outro patamar de educação, de alta cultura, educação doméstica etc.

Existem certas manifestações da degradação humana que são invisíveis a um americano, e a um europeu. Eles
não percebem isto, porque está fora da possibilidade deles.

A vida em condição de miséria espiritual e intelectual extrema pode alimentar uma certa independência do meio,
o que num outro ambiente não seria possível. Nos EUA o meio é bondoso, tratam-se bem, dão chance,
ninguém se boicota, deixam-se ir para frente, às vezes até torcem uns pelos outros (mesmo os que não
gostam do que o outro diz), vão empurrando-se para frente. Só vão ao boicote em casos extremos
(evidentemente isso também existe, mas não é a norma, não é a regra). Então adapta-se facilmente ao
ambiente. E aí é fácil tornar-se tão indefeso quanto os outros participantes do mesmo ambiente. Isto
significa que um sujeito formado aqui nos Estados Unidos, em Oxford ou na Sorbonne, e mandado para o Brasil,
vai se degradar a um ponto que não dá para imaginar.

A extrema miséria pode desfavorecer, mas o conforto e o bem-estar, também podem desfavorecer,
portanto, tudo isso é muito relativo.

somos pessoas extremamente privilegiadas porque a nossa luta não é com armas de fogo nem com
espadas – a luta é na esfera intelectual e espiritual Ela exige disciplina, contenção, mas de
ordem psicológica apenas.

Não exige a bravura física –

Se tomados os DEZ MANDAMENTOS de maneira chapada, igual para todos, não fazem o menor sentido,
porque eles são regras universais que se aplicam a todos em todas as circunstâncias. Só há um jeito de
aplicá-los, e não será a um ser humano genérico, que está em todas as circunstâncias, mas a um ser
individual, que está numa circunstância específica e que é você mesmo. É preciso conhecer a situação
concreta e fazer a mediação. É um negócio que eu disse até num artigo recente [“A demolição das
consciências”, Diário do Comércio, 21 de dezembro de 2009]:

São Tomás de Aquino dizia que o problema não é reconhecer a regra geral, mas saber como ela se traduz
na situação específica. Então não adianta nada ter decorado os dez mandamentos. Para usá-los como critério de
conduta, é necessário fazer a tradução deles para uma situação particular, e esta tradução não se faz
dedutivamente – isto é muito importante –, não se trata de pegar uma regra geral e ir baixando e
especificando até uma situação concreta. Não! Existe sempre um hiato entre uma coisa e outra, entre o
universal e o individual, e que só pode ser preenchido por uma função intuitiva. Se fosse uma questão
de dedução, o ente mais moral que existiria seria o computador!

Se tem uma coisa da qual já me livrei há muitos anos é ter opiniões sobre pessoas. Se o sujeito
pergunta que acho do Fulano, eu não acho nada. Não sou Deus, não o criei, não tenho que prestar
satisfação disso, nem vou julgá-lo no Juízo Final, para que eu deveria ter opinião?

Quanto a julgar pessoas, às vezes podemos julgar atos, este ou aquele em particular se aquilo nos
afeta. Eu tenho alguns alunos muito bons e, certo dia, chegaram a mim e disseram que o Fulaninho é
viado. Mas este veio me pedir para largar isso, ou pedir ajuda? Ele não pediu nada! – “Mas isto é feio, é
pecado etc.” – se tirar todos os pecadores da Igreja, não sobra um! Por que esse pecado em particular é
tão horroroso que a gente não possa aceitar aquela pessoa na nossa convivência? E lá sei eu se o outro
não é adúltero, bêbado, viciado, ladrão...? Não sei e não quero saber!

Além disso, nenhum defeito que se tenha, nenhum pecado que se cometa é, em si mesmo, um obstáculo ao seu
progresso na vida intelectual e espiritual. Todos eles são a matéria da qual vai se compor a sua própria vida
espiritual. Então o que me interessa não é o pecado do sujeito, é o que ele está fazendo nesta via que estou
indicando. Se está fazendo o melhor possível, não interessa de onde partiu. Se ele partiu de muito baixo, bem
todos nós partimos de baixo! Se partiu de baixo, o mérito é maior ainda, ele tem esse problema pra vencer e o
outro não tem.

Note que nenhum juiz de direito que condene um sujeito à cadeia, tem uma opinião total sobre o cara, mas
somente sobre um ato. O sujeito nos outros momentos pode até ser uma pessoa excelente, mas, se ele roubou,
é punido por este ato específico. Não está se julgando a pessoa, mas o ato. A hierarquia no julgamento é o
elemento fundamental da educação doméstica – e depois, da educação religiosa.
E vejo que hoje é isso o que mais falta. As pessoas julgam as outras por coisas meramente empíricas,
aleatórias, conforme aquilo que lhes desagradou no momento.
Primeiro, não é pra julgar as pessoas.
Segundo, se é pra julgar outra pessoa deve-se entender, primeiramente, qual é o sistema de regras
morais que ela está seguindo em seu coração. Posteriormente, analisar se esse sistema faz sentido, se é
aceitável e como é que você relaciona isso ao seu próprio sistema de valores – tem que levar tudo isso
em conta.

Leitura de Escrituras

Uma escritura jamais se ESGOTA no texto


A existência das escrituras se justifica pela crença ou esperança ao lermos aquilo com a intenção correta —
possamos refazer interiormente as mesmas experiências e entender não só o que o escritor disse, mas o que
ele estava tentando dizer, irmos além daquilo que ele efetivamente disse. Tentando reconstituir as
experiências cognitivas que levaram à sua construção, que a produziram

Você tem sempre de ir além do texto; e na hora que está indo além dele você está penetrando na
personalidade intelectual do filósofo, no conjunto de experiências cognitivas que ele teve e que ele só
registrou sob a forma do produto dessas experiências.

Você, a sua vida, a sua realidade é uma ilustração do que está no texto. Então, estamos perante o texto não como
o espectador de uma peça está perante ela, mas como um personagem dela está perante a peça . Se assistimos a
Hamlet, vemos o conjunto do que aconteceu, enxergamos aquilo de fora e por isso temos uma compreensão
intelectual daquilo. Porém os personagens estão vivendo aquilo, mas cada um sabe apenas um pedaço da
história. Como faria um personagem para tomar consciência do enredo que o envolve?

Certamente não é se colocando fora do texto e examinando-o como um observador; é assumindo a realidade
daquilo que está acontecendo e permitindo que a inteligência seja moldada pelo conjunto da realidade que está
sendo imposta – é uma espécie de adequação ao texto, e não adequação do texto às categorias interpretativas que
a personagem já tem. É nesse sentido que eu estou dizendo que não deve ser interpretado. Eu não digo
que não devem ser entendidos ou compreendidos. A própria noção de entendimento e compreensão é
precária em função disso. Então, quando compreende-se um texto humano, ele se integra em
estruturas intelectuais já existentes. O texto bíblico não, pelo contrário: funda novas estruturas que não
têm nada a ver com o que se sabia antes e que se sobrepõem ao que se sabia antes com uma diferença
infinita.

Eu vou dar um exemplo numa escala muito menor: como é que se compreende a experiência do amor por
uma pessoa? Colocando-se fora dele, observando e interpretando? Não. Se fizer isso, ficar-se-á privado da
experiência. Ela desaparecerá e, desta forma, não poderá mais ser compreendida. É justamente vivendo-a
conscientemente e aceitando aquela situação como realidade que ela vai esclarecendo a pessoa, e não a pessoa
esclarecendo a situação. Se isto é assim numa simples relação de amor humano, quanto mais não será com Deus?
Isso quer dizer que depois de ter essa participação aprofundada, poderão até serem utilizados os
instrumentos hermenêuticos de interpretação , mas eles, por si, não revelarão a nada, não explicarão nada
do texto. Se fosse assim, qualquer professor de religiões comparadas seria um santo e um profeta e, no
entanto, conheço gente que passou a vida inteira estudando, interpretando textos religiosos e não
entende nada daquilo.

Senão não adianta dizer que é a palavra de Deus se a trata-se como se fosse uma palavra qualquer. Uma
palavra qualquer é uma mensagem humana de um ser humano para outro. A palavra de Deus tem uma força
formativa, ela cria! E depois cria de novo, restaura quem a lê na hora em que é lida. Por isso que não
consigo ler a Bíblia como esse pessoal lê. Ela negócio é avassalador. Leia uma frase dali, que ela
modifica tudo em você. É uma coisa duma responsabilidade imensa. Quanto mais se pensar no sentido
daquela frase, menos se vai entender. Só se vai entender quando deixar que ela o forme. Não sei seu estou
explicando isso direito, se a minha explicação é clara o suficiente, mas não estou dizendo que não se
deva entender a Bíblia. Deve-se entendê-la sim e entender significa ouvir. No entanto, compreensão
como se tem de outro texto não há de se ter nunca. Isto seria fazer dela um conteúdo seu, quando na
verdade você é conteúdo dela.

Olavo: É o que eu estou falando: é um fato. Se não se aceitar isto como fato, então muito menos aquilo poderá
exercer um INFLUXO TRANSFORMADOR SOBRE A PESSOA. PORQUE O QUE VAI EXERCER ISTO NÃ O É
O TEXTO EM SI, É O FATO A QUE ELE SE REFERE. Não é um poder miraculoso no texto, mas nos fatos
narrados, os quais continuam a se suceder ainda hoje. Depois que houve a experiência do poder miraculoso
destas palavras, aí sabe-se com o que se está lidando – é somente aí.

AULA 39

Deus fala com eles e dá umas ordens e eles vêem que essas ordens fazem sentido e que se eles
obedecerem aquilo vai dar certo. É o conhecimento experimental e eles têm esse conhecimento.

Acho que, em geral, os seres humanos recebem mais amor do que precisam! Mas como eles
julgam a situação de acordo com uma demanda afetiva anterior, do tempo de infância, eles
ficam achando que precisam de mais e não precisa! Está mais do que suficiente! Agora, se
você não reconhece – porque tem gente que tem isso, tem pessoas que não são capazes de
amar outra pessoa, que não são capazes de serem amadas! Por mais que você ame o
desgraçado ou a desgraçada, eles não sentem!

você não pode ser grato a uma coisa que você não sabe que você recebeu! Daí o negócio do
Count Your Blessings – conte o que você já tem. Conte o que você já recebeu.

Desequilíbrio de direitos e deveres!

o maior número de casos de depressão pública e de suicídios se dá nos países em que a população tem mais
benefícios (...)

Olavo: Sim!

Aluno: (…) Então, por que os mais beneficiados são os mais depressivos? Não é ingratidão?

Olavo: Entra este elemento de ingratidão, mas entra outro. Eu até já escrevi um artigo a respeito disso:
os benefícios que as pessoas de classe média, e até baixa, desfrutam hoje, são os benefícios que a aristocracia
tinha em outras épocas. Só que esta aristocracia pagava esses benefícios com o serviço prestado. Então o sujeito
tinha lá um belo castelo, as pessoas pagavam imposto pra ele, ele tinha quarenta amantes etc., mas na
hora que estourava a guerra, era ele que ia pra lá! Então ele dava, oferecia a sua vida e, portanto, o que ele
recebia de benefícios — que pra nós parece até um absurdo de tanta coisa —, aos olhos dele não o
diminuía! Ele tinha um mérito! Agora, se as pessoas recebem um monte de benefício e não precisam
fazer nada para pagar o benefício, ela vai se sentir insatisfeita e ainda vai querer mais! E quanto mais
der, mais está se criando um desequilíbrio de direitos e deveres!

Então se não lhe deram obrigações, deveres morais a cumprir, você busque algum!

Outro dia mesmo eu estava lendo uma obra do Jacob Wassermann onde há uma senhora, que é uma mulher
muito inteligente, notável, uma bela personalidade, e tem um chato de galocha que se apaixona por ela. Ele
fica lá e não larga, e não larga, e não larga, e a mulher desesperada: “como é que vou fazer pra me livrar
desse sujeito?”. Até que um dia ele chega, invade o apartamento dela, põe um revólver na cabeça e diz que
vai se matar se ela não der pra ele! Daí ela diz: “Quer saber? Você se mate, não vale nada mesmo!”. E aí o
sujeito se toca! E ela fala: “Vai cuidar da sua vida! Sabe o que você tem de fazer? Você tem de se impor
alguma obrigação para você valer alguma coisa!”. E o sujeito sai agradecendo à mulher dizendo: “Muito
obrigado, você salvou a minha vida! Pode deixar que eu não vou mais amolar a senhora, vou fazer a minha
vida agora”. Estava faltando pra ele esse sentimento da obrigação auto-imposta que faz você respeitar um
pouquinho a si mesmo.

Sem isso você entra na depressão! E é isso o que está faltando para as pessoas! Você enche os sujeitos de
benefício e nada é exigido.

Se não se impõe as suas obrigações você estará vivendo na injustiça


============================================================.

a presença total é o que está diante de nós. Nós é que estamos diante da presença total. Ela é a totalidade do
mundo concreto. É claro que isso tem origem na onipotência divina, mas isso não é a onipotência divina.
Esta implica a totalidade da possibilidade, do que não está presente. Porque todos os universos
possíveis... Mas é através da presença total e, vamos dizer, repetindo e treinando essa aceitação da
presença total, é que você vai perceber o que pode estar no fundo dela. A presença total é, de fato, o
reconhecimento da presença total, a mesma emoção do Hegel ao dizer: “É, é assim, as coisas estão aí, estão
acontecendo. Eu estou aqui dentro, está tudo aí em volta” – a experiência que eu sugeri pra vocês, de
pensar a terra embaixo dos seus pés, toda a densidade, a forma e peso de tudo. De você estar
continuamente com os olhos abertos e vendo a imensidão da presença. Isso aí é a disciplina
fundamental para o conhecimento da realidade. Não é se fechar dentro da sua cabeça e pensar. De
pensar morreu um burro, não é?

Todos os erros humanos vêm do pensamento! Porque as pessoas estão querendo mais pensar do que perceber a
realidade. O pensamento, de fato, deve ser reduzido ao mínimo! Agora o curioso: pensar dá trabalho,
perceber não dá trabalho nenhum, é só deixar acontecer. E isso é a base da disciplina. Agora, a presença
total também implica o seguinte: não fugir da realidade, não fugir da sociedade onde você está.
Entender... “A sociedade está horrível” – sim, mas esta é a minha vida. Deus me pôs no meio desta
miséria, esta miséria é a minha vida! Então daqui eu vou tirar os elementos com que vou criar uma
coisa melhor. Levar pedrada e devolver afagos. Levar cocô e responder com flores ou diamantes. É isso
o que há a fazer. Fazer cada vez o melhor com o material ruim que tem em torno. Não busquem refúgio
psicológico. Acreditem, eu juro, vocês não precisam disso! O ser humano é imensamente forte na sua
independência interior quando ele está ligado na realidade das coisas. Ninguém precisa de tanta afeição, de tanta
proteção quanto as pessoas imaginam. É o diabo que espalha essas idéias: você é um coitadinho, você
precisa de apoio
===============================================================.

AULA 41
PAG 18

A esses fundamentos cognitivos você tem acesso em dois andares:

o primeiro andar é a própria doutrina. Estudando Sto. Tomás de Aquino, Sto. Agostinho, você tem um
suporte intelectual — mas nem tudo está dito ali. Sto. Tomás de Aquino reconheceu que tudo o que ele fez
era um tiquinho de nada. Para você saber onde isso está há uma

segunda camada, o simbolismo das formas sensíveis na arte sacra, incluindo, como arte sacra, a própria
construção das sumas medievais.

As SUMAS são um grande, enorme gênero literário, que vale não somente pelo conteúdo explícito da
doutrina, mas pela sua estrutura, que é obra de arte. E, como tal, ela veicula, simbolicamente, aquelas
realidades que a própria doutrina não pode explicitar em palavras. [1:30] Isso quer dizer que uma coisa é
ler sobre o que Sto. Tomás de Aquino disse sobre isso ou aquilo. Você acompanha o raciocínio, diz: “o
homem tem razão”. Ele costuma ter razão. Pode falhar num ponto ou outro que depende de
conhecimentos factuais, que, evidentemente, ele não tinha.

Para além disso, você tem a FORMA DA SUMA. Contemplá-la é o mesmo que contemplar uma catedral da
Idade Média. Os princípios estruturantes são exatamente os mesmos . Quando Sto. Tomás de Aquino vai
ramificando a questão, ele coloca uma pergunta; uns dizem que sim, outros dizem que não; coloca os
argumentos, vai montanto tudo aquilo, bonitinho. Vejam a estrutura das colunas em uma igreja medieval , uma
catedral gótica; o princípio de ramificação é o mesmo. Há colunas que se ramificam em outras cada vez
menores, até fechar lá em cima onde encontra outra coluna. O que São Tomás faz, em palavras, é
exatamente isto. Quando você está lendo um romance, por exemplo, em cada página que lê, você está
interessado nos fatos que são contados ali, mas, à medida em que vai avançando na leitura, aparece, por trás
deles, uma ordem. Essa ordem não está descrita nos fatos, mas é uma estrutura interna por trás dos fatos, que os
ordena. Já se começa, então, a ter um objeto de contemplação estética propriamente dita. A mesmíssima coisa
acontece ao se ler Sto. Tomás de Aquino, mas só acontece se alguém deu essa dica, ou se você for um gênio
para perceber. Eu obtive essa dica de um livro do Erwin Panofsky, que é um estudioso de história da arte. Ele
não tem nada de cristão, é um judeu, mas me deu essa dica. Ele mesmo não percebeu a imensidão do que
estava abrindo. Eu estava pensando justamente nisso e estava ali, observando e lendo de novo e falando:
“mas é isso mesmo, meu Deus do céu!

Esta SUMA diz muito mais do que está dizendo!” De certo modo, ela ilustra na sua estrutura a
ordem do mundo que ela está explicitando em palavras.

Daí eu comecei a relacionar isso com a estrutura de A Divina Comédia, de Dante, que se compõe de tercetos:
estrofes de três versos, onde o verso do meio rima com o primeiro verso da segunda estrofe; e daí tem um
outro no meio que vai ... e você vai ver o negócio está assim até o fim . Mais ainda, a versificação está em
versos de dez sílabas, cujo acento cai sempre na sílaba do meio, na sexta sílaba; na passagem da quinta para
a sexta. Isso continua até o fim. Essa ESTRUTURA TERNÁ RIA é a mesma ESTRUTURA DO SILOGISMO,
meu Deus do céu! Você começa a ver que Sto. Tomás de Aquino, Dante e os construtores das catedrais estão
todos fazendo a mesma coisa; para eles, isso era translúcido. Era o óbvio dos óbvios. Não precisava sequer ser
dito. Como a questão do Aristóteles e dos quatro discursos. Ele não precisou dizer: “olha, existem quatro
discursos e existe uma série de princípios comuns”. Não. Ele simplesmente escreveu um sobre cada um, só
que só se pode escrever isso sabendo aquilo. Eles nunca tentaram explicitar os princípios dessa arte sacra
porque os princípios eram tão óbvios... eles estavam praticando aquilo no dia a dia. Era que nem o
português: “ó, raios, quem é que não sabe?”. Hoje em dia ninguém sabe, você tem de dizer.

Ele explica a diferença entre PENSAR, MEDITAR e CONTEMPLAR. Ele diz que

pensar é transitar de uma idéia a outra.

Meditar é recuar, na ordem das idéias, até o seu fundamento. Meditar, então, já não é
simplesmente pensar para diante, mas pensar para trás: “de onde eu tirei isso? de onde veio
isso?”. E você vai descobrir, assim, a experiência real, o dado intuitivo profundo do qual
emergiu seu pensamento. E ele diz que

contemplar é quando você fez várias meditações e elas começam a articular-se entre si e você
contempla o conjunto.

AULA 41

P1
Imagine-se o impacto que tem, para um JOVEM DE FAMÍLIA RELATIVAMENTE INCULTA E POBRE, um
ambiente universitário no qual ele entra. Para ele, aquilo é a conquista da “iluminação”; sente estar
saindo das trevas para a luz, do “submundo” para o “grande mundo”. Pelo menos estruturalmente é
esta a função que a universidade tem. Eu não digo que ela não tenha esta função, mas é um problema
de proporção. O indivíduo que saiu da cidade de província para ir à capital pensa que chegou a Atenas,
a Paris ou alguma coisa assim. Está em Nova York... Então, os centros culturais verdadeiramente
importantes estão para o mundo como a capital da província está para as outras cidades da província,
assim como as cidades da província estão para os vilarejos da província. Isso cria uma ilusão de ótica
que pode durar pela vida inteira. E, evidentemente, todo e qualquer julgamento que você faça, baseado
nessa referência cultural, vai estar sempre errado e deslocado em relação à realidade.
P4

Gente, eu nunca vou deixar de enfatizar isto: vocês têm que entender que estão em um lugar anormal, que isso
aí não é um país, que isso aí é um hospício. É um negócio que está fora da realidade intelectual do mundo. É um
fenômeno de doença, de baixeza, de estupidez consagrada como nunca se viu na história humana. Um país desse
tamanho, com tanta incapacidade intelectual consagrada, não existe. Por isso a única solução para aqueles que
querem levar uma vida de estudos é conquistar outra referência cultural completa.

P5
Mas, na falta de contatos, o que acontece? Aparecem os falsos contatos, os contatos inadequados com
PESSOAS QUE NÃO PERTENCEM À SUA TRIBO, por assim dizer, que não têm os mesmos objetivos que você
e que, no entanto, têm alguma simpatia por você. Essa é a pior companhia que pode existir. A pessoa
não quer o que você quer, não está indo para onde você está indo , mas ela – ah!.. – gosta de você... O que
ela vai fazer? Irá te tirar do caminho. Não é você que vai tirá-la do caminho que ela seguia. Você é que irá
sempre para baixo.

AULA 45

Porque nós sempre precisamos lembrar aquilo que dizia São Tomas de Aquino.
A amizade consiste em: “Idem vele, idem nole”,
querer as mesmas coisas e rejeitar as mesmas coisas.
Você só pode ser amigo de quem ama aquilo que você ama. Se aquilo que você ama, que é
mais precioso e elevado para você, para os outros não é nada, é uma coisa desprezível, você
não pode ser amigo deles. Você pode ser bom para eles. Bom como a gente dever ser bom
para todo mundo. É a regra do Goethe: “Um homem deve ser digno, prestativo e bom”. Seja
digno, prestativo e bom para todas as pessoas, quer te compreendam, quer não te
compreendam, mas não as considere suas amigas e nada espere delas.

É entre as pessoas que têm o mesmo objetivo de vida que você deve criar relações afetivas, amizade, namoro,
amor. Tudo, tudo aqui. Essa ilusão de que você pode ser amigo de todo mundo. Não, você pode ser bom para
todo mundo. De um amigo, de uma esposa sempre você espera alguma coisa, dos estranhos você não
pode esperar nada. Às vezes vem dos lugares mais inesperados, mas foi porque Deus quis. Se você
esperar que eles o compreendam no mais mínimo que seja, você vai perder seu tempo.

a família é muito anterior ao Estado, o direito privado antecede o direito público, o direito
público se baseia no direito privado, e a família é a primeira instituição onde há regras. Então,
a família é a base de toda a racionalidade e da possibilidade da convivência humana. Se a
família for destruída o que vai acontecer? O problema é que tudo é destruído e todas as
relações naturais do ser humano são substituídas por relações artificiais criadas pelo Estado.
Você não vê no Brasil a adoração que se tem hoje pela palavra cidadão? Aqui eu tenho que
lembrar de novo o filósofo Leonardo Coimbra, que dizia: “Deus criou o homem e a lei criou o
cidadão, o qual é o homem mutilado.” O cidadão é uma abstração, ele não é uma pessoa humana real.
O cidadão é o conjunto das funções de alguém dentro da estrutural legal prescrita pelo Estado. A
existência do Estado então pressupõe a existência de relações naturais e civis que o antecedem
desde a criação da espécie humana.

Por exemplo, você não pode conceber no paraíso terrestre um Estado, não há nenhum; há os
seres humanos e a lei divina que Deus pôs dentro deles mesmos. Não há Estado nenhum, não há
ali uma autoridade humana sobre ninguém.

estou citando o artigo de Leonardo Coimbra várias vezes — ele diz que a lei se considera absoluta e ela exige a
obediência incondicional, não existe permissão de não a cumprir, em caso nenhum. A lei não admite exceção a si
própria, a não ser que tenha uma segunda lei. Mas todo esse universo legal do Estado é criado com base numa
noção relativística, onde não se aceita mais o princípio divino e a sua a absolutidade imutável, então ele diz que a
existência da lei no sentido moderno é auto-contraditória porque ela se baseia num relativismo para afirmar a sua
absolutidade. A simples existência da lei desmente a sua própria origem relativa. Todo o processo histórico
moderno é um processo de substituição das leis ancestrais, divinas e civis imemoriais por novas relações criadas
pelo Estado. [02:10] Isso significa que a destruição da família é a destruição da própria forma humana, não existe
outra organização dentro da qual o ser humano possa desenvolver a sua personalidade e tornar-se humano
mesmo, não existe nenhuma. Ninguém pode criar algo em seu lugar.
Aconteceu que, à medida que vai sendo perdida a noção da verdadeira função da Igreja no
mundo, nós começamos a desenvolver uma obediência à autoridade religiosa que já não é
como autoridade religiosa, e sim como autoridade estatal, é uma burocracia e isto se chama
obediência carnal. Existe um princípio da moralidade intrínseca, que é o certo e o errado, que
nos é ensino por Deus mesmo. Nós podemos ver que as várias civilizações divergiram em
muitas coisas, mas há uma série de princípios que são absolutamente universais, que são
verdadeiros — eu não gosto da expressão “direito natural”, não há direito natural, só há direito
sobrenatural; existe direito sobrenatural e existe direito estatal, direito humano que os seres
humanos inventaram. O VERDADEIRO DIREITO É SOBRENATURAL, AQUILO QUE DEUS
ENSINOU À ESPÉCIE HUMANA. Isto é submetido a variações de acordo com épocas, mas em
torno de certos princípios, não de regras concretas.

QUAL É A REAL IMPORTÂ NCIA DA FAMÍLIA?

a família é muito anterior ao Estado, o direito privado antecede o direito público, o direito
público se baseia no direito privado, e a família é a primeira instituição onde há regras. Então,
a família é a base de toda a racionalidade e da possibilidade da convivência humana. Se a
família for destruída o que vai acontecer? O problema é que tudo é destruído e todas as
relações naturais do ser humano são substituídas por relações artificiais criadas pelo Estado.
Você não vê no Brasil a adoração que se tem hoje pela palavra cidadão? Aqui eu tenho que
lembrar de novo o filósofo Leonardo Coimbra, que dizia: “Deus criou o homem e a lei criou o
cidadão, o qual é o homem mutilado.” O cidadão é uma abstração, ele não é uma pessoa humana real.
O cidadão é o conjunto das funções de alguém dentro da estrutural legal prescrita pelo Estado. A
existência do Estado então pressupõe a existência de relações naturais e civis que o antecedem
desde a criação da espécie humana.

Por exemplo, você não pode conceber no paraíso terrestre um Estado, não há nenhum; há os
seres humanos e a lei divina que Deus pôs dentro deles mesmos. Não há Estado nenhum, não há
ali uma autoridade humana sobre ninguém.

artigo de Leonardo Coimbra várias vezes — ele diz que a lei se considera absoluta e ela exige a
obediência incondicional, não existe permissão de não a cumprir, em caso nenhum. A lei não admite
exceção a si própria, a não ser que tenha uma segunda lei . Mas todo esse universo legal do Estado é
criado com base numa noção relativística, onde não se aceita mais o princípio divino e a sua a
absolutidade imutável, então ele diz que a existência da lei no sentido moderno é auto-contraditória
porque ela se baseia num relativismo para afirmar a sua absolutidade. A simples existência da lei
desmente a sua própria origem relativa. Todo o processo histórico moderno é um processo de
substituição das leis ancestrais, divinas e civis imemoriais por novas relações criadas pelo Estado .
[02:10] Isso significa que a destruição da família é a destruição da própria forma humana, não existe
outra organização dentro da qual o ser humano possa desenvolver a sua personalidade e tornar-se
humano mesmo, não existe nenhuma. Ninguém pode criar algo em seu lugar.
Aconteceu que, à medida que vai sendo perdida a noção da verdadeira função da Igreja no
mundo, nós começamos a desenvolver uma obediência à autoridade religiosa que já não é
como autoridade religiosa, e sim como autoridade estatal, é uma burocracia e isto se chama
obediência carnal. Existe um princípio da moralidade intrínseca, que é o certo e o errado, que
nos é ensino por Deus mesmo. Nós podemos ver que as várias civilizações divergiram em
muitas coisas, mas há uma série de princípios que são absolutamente universais, que são
verdadeiros —

EU NÃO GOSTO DA EXPRESSÃO “direito natural”, não há direito natural, só há direito


sobrenatural; existe direito sobrenatural e existe direito estatal, direito humano que os seres
humanos inventaram. O VERDADEIRO DIREITO É SOBRENATURAL, AQUILO QUE DEUS
ENSINOU À ESPÉCIE HUMANA. Isto é submetido a variações de acordo com épocas, mas em
torno de certos princípios, não de regras concretas.

O fulaninho fez um experimento. Depois eu fiz o mesmo experimento e verifiquei a mesma


coisa que ele verificou. O teste depende, portanto, de uma infinidade de testemunhos, porque
se cada um que fez o teste dá o seu testemunho, você não vai poder por sua vez testar todos
os testemunhos. Aí ele está dizendo o seguinte: nós dependemos da confiabilidade das
pessoas.

A ciência se baseia inteiramente na confiabilidade dos depoimentos dos cientistas. Inteiramente!


Não há nenhuma maneira de você isolar o problema da responsabilidade pessoal remetendo todos os
testes a máquinas e computadores para que eles façam os testes, independentemente de qualquer
viés humano. Em algum momento um observador humano vai ter de observar aquilo e dizer se isso é
verdadeiro ou falso. Isso quer dizer que a adoção desse método não elimina de maneira alguma o
problema da credibilidade, da confiabilidade e da fé. Eles estão baseados na fé na honestidade de
uma comunidade científica.
Ora, experimentalmente nós sabemos que essa confiabilidade é mais do que relativa. Mais ainda:
em nenhuma ciência o estudante tem a ocasião de testar pessoalmente cada um dos elementos
que compõem o corpo teórico, o corpo doutrinal dessa ciência. Portanto, você depende da
confiabilidade de uma tradição. Então, dizer que nós só aceitamos a experiência, isso é
mentira. É impossível testar tudo pela experiência. [3:00] Nós confiamos naquilo que os outros
dizem sobre as suas experiências. Que outros? A aqueles que nós denominamos cientistas. Eu digo:
me dê uma única razão para aceitar que o indivíduo que tem uma profissão
acadêmica (na qual ele tem que concorrer com milhares de outros, na qual ele
vive envolvido em tramas de concorrência grupal, buscando, cavando, verbas etc.)
é mais confiável que um mártir da Santa Igreja. Isso é um absurdo. Humanamente
falando, moralmente falando, o nível moral da classe científica não é lá essas coisas. E se
você vai depender da confiabilidade da comunidade, eu digo: olha, racionalmente falando,
os testemunhos dos santos e mártires são obviamente mais confiáveis do que os
testemunhos de qualquer número de cientistas que seja.
A46P8

Porque eu não estudo textos. Eu aprendi que TEXTOS SÃO SOMENTE A PONTA DO ICEBERG.
Por trás do texto há um mundo de experiência real, e é essa experiência real do autor que eu devo
tentar descobrir e acessar, porque a partir daí eu vou compreender o que ele está querendo dizer.
Caso contrário, eu compreendi apenas o que ele disse e não o que ele sabe, e, portanto, eu
aprendi apenas palavras. Aprender essas palavras e transformar em outras palavras
próprias é a atividade cognitiva mais alta que se conhece na universidade brasileira, e,
quando se chega ao topo, encontram-se homens que transformam textos em textos

Você também pode gostar